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"Barbie" corresponde às

expectativas? Leia a crítica do filme


que estreia nesta quinta-feira (20)
Após um mar cor-de-rosa de ações de marketing e memes
invadir a internet, o live-action da boneca mais famosa do
mundo chega hoje aos cinemas

Por Daniel Medeiros20/07/23 às 07H00 atualizado em


20/07/23 às 09H03

Para quem esteve ativo nas redes sociais nos últimos meses, foi quase impossível fugir do “hype” que
envolveu o lançamento de “Barbie” - sem dúvidas, um dos filmes mais aguardados do ano. Após um mar cor-
de-rosa de ações de marketing e memes invadir a internet, o live-action da boneca mais famosa do mundo
chega hoje aos cinemas e o resultado visto na tela de fato corresponde às expectativas alimentadas até
agora.

“Barbie” é, sim, um filme divertido e com forte apelo nostálgico - as referências às roupas, casas, carros e
demais acessórios são de fazer brilhar os olhos de quem um dia já brincou com a boneca. A direção da ótima
Greta Gerwig, no entanto, eleva o status do longa-metragem para algo que vai além do que uma mera
homenagem ao brinquedo criado em 1959.

Assim como fez em “Lady Bird” (2017) e “Adoráveis Mulheres” (2019), Greta mergulha no universo feminino,
tecendo críticas aos valores sexistas que ainda permeiam as nossas relações. Por mais contraditório que isso
possa soar, ela consegue fazer isso utilizando como ponto de partida uma personagem que ao longo de
décadas levou meninas a buscarem um padrão de beleza irreal e que, nos últimos tempos, vem abraçando a
diversidade como estratégia comercial para atender às demandas atuais do seu público.

A Barbieland - universo paralelo onde as bonecas vivem no filme - é a síntese da imagem que a marca vem
tentando vender. Nesse mundo colorido, há Barbies de todas as formas e etnias, ocupando cargos
importantes, como presidente, médica, astronauta e até mesmo vencedora do Prêmio Nobel. Não há tempo a
perder com atividades triviais, como descer uma escada. Tudo está ao alcance das Barbies.

Margot Robbie interpreta a “Barbie Estereotipada”, aquela que segue o modelo clássico da boneca. A
personagem entra em crise existencial após começar a ter pensamentos sobre a morte. Depois disso, vem a
celulite, o mau hálito e os calcanhares que agora tocam o chão. O único caminho para entender o que está
acontecendo é visitar o mundo real, mas esse encontro pode trazer consequências inimagináveis.

O roteiro coescrito por Greta e seu marido, Noah Baumbach, é uma fábula feminista recheada de
metalinguagem e simbologias que permitem várias camadas de interpretação. O contraste entre os
problemas do mundo real e a vida na Barbielândia funciona como uma crítica ao feminismo liberal e seu ideal
limitado de empoderamento. O machismo - que por vezes surge de forma mais escrachada e outras de
maneira sutil - é motor para as ácidas piadas do filme, que podem provocar no espectador aquela sensação
de “rir de nervoso”.

Margot Robbie encara com maestria a missão de dar vida à icônica boneca de plástico, mas outros nomes
roubam a cena em certos momentos. Ryan Gosling, com seu Ken em busca de um lugar no mundo das
Barbies, é o responsável pela principal virada da trama. Já America Ferrera interpreta uma das poucas
humanas da história, dando voz aos desejos e problemas das mulheres reais. No elenco, ainda estão nomes
como Michael Cera, Will Ferrell, Emma Mackey, Ariana Greenblatt, Issa Rae e Simu Liu.

Com um humor que transita entre o irônico e o ingênuo, “Barbie” às vezes “perde a mão” na repetição de
tiradas cômicas e nos números musicais que se estendem para além do esperado. A capacidade de “rir de si
mesmo” se faz presente no filme quando a Barbie é confrontada com opiniões negativas sobre ela e até na
maneira como a Mattel, fabricante da boneca, é retratada. Esse poder de autocrítica, no entanto, é feito
dentro de um limite que beneficia a imagem da empresa, fazendo com que a produção não deixe de ser - até
certo ponto - uma muito bem arquitetada jogada de marketing.

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(20) - Folha PE

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