Você está na página 1de 558

Copyright © 2021 K.A.

PEIXOTO

Capa: Larissa Chagas

Revisão: Luana Santana

Leitura Crítica: Evelyn Fernandes

Leitura Sensível: Ana Ferreira

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer


semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência e não
foi pretendida pelo autor.

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um


sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer
meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão
expressa por escrito do editor.

ISBN: 978-65-00-33232-2

Todos os direitos reservados a K.A. PEIXOTO

Para todos que um dia se enganaram achando que o amor não chegaria em
suas vidas.
Sumário

Nota da Autora

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17
Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Capítulo 36

Capítulo 37
Capítulo 38

Capítulo 40

Capítulo 41

Capítulo 42

Capítulo 43

Capítulo 44

Epílogo

Agradecimentos

NOTA DA AUTORA

Oi meu povo, tudo bem? Já inicio por aqui agradecendo o interesse de vocês
pelo meu primeiro livro, e espero de coração que a leitura seja uma
experiência tão boa para vocês como foi para mim escreve-las. Mas, antes
que vocês continuem, preciso esclarecer algumas coisas.

MISTAKEN é um livro New Adult e seu conteúdo é totalmente voltado para


maiores de 18 anos. Então prepara-se para encontrar temas como: palavras
de baixo calão, sexo explicito, racismo, transtorno psicológico e tentativa de
abuso. Deixo claro que todas as questões sensíveis foram abordadas com
muito cuidado e brevemente, nenhuma dessas cenas foram aprofundadas.

Se em algum momento a leitura se tornar dolorosa ou engatilhar algo,


recomendo que a abandone, sua saúde é mais importante que qualquer outra
coisa. E antes de libera-los, deixo claro que não compactuo com alguns dos
gatilhos citados e estarei disponível para conversar com vocês para
esclarecer qualquer coisa ou para surtamos juntos.

Finalmente, bem-vindos a Mistaken, primeiro livro da Trilogia Opostos.

Um grande beijo.
K.A. PEIXOTO.

PRÓLOGO

5 dias.

Hoje está fazendo exatamente 5 dias em que vi meu mundo ruir sem que eu
pudesse fazer nada.

Samantha foi fria e totalmente calculista em todos os seus passos.

Jennifer por pouco não a jogou pela janela, depois de confrontá-la e


descobrir que a intenção dela sempre foi o dinheiro e parece que ela me viu
como uma fácil alternativa para conseguir tal coisa.

Se eu estava com raiva antes, depois que Jenni me contou, eu só conseguia


enxergar vermelho na minha frente. Como uma pessoa ferra com outra
porque quer dinheiro? Será que ela já pensou em trabalhar?

E pior, fez tudo certinho. Todas as vezes que ela forçava a barra para não
usarmos camisinha, querendo de qualquer forma ir para minha casa, me
conhecer melhor, nunca foi nada do que eu pensava. Até acreditei que ela
poderia estar gostando de mim, e por isso me afastei. A verdade é que eu era
apenas um meio para que conquistasse seus objetivos.

Agora estou aqui, literalmente me arrastando para fazer minhas coisas. Pela
primeira vez em toda a minha vida, eu não quis ter que vir trabalhar; desde
segunda estou me forçando e hoje já é quarta, mas continuo assim.

O fim de semana foi péssimo, porque eu acreditei que conseguiria conversar


com Kath e explicar tudo o que aconteceu com calma, e que ela entenderia.
Em vez disso, tive que ver em todos os lugares várias fotos dela com o
quarterback queridinho de todos, o mesmo das fotos que Samantha me
mandou. Tentei muito não pensar nisso, mas era impossível não ver que eles
estavam bem próximos.

Olhei todas as fotos deles, em todos os sites e perfis no Instagram.


Fiquei atualizando o feed dela a cada segundo, esperando que ela tirasse
nossas fotos ou que colocasse alguma com ele, qualquer coisa.

O ciúme me nocauteou. A possibilidade de ela ter virado a página que me


incluía e ter ido viver sua vida, me sufocou e eu chorei, sem me importar
com as pessoas ao meu redor. Chorei de verdade jogado no sofá de Barbie.

e então, eu sigo nesse ciclo de acordar, conferir as notícias com o nome dela
e seu Instagram, venho para o trabalho e confiro novamente, volto para

casa e continuo conferindo o resto da noite, enquanto faço outras coisas no


automático.

Ela me pediu um espaço e o mínimo que eu poderia fazer era dar isso a ela.
Eu entendo, de verdade, que é difícil acreditar que algo que ela viu não foi
realmente o que aconteceu. No lugar dela, agiria da mesma maneira, depois
de ter arrancado o homem de seus braços e dado uma bela surra nele.

Eu... só não estou preparado para perde-la.

01

Estaciono meu carro, uma Ranger Rover, que é o meu xodó, na vaga aqui do
WTC 1, um Edifício em Manhattan em que fica o escritório
Cooper&Barbieri Consultancy. Sigo até o elevador, entro, aperto o botão do
quarto andar e espero. Aproveito esse tempo e confiro a minha aparência no
espelho do elevador. Sorrio satisfeito com o que vejo.

Hoje será um dia agitado!

Saio e sigo até a recepção do meu escritório. O prédio é dividido de


maneiras diferentes, para atender o que os contratantes desejam. No caso do
C&B, temos quatro andares inteiros exclusivos, com direito a um elevador
privado para acessá-los. Ou seja, o máximo de exclusividade possível para
clientes exigentes.

Chego no último andar depois de pegar o outro elevador; aqui fica a minha
sala e do Barbie. Vou direto até a mesa da minha secretária, Jennifer.

— Oi, Jenni! — paro em frente a sua mesa, que sempre está muito
organizada, e a observo enquanto sorri simpática. — Conseguiu separar o
que eu pedi? Da minha cliente nova? — pergunto já sabendo a resposta.
Jennifer é muito competente.

— Claro, Sr. Cooper. Está tudo separado em sua sala — diz e logo volta a
fazer algo no ipad da empresa. — Sua cliente já está esperando pelo senhor
na sala de reunião 3 — me avisa.

Olho para o meu relógio no punho e confiro o horário, constatando que ela
está quase 1 hora adiantada, o que não é algo comum entre meus clientes.
Trabalhar com as pessoas que trabalho costuma ser difícil, pois muitos deles
pensam que tem o rei na barriga e, pontualidade é uma raridade de se
acontecer.

Murmuro um obrigado e sigo para a minha sala, sento e vou separando


apenas o que preciso para essa primeira reunião. Minha futura cliente é uma
modelo e ex-participante de reality show. Não a conheço e nunca vi nada
sobre ela, mas não sou referência, porque não sou ligado a

eventos de moda e, muito menos programas de tv; então, se não for alguém
do ramo musical ou cinematográfico, dificilmente saberei quem é.
Entretanto, depois que ela entrou em contato procurando ajuda e explicando
por alto o que houve, eu me vi pesquisando quem era e, uau, ela é
lindíssima, além de bem famosa.

Assim que separo tudo e coloco em uma pasta, saio e caminho em direção a
sala de reunião. Cumprimento meus funcionários enquanto ando, e quando
alcanço a sala, vejo uma mulher sentada de costas, que deduzo ser a minha
futura cliente.

— Bom dia, Srta. Ibrahim! — falo enquanto entro na sala e me encaminho


para a minha cadeira, que está de frente para ela.
Ela estava de cabeça baixa, um pouco distraída, então, quando levanta o
rosto e me olha, sou pego de surpresa. Ela é ainda mais linda pessoalmente,
e eu já tinha ficado impactado pelas fotos. E não sou tão fácil de ficar
impressionado apenas pela aparência de alguém, mas seus lábios carnudos,
olhos de um castanho claro muito bonito e levemente puxado nas laterais, a
deixa com uma beleza única. No momento, seu cabelo está preso em um
rabo de cavalo, mas consigo ver que ele também é castanho e vai clareando
pelo comprimento.

Sinto um leve nervosismo correr pelo meu corpo ao encará-la um pouco


mais, porém, mantenho minha postura e fixo meu olhar apenas pelo seu
rosto. Não quero que ela interprete algo errado.

— Prazer, Sr. Cooper — aperta minha mão e seu rosto ganha um tom rosado
ao sorrir, mostrando dentes e um sorriso perfeitos. — Por favor, pode me
chamar de Kath — diz enquanto solta a minha mão, posicionando as delas
no próprio colo. Me permito observá-la enquanto fala.

— Kath, claro, como preferir! — sorrio, ainda sentindo um desconforto


diferente pela sua presença. Passo a mão pelo meu queixo, e apoio o mesmo
nela, colocando meu cotovelo na mesa. — O que sei é o que ouvi por alto.
Me conte melhor e assim, vejo o que poderei fazer por você.

Ela fica em silêncio por um tempo, como se estivesse tomando coragem para
falar. Eu permaneço quieto, poderia esperar o quanto ela quisesse.

— Minha ex-agente me roubou — um tom de tristeza toma conta de sua


doce voz. — Ela tomava conta de tudo o que eu tinha, e também cuidava da
minha carreira. Éramos amigas desde que eu me entendo por gente, então,
pensei que seria a melhor opção para esse cargo, já que confiava nela de

olhos fechados — suspira frustrada e balança a cabeça, ainda indignada com


os acontecimentos.

Fico em silencio e espero que ela termine.

— Ela tinha acesso livre a tudo, porque resolvia exatamente todas as minhas
coisas. Eu fazia meus trabalhos e o resto era com ela — passa a mão nas
coxas, tensa. Meu olhar acompanha suas mãos, mas logo volto para o seu
rosto. — Um belo dia, acordei com várias ligações de jornalistas, de amigos
e familiares, perguntando o que tinha acontecido e porque estavam falando
aquelas coisas de mim na internet. Eu não entendi nada, até que comecei a
olhar os sites de fofocas e programas de tv e, lá estava a notícia de que

“supostamente” eu dei tudo que tinha para ela, porque estava falindo e era a
única maneira que de pagá-la, já que ela não recebia seu pagamento há
muitos meses.

“Tudo virou uma loucura. No desespero, eu tentei negar e ela usou isso
contra mim, divulgando em todos os lugares que tudo o que um dia tinha
sido meu, agora era dela. Falou que eu não queria assumir para o mundo que
estava falida, fingindo ter uma vida que eu não tenho, que só me ajudava por
pena e porque já fomos muito amigas. Tudo mentira, absolutamente tudo
mentira — fala nervosa, contendo as lágrimas que quase transbordam dos
seus olhos. — Ela vivia comigo, morava comigo. Eu sempre fiz tudo por ela
e não sei o porquê disso tudo! E, ela continua falando na internet várias
coisas inventadas. A última que falou é que eu usava drogas para manter
meu corpo em forma; falou que sou uma viciada!” – Kathllen ri com ironia e
aperta suas mãos, tentando conter a raiva.

Sinto muita verdade em tudo o que ela fala – e não sou de me enganar com
as pessoas. Fico triste por ver que existe pessoas ruins em todos os lugares,
querendo se aproveitar de quem lhe estende a mão. Trabalho como advogado
há anos e tenho total ciência do quanto as pessoas são aproveitadoras e ruins
mas, ainda me surpreendo com cada história que vou conhecendo. Essa é
uma dessas histórias.

— Kath... — olho profundamente em seus olhos, levo as minhas mãos até as


dela e as cubro por cima da mesa, apertando de leve. Tento disfarçar a
vibração que sinto ao tocá-la. — Eu sinto muito por isso tudo, de verdade.

Porém, não será nada fácil conseguir provar isso tudo. Se você realmente
estiver disposta a resolver essa questão, é bom ficar preparada para muitas
surpresas pelo caminho; ainda mais com a mídia envolvida.

Ela olha nossas mãos juntas por uns segundos, e fico imaginando se
ela sentiu também, mas depois move seus olhos até encontrar os meus.
Deixa escapar uma lágrima e vira o rosto, soltando as mãos das minhas e
limpando a lágrima. Fico um pouco mexido com a cena, mas permaneço
quieto, pois não quero invadir seu espaço.

— Eu vou precisar que você me passe absolutamente tudo o que tiver quanto
às coisas que envolvam ela. Fotos, mensagens, registro de ligações, e-mails,
contratos... Tudo mesmo. Iremos começar daí e depois veremos como
prosseguir — digo. Apoio os dois cotovelos na mesa e entrelaço meus dedos
uns nos outros. — Você consegue isso?

Ela concorda com a cabeça e volta a me olhar. A esperança estampa seu


rosto e um brilho toma conta dos seus olhos, deixando suas írises mais
claras.

— Você é o primeiro advogado que me dá alguma esperança, Dr.

Cooper. Isso, para mim, já é muito — o tom sincero em sua voz faz com que
eu me questione, mas sou bom o suficiente para resolver isso se ela
realmente tiver alguma prova, nem que seja mínima, do que está falando. —
Eu vou separar tudo que eu achar e trago aqui o mais rápido possível. Eu
preciso da minha vida de volta.

Consigo imaginar o inferno que ela está passando, ainda mais sendo uma
pessoa famosa. A internet é maravilhosa até deixar de ser; é uma faca de
dois gumes, da mesma forma que ela te dá o mundo, ela o tira em dois
tempos. Nas pesquisas eu consegui ver muita gente destilando ódio a
Kathllen, ódio gratuito a troco de nada.

— Teremos muito trabalho, e o quanto antes começarmos, mais rápido sua


vida voltará ao normal. Nesse cartão tem todos os meus contatos, inclusive
meu número pessoal. Caso você precise de alguma orientação urgentemente
fora do horário comercial, pode mandar mensagem para o meu número que
irei te ajudar, ok? — estendo a ela o meu cartão de visita, tentando evitar
tocar em seus dedos.

— Tudo bem... Dr. Cooper, eu nem sei como explicar como estou grata! —
sua voz é tão doce que nem parece vir desse mulherão todo. —
Quando me indicaram seu escritório, fiquei sem acreditar que iria conseguir
finalmente uma reunião com você, porque eu pesquisei bastante e sei que
você é o melhor para o meu caso — seu rosto ganha um tom vermelho
depois de me elogiar e, eu acho isso gracioso.

Entendo o que ela diz e, não serei modesto nesse ponto, pois realmente sou o
melhor para lidar com o meu nicho de clientes. Aliás, é

exatamente por ter ficado conhecido, que só aceito clientes que venham
através da indicação de outros clientes, amigos próximos ou familiares.

Trabalhar com pessoas famosas é um tanto quanto problemático, então


prefiro estar restrito a uma pequena porcentagem delas.

Eu tenho 28 anos e já advogo há 5, e faz pouco mais de 3 anos que me tornei


oficialmente um advogado apenas de pessoas famosas. O porquê disso?
Bem, eu gosto de sair da minha zona de conforto e sempre me superar,
então, onde mais eu poderia me superar se não fosse com os escândalos dos
famosos? Não que eu tenha algum problema com pessoas famosas, muito
pelo o contrário, meus pais já foram muito famosos, eu apenas não gosto da
mídia e o que ela pode fazer com uma pessoa inocente. Assim, me sinto bem
quando provo o quanto ela foi cruel para com as pessoas que me procuram.

— Quando o Jackson me ligou e disse que uma amiga precisava de ajuda,


não pensei duas vezes antes de aceitar te receber e descobrir se teria como te
ajudar — isso é verdade. Jackson é um ex-cliente que virou um grande
amigo, quase um irmão.

Me levanto, a vejo se levantar e virar de costas, indo em direção da porta. É


quase que inevitável aproveitar essa oportunidade e olhar seu corpo desse
ângulo. Como tudo o que já tinha visto, aqui também é perfeito.

Uau, essa mulher não tem como ficar melhor.

Caminhamos até a porta e abro para que ela passe.

— Srta. Ibrahim, espero que entre em contato o mais breve possível com
tudo que eu pedi — sorrio e estendo a mão para me despedir. Sou pego de
surpresa quando ela segura a minha mão, mas fica na ponta dos pés e beija
cada lado do meu rosto. Nesse momento, seu perfume toma conta do meu
espaço e eu controlo a minha respiração para não sugar todo o cheiro dela,
que tento identificar qual é, mas falho miseravelmente.

— Muito obrigada por hoje. Vou correr atrás de tudo que você me pediu hoje
mesmo — se afasta, olha a hora no relógio, depois me encara novamente e,
um sorriso que mostra seus dentes brancos ganham a minha atenção. Ela
sacode o meu cartão que ainda está em sua mão. — Eu entro em contato —
se vira e vai embora.

Fico olhando até ela entrar no elevador e sumir. Passo a mão na minha
cabeça quase raspada e suspiro.

É bom eu me acostumar logo com a beleza dessa mulher.

— Aquela ali era a Kathllen Ibrahim ou eu estou ficando doido? —

fala Barbie, apontando em direção ao elevador e logo depois me olhando,


com uma cara de cachorro abandonado. Encosta na parede de vidro ao meu
lado e cruza os braços, esperando por uma resposta.

Decido ignorar e ando para a minha sala, mas logo sou seguido por ele. Tiro
o paletó ao entrar na sala e me sento, esperando que Barbie se sente em
minha frente.

— Sim, cara, era ela — ergo as sobrancelhas e o observo enquanto senta e


estica os pés, apoiando-os em minha mesa, como sempre faz. — Ela é a
minha mais nova cliente, aquele caso que comentei no final de semana —

me estico e empurro os pés dele da mesa, escutando o barulho oco ao cair no


chão. — Deixa de ser folgado, cara! E, por que a pergunta? Devo me
preocupar com você rondando-a?

Scott Barbieri é meu amigo desde que tenho 18 anos, nos conhecemos na
faculdade. Nós dois fazíamos direito, e nos demos bem logo de cara. Na
mesma época em que o conheci, também conheci Jacob Ramsey; nós três
ficamos inseparáveis e somos assim até hoje, eles são a família que escolhi.
Jacob fazia administração, mas tínhamos algumas matérias juntos. Com
menos de 2 meses de amizade, decidimos alugar juntos um apartamento
perto da Columbia, que era a faculdade que frequentávamos, e sair dos
alojamentos dos calouros. O fato de morar só nos três nos aproximou mais
ainda e, já sabíamos que seria uma amizade e tanto, pois pouco tempo depois
eu e Barbie já planejávamos abrir um escritório de advocacia em sociedade
quando terminássemos a faculdade. Para nossa surpresa, Jacob também quis
entrar nessa conosco, não como advogado, claro, mas como administrador
do escritório. Ele tomaria conta de tudo que não fosse advogar.

Foi dessa forma que, com 24 anos, nós três abrimos a Cooper & Barbieri
Consultancy.

O início foi bem difícil, éramos dois advogados novos no meio da gigantesca
Manhattan, que tem inúmeros escritórios de advocacia, e um administrador
que não tinha muito o que fazer já que não tínhamos clientes.

Fizemos muitos trabalhos para amigos e familiares de graça até que um belo
dia, Barbie se envolveu com uma mulher que é filha de um senador, e ele
falou por alto que era advogado e deu uma melhorada na história, dizendo
que éramos lotados de clientes políticos e famosos. Ela contou para o pai, e
alguns dias depois, recebemos em nosso pequeno escritório um senador
importante com vários seguranças ao redor. Não entendemos nada até contar
de quem era pai. Na hora pensei que aquilo daria em um grande problema,
ou

que ele desistira, por não sermos “lotados de clientes políticos e famosos”,
como o Barbie tinha falado. Porém, ele estava tão desesperado que pediu
pela nossa ajuda e disse que, se conseguíssemos resolver seu caso, ele nos
indicaria para todos os seus amigos enquanto estivesse vivo. Nós estávamos
precisando de um caso assim para garantir alguma visibilidade, então,
aceitamos sem nem pensar direito nos prós e contras.

Foi um caso extremamente difícil, o senador estava realmente sendo


injustiçado – nós só pegamos casos em que as pessoas realmente estão do
lado certo da história, não somos advogados do “diabo”, como costumam
chamar os advogados que pegam casos de criminosos. Depois de meses de
muita luta, em que eu e Barbie trabalhamos juntos para ele, ganhamos o
caso.

Acredite, o senador cumpriu o seu papel e faz isso até hoje. Além de nos
pagar uma pequena fortuna, em 1 ano nos deixou com o escritório lotado.

Um tempo depois desse início de fama no ramo, decidimos investir em um


escritório apropriado para pessoas famosas e importantes – porque sejamos
sinceros, essas pessoas gostam de luxo a todo momento e lugar.

Compramos 4 andares de um dos edifícios mais famosos de Manhattan,


fizemos mais contatos com pessoas importantes e, hoje em dia somos um
dos escritórios mais requisitados de NY.

— Cara, essa mulher é linda demais... toda linda! — enfatiza as duas últimas
palavras e arqueia as sobrancelhas. Eu reviro os olhos, nada surpreendido
com o comentário dele. — Você é um sortudo da porra — gira na cadeira e
se levanta, indo até o pequeno bar que tenho em minha sala.

Me levanto também e o sigo, mas paro diante da janela que vai do teto ao
chão e admiro a paisagem. Nosso escritório não pega os andares mais altos,
mas daqui consigo ver bastante coisa dessa cidade tão agitada.

— Para ser sincero, eu não tinha noção de quem ela era antes de pegar a
ficha — me viro quando percebo sua presença ao meu lado. Pego o copo de
whisky que ele me serve. — Ela é muito linda mesmo, acho que nunca tinha
visto uma mulher tão linda assim — tomo um gole, sinto o líquido queimar
enquanto desce pela minha garganta, olho para o copo e depois para Barbie.

— Mas ela é cliente, e qualquer coisa que não seja profissional, está fora de
cogitação. Além do mais, ela deu zero demonstração de interesse... Na
verdade, mal me olhou de maneira diferente que não fosse a de alguém
desesperada por ajuda — dou de ombros, caminho até a minha mesa
novamente, coloco o copo em cima do descanso, apoio as duas mãos na
mesa e dou uma rápida olhada em meus e-mails. — E, ninguém aqui vai

constrangê-la com olhares ou qualquer piada. Sei que nunca tivemos


problemas com isso, mas é bom enfatizar.
— Uhum, se você está falando isso... — ele termina de beber, coloca o copo
no bar e para na minha frente, cruzando os braços — Relaxa, bebê! Eu só
comentei com você e, com certeza vou falar com Jacob, além de depois ir
reclamar com Jackson por nunca a ter me apresentado. Entretanto, dentro
dessa empresa eu sou um anjinho. Quero ver se você vai conseguir não cair
no charme dessa linda dama — debocha. Ele adora fazer isso quando
dificilmente eu comento sobre alguma mulher.

Reviro os olhos e o ignoro. Barbie é um mulherengo de primeira!

Dificilmente alguém irá vê-lo com a mesma mulher uma segunda vez. Nos
auges dos seus 28 anos, ele é famoso tanto no seu lado profissional, como
também no lado pessoal. É um ótimo amigo, mas às vezes me irrita de tanto
que fala de mulher. A sorte é que eu amo demais esse cara, então acabo
escutando sobre suas aventuras.

— Sério, Barbie?! Sou totalmente capaz de trabalhar com uma mulher bonita
e não confundir as coisas — passo por todos os e-mails, sinalizo alguns
importantes e desligo o computador. Estico o corpo e pego meu celular. —
Nem todo mundo é igual a você, que não resiste ao sexo oposto.

E, todo mundo sabe que você dorme com suas clientes depois que encerra o
caso delas.

— Falando assim, parece até que sou um mulherengo — coloca a mão no


peito, fingindo estar magoado e depois solta uma risada. — Não me leve a
mal, bebê. Todo mundo sabe que você não mistura as coisas... Só achei que
vocês dois fariam um belo casal. Não tenho culpa se eu sou irresistível, mas
ética em primeiro lugar. Depois que encerro o caso, começo a trabalhar de
outra maneira — continua rindo enquanto sai da minha sala. Rio também,
porque essa cara é uma figura.

Olho as mensagens no celular, respondo algumas e, logo em seguida, ligo


para a minha mãe.

— Dona Elizabeth, que saudades da senhora! — digo quando me atende.

— OH DEUS! OBRIGADA! Meu filho lembrou que a mãe existe —


fala e solta uma gargalhada gostosa, que preenche meu peito de felicidade.

— Quanto exagero, mãe — coloco o celular no auto falante, deixo na mesa e


visto meu paletó, me preparando para as próximas reuniões — Mãe, a
senhora e o pai estão de bobeira hoje? Pensei em ir à casa de vocês e fazer

um churrasco, que tal? Tenho mais alguns compromissos mas pensei em ir


direto quando acabar por aqui.

— Oh, meu amor, parece que você leu nossas mentes. Seu pai ia te chamar
para almoçar amanhã, mas, podemos jantar hoje então — fala com seu
jeitinho doce que sempre aquece meu coração. Eu sorrio para o aparelho.

— Tudo bem, mãe! Daqui a algumas horas estarei aí. Beijo, amo a senhora
— termino de deixar a minha mesa organizada, pego meu celular e saio da
sala. Espero minha mãe se despedir e desligo, colocando-o no bolso.

O resto do meu dia corre como planejado e quando menos percebo já


encerrei tudo e dou meu dia por aqui como finalizado.

Sigo em direção ao elevador, confiro a hora no meu relógio e caminho para o


estacionamento. Tiro a chave do carro do bolso e destravo, entro e jogo a
minha pasta no banco ao lado, solto as abotoadoras da camisa e afrouxo a
gravata.

Meus pais moram em uma casa de dois andares no Brooklyn.

Mudaram-se para essa casa assim que eu e meu irmão saímos da casa deles.

Lá é um ótimo bairro, e não é muito distante de Manhattan, que além de ser


onde trabalho, também é onde moro.

Ligo o rádio e vou dirigindo sentindo a casa deles. Batuco os dedos no


volante de acordo com o ritmo da música enquanto dirijo, também prestando
atenção no caminho. Paro em um sinal, olho ao redor e vejo uma banca de
jornal. Reparo em várias fotos da Kathllen, mas não consigo ler o que estão
falando; provavelmente, é sobre todos esses boatos contra ela.

Como nunca tinha visto nada dela por aí antes?


Quase uma hora depois, chego na casa dos meus pais. No caminho, parei em
um mercado e comprei tudo que achei necessário, só que em mais
quantidade, porque chamei Jacob e Barbie e, eles nunca deixam de vir. Pego
minha chave e abro o portão, já sendo recebido pela minha mãe.

— Oi, querido! Me dê algumas sacolas, seu pai já está vindo ajudar

— me dá um beijo no rosto, passa a mão em um dos meus braços e pega


umas sacolas, levando tudo para dentro.

Minha mãe é uma mulher linda, no auge dos seus 50 anos e, muito bem
conservada. É muito comum as pessoas acharem que ela é uma irmã mais
velha, porque realmente não parece ter seus 50, muito menos ser mãe de dois
homens barbados. Seu jeito alegre e descontraído faz com que pareça ser
ainda mais nova. Às vezes, até eu mesmo me esqueço que é minha mãe
quando engatamos numa conversa, já que ela é super para frente.

— Não precisava, mãe, eu poderia levar sozinho! — ela faz um movimento


com a mão, dispensando o que eu disse e seguindo direto para os fundos da
casa.

— Noah! Que saudades, filho — meu pai desce até onde estou e me abraça
forte, fazendo com que eu quase derrube as sacolas, mas não me importo e
correspondo ao abraço. — Vou pegar o resto que ficou no carro! —

desfaz o abraço e segue em direção ao meu carro.

Meus pais são ex-modelos, então sempre cuidaram muito bem da aparência e
da saúde. Dificilmente alguém vai olhar para eles e não reconhecer o quanto
são bonitos e, um casal de dar inveja. Eu mesmo espero que, no dia que eu
decidir parar com alguém – caso esse dia chegue –, que eu consiga ter algo
minimamente parecido com o que eles têm. Eles são meu exemplo para tudo
nessa vida. Não poderia ter pais melhores.

Sigo para a parte interna da casa, que é toda em tons de branco e bege, com
moveis em marrom bem escuro. Há muitas fotografias espalhadas pela casa,
além de quadros enormes e lustres lindíssimos. Minha mãe adora decoração,
então sempre muda as coisas por aqui; é o passatempo preferido dela.
Passo pela cozinha, que é toda moderna e totalmente branca (incluindo os
móveis e eletrodomésticos), saio pela porta dos fundos e vou para a área da
churrasqueira. Coloco as sacolas em cima da pia, depois tiro as coisas e
arrumo como consigo. Meu pai chega ao meu lado e guarda as cervejas no
freezer.

— Seu irmão disse que chega em uns 20 minutos e, graças a Deus, não trará
nenhuma menina com ele — fala em tom de ironia. Meus pais sofrem com o
meu irmão e seus namoros que não duram um mês, mas ele sempre acredita
que a mulher da vez é a mulher da sua vida... Ele tem 30

anos e fala isso desde os 18. Já não acreditamos há alguns anos.

Deixo tudo arrumado para o churrasco, pego o avental, o coloco e prendo a


fivela. Vou ao freezer e pego duas cervejas, abro ambas e levo em direção a
minha mãe, que está sentada em uma espreguiçadeira, com seu fiel livro a
tira colo. A surpreendo dando um beijo em sua cabeça, coloco a cerveja à
sua frente e vejo-a pegar da minha mão. Minha mãe adora cerveja, já meu
pai prefere vinho e dificilmente eles bebem outra coisa.

— Sabia que não ia esquecer da sua mãe — pisca e encolhe as pernas, dando
espaço para que eu me sente e, eu faço isso assim que ela termina de se
arrumar. Abro a minha cerveja, levo de encontro a dela e brindamos.

— Que nunca nos falte! — digo minha frase típica de quando brindo.

Levo a cerveja a boca e dou um grande gole, sentindo o gosto amargo descer
pela minha garganta e refrescar todo o meu corpo.

— À nossa vida linda e, que em breve você me dê uma nora tão linda quanto
nossas vidas! — fala em um tom de esperança. Minha mãe também sempre
brinda assim, ou pelo menos, é assim que ela brinda comigo de uns anos
para cá.

Balanço a cabeça após ouvir e levanto o olhar para trás dela assim que vejo
que meu irmão e os meninos chegaram. Devem ter se encontrado para vir em
um carro só. Me levanto, ajudo minha mãe e vamos em direção a eles.
— E aí, gente?— cumprimento Barbie e Jacob rapidamente, depois vou ao
meu irmão e o abraço. — E aí, Bryan, sem namorada hoje? — não consigo
evitar a brincadeira e me solto do abraço já rindo.

Bryan é meu único irmão e, é mais velho que eu, completou 30 anos em
janeiro. Nós somos totalmente o oposto e não só na aparência, mas na
personalidade também. Ele é ligado no 220v, romântico fervoroso e brinca
com tudo – inclusive, quando éramos mais novos, brigávamos demais por
conta desse jeito dele. Ele é loiro, tem por volta de 1.85m e seus olhos são
tão azuis que, às vezes, parece que não são naturais. Não aparenta ter a idade
que tem, porque como eu e nossos pais, também cuida muito bem de si.

Eu e o B fomos adotados ainda quando crianças pelos nossos pais.

Não consigo imaginar uma vida melhor do que eu tenho, e acredito que ele
também não tenha o que reclamar, já que nunca nos faltou nada e muito
menos amo. Elizabeth e Justin são o tipo de pais que todos deveriam ter.

Bryan finge uma risada sem humor e vai falar com nossa mãe. Dou uma
última risada e sigo para a área da churrasqueira. Jacob e Barbie estão
encostados na pia, conversando. Aproximo-me e bato minha cerveja nas
deles, brindando.

Começo a separar as carnes e outras proteínas para pôr na churrasqueira e


canto baixinho a música que alguém colocou. Eu não gosto de cozinhar, mas
churrasco é algo que sou apaixonado, então aprendi a fazer ainda
adolescente, e sou sempre eu quem faço nos encontros da família e nas festas
com meus amigos.

Depois de alguns minutos, tudo já está pronto e minha mãe já colocou o


restante da comida na mesa que fica do lado de fora. Todos estão sentados,
rindo e brincando uns com os outros. Vou levando as carnes e sorrio ao ver a
minha família. Sou muito grato a todos eles, não preciso de mais nada e mais

ninguém.

Eu realmente acreditava nisso, mal sabia que, em breve, iria descobrir que
ainda me faltava uma pessoa para ser completo.
02

Olho para o relógio na parede e suspiro ao notar que já amanheceu.

Mas um dia que passo a noite em claro, procurando por qualquer possível
prova para o meu caso.

— Que merda! — resmungo, tiro o notebook do colo e me levanto. Meu


corpo reclama e várias partes dele estalam. Me alongo, tentando aliviar a
musculatura e sigo para o banheiro.

Banho! Preciso de um banho para relaxar o corpo.

Os inícios das minhas manhas não costumavam ser assim, ainda mais às
segundas-feiras. Entretanto, depois que a minha querida ex-agente resolveu
fazer da minha vida um inferno, manhãs como esta têm se repetido com
frequência.

Tiro toda a minha roupa e entro no banho, fico um bom tempo lavando meu
cabelo e deixando a água quente cair sobre o meu corpo. Passo a mão pelo
rosto, ainda sem acreditar que tudo isso está acontecendo comigo.

Desligo o chuveiro e me enrolo em uma toalha.

Me olhando no espelho, sei que sou uma mulher bonita e não tenho
problema nenhum em assumir isso. Depois de anos difíceis na infância,
sofrendo bullying e sendo piada, decidi que iria mudar e cuidar mais de
mim.

Na adolescência, minha aparência já tinha mudado totalmente, meu corpo se


desenvolveu em uma ótima forma, me dando minhas curvas que eu tanto
amo, e que as pessoas veem também. Descobri que poderia usar a minha
beleza ao meu favor. Investi um pouco mais em minha aparência, comecei a
fazer exercícios e virei modelo. Não modelo de passarela, até porque não sou
magra o suficiente para isso, pelo menos, não da maneira que sabemos que a
passarela impõe que sejamos, e nunca nem quis ser, mas sou ótima com
fotos. Já fui capa de várias revistas famosas e também já modelei para
muitas marcas grandes.

Por conta dos holofotes, acabei virando influencer na internet e fui chamada
para participar de um reality show. Foi nessa época que cheguei ao

ápice da fama. Adoro meus fãs, sempre dou atenção e assistência a eles, até
porque eu sou o que sou por conta deles. E, onde moro é bem comum de ser
ver famosos, então, as pessoas costumam ser mais tranquilas quando nos
abordam. A única coisa chata é que, qualquer lugar sempre tem algum
repórter nos seguindo, querendo estar preparado caso aconteça algo.

Penteio meu cabelo, faço todo meu ritual diário de passar hidratantes,
cremes pelo corpo, perfume e uma maquiagem bem leve para o dia, mas que
disfarce a imagem de zumbi que estou esses dias. Saio do banheiro, entro em
meu closet e pego um conjuntinho de calcinha e sutiã preto, depois vou até a
parte dos vestidos e escolho um preto de alça grossa, justo no busto e mais
soltinho no cumprimento, que bate um pouco abaixo do meio das coxas.

Termino de me arrumar, sento em minha cama e pego o notebook


novamente. Ontem eu acabei virando a noite novamente, mesmo depois de
passar todo o final de semana procurando tudo que eu tenho para provar a
minha inocência em toda essa situação com a Alex. Confiro tudo que
consegui, coloco em uma pasta e jogo para dois pendrives. Pego um deles,
levo no closet e coloco dentro do cofre que agora tem uma nova senha e
apenas eu sei; o outro coloco na minha bolsa e saio do quarto.

Ao sair de casa, desço até a recepção.

— Srta. Ibrahim, bom dia! — o porteiro sorri ao falar.

Olho para fora, observando o movimento e tentando achar algum fotógrafo à


espreita. Não vejo nenhum.

Ótimo, acho que estão se esquecendo de mim.


— Bom dia, seu Pedro. Como vão as netas? — paro na sua frente e sorrio.

Peter é um ótimo porteiro. Muito discreto e já me salvou de vários sufocos


com fotógrafos e jornalistas. Morar em uma cidade movimentada faz com
que facilmente a mídia descubra onde você mora, mas pago bem caro para
que a minha segurança não esteja em risco, e até hoje, nada além de ser
encurralada na entrada aconteceu. Aliás, não sou a única pessoa famosa que
mora nesse prédio.

— Estão ótimas! Elas gostaram tanto dos presentes, são suas fãs número 1
— a sinceridade em sua fala aquece o meu coração. Me despeço, saindo do
prédio. Coloco meus óculos escuros, arrumo o rabo de cavalo e já chamo o
primeiro taxi que vejo passar.

Entro, me acomodo, passo o endereço e apoio a cabeça no encosto enquanto


olho para a rua cheia de prédios gigantes, muitos carros e pessoas

tentando competir por espaço na gigante Manhattan.

Sinto meu celular vibrar dentro da bolsa e o pego.

Desconhecido: Kathllen?

Desconhecido: Humm, não sei se o número está certo, mas espero que
esteja. Caso seja você, gostaria muito de que entrasse em contato. É urgente.

Leio as duas mensagens e congelo ao ler a última.

Desconhecido: Sou eu, Ethan. Me ligue a qualquer hora.

Fico alguns minutos, que parecem horas, olhando para aquelas mensagens,
sem conseguir acreditar que depois de quase dois anos, ele teve a coragem
de me procurar.

Quem ele pensa que é? E quem passou meu número novo?

O carro para em frente à cafeteria Coffee Aromas. Pago ao motorista e saio.


Hoje é segunda-feira, normalmente as cafeterias ficam mais lotadas do que
qualquer outro dia, mas daqui de fora, já consigo enxergar minha mãe
sentada, lendo um livro que não consigo saber qual é com essa distância.

Entro e o sino toca, fazendo com que eu chame atenção de alguns clientes.
Percebo umas pessoas mirando o celular em minha direção, o que é algo
normal, mas ultimamente tenho ficado com medo de aparecer em qualquer
mídia, por motivos óbvios, e eles aparecerem onde eu estiver e começarem a
me encurralar com perguntas que não quero responder.

Chego na mesa em que minha mãe está, sento e sorrio para ela assim que me
olha.

— Oi, meu amor! Que saudades — fala enquanto coloca o livro fechado na
mesa, tira seus óculos e os deixa sobre o livro. Estica as mãos em minha
direção, esperando que eu as pegue e, é isso que eu faço.

— A senhora está ótima, mamãe — falo em um sussurro, sentindo o choro


prender em minha garganta — Estou cheia de saudades também.

Ela faz um breve carinho em minhas mãos, e depois chama a garçonete, que
já estava vindo em nossa direção.

— Olá, me chamo Emma e irei atendê-las hoje — fala sorridente, e nos


entrega o cardápio. — Já sabem o que querem ou precisam de um tempo
para escolher? — enquanto ela fala, olho rapidamente o cardápio e me
decido.

Observo Emma de relance. Ela é uma ruiva muito bonita e parece ser mais
nova do que eu. É simpática e sorridente, mas isso não consegue esconder o
quanto aparenta estar cansada.

— Eu vou querer um chá de camomila com damasco, e ovos com presunto,


por favor — falo e olho para minha mãe, que ainda olha o cardápio.

— Também vou querer esses ovos — devolve o cardápio para Emma e


termina — e um cappuccino bem forte, meu anjo.
Emma anota tudo, nos avisa que voltará em breve com nossos pedidos e sai
em direção ao balcão.

— Moça educada! — concordo com um balançar de cabeça, e encaro minha


mãe, sentindo meu coração pesado por conta da saudade.

Meus pais moram em Outer Banks, na Carolina do Norte. Foram para lá


ainda jovens, quando abandonaram a Turquia, cidade natal de ambos, para
viver um romance que seguiu um caminho indesejado. Eu nasci em Outer
Banks e morei lá até completar meus 18 anos. Depois que eu vi que tinha
chances na carreira de modelo, precisei me mudar para um lugar que tivesse
mais oportunidades. Mamãe ficou muito feliz e me apoio da maneira que
pôde. O problema nisso tudo foi como meu pai reagiu.

— Querida, sinto tanto pelo o que está passando — é quase palpável a


preocupação em seu tom de voz. — Ainda não consigo acredita que a Alex,
a nossa Alex, teve coragem de fazer tudo isso. Me sinto uma péssima mãe
em nunca ter reparado que ela não era realmente uma boa amiga. Ela
apareceu lá na cidade na semana passada, mas não foi muito bem recebida.
Todos na cidade conhecem você e não conseguiram acreditar nessas
mentiras. Eu fiz questão de afirmar que tudo realmente é mentira.

Olho para cima no intuito de segurar as lágrimas que já se formam em meus


olhos.

— Mamãe, a senhora não tem culpa de nada. Por favor, não faça isso, não se
culpe — apoio o rosto na mão enquanto meu cotovelo o sustenta na mesa.

— Eu vou conseguir resolver isso. Encontrei o melhor advogado de NY, e


ele aceitou pegar meu caso... Vai dar tudo certo! Estou realmente confiante.

Antes que minha mãe consiga responder, Emma volta com nosso pedido,
organiza tudo na mesa, deixa uma comanda, sorri e se retira.

— Eu queria tanto ficar com você aqui, querida — sussurra e funga o nariz,
deixando algumas lágrimas escorrerem — mas, você sabe como é o seu pai,
né? Ele nunca toparia, e eu não posso deixá-lo sozinho; não agora, pelo
menos.
Reviro os olhos ao ouvir sobre meu pai, mas não digo nada porque sei que
minha mãe o ama demais e sofre por conta da minha relação com ele ser um
desastre. Ele não a merece, nunca foi um bom marido e muito menos um

bom pai. Por anos, tentei ser uma filha amada por ele, mas quando fui
crescendo e amadurecendo, o enxerguei de verdade e torço para que um dia
minha mãe enxergue.

Tomo meu chá e fecho os olhos ao provar o gosto e o aroma mais gostosos
que senti nos últimos tempos. Os chás daqui são os melhores que já tomei.
Tomo mais um gole, depois começo a comer os ovos.

Depois que mamãe tocou no assunto do meu pai, ficamos em silencio um


tempo, porque ela sempre tenta defender as ações dele e, eu sei que ela
realmente queria que ele fosse o que ela diz, mas eu vivi tempo demais no
mesmo teto que ele para saber que sempre será uma pessoa que só pensa
nele mesmo. Preferi mudar de assunto e agora estamos conversando sobre
outras coisas, tentando deixar o clima um pouco mais leve.

Escuto o sino da cafeteria tocar e vejo quando minha mãe arregala os olhos e
ruboriza. Tento segurar uma risada, porque sei que quando minha mãe fica
assim é porque viu algum homem que considera atraente.

— Mamãe — falo em meio a uma risada baixa —, está me deixando


curiosa! A senhora está muito vermelha — me controlo para não virar na
direção que ela está olhando.

Ela pisca algumas vezes e tenta se recompor, me olha e dá uma risada


tímida.

— Com tantos homens bonitos aqui, não sei como você continua solteira

— resmunga e cruza os braços — Sério, querida! Já faz quanto tempo? —


ela para, aparentemente tentando contar. — Dois anos?

— Dona Joana, a senhora não desiste né? — ergo as sobrancelhas. Estava


demorando até ela tocar nesse assunto. — Mas, sim... São quase dois anos
desde que o noivado acabou. E, falando nisso, ele me mandou mensagem
hoje, acredita? Depois de tudo, depois de todo esse tempo, ele teve coragem
de mandar mensagem falando que quer falar comigo — resmungo.

— Meu amor, eu sei que foi tudo muito confuso e que já faz tempo.

Porém, você não tem nem vontade de descobrir os motivos dele? —


pergunta com cautela, ela sabe que é um assunto delicado para mim. —
Nada justifica o que ele fez e a gente sabe disso, mas talvez para ele, o
motivo tenha sido plausível de alguma forma.

— Obvio que eu tenho curiosidade, mamãe, mas prefiro ficar eu mesma


imaginando vários motivos do que ter que vê-lo. Ainda não consigo!

— suspiro, frustrada.

Minha mãe fica quieta e novamente ruboriza. Olha para alguém por cima

da minha cabeça, e dessa vez não me controlo, começo a virar na direção


dessa tal pessoa que está fazendo com que ela fique assim.

— Não querida, eles parecem estar vindo em nossa direção — segura o meu
punho, me impedido de virar. Acho estranha a sua atitude, mas concordo
com a cabeça, esperando que eles passem por nós para que eu consiga ver
quem são.

Antes que eu fale algo, sinto um perfume incrivelmente delicioso e tenho a


sensação que já ter sentindo esse perfume antes.

— Srta. Kathllen, que prazer vê-la aqui! — sinto sua presença ao meu lado e
viro um pouco, sorrio ao constatar que o perfume vem de Noah.

— Oi, Dr. Cooper! — me levanto, seguro sua mão em cumprimento e sorrio.


— Bem, Dr. Cooper, essa é a minha mãe, dona Joana. Mamãe, esse é meu
novo advogado, Dr. Cooper.

Me afasto, apoio a mão nas costas da cadeira que eu estava sentada enquanto
ele fala com minha mãe, e nesse momento, parece que é a primeira vez que o
noto de verdade. Noah é um homem lindo e isso eu já tinha reparado em
nossa primeira reunião, mas só agora estou de fato observando-o bem. Ele é
negro, deve ter por volta de 1.90 de altura, ou um pouco mais, e seu corpo...
Deveria ser um templo! É perfeito. Ele é todo forte, e como está sem o
paletó, consigo ver seus músculos pela camisa social branca, que fica
apertada, abraçando tudo de bom que esse corpo representa. É um conjunto e
tanto, que ganha um charme a mais pelos seus olhos verdes.

Meu Deus, Kath, disfarça. Acho que estou babando...

— Quer se sentar conosco? — escuto minha mãe oferecer e arregalo os


olhos. Quando Noah olha para mim, tento disfarçar e sorrio. Me sento
novamente, um pouco nervosa com a possibilidade de ele aceitar a oferta da
minha mãe.

— Obrigada, dona Joana, mas estou com meus amigos na mesa ali atrás

— sorri mostrando os dentes branquíssimos e uma covinha em cada


bochecha. Deveria ser proibido um homem tão bonito ter covinhas. Aponta
para a mesa, sinaliza seus amigos a algumas mesas de distância da nossa —,
mas obrigado. Quem sabe na próxima, tudo bem? — olha para mim e sorri
novamente. — Te vejo essa semana ainda? — me pergunta.

Por um segundo, eu entendo errado e faço uma careta, mas minha ficha cai e
percebo que ele está se referindo ao nosso encontro como advogado e
cliente, que no caso, eu iria ligar para marcar hoje, mas como passei a noite
em claro e estava exausta antes desse café, acabei me esquecendo disso.

— Eu ia ligar mais cedo para marcar e acabei esquecendo. Hoje eu estarei


aqui por perto o dia inteiro. Se tiver algum horário disponível e puder me
encaixar... — lanço um sorriso ao terminar a frase para tentar amolecer o
coração dele.

Ele dá uma risada breve e concorda com a cabeça, se despede da minha mãe
e se ao virar para mim, fala:

— Pode passar lá assim que ficar livre, estarei de volta em alguns minutos e
ficarei à sua disposição — pisca e sai em direção a sua mesa com os dois
home... PUTA QUE PARIU. Arregalo os olhos assim que ele senta com seus
amigos.
— Eu sei, filha! Também fiquei assim quando vi os três juntos. Que trio,
estão de parabéns — ri da minha cara, termina seus ovos e limpa a boca

— Dr. Cooper, né? Que pena que ele é seu advogado, porque seria um ótimo
pretendente para te tirar dessa vida chata de solteira que você leva. Poderia
ser só... Como vocês falam? — pensa — AH! Ficantes, o famoso sexo sem
compromisso — dá de ombros como se não fosse uma mãe falando de sexo
com a filha.

— MAMÃE! — engasgo com o resto do meu chá e rio. Olho em direção a


mesa que Noah está e ele o pego me encarando. Fico sem graça, mas sorrio
para ele, que retribui com um movimento com a cabeça e vejo um quase
sorriso sair dos seus lábios.

Realmente não seria nada mal um homem como ele aparecer em minha vida.
Há muito tempo que não sei o que é curtir um tempo calmo com alguém.
Não quero me envolver sério tão cedo, mas seria legal uma pessoa para me
dar carinho e sexo.

03

Desvio meu olhar da mesa onde Kath está com sua mãe e presto atenção no
que os meus amigos estão falando.

— Ela é realmente muito bonita! — diz Jacob, olhando na direção de Kath


por cima de seus óculos de grau. — Pensei que Barbie estava exagerando,
sabe como ele é, né? Mas ele foi sincero dessa vez — ri e volta a olhar para
o celular, procurando por algo.

— O mal de vocês é que não levam fé no que eu falo. Por exemplo —

Barbie aponta para mim e depois para a Kath, que por sorte, não está
olhando
—, rolou um clima do caramba só em um cumprimento entre vocês dois
agora, parecia até aquelas cenas de filmes que achamos forçadas, quando o
casal demonstra uma atração forte depois de se conhecerem brevemente —

fala cheio de certeza — E, A MÃE DELA ESTAVA NA FRENTE DE

VOCÊS – enfatiza. Eu ia perguntar como ele sabe que é mãe dela, mas é
evidente a semelhança gritante das duas, sendo que a sua mãe já tem a
aparência mais amadurecida, mas isso não faz com que ela perca sua beleza.

Barbie é muito exagerado na maioria das vezes, mas agora eu terei que
concordar com ele em certo ponto, mas, ele realmente não precisa saber que
concordo com tal coisa.

Pego meu café, o termino e olho novamente para a mesa dela. Parece que ela
sente meu olhar e o retribui no mesmo momento; dou um sorriso discreto e
desvio de suas irises que me envolvem. Olho o meu celular e entro no
Instagram. Procuro pelo perfil dela e, não é muito difícil de achar. Kath tem
milhões de seguidores e sua conta é verificada. Vou rolando a tela e vendo
várias fotos. Ela é muito fotogênica, suas fotos são lindas, inclusive as de
biquíni, perco um tempo vendo várias e, a cada momento sua beleza parece
dar um tapa na minha cara. Suspiro.

Porque mesmo eu inventei de ver seu Instagram? Agora vi coisas demais.

Bufo e largo o celular na mesa. Apoio os cotovelos e observo Jacob

distraído com algo no balcão. Olho na mesma direção e, para a minha


surpresa, ele está distraído olhando uma mulher lindíssima, mas que parece
ser bem mais nova do que ele. Volto o olhar para ele e sorrio.

— Conhece a garçonete nova? — falo e ele sai de seu transe, me olhando


com a sobrancelha erguida, sem entender a minha pergunta. — A menina
que você está encarando igual um velho tarado — explico e ele volta a olhar
para ela, com curiosidade. — Ela já deve trabalhar aqui há um mês, Jacob.
Você vem aqui todos os dias e só reparou nela hoje?

Jacob fecha o semblante e dá de ombros, pega seu suco e vira o restante.


Provavelmente, ele não a notou porque vive num mundo só dele a maioria
do tempo, vivendo de um passado que a cada dia que passa só o arrasta mais
para baixo. E, também tem esse aplicativo, que provavelmente deve ser
cliente diamante, já que o usa quase todos os dias.

— Acho que nunca a vi por aqui mesmo, mas isso só aconteceu pelo fato de
eu ser muito ocupado — diz, na defensiva, como sempre — Ela me lembrou
uma pessoa, que eu não tenho mínima noção de quem seja... Sabe aquela
sensação de que conhece alguém parecido, mas não sabe a quem associar a
lembrança?

— Jacob, eu te amo mas, você é estranho quase o tempo todo! Tem certeza
que tem 28 anos também? — Barbie diz entre uma risada e outra, e recebe o
dedo do meio de Jacob como resposta. Dou risada dos dois. É

sempre assim, eles se amam, mas implicam a todo momento um com o


outro, por serem extremos opostos, exceto pelo fato de que sempre estão
com uma companhia para aquecer suas camas e, que não repetem esse
alguém.

Entretanto, cada um tem seu estilo único de abordar as mulheres, que


também é diferente do meu jeito.

Pego a nossa comanda e me levanto - fazendo com que eles se levantem


também -, levo-a e estendo o dinheiro até o balcão, deixando com o garçom
que nos atendeu e o poupando de ir até a nossa mesa novamente.

Os dois já saíram e, provavelmente, me esperam lá fora, mas paro e olho


para a mesa de Kath. Ela está sozinha. Olho novamente para onde meus
amigos devem estar e fico na dúvida se falo com ela ou a deixo quieta .

Ah! Que seja, vamos resolver logo isso.

— Estou indo para o escritório agora. Se você estiver livre e já quiser ir, eu e
os meninos podemos te fazer companhia — chego de surpresa em sua mesa
já fazendo o convite. Ela levanta o rosto rapidamente e sorri, concordando
com a cabeça. Guarda em sua bolsa o que eu imagino ser a

carteira e se levanta. Caminho ao seu lado, abro a porta e faço sinal para que
ela saia primeiro.
Jacob me olha com um meio sorriso no rosto, com certeza fazendo
comentários sobre isso em sua cabeça, e Barbie já está vindo ao nosso
encontro, mostrando todos os dentes, sempre muito dado.

— Prazer, eu sou o Scott, mas todo mundo me chama de Barbie e, acho que
o motivo é obvio — eles se cumprimentam com um aperto de mão e ela ri da
apresentação nada comum dele. Logo, recebe a mão de Jacob a
cumprimentando também.

— Sou Jacob. Prazer! — sorri contido e começamos a caminhar até o


edifício, que fica quase do lado da cafeteria.

— Prazer, rapazes! – ela olha para Barbie e pergunta. — Você é o outro


advogado, certo? Já conhecia você pelas redes sociais — com certeza ela
está se referindo das várias vezes que saíram notícias falando sobre possíveis
envolvimentos dele com algumas mulheres famosas, mas, ela é educada
demais para falar descaradamente.

Ele concorda com a cabeça e segura uma risada, já sabendo do que ela se
refere.

— Jacob é o nosso CEO e também é um dos fundadores da C&B, junto


comigo e Cooper. Essa cara azeda dele não é nada pessoal, tá? Ele apenas é
um velho ranzinza eu um corpo jovem e — dá uma risada —, toma conta de
toda a parte administrativa do escritório – esclarece Barbie para Kath, que
agora observa um Jacob com a cara mais fechada do que antes.

Entramos no edifício e subimos até nosso escritório. Jacob vai para a sua
sala e Barbie caminha para a sala de reunião pois tem um cliente à sua
espera. Olho para Kath e faço sinal para que ela entre em minha sala.

Sigo para a minha cadeira e sento, esperando que ela termine de observar a
sala e a vista. Em um instante, se vira para mim sorrindo.

— Sua sala é incrível, eu adorei. Tem até um sofá e um bar! – fala animada,
depois se senta, cruza as pernas e coloca a bolsa no colo. — Gostei, é
aconchegante e a decoração é de muito bom gosto.
Sorrio. A maioria das pessoas elogiam não somente a minha sala, mas o
escritório todo e, eu gosto disso. Escolhi tudo a dedo, minuciosamente, com
ajuda da minha mãe, que é bem entendida de decoração.

— Às vezes, aqui vira a minha casa quando pego alguns casos que precisam
de extrema urgência. Durmo por aqui para trabalhar mais e poupar o tempo
de ir e voltar de casa. Por isso, tento deixar o ambiente confortável –

dou de ombros, aperto o botão do telefone que dá direto para a mesa da


Jennifer — Jenni, não estarei disponível na próxima hora. Caso alguém me
procure, se for muito urgente, avise que retornarei no final do expediente.

Espero minha assistente confirmar que ouviu e desligo o telefone, levanto o


punho e confiro a hora. Olho para Kath e percebo seu nervosismo, ela está
procurando algo na bolsa. Fico em silencio esperando.

— Aqui! Isso é tudo que eu tenho — me entrega um pen drive . – Eu fiquei


o fim de semana inteiro focada nisso. Aí tem tudo, não sei se é o bastante,
mas espero que seja – fala rápido e, é notável que está tensa.

— Você tem uma cópia do que está aqui? – ela concorda com a cabeça.

Pego meu notebook, abro e conecto o pen drive. Enquanto isso, ela fica
batucando as unhas longas na mesa. Observo suas mãos delicadas e as unhas
bem feitas, depois volto a olhar o notebook.

O arquivo no pen drive está cheio de pastas organizadas por data, eventos e
qual foi o meio de comunicação. Sorrio satisfeito, já que normalmente me
enviam tudo em um grande caos e, eu perco um belo tempo só tentando
organizar, para então começar a ler tudo e tentar achar algo.

— Está tudo muito organizado. Com certeza irei conseguir trabalhar com o
material de forma mais fácil — viro a tela do meu notebook de forma que
nós dois consigamos enxergar. — Você acha que tem algum documento
promissor, ou apenas foi separando tudo que achou útil?

Começamos a trabalhar no material que ela trouxe. Imprimimos tudo, e foi


muito papel, muito papel mesmo. Acabamos sentados no sofá, usando a
mesa de centro que tinha em frente a ele, que era maior. Olhamos para todos
os papéis, cada um focado no que está lendo e, até agora, não achamos nada
que realmente sirva como uma prova concreta, apenas algumas coisas que já
estão sobre a minha mesa e que podem contribuir um pouco.

Alguém bate na porta e, eu olho em direção a ela. As paredes e a porta são


todas de vidro, então, qualquer um consegue ver aqui dentro, a não ser que
eu ative o bloqueio dos vidros, algo que faço apenas quando durmo no
edifício.

É Jenni. Faço sinal para que ela entre.

— Com licença, Dr. Cooper — olha com desespero para a bagunça da minha
sala, cheia de papéis, o que não é comum de se acontecer, e faz uma careta.
— Dr. Barbiere e o Sr. Ramsey já foram embora. Você ainda precisa de mim
por hoje? – me olha ansiosa para uma resposta. Fico confuso,

observo pela janela e vejo que está de noite, arregalo os olhos. O relógio
marca 19:20h e fico ainda mais confuso.

— Desculpe, Jenni. Nos envolvemos tanto aqui no trabalho que não vimos a
hora passar. É claro que você já pode ir — olho para Kath, que nem parece
perceber que tem mais uma pessoa na sala; está concentrada nos papéis. —
Peça um taxi e use o cartão da empresa, ok?

Jennifer é minha assistente desde que começamos com um escritório bem


pequeno. Nessa época, ela era assistente de nós três, mas assim que
crescemos, ela optou para trabalhar diretamente para mim e, eu fiquei muito
grato, porque ela me conhece perfeitamente e faz tudo da forma que eu
gosto.

Além disso, ela se tornou uma boa amiga e, é uma pessoa eu confio de olhos
fechados.

Infelizmente, ela passa por alguns problemas pessoais. A mãe é muito


doente, vive sempre internada, precisando de muitos remédios e de alguém
que cuide dela. Eu sempre a ajudo da maneira que posso, e o que ela aceita.

Seu salário é mais alto do que o comum para uma secretária, mas não me
incomodo de pagar, porque ela merece. Sei que quase todo seu dinheiro vai
para os cuidados para com sua mãe, então, sempre inventamos algumas
bonificações para os nossos funcionários ficarem estimulados a trabalhar
melhor, e assim, a ajudamos um pouco mais; os outros funcionários
aproveitam também.

Ela me olha de uma forma que demonstra que não queria aceitar, mas que,
provavelmente precisa, então não recusa. Maneio com a cabeça me
despedindo dela. Jenni também se despede de Kath, mas já essa não escuta.

Me levanto, estico o corpo e decido que por hoje está bom, pois não vamos
conseguir nada além do que já conseguimos estando cansados e com fome –
coisa que só percebo agora, porque meu estomago ronca. Kath continua
empenhada, seu cabelo está caindo para o lado e não consigo ver seu rosto.
Fico tentado a me aproximar, mas me contenho.

— Kathllen, acho que é melhor encerrarmos por hoje — ela faz um

“uhum” mas continua lendo os papéis. Sorrio porque gosto de sua dedicação
e me pego admirando essa perseverança.

Paro na frente dela, me agacho, fico em sua altura e puxo os papéis com
cuidado. Ela sai de sua bolha, me olha e depois percebe a escuridão pela
janela. Ao levantar o punho e conferir a hora, abre a boca em choque e ri,
automaticamente colocando a mão na barriga.

— Eu sei, acabei de descobrir que já anoiteceu também e, a minha

reação foi idêntica a sua — digo e sorrio, coloco a papelada junto com ao
outro monte. Deixo tudo da maneira que está, para amanhã continuar de
onde parei sem ter que separar novamente.

Ela se levanta, pega o celular que estava na outra mesa. Parece surpresa com
algo que vê, mas eu apenas continuo arrumando outras coisas da sala para o
próximo dia. Confesso que fico incomodado em deixar tanto papel
espalhado assim, mas sei que é mais fácil de continuar amanhã se mantê-los
desse jeito.

Pego meu paletó, que está nas costas da cadeira, e minha maleta, segurando
tudo em uma mão. Tiro meu celular da gaveta, confiro as notificações,
fazendo uma nota mental para retornar e responder a todos.

— Que droga! — sussurra baixinho, falando sozinha.

Vou até a porta, e espero um pouco. Ela termina de ver seja lá o que for, e
pega a sua bolsa, arrumando-a em seu ombro. Ao me olhar, consigo ver que
algo aconteceu, porque seu semblante mudou totalmente. Penso em
perguntar, mas não quero confundir nossa relação de advogado/cliente.

— Ainda não acredito que passamos o dia todo mexendo naqueles papeis e –
me olha e balança a cabeça, incrédula –, nem achamos algo que preste. Estou
preocupada.

Assim que ela começa a sair da sala, seguro em seu braço de maneira sutil.
Ela se vira e eu observo minha mão em contato com seu corpo, sentindo uma
onda de eletricidade vir dali. Solto, olho para Kath, tentando captar se ela
também sentiu isso.

Coço a garganta, saio da sala e fecho a porta.

— Não desanime, Kath! Hoje foi só o primeiro dia de trabalho —

sorrio sincero, tentando acalmá-la. — E, fique tranquila, pois irei continuar


os próximos dias no seu caso. No momento, estou só com ele — bem, mais
ou menos isso. Eu tenho outros três além do dela, porém, nesses eu já tenho
tudo em mãos e certeza que iremos ganhar o caso, então, em duas semanas
estarei trabalhando realmente só no caso dela.

Ela sorri e concorda. Vamos até o elevador, entramos e ficamos em silêncio.


Passamos pela recepção, tudo está escuro, vazio e, isso parece incomodar
Kath, que se aproxima um pouco, encostando de leve seu braço no meu.
Uma risada me escapa, mas logo depois me calo.

— Não me julgue! Tenho pavor de escuro. Quando eu morava com meus


pais, eles tinham uma regra severa de sempre apagar todas as luzes da casa
após as 22h, por conta da energia e, eu tinha uma imaginação muito

fértil... Era horrível, tá? — faz algo parecido com um biquinho e eu olho
mais tempo que deveria. Guio Kath até o outro elevador, e aperto o botão de
garagem.

Ela se aproxima do painel e aperta o andar do saguão.

— Eu posso te levar em casa, Kathllen — falo e ela para no meio do


caminho, mas continua olhando para o painel, na dúvida. — É caminho para
a minha casa. Na verdade, somos quase vizinhos. Eu moro no condomínio
de casas perto do seu apartamento.

Ela vira o rosto rápido, me questionando com o olhar.

Sorrio.

— Eu tenho sua ficha de cliente, lembra? O prédio onde você mora é famoso
por morar pessoas famosas, não foi difícil de lembrar ao ler seu endereço —
tranquilizo-a para que não pense que sou um tarado ou um perseguidor.
Realmente, só lembro por conta da ficha e porque passo por lá todos os dias.

Me olha por um tempo, provavelmente balanceando as opções, depois dá de


ombros e se apoia na parede do elevador.

— Sendo assim, eu aceito, já que não irei te atrapalhar e, estou exausta,


morrendo de fome.

Caminhamos até o carro, destravo e abro a porta para que ela entre.

Ela parece se surpreender com a minha atitude. Logo depois de entrar, fecho
a porta. Dou a volta pelo carro e me acomodo também.

Coloco o cinto e olho de canto para Kath. Ela está mexendo no celular e,
novamente, parece ter algo ali que a incomoda. Dessa vez, não resisto e
pergunto:

— Tá tudo bem? — ligo o carro, e baixo a música que começa a tocar.


Começo a dirigir em direção a sua casa. — Você parece estar chateada.

Não precisa responder se eu estiver passando dos limites — explico o porquê


da minha pergunta.
— Sim, está tudo bem. Eu acho... Apenas uma pessoa querendo se
reaproximar e, eu estou longe de querer isso — suspira e depois encosta a
cabeça na janela do carro. — Seu carro é lindo! Adorei — vira a cabeça para
mim, sorri e volta a olhar para frente. — Você parece ter bom gosto para
muitas coisas.

Conversamos sobre coisas banais e, logo chegamos no seu apartamento.


Paro o carro em frente ao seu prédio, observo o movimento ali.

— Está entregue, Srta. Ibrahim! — digo, — Ah, não precisa se

preocupar em ir novamente amanhã me ajudar. Você já fez a sua parte me


dando tudo o que preciso, o resto é comigo e, se eu precisar de algo, entro
em contato — pisco.

Ela franze a testa por um breve momento e depois concorda, parecendo um


pouco decepcionada com isso.

Será?

Mas, de qualquer maneira, realmente não trabalho com meus clientes me


ajudando, por mais que não seria nada ruim ter essa companhia comigo.

— Tudo bem! Porém, não deixe de me ligar se precisar de algo mais

— tira o cinto e olha ao redor do carro, procurando por algo ou alguém. Faço
o mesmo, ainda que eu não tenha ideia do que procurar. — Fotógrafos ou
repórteres... Eles sempre ficam por aí, esperando qualquer oportunidade para
tirar uma casquinha e, não quero arrumar confusão para você — me explica
e sorri sem humor.

Isso parece ser horrível. Eu não saberia viver sendo observado por todos a
todo o tempo. Não sou um desconhecido, não depois de virar o advogado
das celebridades. Tendo os pais que tenho, também cresci com certo holofote
em mim, mas não faço questão e, sempre fujo de qualquer coisa que me faça
aparecer desnecessariamente na mídia. Até minhas redes sociais são
fechadas, e só aceito quem realmente conheço e tenho contato constante.
Entretanto, o universo da Kath é o oposto do meu em muitos sentidos, então,
ela deve estar acostumada com tudo isso e provavelmente deve gostar.

Menos agora, que a sua imagem está queimada em todos os lugares por
causa de mentiras, mas, eu vou resolver isso e ela terá a sua vida
normalmente.

Apoio um braço no volante, esperando que ela saia do carro no tempo dela.
Pensei em convidá-la para jantar mas, pela primeira vez, fiquei com receio
de ter um jantar com um cliente – algo que é comum –, e preferi deixar para
lá o convite.

Sou surpreendido quando ela vem em minha direção, apoia uma mão em
minha coxa e beija meu rosto. Fecho os olhos quando sinto o arrepio em
meu corpo por conta da sua mão estar perto demais do meu pau.

— Obrigada pela carona — se afasta, abre a porta do carro e sai.

Fico um tempo olhando até que ela some pela entrada do seu prédio.

— Eu preciso transar! Urgente! — falo sozinho, esfrego as mãos no rosto e


suspiro.

Viro para frente, e dirijo em direção a minha casa.

04

— Estava precisando disso — Jacob levanta seu copo de whisky em nossa


direção e brindamos. Todos exaustos. — Essa semana foi uma loucura.

Preciso contratar um contador para ontem!

Concordo com a cabeça, olhando o movimento ao redor. Cada dia que passa
a C&B vai fluindo mais e mais. Eu e Barbie atendemos os clientes vips, cada
um no seu nicho. Trabalho com famosos e ele com grandes empresas.

Por conta disso, temos advogados que pegam outras áreas; a rotatividade de
lá é grande. Os clientes maiores são sempre os nossos, mas os outros
também tem ótimos clientes e, isso só faz com que fiquemos mais
conhecidos. Até o momento, Jacob resolvia a contabilidade sozinho, porque
ele é cabeça dura e não queria delegar essa função a outra pessoa.

— Ainda não conseguiu nenhum que o agrade, cara? — pergunta Barbieri,


segurando uma garrafa de cerveja quase vazia.

— Ainda não, mas na próxima semana farei umas entrevistas e, com sorte,
acharei alguém a altura da C&B — diz Jacob, tentando ser confiante, mas é
notável que ele está sem muita esperança nisso, levando em conta que essa
não é a primeira semana de entrevista que ele fará. Se não me engano, ele já
está na procura há um mês.

Termino meu copo de whisky e o coloco na mesa, olho ao redor a procura de


algum garçom. Hoje é sexta-feira, e sempre passamos aqui na Lotus para
aproveitar um pouco, relaxar das semanas que sempre são corridas.

Lótus é um bar que se transforma em uma boate depois das 23h. O

dono é um antigo cliente meu – que agora é cliente do Barbie, o advogado


oficial do bar –, alguém se tornou um grande amigo de nós três. Jackson
Frazer é ex-ator de Hollywood, que desistiu da carreira após ter seu nome
vinculado a fofocas pesadíssimas. Nos conhecemos nessa época, e acabei me
envolvendo muito com sua vida enquanto o ajudava profissionalmente. Foi
fácil fluir uma amizade durante e depois do caso, ainda mais ao descobrir

que, assim como eu, ele também ajudava um orfanato. Essa atitude nos
aproximou muito e, consequentemente, os meninos também se aproximaram
dele.

Jackson abriu a Lotus há dois anos e, de início já foi um sucesso. O bar


também fica em Manhattan e já ganhou alguns prêmios gastronômicos –
aqui vende petiscos incríveis que você, provavelmente, nunca imaginaria ter
em um bar/boate –, prêmios pelas bebidas e alguns outros, que não lembro.
Este lugar acabou por se tornar o nosso point de toda sexta-feira.
Dificilmente não nos achará por aqui nesse dia após o expediente.

O garçom, que já nos conhece e sempre nos atende, volta e traz mais bebida
para todos. Trocamos umas palavras e logo depois ele sai. Pego meu copo,
agora cheio, e tomo alguns goles. Estou sentado no sofá de forma
confortável, olhando em direção a pista de dança.

Nós estamos em uma parte mais reservada, porque nenhum dos três curte
ficar no meio de uma pista lotada e, muito menos próximo do bar, onde
também sempre há muitas pessoas.

— Bem, acho que já tenho companhia para a noite, e irei abandonar vocês
— Barbie levanta, com um sorriso malicioso nos lábios e fixa o olhar em um
grupo de mulheres que não está muito longe de nós. — Alguém vai até lá
comigo?! — pergunta enquanto sai, já sabendo que não iremos.

De nós três, Barbie é o mais atirado e mulherengo. Sério, ele deveria ganhar
algum prêmio de babaca da história. Perdi as contas de quantas mulheres já
tentaram fazer barraco na C&B, ou pela rua, quando esbarravam com ele.
Ele nos diz que é sincero e, que sempre fala para todas que não passará de
uma noite, mas, tem algo de errado nessa história porque não é possível as
mulheres reagirem assim se já sabem o que ele tem para oferecer.

— Sério, eu não sei como ele não cansa de ter essa cara de pau —

Jacob fala entre risos, olhando para o canto onde Barbie está agora.

Acomodo-me um pouco melhor no sofá para conseguir ver e, me surpreendo


com o que vejo.

Barbie está sentado e tem duas mulheres em seu colo, uma em cada perna.
Ao lado, tem mais três e, uma delas está olhando para cá, me encarando.
Encaro-a de volta, ela sorri e levanta o drink, como se estivesse brindando de
longe. Pego meu copo de whisky e imito o seu gesto, sorrindo.

— Humm, acho que eu vou sobrar nessa noite! — Jacob resmunga e logo
depois dá um risinho. — Ou não.
Olho para ele e vejo que está sorrindo para o celular. Já até imagino o

motivo do seu sorriso.

— Alguém no aplicativo está disponível, garanhão? — brinco, e me viro


para a direção da menina, mas, ela não está mais lá. Dou de ombros, apoio
um braço nas costas do sofá que estou e aproveito um pouco da música que
está tocando.

Jacob levanta, arruma sua roupa, vira o resto da bebida e confere algo em
seu celular novamente. Depois me olha e diz:

— Você paga a minha parte hoje? Vou nessa que tenho um...

compromisso agora — pisca e vai embora. Balanço a cabeça e rio, achando


graça da tentativa de desculpa dele, como se precisasse inventar algo para
mim.

Jacob é um cara incrível, mas depois de uma grande perda que teve anos
atrás, ele não consegue se envolver emocionalmente com mais nenhuma
mulher. Mal consegue conversar com alguma por algum tempo para flertar.

Ele diz não ter muita paciência, mas nós sabemos que não é isso. Então, ele
usa um aplicativo restritíssimo e caríssimo que promove encontros entre
duas ou mais pessoas. Nesse aplicativo, você tem opções bem claras para
expor o que quer, e no caso de Jacob, é apenas sexo.

Quando eu digo apenas sexo, é só isso mesmo. Eles se encontram em algum


lugar marcado, transam e depois, cada um vai para seu lado. Muitas das
vezes eles não conversam, porque é algo que também pode ser combinado
antes. Ele diz que é a melhor coisa para ele, já que seu interesse nas
mulheres é só carnal. Bem, eu não sei se funcionaria para mim, mas pelo
menos ele não engana e nem machuca ninguém, além dele mesmo. Enfim, a
história dele é complicada demais, então, não tocamos no assunto da sua
vida amorosa ou sexual.

Sinto unhas passando por todo o meu braço e na hora já arrepio, viro-me
para o lado e vejo a mulher que sorria para mim agora pouco entrar na área
que estou. Estico o tronco, fico na beirada do sofá e apoio os cotovelos nos
joelhos. Ela se senta ao meu lado, com o corpo virado para mim, pega o
copo que estou bebendo e o leva até os lábios, tomando um pouco, apenas
com a intenção de parecer sexy. E, ela consegue.

— Espero que não se incomode com a minha presença – diz, estica o corpo e
colocando o copo na mesinha. Volta para a posição anterior e passa a língua
pelos lábios, fingindo lamber um resquício de bebida. Sorrio com a sua
atitude, satisfeito por ela demonstrar exatamente o que procuro. Ela não
parece querer fazer algum tipo de joguinho e, novamente, fico feliz por isso.

— Muito pelo contrário! Eu iria até você em qualquer momento —

pisco, virando de frente para ela e recostando a lateral do meu corpo no


encosto do sofá. O que eu falei era verdade, iria procurá-la em breve pois
chamou muito a minha atenção. — Sou Noah. Prazer!

Antes que eu pense em me aproximar para cumprimentá-la com um beijo no


rosto, ela chega perto e dá um beijo no canto da minha boca. Depois, leva os
lábios até o meu ouvido e sussurra:

— Samantha. O prazer é todo meu! — apoia a mão em meu ombro, se afasta


e desce a mão pelo meu braço, fazendo uma leve caricia, e descansa a mão
em minha coxa. Seus dedos ficam próximos demais da minha virilha.

Respiro fundo.

Ok! Está claro que ela quer me provocar.

Olho bem para ela, é uma mulher bonita. Seu cabelo é de um loiro muito
branco, liso e bate na altura dos seios. Falando em seios, esses são enormes!
Ela está usando um vestido branco sem alças – como esses seios são
sustentados sem alça? – com um decote bem generoso, além do vestido
terminar na metade das suas coxas. Com certeza ela malha, suas coxas
parecem ser firmes e são bem torneadas. Percebo uma tatuagem grande
saindo pelo vestido, em uma das suas pernas. Mas, no momento, não estou
afim de descobrir o que é.

Sorrio maliciosamente após admirá-la toda e, como resposta, ela sobe a mão,
ficando a poucos centímetros do meu pau. Ela permanece com a mão no
lugar e dá uma leve apertadinha no vão entre minha virilha e meu pau.

— Sabe... — morde o lábio inferior, passa a mão pelo cabelo e joga para o
outro lado. — Eu sempre vejo você por aqui, mas parece que nunca me
percebeu. Então, não quis perder a oportunidade hoje — movimenta uma
sobrancelha e lança um olhar que deixa clara sua intenção, de realmente ter a
minha companhia essa noite. Ela não precisa se preocupar, porque já tem.

Gosto disso, ela é bem sincera e direta ao ponto. Acho que minha noite vai
terminar melhor do que imaginei. Eu tinha esperanças de encontrar alguém
hoje para controlar um pouco da minha carência, mas não iria sair caçando
igual ao Barbie.

— Então, você já me observa de outros dias? — aproximo meu corpo do


dela, e isso faz com que sua mão suba mais e repouse em meu pau. Espero
que ela tire, mas ela esfrega a palma da mão, fazendo com que ele comece a
ficar duro. Engulo seco, contendo um gemido. — Você quer continuar
conversando aqui, ou podemos ir a outro lugar? — pergunto, porque com ela

dessa maneira, não irei conseguir ficar apenas na conversa.

Na mesma hora, ela se levanta, passa de costas na minha frente –

aproveito para olhar a sua bunda e me seguro para não dar um tapa na
mesma

–, se vira e me olha. Erguendo as sobrancelhas, ela pergunta:

— Vamos? ou já desistiu? — dou uma risada alta ao ouvir, me levanto, deixo


um dinheiro na mesa e sinalizo para o garçom, que rapidamente vem. Seguro
na mão da Samantha, passo por ela e nos guio até o estacionamento.

Ela vai fazendo caricias sugestiva em minha mão. Chego no carro, e ao invés
de abrir a porta para ela, empurro de leve seu corpo contra a porta, a encaro
por alguns segundos, esperando para que ela diga para que eu não prossiga,
caso queira. Suas mãos vão até a gola da minha camisa e me puxa para um
beijo, e isso me serve como resposta.
Colo nossos lábios, e penetro a minha língua em sua boca, passando-a por
todos os cantos e em poucos segundos já estamos nos engolindo, em
desespero. Encosto meu corpo no dela, pressionando meu quadril contra o
seu, para que ela sinta a minha excitação.

Samantha solta as mãos da minha gola, desce pela camisa e vai abrindo os
botões de forma desesperada. Meu peito fica totalmente exposto, ela passa as
unhas por ele e eu solto um gemido entre o beijo. Seguro firme na sua
cintura, roço nela com tanta vontade que parece que vou rasgar as nossas
roupas ali mesmo.

Com minha mão livre seguro em sua nuca, intensificando o nosso beijo. Viro
a minha cabeça para o lado oposto de onde ela estava, interrompo o beijo e
vou passando os lábios pelo seu queixo, pescoço e mordo a pontinha da sua
orelha. Sinto seu corpo arrepiar e suas unhas passam pelo meu peito com
mais força.

— Eu quero te foder, bem aqui — sussurro em seu ouvido, passo a língua


por ali e depois desço o beijo aos poucos até chegar em seu decote.

Desço a minha mão que estava em sua cintura até a barra do seu vestido.

Passo meus dedos suavemente, a excitando. Ela abre as pernas em um claro


convite. Subo meus dedos por entre suas coxas, fazendo caricias pelo
caminho até chegar em sua calcinha e, paro ali.

Ela geme alto, segura em meu punho e força minha mão que está em sua
calcinha. Passo o polegar em seu clitóris por cima da calcinha, que está
encharcada. Ela geme de novo e, eu sinto meu pau latejar desesperadamente
dentro da calça. Continuo com os movimentos por cima do tecido.

Passo a língua pelo meio do seu decote, tiro a mão de sua nuca, desço até seu
seio direito, o apalpo e massageio. Deslizo o tecido um pouco para baixo,
deixando seu mamilo exposto, e logo o abocanho. Ela geme mais uma vez,
desce a mão para meu pau e o aperta por cima da calça. Passo a língua com
vontade em seu mamilo, depois o sugo como se minha vida dependesse
disso.
Ela abre meu cinto e logo depois o botão da calça. Meu corpo se arrepia todo
quando ela abre o zíper e coloca a mão dentro da minha cueca.

Passa o dedo pela cabeça do meu pau, que está todo melado, e espalha o
liquido pré-ejaculatório por toda a extensão dele.

Afasto a sua calcinha para o lado, passo o dedo por entre os lábios e paro no
seu ponto sensível, fazendo movimentos circulares, colocando certa pressão.
Sua boceta está toda molhada e, eu estou ficando cada vez com mais vontade
de tê-la.

Meu pau pulsa loucamente na mão dela. Para melhorar, ela leva a boca em
meu ouvido e fala:

— Me fode! Eu não aguento mais — choraminga.

Enlouqueço com sua fala, enfio um dedo dentro de sua boceta e ela solta um
grito. Levanto a cabeça e tampo sua boca com a minha, dando um beijo
intenso para que seus gemidos sejam abafados. Logo em seguida, enfio um
segundo dedo e, começo a fodê-la com os dois.

Mordo seu lábio inferior de leve, ela encosta a cabeça na janela do carro e
fecha os olhos. Coloco a mão em sua boca, porque ela é dessas que geme
bem alto, o que eu adoro, mas podemos ser pegos a qualquer momento.

Aproveito e olho ao redor, tudo deserto – para nossa sorte.

— Noah... eu vou gozar— geme e rebola em meus dedos.

— hummm, gostosa! — sussurro em seu ouvido. Desço a outra mão, e


levanto seu vestido até a cintura, apoio o dedo em seu clitóris e começo a
massageá-lo novamente. Com a outra mão continuo a fodê-la forte. Pouco
tempo depois sinto sua boceta apertar meus dedos e encharcá-los mais ainda
com seu gozo. Vou parando devagar, tiro ambas a mãos do meio das suas
pernas e me afasto um pouco.

Pego a chave do meu carro em meu bolso, o destravo e a puxo para o lado,
abrindo a porta de trás. Entro primeiro e novamente a puxo, fazendo com
que se sente em meu colo e fecho a porta.
Ela apoia as mãos em meus ombros, joga os cabelos para trás e se posiciona
em cima do meu pau. Começa a rebolar e forçar o corpo para

baixo. Puxo o seu decote para baixo e seus seios ficam a minha disposição e,
sem a roupa os apertando, eles são maiores ainda.

— Eu preciso te sentir dentro de mim... — ela arrasta o corpo para trás e fica
sentada em meus joelhos. Segura minha calça e cueca junto e vai puxando,
ergo um pouco a cintura e deixo que ela termine de abaixar minha roupa.
Aproveito e tiro a minha camisa.

Ela empurra minha calça e cueca até depois do joelho e depois encara meu
pau duro, batendo em meu umbigo. Me olha e sorri. Segura nele, e começa a
fazer movimentos para cima e para baixo. Gemo ao sentir ela me apertar
com as mãos.

— Não faça isso! Não vou aguentar muito tempo — choramingo, sentindo
todo meu corpo pedir por isso e sendo o mais sincero possível.

Ela ergue o corpo, tira a calcinha e volta para sentar em meu pau.

Na mesma hora, a seguro pela cintura, impedindo que continue o que iria
fazer e, agradeço por não estar tão distraído a ponto de esquecer a camisinha.

— Camisinha, gata — pego a carteira que tinha caído no chão do carro, tiro
uma camisinha lá de dentro, rasgo e visto meu pau. — Agora sim

— falo e olho para ela, que parece não ter gostado disso mas, nem penso
sobre e apenas a guio para meu pau novamente, o encaixando na entrada da
sua boceta.

Ela se segura em meus ombros e vai empurrando o corpo para baixo com
uma rapidez que me surpreende. Faz sua boceta engolir meu pau até o talo,
de uma vez só.

— Puta que pariu — urro e, se eu tinha alguma dúvida que ela sabe o que
faz, só nessa sentada pude ter certeza disso.
Continuo segurando em sua cintura e ela começa a cavalgar com vontade,
apertando meu ombro com as unhas. Rebola, quica e esfrega os peitos na
minha cara, me deixando louco. Levo uma mão até sua bunda e a aperto com
força, provavelmente deixando marca.

— Que sonho! Até que enfim... — sussurra e parece que falou mais para si
do que para mim. Não ligo, apenas faço movimentos contra o dela,
intensificando sua cavalgada. Sinto soa boceta começa a me apertar
novamente.

Seguro no seu cabelo, forçando a cabeça para trás, passo a língua em seu
pescoço e dou uma mordida de leve, sentindo seu gosto salgado. Começo a
sentir um arrepio na parte inferior da barriga.

— Vou gozar — ela senta com mais vontade quando me escuta falar, sua
boceta me prende e assim que ela goza novamente, sinto meu pau latejar
mais forte e, também gozo logo em seguida.

Apoio a cabeça em seus seios, respirando fundo para recuperar o folego.

— Isso foi incrível — fala, ofegante.

Sorrio, concordando. Com delicadeza, a tiro do meu colo e a coloco ao meu


lado, retiro a camisinha e dou um nó, colocando-a no saquinho de lixo que
fica perto do freio de mão. Ergo o corpo e levanto a minha roupa, deixando a
calça aberta.

Apoio o corpo no banco e viro o rosto em sua direção. Ela já se vestiu e está
tentando arrumar o cabelo, o que não está dando muito certo, mas ela não
desiste.

— É... onde você mora? Posso te deixar em casa — digo. Esse momento é
sempre desconcertante, ainda mais que não conversamos quase nada antes.
Ela me olha com surpresa, mas me mostra um sorriso amarelo, e me explica
como chegar em sua casa.

Passamos para os bancos da frente, me ajeito e começo a dirigir. Eu


raramente dirijo depois que bebo, por motivos óbvios. Normalmente, deixo
meu carro aqui, e o busco no dia seguinte. Jackson já está acostumado com
isso e nunca reclamou. Mas, pelo acontecimento de hoje, acho melhor levá-
la em casa e depois ir para a minha.

No caminho ela fala sobre sua vida, onde trabalha e outras coisas mais, eu
escuto e sorrio como resposta. Nada pessoal contra ela, mas ainda estou
zonzo por ter gozado. Paro no endereço em que me disse. Ela tira o cinto e
vem em minha direção, me dá um selinho e sorri.

— Peguei seu cartão que estava na sua calça, espero que não se importe —
arruma seu vestido, passa o dedo pelos lábios, abre a porta do carro e sai.
Antes de fechar, fala: — Eu te ligo — depois entra em sua casa.

Pegou meu cartão? Sério? Rio sozinho. Espero que isso não me traga
problemas.

Eu não me importo de encontrar novamente uma mulher que já tenha ficado,


mas, quando acontece um terceiro encontro, seja lá como for esse encontro,
gosto de deixar claro que não tenho a pretensão de um envolvimento sério,
porque trabalho muito e meu foco, por enquanto, é nisso.

De fato, não me vejo casando tão cedo, e sequer sei se um dia irei me ver
assim. Gostei de ficar com Samantha, mas ela parece ter algo a mais para

falar para mim e, eu não consigo imaginar e talvez não queira saber.

Me inspiro muito em meus pais, então, se um dia eu encontrar alguém que


valha a pena lutar para ter o que eles têm, eu não medirei esforços, mas isso
não vai e nem tem como acontecer agora, porque não dou espaço.

Mesmo com a insistência diária de minha mãe em me lembrar que estou


perto dos 30 e, que cada ano que passa sou mais exigente.

Acredito que ainda viverei bons anos solteiros. Além disso, se o meu destino
for ficar sozinho, não me importo.
05

— Sério, Kath, você não pode deixar seu aniversário passar em branco! —
Jackson está apoiado no batente da porta de sua cozinha enquanto eu termino
de separar em vários potinhos todos os petiscos que ele comprou.

Reviro os olhos, largo a faca e o encaro.

— Como você quer que eu dê uma festa com esse clima? Com tudo que está
acontecendo, Jackson? Não tenho nem cabeça para isso — cruzo os braços e
espero por uma resposta.

Jackson fica me olhando por um tempo, parece estar pensando em algo. Bato
o pé no chão repetidas vezes enquanto aguardo. Já sei que ele vai arrumar
um jeito de me convencer a fazer e, dificilmente, eu sei falar não para ele.

— Eu posso deixar a Lotus à sua disposição — dá um sorriso que molharia


qualquer calcinha, menos a minha. Jackson é um homem lindo, que chama
atenção em qualquer lugar. Seus 1.90m e seu corpo musculoso ocupam mais
espaço do que o normal, sua pele negra contrasta com dentes
impecavelmente brancos; e o maxilar marcado preenchido por uma barba
grande é só um bônus nesse conjunto incrível. Entretanto, mesmo ele sendo
tão bonito, entre nós só existe amizade.

Nos conhecemos há alguns anos em um ensaio fotográfico. Na época, ele


ainda era ator, e estava lá para fazer as fotos de divulgação do seu último
filme. No meu caso, eu esperava para assinar um dos contratos que me
deixou muito rica.

Enquanto esperávamos, começamos a conversar e, de cara, já nos demos


muito bem. Ele até tentou flertar, mas eu namorava e estava
apaixonadíssima, então, a beleza dele não me abalou. Depois disso, nos
encontramos várias vezes na mesma agência, continuamos a conversar e a
amizade fluiu. Até o apresentei ao meu namorado da época, eles se deram
super bem e se tornaram amigos também. Assim, começamos a nos ver
quase todas as semanas; ele virou um irmão que eu nunca tive. Aliás, por
sermos

famosos, viramos uma amizade que a mídia ama e sempre fala. Já deixamos
claro que somos apenas amigos, alguns acreditam; os que não, formaram até
um grupo de fanfic, que sonha em um relacionamento amoroso entre nós. No
início foi um pouco chato, ou mesmo inconveniente, porque eu namorava e
ele era um solteirão cobiçado, mas hoje em dia, já sabemos lidar com isso.

— Não sei, Jack, mas eu vou pensar. Tudo bem? — respondo o que ele quer
ouvir, mas a ideia de fazer uma festa na Lotus até me agrada, já que
provavelmente, ele a fecharia para o meu “evento”, que seria uma festa
totalmente restrita a quem eu convidasse. Porém, ainda assim tenho receio
dessa celebração me dar mais problemas. Pensarei nisso mais tarde.

Termino as coisas na cozinha, pego uma travessa pesada com frios e coloco
nas mãos dele. Logo depois, seguro outras menores e seguimos em direção a
mesa da sala.

Jackson se mudou para o mesmo prédio que moro há pouco tempo.

Antes ele morava em cima da Lotus, mas não deu certo, pois ele precisava
de um lugar separado do trabalho para conseguir relaxar – não que ele não
vá dormir por lá muitas noites, mas, pelo menos agora ele tem seu cantinho
de paz. Depois de uma semana de mudança, decoração e arrumação,
entregaram hoje o apartamento prontinho e, ele decidiu fazer uma
comemoração com os amigos mais próximos. Não deve vir mais do que
doze pessoas, mesmo assim, ele comprou tanta coisa que pensei que fosse
uma festa para cinquenta.

Arrumamos tudo em uma mesa grande, que já estava repleta de outras


coisas. Perto da parede, que dá para a varanda, tem uma mesa comprida com
bebidas de todos os tipos, além de copos e uma máquina de gelo, e claro, sua
geladeira repleta de cervejas.
Depois de tudo que aconteceu com Jackson, ele envolve o mínimo de
pessoas possíveis em sua vida particular; por isso, decidiu ele mesmo
arrumar as coisas para essa reunião com os amigos, em vez de contratar
alguém para organizar. Apareceu na porta da minha casa com a cara mais
lavada do mundo, me pedindo ajuda; eu jamais negaria. Admiro muito o fato
de que, por mais que ele tenha muito dinheiro, não é desses que depende de
terceiros para fazer tudo, sempre se virou muito bem sozinho, em quase
tudo.

Seguimos em direção a mesa de bebidas. Jack prepara um copo de gin com


especiarias para mim, e pega uma cerveja. Brindamos e nos sentamos no
sofá. Dou um gole no meu drink e sinto o meu corpo arrepiar ao sentir o
sabor do álcool.

— Isso está perfeito — digo, tomando outro gole.

Ele sorri e bebe sua cerveja.

— E, como vai o seu processo contra a Alex? — pergunta.

Suspiro e fico olhando para o copo.

— Está indo — olho para ele — Noah é excelente e muito atencioso,


conversamos quase todos os dias. Eu ajudo a esclarecer pontos confusos,
passo mais algumas informações e, ele diz estar montando um quadro com
informações promissoras. Não vejo a hora de conseguir limpar meu nome na
mídia — desde que Alex começou com essa história, perdi alguns contratos
e, dificilmente, alguém me procura para um trabalho novo.

Já se passaram duas semanas desde a última vez que o vi pessoalmente.


Aparentemente, ele está focado apenas em meu caso, mas teve duas
audiências de outros clientes e, por isso, precisou ficar um tempo à
disposição deles. Marcamos uma reunião para a segunda-feira da próxima
semana, e então, iremos dar início ao processo em si. Estou muito ansiosa e
com medo ao mesmo tempo.

Jackson me observa com um olhar diferente, balança a cabeça e sorri.

— Entendi... Então, vocês conversam todos os dias. Sobre o caso... —


pressiona um lábio no outro, segurando uma risada. Suspiro e mostro a
língua para ele, que não se controla e dá uma risada. — Não estou falando
nada.

Não precisa ficar na defensiva, gatinha – pisca e se levanta.

— Você e minha mãe devem estar de complô, não é possível —

acabo entrando na dele e rio. Me levanto, vou até a JBL dele e ligo. Conecto
ao meu celular e coloco em uma playlist pop, que começa por Montero de
Lil Nas X.

Começo a cantar junto e mexer um pouco o corpo no meio da sala.

Eu entrei bem nessa hoje

Você me ligou para ir até sua casa

Não tenho saído muito de qualquer forma

Esperava que eu pudesse te encontrar sorrindo para mim

Canto um pouco mais alto, desencaixo o meu salto dos pés, o deixo próximo
ao sofá e, logo depois, subo no mesmo. Fecho os meus olhos, dou um gole
na bebida e rebolo um pouco, descendo o corpo enquanto isso. Após, subo
bem lentamente a mão livre pela lateral do meu corpo até parar em meu
pescoço.

Eu quero vender o que você está comprando

Eu quero sentir sua bunda no Havaí

Eu quero aquele jet lag de tanto transar e viajar

Cuspir uma criança na sua boca enquanto estou dirigindo

Abro os olhos assim que escuto algumas palmas e risadas quando a música
acaba. Vejo Jackson rindo com a mão na barriga, Noah e Scott batendo
palmas, e Jacob de braços cruzados, com um sorrisinho de lado.
Espero a vergonha tomar meu corpo, mas acontece o contrário, pois sinto
uma risada presa em minha garganta. Faço uma reverência a eles, como se
estivesse agradecendo por assistirem ao meu show, e desço do sofá.

Começo a rir ao me aproximar deles.

Noah me lança um olhar diferente e isso faz meu corpo agir com ansiedade,
querendo descobrir quais olhares mais ele tem para oferecer.

Jackson vai para o meu lado e passa o braço pelo meu ombro, nos
aproximando e desvio meus olhos da direção do seu amigo.

— Esqueci de avisar a vocês que teríamos um show particular da Kath —


termina de falar e solta mais uma gargalhada, beija forte minha bochecha e
me solta. — Fiquem à vontade — diz para os meninos e vai pegar outra
cerveja.

— Eu adorei, já fez a noite valer a pena — Jacob fala sorrindo,


educadamente. Se aproxima, me cumprimenta com dois beijos. Logo depois
Scott vem falar comigo, me cumprimentando com um abraço apertado; ele
parece ser o mais espontâneo e dado do trio. Retribuo o abraço e dou um
beijo em sua bochecha.

— KATHLLEN PRECISA DE MAIS DISSO AQUI QUE ELA BEBEU —


grita Scott para Jack. Eu dou uma risada alta, jogando a cabeça para trás. —
E, eu também quero. Serei o próximo a fazer o show no sofá —

pisca e sai em direção aos meninos.

— Não liga para o Scott — diz Noah. — Ele é extremamente à vontade com
as pessoas que dão o mínimo de liberdade e, às vezes perde a noção — sorri
e se aproxima um pouco. — Boa noite, srta. Ibrahim!

Perco alguns segundos olhando em seus olhos. São de um verde claro que
nem parecem ser reais. Lindos. Como todo o resto.

Ele abre um sorriso de lado ao perceber que fiquei encarando por tempo
demais. Sorrio sem graça. Fico na ponta dos pés e beijo cada lado do seu
rosto.
— Boa noite, Noah — digo, me afastando novamente — Quando irei
convencê-lo a me chamar só de Kath? — coloco uma mão na cintura, levo a
taça de gin na boca e termino o que tinha ali. Sem esperar que ele responda,

pego em sua mão e o puxo para onde os rapazes estão.

— Gosto de manter a formalidade o máximo possível — fala atrás de mim


enquanto ainda o puxo. Paro na mesa das bebidas, ao lado dos outros, viro
para ele e faço um movimento com a mão, dispensando sua fala.

— Bobagem! Nos falamos todos os dias essas semanas e você me chamou


de Kath — ergo uma sobrancelha e mordo o cantinho do meu lábio inferior.
— Além disso, hoje não estamos aqui como cliente e advogado.

Você já até assistiu ao meu show, estamos ficando íntimos — brinco.

Ele solta uma risada gostosa que me deixa ainda mais encantada.

— Ok, você ganhou — passa por mim, vai a geladeira e pega três cervejas.
Abre todas e dá para seus amigos, ficando com uma para ele.

Escuto a campainha tocar, me ofereço para abrir, calço meus sapatos e vou
até a porta. Recebo mais cinco convidados de Jackson e, acredito que esses
sejam os últimos.

Reconheço três dos cinco e me apresento para as duas mulheres que não
conheço. Aparentemente eles não vieram todos juntos mas coincidentemente
chegaram juntos ao prédio.

— Pra você, gatinha! — Jack vem com outra taça de gin cheia e me dá. Pego
e já dou um belo gole.

— Você é ótimo nisso, Jack — sussurro, passo o braço no seu tronco e


voltamos para a sala.

Ficamos um bom tempo todos juntos conversando na sala, bebendo e


comendo alguns dos vários petiscos. Em algum momento, foco minha
conversa com as duas outras mulheres e, naturalmente, acabamos nos
afastando deles, que continuam no sofá enquanto nós vamos para a varanda.
Encosto minhas costas no vidro do parapeito, ficando de frente para sala e as
meninas se sentam nas cadeiras acolchoadas do ambiente.

— Então, você e o Jackson estão juntos? — me pergunta a loira de lábios


enormes e peitos maiores ainda. Quase cuspo a bebida que estava tomando.

Seguro o riso e balanço a cabeça negativamente.

— Eu e o Jack?! Não, jamais! — rio, olho para a sala e sinto meu corpo
esquentar quando vejo Noah me olhando. Diferente das outras vezes que já o
vi me olhar, dessa vez ele não desvia quando o encaro, e ficamos assim por
um tempo.

— Ah, claro que não! — diz a outra mulher, que parece estar na casa dos 40
anos. É muito bonita e se veste muito bem, de forma muito elegante,

se destoando bastante de mim que estou com uma roupa bem jovial e
despretensiosa, e da outra mulher que tem a roupa bem sexy. Tenho a
sensação de já tê-la visto em algum lugar. — O seu lance é com o amigo
dele, né? — diz com um sorriso de lado, educada.

Desvio o olhar de Noah e olho para ela assim que escuto. Sinto o meu rosto
esquentar de vergonha e coço a garganta.

— Não! O Dr. Cooper é meu advogado, e só isso... — falo baixo, para que
só elas escutem.

Elas parecem não acreditar no que eu falo, mas não dou muita atenção a isso.
A loira para de falar e se empertiga inteira quando Jack e Noah vêm em
nossa direção. Ela levanta cheia de sorrisos, se encosta em Jack, e o puxa em
direção ao outro lado da varanda.

Claro, ela deve ser a companhia que ele disse que passaria a noite aqui.

— O assunto está bom aqui, pelo o que vejo — diz Noah, sentando ao lado
da outra mulher, que dá uma tapinha no joelho dela, com certa intimidade e
mantém sua mão ali. A forma como ele olha para ela demonstra um amor
genuíno.
Eles estão juntos? Que vergonha! E, eu pensando que ele está me olhando
com segundas intenções.

Me desencosto do vidro, peço licença para deixá-los à vontade, e escuto a


mulher dando uma risada – provavelmente de mim. Vou até o banheiro mais
distante da sala.

Entro, encosto a porta e paro em frente ao espelho.

— Você é patética — falo para o meu reflexo no espelho. O que eu estou


pensando? Ele é meu advogado! Já concluí que tenho dedo podre para
homem.

Pego um lenço e passo ao redor dos lábios, tirando a marca de batom que o
copo deixou. Depois, pego uma toalha pequena e passo em meu busto,
tirando o pouco de suor que estava por ali.

Termino de checar a minha aparência e vou em direção a porta, mas assim


que a puxo, sinto algo duro bater em mim e na hora, meu copo vira inteiro
nessa parede, que logo vejo ser apenas o peito de Noah.

Sério? O universo me odeia.

— Ai meu Deus, Noah! — largo o copo em cima da pia, pego a mesma


toalha que usei ainda pouco e tento passar em sua camisa. —

Desculpa! Eu não vi você — continuo tentando secar, mas parece não estar

dando muito certo. — Sou muito desastrada, que estrago. Merda.

Assim que sinto suas mãos segurando meus punhos, paro e levanto a cabeça,
olhando para ele. Me surpreendo ao ver que ele não está zangado, mas sim
com um sorriso lindo no rosto.

— Eu sinto muito! Posso pagar outra para você ou posso ir rapidinho no


quarto do Jack e pegar uma camisa dele. Vocês dois tem o corpo parecido,
igualmente musculosos — quando fico nervosa, falo mais que o necessário.
Ruborizo, envergonhada pelo acontecido e sem jeito pela nossa
proximidade.

Ri novamente.

— É só uma camisa, Kath. Tudo bem! — fala e dá de ombros, ainda me


segurando. Sinto minha pele queimar onde ele toca e engulo seco. —

Você fica ainda mais linda quando fica nervosa — sua sinceridade me atinge
no mesmo segundo e minha respiração tropeça.

Seus olhos descem do meu rosto para o meu decote, e agora todo o meu
corpo esquenta. Minha respiração fica pesada e ele, obviamente percebe,
voltando a me olhar.

— Você se molhou também — solta os meus punhos, me encara por mais


alguns segundas e desce o olhar para meus lábios. Involuntariamente, mordo
o inferior, fazendo Noah respirar fundo. Ele leva a mão até a única mecha do
meu cabelo que esta jogada na parte da frente do meu corpo, a empurrando
para trás do meu ombro, roçando de leve os dedos por ali. Em seguida,
percorre meu pescoço, ombro e clavícula com um olhar de desejo.

Pressiono uma perna na outra, tentando aliviar a excitação que começa a se


formar no meio delas. Ele desce o olhar para as minhas pernas, constando
minha excitação, fecha os olhos rapidamente e se aproxima um pouco. Nesse
momento, eu tenho certeza que iremos nos beijar.

— Mas que merda wou... Opa! Desculpa — Scott entra no banheiro e quase
escorrega no líquido que está no chão, mas para assim que nos vê. Nos
afastamos no automático, mas não somos tão rápidos e, agora Scott nos
olhas com um sorriso malicioso nos lábios. — Não queria atrapalhar nada —

levanta as mãos, como se estivesse se defendendo, mas é notável que prende


um riso.

Noah fecha a cara e vai para frente do espelho, tentando secar um pouco a
blusa, que agora está grudada em seu peitoral por conta da umidade.
Me pego encarando-o novamente. Se eu soubesse que ele ficaria ainda mais
gostoso com a camisa molhada, teria feito isso antes.

Scott coça a garganta e eu olho para ele, que ainda segura a risada e

pisca pra mim, como se estivesse dizendo que não vai contar para ninguém
que eu estava quase babando em seu amigo... Amigo o qual eu acabei de
lembrar que talvez esteja acompanhado por uma mulher, que está a poucos
metros de onde estamos.

— Noah, sinto muito mesmo pela sua camisa — digo, me viro e saio do
banheiro mais envergonhada do que antes.

06

Fico no banheiro por um tempo depois que Kath sai, ignorando as piadas de
Barbie. Abro a torneira, abaixo o rosto, pego um pouco de água com as mãos
e passo em meu rosto, na tentativa de me acalmar.

Ouço a risada de Barbie e depois a porta se fechando. Estico meu corpo


novamente e vejo que minha ereção já não está mais presente.

Eu estou parecendo um adolescente que não consegue resistir a uma mulher


bonita.

Não posso negar que, se Barbie não tivesse entrado no banheiro naquela
hora eu, com certeza, teria dado um beijo em Kath; deixaria para me
arrepender depois. Ela estava tão linda, nervosa porque me molhou. Ficou
preocupada com uma simples camisa, e eu ali excitado com a nossa
proximidade.

Foi óbvio que ela também se sente atraída por mim. Todo seu corpo reagiu
ao meu toque, e enquanto eu a tocava, parecia que minha pele queimava,
mas de um jeito bom. Eu queria mais disso, queria tocá-la mais, sentir todo
seu corpo... E, não só com meus dedos.

— Ela vai me enlouquecer — falo para o vento, tento arrumar melhor minha
camisa, que ainda está bem molhada, e saio do banheiro, indo para onde
todos estão.

Quando chego na sala, vejo que Kath está na cozinha conversando com
Jackson e uma outra convidada dele. Ela se vira em minha direção, como se
sentisse meu olhar sob ela, ruboriza, abaixa o olhar e volta a focar na
conversa.

Pego uma cerveja, abro e bebo um pouco, me encosto na mesa das bebidas e
olho ao redor. Meu celular vibra nesse momento, tiro-o do bolso e vejo que
tem algumas mensagens. Respondo rapidamente algumas e depois abro as de
Samantha.

Samantha: Comprei uma coisinha hoje e lembrei de você.

Manda uma foto anexada à mensagem, com ela de uma lingerie

vermelha em uma posição bem interessante.

Samantha: Ansiosa para saber quando irá estreá-la comigo.

Eu e Samantha nos encontramos mais uma vez depois daquela noite na


boate. Ela me mandou mensagem no dia seguinte e nos outros também; na
maioria das vezes, acabei não respondendo porque sempre estou muito
ocupado, mas consegui respondê-la por alguns minutos um dia desses e
saímos.

Sam me chamou para um restaurante e eu topei, não que eu quisesse um


encontro, mas a ideia do final da noite me empolgou e levou-me a aceitar,
ainda mais depois dela deixar claro que iria para o restaurante sem calcinha.

Foi o jantar mais difícil da minha vida, mas valeu muito a pena.

Aproveitei também para esclarecer que não estou em um bom momento para
me envolver emocionalmente com alguém e, que se fosse isso que ela
queria, não acharia em mim. Ela disse que tudo bem, que também não quer
nada sério além de sexo casual, se encaixa no que ela procura. Ótimo!

Nos damos bem na cama e, fora dela, não temos nenhum tipo de problema.

— Que bela moça! — ouço minha mãe falar, debochando. Congelo e na hora
bloqueio o celular. — Calma querido, já tem alguns longos anos que eu sei
que você não é mais um menininho puro – ri alto, encosta a lateral do corpo
no meu e coloca uma mão em meu peito.

Começo a rir junto, passo o meu braço ao redor do seu ombro e beijo o alto
da sua cabeça.

— Mãe, a senhora é demais — continuo rindo e balanço a cabeça.

Ela pega a cerveja que estava em minha mão, leva até a boca e bebe, me
devolvendo logo depois.

Eu bebo o restante e deixo ao nosso lado, na mesa.

— Então, meu amor — começa a falar em um tom que eu já sei qual é o teor
da conversa —, aquela moça que estava comigo. Kathllen, né?! — me
pergunta já sabendo a reposta, apenas concordo com um murmuro. — Ela é
uma jovem lindíssima, e não sei porquê, mas acho que já a vi antes.

Olho para a Kath enquanto minha mãe fala. Ela está olhando em nossa
direção com uma careta estranha, mas tenta disfarçar, sorri e depois vai para
a varanda, sumindo da minha vista.

— Ela é famosa, mamãe! E, é minha cliente, antes que pense em algo a mais
que isso — falo por falar, na cabeça da minha mãe ela já deve estar
decorando o meu casamento com Kath.

— Ah, claro! Do Reality. Eu me lembro dela, foi a campeã, mas já era

óbvio que iria ganhar, porque além de linda, é muito talentosa como modelo
fotográfica — fala toda animada, olha para mim, e ergue a sobrancelha. —
Eu vi como ela te olhou, querido. E, agora estou vendo como você olha para
ela... — a esperança brilha no olhar de minha mãe.

Passo a mão em meu rosto e respiro fundo. Minha mãe quer a todo custo que
eu arrume alguém e vê coisa onde não tem. Eu entendo o ponto de vista dela,
entendo que ela quer netos e que eu trabalhe menos, mas diferente de mim,
ela não me entende e não acredita que sou feliz do jeito que estou.

Escuto-a rir baixinho e depois dar uns tapinhas em meu peito.

— Dessa vez, não irei falar nada sobre o que eu sempre falo, querido

— se afasta e fica na minha frente, coloca a mão em meu rosto e faz um


breve carinho. — Só quero que seja feliz. Pode ser com essa moça, com
outra... Enfim, só não quero que deixe o passado interferir no seu presente,
ok? — beija meu rosto e se afasta sem deixar que eu responda. Mas eu não
teria nada a responder.

Não gosto de lembrar do passado e ela entende, mas também sabe que até
hoje vivo com o ressentimento dentro de mim. Talvez ela esteja certa, mas
ainda não é hora de ouvir isso da minha boca.

Escuto a risada de Kath e, automaticamente, me viro para a direção de onde


vem. Sorrio ao vê-la conversando com Jacob e Barbie. Observo como Jacob
à vontade com ela, rindo alto e mostrando algo em seu celular.

Não é muito comum Jacob se dar bem com alguém de cara; depois do que
passou com sua ex-namorada e com a família, ele se fechou totalmente para
novas relações, sendo elas de amizade ou românticas. Então, é bom vê-

lo tão natural com uma pessoa que conheceu há pouco tempo e, caso o
interesse dele por ela for no sentindo romântico, não irei ficar no meio, de
jeito nenhum. Entretanto, conheço meu amigo, e sei que não é o caso.

Vou na direção dos três e Barbie me vê antes que eu chegue neles, faz sinal
com a cabeça para que eu me aproxime.

— Parece que você já está sequinho, bebê — ironiza Barbie, que logo depois
olha para Kath e pisca, fazendo-a soltar uma risadinha baixa. — Vou pegar
mais cerveja — fala e sai.

Kath vira e se afasta, me dando espaço para ficar junto aos dois. Na mesma
hora, Jacob vem com seu celular em minha direção e me mostra um vídeo.
Nesse vídeo, Kath está subindo uma escadaria com um tapete vermelho – o
que deduzo ser algum evento de gala – e, tudo está indo muito bem, até que
um câmera desavisado passa por ela e a empurra com a

máquina. Ela quase cai, mas consegue se equilibrar, porém, sua careta
transforma tudo em algo engraçado. Em seguida, percebo que o vídeo é uma
montagem, porque sua expressão começa a se repetir e uma música tocar
junto.

Aperto os lábios, tentado não rir. Mas, ao ouvir novamente a risada dela, não
me controlo e engato junto.

Coloco a mão na barriga, sentindo-a doer e depois seco uma lágrima que
escorre.

— Cara, e para melhorar tudo, ela mesma que publicou nas redes sociais —
diz Jacob entre risadas, depois abre o Instagram, procura o de Kath e começa
a segui-la. Ela prontamente pega o celular dela, e o segue de volta.

— Agora, ficarei atento a todos os seus memes — se afasta e senta na


cadeira mais distante, distraído.

Olho para Kath e seu semblante já não é o mesmo de segundos atrás.

Ela está mordendo o canto do lábio inferior, me encarando. Desce o olhar


para a minha camisa, e volta a me olhar, em silêncio, meio tensa.

Passo a mão pela minha cabeça, depois faço um gesto com a mesma, para
que a gente vá até o parapeito da varanda, se afastando um pouco mais das
pessoas.

Andamos até ele, nos encostamos e ficamos lado a lado, olhando para as
pessoas na sala bebendo e dançando, totalmente alheios a nós.

Pigarreio e falo:
— Sobre o banheiro... Aliás, sobre a camisa, não se incomode com isso, tudo
bem? É apenas uma camisa, não precisava ficar nervosa — viro a cabeça na
direção dela, que permanece a olhar para frente e só concorda. — E

sobr..

— E, sobre o resto, não foi nada, Noah — olha em meus olhos, me cortando,
decidida no que fala. — Foi só o gin! — sorri forçadamente, dando fim ao
assunto.

Ok, não era muito bem o que eu esperava, mas para ser sincero, nem sei o
que eu esperava dessa conversa.

— Claro, foi o que eu pensei — dou de ombros e volto a olhar lá para


dentro, sem entender muito bem o fato dela ter sido curta e grossa. Porém,
não irei questioná-la sobre isso. Vejo minha mãe nos olhando com um
sorrisinho nos lábios.

— Sua namorada parece ser uma mulher incrível — fala com sinceridade e
viro a cabeça em sua direção de forma tão rápida, que por um

segundo, pensei que ela sairia do meu pescoço. — Conversamos um pouco


mais cedo. Ela é muito educada e só teceu elogios a você — continuo
encarando-a, confuso. Ela prossegue com um sorriso contido em seus lábios.

— Deve ser bom ter alguém que tenha orgulho de quem somos, que nos
olhas como se fossemos o seu mundo — suspira e depois fica olhando para
os pés.

Me perco no que ela fala, enrugo a testa e olho ao redor, procurando quem
quer ela pense que é minha namorada.

— Minha namorada? — pergunto muito confuso, já que tirando Kath, só tem


minha mãe e a mulher que claramente está com Jackson.

— Bem, eu não vi uma aliança em seu dedo e, pela forma que ela falou,
parecia ser alguém com sentimentos muito além para quem só está ficando;
então, deduzi que é a sua namorada. Estou errada? — explica e ainda assim
fico sem entender. Ela me encara, esperando uma confirmação.
Será que ela está falando da minha mãe?

Penso em responder, mas somos interrompidos por Jackson, que se aproxima


e chama Barbie para onde estamos também.

— Vocês sabiam que na próxima semana é aniversário dessa gatinha aqui?


— Jack fica atrás dela e segura seus ombros. — Mas, ela simplesmente não
quer comemorar. Não quer fazer nada! – a sacode, mostrando seu choque.

Ela ri e tomba a cabeça para o lado. Observo a proximidade dos dois, e fico
me perguntando se por acaso já rolou algo entre eles ou se o sentimento não
é apenas de amizade.

— Eu amo aniversários, amigo. Você sabe disso! — olha para todos nós
antes de voltar a falar. — Somente não acho que seja o melhor momento
para uma festa. Está tudo uma confusão, e a mídia só está à procura de
qualquer deslize meu para falar mais coisas — se explica.

— Nada disso! — Barbie se aproxima, ficando entre nós dois. —

Temos que fazer algo. E, aqui conosco temos o rei da descrição: Sr. Noah
Cooper — dá um tapinha em meu ombro. — Ele é ótimo em fazer tudo da
vida dele sem que a mídia descubra. Mesmo sendo filho de famosos e amigo
de mais famosos ainda. Nosso bebê aqui não gosta do glamour da fama — ri
e Kath o acompanha.

Reviro os olhos e depois olho para Kath.

— Tirando todo o exagero, é algo mais ou menos por aí — respondo e cruzo


os braços. — Se você quiser, eu e esses três patetas, podemos pensar em algo
para poucas pessoas. Assim, você comemora com quem importa, e

depois que seus problemas forem resolvidos, você faz uma festa para a mídia

— sorrio, tentando não fazer careta ao falar da mídia.

Ela me olha por um tempo, pensativa, provavelmente ponderando tudo.


Depois abre um largo sorriso, que me faz sentir vitorioso por ser o causador
dele.
— Eu gosto dessa ideia! — ela se vira para Jackson. — A Lotus ainda está à
minha disposição?

Ele concorda piscando, após faz um movimento com a mão, mostrando sua
satisfação com a mudança de planos.

Ela dá pulinhos e bate palmas, todos rimos ao mesmo tempo.

— Desculpa, meninos, mas eu ouvi o que vocês falaram — minha mãe se


aproxima, sorrindo. — Eu amo organizar festas, seria muito abuso da minha
parte me oferecer para ajudá-la, querida? — pergunta para Kath com seu
jeitinho que faz qualquer pessoa ceder ao que ela quer.

Novamente, vejo o sorriso lindo de Kath enquanto segura as mãos da minha


mãe, puxando-a para outro canto e se sentando no sofá da sala.

Provavelmente, já falando sobre a bendita festa.

— Você sabe que sua mãe vai sonhar com Kath como nora dela, né?

— Jack apoia o braço desleixadamente em meu ombro e ri. — E, esse amor


à primeira vista delas demonstra que talvez você esteja ferrado.

Viro a cabeça na direção dele, ergo as sobrancelhas e o encaro.

— Minha mãe não vai sonhar nada, porque não tem cabimento ela
simplesmente olhar para uma mulher que eu conheço e achar que será
alguma coisa minha — falo firme, tentando acreditar em minhas palavras. —
É mais fácil minha mãe planejar seu namoro com ela do que comigo — falo
como quem não quer nada, tentando colher alguma informação.

Ele cruza os braços e estala a língua.

— Primeiro: ninguém aqui é criança, Cooper. É notável que vocês pelo


menos sentem-se atraídos um pelo outro — faz um sinal com a cabeça para
onde elas estão e, vejo que Kath nos observa. — E segundo: essa foi a sua
maneira sutil de saber se eu e Kath temos algo? — ri da minha falha
tentativa de ser discreto. — Respondendo: não temos nada além de amizade,
nunca houve nada além disso. Nos conhecemos há alguns anos e a amizade
fluiu natural. Kath é uma mulher incrível e muito forte, a amo como se fosse
minha irmã. E, é exatamente por esse motivo que te peço para que seja legal
com ela, tudo bem? Independentemente do que role. Ela é uma mulher de
ouro, cara.

Não perco meu tempo falando que não existe nada, apenas concordo.

— Engraçado que eu nunca te vi com ela e te conheço há muito tempo — o


encaro novamente, franzindo o cenho.

— Quando eu te conheci, Kath estava em um relacionamento e, por um


tempo evitamos sair juntos, apenas nos encontrávamos um na casa do outro,
porque a mídia começou a falar que éramos mais do que amigos; não era
legal essas notícias com ela namorando, ainda mais que o ex dela também é
famoso — nesse momento, a minha vontade é de abrir o google e pesquisar
sobre a vida dela, mas não acho maneiro conhecê-la através de coisas que as
pessoas supõem e meias verdades. — Depois que ficou solteira, deixou de
sair por um tempo porque o término foi... turbulento, se assim posso dizer.

Mas, tem um tempo que ela voltou a frequentar a Lotus. Acho que foi apenas
falta de sorte vocês não terem se conhecido antes — pisca.

Falta de sorte mesmo, porque se eu a tivesse conhecido em outras condições,


sem sombra de dúvidas tentaria me aproximar e tentar algo a mais. Porém,
parece que isso não vai rolar.

Jackson vai para onde elas estão, e juntos, começam uma nova conversa
animada. Consigo ver que ela está realmente feliz com a possibilidade do
aniversário e, depois de muito tempo, me vejo animado para um aniversário.
Kath vira o rosto para a minha direção e me chama com a mão. Meu peito
palpita e eu o ignoro, apenas sigo o seu chamado.

Algo me diz que essa mulher será um furacão em minha vida. Basta saber se
aguentarei passar por ele.
07

Sinto o cheiro delicioso de chá de camomila com damasco assim que Emma
o coloca em minha frente, na mesa. Sorrio e agradeço. Ela me olha por um
tempo, curiosa, mas não fala nada. Se afasta com seu costumeiro sorriso
tímido.

Estou observando a rua pela janela ao meu lado. Hoje o dia está muito
nublado e chuvoso, então, as pessoas estão mais agasalhadas e
acompanhadas de guarda-chuvas. Continuo olhando por mais um tempo, e
depois pego meu celular.

O meu nome não é mais o foco da internet, mas ainda assim, as pessoas não
esqueceram do que aconteceu. Recebo muitas mensagens e e-mails de fãs,
além de jornalistas loucos querendo a minha primeira entrevista sobre o
assunto. Assim, ainda há um certo burburinho, mas eu preciso voltar ao
normal aos poucos, porque tenho certeza que Noah vai conseguir resolver
tudo e, eu não posso simplesmente sumir da mídia, porque ela também é
meu trabalho.

Abro a câmera do meu Instagram, arrumo os meus óculos escuros no rosto,


ajeito o cabelo - que está solto - e tiro uma selfie que dê para mostrar um
pouco da minha roupa.

Hoje estou usando uma blusa de manga longa preta, que tem uma gola alta,
uma saia xadrez preta e vermelha, na altura do meio da coxa, uma meia calça
fina preta e, um sobretudo também preto. Só para complementar, uso uma
bota justa preta, que vai até o joelho. Eu amo me vestir bem, vivo sempre
atenta as novidades e, as pessoas que me seguem amam ver o que estou
usando para se inspirarem.
Além disso, sou apaixonada por preto; dificilmente não estou com pelo
menos uma peça dessa cor. Hoje estou quase toda de preto e, está ótimo,
combinando com o clima da cidade.

Confiro as fotos que tirei, escolho a melhor dentre elas, que ficou ótima por
conta da boa iluminação na mesa que estou. Ajusto algumas coisas,

escrevo uma pequena frase e posto a foto marcando o Coffee Aromas.


Decido deixar os comentários das fotos bloqueados.

Em poucos segundos, começo a receber várias notificações de curtidas e


algumas de mensagens. Antigamente, eu tentava responder o máximo de
mensagens possíveis, mas agora evito um pouco de ler, porque sempre tem
alguma de alguém me criticando ou xingando, por acreditar fielmente em
Alex. Apenas as ignoro.

Pego a xícara e termino meu chá. Chamo Emma para poder pagar e ir para
meu compromisso.

Confiro o relógio e vejo que falta pouco menos de 20 minutos para a minha
reunião com o Noah.

Suspiro, lembrando do desastre que foi a noite de sábado no quesito eu e


Noah e, ainda me questiono porque fiquei decepcionada por ele ter uma
namorada. Claro que eu o acho extremamente atraente e tudo mais, mas ele é
meu advogado e, eu deveria saber resistir a sua beleza.

— Oi, Kathllen! — Emma para na minha frente, passando o valor da conta,


concordo e procuro minha carteira na bolsa. — A sua foto ficou lindíssima,
como todas as outras — a timidez em sua voz dá um certo charme a ela.

Pego a minha carteira, tiro o dinheiro e dou para ela.

— Você viu? — me levanto, arrumando a bolsa no ombro e sorrio para ela.

Ela concorda com a cabeça.

— Claro, eu te sigo há anos. Você é incrível, me inspiro muito na sua


história! — fica ainda mais tímida. Sinto uma simpatia gratuita por ela desde
a primeira vez que nos vimos, e saber que ela me vê como inspiração, me
deixa muito feliz.

Pego novamente meu celular, abro no Instagram e dou o meu celular para
ela.

— Coloca o seu perfil. Vou te seguir de volta — pisco.

Ela trava, como se não estivesse acreditando. Dou uma risadinha e ela
rapidamente escreve seu user e seleciona seguir. Depois, me devolve.

— Eu vou contar isso para todo mundo! — fala feliz e, na mesma hora, a
felicidade se perde em seus olhos tristes. Fico com vontade de perguntar se
está tudo bem, mas acho que seria algo inapropriado, levando em conta que
não nos conhecemos direito. Minha curiosidade surta dentro de mim.

Me despeço e faço uma nota mental para mandar uma mensagem para ela
depois.

Antes de ir embora, decido ir ao banheiro para conferir mais uma vez como
estou. Não vou negar que estou nervosa porque irei me encontrar com o
Noah. O episódio no banheiro ainda ronda pela minha mente.

Paro em frente a porta quando escuto alguém falar na outra direção do


corredor.

— Não podemos mais fazer nada por você, Emma. Entendemos que é
importante para você esse emprego, e gostaríamos de poder mantê-la aqui,
mas depois do último acontecimento...

— Ele tentou me agarrar a força, A FORÇA. Como eu poderia reagir


diferente? Vocês queriam que eu deixasse? — Emma fala e percebo que está
chorando, porque sua voz está embargada.

— Não é isso, querida. Não me entenda mal, eu sou apenas a gerente

— a outra mulher diz. — O homem que você jogou um café fervendo, é uma
pessoa importante para o dono daqui. Ele exigiu que você fosse mandada
embora e, estou aqui fazendo somente que me mandaram.
O ódio me sobe pela garganta e minha vontade é de procurar esse tal

“dono” e o mandar para a merda, por ficar ao lado de um assediador.

O choro de Emma ecoa alto pelo corredor. Estou travada no meio do


caminho, sem saber se faço algo ou finjo que nunca ouvi nada.

— Ótimo. É isso que eu mereço por tentar me defender então. Vou pegar as
minhas coisas e já vou embora — seu tom de tristeza e frustação toma conta
da sua voz.

— O Sr. Roberto pediu para que eu te entregasse esse dinheiro e que você
entendesse isso como uma desculpa.

— Desculpa? Ele quer me calar com esses... — fica em silêncio e imagino


que ela está contando o dinheiro — 5 mil dólares? Uau. Queria muito poder
recusar, de verdade, mas preciso pagar meu aluguel até achar outro
emprego.

Antes que eu consiga pensar em ir embora ou ir até lá, Emma passa por mim
e nem me nota quando entra correndo no banheiro. Olho na direção de onde
ela veio e vejo a mulher que conversava com ela olhar em minha direção,
claramente sem graça.

— Eu acredito que você não tenha culpa disso por ser apenas uma
funcionária. — falo para ela que arregala os olhos ao me escutar. — Mas
deixo claro que nunca mais colocarei meus pés aqui. E jamais indicarei esse

lugar novamente.

Ela abaixa a cabeça e sai, constrangida. Não queria ter falado essas coisas
para ela, mas alguém precisava falar algo.

Escuto novamente o choro de Emma e tomo coragem para entrar no


banheiro. Encontra-la sentada no chão com as mãos tampando o rosto
enquanto chora é uma cena triste e sem pensar sento na sua frente.

— Ei ... — falo baixinho e ela se assusta. Mas quando vê que sou eu tenta
limpar o rosto e eu seguro as suas mãos. — u ouvi tudo, desculpe por isso. E
lamento por ter que passar por essas coisas, nenhuma mulher merece isso.

Ela fecha os olhos e encosta a cabeça na parede.

— Eu nem sei o que vou fazer agora. — Lamenta.

— Eu conheço bons advog...

— Eu sei que sua intenção é boa, mas eu não teria condição nenhuma de
pagar pelos serviços dos meninos da C&B. — Claro que não pode, mas não
me oporia em ajudar alguém, ainda mais depois de tudo que escutei. Mas
acho que ela provavelmente não iria gostar ou achar que estou com pena.

Ela levanta e esfrega o rosto com raiva. Levanto-me também e fico em


silencio um tempo, pensando em algo que possa ao menos aliviar todo esse
constrangimento.

— Eu conheço muitas pessoas, acho que posso te ajudar em arrumar um


novo emprego. O que acha? — Ela vira o rosto na minha direção e a sombra
de um sorriso aparece em seu rosto. — Não posso garantir nada muito
fabuloso, mas..

— Qualquer coisa! — me corta e eu concordo. — Posso passar meu


numero? — dessa vez seu sorriso ganha de vez seu rosto e me sinto bem por
poder ajuda-la de alguma maneira.

Ficamos mais alguns minutos dentro do banheiro e eu tento anima-la de


várias maneiras e sei que ela se esforça para fingir que estou tendo sucesso
nas minhas tentativas.

Gostei dela! Farei o que tiver em meu alcance para que ela de a volta por
cima. Me sinto quase que na obrigação de ajuda-la, ainda mais depois do que
vi. Por muitas vezes na vida precisei de ajuda e não tive ninguém que
pudesse fazer isso por mim.

Depois vou para a C&B, entro no edifício, logo após no elevador, aperto o
número 4 e, aproveito para conferir minha aparência. Pego o batom na bolsa
e retoco, guardando-o logo depois. Quando saio, paro na recepção e
me identifico, ganhando o sorriso caloroso das meninas que me atendem.

Vou até o outro elevador e espero.

Tudo aqui é muito bem decorado e luxuoso. As paredes são claras, o pé


direito é alto, tem muitos quadros e jarros grandes com plantas. Todas essas
características deixam o ambiente confortável, por mais que, normalmente,
as pessoas que venham aqui estejam passando por alguma aporrinhação.
Então, acredito deve ser proposital todo esse clima zen por aqui.

O elevador abre e Scott sai de dentro dele. Assim que me nota, abre um
sorriso enorme, se aproxima e me abraça apertado.

— Oi, Kath! — dá um beijo no ar em cada lado do meu rosto e eu retribuo.


— Como você está?

Se afasta depois de perguntar e aproveito para observá-lo discretamente.


Scott é um homem lindo, desses de tirar o folego. Ele é um pouco mais
baixo que Noah, deve ter em torno de 1.85m, algo por aí. Seu cabelo é de um
loiro natural muito bonito, e seus olhos são incrivelmente verdes. Além
disso, ele tem um corpo espetacular, deixando claro que leva muito a sério
algum esporte e dieta.

— Estou bem! Torcendo para ter boas notícias do Noah hoje — digo
enquanto passo o dedo em uma das argolas, ajeitando sua posição na minha
orelha.

Ele concorda com a cabeça, e pega seu celular no bolso quando começa a
tocar, olha para a tela e revira os olhos. Por breves segundos, o vejo ponderar
se atende ou não; rio de sua careta, mas ele nem percebe.

— Infelizmente, tenho que atender, Kath — resmunga, passa por mim,


depois se vira e fala novamente. — Ah! Sábado nos vemos, né? —

pisca e manda um beijinho.

Rio.
Scott parece ser um homem que leva alegria por onde vai, além de ser muito
espontâneo e engraçado. Me sinto bem perto dele, pois, as poucas vezes que
conversamos foram muito agradáveis e engraçadas.

Entro no elevador, subo até o andar do Noah e sigo em direção a sua sala.
Paro na mesa de sua secretária, que me informa que ele já está a minha
espera. Caminho ansiosa.

A porta está aberta, então, entro e paro assim que vejo que ele está de costas
para mim, de frente para a janela. Parece distraído. Aproveito e me encosto
na parede ao lado, o observando. Ele está sem o terno, com uma

camisa social preta, a calça igualmente preta e, toda essa roupa marca
perfeitamente seu corpo bonito e musculoso.

— Foi ótimo, eu adorei, Samantha — fala em um sussurro e isso faz os pelos


da minha nuca arrepiarem. — Mas, eu realmente não estarei disponível no
próximo fim de semana. Tenho compromissos inadiáveis. Fica para o
próximo, pode ser? — o tom da voz dele é rouco e malicioso.

Me desencosto da parede, volto para a frente da porta e bato no vidro, como


se estivesse chegado agora. Não quero que ele saiba que eu ouvi uma
conversa particular, e o clima ficar estranho em nossa reunião.

Ele se vira e seu sorriso se expande de canto a canto quando me vê.

Retribuo o sorriso e caminho em sua direção.

— Nos falamos depois. Minha cliente chegou. Beijos! — se despede e


desliga rápido, não dando tempo de Samantha responder. Caminha até a
mim e estende a mão.

— Bom dia, Srta. Ibrahim — pisca e sorri de lado.

Seguro firme a sua mão, e logo depois me afasto, vou para a sua mesa e
sento na cadeira destinada a mim. Espero que ele se sente e passo os olhos
pela gigantesca estante que fica atrás da sua mesa, repleta de livros e com
algumas fotografias. É então que reparo que a Elizabeth – a namorada que
conheci no sábado –, está em quase todas as fotos.
Ai meu Deus! Ele realmente é casado... e, essa conversa no telefone?

Ela parece ser uma ótima pessoa, não merece ser traída.

Esse pensamento me chateia e acabo fechando um pouco o semblante.

Noah se encosta na beirada da mesa, ao meu lado. Olho para cima, e


encontro seu olhar curioso sobre mim. E, então percebo que não falei nada
desde a hora que entrei.

— Olá, Dr. Cooper! — sorrio sem mostrar os dentes, me ajeito na cadeira e


cruzo as pernas. Sinto seu olhar ainda em mim, mas não retribuo. —

Como Elizabeth está? Ainda não nos falamos hoje.

Ele sorri e seus olhos brilham.

— Ela está ótima! No domingo, almocei com eles e ela só falou de você. Te
adorou! — fico confusa com sua resposta.

Eles? Como assim?

Fico olhando sem entender, mas não faço questão de perguntar, apenas dou
de ombros.

— Dona Elizabeth só sabe falar sobre sua festa. Juro! — ri e anda até a sua
cadeira, senta e vira em minha direção um porta retrato que fica de

frente para ele. — Acredita que essa mulher quer que eu vá combinando a
minha roupa com o tema da festa? — ri mais alto enquanto aponta para ela
na foto.

Rio também.

— Para. Ela é incrível! Pelo pouco que conheci, dá pra ver que você é um
homem de sorte por tê-la. — sinto uma pontada no peito ao pensar que a
única pessoa que eu pensei ter algo assim, me decepcionou de um jeito que
dói até hoje.
Ele concorda, me observa e arregala os olhos. Do nada começa a ter uma
crise de risos.

Cruzo os braços na altura do peito, tentando entender o que está


acontecendo.

— KATH! Eu tinha esquecido disso... — vai controlando a risada aos


poucos, passa as mãos no rosto, e depois chega mais pra frente, apoiando os
braços deitados na mesa. — No sábado, você falou sobre minha namorada e,
eu fiquei sem entender, porque só tinha duas mulheres lá, além de você. Nós
dois sabemos que você não é minha namorada... — Fala e eu engulo seco.

Descruzo os braços, levo a mão até os óculos que estavam na minha cabeça,
tiro e coloco-o na bolsa. Passo a mão entre os fios do cabelo e jogo para o
lado oposto de onde estava, um tanto sem graça.

Noah observa cada movimento que faço.

— A loira, obviamente, estava com Jackson — passa a mão pelo queixo,


depois pega o porta retrato e aponta para um homem mais velho. —

Esse é o meu pai, Justin Cooper — depois aponta para um homem que
parece estar na casa dos 30. — Esse é meu irmão mais velho, Bryan —
segurando o riso, ele aponta para a mulher na foto. — E, a Elizabeth, que é
quem eu estou abraçando, é a minha mãe — encosta novamente em sua
cadeira e espera minha reação.

Aos poucos vou entendendo o que ele disse. Sinto meu rosto queimar e
tenho certeza que estou ficando vermelha; a vergonha começa a me
consumir.

Olho para ele e vejo o divertimento em seu olhar, mas ele tenta ser discreto,
porque percebe que estou sem graça. Levo as duas mãos ao rosto e o
escondo nelas por um tempo.

Explodo numa gargalhada e tiro as mãos do rosto, e vejo que ele novamente
está de pé, ao meu lado, com um olhar preocupado que se desfaz ao me ver
rir. Logo cai na risada também.
— Noah — limpo uma lagrima —, eu jurei que ela era a sua namorada —
descruzo as pernas e levanto, deixando a bolsa na cadeira e indo até a
estante, olhando todas as fotos.

As fotos são com a sua família. Estão presentes Jacob, Scott, tem uma com
Jackson e até mesmo com sua secretária. Pego uma que está sua família e os
meninos, observo e todos eles parecem ser bem próximos.

— Não foi a primeira vez que aconteceu isso — sinto sua voz atrás de mim,
e automaticamente meu corpo fica tenso.

Troco o peso do corpo para a outra perna, e me viro para ele. Seu perfume
invade todo o meu espaço e, eu respiro fundo, inalando-o.

— Seus pais parecem tão novos para ter filhos com a idade de vocês...

Ele se aproxima mais um pouco, com um sorrisinho de lado, deixando bem a


mostra sua covinha, que é um charme do caramba.

— Está me chamando de velho, Srta. Ibrahim? — estreita os olhos,


mantendo o sorriso.

Ele está me provocando ou eu estou começando a delirar? E, porque eu


estou gostando da possibilidade de ser provocada pelo meu advogado?

Ergo um pouco a cabeça, olho suas covinhas, seus lábios e depois seus
olhos.

— Claro que não! Mas, deduzo que você e seu irmão devem estar próximos
dos 30 anos, por mais que não pareça — viro de costas, fico na ponta dos pés
e coloco a foto no lugar —, ou estou enganada?

Viro de frente a ele, que está mais distante, com um olhar de culpado.

Algo me diz que isso tem a ver com ele estar me olhando como quem quer
me devorar. Não me sinto incomodada, eu gosto de ser admirada por ele,
gosto que ele também se sinta atraído por mim, mesmo que nada aconteça
entre nós nesse sentido.
Limpa a garganta e fala:

— Boa de palpite! Eu tenho 28 anos e meu irmão tem 30.

Caminha até ao sofá e me chama para que eu o acompanhe. Eu o sigo, me


sento na poltrona que fica de frente para o sofá, cruzo as pernas e encosto
um cotovelo no apoio.

— Vamos falar sobre o seu caso? — me pergunta, claramente querendo


mudar de assunto e deixar nossa conversa no foco profissional.

Concordo e aproveito enquanto ele separa alguns papéis, para pegar meu
celular e abrir o Instagram. Desde o acontecido mais cedo com Emma não
consigo parar de pensar em como tudo foi injusto e quantas outras

mulheres passam por isso todos os dias, em todos os lugares. É ridículo


termos que passar por isso só por sermos mulheres.

Abro o perfil dela e aproveito para ver suas fotos. Ela poderia facilmente ser
modelo, é lindíssima.

Curto algumas e comento um coração na última. Acho que é uma boa


maneira de me aproximar mais dela, já que ela parece ser um pouco fechada
e bem tímida.

Vou até o aplicativo de mensagens e mando uma para ela.

Eu: Oi! Estava pensando aqui: Que tal eu te levar no bar de um amigo para
extravasar e conversamos mais? Também estou em um péssimo momento na
vida.

Eu: Me avise se quiser, beijos.

Talvez ela seja a amizade que me falte, ou talvez ela pense que sou uma
maluca. Vamos ver como será.
08

Já faz umas 3 horas que estamos em meu escritório resolvendo todos os


detalhes para darmos entrada com o processo contra Alex.

Tudo o que Kath trouxe foi muito importante, mas ainda assim, não temos
algo realmente forte para que ganhemos com facilidade. De início, iremos
processá-la por toda a exposição desnecessária e difamatória, que está
prejudicando Kath tanto na vida profissional como na pessoal. Diante disso,
continuaremos a busca por mais provas para a questão dos bens da vítima.

Abaixo o papel que estava lendo e abro a boca para falar com ela mas, assim
que a olho, eu travo.

Ela está totalmente distraída com a caneta na boca, enquanto lê algumas


coisas que dei para ela nessa última hora. Sem perceber o quanto isso é sexy,
ela está girando a caneta na boca, concentrada em suas ações e me fazendo
quase babar.

Isso não tem como ser mais clichê, tem?

SIM, TEM!

Ela está de pernas cruzadas e, sua saia ligeiramente curta, mostra as coxas
torneadas. A bota longa e o sobretudo fazem com que fique mais sexy do
que o normal e, mesmo que sua blusa seja toda fechada e com a gola alta –

o que eu acho um charme –, é impossível não ser atraído para essa área do
seu corpo também.

Tudo em Kath me atrai, e isso já não é mais um segredo.

Vejamos bem, eu estou tentando não pensar no quanto estou impactado com
sua presença, mas depois da festa de Jackson, parece que a atração normal
que eu sentia por ela, virou algo que agora consome os meus pensamentos
sempre que ela está por perto. E, às vezes, quando não está também. Já perdi
as contas das vezes que sonhei com essa mulher e, isso está me perturbando
demais.

— Acho que eu entendi tudo — me tira dos meus pensamentos ao falar.


Concordo mesmo sem ter prestado atenção no que falou.

Ela coloca os papéis em cima da mesa, junto com a caneta que me fez
imaginar mil coisas, depois se levanta e vai até as janelas. Fico observando-a
de longe. Ela vira um pouco o rosto e me olha por cima dos ombros.

— Eu sinto que as coisas ainda irão piorar antes de melhorar, Noah.

Está tudo calmo demais, e as coisas nunca foram resolvidas dessa maneira
em minha vida — olha novamente para a janela, que está repleta de pingos
de água da constante chuva.

Queria poder fotografá-la agora, porque essa cena está toda linda.

Ficaria um belíssimo quadro, que eu, com toda a certeza, colocaria em


qualquer lugar da minha casa.

Me levanto, abandono as coisas na mesa e caminho até chegar ao seu dela.


Viro-me de frente para ela, ficando de lado para a janela. E, mais uma vez,
seu perfume gostoso domina o ar em minha volta.

— Não vou mentir, Kath — chamo a sua atenção e ela me olha. Foco em
suas írises bonitas enquanto falo. — Provavelmente, vai piorar. Alex vai
tentar se aproveitar da mídia de alguma maneira. Ela deve estar esperando a
primeira oportunidade, mas nós estaremos de olho e, tudo que ela falar sobre
você, usaremos contra ela.

Seus olhos me encaram com profundeza, cintilando algo que eu não


reconheço.

Como se minha mão tivesse vida própria, passo o polegar em sua bochecha e
a levo até seu cabelo, empurrando para traz da sua orelha alguns fios que
estavam por ali. Sigo com o olhar todos os movimentos da minha mão.
Desço o polegar até o maxilar e paro em seu queixo, que seguro e forço de
leve seu rosto para cima. Olho para seus lábios e depois subo para seus
olhos, que continuam fixos aos meus. Descanso minha mão em sua
bochecha.

— Eu estarei aqui até o final, tudo bem? — sussurro essas palavras que saem
da minha boca de uma forma tão natural, que já não sei se estou falando
apenas profissionalmente.

Ela coloca sua mão por cima da minha e fecha os olhos. Vejo sua respiração
pesada pelo movimento do seu peito. Olho para seus lábios novamente. Eles
são tão bonitos e grossos, e quando ela morde o canto do inferior, como está
fazendo agora, me deixa mais encantado e com vontade de prová-los.

Até quando conseguirei controlar a minha vontade de beijá-la?

— Você tem sido ótimo comigo, Noah — abre os olhos e volta a me encarar,
retira a sua mão, quebrando o contato, afasto a minha do seu rosto e, na
mesma hora, sinto falta. — E, não digo isso só profissionalmente... Você tem
se tornado um bom amigo, ou algo parecido! Eu não sei como agradecê-

lo pela atenção, por me ouvir.

— Você não precisa agradecer... — me afasto um pouco e mantenho uma


distância segura, porque quanto mais próximo eu fico, mais próximo quero
ficar. — Está se mostrando uma boa amiga, Kath! E, não é comum que meus
clientes se tornem algo a mais que clientes. Acho que, além do Jackson, só
você — sorrio, mas sinto o gosto amargo em minha boca por chamá-la de
amiga. Apenas ignoro.

Ela devolve o sorriso, dá um longo suspiro e se vira. Vai para a outra mesa,
onde está sua bolsa.

— Eu acho que já vou, então. Tenho uma nova amiga, que não está me
dando sossego por conta da minha festa — ri ao brincar sobre minha mãe.

Rio junto, coloco as mãos dentro dos bolsos da calça, e me encosto na


parede mais próxima.
— Eu avisei que ela não te deixaria em paz — observo quando pega seu
celular e se distrai olhando ele. Sorri e vira a tela para que eu veja o que a
fez ter essa reação.

Minha mãe mandou mais de 20 mensagens para ela, perguntando várias


coisas. Dou uma risada alta, jogando a cabeça para trás, porque isso é muito
a cara da minha mãe.

Sinto uma claridade incomum, olho novamente para Kath, que agora me
mostra uma foto minha que ela acabou de tirar. Mantenho o sorriso no meu
rosto e me aproximo um pouco, para olhar de perto.

— Uau. Isso ficou bom! — dificilmente, eu tiro fotos minhas, muito menos
espontâneas desse jeito, mas ficou muito boa.

Sinto meu celular vibrar no bolso, o tiro e vejo uma mensagem de Kath, com
a foto que ela acabou de tirar.

— Depois que entrei nesse mundo de influencer e modelo, acabei


aprendendo a registrar bons momentos para boas fotos, como esse agora! —

sorri, fazendo seus olhos ficarem menores. — E você ficou lindo! —


ruboriza na mesma hora que deixa escapar as palavras. Mexe em seu cabelo,
tentando disfarçar a vergonha por ter me elogiado e, sinto vontade de beijá-
la novamente.

Dessa vez, sou eu quem está sorrindo a ponto de destacar totalmente

as minhas covinhas.

— Tenho certeza que isso é graças ao seu talento em registrar bons


momentos — pisco e dou uma risadinha, aliviando o clima para que ela
fique à vontade de novo. — Mas, muito obrigado pelo elogio. Que fique
claro que a recíproca é verdadeira sobre o quanto você também é linda —
acrescento intensidade na última palavra ao falar.

Novamente, voltamos ao clima de pura excitação e atração, e ficamos nos


encarando. Ela abaixa a cabeça e solta um risinho. Pega a sua bolsa, coloca
no ombro e me olha, mordendo o canto do lábio inferior.
— Eu tenho que ir! Algumas coisas ainda precisam ser ajeitadas sobre a
festa e a lista de convidados. Fora que nem escolhi qual roupa irei usar —

muda de assunto e eu penso que qualquer uma ficará perfeita nesse corpo
lindo.

Concordo com a cabeça e caminhamos juntos até a porta da minha sala.

— Amanhã cedo, Alex já será notificada sobre o processo. Essa semana


começará o contato com o advogado dela. Vou te deixar informada sobre
tudo — encosto a lateral do corpo na parte de fora da minha sala,
cumprimento algumas pessoas que passam e falam comigo e com Kath. —

Acho que nos vemos no sábado, então!

Kath apoia uma mão em meu braço, aproxima seu rosto e me beija nas duas
bochechas. Se afasta, sorri e segue em direção ao elevador. Entra nele, vira
para mim e fala:

— Até sábado, Noah! — o elevador se fecha, e eu encaro as portas dele.

Escuto uma risadinha baixa vindo do outro lado, me viro e vejo Jennifer me
olhando, com a mão na boca segurando o riso.

Ergo a sobrancelha e a questiono com o olhar. Ela ergue as mãos.

— Não vi nada, não sei de nada, não estou falando nada — ironiza, com um
olhar que diz muitas coisas.

Cruzo os braços e caminho até ela, que está sentada em sua cadeira.

Jennifer é uma ótima profissional, e mantemos a aparência de


chefe/funcionária na frente das demais pessoas, mas quando estamos apenas
nós dois, deixamos que a nossa amizade transpareça no ambiente de
trabalho.

— Realmente, porque não tinha nada demais para você ver — sinto a
necessidade de me justificar. Patético.
— Claro! Não vi um homem de 28 anos babando em uma mulher

muito linda, que claramente se sente atraída por ele. E, esse homem não
parecia um cão no cio! — deixa uma risada escapar ao terminar a frase,
abana a mão no ar, pegando folego. — Desculpa, não resisti.

Balanço a cabeça, incrédulo.

— Não é pra tanto, Jenni — olho em direção ao elevador, com a imagem


dela em minha cabeça.

— Eu sei, eu sei. É que você sempre atende muitas mulheres bonitas e


parece nem notar. Entretanto, com a Kathllen, não é a primeira vez que te
vejo babando nela e, isso está me deixando curiosa. O que ela tem de
diferente? — apoia os cotovelos na mesa e me encara, com um olhar
curioso.

Bufo, me afasto e sento-me no sofá que tem perto da mesa dela.

— Eu não sei... — coço a cabeça e depois esfrego o rosto com as duas mãos
— Claro que, naturalmente, me sinto atraído quando vejo uma mulher
bonita, mas quando é cliente, eu consigo desligar facilmente essa atração.
Até mesmo depois, quando encerro o caso e algumas insinuam algo a mais,
eu prefiro não ter nada. Mas com a Kathllen...

— Não com ela, certo? Com ela você não consegue desligar a atração. —
me pergunta já sabendo a resposta.

Concordo e fico olhando para ela, esperando que a próxima coisa que diga
seja algo que irá me ajudar a resolver essa questão, porque eu realmente
estou ficando irritado com isso tudo. Eu sou adulto, deveria saber ignorar
essas coisas.

— Você está fodido — fico chocado ao ouvir isso, já que esperava um


conselho. Ela ri e fala. — Mas, sério, como sua amiga, falaria para você que
vale a pena descobrir o que ela tem que tanto te intriga, que tanto chama a
sua atenção; como sua funcionária, que preza pela sua carreira, não preciso
dizer nada porque você sabe que isso pode ser complicado se vocês não
forem maduros suficientes para não misturar as coisas caso, em algum
momento, dê errado ou do lado profissional ou do lado pessoal.

Ela está certa, para variar. Tem outro ponto também: provavelmente, se
acontecesse algo entre nós dois, a única coisa que eu teria para oferecer é o
meu tempo na cama e, eu não a conheço a fundo para saber se é uma mulher
adepta ao sexo casual ou, se prefere se envolver mais intimamente.

Mas, porque estou me preocupando com isso? Deve ser só o desejo falando
mais alto. Claramente, nada irá acontecer ... Eu acho.

— Você tá certa! — levanto, para na frente de sua mesa. — Sábado você


estará atoa? É aniversário da Kath. Vai ser apenas para poucas pessoas

na Lótus, por conta dos problemas dela, mas, ela falou que eu e os meninos
poderíamos chamar algumas pessoas de confiança. Quer ir? Talvez lá, você
me ajude a descobrir porque estou assim.

Ela arregala os olhos ao ouvir a palavra “Lótus” e eu estranho, porque ela já


foi ao local algumas vezes comigo e os meninos.

— Algum problema com a Lótus? — pergunto, curioso.

— Não, claro que não. Gosto de lá — sorri de um jeito que deixa claro que
tem algo a mais que isso, mas vou deixar passar. — Eu acho que consigo ir,
tenho que ver com a cuidadora se ela poderá ficar com a minha mãe no
sábado — olha para a foto de sua mãe na mesa e a tristeza em seu olhar é
quase palpável.

Concordo com a cabeça. Não falamos muito sobre seus problemas pessoais
por pedido dela mesma. Sempre que precisa conversar sobre isso, ela quem
dá início ao assunto e, é frequentemente regado de muito choro, álcool e
uma ressaca surreal no dia seguinte.

— Noah, queria falar com você — Jacob nos interrompe, se aproximando da


mesa de Jennifer e estendendo uma pasta na minha direção.

— Olá, Jenni. Boa tarde. Como vão as coisas?


Esse é o jeito delicado de Jacob de perguntar se ela está precisando de algo,
e ela sempre diz que não.

Pego a pasta, abro-a e vejo que tem um currículo na frente com várias cópias
de diplomas, documentos e outras coisas que sempre pedidos quando vamos
contratar alguém. Isso só significa uma coisa.

— Você achou um bendito contador, então? — olho o currículo novamente e


me corrijo. — Quer dizer, contadora?

Ele faz que sim com a cabeça, tira alguns papéis dali e começa a pontuar
várias coisas.

— Ela é perfeita para o cargo. Olha as recomendações — me entrega o


papel.

Leio rapidamente e vejo que trabalhou em duas empresas famosas, que são
conhecidas por darem um ótimo tratamento aos seus funcionários como
maneira de fazê-los trabalharem mais animados.

Ergo uma sobrancelha e o encaro.

— Ela pediu demissão desses lugares? — questiono, sem entender o porquê,


já que são ótimos lugares.

— Sim, cara! Também fiz essa pergunta a ela, para ter certeza que não foi
um erro de digitação — ele dá uma risada como se não acreditasse

nisso. — Ela disse que não se encontrou em nenhum desses lugares, que não
era um ambiente para ela. Não entrei em mais detalhes, porque ela pareceu
desconfortável ao falar. Porém, o fato é: agora ela é a nossa funcionária.

Coloco tudo dentro da pasta, a devolvo e dou dois tapinhas em seu ombro.

— Graças a Deus que você achou alguém. Não aguentava mais o seu belo
mau humor por conta disso — rio, mas estou falando a mais pura verdade.

— Enfim — me corta com seu jeitinho super doce —, acredita que ela ainda
optou por começar amanhã em vez da semana que vem? — coloca a mão no
coração, como se estivesse apaixonado.

Rio de sua encenação, caminhamos juntos até minha sala e sentamos no sofá
perto do bar. Confiro as horas no meu relógio. 17:00h.

Ele passa os olhos pelos papéis que estão na mesa a nossa frente, empurra
seus óculos de grau para mais perto dos olhos e pega um dos papéis; dá uma
olhada e depois larga onde achou.

— Já deu início ao processo? — ergue as mangas da sua camisa, deixando


amostra as tatuagens nos dois braços.

Coço a testa, fecho os olhos, apoio os cotovelos nos joelhos e depois olho
pra frente, em direção as janelas. Na mesma hora, consigo ver perfeitamente
a figura de Kath que há pouco estava ali.

— Já, cara. E, algo me diz que quando isso chegar na boca desse povo da
internet, será um inferno.

Normalmente, quando dou início a um processo, sempre sai nos canais de


comunicação, fofoca e tudo o mais, por conta dos meus clientes serem
famosos. Assim, começa a parte chata de trabalhar com pessoas conhecidas:
a mídia. Os jornalistas ficam iguais urubus aqui em frente, mandam e-mails
pedindo algum furo da história já tentaram até suborno. É

uma loucura.

Depois de um tempo, aprendi a lidar com essas coisas e, hoje em dia, quase
não me incomoda mais; não dou atenção a eles e nunca paro para respondê-
los, porque aprendi que, se eu falo A e eles mudam para Z e, isso pode me
complicar e complicar o caso em questão.

— Disso, eu não tenho dúvidas. A mulher é extremamente famosa!

Você já viu o Instagram dela? — assoviou, dando ênfase no que irá falar. —

O povo delira com tudo que ela posta.

Concordo, porque ultimamente tenho olhado uma coisa ou outra no


Instagram dela.

Pego meu celular, confiro as mensagens e ligações. Ignoro todas –

inclusive as de Samantha –, respondendo apenas minha mãe.

Mamãe: Querido, já comprou um presente para Kath?

Mamãe: Eu já decidi o que eu e seu pai daremos. Porque claro que já sei
várias coisas que ela gosta e, ela gosta muito de bolsa.

Rio, minha mãe é incrível mesmo. Óbvio que eu não deixaria passar batido
esse fato.

Mamãe: Você deveria dar algo legal para ela, querido.

Mamãe: Irei sondá-la e descobrir algo que ela queira ganhar além de bolsas,
deixe com a sua mamãe. ;)

Eu: Claro que você irá sonda-la, mãe. Obrigado!

Claro que minha mãe irá descobrir e, não vou negar ajuda porque até agora
nem havia pensando sobre esse presente. Aliás, dificilmente saberia dar para
Kath algo que realmente goste; mal a conheço! Daria uma joia, um relógio,
coisas que costumo dar as mulheres que me importo a ponto de dar presente.

Guardo o celular, bato nos meus joelhos e levanto, organizo todos os papéis
na minha outra mesa, me sento e aproveito para resolver algumas questões
pendentes com meu amigo. Quase uma hora depois concluímos tudo e
quando olho para Jacob, ele parece está se divertindo com algo em seu
celular.

— Kath acabou de me mandar uma foto dela no meio de várias caixas de


coisas que sua mãe comprou... NA CASA DA SUA MÃE! — ri mais.

Arregalo os olhos, surpreso.

— Você e Kath conversam? — pergunto rápido demais, — E, ela está na


casa dos meus pais?
Ele traz o celular ao meu alcance para que eu veja a foto que,
provavelmente, minha mãe quem tirou. Ergo o olhar até ele, que me olha
com curiosidade.

— Que fofo. Está com ciúmes! — ri da minha cara, guarda o celular e apoia
uma mão na mesa. — Relaxa, bebê. Kath é uma mulher linda, mas ela meio
que está virando uma amiga, eu acho. — dá de ombros, segue em direção da
porta e para, me encarando como se fosse falar algo, mas se vira e vai
embora.

Não fiquei com ciúmes, apenas surpreso pela proximidade deles.

Jacob é um cara muito fechado e não costuma deixar ninguém novo entrar
em sua vida.

A cada dia que passa, Kath está se tornando mais presente em minha vida e,
isso é bom. Ela é uma pessoa que carrega luz própria e ilumina por onde
passa. O único problema é que não consigo parar de desejá-la.

09

Essa semana passou voando. Me dividi entre arrumar tudo com Elizabeth e
ficar atenta a qualquer notícia nova envolvendo meu nome que, para a minha
surpresa, não agora aconteceu nada. Alex e seu advogado já foram
notificados do processo há dias e, além do contato que Noah teve direto com
o advogado, não tivemos nenhum bombardeio dela. Entretanto, ela não me
engana, não mais, pelo menos; eu sei que ela está aprontando alguma coisa.

Porém, não vou me preocupar com isso. Hoje é meu aniversário e minha
festa começa em alguns minutos.

Recebi muitas mensagens durante a semana, de fãs, sites de fofocas,


jornalistas, todos querendo um furo sobre minha festa, que eles têm certeza
que farei, já que meus aniversários anteriores eram sempre eventos grandes,
sendo foco de notícias por semanas. Claro que não falei nada para ninguém,
além das pessoas que convidei e, os que já sabem porque estão me ajudando.

Não sou boba e já vivo nesse meio há um tempo, então, sei que alguém vai
soltar alguma informação, tirar uma foto ou, simplesmente, algum jornalista
pode já estar sabendo e ficará as espreitas. Tudo bem, desde que ninguém
indesejado entre, o resto eu consigo lidar.

Saio do banheiro após terminar minha maquiagem e vou até a minha cama.
Olho para o vestido que escolhi e os acessórios, confiro se é realmente o que
quero e me sinto satisfeita com as minhas escolhas.

Meu celular vibra na cama na hora que ia pegar o vestido. Me sento ao lado
da roupa e o pego. É Jacob e logo atendo.

— A aniversariante já está pronta? — escuto Barbie gritar. Rio.

Jacob resmunga alguma coisa baixa e deduzo que eles estão no carro vindo
me buscar.

— Hã... estou quase! Acho que em uns 15 minutos, estarei pronta.

— Tudo bem, Kath. Chagaremos aí mais ou menos nesse tempo! —

diz Jacob e desliga.

Sorrio e olho para o celular bloqueado. Onde eu iria imaginar que ganharia
dois amigos nessa confusão toda? Mas, é o que aconteceu. Depois que Jacob
passou a me seguir no Instagram, não paramos mais de nos falar.

Ele é meio sério, mas com seus amigos, é sempre mais simpático, e parece
que consigo tirar boas risadas dele.

Quanto à Barbie, não tem como não gostar dele! É um ótimo cara, e parece
minha versão masculina. Tirando o fato que é um tremendo mulherengo e,
eu já sou mais na minha. Não sou santa nem nada do tipo, mas é complicado
me envolver com pessoas que não conheço; quando conheço algum homem,
viramos amigos.
Levanto da cama, pego o vestido e visto, me enrolo na hora de puxar o zíper
nas costas, mas depois de fazer quase um contorcionismo, consigo fechá-lo
até o final. Sento-me novamente na cama, seguro os saltos e calço, ajustando
as tiras que se prendem em meu tornozelo.

Pego os brincos e vou até o espelho, que engloba uma parede inteira do
closet. Jogo os cabelos para trás e coloco os brincos. Depois, me afasto para
conferir como ficou tudo. Estou usando um vestido vermelho bem justo, que
vai até metade das minhas coxas. Ele tem alças finas e um decote bem
trabalhado, como se fosse um corpete.

Deixei meu cabelo solto e o comprimento está com ondas, dando o efeito de
mais cheio. O sapato é um Gioseppe Zanotti dourado, que ganhei há um
tempo e nunca havia usado. Combinou perfeitamente com a roupa.

Sorrio ao ver meu reflexo.

Gostosa. É como esse vestido me deixa e adorei.

Volto para perto da cama, pego minha bolsa de mão, que estava na mesinha
da cabeceira, confiro se coloquei tudo o que preciso dentro, seguro meu
celular, que na mesma hora vibra. É uma mensagem de Barbie, falando que
já estão me esperando dentro da garagem do meu prédio. Eu havia
informado ao porteiro que eles iriam entrar para me pegar, porque assim não
corremos riscos de sermos pegos de surpresa lá na frente.

Pego meu perfume, que estava na cama, e borrifo em algumas partes do


corpo; o jogo novamente na cama. Apago as luzes enquanto me encaminho
para fora do meu apartamento.

Ao chegar na garagem, me deparo com dois homens lindos encostados em


um carro tão lindo quanto eles, que deve ter custado uma pequena fortuna.

Me aproximo e Jacob ergue uma sobrancelha ao me ver, correndo os

olhos pelo meu corpo, mas não de um jeito maldoso; depois, dá um sorriso
em aprovação.
— Uau! Você quer matar quem essa noite? — Jacob segura minha mão e me
faz dar uma voltinha. Rio enquanto acompanho sua mão. — Feliz
aniversário, linda — me abraça quando termino de girar, me dá um beijo na
bochecha e sorri. Tira do bolso uma caixinha de joia, e não consigo evitar o
sorriso, porque eu amo joias.

— AI MEU DEUS, JACOB! — falo exasperada quando vejo que é da


Tiffany. Empurro minha bolsa em seu peito para conseguir abrir com
cuidado, ele ri e segura. Abro a caixa e tiro a pulseira de dentro. É de ouro e
seu modelo é aquele que não fecha e tem um pouco de pressão. Em cada
ponta tem uma pedra de diamante. Fico boquiaberta. Coloco a pulseira na
hora e o abraço novamente, bem apertado. — Eu amei tanto! Ela é perfeita

me afasto. — Mas, não precisava. Pelo menos, não algo que deve ter sido
super caro!

— Precisava sim, e teve alguém que nos falou que você gosta muito de joias
— dá de ombros, me observando ficar encantada com o presente.

Passo o dedo pela pulseira.

— Tá, tá! Agora, é a minha vez — Barbie diz, me puxa e dá um abraço tão
forte que chega a me tirar do chão. Eu rio enquanto o abraço. —

Parabéns, parabéns, parabéns! — me coloca no chão, e me dá outra


sacolinha da Tiffany. Arregalo os olhos mais uma vez. — A pulseira fazia
conjunto com um colar, então, decidi dar continuidade ao presente de Jacob.

Dou meio que uns saltinhos sem sair do chão, tiro a caixa grande que
sustenta o colar, abro e vejo uma corrente também de ouro, com um pingente
que parece uma gota e, provavelmente, também diamante.

— Gente! Eu amei demais. Poderia dar um beijo na boca de cada um

— brinco. Meu rosto já está doendo do quanto estou sorrindo, mas não
consigo evitar. Não é pelo valor dos presentes, mas fico muito feliz por eles
se preocuparem em me dar algo que realmente gosto.
— Nada disso, senhorita. Não queremos problema com Noah —

Jacob diz e pisca, segurando um risinho. Barbie coloca a mão na boca como
se estivesse se segurando para não falar algo. Aperto os olhos ao encará-los,
e depois pisco para ambos. — Vai, vira! Eu coloco para você.

Me viro, seguro o cabelo na parte da frente do corpo, espero ele colocar o


colar e fechar. Passo a mão pelo colar depois que sinto que ele prendeu. Jogo
o cabelo para trás e viro para os dois, sentindo meu peito

apertar com um sentimento bom. Puxo ambos ao mesmo tempo e dou um


abraço triplo neles.

— Olha, eu não vou falar muita coisa para não chorar — digo já segurando o
choro. — A gente se conhece há pouco tempo, mas vocês apareceram no
pior momento da minha vida e, estão sendo tão ótimos, algo que eu nem sei
se mereço. Só quero dizer que sou muito grata a amizade que estão me
oferecendo e, espero que sejamos amigos após toda essa merda se resolver
também — sorrio, aliviando o clima do semi discurso.

Jacob dá um beijo no meu rosto e sorri. Seu sorriso fala muito mais do que
muitas palavras. Se vira e entra no carro. Enquanto isso, Barbie segura
minha mão; olho para ele e sorrio.

— Você já é família, Kath. E, dona Elizabeth deu ordens diretas para que
sejamos nada mais do que verdadeiros lordes com você, então, não espere
menos que isso. Aquela mulher é como uma mãe para todos nós e, além de a
amarmos, também temos medo dela — brinca, leva minha mão até sua boca
e beija as costas dela.

Concordo com a cabeça, evitando falar algo para não acabar chorando.

Ainda segurando em minha mão, Barbie me leva até o lado do carona, abre a
porta e faz um gesto para que eu entre. Eu entro, ele fecha a porta e entra na
parte de trás, ficando no banco do meio.

Jacob coloca minha bolsa, que ainda estava com ele, em meu colo.
Aproveito e coloco a sacola com as caixas das joias no banco de trás, e peço
para que um deles me lembre de pegar depois.

Após colocarmos os cintos, Jacob da partida e fico tensa, olhando para fora
enquanto saímos da garagem. Para nossa sorte, os vidros são bem escuros,
então, os fotógrafos que estão por ali não prestam muita atenção em quem
está dentro. Vejo que mesmo assim, alguns tiram fotos, deduzindo ser algum
famoso dentro por causa do carro.

Barbie se estica entre nós dois e liga o rádio, que começa tocar uma música
animada.

Pego meu celular da bolsa, vou na minha galeria e procuro por uma das fotos
que tirei depois que terminei de me arrumar. Vou rolando por todas até achar
uma perfeita. Estou de pé em frente ao espelho, com uma perna na frente da
outra, de um jeito que valoriza mais ainda minhas curvas. Opto por postar
essa. Entro aplicativo e coloco a legenda “Novos ares para uma nova fase da
vida”. Olho mais uma vez para ter certeza se é a foto certa, e depois

posto. Na mesma hora, as curtidas chegam.

— Me conta aqui — diz Barbie ao meu lado, apoiando o braço no encosto


do meu banco. — Está ansiosa? Sei que não vai ter muitas pessoas lá.

Pelo que Liz falou, tem um pouco menos de 50 pessoas. Seus pais estarão
lá?

Meu sorriso morre ao ouvi-lo perguntar dos meus pais. Suspiro e viro um
pouco a cabeça para a direção dele.

— Estou sim. É como se várias borboletas estivessem fazendo festa em meu


estômago — abaixo o olhar e mexo em minhas unhas. — Eu sempre faço
festa, mas, esse ano é diferente. Sinto que muita coisa mudou e, parece que
eu também mudei, mas do que de fato percebi — ergo o olhar ao sentir a
mão de Jacob em cima das minhas, fazendo um breve carinho. Sorrio em
resposta. — E sobre os meus pais, não, eles não estarão lá. Minha mãe
queria ir, mas é complicado. Ela deve vir me ver na próxima semana e vai
passar alguns dias comigo.
Ambos concordam com a cabeça, provavelmente percebendo que é um
assunto delicado e, agradeço mentalmente por não insistirem em mais
perguntas sobre.

Viro-me novamente para frente e fico admirando o caminho, distraída.

— Parece que alguém está ansioso pela nossa chegada — Barbie leva o
corpo pra frente, fica com a cabeça quase ao lado da minha e me mostra a
conversa com Noah, em que ele pergunta várias vezes se já estamos indo.

Sinto uma ansiedade percorrer por todo o meu corpo, mas não falo nada.

Barbie aproveita que está com o rosto próximo ao meu, abre a câmera do
celular e tira algumas fotos nós dois juntos. Eu amei todas, ele é muito
fotogênico. Ele escolhe a que está dando língua e que eu estou fazendo tipo
um bico de peixinho.

— Vamos ver se eu consigo uma fama em cima da sua — ri e posta a foto,


colocando a legenda “Aniversário da nossa gatinha, ♥ ”, e me marca. Na
mesma hora, meu celular vibra, eu o pego, curto, comento vários corações e
reposto no story.

— Preparados para serem namorados perante a mídia? — diz Jacob.

Rimos todos ao mesmo tempo, mas ele não está errado. Nunca me viram
com Barbie antes, então provavelmente, irão pensar isso.

— Barbie, Jacob falou brincando, mas a mídia com certeza irá falar isso —
olho em sua direção, esperando uma reação. Ele apenas se encosta no banco,
colocando as mãos atrás da cabeça e ri.

— Não será a primeira famosa que o mundo pensa que é minha namorada —
pisca. — Você que deveria ficar preocupada em estar supostamente
namorando o mulherengo do Advogado Scott Barbieri — ri desacreditado,
debochando da sua atual situação.

Coloco uma mão em sua perna e faço um breve carinho.


— Seremos um ótimo casal, então. A falida que dá a volta na assessora e o
mulherengo que não para com ninguém — os dois riem alto e eu os
acompanho.

Depois de mais alguns minutos, chegamos na Lótus. Entramos no


estacionamento para pegar a outra entrada. Todos os convidados foram
instruídos a entrar por aqui, porque ficaria mais difícil uma pessoa que não
foi convidada entrar, já que para ter acesso ao estacionamento, você precisa
de um QR code que modifica a cada dia, exatamente para evitar problemas
no estabelecimento.

Jacob estaciona o mais próximo da porta e, tem algumas pessoas entrando.


Sorrio animada. Abaixo o espelho do carro, confiro minha maquiagem e
meu cabelo, jogando-o para o lado. Coloco o suporte do espelho no lugar e
saio assim que Jacob abre a porta para mim. Agradeço e sorrio, abaixo um
pouco meu vestido e respiro fundo, pronta para entrar.

Barbie passa o braço pelo meu ombro e caminhamos juntos, ao som dos
resmungos de Jacob falando que Barbie é muito amostrado em entrar assim
comigo. Nós rimos, mas é verdade.

Assim que entramos, já conseguimos ouvir a música alta tocando e, na


mesma hora o Dj, que é um grande amigo de Jackson, anuncia a minha
entrada. Todos olham em minha direção, mas não presto atenção em
ninguém, porque estou ocupada demais procurando por Noah. Não o vejo
em lugar nenhum.

Barbie e Jacob vão em direção ao bar e me deixam para falar com as


pessoas. Começo a falar com cada uma delas que aparece em minha frente,
tentando dar a devida atenção que elas merecem, mas, me pego toda hora
caçando Noah, sentindo o estômago ficar apertado a cada momento que o
procuro e não acho.

Termino de falar com duas amigas, tiro algumas fotos e paro em uma mesa
alta vazia. Apoio a bolsa ali e pego o meu celular. Várias mensagens e
notificações de redes sociais; decido deixar para vê-las amanhã. Abro a
minha conversa com Noah e fico na dúvida se mando uma mensagem ou
não.
Sinto um perfume familiar e, na mesma hora, meu corpo reconhece.

— Me procurando? — fala perto do meu ouvido, ficando atrás de mim.


Fecho os olhos e torço para que ele não tenha visto todo meu corpo arrepiar.

Antes que eu consiga me virar, ele vem para a minha frente, oferecendo seu
sorriso mais lindo, que me derrete toda e, automaticamente, me faz sorrir.
Mordo o canto do lábio inferior. Meu corpo todo esquenta quando vejo seu
olhar descarado passear pelo meu corpo inteiro. Eu gosto dessa atenção.

— Parabéns, Srta. Ibrahim — se aproxima, olha em meus olhos, desce o


olhar para a minha boca e depois volta a olhar em meus olhos. — Espero que
goste! E, já deixo claro que foi 100% ideia da minha mãe — sorri e me
entrega uma caixa um pouco grande. Na hora reconheço o nome Gucci
escrito nela. Passo a mão pelas letras, depois coloco a caixa na mesinha,
levanto a tampa e vejo a bolsa.

Olho para Noah, que me olha de volta, sorrindo como se o presente não
fosse nada demais. Me aproximo, jogo os braços em seu ombro e o abraço.
Ele passa os braços ao redor da minha cintura, me pressionando um pouco
contra o seu corpo enquanto me abraça. Nossos corpos se encaixam
perfeitamente e me sinto acolhida em seus braços.

— Obrigada, Noah. Eu amei! — sussurro próximo ao seu ouvido, deixando


a cabeça encostada em seu ombro. Me afasto, mas ele mantém as mãos em
minha cintura, me olhando de um jeito que me faz ruborizar. — E, é claro
que foi ideia da sua mãe! Agora faz sentido ela ter me levado ao shopping e,
delicadamente, ter pedido minha ajuda na compra uma bolsa para ela. Eu
disse que queria comprar exatamente essa, mas lá só tinha de outra cor.

Ele balança a cabeça, concordando e rindo. Solta uma mão da minha cintura,
segura a minha mão e faz com que eu dê alguns passos para trás.

Percorre o meu corpo com os olhos novamente, e volta a me olhar sorrindo,


um sorriso malicioso que esquenta meu peito e o meio das minhas pernas.

— Eu poderia falar que você está linda, mas isso seria uma mentira!
— me encara, solta a minha mão e cruza os braços. — Você está perfeita,
Kath, como sempre! — pisca, e algo dentro da minha calcinha pisca junto.

Aproveito esse momento e olho todo o seu corpo, lentamente. Ele está com
uma camisa preta de manga curta, que deixa seus braços musculosos à vista.
Reparo quantas tatuagens ele tem, e sinto vontade de passar meus dedos em
cada uma delas, mas, me detenho. Sua calça é daquelas sociais

listradas de preto e cinza. e suas coxas torneadas a preenchem muito bem. O

sapatênis, extremamente branco, deixa todo o seu look perfeito. Noah é


muito lindo e, sem terno fica com um ar mais jovem; não sei se sou capaz de
escolher qual versão dele eu prefiro.

Viro a cabeça um pouco para o lado, coloco uma mão na cintura e sorrio,
levantando os lábios apenas de um lado, sem mostrar os dentes.

Encaro-o por um tempo.

— Faço do seu elogio, o meu. Você está incrível! — seus olhos brilham ao
me ouvir falar.

Ele engole seco e seus olhos verdes ganham um tom mais escuro.

Coloca as mãos no bolso e se aproxima, mas, rapidamente se detém e volta


para onde estava.

— Querida, como você está linda! — Liz aparece ao meu lado, e todo o
clima de excitação se desfaz, porém, fico feliz em vê-la. — Parabéns, Kath!

— me puxa para um abraço tão cheio de carinho, que na mesma hora o


retribuo, sentindo falta da minha mãe e grata por Liz estar aqui. — Deixe-me
apresentar meu marido, Justin, e meu outro filho, Bryan — se afasta, e eu
observo os dois homens atrás dela, que já tinha visto nas fotos no escritório
do Noah.

— Olá, Kath. Você não sabe o quanto minha esposa tem falado de você essa
semana — Justin se aproxima, sorrindo e mostrando dentes perfeitos, me
abraça como se eu já fosse alguém que ele conhece; eu retribuo.
Volta para o lado da sua esposa, mas antes, me dá uma bolsa com meu
presente. — Já aviso que não tenho noção do que tem aí, já que foi Liz quem
comprou — ele fala e leva um tapa no braço, dado pela esposa. Rimos em
conjunto.

— Obrigada, Sr. Cooper. Não precisava se incomodar com presente

— agradeço, coloco o presente na mesa, e me viro em direção ao irmão de


Noah. — Você deve ser Bryan, correto? — me aproximo, dou dois beijos no
ar ao lado de suas bochechas e ele retribui.

— Eu mesmo! — sorri e também me entrega uma sacola grande. Pego e


olho em direção de Liz, com um olhar acusador. Ela levanta as mãos, como
se não tivesse culpa de nada. — Parabéns, Kathllen! Você está lindíssima.

Na mesma hora, vejo Noah dar um tapa na cabeça dele. Pressiono um lábio
no outro para não rir.

— Ei, cara, foi com todo respeito — ri enquanto esfrega a cabeça no lugar
em que o irmão bateu.

— Não ligue para eles, Kath! E, por favor, me chame só de Justin —

diz o pai de Noah. Eu concordo, e coloco todos os presentes na mesa, me


virando novamente para eles. É uma família lindíssima e, até onde conheço,
são pessoas incríveis também.

— Querida, o seu presente está lá em casa — Liz segura em minhas mãos, e


as aperta de leve. — Isso é uma clara desculpa para ter um motivo para fazer
um jantar para você em nossa casa! — pisca, e vai na direção do marido, fala
algo para ele, depois se despede com a promessa que ainda iremos conversar
hoje e sai, levando Bryan junto deles.

Olho para Noah, que está sorrindo ao olhar para sua família. O amor entre
eles é algo muito bonito de se ver e, fico sinceramente feliz por eles terem
isso.

— Vamos beber algo? — me pergunta, de volta com aquele olhar que deixa
claro que também se sente tão atraído por mim quanto me sinto por ele.
Eu concordo com a cabeça. Ele levanta um pouco o braço, para que eu passe
o meu por ele e, faço exatamente isso. Seguimos até o bar, onde estão Jacob,
Barbie e Jackson.

10

Se antes eu achava que Kathllen poderia ser um furacão em minha vida,


agora eu tenho certeza. Cada encontro nosso é mais difícil que o anterior.
Nossa atração mútua parece que só cresce a cada dia que nos vemos, mas
fingimos que não rola nenhum outro interesse além de amizade. O

universo faz de nós uma piada, porque eu, sinceramente, não sei como
controlar esse desejo que tenho por ela. Talvez se a gente ficasse, pelo
menos uma vez, essa vontade de tê-la, poderia amenizar.

Quem eu quero enganar, né? Isso não daria certo. Em pouco menos de dois
meses, nossas vidas já estão totalmente interligadas. Não de um jeito
amoroso, porque o que “temos” não passa de atração física; a questão é que
Kath já está envolvida com a minha família e meus amigos, então, terei de
aprender a conviver com a sua presença em minha vida. O complicado é me
controlar. Hoje eu irei descobrir o quanto sou forte ou não.

Kathllen está um deslumbre para os olhos, em todos os sentidos possíveis.


Tenho total entendimento que ela é gostosa, porque é notável, até quando usa
roupas mais cumpridas. Porém, hoje parece que esse fato veio à tona na
minha cara como um nocaute. Ela está com um vestidinho vermelho que
realça todas as suas curvas, deixando pouco para a minha imaginação, que é
sustentado por duas alças finas. Tenho certeza que elas deslizariam por sua
pele com muita delicadeza.

Ajeito-me no banco do bar, sentindo meu pau querendo acordar, por conta
dos meus pensamentos impróprios. Apoio os dois cotovelos no mármore,
viro o rosto e observo Kath sorrindo enquanto fala com Jackson e Jacob. É a
primeira vez que a vejo com uma maquiagem pesada; seus olhos estão
escuros e os cílios maiores do que o normal, além da boca sustentar um
batom vermelho muito parecido com a cor de seu vestido.

Foco meu olhar em sua boca, imaginando como seria beijá-la até tirar todo o
batom dos seus lábios, espalhando-o ao redor deles enquanto lhe
demonstraria todo o meu desejo em apenas um beijo.

Ela percebe meu olhar sob ela, me encara cheia de desejo e morde o canto do
lábio inferior. Percebi que ela faz isso de maneira involuntária, e meu corpo
sempre reage deixando claro que essa atitude me afeta. Sorrio de canto,
olhando descaradamente para ela e não me importando que, provavelmente,
nossos amigos estejam nos observando. Já não é novidade para eles o meu
interesse nela, não que eu tenha admitido em voz alta, mas gestos, muitas
vezes, são mais que suficientes para esclarecer certas coisas.

Kath fala alguma coisa para os dois, sem tirar os olhos de mim, e depois
caminha até onde estou. Senta no banco ao meu lado, cruzando as pernas e
fazendo com que o vestido, que já é curto, suba um pouco mais.

Engulo seco e tento não parecer um tarado olhando para seu corpo. Ela dá
uma risadinha baixa, se divertindo com meu sofrimento interno. Giro a
banqueta em que estou, ficando de frente para ela, pego o copo de whisky e
o levo até a boca, bebendo devagar enquanto nos encaramos em silêncio.

— Sério, isso tá bizarro demais! — Barbie aparece e nos tira da nossa bolha.
Ele aponta para nós dois e arregala os olhos. — Vocês não estão aqui à
trabalho e são adultos. e então, parem de frescura e se peguem logo. A festa
toda já sentiu o clima entre vocês dois — bufa e sai. Olhamos ele se
afastando e caímos na risada, sem discordar do que disse.

Kath se levanta, ficando no meio das minhas pernas e, seus seios na altura do
meu rosto. Faço um esforço sobrenatural para não os encarar e apenas corro
o olhar por seu pescoço e depois paro em seus olhos. Ela pega em minha
mão e se afasta o suficiente para que eu consiga levantar.

— Vamos dançar? — pede de um jeitinho tão doce que meu cérebro parece
não se lembrar de mais nada além da palavra “sim”. Concordo com a cabeça
e ela sorri em resposta. Vira-se de costas e segue me puxando para a pista de
dança; eu vou de bom gosto. Aproveito e olho para todo o seu corpo desse
ângulo. Sinceramente, não sei mais qual adjetivo usar. Sua bunda grande e
empinada está perfeitamente abraçada pelo vestido.

Ela nos para quando chegamos na pista de dança, se vira de frente para mim,
ficando mais próxima e fazendo seu perfume, levemente doce, invadir meu
espaço. Como o universo já mostrou que somos uma piada, nesse exato
momento começa a tocar Earned It, do The Weeknd, que na hora ela
reconhece. Seu olhar ganha um tom tão escuro, que eu não consigo me
desviar para mais nada além deles. A música toca ao nosso redor e ela, aos
poucos, movimenta seu corpo.

eu vou cuidar de você

Eu vou cuidar de você, você, você

Olho para seus lábios quando ela começa a cantar e depois sigo suas mãos
com os olhos, enquanto vejo-a rebolar devagar no ritmo da música. Ela se
entrega na melodia, suas mãos deslizam do seu pescoço para a lateral dos
seios, pressionando um pouco eles, fazendo com que o decote fique maior.

Depois, lentamente desce as mãos e para em sua cintura. Faz tudo isso de
olhos fechados. Quando termina essa pequena tortura, da minha parte, me
encara e lança o sorriso mais cínico que já vi.

Entendo como uma provocação, então, coloco uma mão em sua lombar e
puxo seu corpo contra o meu. Seus seios estão pressionados pelo meu peito,
sinto sua respiração pesar, abaixo um pouco a cabeça para conseguir olhá-la
e devolvo o mesmo sorriso cínico. Começamos a dançar lentamente,
cravando uma batalha entre nossos olhares. Me arrepio inteiro quando Kath
leva uma mão até minha nuca, passando as unhas de leve e descendo pelo
meu braço, que está em sua cintura.

Então você não se importa, não se importa

Não importa

Vivemos sem mentiras


Você é meu tipo favorito de noite

Rapidamente, ela se vira de costas, colando novamente o seu corpo no meu,


põe minha mão em sua cintura, e com a outra, eu me atrevo e passo a ponta
dos dedos pela lateral do seu corpo, parando próximo ao seu seio. Ela rebola,
descendo o corpo e subindo logo em seguida. Sua bunda pressiona e esfrega
meu pau nesse movimento. Eu levanto um pouco a minha cabeça e respiro
fundo. Meu pau está totalmente duro e por um impulso, a pressiono firme
em meu corpo, para que ela sinta como estou.

Jogo seu cabelo para o outro lado, deixando uma parte de seu pescoço livre.
Abaixo a cabeça até sua orelha, mordo a pontinha dela e sinto seu corpo
inteiro se arrepiar. Sorrio vitorioso e, nesse momento, acredito que ela
também deve estar sentindo meu pau latejar.

— Eu estou a um fio de esquecer que estamos na frente de todo mundo,


Kath... — sussurro bem pertinho de seu ouvido e aproveito para olhar ao
redor. Para nossa sorte, as pessoas estão bem distraídas, tirando Jacob e
Barbie, que parecem nos assistir de camarote. Quando volto a encara-la
nossos rostos estão ainda mais próximos e eu quase posso sentir seus lábios
tocarem os meus e eu quero muito senti-los, devora-los em desespero.

Mas minha consciência toma conta do meu corpo na mesma hora que

penso em avançar e, com muita dificuldade, me afasto dela.

Ela se volta para mim e ergue uma sobrancelha, me questionando com o


olhar. Antes que eu possa falar qualquer coisa, ela percebe que estávamos
quase tirando nossas roupas no meio da festa e, seu olhar demonstra o
quanto fica sem graça por isso. Ergue sua postura, joga o cabelo para o lado
e ajeita vestido. Involuntariamente, percorro seu corpo com os olhos e meu
pau estremece mais, lembrando-me que está acordadíssimo. Levo a mão até
ele e tento arrumá-lo melhor dentro da calça, o que não dá certo, e serve
apenas para chamar atenção de Kath, que fica boquiaberta ao olhar e depois
vira o rosto para o lado, disfarçando um sorriso.

— Eu preciso... — pigarreio, tentando não rir da minha própria situação. —


Eu preciso ir ao banheiro! — digo e já saio em direção ao banheiro perto do
Dj, que provavelmente é o mais vazio, por ser o mais longe de onde as
pessoas estão.

Como o bar de Jackson é grande, apenas a parte principal dele está


funcionando, já que não tem muita gente e seria desnecessário mantê-lo todo
disponível. Assim, há o banheiro próximo ao bar, e esse perto do Dj, abertos.

Abro a porta e suspiro aliviado ao notar que não tem ninguém na área
comum ou nas cabines. Me olho no espelho e a primeira coisa que vejo é o
volume na minha calça. Solto uma risada, que é mais um lamento da minha
situação.

Se antes não fosse claro, agora, tanto eu quanto Kath, temos total certeza do
interesse de um pelo outro. Não sei como irá funcionar as coisas entre nós,
passamos da fase de leves flertes para uma dança quase erótica na frente de
todo mundo, inclusive da minha família. Sei que isso será o grande assunto
por mais de semanas para Dona Elizabeth.

Devo estar pensando com o pau, não é possível.

Escuto a porta abrir, já esperando ser algum dos meninos para me aporrinhar,
mas me surpreendo ao ver o reflexo de Kath no espelho. Posso estar
enganado, mas juro que ouvi o trinco da porta fechar. Encaro pelo espelho, e
ela se aproxima, parando ao meu lado, de costas para a pia, olhando para
frente. Viro o rosto e continuo a encará-la, sem saber como agir com ela
aqui.

— O que voc...

— Eu não sei, Noah... Não sei o que estou fazendo aqui — gira para mim,
cruzando os braços e estufando o peito. — Eu sei porque quero estar aqui,
mas, realmente não sei porque vim... Isso pode dar muito errado, mas...

— Mas, você já não consegue mais controlar a vontade — me aproximo


dela, deixando nossos corpos a poucos centímetros de distância.

Pego uma mecha de seu cabelo, que está caindo em seu rosto e o coloco
atrás da orelha. Levo minha mão aos seus lábios e passo como uma pena
pelo inferior, sujando um pouco meu dedo com seu batom. Encaro sua boca
quando ela deixa os lábios meio abertos e sinto seu hálito quente em meu
dedo. — Eu vou te beijar, Kath. Se você não falar para eu não fazer agora,
eu irei fazer e matar esse desejo que tenho de sentir seus lábios. E, deixarei
para pensar depois no quão problemático isso pode se tornar.

Seus olhos se concentram nos meus, brilhando de luxúria e desejo.

Jogo todo o seu cabelo para trás e seguro em sua nuca, fazendo com que
levante um pouco o rosto. Espero por alguma objeção, ou que ela seja a
sensata entre nós dois e me afaste, mas, em vez disso, ela passa os braços por
meu pescoço, ficando nas pontas dos pés mesmo de salto e se aproxima da
minha boca, quase encostando os lábios nos meus.

Sem pensar duas vezes, grudo nossas bocas, invadindo seus lábios com a
minha língua e sentindo o gosto doce do drink por toda a sua boca.

Meu corpo todo se arrepia com nosso contato. Seguro a cintura dela e a puxo
mais para mim. Seu corpo encaixa ao meu, como se fossemos moldados um
para o outro. Viro minha cabeça para o lado oposto do dela, aprofundando
nosso beijo, devorando a sua boca como se minha vida dependesse disso.

Kath desce uma mão em meu braço e o aperta com força, depois leva a
mesma mão até as minhas costas, me arranhando por cima da camisa. Eu
solto um suspiro entre o beijo, pego sua cintura com as duas mãos e a
suspendo, colocando-a sentada na beira da pia, mas sem descolar nossas
bocas. Continuamos a nos beijar com urgência.

Ela abre as pernas para que eu me encaixe no meio delas e assim eu faço,
encostando minha ereção nela. Com a mão em sua cintura, sinto que seu
vestido subiu e pressiono ainda mais o meu pau na sua boceta. Kath afasta
nossas bocas, jogando a cabeça para trás e soltando um leve gemido.

Aproveito o momento para olhar para baixo, e gemo ao ver sua boceta pouco
coberta pela calcinha minúscula que está usando. Esfrego meu pau com
força, não me importando com sua umidade encharcado minha calça.

Subo uma mão até seus seios, e aperto um deles, desejando que o vestido
fosse menos justo para eu conseguir colocá-los para fora e me deliciar neles.
Kath abraça a minha cintura com as suas pernas, na tentativa de aumentar
nosso contato e começa a se esfregar contra a minha ereção,

tentando aliviar a sua excitação.

Apoio a minha testa na dela e nossas respirações se misturam. Desço a mão


que estava em sua cintura na direção da sua boceta. Quando puxo a calcinha
para o lado, escutamos alguém bater na porta. Nos afastamos tão rápido que
parece que fomos pegos no flagra... e, foi quase isso.

— É... humm... Eu não queria atrapalhar, mas as pessoas estão dando falta
de vocês e Barbie está a um tris de falar que vocês estão transando
loucamente aí dentro — diz Jacob, segurando a risada. — Noah, sua mãe
está doida procurando você há uns 20 minutos!

Kath tenta segurar uma risada, mas não resiste e começa a rir. Eu fico em
choque em como o tempo passou rápido enquanto estávamos aqui dentro.

Fico admirando Kath enquanto ela se arruma novamente.

— Nós já estamos saindo, Jacob. Obrigado! — me aproximo por trás dela,


coloco as mãos na pia ao redor de seu corpo, deixando-a pressa entre mim e
a pia. — Não sei se agradeço a interrupção ou se choro, porque eu não iria
parar e — sussurro no seu ouvido, encarando-a pelo espelho —, tenho
certeza que você pediria entre gemidos para que eu não parasse — roço meu
pau, ainda duro, em sua bunda e depois me afasto.

Ela abaixa a cabeça e fecha os olhos, se recompondo. Enquanto isso,


aproveito para limpar minha boca manchada de seu batom e molhar minha
nuca, para ver se me acalmo.

— Acho que a gente tem algum lance com banheiros — fala, já arrumada e
disposta como se nada tivesse acontecido. Termina de retocar o batom e me
encara, com um sorrisinho sacana. — Talvez, o nosso próximo encontro no
banheiro não seja interrompido — pisca e sai.

Fico olhando para onde ela estava e rio. Preciso continuar o que comecei,
porque tenho certeza que essa cena de hoje não sairá da minha cabeça tão
cedo. Porém, agora tenho que me recompor para voltar para a festa e viver
um pequeno inferno ao vê-la tão gostosa e não poder fazer nada.

Depois de um longo tempo, volto para o bar e vejo Kath do outro lado,
conversando com algumas pessoas. Estou decido a me manter distante pelo
resto da festa, porque depois desse beijo, algo mudou, e apenas sinto a
necessidade de beijá-la novamente.

— Vem cá, querido — minha mãe para em minha frente, tira um lencinho de
dentro da sua bolsa e delicadamente passa pela minha boca e ao redor dela.
Dona Elizabeth está com um sorrisinho de satisfação na cara e, eu sei
exatamente o que está passando em sua cabeça. — Engraçado... Assim

que Kath saiu do banheiro, eu tive que dar um lencinho para ela limpar o
pescoço. Já viu algo assim, meu amor? Batom no pescoço? — escuto a
risada dos meninos ao meu lado e reviro os olhos.

— Estranho, mamãe! Parece que os batons agora brotam do nada em lugares


que não deveriam — abaixo a cabeça e beijo a testa dela, que sorri com o
gesto. — A senhora está linda e tudo ficou ótimo. Tenho certeza que Kath
adorou.

Ela se encosta no mármore do balcão, ao meu lado. Olha milimetricamente


ao redor, conferindo seu trabalho. Minha mãe sempre gostou de decoração e,
eu já falei para ela investir nisso, trabalhar com essa parte, porque sempre
reclama que sente falta de trabalhar. Entretanto, quando entro no assunto, ela
sempre desconversa e diz que irá pensar nisso depois.

— Ficou mesmo, mas, não mude de assunto, querido — me lança um olhar


curioso, e ao lado dela, Jacob e Barbie me lançam o mesmo olhar, querendo
saber qual desculpa irei inventar porque isso é a minha cara.

Reviro os olhos.

— Não sei o que vocês querem que eu fale, já que é obvio que nos beijamos
— na mesma hora, minha mãe dá um gritinho de felicidade e bate palmas,
empolgada. Balanço a cabeça, reprovando sua atitude. Ela aperta a minha
mão, ainda empolgada. — Mamãe, está errando de filho. Quem quer um
grande amor não sou eu.
Os meninos riem, Jacob passa o braço pelo ombro da minha mãe e cochicha
algo em seu ouvindo, fazendo com que ela coloque a mão na boca para
cobrir uma risada.

— Meu amor, você ainda tem tanto a aprender — fala, sincera. — E

acredite, mães não erram. Essa menina mudará sua vida, meu filho. Confie
no que sua mãe fala! — pisca e faz um breve carinho no meu rosto. Se afasta
e chama meu pai para dançarem.

Fico admirando os dois de longe e, nesses momentos, sou grato por ter sido
abandonado pelos meus pais biológicos. Ninguém seria melhor do que eles
para mim.

— Sua mãe não brinca em serviço, né? — solta Jacob.

Balanço a cabeça e cruzo os braços.

Olho para Kath e encontro ela me olhando e sorrindo.

— É, e ela adora ver coisa onde não tem — falo mais para mim do que para
ele, tentando acreditar em minhas palavras.

11

Acordo com o som do meu telefone tocando em algum lugar, resmungo e


tento abrir os olhos.

— Que merda eu fiz ontem?!

Depois do episódio no banheiro com Noah, decidi que precisava beber para
ver se meu corpo esquecia os toques dele. Claro que não deu certo. A única
coisa que resultou foi em uma aniversariante bêbeda. Para minha sorte, a
família dele e alguns outros amigos já haviam ido embora, então, ficou em
torno de umas quinze pessoas me assistindo bêbada.

Viro meu corpo para o outro lado, ficando deitada com as costas na cama,
passo a mão no rosto para tirar a baba que tinha escorrido no travesseiro.
Depois, ergo um pouco o corpo e encosto a cama na cabeceira.

Olho tudo ao redor do meu quarto e vejo a zona que está. Minha roupa e os
sapatos estão jogados cada um em um canto, além de toalhas, tênis e calça
jeans.

Dou um pulo da cama ao notar que tem algum homem aqui em casa e, que
eu não faço ideia de quem seja. Vou até a calça e a pego, tentando lembrar
quem estava com calça preta rasgada, e não me vem nenhuma lembrança.
Sei é que não é de Noah, e ainda estou confusa se isso é algo bom ou ruim.

Olho meu reflexo no espelho. Estou sem maquiagem, com um shortinho de


moletom e uma regata fininha. Tenho certeza que não consegui tomar banho
e me vestir sozinha. Coloco as mãos no rosto, sem coragem de descobrir
quem está aqui.

Ouço meu telefone tocar novamente, respiro fundo e caminho lentamente até
a sala, com medo de descobrir quem foi a pessoa que veio comigo para casa
e, que ainda pode estar aqui - mas tomara que não, para que eu possa fingir
que nada aconteceu, já que nem sei o que de fato aconteceu.

Dependendo da pessoa que for, não vou querer saber.

Chego na sala e vejo o meu celular no sofá. Olho ao redor, mas não

vejo ninguém. Corro até o sofá e pego o aparelho, que não para de tocar.

— Bom dia, gatinha! — Barbie aparece na cozinha e dou um grito, deixando


o celular cair no sofá novamente. Coloco a mão no peito, sentindo meu
coração bater forte. — Já ia chamar os bombeiros — sai de trás do balcão,
sorridente, me mostrando as coisas que tem em suas mãos.

Ele está vestido.


Já é um bom sinal.

Fico encarando Barbie enquanto ele coloca ovos, café, pães e mais algumas
outras coisas na mesa. É nessa hora que minha ficha cai.

Eu transei com Barbie. Não acredito. Eu transei com ele depois de quase
transar com seu melhor amigo. Eu transei com o melhor amigo de Noah. Eu
não acredito nisso!

— Calma, Kathllen. Consigo ver daqui seu cérebro fervendo —

Barbie para em minha frente, que é alguns bons centímetros mais altos que
eu. Não consigo evitar o choque em meu olhar, e ele ri. — Não transamos, se
é isso que está pensando. Apenas demos uns amassos e, consegui te
controlar antes que fosse além — pisca e passa a língua nos lábios.

Coloco as duas mãos no rosto, morrendo de vergonha e deixo meu corpo cair
no sofá, sem consegui acreditar que fiz isso. Claro que Barbie é lindo, uma
perfeição aos olhos, mas meu interesse não é nele, e ele sabe disso
perfeitamente. Acho que a bebida falou mais alto. N unca mais vou beber.

Com que cara vou falar com Noah? E, o pior de tudo...

Barbie solta uma gargalhada quase histérica e me tira dos meus


pensamentos. Coloca a mão na barriga e dobra o corpo um pouco pra frente.

Faço uma careta e cruzo os braços, sem entender nada.

— Ai, Kath! Pelo amor de Deus, né — fala enquanto seca uma lágrima que
escorre de seus olhos. — Quem você pensa que eu sou? Jamais faria isso
com qualquer mulher no estado que você estava — senta no braço do sofá,
pega minha mão, coloca em seu colo e fica brincando com meus dedos. —
Jamais faria isso com você! Você é muito gostosa e tudo mais, mas é minha
amiga. E, provavelmente, Noah arrancaria meu pau fora — ri novamente.

Encaro ele incrédula por alguns segundos e depois começo a rir.

Parece que saiu uma tonelada de cima dos meus ombros em saber que nada
aconteceu. Fico feliz em saber que Barbie é um cara minimamente descente.
Dou um tapinha em sua coxa e me levanto, segurando sua mão e o

puxando para a mesa, onde nos sentamos e começamos a nos servir.

— Ok, eu acreditei de verdade e fiquei desesperada por longos dois minutos.


Você se divertiu bastante às minhas custas, pelo visto — encho uma xícara
com bastante café e a levo até meus lábios, bebendo aos poucos. Torço para
que esse café fazer milagre e levar a minha dor de cabeça embora.

— Assim você me ofende, gatinha! — coloca uma mão no peito, se fingindo


de ofendido e eu reviro os olhos. — Mas, se você quer saber o que
aconteceu, vou te contar.

Confirmo com a cabeça, coloco os pés em cima da cadeira que estou e apoio
o queixo nos joelhos, atenta.

— Você bebeu muito; tipo, muito mesmo! Noah estava a ponto de explodir,
porque você provocava tanto o homem lá, que tenho certeza que ele bateu
recorde de punhetas tocadas em um dia depois que foi embora — ri e eu
sinto meu rosto pegar fogo de vergonha. — Você queria que ele te trouxesse
para casa, e ele queria muito, mas sensato como sempre, pediu para que eu
ou Jacob fizéssemos isso.

Levo um dedo na boca e fico mordiscando o cantinho da unha, sem acreditar


nas coisas que estou ouvindo. Barbie toma mais um pouco do seu café, come
o resto dos ovos em seu prato e continua:

— Jacob conseguiu um encontro pelo... — coça a garganta e olha para o


lado, segurando algo que ia falar. — Jacob foi embora! — fala e volta a me
encarar. Percebo que tem algo que ele preferiu não me contar, mas deixo
para lá. — Então, ficou decidido que eu viria com você! Foi um inferno
conseguir te tirar de lá. Te joguei no ombro, te coloquei no carro e quase
amarrei uma corda ao redor seu corpo — segura uma risada. — Quando
chegamos no elevador, você já estava toda mole, falando um idioma único
seu e me chamando de Noah.

Não aguenta e solta uma risada na minha cara. Eu abaixo a cabeça e rio
junto.
— Eu apenas ignorei suas investidas péssimas de uma bêbada e te ajudei a se
arrumar para dormir — dá de ombros, termina o resto do café, se levanta e
começa a levar tudo para a cozinha. Fico observando enquanto ele faz tudo,
sentindo minha cabeça explodir a cada respiração. — E, antes que fique sem
graça de novo, sei que estava dando em cima de mim porque estava
pensando que eu era Noah. Mesmo que pareça impossível alguém nos
confundir, o álcool no seu organismo conseguiu essa proeza — fala da
cozinha.

Ele volta com um copo de água e dois comprimidos. Pego-os e dou o sorriso
mais sincero que consigo.

— É... Você me ajudou no banho? — pergunto, tímida.

Ele concorda com a cabeça.

— Mas, novamente, pode ficar tranquila. Não te dei banho. Apenas te ajudei
com a roupa, fiquei sentado do lado de fora do box, de costas para você,
depois te enrolei na toalha, olhando fundo nesses seus olhos bonitos e, te
segurei para você pôr o resto da roupa — coloca a mão em meu queixo e
levanta a minha cabeça, me encarando. — Mereço no mínimo ganhar o
cargo de melhor amigo depois disso. Ainda não acredito que não dei nem
uma espiadinha — faz cara de incrédulo e balança a cabeça.

Tomo os compridos, bebo a água e me levanto. Chego perto de Barbie e o


abraço apertado, recebendo seus braços ao meu redor, me acolhendo.

— Muito obrigada, Barbie! Você é incrível e vou te promover a melhor


amigo depois disso, com certeza — rio, me afasto e dou um beijo na sua
bochecha. Ele retribui com um beijo na minha testa.

— De nada, linda! — se joga no sofá, caindo por cima do meu telefone.


Pega o mesmo e sorri. — Você tem muitas mensagens e muitas ligações.
Noah, Mamãe, Jackson, desconhecidos e “Ethan Otário” — ri ao falar o
ultimo nome. — Gostei desse! Quem é? Paquera que não deu certo?

Ex-namorado que você deu um pé na bunda?


Pego o celular da sua mão e continuo sorrindo, disfarçando o desconforto
por ele ter visto a ligação de Ethan. Sinto-me como se tivesse feito algo
errado e que agora fui pega.

Depois da primeira vez que ele mandou mensagem, não parou mais porque
um dia, distraída, atendi ao telefone sem olhar o visor e ele teve a certeza
que o número era meu ao ouvir minha voz. Desliguei no mesmo instante e
me odeio por não ter prestado atenção. Desde então, ele manda mensagem
direto, mesmo eu ignorando.

Vejo que tem 12 chamadas não atendidas só dele.

Uma hora, vou ter que parar de fugir dele, eu sei disso. Apenas estou com
medo de como irei reagir depois de todo esse tempo sem vê-lo. Ele é cara
famoso, faz muitos shows e, algumas vezes estivemos no mesmo lugar
depois que nos separamos, mas, em todas elas eu estava com Alex, que me
ajudava a ficar fora da mira dele; a atitude acontecia ao contrário também.

— Ethan é... — penso no que falar, encaro Barbie, na dúvida de até qual
ponto ele está disposto a ser meu melhor amigo.

— Ethan Taylor Smith, famoso cantor de música pop, 25 anos, natural do


Texas —arregalo os olhos e vejo que Barbie está com seu celular na mão,
pesquisando sobre ele. Me dou por vencida e sento-me ao seu lado, olhando
a mesma coisa que ele está lendo. — blá blá blá blá... Calma aí. Isso é
interessante... — limpa a garganta e estica o corpo. — Ex-noivo da modelo
Kathllen Ibrahim — me encara, com um olhar curioso. — Antes que
pergunte, joguei seu nome e de Ethan no Google e tcharam.

— Ok! Eu já ia te contar, seu curioso e, de qualquer maneira, a internet está


aí para dizer o que convém a eles — empurro seu ombro com o meu e faço
uma careta. — Ethan é meu ex-noivo, como você já sabe. Nos conhecemos
quando eu tinha 21 anos, logo depois que saí do Reality. Foi em uma festa
que fui chamada apenas por estar na boca do povo, porque não conhecia
ninguém. Nessa noite, ele foi super simpático, se aproximou e me fez
companhia, deixou claro seu interesse, mas eu não queria nada com
ninguém, porque estava tão enrolada com tudo, que nem para sexo eu tinha
tempo — encosto a cabeça nas costas do sofá. — Na festa, ele me
apresentou a muitas pessoas famosas, que eu nunca imaginei conhecer, e por
conta disso, nosso círculo de amizade era o mesmo. Naturalmente, nos
aproximamos e começamos a nos envolver. Ethan era muito intenso, mas
sempre foi carinhoso e gentil. Eu não tinha o que reclamar e, em pouco
tempo, estava apaixonada, muito apaixonada.

“Ele sempre falava de mim nos shows, dedicava músicas e praticamente


morávamos juntos quando ele não estava em turnê. Assim que consegui
férias, embarquei na nova turnê que iria começar. Foi no seu último show, o
que estava mais lotado, que ele me pediu em casamento na frente de toda
plateia. Foi lindo, e claro, eu aceitei. Depois, começamos a correria de
programar o casamento, com ele me ajudando em tudo, absolutamente tudo.

Inclusive, acho que ele estava mais dedicado com as coisas do que eu.

Compramos uma casa, gastamos uma pequena fortuna para deixá-la do


nosso jeito.” — paro, sentindo todos os sentimentos de mágoa tomarem
conta do meu corpo novamente.

Sinto um bolo em minha garganta e respiro fundo. Barbie coloca uma mão
na minha coxa, fazendo um carinho como quem quisesse aliviar minha
tristeza.

— Três dias antes do casamento eu acordo com toda a mídia noticiando que
“Ethan Taylor Smith anuncia o fim do seu noivado às vésperas da festa de
casamento” — suspiro e sinto uma lágrima escorrer.

Passo a mão e a limpo rapidamente, viro o rosto para Barbie. — E, esse é o


motivo do nome dele estar assim no meu celular.

Barbie continua com seu carinho em minha coxa. Seu olhar nesse momento
é acolhedor, o que me reconforta.

— Eu acho é pouco o nome dele estar gravado assim — pisca, me puxa para
próximo dele e escoro meu corpo na lateral do seu. — E, ele não falou nada
com você? Nesse tempo todo?

— Não, nunca! Eu tentei falar com ele por 6 meses, de todas as maneiras
possíveis. Fiquei sem chão, não entendia o porquê daquilo e queria uma
explicação. A mídia ficou fervorosa atrás de mim, querendo meu parecer e,
eu apenas falava a verdade, que descobri junto com eles e que até onde
sabia, nada havia acontecido. Ele nunca falou nada sobre mim depois que
deu fim; as pessoas perguntavam e perguntam até hoje, mas ele desconversa

brinco com o laço do meu short. — Eu tentei, de verdade, falar com ele. Me
senti culpada por muito tempo, achando que tinha feito algo errado, até que
um belo dia, recebo um comunicado da justiça alegando que não poderia me
aproximar dele e nem tentar contato de qualquer maneira — rio,
desacreditada. — E agora, esse filho da puta está me procurando. Na
verdade, ele está tentando contato desde a época que saiu a notícia do meu
problema com Alex.

Barbie faz carinho no meu braço enquanto desabafo e, pela primeira vez, me
sinto bem o suficiente com um amigo para falar disso.

— Basicamente, essa é a minha história com meu ex-noivo. Não tenho


interesse em falar com ele mais. Quando era para conversarmos, ele fez de
tudo para evitar — fecho os olhos e balanço o pé repetidamente, irritada.

— Ele não pode simplesmente chegar agora, e decidir que quer falar, seja lá
o que for comigo.

Me afasto de Barbie, ficando de frente para ele, que está respirando fundo e
passando a mão no cabelo, parecendo tão irritado quanto eu. Ou mais.

— Bem, te garanto que, se eu estiver por perto, esse filho da puta não irá
conseguir falar com você — suaviza sua feição e sorri, disfarçando a
irritação. Pega novamente o seu celular, mexe em alguma coisa e se vira para
mim. — Mudando de assunto, olha isso! Você está me deixando famoso.

Ele rola o dedo pela tela do celular e vejo que tem muita gente começou a
segui-lo. Sorrio e dou uma piscadinha.

— O que estão falando de nós dois? — pergunto.

— Nada diferente do que pensamos. Você tinha sumido das redes sociais e
está voltando aos poucos, aí postamos aquela foto juntos. Estão querendo
saber se somos namorados! Recebi muitas mensagens — ele abre algumas e
vai me mostrando. — Muita gente querendo que você seja feliz, e algumas
querendo que eu seja só seu amigo para poderem tentar algo — ele ri,
gostando da atenção.

Pego a almofada em meu lado e jogo nele, rindo.

— Você é um safado de carteirinha mesmo, né?! — pergunto sem esperar


resposta. — Vou falar aqui que você é só meu amigo e, que está livre para
essas assanhadas — pego meu celular para fazer isso, mas vejo que tenho
algumas mensagens e paro para olhá-las.

Sou pega de surpresa com umas mensagens de Noah.

Noah: Bom dia, Kathllen. Como você está?

Noah: Barbie disse que ficou aí para cuidar de você, então, fico mais
aliviado. Ele é ótimo em cuidar de pessoas com ressaca.

Noah: Te espero mais tarde na casa da minha mãe! Beijo, linda.

Meu corpo se arrepia ao ler a palavra “linda” e sorrio feito boba.

— Olha, eu não quero me meter nisso porque ele é meu irmão —

Barbie chama minha atenção ao falar. — Mas, qual é a de vocês? Ninguém é


idiota e todo mundo já percebeu que rola um clima da porra. Ontem eu jurei
que vocês iam transar na frente de todo mundo enquanto dançavam.

— Eu não sei, Barbie — suspiro e faço um biquinho. — É claro que temos


interesse um no outro, e isso é quase palpável. Mas, em dois meses minha
vida mudou absurdamente. Conhecê-lo fez com que muitas pessoas incríveis
entrassem em minha vida — coloco os pés em cima do sofá e passo o dedo
pela única tatuagem que eu tenho, no tornozelo — Você, a mãe dele, até
mesmo o Jacob, que parece um irmão mais velho bem ranzinza — dou uma
risada fraca. — E, Noah é meu advogado, sabe? Não queria misturar as
coisas, mas, eu também não sei se consigo lidar com ele apenas
profissionalmente.
Barbie me olha, como se estivesse tentando ver além dos meus olhos.

— Kath, o Noah é um homem maduro. Ele saberia perfeitamente separar


uma coisa da outra. No entanto, alguns amassos não vão atrapalhar a relação
profissional de vocês. É só separarem — dá de ombros. — E, quem sabe
depois de uma transa, as coisas não fiquem mais brandas.

— Eu sei, eu sei... — mordo o canto do lábio inferior, respiro fundo e

me levanto, caminhando para a cozinha. — O problema é que eu posso


confundir. Já estou apegada a vocês! Você praticamente me deu banho,
Barbie. Não posso me dar ao luxo de perder isso, caso eu não tenha
maturidade suficiente para separar as coisas... E depois do beijo de ontem...

Eu quero mais daquilo.

Ele dá um pulo do sofá e se aproxima, com um olhar malicioso.

— SABIA! Vocês se agarraram ontem no banheiro né? — ri e depois me


segura pelos ombros — Kath, a merda já está feita. E pela forma como ele
ficou no restante da festa, é claro que ele quer mais. Apenas não pense muito
nisso, tá bom? Vocês são adultos, vão saber lidar. — dá um beijo em meu
rosto e entra na cozinha.

Eu fico parada no mesmo lugar, ponderando as suas palavras e me


convencendo do que ele falou. Vou tentar não pensar nisso por hora, deixarei
para Kathllen do futuro se preocupar com isso.

— Falando nisso — Barbie fala da cozinha — Temos um almoço daqui a


pouco na casa da Liz! E tenho certeza que não vai querer se atrasar para isso.

Na mesma hora vou para o meu quarto, tento dar um jeito na bagunça e
coloco a roupa de Barbie no puff perto da janela. Arrumo a minha cama e
guardo as outras coisas. Entro no banheiro e encosto a porta. Tomo um
banho frio, lavo todo o meu cabelo e relaxo um pouco, sentindo meu corpo
parar de doer aos pouquinhos.

Saio e decido secar o cabelo; perco alguns minutos o fazendo. Visto meu
roupão e saio do banheiro, revirando os olhos ao encontrar Barbie ali.
Ele nem parece notar minha presença, está distraído sentado no puff onde
estavam as suas roupas.

— Você é folgado demais, ein!

Entro no closet e olho todas as roupas, pensando em algo mais leve.

Passo a mão por alguns vestidos, mas acabo optando por um shortinho jeans
preto e um cropped no estilo ciganinha, na cor coral com umas bolinhas
pretas.

Faço uma maquiagem leve, para disfarçar as olheiras por conta da noite
anterior, uso novamente o colar que ganhei de Barbie e um relógio da
mesma cor para combinar. Pego minha bolsa e coloco nela tudo o que
preciso. Passo pelos meus calçados e escolho uma rasteirinha preta de
pedrinhas, a calço e saio do closet.

— Você realmente não está para brincadeira, né? — encaro Barbie,

que agora está vestido com as roupas de ontem, encostado na porta. — Você
está linda! Mas, precisamos ir. Tenho que passar na minha casa para tomar
um banho e me trocar — estende a mão, me incentivando a ir logo.

Ando em sua direção e pego a mão estendida e assim vamos juntos até a
garagem do meu prédio. Olho para o carro e reconheço.

— É o carro de Noah? — ergo uma sobrancelha.

Barbie concorda e destrava o mesmo. Dou a volta e entro. Na mesma hora,


sou agraciada com o cheiro gostoso de Noah. Ajusto o banco, abro a minha
bolsa e pego meus óculos escuros.

— Sim. Ele preferiu que eu te trouxesse com o carro dele em vez de pegar
um taxi e correr o risco de sair fotos suas por aí muito bêbada — ri enquanto
se arruma e começa a dirigir. — Ele é um cavalheiro, eu sei.

Protegendo a sua amada da coisa que mais odeia — fala se referindo a


mídia.
Assim que saímos da garagem, vemos alguns repórteres, mas que não
conseguem nos ver por conta dos vidros escuros. Novamente, como na noite
anterior, tiram fotos do carro, na esperança de que o flash revele quem está
por dentro. E, provavelmente, revelará. Isso me lembra de que tenho que
informar no Instagram que Barbie é apenas meu amigo.

Pegou o celular, abro o aplicativo, espero Barbie parar no sinal e tiramos


mais uma selfie. Posto no story e deixo um recadinho que ele é meu amigo e,
que inclusive está super disponível, deixando o ig dele marcado para que
elas o sigam.

12

Depois que saímos, fomos direto para o apartamento de Barbie.

Diferente do que imaginei, o local é cheio de cores e muitos quadros


lindíssimos. Ele mora em uma cobertura incrível, que tem vista para quase
toda Manhattan, com direito a piscina e tudo mais. Eu já havia notado que
todos eles têm muito dinheiro, mas me surpreendo mais a cada dia. Por mais
que eu também tenha uma boa fortuna, ainda fico boba ao ver casas e
lugares tão luxuosos, coisas que não eram da minha realidade quando eu era
criança ou adolescente.

Não cheguei a conhecer o apartamento inteiro porque ele estava realmente


com presa. Foi correndo se arrumar e, nesse tempo me contive na sala,
apenas admirando tudo o que tinha ali, inclusive uma pintura enorme de um
casal com duas crianças, que pega quase uma parede toda da sala, em cima
da lareira. Fiquei curiosa com o quadro, porque as crianças são idênticas e o
menino me lembrou um pouco Barbie, mas acabei por me distrair com o
celular e esqueci de perguntar sobre.
Saímos de lá com a promessa de que ele me traria mais vezes e iria me
mostrar cada canto de sua casa. Adorei a ideia, ainda mais depois de
descobrir que ele tem uma sala que é tipo um cinema. Quero muito conhecer
esse tal cantinho, como ele disse, e provar da sua comida, porque também
me contou que é ótimo na cozinha e adora cozinhar para seus amigos.

Agora estamos estacionando em frente à casa de Liz. Sinto meu estômago


revirar e minhas mãos suarem. Não sei como será esse primeiro contato com
Noah depois que ficamos, mas, parece que estou prestes a descobrir.

Desço do carro e sinto um braço de Barbie passar em volta do meu ombro,


dando-me um leve apertão, como se percebesse que estou tensa.

Caminhamos até o portão, que é aberto por Barbie e seguimos até a


varandinha, onde encontramos Liz e Noah nos esperando.

— Queridos! — Liz vem e nossa direção, toda sorridente, e antes que

eu consiga subir até a varanda, ela me para no caminho e me abraça forte, o


que eu logo retribuo. — Como você está, filha? Fiquei sabendo que ficou
bem animado depois que saí — sorri e faz um carinho em meu rosto.

— Kath mal chegou e já está recebendo mais atenção que eu — fala Barbie
com um biquinho, fingindo estar magoado.

Liz revira os olhos para mim e ri baixinho. Logo depois se vira e vai na
direção dele, o abraça e os dois entram juntos na casa, deixando eu e Noah
sozinhos.

Olho na direção de Noah, que está de braços cruzados, escorado na pilastra


da varanda, sorrindo, mas sem mostrar os dentes. Como sempre, está
lindíssimo, usando uma bermuda jeans rasgada e uma camisa azul escura de
manga curta. Perco uns segundos olhando suas tatuagens, que só descobri a
existência ontem, e estou curiosa para saber se elas vão para mais partes do
seu corpo ou, se terminam por ali mesmo.

— São muitas e isso pode demorar — fala das tatuagens ao me flagrar


olhando-as, desce de onde está e para na minha frente. — Oi, linda! — suas
palavras saem em um tom grave, que faz a minha respiração acelerar um
pouco.

Olho em seus olhos e sorrio, chego mais perto e o comprimento com um


beijo em cada bochecha, de forma mais demorada que o normal. Ele
aproveita para segurar em minha cintura com as duas mãos. Eu gosto do que
seu toque faz comigo, parece que minha pele queima de um jeito muito
gostoso e, eu não sentia isso há muito tempo.

Me pergunto agora se alguma vez já senti.

— Oi, Noah! — finalmente crio forças para responder, notando o quanto


fiquei abalada só por tê-lo perto de mim. Me afasto novamente e o olho da
cabeça aos pés. — Está ótimo, como sempre — ele sorri ao ouvir o elogio,
mostrando as covinhas que adoro.

Seus olhos percorrem todo o meu corpo. Ele se aproxima um pouquinho,


mas me afasto no automático quando vejo que Liz está voltando para a
varanda. Passo por Noah e subo ao encontro de Liz, que de imediato me
chama para dentro.

É a segunda vez que venho para a casa dos pais de Noah, mas já me sinto tão
à vontade que parece um lugar que já frequento há anos. A casa é daquelas
típicas familiares, cheias de fotografias de toda a família, além de Jacob e
Barbie, espalhadas por toda a casa, mas de um jeito que não fica feio, como
se tivessem apenas colocado a fotos. Tudo está bem posicionado e

organizado, combinando com a decoração de cada cômodo.

— Olha quem chegou! — Sr. Cooper vem em minha direção, com seus
quase 2m de altura e me abraça, fazendo com que eu fique menor ainda.

Retribuo, e vejo ele sorrir para alguém atrás de mim e me viro. Noah está
encostado na parede ao lado da porta, observando o entrosamento de sua
família comigo.

Sigo para a cozinha, procurando por Liz, e a encontro terminando de colocar


uma travessa no forno. Tiro a minha bolsa e coloco pendurada na banqueta,
depois me sento por ali.
— Precisa de ajuda, Liz? — pergunto, observando o quanto ela é ágil na
cozinha. Ela apenas nega com um movimento de mão e iniciamos uma
conversa sobre comida, em que conto para ela como funciona a minha dieta,
que não é nada muito absurdo; sempre como o que quero, sem deixar de fora
os exercícios diários.

— Ah, querida, sorte a sua. Na época em que eu e Justin éramos modelos,


cobravam muito de nós — coloca a mão na cintura e se vira para mim. —
Ainda mais pelo fato de sermos negros. As agências sempre queriam
arrumar motivos para nos mandar embora — dá de ombros, como se fosse
algo que ela já tenha se acostumado. Seca as mãos, dando por finalizada a
sua limpeza pela bancada da cozinha.

Fico encarando-a, depois me viro para trás, observo seu marido, que está na
sala com os outros, e minha ficha caí na hora. Olho para ela novamente, com
os olhos arregalados, apontando na direção dela e na direção do Sr. Cooper.

— AI, MEU DEUS! Eu sabia que conhecia vocês de algum lugar! —

coloco a mão na testa, sem acreditar que não os reconheci de primeira. —

Minha mãe tinha várias revistas com fotos de vocês, e ela sempre os usou de
inspiração para mim. “O casal queridinho das câmeras”. Ai, meu Deus!

Liz ri da minha reação.

— Tudo bem, querida. Já tem anos que não trabalhamos como modelos! E, a
idade nos muda... — sorri, simpática como sempre.

Fico ao seu lado e peço para tirarmos uma foto e eu mandar para minha mãe;
ela concorda no mesmo momento. Nos arrumamos rapidamente, sorrimos e
eu tiro uma selfie, que fica ótima. Olho para a foto e vejo o quanto ela ainda
é uma mulher linda. Abro o aplicativo de mensagens e mando a foto para
minha mãe.

Eu: Olha na casa de quem eu estou almoçando, mãe!

Bloqueio a tela e coloco em cima da bancada, deixando a internet de lado


para poder aproveitar o dia.
Voltamos para sala e nos juntamos aos rapazes. Liz conta para todos a minha
reação e esse vira o assunto do momento. Decidimos ir para os fundos da
casa, nos sentamos nos sofás e cadeiras perto da churrasqueira. Noah e
Barbie pegam cervejas para todos, e descubro que o pai dele é do time dos
vinhos, que logo aparece com uma taça de vinho branco, em que todos
brindamos.

— Que nunca nos falte! — diz Noah e todos repetem. Eu apenas sorrio,
achando fofo a sintonia de todos eles. A mãe de Noah abre a boca para falar
algo, mas morde os lábios, se segurando e encarando Noah, que a encara de
volta, com os olhos quase arregalados.

— Hoje é sem o brinde da Dona Elizabeth — Jacob fala, guarda seu telefone
no bolso, me olha e pisca. Faço uma careta, sem entender o porquê de ele
dizer isso.

— Cala boca, cara! Você tá falante demais — todos riem e Jacob senta ao
meu lado. Focamos nossa atenção para a porta dos fundos quando Bryan
entra acompanhado de uma mulher muito bonita.

— Ah, não, outra vez! — sussurra Sr. Cooper e logo depois vira a taça de
vinho. Liz coloca a mão em sua perna, como se estivesse falando para que
ele se comportasse. Ele apenas faz um meneio com a cabeça, e ela sorri
satisfeita.

Bryan cumprimenta todos e apresenta a sua amiga, que não pareceu muito
feliz ao me ver. Não faço ideia do porquê disso, já que é a primeira vez que a
vejo na vida. Eles se sentam próximo de Noah, e o clima parece ter mudado
um pouco, porém, todos tentam disfarçar.

— E aí, Kathllen? Como vão as coisas do processo? Meu irmão me falou por
alto sobre seu caso — olho para Noah e sorrio.

Será que ele fala do caso de todas as clientes para sua família?

A acompanhante de Bryan na mesma hora me encara e estreita um pouco os


olhos. Tira o celular de dentro da bolsa e fica um tempo mexendo nele; logo
depois dá uma risadinha e me dirige a palavra:
— Kathllen Ibrahim. Claro! Eu estava tentando lembrar de onde conheço
você — fala, forçando uma simpatia que todo mundo repara ser bem falsa.
— Você não deve lembrar de mim, mas eu sou amiga de Ethan. Dele você
lembra, imagino eu — sorri, deixando transparecer sua intenção em me
deixar sem graça. Consigo ver o veneno escorrer por seus lábios. — Fiquei

sabendo que você faliu, que chato isso, linda.

Olho para ela por alguns segundos, totalmente sem jeito e sem entender o
porquê dessa atitude comigo. Pisco os olhos ainda em choque por ter falado
do Ethan, tentando não cair na dela e me rebaixar a tal ponto.

— Infelizmente, não lembrei de você, mas, depois de hoje, pode ter certeza
que não esquecerei — não forço o sorriso, mas falo de forma calma para não
deixar o clima ainda mais pesado. Estico o corpo e coloco a garrafinha de
cerveja na mesa a minha frente, me levanto e peço licença, dando a desculpa
de ir ao banheiro.

Me afasto e entro na casa, sentindo meu coração bater forte e a mágoa


começar a tomar conta do meu peito novamente. Dificilmente me abalo por
conta de provocações, mas, realmente não queria que esse tipo de coisa
acontecesse em um almoço que tinha tudo para ser algo incrível.

Me distraio com os meus pensamentos e entro em um cômodo que não é o


banheiro, mas, como a minha intenção era apenas ficar sozinha, aqui vai
servir. Encosto a porta e olho ao redor, parece ser um escritório. Caminho até
o sofá de couro e me sento na beira do mesmo. Fico olhando para o nada e
apenas pensando como minha vida chegou a esse ponto. Foi tanta coisa em
pouco tempo que ainda sinto o sabor amargo do desgosto em minha boca.

Todos aqui já devem ter pesquisado sobre mim e tudo bem, é algo comum,
ainda mais que eles, que sabem que Noah está me ajudando como advogado;
a curiosidade é algo inevitável. Porém, me senti extremamente incomodada
ao ouvi-la falar de Ethan, e preferi me retirar para que ela não desse
continuidade nesse assunto.

Olho em direção a janela e daqui consigo ver todos eles.

O pai de Noah está em um canto separado, conversando com Bryan.


Liz está conversando com Jacob e Barbie, e todos estão gesticulando muito,
como se estivessem em uma discussão. Não consigo ver Noah e nem a
menina que já fiz questão de esquecer seu nome. Bufo, frustrada com tudo
isso. Viro meu rosto em direção a porta quando escuto alguém abri-la e me
deparo com Noah ali, me encarando com um olhar de culpa.

Ele entra, fecha a porta e senta na mesinha a minha frente, ficando cara a
cara comigo. Pega as minhas mãos e as cobre com as suas, fazendo um
carinho gostoso com a ponta do seu polegar, mantendo o olhar fixo ao meu.

Meu Deus, como esse homem é bonito.

— Desculpe por tudo aquilo, Kath — fala como se tivesse culpa e aperta de
leve minhas mãos. — Não era para isso ter acontecido. Essa menina

é uma ex do meu irmão e, ela não é muito bem-vinda. Sempre faz alguma
cena, ou bebe demais e dá em cima de outra pessoa. Entretanto, tentamos
apoiar meu irmão nessa busca incansável de arrumar um amor — ele arrasta
seu corpo mais para a beira da mesa, se aproximando de mim.

— Não é sua culpa, Noah. De ninguém, aliás, além dela, que fez de
propósito para me atingir — suspiro, me ajeito no sofá e esse movimento faz
com que minhas pernas fiquem no meio das dele. Nós dois olhamos para
baixo, fazendo com que eu acredite que ele também tenha sentindo a mesma
coisa, que sempre sinto quando ele me toca. Solto as minhas mãos e seguro
em um punho dele, puxo seu braço de um jeito delicado, e aproveito para
olhar as suas tatuagens. — Todas são lindas — passo os dedos por cima de
algumas, realmente encantada por elas. imaginando se alguma delas tem
algum significado.

Ele se arrepia ao meu toque e coloca uma mão na lateral da minha coxa e,
por um momento, acho que vai me puxar para mais perto. Me frusto quando
ele não faz isso, e deixa apenas sua mão grande parada no lugar,
esquentando a minha pele.

— Um dia eu te mostro todas as que tenho — fala em um sussurro tão baixo


que quase não escuto. Nesse momento, volto a encará-lo e encontro seus
olhos me devorando. Desço o olhar para a sua boca e sem conseguir
controlar meu corpo, aproximo meu rosto do dele, desejando sentir sua boca
novamente. Ele vem em minha direção, mas para quando seu telefone
começa a tocar. Tenta ignorar por um tempo, mas a pessoa não desiste.

Estou começando a achar que o destino quer me dizer alguma coisa.

— É melhor você atender! — digo enquanto me afasto e, mesmo contra a


minha vontade, me levanto. Quando fico em pé, consigo ver que no visor do
celular vibra o nome “Samantha”, o que lembra da a conversa que ouvi sem
querer dele com ela. Ele segura em meu punho quando passo por ele. Sinto
minha respiração descompensada.

— Fica — se levanta, ficando de frente para mim e extremamente próximo.


Seu hálito me invade e minha única vontade é de devorar a sua boca aqui e
agora. — Por favor, linda — eu estava me decidindo em ficar e deixar rolar,
mas novamente, seu telefone toca e ele fecha os olhos, irritado, sabendo que
a ligação estragou todo o clima. Assim foi melhor, porque qualquer um
poderia nos ver aqui.

— Deve ser importante, Noah. Vou te dar licença para atender —

minha voz sai mais fria do que eu pretendia. Solto a minha mão e saio do

escritório, dando de cara com Jacob, que olha por cima de mim e vê Noah na
sala. Apenas dou de ombros e vou até a cozinha pegar meu celular.

Encontro Liz na cozinha, pegando tudo necessário para arrumar a mesa


aonde iremos almoçar. Pego algumas das coisas e levo para lá, seguindo o
mesmo jeito que ela arruma tudo. Fazemos isso em um silêncio que me é
muito grato no momento, mas assim que terminamos, ela me puxa no canto,
perto de uma janela.

— Querida, nos desculpe por isso. Queria fazer um domingo em família


tranquilo e leve, mas o Bryan... — fala, segurando uma das minhas mãos e,
com a sua outra livre, fazendo um carinho em meu braço.

— Vocês não me devem desculpas, está tudo bem — interrompo, na


intenção de finalizar logo o assunto e tentarmos voltar a aproveitar o
domingo como antes. — Eu normalmente não me abalo com essas coisas,
mas fui pega de surpresa com a antipatia dela, na frente de todos e,
realmente, não queria ter que falar sobre essas coisas hoje. Prometo que
ainda irei te contar tudo, toda a minha versão da história, mas, vamos deixar
isso para lá, tudo bem?

Ela concorda e dá uns tapinhas em meu braço.

— Você é uma boa menina, Kathllen. Não se deixe abalar por alguém como
ela. Vejo muita luz em você, filha. E, eu fico realmente feliz em ter você em
nossa família, mesmo que ainda não saibamos de fato em qual categoria vai
se encaixar — pisca e ergue os ombros, como se tivesse falado demais.

Sorrio e nos viramos quando vemos que todos estão entrando na sala.

Vamos para a cozinha e pegamos todos os recipientes com comida, os


deixando na mesa logo depois. Liz fez um banquete completo, tem camarão
ao catupiry, arroz, peixe assado, purê de batata e uma salada repleta de
variedades.

Me sento ao lado de Noah, que aparentemente, é o único lugar que sobrou.


Na minha frente está Barbie, que encara Noah de um jeito estranho.

Já percebi que esses três conversam pelo olhar. Abaixo a cabeça e dou uma
risadinha discreta. Viro-me para Noah quando ele se oferece para servir as
coisas em meu prato, mas descarto e vou eu mesma colocando minha
comida.

— Liz, meu Deus! Eu posso vir almoçar aqui todos os dias? — brinco
depois de comer um belo prato com um pouco de tudo. Está tudo perfeito e,
eu realmente comeria mais se tivesse sobrado espaço em meu estômago.

Todos riem.

— Querida, se minha esposa já não estivesse encantada por você, agora ela
estaria — rimos novamente, e Liz pisca para mim.

Depois do jantar, os meninos ficam com a tarefa de lavar e arrumar tudo.


Todos foram sem nem contestar. Acho muito fofo todo esse respeito e
admiração que eles têm por Liz. Eles são a prova viva que uma família não
precisa ser de sangue, e não estou me referindo a questão de Noah e Bryan
serem adotados, mas sim sobre Jacob e Barbie serem tratados também como
filhos. Algo me diz que, se eu continuar próxima deles, também serei
acolhida dessa forma. Eu, com certeza, gostaria disso.

Liz me leva até o andar de cima e me apresenta todos os cômodos.

Eles têm três quartos de hóspedes, porque pelo o que ela falou, os meninos
dormem bastante por aqui quando fazem churrasco. Então, ela sempre deixa
os quartos preparados para eles, além de um banheiro social. Depois de me
mostrar tudo, vamos até o seu quarto e ela me dá o meu presente, que é um
vestido prata super cavado nos seios e nas costas, além de duas fendas que
vão até perto da cintura. Eu amei e fiquei surpreendida com o presente, mas
ela disse que tem certeza que ficará lindo em mim e, que é para eu usar em
uma ocasião importante.

Depois de algumas horas ao redor da churrasqueira, em uma conversa


descontraída e regada de cerveja, menos para Noah, que disse que me levará
em segurança para casa, todos começam a ir embora, inclusive eu e ele. Me
despeço de todos, sendo intimada a voltar na próxima semana com minha
mãe, que eu contei que estará aqui no fim de semana seguinte.

Saio da casa deles e vou até o carro de Noah, que antes estava com Barbie, e
claro, o safado agora disse que iria com Jacob em vez de conosco.

Entro no carro com a sensação que o caminho até a minha casa será mais
longo do que realmente deveria ser.

Noah entra e eu sinto que o clima está meio estranho e, a culpa é minha.

Acho que senti ciúmes da ligação que Noah recebeu, bem quando,
provavelmente, iriamos nos beijar de novo. Não que eu esteja apaixonada,
ou algo do tipo, mas eu não me importaria de beijá-lo novamente, e depois e
depois. Se com um beijo no banheiro ele já me fez sentir tudo aquilo,
imagina com mais tempo e privacidade.

Entretanto, vou me conter. Preciso me conter!


13

Estou dirigindo mais devagar que o necessário, parei de beber a tarde já com
a intenção de levar Kath para casa e poder conversar com ela. Porém, o
clima dentro do carro está estranho, ela está quieta – algo que não é nada
normal vindo dela –, e tenho a sensação que se depender dela, o resto do
caminho será em total silêncio.

Paro no sinal, viro o rosto em sua direção e a flagro me encarando, que


mesmo depois de ser “pega”, continua a me encarar. Parece estar distraída
em seus pensamentos enquanto me olha. Abaixo a música que está tocando e
volto a dirigir.

— Eu estou confuso, Kath.

— Puta merda — ela fala junto comigo e, de imediato olho para ela,
estranhando comentário.

Ela está com o celular nas mãos, seu dedo percorrendo rapidamente pela
tela. Encosta-se no banco com mais força que o normal e deixa o celular cair
em seu colo. Fecha os olhos e massageia suas têmporas. Fico um pouco
aflito, sem saber o que está acontecendo e, até esqueço o que queria falar
com ela.

— Parece que a namorada de Bryan realmente não gosta de mim! —

ri em um tom desacreditado, limpa a garganta e volta a falar. — “Kathllen


Ibrahim parece ter arrumado um novo amor, e não estamos falando do rapaz
que ela já desmentiu ser seu novo affair. O cara do momento é ninguém
mais, ninguém menos, que o seu advogado, o Dr. Noah Cooper, conhecido
por resolver casos quase impossíveis e, por manter sua vida fora de alcance
da mídia” — ela fala em um tom sereno, mas seus olhos parecem pegar fogo
enquanto terminar de ler o resto, porém, já não consigo prestar mais atenção,
minha cabeça começa a trabalhar em alguma ideia para isso não se tornar
algo maior. — Eles já sabem que você é meu advogado e, estão deduzindo
que temos algo além disso por conta da foto — bufa.

Enquanto ela lê todo o resto das baboseiras que falam sobre ela e

algumas poucas informações que eles têm sobre mim, decido mudar a nossa
rota e ir para a minha casa porque, provavelmente, o apartamento dela deve
estar repleto de jornalistas com fome de qualquer furo da história. E, não é o
melhor momento para que nos vejam juntos. Hoje é domingo e, pelas nossas
vestimentas, é obvio que não estávamos lidando com algo profissional. Não
precisamos de outra notícia por cima dessa.

Entro em meu condomínio e dirijo até minha casa, deixando o carro de


frente para a garagem. Desligo, tiro o cinto e viro-me para ela, que continua
absorta nas notícias, que parecem pipocar em todos os sites e Instagrams de
fofocas.

— Kath — coloco a mão em seu ombro, chamando sua atenção. Ela me


olha, mostrando choque em seus olhos e vira o celular em minha direção;
dessa vez, sou eu quem fico em choque. Alex repostou uma notícia sobre
nós e, nela tem uma foto de nós dois hoje no escritório do meu pai. É notável
que o contato é além de advogado e cliente, estamos próximos e minha mão
está em sua coxa, evidenciando que temos algum tipo de intimidade além do
que se imagina para um relacionamento apenas profissional. Balanço a
cabeça sem acreditar na coragem daquela mulher, que aparentemente deu
uma volta por dentro da casa dos meus pais antes de ir embora. A foto
poderia ser pior, porque quase nos beijamos lá.

Devolvo o celular a ela, pego o meu e, como se sentisse que o peguei,


começam a aparecer muitas notificações. A foto do meu irmão do nada
estampa a tela inteira, tentando iniciar uma chamada de vídeo. Ignoro sua
ligação e volto a olhar Kath.

— Kath, relaxa. Tudo bem? Não é a primeira vez que sai uma notícia que
fale eu estou me envolvendo com uma cliente sem eu de fato estar me
envolvendo — seu olhar demonstra surpresa ao me ouvir. Me arrependo das
palavras assim que elas saem da minha boca, pois, por mais que não sejam
mentiras, sei que pareceu grosseiro e, isso com certeza, não é a minha
intenção. — Não foi isso que eu quis dizer... — fecho os olhos e suspiro,
desistindo de me justificar de algo que nem sei porque cogitei justificar.

— Eu entendi, Noah. Não temos nada, e ontem foi só um beijo! Já havíamos


bebido e não significou nada. Não pense que vou ficar te perturbando ou que
algo irá mudar — me responde de forma fria e isso me incomoda. Trinco o
maxilar e opto por ficar calado, porque o que ela falou é verdade. Ou pelo
menos deveria ser. Mas, explique isso ao incomodo que estou sentindo por
suas palavras. — Obrigada por não me levar para minha

casa, lá deve estar um caos. Vou mandar mensagem para o porteiro e pedir
para que ele me avise assim que tudo ficar mais calmo e vou embora — seu
tom de voz já voltou a ser o mesmo, o que eu gosto.

Kath sai do carro e bate à porta. Se encosta no capô do mesmo e continua


olhando seu celular. Consigo sentir de longe a sua frustação, mas farei minha
parte para ajudá-la nisso também.

Fico olhando para ela de dentro do carro por um tempo e depois saio, indo
em direção a porta, ainda sem acreditar na reviravolta do dia. Era apenas
para ser um almoço amigável, tranquilo; se tudo desse certo, eu a deixaria
em casa e talvez, só talvez, tentasse ganhar um outro beijo dela.

Coloco meu dedo no visor digital da maçaneta, a porta abre e me viro para
Kath, chamando-a para entrar. Ela faz um sinal que logo vem e se vira para o
outro lado, para atender o telefone. Observo-a de longe, e mais uma vez fico
encantado com a sua beleza. Começo a achar que foi uma furada trazê-la
aqui. Vou preciso de muita força de vontade para não a beijar.

Sabe o que é pior? Eu não quero ter essa força de vontade.

As luzes do hall de entrada se ascendem assim que entro. Deixo meu calçado
e carteira por ali e sigo para a sala. Minha casa é composta por dois andares,
sendo o primeiro com a cozinha, a sala de tv, dois banheiros sociais, um
escritório, que também é uma pequena biblioteca, e a sala de jogos. O

segundo andar tem o meu quarto e mais outros dois, além de um banheiro
social. No quintal dos fundos tem a piscina, uma quadra de basquete, uma
pequena academia e a área da churrasqueira.

Essa casa me custou os dois rins, mas a minha mãe me ajudou na hora da
compra e conseguiu me convencer que preciso de uma casa grande para
suportar bem a minha futura esposa e filhos. Foi mais fácil aceitar no final
das contas, porque ela sempre consegue o que quer de um jeito ou de outro.
A decoração toda em branco e cimento queimado também foi por conta dela,
mas confesso que eu amo cada cantinho do meu lar.

Escuto a porta fechar e cruzo os braços, admirando Kath enquanto ela faz o
mesmo em minha casa. Kathllen é extremamente linda e parece que tudo
nela mexe comigo; não tenho certeza se é apenas a sua aparência que me
atrai atualmente. Seu shortinho abraça seu quadril e bumbum avantajados,
sua blusa curtinha deixa boa parte da barriga a mostra, e toda hora que olho
para aquela parte, sinto vontade de tocar para ver se é tão macia como as
outras partes do seu corpo que já toquei.

— Sua casa é linda! E, eu estou com a sensação que sempre falo isso

de algo seu — caminha até a janela grande que dá para o quintal, que fica
iluminado a noite, e aponta para fora e depois para mim, com um sorriso
curioso. — Isso é incrível, Noah. Em uma das casas que comprei como
investimento, tinha um quintal muito parecido com esse e, sempre que
sonhei em ter uma casa em vez de um apartamento, imaginava com um
quintal assim

— volta a olhar para fora, admirada. Envio mentalmente a minha mãe vários
elogios por ter insistido tanto em uma casa assim, me sentindo feliz pela
admiração dela por algo que é meu.

— Tenho certeza que ainda irá aproveitar muito a área lá de fora —

falo sincero, ficando atrás dela, mas em uma distância segura. Ela se vira,
com uma sobrancelha erguida e percebo que o que eu falei tem muitos
sentidos. — Os meninos sempre fazem encontros aqui. E, te garanto que são
bem menos familiares que o de hoje na minha casa — rio e ela me
acompanha, mas logo depois seu sorriso morre e a confusão toma conta de
seu olhar.
Ela passa por mim e segue até um dos sofás, se senta e apoia um tornozelo
no outro joelho. Fica mexendo com uma pulseirinha que tem ali.

Por alguns minutos, esqueci o que está acontecendo ao nosso redor enquanto
estamos tranquilos aqui dentro. Tiro meu celular do bolso e vejo várias
chamadas dos meninos e minha mãe.

Merda.

Mando uma mensagem no grupo que temos todos juntos.

Eu: Estamos bem! Trouxe Kath aqui para casa.

Mamãe: Ótimo, querido.

Papai: Qualquer coisa, nos avise.

Barbie: Humm, sua casa, né.

Mamãe: Barbieri, xiu. Não sabe que seu amigo fica nervosinho quando
insinuamos algo do tipo?

Barbie: Fresco, tá perdendo tempo.

Mamãe: Concordo!

Mamãe: Ops.

Jacob envia uma foto, abro-a e vejo que é uma foto minha de agora, olhando
para o celular e fazendo uma careta enquanto leio. Olho para a paparazzi que
se encontra em meu sofá, sorrindo para algo em seu celular.

Jacob: Kath mandou agora. Disse que acha que a qualquer momento você
vai ter um colapso. HAHAHAHA

Eu: Não sei porque ainda dou ideia para vocês.

Largo o aparelho na mesinha de centro e sento do lado de Kath, que esconde


o celular na hora e prende os lábios um no outro, segurando uma risada. Me
aproximo um pouco, fazendo com que nossas pernas se encostem.

— Então, a senhorita acha que terei um colapso? — minha voz sai rouca e
aproximo meu rosto do dela. Nossos narizes quase encostam e consigo sentir
quando a sua respiração pesa. —Talvez você esteja certa!

Muito provavelmente terei um colapso hoje... Com você aqui, Kath — falo
seu nome em um sussurro, e seus olhos pequenos tomam um tom tão escuro,
que por alguns segundos, me perco neles.

Minha intenção ao sentar do lado dela não era flertar, mas aconteceu
involuntariamente. Parece que realmente voltei a ser um adolescente, que
não consegue se controlar perto de uma mulher igual a ela. Espero o
arrependimento me invadir, mas isso não acontece. Fico ansioso por uma
reação dela.

Kath fecha os olhos e abre um pouco os lábios, e meu olhar se fixa neles,
com um desejo surreal de tomá-los percorrendo meu corpo, mas me
contenho. Levo uma mão em sua perna, e fico fazendo círculos em se joelho
com meu polegar. Ela solta um suspiro baixinho, e volto a prestar atenção
em seu rosto.

Ela deixa o celular escorregar por suas mãos e cair no canto do sofá.

Olho todo o seu corpo, reparando em cada detalhe que está descoberto e
tenho certeza que ela conseguiria acabar comigo muito mais rápido do que
imagina. As imagens que passam em minha cabeça fazem com que meu pau
lateje. Respiro fundo, uma excitação agora deixaria o clima mais denso do
que já está, mas, parece que meu amigo lá embaixo não se importa com isso.

— Noah, eu não sei se repetir o que fizemos ontem é algo inteligente

— suas palavras não condizem com seu tom de voz arrastado e baixo e nem
com o seu olhar, que me devora inteiro. Ela morde o canto do lábio ao notar
minha ereção que está um tanto evidente.

— Eu sei disso, e na verdade, não é nada inteligente — aproximo meu rosto


novamente, roço meu nariz no dela, subo a mão que está em seu joelho e
seguro sua coxa com um pouco de força. — Mas, eu não estou querendo ser
inteligente agora, linda — sussurro a última palavra. Ela solta um gemido
baixinho ao me escutar e, sem pestanejar, gruda seus lábios nos meus.

Abro espaço com a língua para invadir a sua boca e sou tomado por

seu gosto delicioso. Ela coloca as mãos em meu rosto, forçando um pouco
mais nossos lábios. Assim que sinto minha língua encostar na sua, parece
que todo o meu corpo acende, me deixando tentado. Subo a mão por sua
cintura e aperto com um pouco de força. Kathllen muda a posição do seu
rosto, e nosso beijo fica mais profundo a cada investida. Nossas línguas
passeiam uma pela boca do outro.

O beijo é feroz e calmo ao mesmo tempo, tem urgência e vontade demais,


mas também queremos aproveitar cada momento, como se ambos
soubéssemos que qualquer oportunidade pode ser a última. Sugo sua língua e
depois mordo seu lábio inferior, puxando-o de leve. Kath desce uma mão
para o meu braço e passa a unha por ele todo, me fazendo arrepiar. Coloco
uma mão em sua nuca e a puxo mais para mim. Nesse instante, nosso beijo
passa a ser quase uma súplica.

Coloco as mãos na cintura de Kath e a puxo para meu colo. Me encosto nas
costas do sofá enquanto ela passa a perna para o outro lado e me monta sem
separar sua boca da minha. Aperto a sua cintura quando ela arrasta o corpo
para mais próximo de mim, quase sentando em cima do meu pau. A
expectativa de senti-la mesmo que por cima das roupas faz com que minhas
bolas se contraiam e eu desço uma mão para a sua bunda, apertando com
força.

Minha cabeça está inclinada para trás e os cabelos de Kath caem por cima de
mim. Afasto os fios com uma das mãos e os prendo ao agarrar sua nuca,
afastando seu rosto do meu. Encaro seus olhos fartos de desejo e sorrio
maliciosamente.

— Eu quase não dormi pensando se te beijaria novamente — ela morde o


lábio inferior e depois passa a língua por ele, umedecendo-o, enquanto
encara minha boca. — Não me provoca, amor, isso poderá se tornar um
caminho sem volta.
Ela ri e joga os cabelos para um lado só, levanta só um pouquinho do meu
colo e depois volta a se sentar com força, só que dessa vez em cima do meu
pau. Jogo a cabeça para trás e nós dois gememos juntos. Seguro em sua
cintura novamente e forço um pouco mais seu contato. Ela volta a me beijar
e quase nos engolimos enquanto ela rebola descaradamente em meu pau,
aproveitando a fricção gostosa que deve estar sentindo por conta das nossas
roupas. Me pego com inveja da sua roupa íntima, que já deve estar molhada.

Subo uma das mãos para as suas costas e a puxo para mim, colando meu
peito em seus seios e, agora eu tenho certeza que ela está excitada.

Minha vontade de tomar seus seios em minha boca só aumenta. Percorro a


mão pela lateral do seu corpo e passo a ponta dos dedos na barra da sua
blusinha, me aproximo da base dos seus seios e a expectativa é maravilhosa.

Ela se arrepia e força mais em meu pau. Continuo com o carrinho e passo o
polegar para dentro da blusa, e esse primeiro contato com seu seio a arrepia
toda.

Ela está sem sutiã. Eu estou enlouquecendo.

Meu pau recebe o recado e lateja novamente, implorando por alívio.

Choramingo entre o beijo, mas não deixo que se afaste da minha boca
quando tenta e, ela volta a devorar a minha. Passo toda a mão para dentro da
sua blusa e cubro boa parte do seu seio. Esfrego seu mamilo entumecido
com um dedo, ela geme entre o beijo e morde meu lábio com um pouco de
força.

Sinto o gosto metálico, mas não me incomodo. Acho que ela poderia me dar
um soco agora e eu iria adorar.

Subo a outra mão para seus seios, levanto a blusa e os exponho.

Cubro o outro seio com a mão livre e fico fazendo o mesmo movimento nos
dois. Dessa vez, sou eu quem estou forçando meu pau contra ela,
necessitando de mais contato.
Afasto nossas bocas e ela não protesta, se afasta um pouco, deixando que eu
admire seus seios, com um sorriso safado nos lábios. Kath não é
envergonhada, e já notei que ela gosta quando admiro a sua beleza. Agora é
diferente. Salivo enquanto observo seus seios, que são firmes e parecem ter
sido feitos para as minhas mãos. Levo a boca até um deles, sem tirar os
olhos dos seus, e passo de leve a ponta da língua ao redor do seu mamilo,
provocando-a. Depois o lambo, o tomo em minha boca, estimulando-o com a
língua e dando leves mordiscadas.

— Noah... — geme e segura firme meu braço.

Passo para o outro seio e repito tudo.

Sou surpreendido quando sinto sua mão por cima da bermuda, apertando
meu pau, tentando fazer o movimento de vai e vem nele, mas o jeans da
bermuda atrapalha. Passo a língua no vão entre seus seios e subo fazendo um
caminho com a língua até o seu pescoço. Beijo e dou uma mordida no
mesmo lugar, subo para a ponta do seu ouvido e sugo só a pontinha da sua
orelha.

— Eu quero te foder, linda. Eu quero me afundar nesse corpo como se minha


vida dependesse disso, porque nesse momento depende, e sentir se você é
tão incrível como eu tenho sonhado — sussurro como se estivesse

contando um segredo de estado.

Kathllen se arrepia, vira o rosto para mim e passa a língua em meus lábios.
Eu sorrio, gostando das suas provocações e como reage às minhas. Ela sai do
meu colo e na mesma hora sinto falta do seu corpo tão próximo do meu.
Segura sua blusa pelos lados e a puxa, ficando com os seios totalmente
livres. Joga a camisa no chão, passa as mãos pelo cabelo e o prende em um
coque. Essa atitude só me faz pensar em uma coisa, e anseio para que seja
isso.

Empurra as minhas pernas para que eu as abras mais, se ajoelha lentamente e


me encara, mordendo os lábios, com a cara mais safada possível. Apenas de
vê-la nessa posição, mostrando o quanto quer me chupar, já me sinto a porra
de um sortudo. Kath leva a mão no fecho da minha bermuda e abre, em
seguida desce o zíper. Levanto um pouco a cintura quando segura a beira do
jeans junto com a cueca, facilitando para ela puxar para baixo.

Meu pau salta para fora, e ela aproxima o rosto da minha virilha, morde o
lábio e inspeciona o que vê em sua frente, e sorri satisfeita. Meu ego nesse
momento saiu pelo telhado a fora. Me olha e pisca, passa a língua pelos
lábios e depois o segura, virando para a direção do seu rosto. Só ao sentir sua
mão quente ao redor dele, meu corpo treme de prazer e, eu estou apaixonado
por cada mínimo movimento que faz. Ela passa a língua por todo o
comprimento, pela glande e começa a engolir aos poucos. Ergue os olhos
para mim e desce mais a boca nele, sem conseguir chegar ao talo. Então,
começa a descer e subir com a mão e boca ao mesmo tempo.

— Puta merda! — xingo, tentando não perder o controle e foder a boca


deliciosa dela. Passo a mão em seu rosto, fazendo um carinho breve,
imaginando se ela gosta de apanhar.

Kath continua com os movimentos, me levando ao céu e ao inferno ao


mesmo tempo. Quando sinto sua outra mão fazendo uma leva massagem em
minhas bolas, enlouqueço. Rosno de prazer. Seguro no cabelo dela e começo
a estocar a sua boca devagar; ela fecha os olhos e faz o movimento ao
contrário, dando mais impacto. Forço um pouco mais, tentando não
ultrapassar o seu limite, mas a safada força a boca contra o meu pau, e eu o
sinto cutucar sua garganta. Ela ergue a sobrancelha enquanto me encara,
desafiando-me.

Ok, isso é demais para mim.

— Assim eu vou gozar, amor.

Como resposta, sinto quando ela raspa bem de leve os dentes em meu pau.
Levo o meu corpo para a beira do sofá, seguro seu cabelo com mais força e
volto a estocar a sua boca, meu pau não aguenta mais sentir esse desejo
reprimido a todo segundo e, quando estou a ponto de gozar, me afasto para
não gozar em sua boca, mas ela segura minha cintura, me puxando de volta
para a sua boca. Isso é o suficiente para que eu despeje todo o meu prazer.
Minhas pernas tremem e meu corpo todo agradece por esse acontecimento.
Eu a encaro, ainda sentindo meu corpo reagir ao boquete incrível que acabei
de receber. Claro, transei com muitas mulheres e já recebi muitos boquetes
bons, mas parece que Kath elevou a minha experiencia.

Ela fica de pé e a puxo para perto de mim, ficando cara a cara com seu
ventre. Beijo a área e passo a língua ao redor do seu umbigo. Ela passa o
dedo nos cantos dos lábios, como se estivesse limpando algum vestígio da
minha porra e, logo em seguida, lambe e chupa seu dedo, estalando a língua
ao final.

Me levanto, tiro a minha camisa e jogo para qualquer canto. Abaixo um


pouco a cabeça para olhá-la, que me olha de volta com mais desejo do que
antes. Encosto nossos corpos, sentindo meu pau encostar em sua barriga,
novamente duro. Ela ri, cheia de tesão, e pega em meu pau novamente,
fazendo um vai e vem vagaroso.

Abro o botão e o zíper do seu short, empurro apenas ele para baixo porque
preciso matar a vontade de vê-la apenas de calcinha. Depois de passar por
suas coxas, o short cai e me afasto um pouco, acho que meu coração parou
por alguns segundos. Kath está com uma calcinha preta de renda, de alças
finas e transparente. Acabo de descobrir que essa é a melhor imagem que já
vi e que, por mim, ela poderia ficar sempre assim quando estivesse apenas
comigo. Mordo os lábios, imaginando o gosto do que a calcinha protege. Ela
parece gostar da minha admiração e se vira, mostrando sua bunda que engole
a parte pequena da calcinha.

Ela me olha por cima do ombro e dá uma reboladinha. Estalo um tapa na sua
bunda e, na mesma hora, ela geme. Dou um tapa do outro lado, e depois a
puxo com força, colando meu pau no meio da sua bunda. Faço um
movimento de vai e vem quando suas nádegas abraçam meu pau. Minha
imaginação voa com as possibilidades do que posso fazer por aqui.

É sério, se eu não me apaixonar por esse bunda, não me apaixono por mais
nada nessa vida.

Continuo roçando meu pau e ela continua forçando sua bunda contra mim.
Seguro um seio e belisco seu mamilo. Com a outra mão, desço por sua
barriga até achar na calcinha, enfio a mão por dentro dela e escorrego dois
dedos por entre seus lábios, sentindo-a toda molhada. Urro em seu ouvido.

— Tão molhada! Certeza que está ansiando por isso tanto quanto eu

— ela geme em resposta.

Com o polegar, começo a acariciar o seu clitóris que sinto estar rígido, e
começo a fazer movimentos circulares, colocando pressão. Ela se
desconcentra e perde o ritmo das reboladas, mas abre as pernas, pedindo por
mais. Continuo esfregando e aumento um pouco a velocidade enquanto ela
geme alto, fazendo meu corpo se arrepiar todo, porque o seu prazer faz isso
comigo.

Desço o dedo até a sua entrada e a penetro de uma vez. Ela ergue a cabeça
para trás e se encosta em meu ombro. Aperto seu seio e ela geme,
movimento meu dedo e ela geme, chupo seu pescoço que está a mostra para
mim e ela geme. Tiro o dedo de dentro dela e a escuto resmungar,
contrariada, mas geme novamente quando a invado de novo, fodendo
gostoso sua boceta com os dedos. Sinto suas paredes me apertam e tiro os
dedos de dentro dela.

Ela se vira de frente, choramingando e querendo mais. Levo meus dedos na


boca e os chupo, sentindo o seu gosto. Ela puxa minha mão, tira os dedos da
minha boca e os coloca na dela. Chupa como se fosse meu pau.

— Deita amor, preciso sentir você gozando na minha boca.

Ela, de imediato, vai para a parte do sofá mais espaçosa e se deita, abrindo as
pernas em um claro convite. Gosto dessa safadeza dela. Não penso duas
vezes e me ajoelho no sofá, ficando de frente para o meio de suas pernas,
porém, assim que abaixo o tronco e me aproximo da sua boceta, ela tenta me
puxar pelo ombro. Ergo o olhar.

— Preciso de você dentro de mim — diz, franzindo a testa em desespero. —


Agora, Noah.

Como eu também não vejo a hora de senti-la, concordo com a cabeça.


Puxo a calcinha para baixo, até que ela passe por seus pés e a jogo perto da
minha roupa. Depois, beijo a parte inferior da sua barriga, próximo do seu
umbigo, e percorro todo o caminho com beijos e chupadas até chegar em sua
boca. Enfio a língua em sua boca e voltamos a nos beijar com desejo e
ansiedade.

Coloco os braços ao redor da sua cabeça e abaixo o corpo, encostando

meu pau na sua boceta molhada. Começo a esfregá-lo pelos seus lábios,
deslizando-o e melando-o todo com a sua umidade. Ela está encharcada.

Para mim. Kath coloca as mãos em minhas costas, puxando meu corpo para
mais próximo do dela. Colo meu peito em seus seios e esse movimento faz
com que meu pau desça um pouco e pressione a entrada da sua boceta.

Me afasto do beijo e a encaro, quero estar olhando em seus olhos quando a


penetrar pela primeira vez. Nós começamos um duelo pelo olhar.

Empurro um pouco e a cabeça do meu pau entra em sua boceta.

Gememos. Meu corpo já está tomado em choque com essa pequena


investida.

Ela abraça a minha cintura com as pernas e enfio todo meu pau de uma vez,
parando quando ele entra inteiro, apenas sentindo a sensação incrível da sua
boceta aceitando meu pau por completo. Gemo em sua boca.

— Delicia!

— Noah... — falamos ao mesmo tempo.

Assim que ela se acostuma com meu pau, começo os movimentos de vai e
vem, mas a fome de fodê-la é maior que meu controle, então, a estoco com
força e ela geme pedindo mais. Sem dúvidas, eu dou o que ela quer.

Estoco cada vez mais fundo, e enlouqueço quando ela contrai a boceta e
aperta mais ainda meu pau. Levanto meu tronco e continuo comendo ela
com força, já sentindo o suor escorrer pelo meu abdômen.
Ergo uma perna dela e escoro em meu ombro, metendo forte, sentindo meu
pau alcançar mais fundo nessa posição. Estou delirando de desejo, todo seu
corpo é uma delícia e cada vez que eu a escuto gemer, enlouqueço mais.

Não estava preparado para toda essa potência e química entre nós, me
esforço para gravar cada parte do seu corpo nu e das suas feições cada vez
que me sente. Seguro em seu peito, e aperto com força a sua cintura com a
outra mão.

Ela é perfeita.

Gostosa demais.

Não vou saber lidar com isso.

Saio dela, sento ao seu lado e a puxo para meu colo. Ela segura no meu pau
para guiá-lo e já se senta, encaixando-o em sua boceta. Me posiciono melhor
para senti-la me sugar inteiro, e ela começa a cavalgar em meu pau, como se
sua vida dependesse disso. Encaro essa mulher incrível, ainda não
acreditando no quão gostoso isso está sendo. Seus seios se movimentam e
atrai toda a minha atenção.

Aperto sua bunda e a ajudo nos movimentos, com ela sentando cada vez
mais forte. Abaixo a cabeça e começo a chupar um dos seus seios. Ela

grita de tesão, e eu não vou aguentar por muito mais tempo. Levo um dedo
até seu clitóris e volto a massageá-lo.

— Eu não vou aguentar muito, amor — sussurro quase sem voz.

Ela rebola, ergue o corpo para trás, passa um braço para trás e segura as
minhas bolas, apertando de leve. Quase uivo.

— Goza comigo, Noah... — fala entre gemidos. — Eu vou...

Antes que ela termine de falar, começo a estocá-la enquanto ela vem por
cima e faz o movimento ao contrário. Em pouquíssimo tempo, sinto a sua
boceta me contrair com força e ela jogar o corpo para frente, apoiando sua
testa na minha. Essa é a minha deixa. Gozo logo depois dela e a abraço. Me
mantendo dentro dela, sentindo os últimos espasmos do meu pau. Fecho os
olhos, e parece que, se eu não me agarrar nela, irei flutuar a qualquer
momento.

Ela afasta a testa da minha, segura meu rosto com uma mão e me dá um
beijo gostoso, leve e calmo. Depois me dá um selinho e sai do meu colo,
resmunga um pouquinho sobre estar ardida e veste sua roupa.

Assistir alguém vestir uma roupa nunca foi tão sexy como agora. Meu pau já
quer ficar duro de novo. Pego minha cueca que estava perto do meu pé, me
levanto e me visto. Ficando só com essa peça de roupa.

— Você vai ficar assim? — me encara, boquiaberta. Passeando pelo meu


corpo com seus olhos.

Sorrio e concordo. Eu costumo ficar de bermuda de moletom e, dificilmente,


uso cueca em casa, mas depois da reação dela, duvido que irei pôr algo além
dessa cueca.

— Pode ficar só de calcinha, se quiser — pisco, passo por ela e dou um tapa
em sua bunda gostosa. — Você é uma delícia, poderia olhar e sentir seu
corpo o tempo todo — falo por trás dela e quando vejo seu corpo arrepiar,
rio.

Vou na cozinha pegar uma água, e travo quando passo pela lixeira.

Puta merda, não usamos camisinha.

Viro e olho para Kathllen, que termina de se arrumar. Me distraio admirando


a sua beleza. Que merda de mulher linda!

— Kath! — chamo-a e ela se vira, vindo em minha direção, sorrindo.

Entra na cozinha e senta na beirada de uma das bancadas, ajeita seu cabelo e
faz um coque frouxo, deixando uns fios fugirem dele. É uma cena linda tê-la
assim desse jeito, à vontade comigo e na minha casa. Me aproximo e me
encaixo no meio de suas pernas, colocando uma mão em cada lado do seu

corpo. — Não usamos camisinha — dou um selinho em sua boca vermelha.


— Eu sou limpo, mas tenho exames caso queira ver. Devo ligar para a
farmácia para pedir algo? — dou outro selinho e ela solta uma risadinha.

Antes de falar, me dá mais um selinho.

— Eu tomo injeção e também não tenho nada, relaxa! Mas fomos muito
imprudentes, isso poderia resultar em muitas coisas que não desejamos. —
pisca, e me puxa para mais próximo do seu corpo. Meu pau encosta em sua
boceta por cima da roupa e eu suspiro. Ela me olha com uma carinha de
inocente fingida. Seguro seu rosto e voltamos a nos beijar.

O resto da nossa noite é regada de mais sexo e trocas de carinho.

É nesse exato momento que percebo que o furacão começa a me atingir, e


parece que não terei estrutura suficiente para sair dele.

14

Termino uma reunião com Barbie, Jacob e Olívia, a nossa nova contadora.
Ela começou há dois dias e, esta semana será importante que ajudemos para
ela se inteirar de tudo. Eu e Barbie não temos muito a oferecer, porque nossa
parte é realmente só advogar, mas, estaremos dispostos a ajudá-la no que
precisar.

Ela é uma mulher muito bonita e parece ser mais nova do que realmente é.
Deve ter por volta de 1.65m de altura, loira, olhos verdes claríssimos e,
aparenta ter um belo corpo; não reparei muito nisso, porém, sempre
observamos alguém novo quando conhecemos. De qualquer modo, ela é a
nossa nova funcionária, eu não iria ficar olhando descaradamente.

Olívia sai da sala e fecha a porta, ficando só eu e os meninos.

— Que mulher gostosa!


— Barbie, ali é terra proibida. Ok? — Jacob fala junto com Barbie e eu rio.
Claro que Barbie iria fazer algum comentário do tipo, isso é totalmente a
cara dele. Entretanto, não precisamos nos importar com isso, Barbie é safado
mas sabe respeitar os limites. Bato as duas mãos na mesa de vidro a nossa
frente e me levanto, sendo seguido por eles até a minha sala.

Me sento na poltrona e os dois se ajeitam no sofá que tem ao lado.

Recosto meu corpo e tento relaxar. Essa semana foi um pequeno inferno e,
nem acabou ainda. A notícia que saiu no domingo sobre mim e Kath rendeu
um burburinho desnecessário, mas, as pessoas já esqueceram e estão
interessadas em outras fofocas agora. Mesmo assim, esse acontecimento
gerou uma confusão aqui em frente na segunda-feira.

Quando cheguei, havia alguns fotógrafos e curiosos perguntando sobre meu


suposto relacionamento com ela. Apenas pedi licença e passei por eles, que
foram duramente proibidos de entrar no Hall do prédio. Todas as pessoas
que necessitariam entrar essa semana no edifício, foram notificadas que
precisavam apresentar uma senha aos seguranças e, isso fez com que eles
desistissem. Na próxima semana, o acesso voltará a ser normal no resto do

edifício.

Passo a mão em minha nuca, sentindo meu corpo tenso depois de tanto
trabalho, respiro fundo e fecho os olhos.

— Já viram o novo trabalho de Kath? — Jacob tenta se manter sério, mas


tenho certeza que está me encarando por cima dos olhos, esperando alguma
reação da minha parte. Os dois tem se aproximado bastante e, estou feliz
com isso. Jacob precisa de uma presença feminina em sua vida de alguma
maneira. Essa amizade fará bem a ele.

Dou de ombros, fingindo não me interessar.

Apenas fingindo mesmo.

— Oh, claro que vi. Ela me mandou várias fotos e pediu ajuda para escolher
qual postar no Instagram — abro os olhos e encaro Barbie, que agora está
em pé, perto das bebidas, passando o dedo pelas garrafas, escolhendo qual
irá beber. Aproveito e peço uma água, não irei beber nada alcoólico hoje. Ele
joga a garrafinha em minha direção e eu pego no ar. —

Gostou da minha escolha? — pergunta diretamente para mim, se referindo a


tal foto.

Abro a garrafa e a viro toda, aproveitando esse tempo para pensar o que
responder.

— Eu vi e, vocês sabem disso. Por que estão me perguntando? —

retruco.

Jacob ri e me encara, me analisando por um tempo, depois arregala os olhos


e ri de novo.

— Vocês transaram, né? — pergunta, desconfiado.

Barbie quase cospe o whisky que está bebendo para me encarar também.
Respiro fundo e bufo, irritado.

— Isso passou a ser da conta de vocês em qual momento? — cuspo as


palavras, deixando clara a minha irritação. Porém, eles me conhecem demais
para saber quando quero fugir de um assunto, então, respondo: — E sim, nós
transamos.

Barbie soca o ar, rindo.

Jacob dá a sua costumeira risada desacreditada.

— E, está tudo bem? Quer dizer, sabemos que você é casado com o trabalho
e, não sei como Kath é em relação ao seu estilo de vida — estala a língua —
Nosso estilo de vida, já que vivemos apenas do bom sexo casual —

Jacob se corrige, orgulhoso do que disse.

Apoio os cotovelos em minhas pernas e concordo.


— Eu acho que sim! O sexo foi... diferente — meu corpo começa a
esquentar quando algumas cenas de domingo vêm em minha mente.

— Diferente, Noah? Vocês transaram no telhado? Porque, para mim,


diferente é algo assim — debocha Barbie. Eu me controlo para não o xingar.

Reviro os olhos.

Sério?

— Vai à merda, Barbieri — ele levanta as mãos se rendendo, quando escuta


como o chamei. — Foi diferente no quesito de que foi bom em um grau que
eu desconhecia. E, eu já transei muito nessa vida, muito mesmo.

— A gente sabe, infelizmente — resmunga Jacob, provavelmente,


relembrando a época da faculdade em que eu entrei em uma fase de transar
todo dia e, nós dividíamos a mesma casa, então, eles sempre sabiam quando
algo estava acontecendo e vice-versa.

Me levanto, vou até a minha mesa, pego meu celular e me recosto ali.

Olho as notificações e nenhuma delas é de Kath. Coloco o celular na mesa


novamente.

— Aconteceu no domingo, quando a levei em minha casa. Não foi nada


premeditado, mas, eu queria ficar sozinho com ela para poder falar sobre o
beijo de sábado. Porém, esse beijo evoluiu para uma foda da porra —

por mais que eles sejam meus irmãos, não entro em muitos detalhes, porque
isso não diz respeito só a mim. — E ela, surpreendentemente, não tocou no
assunto nenhuma vez. Nos falamos umas 3 vezes essa semana e ela não
falou nada, não insinuou nada e, parece ser a mesma pessoa comigo. Não sei
como reagir a isso, pensei que ela agiria diferente.

Basicamente, é isso que espero de alguém que transo sem pretensão de um


relacionamento, mas, eu e Kath já temos um relacionamento de amizade.
Dessa forma, pensei que talvez tivéssemos que conversar, para esclarecer
qualquer coisa e não deixar o acontecido atrapalhar em nada. Estou bem
surpreso com a falta de interesse dela nesse assunto.
— Pelo o que estou conhecendo da Kath, ela parece ser uma mulher muito
madura, Noah e, já passou por muita coisa também. Provavelmente, ela não
irá agir como algumas outras mulheres que você se envolveu agiram,
tentando te perseguir ou tirar algo de você — Barbie fala, e Jacob concorda.

Eu deveria estar feliz por ela estar agindo assim, mas algo nisso me
incomoda e, eu não consigo entender o porquê desse sentimento esquisito,
pela possibilidade de ter sido descartado por Kath.

Vou até minha cadeira e me sento, abrindo o notebook para pesquisar

algumas coisas. Levanto o olhar e encontro os dois me encarando, ambos


com um sorriso cínico na cara. Apenas levanto o dedo do meio na direção
deles. Eles riem em resposta e entram em um assunto que não dou atenção.

Respondo alguns e-mails que ficaram pendentes e, assim que termino, meu
celular vibra. Pego-o de imediato e sinto meu coração errar a batida quando
aparece o nome de Kathllen na barra de notificação. Desbloqueio o celular e
leio.

Kath: Oi! Acabei de buscar minha mãe no aeroporto e, descobri que nossas
mães estão trocando mensagens desde domingo. HAHAHA Kath: Acredita
nisso?

Eu: Não duvido nada que quem tomou a iniciativa foi Dona Elizabeth, rs.

Kath: Claro! Minha mãe é muito tímida.

Kath: E, fui trocada. Elas vão tomar uns drinks em um restaurante que sua
mãe recomendou.

Kath me envia uma foto fazendo biquinho e meu pau na mesma hora
endurece no meio da minha calça. As lembranças estão claríssimas em meu
corpo e minha mente.

Eu: Posso te fazer companhia... Se quiser!

Aparece que ela está digitando várias vezes, mas a resposta não chega. Bufo,
frustrado. Talvez ela não queira mais nada sexual, porém, espero de verdade
ainda ser seu amigo. Só não sei como será essa amizade, porque depois de
domingo, sinceramente, estou fodido.

Saio da minha bolha ao escutar Jacob sair da sala. Olho para Barbie, que está
de braços cruzados, com aquele olhar de quem quer falar algo, mas não sabe
se deve. Faço sinal com a mão para que ele fale.

— Eu te amo, você sabe disso. Correto? — faço que sim com a cabeça,
querendo saber onde vai chegar com isso. — Kathllen é uma mulher
diferente, cara. E, não falo isso só porque agora ela é minha amiga, falo isso
porque sei que ela mexe com você. Pode ser que seja só de forma carnal,
mas, nunca sabemos quando as coisas irão mudar e evoluir para algo mais —

passa a mão em seu cabelo, olha para o celular em sua mão, parece ler algo e
depois volta a me olhar. — Só não quero que isso tudo vire uma bola de
neve e atropele todo mundo, inclusive você — dá uma tapinha na mesa e sai,
me deixando com os pensamentos a mil.

Não acho que tenha muito fundamente o que ele disse. Estou me

sentindo diferente em relação a ela, mas acho que é por conta do meu ego,
pois me acostumei com as mulheres querendo atenção ou algo a mais de
mim; essa atitude diferente da parte dela, talvez, pode estar fazendo com que
me sinta assim.

Acho que o melhor que tenho a fazer é esquecer o quanto nosso sexo foi
incrível. Mesmo parecendo clichê, ele foi um dos melhores, se não o melhor
que já tive. Kath é desinibida, safada e carinhosa, tudo ao mesmo tempo e,
eu nem sabia que gostava de carinho depois do sexo, descobri com ela, no
auge dos meus 28 anos. Seu corpo é uma delícia. A imagem dela sentando
em meu pau com um sorrisinho malicioso não vai sair da minha cabeça tão
cedo. Vou me esforçar para deixar de lado o desejo que eu pensei que iria
passar, mas que só aumentou, e focar na amizade, além de seu caso.

Pego meu celular novamente e me surpreendo com uma mensagem de Kath


que eu não tinha visto antes.

Kath: Eu topo sua companhia! Só preciso deixar minha mãe no restaurante e,


estarei livre.
Kath: Antes que pergunte, sim. Eu dirijo, mas não gosto. Então, vivo de táxi
e meu carro fica na garagem, uso só quando necessário mesmo.

Rio enquanto leio. Eu realmente iria perguntar como ela levaria a mãe e, em
seguida me ofereceria. Aliás, acho que vou fazer isso mesmo, já que ela
falou que não gosta de dirigir.

Eu: Estou surpreso com isso. Imaginava que você não dirigia.

Eu: Posso buscar você e sua mãe. A gente deixa ela no local e depois posso
te levar em um lugar que eu gosto muito, se você permitir.

Me levanto, confiro a hora e dou meu dia aqui como finalizado.

Guardo as coisas e coloco o celular no bolso da calça, junto com a carteira e


chave do carro.

— Jenni, já estou indo. Precis... — paro de falar quando percebo que ela está
chorando, mas disfarça ao ver que estou perto demais. Me aproximo, por trás
da sua mesa e me agacho, virando sua cadeira para minha frente. —

Ei! O que houve? Sua mãe está bem? Se machucou? — olho todo o seu
corpo, procurando algum machucado.

Ela cai no choro, copiosamente. Eu fico em choque. Jennifer nunca


demonstrou tanto desespero como agora e, fico segundos sem saber o que
fazer, depois me levanto e a puxo para o meu peito, abraçando-a. Ela me

aperta e chora alto, sinto seu corpo pequeno se tremer todo enquanto ela
chora.

Fico em silêncio e deixo que ela chore, aliso suas costas em uma tentativa
patética de consolo, mas mesmo assim, continuo com os movimentos. Quero
saber o que aconteceu, estou pensando no pior, mas não sei como perguntar
e, mesmo sem saber o motivo, meu coração se aperta ao vê-la desse jeito.
Ela costuma ser a alegria ao meu redor por aqui.

— Me ligaram do hospital, minha mãe teve uma piora significativa —


se afasta um pouco para poder falar, levanta o rosto e me olha. Sinto que
agora uma parte do meu coração se despedaçou. Sua maquiagem está toda
borrada e ela funga o nariz, enquanto tenta se controlar. — A cuidadora só
conseguiu me ligar agora, e disse que os médicos precisam que eu vá lá
urgente. Me falou que ela tem poucas chances de sair dessa vez — volta a
chorar quando termina de falar. Sento na beira da mesa e seguro em suas
mãos.

— Jenni, eu sinto tanto... Arrume as suas coisas, eu vou te levar lá!

Faço o que precisar — aperto um pouco as suas mãos, tentando acalmá-la.

Ela tenta parar de chorar e balança a cabeça, negando a minha ajuda.

— Não precisa, Noah! Já estão vindo me buscar — ela funga, solta-se das
minhas mãos e passa a dela embaixo dos olhos, tentando limpar a
maquiagem borrada. — Eu posso sair mais cedo, né? Amanhã estarei aqui
no horário normal, eu juro — sua voz está tão embargada do choro que,
quase não escuto.

Eu já imaginava que ela falaria isso, porque além de amar o seu trabalho, ela
também preza muito pelo seu salário, que custeia tudo da mãe.

Porém, jamais a impossibilitaria de ter esse tempo com sua mãe. Não faria
isso com ela e nem com ninguém.

— Não, Jennifer! Você não precisa vir amanhã. Tome o tempo que precisar,
por favor. Eu consigo me virar sozinho por um tempo, ok? — a puxo para
um abraço novamente, tentando transpassar um pouco de carinho nesse
gesto. Beijo o alto da sua cabeça e afasto meu corpo. — E, se você precisar
de mais tempo, eu contrato alguém temporário. Assim, quando estiver bem,
você volta. O seu emprego estará sempre aqui para você, no momento que
achar melhor.

Ela concorda e olha para alguém atrás de mim, arregala os olhos e depois
vira para o outro lado, limpando o rosto e tentando se ajeitar. Me viro para
ver quem a deixou desconcertada e, me deparo com Jackson. Levanto,
me aproximo e nos cumprimentamos. Provavelmente, ele veio resolver algo
sobre o seu bar com Barbie.

— Acho que Barbie está em uma reunião por chamada de vídeo. Quer
esperar na minha sala? — ele nem me olha, apenas fica encarando Jennifer.

Fico curioso pela forma como a encara.

— Não, amigo. Hoje não estou aqui por isso — dá um tapa em meu ombro,
vai até a mesa de Jennifer, pega a sua bolsa e fala com ela baixinho.

Não consigo sair do lugar, fico observando a proximidade deles e, sinto que
perdi alguma coisa. Ela concorda com o que ele fala, vem até mim, se
despede e me agradece. Faço com que prometa que me dará notícias e me
que me chame se precisar de qualquer coisa, o mínimo que seja.

Jackson se despede com um aceno e a puxa pela mão, indo embora.

Perdi alguma coisa, com certeza perdi.

No aniversário de Kath, lá na Lotus, percebi uma aproximação entre os dois,


mas não parecia nada além de flerte. Entretanto, fiquei ocupado demais
babando na aniversariante, então, posso ter perdido algo além desses flertes.
Depois me preocupo com isso, o foco agora é rezar para que a mãe dela
consiga sair dessa, ou que ela consiga ser forte o suficiente para passar por
essa perda.

Respiro fundo, desconcertado com tudo que aconteceu agora, mesmo que
não há nada que eu possa fazer além do que já fiz, que foi oferecer toda a
ajuda que ela precisar.

Saio do escritório e vou direto para meu carro. Ainda tenho tempo de passar
em casa e tomar um banho antes de buscar Kath e sua mãe, que
aparentemente, virou amiga virtual da minha. Tenho certeza que ela vai
aprontar alguma coisa e, vou aproveitar a oportunidade para levar Kath em
um lugar muito especial para mim.

Isso vai ser, no mínimo, interessante.


Ligo o som e começa a tocar uma das minhas músicas preferidas, Way
Down We Go do Kaleo. Aumento o som e vou curtindo a música pelo
caminho, batendo os dedos no volante no ritmo da música.

Pai diga-me nós recebemos o que merecemos?

Nós recebemos o que merecemos?

E para baixo nós vamos

E para baixo nós vamos

Diga para baixo nós vamos

Para baixo nós vamos

Depois de pouco mais de uma hora, me encontro no estacionamento do


prédio de Kath - que liberou a minha entrada mais cedo - esperando por ela e
sua mãe. Olho os carros ao redor e fico tentando imaginar qual seria o dela,
porque todo os carros aqui são de luxo, como o meu. Estou um tanto curioso
e consigo imaginá-la em qualquer um desses.

No caminho da minha casa para cá, fiquei pensando se deveria comprar algo
para a mãe de Kath, mas então percebi a ideia era péssima, porque poderia
dar a entender alguma intenção. Além disso, deduzi que, com certeza, minha
mãe comprou algo para ela, porque minha mãe é dessas e, às vezes, acabo
pensando igual a ela.

Aproveito enquanto espero por elas e mando uma mensagem para Jenni e
para Jackson, perguntando sobre sua mãe.
Alguém bate no vidro da minha janela e me sobressalto, mas sorrio ao virar
e ver que é Kath, que não consegue me ver porque o vidro é bem escuro;
para variar, ela está linda. Acho que, mesmo se usasse um saco de pão como
roupa, ficaria incrível!

Destravo o carro e saio. Kath deu alguns passos para o lado e sua mãe tomou
seu lugar, ficando próxima a mim. Sorrio e estando a mão para
cumprimentá-la.

— Boa noite, Sra. Ibrahim! Já nos conhecemos antes, não sei se lemb...

— Oh, filho. Claro que me lembro de um homem bonito igual a você

— me interrompe da maneira mais graciosa possível, e rio pela sua resposta.

Pega em minha mão com suas duas mãos e me olha nos olhos. — Inclusive,
não posso deixar de agradecer pelo que está fazendo pela minha filha. Sei
que é seu trabalho e que é muito bem pago para isso, mas, minha Kath
precisava de boas pessoas ao seu redor, e meu coração diz que vocês são
essas pessoas.

Engulo em seco, pois fiquei surpreendido com suas palavras. Levanto meu
olhar e encaro Kath, que está com a cabeça baixa, provavelmente, sem

graça. Passeio com os olhos pelo seu corpo rapidamente, e depois volto a
encarar sua mãe - na qual me olha com um sorriso que chega até os olhos -,
que dá uns tapinhas em minha mão e depois a solta.

Vou até a porta traseira, abro para que a mãe de Kath entre, e quando ela o
faz, digo:

— Não precisa agradecer, Sra. Ibrahim. É um prazer ajudar sua filha como
advogado e, um prazer maior ainda, descobrir uma amiga em uma cliente —
sorrio, tentando transparecer apenas que somos bons amigos. Ela me lança
um olhar, como se soubesse mais do que pensei que sabia e pisca.

Kath está parada na porta do motorista, olhando minha interação com sua
mãe. Me aproximo, repetindo na minha mente que a mãe dela está a
centímetros de nós e, que não seria legal eu ficar flertando com sua filha
bem na cara dela.

— Oi, Kath! — sem saber o que fazer com as mãos, apenas as coloco dentro
do bolso da minha calça jeans. Ficamos nos encarando por alguns segundos
e, ela percorre meu corpo com os olhos, descaradamente.

A mãe dela está aqui, a mãe dela está aqui...

Repito isso algumas vezes, me concentrando para não a beijar.

— Obrigada por nos buscar. Vai me poupar de explicar à minha mãe porque
comprei um carro tão caro, se quase nem uso — ri, se afasta e, antes que eu
consiga abrir a porta do carona, ela já entra.

Também me acomodo e sigo em direção ao restaurante que já conheço muito


bem, porque minha mãe ama e vive lá com suas amigas.

— Então Noah... Kath falou muito bem de você — encaro-a pelo espelho e
sorrio. — Ah, também disse que você é ótimo advogado — rio ao entender a
intenção da mãe dela. Pisco para em sua direção pelo retrovisor e, ela dá
uma risadinha como se tivesse sido pega no flagra. — Você é solteiro, filho?

— Mamãe, por favor. Poderia, ao menos, ser sútil? — Kath vira para trás e
encara a mãe, que ri do constrangimento da filha. Coloco a mão em sua
coxa, no intuito de chamar-lhe a atenção dela, e assim que me olha, eu falo:

— Deixe-a, Kath. Tenho certeza que são apenas curiosidades sem maldade
— tento manter a cara neutra para não me entregar nessa encenação.

— Respondendo: sim, eu sou solteiro. Mas, acredito que sua filha já tenha
falado — mordo o lábio inferior e solto uma risada.

Kath me dá um tapinha de leve no braço e ri também.

O resto do caminho é regado pelas perguntas de sua mãe, disfarçadas

de brincadeiras, e eu adoro. Ela tem o jeito divertido igual a minha mãe,


então, acredito que elas irão se dar muito bem.
Paro em frente ao restaurante, Joana olha encantada para a fachada, se
despede e sai do carro, indo em direção a minha mãe, que espera na área
próximo a porta. Abaixo o vidro da janela de Kath, tiro meu cinto e
aproximo meu rosto da janela, mandando um beijo para minha mãe, que
retribui com dois, um para mim e outro para Kath.

Viro meu rosto para Kath e percebo o quanto estamos próximos.

Desço o olhar até a sua boca e ela morde o lábio inferior. Juro que consigo
sentir o gosto dos seus lábios só de estar tão perto. Ela respira fundo e, eu
decido me afastar, até porque a janela continua aberta, e não preciso olhar
para saber que estamos sendo observados por duas mulheres curiosas. Me
arrumo em meu banco e fecho a janela.

Seguimos até o destino com um papo bem tranquilo e descontraído.

Ao chegarmos, ela vê o nome grande e me olha; parece que muitas coisas


passam em sua cabeça, mas ela me surpreende ao colocar a mão em cima da
minha, sorrindo um sorriso tão bonito, que poderia iluminar a cidade inteira.

— Então, o lugar misterioso é um orfanato? — a empolgação é notável em


sua voz, e fico feliz pela minha decisão de trazê-la aqui.

Simplesmente sem motivo nenhum, vou levar Kathllen para conhecer um


pouco do meu passado.

15

Eu imaginei muitos lugares, milhões de lugares, que Noah poderia me levar


hoje, mas fui totalmente surpreendida. Agora, estou muito curiosa para
conhecer tudo e entender o porquê de ele ter me trazido aqui.
Eu sei que ele e o irmão foram adotados, mas, isso é a única coisa que eu sei
sobre o assunto.

Noah acabou de interfonar e, estamos esperando uma mulher com o nome de


Ana nos atender. Eu não conheço o bairro onde estamos, mas levamos uns
40 minutos para chegar; parece ser um lugar tranquilo. As casas são todas
lindas, mas, nenhuma se compara a essa que iremos entrar. Ela é gigante,
aquele tipo de mansão que a gente acha que só existe em filmes.

Entretanto, ao mesmo tempo parece ser um lugar receptivo, em que as


pessoas se sentem bem, mesmo com toda essa imponência.

Uma senhora baixinha, com todo o cabelo branco, aparece na porta ao longe
e vem andando em nossa direção, mostrando um sorriso tão aberto que é
inevitável sorrir de volta. A forma como olha para Noah é puro amor e,
quando me viro para ele, vejo que está retribuindo o mesmo olhar. Nesse
momento, reparando nele, que está de calça jeans preta e a camisa também
na cor, eu sequer preciso dizer que ele está lindo, porque isso já é uma
constatação.

— Oi, meu bem. Que alegria te ver por aqui — a senhorinha diz ao abrir o
portão e puxar Noah para um abraço apertado. Depois, coloca a mão em seu
rosto e o admira, sorrindo satisfeita com o que vê. — A saúde está ótima,
pelo o que vejo — larga dele assim que me vê, e sou recebida com o mesmo
sorriso que ele. Ela pega em minhas mãos e me olha de cima para baixo. —
Tão linda! Que o senhor a conserve assim — ri, e também me puxa para um
abraço forte. Retribuo de muito bom grado, sorrindo. — Venham, entrem!
As crianças acabaram de jantar e estão na sala de TV. Ficarão loucos quando
verem vocês.

Passamos por ela e entramos. Caminho um pouco a frente dos dois,

encantada com o que vejo. A parte da frente é composta de um jardim


grande com muitos brinquedos infantis, bancos e namoradeiras, além de uma
fonte bonita. A casa tem muitas janelas, é toda branquinha e tem uma
varanda lindíssima. Em cima do batente da porta, está escrito em letras
enormes e iluminadas o nome do orfanato, Open Arms. Ando mais um
pouco, paro próxima a porta, me viro e vejo que Noah e Ana parecem estar
em uma conversa um pouco mais séria, por mais que a senhora esteja
sorrindo de canto a canto.

— Oi, tia. Acabou a pipoca e não acho a tia Ana — me viro na direção da
voz e vejo uma criança que parece ter uns 6 anos. Ela é linda, tem o cabelo
enrolado e bem preto, igual aos seus olhos grandes. Também reparo que tem
uma cicatriz grande no pescoço, que parece ser antiga. Engulo em seco,
sentindo meu estômago embrulhar em imaginar o que essa menina já deve
ter passado.

— Se você me mostrar onde é a cozinha, posso fazer mais pipoca para


vocês. Que tal? — me abaixo, ficando na altura dela. Ela dá uns pulinhos e
comemora ao ouvir a minha resposta. Me sinto tão feliz quanto ela pelo
simples fato de fazer uma pipoca para eles. Levanto e ela pega em minha
mão, me puxando para a cozinha.

— Eu me chamo Camila, mas todo mundo me chama de Mila e, eu prefiro


Mila, então, pode me chamar assim! — vai falando pelo caminho e eu escuto
tudo. Me surpreendo com a parte de dentro do orfanato. A recepção é
simples e acho que a intenção é que não pareça uma recepção. A sala é
enorme, tem sofás grandes, janelas enormes (que devem iluminar todo o
ambiente de dia) e uma parede repleta de fotos de várias crianças, que fiquei
curiosa, irei voltar e ver depois. O corredor que dá para a cozinha é bem
comprido e tem muitas portas. Não consegui ler todas as identificações, mas
vi que tem biblioteca, brinquedoteca e fisioterapia.

— Meu nome é Kathllen, mas todo mundo me chama de Kath e, você


também pode me chamar assim — pisco, e assim que ela para, noto que
chegamos na cozinha. Como a sala, ela também é linda. Tem uma bancada
enorme com vários bancos e muitos armários, além de 3 geladeiras grandes.

Corro os olhos por todo o ambiente e acho uma pipoqueira. Por sorte, tem
um saco de milho fechado ao lado. Não saberia por onde começar a buscar
por esses itens.

— Tia Kath, tem que encher os 5 vasilhão, tá? — acho fofo o erro e
concordo com ela, que faz um esforço para subir na banqueta e se sentar.
Fica
rodando ali e rindo sozinha. Enquanto isso, eu coloco milho e a maquininha
começa a encher as vasilhas lentamente. Me escoro no balcão e fico olhando
Camila.

Qual deve ser a história dessa menina que parece ser tão doce? E, como que
ninguém a adotou ainda?

— Tem muitas crianças aqui além de você? — pergunto, curiosa. Ela para de
rodar e me olha, concorda com a cabeça e faz um movimento com a mão,
fechando e abrindo as pontas dos dedos, mostrando que realmente são
muitas.

— Se quiser, posso falar todos os nomes, mas são muitos! Eu posso falar na
ordem dos mais legais também, fiz uma lista no meu quarto. A gente pode ir
lá pegar e depois brincar — dispara tudo ao mesmo tempo e, eu apenas rio.
Balança as perninhas enquanto olha para a pipoca saindo da máquina.
Depois, me olha, coloca as duas mãos ao redor do rosto e me pergunta
baixinho, como se fosse um segredo: — Você é namorada do tio Noah? Ele
disse que quando tivesse uma namorada, ia me apresentar, então, acho que é
você. Eu vi que ele tava lá fora! — fala toda boba e, eu também fico assim,
com a sensação de que sou alguém importante, mas não quero me agarrar a
esse sentimento.

Penso no que responder, mas vejo Noah aparecer na porta atrás dela e pedir
para que eu faça silêncio, colocando o dedo em frente aos seus lábios.

Viro-me para o lado para não rir, ele se aproxima por trás dela, cutuca cada
lado de sua costela e ela pula em susto, mas logo depois começa a rir. Ele se
empolga e faz várias cocegas nela. Meu coração dá cambalhotas ao assistir
toda essa cena; como ele é carinhoso com ela.

— Que tal a senhorita levar as vasilhas juntos com a tia Ana? Depois, eu e
Kath vamos lá ajudar na fila da escovação e então, cama? — barganha com
ela, disfarçadamente mudando de assunto, o que dá certo, porque na mesma
hora, ela pula da banqueta e faz o que ele sugeriu.

— Mas, tem que ter a dancinha de deitar, tio. Se não, ninguém dorme!
— coloca a mão na cintura, decidida. Rio baixo da sua atitude, a achando
muito inteligente. Ele concorda e aperta a pontinha de seu pequeno nariz.

Camila sai da cozinha com as vasilhas e a Ana.

— Ela é o máximo, né? — sorri para mim, notando o meu encanto pela
menina. Concordo com o que diz. — Está aqui desde que tinha 1 ano. O

padrasto era alcoólatra. Um dia, chegou em casa e começou a brigar com a


mãe dela. Por sorte, um vizinho a ouviu chorar muito alto e invadiu a casa

deles, mas foi tarde demais para sua mãe, que já estava morta. Ele tentava
enforcá-la com o cabo de alguma coisa mas estava tão bêbado que
felizmente não conseguiu nada além de machucar o pescoço dela — sua voz
fraqueja e o sorriso some. Coloco a mão em meu peito e me escoro no
mármore atrás de mim, sentindo uma apunhalada no coração ao ouvir. Me
seguro para não chorar, olhando para outra direção. — Vem comigo, vou te
mostrar o orfanato.

Pisco algumas vezes, engolindo o nó que se formou em minha garganta, vou


para o lado dele e assim seguimos. Ele me mostra os banheiros, que são
todos adaptados para deficientes físicos (como ele explicou), aproveitando
para mostrar a sala de fisioterapia que é muito fofa, com as paredes
compostas pelo tema de safari, com o intuito de levar alguma leveza para as
sessões que não costumam ser fáceis. Noah foi mostrando tudo, empolgado,
e consegui notar que aqui é um lar de verdade para todas essas crianças, elas
têm acesso a tudo nesse lugar. A biblioteca é linda e enorme, tem a sala de
estudos, que é onde as professoras particulares dão aulas a todos. Há sala de
informática, sala de jantar, de tv – que é onde eles estão, então, não fomos
para não acabar atrapalhando –, brinquedoteca e várias outras salas. Nos
andares de cima ficam os quartos; ele falou que iríamos lá depois, com as
crianças.

Seguimos para a sala e paramos em frente a parede que é repleta de fotos, ele
cruza os braços e sorri, olhando cada uma... As de cima são os órfãos mais
antigos, que já não vivem aqui. Tento ver todos os rostos, mas são muitos.
Ele aponta para uma foto e eu sigo a direção do seu dedo.
— Noah, 06 meses — olho em direção a foto e reconheço seus lindos olhos
verdes, mas fico chocada com a foto. Noah parece doente. Por mais que
esteja sorrindo sem os dentinhos e limpo, ele está extremamente magro e
tem uns machucados pelo rosto. Olho para ele, que continua a olhar para a
foto.

— Meus pais biológicos me deixaram nessa rua quando eu tinha seis meses.

Pelo o que descobriram depois, eles eram drogados e tentaram me vender na


rua, mas felizmente, não conseguiram. Não deram sorte, na verdade, porque
dificilmente essas pessoas cruéis que compram crianças, iriam comprar uma
criança desnutrida, quase morrendo de fome, desidratada e com uma anemia
tão forte que nem os médicos sabem como resisti — eu já nem tento mais
disfarçar as lágrimas que caem, e opto por ficar quieta, porque se eu falar,
com certeza, irei chorar mais. Ele passa o dedo na parte inferior da palma da
sua mão, e de longe, consigo ver uma pequena cicatriz. — Para a minha

sorte, Ana já morava aqui e abrigava outras crianças que encontrou em


condições tão ruins quanto a minha.

Ele cruza os dedos de uma mão na outra. Sua respiração está irregular e
consigo sentir a tristeza o rondando. Me aproximo um pouco e coloco a mão
em seu ombro. Imagino que não deve ser fácil contar para alguém sobre um
passado tão triste e, fico me questionando em silêncio porque fui escolhida
para saber dessas coisas.

— Eu sinto tanto por isso, Noah. Não consigo imaginar como deve ter sido
difícil tanto — sussurro com minha voz embargada. Ele se vira para mim e
vejo seus olhos mais verdes ainda, pela umidade das lágrimas. Levo uma
mão em seu rosto e passo o polegar por sua bochecha.

— Já faz muitos anos, e não me recordo de muitas coisas, mas, ainda lembro
como foi morar aqui — fecha os olhos enquanto recebe meus carinhos. —
Na época, aqui era muito humilde, a casa de Ana era a mais simples da rua.
Era um terreno gigantesco com uma pequena casa com dois quartos, um
banheiro, sala e cozinha — ele segura a minha mão e beija as costas dela.
Nossos olhares se encontram por algum tempo. Consigo ver que ele quer
contemplar cada reação minha sobre a sua história.

— Um dia, quando eu tinha 3 anos, estava brincando na rua com os meninos


e, passou um casal em um carro que deixava claro que não era ninguém que
morava aqui por perto. Eles estavam perdidos e com medo de irem para um
caminho perigoso. Ana logo ficou com medo, porque era comum o roubo de
crianças naquela época, e aí, nos colocou para dentro, para depois ajudar o
casal a achar o caminho de volta — um pequeno sorriso aparece em seus
lábios. — Naquela mesma semana, vimos o casal de novo, só que dessa vez,
a mulher trouxe uma travessa enorme de bolo de chocolate para agradecer.
Por mais que Ana ainda estivesse meio receosa, ela confiou em seu coração
e os convidou para entrar. Aquela foi uma atitude que mudou nossas vidas
para sempre, porque o casal era os meus pais.

Abro a boca igual a um meme, em choque. Eu sabia que, em algum


momento, ele chegaria na parte dos seus pais, mas não imaginei que seria de
forma tão natural, como se o universo tivesse conspirado para que,
finalmente, algo bom acontecesse na vida dele.

Ele sorri ao ver minha reação, e fica olhando ao redor.

— Ana contou tudo o que fazia por mim e pelas outras crianças. Eles
acharam incrível o fato de uma mulher com tão pouco, se prestar a ajudar

outras pessoas que tinham menos ainda. Daí, eles começaram a ajudar e, na
época nem tinha nome. Open Arms foi fácil de ser escolhido como nome,
porque a Ana é a pessoa que mais abraça todo mundo; em todos os sentidos
possíveis — fico olhando as outras fotos enquanto ele fala. — Aí, depois de
uma boa obra, custeada pelos meus pais, eles criaram esse primeiro andar,
que antes era dividido de outra maneira. Não tinha tantas alas, nem sala de
fisioterapia, mas, tinha tudo que era necessário para época. Não demorou
muito, eles conseguiram resolver as partes burocráticas e virou o orfanato
Open Arms.

Ele aponta outra foto, e nela, vejo um menino loirinho de olhos claros.

Sorrio, já imaginando quem seja.


— Aquele é meu irmão, o Bryan. Eu fui adotado com 3 anos, quase um ano
antes dele ter sido adotado com 5 — pega novamente em minha mão e leva
em outra parede, que está repleta de fotos também, e eu não tinha reparado
antes. — Eu fui adotado assim que meus pais conheceram o abrigo, e meu
irmão não chegou a ficar nem um mês quando chegou aqui — aponta para
duas fotos, dele e do irmão quando foram adotados, com a aparência bem
melhor e feliz. — Esse mural aqui é de fotos do nosso “renascimento”, como
a Ana fala. Foi o dia que finalmente fomos ganhamos uma família além
dessa que criamos aqui — faz um movimento para que eu o siga e vou
andando atrás dele, ainda absorvendo tudo o que está me contando.

Subimos para o segundo andar, e se eu achei que lá em baixo tinha muitas


portas em um corredor, aqui tem mais ainda. Também noto um elevador, que
deduzo ser para as crianças que não conseguem subir pelas escadas. É
incrível todo esse cuidado e acessibilidade.

— Os dois últimos quartos são da Ana e das outras mulheres que trabalham
aqui. O resto, são das crianças, que são separados por idades, se não me
engano — caminha até uma porta que tem desenhos de anjos e abre com
muito cuidado. Quando entramos, vejo que tem uns 12 berços e, em todos
tem uma criança, exceto o perto da janela que tem duas - pelo visto, são
gêmeos e só conseguem dormir juntos. Encosto no berço e fico olhando os
dois, em um sono tão tranquilo. Em silêncio, peço para que o universo seja
bondoso com eles e que consigam ser adotados pela mesma família, porque
com certeza, será algo irreparável na vida deles, se tiverem que se separar.

Passo a mão bem de levinho pela bochecha gorducha dos dois.

A decoração do quarto é com tema de anjos, como a porta. Tem vários


anjinhos em cima de nuvens. Um abajur, nesse momento, faz o teto

parecer um céu estralado. É perfeito.

Noah se aproxima por trás - já percebi que ele gosta de fazer isso e meu
corpo sempre reage a essa aproximação - e sinto sua respiração próxima
demais. Porém, ele não faz nada, apenas ficamos assim por um tempo, os
dois olhando para as crianças dormindo e a sensação do seu corpo bem
perto, mas não o suficiente.
— Vocês seriam uma belíssima família — Ana fala baixinho, perto de nós.
Só então percebemos que ela está no quarto também. — Desculpa, queridos.
Não queria roubar o momento de vocês — sorri e nos avisa que o filme
acabou e as crianças já estão nos quartos, nos esperando para a tal dança.

Mesmo sem estar encostada em Noah, sinto que seu corpo ficou tenso pelo
comentário da Ana. Isso me deixa curiosa, porque ele é a pessoa mais
família que eu já conheci em minha vida, mas que, ao mesmo tempo, mostra
uma aversão a isso. A curiosidade me consume, mas sinto que já ganhei
muito dele hoje, não vou abusar.

Deixo Noah ali. Parece que ele precisa de um tempo sozinho e saio do
quarto com Ana, que assim que fecha a porta, me puxa para a frente de
outra, mesmo que não a abre. Se vira para mim e fala:

— O nosso Noah é um homem muito bom! Na verdade, ele e toda a sua


família são nossos guardiões, pessoas enviadas de Deus. Assim que Noah foi
adotado, tudo mudou e, ele teve uma boa vida, mas nunca nos deixou.

Mesmo sendo pequeno, sempre pedia para Liz trazê-lo aqui, e como ela
sempre vinha aqui também, era comum vê-lo correndo pelos corredores —

olha por cima dos meus ombros, vigiando a porta onde Noah está. — Você
foi a primeira mulher que ele trouxe aqui e, não sei o que vocês são, mas eu
vi como meu menino olhou para você. Provavelmente, tenha apenas uma
pequena fagulha de algo entre vocês, mas isso pode se tornar algo grande, e
só estou falando isso porque sinto que você é uma pessoa boa, e talvez, eu já
tenha escutado Liz falar uma coisa ou outra de você — sorri, pisca, morde os
lábios como se quisesse guardar algum segredo e, logo depois, fala: — Eu
não sei até que ponto Noah te contou e, não cabe a mim falar sobre o seu
passado, mas você pode ter escutado, sem querer, alguém falando por aqui
que ele é o nosso patrocinador e, com isso, quero dizer que ele custeia 80%

dos gastos. Os outros 20% é custeado por um grupo de pessoas composto


por Liz, Jackson, Bryan, Justin, Scott e Jacob.

Levanto tanto minhas sobrancelhas que tenho a sensação que elas


encostam em meu cabelo. Simplesmente, fico sem palavras e mais curiosa
ainda. Parece que a curiosidade toma conta do meu rosto, pois ela continua:

— Liz e seu marido sempre nos ajudaram. Mas, quando Noah virou esse
homem poderoso e rico, ele quis ajudar mais. Seus pais não queriam deixar
de ajudar, mesmo com Noah já gastando tanto conosco e, seus amigos se
compadeceram há uns 5 anos, quando ele começou a fazer o churrasco anual
do orfanato — coloca a mão no peito e sorri. — Esses churrascos são
esperados o ano inteiro pelas crianças e, por nós também. Espero vê-la por lá
no final de semana — ela para de falar exatamente na hora que Noah sai do
outro quarto e vem ao nosso encontro, olhando de uma para outra,
suspeitando de algo.

— Estava falando com a Kath que adorei o último trabalho dela, as fotos
ficaram incríveis — engasgo em uma risada porque eu não imaginava que
ela sabia quem eu sou. Ela solta uma risadinha, pisca para mim, olha para
Noah e fala: — Uma mulher e tanto! Sortudo será o homem que ganhar esse
coração — encara Noah, deixando clara a sua indireta.

Ele balança a cabeça, incrédulo com o comentário e me olha. Dou de


ombros, como se não estivesse entendendo nada.

Antes de entrarmos no quarto, eles me explicam como funciona essa dança


para dormir e me acabo de rir, já imaginando a cena. Logo depois, entramos,
e as crianças ficam agitadas ao me conhecer. Pelo o que eu entendi, teremos
que fazer essa mesma dança em 4 quartos, com as crianças de 4, 5, 6

e 7 anos. Começaremos no quarto dos de 6 anos, Mila está ali, falando para
todo mundo que eu sou amiga dela. Sorrio, me apaixonando por cada criança
que vejo.
A nova faceta de Noah que estou conhecendo, me surpreende muito, e a
cada vez que observo como ele é com as crianças e com a Ana, meu coração
vai batendo forte e, errando o ritmo das batidas.

Levou um bom tempo mais terminamos, mas agora, todas as crianças em


todos os quartos já estão dormindo. Depois, aproveitamos e tomamos um
café com Ana e as outras mulheres que trabalham aqui. Conheci mais a
história do orfanato e do quanto Noah ajuda, já que mencionaram bastante o
tal homem bondoso que as auxiliam. Elas são uns amores e, é linda a forma
como Ana trata o Noah, como se realmente fosse seu filho.

Nos despedimos logo depois, prometi a Ana que nos veríamos em breve e,
que voltaria aqui para brincar com as crianças; sem dúvida, voltarei.

Todas as crianças são incríveis, até as mais velhas, que são mais tímidas,
também parecem ser ótimas. Aqui, com certeza, poderia virar um dos meus
lugares preferidos. Talvez, vire mesmo!

Olho para trás antes de nos aproximarmos do portão e gravo em meu


coração a sensação boa que senti recebendo tanto carinho das crianças.

Depois, volto a caminhar ao lado de Noah em silêncio. Um silêncio que diz


muita coisa, um silêncio que nos envolve e, me faz querer ouvir mais dessa
paz.

— Noah — seguro em sua mão antes de chegarmos até o portão e, ele se


vira. Suas írises cintilam tão forte que parece que toda luz do mundo está ali,
e eu as admiro, como se nada ao redor importasse mais. — Obrigada por
hoje. Foi tudo muito incrível, muito intenso. Você não precisava me contar
sobre o seu passado, mas, eu estou feliz que tenha feito — largo a sua mão,
olho para trás e suspiro. — Como você consegue? Eu sinto que meu coração
perdeu um pedacinho ao conhecer cada história das crianças que ainda estão
lá. Elas parecem ser tão fortes, felizes...

Seus olhos passeiam por meu rosto, observando cada reação que eu
demonstro. Ele abre a boca, fecha e desiste de falar. Me chama para irmos
para o carro e fico me perguntando se falei algo errado. Mas o sigo e entro.
Olho para fora e continuo fascinada pela imponência dessa casa, aliás, dessa
mansão que se tornou um lar.

— Eu acho que todo o meu coração já virou estilhaços de tantas histórias


cruéis que descobri, de várias crianças que passaram por tragédias e que
ainda estão aí... — ele me olha e pega uma das minhas mãos, começa a
traçar linhas por ela. Eu gosto desse carinho, é diferente e gostoso. Fico
olhando para nossas mãos unidas, e parece que é assim que elas deveriam
ficar, sempre... — Sei que Ana te contou sobre a minha ajuda e tudo bem, eu
contaria em algum momento — sinto seu olhar queimando em meu corpo e
o encaro, mordo o lábio inferior e nem tento descordar, porque ele,
claramente,

conhece aquele doce de mulher.

Nos encaramos por um tempo e todo o clima muda. Fica pesado, quente e,
eu começo a sentir a necessidade de me aproximar dele novamente, mas,
quero deixar que ele fique à vontade para falar mais sobre o que desejar.

— Eu devo tudo a Ana, porque se ela não tivesse me achado... Eu,


simplesmente, não estaria aqui com você — seu olhar se perde enquanto fala
do passado — Com 12 anos, decidi que seria advogado e teria muito
dinheiro, independente do que os meus pais tinham. Eu queria o meu para
ajudar da maneira que achasse melhor. E, consegui atingir essa meta!
Estudei muito, abdiquei de muitas coisas na minha adolescência para ser o
melhor na escola, na faculdade e agora, no trabalho. Enfim, é isso que eu
sou, e esse é o meu maior motivo de acordar cedo e dormir tarde. Quero
sempre ter a possibilidade de dar o melhor para essas crianças, aliviar a dor
de terem sido abandonadas ou algo pior — uma lágrima escorre pelo canto
do seu olho e fico olhando o caminho que ela faz até seu queixo definido.

Minha mão toma a atitude sozinha e, quando percebo, estou passando meu
dedo por seu maxilar, onde a lágrima estava segundos atrás. Ele não fala
nada enquanto faço isso e, nem tenta disfarçar esse momento tão pessoal. A
cada segundo nesse carro, minha mente vai trabalhando e montando o
quebra-cabeça que é esse homem. O resultado final é lindo, é um resultado
que eu quero por perto... que eu quero para mim.
— Noah, você é um homem maravilhoso — eu nem reconheço a minha voz.
Me aproximo um pouco, porque depois da intensidade dessa noite, eu não
consigo mais ficar distante tendo ele tão próximo. — Você é lindo! E, nesse
momento, não estou falando da sua aparência, estou falando de quem você é.
Olha tudo o que você faz, quantas crianças que você conseguiu ajudar e, no
fim, você nem quer créditos por isso. Você é puro amor, mesmo tendo
passado tudo o que passou...

Daqui, consigo ver que suas pupilas dilataram e que ele me encara diferente,
seus olhos se perdem entre os meus e a minha boca. Ficamos extáticos por
um tempo, mas, no momento em que desço o olhar para seus lábios, ele nem
pestaneja ao se aproximar e colar nossas bocas.

Esse beijo é diferente dos outros que já demos. É um beijo calmo, é um beijo
carinhoso, quase como se fosse um agradecimento pelos últimos
acontecimentos e, isso muda alguma coisa em mim, eu sinto... Coloco uma
mão em sua bochecha e fico acariciando essa área. Nossas línguas passeiam
uma pela boca do outro e, ele enfia os dedos por meu cabelo, segurando
firme

minha cabeça, deixando claro a intensão de não querer se afastar agora.

Minha respiração se perde nesse beijo tão calmo e muito intenso ao mesmo
tempo. Quero me agarrar nessa sensação e não soltar mais, porém, nos
afastamos para recuperar o ar e, então, ele encosta a testa na minha, fecha os
olhos e sorri. Eu não consigo fechar meus olhos, o brilho em seu sorriso me
prende. Aproveito a minha mão em sua bochecha e passo a ponta do dedo
pela sua covinha.

— Acho que não falei hoje, mas você está linda e queria te beijar desde a
hora que te vi no estacionamento — me dá alguns selinhos e se afasta, mas
continua me encarando. — E, gostosa! Puta merda, como você é gostosa,
amor — sorri, mas a intensidade que ele põe na última palavra me faz
pressionar uma perna na outra. Não é a primeira vez que ele me chama assim
e, por mim, ele poderia sempre usar esse apelido. Eu gosto.

— Se te conforta, você não é o único entre nós dois que sofre por conta da
gostosura do outro — mais sincera do que isso, impossível. Ele ri e eu o
acompanho. Colocamos o cinto, e ele começa a dirigir. Ligo o rádio e deixo
em qualquer música baixinha, repouso minha mão em sua coxa e a sinto
contrair, mas logo depois, sinto o calor da sua mão sobre a minha.

Como de costume, ele começa a fazer carinhos bem leves.

Uma tristeza me acomete ao perceber que nossa noite está chegando ao fim.
Queria convidá-lo para subir, mas minha mãe já deve ter voltado. Não me
oferecerei para ir para a sua casa, então, acho que terei de dormir sozinha e
com a mente em chamas após essa noite.

Eu queria mais disso.

Eu queria mais dele.

16

Assim que entro em meu apartamento, noto que está tudo escuro e deduzo
que minha mãe ainda não voltou. Tiro meu sapato e o carrego na mão até
meu quarto. Abro a porta, mas paro quando escuto um barulho em um dos
quartos de visita, onde tem uma luz bem fraca saindo pela fresta da porta.

Deixo meu sapato no corredor e caminho sem fazer barulho. Minha mãe
deve ter dormido com a tv ligada e não quero acordá-la. Sei que a viagem foi
longa e cansativa e, ela mal parou desde que chegou.

Travo do lado de fora ao ouvir a voz do meu pai.

— Você deveria ter vergonha, Joana. Ir para longe logo quando tudo isso
está acontecendo conosco — fico um silêncio e me recrimino por ouvir o
que parece ser um vídeo chamada. — É essa vida que quer para você? É por
isso que tomou essa decisão? Quer viver igual a puta da sua filha? Essa
menina nunca me escondeu quem realmente é, e parece que ela puxou a
mãe...

Um bolo se forma em minha garganta e me afasto, indo para meu quarto.

Por mais que eu tente não me magoar com as falas do meu pai, que escuto há
anos, eu não consigo. No fundo, isso me entristece, e por mais que a maior
parte do meu sentimento por ele seja raiva e decepção, uma parte em mim
fica triste por ele ser quem é. Nem eu e, muito menos minha mãe,
merecemos isso. Só que diferente dela, eu não o amo, pois ele nunca foi um
pai amoroso, ou sequer um pai descente; foi fácil deixá-lo para trás.

Infelizmente, ela optou por ficar com ele e, não consegui convencê-la do
contrário.

Suspiro, frustrada com essa situação de merda.

Pego o meu sapato e vou para o meu quarto. Tiro a minha roupa e sigo direto
para o banheiro. Prendo meu cabelo num coque e entro no box. A água
quente em meu corpo me relaxa e, na mesma hora, esqueço do meu pai.

Minha mente me brinda com lembranças de Noah, do nosso beijo de hoje e

como essa noite foi diferente. Eu conheci o passado dele e, de alguma forma,
me sinto privilegiada com essa intimidade. Não sei se ele guarda seu passado
em segredo, mas de qualquer maneira, gostei da possibilidade de ter sido
algo inédito na vida dele. Ao mesmo tempo que gosto dessa possibilidade,
esse pode ser um caminho perigoso para mim.

Eu gosto de Noah como pessoa e, gosto dos momentos que tivemos juntos
como um casal. É notável o quanto ele me deseja, e é 100%

recíproco... O problema nisso tudo é que, eu não sei como não envolver meu
coração quando a relação é tão complexa como a que estamos tendo. Não me
vejo mais sem estar em seu círculo de amizade e, a cada dia que nos vemos,
mais queremos um ao outro. A cada dia, o conheço melhor; ele é um homem
que qualquer mulher poderia se apaixonar, inclusive eu.
Entretanto, não quero isso de novo. Não quero me entregar novamente, viver
algo que eu acredito ser mágico e real, para depois quebrar a minha cara.
Aliás, Noah é o típico homem que não se envolve, e não estou falando isso
por falar. Ele nunca teve um relacionamento sério; pelo o que a mãe dele já
comentou por alto, ela nunca o viu com ninguém, exceto quando ele era
adolescente e ela fingia que não via as meninas indo embora do seu quarto
pela madrugada.

A conclusão que eu tiro de tudo isso, é que meu coração já está envolvido,
senão, eu não estaria preocupada como estou agora. Me resta saber o quanto
eu vou me machucar no fim, porque eu sempre me machuco.

Termino meu banho e pego meu roupão. Na mesma hora que termino de me
vestir, minha mãe bate na porta do meu quarto, eu grito para que ela entre e
aviso que estou no banheiro. Paro em frente ao balcão de mármore, começo
a tirar a maquiagem e cuidar da minha pele.

Sorrio para minha mãe pelo espelho quando ela entra, já com seu costumeiro
pijama de flanela que eu amo.

Ela vai até a banheira e se senta na borda da mesma. Seu olhar me diz tudo
e, eu sei que ela e o meu pai brigaram, mas só irei falar algo se ela tocar no
assunto. Nossas conversas sobre ele nunca são boas e, sempre acabamos
chateadas no final.

— Como foi sua noite? — perguntamos juntas e rimos disso.

Faço sinal para que ela fale primeiro.

— Liz é uma mulher incrível. Ela fez com que eu me sentisse tão à vontade,
que pareceu que somos amigas a vida toda — estica os pés, olhando as
pantufas que comprei para ela e deixei no quarto que será seu por esses

dias. — Acho que conversamos de absolutamente tudo. Ela falou muito dos
filhos e do marido. Ah! E do quanto gosta de decoração. Quando ela me
mostrou fotos de vários lugares que já decorou, pensei que ela trabalhasse
nisso. Até brinquei que poderíamos trabalhar juntas, já que eu sou
apaixonada em paisagismo.
Assim que comecei a ganhar um dinheiro, falei para minha mãe que seria
legal se ela fizesse algo que gostasse, para que pudesse ter seu próprio
negócio no futuro. Então, ela achou um curso de paisagismo e amou. Ela
sempre cuidou muito bem do nosso quintal e ele é um dos mais bonitos da
cidade. Eu paguei tudo que era necessário para que ela completasse seu
curso e, até pensei em fazermos negócios, mas, para variar, meu pai
conseguiu desmotivá-la e hoje o seu certificado fica em uma gaveta
qualquer, pegando poeira.

— A senhora poderia vir morar comigo, se juntar com Liz e juntas


transformar NY em um lugar ainda mais bonito — solto como se fosse uma
brincadeira, para o clima não pesar. Porém, nós duas sabemos o quanto eu
queria que ela morasse comigo.

Ela apenas balança a cabeça e sorri, sem graça.

— Seria um sonho... — fala tão baixo que acho que ela mesma quase não
ouviu.

Me escoro no balcão, ficando de frente para ela.

— Mamãe, está tudo bem lá em Outer Banks? — esse é meu jeito neutro de
perguntar se está tudo bem com ela e meu pai.

Seus olhos me encaram e os vejo umedecerem. Ela se vira para o lado,


fingindo estar olhando a parede verde que é toda de paisagismo que ela
mesma fez. Me aproximo, ficando de joelhos ao lado das suas pernas.

— Ei! O que houve, mãe? O papa...

— Não vamos falar disso, meu bem! Está bom? Eu prometo que quando
resolver o que preciso resolver, te contarei tudo. Não se preocupe comigo —
me corta, logo depois sorri para me confortar e beija a minha testa.

Decido em não insistir e aproveitar o clima agradável que ainda se mantém


entre nós. Me levanto e vou para o quarto. Ela vem logo atrás. Pego a roupa
que joguei no chão e a coloco em um cesto. Entro no closet e visto uma
camisola qualquer. Volto e me sento na cama, chamo minha mãe e, juntas,
deitamos como nos velhos tempos.
— Bem, já sabemos como foi a minha noite — sua voz tem um tom

engraçado, a curiosidade paira ao seu redor. — Como foi com o Noah?

Rio.

Claro que ela não deixaria para lá e me perguntaria.

— Sinceramente? Foi incrível. Não foi um encontro, antes que pense nisso
— viro meu corpo, ficando deitada de lado na cama e de frente para ela.

— Noah me levou no orfanato que morou enquanto era criança e, foi um


passeio em seu passado, muito intenso e diferente — me contenho apenas
nessas informações, porque não acho legal entrar em detalhes sobre uma
história que não é minha.

Mamãe sorri e arqueia as sobrancelhas algumas vezes.

Eu rio da careta que formou.

— Talvez, a gente tenha se beijado e, talvez, essa não tenha sido a primeira
vez — falo e tampo o rosto com as duas mãos. Estou falando do meu
advogado, isso deveria ser errado, né? Minha mãe apenas dá uma risada alta,
aprovando o que eu disse. — Ele é incrível, mãe. Em todos os sentidos

— a provoco.

Ela abana as mãos e fica vermelha.

— Não preciso de tantos detalhes, querida. Não faça isso com a sua pobre
mãe! — gargalho da sua reação. Eu e minha mãe sempre tivemos uma
relação muito boa, sempre fomos muito amigas. Nunca tive problema em
contar nada, inclusive quanto a minha vida intima. — Então, agora vocês são
ficantes? Como isso funciona? Já que ele é seu advogado.

Me viro, deitando com as costas na cama. Coloco as mãos na barriga e olho


para o teto.

Como funciona? Boa pergunta.


— Bem, não falamos sobre isso ainda. Acho que nenhum dos dois tem
coragem de falar e saber a reação do outro. Penso que, se eu perguntar sobre
isso, ele vai imaginar que eu quero algo sério — desabafo e sinto um peso
sair das minhas costas ao falar isso para alguém.

— Mas, você quer algo sério com ele? — pergunta, sucinta.

Abro a boca para responder e percebo que não tenho uma resposta para essa
pergunta. Nossa, o quanto não ter uma resposta é foda. Eu, simplesmente,
deveria falar “não”, mas pensar em responder isso, pareceu errado em minha
cabeça.

— É... não sei, mãe. Tem muita coisa envolvida, sabe? A família dele, os
amigos, todos se tornaram importantes para mim, não quero confundir o fato
de amar as pessoas que o cercam com a questão de querer algo a mais

com ele. E, muito menos, de jogar fora minha relação com todos por conta
de uma tentativa de algo sério com Noah — fico reflexiva sobre as minhas
palavras. — E depois de tudo que eu passei com o Ethan, mamãe, não sei
estou realmente pronta para esquecer o quanto sofri quando entreguei o meu
coração.

— Querida, nós não temos como controlar o que nos acontecerá no futuro. O
que nos resta, é aproveitar cada oportunidade boa que a vida nos dá

— sua voz doce e calma preenche minha mente. — Noah pode ser essa boa
oportunidade.

Minha mãe é uma romântica incorrigível, apesar do casamento falido.

Queria tanto que ela tomasse essas palavras para ela, terminasse com meu
pai e, quem sabe, um homem bom de verdade não aparecesse? Ou,
simplesmente poderia se separar, porque aquele homem afunda a sua vida.

Passo a mão no rosto, inquieta.

— Você está certa, mãe. Como sempre — dou um empurrãozinho nela com
o cotovelo e rimos. — Eu só não quero me jogar de cabeça em algo que
talvez não signifique nada para o Noah, sabe? Só ficamos algumas vezes, é
cedo demais para qualquer coisa. E, novamente, volto ao fato que ele é meu
advogado. Talvez fosse melhor não me envolver mais, pelo menos até
resolver meu caso.

Minha mãe pega em minha mão e a aperta de leve, me confortando.

— Apenas não pense tanto, querida. Deixa as coisas acontecerem e não prive
seu coração dos sentimentos, Ethan não merece tanta importância a ponto de
você ter medo de se entregar de novo — ela fica em silêncio por um tempo,
divagando algo. — Lembre-se, você é a única responsável pelas suas
atitudes e pelo o que fala, então, seja correta e sincera sempre. No final,
essas são as coisas que nos cabem ser, em todas as situações das nossas
vidas. Não podemos controlar isso nas outras pessoas, apenas torcer para que
elas também ajam assim.

Concordo em silêncio, porque depois de ser bombardeada com esses


conselhos, decido que irei deixar as coisas fluírem de forma natural e, não
irei me afobar, porque no final, não depende só de mim.

Depois da conversa de ontem com minha mãe, decidimos ver um filme e,


como sempre, optamos por “Diário de uma paixão”, que é o meu filme
preferido. Quando acordei, ela já não estava mais na cama comigo.

Tomei um café da manhã delicioso, com direito a tudo, que foi feito pela
minha mãe e, agora, estou calçando meu tênis. Decidi que já está na hora de
voltar para a academia E, como eu adoro comer besteiras, preciso manter a
saúde em dia.

Paro em frente ao espelho e confiro todo o meu look. Legging preta com
riscos lilás, top do mesmo lilás, um tênis branquinho e boné preto.
Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e passei pelo furo do boné. Olho ao
redor e procuro meu celular, pego assim que o acho do lado da cama. Volto
para o espelho e faço uma pose legal. Posto no story, mostrando para as
pessoas a minha escolha de roupa e, informando que voltei com tudo, o
famoso “agora vai”.

Pego os fones e os coloco. Passo por minha mãe, que está no sofá vendo tv e
lhe dou um beijo, avisando que volto em 1 hora.

Desço e decido sair pela saída dos fundos do prédio. A academia não é
muito distante daqui e costumo ir correndo. É isso que farei hoje. Coloco em
uma playlist animada e começo a corrida até a academia.

Meu celular começa a vibrar, mas decido responder as notificações mais


tarde.

Corro por mais uns 15 minutos e chego no meu destino.

A academia fica em uma construção de três andares; sim, é apenas da


academia. Eu nunca fui no último andar porque é onde acontecem as aulas
de luta e, não é a minha praia. Costumava malhar por volta das 23 horas,
porque a academia é 24h e, nesse horário, não tinha quase ninguém, o que
era melhor para mim. Hoje, decidi vir cedo e descobrir se funciona para
mim.

Assim que entro, já me encontro com a minha antiga personal, que foi quem
me apresentou à essa academia. Talvez eu a procure novamente, vamos

ver como me viro sozinha primeiro.

Aumento o som da música que estou ouvindo e, decido começar pela esteira.
O caminho até a esteira é longo, evito olhar para os homens pelo caminho,
porque muitos deles parecem que vem para cá apenas atrás de mulher. Eu
não tenho muita paciência, porque é cada barbaridade que já ouvi, que
prefiro deixar a música alta e ignorar qualquer pessoa ao meu redor.

Encontro a parte das esteiras quase vazia e fico satisfeita. Paro em uma,
coloco meu celular no apoio e começo a me alongar.
Pela visão periférica, noto que alguém chegou na esteira ao meu lado direito,
mas não me importo. Porém, quando a esteira do lado esquerdo também é
ocupada, eu estranho, já que tem mais de 20 esteiras além da que estou. Viro
o rosto para a pessoa do lado direito, e me surpreendo quando encontro o
rosto bonito de Jacob, que pisca para mim. Viro rápido para o outro lado e,
Barbie está bebendo água da sua garrafinha.

Tiro os fones e os deixo junto com o celular.

— Parece que conhecer vocês foi um caminho sem volta, né? Onde vocês se
esconderam durante esses anos? — brinco, me referindo ao fato de nos
encontrarmos aleatoriamente aqui.

Jacob ri e começa a sua corrida. Paro alguns segundos e o observo, com a


sensação que ele começará a voar a qualquer momento por conta da
velocidade que corre.

— Não esquenta, na rua é pior. É horrível correr com ele, porque ele vai e
volta duas vezes e eu ainda estou tentando ir a primeira. Amostrado —

ri e começa a sua corrida, que é em uma velocidade mais humanamente


comum.

Tento me controlar, mas é inevitável olhar ao redor à procura de Noah. Esses


três vivem juntos, então, não é nada demais eu deduzir que ele deva estar por
aqui também, certo? Me frusto quando não o vejo em lugar nenhum.

Ligo a esteira e começo a correr. Ignoro Barbie quando ele solta uma
risadinha para mim, porque me viu procurando por seu amigo.

Após 30 minutos, Jacob é o primeiro a parar. Logo em seguida, eu e Barbie


fazemos o mesmo. Jacob seca seu rosto com uma toalha e apoia o braço no
apoio da minha esteira. Olhando meu tempo e os km percorridos.

— Você é boa nisso, Kath — a voz de Jacob é sempre séria e muito grossa,
mas eu percebo que a cada dia, ele se mostra mais doce e próximo a mim.
Adoro nossa proximidade, ele é um cara incrível. — E, se quer saber,
Noah não treina nessa academia. Na verdade, ele só treina na dele e,
normalmente, vamos para lá também, mas está em obra e ele preferiu nadar

— ruborizo um pouco, ao constatar que ele também notou que eu procurava


por Noah. — Mas, algo me diz que, quando a foto que Barbie acabou de tirar
de nós dois, chegar em Noah, ele “do nada” vai achar que deve malhar aqui
enquanto a dele não está pronta — tira zarro do amigo e eu rio. Meu ego
nesse momento está nas alturas.

Barbie ri de algo e olhamos para ele, que parece muito divertido com algo.

— Jacob tem razão! Noah com certeza virá mais vezes aqui — coloca o
celular no bolso e pisca para mim. Jacob diz que vai ao banheiro e sai.

Volto a minha atenção para Barbie e noto um chupão em seu pescoço.

Me aproximo e passo o dedo por cima. Ele reclama pelo provável incômodo
que sentiu com meu contato.

— Alguém se empolgou ou quis marcar território. Qual das duas opções? —


ele bufa e passa a mão no cabelo, que agora está molhado de suor.

— A pior opção. A segunda — rio. A fama de Barbie é bem conhecida


mesmo. Logo que a mídia ficou sabendo que somos amigos, recebi alguns
relatos de algumas mulheres que já ficaram com ele, me alertando que o
homem é um Deus na cama, mas que é um canalha fora dela. Não tenho esse
tipo de interesse nele, mas foi engraçado saber.

— Eu tenho uma pomada ótima para isso, se quiser passar lá em casa


quando for embora, te dou um pouco.

Um sorriso malicioso toma conta de sua cara e lanço o dedo feio para ele.
Furto sua garrafinha e bebo a água que tem ali, esqueci a minha em casa.

Depois, a devolvo.

Barbie e Jacob me chamam para malharmos juntos e eu topo; essa decisão


foi incrível, porque nunca foi tão legal malhar como hoje. Barbie implica
com Jacob o tempo todo e, ele sempre parece irritado, mas dá para saber que
é de proposito, para incentivar Barbie a continuar. Por conta das minhas
risadas altas demais, chamamos mais atenção do que o necessário e, não
duvido nada que vai aparecer alguma nota em algum Instagram de fofoca
sobre isso. Alertei-os sobre isso, mas não se incomodaram e falaram que eles
têm que se acostumar, já que sua nova amiga é famosa.

Mais uma vez, fico feliz por tê-los por perto.

Quando terminamos, eles insistiram que me deixariam em casa. Eu aceitei,


já que o treino foi pesadíssimo e eu estou morta; Barbie não brinca

em serviço quando o assunto é treino e, é ele quem cuida dos treinos e


alimentação dos meninos. Achei fofo.

Eles vieram de carro, porque moram um pouco mais longe do que eu, e
aparentemente, vão direto para empresa. Deve ser, no mínimo, interessante
eles entrarem desse jeito, já que estão sempre impecáveis em seus ternos
perfeitos.

Passo correndo pela recepção e vou em casa em tempo recorder pegar a


pomada e entrego a Barbie, depois me despeço e sigo para a recepção, com o
intuito de conferir se tenho alguma correspondência. Vou cantarolando uma
música qualquer, caminho até o porteiro, que é um rapaz novo. Ainda está
conhecendo todos e como tudo funciona, então, vira e mexe alguma
correspondência não chega até o meu apartamento.

— Kathllen? — meu corpo trava e minha respiração acelera ao escutar meu


nome, pois reconheci a voz no mesmo momento em que escutei.

Eu tô delirando, eu tô delirando...

— Amor, por favor...

Eu não tô delirando.

A cólera toma conta do meu corpo e caminho até ele, parando a centímetros
de distância. Meus olhos ardem de raiva ao encará-lo. Ethan continua lindo,
os olhos pelos que me apaixonei perdidamente agora me encaram, mas, tem
algo diferente na forma como me olha.
— Eu não sou seu amor, Ethan. Eu não sou nada sua e, eu não tenho o
menor interesse em ser. E, por que diabos você está aqui? — quase espumo
de raiva enquanto falo e olho desesperada para fora, vendo se tem alguém
nos observando. Não vejo ninguém.

Seus olhos se arregalam, em choque. Eu sempre fui muito amável e


simpática com ele, na verdade, sou assim com todo mundo. Porém, eu tenho
meus limites, e com certeza, ser abandonada próximo do dia do meu
casamento, sem ao menos saber o porquê, é o maior dos meus limites.

Ele abaixa o olhar e coça a nuca, visivelmente sem saber como agir depois
da minha reação e eu aperto as unhas na palma da mão, tentando conter a
raiva.

— A gente precisa conversar, am... Kathllen — franzo tanto meu cenho


quando o escuto falar, que acho que as minhas sobrancelhas viraram uma só.
— Por favor, é importante.

Fico uns segundos em silêncio, sem acreditar na coragem dele de vir aqui e
pedir isso como se fossemos amigos.

Cara de pau.

— A gente precisa conversar? É importante? — repito. — Engraçado,


quando eu fiquei sabendo pela porra dos jornalistas que tinha levado um
fora, não teve essa de conversar, não teve essa de importante. Não teve
caralho nenhum, Ethan — quase grito. — Ah! Minto, teve sim. Teve um
oficial de justiça me entregando um documento em que VOCÊ declarava
estar sendo acuado por mim e, por isso, eu estava proibida de falar com
você, de me aproximar. VOCÊ SE LEMBRA, ETHAN? — chego tão perto
que ele fica vesgo ao me encarar. — SAI. DAQUI. AGORA. PORRA.

Meu corpo treme de raiva e, os olhos dele se enchem de lágrimas.

Espero que isso tenha algum efeito sob mim, mas, absolutamente nada
acontece. Me afasto, e ele não limpa as poucas lágrimas que escorrem pelos
seus olhos; mais uma vez, não me sinto comovida.
Cruzo os braços e percebo meu coração ainda acelerado, sinto toda a
adrenalina da raiva percorrendo cada pedacinho do meu corpo. Bato o pé no
chão freneticamente, esperando que ele saia.

— Kathllen, se você me der uma mínima chance de falar, eu vou me explicar


— abro a boca para retrucar, mas ele me pausa. — Nada justifica o que eu
fiz, mas, naquela época, eu pensei que era a melhor decisão para nós dois,
amor. Acredite em mim, ou pelo menos, me dê a chance de contar o que
você nunca soube — rolo os olhos ao ouvi-lo me chamar de amor
novamente.

— Por favor. Eu juro que depois, nunca mais te procuro, nunca mais me
verá.

Eu só preciso que você me escute, eu preciso me explicar... Eu preciso me


desculpar!

E, é nesse momento, que o lado da minha mãe fala mais alto em meu corpo,
o lado justo e também curioso. Não tenho a pretensão de perdoá-lo, mas sei
que mereço uma explicação. Preciso de um desfecho para essa história, que
ainda vive em meus pensamentos, que ainda me machuca.

O encaro, séria.

— Ok, Ethan! Você me convenceu, porque EU mereço saber o porquê da


minha vida ter virado de pernas para o ar. Mereço saber porque o conto de
fadas que eu acreditava viver, me foi tirado da noite do dia. E, é apenas por
isso, que fique claro, que aceitarei te ouvir. Mas, não hoje! Tenho
compromissos e não vou perder meu tempo me chateando com você, não
mais do que já estou.

Sei que as minhas palavras duras e meu jeito ignorante o magoam, eu ainda
o conheço. Porém, não me importo, não depois de tudo.

— Podemos jantar na segunda? Tem um restaurante novo de comida italiana


e, eu sei que você ama — fala com tanto cuidado, que desisto de ser
ignorante com ele. Já que aceitei encontrá-lo, não vou ficar gastando minhas
energias brigando.
— Que seja, qualquer lugar está bom para mim. Só procure por uma mesa
mais reservada e, se o lugar estiver cheio, ou tiver um repórter que seja, vou
embora na mesma hora e você nunca mais vai se aproximar de mim, Ethan
— pontuo. — Como você já tem o meu número e, não me deixa esquecer
disso um dia sequer, pois vive me perturbando, me mande uma mensagem
falando o lugar e horário. Eu te encontrarei lá.

Ele concorda e dá uns passos em minha direção. Na mesma hora, recuo. Não
é porque aceitei conversar, diferente dele, que não me deu essa oportunidade
anos atrás, que agora seremos amigos fofos e simpáticos que se
cumprimentam. Ele está abusando da minha boa vontade. Ethan não conhece
esse meu lado, ele não sabe no que me transformei para ele, por conta dele
mesmo, mas, deixarei muito claro nesse bendito jantar.

Me viro e sigo em direção ao elevador, sem me despedir. Encaro o porteiro


novo, que está boquiaberto. Ele é novo, então, irei relevar esse erro, porque
para Ethan entrar, o porteiro teve que abrir. Preciso ter uma boa conversa
com ele depois.

Meu celular ascende na minha mão quando estou no elevador, vejo a barra
de notificação e aparece que Ethan T. Smith começou a me seguir nesse
exato momento.

Aperto o celular em minha mão e conto até dez.

Abusado. Ethan é abusado. Espero que ele não confunda as coisas. O

nosso tempo já foi, meus sentimentos por ele viraram pó depois de muito
sofrimento e, só aceitei porque quero virar essa página da minha vida de vez.

E, é isso que irei fazer.

17
Minha sexta-feira foi uma loucura, correria total. Decidi não ir à empresa
para poder deixar tudo perfeito para hoje. O único dia que falto na empresa,
é o dia que antecede ao churrasco do orfanato.

Hoje será o quinto churrasco da Open Arms que faço. Na primeira vez, fiz
com o intuito de alegrar as crianças com algo diferente. Sempre tem eventos
no local, como o dia das crianças, halloween, natal... Fora todos os
aniversários que nunca passam em branco. Entretanto, na época que tive a
ideia do churrasco, lembro que meu intuito de fazer foi para que as crianças
saíssem um pouco de lá, e deu muito certo. O primeiro foi na casa dos meus
pais, porque eu ainda não tinha a minha casa, mas, todos os outros foram
aqui.

Está tudo organizado. Bebidas, comida, vários brinquedos alugados, uma


banda infantil e recreadores para entreter todas essas crianças, que ficarão
loucas; além disso, com os recreadores aqui, podemos aproveitar também,
sem nos preocuparmos muito, porque sabemos que há outras pessoas
cuidando delas. Na piscina tem alguns salva-vidas, pois ela é funda e, em
algum momento, uma ou outra criança que não sabe nadar, acaba fazendo
besteira, por mais que elas não fiquem muito por lá. Cuidado nunca é
demais.

Eu sempre planejo perfeitamente todos os detalhes, para que dê tudo certo e


seja um ótimo dia.

No primeiro churrasco, meu irmão levou uns amigos que acharam tudo
muito bacana e, eles decidiram fazer doações todo ano. Eu vi potencial
nisso, e a cada festa, chamo um grupo pequeno de pessoas que, talvez,
possam se interessar em doar anualmente para ajudar o orfanato.

Já conseguimos muito dinheiro com isso e, boa parte dele vai para gastos
emergenciais; o restante, é gerenciado para melhorias e manutenção da casa,
que acaba gastando bastante dinheiro por ser uma casa grande e, pelas
crianças que sempre fazem alguma “merdinha” pela propriedade.

— Querido, está tudo lindo! A cada ano que passa, você se supera —

minha mãe aparece ao meu lado, admirando tudo.


Realmente, está incrível. Há muitas decorações no estilo de festa na praia. A
empresa que contratei, até colocou uma parte do jardim com areia, e ficou
foda. Os brinquedos ocupam boa parte do espaço, mas sei que todos serão
muito bem aproveitados.

— Ficou, né? — concordo, satisfeito com o trabalho. — Oi, mamãe!

A senhora está linda — puxo-a para um abraço bem apertado e dou um beijo
no alto de sua cabeça. — Dona Ana deve estar chegando. O rapaz do ônibus
me mandou mensagem há uns 20 minutos, falando que já tinham saído.

Ela se afasta e concorda. Pega seu celular e me mostra uma foto. É

uma selfie tirada por uma das meninas que trabalham com Ana, mostrando
nitidamente o ônibus lotado.

— Ana está louca com as crianças. Elas ficam muito agitadas por conta do
churrasco! Ontem eu passei lá, para a ajudar um pouco. Comprei biquinis,
maiôs e sungas para todos. Eles amaram, e no final, rolou até um desfile. Foi
hilário — claro que minha mãe faria algo do tipo, e fico feliz. As crianças
merecem isso e muito mais.

— Imagino, mamãe! — olho ao redor, conferindo mais uma vez se está tudo
certo. — Eu vou lá no quarto pôr uma sunga e trocar a bermuda.

Você recebe as pessoas que forem chegando? Não chamei muita gente. Além
dos oito possíveis doadores, só virão os de sempre... E, Kath com a mãe.

Minha mãe abre um sorriso enorme ao me ouvir falar de Kath e sua mãe.

— Elas estão vindo já! Joana disse que Kath estava nervosa, decidindo qual
biquíni colocar. Queria ficar bem linda... Como se fosse possível ficar mais
bonita do que já é — divaga, empolgada pelas novas amizades. — Porém, eu
a entendo. Quando comecei sair com seu pai ficava muito nervosa. E ainda
fico, depois de todos esses anos.

Amo a relação dos meus pais. Queria que todos pudessem ter isso um dia. O
olhar da minha mãe sempre muda quando fala do meu pai e, é notável
quanto amor tem entre eles.
— Concordo, mãe. Não tem como Kath ficar mais linda do que já é

— falo baixo e pisco. Ela ri e morde o lábio inferior de tanta empolgação


pelo meu comentário concordar com o dela. Tenho certeza que se esforçou
muito para não comentar mais sobre isso.

Já desisti de esconder da minha mãe o que está acontecendo, seja lá o que for
que estou tendo com Kath. Na quinta-feira, depois que saí do orfanato

com ela, Ana mandou muitas mensagens para a minha mãe e, as duas já
estão, provavelmente, idealizando meu casamento com ela. Claro que a
minha mãe não deixaria de falar comigo sobre eu ter levado Kath lá, e foi
exatamente o que fez.

Não sou de contar o meu passado para as pessoas. Não tenho vergonha de
ser adotado e, essa é a única coisa que conto para as pessoas que não são da
familia, mas para Kath, eu senti a necessidade de mostrar quem eu realmente
sou, mostrar as minhas origens. E, minha mãe ficou chocada com a minha
atitude, chegando a me perguntar se está rolando algo além do beijo da festa,
que ela já sabia; fui sincero. Falei que ficamos outras vezes e, que se
dependesse de mim, ficaríamos de novo. Porém, que era apenas isso.

Para a minha surpresa, dona Elizabeth se deu por convencida e não falou
mais nada, apenas disse “que bom” e finalizou o assunto.

Sei que tem coisa aí.

Entro e subo para o meu quarto. Eu já havia tomado banho e deixado minha
roupa separada, mas, tive que atender o pessoal do buffet e acabei por não
me trocar.

Rapidamente, troco a roupa, vou no closet e abro uma das gavetas que
contém meus relógios. Escolho um mais simples, todo preto, e coloco.

Depois, pego óculos de sol e calço um chinelo branco. Opto por ficar sem
camisa, já que está sol e, em algum momento, todos ficarão mais à vontade.

Desço as escadas, mas paro na porta que dá para lá fora. Kath e sua mãe
chegaram. Nesse momento, as três estão juntas conversando, rindo como se
fossem amigas de muitos anos. Assim como minha mãe, dona Joana está
com uma saída de praia longa e florida, além de um chapéu bonito, muito
elegante.

Quanto à Kathllen, bem... Kathllen está incrível.

Ela está com um biquini bege brilhoso, e uma saia de crochê da mesma cor.

Tento fazer com que meu coração volte a bater.

Não estou conseguindo.

Ela está rindo de algo que minha mãe falou; seu sorriso é a coisa mais linda
que já vi, tenho certeza que não me incomodaria de olhá-lo o dia todo.

Esses pensamentos têm acabado comigo, porque não era para ser assim. Eu
não deveria querer tê-la por perto o tempo inteiro, muito menos querer beijá-
la na frente de todo mundo, como se fosse um homem das cavernas
marcando meu território.

Isso é errado.

Eu não sou assim.

Continuo encarando-a, até que ela finamente olha em minha direção e sorri.
Fala algo para nossas mães e anda em minha direção. Claro que os dois
cupidos não disfarçam ao se virarem para ver qual vai ser a nossa dinâmica.

Eu não consigo parar de sorrir enquanto vejo Kath desfilar até mim.

É uma pequena tortura.

— Dr. Cooper! — seus olhos percorrem meu corpo descaradamente e ela


morde o canto do lábio inferior. Sorrio, aprovando seu olhar sobre mim.

Ela termina de subir os degraus até onde estou e para perto, mas não o tanto
que eu queria. — Você está ótimo! — seu olhar se volta para o meu rosto e
um sorriso malicioso toma conta de meus lábios.
— Srta. Ibrahim! — provoco-a de volta. Me aproximo um pouco mais,
abaixo meu rosto até minha boca ficar próxima ao ouvido dela — Você está
incrível, amor — já percebi que Kath gosta quando a chamo assim e, faço
uma nota mental para que eu a chame desse jeito mais vezes.

Minha mão, que parece ter vida própria, segura em sua cintura fina e
delicada, aperto a pele nua de leve. Subo um pouco o rosto e beijo sua
bochecha, me controlando para não avançar para sua boca. Sei que tem dois
pares de olhos bem curiosos em cima de nós e, contra a minha vontade, me
afasto novamente.

Ela me olha com curiosidade, então, novamente a observo.

Além do biquini que fará com que eu tenha um ataque cardíaco ainda hoje,
ela está usando óculos de sol claros e um cordão bem estilo praiano.

Seu cabelo está solto e, eu o adoro assim, porque é muito bonito e realça
ainda mais a beleza exuberante dessa mulher.

A safada nota que estou observando cada detalhe do seu corpo e dá uma
voltinha lenta, colocando a mão na cintura e gargalhando ao ver que mordi o
lábio inferior, babando nesse corpo que tanto desejo novamente.

Antes que eu possa falar qualquer coisa, ouvimos vários gritos e risadas
infantis. É inevitável, sorrimos junto ao ver as crianças entrando correndo,
animadas e, sem saber o que fazer primeiro com tantas opções à disposição
delas.

— Vem comigo! — passo por ela e pego em sua mão, sem querer.

Naturalmente, entrelaçamos nossos dedos e, eu gosto do aperto leve que esse


contato faz. A energia que sinto a cada contato nosso é algo que me assusta;
queria muito saber se ela também sente, mas ao virar o rosto para trás, e

encontrá-la encarando nossas mãos, entendo que é algo mútuo.

Passamos por nossas mães, que nos encaram como se estivessem vendo todo
um futuro para nós dois. Decidimos ignorá-las. Paro próximo da piscina,
onde tem uma mesa com vários colares de flores. Kath me encara sem
entender.

— O churrasco tem uma tradição — pego alguns colares e dou a ela, que
pega mesmo sem saber o que terá que fazer. — Toda criança recebe um colar
e, no final, terá uma caça ao tesouro — mostro um pingente simples que
cada colar tem, porém, um é diferente do outro. — Assim que todas elas,
unidas, descobrirem onde está o tesouro, cada uma abrirá o baú que
corresponde ao símbolo que tem nesse pingente; nele, terá uma surpresa —

eu adoro fazer esse tipo de brincadeira e parece que as crianças também


amam, porque já estão fazendo fila para pegar seus colares. — A única coisa
que não pode acontecer, é perder o colar, pois perde o tesouro!

— Em uma brincadeira, você ensina as crianças que, independentemente, de


onde estejam, elas têm que ter cuidado com seus pertences — conclui, e eu
concordo. Ela abre um sorriso tão enorme que parece até que ganhará um
tesouro também. — Isso é incrível, Noah. Você é muito criativo!

Dividimos a fila em duas e começamos a colocar os colares nas crianças, que


adoram rever Kath. Ela parece adorar também, já que abaixa e dá um beijo
em cada uma delas. Até as crianças da minha fila passam por ela e pedem
um beijo. É hilário e muito fofo.

Terminamos de entregar para todas as crianças e ela olha ao redor,


admirando tudo, curiosa com cada coisa que tem por aqui. Pega o celular e
abre na câmera, começando a gravar, porém, algo a imobiliza. Segura o
celular no peito e se vira para mim. A insegurança em seu olhar me pega de
surpresa.

— Tem problema se eu gravar e postar? Isso poderia ajudar vocês de alguma


forma. Poderíamos fazer um Instagram para a Open Arms. Nele,
contaríamos a história do orfanato. As pessoas iriam conhecer e,
provavelmente, apareceriam pessoas interessadas em fazer doações, além de
o mais importante: adotar um desses anjinhos — fala tudo de uma vez e fico
confuso. — Eu tenho pensando nisso desde quinta. Se você não se
incomodar, posso fazer isso, cuido de tudo e você não precisa se preocupar.
Prometo não envolver você, que tal? — seus olhos parecem do gato de um
famoso desenho. Eu deveria falar não, porque é a mídia e, eu odeio, mas...

acho que isso pode dar certo!

Seria mais um motivo para vê-la.

— Vamos fazer assim. Você grava, tira as fotos que quiser aqui hoje e,
guarda em seu celular. Essa semana, você janta comigo e conversamos sobre
isso. O que acha? — sim, eu acabei de jogar bem baixo para conseguir sair
com ela. Era para ser um convite discreto, mas, algo me diz que ela entendeu
assim que as palavras saíram da minha boca.

Seus olhos se arregalam em ânimo e só falta ela dar pulinhos. Se aproxima


rápido e me dá um beijo casto no canto dos lábios. Eu respiro fundo e
mantenho minhas mãos ao lado do meu corpo, para não a agarra-la.

— Combinado, Noah — pisca e, antes de se afastar, fala: — Eu teria


aceitado o jantar de qualquer maneira, para que fique claro — se vira e vai
em direção a um dos brinquedos onde algumas crianças estão. Eu tento,
tento muito, mas não consigo deixar de olhar pra sua bunda bonita nessa
sainha.

— Acho que um mergulho resolve — escuto a voz de Barbie e olho para o


lado onde ele está. Ele também olha para onde Kath foi, mas a diferença
entre os nossos olhares para ela é algo gritante. Enquanto ele olha com
carinho e admiração de um irmão, eu a olho com desejo e desespero.

Bufo, passo a mão em meu rosto e aceito a cerveja que ele empurra em
minha direção. — Ela se dá bem com as crianças também... Estava tentando
procurar algum defeito nela e te ajudar a ignorar a sua vontade de ceder a
essa mulher, mas não tem como, amigo. Apenas aceite que ela é incrível e
você está sendo enlaçado pelo encanto da nossa blogueirinha.

Viro um gole enorme da cerveja, esperando que refresque um pouco o meu


corpo. Entretanto, o calor que sinto é diferente, então, não surge nenhum
efeito. Viro-me para outra direção. Preciso desviar o meu foco de Kathllen,
porque meu corpo deseja tanto o dela, que é quase doloroso.
— Isso tudo é uma merda, Barbie. Eu sou um cara de quase 30 anos que não
está sabendo lidar com uma mulher gostosa. Onde já se viu isso? —

não sei o que pensar do estado que fico quando ela está por perto.

— O seu problema pode não ser por Kath ser uma mulher gostosa, bebê. Já
pensou nisso? — a voz de Jacob ecoa por nós. Ele está próximo da
espreguiçadeira, tirando a camisa e o chinelo. Olho a piscina que está vazia,
tem apenas as boias grandes em formatos de animais. No orfanato tem
piscina, então, acaba que as crianças preferem aproveitar os outros
brinquedos, que não são coisas que estão sempre à disposição. — Você sabia
que as pessoas... se apaixonam? — fala baixinho, como se estivesse
contando

um segredo de Estado. Depois, ri da minha cara e mergulha.

Reviro os olhos.

Que exagero! Não estou apaixonado por ela, apenas preciso mais de seu
corpo e, essa obsessão passará. Tenho certeza disso.

— Claro, estou apaixonado. Morrendo de amores. Meu coração dá


cambalhotas e tem borboletas em meu estômago — falo brincando, mas
disfarço ao perceber que, de fato, meu coração dá cambalhotas e sinto
borboletas no estômago quando ela está por perto.

Barbie fica me encarando com um sorrisinho de canto no rosto. Me


surpreendo quando ele apenas balança a cabeça e não fala nada sobre o meu
comentário.

— Vou lá ajudar a Kath antes que as crianças acabem com ela — diz e sai
em direção a ela. Bebo mais um pouco da minha cerveja, mas quase cuspo
de volta quando vejo uma pessoa que não foi convidada e, que claramente,
não deveria estar aqui. Sinto meu corpo ficar tenso e vou andando em
direção a ela.

Samantha está conversando com algumas pessoas e, uma delas é a mãe de


Kath. Eu já imagino o estrago que isso pode se tornar, então, terei que dar
um jeito de delicadamente tirá-la daqui.
— Posso falar com você? — pergunto antes mesmo que ela me veja, mas,
mantenho o tom de voz tranquilo; cumprimento algumas pessoas que ainda
não tinha falado antes. Sam olha e arregala seus olhos azuis ao me ver,
depois pede licença e me segue.

Ando até um canto próximo de onde fica a academia, que está fechada por
conta das obras. Olho ao redor e vejo que não tem ninguém e volto minha
atenção para ela, sentindo meu corpo incomodado com sua aproximação.

Samantha e eu não nos vemos há algum tempo, mas por ela, estaríamos nos
encontrando até hoje. A última vez que ficamos foi no aniversário de Kath.
E sim, eu sei que foi uma atitude muito errada da minha parte procurá-la
para transar quando estava com outra em minha cabeça.

Porém, ela havia mandado mensagem, falando que estava sozinha e


entediada em plena madrugada de sábado. Acabei juntando o útil ao
agradável, e prometi a mim mesmo que não me envolveria mais com ela,
porque o combinado que tínhamos, já estava saindo pela culatra, com ela
começando a me cobrar mais atenção e presença.

Inclusive, ela não aceitou bem o fato de eu ter falado que não queria mais
nada. Tentei ser o mais gentil, mas ela não colaborou muito e, me

assustou falando que eu fui um canalha, que só a usei para sexo. Fiquei
realmente confuso, já que ambos tínhamos combinado que seria só isso.

Então, vi que fiz o certo em me afastar antes que tivesse problemas com ela.

Agora, não tenho noção do que ela está fazendo aqui.

— O que você está fazendo aqui, Samantha? — vou direto ao ponto.

Ela estala a língua e passa a mão pelo meu maxilar, tentando ser sexy.

Seguro em sua mão sem força, mas firme o suficiente para que ela entenda
que não estou de brincadeira, e desencosto do meu rosto. Ela bufa e fica
séria, mostrando irritação no olhar.

— Eu vim com o Bryan. Que feliz coincidência ele ser seu irmão!
Parece que ambos têm o mesmo gosto para mulheres — me provoca e posso
sentir daqui seu veneno. O que aconteceu com a Samantha divertida e livre
que conheci? Quem é essa pessoa na minha frente? — Oh, querido, tá
chocado? Você não é o único homem interessante e gostoso de NY. Supera!

Ri, cínica. Vejo em seu olhar e em sua forma de falar que as suas intenções
são as piores possíveis. Algo me diz que não foi acidentalmente que ela
conheceu o meu irmão.

E por falar nele...

— Estava procurando você, linda — chega por trás dela, abraçando-a.

A feição dela muda na hora, se tornando uma mulher simpática e tímida.

Balanço a cabeça, incrédulo. Não consigo deixar de encará-la. — Vocês já se


conhecem? — olho para o meu irmão, pensando no que dizer.

Ele está com aquele olhar de sempre quando conhece uma mulher e acredita
que ela será a mulher de sua vida. Abro a boca para responder, mas sou
interrompido.

— Sim! O Noah ficou com uma amiga minha há um tempo, mas depois,
simplesmente decidiu descartá-la como lixo — fecho os olhos e peço ajuda
ao universo para não me estressar e acabar estragando o clima da festa.

Meu irmão me encara, esperando alguma resposta.

Decido deixar para falar com ele depois e saio, sem responder a provocação
dela.

Procuro alguma pessoa que possa me salvar, preciso contar para alguém
antes que isso dê numa merda maior e sobre para mim. Como um anjo,
minha mãe aparece na minha frente.

— Filho, parece que viu um fantasma. Está tudo bem? — coloca as costas da
mão na minha testa e meu pescoço, vendo se estou com febre. É

impossível não rir, acho que independentemente da idade que tiver, ela
sempre irá me tratar como se eu ainda fosse uma criança.

Caminho com minha mãe para perto da mesa onde há uma moça fazendo
desenho na pele das crianças e vou contando absolutamente tudo sobre
Samantha. Minha mãe é minha melhor amiga e, tenho certeza que ela ficará
de olho em Sam, porque não estou confiando nessa história que ela está aqui
por conta de uma infeliz coincidência.

— Inacreditável como seu irmão tem dedo podre para mulher, pobrezinho!
— ela olha na direção dele, que está sentando com ela em seu colo. De
longe, parecem duas pessoas que se gostam, mas o olhar de Sam sobre mim
é a prova de que estou certo e, que ela está tramando alguma coisa. — E,
você também não escolheu a melhor opção para se divertir, querido.
Conheço o olhar de uma mulher furiosa e maldosa, e é exatamente isso que
vejo nessa menina. Ficarei de olho, ela não cantará de galo aqui —

faz um carinho em meu braço e se afasta, indo de encontro a sua nova


melhor amiga, a dona Joana.

As crianças acabaram de almoçar em uma mesa enorme, que foi montada só


para elas com várias comidas gostosas que sei que agradam o paladar infantil
delas. Nesse momento, estão sentadas na parte onde colocaram areia de praia
e que está rolando um teatro planejado pelos recreadores para esse descanso
pós almoço. Achei a ideia incrível.

Tive que me esquivar várias vezes quando meu irmão chegava perto de mim
com a Samantha. Jacob percebeu que tinha algo estranho acontecendo e
contei para ele, que se lembrou dela na Lotus. Então, estou contando com a
ajuda dele também para me livrar desse possível problema.
Me sinto em um campo minado em que não fiz absolutamente nada de
errado, porém, parece que a qualquer momento, uma bomba irá estourar em
mim.

Termino de comer umas carnes do churrasco que havia colocado em um


prato para mim. Como estou tomando cerveja, decidi beliscar algumas coisas
para não ficar cheio. Jogo o prato descartável no lixo apropriado e olho ao
redor, procurando por Kath; não a encontro em lugar nenhum. Pego o celular
que está em meu bolso, no intuito de lhe mandar uma mensagem, mas
percebo que está desligado.

Entro em casa e vou até meu quarto, para deixá-lo carregando.

Quando desço, escuto alguém falando no banheiro que fica próximo da


cozinha.

— Eu sou amiga dele há anos, sei bem como ele é. Não quero que você se
machuque, lindinha, porque eu reparei como você o encarava e, só estou
falando isso porque sororidade vem em primeiro lugar — reconheço na hora
a voz de Samantha e, parece que gelo percorre por todo o meu sangue, pois
meu corpo congela no último degrau da escada.

Não escuto mais nada e logo depois ela sai do banheiro. Quando me vê, sorri
como se fosse a pessoa mais doce do mundo, mas ela não me engana e sabe
disso. Me dá as costas e segue para onde meu irmão está.

Kath não sai do banheiro e eu fico preocupado. Paro em frente a porta e


bato.

Ela demora um pouco, mas sai e, se assusta ao me ver. Seu semblante mostra
a confusão que deve estar seus pensamentos, ela abaixa o olhar e passa por
mim, sem falar nada, me evitando.

— Kath...

Ela para, mas continua de costas. Percebo sua respiração pesada e vejo que
estou do mesmo jeito.

— O que a Samantha falou para você não é nad...


Ela se vira e me olha em choque, como se eu tivesse um chifre no meio da
testa. Depois, olha para a área externa da casa, provavelmente, na direção de
onde Samantha está.

— Eu não quero saber sobre isso, parece ser muito confuso, Noah. E, você
não me deve nenhuma explicação. Não vamos deixar isso mais embaraçoso
do que já está — essa é a segunda vez que Kath fala desse jeito comigo,
como se não se importasse com nada que tenha a ver comigo; sinto meu
corpo reagir mal. Ela se vira novamente, mas não deixo que escape.

Puxo seu punho e a encosto na parede, calculando a força a todo momento


para que eu não a machuque. Coloco minhas mãos de cada lado de sua
cabeça e a olho de cima, porque a nossa diferença de tamanho é

considerável. Suas pupilas dilatam e sinto o movimento que sua respiração


faz ao encostar e desencostar seus seios do meu peito.

— Eu não te devo nenhuma explicação, mas eu quero me explicar —

ela morde o lábio e eu encaro a sua boca carnuda que tem apenas um brilho,
destacando ainda mais o contorno deles. — Samantha é uma mulher que me
envolvi há um tempo e, que parecia ser boa pessoa. Não ficamos mais e, não
nos víamos há um tempinho, mas, ela apareceu aqui hoje com meu irmão.
Eu estava achando que não foi uma coincidência, como ela falou para mim
ainda pouco, mas depois que escutei o que ela falou para você no banheiro,
não tenho dúvidas que ela tem as piores intenções.

Kath ergue as sobrancelhas, chocada com o que acaba de escutar e maneia


com a cabeça. Desce os olhos até a minha boca e passa o dedo pelo meu
lábio inferior. O contato é tão leve que quase não sinto, mas mesmo assim, é
gostoso.

Escuto o barulho de alguém entrando na cozinha, e em vez de agir


sensatamente como normalmente faço, puxo Kath para dentro do banheiro e
nos tranco ali. Ela ri e morde o dedo, segurando uma risada mais alta.

Me encosto na bancada do mármore da pia e deixo minhas pernas um pouco


abertas. Estendo a mão e falo:
— Vem cá, amor. Estou com saudades — acho que essa é a maior verdade
que falo em tempos.

Ela não pensa duas vezes e pega em minha mão. Puxo-a e já passo meu
braço por sua cintura, colando nossos corpos. Fecho os olhos e exalo seu
perfume, subo a minha mão livre por suas costas até chegar em sua nuca,
abro meus olhos e encaro seus lábios antes de beijá-la.

Sua boca tem um gosto doce, que deduzo ser do drink que estava tomando.
Passo minha língua pela sua e depois a sugo, dando uma mordidinha de leve.
Meu pau começa a se animar dentro da sunga, ele tem um apego grande por
Kath e sente a sua presença de longe, assim como eu.

Aprofundo nosso beijo e ela geme e, simples assim, meu pau está duro igual
a pedra, pedindo por ela.

Desço a mão da sua cintura para sua bunda e a aperto. Ela sorri entre o beijo
e para de beijar minha boca para beijar meu queixo, depois meu maxilar,
indo ao meu pescoço. Coloco a minha mão na sua bunda por dentro da saia e
a puxo mais para mim, para que sinta minha ereção.

Como resposta a isso, ela se esfrega em mim.

— Hummm, tô sentindo a sua saudade — sussurra, me provocando.

Eu rio e ela coloca um dedo na frente dos meus lábios. — Xiu, não podemos
ser descobertos — concordo e entro no jogo dela. Passo a mão pela bunda
lisinha e aperto novamente, ela geme baixinho em meu ouvido.

Viro nossos corpos e ela fica escorada na pia, me olhando com ansiedade,
querendo saber o que vou fazer. Mordo a pontinha do seu lábio inferior e
puxo um pouquinho. Ela volta a se abaixar e se esfregar em mim.

Seria tão fácil comê-la agora, mas, eu não conseguiria me conter e todos ao
redor saberiam. Ela passa as mãos nas minhas costas, mas não me arranha,
apenas me provoca. Pressiono meu pau no centro da sua intimidade e ela
separa as nossas bocas, para gemer baixinho. Faço mais força no nosso
contato e ela aperta meu braço. Dou um selinho.
— Vai ter que ficar quietinha, amor — sussurro com meus lábios colados aos
seus. — Fiquei te devendo uma coisa na última vez que ficamos sozinhos —
me abaixo e ajoelho na frente dela, ficando na direção de sua virilha.
Desinibida, abre as pernas para mim e meu pau pulsa.

Subo um pouco a sua saia, deixando a calcinha do biquini totalmente a


mostra. Levo meus dedos até um dos laços da lateral e solto. Isso é o
suficiente para que eu consiga puxar e deixar a sua boceta à minha
disposição, pequena, lisa e rosadinha. Quero sentir seu gosto desde o dia que
transamos, e agora irei me lambuzar nele.

Subo as mãos lentamente por suas coxas, criando uma expectativa nela, que
morde os lábios em ansiedade. Chego com as mãos em sua virilha e abro um
pouco mais suas pernas. Fico com o rosto bem próximo da sua boceta e
sopro ali; ela fecha os olhos e tomba a cabeça para trás. Com uma mão,
afasto seus lábios e passo a ponta da língua por sua boceta todinha, que já
está molhada. Subo a boca até parar em seu ponto sensível, e começo a
passar a língua lentamente, para aos poucos, aumentar a velocidade. Sugo
seu clitóris com vontade e o prendo entre meus dentes, ela segura a pia com
força e solta um gemido. Passo a minha língua novamente por toda a sua
extensão e desço, fazendo movimentos circulares em sua entrada. Ela abre
mais as pernas, facilitando meu acesso. Sinto um espasmo de leve em uma
de suas pernas.

— Quietinha, amor. Não queremos ser pegos — volto a estimulá-la no


clitóris, com movimentos circulares e precisos. Sem aviso, enfio um dedo
nela, e as suas paredes me apertam. Começo com movimentos de vai e vem,
com pressão e força. Enfio mais um dedo e ela geme de novo, sem conseguir
se controlar.

Meus dedos estão enxercados dentro dela e, a cada segundo, sinto me


pressionar mais. Suas pernas tremem e eu percebo que ela está quase
gozando. Tiro os dedos de dentro dela, levanto, e devoro a sua boca, fazendo
com que sinta seu próprio gosto e, ela quase me engole. Levo meu dedo em
seu clitóris e continuo com os movimentos circulares, colocando pressão.

Ela rebola em meu dedo, procurando por mais fricção e perde o ritmo do
beijo. Enfio mais um dedo e escuto quando ela sussurra meu nome baixinho.
Afasto minha boca da sua e ela encosta testa em meu peito, aperta meu braço
e, é nesse momento, que ela começa a gozar. Ela se surpreende quando a
coloco sentada na pia e enfio a cara no meio das suas pernas, lambendo e
sugando seu prazer. Passo lentamente a minha língua quente por toda sua
boceta e, ela se arrepia de novo. Me afasto quando ela para de tremer e me
encaixo no meio das suas pernas.

— Você é tão gostosa, amor — dou um selinho e ela lambe meus lábios.
Aperto suas coxas, e rio. — Queria muito sentir meu pau dentro de você, tão
quentinha e pronta pra me receber — me esfrego nela, para que saiba como
me deixou. A safada coloca a mão entre nós dois e aperta meu pau. Eu fecho
os olhos e penso em coisas que me acalme —, mas, tenho certeza que já
deram por nossa falta e, tem muitas crianças por aqui — faço bico e abro os
olhos, sem acreditar que estou sendo sensato com ela aqui, na minha frente,
pronta para me ter.

Ela concorda, ainda zonza depois de ter gozado. Sorri. Ela é um tesão e
ainda consegue ser fofa. Olho para baixo e vejo como meu pau está duro,
doendo de tesão. Rio de desespero, foco nos pensamentos para conseguir
desanimar o amigo aqui em baixo. Me afasto dela, porque sentir seu corpo
tão próximo não ajuda.

Ela se arruma novamente, tentando disfarçar que acabou de ganhar um sexo


oral. É um sacrifício não ficar encarando seu corpo, mas preciso relaxar. Ela
me dá mais um beijo rápido e sai primeiro. Eu irei continuar por aqui até
meu amigo colaborar.

18

Saio do banheiro meio tonta, depois de um orgasmo incrível que Noah me


proporcionou enquanto a festa rolava normalmente aqui fora, com todos
alheios ao que acontecera no banheiro.
Volto para fora e sinto que meus lábios formam um sorriso que não consigo
conter, por motivos óbvios. Me sinto tão leve, que parece que vou voar a
qualquer momento. Não imaginei que depois do que ouvi de Samantha, o
caminho que tomaríamos seria esse.

Eu e Noah somos solteiros e não temos nada sério; na verdade, nem sei se
chegamos a ter algo, então, eu não me comportaria como alguém que ele
tenha que dar alguma satisfação. Entretanto, isso não ameniza o fato de eu
ter sim ficado incomodada com a insinuação dela. Ela falou que eram
amigos há anos, amigos próximos, íntimos. Eu percebi a maldade dela logo
de início, já tinha notado seu olhar maldoso para cima de mim algumas
vezes desde que chegou, mas ignorei. Pensei ser só uma pessoa que conhece
a minha história e acredita nas mentiras que rolam por aí.

Percorro todo o lugar com os olhos e encontro o irmão de Noah ao lado dela
e, mais uma vez, fico triste por ele, porque esse cara realmente não parece
saber escolher bem uma companheira. Porém, a observando melhor, vejo
que ele não deve ter muito como saber quem de fato ela é, já que parece ser
uma mulher carinhosa e simpática. Bufo. Tudo mentira, daria uma ótima
atriz.

Sinto braços firmes envolverem meu ombro e me deparo com Barbie ao


olhar para o lado onde ele está. Sorrio e envolvo um braço pelas suas costas.

— Fiquei sabendo que foi agraciada com um passaporte de primeira classe


para o passado do Noah — sussurra com a boca colada em meus cabelos. Eu
rio, porque ele sempre faz piada de tudo, deixando um assunto como esse
mais leve. — Estou curioso, me diga o que achou.

Vamos caminhando de jeito meio desengonçado por estarmos

abraçados de lado e, caminhar assim não é tão fácil quando o cara comigo
está soltando seus vários quilos em mim. Paramos ao chegar em uma mesa
de madeira mais afastada da piscina. Me sento e ele faz o mesmo, se
posicionando ao meu lado e apoiando a cabeça em uma das mãos.

— A visita ao orfanato foi algo surreal, Barbie. Eu não estava preparada para
aquilo, sendo bem sincera — olho para a porta assim que Noah sai de lá e
me procura entre as pessoas. Sorri tranquilo ao me achar com Barbie.
Meneia com a cabeça e segue para onde nossas mães estão. —

Eu já sabia que Noah é adotado e, sei que isso não é um segredo, mas tenho
certeza que ele não expõe seu passado aí para qualquer uma; isso me
confunde. Eu amei conhecer mais dele, saber o quanto ele é bom para outras
pessoas, mas não sei o porquê de ele ter feito isso.

Barbie encara o amigo de longe e parece também se sentir confuso.

Depois, volta a me encarar e sorri, mostrando seus dentes perfeitos e retos.

Estreita os olhos antes de falar:

— Talvez, você seja o milagre da vida dele, a mulher que conseguirá ganhar
aquele coração que não parece preocupado em ter ninguém — dá de ombros,
como se o que falasse não tivesse peso. Fico boquiaberta, esperando que
finalize o que falou com uma piada. — O que foi, gatinha? Não estou
brincando. O Noah tem estado... diferente!

Tento acalmar meu coração que, nesse momento, parece uma bateria de
escola de samba de tanto que bate forte em meu peito. A pequena
possibilidade de que eu possa mexer com Noah desse jeito, me faz sentir frio
na barriga.

— Não me iluda, amigo, não sou de ferro. Você não quer me ver na foça! É
bem bizarro, envolve muita comida e pouca lavagem no cabelo — rio de
mim mesma, lembrando de como fiquei quando Ethan terminou comigo, e
ao me lembrar dele, falo: — VoumeencontrarcomEthansegunda — falo tão
rápido e embolado que tenho certeza que ele não entendeu, mas quando
entender, imagino que não irá gostar.

Ele faz uma careta, confuso.

Eu mordo o lábio, nervosa. Abaixo o olhar para as mãos dele e suspiro.

— Eu vou encontrar com Ethan na segunda-feira! — ele arregala os olhos e


abre a boca. Levanto a mão, pedindo para que espere eu terminar de falar. A
sua cara se emburra e ele cruza os braços, mas deixa que eu termine.
— Ontem, quando você e Jacob me deixaram no meu prédio, ele estava na

recepção me esperando. Aparentemente, depois desse tempo todo, ele


decidiu que eu mereço saber o que realmente aconteceu. Acabei aceitando
me encontrar com ele para conversar. Não é um encontro, pelo amor de
Deus.

Mas, acho que mereço saber o que de fato aconteceu — encaro e deixo que
minha real preocupação transpareça. Não tenho muros com Barbie, ele é a
melhor pessoa que já conheci em tempos e, temos nos dado muito bem.

Ele observa cada reação em meu rosto e corpo, como se estivesse tentando
compreender como estou me sentindo com isso. Pega na minha mão com
leveza e faz um carinho com o polegar.

— Primeiro: Sobre Noah... por mais que ele seja meu irmão, terei que dar
uma surra nele se vocês forem além do que têm e ele te magoar. Você
merece alguém que te dê o mundo, e caso você fique na foça, prometo que
irei te encher de comida gostosa e até lavo esse seu cabelo. Sério, se terei
que ficar com você, não quero ser obrigado a ser pego de surpresa com um
rato saindo do seu cabelo — rimos. Eu já falei que amo esse cara? Não tem
como ser mais perfeito que ele. — E, sobre o Ethan... Você fez o certo.
Precisa dar um ponto final nisso, mas, ele sabe que não é um encontro?

Nos viramos na outra direção ao mesmo tempo quando ouvimos passos de


algumas pessoas.

— Kath, meu amor, estava te procurando — minha mãe se aproxima,


sorrindo de lado a lado. Acho que ela já bebeu mais que o normal, e está
alegrinha. Lá em Outer Banks, ela quase não bebe por conta do seu marido,
então, acho que está aproveitando aqui, e isso é ótimo. Sorrio.

— Mamãe, queria mesmo falar com a senhora! — me levanto e Barbie me


acompanha, estampando um sorriso encantador para a minha mãe, que
ruboriza na hora. — Esse é o Barbie, meu novo melhor amigo — com seu
jeitinho dado, se aproxima da minha mãe e a abraça com ternura. Ela demora
a responder porque é pega de surpresa, mas logo retribui.
Eles se afastam e minha mãe sorri; entram em uma conversa sobre como era
a minha vida na minha antiga cidade. Peço licença e me afasto quando vejo
Camila sentada sozinha perto de um brinquedo.

— Oi, meu anjinho! — sento ao seu lado e ela vira o rostinho para mim.
Suas írises me encaram com admiração e ela sorri, mostrando seus dentinhos
separados, que é a coisa mais fofa depois das suas covinhas. —

Cansou?

Ela concorda rápido com a cabeça e faz seus cachos balançarem.

Depois, olha para a minha roupa. Leva o dedinho até a minha saia e fica

brincando com um dos furos do crochê.

— Você é sempre bonita assim, tia? Eu quero ser bonita igual a você quando
crescer — meu coração grita de amores nesse momento. Pego na pequena
mãozinha e chamo sua atenção.

— Você é linda, meu amor. Tenho certeza que ficará muito mais bonita do
que eu — pisco e ela fica toda boba ao ouvir isso. Se levanta e logo se joga
em mim, me abraçando. Passo os braços ao redor dela e a abraço de volta.
Ela ri quando dou leves sacudidas em nós duas.

Ela abre espaço entre as minhas pernas e se senta ali. Apoia a mão em minha
coxa e vira o rosto para mim, com um sorrisinho sapeca.

— Você sabe fazer uma trancinha embutida? Eu queria tanto, mas tia Ana
não conseguiu fazer — faz bico.

Eu rio da espontaneidade dela e faço que sim com a cabeça. Ela bate palmas
e me mostra o quanto estava preparada para conseguir isso de alguém ao
tirar umas xuxinhas de dentro do pequeno bolso de seu shortinho. Aceito de
bom grado, ainda achando graça da situação.

Começo todo o processo de separar as partes do cabelo e puxar bastante para


deixar bem feita, mas com cuidado para não a machucar. Ela aproveita esse
tempo para falar pelos cotovelos como ama as suas amigas e suas bonecas,
inclusive, agora sei nome de todas elas.

Assim que termino, peço para que ela se vire e faça uma pose bonita.

Pego meu celular e tiro uma foto dela, que ficou a coisa mais fofa. Mostro e
ela adora, se admirando.

— Quer tirar uma foto comigo? — pergunto, porque fiquei com vontade de
ter uma foto dela revelada em minha casa. Ela me encara, bate o dedinho na
bochecha enquanto faz um charminho, como se estivesse pensando no que
responder, mas começa a rir e já vem se ajeitar para a foto.

— Dá um sorrisão, princesa.

Nós duas sorrimos para o celular depois que ela abraçou meu pescoço e
colou nossos rostos. A foto ficou ótima, mas ela queria usar efeitos de
bichinhos e, no fim das contas, tiramos umas 20 fotos; todas ficaram ótimas
porque ela é linda demais.

— Tia, vou brincar, tá? Mas, antes de eu ir embora, a gente pode brincar
juntas? — ela tem um jeitinho tão cativante de pedir as coisas que eu não
saberia falar não, então, concordo e ela sai correndo para outro brinquedo.
Rio e fico vendo a sua interação com outras crianças.

Ela parece ser a líder deles e, é algo hilário de se ver. Tão pequena e

já é toda cheia de si.


Me ajeito para levantar e vejo uma mão estendida em minha frente.

Seguro-a sem saber a quem pertence e me levanto com o apoio dela, dando
de cara com Noah, que tem um sorrisinho no canto dos lábios. Lábios esses,
que eu fico um tempo além do normal encarando. Ele abaixa a cabeça e
abafa uma risada.

— Você se deu bem mesmo com a Mila, né?

Concordo e começamos a caminhar lado a lado, em direção a um grupo de


pessoas que contém minha mãe e os meninos, além do pai de Noah.

Todos parecem ter se dado muito bem com a minha mãe, e tenho certeza que
ela seria muito mais feliz por aqui do que com o meu pai. Será que ela não
percebe isso?

— A Camila é um doce de criança, não tem como não se dar bem com ela —
ajeito minha saia, que subiu um pouco e, pelo canto do olho, consigo ver que
Noah segue o caminho que as minhas mãos fizeram com seu olhar. Meu
corpo queima no mesmo instante — Para de me olhar assim, Noah —
sussurro com a voz mais arrastada do que antes.

Ele cola os lábios em meu ouvido por cima do cabelo e fala:

— Não consigo, amor, não consigo mesmo. Tudo em você me chama


atenção, meus olhos têm vida própria quando a questão em si é você — se
afasta e mantém um sorriso contido nos lábios, enquanto sinto todo meu
corpo se eriçar após senti-lo tão perto, lançando essas palavras assim do
nada.

Decido não recrutar, porque não sei até que ponto consigo resistir.

Chegamos onde todos estão e começamos uma conversa animada e leve.

Estou em um mercado com Barbie, comprando algumas coisas que o chef


precisa para fazer esse tal salmão grelhado com risoto de camarão e cream
cheese, que ele prometeu ontem no churrasco para a minha mãe que faria
para ela. Como hoje ele estava com o dia livre, resolveu me arrastar para o
mercado com ele e, cá estamos.
Confesso que de cozinha não sei fazer nada muito mirabolante, mas vivo
bem assim. Até porque, normalmente, como coisas bem básicas mesmo.

Dificilmente, me verá comendo um tipo de comida assim, a não ser que seja
em um restaurante.

— Se você ajudar a procurar os itens, conseguiremos sair desse mercado


mais cedo, gatinha! — reviro os olhos e sigo para outro corredor, no intuito
de pegar algumas coisas para minha casa também, já que com mamãe lá,
posso persuadi-la a cozinhar algumas coisas gostosas para mim.

Me empolgo e vou colocando várias coisas, inclusive, coisas para hoje


também.

— Chamei o Jacob. Ele estava de ovo virado por alguma coisa e sempre fica
mais feliz quando come bem. Tem problema? — Barbie fala enquanto
coloca as coisas que pegou no carrinho. Tira de dentro dele um pacote
enorme com jujubas e me olha como se eu tivesse colocado uma cabeça de
alguém no carrinho. — Sério? Você gosta das jujubas vermelhas?

As laranjas são as melhores — sinto meu ombro tremer quando começo a


gargalhar. Jurei que ele ia criticar o fato de ser doce, e não por isso.

— É para a minha mãe, idiota! E sim, ele é bem-vindo lá em casa, mesmo


com aquela cara emburrado de velho — rio mais e ele se vira, me ignorando
e indo até a parte de “peixes e frutos do mar”. — Vou comprar meus chás
que estão acabando — aviso e largo o carrinho perto dele.

Ando pelos corredores até encontrar, mas um cabelo ruivo virando em outro
corredor me chama atenção e vou atrás. Como supus, é Emma e fico
animada em vê-la, quero saber se ela está bem depois da demissão.

Ela está com uma cesta, que tem pão e uma caixa de enlatado que não
reconheço de longe. Seu olhar para as suas compras é triste e juro que vi
algo brilhar neles, como se estivesse prestes a chorar.

O que eu faço? Me aproximo ou ignoro? Ela não respondeu a mensagem que


mandei, talvez não esteja a fim de uma nova amizade. Mas, quando penso
em desistir, ela levanta o rosto e me flagra encarando-a.
Rapidamente, limpa a lágrima que escorre e vem em minha direção,
sorrindo.

— Kath! Bem que dizem que NY é o lugar dos famosos. Em qualquer

lugar é possível encontrar vocês por aí, como meros mortais — sorri, mas
seu sorriso não alcança os olhos que parecem tão cansados. — Como você
está?

Reparo nela nesse momento. Está com uma calça jeans e uma camisa branca,
que ficaram muito bem nela mesmo sendo peças tão simples. Seu cabelo está
preso no topo da cabeça em um daqueles coques bem cheios, lindíssimo
como sempre. Porém, o que mais chama a minha atenção é o cansaço que
paira em seu olhar.

— Eu estou bem — não sei como prosseguir essa conversa sem ser muito
invasiva, mas tive uma ideia que pode ser boa. — Você precisa ir pra casa
agora? Uns amigos vão lá em casa para passar um tempo. Você quer ir?

Ficou me devendo um dia das meninas desde a ultima vez que nos falamos.

A boca dela se abre um pouco e me encara, quieta. Parece ponderar um


pouco, sem perceber que faz uma careta.

— Você tem certeza disso? Eu não quero incomodar vocês, e não sei se
estou vestida para isso — eu sorrio da sua inocência em acreditar que
pessoas como eu vivem muito bem arrumadas o tempo todo.

— Seria ótimo ter você lá. E não se preocupe com sua roupa, está ótima. —
ela abre um sorriso tímido mas concorda. — Eu te mandei mensagem esses
dias mas nenhuma delas chegou até você.

Ela olha para mim e depois para a cesta novamente e, nesse momento,
Barbie aparece, colocando todo o resto em nosso carrinho, distraído com as
coisas ao seu redor. Entretanto, quando nota que estou falando com Emma,
se aproxima e a cumprimenta.

— Eu tive alguns ... problemas com o celular. — Barbie estala a língua e faz
um comentário sobre ter comida suficiente para mais umas 5
pessoas quando digo que ela vai. Saí na nossa frente empurrando o carrinho,
em direção ao caixa. Eu e Emma nos mantemos a uma distância dele,
caminhando mais devagar.

Ela larga a sua cesta em um canto e não pega o que tinha dentro dela,
dizendo que não era nada importante e, que poderia comprar amanhã perto
da sua casa. Apenas concordo com a cabeça, então, começamos uma
conversa animada sobre coisas aleatórias enquanto Barbie resmunga que está
colocando tudo na sacola sozinho. Rimos e o ajudamos.

O caminho de volta para a minha casa foi bem descontraído, até porque com
Barbie junto, é impossível o clima não ficar leve e divertido.

Barbie levou todas as sacolas para a cozinha e nos informou que ia começar
a sua obra de arte.

— Você quer conhecer a casa? Minha mãe deve estar no quarto dela,
podemos passar lá por último, ela vai adorar conhecê-la — animadamente,
ela concorda e seguimos pela casa. Mostro minha suíte, o closet que a fez
suspirar - prometi que outro dia a deixaria olhar cada roupa com calma.

Depois, fomos ao quarto de hóspedes que está livre e, finalmente, na


varanda, já que o da minha mãe deixamos para outra hora porque ela disse
que estava terminando de arrumá-lo.

Todos os prédios têm uma varanda grande com uma vista linda e, o meu não
é diferente disso, ainda mais por ser um dos últimos. Não é uma cobertura,
porque quando comprei, não tinha interesse de morar aqui por muito tempo.
Queria uma casa grande, depois conheci Ethan e, comecei a iniciar esse
sonho, mas tudo foi por água abaixo.

— Seu apartamento é muito lindo. Perfeito. Combina muito com você! —


Emma está encostada no parapeito da varanda, olhando lá para baixo.
Caminho até onde ela está e paro ao seu lado, seguindo o olhar para a
direção de onde ela olha. — Sobre eu não ter te respondido, desculpa. Mas,
no ultimo dia que trocamos mensagens, eu fui assaltada dentro de casa! Uns
drogados que estavam armados invadiram o sobrado onde moro e levaram
meu celular, além de outras coisas — ela suspira e coloca os cotovelos no
parapeito.

Viro o rosto para ela, em choque com a história e, como ela está calma
enquanto conta. Eu teria ficado desesperada se acontecesse isso comigo.

Enquanto a encaro, lembro-me ela tinha recebido o seu pagamento e um


dinheiro a mais para se manter quando foi mandada embora. Será que
também levaram? Ai, meu Deus!

— Você tem quantos anos, Emma? Parece ser tão nova — mudo um pouco
de assunto.

— Eu fiz 19 anos há pouco tempo. Esperava que não me perguntasse isso,


porque eu queria muito provar um pouco dos vinhos que vi na sua mesa

— brinca se referindo dos vinhos que Barbie escolheu enquanto falava que
aqueles harmonizarão com o cardápio.

Rio, mas não me oporia que ela bebesse, desde que fosse pouco.

Olho para trás, vendo se tem alguém perto e me viro para ela, ficando
apoiada de lado no parapeito.

— Olha, eu não sei a melhor maneira de fazer isso sem que você fique sem
graça. Então, vou falar e você decide se quer dar continuidade no assunto

ou se fingimos que eu nunca falei nada, pode ser? — ela arregala os olhos,
estranhando o que eu falo, mas concorda. — Naquele dia na cafeteria eu
ouvi que eles te deram uma quantidade de dinheiro a mais pelo ocorrido. —
ela encolhe os ombros e fecha os olhos, mas balança a cabeça, concordando.

Agora me contou que foi assaltada... Eles levaram esse dinheiro também?

Ela morde o lábio inferior e seu queixo treme de leve. Ao abrir os olhos,
algumas lágrimas escorrem.
— Levaram esse dinheiro e mais um pouco que eu estava juntando, eu ia
colocar no banco mas sempre tinha algum imprevisto ou ficava com medo
de sair com todo o valor em uma bolsa — um soluço escapa entre seus
lábios e quando menos percebo, estou envolvendo-a com meus braços. Ela
agarra forte meu corpo e chora com a cabeça encaixada em meu ombro. —
Desculpa por isso, não era assim que eu imaginava que fosse nosso primeiro
momento como possíveis amigas — tenta brincar ainda com a cabeça
escondida em meu ombro.

Eu a afasto e seguro em suas mãos, encarando os olhos que agora estão


levemente avermelhados.

— Você não precisa se desculpar, eu quem estou invadindo a sua privacidade


— puxo-a até umas cadeiras próximas de nós e nos sentamos. —

Você mora sozinha, ou tem alguém que possa te ajudar?

Emma coloca os dois pés em cima da cadeira e apoia o queijo nos joelhos
enquanto limpa seu rosto.

— Meus pais tiveram que voltar para o Brasil, porque estava difícil para eles
se manterem aqui e lá, a família do meu pai vive bem e irão ajudá-

los a se reerguerem. Eu tive que ficar por causa da faculdade; tenho bolsa
integral aqui e no Brasil, ficaria muito caro, mas eu me atrasaria também. Há
outro ponto: eu amo NY, não me vejo em outro lugar, nasci aqui e não tenho
vontade de sair, mesmo tendo família no Brasil. — ela coloca para trás da
orelha uma mecha que se solta do seu coque por conta do vento e continua:

— Faço medicina na Columbia e aproveitei o recesso das aulas para fazer


um dinheiro. Quando as aulas voltassem, no caso amanhã, eu iria trabalhar a
noite. Meus pais tinham deixado mais alguns meses de aluguel pagos onde
eu moro, no Bronx e, depois eu tentaria ir para alguma fraternidade até me
formar. Mas, agora que fui mandada embora e fiquei sem dinheiro, está
muito difícil. O que eu tenho é para manter os gastos da faculdade por um
período.

— funga mais uma vez.


A vida, realmente, não é justa. Emma parece ser uma pessoa boa, que

não merecia estar passando por essas coisas, ainda mais tão jovem e sozinha.

Olho para o céu, a noite está bonita e as estrelam estão em mais evidenciadas
que o normal.

— Sabe, eu também tive muitos problemas financeiros quando era mais


nova, mas nunca me faltou nada. Tínhamos o básico e, acho que todo mundo
merece ter pelo menos isso para conseguir correr atrás de mais. Eu tenho um
amigo que é dono de um bar. Lá, infelizmente, não tem como você trabalhar,
mas eu já havia falado com ele sobre você e ele passou alguns contatos de
amigos que podem te ajudar.. nada muito incrível, mas acho que poderia te
ajudar a se manter.

Eu queria poder ajudá-la de forma mais imediata, mas acabei de conhecê-la


e não quero exagerar ou fazer algo que possa me arrepender depois.
Conseguir um emprego para ela parece ser algo bom para um primeiro dia
de amizade.

Ela pega as minhas mãos e aperta levemente. Seu sorriso é tão grande que é
impossível não sorrir junto.

— Eu aceito qualquer coisa, Kath. Eu só preciso de dinheiro para coisas


básicas, já que o aluguel já está pago e no banco tem o suficiente para
faculdade, por enquanto. — seu queixo treme novamente mas ela tenta se
manter forte.

— Não chore mais, por favor — levantamos e nos abraçamos de novo, só


que dessa vez, foi um abraço breve, porque minha mãe apareceu, nos
chamando para entrar. Nos afastamos e seguimos para dentro.

— Mamãe, essa é Emma, uma amiga nova. Emma, essa é a minha mãe, dona
Joana — eles se cumprimentam e de cara, minha mãe gosta dela, porque
começa a tecer elogios a sua aparência. Eu apenas rio e me afasto.

Pego uma garrafa de vinho e levo até a cozinha. Assim que entro, encontro
um Barbie muito concentrado no fogão, fazendo algo que está com um
cheiro incrível; eu quase gemo. Me aproximo para olhar.
— Se você roubar algo daqui, eu juro que corto fora esses dedos bonitos. E,
Noah vai sentir falta deles. Você não quer fazer uma guerra em uma amizade
de anos, certo? — gargalho alto, sentindo a barriga arder de tanto que rio.

— Você é maluco, sabe disso, né? — pego no armário um saca-rolhas e


encaixo na garra de vinho, ligo e espero que tire a rolha. Pego 5 taças e deixo
na bancada de mármore, coloco um pouco em duas e entrego uma a ele. —
À esse jantar, que está com um cheiro maravilhoso — Brindamos.

Ele toma uns goles e olha para a direção da sala.

— Essa menina é a garçonete da cafeteria ao lado da C&B, não é? —

encara ela de longe, curioso. Eu faço o mesmo, vendo ela e minha mãe
conversando no sofá.

— Ex garçonete — Barbie volta a mexer nas panelas, enquanto me encosto


na pia e fico me controlando para não pegar nada. — A história é
complicada e, eu não sei muito bem, mas digamos que as coisas não estão
legais para ela e, que ela precisa de um emprego.

— Eu preciso de uma secretária nova, a minha vai se mudar e, eu irei em


breve procurar por alguém — dá de ombros, tentando ser solícito de algum
jeito. Acho fofo, porque ele não está com maldade, apenas quer ajudar
mesmo.

— Seria perfeito se ela não fizesse medicina. Só tem tempo a noite!

— pego a garrafa e coloca mais vinho em minha taça. Ele encara minha taça
e ri.

Mostro o dedo do meio e ele ri mais alto. Pede para que eu me aproxime e
leva até meu rosto a colher que ele estava mexendo na comida.

Assopro o conteúdo que tem ali e depois puxo com os lábios. Assim que o
gosto invade minha boca, eu apoio no ombro dele e abaixo a cabeça.

— Quanto você quer para vir morar aqui e cozinhar todos os dias para mim?
— fico piscando os olhos rapidamente, tentando conquistá-lo como uma
criança. Depois, dou um beijo forte na sua bochecha. — Isso está perfeito
demais.

Tomo mais um pouco do vinho e ouço a campainha. Sei que é Jacob, porque
liberei o acesso para ele subir. Corro até a porta e abro. Quando vejo o
homem na minha frente, quase cuspo o líquido que tinha em minha boca.

Jacob parece outro homem. Está com uma calça jeans preta rasgada, tênis,
uma camisa cinza e por cima, uma jaqueta preta de couro. Acho que minha
cara está mostrando a minha surpresa, porque ele ri, entra, me abraça e beija
minha testa. Fico igual uma pamonha, sem nem me mexer por causa do
choque.

— Onde eu posso deixar meu capacete? — encaro o capacete, e depois volto


a olhá-lo enquanto tira as suas luvas. — O que foi, Kath?

Tomo mais um gole do vinho e fecho a porta.

— Nada, eu só estou... Chocada, eu acho! — pego o capacete e as luvas de


sua mão e os coloco próximos da porta. Volto para ele e sorrio. —

Amei esse seu estilo, combina muito com a sua cara emburrada, só não

imaginava você assim.

Ele ri e seguimos até a sala, onde encontramos minha mãe e Emma.

— Jacob, minha mãe você já conhece. E, a Emma, provavelmente, você não


lembra dela porque nunca presta atenção em nada ao seu redor —

brinco, mas ele está com a cara séria encarando-a, enquanto ela ruboriza. Ele
não pisca e fica assim por alguns segundos. — Ou, talvez, lembre — ele rola
os olhos para o lado até encontrar com os meus e, eu pressiono um lábio no
outro para não rir.

Passa por mim e me dá um beliscão de leve no braço, eu xio e passo a mão


por onde ele beliscou.
Jacob vai até minha mãe e a cumprimenta; depois, meneia com a cabeça para
a Emma, que faz a mesma coisa. Ergo a sobrancelha e o encaro enquanto ele
volta para o meu lado, tirando a jaqueta.

— Qual a merda do seu problema? — sussurro ao seu lado quando eu o vejo


encarar Emma novamente, sem nem piscar. — Jacob, terra chamando?!
Vem, vamos na cozinha — seguro em seu braço desnudo e o puxo para lá.

Ele larga a jaqueta no balcão e dá um soquinho no ombro de Barbie quando


o vê.

— Desculpe, Kath, não quis constrangê-la. É, que eu tenho certeza que


conheço ela de algum lugar, mas não consigo me lembrar de jeito nenhum de
qual — se explica e depois abre a geladeira, procurando por algo não
alcóolico para beber. Pega uma jarra de suco e coloca em uma das taças.

— Noah não vem?

Dou de ombros. Depois de ontem, não nos falamos, então, não o chamei,
mas deixei claro para Barbie que poderia chamá-lo se quisesse.

Óbvio que eu queria que ele chamasse Noah, mas não quero parecer
desesperada.

— Eu chamei, mas ele disse que precisava resolver umas coisas com o irmão
e não podia deixar para outro dia — eles se encaram, e vejo que estão
conversando pelo olhar. Bufo.

— Vocês são ótimos em disfarçar. Eu sei sobre a Samantha — faço ânsia de


vômito depois de falar o nome dela. — Bryan não parece ter muita sorte com
as mulheres, né?

Os dois riem e concordam com a cabeça.

— B é meio doido com esse lance. Desde que o conhecemos através de


Noah, ele tem essa obsessão por encontrar o amor de sua vida e blábláblá

— Jacob fala e finge um arrepio pelo corpo, como se fosse algo que ele
desprezasse.
— E você, Jacob? Tem algum tipo de aversão a relacionamentos? Por isso
que é tão ranzinza? — brinco, mas sou a única que estou rindo. Ele para o
copo no ar próximo da boca e, daqui, consigo ver sua mandíbula enrijecer e
os nós de seus dedos ficarem branco de tanto que aperta o utensílio. Olho
para Barbie e, ele apenas balança a cabeça de um lado para o outro, com os
olhos arregalados para mim. Na hora, entendo que é um assunto que não
devo tocar. — Ei, desculpa — me aproximo e coloco a mão em seu
antebraço. Ele me encara, vejo seus olhos mais escuros que o normal, mas
aos poucos, vão voltando ao normal. — Não sabia que era um assunto
proibido, mas, não esquecerei mais disso.

Ele bebe o suco e coloca a taça ao lado, se mantém em silêncio um tempo e,


só nesse maldito segundo, reparo que ele tem um cordão para fora da
camisa, com duas alianças penduradas. Quando ele me vê encarando o
objeto, coloca para dentro da camisa novamente.

— Tudo bem, Kath. Não tinha como você saber — sorri, sem jeito pela
minha intromissão — Mas, agora já sabe — pisca. Se eu não o conhecesse,
acharia que acabei de levar um fora, mas sei que não foi isso. Foi apenas um
pedido do jeito dele de que eu não toque mais nesse assunto.

Barbie bate palmas uma vez para chamar nossa atenção e o encaramos.

— Está pronto! Me ajudem a levar tudo para a mesa.

Cada um pega uma travessa e, juntos, levamos para a mesa que está
arrumada, apenas esperando pela comida e por nós. Barbie arrumou da
maneira que achou melhor e, eu notei que isso é algo que ele gosta de fazer.

Cruzei os braços e assisti ele dando esporro em Jacob todas as vezes que ele
tentava beliscar algo na mesa.

— Vocês parecem um casal amargurado com a vida — falei e saí rindo.


Segui em direção a minha mãe e Emma, que estavam distraídas com algo no
celular novo que dei para minha mãe. — Qual a fofoca? — brinquei.

Minha mãe olhou para mim e vi a culpa em seu olhar, enquanto Emma
apenas abaixou a cabeça e ficou olhando para seus pés. Mamãe me mostrou
o celular e, na tela tinha uma foto de algum site de fofoca, que mostrava
Ethan e Alex saindo juntos de alguma boate de madrugada. Encaro a foto
por algum tempo, reviro os olhos e não deixo que o sentimento de mágoa
caia sobre mim; vou apenas ignorar. Não me surpreenderia se eles se

juntassem agora. Ambos já me surpreenderam de formas negativas, então,


seria apenas mais uma vez.

Dou de ombros e as chamo para a mesa.

Me sento entre Barbie e Jacob. Minha mãe e Emma ficam a nossa frente.

O cheiro está delicioso e ninguém está fazendo cerimônia ao se servir.

Eu mesma, coloquei mais do que como normalmente, porque o cheiro está


incrível. Quando começamos a comer, soltamos um gemido quase em
uníssono e, Barbie não esconde o sorriso vitorioso.

— Querido, isso está dos deuses — minha mãe o elogia e ele agradece. Eu
concordo com a cabeça, pois sou incapaz de parar de comer para o elogiar.

Continuamos a comer em silêncio. Nos servimos mais e, quando termino,


dou graãs por não estar com uma roupa apertada. Viro-me para meu amigo e
agradeço, recebo uma piscada de volta. Minha mãe levanta e vai pegando os
pratos de todos, Emma e Jacob a seguem, no intuito de ajudá-la.

Tadinhos, capaz dela dar uma toalhada neles se mexerem na louça que ela
estiver lavando.

— Jacob está incomodado com Emma e nem disfarça. Ele não é assim, a
gente sabe que ele não é a pessoa mais alegre do mundo, mas, também não é
assim. Não para de encarar a menina com aquela cara de assassino — Barbie
resmunga e eu olho na direção da cozinha quando os dois voltam. Emma
está mais corada que o normal e, Jacob segue com a sua cara séria.

Chamo todos para a sala e nos sentamos. Os meninos em um sofá, eu e


Emma em outro.

— O que achou? — pergunto.


— De quem? Do quê? — responde rápido demais, nervosa. Eu rio e me
encosto mais no sofá.

— Da noite, Emma! — a expressão dela suaviza — Eu simpatizei com você


desde o primeiro dia que te conheci na cafeteria e, não tenho muitas amigas
por aqui. Seria legal ter uma amiga mulher para variar — dou de ombros.
Não quero que ela se sinta obrigada a gostar de mim porque a convidei para
vir aqui.

Além de realmente querer conhecê-la melhor, queria poder ajudar também.


Sei que ela está passando por momentos difíceis e, teria sido ótimo que na
época em que precisei de ajuda, eu tivesse alguém que pudesse me

ajudar.

Ela me encara, parece procurar por alguma pegadinha no que eu falei.

— Isso tudo é tão estranho — morde o lábio assim que fala e arregala os
olhos. — Desculpa, não foi isso que quis dizer. Quer dizer, na verdade sim,
mas não nesse sentido. Olha que loucura, você é famosa e uma pessoa que
sempre segui e admirei. Agora estou aqui, na sua casa, com você me
oferecendo a sua amizade — olha ao redor, olha para os meninos e para
minha mãe que se juntou a eles. — É incrível, sabe? O seu mundo é incrível,
eu sei que você está passando por uma fase atípica, mas é muito diferente da
minha realidade. Como isso daria certo? — sua voz sai fraca e eu noto o
quão ela é desacreditada nela mesmo, a ponto de achar que apenas uma
amizade não é o suficiente para oferecer a alguém.

Sinto meu celular começar a vibrar, tento ignorar para continuar a minha
conversa, mas é impossível. Peço um segundo a ela e desbloqueio a tela para
poder ver o que está acontecendo. Claro que é a repercussão da foto de Alex
e Ethan.

Algumas fãs e conhecidos encaminharam para mim as publicações com a


foto deles, e as mensagens vieram com diversos comentários. Alguns falam
que agora entendem porque Ethan terminou comigo, outros falam que é por
isso que eu não quis pagá-la, pois descobri que os dois estavam juntos;
poucas, bem poucas pessoas, perguntam se estou bem.
Olha que só vi umas trinta mensagens, porque há muitas e não vou ficar
vendo, sei que vai me abalar.

— Sabe, Emma, eu entendo tudo que você fala porque já estive desse lado.
Quando comecei a ficar conhecida, conheci pessoas extremamente famosas
e, eu nunca tinha certeza se estava realmente criando um vínculo verdadeiro
com elas ou não. Acredite, na maioria das vezes, não era nada mesmo,
apenas mídia — mostro meu celular para ela e ela lê rapidamente algumas
mensagens e me olha. Seu olhar transmite um lamento pelo fato ocorrido. —
Status não quer dizer nada, entende? É o meu trabalho apenas!

Eu só quero uma amizade leve e verdadeira.

Ela concorda e sorri. Sou pega de surpresa quando ela puxa meu corpo e me
dá um abraço forte. Sinto ali que essa amizade vai fluir. Eu não deveria estar
me arriscando e confiando em alguém que pouco conheço depois do que
passei com a Alex, mas não posso projetar em meu futuro problemas do
passado com pessoas que não tem nada a ver.

Emma pode não ser a pessoa que aparenta? Pode! Mas é um risco que

corremos a todo tempo quando começamos a nos relacionar com alguém


novo.

Na mesma hora, lembro de uma coisa, me afasto e aviso que já venho.

Vou até meu quarto e pego na gaveta o celular que era da minha mãe. Assim
que a busquei quando chegou, decidi dar de presente um celular novo. O

antigo não é ultrapassado, então, pode ser útil.

Volto e me jogo no sofá ao lado dela. Coloco o celular em sua coxa e ela
olha sem me entender. Sorrio.

— É o celular antigo da minha mãe! Ele, provavelmente, ficaria na minha


gaveta esquecido, então, quero que aceite. Por favor, pense que assim será
mais fácil de nos comunicarmos. Que tal? — bato os cílios, tentando
persuadi-la. Ela ri e pega o celular, ponderando.
— Eu não quero me aproveitar da nossa recente amizade — suspira e me
encara. — Mas, vou aceitar com a ideia de que irei devolvê-lo assim que as
coisas melhorarem para mim. Pode ser? — concordo, por mais que eu saiba
que não irei aceitar de volta, mas, ela não precisa saber disso.

Começamos a deixar o celular pronto para ela e nos empolgamos tirando


algumas fotos. Ela instala o Instagram e será por ali que ela se comunicará
com sua família até conseguir recuperar seu número. Editamos uma das
fotos que tiramos e ela posta no story. Eu fico realmente empolgada e já
reposto, colocando vários corações.

— Gatinha, eu já vou — me assusto com Barbie falando perto do meu


ouvido e viro, ficando com o rosto próximo do dele. Dou um beijo estalado
em seu rosto. — Quer uma carona, Emma? — ela rapidamente nega e ele dá
de ombros. Me levanto para me despedir dele e de Jacob, que anunciou que
também vai embora.

Levo os dois até a porta e Jacob olha por cima da minha cabeça, na direção
de Emma.

— Ela tem como ir embora? — pergunta sem olhar para mim.

— Não sei, Jacob. Mas, não irei deixá-la pegar transporte público a essa
hora, fique tranquilo. Aliás, vê se deixa de ser estranho! — falo séria, ele me
olha e eu rio. Recebo um abraço forte dele e um beijo na testa. Pego o seu
capacete e o entrego — Tchau, meninos. Amo vocês! Me avisem quando
chegarem.

— Também te amamos — os dois falam juntos e rimos. Mando um beijo e


eles vão. Viro e quase trombo com Emma, que já está pronta para ir.

Faço uma careta de decepção, porque queria conversar mais com ela.

— Relaxa. Em poucos segundos, sua mãe me convenceu a aceitar o Uber


que ela já tinha pedido — sorri, sem graça. — Obrigada, Kath. Pela noite,
pela amizade, por tudo! Queria ficar mais, mas amanhã volto pra correria da
faculdade. — nos abraçamos por muito tempo. Depois se afasta e vai
embora, me prometendo que avisará quando chegar.
Fecho a porta e me sento ao lado da minha mãe. Ela me puxa e eu deito a
cabeça em seu colo, fecho os olhos e deixo o peso das notícias de hoje
dominarem meu corpo e minha mente. Suspiro, sentindo um aperto em meu
peito.

— Mamãe, será que isso já acontecia antes? Será que foi por causa disso que
ele terminou comigo? Eu não estou preparada para descobrir que duas
pessoas que amei me enganaram em mais uma coisa, tinham um caso bem
na minha cara e, que eu sequer suspeitava.

Ela faz um carinho na minha cabeça tão bom que acho que só ela sabe fazer.

— Não fique pensando nisso, meu bem. Vocês irão se encontrar amanhã,
certo? Apenas deixe que ele te conte o que quiser e, aproveite para sanar
todas suas dúvidas para conseguir enterrar essa história de vez. Ethan precisa
deixar de estar presente em sua vida, nem que seja nesses pensamentos
duvidosos sobre o que viveram.

Como sempre, minha mãe tem razão. Não vou sofrer por antecedência e nem
ficar imaginando coisas. Até porque, não tenho mais nada a ver com esses
dois.

19

Depois de discutirem para decidir qual restaurante iríamos, Jacob e Barbie


entraram em acordo. Estamos em um restaurante italiano que tem uma ótima
reputação e, é mais discreto, por mais que seja frequentado por todos os
tipos de gente, inclusive, famosos e políticos.

— Eu estava a ponto de enlouquecer já. A advogada do outro lado era


realmente muito boa, lamento por ela, porque eu sou melhor e, meu cliente
tinha muitas provas boas — Barbie conseguiu ganhar um caso difícil que
estava trabalhando há uns 8 meses, de alguma das empresas que ele é fixo.
Por conta disso, decidimos jantar fora para comemorar. É praticamente uma
tradição nossa. Nunca deixamos passar em branco uma vitória difícil, para
sempre darmos valor ao que fazemos.

O garçom chega com a garrafa de vinho que pedimos e nos serve.

Agradecemos e cada um de nós pega um cardápio.

— Falou com seu irmão, Noah? — Jacob me pergunta, se referindo a


Samantha. Apoio um cotovelo na mesa e coço a testa, lembrando-me da
conversa frustrante que tive com ele.

Ontem, chamei meu irmão para jantar na casa dos nossos pais, com a
desculpa de passarmos um tempo só nós quatro e, pedi que ele não levasse
ninguém, ou seja, não levasse Samantha. Quando cheguei lá, ele já estava
conversando com meus pais, mostrando uma empolgação com esse novo
relacionamento, tecendo elogios a uma Samantha que não existe, que está
apenas fazendo cena para que ele acredite.

A feição dos meus pais deixava claro que minha mãe já tinha contado para
meu pai e, ambos estavam totalmente sem jeito ao ouvir as coisas que meu
irmão falava. Como eu imaginava que a conversa não seria das melhores,
preferi fazer isso no final do jantar. E, foi complicado.

Expliquei ao Bryan que já tinha ficado com Samantha. Mostrei todas as


nossas conversas, inclusive as conversas que ela me xingava sem motivos
nenhum, me ameaçando com a história que ia expor na mídia que eu era um

mulherengo e coisas do tipo - não é nada muito interessante e, imagino que


ela tenha falado da boca pra fora, porque não vai querer comprar briga
comigo.

Meu irmão, de início, não acreditou, ficou tentando buscar algum furo no
que eu falava para poder se agarrar a imagem que Samantha foi para ele
nesses dias. Ele ficou incomodado, falou alto, e até mesmo disse que eu
estava atrapalhando um relacionamento promissor. Tentou justificar o que
ela fez, falando que agora ela era outra pessoa e, que até já tinha falado para
ele que o amava. Eu apenas questionei no fim de sua fala o porquê de ela ter
mentido no churrasco, já que “supostamente” o amava.
Com a cabeça quente, ele resolveu ligar para ela na hora e colocou no alto-
falante. A mentirosa falou que sabia que eu inventaria aquilo porque,
supostamente, eu cheguei nela e ela me vetou, o que magoou o meu ego.

Fiquei chocado com sua cara de pau e coragem, porque o que não faltava
eram mensagens para provar que ficamos algumas vezes. Depois, ela disse
que eu tinha feito aquelas mensagens em algum aplicativo. Enfim, foi disso
para pior.

Entretanto, pela primeira vez, vi meu irmão ficar verdadeiramente triste por
um dos seus romances não terem dado certo. Ele me olhou com mágoa, mas
sei que ela era porque, novamente, ele se enfiou em algo que não tinha
futuro. Tentei conversar mais, mas ele pediu desculpas e foi embora, dizendo
que precisava de um tempo. Me senti mal por ele, porém, eu não poderia
deixar que isso tomasse outro rumo, não deixaria meu irmão ser feito de
bobo. Pelo menos, não mais do que já foi feito por ela.

Hoje, minha mãe me ligou mais cedo, querendo saber como foi, porque
metade da conversa, ela e meu pai só ouviram porque B falou bem alto.
Contei o resto e ela ficou arrasada, depois me avisou que ele foi passar uma
semana fora para colocar os pensamentos no lugar. Isso me arrasou, mas eu
o compreendi.

— Conversei e foi difícil. Bryan ficou triste e frustrado. De início, não


acreditou muito — conto tudo aos meninos e eles me escutam, surpresos
com a reação do meu irmão. E como eu, também estão preocupados.

— Melhor deixar ele ter esse tempo mesmo, cara. Seu irmão leva muito a
sério esse lance de achar um amor a qualquer custo. Isso é doideira, acho que
tal coisa deveria acontecer naturalmente — Barbie fala enquanto vê algo em
seu celular e depois o larga na mesa. — Mas, aproveitando que estamos
falando da sua vida. A mãe de Kathllen é um amor e você perdeu o

jantar incrível que fiz ontem.

Jacob concorda.

— Estava delicioso mesmo, fique à vontade para fazer isso mais vezes e me
chamar — dá um sorriso e pisca para Barbie. Rio.
Infelizmente, não pude ir por conta do meu jantar com meu irmão. E, Kath
não me convidou diretamente, mas Barbie falou que ela desejava que eu
fosse, mas não queria transformar um jantar para os meninos conhecerem
melhor a sua mãe, em algo constrangedor para todos nós, pois não estamos
sabendo lidar com a presença do outro sem tornar o clima do ambiente em
algo quase pornográfico.

Acima de qualquer coisa, eu queria ter ido.

Queria ter ido e arrumado uma desculpa para ficar a sós com ela, nem que
fosse poucos minutos para beijar aquela boca gostosa.

— Dona Joana é uma mulher incrível mesmo — pondero. — Ela e minha


mãe viraram melhores amigas já; a minha está muito empolgada com essa
amizade, vão fazer várias coisas juntas essa semana.

Os dois trocam olhares e eu reviro os olhos.

— Que bom que elas se dão bem — diz Jacob.

— Será uma família bem unida — completa Barbie.

Mostro meu dedo do meio, porque eles, ultimamente, gostam de me zoar


com esse assunto.

Chamamos novamente o garçom e pedimos nosso jantar.

— Você sabe algo sobre o pai dela? — Jacob pergunta, curioso.

Balanço a cabeça negativamente.

— Não. Na verdade, nunca nem chegamos perto de tocar nesse assunto.


Agora você me deixou curioso.

Ergo a cabeça e olho em volta. O restaurante é muito bonito e está


relativamente cheio, a maioria das mesas estão ocupadas. A música ambiente
deixa um clima bem confortável.
Pego meu celular, na esperança de encontrar alguma resposta do meu irmão
para as diversas mensagens que mandei, mas não acho nada. Não irei insistir
e vou respeitar o espaço que ele quer. Estarei aqui quando ele quiser
conversar, só espero que ele ainda queira conversar comigo. Estou sem saber
como lidar, porque nunca tivemos um problema desse tipo.

Rolo o dedo pela tela e entro no Instagram, que para a surpresa de zero
pessoas, é o aplicativo que mais uso, por causa de uma pessoa que não sai da
minha cabeça.

Nem vejo o que aparece para mim, já vou direto ao perfil de Kath para ver se
postou algo. A última foto em seu feed é de sábado. Ela está lá no churrasco
com Camila em seu colo. As duas estampam um sorriso enorme e Cami está
com o rosto grudado no de Kath. É impossível conter um sorriso ao vê-las
juntas. Essa mulher conquista todo mundo ao seu redor.

Curto a foto, vou olhar seus stories e tem vários. Visualizo cada um
atentamente, reparando em tudo. Ela foi para a academia, mas isso eu já
sabia, porque ela malhou com os meninos novamente, almoçou com a mãe,
recebeu uns envios de algumas lojas e, quando chego no ultimo story, vejo
que ela estava em frente ao espelho, muito bem arrumada. Tem 10 minutos
que postou e fico curioso.

Repito para mim mesmo que não tenho o direito de saber o que ela irá fazer,
e muito menos, com quem.

Não é da minha conta.

— Acho que deveríamos começar a resolver sobre o nosso aniversário e se


esse ano iremos viajar para Aspen de novo! — afasto meus pensamentos
sobre Kath e presto atenção no que Jacob fala. — A gente poderia fazer a
festa na Lotus. Ano passado, Jack nos ofereceu. Tenho certeza que ele não se
incomodaria.

Nossos pratos são servidos e as taças estão cheias novamente.

— Eu acho que poderia ser na casa do Noah! A Lotus é muito grande, cara.
Lembra que decidimos chamar menos pessoas esse ano? — Barbie nos
lembra da nossa promessa do ano passado. Nosso último aniversário deu
gente demais, gente que nunca vimos e, até menores de idade. Foi uma
loucura, mas, tenho certeza que a culpa foi de Barbie, que estava convidando
qualquer pessoa.

Dou algumas garfadas na comida antes de falar:

— Por mim, pode ser. Minha mãe pode planejar tudo com aquela mesma
empresa. Já sabem a fantasia que irão usar? — sim, nossos aniversários são a
là fantasia, porque nós três fazemos aniversário em outubro. Então, no dia
do Halloween nos juntamos e fazemos uma festa só.

Nos dias de cada aniversário em si, cada um faz o que preferir, mas
normalmente, fazemos um almoço em família ou jantamos juntos.

— Vou de Capitão América! — se tem uma coisa que Barbie ama e é fã de


carteirinha, é a Marvel. Não me surpreenderia em achar pijamas desse tema
em sua casa.

Jacob dá de ombros, porque sempre decide em cima da hora, junto

comigo. Então, nem se dá o trabalho de responder.

— Vou mandar mensagem no nosso grupo então, avisando dona Elizabeth.


Espero que estejam preparados, porque ela irá falar disso e nos encher de
perguntas sobre tudo o que for.

Eles concordam. Estão acostumados com o jeitinho da minha mãe.

— Sobre Aspen, podemos ir lá na semana do meu aniversário. O que


acham? — nós dois encaramos Jacob quando ele fala. Normalmente, temos
que arrastá-lo para fora de casa no dia do seu aniversário. Então, esse
comentário foi algo que nos pegou de surpresa. — Como sempre, a casa
estará vazia, meus pais não irão, acho que eles nem lembram mais que tem
aquela casa — revira os olhos e dá de ombros.

Jacob vem de uma família poderosa e milionária da Itália, mas, ele nunca
compactuou com as atitudes do seu pai como homem e como profissional,
então, desde novo, batia muito de frente com ele. Sempre deixou claro que
não seguiria seus passos e que não queria nada dele; isso só piorava a
relação, que sempre foi conturbada.

O pai dele é um verdadeiro babaca com todo mundo, inclusive comigo e


Barbie; só não é assim com suas amantes. Jacob cresceu vendo a mãe
sofrendo por marido que sequer disfarçava que tinha outras mulheres.

Acho que o ponto crítico para que Jacob tenha decidido se afastar, foi
quando ele conheceu sua ex. Seu pai teve uma implicância surreal com a
menina desde sempre e, depois de tudo que aconteceu, Jacob e seu pai se
falam esporadicamente, quando é inevitável. Acho que a última vez que se
falaram faz alguns anos.

Jacob nasceu em berço de ouro, poderia ter o mundo aos seus pés com um
estalar de dedos, mas diferente do que grande maioria das pessoas faria, ele
preferiu caminhar com suas próprias pernas. Não usou a influência de seu
sobrenome nenhuma vez sequer, e por isso, decidiu sair da Itália na época da
faculdade. Aqui, resolveu usar o sobrenome apenas da sua mãe para não ser
ligado a sua família. Eu acho que foi uma decisão muito sábia, ele já tem
sofrimento demais em suas costas, não precisa do peso de ter seu pai por
perto.

— Eu gostei da ideia. Pode contar comigo — digo e termino de comer.


Limpo a boca e pego minha taça novamente. Barbie abre a boca para falar
algo mas desiste, seu olhar está fixo em algo atrás de mim. Ele tenta,
sutilmente, dar uma cotovelada em Jacob, que está ao seu lado. Meu amigo
ergue o olhar e, daqui, vejo a sua mandíbula tencionar; bufo, curioso.

Viro um pouco o corpo, apoiando o braço no apoio da cadeira. A primeira


pessoa que vejo faz o meu coração acelerar e, por breves segundos, breves
mesmo, penso que terei a deliciosa presença de Kathllen conosco.

Porém, enquanto passeio com os olhos por seu corpo, vejo uma mão
masculina descansar na curva das suas costas, na altura do cóccix.

Agora, é o meu corpo que fica inteiro tenso. Tento desviar o olhar, mas não
consigo. Congelo naquela posição, encarando os dois.
O homem que está com ela os guiam até uma mesa mais reservada, do lado
oposto ao qual estou. Eles sentam e, eu ainda fico encarando, querendo
entender a interação deles. Daqui, consigo notar que Kath não está muito à
vontade, diferente dele, que tem uma empolgação quase palpável.

Meu estômago embrulha e, sinto a comida pesar mais que o normal.

Decido que não devo mais olhar para eles, porém, nesse momento, o tal
homem pega na mão de Kath. Eles demonstram um tipo de carinho de quem
já tem intimidade. Minha cabeça começa a pensar várias coisas e, nenhuma
delas me agrada.

Volto a ficar na direção dos meninos, que me encaram estáticos,


provavelmente querendo ver alguma reação da minha parte. Eu queria poder
continuar a agir como antes de vê-la, mas seria um teatro e, eu não tenho o
porquê de fazer isso, ainda mais para eles.

Suspiro e viro o resto de vinho que tinha em minha taça. De prontidão, Jacob
chama o garçom e pede outra garrafa. Agradeço com o olhar, porque eu
preciso de um pouco mais de álcool.

— Você vai saber uma hora ou outra, então, já vou adiantando —

Barbie apoia os cotovelos na mesa e fala comigo enquanto encara a mesa


deles. — Aquele cara é o ex da Kath . Ex-noivo! Ela havia me contado que
encontraria ele hoje, mas, eu não tinha noção que teríamos o azar de irmos
para o mesmo lugar que eles — ótimo, agora estou bem mais feliz. Passo a
mão na cabeça e coço a nuca, meio frustrado. — A história deles é uma
loucura, mas, acredito que no momento certo, Kathllen irá contar. Não se
preocupe, cara.

Jacob enche nossas taças novamente, e eu já pego a minha para beber mais
um pouco. A vontade de virar e ver o que está acontecendo quase me sufoca,
mas, sei que o que quer que esteja acontecendo, irá me incomodar.

Que inferno.

Eu e Kathllen não temos uma relação amorosa em si, não temos algo sério
ou sequer temos algo que não sejam encontros esporádicos. Então,
somos livres para sairmos com quem quisermos, e o outro tem que respeitar
isso. Eu respeito.

Porém, porque o meu corpo não está entendendo?

Meu coração está batendo tão forte, que acho que qualquer pessoa
conseguiria ver o movimento do meu peito se tentasse. Minhas mãos estão
soando e, não consigo parar de bater o pé no chão, repetidamente. Não sei se
estou mais irritado por estar me sentindo assim ou por não entender o porquê
disso.

— Cara, calma! Não está acontecendo nada além de conversa —

Barbie tenta me acalmar, me olhando assustado. — Você quer ir embora?

Podemos pedir a conta e vamos.

Pondero, porque eu, de fato, estou me sentindo muito incomodado com a


presença de Kath com outro homem, mas, seria infantilidade da minha parte.

— Não. Não vou agir como um adolescente e fugir porque a mulh...

— Ela está vindo em nossa direção — Jacob me corta e eu paro na mesma


hora. Esperando ser tomado pelo cheiro gostoso dela. Não demora muito e o
sinto. Quase me acalmo... quase!

— Meninos, que coincidência — Kath para ao lado da minha cadeira e sinto


no seu tom de voz que ela está sem graça. Levanto um pouco a cabeça na
direção dela e sua beleza me atormenta, como se tivesse vendo-a pela
primeira vez. Sorrio, meio desgostoso pelo fato dela estar bonita assim e
acompanhada por outro. — Oi, Noah.

Ela olha para trás, para a mesa onde estava e volta a me olhar, suspira e seus
ombros caem um pouco.

— Oi, Kathllen! Você está linda — o elogio quase queima minha língua. Ela
está linda, ela sempre é linda. E, isso é uma merda e uma maravilha na
mesma proporção. Olho para o homem que está com ela, que não nota que
ela conversa conosco. — Bom te ver. Boa noite.
Viro-me para frente novamente. Não vejo porque ficar conversando com ela
se ela está acompanhada por outra pessoa, independentemente de ser um
encontro ou não. Além disso, seja lá ele quem for, não ficarei prendendo-a
aqui. Por mais que eu queira, queira muito.

Ela apoia a mão em meu ombro e aperta de leve, como se quisesse falar algo
com aquele gesto e depois se despede, seguindo em direção ao banheiro.
Entendo nesse momento que ela não veio com a intenção de falar conosco,
deve ter sido pega de surpresa ao nos encontrar enquanto seguia

para o banheiro.

— Ok! Isso foi embaraçoso demais — Jacob fala enquanto pede a conta para
o garçom. Eu continuo encarando a mesa branca a minha frente, tentando
entender o porquê de estar me sentindo assim. — É normal ter ciúmes,
irmão. Kath é linda, e vocês tem algo, seja lá o que for. Acho que você só
tem que aprender a lidar com essas emoções. Ela é uma pessoa famosa.
Lembra das histórias que seu pai contou várias vezes em como sua mãe era
cortejada mesmo as pessoas sabendo que ela era casada? Agora, imagina
Kath solteira. Vai ter que aprender a lidar com isso, nessa relação de amizade
colorida?! — afirma de forma duvidosa. Bem, somos dois com dúvidas aqui.

Ciúmes.

Claro, estou com ciúmes.

Muito.

— Pensei que morreria e não veria você ter ciúmes de alguém —

Barbie brinca, tentando aliviar o clima. — Acho que é o início de um


apocalipse. Daqui a pouco, Jacob aparece com uma namorada, aí ferrou — é
impossível não rir das coisas que ele fala e o clima volta a ficar tranquilo, na
medida do possível.

Pagamos a conta e seguimos para a saída.

Porém, aparentemente eu gosto de me torturar, pois me viro uma última vez


na direção de Kathllen, que me encara com seus olhos pequenos.
Eu paro por alguns segundos e retribuo o olhar. A minha vontade é de a tirar
dali e levá-la embora comigo, igual um homem das cavernas. Minha reação
é bem diferente. Me despeço com um movimento de cabeça e vou embora.

Deixo o restaurante com meu coração apertado, tentando ignorar esse


sentimento ruim após vê-la acompanhada de uma pessoa que não sou eu.

20

A segunda-feira chegou e estou muito nervosa. Ao mesmo tempo que


preciso saber os motivos de Ethan ter feito o que fez, eu tenho medo do que
posso ouvir. Acho que não estou preparada para o que ele tem a me dizer.

Até agora, meu dia foi tranquilo, malhei com os meninos e foi ótimo.

O treino fica muito mais divertido com os dois, e parece que nem estou de
fato malhando. Depois, aproveitei para levar minha mãe em um restaurante
famoso, que fica em um arranha-céu. Ela adorou, tirou muitas fotos e
mandou algumas para a sua nova amiga. E, em falar em Liz, ela passou aqui
em casa a tarde para buscar minha mãe para saírem. Acho que elas iriam no
spa ou algo do tipo. Minha mãe ficou empolgadíssima, porque não costuma
ter essas coisas na casa dela.

Liz elogiou minha casa e meu deu várias dicas de como melhorar alguns
espaços aqui. Prometi que iríamos juntas comprar tudo que precisasse e
ficaria nas mãos dela essa nova mudança. Ela amou, e eu adorei ver a sua
animação. Gosto demais dela, é uma pessoa muito boa para todos.

Agora estou aqui, já vestida e me olhando no espelho, com a incerteza de


como será o desfecho dessa noite.

Optei por usar uma calça pantalona preta, um boddy branco todo de renda -
transparente - e um paletó da mesma cor da calça. O colar que Barbie me
deu é o único acessório além de uma bolsa e brincos.

Me encaro por longos minutos, tentando contabilizar tudo o que aconteceu


do nosso término para cá. Gostaria de poder saber como teria sido minha
vida se estivéssemos juntos, mas, o que me resta é ir neste jantar e dar logo
um fim nisso.

Coloco tudo o que preciso na bolsa e pego a chave do meu carro antes de
sair. Ethan queria que eu fosse com ele, mas não quero ter nenhuma desculpa
para ficar mais tempo com ele quando eu der a conversa por finalizada.

Chego na garagem e já destravo minha Lamborghini Urus. Amo o

meu carro e ele foi uma fortuna, mas confesso que, ultimamente, tenho
usado poucas vezes. Entro nele e tiro meu celular da bolsa antes de jogá-lo
no banco ao lado. Abro o aplicativo de mensagens e encontro algumas de
Ethan falando que já está aqui em frente, esperando que eu o siga.

Aviso minha mãe que estou indo e abro também a conversa com Noah. Nos
falamos mais cedo. Depois de amanhã irei no escritório, porque tenho alguns
papéis para assinar e, parece que as coisas estão começando a fluir. Sou bem
leiga nesse assunto, então no final, eu só quero saber se está dando certo ou
não.

Pela primeira vez, também flertamos descaradamente por mensagem.

Foi extremamente excitante, tanto que tomei um banho de banheiro bem


demorado e levei alguns brinquedos comigo, para aliviar todo o meu desejo
de tê-lo dentro de mim novamente.

Coloco o celular no apoio que tem entre os bancos, prendo o cinto e ligo o
carro. Sorrio ao ouvir o ronco lindo do motor. Saio da garagem e já vejo
Ethan em um carro do outro lado. A janela está só um pouco aberta, mas é o
suficiente para que alguém o reconheça. Isso seria um desastre, porque
ligariam ele a mim na mesma hora.

Pisco a lanterna para que ele veja que sou eu e ele olha meu carro, meio
chocado. Tenho certeza que jamais imaginaria que eu compraria um carro
assim. Sempre usei os deles ou táxi, então, entendo a sua surpresa.
Ele começa a dirigir e vou seguindo. Teria sido mais fácil se tivesse me dado
o endereço do restaurante e nos encontrássemos lá, mas ele não quis passar.
Já deixei avisado que, dependendo do restaurante que ele tenha escolhido, eu
nem sairei do carro e voltarei na mesma hora para casa.

Por volta de 15 minutos dirigindo, chegamos em um restaurante que não


conheço. A entrada é clássica e aconchegante, antes de dar a chave para o
manobrista, olho ao redor, vendo se está tranquilo. Parece que sim. Saio do
carro e sorrio para o rapaz, que não sabe se olha para mim ou o carro.

Ethan já me espera na porta e vou até ele.

— Oi, Kathie. Você está deslumbrante — eu já imaginava que ele iria tentar
me tratar como se tivéssemos uma boa relação, mas, prometi a mim mesma
que me esforçaria para não o destratar. Pelo menos, não já no início da noite.
Me permito observá-lo, e por mais que eu não o ame mais, não tem como
falar que ele não é bonito, porque ele é, e muito. Ele estende a mão para
mim, mas finjo que não vi.

— Oi, Ethan. Obrigada — sorrio, mantendo a ideia de ser

minimamente educada. Já que aceitei vê-lo, não tem porque o tratar mal.

Caminhamos até a hostess, que sorri mais que o necessário para nós dois.

Deixo que Ethan fale com ela e poucos minutos depois, ela pede para que a
acompanhemos.

Ethan coloca a mão em minha lombar e meu corpo fica tenso com o contato,
me incomodando. Eu o encaro, mas ele parece não perceber.

Caminho o mais rápido que posso para a mesa, com o intuito de me afastar
de seu toque. Me sento de frente para ele e coloco a bolsa ao meu lado.

— Vocês querem algo para beber? — pergunta o garçom, que já estava de


prontidão ao lado da nossa mesa.

Ethan escolhe um vinho e eu peço água. A decepção em seu olhar é


explicita. Mas estou dirigindo, e mesmo se não estivesse, não é um encontro
e não precisamos perder mais tempo do que o necessário aqui.

Aproveitamos e fazemos nosso pedido, que é a sugestão do chef. Não estou


com fome, meu estômago está embrulhado desde mais cedo, mas não farei
essa desfeita.

— O que você tem feito de bom? Ficou meio ausente nas redes sociais, foi
difícil de ficar antenado. Exceto pelo o que sai nos sites de fofoca

— seu tom de voz é calmo e doce, como sempre foi quando falava comigo,
mas, sei que ele está nervoso, porque faz uns movimentos com seus
polegares; são movimentos quase imperceptíveis, mas depois de morarmos
juntos, descobri que é uma válvula de escape para seu nervosismo.

Suspiro.

— Ethan, eu não sei como fazer isso de forma menos constrangedora, mas,
minha vida não é da sua conta e não somos amigos. Eu já não me senti
confortável em falar qualquer coisa sobre mim antes de ver suas fotos com
Alex, depois de vê-las, quero menos ainda — coloco as mãos cruzadas na
mesa. — Eu não tenho o intuito de brigar com você, mas não finja que
somos amigos. Você sabe o único motivo de eu ter aceitado isso, então, por
favor, prossiga com o assunto combinado.

Ele encara as minhas mãos e, em um movimento rápido, segura uma delas e


acaricia. Eu encaro sua mão na minha, e parece tão errado, tão estranho. É
como se ele fosse estranho, como se nunca tivesse feito isso. Não sinto mais
os arrepios, nem fico feliz em sentir sua pele me tocando.

O garçom traz nossas bebidas e agradeço pela interrupção. Coloco as mãos


no colo, deixando-as longe dele. Ele me encara, percorre meu corpo com
seus olhos. Não é um olhar maldoso, é um olhar de saudade. Um olhar

que ele não verá mais em mim.

Pego a taça e bebo um pouco da minha água.

— Eu não sei por onde começar, Kathie. Porém, quero deixar claro que
aquelas fotos não são o que aparece. Eu tinha ido jantar com a nova
produtora que irá gravar meu novo cd. Foi apenas uma infeliz coincidência
que Alex estivesse lá — balança a cabeça, frustrado. — Ela fez de propósito.

Quando eu estava saindo, tinha alguns fotógrafos lá e parei porque umas fãs
me abordaram. Ela viu isso do interior do local, e se aproximou. Quando os
fotógrafos nos viram, ela seguro em minha mão e começou a sorrir para as
câmeras.

Estreito os olhos e ergo uma sobrancelha.

— Claro. E ela faria isso por que, Ethan? O que existiu entre vocês dois que
eu não sei? Ela não pode ser tão descontrolada a ponto de fazer isso atoa —
essas palavras deixam um gosto amargo em minha boca e ele me olha com
culpa, depois abaixa o olhar. E, é assim que eu sei que existiu algo.

Encaro o homem na minha frente em silêncio. Ele fica olhando para o nado,
sem coragem de falar. Eu nem sei mais se quero ouvir. Afasto a cadeira e me
levanto, aviso que vou à toalete e me afasto. Preciso respirar e me manter
calma.

Enquanto caminho para o banheiro, olho para as pessoas nas mesas e vejo
como maioria parecem felizes com seus convidados. Uma realidade bem
diferente da minha.

E, é aí que os vejo. Sinto o ar sair dos meus pulmões, meus pés diminuem a
velocidade e, parece que nem estou me movimentando.

Quais as chances?

Jacob me encara, fala algo que não consigo entender ao tentar ler seus
lábios, e logo abre um sorriso. Barbie só me vê quando paro ao lado de
Noah, que está com os ombros tensos.

— Meninos, que coincidência — tento manter minha voz calma, mas não
consigo. Barbie encara Ethan de longe e depois me olha, como se quisesse
saber se está tudo bem. Faço um sutil movimento com a cabeça para que ele
fique despreocupado. Noah se vira para mim e sorri. Acho que esse é o
sorriso mais forçado que já o vi dar para alguém. — Oi, Noah.
Isso é tão constrangedor. Eu jamais imaginaria que o destino seria tão sacana
comigo e me deixaria na saia justa. Me sinto estranha, como se tivesse sido
pega cometendo um crime.

Como se estivesse o traindo.

— Oi, Kathllen. Você está linda — seu olhar e seu tom de voz estão tão
diferentes do que estou acostumada, que parece que é outra pessoa usando
seu corpo. Mas, acredito que também esteja sendo constrangedor para ele,
que provavelmente, já sabe que Ethan é meu ex noivo. — Bom te ver. Boa
noite.

Simples assim, ele termina o nosso diálogo.

Toco em seu ombro e o aperto de leve. Gostaria que ele entendesse esse
contato como uma forma de dizer que não é nada do que está imaginando.
Eu não devo satisfação a ele, mas não quero que ele pense que tenho algo
com meu ex.

Me despeço dos três e vou para o banheiro.

Entro e depois me enfio em uma das cabines. Sento na tampa do vaso e


respiro fundo. Ainda não entendi o que acabou de acontecer, mas, não gostei
da possibilidade de Noah ficar chateado comigo por pensar que me envolvo
com o meu ex, ainda mais depois de ter aceitado jantar com ele essa semana.

Será que Noah ainda vai querer jantar comigo?

Bem, vou descobrir de um jeito ou de outro.

Depois de alguns minutos, decido voltar e finalizar esse jantar o mais rápido
possível. Faço outro caminho até a minha mesa para não precisar passar por
eles novamente.

— Demorou. Está tudo bem? — Ethan pergunta assim que me sento


novamente. Apenas faço que sim com a cabeça. — Kathie, eu vou falar logo
antes que eu perca a coragem — ele respira fundo e seus olhos me encaram
com arrependimento e sincera tristeza. — Na semana do nosso casamento,
nós fizemos uma festa lá na minha casa com nossos padrinhos, se lembra?

concordo, porque seria impossível de não lembrar a última vez que nos
vimos. — Eu bebi demais. Na verdade, todos beberam demais aquela noite.

Em algum momento, fui em nosso quarto, acho que eu queria dormir, não
consigo lembrar de muitas coisas, só alguns flashs — fecha os olhos e
respira fundo. — Eu e Alex transamos, eu acho.

Escuto o que eu tinha medo de ouvir.

Abro a boca mas, nenhuma palavra sai. Ficamos assim tanto tempo que o
garçom chega com a nossa comida e nem mesmo consigo agradecê-lo.

Pego o garfo e espeto um pedaço de aspargo, mexo-o de um lado para o


outro e dou uma garfada. É delicioso, mas desce pela minha garganta como
vidro.

— Como assim você acha, Taylor? — é chamando pelo segundo nome dele
que ele sabe que estou com raiva, mas tentando me controlar. —

Você não sabe onde enfiou a porra do seu pau? — ele arregala os olhos e
passa a mão em seu cabelo, que é um pouco comprido, tentando controlar o
nervoso.

— Eu não lembro de ter feito nada com ela, eu tenho quase certeza que não
fiz nada, porém, ela tem umas fotos. Assim, eu fiquei confuso — ele nem
toca em sua comida, mas bebe mais do vinho. Depois, tira de dentro da sua
jaqueta um envelope pequeno. Eu pego, já sabendo que são as tais fotos, mas
fico encarando o papel. — Antes que você veja, quero falar que realmente
não queria ter feito isso, caso eu tenha feito mesmo. Alex me dá mole desde
que começamos a ficar. Exatamente no mesmo dia que demos nosso
primeiro beijo, ela começou a se insinuar, e eu fingia que não percebia.

Depois, ela foi ficando mais descarada, deixando bem claro seu interesse.
Ela passava por mim e encostava em meu corpo, falava que você não era
suficiente para mim. Já até ficou nua na minha frente quando viajamos, se
lembra? Aquela vez que pretendíamos ficar uma semana a sós, mas ela disse
que sentiu falta e que tinha coisas a resolver. Tudo balela.

Ele está falando da Alex, eu sei, e até acredito, mas é tão surreal toda essa
situação. Tudo isso foi acontecendo e eu não percebia. Fui cega e acreditei
de mais neles, por amá-los!

Em um rompante, abro o envelope e dentro, tem várias polaroides.

Pego todas e vou passando uma por uma. Foi a própria Alex quem tirou. É

uma mais obscena do que a outra. Tem foto com ela só de calcinha sentada
nele só de cueca. Ela segurando a mão dele em seu seio nu, e outras que eu
nem tenho coragem de descrevê-las. Entretanto, a que mais me magoa é ela
deitada ao seu lado e ele a abraçando, com o mesmo sorriso que tinha
quando dormia comigo.

Coloco tudo de volta no envelope e empurro na direção dele. Me odeio por


sentir minha vista arder, anunciando as lágrimas que virão.

— Amor, eu jamais faria isso por vontade própria, sóbrio. Quando acordei
com ela do meu lado, pensei que fosse você, mas logo vi que não era.

Eu tive todas as oportunidades possíveis para ter algo com Alex e nunca
quis.

Você precisa acreditar, por favor — diferente de mim, ele não se incomoda
em deixar as lágrimas escorrerem. Eu observo cada uma descendo pelo seu
rosto esculpido que, por muito tempo, foi o rosto que mais amei.

Respiro fundo algumas vezes, tentando me controlar e não fazer um

show no restaurante.

— Olha, Taylor, eu ainda nem sei o que pensar sobre tudo isso.

Sequer consegui absorver essas imagens — falo em um sussurro. — Ainda


assim, não entendo porque você foi embora. Isso aqui não explica o motivo
de você ter me deixado às vésperas do nosso casamento — olho fundo em
seus olhos, suplicando em silêncio que seja sincero. — Por que você me
deixou, Ethan?

Ele passa as costas da mão no rosto, abalado.

— Ela me chantageou. Quando acordei no dia seguinte e você ainda estava


dormindo desmaiada na sala, ela jogou todas as fotos na mesa e falou para
quem quisesse ouvir que nós dois transamos feitos loucos e, que ela não
permitiria que eu me casasse com você — ele ri desacreditado e pressiona
um lábio no outro. — Ela disse que vazaria essas fotos, falava que iria ela
mesma se machucar e contar para o mundo que eu que fiz, porque eu não
aceitei que ela não me queria mais. Ela ia forjar um relacionamento falso
entre nós dois.

Estava disposta a se queimar por isso, disse que as pessoas ficariam do lado
dela porque eu a agredi. Você consegue imaginar como eu fiquei? Eu não
sabia o que fazer. Primeiro, eu não queria que você acreditasse naquilo, e
segundo, que isso arruinaria minha carreira.

Apenas o encaro de boca aberta, as palavras dançam em minha mente.

Quem é essa Alex que ele está falando? Como isso tudo aconteceu de baixo
do meu nariz e eu não vi?

— E, então, você achou que a melhor opção seria sumir, avisar na mídia que
terminamos e viver a porra da sua vida normalmente? Como se eu nunca
tivesse existido? Como se eu não estivesse com a merda de um vestido de
noiva pendurado no closet esperando o "grande dia"? — falo tudo rápido,
meu coração bate forte e minha mão treme. — Você não confiou em mim
para conversar. Você nunca sequer falou algo da Alex. Sua casa tinha
câmeras, Ethan, muitas, inclusive. Nunca imaginou pegar uma dessas cenas e
me mostrar? Você acha que eu seria ingênua ao ponto de ver um vídeo e não
acreditar em você porque ela era a minha amiga?

Sua expressão me mostra que, aparentemente, ele nem cogitou esse fato. Ele
balança a cabeça, inconformado.

— Amor...
— Kathllen! Meu nome é Kathllen — quase rosno de raiva. — Que merda
isso tudo, Ethan. Que merda. Sua carreira sempre esteve acima do nosso
relacionamento e, eu nunca te julguei por isso. Porém, ela não poderia

estar acima do seu caráter. Você tem noção de como eu fiquei? Você, em
algum momento, pensou nisso quando planejou a nossa separação? — ele
faz que não, derrotado. — Você é um egoísta. Você me destruiu e eu te
amava, Ethan. Amava tanto que eu pensei que não suportaria.

Ethan fecha os olhos e mais lágrimas escorrem. Olho ao redor mas todo
mundo está distraído demais para nos notar.

— Kathie, eu pensei nisso todos os dias da minha vida depois que fui
embora. Eu não soube como reagir, tá legal? Eu fiquei assustado, apavorado!

— sua voz fica fina pelo seu desespero. — Eu errei, eu errei muito e, as
consequências doem em minha alma todo santo dia. Não tem um único
momento da minha vida que eu não pense em você e como poderíamos estar
agora. Eu te amo, eu te amo muito. isso me sufoca, porque sei que estraguei
tudo. Eu só queria uma chance para me explicar, para tentar me reaproximar.

Rio.

Rio alto e preciso colocar a mão na boca.

— Você pensa que eu sou o que, ein? Lamento se ainda me ama, porque vai
ser difícil para você ter que lidar com esse amor agora que eu sei a verdade
toda e, mesmo assim, não quero nada vindo de você. Você já me deu o que
eu precisava, que era o ponto final da nossa história — meu peito se
movimenta rápido, parece que o coração vai rasgar minha pele e sair
rolando.

Ele abaixa o olhar, fica olhando para nossos pratos.

— Eu sinto muito, de verdade. Eu deveria ter te contato, deveria ter confiado


na gente para resolver e superar esse problema. Fui imaturo, fui um idiota e,
esse é o meu maior arrependimento da vida — me encara, suas írises estão
claríssimas por conta do choro. — Eu te amo, Kath. E, por conta disso, não
quero mais faze-la sofrer. Vou respeitar a decisão que você tomar sobre nós
dois.

Esfrego minhas têmporas, pedindo ao universo que me dê uma luz.

— Olha, Ethan, não tem como sermos amigos, muito menos qualquer outra
coisa. Você não é mais quem eu quero para mim, você não é quem eu
acreditava ser. Então, acho que o melhor é continuarmos cada um em seu
canto, tudo bem? — ele concorda em silêncio. — E, acredite, eu lamento
muito por tudo isso ter acontecido. Lamento por você não ter tido coragem
de conversar com quem sempre foi sua âncora.

Pego a minha bolsa, me levanto e paro perto dele.

— Eu espero que você aprenda com isso, Ethan. E, em um próximo


relacionamento entenda que as coisas precisam ser conversadas, porque um

relacionamento é composto por duas pessoas que devem tomar decisões


juntas — coloco minha mão em cima da dele e aperto. — Adeus, Ethan —

ele segura minha mão por alguns segundos e depois solta.

Caminho até meu carro me sentindo leve. Por mais que eu esteja triste,
parece que consegui fechar uma página importante do livro da minha vida.

21

Encaro os papéis em minha frente, mas parece que não enxergo nada.

Estou assim desde que acordei, totalmente nervoso porque daqui a pouco,
Kathllen entrará pela minha porta e tenho medo de esquecer como usar as
palavras.
Me levanto e caminho até a janela. Observar o mundo lá fora sempre me
acalma, mesmo que seja puro caos ao redor do prédio. Olho novamente para
o relógio, conferindo a hora mais uma vez.

— Dr. Cooper, precisa de algo? — a secretária substituta me pergunta. Viro


um pouco o rosto e olho para ela por cima do ombro. Aviso que não preciso
de nada e a dispenso para seu almoço.

Infelizmente, a mãe de Jenni faleceu naquele dia em que ela saiu daqui
desesperada. Ambas sofriam demais e, eu sei que será muito duro para
Jennifer lidar com isso. Assim que pediu para que adiantássemos suas férias,
nós não pensamos duas vezes antes de aceitar e prorrogá-las, para caso ela
precisar. O ambiente está mais triste sem sua presença, mas é importante que
ela viva o luto, que sofra, ou que simplesmente faça o que tiver que fazer
para ficar minimamente melhor.

Nós sempre temos alguns contatos para funcionários substitutos, mas não me
sinto muito à vontade com minha secretária nova. Por mais que Jenni a tenha
treinado durante uma semana, parece que ela guarda no bolso a ética quando
estamos só nós dois. Estou ignorando e não falei nada porque ela, por
enquanto, só tem insinuado alguma coisa aqui e outra ali.

Ouço uma batida leve na parede de vidro e me viro.

— Posso entrar? — Kath está parada na porta com um sorriso tímido e


mordendo o lábio inferior. Meu coração erra uma batida e me seguro para
não a beijar agora mesmo, sem nem ao menos ter dado um “olá”. Só que não
sei mais em que pé estamos, então, me manterei no modo profissional.

Ou pelo menos, vou tentar.

— Oi, Kath. Claro que pode! — caminho até ela e paro a uns passos

de distância, pois não sei como devo cumprimentá-la. As coisas estão


confusas na minha cabeça, e meu corpo não sabe como se comportar. —

Sente-se, por favor — indico a cadeira, e vou até a minha. Assim que me
sento, já começo a explicar os papéis que ela precisa assinar, todas as
liberações para alguns documentos e contas; como eu mesmo tinha-lhe
ensinado em outra reunião, ela lê tudo com calma e cuidadosamente.

Digito algumas coisas nesse meio tempo e tiro todas as dúvidas que vão
surgindo enquanto ela percorre os olhos pelos papéis.

Aproveito que ela está distraída e me permito encará-la. Não preciso dizer o
quanto ela está linda, porque é uma informação de conhecimento mundial. O
tempo está fresco lá fora e acredito que por isso, ela optou por usar um
vestido rosa de alça, ele é bem soltinho e tem a cintura marcada.

Seus seios me encantam, e tento não lembrar do gosto deles em minha boca.

— Acho que assinei tudo — coloca a caneta sobre os papéis e empurra o


cabelo para trás da sua orelha. Observo tudo, atento a cada movimento
tímido que não existia mais entre nós dois.

Pigarreio e volto meu foco para o assunto principal da reunião.

— Nós teremos uma reunião com a Alex e o advogado dela na próxima


semana. Tudo bem para você? Ele me passou os dias que ela tem disponíveis
e você me diz qual deles dá para encaixar na sua agenda — ela concorda e
começa a balançar a perna que está por cima da outra. — Vai dar tudo certo.
Acho que depois do que já conseguimos e anunciamos ao advogado dela, ela
ficou assustada e, provavelmente, irão pedir um acordo.

Porém, não queremos isso, correto? Já que tudo é seu. Iremos pedir
reembolso e devolução corrigida, além de manter os processos por
difamação e calunia. Claro, e o pedido público de desculpas.

Ela mexe na caneta, inquieta. Seu olhar encontra os meus e ela me encara
por alguns segundos e vira o rosto novamente. Escuto um suspiro baixo sair
dos seus lábios.

— Podemos fazer da maneira que você achar melhor, Noah. Só não quero ter
muito contato com ela, nada além do necessário. Por favor —

sussurra e noto que tem algo diferente nela e em seu olhar.


Me levanto e encosto na mesa, ficando ao lado dela, que continua olhando
para o outro lado. Estou tão sem jeito com ela que nem sei direito como
abordá-la e perguntar se está tudo bem.

Kathllen levanta e se posiciona na minha frente, ergue a cabeça para poder


me encarar e observo cada pedacinho do seu rosto, que eu tanto quero

tocar novamente.

— Noah, sobre segunda... — respira fundo antes e coloca os dois braços


para trás, segurando as duas mãos juntas nas costas. — Tudo foi muito
constrangedor e, eu sentia que estava fazendo algo errado, mesmo sabendo
que não estava, porque não temos nada sério. Fiquei tão confusa com as
sensações daquela noite, aconteceu tanta coisa, descobri coisas que nunca
sonharia que haviam acontecido, mas no final da noite, eu só conseguia
pensar no quanto fiquei chateada pelo clima que ficou entre nós dois.

Eu adoro como Kath se impõe, sempre deixando claro o que pensa e pronta
para resolver as coisas, sem ficar rodeando ou esperando que a outra pessoa
vá perguntar o que houve.

— Foi estranho. Eu não vou negar e sequer tenho o intuito de mentir.

Eu pensei muito nesses dias, de o porquê do clima ter ficado daquele jeito.
Os meninos foram bem claros ao esfregar na minha cara que eu estava
sentindo ciúmes — e novamente, ela morde o lábio inferior, observo esse
movimento até o fim. — Mas, se quer saber, foi o que aconteceu, eu senti
ciúmes. Ainda mais depois que descobri que aquele era seu ex-noivo — me
desencosto da mesa, ficando mais próximo dela. — Você não me deve
satisfação, amor, e quero deixar isso claro. Não quero que se sinta na
obrigação de se justificar comigo.

Ela solta as mãos e seus braços caem ao redor do seu corpo. Seus dedos
tocam o meu punho, que é a única parte além da minha mão que está
descoberta naquela área. Ficamos olhando o seu contato naquele ponto.

Depois, ela retira sua mão.


— O problema disso tudo, é que eu quero me explicar. Não quero deixar
nenhum mal entendido entre nós dois — ela fecha os olhos e toma fôlego, se
preparando para falar algo que parece ser importante. — O Ethan e eu
terminamos de uma maneira muito turbulenta. Eu descobri, através da mídia,
que ele tinha cancelado nosso casamento três dias antes da cerimônia...

Kathllen leva um pouco mais de dez minutos para me contar sua história
com seu ex e o que ela descobriu ontem. Ela termina e eu fico sem palavras;
é tão surreal tudo isso. Uma pessoa que ela estendeu a mão quando cresceu
na vida, não pensou duas vezes antes de a apunhalar pelas costas.

Seus ombros estão caídos e sua expressão é de pura mágoa.

Me aproximo um pouco mais e nossos corpos ficam bem próximos.

Apoio a mão na lateral do seu rosto e faço um carinho com o polegar em sua
bochecha. Ela fecha os olhos, recebendo a carícia.

— Amor, você é tão incrível. Eu, no seu lugar, não conseguiria ser tão forte
assim, não depois de perder um grande amor e logo depois uma amizade de
uma vida inteira — seu queixo treme e eu gostaria de poder fazer com que
ambos pagassem por todo sofrimento que fizeram a ela. Ao abrir os olhos,
uma lágrima escorre. Involuntariamente, aproximo meu rosto e beijo onde a
lágrima parou. — Não chora, amor. Não por eles — sussurro perto da sua
boca.

Seu olhar desce até meus lábios e ela gruda os seus aos meus, sutil e tímida,
esperando por um retorno da minha parte, que vem logo em seguida, quando
seguro em sua cintura, colando seu corpo ao meu. O beijo começa calmo, é
quase como se estivéssemos descobrindo se está tudo bem depois de todo o
constrangimento no restaurante.

Kathllen envolve seus braços ao redor do meu pescoço, enquanto eu abraço


sua cintura. Encosto-me novamente na minha mesa e abro um pouco as
pernas, para que ela se encaixe ali.

Nosso beijo tem algo diferente nele e, eu gosto do que sinto. Minha língua
passeia calmamente pela dela, explorando sua boca como se fosse nosso
primeiro beijo. Me arrepio quando as unhas longas de Kath raspam de leve
em minha nuca e sorrio com os lábios ainda colados aos dela.

Seu corpo pequeno e curvilíneo parece acender tudo dentro de mim.

Tento manter nosso beijo tranquilo, mas esse pequeno furacão pressiona meu
pau e até penso que foi sem intenção, porém, quando isso se repete pela
terceira vez, eu rosno entre o beijo e toda calmaria se esvai. Seguro em sua
nuca por cima do cabelo e aprofundo o beijo enquanto a aperto contra mim,
com meu pau já ganhando vida.

Ela abre espaço entre nossos corpos e coloca a mão na minha ereção por
cima da calça. Automaticamente, aumento o aperto da minha mão em sua
nuca e a sua começa a fazer movimentos em meu pau. Afasto nossas bocas e
abro os olhos para ser contemplado com seu rostinho de sapeca e seus olhos
lindos me encarando com desejo.

Olho para a parte de fora da minha sala; ainda não tem ninguém. Kath
parece ter constatado a mesma coisa que eu, porque nesse momento, seus
dedos percorrem com agilidade a braguilha da minha calça e seus olhos não
se perdem dos meus nem por um segundo. Sua segurança e atitude me
excitam mais ainda. Espero que ela termine de abrir minha calça e separo
nossos corpos para poder ir até a porta e fechá-la. Ela me olha sem entender,
já que a porta e as janelas são de vidros e não faria diferença deixá-la aberta

ou não. Apresso meus passos até a mesa, tiro um pequeno controle da gaveta
e assim que aperto o botão, o vidro fica totalmente fosco, impossibilitando
que qualquer pessoa lá fora consiga ver algo aqui dentro. Ela fica
boquiaberta e depois ri maliciosamente.

Como sempre gosta de me surpreender, dessa vez não seria diferente e,


enquanto caminho de volta para ela, seu vestido já foi retirado e agora cai
sob seus pés. A visão me faz gemer e trincar o maxilar de desejo. Kath está
com uma calcinha branca rendada e sem sutiã, expondo seus seios perfeitos.

— Você pode fazer mais do que apenas olhar — me provoca com a voz
carregada de desejo e, isso é o suficiente para me enlouquecer. Avanço nela e
seguro seu cabelo bem firme, forçando a cabeça dela para cima e deixo
nossos lábios quase colados enquanto a encaro. — Não seja carinhoso, amor.

— Não serei, amor — beijo-a com fúria, esmagando nossos lábios.

Empurro minha calça e cueca para baixo, com um pouco de dificuldade


porque ela não para de se esfregar em mim, mas não reclamo porque adoro
senti-la. Sua mão vai de encontro ao meu pau assim que o libero, e ela
começa os movimentos de vai e vem, espalhando a lubrificação que tinha em
minha glande. Gemo, puxo seu lábio inferior e depois sugo o mesmo lugar.

Abaixo a minha cabeça e passo a pontinha da língua pelo vale entre seus
seios, rodeando-os. Depois, começo a lamber um dos seus mamilos com
movimentos circulares. Kath geme meu nome e intensifica a punheta. Me
esforço para prestar atenção no que estou fazendo e massageio o outro seio.

Sugo seu mamilo rígido e desço minha outra mão para sua calcinha, que está
ensopada. Sorrio vitorioso.

— Noah... — geme ao sentir minha mão toda esfregar sua boceta por cima
da calcinha. Passo um dedo para dentro do tecido e encontro seu ponto
sensível. No mesmo momento que começo a estimulá-la naquela área, puxo
um pouco seu mamilo e ela não consegue controlar um gemido alto. —

PUTA QUE PARIU!

Esfrego o dedo e coloco um pouco de força nos movimentos. Kath já não


consegue mais manter a punheta e faz movimentos descoordenados.

Levanto a cabeça e passo a língua em seus lábios, que logo depois estão
colados aos meus. Nos beijamos em desespero e ela geme entre o beijo
quando escorrego um dedo dentro dela. Sua boceta praticamente pinga em
desejo. E, esse desejo é por mim.

Separo nossos lábios, abro a minha gaveta e tiro uma camisinha de lá.

Confesso que não queria ter que usar depois de já termos transado sem, mas
acho que por enquanto, é melhor que usemos. Ela me encara, mordendo o
lábio inferior e não pisca enquanto me assiste vestir a camisinha.

— Lembre-se que foi você quem pediu — sussurro antes de empurrar os


papeis e o computador para o outro lado da mesa e ganhar espaço ali. Paro
atrás de Kath e jogo seu cabelo para frente. Colo nossos corpos e deixo que
meu pau seja abraço pelas suas nádegas, que o engole e eu gemo. Levo
minha mão para frente do seu corpo e volto a massagear seu clitóris. Passo a
língua em sua nuca e mordo a ponta da sua orelha. — Eu ainda vou comer
essa bunda gostosa — ela geme e jogo a bunda para trás. — Safada!

Empurro seu corpo para o tampo da mesa até que ela fique de quatro, com o
rosto deitado ali. Me afasto o suficiente para olhar essa imagem e desejo que
minha mente nunca esqueça desse momento. Ela me encara de onde está e
abre as pernas, me provocando. Eu estalo um tapa alto em sua bunda e seu
gemido toma conta da sala.

Seguro a calcinha com as duas mãos e a rasgo; ela ri em resposta a minha


atitude. Seguro meu pau e o lambuzo com sua excitação. Ela me olha,
ansiando por me sentir. Eu enfio meu pau inteiro em uma única estocada
forte e nós dois gememos alto. Tiro ele todo e faço o mesmo movimento
com mais força e repito isso algumas vezes, sentindo meu pau entrar fundo
na sua boceta gostosa.

Ela aperta as paredes ao redor do meu pau e eu bato em sua bunda


novamente, com força. Seguro em sua cintura, para mantê-la firme e começo
estocar com força, uma estocada atrás da outra. A imagem da bunda dela
batendo em mim quando a penetro está me deixando louco.

Meu pau pulsa tanto, mas me controlo para conseguir aproveitar o máximo
dessa fantasia de come-la em meu escritório - algo que eu vinha sonhando há
dias. Entretanto, nenhuma fantasia me preparou para o que de fato está
acontecendo.

Meu furacão começa a fazer movimentos contrários dos meus,


intensificando ainda mais as estocadas brutas. Seguro sua cabeça na mesa,
sem machucá-la e faço movimentos mais rápidos enquanto ela geme e pede
por mais.
Saio de dentro dela e ela resmunga, desaprovando. Puxo-a da mesa e a viro
para mim. Passo o braço ao redor da sua cintura e a puxo para o meu colo.
Suas pernas me abraçam e, enquanto eu caminho até a janela, ela rebola na
cabeça do meu pau.

— Você ainda vai me matar, mulher! — ela ri, gostando de como fico

com ela. Colo as costas dela na janela e meto fundo, aproveitando que a
gravidade ajuda nas estocadas fundas. Os peitos delas se movimentam cada
vez que enfio o pau nela e caio de boca neles. Ela segura em meus ombros
para poder se movimentar e crava a unha em minha pele por cima da camisa.

— Que boceta gostosa.

Tiro ela do meu colo e viro-a de frente para a janela. Kath apoia as mãos no
vidro e rebola com a bunda colada em meu pau.

Abaixo um pouco e entro nela novamente, que resmunga cheia de tesão.


Agora é o ápice da minha fantasia: vê-la pressionada na janela do meu
escritório enquanto todos lá em baixo estão alheios a nossa transa aqui em
cima.

Nossos corpos suados fazem um barulho alto toda vez que deslizo dentro
nela. Meu dedo encontra seu ponto sensível, que está ainda mais vulnerável
e eu esfrego, sentindo sua boceta me apertar mais e mais.

— Eu vou goz.... — Kath apoia a testa no vidro, solta um gemido longo e


goza. Seguro em sua cintura e dou mais estocadas fortes, sentindo o meu pau
pedir arrego, desesperado. Saio de dentro dela, puxo a camisinha e gozo em
sua bunda, com ela ainda na mesma posição. — Isso foi, uau —

continua agarrada a janela e acho que ela não tem forças para sair. Eu
entendo, porque todo meu corpo parece estar virando uma gelatina.

Tiro a camisa que está toda molhada de suor e passo em sua bunda,
limpando a sujeira que fiz. Empurro o sapato para fora dos pés e tiro a roupa
que ainda estava em meu corpo.
Puxo Kath para mim e a pego no colo. Ela sorri, segura meu rosto com as
duas mãos e me dá um beijo casto nos lábios. Apoia sua testa em meu ombro
e, novamente, abraça minha cintura com suas pernas. Me sento no sofá com
ela em meu colo, sentindo ambos corpos cansados.

— Você é incrível, amor. E não falo só no sexo, por mais que você seja
muito boa no que faz, só pra constar — rimos juntos. Passo a ponta dos
dedos pela sua cintura, fazendo um carinho pela área. — Você é incrível em
todos os sentidos, e isso está me enlouquecendo, porque quanto mais eu te
conheço, mais quero você comigo. Te ver com outro homem e ficar na
dúvida se era um encontro ou não, me fez perceber que eu gosto de você.
Não digo apenas como amigo, porque esse gostar acho que já existe desde o
primeiro dia que te vi aqui — ela levanta o rosto e me encara com seus olhos
brilhando. — Eu gosto de você, amor, eu gosto muito. E não quero ser só seu
amigo com benefícios. Quero que você seja minha, amor.

Ela morde o lábio inferior tentando conter um sorriso. Tiro os fios do seu
cabelo que grudou em seu rosto e o jogo todo para trás. Admiro a beleza que
há em cada parte do corpo dessa mulher. Aproximo meu rosto e lhe dou um
beijo calmo e carinhoso. Quero que ela entenda que estou sendo o mais
sincero possível.

— Antes que você me responda qualquer coisa, preciso deixar claro que eu
nunca tive nada sério com ninguém e, nem ao menos me interessei ao ponto
de querer tentar, como quero tentar com você — ela concorda enquanto
passa a unha em meu peito, provavelmente ponderando sobre tudo o que
ouviu. — Você terá que ter paciência comigo, ainda mais em questão da
mídia — respiro fundo, tentando não pensar nisso e perder a coragem.

Ela me olha nos olhos e sorri.

— Porque a gente não começa com o jantar que você me convidou?

Não precisamos nos apressar, vamos um passo de cada vez — me dá um


selinho. — Eu só preciso que você entenda que a mídia é o meu trabalho, tá
bom? Eu sou famosa, sou conhecida, e as pessoas gostam de saber da minha
vida. O nosso relacionamento não precisa ser exposto por mim nas minhas
redes sociais, mas as pessoas de fora irão expor de um jeito ou de outro.
Então, você também terá que ter paciência se quiser que algo flua entre nós
dois.

Eu sei disso tudo, e concordo com a cabeça. Jamais pediria que ela abdicasse
de sua carreira ou algo do tipo, até porque, nunca permitiria que alguém
pedisse isso a mim. Não sou uma pessoa desconhecida e meu nome aparece
bastante por aí, mas de forma profissional e, é fácil de lidar.

Entretanto, eu gosto da Kathllen e, eu nunca gostei de outra mulher.

Não irei deixar o medo do que possa acontecer ou não, atrapalhar algo que
pode ser o meu futuro. Algo que eu quero que o meu futuro.

— Um passo de cada vez então, amor. Vamos tentar assim — ela sorri e me
abraça, subindo mais em meu colo e sentando em meu pau, que na hora já dá
sinal de vida. Rio. — Sabia que a minha sala é a prova de som? —

esfrego minha ereção na sua boceta e ela geme baixinho. — E ninguém


nunca me interrompe quando estou com os vidros bloqueados.

Isso foi suficiente para que meu furacão me atacasse com tudo e pedisse para
transar em cada parte da minha sala.

22

— Não aceito ser menos do que o padrinho — Barbie fala enquanto termina
de comer. Eu rio e Noah apenas revira os olhos. — Eu ganhei a aposta. Está
me devendo 500 pratas, Jacob.

Jacob bufa, pega a sua carteira e joga o dinheiro em cima da mesa. Eu e


Noah nos olhamos, curiosos. Depois encaramos os dois, querendo saber
sobre o que se trata a aposta.
— Esse infeliz apostou que depois do jantar de sábado, com Noah todo
ciumentinho por você, ele não levaria nem cinco dias para rastejar pelo seu
amor — faz uma careta para Noah e ri. — Eu apostei que seria na semana
que vem.

Eu tenho que pôr a mão na boca cheia de comida para não gargalhar.

Tomo o suco, empurrando a comida e rio. Noah está se fingindo de sério,


mas consigo ver que disfarça um sorriso.

Depois que transamos mais uma vez e estreamos cada canto dessa sala -
palavras dele, que disse que nunca transou aqui -, aproveitamos para tomar
um banho juntos e na empolgação, molhei meu cabelo. Barbie e Jacob
chegaram minutos depois para chamá-lo para almoçar, mas depois que me
viram recém saída do banho, não tinha muito o que esconder. Além disso, fui
totalmente pega de surpresa quando Noah falou que agora estávamos juntos.

Seus amigos gostaram e se tivesse fogos por aqui, com certeza eles
soltariam.

Jacob pediu almoço para todos nós de um restaurante muito bom e, agora
estamos almoçando na sala de Barbie, que disse que não iria almoçar em
uma sala com cheiro de sexo. Noah deu um tapa na cabeça dele pelo
comentário e eu só ri, porque sei que ele não falou por mal, é seu jeito e não
me incomodei, porque era óbvio o que tínhamos feito.

Agora estamos aqui, sendo motivo das piadas desses dois.

— Sério, eu estou feliz por vocês. Espero que dê certo, de verdade! —

Jacob fala enquanto me encara, sorrio em resposta e ele pisca. — Agora,


vamos ao que interessa. Quem vai contar para dona Elizabeth?!

— Não! — eu e Noah falamos juntos, em desespero. — Não me levem a


mal, eu amo aquela mulher, mas queremos ir com calma e, se não der certo,
não quero que ela fique magoada ou triste. Ela já sabe que estamos ficando,
vamos manter isso por enquanto, até porque não temos nada muito além
disso, só que agora somos exclusivos.
— Melhor falar com minha mãe depois. Não vamos anunciar nenhum
envolvimento até que o caso dela seja finalizado, para que não tenhamos
problemas com as pessoas de fora — Noah termina sua comida e limpa a
boca. Me olha e sorri. — Vamos manter a calmaria por enquanto — olha
para os meninos e aponta de um para o outro. — E vocês, fiquem calados.

Eles concordam e entramos em outro assunto aleatório. Meu celular vibra na


mesa e o pego. É um jornalista que confio e sempre passei para ele em
primeira mão as notícias importantes que eu queria que o mundo soubesse
sobre mim.

Pietro: Oi, querida.

Pietro: Estou ouvindo por aí que você e o Ethan foram vistos juntos.

Pietro: Algum furo nisso para mim? Muito tempo que não me manda nada.

Olho para os meninos e eles estão distraídos falando de trabalho.

Eu: Claro que ouviu, né.

Eu: Não tem nenhum furo nisso, Pietro. Foi apenas um encontro casual,
precisávamos resolver umas coisas.

Pietro: Então, você não tem nada a ver com o fato de Ethan ter anunciado há
poucos minutos que precisa de um ano sabático para colocar a sua cabeça no
lugar?

Eu: Eu nem sabia disso e, até onde sei, não tenho nada a ver com isso.

Pietro: Ok, linda. E a entrevista para a tv? Ainda não quer dar?

Eu: Não, ainda não. Estou no meio de um processo e não posso correr esse
risco, mas em breve, entro em contato.

Pietro é um bom homem e foi o único que sempre me procurou quando saía
alguma notícia minha e me dava espaço para contar o meu lado.
Ele é insistente e às vezes, um pouco intrometido, mas é o seu trabalho,
então tento relevar os momentos que me importuna além da conta.

— A Laura vai passar um tempo lá em casa — Barbie fala e volto a prestar


atenção neles. Noah parece ficar meio tenso com essa informação e eu

fico curiosa. — Laura é minha irmã mais nova, Kath.

— Que é apaixonada por Noah desde adolescente — arregalo os olhos ao


ouvir Jacob e encaro Noah, que nesse momento, está coçando a sobrancelha.

Barbie ri, pega todas as coisas e some da sala. Volta pouco tempo depois e
senta no tampo da mesa, deixando as mãos caírem entre as pernas.

— Não se preocupa, Kath. Noah foi muito importante na recuperação dela,


então, ela vinculou isso ao amor, mas ela é pacifica e tenho certeza que vai
gostar de você. Talvez assim, ela até deixe de gostar desse Zé Roela —

ouvir que alguém gosta do homem que você também gosta e, que agora é
seu homem, não é nem um pouco legal, mas saberei me comportar se ela
também souber.

— Recuperação? — pergunto, mesmo sabendo que pode ser algo que não
me diz respeito, mas a curiosidade me vence.

— Minha irmã se viciou em todos os tipos de drogas muito cedo, logo


depois que minha mãe faleceu e, eu tive que cuidar dela — ele pega a porta
retrato ao seu lado e encara a foto por um tempo e depois estica em minha
direção. Levanto, me encosto na mesa ao seu lado, pego a foto e vejo que é a
mesma foto que vi em sua casa. — Com 12 anos, ela se internou e ficou lá
até os 17. Morou um tempo comigo, porque não tínhamos mais ninguém e,
depois que vi com meus próprios olhos que ela estava bem para se virar
sozinha, concedi o pedido dela de viajar o mundo para estudar fotografia.

Fico sem palavras e sei que se tentasse falar algo agora, iria acabar
chorando. Ainda não conheço a história de vida de Barbie, mas acabo de
descobrir uma parte importante e, que com certeza, o marcou muito.
Coloco a mão em sua perna e faço um carinho breve. Ele me olha e sorri,
balança a cabeça e pega a foto, colocando-a de volta no lugar.

— Com licença — uma mulher loira, muito bonita e elegante, aparece na


porta com alguns papéis na mão. Sinto que Barbie fica tenso ao meu lado e
sua postura toda muda. Ele se levanta só para ir à sua cadeira e se sentar
novamente. Apenas observo a mudança repentina nele. — Sr. Barbieri,
preciso com urgência dos documentos que solicitei ontem — a voz dela
carrega algo diferente, parece até raiva.

Barbie pigarreia e a encara em silêncio. Pega uma pasta que estava ao meu
lado e estica para a mulher, que é obrigada a entrar e pegá-la. Assim que
passa por mim, e de fato me nota, acho que me reconhece e sorri simpática,
totalmente diferente da forma que sorri amarelo para ele, quando o alcança.

— Olívia Pierson, prazer — estica a mão em minha direção e eu a pego,


cumprimentando-a de forma amigável. — A nova contadora.

— Kathllen Ibrahim, cliente do Noah — solto da sua mão, ela cumprimenta


Jacob e Noah de longe, com um aceno de cabeça. Depois, se vira novamente
para Barbie e quase consigo ver um laser saindo dos seus olhos e rasgando a
garganta dele. Prendo um riso.

Ela sai e eu encaro Barbie, que está olhando em direção a porta, com sangue
nos olhos.

— Você tem que superar logo isso, cara — Jacob resmunga. — Ela é uma
ótima funcionária e não irei mandá-la embora porque simplesmente ela te
irrita — Barbie levanta o dedo do meio para ele e eu rio da infantilidade.

— Ela me inferniza todo santo dia. Que mulher do cão — confere a hora no
relógio e se levanta. — Qualquer dia, ou ela me joga pela janela ou eu a
tranco pra sempre no armário de limpeza — revira os olhos, pega uns papéis
e vai embora, porque tem reunião em alguns minutos.

— Ela é linda, caramba — Jacob concorda e Noah fica sem graça. Eu rio da
sua preocupação em falar que sim e me magoar. É até fofo, mas
desnecessário. É normal acharmos pessoas atraentes e não significa nada
além disso.
Jacob e Noah também se levantam para sair e eu os sigo. Preciso pegar
minhas coisas para ir embora. Me despeço de Jacob e vou até a sala de
Noah. Só agora noto sua nova secretária, que me olha com desdém e eu
ignoro, porque não tenho muita paciência para rivalidade feminina.

— Não se incomode. Ela olha assim para qualquer mulher que aparece por
aqui — dá de ombros e entra. Pego minha bolsa e coloco o celular dentro.
Noah se senta, me puxa para seu colo e eu solto uma risadinha. — Quero te
convidar para duas coisas — beija meu pescoço e depois me dá um selinho.
— Viaja comigo pra Aspen?

Solto uma tose ao ouvir.

— Aspen?! Uau. Claro! Tenho muita vontade de conhecer, mas nunca tive
tempo — passo a mão por seu rosto e depois a apoio em seu peito. Estou
adorando essa liberdade que estamos tendo em relação a carinho e
demonstração de afeto. Poderia, facilmente, me acostumar com isso. — E,
qual o outro convite?

— Halloween! Eu e os dois idiotas fazemos aniversário em outubro. É

de costume deixarmos para comemorar com festa em um único dia e, é


sempre no Halloween — rio, surpresa. Não imaginaria isso nem se me

dessem um milhão de chances, mas gostei.

— Isso é surpreendente, mas eu também topo. Adoro halloween e fantasia!


— faço uma nota mental de perguntar à mãe dele o aniversário dos três.
Dou-lhe mais um selinho e me levanto. — Preciso ir, amor. Ainda tenho que
passar em casa para pegar outra calcinha — relembro o fato de estar sem
calcinha e ele coloca a mão dentro do meu vestido, passeia pela minha bunda
e a aperta. Me afasto antes que a gente comece de novo.

— Lembre-se de sempre ter calcinhas em sua bolsa quando sair comigo,


amor — a forma como ele fala a última palavra sempre me faz ter arrepios.
Rio e depois vou embora, antes que eu desista e decida ficar o dia inteiro
transando em seu escritório.

Estaciono o carro em frente à casa dos pais de Noah. Eu e Liz marcamos de


passar na Open Arms hoje. Ela quer me explicar melhor como tudo funciona
lá. Minha mãe também iria, mas teve que voltar para Outer Banks e não me
explicou o motivo, porém, me garantiu que voltaria essa semana, o que eu
acreditei, pois sequer levou suas roupas. Eu achei no mínimo estranho, mas
não insisti.

Liz sai de casa e eu abro a porta por dentro do carro para que ela entre.

— Uau! Barbie já viu seu carro? Vai ficar louco! — entra e olha tudo.

Se aproxima e nos abraçamos. — Oi, filha. Você está linda! — sempre muito
educada e gentil.

— Oi, Liz. Obrigada! Você também está ótima — nos ajeitamos e eu dirijo
em direção ao orfanato. — Como estão o Justin e Bryan?

— Meu marido está ótimo, tem ficado lá na empresa enquanto Bryan está
fora — concordo. Noah me contou o que aconteceu e eu fiquei triste por

ele. Não trocamos muitas palavras desde que o conheci, mas é impossível
alguém dessa família não ser, no mínimo, uma pessoa boa. — Aliás, ele
ligou hoje para avisar que está bem também. Estou aliviada por ter notícias.

— Fiquei sabendo! Ele vai ficar bem e foi melhor descobrir quem de fato ela
era, antes de se envolver totalmente — ela concorda e começa a me contar
várias histórias dos filhos.

O caminho até o orfanato foi muito divertido e, agora sei várias histórias
hilárias de Noah e até mesmo de Jacob e Barbie. Se eu tinha alguma dúvida
de que eles são muito amigos, ela me contou coisas que tiraria qualquer
dúvida sobre isso.

Quando saímos do carro, já fomos recebidas por Ana, que nos esperava no
portão. A mansão ainda me choca, acho que muita gente não imagina que
existe um orfanato com toda essa estrutura.

— Camila está tão ansiosa para te ver, Kathllen — Ana diz enquanto
caminhamos para dentro da casa. — Eu só avisei hoje para eles sobre a visita
de vocês. Estão todos ocupados em suas atividades, mas na hora do lanche,
podemos nos juntar a eles — eu e Liz concordamos. Ana segue para a
cozinha enquanto nós duas vamos até o escritório.

— Entre, querida. Esse é um escritório, quase comunitário, daqui.

Todos usamos e tem um pouquinho de cada um nesse lugar — olho ao redor


e vejo muitas fotos, pastas e arquivos, muitos arquivos. — Sente-se! Noah
me falou sobre a sua ideia. Eu achei incrível.

Me sento, empolgada em começar a falar sobre isso.

— Basicamente, eu pensei em fazer uma rede social para a Open.

Seria mais uma maneira de ter visibilidade e, até mesmo para as pessoas que
querem adotar alguma criança, conhecerem um pouco do espaço — ela
concorda e se ajeita na cadeira. — Vocês fazem um trabalho lindo, são
inclusivos e dão um suporte incrível para todas as crianças. Aqui é um lar e
não queremos que nenhum deles tenha menos que isso. Mostrar a estrutura,
o apoio e o suporte para as pessoas, é um ótimo passo para fazê-los criar
interesse em ajudar.

Liz me encara encantada, sorrindo.

— Eu concordo. Já havia pensando em contratar alguém para fazer isso,


mas, sempre deixamos para depois.

— Eu posso ajudar vocês. Seria um prazer e, eu ficaria muito feliz em ser


útil para Open de alguma maneira, além da doação que já fiz — não contei
para Noah, mas fiz uma doação no dia do churrasco e Liz me ajudou.
— Então, se Noah realmente topar, eu pensei em vir aqui durante toda uma
semana com um fotográfo e registrar vários momentos diferentes, a casa
toda, e começar a mostrar o projeto maravilhoso que vocês fazem.

Liz respira fundo e algumas lágrimas escorrem. Ela estica o corpo e pega
minha mão.

— Tenho certeza que meu filho irá topar. Na verdade, acho que ele toparia
qualquer coisa que você falasse — ri e outras lágrimas escorrem. —

Sabe, no dia que conheci a Ana, eu e o Justin tínhamos descoberto que, mais
uma vez, eu havia sofrido um aborto. Nós tentávamos há muitos anos e isso
estava acabando com nosso casamento. Eu me culpava e ele ficava arrasado
por me ver assim. Aliás, diferente de mim, nunca me culpou e sempre foi
muito cuidadoso comigo nos momentos que eu ficava fragilizada após uma
nova perda — agora, sou eu quem estou chorando. — Eu estava decidida
que iria terminar com ele, porque não queria privá-lo do sonho de ser pai.
Então, um dia voltei até a senhora educada que nos ajudou quando nos
perdemos, levando um bolo enorme, porque eu vi que ela tinha muitos filhos
e descobri que, na verdade, ela resgatara aquelas crianças da rua e tinha o
sonho de criar um orfanato para ajudar outras crianças na mesma situação.

Ela me estende um lenço e pega outro para ela. Rimos das nossas feições.

— Noah me encantou no momento em que coloquei os olhos nele. Ele era


tão sorridente e feliz com o pouco que tinha, além de ser muito esperto.

Voltei para a casa com a sensação que a vida estava me dando uma outra
chance, sabe? Para o meu casamento, para a minha família... para mim —
ela para um pouco e funga. — Noah foi o nosso milagre, feito por outra
pessoa.

A adoção foi difícil, mas sabemos que dinheiro é uma forma de acelerar
muitas coisas e, em poucos meses, o adotamos. Ele se adaptou muito fácil,
mas pedia para ir lá todos os dias, falava que queria que seus amigos
tivessem o mesmo que ele tinha e nós abraçamos a causa, dando início a
Open Arms.
Noah cresceu lá, mesmo que não fosse sua casa; muito novo, decidiu que
seria bem sucedido para que aqui fosse um lar incrível.

A cada dia, meu coração se entrega mais ao Noah e, eu tenho certeza que
meu sorriso demonstra o quanto o admiro.

— Meu Noah foi minha luz, assim como seu irmão também é. Eu não sei se
eu seria quem sou, se não os tivesse em minha vida — limpa abaixo dos
olhos, tirando o borrado da maquiagem. — E, da mesma forma que vi uma
pessoa incrível na primeira vez que vi meu filho, eu vejo isso em você,

Kath. Eu sei que sou chata com essa história de juntar vocês dois, mas é que
eu nunca vi meu filho olhar para alguém como ele te olha, e vocês se
conhecem há pouco tempo. É como se eu estivesse vendo a minha história
com Justin se repetir. Nos conhecemos em um desfile e um mês depois,
Justin saiu de Paris e veio morar comigo — ri ao se lembrar. — Só quero
que saiba que eu torço muito por vocês e, no que depender de mim, vocês
terão todo o apoio necessário.

Mordo o lábio inferior, me segurando para não contar a ela.

— Eu gosto muito do seu filho, Liz. Espero que as coisas aconteçam para
nós dois. Eu só tenho medo de tudo ao nosso redor. Vivemos em mundos
opostos, e eu não quero ser um incômodo na rotina dele — desabafo.

— Tenho medo de me envolver, me entregar e não dar certo. Acho que isso
acabaria comigo.

Ela se levanta e me puxa para sentarmos no sofá. Segura minha mão e me


olha profundamente nos olhos.

— Querida, não existe uma fórmula para fazer dar certo. Eu e Justin
passamos por tantas coisas quando tínhamos a idade de vocês, pensamos em
desistir muitas vezes, mas o amor sempre falou mais alto e, com o tempo,
aprendemos a lidar com as diferentes e todos os outros problemas que nos
cercavam — ela solta a minha mão e dá um tapinha em minha perna. — Se
quando, supostamente, algo acontecer entre vocês — pisca e ri —, só foque
em vocês dois, porque o relacionamento é composto por ambos, ninguém de
fora realmente saberá o que vocês passam — sorri e eu retribuo, feliz em
saber que posso contar verdadeiramente com ela.

Me aproximo e a abraço bem forte.

— Você é muito sábia — me afasto e ela dá de ombros, não se importando


com o elogio.

Assim que levantamos, somos surpreendidas com um furacãozinho de


cabelos enrolados se jogando em minhas pernas.

— Tia Kath! Você veio — Camila grita em animação. Eu começo a rir e me


abaixo, recebendo um abraço gostoso. Beijo estalado em sua bochecha e ela
imita, dando um beijo na minha. — Vamos lanchar, tia. Hoje tem
EMPADÃO! — sai correndo em direção a cozinha e escuto alguém falar
para que ela não corra.

— Meu Deus — rimos. — Quanta energia.

Saímos e vamos até a cozinha, que tem uma mesa enorme, repleta de
crianças. Descobri que o lanche da tarde é a única refeição que não é feita na

sala de jantar porque depois, cada criança com idade suficiente, joga seu lixo
fora e lava seu prato.

Camila está acenando e me chamando para sentar ao seu lado. Me acomodo


ali e Liz senta do outro lado dela. A mesa está recheada de coisas gostosas e
saudáveis. Pego algumas coisas e sou agraciada com um chá de camomila
com damasco.

— Um bom rapaz acrescentou em nossa dispensa esse chá porque alguém,


que ele admira, adora — meu coração não sabe se bate forte ou para de
bater, então apenas ruborizo. — Porém, você nunca saberá quem foi —

Ana brinca e senta-se conosco.

Comemos e aproveito para olhar as crianças. Todas parecem saudáveis e


felizes enquanto comem e interagem.
— Tia, sabia que meu aniversário é no natal? — Camila fala com a boca
cheia de empadão. — Tio Noah sempre me dá os melhores presentes.

— Eu não sabia, mas prometo que jamais esquecerei. E, agora você receberá
os melhores presentes de mim — ela ri, adorando a ideia de receber mais
presentes.

— Eu gosto de boneca e de carrinhos. E, também gosto de vestidos, muitos


vestidos — vai falando e contabilizando nos dedos tudo o que gosta.

— Qual desses você vai me dá?

É inevitável rir da espontaneidade dela.

— Eu vou dar o que você mais quiser — pisco.

— OBA! VOU GANHAR TUDO! — levanta os dedinhos e faz uma


dancinha. Eu, Ana e Liz explodimos em uma risada.

Camila é um doce de criança; sempre que estou com ela, me sinto bem e me
divirto. Torço para que quem a adote, saiba aproveitar cada gotinha de amor
que essa criança tem pra dar. E, espero poder vê-la crescer e se tornar uma
adulta incrível.

Passei o resto do dia lá, participei de algumas atividades e Liz me explicou


tudo o que eu preciso saber para poder colocar meu plano em prática. Antes
de ir embora, ainda brinquei com Mila e outras crianças. Tive que lavar meu
rosto porque elas me maquiaram e também brincamos com tinta guache - o
que resultou muitas roupas sujas e desenhos abstratos secando na varanda.

Deixo Liz em casa e quando finalmente chego na minha, me jogo no sofá e


revejo todo o meu dia, com um sorriso no rosto. Não teria como ser um dia
melhor e, estou ansiosa para ver Noah novamente.

Pensar nele me faz lembrar de tudo que fizemos e meu corpo esquenta já
sentindo falta da intensidade dele. Pego meu celular com o intuito de mandar
mensagens para tirá-lo do sério, mas mudo os planos quando vejo uma
notificação nova na conversa com Emma.
Emma: Te devo mais uma!

Emma: Jackson conseguiu três entrevistas para mim em restaurantes


diferentes. Hoje será meu primeiro dia em um deles. Acredita que aqui tem
até uma estrela Michelin? Estou tão empolgada. Vim para a entrevista e já
pediriam para começar agora.

Emma: É pertinho da sua casa, então me diz quando nessa semana você
estará livre, que levarei uma pizza para agradecer.

Sorrio ao ler. Eu e Emma temos conversado muito, ela á uma ótima menina e
estuda muito. Fiquei preocupada com o horário dela para descansar, mas ela
já disse que se acostumou a dormir pouco, além de aproveitar o transporte na
ida para a faculdade para tirar um tempo para fechar os olhos.

Eu: AH! PARABÉNS!

Eu: Que tal saímos para comemorar na sua primeira folga?

Deixo o celular de lado porque sei que ela não irá responder agora e vou
para o banheiro.

O dia foi incrível e eu estava acreditando que as coisas começariam a


melhorar, mas não imaginava o que ainda me aguardava.

23

O suor pinga do meu rosto enquanto eu corro na esteira, de frente para a


janela que dá para a área de lazer da minha casa. De onde estou, consigo
ouvir os socos e a respiração pesada de Jacob por cima da música enquanto
ele luta sozinho e Barbie está pegando seus pesos. Cada um no seu canto, no
seu momento.
Dormi e acordei pensando em ontem, e nem me refiro ao sexo incrível, mas
sim em como tive coragem para ser sincero com Kath; foi tão fácil expor
para ela o que eu estou sentindo. Fora que, foi um alivio ela ter aceitado
estar em um relacionamento comigo, sem nem mesmo saber se vai ter futuro
ou se serei bom o suficiente para ela.

Não estamos namorando.

Não, ainda. Mas quero que isso aconteça, só que antes precisamos nos
conhecer mais, só nós dois. Fazer coisas que casais fazem quando estão
nessa fase pré-namoro.

Eu estou nervoso.

Nossa, eu estou muito nervoso!

Entretanto, eu quero tanto ter aquela mulher, que vale a pena tentar e me
jogar nos novos sentimentos que vem surgindo em mim.

Espero conseguir lidar com tudo ao nosso redor e, já estou tentando me


preparar psicologicamente para toda a bagagem que vem junto com ela.

Eu vou conseguir, saberei lidar com isso para ficarmos juntos.

A esteira vai diminuindo a velocidade e noto que Barbie a desligou.

Pego a toalha que ele estende para mim e seco meu rosto. Pulo para fora da
esteira e bebo toda a água que tinha em minha garrafa.

— Você está viajando em seus pensamentos. Íamos nos atrasar —

olho para o relógio na parede e me surpreendo em ter me distraído a ponto


de quase me atrasar, coisa que nunca aconteceu. — Primeiro dia de namoro e
já está assim, gatinho? — reviro os olhos e o ignoro enquanto o ouço rir.

— Não estamos namorando ainda, cara.

— AINDA! — Jacob aparece já de banho tomado, secando o cabelo e me


zoando. Mas no fundo, não me incomodo com essas brincadeiras deles, só
que é automático retrucá-los. — Preparado para ser de uma mulher só? —

seu tom é de brincadeira, mas sei que a pergunta foi séria.

— Eu já não me envolvia com ninguém há um tempo. Até tentei sair com


uma menina que conheci um tempo atrás, mas, eu simplesmente não
conseguia prestar atenção nela — Barbie tira a camisa suada e senta para
tirar os tênis, mas seus olhos não me perdem de vista, se mostrando curiosos.

Eu já estava tão afim da Kath, que não me senti atraído pela mulher. E, olha
que ela é muito bonita, mas...

— Mas não era a Kath — completa Jacob e eu concordo. — Eu ainda


lembro como é essa sensação, de não querer ninguém além daquela pessoa.

Foi assim com a Sophie até o último dia que ficamos juntos — ele mexe na
aliança que fica pendurada no seu cordão. Eu e Barbie ficamos quietos
porque sabemos que, quando ele fala sobre ela aleatoriamente, não quer que
a gente puxe assunto sobre. — Só aproveita, cara. Aproveita o máximo que
puder porque você nunca saberá quando será seu último dia com ela — vira
para o espelho para terminar de arrumar sua camisa.

Barbie olha para mim e faz uma careta por conta do clima que ficou depois
dessa conversa. Porém, meu amigo está certo, não posso deixar de aproveitar
todo o tempo que tiver com ela e a ideia de perdê-la me deixa mal.

Hoje vim trabalhar de carona com Barbie, porque Kath disse que ela quem
irá nos levar para o nosso primeiro encontro. Achei legal e, como sempre,
me surpreendeu. Eu não sei em que restaurante nós vamos, mas até mesmo
se ela me levar em uma barraquinha para comer cachorro-quente, eu irei
adorar, só pelo fato de estar com ela.

O dia está bem tranquilo hoje na empresa, exceto pela briga de Barbie com
Olívia, que todo mundo desse andar, e talvez do prédio inteiro, tenha ouvido.
Eu não estou entendendo essa implicância deles. Olívia é muito simpática e
solícita com todos, menos com ele. Até cheguei a imaginar que eles talvez já
tivessem ficado, mas Barbie descartou essa possibilidade e, ainda disse que
lembraria de tal beleza. Patético.
Kathllen disse que viria aqui me buscar por volta das 19:00 e não falta muito
para isso.

Na hora que saí com os meninos para almoçar, passei em uma floricultura e
pedi para que entregassem um buquê de rosas vermelhas para ela; não
coloquei nenhum recado fofo porque não saberia o que escrever, mas

coloquei que estava ansioso para vê-la mais tarde. Claro que os meninos
riram da minha cara quando fiz isso, mas eu apenas ignorei. Assim que Kath
o recebeu, me mandou várias mensagens com fotos dela segurando o
presente, me agradecendo. Salvei uma foto em que ela estava em cima da
cama com as rosas. Linda como sempre.

— Está ocupado?

Viro o rosto na direção da voz do meu irmão assim que o ouço.

Levanto e saio de trás da minha mesa, vendo-o na porta, com cara de cão
sem dono.

— Entra.

Ela fecha a porta e segue para o sofá, se sentando de frente para a janela.
Apoia os cotovelos nos joelhos e solta um suspiro longo. Me sento próximo
dele, observando o quanto está abatido. Meu peito se aperta e parece que vou
sufocar por o estar vendo assim.

— Desculpa, cara. Eu não deveria ter falado com você daquele jeito.

Jamais deveria ter duvido de você, nunca — ergue a cabeça e seus olhos
encontram os meus, tristes. — Eu me senti um merda. Na verdade, ainda
estou me sentindo. Me desculpa, irmão.

Coloco a mão nas costas dele e me aproximo mais, olhando bem no fundo
dos seus olhos.

— Você não tem que me pedir desculpas por nada, irmão. Foi só um mal
entendido e já passou. Eu amo você, cara. Não vai ser algo assim que vai
mudar nossa relação — ele suspira e abaixa a cabeça de novo. — Vocês se
falaram novamente?

— Sim. No domingo, quando fui embora, na verdade me encontrei com ela


— balança a cabeça e a joga para trás. — Quando que eu me tornei essa cara
que é desesperado por amor e atenção? Como eu nunca percebi isso em
mim, Noah?

Na verdade, B sempre foi assim, desde criança. Ele gostava da atenção e que
as pessoas demonstrassem que o amava, e desde pequeno, já tinha problemas
com isso, porque fazia tudo pelas pessoas para ter isso em troca. Porém, a
gente sabe como funciona; nada que se faça, é garantia de ter gratidão ou
amor em troca. Tudo piorou depois que ele teve a sua primeira namorada na
época da escola. Era o típico casal clichê composto por uma líder de torcida
e o jogador de futebol americano, só vamos acrescentar na história o fato de
ela namorar meu irmão e se envolver com o melhor amigo dele da época.

— Sério que é a tanto tempo assim? — pergunta, depois da minha demora


para responder.

Levanto-me e vou até o bar, ofereço uma bebida e ele recusa. Pego uma água
para mim e jogo outra para ele. Me sento no outro sofá, ficando de frente
para Bryan.

— B, você sempre foi assim. Com a família, amigos e namorada. Eu, a mãe
e o pai te amamos incondicionalmente, os meninos também, mas esses seus
relacionamentos são uma furada — tento ser gentil e falar num tom tranquilo
para que ele não fique ainda mais triste. — E, a cada rolo que não dá certo,
parece que você fica mais desesperado ainda para ter alguém ao seu lado que
te ame.

Ele fica olhando para a janela, ouvindo tudo que eu falo, em silêncio.

— Você tem que procurar ajuda, B. Isso pode ter alguma ligação com você
ter sido abandonado pelos seus pais, igual eu fui — falo tão baixo que nem
sei se ele me ouviu. Eu e meus pais já chegamos à conclusão que ele precisa
de apoio psicológico. Quando era criança, ele ia ao mesmo psicólogo que eu,
mas na adolescência, deixou de ir poque tinha vergonha. Bobagem, mas
adolescente não entende muita coisa, só que muitos anos se passaram e, ele
nunca mais voltou.

Bryan continua um tempo em silêncio e depois se levanta, olhando as


fotografias que tenho de nós dois e nossos pais. Depois, vira-se novamente
para mim e um pequeno sorriso aparece em seus lábios.

— Ainda fico na dúvida se eu realmente sou o irmão mais velho ou se


mamãe apenas errou na certidão — rio, feliz que ele não está chateado com
o que eu disse. — Você está certo, Noah. Eu não posso mais viver desse jeito
e mesmo sabendo disso, já estou ansioso para encontrar outra pessoa. É

desesperador esse sentimento.

Caminho até ele e o puxo para um forte abraço.

— Vamos cuidar de você, B. Todos nós, que realmente te amamos!

— falo com sinceridade e ele aperta mais o abraço e depois me solta. — E,


não me faça chorar, seu marmanjo — rimos e sinto o clima entre nós voltar a
ficar calmo.

Por cima dos ombros dele, vejo Kath dando meia volta e indo se sentar no
sofá perto da mesa da minha secretária. Meu irmão se vira para ver o que eu
estou olhando e ri baixinho.

— Então, está rolando algo entre vocês mesmo? — me pergunta e cruza os


braços, com um sorriso engraçado. Fico meio sem jeito de contar

para ele nesse momento, não quero que se sinta frustrado ou algo do tipo. —

Ei, por favor, não me esconda achando que não irei ficar verdadeiramente
feliz por você. Eu não a conheço bem o suficiente, mas você merece alguém
legal e, ela parece ser esse alguém.

Claro que meu irmão perceberia minha tentativa não contar a ele; nos
conhecemos além do comum.

— Digamos que nós estamos tentando algo além do que já tínhamos


— sorrio para ele. — Ela é diferente, tem algo nela que não me deixa ficar
longe, sabe? É quase um imã — dou de ombros. Ele ri e concorda. — Eu
não sei onde isso vai dar e, quero não pensar muito, apenas aproveitar.

Sinto sua mão em meu ombro e seu olhar curioso sobre mim.

— Eu estou feliz, Noah. Espero que você tenha mais sorte do que o seu
irmão — ri mesmo que não tenha muita graça no contexto em si, se despede
e sai do meu escritório. Porém, antes de ir embora, vai até Kath e fala algo
para ela, que observo apenas de longe.

Kathllen é sempre muito simpática e amável, então, não me surpreendo em


vê-la abraçando-o. Eles conversam mais alguns minutos e eu os deixo lá.
Aproveito esse tempo para pegar minhas coisas e deixar separado uns papéis
para amanhã.

— Ei! — escuto a voz que ultimamente tem me deixado atordoado e sorrio


na mesma hora. Kath está escorada nas costas de um dos sofás, me
observando. Caminho até ela, seguro em sua cintura e a cumprimento com
um beijo breve. — Humm, boa noite. Vou ficar mal acostumada com tanto
carinho — ri e me dá mais alguns selinhos antes de envolver seus braços ao
redor do meu pescoço. — Adorei as rosas, amor. Ficaram perfeitas em
minha sala — recebo mais um beijo e me afasto um pouco.

— Oi, amor. Você está linda — meu furacão está com uma saia na altura do
meio da coxa e tem uma pequena fenda ali, além de uma blusinha rendada e
um casaco longo e fino. Passo a mão por sua coxa nua e ela se arrepia.
Sorrio e mordo a pontinha do seu lábio inferior —, e gostosa —

sussurro com minha boca colada na dela.

Ela ri e me empurra apenas o suficiente para se afastar e andar até a porta.

— Vamos, antes que a gente não consiga chegar no restaurante —

concordo e a sigo. Me despeço de Letícia, a secretária substituta e, ela nem


disfarça ao fazer uma careta para Kath. Isso me incomoda, mas vou deixar
para apresentá-la a Kath como minha namorada outro dia.
Encontramos com Barbie no elevador e descemos juntos para o
estacionamento. Ele diz em códigos para mim que Jacob tem mais um
encontro pelo aplicativo; hoje é quinta e, esse é o quarto encontro dessa
semana. É um pouco preocupante tudo que envolve como ele chegou a esse
ponto, mas prometemos nos meter só quando ele pedir por ajuda e, sabemos
que muito provavelmente, será um pedido silencioso, apenas esperamos o
momento certo.

— Puta merda! Como eu não sabia que você tem uma Lamborghini?!

— Barbie quase grita quando Kath destrava o carro e ele identifica qual é. É

incrível, luxuoso e combina com ela. — Jurava que você era minha amiga —

Kath cai na gargalhada pela reação dele. Barbie é viciado em carros de luxo
e tem três. Inclusive, o último que ele comprou, só existem três no mundo
todo e valeu uma fortuna. — Só não me convido para ir com vocês, porque
sei que é um encontro e ainda não serei esse tipo de amigo que atrapalha
encontros

— dá um tapinha na lateria do carro dela e depois a beija na bochecha e se


despede de mim.

Ela entra, ainda rindo de Barbie, e eu a sigo. Me acomodo no banco do


passageiro e a admiro toda dona de si e independente com seu carro que vale
mais do que o meu. A sensação de estar de carona é diferente, mas eu gostei.

Colocamos nossos cintos e ela dá partida, morde os lábios ao ouvir o ronco


do motor e eu assobio, admirado. Ela me olha e pisca, demonstrando orgulho
pelo carro. Acho fofo.

Kath pede para que eu coloque alguma música e me informa que o


restaurante não é muito longe. Rolo pela playlist dela e descubro que tem
bastante música que eu gosto.

— Mentira! — fico empolgado quando acho uma pasta apenas para Imagine
Dragons. — Essa banda é a minha favorita. Vejo todas músicas que tem ali e
escolho Radioactive. Ela ri e começa a cantar empolgada comigo.
Estou acordando, sinto isso em meus ossos

O bastante para explodir meus sistemas

Bem-vindo à nova era, à nova era

Bem-vindo à nova era, à nova era

Ela canta o refrão mais alto e olha para mim sorrindo, eu canto a outra parte.

Pelo resto do caminho, continuamos a cantar as músicas da banda, até que


finalmente chegamos. Saio primeiro e faço sinal para que o manobrista deixe
que eu abra a porta para ela e, assim o faço.

— Que cavalheiro! — ela pega em minha mão e sai do carro. Entrega a


chave ao manobrista e só agora percebo que estamos em um dos maiores
arranha-céus de NY. — É o meu restaurante preferido, o dono e o chef são
meus amigos próximos e uns queridos — caminhamos de mãos dadas para
dentro e entramos no elevador assim que ele abre no térreo. — Você, por
acaso, é alérgico a frutos do mar? — me pergunta com um sorriso quase
infantil no rosto, rio e nego com a cabeça. — Ufa!

O elevador de vidro está vazio, então, aproveito para observar a cidade


ficando cada vez menor a cada andar que subimos. Eu amo o lugar onde
moro, adoro todas essas luzes que nunca se apagam e o agito nas ruas que
duram o dia inteiro.

— Chegamos — Kath avisa assim que o elevador se abre. Me aproximo e


coloco a mão no fim de suas costas, bem acima da sua bunda grande e, na
mesma hora, lembro-me que há poucos dias, vi o ex tocá-la da mesma
maneira. Engulo seco e tento substituir aquela imagem pela que vejo agora.

Somos levados até a mesa reservada, em um local mais privado, que tem
vista para a varanda. É incrível e pelo fato de ser isolada, deixa o clima ainda
mais romântico.

— Fiquem à vontade. Sr. Gaspar disse que virá atendê-los pessoalmente — a


menina sorri para nós dois e se retira. Kath retira seu casaco e eu puxo a
cadeira para ela depois que ela apoia o casaco na mesma.
Vou para o outro lado e fico de frente a ela, que está sorrindo de canto a
canto para mim.

— Aqui é lindo, amor. Nunca tinha vindo — pego sua mão por cima da
mesa e fico fazendo carinho com o polegar.

— É um restaurante maravilhoso e o intuito do Gaspar é que ele não vire um


restaurante badalado, porque ele gosta de dar conforto e paz aos seus clientes
— conclui.

Nesse momento, dois homens aparecem onde estamos. Um eu consigo


distingui-lo como chef (por conta da sua roupa), é alto e ruivo, não parece
ser muito mais velho do que eu. O outro é um pouco mais baixo e tem a
cabeça raspada.

— Kath, querida! — Kath se levanta, empolgada. O mais baixo fala e a puxa


para um abraço com direito a se balançarem para os lados, depois segura na
mão dela e a faz rodopiar. — Deslumbrante, mon amour.

— Bondade sua, Gaspar! — fala e se dirige ao outro homem, que

parece ser mais contido e apenas a abraça rapidamente. — Comment ça vá?

Bien les revoir — Kath fala em um francês perfeito. Me levanto para


cumprimentá-los e ela vem para o meu lado. — Amor, esse é Gaspar, dono
do restaurante — cumprimento-o e logo depois, aceito a mão do outro
homem quando a estende para mim. — E, esse é o Lucian, o melhor chef
que eu já conheci — ele sorri tímido ao ouvir o elogio.

— Noah Cooper. Prazer — sorrio.

Os dois trocam olhares e sorriem. Lucian se despede e informa que nos trará
o prato novo da casa e nós aceitamos de prontidão.

— Então, você é o amor dela, hum? — Gaspar tenta manter o tom sério, mas
ri logo depois. — Prazer em conhecê-lo. Qualquer pessoa que Kath goste, eu
também gosto — pisca para Kath e chama o garçom para trazer um vinho,
informando que é por conta da casa. — Eu vou deixar vocês à vontade
agora. Meu marido em breve trará o jantar de vocês — ele dá um beijo no
rosto de Kath e sai.

— Eu os amos! Foram os primeiros amigos que fiz de verdade, antes de


Jackson. Eles são muito ocupados, mas ainda assim, sempre arrumam um
tempo para me fazer uma visita — diz, orgulhosa dos amigos. — Outro dia,
irei apresentá-los melhor, mas tenho certeza que serei alvejada de perguntas
sobre você.

Nos sentamos novamente e o garçom coloca um pouco de vinho para ambos.


Kath informa que beberá só uma taça, porque está dirigindo e pede uma
água.

— Gaspar parece ser um cara divertido.

— Sim. O Lucian também, até mais do que o Gaspar, mas, ele costuma ser
bem sério aqui, porque questão de hierarquia na cozinha, já que Gaspar é
super dado. — ela olha a decoração da mesa e morde o lábio.

— O que foi, amor?

— Você se importa se eu tirar uma foto? Eu não vou postar, só quero ter esse
dia registrado — sorrio pela timidez ao pedir algo tão bobo, mas sei que ela
só quer me privar.

Concordo e ela se alegra. A foto nem mesmo aparece nós dois, apenas
nossas mãos dadas, as taças e a decoração. Deve ser algo conceitual do
mundo dela, então, não me importo. Aproveito para voltar a fazer carinho
em sua mão.

— E sua mãe? Voltou?

Ela deixa o celular na mesa e volta a prestar atenção em mim.

— Não. Na verdade, estou com dificuldades para falar com ela —

suspira. — Você já deve ter percebido que não falo do meu pai e, isso é
porque não nos damos bem. Desde que me entendo por gente, sempre tive
problemas com ele e, pelo o que sei, é pelo simples fato de eu ter nascido
mulher em vez de homem. Nós éramos uma família bem humilde, nunca nos
faltou nada, mas também não tínhamos além do básico e tudo bem, nunca vi
minha mãe se mostrar infeliz por conta disso — ela dá uma pausa e toma um
pouco do vinho. Fico observando suas feições a cada segundo, querendo
conhecer seus gestos e reconhecer suas emoções. — Richard tem uma
borracharia e também cuida de uns barcos dos ricos lá de Outer Banks, onde
eles moram e lugar que vivi até meus 18 anos. Nossa relação começou a
piorar quando eu tinha 10 anos e comecei a sofrer bullying por conta da
minha aparência e meu peso. Ele não aceitava e gritava comigo, falando que
se eu quisesse que as pessoas não falassem tais coisas de mim, eu deveria me
cuidar melhor. Então, quando eu chorava, ele me forçava a prender o choro,
porque dizia que pessoas fortes não choravam, era perda de tempo agir
assim.

Sou obrigado a tirar o paletó, porque a raiva me consome e o calor vem


junto. Ela me observa e espera que eu termine para poder continuar.

— Ele sempre fazia essas coisas longe da minha mãe e me ameaçava para
não contar nada para ela. Minha mãe é meu mundo. Eu moveria o mundo
para protegê-la e, então, ficava quieta, mas ela sempre viu que a nossa
relação era ruim e fazia de tudo para que a gente se entendesse melhor — ela
se vira em direção a vista do jardim, respira fundo e continua. — Quando eu
tinha 16 anos, cheguei em casa de madrugada, porque eu e minhas amigas
ficamos presas na casa de uma delas por conta do temporal, mas ele não
entendeu isso, e começou a me xingar, falar que eu estava provavelmente
dando para algum homem casado e me tornando uma puta — ri de forma
desconfortável e balança a cabeça. — Minha mãe ouviu e chegou bem na
hora que ele tirou o cinto para me bater. Segurou a mão dele e disse que se
ele falasse comigo daquela forma de novo, ou tentasse me bater, ela iria
embora comigo. Realmente começamos a planejar isso. Eu estudava de
manhã e trabalhava o resto do dia. Comecei a me cuidar e foquei na
possibilidade de uma carreira como modelo, já que todos falavam que eu era
muito fotogênica. Não demorou muito e eu consegui uns bicos que pagavam
pouco, mas era mais do que os empregos que tinham lá.

“Quando juntei dinheiro suficiente, falei com minha mãe para virmos morar
em NY e ela ia vir... Só que meu pai descobriu que estava com uma
doença no coração, e minha mãe se sentiu culpada em deixá-lo nesse estado.

Eu não quis vir sem ela, parecia tão errado que ela ficasse lá com ele e eu
viesse viver meu sonho. Porém, ela não deixou que eu desistisse e disse que
não podíamos fazer todo aquele esforço ser em vão. e então, eu vim com a
promessa que venceria na vida e a traria para morar comigo. Já tem 7 anos
que moro aqui e nada dela ainda.”

Uau, não imaginava um terço disso e nem ao menos sabia que ela morava
em Outer Banks. Por mais que a história seja uma merda, é bom conhecer
um pouco mais dela.

— E seu pai melhorou? Você sabe como ele está hoje?

— Ele operou. Ano passado, paguei a operação para ele, mas em segredo.
Ele não aceitaria e eu não quero que ele saiba que fiz algo por ele; apenas
quis diminuir o sofrimento da minha mãe e talvez assim, ela viesse para cá
— ela faz um biquinho e dá de ombros. — Mas, tem algo acontecendo entre
eles, eu ouvi algumas conversas da minha mãe com ele e as coisas não
parecem boas. É muito errado eu torcer para que eles se separem?

Sorrio, orgulhoso da atitude dela. Não sei se seria tão complacente e ajudaria
uma pessoa que me fez tão mal. Mas Kathllen é diferente dos demais, é boa
além da conta, além do que as pessoas ao seu redor merecem.

— Não, amor, não é errado torcer para isso. E, já deixo claro que essa
torcida tem todo o meu apoio.

A comida chega e Lucian faz questão de nos servir, explicando com


perfeição todo o prato e avisando que a sobremesa chegará assim que
terminarmos. Começamos a comer assim que ele sai e eu quase choro de tão
gostoso que está.

— Incrível, né? — me observa comer e mando um beijo. Ela sorri e continua


sua refeição, apreciando cada pedacinho que põe na boca. — Lucian é
incrível e puro amor. Acho que isso reflete em sua comida — concordo, sem
coragem de parar de mastigar para responder.

— Preciso trazer minha mãe e o pai aqui. Eles vão amar.


Ela sorri, empolgada com a ideia.

— Ficarei feliz se for convidada também, pois esse lugar é especial para
mim.

Encaro ela por um instante, achando engraçado que não tem vergonha em
falar que quer ser incluída.

— Não consigo imaginar melhor companhia para estar comigo e

minha família — pisco. — Mas, você sabe que não vamos conseguir manter
nós dois fora do alcance da minha mãe, né? Eu gosto de te tocar, de te
admirar e de te beijar. Já que vamos evitar fazer isso em lugares públicos,
por enquanto, quero poder fazer quando estivermos entre pessoas que
confiamos.

Kath morde o lábio inferior e ruboriza.

— Eu acho que ela meio que já sabe, mas juro que não falei nada.

Apenas conversamos e eu falei que gosto de você, e ela começou a me dar


bons conselhos de como seria uma boa maneira para superarmos nossas
diferenças de vida.

Rio.

Claro que minha mãe, com seu radar afiado, saberia disso. Acho que ela já
sabia antes mesmo de nós dois, que iríamos nos envolver além do que já
estávamos envolvidos.

— Certo. Tenho quase certeza que, quando assumirmos para ela, vai rolar
alguma comemoração — Kath gargalha e eu amo o som da sua risada, ela
consegue ficar ainda mais linda quando sorri.

O resto da nossa noite é gostosa e divertida, nos conhecemos um pouco mais


e falamos bastante das nossas vidas profissionais, inclusive eu, que
praticamente vivo no trabalho ou no orfanato. Também concordei com a
ideia dela para o orfanato, já que me mostrou todos os pontos positivos e, os
negativos são quase inexistentes. Com a imagem de Kath vinculada a Open,
tenho certeza que rapidamente ganharemos uma boa visibilidade, que é o
que importa no final.

Agora, ela acabou de entrar em meu condomínio e parou o carro em frente à


minha casa.

Tiro o meu cinto e me viro de lado, vendo-a fazer o mesmo. Ela abaixa um
pouco o som e olha as horas. Suspira.

— Não pode entrar, né? — pergunto, já sabendo a resposta.

— Infelizmente, não. Amanhã eu tenho uma reunião para fechar uns


contratos novos, parece que já não estão se importando tanto com as notícias
que saíram sobre mim — me aproximo e jogo seu cabelo para trás, liberando
seu ombro. Dou alguns beijos naquela região enquanto ela fala. — E, um
desses contratos é para uma marca muito famosa de lingerie. Está pronto
para isso? — congelo na mesma hora. Levanto o rosto e me deparo olhos
confusos, esperando por uma resposta.

Eu nunca nem havia parado para pensar como me sentiria com uma coisa
assim, então, tento imaginar agora e, um frio estranho atinge meu

corpo.

Coloco a mão no rosto dela e desenho o contorno do seu maxilar e depois


dou um beijo calmo, pressionando de leve nossas bocas e passeando pela
sua. Depois, me afasto e encosto minha testa na dela.

— Amor, vai ser um martírio imaginar que você, com poucas roupas, será o
alivio de muitos homens — ela ri baixinho. — Mas, desde que eu tenha uma
cópia exclusiva de cada foto e que no final, seja eu quem veja tudo isso sem
nadinha, não tenho o porquê me preocupar. É o seu trabalho e eu irei te
apoiar, mesmo sofrendo — brinco e ela me abraça.

— Você é incrível — me dá um selinho. — E, eu ganho boa parte das


lingeries. Pensei em usá-las com você e daí, você tira umas fotos bem
exclusivas mesmo, que só você as terá. O que acha da minha ideia? —
minha imaginação voa nas possibilidades em questão de segundos. Pego a
sua mão e coloco em cima do meu pau, para que ela sinta o que achei da
ideia e, é claro que ela aperta e depois ri, me dando mais alguns beijos.

— Eu gostei tanto dessa ideia, que estou pensando em investir no ramo e te


contratar para ser a modelo fixa de todas as lingeries produzidas —

ela gargalha e eu me junto a ela. Puxo-a novamente e dou mais um beijo.

Depois, me afasto e olho o horário, me sentindo mal em ter que me despedir.

— Vou entrar, amor. Acordamos cedo amanhã — ela concorda e parece tão
incomodada quanto eu.

Abro a porta para sair, mas ela segura em meu braço e eu me viro em sua
direção. Kath coloca as mãos por dentro da saia e puxa a calcinha pelas
pernas. Meu coração já parou, eu não tenho mais sangue circulando em meu
corpo enquanto assisto uma das cenas mais sexy que já vi. Ela morde os
lábios e coloca a calcinha no bolso da frente da minha calça e, eu continuo
sem reação. Novamente ela ri, me dá um selinho e recebo um tapinha na
perna para sair do carro.

Eu saio, ela manda um beijo e se vai.

E, é assim que meu furacão vai conseguir atormentar o resto da minha noite.

24

Finalmente chegou o dia das reuniões para fechar os novos contratos e, foi
um sucesso. A marca de lingerie é incrível e mundialmente conhecida.

Eu mesma tenho várias peças dela em meu closet. Entretanto, o ponto auto
do contrato foi descobrir que terei fotos minhas circulando pela Time Square
e, isso é um sonho realizado. Fiquei tão feliz que tive que me controlar para
não abraçar todos que estavam na reunião.

Fui bem apreensiva para a reunião, porque pensei que não saberia lidar com
as pessoas sem Alex do meu lado, mas tive uma boa surpresa ao notar que
consegui dar conta facilmente. Claro que antes tive uma pequena aula por
videochamada com Noah e Barbie, que me explicaram o que eu precisava
procurar e exigir para ser um bom contrato para mim. Estou nas nuvens,
finalmente voltando a trabalhar.

Agora estou no taxi com minha mãe, que voltou hoje cedo de surpresa, indo
buscar Emma em sua casa. Ela relutou muito em nos deixar buscá-la, mas
quando eu falei que não iria com meu carro, ela ficou mais calma e aceitou.
O taxi reclamou um pouco quando dei o endereço e disse que é uma parte
perigosa do Bronx, mas no final, aceitou ir quando ofereci o dobro do valor
da corrida.

O bairro não é mais um lugar tão perigoso como há alguns anos atrás, mas
ainda assim, tem algumas partes que são tomadas pelos traficantes e, pelo o
que eu entendi, onde ela mora é um desses lugares.

O taxi para em frente a uma construção antiga de tijolos alaranjados que,


provavelmente, um dia foi muito bonito, mas a falta de manutenção o deve
ter deixado nesse estado. Emma já nos esperava sentada na escada e entra
rápido no carro quando abaixo o vidro e ela me reconhece.

— Oi, dona Joana. Que bom que já voltou! — dá um beijo no rosto da minha
mãe, que está do seu lado, e sorri para mim, porque estou mais distante. —
Oi, amiga! Para onde vamos? Não sei nem se tenho roupa para sair com
você.

Faço um movimento com a mão, não dando importância ao que ela falou.

— Você está lindíssima, como sempre — pisco. — Vamos para o Bar 54,
conhece? — ela arregala os olhos e concorda várias vezes com a cabeça.

— Eu ia muito com o Ethan, mas depois que nos separamos, comecei a


evitar todos os lugares que íamos juntos, só que agora, isso não é mais um
problema.
Tanto minha mãe quanto Emma estão totalmente cientes de tudo que
aconteceu, inclusive o jantar constrangedor de segunda, então, tenho certeza
que elas me entenderam sem que eu tivesse que explicar toda a história
novamente.

— Eu só preciso de um bom vinho e relaxar dessa semana conturbada

— minha mãe fala mais para ela mesma do que para nós duas. Ainda estou
por fora do que aconteceu em Banks, mas sei que no tempo dela, saberei de
tudo. Só o fato de ela estar aqui comigo, já é incrível.

Assim que chegamos no edifício da Time Square, em que o bar fica, já


somos guiadas até o andar e vejo ambas curiosas com tudo. Minha mãe
pouco turistou por NY dos momentos que esteve aqui, mas prometi a ela que
conheceria tudo dessa vez. Emma eu não sei, mas pela forma que olha
curiosa, deduzo que é a sua primeira vez no local também.

Ficamos em uma mesa na varanda, que é a parte mais legal do bar que fica
no 54º andar e tem vista para toda Manhattan. Esse horário que chegamos é
o melhor, está começando a anoitecer e o visual fica incrível.

Emma olha o cardápio e, provavelmente, deve estar fazendo um cálculo do


que pode comprar. Eu a chamei com o intuito de aliviar um pouco da sua
rotina tão corrida, pois hoje ela foi dispensada. O restaurante está fechado
para um evento privado e antes dela começar lá, já tinham escalado os
garçons necessários.

— Por minha conta, ok? — coloco a mão em cima da dela, e vejo a dúvida
passar por seus olhos. — Quero comemorar o contrato que eu fechei

— elas me olham com curiosidade e eu conto o meu próximo trabalho e,


juntas enlouquecemos com a ideia da minha imagem aparecendo no local
mais badalado de NY.

Eu e Emma pedimos gin com várias especiarias e minha mãe ficou no vinho.
Assim que as bebidas chegam, nós brindamos e olhamos ao redor,
apreciando a vista. Aproveito e tiro uma foto de nós três juntas e, depois
peço para que Emma tire uma minha encostada no batente, pegando todo o
céu
atras de mim. Amei todas e decido postar mais tarde, quando já tivermos ido
embora.

— E, como vão as coisas, querida? — minha mãe pergunta enquanto


beberica seu vinho. — Os rapazes estão bem?

Não consigo esconder um sorriso ao pensar em Noah e Emma disfarça,


olhando para o lado, porque já sabe que estamos juntos. Minha mãe percebe
nossos gestos e aperta os olhos, deduzindo algo.

— Os meninos estão ótimos, mamãe. Inclusive, amanhã irei na casa de


Barbie conhecer a irmã dele — não vou negar que estou nervosa e ansiosa
para conhecê-la. Quero muito me dar bem com ela, porque é a irmã do meu
amigo, mas o fato dela ser apaixonada por Noah há anos, pesa bastante. —

Eu e o Noah estamos tentando algo.

Minha mãe dá um gritinho e eu rio da sua reação, enquanto Emma quase


cospe sua bebida com o susto.

— Então, Liz tinha razão, vocês estão juntos — diz vitoriosa, já pegando o
celular. Seguro sua mão e faço que não com a cabeça. — O que foi?

— Ainda não falamos com ela, mãe. Liz é tão empolgada, estamos receosos
— eu quero contar, muito, mas sei que ela irá depositar muitas expectativas
em nós dois.

Minha mãe concorda e faz sinal de x com os dedos em frente aos seus lábios,
prometendo guardar segredo. Mesmo que Liz já tenha certeza disso,
enquanto não falarmos, ainda existirá uma dúvida.

A música começa a ficar mais alta e o ambiente vai enchendo.

Algumas pessoas me reconhecem e pedem para tirar foto e, eu faço de bom


grado, até gravo alguns vídeos com umas meninas mais novas.

Quando volto para mesa, Emma e minha mãe estão empolgadas em uma
conversa, rindo alto.
— Filha, olha esse homem — minha mãe vira o celular de Emma na minha
direção e vejo a foto de um homem muito bonito, provavelmente na casa dos
33 anos, mas muito gato. — É o chefe dela. Imagina trabalhar com essa vista
todos os dias? — ri e entrega o telefone para Emma, que fica olhando um
tempo para foto e depois sacode a cabeça, rindo.

— Nem em um milhão de anos, me envolveria com meu chefe. Já assisti


muitos filmes para saber que isso dá muito errado — brinca. — E, ele é bem
mais velho do que eu — dá de ombros.

Eu sou um tipo de pessoa que não penso muito em diferença de

idades, porque sei que isso não quer dizer muita coisa, mas entendo Emma
pensar assim.

— Mas e na faculdade? Você faz medicina em uma das maiores faculdades


do mundo, deve ter alguém lá interessante — ela ruboriza e toma mais um
pouco do gin.

— Na verdade, tem muitas pessoas interessantes, vários homens lindíssimos.


Entretanto, eu passo despercebida. As meninas lá parecem que saíram de
uma revista de moda e, não costumo me arrumar igual a elas, então, estou
fora do foco — seu tom de voz não demonstra chateação, apenas parece que
ela não se importa. — E, eu também não tenho tempo para me envolver, nem
sei como dou conta do que já faço.

— Oh querida, sempre devemos ter tempo para um bom sexo —

explodo em uma gargalhada. Minha mãe é muito para frente, mas sei que o
álcool a deixa mais soltinha. Emma fica tão vermelha que acho que ela vai
passar mal. — O Barbie seria um bom partido.

Eu continuo rindo porque não consigo imaginar Barbie com Emma. E

pela risada dela, deve achar o mesmo.

— Não. Ele é lindo e tem um corpo esculpido por deuses, mas não me sinto
atraída por ele dessa maneira. E, acho que é reciproco — tenho certeza que
ele a acha linda, mas Barbie diz que uma regra básica da vida dele é só se
envolver com mulheres de 25 anos para cima.

Minha mãe concorda e pede outra rodada de bebida para nós.

Aproveito e peço uns petiscos, porque não quero ninguém passando mal.

— E o Jacob? — pergunto e ergo as sobrancelhas várias vezes. — Ele é


muito bonito, e juro que por baixo daquela cara séria, tem uma pessoa muito
legal.

Daqui, consigo vê-la engolir seco e meu radar apita alto na minha cabeça,
me informando que tem algo além aí, que eu não sei.

— O Jacob é área proibida, muito proibida — ergue os ombros, claramente


sem jeito. — Digamos que eu já o conheça e ele não me reconheceu. Prefiro
que fique assim. Pode ser? — encara nós duas, esperando que concordemos
e assim o fazemos.

Minha mãe estala a língua e bebe um pouco da água que tínhamos pedido
antes.

— Já que estamos nesse clima de animação, vou anunciar algo importante


— minha mãe diz e eu acho graça, porque provavelmente, é alguma besteira.
— ESTOU SOLTEIRA! FINALMENTE, ESTOU

SEPARADA — meu queixo vai até o chão, ou pelo menos, teria ido se
houvesse como. Meu coração começa a bater tão rápido que eu acho que vou
ter um troço. Quando algumas lágrimas escorrem do seu rosto, tenho total
certeza que é verdade. Dou um pulo da cadeira e me jogo nela, abraçando e
nos balançando. Encho o rosto da minha mãe de beijos enquanto rimos.

Emma se junta a nós e, em pé, nos abraçamos e pulamos. É uma confusão e


tenho certeza que isso chama a atenção de todo mundo, mas não nos
importamos.

— Mãe, finalmente! Eu não acredito! — aliso o rosto dela, que ainda escorre
algumas lágrimas que eu tenho certeza serem de alivio.
— Querida, já tinha passado da hora. Na verdade, eu deveria ter me separado
logo quando você nasceu e ele disse que não seria pai de uma mulher — ela
me abraça apertado e sussurra desculpas em meu ouvido várias vezes. —
Não tínhamos mais como ficarmos juntos, eu não aguentava mais abdicar da
minha vida por um relacionamento que já estava fracassado a anos. O
homem que me apaixonei quando tinha 15 anos lá na Turquia não existe a
tanto tempo que eu fico me perguntando se realmente existiu ou eu quem
projetava isso em minha mente. — seu suspiro longo demonstra o cansaço
de tudo isso.

Dessa vez sou, eu quem estou chorando.

— Ei, mãe! Não fale assim, você fez o melhor que pôde. O que importa é
que agora você está livre daquele homem horrível e poderá morar comigo —
rimos e nos sentamos novamente.

— Bem, sim. Mas será temporário, querida. Quero achar um lugar para mim
— faço biquinho, mas entendo. — Até lá, serei grata por ficar na sua casa
enquanto arrumo um trabalho por aqui — bebemos mais quando nossas
bebidas chegam. — Foi complicado, sabe? Seu pai não estava aceitando bem
isso. Quando você veio embora e eu fiquei com ele doente lá, deixei claro
que não ficaria para sempre ali e que aquela vida não era mais a minha. Só
que é muito mais fácil falar do que agir e, ainda tinha alguma esperança que
ele se tornaria um bom marido. Quando descobri que ele não estava tomando
os remédios para continuar doente, foi o fim. Mas agora parece que um peso
saio de cima dos meus ombros.

Meu pai é um homem difícil de lidar, mas não imaginei que ele faria mal a
própria saúde para conseguir o que quer.

— E suas coisas, mãe? Não trouxe nada além de duas malas.

— Deixei tudo e trouxe só o que é necessário para recomeçar. E além


do mais, juntei o dinheiro que você me dava todos os meses. Não tinha com
o que gastar lá, então, tenho uma boa quantia guardada — seu olhar é de
pura gratidão a mim e eu não me incomodaria de jeito nenhum se tivesse que
bancar minha mãe para o resto da vida, porque ela é a mulher mais
maravilhosa que eu conheço.

Depois de todas as comemorações e descobertas, engatamos em vários


assuntos e Emma se abriu bastante, contou muitas coisas, inclusive o fato de
que não fica com ninguém desde os 17 anos. Eu e mamãe ficamos chocadas,
porque como uma mulher tão bonita, não ficava com ninguém?

Hoje eu notei que ela mesma não percebe o quanto chama atenção. Vários
homens e mulheres olharam em sua direção e, ela estava totalmente alheia a
isso.

Mas nada que um toque meu não resolva essa questão de ela não identificar
a mulher incrível que é.

Acordo no sábado com o cheiro do café da minha mãe e adoro essa


sensação. Saio do quarto e vou até o segundo quarto de hospedes, onde
Emma dormiu. Nos empolgamos ontem e chegamos muito tarde, além de
alteradas.

Bato na porta e entro quando ela me chama.

— Bom dia, gatinha! — sorrio e me jogo do seu lado na cama. —

Dormiu bem?
Ela levanta um pouco do corpo e encosta as costas na cabeceira, esfregando
os olhos.

— Dormi feito anjo. Essa cama é uma delícia — passa a mão nos cabelos e
prende em um coque alto. Viro e fico de barriga para baixo, balançando as
pernas. — Meu Instagram bombou depois que você postou

aquela foto de nós 3 no feed.

Ontem liberei os comentários das minhas fotos e foi uma loucura, tanto que
só deixei para ver agora que acordei. Muitas pessoas que eu pensei que não
falariam mais comigo, comentaram coisas boas, muitos elogios e, poucas
pessoas estavam ali para destilar ódio.

Inclusive Noah mandou mensagem na dm, comentando a foto por lá.

Confesso que fiquei um pouco distraída enquanto falava com ele, e ouvia a
sua voz rouca dizendo por áudio o quanto eu estava linda. Ele comentou
também para que eu me cuidasse e avisasse quando chegasse, e eu avisei.

Mesmo tarde, ele respondeu, ficou conversando comigo enquanto eu tomava


banho e me arrumava para dormir. Ele é um amor, adoro como é safado e
carinhoso na mesma medida.

— Daqui a pouco, eu irei sair, mas pode ficar à vontade com a minha mãe
aqui. Sei que ela adorou você! — levanto-me, tentando espantar a preguiça
que reina em meu corpo. — Vem cá! — volto para o meu quarto com ela
colada a mim e entro no closet. — Você não queria conhecer?

Ela fica alguns minutos olhando tudo, parada, até que começa a olhar coisa
por coisa, cada roupa, sapato, bolsa, joias... Vejo que ama algumas coisas e
acha outras um tanto exageradas e, eu rio das suas reações enquanto escolho
uma roupa suave para a tarde de hoje.

— Meu Deus, Kath! Você já usou tudo? — pega um cabide com um vestido
flora de cintura marcada, coloca em frente ao corpo e se olha no espelho.

— Quase tudo! Eu, constantemente, faço doação das roupas que não uso
mais e, apenas algumas eu guardo, porque foram de datas importantes —
ela devolve a roupa para onde estava. — Gostou desse? Nunca usei. Acho
meigo demais para mim. Experimenta!

A timidez dela vai embora na hora e ela pega novamente o vestido.

Tira a camisola que emprestei e veste. Simplesmente parece que foi feito
para ela, e com certeza, em mim ficaria extremamente curto porque tenho
mais corpo que Emma. Ela dá uma voltinha e passa a mão pelo tecido.

— É perfeito, caramba — se admira no espelho, gostando do que vê.

— Fiquei tão bonita.

Me aproximo e sento no puff que fica ao lado do espelho, encarando-a.

— Você não ficou bonita, Emma. Você é bonita, uma mulher muito atraente.
Deveria conseguir ver isso ao se encarar no espelho — ela me olha

por um tempo e sorri, tímida. Se aproxima mais do espelho e solta o cabelo.

Eu bato palmas. — É disso que estou falando — pego a roupa que escolhi
para hoje e sigo para o banheiro. — Pode pegar mais o que quiser — grito de
dentro do banheiro.

Me arrumo sem presa, cuido do meu cabelo e minha pele. Opto por usar
apenas máscara de cílios, blush e um brilho labial. O meu cabelo vai ficar
natural, porque está quente e não quero ter que usar secador, então, vai ficar
escorrido mesmo.

Vou para a sala e encontro as duas vendo uma série de médicos, que descobri
ser a preferida de Emma e a motivação dela pela sua faculdade. Eu não
costumo ver séries e, não irei começar por uma que tem mais de 16

temporadas.

— Fiu-fiu! — Emma finge um assobio e minha mãe bate palmas.

Escolhi uma saia jeans e um cropped branco e, como não poderia faltar algo
preto, meu cinto e a bolsa são dessas tonalidades, além da sandália de salto.
Me despeço das duas com um beijo em cada uma e saio de casa, informando
que não sei que horas volto. Tenho a intenção de passar a noite com Noah.

Quando desço, o taxi já está me esperando, e eu entro. Pego meu celular e


aviso a Barbie que estou chegando. Ele me informa que meu nome já está
incluso nas visitas liberadas permanentemente e, que é só subir, pois a porta
está destrancada.

Meu estômago está embrulhado com a expectativa de conhecer Laura e,


estou pedindo ao universo que ela não seja um problema.

Confiro mais de 10 vezes a minha aparência e o motorista me avisa que


chegamos. Pago e saio.

Entro e fico no elevador mexendo no cantinho das unhas, contando até o


máximo de números possíveis e me encarando no espelho.

O elevador apita, indicando que cheguei ao último andar. Estou tão nervosa
que nem me reconheço. Paro na frente da porta de Barbie e abro, como ele
falou que eu fizesse. E, assim que abro a porta meu coração, erra a batida.

Noah está abraçando uma mulher loira muito bonita, que eu deduzo ser
Laura. E, ela faz um carinho lento nas costas dele, enquanto retribui o
abraço.

Perco o ar dos meus pulmões e sinto todo o meu corpo comichar. Sou adulta
e sei que um abraço é só um abraço, mas como faço para que meu

coração volte a bater normalmente?

25

Hoje vai ser um dia um tanto quanto diferente para mim. Estou nervoso em
estar no mesmo ambiente com duas pessoas que eu gosto muito.
Laura é como se fosse uma irmã mais nova, mas todos sabemos que ela
nutre sentimentos por mim, ou nutria, ainda não sei em que pé estamos,
mesmo que eu nunca tenha dado a entender que gostava dela dessa forma. A
gente pensou que era paixonite de adolescência, pois eu era um dos poucos
homens além do seu irmão que ela tinha contato, então, apenas deixávamos
para lá.

Mas agora, ela está novamente aqui e Barbie resolveu fazer um almoço para
apresentá-la a Kath, que se tornou uma amiga muito próxima dele. Ela é uma
mulher muito madura e segura de si, mas isso não significa que não ficará
incomodada e eu a entendo, porque não iria gostar de estar no papel dela. Só
que Laura é família e, eu preciso fazer isso dar certo.

Decido sair da piscina quando dou por finalizado meus exercícios e pego
meu celular, que estava de baixo da toalha na espreguiçadeira.

Tem algumas mensagens no grupo da família.

Barbie: Já está tudo pronto para ir pro forno quando vocês chegarem.

Jacob: Estou passeando com os cachorros!

Anexa uma foto deles.

Mamãe: Saudades desses bichinhos! O canto deles já está pronto para


quando vocês viajarem.

Jacob: Te amo, Liz! Você é 10!

Pai: Ok, ninguém vai comentar sobre o climão que espera por vocês?

Jacob: Chegarei mais cedo porque não quero perder nem um segundo disso.

Barbie: Laura está mais ansiosa para ver Kath do que Noah. Talvez, ela
troque de crush.

Mamãe: Eu trocaria.

Rio sozinho vendo as mensagens que não acabam por ali.


Eu: Obrigada pelo apoio, família. É sempre reconfortante.

Jacob: A disposição, bebê.

Saio do grupo, porque sei que essa conversa não terminará tão cedo.

Me seco e entro em casa, olhando o Instagram e vendo o que tem de bom lá.
Com isso, quero dizer que estou vendo o feed de Kath e passando por seus
stories de hoje, porque os de ontem, eu já me diverti assistindo antes de
dormir.

Ontem foi a noite das garotas, e mamãe ficou tristíssima por não ter podido
ir porque já tinha outros compromissos, mas parece que foi uma boa noite.
Recebi alguns áudios delas alteradas e, foi bem engraçado, inclusive a
Emma, que eu ainda não conheço além das vezes que a vi na cafeteria, me
mandou áudios falando que eu devia cuidar muito bem da nova amiga dela.

Largo o celular na cama e vou direto tomar um banho. Ultimamente, meus


banhos tem sido mais demorados do que o normal, ainda mais depois que
Kath me deu sua calcinha. Nossa! A cena toda foi incrivelmente sexy e, tive
que usar uma força sobrenatural para não a puxar pro meu corpo e
transarmos ali mesmo.

Aliás, aqui está novamente a ereção de sempre quando me recordo desses


momentos com ela. Levo a mão ao meu pau e mais uma vez, começo uma
punheta pensando nesse furacão que se instalou em minha vida.

Depois de me certificar que meu amigo ficará por um tempo sossegado,


termino o banho e me visto. Escolho um dos perfumes e capricho, sento na
beira da cama e coloco o tênis que havia escolhido.

Procuro meu celular na cama quando o escuto tocar.

— Fala. Já está indo? — me levanto e levo o celular junto. Paro em frente da


parte que fica meus relógios e passo os olhos por todos, até escolher um
Invicta dourado. Confiro minha aparência no espelho e saio do quarto.

— Consegue me dar uma carona? Quero beber hoje! — Jacob responde.


— Chego aí em 10 minutos.

Ele agradece e desliga. Dificilmente isso acontece em um final de semana,


porque as noites de Jacob são sempre agitadas e ele não vai para os
encontros alterado, no máximo bebe um ou dois copos antes.

Eu queria ter ido buscar Kath, porque qualquer momento que eu possa
aproveitar com ela é ótimo, mas não sei como ela irá acordar hoje, depois da

noite de ontem.

Entro no meu carro e saio em direção a casa de Jacob. Todos nós moramos
próximos um do outro, foi algo que definimos assim que deixamos de morar
juntos. Somos muito apegados e, juntos, nos completamos de uma maneira
estranha, mas que dá certo. e então, temos bastante liberdade na casa de
todos, tirando o fato de que na casa de Jacob não entra mulher, o resto é tudo
liberado.

Paro em frente à casa dele e buzino. Jacob mora em uma casa linda e ela é
praticamente toda preta, ele diz que é pra combinar com o humor dele e até
que faz sentido. Escuto de longe seus cachorros latindo e sei que ele está
saindo.

— E ai cara, valeu! — fala enquanto entra, com uma garrafa de whisky na


mão. Franzo o cenho e o encaro. — Falei que queria beber, e Barbie
provavelmente só comprou cerveja.

Concordo e ele está certo, Barbie me avisou que já estão todas gelando.

Trocamos algumas ideias sobre a empresa ao mesmo tempo em que dirijo e,


noto que ele está diferente, como se estivesse incomodado com algo.

— O que rolou? — sou direto porque entre nós não existe rodeios.

Ele esfrega as têmporas e respira fundo.

— Meu pai! — ok, só isso é suficiente para eu saber que ele está irritado. —
Ele me ligou e falou que precisava da sua ajuda ou a do Barbie.
Aparentemente, está sendo processado por assediar uma menor de idade —

bufa.

Não me surpreendo e, não é a primeira vez que ele nos procura para ajudar
em algo assim, mesmo sabendo que jamais nos envolveríamos com algo
dele. Acho que ele só faz isso para irritar Jacob... O que consegue em todas
as vezes que tenta.

— Com todo respeito, seu pai é um merda — ele concorda e dá uma risada
desgostosa.

Chegamos no prédio minutos depois e estaciono do lado de fora. Olho ao


redor e não acho o carro de Kath, mas ela pode ter vindo de taxi. Eu sequer
sei se é melhor que eu chegue antes ou depois dela.

— Você está nervoso! — constata ao entrarmos no elevador e ri da minha


cara. — Relaxa, Laura é tranquila e Kath saberá lidar com isso. Só não faça
nenhuma merda — continua rindo.

Não fazer nenhuma merda.

Fácil!

Barbie parece sentir nosso cheiro e, assim que paramos em sua porta, ele a
abre, mostrando um sorriso cheio de dentes. Tenho certeza que ele está
nervoso também. Nos cumprimentamos e entramos.

Já vou direto para a varanda, onde fica o freezer com as cervejas e pego
uma. Dou um gole e olho tudo em volta. Lembro-me perfeitamente do dia
que Barbie comprou a cobertura e foi um dia incrível, ele estava tão
encantado que tinha dinheiro suficiente para comprar um espaço tão
luxuoso.

Barbie merece o mundo, esse cara é incrível e já passou por muita merda.

— Noah?
Me viro e vejo Laura sorridente, me observando da sala. Caminho até ela,
retribuindo o sorriso.

— Laurinha, quanto tempo! — revira os olhos ao ouvir o apelido e tira de


dentro do short uma moeda que sei que é de sobriedade. Estica para mim e
pego.

— 4 anos limpa! — sua voz demonstra o quanto está feliz por essa conquista
e eu sinto essa mesma felicidade me dominar, rodo a moeda entre os dedos e
sorrio. Laura me puxa para um abraço e eu retribuo, forte. Sinto sua mão
alisar as minhas costas e me afasto aos poucos.

Ela olha por cima do meu ombro e ruboriza, caminha em direção a porta e
me viro.

Kath está igual uma estátua parada nos assistindo, enquanto segura a porta e,
tento imaginar o que passa em sua cabeça após ver essa cena que não foi
nada além de um abraço.

— Oi, ouvi tanto falar de você — Laura diz enquanto a cumprimenta


timidamente. — Sou a Laura, irmã daquele safado que está fazendo um
almoço muito cheiroso — brinca, tentando aliviar o clima que não está dos
melhores.

Sinto a presença de alguém atrás de mim e depois ouço uma risada baixa de
Jacob, que deve estar adorando a cena.

Kath aceita a mão de Laura e sorri, simpática.

— Oi, Laura. Prazer! — ela entra e fecha a porta. — Você é linda! Os pais
de vocês estavam inspirados quando os fizeram — brinca e riem juntas.

E, só agora percebo que estava segurando a respiração, nervoso. Jacob dá


um tapinha nas minhas costas e sussurra que foi por pouco dessa vez.

Kath fala com Jacob e Barbie, que aparece assim que escuta a risada

das duas, parecendo tão aliviado quanto eu.


— Oi, amor! — falo baixinho quando ela para em minha frente. Seu olhar
me diz que não sabe como me cumprimentar e decido que não tem problema
demonstrarmos afeto na frente dos nossos amigos. Desse modo, abaixo o
rosto e dou um selinho em seus lábios carnudos.

Ela é pega de surpresa e reage sem graça, mas depois fica na ponta dos pés e
me dá outro selinho, me deixando com um sorriso bobo no rosto.

— Oi! — sussurra e depois se afasta sabendo que temos plateia. Laura nos
encara com choque e algo que parece frustação, mas disfarça e coloca um
sorriso no rosto.

Todos nós seguimos para a varanda enquanto Barbie finaliza o almoço e nos
sentamos na parte coberta. Kath vai para perto da piscina e fica admirando a
paisagem.

— Quase não acreditei quando meu irmão falou que você estava namorando
— Laura fala por alto, como se não estivesse de fato curiosa. —

É sério?

Respiro fundo.

— Laura, você sabe que é como uma irmã mais nova para mim, né?

Eu sempre deixei de lado seu interesse por mim, porque é incabível e, em


algum momento eu imaginei que você perceberia — falo tudo com calma e
com jeito para não a magoar mais do que o necessário. — Você é importante
para mim e eu te amo, mas espero que entenda isso e que não fique esse
clima sempre que vocês duas estiverem no mesmo ambiente.

Noto que Jacob se afasta para nos dar privacidade e vai conversar com Kath.
Laura também olha para ambos e suspira.

— Eu sei, Noah. Na verdade, sempre soube que não rolaria nada, mas tinha
alguma esperança que quando eu me tornasse uma mulher madura, você se
interessaria — pega na minha mão e segura. — Eu não tenho o interesse de
ser um problema para você, muito pelo contrário, desejo que você seja muito
feliz e que ela seja boa para você.
Estou surpreendido.

E aliviado.

— Obrigada por isso, Laurinha! — dou um beijo em sua bochecha.

— Eu já tenho 19 anos, Noah. Não sou mais uma criança — faz uma careta
bem infantil e eu começo a rir. Ela não aguenta e ri também, depois se
levanta e vai em direção a Kath e Jacob.

Deixo-os lá, é bom que elas conversem e se conheçam.

Chego na cozinha na hora que Barbie está tirando tudo das panelas e
colocando em travessas; o ajudo e arrumamos a mesa logo depois.

Barbie intima todos a comer enquanto a comida está pronta e, me sento ao


lado de Kath, que descansa a sua mão em minha coxa. É um gesto tão
simples, mas a naturalidade dela ao fazer isso, mexeu com algo dentro de
mim.

— Você está linda, amor — falo para que só ela escute.

Seu rosto se vira em minha direção e ela pisca. Ganho um selinho como
agradecimento pelo elogio.

— Por favor, vocês não são esse tipo de casal que fica toda hora se amando
na frente dos outros, né? — Barbie reclama enquanto se serve. Laura e Jacob
prendem a risada.

— Quer um beijinho também, gatinho? — Jacob pergunta, fazendo


biquinho.

Todo mundo ri e o agradeço pelo clima tranquilo.

Por alguns minutos, só ouvimos o barulho dos talhares e elogios à comida de


Barbie.

— Como estão os estudos, Laurinha? — rio, porque sei que ela vai reclamar
do apelido.
Ela bufa e revira os olhos.

— Terminei, na verdade. Foi tudo incrível, conhecer lugares e culturas


diferentes, memorizar todas essas coisas eternamente é sensacional.

Eu amo! — seu ânimo é quase palpável.

Kath limpa a boca e toma um pouco da cerveja.

— Você estudou o quê? — o interesse dela é verdadeiro e Laura sorri,


provavelmente aliviada por não ter ficado nada mal entendido entre elas.

— Fotografia!

— Mentira?! — ergue as sobrancelhas. — Eu estou procurando uma pessoa


para fotografar o orfanato, mas está difícil alguém bom e de confiança. Você
tem planos para a próxima semana?

Eu e os meninos nos entreolhamos, surpresos com essa interação.

— Eu estou muito livre!

Elas começam a conversar sobre fotos, viagens e várias outras coisas.

Barbie me convoca para ajudá-lo a tirar a mesa e Jacob nos acompanha.

— Filho da puta sortudo — Jacob fala enquanto ri e começa a lavar a louça.


— Eu imaginei vários cenários para hoje, menos esse.

Barbie guarda as coisas que sobraram e eu vou secando o que Jacob

lava.

— Cara, eu estava tão nervoso que pensei que passaria mal — rimos da
possibilidade.

— Laura está se tornando uma adulta admirável — Jacob fala para Barbie e
essas palavras vão além do que ele realmente falou.

Barbie fecha a geladeira e se encosta nela, cruzando os braços.


— Ainda é difícil, entendem? Eu tenho medo que seja só uma fase boa igual
da última vez, sabe?

A primeira vez que Laura foi liberada pelos médicos, ela estava muito bem e
queria estudar, fazer nova amizades e tudo parecia perfeito. Até que um dia,
Barbie chegou em casa e sua irmã estava desmaiada no quarto, com agulhas
e pacotinhos com resíduo de drogas espalhados por sua cama.

Ela teve uma overdose.

E morreu por alguns segundos.

Foi desesperador, meu amigo parecia que ia morrer junto com a irmã de tão
maluco que ficou. Foi horrível para todos nós, mas nada se compara ao que
ele sentiu e, até hoje, ela nunca contou o porquê daquilo, sempre pediu para
que respeitássemos a decisão dela de não contar. Então, entendo a
preocupação dele, já que fica totalmente no escuro do que pode causar isso
novamente.

— Ei, vamos pensar positivo, ok? — digo, apoiando uma mão em seu
ombro. — E, qualquer merda que acontecer, daremos um jeito. Juntos
sempre resolvemos as merdas um do outro.

Ele sorri mesmo triste e balança a cabeça.

— Dessa vez, estaremos prontos e atentos a tudo. Todos nós —

completa Jacob.

Barbie tenta disfarçar, mas a lágrima que escorre, o denuncia.

Ele funga e nos puxa para um abraço em trio.

E assim ficamos por algum tempo, deixando que o coração dele se acalme.

— Porque ninguém chamou a gente para esse momento? —

escutamos a voz de Laura e rimos. Ela se joga e tenta nos abraçar, enquanto
puxa Kath para fazer o mesmo.
O clima triste mudou rapidamente quando todos caímos na risada.

Elas por não saberem o motivo, e a gente pela espontaneidade delas.

O resto do dia foi ótimo. Kath e Laura se deram bem, conversaram sobre
várias coisas e uma já sabem quase tudo da vida uma da outra. Foi ótimo ver
essa relação entre as duas nascer; Laurinha não tem amigos além de nós e,
ter alguém como Kath ao seu lado, será bom, pois ela é uma mulher surreal
de incrível e sei que ajudará minha amiga nessa nova fase.

Estamos todos sentados perto da piscina. Jacob, que já bebeu tudo o que
devia e não devia, nesse momento está desmaiado no deck e se não fosse por
Kath, ele acordaria totalmente queimado do sol.

Falando nela...

— Tem planos para mais tarde? — sussurra em meu ouvido, após sentar em
uma das minhas pernas.

Rio.

Claro que tenho planos. Muitos.

— Se você topar passar a noite comigo, tenho vários planos — coloco a mão
em sua coxa e passeio com meus dedos por ali. Sua pele arrepia sob meu
toque, beijo seu ombro e depois seu maxilar.

Ela ri da minha provocação e depois me dá um selinho.


— Serei toda sua hoje! — pisca e pega o celular. — Não posso perder a
chance de gravar esse momento de Jacob — ri enquanto liga a câmera e tira
várias fotos dele. — Ele me surpreende a cada dia. Jamais imaginei vê-lo
assim.

Ela me mostra como ficou e eu peço para que me envie todas.

— A única coisa que faz com que ele beba até perder a noção, é o pai.

Eles têm uma relação difícil — Kath concorda, a curiosidade está estampada
em sua cara, mas ela é muito educada e não perguntará sobre.

Barbie chama a nossa atenção ao falar sobre nosso aniversário.

— Kath, já sabe qual fantasia vai usar? — Laura coloca as pernas em cima
da cadeira e nos observa.

— SIM! — ela sai do meu colo em um pulo e mostra algo no celular

que eu deduzo ser a fantasia. — Mulher gato. Sempre quis usar essa fantasia.

Ela vira o celular para mim e depois para Barbie, que ri e faz um sinal para
mim, dizendo que estou fodido e, eu estou mesmo.

A fantasia é tão colada que parece que é a própria pele dela; sem dúvidas,
suas curvas ficarão totalmente acentuadas.

Agora, quero saber: como manterei minhas mãos longe do corpo dela?

Impossível.

Coço a cabeça e esfrego o rosto, tentando não pensar no quanto será


doloroso, em muitos sentidos, vê-la assim.

— Gostou? — ela nem consegue disfarçar que está achando graça do meu
pré-desespero. Fito-a e faço que sim com a cabeça, porque tirando o fato de
que ficarei doido, tenho certeza que ela ficará linda. — Você poderia ir de
Batman.
E pronto, minha fantasia está definida.

Laura mostra algumas opções de fantasia a todos nós e tentamos ajudá-la a


definir qual ela irá, mas sempre há um “porém”, pois ela coloca defeito em
tudo.

— Ok, Kill Bill venceu — todos nós batemos palmas e gritamos para
comemorar a sua escolha. — Ridículos!

Damos por fim o nosso dia por lá e, com muito esforço e ajuda de Barbie,
coloco Jacob na cama de um dos quartos de hóspedes. Aproveito e deixo um
balde ao seu lado, porque sei bem como é a ressaca que o espera quando
acordar.

Eu e Kath nos despedimos deles e vamos até onde estacionei meu carro.
Assim que entramos, ela sobe em meu colo e sua saia jeans sobe até a
cintura. Agarro sua bunda com força, ela arfa e depois toma a minha boca
com a sua.

Kath pressiona o corpo no meu e solto um gemido entre o beijo. Sinto seus
lábios descolarem dos meus e descer pelo meu maxilar, para depois ir ao
pescoço. Movimento minha cintura para que ela sinta minha excitação.

— Estava louca para te beijar — diz e me beija novamente, devorando


minha boca e sugando minha língua.

Afasto nossas bocas e ela resmunga.

— Não quero te comer aqui, amor. Não hoje, pelo menos — pisco.

Ela ri e sai do meu colo, arrumando a sua roupa e colocando o cinto.

Dirijo com meu pau doendo dentro da cueca, que provavelmente, está

sem entender porque eu parei o que mal tínhamos começado. Entretanto, eu


quero transar em uma cama, confortável e à vontade o suficiente para
fazermos o que quisermos.

— Seu condomínio é muito elegante — fala assim que entramos. —


Gostaria de morar em um lugar assim, com privacidade e segurança.

— Não gosta do seu apartamento?

— Gosto, muito! Mas, não é o meu sonho de lar, entende? —

concordo. — Gostaria de um quintal grande, com piscina e tudo mais que eu


pudesse ter.

Estaciono e viro-me para ela.

— Há duas casas vendendo aqui, mas lá para o final do condomínio.

Posso ver para você, se quiser — dou de ombros e ela sorri.

Saímos do carro e encaro nossas mãos quando ela pega a minha e entrelaça
nossos dedos.

Isso é diferente e bom, poderia me acostumar com tal coisa.

— Seria, no mínimo, interessante ser sua vizinha — brinca.

— Você já quase é, amor. E, fique à vontade para usufruir da minha casa


quando quiser — na minha cabeça, as palavras não teriam tanto peso, mas
assim que as falo, percebo que não é bem assim.

Ela dá um leve aperto em minha mão e sorri, mas não responde nada.

Com certeza, ficou sem jeito e preferiu evitar deixar o clima estranho.

Escolho não falar mais nada também.

— Se ficar sem luz, como você entra? — pergunta, assim que entramos e ela
nota que a fechadura é eletrônica. Rio do seu interesse.

— Quando ficar sem energia, ela funciona com a chave. Tem uma comigo,
que fica junto ao chaveiro do carro e outra com minha mãe, caso eu perca a
minha.
Vamos para a cozinha falando coisas aleatórias sobre a casa e o que ela
gostaria de pôr na dela.

Nossa relação está fluindo de uma maneira muito natural e gostosa.

Nesses últimos dias, temos desenvolvido muito o nosso conhecimento um


sobre o outro e, é incrível saber o quanto de coisa ela já viveu e fez, mesmo
com a idade que tem.

Não sou tão mais velho que ela e, mesmo assim, ela fez muito mais coisas
do que eu; inclusive, me prometeu tirar a minha “virgindade” de várias
dessas coisas. Palavras dela.

Decidimos pegar um vinho e alguns petiscos para aproveitarmos a

noite lá fora, o céu está lindo e, ela já falou que gosta bastante da parte
externa da casa.

Deixo apenas as luzes da piscina acessas e me sento ao seu lado, próximo a


única arvore que tem aqui dentro. Ela abre o vinho e coloca em nossas taças,
brindamos e ficamos um tempo em silêncio, apenas perscrutando o céu.

Kath pega seu celular e se aproxima mais de mim, encosta a cabeça em meu
peito e coloca a mão livre ali também. Tira uma selfie em que não aparece a
minha foto, mas ela está linda, sorrindo feito criança. Quando ela ameaça
sair, a seguro pela cintura em um pedido silencioso para que fique.

Fico olhando para o celular dela enquanto ela edita e arruma a foto,
conferindo se não aparece nada que me identifique e posta no story.

Sei que ela fez isso para preservar a minha privacidade e, é isso que eu
quero, ou queria, porque estou me sentindo estranho em saber que ninguém
saberá que o homem que está com ela, sou eu. Sempre tive aversão a toda
essa atenção, lembro-me de que na infância quando meus pais ainda
trabalhavam como modelos, vivíamos sempre nos esquivando. Ir a praia,
parques e qualquer lugar publico era sempre um inferno e por muitas vezes
eles desistiam de nos levar. Acho que isso me marcou até hoje, mas agora
com Kath...
— O que foi? — abaixo o olhar e a encontro me fitando, curiosa. —

Foi a foto? Posso apagar! — se afasta um pouco, voltando a sentar-se ao


meu lado.

Abro as minhas pernas e a puxo para que fique no meio delas, de lado.
Acaricio suas coxas que ficaram por cima da minha e admiro o contraste que
nossas peles fazem.

— Não foi nada, amor — dou um selinho e depois um beijo na pontinha do


seu nariz. — Estava apenas pensando em algumas coisas. Não precisa se
preocupar! — ela ainda me fita, mas se dar por satisfeita, e se encosta em
meu peito. — E aí, gostou da Laura?

Ela entrelaça nossos dedos e fica olhando para a piscina.

— Gostei. Ela parece ser uma boa menina — vira-se para mim e esquadrinha
meu rosto antes de falar. — Não vou negar que estava com medo. Ela é a
irmã do Barbie e te conhece há anos. Não teria como competir com ela nem
mesmo se eu quisesse. Fora, que ela é lindíssima, meu Deus. Os pais do
Barbie são verdadeiros Picassos — ri e depois morde os lábios. —

Fiquei com ciúmes quando vi vocês abraçados, não sabia o que esperar dela.

Na minha vida, é comum as coisas darem merda.

Rio do seu desabafo, mas confesso que foquei mais no fato de ela ter ficado
com ciúmes do que qualquer outra coisa.

— Então, você sentiu ciúmes, amor? — pergunto enquanto enfio a cara em


seu pescoço, beijando toda a área.

— Você só prestou atenção nisso? — quase murmura enquanto tenta ignorar


minhas carícias. Se afasta, levanta, olha para a piscina e aponta —

Vamos entrar um pouco? Está quente aqui.

Realmente está, mas o meu furacão é uma safada e, sei que quer me torturar.
Levanto e começo a tirar a minha roupa.

— Se incomoda se eu entrar só de cueca? — provoco.

Ela ri e dá de ombros.

— Não, vou entrar de lingerie mesmo — paro de tirar minha roupa e fico
admirando-a se despedir de forma mais lenta do que o normal, me
provocando. Quando termina e fica apenas de lingerie branca, toda rendada,
vira-se em direção à piscina e mergulha. Volta para a superfície e se apoia na
borda. — Não vai entrar? A água está ótima — não espera por uma resposta
e volta a nadar.

Tiro o resto da roupa e me embolo pelo desespero. Assim que consigo ficar
apenas de cueca, mergulho e nado até chegar nela. Subo já esfregando
nossos corpos no caminho.

— Os dois de brancos e nem combinamos — fala e envolve minha cintura


com as suas pernas, me puxando para mais perto. — Sabia que um dos
lugares que ainda não transei é na piscina? — morde o meu lábio e os puxa
um pouco.

Enfio minha mão no meio de nós dois e empurro sua calcinha para o lado e
ela ri, ansiando pelo que vem. Massageio lentamente meu indicador no seu
ponto sensível, preparando-a.

— É mesmo? Vamos resolver isso, amor — beijo sua boca e seguro em sua
nuca, pressionando nossos lábios com força. Não consigo mais ter controle
sobre o meu corpo quando se trata de Kath, ela domina tudo em mim. —
Não é a melhor maneira de transar, mas vou fazer com que seja gostoso —
pisco e ela rebola em meu dedo.

Abaixo a minha cueca e seguro meu pau enquanto esfrego a cabeça pelos
seus lábios e clitóris. Ela segura em meus ombros e ergue um pouco o corpo,
tentando encaixar meu pau em sua entrada. Solto um gemido rouco ao

sentir meu pau entrar um pouco e ela aperta meus ombros, forçando o corpo
para baixo.
Amo o quanto ela é atirada enquanto transa.

E, amo sentir seu corpo.

Escorrego meu pau para dentro até senti-lo todo abraçado por ela, que geme
em meu ouvido e contrai a boceta.

Seguro em sua cintura e começo os movimentos de vai e vem, devagar por


causa da água. Kath rebola e continua contraindo e apertando meu pau, me
deixando louco. Beijo seu pescoço e dou uma mordida de leve ali. Ela geme
meu nome, e eu não aguento mais manter o controle.

Abraço sua cintura com um braço e vou andando com ela na piscina até as
escadas. Em nenhum momento desgrudamos nossos corpos e, Kath continua
a se movimentar, me deixando desnorteado e fazendo com que o caminho
seja mais difícil.

Ela trava as pernas com mais força em minha cintura quando saímos e a
encosto na parede ao lado da porta que da para a casa. Coloco uma mão atrás
da sua cabeça para não machucá-la e começo a meter forte, finalmente
sentindo-a perfeitamente.

— Gostosa! — rosno.

— Ai, meu Deus! — geme alto quando volto a brincar com seu clitóris. A
cada estocada, enfio com mais vontade e mais alto ela geme, enquanto sua
boceta deixa meu pau todo melado.

Abaixo uma parte do seu sutiã e sou agraciado com seu seio lindo.

Caio de boca e começo a lamber e chupar, tentando não gozar toda vez que
ela força seu corpo para baixo, intensificando nossas estocadas.

— Vai, não para! — suplica entre gemidos e eu aumento o ritmo. —

Eu vou gozar!

Aperto sua cintura e saio quase inteiro para voltar com mais força e ela
gritar; repito mais vezes e me seguro até que ela goze em meu pau,
deixando-o encharcado. Tento sair de dentro dela para gozar, mas ela rebola
e geme baixinho, acho que até paro de enxergar enquanto gozo nessa boceta
que virou meu vício.

Apoio a testa em seu ombro, esperando os espasmos passarem e meu corpo


voltar a funcionar. Me afasto e a coloco no chão, procuro algo ao nosso redor
para limpá-la, mas acabo por terminar de tirar a minha cueca ainda úmida e
ela aceita.

Kathllen arruma a calcinha e vai até nossas roupas jogadas perto da

piscina, pega todas e entra comigo.

— Quero conhecer seu quarto!

Aponto para as escadas e ela sobe na minha frente, deixando a bunda gostosa
quase na minha cara. Aproveito e dou uma mordida. Ela ri e dá uma
corridinha, mas para ao encarar algumas portas e não saber qual entrar.

Colo meu corpo em suas costas e vou agarrado com ela até meu quarto,
abrindo toda a minha privacidade para essa mulher, que a cada dia ocupa
mais espaço em minha vida e em meu coração.

26

O quarto de Noah é lindo e, se eu achava que meu quarto era grande, estava
enganada. Aqui também tem as mesmas cores que os outros cômodos, mas
uma cama enorme e uma parede toda de espelho deixa o clima diferente,
mais sensual.

— Gostou? — Noah pergunta bem perto da minha orelha e sinto seu pau,
que está colado em minha bunda, começar a dar sinal de vida; isso não é
normal e rio sozinha.
Caminho ainda segurando nossas roupas e as coloco em cima de uma
poltrona perto da cama. Viro-me e olho tudo, querendo encontrar algo
diferente ou mais pessoal.

— Amei. É perfeito.

Ele segue para um outro ambiente, que imagino ser o banheiro, mas só
consigo prestar atenção na sua bunda bonita.

— Você vem tomar banho comigo ou vai ficar secando minha bunda?

— rio alto ao ser pega no flagra, e deixo o banho com ele para depois porque
sei que faremos tudo, menos tomar banho.

Aproveito enquanto ele se ocupa no banho após resmungar por eu não ter
ido e olho mais de perto as coisas em seu quarto.

Há algumas fotos da sua família e perto da tv, tem alguns livros.

Passo os dedos por eles e procuro algum familiar, mas não reconheço
nenhum. Vou para frente do espelho e me olho, vendo duas marquinhas que
ele deixou enquanto transávamos e passo o dedo por elas, sentindo
perfeitamente o toque dele em meu corpo.

E, é aí que noto que tem uma claridade saindo por debaixo do espelho e
estranho, porque só nessa parte que tem essa luminosidade. Apoio a mão e
fico procurando por algo que não sei o que é.

— A mão está no lugar errado, amor — pulo de susto ao ouvir Noah falar,
mas o susto passa ao ver que ele está enrolado em uma toalha que marca
perfeitamente meu novo brinquedinho preferido, que de “inho” não

tem nada. — E, mesmo se estivesse no lugar certo, nunca abriria.

Ele coloca a mão em uma parte especifica do que pensei ser o espelho, mas é
uma porta de correr que abre assim que recebe o toque dele.

— Esse é o momento que eu descubro que, na verdade, você é um infiltrado


e eu corro algum tipo de risco? — pergunto, já entrando nesse lugar novo. —
Esse mistério todo para um closet, Sr. Cooper?

É um closet lindíssimo, com muitos ternos e roupas de marcas.

Porém, o que mais chama a minha atenção é a quantidade exorbitante de


relógios. Me aproximo deles e vou olhando um por um, admirada.

— Não é só um closet — ele caminha até outro lado e me mostra um cofre.


— Aqui guardo umas coisas importantes, que não confio em deixar em outro
lugar — ele se vira e digita uma senha, que faço questão de não saber, abre e
me chama.

Não tem muitas coisas como vemos em filmes, com cofres que têm várias
barras de ouro, infinitos de dinheiro e armas. Rio do meu pensamento.

Ele tira uma caixinha pequena e abre. É o anel mais lindo que já vi na vida;
não o pego, pois fico com medo de deixar cair.

— Esse anel está na família há muitos anos e meu pai deu para minha mãe
quando a pediu em casamento — cada vez que vou descobrindo mais da
história dos pais de Noah, mais me apego a eles e na esperança de ter algo
assim. — Dona Liz deixou de usar anos atrás, com medo e agora, ele fica
aqui.

— Ele é lindo, mas eu também teria medo de usar.

Ele fecha a caixinha e a coloca dentro do cofre novamente, tirando dele um


envelope. Respira fundo e me entrega.

— Esse envelope tem as informações dos meus pais biológicos —

fala como se não fosse nada demais e fica olhando o papel pardo que agora
está em minhas mãos. — Nunca tive coragem de abrir.

Fico em choque.

— Você tem isso há quanto tempo?

— 10 anos.
Arregalo os olhos e, com muito cuidado, coloco onde achei. Ele permanece
olhando minuciosamente cada movimento meu e suspira.

Empurro a porta do cofre e, na mesma hora, ouço as travas.

— Quer conversar sobre isso? — me aproximo e faço um carinho em seu


rosto.

— Não tem nada para conversar, Kath. Eu paguei para descobrirem

sobre eles e nunca tive coragem de saber se estão vivos, se vivem uma boa
vida... O momento de descobrir nunca chegou. Tentei muitas vezes e depois
fiquei pensando o que eu faria quando descobrisse quem são. Iria até eles,
ignoraria? Enfim...

Fico na ponta dos pés e beijo suas têmporas; ele sorri ao receber o carinho.
Desço os lábios e dou um beijo breve em seus lábios.

— O momento certo virá. E, se nunca chegar, tudo bem! — ele me abraça


pela cintura quando escuta minhas palavras e me dá mais um beijo.

— Você é uma surpresa muito, muito boa em minha vida — esfrega seu
nariz no meu e meu coração tenta sair do meu peito quando ele pronuncia
essas palavras.

— Se me permitir, serei uma surpresa constante em sua vida, até que não me
queira mais.

— Aí que eu acho difícil — seus olhos me encaram de um jeito que parecem


enxergar minha alma. — Você é boa demais para que um dia eu não te
queira mais, amor. O que acontece é exatamente o contrário, quando mais
estou com você, mais eu quero.

Me pega no colo depois que fala e eu rio da sua rapidez.

— Eu preciso de um banho! — protesto.

Ele me carrega até ao banheiro e sei que a intenção era outra, mas eu
realmente preciso tirar o cloro da piscina do meu corpo. E, quando me deixa
no chão, me permito babar em seu banheiro, que é todo em mármore branco
com cinza.

— Vou pegar o vinho que deixamos lá em baixo e ver algo para comermos
— me dá um beijo e aponta para a parte debaixo da pia. — Ali tem tudo o
que precisa. Pode pegar algo meu, se quiser, eu não me importo

— concordo com a cabeça e, antes de sair, ele fala. — Tem uma coisa para
você em uma caixa no meu closet. Está em cima do puff.

O banheiro de Noah é maravilhoso, tem uma hidromassagem que eu quero


muito usar, um chuveiro enorme e um espaço ótimo na pia dupla.

Amei!

Tiro minha lingerie e tomo meu banho. Reconheço o cheiro gostoso que
sempre sinto na pele de Noah ao pegar o sabonete que está ali. Pego
shampoo e condicionar que tem na bancada e também uso, me sentindo à
vontade demais com as coisas dele.

Saio do box e pego a toalha que já tinha separado, seco meu cabelo e depois
a enrolo no corpo. Coloco a cabeça para fora do banheiro e vejo que

ele não voltou ainda.

Me certifico de estar bem seca e corro até seu closet, já na intenção de


roubar uma camisa dele, mas vejo a caixa que ele falou e vou até ela.

Na hora, já vejo o “VS” enorme da Victoria’s Secrets e me contenho para


não sair pulando de alegria. Abro a tampa, tiro o tecido que protege e pego a
lingerie que, na verdade, é um robe preto transparente, todo rendado e muito
sexy. Se já não fosse muito, tem uma calcinha minúscula, com duas tiras.

Rio sozinha.

Esse cara é incrível.

Tiro a toalha e visto meu presente. Vou na frente do espelho e confiro como
ficou. Simplesmente amo o que vejo.
Volto para o banheiro e arrumo a bagunça que fiz, já notei que Noah é bem
organizado e eu não sou tanto assim. Noto um cesto de roupas sujas, mas é
muita audácia pôr minha roupa ali, né? Então, a separo, dobro e deixo em
um canto na pia; decido que depois pegarei uma sacola com ele para colocá-
la.

— Ta tud... eita, porra! — Noah congela na porta e me encara como se eu


fosse a comida mais gostosa do mundo. Não consigo me segurar e sorrio.
Empurro a parte de baixo do robe para trás, deixando toda a parte inferior
livre para que ele veja melhor. — E-eu, não est-tava pronto pra isso

— seus olhos, arregalados, percorrem por todo meu corpo.

Vou até onde ele está e envolvo meus braços em seu pescoço.

— O presente era para mim ou para você?

— Para ambos?! — sua mão vai direto para minha bunda e ele aperta com
força. Gemo em resposta. Adoro quando ele me aperta, me beija, me morde.
Adoro todas as maneiras que ele tem para demonstrar carinho e desejo.

Olho para dentro do quarto e vejo que tem uma bandeja com várias coisas na
cama, meu estômago se empolga e ronca. Noah me dá um selinho, um tapa
na bunda e me puxa para a cama.

— Estava vibrando horrores lá na cozinha — me entrega meu celular e dou


uma olhada rápida, estranhando o tanto de notificações. — Acho que nossa
foto fez sucesso, mesmo que eu sequer tenha aparecido — está aí o porquê
das notificações.

Abro o aplicativo de mensagens e há várias, de muitas pessoas diferentes,


inclusive uma de Pietro, querendo um furo do meu suposto novo

relacionamento. Respondo-o rápido, apenas informando que ele será o


primeiro a ter a minha confirmação na hora certa.

Aviso minha mãe que dormirei por aqui e ela responde que já imaginava.
Emma disse que quer detalhes do dia, e Barbie novamente fala que quer ser
o padrinho.
Noah coloca uma fruta na minha frente e eu como, adorando ser mimada.
Continua a fazer isso até que informo que não quero mais. Tomo um pouco
do vinho e noto que ele tenta ignorar o celular dele.

— Não vai ver quem é? — pergunto enquanto me recosto na cama e aprecio


a beleza do homem ao meu lado. Não consigo me acostumar com a
imponência dele.

— Não quero estregar a nossa noite, amor — ele se aproxima para me beijar,
mas afasto um pouco o rosto, querendo saber o que poderia arruinar com o
nosso momento. Ele bufa e fecha os olhos. — Samantha viu a foto que você
postou e deduziu que era eu. Me ligou várias vezes e as mensagens estão
com um teor bem ofensivo.

Samantha!

Pensei que ela já era passado.

— A foto saiu em vários perfis de fofoca — mudo de assunto e ele nota, mas
não reclama. — Está preparado para o dia que nos verem na rua?

Ele mexe com a renda do meu robe enquanto pensa.

— Sendo sincero? Não estou nem um pouco preparado e, não sei como vou
reagir a isso tudo — engulo em seco, porque eu sei que a notícia irá mudar a
vida dele e, tenho medo de ele não suportar essa mudança. —

Mas, é a sua vida e eu sei das consequências. Estou apenas tentando não
pensar em como será quando chegar o momento.

Concordo, mas algo dentro de mim me diz que teremos problemas com isso,
o que me entristece.

Deixamos nossos celulares na mesinha ao lado, tiramos a bandeja de cima da


cama e nos deitamos. Para a minha surpresa, ele fala para vermos um filme,
diz que não faz isso há anos. Optamos por começar a ver os filmes da
Marvel, até combinamos de tirar um dia da semana para juntos vermos um
filme. Criando uma rotina nossa.
Meu coração é bobo e se encanta com essas coisas pequenas. Coisas que, aos
poucos, se tornarão enormes e sei que dominarão todo o meu ser.

Acordo sentindo um carinho na minha cintura. Com muita dificuldade, abro


os olhos e me viro, dando de cara com Noah. Meu sorriso se

abre no automático e ele me dá um selinho casto.

— Bom dia, delícia — seus dedos passeiam pela minha costela e sobem até
a parte inferior do meu seio, que percebo estar descoberto, já que o robe está
totalmente aberto. Me espreguiço manhosamente, sentindo o calor do corpo
dele próximo ao meu.

— Bom dia, Noah — me levanto até ficar sentada e sinto minha intimidade
ardendo. Ontem levemos sério a ideia de aproveitarmos a cama e todo o
resto do seu quarto. Perdi as contas do quanto transamos e o tanto que gozei;
acho que talvez ele entre para o Guines, depois da noite anterior. —

Espero que na próxima vez que dormirmos juntos, nossa manhã comece com
um sexo maravilhoso — pisco.

Saio da cama e vou até o banheiro fazer minhas higienes matinais.

Demoro um pouco e quando volto, tem um café da manhã na cama e um


bilhete.

“Os meninos vieram treinar. Te espero na academia.

Obs: Barbie passou na sua casa e trouxe roupa para você passar o

dia.

Sua mãe que escolheu.

Estamos te esperando.”

Fofos.
Tomo meu café com calma, porque não tinha a intenção de treinar em pleno
domingo e aproveito para ver as notícias.

“Kathllen Ibrahim aparece com homem misterioso no seu perfil.”

“Quem será o sortudo que ganhou o coração da ex-noiva do Ethan Smith?”

Entretanto, a última que vejo é a que me deixa irritada e acaba com meu dia,
que iniciou há pouco tempo.

“Solteira convicta, Kathllen Ibrahim é vista com o ex e agora posta foto com
um homem misterioso na mesma semana. Quem será que ficará com ela?”

— Merda! — abro o link e vejo a foto que, claramente, dá para reconhecer


que sou eu e Ethan. Parece que foi tirada de dentro do restaurante e,
infelizmente, não tenho o que fazer além de ficar irritada e frustrada.

Pulo da cama e visto a roupa de malhar que tinha na bolsa com as minhas
coisas. Se antes eu não queria treinar, agora eu quero gastar toda a raiva que
está em mim.

Desço rápido enquanto continuo lendo várias suposições na internet.

Me aproximo da academia e escuto os meninos falando.

— Deve ser ruim para ela também, Noah. Você viu como falaram dela?
Como se fosse um objeto — Barbie diz e escuto Jacob resmungar.

— Isso tudo é uma merda e faz parte da vida dela, cara. O momento de se
acostumar com isso, e trabalhar na sua cabeça que sempre será assim, é
agora — Jacob fala e soca o saco de boxer ao mesmo tempo. — Eu, no seu
lugar, não desistiria dela.

Ai, meu Deus. Será que Noah já quer desistir de mim?

— Não vou desistir. Não conseguiria nem mesmo se eu tentasse — a voz de


Noah demonstra a frustação que ele está sentindo. — Eu só fico na dúvida se
mando todo mundo à merda e assumo para o mundo todo, ou se vivo assim,
sendo o cara misterioso. Eu sei que, por enquanto, é por causa do caso dela,
mas e depois, qual será a minha desculpa além do fato de eu não gostar da
mídia pelo inferno que eu passava quando era criança? Eu estou me
jogando de cabeça sabendo como é a vida dela...

Decido parar de escutar e faço barulho para que eles escutem que estou
chegando. Não aguento mais ouvir as dúvidas dele e não quero me meter.
Começamos recentemente, mas tudo entre nós dois é muito intenso.

— Quem vai me ensinar a socar? — chego na rodinha deles brincando, mas


o clima da conversa ainda paira no ar e eles se entreolham.

Jacob me chama com a cabeça, mas no meio do caminho, Barbie me abraça


e me suja com seu suor. — Eca, você está fedendo.

Ele bagunça o meu cabelo e depois me solta.

Jacob me ensina o básico para que eu consiga golpear o saco sem me


machucar e, depois de absorver todas as informações, me posiciono como
ele falou e começo a socar.

No início, foram apenas socos leves, mas logo começo a pensar em todas as
notícias e vejo a cara de Ethan na minha frente, então, os socos se tornam tão
fortes e rápidos, que minha respiração fica descontrolada. Paro e apoio as
mãos nas pernas, tentando aliviar o aperto no peito por causa da fadiga.

— Amor, ei — Noah se aproxima e para ao meu lado, estendendo uma


garrafa de água para mim. Aceito e bebo quase toda, me recompondo.

— Viu as notícias, né? — concordo com a cabeça.

— Isso tudo é uma merda. Voltarão a vincular meu nome ao dele e os


jornalistas estão uma loucura, tentando entrar em contato — olho ao redor e
vejo que Barbie e Jacob foram para a piscina. — Você não tem necessidade

de passar por essas coisas.

Ele senta no chão, se encostando na parede e sento-me ao seu lado.


— Não é legal, também não gostei de ver isso quando acordei. Mas, eu sei
que você não tem nada com ele e, é isso que importa. Confio em ti —

estico minhas pernas e ele agarra uma delas, me puxando para mais perto. —

Vamos nos preocupar no momento com a Alex. Está preparada para


amanhã?

— Não. Não a vejo desde antes da merda que ela falou. Não queria ter que
olhar na cara dela nem por mais um segundo.

— Sabe que estarei lá não só como seu advogado, né? — recebo um beijo
suave no ombro. Já notei que ele gosta dessa parte do meu corpo. — Te darei
todo o apoio e tudo vai dar certo; não deixe ela te magoar com provocações.

Balanço a cabeça, confirmando que sei. Dou um selinho e me levanto.

Ele se levanta logo depois e para em minha frente, com uma cara engraçada.

— Quando acordei hoje e fiquei admirando a mulher maravilhosa que estava


na minha cama, lembrei da sua nova campanha de lingerie — prendo uma
risada porque já sei o que vai me perguntar. — As peças serão tipo a que
usou ontem? — dá um sorriso quadrado, bem amarelo e eu rio.

— Sim, amor. Porém, não terá nudez, porque as fotos ficarão em lugares
públicos — ele concorda com a cabeça, ainda com a careta. — Se eu usar
um robe igual àquele, a foto fará com que não apareça meus seios nus ou me
darão um sutiã para pôr debaixo.

— Preciso de um cardiologista, uma arma e um bom advogado — fala e sai.


Eu só consigo rir.

Noah é um homem muito maduro e bem racional. Sei que nem todo mundo
teria colhão para tal coisa; eu mesma não sei como reagiria se tivesse que vê-
lo por aí apenas de cueca. O que ele esconde no meio das pernas é grandioso
demais para ficar descente em uma foto do tipo.

Volto para o saco e dou mais alguns socos, externando toda a minha raiva e
tentando ficar mais tranquila.
Ouço meu telefone tocar e paro de socar. Enxugo o excesso do suor do meu
rosto e vejo que é Pietro que está me ligando, atendo e coloco no viva-voz.

— Oi, Pietro.

— Querida, estou começando a perder minha credibilidade em relação a


você. Fiquei decepcionado em saber que está voltando com Ethan

e sequer me falou nada. Aquela foto de ontem foi só provocação?

O quê?!

— Não tenho a mínima noção do que você está falando.

— Kath, por favor, só estou tentando te ajudar, querida. Ethan postou uma
conversa de vocês e algumas fotos, falando que voltaram a conversar e
estão tentando se resolver.

Encaro meu celular e parece que ouvi tudo em um idioma que não domino.

— Te ligo daqui a pouco, Pietro — desligo e, na mesma hora, procuro o


nome de Ethan na minha agenda. Faço a ligação por vídeo e espero que me
atenda.

— Que saudades de acordar vendo sua beleza, Kathie.

— QUAL O SEU PROBLEMA, ETHAN SMITH? QUAL A MERDA DO


SEU PROBLEMA? — grito e agradeço a música que os meninos colocaram
lá fora.

Ethan esfrega o rosto e sorri, como se tivesse feito algo bom.

— Kathie, você sabe que iremos voltar. Eu sei que você ainda está irritada,
mas eu sei que voltaremos — ele arruma o cabelo e se ajeita na cama. —
Quem era aquele homem com você?

Encaro a pessoa no vídeo e não o reconheço. Isso tudo não é saudável.


— Ethan, por favor. Não ferra mais a minha vida, cara! Nós não vamos
voltar, nem que você fosse O ÚLTIMO HOMEM DO MUNDO! —

ele ri ao me escutar falar tais coisas.

— Isso é o que você acha. Realmente acredita que um homem daquele tipo é
alguém merecedor de estar ao seu lado?

— O que você qu... — entendo na hora o que ele falou e, isso é a gota
d'água. Eu não conheço esse homem. — Sério, Ethan? Você, além de
maluco, é racista agora? Sinceramente, sou grata pelo o que Alex fez para
nós dois, porque eu teria nojo de mim ao descobrir que me casei com um
homem de merda.

Desligo o telefone e grito, sentindo a raiva tomar todo meu corpo.

Deixo meu corpo escorregar pela parede, tampo o rosto e choro. Mas, esse
choro não é por mim, é por Noah. Quantas pessoas mais vão falar isso dele?
O quanto ele já deve ter passado e ainda passa por essas coisas?

Fico um tempo ali na mesma posição, me sentindo péssima por ter ficado
com esse homem.

Escuto alguém pigarrear e vejo Jacob sentado do lado do saco de

boxer, evitando olhar em meus olhos.

— Está há quanto tempo aqui? — ele brinca com o cordão em seu pescoço.

— Desde que ligou para o babaca. Vim te chamar para dar um mergulho e
fiquei com raiva junto contigo. Não quis que ficasse sozinha, mesmo que
não soubesse da minha presença — suspira e me encara, fitando as últimas
lágrimas que deixo escorrer. — Noah é um cara muito bom e não merece
essas merdas.

Soluço e choro mais um pouco.

— E, se outras pessoas falarem a mesma coisa quando me verem com ele?


Quando saberem quem realmente é e tentarem ofendê-lo diretamente? —
esfrego o rosto, sentindo um bolo na garganta.

— Isso vai acontecer, Kath. Ele estando com você ou outra pessoa, isso
acontece todos os dias da vida dele, infelizmente — ele se levanta e para na
minha frente com a mão estendida. Pego e me levanto com sua ajuda. —

Noah sofre com isso no trabalho, na vida pessoal e, mesmo sendo um dos
caras mais inteligentes e bem sucedidos que eu conheço, essas pessoas de
merda sempre vão apenas focar na cor da pele dele, e a usar como uma
justificativa negativa. Como se sua cor significasse que ele não é bom o
suficiente para qualquer coisa.

Respiro fundo várias vezes, olhando para cima.

Eu não sou inocente e sei que o racismo está em todos os lugares.

Porém, nunca tinha visto isso acontecer dessa maneira, com alguém que
gosto. Pensar que posso fazer com que ele sofra novamente algo desse teor,
com tal tipo de gente, está acabando com minhas forças.

— Isso é tão injusto — minha voz quase não sai.

— Sim. É totalmente injusto, mas a culpa não é sua; não foi você quem falou
aquilo e você nunca o tratou diferente por conta de sua cor e ele sabe disso
— Jacob passa a mão em meu rosto e tenta limpar a sujeira que fiz. — No
final, o que importa é quem está sempre com ele e o ama. Ele precisa de nós
para superar e ignorar os de fora.

Concordo e o abraço, agradecendo pelas palavras.

Peço alguns minutos sozinha, ele acata, sai e avisa que irá me jogar no
ombro e afundar na piscina comigo se eu demorar muito.

27
Saio da minha sala e encontro Jennifer no seu antigo posto.

— Bom dia, Dr. Cooper! — sorri e se levanta, vindo em minha direção.

Nesse momento, não me importo se tem alguém olhando e a puxo para um


abraço forte. Ela ri com o rosto em meu peito e eu beijo sua cabeça, feliz em
tê-la aqui.

— Você já voltou? O que está acontecendo? — nos fastamos e sentamos


próximo a sua mesa.

— Eu não aguentava mais, Noah. Minha vida mudou totalmente de um dia


para o outro e, não estava me fazendo bem — ela suspira e noto em sua
aparência que ela realmente não está bem. — Jackson foi incrível nessas
semanas, nem sei como teria sido sem a ajuda dele.

Mantive contato com os dois nesse tempo que ela esteve fora, ainda mais
com ela. Jackson resolveu tudo do enterro da mãe dela e nós agilizamos
todas as papeladas do hospital, seguro de vida e o que restava. Jennifer
decidiu que queria se mudar, porque a casa tinha muitas lembranças tristes
de sua mãe; descobri que ela estava ficando na casa de Jackson por
enquanto.

Mas não sei qual é a relação desses dois.

— Você sabe que não precisa se preocupar com as coisas aqui, né?

Mas, se realmente quer voltar, e acho que já voltou, seja bem-vinda


novamente — ela concorda e olha ao redor.

— Parece que a minha substituta não era tão profissional assim — ri e volta
a sentar em seu lugar. — E, fiquei sabendo por Kathllen que vocês estão
tentando algo sério. Esperava mais de você, Noah! — finge estar aborrecida.
— Ainda não acredito que não me contou.

Como ela ficou na casa de Jackson e ele é vizinho de Kath, as duas se viram
alguns dias. Soube que teve até ajuda na procura de um novo lugar para
Jenni, e Kath me contou depois que estava rolando um clima meio romântico
entre os dois naquela casa.
— Estamos empatados. Ou, esqueceu que não me falou o que está rolando
entre você e Jack? — ergo uma sobrancelha e ela levanta as mãos, se
rendendo.

— Em minha defesa, eu mesma não sei. Nós ficamos no aniversário da


Kathllen e foi ótimo, porque já nos conhecíamos e não perdemos tempo com
aquela coisa de se conhecer/conversar e partimos para o que interessava

— finjo ânsia e ela ri, colocando a mão em frente a boca para se conter. —

Acabou que fiquei bêbada, falei demais sobre minha mãe e ele ficou
preocupado. No momento em que recebi a ligação, foi automático ligar para
ele, nem pensei, só fiz. — dá de ombros.

Cruzo os braços e confiro a hora.

Kath deve estar chegando.

— Jackson é um homem bom, não esperava menos dele — ela ruboriza de


leve e sorri. — Você ainda está na casa dele?

— Sim, ainda estou, mas irei sair essa semana ainda. Estou abusando de sua
boa vontade e tem dias que ele não vai para casa, então, tenho a sensação
que é por minha causa, por estar ocupando espaço demais na vida dele —
olha para o celular em sua mesa e o coloca dentro da gaveta, frustrada com
algo. — Kath me ajudou e com uns contatos dela, consegui um apartamento
simples, mas bem melhor do que eu conseguiria pagar.

O elevador apita e olho em direção.

Kathllen sai de lá muito elegante, mas sinto seu nervosismo de longe.

Sorri assim que me vê e caminha até onde estou.

— Bom dia, Dr. Cooper — me dá um beijo em cada bochecha e isso me


incomoda um pouco. Agora que estou acostumado com seus lábios, isso não
me é suficiente. — Oi, Jennifer. Como vão as coisas? — vira-se e vai até
minha secretária, cumprimentando-a. — Bom vê-la novamente aqui, pelo
menos sei que você, diferente da que estava aqui no seu lugar, não tentará
me esfaquear quando eu der as costas.

— Não teria tanta certeza — Jenni brinca e elas riem. Eu ainda estou
pensando em arrastar Kath para minha sala e beijá-la antes da reunião, só
para acalma-la, sabe? — As outras pessoas que comparecerão na reunião,
chegaram na recepção principal agora. Já vão subir — nos informa.

Kath me encara e engole em seco.

Coloco a mão em suas costas e caminhamos até a sala onde acontecerá a


reunião.

Havia deixado tudo arrumado e os papéis já estão à nossa disposição.

Nos sentamos lado a lado e passo alguns detalhes para Kath, que está com a
mão em minha coxa e acho que nem percebe.

Poucos minutos depois, Jennifer aparece, pedindo licença e liberando a


passagem para Alex e seu advogado, que é bem famoso por pegar casos
problemáticos; ele, claramente não se importa se seu cliente é culpado ou
não, o que importa é quanto vão pagá-lo.

— Dr. Cooper, Srta. Ibrahim — nos cumprimenta com um aperto de mãos e


retribuímos. Logo atrás dele, vejo Alex e me surpreendo com a semelhança
com Kath. Os rostos são bem diferentes e ela é bem mais magra, estilo essas
modelos que vemos em desfiles de grifes. Porém, o cabelo e a forma de se
vestir são idênticos.

Alex abre um sorriso para mim - juro que consigo ver a maldade brilhar em
seus lábios, e lança esse mesmo sorriso para Kath, que está tão tensa em meu
lado que acho que se fizer algum movimento brusco, pode acabar se
quebrando.

— Oi, amiga! Quanto tempo — Kath sussurra e eu queria poder tocá-

la sem parecer estranho.

Alex ri e senta-se lado do seu advogado, fitando Kath de cima a baixo.


— Bem, vamos começar — ele fala e eu ligo o gravador. — Acredito que
não haja necessidade disso, já que queremos entrar em um acordo bom para
todos — seu tom de voz é tão prepotente que minha vontade é de socá-

lo.

Kath mal respira e não consegue desviar os olhos de Alex, que parece não se
abalar nem um pouco.

— Ninguém aqui quer problemas futuros e, todas reuniões que acontecem


nessa sala são gravadas — falo seco, sem querer dar muita ideia
desnecessária para ele. — E, como já havia informado, não consigo imaginar
um acordo que seja de fato bom para a minha cliente, mas podemos ouvir
novamente o que a sua cliente tem em mente.

Assim, começamos a reunião, com um clima nada agradável e várias piadas


de Alex, que é constantemente repreendida por seu advogado.

— Desse modo, não chegaremos em lugar nenhum, Dr. Cooper — diz


irritado, enquanto Alex revira os olhos a bate as unhas na mesa. — Srta.

Ibrahim, é isso mesmo que você deseja? Depois de tantos anos de amizade e
dedicação da parte da minha cliente, é isso que você quer para ela? Deixá-la
sem nada?

— Depois de sempre ficar à sua sombra e resolver todas as suas coisas


enquanto você brilhava, depois de deixar de viver apenas para fazer com que
você vivesse da melhor forma? — Alex fala trincando os dentes. —

Acho que eu mereço muito mais do que estamos propondo , Kathie.

Kath solta uma risada nervosa e balança a cabeça, sem acreditar.

— Você está se escutando? — faz uma única pergunta e bufa. Tenho certeza
que está se controlando para não voar no pescoço dela. — Por favor, Alex.
Tenha o mínimo de decência, o mínimo de consideração. — fecha os olhos
com força. — Esquece, você não conhece tais coisas, aparentemente.
— Enfim... — aumento um pouco o tom de voz, para não deixar que as
coisas sigam para outro caminho. — Não aceitaremos o que vocês estão
propondo e, acho que deveriam reavaliar. A Srta. Ibrahim está sendo muito
generosa em deixar o apartamento que a sua cliente mora para ela, mesmo
que o mesmo pertença a minha cliente e tenha sido instruída por mim a não
deixar nada. — limpo a garganta antes de continuar e encaro a Alex — Não
sei se a senhorita foi informada pelo seu advogado, mas eu não brinco em
serviço e não costume perder meus casos. Então, novamente informo que o
que a Srta. Ibrahim está oferecendo é mais do que vocês merecem, e cada
vez que vocês tentarem piorar a situação, maior as chances dela mudar de
ideia com o acordo oferecido. É isso ou menos que isso!

Alex levanta em um rompante e bate forte na mesa, bufando de raiva.

— Está tudo no meu nome, NO MEU NOME — quase grita e seu advogado
tenta controlá-la. — Você é uma idiota, uma sem graça. Não merece nada do
que tem, não merecia o Ethan e aquele babaca ainda fica atrás de você. Eu te
odeio, Kathllen, com todas as minhas forças. E o que eu puder fazer para te
afundar ainda mais, eu irei fazer.

— ALEX! — O advogado dela brada e ela alisa o cabelo, irritada. Eu olho


para Kath e em silencio peço para que não se descontrole. Ela entende e
volta a encarar a antiga amiga.

— Isso ainda vai piorar, Kathie. Vai piorar muito, você não sabe do que sou
capaz.

Kathllen arregala os olhos em choque e, quando pensa em se levantar para


responder algo, Alex vai embora e seu advogado a segue. Ficamos nós dois
olhando para onde eles saíram, sentindo o peso do final da reunião.

— Bem, não foi como imaginávamos — desligo o gravador e apoio os


braços na mesa. Na verdade isso que acabou de acontecer é muito mais
comum do que as pessoas imaginam, posso ate considerar um conflito bem
leve em comparação a alguns que já presenciei — Mas, eu tive uma ideia
que pode nos ajudar muito.

Kath me olha curiosa e passo tudo que imaginei para ela, que logo concorda
comigo e já começa a planejar e fazer a sua parte.

Vamos para a minha sala e ela se senta no meu lugar, atrás da mesa.

— A sala vista daqui é ainda mais bonita — aponta para a janela e assobia.
— Foi tudo planejado, né?

Concordo e me apoio na mesa, de frente para ela, que me olha inteiro e


pisca.

— Acha que consegue fazer o que te pedi essa semana ainda? — ela arrasta
a cadeira para trás e fica olhando cada livro que tenho na estante, chegando
até a tirar um.

— “E o leão se apaixonou pelo cordeiro.” — fala enquanto passa o dedo


pela capa de Crepúsculo. — Dos muitos livros que imaginei que você leria,
esse com certeza, não passou pela minha cabeça — ri e coloca onde estava.
— Mas respondendo, eu já resolvi. Acontecerá essa semana ainda.

Se levanta e para na minha frente, olha para fora e me dá um selinho.

— Em minha defesa... — aponto para o livro. — Eu pego esses livros da


biblioteca do Jacob, que inclusive, é o nome do lobo que minha mãe é
apaixonada — reviro os olhos. — Velha safada.

Ela ri e coloca a mão na boca para se controlar.


— Eu sou time Edward — dá de ombros e se afasta, pegando a bolsa para ir
embora. — Mas, entendo o porquê da sua mãe gostar dele, quem não gosta
né? — pisca, me provocando. Me manda um beijo no ar e depois sai.

O resto da semana passou voando e já é sexta-feira novamente.

Não posso falar que foi uma semana tranquila, porque na quarta, Kath fez o
bendito ensaio e desde então, já postou uma foto no seu Instagram e

hoje começou a divulgação da linha. Ou seja, foto da minha mulher seminua


em todos os lugares possíveis.

Eu, super inteligente, fiz questão de olhar os comentários na foto dela.

Ótima ideia, nunca fui tão inteligente. Era tanto homem falando coisas
óbvias sobre seu corpo, além daqueles que perdiam a noção do limite.

E, tem o Ethan.

Ele não está aceitando que Kath não quer nada com a sua pessoa. Ela já o
bloqueou de tudo, mas não é nada difícil ter acesso a tudo que ela posta,
mesmo não sendo seguidor dela. Inclusive, ele fez questão de ir na Time
Square e mostrar ao mundo a foto enorme dela lá.

— Dr. Cooper? — Olívia bate na porta e me chama. Faço sinal para que ela
entre. — Desculpe incomodá-lo, mas o Barb... o Dr. Barbieri pediu para que
eu entregasse a você o balanceamento dos clientes dele desse mês.

— Tudo bem, mas eu poderia saber o porquê disso? — cruzo os braços,


curioso para saber o que aconteceu agora.

Ela coloca tudo na minha mesa e encara os papéis que deixou ali.

— Claramente, não nos entendemos e ele também é meu chefe —

concordo. — Mas, não conseguimos ficar um segundo no mesmo lugar e,


estou gostando muito do emprego, sinto que aqui realmente é o meu lugar.
Então entramos em um acordo de não ficarmos em um mesmo ambiente só
nós dois — coloco as costas da mão na boca para não rir.

Me levanto e pego os papéis, saindo da sala junto com ela.

— Olha, eu não vou me meter nisso, desde que não se torne um problema
para a empresa ou para você — paro no meio do caminho para falar. — Eu
conheço o Barbie e, sei que ele jamais faria nada errado, mas estarei à sua
disposição para ouvir qualquer reclamação dele que seja séria.

Tudo bem?

Ela concorda e me agradece.

— E, por favor... Não quebre outro exemplar da Marvel dele, ok? —

ela arregala os olhos e cora.

— Como você sabe que fui eu? — aponto para as diversas câmeras nos
cercando. — Ok, esqueci disso na hora da raiva.

— Sua sorte que eu vi antes, e ele não deu falta até que eu conseguisse
comprar outro — voltamos a andar e vamos juntos até a sala dela. — Esse
será nosso segredo, mas por favor, da próxima vez, quebre algo que custe
menos de 15 mil dólares. Fechado?

Ela concorda, ainda sem graça e eu saio.

Tenho certeza que está acontecendo algo a mais que eu não sei.

Entretanto, pela minha saúde mental, prefiro ficar sem saber até quando não
for mais possível. Barbie é sensato e leva o profissional muito a sério, então
sei que ele saberá lidar com o que tiver acontecendo entre os dois.

Entro na sala de Barbie e jogo os envelopes ali. Ele se assusta e me xinga.

— Está aí. E, você vai ter que me recompensar por ter me metido nessa
merda de vocês — me jogo na cadeira e respiro fundo. — Não sou uma
coruja-correio igual de Harry Potter.
— Obrigada, bebê — manda beijo. — Que cara de furingo é essa?

— O de sempre... Kathllen! — ele ri e para de mexer no computador para


me dar atenção.

— Esse lance de namoro é isso aí — pega seu celular e depois se vira pra
mim. — Recebeu o convite para o evento da marca? Poucos dias depois do
Halloween.

Essa semana, eu e Kath não nos vimos muito, mas nos falamos todos os dias,
religiosamente.

Já tem três meses que ela está em minha vida e, eu nem me lembro mais
como é não a ter por perto. Não sinto falta de ter outras e mal me sinto
atraído quando vejo uma mulher bonita na rua. Kathllen domina meus
pensamentos todo o dia, não achei um botão para desligar isso e, na verdade,
nem quero.

Eu a quero para mim, oficialmente. Quero que o mundo saiba que estamos
juntos e, vou dar minha cara a tapa para o que vier acontecer depois.

Podem achar o que quiser, mas o meu lado das cavernas quer marcar
presença, território. Eu confio nela, confio muito, mas não faz mal nenhum
as pessoas saberem que agora essa mulher tem alguém que lutará as batalhas
dela lado a lado, que a protegerá e dará o mundo por ela.

Estou apaixonado.

Demasiadamente apaixonado pelo furacão que decidiu me manter nele.


Estou no olho do furacão e nunca vi lugar mais incrível para se estar do que
esse.

— Recebi sim. Kath me mandou ontem. E, antes que pergunte, não faço
ideia se vou. Acho que vai ser demais para mim — bato o pé no chão. —

Eu quero muito que as pessoas saibam que estamos juntos, mas não sei se
estou preparado para um evento desse tamanho, sabe? As pessoas irão falar,
apontar e comentar.
A sociedade inteira faz isso em qualquer lugar e eu, normalmente, não me
incomodo, mas esse evento vai ser um momento importante para ela e não
quero que nada estrague o brilho para a minha garota. Kath é maravilhosa e,
se ela escutar alguém falar algo, tenho certeza que sairá em minha defesa e
tudo virará um caos.

— Cara, eu não posso nem falar que te entendo, por motivos óbvios.

Entretanto, todos estaremos lá por ela e somos sua barreira entre essas
pessoas imbecis, lembra? Era assim na faculdade, e vai ser assim para
sempre

— eu rio ao lembrar que era algo quase ao pé da letra. — Além disso, vai ser
importante para ela. Tenho certeza que ficará muito feliz em ter o namorado
ao seu lado.

Namorado.

Isso me dá uma ideia.

— Preciso de sua ajuda para uma coisa! — curioso como só ele, fica a todos
ouvidos para ouvir cada detalhe da minha ideia para nossa viagem e ri várias
vezes, falando que me tornei esses mocinhos de livro de romance, que se
torna um cadelinha da mulher. E, quem sou eu para negar esse fato?

— Cara, eu namoraria você se fosse mulher. Ela vai amar!

Rio, ansioso.

Se tudo der certo, hoje haverá o encontro de Kath com Alex, e na próxima
semana, tudo estará resolvido e será menos problemático para que todos
saibam que estamos juntos.
28

Minhas fotos já são um sucesso e estou muito feliz. Recebi muitos


comentários positivos e pessoas falando que estavam com saudades de me
ver em campanhas.

— Eu quero essas três aqui e as outras você pode pegar — Emma olha peça
por peça que está espalhada pela minha cama.

— Eu vou querer esses dois conjuntos — são os conjuntos mais simples e


meigos.

— Pode pegar qualquer um, não precisa ficar tímida — pego uma calcinha
fio dental que acompanha um vestido de seda transparente. — Você ficaria
um arraso dentro dele, amiga.

Ela olha as peças e descarta.

— Kathllen, não vejo onde usar isso. É bem melhor você ficar, porque pode
aproveitar com Noah, ou sozinha, sei lá. — se levanta e pega sua mochila
com as coisas do trabalho. Separa os dois conjuntos e enfia tudo ali dentro.

— Bobagem! É sempre bom ter uma peça assim à disposição. Mas tudo
bem, fica para mim.

Ela bufa e solta a bolsa.

— Eu sou virgem, Kath. VIRGEM — cospe a informação e depois fica tão


laranja quanto seu cabelo, envergonhada pelo o que acabou de falar.

Empurro as lingeries e sento-me ao seu lado.

— Desculpa, eu não imaginava, não quis te chatear — sussurro, sem graça e


me sentindo culpada. — Mas, isso não é um problema, sabe disso né?

Cada um tem seu tempo.

— Amiga, sinceramente, já aceitei isso na minha vida. Todos os homens que


me interessei para isso e tentei sair e deixar rolar, foram uns babacas. Melhor
ficar do jeito que estou, assim não me frustro ou me apaixono e depois
quebro a cara.

Ajudo-a organizar as coisas antes de terminar de pôr na mochila.

— Não pense que todos os homens são assim. Provavelmente, a maioria


realmente é, mas tem sempre algum que salva — pisco e pego meu celular.
— Já viu o Instagram que criei para a Open Arms? — mudo de assunto e
percebo que ela ficou aliviada.

Essa semana, me encontrei duas vezes com a Laura lá na Open e, foi tudo
perfeito, ela é muito boa e as fotos mal precisaram de edições. Assim que ela
me mandou todas as fotos, agilizei o perfil e já divulguei no meu; recebi
total aval para vincular a minha imagem ao orfanato, como se fosse uma
publicidade que faço para as empresas.

O perfil já tem quinhentos mil de seguidores e recebi muitas mensagens de


pessoas pedindo mais informações. Liz colocou uma pessoa de confiança
para fazer a triagem e o resto, ela quem resolve junto com a Ana.

Laura tirou algumas fotos minhas com as crianças e me deu revelada uma
com Mila e outra com todas crianças juntas. Amei tanto que coloquei ambas
as fotos na sala.

— Está incrível, Kath. Você realmente leva jeito para isso — Emma se
levanta e vai até meu banheiro para se arrumar para o trabalho. Vou lhe dar
uma carona quando estiver indo para o meu compromisso.

Eu e Emma nos aproximamos cada dia mais, e ela vem me surpreendendo


como amiga. Por mais que seja seis anos mais nova que eu, é muito madura
e bem resolvida com sua vida e seus objetivos, raramente percebo a nossa
diferença de idade enquanto conversamos.

— Mais uma entrega, querida — minha mãe segura uma caixa grande e
deposita em cima da cama. — Esse povo gosta de gastar dinheiro com
presente, né? — Se refere aos meninos e Liz, que mandaram presentes me
parabenizando pelo sucesso que está sendo o lançamento que estreie. Ela ri e
volta para a sala.
Esse eu sei que é de Noah, porque tem uma carta em cima com suas iniciais
e, é a primeira coisa que eu pego.

“Parabéns, amor! Você está tão linda nas fotos que parece uma

obra de arte.

Obs: Estou ficando brega e, a culpa é sua e dessa bunda gostosa, que

sou apaixonado. Me mande mensagem quando receber o presente.

Beijos.”

Rio com o bilhete e o guardo na minha gaveta.

Olho a caixa e tento ver algum nome de loja, mas não vejo nada. Tiro a
tampa e sou surpreendida ao ver um sobretudo de pele fake e uma caixinha

de uma marca famosa de relógio.

Assim que pego o relógio, vejo que tem outro bilhete ali.

"O casaco é para você usar no primeiro dia em Aspen. Teremos um

jantar apenas para nós dois.

O relógio é para lembrar que, a todo momento, estou pensando em

você.

Obs: Está decretado: sou brega!”

Tiro ambos os presentes das caixas e fico dando pulinhos com as coisas na
mão. Emma já chega pulando, mesmo sem saber o motivo.

— Porque estamos pulando? — o cabelo dela dança no ar enquanto


repetimos o mesmo movimento.

Eu não consigo parar de rir, mas entrego os dois bilhetes para ela.
Emma para de pular para ler e assim que termina, me abraça e caímos na
cama por cima de tudo que tem ali.

— AMIGA! Você ganhou na loteria com esse homem, não é possível

— rola para o lado e pega o casaco da minha mão. — OLHA ISSO,


KATHLLEN. Deve ter sido tão caro que, provavelmente, pagaria metade da
minha vida — brinca.

Emma costuma brincar muito sobre a nossa diferença social e me


incomodou nas primeiras vezes, mas já notei que ela faz sem maldade. Por
mim, eu a ajudaria mais ainda, mas sei que ela não aceitaria muito além do
que já faço e, não quero que pense que estou fazendo dela um projeto de
caridade.

Nossa amizade ainda é recente e fico um pouco sem jeito de falar ou


oferecer certas coisas.

— Lindíssimo, né? — estico minha mão para que veja o relógio. —

Olha isso!

Ela assobia e passa o dedo por cima. Logo depois, vira meu braço e o coloca,
fechando em meu punho.

Me levanto e vou até o espelho, fazendo várias poses e admirando o quão


perfeito ficou.

Pego meu celular e, na mesma hora, arrumo os presentes que ganhei hoje e
tiro uma foto, deixando aparecer o meu relógio também. Posto no story e
marco todos que me deram cada coisa, menos o Noah. Apenas escrevo em
cima do presente “Obrigada amor. Amei!”.

Emma se senta e termina de se arrumar. Aproveito para fazer o mesmo.

— Kath... — me viro e ela me fita com curiosidade. — Você acha que vai
dar certo entre vocês? Eu torço muito para que sim, mas o que você acha que
vai dar isso tudo?
Encaro o relógio e sorrio.

— Eu não sei ao certo o que vai dar, mas quero que fiquemos juntos mesmo
com todas as diferenças e que a gente possa oficializar o relacionamento.
Gosto muito do Noah. Ele é a minha paz nesse meu mundo turbulento e, no
que depender de mim, ficaremos juntos... Só espero que ele consiga suportar
tudo que pode vir a acontecer.

Emma coloca a mochila nas costas e encosta na porta, me esperando.

— Tenho certeza que, se ele realmente gosta de você, vai conseguir dar um
jeito para as coisas funcionarem — sorri. — Noah não seria idiota a ponto de
perder isso tudo. Se ele não quiser, eu quero — brinca e depois pisca.

Pego minha bolsa e, ao passar por ela, jogo o braço ao redor dos seus
ombros, seguindo para fora do meu quarto.

— Tchau, mãe!

— Tchau, tia! — falamos juntas e minha mãe responde de volta.

Vamos até ao estacionamento e jogo a chave para Emma, que pega no


desespero e fica encarando o objeto.

— Sabe dirigir? — questiono.

Ela não responde, mas entra no carro pelo lado do motorista e se arruma lá.
Rio da sua atitude empolgada e entro.

— Dirijo desde os 16, mas essa nave aqui não deve nem precisar de
motorista e tudo deve acontecer igual aqueles filmes do futuro — gargalho
enquanto coloco o cinto. — “Carro, ligar!”

Emma é extremamente divertida e, eu adoro estar com ela. É sempre um


alívio, e fora que a espontaneidade dela nos gera muitos momentos cômicos
e constrangedores.

— Desculpa, ruivinha. Só atende pela minha voz. Vai ter que fazer do modo
comum mesmo.
Ela começa a dirigir em direção ao seu trabalho e eu pego o meu celular.
Claro que as pessoas focaram só no comentário que fiz no relógio e já estão
perguntando muitas coisas, inclusive se foi Ethan quem me deu.

Eu já declarei nas minhas redes sociais que eu e ele não temos nada, que não
voltamos e que decidimos não sermos amigos. Entretanto, ele está
enlouquecendo e quase todos os dias, posta alguma coisa sobre mim ou nós

dois. Eu vejo porque várias seguidoras me mandam.

O problema nisso tudo, além do óbvio, é que tem gente com pena dele, como
se fosse um pobre abandonado injustamente pela namorada e, estão pedindo
para que eu dê outra chance a ele. Ninguém sabe o que aconteceu, mas
pretendo anunciar tudo em breve.

Mando uma mensagem para Noah, aviso que já estou a caminho do nosso
plano e ele pede para que eu tenha cuidado e que o comunique quando
estiver indo embora.

— Prontinho! — ela para em frente ao restaurante e saímos do carro.

Ganho um abraço apertado dela e retribuo. — Obrigada pela “carona”. Falo


com você na minha folga e, por favor, muito cuidado, tá? Estarei
trabalhando mas só conseguirei pensar em você e nesse plano. — suspira. —
só se cuida!

Concordo e ela entra no restaurante.

Quando ia entrar no carro, acabei me distraindo enquanto olhava o dono do


restaurante receber Emma na porta do estabelecimento, muito simpático e
parecendo estar bem feliz em vê-la. Feliz demais.

Interessante.

Finalmente, entro no carro e sigo o meu destino, repassando na mente tudo


que preciso fazer e falar para que dê certo.

Quando chego em meu destino e saio do carro, paro em frente ao edifício,


que é muito bonito. Relembro tudo o que já passei aqui, momentos que
acreditava que tinham sidos incríveis e verdadeiros, mas que foram apenas
encenação.

Minhas mãos estão suando e esfrego-as na minha calça antes de apertar o


interfone. O porteiro me olha lá da sua cabine e me reconhece na hora.
Diferente do que muito costumam agir, ele faz questão de vir até o portão do
condomínio me receber.

— Dona Kathllen, quanto tempo! — diz sorridente e abre espaço para mim.
— Seu nome já estava liberado. Pode subir direto — agradeço e me afasto,
mas ele me chama e eu viro em sua direção. — Lamento por tudo, dona. A
senhorita não merecia nada disso!

Respiro fundo e controlo as minhas emoções, que estão extremamente


afloradas.

— Obrigada! — é a única coisa que consigo responder.

Entro no elevador e, os poucos segundos até o andar que vou, parecem ser
horas. Entretanto, quando a porta se abre, queria que tivesse demorado mais.

Ando até a porta do apartamento e toco a campainha, me concentrando no


real motivo de estar ali.

— Não estava acreditando que você viria, até agora, Kathie. — Alex abre a
porta e me encara da cabeça aos pés, lançando seu sorriso cínico. — Se
arrumou para mim? Me sinto honrada. — sínica.

Vai ser mais difícil do que achei.

— Oi, Alexandra! — ela desfaz o sorriso porque odeia seu nome e não se
apresenta assim para ninguém. — Posso entrar ou conversaremos aqui fora?

Ela abre mais a porta e sai andando até a sala, sem falar nada. Entro e fecho,
sentindo mais sensações tomarem conta do meu corpo. Olho tudo ao redor e,
está exatamente da maneira que deixei quando ainda morava aqui.

Até a forma de deixar as cortinas.


— Olha, Kathllen, vamos logo para o que importa. Tá bom? — se joga no
sofá e coloca os pés para cima. Eu opto por me sentar na poltrona solitária ao
lado do lugar que ela está. — O que você quer falar comigo?

Respiro fundo e torço para que o espírito de ator do Jackson domine meu
corpo.

— Quero resolver isso tudo, Alex. Sinto falta da sua amizade e da sua ajuda
profissional — só eu sei o quanto é difícil falar essa frase.

Ela ergue uma sobrancelha e fita meu rosto, querendo achar algum erro no
que estou falando.

— Como pode ver... — abre os braços, exagerando no ânimo falso. —

Estou muito bem sem você. Minha vida decolou quando deixamos de ser
amigas, ou melhor, quando eu deixei de ser seu capacho.

— Você nunca foi meu capacho e sabe disso! Éramos amigas desde sempre.
Você pediu para que eu te trouxesse comigo quando contei que ia sair de
Outer Banks, Alex — apoio os braços nas minhas pernas e tento ficar com o
semblante abalado. — Nada da nossa amizade foi verdadeiro para você? O
que eu te dava não era o suficiente? Em que momento tudo desandou desse
jeito?

Ela ri alto e arrasta o corpo para frente, ficando na minha direção.

— Por favor, Kathllen. Você é burra assim ou fez curso? — pisca e joga o
cabelo, que agora é idêntico ao meu e não mais curto e preto azulado.

Se levanta e começa a andar de um lado para o outro. — Você se lembra de


toda a nossa amizade? Toda a nossa história? Porque parece que esqueceu de
alguns pontos cruciais.

Me levanto também, mas continuo distante. Ela parece nervosa e agitada


demais, de uma maneira que nunca vi, nem mesmo quando acontecia alguma
merda das grandes.
— Alex, eu só quero resolver e deixar tudo isso para trás. Vamos virar essa
página e agir como adultas. Só preciso saber o porquê de tudo isso, o porquê
não conversou comigo? Caramba, você sempre teve total liberdade para
tudo. — tento pensar em coisas tristes, para que meus olhos fiquem
marejados, mas única coisa que consigo é ficar com raiva de precisar passar
por essa humilhação fingida.

Ela para e me encara por bastante tempo, quieta. Depois em um estalo, sai da
sala e volta minutos depois, com algumas caixas na mão, que não reconheço.
Solta tudo no sofá e começa a procurar por algo, até que acha algo como se
fosse um fichário.

— Você não pode estar falando sério sobre não saber meus motivos para
tudo que fiz — ela fala e eu fico na esperança que fale mais sobre ter me
roubado tudo, mas está tão agitada passando as páginas, que para de falar. —

Aqui — joga na minha mão uma folha que está escrito “John e Alex”. E, eu
não tenho noção do que isso signifique. Depois, ela joga outra folha e tem o
nome de outro rapaz e o dela. Ela continua a fazer isso mais algumas vezes.

— Eu não estou entendendo, Alex. O que é isso tudo? — ela puxa as folhas
da minha mão com raiva e, eu me sobressalto.

— John, se lembra dele? — o único John que eu conheço... — Isso, esse


mesmo. O seu príncipe encantado, que tirou a sua virgindade. Eu gostava
dele, eu ia chamá-lo para o cinema comigo, mas ele chamou você. E

claro, você foi. Sem se importar com o que eu sentiria.

— Você gostava dele? Mas, você nunca falou nada, nunca falou sobre ele.
Eu sim, sempre falei o que sentia por ele. John foi meu amor de infância, que
se estendeu para a adolescência, Alex. Você esta invertendo a história.

Ela pega a outra folha e sacode na frente do meu rosto.

— E desse? Também era seu amor de infância? Eu sempre quis ficar com
Marshol, mas você foi lá com toda a sua presença, recém adquirida e, ele
sequer me notou, fiquei a sua sombra. — ela continua falando dos outros e
pontuando essas coisas, que eu acho absurdas.
Antes que ela termine, pego as folhas e jogo para longe.

— Para, Alex. PARA! — minha voz ecoa pela sala ampla e ela para, com a
respiração acelerada. — Você nunca me falou nada disso, sempre disse que
não tinha interesse por ninguém. A gente conversava sempre e, era isso

que você falava todas as vezes, Alex. O que deu em você? Esses homens
nunca foram citados por você, eu sim sempre falei deles desde que me
interessei, falava abertamente sobre eles.

— O que deu em mim? EM MIM, KATHLLEN? — passa as mãos no


cabelo, exasperada. — Como eu ia competir com você, me diz? Eu era a
nerd que ficava atrás, te ajudando a fugir de casa quando seu pai chegava
bêbado e queria te bater. Sempre fui a sem graça, a apagada e, isso é culpa
sua. SUA!

— mesmo de longe, sinto o corpo dela vibrar de raiva. — Se você não


tivesse ao meu lado, eu teria me destacado mais.

— Alex, você nunca foi nada disso — eu falo sério, realmente nunca foi. Ela
sempre foi atraente e chamava atenção de muitos homens, que pareciam não
ser suficientes para ela. — Eu nunca te diminuí, nunca fiz pouco de você.
Pelo contrário, sempre te coloquei na merda de um pedestal.

Te trouxe para cá, me virei para conseguir manter nós duas bem, nunca te
pedi que fizesse nada por mim. Você pediu uma chance para me assessorar
quando estava se formando e, eu não pensei duas vezes antes de dar tudo que
você queria! — paro de falar para poder me recompor e respiro fundo tantas
vezes que perco as contas. — Você era a irmã que eu nunca tive.

Ela se aproxima e o seu rosto fica muito próximo de meu. Consigo sentir a
respiração abafada.

— Era pra ser eu — fala devagar, porém com ódio. — Eu quem deveria ter
virado modelo, já que sempre tive o corpo naturalmente bonito, enquanto
você se matava em dieta. O meu cabelo não precisava de cuidados, enquanto
você vivia pulando de salão em salão. Porém, a porra da sua simpatia e
carisma acabou com meus planos — meu coração bate tão forte que acho
que vou ter um treco. Alex não está bem e é notável. — Seus fãs, amigos,
dinheiro, as casas, a fama e o Ethan, deveriam ser meus. TUDO

MEU! Você me roubou tudo.

Me afasto e apoio o corpo na parede perto da cozinha, sentindo meu peito


doer e a vontade de chorar se aproximando.

— Então, tudo foi por inveja, Alex? Inveja de mim? Você sempre pôde ter
tudo e todos, mas a questão sempre foi quem me rodeava além de você? —
minha voz sai tão baixa que mal escuto. — Você queria a minha vida e o que
eu tinha, poderia ter algo melhor mas jamais bastaria ... —

reflito.

— Chame do que quiser, mas metade disso, já é meu — ri, diabólica.

— Você é tão burra que nunca conferia nada que eu te dava. Foi fácil fazer

você assinar tudo e passar para mim sem nem perceber. Tenho tanto do seu
dinheiro em minha conta, que sei que nunca mais precisarei trabalhar. A
única coisa que não consegui foi o Ethan; aquele babaca sempre amou você.

Mas, o amor pela vidinha de merda que ele tinha era maior do que o que
sentia por você, então, não foi difícil fazer com que ele te largasse, mesmo
se não ficasse comigo.

Consegui. Consegui que ela mesma falasse sobre tais coisas.

— E se quer saber mais .. — continua — Lembra o desfile que foi convidada


para ser presença vip, na França? Eu dei meu jeito para que você não fosse.
O filme que foi convidada a participar e não teve como ir porque já tinha
compromisso? Eu também, de bônus ainda consegui que não fosse mais
chamada para nenhum papel na tv. — seu sorriso enorme é assustador. — E

teve tantas outras coisas, você não faz ideia.

— Então, esse sempre foi seu plano? Esperar que eu estivesse no melhor
momento da minha vida para me tirar tudo? Atrapalhar meu crescimento? —
o sorriso que ela tem no rosto é assustador. — Fique feliz porque você
conseguiu. Mas, você se engana se acha que o que mais me doeu foi o
dinheiro ou Ethan. Ambas coisas eram passageiras na minha vida. O que me
doeu, e dói até hoje, é ter perdido uma melhor amiga, que na verdade só
existia em minha mente. O sucesso que você tentou embargar, eu corro atrás.

O dinheiro não me falta, já consegui mais nesse tempo e ainda pegarei de


volta o que está com você — me aproximo e olho dentro dos olhos dela. —

Você é podre e deve ser por isso que as coisas não davam certo na sua vida.

Você é ruim, baixa, e perdeu a única pessoa que lutava por você.

— SAI DA MINHA CASA! SAI DA MINHA CASA AGORA! —

grita alto e fecho os olhos enquanto me afasto. — Eu te odeio, te odeio, te


odeio... — saio e bato a porta. De fora, consigo ouvir ela repetindo sem parar
a última frase.

Corro para o elevador, querendo ficar o mais longe possível dela.

As lágrimas escorrem sem minha permissão, mas não consigo me sentir


triste. O que sinto é alivio.

Finalmente.

Pego meu celular assim que saio do edifício e ligo para Noah, que me atende
no primeiro toque.

— Finalmente, amor. Onde você está? Já saiu da casa dela? — a


preocupação em sua voz me aquece e eu sorrio.

— Acabei de entrar no carro — coloco o celular no suporte e começo


a dirigir, sem prestar atenção para onde estou indo. — Deu tudo certo, Noah.

Eu gravei tudo, deixei o gravador ligado tanto no celular quanto no aparelho


que me deu. Do jeito que você falou.

Ouço ele comemorar do outro lado da linha e não consigo evitar de rir.

— Sabia que isso ia dar certo. Percebi naquela reunião que ela te encarava
estranho, como se quisesse ser você. As roupas, o cabelo... Eu sabia que
tinha algo errado.

— E, você estava totalmente certo. Ela praticamente assumiu que sempre


quis ser eu, ou ter a minha vida. Foi horrível ouvir tudo o que ela falou —
sinto meus dedos ainda tremerem enquanto seguro o volante. —

Mas, vai valer a pena, né? Isso é o suficiente?

— Claro, amor. Essa prova, e as outras coisas que já temos, será mais que o
suficiente — ele fica em silêncio por um tempo. — Tudo voltará a ser como
antes, Kath. Terá sua vida toda de volta, como queria.

Nada será como antes, não depois de você ter aparecido em minha vida.

É o que penso, mas não crio coragem para falar.

— Você está em casa?

— Cheguei da Lotus faz pouco tempo; passei lá com os meninos. Por que?
— Vão tocar no seu interfone para pedir minha liberação. Estou aqui!

— Seu nome já está na lista, amor. Vem que estou te esperando para
comemorarmos essa vitória — a malícia em sua voz me esquenta e
pressiono as coxas uma na outra.

Pode ser bobagem, mas essas coisinhas pequenas me encantam e meu


coração bobo fica igual uma manteiga derretida.

Mais uma vez, dormi na casa de Noah depois de passarmos a madrugada


inteira namorando e separando todas as partes importantes da minha
conversa com Alex. Ele ficou bem chocado e com raiva de tudo que
aconteceu, mas parece que isso é mais comum do que eu imaginava, até
porque não foi o primeiro caso que ele pegou com uma história semelhante.

Novamente, havia um presente no seu closet para mim. Era a mesma lingerie
que eu usei na foto que está na Time Square e eu amei, porque essa não
estava disponível para que eu pegasse. Também descobri que Noah gosta de
dar presentes, eu posso me acostumar facilmente com tal coisa. Único
pedido dele foi para que as lingeries ficassem aqui em sua casa. Eu não
pensei duas vezes antes de aceitar, ainda mais quando ele falou que separou
uma gaveta só para isso, porque pretende me dar muitas outra, aliás, me
prometeu se controlar para não rasgar a calcinha como fez ontem.

— Mil dólares por seus pensamentos — fala ao meu lado e saio da minha
bolha. Ele me abraça por trás e beija minha bochecha, bem fofo. A cada dia,
descubro o quanto esse homem é carinhoso. — Podemos ir?

Olho nosso reflexo no espelho e procuro por meu celular. Na mesma hora,
Noah tira do bolso e estende para mim. Ele continua na mesma posição
enquanto me ajeito e tiro uma foto nossa, mostrando-nos inteiros, inclusive
uma parte do seu rosto.

Opto por não postar. Não quero ter que ficar postando se não for ele por
completo. Por isso, guardarei para mim.

Saímos e vamos no meu carro. Peço para que ele dirija e a imagem dele ali,
todo à vontade, de óculos escuros e roupas casuais, me deixam cheia de
tesão, mas irei me controlar, até porque a noite foi bem longa.
— Camila ficou louca quando minha mãe contou que iríamos fazer um
piquenique com eles lá! — eu e Liz decidimos fazer um evento simples para
que algumas pessoas pudessem conhecer pessoalmente o orfanato e as
crianças, porque não postamos a imagem delas, não é legal fazer algo
parecido como um catálogo. Elas aparecem nas fotos, mas de forma
despretensiosa e, se no dia da adoção, seus pais quiserem tirar uma foto e
nos permitir postar, tudo bem. — Obrigada, amor. Sua ideia realmente foi
incrível. A movimentação lá aumentou muito, o que será ótimo para as
crianças.

Sorrio.

— Queria poder fazer mais...

Ele me olha, mas permanece em silêncio, fazendo carinho em minha

coxa com sua mão grande e bem cuidada. Ficamos assim até chegarmos ao
nosso destino.

— TIA KATH! — só consigo ver os cabelos enrolados de Camila voando


enquanto ela corre. Me abaixo rápido e consigo pegá-la no colo assim que
choca seu corpo no meu. — A nossa roupa está combinando, tia! Meu
vestido também é azul e tem bolinhas. Parecemos mãe e filha — ela abraça o
meu pescoço e fica se mexendo, dificultando que eu a carregue de forma
ágil.

Tento não dar ideia ao meu peito apertando quando penso em como será no
dia que ela for adotada por alguém.

Eu ficarei arrasada na mesma proporção que ficarei feliz por ela.

Noah coloca a mão em meu ombro e vamos os três para onde estão os
demais. É como se ele sentisse o mesmo que eu.
29

A ansiedade vem me consumindo durante toda a semana e, tenho certeza que


aparecerá alguns cabelos brancos em mim.

Na segunda-feira, me juntei com Barbie e separamos todo o material para


poder finalizar o caso de Kath. Ficamos o dia inteiro trabalhando, para que
não houvesse nenhum furo ou chance do advogado de Alex encontrar
alguma brecha e, quando fomos ver, já tinha passado das 20h.

Mas valeu a pena. Valeu muito a pena.

No dia seguinte, já entrei em contato com eles e a pedido de Kath, tentamos


novamente resolver de forma sigilosa. A única coisa que sairia na mídia
seria o pedido de desculpas de Alex, mas como eu já imaginava, ela não
aceitou e foi uma loucura. Começou a postar várias coisas desconexas sobre
as duas, além de postar algumas me xingando e xingando várias pessoas, que
agora são próximas de Kath.

Na verdade, essa atitude só nos ajudou mais.

O advogado que estava ganhando muito dinheiro dela, não a abandonou e


ficou até o final, tentando arrumar algo para sugar ainda mais o dinheiro de
Alex e prolongar o caso, mas não tiveram muito o que fazer, pois a coisa só
estava piorando para o lado dela. Em certo momento, finalmente aceitaram a
derrota.

Por causa da repercussão que estávamos tendo essa semana na mídia, pela
quebra de sigilo de Alex, a internet está desesperada atrás de nós, em busca
de informações. Os repórteres não saem daqui e nem da rua de Kath, que
todo dia arruma um jeito diferente de entrar no edifício. Ontem, ela entrou
com ajuda de Barbie e o porteiro, que a camuflaram como se fosse um
mecânico, foi a coisa mais hilária que já vi.

Agora, acabei de receber o rascunho de pedido de desculpas que Alex


postará hoje. Inclui uma cláusula que os obrigava a me notificar antes,
porque já sabemos que o lado de lá não é muito honesto. Nesse momento,
estou aqui lendo tal coisa.
“Venho por meio desse post, com a última foto que tirei com

Kathllen Ibrahim, para me desculpar publicamente e deixar todos a par do

que aconteceu.

Nada do que souberam dela, antes falado por mim, é verdade. Tudo

não passou de um momento delicado da minha vida, em que eu não estava

bem e descontei em quem não devia. Kathllen é uma pessoa honesta,

bondosa e jamais falhou comigo profissionalmente ou pessoalmente. Devo

a ela tudo que tenho e, injustamente, me apossei dos seus bens materiais,

fora de lhe causar toda a humilhação pública que passou.

Com isso, quero dizer que de fato, o que ela mostra para vocês

realmente é quem ela é.

E, para quem ainda se interesse em saber sobre mim, estarei me

afastando das redes sociais e farei trabalhos comunitários para cumprir o

que foi decidido pela justiça, além de um minucioso acompanhamento

psicológico.

Finalizo esse post com minhas sinceras desculpas a Kath e todos os

que acreditaram nas mentiras que criei.”

Claramente, quem escreveu isso não foi Alex, mas ela não tinha muito
opção.

Me assegurei de estipular que ela nunca mais se refira ou se aproxime de


Kath, e caso o faça, terá que pagar uma multa caríssima por cada vez
provada que descumpriu tal acordo.
Ainda assim, ela não saiu na pior nessa história toda. Kathllen é um ser
humano extremamente evoluído e abriu mão do apartamento que era dela,
onde Alex mora. Ainda deixou uma parte do seu dinheiro que estava com a
mesma e não pediu correção dos valores que deveriam ser devolvidos a ela.

Por conta de todo cyberbullying, Alex terá que fazer trabalhos comunitários
por alguns meses e como Kath não formalizou nenhuma outra denuncia, ela
pagará apenas por isso.

Eu, como advogado, fiquei maluco; mas como pessoa, entendi que ela fez
isso pelos anos de amizade que, para ela, foram verdadeiros. Me apaixonei
mais ainda, tendo certeza que estou com a pessoa certa e que devo ir a fundo
nos meus planos para a viagem desse final de semana.

Dou o aval para a postagem e, estou me preparando para a repercussão que


isso dará. Nossa viagem não poderia ter sido em outro momento. Será ótimo
estarmos longe essa semana.

Pego meu celular e entro no grupo da família.

Eu: Consegui, gente! Finalmente conclui o caso de Kath.

Mamãe: Amém. Vão se assumir quando?

Barbie: Já viu o Instagram? A doida já postou.

Jacob: Barbie, tem como você tirar o seu sapato da minha mesa?

Obrigado.

Barbie: Chato.

Papai: Parabéns, filho! Sabíamos que seria um sucesso. Você é o melhor!!!

Barbie: Porque não saímos cedo e comemoramos?

Jacob: A gente já vai sair cedo, cara. Viajamos depois do almoço!


Eu: Mãe, pai, tem certeza que não querem ir? Daria para todos irem e,
talvez, nem nos esbarrássemos na singela casa do Jacob.

Jacob: Não é minha!

Mamãe: Não, querido. Tenho alguns planos para esse final de semana, que
não posso adiar por nada. Em breve, todos saberão.

Abandono o telefone na mesa, porque sei que quando começamos a falar


pelo grupo, nunca mais paramos.

Saio da minha sala e vou até Jenni.

— Fez o que eu pedi?

Ela me encara e disfarça um sorriso.

— Claro, chefe. Sua namorada receberá em casa o maior buquê que já vimos
em toda NY — brinca.

— Ótimo. Você é dez! — mando um beijo e me direciono para o andar onde


Jacob fica.

Escuto a voz dos dois assim que ando pelo corredor e, entro já me metendo
no assunto.

— Isso é sério? — pergunto e me junto a eles perto da janela. —

Estão combinando roupa? — tento não rir, mas caio na gargalhada.

Barbie resmunga e Jacob me mostra o dedo do meio.

— Eu estou tentando explicar para Barbieri que esse ano está fazendo mais
frio do que os outros que fomos, mas ele não entende. Então, tomara que
congele esse pau sem freio.

— Falou o que já está marcando encontro por lá.


— Da forma que você fala, parece até que é algo romântico — Jacob dá um
tapa na nuca de Barbie e, eu nem me meto, porque esses dois parecem

cão e gato. — Só quero ter certeza que terei o que fazer quando Noah estiver
transando em um dos quartos e você estiver em alguma orgia qualquer.

Paramos de falar e viramos em sincronia para a porta quando alguém bate.

— Dr. Cooper, Sr. Ramsey — Olívia nos cumprimenta. — Estou com um


problema no sistema e tenho que lançar algumas coisas. O computador de
vocês também está assim?

Eu e Jacob vamos até o computador dela ver o que houve. Enquanto isso, os
dois ficam travando uma guerra silenciosa apenas com o olhar.

Cutuco Jacob para que ele veja, e rimos baixo.

— Bom dia para você também, educadíssima Olívia — Barbie tira os óculos
e cruza os braços. — E, se tivesse me perguntado, eu já teria uma resposta.
Mas, deixe que eles descubram — se senta e começa a mexer no celular.

Se antes eu tinha a sensação que essa rincha deles é algo relacionado a um


envolvimento íntimo, agora não tenho dúvidas. Os dois se olham com ódio,
mas quando acham que não tem ninguém olhando, seus olhares percorrem
um ao outro com desejo.

E, isso pode ser complicado.

Descobrimos o problema e quando ligamos para o TI, eles nos informam que
tudo voltará ao normal em poucos minutos.

Olívia agradece e vejo que ficou aliviada. Ela é totalmente workaholic e não
a julgo, porque sei como que é ser assim. O seu trabalho está sendo incrível
e tem nos ajudado muito a mantermos as coisas ainda mais organizadas;
além disso, ela lida com toda a parte chata do financeiro, como se fosse algo
divertidíssimo.

Olívia sai da sala ainda encarando Barbie.


— O que está rolando? — sento na cadeira de Jacob enquanto leio alguns
termos novos para futuros clientes. — E por favor, não diga que não tem
nada, porque sabemos que tem.

Ele larga o celular e joga a cabeça para trás, demonstrando o quão


incomodado ele está.

— Essa mulher me enlouquece em níveis que eu não conhecia. É

natural implicarmos um com o outro. Ambos entramos nesse jogo e nenhum


dos dois quer levantar bandeira branca — desabafa. — Mas a diaba é linda,
porra!

Jacob ri.

— Realmente, se existisse um prêmio para escritório com mulheres bonitas,


nós ganharíamos fácil por causa dela e da Jenni — Jacob tira seu paletó e
sobe as mangas da camisa. — Falando nela, só eu que não entendi como, do
nada, ela foi morar com Jackson?

Concordo, porque elas realmente são lindas e incríveis.

Começamos a falar sobre essas coisas e quando notamos, já estava na hora


de ir almoçar e decidimos dar nosso dia por finalizado. Precisamos nos
arrumar para viajarmos e, eu ainda tenho que buscar Kath.

Assim que chego em casa, tenho a grata surpresa de encontrar minha mãe
arrumando as minhas malas, que deixei para fazer em cima da hora.

Chego e lhe dou um abraço apertado, também um monte de beijo no rosto,


em forma de agradecimento.

— Você é a melhor mãe do mundo! Sabe disso, né? — pisco e começo a


tirar algumas peças da minha roupa.

— Claro que eu sei, meu anjo. Da mesma forma que sei que o “tão
organizado Noah” não é bom com malas — continua dobrando algumas
peças e noto que ela colocou alguns pacotes de camisinha e rio.
Coloco a roupa no sexto e fico só de cueca. Me sento na cama e fico olhando
as últimas coisas que ela coloca.

— Coloquei alguns relógios naquela maleta de couro, tá? — não falei que
ela é perfeita?!

— Obrigada, mãe! — a ajudo fechar as duas malas e vou para o banho.

Tomo um banho rápido e bem quente, relaxando os músculos do meu corpo


e depois de algum tempo, saio enrolado na toalha.

— Já viu as notícias? — pergunto enquanto procuro uma roupa.

Sorrio ao ver que, em uma gaveta tem umas roupas de Kath. É uma sensação
boa saber que ela está ficando à vontade aqui, e que está trazendo um pouco
do seu mundo para o meu. Com isso, quero dizer que no banheiro tem uma
necessaire só dela e já sinto seu cheiro pelos meus lençóis.

— Como não veria? As pessoas estão enlouquecendo com as notícias.

Kath deve estar tendo um dia bem agitado e turbulento — coloco uma calça
jeans preta e uma camisa longa da mesma cor; o sobretudo que combinará
com o de Kath e as outras peças para me aquecer melhor, deixarei para
colocar antes de sair do avião, porque aqui não está tão frio assim.

— Ficou bom? — sempre confiei muito em meu gosto para roupas, mas
tendo uma modelo como minha... quase namorada, fico receoso. Fico na

frente do espelho, esperando por uma resposta.

— Claro que sim, meu anjo — se aproxima e encaro nós dois pelo reflexo.
Mamãe passa suas mãos em meus braços e puxa um pouco a camisa para
baixo. — Você é um homem muito lindo e minha nora é uma sortuda —

pisca e vem para a minha frente. — Querido, estou muito feliz que esteja
tentando fazer as coisas darem certo entre vocês dois. Será tudo perfeito lá
em Aspen, tenho certeza.
Decidimos contar para minha mãe sobre nós quando a encontramos no
orfanato; não queríamos ter que evitar nos tocarmos ou sermos carinhosos
um com o outro por estar na frente dela e, claro que ela já sabia, mas ouvir
da nossa boca foi diferente. Ela quase chorou.

Como ela já sabia, e eu precisava de ajuda para a minha surpresa, lhe contei
algumas coisas e não tenho dúvidas que tudo deve estar perfeito.

Também tive ajude de dona Joana, que me contou gostos de Kath, que ainda
não conheço. Depois de Aspen, tudo será diferente e me esforçarei para
saber cada coisa que envolva o meu furacão.

— Estou nervoso, mãe. Eu sei que não é nada fora do comum para pessoas
que se gostam e querem ficar juntos, mas eu nunca tinha me visto nessa
perspectiva. — coloco as mãos em seus ombros e ela ri, acariciando meu
rosto.

— Esse sentimento é muito importante. O medo só mostra o quanto


gostamos de alguém e que não queremos perder. Com certeza, esse
sentimento dentro de você é recíproco. Aquela menina tem o olhar mais
expressivo que eu já vi e, a forma que ela te olha, é a mesma forma que eu
olho o seu pai, querido.

Não consigo evitar o sorriso gigantesco em meu rosto e agradeço.

Ficamos mais um tempo conversando e depois, levamos tudo até o meu


carro.

— Tem certeza que vocês não querem ir? — bato a mala do carro e caminho
até a porta do volante, com ela em minha cola. — Ficarei uma semana lá.
Por que vocês não vão na segunda?

Ela pondera por alguns instantes e dá de ombros.

— Não tinha pensando nisso. Pode ser uma boa ideia. Falarei com seu pai e
também com a Jô — sorrio e a puxo para um abraço apertado.

— Vai ser ótimo, mamãe. E Kath vai adorar ter todos lá, ainda mais depois
da surpresa — beijo seu rosto e nos despedimos. Escuto todos os seus
conselhos e sempre acho graça de ela falar comigo como se eu ainda fosse

um adolescente desesperado por adrenalina. — Te amo e se cuida. Aviso


quando chegar.

Ela entra em minha casa e eu dou partida no carro, sentido ao apartamento


de Kath.

Ela já havia me informado que era para estacionar dentro do edifício e assim
eu fiz. Agora, estou caminhando no corredor até a porta do seu apartamento,
que está entreaberta.

— Mãe, eu não sei mais como lidar com o Ethan! Ele está tão louco como a
Alex. Já bloqueei ele de tudo. Não queria ter que envolver a justiça nisso —
Do que será que ela está falando?

— Eu sei, filha! Mas, ele invadiu o seu apartamento, meu amor. Aqui, até
então, é seguro, mas ele é famoso e conseguiu subir. Ethan não conseguiu
fazer nada porque, por sorte, Jackson entrou na hora — ouço os passos
delas e sei que deveria parar de escutar, mas só consigo sentir a raiva tomar
conta do meu corpo. — Eu não sei o que houve com ele, mas tentar te beijar
a força é mais que motivo para você resolver isso na justiça.

Beijar a força?

O ciúme, raiva e vários sentimentos percorrem meu corpo nesse momento.


Não quero ouvir mais nada.

— Mas não quero envolver o Noah...

E, essa é a minha deixa.

— Me envolver em que? — falo em tom de brincadeira enquanto abro a


porta. Controlando essa sensação ruim em meu peito — Estava aberta e vi
suas malas — vou até Joana, beijo-a no rosto e viro-me para Kath. —
Precisa de ajuda em algo?

Estou com muita raiva do que quase aconteceu, mas não quero que ela saiba
que eu ouvi. Quero que ela me conte por vontade própria.
— Podemos falar disso depois? — diz, totalmente sem jeito e faço que sim
com a cabeça. Ela se aproxima e me dá um selinho. — Você está lindo, Dr.
Cooper!

Já amoleci e esqueci que estou com raiva do ex otário. Deixarei para me


preocupar com ele quando voltarmos.

Joana pede licença e diz que vai pegar algo, mas sei que quer nos deixar a
sós e agradeço. Me permito secá-la por completo e, até parece que
combinamos a roupa, pois única diferença é que estou de calça e ela com
saia.

Me aproximo e passo a ponta dos dedos na lateral de sua coxa nua.

— Você me enlouquece naturalmente sem fazer nada — sussurro e ela gosta,


morde o meu lábio e encosta seu corpo ao meu. — E, quando você me
provoca, como agora, minhas cabeças ficam desesperadas — admiro-a
enquanto joga a cabeça para trás, rindo.

Seguro em sua cintura e a aperto, me controlando por respeito a sua mãe,


que está a poucos passos de nós e porque, se começarmos algo, com certeza
iremos nos atrasar.

— Gosto de como você fica, amor — a malícia em sua voz me faz sorrir de
lado. — Mas, não se engane, o mesmo efeito que causo em você...

— ela pega a minha mão e coloca por cima da sua calcinha, que tem uma
abertura bem estratégica. Eu fecho os olhos ao senti-la molhada. — Você
causa em mim — tão rápido como colocou a minha mão dentro de sua saia,
ela tira e sorri inocentemente.

— Você vai me matar, saiba disso! — me afasto ao ouvir a mãe dela voltar e
após uma breve conversa, começo a levar as malas de Kath para o elevador.
Nos despedimos com a promessa que mandaremos muitas fotos todos os
dias.

Joana pisca para mim e, sei exatamente quais fotos ela quer receber.
Kath está muito empolgada e fica falando que pesquisou passeios,
restaurantes e bares para irmos nessa semana. Claro que concordo com tudo,
mesmo que por mim, bastaria ficarmos apenas dentro de um quarto, com
uma visão linda das montanhas do Colorado enquanto transamos.

Porém, quero agradá-la e, se ela quer fazer todas essas coisas, estarei junto
dela e igualmente empolgado.

Arrumamos as malas dela do carro e entramos.

— Dá próxima vez que viajarmos, eu pago as nossas passagens, ok?

Porque tenho certeza que foi caro. Não imagino você em classe econômica

ri e mexe no rádio.

Mal sabe ela o que a espera.

— Para a sua informação, já viajei bastante de econômica — bastante é um


exagero, mas já viajei uma vez ou outra.

— Uhum... — responde sem acreditar muito em mim. Coloco a mão em sua


coxa e lembro da sua calcinha, me arrepiando na mesma hora.

Ela resmunga que não tem nada de bom e conecta o celular ao carro.

Logo começa a tocar uma música que eu nunca ouvi, mas presto atenção na
letra.

Você é o cara com quem eu sonho o dia todo

Você é o cara em quem eu penso sempre Você é o cara certo, então vou me
comportar

Meu amor é seu amor, seu amor é meu amor

Batuco os dedos em sua coxa firme, e ela se remexe enquanto escuta a


música que parece gostar. Tento não pensar na letra e no que pode significar,
mas Kath me encara e pisca.

— Acostume-se com essa voz, porque eu amo Rihanna — encaro-a e dou


um sorriso, torcendo para passar despercebido. — AI. MEU. DEUS!

Você não sabe quem é?

Rio pelo choque dela.

— Eu já ouvi falar nesse nome, claro. Mas não tenho a mínima noção de
quem seja a pessoa em si — ela arregala os olhos e a boca. — Amor, não me
julgue. Eu não costumo ouvir música pop, esse lance é com Barbie.

Ela continua em choque e balança a cabeça. Mexe no celular e vira-o para


mim; espero parar em um sinal e pego o celular. Nele tem várias fotos de
uma mulher muito bonita e assovio.

— Deduzo que essa seja a Ri...? — já esqueci o nome e ela pega o celular da
minha mão, fazendo careta.

— Sim, ela é a Rihanna e, me lembre de não te levar em uma festa dela —


brinca, fingindo ciúmes e eu rio.

— Ninguém é melhor que você, amor — ela morde os lábios e até


chegarmos ao hangar, ouvimos mais algumas músicas da tal cantora. Não é
ruim, até que gostei.

Kathllen estranha quando chegamos em um hangar, em vez do aeroporto e,


quando me aproximo do carro de Barbie, que já estava estacionado, ela
entende o que viemos fazer. Tira o cinto e se vira para mim.

— Não acredito que vocês alugaram um jatinho para viajarmos! —

não sei se ela está apavorada ou animada com a possibilidade. Fica atônica,
esperando uma resposta.

Desligo o carro e rio. Saio e abro a porta para ela, que pula do mesmo e
coloca a mão na cintura, ainda querendo uma resposta.
— Lembra que a família de Jacob é podre de rica? Então, a mãe dele passou
tudo que estava no nome dela para ele e, isso incluiu um jatinho e várias
outras coisas que você não acreditaria.

— Nossa, desse ser horrível — eu rio do quanto ela está impressionada.

Um rapaz se aproxima para pegar as nossas malas e levar ao jatinho.

Seguimos e entramos no mundo que Jacob nega em aceitar que é a realidade


dele.

— Até que enfim! — Barbie fala assim que nos vê, segurando um copo de
whisky. — Estou doido para dar um mergulho naquela piscina aquecida e
ficar muito louco — claramente, ele já está alterado.

Kath caminha devagar, olhando tudo.

O jatinho é muito luxuoso e bem espaçoso. As poltronas são todas em couro


claro e bem acolchoadas. Tem um sofá comprido de frente para o bar, repleto
de várias bebidas dentro de compartimentos de vidro. Além disso, ainda há o
banheiro e a suíte, que fica no final do corredor.

Ou seja, uma fortuna com asas.

— Jacob, seu jatinho é incrível — Kath fala e ele dá de ombros, com um


livro nas mãos. Ela se aproxima e fala: — Nunca mais irei usar avião
convencional. — ri e ele vai na dela.

— Fique à vontade! É todo seu — ela se empolga e vai olhando tudo.

Como não é a primeira vez que entro aqui, e já tive esse momento de
curiosidade, me sento em uma das poltronas, a comissária de voo me serve
uma bebida e peço mais uma para Kath.

Barbie troca olhares com a menina e eu rio; já sei no que isso vai dar.

Alguns minutos depois, chega Jackson, Bryan e Jeniffer.

Bryan está com uma carranca e os outros dois estão estranhos.


— Sério, da próxima vez, eu jogo esses dois para fora do carro — B

fala baixinho, só para que eu e Jacob ouça. — O clima entre eles está
horrível e parecem duas crianças emburradas.

Observo-os e, não é necessário ser um especialista pra ver que tem algo
errado, mas deixarei para falar com eles depois.

Todo mundo se cumprimenta e o piloto pergunta se já chegaram todos e pede


para que nos sentemos enquanto o avião decola.

Eu e Kath ficamos nas cadeiras dos fundos, um de frente para o outro.

Todo mundo já bebeu bastante, estão empolgados com a viagem e com os


ânimos aflorados. Jacob é o único que não bebeu e continua com a cara
dentro do livro.

— O que está rolando entre Jack e Jennifer? — Kath me pergunta enquanto


olha para os dois, cada um em um canto.

— Pensei que você saberia.

Balança a cabeça, descordando.

— Ainda não — vira-se para mim e sorri. — Lindíssimo, né? —

concordo, mas não estou falando da mesma coisa que ela, e cora ao perceber.

Depois que o jatinho termina de decolar, todos tiramos o cinto e voltamos a


ficar mais à vontade. Kath estica os pés e os pego, colocando em minhas
pernas. Tiro as suas botas e as coloco no chão.

— Eu sequer tive tempo para te agradecer pelas rosas e por todo o resto.
Nem sei em que pé tudo estaria se não fosse por você — me observa
enquanto começo a massagear um dos seus pés, e quase geme quando
concentro a pressão em um certo ponto. — Nossa, isso é bom!

Continuo a massagem e me sinto grato por ter tantas pessoas que gosto junto
de mim felizes, ignoro o clima nebuloso entre Jack e Jenni.
Depois, volto a olhar o deslumbre de mulher que está a minha frente, e acabo
apertando demais seu pé quando olho em direção as suas pernas, que estão
abertas, e tenho uma visão perfeita da sua calcinha.

Respiro fundo umas vinte vezes e desvio o olhar.

— Você merece, amor. Merece muito e fiquei muito feliz em ter


proporcionado a sua vitória — pisco e ela sorri, toda mole por causa da
massagem. — E, como foi o seu dia mais cedo?

Ela suspira e se ajeita no banco, colocando o celular entre as pernas e


agradeço em silêncio.

— Foi uma loucura. Na verdade, meu telefone ainda está assim, mas vou
ignorar todos por enquanto, porque são muitas mensagens e ligações —

coloca um dedo na direção da boca e morde o cantinho da unha, tensa. —

Recebi alguns convites para dar entrevistas em programas famosos e, é uma


boa chance para esclarecer toda a história com Alex e Ethan.

Termino um pé e vou para o outro, sem falar nada, e ela fica um pouco em
silêncio antes de continuar.

— Eu tenho que te contar algo, mas não quero que isso estrague a nossa
viagem — eu já sei o que é, mas quero ouvir dela e saber o resto da história.
— Ethan foi lá em casa, quer dizer, ele invadiu a minha casa. —

paro o que estou fazendo e a encaro.

Eu já sei o que rolou, mas me sinto enciumado e com raiva novamente.

Ela retira os pés de cima das minhas pernas e joga o corpo para frente,
pegando minhas mãos.

— Não sei muito bem como ele conseguiu entrar, mas aquele ali não me
surpreende mais em nada — ela está nervosa e sinto as suas mãos
geladas. Faço um carinho para que saiba que está tudo bem. — Quando
cheguei na sala, ele já estava lá, mexendo nas minhas fotos novas. Acho que
enlouqueceu quando viu uma foto em que estou com você e os meninos;
jurei que ele jogaria pela janela com tamanha raiva que as segurava.

Solto uma das mãos e esfrego o meu rosto.

— Você consegue enxergar a gravidade disso, né? Chamou a polícia?

Tem que deixar a entrada dele proibida no local, claramente proibida — falo
rápido, porém calmo, me sentindo mal por não ter estado com ela. — Ele te
machucou? Você está bem? — minha voz quase não sai e meu peito queima
de raiva.

O queixo dela treme, anunciando uma provável vontade de chorar, mas ela
não deixa que isso aconteça.

— Eu estou bem! Jackson chegou para saber se eu precisava de ajuda com as


malas e o tirou de cima de mim assim que entrou e viu que ele tentava me
beijar — olha para trás, na direção do amigo, que agora está bebendo com
Barbie. — E, Ethan vai lembrar dele por algum tempo, porque o olho dele
ficará bem roxo.

— Espero que tenha deixado espaço para o roxo que eu deixarei nele

— bufo.

Ela se levanta e senta de lado em meu colo. Segura meu rosto e me dá um


beijo leve e breve.

— Não vamos por esse lado, amor. Posso afastá-lo por outros meios, tudo
bem? Você poderia me indicar algu...

— Amor, imaginei que depois que todos soubessem de nós dois, eu


continuaria a cuidar das coisas para você. Ou, que tal o Barbie? Você não é o
cliente alvo dele, mas tenho certeza que ele abriria uma exceção — passo a
mão em sua coxa e beijo a curva do seu pescoço. É a vida dela, não tenho o
direito de intervir assim, por mais que eu queira. — É uma decisão sua e não
irei me meter, mas já me metendo, só tenha cuidado. Conheço os meus
iguais de profissão e não quero que ninguém se aproveite de você
novamente.

Ela sorri e me abraça forte.

Eu cheiro seu pescoço, sentindo o aroma doce de sua pele, que persegue
meus pensamentos.

— Você existe mesmo? — brinca e eu roço o nariz pela sua bochecha. —


Vou conversar com Barbie depois. Não estou me desfazendo de você, muito
pelo contrário, mas quero que você seja meu apenas na vida pessoal. Melhor
não misturarmos as coisas, porém, isso não significa que não

te consultarei para muitas situações.

Me dá mais um beijo e volta para a sua poltrona.

— Tudo bem. Eu concordo.

O resto da viagem se torna tranquila. Quase todos dormiram, menos eu e


Jackson. Kath pegou no sono e agora dorme confortável na minha frente e
parece um anjo.

Meu anjo.

Pego o meu celular, tiro uma foto e guardo novamente no bolso.

— Ei, cara? Podemos trocar umas palavras? — Jack me pergunta baixinho,


eu concordo, me levanto e vou até o sofá onde ele está.

Nos servimos com um pouco do whisky e aproveito para tirar o livro do colo
do Jacob, que estava quase caindo. Deixo na mesa em sua frente.

— Kath conversou com você? — vai direto ao ponto.

— Sim. Me contou agora pouco e eu estou com as carnes tremendo de ódio


— dou um belo golo da bebida e relaxo meu corpo no sofá. — Inclusive,
obrigada pelo o que fez. Eu não sei o que eu faria se ele tivesse feito algo
além do que já fez.
Ele concorda e encara a mão machucada.

— A cena foi horrível e na hora, meu corpo reagiu sem que eu nem pensasse
em nada — respira fundo e fica constantemente batendo o pé. — fiz um
inferno naquele prédio, por isso demorei para chegar. Chamei polícia, os
seguranças, só não coloquei na mídia porque não me envolvo mais com essa
vida.

— E, o que eles falaram?

— O porteiro era substituto, meio que não teve culpa porque Ethan foi
inteligente. A segurança de lá já sabe que no prédio de Kath e no meu só
entra direto quem estiver na lista fixa.

Olho para meu copo, pensando.

— Kath tem câmera na casa dela, né?

Ele concorda e, por mais algum tempo, ficamos conversando sobre esse
babaca e a segurança de onde eles moram.

Sete horas depois, chegamos no hangar de Aspen, que fica aproximadamente


a uns 20 minutos da casa de Jacob.

Todos já acordaram e nos dividimos em vários táxis.

O caminho até o nosso destino é lindo. Aqui já está nevando e a paisagem


fica ainda mais perfeita. É o cenário perfeito para o que eu planejei para nós
dois.

Kath está na janela igual a criança, olhando tudo, apontando e falando que
quer ir em vários desses lugares que me mostra. Parece que eu desaprendi a
falar “não”, porque tudo que sai da minha boca é “sim, claro”.

Todos os carros param em frente a um portão de ferro enorme, com um


brasão gigantesco de uma das famílias mais importantes da Itália e Jacob
libera nossa entrada, sem dar importância para tal coisa.
A imponente casa está com o exterior todo iluminando, mostrando o quanto
é linda e elegante no meio de muita neve e montanhas.

— Puta merda! — Kath jogo o corpo para frente na tentativa de conseguir


ver por dentro do carro, mas assim que o mesmo para, ela sai em um pulo,
arrumando as luvas nas mãos. — Olha, se a casa de veraneio dele é assim,
nem quero imaginar como é a que ele mora.

Concordo. Mal sabe ela que, provavelmente, nunca entrará na casa dele.
Mesmo estando próximos ultimamente, eu acho improvável que isso
aconteça.

— Essa não é dele, mas seu pai não gosta de vir para Aspen. Na verdade,
acho que nunca veio desde que o conheço. Então, nós aproveitamos por ele,
porque a manutenção daqui é cara demais para mantê-la fechada.

Todos saem do carro e um casal na casa dos 50 anos aparece para nos
receber.

— Sr. Ramsey! — diz a mulher sorridente, que o puxa para um abraço. Ruth
sempre trabalhou para eles aqui e é uma mulher muito simpática e
acolhedora. — Como você está? — eles conversam brevemente e depois o
casal nos cumprimentam. — Vamos! Está muito frio.

— Todos os quartos estão prontos e deixamos os vazios também arrumados,


caso apareça mais gente — Carlos, marido de Ruth, é um pouco mais sério,
mas também é uma ótima pessoa. — O deck, que dá para as montanhas, já
está preparado e o jantar também.

Olho rápido para Kath, querendo ver se prestou atenção na fala de Carlos,
mas ela está conversando com Jenni e ambas tentam puxar suas malas sem
sucesso.

— Obrigada, Carlos. É uma surpresa para minha namorada — sorrio e ele a


encara, curioso. — Quer dizer, vamos descobrir em breve se ela será minha
namorada — ele dá uns tapinhas em minhas costas e começa a nos ajudar
levar tudo.

Entramos na sala e sinto um cheirinho bom de comida.


Chegamos tarde, mas mesmo assim, ninguém teve coragem de

dispensar a comida incrível que só Ruth sabe fazer. Hoje, o cardápio é mais
especial que o normal, já que ela preparou o prato favorito de Kath em
grande quantidade para todos comerem, além de nós dois.

— Por que vocês dois não vão conhecer a casa e a gente leva as malas de
vocês para o quarto? — Jacob fala já pegando nossas coisas e Kath abre um
sorriso largo, empolgada.

— Vem, amor. Tem um lugar que eu quero que você veja primeiro —

pego em sua mão e subimos as escadas até chegar no andar do deck.

Assim que abro as portas de correr, acendo apenas as luminárias de parede


(deixando um clima mais aconchegante) e Kath vê tudo que está ali ficando
por alguns minutos em silêncio.

O nervosismo toma todo meu corpo novamente.

— Isso é para mim? — sua voz está embargada e percebo que ela está
emocionada, mesmo sem estar olhando para seu rosto.

— Sim! Você gostou? — minha voz quase não sai e ela me abraça forte.

A felicidade dela por uma simples surpresa me deixa derretido. Mal sabe
que, se ela me aceitar, terá em sua vida um homem que dará o mundo e tudo
o mais que quiser.

Eu nunca quis tanto fazer tudo por uma pessoa.

30
Meus olhos rolam pelas mensagens e marcações com meu nome e, dessa
vez, todo alvoroço é por um bom motivo. E o alivio em meu peito é tão
grande, que parece que vou flutuar.

Noah conseguiu fazer o que me prometeu há meses atrás.

Ele provou a minha inocência nessa história doida com Alex e, finalmente,
as pessoas estão sabendo a verdade.

Os sentimentos se misturam dentro de mim. Estou aliviada, pois agora as


coisas estão do jeito que deveriam estar e, sei que poderei seguir minha vida
e incluir Noah de vez nela, sem ter que me preocupar com meu passado.

As rosas que ele me enviou, agora estão enfeitando lindamente a minha sala,
perfumando todo o ambiente. A cada dia, me surpreendo em como Noah é
atencioso e faz de tudo para que eu me sinta bem e amada.

Amada.

Ultimamente, tenho pensando muito sobre meus reais sentimentos, me


questionando o quanto sou apaixonada por ele e, dia após dia esse
sentimento só cresce e domina meu corpo da melhor maneira possível.

Não é difícil amar um homem como ele.

E, talvez eu só esteja fingindo que não sei que esse sentimento já é vivo em
mim.

— O que se passa nessa cabecinha linda? — saio do meu devaneio e sorrio


para a minha mãe. — Seria um belo homem alto, de olhos claros e covinhas
cativantes? Com um sorriso que ilumina um quarteirão inteiro?

Me jogo para trás, caindo na cama.

— Está tão obvio assim? — olho para o teto e quase consigo vê-lo
perfeitamente ao imaginá-lo.

Minha mãe ri e faz um carinho em meu braço.


— Demais, querida, mas é bom. Não deve se envergonhar de estar
apaixonada, muito pelo contrário. É uma dádiva que poucos sabem
aproveitar por inteiro e, a recíproca nem sempre existe, então, grite para
todos ouvirem

que seu coração ama alguém e que também é amado.

Fico repassando tudo que minha mãe fala e me sinto uma adolescente
novamente, vivendo o primeiro amor e todas as sensações incríveis que vêm
como um soco no estômago.

Pulo da cama e, mais uma vez, olho o closet para ver se não deixei nenhuma
roupa para trás.

Estou levando uma mala menor apenas com lingerie, todas as que ganhei da
campanha e outras que comprei especialmente para essa viagem.

Noah tem um certo fetiche nisso e, eu adoro a forma como ele me deseja
quando me vê vestida em uma.

Confiro o relógio e falta um pouco mais de uma hora para que Noah chegue,
então, corro para o banheiro, arranco o baby doll e começo o ritual de tomar
banho, fazer o cabelo e me vestir.

Depois de quase uma hora, estou calçando minha bota longa e escuto a porta
da sala bater. Termino de fechar o zíper e vou para onde ouvi o barulho.

— Chegou muit... — por um segundo, eu penso que a minha imaginação


está pregando uma peça em mim, porque quem eu vejo é Ethan, não Noah.
— Como você entrou aqui? — minha pergunta sai em um sussurro e eu
pisco várias e várias vezes, esperando que ele suma da minha frente e seja
apenas uma alucinação.

Ele se mantém distante, segurando com força um porta retrato e daqui,


consigo ver sua mão tremer. A foto que ele encara é uma que tirei no
churrasco com Noah e os meninos; não tem nada demais, só que não sei o
que se passa na cabeça desse homem na minha frente.
Olho para o corredor e não vejo minha mãe por ali. Fico aliviada na mesma
proporção que desejo que ela apareça e chame alguém.

Meu coração está batendo forte, procuro o celular nos bolsos, mas lembro
que deixei no banheiro. O que eu faço?

— Kathie, Kathie, Kathie — coloca a foto no lugar e se vira, me encarando


da cabeça aos pés. — Estou com a sensação de que não sei de algo
importante da nossa vida — caminha lentamente em minha direção e, já nem
sei mais como consigo respirar.

Dou alguns passos para trás, mas paro quando sinto a cadeira bater em
minhas costas.

— Ethan, por favor, vá embora! Você não é bem-vindo aqui — tento


esconder o medo no meio dessas palavras, mas ele ri, sádico. Se aproxima

mais e para bem perto do meu corpo.

Sinto o calor do seu dedo em minha bochecha, viro o rosto e fecho os olhos,
desejando que seja um pesadelo, ou uma brincadeira muito mau gosto.

— Não me deseja mais? Lembro que adorava me sentir assim tão perto.
Inclusive, ainda ouço em meus sonhos a sua voz pedindo por mais —

meu corpo começa a tremer quando ele encaixa a mão em minha nuca e
segura firme os fios que estão ali. — Isso é por causa daquele merdinha?
Não é possível que ele seja melhor que eu.

Tento sair do seu contato, mas ele me segura com mais firmeza, fazendo
meu couro queimar, a ponto de lágrimas se formarem em meus olhos. Mas
eu me esforço para que elas não escorram.

— Ethan, por favor... Você não quer fazer isso. Você não é assim.

Sua risada toma conta da sala e o medo por minha mãe aparece,
definitivamente não quero que ela apareça. A possibilidade de algo
acontecer com ela, me deixa ainda mais sem reação.
Ethan vira meu rosto para a direção do dele, umedece seus lábios enquanto
encara os meus e, a única coisa que se passa em minha cabeça é como o meu
ex-noivo se tornou essa pessoa desestabilizada e assustadora, que está
prestes a me ter, mesmo que a força.

A imagem de Noah aparece em minha cabeça do nada, como uma salvação


do meu estado estático e, quando decido abrir a boca para gritar bem alto por
socorro, o corpo dele se afasta do meu tão rápido que eu não entendo o que
aconteceu.

Demoro a perceber que Jack está em cima dele, prendendo-o no chão com
uma facilidade assustadora. Parece que tudo passa em câmera lenta, até que
saio do choque quando os ouço.

— Sempre soube que tinha algo de errado com você, seu merda! —

Jackson fala e Ethan tenta cuspir na cara dele. Em troca, ele dá um soco no
rosto pálido de Ethan, que fecha os olhos ao sentir o impacto. — Não me
faça estregar essa carinha toda e vá embora daqui — retribui a cuspida e sai
de cima dele.

Minha mãe chega nesse momento. Provavelmente, ouviu Jack gritar com
ele. Ela encara toda a cena em choque, sem entender o que aconteceu, mas
vem me abraçar ao ver meu estado de pavor.

Ethan se levanta e passa a mão no nariz, que escorre um fio de sangue,


encara todos nós e segura o olhar sob mim.

— Você está escolhendo a pessoa errada, Kathie. Ninguém jamais irá

te amar como eu te amo. Jamais.

Jackson vai em sua direção, quase rosnando como um animal prestes a dar o
bote, mas Ethan levanta as mãos, se rendendo e indo embora.

— Ele fez algo com você, filha? — minha mãe passa a mão por quase todo
meu corpo, me vira, puxa a manga da minha blusa e depois segura meu
rosto. — Me diz, por favor.
— Ei — a voz suave de Jack me tira do choque e eu o encaro, sem ainda
acreditar que tudo isso aconteceu do nada e tão rápido. Olho para a mão dele
e a puxo, procurando por algum machucado. — Não se preocupe comigo,
gatinha. Vem cá!

Me jogo em seu peito e o abraço com força, puxando a minha mãe junto.
Ficamos um tempo assim, os três abraçados. Eles deixam que eu fique o
tempo que preciso para me recompor e não me permito chorar.

Afasto-me e respiro fundo.

— Eu vou falar com a segurança e os porteiros, está bem? —

concordo e recebo um beijo na testa. — Quer que eu ligue para alguém? O

Noah, talvez?

— Não! — digo rápido e eles me encaram. — Conversarei com ele longe


daqui. Vai ser melhor.

Ambos concordam com a cabeça e minha mãe vai até a cozinha pegar água
para mim. Vejo Jackson sair e vou até o corredor, com receio de que Ethan
esteja por ali, mas não tem ninguém além de mim.

Me sento no sofá e aceito a água que minha mãe me oferece. Bebo-a toda,
me acalmando aos poucos. O medo aos poucos vai se esvaindo do meu
corpo, e a realidade bate com força na minha cara.

Eu nunca o conheci de verdade.

O homem carinhoso, gentil e amável era apenas uma máscara para um


homem agressivo, que eu acabaria descobrindo da pior maneira possível.

— Você está bem? — pergunta, cautelosa.

— Estou, mãe. Só me assustei na hora, porém, não deixarei que isso me


abale. Ele não tem mais poder sobre mim — meu corpo ainda está tenso, e
sei que essa cena não sairá tão cedo da minha mente. — Se Jackson não
tivesse aparecido, não sei o que poderia acontecer, mãe. Ele enlouqueceu, o
olhar dele era perdido, sabe? Como se mal soubesse o que pretendia fazer.

Minha mãe se senta na mesinha de centro que está na minha frente e segura
minhas mãos.

— Com certeza, não teria dado boa coisa, filha. Graças à Deus,

Jackson entrou. Eu mesma, nem ouvi nada.

Me levanto novamente e beijo o alto da cabeça dela, acalmando-a.

Vou até meu quarto e pego as malas. A qualquer momento, Noah chegará e
não quero que esse acontecimento estrague o que planejamos para nós.

Puxo as malas e as deixo perto da porta, onde minha mãe está, olhando as
câmeras do corredor.

— Mãe, eu não sei mais como lidar com o Ethan! — volto e confiro se
minhas malas estão bem fechadas. Depois, ficamos próximas à varanda,
encarando a rua. — Ele está tão louco como a Alex. Já bloqueei ele de tudo.

Não queria ter que envolver a justiça nisso.

— Eu sei, filha! Mas, ele invadiu o seu apartamento, meu amor. Aqui, até
então, é seguro, mas ele conseguiu subir do mesmo jeito. Ethan não
conseguiu fazer nada porque, por sorte, Jackson entrou na hora — caminha
de um lado para o outro, nervosa. — Eu não sei o que houve com ele, mas
tentar te beijar a força é mais que motivo para você resolver isso na justiça.
Ela está certa e, por mais que eu não quisesse me envolver novamente com a
justiça para resolver algo pessoal, sei que é a melhor opção. Resolverei essa
complicação assim que voltar de viagem. Lá, estarei segura e rodeada de
pessoas que o colocariam para correr sem nem pensar duas vezes.

— Eu não quero ter que envolver o Noah...

— Me envolver em que? — ouço a voz brincalhona dele e me sobressalto,


mas quando nossos olhares se encontram, meu coração se acalma e, é como
se nada tivesse acontecido. A paz toma conta do meu corpo novamente.

A viagem correu muito bem e contei a Noah tudo que aconteceu, sem dar os
mínimos detalhes, porque não quero que as imagens fiquem

retornando à minha mente. Sei que Jackson vai conversar com ele, porque
agora está preocupado com a minha segurança e, eu até prefiro que esse
assunto seja conversado longe de mim.

Agora, estou de frente para um deck lindíssimo, que se apoia em uma


montanha que é quase encostada na parte de trás da casa. Se meus olhos não
estivessem vendo tais coisas, jamais conseguiria imaginar um lugar tão lindo
e charmoso. Há uma mesa de madeira com pratos, talheres e um vinho, que
parece ser muito caro. Caminho para fora, pisando nas pétalas de rosas
vermelhas e brancas ao redor da mesa. O cenário com a neve e a decoração
parecem que ter vindo de um filme de romance.

Sinto os braços de Noah me rodearem e os aperto mais em mim, ainda sem


acreditar nessa surpresa fofa que ele fez.

— Isso é pra mim? — meus olhos queimam com as lágrimas que querem
escorrer. Acho que não lembrava mais como era ser bem tratada de verdade.

— Sim! Você gostou?

Viro-me de frente e o abraço com todo o amor que eu tenho em meu corpo e
torço para que ele sinta isso.

Recebo um beijo leve nos lábios. Assim, ele pega em minha mão e me leva
até a mesa. Me sento e espero que ele faça o mesmo.
— Está lindo, amor. Não sei o que fiz para merecer tal surpresa, mas vou
descobrir e fazer de novo, para que isso se torne algo corriqueiro —

pisco e ele ri.

— Não fiz tudo sozinho. Tive ajuda de alguns cupidos aí.

Eu já imaginava.

— Eu imaginava que aqui era um lugar muito bonito, mas não estava
preparada para tudo isso. É surreal, no mesmo tempo em que é um sonho.

Ele abre a garrafa com um barulho alto, nos serve, brindamos e dou um gole.
O gosto seco desce por minha garganta e eu adoro, saboreio devagar.

— Aqui virou praticamente o nosso refúgio. Sempre viajamos juntos, mas


não é estranho ver apenas um de nós aqui quando precisamos de um tempo
— olha ao redor e depois passeia por meu corpo, como quem admira uma
obra de arte. — E, você faz o cenário ser ainda mais perfeito.

Meu corpo esquenta e cruzo as pernas, contendo a excitação.

— Espero conhecer cada canto dela — minha voz sai arrastada e umedeço
os lábios. Ele não pisca enquanto observa o movimento da minha

língua.

— Se não estivesse tão frio, te sentaria aqui agora e aproveitaria a facilidade


dessa sua calcinha, que quase me matou durante toda a viagem —

desce os olhos para o meio das minhas pernas, porém, as mantenho


cruzadas.

Noah pega seu celular e pede para que eu fique parada. Ele tira uma foto
minha e eu sorrio, contente. Depois, guarda o telefone e diz que veremos
todas as fotos no final da viagem.

Mantemos uma conversa calma e sobre coisas banais, porém, não deixo de
notar um certo nervosismo em seu comportamento e fico curiosa.
— Tem algo que queira falar? Seu nervosismo está me deixando tensa, amor.

Sua respiração pesa e ele arrasta a cadeira para ficar mais próximo de mim.

— Eu queria fazer depois do jantar, igual aos filmes, mas sequer sei se vou
conseguir aguentar até lá — a confusão deve estar estampada em minha
cara, porque ele ri e tenta se acalmar. — Essa surpresa tem um motivo, um
motivo dos bons, se você der a resposta que eu quero.

Meu coração acelera com o tanto de possibilidades que se passa na minha


cabeça enquanto o fito.

— Noah, eu vou desmaiar se demorar muito para falar o que quer.

Ele ri e pega a minha mão com doçura.

— Calma, linda — dá um beijo no canto dos meus lábios. — Eu estou


treinando na frente do espelho faz uma semana e, isso não significa que
saberei fazer algo bonito agora, mas vamos lá! — ele se vira de frente e abre
um sorriso tão lindo, que até esqueço que estou nervosa.

Puxo seu rosto para o meu e o beijo com amor, na tentativa de acalmá-lo. Ele
entende o beijo e agradece.

— Eu sou apaixonado por você e sempre que posso, te falo. Amo o que
estamos criando, mas já não é mais o suficiente. Eu quero te beijar na rua, eu
quero ter fotos nossas pela minha casa, quero poder ter ciúmes desses caras
que desejam você — rio e ele faz uma careta. — Quero que seja minha,
Kath. Oficialmente minha! — ele procura algo nos bolsos e eu arregalo os
olhos. — Não precisa pirar, porque ainda não é um pedido de casamento —

ainda, ele falou isso, né? Ainda —, mas eu quero muito que você seja minha
namorada. Quero isso com toda a força que tenho em meu corpo.

Sem pensar, me jogo em seu colo e quase caímos, mas Noah segura na mesa
e nos mantém sentados.

Abraço meu homem com força, sentindo meus seios esmagando seu peito e
ele ri, com os braços envolvendo minha cintura por dentro do sobretudo.
— Posso entender isso como um sim? — questiona.

— SIM! É UM SIM ENORME! — grito minha resposta e ele cai na


gargalhada. Beijo todo o seu rosto e termino invadindo a sua boca, que logo
se abre para mim e me devora. Me afasto de sua boca quando ouvimos gritos
vindo de dentro da casa.

Noah ri e eu fico sem entender.

— Todo mundo sabe o que está rolando aqui e você acabou de gritar a
resposta, então, acho que isso é uma comemoração — gargalho e agradeço
em silêncio pela reviravolta que minha vida está dando. Saio do colo dele e
me sento na outra cadeira novamente.

Noah abre uma caixinha de joia, e dentro dela tem um anel muito lindo, com
um solitário.

— Ainda não é uma aliança, mas queria algo que quando você olhasse, te
remetesse a esse momento — sinto sua mão tocar na minha e depois seus
lábios beijando cada dedo. Fico olhando atenta quando coloca o anel no meu
dedo médio; estico a mão, admirando de longe.

— É perfeito, Noah. Eu amei! Queria ter algo para você lembrar desse dia
também — faço biquinho exagerado e ele sorri malicioso, pronto para dar
uma resposta safada, mas se mantém quieto pois ouvimos passos próximos
de nós.

— Licença, pombinhos. Os rapazes só me deixaram subir agora —

Ruth chega com a nossa comida e a coloca na mesa. — Irei para meus
aposentos com Carlos, mas podem nos chamar se precisarem de algo mais

logo depois, se retira, deixando nós dois à vontade.

— Os meninos fizeram a gentileza de sair e levar Jenni — mordo o lábio ao


entender o que isso significa. — Você decide se depois do jantar vamos ao
encontro deles ou se ficamos por aqui — pisca e volta a se sentar de frente
para o prato.
Tiro o cloche e o aroma de camarão já invade minhas narinas.

— Algo me diz que você recebeu uns conselhos da minha mãe —

Ruth preparou minha comida favorita: camarão gratinado com arroz.

Ele balança a cabeça, concordando.

— Talvez, eu meio que tenha almoçado com sua mãe, falado das minhas
intenções e, além da benção, ainda ganhei uma dica do que fazer para

você. Fiquei curioso, pois imaginei que teria que fazer Ruth rebolar e
preparar algo difícil; foi bom saber que não gastarei rios de dinheiro quando
quiser te agradar com o que mais gosta de comer.

Inacreditável como minha mãe me escondeu direitinho tudo o que estava


acontecendo.

Dou uma garfada e a comida quase derrete na minha boca de tão deliciosa.

— Onde eu morava, tínhamos muito acesso a peixes e frutos do mar, então,


todo domingo minha mãe fazia camarão gratinado para mim. Era uma festa,
ainda mais quando eu era criança — Noah come, mas sem tirar os olhos de
mim. — Sentávamos no quintal, bem na beira do rio e passávamos uma boa
parte da manhã, descascando e limpando os peixes. Acredite, eu achava
divertidíssimo.

— Você é uma caixinha de surpresas, amor.

— Irá se surpreender muito ainda — falo com malicia.

Ele ri e termina de comer.

— O quarto que deixaram para nós dois tem um ofurô. Podemos levar o
vinho para lá e você pode me surpreender da maneira que quiser.

Eu adoro como Noah fala de putaria como se estivesse fazendo negócios.

Me excita.
Termino rápido a comida e viro o resto do vinho que tem em minha garrafa.
Depois, me levanto e ele me encara, atônito.

— Vai me mostrar o caminho ou vou ter que descobrir sozinha onde ficarei
pelada para um delicioso banho de ofurô?

Noah levanta em um pulo e passa por mim, me puxando pela mão.

Praticamos corremos até o quarto. Quando entramos e ele acende a luz, sou
obrigada a parar e admirar o belo ambiente.

— Devo repensar o significado de ser rica.

— Ah não, amor. Você é riquíssima, o problema é Jacob! — fico sem


entender, esperando que continue. — Ele é bilionário, ou pelo menos, o pai
dele é.

Assovio, andando pelo cômodo espaçoso.

Aqui também tem o mesmo tom claro que se mistura com uma parede ou
outra escura, o que dá um charme ao espaço. Caminho até a lareira, que já
está acesa e, quando olho para o lado, tenho uma surpresa ao ver que a
parede do banheiro é de vidro e que dá para ver perfeitamente o box e a
banheira.

— Gostou? — o corpo de Noah me esquenta quando ele me abraça por trás.

— Isso é melhor do que muitos hotéis 5 estrelas que eu já fui.

Ele descola o peito das minhas costas, puxando o meu sobretudo, mas paro e
viro-me.

— Você não acha que vou deixar passar esse momento sem tirarmos uma
foto, né? Você planejou todo um look de casal com esses sobretudos iguais...
— faço um charminho, passando a mão pelo peito dele. — Já sei que não é
para mostrar seu rosto, não se preocupe.

Tento não ficar chateada com isso, mas é difícil saber que o meu namorado
prefere não ser visto comigo.
— Você acha mesmo que eu ainda me importo com o que falei antes?

— puxa a minha cintura e me vira de frente para ele. — Eu não quero viver
na mídia igual a você, isso é um ponto. Entretanto, o outro ponto, e o mais
importante, é que eu quero que você esteja feliz nesse relacionamento e, sei
que esse lance de postar sobre sua vida é algo importante para você. Então,
vamos fazer um meio termo.

Seguro seu rosto e o beijo lentamente.

— Não vou mentir e falar que não estou surpresa com o que disse, porque
estou. Não quero que você seja um namorado anônimo, mas também não
quero que fique mal por conta do que vai acarretar ao se expor comigo.

— Não vou ficar e, depois de algum tempo, irei me acostumar, prometo.


Valerá a pena, tenho certeza.

Vamos até o espelho gigante e nos arrumamos para uma pose. Ele fica atrás
de mim, abraçando a minha cintura e, eu só vou um pouco para o lado, para
que fique notável nosso look.

Tiro uma primeira foto e depois ele abaixa e beija meu ombro, de modo
despretensioso, mas consigo registar esse momento também. Largo o celular
na primeira superfície que vejo e me viro, já pulando em seu colo.

— Primeira noite como namorados, em? Isso tem que ser memorável

— me segura pela bunda, caminha até a cama, me jogando no móvel e


começando a se despir lentamente, fazendo com que eu sofra pela sua
lentidão proposital.

Me apoio pelos cotovelos e assisto, apesar da tortura, que parece diverti-lo.

Noah tira toda a roupa e fica apenas com uma cueca branca, que contrasta
com sua pele. Se eu achava que a vista das montanhas de Aspen

eram lindas, era porque não tinha visto esse homem assim, com um
monumento inchado recheando a cueca.
Ele passa a mão no pau e me encara, com um sorriso sacana no rosto.

— Vem pegar o que é seu, amor, vem! — sua voz reverbera pelo meu corpo
e eu arrepio, mesmo de longe. Me levanto, tiro os sapatos e paro bem em sua
frente.

— Esse jogo de provocação pode ser jogado por dois — minha voz se
arrasta entre as palavras e vou me despindo, com uma distância curtíssima
entre nós, tão devagar quanto ele fez comigo.

— A diferença... — ele passa a mão pelo meu pescoço assim que fico apenas
de calcinha e sutiã —, é que tudo em você é meu ponto fraco. Você é meu
ponto fraco e, eu não consigo apenas ficar olhando.

Mal consigo processar o que ele me diz e sinto meus pés saírem do chão
quando ele me pega no colo; no automático, cruzo as pernas em sua cintura e
tenho certeza que nossa noite dentro desse quarto está apenas começando.

31

Abro os olhos ao sentir a claridade me incomodar e, a primeira coisa que


vejo é uma perna torneada em cima das minhas.

Kath dorme como um anjo e seu cabelo está como um véu por cima do meu
peito. Sua respiração é tranquila e me recuso em levantar e correr o risco de
acordá-la.

Nossa noite foi insana e deliciosa. O caos que está o quarto prova o quanto
aproveitamos nosso primeiro momento como namorados.

Namorados.

Quem diria.. . Eu jamais imaginaria que a mulher linda que apareceu em


meu escritório pedindo socorro, acabaria sendo a mulher que eu quero que
fique para sempre em minha vida. Só de cogitar a ideia de não a ter, como
cogitei até antes de ela falar sim, me incomoda a ponto de sentir meu corpo
estranho.

É, sou um homem encantado, totalmente amarrado e envolvido nesse


furacão.

Kathllen resmunga alguma coisa dormindo e eu seguro o riso. Ela se vira e


fica de costas para mim, agora abraçando o outro travesseiro.

— Merda! — xingo baixo quando a coberta escorrega por sua cintura e sua
bunda fica a mostra, empinada e bonita. Tento me controlar, mas é em vão,
porque minha mão tem vida própria e já está alisando sua bunda gostosa.

Kath remexe e encosta mais a bunda em mim.

Meu pau já está ansiando por ela e, eu respiro fundo algumas vezes, pedindo
ao universo que ela acorde logo.

— Talvez, eu esteja acordada e adoraria ter um bom dia com você dentro de
mim — nossa! Obrigado, universo. Foi bem rápido!

Safada! Estava me provocando e eu preocupado em acordá-la.

Em um movimento rápido, viro-a e vou para cima dela, empurrando suas


pernas com os joelhos e deitando sobre seu corpo sem largar todo meu peso.
Meu pau fica encostado em sua intimidade, mas não faço nada.

— Humm, então você estava querendo torturar o seu namorado, né?

— presumo e sua risada é um obvio sim. — Safada!

Roço a glande pelos seus lábios e pressiono seu ponto sensível, fazendo-a
arfar e gemer meu nome.

Seguro meu membro pela base e espalho toda a umidade dela, lambuzando
sua boceta, é incrível como ela fica molhada, como se entrega a mim, o que
me deixa com mais tesão ainda. Começo a enfiar meu pau devagar, com
cuidado, porque provavelmente, ela deve estar dolorida da noite anterior.
Ela fecha os olhos, ergue um pouco o peito e eu enfio mais, até entrar todo;
permaneço parado, deixando que suas paredes abracem perfeitamente meu
pau. Subo minha mão da sua cintura até um dos seios e brinco com seu
mamilo, deixando-a ainda mais excitada.

Começo a me movimentar e ela me aperta. Eu paro os movimentos e gemo


xingando-a. Ela ri, se divertindo com meu prazer e desespero.

— Você gosta de me deixar assim, né? — estoco fundo entre uma palavra e
outra. Kath geme e fecha os olhos, forçando contra as minhas investidas,
dando mais pressão aos movimentos.

Meu pau já quer se aliviar e me controlo, tentando retardar esse momento.


Ela é gostosa demais, cada movimento que faz é uma ida rápida ao céu... ou
ao inferno.

Saio de dentro dela, que reclama na mesma hora, porém, sem perder tempo,
viro-a de costas e ergo seu quadril, deixando-a de quatro. Ela joga a bunda
para trás e rebola. Estalo um tapa em cada banda e ela geme alto, jogando o
cabelo para trás e me olhando por cima do ombro.

Abro seus lábios, passo a língua bem devagar por toda a extensão, paro no
seu clitóris e sugo várias e várias vezes, enquanto ela rebola na minha cara,
aproveitando a fricção que minha barba rala faz em sua boceta.

— Hummm, isso é muito bom! — sua voz fraqueja e eu mordisco seu


clitóris antes de me afastar, sentindo que Kath está quase gozando.

Meu pau está escorrendo de desejo, e a cena é um absurdo. A janela atrás da


cama e Kath de quatro é algo que eu jamais irei esquecer; poderia tatuar essa
cena em qualquer parte do meu corpo.

— Você assim seria um belíssimo quadro que eu colocaria em tamanho real


no meu quarto, na sala... — ela me olha por cima dos ombros, mordendo o
lábio inferior e pisca.

Seguro meu pau e novamente enfio nela, sentindo todo meu corpo
esquentar mais ainda pelo aperto que essa posição faz. Antes de começar os
movimentos, Kath rebola e força a bunda para trás, querendo aliviar seu
desejo e eu deixo que faça. Seguro em seu cabelo e puxo um pouco.

— Gostosa! — dou outro tapa na bunda e ela força mais para trás.

Perco o controle ao ouvir o gemido alto dela, seguro todo o seu cabelo e
estoco na mesma hora em que puxo. Ela geme e eu enfio mais fundo, sinto
minhas bolas se chocarem em seu corpo e meu pau lateja a cada estocada.

Kath se acaricia, tentando se equilibrar e eu a seguro com firmeza pela


cintura, enquanto continuo os movimentos. Meu suor corre por todo o meu
corpo e nem parece que fora da mansão está nevando. Na verdade, sinto
cada pedaço do meu corpo pegar fogo.

Aliso a bunda bonita na minha frente e me arrisco ao passar o dedo


delicadamente nessa área que ainda não conheci, dando uma leve pressão no
seu ânus, procurando saber com ela reage. Quando ela geme e empurra a
bunda para trás, meu mundo quase desaba e meu pau lateja tanto que chega a
doer minhas bolas.

Deixarei isso para outro dia.

— Goza comigo! — sua voz manhosa me invada e eu aumento a força e a


velocidade, gemendo junto com Kath. As paredes da sua boceta me apertam
e pouco depois, fico todo melado com seu gozo. Continuo os movimentos e
saio dela quando começo a gozar e despejo tudo entre a sua bunda, vendo o
líquido esbranquiçado escorrer por ali.

Me jogo ao lado dela na cama e a puxo para mim. Pego a minha camisa, que
estava próxima de mim, e limpo o excesso do meu gozo, que ainda escorre
dela.

— Bom dia, amor — dou um selinho e ela sorri, ainda com uma carinha
linda de quem acabou de acordar e ruborizada como quem acabou de transar.

— Eu teria dias melhores se todos os meus dias começassem assim!


Talvez, eu vá malhar na sua casa diariamente e deixe o aeróbico para fazer
com você. Que tal?

Faço carinho em suas costas e fecho os olhos, relaxado ao lado da minha


mulher.

Minha.

— Sua digital já está cadastrada, seu acesso está livre no condomínio e, eu


não me oporia nem um pouco em te ver e te ter todas as manhãs, ainda mais
assim...

Ela vira a cabeça e apoia o queixo em meu peito, me olhando com um


sorrisinho bobo no rosto.

— Não me dê tanto espaço, amor. Depois, vai ser difícil me tirar de lá.

Tiro os fios de cabelo do seu rosto e acaricio a sua bochecha.

— O que te faz achar que eu não amaria isso? Ter você todo dia comigo,
esse corpo que eu viciei se embolando com o meu... não consigo imaginar
algo melhor.

Ela me dá um beijinho e levanta, rebolando a sua bunda até o banheiro. Eu


nunca fiquei tão feliz em estar em um quarto com um banheiro como esse.
Assisto o banho de Kath e, como sempre, a safada me provoca.

Sou fraco quando o assunto é ela, então, quando menos percebo, estou
dentro dela novamente, com a água quente do chuveiro nos aquecendo ainda
mais.

— Bom dia, casal — Jennifer fala assim que entramos na sala, abraçados.
Vem em nossa direção e nos abraça. — Estou feliz por vocês! E

você, cuide bem do meu amigo, ele é uma pessoa única — diz para Kath,
que concorda e na mesma hora, mostra o anel para ela.

Ambas vão para um canto da sala fofocar sobre tudo que aconteceu e, eu vou
para a varanda, onde os meninos estão.

— Ora, ora... O coelho saiu da toca! — Barbie diz e eu pego a caneca de


café de sua mão antes que ele consiga beber e tomo-a para mim, ingerindo
calmamente enquanto me sento. — Folgado.

Bryan e Jacob me olham com uma cara engraçada, curiosos.

— Anda, o que vocês querem saber? — pergunto e coloco a caneca na mesa


que está a nossa frente.

— Já sabemos que deu tudo certo, e eu tive que ir dormir em outro

quarto, porque ficar ao lado do seu foi impossível — B resmunga, mas sei
que não está chateado de verdade. — Como está se sentindo com o seu
primeiro namoro?

Jacob me olha, atento.

— Está sendo incrível. É como se antes dela, me faltasse uma parte


importante e eu nunca havia percebido — suspiro e olho para dentro, vendo-
a rir com Jenni e gesticular loucamente. — Antes, eu não sabia o quanto eu
precisava de alguém; aliás, o quanto eu precisava dela. É muito louco isso?

Perceber agora que sempre quis uma pessoa mesmo sem ter conhecido
antes?

— Me embolo nos meus pensamentos.


Barbie me zoa e fica fazendo voz melosa, o que eu ignoro, porque ele é
assim.

— Isso é amor, cara. Existe esse e muitos outros sentimentos que você vai
descobrir no decorrer do relacionamento — Jacob, sempre muito sábio
pontua isso. — Já falou as três palavrinhas mágicas?

Eu te amo.

As três benditas palavras que nunca dirigi a nenhuma mulher, a não ser
Jenni, Ana e minha mãe.

B me fita, ansiando por minha resposta.

— Não, não falei. Eu sei que sou apaixonado por aquela mulher, mas amar?
Naturalmente, isso vai acontecer, mas não sei... Nunca vivi nada assim com
ninguém; estou tentando entender toda a confusão que está dentro da minha
cabeça. Todo meu corpo reage a ela, e nem estou falando da forma carnal. É
muita coisa para processar, é tudo novo.

— Uma hora, você vai notar o que a gente já consegue ver estampado em
você. É tudo questão de você aprender a identificar esses sentimentos novos.
Tudo o que você está passando é um universo novo, mesmo que você já seja
velho — às vezes, Barbie é abduzido e volta com um hospedeiro no corpo,
que é muito sensato.

— Não quis te pressionar, irmão. Só fiquei curioso!

— Tudo bem, Jacob. Só não tinha parado para pensar sobre isso. Eu sinto
muitas coisas por Kath, e sequer sabia que havia a possibilidade de uma
única pessoa dominar tanto os pensamentos de alguém como ela domina os
meus — arrumo a minha toca e esfrego as minhas mãos, notando que
esqueci as luvas. — Também, tem o fato de que não quero falar e espantá-la,
sabe?

Ela passou por tanta coisa ultimamente, não quero fazer nada que a assuste.

— Não tem essa, Noah. Não existe um tempo mínimo para falar ou
sentir tal coisa; apenas acontece no tempo de cada pessoa. E, aquela mulher
ali — aponta para dentro da casa —, está muito na sua, totalmente na sua.

Acho improvável que ela ficará chateada com atitudes assim. Muito pelo
contrário até, mas apenas vá divagar, como você achar que tem que ser.

Eles continuam falando sobre o assunto e eu só consigo admirá-la de longe,


me sentindo um sortudo por tudo o que vem acontecendo. Não é nenhum
segredo que estou de quatro por ela e que sinto muitas coisas. Só preciso
entender tudo que está consumindo o meu peito.

Como um imã, ela sente meu olhar e me encontra encarando-a. Sorri e dá


uma piscadinha. Meu coração bobo erra a batida.

— O que faremos hoje? Laura está vindo! — Barbie pergunta e mostra no


celular a foto de sua irmã com Emma. — E, está trazendo uma surpresa para
Kath.

— Ué, ela não começou a trabalhar há pouco tempo?

Jacob fica em total silêncio, encarando o nada atrás de mim.

— Houve um acidente na cozinha do restaurante, e eles vão ficar fechados


até quarta-feira! Coincidentemente, Laura terá que ir embora bem cedo na
quinta, e achou legal chamar Emma, porque sabia que Kath queria que ela
tivesse vindo. Sobre a faculdade, ela disse que não afetaria muito e que
poderia recuperar — aponta para Jacob com o queixo. — E, o bonitão aí não
se importou, por mais que sua carranca demonstre o contrário.

— Kath e Emma tem se aproximado muito, e essa amizade está fazendo bem
a ela. Fora que Emma parece ser uma boa menina.

Jacob bufa e coloca as mãos atrás da cabeça, se recostando no acento.

— A casa é enorme, tem bebida e comida para um batalhão e Kath já tinha


me falado que a garota não tem ninguém por aqui. Porque eu a proibiria de
vir? — ergue uma sobrancelha.
— Porque você não parece gostar dela, apenas por isso — falo e ele
descorda.

— De novo isso? Já falei que não tenho nada contra ela, só... sei lá!

Deixem essa merda para lá.

Bryan ri da cena toda e sai, falando que vai ver o que as meninas
programaram para hoje.

Assistimos de longe quando Jackson entra na sala e se aproxima de Jennifer,


que nem disfarça ao se afastar e sair do cômodo, abalada.

— Essa é a minha deixa para descobrir o que está rolando — me levanto e


Jacob concorda.

— Vou pegar o carro para buscar as meninas no aeroporto! — Barbie


também levanta e vai para a garagem.

Me encaminho para a sala e me jogo no sofá, ao lado dela, que conversa


animadamente com Jackson.

— Já viu seu Instagram, amor? — nego com a cabeça quando a escuto


perguntar. — Postei nossa foto, mas não te marquei porque não quero essas
assanhadas indo atrás de você — rio da sua preocupação.

— Nenhuma delas é você, então, não se preocupe.

— Não, não, não! Vocês não podem ser esse tipo de casal — Jack finge
ânsia de vômito e eu gargalho. Pego a almofada do meu lado e taco em seu
rosto.

— Deixa de ser invejoso! — disparo e olho para o corredor, onde Jennifer se


dirigiu. Jackson me encara e tenho certeza que ele sabe que quero falar sobre
isso.

— Pode falar na frente de Kath — seus ombros murcham enquanto fala. —


Não estamos mais juntos, se é o que quer saber.
Kathllen coloca a mão em cima da dele e faz um carinho, passando algum
tipo de conforto para ele.

— Vocês dois são meus amigos e me preocupo com ambos, mas no


momento, Jennifer é a prioridade por conta de tudo o que tem passado — ele
concorda e suspira. Depois, esfrega as têmporas com as pontas dos dedos.

— Se a sua preocupação é saber se fiz algo de errado, relaxa. Eu nem ao


menos sei o que aconteceu direito; ela simplesmente estava lá em casa
enquanto procurava outro lugar e, em um dia qualquer, não estava mais. Eu
fiquei preocupado, muito, porque sei que ela não está sabendo lidar com essa
nova fase da vida, então, fui atrás. Ela falou tanta coisa e não falou nada ao
mesmo tempo.

Eu e Kath notamos no mesmo instante que ele está abalado e nos


entreolhamos rapidamente.

— Já tentou falar com a Jennifer? Não a conheço muito bem, mas parece ser
uma pessoa sensata — Jack olha para Kath e bufa, confirmando que já
tentou e não teve sucesso.

— Eu só queria conversar com ela, sabe? Como dois adultos e dar um ponto
final. Não quero me sentir culpado em dar continuidade em minha vida por
ter deixado algo mal resolvido com uma pessoa que gosto — desabafa.

Sinto meu celular vibrar algumas vezes no bolso.

— Teremos longos dias aqui, cara. Em algum momento, vocês irão

conversar. Tenho certeza que deve ter um motivo plausível para ela estar
agindo dessa maneira.

Ele dá de ombros e depois, abre um sorriso discreto.

— Agora, vamos ao que interessa! Que horas vamos esquiar? Sei que tem
uma mocinha aqui muito ansiosa — rio e olho para Kath, que parece uma
criança animada.
— Como pelo menos um de nós pensou em tudo e somos muitos, já informei
que iremos em 1 hora para lá! — Jacob aparece do nada e nos informa. —
Ruth pegou roupas e equipamentos para todos nós e mais umas cem pessoas,
então, fiquem à vontade para escolher. Está tudo na garagem!

Kathllen praticamente sai correndo e puxa Jacob com ela, que vai sem muita
vontade.

— Ela realmente ganhou todo mundo, né? — concordo com Jackson.

— Vocês deram muita sorte, ela é uma das melhores pessoas que eu
conheço.

Sempre foi uma boa amiga.

— Ela é sim.

— Sabe o que eu acho engraçado? O fato de vocês dois não terem se


conhecido antes. Tanto você quanto ela já estiveram na Lotus no mesmo dia
várias vezes — ergo a sobrancelha, curioso.

— Sério? Porque se ela tivesse passado por mim, eu com certeza a notaria.

Ele sorri e sei que quer me zoar, mas se contém.

— E minhas festas... Acho que você sempre ia embora cedo e ela chegava
quando tudo já estava uma loucura. Ethan falava que era importante chegar
depois de todos para se sobressaírem, chamarem atenção, coisas que só o
tipo estrelinha gosta — revira os olhos e eu o acompanho.

— Sabe que eu ia só para fazer uma média, né? — pisco e ele arregala os
olhos

— Jura? Não sabia. Agora estou magoado — coloca a mão no peito e faz um
biquinho ridículo. — Claro que eu sabia, e obrigado por isso. Sempre foi
importante te ter por perto, mesmo que fosse notável que você não gostava,
ainda mais quando alguém reconhecia você.

— E, eu que sou meloso, né?! — ele cai na gargalhada.


— Ansioso para ver vossa senhoria nos eventos com a Ibrahim! —

joga esse fato no ar e sai, provavelmente, indo para a garagem também.

Aproveito que estou sozinho e pego o meu celular.

Mamãe: Meu amor, infelizmente não poderemos ir. Eu e Joana estamos

resolvendo algo que não vou falar porque decidimos fazer sozinhas e, sei
que nem você e nem Kath permitiriam tal coisa.

Mamãe: Mas, eu amo todos vocês e meu coração está inteirinho dentro dessa
casa!

Mamãe: Opa, tem uma parte dele aqui do meu lado reclamando do que eu
falei.

Rio. Meus pais são eternos adolescentes apaixonados.

Mamãe: Juízo e use camisinha! Quero netos, mas aproveite sua amada antes.

Ok, minha mãe é muito emocionada. Respondo-a e prometo que iremos nos
falar todos os dias.

Entro no Instagram e faço o que prometi a mim hoje mais cedo que não
faria: olho os comentários da última foto que Kath postou, que é a que
tiramos ontem.

A foto ficou linda e ela escreveu na legenda “Meu ponto de paz. A luz que
eu não sabia que precisava até encontrá-la.” As pessoas foram à loucura,
querendo saber quem sou e outras já me reconhecendo como o advogado das
estrelas.

Na grande maioria, os comentários são positivos e fico feliz, porque sei que
para ela, é importante a aceitação do que faz da vida. Porém, um comentário
ou outro me incomoda, é inevitável.

Eu não sou bobo e já passei por muita coisa nessa minha vida. Era óbvio que
me depararia com alguns comentários maldosos em relação a minha
aparência e cor. Não tenho nenhum problema com ambas as coisas; na
verdade, tenho orgulho de quem sou, mas não é todo dia que temos energia e
força para passar por cima de preconceitos e seguir normalmente.

Por sorte, estou feliz demais para que me abale com esse tipo de gente.

Comento alguns corações na foto e, em segundos já tem gente curtindo e me


mandando solicitação de amizade. Manterei meu Instagram fechado e
ignorarei as solicitações de amizade, porque não tenho nada para mostrar a
esse povo.

Espero que tudo se mantenha assim, tranquilo. Sei que no início é comum ter
todo esse alvoroço e curiosidade.

— Amor, como estou? — Kathllen aparece na minha frente e deixo o celular


de lado para admirá-la. — Ficou bom?

Seu conjunto é inteiro branco com alguns detalhes em preto, e a vestiu muito
bem. Bem demais para a minha saúde mental.

Tento puxá-la pela cintura, mas ela se afasta, com um sorriso sacana no
rosto.

— Prometo deixar você tirar cada peça da minha roupa, mas só depois

— pontua.

Levanto as mãos, me rendendo.

— Você está linda, se quer saber. Entretanto, sabe que ficaria linda de
qualquer jeito, né? — ela senta em minha coxa e me abraça de lado, ao
mesmo tempo em que ajeita o rabo de cavalo ne cabelo, recém feito. —

Inclusive, amei nossa foto e a legenda — roubo um selinho e ela sorri.

— Só fui sincera — levanta um pouco meu rosto e arruma a minha toca. —


Separei dois conjuntos que acho que vão ficar bons em você, mas foi só pra
adiantar, se não...
— Obrigado, amor. Tenho certeza que um deles ficará ótimo —

corto-a. Kathllen às vezes fica receosa ao fazer algo para me agradar e, isso
me faz refletir o porquê de tal coisa. Quero que ela se sinta à vontade em
qualquer coisa que diga a respeito de nós dois.

Ela sorri, satisfeita.

Nossa atenção se direciona a porta quando ouvimos uma movimentação por


ali.

— Não acredito! — Kath grita e pula do meu colo. Corre em direção a Laura
e Emma, que acabaram de entrar, e abraça as duas ao mesmo tempo.

Começa uma confusão de mulheres pulando, cabelos voando e, eu saio de


mansinho junto com Barbie, que pisa com cuidado, como se elas fossem
notá-lo e puxá-lo para aquela bagunça.

33

Laura volta para a piscina equilibrando quatro taças com vinho e eu a ajudo
assim que se abaixa para nos entregar.

— Eu juro que eu viveria nessa casa para sempre, não sairia nunca —

Emma diz e reparo suas bochechas rosadas. Todas nós já bebemos demais e
estamos um tanto quanto alegres, se assim posso dizer.

Nossa tarde foi maravilhosa. Todos esquiamos e apenas Barbie e Jacob


tiveram excelência no esporte. Noah me ajudou tanto que mal conseguiu
esquiar, mas não reclamou. Ele também disse que poderemos voltar lá outro
dia dessa semana e, com certeza, quero tentar de novo.
As meninas também não tinham muito jeito para a coisa, igual a mim.

Jennifer e Jackson se alfinetaram quando ele tentou ajudá-la; após isso, o


clima ficou estranho, então decidimos dar por finalizada a nossa aventura e
fomos almoçar em um restaurante lindo, que ficava dentro de uma das
montanhas. Eu e as meninas tiramos tantas fotos do dia de hoje, que teremos
recordações de cada momento vivido.

Depois do almoço, voltamos e agora estamos na piscina aquecida, que fica


numa área coberta da casa. Os meninos nos deixaram aqui e foram jogar
sinuca.

— Aqui realmente é perfeito. Lembro-me da primeira vez que vim.

Fiquei encantada — seguro a taça de Laura enquanto a mesma entra na


piscina. — Obrigada.

Dou um gole na minha bebida e encosto na parede quentinha.

— Eu queria ir para alguma balada, mas acho que aqui não tem, né?

Não sei como será mais uma noite dormindo tão próxima do Jackson —

Jennifer solta a frase do nada e dá de ombros. — Nem sei mais se foi uma
boa ideia vir.

Todas nos entreolhamos e ninguém cria coragem para perguntar sobre o que
houve mais cedo.

— Podem perguntar, vai.

— Porque todos eles são tão lindos? Sério, T.O.D.O.S! —

gargalhamos com o comentário de Emma. — O que foi?! Ela mandou


perguntar.

Rio tanto que minha barriga chega doer.

— Amiga, ela estava falando sobre o acontecido da tarde entre ela e Jack.
Emma arregala os olhos e ri do seu deslize.

— Eu olho para esses homens há anos e não consigo entender como um


grupo pode ser tão poderoso assim, sabe? Parecem esses homens que só
vemos em filmes — Laura se vira e olha na direção para onde os meninos
estão. A área da piscina se divide com uma sala de jogos, tendo apenas uma
parede de vidro entre elas e conseguimos vê-los nitidamente, assim como
eles a nós. — Nunca tinha reparado o quanto Bryan é bonito, estava sempre
prestando atenção no outro — na mesma hora que fala, ela se vira pra mim,
sem graça.

Coloco a mão na boca para não rir dela, que baba pelo meu cunhado e por
ter ficado sem graça.

— Tudo bem, Laura. Já estamos bem resolvidas quanto a isso — ela respira
aliviada e me dá um sorriso quase infantil. — Bem, eu prefiro o Noah, mas
não dá para negar que Bryan é lindo. Na verdade, todos eles são.

— Jacob só vai ficando mais bonito com a idade — quase quebro meu
pescoço ao virar rápido para Emma depois de ouvi-la e, parece que só eu
prestei atenção. Ela vira a taça que estava cheia, coloca na borda e vai nadar,
na maior cara de pau, fingindo que não falou o que acabei de ouvir.

Não é a primeira vez que ela deixa claro que já o conhece, estou apenas
esperando, com muita ansiedade, o momento que ela vai querer me contar
sobre isso.

— É normal eu querer matar e sentar no Jackson ao mesmo tempo?

— Jenni segura forte em meu rosto e parece que ela vai me beijar de tão
próximo que está. — Aquilo é o diabo em pessoa. Ódio desse gostoso!

Laura ri tão alto que chama a atenção deles, que nos olham de onde estão.
Acho o olhar de Noah sobre mim e lhe mando um beijinho. Ele sorri e pisca,
cruzando os braços e voltando a atenção para os amigos. Barbie encara a
irmã por mais tempo que o necessário, e reparo que não é a primeira vez que
ele fez isso desde que ela chegou.
— Tudo bem, Kath. Depois você se acostuma com a preocupação dele. —
Me mostra a taça e concluo que é por causa da bebida. — Eu já tive

uma recaída a anos atrás, e ele fica com medo do álcool se tornar um gatilho,
mas não é, o meu lance era outro. As vezes me irrito com o excesso de
preocupação, mas no fundo o entendo.

— Eu sinto muito por tudo, Laura. Deve ter sido muito ruim de várias
formas, para todos vocês.

Ela concorda, respira fundo e depois sorri, querendo deixar no passado tudo
isso e eu sorrio de volta.

— Jenni, sério, o que rolou? — ela bufa e encara a parede atrás de mim,
pensativa. Resolvo mudar de assunto e voltar o foco para Jennifer.

Emma volta e evita me encarar; por hora, vou deixar esse assunto quieto,
porém, não esquecerei o que ela falou tão cedo.

— Acontece que eu e Jackson nos aproximamos em um momento muito


difícil para mim, sabe? Eu perdi minha mãe e minha vida mudou
completamente. Eu vivia uma agitação total, não tinha tempo para nada e, do
nada, me vi sem essas obrigações e sem a minha mãe — respira fundo,
tomando um tempo para concluir. — Calhou de ele se aproximar quando ela
faleceu, me oferecendo a sua casa para eu ficar por um tempo. Aceitei,
porque estava muito desnorteada e, isso foi um erro.

Laura coloca a taça na mão de Jenni, incentivando-a a beber e a tomar


coragem para continuar. Ela vira o líquido que estava ali e sei que amanhã
terá competição de quem ficará com a maior ressaca.

— O problema nisso tudo é que aquele homem é incrível, muito mesmo. Ele
me tratou muito bem, cuidou de mim, levava comida quentinha na cama
quando eu me recusava a comer — esfrega o rosto e olha pra cima, confusa.
— No final, eu já nem sabia o que estava sentindo, o que era luto, o que
estávamos vivendo. Achei que era hora de ir embora quando ele deixou de ir
para casa porque eu estava lá.
Laura faz uma careta e brinca com os fios de cabelo que estão molhados
enquanto Emma fica com cara de paisagem, sem saber o que falar.

— Ele te falou que não estava voltando por sua causa ou você deduziu isso
sozinha? — questiono e ela reflete um pouco, mas não fala nada. — Não
estou defendendo ele, não me entenda mal, só que talvez uma conversa
esclareça as coisas entre ambos. Você não acha que ele também pode estar
agoniado igual você? Uma conversa seria ótimo para, pelo menos,
conseguirem coexistirem em um mesmo ambiente.

Jennifer olha para os meninos e se prepara para sair da piscina.

— Eu não sou a melhor pessoa com relacionamentos, porque nunca

estive em um, mas tenho certeza que quando sóbria, a conversa será mais
significativa — admiro a maturidade de Emma e concordo. Jennifer se dá
por vencida e prende o cabelo em um nó que será difícil de pentear depois.

Laura fica me olhando, como quem quer falar algo.

— O que foi?

— Humm... Eu falei com Barbie mais cedo sobre uma ideia e, ele disse que
acredita que você toparia — ela força o corpo para fora da piscina só o
suficiente para pegar seu celular, vem ao meu lado e me mostra várias fotos
aleatórias, todas lindas. — Muita gente tem me procurado depois das fotos
do orfanato, aí pensei se existe alguma possibilidade de eu fazer um ensaio
contigo — seu olhar demonstra que está sem graça por pedir isso e tenho
certeza que a coragem veio do álcool. — Eu não quero abusar da sua boa
vontade, podemos conversar depois sobre valores.

— Laura, é uma ótima ideia. Eu não tenho mais quem faça as minhas fotos
profissionais para o Instagram. Podemos fazer esse primeiro ensaio, para ver
se gostamos, e depois conversamos sobre algo fixo. O que acha?

De fato, estava postergando para arrumar outro fotografo, já que o que


trabalhava comigo achou interessante passar algumas informações minhas
para Alex, enquanto eu acreditava que ele estava realmente do meu lado na
história. Dessa forma, também me aproximo de Laura, o que fará bem para
nós duas.

Ela me abraça e seu celular quase cai, mas eu seguro no susto.

— Essa é a melhor ideia que já ouvi na vida — fala exageradamente por


conta do álcool, porém, eu concordo. — Aliás, a segunda. Perde só para
milkshake! Essa sim foi a melhor ideia do mundo.

Entramos no assunto de fotos e acabou que ela chamou Jennifer e Emma


para fazerem o ensaio também. Tenho certeza que vai ficar incrível, todas
ficamos animadíssimas e será ótimo para o portifólio de Laura.

Depois de ficarmos com a pele enrugada e os cabelos super embaraçados,


decidimos que estava na hora de sair da piscina. Cada uma foi para seu
quarto se arrumar para a noite. O jantar foi ótimo, dispensamos Ruth e todo
mundo ajudou em algo; no final, até que saiu um banquete muito bom.

Mas talvez, só talvez, Barbie tenha feito quase tudo e nós ajudamos com
coisas menos significativas em relação ao resultado final.

Agora, estou deitada no colo de Noah, com as pernas para cima do encosto
do sofá; o resto do pessoal está espalhado. Barbie já caiu em um sono

profundo e Jennifer está devorando um brigadeiro junto com Jacob, que toda
hora flagro olhando para Emma, que sequer disfarça mais o quanto fica
incomodada ao estar tão próxima deles.

O filme acabou e entramos em uma discussão sobre ver outro, porém, no


final todo mundo desistiu e só Bryan e Laura ficaram na sala para ver a
continuação do anterior. Que por sinal, foi horrível.

— Sua mãe falou com você? — Noah pergunta assim que entramos em
nosso quarto e tranca a porta. Aumento o aquecedor e começo a me despir.

— Falei. As duas estão em um mistério puro. Quero só ver o que vão


aprontar.
Tiro a minha roupa do chão quando noto que Noah separou e dobrou as dele
com perfeição, porém, com perfeição é demais para mim, então, dobro de
qualquer jeito e coloco em uma gaveta qualquer.

— Não me incomodaria se deixasse as suas no chão — ele fala isso quando


percebe que só guardei por conta dele, mas a sua cara diz ao contrário e, eu
começo a rir. — Ok, talvez quando você se distraísse, eu pegasse e dobrasse
tudo, mas não iria reclamar por não ter feito o mesmo que eu —

fofo demais.

— Eu não sou bagunceira... ou pelo menos, não sou muito — me defendo.


— E, você é organizado demais. Será que vai aguentar essa semana na
minha confusão? — brinco.

Sua mão escorrega pelo meu cabelo e joga todo para trás, deixando meus
ombros e peito livres. Abaixa a cabeça e beija toda área dos ombros. Eu me
derreto com seu carinho tão delicado.

— Eu aguento essa semana, esse ano, essa vida. Não me importo de guardar
sua bagunça desde que eu esteja com você.

Ouviram esse barulho? Foi o meu coração em festa ouvindo esse homem.

— Eu vou lembrar disso daqui a alguns anos e você reclamar quando chegar
do trabalho e ver alguns sapatos espalhados pelo nosso quarto — rio, mas ele
me encara, curioso. Na mesma hora, me dou conta do que eu disse e fico
tímida, mas a possibilidade de isso acontecer é algo que me interessa muito.

Ele passa os dedos pela minha cintura, involuntariamente, e abre um sorriso


que me deixa mole.

— Não me iluda, amor. Já falei isso algumas vezes!

— Te iludir com a minha bagunça? — argumento.

Ele passa o dedo entre as dobras da minha testa, que estou franzindo
fortemente, e me dá um selinho.
— Não me iluda com essa possibilidade de chegar em casa e encontrar você
lá, me esperando depois de um dia agitadíssimo para nós dois.

Mais uma vez, me pego fantasiando um futuro em que me torno uma Cooper.

Já falei que sou emocionada, né? E, ele alimenta minhas fantasias.

— É um ótimo planejamento para um futuro que, com certeza, eu quero para


mim — me afasto e vou até o ofurô. Ligo e coloco a água para esquentar.
Noah se escora na madeira que cerca a banheira e fica me olhando.

— Espero que seja um futuro próximo. Não sou mais um adolescente, amor.
Em breve, os cabelos brancos irão tomar minha cabeça, além da questão de
te querer comigo o tempo todo.

Tiro o sutiã e depois a calcinha, ficando totalmente nua em sua frente, que
me devora com os olhos e lambe os lábios ao me fitar de cima a baixo.

Subo as escadas e entro, sendo recebida com a água bem quente.

— Você me surpreende. Para um homem que nunca namorou, não imaginei


que teria tanta vontade de levar nosso recente namoro para algo ainda mais
sério. Entretanto, eu gosto, só para deixar claro — puxo o cabelo todo pra
cima e o prendo em um coque. — Aliás, agora eu quero muito que você
tenha cabelos grisalhos; isso seria um tesão puro.

Noah tira o resto da sua roupa e entra.

— Não se empolgue tanto, não será tão fácil assim colocar uma aliança em
meu dedo — me puxa e me encaixo no meio das suas coxas, encostando as
costas em seu peito. Sinto o movimento que seu corpo faz enquanto ri. —
Mas, ainda assim, não deixo de pensar em como seria fantástico acordar com
você igual estamos acordando aqui. Juntos e pelados.

Suas mãos começam a pressionar meu ombro em uma massagem deliciosa.


Fecho os olhos e jogo a cabeça um pouco para frente.

— Imagine só, amor: você chegar em casa cansada com sua vida de
celebridade e seu namorado te esperando, a sua disposição para fazer
massagem, carinho e um sexo incrível.

Rio sem força porque a massagem tira a minha concentração.

— Isso... Isso seria perfeito — gemo — Nossa, você é bom em tudo.

Uma mão dele desce pela minha coluna com um pouco de força e meu corpo
relaxa ainda mais; a outra está em meu pescoço, com os dedos

pressionando toda a extensão dele.

— Fiquei sabendo que vai trabalhar com a Laura. Ela está toda empolgada
— murmuro qualquer coisa concordando. — Até hoje não acredito em como
foi fácil entre vocês duas. Estava com medo de verdade.

— Não gosto de viver em pé de guerra com ninguém, muito menos com


mulheres. Eu jamais arrumaria problema com ela ou implicaria atoa.

Laura me trata bem e, nunca vi um olhar maldoso dela para você. Mesmo se
visse, o que importa é como seria a sua reação, pois é você quem está
comigo e não ela. Minha preocupação maior nisso tudo é que ela é irmã do
Barbie e, seria horrível não me dar bem com alguém tão importante para ele.

Ele beija minhas costas, meu pescoço e termina na orelha. Meu corpo arrepia
e meus seios pesam com a excitação que estar crescendo em mim.

— Você é muito madura, ainda me surpreendo demais com suas falas e


atitudes.
— Acostume-se, meu bem. Fui muito bem criada e, desde cedo já lidava
com problemas de adulto, então, dificilmente arrumarei problemas sem
necessidade. Veja como minha vida estava um caos sem que eu tenha feito
nada para isso.

— Mas aí, um homem bonito, másculo e viril... — roça seu pau duro em
minha bunda quando fala a última palavra — apareceu na sua vida e mudou
tudo — ri baixinho.

— Esqueceu de falar do ego dele também, que é tão enorme como o que está
me cutucando agora — isso o atiça ainda mais e rebolo na sua ereção.

— Enorme, é? Deixa eu te mostrar o que posso fazer com ele então.

Esses dias tem sido incríveis aqui em Aspen. Minha relação com

todos está ainda mais fluida. inclusive com B, que era o que eu menos tinha
contato, mesmo que eu perceba sua culpa pelas duas exs.

O aniversário de Jacob não teve uma comemoração comum com bolo e


parabéns. Ele definitivamente não gosta e, ninguém se atreveu a perguntar o
porquê. Entretanto, é claro que os meninos sabem, porém respeitamos a
privacidade entre eles. Assim, naquela noite fomos em um bar muito
maneiro que tinha vários jogos.

Jacob ficou muito bêbado, o que não é comum, e ouvi ele falando algumas
vezes o nome “Sophie”. A curiosidade me consumiu, mas não ia me
aproveitar do estado dele para tirar alguma informação.

Mas eu queria saber, nossa, eu queria muito.

Emma ficou estranha quando Jacob ficou assim e se afastou, se fechando em


um casulo e permanecendo em um canto sozinha, com a desculpa que estava
com muita dor de cabeça. Estranhei e anotei mais isso no meu bloco mental
para falar com ela depois. Vi várias vezes que a versão de Jacob bêbado
sorria para ela o tempo todo.

Laura e Bryan estavam próximos e brincaram bastante um com o outro por


esses dias. Pensei ter visto uma faísca de algo ali, mas B disse que não tinha
nada a ver, que apenas nunca se aproximou muito dela porque ela sempre
estava longe e que agora estavam aproveitando para se conhecer melhor, já
que todos somos uma família estranha e enorme. Faz sentido e acho que
estou vendo coisas onde não têm, porque estou vivendo um sonho com
Noah.

Todos os dias aqui tiveram seu ponto alto, e acho que nunca tinha transado
tanto na vida como essa semana. Nós dois temos uma química surreal e,
muitas vezes tivemos que nos segurar para não abandonar todos e ir
correndo namorar mais e mais.

Noah é tão quente; ao mesmo tempo que é selvagem, sempre deposita uma
dose de carinho em tudo que faz comigo e para mim.

É apaixonante.

Eu e as meninas também tivemos nossos momentos sozinhas e foi ótimo,


porque assim nos conhecemos mais ainda. Jennifer é uma mulher incrível e,
além de linda, tem sonhos que havia deixado para depois por conta de sua
mãe. Laura me contou como foi passar todos esses anos na reabilitação e eu
chorei várias vezes. Ela e Emma são novinhas, mas ambas são tão guerreiras
que é impossível não sentir orgulho.

Hoje é a nossa última noite aqui. Decidimos ir todos juntos na quarta-

feira, porque apareceu um cliente muito bom para Noah e os meninos não
quiseram ficar sem ele aqui.

O bar escolhido para hoje foi um que eu e as meninas vimos mais cedo,
quando viemos no centro fazer compras, e achamos lindíssimo. Para nossa
surpresa, é um dos bares mais badalados daqui e consegui uma mesa ótima
porque me reconheceram.

— Bônus de ser famosa — pisco para todos que estão atrás de mim.

Seguimos com o garçom para a nossa mesa.

O lugar não é uma balada, mas tem uma música animada e bastante gente
jovem. O ambiente é bem rústico e tem uma iluminação baixa, fazendo com
que as pessoas fiquem mais à vontade.

— Muito bonito! — comenta Jackson, que é sempre muito observador.

Todos nos acomodamos e pedimos nossas bebidas, que descobrimos que


será de graça nessa primeira rodada. Cortesia.

— Kath, você está intimada a sair comigo todo fim de semana —

Barbie fala animado. Já começa por procurar quem será a vítima do dia.

— Se toca, cara. Ela namora agora! — Noah resmunga.

— Que possessivo! — implica e recebe um dedo do meio como resposta.

Nossas bebidas chegam em tempo recorde e começamos a falar várias coisas


ao mesmo tempo; fica uma confusão para quem vê de fora.

— Possa falar com você em particular? — Barbie chama a minha atenção


quando segura meu braço. Eu concordo, peço licença e me levanto.

Vamos até o bar e nos sentamos lá, lado a lado.

— Estou curiosa! O que foi? Vai ser pai? — brinco e ele faz sinal da cruz
várias vezes, o que é hilário.

— Não espere sobrinhos de mim — ele tenta falar como brincadeira, mas
sua cara o denuncia. — Lembra da nossa conversa na segunda?

Faço que sim com a cabeça.

Ele está se referindo ao meu pedido de ajuda em relação a Ethan. O

que Noah falou fazia muito sentido. Já que eu tenho alguém de confiança
para cuidar das minhas coisas, não tem o porquê procurar por outro, e Barbie
é alguém que ganhou totalmente a minha confiança.

Tive uma conversa franca com tudo o que aconteceu, e ele topou de imediato
me ajudar, prometendo ver tudo o mais rápido possível assim que
voltássemos para NY. Barbie ficou com tanto ódio, que quase ficou roxo.

— Acontece que tinha algumas pessoas me devendo uns favores e, como


você já tinha acesso as filmagens daquele dia, consegui resolver para você
— ele pega o celular e abre um e-mail que foi direcionado a mim. —

Esses são os documentos que proíbem que aquele babaca se aproxime, fale
ou até mesmo pense em você.

Pego o celular da sua mão e leio as letras grandes, em negrito.

MEDIDA PROTETIVA.

— Como você pediu para que não levasse isso a outro nível caso ele não
arrumasse problema, esse foi o melhor que consegui — leio os tópicos
principais, ainda sem acreditar. — Por mim, aquele babaca deveria ser preso,
mas entendo o que você quis dizer. Ele é famoso, influente e muito rico.

Você passaria por uma exposição ainda mais pessoal e, no final, ele ainda
poderia sair impune.

Eu sei que o que ele fez foi muito grave, mas eu não aguento mais ter tanto
da minha vida pessoal exposta sem a minha permissão. Óbvio, sei que teria
muitas pessoas que duvidariam de mim, porque ele é amado mundialmente.
Mas infelizmente não tive força suficiente para passar por cima dessas coisas
e expor mais esse momento ruim da minha vida.

Entretanto, isso não significa que o mundo não saberá que ele não é esse
homem maravilhoso como acham. Eu só não quero ter que ficar na linha de
frente para que ele talvez pague pelos seus erros.

— Não poderia estar melhor, Barbie. Você fez tudo exatamente como eu
queria! — abraço meu amigo apertado, fecho os olhos e agradeço ao
universo as mudanças que estão acontecendo em minha vida.

— Você agora tem o melhor advogado de NY. Porém, não conta para Noah,
porque ele acha que é melhor que eu — dá de ombros e termina a sua
bebida, depositando o copo no mármore a nossa frente. Uma mulher bonita,
que está atendendo aqui no bar, pega o copo e oferece mais um. Ele aceita.
— Você não tem noção do quanto isso é importante para mim, muito
mesmo. — devolvo o celular e olho ao redor. Algumas pessoas olham em
minha direção e sorrio para aquelas que acenam para mim. — Quanto que eu
te devo por esse primeiro serviço?

Ele cruza os braços e gira no banco, encostando as costas no mármore e


ficando de frente para a movimentação do bar.

— Você já me paga ao fazer meu amigo feliz! Nunca o vi assim, parece


outro homem.

Também me viro e fico olhando a interação de todos os nossos

amigos juntos.

— É surreal essa mudança na minha vida. Parece que todos vocês deveriam
realmente ser meus amigos, pois tudo fluiu tão fácil — balanço as pernas no
ritmo da música. — Talvez, tenha valido a pena passar por esse pequeno
inferno para ter vocês comigo — rio. — É muito loucura falar isso?

Ele discorda, me encarando com curiosidade.

— Você foi uma ótima surpresa para todos. Se eu tinha dúvidas que era uma
boa pessoa, deixei de ter quando Jacob quis se aproximar. Ele é muito bom
em enxergar a verdade face em cada pessoa; seria um belo advogado.

Olho para Jacob, que parece nos encarar pálido, como se tivesse visto um
fantasma. Fito ele quando o mesmo vem na nossa direção. Ele para ao meu
lado, tremendo horrores.

Ouço quando ele chama pela menina que nos atendeu agora pouco, mas ela
simplesmente sumiu, não está mais lá.

Coloco a mão em seu braço, na tentativa de chamar sua atenção e ele me


olha, piscando várias vezes.

— Está tudo bem, cara? — Barbie está de pé, ao lado dele e olhando para
onde ele olhava.
— É... sim, está tudo bem sim! Eu estou ficando maluco e vendo coisas, não
esquentem — como num passe de mágica, ele volta a sua postura de antes
como se essa cena estranha não tivesse acontecido, e se dirige para a mesa
novamente.

— Você também viu isso? — concordo, ainda sem entender nada.

Barbie coloca as mãos nos bolsos da calça e tira algo de um deles.

— Já ia esquecendo... — me entrega um envelope, que parece ser uma carta


e eu seguro. — Única coisa que o otário pediu foi que pudesse te escrever
uma carta e te dar uma última coisa, além disso.

— E, o que foi?

— A casa em que vocês iriam morar. Os documentos já estão todos comigo


e isso já foi resolvido. Você pode ou não ficar, isso é com você —

agora sou eu quem pareço ter visto um fantasma. — Eu sei que é muita
informação, mas eu não iria aguentar mais não te contar essas coisas.

Continuo em choque, até que finalmente, a ficha cai.

A casa que eu tanto me esforcei para ter, finalmente era minha.

Porém, será que eu realmente quero ter algo que me ligue a ele?

33

— Nossa, está perfeito! — olho em volta, observando cada detalhe e a cada


minuto, gosto mais. — Eu não imaginava mesmo que era isso que vocês
estavam fazendo.
Enquanto viajávamos, minha mãe e Liz estavam fazendo algo juntas em
segredo, porque não queriam ajuda de ninguém. Nesse momento, acabei de
descobrir que elas abriram juntas uma sociedade, em que minha mãe é
paisagista e Liz é decoradora de interiores.

Falando na viagem, o retorno correu tudo bem. Ficamos todos com pena de
dar fim a nossa pequena viagem, que de pequena não teve nada, mas era
necessário voltarmos para a vida real porque as responsabilidades estavam
nos chamando.

— Você ficou chateada pelo segredo? É que eu não queria falar, porque sei
que iria tentar arcar financeiramente com a minha parte — minha mãe fala
toda sem graça e eu a abraço forte.

— Sua mãe é muito teimosa, Kath. Falei para ela que não precisava se
sacrificar para iniciarmos — faz uns gestos com a mão, frustrada. — Vai ser
um sucesso, eu tenho certeza. Não teremos problema com dinheiro! E se
tivermos também, tudo bem. Conseguimos um caixa bom.

Eu entendo a minha mãe. Sei que ela não quer se sentir inferior por não
ajudar da mesma maneira, por mais que Liz jamais fosse uma pessoa que
jogaria isso na cara dela. Aliás, ela guarda há anos uma boa parte do dinheiro
que eu lhe enviava.

— Hoje fomos lá na C&B fazer toda a parte burocrática com os meninos.


Barbie e Noah vão cuidar de toda a questão jurídica para nós e, pensamos
em pedir sua ajuda para a inauguração. Que tal? Com a sua influência, sei
que iremos conseguir uma boa visibilidade e, talvez, até alguns clientes.

— CLARO QUE SIM! Pensei que nunca pediriam, poxa — rimos e damos
um abraço triplo.

As duas se sentam para ajustar algumas coisas e, de longe, observo minha


mãe e como ela está outra mulher. Se afastar do meu pai foi a melhor coisa
que ela poderia ter feito. Pouco tempo desde que tomou essa decisão, sua
vida já está melhor, mais fluida e leve. Ela voltou a ser a mãe que me lembro
quando era criança.

Feliz.
Ela voltou a ser totalmente feliz.

E agora, vai finalmente poder caminhar com seus próprios pés, sem
depender de ninguém, muito menos ter alguém ao seu lado para a colocar
para baixo.

Meu telefone toca no meu bolso e me afasto um pouco para atender.

— Oi, linda. Como vai?

— Oi, Pietro. Pode falar.

— Foi difícil entrar em contato com você essa semana, querida.

Porém, fico feliz que tenha viajado com o seu novo amor.

Afasto o telefone do rosto e respiro fundo algumas vezes.

— V ocê quer qual informação? Desembucha.

— Na verdade, só preciso saber se é verdade o documento que proibi Ethan


se aproximar de você. Só isso que te peço.

Entro em uma conversa longa com ele e tenho muito cuidado com o que
falo, mas não deixo de ser sincera e conto praticamente todos os detalhes.

— Uau, querida. Que plot! Pode deixar que serei muito carinhoso na hora
de passar as coisas para a internet. Beijinho s.

No final, acaba que será mais fácil assim, pois não precisarei colocar a
minha cara nas redes sociais para explicar melhor para os fãs tudo que
aconteceu conosco. E, de qualquer maneira, darei uma entrevista essa
semana em um programa ao vivo; lá sim, eu contarei ao mundo toda a
questão com Alex e Ethan.

O mundo vai saber o que de fato aconteceu e, por mais que eles não
mereçam, não tenho a intenção de difamá-los ou algo do tipo. Contarei de
uma maneira que não queime mais ainda a imagem deles, apenas vou expor
o que rolou e amenizar alguns fatos.
Entretanto, com todos os eventos que se passaram, o que mais me preocupa
são as perguntas que me farão sobre Noah. Preciso conversar com ele sobre
isso.

— Talvez, eu seja a primeira cliente de vocês — volto para onde elas estão e
ambas me encaram. — Meu ex me devolveu a casa que compramos e

nunca chegamos a usar. Ela está toda decorada, mas eu, definitivamente, não
quero mantê-la do mesmo jeito.

Minha mãe me olha chocada e Liz apenas movimenta a cabeça.

— Pretende se mudar? — Liz se levanta e vai até a sua mesa.

— Não. Quer dizer, não sei! Talvez eu venda, como farei com as outras que
consegui de volta. Não quero nada que me ligue ao meu passado com
aqueles dois — isso é uma verdade, mas a casa que seria minha e de Ethan
foi toda planejada por mim e me dá um aperto no peito ao pensar em me
desfazer dela.

Minha mãe faz um carinho em meu braço e me dá um beijo no rosto.

Ela sabe o quanto sou apegada a casa.

— Porque não fazemos uma coisa de cada vez? Podemos ir lá e ver o que
você quer mudar, e depois que ela estiver pronta, você decide o que fazer

— Liz é sempre tão sensata que chega a me assustar. — Poderíamos ir com o


Noah; acho que ele gostaria de conhecer... se você não se incomodar.

Rio discretamente, porque minha sogra é uma casamenteira e entendo o que


ela tem em mente ao falar isso, mas não achei uma ideia ruim.

Noah está em minha vida e quero que ele participe de tudo, nem que seja
apenas para ficar em meu lado e me apoiar nas minhas decisões.

— Eu gostei dessa ideia — olho no relógio, pego o telefone e, na mesma


hora, ligo para ele. — Vocês estão livres agora?
Elas se animam e concordam. Correm para pegar suas coisas e eu espero
Noah me atender.

— Oi, namorada! — sua voz arrastada me arrepia.

— Oi, namorado! — falo com humor. — Está livre agora?

Ouço ele digitar algo no teclado e depois acredito que se levanta.

— Para você, sempre estou, sabe disso!

— Você é um sonho realizado, amor. Porém, não quero te atrapalhar se tiver


algo importante.

— Nem sei o porquê do convite, mas já estou colocando o paletó.

Iremos em algum lugar? — escuto o farfalhar enquanto ele se arruma.

Olho para o anel em meu dedo e sorrio feito boba.

— Que tal ir em um lugar comigo e nossas mães? Estou aqui no escritório


delas!

— Vou sim. Está de carro ou preciso buscar vocês?

Terminamos de definir quem busca quem e aviso as duas, que ficam ainda
mais animadas por ele ter topado ir.

Para variar, o escritório delas fica em um edifício aqui em Manhattan e, é


perto de tudo, tanto das nossas casas quanto da empresa dos meninos; só
ficou um pouco distante da casa de Liz, mas tenho certeza que isso não será
um problema para ela.

— Justin deve ter ficado animadíssimo com isso tudo, né? —

pergunto enquanto descemos até a recepção para esperar por Noah.

— Nossa, ele ficou tão feliz. Há anos ele me diz para investir nisso e eu
sempre deixava para depois, acho que o que faltava para isso acontecer era a
sua mãe — suspira ao falar do marido e seus olhos gritam o quanto ama
aquele homem.

— Vocês se tornaram meu exemplo de casal — brinco e esbarro no ombro


dela, que ri e pisca.

Minha mãe cruza seu braço com o meu e encosta a sua cabeça em meu
ombro, sorridente.

— Desde que você queira pôr em prática o nosso exemplo com meu filho,
não vejo problema.

Noah chega nesse momento e buzina, chamando nossa atenção.

Vamos rápido até onde ele está e entramos no carro. Dou um beijinho casto
em seus lábios e ouço as duas rindo baixinho, como se fossem crianças
vendo adultos se beijando.

— Para onde iremos?

Dou o endereço a ele e lhe explico o caminho eu fazia para chegar mais
rápido.

As duas voltam a conversar no banco de trás, já imaginando várias coisas


para a minha casa, enquanto Noah dirige concentrado.

Coloco a mão em sua coxa, ele sorri, sem desviar os olhos do trânsito, e
coloca uma mão por cima da minha.

— Devo ficar preocupado para onde estou nos levando? — ele brinca, mas
sei que está curioso.

— Não precisa se preocupar, é um lugar um pouco distante porque é um


condomínio bem reservado, mas é lindo e você vai gostar.

Minha mãe me passa seu ipad e pede para que eu veja o que tem ali.

— O que você acha de fazer uma inauguração assim? Seria bem


minimalista, mas muito elegante.
Tudo o que elas escolheram para a decoração, comida e bebida está incrível,
eu não poderia escolher melhor do que elas.

— Vocês são ótimas juntas, vai ser um sucesso e, eu amei — continuo

vendo as escolhas delas. — Vocês sabem como vão fazer o portifólio? É bem
importante, não é?

As duas se encaram e ficam em silêncio. Depois, Liz me olha e sorri.

— Acredito que sua casa será nosso primeiro projeto. Sua mãe disse que ela
é enorme e tem muitos ambientes. Então, teremos bastante material para
começar.

Noah me olha sem entender o que elas falam e dou de ombros.

— Tudo bem. Eu posso dar as chaves dos outros imóveis e vocês podem ver
se servem para fazer algo para o portifólio também.

— Perfeito! — falam juntas.

Elas começam a falar para Noah vários projetos que pretendem fazer e ele
interage, dando algumas ideias e conselhos.

— Se um dia você se cansar de advogar, saiba que tem uma vaga lá conosco
— Liz fala e ele pisca para ela pelo retrovisor.

Alguns minutos depois, chegamos ao condomínio e somos parados na


guarita. Preciso mostrar minha identidade para acessarem o sistema, porque
como não moro aqui, não tenho nenhum cadastro ou o sensor para entrar
direto.

— Pode ir, Srta. Ibrahim. O outro dono veio aqui na semana passada com
uma equipe de limpeza e está tudo em ordem — ele me entrega a outra
chave pela janela do carro e agradeço.

— Quando eu estava procurando uma casa, tentei ver alguma nesse


condomínio, mas era tão concorrido que desisti — Noah divaga e indico
qual rua ele precisa pegar. — Aqui é muito bonito, parece um bosque dentro
de uma cidade que é cheia de prédios.

E, esse foi um dos motivos de eu ter escolhido a casa aqui. Além de ser bem
reservado e restrito, tem muita natureza aqui. Seria um refúgio da minha
vida totalmente agitada, um lugar que me traria muita paz e tranquilidade.

— É essa aqui — ele para em frente ao jardim da casa que aponto e olha por
dentro do carro.

— Kathllen... — Liz fala com admiração. — Essa é uma das casas mais
linda que já vi.

Saio do carro e me viro para o lugar que deveria ser meu lar atual.

Eu esperava sentir alguma coisa ruim ao olhar novamente para esse lugar
que tinha sido toda planejada para uma vida que não existirá mais, porém,
não é isso que sinto em meu peito.

— Realmente é linda, amor — me viro para Noah, que estende a mão para
mim.

Aceito sua mão e vamos andando até a porta enorme, que foi uma das coisas
que mais gostei de escolher.

Abro e Noah empurra, esperando que eu entre primeiro.

A casa está com um cheirinho muito bom de limpeza, as cortinas estão


abertas e a claridade natural ilumina quase tudo. Entro e caminho até o meio
da sala, onde tenho uma vista melhor de todo o primeiro andar de conceito
aberto.

Me sento no chão, mesmo tendo todos os moveis na sala e no resto da casa.


Sinto no meu bolso o peso da carta, que ainda não tive coragem de ler.

Minha mãe e Liz começam a tirar fotos e fazer várias e várias anotações,
levando em conta as minhas preferencias, que elas já tinham perguntado
antes.
— Quer ficar sozinha ou posso me sentar com você?

Bato no espaço ao meu lado, para que ele se sente.

— Eu e o Ethan compramos essa casa antes do casamento que nunca existiu


e, iríamos vir para cá depois da lua de mel — apoio as mãos no chão e
inclino o corpo um pouco para trás. Noah fica olhando ao redor enquanto
falo. — Jamais imaginei que colocaria meus pés aqui de novo e, a até antes
de sair do carro, pensei que me sentiria mal por tudo que rolou.

— Mas a sensação é outra, né? — eu apenas concordo.

— Não é errado? Eu deveria querer tacar fogo nisso aqui, pegar uma marreta
e quebrar tudo. Entretanto, eu quero mudar, trocar tudo para que combine
com a Kathllen que sou hoje. Quero ficar aqui, ter meu lar de verdade nessa
casa.

Ele coloca a mão em minha perna e faz carinho em meu joelho, me


observando enquanto olho para todas as direções menos para ele.

— Não é errado sentir isso, amor. Não fique pensando que não pode ficar ou
que querer viver aqui é errado porque a ideia principal era estar aqui com
alguém que não estará mais — ele se levanta e me puxa para ficar de pé
também. — Olhe ao redor, Kathllen. Isso é seu, você merece ser feliz onde
seu coração se sente em paz e, se é este o lugar, não deve se importar com o
que as pessoas irão falar.

Me aconchego em seu corpo e passo os braços ao redor da cintura.

— Acho que você está certo.

— Eu estou. Pelo menos dessa vez, eu sei que estou — sinto seus

lábios tocarem minha testa e curto o nosso momento ali, tendo certeza que
foi uma decisão correta trazê-lo comigo.

Noah poderia me julgar, ou até mesmo se sentir mal com a minha vontade de
permanecer aqui, por todo o peso que essa casa poderia carregar com ela,
mas ele preferiu abrir meus olhos e me fazer enxergar o lado positivo de
tudo o que passei.

— Vem. Vamos conhecer o resto da casa.

Subimos para o segundo andar e entramos em cada cômodo, menos o que


seria do casal. Não falamos nada, mas tanto ele quanto eu evitamos entrar
naquele ambiente por motivos óbvios e foi ótimo, porque sei que lá tem uma
foto enorme de um ensaio que eu e Ethan fizemos.

— Esse lugar já é perfeito, mas quando mudarmos tudo e deixar do jeito que
você quer, vai ficar ainda mais maravilhoso — encontro minha mãe e Liz na
área externa.

— Eu tenho algumas ideias para as mudanças daqui de fora e queria incluir


naquele canteiro ali — aponto para onde tem um jardim — uma área infantil.
Vi uma ideia na internet e depois mando para vocês; acho que ficaria ótimo e
o espaço é bom.

Todos me encaram e Noah parece que perdeu a cor. Eu caio na risada


quando deduzo o que eles estão pensando[LS14].

— Ai, gente — tento controlar a minha risada —, não é nada disso —

respiro fundo algumas vezes, parando de rir aos poucos. — Eu só quero


acrescentar a minha casa como mais um lugar para as crianças do orfanato
virem, entenderam?

O queixo de Liz treme e ela vira para o outro lado, emocionada.

Noah caminha até o canteiro, olha o espaço e chama a mãe dele. Os dois
começam a falar sobre o que tem que mudar para a segurança das crianças e
me afasto. Caminho para uma arvore mais distante que tem um balanço e me
sento ali.

— É agora ou nunca — falo para mim mesma e tiro a carta do bolso, que
parece pesar uma tonelada.

Abro devagar e já reconheço a letra dele.


Essa, provavelmente, é a centésima carta que tento escrever para você e vou
tentar ser breve e o mais sincero possível.

Eu te amo! Você pode acreditar que não, pelas minhas escolhas e minhas
atitudes, mas nada disso faz com que eu não tenha esse sentimento e nossa,
eu queria muito não sentir tudo isso. É desgastante

e está me destruindo.

Você foi perfeita em todo o momento que esteve comigo e, até agora que
estamos separados. Eu não te mereço e, é por isso que não sou eu o homem
que está ao seu lado. Essa merda toda dói até na minha alma.

Eu tenho tantas desculpas para te pedir que teria que enviar uma carta por
dia até meu último suspiro de vida para tentar compensar um pouco do que
te fiz passar. Não vou me atentar mais na questão de porquê ter terminado
contigo daquele jeito, porque você já ouviu tudo o que eu tinha para falar
sobre tal coisa. Porém, novamente me perdoe, eu fui fraco e egoísta, fiquei
desesperado em perder tudo que eu tinha conquistado, só que a minha maior
conquista tinha sido você e eu só percebi isso depois de perdê-la.

Ver sua foto com o seu advogado rodando por todos os sites e jornais foi o
ponto crucial para eu entender que, de fato, jamais a terei de volta.

É uma decisão inteligente da sua parte. Pensei em uma situação: se eu


tivesse uma filha e ela arrumasse alguém que fizesse o que fiz com você,
como eu reagiria? Não demorei meio segundo pra ver o quanto fiz merda e,
acho que a pior de todas foi invadir a sua casa.

Eu enlouqueci, não justifica, mas enlouqueci. Estava vendo meu mundo ruir
e a mulher da minha vida seguir outro caminho de vez. Me perdoe por isso,
me perdoe por tudo. Não faça isso por mim, mas faça isso por você. Sua paz
é mais importante do que viver uma vida me odiando.

Hoje, a única coisa que desejo é que você tenha tudo que eu não pude dar e,
que o cara que fique contigo não seja um babaca igual a mim.

Sobre a casa, não desista dela. Eu lembro como se fosse ontem o quanto
você se esforçou para conseguirmos e como imaginava nossa família ali.
Você ainda pode ter tudo isso com outra pessoa, ou pode apenas viver da
maneira que achar melhor. A única maneira que senti que poderia pelo
menos me redimir um pouco, foi te dando algo que na verdade já é seu.

Não espero uma resposta e sei que não nos falaremos mais, tanto porque
você não quer quanto pelo pedido judicial. Novamente, não te julgo e acho
que foi muito bondosa ao não fazer disso um escândalo.

Esse é o nosso adeus definitivo. Eu te amo e vou sentir isso em mim para
sempre, e por te amar tanto, a deixarei em paz.

Seja feliz, Kathie. Você, mais que ninguém, merece isso.

Com carinho e muito arrependido de tudo,

Ethan.

Leio umas três vezes, e se não fosse pela letra dele, não acreditaria que isso
veio do homem que já nem reconheço mais.

Dobro o papel e coloco no bolso novamente.

De onde estou, tenho uma vista perfeita da casa e dos meus convidados que
parecem se encaixar perfeitamente ali, como se de alguma maneira,
pertencessem ao esse lugar.

As palavras de Ethan mexeram comigo, eu não vou negar e não sou feita de
pedra. Amei muito aquele homem e não me arrependo do que vivemos e de
quem fui para ele. Passar pelo o que passei foi importante para quem sou
agora. Acho que essa carta foi o desfecho que eu precisava para entender que
nada mais me liga a ele, nem mesmo essa casa.

Minha casa.

Meu lar, onde criarei lembranças maravilhosas e momentos incríveis com


todos que amo.

Eu acredito no Ethan, especialmente na parte em que ele enlouqueceu e


perdeu o juízo. Em relação a me amar, não consigo entender como alguém
que ama é capaz de fazer o que ele fez e de tentar coisas piores. Não desejo
mal a ele e espero que de verdade consiga ser alguém melhor, mas bem
longe de mim.

Sinto que alguém me observa de longe e acho o olhar de Noah sobre mim.
Encostado na parede da casa, a uma boa distancia de onde estou, ele me olha
com os braços cruzados e, é uma imagem linda de ser ver. Não consigo me
acostumar com o efeito que ele tem em mim.

Imaginá-lo comigo nessa casa, me ajudando a fazer novas lembranças, me


acende e também concretiza em minha mente o quanto quero-o comigo.

Quero uma vida com ele.

— Posso definir esse cantinho aqui como o seu refúgio? — fala ao se


aproximar, ainda com os braços cruzados.

Encosto a cabeça em uma das cordas grossas que sustenta o balanço e sorrio.

— Acho que sim. Me sinto em paz e, é ótimo ver a minha casa desse ângulo.
Consigo imaginar muitas coisas para uma vida aqui.

Ele fica ao meu lado e se encosta no tronco, tendo a mesma visão que eu.

— Consigo imaginar também — ele olha fixo para alguns pontos. —

Imagino você pegando sol perto da piscina, suas amigas ao seu redor, uma
música alta tocando Rihanna — rio e fico toda mexida por ele ter lembrado
que gosto dela —, e acho que o homem chegando perto de vocês segurando
uma bandeja com mais bebida sou eu.

Me encara, seus olhos cheios de ternura.

— Eu gostei disso. Gostei muito! — levanto e seguro o rosto que invade


meus pensamentos todos os minutos. — Você é algum tipo de médium?
Porque o que falou é algo que parece muito coerente com o que eu desejo.

Seu braço passa por minha cintura e nossos corpos se colam. Anseio por
sentir seus lábios que quase roçam os meus.
— Talvez eu seja — cola a sua boca na minha e fecho os olhos quando sinto
sua língua me invadir. Minha mão desce do seu rosto para o peito e fico ali
parada, sentindo os batimentos fortes nesse peitoral que é minha perdição.
Viro a cabeça para o lado oposto da dele, mudando o beijo de calmo para
feroz e ele ri sem parar de me beijar.

— Alguma chance de elas não verem a gente aqui? — afasto para tomar ar e
ele me beija novamente, segurando firme em minha nuca, para que eu não
me afaste. Minha intimidade começa a ficar quente, querendo mais.

Roço meu corpo no dele e dessa vez, é ele quem afasta nossas bocas.

— Zero chances. Inclusive, elas devem estar fingindo que não estamos nos
agarrando aqui — rio e apoio a testa em seu peito. — Eu sei, amor. Também
é difícil resistir a você.

Rio mais alto e tento me recompor.

— Iremos batizar toda essa casa. Inclusive, aqui também!

— Será um sacrifício que farei por você — a risada dele ecoa entre nós dois
e voltamos para onde elas estão.

Me sinto uma adolescente vivendo o primeiro amor. E, acredite, é uma


sensação maravilhosa.

35

— Parabéns pra você... — desperto bem preguiçosamente ao ouvir a voz de


Kath — nessa data querida... — abro os olhos com muito esforço e agradeço
pelo quarto ainda estar escuro.

Kath segura uma bandeja enorme, que provavelmente está muito pesada,
repleta de muitas coisas para um belo café da manhã. Me ajeito na cama e
ajudo-a colocar tudo no meio da cama.

— Vem cá, gostosa! — puxo-a para meu colo e ela abraça a minha cintura
com as pernas, me apertando com as coxas grossas. — Obrigada, amor.
Porém, sabe que não precisava acordar — olho para o relógio e fico
impressionado por ser tão cedo — quase de madrugada para me preparar
tudo isso.

Recebo um beijo suave nos lábios e um afago no rosto.

— Claro que precisava, deixa de charme — ri e prende o cabelo em um


coque bagunçado. Adoro esse momento de intimidade, em que ela fica à
vontade, sem maquiagem e nenhuma preocupação com a sua aparência, que
é incrível de todos os jeitos. Passo a mão em seu pescoço e desço um dedo
pelo meio do decote da sua camisola. — Tem mais uma coisa.

— Uhum, eu sei que tem — subo uma mão por dentro do vestidinho de seda,
que é transparente e vai me fazer ter um colapso. A falta de uma calcinha
mexe comigo, meu pau já desperta louco por ela e gemo baixinho.

Ela ri e sai do meu colo, me deixando sem o calor do seu corpo.

— Não é isso, safado — caminha até o meu closet e volta tão rápido quanto
saiu. — Pelo menos, ainda não — pisca e me dá um embrulho.

Depois, senta-se ao meu lado e fica olhando, ansiosa pela minha reação.

Ajeito o travesseiro em minhas costas e abro o presente. Na mesma hora, já


reconheço a maletinha amarela que tanto adoro.

Um relógio lindo, todo dourado e com alguns detalhes em ouro branco,


aparece na minha visão assim que abro a caixa.

— Kathllen, amor, como você conseguiu? — a encaro, abobado. Esse

relógio é uma versão ilimitada, que esgotou em menos de 20 minutos após o


lançamento. Fiquei frustrado em não ter conseguido, já que um dos meus
maiores hobbies é colecionar relógios.
Ela dá de ombros e me ajuda a colocá-lo.

— Parece que foi feito para você. Ficou perfeito — admiro-o em meu punho
e não dá para negar que ficou muito incrível. Me sinto uma criança no Natal
quando ganha algo que desejava muito.

— Obrigada, amor. Eu amei muito — seguro seu rosto com as duas mãos e a
beijo. — Usarei hoje no jantar, que tal?

Ela concorda, animada.

Passamos mais uma hora na cama, enrolando e comendo as coisas que ela
trouxe.

— Qual horário que devo te buscar no escritório?

Me levanto e limpo a sujeira que fazemos, colocando tudo de volta na


bandeja e a deixando em cima da cômoda para levar à cozinha depois.

— Não precisa. Eu posso ir com os meninos — pondero e ela coloca a mão


na cintura, com a sobrancelha erguida —, ou você me busca às 18:00.

Pode ser?

Sorri, satisfeita.

— Gostei mais da sua segunda resposta — entra no banheiro e me pergunta


lá de dentro: — Você vem?

Adora quando ela fica mandona. O tesão explode dentro de mim.

Entro no banheiro e meu furacão está de baixo d’agua, com a bunda gostosa
virada para mim. Não penso duas vezes e puxo para baixo minha calça de
moletom e entro no box, fechando a porta do mesmo.

Pego a esponja dela e derramo sabonete ali. Aperto até que faça espuma e
vou passando por suas costas, ombros e braços. Ela me ajuda, dando espaço
para que eu faça e virando o corpo aos poucos.
Foco minha atenção em seus olhos, que declaram o desejo por mim.

Coloco a esponja onde achei e lavo sua barriga e seios com a minha mão,
tentando fingir que não estou louco para devorá-la enquanto aliso os seios
por mais tempo que o necessário.

— Acho que vamos demorar assim. Deixa eu te ajudar — pega mais


sabonete, espalha em suas mãos e esfrega em meu peito enquanto permaneço

“lavando” seus seios. Meu corpo todo se arrepia quando sinto sua mão pegar
firme em meu pau, que já estava duro. — Tem que lavar tudo, né? — pisca
para mim e meu pau pulsa na mão dela, que ri como resposta.

Me empurra para debaixo da água e começa movimentos de vai e vem,


encarando o que faz comigo. Encosto a cabeça na parede atrás de mim e
deixo um suspiro escapar entre meus lábios.

O aperto em sua mão suaviza e aumenta em momentos diferentes e fico


ainda mais excitado. Sua outra mão massageia as minhas bolas e, eu quase
sinto vontade de chorar de tão bom que está.

— Ahhh, merda! — ela ajoelha e de cima, a visão de sua bunda é ainda mais
interessante. Sua boca engole todo o meu pau sem nenhuma cerimônia, e
meu corpo arqueia para frente involuntariamente. Me mantenho nessa
posição para que caia menos água nela.

Sua língua desce e percorre uma área bem sensível, fazendo com que minhas
pernas tremam e não consigo evitar os palavrões. Seguro seu cabelo, que
está todo ensopado, parando seus movimentos. seu olhar me questionando é
tentador. Passa a língua pela cabeça sem desviar os olhos dos meus, e depois
engole tudo; sinto-o em sua garganta e ela ainda geme.

Saio novamente dela, porque eu não vou conseguir me segurar diante dessas
provocações.

— Você ainda vai me matar, escreve isso — puxo-a para cima e no impulso,
já prendo suas pernas em minha cintura e encosto suas costas na parede. —
E, vai ser uma morte incrível.
Ela ri, mas a risada se torna um gemido alto quando a penetro com vontade
e, pela gravidade sinto meu pau chegar fundo. Encosto a testa em seu ombro,
controlando a minha respiração e, poucos segundos depois, começo a estocá-
la devagar, retribuindo toda a tortura.

Kathllen força seu corpo para baixo e rebola enquanto mantenho os


movimentos. Mordisco um mamilo e logo depois, começo a sugá-lo. Firmo
uma mão na parede e com o outro braço, a mantenho confortável na posição
que está.

— Isso é tão bom — sua voz arrastada me anima e coloco mais força em
minhas estocadas, levando os dois ao delírio e gemendo em desespero.

Não sei mais se o que escorre de mim é a água do chuveiro ou nosso suor.

Seus seios balançam a cada estocada e, é algo lindo de ver, minha perdição
total. Eu amo cada pedacinho dessa mulher, não tem nada nela que não me
encante ou excite.

Ela aperta os seios ao mesmo tempo que contrai a boceta em meu pau e eu
urro. Coloco a mão entre nossos corpos e estimulo seu clitóris com precisão,
devagar, na intenção que ela sinta cada sensação, tudo ao mesmo

tempo.

— Ahhhhhh... — geme alto e depois toma a minha boca com desespero,


passando a sua língua pela minha e mordendo meu lábio inferior ao separar
nossas bocas para voltar a gemer.

Meu corpo já está todo tenso e os arrepios em minha barriga só crescem,


anunciando que o orgasmo está muito próximo.

Kath sussurra meu nome e pede para que eu vá mais forte. Sinto-me quase
desafiado e a seguro firme quando começo a fazer o que ela pediu.

Minhas bolas batem ao redor dela pelo impacto dos meus movimentos.

Suas unhas forçam a pele dos meus ombros quando o orgasmo a atinge, e
não demoro a deixar que meu corpo se alivie dentro dela, despejando todo o
meu desejo dentro do lugar que virou meu vício.

— Não consigo imaginar o que terá que fazer para se superar no meu
aniversário de 30 anos — sussurro próximo ao seu ouvido e ela se arrepia.

Saio devagar de dentro dela e na mesma hora, já sinto falta do seu calor.

— Tenho minhas cartas na manga — brinca e dessa vez, tomamos banho de


verdade.

Depois de alguns amassos, conseguimos nos arrumar e continuo sendo


mimado pela minha namorada, que me traz até o trabalho.

Hoje completo 29 anos, e com certeza, até agora está sendo um dos meus
melhores aniversários. Não consigo lembrar de algum que me senti tão
completo como o de hoje. Claro que isso é totalmente por conta de Kathllen,
que é o melhor presente que eu poderia ganhar.

Na minha sala, agora tem duas fotos novas. Uma minha com Kath, e uma
apenas dela, embelezando ainda mais o lugar que tanto gosto de trabalhar.

Meu novo cliente chega e permanecemos conversando por algumas horas,


para eu conhecer o seu caso e definir se irei ou não fechar com ele.

Pelo o que já sei até o momento, ele é um autor muito famoso de livros de
romance e seu primeiro livro de sucesso iria virar uma série, porém, sabemos
que é importante ler as entrelinhas de todas as coisas das nossas vidas e, ele
confiou em alguém que não merecia tal coisa. Me compadeci na mesma hora
e quem o encaminhou foi um amigo da época da faculdade, que é genro dele.

No final da reunião, aceitei pegar o caso, já marcando um próximo encontro


para acertarmos os primeiros pontos de toda a execução desse processo, que
dará o que falar, pois ele não quer mais fazer a série com a

famosa plataforma que é queridinha de todos.

— Oi, chefinho! Você recebeu vários recados de parabéns, alguns clientes


enviaram uns presentes — Jennifer aponta para o sofá da minha sala cheia
de sacolas e até algumas flores. — E, seu nome está em alta nos sites de
fofoca, mas não é nada demais. Kath fez uma publicação fofinha e o mundo
todo está morrendo de amores por vocês. Além disso, tem até uma tentativa
de nome para shipparem.

Rio. Até agora, nada disso vem me incomodando. A única coisa chata
mesmo são os jornalistas querendo a qualquer custo uma entrevista minha, e
isso não acontecerá. Primeiro porque não quero; segundo porque sei que eles
vão tocar em assuntos que não diz respeito a ninguém além de mim e minha
família; e terceiro, por causa dos meus clientes mais polêmicos que, com
certeza, irão virar pauta para perguntas.

— Obrigada por passar os recados, Jenni — encaro a tela do notebook,


conferindo a minha agenda. — Sabe que reunião é essa que está marcada
para o final do meu dia? Não lembro disso.

Ela vem para o meu lado e confere o que é.

— Ah, lembra que a faculdade que você frequentou entrou em contato para
colocar a C&B na lista para estágios? É a reunião com a mulher responsável
disso.

— Tudo bem. Na minha época não tinha essas coisas, mas que bom que eles
estão fazendo algo para ajudar. Seria bom contratar advogados que serão
moldados por nós mesmo, em vez de pessoas que nem conhecemos.

Jenni concorda. Trocamos mais algumas informações e logo depois, ela se


retira.

Vou até o sofá e perco um tempo olhando os presentes. Alguns não fazem
muito sentindo, como o convite para um fim de semana com uma antiga
cliente. Louco, não? Rasgo e jogo fora. Também separo alguns cheques com
valores bem altos para que eu mesmo compre meu presente, que serão
destinados para o orfanato. O restante são coisas que me agradam, mandarei
um e-mail agradecendo cada um deles mas quando me levanto, um envelope
cai.

Sem nome, sem remetente. Não tem nenhuma informação, mas mesmo
assim, abro e vejo que são várias fotos.
Fotos de Kathllen.

Com um jogador famoso de futebol.

Meu corpo reage de uma forma negativa e sinto meu café se remexer

dentro de mim.

Nessa semana, ela fez um comercial para um perfume de uma marca


mundialmente conhecida e seu par no comercial era esse jogador. Ela me
explicou que teria uma pegada romântica, até mesmo sexy, mas que é normal
e super profissional.

Eu não sou uma criança e sei lidar com tal coisa, e também não tenho a
intenção de assistir. Não preciso ficar me torturando, não mais do que já me
torturo com os comentários que escuto e vejo de outros homens sobre ela.

A questão toda, que fez esse incômodo dentro de mim surgir e não parar de
crescer, é que eles estão bem próximos e de roupão, ou seja, não estavam
gravando. Ele toca nela no rosto e a outra mão na cintura. Ela sorri,
mostrando todos os dentes e feliz.

Todas as inseguranças que eu finjo não ter, que escondo no fundo da minha
alma, caem sobre mim e eu largo as fotos na mesinha.

Parece que minha mente para de trabalhar, não penso em nada e esqueci até
mesmo como que faço para me movimentar. Fico assim por mais tempo do
que consideraria saudável e levanto depois de levar um susto ao ouvir Barbie
me chamar.

Viro-me e encontro ele na porta, me olhando com uma interrogação no rosto.

— Você me ouviu?

Encaro as fotos na mesa e depois o encaro.

— Não. O que você falou? — tento manter a minha voz calma, passiva.
Barbie nota que tem algo de errado, mas por algum motivo que desconheço,
ele prefere não perguntar.

— Sua mãe está querendo saber se depois do restaurante vamos para a


Lotus. Ela disse que seu pai topou ir e eu falei que sim, mas vendo sua cara
agora...

— Não. Pode deixar confirmado sim.

Ele me encara, quieto. Concorda e sai, me deixando sozinho.

Tranco a sala e embaço os vidros. Puxo uma cadeira e me sento de frente


para as janelas, observando as pessoas lá embaixo.

As fotos não tem nada demais. Né?

Porém, porque parece que tiraram meu pulmão de dentro de mim?

Está difícil respirar, as minhas inseguranças rondam tanto a minha cabeça


que nem sei qual pensamento focar primeiro.

Eu sabia desde o momento que me aproximei romanticamente de Kath, que


não seria fácil ter qualquer tipo de envolvimento com ela, mas a verdade é
que na pratica é bem pior do que quando imaginei.

Hoje é meu aniversário e quem mandou tinha a intenção de me abalar, e


conseguiu. Não irei perguntar nada a Kath sobre isso, pelo menos não hoje,
pois sei que o clima pode ficar estranho.

Até que ponto posso questionar algo? Quais são nossos limites? Os limites
dela? Eu nunca namorei, não quero fazer ou falar nada que faça esse
sentimento estranho no meu peito piorar. Kath não é o tipo de pessoa que
trai.

Ela não faria isso comigo. E é seu trabalho, será que devo guardar para mim
esse incomodo para que ela não interprete mal as minhas inseguranças?

Que inferno!
Fico com meus pensamentos por mais um tempo e depois decido que
abafarei esse sentimento e minhas dúvidas até amanhã, para conversar com
calma. Acho que é a decisão mais madura que posso tomar.

Me forço a dar continuidade em algumas pesquisas, expulsando toda hora os


pensamentos sobre as fotos, que insistem em rondar a minha mente.

A hora do almoço chega, assim, faço minha refeição com os meninos e


Jennifer. Fico muito calado e eles notam que tem algo de errado e me
perguntam algumas vezes até desistirem; deixo claro que não quero falar,
mas que não é nada que eles tenham que se preocupar.

Nenhum deles engole o que eu digo, mas aceitam isso por hora.

Depois de me torturar pelo dia todo, agora estou esperando a minha última
reunião para poder ver Kath e assim me acalmar quando sentir seus braços
ao redor do meu corpo.

— A representante da Columbia chegou. Posso mandar entrar? —

Jenni anuncia pelo telefone e eu falo para que deixa-a entrar.

Me levanto e ajeito o paletó para recebê-la.

— Olá, querido. Quanto tempo! — Samantha entra em minha sala e já fecha


a porta atrás dela.

Falei cedo demais que meu dia estava sendo incrível.

— O que você está fazendo aqui? Como entrou?

Ela me mostra o crachá da faculdade com um outro nome, que não é o seu, e
caminha pela minha sala como se fosse uma convidada bem-vinda.

— Recebeu meu presente, pelo visto — pega as fotos e fica olhando cada
uma, com um sorriso vitorioso no rosto. — No final das contas, eu não fui
tão má pessoa com você, né? Estou abrindo seus olhos, mostrando quem é

a sua namoradinha.
Merda.

Claro que isso tinha que ser coisa dela. Agora eu tenho mais certeza ainda
que a foto não é nada demais.

— Samantha, por favor, não me obrigue a chamar os seguranças para te tirar


daqui a força — esfrego as têmporas e cruzo os braços.

Ela ri e se aproxima. Eu caminho um pouco para trás e encosto em minha


mesa.

O seu olhar, que caminha pelo meu corpo, me enoja e não sei como em
algum momento me senti atraído por essa mulher.

— Lindo, eu só estou te mostrando que você fez uma escolha errada e tudo
bem; aquele rostinho angelical deve enganar todos. Porém, você ainda pode
me escolher. Eu te desculpo e continuamos de onde paramos.

Dessa vez, sou eu quem rio e depois balanço a cabeça, sem acreditar na
coragem dessa dissimulada.

— Olha, sinceramente, eu não sei qual é o seu problema. Você é uma mulher
bonita, que com certeza deve conseguir ter o cara que quiser, então, apenas
me deixe para lá. Esqueça de mim e da minha família. Você não quer
conhecer a minha outra face, Samantha.

Ela passa a mão no meu peito, eu pego seu punho e afasto, mas ela segura
em meu braço e se aproxima, para falar próximo de mim.

— O que ela tem que eu não tenho, ein? — quase rosna e sinto o cheiro do
seu perfume doce demais, enjoativo demais.

— Tudo. Ela tem tudo! Para que se humilhar a esse ponto, garota? —

arregalo os olhos, sentindo a raiva me domar. Olho para fora, na esperança


que Jenni veja o que está acontecendo e me salve, mas ela está no telefone.

— Kath tem tudo. Ela é o tudo e eu a amo.


Sem conseguir ver da onde vinha, sinto meu rosto arder quando ela estala
um tapa no meu rosto e novamente segura meu punho. Ela olha para fora e
se vira rápido para mim, colando seus lábios nos meus.

Eu congelo por uma questão de 5 segundos e quando penso em afastá-

la, ouvimos um barulho do lado de fora. Nesse momento, eu sei que tudo
deu errado. Eu sinto antes mesmo de olhar em outra direção, que deu muita
merda.

Kathllen nos encara, com os olhos arregalados. Seu celular está no chão; foi
daí que veio o barulho.

Samantha me abraça, maldosa. Eu a empurro o suficiente para que se

afaste e nesse meio tempo torço para acordar e que tudo seja apenas um
pesadelo.

Saio desesperado atrás de Kath, que pega seu celular e sai correndo em
direção ao elevador, sem nem olhar para trás.

Jennifer passa por mim e diz para deixar com ela. Entra em minha sala e
nem me preocupo com o que irá acontecer lá.

— Amor, espera! — grito mesmo sabendo que outras pessoas ouvirão. Ela
aperta o botão do elevador com insistência, batendo o pé no chão. — Kath!

Ela se vira e levanta a mão, me impedindo de me aproximar mais.

— Não chega perto de mim, Noah — sua voz é um enigma, não sei se sente
raiva, magoa ou tristeza. Talvez, seja tudo junto. — Merda de elevador!

Merda!

— Por favor, me escuta! Deixa-me explicar.

Ela coloca a mão na cintura e segura o celular com força, tenho quase
certeza que ira quebra-lo.
— Deixa eu adivinhar — pausa e dá um sorriso irônico, me encarando sem
piscar. — Não é nada disso que eu estou pensando, não é?

Que inferno de frase clichê que diz exatamente a verdade desse momento.

— Amor, por favor. Realmente não é nada daquilo.

Ela se desespera com a demora do elevador, que nem eu mesmo entendo o


porquê, e procura a saída de emergência. Assim que acha a porta, caminha
até ela e eu vou atrás.

— Noah, se você me falar que eu estou louca e vocês não estavam se


beijando, eu vou concordar e deixar para lá — me encara tão séria, que
parece que ela vai me explodir com o olhar. — Vocês estavam se beijando
ou não?

— Sim, mas não é dessa maneira. Ela me bei...

— Não quero ouvir mais nada! Por favor, respeita pelo menos a minha
decisão de não querer falar com você após ver toda essa ceninha ridícula! —
Eu acho que vou desmaiar de tanto desespero. — Não esperava isso, Noah...
não de você!

Meu coração não sabe se bate forte ou se para de bater. Sinto os olhos
arderem.

Balanço a cabeça, concordando com o pedido dela e me parte o coração vê-


la ir embora e me encarar antes de sumir, como se fosse a última

vez que me encararia.

— Merda! Inferno! — soco a porta com força e aceito a dor que atinge todos
os meus dedos.

Sento-me no chão e encosto na parede, ainda tentando digerir tudo que


aconteceu. Como que uma manhã perfeita com minha mulher se tornou o
início de noite provavelmente solteiro, com uma maluca na minha sala e sem
saber o que fazer para contornar tudo isso?
Eu não posso perdê-la. Não agora, que descobri que minha vida só é
completa porque a tenho.

Bem que falam que depois da calmaria do olho do furacão, vem a pior parte;
vem a destruição total.

35

Quais as chances de uma mesma pessoa quebrar feio a cara na escolha de


quem amar, mais de uma vez?

Eu achava que a vida não era tão ingrata a ponto de deixar que isso
acontecesse comigo, ou pelo menos, não tão rápido assim. Não depois de
abrir meu coração novamente e me entregar de corpo e alma para esse
relacionamento.

Meu peito dói pela falta de ar. Desci as escadas correndo, desesperada e com
medo do que eu poderia fazer se continuasse próximo dele, sentindo seu
cheiro e encarando aqueles olhos que me olhavam com tanta súplica.

Abro o carro e entro.

Meu corpo todo grita em silêncio. Minha mente está tão agitada que não
consigo focar em nada além da imagem de Noah beijando Samantha.

Samantha.

Entre tantas que ele poderia escolher para me trair, tinha que ser logo ela?

Essa traição acontece desde quando? Eles, algum dia, deixaram de ficar? Eu
fui tão idiota em não ter notado? Não é possível.
Entretanto, parece que eu sou cega para muitas coisas na vida. Não vi o que
Alex e Ethan me fizeram. Ele deve ter pensando que eu também não
descobriria nada, e talvez, realmente não fosse descobrir se ele não tivesse
sido tão burro.

Ele sabia que eu iria buscá-lo, só me adiantei 20 minutos.

— Idiota! Burra! — bato no volante algumas vezes, externando toda a minha


raiva e minha frustração.

Meu corpo escorrega pelo banco e fecho os olhos, torcendo para que eu
acorde e isso seja apenas a merda de um pesadelo. Vários minutos se passam
e nada do que eu quero acontece.

Nesse momento, a porta do meu carro se abre e eu sequer me esforço para


ver quem é. Que se dane!

— Vem, saia daí. Vou dirigir — levanto a cabeça e vejo Jacob estendendo a
mão para mim. Sinto meu coração se quebrar mais um pouquinho e a
vontade de chorar me toma.

Aceito a sua ajuda, saio do carro derrotada e vou para o banco do carona.
Puxo o cinto, mas a fivela trava. Puxo mais uma vez, e outra e outra.

Nada acontece.

Bufo, com raiva de tudo e Jacob me olha, esperando que eu termine meu
momento de fúria.

— Posso? — aponta para o cinto e eu concordo. Com a maior facilidade do


mundo, ele puxa a fivela e prende o cinto. — Quando eu fico com raiva,
igual você está, costumo fazer algo que me acalma muito. Vamos descobrir
se funciona com você.

Eu só concordo, porque acho que ficaria o resto da noite travada nesse


estacionamento.

Ele começa a dirigir e eu pego o meu celular, que tem inúmeras ligações
perdidas do Noah e várias mensagens da minha mãe, que a essa altura, já
deve saber o que aconteceu.

— Não vai no jantar? — Só me lembro disso ao notar que já passou da hora


que combinei com todos que chegaria com o aniversariante.

— Você acha mesmo que depois disso ainda teria jantar? — me pergunta o
óbvio e dou de ombros, porque já não sei o que esperar. — Barbie
desmarcou com todo mundo enquanto você ainda tentava ir embora pelo
elevador — ele tira do bolso o celular e me entrega, falando a senha. — Olha
o grupo da família.

Barbie: Jantar cancelado, família. Aconteceu algo entre Noah e Kath.

Barbie: Qualquer coisa, me mandem mensagem. Ele estará comigo.

Liz: Viu, Justin? Eu falei para você que algo iria acontecer, eu nunca fico
angustiada atoa.

Liz: Barbie, cuide do meu menino. Ok? Amanhã eu ligo para ele.

B: Já desfiz a reserva no restaurante e vou avisar Jackson que não vamos


mais lá.

Justin: Como a menina está? Alguém foi ver como Kath está?

Justin: ?????????

Eu: Estou indo até ela. Não a deixarei sozinha. Podem ficar despreocupados.

Liz: Amo vocês, queridos. E, por favor mandem noticia dos dois. Meu
coração está judiado com as possibilidades do que pode ter acontecido.

Barbie: Foi feio, bem feio. Mas daremos um jeito, independente do que
aconteça.

Barbie: Ah, agora realmente ele ficou incomunicável. O celular dele virou
farofa e ele segue quebrando algumas coisas.

Liz: Vou falar com Joana.


Não consigo ler mais nada, porque as lágrimas que escorrem sem freio me
impedem de enxergar e um som alto sai de mim quando deixo que a tristeza
me tome.

Coloco as mãos no rosto, chorando tudo que tenho para chorar, esperando
que as lágrimas levem a minha tristeza com elas. Entretanto, não adianta;
quanto mais choro, mais eu quero chorar.

A mão quente de Jacob aperta de leve meu joelho e eu choro mais.

Eu não deveria ter me envolvido tanto com Noah, muito menos com sua
família e seus amigos, pois agora eu estou chorando pelo o que não terei
mais. Quando eu o superar, irei sofrer por não ter mais comigo todos aqueles
que ele trouxe para minha vida.

— Vai dar tudo certo. Tá bom? Estamos todos com você — parece que ele
consegue ler a minha mente e sinto um alívio momentâneo com as suas
palavras.

Esfrego o rosto, lambuzando ainda mais a maquiagem borrada e olho para


onde estamos indo. É quase um soco no estômago quando vejo que estamos
entrando no condomínio que Noah mora.

— Isso é sério, Jacob? — ele me olha sem entender o que estou falando. —
Eu não vou para casa dele de jeito nenhum.

— Ah, isso. Sério que você acha que eu faria isso contigo? —

continua dirigindo e passa direto da casa de Noah. Eu que não entendo nada.

— Eu moro aqui também, caso não saiba.

Eu não sabia, até agora.

— Desculpa, não sabia — claro que ele não faria isso. Acho que a tristeza
está fazendo com que eu perca a noção das coisas.

Jacob para o carro em frente a uma casa gigantesca, linda e toda preta.
É surreal de perfeita, e destoa de todas as casas do condomínio, por ser
inteira preta e com muitas janelas e luzes a iluminando.

— Vem.

Saio do carro me arrastando e vou andando atrás dele, que para perto do
portão e vira-se para mim sem jeito. Me lembro que Noah disse que ele

não levava ninguém em sua casa, então, apenas balanço a cabeça e me sento
na calçada, sem me importa se esta suja ou não.

A casa de Jacob é uma das poucas que tem muro, mas não me surpreende.
Ele gosta de privacidade e duvido que deixaria as pessoas verem mais do
que o necessário.

Meu celular vibra sem parar na minha bolsa e eu pego.

— Oi, mãe. Desculpa não ter te respondido — minha voz já muda e a


vontade de chorar volta com tudo.

— Tudo bem, querida. Não quero te incomodar, só estou preocupada.

Tem algo que eu possa fazer?

Afasto o telefone, abaixo a cabeça, choro sem fazer barulho e tenho certeza
que minha mãe sabe disso, pois fica em silêncio e espera que eu responda.

Respiro fundo e aproximo o telefone novamente.

— Não, mamãe. Infelizmente, não tem nada que ninguém possa fazer.

Mas eu vou ficar bem, estou com Jacob. Te ligo mais tarde, tá bom?

Ela concorda, diz que me ama e eu desligo.

Escuto o portão da garagem de Jacob abrir e me viro. O que vejo me pega de


surpresa.
— Apresento a você dois dos meus quatro filhos — seu sorriso é genuíno
enquanto traz na coleira dois cachorros, que poderiam ser dois cavalos de tão
grandes e fortes. De primeira, eu me assusto e levanto rápido.

Ele ri — Essa é a Arya e — aponta para o cachorro marrom e branco —,


esse aqui é o Mayke — mexe na cabeça do cachorro todo preto.

Ambos estão de focinheira, e isso faz com que pareçam cachorros


agressivos, mas quando me aproximo, Arya já se deita no chão e vira a
barriga para cima, pedindo por carinho. Sem pensar duas vezes, já me
ajoelho ao lado dela e faço o que ela quer.

— Eles são lindos! Pitt Bull? — Jacob concorda, orgulhoso dos filhos. — E,
cadê os outros dois?

— Ficaram em casa! Eles não gostam de ir para rua, mas um dia eu os


apresento a você — concordo e me levanto. Mayke se aproxima da minha
perna e me cheira; deixo que ele se acostume com a minha presença e depois
faço um carinho em sua cabeça. — Eles gostaram de você e, como eu, nunca
erram no julgamento de alguém.

Ele me dá uma das coleiras e começa a andar para um lado do condomínio


que eu não conheço. Apenas o sigo e vamos em silêncio. Fico

admirando cada casa que há, uma mais bela que outra.

Chegamos em algo que deveria ser uma praça com jardim, mas é um parque
lindíssimo, com área para crianças e alguns cercados, que eu imagino que
sejam para deixar os cachorros ali dentro, já que é proibido que eles fiquem
soltos pelo condomínio.

— Não conhecia essa parte. É linda demais.

— Quase ninguém vem aqui; todos tem tudo dentro de suas próprias casas e,
eu mesmo só venho por causa dessas crianças aqui — dá dois tapinhas no
cachorro, que por sua vez se remexe todo e abana o rabo. —

Vamos ali. Eles podem ficar soltos e adoram brincar fora de casa.
Entramos em um dos cercados, que é bem grande e tem brinquedos para os
cachorros e bancos para os donos se sentarem. Ajudo-o a soltar os dois, tirar
as focinheiras e eles nos lambam em agradecimento, já correndo juntos para
o outro lado.

— Anos atrás, quando a minha vida tomou um caminho que eu não


desejava, os cachorros me ajudaram muito, eles me traziam a vida que eu
achei que havia perdido — olhamos a interação dos dois com os brinquedos
e é algo lindo de se ver. — Quando me mudei para cá, eles dois eram filhotes
que tinham sido deixados para trás. Os antigos moradores da casa ao lado se
mudaram e simplesmente deixaram eles na casa. Eu ouvi seus gemidinhos e
os resgatei, na esperança de doá-los para alguém. Mas não consegui.

— Eu também não conseguiria. Sempre quis ter cachorros, muitos deles,


mas meu pai nunca deixou.

Ele balança a cabeça, depois aponta para o outro lado e eu suspiro ao ver o
que ele me mostra.

— Quando vim a primeira vez aqui com eles, descobri essa vista, que virou
uma das minhas preferidas — a vista que ele se refere é o Rio Hudson, que
cerca Manhattan. Como a cidade é muito iluminada, o reflexo dela é bem
destacado na água e tudo parece uma pintura. É como ver uma cidade que
vive acordada de longe, em um ponto calmo.

— É reconfortante — suspiro e minha voz falha.

— Eu não estou aqui para defender ninguém, e sequer me meter nas coisas
de vocês. Eu só quero que você fique bem, Kath. Independente de tudo que
possa acontecer, e eu realmente espero que vocês se resolvam, eu estarei
com você. Você é minha amiga e eu não abandono os amigos.

Bastou essas palavras para que eu voltasse a chorar. Seus braços envolvem
meu corpo e me aconchego nele, me agarrando enquanto choro em

silêncio.

— Ele me falou rápido o que aconteceu e não sei o que você viu, mas acho
que vocês deveriam conversar. Tome o tempo que precisar para se acalmar e
colocar as coisas no lugar, mas não deixe de conversar, nem que seja para
colocar um ponto final.

Eu não quero isso. Não quero ter que dar um ponto final no nosso
relacionamento, que mal começou. Porém, eu já tive pessoas demais que me
traíram, não consigo conviver com isso em um relacionamento; me arrasaria
e consumiria todos os dias a lembrança do beijo dos dois.

Me afasto e limpo meu nariz. Ele tira do bolso um pacotinho de lenços


umedecidos e me entrega.

— Peguei lá em casa. Você está precisando — faz uma careta e eu rio,


porque devo estar igual uma palhaça.

Tiro vários e começo a me limpar, tirando toda a maquiagem do rosto e


colocando no saquinho de lixo que ele trouxe caso os cachorros sujassem a
rua.

— É tudo muito surreal. Ainda não estou acreditando, de verdade —

esfrego meu rosto, mesmo sabendo que não tem mais sujeira ali. — Estava
tudo bem. Nossa manhã foi incrível, todos esses dias, todo o tempo que
estivemos juntos, foi incrível. Não consigo entender o porquê de ele ter feito
o que fez.

— Nem tudo que parece, realmente é. O que você viu pode não ter sido o
que parecia.

Rio de raiva.

— Ah, eu sei perfeitamente o que é um beijo quando eu vejo um. E, ele


estava segurando ela bem perto dele. Não tem como eu ter entendido errado.

Ele suspira e concorda.

Os cachorros vêm até nós e ambos deitam ao redor dos meus pés.

— Eles sabem que você está triste — bate em sua coxa e Mayke levanta,
colocando as patas enormes no colo dele. Coloco a mão naquela cabeçona e
o afago. Ele abandona Jacob e deixa a cabeça em minha perna, esfregando o
focinho em minha mão, pedindo mais carinho, o que eu dou sem hesitar.

— Eu, talvez, esteja apaixonada pelos seus filhos — Arya lambe minha
perna, e fico dando carinho para os dois por um bom tempo.

— Acho que é reciproco.

Jacob fica comigo por horas, mesmo depois de ter levado os cachorros de
volta para casa. Traz um lanche para nós dois e sentamos o mais próximo
que podíamos do rio. Quando decido que preciso voltar para casa, ele me
leva com toda boa vontade e pede um taxi para ir embora.

Minha mãe já estava dormindo e decido não acordá-la.

Minha noite será longa, porque eu tenho certeza que não conseguirei dormir.
É exatamente isso que acontece, pois passo a madrugada toda deitada,
olhando para a janela e assistindo o sol nascer.

Escuto minha mãe lá fora e decido que preciso sair dessa cama.

— Bom dia, flor do dia — a primeira pessoa que vejo quando saio do quarto
é Barbie, que está sentado no sofá enquanto Emma está sentada na mesa,
cheio de livros que, provavelmente, são da faculdade. Minha mãe aparece na
porta do seu quarto.

— Não pude evitá-los, querida. Desculpe — ergue os ombros, se sentindo


culpada.

— Você fez certo em deixá-los vir, mãe — a abraço-a de lado e caminhamos


juntas para a sala. Barbie e Emma vêm em minha direção e todos nos
abraçamos de um jeito desengonçado, mas consigo sentir o amor que cada
um deles tentam me passar.

Seguro o choro porque acho que não tenho mais lágrimas.

— Amo vocês. Obrigada por virem — me afasto e vou até a cozinha.

Abro a geladeira e encontro um potinho com salada de frutas.


Ótimo. Meu café da manhã será isso.

— Espero que goste, eu fiz ontem e trouxe para No... para ninguém.

Trouxe hoje para você — rio porque é inevitável ficar de mal humor perto
desse homem.

Pego uma colher e sento-me na bancada da cozinha.

— Sinto muito, Kath — Emma fala enquanto senta na outra bancada.

— Quando Barbie me ligou muito, muito cedo mesmo, eu sabia que algo de
errado tinha acontecido.

— Ainda não consegui digerir tudo e, eu tenho que deixar todos os


sentimentos guardados. Tenho um evento para participar hoje e preciso de
toda a minha energia para ele — largo o potinho vazio ao meu lado e prendo
alguns fios que fugiram do meu coque. — Eu ia levar o Noah, mas parece
que terei que mudar meus planos.

— Me ofereceria para ir, mas tenho que trabalhar — faz biquinho e olha para
a sala. — Acho que Barbie toparia ir com você. Ele está muito

preocupado com a situação. Quando me buscou lá em casa, disse que


iríamos iniciar um esquadrão para cuidar de vocês dois — volta a me olhar e
segura a minha mão. — O que posso fazer para ajudar?

É muito bom saber que sou amada por todos eles e que se preocupam
comigo. Nunca tive tantas pessoas ao meu redor, querendo me ajudar de
verdade.

— Acho que me distrair é uma boa opção. O resto, fica nas mãos do tempo
— saio da bancada, decidida a dar uma pausa no sofrimento, porque não
posso me deixar abater enquanto trabalho.

Só espero que seja fácil como estou planejando.

— São para você, Kath. Na verdade, esse é o vigésimo que chega —


Barbie segura um buquê lindo com rosas amarelas. Olho para a varanda e
parece que criaram um jardim ali. Vou até lá e olho cada um deles.

— Ele é louco?! O que vou fazer com tudo isso?!

Minha mãe me olha do sofá, e sei que está contendo um sorriso, enquanto
Barbie me encara sem saber o que responder.

— Só pede para ele parar, por favor. Ficar olhando para essas flores vai me
fazer mal, e eu já estou muito mal, sem que ele ajude ainda mais para isso —
passo a mão por um buquê com flores rosas e brancas. Na mesma hora, me
lembro do pedido de namoro e preciso respirar fundo para não chorar. — Só
pede para ele parar — repito sem força e saio.

— O que eu faço, Joana? — escuto ele perguntar antes de eu entrar em meu


quarto.

Abro todas as outras cortinas e deixo a claridade entrar de vez. A cidade


continua seguindo seu fluxo e as pessoas vivem suas vidas sem ao menos
fazerem ideia que aqui em cima, tem alguém que daria tudo para não estar
com o coração em pedaços.

Pelo canto do olho, vejo meu celular acender e vou até a cama para pegá-lo.
O nome de Noah aparece na tela, junto com uma foto de nós dois.

Recuso.

Abro meu Instagram e encontro várias pessoas dando parabéns para ele na
foto que postei ontem, quando tudo ainda era perfeito. Mal sabem eles que,
em breve, meu nome estará circulando por aí de novo, só que agora o tema
será o meu relacionamento, que durou tão pouco que eles sequer
conseguiram se acostumar.

— Idiota — falo para a foto, querendo sentir raiva. Porém, a tristeza é tão
grande que domina tudo em mim.

Aparece uma notificação informando que tem uma mensagem de Liz.


Liz: Oi, meu anjo. Não vou perguntar como está porque sei que não terei
uma resposta positiva.

Liz: Noah me contou agora pouco o que aconteceu e, eu estou muito


chateada com tudo isso. Não sabe o quanto torço pela felicidade dos dois,
estando juntos ou não, por mais que todos saibam que sou fã número 1 do
casal que vocês se tornaram.

Liz: Espero que possamos nos ver e conversar um pouco quando estiver bem
para isso.

Essa mulher não existe. Estava esperando uma mensagem totalmente


diferente, defendendo o filho a qualquer custo, mas ela quer me ouvir,
conversar e me ajudar. Impossível não a amar.

Eu: Oi, Liz. De fato, não estou bem. Acho que o estado que me encontro não
tem uma definição.

Eu: Tenho que trabalhar hoje e amanhã, mas podemos nos ver na segunda.

Saio da conversa e vejo que Noah me mandou muitas mensagens, mas não
tenho coragem de lê-las, talvez, eu faça isso na segunda também.

Conecto o celular com o som do quarto e procuro uma música. Claro que eu
deveria colocar uma coisa animada, mas já que estou na foça, vou curtir esse
momento com Miley Cirus e colocar The Climb.

Fecho a porta do meu quarto e coloco a música em um volume altíssimo.


Vou para o banheiro para tomar meu banho e entro embaixo da água bem
quente.

Cada passo que eu dou

Cada movimento que eu faço,

Parece perdido, sem direção

Minha fé está abalada


Mas eu, eu tenho que continuar tentando

Tenho que manter minha cabeça erguida

Me permito chorar mais um pouco dentro do chuveiro e prometo a mim


mesma que essas serão as últimas lágrimas que derramarei por causa de
Noah. Deixo que Miley me faça sofrer mais um pouco.

— Você está certa! — saio do banheiro com um conjunto de calcinha e sutiã


e vou até o closet. — Só preciso ser forte e seguir em frente.

O evento da NFL é um dos mais movimentados e esperados por várias


estrelas. Mas uma vez, fui convidada para participar, e assim que confirmei
minha presença, apareceram várias marcas querendo usar a minha imagem
para promover uma coleção nova deles.

Foi muito difícil escolher, porque todas as opções de roupas eram incríveis.
Acabei optando por um vestido preto longo, que é muito brilhoso e tem uma
fenda que me deixa mais alta e, quando eu ando vai até a minha virilha.

Existe todo um esquema para as pessoas entrarem. Diferente do que parece,


as pessoas simplesmente não saem entrando. Fica uma fila absurda de carros
que vão liberando devagar os convidados em uma certa quantidade. Eu serei
a próxima a sair.

Confiro mais uma vez a minha maquiagem e meu cabelo pelo celular e
coloco no rosto o melhor sorriso que consigo. Um homem abre a porta e eu
saio, já sendo recebida por vários flashes e perguntas de todos os tipos.
Dou tchau para alguns, sorrio para outros e me encaminho para o ponto onde
todos tiram as famosas fotos que vemos nos sites oficiais, mostrando todo
um painel atrás de nós, com o nome do evento e os patrocinadores.

— Opa! Cheguei na hora certa — viro o rosto e encontro Christopher, o


quarterback de um dos times mais famosos da NFL. — Deveria ser proibido
tanta beleza em uma pessoa só.

Sorrio ao ouvi-lo e as câmeras continuam a tirar fotos. Ele se aproxima e me


cumprimenta com dois beijos no rosto.

— Você também está ótimo, Chris.

— Ei, se juntem para uma foto — pede o fotografo oficial do evento.

Chris envolve minha cintura com um braço e eu me ajeito, colocando uma


perna para frente e a mão na cintura. Ficamos tempo suficiente e nos
viramos para outros fotógrafos também.

— Juro que irei colocar essa foto no portão da minha garagem — rio e
juntos seguimos para dentro do evento. — Recebeu as fotos do comercial?

Eu e Chris fizemos um comercial para uma marca de perfume na semana


passada e foi ótimo trabalhar com ele. É muito animado, simpático e fez de
tudo para que eu ficasse à vontade. Me surpreendeu, pois foi totalmente
diferente do que as pessoas falam que ele é por aí, como sendo um tanto
quanto arrogante enquanto joga.

— Eu recebi sim. Estou ansiosa demais. Inclusive, me mandaram uma caixa


cheia de perfumes femininos. Amei.

Ele aproxima seu pescoço para que eu cheire, e quando faço sou tomada por
um cheiro muito bom.

— O masculino também é ótimo.

Assim que entramos, já nos deparamos com muitos famosos, e ele me leva
até onde estão os outros jogadores de seu time e algumas mulheres, que
deduzo serem acompanhantes deles.
— E aí, galera? — eles se cumprimentam trocando abraços, socos nos
ombros e outros gestos bem brutos. Eu rio e fico apenas olhando. — Acho
que vocês já conhecem, mas esse é Kathllen Ibrahim, minha amiga — me
olha e pisca.

Conheço todos ali e entramos em uma conversa aleatória. Por um bom


tempo, consigo esquecer de tudo que estou passando, mas uma menção do
nome dele foi necessária para tudo mudar.

— Eu vi esses dias aí que você está namorando aquele advogado...

Qual o nome mesmo? — um dos homens fala e fica tentando lembrar. —


Ah, Noah Cooper. Cara bacana, ajudou muito o meu irmão, que joga na
NBA.

— NFL e NBA na mesma família? Uau — brinco sem achar nenhuma graça,
apenas tentando fugir do assunto Noah, o que não dá muito certo.

— Por que ele não veio? — pergunta e leva uma bronca da sua esposa, que
teve mais senso do que ele e não perguntou nada.

— Bem... — tento pensar em algo que não seja a verdade para não chorar.
— Não conseguimos sincronizar as nossas agendas ainda, tudo é muito
recente — sorrio e peço licença, prometendo que voltarei em breve.

Ando um pouco pelo salão, falo com algumas pessoas e finjo que não vejo
outras. Todo mundo parece muito feliz e a sua maioria está, já que o

evento é para comemorar mais um campeonato importante que eles


venceram.

Sou chamada para tirar fotos com algumas pessoas e tenho total certeza que
nenhum deles de fato me conhecem de verdade, porque não é difícil notar
que todos meus sorrisos estão sem vida.

— Ma belle, que surpresa boa — Gaspar aparece ao lado do seu marido,


ambos muito bem vestidos e sorridentes. — Como você está, chéri?
— me abraça apertado e queria poder me manter ali por mais tempo do que
fiquei.

Suspiro, mas mantenho meu sorriso.

— Estou bem, Gaspar — Lucian me dá dois beijinhos e coloca a mão no


ombro do seu companheiro. — Vocês estão ótimos, como sempre.

— Obrigada, Kath! Viu o cardápio? Eu e minha equipe que montamos tudo


— Lucian diz orgulhoso. Eu deveria ter imaginado que tamanha criatividade
viria de uma cabeça tão sensacional quanto a dele.

— Sim, eu vi. Inclusive, muitas pessoas elogiaram e estão ansiosas para


provar as refeições principais — ele sorri, contente com o elogio e se retira
para ver como está tudo na cozinha.

Gaspar me encara e acho que ele praticamente lê minha alma. Me olha com
doçura e me abraça novamente, alisando as minhas costas.

— O que aquele bel homme fez com você? — ele olha em meus olhos e alisa
meu rosto com ternura. Podemos não ser extremamente próximos, mas ele
me conhece bem.

Mordo o lábio e me concentro para não quebrar a promessa que fiz de não
chorar mais por ele.

— A história é longa, mas basicamente, o peguei me traindo. Ontem.

Enquanto eu ia igual uma idiota busca-lo para jantar.

— Bâtard! — fala mais alto e algumas pessoas nos encara. Ele dá tchau e
mostra um sorriso amarelo. É uma cena engraçada e acabo rindo baixinho.
— Por que você não vai lá no restaurante essa semana, eu te encho de
comida e bebida enquanto você me conta o que aconteceu e planejamos
como le faire souffrir?

Rio de novo e preciso pôr a mão na boca para o som não sair alto.

— Claro! Eu te mando uma mensagem marcando o dia.


Ele concorda e, por mais alguns minutos, conversamos sobre coisas triviais,
até que Lucian o chama e ele se despede.

— Fique bem, querida! Você é luz, não esqueça. — fala antes de se

afastar.

Vou até o banheiro na intenção de ficar um pouco sozinha e entro na


primeira cabine que vejo vazia. Sento na tampa do vazo e pego meu celular
na bolsinha.

Meu Instagram está bombando com a foto que postei com o look de hoje e, é
olhando novamente para a fotografia que reparo no anel. Olho para minha
mão e lá está ele, como se já fizesse parte da minha pele. A realidade é que
não tenho coragem de tirar e nem quero.

Mais uma vez, aparece o nome e a foto de Noah enquanto ele me liga.

Eu pondero em atendê-lo ou não.

Sei que precisamos conversar, mas hoje ainda não é o dia e, muito
provavelmente, não será amanhã. Quanto mais ele me liga, maior é a chance
dessa conversa demorar para acontecer. Eu preciso de espaço.

Abro a minha conversa com ele, me proíbo de ler as coisas que ele mandou,
e apenas digito uma mensagem:

Eu: Preciso de espaço, Noah. Me ligar, mandar flores, doces e qualquer outra
coisa, não vai adiantar nada. Apenas piora e minha raiva aumenta.

Eu: Prometo te procurar em breve para conversarmos.

Foi difícil enviar as mensagens de forma tão fria e ignorar mais uma vez as
que ele manda logo em seguida, porém, eu preciso pensar com a cabeça,
porque se eu for pelo meu coração, estaria batendo na porta dele e falando
para deixar tudo para lá, que o perdoei e que o amo demais para terminar por
conta de um beijo.

Meu coração não falará mais alto dessa vez.


Saio do banheiro e encontro Chris saindo do masculino, limpando a boca
suja de batom. Eu rio baixinho e ofereço a ele um lenço que tinha em minha
bolsa.

— Ninguém precisa saber o que você estava fazendo — pisco e por cima de
seu ombro, vejo uma mulher saindo do mesmo lugar que ele saiu, fingindo
que nada aconteceu.

Ele passa o lenço de qualquer jeito pelo rosto e eu o ajudo. Depois, voltamos
para o salão, caminhando devagar entre o mar de pessoas.

— Alguma chance de você estar solteira e aceitar o convite que te fiz quando
estávamos trabalhando? — pisca os olhos azuis, que parecem o mar do
caribe, e eu rio. — Eu notei que tem algo de errado com você, e seu

namorado não está aqui... — deduz o óbvio.

— Você é lindo, Chris. E, não menti quando disse que simpatizei com você
de cara, mas por mais que no momento eu não saiba em que pé está meu
relacionamento, meu coração tem dono — ele concorda e sorri, gentil. —

Entretanto, se quer saber, você teria altas chances se não fosse por isso —

brinco.

Ele alisa a barba e morde o lábio, encenando um flerte que nos rende ótimas
gargalhadas.

— Obrigada por isso. Meu ego tão falado por aí agradece pelo desfecho.

O resto do evento ocorre bem, como eu imaginei que seria. Todos os outros
amigos dele são simpáticos e conseguiram me animar. Tiramos uma foto
todos juntos, um deles postou e nós repostamos, para logo em seguida nos
seguirmos em todas as redes sociais. Cheguei a prometer que iria em todos
os jogos que rolassem aqui por perto.

Depois de comer mais que comi em toda semana, e beber muitas taças de
várias bebidas, decido que já deu por hoje. Pego meu celular e peço um taxi.
Me despeço de todo mundo e vou para a porta do evento, onde outras
pessoas esperam pelos carros.

— Ei! — Chris corre em minha direção. — Vamos fazer uma pós na casa do
Ronald. Não quer ir? Juro que é um convite amigável e com zero intenções
maldosas.

Olho para eles, que parecem esperar por uma resposta.

— Eu acho que não serei uma boa companhia hoje, mas fico feliz com o
convite — ele faz um bico, mas balança a cabeça em concordância. —

Prometo chamá-los para um churrasco em minha casa assim que ela estiver
pronta.

Ele se anima, me abraça e volta para seus amigos.

Meu taxi chega e vou para casa, sentindo todo o peso da tristeza tomar conta
do meu corpo novamente.

36

5 dias.

Hoje está fazendo exatamente 5 dias em que vi meu mundo ruir sem que eu
pudesse fazer nada.

Samantha foi fria e totalmente calculista em todos os seus passos.

Jennifer por pouco não a jogou pela janela, depois de confrontá-la e


descobrir que a intenção dela sempre foi o dinheiro e parece que ela me viu
como uma fácil alternativa para conseguir tal coisa.
Se eu estava com raiva antes, depois que Jenni me contou, eu só conseguia
enxergar vermelho na minha frente. Como uma pessoa ferra com outra
porque quer dinheiro? Será que ela já pensou em trabalhar?

E pior, fez tudo certinho. Todas as vezes que ela forçava a barra para não
usarmos camisinha, querendo de qualquer forma ir para minha casa, me
conhecer melhor, nunca foi nada do que eu pensava. Até acreditei que ela
poderia estar gostando de mim, e por isso me afastei. A verdade é que eu era
apenas um meio para que conquistasse seus objetivos.

Agora estou aqui, literalmente me arrastando para fazer minhas coisas. Pela
primeira vez em toda a minha vida, eu não quis ter que vir trabalhar; desde
segunda estou me forçando e hoje já é quarta, mas continuo assim.

O fim de semana foi péssimo, porque eu acreditei que conseguiria conversar


com Kath e explicar tudo o que aconteceu com calma, e que ela entenderia.
Em vez disso, tive que ver em todos os lugares várias fotos dela com o
quarterback queridinho de todos, o mesmo das fotos que Samantha me
mandou. Tentei muito não pensar nisso, mas era impossível não ver que eles
estavam bem próximos.

Olhei todas as fotos deles, em todos os sites e perfis no Instagram.

Fiquei atualizando o feed dela a cada segundo, esperando que ela tirasse
nossas fotos ou que colocasse alguma com ele, qualquer coisa.

O ciúme me nocauteou. A possibilidade de ela ter virado a página que

me incluía e ter ido viver sua vida, me sufocou e eu chorei, sem me importar
com as pessoas ao meu redor. Chorei de verdade jogado no sofá de Barbie.

e então, eu sigo nesse ciclo de acordar, conferir as notícias com o nome dela
e seu Instagram, venho para o trabalho e confiro novamente, volto para casa
e continuo conferindo o resto da noite, enquanto faço outras coisas no
automático.

Ela me pediu um espaço e o mínimo que eu poderia fazer era dar isso a ela.
Eu entendo, de verdade, que é difícil acreditar que algo que ela viu não foi
realmente o que aconteceu. No lugar dela, agiria da mesma maneira, depois
de ter arrancado o homem de seus braços e dado uma bela surra nele.

Eu... só não estou preparado para perde-la.

— Cara, você tá mal mesmo. Sua sala fede a luto! — Jackson entra e faz
careta.

— Minha sala está apenas refletindo como estou. E, eu estou uma merda, um
lixo. Não queria ver a minha casa.

Ele senta e cruza as mãos em cima do colo. Passa os olhos por toda a sala e
fixa na minha foto com Kath.

— Vocês ainda não conversaram, né? — pergunta sem esperar resposta. —


Se te conforta, ela também não está bem.

Encosto a cabeça no encosto da cadeira e fecho os olhos.

— E, por que ela insiste em não falar comigo? Quanto tempo vai levar para
que ela finalmente queira me ver de novo?

— Você sabe que hoje todo mundo estará junto, né?

Jogo minha cabeça para frente tão rápido que meu pescoço estala.

— Hoje? Como assim?

Ele me olha como quem não acredita no que vê.

— Jesus, Noah. Hoje é aniversário do Barbie.

Puta merda.

— Eu esqueci, e estive com ele a manhã inteira.

Meus ombros caem e eu olho para a rua, chateado. Eu nunca esqueço o


aniversário das pessoas ao meu redor e, sou sempre eu quem faço questão de
tornar esse dia o mais agradável possível para o aniversariante.
— Você tem que voltar para a realidade. Eu, melhor que ninguém, sei como
é um inferno perder a pessoa que amamos, mas essa sua versão não é a
versão que Kath se apaixonou — ele levanta e pega o porta retrato. — Hoje
não vai ser fácil. Eu a conheço bem demais para saber que ela não vai deixar
transparecer o quanto está na merda.

Me levanto, sentindo todo o meu corpo dolorido por causa dos exercícios em
excesso que venho fazendo para tentar distrair a mente.

— A questão é que não sei mais ser eu mesmo sem ela comigo — rio,
desacreditado ao ouvir o que falo. — Quem eu me tornei? Estou totalmente
dependente de uma mulher.

Ele coloca a foto no lugar e encosta na estante.

— Não é nada disso, cara. Kathllen é o seu primeiro amor e, normalmente,


isso acontece quando somos mais jovens e podemos ser mais imprudentes
em relação a como lidar com acontecimento desse tipo — ele olha para meu
notebook e tenho certeza que está vendo o Instagram dela aberto. — Isso
tudo é normal, muito normal. Só que vai ser mais difícil, porque você é um
homem de quase 30 anos, que nunca teve nada parecido com um
relacionamento. É estranho ter tais reações já sendo adulto e cheio de
responsabilidade.

— Eu a amo!

— Eu sei, sua família sabe, a garçonete do restaurante que fomos sabe

— reviro os olhos ao lembrar da menina que flertou comigo e eu disse que


não queria nada porque amo outra. Mas, nesse dia eu não parei por aí, falei
que a outra talvez até já estivesse com um novo namorado e que eu ficaria
sozinho para sempre, porque ninguém mais serviria. Obrigada por isso,
tequila. — Mas, ela sabe? Você falou com ela?

Balanço a cabeça em negativa.

— Bem... Seria interessante que ela soubesse disso, mas saiba como falar,
tá? Não deixe que ela pense que está falando isso só porque quer voltar.
E, com certeza, hoje não vai ser o dia para vocês terem a conversa, então, só
tente não se torturar demais.

Impossível me torturar mais do que já venho fazendo com essa obsessão de


saber o que está acontecendo na vida dela enquanto eu estou longe, sem
poder participar de suas coisas.

A entrevista dela está chegando e, sei que é um passo muito importante para
o encerramento de toda sua história com Alex e Ethan. Não estarei junto
para comemorar com a minha mulher.

— Não vai ser fácil — repito o que ele falou há pouco tempo. Pego meu
celular pela milésima vez em menos de 20 minutos e olho as notificações de
mensagem, esperando que apareça o nome dela, e como das outras vezes,
não encontro nada. — Vou falar com Barbie.

Levanto e coloco o celular na calça. Ele apenas acena, se acomoda de

forma mais confortável e começa a mexer no celular.

Ultimamente, estou tendo um rodizio de babás. Eu sei que estou na foça e


tudo mais, mas não sei o que eles acham que eu faria se ficasse sozinho.
Entretanto, estou grato por tê-los comigo, me sinto um pouco menos vazio e
estou evitando meus pais, porque sei que eles irão absorver toda a minha dor.

— Irmão, eu me tornei um péssimo amigo, né? — entro na sala de Barbie


depois de conferir que ele está sozinho. Ele tira os óculos e sorri, tentando de
alguma maneira me assegurar que está tudo bem.

— Não. Impossível você ser um péssimo amigo — levanta e para bem em


minha frente. — Acontece com todo mundo um dia. Comigo já faz mais de
10 anos e acredite, você está ótimo em comparação a como eu fiquei depois
que aquela filha d... aquela pessoa me deu um pé na bunda.

— Feliz aniversário, Barbie. Meu presente será pagar a sua conta hoje na
Lotus — abraço meu amigo e depois ele faz uma comemoração com os
braços. Eu rio.
— Ótimo. Comprei um bebê novo e estarei falido pela próxima década —
com “bebê” ele se refere a um carro que estava namorando desde que
anunciaram a data de lançamento.

— Você sabe que eu sei dos seus negócios por fora e que, muito
dificilmente, um dia estará falido, né? — ele dá de ombros e vai até o outro
lado da sala, onde tem uma sacola de uma das suas lojas de roupas favorita.

— Tá, tá... Mas posso fazer o meu drama? — pisca e me mostra o conteúdo
da sacola. — Sua mãe comprou alguns presentes em seu nome, mas agora,
você não pode mais retirar o presente que já me deu.

Eu gargalho, porque é óbvio que minha mãe faria isso porque ela sabe como
estou, por mais que não tenha me visto. Além disso, ele não perderia a
oportunidade de me tirar um dinheiro. Espertinho.

Depois de fingir me importar com cada uma que ele me mostra, decidimos
que iremos os três juntos em um carro só, já que fica mais fácil deixar
apenas um no estacionamento da Lotus para buscar amanhã.

— Falou com ela hoje? — juro que tentei não fazer a pergunta que tenho
feito todo dia, a todo mundo que me cerca.

Ele respira fundo e pressiona o alto do nariz com as pontas dos dedos.

— Falei, claro — se escora na mesa e me fita, preocupado. — Eu não a


desconvidei, Noah. Espero que não veja isso como uma traição, mas a Kath
também é família — pressiona os lábios, desconfortável com a situação.

— Você fez o certo. Se eu não conseguir tê-la de volta, terei que aprender
amá-la a distância, porque jamais pediria para algum de vocês se afastar
dela. Nem vocês, nem ela, merecem isso — foi fácil falar isso, mas a pratica
será um inferno.

Ele concorda, mas seu olhar deixa claro que enxerga a minha dor pela
possibilidade.

— Kath te ama! Se não amasse, não estaria sendo tão difícil para vocês dois.
Ela passou por muitas coisas em pouco tempo e se entregou para você, mas
agora acredita que foi traída. Imagino que a cabeça dela deve estar uma
batalha entre querer conversar e precisar de mais tempo até se sentir
confortável para tal coisa.

— Estou torcendo para que esse amor seja o suficiente para, pelo menos, me
ouvir.

— Ela vai — diz com confiança e isso alimenta a minha esperança.

O resto do dia eu continuo me forçando a trabalhar e consigo adiantar


algumas coisas do meu novo caso; passo a última hora antes de ir para a
Lotus no telefone com meu cliente.

Tomei um banho no escritório e coloquei outro terno, já que só deixo esse


tipo de roupa aqui.

— Ótimo. Iremos de trio executivos — Jacob fala enquanto mexe no celular


e arruma os óculos no rosto. — Pensei que a boneca ia trocar de roupa, já
que é a estrela do dia — implica com Barbie.

— Gosto do efeito que causo nas mulheres por ser o gostosão de terno

— eu tento não rir, mas esse cara é babaca demais. — Ah, por favor, né?

Vocês sabem que o terno causa uma impressão a mais, não que eu precise e
nem sei porque estou me justificando para vocês, seus merdas.

Jacob revira os olhos e caminhamos até seu carro. O caminho até o bar é bar
é bem rápido e isso me incomoda, porque a ansiedade me consome por
dentro enquanto tento manter a fachada imparcial.

Jackson nos espera na entrada pelo estacionamento.

— Está cheio hoje, um reencontro de ex-alunos de alguma faculdade

— comenta assim que nos aproximamos dele. — Barbie, bastante mulher


diferente para você gastar essa lábia barata — brinca.
Barbie ajeita a roupa ao ouvir isso e passa a mão no cabelo, que já estava
perfeitamente no lugar. Todos nós, menos o aniversariante, reviramos os
olhos para a sua atitude.

Seguimos Jack para a área que separou para Barbie. É um camarote

dos grandes, onde pessoas pagam a mais para festas ou, simplesmente, para
terem um conforto maior. Tem 4 sofás grandes de couro, duas mesas e um
caminho exclusivo para o banheiro mais próximo.

Encontro meus pais, meu irmão e Laura esperando por nós. Me sinto
aliviado e frustrado na mesma proporção. Barbie ganha a atenção de todos e,
enquanto isso, peço uma bebida para todos, confirmando o que cada um quer
beber.

— Querido! — minha mãe se aproxima com um sorriso triste em seu rosto e


alisa me rosto. — Estava com saudades. Esperei sua vida toda para te dar
colo quando sofresse por amor e agora você foge — tenta brincar, mas o
sorriso de nós dois é forçado.

— A senhora está linda, mãe — seu cabelo está solto e cheios de cachos, o
que a deixa com a aparência ainda mais jovem que o normal. —

Passarei lá em casa esse fim de semana. Tudo bem? — ela aceita a resposta e
vai pegar uma cerveja.

Falo com meu pai e B. Laura me olha diferente e imagino que já saiba a
história e não deve ter acredito na minha versão, só que não me importo, e
não faço questão de ir me justificar, porque isso não está fazendo bem para
mim.

Sento-me no sofá mais próximo da parte em que conseguimos ver toda a


Lotus e, realmente, para uma quarta-feira, está mais cheio que o comum; não
que eu tenha vindo muitas vezes no meio da semana, mas das vezes que vim,
não estava tão lotada como se fosse uma sexta.

Tiro meu celular do bolso e respondo algumas mensagens que havia


ignorado mais cedo e me distraio depois, olhando algumas notícias e
bebendo meu whisky.
Meu pai se senta ao meu lado e começamos a conversar coisas aleatórias,
mas sei que ele quer saber como estou, porém, é educado demais para fazer
isso aqui, sabendo que posso reagir igual a uma criança quando perde o
balão que estava amarrado ao seu dedo.

— Sua mãe está muito feliz com o novo negócio — ambos olhamos para ela,
que empolgada, mostra no celular seus projetos atuais. — Muito preocupada
com você, mas está feliz — pontua.

— Vou pegá-la para almoçar amanhã. Mesmo tendo combinado de ir ver


vocês no fim de semana, sei que ela está se corroendo por ficar distante
enquanto tudo acontece — meu pai concorda, sem se prolongar no assunto, e
agradeço.

— Boa sorte — bate na minha perna e se levanta, me deixando sem entender


o porquê de ter desejado tal coisa.

Entretanto, não demora muito e eu compreendo, assim que o cheiro doce,


que se tornou o meu preferido, atinge meu espaço.

Kathllen chegou com sua mãe e Emma, que estão lindas, mas não se
comparam ao meu furacão. Ela está com um vestido simples, todo preto e
curtinho, que parece ter sido desenhado no corpo dela.

Não consigo evitar e a encaro enquanto ela fala sorridente com todos.

Observo seu corpo, que eu conheço tão bem, e sinto falta; lembro que seu
cabelo está sempre cheiroso e pronto para ser tocado por mim.

Nossos olhos se encontram quando ela termina de falar com meu pai e ali, eu
tenho certeza que ela também está triste e com saudades. Espero que me olhe
por inteiro e ela faz isso lentamente, não com maldade, mas com saudades.

Me levanto quando ela anda em minha direção e, todos disfarçam muito mal
enquanto observam a nossa interação.

— Oi, Noah — sua voz sai baixa e noto que ela não sabe como me
cumprimentar. Eu quero beijá-la como se minha vida dependesse disso,
porque depende, mas sei que não posso.
— Kath! — sussurro e aproximo meu rosto para beijar uma de suas
bochechas. — Você está ótima! — me esforço para sorrir e deixo um espaço
confortável entre nós dois.

Ela sorri de canto, mas o sorriso não chega até seus olhos.

— Não, não estou ótima — eu também não. — Porém, sei que se referia a
minha aparência e, nem sei porque falei isso — bufa. — É tudo bem
estranho.

Concordo e entendo perfeitamente como ela se sente, mas parece que não sei
externar tais coisas; o receio de falar algo e estragar uma possível conversa
me trava.

— Noah!

— Kath! — falamos juntos, ela sorri e abaixa a cabeça.

— Eu acho melhor não ficarmos próximos — ela olha ao redor e vê que as


pessoas olham para nós dois. — Não quero quebrar o clima legal do
aniversário.

— Eu... Tudo bem! Eu só queria saber se você está bem — meu peito se
aperta tanto que espero o momento que vou perder o ar. — Eu sinto sua falta
todos os dias, todas as horas da merda do dia, mas vou esperar seu

momento.

Me afasto antes que eu perca a coragem de ficar longe e decido interagir


com as pessoas. Viro todo o meu copo e já peço outro, pois vou precisar.

O clima está suave, por mais que exista uma tensa entre mim e Kath.

Pego ela me olhando várias vezes, e isso me deixa aliviado por algum
motivo que nem eu mesmo entendo. Todas as vezes que a olho, deixo claro
que estou fazendo tal coisa.

— Oi! — Emma se aproxima, sem graça. — Você não fez, né? O que Kath
acha que viu você fazer?
— Claro que não! Como eu trairia aquela mulher, Emma? Olha só...

— nós dois olhamos enquanto ela ri usando os óculos de Jacob, que gargalha
de alguma piada deles. — Ela se tornou meu mundo e, acho que sequer
percebe o quanto me faz feliz só por ter se encaixado tão bem e naturalmente
em minha vida.

Emma me observa enquanto admiro Kath.

— Então, me explica como a sua boca foi parar na boca daquela oxigenada
peituda? — quase engasgo em uma risada quando escuto. — Ah, não dá para
ter empatia por uma mulher assim, não mesmo.

Sentamos em um sofá que está vazio e, durante quase meia hora, conto tudo
detalhadamente, desde o início de como foi que tudo aconteceu e como me
envolvi com Samantha.

E, adivinhe? Se um dia julguei alguém pela idade, acabo de engolir tais


palavras, porque essa menina na minha frente é um show de maturidade.

— Aconteceu algumas coisas e estou ficando na casa de Kath desde sábado


— dá um gole no seu drink e depois deixa a taça na mesa. — Ela não está
bem, sente sua falta e, eu queria saber de você a sua versão antes de te ajudar
a reconquistá-la.

Perco a atenção em Emma quando Kath passa por nós e vai até a entrada do
camarote em que estamos para falar com alguém.

O quarterback.

O maldito quarterback.

Eu não presto atenção em mais nada ao meu redor, acho que nem pisco
enquanto encaro os dois.

Eles se abraçam, ela sorri abertamente para ele, que retribui. Meu estômago
embrulha. A mão do homem gosta do corpo dela, porque passa em um dos
seus braços e depois deixa em sua lombar; eu quase tenho um treco,
mas ela delicadamente tira a mão dele dali e eu agradeço por isso. Nossa, eu
agradeço muito.

Alguém fala comigo e eu respondo qualquer coisa.

Kath chama Barbie para apresentá-los.

Para quê? Qual a importância dele em sua vida para apresentar ao seu
amigo?

Os dois se cumprimentam com educação e Barbie passa o braço pelo ombro


dela. Obrigado amigo. Te devo mais uma. Por um tempo, eles ficam
conversando e rindo, todos à vontade.

— Toma! — B me dá mais um copo cheio de whisky e só assim percebo que


já havia terminado o outro. — Você ainda se lembra como piscar?

Viro-me para ele e o questiono com o olhar.

— O que esse cara está fazendo aqui? — sei que ele não tem como saber,
mas como não posso perguntar direto para ela, fico esperando que ele fale
algo.

— Cara, calma. Acho que eles são só amigos! — observa os dois, enquanto
eu me esforço para olhar em outra direção. — Ele, claramente, quer algo a
mais com ela, mas isso não quer dizer que eles têm algo.

Bufo e rio sem humor nenhum.

— Certo. Obrigado por constatar algo que é notável — saio de perto e me


escoro na grade, olhando as pessoas se divertindo e totalmente alheias ao
meu coração, que se sente despedaçado a cada segundo que sei que os dois
interagem.

Fico parado ali por um bom tempo e ignoro quem me chama. Porém, parece
que minha bexiga não aguenta mais ser ignorada.

E, é claro que eles ainda estão no caminho conversando e, que eu terei que
passar por eles.
— Opa, licença — tento manter minha voz tranquila e sorrir gentil, mas
tenho certeza que estou fazendo uma careta.

Eles viram e Kath ruboriza, o que me faz questionar um milhão de coisas em


meio segundo.

— Ah! Christopher, esse é o Noah — fala para o homem, que tem quase a
mesma altura que eu e sorri para mim, com a mão estendida. —

Noah, esse é o Chris. Lembra daquele comercial que eu fiz? — aceito a mão
dele e cumprimento-o.

— E aí, cara! Kath fala muito de você.

Olho para ela e depois para ele.

— Imagino que sim — dessa vez, não consigo ser gentil e fica óbvio meu
incômodo. — Não vou atrapalhar vocês. Só preciso ir ao banheiro —

passo por eles fazendo um grande esforço de não esbarrar no ombro dele e, a
passos pesados, me afasto.

— Ele ficou com ciúmes — escuto Christopher falar enquanto me afasto.

Entro no banheiro e sinto vontade de quebrar algo, mas me controlo.

Já quebrei toda a cota de coisas que eu poderia quebrar em uma vida inteira.

Largo o copo na pia e vou fazer xixi, na esperança que todo esse sentimento
saia pelo ralo.

Escuto os homens que estavam no banheiro mexendo com alguém, termino e


me viro, fechando a minha roupa. Kathllen me encara com choque, e seu
olhar desce para a minha mão enquanto fecho o zíper da calça.

— Qual o seu problema, Noah? Porque tratou o Chris daquele jeito?

— se aproxima e levanta a cabeça para me encarar por conta da nossa


diferença de altura.
Admiro seus lábios perfeitamente pintados com um batom clarinho, e
depois, vou até a pia e lavo minhas mãos sem pressa. Uso esse tempo para
me preparar para a resposta.

— Qual o meu problema? A minha namorada está sem falar comigo, nem sei
se ainda é a minha namorada, e para melhorar, ela tem um homem ao redor
que, descaradamente, demonstra o interesse para quem quiser ver.

Para que eu veja!

Ela bufa e vejo que aperta as mãos ao redor do corpo.

— Você é melhor que isso, Noah. Tenho certeza que consegue ser educado!
— se aproxima mais, os olhos apertados enquanto me encara. —

Ele não fez nada de errado e sempre me respeitou, não que seja da sua conta,
já que você fez bem diferente.

Rio, rio de ódio, porque o ciúmes está falando mais alto e eu não estou
pensando direito.

— Não, Kathllen. Eu estou descobrindo junto com você que não sou melhor
que isso quando a questão é você! — dessa vez, sou eu quem me aproximo
mais e nossos corpos quase encostam. — A sensação da possibilidade de
perder você para ele, ou para qualquer outra pessoa, está acabando comigo.
É isso que você quer ouvir? Minha vida está uma merda sem você, nem meu
trabalho tem graça mais. E, você está feliz com seu

amigo que gosta de encostar em seu corpo — passo a ponta do dedo em seu
ombro nu e ela arrepia. — Esse corpo que eu amo, que deveria ser tocado
por mim.

Ela fecha os olhos e respira profundamente, devagar.

— Não fala assim — sua voz está carregada de desejo e algo mais, que
parece ser... tristeza.

— O que você quer que eu fale? Me diz, só me diz o que eu preciso falar ou
fazer, que eu faço — subo a mão pelo seu pescoço e aliso sua bochecha com
o dedo. Em nenhum momento ela interrompe o meu toque.

Meu corpo está quase tremendo em desejo e saudade. — Só me diz... —

sussurro.

— Me beija!

Eu sequer penso depois que escuto. Em um instante, desço meu rosto e ataco
sua boca em um beijo saudoso. Suas mãos delicadas alisam o meu peito por
cima da camisa e sinto a necessidade dela em me tocar.

Coloco uma mão em sua bunda e colo nossos corpos, que parecem terem
sido feitos um para o outro. Minha língua passeia por toda a sua boca e ela
geme quando mordo a ponta de seu lábio inferior. Seus braços envolvem
meu pescoço e eu ergo um pouco meu corpo, para que fique mais
confortável para ela.

Nosso beijo é desesperado, feroz e apaixonado. Tem mágoa, tristeza e raiva,


representando todos os sentimentos que estão tomando conta de ambos.

Meu pau fica apertado dentro da cueca, o que ela sente quando aperto sua
bunda gostosa e pressiono mais meu corpo ao dela. Kath geme ao sentir, mas
diferente do que pensei que faria, ela se afasta bruscamente.

— Isso está errado — fala sem me encarar e passa as costas da mão na boca,
limpando o batom, que agora está borrado. — Não podemos, Noah.

Eu sinto sua falta, muito mais do que eu poderia explicar, mas não podemos
fingir que nada aconteceu. Eu tenho muito trabalho por esses dias,
entrevistas e não posso me afundar mais ainda nisso.

— Amor...

Ela para na porta e se vira para mim novamente.

— Eu te amo, Noah. E, só estou lhe falando porque preciso que você


entenda o peso disso tudo em minha vida. Eu não posso deixar meus
sentimentos atrapalharem o meu raciocínio — seus olhos brilham, úmidos
com lágrimas que não escorrem. — Você é livre para fazer o que quiser. Não
vou pedir que espere meu tempo, porque eu realmente não sei quando estarei

pronta para conversarmos. Você me magoou, tem que entender que o que eu
vi, me destroçou. Não importa quem fez o que, Noah, mas vocês se beijando
e eu tenho total certeza que o mínimo que mereço é respeito. Não posso ter
outro relacionamento que me leve ao fundo do poço.

— Mas eu... — travo. Não sai absolutamente nada da minha boca.

Forço as palavras a saírem novamente, mas não saem.

Ela me olha, esperando que eu fale algo mais, porém, quando nota que não
terá nenhuma resposta, me dá as costas e deixa o banheiro.

37

— BARBIERI! — grito quando meu amigo aparece com sua fantasia de


Capitão América e gargalho, quase deixando minha taça de vinho virar. —

VOCÊ NÃO PODE USAR ISSO!

Ele faz um tipo de dança e Laura rola no chão de tanto que rir do irmão.

— Não vejo nenhum problema na minha fantasia — caminha pela sala como
se fosse um verdadeiro super-herói.

— Isso está pornográfico, Barbie e, tira essa meia que colocou aí no meio —
brinco e me levanto para pegar mais vinho. Encho a taça de todo mundo e
me jogo no puff novamente.

A fantasia de Barbie para o Halloween já chegou e aproveitamos o sábado


para nos encontrarmos e conferirmos as nossas também. Infelizmente, está
acontecendo o que eu imaginei que aconteceria: o grupo está separado.

Todo mundo está se dividindo entre Noah e eu. É sempre assim e eu me


sinto péssima por isso, mas eles insistem em manter o esquema.

— Ok, talvez esteja marcando mais que o necessário da minha grande


preciosidade — o homem com o maior ego do mundo continua se admirando
e fazendo poses em frente ao espelho. A fantasia combinou demais com ele,
e seu corpo escultural é uma maravilha para os olhos, mas existe uma grande
chance de ele ir preso por atentado ao pudor. — Eu vou pedir para a menina
ajustar isso para mim essa semana ainda — sua voz confirma que está
contrariado.

8 dias desde que tudo aconteceu comigo e Noah.

8 dias em que as pessoas tentam evitar o assunto, mas sempre falam algo. Na
verdade, não me importo de esclarecer para quem perguntar o porquê de
ainda não ter conversado com ele. Podem achar que estou exagerando ou
sendo muito radical, e talvez esteja mesmo, mas está sendo fácil para mim
também.

Eu passei por muitas coisas nesses últimos anos e, uma das coisas que

eu não preciso é estar em um relacionamento no qual eu me sinta insegura,


com medo de a qualquer momento tudo ruir como ruiu.

Não é justo com ninguém a minha decisão, porém, eu preciso estar


realmente bem para ouvir o que ele tem para me contar e não agir por
impulso. Já basta a forma que falei “eu te amo” pela primeira vez. Quando
fui ao seu encontro, sentia a necessidade de falar para que ele entendesse que
estava pedindo esse tempo para processar a cena que vi e ouvi-lo sem que o
beijo ficasse se repetindo em minha cabeça como vem acontecendo a cada
segundo de todos os meus dias.

Quanto ao nosso beijo ontem... fiquei ainda mais confusa, porque acredito
que meu corpo tem um imã para o dele e pareceu errado não o beijar.

Que confusão.
— Eu iria! Ele é um gato — ouço Laura falar com Emma e ergo uma
sobrancelha. — Estamos falando do patrão de Emma, que a convidou para
jantar amanhã.

Emma morde o lábio, pensando.

— O que você faria, Kath? — me pergunta e dou um gole no vinho antes de


responder.

— Acho complicado, Em. Ele realmente é lindíssimo e eu te apoiaria se não


fosse nessa condição de patrão e empregada — Laura resmunga que sou
chata e se levanta para ir atrás do irmão. — Falando nisso, como vai o
trabalho?

Ela estica as pernas no chão e deixa a taça vazia ao seu lado.

— O trabalho vai bem, mas eu sinto que Nicholas me dá mais regalias do


que o normal — suspira. — Eu o acho muito atraente, sabe? Por mais que
seja mais velho que eu, o que não curto muito, ele é gentil e amável comigo,
e sei das suas intenções.

Meu celular vibra em meu bolso, porém, eu ignoro.

— Um envolvimento com o patrão pode gerar muitos problemas futuros,


mas ele pode ser uma boa pessoa além das intenções — dou de ombros.

Ela concorda e depois seu rosto muda, voltando a ficar alegre.

— Você vai manter a sua fantasia de mulher gato? — ela levanta na mesma
hora que Barbie e Laura voltam. Todos me olham esperando uma resposta.

— Claro! Aquela fantasia é perfeita e vou ficar muito gostosa nela —

brinco e todo mundo ri. — Lamento por Noah, que não irá poder aproveitar

depois — sim, o álcool está começando a falar por mim.

Meu celular vibra de novo e de novo. Tiro-o do bolso e vejo várias ligações
da minha mãe. Sinto uma sensação ruim, e na hora ligo para ela.
— Kathllen, até que enfim. Onde você está, filha? — pergunta e a
preocupação em sua voz me assusta.

— Estou no Barbie. O que houve, mãe? — todos me encaram enquanto


espero pela resposta.

— A Mila passou muito mal e foi levada para o hospital desacordada.

Ana me ligou há 20 minutos e disse que Liz e Justin estavam indo ficar com
ela — levanto tão rápido que assusto o pessoal. Corro até a minha bolsa e
tento calçar meu sapato de qualquer jeito.

— Estou indo para lá, mãe. Obrigada por avisar — desligo sem esperar por
uma resposta.

Barbie já está de prontidão sem nem ao mesmo saber o que aconteceu.

Pega a chave do meu carro e da casa dele, coloca o tênis em tempo recorde e
põe a camisa que estava no sofá.

— Aconteceu alguma coisa com a Mila. Ela foi para o hospital —

minha voz está chorosa, mas tento não me desesperar sem saber o que
houve.

Laura e Emma me abraçam rapidamente e dizem que irão ficar e arrumar a


bagunça que fizemos na casa.

— Vamos! — Barbie segura a minha mão e vamos até o estacionamento. —


Vou dirigir porque bebi só uma taça.

Ainda bem, porque eu não conseguiria dirigir nem se estivesse sóbria.

Passo o endereço do hospital que ela foi e, por sorte não é muito longe, mas
a viagem de 15 minutos parece uma eternidade e quase furo o chão do carro
de tanto que bato meus pés.

Barbie estaciona o carro e eu saio em disparada para a recepção.


— Kath? — escuto a voz de Justin e passo direto da recepção, indo onde ele
está.

Meu queixo treme e a vontade de chorar me ganha, pois as lágrimas


escorrem pelos meus olhos sem que eu possa evitá-las.

— Calma, venha cá — ele se aproxima e abre os braços. Praticamente me


jogo e ele faz um carinho breve em minhas costas. — Chegamos há
pouquíssimos minutos. Ainda estamos esperando por alguma informação do
médico.

Esfrego meu rosto em sua camisa e me afasto, concordando com a

cabeça.

Ele me leva até uma área de espera e lá encontro com Noah e Liz.

Ambos parecem estar tão abalados quanto eu; assim que me vê, Liz se
levanta para falar comigo.

— Vai dar tudo certo, meu anjo — beija a minha testa e segura as minhas
mãos com força. — Já passei por isso muitas vezes com meus filhos e sei
que é horrível.

— Mas ela não é minh...

Liz sorri. É um sorriso que diz muitas coisas.

— Bem, Noah já era meu filho antes que eu percebesse que queria que ele
fosse e, com Bryan foi a mesma coisa — ela coloca a mão em meu peito. —
Essa dor alucinante que está sentindo, é uma dor que só as mães sentem, e
consigo ver isso em seu olhar.

Choro de novo e não sei se é porque realmente sinto o que ela diz, ou por
medo do que o médico pode falar.

Liz chama Justin para ir até a cafeteria e me deixa sozinha com Noah, que
me encara com os olhos vermelhos, evidenciando ainda mais suas írises
verdes. Caminho até ele, mas paro no caminho ao ouvir o médico.
— Vocês são os responsáveis pela Camila? — pergunta enquanto tira suas
luvas. Noah se levanta e para ao meu lado.

— Somos! — falamos juntos e o médico assente.

— Eu sou o Dr. Herreira e lamento pelo acontecido — respira fundo antes de


falar. — Camila teve uma crise grave de asma que fechou todas as vias
respiratórias dela. Foi preciso fazer uma traqueostomia para colocarmos uma
ventilação mecânica depois que conseguimos reanimá-la.

Solto um soluço alto enquanto choro e coloco a mão na boca para me


controlar. Sinto a mão de Noah em meu ombro e o abraço; sem pensar em
mais nada, choro com o rosto em seu peito.

— O que isso significa, doutor? Ela nunca foi diagnosticada com asma e
todos os exames estão em dia — Noah se mantém firme por nós dois.

— Ela ainda é muito nova e, muitas vezes, só descobrimos que temos asma
quando uma crise acontece. A dela é grave, como não usa o medicamento
diariamente e não tem a bombinha, aconteceu de forma muito forte. Ela está
sedada e vai precisar ficar aqui por alguns dias. Teremos que ver como ela
vai responder aos remédios, quando vamos poder tirar a respiração mecânica
e, depois, se estiver tudo bem, ela poderá voltar para casa com vocês.

— Nós podemos vê-la?

— Ainda não. Mas em breve, ela será levada para o quarto e vocês poderão
ficar com ela — agarro Noah com tanta força que acho que ele não consegue
respirar. — Vou deixar vocês agora, e quando ela estiver no quarto, alguém
virá para avisá-los.

Noah beija o alto da minha cabeça e depois apoia o queixo ali, enquanto me
deixar chorar tudo que preciso. Seus braços me envolvem e quando
finalmente paro de chorar, não quero me afastar.

— Vai ficar tudo bem! — Noah sussurra. — Agora que sabemos o que a
pequena tem, iremos cuidar e tratar. Muitas pessoas vivem uma vida normal
com ajuda do tratamento certo.
Afasto meu rosto do seu peito e o encaro. Ele me solta e passa a mão em seu
rosto, limpando as lágrimas que ainda estavam por ali.

— A mínima chance de que algo ruim aconteça com ela, me deixou


desestabilizada — falo e me sento. — Ela é tão pequena, tão nova e já
passou por tanta coisa.

Noah senta ao meu lado e concorda.

— E, infelizmente, isso vai prejudicar muito na adoção.

— Adoção?

Ele se vira para a minha direção e me encara.

— Ana não te contou? — sua voz soa triste. — Uma família está interessada
nela. São boas pessoas, já têm dois filhos e se encantaram por ela.

Inclusive, disseram que conheceram o orfanato pelo seu Instagram. Eles


vieram de longe; ne não me engano, são de Portland.

Portland? Isso é muito longe.

Ele percebe o desespero em meu olhar e coloca a mão em minha perna.

— É muito longe, Noah. Como teremos contato com ela?

— 7 horas de viagem, com sorte — divaga. — É isso que acontece quando


uma criança vai embora, perdemos o contato. Às vezes, recebemos a visita
delas, quando crescem e aparecem por lá querendo saber do seu passado.
São raras as vezes que os pais fazem questão de nos dar notícias
constantemente.

Não consigo nem pensar no que falar sobre. A única coisa que eu sei, é que
sentirei demais a falta dessa menininha que me ganhou no primeiro dia em
que eu a conheci.

Barbie aparece com os pais de Noah e ele lhes conta tudo que o
médico falou. Eu permaneço no mesmo lugar, olhando fixo para a cadeira
vazia da minha frente; em algum momento, eu cochilo.

Quando acordo, vejo que Noah colocou o casaco que usava por cima de
mim. Encontro Jacob ao meu lado, com os braços apoiado nas coxas,
batendo a perna com um certo ritmo.

— Que horas são? — pergunto, depois de ver que meu celular descarregou.
Ele me encara com preocupação e olha para o relógio em seu punho.

— 04:30 da manhã — arregalo os olhos e sinto meu corpo reclamar quando


me mexo. Fiquei tempo demais na mesma posição e meu pescoço está
gritando com o incômodo. — Liz e Justin foram embora depois de Noah
insistiu muito; ele foi em algum lugar pegar algo para você comer. Emma
também esteve aqui, mas não ficou muito tempo porque precisava estudar.

Concordo e alongo algumas partes do corpo.

— Você está aqui há muito tempo?

— Cheguei um pouco depois que você dormiu — ele me ajuda a levantar e


estala as minhas costas e meu pescoço. — Você ronca, gatinha —

brinca.

— O médico veio aqui novamente? — me viro e aproveito para vestir o


casaco de Noah.

— Veio duas vezes. Teve alguma complicação na traqueotomia, mas eles


conseguiram reverter a tempo — esfrego o rosto, agoniada. — Os médicos
daqui são ótimos, Kath. Ela já está respondendo aos medicamentos e daqui a
pouco, poderemos ir ao quarto. Você acordou na hora certa.

Me puxa para um abraço e sorrio enquanto passo o braço pela sua cintura.

Todos eles adoram demonstrar afeto e dar conforto para os outros, até
mesmo Jacob, que é o mais fechado.
— Esse ano está sendo uma loucura. Se alguém me falasse anos atrás que eu
estaria passando por tudo isso, iria gargalhar na cara da pessoa —

ficamos em pé, abraçados, apenas vendo o movimento das pessoas lá fora.


Agora, estou aqui sofrendo por um homem que eu não dou a chance de
conversar, tendo meu coração despedaçado por tudo o que Mila está
sofrendo, e tentando ignorar que ela pode ir embora. Entretanto, estou
passando por tudo isso com a família incrível que ganhei, me dando apoio
em tudo que se refere a minha vida.

— Me lembro quando conheci os meninos, mais de 10 anos atrás.

Eles foram minha salvação, literalmente. Me deram uma família que eu


nunca tive; descobri que não é apenas em comerciais que existem famílias
tão incríveis — me afasto para poder encará-lo enquanto fala. — Liz e Justin
me ligavam todos os dias, iam até a nossa casa todo fim de semana; claro,
sempre davam um jeito de me animar e me tirar da cama.

— Eles são incríveis — Noah volta com um saco de papel de uma


lanchonete que eu gosto, mas que fica bem longe daqui. Deixa na mesa
próxima a mim e se senta.

— Trouxe várias coisas, não sei qual você iria preferir — fala e estica o
celular dele em minha direção. — Sua mãe está preocupada. Pode mandar
mensagem para ela do meu celular, pois o seu descarregou de tanto que te
ligaram.

Aceito o aparelho e ele me diz a senha. Abro o aplicativo de conversa e tento


não olhar com quem ele fala enquanto procuro a conversa da minha mãe.
Mando algumas mensagens explicando tudo de forma breve e devolvo
rapidamente.

Ele pede licença e vai para a parte externa da sala onde estamos para ligar
para alguém.

— Como estão as coisas entre vocês? — Jacob pergunta e eu bufo.


Pego o saco e vejo que realmente tem muita coisa; pego um sanduiche e
empurro na direção dele. — Obrigado — segura e procura algo ali dentro
que o agrade.

— Acho que demos uma pausa em nós e estamos apenas pensando na Mila
— como o sanduiche como se fosse a comida mais incrível do mundo, não
tinha percebido que estava com tanta fome. — Mas, ele cuidar de mim tão
bem assim não me ajuda a manter a raiva.

— Realmente acha que ele te traiu? Do fundo do seu coração, você acha
isso? — come um croissant com calma. — Ele é louco por você desde o dia
que te viu pela primeira vez. Eu vi o meu amigo se encantar por você, e ele
falava para quem quisesse ouvir que era só atração, mas nunca foi...

Parecia que tudo aconteceu para que vocês tivessem se encontrado; foi muito
natural, inclusive o entrosamento entre a família e amigos dele contigo —

limpa a boca e olha para o amigo, que continua lá fora. — Olha em que pé
vocês se encontram: parecem uma família, como se fossem os pais da Mila.

Deixaram a diferença de lado pela menina, e se tudo que está acontecendo


não é para unir mais vocês, então, devo rever os meus conceitos de vida.

A comida entala em minha garganta e engulo com força.

— Mila já está no quarto — Noah fala da porta e deduzo que o médico deve
ter falado com ele enquanto eu tentava digerir a comida e o que Jacob falou.

Me levanto, pego todas as coisas e vamos juntos até o andar dos quartos.

Uma enfermeira acaba de sair do quarto em que a pequena está e sorri para
nós, dando uma atenção a mais para o Noah. Reviro os olhos.

— Bom dia. Vocês são os pais da Mila? — pergunta enquanto olha para mim
e Jacob.

— Sou o tio! Eles são os pais — ela, dessa vez, repara nele e sorri
maliciosamente, porém, não recebe nenhuma resposta de volta por parte de
Jacob. — Podemos entrar todos juntos?
Ela concorda, nos orienta a não mexer em nada e ou tentar acordá-la, porque
precisa descansar por mais tempo.

Jacob entra primeiro e eu seguro a mão de Noah, fazendo com que ele não
entre.

— É... Obrigada! — ele vira um pouco a cabeça para o lado e franze a testa.
— Pelo casaco, a comida... por tudo, eu acho — um dos lados do seu lábio
se levanta em um meio sorriso.

— Você sabe que eu faria qualquer coisa por você, né? Isso não foi nada —
a i, meu coração! — Estou aqui para o que precisar, Kath.

Independentemente de você me escolher ou não.

O clima entre nós dois muda, mas não damos importância por motivos
óbvios, e juntos entramos no quarto.

Jacob está próximo da cama, olhando para Mila com curiosidade por conta
de todos os aparelhos ao redor dela; notei quando ele limpou o rosto
disfarçadamente. Vou para o lado dele, que se levanta e sai da sala sem falar
nada.

Antes que eu perceba, estou chorando novamente. A cena é triste, o tubo que
sai da garganta dela é doloroso de ver, imagino que depois irá doer.

Será que ela terá sequelas? E se danificar sua voz?

Jesus, eu vou pirar.

Desabo na cadeira onde Jacob estava e, com muita delicadeza, pego na


mãozinha dela que está com os acessos.

— É quase inacreditável que isso tudo tenha acontecido com ela —

observo o movimento do seu peito enquanto respira. — O médico falou


quando irá tirar esse tubo da garganta dela?
Noah está com as mãos apoiadas na mesa que tem no canto oposto de onde
estamos. Seus olhos estão vermelhos novamente e, daqui, consigo ver a sua
mente trabalhando em algo.

— Noah? — chamo-o novamente e ele olha para mim.

— Ele falou que assim que ela acordar será feito alguns exames e, se tudo
der certo, eles tiram — sua voz é tensa e, pela primeira vez desde que o vi
hoje, me permito admirá-lo.

Seria mais fácil se ele fosse feio.

Sua feição está abatida e parece estar cansado. Me sinto culpada em parte
por isso. Desejo abraçá-lo como fazia antes, quando sentia que meu mundo
estava em paz.

Parece que ele escolheu a mesma hora para me admirar e eu ruborizo porque
fui pega no flagra; volto a olhar para Mila.

Horas e mais horas se passam e não arredamos o pé do quarto.

Médicos e enfermeiras entram e saem, conferem os aparelhos e o soro.


Fazem isso mais vezes do que consigo contar. O silêncio que se instaurou
entre Noah e eu é absurdo, mas ele quebra quando vê a hora.

— Você não quer ir para casa? — me pergunta e nego rapidamente com a


cabeça. — São 10:00 horas, Kath. O médico só vai vir aqui às 14:00.

Não quer descansar?

Meu corpo quer muito descansar, mas sei que não conseguirei ficar em paz
estando longe.

— Eu não consigo me afastar...

Ele balança a cabeça concordando e se aproxima.

— Vou passar na sua casa e buscar algumas coisas para você, pode ser? Eu
falo com sua mãe e peço para que ela separe o que achar necessário
— ele tira com delicadeza vários fios do meu cabelo que se soltaram do rabo
de cavalo que fiz horas atrás. Tenho quase certeza que ele fez tal coisa sem
pensar, mas eu gosto de sentir seu toque e não reclamo.

— Isso seria ótimo. Obrigada — ele beija a minha testa e sai.

Aproveito para me deitar no sofá-cama, arrumo o travesseiro e me cubro


com a coberta que fica ali para o acompanhante.

Coloco o celular para carregar na tomada ao lado e vejo todas as conversas,


tento responder maioria delas, mas acabo pegando no sono novamente.

38

— Toma, filho. Coloquei tudo o que ela precisa e, tem coisas de higiene
pessoal para você também — acordo do rápido cochilo que dei enquanto
esperava Joana pegar as coisas. Levanto-me do sofá e pego a mala.

— Quer uma caneca com café? Fiz agorinha.

Eu aceito de prontidão, porque preciso ficar atento para voltar ao hospital.

Vamos até a cozinha e me escoro no mármore da pia enquanto ela enche


duas canecas enormes com um café fumegante.

— Obrigada, Joana — pego uma das canecas que está pelando e dou um
gole grande, sentindo a cafeína descer pela garganta. — Dona Joa...

— Sabe que não precisa se justificar para mim, né? — ok, mães são
assustadoras. Ela sabe exatamente o que eu iria falar e prendo um sorriso. —

Sua mãe me contou o que aconteceu e, tenho certeza que foi o que realmente
rolou lá.
Queria tanto que a filha dela pensasse assim, mas vai saber se ela ao menos
sabe o que aconteceu.

— Porque acredita com tanta certeza? — fico curioso. No lugar dela, não sei
se acreditaria no namorado da minha filha.

Ela coloca a caneca na pia e cruza os braços.

— Você cuidou da minha filha desde que a conheceu, e sei que o intuito era
ser apenas profissional, mas não podemos escolher por quem nosso coração
bate mais forte — sorri. — Kath me contou a sua aversão ao universo em
que ela vive, mas você passou por cima disso para ficar bem com ela e a
agradar, fora a forma como você a olha. É puro amor, filho. Ela sabe disso,
só está com os pensamentos confusos.

Me sinto aliviado por ter o apoio da mãe dela, que é a única família que ela
ainda tem além da minha.

— Eu amo a sua filha e, com 29 anos estou vivendo meu primeiro amor, que
eu espero que seja também o último.

Termino meu café e ela insiste em lavar as canecas. Depois, caminhamos até
a porta e paro para abraçá-la.

— Vai tudo dar certo. Esse não será o primeiro obstáculo que vocês terão
durante o relacionamento e, com o tempo aprenderão a lidar melhor com
eles. Confie no amor que sente e se agarra a ele. O resto vocês aprenderão a
resolver juntos — pisca e entra.

Fico com suas falas rondando a minha cabeça enquanto volto para o hospital
e me sinto ainda mais confiante em ter o meu furacão de volta em minha
vida.

Kath está dormindo toda encolhida no sofá e, para meu alivio, já tiraram o
tubo de Camila, que parece dormir tranquila, diferente de como estava antes,
com a respiração pesada.

Coloco a mala no canto perto do sofá e aproveito para puxar a coberta para
cima e cobrir os braços de Kath. Seu celular vibra e acende a tela. O
nome “Christopher” aparece e eu tento empurrar os ciúmes para o fundo da
minha mente, não é o momento para isso.

Meus sentimentos estão a flor da pele pelos últimos acontecimentos e ainda


estou tentando processar esse tsunami dentro de mim. Por toda minha vida,
ouvi falar do tão desejado amor e agora que estou vivendo ele, está sendo
desesperador e sufocante, mas não quero deixar de sentir isso por ela.

Camila se mexe na cama, eu me aproximo, tentando ver se está tudo bem e


ela abre os olhos com muita dificuldade, bem devagar.

— Oi, Mila... — falo baixinho enquanto me sento na cadeira que está ao


lado da sua cama. Ela olha tudo ao redor, estranhando o ambiente e depois
me olha confusa. — Está doendo em algum lugar?

Ela confirma com a cabeça e aperto vária vezes o botão para chamar a
enfermeira.

— E... eu nã... não... — ela tenta falar, mas sua voz está rouca demais e
parece que o esforço machuca.

A enfermeira entra e começa a conferir algumas coisas e falar com Camila.


Kath acorda com a movimentação e vem para o meu lado, querendo ver o
que está sendo feito e, involuntariamente, segura em meu braço, tensa,
esperando algum parecer da enfermeira.

O médico aparece também e a enfermeira fala algumas coisas para ele de


forma que não conseguimos ouvir; depois, ele também fala com Mila.

— Então pais, a pequeninha está respondendo bem aos remédios, o pior já


passou e agora já sabemos o que é preciso ser feito — Kath não desvia

o olhar de Mila, que sorri para ela como se não tivesse mais nada em volta.

— Confirmamos que foi uma crise aguda de asma e ela terá de tomar
medicamentos para o resto da vida, mas não vai alterar em muitas coisas se
ela fizer o tratamento certinho. Mais para frente, veremos se terá que ter
algum outro tipo de medicamento.
Concordamos em sincronia e Kath se senta na beira da cama, alisando a
perninha agitada de Mila.

— Isso se tornará o melhor amigo da filha de vocês — me entrega uma


bombinha em um saco esterilizado e eu observo o objeto que já tinha visto
algumas pessoas usarem, mas nunca de perto. — É bom ter mais de um.

A dica que eu dou é que ela sempre tenha um com ela e cada um de vocês
também tenha.

— Ok, eu acho... — digo, ainda assimilando tudo. — Ela ainda vai ficar
muito tempo aqui?

Ele confere algumas coisas nos papéis em sua mão e volta a me encarar.

— Pelo menos, mais três dias. Temos que garantir que a traqueostomia não
deixará nenhuma sequela, então, esses dias serão muito importantes — ele
coloca a mão em meu ombro, acho que na tentativa de me tranquilizar. —
Estamos fazendo o melhor e essa princesinha vai ficar novinha em folha —
ele caminha até Mila e aperta de leve a ponta de seu nariz. — Vou deixar
vocês a sós, mas qualquer coisa, podem chamar a enfermeira.

Kath beija a testa de Mila, arruma o cabelo dela da melhor maneira que
consegue e depois sussurra algo em seu ouvido, que a faz rir.

— Eu consegui remarcar meus compromissos de segunda e terça, mas na


quarta, terei que ir na entrevista de qualquer maneira — passa a mão no
rosto, mostrando toda a sua frustração e eu só consigo pensar no quanto ela é
maravilhosa. — Posso ficar aqui até quarta de manhã, assim, você consegue
trabalhar e me substitui na quarta.

— Consigo trabalhar sentado naquele sofá, Kath — ela olha para Mila e
depois me encara de novo. — Eu também não quero ficar longe. Podemos
fazer um rodízio...

Entramos em um acordo depois de conversar por alguns minutos. Ela ficará


a tarde, enquanto eu ficarei a noite, porém, não tenho dúvidas que os
meninos também insistirão em ficar aqui para não nos sobrecarregar.
Nesse momento, Mila se diverte sozinha assistindo a um desenho na

tv do quarto; ela já jantou e foi bem difícil de ver, pois sua garganta está
muito sensível e, até mesmo a comida quase líquida machucou. Ela é uma
menininha muito forte, já que segundos depois estava sorrindo para Kath e
para mim.

— Avisaram aos possíveis pais dela do que aconteceu? — Kath me pergunta


enquanto coloca um par de meias coloridas e eu seguro um riso. —

Eu sinto muito frio nos pés. Não ria das minhas meias — se justifica, mas
consigo ver seu lábio arquear enquanto evita o riso.

— São meias adoráveis, juro — brinco. — Minha mãe disse que avisaram e
eles lamentaram, pois pretendiam levá-la para Portland essa semana — seus
olhos castanhos me encaram com receio e ela coloca um dedo na boca,
puxando uma pele que não existe no canto do dedo.

Sei que faz isso quando fica nervosa, então pego a sua mão, afastando-a da
boca.

— É muito errado se sentir aliviada? — vejo culpa em seu olhar, mas não a
julgo, porque no fundo, me sinto assim também.

— Não, amor — merda, estou há dias me controlando para não falar essa
palavra. Ela me olha diferente ao ouvir e seu olhar desce para meus lábios
por alguns segundos. — Quer dizer, é claro que ela tem que ser adotada, mas
pareceu errado ela ir embora, para longe.

Kath concorda e coloca os pés em cima do sofá. Ela está usando um


moletom que a deixa fofa e sexy ao mesmo tempo. Me dá vontade de
abraçá-

la e arrancar sua roupa em um ato só.

— Seria bom se alguém que a gente conhece a adotasse.

— Ou você — ela me encara como se nunca tivesse pensado nessa


possibilidade. — Ou nós — minha voz sai tão baixa que só sei que ela
escutou porque sua respiração ficou mais pesada e o clima ficou denso.

Kath abre a boca algumas vezes para falar algo, mas desiste em todas elas.

Eu não vou negar que não tinha pensando em planejar uma família com Kath
umas duas vezes ou cem, tanto faz. Adotar uma criança é algo que eu sempre
tive em meus planos, mesmo se não me casasse com ninguém, mas agora
tem ela, e consigo ver as duas dentro de casa, dentro da nossa casa...

Parece tão natural, como se fosse a coisa certa.

— Eu acho que nunca pensei nisso — fala depois de ficar minutos em


silêncio. — Não em adotar, isso eu pensei muito e penso desde que me
contou a sua história, mas nunca havia cogitado a Mila — ela vira seu corpo

de frente para o meu, e apoia o queixo nos joelhos. — Acho que eu sempre
imaginei que demoraria a chegar nesse ponto, de ter uma família. Sabia que
ela não ficaria me esperando até a hora que eu quisesse.

Queria poder falar que por mim, sairíamos desse hospital juntos, como uma
família. Queria poder falar que a amo tanto que sei que não precisamos
passar por anos de namoro para isso. Será que ela entenderia se eu falasse
que meu coração nunca foi de ninguém porque esperou todos esses anos por
ela?

— Eu sempre soube que seria pai dessa forma — as mãos de Kath chamam a
minha atenção enquanto ela bate as unhas no sofá e vejo o anel que lhe dei.
Aproximo a minha mão devagar, esperando que ela afaste, mas continuo
quando ela não fala nada e apenas fica olhando. — Claro, nunca achei que
teria de fato uma mulher ao meu lado, que eu amasse e aceitasse embarcar
em uma família comigo — passo o dedo pelo anel e assim que toco em sua
pele, sinto a mesma energia que seu toque passava para meu corpo quando
estávamos juntos. — Mas aí, apareceu você e eu descobri que estava
enganado, sempre fui enganado pelo meu coração, que me protegia de
conhecer outras pessoas porque esperava por você. Eu quero tudo com você,
tudo...

Ela continua olhando nossas mãos e tenho a sensação que falei demais, que
me abri demais.
— Nossa, eu não estava esperando por isso — ela se levanta e anda até a
cama onde Camila agora dorme novamente. Sua mão desliza pelo rosto
delicado da menina e daqui, consigo sentir o peso desse carinho. — Depois
do que aconteceu no seu aniversário, eu tenho a sensação de estar trocando
os pés pelas mãos, Noah. Muita coisa estava acontecendo em nossas vidas e
nós dois somos muito intensos.

Me levanto e fico na frente dela.

— Onde que está o erro nisso tudo? Intensidade? Realmente somos intensos
e acredite, eu nunca fui. Eu sou a pessoa que pensa várias vezes antes de
fazer qualquer coisa relevante para a minha vida — tento falar baixo e conter
minhas emoções por conta de Camila. — Onde está o erro nisso se a gente
for feliz? Se a gente se ama?

— A gente se ama? — pergunta com os olhos arregalados.

Eu sorrio e concordo.

— Acha que só você ama nessa relação? — minha voz falha. Quando eu
virei essa manteiga derretida? — Eu te amo, amor. E, está sendo uma

merda ficar sem você.

Ela morde o lábio inferior e me surpreende quando me abraça forte,


encostando o rosto em meu peito. Passo os braços ao redor do seu corpo e
sinto meu mundo todo, minha paz e meu frenesi todo aqui.

Alguém bate na porta e nos afastamos.


Ouvimos a enfermeira informar que há pessoas no andar da recepção
querendo subir, Jacob e Jackson, que aparecem pouco tempo depois.

— Vamos jantar ou almoçar essa semana, pode ser? Só nós dois, e


conversamos sobre tudo — Kath fala baixinho, achando que os meninos não
estão prestando atenção na gente. Eu sorrio e concordo, sentindo meu
estômago cheio de borboletas.

Jacob está conversando com Camila e trouxe um caderno enorme cheio de


desenhos para colorir e uma mala com lápis de cor e hidrocores. Ela está em
êxtase e me surpreendo com o auto controle em não falar, como o médico
indicou.

— Acho que as coisas estão se ajeitando, hum? — Barbie passa o braço pelo
meu ombro e eu rio, aliviado de verdade pelas coisas estarem seguindo esse
caminho, finalmente.

Os dias seguintes foram bons, tanto para Camila que tem se recuperado bem
e já terá alta depois de ter ficado 5 dias no hospital, quanto para mim e Kath.
Não falamos mais sobre nós dois, mas o clima voltou a ser bom, pois
conversamos e brincamos tranquilamente e não precisei mais medir as
palavras com ela.

Decidimos sair apenas quando Camila estivesse realmente bem para que não
ficássemos preocupados com ela o tempo inteiro.

Infelizmente, Kath não poderá participar da festinha de boas-vindas

que está preparada no orfanato para Mila, porque a entrevista foi adiada para
hoje, como ela queria e quase implorou. Então, provavelmente nesse minuto
deve estar sendo maquiada para começar.

Vocês me julgariam se eu contasse que coloquei o celular para despertar na


hora do programa para poder assistir tudo? E talvez, só talvez, eu tenha
colocado para gravar também. Nunca é demais e eu devo estar mais ansioso
do que ela.

Pego meu celular enquanto o médico termina de escrever a receita e todos os


cuidados que temos que ter com Camila, e mando uma mensagem para Kath.
Eu: Boa sorte, linda. Estarei assistindo com todo o resto do mundo.

Não espero por uma resposta e coloco o celular na bolsa.

Camila está sentada ouvindo com atenção o médico, como se fosse uma
adulta, e balança as perninhas ansiosas, agarrada no livro que Jacob deu.

— Bem, já estão livres e espero não precisar vê-los até a próxima consulta,
que é em três semanas — aperta a mão dela, que faz uma pose ao se despedir
dele e eu seguro o riso. Essa menina é uma figura. — Papai, está tudo
explicado aqui também. É muito importante não esquecer dos remédios, ok?
Todos os dias, para sempre.

Escuto pela milésima vez e concordo.

Tudo já foi passado para Ana e as meninas que trabalham lá. Existe um
quadro na enfermaria em que tem o que cada criança precisa tomar e o
horário exato. O nome de Mila já está incluído e elas cuidarão muito bem
dela.

— Porque ele te chamou de papai? — é a primeira coisa que ela me pergunta


quando a pego no colo e eu rio; nada passa despercebido por essa pequenina.
— Você é o pai dele? — o choque em sua voz é hilário, mas seguro a risada.

— Ele acha que sou o seu pai, Mila — ela abre a boca e solta um "ah"

e apoia a cabeça em meu ombro.

Barbie arrumou, não sei onde, uma cadeirinha para ela e colocou no meu
carro hoje mais cedo. Fiquei grato por isso, porque não tinha lembrado que
ela precisaria de uma.

Coloco-a na cadeira e prendo o cinto. Fácil. Ela pega um lápis de cor antes
que eu coloque a bolsa do outro lado e começa a pintar de um jeito bem
infantil os desenhos que tem ali.

— Eu gostaria que você fosse o meu papai — fala como se não fosse
nada demais e continua pintando, não chegar nem a me olhar. — Aí, a tia
Kath poderia ser a mamãe, né? Ouvi alguém falar lá na casa.

Crianças realmente são inocentes e não têm noção do peso das coisas,
porque se elas tivessem, jamais falariam tais frases como se estivesse
falando de uma coisa qualquer.

Prefiro não responder nada, porque sequer saberia o que falar. Depois de
conferir cinco vezes se o cinto dela estava preso, travo a porta do seu lado,
que também conferi muitas vezes se estava travado e dirijo em direção a
Open Arms.

— Tia Kath não vai poder estar lá hoje, mas fiquei sabendo que ela deixou
um presente bem legal para você — olho-a pelo retrovisor, ela para de pintar
e olha para o lado, fazendo um biquinho involuntário. — Vamos poder
assisti-la na TV. Que tal?

Ela faz uma dancinha com os braços que é uma graça e eu imito, divertindo-
a.

— Pelo menos, tem um presente — dá de ombros e volta a pintar.

Dirijo com mais atenção do que o normal e até um pouco devagar demais,
mas ela ainda está sensível e prefiro garantir que cheguemos em segurança.
Fico aliviado quando estaciono na frente do orfanato.

— Aqueles moços estão aí? — salta do carro quando tiro o cinto e tenta
colocar atrás da orelha uns fios soltos do seu cabelo volumoso. — Eu não
quero ir com eles, mas não conta para a tia Ana — coloca o indicador na
frente dos lábios, me pedindo segredo.

— Por quê? Não gostou deles? — pego suas coisas e depois seguro a sua
mão para entrarmos.

Ela apenas dá de ombros e começa a dar pulinhos enquanto anda balançando


constantemente nossas mãos.

— BEM-VINDA DE VOLTA, MILA! — todo mundo grita na sala assim


que abro a porta. Ela leva um susto e depois vai correndo na direção de todas
as crianças, que a abraçam de uma vez só e escuto uma criança falar para
terem cuidado que ela quase morreu.

— Blake, já expliquei que não foi isso — Ana fala com muita calma para a
menina que acabou de gritar e ela consente, mas tenho certeza que não
acreditou. — Porém, precisamos ter cuidado, todo mundo. Ok? A Mila ainda
está se recuperando e precisará da ajuda de todos.

Blake coloca a mão no rosto para tampar a boca e fala algo com outra
criança; sem dúvidas, ela reafirmou a informações que passou agora pouco e

eu rio de sua atitude.

Todos vão para a área externa, mas eu subo para o escritório junto com
Jacob e Barbie, que também querem assistir a entrevista. Na hora que
entramos na sala, meu celular desperta e já pego o controle da tv.

— Tem certeza que você quer ver? — Jacob pergunta antes de se sentar em
uma das cadeiras, ao lado de Barbie. — Esse povo não poupa nada e
pesquisei esse programa. Ele é famoso por fazer as perguntas que nenhum
outro programa tem coragem.

Coloco no canal e vejo que já começou, mas Kath ainda não entrou.

— Você acha que se eu não assistir não irei procurar pela entrevista depois?
Acho que nunca fiz tantas pesquisas sobre uma pessoa só desde que comecei
a me envolver com Kath.

Barbie joga em mim uma borracha que estava na mesa e eu reviro os olhos
automaticamente.

— Pensei que você lidaria diferente com essas questões — o loiro na minha
frente fica girando na cadeira e Jacob força a cadeira dele a parar. —

Uma famosa não é para qualquer um.

— Acho que foi fácil porque não cheguei a ir em nenhum evento com ela.
Na verdade, nem sei se iria dependendo de qual fosse.
Jacob arregala os olhos e tira os óculos, achando graça de algo que ainda não
sei o que é.

— Bem melhor não ir e deixar as pessoas acreditarem que ela namora outro,
tipo um quarterback queridinho de NY — solta com seu sarcasmo e tenho
vontade de jogar um livro na cara dele. — Se vocês voltarem, então não vai
no evento da marca de lingerie que ela estrelou?

Nossa, eu já tinha esquecido disso e agora não tenho certeza do que fazer,
muito menos se até lá já estaremos realmente juntos.

— Eu primeiro vou pensar em tê-la de volta, depois me preocupo com isso.

Ambos balançam a cabeça e viram-se para frente, atentos a televisão.

— E, finalmente, depois de meses tentando trazê-la aqui, Kathllen Ibrahim!


— fala o apresentador do programa e logo depois ela aparece.

Puta merda!

— Caralho! — Jacob assobia depois de falar.

— Caralho pra caralho! — Barbie complementa.

Arrasto a minha cadeira até meu corpo bater na mesa do escritório e babo
nessa mulher linda, que caminha com graciosidade até o sofá que os

convidados ficam durante a entrevista.

— Eu estou ferrado mesmo!

— Muito — falam juntos e esfrego meu rosto.

Essa mulher é linda, e a beleza dela mexe comigo de uma forma que eu não
achava que era capaz de acontecer, de alguém se sentir tão atraído por outra
pessoa como eu me sinto por ela.

O apresentador começa a fazer algumas perguntas sem muita importância e


Barbie disse que é assim mesmo, para dar tempo de outras pessoas que
querem ver chegarem a tempo.

— Antes de falarmos do seu passado, que tal comentarmos o que tem


acontecido ultimamente? — ela sorri contida e apoia as mãos em cima das
pernas cruzadas. — Vimos que você está namorando com seu advogado
Noah Cooper — ela ruboriza, mas mantém a mesma pose —, mas um
passarinho me falou que pode existir uma possibilidade de ter aparecido
outra pessoa em sua vida.

Kath franze o cenho e antes que possa falar algo, a tela atrás dela mostra
algumas fotos suas e de Christopher no evento que foram.

Os meninos olham para mim e eu sinto meu maxilar tencionar. Coço a


cabeça, contrariado e espero pela resposta dela.

39

Se alguém estivesse na minha cabeça, não saberia decifrar nenhum dos meus
pensamentos. Acho que nem eu tenho conseguido, não depois de tantas
coisas.

Eu e Noah nos aproximamos novamente. Já baixei minha guarda mais uma


vez, mas dentro de mim, sempre teve uma voz que falava que era muito
improvável que ele tenha mesmo me traído.

Mas o orgulho, medo e insegurança são coisas que nos cegam. De qualquer
maneira, ainda iremos conversar para pôr os pingos nos is. Tudo entre nós
ainda está em aberto, só que depois da declaração super despretensiosa que
ele fez no hospital, não tem como pelo menos não escutar um pouquinho o
coração.
— Terra chamando! — escuto Emma falar e já tinha até esquecido que ela
está no quarto comigo. — Amiga, tem certeza que você está bem para a
entrevista?

— Defina estar “bem”! — suspiro e prendo novamente o cabelo em um


coque. — Eles já adiaram uma vez, Em. Não farão isso de novo, e fui que
entrei em contato para falar que finalmente queria dar essa entrevista.

Na segunda, consegui fazer com que eles trocassem, e deu certo.

Acontece algumas vezes, porque é ao vivo e eles me colocaram para hoje. A


internet está indo a loucura para saber melhor sobre o que tem acontecido
em minha vida.

— Não sei como você consegue viver essa vida, juro! — Emma folheia um
livro de medicina, com sua habitual calça de moletom e blusinha de alça
fina. — Ah, hoje eles me ligaram e informaram que vão me devolver o
aluguel que eu paguei adiantado e mais o depósito. Na segunda, já irei
procurar outro ape por lá.

Na semana passada, o sobrado em que Emma mora pegou fogo e por

sorte, ela conseguiu salvar suas roupas e os livros da faculdade, mas o resto
virou pó. A primeira coisa que pensei foi em chamá-la para ficar aqui. E,
depois de muito insistir, ela topou e está aqui desde então.

Emma está se tornando uma grande amiga e fico feliz por estar podendo
ajudar alguém que merece tanto. Ela passa a madrugada estudando, dorme
muito pouco e ainda trabalha. Sei que o conforto aqui de casa e o fato de ser
perto da faculdade está melhorando ainda mais o seu rendimento.

— Sabe que não precisa ir, né? — ela enrola uma mecha de cabelo no dedo e
me encara. — Já falei que você não é um peso. Minha mãe te adora e o
apartamento é enorme. A localização é perto de toda a sua vida e eu gosto de
tê-la aqui — faço um biquinho e me jogo ao lado dela na cama. — Por favor,
estou te oferecendo casa, comida e roupa lavada em troca de ouvir meus
muitos problemas — brinco.
Caímos na risada e ela concorda. Eu grito animada e já saio da cama
novamente.

— Espero que a maquiadora seja boa de verdade; essas olheiras estão me


destruindo — passo os dedos na parte debaixo dos meus olhos e procuro
pela roupa que separei para a entrevista.

— Pendurei no closet. Você ia acabar amassando pela terceira vez —

fecha o livro e entra no closet. Segundos depois, ela volta com o cabide
cheio de roupas. — Você vai ficar perfeita.

Tiro o roupão e visto a roupa que escolhi. Emma vira para o lado, evitando
me olhar só de roupa intima e acho engraçado. Ela fica com vergonha de me
ver desse jeito e tadinha, estou sempre assim em casa.

— Uma hora você se acostuma — digo e ela balança a cabeça, discordando.

Me olho no espelho e adoro a escolha de roupa que eu fiz. Todas as peças


são pretas e apenas o cinto da Gucci que é branco, que marca bem a minha
cintura com a calça alta. Viro-me e admiro a minha bunda, que ficou ainda
mais evidenciada. Eu amo a minha bunda, e não tenho problema nenhum
com isso. A blusa, que na verdade é uma peça de lingerie que ganhei de
Noah, é linda e sexy, mas não mostra mais pele do que o necessário. E

para combinar tudo, peguei um blazer e está ótimo.

— Você é um Pinterest ambulante — viro-me e faço um pequeno desfile. —


Claro que você sabe desfilar com perfeição, ridícula. Sabia que existe meros
seres que não tem tudo isso que você tem? — faz um movimento com as
mãos como se estivesse descrevendo minhas curvas.

Termino de pôr os acessórios e arrumo minha bolsa.

— Você não consegue mesmo enxergar o mulherão que é, né? Eu ainda vou
conseguir te provar que você é linda e única, toda maravilhosa —

pego meu celular e mando várias mensagens para Noah, querendo notícias
de Mila e ele vai me passando tudo o que o médico falou e lamenta que não
poderei ir hoje. Recebo uma foto dela sorridente, abraçando o homem que eu
amo; a foto ficou linda. — Olha isso...

Mostro para Emma e ela emite um som parecido com um “own“ e depois me
olha com curiosidade, andando pelo meu quarto com seu livro debaixo do
braço.

— Vocês seriam uma família lindíssima, sabia?

— É uma coisa que venho pensando desde o dia que Mila foi para o hospital,
mas vamos deixar esse assunto para depois, se não vou pirar ainda mais —
ela ri baixinho e depois de me abraçar e desejar boa sorte, sai do quarto e vai
para o seu estudar mais.

Sorte. Tá aí uma coisa que com certeza precisarei. Por mais que eu tenha me
preparado muito para essa entrevista, sei que alguma coisa pode fugir do que
estou planejando, já que não existe um roteiro de perguntas.

Me deparo com Jackson encostado em meu carro assim que chego ao


estacionamento e meu olhar já o questiona.

— Achou mesmo que iria sozinha? — seu sorriso aquece meu coração e eu o
abraço. — Sua mãe me disse que está com Liz e que você, provavelmente,
iria sozinha. Eu serei um apoio naquela plateia ensandecida, ok?

Eu precisava disso, e nem sabia até ele aparecer. Sempre fui a esses
compromissos com a Alex; nos eventos, eu tinha a companhia dela e do
Ethan, até se tornar apenas ela e, agora sozinha, eu acho.

— Te amo por isso! — entramos no carro e ele nem questiona quando


coloco Hard for me do Michele Morrone e aparece na tela do carro o clipe
com esse homem maravilhoso. — Esse homem é a personificação da
sensualidade, acho que não saberia me comportar próxima dele.

Jack faz uma careta, fica atento olhando o clipe e fazendo vários
comentários sobre ele não ser isso tudo.

— Sou mais eu — declara enquanto bisbilhota o Instagram do cantor, ator,


pintor, deuso... — Ok, o cara é pinta. Mas olha pra mim, 1.90 de pura
gostosura. Todo mundo fala que pareço o Michel B. Jordan.

Jackson não está errado, eles são idênticos e falo isso com

propriedade, porque conheci Michel e quase cometi a gafe de abraçá-lo com


intimidade pensando que fosse Jackson, mesmo que não fizesse sentido ser
Jackson naquele evento.

— Acho que vocês têm alguns traços iguais — minto para ver a reação dele,
que me olha chocado e depois me mostra o dedo do meio quando me pega
prendendo o riso. Paro em um sinal e vejo que recebi uma mensagem de
Noah, mas vou deixar para falar com ele mais tarde, depois da entrevista. —
Estou ficando nervosa.

Ele pega na minha mão e fica assim pelo resto do caminho, e por incrível
que pareça, me acalmo novamente.

Somos recebidos por vários seguranças e pessoas da produção assim que


saímos do carro, que eu sequer consegui estacionar, e espero que alguém
tenha feito isso. Só o que me faltava era uma multa por causa desses doidos.

Jackson já foi levado para a plateia enquanto eu entrei em uma sala que era
tipo um camarim. Duas mulheres começaram a fazer meu cabelo e
maquiagem, reclamando o tempo todo do estado da minha pele, ou por meu
cabelo ser liso demais e ter que encher de fixador.

Fiquei quieta o tempo todo, porque a minha vontade era mandar as duas a
merda, mas acho que não seria muito legal, já que estavam cuidando da
minha aparência.

— Finalmente! — comentou uma delas.

— Somos incríveis — uma bate na mão da outra e saem, sem nem me olhar.

Eu rio porque não tenho como reagir de outra maneira.

Os próximos minutos são uma correria um tanto quanto desnecessária. A


assistente da direção fica o tempo todo falando que entrarei a qualquer
minuto, conferindo meu microfone mais vezes que o necessário, e
constantemente falando sozinha, revisando se fez exatamente como deveria,
para recomeçar tudo de novo.

Quando finalmente escuto meu nome, saio de onde estou e já me deparo com
a plateia enorme e várias pessoas batendo palmas. É uma sensação boa,
caminho com todo o charme que tenho dentro do meu corpo e dou um
tchauzinho para as pessoas que me recebem.

— Calma, calma gente! Tem Kathllen para todo mundo! — se senta e faz
sinal para que eu fique à vontade no sofá enorme, que descubro ser muito
confortável quando me acomodo nele. — Estou tão ansioso, que talvez eu
tenha um sincope — todos riem e me junto a eles.

— Talvez eu te acompanhe na sincope — pego a taça com água que noto ter
meu nome e dou um gole, apenas para manter minhas mãos ocupadas.

O início da entrevista é leve e engraçada, fico à vontade e tranquila. O

primeiro comercial corta a entrevista e Paul me fita de cima a baixo.

— Caprichou! Há muito tempo não vinha ninguém tão bonita aqui —

tá aí o apresentador conhecido por xavecar todas as pessoas que entrevista.

— Acho difícil. Eu assisti a entrevista da semana passada com a Jennifer


Aniston — corto o seu flerte de uma forma gentil, para não deixar o clima
pesar.

Alguém grita que voltaremos em 3, 2, 1...

— Antes de falarmos do seu passado, que tal comentarmos o que tem


acontecido ultimamente? — ele já joga essa bomba assim que a câmera fica
verde e eu só sorrio, deixando que ele continue. — Vimos que está
namorando seu advogado Noah Cooper — sinto meu rosto esquentar de
vergonha —, mas um passarinho falou que pode existir uma possibilidade de
ter aparecido outra pessoa em sua vida.

Antes que eu possa digerir tudo o que ele falou, várias fotos começam
aparecer no telão atrás de nós e viro-me um pouco para poder ver melhor.
Não tinha noção que tiraram tantas fotos nossas, e realmente parece que
somos mais próximos do que de fato somos. Ele é um homem que gosta de
tocar nas pessoas e pelo que notei, é assim com todo mundo, mas quem vai
cogitar isso, né? O povo quer ver o circo pegar fogo.

— Como vocês já devem ter visto, eu e Christopher gravamos um comercial


que foi ao ar essa semana — como num passe de mágica, o comercial
começa a rodar e todos paramos para assistir; mais uma vez, todos batem
palmas, inclusive eu e Paul. — Ent..

— A química entre vocês é surreal — me corta e as pessoas dão uma


risadinha sugestiva. Nesse momento, encontro Jack me olhando, e ele fala
sem som para que eu fique calma e não entre no jogo de Paul. — Rolou algo
nos bastidores?

— Então, conseguimos fazer o trabalho com perfeição, já que a intensão é


que o casal do comercial passasse para quem assistisse que eles são
apaixonados — ele concorda, mas sei que não queria essa resposta e volta
para uma foto que foi tirada no final do evento em que estávamos juntos.

— Manter a química fora do comercial também foi necessário? —

sorrio, segurando todo o ódio dentro do meu peito.

— Christopher é um homem muito gentil e carismático, foi impossível não


me tornar amiga dele. Nessa foto, vocês estão vendo um cavalheiro
querendo saber se eu precisava de carona — talvez, eu tenha dado uma
mudada no que de fato aconteceu, mas realmente ele foi muito gentil como
todas as vezes que nos encontramos. — Ele me fez companhia na festa e
ainda conheci todo o time, inclusive, um beijo para todos eles — sopro um
beijo na direção da câmera.

— E, precisou de companhia porquê? Onde estava seu namorado?

Bebo a água novamente e depois respiro fundo, mantendo a minha pose com
muita dificuldade.

— Noah prefere evitar toda exibição na mídia — sou sincera. — O


trabalho dele requer muito do seu tempo e da sua imagem, então, ele evita
ser o foco da atenção.

Uma assistente levanta uma placa para que todos fiquem em silêncio, na
intenção de criar um clima tenso e isso acontece.

— Podemos então nos preparar para vê-la sozinha nos grandes eventos? Ou
acompanhada de amigos de trabalho? — o veneno escorre até pelos seus
poros. — Ele não sabia que estava entrando em um relacionamento com uma
estrela?

Não era assim que eu pensei que seguiria o assunto, mas parece que Paul
realmente não gostou da minha falta de interesse em seu flerte.

— Vocês me verão em todos os eventos, e a minha companhia sempre será


alguém que eu goste e que queira estar lá — digo firme, mas sem soar
ignorante. — Um namorado não é um troféu ou um acessório para que eu
fique exibindo por aí. E, não fui pega de surpresa em nada, tudo foi
conversado antes. Somos adultos, Paul. Não precisamos ficar nos
reafirmando para ninguém.

Uma pessoa começa a bater palmas sozinho e sei que é Jackson.

Todos os acompanham, mesmo com a assistente pedindo para que parem. Eu


pressiono um lábio no outro para evitar a risada.

— Um outro assunto que tem rondado muito a sua vida, é a sua relação com
a Alex e o Ethan. O seu relacionamento com o cantor foi admirada por
todos, o que aconteceu?

— Aconteceram tantas coisas, que teria que fazer um mês de programa só


comigo. — rio para descontrair e ele segue junto. — Com Ethan as coisas
desandaram porque o amor dele por sua carreira é maior que tudo, não o
julgo, mas acho que é importante respeitar quem está com você. Todo

mundo sabe que fui deixada quase no altar e ultimamente saiu noticias que
poderíamos estar voltando, o que é impossível. Coisas ruins aconteceram e
mais do que nunca concluímos que somos melhor longes um do outro. —
Tento me manter neutra em relação aos detalhes.

— Interessante.. Então você decidiu não dar mais uma chance a ele?

Sorrio, mantendo o controle com muita ajuda do universo.

— Exatamente. Decidi não dar uma segunda chance para alguém que me
machucou, decidi não viver em um relacionamento tóxico e decidi também
não virar uma das várias estatísticas que vemos por ai. — falo firme,
deixando claro o que penso. — E sobre a Alex, sigo o mesmo conceito de
não viver um relacionamento toxico, até porque não precisa ser amoroso
para ser tóxico, correto? — a plateia concorda e eu sorrio. — Vou me abster
de falar sobre ela por respeito ao seu estado no momento, como ela mesma
já informou, está sendo acompanhada por médicos e não vou contribuir para
os haters que ficam a procura de qualquer motivo para atacar alguém. Nem
mesmo ela merece tal coisa.

Todos ficam chocados e sei que Paul se segura para não tocar mais nesse
assunto, mas ele sabe que não irá tirar mais nada de mim. A entrevista segue
com um clima mais leve depois de todos esses assuntos.

Ele colocou no telão vários tweets que estavam sendo feitos naquele
momento e foi ótimo saber que todo mundo me apoia. Aproveitei também
para pedir que não destilassem ódio para eles, que não é isso que eles
precisam. Eu sei como é horrível ter esses haters nos julgando e criticando.

Não desejo isso para eles e torço para que se tornem pessoas melhores.

— Kathllen, espero que volte novamente em breve e nos conte todas as


futuras mudanças que acontecerem nessa sua nova fase e nesse
relacionamento peculiar — me levanto junto com ele e nos despedimos da
mesma maneira que nos cumprimentamos. Agradeço e depois que a câmera
desliga, vou até a plateia e tiro fotos com todos que pedem.

Jackson também chamou a atenção das pessoas assim que elas o viram
comigo e tirou fotos com muitas pessoas, algumas até pediram autógrafo
dele em lugares um tanto quanto inusitados e ousados. Ele poderia não
gostar de relembrar sua fase como ator, mas entende que as pessoas se
apegam e sempre faz questão de tratar todos muito bem.
— Ele não te poupou o constrangimento, né? — me pergunta assim que
saímos do prédio onde estávamos. Perdemos alguns minutos procurando
meu carro, e me jogo no banco do carona assim que achamos.

— Patético! Mas foi bom para mim, precisava disso e sabia que não seria
tranquilo.

Pego o meu celular e vejo que estou recebendo muitos seguidores novos,
vários deles comentando coisas boas nas minhas fotos e mandando
mensagem. Eu queria conseguir responder todos, mas é muito difícil, são
muitas mensagens.

Barbie postou um story com Noah e Jacob enquanto assistiam a entrevista e


me marcou, da mesma forma que várias outras pessoas fizeram isso. Muitos
famosos me deram apoio e fui repostando a maioria deles.

— Noah deve estar arrancando os cabelos do saco — rio alto

— Ele não tem cabelo em lugar nenhum, se quer saber — ele vira a cara
para mim e finge uma ânsia. Eu rio ainda mais e dou um tapa em seu braço.
— Mas, falando sério, eu no lugar dele teria pirado demais com essas
suposições.

— Você sabe o que a Samantha fez, né?

Bufo igual criança e cruzo os braços ao ouvir o nome dela.

— Não.

— Porra, vocês não conversaram durante esses dias? — faço que não com a
cabeça. — Ela tirou umas fotos de você e o quarterback fora de gravação.
Vocês estavam de roupão e pareciam íntimos demais.

— A gente de rou... Ah! Deveria ser nos intervalos da gravação do comercial


— constato depois de fuçar na minha memória que momento ficamos assim.
— Mas, como ela conseguiu essas fotos? E se quiser saber, não rolou nada
mesmo. Ele pediu para jantar comigo e eu falei que não estava interessada e
que tinha namorado.
Que mulher baixa! Agir assim para ficar com um homem? Quanta falta de
amor próprio.

— Você, realmente, precisa saber a história toda, Kath.

Subimos juntos quando chegamos no nosso prédio; ele vai para o andar dele
e eu para o meu, novamente com a cabeça repleta de pensamentos.

A casa está em silêncio e deduzo que minha mãe não voltou do trabalho e
pela hora, Emma deve estar na faculdade, eu acho. Já tiro o meu sapato e me
arrasto até a varanda, onde sento e aproveito a paisagem.

Tenho me sentido triste por todos esses dias, e não foi só por causa da
Camila, mas pelo fato de estar tão próxima do homem que amo e não poder
aproveitar de verdade a sua companhia. Depois de amanhã é halloween, e
não vamos conseguir conversar antes disso pessoalmente.

Esse pensamento me lembra de respondê-lo.

Eu: Oi, foi difícil, mas sobrevivi.

Eu: O que achou?

Ele fica on-line na hora e me sinto uma adolescente esperando o crush


responder.

Noah: Foi difícil assistir também, mas você se saiu bem.

Eu: Sobre o Christopher, lamento por isso. Não quis que ninguém deduzisse
que você tinha sido “substituído' .

Noah: Essa situação toda é uma merda e tenho a sensação que irá se repetir
outras vezes.

Como posso julgá-lo? Ele não está errado, mas meu coração sente um
solavanco por saber que ele fica mal com isso e irá ficar outras vezes, pois
isso vai se repetir e não tenho controle sobre o que a mídia especula e as
pessoas acreditam.
Eu: Sinto muito por isso.

Eu: Nos vemos domingo.

Ele: Até.

Covarde.

É isso que me tornei. Covarde.

Parece que uma luz se acendeu em minha cabeça e agora eu entendo o


porquê de estar fugindo dele, de evitar a conversa e resolver nossa vida.

Eu estou com medo.

Medo de nessa conversa, ele realmente não ter feito nada errado, como já
acredito que não tenha, e continuarmos felizes como estávamos antes. O que
tem de errado nisso? O errado é que eu sou apaixonada demais por esse
homem e com o tempo esse sentimento só irá se potencializar. O que eu vou
fazer quando a minha vida for demais para ele e tudo acabar?

Eu sei que uma hora vai ser demais, muitas vezes é demais para mim que
escolhi viver assim, imagine para ele que sempre falou o quanto não quer ter
esse tipo de vida.

Como a gente acreditou que daríamos um jeito?

40

— Ficou perfeito, mãe — sento no banco que virou uma mão segurando um
olho. — Vocês duas mandaram muito bem. Não consigo imaginar melhor.

Hoje é a festa de Halloween e a comemoração oficial do meu aniversário


com o dos meninos. Minha mãe conseguiu arrastar Joana para fazer toda a
decoração, junto com uma equipe que trabalhará para elas quando for
necessário. Ficou muito bom. Todo o primeiro andar e a área externa da
minha casa viraram um cenário de terror criativo e agradável, por mais que
seja desse tema.

— Nós iremos embora agora. Sua mãe tem que se transformar em uma bela
bruxa — minha mãe sempre se fantasia de bruxa e meu pai de Frankenstein,
é a marca registrada deles no halloween. — Quer uma carona, Jo? — as duas
saem animadas, apontando para algumas coisas que gostaram.

Me arrasto para o meu quarto e vou direto tomar um banho. Fecho a porta do
banheiro porque Barbie está no quarto ao lado e ele tem um total de zero
noção de limites na intimidade, então, não me surpreenderia se entrasse aqui
comigo nu.

Ligo o chuveiro bem forte e deixo a água quente cair sobre o meu corpo por
um tempo. Já virou quase uma rotina me masturbar quando tomo banho; ter
coisas de Kath pelo banheiro só contribui ainda mais para que eu volte a ser
como um adolescente se descobrindo. Não transo desde o dia do meu
aniversário e já estava mal acostumado transando com bastante frequência,
porque meu furacão é insaciável.

Meu pau endurece quando lembro-me de Kath nua e começo a subir e descer
minha mão por ele devagar, imaginando sua mão delicada e com unhas
sempre vermelhas que adoram me provocar. Encosto a cabeça na parede a
minha frente e aumento o ritmo.

— Por que trancou a porta? — Barbie reclama enquanto força a maçaneta e


descubro que meu pau consegue murchar em uma velocidade

absurda. — Está batendo uma punheta, né? — grita e eu queria conseguir me


afogar agora.

— Calma, porra! — grito de volta, irritado e sentindo minhas bolas pesando


de decepção. Puxo a toalha com toda a raiva possível e a amarro na cintura.
— O que você quer aqui dentro, Scott? — pergunto assim que abro a porta e
o vejo com metade da fantasia vestida.
— Não me chame de Scott — resmunga e entra no banheiro, me empurrando
com o ombro. — Meu gel acabou, mas Kath disse que tem um fixador muito
bom aqui.

Às vezes, não consigo acreditar que esse homem é o meu melhor amigo.
Esfrego as têmporas e espero enquanto ele se diverte vendo todas as coisas
que Kath deixou ali.

— Por que você não leva tudo e me deixa terminar o banho? — ele me
ignora e começa a arrumar o cabelo ali. Eu conto até cem com muita calma,
e focando que o amo, para não cometer uma atrocidade nesse boneco
ambulante.

Dane-se.

Volto para o chuveiro e fico de costas para esse idiota, que parece nem me
notar. Termino depois de poucos minutos e me enrolo na toalha de novo,
enquanto ele permanece fazendo qualquer coisa no cabelo, que já parece
estar todo no lugar.

Minha fantasia foi escolhida por Kath e não a troquei. Irei de Batman e ela
de Mulher Gato.

A roupa não é difícil de pôr e quando termino, vou ao espelho, deixando a


máscara e a capa para pôr último. A fantasia é um pouco justa e tenho que
arrumar meu pau de uma maneira que não fique evidente demais.

— Fiu-Fiu! — Jacob assobia e entra em meu quarto. — Quem é Ben Affleck


na fila do pão tendo Noah Cooper como Batman, né? — brinca e arruma um
fio de cabelo que saiu do penteado perfeito.

Coloco a máscara e depois peço ajuda com a capa.

— Precisaremos brigar lá em baixo ou algo do tipo? — Jacob está fantasiado


de Coringa.

Ele ri e faz que não com a cabeça. Barbie finalmente sai do meu banheiro e
também coloca a sua máscara, desfazendo um pouco da arrumação do cabelo
que ele levou bons minutos aperfeiçoando - eu seguro a risada.
— Já tem gente chegando, e pedi para uma das meninas do bar ficar na porta
dando doces para as crianças enquanto não desço — tem bastante

criança no meu condomínio, então não deixei de comprar vários doces para
elas.

Eles começam a discutir sobre alguma coisa inútil e eu fico rindo, porque é
patético dois marmanjos adultos e fantasiados discutindo.

Pego meu celular e minha sogrinha, que espero que volte a ter esse cargo em
minha vida, me enviou uma foto de Kath enquanto ela estava distraída
tirando uma foto dela mesma. Sinceramente, eu já não sei mais como
explicar o quanto essa mulher é perfeita e gostosa.

Vou passar constrangimento hoje, pois sei que meu pau vai acordar na frente
de todo mundo quando essa mulher chegar. E, ainda terei que me segurar
para não a arrastar para cá e tirar toda a sua roupa.

— Cara, é bizarro como você olha pra foto da sua mulher — Jacob diz ao
meu lado, olhando para a foto de Kath estampada na tela do meu celular. —
Parece um maníaco.

Levanto o dedo do meio e ele ri, ficando com o sorriso assustador por causa
da maquiagem do coringa.

Depois de encherem o meu saco, eles descem para começar a receber os


convidados pontuais e eu tomo um tempo para meus pensamentos, que vêm
me castigando a cada dia. Amar Kath não é uma tarefa fácil e tudo bem,
porque no final vale a pena e eu já sabia que seria assim, pela sua fama.

Entretanto, a pratica e a teoria sempre são diferentes e caramba, é horrível.


Eu tenho ciúmes daquele furacão, tenho medo de perdê-la para alguém
melhor, alguém que viva no mesmo meio que o dela.

Tenho medo de não aguentar, mesmo a amando.

Saio do quarto e confiro se todos os outros estão trancados porque não quero
ter que ficar tirando lençóis gozados das camas. Escondo as chaves dos
cômodos, inclusive a do meu quarto, onde sempre deixo para que se alguém
da família precisar; não me incomodo de amanhã mandá-los limpar suas
próprias sujeiras.

O som já está bem alto e ao descer as escadas, vejo que já tem mais pessoas
do que imaginei que teria.

Os garçons e as meninas dos bares estão fantasiados de zumbis e ficou muito


bom, inclusive Barbie parece ter se interessado em uma das zumbis, que tem
o decote avantajado pouco tampado por conta dos rasgos da fantasia.

Pego uma bebida da bandeja de um dos garçons e não tenho a mínima noção
do que seja. É bem verde e tem bastante fumaça saindo da taça, mas o

gosto me agrada e caminho pelas pessoas dando alguns goles.

— Irmão, você não está para brincadeira mesmo, ein — Jackson chega junto
com B e faço uma graça com a capa, jogando-a de maneira que cubra meu
ombro e depois pisco. — Cadê sua Mulher Gato?

Olho ao redor na esperança que ela já tenha chego, mas tirando os meninos e
Laura que acabaram de entrar, não tem ninguém além das que já estavam
aqui.

— Alguma chance de ter alguém aqui que vocês já ficaram? — B

pergunta e tenho certeza que ele tem receio que se repita a situação que
aconteceu com Samantha. Eu e Jackson negamos. — Ótimo. Estou carente.

O Dj está bem empolgado e as músicas estão animadíssimas. Há muitas


pessoas com fantasias super criativas e tem um fotografo registrando tudo o
que se passa. Jackson está de Pantera Negra e combinou bastante com ele,
parece o vilão do primeiro filme.

— Jennifer vem?

— Já chegou! Acho que foi tirar foto na decoração lá de fora. Ela é a noiva
cadáver, caso queira saber.
Ele olha lá para fora, mas daqui não consegue ver muita coisa. Coça sua
barba rala e vira a bebida em seu copo que é diferente da minha, parecendo
sangue e soltando umas bolhas.

Como se meu corpo tivesse um imã, me viro para a direção na porta e nesse
exato momento, uma mulher gato, minha Mulher Gato, entra e minha boca
abre sem minha permissão.

Acho que estou babando.

— Ela joga sujo, é? — Jack fala e ri, indo na direção dela.

A roupa dela é de um material brilhoso, todo preto e muito, muito colado ao


corpo. Seu cabelo está solto em várias ondas cheias, e a máscara deixou tudo
ainda mais sexy do que já está.

Seguro o braço de um dos garçons que passa e pego outra taca, viro todo o
líquido e já pego outra. Ele me olha achando graça, mas mal sabe do
sofrimento que passarei essa noite. Meneio com a cabeça agradecendo, ele
sai e eu volto meu foco para Kath, que agora conversa com algumas pessoas.

Noto que Emma está com ela, bem tímida, mas linda na sua fantasia que não
consigo definir qual seja, sei apenas que é um macacão bem justo e verde.
Ela olha fixo em uma direção e como sou curioso, me atento para quem ela
direciona o olhar. Adivinhem? Jacob. Tem alguma coisa erradas com esses
dois.

Mas, sinceramente? Dane-se. Quero mesmo é admi...

— Oi, Batman! — Kath fala alto o suficiente na minha frente e meu coração
para, com todo o sangue do meu corpo indo para o meu pau.

Percorro meu olhar por todo o seu rosto. Seus lábios pintados de vermelho
parecem ainda maiores. — Gostaria de falar que você está ótimo, mas seria
um elogio muito singelo.

Ela está me provocando? Ai, meu furacão!


Praticamente todo o seu corpo está tampado, menos seu decote e uma parte
do rosto. Minha mão coça para tocá-la e aliso seu pescoço e o maxilar,
sentindo minha pele queimar ao toque.

— Eu poderia facilmente falar que você é a mulher mais linda e gostosa que
eu conheço — solto em resposta a sua provocação e ela morde o lábio,
prendendo uma risada. — Você está perfeita, amor. Como sempre!

Ela estica o corpo e me dá um beijo na bochecha, depois se afasta e fica ao


meu lado, olhando tudo ao redor. Eu só consigo olhar para ela, sem nem
disfarçar o quanto sou apaixonado e vidrado nela.

— Ficou muito incrível, nem parece que é a sua casa — um garçom serve
bebida para ela, que aceita de bom grado e já bebe um gole. — Lá fora
também ficou muito bom, tirei tantas fotos antes de entrar.

Sua empolgação é contagiante e ela se balança no ritmo da música, alheia a


minha obsessão por ela. Vejo-a segurar o canudo, que é uma imitação de um
dedo decepado, e sugar o líquido. Não tenho mais dúvidas que eu sou um
tarado e preciso de tratamento, pois esses pensamentos impuros não
deveriam ser algo comum.

— Ficou muito bom mesmo — falo qualquer coisa para não parecer um
babaca. Emma passa por nós dois e pisca para Kath, que pisca de volta.

— Qual a fantasia dela?

— Sam! — me olha e ergue uma sobrancelha. Eu decido não falar nada


porque isso parece uma pegadinha e meu corpo fica tenso. Como assim

“Sam”? — Sam das três espias demais — ela ri e joga a cabeça para trás, me
zoando descaradamente. — Desculpa, não me segurei.

Acabo rindo de alívio, eu acho. E, tenho a brilhante ideia de aproveitar a


deixa para entrar no assunto.

— Falando em Sam... — começo e desisto. O som está muito alto, então,


decido segurar em sua mão e guiá-la comigo até a parte externa, onde tem
vários puff’s e bancos decorados. Nos sentamos em uma parte mais distante
e ela se vira para mim, deixando as pernas no meio das minhas. —

Eu nem sei por onde começar, mas quero que saiba que eu não a beijei, nem
sabia que ela iria lá. Eu tinha uma reunião, que na verdade foi uma armação
dela. Não sei se ela te viu, mas o beijo foi roubado por ela e não durou nem
dois segundos. Foi exatamente no momento que eu estava brigando com ela
e pedindo para que sumisse da minha vida... Nossa vida!

Seus olhos marcados com a maquiagem me fitam com tanta concentração


que eu não consigo nem imaginar o que se passa na cabeça dela. Suas mãos
pousam em minhas pernas e eu gosto tanto de sentir essa proximidade entre
nós dois.

— Noah, eu acredito em você. E, na verdade, te devo desculpas por não ter


deixado se explicar. Todo mundo merece ser escutado e não te dei essa
oportunidade, mas depois de tudo que eu passei, acho que eu travei e só
consegui pensar que tudo estava acontecendo novamente, sabe? Eu sei que
você não tem culpa pelas coisas que passei no passado, mas foi quase
impossível não projete-las no agora. Isso tudo também serviu para que eu
entendesse que tenho coisas para resolver comigo mesma — Ham? É sério
que ela está se desculpando e não gritando ou qualquer outra coisa? —

Essas duas semanas foram insuportáveis e não pense que foi fácil pelas
coisas que postei; aquilo lá e meu trabalho e preciso estar bem, mesmo não
estando.

Balanço a cabeça concordando.

— Cheguei à conclusão que eu posterguei essa conversa por medo, muito


medo. Eu te quero em minha vida, e farei o que for possível para que isso
aconteça, mas até quando você vai aguentar a bagagem que a minha
profissão carrega? Esse tempo afastada de você me mostraram como seria
uma vida sem você e nossa, seria horrível.

Eu fico em choque, totalmente em choque com a sua declaração. É

surreal ela ter tantos medos como eu, o que só mostra o quanto precisamos
um do outro para superarmos essa questão.
— Acho que nós dois estamos sofrendo por antecedência. Eu consegui te
imaginar tendo uma família perfeita com Christopher — ela ri e segura a
minha mão, que estava perto de dela em minha perna. — Eu não posso te
prometer que passaremos por problemas com facilidade, mas te garanto que,
juntos, iremos aprender a lidar com tudo que surgir. Eu te amo, amor. Te
quero em minha vida, em minha casa, em minha cama... Eu apenas te quero,
e vamos vencer cada batalha que aparecer por vez. E você não tem noção
como foi difícil atender o seu pedido de me afastar, cada dia foi um martírio
pior que o outro. Eu queria ir atrás de você todos os dias, mandar

mensagem a cada minuto, te implorar por perdão... Mas entendi que nada
disso ia fazer você mudar de ideia, teria que ser algo feito apenas por você,
sem a minha intromissão.

Ela concorda e arrasta o corpo para frente do puff, e eu imediatamente a


puxo para meu colo, fazendo-a rir quando sua boca cola na minha. Dou
vários selinhos em seus lábios carnudos e me contenho, porque não quero
estragar a sua maquiagem.

— Eu te amo, Batman. Obrigado por ter respeitado o que eu pedi, foi muito
importante para mim, para conseguir colocar os pensamentos no lugar.

— segura meu rosto com as duas mãos e me dá vários beijinhos também. —

Você está muito gostoso! Mal espero para poder tirar essa fantasia mais
tarde.

— Finalmente.

Gemo de ansiedade e ela se diverte com meu sofrimento.

Kath me arrasta até uma das áreas que amou e pede para tirar uma foto
comigo. Eu faço qualquer coisa por essa mulher, e tirar uma foto é moleza.
Acho que me jogaria num rio e lutaria com um jacaré só para diverti-la se
ela quisesse.

Nossas mães chegam nessa hora e nos ajudam com a foto e uma posição
perfeita bem fantasiosa, imitando algumas poses dos personagens que
estamos caracterizados; o resultado fica ótimo. Nesse embalo, tiramos fotos
com nossos amigos e minha família, que nos abraçam e parabenizam por
termos voltado.

— Que lindinhos! — Barbie comenta quando ficamos a sós perto da piscina.


— Falei que tudo ia se resolver, não falei?

— Sim, mas ainda nem estou acreditando que finalmente voltamos —

olho de longe para Kath, que está fazendo um vídeo chamada com Camila e
mostrando toda a decoração. — Aquela mulher é meu mundo e isso me
apavora.

— E, essa sensação nunca vai deixar de existe, acredite em mim. Mas fique
tranquilo, vocês são ótimos juntos — ele apoia uma mão em meu ombro e o
encaro. — Eu paro de falar com vocês se eu não for o melhor padrinho de
casamento.

Gargalho.

— Melhor padrinho? Isso existe? — ele dá de ombros e sai, indo em direção


ao bar. Boa sorte para a menina que ele decidiu que quer terminar a noite.

Tudo está como eu desejei e estou muito feliz com isso. Agora, nada

mais me fará separar dessa mulher. Só não entendo porque ainda tenho a
sensação que falta algo para ficar perfeito.

41

Desligo a chamado com Camila e sinto meu coração preenchido de amor.


Essa criança se tornou a minha pessoa preferida no mundo e não tem um dia
que eu não fale com ela. Sempre a visito quando tenho tempo vago e quando
vou embora, já fico querendo vê-la novamente.
— Posso falar com você, querida? — Liz se aproxima e guardo meu celular
no compartimento da fantasia, feito exatamente para ele. Me aproximo, mas
fico nervosa. Será que ela está chateada comigo pelos últimos
acontecimentos?

— Claro, Liz. Está tudo bem?

Ela me puxa para um abraço tão forte que eu quase perco o ar e começa a
balançar nossos corpos. Eu rio e vou na dela, abraçando-a com todo o meu
amor.

— Estou tão feliz que vocês tenham voltados, nossa. Não posso perdê-la
como nora, querida. Você é o sonho de toda mãe para um filho.

— Mesmo eu tendo feito ele sofrer essas semanas? — ela passa o braço pelo
meu e caminhamos por ali.

— Ele precisa entender que você é uma mulher de decisão e te valorizar


ainda mais do que você merece. Não é porque é meu filho, que eu não vou
cobrar que seja impecável com você — bate o ombro dela no meu.

— Você é a filha que eu nunca tive, querida e, torço muito por vocês dois.

— Não me faça chorar — sorrio enquanto sinto a garganta queimar e ela


beija minha bochecha. — Eu amo todos vocês! Obrigada por tudo.

Continuamos conversando até que Justin a tira para dançar e a combinação


de bruxa com Frankenstein é hilária, eles são um casal maravilhoso e me
baseio muito neles.

Gravo os dois juntos e sinto alguém me abraçar por trás. Não preciso me
virar para saber que é Noah e apoio meu corpo no dele.

— Tenho certeza que ela puxou sua orelha porque fez o filho dela sofrer —
fala, mas eu sei que está brincando e rio.

— Com certeza, meu amor. Brigou feio comigo — viro de frente para ele e
sorrio ao pegá-lo sorrindo com as suas covinhas a mostra. — Eu amo suas
covinhas.
— Eu também amo as suas.

— Mas eu não tenho

— Não nas bochechas — escorrega as suas mãos até a base da minha coluna
e pressiona os dedos ali. — São essas que você tem aqui, que me deixam
louco. Quando você fica de quatro então, é a minha perdição.

Alguém ligou o aquecedor? Porque a temperatura do ambiente com certeza


aumentou em 100 graus. Consigo sentir sua ereção pela fantasia e caramba,
como estou com saudades de senti-lo.

— Será que vão dar conta da nossa falta se formos dormir mais cedo?

— ele não demora nem meio segundo para me empurrar escada acima e eu
vou rindo, adorando sua empolgação.

— Todo mundo vai notar. Nossos amigos são uns belos de uns fofoqueiros.
Mas, quem se importa? — recebo um tapa na bunda assim que chegamos no
segundo andar e sem que eu consiga pensar em algo, ele me prende na
parede e toma meus lábios.

Sua boca é como um bote de salvação e eu a devoro como se ela estivesse


realmente salvando a minha vida. Caramba, como eu estava com saudades
de como Noah faz comigo.

Suas mãos passeiam por todo o meu corpo, como se estivesse mapeando em
sua mente cada uma das minhas curvas. Envolvo meus braços em seu
pescoço e encosto ainda mais meu corpo ao dele.

Minha língua e a dele travam uma batalha desesperada e eu rio no meio do


beijo, pois estamos parecendo dois adolescentes sem saber o que fazer e ele
encosta a sua testa na minha. Nossas respirações se misturam e quando
nossos olhares se encontram, é uma explosão de sensações e sentimentos
dentro de mim.

— Você não pode mais fazer isso comigo — sussurra com os lábios quase
colados ao meu. — Eu não vou superar ficar sem você uma outra vez
— a sinceridade em sua voz me abala e sinto meus olhos arderem. Passo a
mão em minha máscara e deixo que caia no chão.

— Na.. Não vou, amor, porque eu não aguentaria também.

Ela fecha os olhos e com cuidado, eu tiro a sua máscara. Meus dedos alisam
seu rosto com delicadeza e brinco com suas covinhas quando ele sorri.

Solto um gemido baixo quando sou surpreendida com a sua ereção me

pressionando.

Encosto a cabeça na parede e meu busto fica mais a vista propositalmente.


Meu decote generoso chama a atenção dele, que abaixa a cabeça e passa a
língua no vale entre eles. Fecho os olhos e deixo que ele faça o que quiser
comigo, bem aqui, onde qualquer pessoa pode subir e nos flagrar.

Uma de suas mãos aperta meu seio e cada célula minha pede por mais e eu
gemo novamente, querendo sentir mais de todas essas sensações. Noah sorri
ao ver minha pele toda arrepiada e passa um dos dedos no contorno dos
meus seios por cima da minha fantasia.

— Essa fantasia está me torturando desde a hora que você entrou —

escorrega o mesmo dedo pela minha barriga e para antes de chegar no meio
das minhas pernas. — Espero que não tenha sido muito cara.

Em um movimento rápido, ele me vira de costas e meu peito é pressionado


na parede. Suspiro quando o zíper da roupa vai se arrastando de forma bem
devagar propositalmente, enquanto ele se diverte com a minha necessidade
de o ter. O zíper vai até o alto da minha bunda e quando chega ali, ele passa
alguns dedos para dentro com certa dificuldade, por conta roupa ser muito
colada, e brinca com a minha calcinha que é muito pequena.

— Sem o resto da roupa é bem mais interessante — provoco.

Ele urra e escuto quando deixa a capa da sua fantasia cair e abre o zíper
lateral para conseguir tirar a parte de cima. Viro um pouco o rosto para
enxergar seu peito nu e é lindo de se ver.
Viro-me de frente novamente e também tiro a parte de cima da minha roupa,
deixando meus seios entumecidos a mostra, que estão pesados de tanto
desejo. Coloco a mão sobre eles e os aperto, aproximando mais um do outro.

— Kath...

Mordo o lábio inferior e depois passo o polegar com forca no lábio, sem tirar
os olhos dos deles.

Noah não se afasta e pega algo que identifiquei ser uma chave e me puxa até
a porta do seu quarto. Abre a porta em um tempo recorde e assim que
entramos, meu corpo já se choca na porta quando ele volta a me beijar.

Tento empurrar o resto da sua roupa para baixo sem deixar de beijá-lo e ele
me ajuda ao tirar o sapato e deixar que a fantasia desça por sua perna.

Na mesma hora que fica livre da roupa, sinto seu pau dentro da cueca
esfregar e roçar na minha intimidade. Gemo e forço meu corpo contra o dele.

— Eu preciso estar dentro de você — fala entre o beijo e o empurro o

suficiente para olhar em seus olhos e morder seu lábio.

— Deita — digo firme.

Ele ergue a sobrancelha, mas faz exatamente o que eu falo. Se joga na cama
e ajeita os travesseiros antes de colocar as mãos atrás da cabeça. A
iluminação do quarto está propícia para o que eu quero fazer e caminho até
um ponto que tem um faixo de luz que entra por uma fresta entre as cortinas.

Coloco um pé na parte de cima da cama, em direção ao meio das pernas


dele, e bem devagar, vou abrindo a minha bota encarando-o, com o peito
bem estufado para que meus seios não saiam da visão dele.

Ele aperta o pau e começa a alisá-lo por cima da roupa. Isso esquenta ainda
mais a minha boceta, que lateja adoidada.

Tiro a outra bota e depois, já começo a tortura de tirar o resto da fantasia.


Fico de costas para ele quando termino de passar as fantasias pelos pés e sei
que ele gostou do que viu, porque geme alto e estala um tapa forte em minha
bunda antes de me puxar para cama e vir para cima de mim.

— Você quer que eu goze só te assistindo? Porque quase conseguiu

— abocanha um dos meus seios e dá toda atenção para aquele mamilo


enquanto massageia o outro. Arfo e choramingo de tanto tesão. — Gostosa

— vai para o outro seio e faz a mesma coisa.

Coloco a mão no cós da sua cueca e libero seu pau, que está tão duro que
anseio ainda mais para tê-lo dentro de mim. Começo a masturbá-lo devagar,
deixando de propósito que encoste em minha boceta por cima da calcinha.
Ele aumenta esse contato e eu me remexo por baixo dele.

— Calma, amor. Hoje eu quero dar tudo que você merece — fala e sai de
cima de mim. Puxa meu corpo para a beira da cama e se ajoelha, ficando
com o rosto na altura do meu ventre. Seu olhar para meu corpo é de predador
e eu adoro isso, adoro ser admirada e desejada por ele.

Seus dedos se enrolam em minha calcinha e sinto quando o tecido é retirado


do meu corpo. Ele começa a beijar a minha canela e vem subindo cos beijos
molhados e com lentidão pela parte interior da minha coxa, se aproximando
de onde eu quero que ele coloque a boca.

— O que você quer, amor? — sinto seu hálito próximo demais do meu ponto
sensível e parece que desaprendo como se fala, porque nada sai da minha
boca além de um gemido. — Isso? — lambe meu clitóris só para que eu
sinta o calor da sua língua e me perco entre gemer e remexer o corpo. —

Ou isso? — lambe a minha entrada e penetra um dedo todo, inclinando um


pouco e tocando em um ponto extremamente sensível por dentro.

— Noah do céu! — quase grito e ele movimenta o dedo. — Um pouco dos


dois seria incrível — torço para que ele tenha me escutado, eu mesma mal
me ouvi. Sua língua vem com tudo em meu clitóris segundos depois do que
falo e entendo perfeitamente que ele ouviu. Noah me lambe, suga e mordisca
de um jeito tão bom que não dói; eu gemo seu nome enlouquecidamente.
Logo depois, ele assopra e a sensação da sua língua quente e o frescor um
seguido do outro me deixa maluca, pois começo a rebolar a minha boceta em
seu rosto. Seus braços passam por baixo das minhas pernas e ele me prende,
se perdendo em mim. Sinto sua boca, nariz e barba por todas as partes e
deliro.

Esse homem é bom em tudo que faz. Obrigada por isso, universo.

Começo a sentir na parte inferior da barriga um formigamento e pressão, que


já sei que ser um aviso que não resistirei muito tempo às carícias desse
homem. Acho que ele nota isso pela forma como meu corpo reage aos seus
toques e começa a massagear meu clitóris com o dedo, na velocidade
perfeita. É o meu fim.

Minhas pernas tremem um pouco e arqueio o tronco para cima, enfiando


minhas unhas no colchão e deixando meu corpo encontrar o alívio que
precisava há dias. Gozo com ele ainda no meio das minhas pernas, me
sugando enquanto gemo alto.

— Seu gosto é uma delícia, igual todo o seu corpo! — fica de pé e lambe o
canto do lábio. Seu pau brilha com a excitação e ainda me impressiono com
o tamanho e como é bonito. Acho que sou apaixonada pelo pau do meu
namorado.

Eu concordo e fico de joelhos na cama, na frente dele.

— Ele é todo seu amor, pode usa-lo sempre que quiser e várias vezes...
muitas vezes!

Ele me puxa, envolvendo o braço em minha cintura e quando menos


percebo, estou abraçando-o com as minhas pernas e seu pau fica
perfeitamente posicionado na minha entrada. Me apoio nele e forço o corpo
para baixo, sentindo a cabeça entrar devagar e logo depois sua estocada
firme, que ele dá e faz com que entre tudo e eu contraia de tesão.

— Porra, isso é muito bom! — ele geme. Gratidão à sexóloga que me


ensinou o pompoarismo. Faço o movimento novamente e ele urra, todo
arrepiado. Noah me abraça com forca e começa a me comer em pé, deixando
que a gravidade faca um trabalho incrível em cada estocada. Nossos gemidos
se misturam e eu mordo o seu lábio, puxando-o para mim.

— Você é tão ... porra, você é tão tudo — falei sem pensar e ele ri.

Acho que o elogio o empolgou e ele sai de dentro de mim e me coloca de


quatro na cama. Meu cabelo é todo preso em sua mão e me posiciono
melhor, deixando a bunda bem empinada na sua direção. Não demora muito
e sinto a estocada forte que joga meu corpo um pouco para frente, porém,
logo ele volta a me colocar na posição anterior ao puxar um pouco meu
cabelo.

Eu amo esse lado bruto dele no sexo, me deixa ainda mais enxarcada.

Suas estocadas são cada vez mais forte que a anteriores e eu grito seu nome,
xingo e jogo o corpo para trás fazendo com que o impacto seja ainda mais
bruto. Minha bunda arde quando ele dá alguns tapas e eu peço por mais.

Sinto o suor do seu corpo cair em minhas costas e se misturar com o meu.

Ele solta o meu cabelo e segura a minha cintura com as duas mãos para
continuar os movimentos. Meu corpo se arrepia em surpresa quando sinto
um dos seus dedos acariciar com muita leveza uma parte que ainda não tive
coragem de dar. Como a sensação é boa, eu não contesto.

— Essa é uma área liberada? — pergunta e beija as minhas costas.

Seu dedo não para de acariciar meus ânus e eu fico um pouco atordoada,
porque nunca tive vontade de fazer sexo anal, mas com Noah, eu quero tudo.

— Não! Quer dizer, nunca fiz nada por aí — sua outra mão começa a
acariciar meu clitóris e não sei em que parte do corpo me concentrar —, mas
talvez a gente pudesse tentar algo.

Seu gemido deixa claro o quanto ele ficou animado com isso. Noah sai de
dentro de mim e sinto falta na mesma hora.

— Gostei disso, gostei muito. Podemos ir preparando seu corpo para isso —
ele volta para dentro de mim e quanto escuto o barulho de uma tampa
abrindo, deduzo que ele pegou algo. — Quero que seja bom para você! —
algo oleoso escorre pelo meio da minha bunda e acredito que seja um
lubrificante. — Qualquer coisa que não gostar, me avise.

Ele faz movimentos de vai e vem mais devagar e, eu contraio todas as vezes
que ele entra todo. Seu dedo espalha o lubrificante e fico ansiosa para saber
o que ele vai fazer. Depois de lambuzar muito, ele volta a acariciar até que
sinto uma pressão ao forçar seu dedo ali.

Suspiro e relaxo o corpo quando percebo que é bom. É diferente, arde um


pouco, mas ele está sendo tão delicado que é bom. Aos poucos, vai enfiando
mais o dedo e, involuntariamente, empurro um pouco a bunda para trás e o
dedo entra quase todo.

— Ahhhhh! — gemo.

Noah começa os movimentos de vai e vem com o dedo e senti-lo dentro de


mim em dois lugares ao mesmo tempo é uma experiência única. A excitação
escorre tanto de mim que seu pau faz um barulho alto ao entrar e sair.

Tudo fica mais intenso quando eu jogo mais o meu corpo para trás e contraio
com muita força o dedo e o seu pau ao mesmo tempo. Ele tenta se concentrar
em tudo que faz, mas quando tira o dedo e segura meus dois braços para
voltar a meter forte, eu perco tudo ali.

Os movimentos brutos e desesperados me fazem gozar em segundos e logo


depois, ele sai de mim e goza tudo no meio da minha bunda; sinto escorrer
para baixo e ele esfrega a cabeça do pau ali, apenas me provocando.

— Quando você estiver pronta — esfrega com força o pau na entrada do


meu ânus e descubro que sou uma grande safada quando empurro a bunda
para trás querendo senti-lo ali — vai ser incrível, mas deixa de ser safada e
espere esse dia. Não quero que se arrependa depois... Ou que fique sem
conseguir sentar — pincela mais uma vez e deita na cama, me puxando para
deitar junto com ele.

Meu corpo está gritando por um descanso na mesma medida que grita por
mais do que não tive.

— Eu não me oporia se você tentasse.


Deito por cima do seu braço e jogo uma perna em cima da dele, não me
incomodando para o quanto estamos suados.

— Eu sei disso, amor. Porém, não é tão simples assim.. pelo menos não se
você quiser que seja prazeroso — alisa meu braço e viro o rosto para ele.

— Está duvidando do meu potencial?

Ele ri.

— Muito pelo contrário. Estou duvidando do meu autocontrole quando eu


começar e você pedir por mais do que aguentará de primeira! —

como um homem consegue ser fofo enquanto fala que quer comer a bunda
da namorada? — Eu tenho algo que talvez possa te ajudar! Já ouviu falar em
plug anal?

Arregalo os olhos em surpresa. Não imaginaria nunca que ele seria o tipo de
homem que tem essas coisas para usar com a namorada.

— Claro que sei! Mas, me recuso a usar algo que você já usou em outra,
Noah — sim, gente. Estou com ciúmes do plug anal que meu

namorado tem e meu rosto esquenta quando ele ri.

— Você vai aprender que seu namorado gosta de comprar muitas coisas para
você e para nós dois. Da mesma maneira que comprei várias lingeries novas,
também passei em um sexshop e comprei algumas coisas, só não tivemos
tempo de usar ainda.

Me sinto uma boba agora, mas não dou o braço a torcer. Seguro seu rosto
com as duas mãos e dou um beijo rápido nele.

— Então ótimo, podemos tentar usar tudo que tiver aí. Quero saber quais
safadezas você quer fazer comigo — rio e sento em seu colo. Prendo meu
cabelo todo embolado em um coque e seu pau começa a acordar em baixo de
mim.

— Emma, esse quarto é do Noah. Deixa eu te levar para o outro —


eu e Noah pulamos da cama quando ouvimos Jacob falar com Emma e ele
abre o closet. Enquanto coloca um moletom, eu pego um roupão porque não
tenho tempo para procurar.

Destranco a porta e Noah sai na frente. A cena que vemos é um tanto


confusa. Emma está no ombro de Jacob, que força uma porta trancada e ela
balança as pernas, como se nada disso tudo estivesse acontecendo.

— Que porra tá acontecendo? — Noah pergunta enquanto se aproxima e eu


o sigo. Jacob nos encara e parece suspirar aliviado. Coloca Emma no chão e
aponta para mim.

— Ótimo. Já que terminaram, agora você pode cuidar da sua amiga!

— Jacob fala tão sério que eu fico tensa, mas vejo no seu olhar o quanto ele
está preocupado. — Parece que beber 9 shots de tequila é mais do que ela
consegue.

Emma soluça e ri do próprio soluço. Jacob balança a cabeça em negação e


pega a chave da mão de Noah. Abre dois quartos e entra em um, se
trancando logo depois.

— Ele é tão sério e gato! Nossa, ele é muito gato — Emma fala encarando a
porta do quarto que ele entrou. — Porém, eu não sou atraente suficiente para
ele, nunca fui — Noah me encara, sem entender bulhufas e eu dou de
ombros.

— Precisa de ajuda? — ele me pergunta e eu nego. Recebo um selinho que é


aplaudido por Emma e logo entro no quarto vazio com ela, que tropeça toda
hora em seus próprios pés.

Com muita dificuldade, e parando toda hora para ouvir qualquer bobeira que
ela fala, consigo deitá-la na cama e tiro suas botas. Também tiro

todos os acessórios para que não se machuque.

— Você quer que eu pegue algo para comer? — ela nega e faz bico.

— Acho que eu fiz alguma besteira, mas tudo está rodando muito —
diz e começa a se ajeitar para dormir. Ajudo-a com a coberta e ela se vira
para mim. — Eu já falei que você é muito linda? E minha única amiga, a
melhor de todas — rio da sua coerência. — Eu nunca conseguirei agradecer
o suficiente — ela fala meio embolado, mas eu sorrio e faço carinho em sua
mão.

Antes que eu possa retribuir os elogios, ela dorme e começa a roncar


baixinho. Me levanto e deixo a luz do banheiro acessa para que ela não se
machuque caso acorde de madrugada ainda bêbada.

Saio do quarto e fecho bem a porta. Espio pelas escadas o movimento da


festa e parece que muita gente já foi embora. Escuto a voz de Barbie, Laura
e Bryan, mas entro no quarto antes que alguém me veja assim.

— Ela está bem? — Noah pergunta assim que entro e noto que ele tomou
um banho. Que inveja, preciso de um banho também.

— Está. Ela só bebeu demais. Amanhã, com certeza, será um belo dia de
ressaca!

Vou para o banheiro e tomo um banho bem quente para relaxar meus
músculos que estão pedindo socorro depois de tudo o que rolou nesse quarto.

Meu coração fica em êxtase quando noto que Noah não tirou nada meu de lá,
e confirmo que realmente ficou tudo quando acabo o banho e vou para o
closet e encontro a minha gaveta quase intacta. Parece que ganhei presentes
novos.

Pego um baby-doll de cetim, que é uma escolha melhor que a camisa parece
aquelas sociais de manga curta. Amanhã quando acordarmos, tenho certeza
que muitos amigos dele ainda estarão aqui, então, é melhor que eu esteja
com uma roupa que dê para aparecer na frente deles.

— Adoro quando seu cheiro se espalha pelo meu quarto — Noah fala
quando me deito ao seu lado. — Saudades de te ver andando por aqui, bem à
vontade. Sem dúvidas, esses momentos são os preferidos dos meus dias —

beija várias partes do meu rosto e eu tomo os seus lábios em um beijo calmo.
Eu não consigo tirar o sorriso do rosto enquanto conversamos sobre tudo o
que aconteceu enquanto estávamos separados, sabendo que agora estamos
mais dispostos do que nunca a fazer isso dar certo.

Eu o quero em minha vida e quero ainda mais do que temos.

42

Acordei mais disposto do que nos últimos dias e, é claro que é por causa
dessa mulher incrível embolada nos lençóis da minha cama. Eu sempre
acordo cedo e não tenho coragem de acordá-la por enquanto.

Pego meu celular antes de sair do quarto e vejo que Kath postou a nossa
foto. Caramba, parece que é a foto mais curtida de todo seu Instagram.

Pelo menos, é o que falam os perfis de fofoca e decido comentar.

Te amo, MINHA mulher gato!

Vou marcar território mesmo porque não custa nada, e não sou de ferro. As
outras fotos que postou no carrossel ela está sexy e gostosa demais, tenho
certeza que vai ter vários babacas comentando, mas não irei ver essas coisas.
Minha sanidade agradece.

Desço e o pessoal que minha mãe contratou já está recolhendo e arrumando


tudo. Cumprimento todos e vou até a cozinha, onde encontro Jacob mais
emburrado que o normal e Barbie encarando-o como se ele tivesse falado o
maior absurdo do mundo.

— Você tem certeza disso? — Barbie pergunta e Jacob bufa sem paciência.

— Cara, é difícil não ter certeza de um beijo quando uma pessoa pula em seu
colo e enfia a língua dentro da sua boca — o copo que eu tinha pego para
pôr o suco quase cai da minha mão e eu tusso.
— Que porra eu perdi ontem? — me sirvo de algumas coisas e sento com
eles.

— Emma ficou muito bêbada e confundiu as coisas quando o bad boy aqui
foi ajudá-la enquanto ela tentava subir no balcão do bar para dançar —

eu paro com o sanduba que fiz no meio do caminho e encaro Jacob.

— Ela tentou me beijar quando a levei para o segundo andar. Tenho certeza
que a bebida fez com que ela entendesse tudo errado, mas pareceu mais
errado do que já deveria — ele esfrega as têmporas e suspira. — Ela tem 19
anos, eu sou 10 anos mais velho que ela, e me senti mal por ela ter

confundido. Não quero que pense que sou um velho tarado.

Mordo o sanduíche, mas mal consigo engolir tentando entender toda essa
loucura.

— Você é muito exagerado e ela já é maior de idade.

— Ela ainda não tem nem idade para beber, cara — Jacob contesta.

— Falou a pessoa que enchia a cara na faculdade... com 18 anos —

pondero e bebo o suco. — E, ela já pode votar, dirigir, comprar armas e ser
presa.

Às vezes, é inevitável irritar ainda mais o Jacob. Entretanto, apenas levanto


as mãos me rendendo quando ele me olha feio e prendo um riso.

Termino de comer e pego as sujeiras que fizeram, as jogando fora.

— Só relaxa, cara. Tenho certeza que se ela lembrar, vai se sentir bem pior
do que você — Barbie fala e começa a lavar a louça que fizemos. Me
encosto próximo a pia e tenho uma ideia ao olhar a piscina daqui de dentro.

— Sua lancha está disponível, por acaso? — Jacob concorda e um sorrisinho


aparece em seus lábios. Ele é apaixonado pela sua lancha e adora passear por
aí com ela. — Que tal um dia no mar?
Ele levanta e já faz a ligação para pedir que preparem tudo para a nossa
chegada. Barbie termina a louça e avisa que vai em casa pegar suas coisas e
que voltará em 30 minutos. Eu decido levar algumas coisas para Emma e
Kath comerem. Quando subo as escadas, encontro Emma saindo do quarto
onde Jacob dormiu. Ela ruboriza ao me ver e mostro a bandeja.

— Eu não dormi lá, só para constar — se justifica. — Eu fiz uma besteira


enorme ontem e queria me desculpar com o seu amigo — pega um copo de
suco e um cacho de uvas. — Desculpa também, não queria fazer esse
vexame na sua festa.

— Não tem que se desculpar comigo, Emma. Quem nunca ficou bêbado na
vida? — pisco e ela sorri, ainda sem graça. — Jacob é meio difícil de lidar,
mas se você topar ir no passeio com a gente daqui a pouco, terá bastante
oportunidade de conversar com ele.

— Qual passeio? — fala de boca cheia.

— Passeio de lancha no Hamptons. O que acha? — ela fica me encarando de


um jeito engraçado e depois olha para o celular que nem tinha notado em sua
mão.

Suspira frustrada e me olha igual criança que quer fazer algo mais não pode.

— Não posso! Preciso estudar agora a tarde e à noite, ainda tenho que

ir trabalhar — balanço a cabeça concordando, mas queria que ela pudesse ir,
sei que Kath adoraria tê-la por lá.

— Na próxima então — digo e ela sorri sem felicidade, passando por mim
para descer. Eu volto para o quarto e Kath já está acordada com o cabelo
lavado. — Bom dia, amor.

Coloco a comida na mesinha próximo a cama e ela vem ver o que eu trouxe.
Pega várias frutas e me beija.

— Bom dia! — come as frutas com calma e roubo uma antes que ela consiga
pôr na boca. — Alguma programação para hoje? — esse deslumbre em
minha frente já tinha conseguido me despertar dos pensamentos e esqueci o
que vim falar com ela.

— Passeio de lancha! Que tal?

Ela fica super animada e a próxima hora gira em torno de chamar todo
mundo, buscar roupas para ela em sua casa e me segurar para não a agarrar
quando me mostra o biquini que escolheu para ir.

Para a minha surpresa, Emma se junta a nós quando estávamos saindo do


apartamento de Kath. Seus olhos estavam vermelhos e parecia ter chorado,
mas claro que fingi que não vi e deixarei que elas conversem depois. Minha
mãe e Joana não vão porque estão empenhadas na reforma da casa nova de
Kath, então, busco apenas meu pai e B.

O caminho até lá durou quase 1 hora e meia, e quando chegamos na marinha


principal do Hamptons, todos já estão lá nos esperando. Kath e Emma ficam
encantadas com a luxuosa lancha de Jacob, que é enorme, toda preta e tem 3
andares, sendo um deles a parte interna onde tem duas salas e algumas
suítes.

Ajudo as meninas a subirem e quando confirmamos que está tudo certo,


Jacob se prepara para sair com a lancha. A pessoa responsável na
manutenção e limpeza deixou a geladeira cheia de tudo que se possa
imaginar, além de muitas bebidas. Deixo as meninas à vontade para
conhecerem tudo e me junto aos outros que estão na parte próxima da proa,
onde iremos fazer o churrasco.

— Então, vocês voltaram mesmo, né? — Bryan pergunta e me serve uma


cerveja que eu aceito de prontidão.

— Sim, irmão. Finalmente! — meu pai sorri para mim e começa a separar
toda a comida que usaremos, o que eu o ajudo. — Não quero ter que viver
isso novamente de jeito nenhum! Por mim, já colocaria uma aliança no dedo
dela.

Ok, essa foi a primeira vez que externei essa vontade e pensei que me
sentiria estranho em falar isso, mas me sinto aliviado em expor o meu
desejo.
— Não me surpreende — Jacob fala enquanto pilota. — Mas, você tem
certeza?

— Filho, isso é ótimo. Porém, é um passo muito importante na vida de vocês


dois — ele coloca a toalha de prato no ombro e me observa, tentando achar
alguma dúvida em meu semblante. — Sua mãe vai surtar de felicidade! —
todo mundo ri porque sabemos como ela ficará.

— Ainda é uma ideia a ser trabalhada! Não quero espantá-la, já que nosso
relacionamento é recente. Por mais que tenhamos vivido muita coisa e eu
tenha certeza que ela é a mulher da minha vida, não sei como ela se sente em
relação a isso — dou um gole na cerveja e depois tiro a camisa. Vou até a
churrasqueira e começo a acendê-la.

— Eu posso escolher a cor do meu terno? — Barbie fala e eu tento ignorar.


— Eu sou o padrinho principal e tenho que me destacar.

— Não existe isso de padrinho principal, babaca — Jacob começa uma


discussão com ele e isso leva um tempo ridículo porque é idiota demais.

Bryan pega três garrafas de cerveja e vai para a proa quando as meninas
chegam lá e dá para elas. Emma parece ter perdido a coragem de falar com
Jacob e vira o rosto rápido para o outro lado quando ele a encara.

— Laura e Bryan se aproximaram bastante, né? — meu pai comenta como


quem não quer nada, mas o conheço o suficiente para saber que ele quer
entender se está rolando algo a mais.

— Ela disse que ele é muito gente boa e um ótimo amigo — Barbie
responde.

Meu pai ergue uma sobrancelha, mas se dá por convencido. Coloco várias
carnes na grelha e deixo o carvão fazer a sua mágica. Volto a olhar para as
meninas e só consigo enxergar Kath em seu biquíni preto que combina com
seus óculos de sol. Ela olha em minha direção e me manda um beijo.

— Algo me diz que aquela mulher falaria sim para um pedido seu —
meu pai fala ao meu lado, me encorajando. Ele sabe que minhas dúvidas
podem me fazer pensar demais e, muitas vezes, só faço algo quando tenho
certeza que terei um resultado positivo. — Você não pode prever os
acontecimentos de um relacionamento, filho. Mas, se você a ama e acha que
deve dar esse passo, apenas faça. Você pode pedi-la em casamento e ficar um
ou dois anos noivos, caso ela ache que é cedo demais.

Viro algumas das carnes e finalizo a minha cerveja. Já pego outro e bebo,
pensando no que ele falou.

— Eu estou muito emocionado, pai?

Ele ri.

— Um pouco, mas o amor é isso. Ser emocionado faz parte quando você
ama com todas as suas forças e quer ter a pessoa ao seu lado. Eu e sua mãe
pulamos bastante etapas e moramos juntos pouco tempo depois que nos
conhecermos.

Meu pai é sempre muito sensato e calmo, poucas vezes o vi nervoso ou sem
ter uma solução para algum problema. Ele e minha mãe se combinam de
uma maneira perfeita, e eu sinto isso com Kath. Mesmo que sejamos opostos
em quase tudo em nossa vida, parece que somos o encaixe um do outro, uma
parte que faltava em nós mesmo que nunca percebemos.

Pelo menos, é assim que eu vejo.

Espero estar certo.

Corto algumas carnes, coloco-as em uma travessa, mas separo uma parte
para as meninas e levo para elas.

— Obrigada, amor! — recebo um selinho de Kath e dou mais alguns nela.


Emma aproveita para se levantar e ficamos olhando enquanto ela vai na
direção de Jacob, que a leva para mais longe para poderem conversar. —

Queria ser uma mosquinha!

Rio, mas eu também queria ser.


— Tadinha, está tão constrangida com tudo o que aconteceu — Laura
comenta e, é claro que elas já devem ter conversado horrores sobre. — Juro
que eu jogo Jacob no mar se ele for ignorante com ela.

Coço a cabeça ao pensar nisso. Jacob não costuma ser grosso, mas a
seriedade dele é confusa para quem não o conhece e, às vezes até para quem
convive com ele todos os dias. Emma é uma menina delicada e aquele
brucutu não sabe mais lidar com as mulheres de forma agradável.

— Vai ser interessante todo mundo voltar nadando, já que ele é o único que
pode pilotar — respondo e Laura reclama por não poder dar continuidade no
seu plano. Kath ri e come mais do churrasco.

Sento-me ao lado da minha mulher quando Laura avisa que vai ao banheiro
e passo o dedo por cima do anel que dei a ela.

— Você nunca tira?

— Não. Não pretendo tirá-lo nem quando me der uma aliança —

brinca, mas meu coração bate forte por conta dos meus últimos pensamentos

e tento não transparecer. Pego sua mão e beijo os nós de cada dedo. —
Minha mãe me falou que hoje fica tudo pronto na minha casa — troca de
assunto e agradeço por isso.

— Uau. Já?

— Sim! Eu também fiquei boba! Acho que elas estão bem animadas para
poder fazer o portfólio também! Porém, só devo ir na terça; amanhã irão
limpar tudo e segunda-feira é o evento da marca de lingerie, e não quero
perder o foco. Inclusive, nem posso pegar muito sol pra não ficar com
marca, daqui a pouco vou para a sombra — divaga.

A bendita festa que vai ter vários ex clientes, famosos e muita, muita gente
querendo se meter na vida do outro. Só de pensar nisso, meu corpo fica
tenso.
— Não precisa se preocupar em ir, ok? Não quero que se sinta
desconfortável — acho que ela percebe o que eu estava pensando, e aliso a
sua perna, sem ter coragem de olhá-la enquanto nego minha presença em um
momento tão importante de sua carreira.

Eu sou patético. Como vou pedi-la em casamento e ser seu marido só


quando for confortável para mim? Eu sou muito patético.

Dou um beijo em sua bochecha e digo que vou terminar o churrasco, mas só
estou sendo covarde e me afastando um pouco. Coloco mais algumas coisas
no churrasco e belisco um pouco.

Daqui, consigo ver que Emma e Jacob não conversam mais, mas continuam
um ao lado do outro, tomando as suas cervejas em silêncio.

Esquisitos.

O dia vai seguindo de forma leve e divertida. Me senti estranho por um


tempo depois de conversar com Kath, mas ela parecia não estar abalada,
então, optei por não ficar pensando nessas coisas e ver o que acontecerá mais
para frente.

As meninas aproveitaram bastante para tirar fotos, conversarem entre si e


também me juntei a elas em alguns momentos. Elas se dão muito bem e, é
admirável como se apoiam em tudo mesmo sendo recente a relação entre
elas. Na verdade, parece que Kath sempre teve um espaço na vida de cada
um de nós e estava esperando o momento certo para aparecer.

Descobri também que Emma pediu para sair do trabalho que tinha começado
há pouco tempo. Ela contou para todos nós quando nos juntamos que os
horários estavam complicados para a faculdade e, agora que tem um dinheiro
guardado e está morando com Kath, vai conseguir se manter por

alguns meses sem trabalhar, além de em breve começar uma nova fase da
faculdade, que tomará ainda mais do seu tempo.

Amanhã, Laura e Kath farão um ensaio fotográfico e provavelmente não me


encontrarei com ela depois que for, porque pretendem dormir junto hoje;
então, vou aproveitar para resolver algumas coisas do trabalho e planejar
fazer uma surpresinha para Kath em sua casa nova - espero que minha mãe
posa me ajudar.

Decidimos voltar antes de anoitecer e meu pai leva meu carro.

Deixamos Emma em casa e Kath sobe para pegar algumas coisas para
amanhã. Esperamos no carro e encosto a cabeça no banco.

— Rolou algo, né? — faço que sim com a cabeça. — Vai sempre rolar algo,
vocês só não podem desistir. Lembre-se que amar é também ceder quando
necessário, filho.

Ceder quando necessário.

É a frase que se mantém em minha cabeça e me faz tomar uma decisão


importante.

43

Estou encantada com o trabalha de Laura.

Ontem fomos em vários lugares para fazer o ensaio que combinamos e, se


depender de mim, ela será a minha fotógrafa oficial. As fotos já estavam
perfeitas antes de editá-las, mas agora que recebi o e-mail com elas todas
preparadas, estão ainda melhores. É um trabalho surpreendente. Laura me
deixou muito à vontade e me deu liberdade para fazer algumas poses, mas
sempre me falando a melhor maneira de executá-las. O resultado está
espetacular, as minhas preferidas são as que fizemos na cobertura do Barbie,
porque a vista lá e todo o resto é muito lindo. Até tirei umas fotos com ele,
que ficaram hilárias.

Pego meu celular para mandar uma mensagem para ela.


Eu: LAURA! NÃO ACEITO UM NÃO PARA A MINHA

PROPOSTA DE SER MINHA FOTÓGRAFA PESSOAL.

Laura: Estava torcendo por isso! Amei trabalhar com você e já estou
preparando o portfólio e as que irei postar no Instagram.

Eu: Me avisa quando eu puder começar a postar no meu! Vou pedir para seu
irmão fazer um contrato certinho e depois você me diz se o valor é justo!
Beijos!

Largo o notebook no puff perto da televisão e confiro o relógio mais uma


vez. Faltam exatas três horas para o horário que marquei de chegar no
evento. Dessa vez, decidi eu mesma cuidar da minha maquiagem e cabelo,
além de recusar muitos convites de estilistas para usar algum modelo deles.

Eu tenho um vestido perfeito que já quero usar há algum tempo e nunca tive
onde usar.

O vestido prateado que Liz me deu em meu aniversário.

Ele é sexy e chama atenção para os pontos certos do meu corpo. É

perfeito para o tipo de evento e, como a festa é uma comemoração ao


lançamento em que eu fui a estrela, qual mal faz brilhar como uma?

Tomo mais um banho e lavo bem meu cabelo. É nesse momento que me
permito pensar que Noah não estará comigo, o que me deixa triste de
verdade; por mais que eu respeite as questões dele, queria muito tê-lo ao
meu lado. Amanhã será mais um dia que sairá notícias falando que meu
namorado não estava e, mais uma vez, Christopher aparecerá em fotos
comigo, já que todo o time foi convidado. Na verdade, todas pessoas
suficientemente famosas, influentes ou ricas, estarão lá; ele é isso tudo junto.

Saio do chuveiro e começo o processo de secar e modelar o meu cabelo com


muito cuidado. Na última semana, tirei as mechas que ainda estavam nele e
agora está todo castanho.
Chamei algumas pessoas para irem comigo, tirando Noah que não
comparecerá e Emma que disse que não ficaria à vontade em um evento
assim. Liz, Barbie e minha mãe estarão lá. As duas, que agora vivem juntas,
resolveram se arrumar em um salão e Barbie vai com elas para o evento.

Termino o cabelo e começo a maquiagem, que foi uma luta para escolher
qual fazer, mas graças ao Pinterest consegui escolher uma lindíssima, com os
olhos bem marcados e um batom mais claro, no estilo nude. Levo quase uma
hora fazendo, porém, amo o resultado.

Agora vem a melhor parte: colocar a roupa.

Visto uma calcinha alta porque o vestido é cavado até acima da cintura e
quando o coloco, arrumo meus seios e as alças que têm nas duas fendas. Vou
até o espelho e dou uns pulinhos ao ver que ficou maravilhoso.

Descubro que pular não é uma boa ideia e o arrumo novamente no corpo.

Coloco o salto e caminho várias vezes pelo quarto, de maneiras diferentes


para ver até qual ponto o vestido se mantém sem revelar mais que o
necessário. Entretanto, as alças na lateral das coxas têm peso suficiente para
não mostrar nada além do que o desejado.

— Aí, Noah, vai ser um martírio para você me ver assim só por fotos

— falo comigo no espelho e dou de ombros. Não posso me abalar todas as


vezes que ele não quiser me acompanhar nos eventos.

E, é claro que tiro muitas fotos depois de pôr os poucos acessórios que
compõem o look completo. Decido mandar a mais sensual para Noah.

Eu: Meu look em primeira mão para você! Me lembre de agradecer à sua
mãe por esse presente.

Eu: Te aviso quando chegar em casa. Beijos!

Se eu fiz com a intenção de provocá-lo? Claro! Se isso condiz com a

minha idade? Quem importa, né?


Pouco tempo depois, o motorista que o evento disponibilizou chega, e o
carro é lindíssimo! Aproveito o tempo da viagem e escolho uma das fotos
para postar no perfil, e na legenda agradeço minha “sogra” pelo presentinho.

Vejo que Noah respondeu com vários emojis de olhos arregalados e me sinto
levemente satisfeita.

Tiro uma selfie para postar no story e interagir um pouco com meus
seguidores, que no mesmo segundo começam a me enviar várias mensagens.

Olho algumas e as respondo, até que o motorista avisa que chegamos.

A comemoração é em uma área de eventos de um dos museus mais bonitos


de NY. A decoração, que se estende para o lado de fora, parece estar
incrivelmente bonita e sensual, porque um evento de lingerie não poderia
deixar de colocar muita sensualidade em tudo. Não tenho dúvidas que o
buffet e as bebidas estão nessa mesma pegada.

Respiro fundo algumas vezes e faço sinal para que o motorista abra a porta.
Saio do táxi com um sorriso no rosto e começo a ouvir a gritaria dos
fotógrafos pedindo para que eu olhe para eles e jornalistas fazendo várias
perguntas aleatórias. Por alguns minutos, poso para eles, espalho sorriso,
mas não respondo a nenhuma pergunta feita.

Caminho lentamente, destacando o movimento do quadril e antes de entrar


no local, olho para trás e dou um tchau para eles por cima do ombro.

Todos esses meus passos foram treinados e calculados em casa porque não
sou boba de fazer feio em um momento desses.

Sou recebida pelos donos da marca, que tecem muitos elogios a minha
roupa, tiram muitas fotos comigo e nessa primeira hora, dou toda atenção a
eles e a quem mais quer tirar foto e conversar. Entretanto, a todo tempo fico
procurando a mesa em que minha família está; é um alivio quando vejo
Barbie em pé conversando com alguns homens.

— Meu Deus, vocês estão lindíssimas! — chego à mesa deles elogiando


minha mãe e Liz, que estão deslumbrantes. Acho que nunca vi minha mãe
com uma roupa que valorizasse tanto seu corpo e tenho certeza que isso foi
ideia de Liz. Beijo o rosto das duas e deixo a minha bolsa na mesa. — Estão
gostando?

— O vestido parece ter sido feito para você, querida — Liz diz e toma um
drink bem colorido que sai fumaça. — Eu estou ótima, já é a terceira taca
que bebo disso aqui.

Rio e quando um garçom passa, pego uma taça da mesma bebida que

ela toma.

— Eu não sei para onde olho. Tem tantos homens bonitos por aqui —

minha mãe diz e mostra alguns desses. — Inclusive, o seu amigo passou por
aqui, aquele que joga futebol. Ele é muito gentil.

Liz solta uma risadinha irônica.

— Ele é muito gentil ou o técnico do time que te cortejou? — abro a boca e


fico parecendo aquele emoji chocado. Encaro a minha mãe e seu rosto
ruborizado confirma o que Liz acabou de falar.

— Mamãe, se joga! Ele realmente é um homem muito bonito, já saiu em


uma revista com a matéria dos homens de 60 anos mais bonitos do país e
fiquei chocada em saber que ele tem essa idade, jurava que era no máximo
uns 48! — dou uma cutucada na costela da minha mãe, que responde com
uma risada. — Você é solteira, mãe. Está livre para conhecer quantas
pessoas que quiser. Talvez, seja até bom.

— Não transo há 10 anos — Liz cospe a bebida que estava em sua boca e eu
me seguro para fazer o mesmo. Encaro-a sem saber como perguntar o
porquê. — Seu pai nunca foi gentil, querida. Quando ele forçava a barra e eu
cedia, não durava mais que uns 5 minutos até ele gozar e dormir. Quando
cansei, ele começou a frequentar um clube supostamente de jogos, mas eu
sabia o que rolava lá e foi um alívio. Se eu soubesse, teria negado antes.

— Você precisa transar, amiga — Liz fala pausadamente, como se dessa


forma a informação entraria melhor em sua cabeça. — Nem que seja com
você mesma!
Me levanto porque é informação demais para mim e ela é a minha mãe;
realmente não quero saber se gosta de brincar sozinha.

— É... Eu vou ali falar com o Barbie! — elas riem quando eu saio e viro o
resto do líquido da taça. Procuro pelo meu amigo, mas não o encontro em
lugar nenhum. Deve estar se esfregando com alguma convidada da festa.

— Você, sem sombras de dúvidas, é a mais linda desse lugar! E, com

“desse lugar” me refiro ao planeta — me viro para Chris gargalhando. Ele


me abraça forte e eu retribuo e beijo o seu rosto. — Caramba, Kathllen, tem
gente que tem o coração fraco — faz uma careta e coloca a mão na altura do
coração.

— Você é um galanteador barato, Chris. Certeza que estava falando a mesma


coisa para a loira que estava conversando — brinco e ele ri.

— Ok, me pegou! Mas você está lindíssima mesmo. Cadê o namorado que
olha feio para mim para marcar o território?

Sorrio sem vontade e suspiro.

— Ocupado! — ele entende que não quero estender o assunto e só concorda.


Oferece o braço para que eu encaixe o meu e assim vamos andando pela
festa e conversando sobre coisas banais.

Tiramos algumas fotos e depois de conversar com mais algumas pessoas,


sou chamada para fazer a apresentação do evento e falar sobre a marca no
pequeno palco que tem na lateral do salão. Christopher me acompanha até lá
e me deseja boa sorte.

Faço um discurso, que foi criado por outra pessoa, para que eu fale
exatamente o que eles querem, e depois tenho a liberdade de ser sincera
sobre o que achei das peças quando as várias telas espalhadas pelo evento
começam a mostrar todas as fotos que fiz. Os donos da marca se juntam a
mim e aproveito para prestar atenção nas pessoas do evento, e é quando noto
a presença dele.
Noah está sorrindo para mim ao lado de Barbie, e não consigo ver mais
ninguém além dele, parece que tudo ao redor fica embaçado e em câmera
lenta enquanto aqueles olhos verdes me encaram com paixão e orgulho.

Ele vem caminhando em direção ao palco quando termino de falar sobre as


lingeries e assim que desço, ele me espera no último degrau, estendendo a
mão para mim, que aceito no instante que chego até ele.

— O que v...

— Eu te amo! — me corta e eu o encaro profundamente. — Não quero ser


um meio namorado, não quero estar com você só quando for confortável
para mim. Isso tudo aqui — faz um movimento com a mão para mostrar o
lugar e as pessoas — é a sua vida, a sua realidade e eu quero o pacote
completo! Quero poder no futuro olhar para as fotos, para o nosso passado e
poder falar o quanto você estava linda em cada evento porque eu estava lá
com você, não porque eu vi por mensagem ou pela rede social.

Quero andar com você por todos os lados. Deixem que tirem fotos nossas,
que falem o que quiserem; desde que eu esteja com você, o resto não
importa, amor. Eu fui um idiota de novo, me desculpa por cogitar não estar
aqui. Eu te amo tanto e quero fazer até o impossível para te ver feliz.

Me jogo em seus braços e o abraço com tanta força que eu mesma mal
consigo respirar. Ele segura em meu rosto quando me afasta um pouco e me
dá um selinho e depois um beijo na minha testa. Noto algumas pessoas nos
olhando e sorrindo, outras até chorando.

— Não me faça chorar! — dou outro beijo nele e entrelaço meus dedos aos
dele. — Eu te amo demais, obrigada por isso. Tudo significa muito para mim
e prometo não explorar muito dessa sua boa vontade — rio e ele me
acompanha.

— Pode abusar como quiser, amor — sussurra em meu ouvido quando


caminhamos até a mesa que nossas mães estão. Ele para antes de chegarmos
e vai até onde Chris está e eu fico encarando, curiosa. — Valeu, cara! Espero
que possamos deixar nossas diferenças para trás.
— Claro! Eu agiria da mesma forma se tivesse uma mulher como Kath —
eles se cumprimentam e Chris pisca para mim.

— O que eu perdi? — pergunto quando Noah volta até mim.

— Eu já estava me convencendo de vir a cada momento que eu via uma foto


sua pelo evento, mas não posso mentir que a mensagem que recebi pelo
Instagram do Chris foi o ponta pé final para entender que quero estar com
você, independentemente de qualquer coisa e lugar — olho para Chris por
cima do ombro e me sinto grata pelo empurrãozinho que deu.

A mão de Noah se mantém firme no final das minhas costas nuas a todo o
tempo que me acompanha enquanto falo com várias pessoas; adoro essa
maneira de mostrar que sou dele com sutileza. Também me surpreendo com
tantas pessoas daqui que ele conhece e nos parabenizam pelo
relacionamento.

— Hoje eu quero transar com você desse jeitinho — sussurra em meu


ouvido enquanto estamos no meio de outras pessoas e tento me manter
calma igual a ele, como se estivesse falando qualquer coisa menos putaria.
— Com esse vestido que está deixando meu pau duro e o salto que te deixa
ainda sexy.

Agradeço pelo vestido ter um forro no busto porque tenho certeza que meus
seios estão duros feito pedra, além da calcinha estar tão molhada que parece
que coloquei debaixo de uma torneira.

— Acho que já podemos dar esse evento por finalizado — sorrio


maliciosamente para ele, que me encara de volta com luxúria e me puxa para
irmos embora.

Quando saímos, os fotógrafos que não tinham credencial para entrar, ficam
tirando fotos nossas. Noah para, me olha, dá um beijo em minha bochecha e
depois posamos para mais algumas fotos. Nessa hora, pego meu celular e
entrego a ele para que tire uma selfie nossa ali no meio.

É quase um sonho realizado que ele esteja tão disposto a aguentar


tudo isso sem se esconder.

Hoje, finalmente, irei ver como a minha casa ficou e estou tão ansiosa que
acordei extremamente cedo, mesmo tendo ido dormir bem tarde por causa do
final da noite com Noah. Foi somente de manhã que reparei que ele nunca
dormiu na minha casa e que eu sempre vou para a dele.

Esses pensamentos me levaram a outros, como por exemplo: o que irei fazer
com meu apartamento; se já vou morar direto na casa; se minha mãe e
Emma virão comigo. Será que Noah passará mais tempo lá do que passa no
apartamento? Bem, não sei. São muitos questionamentos.

Noah fez a gentileza de vir comigo, na verdade, se ofereceu para me trazer e


eu sem dúvidas aceitei, até porque acho que nem conseguiria dirigir bem de
tão ansiosa que estou.

— Estamos quase lá, amor. Calma! — Noah diz assim que entramos no
condomínio e levamos mais uns cinco minutos até que finalmente
parássemos em frente à casa. Como eu havia pedido, elas mantiveram as
cores que a casa já tinha, mas os pilares foram revestidos de pedras escuras e
o jardim da frente está muito mais moderno.

Saio do carro animada para continuar a ver tudo e Noah segura em minha
mão enquanto entramos. Reparo que a maçaneta ganhou um visor digital e
muitas câmeras se espalham por toda a parte de fora.

— Segurança é muito importante, amor. Mesmo que o condomínio tenha um


padrão de luxo e uma segurança boa, não custa você ter um reforço seu! —
beija a minha cabeça e abre a porta para mim. — Entre com o pé direito.
Ficamos lado a lado e juntos colocamos o pé, mas quando olho ao redor,
meu coração quase para.

A decoração mudou totalmente, parece outra casa. O conceito aberto parece


ainda mais valorizado, os móveis claros contrastam com alguns objetos de
bastante cor. A cozinha está toda escura, de inox e tem quadros bem
coloridos e muita iluminação.

— Por que não começamos lá por fora? — concordo. Estou tão abobada que
nem consigo digerir que essa é a minha casa. O meu lar. Faço uma nota
mental para abrir todas as cortinas depois e deixar a claridade entrar, o que
deve ficar ainda mais lindo assim.

Noah abre a porta que dá para os fundos, onde tem a área de lazer, e quando
coloco meu pé no local...

— SURPRESA! — ouço muitas pessoas gritando e levo um susto.

Corro os olhos por todos que estão ali, mas quando vejo Mila correndo em
minha direção, me abaixo para recebê-la e esqueço de todo mundo.

— TIAAAAA! — ela grita em meu colo e eu rio, tentando me equilibrar


agachada no chão. — Que casona linda, parece até aquelas de boneca! —
beijo seu rosto e ela me abraça forte pelo pescoço. — É pra você!

— me estende um embrulho e quando abro, vejo que é uma foto nossa.

— Eu amei, minha princesa! — encho seu rosto de beijos e ela cai na


gargalhada. Depois, sai correndo e vai para onde tem os brinquedos que pedi
para minha mãe pôr.

— Surpresa, amor! — Noah fala quando me levanto e ganho um beijo


rápido. — Deu um maior trabalhão fazer todo mundo manter segredo e
resolver tudo em cima da hora.

— Você quem teve a ideia? — ele concorda e eu o abraço de lado.

Seguimos até as pessoas e tenho uma grata surpresa quando vejo Christopher
e outros rapazes do time dele, além de Gaspar e Lucian. — Como você
conseguiu juntar todos em uma terça-feira? — seguro seu rosto e dou vários
beijos antes de ir cumprimentar as pessoas.

Até pensei em fazer uma festa para a casa nova, mas isso aqui está bem
melhor do que imaginei, e me sinto tão amada de todos que são importantes
aqui comigo. Até Camila veio, não tinha como ser melhor.

Chamo todo mundo para conhecer a casa comigo, e as pessoas vão se


espalhando para ir apreciar cada cômodo. A cada parte que vejo, minha
animação só aumenta. Aproveito para fazer uma divulgação da minha mãe e
Liz para os outros convidados, que podem ser ótimos clientes e,
aparentemente, alguns se interessam e já trocam contatos.

Depois, todo mundo volta para a parte externa e noto que Noah

cochicha com várias pessoas ao decorrer da hora. Fico curiosa, mas deixo
para tentar descobrir o que é depois. Vou até a mesa enorme do buffet, que
reconheço ser do restaurante dos meus amigos, e belisco umas coisas.

— Kath! — Noah me chama e quando me viro, ele está na frente de todos os


convidados, que pararam de fazer tudo para prestar atenção nele, ou melhor,
em nós. Me aproximo um pouco e ele segura em minha mão. —

Preciso te contar que essa festa não é apenas pela sua casa nova. Juntei todos
os seus amigos e quem você ama, porque queria todos com você quando eu
fizesse isso.

Ele se ajoelha e meu corpo esquenta, minha nuca começa a suar e eu fico
esperando ainda sem acreditar que é o que parece ser.

— Eu tenho 29 anos, e nunca na vida pensei que realmente iria querer me


entregar de corpo e alma para alguém, mas daí você chegou no meu
escritório há meses atrás e, naquele primeiro momento, algo mudou dentro
de mim. Imagina que loucura alguém que nunca namorou se ver apaixonada
por uma mulher que tinha tudo que ele queria e também o que não queria?

mordo o lábio para segurar o choro. — Então, veio o tal do amor, aquele que
eu vi apenas entre os meus pais, e eu não consegui mais deixar de te querer
em minha vida, de te querer só para mim sem pensar em mais nada além de
nós dois. Isso tudo aconteceu em tão pouco tempo que ainda parece que é
um sonho e que vou acordar a qualquer momento — fungo enquanto minhas
lágrimas escorrem e ele limpa uma singela que escorre do canto dos seus
olhos.

— FALEI DESDE O PRIMEIRO DIA QUE VOCÊS IAM DAR

BOM! — Barbie grita e todo mundo ri.

— É com esse sentimento gigante que as vezes sufoca meu peito, com a
certeza que você é a mulher da minha vida, e que te quero para sempre, que
criei coragem para agir, independente do tempo e do que os outros falem —

ele tira uma caixinha da sua bermuda e abre. É um choque ver que é a
aliança que foi da sua mãe. Já nem disfarço mais as lágrimas que não param
de rolar pelo meu rosto. — Casa comigo, meu furacão?

— Eu caso! Claro que eu caso! Não consigo imaginar mais a minha vida
sem você, sem tudo o que você trouxe para mim. Você é minha luz, meu
amor. — ele se levanta rápido e me suspende do chão enquanto me beija.

Todos gritam e aplaudem enquanto temos nosso breve momento. Quando me


coloca no chão, segura em minha mão e põe a aliança. Na caixinha, tem
outra parecida em versão masculina, que sei que é nova e coloco em seu
dedo. —

Como conseguiu fazer uma aliança para você tão rápido?

— Não foi rápido! — ele beija meu dedo e depois segura em meu rosto. —
Eu fiz essa aliança para mim depois que você foi lá em casa e conheceu
meus segredos. Ali, eu já sabia que você seria a minha mulher e que isso
poderia acontecer a qualquer momento.

— Você é a melhor supressa que já tive na vida! Sou grata por tudo que
passei para chegar aqui, com você ao meu lado.
44

Noivos!

Quem diria que chegaríamos até aqui? E, agora que chegamos, quero ainda
mais. Parece ser pouco, perto de tudo que ainda quero fazer e construir com
a minha fatura esposa. Depois de comemorarmos muito com nossos amigos
e família, viemos para o quarto dela e aqui estamos.

Kath sai do banheiro, apenas com a camisola que havia deixado em seu
closet mais cedo e senta-se em meu colo. Estou nu e ela sem calcinha, então,
é claro que meu amigo já se anima mesmo que não tenha nem 10

minutos desde a última vez que transamos.

— Precisamos conversar algumas coisas — faz um carinho em meu peito


enquanto fala e só consigo olhar para seus seios através do tecido
transparente. — Presta atenção, amor.

— Muito difícil, mas vou tentar — com muito esforço foco em seu rosto e
ela sorri satisfeita.

— Eu vou falar uma coisa que eu quero muito, e a gente tenta ajustar para
nós dois, se for possível — morde o lábio e sei que, não importa o que seja
que ela quer falar, a está deixando nervosa. — Queria que você viesse morar
aqui comigo. Durante a festa, decidi que não quero esperar casar para
morarmos juntos. Conversei com a minha mãe e vou deixar o apartamento
para ela e Emma pelo tempo que elas quiserem, e irei ajudá-las no que
precisarem.

Já havia um tempo que eu imaginava morar com Kath, mas sempre pensei
que ela iria para a minha casa. A ideia me pega de surpresa e não sei bem o
que responder.
— Eu sei que você tem a sua casa e ama tudo quem tem lá, mas aqui tem
espaço para fazer uma academia e a quadra de esporte — aliso a sua cintura
fina e fico ponderando enquanto ela fala. — Além disso, aqui seria um novo
começo para nós dois, uma nova etapa em um novo lugar.

Criaremos juntos memórias aqui.

— Tudo bem. Eu venho.

— Tudo bem?

— Tudo bem — rio da sua cara de espantada pela minha resposta e, na


verdade, até eu estou meio espantado, mas não existe cabimento ficar longe
dessa mulher, e se morar aqui é o que preciso para tê-la mais em minha vida,
tudo bem! — Provavelmente, vou querer incluir essas coisas que falou e de
resto, não tenho a que me opor. A gente traz as minhas coisas no fim de
semana junto com as suas — ela se joga em mim e me enche de beijos.

— Você é o melhor noivo! E, trouxe uma coisinha da sua casa — sai do meu
colo e vai até o closet. Quando volta, balança nas mãos o plug anal e o
lubrificante que ela já usou outras vezes e pareceu gostar muito. — Acho
que é uma boa comemoração pelo nosso noivado. O que acha?

— Isso é o que eu acho... — seguro em meu pau que está totalmente duro e
ela ri encarando fixamente a minha ereção.

Me sento em um movimento rápido e puxo o seu corpo para o meu colo.


Suas mãos se apoiam em meus ombros e sinto quando sua boceta vai
escorrendo pelo meu pau. Seguro em sua cintura e deixo que ela domine os
movimentos.

Kath vai rebolando devagar, forçando para baixo o máximo que consegue
para que vá ao fundo e eu ergo um pouco o quadril para ajudá-la; gememos
quando sentimos o contato mais profundo. É uma sensação tão gostosa que
eu poderia ficar o resto da minha vida aqui.

Seus seios balançam lindamente quando ela joga o corpo um pouco para trás
e não resisto a tentação de chupá-los. Em resposta a isso, ela contrai em meu
pau e eu vou ao céu e volto.
— Ahhhhh! — geme baixinho em meio aos suspiros e continua a rebolar,
mas quando levo um dedo em seu clitóris e o massageio, ela perde um pouco
do controle e seus movimentos se tornam mais rápidos e fortes.

Caralho!

Me estico um pouco e pego o lubrificante ao meu lado, coloco o suficiente


em minha mão. Ela observa meus movimentos e volta a rebolar devagar, me
provocando enquanto lambe os lábios. Me ajeito por baixo dela e encarando
seus olhos, lambuzo a sua bunda com o lubrificante e enfio um dedo sem
forçar muito.

Seus movimentos vacilam e ela geme de olhos fechados. É uma cena linda
vê-la sentindo prazer.

Deito-a na cama sentindo minhas bolas já pesarem de tanto desejo.

Apoio as pernas dela em meu ombro e pisco para ela antes de passar minha
língua lentamente do seu umbigo até seu clitóris. Ela se remexe e eu seguro
firme as suas pernas e começo a lamber e chupar seu ponto sensível.

— Isso é bom pra caralho! — fala entre suspiros e eu sugo com um pouco
mais de força. — Bom pra caralho mesmo.

Aproveito que ela está bem excitada e pego o plug anal. Continuo
estimulando seu clitóris com a língua e puxo um pouco o quadril dela para
me dar espaço. Brinco com a ponta dele em sua entrada e ela geme, forço
um pouco e ela geme mais. A safada mexe o corpo para baixo e o plug entra
todo.

Solto as pernas dela, e seguro meu pau na base antes de meter nela de uma
vez só. Está ainda mais apertada do que o normal por conta do plug que está
em sua bunda. Preciso de alguns segundos parado dentro dela para não
perder o controle e gozar. Porém, ela gosta de me torturar e contrai com
força.

— Isso é covardia — apoio as mãos na cama e começo o vai e vem com


mais força, sentindo minhas bolas baterem nela enquanto estoco. Suas unhas
se arrastam em meu braço e eu me arrepio todo. Seguro um dos seus seios e
o aperto sem machucar. Ela geme e arqueia o tronco para cima.

Meu sangue está todinho em meu pau, quase não sinto o resto do meu corpo.

— Você vai enrolar até quando? — estão vendo? A minha ruína é toda aqui!
— Quero te sentir em todos os lugares.

Eu urro ao ouvi-la, saio dela e a coloco de quatro. Ela vira a cabeça em


minha direção e me olha com malícia e desejo. Sua bunda grande é um
sonho desde o dia do seu aniversário, que pude senti-la em minhas mãos. Ela
empina ainda mais e rebola. Dou um tapa forte e ela geme.

Procuro minha bermuda caída no chão e pego algumas camisinhas, que


guardava em minha gaveta. E sim, elas estão aqui dentro desde o dia que
Kath disse que esse momento poderia acontecer a qualquer hora. Não ia
perder a oportunidade por não estar preparado.

Rasgo o plástico na velocidade da luz e encapo meu pau.

Seguro o plug e mecho nele enquanto dentro dela antes de tira-lo.

— Vai com calma, por favor — sussurra.

— Eu vou com carinho, amor. Vai ter que pedir para me sentir com força
aqui dentro. — Passo a cabeça do meu pau em sua entrada e respiro fundo,
pedindo ajuda ao universo para me conter. Começo a penetrar bem

devagar, deixando a cabeça entrar toda e o aperto é sem igual.

Ela geme e contrai sem querer, aliso as suas costas e forço o corpo um pouco
mais para frente. Mas sou pego de surpresa quando ela joga a bunda para
trás com muita força e meu pau entra todo.

Morri.

Esse é o meu fim.

Ela mantém os olhos fechados e eu fico com o pau quieto.


Provavelmente está ardendo e vou esperar que ela se acostume. Levo a mão
em seu clitóris e massageio com pressão. Como eu imaginei ela volta a
relaxar e geme meu nome. Não paro o que faço com a mão quando começo a
sair um pouco da sua bunda para entrar novamente.

— Eu ... nossa! — fala confusa e continuo assim até que ela vai ficando
ainda mais relaxada. Coloco um pouco mais de força e vou até o fundo
quando sinto mais facilidade nos movimentos. — Isso é ... bom... Não para!
— geme e joga a cabeça para trás.

Não demora muito e ela começa a jogar a bunda para trás, ditando a força e
velocidade que fica bom para ela e eu só mantenho. Seguro em sua cintura e
olho para o teto, tentando pensar em coisas aleatórias para não gozar.

Impossível isso melhorar.

Ela pressiona a bunda contra mim e rebola com uma habilidade que eu
percebo que falei cedo demais que não poderia melhorar. Minhas bolas estão
pressionadas entre nossos corpos enquanto me mantenho firme para que ela
continue.

— Amor... — suspiro e ela afasta a bunda até quase sair do meu pau e se
choca em mim com força. — Porra, casa comigo de novo? — ela ri e eu
praticamente choro.

Eu quero muito poder essa bunda com gosto, com força, mas sei que o
depois será incômodo demais para ela e foco nesses pensamentos enquanto a
estoco controlando meus movimentos.

— Eu vou gozar...

Aumento um pouco a velocidade e bato novamente em sua bunda,


admirando a imagem do seu ânus engolindo todo o meu pau. Me esforço
muito para gravar essa cena em minha mente e quando ela contrai e geme
alto, eu sei que ela gozou. Saio dela e arranco a camisinha do meu pau e
encaixo só a cabecinha de novo e me libero dentro da sua bunda.

Ela desaba na cama assim que termino e eu faço o mesmo ao seu lado.
— Isso foi...

— Foi para mim também — digo e viro-me de lado, ficando de frente para
ela. Apoio a cabeça na mão e sorrio. — Quais as chances disso acontecer
todos os dias?

Ela me olha e ergue a sobrancelha.

— Isso o que? Sexo?

— Anal! — pisco.

Ela se senta na cama na mesma hora e o movimento deve ter incomodado,


porque faz uma careta e fica me olhando incrédula. Eu seguro a risada o
máximo que consigo e tento ficar sério.

— Voce não tem pena de mim? — faz biquinho. — Foi ótimo, eu adorei e
vou querer outras vezes, mas, você terá que fazer por onde para conseguir,
gatinho.

— Você é uma graça — beijo seu biquinho — E você vai ser tão mimada e
bem tratada por mim, mas do que já é, que acho que irei merecer todos os
dias então, precisaremos de um estoque de lubrificante. — Ela ri e
desconversa.

Acabamos cochilando por uma hora. Acordo primeiro e tomo um banho


rápido no que agora é o banheiro do nosso quarto, e coloco a cueca que
estava jogada pelo chão. Fico um tempo em pé, admirando a minha noiva
dormindo tranquilamente, com uma almofada na bunda porque disse que não
queria correr o risco do meu pau já ter aprendido o caminho até lá.

Ela é perfeita, até mesmo quando fala essas bobeiras.

Se alguém me falasse há seis meses atrás que, em plena terça-feira, eu não


estaria trabalhando para poder comemorar meu noivado, eu riria muito da
cara dessa pessoa. Mas, olha onde eu estou... e não trocaria absolutamente
nada do que tenho agora.
— Não adianta ficar paquerando a minha bunda — brinca e se ajeita na
cama.

— Pensei que ainda estava dormindo — ela cobre seu corpo com o lençol e
eu deito no meio de suas pernas, apoiando o queixo na sua barriga.

Seus dedos percorrem meu rosto em um carinho delicioso e eu sorrio.

— Quanto tempo para você seria o ideal para ter um filho? —

pergunta e sorri quadrado. Arregalo os olhos e fico com medo de mexer


minha cabeça que está na barriga dela. Meu coração parou, estou tão gelado
que poderia ser um próprio iceberg. — Calma, eu não estou grávida —

afundo a cabeça e fico ali tentando recuperar a alma que saiu do meu corpo.

— Seria um problema se eu estivesse?

Respiro fundo e me sento em sua frente.

— Não, claro que não seria, amor. Mas se eu pudesse escolher, escolheria
depois do casamento. Quero viver cada evento da nossa vida por vez, e uma
gravidez é um evento bem longo — pego em sua mão e a beijo várias vezes.

— Mas, e se eu não precisasse ficar grávida? — senta na cama sem se


importar com a nudez do seu corpo e gosto da naturalidade que tem nisso.

— Você está falando em adotar?

— Quero adotar a Camila — joga a informação toda de uma vez.

Pisco uma, duas e vinte vezes antes do meu cérebro entender a informação e
o sorriso que toma conta do meu rosto quase machuca. Eu já havia pensando
nisso, muitas vezes mesmo, e sei que as duas têm uma conexão de outro
mundo, mas a ideia de algo e a real possibilidade de acontecer, é um choque
positivo.

— Eu quero adotar a Camila com você! — digo e os olhos delas ficam


úmidos na mesma hora. — Nossa, eu quero muito isso. Na verdade, eu quero
tantas coisas, quero a nossa família, quero mais dois filhos futuramente, um
casal de labradores, uma casa no campo, quero acordar todos os dias e falar
que te amo, depois ir ao quarto dos nossos filhos e repetir a mesma coisa! —
falo tudo rápido, aproveitando a coragem. — Nossos natais serão os
melhores, toda nossa família se juntará a nós aqui, em nossa casa — Kath
chora e ri ao mesmo tempo. — Quero conhecer meus pais biológicos.

— Amor... — Kath se senta em meu colo e me abraça, aperto ela dentro dos
meus braços e beijo a sua cabeça. — Eu quero fazer tudo isso e o que mais
você quiser — segura meu rosto e olha fundo em meus olhos. —

Por onde começamos?

E, é assim que eu tenho certeza que minha vida será perfeita do jeito que
tiver que ser. Meu furacão vai continuar a me devastar na mesma proporção
que me trará muita calmaria nos momentos corretos. Eu nunca quis tanto ter
essa vida como eu quero agora.

epílogo

4 anos depois

Hoje é véspera de Natal, e o dia começou bem cedo aqui em casa, que se
tornou o lugar oficial para datas importantes como Natal, Réveillon, Dia das
Crianças e vários outros.

— Barbie, pelo amor de todos os deuses existentes, ME DEIXA FAZER A


PORRA DO DOCE EM PAZ! — Jacob praticamente grita lá na cozinha com
o amigo. Já os conheço há quase cinco anos e eles continuam do mesmo
jeito, um implicando com o outro a todo o momento.

Levanto da cama - tive que voltar para descansar pela sexta vez em menos
de 3 horas - e me arrasto para a cozinha antes que eles a transformem em um
campo de guerra.

— O que está acontecen... — eu paro de falar quando chego na minha linda


cozinha e a encontro na forma de uma zona sem pé e nem cabeça. Jacob está
de avental e tem tanto chocolate por sua roupa e corpo, que parece que
explodiu uma bomba com o doce na mão dele. Ao lado dele, Barbie se
mantém impecável, inclusive o cabelo que nunca, nunca mesmo, está com
um fio fora do lugar. — Não quero saber de nada, apenas terminem e
limpem tudo.

Saio sem nem esperar que eles falem alguma coisa.

Nesses 4 anos, me aproximei ainda mais dos amigos de Noah e pensei que
isso era impossível. Barbie é uma brisa refrescante em nossas vidas, sempre
trazendo muita alegria para tudo e todos ao seu redor. E o Jacob, continua
sendo o Jacob; entretanto, desde o ano passado é muito comum vermos ele
com um sorriso lindo estampado no rosto, e todos sabemos o motivo disso.
Eu os amo como se fossem meus irmãos, mas meus hormônios aflorados não
me permitem ter tanta paciência como antes para esses momentos deles.

Como é Natal e passaremos todos juntos aqui em casa, cada um trouxe algo
e no final, teremos uma ceia gigante, com comida que vai durar por mais
alguns dias. Barbie e Jacob cozinham aqui todos os anos, fielmente.

Na verdade, eles vêm na noite anterior, e sempre fazemos uma sessão de


filmes natalinos, que nunca os agrada, mas que eu e as meninas ficamos
felizes, então, eles acabam ficando por tabela.

— Papai, a vovó disse que vai trazer uma torta de maça só para mim, mas eu
vou dividir com a mamãe. Você come muito, desculpa, não vai ganhar —
paro na porta que dá para os fundos da casa e seguro o riso quando escuto
Mila falar com Noah.

— Você não vai me dar nem um pedacinho? — ele pergunta enquanto troca
alguns piscas-piscas da decoração que queimou. Mila está sentada em cima
de um dos brinquedos do parquinho, toda encolhida e abraçando seu próprio
corpo. A temperatura está muito baixa e o frio esse ano não está de
brincadeira, e é por esse exato motivo que dificilmente eu venho aqui para
fora sem estar com muitas roupas.

— Não, papai, sem chances. Vai ter que comer o que ela vai trazer para
todos!

Depois que Noah me pediu em casamento, decidimos que queríamos adotar


Mila, e foi uma das melhores decisões que tomamos. Não demorou muito
tempo, conseguimos resolver todas as questões burocráticas e ela veio morar
conosco.

O início foi um pouco difícil porque era muita coisa nova ao mesmo tempo.
Mila tem asma e o emocional dela conta muito nos momentos de crise.
Nenhum de nós dois estávamos preparados para as noites em claro, alguns
dias no hospital e os momentos de desespero quando a situação se agravava.
Porém, foi mais uma coisa que tivemos que aprender na prática e hoje
sabemos lidar com maestria, até quando aparece algo novo. Eu e Noah nos
tornamos ótimos em driblar as novidades desagradáveis na vida de pais e de
casados.

Falando em casamento, o nosso aconteceu há dois anos. Foi uma cerimônia


linda, e todos que amamos estavam presentes, festejando e comemorando a
nossa união.

Meu esposo consegue me surpreender a cada dia que passa. Para quem diz
que vida de casado esfria as coisas entre o casal, eu preciso discordar
totalmente. A gente se ama e se deseja cada dia mais, e na fase em que estou,
ele sofre, pois se depender de mim, não saio da cama, se é que me entendem.

— Conseguiu descansar, amor? — saio da minha bolha de pensamentos


quando Noah fala perto de mim e me dá um beijo. — Troquei tudo com a
ajuda dessa garotinha aqui — Mila passa por baixo do braço dele e abraça a
minha barriga com cuidado.

— Você sabe, mamãe. Tive que fiscalizar tudo e tio B fingiu que

estava no telefone para não ajudar o papai — sussurra a última frase e eu rio,
porque isso é a cara do meu cunhado.

Noah me dá mais um beijo e entra com as coisas que precisa guardar.

Mila começa a alisar a minha barriga por cima da roupa e depois me olha,
com seus enormes olhos brilhantes.

— Por que demora tanto para ele sair, mãe? A gente não pode abrir e tirar
ele daí? — coloco a mão na boca para não explodir em uma risada e ela fica
cutucando de leve com a ponta do dedo. — Oi, Adam, você é muito
preguiçoso. Quero brincar com você!

Pego a mãe dela e a levo até o sofá. Me acomodo e bato em minha perna
para que ela se sente ali.

— Mila, a mamãe já explicou que vai demorar 9 meses para que seu irmão
nascer — ela cruza os braços, contrariada. — Lembra do calendário que
coloquei lá no seu quarto? É só você olhar e ver quantos dias faltam —

beijo a pontinha do seu nariz e ela sorri. — Falta menos do que faltava antes!

— Você sempre fala isso, mas toda vez que vejo ainda falta muito —

ela sai do meu colo, vai correndo para o quarto e dessa vez decido não gritar
para que ela não corra.

Mila é uma criança extremamente inteligente e astuta, eu vivo me


surpreendendo com seu jeito e suas curiosidades. Muitas das vezes, fico sem
saber o que responder, e agradeço quando Jacob está por perto, ele é ótimo
em responder coisas que pais nunca querem falar com os filhos, além de ela
sempre ficar satisfeita com o que ouve dele.

Há seis meses descobri que estava grávida do nosso segundo filho.

Foi uma notícia que deixou todo mundo muito feliz; acho que nunca fui tão
paparicada por todos como tenho sido ultimamente, até falei para Noah que
assim vou querer ter um time de futebol só com nossos filhos.

— Um milhão por seus pensamentos — Noah se senta ao meu lado e me


puxa para o seu peito. Me recosto ali e o abraço. — Ei, garotão! — fala com
a minha barriga quando coloca a mão nela e sente o bebê mexer.

— Estou pensando em como eu sou sortuda por ter vocês! Todos vocês! —
já falo com voz de choro e ele enche o meu rosto com beijos e depois alisa a
minha bochecha, me encarando com muito amor e sorrindo de maneira que
sua covinha apareça.

— Natal sempre te deixa mais emotiva que o normal — ele brinca. —


Agora grávida, caramba, é bom que você fique com uma garrafinha de água
ao seu lado o tempo todo, pois não quero que se desidrate — me dá um beijo

rápido e desce até meu pescoço espalhando beijos pelo caminho.

— Não faz isso, amor. As pessoas estão chegando e não consigo ser tão ágil
para me recompor como antes — ele ri e concorda, prometendo que à noite
não escaparei.

— Inclusive, você está linda, meu amor! — pisca e se levanta. — Vou na


cozinha ver se os dois permanecem vivos. Estão quietos demais.

Me levanto e vou até a árvore. Levamos um dia inteirinho colocando


decorações nesse pinheiro enorme, que quase encosta no teto. Foi
praticamente um evento e todos ajudaram em algo. Emma fez questão de
colocar várias bolas personalizadas com a foto de cada um espalhada por ela,
e ficou lindo.

E, em falar nela...

— Que cheiro bom! — ela fala assim que entra, seguida pelos meus sogros,
minha mãe e Jennifer. Mila desce correndo e quando a encaro séria, ela sorri
sem graça e caminha rápido em direção aos avós. — Sempre sou trocada por
eles! — resmunga depois que minha filha passa direto por ela.

Recebo todos, ganhando uma atenção extra porque Adam decidiu se mexer
para que todos o sentissem.

— Essa criança está passando tempo demais com Barbie, tá sempre


querendo atenção — Jackson fala quando sai do quintal com B e se junta a
nós. — E, antes que falem, não estou com ciúmes. Eu serei o tio preferido,
eu tenho uma boate!

Todo mundo ri e eu aproveito esse momento para observá-los enquanto


interagem entre si. Eu amo a minha família e não poderia almejar algo tão
incrível como tenho agora. Todos se completam de uma maneira bem
interessante, e juntos parecemos um enorme quebra-cabeça finalizado.
Às vezes, eu penso em tudo que passei para poder ter o que tenho hoje, e se
alguém me perguntasse se eu passaria por tudo de novo para ter a minha vida
atual, eu não pensaria duas vezes para responder “sim”. Parece que foi em
outra vida que eu passei pelos problemas com Alex e Ethan, eles realmente
ficaram no passado e nada do que vivemos depois deles foi abalado por
conta disso; na verdade, acho que eles só nos ajudaram a nos tornar mais
fortes ainda.

— É uma bagunça boa, né? — Barbie aparece ao meu lado e eu encosto a


cabeça em seu braço. — Falta só uma pessoa para que fique completo — eu
o encaro e ele pisca. Olhamos juntos para a porta quando ela se abre
novamente.

— Tiaaaaa! — Camila grita quando vê quem chegou e eu sinto o corpo do


meu amigo tremer em ansiedade quando ela entra toda radiante, esbanjando
sua beleza. No momento que seu olhar encontra o de Barbie, é como se eu
estivesse me vendo nela quando olho Noah.

Agora sim, minha família está completa.

AGRADECIMENTOS

Mistaken é o meu primeiro livro e se você chegou até aqui, significa muito
para mim e espero que tenha sido uma leitura prazerosa. Noah e Kath foram
criados com muito carinho e dei tudo de mim para que a história fosse
realmente boa. Vocês ainda verão muito dos dois e da evolução como casal
pelos olhos de Barbie e Jacob.

Sou imensamente grata a todos os leitores que conquistei até agora e todos
os que ainda virão. Além de vocês, preciso citar algumas outras pessoas que
foram extremamente importantes para a construção desse livro: Meu noivo,
que me apoiou nas madrugadas em claro e não me deixou desistir; Minhas
BETAS que fizeram um trabalho impecável enquanto ainda estava criando
toda a história, em especial Raw e Laysa, que se tornaram grandes amigas e
A Evelyn, que além de BETA e amiga, se tornou um pedacinho de mim. Eu
amo todos e sem vocês, Mistaken não teria nascido.

Nos vemos em Betrayed.


Acompanhe a autora nas redes sociais:

@autorakapeixoto
Document Outline
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Table of Contents
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44

Você também pode gostar