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DANI MEDINA

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Todos os direitos reservados.

Direitos reservados à autora dessa obra. Nenhuma parte dessa obra pode
ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios
(eletrônicos ou mecânico, incluindo fotocópia de gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da autora.
A violação de direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Capa: Fox Assessoria
Revisão: Carina Barreira
Diagramação: Carina Barreira
Leitura Crítica: Jenniffer Fógos

Conteúdo adulto.
Proibido para menores de dezoito anos.
Sumário

DEDICATÓRIA

MENSAGEM DA AUTORA

AGRADECIMENTOS

AVISOS

AVISO II

AVISO III

SINOPSE

PRÓLOGO

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9
Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27
Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Capítulo 36

Capítulo 37

Capítulo 38

Capítulo 39

Capítulo 40

Capítulo 41

Capítulo 42

Capítulo 43

Capítulo 44

Capítulo 45
Capítulo 46

Capítulo 47

Capítulo 48

Capítulo 49

Capítulo 50

Capítulo 51

Capítulo 52

Capítulo 53

Capítulo 54

Capítulo 55

Capítulo 56

Capítulo 57

Capítulo 58

Capítulo 59

Capítulo 60

Capítulo 61

Capítulo 62

Capítulo 63
Capítulo 64

Capítulo 65

Capítulo 66

Capítulo 67

Capítulo 68

Capítulo 69

Capítulo 70

Capítulo 71

Epílogo

SOBRE A AUTORA

OUTRAS OBRAS
DEDICATÓRIA
A você que deixou de ter medo dos monstros debaixo da cama,
quando descobriu que é uma delícia ter seu corpo quente sobre ela.
MENSAGEM DA AUTORA

Aquela caverna
triste, fria e sombria
é seu espelho.
Marcelo Santos Silvério
AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha eu de 2020 e a promessa feita a mim de jamais


desistir, que com sua insistência irritante por vezes me levantou a chutes da
cama e me fez escrever, sem ela Anônimus ainda seria um arquivo
incompleto no meu computador e eu seria uma autora frustrada, cansada,
xoxa e capenga.
De forma especial à minha amiga autora Jô Magrini, que foi
inspiração e inspiradora segurando minha mão todas as vezes que as
pancadas me atingiam.
A todos os meus leitores e amigos que entenderam meu momento e
torceram por mim quando precisei me afastar.
“A gratidão é a forma de demonstrar que somos afortunados por
termos o privilégio de viver ao lado de pessoas que nos enxergam quando
acreditamos ser invisíveis.”
Obrigada pelo carinho de todos vocês!
Dani Medina
AVISOS
ESTE LIVRO É UM DARK ROMANCE, NÃO BUSQUE
POR UMA HISTÓRIA DE AMOR QUE TE ARRANQUE
SUSPIROS, O QUE ENCONTRARÁ É AGONIZANTE,
DESESPERADOR E INCÔMODO.
Existem gatilhos de todas as formas possíveis, e confesso que
gostaria de deixar vocês no escuro, mas ler ANÔNIMUS será a
SUA decisão e não minha, espero que esteja preparada(o) para
caminhar por um lugar desconhecido e só então a cada página
descobrir junto com os personagens a enxurrada de coisas que
serão reveladas aos poucos.
Se temas como:
TDI Transtorno Dissociativo de Identidade;
Sexo de impacto e consentimento duvidoso;
Cenas de violência extrema: física, psicológica, verbal e moral;
Intenção de pedofilia;
Canibalismo pontual;
Mais uma vez, aviso:
EXISTEM TODOS OS GATILHOS POSSÍVEIS NESTE
LIVRO, SE ISSO TE INCOMODA, NÃO O LEIA.
Caso seja curiosa demais, assim como eu, desejo que se surpreenda
com esse casal nem um pouco convencional.
PS: A autora não compactua, tolera ou aceita o que é retratado
em sua história.
AVISO II
Tenha certeza de estar ciente de que tudo que foi escrito neste livro
não pode ser romantizado, estes personagens são distorcidos, mórbidos e
com pensamentos irreais do que se pode ser tomado como natural ou
normal. ISSO NÃO É E NEM PODE SER TIDO COMO FOCO DE
RELACIONAMENTO, nenhum ser abusivo mudará por amor, se
encontrar alguém que te machuque com palavras e atitudes, sejam elas
físicas e psicológicas, FUJA E DENUNCIE.
O livro é incômodo e muitas vezes angustiante e este é o foco,
Anônimus não poderia ser retratado de outra forma, afinal todos que
acompanham a série já conhecem o jeito que um Obscuro se comporta.
OUTRA VEZ EU AVISO, NÃO LEIA ESTE LIVRO
BUSCANDO ROMANCE, NÃO EXISTE NADA DISSO DE UMA
FORMA SAUDÁVEL AQUI.
AVISO III
Pelo que vejo, se chegou até aqui é porque está disposta(o) a ler a
história sombria de Anônimus e Morgana, novamente vou avisar, SE FOR
SENSÍVEL A HISTÓRIAS QUE CONTÊM GATILHOS DIVERSOS
NÃO LEIA ESTE LIVRO.
Se for sensível a temas que trazem o pior lado de um ser humano se
é que podemos chamar Anônimus assim, NÃO LEIA ESTE LIVRO.
Estou alertando pela terceira vez e isso não é um treinamento, ou
apenas para te fazer ler por curiosidade, não quero ter que ouvir depois que
este livro é isso ou aquilo, ele foi um pedido de minhas leitoras e por elas eu
quis mostrar um lado que ninguém costuma mostrar. ANÔNIMUS
consegue ser pior que os Anjos, ele é uma mistura sombria de todos eles, é
como se eu tivesse colocado em apenas um personagem a maldade explícita
de todos aqueles que escrevi até hoje e jamais tenha revelado de fato e ele
não sente nenhum remorso disso.
É por sua conta e risco.

Sua escolha.

Se nada disso importa, espero que consiga enxergar a luz no fim do


túnel. Aproveitem o processo e foquem no final feliz.
SINOPSE
Bem-vindo ao mundo de Anônimus, onde as linhas entre o herói e o
vilão são tão turvas quanto as sombras nas quais ele se esconde. Este
executor implacável, criado nas entranhas de uma máfia poderosa, é um
enigma vivo. Com um passado que se perde na escuridão e um futuro
incerto, ele vive um presente marcado por atos de violência extrema. Cada
missão é mais do que um trabalho; é um ritual desesperado em busca de
algo que possa silenciar as vozes torturadas em sua mente.
Mas então, ela surge. Morgana Dothraki: um desafio em forma de
mulher. Uma mistura intoxicante de inocência e perigo, ela é a luz que
ilumina a escuridão de Anônimus. Ele, um homem acostumado a quebrar e
dominar, encontra nela uma força que não esperava. Morgana não é apenas
uma presa; ela é o segredo que ele anseia desvendar.
Prepare-se para uma história eletrizante de desejo e poder.
Anônimus e Morgana embarcam em um jogo perigoso, um balé de
manipulação onde cada movimento pode ser o último. Ele planeja possuí-la,
quebrá-la, mas será que Morgana é realmente a vítima nesta dança mortal?
Neste dark romance, as regras do amor e da guerra são reescritas. A
cada reviravolta, a cada segredo revelado, você será puxado para mais perto
deste mundo onde paixões proibidas colidem com perigos mortais. E
quando Anônimus e Morgana se enfrentam, você entenderá: neste jogo, o
amor é a arma mais perigosa de todas.
PRÓLOGO

Antes...

No final de um dia exaustivo, tanto eu quanto meus irmãos estamos


sujos e com os paus esfolados de tanto foder todo e qualquer buraco que
nos foi oferecido usando apenas nossas máscaras demoníacas, até nos
dirigirmos aos vestiários e alguns minutos depois estamos prontos para
voltar aos nossos postos quando a voz do mestre nos põe em pé numa fila
perfeitamente alinhada.
— Obscuros, a lealdade de vocês vem sendo provada há anos, isso
não está sendo questionado aqui. — Atos Corte Real, mais conhecido como
Caveira Negra caminha à nossa frente, com as mãos para trás indo e vindo,
nos olhando nos olhos, que refletem o mal que ele carrega dentro de si. —
Mas algumas coisas precisam mudar. Como senhor de vocês desejo ter um
porta-voz, aquele que irá falar diretamente comigo sobre as necessidades e
vontades de todos os outros.
Com certeza todos nós estamos pensando a mesma coisa; por que
mudar algo que parece funcionar? Será que alguma coisa errada
aconteceu?
— Precisam me direcionar um líder, alguém que falará em nome de
todos, então aquele que se acha apto ao cargo precisa se revelar e tenho a
necessidade de que seja agora.
Meus irmãos e eu nos encaramos, sabemos conversar com apenas
um olhar, e apesar de negar quando todos me encaram concordando que
esse cargo é meu, eu nego. Não tenho capacidade para tal função, reportar
qualquer coisa que seja ao mestre seria loucura.
— Vamos, não tenho o dia todo, desejam que arranque suas
máscaras de demônio e escolha aquele que eu acredite ser o mais bonito de
vocês? — O poder que emana de sua voz nos mostra o motivo de ele ser
quem é.
Vejo um soldado com uma caixa preta na mão enquanto outro
segura um pacote maior, mas meu foco está nos soldados. Ouço o som das
botas dos meus irmãos baterem no chão, me fazendo entender o que acaba
de acontecer, a linha moveu-se para trás, me deixando um passo à frente de
todos, informando ao mestre que sou o representante que eles queriam.
Eu quero matá-los!
— Sempre soube que existiria entre todos, aquele pelo qual o
respeito de vocês fosse maior. — Parando à minha frente enquanto meu
corpo sofre pelos espasmos de medo que o encarar me causa, não desvio
meu olhar dos seus.
Com o sorriso mais diabólico do mundo ele faz um sinal e o soldado
se aproxima, o vejo abrir a caixa preta enquanto meu coração bate furioso
no peito esperando o que de pior possa vir desse ato. Quando sua mão retira
minha máscara seguida da minha balaclava preta, revelando a ele meu
rosto, os soldados abaixam suas cabeças por não terem autorização de nos
olhar dessa forma, e sei que não me olham porque se o fizessem um dos
meus irmãos poderiam matá-los sem a autorização prévia do mestre. Esta é
a lei.
— Para um líder precisamos de um nome, existe algum que goste?
— Apenas nego com a cabeça, eu não sou ninguém, não posso ter tamanha
audácia, escolher um nome é além do imaginado. — Previsível, mas é
indispensável. Eu sabia que não teria algo para mim, mas imaginei uma
coisa para você. Se chamará Anônimus, e esta é a sua máscara, seu novo
rosto, aquele que irá te distinguir dos seus irmãos.
O vejo se virar retirando a máscara dourada e preta da caixa e
estendendo em minha direção, a recebo colocando no meu rosto, é macia e
se encaixa perfeitamente como se tivesse sido moldada em minha pele.
— Confortável? — sonda
— Sim, mestre.
— Sua voz sai mais grave dela — me diz, dirigindo-se ao segundo
soldado que ainda mantém seus olhos baixos quando o vejo retornar com
um pequeno cão preto de olhos da mesma cor. — Anônimus, este é Anúbis,
ousei lhe dar um nome, pois acredito que seja propício para o dono, ele foi
um deus egípcio representante dos mortos e da mumificação. Anúbis é
conhecido como protetor dos túmulos e cemitérios, e guia dos mortos na
vida após a morte, participando também do julgamento no tribunal de
Osíris, um antigo deus egípcio, então espero que ele seja seu guardião, e
você o dele.
Aceno com a cabeça enquanto ele traz todas as informações.
— Andará na frente de todos os Obscuros, será reconhecido e
respeitado como o homem no comando quando eu não estiver presente, sua
palavra é lei. Irá se reportar somente a mim, as ordens que governam vocês
continuam as mesmas, apenas isso será modificado. Todos entendem a
importância de Anônimus? — Seu questionamento faz com que meus
irmãos batam as botas no chão apenas uma vez em resposta. — Importante
saber que entenderam. Estão dispensados!
Ele pega Anúbis devolvendo ao soldado, sei que ele estará
disponível no canil onde todos os outros estão.
Saímos na nova formação onde caminho na frente dos meus irmãos,
após nos apontar as saídas externas e não as subterrâneas, entendo que ele
quer que todos vejam o novo Obscuro, aquele que foi nomeado, enquanto
fazemos o percurso mais longo até a entrada da nossa morada no subsolo.
Sempre os vi passar, todos eles têm uma aura poderosa e sombria,
isso me atrai e apesar de os ver muito pouco, sempre que isso acontece é
um evento para mim. Já os vi em ação e um deles me chamou atenção, o
maior de todos, o único que não tem nem um milímetro de pele exposta,
diferente dos outros que mostram suas mãos e seus pescoços. Agora o vejo
caminhar à frente de todos os outros usando uma máscara dourada que faz
minhas pernas amolecerem, ele com toda certeza parece ainda mais perfeito
com ela.
Jamais o esqueceria, não depois de ter me salvado no pior dia da
minha vida, aquele que mudou todo o curso dela. Ainda posso sentir seus
olhos cravados em mim, eu tinha medo e ele tinha algo que jamais
conseguirei descrever. Ele não tinha nome, mas de todos os Obscuros era o
único com olhos azuis, sempre sabia quando era ele, sempre.
— Se continuar assim pode virar comida de Obscuros — Damon
sussurra em meu ouvido.
— Se ele for aquele que irá se alimentar de mim, estou pronta.
— Morgana! — o alerta que ele dá me deixa furiosa.
— Se não aguenta brincar, não começa. — Pisco diabólica enquanto
eles se aproximam caminhando de forma sincronizada e excitante.
Vejo meus tios e pai se aproximarem pelo outro lado, caminhando
juntos tão sombrios e perversos quanto os homens que estão se
direcionando para cá.
— Perdidos, príncipes? — Tio Damian sorri ao passar por nós
enquanto todos param para ver enquanto passam.
— Pelo visto Atos acabou de ascender o Anônimus — meu pai
comenta enquanto observo paralisada.
— O quê?
— Anônimus, o chefe dos Obscuros, a máscara dourada o
distinguirá — tio Dusham informa.
— Ele é lindo! — Penso em voz alta.
Sinto a mão de tio Damian em meu ombro, o chão parece vibrar sob
meus pés e nem me importo em tentar entender a piadinha que tio Dimitri
faz, estou vidrada, estão todos muito próximos, a poucos passos na verdade.
— Obscuros! — A voz de tio Damian faz meu corpo congelar, é fria
e cruel, uma ordem poderosa que faria até mesmo o tempo parar.
No exato momento em que eles o ouvem, param, virando-se em
nossa direção e puta merda! Ele é muito maior agora. Anônimus está frente
a frente conosco e posso encará-lo, já que tio Damian está imediatamente
atrás de mim.
— Vejo que ascendeu à liderança. — Anônimus o encara, seus olhos
azuis tão cheios de maldade e posso até dizer, orgulho.
— Sim, senhor. — Quando ele responde a cabeça de todos se
curvam em uma leve reverência.
Tio Damian foi o último mestre deles antes que Atos os recebessem.
Meu coração bate acelerado por essa aproximação, poderia tocá-lo se
esticasse meu braço, todos o parabenizam, e apesar de não entender os
motivos, parece que eles demonstram que cada um deles, ainda que
subordinados, fazem parte do todo.
— Dispensados. — O aperto do meu ombro parece me estabilizar, já
que meu corpo inteiro treme, algo que desejo desesperadamente que ele não
sinta.
Antes que eles saiam pela primeira vez desde aquela noite, seus
olhos me encaram, uma fração de segundos que parecem ler minha alma, eu
o vejo e contemplo sua escuridão, então, assim como começou, se dissipa e
ele segue junto com os outros seu caminho.
Se existiam dúvidas de que aquele homem tem muito mais poder
sobre mim do que gostaria de admitir, neste momento qualquer uma delas
caiu por terra, seus olhos me confirmaram que eu pertenço ao diabo.
Capítulo 1

O ataque...

Sou Anônimus, chefe à frente dos Obscuros, filho do primeiro


escolhido e primeiro dos sete últimos. Fomos criados para nos tornarmos
demônios, nascemos já cativos e nos moldaram para sentir prazer através da
agonia e angústia das nossas vítimas. Nós nos alimentamos de almas, gritos,
choros e dor, somos leais ao mestre, sabemos bem que o Caveira Negra não
ameaça se não puder cumprir e já o vimos em muitas oportunidades em
ação. Jamais ansiamos por liberdade, demônios como nós não saberiam o
que fazer com ela, estamos nos preparando para mais um dia de vigília, a
família do nosso mestre é nossa prioridade, nossas vidas dependem de
mantê-los vivos.
— Anônimus, tudo está pronto, hoje é você quem fica na vigília da
manhã com o Anúbis.
Olho para o homem sem nome à minha frente, apenas concordando
com um acenar de cabeça. Nenhum deles tem nome, os cães têm nomes,
nós somos Obscuros, nosso mestre me deu o nome de Anônimus, porque
queria se dirigir a mim através dele. Para nós isso foi muito mais que um
ato de superioridade, ele demonstrou confiança em nós, nos tornou algo de
que pudéssemos nos orgulhar, e sim, temos orgulho de sermos seus servos.
Tudo está calmo, o mestre tem nos alimentado ainda mais, alguns
agora dormem após alimentar seus corpos com almas que saciaram nossa
sede, orgasmos e mais orgasmos nos deixam exaustos, mas é isso que nos
mantêm controlados. Fomos estimulados a isso desde que nascemos,
tocados, violados e moldados. O desejo desenfreado por estar banhados em
sangue e com nossos paus dentro de qualquer buraco é tão lascivo que
podemos enlouquecer, caso não sejamos saciados. Já vi um velho Obscuro
ser castigado por dias e quando o encontraram, seu pau faltava um pedaço.
Ele gozou por tantas vezes se esfregando contra o chão que se mutilou, isso
acontece quando somos privados, e o mestre jamais nos privaria.
Vejo os soldados com os cães-lobo, enquanto coloco minha máscara
e no momento em que Anúbis a vê ele muda seu porte, obediência a ela é
tudo que ele tem.
— Vamos — ordeno enquanto vejo a nova equipe, todos
caminhando para suas posições. Não falamos com ninguém além de nós
mesmos, os soldados que são responsáveis pelos cães jamais nos
direcionam a palavra, apenas nos olham, confirmando que entendem
quando falamos. Tudo está correndo perfeitamente bem, tudo que acontece
na morada do mestre é informado.
— A senhora acaba de receber visita, Romeu e Antonella. — O
homem atrás da máscara me olha.
— Continue mantendo a informação atualizada, nada pode
acontecer com eles.
— Sim, Anônimus.
Eles têm prazer em falar meu nome, é como lembrar da
benevolência de nosso mestre e em como ele nos mantém vivos e sob sua
proteção.
Continuo minha ronda passando com Anúbis sem guia ao meu lado,
então noto algo diferente, como se o vento tivesse mudado de direção. Sinto
os pelos do meu corpo se eriçar e o cão-lobo ao meu lado latir, então o
inferno sobe à terra.
Explosões começam a acontecer, quando dou a ordem para que
selem o local, uma luta começa quando o que parece ser uma invasão se
inicia.
— Mantenham a morada segura! — grito e vejo meus homens se
posicionarem.
Tiros começam a ser ouvidos e gritos ecoam por todos os lados,
somos a primeira linha de contenção, os Obscuros que estavam
descansando se unem a nós no enfrentamento, quando os soldados da
Triglav começam a revidar. Sigo atirando e esfaqueando os desgraçados que
ousam atravessar meu caminho, Anúbis morde e arranca pedaços de suas
gargantas, seu ataque é sempre certeiro.
— Anônimus, são muitos deles, não vamos resistir por muito tempo.
Antes que consiga responder uma bomba cai próximo de nós.
Enquanto voo pelos ares, posso ver a mansão perder uma parte de sua
estrutura. Caio longe sentindo todo meu corpo reclamar, um zumbido
ensurdecedor atinge meus ouvidos e vejo o corpo de Anúbis e mais alguns
homens estirados no chão.
A raiva por mexerem em algo que pertence ao nosso mestre
colocando em risco sua mulher e filho faz meu sangue ferver. Mais homens
chegam e agora restam poucos cães-lobo e vejo apenas três Obscuros além
de mim, os soldados da guarda estão todos mortos.
— Mantenham a segurança da morada! — grito e meus homens e
seus cães continuam atacando.
Tudo parece não ter fim, percebo, me desesperando porque a
morada não teve sua proteção assegurada cem por cento e isso me
enlouquece.
— Protejam a morada do nosso mestre! — repito.
Somos os últimos quatro na linha de frente, corto gargantas e atiro,
ainda posso ver alguns cães-lobo lutando, os soldados da Triglav se
misturam a nós. Sinto meu corpo esfriando, acabo de matar mais um,
porém, caio prostrado de joelhos, bato a mão na lateral do meu corpo e tem
algo enfiado ali, puxo e vejo um pedaço de ferro pontiagudo. O sangue
começa a jorrar de mim, tudo gira, posso ver que meus homens ainda lutam
o quanto podem, novas explosões acontecem e o zumbido aumenta. Pisco
meus olhos por várias vezes desejando tentar enxergar mais alguma coisa,
quando foco meu olhar, um soldado sorri chutando meu peito, lançando-me
longe. Grito de dor e a última coisa que vejo é o cano de sua arma. Tudo
parece desaparecer, a morte está aqui, ela estende sua mão para mim, posso
ver meus irmãos à sua volta, eles a encontraram, então entendo que chegou
a minha hora, no momento em que seguro sua mão fria vejo a bala deslizar
do cano da pistola atingindo minha testa, levando-me à completa escuridão.
Capítulo 2
“Ser vazio é quando nós olhamos no espelho e não reconhecemos o que
vemos. O que você tem visto?”

Depois...

Estou desperto depois de vagar sozinho pela escuridão, lá não tinha


demônios, não tinha monstros e muito menos a vontade insana de enfiar
meu pau em qualquer buraco, de certa forma essa parte me inquietava. Por
vezes bato minha mão no rosto, estou sem minha máscara, sem a minha
identidade, eu não sou nada sem ela, me sinto vulnerável.
Mesmo sem abrir os olhos não me mexo, ouço os sons ao meu
redor, e sinto o peso de como eu gostaria de estar morto se estabelecer em
algum lugar, mas isso aqui não é o inferno, conheço a cama de um hospital,
passei por muitas vezes longos dias em cima de algumas delas, tendo que
ser alimentado pelo meu mestre, enquanto meus irmãos lançavam para cima
e para baixo o corpo quente da minha comida.
Gozava, urrava, mas precisava não me mexer, isso doía, como dói
agora. Tento recordar o que aconteceu, me lembro da batalha travada contra
os invasores que atentaram contra a casa do mestre, lembro-me dos meus
irmãos caindo mortos e de Anúbis sendo morto após me proteger. Existem
lacunas e forço minha mente a se lembrar, mas minha cabeça lateja como se
estivesse recebendo marteladas.
A dor é bem-vinda, ela sempre foi e sempre será. Inquieto, me
mantenho como estou, como uma planta carnívora aguardando sua presa e
agora que acordei sei que o mestre não tardará em iniciar seus cuidados,
comigo isso jamais aconteceu e tenho certeza de jamais irá acontecer, é
assim que é, e assim que será.
Percebo uma mudança no ar, um cheiro, ele é intrigante e não sei de
onde vem, mas já o senti, porém, onde? Quando? Vindo de quem? É
excitante e picante, como se fosse uma mistura de pimenta e flores, arde e
aguça, tem um toque que faz os demônios ansiarem por sangue, eu viajaria
dias sob a autorização do mestre apenas para senti-lo de mais perto.
Ainda de olhos fechados ouço o leve caminhar, existe alguém aqui,
meu corpo tenciona, mas mantenho minha pulsação ritmada, isso é fácil,
sempre fui o mais controlado, sou Anônimus, filho do primeiro escolhido e
primeiro dos sete últimos, fui destinado às sombras e moldado à perversão.
Ainda atento, na espreita, ansiando que se aproxime para que me
mova e quebre seu pescoço, se estiver em um local seguro saberei, mas se
não, sairei daqui de volta para o meu mestre, servi-lo é a minha missão de
vida.
Gostaria de saber se todos estão salvos, se a nossa luta foi vencida,
flashes da bala vindo em minha direção, a dor e então a escuridão volta se
misturando a gritos e explosões, é confuso e inquietante. Não mantenho
mais meus batimentos contidos, os aparelhos apitam e sinto que a minha
presa se aproxima, sinto seu calor ao lado do meu corpo, abro meus olhos,
não vejo seu rosto, quando vai se afastar seguro seu pulso.
— Meu Deus! Você está vivo! — Sua voz parece surpresa.
— Quem é você? — questiono, porque usa óculos e máscara.
— Sou Morgana, Morgana Dothraki. — Ela tira sua máscara e os
óculos, então a reconheço, olhos iguais aos do Anjo da Atrocidade, mesma
maldade incrustada, ela é realmente filha de quem é. — Tínhamos certeza
de que jamais iria acordar, estávamos apenas aguardando as máquinas
pararem.
Solto seu pulso, não tenho permissão para tocar as mulheres Triglav,
nem mesmo para olhá-las nos olhos, o mestre os arrancaria. Penso que ela
vê meu rosto, então levo minha mão a ele, sinto as ataduras e meu corpo
novamente relaxa.
— Vou informar que acordou. — Sua voz é firme, logo viro minha
cabeça para não encará-la.
Ouço seus passos agora sim firmes e não mais sorrateiros, quando a
porta se fecha volto a respirar.
Pelo visto por mais uma vez consegui burlar a famigerada morte, e
ainda que fosse prazeroso recebê-la e senti-la, por mais algum tempo serei
um demônio disposto a tudo para servir o meu mestre.
Com meu coração pulsando loucamente saio da sala correndo para
avisar que ele acordou, depois de toda guerra que se instalou ele foi o único
que sobrou, levou um tiro na testa que foi parado pela máscara e
ricocheteou em seus ossos. Mas isso não foi a causa de sua estadia longa na
clínica, foi o grande estrago que um objeto cortante fez ao atravessar seu
corpo, rasgando tudo ao entrar e destruindo muito ao sair, ele perdeu um
rim e parte do seu intestino, apesar disso ter sido contornado não
esperávamos que ele acordasse, já que não reagia a estímulos. Quando abriu
os olhos e segurou a minha mão pude ver que um homem como ele nem
mesmo Lúcifer aceitaria no inferno, talvez por medo de perder seu posto.
Assim que informo que ele está acordado, todos correm para lá, e já
não tenho mais autorização de entrar, primeiro por não ser médica ou ter
alguma formação na área, segundo porque com certeza irão retirar as faixas
do seu rosto e apenas Atos e tia Monike podem vê-lo.
Sempre ajudei em tudo, até mesmo aqui na clínica enquanto não
sabia o que queria fazer da vida, mas quando soube dele, comecei a passar
doze horas aqui, e volta e meia entrava onde ele ficava com a desculpa de
fazer algo de útil.
Com a certeza de que de agora em diante não poderei mais me
aproximar, saio dali rumando em direção à minha casa, quem sabe depois
de um banho quente e um pouco de comida consiga fazer com que meu
coração se aquiete, ou quem sabe minha vida mude. Preciso tomar algumas
decisões e infelizmente nenhuma delas inclui um demônio de mais de 1,90
de altura e olhos azuis tão cruéis que me fariam correr apenas com sua
ordem.
Capítulo 3

Agora...
Caminho pelo terraço de vidro preto da casa onde moro, o mestre
me colocou aqui depois que saí do hospital, foram seis meses de coma e
seis de recuperação, quis voltar a ser um Obscuro, mas todos os meus se
foram e Atos sendo um mestre misericordioso não quis me enviar ao
inferno junto com eles, segundo me disse, estou aposentado e mesmo sem
saber o que raio essa palavra signifique, finjo que concordo com ela e aceito
sua vontade.
De fora ninguém me enxerga, mas consigo visualizar tudo de onde
estou, por ser uma morada em lugar alto vejo daqui todo o condomínio e a
sua movimentação, por vezes ansiei voltar à guarda e proteger aqueles que
são da família do mestre, mas da última vez que tentei ele mostrou sua
autoridade sobre mim e me manteve afastado.
Constantemente me sinto inquieto e mesmo que venha sendo
alimentado na frequência de sempre, desejo voltar a caminhar pelo inferno,
como um servo obediente apenas mantenho meu corpo forte e permito que
minha mente continue vagando pela sua perversidade.
O reflexo no vidro escuro mostra meu verdadeiro eu, aquele que não
reconheço e que me incomoda revelar a quem quer que seja, apenas meu
senhor, tem essa prerrogativa. A verdade é que ele pode tudo que desejar,
fui criado para servir e serei assim até que consiga finalmente fazer a
passagem que irá me levar de volta para casa onde meus irmãos me
esperam.
Olho para o lado esquerdo sabendo que dali virá meu alimento, pelo
nascer e pôr do sol, hoje é o dia em que a minha comida chegaria, como
esperado isso não falha. Um carro preto se aproxima da entrada, retiro a
calça que uso caminhando nu até a parede onde pego minha balaclava e
máscara, e assim que a coloco através do reflexo do espelho à sua frente o
vejo, Anônimus. Sorrio sob a máscara para cumprimentá-lo, eu sou ele, eu
me vejo nele, isso é minha verdadeira face.
Caminho pelas escadas indo até o local da entrega, mantenho a luz
apagada, gosto de ver a surpresa nos olhos da minha comida, gosto da
forma como elas se surpreendem quando me veem.
A inquietação e a expectativa do que está por vir deixa meu pau
duro, o sangue parece correr ainda mais rápido em minhas veias, sinto o
formigar da morte na ponta da língua e dos dedos, louco pelo que está por
vir.
A grande porta de ferro se abre encaixando exatamente o fundo do
carro, afinal, foi feito sob medida para que a minha comida não fuja.
— Sua refeição tem vinte anos, esposa de um bicheiro e passou a
vida sendo entregue como diversão a todos os soldados do marido, ele não
pagou à Triglav, então a deu como pagamento. Atos disse que seria uma boa
diversão, espero que o sacie até o nosso próximo encontro.
A voz que sai dos alto falantes do teto me informa a história da
minha comida, isso não me influencia em nada, mas o mestre acredita que
pode me instigar a ser misericordioso. As suas histórias pouco me
importam, o que define se sou mais cauteloso ou mais brutal é se é homem
ou mulher, preciso ser cauteloso para que permaneçam vivos por mais
tempo, no mais, ambos sofrem da mesma maneira enquanto conhecem o
demônio que sou.
— Ai! — O grito seguido do baque no chão me diz que ela já foi
jogada para dentro, logo a porta se fecha e o carro começa a se afastar. —
Oi, tem alguém aí? — A voz chorosa contém medo e isso faz ferver meu
sangue.
— A pergunta certa seria: o que está aí? — Espreito, ansioso,
sentindo meu pau pulsar ao imaginar seus gritos de desespero e pedidos de
socorro.
— O que é você?
— Sou um Obscuro. — A diversão em minha voz é legítima.
— Por favor, não me toque.
— Estava indo tão bem. — Desanimo com a forma rápida com que
ela passa a implorar. — Vou te dizer o que vai acontecer. Você é a minha
comida, eu alimento meus demônios com você.
— O quê? Não, por favor, podemos negociar de outra forma, pode
usar meu corpo. — Ela está ofegante e raspando suas unhas no portão atrás
dela, como se desejasse encontrar uma passagem para longe do inferno.
— Não tente fugir, não existem saídas.
— Onde estou?
— No inferno. — Acendo a luz e a mulher japonesa se revela à meia
luz, ela é linda como um anjo e deliciosa para me saciar.
Estou nu, com o pau babando, ansioso, o lugar onde estamos mais se
parece um açougue, tem ganchos e correntes, gosto de pendurar seus corpos
depois de usá-los, gosto de vê-los se decompor e vez ou outra foder com
eles. Tem dois deles ainda aqui, uma mulher e um homem, o cheiro peculiar
é de carne apodrecendo, não me afeta mais, porém, parece que minha
comida paralisa ao me ver.
— Não se aproxime!
Caminho em sua direção puxando-a pelos cabelos, a arrastando
enquanto se debate.
— Me solte! — Suas unhas arranham a pele da minha mão.
Sua luta aumenta ainda mais meu prazer, a dor que me causa ao
rasgar minha pele quase me faz gozar.
Lanço seu corpo contra a parede a fazendo arfar de dor, quando
travo seu pescoço com meu pé.
— Quanto mais luta, melhor é, vou foder todos os seus buracos,
quando estiver à beira da morte, vou pendurar seu corpo nesses ganchos de
ferro, vai agonizar até morrer e eu irei continuar fodendo você até que seus
pedaços podres comecem a cair e não exista mais condições de lhe usar,
então a próxima pessoa chegará e as antigas serão descartadas. — O prazer
que tenho ao ver seu desespero em fazer tais ameaças é minha forma de
diversão.
Ela se debate buscando o ar que lhe privo.
— E para que saiba quem sou, eu vou me apresentar. Eu sou
Anônimus, aquele que agora possui seu corpo e sua alma.
Seu grito ecoa pelo inferno e faz com que tudo seja prazeroso
demais, a solto e seu primeiro movimento é tentar fugir, quando seguro seu
tornozelo puxando-a de volta a mim, soco seu rosto para que fique quieta,
deixando-a tonta e perdida. A viro de bruços ouvindo seus gritos
desesperados implorando para que pare, então forço meu pau em seu rabo, é
quente, mas não existe resistência, isso me irrita muito, não gosto quando as
coisas parecem fáceis.
— Vagabunda demais para tamanho esforço.
A ergo pelos cabelos, deixando-a em pé, dou uma cabeçada em seu
nariz que se parte explodindo sangue.
— Por favor, por favor! — Começa a implorar quando meus punhos
começam a atingir seu rosto.
Desejo desfigurá-la, moldar uma nova cara para a puta imunda que
se encontra em meus domínios, lanço seu corpo contra a mesa a fazendo
parar do outro lado.
— Pareeee! — ela grita colocando as mãos à frente na tentativa de
se defender.
— Eu ainda nem comecei.
Vou em sua direção enquanto tenta se erguer, a seguro pelo pé
fazendo seu corpo bater com toda a força no piso. Começo a puxá-la,
fazendo-a deslizar sobre o chão bruto e seus gritos ecoam pelo local. Pego o
primeiro gancho cravando abaixo do seu ombro pelas costas, depois faço o
mesmo com o outro lado.
Seu grito ecoa tão alto que ouso dizer que machuca. Se debatendo,
tenta novamente fugir, algo que me diverte ainda mais.
Meu chute a acerta fazendo com que seu corpo volte a bater contra a
mesa. Ensanguentada, desfigurada e perdendo as forças, volto a arrastá-la
agora pelos ganchos e com um movimento a penduro na haste de ferro onde
os outros corpos estão apodrecendo e logo precisarão ser levados.
Já perdi as contas de quantos orgasmos seus gritos e seu desespero
me causaram. Subo no tablado, tipo uma passarela construída para que eu
caminhe sobre ela e meu pau fique na altura dos seus buracos, a puxo pela
cintura enquanto se debate, soco meu pau com força em sua boceta
fodendo-a com violência, por estar seca parece mais apertada. Minha
comida se debate e o sangue escorre pelos buracos dos ganchos, ouço
alguns ligamentos estourando enquanto grita em desespero, minha
gargalhada ecoa pelo lugar quando pulso gozando como um demônio. Não
paro até que as sensações desapareçam, com as veias cheias de estimulante
e com meu pau extremamente duro, desejo muito mais orgasmos, mas
minha mente parece não funcionar como deveria, acredito que por conta da
raiva. Cansado da nova aquisição, sigo para as antigas apesar de desejar os
foder não faço. Furioso, chuto o homem que em total estado de putrefação
se desprende dos ganchos caindo no chão fazendo o cheiro fétido invadir o
ambiente, a mulher parece em melhor estado que ele, mas ao tocar em um
dos ganchos que a prende sua perna cai e minha fúria aumenta, me fazendo
lançar seus restos imundos longe de mim.
A novata começa a vomitar, estou tão furioso e caminhando cheio de
ódio que seu choro me causa um desejo insano de matá-la, mas isso irá me
deixar por dois dias sem nada para comer.
As vozes em minha cabeça imploram para que a mate, que não faz
sentido mantê-la aqui, nós não gostamos dela.
Cedendo aos impulsos, seguro sua cabeça quebrando o seu pescoço,
odeio quando o alimento não nos agrada, a abstinência pode nos causar
ainda mais estragos.
Inquieto e irritado, entro em casa jogando minha máscara no chão, o
mestre me deu várias delas, ele sabe que posso quebrá-las em um ataque de
fúria. Entro debaixo do chuveiro e com minhas mãos uso o sabonete líquido
para esfolar meu pau com a mão até que o último resquício do estimulante
desapareça das minhas veias e só saio de lá quando me sinto completamente
limpo.
Preciso caminhar, o mestre me deu essa liberdade, então com esse
pensamento na cabeça visto minhas roupas colocando novamente a minha
máscara, seguindo em direção ao canil nos fundos da propriedade.
Capítulo 4

Os saltos das minhas botas batem forte no chão enquanto caminho


furiosa pelos estábulos, acabei de deixar meu cavalo na baia e a fúria que
sinto dentro de mim não cessa. Gostaria de saber que tipo de culpa eu
tenho? Preciso apenas viajar, seguir com meu planejamento e meus pais não
param com essa droga de marcação cerrada, eu sou uma mulher treinada
para matar, sem intenção alguma de me casar e viver feliz para sempre
como eles acreditam.
— Inferno! — Chuto o balde de lixo que voa para longe e grito
furiosa.
— Morg, você está aqui?
— Não, idiota, o que está vendo é meu clone. — Damon sempre se
metendo em tudo.
— Por que ao invés de estar aqui xingando as paredes, não vai até
ele e conversa?
— Eu já fiz isso, Damon, você estava lá por sinal, eu me lembro.
— Morg, explodiu quando ele disse que não tínhamos soldados
disponíveis.
— Eu não preciso de um, estou indo para Roma ficar na casa dos
meus padrinhos, acredita mesmo que tio Ettore sendo mais ciumento ou até
mesmo pior que nosso pai vai permitir que algo aconteça comigo? Todo o
meu roteiro é completamente seguro e cheio de pessoas aptas a me defender
— esbravejo como uma garotinha mimada.
— Morg, nem mesmo o castelo está protegido, se recorda dos
últimos atentados? A Triglav vem passando por um momento difícil,
estamos tentando eliminar os malditos desgraçados. E outra, sua viagem irá
se estender por mais alguns países até que volte a Belgrado, as coisas não
são tão simples, e sim, sabemos bem que todos estão aptos a protegê-la.
— Damon, papai acredita que sou a porra de uma princesa indefesa.
— Você é uma princesa, e tanto você quanto eu sabemos que de
indefesa não tem nada, mas, Morg, conhece as regras, precisamos mantê-la
segura. Antes de ele ser seu treinador é seu pai, sabe bem como é ciumento
e possessivo conosco e conhece bem a sua situação.
— Não se inclua nisso, você faz o que quer e quando quer, todos
nesta família se tiverem um pau no meio das pernas fazem. — Bufo,
inconformada. — Quer saber, vou ver a ninhada de cães-lobo[1] que
nasceram há poucos meses. Isso não vai me levar a lugar nenhum e quando
estiver calma vou até lá.
— Precisa baixar suas defesas, sempre conseguiu tudo que quis,
parece que desaprendeu a forma de conseguir o que deseja. — Ganho um
beijo na cabeça, esse Damon em nada se parece com o adolescente irritante
de antes. — Sabe bem o motivo de tanta proteção, Morg, ele não se perdoa,
e se algo acontecesse seria realmente o fim. — Tento pensar nisso enquanto
decido me acalmar, se nada daquilo tivesse acontecido não estaríamos neste
maldito impasse.

— Tenho TDI[2], Damon, sei que essa minha versão é perversa e


cruel, que fui treinada e sou uma assassina fria e que não existe nenhum
medo em mim. Eu existo para que ela se mantenha segura, faço isso desde
pequena e não será agora que a colocarei em risco se digo que posso
protegê-la é porque posso, mas ninguém parece me ouvir. — Vejo
compreensão em seu olhar, mesmo assim não sinto que seja justo. Sou
sempre eu a grande parte do tempo, seremos sempre apenas nós duas e nada
mudaria isso.
Sem que permita que ele rebata algo, atravesso o gramado indo em
direção às baias, no canil. Atos decidiu voltar a criar os cães-lobo após
perder todos os que tínhamos em um ataque, anos atrás, quase ninguém
vem aqui e apenas os tratadores aparecem duas vezes por dia.
Quando me aproximo vejo um corpo grande e largo todo vestido de
preto de costas para mim, com certeza um dos tratadores.
— Desculpe, acreditei que não tinha mais ninguém aqui. — Quando
ele se vira, me assusto, é Anônimus, ele nunca está fora da sua casa, seus
olhos azuis me encaram e logo se focam em outro lugar. Tudo que sei sobre
ele é que é um Obscuro leal a Atos e à Triglav. Por todos esses anos me
aproximar era quase impossível e agora estar novamente perto me inquieta
como sempre fez apenas ao pensar nele.
Ele se levanta e sem dizer nada sai de perto de mim.
— Anônimus, não precisa sair porque cheguei, pode ficar — aviso.
Vejo suas mãos se fecharem em punhos e caminhar para longe dali sem
olhar para trás.
Se não o conhecesse diria que não tem língua, mas aquele olhar é
tão frio e sombrio que me causa curiosidade. Sorrio por ter esse
pensamento, não faço a menor ideia de quem esteja debaixo daquela
máscara, ainda me lembro da sua voz grossa e do seu toque forte. Seguro
meu pulso como se me lembrasse, mas o choramingo dos pequenos cães
tomam toda a minha atenção e deixo de pensar no homem de preto
seguindo para a baia e me apaixonando pelas pequenas bolinhas de pelo.
Estava indo em direção as baias dos cavalos quando ouvi os gritos
de uma mulher, com certeza Morgana, ela sempre vai até lá quando está
furiosa, grita e esbraveja xingando mais que um marinheiro.
Evitando passar perto de uma mulher Triglav, desvio e sigo para o
canil, não costumo caminhar durante o dia por aqui, faço mais à noite, já
que consigo desaparecer pela escuridão, mas para ela dia ou noite não faz
diferença.
Meu foco é a nova ninhada de cães-lobo, o mestre decidiu criá-los
novamente depois que todos os nossos morreram no ataque, disse que me
daria um novo Anúbis para treinar e ser meu para tratar.
Ao chegar, me aproximo da mãe que assim que me vê com a
máscara mostra os dentes, mas quando a encaro abaixa suas vistas
permitindo que me aproxime. Agachado, avalio cada um deles e percebo
que existe apenas uma fêmea, isso é o que chamo de ninhada forte.
Pego a fêmea nas mãos e quando a encaro me enxergo em seus
olhos azuis como o céu, sua pelagem é preta e seus olhos têm a mesma
crueldade, por algum motivo desconhecido anseio ficar com ela, mas será
que o mestre permitiria?
Analiso tudo, então devolvo a pequena encarnação do mal para a
ninhada, quando ouço os sons das solas das botas batendo no chão e sei
exatamente quem é.
— Desculpe, acreditei que não tinha mais ninguém aqui — fala
assim que me viro e me encara, seu olhar tem a mesma sombra perigosa da
pequena Anúbis, logo retiro meu olhar e foco em outro ponto. Antes que me
vejam tão próximo de uma mulher Triglav e com meus demônios muito mal
alimentados, ergo-me saindo a passos largos sem olhar para trás, mas isso
não me impede de ouvir sua última frase. — Anônimus, não precisa sair
porque cheguei, pode ficar.
Se soubesse, pequena libélula, a vontade que tenho de arrancar
suas asas e depois de devastá-la, decapitá-la, não estaria pedindo que me
mantivesse por perto.
Estou atravessando o gramado quando ouço um assobio e reconheço
instantaneamente, fazendo meu corpo se virar e encarar o mestre. Com um
sinal ele ordena que me aproxime, caminhando a passos largos, sigo em sua
direção até que esteja à sua frente.
— Onde estava, Anônimos? — Ergue sua sobrancelha em
questionamento.
— Fui verificar a ninhada de cães-lobo, senhor. — Meus olhos
sempre precisam estar focados nos seus. — Mas a filha do Anjo da
Atrocidade chegou por lá e logo saí sem olhá-la.
— Morgana estava nas baias?
— Sim, mestre, foi ver a ninhada. — Ficamos nos encarando e a
forma como o Caveira Negra me olha, faz meus demônios se encolherem.
— Gostou de algum filhote? — Muda de assunto, com certeza
confiando no que digo.
— Uma fêmea preta de olhos azuis, é a única da ninhada, todos os
outros são machos.
— Quer ficar com ela?
— Se o mestre me permitir.
— É sua — avisa. — Agora venha comigo, tenho uma reunião e
gostaria que viesse, está sempre trancafiado naquela casa.
— É mais do que preciso para viver, senhor.
— Se é o que diz.
O sigo pelas ruas sempre a um passo atrás para que saibam quem é
que comanda quem. Ao chegar no centro de treinamento todos os Anjos
estão aqui, ao lado de Azazel[3] e Amosdeus[4].
Por algumas horas eles discutem sobre tudo que precisa ser feito
para eliminar qualquer ameaça, por mim estaria no fronte, mas meu mestre
não deseja que isso aconteça, segundo ele já fiz muito pela Triglav e chegou
meu momento de viver, mas sair dos muros do condomínio não é algo que
desejo, quero estar sempre em alerta caso alguma coisa aconteça.
— Atos, como anda a segurança do condomínio? — Azazel lhe
questiona, tirando-me dos meus pensamentos.
— Como sempre, pai, segura e inabalável, depois do último ataque
tudo que poderia ser melhorado e modificado foi.
— Os soldados de fronteira? — Acena. Ele fala dos escravos que
vigiam toda a extensão de mata, aqueles desgraçados merecem tanto uma
visita do demônio que habita em mim, mas não tenho nenhuma explicação
para devastá-los.
— Como cães adestrados. — Meu mestre sorri diabólico.
— Bem, não temos mais nada a tratar, mas precisamos manter
nossos olhos abertos, sabem bem que Vocano vem rondado por aí, o
desgraçado não aceita perder, e após destruirmos seus negócios de tráfico
humano anda bem esquentadinho — Asmodeus, o novo chefe da Máfia
Sérvia Triglav, pontua.
— Pai, Morg deseja fazer sua viagem. — Damon o filho do Anjo da
Atrocidade levanta a questão.
— Não temos homens agora, Damon, estamos à frente de muitas
batalhas e precisamos de todos aqui. Morgana vai precisar esperar — o
Anjo fala, mas não parece que seu filho vá recuar.
— Senhor, me perdoe, mas ela se programou por dois anos, foi a
melhor em tudo que fez, é uma assassina treinada e derramaria qualquer que
fosse o sangue, acredito que consiga se proteger sozinha. — Tenta fazer
com que o Anjo reconsidere.
— Damon, a segurança de todos está em risco, não vou permitir que
sua irmã siga com os planos, se ao menos você pudesse ir com ela, mas não
pode, tem que cuidar dos seus setores e ajudar Ângelo e Atos com a Triglav.
Em breve irá à Albânia e sabe bem como as coisas por lá funcionam.
O mestre e Damon trocam olhares e então quem atravessa a
conversa é ele.
— Tio Darko, o problema é a falta de soldados apenas ou existe algo
a mais? Porque há de convir que Morgana eliminaria dez soldados sozinha
sem que um fio de seus cabelos loiros saia do lugar.
A forma com que o Mestre fala não condiz com metade do que
aquela mulher pode fazer, imaginar que ela é tão sanguinária quanto
qualquer demônio presente nesta sala me faz desejar castigá-la de uma
forma cruel que deixaria meu pau duro por dias.
— Não a quero sozinha, Atos, dois são melhores que um, e se não
temos um disponível, sozinha ela não vai. — Sua palavra final é forte e
qualquer um recuaria, mas não o mestre, ele não teme nada.
— Diga a Morgana que o problema está resolvido, Damon,
Anônimus irá com ela. — A bomba que explode em minha cabeça é tão
poderosa que não tenho tempo de pensar, o olhar do Anjo para o mestre é
algo assustador, mas o mestre o encara.
— Está me dizendo que um demônio como ele irá cuidar de Morg
sozinho? — O olhar direcionado a mim faz a fúria subir.
Quem ele pensa que é para desafiar o mestre com o olhar dessa
forma?
Todos me encaram e não me mexo, apesar de discordar dessa
loucura, não sou eu quem deve questionar o mestre, jamais faria.
— Disse que dois é melhor que um. Anônimus é tão letal quanto
qualquer um de nós, se Morgana batalhou por essa viagem não será por
falta de pessoal que não a fará.
— Concordo com Atos, tio Darko, Morg deseja tanto isso que seria
cruel de sua parte não permitir que vá — Asmodeus pontua e todos
concordam com ele.
Como voto vencido ele acena com a cabeça, mas logo o demônio se
vira em minha direção, caminhando a passos largos, segurando minha
máscara com sua grande mão para que o encare, desejo derramar seu
sangue, desejo vê-lo agonizar e depois foder seus buracos para que jamais
ouse tentar me intimidar novamente.
— Sei que deve estar louco para me tocar, mas não o fará porque
não foi autorizado para isso, mas vai me ouvir, olhe nos meus olhos e
entenda todas as minhas intenções caso saia da linha, mantenha seu pau
longe da minha filha se quiser ainda ter um. Consegue se alimentar e se
manter no controle?
Pela primeira vez tiro meu olhar dele e olho para o mestre que
permite que eu o responda.
— Sim, senhor.
— Tem ciência do que vai te acontecer caso me desobedeça, não
sabe?
— Sim, senhor.
— Se Atos diz que consegue, irá acompanhá-la, mas Anônimus,
grave as minhas palavras, nem mesmo o Caveira Negra o livrará de mim
caso algo aconteça à minha filha.
Mantenho meu olhar no seu esperando que tudo isso acabe, como se
suas palavras fossem necessárias, se meu mestre diz que preciso manter
distância e não a encarar, é isso que farei.
Capítulo 5

É madrugada e estou inquieta, passei todo o dia furiosa por ser quem
sou, saber o que sei e precisar ser tratada como uma boneca de vidro, eu
jamais a colocaria em risco. Por que não entendem que nós duas somos uma
só e que eu a protegeria sempre?
Inquieta e rodando o meu quarto como um tubarão que anseia por
sangue, saio em busca de um pouco de ar, atravesso minha janela pulando
até o telhado íngreme que dá para uma grande árvore, onde pulo nos galhos
e logo me jogo ao chão. Eu poderia sair pela porta? Sim! Mas quero evitar
encontrar com quem quer que seja.
Começo a caminhar, os demônios em minha mente esperam por
isso, apesar de saber das consequências não me importo, nunca me
importei, não será agora que isso irá me frear. Sigo para a linha da mata
começando a caminhar por ela, aqui é onde os mais incontidos fazem a
guarda. Toco em minhas facas nos coldres de coxa, os últimos caíram como
patinhos, com certeza esses não serão menos idiotas.
— Olha o que temos aqui? Perdida, princesinha? — Sorrio
internamente, como imaginei, todos sempre pensam com os paus.
— Apenas caminhando.
— No meio do nada, de madrugada, com tantos perigos por aí? —
Eles se aproximam.
Fui treinada, mas diferente de todos, meu pai fazia isso nos
subterrâneos de casa, nunca na frente dos soldados, como tio Dusham fazia
com Angel e tio Stefan fazia com Virgínia, Bella e Ariel.
— Só quero pensar, por favor, se afastem. — Dou o primeiro aviso.
— E se nós quisermos mais que isso? — Dois deles se aproximam
enquanto outros caminham até onde estamos, e pelo barulho são mais de
cinco.
— Sabem que se me tocar o Anjo da Atrocidade não terá
misericórdia — ameaço.
Todos os homens que estão aqui são escravos da Triglav, a escória
da escória, todos usam uma coleira explosiva que contém um controle que
fica nas mãos de Ângelo e Atos.
— A morte é um presente, ir para o inferno após foder uma boceta
real é um privilégio. — Ele sorri, não posso ver seus rostos por usarem
máscaras ninja, mas mesmo estando escuro posso ver seus dentes
amarelados.
— Olha o que temos aqui, um presente. — Os outros homens
parecem ter chegado e a minha excitação aumenta, posso sentir o gosto da
adrenalina tocar minha língua.
— Já disse para se afastarem. — Dou mais um alerta, estou longe
das casas, sei bem dos perigos que corro, mas sorrio quando sinto meu
cabelo ser tocado.
— Cheirosa. — As gargalhadas acontecem ao meu redor.
— Por favor, eu só quero passar. — Diminuo o tom de voz como se
estivesse com medo.
— Ah, Princesa, é tão difícil vê-la, mas essas curvas deixam meu
pau duro. — Sua mão desliza pelas minhas costas e imagino o Anjo tatuado
nela decepando sua mão.
— Já disse para não me tocar. — O empurro, esse joguinho me
deixa animada, faz tempo que não me banho em sangue.
— Quem pensa que é, sua cadela imunda? — Ele segura meus
cabelos e a excitação em mim cresce a níveis altíssimos e faz minha boceta
pulsar.
— Por favor, eu só quero passar — imploro quase gargalhando, amo
ver macho escroto se achando superior.
— Perdeu esse direito quando atravessou nosso caminho. — Uma
mão entra pela minha blusa e toca minha barriga.
A brincadeira começa a ficar interessante.
— Vou gritar se continuar me tocando.
— Não terá tempo para isso.
Sua mão vai até meu pescoço, apertando-o, dois deles começam a
me segurar, me debato criando um cenário onde eles acreditam estar
vencendo e que irão foder comigo, como se faz com as escravas sexuais que
conhecem.
— Me solte, por favor, eu não digo nada, só me deixem ir. —
Começo a me debater e eles se envolvem ainda mais.
— Vamos ver o quão deliciosa é uma boceta real.
— Por favor, por favor! — Eu me debato enquanto me divirto, louca
para começar a carnificina.
Eles gargalham enquanto os demônios em mim se divertem, tenho
meu corpo lançado contra o chão e arfo com a pancada, mas apesar de doer,
não me importo.
— Agora, gracinha, chegou a hora de socar fundo nessa boceta. —
Todos começam a rir e rastejo de costas para o chão com a cara de pavor
que apenas eu sei fazer quando quero.
— Não, por favor, eu imploro, não me toquem, me deixem ir.
Antes que consiga me erguer a primeira cabeça explode jogando
sangue para todos os lados me deixando furiosa.
Vi o exato momento em que ela atravessou nas sombras em direção
aos soldados, só podia estar com a cabeça no mundo da lua, aqueles homens
só não são piores do que eu, mas são incontidos e não vão recuar por ela ser
filha de quem é.
Corro, vestindo minha roupa, calçando minhas botas, colocando
minha balaclava e em seguida minha máscara. Apressado, sigo até a mesa
pegando o controle que os mantêm presos as suas coleiras.
Apresso-me pela mata sem me preocupar onde estou pisando
quando ouço algo que faz meu sangue ferver.
— Não, por favor, eu imploro, não me toquem, me deixem ir. —
Sua voz é baixa e parece assustada.
Ela está com medo?
Antes que ele se aproxime demais para machucá-la, explodo sua
cabeça fazendo com que ela se banhe em sangue, seu grito surpreso ecoa.
— Afastem-se.
— Anônimus! — gritam assustados, recuando e colocando seus
paus dentro das calças novamente.
— Acreditam que podem tocar em uma mulher Triglav e
permanecerem vivos? — rosno furioso. Não podem tocar naquilo que o
mestre protege.
— Nos mate, fará com que tudo isso acabe — um deles grita e isso
seria muito mais fácil.
— Matar é uma bonificação, acreditam mesmo que os presentearia
dessa forma? Saiam! — Ninguém recua e meus demônios mandam tudo
para o inferno.
Coloco o controle no bolso e retiro minhas facas dos coldres,
colocando-me sempre entre eles e ela, parto para cima de cada um focado
em retalhar seus corpos e fazer com que sofram. Meus olhos estão
acostumados à escuridão, sei bem onde cada um deles está. A cada investida
que dou abro talhos fundos em seus rostos, eles precisam saber com quem
estão lidando.
— Demônio maldito! É tão escravo quanto nós — um grita quando
acerta um chute em minhas costelas.
— A diferença entre nós é que eu escolho ser quem sou. — Soco seu
nariz esmagando seus ossos.
— Maldito Obscuro! — Ouço a voz vindo de trás de mim, como
estou chuto para trás acertando seu peito e explodindo sua cabeça.
— Amarei pendurá-los em meus ganchos e foder seus rabos mortos
até que apodreçam. — Imaginar isso faz meu pau pulsar.
Continuo socando e quebrando seus ossos, mantendo-os vivos, eles
precisarão continuar sendo quem são, se meu mestre quis assim, assim será.
Quando todos estão caídos, agonizando, paro, meu coração bate tão
acelerado com a adrenalina que corre em minhas veias que parece que vai
parar. Lavado em sangue viro-me e a vejo, ela ainda está no mesmo lugar.
Sem falar nada caminho em sua direção e a pego nos braços, surpresa com
o que faço, ela não diz nada.
Volto com ela por onde eu vim, me amaldiçoando por tocá-la, eu
posso morrer por isso, mas não a deixaria assustada, caída, e possivelmente
machucada. Controlando o desejo de levá-la para minha casa, algo que
meus demônios sussurram em minha cabeça desesperados, sigo a passos
largos para fora dali.
— Não vai falar comigo? — Sua pergunta me tira dos meus
pensamentos, mas me mantenho em silêncio. — O problema sou eu?
Porque eu vi você falando com eles. Diga alguma coisa! — grita e a coloco
no chão em frente à minha casa.
— Vá embora! — É tudo que me permito dizer e sem a olhar nos
olhos.
— Quem você pensa que é para atravessar meu caminho? —
esbraveja, colocando seu rosto na direção do meu olhar.
Impossível me manter calado e desejando que a morte me alcance
por desobedecer ao mestre, respondo:
— Eu sou aquele que terá que aguentar suas aventuras pelos
próximos meses. — Nossos olhares se fixam e algo cresce em mim, o
desejo de tê-la pendurada nos meus ganchos como um animal abatido.
— O quê? — Sua surpresa me espanta. Ela não sabe?
— Isso que ouviu, ou acredita que vai viajar sem que eu esteja ao
seu lado? — Dou um passo em sua direção, sou muito maior que ela e a
vejo recuar um passo, a maldade incrustada está lá, misturada à confusão
que minha informação lhe causa.
— Impossível, mas não vai mesmo — aponta seu dedo para mim em
desafio.
Seguro sua mão com força tirando seu dedo da minha máscara,
fazendo-a novamente se surpreender, eu não a machuco como gostaria,
quando levo a outra mão ao seu pescoço fino, ela é protegida do mestre.
Mas que se foda, sempre fiz tudo que me mandaram, talvez esteja na hora
de fazer algo que realmente deseje.
— Eu não minto. E escute bem o que vou te dizer, ansiei que eles a
violentassem como animais, porque como um corvo sorrateiro eu queria
apenas seus restos mortais dos quais me fartaria até que apodrecesse aos
meus pés. Confie no que eu lhe digo, Morgana Dothraki, meus demônios
desejam destruição e você está na porra do topo de suas listas. — Aperto
ainda mais forte a mão em seu pescoço, sabendo que ela não consegue
respirar. — Seus olhos azuis cravados aos meus quase me fazem cometer
mais uma loucura, afinal, não posso olhá-la, nem lhe dirigir a palavra, com
certeza tocá-la decreta a minha morte. — Escolha, contar o que ouviu aqui e
que te ameacei ou manter sua tão desejada viagem?
A fúria com que me olha me faz querer mandar tudo para o inferno e
estraçalhar seu corpo devastando-a por horas.
Pare, Anônimus, não pense nisso, ela é uma mulher Triglav.
— Esteja pronto em seis dias, não suporto que se atrasem. — Suas
palavras saem abafadas pelo meu aperto, enquanto ela força sua mão em
meu pulso para que a solte, e imediatamente o faço voltando um pouco a
mim.
Como sempre, sai batendo as botas no chão de forma firme e nada
do que faça agora mudará o fato de que quebrei algumas regras.
Capítulo 6

Ainda não acredito que pela primeira vez em anos ele me dirigiu a
palavra. Levo minha mão ao pescoço sentindo ainda o calor escaldante do
seu toque em minha garganta.
Vejo o dia amanhecer, cheguei lavada de sangue e agora ando nua
pelo meu quarto com meus longos cabelos molhados, é inquietante a forma
como aquele demônio me irrita, e ser ignorada por ele é pior que quase ser
sufocada até a morte.
— Morg. — A voz do meu pai soa do outro lado da porta.
Pego meu roupão, me cobrindo.
— Entra, pai — peço e ele abre.
— Já acordada tão cedo, minha princesa? — O homem que mais
amo no mundo e que nem imagina as loucuras que ando fazendo vem até
mim, me envolvendo em seus braços.
— Ando inquieta, pai. — Você não imagina como meu corpo
implora para ser pior do que a mamãe foi um dia. Essa seria a resposta
certa.
— Conversamos ontem e Atos acredita que a sua viagem pode ser
mantida, tem certeza de que é isso que quer?
— Mais do que tudo no mundo, pai, um tempo para conhecer o
mundo e descansar na casa das montanhas.
— Assim seja, Morg. Anônimus irá guardar suas costas, se aquele
demônio sair da linha o esquarteje e mande seus restos mortais de volta para
mim. Sabe que precisa se manter alerta e sempre protegida, não suportaria
se algo acontecesse a vocês.
— Pai!! Acredita mesmo que ele faria alguma coisa? Anônimus nem
mesmo me dirige a palavra — rebato. — E sim, sei da importância de nos
manter sempre seguras.
— E que continue assim. — Sorrio incrédula. É muito mais fácil eu
o tocar do que ele. — Seis meses, Morg, todo seu roteiro está finalizado,
aqui está seu cronograma, vocês saem em seis dias.
— Isso está tudo bem para você, grandão?
— Não, sabe bem o que penso sobre isso e todos os receios que
tenho, mas não vou contra a sua felicidade, contra seu irmão e muito menos
contra a sua mãe. — Sorrio de suas palavras. — Todos eles me incluindo,
sabemos que é o mundo quem deveria se preocupar com você e não o
contrário.
— Onde está a mamãe?
— Na Romênia, infelizmente não chegará a tempo para se despedir,
e estou indo para lá agora, por isso vim tão cedo.
— Cuide da nossa pequena, pai.
— Com a minha vida.
Nos abraçamos por longos minutos enquanto me envolvo em seu
cheiro tão familiar e que me traz segurança desde que nasci.
— Eu te amo, pai.
— Não mais que eu, minha princesa. — Ganho um beijo nos
cabelos e antes que se vá, segue com mais um alerta. — Mantenha seu
localizador ligado, sabe que se não me informar onde está e o sinal sumir eu
irei atrás de você.
— Pai, eu sei me cuidar.
— Morgana, você conhece minha história, nunca escondemos nada
de vocês, não existe a possibilidade de estar correndo perigo e eu não ir te
resgatar, então, ou mantém a sua localização atualizada ou irei até você e a
trarei de volta. — Seu olhar não nega que faria realmente tudo que diz.
— Eu o manterei atualizado, pai.
— Assim espero, agora preciso ir.
— Onde está Damon?
— Ainda em seu quarto, é cedo, Princesa, por que não volta a
dormir?
— Quero passar algum tempo com ele — aviso enquanto sorri indo
em direção à porta e eu sigo para o closet.
Meus próximos meses serão diferentes de tudo que já vivi e quem
sabe não conquiste o que no final de contas sempre almejei.

Desde que a deixei ir meu corpo deseja sangue, a raiva agora é


incontida, não me alimento a mais tempo do que o de costume, ainda existe
sangue em mim, minhas roupas estão secando contra minha pele e a
inquietação segue me irritando.
Tiro minha máscara e a balaclava, o reflexo, o maldito reflexo do
que existe debaixo dela me causa a sensação de estar caindo de forma
vertiginosa, eu não sei quem é aquele à minha frente. Olho a máscara sobre
a bancada da pia e lá encontro Anônimus, ele é quem sou, essa é a minha
aparência, é dessa forma que eu me enxergo. Soco o espelho à minha frente
com tamanha fúria e ele se parte fragmentando a imagem que agora sim se
parece comigo, vários de mim, demônios sedentos por sangue, que desejam
aquela maldita perversa.
Entro no box com o pau tão duro que posso quebrá-lo, a mão
ensanguentada, não ligo o chuveiro, o sangue quente pingando da minha
mão traz a inquietante vontade de me tocar, não desejo isso, mas é
impossível me controlar.
— Desgraçada! — Seguro meu pau com força, furioso por saber que
é ela quem me faz cometer isso, eu nunca faço, jamais tive a necessidade de
me dar prazer dessa forma sem que esteja sob o efeito dos estimulantes. —
Eu a odeio, Morgana Dothraki!
Minha mão pressionada forte contra meu membro me faz gritar, com
certeza tem pedacinhos de espelho nela, mas não paro, odiando aqueles
malditos olhos que parecem enxergar além da minha máscara. Eu me forço
a apertar mais, indo e vindo com o deslizar quente do sangue que escorre
para minhas palmas, a dor é bem-vinda, é uma companheira corriqueira,
quando o orgasmo bate forte em mim e não causa nada em meu corpo além
de mais fúria.
Meu membro agora ensanguentado e machucado não abaixa, eu
quero aquela sensação, aquela maldita sensação que tive quando estava
perto dela, meu corpo e eu agonizamos por senti-la novamente e isso me
irrita e me deixa inquieto. Abro a água gelada, aquela que me faz arfar
quando cai sobre minha cabeça, como se estivesse entrado em um lago
congelado, arfo muito mais vezes que gostaria, meus pulmões doem e meu
corpo treme, mas é melhor que ferver por aquela mulher.
— Filha da puta!!! Ainda irei arrancar suas asas, pequena libélula.
Quando minha cabeça lateja de forma insuportável pelo gelo da
água decido sair, envolvo-me em uma toalha e sigo para a sala, indo em
direção ao aparelho de comunicação que o mestre instalou aqui, aperto o
botão devido ao meu desespero.
— Aconteceu algo? — a voz do outro lado questiona, é a primeira
vez que aciono esse dispositivo.
— Estou com fome — rosno batendo minha cabeça contra a parede.
— Em duas horas envio sua comida.
— Não! Tenho urgência! — afoito e chegando ao meu limite, rosno
negando a espera.
— Um momento.
A demora parece eterna, meu corpo inteiro formiga, desejo muito
mais sangue do que derramei.
— Anônimus. — É a voz do mestre.
— Sim, mestre.
— Diga o que foi que houve.
— O desejo incontrolável por sangue, senhor.
— Como? Não foi alimentado nos últimos dias?
— Sim, fui.
— Consegue aguardar?
— Não, mestre, a urgência me domina.
— Desça aos subterrâneos, mesmo local, acabaram de chegar, são
todos seus.
Sem dizer nada aperto novamente o botão e rumo ao inferno, não
posso esperar nem mais um segundo sem me alimentar, ou com toda certeza
meus demônios me levariam a ela.
Capítulo 7

Foram seis deles, não sei quanto tempo passei nos subterrâneos, e os
gritos, os malditos gritos não me acalmaram, pelo contrário, tudo que mais
desejava é que todos eles fossem dela.
Sigo em direção à saída quando paraliso com a imagem do mestre
me encarando, nunca o vi depois de me alimentar.
— Algo a me dizer? — Sua voz fria e sombria me faz desejar olhar
para o chão.
— Houve um ataque essa madrugada, Morgana estava lá, eu impedi
que os homens a tocassem — informo. Mentir não é uma opção, não agora.
— Foi isso que te descontrolou? Por que não fodeu os malditos
enquanto aplacava sua fúria?
— Precisava levá-la para casa, eles queriam se alimentar dela. —
Nossos olhos não se distanciam.
Jamais permitiriam que a tocassem antes de mim.
— Por que não fui informado? Fui acordado sendo avisado que meu
demônio estava com fome.
— Desculpe-me, senhor, não achei que apertar aquele botão o
incomodaria. — Meu corpo está tenso, o cheiro dela roda pela minha
mente.
— Devo me preocupar? — O arquear de sua sobrancelha me diz
que ele está querendo que eu diga mais além de pedir desculpas.
— Meu corpo incontido conhece seus limites, senhor, não irá
acontecer nada à princesa romena. — Nunca mentir, essa é a lei.
— Sabe que não serei eu a segurar os Anjos, pelo contrário, os
ajudarei, toque num fio de cabelo dela e o inferno será um paraíso. Entende
o que eu digo, Anônimus?
— Sim, mestre.
— Quero acreditar que essa sua compulsão não seja por desejar que
cada uma dessas pessoas fosse ela, se essa for a sua vontade, recue agora.
— Não é, mestre. — Pela primeira vez na minha vida escondo o que
sinto da única pessoa que me mantém vivo e bem alimentado.
— Sei que não mentiria para mim, conhece as regras, não ouse me
desafiar, sabe que se um dia desejou a morte ela não seria nada perto do que
faria com você, agora vá. — Seu corpo libera a minha passagem enquanto
engulo suas palavras como cacos de vidro.
Desaparecendo da sua frente, caminho até a minha casa, é noite,
com certeza passei mais de doze horas lá dentro. Ao sair por uma entrada
diferente da que entrei acabo passando em frente às casas dos meus
senhores e suas famílias, quando atravesso o gramado vejo que sua casa
está completamente escura, sei que seus pais não estão no país e que
Damon logo entrará em missão assim que formos viajar, onde será que ela
está?
Chacoalho a minha cabeça, preciso parar de pensar tanto na perversa
de olhos cruéis.

Passei algumas horas com Damon antes de ele sair, segundo ele,
preciso me controlar. Como? Se quero aquele demônio desde o dia em que
o vi de máscara dourada e preta? Eu sei quem ele é, a diferença aqui é que
ninguém sabe quem eu sou, o que sou capaz e o que desejo para mim e meu
corpo, e tudo que tenho que esconder para me proteger.
Apenas tio Damian desconfia do que quero, já que ele tatuou no
rosto do meu anjo a máscara de Anônimus.
É isso, preciso falar com ele, pego meu telefone e sinto meus dedos
tremerem.
— A que devo a honra, Princesa Morg? — Sua voz é engraçada e
sempre foi assim, desde que me entendo por gente.
— A inquietação, tio, parece que um ímã me puxa para ele, foi por
saber que não impediu essa ideia louca de que ele viajasse comigo. —
Mordo o canto da boca até sentir o gosto do sangue.
Sua risada grossa ecoa pela linha.
— Acredita mesmo que impedi-la de viajar com ele a impediria de
ter o que quer?
— É tão descaradamente óbvio assim, tio?
— Não, minha princesa, mas se tornou claro quando tatuei a
máscara no seu Anjo, sabe que aquele homem é pior do que todos nós
juntos, não sabe?
— Por que não disse nada até hoje?
— Estava esperando esse momento.
— Tio, não sei como agir.
— Minha querida, é impossível não ver a sua crueldade quando
encaramos esses olhos de um azul quase brancos, está aí, Morg, o sangue
Dothraki está em você.
— Gostaria de ser como Angel ou Antonella, elas são tão femininas
e delicadas. — Suspiro, cansada.
— Elas são elas, você é Morgana, tem sua própria individualidade,
sabe o que quer e como deseja ter. Se seu pai me ouve te dizer as próximas
palavras ele me corta o pau. Mas, querida, confie em mim, eu que coloquei
seus piercings que depois tirou e tatuei você, somos íntimos e dou minha
vida por você como dou a todos os meus sobrinhos. É ele que você quer?
Vá lá e dome aquele maldito demônio.
— Tio Damian, se fosse a Ella? — Meus medos, aqueles que nunca
demonstro surgem como um gêiser[5] de águas ferventes.
— Eu perguntaria se é uma doença grave, se a resposta for não, nós
podemos resolver qualquer coisa, Morg. Caminhar pelas lâminas da dúvida
só irá te causar dor.
— Meus tios, todos eles podem me odiar.
— Descubra se Anônimus é a sua pessoa, lidamos com os Anjos
depois.
— Não sei se sou uma pessoa normal, tio. — Mordo o canto da
boca, não sei há quanto tempo mantenho minhas barreiras levantadas e
agora parecer frágil me deixa vulnerável.
— Morg, minha Morg, nós temos personalidades diferentes, você
melhor do que qualquer um se conhece, sempre foi diferente dos seus
primos, sempre teve um instinto primitivo, se fosse homem com certeza
receberia a alcunha de Anjo, mas não pense que o que digo a desmerece, se
quiser ser um Anjo da Maldade, meu amor, eu serei o primeiro a lhe
conceder essa alcunha. Mas, Morg, não foi para isso que nasceu, nasceu
para coisas muito maiores, e se isso quer dizer domar demônios, confie em
mim, em seu sangue existe esse poder.
— Ele não me dirige a palavra.
— Morg, aquele homem não conhece nada além de destruição, nem
mesmo nós fomos forjados como ele, nós tivemos alguém que nos embutiu
sentimentos, ele só tem o Atos, querida. A subserviência de um Obscuro
deveria ser eterna, isso pode mudar se ele começar a quebrar as regras, o
que duvido muito. Não adianta acreditar que seus belos olhos azuis
mudarão um demônio, isso não vai acontecer. Quer sua pessoa? Vá lá e
pegue para você, não espere que ele se jogue aos seus pés ou a reivindique,
Anônimus jamais fará isso.
— Como eu odeio tudo que fizeram com ele, todos que o
machucaram. — Bufo, indignada, e a linha fica muda. — Tio? Tio, você
ainda está aí?
— Eu sinto muito, Morg, infelizmente não imaginei que estávamos
tratando como demônio a sua pessoa.
A forma com que fala, faz minha ficha cair sobre a merda que disse
e a forma com que falei.
— Tio, estava falando de Bratslav.
— Mas não foi só Bratslav que o moldou, Morg. Novamente sinto
muito, perdoe esse seu tio todo torto por não ter visto nada além de caos e
destruição por tantos anos. — Ele puxa o ar com força, então prossegue. —
Vá até ele, Morg, mostre o poder que uma Dothraki tem.
— Sabe que minha primeira parada é na Itália, na casa do meu
padrinho, e ele consegue ser pior do que vocês. Minha preocupação é real,
todos os homens da minha vida são possessivos e ciumentos.
— Se aquele italiano idiota não conseguir enxergar, eu mesmo
arranco seus olhos inúteis.
— Tio! — o repreendo, sorrindo.
— O que foi? Ninguém faz a minha princesa sofrer, pare de ter
medo, apenas pegue a sua pessoa e deixe comigo, ando sentindo falta de
uma boa briga.
— Eu te amo, tio Dam.
— Não mais do que eu, Princesa Morg. Agora vá, está perdendo um
tempo precioso.
Sorrindo, encerro a ligação, já anoiteceu e com a decisão tomada
sigo meu plano de ir domar um demônio e lhe mostrar que é a minha
pessoa.
Capítulo 8

Caminho pela escuridão sentindo a inquietação de algo que não


compreendo, atravesso a grande sala quando tenciono meu corpo ao ver a
luz baixa do abajur ser acesa, mostrando a silhueta daquela que não sai dos
meus pensamentos mais perversos.
— Achei que não voltaria para casa. — Seu olhar está cravado nos
meus. — Estava se alimentando? — Seu questionamento de alguma forma
me inquieta.
— Saia da minha casa! — rosno como um animal acuado. — Como
entrou aqui? — Seu sorriso se alarga quando acendo a luz iluminando tudo.
— Não negou, estava mesmo se alimentando. — Algo passa em seu
olhar quase branco. Mas o que significa?
Caminho em sua direção, furioso, quando segurando seus cabelos a
ergo da poltrona apertando com força para que sinta a fúria que emana de
mim.
— Estava, quer mesmo saber? Foram quatro mulheres e dois
homens, eu os fodi com tanta crueldade que os gritos deles ainda ecoam em
minha cabeça, com toda certeza até os demônios no inferno devem ter
gozado junto comigo. Por quê? Deseja ser a próxima?
— Não teria coragem. — Ela me desafia e quanto mais meu agarre
endurece, mais ela sorri.
Tão rápido quanto consigo, troco minha mão agarrando seu pescoço,
virando-a, caminhando com ela furioso até que seu corpo bata contra a
parede.
— Não me desafie dentro da minha casa! — grito para que entenda.
Morgana causa em mim tudo que jamais senti, já menti por sua causa,
sempre me desestabiliza e nem mesmo sei porque isso é uma tormenta, com
certeza o mestre precisará me controlar novamente.
— Ou o quê? Vai me matar? Se alimentar de mim? E depois?
— Morgana Dothraki, tem dois segundos para desaparecer da minha
frente ou a farei se arrepender. — Meu aperto aumenta, chacoalho minha
cabeça algumas vezes para eliminar sua imagem apodrecendo nos ganchos
do meu inferno.
— Passaremos seis meses viajando, Anônimus, podemos ser
amigos.
— Eu não tenho amigos! Tenho um mestre! Ele ordena e eu faço. —
Penso no que digo, talvez no que diz respeito a ela eu nem mesmo tente
obedecer, não mais.
— Podemos burlar as regras. — Pisca com aquele maldito olhar
perverso.
— O que quer de mim? — grito furioso.
— Você! — Sinto um soco no peito tão forte que a solto.
É demais até para mim conter a legião de demônios, que furiosos,
lutam para assumir o controle.
— Não sairia viva daqui. — Meu coração bate violentamente no
peito, desejo tanto esquartejá-la, depois de fodê-la por dias.
— Não pode me matar.
— Não. Saia! Saia da minha casa agora!
A inquietante agonia de ser torturado não se aproxima da forma com
que estar perto dela e sentir seu cheiro causa em mim, é como ser levado ao
limite, como desejar tanto algo e não poder tocá-lo. Morgana é o meu
inferno particular, meu corpo clama por ela a cada poro e a cada vez que me
alimento é ela que imagino. Eu sei que esse desejo de sangue só passará
quando seus restos mortais estiverem apodrecendo aos meus pés.
— O que está fazendo? — Urro ao vê-la tirar sua roupa, a
desgraçada perversa está com aquele olhar de dona de tudo enquanto fica
nua à minha frente.
— Não continue! — Colo meu rosto mascarado ao seu para que
recue.
— Por que não me impede? — Como eu queria ter forças para
impedi-la. — Sabia. É mais visceral, não é? Mais forte do que consegue
controlar, mais intenso do que consegue suportar.
Viro-me, pois tenho quebrado as regras por olhá-la, falar com ela e
tocá-la assina minha sentença. Mas meus demônios querem saborear a
comida que se oferece, talvez, eu possa provar, talvez eu consiga apenas
provar e depois jogá-la fora daqui.
— Anônimus, vire-se. — Como uma sereia que encanta os
marinheiros ela me manipula, ao me virar vejo seu corpo inteiro nu, sua
pele branca e seu sorriso, aquele maldito sorriso perverso. — Estou aqui,
por que não se alimenta de mim?
— Não sabe o que pede. — Minha respiração está acelerada. — Se
alguém descobre que está na minha casa eu serei lançado ao inferno, você
quer a minha morte — rosno entre dentes.
— Não, quero seu corpo tão fundo no meu que possamos nos fundir.
— Eu sou um demônio sedento por destruição.
— Talvez eu esteja buscando exatamente isso.
É demais para meu autocontrole, nem mesmo a morte me impediria
de realizar sua vontade, ainda mais quando ela se toca como uma devassa.
Minha cabeça gira com tamanha violência que me deixa tonto, ninguém
jamais se ofereceu a mim, a forma com que ela se mostra é como um sonho.
Sem condições alguma de segurar, começo a tirar a minha roupa
ficando nu, meu pau está duro e machucado, sensível demais por tudo que
lhe causei, mas nem mesmo isso me faz parar.
Vou em sua direção como um touro raivoso, eu vou fodê-la como o
animal que sou, vou usar seu corpo, saciar minha vontade, até que não
exista nada que não tenha feito com ela, mas não posso machucá-la como
costumo e nem matá-la no final.
— Vou te mostrar que não se deve entrar no inferno de um demônio
como eu. — Olho ao redor, preciso contê-la, ela não pode me tocar ou tirar
minha máscara.
Curvo-a sobre o braço do sofá, ela está ofegante, como se estivesse
em expectativa, isso confunde minha cabeça, são sensações que jamais
senti, coloco seus braços para trás.
— Não saia dessa posição — ordeno indo em direção ao outro lado,
pegando uma corda fina que tenho aqui.
Assim que retorno, envolvo seu pescoço com a corda, limitando um
pouco seu ar, depois desço com ela amarrando seus pulsos cortando a
circulação de seu sangue, logo suas mãos ficarão roxas e a imagem disso
me deixa ainda mais duro.
— Está ciente do que quer, não está? Sabe que quando acabarmos
aqui você irá embora e nunca mais isso vai acontecer novamente, não
passará de comida para mim. Tem ciência disso? — informo. Essa merda
não pode acontecer novamente.
— Sim.
— Outra coisa, Princesa perversa, eu gosto dos gritos, implore que
eu pare, grite desesperada, talvez assim possa prolongar nossa foda. —
Acerto um tapa em sua bunda e a marca da minha mão em sua pele me faz
desejar marcá-la ainda mais.
Abro bem suas pernas visualizando sua boceta e seu cuzinho, algo
me surpreende, existe um líquido saindo dela.
Ela está excitada? Não pode ser!
Surpreso, é assim que me encontro, um demônio como eu jamais
excitou alguém, o desejo de provar o líquido que escorre é grande, mas não
tiraria minha máscara jamais.
Seguro meu pau e sinto quão sensível está e com certeza o atrito o
machucará ainda mais, não me importo.
Foda a vadia, Anônimus, e a mande embora.
Quando a cabeça do meu membro toca sua boceta a sensação de
deslizar arrepia todo meu corpo, nunca senti nada assim, é como um
presente. Estoco de uma vez e seu grito me devolve à realidade, com as
mãos em garras seguro sua bunda grande metendo como um animal
faminto, é forte, duro, e deliciosamente prazeroso deslizar sem resistência
alguma, Morgana grita tão alto que sobrepõe os meus rosnados prazerosos.
Sim, pela primeira vez na vida eu sinto prazer.
Observo meu pau dolorido entrar e sair quando percebo o sangue
nele, com certeza meus cortes abriram, não me importo com isso, continuo
metendo forte.
— Anônimus, meu Deus! — ela grita longamente, gemendo ao
mesmo tempo.
A forma com que me chama me enlouquece, seu jeito de implorar é
diferente, é como se ansiasse por mais, então o primeiro orgasmo dela vem,
a sensação de ser ordenhado é surreal, como nunca vivi isso, sou levado
rápido demais e gozo enquanto ela esguicha forte molhando meus pés,
Morgana faz xixi, tamanha força com que me enterrei nela.
— Isso é ... — Sua frase morre quando retiro de sua boceta e
começo a forçar seu cuzinho.
— Parou de falar? Algo errado? — questiono.
— Não, apenas se alimente de mim, é isso que desejo.
Ela está perdida, como consegue?
Com meu pau lubrificado vou forçando, invadindo quando seus
gritos retornam, ela deve ser alguém muito experiente, já que seu corpo se
adapta da forma certa para me receber. A marca da minha mão em sua popa
me anima, então marco a outra e dessa vez o tapa é mais forte.
Seu grito ecoa pela sala.
— Assim! Sabe, Princesa perversa, ainda vou socar tão fundo no seu
rabo que só vamos parar depois de gozar algumas vezes, aproveite a
viagem. — Quero continuar metendo e sentindo como jamais senti.
Meus grunhidos ressoam e ela muito obediente grita implorando
para que não pare, diferente do que havia pedido, suas mãos estão pretas
pela falta de circulação, sua respiração está pesada, com certeza pela corda
em seu pescoço.
Os orgasmos começam a acontecer, Morgana sente prazer, não paro
de meter, a cada novo orgasmo ela goza junto comigo, seu clitóris se
esfrega no couro do sofá, ela morde a almofada por vezes e grita tão alto
que sua garganta com certeza dói.
Ansiando por um pouco mais de prazer, desejo gozar mais uma vez
em sua boceta, então saio completamente me enterrando novamente nela, a
força que utilizo é tamanha que o sofá começa a caminhar pela sala.
Morgana e seus gritos são tão intensos que mergulho no desconhecido.
Estamos exaustos, eu sei disso, e se não precisasse sair de sua boceta quente
e deslizante iria buscar estimulante, quero esfolar meu pau com alguém que
grita pedindo por mais de mim, então o último orgasmo vem levando nossas
forças, ela também está exausta, estamos suados e cheirando a sexo. Tento
puxar meu ar, assim como ela faz, mas paro de respirar quando sinto que ela
me trava segurando meus movimentos, como se meu pau estivesse preso
em sua boceta.
Anseio ser liberto, algo ruim toma conta de mim, as lembranças vêm
forte e fecho minhas mãos em punho quando sua voz me tira da
inquietação, mas o que me paralisa não é apenas isso, sua tatuagem é
imensa, um grande anjo de asas abertas e ele tem a mesma máscara que uso,
quando penso em questionar o que significa, sua voz me devolve à
realidade.
— Gostou de se divertir?
Seu questionamento vem com a perversão de sempre agora em sua
voz.
Capítulo 9

A loucura de tudo que ele fez meu corpo sentir, a forma como foi
animal ao tirar minha virgindade e como isso não o afetou, quanto mais alto
eu gritava, mais forte ele socava. Anônimus se perdeu muitas vezes, suas
palavras desconexas abafadas pela máscara, tudo foi tão empolgante e cru
como imaginei, mas ele não pode acreditar ter o controle, então travo minha
boceta prendendo seu pau nela, sou eu quem está no comando, eu decido
quando tudo inicia ou encerra.
— Gostou de se divertir? — questiono vitoriosa quando sinto seu
corpo tencionar.
— Ainda nem começamos. — Sua resposta me faz sorrir
internamente.
— Não só começamos como terminamos.
— Não funciona assim — rosna baixo e aperto ainda mais seu pau.
— Sim, funciona — respondo e sinto o tremor de suas pernas
coladas à minha bunda. — Agora vou lhe dizer como irá funcionar, vou
soltar seu pau, você vai me desamarrar e irei desaparecer da sua frente.
— Morgana... — Sua voz é um alerta.
— Agora, Anônimus!
Como um robô ele faz o que ordeno, seu pau ensanguentado me faz
entender bem as coisas que acontecem aqui, a forma mecânica com que
reage aos meus comandos me dilacera, o que fizeram com ele me destrói.
Mas não posso ser alguém que demonstra sentimentos, não com ele, não da
forma que gostaria, por mais que minha mente deseje terminar isso em seus
braços sendo carregada por ele até sua cama, ganhando carícias ao final de
um sexo depravado onde minha virgindade lhe foi entregue de bom grado,
preciso entender que com ele não funciona assim.
Já solta, ergo-me sentindo meu corpo doer em lugares
desconhecidos, Anônimus dá alguns passos para trás e seu olhar agora está
fixo ao chão, a fúria me domina levando com ela o prazer avassalador que
Anônimus me causou. Jamais imaginei que ter um orgasmo seria assim, eu
me forcei a não permitir que meu corpo me dominasse, precisava saber
como era e precisava saber com ele.
— Olhe para mim — ordeno já vestida e a minha voz quase
embarga com a vontade devastadora que sinto de chorar.
E ela vem forte quando seus olhos submissos me encaram. Onde
está a sua força, meu escolhido? Minha alma grita sangrando por imaginar
que ele parece amortecido, não quero sua submissão, quero seus demônios.
— Nada do que fizemos aconteceu, você entende isso? — Quero me
ajoelhar aos seus pés e implorar que me tenha como sua pessoa também,
mas ergo minha cabeça apontando meu nariz o mais alto que consigo, se
não o fizer eu morro aqui.
— Sim. — Sua resposta me mata um pouco mais.
— Nos vemos em alguns dias. — Engolindo o nó maior que minha
cabeça, saio sem olhar para trás.
Encontro-me incrédula, esse homem tem muito mais camadas do
que as que eu imaginava existir.
Quando ouço a porta se fechar, caio de joelhos no chão, o ar que
prendia sai com tamanha força que a minha vontade de gritar vem forte e eu
me permito libertar a dor através do grito que dou, sem me preocupar com
que alguém ouça, já que não existe essa possibilidade.
Sinto suas garras me rasgarem de dentro para fora, como se
estivesse sendo soterrado pelas lembranças que me consomem. As vozes, a
forma com que meu corpo sempre reagiu aos gritos desesperados, e quando
tudo acabava existia apenas o desejo de recomeçar novamente, era tudo que
eu sabia ser, um demônio que gostava da dor, um Obscuro que jamais
conheceria a luz.
Aquele olhar que ela me direcionou, a forma como se posicionou à
minha frente, ela sabia do seu poder sobre alguém como eu, que jamais
poderia ceder aos meus desejos de cumprir com ela tudo que fui ensinado e
que desejei desesperadamente, nem mesmo forças para questioná-la sobre
os motivos de ter minha máscara tatuada em suas costas eu tive.
As lembranças das sensações que tive ao me enterrar em sua boceta
receptiva e as sensações de ter alguém que me queria ainda que para lhe dar
o prazer que ansiava, foi demais até para mim.
Sem forças para continuar pensando e com a ciência de que nada do
que aconteceu sairá daqui ou irá se repetir, me faz acreditar que foi apenas
um devaneio de uma mente perturbada, apenas pelo cheiro do seu prazer
que molha meu pau misturado ao meu sangue. Retiro a máscara ansiando
por sentir seu gosto, algo que jamais tive, logo a balaclava desaparece.
Passo as pontas dos dedos nele e os levo à boca, o grunhido que escapa é
tão prazeroso que me faz desejar abocanhar meu próprio pau para chupá-lo
e trazer à minha boca seu gosto, um que jamais provei e que agora vou
viver em agonia por não ter nunca mais.
Chego ao banheiro e olho o espelho estilhaçado preso à parede,
tento entender, enxergar algo além do nada refletido, reconhecer o que está
lá fragmentado me inquieta, o olhar que ela me deu me irrita, a forma como
disse, sua voz saindo fria e superior arrastando tudo que durou anos para
obter ao buraco, reduzindo quem sou a isso que vejo no reflexo do espelho,
NADA.

A luz do dia chega sob meu olhar atento, desço da cama vestindo
minha balaclava e colocando minha máscara, uma dor de cabeça infernal
me toma. Desde o momento em que ela saiu sinto o pulsar das minhas
têmporas, estou quase vendo tudo em dois. Caminho praticamente cego
rumo à clínica médica que me manteve vivo após a última batalha.
Todos que me veem se afastam, ninguém me dirige a palavra,
apenas a Dra. Monike fala diretamente comigo.
— Onde ela está? — rosno sentindo a dor pulsante querer me levar à
escuridão.
Assim que minhas palavras são ouvidas as pessoas se espalham,
ligando, correndo e desaparecendo das minhas vistas como baratas. Rumo à
sala em que sempre sou atendido e para minha fúria a encontro. Travo
minhas mãos sentando-me na maca, olhando para o outro lado, vê-la aqui
me deixa ainda mais irritado e a dor aumenta em níveis quase
enlouquecedores.
Sei que está surpresa com minha presença, pois sua respiração
muda, antes que consiga me dirigir a palavra o segundo médico aparece, eu
nem mesmo sabia que ele estava aqui.
— Anônimus, desculpe-nos, mas a Dra. Monike pode demorar um
pouco, tudo bem eu te avaliar? — Dr. Romeu questiona.
— Tire-a daqui — rosno entre dentes sentindo que posso desmaiar a
qualquer momento.
— É... — Ainda a ouço tentar questionar.
— Por favor, Morg — a voz de Romeu solicita com cuidado.
Ainda de olhos fechados ouço a porta abrir e com certeza ela sai da
sala.
— Quer ir me contando o que houve? Sei que apenas a Dra. Monike
pode te avaliar sem a máscara, mas posso ir te ajudando, caso deseje.
— Dói muito, uma dor insuportável na minha cabeça, na testa, onde
recebi o tiro.
— Ok! Vamos primeiro às aferições e depois partimos daí, tudo
bem?
Apenas aceno com a cabeça sem lhe dirigir a palavra, D. Romeu
começa o seu atendimento e minha vontade é de lhe arrancar a traqueia com
a mão, já que eu preciso apenas que essa dor infernal passe, mas não posso
me enganar, ele é filho de um Anjo, tão letal quanto qualquer um de nós.
— Anônimus. — Logo a voz da Dra. Monike pode ser ouvida.
— A pressão dele está alta, tia. Ele sente dor e relata ser na testa.
— Certo, vamos deitá-lo. — Sua voz segue com um toque nos meus
ombros e tenho meu corpo deitado na maca.
— Faça parar, Doutora — rosno travando meus dentes.
— Vou te colocar para dormir um pouco, nós cuidaremos de tudo.
Sinto uma picada em meu braço e sou levado a lugar nenhum.
Capítulo 10

Não consegui dormir, rolei por horas na cama até que decidi vir ser
útil na clínica, temos alguns soldados internados e mesmo que não seja
formada em nada, não me importo de ao menos organizar os materiais e
ajudar no que consigo, mas agora sendo expulsa da sala por ele, que pede
com uma voz tão quebradiça, estraçalha meu coração.
Como ter alguém como ele como minha pessoa se tudo que consigo
é sua raiva, seus rosnados e sua indiferença? Aquele homem em nada se
parece com o que estava comigo horas atrás, e mesmo que seus demônios
estivessem no controle, quando seus orgasmos o atingiam ele parecia se
deleitar por estar comigo. Ainda sinto seus toques brutos e a potência de
toda sua intensidade enquanto me fodia com vontade.
Caminhando de um lado para o outro, inquieta, querendo saber o
que está havendo, finjo que está tudo bem enquanto sou consumida por um
desespero sem tamanho.
Logo as portas se abrem e Atos passa por ela como um furacão.
— Morg, onde ele está?
— No consultório principal com Rome e Tia Monike. — Seus olhos
estão cravados aos meus e logo pisco algumas vezes para voltar a ser a
Morgana que todos eles estão acostumados.
Com um acenar de cabeça ele segue em direção ao local indicado,
me deixando aqui, com meus sentimentos todos borrados e distorcidos de
como pode ser o amor, não o que vejo meus pais terem, ou o que todos têm
por mim, mas um que entende quem ama e a forma com que talvez essa
pessoa se doe totalmente a você, preciso que isso aconteça conosco, por
nós, esse é o meu plano.
Decido sair dali, não faz sentido continuar. Caminho de cabeça
erguida como se olhasse todos de cima, na verdade, tudo isso é apenas para
que eu não permita que as lágrimas caiam. Odeio esse traço vulnerável, eu
não sou assim, com certeza vem de uma parte muito sensível de mim, uma
que preciso proteger e esconder de todos a todo tempo. Todos os soldados
abaixam as cabeças quando passo, isso acontece com todas as mulheres
Triglav, a diferença é que esse gesto vindo deles não me afeta.
Atravesso a porta de casa e antes que bata meus joelhos no chão
pela dor das palavras dele sou amparada por Damon.
— Morg, o que houve, minha princesinha?
— Por que dói tanto, Damon? Por que tem sempre que ser dessa
forma? Desejo tanto fazer parar.
— Tem se controlado por todos esses anos, um dia as barreiras
começam a rachar, Morg, as coisas começam a ruir, confie em mim,
caminhar na escuridão não é a melhor escolha.
— Eu só desejo que ele me note, sabe, por nós. — Meus soluços são
altos e compulsivos. — Eu vivia bem sem ele, eu tinha planos, eu gostava
do sangue e da dor, de quem eu era antes de o ver. Eu a protegia, protegia a
pequena Morg, mas agora é conflitante, porque nós o desejamos, e não
posso permitir que ele seja com ela o que é comigo, ele precisa entender,
Damon, precisa.
— Minha pequena destemida, eu estou aqui por você. — Enquanto
ele caminha comigo em seus braços, afundo meu rosto em seu peito,
sentindo a dor do meu corpo que faz me lembrar dele.
Sou colocada na cama, minhas botas retiradas, me encolho e logo
uma coberta é colocada sobre mim.
— Por que não dorme um pouco? É nítido sua necessidade de
algumas horas de sono. — Ganho um beijo na testa.
— Não quero dormir, Damon, quero sair daqui, ir logo embora.
— Fugir não vai adiantar, primeiro porque ele estará com você, e
segundo porque a escuridão irá te acompanhar. — Suas mãos alisam meus
cabelos.
— Talvez ele não possa, está na clínica sendo atendido agora.
— O que aconteceu?
— Não sei, ele só reclamou de dor e me mandou sair.
— Vou preparar algo para comermos, então conversamos mais.
Tudo bem?
— Promete que não demora? — A vulnerabilidade me destrói,
porque eu não sou essa pessoa chorona e indefesa.
— Prometo, minha princesa.
O ouço sair, e a ordem fria e gélida tão furiosa de sua voz acaba
comigo mais uma vez, talvez nada do que faça o direcione a mim, ou
mostre o caminho que ele pode percorrer trazendo-o finalmente para a
minha vida.

Abro meus olhos e a claridade incomoda muito, quando meu


cérebro processa onde estou, levo minhas mãos ao rosto, tocando-o nu, sem
proteção alguma. Ouço a máquina apitar acelerada em algum lugar quando
a voz do mestre me alcança.
— Ninguém o verá, eu garanto. — Viro minha cabeça em direção ao
som da sua voz relaxando meu corpo.
— O que houve? — Encarando seu olhar, existe nele algo que
jamais vi e não sei nem ao menos nominar.
— Um pico de pressão alta.
— O quê?
— Anônimus, gostaria de saber o que posso fazer para que ao menos
tente viver. Fica preso naquela casa sendo alimentado, caminhando por aí
apenas à noite, não conversa com ninguém, não tem amigos ou mesmo
pessoas próximas. Eu entendo que todos os seus se foram. — Uma
respiração profunda ocorre, então ele continua. — Um dia me pediu para
que o enviasse ao inferno, mesmo que isso seja algo pelo qual relute,
desejando lhe dar a vida que nenhum de vocês puderam ter, se essa ainda
for a sua vontade me peça uma outra vez que farei.
Entendo o que ele diz, viro-me fixando meus olhos no teto, seria a
morte o conforto que busco para minha cabeça e meu corpo? Talvez
encontrar com meus irmãos seja melhor que vagar longe deles, não sei
quantos anos tenho, quanto tempo de vida ainda me resta e se for apenas
agonia de que a morte me abrace, não conheço nada além disso. A dor é
uma companheira feroz e não muito amistosa. Mas agora há ela, a verdade é
que sempre houve, mas agora tenho a possibilidade de finalmente me
alimentar, moldá-la e depois a destruir, seria novamente prazeroso como foi
ou será que jamais irá acontecer, ela é alguém que não posso ter como
alimento, mas por que a quero nessa posição?
— Anônimus. — Volto à realidade quando a voz do mestre me
chama.
— Sim.
— Sim? Deseja que o envie para junto dos seus?
— Não, estou bem, mestre, apenas senti uma dor e vim aqui, como
ordenado.
— Anônimus, seu pau está cortado com vidro, seus punhos estão
cortados, tem um corte novo em sua testa, com certeza bateu novamente.
Sabe o que passou e o que o salvou, mas essa cicatriz em seu rosto deixa
claro que não pode sofrer impactos na cabeça, sabe que a bala ricocheteou
em seus ossos após a máscara reduzir o impacto, mas sabe também que seus
ossos trincaram, se torturar buscando pela dor vai te levar à morte, se anseia
por ela apenas me informe.
— Não anseio. — Viro-me novamente para encará-lo. — Quero
voltar, mestre.
— Voltar para onde, Anônimus?
— A cuidar da proteção da sua família.
— Não, está aposentado.
— Nem ao menos sei o que isso significa. — Sorrio em escárnio.
— Quando alguém trabalhou a vida toda e cumpre seu papel, essa
pessoa se aposenta.
— E o que faço com isso? Sinto que tenho muita vida ainda, não
estou cansado, ainda posso dar muito à máfia.
— A Triglav agradece seus anos de lealdade, mas não o queremos
mais.
— Está me descartando, senhor? Tenho feito algo que lhe
desagrada? Posso mudar, posso ser o que deseja que seja, foi sem perceber
que fiz o que o deixou assim, perdoe-me.
— Não, Anônimus, nada do que tenha feito me deixou desgostoso,
estou lhe dando a liberdade, aquela que lhe foi privada desde o nascimento.
— Não quero, não sei o que fazer com ela.
— Ela vai te permitir fazer o que desejar, Anônimus, conhecer o
mundo, viver, conhecer pessoas, matar quem quiser, se alimentar quando e
onde for, sempre será um membro Triglav, mas suas vontades agora são
tudo que o guiará.
Ouvi-lo dizer isso faz algo que há muito tempo não sentia gelar
minhas veias, o desespero de ter escolha e direcionar minha vida me toma.
Sinto medo, não quero nada disso, não sei ter nada disso, para onde iria?
Como iria me virar? Eu nem mesmo saberia me localizar.
— Não, não quero o que me entrega, mestre, sinto por desapontá-lo.
— Não me desaponta, Anônimus, se é medo por falta de dinheiro,
saiba que irei recompensá-lo por todos esses anos trabalhados, existe uma
conta com todo o dinheiro que lhe pertence, isso dará a você uma vida
confortável e abastada.
Penso em tudo e não quero nada, talvez se eu fizer um bom trabalho
cuidando de Morgana ele desista de me dar liberdade.
— Posso fazer meu trabalho durante essa viagem da senhorita
Morgana, depois podemos conversar novamente sobre isso? — peço,
porque não saberia viver com liberdade.
— Ainda quer ir nessa viagem? Serão longos meses de segurança
pessoal, ainda que acredite que Morgana não precise de você para nada. —
Sua afirmação me acerta como uma bala no peito.
— Sei que a senhorita não precisa, mas o mestre deu a sua palavra
de que eu estaria nisso, então farei. — Ficamos nos encarando, ele parece
não acreditar em mim, e se achar que estou mentindo pode me castigar, mas
eu preciso apenas ganhar tempo.
— Se é assim que deseja, assim será, quando voltar retomamos essa
conversa. Mas, Anônimus, não viverá como um recluso para sempre quando
se tem tanto para conhecer lá fora.
Eu não quero conhecer, mestre, confie em mim, eu só desejo ser útil.
Capítulo 11

Passei todo meu dia em observação, assim que fui liberado tudo que
desejava era um banho e ir ver Anúbis, em breve estará pronta para iniciar
seu treinamento, mas não estarei aqui nesse momento e preciso pedir que os
tratadores a iniciem e depois quando voltar dou continuidade.
— Senhor. — Ouço a voz de um deles que curva a cabeça quando
me vê.
— Como está a ninhada? — sondo curioso.
— Crescendo fortes e saudáveis — pontua. — O Senhor Atos nos
informou que a fêmea será destinada a você.
Saber que ele já fez isso só me mostra o quanto o mestre tem
palavra.
— Sim, gostaria que cuidassem da Anúbis para mim, precisarei ficar
algum tempo fora, quando retornar sigo de onde pararam — alerto. — A
treinem com isso. — Entrego-lhe duas máscaras douradas, tenho algumas
delas que o mestre me deu. — Precisa obedecer aos comandos e reconhecer
quem olha e dá as ordens, a máscara será o seu ponto de referência.
— Sim, senhor. — Ele segura os objetos que entrego quando o
segundo tratador caminha com ela em sua mão, trazendo-a até mim.
Aquele olhar está lá, consigo enxergá-la, Anúbis não é mais que
uma pequena bola de pelos rechonchuda, preta e brilhante que tem olhos tão
azuis que destoa de todo o conjunto, trazendo-lhe um ar cruel, tão cruel
quanto o dela.
Não sei por que sempre volto a pensar em Morgana, suas palavras
ainda rondam minha cabeça, a forma com que me encarou foi
definitivamente um exímio sinal de que estamos em posições diferentes e
assim iremos continuar.
Coloco a pequena princesa sombria no chão, dou um passo e sou
acompanhado, paro e ela para, de alguma forma ela entende para que
nasceu, assim como eu, ela nasceu para servir e obedecer.

Algum tempo depois de devolver Anúbis à sua ninhada retorno até


minha casa, estou finalizando meu jantar quando o alerta de que meu
alimento chegou soa, meu corpo sofre com uma tensão estranha e o repúdio
de imaginar gritos diferentes dos seus sob mim faz a maldita dor de cabeça
voltar.
Corro em direção aos comunicadores da parede com a comida quase
na boca voltando por onde entrou.
— Não descarreguem! — grito furioso. — Levem a comida de
volta!
— Temos ordens... — Não permito que continuem.
— Eu juro que os faço de alimento se não obedecerem às minhas
ordens! LEVEM DE VOLTA!
Olho as grandes telas ao lado e vejo que as portas voltam a se
fechar, sei que o mestre vai questionar minhas ordens, mas não posso, mas
por que não posso?
— Desgraçada! — Soco a parede, furioso. — Morgana Dothraki, eu
juro que quando estivermos a sós vou foder sua mente como parece ter
fodido a minha.
Ela tramou tudo isso, sim, tramou desde o momento em que me
olhou com aquela perversão no dia que ascendi como líder dos Obscuros,
sempre esteve lá, a sua maldita vontade de me domar assim como aqueles
Anjos malditos fazem, só que diferente das suas joias imundas eu jamais
serei domado, muito menos por aquela princesa sombria e perversa. Sorrio
sarcástico porque acabei de usar com ela o mesmo apelido que dei a
Anúbis, com toda certeza aquela cachorra filhote veio encarnada com o
fragmento da alma de Morgana.
Os dias se passaram e a viagem chegou, todas as vezes que o vi ele
parecia sentir minha presença, mudava sua rota e me evitava. Passei os
últimos dias cavalgando, indo para bem longe dele, em algum lugar no
condomínio em que a possibilidade de encontrá-lo fosse praticamente nula.
Olhando o sol nascer sinto meu telefone vibrar no bolso e sorrio ao
ver de quem se trata.
— Uau!! Tem certeza de que foi mesmo autorizada a sair pelo
mundo por seis meses? — Isaac aparece na tela, seu grande sorriso lindo e
seus olhos pretos como a noite fariam qualquer um suspirar.
— Até a última informação eu estava liberada — digo.
— Acho que preciso falar com tio Darko, isso não está certo. —
Bufo por ser insuportavelmente protetor.
— Vem cá, como sua mulher te suporta? Esse ciúme é infernal!
— Ela ama a proteção que apenas eu posso lhe oferecer. — Suas
sobrancelhas se erguem várias vezes.
— Coitada.
— Que isso, Princesa, sou tudo que uma mulher deseja.
— Isaac, que nojo, não é não. — Sua gargalhada grossa explode e
me leva a rir junto. — Posso saber o motivo dessa sua ligação?
— Bem, cuidado. Sabe que sempre ligo para todos, hoje foi a vez
das meninas, já falei com Ella, Virginia, Bella, Angel e agora você, depois
Ariel. — Isaac tem algo que com certeza sufocaria qualquer pessoa, ele se
preocupa com tudo o tempo todo, a nossa família é o alvo de suas
preocupações.

— Estou bem meu ingelosi emnyama[6]

— Sua dicção é perfeita em zulu[7], Princesa, sei que meus tios não
estão aí e com certeza já conversaram com você, mas preciso reafirmar que
estarei aqui sempre que precisar.
Sim, meus pais falaram comigo, meu irmão está prestes a sair para
sua nova missão, recebi mensagens dos meus pais e Damon segue sendo
minha sombra, mas Isaac com certeza não se contentaria com apenas uma
mensagem, ele gosta de olhos nos olhos.
— Sei que sim, em algum tempo estarei aí, é a minha última parada
antes de voltar para Belgrado.
— Princesa, mantenha seu GPS ligado.
— Manterei. — Sorrio para ele.

— Ngiyakuthanda[8]
— Ngiyakuthanda — respondo quando ouvimos a porta se abrir e
sua mulher passar por ela.
— Estava preocupada em saber quem meu homem amava além de
mim. — Ele a coloca em frente ao seu corpo deixando na tela os dois que
formam um casal tão lindo que me faz invejar.
— Nala, esse homem não ama ninguém mais do que ama você. —
Seus olhos verdes brilham de uma forma tão grandiosa que quase me faz
chorar.
— Ela não mente, minha diabinha. — Ele sorri envolvendo seu
corpo de uma forma tão íntima que percebo que chegou a minha hora.
— Bem, chegou meu momento, vocês dois encontrem um quarto. —
Os vejo sorrir enquanto Isaac enterra seu rosto na curva do pescoço de sua
mulher e eu encerro a ligação.
Sem olhar para trás sigo em direção ao carro que já me espera para
me levar até a pista onde o jatinho me aguarda.
Capítulo 12

Finalmente o dia chegou, o início de uma jornada de autocontrole e


loucura, meus demônios desejam devastá-la, estão inquietos desde o último
dia em que a vimos e ensandecidos desde a última vez que a tocamos.
— Anônimus. — Damon está na porta da minha casa e nem mesmo
o dia amanheceu.
— Sim. — O encaro, sou poucos centímetros maior que ele.
— Cuide da minha princesa, não permita que faça nenhuma loucura,
e acima de tudo a proteja dela mesmo.
— Não entendo suas palavras. — Tento fazer com que seja claro.
— Digamos que Morgana tenha uma tendência a fazer besteiras.
— Desconfiei que essa viagem tivesse o propósito de liberdade para
ela. — Mantenho meus olhos nos seus.
— Esse é o maior problema, não a sua liberdade, claro, mas estar
tão afastada de todos, é a nossa última linha entre ela e os nossos inimigos.
Ela pode ficar vulnerável.
— Ninguém irá se aproximar, pelo que soube apenas na casa da
montanha não teremos salvaguarda — informo.
— Sei que sim, mas não tire seus olhos dela, nem mesmo se ela lhe
ordenar.
— Já recebi as minhas ordens, Damon, sei onde e quando devo agir,
não se preocupe, o mestre a quer com todos os fios de cabelo na cabeça, eu
obedeço ao mestre e lhe dou minha palavra de que ela voltará sã e salva.
— Boa sorte — murmura.
— O quê? — questiono seu murmúrio.
— Boa viagem. — Sorri sem graça alguma.
Aceno com a cabeça, enquanto o vejo sair e me direciono à pista de
pouso da propriedade, desde o momento que saí da clínica não vi mais o
mestre, isso me deixa alerta, já que neguei alimentação por duas vezes, meu
corpo está ansiando por qualquer migalha de atenção, mas por hora meus
demônios só a aceitam.
Chego à pista com o dia amanhecendo, tudo já está pronto e minhas
malas são retiradas e colocadas na aeronave ao lado das delas, que já estão
aqui.
— Senhor. — Sou cumprimentado.
— A senhorita Morgana já está na aeronave?
— Não, senhor. — Logo que ele se cala o barulho de um carro se
aproximando me confirma que ela acabou de chegar.
Viro-me em direção ao barulho, vejo o carro estacionar e ela descer,
com seus longos cabelos quase loiros e olhos azuis quase brancos, que me
deixam paralisado, enquanto a vejo caminhar como a dona de tudo sem
preocupação alguma.
— Olha, pontual. — Analisa-me de cima abaixo, passando direto e
entrando no avião.
Sigo-a entrando logo em seguida e me sento duas poltronas atrás
dela.
— Senhor, deseja algo? — o funcionário me questiona após fazer o
mesmo com ela.
— Não — respondo ainda a olhando.
Vejo-a colocar fones de ouvido, enquanto somos informados que o
tempo de voo será de quase duas horas, já que seremos direcionados ao
aeroporto exclusivo dos Espossittos, quando seus olhos me encaram existe
algo diferente neles, algo que não sei nominar, como se essa não fosse a
mulher que acabou de passar por mim minutos atrás.
Após todos os procedimentos corriqueiros que já estou acostumado
e que com certeza ela também, começamos a nos movimentar e logo
estamos seguindo viagem, me mantenho na posição e aguardo o pouso
pacientemente. Em momento algum meu olhar sai dela, de onde estou
consigo vê-la por completo, a forma com que segura os braços da poltrona e
sempre com seus olhos fechados, até mesmo para responder ao funcionário
que a serve.
Sigo analisando cada um dos seus movimentos e seu corpo parece
cada vez mais tenso, mas é quando seus olhos se abrem e focam em mim
que percebo que ela está em pânico, não me mexo, continuo observando
sem esboçar qualquer reação, a sua pose soberba e poderosa de antes
realmente desapareceu.
— Senhores passageiros, entraremos em uma área de grande
instabilidade, mantenham-se em seus assentos.
Será que ela tinha ciência disso por isso o pavor?
Meu questionamento desaparece quando a luz da cabine se apaga e
parecemos descer fortemente no primeiro sacolejo que a faz gritar,
chorando. Sem condição alguma de me manter onde estou e mandando as
malditas ordens à merda, desato meu cinto sob os protestos do funcionário
sentado à nossa frente e caminho com dificuldade até ela que grita
novamente quando somos outra vez balançados com força.
— Venha — ordeno assim que a solto de sua poltrona.
— Não, vamos cair, vamos morrer. — Seu desespero parece
dominar suas ações.
— Não! — grito mais alto que ela quando consigo me sentar na
poltrona à sua frente puxando-a para os meus braços. — Sinta meu corpo e
ouça minha voz, não vou permitir que morra, ouviu bem? É minha para
proteger, eu te levo e te devolvo da mesma forma que te encontrei.
Ela se agarra a mim, enquanto a envolvo com meus braços após me
prender ao cinto de segurança, o balançar infernal continua e muitas vezes
seu grito fino atinge meus ouvidos.
— Não me solta, não me deixe morrer — murmura enquanto me
sufoca com seus braços.
Sentir seu corpo protegido pelo meu me faz pensar em formas de
como poderia tê-la de novo, mas aí me recordo de suas afirmações e faço
minha mente doente entender que isso jamais irá existir.
Não sei quanto tempo se passa, talvez para ela seja uma eternidade,
mas para mim foi uma fração de segundos quando a voz do piloto nos
informa que passamos pela turbulência e então ela se ergue sentada em meu
colo, me olhando profundamente nos olhos. Sua mão toca a máscara,
fazendo com que um desejo descomunal de não estar usando cresça em
mim. Essa Morgana à minha frente tem olhar doce e diria envergonhado,
como se algo fosse lhe acontecer a qualquer momento, seus olhos não se
fixam aos meus e a perversidade desapareceu...
— Obrigada! Eu tenho pavor de voar, e saber que teríamos uma
turbulência quase me levou à loucura. — Sua voz é um sussurro baixo e
ainda assustado.
— Por que não desistiu? — questiono, encarando-a, sem medo de
estar infringindo as malditas regras.
— Não queria atrasar mais a viagem.
— Já passou. — Tento manter o controle da minha voz, meu corpo
começa a dar sinais de que ela está próxima demais.
Sua outra mão segura meu rosto sobre a máscara e sem tirar seus
olhos dos meus ela leva seus lábios até onde fica a minha boca colando-os
ali, fechando seus olhos como se buscasse apreciar algo.
— Graças a você.
Devagar, sai do meu colo sem parar de me olhar como se buscasse
ver mais do que consegue enxergar, meu corpo reclama devido ao seu
afastamento, os demônios em mim urram acorrentados, desejando puxá-la
de volta, então sem mais pensar volto ao meu lugar e logo recebemos a
informação de que iremos pousar.
Capítulo 13

Estava afivelando os cintos quando fui informada que passaríamos


por uma área de instabilidade sendo questionada se gostaria de atrasar a
viagem, apesar de morrer de medo de voar, decidi que iria enfrentar essa
merda e não recuaria, só não contava com o desespero tomando conta de
mim e o medo de morrer sem ter ao menos vivido o mínimo do que espero
para minha vida.
Quando senti seu corpo sob o meu, sua proteção, seus braços me
envolvendo, eu desabei. Por que não poderia ser tão fácil como estava
sendo naquele momento? Por que a minha pessoa tinha que ser um demônio
que fazia tudo que mandavam, como agora? Estava apenas me protegendo.
Não pensei quando beijei sua boca sob a máscara, seus olhos
continham tudo, a tempestade turbulenta lá de fora estava explodindo neles,
mas não me importei, não liguei, deixei apenas que sentisse um pouco do
que eu desejava, ainda que por cima da máscara fria e mesmo que estivesse
morrendo de vergonha, respirando fundo tento conter o turbilhão de
sentimentos. Quando finalmente se livrou de mim correu de volta para sua
poltrona, e não me olhou mais, isso doeu em meu coração.
Pousamos de forma tranquila, enquanto estamos taxiando na pista
do aeroporto particular do meu padrinho, posso ver os três mosqueteiros
aguardando meu desembarque, Apolo, Eros e Aquiles, os trigêmeos mais
cruéis, letais e ciumentos que eu já conheci. Todos são seis anos mais
velhos que eu, e se não os considerassem meus irmãos, qualquer um deles
poderia facilmente ser a minha pessoa.
Desço sendo seguida por Anônimus, enquanto caminho até eles que
são a imagem da perfeição.
— Princesa Morg. — Apolo me abraça forte, sorrindo. — Cada dia
mais baixinha, parece que está diminuindo, Morg.
— Idiota, vocês que parecem muralhas tatuadas malditamente
perfeitas — rebato.
— Cale a boca, seu idiota, a pequena Morg é mais perigosa que
você. — Aquiles se enfia entre nós, me abraçando com a mesma
intensidade que seu irmão. — Cheirosa como sempre, Princesa.
— E você, não vai me abraçar também? — aponto para Eros.
— A verdade é que você precisa entender o privilégio de me abraçar,
Princesa. — Pisca safado.
— Eros Espossitto, essa sua soberba ainda vai te derrubar.
— Engraçado que já ouvi isso em algum momento, anos atrás.
Morg, eu sou lindo, cobiçado, rico e muito bom de cama, acha mesmo que
soberba é um empecilho? — Seus braços envolvem meu corpo. — Seja
bem-vinda, Princesa.
— O que fazem com ele mesmo? — pergunto aos outros.
— Fingimos que ele não existe — Apolo responde, fazendo Aquiles
gargalhar.
— Tentem, é a minha beleza que encaram todos os dias no espelho,
não se esqueçam que somos idênticos.
— Já entendemos, Eros. Rapazes, esse é Anônimus, cuidará da
minha segurança durante toda a viagem. — Apresento todos, mas o
demônio atrás de mim não esboça nenhuma reação.
— Gostaria de saber quem o protege de você? — Apolo fala
fazendo seus irmãos gargalharem
— Babaca! — Soco seu braço. — Onde está meu padrinho?
— Em casa, te aguardando. Ele e nossa mãe, é claro! — Eros
informa abrindo a porta do carro para que entre.
— Pode ir no outro carro, Anônimus — Aquiles avisa quando a mão
de Anônimus segura a porta.
— Não! Estarei onde ela estiver — rebate e encara Aquiles com um
olhar que informa que assassinaria todos eles.
— Deseja desafiar alguém como eu, soldado? — O vejo desafiar
Anônimus.
— Não desafio, informo, ela é minha para proteger, nem você nem
ninguém irá atravessar meu caminho. — Ele dá um passo na direção de
Aquiles quando Apolo decide entrar na conversa.
— Sem problema algum, somos corteses com nossos convidados, se
a ordem é essa, irá segui-la. — Sempre político e pacificador, mesmo sendo
o pior dos demônios, Apolo esfria os ânimos quando dá espaço para que
Anônimus se sente ao meu lado, puxando Aquiles para ir ao seu lado no
banco do carona.
Os carros saem e o silêncio um pouco constrangedor invade o local,
imagino a força descomunal que Aquiles deve estar fazendo, nenhum deles
é assim tão paciente, ainda mais estando em seu território.

Custou todo meu autocontrole vê-los tocando-a e sorrindo, beijando


seu rosto enquanto ela parecia feliz como jamais vi, novamente cheia de si
como se o mundo precisasse se curvar a ela, tão diferente da garotinha
assustada que estava em meu colo momentos antes.
Íntimos, era assim que eles se mostravam, tudo que desejava era
arrancar suas mãos e extinguir seus sorrisos.
Com o carro em movimento, me mantenho observando tudo sem me
mexer, apenas meus olhos vasculham tudo ao meu redor, o clima parece
pesado, como se esperássemos que a qualquer momento alguém dissesse
algo e explodisse a porra da tensão que estamos sentindo.
Logo o carro para em frente a uma mansão muito parecida com a do
mestre e todas as outras do condomínio em que moramos, abro a porta
descendo enquanto encaro Ettore e sua mulher que sorriem largamente,
assim que Morgana desce.
— Minha pequena Morg. — Seus braços se abrem para recebê-la
enquanto os olhos dos três homens tão assassinos e cruéis como eu se
voltam para mim.
Ettore, que não é idiota, percebe e o arquear de sua sobrancelha para
os filhos delata que terão uma conversa.
— Padrinho. — Morgana se joga em seus braços e meu corpo
tenciona.
Maldição! Demônios infames que não a querem dividir.
Espero que todos caminhem em sua direção, me mantendo no lugar,
quando finalmente adentram a casa os sigo um pouco mais distante.
Conversando sobre coisas aleatórias, meus olhos não saem dos seus.
— Por que não segue para o seu quarto? — Vanessa oferece. —
Eros, leve Morgana para a suíte acoplada.
— Mãe? — Seu questionamento novamente me irrita. — Ela
poderia ficar com um de nós como sempre foi. — Dou um passo em sua
direção que não passa despercebido por Ettore.
— Querido, Morg precisa de privacidade.
Quando pensa questionar novamente é interrompido.
— Vai discutir com sua mãe, Eros? — Ettore intervém com a voz
fria e letal.
— Não. Venha, Morg. — Ele estende sua mão pegando a dela e
quando caminho em direção para segui-los, Ettore me para.
— Anônimus. — Olho, esperando que diga o que deseja. — Venha
comigo.
Sua ordem me deixa furioso, já que não quero manter meus olhos
longe dela, porém o sigo mesmo a contragosto. Ettore atravessa uma porta,
após abri-la aguarda que faça o mesmo.
— Darko me ligou há alguns dias informando sua vinda junto com
Morgana, o que para mim foi uma surpresa, já que sabemos bem o que você
é. — Mantenho meus olhos nos seus e sei que ele pode ver o desprezo que
sinto. — Desejar minha alma não vai mudar o que tenho a lhe dizer,
Anônimus. — Sorri desejando que faça algo. — Ficará no quarto acoplado,
não tire seus olhos de Morgana, está com o aparelho localizador do GPS
que ela usa?
— Sim.
— Mantenha-o ligado e grudado em você. — Não entendo toda essa
preocupação.
— Manterei, meu mestre já me deu essas ordens, não irei
descumpri-las.
— Acho bom. — Vejo-o abrir uma gaveta retirando um cartão de lá.
— Pegue — ordena estendendo-o para mim.
— O que significa?
— É um cartão de acesso, a suíte que ficarão é acoplada, a porta é
invisível, só abre através do seu quarto, não tire seus olhos dela. — Seguro
o cartão pegando de suas mãos.
Com um sinal ele me pede para sair, ao atravessar a porta encontro
um dos trigêmeos que não sei quem é.
— Sou Apolo, venha, vou lhe mostrar seu quarto. — Sigo em
direção ao andar superior atravessando um longo corredor que nos leva ao
final dele. — Aqui, este é o seu quarto.
Sem nem ao menos lhe dirigir a palavra decido entrar quando sua
voz me para.
— Morgana não é uma das cadelas que violenta e mata, ouse tocar
em um fio de cabelo dela que arranco seus olhos. — Viro-me para encará-
lo.
— Isso é uma ameaça? — Temos o mesmo tamanho e olhar
assassino.
— Sim. — O homem à minha frente não me teme, e eu gosto assim.
— Então ouça a minha, ninguém a toca além de mim, se isso for
demais para você precisa me dizer. — Estamos batalhando com o olhar e o
que emana de mim é o mais puro desejo de fazê-lo gritar.
— Não era essa a resposta que deveria me dar, soldado.
— Não sou um soldado, sou Anônimus, um demônio disposto a
derramar qualquer que seja o sangue daquele que ousar desejar o que
pertence apenas a mim.
— Está dizendo que deseja algo que não pode ter, demônio? — Seus
dentes estão travados e seus olhos ainda mais assassinos.
— Quem disse que não posso?
— Está atravessando uma linha bem tênue, demônio, um anjo
jamais permitiria ser tocado por alguém como você. — Sorrio, e mesmo
que não possa ver ele ouve. — Qual o motivo do sorriso?
— Ver que acredita que aquela garota é um anjo, podemos dar
muitos nomes a ela, e anjo não se encaixa em nenhum deles.
Vejo reconhecimento em seus olhos, ele sabe, na verdade, todos
sabem que não existe real motivo para que esteja aqui.
— Estou de olho em você.
— Aprecie a vista.
Viro-me sem lhe dizer mais nada, o que acha ou deixa de achar não
importa, desde que não atravesse meu caminho estaremos bem.
Capítulo 14

Não consigo parar de rir desde que cheguei no quarto com Eros, ele
está bem relaxado sobre a minha cama enquanto me conta o que anda
aprontando pelo mundo.
— Como pode acreditar que irá achar a sua pessoa assim? — meu
questionamento nem mesmo o afeta.
— Eu não busco esses lances, isso não é para mim, como poderia
permitir que apenas uma mulher tivesse o monopólio de todo esse parque
de diversões? — seu riso se transforma em gargalhada. — Não mesmo,
Princesa, o que nossos pais têm é algo que não nasci para ter, talvez meus
irmãos, quem sabe.
— Eros! — Eu lhe jogo uma almofada quando ergue sua camisa
mostrando sua barriga de tanquinho perfeita.
— Confesse, Princesa, existe uma safada dentro de você e está louca
para pular sobre mim. — Seu sorrisinho de canto é sexy, mas não
irresistível para mim.
— Ha, ha! Se existe alguém que pode ter meu corpo sobre o seu é
alguém que usa máscara e é um maldito demônio.
— Sabe que com aquela máscara não poderá ganhar uma boa
chupada, não sabe? Uma boca bem treinada pode te levar à loucura.
— Bem, essa boca jamais será a sua, e sim, vai me ajudar a fazer
com que ele fique furioso.
— Morg, não posso matar um membro da Triglav, isso pode gerar
conflitos.
— Não vai matá-lo, arranco suas bolas e dou aos cães antes de
conseguir notar que foi castrado. — Minhas palavras o fazem esconder o
pau sob as calças.
— Viu como ele agiu com Aquiles, acha mesmo que ele não voaria
sobre mim caso me visse flertando com você?
— E por que está flertando agora?
— Não estou, apenas lhe concedendo o privilégio de me observar,
muitas venderiam a alma apenas para estar assim comigo.
— Eca, vadias baratas.
— A sua sorte é que sempre te veremos como uma irmã, caso
contrário poderíamos transar loucamente todos juntos, seria delicioso
nossas mãos sobre seu corpo com cada um de nós desejando mais de você e
disputando sua atenção, enquanto te preenchemos e lhe damos vários
orgasmos.
— Não aconteceria mesmo. — A mera ideia disso não me causa
nada.
— O que vai fazer quando ele souber? Homens como ele não sabe
distinguir, Morg, só devastar e destruir.
— Estou abrindo o caminho, quando ele entender, vai estar de
joelhos.
— Gosto da sua confiança, mas me preocupo, não quero que se
machuque ou que tudo fique ainda pior, sabe que a vimos daquela forma
apenas uma vez e parecia apavorada.
— Ele vai amar todas as minhas versões, preciso garantir isso.
— Estaremos ao seu lado em qualquer que seja a situação. — Eros
estica seus braços sabendo bem o que preciso agora.
Caminho até ele me enfiando em seus braços, esses pequenos
momentos de carinho e cuidado que me permito são apenas com eles, meus
pais e tios, me manter sendo uma fortaleza às vezes é um fardo pesado
demais.
— Obrigada!
— Não precisa sustentar o peso do mundo sozinha, minha princesa,
tanto eu quanto minha família seremos sempre um lugar para se desarmar.
— Preciso sempre estar alerta, Eros, não posso permitir que nada
aconteça.
— Não vai acontecer, Morg, não vai. — Ele beija meus cabelos e
apenas ficamos assim, em silêncio.
Não percebo o momento em que apagamos juntos.

Passo as próximas horas inquieto com o maldito cartão nas mãos,


não ouço nada, então decido verificar seu quarto, caminho até à porta que
liga nossos quartos sendo o mais silencioso que consigo, entro em um tipo
de corredor e acesso outra porta que desliza para a lateral quando bato meus
olhos sobre ela na cama, deitada ao lado do maldito herdeiro.
Minha mente projeta umas mil formas de matá-lo e outras tantas de
castigá-la por permitir que ele a toque.
O que está pensando, Anônimus? É só um maldito demônio que nem
mesmo deveria olhá-la.
Não consigo não continuar encarando a cena à minha frente fazendo
com que meu corpo sinta um ódio tão descomunal que o gosto de sangue
atinge minha boca, e só então percebo que acabei de morder a língua.
Da mesma forma com que apareci, desapareço, voltando para o meu
quarto sentindo meu corpo tencionar pelo ódio. Lanço fora o maldito cartão
que cai sobre a cama quando batem na porta.
Caminho até lá, abrindo-a, encontrando uma funcionária que não me
encara.
— Seu almoço, senhor. — Deixa o carrinho com as comidas que eu
mesmo coloco para dentro enquanto desaparece das minhas vistas.
Levo tudo até a pequena mesa no canto do quarto, retirando minha
máscara, e quando penso em retirar minha balaclava desisto, como uma
maldição tem um grande espelho à minha frente, logo me sento de costas
para ele. Não sinto o gosto da comida, nunca tem gosto de nada, mas
especialmente hoje é amarga e indigesta.
Sem conseguir continuar trancafiado como o animal que sou, decido
que preciso correr. Largo tudo como está e saio em direção à área externa, e
assim que chego ao corredor dou de cara com Morgana e um dos irmãos
abraçados e sorrindo.
— Indo almoçar? — pergunta ao me encarar, mas como ordenado,
desvio o olhar enquanto a respondo.
— Já almocei.
Não fico ali para que continue vendo a forma como eles se tocam e
saio sem olhar para trás. Logo que alcanço a parte lateral observo alguns
soldados e me direciono a um deles.
— Onde posso correr sem que exista a possibilidade de esbarrar em
alguém?
— Toda volta da propriedade é murada e tem um tipo de calçada
para a circulação dos soldados, pode utilizá-la para correr.
Aceno de forma positiva e sigo em direção ao muro, quando
finalmente chego começo a correr como se precisasse expurgar todos os
malditos demônios existentes em mim, o que seria impossível, já que para
que isso aconteça eu preciso morrer.

É noite e decido voltar para dentro depois que corri até a vontade de
derramar sangue italiano desaparecesse. Caminhei analisando todo o lugar
enquanto observava a movimentação do GPS de Morgana que esteve
sempre dentro da mansão, quando meu telefone toca sei quem é, afinal só o
mestre tem acesso a ele.
— Mestre.
— Anônimus, como andam as coisas por aí?
— Calmas, a viagem foi tranquila.
— Hum! Anônimus, como sabe estar em solo italiano quem
comanda tudo por aí é a Máfia Espossitto, por estarem em local protegido e
sendo recebidos siga as regras, porém, se Ettore, ouça bem, apenas se
Ettore lhe ordenar algo, obedeça, fora isso quaisquer decisões que tomar
arco com as consequências. — Desejo lhe fazer milhões de
questionamentos, mas não os faço, jamais questionaria o mestre.
— Sim, mestre.
— Aproveite para conhecer Roma.
— Está tudo bem como está, mestre, irei proteger Morgana e a
levarei para casa. — A linha fica muda por algum tempo até que ele volta a
falar.
— Se assim deseja.
A ligação se encerra analisando uma última vez o GPS, que dispara
caso ela fique a mais de dois mil metros de distância de mim.
Capítulo 15

Não o vi mais em momento algum depois que nos esbarramos no


almoço, estou pronta para sair, os trigêmeos devem estar me aguardando lá
embaixo, quando decido informar a Anônimus que estou de saída.

Sento-me na cama olhando para o aparelho em minhas mãos e ele


não responde, nem mesmo visualiza. Ouço batidas na porta, com certeza é
Eros.
— Pronta? — O sorriso do homem à minha frente baixaria qualquer
calcinha.
— Sim, e você, Aquiles, disposto a sair para caçar esta noite?
— Como sabe que sou eu, e não um dos meus irmãos?
— Eu os reconheço pelo olhar.
— E qual seria o meu olhar?
— Um daqueles que não sente remorso ou misericórdia.
— Meus irmãos podem achar que sou melhor que eles com suas
palavras e ficarem ofendidos.
— Não ficariam, Apolo é político, porém letal, e Eros apesar de ter
um olhar pervertido, podemos contemplar nele a maldade.
— Gostaria de ter um olhar sexy, quem sabe não poderíamos nos
divertir.
— Ao final, todos são iguais, cretinos, safados dispostos a levar
qualquer uma para cama, mas não sou qualquer uma.
— Não, você não é, e mesmo que adoremos esse joguinho de tentar
te seduzir, assassinaríamos qualquer um que ousasse se aproximar.
— Três leões de chácaras protetores.
— Confie em nós, Princesa Morg, nós a protegeremos sempre. —
Ganho um beijo na bochecha e sorrio.
— Assim espero, só não ousem me afastar dele.
— Acho um absurdo todo esse plano, mas se é assim que quer, é
assim que vai ser, apenas a mantenha longe dele por algum tempo,
demônios não sabem lidar com algo tão precioso e delicado, pode assustá-la
e até mesmo machucá-la.
— Eu sou a linha de frente entre ela e todo o resto, precisariam me
matar para tocá-la com a intenção de machucá-la.
— Nós sabemos que sim. — Sou puxada para um abraço e
caminhamos rumo à sala.
— Achei que ficariam como duas comadres conversando até
amanhã. — Apolo sorri ao se levantar ao lado de Eros.
— Santa Merda! Não tem condições de sair com essa roupa. —
Apolo parece furioso.
— O quê? — Afasto-me de Eros e dou uma voltinha.
Estou usando uma minissaia de couro preta e um corpete que
esconde todo meu anjo unindo a isso, botas de cano longo e saltos finos.
— Vai ser difícil não matar alguém assim, Princesa. — Seu rosnado
me faz sorrir.
— Não se preocupe com isso, eu mesma mato. — Pisco para eles e
Eros gargalha.
— Pronta para dançar um pouco e conhecer a noite em Roma? —
Eros me abraça novamente.
— Sim.
— Meninos — tia Vanessa chama nossa atenção quando nos
viramos —, cuidem de Morgana, não a deixem sozinha nenhum segundo e
não permitam que quem quer que seja se aproxime.
— Nem um flertezinho, tia? — Ela sorri delicada.
— Bem, acho que um flertezinho não faz mal a ninguém.
— Nós arrancaríamos o couro do desgraçado — Eros fala.
— Sempre o mais dramático e protetor. Agora vão.
A porta do carro se abre e nós entramos, pego novamente meu
telefone e a frustração me toma, não tem nenhuma resposta a mensagem
que ele já visualizou.
— Ele vai até você — Eros informa.
— Não acredito.
— Bem, por acreditar eu deixei a entrada dele liberada.
— Obrigada!
— Sabe que ele pode ser cruel.
— É isso que espero. — Sorrio e Eros não aguenta caindo na
gargalhada.
— Morgana, acredite em mim, não existe ninguém mais diabólica
que você, tenho pena do maldito demônio.

Pouco depois estamos chegando no club, somos autorizados a entrar e logo


estou caminhando com eles pelos ambientes luxuosos da casa, os três
sempre atraem uma atenção acima da média, mas existe algo sobre eles, os
trigêmeos quando estão aqui só fodem juntos, é como ser manipulada por
três deuses do sexo.
Como sei disso? Digamos que eu seja uma voyeur sempre que estou
em Roma e viemos aqui. Adoro ver a forma possessiva e furiosa com que
eles fodem, ninguém jamais me tocaria além de Anônimus, mas isso não
quer dizer que não me delicie vendo o prazer que causam nas mulheres.
Rodamos pelo lugar enquanto ouvimos a batida deliciosa da música
sensual, sempre um dos irmãos está comigo, enquanto os outros passeiam
pelo lugar por mais que eu tente me divertir a inquietação me consome,
olho o telefone novamente e nenhuma resposta.
— Vou andar — digo a Apolo.
— Vou com você. — Sua mão pousa na base da minha coluna.
— Não, quero fazer isso sozinha — retruco.
— Não existe essa possibilidade, Princesa. — Pisca para mim,
enquanto vejo seus irmãos agarrados a uma mulher que dança se deliciando
entre os dois.
— Vai perder a festa — aponto para a cena sensual e quente.
— Tenho todas as bocetas à minha disposição, Morg, e apenas um
pau, se a deixar e meu pai descobrir perco meu brinquedo, e confie em
mim, eu não vivo sem ele. — Sorrio de suas palavras. — O que acha de
aproveitar enquanto seu demônio de estimação não aparece?
— Está querendo que eu me divirta? — Sorrio de canto.
— Sim, o que acha de aparecer amanhã nas capas de jornais
rebolando esse corpo em frente ao meu? Se ele não aparecer podemos jogar
a revista na cama dele.
— Você é diabólico!
— Tudo por você, Princesa.
Então me entrego à loucura que é estar com um dos irmãos mais
desejados de Roma começando a dançar e beber sem ingerir uma gota de
álcool sequer, é claro.
Capítulo 16

A noite avança e nada de ele aparecer, os trigêmeos estão dispostos a


foder juntos e não serei eu a impedi-los. Paro de dançar quando vejo o olhar
faminto de Apolo direcionado aos seus irmãos que já estão quase socando
seus paus na garota pela forma com que se esfregam nela. Seu vestido já
está na cintura e as mãos de Eros e Aquiles estão em todas as partes, é
intenso de ver a forma sedutora com que eles a conduzem.
— Se junte a eles — peço, me aproximando do seu ouvido.
— Não a deixarei sozinha.
— Minha boceta já pulsa apenas por imaginar vê-los juntos, dando a
ela todo prazer que posso ver desejar em seus gestos. — Seu sorriso é tão
devasso que me faz sorrir.
— Vamos até eles e de lá a colocaremos na plateia, enquanto nos
divertimos exclusivamente para você.
Caminhamos em direção aos três e quando nos vê Eros abre um
grande sorriso, ele sabe o que irá acontecer, e sei que isso o deixa ainda
mais animado.
— Pronta para entender como o corpo de uma mulher deve ser
levado ao limite? — Apolo me pergunta enquanto vemos os três abraçados
à nossa frente.
— Por que não me mostra como faz, quem sabe assim ordeno que
Anônimus reproduza comigo quando chegar. — Pisco perversa.
Caminhamos juntos até que chegamos em uma espécie de quarto
com uma grande parede de vidro, Eros e Aquiles já entram arrancando as
roupas da garota, enquanto Apolo me coloca do outro lado do vidro sentada
em uma grande poltrona que é ligada por ele, vibrando deliciosamente. Nas
minhas mãos ele coloca o controle para que deixe na intensidade que
desejo.
— Deixarei o som da sala ligado, espero que se divirta. — Beija
minha cabeça apagando a luz e indo em busca da sua diversão.
Toda cena começa a se desenrolar e o sorriso da garota se abre
quando percebe que o terceiro deles se junta a ela. A safada sorri quando os
três começam a ficar nus na sua frente, seus corpos são musculosos,
tatuados e altamente gostosos, mas nada disso de fato me atiça a desejá-los.
Eros a pega pelos cabelos puxando para um beijo possessivo enquanto
Apolo se coloca atrás dela e Aquiles se ajoelha no chão, enfiando a cabeça
entre suas pernas começando a chupá-la.
Os gemidos que ela solta e a forma com que os três soltam
grunhidos excitados faz minha boceta pulsar, toda a imagem é de pura
luxúria e perversão, e me prende fazendo o sangue em minhas veias
ferverem.
Eles voltam a se enfileirar à sua frente ordenando que se ajoelhe
enquanto começam a abrir as camisinhas em suas mãos, com a boca, um a
um ela cobre seus paus com o látex fazendo com que cada um deles rosne
ansioso pelo que está por vir. Vejo Aquiles colocar uma cinta peniana que
posiciona a prótese sob seu pau que já é um espetáculo e o olhar assustado
da mulher cresce, enquanto Eros sorri, Apolo faz o mesmo que Aquiles e
posso imaginar o quão esticada ela será. Eros tira seu foco do que os dois
aprontam e enquanto Aquiles se deita na cama ele a coloca de joelhos para
chupar o seu pau forçando-a até o limite, enquanto seus irmãos massageiam
os próprios paus com as mãos. Assim que percebe que Apolo terminou de
colocar a cinta peniana eles começam a se posicionar. Todos são perfeitos e
seus corpos causariam desejo em qualquer mulher que pudesse usufruir
deles.
Ela é levada até a cama abrindo suas pernas para começar a se sentar
em Aquiles que grunhe alto quando começa a invadir sua boceta. Os
gemidos que ela solta são altos e cheios de prazer até que está duplamente
empalada por ele, as mãos de Aquiles apertam sua cintura quando pelos
cabelos Eros a puxa para frente, colocando-a na posição que Apolo precisa
para começar a invadi-la. Os trigêmeos trabalham em sincronia e se
comunicam apenas com o olhar, Apolo se coloca em pé, atrás dela e entre as
pernas de Aquiles que desliza suas mãos pelo corpo cheio de curvas da
mulher de longos cabelos pretos e grandes seios fartos. Eros sorri como um
demônio do sexo quando o primeiro grito de dor escapa da mulher ao
começar a ser invadida agora duplamente por Apolo. Seus gritos são
abafados pela boca de Eros enquanto o deslizar de Apolo continua sendo
facilitado pelo lubrificante que ele utiliza.
Por um momento eles param para que se acostume, enquanto o beijo
segue acontecendo, vejo Apolo lançar sua cabeça para trás dizendo que ela
está pulsando como uma cadela safada envolta do seu pau. Eles sabem que
ela gozou pela primeira vez em muitas que sei que vão ocorrer ainda esta
noite.
Em pé, na cama, Eros troca sua língua pelo seu pau socando fundo
na boca da mulher que agora parece muito satisfeita, Eros puxa seus cabelos
dando um tapa forte em seu rosto fazendo-a sorrir com a língua para fora.
— Podemos começar a socar fundo em você? — A pergunta de Eros
me leva à beira do abismo imaginando Anônimus com aquela voz grossa,
me questionando a mesma coisa, só que ele iria se referir a ele e a todos os
seus demônios.
— Sim! — A forma depravada com que responde mostra que está
perdida e desejando muito mais.
As mãos de Aquiles seguem para seus peitos apertando-os a ponto
de machucar, ao mesmo tempo em que Apolo crava seus dedos nas carnes
de sua cintura fina, e Eros segura seus cabelos com força. A sincronia se
inicia em meio a rosnados e gritos proferindo palavrões que aquecem ainda
mais meu corpo. Quando Aquiles mete, Apolo retira, um entra e o outro sai
de uma forma que faz meus buracos pulsarem, Eros é o único que mantém
um ritmo diferente, enquanto suas mãos agarram os longos cabelos da
mulher.
Os gemidos misturados aos meus que agora pareço estar no meio
deles, a loucura com que minha mente processa a forma intensa com que
ela é fodida por eles começa a me levar por um caminho que apenas
pertence a Anônimus. A força com que a fodem e seus gritos me fazem
gozar sem nem mesmo me tocar, e o grito que dou chama atenção de todos
eles que no mesmo momento me encaram através do vidro sorrindo
depravados, sabendo que mais uma vez conseguiram me fazer sentir prazer
sem nem ao menos me tocar.
Eles voltam a focar onde estão quando Eros urra de prazer retirando
seu pau da boca da mulher junto com a camisinha lançando seus jatos
espessos de esperma em seu rosto que se encontra agora com a boca aberta
e a língua para fora.
Quando Eros desce da cama sorrindo, voltando a se masturbar com
a cena à sua frente, o corpo dela pula pela força das estocadas, então ela
grita alucinada em mais um orgasmo sendo seguida por Aquiles que morde
o bico dos seus seios puxando com os dentes enquanto goza furioso, dando
a Apolo um prazer que pelo que vejo em sua expressão deve ser muito
intenso, começando a gozar fazendo suas unhas descerem dos ombros da
mulher passando pelas suas costas enquanto marcam sua pele. Apolo grita
urrando de prazer lançando sua cabeça para trás, enquanto os gritos de
todos se misturam aos gemidos alucinados da mulher que ecoam pelo lugar.
Com meu coração esmurrando o peito e desejando ter aquele
demônio maldito ao meu lado, vejo os trigêmeos se reorganizarem lançando
as cintas penianas longe e invertendo as posições, onde a partir de agora
eles reiniciarão sua orgia entregando a mulher a dor e o prazer que deseja
sendo conduzida por eles ao mais absoluto extasie.
Capítulo 17

Estava saindo do banho já vestido quando meu telefone tocou, logo


que acesso as mensagens olho e o lanço sobre a cama, então o rastreador
GPS da Morgana apita e sou informado que ela está a mais de dois mil
metros de mim e se afastando.
Decidido a ir atrás dela, assim que abro a porta encontro Ettore.
— Anônimus, já deve saber que Morgana está com os meus filhos e
não tem hora para voltar. — Antes que consiga dizer que é ordem do meu
mestre manter meus olhos sobre ela, continua. — Estou indo com meus
irmãos resolver alguns assuntos se estiver disposto a se alimentar.
Com o borbulhar do ódio em mim e por estar há muito tempo sem
me alimentar acabo não recusando seu convite, isso pode ser um bom
calmante para os meus demônios que anseiam por sangue, muito sangue.
— Eu vou. — Com o aparelho GPS nas mãos desligo seu sinal
sonoro e coloco de volta no quarto.
Ettore vai à minha frente e estamos nos dirigindo aos carros quando
Henrico e Salvatore se aproximam de nós.
— Tudo pronto? — Henrico questiona.
— Apenas nos aguardando no porto. — Salvatore sorri em escárnio.
Os carros saem em disparada e a adrenalina ferve em minhas veias,
posso sentir o gosto de sangue em minha língua, meu corpo inteiro em total
estado de alerta com meu pau já duro e ansiando pelo alimento que não me
será privado, não desta vez.
Sinto o arranhar das garras sob minha pele, não presto atenção no
que eles dizem, não me importo com quem será meu próximo alvo ou
quantos deles serão, tudo que anseio é comida.
Enquanto as luzes de Roma passam por nós Ettore me entrega um
estojo, algo que sei bem o que contém, estimulante, mas com a fome com
que me encontro não será necessário, porém o pego de suas mãos enfiando-
o no bolso da minha calça.
Minha mente fervilha em expectativa quando os carros param e o
que está por vir faz o frenesi começar.
— Anônimus, esteja preparado — Henrico informa e pouco me
importo com suas palavras.
Sou um demônio sedento, sempre estou pronto para agir.
Caminhando rumo aos containers sigo um passo atrás de Ettore,
assim que nos aproximamos a porta se abre e neste momento Henrico para
ao lado de uma maleta abrindo-a, retirando um bastão que se distende e
logo o encaixa na outra ponta de uma foice de prata.
Parados, o observando, o vemos girar a arma no ar algumas vezes
como se estivesse se acostumando com o peso, após encarar seus irmãos e
sorrir, voltamos a caminhar. No momento em que outras portas se abrem
temos uma família sentada em cadeiras, posso observar duas crianças, uma
mulher e um homem, os dois últimos nus, porém todos com capuz preto
cobrindo suas cabeças.
Meus demônios se eriçam com a possibilidade e diversidade do
alimento que me será oferecido e estalo meu pescoço, meu pau está duro e
baba ansioso por cada buraco disponível quando os gritos assustados
acontecem, a ponta da foice bate no chão e enquanto Henrico a arrasta
sobre o piso as faíscas sobem e o ambiente é tomado por uma atmosfera
bem sombria e macabra, algo que reconheço bem.
— Quem está aí? — o homem questiona enquanto sua família
chora.

— O Mietitrice[9], aquele que veio recolher sua alma e levá-la ao


inferno. — Henrico continua rodando pelo lugar enquanto nós já paramos,
posicionados no canto do local.
— Não fiz nada, não toque na minha família.
O prazer doce do medo, o cheiro do pavor e do desespero continua
me excitando.
— As coisas não funcionam assim. — Sua foice continua sendo
arrastada e agora o cabo frio passa pela perna do garoto.
— Haa! Papá. — O medo e o choro do filho deixam o homem ainda
mais alucinado, se debatendo enquanto sua esposa e filha gritam, chorando
sem conseguir enxergar nada.
— Comece a falar, Castilho, ou darei ao meu demônio sua mulher e
seus filhos. Preciso te confessar, ele veio da Sérvia, já ouviu falar dos Anjos
da Escuridão, aqueles que servem a Máfia Sérvia Triglav?
— Não, não, não, fique longe deles! Eles não têm culpa! Não
toquem neles! — o homem grita e o choro explode.
— Ele se chama Anônimus e é o chefe dos Obscuros, você o
conhece que eu sei — Henrico desdenha. — Vou soltá-lo primeiro com
Martiella, pequena criança indefesa não sobrará nada quando ele a tocar,
ouviremos seus gritos, seu desespero enquanto os rugidos do demônio
ecoam pelo local, depois Martin será o próximo, seu pau baterá tão fundo
que ele não irá resistir à primeira investida.
— Nãaaooo! — O grito da mulher ecoa alto fazendo com que meus
ouvidos doam. — Não toque nos meus filhos. Conte a ele, Castilho, conte!
Seu desgraçado imundo! Conteee!
Minha gargalhada explode, quero tanto, tanto fazer cada uma das
coisas que Henrico disse, que aperto meu pau sob a roupa e o olhar de
Salvatore e Ettore agora está em mim.
— Ouve a gargalhada do demônio, Castilho? — sua pergunta
acontece quando novamente toca o cabo da foice na perna da garotinha.
Seu grito fino faz o homem se contorcer nu na cadeira.
— Diga-me, Anônimus, qual deles deseja primeiro?
— Eu desejo todos! — Falo analisando a cena a minha frente eles
sabem bem para onde olho.
O olhar dos irmãos Espossittos sobre mim é incrédulo, o que eles
acham? Que vou fazer como eles que dão um showzinho de terror e não
cumpro com o que falo? Eu quero todos eles, anseio por todas as quatro
almas.
— Eu conto, eu conto. — O desespero do homem é como música
para os meus ouvidos.
Logo ele começa a abrir o bico, contando cada detalhe do plano que
rouba da Máfia Italiana, desviando mercadoria para outro lugar.
— Faça! — Henrico olha para um dos soldados que caminha na
direção dos quatro levando as crianças dali.
Meus demônios não se contêm, eles os queriam, não posso me
mover, não recebi a ordem de começar, estou como um animal babando
quando olho para Ettore que confirma que chegou a hora de me alimentar.
Começo a arrancar minha roupa, ficando completamente nu,
deixando apenas minha máscara.
Caminho em direção à mulher, começarei por ela, chuto seu peito
fazendo a cadeira bater no chão, se partindo, seu grito de dor me diz que lhe
falta ar devido a pancada. Arranco seu corpo do que sobrou do móvel
batendo sua cabeça no chão para que seus movimentos fiquem mais lentos,
seus gritos ecoam desesperados pelo lugar fazendo companhia ao do seu
marido que se debate e será o próximo da minha lista.
— Não! Me solte! — Ela tenta escapar cravando suas unhas no piso
e as vejo estourar uma a uma pela força que faz ao tentar em vão, fugir de
mim.
— Eu ainda nem comecei. — Lanço seu corpo longe com outro
chute, fazendo com que ele bata contra a parede.
Olho sobre a mesa uma corrente fina e por consequência mais leve,
ao retornar ela tenta se levantar e está cambaleando, envolvo seu pescoço na
corrente lançando-a novamente sobre o chão esfolando todo seu corpo que
começa a ser marcado com sangue.
Puxando seus cabelos, a curvo sobre a mesa colando seu tronco
sobre ela enquanto afasto suas pernas com as minhas, a vendo lutar para se
soltar, mas não tem força para se livrar do meu agarre quando soco meu pau
de uma vez em sua boceta, enquanto sufoca pela corrente que é tencionada
por mim.
Começo a me alimentar e vez ou outra observo tudo ao meu redor
até que o primeiro orgasmo me atinge e a fúria me domina. Ela tenta mais
uma vez se libertar ganhando um soco na nuca e as correntes envolvidas em
minha mão potencializam a força da pancada, fazendo-a desmaiar.
Sem seus gritos me volto para o homem começando a socá-lo
enquanto o sangue espirra para todos os lados, inclusive banhando meu
corpo, quando após uma grande luta entre mim e ele e com o pau tão duro a
ponto de se partir, estou socado em seu rabo, ao se debater me irrito
chutando sua perna que está travada contra um apoio e vendo seu joelho
estourar expondo seus ossos. O grito que ele dá me faz gozar novamente.
Eu não quero parar, então sigo até minhas roupas sob o olhar atento
e inexpressivo dos três mafiosos, sorrio porque seus rostos não dizem nada,
porém seus olhos revelam a surpresa por verem como me alimento. Aplico
o estimulante e não demoro nada para voltar até a comida. A mulher parece
estar acordando e volto para ela que se debate.
O ciclo de estimulante pode durar horas, então sigo meu curso
fodendo e espancando, alimentando meus demônios e minha alma com seus
gritos de dor e desespero.
Eu me perco no tempo e quando estou saciado e exausto ouço a
ordem de Ettore.
— Anônimus. — Apenas isso basta para saber que acabou.
Antes que pare completamente, pego a perna solta da cadeira
enquanto vejo o homem que agoniza baixo, ainda lutando para tentar fugir,
mas não existe essa saída agora, chuto suas pernas afastando-as e estaco
fundo o pedaço de madeira em seu rabo, forçando o máximo que consigo,
ouvindo seu último grunhido de dor. Observo em euforia a morte coletando
bem à minha frente mais uma alma entregue a ela por mim.
Exatamente nesse momento meu pau não suporta mais ficar em pé,
não sobrou nenhum buraco daqueles dois que não esteve com meu membro
enterrado e foi delicioso me alimentar de forma tão farta e abundante. Sem
olhar para trás sou direcionado ao vestiário para que possa me lavar.

Quando o carro estaciona em frente à casa de Ettore o dia está quase


amanhecendo, apenas ele ficou enquanto me alimentava, não sei se viu ou
não, não estava prestando atenção nisso.
Espero que desça primeiro e o acompanho.
— Descanse — é tudo que ele me diz enquanto passa à minha frente
entrando em sua casa.
Sigo para o quarto e assim que retiro minha máscara, ficando apenas
de balaclava, acesso a passagem que os liga com o cartão quando a porta se
abre e chego à ligação que me dá acesso à Morgana, não a encontro em sua
cama, que nem mesmo parece ter sido usada esta noite.
Pego o seu aparelho GPS e verifico sua localização e então percebo
que ela está no quarto ao lado, ela dormiu com Eros.
Jogo o aparelho na cama fechando todos os acessos e me jogando
sobre o colchão, a última coisa que me lembro é do sabor amargo do ódio
que queima em minha língua por saber que ela não está onde deveria.

(...)
Estou sendo levado junto com meus irmãos ao treinamento,
enquanto nos olhamos e aprendemos a nos comunicar com o olhar, entendo
que tanto eu quanto eles estamos sentindo a fúria percorrer nossos corpos,
posso ver que assim como o meu, seus paus estão duros em expectativa.
Somos colocados em bases onde nossos corpos são travados em pé
pelo pescoço, tornozelos e pulsos. O estimulante é injetado em nossos
braços e o que já estava duro pulsa pela dor, a ordenha é colocada em
nossos paus e o prazer de ter deslizado sobre ele faz com que todos nós
gozemos. Sobre nossos olhos um óculos desce e o filme se inicia, homens e
mulheres sendo espancados e violados. Nossa excitação começa e os gritos
dos meus irmãos são ouvidos além do som das histórias que passam à
nossa frente. A vontade de me tocar é animal, eu quero minha mão no meu
pau e eles parecem saber disso, já que a ordenha fica mais intensa e o
orgasmo vem, quanto maior a brutalidade das torturas e violações que
nossos olhos veem, mais gozamos e mais furiosos ficamos.
No meio de tudo isso nossa mente já não se recorda mais que
estamos presos a máquinas, somos nós ali, nos fazendo toda e qualquer
atrocidade, rasgando, violando e destruindo cada corpo que é colocado à
nossa frente. Como sempre começamos a disputar quem goza mais, quem
atinge primeiro o número máximo de mortes antes que a exaustão nos tome.
O primeiro cai, vemos seu corpo tombar à nossa frente, seu corpo
foi levado ao limite, sua mente não responde aos estímulos, os seis de nós
que restam como carniceiros continuam a estraçalhar tudo à nossa frente.
Os gritos nos estimulam, os pedidos de socorro nos fazem ir além,
perdemos a noção de quantos corpos nós já dilaceramos. Um a um vejo e
ouço meus irmãos caírem, o barulho sonoro de que suas máquinas foram
desligadas me atingem, mas não paro, estou vidrado, eu quero mais, quero
o próximo. Eu me debato enquanto ofego furioso por não encontrar mais
nada, parecem ter sumido, desaparecido, quando ao virar meu corpo
sentindo meu coração bater nos ouvidos a encontro, uma pequena
garotinha encolhida no canto que grita ao me ver e se desespera com
minha aproximação.
Meu corpo parece reviver, parece ser reenergizado. Caminho
devagar até ela que será minha sobremesa, aquela que irá saciar todas as
minhas vontades, quando minha mão está prestes a lhe tocar despenco no
chão.
— Vai matá-lo dessa forma! — A voz do mestre ecoa.
Estou no chão e meu coração parece que vai explodir, não tenho
forças para me levantar, quando abro meus olhos o encaro e ele sorri.
— Você irá longe, Obscuro, é o mais resistente, o mais carniceiro e
aquele que jamais hesita. — O orgulho em sua voz me deixa orgulhoso. —
Levante-se e volte para sua cela.
Com meu corpo inteiro tremendo faço o que me ordena,
caminhando enquanto tento me manter em pé, sigo suas ordens e no
momento em que chego à minha cela, ele está lá, o sombra, aquele que faz
conosco tudo aquilo que somos treinados a fazer com os outros.
(...)

Abro meus olhos, ofegante, meu pau está duro como uma rocha,
preciso me alimentar novamente, mas isso não é possível, não é como se
estivesse em casa com tudo à minha disposição.
Esfrego meu rosto nu e mordo a palma da minha mão em fúria,
soltando um grunhido de dor pela pressão dos dentes e nem mesmo o gosto
de sangue faz com que pare ou que meu membro amoleça.
— Maldição!
Com força seguro meu pau forçando para baixo e para cima, com
ódio, com raiva e com tudo de mais doente que existe em mim. Penso nas
imagens que vi por anos, mas parece que nada ajuda quando me recordo da
sensação de deslizar, pela primeira vez na minha vida, deslizar em uma
boceta receptiva. A sensação macia e deliciosa, algo que jamais senti, os
gemidos de prazer e os pedidos de mais que ela soltava fazem meu corpo
sofrer espasmos violentos lançando jatos longos de esperma quente em meu
peito e que caem na minha boca.
Meu coração bate tão furioso contra o peito que parece que vai
estourar, então relaxo meu corpo ainda de olhos fechados, ofegante e
aliviado. Essa última palavra me assusta, posso sempre me alimentar até a
exaustão e nada me deixa assim, nada me deixa como fiquei quando ela
estava comigo.
Com os dentes travados saio da cama pulando dela e seguindo para
o banho.
Termino de colocar minha máscara e quando pego o aparelho
localizador verificando seu sinal de GPS, ainda no mesmo lugar, encaro
meu reflexo no espelho.
— Mulheres Triglav são intocáveis, não posso olhar, não posso
tocar, não posso desejar...
Abro a porta do quarto me deparando com ela que me encara com
seus grandes olhos azuis tempestuosos e cheios de ódio, mas quando seu
cheiro atinge meu sistema é impossível de conter.
“Minha”
Capítulo 18

Acordo e não estou no meu quarto, e sei bem o motivo, estou


sozinha na cama e vejo Apolo deitado no chão, depois de dançar como uma

condenada, passar horas vendo a forma com que aquela mulher era fodida

recebendo exatamente o que desejava, e me enfurecer por saber ao chegar

que ele estava se alimentando, quis assassinar o desgraçado e o desafiar a

me enxergar. Mas isso sou eu fora de mim, com certeza essa atitude seria
meu arrependimento pela manhã, então fui trancafiada aqui e agradeço por

isso.

Pulo da cama vestindo apenas uma camisa preta enorme e minha


calcinha, começo a vasculhar o bolso de Apolo, pois preciso sair, voltar para
o meu quarto. Quando minha mão toca seu bolso tenho meu pulso seguro
com força pela sua.
— O que pensa que está fazendo? — Seus olhos sondam minhas
intenções.
— Voltando para o meu quarto. — Tenho meu pulso liberado. —
Obrigada!
— Vai sair do quarto assim? Meu pai pode achar que nós dois...
Porra! Se ele pensar isso, perco meu pau.
— Meu padrinho jamais faria isso se lhe contar a verdade e não vou
me enfiar naquelas roupas apertadas.
— Te espero no café, vamos aproveitar o sol e passar o dia na
piscina.
Pego a minha roupa junto com as botas, e desapareço dali, não vou
trocar de roupa primeiro, porque estou no quarto ao lado e segundo porque
a camisa de Apolo bate nos meus joelhos.
Estou me aproximando do meu dormitório quando a porta de
Anônimus se abre e meu coração vem na garganta por me lembrar onde
esse filho da puta dos infernos estava durante a noite. Quando seus olhos se
cravam nos meus um arrepio poderoso percorre a minha espinha, como se o
anjo tatuado em minhas costas desejasse esticar suas asas.
— Bom dia, dormiu bem? — desaforada e furiosa, pergunto
tentando não parecer uma louca que quer lhe cortar a garganta.
Seu olhar foca em outro lugar e ele tenta passar por mim.
— Olhe para mim, Anônimus, é uma ordem! — Logo que ouve
minhas palavras seus olhos azuis assassinos se colocam nos meus. —
Responda a minha pergunta. — Desejo que ele se enfureça e exploda a
porra do mundo, enquanto segura a minha garganta e me castiga, mas não é
isso que ele faz.
— Demônios como eu não dormem. — Sinto a fúria emanar dele.
— Estamos sempre alerta, sabendo de tudo. — Seu olhar muda e sua voz
grossa e abafada pela máscara agora parece destilar ódio, e meu corpo entra
em estado de alerta.
Sem ter o que dizer, após engolir seco não digo mais nada e sigo até
meu quarto.

Bato a porta atrás de mim com o coração esmurrando meu peito,


quero manter meu plano de provocá-lo, talvez me oferecer a ele e não
permitir que me toque pode fazer com que tenha alguma reação.
Vou até o closet colocando um biquíni, o menor que existe, um que
Angel trouxe especialmente do Brasil para mim, ele é minúsculo e não
deixa muito à imaginação, enchi minha mala com eles. Quero provocá-lo,
sim eu quero!
“Não acho que conseguirá algo dessa forma.”
Encaro meu reflexo no espelho e consigo enxergá-la, frágil,
desprotegida e com medo, sempre posso sentir seu medo, ela nunca está
confortável, nunca deseja aparecer, ela não confia em ninguém além de
mim e da nossa família.
— O que quer que eu faça? Tudo que estou fazendo é por você
também, sabia? Não estarei aqui para te proteger para sempre, amar o
demônio nos deixa seguras, é unir o útil ao agradável.
“Tenho medo de que ele recue e quando estiver frente a frente
comigo, o que fará? Será que não irá me castigar?”
— Ninguém jamais irá machucá-la, nunca permitiria isso, Princesa.
O pavor que tem deixa o gosto amargo na boca, quando se encolhe
um pouco mais.
“Eu não sei.”
— Poderia ao menos tentar, todos aqui amam você.
“Não.”
— Me dar as costas não vai resolver, quando achar que é seguro
estar a sós com ele, será você e ele, não irei impedir se não existir perigo,
como foi no avião.
Não consigo ser como você, eu tremi de medo por ter me deixado lá
sozinha.
— Se me recordo ele te abraçou porque quis, foi sua decisão
protegê-la, e você ainda o beijou.
“Sobre sua máscara, apenas agradeci.”
— Não está mais naquele lugar, Princesa, temos uma vida inteira
para viver.
“Já tem sido demais para mim, só me dê um tempo.”
— Todo tempo que precisar.
— Morg! — a voz de Eros me assusta quando bate na porta.
— Entre! — peço assim que coloco meus óculos de sol, enquanto a
observo se encolher novamente em seu canto, observando como sempre
tudo de muito longe.
— Puta merda, Morg, ele vai enfartar! Não, eu vou enfartar! Juro,
garota, eu me apaixonaria perdidamente por você se não te conhecesse. —
Sorrio quando ele passa as mãos nos fios quase loiros.
— Vamos. — Convido assim que termino de vestir a peça que vai
sobre o biquíni.
— Sabe que isso é teste para cardíaco. — Repousa seu braço sobre
meus ombros.
— Ainda bem que Anônimus é um demônio bem saudável.
— Morgana Izabelly Dothraki, você é diabólica.
— Ouça o que estou dizendo, Eros, ele é meu mesmo que ainda não
saiba disso.
Saímos do quarto em direção à piscina e quando chegamos toda a
família Espossitto se encontra rindo, nem mesmo parecem com assassinos
cruéis e sem coração.
Estou sempre a um passo de cometer a maior loucura da minha vida
todas as vezes que ela se aproxima de mim, todas as imagens que passam
em minha cabeça trazem Morgana pendurada em ganchos enquanto a fodo
castigando-a por ser tão desaforada e por permitir que vejam o que não
quero que ela mostre a ninguém.
Um calor escaldante em meu peito que se mistura ao ódio que sinto
quando a vejo quase nua ao chegar à beira da piscina com todos à sua volta.
Travo minhas mãos em punhos e a imagem que minha mente projeta quase
me faz urrar de prazer. Todos estão mortos, a piscina se torna um grande
mar de sangue e eu me alimento de todos na sua frente enquanto ela grita
com medo, apenas ela permanece viva e será meu próximo alvo. Volto à
realidade encarando cada movimento seu.
Observo que ela pega seu telefone e começa a escrever algo quando
pisco algumas vezes sem entender sentindo meu telefone vibrar no bolso,
assim que o pego verifico a mensagem de texto e o lanço sobre a cama,
sentindo ódio, um que há muito não sentia.
— Precisa parar de olhá-la! — grito para mim mesmo.
Afasto-me da janela caminhando para fora dali quando decido me
exercitar, saio do quarto indo em direção à academia, preciso extravasar ou
não vou conseguir conter os demônios que anseiam desesperadamente por
mantê-la sob nosso domínio.
Capítulo 19

Eu sinto que ele me acompanha em todos os lugares, meu corpo


entende quando ele me olha mesmo que não o veja, decido lhe enviar uma
mensagem enquanto todos parecem prestar atenção apenas em suas próprias
vidas.

Sorrio mordendo os lábios sabendo que isso pode me causar uma


bela surra, mas quem se importa se for ele a bater eu posso ser a pessoa que
apanha com a maior felicidade do mundo.
— Continua aprontando, Morg? — Apolo se senta a meu lado.
— Eu? Imagina! — Ajusto meus óculos e analiso meu biquíni.
— Espero que saiba bem onde está se enfiando.
— Sou filha, sobrinha e afilhada de homens cruéis, nasci sabendo
bem por onde caminhar.
— Diferente de todos eles Anônimus não conhece nada além de
destruição — pontua sendo certeiro.
— Como se não soubesse.
— Meu pai disse que já viu muitas formas de tortura e castigo,
Morgana, mas nada jamais se comparou à forma com que Anônimus se
alimenta. — Se meu padrinho se surpreende imagino o tamanho do estrago,
mas não vou recuar. — Aquele homem não tem redenção.
— Quem se importa com sua redenção? Desejo seu inferno, Apolo,
quero conhecer e amar cada um dos seus demônios, se desejasse algo fofo e
saudável meu foco seria algo fora da máfia.
— Seu olhar nunca escondeu seu inferno, Morg, apenas mantenha o
demônio sob controle quando o assunto for ela, sabe muito bem que ele a
destruiria se a tocasse.
— O domarei até que tudo que ele deseje seja protegê-la do mundo.
— Você é uma coisinha diabólica.
— Eu tenho tudo que quero, Apolo, e eu o quero.
— Tio Darko vai matá-lo.
— Ele jamais mataria a minha pessoa.
— Se é o que diz.
Ficamos ali por horas quando todos começam a entrar em casa. É
final de tarde quando recebo uma informação valiosa.
— Anônimus está há horas na academia. — Ouvir isso de Eros eriça
todos os meus pelos.
— Chegou a hora de me aproximar um pouco mais.
Com o sorriso de Eros mais se parecendo o do coringa, sabendo bem
que vou fazer o que não devia, caminho sem usar nada por cima do biquíni
minúsculo que estou usando.

Chego na academia e seus gemidos erguendo peso fazem minha


boceta pulsar. Anônimus está usando coturnos, calça preta, sem camisa,
balaclava e sua máscara, a visão é do próprio pecado encarnado, seus
músculos se contraindo e seu suor escorrendo pelo seu corpo quase me
fazem soltar um gemido.
Sorrateira, caminho enquanto me aproximo de forma despretensiosa
como quem não quer nada, ao menos é isso que imagino em minha mente, o
local foi isolado por Eros, ninguém se aproxima daqui a menos que seja
chamado.
Continuo analisando tudo quando solta os pesos de uma só vez se
virando em minha direção como se soubesse que estava aqui.
— O que faz aqui? — Sua voz grossa e furiosa tem um poder
inimaginável em mim.
— Apenas passando. — Cruzo meus braços sob os seios enquanto
levo uma unha à boca mordendo-a de forma bem safada.
— Andou por aí assim? — Seus olhos azuis expressivos me
mostram que não gosta nem um pouco do que vê.
— Estou vestida. — Giro em meu próprio eixo para que veja por
completo.
— Falta muito pano para cobrir. — Apertando os olhos, Anônimus
parece querer voar sobre mim.
— Pouco pano é melhor que pano nenhum.
— Libélula perversa, não sabe a vontade que tenho de lhe arrancar
as asas e vê-la agonizar. — Sorrio da forma com que fala.
— Uma ameaça não me fará recuar, quem sabe se andar por aí sem
pano nenhum o aproxime mais de mim. — Assim que ouve minhas palavras
o vejo avançar sobre mim, segurando meu pescoço e lançando meu corpo
contra a parede com força, fazendo-me arfar pelo impacto.
— Eu mato qualquer um que ousar te olhar. — A fúria da linha
tênue em que Anônimus vive está a um fio de estourar.
— Não pertenço a ninguém além de mim.
— Me desafie e te mostrarei o que faço com você após me banhar
no sangue dos desgraçados.
— Isso te excita? — Apesar de estar com a necessidade de puxar o
ar levo a mão que segura seu pulso até seu pau e o que sinto me faz sorrir.
— Sim, te excita — constato sorrindo quando sua mão livre torce meu
pulso tirando a minha de seu membro. — Seu olhar diz tudo que deseja
fazer comigo, por que não segue em frente?
— Se começar não vou parar enquanto não lhe arrancar a carne dos
ossos. — A forma como fala faz meu corpo estremecer, mas não vou recuar.
— Muita promessa e pouca ação.
Apenas essa frase é o suficiente para ter meu corpo virado com fúria
contra a parede, meu grito não o para, meu corpo é travado pelo seu ombro
e posso ouvir que abre sua calça com pressa.
— Vou te mostrar um pouco do que acontece quando estou me
alimentando. — Tenho minha cabeça lançada contra a parede e uma dor
lancinante me atinge fazendo um grito explodir da minha garganta,
enquanto fico zonza pela pancada. — Isso, dessa forma, gosta de atiçar
demônios, Princesa, vou te mostrar como demônios ficam quando estão
irritados. — De onde estou consigo ver seu corpo musculoso, suado, suas
calças baixas enquanto me fode com toda a sua fúria através do grande
espelho lateral.
Sinto seu pau bater fundo em minha boceta e seu gemido parece um
rugido animal, suas mãos me pressionam com força contra a parede como
se fosse quebrar os ossos das minhas costelas.
— Estou sem ar. — Tento falar e sua gargalhada ecoa pela
academia.
— Não preciso que esteja respirando para me alimentar. — Pela
primeira vez o medo percorre minha espinha.
— Anônimus... — murmuro e mesmo que tudo isso me excite, ainda
sinto que posso realmente morrer no processo.
Suas estocadas ficam mais poderosas enquanto acerta os lugares
corretos e quando o primeiro orgasmo me atinge, quase desmaio aos seus
pés.
— Não é assim que acaba, na nossa primeira vez me pegou
desprevenido, agora estou mais que preparado, tatuou a minha máscara na
cara do seu anjo? — Seu corpo se cola ao meu e seu braço trava meu
pescoço pressionando. — Só se esqueceu que sou um demônio.
Sua mão vai até meu joelho dobrando minha perna e me
suspendendo, meu grito ecoa pelo susto enquanto caminha comigo até o
grande espelho do lugar, tem um corte em minha testa e o sangue escorre
pelo meu rosto. Seu caminhar enquanto está com seu pau enterrado em
minha boceta me faz gemer e ele novamente gargalha.
— Algo que precisa saber sobre mim, eu amo correntes e ganchos,
pena que não tenho nenhum dos dois aqui, mas ver o sangue escorrer pelo
seu rosto me faz desejar lamber. — Tenho meu corpo apoiado contra o
espelho quando meus braços são trazidos para trás sendo presos ao limite da
dor.
Seus braços se enfiam entre os meus como apoio e logo estou longe
do espelho com o corpo suspenso, minhas pernas apoiadas em suas coxas e
seu pau batendo fundo dentro de mim, o sangue do corte em minha testa
escorre caindo em meus seios, ele urra de prazer enquanto eu grito pedindo
mais. Os orgasmos começam a vir em ondas, estou tão excitada que seu
deslizar dentro de mim fica a cada momento mais fácil.
— Grita caralho! Grita implorando por mais, isso vai ser a sua única
saída do inferno, porque meu desejo de matar você cresce com a mesma
proporção que meu orgasmo se forma.
— Por favor, não me solta, não para. — Não consigo saber se a
pancada na cabeça me deixou fora de mim, ou se sou completamente insana
desejando ser espancada por ele até a morte, enquanto me fode com toda
essa força bruta.
Meu corpo pula a cada estocada, meus gritos se misturam aos seus
rosnados enquanto ele goza furioso, urrando tão alto que machuca meus
ouvidos, levando-me a mais um orgasmo, então me solta de uma só vez
fazendo com que bata com tudo no chão.
Pelo reflexo do espelho o vejo girar em seus pés caminhando até
onde sua camisa está, ele a veste, em seguida murmura alguns palavrões
enfiando seu pau ainda duro na calça saindo em disparada dali.
Finalmente meu corpo relaxa e me ajeito no chão, domar o maldito
Obscuro vai ser muito mais difícil do que ousei imaginar.
Capítulo 20

Precisava sair dali, imaginar seus ossos estourando enquanto a


devastava estava me levando a um lugar de onde não poderia retornar, fui
trazido aqui para protegê-la, mas quem a protege de mim?
Saio pisando duro rumando ao meu quarto. É final de tarde e o
desejo de pendurá-la em ganchos de carne me faz fervilhar. A libélula anda
testando meus limites e tudo que desejo é arrancar suas asas.
Tranco a porta atrás de mim começando a arrancar minhas roupas
que agora contêm seu cheiro, tudo me faz lembrar dela, seus gritos e
pedidos de mais, mesmo quando soquei sua cabeça contra a parede. A
desgraçada não recuou, ela estava cada vez mais perdida e ansiosa, sua
boceta estava tão macia e lubrificada que quase me fez gozar apenas
quando a cabeça do meu pau a sentiu, foi como se por um segundo um
demônio como eu tivesse permissão de pisar no céu.
Retiro minha máscara e minha balaclava quando encaro minha
imagem no reflexo do espelho, como todas as vezes eu não reconheço
aquela pessoa, a cicatriz como uma linha fina que atravessa o lado direito
do rosto é quase imperceptível.
Caminho nu em direção ao chuveiro e permito que a água gelada
caia sobre mim, meus músculos tencionam quando fecho meus olhos e
pensamentos invadem meu sistema.

(...)
Estou sentado no buraco escuro quando batidas na parede nos
informa que caminham próximos a nós, logo retiro minha cabeça de entre
as pernas, que é como costumo dormir, e abro meus olhos não enxergando
nada.
— Acredita que eles darão conta? — uma voz desconhecida por
mim questiona.
— Eles são demônios, treinados há anos para cumprir o papel.
— Quero o teste antes de emitir uma opinião. — a voz
desconhecida pontua.
— Sabe bem que somos capazes de tudo, não foi o suficiente o que
meus Obscuros já fizeram?
— Sim, mas esses são jovens demais.
— Eles matam desde que nasceram, acha mesmo que um teste não é
mais que uma forma de querer mostrar suas desconfianças sobre mim?
— Jamais desconfiaria de você, seus soldados são os melhores e
mais perversos existentes, mas já são mais velhos, estes são jovens e podem
ser incontidos como já aconteceu. — Do que eles estão falando? Existe
mais de nós? Onde?
— Mantenha a minha encomenda, preciso de seis deles.
— Tenho sete, por que não leva todos?
— Tenho apenas estrutura para seis, os envie quando estiverem
prontos.
— Em alguns dias.
A curiosidade me toma, para onde será que vão nos levar? E quem
de nós irá permanecer no buraco?
(...)

Desperto dos meus pensamentos quando ouço batidas na porta.


— Já vou! — grito para que não entrem.
Apressado, finalizo o banho, visto minhas roupas colocando minha
máscara e nem mesmo coloco a balaclava.
— Anônimus. — Vejo Ettore do outro lado da porta.
— Sim.
— Vamos precisar estar em um evento, Morgana não quer ir e nós
não podemos ficar, estaremos de volta em 48h, não permita que ninguém se
aproxime dela.
— Assim será.
— Não tire os olhos dela em momento algum. — Sua preocupação
me deixa em estado de alerta.
— Se desejar posso trancá-la no quarto. — O encaro e ele vê que
não é um blefe.
— Muito melhor assim, irei informar para que tragam as refeições.
— Está falando sério? — O que tanto temem em relação a ela,
aquela mulher poderia dizimar os demônios do inferno sozinha apenas com
uma faca.
— Vai manter seus olhos nela?
— Sim.
— Então ela pode caminhar por aí. — Apenas confirmo com um
acenar de cabeça.
Quando ele se vira, vejo que um dos gêmeos sai do quarto dela
beijando-lhe a testa e quero matá-lo. É impossível conter o rosnado que
solto quando os olhos de Ettore se cravam nos meus, questionando, e eu os
abaixo.
— Vamos! — Existe uma tensão no ar quando sua voz sai e o olhar
do gêmeo não é diferente.
— Cuide dela — ordena e quero lhe cortar a língua.
Enquanto os vemos sair a encaro, Morgana está escorada no batente
da porta com um curativo minúsculo na testa que está roxa e levemente
inchada.
— Mantenha-se no seu quarto. — Minha voz não é mais que um
grunhido.
— E quem vai me obrigar? — a filha da puta ousa me desafiar.
— Não teste minha paciência, algo que jamais tive que ter, a minha
ameaça de horas atrás ainda está de pé.
— Não ousaria. — Seu olhar desafiador está lá e falta muito pouco
para que arranque as asas da maldita libélula. — Você vai entender,
demônio, que não sou mulher de aceitar ordens.
— Vai pagar caro se tentar.
— Vamos ver o quão caro será.
A vejo retornar ao seu quarto batendo a porta enquanto fico
incrédulo espumando pela boca.
Se ousar me desafiar, Princesa, pode ser que me esqueça de quem é
e qual a minha missão aqui.
Capítulo 21

Saí daquela academia tonta e sentindo dor pelo corpo onde jamais
senti, o desgraçado ousou virar o jogo e dominar a situação, mas sou eu
quem vai voltar a ficar à frente no placar. Não nasci filha e sobrinha de
quem sou para ter um homem como ele acreditando ter sobre mim o poder
que ninguém jamais terá.
Chego ao quarto sem encontrar ninguém no meu caminho, indo
direto ao banheiro permitindo que a água quente relaxe meus músculos e
lave o sangue do meu corpo, quando finalmente me sinto pronta me enrolo
na toalha e percebo o pequeno corte sobre o local inchado que com toda
certeza ficará roxo. Pego a caixa de primeiros socorros que existe em todo
banheiro de uma casa de mafiosos e decido cuidar disso. Com dois adesivos
de sutura cutânea[10] fecho o pequeno corte e me sinto satisfeita.
Enrolada no roupão e com uma toalha prendendo meus cabelos,
caminho até meu telefone, discando para a única pessoa que vai me ajudar a
manter viva a ideia maluca de domar Anônimus.
— O que a minha princesa precisa? — A voz de tio Damian me faz
sentar na cama.
— O que tio Ícaro precisou para conseguir domá-lo? — pergunto
encarando meu reflexo perturbado no espelho, porque estou sorrindo com a
pergunta.
— Quase morrer. — Um arrepio atravessa meu corpo ao pensar na
dor e do lamento em sua voz.
— O quê?
— Isso, eu quase o matei por várias vezes, mas pode ser que nem a
morte dome Anônimus, está mesmo disposta a isso, querida? — Sua
preocupação é palpável.
— Ele é meu, posso ver em seus olhos o fogo queimar, Anônimus
nunca teve alguém que o desejou, quando eu peço mais ele transforma
aquele olhar assassino em algo jamais visto.
— Ok, sem detalhes. — Sorrio e ele gargalha. — Você é uma
diabinha, Morgana Izabelly Dothraki, seu pai vai me matar, mas querida,
continue seu trabalho, ninguém melhor que você sabe se defender, mas caso
precise de ajuda avise, eu coloco o maldito Obscuro no lugar para você,
posso ir até aí agora mesmo em meio a maldita guerra e ensinar a
Anônimus algumas coisas para que ele se lembre quem é.
— Não! Ninguém mais o machuca e lhe impõe autoridade, assim
que encontrar Atos o farei dar a Anônimus a liberdade que ele merece.
— Morg, Atos já o libertou, Anônimus apenas não conhece nada
além de subserviência. — Surpreendo-me com sua revelação.
— Então por que ele ainda o segue?
— Morg, imagine que por toda sua vida existe uma coleira em seu
pescoço, como um bebê elefante que luta por toda a infância até que é
vencido pelo cansaço e acredita piamente que não tem poder quando cresce
mesmo sendo muito mais forte que aqueles que o domaram. Anônimus tem
uma corrente que prende sua mente, nem mesmo imagina a força que tem,
nem mesmo tem noção de que apenas se rebelar pode fazer o inferno subir
na terra. — A lágrima que escorre do meu olho dói em minha alma. —
Pequena, Anônimus é um bebê elefante dentro da própria mente, ainda que
seja muito mais poderoso agora, ele ainda se mantém preso àquelas
correntes. — Tio Dam respira fundo, antes de proferir. — Eu sinto muito,
querida.
— Não se culpe, hoje você entende, tio, todos nós entendemos.
— Pode desistir e deixar isso para lá.
— Sou uma Dothraki, nós não desistimos, nós lutamos, vou arrancar
essa maldita corrente e lhe mostrar que é um demônio livre, o meu
demônio.
— Acho que o maldito mascarado está caindo numa armadilha.
— Tio! — Ele ri sem se conter.
— Desculpe, querida, mas quando ele souber o que sente e o que é,
vai entender que está saindo de uma prisão e entrando em outra, mesmo
que seja uma que ele deseje permanecer para sempre.
— É assim que se sente com a sua pessoa? — preocupo-me.
— Jamais, entreguei minhas asas ao meu ratinho para fazer delas o
que quisesse, eu seria seu escravo por toda a eternidade.
— Farei com que ele me enxergue da mesma forma com que os
homens da nossa família enxergam as suas pessoas.
— Acredito piamente que o fará ver que ganhou na loteria sozinho
por ter alguém como você o amando, mas, Morg, amar também é deixar ir,
entender que algumas vezes não conseguimos libertar quem amamos da
forma com que desejamos.
— Eu o quero livre, tio.
— Se o fizer entender e mesmo assim não acontecer da forma com
que deseja, precisa ter sabedoria para deixar ir.
— Deixaria o tio Ícaro ir?
— Se estar ao meu lado fosse algo que o matasse, sim, hoje eu o
deixaria ir, mesmo que isso causasse a minha morte, lhe daria a liberdade e
o protegeria de longe. — É impossível não se emocionar com suas
palavras. — Todos nós, Morg, hoje entendemos que nossas pessoas são
nossas razões de viver, se para que elas vivam precisem estar longe de nós,
com toda certeza os homens que nos tornamos lhe entregariam a liberdade.
— Tenho tanto orgulho de vocês, são as pessoas mais importantes
da minha vida.
— Apenas demônios que conseguem viver entre o céu e o inferno,
querida.
— É isso que quero para ele.
— Faça acontecer.
— Eu te amo, tio Dam.
— Não mais que eu, Princesa.
Encerro a ligação quando ouço batidas na porta e é meu padrinho ao
lado de Eros.
— Morg. — Meu padrinho me encara como quem analisa a
situação. — O que houve com sua testa? — Os vejo entrar no meu quarto.
— Estava saindo da sauna e escorreguei de frente — minto
descaradamente.
— Precisa ir ao hospital — afirma preocupado.
— Não é como se não saísse pior que isso dos treinamentos com
meu pai — digo, me sentando na cama e Eros já entendeu tudo.
— Sempre acreditei que Darko pegava pesado com você.
— Pai, Morg consegue eliminar quem quer que seja apenas com
uma das mãos. — Ele se joga na cama.
— Sei, Princesa, precisaremos ir a uma grande reunião das empresas
Espossitto em Zurich[11], gostaria que fosse conosco. — Sinto meu corpo
inteiro tencionar.
— Não. — A forma com que falo paralisa até mesmo a mim.
— Morg, não posso deixá-la sozinha.
— Estou segura aqui, não vou a lugar algum, temos duas festas em
alguns dias, vocês vão demorar?
— Não, voltamos em dois dias, mas é um grande negócio e não
podemos fingir que não existe. — Ver meu padrinho Ettore dessa forma tão
homem de negócios é bem diferente do que estou acostumada.
— Posso ficar? Caso contrário posso seguir o cronograma e seguir
viagem.
— Claro que pode, não é como se estivesse sozinha, informarei a
Anônimus da nossa saída. — Seu sorriso me faz entender porque tia
Vanessa é loucamente apaixonada por ele. — Tem mesmo certeza de que
não quer ir?
— Sim, prometo obedecer e não sair dos muros das mansões.
— Deixarei soldados à disposição e a equipe de segurança interna
sob a responsabilidade dele.
— Obrigada. — Ele caminha até mim, dando-me um beijo na
cabeça e sai.
— Eu tenho pena do demônio — Eros gargalha assim que seu pai
sai.
— Vai se ferrar! — Mostro-lhe o dedo do meio.
— Acha mesmo que caí nessa história de que caiu na sauna? — Sua
voz de repente muda.
— Mantenho minha versão. — Cruzo meus braços estufando meu
peito com cara espertinha.
— Morgana, isso pode ser perigoso. — Seu alerta me faz sorrir.
— Ele realmente deve entender o perigo que corre.
— Isso vai te causar a morte. — Fica de pé com cara de poucos
amigos.
— Acredita mesmo que aquele homem cuja ordem ao qual foi
criado para seguir é me proteger, me mataria?
— Talvez não mate, mas pode machucar e muito.
— Estou disposta a pagar para ver.
— Precisa criar juízo.
— E você precisa cuidar da sua vida.
— Ok, senhorita vou domar um demônio, amanhã por volta das
22:00h, seu demônio será alimentado, exatamente no galpão dos fundos.
— Por que está me dizendo isso?
— Porque sei que gostaria de saber.
— Não vou deixar que ele faça isso.
— Não o deixe incontido, Morg. — O vejo se colocar de pé. —
Apenas tome cuidado.
O acompanho até a porta ganhando um beijo na testa.
Capítulo 22

Acompanho a saída de todos atento a tudo, sendo apresentado a dois


soldados que ficaram para manter a segurança como sendo o responsável
por eles nos próximos dias.
— Anônimus, amanhã às 22:00h será alimentado, os soldados o
levarão até lá.
Afirmo com a cabeça imaginando que estou muito bem saciado, mas
não posso negar, eles desconfiariam caso o fizesse.
Vejo o comboio sair com todos eles quando retorno para dentro de
casa acompanhando o fechamento da casa, assim que tudo se conclui sigo
para o quarto e a encontro na cozinha.
— Passeando? — seu olhar quase branco é de desafio e a vejo
mastigar um sanduíche.
— Fazendo o meu trabalho — respondo curto e grosso e a vejo levar
a mão no coração, fazendo-se de ofendida.
— Acreditei que estávamos elevando nossa relação, já que fodemos
duas vezes e na primeira delas tirou minha virgindade. — Essa informação
me pega desprevenido e com certeza ela sente. — Qual é a surpresa que
vejo em seus olhos, Anônimus, não viu o sangue em seu pau? — Inclino
minha cabeça um pouco para entender o que ela quer com essa informação,
de certo é um blefe.
— Alguém como você não estaria dando a sua primeira vez a um
demônio como eu. — Travo meus dentes, claro que arrombei bocetas
demais por aí, muitas delas eram virgens, mas por que saber que a dela foi
apenas minha faz o fogo do inferno queimar em meu peito?
— Não se sinta especial, se não fosse você seria qualquer outro
demônio, tenho uma queda pelos desajustados. — Pisca. — Deve estar no
sangue.
A encaro por algum tempo e a forma com que me olha quer dizer
muito, Morgana não me teme, pelo contrário, ela quer o meu pior lado, ela
anseia por isso, é como uma cobra peçonhenta sempre à espreita fazendo
com que sua presença cause medo, até que dá um bote certeiro e nos mata.
— Estava pensando em quando irei conseguir ver seu rosto, gosto
de conhecer a face das pessoas que se aproximam tanto de mim quanto
você.
— Nunca vai acontecer, isso que vê é o meu rosto, contente-se com
ele.
— Posso desejar sua boca aqui. — Ela abre as pernas e a desgraçada
está sem calcinha sob o vestido.
— Está querendo me provocar, posso ser um pouco mais cruel que a
última vez — ameaço e sua feição não muda, continua provocando e
sorrindo.
— Desde que sua língua entre em mim, posso aguentar a surra. —
Ela umedece os lábios, maliciosa, e as vozes em minha cabeça desejam
tanto seu sangue e o som dos seus ossos se partindo.
Furioso, dou dois passos em sua direção segurando seu pescoço com
força, privando-a de ar. Morgana é uma endemoniada perturbada que me
atiça.
— O que quer de mim, deseja que te mate e então morra por isso,
sua cobra peçonhenta? — Praticamente colo nossos rostos.
— Não, desejo que entenda que vamos continuar dessa forma até
que entre em sua cabeça que não existe retorno, nós nos pertencemos e irei
te ensinar isso. — A confiança no que diz me assusta e nada realmente me
assusta, nem mesmo a morte.
— Não sou como os Anjos que podem ser contidos, eu te usaria até
a completa saciedade e depois a mataria, penduraria seu corpo em ganchos
de carne e a foderia até que apodrecesse. Nem mesmo as lembranças do
meu pau em seus buracos existiriam, sabe por quê? — nega com a cabeça
como consegue. — Porque tanto você quanto todas as pessoas que usei para
me alimentar não tem qualquer importância. — Solto seu pescoço para não
o quebrar deixando-a sobre o balcão onde está sentada.
— Sabe o que eu acho? — A encaro. — Não sabe chupar uma
boceta. — Quando termina de falar sinto algo atravessar minha mão e é
uma faca, uma maldita faca que não sei nem ao menos de onde ela tirou.
Ela desce do balcão ficando entre meu corpo e a estrutura.
— Sua filha da puta dos infernos. — Lanço seu corpo com força
contra a superfície a fazendo arfar. — Morgana, eu vou esquartejá-la.
— Por que não usa essa força para me foder? Mas só se conseguir
chupar uma boceta, posso sair agora e pedir para qualquer soldado lá fora
fazer isso. — Ouvi-la dizer isso faz meus demônios ficarem furiosos.
Seguro seu pescoço lançando-a novamente sobre o balcão.
— Tire o vestido e abra bem suas pernas apoiando seu corpo sobre
os braços — rosno a ordem.
Sorrindo, faz o que ordeno, ficando nua na minha frente, sua boceta
está vermelha e escorrendo, a perversa está excitada. Retiro a faca da minha
mão soltando-a e levando-a ao seu pescoço pela primeira vez, assustando-a.
— Retire a minha máscara, apenas ela, mantenha a balaclava, se
ousar tirá-la, arranco seus dois olhos, está entendendo? — Confirma com
um acenar de cabeça. — Faça!
Com a faca contra a sua jugular e vendo o sangue escorrer do
pequeno corte que o contato da lâmina com sua pele causa, ela segue
minhas ordens, lentamente retira a minha máscara e a coloca ao seu lado,
minha balaclava tem abertura no nariz e na boca.
— Agora vou lhe dar o que tanto deseja. — Sorrio diabólico quando
cravo a faca em sua mão no balcão.
Seu grito além de dor tem surpresa.
— Ouse me machucar que lhe devolvo na mesma proporção, posso
não te matar, mas castigá-la será meu plano de vida.
— Desgraçado! — rosna levando a mão a faca.
— Não a tire daí — grito a ordem paralisando-a. — Vai gozar como
deseja, mas será sob as minhas regras.
Com a minha boca em sua boceta ela grita ensandecida, nunca
chupei uma boceta, mas não é como se não soubesse fazer, fui treinado para
tudo, mas sempre fomos privados de coisas como essa. Seu gosto é como
me lembrava, mas sem o gosto do sangue, lembrar que fui o seu primeiro
faz com que tenha a certeza de que serei o último.
— Mas para cima, demônio! — faço como ordena. — Isso, sugue
exatamente aí esse pontinho de carne é o único lugar que deve dar completa
atenção — informa gemendo alto quando sugo com mais força. — Gosto
que aprende rápido. — Mordo o lugar a fazendo gritar pela dor, preciso que
aprenda quem sempre estará no controle aqui.
Seguro sua bunda com as duas mãos puxando-a para mais perto de
mim, pressiono minha boca em suas carnes e o primeiro orgasmo vem
quando sugo com força seu clitóris. Retiro minhas luvas e sua cabeça que
pendia para trás, agora me encara. Morgana está suada e com sua mão presa
à faca como ordenei, minha mão machucada está ensanguentada, porém
servirá ao meu propósito. Sorrio encarando-a quando soco dois dedos
ensanguentados em seu buraco e ela grita.
— Assim, agora rebola em meus dedos e goza.
Pressiono meu polegar em seu ponto pulsante apertando com a outra
seu seio com força, fazendo como mandei seus gemidos ecoam pela
cozinha e a forma com que rebola em minha mão em busca de mais de
mim, faz com que um grunhido possessivo escape, sua mão se movimenta
sobre a lâmina e vejo sangrar, sei que não cortou nenhum ligamento assim
como ela não o fez comigo, mas vai precisar de alguns dias para cicatrizar.
— Anônimus, não suporto mais.
— Goze como a puta que é. — Torço seu seio e ela urra de dor.
Quando sinto meus dedos serem ordenhados, ela treme
convulsionando pelo orgasmo que a atinge violentamente, a visão é uma
mistura insana de situações, Morgana deseja o pior de mim e eu anseio por
lhe entregar exatamente o que quer.
Capítulo 23

Sabe quando você consegue algo que quer e se surpreende com o


que recebe? Puta que pariu! Aqui, olhando seus olhos azuis tão intensos e
obscuros quanto ele, respiro fundo algumas vezes para entender para que
inferno ele lançou minha alma.
Grito quando sinto minha mão ser liberta da faca.
— Desça e siga para o seu quarto, cuide da sua mão como fez com
sua testa e, Morgana, não continue me testando.
— Não? Acha mesmo que apenas isso foi suficiente? — desafio.
— Não caminhe nessa direção. — Sua ameaça não me causa nada.
— É você quem irá impedir?
— Não, mas serei eu quem irá te destruir.
— Continue tentando. — Pisco pirracenta. — Sei que entenderá que
me pertence.
— Não vai acontecer como deseja. — É tão louco a forma com que
leio seus olhos, ele vacila quando afirma, mas existe algo lá, eu sei que sim.
— Agora vá, está levando todo meu autocontrole para não arrancar suas
asas com a faca, Libélula perversa.
Antes que o questione sobre o motivo de me chamar assim ele
entende e nega com a cabeça, então decido recuar, mas tenho algo
preparado para amanhã, Anônimus vai entender que não sou alguém que
recua à primeira ameaça.
A inquietante vontade de me alimentar dela é como ser torturado,
conheço bem essa sensação, que pinica como uma maldita tormenta, posso
destruir tudo que toco, posso despedaçar qualquer que seja a pessoa que
imaginar, mas aquela que mais me causa isso é uma intocada, e sorrio pelo
que penso, a libélula deixou de ser intocada desde o momento em que
coloquei meus olhos nela, não a toquei, mas salivei no instante em que
meus olhos a viram naquele maldito buraco.
Percebendo a bagunça que fizemos decido limpar antes de ir dormir,
enrolando um pano na minha mão organizo tudo e só então sigo para o meu
quarto, meu pau está duro e neste momento não sei onde estava com a
cabeça quando a mandei embora.
Começo a retirar minha roupa quando ouço batidas na porta
— Anônimus. — Sua voz me chama do outro lado, me fazendo
caminhar até lá.
— O que deseja? — A encaro com a maleta de primeiros socorros
na mão que não está com o curativo.
— Vim cuidar da sua mão.
— Não precisa.
— Eu machuquei, eu cuido. — Passa por mim como se a tivesse
convidado.
— Precisa conhecer os limites.
— Precisa aprender a ser grato. — Sorrio incrédulo e sem graça
alguma.
— Veio me agradecer por tê-la machucado?
— Não, apenas cuidar da sua mão.
— Morgana, saia!
— Não.
— Por que é tão teimosa? — Elevo a voz para que recue, ela não
imagina que o que sinto é algo quase incontrolável, tudo que quero é
estourar seus ossos e se ainda não fiz foi por não poder fazer.
— Não me obrigue a usar minha autoridade Triglav sobre você.
— Não obedeço a ninguém além do mestre.
— Mas deve obediência a todo e qualquer membro da Máfia Sérvia
do qual estiver à disposição, acha que não sei? — Se pudesse soltar fogos
agora pelos olhos com certeza estaria queimada.
— Não ouse atravessar essa linha. — Começo a ficar furioso.
— Então não me obrigue a atravessá-la. — Engulo seco repassando
na minha cabeça todas as malditas leis incutidas em minha mente por todos
os anos de minha existência. — Agora sente-se na cama e me deixe cuidar
de você.
Suas palavras são como pedradas em uma parede de vidro, jamais
precisei de alguém para cuidar dos meus machucados, aprendi a cuidar de
mim desde sempre como todos os obscuros.
— Sabe que é como sangrar em alto mar não sabe? Você flerta com
a morte e sabe o que faz, então a pergunta é: por que faz?
— É surdo ou se faz? Entenderá que me pertence.
— Não altere sua voz comigo. — Ameaçá-la é tudo que consigo na
posição em que me encontro.
— Pare de ser um demônio, apenas receba os cuidados depois disso
eu saio. Que inferno! — Abre a maleta resmungando. — Milhões de
soldados e homens no mundo e eu decido querer aquele que não sabe nada
sobre ser a pessoa de outra.
Resolvo não rebater, a curiosidade de ver alguém cuidando de mim
me assusta na mesma proporção que me deixa intrigado, sem me olhar nos
olhos em momento algum e ao alcance de minhas mãos que anseiam por
beber seu sangue ela começa a limpar o ferimento com antisséptico que
arde e quando me encara buscando por alguma reação em mim, seu olhar
muda, ela parece outra pessoa e se não a conhecesse bem poderia dizer que
a mulher à minha frente em nada se parece com a peste diabólica que
conheço tão bem.
— Desculpe se dói, não tem como fazer de outra forma. — O timbre
de sua voz mudou, Morgana parece mesmo estar sentida pela minha dor.
Não esboço nenhuma reação, essa sua versão me paralisa, poderia
dizer até mesmo que é doce e delicada. Seus movimentos são leves e sinto
um pequeno tremor em suas mãos, devagar, joga o soro e delicadamente
seca minha mão.
— Por vê-lo mexer os dedos sei que não atingiu nenhum tendão,
logo estará bom.
— Digo o mesmo de você, já que mexe os dedos, afinal sabíamos
exatamente o que estávamos fazendo.
Intrigante, você é intrigante, Morgana.
Cuidadosamente ela enfaixa minha mão, assim como fez com a sua
e deposita um beijo sobre o curativo, como fez no avião, beijando minha
máscara.
— Logo ficará bom, apenas tente não movimentar tanto a mão.
— Impossível, acredite em mim, isso não é nada, agora saia —
ordeno, porque essa sua versão me incomoda, é inquietante toda essa aura
de luz e perfeição, Morgana baixou suas barreiras.
Ainda me olhando nos olhos ela sorri envergonhada se levantando,
saindo do meu quarto e me deixando sem reação alguma, meu coração bate
na garganta, meu corpo sente algo que jamais senti, tento controlar minha
respiração quando ela sai.
Que porra acabou de acontecer aqui?
Capítulo 24

Ainda não acredito que consegui, ainda não acredito que consegui
estar tão próximo dele sem me encolher no canto do quarto, apavorada e
sendo tomada pelo pânico e desespero.
— Ainda acho loucura, meu Deus, ainda não acredito. — Esfrego
meu rosto com as mãos suadas e tremendo, enquanto sorrio pela ousadia do
que acabamos de fazer.
“Se continuar assim não vai precisar de mim.”
— Não, foi loucura, quase corri de perto dele. — Olho para ela
imponente no espelho sorrindo, vitoriosa.
“Vou domá-lo para você, fiz uma promessa e jamais a quebrarei,
ninguém vai machucá-la.”
— Nunca conseguirei ser como é, nunca chegaremos ao dia em que
não irei precisar de você, é desesperador, meu coração parece que vai
explodir, que vou errar, o medo me consome. — Meu corpo inteiro treme e
sorrio ainda sem acreditar.
“Não está mais lá, Morg, é uma mulher forte, da mesma forma com
que se sente segura com nossos pais, se sentirá segura com ele.”
— Quando me olhou pude ver em seus olhos a surpresa, como se
não entendesse.
“Anônimus sabe bem como sou, não precisamos de trejeitos com ele,
apenas nosso olhar é o suficiente para nos distinguir.”
— Nunca vai funcionar, Morg, sempre seremos pessoas distintas. —
Deito-me na cama, me enfiando debaixo das cobertas e cobrindo minha
cabeça.
“Fugir do que somos não vai ajudar, somos uma pessoa só, gosto
quando decide desaparecer quando estou forçando aquele demônio, não
quero que se machuque, aguento tudo por nós duas como sempre foi.”
— Apenas nesta hora não me recordo de nada, apesar de achar
loucura a forma com que o enfrenta, sabemos bem quem ele é. —
Preocupo-me com ela, Morgana é tudo que tenho de mais precioso, não
gosto quando ela se machuca.
“Sinto prazer em tudo que faz, é como pertencer a algo poderoso e
ter a certeza de que não me machucaria.”
— Mas machuca, Morg — contesto.
“Mas não machucará quando for apenas você, confie em mim.”
Suas palavras como sempre me acalmam. “Agora durma, pode ser que
amanhã dê ao demônio muito com o que se preocupar.”
— Pare de atiçá-lo.
“Fique longe de nós amanhã, Morg, vou levá-lo ao limite e sei que o
castigo virá.”
— Por favor, não o tire do sério.
“Confie em mim, nós o teremos e ele vai amar a nós duas. Agora
durma, precisa descansar, ir até ele foi demais para você, eu sinto daqui.”
Fecho meus olhos sentindo-me realmente muito cansada, então
adormeço com um sorriso bobo nos lábios pensando no meu toque em sua
pele quente.
Ergo-me inquieto, tentando entender os motivos de ela vir cuidar de
mim, que olhar foi aquele e até mesmo o timbre de sua voz estava diferente,
aquela não é a Libélula perversa. Olho pela milésima vez o curativo, seu
toque quente e delicado um pouco trêmulo não sai da minha mente, ela
parecia com medo.
Tiro a máscara e a balaclava passando a mão na minha cabeça
incontáveis vezes, a cena não para de rodar, parecia o olhar que as mulheres
Triglav dão aos seus homens, não, ninguém jamais olharia para mim como
elas fazem.
Andando de um lado para o outro decido sair para a sacada, o vento
frio da noite atinge meu rosto e a sensação estranha de estar exposto me
domina.
Olhe para você, quem pensa que é para imaginar que alguém possa
te olhar com algo além de pavor?
Analiso a noite silenciosa, não existe nada aqui além da minha
mente gritando que sei da minha condição quando voltar, que irei morrer
porque a toquei e que o mestre não terá misericórdia, e até prefiro assim,
abraçar a morte é mais fácil de lidar do que encarar novamente aquele olhar.
Não sei por quanto tempo fico aqui quando finalmente cedo ao
desejo de ir vê-la, atravesso a porta que liga os quartos sentindo um gelo
percorrer minhas veias. Não estou com a minha máscara por quê? Por que
senti o desejo de revelar a ela o que nem mesmo eu gosto de ver quando me
olho no espelho? Talvez porque para aquela Morgana eu tenha coragem,
aquela que não parece jamais ter feito algo de ruim na vida, mesmo que seja
algo impossível.
Logo que atravesso a porta vejo tudo escuro e apenas a luz amarela
baixa ao lado de sua cama ilumina o lugar, caminho me aproximando da
cama com uma coragem absurda, uma que não existe em mim quando me
encontro nu desta forma. Morgana dorme como um anjo, aquele mesmo que
esteve comigo a pouco, um que desejo me aproximar e sentir novamente
seu toque. Ajoelho-me à sua frente levando minha mão não machucada até
seu rosto tocando-o, tirando uma mecha do seu cabelo.
— Minha — sussurro possessivo como se pudesse realmente ter
algo que me pertencesse.
Continuo deslizando meus dedos pela sua pele perfeita, sentindo o
fogo do inferno voltar a borbulhar em meu peito.
— Anônimus. — Paraliso meus dedos e milímetros do seu rosto
apavorado, ela acordou.
Meu peito parece que vai explodir com as batidas furiosas e
assustadas do meu coração, enquanto penso o que ela vai achar quando me
vir ao abrir os olhos, o tempo parece suspenso, nada neste momento parece
existir além da minha coragem absurda de revelar a ela como realmente
sou, ainda que seja algo monstruoso de se ver.
Volto a respirar quando não abre os olhos. Será que está sonhando
comigo? Enquanto a encaro por longos momentos tocando seu rosto
perfeito com a ponta dos dedos, sinto a coragem se esvair e começo a me
recordar do que sou e de quem nasci para ser. Ergo-me caminhando
lentamente até o canto do quarto perto da porta de passagem e fico ali, por
mais algum tempo ao seu lado velando seu sono como se sair daqui fosse de
alguma forma levar de mim aquele olhar, aquela Morgana.
O dia começa a clarear e só então me toco de que passei toda a noite
escondido na escuridão do seu quarto vendo como ela pouco se move
enquanto dorme, fazendo isso apenas uma vez durante todo o tempo em que
estive aqui. Devagar, retorno para o quarto ao lado, sentindo o fogo do
inferno queimar meu peito de forma tão intensa que acredito que irei parar
de respirar a qualquer momento.
Capítulo 25

Acordo disposta a colocar meu plano em prática, sorrio porque sei


que Anônimus não vai gostar nada do que farei, mas vou mostrar a ele que
não se deve desejar outras pessoas para se alimentar sendo que tem a mim à
sua disposição.
Pulo da cama seguindo para o banheiro, preciso tomar um banho e
dar início ao meu plano. Nua, abro as cortinas e vejo que o sol de Roma
decidiu me ajudar. Eu me enrolo num roupão, calço meus chinelos e sigo
para a cozinha. Assim que chego o café já está na mesa.
— Bom dia, senhorita, deseja algo específico para seu desjejum? —
uma das funcionárias pergunta, solícita num italiano perfeito.
— Obrigada, para mim está mais que suficiente. Sabe se Anônimus
já passou por aqui? — pergunto e logo sua face muda para algo sério e que
talvez contenha um pouco de medo.
— Sim, faz alguns minutos que passou e foi para fora.
— Ele comeu alguma coisa?
Por que faço essa pergunta? Ele não come na frente de ninguém.
— Sim, senhorita, trouxe a bandeja vazia do quarto.
Decido não dizer mais nada. Posso ver sua inquietação com relação
ao meu demônio, encarando a vista lá de fora vendo o grande jardim
suspenso de rosas colombianas que meu padrinho fez para tia Vanessa,
tentando entender como homens como ele conseguem se despir de toda a
escuridão e seguem por um caminho onde se tornam escravos de suas
mulheres. Parada, pensando em todos os casais que conheço, desejo o
mesmo para mim, no caso para nós, farei com que Anônimus seja comigo
da mesma forma que eles são.
Sou arrancada dos meus pensamentos pelo toque do meu telefone.
— Querida. — A voz suave da minha mãe, junto com sua imagem
perfeita, me faz sentir em casa.
— Oi, mãe, achei que não nos falaríamos por um bom tempo.
— Jamais, Morgana, apesar de estar tudo muito corrido, sempre
tenho tempo para meus bebês.
— Como sempre protetora. Ainda não sei como consegui essa
viagem. — A forma com que o digo a faz sorrir.
— Seu pai com certeza garantiu isso, querida, sabe que sua
segurança para nós é primordial. Como está sendo aí na casa dos seus
tios?
— Todos precisaram viajar.
— Por que não foi com eles?
— Mãe, você sabe o motivo, nunca me sinto realmente preparada e
a senhora sabe disso. — Seu olhar muda para algo mais protetor e
carinhoso.
— Sim eu sei, Vanessa me informou.
— Onde está o meu grandão?
— Em uma reunião com os conselheiros. — Sorri diabólica, eu sei
que se ela fez isso é porque quer causar medo neles.
— A senhora ainda vai infartar esses velhos aristocratas.
— Não é como se nenhum deles já não tivesse infartado. —
Sorrimos juntas, porque ninguém olha para minha mãe e vê uma mulher
forte e cheia de artimanhas.
— Eu assinei todas as documentações e Damon também, já chegou
aí?
— Sim, querida.
— Tem certeza de que é o certo a se fazer, mãe?
— Sim! Eu só assumi como rainha porque seu pai me apoiava, você
não pode e não quer isso para você, e seu irmão prefere milhões de vezes a
Triglav ao reinado. Então, quando eu me for, a linha real segue para os
seus primos Ilian e Eleanor, eles seguirão todo o plano da monarquia.
— Eu gostaria de não ser...
— Nem continue com essas palavras, é perfeita, querida, nada pode
mudar esse pensamento sobre você. — Seu olhar muda. — Onde conseguiu
esse corte na sobrancelha, Morgana?
— Eu caí na sauna — minto descaradamente.
— Essa história colou com seu padrinho?
— Sim.
— O que está aprontando, Morg?
— Nada, mãe.
— Ok, você é uma mulher adulta que sabe o que quer, apenas se
cuide.
— Do que está falando?
— Conheço marcas de pressão, Morgana, e essas no seu pescoço
contradizem sua informação sobre ter caído.
Sorrio por saber que ela é tão esperta e por imaginar que aqueles
dois não são nada santos na cama.
— Talvez eu esteja conhecendo alguém um pouco melhor.
— Não deixe que seu pai veja, e tome cuidado, juro que não vou
segurar a fera caso ele deseje sangue.
— Prometo que não vai precisar de nada disso.
— Tem falado com seu irmão?
— Não, ele está na Albânia. Sabe que toda vez que ele entra nessas
incursões, ele desaparece.
— Nem me fale, eu já vi homens amarem o que fazem, mas Damon é
uma mistura de todos os seus tios juntos.
— Nem mesmo se parece com o irmão cuidadoso e carinhoso que
conheço.
— Apenas com a família, querida. — Seus olhos brilham quando
fala da nossa família. — Agora preciso ir.
Nós nos despedimos e a hora de colocar meu plano em prática
começa, já que vejo Anônimus passando exatamente onde eu desejo que ele
esteja. Saio da cadeira seguindo em direção à piscina, deixando meu chinelo
e meu roupão na cadeira enquanto caminho nua até a borda da piscina
mergulhando de forma bem teatral para chamar toda atenção possível.
Capítulo 26

Acordo com todos os meus demônios prontos para explodir o


mundo, a inquietação me devasta e tudo que consegue me manter sob
controle é olhar para o maldito curativo que está na minha mão, porém,
agora sob a luva. Aquele olhar não me sai da cabeça, o mesmo que estava
no avião, quando a coloquei no colo protegendo-a da queda que sei que
jamais viria, ainda que a expondo a um perigo ainda maior. Eu mesmo.
Morgana é uma peste demoníaca, uma libélula desaforada e perversa
que parece desejar o pior de mim. Então, por que aquele olhar me faz sentir
o fogo do inferno ferver em meu peito com uma constância que há muito
não acontecia?
Anseio por fazer com ela mil vezes pior do que a última vez, anseio
marcar seu corpo enquanto a surro, perfurá-lo e fazer seu sangue verter por
cada corte que eu fizer em sua pele branca. Até mesmo aquela maldita
tatuagem seria arrancada com uma lâmina afiada. Quem ela pensa que é
para marcar meu rosto em seu corpo? Sua pele deveria ser imaculada,
intocada, ainda que nem mesmo eu consiga deixá-la assim. Quem se
aproximou tanto a ponto de tocá-la para desenhar o anjo negro em suas
costas?
Ouço batidas na porta e recebo meu café da manhã, decido me
sentar com a bandeja na cama, ficar em frente ao espelho comendo me faz
encarar aquele que não reconheço, aquele que desprezo e abomino. Não sou
ele, jamais serei, sentir o vazio de uma imagem que gostaria que
desaparecesse me corrói, talvez o mestre conheça uma forma de colar a
minha máscara no rosto inútil ou quem sabe tatuar a máscara nele seja a
saída.
Estou finalizando o café da manhã quando meu telefone toca e é o
mestre.
— Anônimus.
— Sim, mestre.
— Como estão as coisas por aí? — A preocupação em sua voz me
deixa em estado de alerta.
— Tudo tranquilo como sempre, senhor —informo, pois já fui atrás
de informações sobre todo o sistema de segurança e fui informado que esta
mansão é praticamente impenetrável.
— Continue de olho nela, as coisas estão ficando cada vez mais
difíceis de controlar por aqui, nenhum lugar é seguro de fato e não confio
em ninguém além de você.
— Posso voltar e proteger a sua família.
— Não, mantenha todo seu foco em Morgana, existe uma
instabilidade na Albânia, nem mesmo Damon está conseguindo dar conta,
os anjos precisaram intervir em algumas fronteiras e a cada minuto que
passa ter as mulheres longe daqui tem sido a decisão mais acertada.
— Manterei a minha promessa de protegê-la — informo engolindo
um nó na garganta, já que estou por um fio de esquartejá-la e quebrar minha
promessa, porque não há quem a proteja de mim.
— Confio em você. — Essas palavras são como facas cortando
minha pele. — Mas liguei para informar que até o meio-dia de amanhã,
Ettore e sua família estarão de volta, e que hoje às 22:00h será alimentado
no local que já lhe foi indicado.
— Sim, mestre.
— Está conseguindo se manter sob controle?
Penso em Morgana, aquela libélula tem sido melhor que qualquer
alimento, infelizmente não posso matá-la, mas será um bálsamo ter algumas
vidas para ceifar sem que seja a dela.
— Sim, tudo sob controle.
— Mantenha-se assim, ainda se lembra das rotas de fuga caso
sejam atacados em algum momento?
— De todas elas e acredito que Morgana também.
— É isso. Preciso ir, caso sinta que estejam em perigo e que não vão
conseguir se livrar dele, acione o chip, iremos até vocês.
— Não se preocupe, senhor, darei a minha vida para que ela
permaneça a salvo.
— Mantenha sua vida, soldado, quero os dois vivos, ainda existe
muito o que viver, ainda mais agora que é um ser humano livre. — Não
absorvo suas palavras, não nasci para liberdade.
Apenas aceno com a cabeça quando ele encerra a ligação, decido
vistoriar o perímetro e manter as coisas sob controle. A próxima hora dou a
volta pela mansão e todos me cumprimentam, a verdade é que amo saber
que me temem, minha fama percorreu todos os lugares e chegou até Roma,
desviam do meu olhar e não ousam elevar a voz para mim, é como se
soubessem o demônio que espreita perto demais deles.
— Senhor. — Paro para encarar o garoto que não deve ter mais de
vinte anos, com olhar frio e postura imponente, ele é alto e deseja parecer
ainda maior com a forma que se apresenta.
— Sim. — Viro-me para encará-lo.
— Aqui estão as chaves do galpão, acredito que saiba do que se
trata. — Pego de sua mão o que me entrega.
— Sim.
Sem dizer nada, desaparece da minha frente enquanto coloco as
chaves no bolso da minha calça e sigo caminhando. Estou me aproximando
da área da piscina quando ouço algo que não deveria.
— Seu corpo é espetacular, você viu aquela bunda? — Seu
sorrisinho me faz desejar arrancar seus dentes.
— Eu daria minha vida para enfiar meu pau naquele rabo.
Meu olhar sai deles quando viro minha cabeça inclinando-a e segue
para a maldita libélula pervertida que mergulha nua na piscina.
Vou matá-la!
Sem conseguir me conter, procuro por mais algum soldado que
possa ter visto a filha da puta nua e não encontro mais ninguém.
— Gostam de olhar o que não devem? — a forma com que falo os
assusta, a fúria mais crua borbulha em mim e os farei pagar por ousarem
olhar o que não lhes pertence.
— Senhor — assustados, falam em uníssono.
Sem que consigam revidar, soco o pomo de adão do primeiro deles
que cai de joelhos à minha frente em busca de ar, em apenas um movimento
cravo minha adaga no olho do outro que grita desesperado enquanto o
seguro pelos cabelos arrancando a adaga e perfurando o outro olho
enquanto o vejo cair morto aos meus pés. Com o sangue espirrando em
minha máscara, deixo que bata no chão inerte e meu foco segue para o
primeiro soldado que parece começar a se recuperar quando meu chute
atinge seu peito o jogando longe.
— Sabe o que faço com homens como vocês?
— Não, por favor... — sua voz é um sussurro sufocado que me faz
gargalhar.
— Gosto de vê-los implorar, meu pau se enterraria em todos os seus
buracos e se enjoasse deles criaria outros, apenas para socar cada vez mais
fundo em você, porém tenho uma libélula pervertida para castigar, então
enviarei sua alma ao meu inferno e quando chegar lá, passarei a eternidade
com meu pau socado em seu rabo.
— Não, não, não...
Meu pau endurece a ponto de quase rachar com seus pedidos
desesperados.
Pressiono meu joelho em seu pescoço forçando-o enquanto ouço sua
traqueia ser esmagada, logo seus ossos são quebrados e com o olhar
assustado vejo sua vida se esvair e meu foco agora está na piscina.
Capítulo 27

Caminhando furioso até onde ela segue nadando como uma maldita
sereia provocadora, a vejo mergulhar lançando sua bunda para fora da água
enquanto me aproximo. Analiso o local em que ela sairá e me posiciono à
sua frente quando finalmente sai sorrindo como se estivesse se sentindo
muito vitoriosa, a pego pelos cabelos arrancando-a de lá em apenas um
puxão.
Seu grito surpreso e furioso me faz querer matá-la.
— Está surpresa? — Aperto meu agarre fazendo com que me encare
e veja em meus olhos o quão furioso estou.
— O que está fazendo, seu demônio maldito? — A surpresa
desaparece e a fúria se instala em seus olhos quase brancos, diabólicos.
— Sabia o que iria acontecer e fez — rosno travando meus dentes
estando a um triz de não lhe torcer o pescoço.
— Estou apenas nadando.
— Nua! — grito sem me importar com quem ouve.
— Não me recordo de ter lhe dado algum tipo de autoridade sobre
mim. — Minha outra mão segue para o seu pescoço e a suspendo tirando
seus pés do chão que começam a se debater.
— Vou te mostrar, Libélula, que ninguém pode colocar os olhos no
que me pertence. — Solto seu pescoço e ela cai em pé, tossindo à minha
frente, mas não recua.
— Eu sou dona de mim e apenas eu faço o que desejo.
— Isso mudou desde o momento em que entrou na minha casa me
oferecendo sua boceta virgem, como disse. Vou te mostrar como demônios
como eu subjugam libélulas como você. — A pego nos braços lançando-a
nua sobre os ombros.
— Me solta, seu demônio dos infernos!
— Nunca mais irá me desafiar desta forma, Morgana.
— Vou matá-lo na primeira oportunidade! — Sorrio de sua ameaça.
— Vamos ver se tem poder para tanto.
Sob o olhar de todos os funcionários que atravessam meu caminho,
sigo com ela até meu quarto, Morgana precisa aprender que não deve me
desafiar. Abro a porta de forma brusca, chutando-a para trás com o pé,
fazendo com que até mesmo seu batente estremeça. Dou alguns passos e a
lanço sobre a cama.
Ela grita ao sentir o impacto.
Começo a arrancar minhas roupas, furioso, porque sinto a demora
enquanto a encaro e ela sorri.
— Gosto quando está assim. — Umedece os lábios e quando meu
pau se torna livre da minha cueca ela geme mordendo-os.
— Cale a boca! — ordeno alto.
— Tire a máscara, quero sua língua na minha boceta. — Sua frase
sai como uma maldita ordem e pelo inferno, eu desejo obedecê-la, mas ela
não precisa saber disso.
A filha da mãe abre as pernas e posso ver suas carnes vermelhas, ela
está excitada.
— Não é você quem está em posição de dar ordens aqui. —
Aproximo-me da cama nu e com a minha máscara.
— Se não tirá-la sairei daqui. — Seu pé para em meu abdômen.
— Não sairá. — Seguro seu tornozelo girando-o com força a ponto
de quase o quebrar, e a ouço gritar, enquanto seu corpo gira deixando-a de
bruços.
— Não me toque!
Gargalho alto me divertindo.
— Posso trazer os soldados que estavam te desejando para foder,
enquanto a vejo se debater e implorar para que eles parem. Depois de ser
violada como uma cadela imunda, seria eu a começar a brincadeira e só
quando todos os seus buracos sangrassem eu a deixaria sair rastejando
como uma libélula sem asas.
Quando ouve minhas palavras Morgana gira seu corpo outra vez,
travando meu pescoço com suas pernas e lançando meu corpo do outro lado
da cama, me levando ao chão com meu rosto enfiado entre elas.
Seu grito furioso me atiça e agora anseio por essa luta.
— Ninguém tocará em mim além daqueles que eu permitir, você,
demônio, me fode porque eu permito e se não se curvar a mim, juro que o
farei à força.
— Acredita que tem algum poder sobre mim?
Com o fogo do inferno queimando em meu peito, enfio meu braço
entre suas pernas e inverto nossas posições batendo seu corpo pequeno com
tudo contra o chão.
— Filho da puta! — grita fechando seus olhos quando a dor a
atinge.
Morgana não tem mais que 1,60 de altura e não pesa mais que 55kg,
pressiono meu corpo sobre o seu colocando meu pau entre suas pernas
enquanto ela tenta sair debaixo de mim.
— Nunca mais ande nua para que qualquer um possa ver. Vai ser
ainda mais prazeroso do que foi matar os desgraçados. — Meto em sua
boceta de uma só vez batendo fundo.
— Eu já te disse que pouca roupa é melhor que roupa nenhuma,
acha mesmo que aquele biquíni é pequeno demais? — Suas unhas cravam
em meu peito e ela as arrasta rasgando minha pele.
Entendo seu ponto e novamente soco fundo, ela grita se debatendo
como se desejasse que eu parasse, mas não é assim que as coisas
funcionam.
— Não vou parar de foder você — informo metendo com mais
força, empurrando com tudo de mim enquanto grita de prazer e dor pela
força com que pressiono seu corpo contra o chão.
— Tire a máscara! — sua ordem vem seguida de um gemido de
prazer.
Morgana pulsa, ela gozou.
— Gozou, Princesa?
— Tire a porra da máscara e me chupa, Anônimus! — Esfrego
minha pelve em seu clitóris e ela sofre espasmos.
— Por que iria te obedecer? Libélula, eu ainda nem arranquei suas
asas. Vou socar meu pau tão fundo em sua garganta que a farei vomitar o
café da manhã.
— Se não me chupar vou morder seu pau e arrancar um pedaço dele
com os dentes. — Seus olhos agora contêm uma promessa que sei que
cumpriria.
— Por que deseja tanto que chupe sua boceta? — A conversa
continua e minhas bolas agora estão prontas para explodir.
— Desgraçado! Tire a máscara, porra!
— Por que não tira você? Não sou seu empregado, mas continuo
com a ameaça de que se minha balaclava sair eu te mato e depois fodo seu
corpo por dias até que apodreça.
Seu olhar muda e não é medo que contêm nele, Morgana se sente
vitoriosa, a encaro fodendo-a com força fazendo seus peitos pularem e meu
membro continua desesperado pelo primeiro orgasmo, mas não vou gozar,
não sem antes chupar sua boceta com tamanha força que a deixe doendo por
dias.
Vou socando enquanto ela grita e seu corpo busca por mais de mim.
Sou arranhado, marcado, mordido. Pressiono seu pescoço, quero vê-la
implorar em busca de ar com o olhar e quando minha mão envolve em seu
pescoço fino ela sorri, a filha da puta sorri.
Capítulo 28

Meu corpo queima e dói, o olhar dele é intenso e revela todos os


seus pensamentos. Sou pressionada contra o chão, sinto meus pulmões
reclamarem com a força que ele faz. Anônimus é muito maior que eu, uma
montanha de músculos furiosa e mesmo perdida em prazer enquanto ele
soca tão fundo em mim, por algum tempo me perco.
— Vamos, Libélula perversa, grita! — Sua voz rouca e grossa me
faz obedecer a qualquer que seja o comando que ele me der.
— Desgraçado! Filho da puta! Me fode mais forte porra! — Cravo
mais uma vez minhas unhas em seu peito e ele ruge como um animal,
estocando com ainda mais violência. — Goza, demônio, se liberte!
Mesmo incontido parecendo alguém que não consegue ouvir nada
além dos seus próprios demônios, ele para tudo que faz saindo de mim e
levando-nos para a cama, seus movimentos são brutos e quando se deita
puxa meus cabelos para que me sente sobre ele.
— Tire a porra da máscara, Morgana! — grita quando sou empalada
por ele e suas mãos apertam minha cintura com uma força desmedida.
Anônimus estoca de baixo para cima erguendo e soltando meu corpo
sobre ele, enquanto meus peitos pulam e meus gritos podem ser ouvidos por
toda Roma. Tiro a máscara deixando apenas sua balaclava e por instinto o
busco para um beijo, mas sou impedida pela sua mão em meu pescoço.
— Não! Sente com a sua boceta na minha cara enquanto a chupo,
não era isso que queria?
— Sim!
— Então faça!
Como me ordena levo minha boceta até sua boca deixando sua
cabeça entre minhas pernas permitindo que fique ao alcance dos seus lábios
quando ganho uma mordida em meu clitóris.
Grito longamente pela dor e pelo maldito prazer que a acompanha.
— Eu mandei sentar com sua boceta, não é para ter cuidado, não
vou sufocar.
Suas mãos me puxam fazendo com que meu peso esteja em sua
cara, o desespero com que me chupa me leva ao orgasmo. Meus gritos se
misturam aos seus, ele parece desesperado como quem tem fome, a
sequência de orgasmos acontece e seus dedos se enterram fundo em mim.
Seguro-me na cabeceira da cama e Anônimus segue me chupando enquanto
só consigo me desmanchar em sua língua.
Exausta, tenho meu corpo virado e lançado sobre o colchão e logo
ele paira sobre mim, o vejo lamber os lábios molhados pelo meu gozo e
sorri.
— Agora vou socar fundo em sua garganta enquanto se engasga
com meu pau. — Sua mão me segura pelo pescoço colocando-me na
posição que ele anseia com a minha boca exatamente na altura do seu
membro.
Salivo ao ver seu tamanho, as veias sobressaltadas e a cabeça
vermelha, inchada, babando, com certeza ele tem um pau enorme e por isso
me sinto completamente preenchida por ele.
— Abra a boca, Princesa, e começa a mamar meu pau.
Como me ordena, faço, e então ele começa a socar fundo batendo
seu pau em minha garganta, como prometido, me leva ao limite, me
fazendo engasgar sendo por muitas vezes privada de ar. Seus movimentos
são furiosos e seus gritos demoníacos como se ele sentisse dor e prazer ao
mesmo tempo. Suas mãos agarram com força a cabeceira da cama,
enquanto minhas unhas cravam em sua bunda dura e redondamente
musculosa, Anônimus é uma perdição.
Deslizo minha mão enquanto o sinto bater fundo em minha
garganta, então seguro suas bolas e isso o assusta, começo a massageá-las e
ele volta a meter com vontade. Os barulhos molhados que minha boca faz o
deixam ainda mais desesperado por libertação. Sinto quando está perto de
gozar, então deslizo meu dedo médio no seu períneo onde aperto com força
quando ele urra lançando jatos quentes de seu esperma em minha garganta.
Sigo massageando o local fazendo a pressão certa e o demônio sobre mim
estremece sentindo os espasmos de seu prazer percorrerem seu corpo.
Não consigo engolir tudo, muito se perde escorrendo pela minha
boca e caindo sobre minha pele.

Quando sinto a pressão de seu dedo explodo em um orgasmo jamais


sentido, ainda com o pau em sua boca me movimento para que a pressão
aumente, e como se soubesse o que busco ela faz como o desejado, quero
muito mais disso que apenas a Libélula perversa me dá.
Arfando, sentindo meu peito quase explodir, me afasto dela que não
conseguiu engolir todo meu esperma e o deixou escorrer pela boca e cair
sobre seus seios, com minha língua sentindo a eletricidade e desejando
lambê-la, faço o que anseio me colocando em posição, segurando seus seios
com força, a fazendo gemer pela dor. Então passo minha língua por onde
meu esperma escorre, mordendo suas carnes no processo, fazendo-a gritar.
— Anônimus. — Sua voz nada mais é que o gemido de alguém que
está sendo punido e implora para que pare.
— O que quer? Meu pau em seu rabo? Quer ser fodida com mais
força e que seus buracos sangrem como tenho desejo de ver?
— Não.
— Então pelo que implora, Libélula?
— Quero que seja apenas meu, quero que após me foder como um
animal, me permita deitar em seus braços para descansar após me dar
banho. Quero sentir seus dedos deslizarem sobre minha coluna e então
adormecer me sentindo segura. — A encaro. Essa Morgana treme ao me
dizer tais palavras e nem o seu olhar é o mesmo de segundos atrás, posso
sentir seu corpo gelar e parecer se encolher sobre meu olhar sempre
perverso.
— Saia do meu quarto. — Seguro seu rosto encarando-a enquanto
minhas palavras saem entre dentes.
— Anô...
Não permito que termine.
— Agora! — Pulo da cama caminhando em direção ao banheiro,
enquanto tiro minha balaclava que parece queimar minha pele e só então
bato a porta atrás de mim.
Enfio-me debaixo da água gelada lembrando-me de tempos dos
quais anseio sempre esquecer. Soco a parede algumas vezes desejando fazer
com que a dor das pancadas faça as malditas lembranças desaparecerem,
mas isso não acontece.
— Não pode me oferecer algo com o qual não consigo lidar, não
pode simplesmente deixar de ser uma libélula perversa e demonstrar uma
fraqueza que sei que não existe dentro de você. Não é assim que as coisas
funcionam, Morgana.
Encosto minha testa na parede fria desejando socá-la com força, mas
me recordo das palavras do mestre, então recuo engolindo a maldita
vontade como agulhas que rasgam tudo por onde passam.
Capítulo 29

O vejo sair da cama virando as costas para mim, arrancando sua


balaclava, fazendo-me saber que sua cabeça é raspada. O olhar que ele me
deu ao ouvir o que falei fez com que tremesse dos pés à cabeça. Isso jamais
daria certo.
Conforme ordenou, saio do seu quarto enrolada no lençol da cama
para que ninguém me veja nua, mesmo sabendo que os funcionários não
vêm aqui para cima sem que seja nos horários permitidos. Saio de lá
seguindo para o quarto ao lado, indo direto para o banho.
Cansada e sentindo cada músculo em mim doer, visto uma roupa
confortável e decido me deitar um pouco para descansar, pensando
novamente naquele olhar. Como imaginava, ele não me reconheceria. Ele
sempre a verá e isso jamais dará de fato certo.

Quando retorno ao quarto, Morgana não está mais lá, nu, me sento
na cama escorando meu corpo sobre a cabeceira erguendo meus joelhos e
enfiando minha cabeça entre eles, as lembranças vêm como ondas e não
consigo afastá-las.

(...)
Não me recordo a última vez que vi meus irmãos, foram levados no
mesmo dia que aquela voz apareceu e agora ele está aqui, posso sentir.
— Sei que nunca nos falamos, mas preciso confessar que sempre foi
meu escolhido. — Tenciono meu corpo.
— Faça o que sempre faz e vá embora.
— Somos iguais, Obscuro, doentes, sádicos, sedentos por um
buraco onde enfiar nosso pau. Hoje é meu último dia com você, vai se
juntar aos outros de nossa espécie. Sentirei sua falta, sempre tão receptivo,
nunca luta, obediente às ordens, será um demônio muito valioso para o
mestre.
— Se o mestre pede para lhe servir eu obedeço, se pede para
destruir eu obedeço, sou um escravo que não gosta de trazer problemas
para aquele que me criou. — Coloco-me de quatro, me afastando da parede
para que ele siga com o que faz sempre que está aqui.
— Muito bem! — Suas mãos percorrem meu corpo. — Mas hoje
não vai precisar se colocar à minha disposição, apenas ouça as minhas
palavras. Não permita que ninguém além de mim faça com você o que faço,
permita apenas que a fúria o domine, não tente lutar por liberdade, não
saberia usá-la.
— Há quanto tempo está aqui? — Volto à posição que estava
encostado na parede, enfiando minha cabeça entre as pernas.
— Tempo... — A forma com que fala me deixa confuso. — No
inferno não existe isso, mil anos é como um dia e um dia como mil anos.
Esqueça o tempo, Obscuro, apenas sirva o mestre e lhe dê toda sua
lealdade.
— Já faço isso.
— Por que sua voz vacila às vezes?
— Preciso foder, estou sentindo o desejo desesperado de ter meu
pau enfiado em qualquer buraco.
— Use sua mão.
— Não faz efeito, preciso dos gritos, anseio que implorem para que
pare enquanto os machuco, busco pelo medo.
— Posso lhe dar o buraco, os gritos, mas o medo é impossível, não
sinto medo, assim como você não sente. Quer ao menos isso? — Meu corpo
treme e meu pau fica duro.
— Coloque-se em posição, Obscuro — ordeno sentindo a fúria
emanar ansiando forçar a passagem e que sinta doer enquanto meu pau é
esmagado pela resistência.
Ergo minha cabeça e sei que está como ordenei, coloco-me em pé
então tudo começa, meus demônios urram enquanto sua cabeça bate forte
contra a parede e seus gritos ecoam pelo lugar, logo o cheiro de sangue
invade minhas narinas e sei que estamos apenas no começo.
(...)

Abro meus olhos e não estou mais lá, as lembranças se foram e meu
corpo queima como se fosse real. Saio da cama começando a me vestir e
quando finalmente coloco minha máscara decido ir até ela. Atravesso a
ligação entre os quartos e a encontro dormindo. Como se existisse uma
ligação, permaneço ali por horas, imaginando todas as formas do nosso
sexo de horas atrás. Morgana é feroz, determinada, e faz com que deseje
castigá-la, marcá-la e destruí-la. Aperto meu pau com força porque posso
pular sobre ela arrancando suas roupas enquanto a fodo e arranco suas asas.
Perco a noção do tempo e quando as batidas na porta começam, sei
que são as funcionárias trazendo-lhe seu almoço. Saio para que não seja
visto e decido caminhar até que a noite chegue e possa me alimentar e
descarregar sobre os malditos corpos que me serão entregues toda a fúria e
frustração que gostaria que fosse descarregado apenas com ela.
Caminho a passos largos para o pedaço de mata que tem no
condomínio, começando a correr até que a exaustão me consuma e o ódio
esteja em níveis tão altos que tudo que consiga fazer é me banhar no sangue
daqueles que me serão oferecidos como alimento.
Capítulo 30

Acordo com as batidas na porta e recebo meu almoço, inquieta, como e


logo depois passo meu dia sentada na sacada do quarto me perguntando onde é
que ele está. Tenho ciência de que tudo que aquele homem será por toda a vida
é um demônio devastador, ninguém irá conseguir domá-lo e, talvez, eu apenas
não seja capaz de entregar a Morgana alguém que a proteja e a ame acima de
qualquer coisa.
Encosto meu corpo na poltrona macia tentando não puxar meus
cabelos, preciso protegê-la e mantê-la a salvo. Sempre fiz isso, mas e quando
não estou presente, como ela fica?
Pode não parecer e as pessoas podem não saber, e até mesmo ela pode
não acreditar, mas sinto a força com que se mantém sendo quem é. Existe
vigor em cada uma de suas ações, e ainda que se esconda, quando o momento
certo chegar, irá explodir e mostrar a todos o seu poder.
Ouço meu telefone tocar e sorrio quando vejo o nome na tela.
— O que a minha elfa gótica perversa anda aprontando por Roma? —
Damon, como sempre, com esse apelido, me faz sorrir, já que ele a chama de
princesa de cristal.
— Ainda planejando como domar o maldito demônio para manter a
princesa segura.
— Sempre iremos te proteger, Morg, Anônimus não pode ser a única
opção.
— Damon, não entende mesmo, não é? Nós o queremos, e se não fosse
por ela, já o teria reivindicado.
— Alguns demônios são indomáveis, Morg.
— Anda conversando muito com tio Damian.
— Apenas constatando a verdade.
— Deixe-me guiá-lo, tenho seis meses para isso.
— Achei que usaria este tempo para se divertir.
— Essa era a ideia antes de tê-lo como sombra, uma muito cruel e
obscura.
— Atos queria apenas que fizesse o que havia planejado.
— Ele me deu a oportunidade que tanto busquei, Anônimus jamais me
olhou nos olhos além daquele dia em que nos salvou e que ascendeu como
chefe dos Obscuros.
— Por que focou nele, Morg? Existem tantos homens por aí que podem
proteger vocês.
— Mas não os queremos, se fosse fácil focaria em um dos trigêmeos,
mas, Damon, não escolhemos a qual demônio queremos pertencer, apenas
pertencemos àquele que mais se parece com o nosso lado sombrio.
— Se é o que diz.
— Vai encontrar, Damon, a pessoa que fará tudo na sua vida ter sentido
e quando essa pessoa chegar ninguém vai te impedir de tê-la. — Sinto sua
respiração mudar. — Aconteceu alguma coisa?
— Por que pergunta isso?
— Mudou sua respiração.
— Nada importante. Apenas cansaço.
— Damon, só respira assim quando algo está incomodando ou se...
Não! Você encontrou não foi? A sua pessoa? Vamos, Damon, se abra comigo,
ou se quiser peço que ela venha falar com você.
— Não, a deixe descansar, sei o quanto se cansa quando assume o
controle, é sempre demais para ela socializar, Morg.
— A sua princesinha de cristal não é tão frágil quanto parece.
— Apenas deixe para lá, elfa diabólica.
— Diga-me como ela é?
— Distante, inalcançável, impossível de obter.
Minha gargalhada explode.
— Do que está rindo.
— No final somos iguais, irmãozinho, queremos algo que não podemos
ter.
— Eu não a quero.
— Mas vai querer, apenas não descobriu como obter seu objeto de
desejo.
— Ela me odeia.
— Foda-se! Mostre quem é, assassine todos à sua volta e deixe que
reste apenas você para quem ela possa recorrer.
— Você é doente!
— Sou filha e sobrinha de homens cruéis, Damon, e sei que na sua
cabeça também perversa e doente, já pensou em milhares de formas de destruir
sua alma e forçá-la a ficar apenas com você.
— As coisas não são tão fáceis quanto parecem, Morg, precisaria
assassinar toda uma nação para obtê-la.
— Diga o dia e a hora, Damon, estarei lá lutando ao seu lado para que
isso aconteça. Enviaremos toda maldita alma ao inferno e nos banharemos
juntos no sangue dos desgraçados que atravessarem nosso caminho — afirmo.
— Mate até mesmo os malditos animais, extermine toda a sua descendência e
lhe mostre quem domina agora sua alma.
— É isso que está fazendo com Anônimus?
— Ele é um pouco mais duro na queda, afinal não tem nada a perder,
mas confesso que tem sido divertido irritá-lo.
— Ele vai matá-la.
— Desde que tenha orgasmos não me importo.
— Morgana Izabelly Dothraki, onde está a sua bondade?
— Ficou na barriga de nossa mãe, tanto a minha quanto a sua, Anjo da
Perversão.
Sua risada soa alta e familiar.
— Ainda não me conformo que me deu essa alcunha e que todos a
aceitaram.
— Ninguém é mais perverso que você quando tortura, Damon, tenho
medo de cada ser rastejante que ouse atravessar seu caminho.
— Ela tem apenas 16 anos, Morgana.
— A foda como uma cadela, mulheres gostam de homens possessivos,
ciumentos e que derramam sangue daqueles que ousaram tocá-las.
— Ela pode ser uma princesa, Morgana, daquelas que desejam fazer
amor e olham nos olhos. Jamais a tocaria antes dos 18 anos, sabemos bem o
que nossa mãe passou e como nosso pai nos ensinou a proteger quem
amamos, ele pode ter um passado sombrio, mas jamais permitiria que
qualquer pessoa vivesse no inferno que nossa mãe viveu, com certeza não foi
esse o tipo de homem que me tornei.
— Então lhe dê o maldito príncipe encantado, mas seja como o
príncipe da luxúria, lhe mostre que seu lado perverso é mais excitante e a
encha de orgasmos. Ela é filha de alguém importante, não é?
— Sim, Lule Kapllani, a joia escondida da Máfia Albanesa Kompania
Bello, está sendo negociada para um casamento, as mulheres aqui se casam
aos 16, ou seja, em algum tempo ela irá pertencer a um velho imundo que a
fará de boneca sexual.
— Não acredito que o Anjo da Perversão vai permitir que alguém que
ele deseja se torne escrava sexual de alguém desprezível. — A raiva agora
irradia de mim, tanto Damon quanto eu sabemos bem o que nossa mãe passou.
— Não sou chefe de máfia alguma para reivindicá-la. — Sua voz é
assassina.
— Damon Dothraki, se não assassinar toda essa maldita máfia e pegar
a sua pessoa eu juro que lhe esfolo vivo e entrego os restos agonizantes para
Anônimus se divertir — ameaço, furiosa.
— Eu disse que não sou chefe para a reivindicar, não que iria permitir
que a tocassem, posso ser alguém muito observador e estar analisando a
situação com cautela, mas estou apenas movendo as peças e quando tudo se
encaixar irei mostrar a todos que ousarem cogitar sua vida longe de mim o
motivo de ser chamado de Anjo da Perversão. — Cospe as palavras de forma
assassina revelando sua maldade, coisa que eu conheço muito bem. — Foque
no que lhe é pertinente, Morgana.
— Roube a porra da Máfia Albanesa, Damon, pegue sua mulher e a
leve para nossa proteção, nós damos conta de tudo.
— As tensões já estão gigantescas, Morgana, se dou um passo em falso
a única coisa que chega até Belgrado são meus ossos queimados. Pare de ser
afoita, não está falando com alguém que não sabe o que faz.
— Então os queime antes disso — respondo furiosa, não admito a
hipótese de o meu irmão ter encontrado a sua pessoa e não poder tê-la.
Ficamos em silêncio por um tempo, Damon consegue se acalmar
apenas em absoluto silêncio, mas ela decide aparecer e eu recuo.
— Diga, Damon, como ela é?
Imaginar que meu irmão sofre me faz desejar chorar.
— Minha pequena princesa de cristal. — Sinto o amor em suas
palavras e sorrio. — Não posso imaginar beleza mais perfeita que a dela,
Princesa. — Sua respiração falha.
— E como ela reage a você?
— Seus olhos contêm medo, Princesa, sua postura é submissa e sua voz
é baixa, quase inaudível. Só a vi duas vezes e quero explodir o maldito mundo
por ela. — Posso sentir o amargor do seu ódio.
— Não lhe mostre sua fúria, Dom — o chamo pelo apelido que lhe dei
quando ainda éramos crianças.
— Não posso cogitar que alguém além de mim a toque.
— Seja cuidadoso e carinhoso, e a traga para nossa casa, cuidaremos da
sua pessoa, todos nós.
— Farei tudo que estiver ao meu alcance, estou perto de descobrir
todos os segredos da Kompania Bello, então tudo ficará mais fácil.
— Eu amo você, Dom, apenas se mantenha seguro.
— Eu também te amo, minha pequena princesa de cristal, controle-a,
sabe que ela pode criar caos por onde passa, sempre confiei em você.
— Darei o melhor de mim, Dom.
Ele encerra a ligação e caminho lentamente em direção a cama,
ansiando desesperadamente, ainda que com muito medo, que Anônimus
fizesse por mim o que sei que Damon fará pela sua pessoa.
Capítulo 31

(...)
Acordo assustada com o som da chuva que cai lá fora e sei que
preciso cuidar dos filhotinhos, não posso deixar que se molhem ou que
sofram com o frio. Devagar, sem que meus pais percebam, caminho até
onde estão minhas galochas de libélulas lilás e rosa, calçando-as e vestindo
minha capa de chuva. Sei que se for reto nesta direção irei chegar ao canil
e poderei ajudar a aquecê-los com as mantas que sempre guardam lá.
Cubro minha cabeça e quando meu pé toca o chão um barulho
estrondoso acontece e vejo um clarão iluminar o céu, focada no que preciso
fazer, respiro fundo e começo a caminhar.
— Sou a princesa Morgana Izabelly Dragomir Hohenzollern-
Sigmaringen Dothraki, tenho sete anos e sou a futura rainha da Romênia,
não temo a nada, meu pai é poderoso e forte e sempre irá me ajudar a
travar todas as minhas batalhas ao meu lado, eu sou forte, meu sangue é
forte. — Sigo repetindo em voz alta as palavras que meu pai me ensinou até
que consiga chegar ao canil.
A chuva aumenta, meu corpo sente o frio intenso e começo a
acreditar que deveria ter colocado mais roupas sobre o meu pijama. O
terreno apesar de gramado está muito molhado e novamente outro raio
clareia o céu seguido de um trovão muito forte me fazendo pular de medo.
Por todo o caminho continuo me assustando e já começo a achar
que o canil fica longe demais, como nunca percebi. Começo a passar por
algumas árvores e estranho o fato de isso acontecer, já que nunca as vi
nesta direção. Quando me dou conta de que estou no caminho errado, me
assusto novamente com um barulho alto e logo depois um clarão que me
faz encolher de medo, mas desta vez o chão desaparece dos meus pés e caio
e um buraco profundo.
Tento me mexer, mas minha mão parece machucada, não consigo
movimentá-la. Encolho-me no canto, está escuro e frio, sei que ninguém vai
me ouvir gritar com todo esse barulho de chuva, então decido me manter
quieta até que amanheça.
A chuva parece pior a cada segundo e meus dentes começam a
bater, as horas passam, então um estrondo violento acontece diferente dos
outros e uma árvore bate forte sobre a entrada do buraco em que caí,
tampando-o. A madeira está pegando fogo e o susto é tamanho que grito
tão alto que minha garganta queima.
“Calma, vou protegê-la”
— Quem é você? — pergunto para a garota que tenta segurar
minha mão no escuro e o pavor se apossa de mim.
“Sou Morgana, vou cuidar de tudo.”
— Seu nome é igual o meu?
“Sim.”
O buraco começa a se encher de fumaça e brasas começam a cair
sobre minhas costas e queimam, me fazendo gritar.
— Pai! Pai! — grito desesperada tentando sair do buraco.
“Precisa se acalmar. A chuva está cessando, mas o céu ainda está
fazendo barulho demais, ele não vai ouvi-la”
Grito novamente sufocando enquanto as brasas continuam caindo
da madeira que queima sobre mim.
“Confie em mim, vou te proteger.”
— Não fale comigo! Não toque em mim! — Continuo gritando
quando sinto seus braços me envolverem.
Minhas costas queimam de uma forma insuportável e começo a
chorar, a fumaça não para de rodar o que me deixa com falta de ar, por
vezes desmaio e acordo fugindo das brasas que chove sobre nós.
Então tudo escurece.
Sinto que algo me toca e abro meus olhos quando me deparo com
um dos soldados da Triglav usando máscara de demônio e com olhos tão
azuis que parecem de um anjo.
— Vou tirá-la daqui.
— Onde está meu pai?
— Todos te procuram. — A forma com que vira sua cabeça como se
tentasse me enxergar o faz parecer engraçado, como os cachorrinhos fazem
quando estão curiosos.
— Como se chama? — pergunto esticando meus braços para que
me pegue.
— Obscuro.
— Esse é seu nome?
— Sim.
Grito muito alto quando seus braços envolvem meu corpo.
— Não a machuquei. — Parece se assustar.
— Minhas costas doem.
— Preciso pegá-la para te suspender e colocá-la para fora.
Ainda que doa muito permito que ele me segure, e quando me ergue
coloca meu corpo no chão, perto da entrada do buraco. A dor me toma e
sinto um medo grande e repentino, fecho meus olhos com força enquanto o
ouço se esforçar para sair do buraco, tenho meu corpo suspenso
novamente por ele quando sua pergunta me faz abrir os olhos.
— Libélulas? — Olha para minhas galochas.
— Sim.
Ele caminha comigo enquanto procuro a Morgana que estava
comigo no buraco, até que ouço a sua voz novamente.
“Não se preocupe, não vou a lugar nenhum.”
O Obscuro me aperta mais forte, me fazendo gritar pela dor nas
minhas costas quando ouço vozes.
— Passe-a para mim, Obscuro. — A voz de tio Damian nos alcança.
— Senhor. — Meu corpo é esticado para frente e quando estou nos
braços de tio Damian, abro meus olhos o encarando novamente.
Sua cabeça inclinada para o lado de forma curiosa nos vê sair
enquanto ergo minha mão boa para lhe dar tchau, mas ele não se move.
— Vamos, Princesa, acabou, vamos cuidar de você.
Então eu desmaio apagando novamente.
(...)

Abrindo meus olhos e puxando o ar novamente como se estivesse


sufocando respiro profundamente em busca de encher meus pulmões de ar e
me livrar da espessa fumaça que me impedia de fazer isso.
Olho ao redor e não estou mais lá, estou novamente em Roma, no
quarto, na casa do meu padrinho.
“O que houve?”
— Você se recorda? — pergunto, porque jamais soube que ela
tivesse essa lembrança.
“Foi nesse dia que te conheci?” — pergunta com medo na voz, ela
está trêmula e parece assustada como no dia da queda.
— Sim, nesse dia vim para protegê-la como farei até o fim dos meus
dias.
“Não quero me lembrar novamente.”
— Não precisa fazer isso, Princesa.
A vejo desaparecer como faz quando está com muito medo, e
quando olho para fora vejo que está anoitecendo, nós dormimos o dia
inteiro.
Capítulo 32

Uma mensagem de Eros aparece na tela do meu telefone quando


percebo que passei o resto do dia no quarto, olhando para o teto.

Nem me dou ao trabalho de responder, vejo que são 21:30h e é meu


momento de mostrar a Anônimus um novo ponto de vista, um que deixa
bem claro que sou eu quem ele deve desejar.
Sinto meu corpo ferver pelo pesadelo que ela teve, mas sigo batendo
as botas furiosa até o galpão que não está fechado quando atravesso a porta
e ouço os choramingos. Isso me estressa.
— Quem está aí? — A voz do homem tenta me achar quando
acendo a luz, me assustando com o que vejo. Uma família. A mulher está
abraçada a duas outras mais jovens e o homem parte para cima de mim.
Começamos a lutar e a cada investida que ele dá em mim abro sua
carne com as lâminas em minhas mãos, enquanto sigo me banhando em seu
sangue. Seu corpo é grande, mas está debilitado, ele investe dois passos em
minha direção, socando enquanto recuo, me esquivando. As adagas afiadas
deslizam pela sua carne com a facilidade de uma faca quente na manteiga.
— Pode morrer rápido ou posso deixar Anônimus vir aqui e matar
todos vocês da pior forma. — Quando ouve minhas palavras ele paralisa,
como se soubesse bem de quem falo.
— Desgraçada! Isso com certeza é algo que aquele demônio faria,
enviaria alguém para que lutássemos.
Logo a mulher vem em minha direção e ambos começam a lutar
comigo, meu corpo desliza em todos os movimentos que aprendi desde
criança, enquanto meus pés acertam o homem, minhas lâminas retalham o
corpo pequeno da mulher. Nossos gritos se misturam e meu corpo segue
sendo lavado de sangue.
Ganho um chute no peito que me lança longe e faz com que eles
sintam um pouco de coragem para prosseguir, mas meu tempo é curto e
logo Anônimus estará aqui. Lanço minha primeira adaga que acerta
precisamente entre os olhos da mulher e a segunda vai diretamente na
garganta do homem que estava investindo em minha direção e o vejo bater
seus joelhos no chão, sufocando com o próprio sangue. Caminho na direção
das mulheres e sei bem o que farei com elas. Pego no bolso os adesivos
explosivos e colo um a um em suas testas enquanto choram e se tremem de
medo. Elas estão paralisadas e sem reação.
— Não se preocupem, logo estarão com eles — digo dando dois
passos para trás apertando o gatilho de explosão quando seus corpos caem
com o impacto dos nano explosivos que fazem buracos em suas testas,
lançando seus sangue e miolos sobre mim.
Viro-me em direção aos outros corpos e começo a puxá-los,
empilhando-os em um canto, um sobre o outro, logo em seguida faço o
mesmo com as outras duas. Começo a tirar minha roupa, meus cabelos
estão lavados de sangue e preciso que ele me encontre e veja o tipo de
pessoa que sou.
Deixo tudo completamente apagado ficando no mesmo lugar que os
outros estavam, serei a primeira coisa que Anônimus verá quando abrir a
maldita porta, vou ensinar a ele como domo meus demônios e lhe mostrar
que não importa o que faça, ele irá nos pertencer, nem que para isso precise
assassinar a porra do mundo.
O horário de me alimentar chegou, mas sempre que penso nisso, me
recordo da maldita libélula impertinente. Caminho a passos largos
desejando acabar logo com isso e seguir em direção ao seu quarto. Vou
acordá-la com meu pau socado em seu rabo, enquanto grita desesperada
sem nem ao menos saber quem ou o que a atingiu.
Abro a porta do lugar escuro e o cheiro de sangue é a primeira coisa
que sinto. Não escuto os choros e os questionamentos, então decido acender
a luz e a cena com a qual me deparo faz meu pau endurecer como uma
pedra, mas existe fúria em mim também. O que diabos ela está fazendo
aqui?
— O que faz aqui, Morgana?
— Não é óbvio? Serei seu alimento.
— O que aconteceu aqui? — Dou dois passos.
— Ninguém toca no que me pertence, Anônimus, se quer se
alimentar faça isso comigo.
— Eu mato meus alimentos.
— Bem. — Ela cruza suas pernas segurando uma lâmina nas mãos,
enquanto a gira sobre o dedo indicador. — Essa é a única coisa que não
poderá fazer, me matar. Por que não vem aqui e me fode com força,
Anônimus? — A vejo deslizar a adaga pelo corpo alcançando sua boceta,
então ela abre suas pernas e bate com a lâmina sobre seu clitóris e a ouço
gemer.
— Morgana... — Tento alertá-la que as coisas não funcionam assim.
Ela geme, jogando sua cabeça para trás, apertando a adaga em sua
boceta aberta, se fechar suas pernas o corte é inevitável.
— Sabia que é gelado, Anônimus? A adaga fria sendo esfregada em
meu clitóris quase me faz ter orgasmos, mas queria muito mais que isso.
— Pare! — rosno furioso por vê-la se tocar com algo que não seja
minha mão ou minha língua.
— O que fará se eu gozar com a adaga, Anônimus? — pergunta,
gemendo mais uma vez, provocando meus sentidos. Ela aperta os mamilos
rebolando devagar, esfregando a porra da adaga na boceta.
— Vou surrá-la por isso.
— Anônimus, pelos céus! Estou quase...
Quando diz isso caminho até ela, furioso, arrancando a adaga de sua
mão, lançando-a longe de mim.
— A próxima vez que ousar pedir alimento corto sua garganta.
Outra adaga aparece e sua ponta é pressionada contra meu pescoço.
— Muito audaciosa, Libélula, vai se arrepender de ter vindo aqui.
— Gosto de ser sua libélula, conte-me mais como foi ter em suas
mãos em uma garotinha de sete anos, desejou me foder não foi? — Suas
palavras me fazem dar dois passos para trás.
Ela se recorda disso?
— Responda, Obscuro, desejou socar no meu rabo não desejou? Eu
era apenas uma criança e ansiava por me violentar, queria me ouvir gritar?
Chorar? Implorar?
Com um movimento rápido assim que me recupero de suas
revelações torço sua mão fazendo com que a adaga caia e seguro seu
pescoço com força.
— Eu desejei rasgar sua roupa e me enterrar fundo em você
enquanto esses olhos quase brancos gritavam e imploravam para que
parasse, mas o mestre não deixou e apareceu antes de conseguir sentir o
quão apertada seria. — Jamais revelaria a verdade, que pela primeira fiquei
curioso e desejando conhecer algo puro e inocente, além da devastação e
destruição da qual fui moldado para causar.
— Gosta de crianças? — Sua mão vai para o cós da minha calça,
segura minhas bolas com força apertando-as, fazendo com que a dor
atravesse meu corpo, me fazendo grunhir. — Não as terá! Nunca mais as
terá!
Seguro seu pulso soltando seu pescoço e agora segurando seus
cabelos lavados de sangue.
— Não me importo com elas, nem mesmo me importo qual buraco
enterro meu pau desde que sejam os seus.
— Você me deseja, Anônimus, me quer apenas para você?
— Eu já te tenho, Morgana, todavia você jamais me terá. Não sou
alguém que pode ser domado, mas a partir do momento em que você me
reivindica precisará ter ciência de que posso levá-la à beira da morte todas
as vezes em que te foder como uma cadela imunda. — Travo meus dentes
quando ela aplica mais força em minhas bolas.
— Eu dito as regras aqui. Você se alimenta de mim, não te pertenço,
nem você a mim. Vamos ver quanto tempo levamos até que nos matemos.
— Está disposta a jogar um jogo tão arriscado, pequena libélula
perversa?
— Ansiando por ele a cada segundo.
Afasto-me dela começando a me despir enquanto sua mão ainda
segura minhas bolas.
— Preciso que se afaste para que retire as calças. — A encaro e ela
me solta fazendo meus demônios rugirem pela perda de contato.
A vejo caminhar até a parede contemplando seu corpo banhado de
sangue, suas mãos se colam aos ladrilhos com certeza frios, suas pernas se
afastam e empina sua bunda. Morgana está se oferecendo para mim e eu
não me farei de rogado.
Capítulo 33

Pude ver em seus olhos a surpresa de minhas revelações e agora,


aqui de costas para ele sorrio por imaginar que ele irá partir em minha
direção como um maldito trem desgovernado. Apenas por imaginar meu
corpo inteiro queima, quero tudo desse demônio, inclusive sua sanidade.
Um arfar sai de mim quando seu corpo quente se cola ao meu, suas
mãos seguem para os meus seios os apertando e sinto seu pau deslizar pelas
minhas dobras molhadas.
— Pronta para alimentar o demônio?
— Sim
— Então se segure como puder, não sou capaz de me controlar
enquanto me alimento, e sabe como funciona, quanto mais implorar para
que continue menor o risco de que acabe pendurada morta nos ganchos de
carne, costumo estocar comida. — Assim que termina de falar seu pau se
enterra em minha boceta de uma só vez.
Um grito rápido e alto de surpresa sai da minha garganta quando
meus braços são puxados para trás e meu corpo bate com tudo contra a
parede, fazendo com que sua gargalhada ecoe pelo galpão.
— Morgana Dothraki, você não deveria ter se enfiado no meu pior
momento.
Então todo o ambiente muda e sinto o gelo do medo percorrer
minhas veias, sua voz acaba de mudar e a forma com que me segura é tudo,
menos a de um homem normal.
Seus movimentos brutos acertam o lugar que me deixa louca, meu
corpo que ferve desliza sobre a parede fria por conta do sangue que molha
minha pele. Suas mãos seguram meus braços como apoios e seus gritos são
altos e desesperados, assim como os meus. Anônimus não se contém, ele
está livre, como uma legião de demônios prontos para devastar e quando o
primeiro orgasmo me atinge, tenho meu corpo descolado da parede.
— Vire-se — sussurra as palavras em meu ouvido. — Ajoelhe-se
fechando os olhos e me engula completamente, irei retirar minha máscara e
balaclava e a brincadeira será a seguinte, me faça gozar com sua boca sem
me olhar, se abrir os olhos estouro sua cabeça com a mesma nano bomba
que usou contra as mulheres.
— Como sabe? — Sua risada é mortal.
— Eu sempre sei de tudo, Morgana.
Fazendo como me pede, assim que me solta, ajoelho-me na sua
frente e o vejo caminhar até onde estão minhas roupas pegando o adesivo e
o gatilho.
Como um predador que me encara esperando que faça algo para que
me castigue, posso imaginá-lo sorrindo para toda essa situação. Seu pau
ainda está duro e me faz salivar quando se aproxima de mim e o esfrega
contra meu rosto, sinto o adesivo gelado ser colado na minha testa, fazendo
meu coração bater acelerado contra o peito.
Anônimus começa a tirar sua máscara sob meu olhar atento, quando
segura a balaclava no alto da cabeça.
— Este é o momento em que fecha os olhos. — Seu aviso é cruel e
faz com que obedeça instantaneamente. — Abra sua boca para mim,
Princesa.
Obediente, abro minha boca que logo é invadida pelo seu membro e
começa a foder enquanto dispara palavrões e maldições por ter lábios tão
quentes envolta de seu pau. O desejo desesperador de lhe olhar nem que
seja apenas uma vez me toma, mas se esvai quando ele segura meu rosto
com as duas mãos e toca minhas pálpebras com os polegares, como se lesse
minha mente e me ajudasse a não quebrar as suas regras.
Seu orgasmo vem forte e tenho meu rosto pressionado contra sua
pelve sendo sufocada por ele, que urra em libertação.
Por mais de três horas fodi Morgana de olhos fechados, como sei
disso? Eu a mantive de frente para mim. Conhecendo bem a Libélula
perversa, por muitas vezes cobri seus olhos, podia sentir a inquietação que
emanava dela corroendo sua mente, ansiando. Os abri apenas uma vez,
quando seu corpo foi levado ao limite, já que usei estimulante em mim para
castigá-la e lhe mostrar que as coisas comigo não são como um maldito
conto de fadas como o de seus pais. Ela desmaiou e agora a tenho deitada
no chão com sua pele completamente marcada por mim.
Viro-me de costas caminhando até a minha balaclava e minha
máscara colocando-as e pegando-a no colo, quando seus olhos se abrem
fazendo meu corpo paralisar. Ela tem aquele olhar, aquele pelo qual desejei
revelar minha verdadeira face, aquela pela qual não me reconheço. Mas
esse olhar, ele enxerga além do que mostro, é como se a máscara e nada
fosse a mesma coisa. Morgana consegue ler minha alma com esse olhar, se
é que existe isso em alguém como eu. Se ela desejasse e pedisse neste exato
momento, eu me ajoelharia e me revelaria a ela. A esta Morgana que me
encara, só a ela.
— Por que parou de caminhar? — Ela afasta sua cabeça do meu
peito nu, sua voz é suave e sedutora, uma que me acostumaria a ouvir ainda
que meus olhos estivessem fechados.
— Deseja alguma coisa?
Não sei o motivo de perguntar isso e, maldição se ela me pedir agora
para ver meu rosto.
— Não, apenas acordar novamente em seus braços.
— Talvez isso não seja possível... — Minha frase morre.
— Talvez tenha razão, e isso não aconteça agora. — Seu corpo sofre
com tremores e vejo que aperta seus dedos. — Um dia, quem sabe. — Seu
sorriso é doce e a perversão desapareceu como se jamais houvesse existido.
Sua cabeça repousa em meu peito suado como se fosse o melhor
lugar do mundo para se estar e a vejo fechar os olhos mantendo o maldito
sorriso nos lábios. A levo até o banheiro que, colocando-a sobre os próprios
pés quando novamente seus olhos me encaram.
— Tome seu banho.
— Poderia se juntar a mim, se desejar mantenho meus olhos
fechados. — Ela pisca algumas vezes e então percebo que a nano bomba
adesiva ainda está em sua testa e levo meus dedos até ela, retirando-a.
— Melhor fazer isso sozinha. — Como fez no avião, ela decide
fazer agora.
Ficando na ponta dos pés suas mãos seguram minha máscara e seus
lábios tocam o lugar onde seria minha boca.
— Tudo bem.
Sem conseguir dizer ou formar uma frase para essa versão angelical
do demônio, saio de lá antes que não consiga me controlar, ninguém pode
ver meu rosto além do mestre e da Dra. Monike.
Capítulo 34

Quando saio do banho há uma muda de roupa na pia do banheiro,


assim que a visto, saio com meu corpo inteiro tremendo de medo. A pouca
coragem que tive momentos atrás parece ter se esvaído, não deveria ter
aparecido.
— Anônimus — chamo e não obtenho resposta.
“Preciso assumir.”
— Não, me deixe ficar um pouco mais com ele.
“Princesa, tem corpos e sangue atrás dessa porta, não vai gostar do
que vai encontrar.”
Apenas sua informação faz com que recue dois passos para trás.
— Foi ele? — O coração bate acelerado no peito.
“Não, eu os matei.”
— Por quê?
“Não é o momento para termos essa conversa, Princesa, ou me
deixa sair daqui ou não me responsabilizo, nem mesmo sabe onde está.”
Respirando fundo recuo permitindo que ela assuma a liderança. É
sempre assim, não consigo encarar coisas tão terríveis, o medo sempre me
consome e paralisa, por isso me mantenho sempre tão escondida e pouco
desejo explorar o mundo lá fora. Não é como se eu fosse alguém que tivesse
a coragem ou o treinamento dela. Me sinto como um peso, um nada,
alguém que acaba nos puxando para o fundo. Eu nunca serei como ela.
Constato enquanto desapareço.
O dia estava amanhecendo quando me ergui do chão onde estava
ajoelhado velando seu sono sem máscara ou balaclava alguma, esperando
apenas aquele olhar para que pudesse ver a verdade quando visse meu rosto,
mas novamente Morgana não acordou e eu não poderia passar todo o dia
esperando.
Logo os Espossittos retornam e os malditos trigêmeos decidiram
monopolizar sua atenção. Decidi focar minhas energias no meu trabalho.
Em alguns dias iremos embora daqui para a Cidade do Cabo, na África do
Sul, onde ficaremos algum tempo na casa de Isaac.
Os dias foram se passando e por todos eles aquele olhar jamais foi
visto. Morgana está novamente cheia de si como sempre foi e desejando
desesperadamente me irritar. Os dias longos na piscina com aquele maldito
pedaço de pano que, felizmente, é milhares de vezes melhor que pano
algum, é algo que mantém todos os malditos mafiosos italianos vivos.
Estou terminando de organizar toda a próxima rota, rotas e pouso
para abastecimento com os pilotos que chegaram ontem. Finalmente
acertado, saio da sala seguindo em direção a área externa e me deparo com
uma pequena reunião.
— Desculpe incomodá-los — informo recuando dois passos e o
olhar de Morgana segue diretamente ao meu.
— Pode ficar, Anônimus, estamos planejando a última festa antes de
irmos.
— Festa? — questiono, surpreso, porque já havia encerrado minha
cota de paciência com ela e todas as malditas festas que os três desgraçados
a levaram nos últimos dias.
— Acho melhor se organizar quanto a isso, Anônimus, já que será
justamente um dia antes de irem para casa de Isaac — Ettore me informa.
— Bem, nós vamos dormir. — O vejo se levantar segurando a mão de sua
mulher. — Todos os soldados serão informados do evento, apenas se
mantenham na linha.
— É uma fogueira, pai.
— Sim, e envolta dela milhares de jovens com os hormônios à flor
da pele. Não tirem os olhos de Morgana — a forma dura com que ele fala
faz os três homens tencionarem seus corpos, agora não é o pai deles falando
e sim o antigo conselheiro da Máfia Italiana.
Observo todos começarem a se movimentar e sigo a Libélula
perversa com os olhos ao caminhar atrás dela. Subimos as escadas e
Morgana atravessa a porta sem hesitar, fechando-a em minha cara. Sigo
para o meu quarto e noto a vibração do meu celular, mas o descarto no
colchão depois de verificar a tela.
Caminho de um lado para o outro com todos os meus demônios
exigindo que vá até ela e a obrigue a parar de nos ignorar como vem
fazendo, a minha sede de sangue tem atingido níveis estratosféricos, pois
por algum motivo doentio aceitei a sua maldita condição de me alimentar. O
problema é que ela nunca se aproxima com esse propósito e com toda
maldita certeza vou precisar lhe lembrar de suas palavras.
Começo a arrancar minhas roupas, ficando nu, retirando até mesmo
minha balaclava. Desejando um pouco mais de tormento caminho em
direção ao espelho e me encaro, encaro a imagem que não me diz nada.
Tento de alguma forma encontrar algum resquício do que sou nesse reflexo,
mas tudo que vejo é o mais completo nada, ele não é nada, não me diz nada,
é como se existissem em mim dois seres em um que devastam todo o
inferno deixando o rastro de sangue e gritos, e ele que não passa de um
reflexo nojento do homem que sempre está escondido por debaixo da
máscara, um verme rastejante e medroso que não tem coragem de se expor
ou de assumir lugar algum.
Recordo-me daquele olhar, aquele que talvez não se enojasse assim
como eu do que vejo, então me viro de costas para aquilo e sigo para a
cama apagando todas as luzes e deixando o quarto na mais profunda
escuridão, assim como é minha alma, assim como me acostumei a viver.
Encosto meu corpo na cabeceira da cama dobrando meus joelhos e enfiando
minha cabeça entre eles como sempre fiz durante anos naquele lugar.
Sinto meu coração bater acelerado no peito e o fogo do inferno me
consumir quando as lembranças daquele dia voltam a rondar minha mente,
como se fosse possível voltar lá e mudar algo e talvez fazer com que esse
tempo presente fosse outro, um que aquele maldito olhar não fizesse de
mim um escravo ainda mais obediente do que o que já sou com o mestre.

(...)
Havíamos chegado de uma longa viagem, tínhamos dormido pouco
mais de cinco horas quando as portas se abriram de forma brusca pelo
nosso mestre.
— Obscuros! — a voz do Anjo do Caos é trovejante como sempre foi
e nos faz pular de nossas camas imediatamente. — Morgana acaba de ser
dada como desaparecida, sabemos que ela não foi a lugar nenhum além
dos muros da propriedade e se não estivessem comigo poderia desconfiar
de que algum de vocês desejou se alimentar e escolheu o alvo errado.
Todos nos encaramos, porque membros Triglav estão fora de nosso
alcance e o último Obscuro que desejou se aproximar de uma delas foi
descarnado vivo.
— Espalhem-se pela propriedade e a procurem, até mesmo debaixo
das folhas, ainda que seja impossível, não quero nenhum milímetro desta
propriedade sem ser vasculhada. Vão! — A ordem é dada enquanto
estamos vestindo nossas roupas.
Passamos todo o dia e o início da noite vasculhando todos os
lugares quando vejo uma árvore tombada pegando fogo, algo que me
chamou atenção. Um raio atingiu a árvore e fez um desenho diferente na
madeira que estala enquanto queima. Me aproximo, curioso com a cor da
brasa que apesar da chuva ainda está acesa, quando ouço um gemido após
o estalar da madeira.
Com a lanterna foco no lugar e posso ver o pequeno corpo caído lá
dentro que não me respondeu quando a chamei. Apesar de a árvore ter um
tronco fino não é fácil retirá-la de lá e mais brasa cai no buraco e outros
gritos se faz ouvir. Há pouca fumaça lá dentro, mas se ela continuasse ali
poderia morrer sufocada.
Com cuidado para não a pisotear entro no lugar, sendo recebido
pelos seus grandes olhos azuis, quase brancos, que me encaram. Existe dor
neles, medo, desespero, tudo que sei reconhecer tão bem.
— Vou tirá-la daqui — aviso para que entenda que precisarei tocá-
la.
— Onde está meu pai?
— Todos te procuram. — Analiso com cuidado de que forma a tirar
dali de forma eficiente antes que os meus pensamentos me invadissem e
enviassem para a morte certa.
— Como se chama?
Pergunta engraçada, ninguém jamais desejou saber, mas respondi
mesmo assim.
— Obscuro.
— Esse é seu nome? — Sua curiosidade parece desejar fazer com
que o medo se dissipe.
— Sim. — Começo a me ajeitar para pegá-la, quando um grito
agudo atinge meus ouvidos e não entendo o porquê.
— Não te machuquei. — Garanto, porque se ela dissesse o
contrário seria mais do que castigado pelo mestre.
— Minhas costas doem. — Só então tento entender o que aconteceu,
observando e focando a luz da lanterna em suas costas, vejo que existe um
buraco no plástico da sua capa de chuva que atingiu a lã do seu pijama e
alcançou suas costas. Ao olhar para cima lembro da árvore queimando e
das brasas, vasculhando ao redor dava para ver o carvão das brasas com
que ela se queimou.
— Preciso pegá-la para te suspender e colocá-la para fora. —
Ainda que gemendo de dor, ela concorda, sendo forte quando meus braços
a envolvem, suspendendo-a para colocá-la na borda do buraco e sairmos
dali. Assim que ambos estamos fora, a seguro novamente nos braços e sua
cara de dor não me causa nada além de vontade de causar um pouco mais
disso nela, mas acima de tudo a curiosidade grita ansiando conhecer mais
de algo tão puro e inocente e o desejo de a machucar não é maior que isso.
Chacoalho minha cabeça fazendo com que as leis gritem dentro de mim e
foco minha atenção em suas botas.
— Libélulas?
— Sim. — Mesmo com dor ela tenta esboçar um sorriso.
Começo a caminhar com ela nos meus braços quando a sinto tremer
e a aperto mais contra meu corpo, novamente um grito de dor irrompe do
corpo pequeno e me faz afrouxar o agarre. Logo vozes começam a surgir e
a voz do mestre se faz soberana por detrás da luz apontada na nossa
direção.
— Passe-a para mim, Obscuro. — Travo meus passos no mesmo
momento.
— Senhor. — Estico o pequeno corpo com desejo de permanecer
com ele em meus braços, eu queria protegê-la. Como seria ter algo para
me agarrar quando tudo parecesse desmoronar?
Então percebo que não sobraria nada da pequena libélula além de
sangue e restos mortais depois que eu a machucasse.
Fui retirado dos meus pensamentos por vê-la me dar tchau com sua
mão boa e inclino um pouco minha cabeça para tentar entender o porquê.
Ela sorri ao se despedir, não tem ciência que a destruiria sem nem ao
menos pestanejar. Mas o que vi naquele olhar? Por que me inquieta tanto?
— Vamos, Princesa, acabou, vamos cuidar de você — a voz do
mestre informa que irá levá-la para longe de mim e que nunca mais irei
poder me aproximar novamente.
(...)
— Anônimus. — Abro meus olhos em meio a escuridão total do
meu quarto quando ergo minha cabeça em direção a sua voz.
Capítulo 35

Abro meus olhos sentindo algo apertar meu coração e um medo


descomunal toma conta de mim, olho as horas e passa da uma da manhã,
não consigo ficar aqui, estou sufocando, então decido ficar perto dele.
Caminhando descalça e na ponta dos pés sigo até seu quarto, toco a
maçaneta e ela abre, não está travada, isso faz com que meu coração acelere
e meus questionamentos sobre sanidade explodam.
— Anônimus — sussurro, não enxergando nadinha à minha frente,
nem mesmo a luz fraca do corredor me dá uma visão do todo.
— Morgana? — seu questionamento surpreso paralisa meu corpo e
quase me faz parar de respirar.
— Eu, eu...
— Você?
— Posso entrar?
— Se conseguir caminhar no escuro em linha reta pode, caso
contrário saia.
— Eu consigo. — Como sua resposta não vem fecho a porta atrás de
mim seguindo em linha reta lentamente.
Sinto que seu olhar está cravado na minha direção e sei disso por
sentir todos os pelos do meu corpo arrepiados com uma eletricidade que me
faz desejar dar meia volta, já que o medo quase me domina. O que estou
fazendo aqui?
“Sendo forte e corajosa.”
Ele pode me escorraçar.
“Não o fez, então não o fará”
Tem tanta certeza.
“Vou deixá-la, só irei aparecer se algo acontecer”
Então ela some quando minhas pernas batem na cama.
— Posso me sentar? — Minha voz sai muito mais baixa do que já é
de costume.
— Por que está aqui?
— Medo de ficar sozinha, acordei sentindo algo estranho no peito.
— E decidiu vir diretamente para os braços do diabo?
— Posso me sentar? — Preciso que me dê autorização.
— Sim.
Subo na cama tateando quando minhas mãos tocam seus pés.
— Retire. — Sua ordem é um grunhido estranho e poderoso que me
faz tremer ainda mais.
— Desculpe. — Retiro minhas mãos dele e minha voz vacila
novamente.
Enquanto me sento procuro estar o mais próximo dele que consigo.
— O que deseja, Libélula com tendências suicidas?
— Quando saí do banho, aquele dia, por que não estava lá? — O
silêncio que se segue é tão denso e vazio que se não soubesse que ele está
aqui teria a certeza de estar sozinha.
— Não sou o tipo de cara que se deita na cama com a garota depois
da foda, geralmente depois disso costumo estar pendurando os restos
mortais em ganchos de carne. — Abraço meus joelhos contendo a vontade
de sair correndo, existe uma frieza em sua voz que gela meus ossos. — Vai
me contar o que faz aqui ou posso acreditar que quer novamente ser fodida
como uma cadela enquanto soco seu rosto e meto em seu rabo quente?
— Não deveria ter vindo — afirmo, me arrependendo
imediatamente e como se soubesse que iria sair, ele segura meu pé e me
puxa para mais perto.
— Não pode ir enquanto eu não permitir — avisa, em tom de
ameaça.
— Não quero incomodar ou qualquer coisa do tipo — me defendo,
baixinho.
— Deveria ter pensado nisso antes de atravessar a porta.
Suas mãos me suspendem e faz com que me encaixe sentando em
seu colo, sinto seu membro sob mim, não está duro, mas posso sentir o quão
grande é e meu corpo inteiro parece querer colapsar, mas me forço a ser
forte. Seu corpo é quente e em contato com o meu faz parecer tão perfeito.
Suas mãos estão coladas nas minhas costas e as minhas repousam em seu
peito.
— Isso é temor? — Um sorriso escapa dele e posso ouvir
nitidamente, é como se ele gostasse de me causar isso.
— É... Eu...
— Sempre tão cheia de si e dona do mundo, não está parecendo uma
assassina que me desafia agora.
Não quero que ele pense que sou alguém... droga eu sou! Mas
preciso de coragem, nunca fiz sexo, será mesmo que suportaria ser
espancada por ele como ela diz ser?
— Seu corpo é quente. — Mudo de assunto.
— Diga-me, por que está aqui?
— Estava com medo, já disse.
— Parece que continua com ele.
— Um pouco.
Minhas mãos começam a deslizar sobre seu peito e subir para o seu
pescoço.
— Está indo longe demais, Princesa curiosa.
— Está sem máscara?
— Sim. — Sua resposta é um alerta de que não posso ir por este
caminho.
— Posso te ver?
— Não acenderá a luz, posso torcer seu pescoço com apenas uma
mão. — Quando ameaça segura meu pescoço assustando-me.
— Não com os olhos.
— E como se enxerga de outra forma?
— Como os cegos enxergam, com as mãos.
— Quer passar a mão em meu rosto? Quem é você? Por que age tão
diferente do habitual? Passou os últimos dias me ignorando, me irritando,
estou a um passo de te surrar e agora aparece aqui como se fosse alguém
que pudesse pedir ou desejar algo além do que sou capaz de oferecer.
— Só precisa dizer que sim ou que não. Não desobedeceria a uma
ordem, não sou assim.
Por um tempo ele fica em silêncio quando o sinto se mover sob mim
e sinto seu pau duro sendo acomodado em minhas dobras, o contato faz
minha boceta pulsar e arrepia completamente meu corpo fazendo com que
um gemido involuntário escape.
Então é assim sentir prazer?
Rebolo sobre ele deslizando sobre seu pau desejando que ele o enfie
em mim para saber como é.
— Morgana. — Seu alerta é quase uma ameaça.
— Por que não o desliza para dentro de mim?
— O que você está fazendo?
Com a minha mão o pego e o encaixo em minha entrada, descendo
lentamente ouço o rosnado que ecoa no quarto e que sai de sua garganta.
Suas mãos apertam firmes minha bunda como se desejasse arrancar minhas
carnes.
— Por favor, não me machuque — imploro e seu corpo tenciona.
— Quer ser fodida pelo demônio sem sentir dor? — Sorri incrédulo.
— Posso me mexer? Lentamente? Consegue apenas permanecer
parado?
— Do que está querendo brincar, Libélula? Sabe que não sairá daqui
sem que eu me satisfaça até a sua última gota de prazer e dor. — Anônimus
se movimenta para posicionar-se melhor e sua pelve esfrega meu clitóris e
quase grito com a sensação, é impossível não rebolar buscando mais.
— Pode fazer o que quiser comigo depois, só me deixe
experimentar dessa forma. — Minha voz sai vulnerável e seu agarre
diminui.
— Faça o que deseja, e se quiser pode me ver com as mãos.
Não digo nada, não quero que mude de ideia, apenas desejo sentir.
Começo a rebolar devagar indo e vindo, meus gemidos são baixos enquanto
deslizo minhas mãos para o seu pescoço, como um apoio começo a ir e vir,
e ele me ajuda. Suas mãos percorrem meu corpo e para minha surpresa sua
boca abocanha meu mamilo, e o grito é impossível de conter. Não dói, pelo
contrário, é a sucção mais prazerosa do mundo, suas mãos agora seguram
meus seios e tudo que consigo fazer é continuar rebolando e implorando por
mais.
Ele rosna e grunhe como se estivesse perdido também, mas não se
move da cintura para baixo, é como se permitisse que eu o usasse como
bem desejasse. Meu corpo esquenta, cada pedaço de mim está em alerta,
aumento os movimentos, não consigo não buscar por mais.
— Anônimus, eu preciso tanto... Isso é tão delicioso. — Minhas
mãos estão em sua cabeça raspada. — Estou fazendo certo? — O medo em
mim grita, ansiando por saber se estou lhe dando o mesmo prazer.
— Continue cavalgando no meu pau, Libélula, quando acabar vou
foder tão forte seu cu que irá precisar de um médico. — Sua ameaça me
aterroriza, mas não paro.
Seguro seu rosto com as duas mãos quando aproximo nossos lábios.
No primeiro toque ele para, mas logo se abre para receber minha língua.
Nunca beijei alguém, mas gostaria que fosse ele. Sempre foi ele, cavalgar
em seu pau e beijar ao mesmo tempo, no começo parece difícil, porém logo
a sincronia volta e fazemos tudo como se sempre tivéssemos tido essa
intimidade. Suas mãos tateiam meu corpo e o beijo se aprofunda. É como se
fossemos nos fundir e ele me aperta com força. Meu orgasmo está sendo
construído e estou no meu limite quando ele decide se mover sob mim. As
coisas ficam mais fortes e o beijo parece reivindicar nossas almas, quando o
pulsar violento na minha boceta o esmaga, seu pau parece maior e engulo
seus grunhidos, assim como ele faz com os meus. Sinto os jatos quentes de
seu esperma espalharem dentro de mim. Anônimus parece perder um pouco
o controle e o beijo cessa, porém seus movimentos continuam como se
desejasse me sentir assim para sempre. Começo a distribuir beijos pelo seu
rosto e seu pescoço e ele segue metendo de baixo para cima, rosnando cada
vez mais alto e meus gritos começam, a forma com que ele tenta
desesperadamente se fundir a mim é algo tão animal, porém perfeito, não é
como se desejasse me machucar, e sim como se ansiasse por muito mais do
que lhe dei.
Então ele para, sinto seu membro duro pulsando dentro de mim
enquanto continuo com os beijos pelo seu pescoço, nossas respirações estão
ofegantes e o tempo parece ter parado.
Capítulo 36

Anseio por mais, quero novamente o que acabou de acontecer antes


de finalmente poder fodê-la como uma cadela imunda que sorri quando eu a
surro. O beijo, o que foi isso? Então, beijar é assim? Sua língua macia junto
a minha, seu gosto e seus gemidos contidos, Morgana parece outra mulher,
ela é delicada e decidida na mesma proporção e o medo contido em sua voz
me excita de tamanha forma que eu quero arrancar suas carnes com os
dentes, mas não agora, depois, depois que tiver dela novamente o que
acabou de me dar.
Morgana para de beijar meu pescoço e os arrepios que me
dominavam começam a cessar, mas meu pau não abaixa. Quando suas mãos
tocam meu rosto eu travo, parando até mesmo de respirar.
— O que está fazendo? — meu questionamento sai entre dentes.
— Te enxergando — sua voz ainda está levemente ofegante — com
meus dedos.
Delicadamente ela toca meu rosto e é impossível não fazer uma
careta.
— Estou te machucando?
— Não.
— Por que parece que sente dor?
— Ninguém jamais me tocou.
— Posso parar. Já posso imaginar o quão lindo você é, até mesmo a
linha fina da sua cicatriz parece te deixar mais perfeito. — Quando diz isso
meu coração dispara e o fogo do inferno queima em meu peito.
— Não há nada de bonito em mim, tenho nojo do que vejo, por isso
quase nunca olho.
— Gostaria de poder ver com os olhos.
— Ninguém, nem mesmo você com essa sua forma de anjo vai
conseguir isso. O mestre é o único que pode contemplar a face do mal e a
Dra. Monike, já que não posso ser tratado de máscara.
— O que teme? — O que ela tenta fazer, minha cabeça fica confusa,
estava a minutos de fodê-la novamente e depois surrá-la, e agora ela parece
me enfeitiçar.
Fico em silêncio e ela força mais um pouco.
— Como consegue? — Não entendo seu questionamento.
— Não sei do que está falando.
— Como consegue ser assim, duas pessoas em uma, com a máscara
é um demônio que faz qualquer que seja o ser vivente temê-lo, sem ela
parece um garoto indefeso que busca aprovação. Quem precisa aprová-lo?
— Eu sou o que a minha máscara demonstra, um demônio,
Morgana, e nem mesmo essa sua forma doce e medrosa me faria revelar
além disso, acredito que já passou de todos os limites aqui, ainda não sei o
motivo de não te matar, porque minha vontade quando coloco as mãos em
você é de sempre arrancar suas carnes dos ossos com meus dentes,
enquanto grita implorando para que pare, porque só assim seria mais fácil
matá-la. — Suas mãos desaparecem rapidamente do meu rosto e sua
respiração parece ofegante, já que posso ouvi-la.
— Senti algo que não é o que demonstra, não era o demônio comigo
à pouco, não é ele comigo agora, não vou machucá-lo, Anônimus, e se
pudesse, se ao menos tivesse esse poder, jamais permitiria que alguém o
machucasse novamente.
— Está querendo me confundir, não é?
— Não, estou tentando te amar.
Minha gargalhada explode tão alto que chacoalha seu corpo sobre o
meu. — Isso não existe, amor é um sentimento inventado pelos humanos
para explicar suas ações idiotas.
— Meus pais... — Não permito que continue.
— Darko é o Anjo da Atrocidade, estuprou e matou tantas pessoas
quanto pôde, crianças, mulheres, homens, velhos e novos, não fazia
diferença para ele como nunca fez diferença para mim. Acredito que estava
cansado quando sua mãe apareceu e ele se permitiu domar, mas não se
engane, um dia a fúria adormecida pode explodir e nem mesmo a sua mãe
sobreviveria.
— Não é assim o amor, Anônimus. Amar é dar a vida pelo outro, é
perdoar mesmo quando não se merece e mesmo assim insistir até que a luz
invada a escuridão do outro, a minha mãe iluminou o inferno do meu pai...
— E acredita, pequena libélula, que sua luz iluminaria algo? É tão
sombria e diabólica quanto eu, o que pode acontecer neste caso é ambos
acabarmos mortos ou afundados no inferno onde queimaríamos e nos
machucaríamos pela eternidade.
— Eu sei que sentiu o mesmo que eu, e que gostaria de sentir de
novo. — Imaginar que o que acabou de acontecer é margear a morte.
Engulo em seco. É como ganhar algo impossível, provar algo jamais
imaginado e então, quando se vicia nisso é o fim.
Tudo será arrancado de você de forma tão brusca que é melhor
jamais ter conhecido ou sentido algo que não sabia sequer nominar, mas que
poderia aniquilar alguém como eu e arrastar meu corpo até as profundezas
do inferno.
— Vá embora!
— Me dê novamente.
— Eu disse para ir embora. — Não consigo machucá-la, algo em
mim me impede, seu pedido nada mais é que uma súplica baixa e medrosa.
Morgana rebola e joga sua cabeça para trás, eu sei disso porque
sinto seus cabelos tocarem minhas pernas, fico paralisado, a avalanche de
sensações me inunda e talvez possa me permitir entrar novamente no céu e
gozar junto com ela, jamais senti uma ligação como essa e ainda que o
cheiro do sangue e da carne queimada invada minhas narinas fazendo-me
lembrar quem eu sou, decido que só desta vez posso me permitir.
Suas mãos colam em meu rosto e me puxam para um beijo e,
maldição, isso é inexplicável. Morgana rebola deliciosamente com a boceta
tão molhada que parece que meu pau desliza entre as nuvens, agarro sua
cintura e dito o ritmo que me levou à loucura, permito desta vez que meus
gemidos se libertem mais altos. Sinto um prazer tão visceral e animal que
poderia viver dessa forma todos os dias até que matar e devastar voltasse a
ser todo o desejo existente em mim, então tudo isso deixasse de existir.
Foco no que ela faz como agora e gravo cada gemido e toque de
suas mãos em mim, sei que vou acordar a qualquer momento e tudo irá se
esvair como areia entre meus dedos, demônios não podem ter isso, nem
mesmo podem ousar sonhar com algo assim.
— Anônimus... — Meu nome em seu gemido de súplica me pedindo
mais faz o fogo do inferno aumentar a níveis insuportáveis, e decido
assumir o controle da foda invertendo nossas posições e cobrindo seu corpo
com o meu. Minhas mãos seguram as suas no alto de sua cabeça e tenho
seus dedos entrelaçados aos meus, daria minha vida para contemplar seu
rosto agora, se sente prazer, se é real, se é ela mesmo debaixo de mim.
— Peça o que deseja, Libélula, apenas hoje posso realizar seu
desejo.
— Sua boca, por favor, leve-a entre minhas pernas.
— Quer gozar enquanto te chupo?
— Sim, por favor.
— Vou te mostrar o quão bom sou em te dar prazer.
Solto nossas mãos descendo e como um cão esfomeado abocanho
sua boceta desesperado, ansiando pelo gosto que perturba minha mente
desde o dia em que a provei. Suas mãos tentam segurar em algo, mas não
tenho cabelos para que os puxe, o orgasmo a atinge e seu grito invade meus
ouvidos e me faz sorrir.
A viro de bruços de forma brusca, mas que em nada se parece com o
demônio que costuma destroçá-la cobrindo seu corpo com o meu e
arremetendo com força em sua boceta. Entro e saio cada vez mais forte,
urrando enquanto ela clama meu nome, nunca foi tão prazeroso ouvi-lo,
nunca foi tão prazeroso desejar por continuar ouvindo seu chamado.
— Assim, não para, por favor — submissa, me implora e posso
desejar que ela seja mais obediente assim.
— Pede, Libélula, pede pelo meu pau mais fundo — sussurro em
seu ouvido passando minha língua pelo seu pescoço.
— Mais fundo, Anônimus, por favor, afunde seu pau em mim.
— Seja obediente, Morgana, e talvez eu lhe dê tudo que desejar,
apenas por hoje.
Apoio minhas mãos em sua cintura metendo e tirando, rápido, forte,
e desesperado, nunca fodi assim, seus gritos se misturam aos meus rosnados
e então gozamos juntos novamente, no mesmo momento, como se
estivéssemos sincronizados.
— Morgana! — urro tão alto seu nome que pode ser ouvido no
inferno.
Ainda pulsando dentro dela, tombo meu corpo ao lado do seu
virando-a junto comigo para que meu pau continue enterrado em sua
boceta. Seguro seus peitos com minhas mãos e sinto seu coração bater
furioso.
— Esse é o momento que você sai, Libélula, porque estou a um fio
de arrancar suas asas, e não parece ser hoje o dia de te fazer gritar de dor.
— E se eu não quiser a dor?
— Deve procurar outro pau para foder, hoje foi uma exceção e
confie em mim, meus demônios não irão permitir que aconteça novamente.
Ela se movimenta, meu pau desliza para fora de sua boceta e ela
cola seu corpo ao meu.
— Não existe outro que eu deseje. — Sua mão toca meu rosto
puxando-me para um beijo que entrego de bom grado.
Quando finalmente buscamos por ar e meus demônios decidem que
chegou a hora de fazê-la sofrer, ela ainda beija meus dois olhos lentamente,
posso ouvir um sorriso, então ela sai, não me viro, mantenho-me como
estou de costas para a porta, sinto que se movimenta pelo quarto devagar,
então abre a porta e se vai, me deixando aqui, um demônio perplexo e
paralisado, tendo a ciência de que tudo que acabou de acontecer nada mais
é que uma prévia do que jamais iria acontecer com alguém como eu.
Capítulo 37

O dia amanheceu com ela desaparecida e sem que eu pudesse ao


menos perguntar o que foi que houve, quando me pediu privacidade e eu lhe
dei. Apenas me distanciei para lhe dar a liberdade que ansiava, nunca houve
um pedido assim, não seria eu quem a iria desmotivar de ficar à frente da
própria vida.
Mas hoje sou eu aqui, e então decido continuar seguindo meu plano
de privá-lo da minha presença e o irritar ao extremo. Anônimus não é
alguém que precise ser lembrado de sua posição e isso me estressa ao
limite, já que quero que ele seja livre ainda que preso a nós.
Os trigêmeos insistiram em me levar para cima e para baixo, mas
hoje enquanto eles movimentam a festa no vinhedo eu prefiro ficar aqui,
escondida do mundo, até mesmo dela, quando ouço batidas na porta.
— Entre — peço assim que ouço.
— Com licença, querida. — Tia Vanessa que também é minha
madrinha atravessa a porta. — Não está animada para sua última festa com
os meninos? — Delicada como sempre é, seu sorriso é fácil e a sua
feminilidade emana pelos seus poros, uma que alguém como eu jamais vou
conseguir ter.
— Descansando e já com saudades. — Sua mão segura a minha.
— Ele é bem difícil de lidar, Morg. — Assusto-me com sua frase. —
Anônimus parece sempre disposto a derramar sangue e não é como se
pudesse deixar de ser quem é para se tornar um homem devoto à sua
mulher. — Abaixo meus olhos, algumas vezes como esta parece que cometo
um crime ao tentar domar o demônio que nós gostamos. — Nunca abaixe
sua cabeça pelo que sente, querida, seja fiel aos seus sentimentos.
— Parece impossível, tia, algo inalcançável, é utopia pensar que
poderíamos de alguma forma ter 10% do que meus pais têm, porque não é
como se não soubesse como o Anjo da Atrocidade era e como é agora por
ela, pela sua pessoa. — Uma lágrima teimosa escorre e é limpa pelos seus
dedos.
— Morgana, nos vemos pouco, eu sei, mas, querida, não precisa
carregar o peso do mundo nas costas, não escolhemos quem amar, mas
escolhemos permanecer ou partir, o que seu coração diz?
— Ele o quer, mas talvez não seja essa versão que ele goste mais,
que fará com que permaneça. Todos têm razão quando dizem que talvez ele
seja indomável, alguém jamais domesticável, e sempre que estamos
próximos essa certeza me atinge como um chicote furioso que abre talhos
fundos em minha pele, mas nem mesmo isso me fez recuar. — Seus grandes
olhos azuis que lembram muito os da minha mãe demonstram o quanto ela
me entende.
— Quando conheci seu padrinho eu tinha quinze anos e aquele ar
sombrio de bad boy me fisgou, imaginei que não sentiria nada por mim,
uma garota ingênua que nem mesmo conhecia o mundo, diferente dele que
parecia ser o poço do conhecimento e da rebeldia. Quase morri quando se
afastou de mim, eu queria ter tido metade da força que emana de você, mas
somos diferentes em tudo, meu amor, e os caminhos que nos guiam
destoam sempre, talvez Anônimus seja a sua pessoa, mas homens como ele
dos quais foi tirado o direito de decidir não veem o mundo fora das prisões
em que foram encarcerados.
— Vou utilizar esse tempo com ele para que saiba o que quero e
quem sabe assim no final decida permanecer.
— Se é o que deseja, espero que tenha êxito, só não deixe seu
padrinho saber disso antes que ele esteja ciente do que sente, aquele homem
morre de ciúmes da afilhada que tem.
— Ele sente ciúmes de todos os afilhados dele, tia.
— É, isso é verdade, ainda mais tendo os sobrinhos neste posto.
— Obrigada!
— Pelo que, querida?
— Por não contar nada a ele.
Ganho um beijo na testa enquanto a vejo sair, talvez ela tenha razão,
carregar todo o peso do mundo nas costas não tem sido fácil, desejo tanto
protegê-la que às vezes me esqueço que posso em algum momento precisar
de proteção.

Olho-me no espelho e gosto do que vejo, uso uma calça de couro


preta com botas de salto alto, uma blusa preta de mangas longas e decote
tomara que caia também preta e para dar um ponto de cor a tudo isso um
corpete vermelho sangue que afina minha cintura e levanta meus seios,
deixando-os bem grandes. Meus longos cabelos loiros estão soltos na altura
da cintura, meus olhos estão com uma maquiagem preta e minha boca com
um batom vermelho.
— É isso, garota, acho que ou ele rasga minha roupa e me fode ou
morre num infarto fulminante.
— Posso entrar? — A porta se abre com Apolo passando por ela. —
Puta merda! Está parecendo uma vampira sexy e diabólica.
— Acho que ele pode surtar desta vez.
— Talvez todos que estejam lá possam surtar também, você não
joga para perder.
— Chega de ser boazinha com ele.
— Princesa, jamais te desafiaria.
Seguimos rumo à saída, todos os meus pertences já foram enviados
para o jatinho, já me despedi dos meus tios que estão seguindo para um
jantar romântico, restando apenas eu, Anônimus e os trigêmeos na mansão.
Chego à sala e encontro os três me aguardando e o olhar dele segue
para a mão de Apolo presa à minha, enquanto os rapazes começam a dizer o
quanto estou bonita e como será impossível afastar todos os caras de perto
de mim, Anônimus não emite nenhum som no caminho até o heliponto.
A aeronave já nos aguarda ligada e sou direcionada por Apolo a me
sentar, todos eles se sentam longe de mim sobrando espaço para que
Anônimus sente ao meu lado. Ao encarar os três sei bem o que fazem e
agradeço mentalmente com um sorriso de canto de boca.
— Chegaremos em alguns minutos, soube que todos já chegaram e
faltam apenas os anfitriões. — Eros sorri ao dizer após todos colocarmos os
fones.
A animação deles não diminui o meu desgosto, amanhã iremos para
a casa de Isaac e isso irá limitar minha proximidade de Anônimus, meu
primo é o tipo de pessoa que nos coloca em uma redoma de vidro como se
fossemos quebrar, imagine só se ele soubesse a verdadeira história por trás
de tudo.
Entre conversas que não presto atenção e olhar para a escuridão lá
de fora, vejo a grande fogueira já acesa queimar e nos informar que estamos
chegando, quando finalmente decido atiçar o demônio ao meu lado.
— Pode ser que outra pessoa pegue o que lhe pertence, não fará
nada quanto a isso? — sussurro em seu ouvido, já que ele em algum
momento do voo retirou os fones, com certeza para não continuar ouvindo
toda a loucura que os trigêmeos falavam.
Seu olhar azul assassino se crava nos meus e o medo percorre meu
corpo como um rastilho de pólvora, apenas sorrio porque se não posso tê-lo,
posso deixá-lo louco.
Capítulo 38

A maldita libélula tem brincado de voar para longe de mim depois de


prometer me pertencer, tenho me ocupado muito com toda nossa próxima
movimentação, algo que para mim se torna um pouco mais difícil sendo quem
sou, mas não deixei que nada passasse despercebido e em alguns momentos o
próprio mestre me auxiliou.
Quando a vi descer as escadas parecendo a rainha do inferno, sim, a
rainha do meu inferno, desejei assassinar os malditos herdeiros, mas sou mais
controlado que isso, teremos nosso momento e ela não passará por ele sem
pagar.
Não respondo sua provocação e ela irá se arrepender caso permita que
alguém a toque, meus olhos contêm essa ameaça e sei que ela sabe ler nas
entrelinhas. A aeronave começa a pousar e logo a porta se abre, os trigêmeos
desaparecem deixando-nos a sós.
— Não quer aproveitar a festa comigo? — Seu sorriso diabólico e olhar
perverso estão presentes e a minha vontade de castigá-la aumenta.
— Estou aqui para sua proteção, está com suas adagas? — questiono,
encarando-a.
— Sim.
— Aproveite seu último dia.
— Sabe que quando estivermos na África não poderemos ficar a sós,
não sabe?
— Serei alimentado — respondo sabendo que a deixarei furiosa.
— Seu cretino desgraçado! — Ela avança um passo em minha direção,
mas se contém.
— Eu te disse que não pertenço a ninguém.
— Ainda o verei ajoelhado implorando pelo meu perdão.
— Não antes de castigá-la pela sua impertinência. Tem duas escolhas,
Princesa, ser levada daqui direto para a casa de Isaac, ou aproveitar a festa. —
A encaro vasculhando em seu olhar qualquer que seja o resquício daquela
mulher que estava em meu quarto, noites atrás.
— Vai se foder, Anônimus, enquanto estiver fodendo com dois ou três
caras não me atrapalhe, tudo que poderá ter de mim esta noite serão meus
gritos de prazer enquanto sou fodida como uma cadela imunda, mas desta vez
o pau não será o seu.
O fogo do inferno queima em meu peito quando ouço suas palavras e
antes que segure seu pescoço ela sai da minha frente, furiosa. Decido
acompanhar tudo que fará à distância para que acredite fervorosamente que
tem a opção de deixar qualquer outro homem lhe tocar.

Já é madrugada quando ela cansada de dançar segue para o bar. Com


meus olhos atentos a todos os seus movimentos percebo que a festa está mais
vazia e nem mesmo os herdeiros estão por aqui. De costas para onde estou
vejo dois homens se aproximarem dela, o lugar está vazio e ela se vira com um
copo na mão, sorrindo com os dentes presos ao canudo, não sei o que falam,
mas ainda permanecem vivos por não tocá-la.
Morgana sorri das coisas que dizem e eles fazem o mesmo com suas
respostas, com um acenar afirmativo dela começam a caminhar rumo aos
chalés, escondidos entre a mata. Desejando sangue os sigo com o olhar e
confirmando a intenção da Libélula que ousa me desafiar, caminho em sua
direção, antes de seguir paro para pegar uma corrente de elos finos e ao testá-la
percebo que apesar de fazer parte da decoração é bem real.
Os sorrisos aumentam e a mão de um deles segue até a sua lombar, a
mão do outro faz o mesmo, mas no meio de suas costas, quanto mais se
afastam mais minha legião de demônios anseiam por sangue. Com o ódio
borbulhando em minhas veias e amargando em minha boca, vejo quando
param no canto mais escuro sem nem mesmo entrarem na cabana e a
pressionam em um abraço que a deixa entre eles, retiro minha faca lançando-a
com toda a fúria existente em mim e a vejo cravar na têmpora do primeiro que
enviarei ao inferno.
— Que porra foi essa? — o segundo cara esbraveja, enquanto a filha da
puta nem mesmo esboça reação, ela sabia o que iria acontecer o tempo todo.
Parto para cima dele como um touro raivoso, e o primeiro soco que o
atinge o faz cair longe com o nariz quebrado, já que a corrente que havia
pegado está enrolada em meus braços e fazem uma bela soqueira em meus
punhos.
Ele se ergue e se coloca em posição de luta.
— O que quer aqui? — esbraveja mostrando que garante as bolas no
meio das pernas.
— Não pode tocar no que pertence ao diabo.
— Está ficando louco?
Gargalho enquanto chuto sua perna quebrando seu joelho, o fazendo
grasnar como uma criança chorona. Meu pé agora segue até seu peito o
lançando novamente ao chão, ouvindo mais dos seus ossos quebrarem quando
seu corpo recebe o impacto.
Pressiono meu joelho em seu peito e cravo minha outra faca em sua
traqueia.
— Nos vemos no inferno.
Ergo-me indo até ela que agora parece muito assustada.
— Você é doente! Por que os matou? — esbraveja quando sigo em sua
direção caminhando a passos largos, quando um chute seu me acerta na barriga
fazendo-me curvar.
— Vai se arrepender disso — rosno colocando-me em pé.
— Farei se arrepender por ter estragado a minha noite. — Em posição
de ataque começamos a lutar.
Ela se defende dos meus socos enquanto faço o mesmo com os seus,
Morgana está decidida a me irritar ainda mais.
— Quando te castigar, vai implorar para que pare, mas confie em mim,
Libélula, antes que o sol nasça arranco as suas asas.
Seguimos lutando quando um de seus socos acerta minha máscara e eu
sorrio, desferindo um em suas costelas a vendo arfar pela dor, sem lhe dar
tempo de recuperação acerto um chute em sua coxa.
— Desgraçado!
— Vai continuar? Estou ansioso para socar sua cara e desfigurá-la, o
que seria um desperdício alguém como você precisar de uma máscara. — Com
dois passos e um impulso ela lança seu corpo contra o meu cruzando suas
pernas em meu pescoço e girando, nos levando ao chão.
Estamos avançando para dentro da mata, quando nos recuperamos do
baque ela se reposiciona e soca meu estômago duas vezes, me fazendo sentir
falta de ar.
— Eu vou matá-la! — rosno me reposicionando.
— Não hoje. — Avança em minha direção pisando no chão, fazendo
com que role para que não acerte meu rosto com sua fúria, quando cansado de
permitir que acredite que tem algum poder aqui, enrolo a corrente em seus pés
fazendo com que caia com tudo de cara no chão. O tombo é lindo de ver e o
seu grito de dor pelo impacto quase me faz gargalhar.
Em pé, enquanto ela se debate tentando se soltar travo as pontas da
corrente um lacre plástico que retiro do bolso.
— Agora eu vou te mostrar o que faço quando quero castigar as
pessoas que me irritam.
Decido arrastá-la daqui até o carro que nos aguarda para nos levar à
pista de pouso particular que existe na propriedade de onde partiremos para
casa de Isaac.
Capítulo 39

Meu corpo inteiro dói quando caio no chão, o desgraçado está


disposto a me matar, mas não morrerei sem lutar, me debato quando o vejo
se colocar de pé e então percebo que estou acorrentada.
— Anônimus, me solte! — grito furiosa.
— Não seja uma cadela barulhenta, você decidiu me desafiar e
agora vai arcar com as consequências. — Sua voz é assassina e mortal.
— Me solte!
Ele não me ouve quando começa a me arrastar mata adentro, meus
gritos ecoam pela noite e tento me agarrar a algo para que possa lançar
sobre ele, mas parece que nada aqui está solto. Sinto meu corpo bater contra
os galhos e contra as raízes, enquanto ele continua a me arrastar sem parar
com nenhuma das minhas súplicas. Por mais de meia hora sigo sendo
arrastada e o xingo de todos os nomes que conheço o ameaçando, e tudo
que consigo é uma gargalhada demoníaca aqui e ali.
— Juro que farei com que meus tios fodam seu rabo por dias e dias,
seu verme imundo!
Quando ouve minhas palavras ele para e o silêncio da noite nos
atinge.
— Acho que posso corrigi-la aqui mesmo. — Seu olhar azul é de
dar medo.
— O que vai fazer?
— Mostrar como garotinhas do papai como você devem se manter
caladas.
O vejo analisar o local e logo a corrente que me mantém presa é
lançada sobre um galho e o vejo começar a içar meu corpo.
— Anônimus, pare!
— E quem vai me fazer parar? Você? — Sua gargalhada ecoa alto
pela mata e quando estou completamente pendurada de ponta cabeça ele
trava a corrente com a lâmina de um punhal.
— O que vai fazer comigo? — Balanço como um pêndulo enquanto
tento me soltar.
— Sabe, Morgana, por anos e anos alguém fodeu meu rabo, e sim,
eu posso lhe dizer que era prazeroso saber que quando aquilo acabasse seria
eu a foder o rabo de alguém, nem que para isso eu criasse um maldito
buraco no desgraçado. Nunca me importei em castigar mulheres e crianças,
mas devo confessar, te ver nesta situação prestes a sentir o peso da minha
mão me excita.
— Não toque em mim.
— Não? — Ele vira a cabeça, curioso, me olhando e posso garantir
que sorri.
O vejo retirar o cinto de suas calças e me assusto com a
possibilidade do que está por vir. Retirando uma adaga de minhas botas ele
começa a me deixar nua, rasgando minhas roupas com a lâmina, deixando-
me apenas com a calcinha e o sutiã.
— O que vai fazer?
— Meu desejo de surrá-la cresceu e parece que nada do que faça
com você parece fazê-la entender que eu não pertenço a ninguém, sou
alguém que escolheu ficar onde estou por acreditar que não existe outro
inferno onde possa ir. Mas você não, Princesinha. Você teve todas as
escolhas do mundo e decidiu que eu te pertenço, então vamos colocar os
pingos nos is aqui, eu nunca tive nada, como será ter alguém que esteja
disposta a fazer tudo por mim?
Então ele começa a me castigar, o cinto lambe meu corpo e queima,
me fazendo gritar insanamente, dói como o diabo enquanto o próprio diabo
gargalha do seu feito. Por incontáveis horas sou castigada e neste momento
cada pedaço de mim parece brasa viva.
Anônimus não parece disposto a parar e meus gritos de dor agora
são de raiva, até que o cansaço me toma e não suporto mais nem mesmo
reagir, simplesmente desisto.
Enquanto a surro e ouço seus gritos de dor e suas súplicas
implorando que pare, eu me mantenho firme em meu propósito de lhe
mostrar que não deve me desafiar. Morgana é alguém que tem tudo que
quer quando quer, ela só não entende sobre limites. A cada vez que desfiro
uma cintada em sua pele e ela geme alto, meus demônios se alimentam e
nós ficamos em um frenesi absoluto, mas da forma poderosa com que
começa eles cessam.
Cansado, é assim que me encontro, quando finalmente ela decidiu
parar de implorar, seu corpo inerte não causa em mim nada além de
calmaria. Retiro o punhal que a mantinha pendurada na corrente vendo seu
corpo bater com tudo no chão.
Solto seus pés, retirando minha camisa e vestindo-a, a pego nos
braços eu a levaria para a cabana mais próxima, uma que eu usaria para
foder a Libélula safada que neste momento está desmaiada em meus braços.
Meus demônios seguem no propósito de castigá-la e lhe mostrar que posso
ser muito pior do que ela imagina. Mas depois do que houve mudo de ideia
e decido seguir viagem seguindo até o carro que nos levará daqui.
Entro no carro com ela nos braços e assim que fecho a porta
seguimos para o aeroporto, quando meu telefone toca e o atendo, surpreso.
— Anônimus.
— Sim, mestre!
— As muralhas caíram, estamos sendo atacados de todos os lados,
não siga o curso da viagem, troque a rota e se escondam.
— Posso ajudar.
— Não! Seu foco único e exclusivo é Morgana, todas as mulheres
Triglav estão seguras, apenas ela está fora do alcance. — A preocupação
em sua voz é real. — Inicie a rota de fuga, Morgana sabe como chegar a
todos os esconderijos.
— Sim, senhor.
— Onde estão?
— Saindo do vinhedo, indo para a pista onde o jatinho nos espera.
— Quando estiverem no ar me informe.
A ligação se encerra então dou a ordem para que o motorista ande
mais rápido, tudo que preciso agora é mantê-la longe de todos aqueles que
querem matá-la.
Preciso saber quem irá protegê-la de mim.
Capítulo 40

Abro meus olhos e todo meu corpo dói, sinto que estamos em
movimento e que seus braços estão em volta de mim, a dor é tamanha que
tenho vontade de chorar, mas me mantenho firme e não faço.
— Onde estamos? — pergunto com voz baixa.
— As muralhas caíram. — Essas palavras fazem meu corpo inteiro
tencionar, e tento me levantar. — Não se levante, estamos chegando na pista
de pouso e logo sairemos, preciso que nos direcione ao local que ficaremos
até que tudo isso acabe.
— A casa das montanhas.
— Na Romênia?
— Não, localização secreta, passo as coordenadas assim que
estivermos no jatinho, iremos precisar de um helicóptero para ter acesso a
ela.
— Iremos providenciar.
Tento me levantar, mas sou impedida.
— Mantenha-se como está. — Mordo os lábios porque não quero
acreditar que ele me surrou a ponto de não existir nenhum ponto em mim
que não doa, minha cabeça parece que vai explodir.
— Por quê? — O encaro e vejo que não entende meu
questionamento, mas antes que diga algo o carro para.
— Chegamos, senhor.
A porta se abre e ele sai comigo em seus braços, o vento frio da
madrugada e o fato de estar na presença de outras pessoas me faz fechar os
olhos com força, esta seria a hora em que ela assumiria, pois sabe do meu
pavor de voar.
Ele sobe as escadas comigo nos braços e quando entramos na
aeronave peço que me coloque no chão, assim que faz caminho em direção
à suíte abrindo o cofre e pegando um novo aparelho de celular. Espero que
ele ligue e busco o sensor, um aparelho que verifica se meu GPS está ativo,
quando o pego com as mãos trêmulas e a vontade desesperadora de chorar
causa um nó dolorido na garganta, o passo sobre o braço e verifico que está
tudo funcionando.
O celular liga e acesso o sistema de segurança desbloqueando-o com
a minha retina, então as opções de esconderijo aparecem na minha frente e
seleciono a casa da montanha, longe de casa, lá é onde eu me sinto mais
segura. Marchando, sigo até Anônimus e lhe entrego as coordenadas
voltando para a suíte, lá pego a medicação para dor bebendo com a água
que retiro do frigobar.
Não sei onde meu telefone foi parar, mas temos um novo para essas
ocasiões, tentando me esquecer da dor pego o aparelho quando batem na
porta informando que vamos decolar, saio de lá e me sento na poltrona
perto da porta enquanto decolamos, fecho meus olhos e as lágrimas de dor
me tomam e é inevitável não soluçar.
— Venha. — Ouço sua voz trovejante e furiosa me chamar enquanto
suas mãos desafivelam meu cinto.
— O que está fazendo?
— Tirando-a daqui, você não está vendo?
Sou pega nos braços e levada novamente para a suíte mesmo sobre
os protestos da tripulação. Anônimus me coloca na cama ajustando o
travesseiro e cobrindo meu corpo.
— Não vou falar sobre o que aconteceu, sei que se recorda. Se
continuar me desafiando vamos lutar de igual para igual. — Suas palavras
me atingem em cheio, porque sinto o ódio verter delas e dói como se
estivesse apanhando.
Encolho-me na cama abraçando meus joelhos tentando diminuir de
tamanho e quem sabe desaparecer.
— Pode me deixar sozinha? — Suplico num sussurro que acredito
ter sido mais para mim do que para ele.
— Olhe para mim, Morgana! — Sua ordem me atinge e me encolho
um pouco mais.
— Por favor! — Um soluço escapa e sinto o colchão afundar ao
meu lado.
— Quando eu te der uma ordem você obedece. — Meu cabelo é
puxado para trás fazendo com que erga minha cabeça. — Abra a porra dos
olhos agora!
O medo me toma e temo que ele me bata, então faço o que me pede,
e quando os abro sua mão solta o seu agarre.

Ali estão eles, aqueles olhos que busquei nos últimos dias, é
impossível manter a fúria borbulhando sobre a superfície quando ela me
olha com medo. O soluço do seu choro que até segundos atrás não me
causava nada, agora faz o fogo do inferno queimar meu peito de forma
quase que insuportável.
A solto no mesmo momento e recuo, como ela consegue ser duas
pessoas em uma? Como pode me fazer desejar esquartejá-la em um
momento e em outro me fazer sentir coisas que jamais senti?
Levo minha mão ao peito que parece agora estar sendo comprimido
por algo que não sei explicar, mas o olhar que ela direciona a mim é mais
poderoso e me acerta precisamente.
— Só quero ficar sozinha. — A vulnerabilidade em sua voz me
desestabiliza e me deixa sem uma resposta pronta, apenas a obedeço e
desapareço dali.
Algumas horas depois pousamos em uma pista particular onde outra
aeronave nos aguarda, um helicóptero com apenas um tripulante. Desço
com ela nos braços, que agora carrega uma pequena maleta que não sei do
que se trata, abraçando-a como se sua vida dependesse disso, em momento
algum seus olhos me encaram, e isso me faz borbulhar de raiva.
— Senhor. — O soldado abre a porta para que entremos e subo com
ela sem dificuldade alguma.
A porta se fecha e ela afunda seu rosto em meu peito, sinto seu
corpo tremer e sua pele se arrepiar com o frio que faz, o dia já está
amanhecendo quando recebo a informação que temos mais uma hora de voo
até as coordenadas.
A forma com que ela agiu na madrugada em nada se parece com a
mulher que treme em meus braços, não a solto em momento algum e ela
também não faz menção de se afastar, encarando a paisagem de mata
fechada sob nós permito que continue descansando.
O sol já está a pino quando somos informados que iremos pousar,
daqui de onde estamos não consigo ver nada, nem mesmo uma pequena
ideia de que exista uma casa ali, quando o helicóptero desce por entre as
árvores, pousando.
— Posso caminhar — informa com voz vacilante.
— Tem certeza? Posso continuar te carregando.
— Sim.
Seguimos pelo caminho por entre as árvores e a vejo mancar,
Morgana parece até mesmo um pouco curvada, mas não recua da ideia de
caminhar até que uma grande porta aparece à nossa frente, ela digita um
código e depois acessa a fechadura através da sua digital.
Adentramos o lugar que é completamente construído dentro da
floresta e cravado nas rochas.
— Fique à vontade, vou tomar um banho e dormir um pouco, a
cozinha e a dispensa foram abastecidas.
— Como sabe?
— Nós viríamos para cá em algum momento dessa viagem.
— E por que escolheria uma casa secreta no meio do nada para
passar suas férias?
— Porque aqui é o único lugar depois da minha casa em que me
sinto realmente segura.
Em momento algum ela me olha, está respondendo tudo de costas
para mim, a vejo colocar a maleta sobre a mesa e desaparecer casa adentro.
Não faço a menor ideia do que está acontecendo com ela, mas no momento
oportuno nós iremos conversar, posso surrá-la novamente por ser tão
insubordinada ou quem sabe se aquele olhar estiver lá outra vez nós não
podemos repetir o que aconteceu no escuro do meu quarto.
Desisto de pensar nisso, com certeza foi um sonho e devo estar
delirando, nem mesmo eu sei o que acontece comigo, a única coisa que
consigo pensar é em como vou suportar me manter longe dela todo esse
tempo.
Capítulo 41

Caminho sentindo todo meu corpo doer, chego ao quarto me


direcionando para o banheiro ficando nua e me enfiando debaixo da água
quente, meu corpo inteiro treme e o choro que estava segurando não pode
mais ser contido e o primeiro soluço explode, a mistura de sentimentos é
demais para mim e tudo que eu quero é me esconder, fugir, sumir por dias
até que toda essa sensação desapareça.
Apoio minhas mãos na parede enquanto meu corpo é lavado pela
água quente que cai sobre minha cabeça, o simples fato de me lavar arde
como o maldito inferno, com cuidado me lavo e depois de um longo tempo
decido sair.
Seco meus cabelos encarando meu reflexo no grande espelho que
vai do chão ao teto, e isso me dá a noção da proporção do estrago, existem
arranhões, marcas de cinto e minha costela está arroxeada, meus tornozelos
têm marcas, tudo é um completo caos.
“Eu cuidarei disso”
— Onde estava?
“Me recuperando.”
— O que aconteceu?
“Eu o enfrentei e nós lutamos.”
— O quê?
“Isso que ouviu, eu disse que o domaria e estou fazendo isso.”
— Nunca me encontrei neste estado.
“Apenas não consegui voltar quando desmaiei.”
— Nós... hum, foi perfeito.
“Do que está falando?”
— Tivemos um momento na madrugada após sairmos do galpão.
“Guarde suas memórias com você e eu fico com as minhas, não
quero que saiba como nos relacionamos, nunca deixo que a dor te atinja,
mas desta vez foi impossível ficar. Precisa descansar, quando acordar
estará tudo bem.”
— Estamos na casa secreta, me sinto bem aqui, não precisa me
proteger.
“Apenas para que se recupere, prometo não piorar a situação.”
— Tudo bem, eu preciso mesmo descansar.
Beirando a exaustão a vejo cuidar do nosso corpo com cuidado e a
última recordação que tenho é de me deitar na cama e fechar meus olhos
simplesmente desligando meu cérebro.

Abro meus olhos e sinto que estou melhor do que estava horas atrás,
quando vejo as horas percebo que é final da tarde, estou usando um camisão
do Damon que roubei ainda quando tínhamos 15 anos, ele bate nos meus
joelhos. Sinto fome e sigo em direção à cozinha. Assim que atravesso a sala
o vejo sentado no sofá como se estivesse lá desde que chegamos aqui.
— Não existe ninguém aqui, se quiser pode relaxar, não precisa
estar sempre pronto para o fim do mundo — falo enquanto passo
arrumando meus cabelos em um rabo de cavalo.
Se pudesse ver seu rosto diria que está surpreso arqueando a
sobrancelha sem entender nada, no momento quero mais é que Anônimus se
foda.
— Olhe para mim! — ordena caminhando em minha direção.
— Sempre cheio de ordens. — Continuo indo em direção à cozinha.
— Eu mandei me olhar! — Segura meu braço furioso, me virando
de uma vez.
— O que inferno quer de mim?
— Acha mesmo que pode fazer o que quiser comigo e acreditar que
sairá impune?
— O que vai fazer? Me surrar novamente? Faça! Eu cansei de me
rastejar por você, fiz de tudo pelos últimos meses para que entendesse o que
queria, mas talvez todos estejam certos, você é um demônio indomável e eu
não estou disposta a continuar te enviando mensagens esperando que esteja
lá quando chegar. Você, Anônimus, simplesmente não se importa. — Ele
sorri sarcástico, o desgraçado sorri.
— Você tenta me manipular, uma hora é alguém que eu desejo
esquartejar e minutos depois alguém que talvez, por uma fração de
segundos eu deseje proteger.
— Porque é um maldito demônio que não entende nada sobre
pessoas.
— Eu entendo sobre matar e destruir, Morgana, nasci para dilacerar
tudo e qualquer ser que se mova perto demais de mim.
— Não vou continuar com isso, infelizmente estamos presos aqui.
— Tento me soltar.
— Disse que iria me alimentar e é isso que fará. — Seu rosnado
faria com que qualquer um o temesse, mas não eu.
— Não vou colocá-la em risco, tentei fazer com que me enxergasse
e me desejasse, porque pelo inferno eu o quero, mas não vou mais rastejar,
por que nunca respondeu as minhas mensagens? Por que nunca esteve lá
quando o chamei? Por que nem para se alimentar de mim você atendia meu
chamado? — grito, encarando-o com o ódio borbulhando nas veias.
— Não recebi nenhum convite ou mensagem. — Sua voz abaixa um
tom e parece envergonhada.
— Vai se fazer de idiota? Seja homem ou um demônio e assuma que
simplesmente não fez porque não quis.
— Eu não recebi nenhuma mensagem!
— Vai se foder, Anônimus! Mentir a essa altura é baixo até mesmo
para alguém como você.
— Eu já te disse que não minto! — Seu puxão vira meu braço para
trás e cola meu corpo ao seu enquanto a dor novamente me atinge. —
Quando digo que não recebi nenhuma mensagem é porque não recebi. —
Tento me soltar do seu agarre, mas é impossível. — Eu não sei ler,
Morgana, não sei ler nem mesmo escrever, então quando disse que não
recebi nenhuma de suas mensagens eu não estou mentindo.
Essa informação paralisa meu corpo e faz até mesmo meu coração
errar as batidas, quando ele me solta e se afasta.
— Mas você usa o telefone, recebe chamadas e comanda tudo, eu
sempre vi.
— Cores. Cores eu reconheço, sei onde devo apertar para ligar ou
desligar, ou até mesmo ouvir uma mensagem de voz, é só isso, o mestre
facilitou minha vida neste ponto e nada mais.
Ficamos nos encarando até que ele se vira afastando-se de mim.
Capítulo 42

Minha cabeça dá voltas e suas palavras não fazem sentido algum.


— O que quer dizer com não colocá-la em risco?
— Deixe isso para lá.
— Não, porra! Vai me contar. Todos sabem quem sou, até no inferno
meu nome é falado, se estou aqui com você é por ser tão diabólica quanto
eu, alguém que sabe se defender muito bem, então ninguém aqui está sendo
colocado em risco, até porque pode me matar se baixar minha guarda, eu
não sou idiota — brado furioso. — Como raios eu posso te colocar em
risco?
A vejo respirar fundo, a informação sobre eu não saber ler e nem
escrever parece que a acertou como um soco no estômago e posso
identificar suas muralhas baixas, mas ainda não é aquela Morgana, a
maldade em seu olhar ainda é latente e a vontade de apertar seu pescoço
agora e ouvir seus ossos se partirem faz meus dedos tremerem. Onde está
aquela libélula de olhar curioso e cheia de medo?
— Tenho TDI. — A encaro e sei que ela percebe que não faço a
mínima ideia do que diz. — Olha, o assunto é complexo, acho que
precisamos comer e depois conversamos, pode ser?
— Coma, vou deixá-la sozinha.
— Por que não come comigo? — A encaro e ela sabe o motivo. —
Tire a máscara, fique com a balaclava, não vou forçar que me mostre seu
rosto, sei que come com ela.
— Como sabe? — cruzo meus braços, curioso.
— Já os vi algumas vezes enquanto passava pelos corredores depois
dos treinamentos, por isso o corte na boca é maior. — Ela tem razão,
exatamente por isso ele é maior, muitos de nós não tirávamos a balaclava
nem mesmo quando estávamos todos reunidos.
Aceno com a cabeça retirando a máscara e colocando-a sobre o sofá.
Existe uma inquietação em mim, não faço ideia do que é a sigla que ela
disse, a vejo caminhar de um lado para o outro enquanto coloca no forno
duas travessas de comida congelada e segue para a outra ponta.
— Quer vinho? — questiona e apenas nego.
— Não.
Ela pega a garrafa de água e dois copos colocando à nossa frente,
sentando-se do outro lado da ilha.
— Imagino que esteja curioso. — Seu sorriso perverso agora parece
divertido.
— Esperando que me explique para que consiga entender.
— TDI é um transtorno onde existe duas ou mais personalidades
dentro da mesma pessoa, imagine que dentro de você existe quem é e outra
pessoa que não aprovaria nada do que faz.
— Isso seria impossível.
— Não é, porque é dessa forma que agimos, essa outra parte de mim
não mata uma formiga e chora quando pressente que algo possa acontecer.
— Sua informação parece difícil de acreditar. — Sei que parece confuso,
mas não é.
— Posso ver em seu olhar a sua perversidade, Libélula, não é como
se eu acreditasse que você é um anjo.
— Mas deve ter visto outra coisa quando ela esteve com você. No
voo de Roma, quando fez o curativo na sua mão, quando passaram a noite
juntos no escuro e até poucas horas atrás, enquanto ela se encolhia em seus
braços. — Suas palavras me fazem relembrar cada um desses momentos e
em cada um deles ela parecia realmente outra pessoa.
— Não entendo como.
Tudo isso é confuso demais.
— Quando caiu naquele buraco ainda criança nossas personalidades
se fragmentaram por conta do trauma, o medo excessivo fez com que isso
se desencadeasse. Algumas pessoas tem muito mais que duas
personalidades, eu apareci para protegê-la e prometi fazer isso por toda
minha vida, estive no hospital com ela, pois suas costas se queimaram por
conta das brasas que caíram e derreteram o plástico da sua capa de chuva e
causou um grande estrago. Assumi toda a sua dor enquanto ela se escondia
de tudo e de todos, ela desenvolveu fobia social grave[12], se mantém
escondida e eu só desapareço quando ela está se sentindo confortável, algo
que só acontece com nossos pais e irmão, ninguém além de nós e agora
você sabe disso. Nosso padrinho e sua família um dia viu o que aconteceu e
precisaram ser informados, por isso a superproteção dos trigêmeos, mas
nem mesmo eles a conhecem. — Suas palavras seguem confusas, mas ela
não para por aí. — Não vim para viver a vida dela, existo apenas para
suportar sua dor, eu protejo sua alma sensível da escuridão do mundo em
que nascemos, a Princesa Morg jamais desejaria o mal de alguém, ela vê
apenas o melhor nas pessoas, mas é demais para ela confraternizar, isso não
a deixa segura.
Ficamos nos encarando por algum tempo analisando todas as suas
palavras, seus jeitos e formas, seu olhar não muda, o azul quase branco
ainda contém a maldade impregnada, mesmo parecendo alguém inofensivo
neste momento, ela é como uma cobra peçonhenta sempre pronta para dar o
bote.
— Sei que é loucura, mas continuando, pessoas com TDI
desenvolvem personalidades distintas, são seres independentes que gostam
de ser reconhecidos por seu próprio nome, no nosso caso não nos
importamos com nomes, apesar de geralmente me chamarem de Morgana e
ela de Morg, porém eu ajo como um escudo, sou eu quem vive no mundo lá
fora, e ela vive no mundo aqui dentro, se existe no mundo outra forma de
TDI assim não sabemos, não vasculhamos e não procuramos, mas conosco
é assim. Eu morreria por ela e acordei muito disposta a afastá-lo, já que
depois do que fez ontem não tive forças para livrá-la da dor e isso nunca
aconteceu. Sou eu a pessoa que gosta de sangue, dor e cutucar o demônio,
não ela. Quando eu disse que você me pertence não menti, é assim que me
sinto com relação a você, mas se isso a afeta eu recuo, se isso a machuca
não permito, porque eu existo apenas para protegê-la ainda que seja de
você, alguém que ela insiste em amar.
— Amor. — Sorrio incrédulo. — Isso não existe para demônios,
Morgana.
— Tente enfiar na cabeça dela, eu quero o diabo em você, ela quer o
anjo.
— Não sou um anjo e nem mesmo existe algum tipo de bondade em
mim.
— Em algum lugar dentro de você existe um ser que a puxa para
fora, em todos os momentos em que esteve com você, apenas no voo fui eu
quem a obriguei. — A encaro tentando processar tudo isso. — E não ficarei
aqui com vocês, mas ouse machucá-la que eu te mato. Virei apenas para
alimentá-lo se não conseguir segurar esse pau dentro das calças. — Seu
sorriso é pervertido.
Antes que consiga dizer algo o forno apita e a nossa conversa acaba
ficando para depois.
Capítulo 43

Ver nos seus olhos a confusão é divertido, enquanto comemos fico


em silêncio analisando seu olhar que vai de mim para a comida muitas
vezes, não dizemos nada, finalizamos o quase jantar calados.
Após colocar tudo na lava-louças decido pegar algo para ler, estou
passando por ele quando tenho meu braço seguro.
— Onde pensa que vai?
— Ler alguma coisa. — Neste momento seu sorriso de predador
discorda totalmente dos meus planos.
— Libélula, eu ainda nem mesmo comecei a arrancar as suas asas.
— Acho que já iniciou seu processo ontem. — Sinto meu corpo ser
prensado contra a parede pelo seu.
— Ontem foi apenas para te mostrar que não deve me desafiar.
— Anônimus... — Tento o alertar, mas seu sorriso aumenta e seus
olhos azuis intensos junto ao sorriso lindo de dentes brancos tão perverso
me deixam excitada.
— Disse que queria o meu demônio, ele está louco para se entregar
a você.
— Não acho que tenha me recuperado.
— Isso não é um problema nosso, estamos sozinhos aqui, ninguém
virá te salvar e preciso te confessar, meu pau está babando e louco de
desespero querendo que implore que eu pare, que não te toque, que não
meta com força. Saber que te machuca e que dói me deixa completamente
insano. — Seu aperto aumenta e seu joelho agora afasta minhas pernas.
— Acha que vou permitir que faça comigo o que deseja? — Mesmo
sabendo que será em vão tento me soltar, o pior é que da forma que fala me
excita e minha boceta pulsa ansiando por cada uma de suas palavras.
— Disse que me alimentaria e já posso sentir o quão delicioso será
se lutar bravamente, meus orgasmos serão ainda mais intensos e preciso
confessar, anseio que tente me impedir.
— Ai! Seu filho de uma cadela! — Sou virada de costas para ele
com uma torção no meu braço que faz meu ombro reclamar.
— Diga para mim, Libélula perversa, qual era a sua intenção quando
permitiu que aqueles homens colassem seus corpos no que disse me
pertencer?
— Anônimus, está me machucando.
— RESPONDA! — Sua voz rouca e grossa ecoa pela casa.
— Queria irritá-lo! — respondo reclamando de dor. Não minto,
porque a dor pode aumentar.
— Preciso confessar. — Seu membro duro agora é pressionado
contra minha bunda. — Você conseguiu. Sabe o que achei aqui enquanto
dormia? — Maldição, eu sei do que ele fala.
— Não.
— Um lugar onde seus gritos serão altos e seu sangue irá escorrer,
sempre soube que homens como o Anjo da Atrocidade jamais seriam
domados, domesticados e se tornariam cães indefesos. — Suas palavras
ativam em mim um desejo insano de que ao final de tudo ele me leve ao
limite.
Tento me livrar do seu agarre, mas é impossível neste momento, o
homem atrás de mim é enorme e sinto seu corpo tremer, ao que tudo indica
estou muito ferrada e gosto disso.
— Sentir o cheiro da sua excitação me deixa como um animal que
deseja apenas ser livre. — Sua língua quente desliza pelo meu pescoço
eriçando meus pelos. — Estique seu braço.
— O que vai fazer?
— Obedeça! — Tenho meu corpo prensado com mais força contra a
parede.
Faço o que me manda, minha respiração fica rápida e meus
batimentos cardíacos aumentam de forma significativa quando vejo a
agulha ser introduzida em meu braço e sei bem do que se trata, o
estimulante me fará agonizar por horas e pela quantidade que ele aplicou
serei levada ao limite. Seu corpo ainda mantém o meu preso quando seus
movimentos me mostram que faz o mesmo com seu braço.
Anônimus lança longe sua seringa levando suas mãos até a parede
enquanto esfrega seu membro em minha bunda.
— Não vai fazer nada? — sondo curiosa, por que começo a sentir
minha boceta esquentar sendo tomada por um calor que me faz gemer ao
falar.
— Fique nua, depois retire minha roupa.
— Anônimus, não sei se... — A frase morre quando agarra meus
cabelos puxando-os com força para trás.
— Sem questionar, obedeça! — Seus olhos azuis transmitem a fúria
e a raiva que sempre carregam, mas quando está dominando consigo
enxergar seu inferno através deles.
Meu corpo é liberado, mas ainda sigo mantida presa entre seus
braços, retiro a camisa e em seguida a calcinha sob seu olhar atento, lhe
entregaria minha alma para ver seu rosto e parecendo ler minha mente ele
sorri.
— Nunca verá meu rosto, sei que é isso que deseja, agora posso ver
em seus olhos, Libélula, isso pertence apenas a mim, e jamais será entregue
a você. — Engulo seco suas palavras, sempre vai existir uma barreira
intransponível entre nós, mas isso que tenho já é muito mais do que
qualquer outra pessoa já teve dele.
Apenas confirmo com a cabeça começando a tirar sua roupa sem
que meus olhos deixem os seus em momento algum.
Capítulo 44

Sinto o estimulante percorrer meu corpo, a dose que apliquei em


mim foi grande, mas já estou acostumado. A que apliquei nela para seu
tamanho foi cavalar, imagino que tudo nela esteja queimando como o
maldito inferno, suas bochechas já estão começando a ficar vermelhas e
pelo toque quente de seus dedos ela está começando a ferver.
Com as mãos na parede ela começa a descer minha calça levando
junto minha cueca, meu pau duro pulsa ansioso e posso ver o pré-sêmen
escorrer. Ajoelhada ela começa a desamarrar meus coturnos livrando-me
das peças inferiores. A safada não tira os olhos de mim e posso ver que
implora que faça seu desespero parar, mas estou decidido a levá-la ao
limite, gosto quando ela implora por mim.
Com cuidado retiro minha camisa mantendo a balaclava, ninguém
jamais verá meu rosto, ninguém além daqueles que já o conhecem, quero
que ela deseje aquele quem eu reconheço como sendo meu verdadeiro
rosto. A vejo ficar em pé e a fúria me toma.
— Fica de joelhos, porra! — esbravejo alto, surpreendendo-a.
Assustada, faz o que ordeno, vê-la agonizando quase me faz gozar.
— Não suporto, meu corpo inteiro dói, minha boceta queima, sabe
das consequências do estimulante, se não gozar a dor começa a ficar
insuportável, Anônimus.
Sim, eu sei disso, já estou acostumado à dor, mas saber que ela a
sente deixa tudo muito mais prazeroso.
— Sua boca no meu pau, só vai gozar quando eu gozar, quero
empenho nisso, quero vê-la mamar meu pau como se sua vida dependesse
disso, caso contrário não vou permitir que se toque e não irei te tocar, a
deixarei amarrada enquanto a dor lancinante devasta seu corpo a ponto de
gritar desesperada.
— Não faria isso. — Ofegante, suas palavras me fazem sorrir.
— Vai depender de você, eu disse que te arrancaria as asas, desejou
alimentar o demônio e ele sente prazer no sofrimento. Agora chupa!
O urro libertador ecoa pela casa. Quando sinto sua boca úmida e
quente em meu pau, quase gozo. Morgana geme fechando os olhos
enquanto me mantenho com as mãos na parede, olhando para a cena que
acontece.
— Não feche os olhos! — Quando as esferas azuis quase brancas
aparecem junto à sucção de sua boca, sorrio.
Morgana me leva quase completamente fazendo com que sinta o
fundo de sua garganta, poderia ficar horas apenas observando quando sua
mão aperta minhas bolas e a outra se crava em minha coxa, a dor prazerosa
aparece fazendo meu gozo vir com força.
— Filha da puta!
A desgraçada sabe o que faz.
Não deixo que termine, a puxo pelos cabelos fazendo com que grite
pelo agarre sem nenhum cuidado, seguro sua perna, com a outra mão a
suspendendo para que envolva suas pernas em minha cintura.
— Seu pau, enfia em mim. — A súplica me faz sorrir.
— Não. — O acomodo sob ela para que não a satisfaça. — Agora
vou levá-la ao lugar onde já deveria estar gritando.
— Anônimus, seu demônio filho da puta dos infernos, juro que vou
beber o sangue quente da sua jugular assim que essa maldita tortura passar.
— Ganho uma mordida no ombro que me faz gargalhar.
— Precisará estar viva e em condições de se mexer quando acabar
com você, então quem sabe consiga tentar.
Caminhando com ela que rebola em mim, esfregando sua boceta que
pulsa desejando contato com qualquer coisa.
— Se gozar, vou surrá-la — aviso atravessando o corredor,
aproximando-me da porta.
— Vai se foder, seu desgraçado imundo. — Suas unhas rasgam
minha pele e me fazem grunhir.
Abro a porta atravessando por ela enquanto todos os palavrões
possíveis são proferidos pela Libélula boca suja, seu corpo ferve assim
como o meu, seus murmúrios começam, e apesar do ódio que sei que está
sentindo de mim não me importo.
— Sabe o que mais gosto?
— Eu te odeio. — É impossível conter a risada.
— Gosto de saber que nem se recuperou da última surra que te dei e
já vai ser castigada novamente, vou sobrepor todas as suas marcas, quero
vê-la sangrar enquanto arranco suas asas.
— Me fode, eu imploro, me fode! — Meu peito segue sendo
mordido e arranhado enquanto implora.
— Não. — Jogo seu corpo sobre a cama que fica centralizada no
meio do quarto.
A quero furiosa, lutando pelo que deseja. Morgana me deixa ainda
mais excitado assim, posso ver em seus olhos quando me encara que está
disposta a tudo para ter orgasmos, é assim que ficamos quando estamos sob
o efeito do estimulante, esfregamos nossos sexos em qualquer que seja o
lugar, tudo que ansiamos é foder.
— Não preciso de você. — Pulando da cama caminha em direção à
grande cômoda, abrindo retira um chicote que tem um cabo em formato de
pau. — Eu mesma me darei prazer.
— Se tocar sua boceta com ele, o usarei para castigá-la.
— Observe daí, demônio.
Morgana se deita na cama posicionando-se nela, continuo vendo
tudo que acontece, suas pernas se abrindo, sua boceta vermelha, inchada e
molhada, quando enterra de uma vez o cabo do chicote em seu canal
gritando, ela rebola enfiando e tirando enquanto aumenta o ritmo, seus
gritos ecoam e seus gemidos são de uma vagabunda no cio. Aperto meu pau
com força ansiando gozar apenas pela visão, seus movimentos são furiosos
e seu grito explode da garganta enquanto goza gritando meu nome,
apertando as pernas. Com ódio vou até a cama e retiro o cabo do chicote de
sua boceta ouvindo o gemido de decepção escapar pela falta do contato.
— Ou mete seu pau em mim ou juro que foderei todos os cabos de
chicote existentes neste lugar.
— Ah, Libélula, vai aprender que nunca digo algo e não cumpro.
Quando o chicote acerta sua perna iniciando a sua correção,
Morgana grita e tenta se afastar, mas a seguro pelos cabelos fazendo com
que seu corpo caia da cama para o chão.
— Comece a implorar para que pare, posso matá-la apenas com a
raiva que sinto, e sabe bem que não me importa se está viva ou morta, vou
foder você até que não exista nenhuma gota de esperma em minhas bolas.
— Pare! — grita enquanto sua carne é atingida pelo chicote.
— Vou te ensinar a nunca mais me desafiar.
A surra continua e os vergalhões começam a subir em seu corpo a
cada lapada que recebe, sou arranhado no processo enquanto a mantenho
presa pelos cabelos, ela tenta lutar, mas é em vão, sigo acertando sua pele
enquanto se debate. Seus movimentos começam a desacelerar, seu corpo
está suado, acredito que está cansada de apanhar e eu começo a me cansar
de bater.
— Por favor — sussurra.
— O quê? — Solto seus cabelos que estão embolados em minhas
mãos a vendo cair no chão.
— Já entendi, você é o mais forte, só me fode e faz todo esse inferno
acabar.
— Vai me desafiar novamente?
— Não, prometo que não.
— Desistindo de voar, Libélula?
Seus olhos se cravam nos meus e apesar de o ódio contido neles e a
perversão ainda estarem lá, Morgana joga a toalha.
— Sim.
A deixo no chão e sigo com o meu plano, Morgana decidiu que me
alimentaria e estou ansioso para que ela sirva a seu propósito, caminho até a
lateral pegando dois grandes ganchos de carne, dos mesmos que usam em
armazenamento de frigoríficos, dos mesmos que tenho em minha casa.
— O que vai fazer?
Ver-me com eles nas mãos faz com que os olhos de minha libélula
cresçam e o pavor que vejo neles quase me faz urrar de prazer.
— Me alimentar.
Com um golpe encaixo o primeiro gancho sob sua axila cortando
sua pele no processo, o grito de dor que solta me faz gargalhar, então faço o
mesmo do outro lado quando começa a se debater gritando, sei que não
atinjo seus ossos e nem seus músculos, faço isso há tantos anos que acerto
exatamente onde preciso para suspendê-la, se fosse qualquer outra pessoa
seriam seus músculos e de tão afiados os ganchos deslizariam como facas
na manteiga.
— Anônimus... — Não permito que prossiga quando começo a
arrastar pelo quarto. Seus gritos aumentam.
Sem asas e presa, minha libélula parece ter ciência de que desejou
por algo que jamais deveria.
— Meu questionamento, Morgana, é: por que o Anjo da Atrocidade
tem algo que acreditei existir apenas na minha casa? — Segurando os dois
ganchos puxo seu corpo para cima pendurando-o na barra de ferro que pode
ser encontrada nos quatro cantos do quarto.
Gritando e se debatendo ela tenta se desvencilhar.
— Se continuar assim vai se machucar da forma com que desejo e
não como de fato fiz. — Meu alerta de nada adianta.
— Eu te odeio! — o grunhido e a forma com que me olha garantem
isso.
— Pode me odiar, mas só a soltarei quando tiver tido todos os meus
orgasmos.
Arrasto uma base de madeira que deve servir ao propósito de me
colocar no mesmo nível que ela, e quando finalmente estou como quero,
seguro sua cintura ouvindo seus gritos de dor e soco fundo em sua boceta.
— Vamos lá, Princesa, chegou a hora de te dar todos os orgasmos
que sei que precisa sentir.
Suas pernas se travam em minhas coxas em busca de apoio para
eliminar a pressão dos ganchos, ela grita de dor e implora por mais, perco a
noção do tempo metendo cada vez mais forte sendo alimentado por ela e a
cada vez que sua boceta pulsa em volta do meu pau, me leva junto ao
prazer.
— Não suporto mais. — Suas palavras são um murmúrio cansado.
— Ainda preciso foder seu rabo e só depois conseguir descansar.
Espero que esteja disposta a continuar me alimentando.
Posiciono meu pau na entrada do seu cu e forço a entrada, Morgana
se trava, mas não paro até estar completamente dentro dela.
Seu grito de dor explode e me faz gargalhar.
— Continue, assim deixa tudo ainda mais prazeroso.
Sentindo que o fim está chegando, soco mais forte e mais rápido,
utilizando o último resquício de força existente em mim, a imagem pelo
grande espelho à minha frente condiz com os gritos que ela dá. Morgana
está sendo consumida pela dor, mesmo assim não para de gozar movida
pelo estimulante que circula pelas suas veias. Seu olhar contém uma
tempestade furiosa e me faz promessas de morte, seu corpo marcado e os
finos fios de sangue que escorrem pela sua pele através dos cortes feitos
pelos ganchos fazem a cena muito mais deliciosa, e meu corpo não suporta,
lançando-me mais uma vez no mar mais profundo e sombrio de prazer.
— Morgana! — urro gastando o último resquício de força existente
em mim quando bato de joelhos na base sob meus pés.
Libertando outro grito agora pelo solavanco do seu corpo nos
ganchos, percebo que acaba de desmaiar.
Com meu coração batendo furioso contra o peito, não me recordo de
nenhum outro momento em que me alimentar tenha sido tão intenso e
delicioso. Retiro minha balaclava molhada de suor sentindo o ar gelado do
sistema de refrigeração da casa me atingir, e quando encaro meu reflexo no
espelho, apenas desejo ser o demônio que a máscara preta e dourada revela.
Capítulo 45

Limpo e vestido, coloco a minha máscara disposto a tirá-la dos


ganchos, caminhando em sua direção subo na bancada de frente para ela
envolvendo meu braço em sua cintura quando seus olhos se abrem.
— Anônimus? — Seu olhar está perdido e logo começa a vasculhar
percebendo que ainda está nos ganchos. — O que você fez comigo? — Sua
voz baixa e sussurrada acompanha as lágrimas que começam a rolar, seu
nariz e olhos ficam vermelhos fazendo com que vire a cabeça para entender
o que ela acha que está acontecendo. — Por que me machuca tanto? Por
que sempre me machuca tanto? — Seu choro me incomoda, como se o fogo
do inferno existente em meu peito houvesse se transformado em um frio
cortante e paralisante.
— Porque foi isso que nasci para fazer. — Seus olhos me condenam
e pela primeira vez não quero essa condenação.
Ainda que esteja sustentando seu peso com meu braço Morgana se
debate em busca de se soltar.
— Se não parar vai se machucar ainda mais. — Minhas palavras
saem entre dentes.
— Me tira daqui. — Um soluço escapa e sua mão segue para minha
máscara me paralisando de vez. — Por favor!
Seus olhos não são os mesmos, a maldade e a perversidade
desapareceram e isso me incomoda, meu coração parece errar as batidas e
sinto minha garganta travar. Fechando meus olhos buscando entender o que
está acontecendo, sinto quando sua outra mão toca meu peito fazendo com
que abra novamente meus olhos.
— Por favor. — Mordendo os lábios sua súplica parece ainda mais
agonizante para mim.
Jamais desejei proteger algo, então por que ela? Por que essa
maldita libélula parece indefesa e desprotegida?
— Vou te soltar dos ganchos, não se debata, foque em mim e tente
não sentir a dor — falo como se fosse possível não sentir. Concordando
com um leve acenar ela me dá permissão para prosseguir e ainda que não
precisasse de uma, recebê-la me deixa melhor.
Suspendo seu corpo um pouco mais retirando o primeiro gancho do
suporte, segurando-o com a mão descolando-o de sua pele. Sei que arde
como o inferno pelo corte e ela demonstra isso grunhindo e apertando o
tecido da minha camisa. Logo jogo o gancho longe fazendo o mesmo com o
outro, quando fica livre das hastes de metal a minha libélula agora sem asas
repousa seu rosto em meu peito voltando a chorar de forma compulsiva, seu
corpo inteiro chacoalha e meu peito se aperta.
Desço da base onde estou com ela, caminhando em meus braços
deposito seu corpo sobre a cama centralizada no meio do quarto, a vejo se
encolher e quando faz isso o sangue parece sair um pouco mais de seus
machucados, caminho até o banheiro pegando o kit de primeiros socorros,
vou precisar lhe dar pontos.
Sento-me ao seu lado começando a separar tudo que vou precisar
para fazer os curativos.
— Preciso que se sente — aviso com a voz baixa.
— Meu corpo inteiro dói. — Um murmúrio e seu corpo começa a
tremer.
— Olhe para mim. — Seus olhos medrosos, apavorados e cheios de
dor me encaram e um soco acerta meu estômago apenas ao enxergá-los. —
Preciso que seja a mulher forte que sempre foi, vou limpar tudo e dar
pontos, cuidarei de você como cuidou de mim.
— Nunca serei como ela. — Suas palavras me fazem relembrar o
que me disse na cozinha. — Não devia ter nem mesmo tentado me
aproximar, ela é forte e treinada, sou apenas alguém que tem medo de tudo
e de todos, deveria me manter escondida para sempre.
— Não! — a forma como falo assusta até mesmo a mim.
Seus olhos parecem maiores e assustados com a minha forma de
agir, mas não tenho tempo a perder, preciso costurá-la e não posso mais
esperar.
— Sente-se na cama e enfrente as consequências, quando terminar
de cuidar de você volte a chorar.
— Nunca entenderia que somos duas pessoas, não é? — Sentando-
se na cama, cobrindo seus seios, ela me olha. — Tenho TDI...
Não permito que termine.
— Já entendi que tem duas de você e que uma protege a outra, então
poupe seu tempo e sua saliva, não me importo quem é quem e como isso
pode acontecer, preciso cuidar de você e farei isso nem que precise amarrá-
la. E não tente esconder seus seios, eles já estiveram na minha boca minutos
atrás.
Seu choro me deixa inquieto, mas não me preocupo com isso agora.
Começo a separar todo o material de curativo, sei como são as embalagens
e o que seve para que, tenho facilidade em memorizar tudo então fica fácil
organizar as formas mesmo que não saiba ler os papeis colados neles.
Lavo os buracos com gaze e soro enquanto suas lágrimas escorrem
pelo rosto, retiro minhas luvas colocando as luvas médicas, se fosse em
mim não ligaria, mas por um motivo desconhecido agora desejo cuidar dela.
Separo a agulha curvada passando a linha preta pelo buraco deixando a
tesoura ao meu alcance.
— Coloque isso na boca e morda, serão três pontos em cada corte,
precisa aguentar. — Entrego-lhe um mordedor de madeira que tiro de um
saquinho lacrado. Todos os kits têm deles, apesar de nunca os ter usado já vi
alguns homens usando.
Fazendo o que mando, ela o coloca entre os dentes me encarando
quando começo a dar os pontos, seus grunhidos não me comovem e não
tiram minha atenção. Tento deixar o mais reto possível para que não fique
feio como os meus, seu corpo sofre com os espasmos, mas ela se mantém
firme. Assim que finalizo o primeiro, sigo para o próximo, me mantenho
focado em costurá-la até que finalmente acaba.
— Pronto. — Quando ouve minha voz Morgana desmaia na cama.
Junto tudo guardando o que sobrou e jogando fora o que utilizei.
— Vamos, Libélula, preciso te dar um banho e fazê-la descansar. —
Desmaiada, a pego nos braços levando-a para o banho, a banheira foi cheia
por mim antes de tirá-la dos ganchos e a hidromassagem mantém a água na
temperatura ideal.
Coloco seu corpo na água, ela geme um pouco, mas não desperta de
fato, passo uma esponja devagar com um cuidado que jamais tive e
tentando entender o porquê de estar fazendo isso. Minutos depois preciso
retirá-la dali e levá-la até o outro quarto. A envolvo na toalha que já havia
preparado e mesmo sabendo que agora está acordada não me importo, sigo
meus desejos e cuido dela sem me importar em entender.
Caminhando enquanto a carrego tento pensar em alguns motivos e
tudo que consigo é distinguir duas pessoas, uma que me desperta anseios
destrutivos e que me excita com a perversão e as palavras, essa eu quero
esfolar viva e usá-la todos os dias para meu deleite enquanto gozo como um
demônio desgraçado que busca beber seu sangue. A outra quero proteger e
cuidar, ansiando ver todo o tempo aquele olhar que alguém jamais
direcionou a mim, que parece gritar me chamando como se fosse a minha
salvação, e que se caso a seguisse poderia encontrar a luz e quem sabe ter
ainda que uma pequena fração do que vejo o mestre e sua família terem.
Um pequeno fragmento em mim deseja correr em sua direção e enxergar a
tal luz que me promete revelar. Meus pensamentos ainda que confusos me
levam até o momento em que estávamos no escuro e mesmo que não
enxergasse nada, tudo que senti foi fincado em meu peito, meus demônios
parecem cães carniceiros ansiando por um pouco mais.
A batalha que eles vêm travando me deixa sem ar, eles querem o
melhor dos dois mundos, o melhor do que apenas ela consegue nos dar e
isso faz crescer em mim um monstro disposto a tudo para jamais perder o
que acabo de encontrar.
Capítulo 46

Sinto-me sozinha e com medo, meu corpo inteiro dói e não a


encontro em lugar algum, a sensação que tenho é de estar com uma febre
que parece esquentar a cada segundo e mal consigo me mexer. Respiro
fundo e quando ouço passos perto de mim abro meus olhos, observo
enquanto se aproxima parando exatamente à minha frente com algo nas
mãos.
— Escolha — ordena, colocando várias embalagens de medicações
para dor enquanto o encaro sem entender. — Pegue o remédio para dor,
precisa se recuperar. — Sem entender sigo o encarando.
— Qualquer um, não tenho alergias. — Fecho meus olhos quando
sinto suas mãos em meu rosto que me força a encará-lo.
— Já te disse, Morgana, não sei ler. Não faço a mínima ideia qual
remédio está aí, na minha maleta de medicação o mestre os coloca por cor e
é sempre preta ou vermelha, escolha a porra do remédio. — Essa
informação me pega de surpresa.
— Não sabe ler? — O encaro, Anônimus respira fundo e não deve
estar entendendo nada, porque se ele já disse isso para ela, pode parecer que
estou debochando dele.
Ergo-me devagar e pego a medicação, até para isso somos treinados,
nunca passei por uma situação da qual precisasse, mas isso não me isentou
de aprender, meu pai fez questão de me ensinar.
— Dessa forma vou começar a acreditar em toda loucura que me
disse sobre ter duas de você morando em seu corpo. — Assustada, percebo
que algumas revelações foram feitas. — Apesar de ver em seus olhos que
mudam, tudo que me disse parece irreal.
— Temos TDI...
— Já disse tudo, não gaste sua saliva novamente. — Seus olhos
estão curiosos, as poucas vezes em que estivemos assim tão juntos pude ver
como ele não precisa de expressões faciais para que possa notar os
sentimentos que tem apenas com o olhar.
Faço o que me pede pegando a medicação que terei que tomar por
alguns dias separando-a sob seu olhar atento. Olhando para todos os lados
busco o telefone, para que possa saber o momento certo de tomar a
medicação.
— O que está procurando? — sonda fazendo com que me deite
completamente novamente.
— O telefone, preciso tomar os comprimidos nos horários certos.
— Não se preocupe, irei te informar. — Meu olhar agora é incrédulo
para ele.
Sem dizer nada o vejo sair do quarto voltando logo depois com algo
para comer, ajudando-me a recostar na cama e me analisando enquanto
como. Sinto que estou encolhendo um pouco e minhas mãos suam, mas
tento não me esconder, já que é isso que eu queria desde o começo.
Anônimus é muito mais alto que eu, sua postura e a energia sombria que
emana dele deixariam qualquer pessoa desconcertada, mas não a mim.
Enquanto como, o analiso, ele está relaxado e parece calmo, mas seu olhar é
denso e cheio de curiosidade, é como se ele buscasse entender o que com
toda certeza ela lhe explicou. O pouco que estive com ele pude notar que
quando não entende ou busca entender, vira a cabeça de lado estreitando os
olhos como os cães fazem.
Recordo-me de suas mãos e seu toque em meu corpo, em como foi
diferente do homem que causou em Morgana todas essas marcas e dores
que estou sentindo, e mesmo com meu coração quase saindo pela boca eu
não desejo sumir, tenho curiosidades.
— Terminei. — Coloco os talheres na bandeja, encarando-o.
Sem dizer nada ele caminha em minha direção e pega tudo que
estava em meu colo colocando na mesa ao lado da cama.
— Venha, deixe que te coloque em uma posição confortável.
— Estou bem assim. — Pressiono meus dedos, de repente a
proximidade com ele me intimida.
— Deseja que lhe faça algo?
— Por que tão solícito agora?
— O quê?
— Por que está sendo cuidadoso?
— Libélula, eu te arranquei as asas, levei seu corpo ao limite, e por
todos os demônios do inferno eu desejei que apodrecesse naqueles ganchos
pela sua língua afiada e o desafio em seu olhar, mas agora, essa sua versão,
ela me faz desejar protegê-la.
— Somos duas pessoas.
— Não vejo ninguém além de você aqui.
— Não entende, somos duas pessoas aqui. — Aponto para minha
cabeça.
Seus olhos se fecham em fendas e meu coração dispara fazendo com
que eu deseje me encolher.
— Digamos que eu entenda e que isso aconteça de fato, mantenha a
outra longe, meu desejo de quebrar todos os ossos do seu corpo e enviar sua
alma ao inferno cresce muito quando ela me desafia.
— Não gosta dela?
— Libélula, eu não gosto de nada, mas aprecio muito a destruição e
os gritos de desespero. Mas por hora é melhor que seja você, não iria se
recuperar se fosse ela.
Sem dizer mais nada desaparece da minha frente levando a bandeja
com ele.
Acordo com a claridade invadindo meu quarto, os raios de sol
atravessam a densa floresta lá fora me fazendo sorrir, me esquecendo da
situação em que meu corpo se encontra, espreguiço-me fazendo com que
me arrependa instantaneamente, cada milímetro do meu corpo dói e é
impossível conter o grito que escapa da minha garganta.
Começo a chorar, arrependida, vasculho cada canto de mim e não a
encontro, ela seria mais forte que eu para passar por isso, sempre foi.
Inquieta e desejando ir ao banheiro, tento me erguer e ser forte, recordo-me
das palavras do meu pai dizendo que sempre estaríamos juntos e que nada
de mal iria me acontecer.
Pensar nele faz com que o telefone toque e só então percebo que
Anônimus o colocou ao lado da cama.
— Pai.
— Morg? Está tudo bem com você, querida?
— Sim, pai.
Ele me reconhece pela forma de falar, baixa e um pouco medrosa.
— Imaginei que fosse você quando vi sua localização no GPS.
Como estão as coisas por aí?
— Tranquilas, acabei de acordar.
— Morg, não vou conseguir ir até você, Anônimus é perigoso e
traiçoeiro, não baixe sua guarda e sempre que preciso lhe diga as leis da
Triglav, ele não fará nada contra você se sempre o lembrar disso. — Sua
voz está tensa.
— Vai ficar tudo bem.
— Não, minha princesa, nunca fica bem quando não está perto de
mim.
— Onde está a mamãe?
— Escondida no Bunker junto aos outros.
— Existe a possibilidade de virem até nós?
— Não, ninguém sabe onde estão, mantenha-se aí, criança, apenas
quando for seguro informaremos. — Sinto que sua voz relaxa um pouco. —
Sabe como agir, foram treinadas, se estiver em perigo faça a sequência de
toques no GPS que vamos te buscar, não confie no Anônimus.
— Eu sei, pai, me sinto segura aqui.
— Por isso estou te instruindo, porque é sempre você nesta casa.
— Eu te amo, pai.
— Nunca mais do que eu te amo.
— Cuide de todos.
— Não se preocupe, seus tios e eu estamos fazendo o possível para
acabar logo com esses desgraçados. Aproveite sua viagem, logo estará com
Isaac.
— Me manterei segura.
Ele encerra a ligação então fecho meus olhos tentando não chorar,
ser forte e corajosa como eles me ensinaram. Estou segura, ninguém virá.
A porta se abre fazendo com que abra meus olhos para vê-lo e a
visão que tenho me assusta, Anônimus está apenas com uma calça de
moletom baixa, mostrando seu corpo musculoso e definido que contém
algumas cicatrizes, usando apenas a máscara preta e dourada sem a
balaclava por baixo.
Capítulo 47

Não dormi, não consegui fechar meus olhos por um mísero segundo
sequer, aquele olhar me causa uma agonia que me faz desejar apenas
continuar olhando, se existe mesmo essa tal possibilidade de que existam
duas dela dentro do mesmo corpo consigo distingui-las pela forma com que
me olha e como sua voz muda quando fala.
A perversão e desafio sumiram, a língua afiada desapareceu e tudo
que resta é aquela criatura que me inquieta e me causa um calor infernal no
peito. Nunca em toda a minha existência senti algo parecido.
Caminhando nu de um lado para o outro, esfrego minha cabeça
raspada tentando aquietar meus demônios. As lembranças voltam com força
forçando-me a entender o que nasci para ser, um demônio devorador de
almas que não se farta nunca, que está sempre com fome e desejando mais.
Então, por que com ela não é assim? Por que com essa versão tudo que
tenho vontade é de escondê-la do mundo e ficar com ela só para mim?
Ainda que não possa ter nada, eu quero que ela me pertença, aquela
versão, aquela com olhos indecifráveis e forma sussurrada de falar, eu a
quero. Recordo-me da forma com que o mestre se porta ao lado da sua
família, sempre tão poderoso e cruel, seu olhar é como o puro caos e
destruição, mas quando está perto dela, a sua mulher, ele parece outra
pessoa.
Sempre analisei suas ações e gestos, até mesmo a sua postura muda,
sua voz não tem a mesma autoridade e nunca, jamais a machuca, tão
diferente de mim. Pela quinta vez me enfio debaixo da água gelada e meus
pensamentos se embaralham, em algum momento vou precisar ir até ela,
meu corpo anseia pelo olhar perverso e a língua afiada para que meus
demônios e eu possamos mais uma vez quebrá-la, mas minha mente quer
aquele olhar, aquela voz e todos os seus gestos incertos.
— Está enlouquecendo, Anônimus, com toda certeza é isso, não
pode existir duas pessoas em uma, aquela libélula perversa está
manipulando você.
Saio da água deixando por ali todos os meus questionamentos, já
seco, visto uma calça de moletom, não me surpreendi quando cheguei aqui
e encontrei várias das minhas roupas, sabia que a casa seria abastecida e
que viríamos para cá em algum momento da viagem.
Coloco apenas a minha máscara sem cobrir todo meu corpo, até
mesmo isso ela mudou em mim, pego na bancada do banheiro a pasta que
passarei em seu corpo para os machucados que lhe causei.
Passo pela cozinha e ligo a máquina de café, pelo visto é um padrão,
a que uso na minha casa é igual, todos os utensílios são iguais aos de lá,
então isso facilita para que possa mexer e me virar.
Quando abro a porta do seu quarto ela me olha com aqueles azuis
quase brancos cheios de curiosidade e sem nenhuma perversão.
— Bom dia. — Ela me cumprimenta e aceno com a cabeça.
— Vim te dar banho e cuidar dos seus machucados.
— Não precisa me dar banho, posso fazer sozinha.
— Não te dei uma opção para que escolha, isso foi uma informação.
— Seus olhos crescem assustados e me fazem sorrir de canto.
Aproximando-me dela, coloco a pasta ao lado do seu telefone, viro-
me em sua direção tirando a coberta que cobre seu corpo nu e as marcas
estão muito piores agora. Analiso os pontos e não parecem infeccionados,
cubro seu corpo novamente seguindo para o banheiro, enchendo a banheira.
Enquanto observo a água quente cair enchendo tudo de forma rápida busco
em minha mente quando foi que cuidei de alguém que eu mesmo havia
machucado e a resposta é: nunca.
Nunca houve uma atitude assim, nunca em toda a minha existência,
mas essa vontade não cessa e agora começa a me inquietar e novamente as
lembranças parecem querer me alcançar.

(...)
Os passos contra o piso frio são fortes e poderosos, antes me
causavam pavor, agora me geram expectativas. Olho para os meus irmãos
e sorrimos perversos porque sabemos bem o que irá acontecer hoje,
destruiremos pessoas. Eles sabem que estamos a cada dia mais unidos.
Cobrimos nossos rostos com as máscaras e sentimos nossos corpos
fervilharem quando um casal é lançado nu dentro do nosso cercado. Meu
coração acelera e a esperança de que a ordem seja dada me consome,
anseio desesperadamente arrancar os dentes deles e foder suas bocas
enquanto suas gengivas sangram no meu pau que irá deslizar com
facilidade.
— Podem se alimentar. — A voz do mestre nos atiça e avançamos
como os animais que somos.
Os gritos se iniciam e sabemos o que desejamos, enquanto meus
irmãos enfiam seus paus em cada buraco existente, contenho-me, gosto dos
gritos de dor e da forma com que imploram para que pare. Com o tempo
aprendi a puxar todos os dentes sem quebrá-los, um a um vou tirando-os
pela raiz até que não exista nenhum deles na boca da mulher, seu corpo é
virado, fazendo-me sentar com o pau babando pela sua boca agora macia.
Meus irmãos metem dois em seu rabo e um em sua boceta, eles sabem da
minha preferência inicial por bocas.
Os gritos do homem e da mulher agora estão abafados e meu pau
acerta tão fundo em sua garganta que a faz vomitar sobre mim, e isso me
deixa ainda mais excitado. Seguro seus cabelos com tamanha força que
posso arrancá-los com couro e tudo, forço sua cabeça subindo e descendo
e como imaginado ela trava as gengivas em meu pau que se tivessem dentes
o arrancaria fora, essa pressão maldita faz o meu orgasmo explodir e meu
urro ser liberado. Quando nos encaramos percebo que fui o primeiro a cair
e isso faz com que todos troquem seus lugares, é sempre assim, gozar faz
com que o rodízio aconteça.
Por horas ficamos sendo alimentados e quando nossos corpos estão
exaustos somos impedidos de continuar, mesmo que desejamos mais. A
porta se abre e somos lavados de mangueira, com a água fria quase
cortando nossas peles.
— Caminhem em direção à sala. — Com o coração acelerado
sabemos bem o que isso quer dizer, vão nos reiniciar, já os vimos fazer isso
com o sombra varias vezes.
Nos entreolhamos e posso ver que cada um de nós incentiva o outro
a não desistir, tiramos nossas máscaras e deixamos na mesa antes de
entrarmos na sala, nos posicionamos nas máquinas subindo em seus
tablados quando nossos corpos são presos por tiras metálicas, sinto a
pressão gelada em minha nuca e com o coração disparado podemos ouvir a
voz dele, aquele que jamais vimos o rosto, mas que sentimos o toque
quando nos fode no escuro, reconheceria sua voz em qualquer lugar do
mundo, ele é tão perverso quanto nós e geralmente nos deixa em estado de
quase morte após nos usar.
Então quando seus gritos cessam o choque atinge minha nuca
parecendo que minha cabeça vai explodir. Mordo com força o couro que foi
colocado entre meus dentes grunhindo desesperado para que tudo aquilo
acabe, então a escuridão me toma.
Quando abro meus olhos o jogo se inicia à minha frente e tudo que
anseio é foder todos os buracos que atravessarem meu caminho até que
possa matá-los.
(...)

Pisco algumas vezes quando sinto os meus pés molhados, me perdi


em meus pensamentos e a água transbordou, meu corpo está tenso, logo
chacoalho a cabeça para esquecer o que me prendia dentro da minha própria
mente.
Desligo a torneira e ajusto a quantidade de água que está em uma
boa temperatura retirando o excesso pelo ralo. Com tudo pronto volto ao
quarto aproximando-me da cama, com seus olhos em mim ela não diz nada
quando me aproximo e não tem reação alguma quando retiro novamente as
cobertas, a pego nos braços ouvindo um gemido de dor contido enquanto
ela fecha os olhos com força.
Sentindo seu corpo quente colado ao meu é impossível conter a
maldita ereção, Morgana abre seus olhos quando deposito seu corpo na
água entregando-lhe a cestinha com todos os materiais de banho
necessários.
— Fique sentada, vou lavar seu corpo.
— Posso fazer isso.
— Não pode. Separe os produtos que usa e me entregue. — Fazendo
o que mando, sinto seu corpo tenso e não é pela dor.
Logo que termina de fazer o que pedi ela abaixa suas vistas
encarando a água.
Capítulo 48

Jamais me imaginei nesta posição, mas não sinto nada além da


vontade de seguir com o que faço. Lentamente cuido de cada pedaço
machucado do seu corpo, lavando tudo no processo, molhando a esponja
macia e depositando a água captada em seus ombros. Nossos olhares se
cruzam por mais de uma vez, então ela decide quebrar o silêncio.
— Seus olhos são lindos, cheios de intensidade e revelam muito
sobre você. — Sua fala me paralisa e a encaro fechando meus olhos em
fendas. — Imagino que seu rosto seja tão lindo quanto eles. — Seus dedos
tocam a máscara e por uma razão desconhecida gostaria que seu toque fosse
de fato em minha pele.
— Ninguém jamais o olhará por vontade minha, eu sou o que vê.
— Não, você não é a máscara que usa, quando o toquei pude
imaginar como seria. — Seus dedos agora descem pelo meu pescoço
fazendo com que pare de respirar, pareço hipnotizado pela sua voz. — Por
que não deixa que o veja por completo?
— Eu teria que matá-la depois, não existe aqui embaixo nada de
agradável. Por que ainda insiste em busca de algo que não vai encontrar?
— Eu sei que existe, estive com ele naquele quarto, e no avião
quando me pegou nos braços, e quando fiz o curativo em sua mão. — Ela
toca a cicatriz que ainda está sensível e vermelha, assim como a sua e esse
gesto junto ao olhar arranca uma lasca do meu peito. — Estou com ele
agora, só precisa baixar sua guarda, não há aqui ninguém além de nós, nem
mesmo ela.
— Mesmo que seu pedido pareça inocente não ficaria exposto
assim, nem mesmo para você. — Ainda que minha mente me leve aos
momentos em que quis lhe mostrar o monstro que sou, agora não irá
acontecer, preciso saber o meu lugar e sei que quando chegar a hora serei
morto por ter ido com ela além do que de fato deveria. A realidade me
acerta em cheio, algo que por hora decido deixar de lado, em momento
oportuno o mestre fará o que é certo.
— Quem sabe um dia. — A esperança em sua voz é algo que jamais
tive em toda minha vida.
— Quem sabe nunca. — Tento soar firme, porque sinto que vacilo
com ela, que posso mostrar além do que desejo e que isso de alguma forma
a assuste e a afaste, penso que se o mestre for misericordioso comigo possa
apagar toda essa bagunça da minha mente quando voltarmos.
Ficamos calados e seu olhar continua me deixando inquieto, mas
não mudo minha decisão. Finalizo seu banho colocando-a em pé, neste
momento sei que se sente exposta e decido não a encarar. A pego nos braços
novamente levando-a até a cama, mas ela me pede que a leve para o closet,
colocando-a em pé, pego a roupa que ela não consegue alcançar, uma
camisa enorme com a imagem de um anjo igual tem nas suas costas, e ajudo
a se vestir.
Quando me recordo dele lembro-me da textura de sua pele em
algumas partes como se fosse enrugada que está coberta de tinta preta.
— Anônimus. — Sua voz me traz de volta.
— Sim.
— Acho que consigo caminhar. — Suas palavras baixas e
amedrontadas me fazem recuar um passo.
Devagar a vejo passar por mim seguindo para fora do quarto, sigo
atrás dela sentindo seu cheiro, o mesmo de sempre, a mistura de pimenta e
flores que arde e aguça, tem um toque que faz os demônios ansiarem por
sangue, como sempre, mas desta vez não é aquele olhar que aparece que me
atiça como um tenaz atiça brasas na lareira.
— Pelo visto já deu início ao café.
— Só liguei a máquina. — A ajudo a sentar nos bancos macios e
altos perto do balcão para que não se esforce.
Começo a procurar por todos os lugares e encontro na geladeira
frutas cortadas e sigo tentando me localizar pegando as coisas necessárias
para que se alimente.
— Sabe cozinhar?
— Eu me viro. Quer comer algo?
— Não tenho preferências.
Coloco tudo à sua disposição quando pego um pão começando a
cortá-lo sob seu olhar atento, pego no freezer um pote contendo carne, é
parecido com os da minha casa, e o coloco no micro-ondas, assim como o
mestre me ensinou, aliás ensinou a todos.
— Para alguém que diz não saber ler, você se vira muito bem.
— Tenho facilidade para gravar coisas, mesmo não sabendo seus
significados, não sei como funcionam, mas por saber onde apertar me viro
bem — respondo ainda de costas para ela.
— Posso te ajudar.
— Com o quê? Não viu que não preciso de sua ajuda — irritado,
respondo.
— Não estou te oferecendo ajuda para se virar, isso vejo que já faz.
— E com o que me ajudaria? — Viro-me encarando-a, vasculhando
em seus olhos a maldade perversa de sempre, mas não a encontro, é a
mesma garotinha que um dia tirei do buraco quem está lá, e isso segue me
incomodando.
— A ler e escrever, teremos muito tempo ocioso aqui, podemos
fazer algo bom.
A encaro virando minha cabeça para o lado em busca de algo que
me mostre que ela está blefando e caso encontre posso castigá-la por isso,
mas o que vejo são seus dedos sendo espremidos e seu olhar não se sustenta
ao meu por nem mesmo um segundo.
— Esqueça, é uma ideia idiota. — Volta a comer sem me encarar e
quando penso em responder, o micro-ondas apita.
Sento-me à sua frente começando a comer, ela não volta a me olhar
e seus olhos azuis quase brancos que sempre me inquietam estão focados no
que faz, o silêncio é constrangedor e a comida passa a descer sem gosto.
Analiso seus braços marcados arroxeando, a marca da facada em sua mão
como a minha avermelhada, qualquer outra pessoa em seu lugar não sairia
da cama, mas ela tem espírito forte e mesmo que pareça indefesa, agora sei
bem do que é capaz.
Quando finalizamos o café ela desce da bancada com a minha ajuda
e organiza ao meu lado toda a bagunça que fizemos, quando finalmente está
tudo pronto a vejo caminhar de volta ao quarto sendo acompanhada de
perto por mim, após ajudá-la a se deitar, saio deixando-a sozinha e
caminhando em direção aos sofás da sala.
Um estrondo violento no céu acontece quando a chuva cai de forma
tempestuosa açoitando as grandes paredes de vidro que envolvem toda a
casa escondida na mata, retiro minha máscara puxando o ar com força,
fechando meus olhos como se necessitasse respirar, como se estivesse
sufocando. Tento me controlar, há muito tempo isso não acontecia comigo,
a última vez ainda estávamos juntos.

(...)
Abro meus olhos não enxergando nada, sei que não estou cego,
apenas fui lançado na completa escuridão que é como ficamos sempre que
não estamos sendo usados.
— Sei que acordou, sinto sua respiração mudar. — A voz dele eriça
meus pelos e faz meu pau duro, levo minha mão até ele começando a busca
incessante por orgasmos quando o primeiro soco me atinge.
Grito quando meu corpo bate contra a parede.
— Não se toque, seu verme imundo.
— Preciso fazer parar, está queimando — rebato, pois sei que ele
sabe do desespero que sinto.
— Controle-se, precisa aprender a conter seus instintos, caso o
mestre te castigue, não seja como todos os imbecis que acabam perdendo
seus paus por esfregá-los no chão. — Tento controlar minha respiração.
Grunhindo, travo meus dentes cravando minhas unhas nas palmas
das minhas mãos.
— Vai ser enviado ao Anjo do Caos, o mestre acaba de perder o
domínio dos Obscuros, tudo isso aqui que vivemos acabou. Seja o pior
deles, o mais cruel e letal, o mais controlado, aquele que se destaca.
Obedeça sem questionar, quando for solicitado para algo crie coisas
monstruosas, faça com que jamais se esqueçam de você, ainda que esteja
escondido sob a máscara demoníaca.
É difícil entender o que ele quer com meu pau tão duro e dolorido.
— Me aplicaram estimulante? — Ofego mordendo a língua para me
conter.
— Sim, é seu último dia aqui, pode me usar como te usei por todos
os anos desde que me foram entregues ainda crianças. — Não entendo o
que ele quer. — Nunca mais vamos nos ver, quando acabar deixe uma
marca em mim, crie em sua mente e faça com a faca nas minhas costas, se
um dia nos encontrarmos saberá quem sou ainda que não me recorde.
— Eles podem apagar minha mente também.
— Vamos acreditar que de alguma forma os demônios que somos
irão encontrar caminhos para se encontrar.
— O que tudo isso quer dizer? — Tento me manter alerta, mas o
estimulante começou a atingir níveis insuportáveis.
— Eu desejo apenas você, o visito muito mais que os outros, sinto
que algum dia poderemos ficar juntos e poderá me foder o tempo todo, e
quem sabe longe daqui viveremos algo.
— Do que está falando? — Lanço meu corpo contra o chão
novamente, gritando.
— Jamais entenderia se explicasse, acreditei que vir aqui muito
mais vezes e deixá-lo se enterrar em mim criasse algo em você. — Ouço seu
sorriso. Apenas me foda como se sua vida dependesse disso, e quando o
esgotamento chegar e seu pau estiver em carne viva faça a marca em
minhas costas, amanhã serei apenas uma voz na escuridão e talvez jamais
me recorde disso.
— Não vai me usar primeiro? — pergunto ofegante.
— Não, terei você quando desmaiar, então irei me enterrar tão
fundo que irei marcar sua alma com minha porra.
Com meu coração acelerado e quase enlouquecendo pelo
estimulante, me posiciono atrás dele como ordenado, minhas mãos tocam
sua bunda e meu pau se enterra nele em uma só estocada, cravo minhas
unhas em sua carne fazendo com que urre de dor, quanto mais ele grita
mais o desejo de destroçá-lo aumenta, meu corpo incendeia quando o
primeiro orgasmo o atinge levando-me junto com ele.
Por horas meto em seu rabo, a dor começa a me dominar, meu pau
não suporta mais nada, porém o estimulante não parece estar nem mesmo
no fim. Cobrindo seu corpo com o meu sou informado das facas e quando
as toco sei bem o que anseio fazer.
— Me marque — implora de uma forma que jamais ouvi.
Meus demônios parecem fazer uma rebelião e gritam que envie sua
alma imunda até eles, segurando as duas facas, cravo-as de uma vez em
suas costas, uma de cada lado, então elas passam a ser meus apoios para
continuar fodendo seu rabo, ele grita e agoniza, sua respiração falha
algumas vezes, mas isso não faz com que pare, sigo socando cada vez mais
forte e mais furioso tendo mais um orgasmo que nubla meus sentidos. Logo
uma luz branca aparece cegando-me e ganho uma pancada na nuca
perdendo todos os meus sentidos.
(***)
Acordo com um trovão estrondoso que faz todos os vidros da casa
tremerem, a dificuldade de respirar me toma e levo minhas mãos ao rosto
percebendo que estou sem máscara, a recoloco e sentindo o coração bater
acelerado pelo susto sigo até o meu quarto.
Capítulo 49

Acordo com alguém me chamando, quando abro meus olhos ele está
bem na minha frente com um copo com água na mão.
— Está na hora do seu remédio. — Sua voz autoritária me causa
arrepios, vasculho por todos os lados e não a encontro isso só me confirma
de que ela se foi para me manter com ele aqui.
Pego a medicação e bebo com a água sob seu olhar atento.
— Eu aceito. — Suas palavras saem quando pega o copo de minha
mão.
— O quê? — Não estou entendendo nada.
— Que me ensine a ler e escrever, tem razão sobre demorarmos
aqui, teremos muito tempo ocioso, e como me prometeu, em breve
precisará me alimentar, então enquanto se recupera podemos tentar. — Não
pisco quando o vejo sair sem dizer mais nada.
Devagar, saio da cama sentindo a maldita dor me tomar, vou ao
banheiro e depois sigo em busca de cadernos e canetas, não os encontrando
em lugar algum.
“Não tem.”
Assusto-me quando ela aparece sem que eu note.
— O que não tem?
“O que procura.”
— Por onde andou?
“Dando-lhe espaço, infelizmente ele parece mais cruel a cada
momento em que estamos juntos, é como se eu ativasse nele o pior.”
— Falou a ele sobre nós?
“Sim, mas pude ver que essa informação não causou nada, já que
quase me matou.”
— Ele parece não entender.
“Digamos que o demônio tenha algumas limitações, não saber ler
nem escrever é uma delas.”
— Vou ensiná-lo.
“Como é?”
— Isso que ouviu, parece surda.
“Vejo que está bem confortável e se sentindo em casa, já que
respondeu dessa forma.”
— Sabe bem que não sou de cristal, que sei me defender quando me
sinto segura.
“Suas palavras a contradizem, já que não precisa se defender de
nós, aliás, não parece sequer temê-lo como antes.”
— Não vai me machucar, posso ver em seus olhos que está confuso,
sempre que não entende algo ou parece buscar algo vira a cabeça e estreita
os olhos.
“Já percebi isso, Anônimus é visual, não adianta mentir que ele
consegue nos ler pelos gestos.”
— Desisto, não encontro cadernos e canetas. — Paro de caminhar
vasculhando o closet.
“Talvez no escritório, papai costuma ficar muito tempo por lá.”
— Verdade.
“O que seria de você sem mim.”
Sua forma espertinha me irrita.
— Obrigada! — não rebato da forma como espera.
“Se cuide, tome os remédios, estou por perto, se algo for demais
para você irei protegê-la”
— Não gosto quando vasculho tudo e não te acho.
“Ver você e ele flertando não é algo que goste.”
— Não flerto.
“Não? Mão na máscara, pedindo para ver seu rosto se isso não for
flertar...”
— Está nos espionando?
“Não de fato, mas como sabe, nossa forma de interação é diferente,
estou em todos os momentos ainda que não me veja, mas não estou
prestando atenção em tudo, só quando fico muito curiosa. É interessante
ver o olhar dele completamente diferente direcionado a você, quando está
comigo ele parece esperar ser atacado a todo momento e isso me excita
porque sei que um aperto certo e ele se mostra o demônio que desejo que
seja.”
— Como gosta de ser machucada? Mal consigo ficar em pé.
“Minha boceta pulsa e meu sangue esquenta, a dor me dá orgasmos
e a forma bruta com que ele me mostra seu poder libera algo em mim que
não sei explicar, só desejo mais maldade e mais crueldade, deixá-lo furioso
faz com que ele me leve ao limite.”
— Pode nos matar.
“Não irá, Anônimus está com as leis cravadas em seus ossos,
jamais iria contra as leis Triglav.”
Recordo-me das palavras do meu pai.
— Não gosto de ser machucada, será que ele irá se acostumar com
isso? — Suspiro curiosa, logo sorrindo sem graça. — Como se ele fosse se
ligar a alguém.
“Ele vai, pode levar tempo, mas vai, um dia caso ele se vá as
memórias que estamos criando nele falarão mais alto e ele irá voltar.”
— Queria ter a sua certeza.
“Não tenho certeza, Morg, mas preciso de algo para me agarrar,
nós damos a ele o melhor de dois mundos, alguém que o alimente e o
mantenha em frenesi, e outra pessoa que lhe ensina sobre calmaria e
bondade, acredita mesmo que ele permitiria que tocasse seu rosto se não
causasse algo nele?”
— Mas não me deixa olhá-lo — pontuo o óbvio.
“Ainda não deixa, mas me diga, você se afastaria dele caso ele
desejasse permanecer pelo simples fato de não ver seu rosto?”
— Não. Mas queria saber como é seu rosto por trás daquela máscara
de demônio.
“Chegará o momento certo para que isso aconteça precisa
acreditar no homem que diz amar.”
— É tudo muito confuso, às vezes ele parece alguém que vai me
decapitar, mas em outros momentos parece que vai me esconder e proteger
do mundo.
“Foco no nosso objetivo, ele passou muitos anos sendo o que é,
estamos há pouco tempo criando memórias afetivas com ele, pode levar
tempo, Morg, ou pode jamais acontecer, mas não é por isso, pela incerteza
que vamos desistir. Agora vá, se ele decidiu aprender, é mais um motivo
para acreditarmos que está baixando suas defesas, ou apenas como um
tubarão está rondando a presa para nos atacar se caso sinta que somos
uma ameaça.”
— Pode ser que nunca o tenhamos.
“Então que tal aproveitarmos o tempo que ele está nos
disponibilizando? Pare de pensar a longo prazo e pense no agora, a meses
atrás não tínhamos nada, nem mesmo um olhar, ele agora já presta atenção
em nós. Seja corajosa, lembre-se qual é o sangue que corre em suas veias, é
uma Dothraki.”
— Tem razão. — Por algum motivo me sinto corajosa como jamais
estive.
“Vá, quando ele estiver louco para ser alimentado eu volto,
prometo que da próxima vez fico até que os machucados se curem.”
Respiro fundo quando ela se vai e decido ir até o escritório do meu
pai.
Capítulo 50

Estou olhando para o nada enquanto me questiono sobre os motivos


de querer aprender algo que neguei ao mestre quando me ofereceu, o que
essa versão da Libélula tem que me atinge em locais jamais alcançados que
nem mesmo sabia que existiam. Viro-me em direção ao gemido sussurrado
que consigo ouvir de onde estou, Morgana caminha devagar em direção ao
escritório, a vejo abrir a porta e demorar lá dentro. Caminho em direção a
ela atravessando a porta a encontrando sentada na grande poltrona retirando
das gavetas alguns papéis enquanto reclama da dor.
— Por que não me chamou?
— Ai! Que susto, Anônimus, não o vi se aproximar.
— Está muito concentrada no que faz.
— Certo, não achei cadernos, mas temos blocos de anotações, para
o que precisamos, serve. — Sorrindo mostra os papeis nas mãos enquanto o
chacoalha virando sua mão para me mostrar o que tem nelas. — Sente-se.
— Não vamos aprender isso hoje. — Ver sua face mudar de
empolgação para decepção faz com que engula seco.
— Não? — Morgana não entende os meus motivos, mas não vou
explicar agora, minha cabeça voltou a doer depois do maldito pesadelo ou
lembrança, e isso me deixa inquieto e irritado, não conseguiria me
concentrar nem mesmo por ela.
— Não, amanhã começamos.
— Está com dor? — sua pergunta me pega de surpresa e levo a mão
instantaneamente ao rosto para ter certeza de que a máscara que sinto está
no lugar.
— Como sabe? — sondo, ela parece me analisar e nem mesmo
percebo quando faz.
— Sua voz mudou, está entre dentes e parece tenso, não relaxado
como sempre fica, quer dizer, ficou tenso quando estávamos no escuro
aquele dia, mas agora é diferente, é... — Percebendo que falou demais se
cala. — Desculpe, podemos começar amanhã.
Num impulso caminho até ela e a pego nos braços de surpresa
quando a vejo tentar se levantar.
— Posso andar.
— Eu sei, mas vou levá-la assim mesmo.
— Não quero ficar sozinha no quarto. — Sua mão desliza pelo meu
pescoço, estou sem a balaclava e seu toque eriça meus demônios.
— Não faça isso.
— O quê? — Sua mão entra pela gola da minha camisa e arranha a
pele um pouco abaixo da gola.
— Isso. — Retiro sua mão com força. — Mal está se aguentando em
pé, não aguentaria a forma com que desejo foder você, os ganchos seriam
nada perto da vontade que estou de matá-la. — Respiro fundo, pois é a
primeira vez que desejo matar essa versão dela.
— Não suportaria. — Abaixa sua cabeça segurando as mãos juntas
sobre as pernas enquanto caminho com ela para fora dali.
Talvez essa história de ter duas pessoas dentro dela seja em parte
verdade, não é como se eu fosse alguém entendido de assuntos tão
complexos, tudo que sei é castigar, foder, gozar, matar e obedecer.
Sigo com ela até o quarto onde estou ficando, o lugar é igual e tão
confortável quanto o dela, Morgana não vê para onde a levo já que seu rosto
repousa em meu peito como se estivesse se escondendo. Abro a porta e está
tudo escuro como costumo gostar de ficar, a coloco na cama.
— Fica comigo. — O pedido baixo arrepia todos os meus pelos.
— Por que não tem medo de mim? Seria muito mais fácil lidar com
isso para então realizar meus desejos de te matar após terminar de castigá-
la.
— Não consigo enxergar em você essa vontade, sempre parece
confuso, é verdade, e curioso, mas assassino não. — Respira fundo. — Me
recordo dos seus olhos quando ainda era criança, eles tinham tempestades,
havia ali maldade se tio Damian não tivesse chegado você teria feito o que
pensava, sei que me destruiria se pudesse.
Ela tem razão, era como ter um brinquedo novo e não poder brincar,
estava louco para provar a pequena libélula ainda criança, mas fui contido
pelo antigo mestre.
— Se sabe de tudo isso, por que ainda insiste em me alimentar, por
que se mantém perto? Por que quer ultrapassar a linha tênue entre a vida e a
morte?
— Não vai me matar, eu sei.
— Anda sabendo muito e realmente enxergando pouco.
— Então me diga, qual o motivo de não acabar comigo? — Sorrio
de sua ingenuidade.
— Estou sob a lei, sei que quando sair daqui e souberem que te fodi
como uma cadela imunda serei morto, mas até que isso aconteça a manterei
viva, preciso entregá-la inteira, o que não te livra das marcas e dos cortes.
Pensei em tantas atrocidades para fazer com você, seus gritos implorando
que parasse ainda não saíram da minha mente, eu quero ver o sangue
escorrer de sua boceta e do seu cu, quero ser eu a causar sua destruição. —
Começo a tirar minha roupa e minha máscara ficando duro e nu, na
escuridão. — Quero gozar na sua cara sangue e porra, quero morder, cortar,
rasgar sua pele, mastigar sua carne, fazer buracos novos e meter meu pau
neles enquanto agoniza. Quero escutar suas unhas estourando contra o piso
enquanto tenta fugir de mim e se debate, quero puxar seus cabelos até que o
couro descole da cabeça e o cheiro de urina e fezes se misture ao cheiro de
sangue. — Sorrio, porque estou deixando-a nervosa. — Posso fazer buracos
sob seu seio e meter meu pau ali, acredite, eu já fiz isso é quente apertado e
cada estocada faz com que saia a gordura do lugar o que deixa tudo muito
macio.
— E por que não o faz? — vacilante, me questiona.
— Porque eu não consigo atravessar a linha da morte com você —
rosno pulando sobre ela que grita surpresa quando cubro seu corpo com o
meu.
Deslizo minha mão por debaixo da camisa e paro com ela sobre seu
peito que bate acelerado sob minha palma.
— Todos esses são meus desejos contínuos, posso realizá-los num
piscar de olhos, já arranquei suas asas. Por que ainda me tenta como uma
maldição? Sabe que não posso, sabe que existe uma coleira que me mantém
aprisionado e não me permite cavar buracos em seu corpo perfeito e quente,
sabe que nada do que eu imagine posso fazer com você.
— Mas me pendurou em ganchos e me fodeu até desmaiar.
— Então me provoque a este ponto novamente, me dê o que
costuma me dar, com aquilo consigo trabalhar, mas com você não, essa
versão é estranhamente, malditamente paralisante. Esse olhar me contém e
não sabe o quanto odeio essa forma de me sentir, seja aquilo que me devasta
e me destrói, que traz à tona o que realmente sou. — Subo minha mão até
seu rosto apertando-o, quem sabe se lhe causar um pouco de dor ela volte a
ser quem costuma me desafiar.
— Não sou como ela, eu já disse. — Sua respiração pesada contém
medo.
— Pode ser que esteja começando a acreditar que existam duas em
sua mente. — Bato os dedos em sua cabeça.
— Eu vejo você, Anônimus. — Suas mãos tocam meu rosto e
paralisam meu corpo, ela tem um poder sobrenatural de me domar, ainda
que minha mente grite, meu corpo obedece.
— O que quer de mim? — Minha garganta queima com essas
palavras enquanto seus dedos deslizam sobre minha pele nua, livre da
máscara.
— Mais do seu beijo. — Seu polegar desliza sobre meus lábios.
Umedeço meus lábios com seu pedido enquanto ajeito meu corpo e
mesmo no escuro acomodo-me entre suas pernas, meu pau está em sua
entrada e posso apenas meter e ouvi-la gritar, nem mesmo sei se está
molhada.
— Pedindo como pede pode conseguir muito mais do que tenho lhe
dado.
— Não somos a mesma pessoa, Anônimus.
— E onde ela está agora?
— Afastada, me deixando a sós com você.
— E quando ela ficará a sós comigo? — Seu corpo tenciona neste
momento.
— É isso que quer? Prefere ela? Posso ir se assim deseja.
Ficamos em silêncio, suas mãos saem do meu rosto como se
queimasse e ela não diz nada. Como existem duas pessoas em uma? Respiro
fundo, porque isso parece impossível, mas aquela Morgana é tão diferente
dessa, será real o que diz? Será mesmo que existe duas dela morando no
mesmo corpo?
Forço meu pau em sua boceta que entra com facilidade e seu grito
surpreso me deixa louco.
Capítulo 51

A força com que se enterra em mim me tira o ar, sinto minha boceta
pulsar, mas o medo de que seja cruel me toma na mesma intensidade. Sua testa
se cola à minha e ganho uma mordida no lábio inferior que me faz grunhir de
dor, fazendo com que lágrimas escorram dos meus olhos em direção as nossas
bocas unidas.
Anônimus para a mordida e desliza sua língua em meu rosto, primeiro
do lado esquerdo depois do direito.
— Faça, beije, me mostre novamente como isso é bom. — Respirando
fundo confessa o que sentiu quando me teve ainda pequena em meus braços.
— Libélula, ansiei como um demônio ter tido tempo de foder sua boceta
quando te resgatei, queria causar ainda mais medo em você. — Suas palavras
são sussurradas em meu ouvido e arrepiam meus pelos.
Logo ele está com o rosto frente ao meu, repouso uma mão em seu
peito e sinto seu coração bater mais forte, deve estar excitado e inquieto pelo
que está por vir, ansiando apenas por um deslize para então me castigar. Então
eu a vejo, do outro lado, como se estivesse a postos para me salvar, ela me
encoraja, sei que assumiria o comando caso o demônio sobre mim comece a
rasgar minha carne como disse desejar fazer.
Colo nossos lábios e inspiro profundamente implorando mentalmente
que nossos instintos sigam seu curso e que o beijo seja novamente como da
outra vez, perfeito. Peço passagem em sua boca que me é concedida, é
estranho e não parece fazer sentido, mas quando nossas línguas se encontram
uma energia parece percorrer meu corpo. Sugo a sua gemendo pelo que sinto,
minha boceta pulsa e seu pau faz o mesmo dentro de mim.
Roço nossas línguas e o beijo de forma cuidadosa, sugando também
seus lábios inferiores e mordendo de levinho, voltando a beijá-lo com fome.
Anônimus parece ter entendido a dinâmica da coisa e de forma instantânea
parece querer me devorar. Sua pegada é forte e intensa, mas não machuca, não
é como se me castigasse como disse que faria. Tenho meu corpo virado e
nossas posições se invertem.
— Espera. — o pedido acontece quando descola nossas bocas e com
seu membro ainda dentro de mim ele se senta segurando meu corpo pelos
cabelos sem cuidado algum. — Assim, dessa forma tenho acesso a cada
pedaço seu.
— Não me machuque — imploro quando suas mãos apertam meus
seios de forma gostosa.
— Continue beijando como fez que não irei te machucar ainda mais do
que já fiz.
Rebolo e um grunhido escapa de sua garganta.
— Se machucou? — Meu coração bate desesperado no peito.
— Não, estou apenas lutando bravamente para não te partir ao meio,
minha mente batalha por controle e meu corpo deseja isso que me dá.
Não digo nada, permito que siga batalhando sozinho enquanto rebolo e
o puxo para um beijo. Suas mãos apertam minha bunda que ainda está
dolorida, meus pontos repuxam um pouco e sinto umas fisgadas, mas não paro,
não ouso parar, não quero que se afaste de mim. Meu corpo se esfrega no seu,
ele parece disposto a permitir que o use como desejo, e faço sem hesitar. Meus
mamilos estão duros e os esfrego contra ele, indo e voltando, me movimento,
esfregando minha boceta em sua pelve friccionando meu clitóris nele, suas
mãos estão agarradas em minha bunda como se desejasse arrancá-la dali, dói,
mas é prazeroso.
Logo começa a me ajudar nos movimentos aumentando a velocidade
até que começa a me erguer e abaixar, começo a pular em seu colo sendo
guiada por ele, não soltamos nossas bocas em momento algum, estamos
esfomeados e seus grunhidos me mostram que ainda se contém, nossas bocas
descolam em busca de ar, quando ele começa a amaldiçoar e maldizer todo o
inferno, seus gritos são furiosos seguidos de palavrões contra mim, ele me
amaldiçoa e maldiz meu nascimento, maldiz minha geração, maldiz a minha
existência.
— Desgraçada imunda, serpente encantadora de demônios, quero seu
sangue escorrendo sobre meu corpo, quero fazer com você tudo que meus
demônios gritam em minha mente para fazer, eu odeio você, odeio sua voz e a
forma com que ludibria minha mente com seu olhar quase branco, tem olhos
de uma maldita bruxa.
Tudo que ele diz é com raiva, mas em momento algum ele me machuca
de fato, logo para de proferir maldições e permite apenas que seus gemidos
ecoem junto aos meus pelo quarto. Difícil de controlar e excitada pelas
palavras que ele proferiu, gozo gritando seu nome.
Tenho meu corpo virado de bruços sobre o colchão, minhas pernas
abertas e ouço que ele cospe com certeza nos dedos, sinto quando meu cu é
tocado por algo molhado e travo.
— Não vai sair daqui sem que me enterre nesse rabo quente, sei que
gosta de me dar ele, e mesmo que não seja a mulher que gosta da dor como
diz, vai gostar de sentir que me pertence. — Meus cabelos são agarrados e
puxados. — Diga que não quer ter seu rabo cheio com minha porra quente.
— Se eu disser que não quero você vai parar? — pergunto ofegante.
— Não. — Sua resposta vem com a investida forte achando resistência
em meu cu. — Se resistir vai ser mais gostoso para mim, mas por algum
motivo desconhecido estou me controlando aqui, ou você relaxa e goza ou vai
sangrar.
É um alerta, Anônimus está se controlando, a nossa primeira vez ele
estava surpreso, agora se controla, preciso entender que é mais do que ele pode
fazer, então relaxo, e ainda que ela esteja de plateia apenas esperando o
momento certo de agir não o faz, nada do que ele fez até agora é um gatilho
em mim.
Seu pau desliza, a princípio queima e arde, com ele todo dentro de
mim, Anônimus para.
— Filha da puta, quem é você para me fazer contido? — a revolta em
sua voz é nítida. — Por que não devasto tudo enquanto forço minha passagem?
Por que suas correntes me prendem e me seguram?
Rebolo tentando sentir e ainda dói, mas continuo tentando me
acostumar e ele volta a proferir palavras em fúria, pois não se mexe, logo estou
rebolando em seu pau parecendo despertá-lo, suas mãos seguram minha
cintura apoiando ali todo seu peso, saindo e voltando, seus movimentos
continuam contidos enquanto reclamo pela dor, sua mão desliza sob mim
atingindo meu clitóris e meu gemido de prazer é quase um grito, ele mete e
massageia. A pressão que faz é forte e poderosa e quase machuca, o barulho
dos nossos corpos se encontrando arrepia minha pele, sinto que vou ser
devastada por outro orgasmo quando finalmente sou atingida em cheio, então
ele urra gozando junto comigo gritando meu nome e me xingando novamente.
Até que o pulsar de seu pau cesse, ele continua entrando e saindo
diminuindo o ritmo até que seu peso esteja sobre mim. Sinto seu coração bater
poderoso em minhas costas, num sobressalto ele sai de mim virando-me de
costas para o colchão trazendo sua boca até meu ouvido.
— Vou chupar sua boceta, Libélula, até que machuque, vai gozar e
gozar em minha boca.
— Por que quer me castigar?
— Porque esse maldito beijo paralisou todos os meus desejos mais
sombrios com você, ainda vou cortar suas carnes e arrancá-las dos ossos, mas
enquanto não posso fazer isso, preciso descontar a minha frustração em algo e
será em sua boceta.
Antes que consiga pensar em algo, tenho minhas pernas abertas e seus
dentes mordendo meu clitóris fazendo-me gritar, sua língua começa a me
lamber e a dor dá lugar ao prazer, busco por algo que possa me segurar, mas
sua cabeça raspada não me dá isso, pelos próximos minutos tenho três
orgasmos e luto contra a vontade de afastá-lo e o desejo de enfiar ainda mais
seu rosto entre minhas pernas.
Anônimus é um demônio maldito e cruel, mas eu continuo querendo
me fundir a ele.
Capítulo 52

Poderia passar a eternidade ouvindo seus gemidos de dor e prazer,


essa Morgana não reage como a outra e mesmo que seja confuso demais
para mim, passo a acreditar no que diz. Quando estou cansado de chupar
sua boceta e meu maxilar dói a solto no último orgasmo que dá, meu pau foi
estimulado pelo colchão no qual o esfreguei e gozei como um animal
sugando forte sua boceta.
Ergo-me ficando sobre ela, sustentando meu peso nos braços.
— O que deseja? — Minha curiosidade é tamanha e mesmo que
imagine a cara que esteja fazendo agora, não posso vê-la por conta da
escuridão.
— Gostaria de vê-lo. — Engulo seco seu pedido.
— Entenda uma coisa, Morgana, isso jamais irá acontecer.
— Então por que me pergunta o que desejo? — Sua mão vai até
meu peito.
— Porque talvez esteja sendo um demônio idiota que anseia ouvir
que continua ansiando que te foda.
— Estou cansada e sinto o sono me envolver, não vá para o seu
quarto hoje, por favor.
— É você quem não deve ir para o seu quarto, estamos no meu.
— Então não se afaste. — Sua mão vai até meu peito ficando ali por
algum tempo até que desaparece.
Continuo imóvel, esperando que diga algo, mas pela forma com que
respira só pode ter dormido. Ainda sentindo a inquietação de tudo que
acabou de acontecer, saio da cama seguindo em direção ao banheiro, ao
atravessar a porta a fecho com chave. Morgana, seja qual versão for, é
curiosa demais e pode querer olhar o que não deve.
Sinto a forma como meus demônios arranharam sob a minha pele
para sair, para que me tornasse quem sou com ela, mas estava vivo demais
em minha mente aquele olhar, aquele que me faz desejar protegê-la do
mundo, inclusive de mim.

Já é noite quando meu telefone toca e o mestre está na linha.


— Senhor.
— Anônimus, sei que os sinais localizadores de vocês estão na casa
das montanhas, mas o caos está instalado aqui e preciso confirmar.
— Sim, senhor, ainda estamos aqui e nenhum sinal de alerta foi
disparado — informo porque soube por ele antes de saber o roteiro da
viagem que todas as casas Triglav têm sinais sonoros de aproximação, então
sei que aqui não seria diferente. — Contra quem estamos lutando, mestre?
— A curiosidade me corrói, mesmo que esteja exatamente onde gostaria,
lutar ao seu lado também me traria essa sensação.
— Os desgraçados da Kompania Bello, a maldita Máfia Albanesa,
aqueles vermes imundos estão nos retaliando por ter impedido que uma
grande carga de drogas passasse pelo nosso território. Derrubamos dois
jatinhos e interceptamos dois caminhões que estavam atravessando ao
mesmo tempo em nossas rotas. — A voz do mestre é furiosa. — Damon está
infiltrado há algum tempo, acredito que em breve tudo termine, mantenha
Morgana segura, e Anônimus, não a toque.
— Senhor...
— Está tempo demais sem se alimentar, ela não é comida, desejará
a morte quando me encontrar caso a toque.
— Gostaria de ser reiniciado. — Minhas palavras saem sem
vontade, mas é o que desejo.
— O que houve? Sabe que isso não acontece desde que vieram até
mim.
— Sensações estranhas, não as quero e não posso arrancá-las com a
mão.
— Anônimus, o que você fez? A tocou, é isso? — Sei que está
inquieto e vai me matar. — Quero falar com ela.
— Está dormindo, nós acabamos de foder.
— Anônimus! — Soca algo com força. — Vou matá-lo.
— Se a morte arrancar do peito a vontade de esquartejar, destruir e
arrancar a pele dela com os dentes eu aceito, o fogo do inferno queima em
meu peito, mestre, e ainda que pareça mais forte que eu irei devolvê-la viva
e protegida, mesmo que precise protegê-la de mim.
— Tio Darko vai matá-lo quando souber que a tocou e eu vou
ajudar a te enterrar vivo.
— Ela quem disse que me pertencia, que domaria o demônio que
sou, matou as pessoas que me alimentariam em Roma. Tem algo naquele
olhar perverso cheio de maldade, ela é obstinada e não me deixa pensar em
nada além de me enterrar nela. Ela se oferece para me alimentar e meus
demônios não a rejeitam.
— Não pode matá-la, Anônimus.
— Vai me reiniciar? — Sua respiração é pesada.
— Acha que sente alguma coisa? Ela de alguma forma pode ser sua
pessoa?
— O quê? — Fico surpreso com sua pergunta.
— Sua pessoa, Anônimus, não se faça de burro isso você não é.
Sente algo por ela, um desejo de comer o coração de qualquer um que se
aproxime, uma vontade alucinante de que ela olhe apenas para você, não
sente vontade de foder mais ninguém além dela, fica inquieto quando ela
não está por perto e analisando tudo ao redor para ver se não a desejam
como você a deseja?
— Tudo isso junto com a vontade de esquartejá-la e foder seus
restos mortais até que apodreçam.
— Puta que pariu!
— Mestre.
— Sim.
— Sei que quebrei as regras, minha vida pertence a você, pode me
matar, mas se sua misericórdia for direcionada a mim e deseje me manter
vivo, escolho ser reiniciado, não vou me lembrar de nada e continuarei
sendo quem sou, um animal faminto, só que o foco voltará a ser apenas nos
inimigos da Triglav e não nela. — A sensação de falar isso e imaginar que
desapareça é pior que ser torturado.
— É um homem livre, Anônimus, não estou furioso por ter quebrado
as regras, já que não é mais um escravo, mas tinha milhões de bocetas para
meter seu pau e decidiu fazer isso justo com a única pessoa que não podia.
— Ela é difícil de manter longe, senhor.
— Eu imagino o poder de persuasão dela. Vamos fazer o seguinte,
quando chegar eu o reinício se for mesmo isso que quer, vai mesmo querer
apagá-la da sua memória? Isso é cruel.
— Se não me recordo, não sinto.
— Certo, mantenha a segurança dela, depois disso cumpro minha
palavra de reiniciá-lo.
— Senhor. — Agradeço mentalmente enquanto ele encerra a
ligação.
Suas palavras rodam minha cabeça, não posso conter o demônio em
mim, irei resistir até que o mestre me reinicie, preciso deixá-la longe de
mim, distante como sempre foi. Preciso entender que não nasci para
permanecer ao lado de uma pessoa como ela, Morgana nasceu para coisas
grandiosas e eu nasci apenas para servir o mestre e lhe ser útil.
Capítulo 53

Estou pensando em tudo que me aconteceu desde o momento em


que decidi assumir o controle de tudo, ainda sinto medo apenas de imaginar
aparecer na frente de quem quer que seja além de Anônimus e da minha
família, mas por hora decido não pensar nisso. Ela se mantém à espreita,
posso sentir isso, mas não existe gatilhos que a façam tomar a frente, não
desejo me esconder e ela não precisa me proteger.
Meu corpo todo ainda dói, então decido sair da cama e descobrir que
horas são, já que minha barriga ronca de fome. Devagar, saio do quarto dele
e sigo para o meu, preciso de um banho e do meu remédio. A dor está mais
forte e sinto os pontos repuxarem, quando chego ao quarto ele está vazio e
não sei onde ele está, verifico o telefone e percebo que faltam dez minutos
para o próximo comprimido, decido tomar banho.
Quando finalmente a água quente cai sobre mim sinto meus
músculos reclamarem, lavo meu corpo com calma, meus cabelos estão
presos num coque bagunçado no alto da cabeça, quando finalmente termino
permito que a água quente caia sobre minhas costas e as lembranças de
como cheguei aos braços do meu pai me tomam.

(...)
— Morg meu amor, tio Damian a levará até seu pai, conte-me onde
dói.
— Minhas costas queimam, tio, muito forte, faz minha cabeça doer.
Ele me vira de bruços e volto a chorar pela dor que me atinge.
— Puta merda! Calma, minha pequena.
Ele começa a correr gritando, e recordo-me quando sou pega nos
braços pelo meu pai que chora, a última lembrança que tenho é de alisar
seu rosto e limpar suas lágrimas.
(...)

Sinto mãos quentes tocarem minhas costas, assustando-me no


mesmo instante em que a água é desligada.
— Mas que droga! — Anônimus esbraveja e só então entendo que
estou chorando.
— Desculpe.
— Onde dói? — Sua pergunta me acerta, existe urgência e
preocupação, é a primeira vez que sinto que de fato ele me vê como pessoa
e não como objeto.
Aponto para meu coração e ainda que meus olhos estejam
embaçados pela lembrança e as lágrimas estejam tomando conta de mim,
posso ver em seu olhar tão azul que o confundo e não entende o que digo.
Sou enrolada em um roupão e carregada até a cama. Deixada lá por alguns
instantes quando ele volta para o banheiro e retorna de lá com outra toalha
que enxuga meus pés e pernas até o joelho.
— Não tenho remédio para infarto, se seu coração falhar aqui irá
morrer, acho melhor chamar o helicóptero e levá-la para segurança da sua
família. — Seus olhos vasculham meu rosto, ele está preocupado e inquieto.
— Anônimus — chamo, e quando sua atenção se volta a mim
prossigo. — Não vou infartar, é apenas a dor da lembrança, estava perdida
em meus pensamentos e me recordando da dor de ter minhas costas
queimadas.
O observo inclinar a cabeça como sempre faz quando sonda algo
que não entende, respirando fundo ele se levanta.
— Vou buscar a água para que tome seu remédio. — Antes que lhe
diga algo ele sai, não entendo por que nunca pega a água no frigobar do
quarto que com certeza está abastecido.
Estico meu braço pegando o comprimido e deixando-o entre os
dentes quando o vejo voltar com o copo nas mãos.
— Beba. — Obedeço a sua ordem e sua voz agora parece mais
firme do que estava segundos atrás.
— O que acha de começarmos a estudar?
— Não, precisa descansar.
— É tudo que tenho feito.
— Não está sendo o suficiente e não ouse me desobedecer, posso
corrigir você.
Sua ameaça me paralisa e ele percebe isso.
— Vou trazer algo para que coma, já está tarde.
— O que é isso que vejo em seus olhos? Planeja algo?
— Além de matar você a todo segundo? Não.
— Sabe, Anônimus, uma coisa que aprendi em todos os anos
convivendo com alguém como o meu pai e meu irmão é que cada um deles
tem um tique diferente quando mente ou omite algo.
— Já te disse que não minto. — Sua frase é um rosnado.
— Então omite.
Seu olhar para mim agora é mortal, Anônimus não parece nem um
pouco disposto a recuar.
Quando a encaro fecho minhas mãos em punho, já está sendo o
maldito inferno repassar todas as palavras que o mestre me disse das quais
eu discordo, homens como eu não nasceram para ter uma pessoa, por que
justo eu seria agraciado com algo de bom?
As lembranças dele falando para mim que poderíamos nos
reencontrar em algum momento também fazem meu corpo ferver, mas não
como ela faz. De uma forma diferente eu quero rasgar sua garganta com os
dentes e não meter meu pau em seu rabo, cresci acreditando que ele fazia o
que fazia por não ter escolhas, talvez com essa liberdade que o mestre
insiste em me dar e aprendendo a ler e escrever com Morgana posso buscá-
lo, rastreá-lo e esquartejá-lo.
Sigo até a cozinha, decido cozinhar carne ensopada com legumes, é
algo que aprendi com alguns soldados da Triglav quando estávamos em
incursões pelo mundo, alguns deles ouviam músicas e eu costumava
observá-los, de tanto vê-los cozinhar gravei a sequência das coisas e um dia
testei na minha casa junto com as coisas que acreditava ser por se parecer
com o que ele colocava na panela. O gosto de fato não era idêntico, mas era
gostoso, e quem sabe Morgana também goste.
Pego tudo que encontro congelado e em pequenos pacotes da
mesma forma que é estocado em minha morada e começo a lavá-los em
uma peneira, logo eles se soltam dos outros, a carne eu já tinha tirado do
freezer e está descongelada. Numa panela grossa de ferro jogo óleo e selo a
carne picada em quadrados, quando todos os lados estão dourados, jogo
cebola, alho e um talo que não sei o nome picado, esses talos são
congelados inteiros, são verdes e tem gosto bom. Misturo tudo e sigo até os
temperos que são muitos e variados, pego os que têm cheiro bom e parecem
combinar com carne pela cor e vou adicionando pequenas quantidades na
panela. Jogo as verduras picadas, coloco água até cobrir a carne, acrescento
sal jogando um pouco do caldo na palma da mão como ele fazia para testar
e gosto do que provo. Tampo a panela e deixo ferver até secar, como não sei
o tempo que deixo, fico sempre analisando vez ou outra até que esteja tudo
macio.
Sentado, encarando a panela repasso aquele sonho maldito, aquela
lembrança do tempo em que vivi no inferno, até que fosse levado ao mestre
Damian. Passo minhas mãos pelas coxas que estão tampadas sob o tecido e
posso recordar do dia em que ganhei as marcas que tenho nelas, alguns
anéis ondulados que surgiram após os grandes cortes que o mestre me
causou como castigo após uma briga entre os Obscuros. Havíamos acabado
de chegar em suas mãos, todos estavam inquietos e incontidos, mas aquele
olhar, aquele maldito olhar me ameaçava, precisava estabelecer limites e foi
assim que o matei e ganhei o respeito de todos, mas não me vi livre das
mãos perversas do Anjo do Caos.
(...)
Havia acabado de acordar após a pancada na cabeça que ganhei
quando a luz se acendeu, estava nu e perdido, quando meus olhos se
abriram percebi que não estava mais no lugar de sempre. Era um lugar
claro que doíam minhas vistas e fazia com que ela ardesse, rastejei até a
parede mais próxima e desocupada, ainda existiam alguns de nós que
estavam desacordados e outros prestavam atenção em nós. Vestidos com
vestes pretas e máscaras de demônio vermelhas como as que usavam onde
eu ficava.
Tentando me acostumar com tudo, até mesmo com a conversa que
vem do outro lado do lugar, enfio minha cabeça entre as pernas e me
mantenho alerta, ainda sentindo a dor na minha cabeça latejar e com meu
corpo com marcas do sangue dele.
Penso que possa ter morrido, quem consegue sobreviver com duas
facas cravadas em suas costas sendo usadas como apoio enquanto tem seu
rabo invadido de forma furiosa?
O tempo segue passando e mais e mais de nós continuamos a
acordar, olho em volta vez ou outra buscando meus irmãos, quem sabe não
aparecem por aqui, seria muito mais fácil se estivéssemos juntos. Quando
encaro o homem na minha diagonal percebo que passa a língua nos lábios
enquanto segura o pau, movimentando-o de forma frenética e me olhando.
Imagino minha mão invadindo seu corpo e arrancando seus órgãos
para que jamais me olhe daquela forma.
Ele goza algumas vezes com o olhar fixo nos meus, ninguém parece
se importar, nem mesmo os homens de preto, incontido e alucinado o
homem com longos cabelos pretos e com o corpo cheio de marcas fica em
pé rumando em minha direção.
— Eu quero foder com você, meu pau precisa de um buraco e será o
seu. — Sou puxado pelo pé enquanto meu corpo desliza sendo esfolado pelo
piso grosso.
Não falo nada, nunca falamos, mas não quer dizer que não lutaria,
ninguém jamais montaria em mim sem que eu lutasse antes, mesmo que isso
me levasse à morte. Girando meu corpo acerto seu joelho com um chute
fazendo com que caia de joelhos no chão, um gancho desliza até mim como
se alguém estivesse disposto a ver até onde iríamos.
Com seu pau duro e rosnando furioso ele se lança em minha direção
com o gancho preso em minha mão e a outra ponta curvada no meu
antebraço, desfiro um golpe em sua garganta cravando o gancho nela,
fazendo com que um grito ecoe e ele volte novamente ao chão. Sobre gritos
eufóricos e que parecem ter atiçado todos os demônios presentes na sala
com o cheiro do sangue quente que escorre, recuo novamente até a parede
enquanto o corpo dele é atacado pelos outros.
Sua boca e seu rabo começam a ser fodidos como eu e meus irmãos
fazíamos nas máquinas e nas salas de alimentação. Um após o outro goza
em seus buracos dando lugar ao próximo, quando a porta se abre e ele
aparece completamente marcado com tinta e olhos tão negros como a noite
usando apenas uma camiseta branca que não cobre as marcas em sua pele,
calças e sapatos, muito diferente de todos nós.
— Obscuros! — Sua voz grossa e assassina paralisa a todos aqueles
que se moviam, inclusive dois deles que ainda fodem o homem no chão. —
Quem começou? — questiona e um dos homens vestidos de preto fala baixo
em seu ouvido, então seu olhar se crava em mim que ainda seguro o
gancho na mão.
O vejo caminhar até mim com o olhar preso ao meu.
— De pé! — Sua voz é trovejante e impossível de não obedecer. —
Eu sou o Anjo do Caos, eu os livrei da morte e os resgatei das mãos
daquele que os criou, mas não irei tolerar insubordinação e que não sejam
leais uns aos outros, ninguém fode o rabo de ninguém aqui sem permissão,
ninguém toca ninguém sem permissão. Podem fazer orgias e ter orgasmos
por horas, apenas com o consentimento daquele que estiver na cama com
você.
Questiono-me o que seria consentimento, e não entendo o que é
cama, mas não falo nada.
— Todos me entendem? — os vejo concordar. — Agora você vai
aprender que não pode assassinar ninguém entre os seus, é um Obscuro e
me deve obediência.
Num piscar de olhos duas tiras são envolvidas em minhas pernas,
uma em cada uma delas que é puxada de uma só vez, a dor que me toma é
tão forte que me faz tombar de cara no chão gritando até que minha
garganta sangre.
— Isso é apenas um aviso do que pode acontecer com aqueles que
imaginarem ter algum tipo de poder aqui, vocês me obedecem e eu os
alimento, não existe outra forma disso dar certo sem ser assim, qualquer
outro que desejar algo além disso me informe, e eu envio sua maldita alma
ao inferno apenas com um tiro na testa.
Ele sai dali sem nem ao menos olhar para trás quando meu corpo é
carregado para longe, quando finalmente tudo acaba, a cicatriz fica como
uma lembrança de jamais desobedecer ao mestre e de que minha lealdade e
obediência sempre seriam sua.
(...)

— Anônimus... — Desperto das minhas lembranças quando a voz


dela me alcança.
— Oi.
— Eu disse que o cheiro está bom e foi me buscar lá no quarto.
A encaro enquanto fala, então volto a mim entendendo que não
estou mais lá e sim aqui, lutando contra as malditas lembranças, ansiando
ser reiniciado pelo meu atual mestre.
Capítulo 54

Por quase cinco minutos tento trazê-lo de volta à realidade e quando


finalmente foca seu olhar em mim, eles estão mortos, as grandes esferas
azuis dão lugar ao preto de sua íris sombria e obscura. Sem dizer nada se
ergue no banco seguindo até a panela e vistoriando se tudo está conforme
deseja.
Antes que consiga ajudá-lo sou impedida por ele que me senta onde
estava antes e começa a colocar tudo na minha frente. Anônimus faz tudo
no automático, como se ainda estivesse preso nas suas lembranças.
Comemos sem conversar e seus olhos estão focados em algum ponto
imaginário na bancada.
Quando informo que acabei sou pega nos braços e levada até seu
quarto, ele deixa tudo escuro, e é como se eu depois de ter passado um
grande período dormindo precisasse dormir mais. Não questiono nada, mas
o medo parece querer me dominar, o ouço sair, já que o quarto inteiro está
na mais profunda escuridão. Assim que a porta se fecha acendo a luz do
abajur respirando com dificuldade, tentando me controlar, sinto que preciso
recuar, talvez deixar tudo para lá.
“Nada disso.”
— Mas que inferno, Morgana, não vai dar certo.
“Como não? Estamos nisso juntas, você o quer tanto quanto eu o
quero.”
Esfrego meu rosto, cansada, não é como se um homem como ele
pudesse mudar.
— Ele não vai ser um príncipe encantado.
“Eu não quero o maldito príncipe e confie em mim, nem você,
queremos o lobo mal, queremos o demônio que habita nas profundezas,
aquele que marca nossos corpos e reivindica nossas almas marcando a
ferro nossas peles, assim como já fez com nossos corações.”
— Sabe que não sou o suficiente para ele, sabe que isso jamais será
bom para mim.
“Eu vi vocês transando, confie em mim, ele estava controlando os
demônios dele para não te machucar, se isso não for a prova de que algo
nele está mudando não sei o que é.”
— Só não quero criar mais esperanças e quando sairmos daqui ele
desapareça, pode apenas estar nos usando, não é como se tudo fosse de fato
importante para ele. Anônimus segue as ordens de Atos, sempre será leal e
obediente, isso é o que nos mantêm vivas, nada além disso.
“Então usaremos isso a nosso favor, não pode recuar agora, se eu
assumir ele não irá baixar a guarda como está fazendo, confie no que
sentimos, Morg, ele será nosso da forma como precisamos que seja.”
— Não sei por que ainda confio e tenho esperança no que diz.
“Porque no fundo sabe tão bem quanto eu que assim como ele, não
somos normais.”
Respiro fundo sem dizer mais nada, talvez ela esteja certa e tudo
isso seja apenas o medo falando mais alto.
Meu telefone toca e nem mesmo havia visto que estava aqui, quando
vejo quem é meu sorriso se alarga.
— Minha Morg.
— Oi, Dom. Estou com saudades.
— Eu também sinto muita saudade. Como estão as coisas por aí?
— Calmas, mas parece que sentiu que não estava bem, o medo
estava querendo me dominar.
— Senti algo estranho e decidi ligar, quer que eu largue tudo e vá
buscá-la?
— Não, por favor, apenas se cuide. Ainda está na Albânia?
— Sim, estou seguindo uns rastros, precisamos destruir esses
desgraçados o quanto antes.
— E sua pessoa, conseguiu finalmente mostrar a ela o homem que
é?
— Não vamos focar nisso agora, minha princesa, logo não vai
precisar mais estar escondida, então voltaremos para casa. Como está o
demônio?
— Estranho há algumas horas, parece perdido em suas memórias,
seu olhar está morto, muito diferente de tudo que já vi, não parecia conter
sentimento algum existente nele.
— E antes existia?
— Sim, fúria, perversão, confusão, conflito, tudo de tempestuoso e
inquietante, agora não existe nada.
— Morg, Anônimus é um Obscuro, não vai acontecer de um belo dia
ele acordar colhendo flores e cantando. — Suas palavras me entristecem.
— Mas não queria que fosse assim, é como se ele tivesse
mergulhado em um grande vazio.
— Minha princesa, sei que está segura aí, mas me diga, quer que eu
busque vocês? — Damon sempre nos trata com o cuidado de separá-la de
mim, entendendo que somos pessoas distintas que habitam o mesmo corpo.
— Não, faça o que precisa ser feito. — Respiro fundo sentindo a
calma me invadir ao ouvir sua voz. — Como estão nossos pais? Sinto
saudades deles.
— Acho que nenhum deles imaginava que após a aposentadoria
precisariam voltar à ativa contra a Máfia Albanesa, mas ambos estão bem,
todos protegidos, eu os vi em ação, Morg, os quatro anjos pareciam uma
explosão atômica e derramavam tanto sangue que assustou os malditos que
recuaram.
— Ele consegue ser pior do que você? — Seu sorriso baixo é
engraçado. — Está fumando?
— Sim para as duas respostas, acha que aprendi a ser quem sou
apenas por ter nascido seu filho? Confie em mim, foram anos de
ensinamentos e sangue derramado.
— Não sei como conseguem, me arrepia só de pensar.
— Por isso te protegemos. Como ela está?
— Inquieta, tive medo e quis recuar, ela acredita nele, Dom, mas
tenho medo de continuar apostando tudo e no fim ele apenas desaparecer.
— A vida é assim, Morg, como uma grande mesa de pôquer, temos
as cartas e o dinheiro, às vezes a banca vence, mas ninguém deixa de
apostar por isso, se Anônimus não ver a preciosidade que é ter vocês na
vida dele, quem sai perdendo é ele.
— Gostaria de ter a mesma força que vocês, seria muito mais fácil
lidar com tudo, mas o medo sempre me domina, não consigo nem mesmo
me aproximar dos meus tios e primos, só de pensar sinto vontade de fugir,
mas com ele isso não existe mais, isso é um sinal, não é?
— Isso é o que deseja que seja, sentimentos não são pesos, Morg, a
gente sente e isso nos dá força, se quiser recuar, recue, não tenha vergonha
de dizer não, todos nós iremos entender, menos nosso pai, é claro, ele vai
desejar matar Anônimus de qualquer forma. — Dom sorri e eu me arrepio
inteira.
— Não quero que isso aconteça, ele se manteve afastado por todo
esse tempo, fomos nós quem impusemos nossa presença, se alguém for
castigado que seja eu e ela.
— Não é assim que funciona, pequena, mas não se preocupe com
isso.
— Não quero que ele sofra mais do que já sofreu, Damon.
— Isso mostra apenas a pessoa bondosa que você é, Morg,
consegue enxergar algo bom até mesmo nele.
— Existe, eu sei que existe, Anônimus não conheceu nada de bom,
foi tratado como um monstro desde sempre, foi isso que soube e sei que é
verdade. Concordo que ele não irá colher flores e sair cantando, talvez
nunca tenha ouvido uma música na vida, mas não quero que continue
assim. Atos poderia dispensá-lo, ele já devotou tudo que tinha à Triglav. —
Sinto que poderia fazer mais por ele, e se preciso fosse pediria a Atos que o
libertasse.
— Morg, Anônimus é livre desde que acordou do coma, ele não
trabalha mais para a Triglav, mas não sabe o que fazer além de matar e ser
cruel, não conhece nada diferente disso, então de fato é impossível que
escolha algo diferente do que vive, já que não conhece outra coisa. Você
pode lhe mostrar possibilidades, abrir os olhos dele para o mundo, alguém
que só conhece a escuridão jamais desejará a luz.
Fico em silêncio com as palavras do meu irmão, é isso! Posso dar a
ele uma escolha.
— Morg, Princesa, ainda está aí?
— Sim.
— Preciso ir, se algo acontecer acione o GPS que nós iremos até
você.
— Eu te amo, Dom.
— Nunca mais que eu, minha princesinha de cristal. — Sorrio da
forma com que me chama, Damon é a pessoa mais sensível e protetora que
conheço, mas quem sou eu para dizer algo desse tipo, só conheço de fato
meu pai e meu irmão.
Encerrando a ligação desço lentamente da cama seguindo até o
closet, sei que em algum lugar por aqui tem um tablet de controle central,
mas que também serve para pesquisas.
Capítulo 55

Estou voltando ao quarto quando ouço vozes, é inevitável não


escutar atrás da porta as palavras de Morgana, sorrio ao saber que ela
acredita que existe algo bom em mim, não sabe o quanto me controlo para
não arrancar seus membros e destroçar seus restos mortais, quem sabe abrir
novos buracos em seu corpo e me deliciar com a devastação que sei causar
tão bem.
Sinto o fogo do inferno queimar em meu peito e as palavras do
mestre voltando à minha cabeça. Esfrego meu rosto e percebo que estou
sem a minha balaclava e minha máscara, as tirei assim que saí do quarto,
estava me sentindo sufocar com elas. Saio dali e caminho para o outro lado
da casa que também tem grandes paredes de vidro onde meu reflexo parece
sorrir de mim, continuo não o reconhecendo e até mesmo o desejo de
revelá-lo àquela versão da Morgana parece não existir quando o encaro de
volta. Olhos azuis, uma grande cicatriz que corta metade do meu rosto e a
cabeça que sempre mantenho raspada. Quando me vi a primeira vez em um
espelho sem a máscara de demônio que via em todos os reflexos por onde
passava não entendia nada. O novo mestre me perguntou meu nome, minha
idade e há quanto tempo estava onde estava, para todas essas perguntas eu
não obtinha respostas, pelo que ele me informou o lugar em que estava foi
destruído, eu não existia de forma alguma. Ninguém sabe como apareci ali
ou até mesmo quais eram os motivos de ter algo exclusivo para, como eu
informei, sete de nós. Como informei isso? Juntei a quantidade de homens
para que ele entendesse a quantidade de irmãos que eu tinha, no final,
ninguém conseguia entender como fomos parar ali.
Respirando fundo chacoalho minha cabeça tentando focar onde
estou e não caminhar pelas lembranças que tenho.
Analisando todo o lugar decido treinar, aqui onde estou é uma
academia completa e meu foco está no saco de pancadas. Assim que me
posiciono à sua frente percebo o grande espelho que me revela a cada vez
que o encaro, então vou atrás da minha balaclava, logo que a pego retorno
começando finalmente o socar, as lembranças me inundam e tudo que
passei a entender depois dali foi de fácil absorção, ninguém além de mim
foi privado de ler e escrever, todos tinham um nome, algo que aprendi com
eles também. Por raiva não permiti que ninguém me ensinasse mesmo que
desejasse aquilo, foquei em ser bom nas torturas e nas mortes, aos poucos
comecei a entender algumas dinâmicas e ensinei aos demais a
conversarmos apenas de nos olhar. No começo foi difícil, mas logo
pegamos o jeito, ser um Obscuro era permanecer calado, analisar tudo ao
nosso redor e obedecer. Nossa recompensa era matar e foder todas as almas
que eram enviadas até nós.
A voz dele ecoa pela minha cabeça, sinto suas mãos em mim e a
forma com que seus rosnados ecoavam na escuridão, e minha raiva
aumenta. Meus socos parecem desejar acertá-lo, aquelas facas cravadas em
suas costas não eram nada perto do que tinha preparado para ele. Por muito
tempo pensei que meus irmãos apareceriam a qualquer momento, mas hoje
sei que estão todos mortos, até mesmo ele deve estar e me odeio por não ter
dado um fim nele com minhas próprias mãos.
Os socos passam a queimar e meu corpo pinga suor, a fúria me
domina completamente então o fogo em meu peito parece aumentar quando
me lembro das duas versões de Morgana. Uma quero destruir a todo custo e
mesmo arrancando suas asas sei que ela é minha, a outra me incomoda
muito mais, até porque esta anseio apenas proteger, é delicada demais,
parece que se apertar um pouco mais forte ela vai quebrar e não desejo
perdê-la, pelo contrário, sei que ela me quer, mas me incomoda pertencer a
alguém como ela. Sou um demônio, alguém que gosta de ser quem é, que é
tão cruel a ponto de esmagar até mesmo o que desejo que seja meu.
Sinto que pertenço a elas também, só não entendo como funcionaria,
aquele olhar merece mais que eu posso dar, a forma com que me olha
parece enxergar meu inferno como se houvesse um grande talho em meu
peito e através dele ela visse toda a podridão em mim, todas as minhas
piores versões, e isso me envergonha, nunca senti tal sentimento. Quero
apenas me cobrir e me esconder quando seus olhos estão nos meus, não
consigo nem mesmo ser cruel com ela, permito que me use como deseja
enquanto sinto o prazer me tomar de uma forma que só a sua outra versão
me dá e eu recebo de bom grado, contendo todos os gritos dos meus
demônios que imploram para devastá-la.
Quando a encarei presa aos ganchos e suas lágrimas rolavam, queria
ser eu em seu lugar, porque machucá-la me dói como ferro quente, isso me
inquieta, não pode ser fingimento o que ambas demonstram. Todos os meus
questionamentos vem à tona, não é mentira o que me disse e se soubesse
pesquisar aprenderia mais sobre a tal palavra que disse e entenderia tudo
sobre ela.
Odeio-me por não ter me permitido aprender quando insistiam em
me ensinar, aumento os socos e os gritos furiosos que solto ecoam pelo
lugar, jamais seria alguém digno para a sua versão doce e medrosa, eu não
sou nada. Enquanto soco furioso sem parar sentindo meus dedos arderem e
vendo meu sangue escorrer, sinto que se aproxima de mim, é sempre assim,
meu corpo reage ao seu, então fecho meus olhos respirando fundo ofegante
pelo esforço que fiz, perdi a noção do tempo, antes de me virar seus braços
me envolvem tencionando todos os meus músculos.
— Por favor, não se machuque mais. Ouvi seus gritos e me
desesperei, acreditei que estávamos em perigo. — Não tenho reação quanto
a isso, mas seu toque faz meu pau pulsar.
— Libélula, está em perigo desde o dia que coloquei meus olhos em
você.
Viro-me soltando seus braços do meu corpo e foco meus olhos nos
seus, é como um cervo paralisado e curioso olhando fixamente para faróis
de carro em uma autoestrada.
— Nunca tive medo de você dessa forma.
— Deveria. — Aliso meus dedos ensanguentados em seu rosto
manchando-o de sangue. — Não sabe a vontade que tenho de machucar
você.
— Se quiser posso chamá-la.
— Não quero machucar a ela, sei que ela gosta do que faço, quero
machucar você. Quero arrancar esse olhar doce que tem esperança de que
me tornarei um homem que jamais serei, quero arrancar do seu peito
qualquer sentimento bom, tirar toda a luz que emana de você e levá-la
arrastada à escuridão. Quero sentir que agoniza enquanto arranco com os
dentes suas carnes e então quando não existir em você nada além de um
amontoado de dor e sofrimento, talvez, apenas talvez possa te pertencer.
— Não gosto de sentir dor ou de ser machucada, me dói pensar que
isso viria do homem que meu coração escolheu amar.
— Coração tolo esse seu. — Coloco minha mão sobre seu peito
sentindo-o bater descompassado pelas minhas palavras. — Não existe amor
no mundo, pequena inocente, no meu mundo não existe nada do que busca,
não será comigo que encontrará o conforto que deseja.
— Posso te mostrar que amar é bom, eu tenho fé nisso.
— Se eu permitir que me mostre e ao final disso nada mudar,
promete se afastar de mim?
— Não quero me manter longe.
— Se não prometer não permito que tente me ensinar.
Olhando em seus olhos azuis quase brancos desejo que ela prometa,
não serei jamais alguém que me ajoelha à sua frente e lhe faz declarações
de amor como já vi o mestre fazer, jamais lhe direi eu te amo, nunca irei lhe
mostrar meu rosto, mesmo que esse desejo por muitas vezes ronde minha
mente, posso lidar com aquela psicopata sadomasoquista, mas não com essa
versão.
— Eu prometo. — O sussurrar de suas palavras selam um pacto
entre nós.
— Eu lhe darei todos os dias que tivermos aqui, se ao final deles
nada mudar você irá embora sem olhar para trás, me comprometo a não lhe
causar dor e você promete cumprir a sua promessa. — Volto com minha
mão ao seu rosto e ela fecha seus olhos.
— Parece que está fazendo tudo isso como se soubesse que nada
daria certo ao final.
— Não dará, tenho ciência disso.
— Me agarro à esperança que tenho no meu coração, sei que o amor
é resistente e teimoso, você irá conhecê-lo.
— Jamais existirá vindo de mim uma declaração dessa, pequena
libélula.
— Sei que conseguirá se declarar ainda que não use as palavras —
afirma confiante.
Sua mão deslizando pelo meu abdômen molhado e cheio de
cicatrizes arrepia meus pelos e quase parte ao meio meu pau.
— Está coberta demais. — Enfio as mãos na gola de sua camisa e
puxo rasgando o tecido com toda a força que uso, Morgana fica nua à
minha frente e salivo.
— Anônimus. — Meu nome sai como um clamor de seus lábios
vermelhos.
Sem que espere enfio a mão por trás suspendendo-a, mesmo
surpresa ela envolve as pernas em minha cintura e com seu corpo colado ao
meu ela me beija, sua língua quente na minha, seu corpo pequeno no meu
me faz grunhir, a beijo desesperado, enquanto batalho internamente contra
meus demônios que querem que arranque dela tiras de seu couro enquanto
gritam que ela é nossa.
Caminhando com ela em meus braços colo seu corpo contra o
grande paredão de vidro, desesperado para me enterrar nela.
— Quer meu pau em sua boceta?
— Sim. — Mordo seus mamilos sentindo suas unhas rasgarem
minha pele.
Minha boca percorre cada pedaço seu enquanto a mantenho
pressionada contra a parede de vidro, então começo a abrir minha calça
colocando meu pau para fora, gostaria de fundir sua pele na minha e fazer
com que meu pau jamais saísse de sua boceta, esse pensamento me assusta
e me confunde, com ela é sempre assim, uma mistura de sensações que
nunca senti.
— Anônimus! — O grito seguido da mordida fraca em meu ombro
vem quando soco de uma só vez me enfiando nela, sentindo o calor do seu
corpo.
Ergo suas mãos prendendo-as com apenas uma das minhas, seu
corpo se esfregando no meu. Morgana rebola como pode, gemendo de uma
forma deliciosa pedindo mais, foco minha atenção exclusivamente nela, sei
que seus pontos repuxam e podem estourar, mas isso é o que menos me
importa no momento, até mesmo as marcas arroxeadas que estão ficando
verdes e depois ficarão amareladas a tornam sexy.
— Por favor, preciso de mais. — A forma delicada e manhosa com
que implora me torna ainda mais alucinado, foder enquanto alguém quer
mais de você é ainda melhor por ser com essa sua versão.
— Minha, enquanto estivermos aqui você me pertence, eu te
pertenço e não discutiremos mais sobre isso.
Seguro seu pescoço metendo ainda mais forte, seus peitos pulando e
roçando em minha pele suada e quente faz tudo ferver ainda mais dentro de
mim, flashes de caos e destruição surgem em minha mente, cada estocada
clama a mim por sangue, mas não com ela, jamais com ela.
Meu pau segue batendo fundo, furioso, enquanto minha mente trava
a maior batalha do mundo, a puxo para um beijo quem sabe seu sabor não
nuble minha mente e leve embora o mal que quero lhe causar.
Solto suas mãos que vão para o meu rosto e esse toque me faz
grunhir, o barulho da fivela sendo movimentada pelo meu corpo me lembra
algumas surras que levei, rosno alto para não ir por esse caminho.
— Vou gozar, não suporto mais. — Seu grito dispara em mim um
sentimento de posse aumentando meus movimentos e agora sou eu quem
grito alto sentindo tudo ao mesmo tempo em que tento abafar os pedidos da
minha mente que pedem que a machuque.
Gemo num longo e grave, sentindo meu pau pulsar violentamente
lançando jatos de esperma em sua boceta.
Aperto seu corpo com meus braços ainda movimentando meus
quadris desejando jamais deixar de sentir o que apenas elas me entregam.
Capítulo 56

Estou deitada sobre seu corpo, sentindo cada pedacinho do meu


ainda vibrar, não consegui dormir e ele não permitiu que me afastasse desde
o momento em que me tirou do banho e me trouxe para cá.
Vejo o dia amanhecer ouvindo seu coração bater, Anônimus disse
que me pertencia enquanto estivéssemos aqui, não sei como será quando
tudo isso acabar e seguirmos viagem, mas farei o que puder para que nunca
mais se afaste de mim. Penso em algo que sempre tive vontade de fazer
com ele, mas será que entenderia o meu pedido, me mexo um pouco e com
cuidado para que ele não acorde.
— Inquieta?
— Achei que estivesse dormindo.
— Não, acordei tem alguns minutos, mas pelo visto algo te
incomoda mais do que estar na cama nos braços de alguém que deseja a
todo momento te causar dor.
— Disse que me pertencia enquanto estivéssemos aqui.
— Não retiro o que disse.
— Se te pedir algo faria?
— Sim, pertenço a você, Morgana, o que desejar de mim neste
momento te darei.
— Quero uma aliança de sangue.
Seus olhos azuis me encaram, surpreso, sei que ele sabe o que isso
significa.
— Sabe que não tem valor algum lá fora, não sabe? Nem mesmo
existo de fato e o mestre poderia me matar, aliás, ele pode me matar quando
informar o que fizemos desde o momento em que olhei para você.
— Posso intervir, ninguém tocaria no meu elo.
— Morgana...
— Não me peça para recuar, tenho a sua palavra, talvez consiga te
mostrar o que desejo e quem sabe assim você decida ficar ao invés de ir. —
Minhas palavras parecem de alguém que implora e são, posso jamais o ter
quando sair daqui, então decido ter tudo que sempre quis ter dele.
— Ok! — Sei que concorda porque jamais voltaria atrás em suas
palavras, posso ver algo desconhecido em seus olhos. Anônimus é uma
parede fria e parece intransponível, mas seus olhos revelam tudo e tenho
aprendido a ler através deles.
— Acho que podemos começar com as aulas.
— Quer mesmo me ensinar?
— Sim, existem algumas coisas que quero lhe mostrar antes que
tudo isso acabe.
Sem dizer mais nada ele concorda, então começo com meu plano de
levar o homem sob mim em direção à luz.

Os dias começam a passar comigo o ensinando a ler e a escrever,


Anônimus tem uma facilidade enorme de aprender, é como se tudo sempre
estivesse ali e precisa apenas ser estimulado. Ele aprende a escrever seu
nome e a ler ainda que de forma lenta, o ensino a enviar e mandar
mensagens e achar os contatos em seu telefone, ele sabe ler meu nome e o
de Atos, sua facilidade em gravar as coisas o ajuda muito.
Em um dia de muita chuva Atos liga e algo que ele diz deixa
Anônimus inquieto e quando questiono, ele diz que o mestre novamente
disse que ele está aposentado. Pergunto o que ele irá fazer com essa
informação e ele diz que nem mesmo sabe viver fora dos muros do
condomínio em que moramos, dói em mim e a vergonha em seu olhar dói
mais, não é como se ele tivesse tido alguma escolha durante toda a sua vida.
Ele sempre dorme sentado, nu e com a cabeça entre as pernas, raras
são as vezes que meu corpo pode repousar sobre o seu, ele parece viver uma
batalha interna entre tudo que lhe mostro e tudo a que ele se agarra, afinal é
mais fácil se manter no lugar que conhece. Apresento a ele através do tablet
imagens dos locais do mundo que eu também só conheço por fotos e que
Morgana já foi com nossa família.
O primeiro sorriso que ele me dá arrebata minha alma, estamos
falando sobre algo banal e eu lhe faço cócegas, sua gargalhada é tão linda
que até ele se assusta, é irreal o que estamos vivendo, ele realmente havia
trancafiado todo seu inferno dentro dele e está disposto a entender o
simples.
Fazemos uma trilha atrás da casa que nos leva até uma cachoeira
que não sabia existir, mas que Morgana nos mostrou, tomamos banhos nus
e nos beijamos sobre a pequena queda d’água.
Tudo que vivemos marca minha alma e me agarro a isso todos os
dias para crer que ele irá ficar comigo quando chegar a hora de ir.
Passamos alguns dias cozinhando, assistindo tv e até mesmo
treinando na academia, ele me ensina algumas coisas sobre autodefesa e eu
revelo meus sonhos mais profundos a ele, explico sobre TDI novamente e
sobre minha fobia social, sei que entendeu que jamais iria aparecer na frente
de outras pessoas além da minha família, neste momento seus olhos ficam
curiosos, mas não me questiona nada.
É outro homem aqui comigo, um que se permite aprender e deseja
assim como eu que nada daquilo que estamos vivendo acabe, tudo que
fazemos termina conosco transando como loucos em qualquer que seja o
lugar que estivermos, mesmo que vez ou outra o pegue com os punhos
cerrados olhando para o nada, nem mesmo isso faz com que a esperança de
que nos pertencemos além daqui desapareça.
Quem sabe se eu continuar revelando a ele uma nova forma de viver
a vida Anônimus nos escolha. Por vezes pergunto se ele deseja ser
alimentado da forma como sabia que estava acostumado, e todas as vezes
em que foi questionado sua resposta foi a mesma, não.
Mas nem mesmo essa bolha em que consegui nos enfiar nos livraria
da realidade que eu sei que irá bater a qualquer momento à minha porta e
ela está estourando neste momento bem à minha frente.
— Sim, mestre. — Seu olhar encontra o meu e posso ver que o
Anônimus que conheci por quase dois meses aqui, acaba de desaparecer. —
Estaremos prontos. — Encerra a ligação e me olha sem expressar nada do
que estava acostumada. — Finalmente a Triglav conseguiu dar um basta
nos ataques da Kompania Bello, Isaac está nos esperando em sua casa,
parece que Damon tem coisas a revelar. O mestre disse que precisa de mim.
— Sua voz voltou a ser a mesma de antes.
Engolindo a grande bola que se forma em minha garganta decido
fazer uma última coisa com ele aqui.
— Podemos ter nossa aliança de sangue?
Meu questionamento o surpreende e o costume que havia
desaparecido está de volta, Anônimus inclina um pouco a cabeça para o
lado, curioso com a minha pergunta, mas logo se recompõe respondendo
apenas uma palavra.
— Sim.
Respiro fundo dizendo que o espero em alguns minutos na
academia, aquele lugar foi onde passamos a maior parte do tempo juntos e
existe muitas memórias boas lá, e eu preciso de mais uma.
Capítulo 57

Trancafio o mal em mim por todos os dias em que me dispus ser


encaminhado por Morgana para a sua luz, sabia que algo em mim estava
mudando, mas não conseguia nominar. Também tenho ciência de que aqui é
muito diferente de lá, devia minha vida ao mestre e não conseguia manter
por muito mais tempo os meus demônios trancafiados, eles anseiam por
sangue e pela agonia da dor. Por dias imaginei como seria quando desejasse
assassinar e ser o monstro que sou. Sei que não serei cruel com ela, não
com ela, sei que tocar outra pessoa além dela será não só o meu fim, sei que
quando tudo acabar a culpa irá me devastar, mas não mais do que destruirá
a ela. Em momento algum desejei que sofresse e me mantive firme no
propósito de me satisfazer apenas com o que ela tinha para mim, e ainda
que me oferecesse a sua pior versão, algo me prende a essa, eu sabia que
não a teria por muito tempo e estava disposto a aproveitar.
Guardarei comigo todos os seus sorrisos e os que ela arrancou de
mim, seus ensinamentos e a forma com que alisava meu rosto ainda que
estivesse com a máscara ou a balaclava, mas sei que nos últimos dias ela
vinha notando meu esforço em manter tudo isso acontecendo, estava a um
fio de sucumbir e poderia sim matá-la.
Por noites não dormi e por vezes desejei ser alimentado pela sua
versão maluca, mas sempre que negava e dizia não, seus olhos brilhavam de
uma forma que me iluminava e então eu mantinha a boca sempre seca e o
corpo sempre agonizando, eu sou uma maldita mentira.
Quando o telefone toca e vejo que é o mestre meus demônios
festejam, sabem que voltaremos à vida que tínhamos onde nada importa
além de nos saciar. Estou no meio da nossa conversa quando sinto que se
aproxima e me viro para encará-la.
— Tem certeza do que me pede? Sabe de tudo que irá acontecer
quando começarmos a te reiniciar, não se lembrará de nada sobre ela,
voltará a ser um demônio incontido e irei reintegrá-lo à Triglav, será o
último Obscuro e segundo sua vontade viverá assim até a sua morte. —
Engulo seco tornando-se mais difícil responder com seus olhos presos aos
meus.
— Sim, mestre.
— Lamento que seja dessa forma. — Não entendo o porquê diz isso.
— Leve Morgana até a Cidade do Cabo[13], na casa do Isaac, estarei lá à
sua espera, assim que a entregar iremos para nossa primeira missão.
— Estaremos prontos.
— Espero que não se arrependa da sua decisão. — Encerra a
ligação sem que me dê tempo de responder algo.
— Finalmente a Triglav conseguiu dar um basta nos ataques da
Kompania Bello, Isaac está nos esperando em sua casa, parece que Damon
tem coisas a revelar, o mestre disse que precisa de mim. — Repasso a
informação que o mestre me revelou e seu olhar parece decepcionado, mas
a vejo arrumar a postura.
— Podemos ter nossa aliança de sangue? — Sinto o tiro de sua
pergunta atravessar meu peito.
Não poderia lhe negar isso, mas não é certo dar algo tão grandioso
sabendo que não irei me lembrar de nada em 24h, mas seu olhar é o que
destrói qualquer negativa e tudo que consigo responder é:
— Sim.
Sou informado que me aguarda em alguns minutos na academia,
imaginei que fossemos para lá, tudo de mais louco que vivemos todos esses
dias foi vivido exatamente ali.
Olho tudo ao meu redor, gravando cada segundo em que eu, um
demônio maldito, se permitiu viver ao lado de um anjo, alguém que insiste
em ver em mim muito mais do que jamais enxerguei e mesmo que me
esqueça de tudo isso, apenas neste momento, ainda que meus demônios
façam uma arruaça dentro da minha cabeça me permito ser o homem que
ela me transformou.
Atravesso a casa nu, usando apenas a minha máscara e balaclava, é
com ela que desejo que Morgana se una a mim com isso que sou e sempre
serei. A porta da academia e os relâmpagos clareiam todo o lugar, ela está
no centro da sala dentro de um círculo de fogo que com certeza ela fez com
querosene pelo cheiro que sinto.
— Sabe que pode incendiar tudo? — Caminho em sua direção sob
seu olhar atento.
— Não queimaria mais do que já queima aqui — aponta para seu
coração.
— Deseja morrer queimada? — Não obtenho uma resposta, apenas
suas lágrimas escorrem de seu rosto.
A vejo tremer quando se assusta com um barulho estrondoso, então
pulo o círculo de fogo aproximando-me dela. Ao analisar tudo percebo que
poderíamos nos deitar dentro dele sem nos queimar, apenas sentindo o calor
que emana.
— Está arrependida de ter escolhido a mim? — pergunto perto dela
que me olha de baixo para cima.
— Não.
— Então por que chora? — Toco seu queixo para que mantenha o
olhar nos meus.
— Sempre quis isso e agora que tenho parece irreal.
— Desejou que fosse dessa forma? Mesmo quase colocando fogo na
casa? — Sorri de minhas palavras, mas não chega aos olhos.
— Sim, todo o piso tem sistema anti chamas, eles não queimam, vê
o fio de tecido? Ele manterá o fogo como uma lamparina[14] até que nós o
apaguemos.
— Inteligente.
— Meu pai quem me ensinou.
— Estou aqui, Libélula, ensine-me como seguir.
A vejo se ajoelhar e faço o mesmo, ao seu lado vejo um punhal, um
pedaço de tecido branco e uma taça, Morgana me olha, sinto sua
expectativa com o que está por vir e tudo que consigo é alisar seu rosto
buscando manter cada detalhe dele em minha memória.
— Anônimus, está é nossa aliança de sangue, onde entrego minha
vida e minha alma em suas mãos, nos tornaremos um e nada jamais irá nos
afastar. — Suas palavras criam um aperto em meu peito. — Eu, Morgana
Izabelly Dragomir Hohenzollern-Sigmaringen Dothraki, não desejo nada
além de viver toda a minha vida ao seu lado, ninguém além de mim tem
permissão de tocá-lo, autorizando apenas a minha outra versão a ser tão sua
quanto eu, e se assim desejar a se unirem em uma aliança de sangue única e
exclusiva para vocês. A permissão de toque e proximidade também concedo
à minha família e a sua, qualquer outra pessoa além deles assinam suas
sentenças de morte, esta é a lei e jamais poderá ser revogada. — Sentindo o
aperto na minha garganta aumentar a vejo pegar a taça e colocá-la à sua
frente, logo em seguida pega o punhal deslizando em sua mão e a dor que
vejo em seus olhos me faz desejar matar quem a causa.
Respirando fundo e tentando controlar meus demônios que parecem
ainda mais incontidos, observo enquanto ela permite que seu sangue caia na
taça diante de si, quando acha suficiente envolve a ponta do pano na sua
mão, me fazendo entender que é a minha vez.
— Morgana Izabelly Dragomir Hohenzollern-Sigmaringen
Dothraki, eu, Anônimus, sigo com a nossa aliança de sangue, entrego a
minha existência em suas mãos e ainda que por algum motivo venha a me
esquecer deste momento, desejo com todo o fogo que queima em mim que
me recorde. — Sinto que lágrimas escorrem dos meus olhos,
surpreendendo-me. — Ninguém além de mim tem permissão de tocá-la,
olhá-la, desejá-la ou se aproximar sem a minha permissão, recebo as suas
duas versões e permito apenas que a sua família a toque além de mim.
Pegando o punhal, deslizo-o em minhas mãos que ainda contêm os
resquícios dos machucados da fúria descontada no saco de pancadas,
permito que o sangue escorra para o cálice se misturando ao seu e quando
acredito ser necessário envolvo a outra ponta do pano branco que me é
entregue por ela.
Acompanhando seus movimentos, ela pega o cálice fazendo
movimentos de misturar, então o leva à boca bebendo do conteúdo de nós
dois, pego o cálice de sua mão sem nunca tirar meus olhos dos seus, quando
retiro a máscara e levo a taça até os lábios engolindo todo o restante de
nosso sangue, enquanto recoloco minha máscara o punhal e o cálice são
lançados para longe por ela e nem mesmo isso me faz tirar os olhos dela,
estou hipnotizado e questionando todas as minhas decisões.
De forma delicada e sem tirar seus olhos dos meus, Morgana se
deita no chão com seus longos cabelos loiros espalhados sendo iluminados
pelo fogo, entendo o seu chamado e cubro seu corpo com o meu,
exatamente quando nossos corpos se colam sinto a dor de esquecer tudo
isso.
— Preciso de você — sussurra acomodando-me entre suas pernas e
um grunhido escapa quando sinto a cabeça do meu pau encontrar sua boceta
molhada e receptiva.
Meus olhos vasculham os seus, gravam suas reações iluminadas
pelas chamas, sem desejar perder nada deslizo lentamente e de forma
torturante em sua boceta, seus gemidos são deliciosos, seguro as nossas
mãos unidas, aquelas que estão envolvidas pelo tecido lutando bravamente
para manter o momento como está intenso e tranquilo como jamais seria
uma outra vez.
Sua mão toca a minha máscara e faz com que feche meus olhos, não
acelero meus movimentos, entro e saio devagar, me embriagando com seus
murmúrios e com a forma doce com que busca mais de mim. Seu corpo se
encaixa perfeitamente ao meu, seus toques leves em minha barriga faz o
arrepio percorrer todo o meu corpo, sigo metendo e tirando, quando colo
nossas testas desejando mergulhar naquele oceano cristalino e que me
promete tudo que jamais poderei de fato ter.
Fecho meus olhos e permito sentir pela última vez algo bom, a sua
receptividade e o seu desejo, aumento a força e não o ritmo, perdidos em
nossos corpos em volta do fogo, quando sinto o pulsar de sua boceta que me
leva a segui-la como um cão adestrado. Gozamos juntos e com tanta
intensidade que novamente me questiono se sou mesmo Anônimus, o último
Obscuro.
Capítulo 58

Acordo na cama sozinha enquanto a claridade invade meu quarto,


olho as horas e sei que em alguns minutos ele virá me chamar, falta menos
de uma hora para o helicóptero pousar e nos levar de volta à realidade.
— Gostaria de vê-lo.
“Vá até ele.”
— Não quero imaginar que não irei receber mais aquele olhar, o
mesmo que tive ontem.
“Se arrume e vá, se algo estiver fora do controle eu assumo, eu vivo
para te proteger e sabe bem disso, seguirei te escondendo do mundo e
enfrentando tudo por você.”
Sem dizer nada respiro fundo enquanto percebo que ela me observa
de longe, sigo para o banho repassando tudo que vivi até aqui, criando
coragem para deixá-lo longe de mim. Faço tudo no automático e até mesmo
penso em seguir em frente e me revelar a todos. O olhar que ela me dá me
encoraja, mas sei que não passaria da porta, sigo em direção à sala e o
encontro na cozinha de costas, apenas com a balaclava, vejo sua máscara
sobre o balcão.
— Bom dia. — Envergonhada e com medo o cumprimento e como
sempre faz, apenas acena com a cabeça.
O vejo se virar e me analisar dos pés à cabeça, Anônimus coloca
meu café em uma xícara e me serve.
— Sente-se, temos alguns minutos até precisarmos sair. — Faço o
que me pede enquanto faz o mesmo, sentando-se à minha frente.
— Será estranho não te ver todos os dias. — Sorrio de canto e ele
parece não entender. — Quando passarmos da porta não estará mais
comigo.
Sem dizer nada, apenas apreciando sua companhia continuamos a
tomar café, não precisa me dizer nada, posso ver em seus olhos que sentirá
minha falta, não me dirá nada disso em palavras, mas consigo entender seus
pequenos gestos.
Finalizamos o café e ele se levanta vindo em minha direção, quando
ouvimos o barulho da aeronave Anônimus pega sua máscara, olhando em
meus olhos segura meu rosto com as duas mãos e sem dizer nada beija a
minha testa, é demorado então envolvo sua cintura com meus braços. Nosso
abraço acontece comigo afundando meu rosto em seu peito, sinto que ele
repousa sua cabeça sobre a minha e pelo reflexo do espelho vejo a cena e
sinto vontade de jamais sair daqui.
— Pode por para mim? — pede com a voz baixa, concordo, pego o
objeto de suas mãos enquanto ele diminui um pouco sua altura então a
coloco.
— Ficou bom assim? — sondo ajeitando um pouco mais.
— Sim.
— Chegou nossa hora.
Anônimus pega minha mão e me guia para longe dali.

Não prego os olhos a noite inteira, apenas pensando e repassando


cada um dos momentos em que estivemos juntos, desde o nosso encontro
no canil até a aliança de sangue que fizemos. Sim, ela é minha, suas duas
versões. Vejo o dia clarear quando o telefone toca e é o mestre informando
que logo o helicóptero irá nos pegar. Estou tenso, com dores no corpo e
quando novamente sou questionado sobre ser reiniciado, minha resposta se
mantém a mesma.
Agora caminhando com ela até a saída sei que a qualquer momento
a Libélula perversa irá aparecer, e com ela é muito mais difícil me conter.
— Muito bonitinho caminhar assim de mãos dadas comigo. — Sua
voz contém a perversidade de sempre.
— Não era por você. — Solto sua mão parando de caminhar para
que ela siga na frente. — Não me irrite tão rápido, ainda posso libertar
todos os meus demônios em você.
O sorriso que dá é cínico e a vejo levar as mãos até seu coração,
como se sentisse algo.
— Me ofende dessa forma, mas não posso negar o quanto espero
por isso. — Pisca para mim girando nos calcanhares e caminhando em
direção à aeronave enquanto rebola a bunda de forma exagerada para me
provocar.
Logo estamos alçando voo em direção ao Aeroporto que nos levará
direto para a casa do Isaac. O piloto está sozinho como da primeira vez e
não nos dirige a palavra assim que nos informa o tempo de voo. Meu fone
desapareceu e quando olho para o lado o sorriso perverso está lá.
— Quero chupar você, fui privada por tempo demais. — Sua
perversão ferve meu sangue e seu sorriso diabólico endurece meu pau
quando o vejo, então agarro seu pescoço o apertando e trazendo seu ouvido
para perto da minha boca.
— O mantenha socado em sua garganta até que eu ordene que pare,
quando eu gozar tome tudo, não permita que nada escorra se for uma boa
libélula posso lhe dar tudo que sei que anseia. — Seus olhos são pidões e
imploram para que cumpra minhas palavras.
— Quero sentir minha pele queimar e meu corpo doer. — A forma
com que fala quase me faz rasgar sua roupa aqui mesmo.
— Vou foder você como a cadela imunda que é, a levarei ao limite,
e só vou parar quando estiver chorando, sangrando e sem forças no chão, ou
pendurada nos ganchos. — Seus olhos brilham em expectativa ansiando por
isso. — Imagino que sua boceta esteja pulsando agora.
— Muito.
— Apenas faça o que precisa fazer para ganhar o que merece.
Acomodo-me direito no banco de couro vermelho do luxuoso
interior da aeronave quando ela começa a abrir minha calça libertando meu
pau duro que já baba em antecipação, sou abocanhado urrando de prazer e
esse barulho chama atenção do piloto que me olha pelo espelho e logo foca
no que deve focar. A safada está com a bunda para cima e antes de
abocanhar meu pau lambe em provocação, seguro seus cabelos com força e
soco todo meu comprimento em sua boca até sentir o fundo dela mantendo
seu rosto preso para castigá-la. Suas unhas cravam em minhas coxas e se
não estivesse de calça com certeza rasgaria minha pele. Puxo seus cabelos
para que me encare e a vejo puxar o ar com força.
— Isso é apenas uma pequena demonstração do que vai acontecer
com você, quando estivermos a sós. — Sorrindo, ela volta a me chupar com
força a ponto de doer.
Isso me deixa insano e louco por mais, dito o ritmo forçando muitas
vezes enquanto ela engasga e baba de forma excessiva, sua mão vai até
minhas bolas e quando estou prestes a gozar ela aperta fazendo a dor
atravessar meu corpo enquanto gozo urrando. Alucinado, a vejo tomar tudo
sem deixar que nada se perca, Morgana não para e sei com certeza que deve
estar sentindo dor em sua mandíbula, porém segue sugando meu pau e
quando sinto seus dentes rasparem com força na minha glande puxo seus
cabelos dando-lhe um tapa forte na cara.
— Faça isso novamente e quebro seu pescoço — ameaço enquanto
ela sorri perversa.
— Precisa de muito mais que isso para me controlar.
— Vai se arrepender disso.
— E o que fará? Hum? Sei que está louco pelo sangue e pelo caos,
sei que deseja muito mais do que se conter, vamos lá, demônio, mostre a
que veio.
Por não ter colocado minhas luvas ainda enfio meus quatro dedos
em sua boca segurando seu maxilar com ela puxando-a para mais perto.
— Vou matar o piloto com um tiro na cabeça quando pousarmos,
teremos uma hora até o próximo voo, te darei uma surra de cinto como da
última vez, depois foderei seu rabo com força e a castigarei ainda mais se
não for você que acordar após desmaiar. — Tiro minha mão de sua boca e
ela limpa a baba com o dorso da mão.
— Está começando a agir da forma que eu desejo. — Tenho meu
rosto seguro com as suas duas mãos e ela me beija sobre a máscara.
Arrumo minha calça acomodando meu pau dentro da cueca, algum
tempo depois estamos pousando no heliponto, Morgana sai na minha frente
e antes de descer dou três tiros na cabeça do desgraçado que a ouviu gemer
enquanto me chupava.
Caminhando atrás dela estou prestes a cumprir minhas palavras
quando os malditos trigêmeos aparecem.
Capítulo 59

É tão instigante irritá-lo, cada pedacinho do meu corpo saltita de


alegria por dois motivos. Primeiro, Anônimus irá cumprir cada uma de suas
palavras, segundo ele sente algo por ela, não passou despercebido por mim
a forma com que me proibiu de permitir que ela sentisse a dor destinada a
mim.
Ouço o barulho dos tiros enquanto caminho louca pela expectativa
de gozar depois de ser surrada por ele, quando vejo meus planos irem por
água abaixo ao ver os trigêmeos caminhando em minha direção.
— Esse olhar diabólico é de quem aprontou algo. — Me jogo nos
braços de Apolo, posso não apanhar agora, mas acumular a raiva dele será
muito legal. — Nossa! Tudo isso era saudades?
— Sim! Tudo aconteceu muito rápido e não pudemos nos despedir.
— Sou colocada no chão, e sigo o protocolo de tirá-lo do sério.
Ganho um beijo duplo de Eros e Aquiles, esse último sussurra em
meu ouvido que o demônio atrás de mim acaba de fechar as mãos em
punho.
— Estou louca para ser castigada.
— Morgana! — O alerta de Eros é diferente de todos os outros. —
Pare de testá-lo.
— O que fazem aqui? — Fingindo não os ouvir sigo minha
encenação.
— Nosso pai nos mandou para escoltá-la até a África do Sul, vamos
ajudar em algo que está acontecendo por lá — Apolo informa enquanto nos
direciona ao hangar de onde o jatinho irá partir.
— Alguma noção do que está acontecendo?
— Não, mas pelo pouco que soubemos Damon descobriu algo
grandioso e precisa de todos nós por lá.
— Curioso.
— Curiosa é a forma como ainda está viva após passar quase dois
meses irritando o demônio — Eros pontua me fazendo gargalhar.
— Nós o domamos. — Pisco para ele.
— Não parece alguém domado — Aquiles informa.
— Olhem a minha mão. — Estendo e mostro o adesivo transparente
e largo que ele colocou na mão dela quando ambos fizeram os curativos no
outro.
— Isso não é o que eu penso que é. — Apolo está surpreso.
— Sabe que ele pode nos matar não sabe? Porra, Morgana, não pode
fazer essa merda.
— Calma, a aliança não foi comigo, só vale para mim se nós dois
tivermos a nossa, ele sabe que não é ela aqui.
— Caralho! É confuso até para mim — Aquiles rosna baixo. —
Achei que tinha chegado realmente a minha hora.
— Isso é uma alerta, não se aproxime dela, é assinar sua sentença de
morte. — Olho para trás enquanto caminhamos. — Aí sim vocês estariam
fodidos e ele atravessando suas cabeças com balas.
— Você é louca! — Apolo parece incrédulo com a minha revelação.
— E como vai ser isso?
Sento-me finalmente na grande sala reservada deixando Anônimus
do lado de fora.
— Bem, ela o ama e ele se controlou por todo esse tempo, apenas
nos primeiros dois dias ficamos juntos, depois ela assumiu e pareceu feliz
demais, eu apenas não intervi. Conversamos sobre tudo e ela acredita que
vai perdê-lo, agora é a minha vez de fazê-lo desejar ficar, mas eu o quero
apenas para o caos, tenho o sentimento de posse e a loucura que estar com
ele me traz, mas nada além disso.
— Acha que depois que eles finalmente se acertarem você irá
embora? — Apolo sonda, curioso.
— Não, Morg precisa de mim e eu sempre estarei à sua disposição,
serei sempre aquela que contém o demônio para acalmá-lo para ela, que
deseja apenas o anjo que só ela enxerga nele.
Ficamos nos olhando e sei que até mesmo para eles é estranho, já
que só a viram apenas uma vez e nunca mais, o assunto morre como se eles
estivessem pensando em tudo que falei, quando olho para Anônimus o vejo
inquieto e seu olhar sempre se foca no meu, sei que ele busca por ela, mas
ela não quer aparecer.
Quando finalmente chega a hora de seguirmos o voo ele segue atrás
de mim bloqueando o acesso dos trigêmeos a mim que entendem bem o
recado e se sentam no final das poltronas.
— Por que não posso me sentar perto deles? — pergunto enquanto
ele afivela meu cinto, furioso.
— Ouse se levantar daí e se aproximar deles que irei arrancar as
suas cabeças e as pendurar como um maldito colar em meu pescoço. —
Suas palavras estão furiosas. — Disse que me pertencia e eu lhe disse o
mesmo, não force a merda para fora, não vai gostar do resultado. Você é
minha, até que eu diga que não é mais.
Sua última frase me assusta, se tem uma coisa que ele não fará é
isso, em algum momento eles nos deixarão e vou surrá-lo para que aprenda
com quem está lidando.
— Gosto dessa forma possessiva, espero isso quando estivermos
fodendo como malucos.
— Morgana, pare de me atiçar. — Sua mão aperta minha perna me
machucando.
— Eu paro — digo tentando tirar sua mão de mim.
— Eu já arranquei suas asas, Libélula perversa, posso sugar sua
alma.
Sinto um gelo percorrer minha espinha, com meus olhos cravados
nos seus sei bem o momento de recuar e este é um deles, o voo segue sem
nos falarmos mais, sinto que vez ou outra ele me olha, isso me deixa
inquieta.
“Acho que deveria aparecer e controlá-lo.”
Aviso, nós conversamos dentro de nossa cabeça sempre que estamos
no meio de todos e ela decide ver tudo de perto ainda que sinta medo.
“Melhor não, tem muitas pessoas aí.”
Posso ver em seus olhos a preocupação.
“Tente ao menos, ele parece inquieto vasculhando meus olhos o
tempo todo como se buscasse você, todos dormem ou estão afastados, ele
manteve esse limite entre nós.”
Ela me olha e a forma com que se senta é a mesma que ele faz
quando dorme, sei disso porque ela me mostrou uma vez. “Não tenha
medo, estou aqui com você e ele também está”
Novamente o encaro e ele me olha, seus olhos se estreitam e ela
decide assumir enquanto eu me recolho.
“Obrigada” fala assim que passa por mim, sorrindo de forma
tímida, sei que não irá descer deste avião ao seu lado, mas pode acalmar o
demônio que parece incontido por hora.
Estou parecendo um louco vasculhando seu olhar a cada minuto,
ansiando encontrar aquele olhar. Inquieto e quase enlouquecendo porque
em algum tempo não irei me lembrar mais dela, tudo que desejo por hora é
ter um pouco mais do que ela pode dar.
Olhando para cima depois de mais uma vez encontrar a maldade e a
perversão em seus olhos, respiro fundo querendo que o tempo passe o mais
rápido que conseguir quando sinto meu braço ser envolvido pelas suas mãos
e sua cabeça repousar sobre ele, quando a encaro os encontro, e uma
fornalha atinge níveis insuportáveis em meu peito.
— Parece inquieto. — A voz que acalma a tempestade em mim está
de volta, meus demônios se irritam com a impossibilidade da minha
explosão por hora, mas os contenho, apenas por ela.
— Um pouco. — Sorrio, mesmo que ela não possa ver.
— Falta muito para chegarmos? — O medo está mais exposto e
sinto o tremor em sua voz baixa.
— Algumas horas. Está tremendo. — Repouso minha mão sobre as
suas.
— Muitas pessoas perto.
— Ninguém vai se aproximar de você.
— Posso ficar até que pousemos?
Claro, poderíamos voar por toda a eternidade se ela assim desejasse.
— Sim.
— Conte para mim, sua mão está doendo? — Sempre preocupada
com o que sinto.
— Estou acostumado com a dor, e a sua dói?
— Não, aquele analgésico que me deu está fazendo efeito. — Retiro
a minha luva para sentir o toque de sua pele, e a vejo sorrir.
— O que está acontecendo que os trigêmeos precisaram vir? — Sua
pergunta me tira dos pensamentos que insistem em tentar me fazer recuar
do meu propósito.
— Não tenho mais informação, mas deve ser algo grandioso.
— Estou com medo.
— Me diga do que sente medo?
— Sinto que posso perdê-lo, ainda não conhecemos o mundo e
todos os lugares que gostaria de ir junto com você, não terminamos nossas
aulas e parece que estão escorrendo entre meus dedos todas essas
oportunidades. — Enquanto uma batalha acontece dentro de mim tento
parecer o mais calmo possível.
— Não tenha medo disso, as coisas vão ser tranquilas como sempre
foram para você, assim que tudo isso acabar.
Sua respiração é pesada, então retiro seu cinto soltando-a da
poltrona.
— Por que não se senta em meu colo e dorme em meu peito? —
Sorrindo, faz o que ofereço.
Quando seu corpo finalmente se acomoda junto ao meu repouso
minha cabeça sobre a sua e permito que a lágrima teimosa escorra
apertando-a mais em meus braços.
Vou livrá-la de todo o mal do mundo, minha pequena libélula,
começando por mim, se me afastar garanto que jamais irá acordar
pendurada em ganchos e jamais sentirá dor alguma causada pelo monstro
que sou, não existe força em mim para segurá-los e antes que eles
finalmente te alcancem eu os afasto de forma definitiva. Ainda que as suas
duas versões me completem como jamais aconteceu, é por você que eu me
privo de ser completo como agora estou.
Capítulo 60

Pousamos há alguns minutos e Morgana segue à frente com os


trigêmeos, entramos nos carros e seguimos até a casa de Isaac, decido me
manter longe apesar de desejar cumprir minha promessa, sei que o mestre
tem algo importante a dizer e sei que ele fará o que for necessário para me
reiniciar.
Minutos depois os carros param em frente a uma mansão e na nossa
frente estão os quatro anjos, o mestre e Isaac. Vejo Morgana correr e se
jogar nos braços de seu pai, aguardo que todos se cumprimentem, então me
aproximo do mestre.
— Senhor.
— Venha por aqui. — Sou direcionado para o local que iremos
conversar enquanto vejo as mulheres Triglav receberem Morgana com
abraços pela minha visão periférica.
Ouvindo os passos de todos os homens que nos acompanham sem
emitir nenhuma palavra atravessamos a porta de uma grande sala onde
encontramos o novo chefe ao lado do antigo soberano da Triglav. Ângelo e
Stefan estão ao lado de um Damon que assim que me vê parece encarar um
fantasma.
— Sentem-se — Ângelo ordena e todos se posicionam em seus
lugares, eu me mantenho de pé, ao lado do mestre. — Até você, Anônimus.
— Surpreendo-me com suas palavras e quando encaro o mestre ele me
aponta a poltrona ao seu lado.
Todos se entreolham e Damon se ergue ligando uma grande tv à
nossa frente.
— Aqui está toda a estrutura da Kompania Bello, a máfia mais
temida da Albânia, este era o antigo chefe, Cobain Kapllani, morreu há
poucos meses com noventa anos. A história se resume a Cobain que teve
apenas um filho chamado Lucco Kapllani, que foi sequestrado aos vinte
anos perto de assumir o cargo de maior poder, ele, após alguns anos foi
dado como morto, mas seu pai jamais acreditou nisso, vasculhou o mundo
atrás de seu único filho e o encontrou com vida, mas ele não era mais o
mesmo quando foi encontrado. Lucco havia se transformado em um animal
cruel e sem condições de voltar a socializar, sua mãe não suportou vê-lo
daquela forma, adoeceu em dias, ela teve um infarto fulminante enquanto
Lucco a violentava após conseguir se soltar das amarras que o tinham
colocado.
Todos parecem tão perdidos quanto eu.
— Ele estava há dias sem ser alimentado, sendo privado de ter
aquilo que teve por anos. — Neste momento seu olhar se foca em mim. —
Lucco foi sequestrado por Bratslav a mando de Bogdan, Cobain era um
desafeto e ele queria fazê-lo pagar, Lucco foi o primeiro Obscuro criado,
pai dos sete últimos. Estamos em frente ao sucessor da Máfia Albanesa, o
primogênito de Lucco criado em laboratório por Bratslav, Anônimus é o
herdeiro de primeira sucessão da Máfia Albanesa.
— Puta que pariu! — alguém fala, mas não presto atenção nisso
— O quê? — Ergo-me sentindo meu coração bater furioso contra o
peito.
— Quando Lucco foi encontrado tudo que ele dizia de forma
coerente era: “tragam-no para mim.”. Não sabíamos do que se tratava, até
que conseguimos algumas filmagens suas e dos seus irmãos, Lucco era
sempre reiniciado com choques no córtex central e voltava a ser um
Obscuro, mas não estávamos falando de um pai que queria seus filhos, ele
os...
— Cale a sua boca! — Voo sobre Damon socando a sua cara.
Tudo que ele falava parecia trazer à tona o inferno em que vivi e fui
criado, e agora que me diz que o Sombra, aquele demônio tem o mesmo
sangue que eu, minha cabeça parece que vai explodir e a dor insuportável
me atinge, mas nem isso me contém. Os braços dos homens que me
seguram tentando arrancar Damon das minhas mãos não são suficientes
para impedir a cabeçada que eu lhe dou abrindo seu supercílio.
— Anônimus! — a voz do mestre me traz de volta a mim.
— Não sou filho de ninguém, não tenho nome, não tenho idade e
não desejo saber de nada disso, quero que cada um de vocês vá para o
inferno, malditos, me soltem! — esbravejo furioso.
— Precisa se acalmar, não é só você que está no inferno aqui, a
minha mulher precisa que assuma o seu cargo para que não seja morta por
eles. — Quando finalmente sou solto o encaro virando minha cabeça
tentando entender sobre o que ele quer dizer.
— Não tinha mulheres conosco.
— Não, não tinha, é verdade, mas num último ato de manter as suas
vontades na Kompania Bello, Cobain inseminou o esperma de Lucco em
uma barriga de aluguel há dezesseis anos atrás e Lule Kapllani nasceu. — A
imagem da garota aparece na minha frente e entendo o que motiva Damon.
— Como? — Darko decide perguntar.
— Lucco não era o tipo de homem que conseguia manter seu pau
nas calças e na Albânia os homens não são leais as suas esposas como na
nossa máfia, para não engravidar qualquer uma ele coletou seus
espermatozoides e os congelou ainda que fosse algo novo, ele decidiu tentar
mesmo contra a vontade de seu pai, então fez uma vasectomia. Assim,
Cobain poderia ter o herdeiro do seu único filho, infelizmente para eles não
nasceu homem e todos os outros óvulos fecundados não vingaram e o
material coletado acabou, restando apenas Lule nesta conta.
— Eu não me importo. — Olho para o mestre. — Faça o que me
prometeu, senhor — imploro entre dentes.
— Eu não terminei. — Damon insiste em tom autoritário.
— Vou arrancar sua maldita língua se não calar a sua boca.
— Anônimus. — A voz de Isaac intervém em nossa discussão. —
Isso não é tudo, nós localizamos em uma máfia rival seus seis irmãos, todos
vivos e tão letais quanto qualquer outro Obscuro, eles foram comprados
como peças de reposição diretamente das mãos de Bratslav antes de
Damian conquistar a lealdade dos Obscuros os salvando da morte.
— Se ele não podia ter filhos, como nascemos?
— O material foi coletado dos testículos, por isso vocês também
foram operados e não podem procriar de forma natural, achamos essas
informações também nos papeis que conseguimos encontrar.
Minha cabeça dói como o inferno, não quero saber sobre nada disso,
quero apenas esquecer. Olho para o mestre e ele sabe que não estou me
sentindo bem, já que meus grunhidos começam a escapar.
— Saiam todos!
Sento-me no chão encostado na parede e enfiando minha cabeça
entre as pernas.
— Anônimus — sua voz me chama.
— Me faça esquecer, me transforme no que nasci para ser, tire a
maldita lembrança de todo esse inferno de dentro de mim.
— Isso pode matá-lo.
— Eu já estou morto. — O encaro furioso, tudo que desejo é me
lembrar do seu olhar até que não exista mais nenhum resquício de luz
dentro de mim.
— Tem uma chance de mudar de vida, posso ver em seus olhos,
Anônimus, existe algo aí, ela alcançou lugares desconhecidos.
— Desejo desesperadamente destruí-la, mas saber que ela sofre me
deixa furioso. Com a sua versão perversa é fácil lidar, gosto do desafio
mesmo que não queira de fato matá-la ao final, apenas divertir a mim e os
meus demônios, mas com aquela pequena de olhar indefeso é impossível
saber que a machuco sem que deseje me matar. — Seu olhar é confuso, não
parece entender o que digo, então me recordo de que ninguém sabe além de
seus pais e seu irmão.
— Seus irmãos estão vivos, tem uma irmã.
— Não quero nada desse desgraçado, apenas me reinicie e me
informe onde estão meus irmãos, posso guiá-los como cães para continuar
servindo à Triglav.
— Anônimus, perdemos alguns homens quando isso aconteceu, não
se lembrará de nada, não pode repensar? Está aposentado, não precisa de
nada disso.
— Se não fizer meterei uma bala na minha cabeça de qualquer
forma, enquanto sentia seu cheiro no voo prometia a ela que jamais a
machucaria, esse sou eu implorando para que me ajude a cumprir a minha
promessa, senhor, pode me castigar por tocá-la, será mais fácil se tiver um
motivo.
— E quanto a libertar uma inocente, Anônimus, imagine ter
Morgana sendo guiada ao inferno para ser machucada.
Sei onde quer chegar, mas imaginar o que suas palavras dizem me
causa dor, uma que não consigo suportar, que jamais senti que só aparece
quando a imagino sendo machucada. Olho para ele, em seus olhos existe
esperança, mas sou um demônio, não tem nada disso de onde eu venho e
nem mesmo desejo que tenha. Enquanto travo uma maldita batalha interna
penso que posso matar o Sombra com minhas próprias mãos e me dar a
vingança que sempre desejei, mas não posso ter aquele olhar novamente,
não posso tê-la por perto e é isso que decido, ajudar o mestre em mais uma
jornada, libertar os meus irmãos e matar o demônio.
— Leve-a daqui, deixe-a longe, segura e me mantenha distante para
que não me veja, depois de me reiniciar posso voltar a ser quem sou e dar a
ela uma chance de encontrar alguém que possa lhe dar a proteção que eu
não conseguiria.
— Providenciaremos isso.
— Mestre.
— Anônimus, me chame de Atos. — Não entendo seus motivos,
mas por hora irei obedecer como sempre fiz.
— Atos, assim que tudo terminar, não quero ter que pedir que
cumpra sua promessa.
— Se ao final de tudo isso essa for a sua vontade, assim será.
— Então podemos ir matar aquele desgraçado.
O vejo se erguer, dizer algo a alguém e então voltar, me tirando dali.
Capítulo 61

Logo que chegamos sou levada para perto de todas as mulheres e ele
desaparece junto com todos os outros, apenas os trigêmeos estão aqui e
ainda não entendi o motivo disso.
— Conhecemos esse olhar. — Eros envolve meu ombro com seu
braço.
— Estou tentando entender que tipo de merda está acontecendo.
— Por que diz isso? — Apolo se senta à minha frente.
— Me informem, o que foi dito a vocês para estarem aqui?
— Meu pai pediu apenas para escoltá-la até aqui, não questionamos
suas ordens. — Aquiles arqueia sua sobrancelha e sabe que tem um furo
nisso.
— Tem algo que não se encaixa, chegamos e a minutos atrás
estávamos com as mulheres, minha mãe não está aqui, pelo contrário,
minhas tias informaram que ela já foi para nossa casa junto a tia Gaia e tio
Ícaro.
— O que há de errado nisso?
— Ah, meu caro Eros, a Triglav não se movimenta sem uma
estratégia.
— E essa estratégia seria mantê-la conosco sozinhos enquanto todos
já se direcionam para Belgrado? Ainda não entendo — Apolo pondera. —
Não seria mais fácil levá-la direto para Belgrado?
— Não sou eu quem eles querem aqui, é Anônimus.
— E o que nós temos a ver com isso? — Eros retira sua jaqueta.
— Isso é o que vamos descobrir. — Pego meu telefone e ligo para
meu padrinho.
Espero que chame até que no segundo toque ele atenda.
— Minha princesa, o que deseja? — Sua voz é sempre receptiva e
reconfortante.
— Tenho uma dúvida.
— Sempre direta ao ponto.
— De onde veio o pedido para que os trigêmeos me
acompanhassem até a casa do Isaac?
— Foi um pedido de Atos. Por que, meu amor?
— Só curiosidade. — Tento parecer despretensiosa.
— Está montando as peças, não é?
— Sim.
— Sempre soube que seu pai não falharia com você.
— Obrigada, Dindo, mande um beijo para minha madrinha.
— Assim farei. E, Morgana, muito cuidado com o que está
aprontando.
— Não nos meteria em uma enrascada.
— Não confio em você e muito menos nos trigêmeos que fazem
todas as suas vontades. — Sorrio mesmo sabendo que o que ele diz é
verdade.
— Posso te pedir um presente antecipado?
— Tudo que desejar.
— Só não conte ao meu pai que eu te liguei.
— Morgana... — Seu alerta vem.
— Por favor!
— Tudo bem, tem 48h, depois disso ele será informado, é tudo que
posso oferecer.
— É mais do que suficiente.
Encerro a ligação sobre o olhar atento dos meus três cúmplices.

Algum tempo depois deixo o meu quarto e sigo em direção à sala,


os trigêmeos estão buscando informações junto ao meu pai e meus tios
quando avisto a pessoa que gostaria, preciso usar minhas armas para obter
minhas informações
Caminho em direção ao tio Damian que está no gramado com o
telefone nas mãos, assim que me vê estica a mão em minha direção pedindo
apenas um minuto.
— Logo estaremos em casa, Ratinho. Eu também amo você. —
Desligando ele coloca o telefone no bolso.
— Um dia gostaria de ouvir as mesmas palavras. — Seu olhar para
mim é de amor.
— Vem aqui. — Seus braços se abrem e me agarro a ele precisando
desesperadamente desse abraço.
— Obrigada! — Ganho um beijo na cabeça. — Foi bem-sucedida?
— Digamos que sim, mas parece que algo está acontecendo, como
se sentisse que ele vai se afastar — digo a ele o que ela me informou.
— Por que diz isso?
— Não sei, mas o senhor sabe, está acontecendo algo não está? —
Tio Dam me olha como se não pudesse me revelar muito.
— Princesa Morg, alguns segredos do passado de Anônimus foram
revelados, Damon descobriu algo que liga sua pessoa à pessoa dele. — Seus
braços me soltam e suas mãos seguem para o meu rosto.
— Que seria?
— Anônimus é o herdeiro da Máfia Albanesa Kompania Bello.
— Puta que pariu! — Não acredito no que ouço. — Preciso vê-lo —
peço.
— Não podemos, Atos o afastou, disse que sairemos em duas horas.
— Tio, por favor, se precisar me ajoelhar me ajoelho, mas me leve
até ele. — Seus olhos estão cravados nos meus e vejo quando coloca suas
mãos na cintura balançando sua cabeça em negativa.
— O pedido foi dele, Morg.
— Nem no inferno!
Posso ver o olhar apavorado dela e sentir a dor que percorre seu
peito, sei que era para manter segredo quanto a isso, mas não posso não dar
a ela esse momento com ele.
Estendo minha mão e a surpresa em seus olhos pretos é visível.
— Isso, não é...
— Sim.
— Caralho! Como?
— Ontem, ele aceitou ser a minha pessoa, ser meu Elo, eu preciso
vê-lo antes de ir, Anônimus não vai falar comigo na frente de vocês e
mesmo que esteja quebrando minha promessa de manter isso em segredo,
eu preciso de ajuda para me encontrar com ele antes dessa viagem
acontecer. Sei que vão trazer o inferno na terra, só preciso lembrar a ele que
existe um lugar para onde voltar.
Sem dizer nada ele pega o telefone ligando para Atos colocando a
chamada no viva-voz.
— Tio Damian.
— Quanto tempo ainda temos?
— Pouco mais de uma hora.
— Preciso conversar com Anônimus.
— Algo em que possa ajudar?
— Morgana, esse é o assunto. — A linha fica em silêncio por alguns
segundos.
— Está no último quarto da ala sul.
— Algo que precise saber?
— Nada, ele apenas está inquieto e com dor de cabeça. — Ouvir
isso me irrita um pouco, saber que ele está com dor, faz me lembrar do dia
em que me expulsou da clínica, e não poder ajudar novamente neste
momento é inadmissível.
— Libere o caminho, não quero questionamentos, Atos, mantenha
todos longe, ainda não chegou a hora de Darko descobrir isso, morreríamos
antes de conseguir explicar.
— Talvez ele não queira dar seguimento ao que sente, ou apenas
não saiba o que sente.
— Não acho que ter feito uma aliança de sangue ontem seja não
saber o que sente.
— O quê?
— Isso que ouviu — Tio Damian me olha e eu confirmo.
— Puta que pariu! A traga o mais rápido que conseguir, Isaac
acabou de levar todos até a parte Norte.
— Estamos indo.
Tenho minha mão segura com a sua e sou praticamente arrastada em
direção ao quarto onde ele está, assim que atravessamos os corredores
chegamos à sua porta, onde Atos nos aguarda.
— Não tem todo tempo do mundo, converse com ele, antes de vir
buscá-la eu ligo. — Tio Damian beija minha testa e em seguida Atos faz o
mesmo.
— Estarei ao seu lado. — Pisca para mim antes de seguir tio
Damian para longe daqui.
Respirando fundo permito que ela assuma o fronte enquanto observo
de longe sua tentativa de fazer Anônimus enxergar que tem alguém disposta
a tudo para ficar ao seu lado.
Sinto o tremor das minhas mãos quando toca a maçaneta e atravesso
a porta, Anônimus não parece notar minha movimentação, ele está sentado
na cama encostado na cabeceira com a cabeça entre as pernas.
— Anônimus — o chamo, ele ergue sua cabeça em minha direção,
seus olhos estão surpresos e sua postura muda.
— O que faz aqui?
— Vim te ver, soube que está com dor.
— Sempre estou.
Fecho a porta atrás de mim caminhando devagar em sua direção.
— Posso me aproximar? — Apenas um acenar de cabeça.
Assim que me aproximo sou puxada para seu colo e ele me olha
como se tivesse muito a dizer e não estivesse disposto a falar, tenho apenas
meu corpo pressionado contra o seu enquanto o vejo retirar a máscara
ficando apenas com a balaclava, enfiando seu rosto em meu pescoço e
permanecendo ali sem nada dizer, até que venham buscá-lo.
Eu ainda não sabia, mas esta seria a última vez que nos veríamos.
Capítulo 62

Sei que esses são os últimos momentos com ela, quando saio vejo
em seus olhos que quer respostas, mas eu não as tenho para dar. Meu ódio
consome meus pensamentos e enquanto estive com ela em meus braços
permiti que o pequeno fragmento de humanidade ainda existisse em mim
apenas por ela.
Mas agora finalmente terei o que desejei por todos os meus malditos
anos, acabar com a vida do Sombra e mostrar que cada dia em que esteve
comigo naquele inferno seria cobrado. Voltarei a ser quem nasci para ser e
nada, nem mesmo a Libélula será capaz de mudar o meu destino.

— Pousaremos em Pretória[15] em duas horas. — A informação vem


de Isaac, ao meu lado está Atos que não parece com os pensamentos aqui.
— A Marks of Terror[16], está em guerra contra a Máfia Night Star[17], eles se
denominam enviados fazendo referência a estrela de Davi relatada na Bíblia
dos cristãos, todos os seus mortos são enviados decapitados segurando suas
cabeças com uma estrela de seis pontas marcada em suas testas, temos
fechado o cerco contra eles, mas o que ainda garante o seu poder sobre este
território são os seis Obscuros que aqui são chamados e temidos como
Amademoni asebusuku[18], são extremamente perigosos, sem misericórdia e
canibais. Cada arma entregue a vocês tem balas tranquilizantes, vão
perfurar seus corpos e estourar dentro de suas carnes liberando assim um
sonífero poderoso que irá durar cerca de doze horas, não atirem em pontos
vitais, isso vai matá-los.
As palavras de Isaac me deixam inquieto.
— Acredito que todos nós concordamos que eles não têm salvação,
matá-los seria enfraquecer a máfia rival, conquistar território e acabar logo
com essa merda, eu preciso voltar para casa — Darko é quem fala.
— Não é uma escolha sua — rosno entre dentes.
— E é uma escolha sua? — Ele se vira em minha direção desejando
acabar com a minha vida.
— Sim, Anjo da Atrocidade, neste caso é uma escolha dele —
Ângelo fala e o faz recuar, como chefe da Triglav o peso de sua ordem pode
ser sentido. — Eles pertencem a Atos e ele os quer vivos segundo a vontade
de Anônimus.
— Eu acho tudo isso uma perda de tempo — rebate.
— Veja pelo lado interessante, Darko, nós também não tínhamos
salvação — Damian rebate e o olhar de Dusham agora está sobre nós.
— Isso fica a cada momento mais divertido — Dimitri fala bebendo
um gole de sua garrafa.
— Seguiremos as ordens de Ângelo, o quanto antes acabarmos com
isso, antes voltamos para casa. — Dusham coloca seus fones de ouvido
fechando os olhos dando a conversa como encerrada.
O sorrisinho de Dimitri, Damian e Dusham, mesmo esse último já
tendo fechado os olhos não me passa despercebido, eles parecem concordar
com algo entre si.
No avião estão apenas aqueles que irão para o enfrentamento,
Ângelo, Atos, Isaac, os quatro anjos e eu. Damon e Stefan seguiram para
Albânia e irão nos esperar lá.
Fecho meus olhos alimentando o caos que se instala em minha
mente, meu foco agora está em finalmente atravessar todo esse inferno.

É madrugada quando começamos a nos movimentar, Isaac sempre


manteve uma casa ao lado da casa onde Piton, o atual chefe da máfia rival,
coordena tudo aqui em Pretória. Darko e Damian digitam freneticamente
em busca de informações, eles estão perto de conseguir o mapa da casa e
confirmar a localização de onde meus irmãos estão, passaram todo o tempo
desde que chegamos aqui esmurrando suas mesas e amaldiçoando o que
quer que esteja acontecendo que os impede de acessar o sistema de
segurança deles.
Estou me sentindo sufocado quando retiro a máscara e as luvas e lá
está o corte da nossa aliança de sangue. Deslizando meus dedos pelo
curativo feito por ela na palma da minha mão, quase sorrio ao me lembrar o
que causou a marca no dorso dela.
— Aliança de sangue? — A voz de Dusham me faz encará-lo.
— Como? — Fecho a mão como se quisesse proteger essa
informação.
— Curativo e uma aliança de sangue, eu soube quando foi enviado
para cuidar dela nesta viagem que algo assim iria acontecer.
Olho em direção a Darko para ver se ele me olha, mas continua
focado no seu trabalho.
— Ele não sabe, e não sabe que nós sabemos. — Olho em volta para
confirmar de que nós ele está falando. — Todos sabemos, exceto ele.
— Isso não me parece algo bom.
— A verdade é que estou me divertindo.
— E isso seria por quê?
— Primeiro — com suas mãos começa a pontuar —, por não ter
escutado quando ele te ameaçou. Segundo, porque ele vai cuspir fogo por
ser o último a saber, e essa é a melhor parte. E terceiro, vou adorar vê-lo
cometendo um assassinato, e sim não chegará vivo ao final de toda essa
confusão. Mas agora fico imaginando, um demônio como você pode ser
domado? Podemos contê-lo se descobrirmos que é alguém que irá protegê-
la com sua vida.
— Não estamos juntos. — Olho novamente para o curativo.
— Não é isso que uma aliança de sangue representa.
— Não podia lhe negar na hora, não sou o que ela precisa, por este
motivo serei reiniciado.
— O que ela acha sobre isso?
— Não te incomoda que um demônio como eu tenha tocado na sua
sobrinha?
— Se tocou nela foi porque ela permitiu e viu em você algo que
nem mesmo outro demônio consegue enxergar. — Quando se refere a outro
demônio ele aponta para si mesmo. — Mas não respondeu a minha
pergunta, o que Morgana acha sobre isso?
— Não irei permitir que algo lhe aconteça ou que se machuque, e
estar comigo só irá lhe trazer dor e sofrimento. — Dusham sorri com todos
os seus dentes à mostra sem emitir nenhum som.
— Isso é o que demônios fariam, se afastariam por medo de
machucar a sua pessoa, se não é capaz de controlar o inferno borbulhante
em seu peito para recuar quando ela pedir isso é melhor que se mantenha
afastado. Mas, Anônimus, ouça bem as minhas palavras, ninguém
conseguirá se unir a ela, para nossa família ser o elo de alguém é até a
morte, e ainda que você morra, nunca mais Morgana irá viver.
— Ela merece alguém que possa dar a ela uma vida com um futuro.
— Compreensível da sua parte, mas ela já escolheu você, precisa
pesar o que doerá menos nela, conviver ao seu lado ou viver sem você.
Quando decido informar que serei reiniciado porque preciso
protegê-la de mim, um grito acontece.
— É isso, porra! — Damian soca a mesa comemorando algo.
Dusham volta seu olhar para mim e sai sem dizer nada mais. De
onde estou começo a ouvir as informações.
— Eles estão no andar superior, existe seis gaiolas onde são
mantidos nus e no escuro. — Então as imagens deles dormindo como cães
sobre um chão de palha me deixa furioso.
— Vamos tirá-los de lá. — A urgência em minha voz não mascara a
minha ira.
— Anônimus, vamos precisar sedá-los e só então saber o que fazer
— Atos pondera tentando me conter.
— Vamos reiniciá-los.
— É melhor meter uma bala em suas cabeças, as últimas
reiniciações das quais me lembro não tiveram muito sucesso. — Darko
novamente decide nos eliminar.
— Isso só iremos descobrir quando acontecer — rebato colocando
minha máscara e minhas luvas.
Darko vê o desafio em minhas palavras, se alguém ousar tocar nos
meus irmãos sem que tenhamos tentado de tudo, não irei me importar com
as leis Triglav, arrancarei seu coração e o comerei ainda pulsando em minha
mão.

Estamos todos a postos, Isaac tem cinquenta homens aqui, enquanto


todos eles focam em derrubar Piton, Atos e eu iremos seguir nos andares
superiores colocando os seus demônios para dormir.
— Foco no nosso objetivo, atire na testa de cada e qualquer pessoa
que atravessar nosso caminho. — Confirmo com a cabeça quando
começamos a seguir o plano.
De onde estamos começamos a ouvir os tiros e a gritaria,
atravessamos a porta e começamos a subir, sabemos ter três soldados
cuidando das gaiolas. Sinto minhas mãos tremerem, não só de raiva, sei que
se não agirmos rápido eles serão soltos e será inevitável não matá-los.
Quando nos aproximamos da outra porta, Atos retira sua faca e ajusta sua
máscara de caveira, ele está tão possuído de raiva quanto eu, o Caveira
Negra não costuma ter misericórdia e eu sempre amei ver a crueldade fluir
de suas ações.
Com os dedos ele conta, 1, 2, 3, então abre a porta cravando sua
faca na testa do homem à nossa frente que tem uma feição de surpresa,
enquanto seu corpo cai no chão. Antes que os outros dois tentem reagir nós
atiramos em sua direção fazendo com que os dois caiam ao mesmo tempo.
Analisando todo o lugar nos aproximamos das grades e eles estão
em posição de ataque, suas cabeças estão raspadas e seus olhos vidrados em
nós, em seus pescoços existem colares que piscam uma luz vermelha e
sabemos muito bem o que isso significa.
— Precisamos colocá-los para dormir — informo pegando a outra
arma enquanto Atos me dá cobertura vigiando a porta.
Com a arma pronta atiro no ombro do primeiro, o que enlouquece os
outros com seu grito, me assusto quando se grudam à grade enfurecidos e
sigo atirando até chegar na última cela.
Ao me virar para falar com Atos ganho um tiro no ombro, quando
pelo lado oposto somos pegos de surpresa e a luta se inicia. Atirando e
esfaqueando começamos a lutar, os meus irmãos ainda estão alvoroçados
nas celas e preciso que os tiros comecem a fazer efeito.
— Não é assim que as coisas funcionam, não podem chegar aqui e
roubar o que nos pertence. — O homem se lança em minha direção e soco
com força seu pescoço, atirando-o ao chão.
— Eles não pertencem a ninguém! — grito furioso enquanto quebro
seu pescoço.
Mais dois deles aparecem e Atos segue atirando e lutando, quando
vejo que vai ser atingido atravesso seu caminho me abaixando e cravando
minha faca entre as pernas do desgraçado que agoniza curvando-se, e logo
Atos crava um punhal em sua nuca.
— Cuidado! — recebo o alerta de Atos e quando olho para frente,
encaro a ponta da lança entre meus olhos sendo contida por ela.
— Não deve abaixar tanto assim a sua guarda, Anônimus. — A
perversão e a maldade borbulhante em seus olhos só não são piores que
meu ódio ao perceber que ela está aqui sendo escoltada por eles.
Capítulo 63

Após colocar um rastreador em Anônimus estava apenas


aguardando o momento certo de agir, sei que meu pai vai me matar e que
talvez ganhe uma surra por desobediência e insubordinação, mas não iria
permitir que aquele olhar cheio de palavras não ditas fosse a última coisa
que víssemos dele antes de voltarmos para Belgrado.
Agora estamos aqui nos encarando, enquanto seguro a lança que foi
atirada em direção à sua cabeça, preciso confessar que a adrenalina de ter
assassinado alguns soldados no caminho percorre meu corpo e me faz
querer muito mais.
— Não deve abaixar tanto assim a sua guarda, Anônimus. — Sei
que vou irritá-lo, mas é divertido imaginar que posso ser castigada da forma
que ele prometeu.
— O que faz aqui e com eles? Inferno!
— Acreditou mesmo que me deixaria sem nenhuma explicação, a
última coisa de que me lembro é que me prometeu algo e eu vim buscar.
— Sabe o perigo que corre estando aqui, Morgana? — A voz de
Atos é sombria, mas não mete medo em ninguém.
— Você, mais do que ninguém, deveria saber que isso será uma
grande merda. — Anônimus parece furioso, então solto a lança no chão
sorrindo.
— Medo do meu pai? — Pisco, cínica, louca para tirá-lo do sério.
— Vou matar cada um de vocês por permitir que ela esteja aqui —
Atos esbraveja com os trigêmeos que sorriem, enquanto meus olhos
continuam cravados nos de Anônimus que arruma sua postura mostrando
em seus olhos a vontade insana de me castigar.
A tensão aumenta quando a voz dos anjos invade o lugar.
— Morgana, o que raios faz aqui? — bradando furioso, meu pai se
aproxima.
— Isso é uma ótima pergunta. — Tio Dimitri sorri para mim.
— Ela acabou de passar no meu teste — tio Damian fala piscando
para mim e entendo que mais uma vez ele vai livrar minha bunda.
— Que porra de teste, Damian?
— Fizemos uma aposta, eu dei a nossa localização e pedi aos
trigêmeos para acompanhá-la. Facas cor de rosa? — brinca com a cor das
minhas armas o que é uma brincadeira interna entre mim e Damon.
— Fiz como o senhor me ensinou. — Entro na sua mentira.
— Vou assassinar você! Não enfie minha filha nas suas loucuras. —
Tio Dusham segura meu pai.
— Ei! Não tem nem mesmo um fio de cabelo fora de sua cabeça. —
Tentando ser o mais velho contém meu pai que não está disposto a engolir
essa história.
— Ela me pediu ajuda e eu ajudei, acho que estava segura e não
corria risco, era uma situação controlada — Tio Damian insiste.
— Eu concordo com ele, e outra, Morgana acabou de livrar
Anônimus de ter uma lança atravessada em seu crânio. Belo treinamento,
Anjo da Atrocidade — Atos fala e então Ângelo ao lado de Isaac chega.
— Princesa, o que faz aqui? — Isaac questiona.
— Nós informamos tudo depois, por hora precisamos retirá-los
daqui — Atos aponta para os homens caídos no chão.
— Já fiz o que tinha que fazer nesse lugar, estou retornando com
minha filha para Belgrado. — Meu pai parece furioso.
— Pai.
— Nós ainda vamos conversar sobre colocar sua vida em risco,
Morgana. Agora vamos! — Sua ordem é impossível de não acatar e a minha
última chance de resolver algo com Anônimus acaba indo por água abaixo.
Tio Damian me pede para que o siga e os trigêmeos acabam na
nossa cola.
Descemos as escadas enquanto meu pai não diz nada, sei que o
sermão será gigantesco, então me mantenho calada e quieta.
Atravessamos o gramado enquanto vemos o helicóptero pousar a
poucos metros de nós, logo a porta se abre e todos nós entramos, quando
estamos no ar ele nos encara.
— Muito me admira vocês permitirem uma loucura dessa,
conhecem toda a história e sabem que ela não poderia estar aqui.
— Tio, como Damian falou a situação estava controlada, nós
chegamos momentos depois quando tudo estava praticamente sob controle,
e preciso confessar, foi lindo ver o quão assassina ela pode ser — Apolo
intervém.
— Pai, todos os anos de treinamento precisavam valer a pena.
— Morgana! Nós a treinamos para mantê-la viva e não para te usar
como uma arma da Triglav.
— Pois eu gostaria muito de ser uma arma para a Triglav, daria um
pouco de sentido à minha vida e me faria muito mais útil. Não há nada que
queira fazer, pai, não quero ser como Angel e Antonella que conseguem ter
vidas longe de tudo isso, fui treinada para matar e acredito que agregaria
muito à nossa máfia. — Seu olhar para mim é surpreso, como quem diz que
sei bem o que devo proteger. — É isso que quero para mim, pai, não vou
jamais colocá-la em perigo, mas não sou doce como as minhas primas, não
quero ter treinamento para me manter viva, eu quero matar em nome da
nossa casa, sou uma Dothraki, em minhas veias corre o sangue dos anjos e
não creio que deva ser privada disso por ser mulher. — Solto tudo de uma
vez.
— Não vamos falar sobre isso aqui, Morgana.
— E onde falaremos, pai?
— Em casa vamos resolver isso em família, como sempre foi. —
Ele encerra comigo o assunto. — Quanto aos três, informe a Ettore que
terão uma temporada de treinamento extra comigo em Belgrado. — Os vejo
engolir, o último treinamento que tiveram com os Anjos eles voltaram para
Roma sem suas almas, se é que eles tinham uma.
Calados, seguimos rumo à pista particular da casa de Isaac, ao final
de tudo vou precisar aguardar Anônimus retornar a Belgrado para socar sua
cara e fazê-lo me contar que merda está acontecendo.
Capítulo 64

Acabamos de colocar meus irmãos nos helicópteros e eles estão


sendo levados para uma base em Varsóvia, na Polônia, Atos acredita que
podemos usar as instalações para reiniciarmos meus irmãos e a mim, ele
está seguindo com eles enquanto sigo com os outros até Tirana, na Albânia,
para finalizar o que é necessário para finalmente deixar toda essa merda
para trás e voltar a ser apenas quem sou.
Ângelo e Isaac ficaram para finalizar a nova marcação de território
da Máfia Africana que acabou de expandir na África do Sul tendo todas as
três capitais sendo dominadas pelo Anjo da Escuridão.
Caminhando ao lado dos três Anjos restantes, entramos no jatinho
que nos levará até Damon e Stefan que precisam apenas de mim para passar
a Kompania Bello para a quem de fato pertence, Lule Kamplani.
— Conte-nos, Anônimus, quais os seus planos? — Dimitri está
sentado à minha frente, ao lado de Dusham e Damian ao meu lado.
— Passar a máfia para as mãos de Damon, e comer o coração
quente e ainda pulsante do Sombra — respondo olhando em seus olhos.
— Vou adorar presenciar essa cena. — Dimitri pisca parecendo
ansioso.
— Apenas isso? Eu esperava muito mais de alguém como você. —
Dusham atiça, sei o que passa em suas cabeças.
— Não, isso será depois de foder todos os buracos que ele tiver e os
que eu criar. — A gargalhada de Dimitri ecoa pelo lugar.
— Ah, como sinto falta de algo assim, só de imaginar ver o
desgraçado agonizar meu pau endurece. — O Anjo das Sombras revela sua
face mesmo que em meio a gargalhadas.
— Tenho alguns anos de raiva acumulada em minhas veias, preciso
descarregar nele, essa foi a minha promessa enquanto o fodia com duas
facas enterradas em suas costas. — Seus olhos se estreitam.
— Parece que todos nós temos um passado fodido com pais de
merda. — Damian finalmente quebra o silêncio.
— Não tenho um pai, nem mesmo tenho um mestre, este último
algo que será resolvido em breve — informo.
— Do que está falando? — Dusham arqueia sua sobrancelha.
— Algumas coisas precisam voltar a ser como sempre foram,
Morgana jamais poderia ter atravessado meu caminho da forma que
atravessou, não vou permitir que meus demônios a tragam para o meu
inferno.
— Isso é algo louvável para você, já nós arrastamos as nossas
pessoas até lá com nossas próprias mãos — Damian pontua.
— Ela acabaria morta. — Minhas palavras parecem brasas quentes
em minha língua e falar disso faz o fogo queimar em meu peito, não me
movimento, mas a vontade que tenho é de esfregá-lo para ajudar a
queimação passar.
Ficamos nos olhando, então Damiam decide explicar como as coisas
vão acontecer e o que Damon fez para que tudo seguisse o curso que nos
levaria diretamente a este momento no tempo.
— Bem, após matar Lucco e comer seu coração como disse que irá
fazer, precisará enfrentar alguns homens do conselho, só existe duas formas
de ter o poder na Máfia Albanesa, primeiro sendo o primogênito de direito
ou ganhando esse posto. Você o tem por ser o primogênito de Lucco, vai
precisar passar isso a Damon, se é o que realmente quer, ou entregar isso a
Lule, a forma mais fácil de acabar com tudo isso é passando direto para
Damon e a partir daí é com ele, você lava suas mãos e desaparece —
pontua. — Precisa assinar com sangue um livro antigo e então está livre.
— Nunca serei livre.
— Isso é o que você diz. — Dusham acomoda-se na poltrona.
— Então diga-me, Anjo da Morte, como alguém como eu que não
sabe fazer nada além de matar pode ser livre? Se voltar e reivindicar
Morgana posso matá-la, se voltar sem a reivindicar serei morto por Darko,
nas duas opções eu morro. — O entendimento em seus olhos é fácil de ver,
mas existe algo mais, algum tipo de orgulho.
— E o que pretende fazer? — Dimitri parece muito curioso.
— Vou reiniciar. — Suas expressões agora são impagáveis.
— Isso o matará — Damian avisa.
— Então, até mesmo na terceira opção encontro o meu fim, o
inferno é bem melhor que saber que fui eu o causador de sua morte.
— Isso é amar, Anônimus. — Dimitri agora foca seus olhos nos
meus.
Sorrio mesmo que não possam ver. Amor, nunca saberia lidar com
isso.
— Não posso concordar com tais palavras, desconheço tal
sentimento.
Eles se olham e permanecem calados quando acho que o assunto
cessou, Dusham decide falar.
— Recordo-me do dia em que entendi sobre sentir. — Um sorriso de
canto aparece. — Tudo em minha cabeça gritava para matá-la, mas eu lutei
por ela, me coloquei entre todos os meus demônios e ela. Apenas Gaia tem
o poder de calar aquelas vozes, por vezes a machuquei mesmo não
desejando fazer, morreria por ela sempre que fosse preciso, mas sabe
quando meu corpo entendeu sobre sentimentos? Quando cobri seu corpo
com o meu, poderia ser fuzilado mil vezes se soubesse que ela jamais seria
atingida. — Agora seu olhar foca em mim. — Eu respeito você, Anônimus,
que mesmo sem saber o que é o amor, ama Morgana acima de todas as
coisas e ainda te digo mais, de todos os homens que conheço você é o mais
altruísta, porque nenhum de nós renunciaria à nossa pessoa para protegê-la
como está disposto a fazer. Nós as sufocamos a ponto de não existir para
elas nenhuma outra escolha além de nós.
— Quem diria que o chefe dos Obscuros seria domado. — Dimitri
se diverte e Damian gargalha. — Anônimus, o último Obscuro caiu de
joelhos pela filha do Anjo da Atrocidade, preciso dizer, aquela garota tem
mesmo o sangue do próprio mal.
É impossível não sorrir disso, falar dela me faz lembrar de suas duas
versões, a forma com que meu pau endureceu ao vê-la toda entregue em
meus braços foi com a mesma intensidade de vê-la toda de preto com seus
longos cabelos loiros e olhar sexy segurando aquela lança com uma feição
espertinha e cheia de maldade. Parece que o sentimento de proteção que
acreditei sentir por uma e não pela outra nunca existiu, eu sempre protegeria
as duas, acredito que tenha apenas confundido a doçura de uma e seu medo
no olhar cheio de uma fragilidade que a outra não tem, não existem duas
delas para mim, existe apenas Morgana em suas duas versões que se
complementam e fodem meus miolos de uma forma que me deixa muito
perturbado. E sim, por ela eu morreria mil vezes.

Após longas horas de voo pousamos em solo Albanês. Podemos ver


Damon nos esperando encostado em um dos carros que nos aguardam.
Juntos, caminhamos em direção a ele e assim que chegamos já somos
informados como serão nossas próximas horas.
— Tios, Anônimus. — Nos cumprimenta abrindo a porta para que
entremos. — Onde está meu pai?
Quando os carros começam a se movimentar o vidro do meio se
fecha.
— Parece que a Elfa gótica perversa andou aprontando e seu pai
precisou levá-la para casa. — Damian sorri orgulhoso.
— Como?
— Ela decidiu ir atrás de Anônimus colocando sua vida em risco e
seu pai não saiu muito feliz de Pretória — Dusham fala e a gargalhada de
Dimitri explode.
Eles são o quê? Crianças?
— Puta que pariu! Ele descobriu sobre ela e o Anônimus?
— Espera, você sabia? — Dimitri parece muito curioso agora.
— Desde o momento em que ela decidiu domá-lo. — As palavras de
Damon divertem ainda mais os três e me deixa intrigado. — Acham que a
aquela tatuagem aos 15 foi apenas para esconder as cicatrizes do seu
acidente? Por falar nisso, foi um lindo trabalho, tio Dam.
— Como é? Você sabe disso desde os 15? — Dusham foca em seus
olhos.
— Não é bem assim, soube do Anônimus apenas quando ela tatuou
na cara do anjo em suas costas a máscara dele. — Agora Dusham e Dimitri
estão incrédulos. — Qual é, ela é uma Dothraki e temia por não ser como
nossas filhas, eu até mesmo lhe garanti uma alcunha, e digo mais, ela se
daria muito bem como o Anjo da Maldade, e se for usada como um
instrumento da Triglav eu tremeria um pouco se fossemos inimigos. Aquela
garota mata sorrindo.
Todas essas informações são tão reveladoras para mim quanto para
eles.
— Nós vamos voltar a esse assunto em outro momento, se for a
vontade dela por que não? Darko vai querer assassinar todos nós, primeiro
por ser o último a saber, e isso será impagável. E segundo, por todos nós
acobertarmos — Dusham pontua.
— Minha sobrinha pode ser o que ela quiser, eu ajudei em seu
treinamento e ela é muito melhor que todos nós juntos, precisa apenas ser
direcionada ao lugar certo. — Dimitri parece orgulhoso.
— Existem coisas que ninguém sabe e por isso meu pai a protege
tanto. — Damon agora tem a atenção de todos eles.
Pelos próximos minutos eles são informados sobre Morgana, e
maldição, eles parecem cães raivosos por não terem sido informados das
condições dela, mas não vejo em momento algum eles recuarem de seus
pensamentos, e concordam que se ela estiver ao lado de outra pessoa seria
uma arma letal e poderosa nas mãos da Triglav.
— Nós chegamos! — Damon avisa assim que os carros param.
Quando meus pés tocam o chão daquele lugar tudo que minha mente
vinha processando até aqui, cessa, minha cabeça silencia e meus demônios
estão à espreita. Chegou o nosso momento de vingança e eu vou adorar me
banhar no sangue quente do Sombra.
Capítulo 65

Estamos em uma grande sala e Stefan nos mostra as condições em


que o Sombra se encontra. O homem parece morto sobre a cama, não que
esteja definhando, soube que se alimenta a cada dois dias, mas segundo eles
faz tudo no automático como se estivesse à espera de algo, apenas na
expectativa de que aconteça o que vai tirá-lo do que parece ser um transe.
— Ele foi dado como morto, Cobain não queria demonstrar
fraqueza, existe um acordo e em alguns dias será o casamento de Lule com
Rylian, o conselheiro da alta cúpula do conselho. — Neste momento
Damon rosna inquieto e contrário a isso. — Existe um documento onde
consta esse acordo assinado e só pode ser desfeito pelo chefe da Kompania
Bello e Rylian, mas neste caso esse último é o atual futuro chefe, já que a
única herdeira viva conhecida é mulher e não tem nenhum tipo de voz.
— Preciso acabar com ele. — Não presto atenção em mais nada.
— Aqui, sei que vai precisar. — Dimitri me entrega um estojo com
três seringas de estimulante e o encaro sem entender. — Confie em mim.
Começo a tirar minha roupa, não sem tirar meus olhos do
desgraçado à minha frente. Nu, abro o estojo aplicando uma seringa de
estimulante em cada braço percebo que Damian me encara fixamente, mas
seu foco são as marcas em minhas pernas, não me importo com isso.
Começo a caminhar em direção a cama colocando-me ao lado do homem
que irá receber o meu pior nas próximas horas.
— Como foi esperar por mim, por todos esses anos? — sussurro
minhas palavras e como mágica ele desperta.
— Você? — Seus olhos agora têm um foco e ele está em mim.
— Sei que iria conhecer a minha voz mesmo abafada pela máscara.
— O que faz aqui?
— Vim cumprir a minha promessa e enviar sua alma imunda ao
inferno.
Assim que minhas palavras saem empurro sua cama hospitalar com
o pé lançando-o ao chão.
Seu grito surpreso vem com o barulho do seu corpo batendo contra
o piso.
— Sombra, Sombra, Sombra, acreditou mesmo que foderia todos os
seus filhos e nada iria lhe acontecer? Antes que comece a destruí-lo preciso
me apresentar. Sou Anônimus e não existe ninguém nesta terra que te livre
de mim.
Erguendo-se, ele se coloca em posição de ataque quando uma
corrente desliza pelo chão parando em meus pés, encaro os meus
espectadores e percebo que é Damian quem acaba de me dar esse presente.
Com meu pé ergo a fina corrente e a seguro enrolando cada um dos
meus punhos com ela, quando ele me ataca ganha um soco que acerta em
cheio seu nariz e posso ouvir seus ossos se partirem.
— Desgraçado! — grita levando suas mãos ao rosto que agora está
banhado em sangue.
— É só isso? Sempre te achei tão forte e poderoso.
— Vou dobrá-lo e colocá-lo de joelhos e foder seu rabo como fiz por
todos aqueles anos.
— Tem certeza disso? Planejei muita coisa para você por todos
esses anos, vamos ver como se sai.
Começamos a lutar e cansado dessa merda quando novamente ele
decide insistir em me atacar enrolo a corrente fina em seu pescoço travando
seu corpo enquanto o sufoco e chuto seu joelho, quebrando-o, sinto em meu
corpo o prazer percorrendo cada parte quando o som dos seus joelhos se
partindo e expondo seus ossos misturados ao seu grito de dor lancinante
ecoa pelo lugar.
— Calma, Sombra, ou seria Lucco? Nós temos ainda algum tempo,
antes de arrancar seu maldito coração e mastigá-lo enquanto pulsa ainda
quente em minha mão.
— Demônio maldito, eu sempre soube que precisava te manter na
coleira, mas nunca me deram ouvidos. — Seus grunhidos aumentam.
— Isso era porque estava tão fodido naquele inferno quanto eu.
Começo a arrastá-lo se debatendo e gritando até a parede próxima a
nós, que contém dois suportes que não faço ideia porque estão ali, mas que
irão servir ao meu propósito.
Depois o travo e o vejo se debater tentando tirar a corrente sem
sucesso.
— Preciso de uma faca! — grito e um Dimitri muito animado com o
que vê vem me entregar.
— Continue com o espetáculo, Demônio.
Voltando minha atenção novamente a ele, percebo que está em uma
ótima altura para foder sua boca, mas vamos começar pelo tradicional, giro
seu corpo apoiando sob ele um banco almofadado redondo que encontro
jogado no canto e que com certeza foi parar ali durante nossa luta.
Seu grito ecoa quando apoio meu joelho em sua perna com o joelho
quebrado.
— Implora para que pare, seu desgraçado imundo. — Forço a
entrada em seu rabo e ele grita travando os músculos do seu cu.
Forço com mais violência e gargalho pela força que tenho que fazer,
meu pau já está sendo forçado ao limite, mas preciso de um pouco de
lubrificante aqui.
— Deveria colaborar comigo.
— Vá para o inferno!
Disposto a gozar urrando com meu pau em seu cu, retiro a cabeça
do meu membro que já tinha entrado e estoco a faca. O grito que dá com
certeza rasga suas cordas vocais e eu gargalho excitado como um demônio.
— Agora está lubrificado como preciso.
Vejo o sangue pingar, então soco fundo urrando pelo prazer que o
calor e o deslizar do sangue me proporcionam. A cada estocada eu gargalho
mais alto e o maldito sombra grita em agonia, tenho horas de pau duro e
gastarei todas elas com ele. Meu corpo começa a esquentar e me instiga a ir
mais forte, enquanto meto furioso contemplo as marcas das facas que
utilizei nele anos atrás, e o prazer que isso me causa faz com que meu
orgasmo chegue forte e atice todos os meus demônios, eles também o
querem.
Por horas unidos fodemos seu rabo, e todos os buracos que fazemos
em seu corpo enchendo-os com nossa porra, seus gritos já nem são tão altos
e estou lavado de sangue quando começo a perceber que ele não irá durar
muito mais.
O viro e vejo que seu olhar já não tem o mesmo brilho de horas
atrás. Estoco com a faca em sua garganta abrindo um buraco e desejando
testar se ali é um bom lugar para socar meu pau. Seus olhos se esbugalham
enquanto vou enfiando meu pau que machuca, mas a visão de seu pavor e
sufocamento é tão prazerosa para mim que pouco me importa, meto umas
cinco vezes quando gozo e vejo a vida se esvair de seus olhos aos poucos.
Mas meu objetivo aqui só será cumprido quando eu comer seu
coração.
Abro um talho em sua barriga e ele ainda sofre espasmos quando
enfio minha mão por dentro dele e chego ao seu coração, puxando-o de lá
quente e parecendo muito gostoso, retiro a máscara e abocanho o órgão
arrancando um pedaço com meus dentes, mastigando-o, fazendo valer todos
os meus anos de tormenta naquele inferno.
Não existe mais nada no mundo que me importa ou desperta em
mim o desejo de vingança, consegui o que almejei por anos, só preciso sair
daqui e voltar a ser o Anônimus que sempre fui.
Capítulo 66

Quando me levanto e foco meu olhar nos homens à minha frente,


eles não parecem saber o que dizer e eu como sempre depois de algo assim
não estou disposto a ouvir. Sou guiado até um banheiro onde me lavo, visto
e coloco a minha máscara descartando a minha balaclava. Quando saio e os
encontro, preciso terminar toda essa merda e ir me encontrar com o mestre.
— Descanse, a reunião será em algumas horas — Damon fala com
os olhos fixos nos meus sem nenhum sentimento aparente.
Sento-me na grande poltrona do lugar olhando pela janela fechando
meus olhos e me recordando dela.
(...)
Caminho pela casa ouvindo sua voz me chamar.
— Anônimus! Onde você está?
— Aqui. Aconteceu alguma coisa?
— Nada, acho que se esqueceu da nossa aula. — Seu sorriso tímido
e sempre envergonhado sempre carregando um misto de medo, como se
temesse que algo que fizesse fosse errado, está presente.
— Não me esqueci, apenas me perdi nos meus pensamentos
enquanto observava a chuva cair lá fora.
— Sei, vamos! — Pegando minha mão ela me puxa até o escritório
e nos senta lado a lado começando a me ensinar a escrever meu nome.
Enquanto escrevo de forma lenta e nada perfeita a palavra vai
surgindo, Anônimus, este sou eu. Seu sorriso e suas palavras me fazem
desejar a cada momento escrever apenas para contemplar a beleza e a
alegria de fazer algo que ela ensina. Já estamos há algum tempo nisso e eu
anseio por estes momentos apenas para analisar seus traços e a forma
como morde os lábios em expectativa a cada traço que eu dou.
— Está ficando cada vez melhor.
Essas são as palavras que sempre quero ouvir dela, fazem uma
sensação diferente me atingir e de uns dias para cá meus demônios andam
quietos, mas eu os vejo à espreita, eu sempre os vejo.
— Se continuar assim logo irá ler e escrever facilmente. — Seus
grandes olhos azuis quase brancos parecem vasculhar nos meus
encontrando algo que apenas ela parece enxergar.
— Se continuar me ensinando posso fazer tudo que desejar.
Sua mão toca meu rosto coberto pela balaclava e a vontade de
arrancá-la apenas para sentir seu toque queima em meu peito, mas logo me
recordo do rosto que há por baixo, da imagem que não reconheço e sei que
como eu, ela jamais verá algo de bom nisso, então recuo.
Suas mãos me puxam para um beijo e então todo o aprendizado é
deixado de lado quando a trago para a minha poltrona e a coloco em meu
colo.
— Agora a minha recompensa.
— Mas nem começamos.
— Não importa, podemos terminar depois. — Sua gargalhada me
envolve e nada mais faz sentido sem ela.
Tirando sua roupa, sentindo sua pele na minha, meu corpo sempre
queima por ela...
(...)

— Anônimus, precisamos ir. — Damian me arranca dos meus


pensamentos ou sonhos, não sei bem.
— Vamos! — Num pulo coloco-me em pé e seguimos para a
reunião que irá encerrar essa parte nada agradável da minha existência.
Enquanto caminhamos começo a me recordar de tudo que Damian
me informou, me chamo Artan Kapllani, primogênito de Lucco Kapllani,
herdeiro do cargo de chefe da Kompania Bello, como iríamos provar?
Damon enviou meu material genético junto ao de Lucco para ser analisado,
e sim, foi comprovado que sou seu filho. Documentos falsos foram criados
desde a certidão de nascimento até a carteira de motorista e em breve
certidão de óbito, assim que Damon assumir, eu irei desaparecer.
— Bom dia, senhores! — Stefan cumprimenta assim que a porta se
abre.
— Gostaria de saber o que pensa que está fazendo convocando o
conselho de uma máfia que nem mesmo é a sua?
— Tem razão, não tenho poder sobre isso, mas meus anjos têm
poder sobre todos e por eles, todos que estão aqui, exceto você, foram
convocados e aceitaram de muito bom grado essa convocação. — Quando
diz isso Stefan sorri e os anjos presentes parecem ansiosos.
Vejo o homem à minha frente tremer, sentando-se, já que ainda não
é nada e a máfia apesar de estar sob seu comando decidiu em maioria ouvir
o chamado do mal.
— Bem, como todos sabem, Rylian está a dias de assumir a chefia
da Kompania Bello em um casamento que foi tratado há 16 anos, mas as
coisas mudaram.
— Está blefando! — O homem ergue-se furioso cuspindo enquanto
esbraveja. — Meu casamento não será anulado, não existe a mera
possibilidade de que isso aconteça.
— Sente-se! — Dimitri empurra seu ombro para baixo e crava uma
faca em seu pulso, fazendo-o gritar como o porco imundo que é.
— Desgraçado!
— Se continuar atrapalhando vai conhecer os motivos de ser
conhecido como Anjo das Sombras. — Sua ameaça parece afetar a todos
que não emitem som algum.
— Prosseguindo, este é Artan Kapllani, primogênito de Lucco
Kapllani, herdeiro do cargo de chefe da Kompania Bello, o chefe por
direito. — Sou apresentado e recebo uma pasta das mãos de Dusham que é
jogada por mim sobre a mesa à frente de todos.
— Aí está a prova de que sou herdeiro legítimo...
— Não seremos governados por alguém que não mostra nem
mesmo o seu rosto. — Um homem grasna em desafio e minha paciência
que nunca existiu evapora.
Puxo nas minhas botas o punhal que há poucas horas havia socado
no cu de Lucco e num movimento o cravo em sua garganta.
— Mais alguém disposto a me interromper, desejando ver meu
rosto? — Os encaro e todos se calam. — Não quero nada de vocês, mas
darei a Lule Kapllani a chance de se casar com alguém que não seja um
porco imundo como você. — Lanço a faca que se crava no olho direito dele
e vejo seu corpo tombar para frente batendo sua cara sobre a mesa. — Passo
meu direito ao cargo a Damon Dothraki, o Anjo da Perversão, ele irá se
casar com Lule Kapllani e governará segundo suas leis. Alguém disposto a
questionar minhas vontades? — O silêncio reina outra vez.
Tudo que faço e como me porto é da mesma forma como vi os
mestres se comportarem por anos, mostrando seu poder e jamais se
curvando a quem quer que seja, levando o medo a todos e os instigando a
recuar.
— Tragam o livro das leis, eu não tenho o dia todo — esbravejo e
vejo pela minha visão periférica Dimitri e Dusham sorrirem de canto
enquanto o livro é entregue nas mãos de Stefan.
Ele me mostra onde assinar, e faço um grande A seguido de um
rabisco, então corto meu polegar e com o meu sangue selo a minha vontade.
Colocando-me ao lado de Damian vemos Damon assumir a Máfia Albanesa
assinando da mesma forma que fiz e marcando com seu sangue o lugar, sei
que ele terá muitos problemas pela frente, mas nada disso é da minha conta.
— Gostei da forma como se portou, Demônio — Damian sussurra e
quando o encaro pisca para mim. — Como um verdadeiro líder.
— Sou Anônimus, aprendi muito bem com meus mestres como
impor as minhas vontades. — Sua mão bate em meu ombro e não entendo o
motivo deste gesto.
Quando Damon dá por encerrada a reunião sou guiado por Dusham
e os Anjos para longe dali.
Capítulo 67

Dois dias e não tenho notícias suas, caminho de um lado para o


outro como um leão enjaulado, se pego o desgraçado arranco sua máscara
no chute. Quando me viro percebo que não estou sozinha.
— Algo que deseje compartilhar? — Minha mãe, a mulher mais
linda e doce que conheço está com os braços cruzados com seus longos
cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo alto e com seus grandes olhos
azuis me encarando.
— Não adianta esconder, não é? — pergunto inquieta.
— Nunca adiantou, e de fato também nunca tentou, por que
começaria agora? — Caminhando, ela se aproxima de mim sentando-se na
beirada da minha grande cama.
— Estou assim por dois motivos, primeiro, Anônimus, acredito que
ele é a nossa pessoa. — Seus grandes olhos não parecem tão surpresos. —
Segundo, disse ao papai que quero ser uma assassina que trabalha para a
Triglav.
— Uau! Vamos com calma. Anônimus? — O grande ponto de
interrogação em suas palavras me faz sorrir de canto, ela não está me
repreendendo, está me achando corajosa.
— Acho que desde o momento em que o vimos a primeira vez.
— Meu amor, você era apenas uma criança. — A encaro e a vejo
respirar fundo.
— Desculpe, me expressei mal, não que o desejasse naquele
momento.
— Ficou intrigada por ser ele o seu salvador? — Seu
questionamento se dá porque o mesmo aconteceu com ela, apenas confirmo
com um acenar de cabeça. — Bem, pelo que vemos a fruta realmente não
cai longe do pé. Meio que a minha história se repete com você. Mas conte a
mamãe como foi todo esse período em que passaram juntos?
Então decido lhe contar desde o princípio, em como nós duas
víamos nele algo que só nós enxergávamos, em como eu gosto de sentir dor
e causar dor, em toda a loucura que isso me causa e o quanto desejo mais
dele e do fato de ele não me tratar como se eu fosse quebrar ou tivesse
medo do meu pai, e da forma com que sempre me senti diferente das
minhas primas por não acreditar que me encaixava em lugar algum, e hoje
entendo que é porque eu não sou como elas e gosto de matar pessoas.
— Entendi, querida, está tudo bem, depois converso com a sua irmã.
— Dona Kitana depois que entendeu tudo sobre nós nos trata como pessoas
únicas, porém que se completam num todo.
— Eles fizeram uma aliança de sangue. — Agora eu vejo o pânico
em seu rosto. — Mãe, preciso o fazer ficar por ela.
— Será que ele entendeu o significado disso para nós?
— Eu não sei, mas com certeza ela deve ter explicado.
— Prevejo o seu pai puxando os cabelos.
— Essa parte parece divertida.
— Morgana!
— Ah! Tio Dam sabe de tudo.
— Agora eles se matam de vez.
Gargalhamos juntas, porque meu pai e meus tios vivem numa eterna
quinta série.
Cheguei a Varsóvia, na Polônia, pouco mais de duas horas depois,
sendo escoltado por Dimitri, quando pousamos Atos já nos aguarda e após
uma hora de helicóptero chegamos às instalações da Triglav. Sou colocado
para dormir por três dias pelo mestre que agora insiste que o chame pelo
nome, algo que para mim ainda é falta de respeito e motivo de ser morto.
Agora, depois de saber que segundo a Dra. Monike eu tive uma dor
lancinante da qual não me lembro foi necessário me apagar para monitorar
meu cérebro e a informação que me deu é de que não há nada de errado
com ele, que já não estava lá antes. Há uma hora fui informado que as
cirurgias de retiradas das balas de sonífero dos meus irmãos foram feitas
assim que chegaram e que todos estão bem de saúde.
Começo a caminhar pelos corredores do lugar indo ao aquário de
observação de onde teremos uma reunião e poderemos ver todos eles em
seus quartos, assim que viro à direita encontro o Anjo das Sombras.
— Indo à sala de observação?
Imagino que estejamos indo para o mesmo lugar.
— Sim.
— Vamos, falta apenas nós dois.
Alguns passos à frente e atravessamos as portas do lugar onde todos
já nos esperam.
— Chegaram! — Dra. Monike informa caminhando em direção ao
Dimitri.
— Então, estamos todos aqui para escolher um destino para os
últimos sete Obscuros e essa decisão será tomada por Anônimus. — Ele me
olha e aceno com a cabeça. — O Dr. West vai explicar tudo e o que não
entender basta apenas falar que explicamos de outra forma, tudo bem?
— Sim.
— Bom dia a todos, bem, sobre os seis homens que estão neste
momento encolhidos nos cantos, como podem bem ver, seus cérebros foram
destruídos, não existe recuperação, desde que chegaram aqui fizemos
exames e encontramos altos índices de compostos químicos ainda não
descobertos, preciso confessar que jamais, em todos os anos de trabalho
médico vi algo parecido. — Seu olhar é assustado. — Estes homens foram
transformados em animais, agem e reagem como tais, se a Triglav estiver
disposta a mantê-los desta forma creio que o controle pode ser feito com
microchips de choque instalados em seus cérebros para controlá-los fora
dos muros da organização, ou com as coleiras de explosivos que eles
usavam e que já retiramos. Dito isto, caso não seja de interesse mantê-los eu
indico eutanásia.
— O quê? — Essa última palavra nunca ouvi antes, preciso entender
o que significa.
— Eutanásia é morte assistida, o Dr. West indica que devemos matá-
los para acabar com o sofrimento deles. — Ouvir isso não me agrada e olho
para o mestre curioso com o que irá fazer.
— Anônimus, precisa escolher o que fazer.
— Não podemos reiniciá-los? — Todos olham agora para Dra.
Monike.
— Se essa for a sua vontade podemos tentar, mas levar seus
cérebros a reiniciar para esquecer como já foi testado em alguns de vocês na
situação em que estão é uma forma de matá-los enquanto os torturamos.
— Existe alguma chance?
— No estado em que estão menos de um por cento. A estimulação
por choque tende a derreter ainda mais seus cérebros.
— E quanto a mim? — Ela olha de mim para Atos.
— Após seus exames, cinquenta por cento, suas dores de cabeça são
sintomas persistentes do tiro que levou, podemos matá-lo, curá-lo de uma
vez ou deixá-lo em estado vegetativo sob uma cama para sempre.
Enquanto os encaro repasso em minha mente o motivo do porquê
preciso voltar a ser quem era antes dela. Protegê-la, mantê-la viva e bem
longe de mim, um demônio que anseia castigá-la a ponto de quase a matar e
protegê-la a ponto de sufocar.
— Faça com eles, preciso saber o que acontece, depois comigo, mas
peço que não me deixem vegetando sobre uma cama, uma bala no meio da
testa e me junto aos meus no inferno.
Todos se entreolham.
— Essa é a sua decisão? — Atos questiona.
— Sim.
— Comecem. — A ordem é dada e todos começam a se
movimentar.
Logo saberemos qual será o nosso destino.

— Estamos com tudo pronto, Atos, basta apenas posicioná-lo.


Caminhamos em direção à porta onde finalmente poderei manter o
mundo dela longe de um demônio maldito como eu. Nenhum dos meus
irmãos resistiram, os seis morreram juntos, comigo os observando, o desejo
de estar ao lado deles me consumiu, então sigo com o plano de me reiniciar.
Se morrer irei aceitar o mesmo destino dos meus irmãos, se viver, terei
certeza de que a estou protegendo, é muito melhor me ter longe. Um choque
forte e sou programado para matar ou enviado ao inferno. Isso era feito
conosco naquele lugar, quando não seguimos a direção deles,
reiniciávamos, talvez por isso as dores, ou não.
Assim que ouço a porta se fechar atrás de mim, começo a tirar
minha roupa ficando completamente nu, por último a minha máscara junto
à minha balaclava.
Dra. Monike com um pouco de medo me entrega um avental para
que o vista e logo sou direcionado à poltrona, onde tenho meu corpo
amarrado e um mordedor é colocado em minha boca.
— Essa técnica é medieval, antes de continuar preciso confirmar se
é isso que quer?
— Sim — respondo mesmo com a dificuldade de ser entendido por
conta do mordedor.

Os ouço falar sobre TEC[19] que é um tratamento real e funcional,


mas o que estamos prestes a fazer aqui é desumano e pode me deixar
babando em cima de uma cama ou me matar caso não funcione, mas todas
essas opções são melhores do que machucá-la.
Enquanto ouço todos os passos das pessoas à minha volta, olho para
cima vendo o mestre e Dimitri ao seu lado, então fecho meus olhos e como
um grande telão todos os meus dias com ela começam a ser vistos por mim,
todas as minhas reações e meus sorrisos sob a máscara, a forma com que
seu olhar perverso me desafiava ou quando parecia ver em mim muito mais
do que eu realmente sou, elas se misturam em minha mente, sinto o calor do
seu toque e me imagino ajoelhado à sua frente enquanto revelo meu rosto
ansioso para que entenda que isso é muito mais poderoso que qualquer eu te
amo dito no mundo. Eu me mostraria indefeso e vulnerável, olharia em seus
olhos implorando com todos os demônios existentes em mim que
entendesse que apenas ao seu lado toda a minha imundície e podridão
sumiam, me tornavam limpo e talvez digno de seus sentimentos, digno das
suas duas versões. Esse gesto lhe mostraria que eu entendia e entenderia por
toda a minha vida apenas pelo olhar e que teria de mim o que buscava,
amor.
— 3, 2, 1.
Mas estou longe demais para realizar esse pensamento e quando
ouço a voz da Dra. Monike iniciando a contagem regressiva eu me entrego
de vez à escuridão.
Capítulo 68

Um ano depois...
Doze longos meses, os seis primeiros deles meu pai castigou os
trigêmeos e a mim, passamos pelo treinamento de todos os Anjos e só
quando acreditaram estarmos bons o suficiente, fomos aprovados. Uma
semana depois Apolo, Aquiles e Eros voltaram para Roma, pois precisavam
ajudar a Máfia Italiana em uma grande mudança feita pelo seu Don Khan
Espossitto.
Ângelo, o novo chefe da Máfia Sérvia, me aceitou como o Anjo da
Maldade, alcunha dada pelo tio Damian. Apesar de tudo caminhar
conforme eu desejava algo me inquietava, Morgana nunca mais apareceu,
desde que soube que Anônimus a tinha abandonado, mesmo tendo feito
com ela uma aliança de sangue. Vasculhei o maldito mundo atrás dele e
nem mesmo Atos conseguiu esconder de mim que o Obscuro que eu
conhecia havia morrido.
Meu pai por vezes questiona o motivo de ela ter sumido, mas não
insiste muito, já que sabe que pode estar demonstrando que não me quer em
detrimento dela, jamais contarei a ele o motivo real, é algo apenas dela e só
ela poder revelar a ele. Eu sinto que finalmente minha vida encontrou
algum sentido. Não vou negar que sinto falta daquele desgraçado maldito e
mesmo com alguns homens tentando se aproximar de mim, penso que
jamais irei conseguir ser tocada por outro além dele e isso me enfurece
ainda mais.
Como aquele demônio morre e não me leva para seu inferno?
— Maldito! — Cuspo as palavras enquanto caminho rumo aos
subterrâneos. Preciso me apresentar para a nova missão e estou louca para
arrancar os corações dos desgraçados que ousaram interceptar a nossa
última carga de drogas.
Todos os homens que me veem curvam levemente suas cabeças em
respeito, algo que apesar de vir dos meus tios e pai, conquistei por ser quem
agora eu sou. Os saltos das minhas botas batendo contra o chão faz um
barulho engraçado, enquanto me aproximo da bifurcação que irá me levar
até o centro de treinamento no subsolo, quando meus olhos não acreditam
no que veem. Meu corpo inteiro tem os pelos eriçados de raiva e com a
fúria borbulhando corro em sua direção lançando meus dois pés em seu
peito, jogando o corpo do maldito Obscuro longe, deixando o cão ao seu
lado em estado linha de ataque.
Antes que ele corra até mim com aqueles olhos azuis assassinos um
assovio acontece e seu nome é chamado.
— Anúbis!
— Você está vivo? — esbravejo enquanto se coloca à minha frente
em posição de ataque.
— Recue! — Meu coração bate acelerado.
— Recuar? Vai me dizer onde diabos esteve por todos esses meses?
— Não quero te tocar, é uma mulher Triglav, não posso nem mesmo
olhá-la.
— Nem no inferno, não pode me olhar? Você já me fodeu, seu
demônio maldito!
Parto para cima dele e começamos a lutar, enquanto ataco, ele
apenas se defende, juro por todos os demônios que mato esse filho da puta
maldito.
— Ela desapareceu por sua causa! — grito socando seu estômago
num momento em que ele baixou sua guarda.
— Recue.
— Isso é tudo que tem para me dizer depois de lhe dizer que me
pertencia como você também me pertencia? — Puxo os dois bastões
alongando-os em um único movimento.
— Não sei do que está falando.
— Ah, então eu vou te lembrar.
Começo a atacá-lo enquanto o cão late alucinado, aguardando
apenas uma ordem dele. De forma simultânea vou acertando e recuando
enquanto ele avança para me afastar e recua para não me bater.
— Lute como um Obscuro! — Meu ódio ultrapassou todos os níveis
e minha sanidade parece ter me abandonado.
— Morgana, já chega! — meu pai grita e o vejo paralisar. Ofegante,
me mantenho parada, ansiando por cravar minha faca em sua garganta.
— Você a tocou? — meu pai agora esbraveja furioso, segurando
Anônimus pela máscara.
— Não, senhor. — Sua resposta me deixa louca.
— O quê? Você tirou a minha virgindade na sua casa! — grito
furiosa.
— Puta que pariu! — tio Dusham fala e então percebo que os quatro
Anjos estavam vendo toda essa merda.
— Vou matá-lo. — Meu pai arma um soco e Anônimus nem mesmo
reage.
Quando o soco o atinge ele cai no chão e meu pai como um touro
parte para cima dele socando e socando sem que ele reaja, meu desespero
me toma por completo e grito para que meu pai pare, mas ele não me ouve,
não neste momento. Os socos são desferidos de forma violenta enquanto o
cão continua latindo e meus tios me seguram.
— Me soltem, ele vai matá-lo! — Tento me desvencilhar, mas sou
impedida.
— Levem ela daqui, vou mostrar a todos neste lugar que não se
pode desobedecer a uma ordem minha.
Enquanto tio Dimitri me arrasta dali, vejo meu pai se levantar
arrastando Anônimus pelo chão desmaiado e sei para onde ele vai levá-lo,
para o subterrâneo.
Capítulo 69

Acabo de chegar a Belgrado após treinar os soldados que estavam


sendo iniciados nas instalações da Polônia, precisava ver a Dra. Monike,
tenho tido sonhos com uma mulher que sempre aparece para mim no
escuro, sinto seu toque em meu corpo, então depois a vejo pendurada em
ganchos implorando por mais, mas nunca consigo ver seu rosto. Isso vem se
repetindo continuamente e sempre que acontece sou alimentado, porque
meu estado diabólico parece triplicar. Meu desejo? Que pudesse tê-la
realmente longe dos meus sonhos, adoraria ter seu corpo apodrecendo em
meus ganchos enquanto fodo seu rabo.
Sinto a vibração dos meus músculos em expectativa, preciso ir até lá
e foder todos os malditos buracos que conseguir.
— Anúbis! — chamo minha cadela, a treinei por todo o ano na
Polônia, um presente do mestre para mim.
Pronto, decido seguir com ela na minha cola, estou aqui há uma
semana e como de costume não fico caminhando por aí, mas hoje os túneis
estão obstruídos, preciso atravessar o condomínio.
Tendo flashes de gemidos e sentindo meu pau ainda mais duro nas
calças, estou perto da entrada quando tenho meu corpo lançado longe,
sendo atingido por alguém, quando Anúbis vai atacá-la não permito.
Analiso todo o conjunto, ela usa roupas coladas e botas, não consigo ver seu
rosto já que usa uma balaclava de material fino, mas que dificulta muito a
visualização.
Nós lutamos e pelo que fala parece me conhecer, tudo que faço é me
defender, se machucá-la o mestre me envia para o inferno. Ela luta como
um Obscuro e sinto emanar dela um ódio tão mortal quanto o meu quando
estou no meu pior momento. Nada do que ela diz é real e luto contra meus
demônios para acordar, eu só posso estar em um pesadelo, por isso sigo me
defendendo.
Minha cabeça está uma bagunça como uma tv tentando encontrar
um sinal, agora ela é tirada do meu campo de visão e uma dor lancinante
atinge minha cabeça, quando sou novamente lançado ao chão enquanto
ganho socos tudo parece longe, não entendo o que ele fala e os latidos de
Anúbis parecem muito distantes, então um som ensurdecedor alto e fino
traz um clarão e eu não vejo mais nada.
Não abro meus olhos, mas acordei, tento entender como estou e sei
que estou sentado, movimento-me e percebo que estou amarrado. Foco
minha atenção e ouço uma discussão.
— Você sabia? Sabia que minha filha e esse demônio estavam
juntos? Desde quando?
— Darko, Morgana tem a máscara dele tatuada nas costas na cara do
seu anjo.
Já ouvi esse nome em algum lugar, mas onde?
— Todos sabiam?
Abro meus olhos e vejo quatro homens e ao vê-los sei quem são, os
Anjos da Escuridão. O que eles fazem aqui e por que estou amarrado? Onde
está o mestre? Observo ao redor sem entender.
— Não é tão maravilhoso ser o marido traído sendo o último a
saber? E ainda que Morgana tenha escolhido o demônio para ser sua pessoa
é divertido estar do outro lado.
— Dusham! Cale sua maldita boca!
— Por que está bravo? É a minha revanche, todos os três
esconderam tudo de mim, um pouco do próprio veneno não vai matá-lo.
Dimitri e Damian gargalham e Darko soca a cara de Damian com
força.
— Isso é por acobertar tudo, ela é minha filha, eu a protejo!
— Ela é minha também, todos os filhos de vocês são meus, então
enfie sua arrogância no rabo, eu disse para ela domar o demônio e o resto
eu daria conta, se você ousar tentar fazer algo contra isso enfio sua cabeça
na sua própria bunda. Ninguém se mete no relacionamento dela, ou acha
que me esqueci que foi para você que Romeu e Antonella ligaram quando
precisaram de ajuda para nos contar sobre estarem juntos?
— Não é a mesma coisa, ele é um maldito Obscuro.
— E Romeu e Antonella foram criados como irmãos e são meus
filhos.
— Não olhe para mim — Dimitri fala. — Vocês se juntaram nas
minhas costas para tirar Isaac da prisão aos quinze anos, até hoje quero
chutar a bunda de vocês.
— Estamos mesmo lavando roupa suja aqui? — Dusham atravessa a
conversa.
Eles seguem discutindo quando minha cabeça volta a doer como o
inferno, então tudo parece voltar à minha memória. Não eram pesadelos,
eram lembranças. Que porra aconteceu? Que merda! Minha cabeça ferve e
eu preciso encontrá-la, preciso daquele olhar e preciso realizar o que eu
sempre desejei, me revelar a ela e esperar que ela entenda o que nem sob
tortura conseguiria expressar em palavras.
— Ei! Podem me soltar? — Os quatro me olham, sinto que meu
rosto está quente e vejo o sangue escorrer. — Merda!
— Soltar? Eu te dei uma maldita ordem de não tocar na minha filha.
— Não é como se fosse tão fácil resistir àquela Libélula perversa.
— Desgraçado! — Um soco me atinge, depois outro, deixando-me
tonto.
— Se continuar me batendo e não me soltar eu vou arrancar seu
maldito coração e comer — rosno! — Ela é minha! E nada, nem mesmo
você vai me impedir.
Ao ouvir minhas palavras, Darko enlouquece sendo contido por
Dimitri e Dusham que precisam socá-lo para que ele recue.
— Pai! — Sinto o reverberar de suas palavras em meu corpo e tudo
para no instante em que foco meus olhos nos seus.
Com meu coração batendo acelerado no peito e com todas as
memórias reaparecendo em minha mente, inclusive o meu pedido idiota de
me reiniciar para então a esquecer e protegê-la.
A forma com que Darko parece assustado demonstra que nem
mesmo ele entende o motivo de ela estar aqui, Morgana aperta seus dedos
com força e seu olhar vai direto para o chão.
— Me tirem daqui! — grito porque preciso protegê-la e tirá-la
daqui, ela não gosta de estar exposta, não se sente segura dessa forma.
— Por favor, pai, não o machuque.
— O que quer dizer com isso, princesa Morg? — Ele se mantém
surpreso e longe enquanto me debato na cadeira desesperado para abraçá-la.
— Ela precisa de mim, me tirem daqui! — esbravejo e seu olhar
agora está focado em mim.
— Eu vim para pedir que não machuque mais a minha pessoa.
Ninguém parece entender essa versão dela, estão todos mudos.
— Ele é a sua pessoa? Aquele demônio é a pessoa da minha
princesinha?
— Me soltem, não estão vendo que ela não está confortável assim?
Ela precisa de mim — falo, mas não me ouvem e eu quero matá-los.
— Sim. — Quando ela o olha a lágrima escorre, suas bochechas
estão vermelhas e eu quero assassiná-los por permitirem que ela continue
sendo torturada.
— Morgana! — grito seu nome assustando-a para que foque em
mim. — Venha até aqui, pequena libélula — peço controlando meu tom de
voz para não a assustar ainda mais. — Por favor.
Meu peito queima em desespero e meu corpo pinica desesperado.
Quando ela dá o primeiro passo Darko segura seu braço a assustando por
estar na frente de seus tios e de alguns soldados.
— Não toque nela! — Eu me chacoalho novamente, estou
enlouquecendo.
Ele a solta e ela caminha lentamente quase que de forma torturante
até mim, parando à minha frente, se ajoelhando.
— Você voltou para mim? — Suas mãos tocam minha balaclava
ensanguentada.
— Não toque, está sujo. — Ela sorri tímida, mas não retira a sua
mão.
— Achei que tinha desistido de mim. — Ela começa a soltar as
minhas mãos.
— Fui um grande imbecil, achei que protegeria você se estivesse
longe. — Neste momento não existe ninguém ao nosso redor que importe e
mantenho meus olhos focados nela. — Me perdoe. — Quando o azul quase
branco dos seus olhos encontra os meus, ela sorri.
— Só se me prometer que jamais irá embora novamente.
— Nunca.
Já solto, a pego nos braços enquanto ela afunda seu rosto em meu
peito.
— Pode me tirar daqui, não quero mais que me vejam — sussurra
tímida.
— Vou levá-la para minha casa, tudo bem?
Sem dizer nada apenas concorda com um leve acenar de cabeça.
— Anúbis, junto!
Saio de lá carregando a minha Libélula medrosa sob o olhar atento e
chocado de todos os presentes e sendo escoltado pela minha cadela.
Capítulo 70

Reuni todas as minhas forças quando Morgana me disse o que


estava acontecendo, havia decidido me manter escondida e dar a ela a vida
que havia tentado dar a mim, mas enquanto ela buscava por mim gritando
que iam matá-lo se não fizesse nada precisei agir.
Sentindo o pânico e o desespero tomar conta de mim por ficar na
frente de tantas pessoas eu vou até ele, o desejo de reencontrá-lo é maior
que o medo de enfrentar meu pai muito furioso e meus tios ao lado dos
soldados da Triglav. Não acreditava que o veria novamente, mas enfrentar
meus medos por ele acabou valendo a pena, já que neste momento ele me
carrega em seus braços levando-me até a sua casa.
Saber que é real, não um dos muitos sonhos que tinha com ele, que
mais se pareciam pesadelos que faziam com que a dor consumisse minhas
entranhas e deixava meu coração batendo muito forte contra o peito.
— Chegamos — ao falar tenho meu corpo colocado sobre a cama e
seu rosto machucado me deixa apreensiva.
— Preciso cuidar dos seus machucados. — Ouvir minhas palavras o
faz paralisar.
— Já volto.
Sinto seu cheiro nos lençóis e sorrio por finalmente o ter na minha
vida, olho para a palma da minha mão contemplando a linha fina da marca
de nossa aliança de sangue, meu corpo começa a relaxar e o medo que
parecia me dominar agora diminui. Fecho meus olhos tentando controlar
todos os sentimentos quando sinto algo tocar minhas pernas, é Anúbis.
A forma como seu olhar me hipnotiza me faz sorrir, logo sua cabeça
está em meu colo fechando seus olhos quando passo meus dedos pelos seus
pelos.
— Estava com ele todo esse tempo? Fico feliz que tenha tido a sua
companhia.
Não sei quanto tempo se passa quando ele volta de lá com a toalha
enrolada na cintura e uma balaclava limpa na cabeça.
— Morgana. — Ele olha para Anúbis com a cabeça em meu colo e
seu olhar parece surpreso. — Ninguém a toca além de mim.
— Ela é linda e parece querer estar perto.
— Certo, mas no momento preciso ficar a sós com você. — Com
um assobio ele a retira do quarto e fecha a porta.
— Preciso cuidar dos seus machucados. — O vejo se ajoelhar na
minha frente.
— Não queria ter agido da forma que agi, mas pela primeira vez eu
tive medo.
— De quê?
— Não sou alguém confiável, sempre desejando matar você levando
seu corpo ao limite, contendo todos os demônios para que se afastassem,
tudo se tornou uma grande confusão e acabei achando melhor me afastar,
morreria se soubesse que a tinha machucado e se a fizesse chorar.
— Nunca me machucou, nós sempre soubemos das nossas
diferenças e sempre entendeu como agir com cada uma de nós.
— E se eu falhar? — Ele parece buscar respostas que não tenho.
— Precisamos contar que algo assim pode acontecer. Eu amo você,
Anônimus, nós amamos à nossa maneira, e você? O que sente por nós?
Ele fecha seus olhos como se estivesse sentindo dor, como se
reunisse forças para pôr em palavras, quando seus olhos se abrem existe
uma determinação que ainda não havia visto. Anônimus retira lentamente a
sua balaclava com a cabeça baixa, então seu rosto se ergue lentamente e eu
entendo a sua resposta, ele também nos ama.
Apesar de muito machucado de um lado, Anônimus é um homem
lindo, seu rosto é perfeito e se parece com o de um anjo, existe uma linha
fina do lado pouco inchado.
— Você é perfeito!
— Pareço um monstro, é feio e nada prazeroso me olhar.
— Não — nego com a cabeça também.
— Não reconheço este rosto, Morgana, não o reconheço como meu,
eu sou isso aqui. — Estica sua mão e pega a máscara na gaveta da mesinha
ao lado da cama. — Isso é quem sou — aponta para a máscara. — Esse sou
eu de verdade.
Toco seu rosto entendendo o que Anônimus me diz, foram tantos
anos condicionado a ser quem é, que não se reconhece como de fato é sob a
máscara.
— Eu amo as duas versões de você. — Aliso seu rosto e ele fecha os
olhos, quando lágrimas escorrem deles. — Está doendo? — pergunto
preocupada.
— Não, é que ninguém jamais me viu como você.
— Eu vejo você, Anônimus. — Trago seu rosto para perto do meu
dando-lhe um beijo suave nos lábios machucados.
Ajeito-me na cama, me sentando na beirada e colocando-me bem à
sua frente.
— Preciso buscar os materiais para fazer seu curativo.
— Fique mais um pouco. — Aproximando-se de mim ele repousa
sua cabeça em meu colo envolvendo seus braços em minha cintura. — Não
quero te perder, Morgana.
— Jamais irá me perder.
— Não posso te dar filhos, não desejo isso, não quero te prender a
alguém que não te dará o que todos que se relacionam buscam. — Tem
temor em seus olhos.
— Não quero ninguém além de você, nós não desejamos filhos, não
somos como nossas primas, eu por temer não saber cuidar, só de imaginar
que alguém dependa de mim para viver e vir ao mundo, sinto o ar faltar no
meu peito, sinto a sensação de que posso desaparecer até simplesmente
sumir, jamais desejei uma família nessa configuração. Acho maravilhoso
ver como meus primos enchem suas casas, mas nem mesmo consigo ficar
em lugares com eles, me escondo e entro em pânico apenas por imaginar,
essa parte fica para ela, não para mim, não serei a pessoa que vai às
confraternizações, não me sinto bem com ninguém além de você, meu pai,
minha mãe e meu irmão.
— E ela? O que ela pensa disso?
— O mesmo que eu, ela se tornou o Anjo da Maldade, trabalha para
a Triglav agora, mas vou deixar que conversem quando estiverem juntos. —
Aliso seu rosto. — Acredito que agora ela irá aparecer muito menos, isso é
algo ruim?
— Nós vamos saber organizar tudo.
— Será muito mais eu do que ela, Anônimus, é você quem me
mantém perto, é você que me causa o gatilho e me puxa para o fronte —
alerto. — O meu maior medo é não ser suficiente.
Suas mãos machucadas agora seguram meu rosto.
— Nós daremos um jeito, iremos permanecer juntos, longe de tudo e
de todos, podemos morar na casa da montanha, sei que se sente confortável
lá, posso comprá-la do seu pai. — Sorrio de suas palavras.
— Se manteria isolado por mim?
— Eu morreria por você.
Capítulo 71

Assim que guardo tudo que ela utilizou para cuidar dos meus
ferimentos, volto para o quarto deixando toda a luz de fora entrar, com
cuidado pego sua mão puxando-a para colocá-la em pé no chão.
Com seus olhos brilhando de uma forma que jamais havia visto ela
sorri quando meus dedos tocam seu corpo, sem pressa começo a tirar todo
tecido que a esconde de mim fazendo minha boca salivar ao ver seus seios
redondos e pesados. Ajoelho na sua frente tirando a sua bota e em seguida
sua calça junto a sua calcinha minúscula.
Aproximo meu rosto de sua boceta inalando seu cheiro de mulher
excitada, meu pau já está duro e desesperado por me enterrar nela, mas
preciso venerá-la um pouco mais. Com meus dedos abro um pouco suas
dobras passando a ponta da minha língua em seu clitóris e o gemido que ela
solta é como música atingindo meus ouvidos.
Desesperado para analisar cada um dos seus gestos, olho para ela
enquanto deslizo minhas mãos pelo seu corpo subindo até seus seios que
são cobertos completamente pelas minhas mãos que parecem buscar tocar e
memorizar cada pedaço percorrido.
— Anônimus... — Meu nome sai de forma sôfrega de seus lábios
quando me ergo puxando sua boca para um beijo demorado sem me
importar com os meus machucados. Neste momento é tudo sobre seu corpo
no meu enquanto a claridade me permite ver tudo que desejei.
Com a mão em sua coxa a puxo para cima tendo suas pernas
envolvendo minha cintura e um grunhido escapa quando sua boceta aberta
acomoda meu pau contra a minha pelve. Sinto o rebolar gostoso e incontido
que ela inicia. Sigo caminhando com ela até a parede mais próxima
prendendo seu corpo contra ela, enquanto minha mão posiciona meu
membro em sua entrada deslizando minha glande pelas suas carnes
molhadas.
— Por favor!
— Me diga pelo que implora. — Colo minha testa na sua contendo
todo o maldito inferno dentro de mim que me puxa com força para que seja
o que sempre sou, mas nunca serei com ela.
— Não me torture, preciso de você dentro de mim. — Como se suas
palavras fossem a chave que destrava todas as minhas portas, meto de uma
só vez meu pau em sua boceta, o que arranca de mim um rosnado de prazer
que jamais havia soltado.
Parece que hoje Morgana está me dando muitas primeiras vezes. A
cada estocada ela geme deliciosamente para mim, não tiro meus olhos dos
seus e continuo me movimentando enquanto ela se perde nas sensações que
eu lhe causo, e isso me torna o demônio mais possessivo do mundo,
ninguém jamais vai ouvir seus gemidos além de mim.
Nossos corpos buscam por mais do outro quando sinto que minha
temperatura aumenta e algo percorre minhas costas se concentrando na
minha lombar. Eu me esfrego um pouco mais e sigo metendo, aumentando
agora o ritmo estipulado, suas unhas se cravam em minha nuca e isso é o
início do meu fim.
— Goza no meu pau, Libélula.
— Não para, está me guiando ao orgasmo mais intenso que já senti.
Continuo aumentando a força das arremetidas quando seu corpo
começa a sofrer pelos espasmos de seu gozo.
— Abra seus olhos, os mantenha em mim, quero ver o prazer que te
dou através deles. — Obedecendo minha ordem ela os abre e assim que os
vejo, gozo forçando os meus olhos a permanecerem abertos.
A minha vontade agora é de me fundir a ela, permanecer aqui para
sempre sem jamais precisar me afastar.

Estou com ela sobre meu peito alisando seus cabelos, sei que ela
está exausta depois de algumas rodadas de sexo onde em duas delas ela
gozou mordendo as fronhas dos travesseiros enquanto a chupava com fome.
— Quando encarei a minha situação tive medo. — Inicio a conversa
confessando. — Então escolhi me afastar, mas para isso precisava te
esquecer, de outra forma não conseguiria e esse foi meu maior erro. — Seus
olhos agora estão em mim.
— Acreditei que tinha morrido.
— Eu nunca me considerei um ser vivo, Morgana, existia para servir
e não sei se consigo ser alguém diferente disso.
— Podemos viver como antes.
— Sim, agora eu sei que sim, mas enquanto estávamos lá eu lutava
constantemente para não ser com você o que eu nasci para ser.
— Não pode acreditar que é o que fizeram de você.
— Nunca conheci outra versão. — Beijo sua testa.
— Apenas permita que eu lhe ensine a caminhar por novos
caminhos.
— Estou disposto a viver isso com você.
— Preciso que me prometa uma coisa.
— Tudo que você quiser.
— Quando sentir que é tudo demais para você, me peça por ela.
— Não posso machucar você.
— Não vai me machucar, vai satisfazê-la. — Suas palavras são
firmes. — Somos um complemento, Anônimus, não precisa ser com ela
como é comigo, e ainda que pareça loucura quando satisfaz a mim ou a ela,
você dá prazer às duas.
— Eu prometo, ainda mais porque ela me garantiu que iria me
alimentar.
— Ela não é alguém que não cumpre suas promessas.
— Agora preciso levá-la para casa, conversar com seus pais e depois
com o mestre.
— Não precisa chamá-lo assim, você é um homem livre, Anônimus.
— É apenas costume, ele mesmo me disse para não o chamar mais
assim, quanto a ser um homem livre, nesta parte eu me recuso, estou preso a
todas as correntes que me guiam até você.
Seu sorriso lindo aparece e faz com que eu entenda que aquela
queimação no meu peito é o mais intenso de todos os sentimentos, eu só
não sabia ainda nominar o amor.

Estamos sentados à frente de Darko e Kitana enquanto seguro sua


mão de forma possessiva sob o olhar atento do homem mal encarado à
minha frente.
— Está me dizendo que quer comprar de mim a casa da floresta?
— Sim. Morgana se sente segura lá e eu quero mantê-la protegida.
Darko me encara coçando sua cabeça e posso contemplar o olhar
perverso e cheio de maldade que a versão mais sombria da minha Libélula
também tem.
— Conhece todos os mistérios que envolve a vida da minha filha,
não é?
— Sim, eu amo suas duas versões.
— Vocês são lindos juntos. — Kitana sorri e ainda que esteja usando
minha máscara ela enxerga beleza nisso.
— Por que lá e não aqui? — Entendo seus questionamentos, já que
isso nos manterá afastados de tudo e de todos.
— Porque aqui ela não se sente segura perto de tantas pessoas, e lá é
um lugar que traz a ela conforto.
— Pai, nós só queremos ficar juntos, Anônimus vai nos proteger,
cuidar de nós.
— Como sabe, não sou alguém que de fato exista, conhece mais do
que eu a minha história, não posso dar a ela um casamento na Máfia, mas
Morgana tem de mim mais do que papel pode entregar, minha alma
pertence a ela e todos os meus dias serão devotados a fazê-la feliz. Sabem
que podem ir quando quiserem até lá, não existe empecilhos, mas tanto eu
quanto ela queremos um lugar mais reservado.
— E quanto ao trabalho na Máfia? — O arquear de sua sobrancelha
quase me faz rir.
— Se existir essa vontade faremos o trabalho e voltaremos para
casa, sabe como as coisas funcionam, pai, pode ser que ela apareça e
assuma o fronte por anos, mas pode ser que apenas eu exista como foi por
muito tempo também, não posso falar por ela, apenas por mim.
— E qualquer que seja a vontade de ambas elas serão atendidas por
mim, eu irei protegê-las em toda e qualquer situação.
— A casa é de vocês, não existe a possibilidade de comprá-la de
mim, nós damos a vocês como presente. — Ele passa o braço em volta dos
ombros de sua mulher.
Quando diz isso sabemos que é a sua forma de dizer que abençoa
nossa relação, Morgana já havia me dito que seria assim, mesmo que de
nada adiantasse a sua autorização eu a levaria daqui mesmo contra a sua
vontade, eu farei qualquer coisa que a minha Libélula desejar, e ter a benção
do seu pai era o seu desejo e eu o realizaria, como todos os outros com que
farei questão de presenteá-la.
Epílogo

Dois anos depois...

Estou sentada olhando para a chuva que cai forte do lado de fora
enquanto Anúbis tem sua cabeça repousando em meu colo, por algum
motivo ela decidiu sumir em um dia que os demônios de Anônimus
pareciam indomados, senti seu medo e seu desespero e pude ser o que ele
precisava, mas agora as coisas se acalmaram e tudo voltará a ser como tem
que ser.
Ainda imagino como deva ser seu rosto, nunca o vi, ela me diz que
ele é lindo como um anjo, mas tenho ciência que esta versão dele não seja
para alguém como eu. Respiro fundo fechando meus olhos com força,
tentando tirar essas ideias da cabeça, eu sempre desejei o seu pior lado, não
seria agora que receberia dele o que acredito ser somente para ela.
— Morgana. — O tom poderoso de sua voz me busca pela casa.
— Estou aqui! — grito sem me dar ao trabalho de me levantar, enfio
meus pensamentos secretos no lugar de onde jamais deveriam ter saído.
— Quero você na academia, agora! — sua ordem soa com urgência
e meu corpo entra em estado de alerta.
Caminho pela casa, preguiçosa, acredito que tenha lhe ensinado
sobre poder e domínio e isso é divertido de ver, Anônimus é um homem
insano e sem sentimentos, ao menos não os usa comigo e irritá-lo é a minha
forma de tirar dele toda a camada fria que o envolve.
Abro a porta encontrando a escuridão e não sei que jogo macabro é
esse que ele quer jogar agora, já que faz pouco tempo que me recuperei
completamente das rodadas alucinantes de sexo selvagem. De forma
inesperada meu corpo é lançado contra a parede e tenho meu pescoço preso
pela sua mão.
— Conte-me seu segredo mais profundo. — Não o enxergo, mas seu
questionamento arrepia meus pelos, ele não pode saber o que desejo.
— Não tenho nenhum.
— Não minta para mim! — Tenciono um pouco mais meu corpo.
— Por que mentiria?
— Tenho te visto e sei o que quer, então vou ordenar novamente,
conte-me seu desejo mais profundo. — Meu coração bate disparado contra
o peito fechando meus olhos com força.
— Anônimus. — Sinto que uma lágrima escorre em meu rosto,
enquanto tento persuadi-lo.
— Libélula perversa. — Seus dedos alisam meu rosto sem que solte
o agarre. — Não seja uma garota má.
— É justamente tudo que consigo ser. — Sorrio tentando manter a
calma, Anônimus não lê mentes.
— Chegamos em um ponto onde preciso te mostrar quem manda em
quem, bem como será meu tratamento com você, como desejo que descubra
tudo o que apenas você e mais ninguém recebe de mim, dessa minha versão
torta, sombria e distorcida.
— Eu conheço cada nuance dessa maldade, Anônimus.
— Este é o momento em que você a conhece por completo. —
Engulo o nó que se forma em minha garganta ainda que meu corpo ferva
em antecipação.
Sua mão sai do meu pescoço e me forço a pôr o ar para dentro,
quando a luz baixa se acende revelando a máscara dourada e olhar
assassino.
— Eu vejo você, Morgana, seus pensamentos são meus e conheço
cada um deles, acha que não sei que acredita que apenas me preocupo com
a Morg? Que apenas para ela entrego o meu melhor lado e revelo o rosto
que abomino? — Não entendo suas palavras. — Diga-me o que sente por
este demônio?
— Sabe que apenas preciso domá-lo para ela. — Minha voz quase
vacila.
— Não minta para mim! — Soca a parede com força. — Pare de
mentir para si mesma. — Essa última frase sussurra em meu ouvido
colando seu corpo ao meu me, fazendo sentir seu membro duro tocar minha
barriga. — Diga, revele o que sente.
— Eu te amo — sussurro baixinho. — E desejo que sinta o mesmo
por mim, da mesma forma que sente por ela. — Todas as minhas barreiras
caem neste momento, estou completamente exposta.
A luz se acende completamente.
— Tão medrosa. Se não te conhecesse diria que é a Morg à minha
frente. — Ele beija minha testa com a máscara. — Não existe distinção no
que sinto aqui. — Aponta para o peito. — Tem a mesma intensidade para
ambas.
— É...
— Não precisa dizer nada, Libélula perversa apenas preciso que
confie no que digo, já te disse que não minto e não faria isso.
Devagar o vejo retirar a máscara e tudo acontece em câmera lenta,
meu coração bate na garganta e nem sei o que pensar, amo a loucura do
sexo quase assassino que temos, a forma com que me leva ao limite e não
desejo que seja de outra forma, mas queria o depois, o que ele só dá a ela.
— Você é lindo! — Levo meus dedos ao seu rosto perfeito e nem
mesmo a linha fina da sua cicatriz modifica sua perfeição.
Quando sente meu toque, fecha seus olhos permitindo que o
reconheça. Novamente ele foca em mim e sorri, um sorriso completo
daqueles que fazem o coração errar a batida e o deixa ainda mais perfeito.
— Um dia me disse que eu iria me ajoelhar implorando por perdão.
— Não acredito quando o vejo ajoelhar-se aos meus pés. — Perdoe-me, por
acreditar que a fortaleza jamais iria desmoronar, quando disse que vejo, não
minto, o que sinto e desejo, Morgana, é de igual intensidade e tamanho por
vocês. Quando resetei minha mente foi para protegê-las e sei que entende o
significado de me ter ajoelhado sem máscara na sua frente, não existe
diferença. Guarde todo este momento em sua memória porque sei que a
minha perversa não é dada a cenas como esta. — Concordo chorando. —
Meu rosto sempre será visto apenas por vocês e ninguém mais. — Suas
mãos seguem para minha cintura. — Quer sexo lento e calmo? — Sua
pergunta me surpreende, mas nego com a cabeça e ele sorri de canto e
apesar de ver todos os seus demônios nos rodearem sorrio para ele. — Terá
de mim exatamente o que deseja, porque assim como vocês tenho facilidade
de mudar.
— Não sei o que dizer.
— Apenas aceite ser o meu elo. — Sinto uma energia atravessar
meu corpo enquanto seus olhos esperam pela minha resposta. — Quero
fazer com você uma aliança de sangue.
— Aceito. — Ganho um beijo na barriga e depois o vejo afundar o
rosto nela.
Com sua língua deslizando em minha pele enquanto se coloca em
pé, novamente a luz se apaga e o som de um isqueiro traz a chama que é
lançada no meio da academia acendendo assim um círculo de fogo.
Seus braços me envolvem em um abraço por trás enquanto meu
corpo pega fogo.
— Seja bem-vinda à nossa aliança de sangue.
Não existe palavras para descrever o que é ter este momento com
ele, Anônimus conduz tudo com perfeição realizando a cerimônia enquanto
ligamos nossas almas. Quando finalizamos tudo meu corpo é levado ao
limite do prazer e da dor, com toda certeza meus gritos ecoam pela mata e
todos conseguem ouvir, até mesmo na maldita lua como um demônio fode
de forma animal me dando toda a dor e prazer que posso suportar.
Quase desmaiada e oscilando entre o real e o mundo dos sonhos é
ele que nos dá banho, cuidando do meu corpo ensanguentado com
delicadeza e cuidado, levando-me até à cama, deitando-me sobre ela
enquanto sinto seu corpo quente se colar ao meu.
— Te darei tudo que sempre desejar, jamais esconda seus
sentimentos de mim, meu elo, e sim, nós sempre estaremos juntos. —
Ganho um beijo na têmpora sentindo seus braços me envolverem e isso é
tudo que me lembro após fechar meus olhos.

15 anos depois...
Saio da cama com cuidado para não acordá-las. Morgana dorme
abraçada a Anúbis que já está velha demais e sofre de Alzheimer canino e
só se acalma nos braços dela, eu entendo seus motivos, porque acontece o
mesmo comigo, apenas ela me acalma. Sorrio para as duas que dormem
tranquilas beijando o rosto da minha Morg, enquanto saio dali. Caminho
pela casa vistoriando todas as entradas e saídas pelo tablet, confirmando
que minha Libélula está em local seguro, é assim desde que chegamos aqui.
Com o passar do tempo ela me ensinou a ler e escrever, a mexer com as
tecnologias e eu a ensinei a atirar apesar do seu medo de armas de fogo.
Nós não saímos daqui, e ampliamos a casa que agora se estende até
a cachoeira que Morgana ama, o local se tornou um complexo grande e nós
mantemos tudo limpo e organizado. Ninguém entra ou sai que não seja da
sua família, com o passar dos anos ela conseguiu conhecer seus tios e se
apresentar, mas de uma forma controlada e aqui em nossa casa sendo um
casal por vez, junto aos seus pais.
Morgana faz acompanhamento com uma equipe especializada que
conhece seu caso e me explicou que a forma com que elas se comunicam e
interagem não é de todo comum, mas que para elas funcionam e assim
continuaria sendo.
Por quase dois anos a sua versão perversa e cheia de maldade ficou
escondida e soube que isso é normal acontecer, já que ela se sentia segura
comigo e o seu objetivo de vida é proteger minha libélula mais frágil.
Porém em um dia onde meus demônios escaparam do inferno, eu precisava
dela, e quando informei isso, todos os alertas foram ligados e ela apareceu
muito perversa para me alimentar e segundo ela me mostrar a quem eu
pertencia. Por dois meses fomos apenas nós e quando nossos corpos não
aguentavam mais e meus demônios recuaram eu cuidei dela até que não
existisse dor alguma para que sua versão mais doce voltasse.
Com o passar dos anos, essa troca começou a acontecer de forma
mais fácil, era como se durante o dia eu convivesse com uma e a noite ia
dormir com outra, eu sabia quem era quem pelo bom dia que dava e dessa
forma funcionou muito bem para todos nós. Fizemos trabalhos e incursões
em alguns lugares do mundo e me excitava muito ver o Anjo da Maldade
agir, sempre fodíamos como demônios sedentos sem cuidado algum e em
qualquer buraco que nos enfiássemos, mas nos últimos anos até mesmo eu
tenho me tornado um homem mais contido, e isso tem permitido que a
minha libélula perversa se mantenha afastada e mais reclusa, segundo ela
sua existência era para proteger a alma delicada de Morgana e isso estou
fazendo com muita destreza.
Eu terminava de enviar uma mensagem para Darko informando a
ele que nós iremos sim passar as festas de final de ano junto com eles na
casa das montanhas na Romênia, Morgana decidiu que depois de alguns
anos poderemos fazer essa viagem, quando ouço os gritos dela chamando
por mim.
— Anônimus!
— Estou no escritório! — respondo fechando o notebook.
A porta se abre quando uma Morgana cheia de perversidade e muita
safadeza nos olhos atravessa por ela.
— Coloque isto. — A minha máscara é lançada em minha direção.
— E posso saber o motivo disso? — questiono, colocando a
máscara em meu rosto, já sabendo onde isso vai dar.
— Está na hora de alimentar o meu demônio e desejo que ele esteja
faminto.
— Esteja pronta para ter seu corpo arrastado pelos ganchos até que
seja suspenso e fodida como a cadela imunda que é.
O brilho em seus olhos me diz que é exatamente isso que deseja que
eu faça, caminho apressado até ela colocando a minha máscara, jogando-a
nos ombros e a levando para o lugar onde nossos infernos queimam juntos.
SOBRE A AUTORA
Dani Medina descobriu sua paixão pela escrita quando num
momento fora da curva sua vida deu um giro de 360º. Casada, mãe de pet,
hoje se sente realizada com o caminho que decidiu trilhar. Os obstáculos
existem, mas pela primeira vez em muitos anos os desafios são encarados
com euforia. Noites de sono perdidas enquanto seus personagens decidem
lhe contar suas histórias, fazem com que se mantenha firme no propósito de
continuar criando. Sua única expectativa é gerar em você, leitor, a
experiência de vivenciar paixões avassaladoras, amores intensos, e tudo isso
de várias formas diferentes, seja no dark romance, onde os anti-heróis que
amamos descobrem seus pontos fracos ou digamos o amor, e/ou nos
romances clichês que fazem nossos corações se aquecerem. Ao final, o seu
único intuito é fazer com que você se apaixone e viaje a cada página lida.
Siga a autora no Instagram @danimedina_autora
OUTRAS OBRAS

DUSHAM: O ANJO DA MORTE


DAMIAN: O ANJO DO CAOS

DIMITRI: O ANJO DAS SOMBRAS


DARKO - O ANJO DA ATROCIDADE
Aliança de Sangue
Promessa de Sangue
Nascido da Vingança
Nascido Da Tormenta
Nascido do Ódio
Nascidos da Máfia
Ice King: Anarquia 666
Uma Virgem para o CEO Mafioso
Desejo Sombrio
Meu Príncipe antes dos 30
Opostos (não) se atraem
Uma Publicitária para a o CEO
Um Clichê Qualquer
UM PAI DE METIRINHA
Top Secret: Desejo Oculto
Condenado à Escuridão: Monster Romance (Série Monster Fantasy Livro 1)
Prometida à Escuridão: Monster Romance (Série Monster Fantasy Livro 2)
[1]
O cão-lobo é um animal resultado do cruzamento entre cão doméstico e um lobo. Os
cães podem acasalar com os lobos e terem filhotes férteis, por isso reclassificaram os cães de canis
familiaris a canis lupus familiaris, o que tornou os cães uma subespécie de lobo, em vez de uma
espécie à parte.

[2]
Transtorno caracterizado pela presença de dois ou mais estados de personalidade distintos. O
transtorno dissociativo de personalidade, chamado antigamente de dupla personalidade, geralmente é
uma reação a um trauma como forma de ajudar uma pessoa a evitar memórias ruins.

O transtorno dissociativo de personalidade é caracterizado pela presença de duas ou mais identidades


de personalidades distintas. Cada uma delas pode ter um nome, histórico pessoal e característica
distintos. O tratamento é a psicoterapia .

[3]
Um dos sete príncipes do inferno, o príncipe da ira. Alcunha de Stefan, antigo chefe da
Máfia Sérvia Triglav, protagonista do livro Uma virgem para o CEO mafioso.
[4]
Um dos sete príncipes do inferno, o príncipe da luxúria. Alcunha de Ângelo, atual chefe
da Máfia Sérvia Triglav, protagonista do livro Aliança de Sangue.
[5]
Um gêiser surge quando a água superficial penetra no subsolo e entra em contato com
rochas vulcânicas extremamente quentes. Nesse processo, a água vai se aquecendo aos poucos,
quando alcança cerca de 100 °C, a pressão aumenta e parte da água se transforma em vapor.

[6]
Ingelosi emnyama, anjo negro em Zulu.

[7]
O idioma zulu, que incorpora sons de clique, é falado na província de KwaZulu-Natal,
na África do Sul. Tem o maior número de falantes nativos entre todas as 11 línguas oficiais da África
do Sul. Além disso, também é falado em Suazilândia, Botsuana, Lesoto, Malawi e Moçambique.

[8]
Eu amo você em Zulu.
[9]
Ceifeiro em Italiano.

[10]
Curativo estéril com filamentos de poliéster, que promove a cicatrização de pele de
maneira fácil e rápida.

[11]
A cidade de Zurique, centro bancário e financeiro internacional, fica no extremo norte
do lago Zurique, no norte da Suíça.

[12]
A pessoa com fobia social se preocupa com o fato de que suas ações sejam
consideradas inadequadas. Em geral, ela teme que sua ansiedade se torne óbvia, pois acredita que irá
transpirar em excesso, apresentar rubor facial, vomitar, tremer ou gaguejar.

[13]
A Cidade do Cabo é a capital legislativa da África do Sul desde 1910.

[14]
Lamparina: utensílio destinado a aquecer em pequenas proporções análises que
requerem pouco calor. Consiste num reservatório, onde é colocado um líquido combustível, onde
mergulha um cordão, por onde o líquido sobe, para ser queimado na outra extremidade (pavio).

[15]
Pretória (Tshwane), na província Gauteng, é a capital administrativa da África do Sul.

[16]
Marcas de Terror, em inglês.

[17]
Estrela da noite, em inglês.

[18]
Demônios da noite, em Zulu.

[19]
A técnica de eletroconvulsoterapia (TEC) consegue marcar a lembrança de um
momento ruim na vida do paciente e a destrói. Os choques elétricos são estrategicamente
cronometrados para que o cérebro acabe com as lembranças desagradáveis após uma convulsão
induzida.

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