Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 DIABOLICO (Belo Inferno) - Karoll Martinelly
1 DIABOLICO (Belo Inferno) - Karoll Martinelly
Gatilhos
Avisos importantes
Playlist
Copyright
Dedication
Epigraph
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Inferno celestial
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo final
Agradecimentos
Books By This Author
Gatilhos
Boa leitura.
Playlist
Chegou a hora de apimentar a leitura com uma playlist sensual que vai
fazer seu coração palpitar e suas páginas pegarem fogo!
Divirta-se e aproveite esse momento deliciosamente ardente.
playlist/0Op5t7uNWa2G5odZiIDTFP?si=1f9bc620d518424c
Copyright © 2023 Karoll Martinelly
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais,
vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação, ou
transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação, ou
outros, sem permissão expressa por escrito do autor.
Soap&Skin
Prólogo
Vinci disse que me ligaria mais tarde, então fui buscar Marte na
escola. Nossa intenção era ir às compras juntos, já que o final de
semana se aproximava.
Quando cheguei à escola, esperei do lado de fora por ele, mas fiquei
assustada quando todos os alunos saíram e ele não estava lá. Marte
nunca se atrasava, sempre vinha correndo na minha direção, mas dessa
vez isso não aconteceu.
Fui até o portão, onde uma mulher estava liberando as crianças.
— Olá. — me aproximei. — Estou procurando meu irmãozinho,
Marte. Ele costuma ser um dos primeiros a sair, mas não o vejo.
— Ah, sim, eu o conheço. — ela disse gentilmente. — Mas ele foi
embora mais cedo.
Fiquei congelada.
— O quê? Mais cedo com quem?
— Com o pai.
— Como assim? Como deixaram ele sair? Sou eu quem o busca
todos os dias!
— A escola não proíbe as crianças de irem embora com os pais,
querida.
— Droga!
Saí correndo pelas ruas, meu coração parecia querer saltar do peito.
Lucca não era do tipo que costumava levar o filho, e isso me deixou
preocupada com várias possibilidades. Empurrei a porta da nossa antiga
casa já gritando.
— Marte? Marte? — subi as escadas e vasculhei os quartos vazios.
— Marte!
Desci as escadas e Lua estava lá.
— Onde está o Marte?
— Não deveria estar com você? Você foi embora e se esqueceu dele?
Fiquei em choque.
— Onde está o Marte? — gritei.
— Eu não sei!
Minha visão começou a ficar turva e senti o chão desaparecer sob
meus pés.
— Marte… — saí correndo pela rua, olhando para todos os lados e
pensando em mil coisas. — Marte! — gritei.
Meu irmão não estava lá.
Sentar naquela casa me causava arrepios e enjoo. Não era por causa
da sujeira e bagunça, mas sim por ter que encarar Lucca e Lua e sentir o
desprezo em seus olhares. A partir daquele momento, comecei a me
arrepender de estar ali e de ter pedido aquilo.
— Você saiu de casa. — começou Lua. — Pegou suas coisas, Marte,
e simplesmente foi embora, e agora está aqui pedindo que assinemos
um papel dizendo que não queremos o menino?
— É. — assenti. — Exatamente isso. — Lucca riu e precisei usar de
uma calma que eu não tinha. — Vocês não precisam dele. — adverti. —
Vocês nem ligam para ele, isso seria um favor que eu faria.
— E depois? — Lucca questionou. — Assinamos o papel e você vai
viver a sua vida, deixando a gente na miséria? — enruguei o rosto e ele
prosseguiu. — Depois de te darmos casa, um teto, e a vida, é assim que
agradece?
— O-o que? — questionei.
Lucca riu venenosamente.
— Ela está vivendo uma boa vida. — disse. — Tem uma casa
organizada, tem trabalhado para Vinci e ele tem feito compras enormes.
Até mesmo ganhou um celular novo.
Fiquei paralisada olhando a expressão doentia de Vinci.
— Isso é verdade? — Lua questionou.
Pisquei algumas vezes pensando naquilo tudo, e de como Lucca era
capaz de tudo por dinheiro.
— Já se esqueceu do fato de eu estar trabalhando para Vinci ser sua
culpa? — inquiri e ele pareceu não se importar. — Eu precisei encarar
aquele homem, ver coisas horríveis apenas para pagar a sua dívida.
— Eu nunca te pedi nada.
— Não. — estremeci. — Mas, Vinci mataria Marte e iria entrar
nessa casa e matar todos vocês! — sorri em meio aos tremores. —
Mesmo vocês não merecendo, mesmo vocês não reconhecendo os
filhos, eu fiz tudo para salvá-los.
— E agora quer nos deixar na miséria?
— Lucca... — Lua tentou dizer, mas foi silenciada.
— Cala a boca! — gritou, fazendo o meu corpo e o de Lua
estremecerem. Os olhos profundos de maldade e egoísmo pairaram em
meu rosto. — Vamos fazer um acordo, querida. — pendeu seu corpo
para frente no sofá, colocando os braços e o peso nas pernas. — Você
pode voltar para casa, trazer Marte e voltamos a ser uma família feliz,
enquanto você trabalha e cuida de nós. Bem, nada mais justo, não é? —
sacudiu os ombros. — Somos seus pais. — fechou o semblante. — Ou,
pode esquecer a ideia de ter um papel assinado. Você sai por aquela
porta e eu busco Marte, e desse jeito você vive a sua vida. O que acha,
querida?
Lucca sabia do fundo da alma dele que eu jamais iria deixar que
Marte ficasse naquela casa com ele. Ele sabia que eu daria tudo, faria
de tudo para estar com Marte. E se aquilo significasse voltar para
aquela casa e sustentá-los, para ao menos estar com meu irmão, então
eu faria.
Ele sabia jogar perfeitamente.
— Não. — respondi, para a surpresa dele. — Pode ficar com essa
ideia na cabeça, e se puder, tente tirar Marte de mim.
Ele riu de lado, um pouco nervoso.
— Acho que você não entendeu.
— Não. Eu acho que você não entendeu, Lucca. Da última vez, você
fez o quis e me deixou calada, mas isso não vai mais acontecer.
Em estado de fúria, Lucca se ergueu e esbofeteou o meu rosto.
— Sua maldita!
— Lucca, não... — Lua foi empurrada ao tentar afastá-lo.
— Você acha que pode comigo? — Encarei seu rosto enraivado. —
Não pode. Você não sabe do que eu sou capaz! — outro tapa. — Eu vou
buscar Marte, ele é meu!
Um estalo se fez e um vaso de vidro foi quebrado na cabeça de
Lucca, o fazendo cair no chão ainda tonto.
— Vai embora daqui, Vênus! — gritou Lua. — Vai, e não volte
mais! Vai!
Levantei-me apressada e sai pela rua, ainda desnorteada.
O que aconteceu lá dentro, foi muito arriscado e Lua..
Não, eu não podia pensar nela.
Voltar para casa havia sido uma escolha sábia, a meu ver. Apesar de
Marte ter ficado chateado, eu sabia que mais tarde ele iria esquecer
daquilo.
Já era noite, e eu estava ansiosa dentro de casa. Toda hora eu
chegava à janela e observava a rua, temendo ver Lucca ali.
Mas, eu acreditava que ele não voltaria lá tão cedo, não depois de
ver Vinci apontar uma arma para ele.
Dei banho em Marte, e ele comeu alguma coisa antes de ir para a
cama.
— Está chateada comigo? — ele perguntou, já na sua cama, pronto
para dormir.
— Não, porque diz isso?
— Por que eu insisti que ficássemos na casa do tio Vinci.
— Ele não... — suspirei, tentando ser o mais sensível possível. —
Ele não é o seu tio, anjinho.
— Eu sei que não é. — se ajeitou na cama. — Ele disse que vai ser
um dia.
— Ele disse? — pesquisei atenta.
— Sim. Disse que você será dele.
Aquele miserável!
— Ele estava brincando. — passei a mão no cabelo dele. — Não
escute as coisas que ele diz, Marte.
— Por quê?
— Bem, por que... — pensei um pouco. — Bem, por que ele não é
um cara tão legal assim.
— Mas, ele salvou você.
— Para o benefício dele.
— O que é benefício?
— É... — parei de falar quando percebi que eu estava enchendo a
cabeça de uma criança. Marte deveria saber dos perigos lá fora, mas
não daquele jeito. — Escuta, quando você for mais velho, vai entender
tudo isso. Eu só quero o melhor para você. Entendeu? — ele assentiu.
— Perfeito. — dei um beijo em sua testa. — Agora durma, amanhã
você tem aula.
— Boa noite, Darling.
— Boa noite, anjinho.
Levantei da cama e apaguei a luz, fechando a porta e saindo.
Era mais complicado do que pensei.
Por um segundo, Vinci veio à minha mente para me assombrar. Em
alguns momentos, ele parecia tão bom e gentil e aqueles olhos me
sondando...
Sacudi a cabeça mandando embora aqueles pensamentos invasivos.
Nunca pensar em Vinci, jamais!
Entrei para o meu quarto e fui dormir.
Um lampejo.
Apenas um lampejo de luz na escuridão, e eu abri os meus olhos,
respirando finalmente após me afogar em uma escuridão quase sem
fim.
Vazio.
Eu tinha um vazio dentro de mim.
Encarei os lados e percebi estar no quarto da casa de Vinci, o mesmo
de antes.
Minha mente me fez lembrar o que aconteceu, e sentindo um nó no
estômago, me levantei apressada, tropeçando nos pés e descendo as
escadas em disparada.
Quando cheguei à sala, me deparei com o que eu mais queria ver.
Marte estava sentado no sofá, enquanto sorria assistindo um filme
infantil.
Foi como estar perdida, mas encontrar o caminho depois de muito
sofrer.
Os olhos dele pousaram em mim e naquele segundo, eu desejei que
não fosse um sonho.
— Darling! — exclamou, correndo até mim.
Com um salto, cravou-se em mim com tanta força que foi fácil saber
que ele era real.
Chorei abraçada com ele. O corpo que antes estava vazio, sem vida
alguma, agora estava em meus braços.
Meu Marte.
— Pensei que não fosse acordar mais. — disse ele, encarando meu
rosto. — O que foi? Por que está chorando?
Sacudi a cabeça.
— Nada. Eu só estava... Eu estava com tanta saudade de você. —
solucei. — Você está vivo...
— Claro que estou! — disse. — Você só dormiu por um dia, me viu
ontem, não se lembra? — fiquei muda. — Você está velha. — desceu
do meu colo e me abaixei diante dele.
— Tem razão, eu estou. — assenti. — O que houve ontem?
— Você desmaiou, não se lembra? — franzi o cenho. — Estávamos
brincando no parquinho, você passou mal e caiu, e ai eu liguei para o
tio Vinci e ele veio correndo. Se lembrou agora?
Marte não se lembrava de nada, nem mesmo de que Lucca havia
quase me matado naquele parque. Aquilo só podia significar que...
Vinci entrou na sala e olhar para ele foi à coisa mais estranha do
mundo. Mesmo que ele fosse o Vinci, ficava muito mais complicado
vê-lo daquela forma, quando eu sabia exatamente o que ele era.
— Acordou, afinal. — disse ele.
Ergui-me.
— Sim, eu...
— Vênus não se lembra do que houve. — disse Marte. — Acho que
ela precisa descansar.
— Concordo plenamente. — respondeu, sem tirar os olhos de mim.
Por favor, tire os olhos de mim e afaste os meus dos seus... — Que tal,
se você for pra cozinha? — sugeriu Vinci para Marte. — Eu soube que
tem umas delícias lá.
— Eba! — saiu correndo.
Eu estava com ele, com o demônio, sozinha.
Vinci deu alguns passos em minha direção, e instantaneamente, dei
três para trás, o fazendo parar e sorrir de lado.
— Medo de mim? — questionou e cruzou os braços.
— Desculpe, eu...
— Eu sei, parece confuso. — falou. — Mas, você vai se acostumar.
— eu duvidava. — Por agora, temos que falar sobre uma coisa. —
franzi o cenho. — Sobre o seu pai e aqueles homens. Marte não sabe de
nada, mas aquilo aconteceu.
Assenti.
Ele tinha razão, Marte estava fora daquilo, mas eu sabia o que havia
acontecido, e queria justiça.
— A polícia...
Vinci riu e o encarei.
— Desculpe, mas é sério? — questionou. — Você tem o diabo ao
seu lado, literalmente, e está pensando na polícia?
— Pensei que eu fosse ser a sua escrava, não ao contrário.
Ele torceu a cabeça para o lado.
— É, isso é verdade. — ficou pensativo por um segundo. — Mas, eu
te dou uma ajudinha. Deixo você me usar, por enquanto. — Fiquei
calada, já pensando no que viria. — Por agora, descanse. Pense no que
quer fazer e depois me avise.
Eu tinha um medo que não me deixava relaxar, e precisava saber que
aquilo era real.
— E o Marte? — questionei. — Ele está... Ele não vai morrer, não é
mesmo?
— Você me chateia quando subestima meu poder de trazer mortos de
volta à vida. — fingiu chateação. — Não se preocupe, o ratinho está
vivo, e vai continuar. Afinal, você me deu a sua alma, não é mesmo? —
engoli um seco. — É minha até os confins do mundo.
É, eu era de um demônio.
Se eu parasse para pensar eu ia enlouquecer, e eu não queria
enlouquecer.
— Não se preocupe, a minha alma é... — fiz uma careta. — É sua.
Ele sorriu.
— Você é minha, planetinha.
Era o que parecia. Eu era de um demônio.
Ter Marte diante dos meus olhos, respirando, e bem, era algo que me
dava um alívio. Apesar de todas as coisas, eu não me arrependia um
segundo sequer de ter feito o que eu havia feito.
— A gente vai morar aqui agora? — questionou Marte, coberto até o
pescoço já no quarto.
— Talvez precisemos ficar um pouco mais. — avisei. — isso
incomoda você?
Ele sacudiu a cabeça em negativo.
— Eu gosto daqui. — respondeu. — Tio Vinci é muito legal. Ele me
deixa ver filmes, jogar e tem muita comida aqui. A gente pode comer o
que quiser, e eu gosto desse quarto.
Olhei para o quarto de Marte e era muito lindo. Nem mesmo em
meus sonhos eu iria conseguir dar aquilo para ele sem vender minha
alma. Irônico.
— É, aqui é muito lindo mesmo. — mencionei, passando a mão no
rosto dele.
— Você também gosta dele, não é?
— O que? De quem?
— Do tio Vinci.
— Não, eu não... — pisquei algumas vezes. — Por que está falando
isso?
— É que quando liguei para ele, o contato dele estava salvo como
Amor.
Quase engasguei.
Como eu poderia explicar qualquer coisa para um garotinho? Eu
queria matar Vinci, mas acabava me lembrando de que ele tinha certo
poder sobre mim. Porém, aquilo já era demais.
— Por que não dorme? — ajeitei a coberta no corpo dele. — Eu vejo
você amanhã, anjinho.
— Tá bom.
Beijei sua testa, saí do quarto e apaguei a luz.
Respirei fundo e peguei meu celular no bolso, avaliando a lista de
contatos e me deparando com o número de Vinci salvo como Amor.
— Só pode ser brincadeira. — resmunguei.
Desci a escada e procurei por Vinci em alguns cômodos, mas a casa
estava silenciosa e com pouca luz. Era normal estar escuro, para o tipo
de ser que ele era, escuridão combinava bem com ele.
Entrei em uma sala, na qual entrei pela primeira vez e encontrei o
demônio de costas, parado enquanto olhava a vista pela parede enorme
de vidro.
— Amor? — questionei. — É sério isso?
Fiquei parada no meio da sala e Vinci se virou para mim, enquanto
segurava uma taça de vinho.
— Não é bem melhor assim? — inquiriu e fiz uma careta. — Aquele
nome poderia traumatizar o menino.
— E desde quando você pensa no bem estar dele?
Ele deu de ombros.
— Eu não penso. — respondeu. — Fiz apenas para te mostrar o
quanto eu posso ser legal e bom.
Dei um sorriso nasal.
— Isso chega a beirar a loucura. — falei. — Demônios não são bons,
e... — parei de falar quando notei que ele estava atento, de mão no
bolso e sem expressar nada no rosto. Era impossível tirar ele do sério.
— Esquece.
— Gostaria de se juntar a mim? — ofereceu e fiquei parada no
mesmo lugar. — Vamos, eu sei que você gosta de vistas como essa.
Pode se juntar a mim e prometo que não vou atacar você.
Vinci tinha razão, eu amava as vistas e estar naquela casa e não
presenciar nenhum pouco daquilo seria um desperdício.
Subi o pequeno degrau e caminhei até lá, ficando um pouco distante
de Vinci.
Quando meus olhos encontraram aquilo, foi de tirar o fôlego.
Era lindo, brilhante, e dali eu tinha a sensação de que nada poderia
me abalar, me atingir. Era apenas uma cidade acesa e as pessoas ali, não
podiam me machucar ou machucar Marte.
— Não é a sensação mais deliciosa de todas? — questionou e olhei
para ele, o vendo fixado na cidade. — Daqui, eles são apenas formigas,
e eu sou o rei. — Moveu os olhos para mim. — Não é assim que se
sente?
Encarei-o por um tempo, até desviar meus olhos e ficar pensativa.
Tinha tanta coisa que ainda não fazia sentido para mim. Tinham coisas
pairando em minha mente, perguntas, e eu não podia apenas me calar.
Ele disse que era Asmodeus, e aquilo explicava as inicias nos dedos.
— O que... — respirei e olhei para Vinci, que já estava de olhos em
mim. — O que vai acontecer comigo agora? — perguntei e não pude
esconder o medo. — Eu vou morrer, ou... Ou algum demônio vai buscar
a minha alma?
— Eu sou o demônio que possui a sua alma. — respondeu. — Você
morre quando eu disser que morre.
Consenti.
— Mas... O que eu... O que vai acontecer agora? — o aprofundei
com o olhar. — O que você vai fazer comigo?
Vinci deixou a taça na mesa e deu os três passos em minha direção.
Naquele momento, eu não conseguia me mover, e eu sabia que ele tinha
todo o poder sobre mim.
Os dedos longos tocaram meu cabelo, e arrepiei com o contato
mínimo dos dedos roçando em minha pele.
Paralisei, apenas sentindo meu coração saltar no peito.
— Eu quero muito... — fez uma pausa. — Não. Eu desejo muito que
você esteja em minha cama, e eu poderia levá-la para lá, sem muito
esforço. — estremeci com os olhos dele sobre mim. — Eu gosto da
sensação de possuir o seu belo corpo, saber o que você esconde debaixo
dessas roupas e poder te escutar gemendo em meu ouvido. — engoli
um seco. — Mas, não ia ter graça se você ficasse chorando. Eu a quero
de bom grado, e eu sei que você vai ceder.
— Por que você tem total poder sobre minha alma e o meu corpo?
— perguntei estremecida.
— Não. — respondeu. — Porque você vai desejar que eu seja o
único homem a tocá-la. — um sorriso alado se fez nos lábios. — E
nesse dia, eu não vou ter piedade. — ele analisou o meu rosto e colocou
meu cabelo atrás da orelha. — Você é minha, planetinha, e logo mais, o
seu corpo também vai ser meu.
Eu não sabia o que responder, não sabia o que fazer, mas eu soube
que Vinci tinha total controle da situação, pois eu havia feito um pacto
com ele. E, por mais que eu desejasse pegar Marte e fugir, eu tinha total
consciência de como os pactos funcionavam.
Não adiantava eu fugir, pois Vinci me acharia em qualquer lugar, e
independentemente de onde eu estivesse a minha alma ia ser para
sempre dele.
A noite veio e como Vinci disse antes, eu tinha um belo vestido preto
sobre a minha cama, e também uma sandália.
Na parte da frente do vestido, havia uma série de correntes finas e
brilhantes, estrategicamente colocadas, que servem tanto como
decoração quanto para adicionar um toque ousado e provocante ao
visual. Essas correntes pendiam delicadamente do decote até a cintura,
criando um efeito elegante e sedutor.
A parte de trás do vestido era praticamente aberta, revelando
sutilmente minha pele. Duas correntes maiores e mais elaboradas,
juntamente com um delicado fecho, adornavam as alças cruzadas nas
costas, trazendo um visual arrojado e sexy.
A sandália tinha tiras finas envolvendo delicadamente meus pés. O
salto alto adicionou um toque de sofisticação ao conjunto, enquanto a
cor preta criava uma harmonia perfeita com o vestido, deixando minhas
pernas deslumbrantes e alongadas.
Encarei meu reflexo no espelho e jamais havia me visto daquela
maneira. Eu nunca imaginei usar algo daquele tipo na minha vida, e eu
não poderia negar que eu estava linda. Absurdamente linda.
Prendi meu cabelo em um coque, e suspirei, pensando que eu não
deveria estar tão sensual daquela forma.
Mas, já era tarde demais para desistir.
Desci a escada com cuidado, e parei no último degrau ao ver Vinci
encarando o relógio de pulso. Naturalmente, ele olhou para mim,
notando-me na escada, e eu não sabia decifrar aquele olhar.
Ele ficou paralisado, sem desviar o olhar, e engoli um seco, descendo
o último degrau e evitando aquele contato visual.
— Bem... — passei a mão no vestido. — Aqui estamos. Parece que
você não estava brincando quando disse que eu teria um vestido. —
mencionei.
— Eu só não sabia que ia deixar o inferno tão inquieto. — franzi o
cenho sem entender, e ele se endireitou. — Devemos ir.
Eu não sabia o que ele quis dizer, mas fiquei calada e fui atrás dele.
Um jantar com um demônio.
Capítulo 9
No dia seguinte, fui informada que Vinci ficaria fora por uns dias,
mas claro que, ele deixou seus olhos e ouvidos por toda parte.
Imaginei que ele tivesse ido até o inferno para tratar de seus
negócios, então, aquilo me dava algum espaço para pesquisar.
Com Marte na escola, eu dei um jeito de sair da mansão sem ser
notada. Fui buscar ajuda de Chloe, a vidente de outro dia.
Naquele dia, mais claro, eu pude ver o quanto ela era bonita. Longos
cabelos castanhos até na cintura e os olhos mel.
— Fico contente que deu tudo certo para você naquele dia. — disse,
enquanto eu permaneci sentada e ela limpava alguns objetos da sala
repleta deles. — Se tudo deu certo, então o que a traz aqui?
— Eu preciso de algumas coisas. — mencionei e ela me analisou. —
Preciso saber sobre coisas que afastam os demônios.
Ela parou tudo o que estava fazendo e me olhou atentamente.
— Eles já estão perturbando você? — interrogou e franzi o cenho.
— Ah, eu tinha esquecido de mencionar. Quando se faz um pacto do
tamanho que você fez, os demônios e almas perdidas começam a
perturbar você. E a menos que você tenha uma proteção muito forte,
eles não param.
Fiquei paralisada.
— E veio me dizer isso só agora?
— Bem, quando eu acordei você já não estava mais aqui e eu não
sabia por onde começar. — defendeu-se. — Vendo que você está aqui,
suponho que já começou. — Nada havia começado e aquilo me deixou
intrigada. — É por isso que está aqui, certo?
Era melhor dizer que sim, pois eu não podia explicar nada a ela,
mesmo que ela conhecesse aquele lado obscuro, seria constrangedor
mencionar.
— Sim. — assenti. — Eu preciso de algo que afaste os demônios,
mais que isso... Algo que possa machucá-los.
— Bem, pode usar algumas coisas. — caminhou pelo lugar em
busca. — Água benta, óleo celestial, crucifixos. Solo sagrado também
os mantém afastados. Eles odeiam solo sagrado. Um círculo feito de pó
de Mirra pode te manter segura deles. Use onde quiser.
Entregou-me as coisas.
— Isso funciona para todos os tipos de demônios? — questionei.
— Deve servir.
Encarei o rosto dela, em preocupação.
— Os mais fortes e poderosos?
Ela me analisou de cenho franzido.
— De quais demônios estamos falando? — pesquisou.
Eu não podia mencionar.
— Bem, se funciona com um, deve funcionar com todos. Mas... —
olhei para ela. — Caso isso falhar, o que eu devo fazer?
— Bem, aí então você corre muito, e procure um solo sagrado para
se proteger.
Concordei.
— Obrigada. — levantei-me para ir embora.
— Ah, e mais uma coisa. — ela me fez parar e encará-la. — Jamais
deixe um demônio tocar em você.
Franzi a testa.
— Tocar em mim?
Ela consentiu.
— Sexo. — falou e aquilo suou como impossibilidade. — Eu sei que
parece absurdo, mas eles usam formas humanas para isso, e se você for
tocada sexualmente por um, você está perdida.
— Já não estou perdida por ter vendido a minha alma a uma
entidade?
— Acredite, morrer e queimar no inferno depois, não é nada
comparado a pertencer a um demônio para sempre. — disse e congelei.
— Se for tocada, nunca mais poderá entrar no reino do céu, e sua alma
estará condenada a pertencer a ele em todas as suas vidas. Se proteja.
Fiquei com tanto medo, mas eu sabia que jamais ia deixar Vinci me
tocar daquela maneira. Eu ia me livrar dele em pouco tempo e assim eu
poderia viver livre, junto de Marte.
Voltei para a mansão, e assim que entrei, dei de cara com William, o
motorista que ficava comigo, já que Patrick ficava com Marte na
escola.
Eu sabia que aquele grandalhão não estava ali apenas para ser meu
motorista, eu tinha certeza que Vinci o deixou de olho em mim.
— Senhorita, a procurei por toda parte. — disse. A sua voz era sem
sentimento algum, igualmente seus olhos. — Por onde andou?
— Ah... Eu saí por um segundo para comprar umas coisas pessoais.
— apertei a sacola em mãos.
— Poderia ter me avisado, eu a levaria.
— Eu posso andar por aí sozinha, afinal, todos os olhos estão em
mim, não é mesmo?
Ele não respondeu a minha pergunta.
— O senhor Vinci deixou alguns trabalhos para que você fizesse. —
avisou e retirou do casaco um papel, me entregando. — São nomes e
endereços, e a seguir, tudo o que precisa fazer.
Avaliei o papel, e tinha mesmo muitos nomes, endereços e anotações
sobre o que eu deveria fazer.
Suspirei, pois apesar de Vinci fazer parecer fácil, não era.
— Irei me trocar, e saímos em um minuto.
Ele assentiu e subi a escada, entrando no quarto e escolhendo um
lugar seguro para esconder todas aquelas coisas que Chloe me deu.
Afastei as minhas roupas do cabide e enfiei os itens atrás do armário,
um local onde Vinci jamais encontraria.
Coloquei uma blusa regata cinza, e uma jaqueta escura e prendi o
cabelo.
Saí do quarto e logo depois parti para fazer os trabalhos.
O primeiro nome da lista era James Johnson. Um homem de 54 anos
aproximadamente, dono de uma joalheria. Entrei, peguei o pacote sem
complicações e saí.
O segundo nome era Kevin Brown, um homem de 35 anos, dono da
fábrica de papel da cidade. Foi fácil, ele já nos aguardava com o
envelope. Peguei e saí.
O terceiro nome era de uma mulher, Olivia Roberts. Ela tinha uma
mansão extraordinária em um bairro chique. Era elegante, alta e loira,
muito loira. Atendeu-me com carisma, me entregou uma caixa de
madeira com um símbolo estranho parecido com um pentagrama, e eu
saí.
Os três nomes eram envelopes e tudo parecia correr bem.
Já estava anoitecendo, e o último nome da lista era Ava Young.
O carro parou em frente a uma mansão linda, já um pouco afastada
da cidade, com luzes amarelas, escultura e rodeada por um jardim bem
cuidado. Logo em seguida, avistam-se impressionantes pilares, que
sustentava a estrutura imponente da mansão feitos de mármore branco.
Desci do carro, e parei na porta branca com tons dourados e toquei a
campainha, que ecoou por toda parte.
A porta foi aberta por um homem magro, alto, de pele enrugada e
poucos fios de cabelo preto na cabeça.
Ele tinha um olhar forte e destemido, frio e desdenhoso. Usava um
terno preto e estava impecável.
— Olá, eu sou...
— Sei quem é. — me interrompeu de maneira ríspida. — Entre, a
senhora Young está lhe aguardando.
Entrei muda e segui o homem pelo corredor majestoso, com um piso
branco impecável e molduras douradas.
Tudo ali dentro exalava riqueza, bom gosto e não tinha nada fora do
lugar. Os móveis eram sofisticados, em couro e madeira viva.
— Senhora, o sicário chegou. — avisou e franzi o cenho.
Eu sabia o que era um sicário, não era idiota, e confesso que aquilo
me chateou.
— Obrigada, Burlok. — a voz potente e séria agradeceu, e movi os
meus olhos para a bela mulher de olhos puxados, usando um conjunto
branco, cabelo preso sem nenhum fio solto, em um coque perfeito e um
batom vermelho nos lábios que estava perfeito. Ela caminhou até mim,
com seu salto fino e se mostrou ser muito mais alta e esbelta. Os olhos,
duas esferas negras e sem brilho, me sondaram. — Então você é real.
— falou me analisando de um jeito estranho. — Confesso que pensei
que já estaria morta. — eu quis dizer algo, mas ela caminhou de volta
para a sala. — Venha, entre.
Eu me sentia muito estranha. Tinha algo naquele lugar, naquela
mulher, que me deixou intimidada.
Eu poderia apenas ir embora, mas ela era o último nome da lista, e
igual aos outros, eu deveria apenas pegar um pacote.
Segui para a sala, e a mulher se sentou em uma poltrona de couro
caramelo e cruzou as pernas, continuando a me analisar.
Talvez fosse a hora de eu falar e acabar com aquilo.
— Estou aqui, pois Vinci pediu para eu pegar o pacote. — avisei.
— Eu sei. — respondeu impassível. — Asmodeus não é do tipo que
brinca em serviço, não é mesmo? — ela sabia quem ele era, e aquilo a
tornava um demônio também? — Estou interessada em uma coisa. Na
verdade, curiosa. — me olhou friamente. — Por que alguém como
você, ainda está viva e fazendo os trabalhos sujos para ele?
Não que eu devesse, mas quis responder.
— Vinci está viajando. — falei. — E eu... Bom, eu devo alguma
coisa para ele, e esse é o meu modo de pagar. Quanto a eu estar viva. —
dei de ombros. — Não sei, talvez ele esteja entediado demais para me
matar.
— Não. — Um leve sorriso se fez nos lábios dela. — Asmodeus ama
matar pessoas. Existe outro motivo. — semicerrou os olhos e tentei
ignorar. — Ele é covarde, em mandar você para a casa de um anjo. —
meus olhos arregalaram e fui pega por uma avalanche. — Oh, ele não te
disse, não é? — se levantou e foi até a mesa dali. — Meu nome é
Zadkiel, e para ser mais exata, sou um arcanjo.
Tudo em mim estremeceu, e apesar de achar que um arcanjo poderia
ser melhor que um demônio, eu não tinha tanta certeza daquilo.
Por que Vinci me mandaria para um arcanjo?
Então, por que ele tinha negócios com um arcanjo?
O arcanjo, ou a mulher, eu não sabia como mencionar, voltou com
um pergaminho em mãos, de papel antigo e colocou-o sobre a mesa
dali.
— É isso que veio buscar. — avisou e voltou a se sentar. — Diga ao
seu chefe, ou seja lá como chama-o, que eu quero a minha liberdade. Eu
fiz o que ele mandou, escrevi o pergaminho e agora quero ser liberta.
— Liberta? — questionei confusa.
Eu poderia apenas ter ido embora, não era um problema meu, mas eu
estava ali.
— Não sabe que ele também escraviza anjos? — questionou um
pouco irritada. — Aquele demônio tem planos, e ele tem o poder
suficiente para tudo o que quiser.
— Por que ele te prende aqui? — inquiri.
— Não é óbvio? Ele precisa de mim. Mas, eu já fiz tudo o que ele
pediu, então, avise-o para me libertar. Tínhamos um acordo. — os olhos
fixaram em mim. — Eu daria a ele a chave da prisão do céu, e ele me
deixaria, e deixaria os outros voltarem.
Aquela informação me fez ficar paralisada e assustada.
Vinci não era apenas um homem, ele era perigoso. Tinha um arcanjo
preso e um pergaminho para abrir a porta da prisão do céu, e eu não
conseguia imaginar os motivos bons que aquilo teria, pois quando se
tratava de bondade, Vinci não chegava nem perto.
Aquilo só me provava que eu precisava sair daquele lugar. Eu
precisava me livrar daquele demônio.
Capítulo 10
Marte estava tão animado com tudo que vinha acontecendo. Todo dia
que ele chegava da escola, ele me contava algo novo, e vê-lo feliz,
animado, e bem, me fazia estar feliz também.
— Posso jogar um pouco? — questionou após o banho.
— Já são quase dez da noite, Marte. — avisei. — Amanhã você
precisa estudar.
Ele fez um beiço.
— Tudo bem. — pulou na cama e puxei sua coberta. — Darling?
— Sim?
— Onde está a mamãe e o papai? — examinou e notei que Marte
sentia saudade.
Apesar de todas as coisas e todos os sentimentos destrutivos, ele
ainda sim, sentia falta deles. Para uma criança, ter os pais é essencial.
— Eles precisavam de um tempo, anjinho.
— Ah... — baixou os olhos azuis. — É dia das mães na próxima
semana, vamos fazer algo, e as mães deviam estar lá. A minha deveria
estar.
— Eu sei. — senti uma pontada no peito. — Eu sinto muito por isso,
Marte. Mas, eu posso ir no lugar dela.
Ele assentiu.
— Eu sei que vai estar lá.
— Eu sempre vou. — dei-lhe um beijo. — Agora descansa. Eu te
amo.
— Eu te odeio.
Ele fechou os olhos em seguida, e tive vontade de arrancar todas as
preocupações da cabeça dele, mas eu não tinha aquele poder.
Eu desejava que tudo pudesse ser diferente.
Apaguei a luz e o deixei dormir.
Saí do quarto, e muitas coisas invadiram a minha mente, como por
exemplo, um arcanjo preso sob a mira de Vinci e aquele pergaminho.
A escrita do pergaminho era escrita em Hebraico e era muito
poderosa.
Eu não deveria me envolver naquilo, eu deveria apenas cuidar de sair
daquele lugar.
Entrei na biblioteca do lugar e peguei todos os livros antigos que
encontrei, em busca de qualquer coisa que pudesse matar um demônio.
Eu me afundei em estudos, pesquisas, e me atentei em tudo. Foram
longas horas ali, disposta a encontrar uma saída.
Foi então que descobri que, o meu pacto poderia ser quebrado se o
demônio a quem uma alma foi vendida, morresse.
Eu estaria liberta se Vinci morresse, mas eis a questão.
Como matar um príncipe do inferno?
Fui deixar Marte na escola com Patrick, e ele entrou todo animado.
Eu havia dormido muito mal, com pesadelos e sensações estranhas, e
aquilo foi perturbador.
— Posso levá-la de volta para casa. — ofereceu Patrick. — Depois
volto para cá.
Neguei.
— Prefiro que fique aqui de olho nele. Eu posso ir andando, e
também vou comprar algumas coisas.
— Então, ligarei para William e ele lhe buscará.
Fiz uma careta.
— Não precisa. Eu já vou indo.
Saí correndo, sem dar tempo para Patrick retrucar.
Caminhei para a casa de Lucca e Lua, e entrei com a chave reserva
escondida no vaso da porta.
Tudo estava uma bagunça, e nem sei por qual motivo eu estava ali,
ou o que eu estava buscando.
Talvez Vinci tivesse razão em duvidar dos meus sentimentos em
relação a eles. Eu sempre estava ingenuamente esperando algo deles.
Não que eu tivesse fé, mas eu tinha esperança em algo maior. Seria tão
mais fácil se eles apenas mudassem, se eles fossem pais ao menos um
pouco.
Eu sentia falta de todas aquelas coisas, de quando eles ainda eram
alguma coisa, antes de serem dois idiotas. Talvez não fosse apenas por
Marte, talvez fosse por mim também.
Uma parte minha, a parte menina, queria os pais.
Suspirei e encarei as paredes do lugar, as escadas e também as
lembranças.
Joguei-me ao sofá e fechei os olhos por um segundo.
Eu queria paz, eu precisava daquilo na minha vida e precisava
organizar a minha mente.
— Aqui está você. — Abri os olhos e saltei ao ver Vinci parado ali,
em minha frente.
— Você...
— Eu. — sorriu de lado. — Sentiu a minha falta?
Era mesmo ele, não tinha como ser apenas uma visão.
— Não. — respondi, passando por ele.
— O que veio fazer aqui? — perguntou atrás de mim.
Subi as escadas em direção ao quarto.
— Vim buscar algumas coisas que ficaram para trás.
Entrei no quarto e abri o armário, pegando algumas peças de roupa e
colocando em uma bolsa.
Vinci tinha que ter voltado tão depressa?
— Então aqui era seu antigo quarto. — mencionou analisando o
lugar. — Nada mal. — ele caminhou para uma parede ali, onde
existiam muitas coisas sobre história. — História? — questionou.
Voltei-me para o quadro e senti saudade daquilo.
— Por quê? Não pareço gostar de história?
— Na verdade, é bem a sua cara. — disse. — Não terminou a
faculdade, suponho.
— Você sabe que não. — respondi ríspida e voltei a pegar as coisas,
me deparando com uma caixa pequena que estava ali.
Eu havia escrito todas as coisas que eu queria ser quando crescesse,
foi uma boa lembrança.
— Pegou todos os envelopes que mandei? — perguntou o demônio.
— Sim. — respondi impaciente. — Está tudo na sua sala.
— Só isso? — interrogou e me voltei para ele. — Não aconteceu
mais nada?
Sorri, sabendo o quanto ele sabia de tudo.
— Eu vi o arcanjo. — mencionei. — Vi que você o mantém preso,
arrancando tudo dela.
Esperei que Vinci pudesse reagir de uma forma agressiva, mas ele
pareceu impassível. Estranhamente calmo.
— Você queria que eu... — encarei-o de cenho franzido. — Você
queria que eu o visse, não é? Queria que eu soubesse. — Ele arqueou a
sobrancelha. — Por quê?
Deu de ombros.
— Agora eu lhe revelo mais uma informação crucial sobre mim —
disse, e me vi imobilizada. — Eu tenho consciência do que você tem
feito pelas minhas costas, meu pequeno planeta. — Eu me petrifiquei.
— Não há nada que escape ao meu conhecimento. Cada passo seu, cada
ação, eu tenho total ciência. — Ele se aproximou, fazendo-me
estremecer. — Continue em frente, faça o que for necessário. — Ele
acariciou meu rosto. — No fim das contas, você sempre será minha, de
todas as formas. Arcanjos, demônios, videntes… Nada, absolutamente
nada tem o poder de te tirar de mim.
Como eu pude ser tão ingênua em pensar que Vinci não saberia dos
meus feitos? Como eu fui tola.
Meu coração acelerou.
— Você vai... — minha voz quase não saiu. — Você vai me castigar
por isso?
Ele riu.
— Não. — respondeu com pouco-caso. — No entanto, não abusa da
minha generosidade, não permitirei isso mais de uma vez. Seria bom
que da próxima vez, tivesse melhores planos, e fosse capaz de me
eliminar, pois se ousar desafiar-me novamente e conspirar contra mim,
arrancarei tudo de você. E quando digo tudo, refiro-me a tudo o que
mais ama.
Marte...
Fiquei paralisada, nunca imaginei que poderia experimentar um
medo tão intenso como naquela ocasião. Se houvesse um termo capaz
de descrever o que eu sentia naquele momento, certamente seria o
pavor.
Os próximos dias seguiram em total silêncio. Eu não ousei falar ou
enfrentar Vinci, eu apenas fiquei calada e fiz tudo o que ele queria que
eu fizesse.
Fui obediente, mas jamais deixei de pensar em uma maneira
definitiva de acabar com aquilo.
Só existia uma maneira de fazer Vinci ficar totalmente em minhas
mãos, e aquela maneira, seria dar a ele o que ele queria.
Se um homem rendido a uma mulher poderia matar por ela, então
um demônio rendido daria a uma mulher o inferno.
E eu não ia hesitar naquilo, mesmo que custasse a minha vida em
outras vidas. Vinci poderia saber meus passos, mas jamais meus
pensamentos.
Terminei de vestir o vestido vermelho e sedutor para aquela noite.
Vinci havia dito que íamos a um lugar importante, e eu deveria estar
bem vestida.
Ele deixou uma porção de vestidos e sapatos para meu uso, e usei
sem piedade.
Coloquei batom vermelho, salto, e fiz uma trança no cabelo.
Eu estava feita para chamar a atenção naquela noite, e eu faria
aquilo.
Pelo caminho, Vinci ficou calado no carro, e nem mesmo ousou falar
algo sobre o meu visual, mas eu duvidava que ele não tivesse sentido
nada.
Paramos em frente a uma boate chique da cidade, eu ouvi muito
sobre o lugar.
Desci do carro segurando o vestido longo e segui Vinci para dentro
do lugar.
A "Boate Élan" era um local refinado e exclusivo para pessoas de
classe alta, em busca de uma experiência noturna luxuosa. Situada no
coração da cidade, a boate ocupava um prédio de estilo art déco, com
uma arquitetura impressionante que remetia a uma era de glamour e
elegância.
O ambiente é impecavelmente iluminado, com uma iluminação
dourada, suave, que banha todo o espaço.
Já logo de cara, muitos olhares foram recebidos para Vinci, ou para
mim, eu não sabia.
A boate oferece camarotes VIP decorados com bom gosto, onde os
clientes podem desfrutar de serviço de garçom e uma vista privilegiada
da pista de dança. Os camarotes são espaçosos, com assentos luxuosos,
mesas de mármore polidas e uma iluminação personalizada.
Foi para lá que seguimos, e quando chegamos, uma mulher bem
vestida, muito bonita já aguardava, junto de mais cinco homens.
— Vinci! — ficou de pé com um sorriso majestoso.
— Yasmin. — ele beijou o rosto dela e senti uma proximidade bem
quente.
— Quem é ela? — questionou me analisando de cima a baixo.
— Essa é a..
— Vênus. — sai na frente, me apresentando. — Secretária.
Ela pareceu incomodada.
— Agora você tem uma sombra? — interrogou se sentando.
Vinci se sentou sem responder, e fiz o mesmo, sentando no assento
ao lado da mulher, ficando assim, de frente para o demônio.
— O que gostaria de beber, senhores? — perguntou um garçom.
— Maker 's Mark para mim. — disse Yasmin.
— Sim, senhora Delacroix.
— Whisky Bourbon. — disse Vinci, ajeitando o paletó.
— E a senhorita? — perguntou para mim.
— Talvez devesse trazer um cardápio. — pronunciou Yasmin. — Ela
não deve entender muito sobre bebidas.
Ela estava tentando me intimidar?
Sorri levemente e olhei para o garçom.
— Pappy Van Winkle 's Family Reserve, por favor. — ele deu um
leve sorriso.
— Sim senhora.
Olhei para Yasmin e ela parecia inquieta, já Vinci estava sorrindo de
lado.
— Pelo visto já andou em muitos lugares. — falou ela. — Lugares
chiques, onde só existe um jeito de mulheres como nós, sabermos as
mais caras bebidas.
Sorri.
— Eu não sei você, senhorita Delacroix. Mas, eu não precisei andar
em lugar algum. — ela fechou o semblante. — O meu pai era
sommelier.
Olhei para Vinci e o peguei me observando curioso, talvez ele não
soubesse daquilo.
— Oh, é mesmo? — interrogou a mulher. — E onde ele está agora?
Como mencionar aquilo? Era desconfortável.
— Não viemos aqui para falar do pai dela. — interrompeu Vinci e
fiquei aliviada. — Viemos falar de negócios.
— Claro. — Yasmin sorriu, cruzando as pernas. — Em outros dias
os negócios poderiam ser discutidos em uma suíte. O que mudou?
Notei que eles se conheciam intimamente, e de certo modo aquilo
me deixou incomodada.
O garçom chegou com as bebidas e quebrou aquele olhar de ambos.
Ele entregou minha bebida e encarou meus olhos com profundidade.
— Por conta da casa. — disse.
— Obrigada. — agradeci percebendo aquele olhar dele.
Eu nem precisei fazer nada.
Ele saiu ainda me olhando com um sorriso presunçoso.
Eu nunca havia flertado com ninguém, mas aquilo era um flerte.
Virei para frente com um sorriso, e me deparei com o olhar frio e
mortal de Vinci, que me fez quase engasgar com a bebida.
Levei um susto, credo.
— Vinci? — Yasmin chamou e ele a olhou. — Podemos falar de
negócios?
— Claro. — se ajeitou. — Recebeu a proposta que te mandei?
— Sim, e confesso que foi uma das melhores até agora. A ideia de
uma sociedade me fascina. Mas, confesso que fiquei curiosa sobre isso.
Por que abrir mais uma boate na cidade? Já não temos tantas?
— Não como essa. — os olhos dele faiscaram. — Não com seres
sobrenaturais. — fiquei estagnada ao ouvir aquilo. — Existem pessoas
que buscam algo mais sombrio, e eu tenho o que elas querem.
— Uma boate de sobrenaturais... — murmurou a mulher. — Parece
interessante. Que garantias eu tenho que vou ganhar com isso?
Vinci riu.
— E alguma vez já perdeu comigo?
— Nunca.
— Então. — bebeu um pouco da sua bebida. — Eu tenho muitos
planos para Stanfield. — disse. — Daqui, irei dominar o resto.
Foi assustador ouvir aquela conversa, e eu precisei usar de um
estômago que eu não tinha.
— Com licença. — pedi me levantando. — Vou ao banheiro.
Saí apressada rumo ao banheiro, sentindo meu peito sufocar. Eu
podia não saber todos os planos de Vinci, mas eu sabia que era sempre
algo diabólico, pois ele era diabólico.
— Ouviu falar da boate? — escutei a conversa de duas mulheres no
banheiro.
— Escutei algo. Então, o chefe do inferno quer tomar Stanfield para
si?
— É o que parece. Quando Mammon descobrir sobre isso, ela vai
enlouquecer.
— Por quê? Foi ela que não quis a cidade.
— É, mas ela não sabia que a porta do inferno ficava bem aqui,
literalmente.
Congelei ao escutar aquilo. Então, Vinci havia escolhido a cidade
por que a porta do inferno era ali? A intenção dele sempre foi abrir a
porta, trazer os seus e dominar o mundo?
Era loucura...
Ouvi a porta se fechar e notei que as meninas, ou demônios, haviam
saído.
Saí do banheiro e saltei de susto ao pegar Vinci ali dentro, encostado
na pia grande, e de braços cruzados em frente ao peito.
Era perturbador a forma que ele me deixava assustada toda vez que
estava perto de mim.
Tentei ao máximo agir naturalmente.
— O banheiro dos meninos é do outro lado. — falei, indo até a pia e
lavando as mãos.
— Eu não estava procurando o banheiro dos homens. — ele
caminhou para trás de mim, e através do espelho vi seu olhar. — Eu
estava procurando você.
Meu coração acelerou e minhas pernas bambearam quando ele jogou
meu cabelo para o outro lado e roçou seu corpo no meu, me fazendo
sentir sua ereção bem descarada.
Um arrepio me tomou quando os dedos tocaram minha nuca, e ele
passou o rosto por ali.
Tremores.
— Vinci...
— O que foi? — pesquisou beijando meu pescoço, me arrepiando,
enquanto suas mãos seguravam firme minha cintura. — Não era essa a
ideia? Chamar minha atenção? — ele gemeu em meu ouvido, um
gemido forte que me fez fechar os olhos e apenas sentir. — Estou aqui,
planetinha.
Com um rompante, ele me colocou sentada na pia e soltei um
gritinho, quase sem ar.
Os olhos dele estavam com um brilho diferente, que me fez tremer,
tendo meu peito subindo e descendo.
A porta se trancou sozinha, e não ousei desviar o olhar dele.
Vinci abriu minhas pernas com força, com suas mãos quentes, e se
enfiou no meio delas, levando suas mãos até minha coxa e apertando.
Devagar, ele foi se aproximando do meu rosto, e não ousei o afastar,
era aquele o plano. Aproximou-se devagar, tão suave e enigmático
como uma sombra se movendo pela noite. Seus dedos, quentes como
fogo, tocaram levemente minha pele, deixando um rastro de arrepios
por onde passavam. Eu podia sentir a eletricidade percorrendo meu
corpo, fazendo meu coração palpitar descontroladamente.
— Já beijou um demônio antes, planetinha?
Engoli um seco, suando.
— Não. — respondi, claro que não, e ele sorriu de lado.
— Bem vinda ao inferno.
Então, seus lábios se encontraram com os meus. Foi um instante de
puro êxtase e trevas. Seu beijo era tão intenso e profundo que me senti
envolta por uma escuridão sedutora. Cada movimento de sua boca
contra a minha era uma mistura perigosa de prazer e medo.
Seus lábios eram macios e inebriantes, mas havia uma sensação sutil
de ferro em sua pele. A doçura do beijo era contrastada pelo gosto
amargo dos segredos que ele trazia consigo. Era como se eu estivesse
sendo tocada pelas trevas, envolta em um abraço sinistro.
Enquanto nossas línguas se entrelaçavam, senti-me perdendo
qualquer controle que eu pudesse ter. Era como se minhas defesas
estivessem desmoronando, deixando-me vulnerável à sua presença
arrebatadora. Cada suspiro que eu soltava era um convite para que ele
explorasse mais profundamente o meu ser.
A cada segundo que passava, eu me entregava mais e mais àquele
beijo sombrio. O desejo e o perigo se misturavam em um turbilhão de
sensações inebriantes.
Aquele era o inferno?
Capítulo 11
— Anjinho? Acorde!
— Darling? Quem é?
— Rápido Marte! Rápido!
Um disparo ressoou pela rua escura e havia uma grande quantidade
de sangue ali, enquanto eu me encontrava abraçada ao corpo frio do
meu irmão.
— Não! Marte, não!
Dias atuais.
Patrick entrou na sala e levantei os olhos para ele.
— Encontrou alguma informação sobre Mammom? — perguntei.
— Sim senhor. Ela voltou para o inferno e parece não estar ciente de
Lúcifer. — respondeu. — Ela está cercada de demônios e aparenta estar
assustada.
— É claro que ela está com medo. Lúcifer foi preso por causa dela.
— suspirei. — Aquele maldito!
— Posso fazer algo, senhor?
— Não é necessário. — refleti. — Lúcifer vai entrar em contato e
mostrar onde está. Ele não quer que Vênus morra, ele me quer.
— Senhor, com todo respeito, é melhor nos precavermos. Devemos
ter algum plano B. — falou preocupado. — Lúcifer não é apenas um
demônio, ele é o rei, e ele pode te matar.
Ele estava certo, mas isso não me assustava.
— Não se preocupe, Patrick. Eu sei exatamente como jogar.
Eu não sentia medo, mas seria negligente se não admitisse que
estivesse sendo constantemente tomado por um cansaço emocional.
Preocupação.
Eu sabia que Lúcifer não iria matar Vênus, mas ele poderia torturá-
la, ou revelar coisas que nunca teria dito. Toda vez que pensava nisso,
um medo me dominava, pois eu queria ser o melhor para ela, queria ao
menos tentar, e mesmo que por um momento tenha esquecido o quão
importante ela era para mim, nunca mais esqueceria.
Dias atrás.
— O que diabos estou fazendo? — murmurou Sade, um dos
demônios mais leais a Mammom.
— Garantindo que continue vivo quando eu for rei. — respondi,
observando-o ajoelhado diante de mim com uma expressão de
arrependimento. — Vamos lá, não é tão terrível assim.
— Estou prestes a trair minha rainha.
Deslizei um sorriso de desprezo.
— Ela não é a sua rainha. Nunca foi e nunca será.
— Talvez para o senhor, ela precise de um trono para ser rainha, mas
não para mim.
Revirei os olhos.
— Já entendi que você chupa ela todas as noites. — ele me olhou
surpreso enquanto eu ignorava seu espanto. — Mas só o fato de estar
aqui prova que, ela não te chupa como você gostaria.
Ele limpou o suor da testa com as mãos.
— Saiba que o que estou prestes a fazer vai contra tudo. precisa
garantir minha segurança quando ela descobrir. — falou. — Porque,
embora eu a considere uma rainha, ainda acredito que você será o
verdadeiro rei. — dei um sorriso de meio lado. — Mammom é
poderosa, mas não está apta para governar o inferno, e eu amo o inferno
tanto quanto amo os humanos e tudo o que eles possuem lá. —
suspirou. — Portanto, faça a sua parte que eu farei a minha.
— Não se preocupe, Sade. Mantenho seu pescoço intacto, desde que
me traga um pedaço da alma de Mammom.
Ele assentiu, levantando seu corpo esquelético e aparência sombria.
— Voltarei.
Dias atuais.
Continuei examinando as paredes de vidro do local onde Lúcifer
mantinha Vênus. Assim que ele me permitiu entrar, observei meu irmão
e percebi que ele continuava o mesmo, sempre escolhendo corpos
atraentes que tornam fácil atrair mulheres.
Manipulador.
— É bom te ver, irmão — disse com um sorriso forçado, tentando
parecer que era agradável me ver.
— Onde está ela? — perguntei em tom baixo.
Ele me deu espaço e me convidou a entrar.
— Por favor, entre.
Analisei o ambiente e, além do forte poder emanando de lá, que eu
sabia ser dele, não sentia mais nada. Não havia feitiços, magias negras
ou bruxaria.
Houve tempos em que era fácil para Lúcifer me atacar, mesmo que
eu respirasse, ainda mais por ser quem eu sou, mas não naquele
momento, já que ele precisa de mim.
— Vamos, preparei um jantar para nós.
Sigo-o até a sala e senti raiva percorrer meu corpo. Eu poderia matá-
lo, se tivesse a oportunidade. Odiava ser o príncipe, odiava que ele
tivesse poder sobre tudo. Odiava que ele fosse o sangue real.
Assim que entrei na sala de jantar, vi Vênus sentada, usando um
vestido branco de alças que realçava seus seios. Se não fosse pela
situação desagradável para ela, eu poderia comentar como aquilo me
deixa excitado. Mas Lúcifer sabia disso.
Vênus me lança um olhar que nunca esquecerei, e isso me deixa um
pouco mais nervoso do que eu gostaria.
Medo.
Vênus está apavorada.
— Vamos, irmão, sente-se e não se acanhe. — sugeriu Lúcifer.
Sentei-me na cadeira de frente para ele, e Vênus permanecia no meio
de nós dois.
Voltei meu olhar para ela, e a vi me observando com os olhos
trêmulos, mas ainda assim, permanecia calada.
Isso era estranho, já que ela costumava estar sempre gritando.
— O que você fez com ela? — perguntei, olhando para meu irmão.
— Apenas a fiz ficar quieta. — disse, concentrado em seu prato. —
Queria que pudéssemos ter uma noite de irmãos, um jantar especial. —
olhou para mim. — Senti sua falta, sabia?
— Eu sou mentiroso, mas você… — fiz uma careta. — Mm, você é
nato. — ele riu, levando a carne à boca. — Se você realmente queria
um jantar entre irmãos, poderia tê-la deixado de fora disso.
— Ah, e isso seria correto? — limpou os lábios. — Você não
aceitaria, e tentaria me matar, mas com algo que você venera em mãos,
as coisas ficam mais fáceis. — riu. — Vamos lá, admita, ela não está
linda assim?
Olhei para Vênus e, apesar do rosto em pânico, o vestido escolhido
havia destacado sua pele, que não era uma pele branca qualquer, era
aveludada e parecia ter sido filtrada. Seus seios estavam empinados, e
eu podia ver os mamilos endurecidos, talvez ela estivesse com frio, ou
talvez não. Seu cabelo estava solto, em cascatas negras.
Que mulher deliciosa!
Eu daria tudo para fodê-la ali, bem naquela mesa.
Mas aquele olhar me partia a essencia. Ela não estava olhando com
medo de mim, ela estava com medo dele.
— Apenas eu tenho o poder para fazer isso. — mencionei, fixando
meus olhos nele. — Apenas eu posso fazê-la ter esses olhos assustados,
implorando por misericórdia. Os pesadelos dela são meus… — fui me
levantando. — Os medos dela são meus. Tudo nela é meu. O medo que
ela carrega deve ser dirigido a mim, e a mais ninguém. Porque, irmão,
ela é minha. Ela é minha humana.
Lúcifer sorriu de lado, me analisando atentamente.
— Será mesmo? — seus olhos mostravam superioridade. — Até
onde você está disposto a ir por ela? — uniu as mãos sobre a mesa. —
Porque eu a envenenei, Asmodeus, e você sabe como funciona o meu
sangue. Nem mesmo você pode impedir o que está prestes a acontecer,
a menos que me entregue a espada. Ela irá definhar, de dentro para fora.
Sorri com malícia. Coitado. Eu odiava decepcionar.
— Deve ser muito frustrante para você, como o rei e o irmão mais
velho, saber que todo esse poder não te tornou mais inteligente. —
caminhei até Vênus e me coloquei atrás dela, colocando minhas mãos
em seus ombros, percebendo que ela estava fria. — Não a matará,
irmão.
— Ah, não?
— Não. — afirmei, sem qualquer humor. — Porque o que você
deseja está bem aqui, dentro dela.
Ver a expressão de superioridade desaparecer de seu rosto me deu
tanto prazer que quase ri.
— O que você fez? — ele perguntou, ficando de pé, agitado.
Massageei o ombro de Vênus.
— Você realmente acha que eu deixaria um bem tão valioso exposto
para que você o usasse contra mim? Para me enfraquecer?
— A espada…
— Eu não estou falando da espada. — ele ficou pálido, se é que um
demônio pode ficar pálido. — Agora, remova esse maldito feitiço da
minha mulher, e talvez, apenas talvez, eu te deixe vivo para que
possamos, eventualmente, chegar a um acordo. — ele engoliu em seco.
— O que acha?
Rapidamente, sem desviar os olhos vermelhos de mim, ele estalou os
dedos, fazendo Vênus soltar o ar preso e voltar ao normal.
— Está tudo bem. — murmurei em seu ouvido. — Tudo ficará bem.
Saí do lugar e me sentei calmamente na cadeira, enchendo minha
taça de vinho. Dei um gole e olhei para Lúcifer, vendo-o expressar ódio
em seu rosto.
— Eu vou te matar, Asmodeus. — rugiu entre dentes. — Eu deveria
ter te matado naquele dia, quando tive a chance.
— Sim, realmente deveria. — concordei. — Mas você foi tão gentil
que acolheu o seu lado humano e me aceitou.
Ele sorriu de forma vazia, sem qualquer humor.
— O que você quer? — perguntou.
— O óbvio.
Ele riu.
— O trono? — não respondi e ele gargalhou. — Você realmente
acha que eu entregaria o trono para um mestiço? — olhei para Vênus,
vendo sua expressão franzida. — Ah, ela não sabe, não é?
Voltei a olhar para ele impacientemente.
— Se quiser falar, vá em frente, mas saiba que morrerá antes de
pronunciar uma palavra. E você sabe, irmão, eu posso fazer isso.
Ele tentou manter sua postura, fingindo que não estava preocupado,
e talvez não estivesse. Lúcifer era o mais forte de nós, era sangue puro,
metade demônio e metade arcanjo. Se lutássemos ali, ele facilmente me
derrotaria, me esmagando, mas ele não era tolo.
Lúcifer entendia o que eu queria dizer sobre a espada.
— Se eu matar ela, a espada desaparece, e se eu matar você… A
espada também desaparece. — disse. — Muito inteligente, admito.
Então, você quer me forçar a assinar um contrato dizendo que o trono é
seu?
— Não, seria muito fácil. — passei a ponta dos dedos pela mesa. —
E se… Mammom morresse?
Ele riu.
— Quer que eu mate por você? — questionou em zombaria. — O
que foi? Você não é tão poderoso assim? Você tem a espada, pode matá-
la.
— É, eu posso. — estiquei minhas pernas colocando os cotovelos
sobre o braço da cadeira. — Mas, ultimamente tenho sido preguiçoso
demais, tenho preferido me cansar com outras coisas. — olhei para
Vênus. — Coisas carnais.
Ela quase riu, vi seu lábio se contorcer, mas ela se conteve.
Lúcifer assentiu.
— E depois? Vai tentar lutar comigo?
Dei de ombros.
— Talvez, quem sabe. Mate Mammom, e lutaremos pelo trono como
deve ser. Sem espadas.
Ele me analisou.
— Como vou saber se está falando a verdade?
Soltei uma risada nasal.
— Não pode, nós dois sabemos como mentimos bem. Mas você não
tem opções, não é?
Ele me fuzilou com o olhar.
— Seu cretino, filho da puta. — xingou.
Sacudi o ombro.
— Não conheci minha mãe, sorte sua.
Foi num piscar de olhos que Lúcifer desapareceu nas sombras. Tinha
dado certo a maneira de afastá-lo, mas sabia que não seria por muito
tempo.
Olhei para Vênus e vi seus lábios se abrirem.
— Não faça perguntas. — falei e ela fez uma careta.
— Você sabe que eu preciso saber o que diabos aconteceu aqui, não
é? — a encarei. — O que era aquilo da espada? E por que ele te
chamou de mestiço?
Levantei-me e ela me seguiu com os olhos enquanto eu me
aproximava. Puxei a cadeira dela e a coloquei de frente para mim,
enquanto ela continuava me observando. Inclinei-me para acariciar seu
rosto, afastando uma mecha de cabelo para trás de sua orelha, sentindo
arrepios com o contato de nossa pele.
— Não sei se é o vestido, mas você fica muito atraente quando está
no comando. — sussurrei, levando meus lábios até sua orelha e dando
uma mordida leve.
— Vinci… — ela gemeu meu nome, segurando a cadeira com força.
— Porra, planetinha. — excitei. — O som do seu gemido me deixa
extasiado.
A peguei rapidamente e a coloquei em cima da mesa, fazendo tudo
balançar, e a pus ali, diante dos meus olhos. Ela pausou, soltando um
gemido suave, e quando levantei o tecido de seu vestido com minhas
mãos, vendo sua pele se arrepiar, fui eu quem gemeu.
Ela abriu as pernas de forma que eu pudesse contemplar sua boceta
através do tecido, e quando rasguei sua calcinha e ela gemeu, meu pau
latejou dentro das calças.
— Esse é um bom momento para transarmos? — ela perguntou
ofegante.
— Sempre é um bom momento para transar com você, planetinha.
Ela mordeu os lábios e senti minha boca salivar ao olhar para sua
vulva vermelha, sem nenhum pelo. Seu cheiro e seu pulso aumentaram
meu desejo.
— Vou te chupar como se eu fosse um cachorro lambendo um osso,
e é proibido fechar as pernas, entendeu?
Ela assentiu, e me enfiei no meio das pernas dela, começando a
lamber sua intimidade com vontade. Senti seus gemidos ficarem mais
intensos a cada movimento da minha língua, e seu corpo se contorcer
de prazer sob o meu toque. Enquanto a chupava vorazmente, minhas
mãos apertavam suas coxas com força, deixando marcas avermelhadas
em sua pele macia.
Ela segurava a borda da mesa com força, seu corpo se entregando
totalmente ao prazer que lhe proporcionava. Cada vez mais molhada,
sua excitação escorria sobre minha língua, com um gosto delicado e
suado, me deixando ainda mais faminto por ela. Eu a devorava com
desejo e paixão, querendo levá-la ao ápice.
Enquanto a estimulava com minha boca, comecei a acariciar seu
clitóris com os dedos, em movimentos firmes e rápidos. Ela se
contorcia ainda mais, seus gemidos cada vez mais altos e
descontrolados.
Ela não ousou fechar as pernas, estremecendo o corpo e eu duvidava
que alguém já havia a chupado daquele jeito.
As mãos dela se prenderam em meu cabelo, e ela afundou a minha
cabeça para baixo, aprofundando ainda mais a sensação de prazer que
ela estava experimentando. Eu me entreguei completamente, usando
minha língua para explorar cada centímetro dela, provocando-a.
Ela gemia e se contorcia, incapaz de controlar as sensações
avassaladoras que percorriam seu corpo.
Eu estava muito mais excitado do que podia, sentindo meu pau
latejar, louco para entrar naquela buceta quente e gostosa, mas ela não
me soltava, afundando mais a minha cabeça.
— Isso, assim! Me chupa sem parar! — implorava.
Eu sentia sua excitação pulsando contra minha língua, e gemi
involuntariamente.
— Eu vou gozar! — exprimiu, quase chorando e eu amava.
Toda vez que Vênus estava transando, ela chorava e aquilo mostrava
o quanto gostava, se entregava.
Eu queria dizer para que ela gozasse na minha boca, mas estava
ocupado no momento, com a boceta ardente em minha boca, louco de
tesão.
Sem aviso, ela foi consumida por uma convulsão intensa de prazer,
suas pernas tremendo e seu corpo arqueando para cima. Eu continuei a
estimulá-la delicadamente, prolongando seu êxtase até sentir o seu gozo
quente em minha boca, um gosto tão delicioso que eu não sabia como
decifrar.
Suguei tudo, sem receio e fui me afastando.
Ela permaneceu ofegante, os olhos brilhantes e o corpo ainda
tremendo. A expressão em seu rosto era de pura satisfação, enquanto eu
observava encantado com a visão, sabendo que eu amava aquela
expressão safada no rosto dela.
Ainda tomada pelo prazer, ela estendeu a mão em minha direção, e a
ajudei a sentar-se à mesa. Meus lábios encontraram os seus, e pude
sentir o gosto do seu próprio prazer em seu beijo.
Ela segurou firmemente minha nuca, soltando gemidos em meus
lábios enquanto suas pernas se entrelaçavam em torno de mim. Eu
agarrei sua cintura delicada, puxando-a mais para perto de mim,
enlouquecido com o sabor dela.
— Diga… — ela murmurou, deslizando as mãos até meu pau por
cima da calça, o simples toque fez com que eu me encolhesse e soltasse
um rosnado. — Diga que me deseja loucamente.
Soltei um gemido, semelhante à de um animal.
— Eu te desejo intensamente! — eu falei, estreitando os olhos com
as massagens habilidosas dela em meu membro.
— Diga mais.
— Mm… Eu adoro sua buceta, adoro ouvir seus gemidos! —
observei o rosto dela, já vermelho e com um sorriso malicioso. —
Caramba!
Desabotoei minha calça para liberar meu pau, que já estava pulsando
e duro, ansiando por ela, ávido para encontrar o caminho quente e
apertado.
Ela rapidamente se livrou do vestido, expondo os seus seios que
balançaram diante dos meus olhos, me deixando excitado como um
gatinho pronto para brincar. Ela sabia o efeito que tinha sobre mim e
provocativamente os massageou enquanto mordia os lábios, claramente
desejando que eu a penetrasse.
Eu tirei minha camisa e a puxei para mais perto, segurando meu pau
e o inserindo na sua bocetinha quente, resultando em um gemido de
prazer e quase me fazendo gozar ali mesmo, devido à apertada entrada.
Ela agarrou minha nuca enquanto seu peito roçava em meu rosto, me
fazendo chupar um deles. Eu empurrei meu membro um pouco mais
fundo e ela estremeceu, soltando um gemido alto e me apertando com
mais força enquanto mordia minha pele.
Uma sensação avassaladora de desejo desconhecido me consumiu,
então movi minha cintura para sentir a intimidade dela pulsando em
torno do meu membro.
— Você é gostosa! — gemi, segurando um dos seios com uma mão e
mantendo o outro em minha boca enquanto salivava nele.
Eu penetrei mais fundo e logo meu pau estava completamente
envolvido naquele paraíso apertado, inundado pelo prazer que ela me
proporcionava, como um rato que mergulha em um oceano delicioso,
sem a possibilidade de escapar.
Ela gemia e mordia meu ombro, suas unhas cravadas na minha pele,
marcando um caminho que jamais seria esquecido.
— Eu sou sua. — sussurrou, sem que eu precisasse implorar para
que dissesse isso, o que só me deixou ainda mais animado para possuí-
la.
Eu a penetrei com mais força e ela choramingou, sacudindo-se em
torno do meu pau.
— Tudo em mim é seu, e você é meu! — sua voz trêmula pelo
movimento do seu pequeno corpo me incentivou a não parar.
Eu olhei fixamente para ela, segurando seu queixo e notando a
expressão de prazer em seus olhos.
— Eu sempre fui seu. — falei, enfaticamente.
Coloquei minhas mãos em sua bunda e as apertei firmemente para
erguê-la um pouco e garantir o encaixe perfeito.
Ela gemeu de excitação, tão excitada ao ponto de querer gritar.
— Não pare! Me faça gozar!
Continuei a penetrá-la mais profundamente, sentindo cada contração
da sua boceta ao redor do meu pênis, que já estava pulsando dentro
dela.
— Ah… — grunhi como uma besta quando ela apertou minha
ereção com sua vagina, algo que me enfraqueceu de alguma maneira
inexplicável. — Oh, caralho!
Eu estava prestes a gozar, não conseguia mais segurar, mesmo que
não quisesse, era impossível resistir com ela apertando meu pau
daquela forma.
Grunhi alto e apertei a mesa, quebrando a madeira e fazendo um
pedaço dela se espatifar em pequenos pedaços, e senti novamente
aquela sensação prazerosa me consumir, onde eu não precisava me
drogar para enlouquecer.
Vênus me abraçou com força, sabendo que eu havia alcançado o
orgasmo, e minha testa suada se encontrou com a pele molhada dela.
O som da nossa respiração só foi interrompido pelo ranger do resto
da mesa se quebrando, o que me fez puxar Vênus para o chão antes que
ela se machucasse.
Quando aterrissamos no chão, ela soltou uma risada enquanto olhava
para o teto e ver seu sorriso foi uma das coisas mais maravilhosas que
eu, alguém como eu, merecia presenciar.
Aquele milagre, somente eu pude testemunhar em primeira mão. Eu
poderia me gabar para os demônios ou para os anjos?
Ainda sorrindo, ela se virou para mim.
— O que foi? — perguntou, com a testa franzida a me ver
imobilizado.
— Eu nunca estive no paraíso. — mencionei. — Mas, com certeza, o
seu sorriso é a definição dele. — ela ficou em silêncio e o sorriso
desapareceu. — Por favor, sorria para mim mais vezes, somente para
mim, não ouse sorrir para mais ninguém.
— Por que? — indagou.
— Porque eu incendiaria o mundo se alguém sentisse o que estou
sentindo agora quando você sorri.
Vênus não respondeu, apenas continuou me olhando fixamente, e
naquele momento, sentindo uma palpitação diferente no meu peito, eu
soube.
Droga, eu estava muito fodido!
Capítulo 30
Vinci encarava Belial naquela sala com olhos enfurecidos, sem nem
tentar esconder a vontade de matá-lo ali mesmo, enquanto Belial
permanecia com a cabeça baixa, ocasionalmente sorrindo constrangido.
O clima estava carregado e eu podia sentir o calor intenso no ar,
sabendo que precisava intervir.
No entanto, quando tentei falar, as palavras não saíam.
— Você parece estar bem. — disse Belial, olhando para mim. —
Considerando que você está viva. — acrescentou ele, rindo sem graça.
— Como ousa? — questionou Vinci, fazendo Belial engolir em seco.
— Você entra no inferno e resgata minha garota, leva-a com você e
desaparece, deixando-a para morrer sozinha?
— Eu posso explicar. — tentou Belial.
Belial ainda olhava com atenção para o objeto estranho, que, sob a
luz, parecia ser feito de um cobre antigo, um dourado já desgastado.
— Você sabe o que é isso? — questionou Vinci, com os braços
cruzados e expressão carregada.
— Já vi algo parecido antes. — murmurei, tentando recuperar
minhas memórias.
— Onde? — perguntou Belial, mostrando sua curiosidade no olhar.
— Eu… — fechei os olhos e minha voz invadiu minha mente
enquanto eu gritava por Marte e lutava com o homem. — É isso! —
abri os olhos. — Essa coisa estava tatuada na mão do homem que atirou
em Marte.
— Tem certeza? — indagou Vinci.
Assenti.
— Tenho.
Ele se sentou e analisou o objeto.
— Talvez seja algo relacionado à gangue dele, uma espécie de
símbolo da máfia. — ponderou Vinci.
— Não é a marca de uma máfia. — disse Belial. — Isso aqui é um
símbolo da antiga igreja dos santos. — mencionou. — Já vi isso antes,
há um tempo. — notei o desconforto em sua voz.
— Símbolo de uma antiga igreja? — questionou Vinci.
— Sim, você não conhece por… — ele fez uma pausa e me encarou
antes de responder. — Por razões pessoais.
Olhei para Vinci e ele assentiu, percebendo que ainda estava
escondendo coisas de mim.
— Então? — encarei Belial. — O que isso significa?
Belial suspirou, parecendo preocupado.
— Antes, quando tudo ainda era escuridão na terra, um grupo de
homens criou uma seita religiosa para combater as forças do mal,
alegando possuir poderes divinos para isso. — explicou. — Eram seis
homens que percorriam o que restava da terra em busca de demônios.
— Exorcismo? — perguntei com desconfiança, e ele confirmou com
a cabeça.
— Exorcistas. — disse. — O grupo estabeleceu uma igreja e acabou
levando todos, homens, mulheres ou crianças que pareciam estar
possuídas. Mulheres foram queimadas como bruxas, e homens… — Ele
olhou para Vinci. — Exorcizados. — Fiquei paralisada. — Eles
acreditavam que poderiam purificar a alma dos possuídos, mesmo que
isso os levasse à morte, para levá-los ao reino dos céus.
— Malditos fanáticos religiosos! — murmurou Vinci.
— Então, esse pessoal faz parte dessa antiga seita? — perguntei.
— Sim, se eles têm isso. — Ele apontou para o símbolo.
— Mas, por que iriam querer me intimidar? — pensei em voz alta.
— O homem atirou em Marte e agora me chama de Bruxa? Por quê?
— Não é por sua causa. — ele respondeu, olhando para Vinci. — Se
você não contar, eu conto.
Olhei para Vinci e o vi aflito e calado.
— Contar o quê? — perguntei, e ele suspirou, mordendo os lábios.
— Vinci?
— Vou deixar vocês a sós. — disse Belial, levantando-se. — Vou ver
o que mais encontro.
Ele saiu da mesa e olhei para Vinci, que se levantou, foi até o bar e
pegou uma bebida.
Ele estava evitando o assunto, mas não poderia mais escapar. Eu
percebi que era algo que o afetava profundamente, algo que o fazia
hesitar, e Vinci raramente hesitava.
Após encher o copo com bebida e gelo, ele se sentou de frente para
mim na cadeira, e me encarou, seus olhos vazios de profundidade.
— Eu não sou um demônio completo — ele disse, franzindo a testa.
— Não como meus irmãos — ele começou e fiquei em silêncio. —
Belial, Mammom e Belphegor nasceram como demônios. — explicou.
— Lúcifer se tornou um demônio, mas também é um arcanjo, e eu… —
fez uma pausa dramática…
— Você era humano — eu mencionei e ele assentiu.
— Sim, eu era humano — suspirou. — As coisas não são como os
humanos pensam. A possessão existe, mas em alguns casos, a pessoa
permite, tornando-se o hospedeiro perfeito.
— Então… Você está me dizendo que você permitiu que um
demônio entrasse em você?
— Não era apenas um demônio — pronunciou. — Era um ser
completamente obscuro — eu não sabia o que dizer. — Asmodeus não
se originou comigo, ele já estava lá, muito, muito antes de tudo. Muito
antes de qualquer terra ou céu. Ele só precisava do hospedeiro perfeito,
não para existir, para se tornar…
— O primeiro príncipe — eu terminei a frase, lembrando-me de
como Belial o chamava.
Ele assentiu.
— É por isso que eles estão aqui — disse. — Nunca foi sobre
dinheiro ou sobre o seu pai. Era sobre mim.
Um nó se formou em minha garganta.
— Então, o que Lucca e Lua têm a ver com isso?
Belial entrou na sala antes que pudéssemos continuar.
— Desculpe interromper, mas recebi uma ligação de um dos meus
contatos — falou com preocupação.
— E? — Vinci questionou.
— Mammom acabou de ser morta.
— Lúcifer a matou? — perguntei, era o acordo.
— Não… — Vinci respondeu. — Não foi Lúcifer.
Belial se curvou na mesa, completamente abatido.
— Estão nos caçando. Todos nós — murmurou apreensivo. —
Devemos nos esconder — afirmou. — Pelo menos até vermos o que
podemos fazer, como lutar.
— Como covardes? — interrogou Vinci.
— Belial tem razão — falei e ele me olhou. — Vinci, não sabemos o
quão poderosos eles são, não sabemos nada, e o pouco que pensamos
que sabemos não é relevante. Não é covardia, é estratégia.
Ele pareceu odiar aquilo, mas sabia que Belial e eu estávamos certos.
— Eu conheço um lugar seguro, onde eles não podem nos encontrar
— disse Belial.
— Onde? — perguntou Vinci.
— No inferno.
Aquilo me deixou apreensiva, eu conhecia muito bem o inferno e
suas terras sombrias, mas qual outra opção tinha? Vinci concordou, e eu
subi as escadas para fazer minhas malas. Confesso que estava com
medo de tudo aquilo.
Se aquela seita era tão poderosa, poderia nos encontrar em qualquer
lugar. E quanto a Lucca e Lua? O que eles estavam fazendo com aquela
gente? Será que aquele homem lhes prometeu algo? E Marte? Ele
estava seguro naquele lugar?
Minha cabeça doía, com tantas questões rondando.
O fato de Vinci ser o alvo principal me deixava nervosa,
especialmente quando sabia que ele já havia sido humano, que ainda era
humano. Eu não sabia o que fazer, estava sendo sufocada por uma onda
de terror.
— Seu ratinho vai ficar bem. — disse Vinci, parado na porta e o
notei, suspirando.
— Não sabe disso. — mencionei preocupada. — Se eles são tão
poderosos dessa forma, podem facilmente encontrar o meu irmão e... —
meu coração gelou.
Vinci me analisou.
— Você não sabe mesmo, não é? — questionou e franzi o cenho.
— Do que?
— Sabe o motivo de aquele lugar ser tão protegido, que nem mesmo
eu consigo entrar? — perguntou e fiquei calada. — Hera, a deusa
protetora das crianças.
Meu rosto se contorceu.
— O quê? — pesquisei paralisada. — Uma deusa? — ele assentiu.
— Espera, está me dizendo que deuses existem e que uma deusa está
naquela escola?
— Seu amigo, o diretor. — disse e fiquei espantada. — Por que acha
que nenhum demônio ou anjo consegue entrar lá?
Fiquei petrificada, era por aquilo então que eu sentia que Daniel era
tão diferente. Não era para eu estar paralisada, já havia visto o bastante,
mas aquilo?
— Fique tranquila. — disse. — Hera é guerreira, e jamais vai deixar
que demônios, anjos ou homens machuquem suas crianças. — ele se
aproximou de mim e segurou a minha mão, com um olhar abatido. —
Planetinha... — olhei em seu rosto. — Você me acha um pecador por
ter cedido meu corpo para Asmodeus?
— Claro que não! — respondi sem hesitar, pois era verdade. — Você
fez o que achava certo, para se salvar daquele tormento. — ele me
olhou de cenho franzido e dei de ombros. — Eu sei um pouco sobre
aquilo. Eu vi.
— A conexão... — murmurou.
— É. — apertei sua mão e encarei seus olhos. — Então, não se
preocupe. Não te vejo diferente, e não vou te julgar.
Ele me chegou mais perto e beijou o alto da minha cabeça.
— Não vou deixar ninguém te machucar, eu prometo. — segurou
meu rosto. — Asmodeus gosta de você, e eu também.
— Eu sei. — assenti, mesmo que estivesse morrendo de medo por
todos nós.
— Estão prontos? — perguntou Belial da porta.
Suspirei e assenti, olhando para Vinci.
— Estamos. — respondeu.
Era uma mesa imensa, em uma sala que deu muito trabalho para
arrumar. Tinha uma variedade de comida, carne, pois os príncipes
gostavam. Arcon me ajudou com as luzes, música e as caixinhas
surpresas, que precisamos revirar por horas um cômodo cheio de tralhas
para encontrar.
Era um objeto singelo, mas que para eles faziam uma grande
diferença, e eu esperava que pudesse fazer com que eles revivem aquela
união. Aquele tempo com Arcon me mostrou que os príncipes já
haviam sido unidos um dia, e que a ganância havia corrompido seus
corações, bem pelo mesmo o coração de Vinci havia sido corrompido.
Eu não sabia em que parte da história ele havia se tornado aquele ser
ganancioso, mas ele tinha. Talvez, Mammom o tenha dito muitas
palavras ruins, ou Lúcifer tenha o infernizado até que ele se cansasse e
desejasse ser mais que um simples príncipe.
Eu não poderia julgá-lo, não sabia de toda a história, e somente ele
um dia poderia decidir se me contaria ou não.
Vesti um vestido branco longo, de alças finas, bem como Vinci
gostava. Prendi meu cabelo e esperei ansiosa que Arcon entrasse com
eles.
Quando a porta se abriu, Vinci foi o primeiro a entrar e analisar tudo
curiosamente, em seguida os outros dois entraram.
— Oh! — exprimiu Belial. — O que é tudo isso?
— Sentem-se rapazes. — ofereci, e Arcon foi os ajudando a sentar
em seus lugares.
Vinci me olhou dos pés a cabeça e sorriu de lado, e não precisava eu
querer ler a mente dele, pois eu sabia exatamente o que estava
pensando.
Eles se sentaram e me uni a Arcon.
— Eu e Arcon... — olhei par ele, que parecia flutuar de alegria.
Voltei para os rapazes. — Decidimos preparar esse jantar para vocês.
— Por quê? — questionou Belphegor.
— Por que vocês são irmãos. — falei de olhos nele. — Por que antes
de serem príncipes, tinham desejos. E eu gostaria muito que hoje, só
hoje, pudessem ser normais.
Vinci me olhou com um olhar grato e sorri.
— Na frente de vocês tem uma caixinha, e dentro dessa caixinha, te
algo para vocês. — eles olharam. — Abram antes do jantar.
Eu fiquei ansiosa quando eles começaram a abrir a caixinha dourada,
e eu queria poder acompanhar cada expressão deles.
— Não... — murmurou Belial e olhou para os irmãos que sorriram.
Vinci pegou a pequena pulseira feita de tampinhas de garrafa de
bebidas e riu, sendo acompanhado pelos irmãos.
— Lembram-se disso? — inquiriu Belphegor.
— Como se esquecer do nosso primeiro porre? — disse Belial e
Vinci riu.
— Eu não fiquei bêbado!
— Ah, qual é... — Belphegor riu. — Eu precisei te carregar até aqui.
Belial gargalhou.
— Eu me lembro disso.
— Eu não era tão pesado.
— Pesava mais que pedra.
Eles riram e olhei para Arcon, que fez um joia para mim.
Tinha dado tudo certo e eu queria muito que eles se divertissem.
Todo mundo precisava de um momento de paz, mesmo os demônios.
Todo mundo precisava relaxar, ainda mais com tudo o que vinha
acontecendo, eu sabia que havia feito à coisa certa quando vi os sorrisos
nos rostos.
Arcon ficou para servi-los como desejassem e eu saí, não queria
estar no meio, era um momento só deles e eu já me sentia muito feliz
por aquilo.
Um dia de sossego era tudo o que eles precisavam.
— Hey? — me voltei para trás para ver Vinci no corredor atrás de
mim.
— Hey. — dei um sorriso e ele se aproximou, enroscando as mãos
na minha cintura.
— Obrigado por aquilo. — me deu um beijo e fechei os olhos, quase
o convidando para cama comigo.
— Se divirta. — falei. — Aproveite, tem passe livre hoje. Mas, nada
de convidar demônias.
Ele riu.
— A única demônia da minha vida é você, não se preocupe. — ele
mordeu os lábios e gemeu. — Você está deliciosa nesse vestido, e eu
vou arrancá-lo mais tarde, então nem pense em dormir.
Deslizei a mão dele para o meio de minhas pernas e ele tocou lá,
fechando os olhos em um rosnado.
— Sem calcinha?
Sorri de lado.
— Minha intenção nunca foi dormir. — pisquei e me afastei. —
Agora vai.
Ele sorriu perverso e seus olhos verdes brilharam antes de sumir pelo
corredor.
— Céus! — abanei a mão em frente ao rosto. — Preciso de ar.
Caminhei para longe dali, pois até mesmo a presença de Vinci me
deixava excitada. Aquele ser era mesmo infernal.
Capítulo 36
Eu quase me matei por ter ferido Vênus, não era o que eu queria.
Mas, era difícil manter a calma quando nossos instintos eram
agressivos.
Houve um tempo em que eu amava a ideia de ter irmãos, pensei que
seria algo especial e que pelo menos um pouco eu poderia me dar
aquele luxo, mas agora percebo o peso das responsabilidades que vêm
junto com eles.
Belphegor tinha razão, e a minha raiva era que eu não conseguia
esquecer as palavras dele.
Era tudo sobre mim, sempre foi sobre mim e sobre como eu sempre
quis o trono, passando por cima de quem precisasse para obter o que eu
queria, sem me importar com as consequências. Mas, as coisas haviam
mudado. Não se tratava apenas de mim e as agressões entre meus
irmãos, tínhamos Vênus agora.
Eu estava tão cego pela raiva e pela frustração que não percebi o
impacto que minhas palavras e ações estavam causando nela. Acho que
nunca entendi completamente as consequências de minhas ações até
esse momento. Eu cometia erros constantemente, sem me importar com
o quanto isso afetava aqueles ao meu redor, até chegar nela.
Eu não queria me gabar de que, se ela se ferisse, eu poderia trazê-la
de volta, pois eu não queria que ela se machucasse. Os ferimentos
físicos poderiam ser revertidos, mas os ferimentos em sua alma nunca
poderiam, e era isso que me deixava em pânico.
Em um momento, eu desejava corromper sua inocência e fazê-la se
unir a mim nas trevas, mas em outros momentos, como agora, eu só
quero que ela fique longe e não se machuque.
A droga da consciência era um carma maldito!
Eu estava começando a me sentir mais como um idiota humano do
que como um rei perverso das trevas.
— Como assim eu não vou? — questionou em absurdez, enquanto
eu vestia minha roupa.
— Você não vai, planetinha e ponto.
— Eu posso ser útil! Você não pode me prender aqui.
— Eu posso e eu vou. — afirmei e ela me olhou com a boca
entreaberta. — É perigoso, e aqui no inferno você vai estar segura.
— Não. — negou algumas vezes. — É perigoso para você lá fora,
pois estão atrás de você para exorcizar e não de mim!
— Já se esqueceu de que ele te chamou de bruxa e disse que você ia
queimar?
Ela revirou os olhos, impaciente.
— Não podem queimar uma pessoa inocente. Sem ofensas. — dei de
ombros. — Não quero que você vá sozinho. E se... E se algo acontecer
com você? E se...
Segurei o rosto dela ouvindo o bater desesperado do seu coração.
— Eu não estou sozinho. — falei. — Tenho dois príncipes poderosos
ao meu lado, e eu sou quase um rei, já se esqueceu?
Ela não parecia tranquila, conseguia notar no olhar dela, mas eu
sabia que ia aceitar aquilo, mesmo que não fosse verdade aquela
aceitação.
Tudo bem. Era o que ela diria.
— Tudo bem. — disse com um suspiro. — Mas, me promete que vai
voltar pra mim? — os olhos me aprofundaram. — Independente do que
aconteça, vai voltar para mim?
A intensidade do seu olhar me cortou a alma, mas eu não podia
prometer o que não sabia se seria capaz de cumprir.
— Eu darei o meu melhor para voltar para você, eu prometo.
Ela negou, com os olhos marejando.
— Não, Vinci... — segurou meu rosto. — Tem que prometer que vai
voltar. — piscou. — Eu não sei fazer mais nada da minha vida se eu
não tiver você. — um demônio podia desmaiar? — Você é tudo o que
eu tenho, e você não pode me deixar. Entendeu?
Apesar de temer tanto quanto ela, e de não conseguir mentir tanto
para ela, eu sabia que não poderia deixá-la desamparada e com medo.
— Tudo bem, meu pequeno planeta. — beijei sua testa e ela agarrou
minha camisa com tanta força que quase rasgou o tecido. — Eu vou
voltar para você.
Foi como um golpe ser obrigado a deixá-la ali, sem poder
acompanhá-la de perto, mas eu sabia que ela estaria segura naquele
lugar e que eu precisava lutar lá fora.
— Está assustado? — pesquisou Belial ao meu lado enquanto
andávamos na rua escura, indo rumo a um galpão abandonado.
— Mentiria se dissesse que não.
— Um demônio que não mente? — Belphegor zombou. — Essa é
nova.
Soltei um sorriso nasal.
— Muitas coisas mudaram no meu lado demônio.
— É por causa da nossa garota, não é? — Belial encostou-se em meu
ombro e fiz uma careta.
— Nossa garota?
— Ah, qual é... — murmurou Belphegor. — Ela é nossa, pois tocou
cada um de nós de um jeito único. — eu podia matá-lo, seria uma boa
ideia.
— O preguiçoso tem razão. Vênus nos tocou de um jeito único.
— Eu nunca pensei que pudesse me afeiçoar a uma humana como
me afeiçoei a ela.
Parei de caminhar e encarei os dois.
— Vamos esclarecer as coisas, irmãos. Ela não é de vocês, ela é
minha. — afirmei. — Não tem essa de nossa garota, ela é minha garota,
e eu acho bom vocês guardarem essa excitação dentro da calça de vocês
para que eu não tenha que arrancá-las. Fui claro?
Ele se olharam e riram, me deixando confuso.
Belial tocou meu ombro.
— É, eu acho que você está apaixonado por ela.
— Você ainda acha? Eu tenho certeza. Posso ser preguiçoso, mas sou
um bom observador.
Fiquei paralisado de cenho franzido, tentando processar as palavras
de Belial. Eu estava apaixonado por Vênus? Essa ideia parecia absurda
para mim. Eu não tinha tempo para sentimentos, especialmente por uma
humana. No entanto, ao me lembrar dos momentos que passamos
juntos, algo dentro de mim despertava.
Eu não podia negar que a presença de Vênus mexia comigo de
maneiras inexplicáveis. Sua voz suave e seu sorriso encantador eram
capazes de iluminar meu espírito sombrio. Mas, aquilo não significava
que eu estava apaixonado. Não é? Eu nem sabia o que era aquele
sentimento.
— Vocês estão enganados, irmãos. Não posso estar apaixonado por
ela. Eu sou um demônio, não posso sentir esse tipo de coisa. — minha
voz soou incerta, revelando minhas próprias inseguranças.
Belial colocou a mão no meu ombro, olhando-me com compreensão.
— Asmodeus, não importa o que somos. O amor não escolhe lados,
não se importa com nossa origem. Você tem o direito de sentir e ser
amado. Não deixe que sua natureza esconda o que você realmente é.
Senti um misto de emoções dentro de mim, uma confusão de
sentimentos que eu nunca havia experimentado antes. Era aterrorizante
e fascinante ao mesmo tempo.
— Sem querer atrapalhar o momento romântico, mas temos
campainha. — disse Belphegor e arranquei meus pensamentos para ver
homens armados adiante.
— Tem cinco para cada um. — falei, analisando que usavam espadas
e de certo estavam banhadas em água santa. — Eu faço as honras.
Abri minhas asas e comecei a voar em direção aos homens armados.
Enquanto me aproximava, pude sentir a intensa presença do sagrado
nas espadas que empunhavam. Sabia que a única forma de vencê-los
seria utilizando meus poderes infernais.
Com um movimento rápido, invoquei chamas infernais e as lancei
em direção aos homens. As chamas envolveram suas espadas, fazendo
com que a água santa fosse rapidamente consumida pelo fogo infernal.
Os homens gritaram de dor e surpresa, enquanto eu aproveitava a
distração para me aproximar ainda mais.
Com uma velocidade sobre-humana, desferi golpes precisos com
minhas garras demoníacas, neutralizando cada um deles com um único
movimento. A batalha foi rápida, mas intensa. Após derrotar os cinco
homens, voltei minha atenção para Belphegor, que observava a cena
com um sorriso malicioso.
— Impressionante, como sempre, irmão. — disse ele, enquanto
caminhava em minha direção. — Você é realmente digno do título de
Príncipe dos Infernos. — os olhos ficaram vermelhos e vi chifres
saírem. — Minha vez.
Belphegor avançou na direção dos outros homens com uma
velocidade igualmente sobrenatural. Seus movimentos eram ágeis e
suas garras demoníacas reluziam com um brilho maligno.
A lâmina das espadas era ágil, e cortavam o ar em velocidade antes
de descerem, mas nenhuma vez acertou Belphegor.
Ele se abaixou ali não e com a ponta dos dedos, fez com que uma
fenda se abrisse e espíritos saíssem, levando todos os homens para a
terra seca.
— Aquele de coração negro descerá até os confins do submundo e
presenciará a escuridão eterna. — murmurou e assenti.
— Livros dos demônios. — mencionei e ele riu.
— Impressionante os dois. — disse Belial. — Mas, é a minha vez
rapazes. — os olhos ficaram laranja feito chama. — Vejam e aprendam.
Belial avançou em direção aos homens restantes com uma rapidez
vertiginosa, deixando um rastro de fogo por onde passava. Suas mãos
emitiam chamas ardentes, que envolviam suas vítimas em um abraço
infernal. Cada golpe certeiro dos punhos de Belial deixava marcas
incandescentes nas peles dos adversários, que se contorciam em agonia.
Seu poderoso rugido ecoava pelo lugar, demonstrando sua supremacia
sobre os demais.
Alguns corpos começaram a se contorcer, e foi questão de segundos
para que um a um dos cincos, não sobrasse nenhum de pé, explodidos
ao ar e causando uma bagunça.
— Adoro cheiro de carnificina. — riu.
Foi bom, mas tínhamos que entrar e libertar Lúcifer e o galpão não
estava tão longe.
Nos movemos para o lugar escuro, esperando encontrar armadilhas
antes que conseguimos chegar até onde Lucífer estava.
Cada passo que dávamos era feito com cautela, nossos sentidos
aguçados, prontos para qualquer emboscada. Os corredores sombrios
pareciam intermináveis, e a tensão no ar era quase palpável.
Enquanto caminhávamos, nada se ouvia e para um lugar onde uma
seita deveria estar àquilo era muito quieto.
— Não está quieto demais? — Belphegor observou, os olhos
brilhando no escuro.
Não respondi, até finalmente sentir a energia enfraquecida de
Lúcifer, do outro lado de uma porta enferrujada.
— Ele está aqui. — falei e Belial arremessou-se contra a porta,
abrindo-a.
O cheiro de mofo e podridão invadiu nossas narinas enquanto nossos
olhos se ajustavam à escuridão manchada de sombras.
Logo avistamos a silhueta de Lúcifer, acorrentado e enfraquecido.
Ele levantou os olhos em nossa direção em um misto de alívio e
pavor.
— Não... — gemeu sem forças. — O que estão fazendo aqui, seus
idiotas!
Enquanto eu ia tirando a corrente dos pés, Belial ia se livrando da
corrente dos punhos e Belphegor o segurava.
— Um obrigado já era o bastante. — resmungou Belial.
Quando soltamos as correntes, ele caiu feito pedra nos braços de
Belphegor e riu, um sorriso ensanguentado.
— Vocês vieram por mim.
— Não por querer. — olhei ao redor notando que algo não estava
certo. — Tem algo errado. — murmurei.
— Vamos tirar ele daqui antes que alguém entre. — sugeriu
Belphegor e se levantaram, firmando Lúcifer.
— Onde está sua alma? — perguntei me aproximando.
— Levaram. — respondeu. — Vocês não deviam ter vindo, seus
idiotas! Não aprenderam nada do que ensinei?
— O que...
— Armaram para vocês. — disse. — Estão invadindo o inferno
agora. — Paralisei, sem conseguir respirar direito. — Com minha alma,
eles podem tudo agora.
— Vênus...
Capítulo 38