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Copyright © 2023 de Francis Leone.

NOS BRAÇOS DE VÊNUS – 1ªEdição


Todos os direitos reservados.
Edição DIGITAL | Criado no Brasil.

Este livro ou qualquer parte dele não pode ser reproduzido ou usado
de forma alguma sem autorização expressa, por escrito, da autora,
exceto pelo uso de citações breves em resenhas ou avaliações
críticas. Livro contém linguajar chulo, conteúdo sexual e morte
violenta.
Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, e situações
reais é mera coincidência.

Capa: Francis Leone


Revisão: Pamela Torres
Diagramação: NS Assessoria Literária (Naylane Sartor)
Beta Reader: Taciane Librelato
Ilustração: Úrsula Gomes Vaz/ilustradora desenharte
Ilustração: Adani Souza
Ilustração: Mery Ribeiro
Ícone: Flaticon.com
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei n°
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do código penal.
NOTA DA AUTORA

Essa obra foi idealizada em 2018, desde aquela época


passou por uma infinidade de acréscimos, revisões e mudanças,
para chegar a essa versão. É uma obra fictícia simples e de fácil
compreensão, não tem gatilhos de conteúdo sensível. É apenas um
clichê caliente para divertir uma leitora ávida, como você. Porém
com um cuidado em exaltar uma classe que ainda sofre nessa
sociedade hipócrita e preconceituosa. A das gordelícias. Portanto,
se você minha amiga que está iniciando está leitura, é uma gata
plus size, saiba que escrevi esse príncipe e essa rainha, pensando
em você. Desejo que a história de Luke e Stela lhe traga um
calorzinho no peito e algumas boas ideias para reproduzir.
Um beijo grande
Francis Leone

REDES SOCIAIS:
INSTAGRAM: @autorafrancisleone
TWITTER: @frantasticaS2
Tik Tok: francisleoneautora
NOTA DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 52
CAPÍTULO 53
CAPÍTULO 54
CAPÍTULO 55
EPÍLOGO
AGRADECIMENTO AO LEITOR(A)
AGRADECIMENTOS
PRÓLOGO

Não sou uma garota magra e muito menos uma modelo


manequim padrão, sou o que hoje em dia chamam de plus size,
portanto, não me encaixo nos padrões perfeitos de beleza da
sociedade atual. Simpática, inteligente, porém sempre zoada pelo
corpo abundante. Aos 18 anos decidi partir do meu país em busca
de autoconhecimento ou talvez fugir de mim mesma. Sei que beleza
exterior não deve medir minhas qualidades interiores, mas naquela
época pareceu uma ótima opção mudar de ares, pois conviver com
as chacotas diárias das minhas colegas era um verdadeiro inferno.
A maioria das pessoas viaja com uma mala de sonhos, eu ao
contrário de todos, cruzei o atlântico com cicatrizes de um passado
as quais queria curar definitivamente. Muitos pesadelos por ser
vítima de bullying que me deixaram complexada desde criança.
Além disso, viver na cidade mais sedutora da Espanha, nunca foi
fácil para uma pessoa solitária como eu e por isso achava a
atmosfera romântica do meu país de origem tóxica o bastante para
abandoná-la.
Sou maluca? Talvez, mas viver em um lugar por toda a vida
que respira sensualidade, beleza e romantismo e não se sentir
amada e bonita é uma merda. Há dois anos vivo aqui em Los
Angeles e olhando para o passado começo a duvidar dessa
decisão.
Nesse tempo, nem tudo mudou. Retomei a terapia, afinal em
todo lugar do mundo a beleza parece ser o cartão de visitas. Não
que eu me ache feia. Mas é difícil manter a estima em alta quando
tudo conspira contra o seu olhar gentil sobre si mesma. E, além
disso, os traumas da infância insistem em me perseguir nas noites
de insônia. Meu esforço em me sentir motivada continua, pois,
preciso de inspiração para o meu atual trabalho. Escrever. Tenho
fluência no idioma sem sotaque, o que me deixa bem à vontade em
meio ao pessoal da editora, e é importante me sentir bem, pois é a
profissão que paga minhas contas e me faz acordar diariamente
almejando uma melhora significativa neste novo país.
Pensando nesse novo futuro, aceitei uma sugestão inusitada
da minha psiquiatra. O incentivo de que, se eu quisesse realmente
me reconstruir, deveria enterrar meus demônios e me libertar de
alguns preconceitos que trouxe na bagagem comigo. E um bom
lugar para isso, foi conhecer o mundo mais excitante que as noites
poderiam oferecer. Foi lá, no clube Volcano, que as portas da minha
liberdade se abriram. Quer dizer, nunca tinha entrado em um clube
de BDSM[1] antes, mas como ela sugeriu essa última alternativa para
ajudar com meus traumas, mergulhei de cabeça nisso. Caramba! E
como adorei aquele lugar! É menos assustador do que imaginei
pesquisando o assunto no Google, ao contrário, me senti parte do
ambiente de cara. Não eu, Stela Salvage, mas outra pessoa, uma
mulher que eu nem sabia que existia, cujo espelho não me
apresentava cada vez que o encarava. Talvez meu alter-ego, não
sei ainda, pois é um mundo novo e sedutor que exige uma dose de
coragem, determinação e empenho, mas quero muito continuar
descobrindo. Quem sabe esse pedaço perdido que tanto me falta
seja isso, me tornar essa pessoa que não conheço e que sempre
esteve presente. Ousada e poderosa, sabendo exatamente o que
deseja e o que a faz sentir prazer, uma Dominatrix[2]. Essa nova
mulher que o espelho me mostra agora, segura, imponente, e
destemida, que sabe exatamente o que anseia e como. Que tem o
prazer de se apresentar diante de todos e ser realmente admirada...
É ela que embala meus sonhos de vitórias, vence meus traumas e
sobrepõe meus dilemas…
Quem sou eu agora?
Eu sou Lady Vênus, a Dominatrix.
Me levanto enlouquecido da poltrona de couro e vou até o
bar, preciso de uma bebida e uma forte, para ver se acalmo minha
respiração e o meu pau. Porra! Que performance foi essa? Minhas
cabeças pulsam. Quem era aquela mulher? Que agia como se fosse
a dona desse clube, monopolizando todos os olhares, inclusive o
meu. Nunca me atraiu esse tipo de mulher dominante, impetuosa e
arrogante, ah sim! Ela tinha um olhar altivo de quem sabia que todos
a desejavam e queriam estar no lugar do servo[3] que dava prazer a
ela, e o corpo dela nem é o que costumo me interessar, mas
caralho, é deliciosamente lindo! Exuberante, cheio de curvas e
redondinho nos lugares certos. Daria tudo para apertar aquela
bunda perfeita.
— Ei, cara, me vê um whisky duplo sem gelo! — O barman é
ágil e retorna com a bebida em tempo recorde. Sorvo um gole que
desce arranhando minha garganta e questiono:
— Quem é a Dominatrix que acabou de sair do salão?
— Lady Vênus? É a atração do clube, é sua primeira vez em
um clube desses?
Recebo um sorriso displicente, noto o flerte descarado.
Respondo amigavelmente, mas de uma forma que entenda que ele
não é meu tipo.
— Não, jogo o BDSM há anos, mas nesse é a primeira vez.
Avise-a que quero contratá-la, uma audiência, um show particular,
qualquer coisa. Eu pago bem.
— Você está vendo aquela pilha de cartões vermelhos no
canto do balcão? — aceno afirmativamente.
— São todas as pessoas que solicitaram uma ‘audiência’ —
responde todo debochado fazendo o sinal de aspas nessa
palavra. — Posso te colocar na fila se deseja candidatar-se como
um possível servo, claro se assim ela te escolher, aviso o senhor se
quiser. Lady Vênus não faz shows privativos.
— Em um movimento rápido bebo o resto do whisky em um
gole e solto furioso:
— Servo? Tenho cara de servo? Sabe quem eu sou?
— Não senhor.
— Sou Luke Taylor, eu domino essa porra de cidade! Sou
dono da metade dos cassinos de Los Angeles! Ouça bem garoto,
não sou servo, nem switch[4], sou um Dom[5]! E cuidado, posso
comprar essa porcaria também!
Com isso, jogo uma nota gorda de dinheiro no balcão e saio
pisando duro exaltado pela porta afora. Nem a noite fria acalma
meus ânimos. Vociferando a palavra ‘servo’ até meu carro.
— Servo? Servo o caralho!
Jamais seria capacho de uma mulher, mesmo uma que fez
meu pau pulsar sem ao menos me olhar. Quem essa mulher pensa
que é se negando a dançar para mim?
CAPÍTULO 1

6 ANOS ANTES

Nunca pensei que minha rotina aqui em Los Angeles se


tornaria tão maçante. Não que seja ruim, gosto desse sossego. É
um fator essencial à minha nova realidade de escritora. Não posso
reclamar, porque tenho tudo o que preciso; uma boa casa, moro
sozinha, não devo satisfações a ninguém e tenho liberdade de ir e
vir. Um sonho na vida de qualquer jovem solteira. E, além disso, não
convivo mais com o bullying diário. Se bem que já passei da idade
de frequentar o ensino médio, e a universidade tranquei e não
retornei a cursar.
Quando cheguei neste país, percebi que semelhante a
Espanha, meu peso incomoda algumas pessoas e o preconceito me
afeta de diversas maneiras. Foi uma barra suportar, fiquei um ano
buscando um lugar no mercado de trabalho. Porém, todos os
estabelecimentos que eu entrava, me olhavam dos pés à cabeça e
diziam que a vaga já havia sido preenchida. Algumas vezes, nas
lojas principalmente, as gerentes me tratavam de forma grosseira,
vomitando suas asneiras de que eu não tinha o perfil para o
estabelecimento. Naquele um ano recebendo negativas nas minhas
buscas anteriores por trabalho, a minha preocupação aumentou
rapidamente. Senti um grande alívio quando o dono dessa cafeteria
me acolheu. Agora sentada aqui na cadeira acolchoada, degustando
meu café como uma cliente e não garçonete, me pego meditando
naquela época.
Na realidade, no início estava insegura em viver num país
estrangeiro, tão longe da minha família. Entretanto, papai facilitou
meus dias até pouco tempo atrás, não posso negar. Fez questão de
me bancar mesmo mostrando a ele que havia encontrado um
trabalho. Compreendo seus receios, os pais são eternos protetores
e eu como caçula sempre fui muito mimada por ele, fora que meu
irmão mais velho foi contra minha partida de casa. Fez questão de
ajudar também. Concordei, sabia que só a coragem não seria
suficiente para sobreviver a tantos desafios. E sobretudo, o
segmento de perfumaria vai de vento em popa na Europa e ele é um
dos melhores perfumistas de Madri. Seus negócios deslancharam
na época que mudei para esse país e ele queria garantir meu bem-
estar mesmo longe. Essa foi a condição para me deixar esse tempo
todo distante de casa, num país estrangeiro e sem a proteção da
família que tanto me ama.
Enfrentei meus medos, tinha proposto a me desafiar,
precisava provar que eu era forte o bastante para conseguir minha
independência. Então levantei a cabeça e superei todas as
tempestades que surgiram em meu caminho com relação à
adaptação. Me dediquei muito em aprender e tenho orgulho de dizer
que sou quase uma americana. Dominei a língua e estudei anos. Foi
um grande esforço e empenho. Mas ando pensando muito
ultimamente nesse tempo investido e nessa decisão de emigrar para
a América.
Eu era um tanto ingênua, achei que era isso que eu precisava
para me encontrar, ficar longe da minha zona de conforto do seio
familiar e de quebra me livrar do bullying.
Mas dois anos se passaram, um como garçonete e um como
escritora, e sinto que a cidade parece perder o encanto a cada dia.
Porque um dos maiores motivos é que decidi por essa nova
carreira que nada tem a ver com administração que era o meu plano
na Espanha. Pensando em preencher um vazio, me aventurei em
escrever romances, e o que começou como um passatempo, apesar
de me render uma boa grana e não depender mais da mesada de
papai, ainda não é o que preenche essa ausência de algo que não
descobri, só sei que há uma inquietação constante dentro de mim.
Fora o fato que, minha vida social, no meu contexto, poderia ser
mais agitada.
Meus poucos amigos são o pessoal desse antigo emprego
nessa cafeteria, a família Miller. Infelizmente temos uma grande
diferença de idade, portanto, não sinto liberdade em me abrir com
eles. Nossas conversas nem sempre me conectam a assuntos que
me agradam e nossos gostos com relação à diversão são bem
diferentes. Mesmo que após minha resolução de deixar o emprego
para me dedicar somente à escrita, esse casal me apoiou e
continuou tratando-me tão bem como se nada tivesse mudado,
ainda assim não são eles o impulso necessário para que eu
permaneça em Los Angeles.
Acho que preciso conversar com minha psiquiatra sobre
esses sentimentos estranhos, essa dúvida em permanecer no
país. É o que farei na próxima sessão.
Minha ansiedade nesse divã hoje está me deixando
desconfortável. Geralmente, não sinto problemas em estar
acomodada nessa sala, rodeada de estantes de livros e luminárias
chiques. A sala da Dra. Elisa é bem aconchegante, tapeçaria persa
e móveis de veludo. Parece até uma decoração masculina, mas é
bonita e acolhedora como uma lareira em noite de inverno.
Entretanto, hoje receio que meus questionamentos terão respostas
mais diretas. A Dra. hoje está com uma expressão mais sisuda que
o habitual. Não veste o terninho Chanel de saia e blusa corriqueira.
Mas calça social e suspensório. E estava ao telefone quando me fez
entrar e a resposta ríspida ao interlocutor fez meu sangue gelar.
Quem quer que fosse do outro lado da linha deve ter sentido a
tensão.
— Então, Stela, como passou esses últimos quinze dias? —
provavelmente ela vai puxar minha orelha.
— Nenhuma novidade, Dra. Elisa.
— E os pesadelos? Como tem dormido? Alguma queixa?
— Continuam, infelizmente. Minhas noites são agitadas,
desperto pela manhã mais cansada do que me recolhi. Quando me
deito, costumo ler um pouco, tomo meu calmante para descansar
melhor, mas após algumas horas, estou fitando o teto como uma
coruja. Não sei, meu cérebro não desliga, entende?
— Hum... Entendi. Podemos trocar a medicação para dormir
por um relaxante mais potente.
— Acho que não é questão de medicação, estou com alguns
sentimentos estranhos...
— Por favor, fale sobre eles. — Sua atenção redobra nas
minhas palavras.
— Uma inquietude, uma vontade de partir, encontrar um novo
emprego, um lugar desconhecido e estabelecer uma nova rotina.
Pareço deslocada, confusa e desiludida com a atual. Sinto que me
falta algo, mas não consigo descobrir exatamente o que é.
— Conversou com alguém sobre isso?
— Não, só com você.
— Ok. E a meta da última consulta, interagir socialmente,
fazer amigos?
Essa sobrancelha arqueada dela não é bom sinal.
— Fracassei, não consegui, me arrumei, mas antes de sair
olhei minha figura uma última vez no espelho e desisti.
Seu longo suspiro me deixa apreensiva. A Dra. Elisa se
afasta da poltrona onde estava acomodada e vai para a sua mesa,
na lateral da sala. Meus olhos a acompanham pegar o celular e
vasculhar algo em sua bolsa de couro.
— Entendi. Uma pergunta, como se veste em casa? —
indaga ela de lá, olhando seriamente meu rosto.
Os óculos de armação vermelha combinam tão bem com a
mulher de cabelos curtos, parece até Miranda Priestly [6]de ‘O diabo
veste Prada.’
— Procuro usar roupas mais confortáveis possíveis — Será
que se eu contar que tenho uma coleção de camisetas largas do Piu
Piu consigo fazê-la rir um pouquinho? Melhor não.
— E sob a roupa confortável?
— Depende, quando está muito calor não uso nenhuma outra
peça por baixo de uma camiseta ou shortinho de algodão.
— O que quero saber é como são as suas lingeries, Stela? —
Essa pergunta me desconcerta, disfarço a surpresa e limpo a
garganta.
— Isso importa, Dra.?
— Importa para o que eu pretendo descobrir.
Às vezes essa mulher me dá um pouco de medo, remete
aquelas professoras de histórias infantis, que usavam palmatória e
castigavam com a cara pra parede. Mas a Dra. Elisa é tão jovem,
trinta e cinco anos talvez e muito bonita, esguia e elegante.
— Certo. Minhas lingeries são confortáveis, não gosto de
nada muito largo ou apertado, tem que ajustar no meu corpo e de
tecidos gostosos.
— São bonitas? Provocantes, rendas, laços, detalhes são
importantes para o objetivo da pergunta.
— Sim, gosto de comprar lingeries variadas, algumas são
ousadas. Encontrei uma loja online onde peço alguns modelos
diferentes. Renda não são minhas favoritas, mas tenho dessas
também. Cores diversas, contudo, vermelhas e pretas me agradam
mais. — Ela abre um sorrisinho comedido, raro, mas bonito.
— Gosta de como seu corpo se apresenta nelas?
— Pensando agora, gosto de me olhar no espelho quando as
visto. Apesar de possuir seios fartos, compro lingeries com
sustentação onde visualmente eles ficam desenhados. Não tenho
barriga negativa, mas também não é saliente a ponto de me
impossibilitar usar calcinhas delicadas. O meu problema são minhas
coxas grossas e quadril avantajado. Minha bunda chama atenção
demais é isso o que me incomoda.
— Você tem um corpo ampulheta, Stela. Abuse disso, use
roupas que valorizem seu biotipo.
— Ainda me pego ocasionalmente com uma certa timidez
diante de olhares mais descarados. Mesmo usando conjunto de
moletom ou malha, meu quadril e seios se sobressaem à vista.
— Hum... — A mulher brinca com a caneta na agenda de
anotações.
— Ótimo. Quero que você tente uma coisa nova, vou viajar
daqui a alguns dias e ficarei fora uns meses, vou te passar um
cartão senha de um clube que eu frequentava.
Me estende um cartãozinho, parece de crédito, mas é numa
cor que nunca vi. Preto com as bordas em vermelho queimado,
conforme a luz o irradia aparecem labaredas em holograma. Não
me detenho muito no que está escrito no momento, meu pavor é em
ficar sem as consultas.
— Como assim viajar? E minhas sessões?
— Tenho uma especialização fora do estado, calma que vou
te passar um profissional da minha confiança para atender você.
— Não vou me abrir com outra pessoa, fora de cogitação. A
intimidade de dois anos não se consegue assim tão rápido. É
constrangedor falar sobre meus receios e corpo plus size com um
estranho!
— Então você fará o que vou te orientar, pelo menos até eu
retornar. — aponta o cartão na minha mão no qual a palavra
VOLCANO se destaca.
— Acha que pode ajudar? O que é esse Volcano?
— Não proporia se não houvesse essa finalidade. Já ouviu
falar em BDSM? — A saliva dentro da minha boca acaba de secar.
BDSM? Apanhar? Nem fodendo!
— Pouco, li alguns livros e filmes que abordam esse tema.
Mas o que esse clube tem a ver com isso? Não vão querer uma
mulher como eu nesse lugar!
— Tem tudo a ver. Você precisa se aceitar. Aceitar que é uma
mulher linda, com desejos e vontades como qualquer outra.
Esqueça essa bobagem de 50 Tons de cinza. — Um leve brilho
passa pelo seu olhar analítico, provocando um arrepio em minha
espinha. — O clube Volcano foi repaginado, e por esse motivo será
ideal para você, está mais leve e com práticas, digamos assim mais
artísticas, não é do meu agrado, pois prefiro algo mais pesado e
avançado. No entanto, esse é ótimo para iniciar alguém que precisa
se descobrir. Se depois quiser se aprofundar na prática BDSM, terei
prazer em ajudar. Há quinze anos frequento esse meio e tenho
experiência. Mas a princípio a minha impressão profissional é que
pode ser de ajuda ir até lá descobrir o que você gosta.
— E como ir a um clube de perversão pode me ajudar com
meus complexos?
— Essa maneira de pensar é bem estereotipada e
preconceituosa, Stela! — A repreensão é dura e condenatória me
deixando envergonhada. — Não tem nada de perverso em
consensualidade! É apenas um clube de prazeres não
convencionais, que a sociedade julga como não encaixar em um
padrão. Um padrão falho, moldado que eles mesmo criaram. BDSM
é liberdade, você vai aprender a não se culpar ou condenar por
praticar e viver o que deseja. Talvez você se identifique com algo,
poderá ser uma pessoa diferente naquele lugar. Descobrir coisas
novas, abrir a mente. — As engrenagens do meu cérebro começam
a girar, giram numa rapidez ansiosa e eufórica. — Vou passar
alguns detalhes por e-mail, mas acredito que se sairá bem. Esse
cartão dá acesso à entrada, fique com ele.
A consulta termina e retorno para minha casa com mais
dúvidas do que quando saí dela. Nunca me perguntei o que eu
gosto. O que desejo? Qual é a minha preferência no sexo? Sempre
tentei agradar quem estivesse comigo pra compensar meu corpo
fora do padrão. Algumas vezes me submeti a experiências das
quais não obtive nenhum prazer, mas o carinha que estava comigo
se satisfez. Foi a maior injustiça de todas que cometi comigo
mesma. Por que me recrimino a vida toda por não ter nascido
diferente? Isso é um erro grotesco! Quero ser aceita como eu sou.
Quero viver da maneira que me faz feliz e satisfeita e não como os
outros querem. E se nesse lugar poderei ser eu mesma, por que
não? A Dra. Elisa é a pessoa em quem mais confio, há dois anos
tenho sessões regulares, e ela sempre me ouviu e tentou me ajudar
de todas as maneiras, acho que esse é o último recurso. Confesso
que estou animada sobre essa nova sugestão.
CAPÍTULO 2

4 ANOS ANTES

Não dormi nada bem na noite passada. Isso se deve ao fato


de que hoje é a noite da minha estreia no clube Volcano. Por mais
que Benji esteja comigo em todos os momentos de preparação, sei
que quando chegar a hora terei que abrir a porta vermelha à minha
frente e encarar tudo sozinha.
Meu coração está acelerado desde que comecei a montar
meu figurino para esta noite…
Não sei se estou preparada para escutar vaias e zombarias.
Elas podem despertar sentimentos que estou tentando me libertar, e
se isso acontecer... Não consigo imaginar qual postura eu assumiria.
Talvez, regredisse no tratamento de elevar minha autoestima e
desperdiçasse todo o investimento de tempo e esforços até aqui.
Embora Ben tenha me assegurado o quanto estou pronta, afinal há
quase dois anos que treino fervorosamente para essa data. Porém,
agir como uma mulher poderosa, dona de mim e sob controle das
minhas emoções, me assusta. É um clube lotado que me espera
atrás dessa porta e na maioria são homens. E eles aguardam por
uma beldade como atração de um clube de elite e não alguém com
um biotipo como o meu. Respiro fundo tentando manter a coragem,
pois as minhas pernas fraquejam diante da cena, em minha mente.
O nervosismo que sinto em momento algum deve ser demonstrado
perante eles. Medo, fraqueza, e timidez são palavras que não
compõem o manual de uma Dominatrix.
Escolhi minha roupa de estreia com cuidado, ela precisava
retratar ao público o papel que desempenharei no palco. Meu amigo
Benji ajudou para que tudo se encaixasse perfeitamente em mim
sem exageros ou vulgaridade desnecessária. Me avaliando agora
diante do espelho, percebo que ele tem bom gosto e me sinto mais
segura para encarar meu primeiro desafio.
Estou usando um vestido curto de couro preto, com recortes
estratégicos, ainda não me sinto confortável em usar somente
lingerie antes de sentir a temperatura e recepção do ambiente.
Botas altas e máscara de renda compõem a fantasia e um
sobretudo preto de vinil, para ser tirado no momento exato. Meu
cabelo está preso em um rabo de cavalo alto, balanço a cabeça de
um lado para outro e me agrada o movimento que ele faz. Na
maquiagem decidi por um batom vermelho.
Benji sugeriu que eu participasse de uma cena[7] em conjunto
com Dom Mitchell, ele é um dominador experiente e me recebeu
muito bem na família Volcano. Benji insiste que ele tem uma queda
por mim, mas não concordo. Apesar do seu tamanho descomunal e
amedrontador nos jogos, por trás da máscara de carrasco[8] ele é um
ursão, amigável e divertido.
Por mais que meu amigo exagerado diga que é só comigo
que ele demonstra essa postura, não o vejo como a maioria diz.
Mitch como gosto de chamar, se sente sozinho, pois os outros
funcionários têm receio em se aproximar dele. Como eu queria me
enturmar, a primeira coisa que fiz foi fazer amizade com o grandão.
Sinto como se fosse meu irmão mais velho, não vejo maldade nem
segundas intenções por parte do ursão, e é exatamente por isso que
aceitei fazer essa dupla na minha estreia.
Solicitei que não fizessem nenhum alarde sobre minha
entrada. Pelo menos, hoje não. Vou sair da cabine quando a música
diminuir e darei uma volta de apresentação pelo salão. Depois Mitch
fará um sinal quando for solicitada a minha entrada na encenação
que será um ato com chicote. Curiosa, perguntei por mais detalhes,
mas ele disse para não me preocupar que saberei desempenhar.
Ouço a música silenciar lá fora, chegou minha hora, enquanto
a adrenalina do momento seca minha garganta o meu corpo parece
vibrar de euforia. Esta é minha deixa para abrir a porta diante de
mim. É tarde para desistir, é agora o meu show. As portas duplas se
abrem para que eu dê um último suspiro profundo. O clube está
realmente lotado de clientes. Os perfumes caros misturados entre si
cumprimentam meu nariz de um modo nada sutil. Levanto o queixo
e foco o caminho no qual escolhi percorrer. Tenho uma visão plena
do salão, preciso desfilar entre os olhares que com certeza estão
prontos para me julgar. Mantenho a concentração no que ensaiei.
Meu plano é ignorar os espectadores, fingir que estou sozinha
nesse belo salão decorado com cortinado vermelho, admirar seus
detalhes dourado e apenas circular.
Vai Stela! Ordena meu cérebro, mas não é Stela que está
aqui, é Lady Vênus, e essa mulher não recebe ordens de ninguém.
Inicio meus passos firmes e seguros, desfilando lentamente
pelo espaço ouvindo as vozes se perguntando entre elas quem sou
eu. Sem risos, nem ofensas, ao contrário, percebo alguns olhares
especulativos e outros surpresos. Não deixo de notar a diversidade
dos frequentadores, mesmo estando todos muito bem-vestidos,
alguns se sobressaem sobre os outros em classe.
Poucos são jovens abaixo dos trinta anos, a maioria tem
aparência mais madura. Noto mesmo sob os ternos caros, alguns
corpos musculosos e bem cuidados. Há um esmero nas barbas bem
aparadas, posturas elegantes, e o cheiro de perfumes caros e
charutos acentuam mais ao circular por eles. Todos com um brilho
diferente no olhar, controverso ao dos caras que Benji me fazia
paquerar nos treinos. Deve ser a excitação dos jogos de BDSM que
os deixa ainda mais interessantes e interessados no meu desfile.
Observo um deles me encarando fixamente, olhando nos
meus olhos sem desviar. É bonito, talvez não me interessasse fora
daqui, pois seus olhos azuis afiados remetem uma malícia um tanto
perigosa para mim. Meia-idade, cabelos louros bem penteados para
trás, uma barba de três dias, eu acho, ombros largos num terno fino,
provavelmente é muito poderoso. Olho para as mãos tatuadas dele
e nada delicadas ornadas com anéis masculinos, e uma está
segurando um copo de uma bebida que não identifico. À medida
que o encaro, um arrepio perpassa minha coluna pelo seu
semblante sério. Porém, preciso seduzi-lo. E demonstro todo o meu
interesse andando sedutoramente em sua direção decidida a me
desafiar.
É uma nova sensação de poder que me ronda, como se essa
máscara me concedesse uma ousadia de autoridade neste
ambiente. Como uma rainha desfilando em meio aos súditos.
Me sinto insegura pelo semblante perigoso dele e o receio
em me aproximar, mas ele não sabe e nem permito transparecer
isso. Quero testar minha habilidade com esse homem já que não
quero e não vou vê-lo depois dessa estreia, não há mal algum
protegida por essa fantasia. Paro há um metro de distância da figura
de terno e começo a desabotoar lentamente minha capa, deixo que
ela deslize pelos meus ombros de maneira tão erótica que beira a
tortura, até escorregar totalmente ao chão sem tirar os olhos do
rosto amedrontador. Observo sua atenção descer pelo meu corpo
passeando demorado e lânguido para só depois retornar para os
meus olhos. Fixo nos dele, mantendo a conexão, vendo-os reluzir
em um azul piscina de causar arrepios. Deslizo a mão na alça do
vestido, brincando com ela lentamente em uma provocação e deixo
a minha outra palma sensualizar um pouco pelo meu corpo em
curvas imaginárias. O homem alto umedece os lábios me devorando
com o olhar. Seu copo parado em na mão como se estivesse
paralisado provoca a aceleração dos meus batimentos por constatar
a completa atenção sobre mim.
Isso me estimula, inflando meu ego e tomada pela coragem,
me aproximo ainda mais. Sinto ele inspirar meu perfume e eu o
dele. Perfume rico, certamente, acentuado, porém sutil, há também
essência de charuto misturada. Todos só fumam isso por aqui.
Minha adrenalina está no auge, agarro o copo de sua mão grossa e
bebo o restante da bebida dele que é terrivelmente forte, mas agora
sinto-me ainda mais forte que o líquido. Dou um meio sorriso
misterioso sem mostrar os dentes, devolvendo o copo vazio e saio
rapidamente do seu escrutínio.
Aliviada ao ver Dom Mitch se aproximar do centro do salão,
reforçando minha confiança. Ele me surpreende ao se ajoelhar e
com as duas mãos me estender o seu chicote. Isso saiu melhor do
que eu imaginava! Percebo o clube em silêncio total ao me ver
afagando a cabeça do homenzarrão ajoelhado como se ele fosse
meu cãozinho. Seguro o instrumento alisando do cabo a ponta com
carinho e estendo o dorso da mão para que ele a beije. Mitch
esboça um sorrisinho quase imperceptível, aprovando o gesto.
Segura minha mão e a beija com reverência. Em seguida, aguarda
meu aceno para se posicionar de pé e me segue até a lateral diante
da plateia silenciosa. Ali, há uma cruz de madeira de lei, a famosa
cruz San Andreas, com um homem seminu atado nela, ansiando
minha atenção. Me aproximo e defiro o primeiro golpe nas coxas do
homem moreno atado com arreios de couro, que expressa gemidos
de prazer pelo ato. O chicote canta ao estalar novamente e acerta
seu peitoral fazendo sua cabeça pender para trás e ele sorrir. Uau!
Um calor se aloja em meu corpo e percebo como estou
excitada com esse gostinho de poder e desejo aos quais fui
apresentada. Esse ato final de flagelar um submisso é somente o
ápice de uma sensação viciante que comecei a sentir quando cruzei
a porta vermelha. A mulher linda, sexy e desejada finalmente
libertou-se, espero que isso seja apenas o começo do que está por
vir nesse mundo tão misterioso que é o BDSM. Ainda tenho muito
aprendizado, mas já estou segura que encontrei meu lugar.
Após alguns minutos de volta à minha cabine, Benji entra
animado com uma garrafa de Absinto e uma caixa de veludo com
uma fita vermelha de presente.
— O que é isso, Ben?
— Vamos comemorar, a estreia foi um sucesso!
— Confesso que estou de pernas bambas até agora —
exclamo sentada na cadeira em frente a mesa – camarim.
— Deixa eu te ajudar a tirar essa bota, enquanto isso abra o
presente que comprei.
Abro a caixa e encontro dois vibradores, um dildo[9] de
tamanho médio e um mini vibro estimulador. Avalio os presentes
desconfiada, porém resolvo agradecer:
— Obrigada, eu acho, pra que isso agora?
— Esses são para você deixar aqui, sei que deve ter
brinquedos em casa, porque às vezes o tesão não vai esperar.
Confie, você precisará de alívio, muitas cenas intensas virão e vai
me agradecer pela iniciativa.
— Ok, confio em você, confesso que me excitei muito hoje. A
adrenalina ainda não baixou totalmente.
— Você foi perfeita Stela, a atuação tomando a bebida do
russo foi de matar, me surpreendeu.
— Ele é russo, é?
— Sim, e dizem ter negócios escusos no país.
— Não gostei dele. — Meu amigo acha graça.
— Mas por que você se insinuou para o homem, então?
— Porque ele estava me encarando parecendo me desejar,
foi a oportunidade perfeita para testar meu poder.
— Caralho Espanhola! Todos lá no salão te desejavam. Você
não percebeu?
— Não, eu estava muito nervosa para perceber qualquer
coisa.
— Os mais ricos foram os primeiros a ir até o bar sondar
sobre você. Ele também perguntou quanto valia sua noite.
— Sério?
— Ofereceu uma grana preta para conseguir seu endereço.
— Tá maluco?
— Lógico que recusei, jamais faria e farei isso, meu bem.
Fora daqui, se um dia você se interessar por alguém, é você quem
vai decidir, eu não vou interferir de maneira nenhuma.
— Obrigada, é uma experiência totalmente nova, mas tenho
certeza de que não vou me interessar por nenhum frequentador
desse lugar. Aqui é só um fetiche, não é real para ansiar um
envolvimento amoroso. Pelo menos a mim não.
— Já disse, você quem decide. O que acha de amanhã à
tarde ir à minha casa para estipular uma maneira de organizar sua
lista de servos? Sim, porque a partir de hoje, minha amiga gostosa,
você é quem vai escolher a diversão! E seu treinamento ainda não
terminou, prepare-se, reservei uma sessão de fotos para essa
semana. — Minha gargalhada é imediata pela forma que meu amigo
age ao descontrair esse momento.
Me permito aproveitar a bebida e a companhia, essa foi
realmente uma noite memorável.
CAPÍTULO 3

O dia no escritório graças a Deus passou voando, nem


acredito que a agenda semanal está completa. Consegui passar por
mais uma semana sem o estresse habitual do mês passado, onde
reuniões intermináveis me sugaram de tal forma, que não conseguia
sequer interagir com meus funcionários para não ser um tirano
grosseiro com eles.
Mamãe também me deu folga dos jantares dela, deve ter sido
porque os Rockwell viajaram. Não aguentava mais os assuntos
deles. E para piorar, a filha deles, a qual minha mãe insiste que é
perfeita para ser minha esposa, é um cordeirinho. Se eu a mandar
atirar-se da sacada, suspeito que fará isso.
Tudo bem que convivo com mulheres desse tipo a vida toda,
mas ultimamente se tornou tão cansativo essas garotas sem sal,
que aceitam o que a família impõe, o que a sociedade exige, até o
que o namorado quer que façam, elas fazem para agradar, não me
interesso mais nesse tipo de mulher. E já deixei nas entrelinhas para
minha querida mãe, que não estou interessado em Christy, porém
dona Soraya é difícil de aceitar uma negativa.
Além disso, ultimamente ando tão focado no trabalho que
raramente penso em relacionamentos. Os caras até me chamaram
para conhecer um clube de elite que foi reinaugurado, mas que
nunca tinha ouvido falar, apesar de funcionar há anos. Disseram que
agora o novo gerente fez algumas mudanças que está atraindo mais
os jogadores voyeurs do BDSM. Fiquei curioso, talvez uma diversão
não seja de todo mal, quero conhecer esse lugar que tanto falam.

Dirijo meu Porsche em direção ao tal clube, meu investidor


que frequenta o meio me falou sobre o lugar, disse que estará lá,
recebi até um cartão senha. Supondo que seja um clube particular
para um público específico e homens como eu, prezam muito esse
detalhe.
Acionei meus seguranças para seguirem de longe o meu
carro, preciso ter a sensação de me sentir um cidadão normal por
algumas horas nesta cidade.
Espero que o tal clube Volcano, não faça jus ao que tenho em
mente, não suportaria um lugar abafado, gótico e escuro, como
diversas vezes encontrei e rapidamente dei um jeito de sair. Preciso
apenas relaxar, beber algo de qualidade e apreciar alguma cena
interessante, depois daqui se me excitar ligo para alguém que me
satisfaça.
Ao adentrar o local, para minha surpresa o ambiente é
iluminado, se não fossem os móveis dramáticos com tachas e em
tons vivos de carmim, ninguém diria que é um clube de BDSM, tudo
de ótimo gosto. Me agrada os brinquedos em vitrines de vidro
transparente espalhados pelo salão. Chicotes e floggers[10] de todos
os tipos. Hum... Talvez eu possa voltar a exercitar uma
apresentação neste lugar qualquer noite destas.
Acomodo-me na poltrona de couro vermelha que circunda
boa parte do salão. Atrás de mim, a parede com um cortinado
suntuoso. Observo que na ponta oposta, há um homem bebendo
tranquilamente. Deve ter saído do trabalho, a gravata está frouxa e
as mangas arregaçadas, não parece ser muito mais velho que eu,
apenas mais cansado, mas ainda assim nota-se a classe em seu
porte.
Um garçom se aproxima de nós e peço meu whisky de
preferência, satisfeito por ser atendido rapidamente. Mais um ponto
a se considerar. Há diversas cenas de jogos eróticos ocorrendo ao
redor, mas nada que prenda muito minha atenção.
Aceno para alguns rostos conhecidos e continuo degustando
o líquido, observando a movimentação dos corpos em exposição,
distraindo um pouco minha mente estressada das obrigações. Agora
noto o quanto eu precisava disso.
Infelizmente não há nada que eu já não tenha visto em outro
lugar, mas vou ficar mais um tempo, pois gostei do ambiente.
O garçom retorna com outro drink que eu havia pedido.
Nesse instante as luzes diminuem, e o salão todo fica em silêncio,
antecipando algo que parece grandioso. Deve ser a atração do
local, a apresentação de alguém importante do meio BDSM. Bebo
meu líquido curioso. Uma das portas do lado direito, uma espécie de
camarim ou devo presumir um calabouço particular, se abre.
Observo a uns oito metros de distância, sair de dentro dele uma
mulher. Sinto um perfume marcante, deve ser dela, cereja misturada
com algo que não identifico.
À medida que desfila, se aproxima de um trono dourado
diante da porta vermelha. A mulher alisa o encosto de apoio do
móvel extravagante lentamente como um amante, as unhas
esmaltadas de vermelho são sexy em contraste com o dourado, não
entendo o que me faz redobrar minha atenção sobre ela. Sua figura
imponente e segura fica parada diante do trono e observa os
frequentadores com um olhar intenso. Não é alta, 1,65 talvez,
cabelos castanhos escuros ondulados até a cintura, não é morena,
mas também não tem a palidez das garotas que costumo ver.
Escuto uma voz masculina dar as boas-vindas a ela em um
microfone:

— “Agora a ilustre presença que todos aguardavam... Dizem


ser a Deusa da beleza, a destruidora de corações, a dominadora de
nossos desejos! Deem boas-vindas a mulher mais ousada que
aportou neste clube! Prestem atenção! Se algum de vocês está
aguardando uma oportunidade, esta noite você poderá ser o
escolhido para ser o brinquedinho dela!”

Acho graça da apresentação do locutor. Não consigo


descobrir a fascinação dos presentes, uma baixinha? Mascarada e
vestida com um sobretudo de couro? O que tem de especial? Bebo
um gole do whisky olhando os homens ao redor admirando a
mulher, como se fosse a própria Vênus de Milo encarnada.
Mas minha opinião muda rapidamente e fico desconcertado,
quando dois rapazes encoleirados seminus usando somente uma
calça de couro, sob seu simples aceno, a despem da longa peça
escura que a cobre. Em seguida lhe fazem reverência como a uma
autoridade, curvando-se e lhe entregando um chicote de montaria
com o cabo de couro vermelho.
Meus olhos acompanham em câmera lenta as curvas do
corpo da mulher, fazendo exatamente o que todos os presentes
fazem, boquiabertos babando, olhando para ela. A iluminação
diminui um pouco, quase meia luz com alguns flashes espaçados
para manter o charme do ambiente.
A baixinha que de maneira nenhuma merece ser chamada
assim, à medida que inicia o desfile pelo salão, andando em nossa
direção nas poltronas, transforma-se em um mulherão da porra!
Seus passos seguros e graciosos são acompanhados de uma
melodia marcada pelos movimentos das pernas deliciosas da bela
mulher. Vem se aproximando particularmente de nosso assento e
me sinto incendiar com sua áurea de mistério e erotismo. O perfume
gostoso de cereja envolve meus sentidos, fazendo minha garganta
engolir algo que não tem. De botas de couro e corpete negro
marcando a cintura, evidencia um par de seios fartos e apetitosos. O
desenho da curvatura deles se move milimetricamente enquanto
caminha, é tão lindo!
Involuntariamente, umedeço os lábios pelo deleite com a
visão da predadora desfilando em direção aos espectadores.
Suas coxas grossas e bem torneadas desfilam com
desenvoltura enquanto segura seu chicote com a mão enluvada. O
poder da Domme[11] dançando com ela, se embaralhando com
minhas mais perversas fantasias. Ah! Estão cada vez mais
perversas! Posso admirar a um metro de mim sua pele cremosa e
sem defeitos. Tal qual textura de seda deve parecer. E quando um
facho de luz pousa sobre ela, a Dominatrix parece resplandecer,
uma joia rara, uma deusa emoldurada em couro e renda.
Há detalhes vermelhos na lingerie combinando com o batom.
Seus olhos, não consigo ver com nitidez, pois usa uma máscara
escura e para minha decepção não olha em minha direção. Esse
perfume de cereja realmente me deixa desnorteado, desperta um
desejo insuportável de lamber sua pele, de deixar marcas de
mordidas, e nesse momento percebo uma ereção estupenda e
dolorida dentro das calças.
Caralho! Não é possível endurecer desse jeito só observando
uma mulher, há quanto tempo isso não acontece? Aliás, nunca me
atraiu mulheres voluptuosas assim, mas porra! Essa é um
espetáculo que preciso provar.
Me imagino agarrando o corpo cheio com minhas mãos
habilidosas, fazendo-a derreter em meus braços. Ouvi-la implorar
que a foda gostoso.
A gata se aproxima mais da poltrona, e desliza o chicote pelo
peito do homem ao meu lado, como se fosse um ingresso para o
paraíso a lentidão do couro resvalando até o cinto do empresário.
Um dos rapazes, submisso dela, alcança uma coleira a qual ela
prende no pescoço do engravatado, demonstrando toda a
autoridade de dominante e o arrasta com ela. O sortudo é o
escolhido, a criatura embevecida que a segue escravizado para ser
o seu bel-prazer e brinquedo.
Sinto meu pau melar dentro da roupa, enquanto acompanho
o movimento dos cabelos bem cuidados pousando na cintura
evidenciada pelo corpete, culminando no rebolado caprichoso se
afastando. Imagino-me arrancando a calcinha com os dentes. Meu
Deus! Que porra de tesão louco é esse?! Não sou um adolescente
pra sentir essa euforia louca por uma mulher, porra!
Ela retorna ao trono de forma soberana. Seu olhar fatal
lançado ao público é intimidador. Nesse clube ela é a rainha.
Absoluta. E isso mexe comigo, pois parece ser uma mulher
inatingível. Ela fala algo em tom firme para o homem. Não ouço as
palavras, mas sinto a presença de domínio sobre seu novo servo.
Ele que ajoelhado em frente a ela imediatamente abre o zíper das
suas botas. Lento e cuidadoso, descalçando os pés delicados
esmaltados de vermelho também e beijando um a um com devoção.
Ela comanda apenas com um menear de cabeça e ele distribui os
beijos por toda a extensão da perna até chegar aonde ela deseja...
Mais uma frase curta e um afago na nuca do homem,
causando um arrepio na minha pele. Passo a mão nos meus
próprios cabelos ansiando as dela em mim.
Já vi de um tudo nessa vida de jogos eróticos. No sexo
presenciei muitas coisas diferentes, mas observar um homem
daquela classe, ajoelhado, humilhado, lambendo uma mulher,
porque, sim, ele está aproveitando e dando tudo de si, imagino pelo
rosto dela em êxtase que ele encontrou o caminho exato para
satisfazê-la. Isso me afetou. Porra e não foi pouco!
Remexo-me inquieto na poltrona, buscando um alívio que sei
que não terei hipnotizado pela cena da Dominatrix agarrada aos
cabelos do empresário, invejando e me imaginando no lugar do
bastardo esforçado. Mas na minha cama, jamais em público.
A cena termina e com ele ainda de joelhos, ela se retira
satisfeita de volta a sua cabine.
Rapidamente vou em direção ao bar, preciso de informações
sobre ela. O que é isso que me deu? Não sou desse jeito! Tenho
que aplacar esse desejo maluco de possuir aquela mulher para não
duvidar de mim mesmo. Após alguns minutos de conversa com o
barman, descubro o nome que receio me assombrará pelos
próximos dias, pois combina exatamente com a beldade:
Lady Vênus
CAPÍTULO 4

DIAS ATUAIS

Na solidão da minha cabine me preparo para mais uma


quinta-feira de apresentações.
Meu coração já não acelera de nervosismo como antes.
Existe, sim, a ansiedade da entrada, mas que vai abrandando assim
que piso no palco e começo a desempenhar meu papel de Vênus.
Questiono em silêncio diante do espelho se era isso mesmo que
faltava na minha vida? Conhecer e incorporar o mundo BDSM como
rotina.
Recordo da primeira visita a esse clube. Céus, como estava
nervosa e preocupada com o que veria, quem encontraria, se as
práticas executadas me chocariam. E pior, se encontrasse alguém
conhecido, o que pensariam de mim? Por ser um clube fechado,
sabia qual era o tipo de frequentadores. Ricaços da alta sociedade.
E mesmo assim, não conhecendo nenhum, o pânico de ser
descoberta me atormentou no princípio.
Os poucos amigos que tinha, se resumiam a cafeteria. Não
tenho namorado, uma vida social, por opção, é claro. Pois fechei as
portas do mundo exterior para evitar sentimentos desastrosos com
meu complicado psicológico. Mas naquele momento, ansiava por
mudanças. E apostava que fazer parte dessa novidade pudesse
ajudar. Precisava de um choque de realidade, um sacode, e vir a
esse lugar foi um belo de um safanão.
Aquela imagem complexada que enchia o espelho cada vez
que vestia uma roupa bonita para sair e socializar e que sempre me
fazia desistir, merecia ser apagada. Os motivos que as causavam
eram sempre os mesmos; as palavras e olhares de desprezo
carregados de zombaria que guardava em minha mente da
adolescência, das lojas de roupas que nunca tinham um manequim
adequado ao meu biotipo, das recusas às vagas de emprego por
preconceito. Essas lembranças sempre ecoavam cada vez que
alguém olhava para mim na rua. E por mais que minha psiquiatra
tentasse me convencer do contrário, estava desistindo de L.A. como
desisti da Espanha.
Tentava me convencer que mudar novamente ajudaria. Agora
percebo que estava num círculo vicioso semelhante a uma droga.
Que sempre precisava de uma nova dosagem para surtir o efeito
que a antiga não fazia mais. E a ideia de um novo país, viver lá
alguns anos até que as emoções terminassem, para recomeçar
outra vez foi um pensamento recorrente. Precisava urgentemente
me libertar daquela ideia.
A Dra. Elisa disse na época, que de nada adiantaria fazer
isso. E eu vivia a abstinência dessa droga que se chamava
mudança. Mas, não era mudar de cidade a solução. A mudança
tinha que ser de espírito. Mudar geograficamente era carregar os
mesmos problemas na bagagem. Mudar meu pensamento, era
garantir a cura deles.
Bendita hora que Domme Elisa sugeriu esse lugar e
concedeu seu cartão senha do clube VOLCANO. Descobri que
minha psiquiatra é como eu, gosta de dominar. Após contar alguns
detalhes do tipo de clube que se tratava e algumas regras de
conduta, a curiosidade de novas emoções despertou e resolvi tentar.
O resultado…
Me transformei em uma nova mulher. Acho que no fim tudo
deu certo. Fiz amigos, me divirto, consegui renovar meu guarda-
roupa, e agora, realmente uso tudo o que compro sem ter vergonha.
Quanto ao meu corpo, tento manter o equilíbrio o mais saudável
possível sem me torturar por isso. Não odeio mais aquela mulher
que o espelho me apresenta como antes, nem me envergonho de
mostrar partes minhas as quais mantinha escondido.
É espantoso como tudo está diferente agora. Isso me faz
recordar da primeira noite que pisei aqui, ao contrário de hoje
seminua em um espartilho e botas altas. Vesti uma saia naquela
ocasião relativamente justa e curta e usei uma blusa mais solta com
um ombro à mostra. Usei preto, sentia a necessidade de observar e
não ser notada. Amarrei meu longo cabelo em um rabo de cavalo
alto, marquei os olhos com sombra escura e um batom vermelho
ousado. Precisava parecer sensual, na primeira visita tinha que me
integrar ao local.
Saí de casa animada, não me olhei no espelho de corpo
inteiro porque sabia que desistiria se assim fizesse e a curiosidade
pelo local era maior que o ódio por mim mesma.
Quando cheguei, visualizei o interior com meus olhos
curiosos que inspecionavam tudo com admiração. Por mais que
tivesse feito pesquisas na internet sobre esse estilo de vida, não
tinha visitado ainda um lugar assim. Até porque, aqui em L.A. minha
classe social não permitia tal luxo e eu não conhecia as pessoas
certas com acesso a esse tipo de clube.
Ver ao vivo os móveis com poltronas de couro e veludo
espalhados por todo o lugar, correias[12] e harness para bondage[13],
contenções com taxas e acima dos sofás, barras de ferro, era
esplendoroso, extasiante e de certa forma inquisidora. Pois a
pergunta do porquê as pessoas procuravam esse tipo de ambiente
dançava a todo momento na minha mente.
Hoje, consigo entendê-las e nomear corretamente cada
objeto existente. As cruzes, as cadeiras e tronos, os apoios, a
decoração com chicotes, correntes adornando todo o salão, as
pessoas desinibidas com roupas de couro e os sons, incrível! A
teoria não tinha preparado meus olhos para todo esse
encantamento.
Imediatamente fui ao bar beber, precisava me soltar. Sentei-
me em uma das poltronas na ponta contrária à porta, onde pudesse
ficar protegida pela penumbra e esperei um barman me atender.
Simpático, preparou uma piña colada. O líquido que descia devagar
apaziguava a alma enquanto apreciava curiosa todas as cenas.
Uma em especial me chamou atenção. Um homem
mascarado vestido de couro sentado em um trono dourado
suntuoso, estava com uma garota loura ajoelhada entre suas pernas
que o chupava avidamente e outra lambendo seu pé de forma
sensual enquanto ele a segurava por uma guia. Havia uma
superioridade e poder em torno daquele homem que me atraía.
Percebi que o seu maior interesse nem era em suas duas
submissas. Sua atenção era voltada ao divã ao seu lado, onde uma
garota deitada de bruços com a bunda nua empinada, era
espancada por outro mascarado. A dor que eu a imaginava
sentindo, mesclada a satisfação em seu rosto com o prazer, tanto
me assustou como estranhamente me excitou. De repente, vi que
ela e o cara que a observava gozavam, e na minha cabeça sentir
prazer na dor era um ato insano. Mas fiquei aliviada ao ver que
mesmo com a bunda marcada em vermelho, a moça estampava um
largo sorriso no rosto.
O barman se aproximou e me acordou do transe em que
estava. Naquela hora eu corei e lamentei que alguém tenha me visto
daquele jeito. Lembro como se fosse hoje daquela conversa ao pé
do ouvido.
"— Você nunca tinha presenciado uma coisa dessas, não é?
— O quê? — respondi sobressaltada.
— Tudo isso.
— Está tão na cara assim?
— Sim, baby, cada vez que ele acertava os golpes,
involuntariamente você dava um pulinho nesse banco — escapou
de mim uma risada descontraída com sua afirmação. Ele sorriu e se
apresentou.
— Sou Benji Melbourne, Elisa me avisou que o cartão sócio
dela é seu por tempo indeterminado até que ela termine a
especialização que foi fazer.”
De fato, aquela noite foi uma virada de chave na minha vida.
Eu inconscientemente sabia. Assenti um pouco apreensiva achando
que poderia ser um problema usar o cartão de outra pessoa, mas
logo relaxei quando me serviu outra bebida não solicitada. Acho que
para me acalmar. Começamos a conversar de maneira animada
sobre tudo que se apresentou naquela noite.
Gostei de cara de Benji, um negro atlético muito simpático e
divertido, algo me dizia que seríamos grandes amigos, mal sabia
que seria meu mentor e abriria meus olhos para esse mundo
totalmente novo.
Naquela ocasião, ele inquiriu várias coisas sobre mim. A
conversa fluiu até o clube esvaziar. Perguntou curioso sobre o que
mais eu tinha gostado daquele lugar e respondi que foi dessa cena
em particular. E daí, veio a surpresa…
“— Qual você gostaria de ser... a que chupou o cara ou a que
apanhou?
— Por que acha que eu queria ser uma delas?
— Porque mesmo assustada você se excitou. Pelo seu olhar
encantado, percebi que você os invejava.”
Pensei muito naquela pergunta. Procurei dentro de mim o
que tinha vontade de ser e pela primeira vez sabia o que desejava:
"— Gostaria de ser o mascarado sentado naquele trono e eu
mesma espancar aquela bunda até as marcas vermelhas
desenharem a pele.”
Assim que ouviu minha resposta, percebi um Benji aturdido e
às gargalhadas me passou seu contato para ligar no dia seguinte à
tarde.
Me irritou o convite a princípio, pensei que ele estava
zombando de mim e pior me achando uma transa fácil. Mas pelo
contrário, ele se desculpou imediatamente explicando que tinha
namorado e que a gargalhada foi de alegria e surpresa por
finalmente encontrar a pessoa que ele precisava e queria contratar.
Porém, só falaria os detalhes no outro dia, pois o clube já estava
encerrando seu expediente.
De barman a gerente do lugar, realmente ninguém é o que
aparenta ser, nem mesmo nesse clube. Rimos até hoje desse
episódio. Depois disso foi uma loucura, muito conhecimento e
treinamento até incorporar Lady Vênus.
Mas essas lembranças ficarão para depois, meu tempo de
preparação esgotou. Tenho uma cena agora para realizar e é
preciso desempenhá-la com perfeição. Esse mês, contaremos com
muitos visitantes novos. Benji me passou essa informação dizendo
serem executivos de alto padrão dos cassinos da região. Ressaltou
que a casa precisa conquistar esses clientes que gastam tanto com
as bebidas mais caras, quanto outras coisas igualmente
dispendiosas.
Recebi ordens para não usar meus brinquedinhos de dor em
ninguém. Fazer somente uma apresentação mais erótica e sedutora
para analisar seus gostos. Afinal, esses homens já conhecem outros
clubes e sabem como é o lado obscuro do prazer. Ainda ouço sua
voz afetada na reunião de hoje cedo:
— Leveza baby! Sedução, deixe-os malucos por você para
retornarem amanhã.
Um longo suspiro e estou pronta:
Ok, vamos lá, é hora do show, Lady Vênus!
CAPÍTULO 5

O clube estava particularmente agitado esta noite. Faz seis


dias que venho frequentando, quase que diariamente.
Será que ela não se apresenta com frequência porque há
algo que a impede? Um namorado. Talvez, mais que isso, e se ela
for casada e mantém uma vida paralela a essa? Marido e filhos?
NÃO! Meus punhos agora se fecham em rigidez com esse
pensamento. Recuso-me a imaginar isso. Ela vai ser minha, tem
que ser!
Meu Deus, como posso desejar tanto uma mulher que só vi
uma vez? Nem a toquei, nem sei se ela notou a minha presença
com a multidão de caras babando, assistindo-a encenar.
Não me importo, Vênus se infiltrou como um entorpecente
nas veias de um viciado. Penso que essa mulher despertou algo
adormecido dentro de mim que nunca imaginei existir. Preciso
descobrir por que ela não sai da minha cabeça. Peço meu habitual
whisky duplo e sento-me no meu lugar predileto, a poltrona de couro
de que fica estrategicamente próximo ao cortinado. Preciso ter a
visão periférica privilegiada das portas dos calabouços particulares.
Quero ver quem sai daquelas cabines e só uma pessoa me
interessa, a que vai sair da porta vermelha. Noto que
disponibilizaram alguns postes de pole dance pelo salão, que já
observo ocupados por diferentes garotas e rapazes, dançando ao
som ambiente. Uma trilha sonora que mescla batidas ritmadas com
um pop moderno.
Afrouxo, tirando minha gravata e coloco no bolso relaxando
com minha bebida. Ao redor do salão observo diversos casais e
trios encenando jogos eróticos com coleiras, chicotes e guias.
Agora, mais maduro, meus gostos transformaram-se um pouco, o
voyeurismo[14] é minha principal diversão ultimamente. Há tempos
não enceno ou participo de nada sadomasoquista. É uma atividade
exaustiva quando você não se dedica realmente e com tanto
trabalho e responsabilidade não consigo conciliar. Mas olhar me
diverte e se houver alguma participante que capture meu interesse,
eu simplesmente a terei para meu bel-prazer. Ninguém resiste a
Luke Taylor.
Mas não me lembro de nada que tenha prendido minha
atenção por mais de algumas horas nas cenas que vi, não acho
mais graça nessas garotas manhosas, de olhar passivo e rendido.
"Baby girls[15]" não fazem mais meu pau pulsar.
Me atenho adiante a um dos cantos do salão onde há um
homem em uma cruz de San Andréas, preso com algemas de
pulsos e tornozelos, vestido somente com o arreio de tronco e
mordaça gag[16]. Está em êxtase sendo chicoteado por outro homem
com uma máscara de carrasco. Há também uma mulher à sua
frente lhe dando prazer com a boca.
Me pergunto se eu me veria em uma situação semelhante
sendo usado, privado do meu controle. Balanço a cabeça
respondendo negativamente, não consigo pensar em alguém
limitando os meus movimentos ou meu gozo. Sorvo mais um gole
do meu líquido amargo e sinto o toque de uma mão pequena em
minha perna. Olho com o rabo de olho, uma garota loura de biotipo
pequeno. Recordo de vê-la me rodeando desde o primeiro dia. Noto
seus olhos azuis suplicantes todas as noites me acompanhando.
Desvio o olhar direto, pois não me atrai. Ela é muito branca, para
não dizer pálida, vejo um sinal de veias azuis nos seios, são
naturais, mas pequenos como ela, tenho certeza de que a quebraria
caso a quisesse como submissa, tamanha a delicadeza da moça. E
está apenas com uma camisola rosa curta de um tecido fino
transparente, mostrando todos os detalhes do seu corpo miúdo.
Percebendo que não me movo em discordância, ajoelha-se e
desliza a minha frente se posicionando entre minhas pernas me
acariciando sob a calça de linho.
Meu pau não está totalmente pronto, mas sei que não
demora a enrijecer, não pela atração em si, mas pela necessidade
de extravasar. Não me oponho. O garçom já encheu meu copo com
whisky outra vez, e eu bebo sibilando entre os dentes quando ela
abre o zíper e o põe para fora.
Suas mãos começam a acariciar o admirando e mesmo
assim não olho diretamente para ela. Não quero encorajá-la para
que isso aconteça na próxima vez que eu vier. Mas hoje me permito
o alívio, preciso disso, a semana não foi nada fácil com meu
pensamento tomado pela mulher ausente de cabelos escuros que
me assombra. A Dominatrix gostosa e exuberante que estará no
lugar dessa garota em breve.
E como se meu pensamento fosse um gatilho, fecho minhas
pálpebras sentido a temperatura do local mudar. Inalo o perfume
inebriante que toma conta do ambiente sabendo que ao abrir meus
olhos a verei. Tão sexy... E puta que pariu! Que mulher linda! Não
há nada mais em foco no meu olhar!
Vênus parece realmente uma deusa etérea. Está a cerca de
um metro de sua porta, sentada de pernas cruzadas no ombro de
um brutamontes vestido só com uma calça de couro. Ele não é um
servo, ele é o carrasco que chicoteava o rapaz que vi minutos atrás.
O reconheço pela máscara. Será que ela vai ser atada a cruz ou
será chicoteada por ele? Fico apreensivo com essa possibilidade. O
brutamontes começa a andar com ela na mesma posição, apenas
com uma mão no seu ombro segurando-se para não cair. Parece
uma pintura a óleo de tão linda e altiva. Deveras, é uma cena de
tirar o fôlego! Só de me imaginar em um ambiente sozinho com ela,
uma luxúria incomum me invade, fazendo meu corpo todo
incendiar.
Conforme se aproximam dos postes de pole dance, todos os
ocupantes param seus movimentos e descem deles. Quando chega
ao poste da minha frente, ela dá uma batidinha no ombro do homem
em um sinal, ele para e a desliza do ombro a estabilizando ereta e
de costas para ele.
A minha apreensão está no auge, a garota ajoelhada começa
a trabalhar mais ávida com sua boca em mim, porém não concentro
em seus movimentos. A importância desse ato de prazer que estou
recebendo se perde em comparação ao que a deusa de cabelos
escuros desempenha a metros de mim. O carrasco ergue a mão me
deixando aflito, o que ele fará a seguir com ela?
Entretanto, é um alívio imediato quando a mão do gigante
apenas puxa o fio da máscara rendada dela e a retira. Porra! Não
sei o que eu faria se ele tocasse em qualquer parte do corpo de
Vênus! Seria expulso deste lugar certamente, pois nada nem
ninguém me impediria de resguardá-la de qualquer ocupante desse
recinto. A deusa gira em direção ao homem e estende o dorso da
mão em cumprimento, ele a beija suavemente e faz uma reverência
em retirada. Um ato simples que impõe o máximo de respeito em
uma casa onde as práticas e jogos de poder mostram a importância
do atuante. É admirável que até os outros dominadores fazem
reverência submetendo-se a ela. Espantoso, na verdade, o
deslumbramento que ela provoca em todos. Fico desconcertado por
ser um desses, porque mulher alguma mexeu comigo dessa
maneira.
Nesse instante começa uma música sensual muito alta. Olho
por um momento e o salão está paralisado como num jogo de
estátua. Todos hipnotizados, ninguém se move e receio que até os
postes vazios se pudessem a reverenciar, o fariam.
É linda a roupa que ela veste. O top preto todo trançado ao
redor do estômago fica extremamente sensual no corpo dela. A
calcinha da mesma cor, que reconheço não ser pequena, parecendo
um shortinho, mas vazado e trançado nas laterais, fica tão sexy
naquele quadril redondo. Tenho vontade de me levantar dessa
poltrona, apanhá-la em meu ombro e levá-la daqui para que
ninguém sequer olhe para ela. Desço os olhos e vejo que não está
usando botas hoje, mas com um salto altíssimo vermelho e trançado
com tiras até o joelho. Pés delicados e pequenos, até isso é perfeito
nessa mulher.
Vendo-a toda amarrada pelas roupas com esses cordões, faz
meu corpo reagir às fantasias perversas na minha mente. Sou
amante das cordas, apaixonado por shibari[17]. A imagem de Vênus
sobre uma mesa nua, toda amarrada, é desenhada em minha
mente. Minha insossa acompanhante entre minhas pernas se
anima com as reações da minha carne em sua boca. Está alheia ao
show que estou acompanhando e o motivo do meu entusiasmo com
as fantasias perversas que construí desde que pus os olhos sobre a
mulher Dominatrix.
À minha frente, Vênus desfila três passos sensuais… A
cadência e desenvoltura de seus movimentos me deixa vidrado. Me
seduz o andar lento e a bunda redonda acomodada na calcinha. Ao
subir o degrau na pole e começar a serpentear o corpo lindo
rebolando sensualmente ao som da melodia, me vejo segurando o
fôlego. Sua dança não é vulgar. É sensual e sedutora… me
encantando conforme os cabelos longos participam do show.
Combina tanto com ela os fios ondulados, parece uma sereia
enfeitiçando a todos.
Vênus continua, ora acariciando o poste com as pernas, ora
com o corpo, até que, pendurando-se pelas mãos, gira no alto e
desce como se estivesse em um carrossel segurando-se apenas
com uma mão e uma das pernas.
Seus cabelos selvagens caem pelos seios parcialmente
escondendo um dos olhos, e assim ela dispara um olhar em minha
direção, e que olhos são esses, porra! São de um castanho
acobreado, olhos de gata, uma felina selvagem, mas há algo mais
neles que não consigo identificar, um mistério. E como quero
desvendá-la retribuo seu olhar em resposta.
Eles continuam, ela e o poste como dois amantes e sua
dança seduzindo e alucinando a todos os espectadores. Não
consigo olhar as reações dos presentes, mas pelas minhas posso
afirmar que o espetáculo é inesquecível.
Ela pendura-se novamente e dessa vez desce lentamente
num jogo de pernas. Me sinto um rei por perceber que está
concentrada em mim. Porém, logo me dou conta da situação,
quando ela desvia seus olhos para o meio das minhas pernas onde
a garota se encontra. Imagino que ela não tenha a visão completa
do ato, mas percebe os movimentos rápidos da pequena loura.
A gata continua o show com as pernas arqueadas roçando o
poste para cima e para baixo. Lança-me pequenos olhares
misteriosos e fascinantes em meio a apresentação, aproximando o
ápice do meu prazer. Essa atenção velada que destina a mim me
deixa em êxtase e num gesto provocante, agarro um punhado de
cabelos da garota ajoelhada, controlando os movimentos e
encarando a gata selvagem em desafio.
Num diálogo só nosso, ela gira o corpo descendo até o chão,
subindo e empinando a bunda com elegância, olha por cima do
ombro para contemplar o efeito e estala uma palmada de mão
aberta. Ouço os murmúrios e silvos da plateia e percebo que todos
estão hipnotizados como eu pelo espetáculo...
Ela nota meu peito subindo e descendo e meu semblante
ofegante perto do clímax. Então se coloca de lado dançando mais
lentamente, e se inclinando em direção ao poste dá uma longa e
lenta lambida no metal, me encarando como uma tigresa.
Nessa hora perco o controle e gozo na boca ávida da
mocinha ajoelhada sem desprender meu rosto dela. A Dominatrix
lança um sorrisinho, aquele sorriso arrogante que já vi dançando em
seus lábios uma ou duas vezes. É um gesto que demonstra
conhecimento de que gozei por ela e pra ela. Não devia ter feito
isso! Me deixado levar dessa maneira!
Mais alguns poucos acordes e a música termina. Vênus
encerra o show sem dirigir novamente o olhar em minha direção e
em meio a assovios e elogios sai do salão, desaparecendo atrás da
porta vermelha.
Respiro fundo, recobro meus sentidos, e atordoado me
arrumo fechando minha calça ainda descomposto e vou ao bar
tentar assimilar o que houve.
Peço mais algumas doses e em cada gole recordo um de
seus movimentos, um de seus olhares sacanas. O barman se
aproxima e pergunta se quero outra, nego, pois já encerrei a noite,
todavia me recuso a mover-me do banco. Queria tanto vê-la
novamente.
Passo a mão pelos cabelos tentando dissipar as memórias
quentes dela, sei que foi para mim que ela dançou, mas será que
ela me quer tanto quanto eu a quero? Ou foi apenas um jogo de
sedução para encantar o clube lotado? Quando movo minhas
pernas em retirada, inspiro o perfume e paraliso. Ela se encosta no
balcão ao meu lado e sem precisar pedir, recebe uma taça de
bebida com uma cereja dentro.
O barman em um gesto solícito alcança já conhecendo
previamente sua preferência. Se eu não soubesse que ele é gay, eu
ficaria com ciúmes dessa cumplicidade silenciosa deles. “Ciúmes” o
que eu tô pensando? Nem a conheço! Vênus está dominando os
meus pensamentos e emoções, e isso não é bom.
Mudo a posição no banco de frente para ela, aproveito que
estamos a sós e tão próximos e a contemplo silenciosamente.
Zonzo com seu perfume único. Embevecido pelos movimentos
suaves da sua mão delicada, enquanto mexe o drink com um dedo
deslizando pela borda do copo. Mesmo sem me encarar, ela sabe
que estou aqui. Percebo seu maxilar tenso apertando. Estamos a
menos de um metro de distância, foi proposital ou só estava com
sede? Me pergunto, o que quer de mim, me tirar do sério, me
provocar? Preciso sair daqui, mas meu corpo não obedece. Meu
cérebro não tem forças para guiar meu corpo para longe de Vênus.
Sua respiração está descontrolada, a elevação dos seios pelo
movimento de respirar é quase imperceptível. Mas eu vejo. Aliás,
ficaria a noite inteira decorando cada detalhe dessa mulher.
Ela apanha o cabo da fruta e põe na boca, comendo devagar,
talvez arquitetando seu próximo movimento. Até mesmo o mastigar
da frutinha é extremamente erótico. Essa boca dela sempre me
fascina. O movimento que faz, tão sinuoso enquanto mastiga a
cereja, prende meu olhar em sua direção. Marcada com o sexy
batom vermelho, parece tão quente, saborosa, que quase não
resisto a tentação de tomá-la para mim. Ela se aproxima devagar,
ocupando todo o meu espaço sem pedir licença, afasta as minhas
pernas e se coloca entre elas apoiando as suas mãos para alcançar
a minha boca. Insinua, recua, faz meu coração acelerar ao máximo
e por fim dá uma leve mordiscada em meus lábios sorrindo e
roubando meu juízo… Controlo o ímpeto de rosnar feito um animal
no cio reivindicando sua fêmea. Neste momento não existe mais
nada nem ninguém, apenas eu e ela.
Seu hálito fresco e doce é alucinante, me desatina
totalmente. Olhos abertos fixos nos meus, intensos e hipnotizantes
emoldurados por cílios longos e espessos. Aqui e agora não há o
que pensar, minhas percepções cognitivas entram em curto-circuito.
Abandono meu controle provando com minha língua o pedaço de
céu. Vênus corresponde…
O beijo é perfeito, como se ela fosse feita para me beijar.
Nossas línguas duelam arrastadas e repletas de desejo desmedido,
e seus lábios macios e quentes com o gostinho da fruta provocam
sensações que desconheço. A sensação é que é meu primeiro
beijo. Minha pulsação retumba em meus ouvidos e meu peito
parece explodir. Mas eu a afeto também. Sua respiração
descompassada revela que ela deseja o mesmo que eu. Ao se
afastar corada de luxúria, murmura em meu ouvido:
— Estou aqui todas as quintas, gostaria de um teste com
você. Se topar, garanto que não vai se arrepender. — Tira do decote
do top um cartãozinho vermelho com um adesivo e desliza até a
minha mão imóvel.
Seus olhos amendoados ao me olhar agora não são de uma
tigresa predadora, mas de uma gata manhosa. Meu corpo, que já
estava pronto quando inalei seu perfume picante e adocicado, sinto
escorregadio dentro da roupa, o pau louco para gozar novamente.
Queria me render a noite inteira em seu calor, descobrir o que lhe dá
prazer e satisfazer cada um dos seus desejos. Imagino o que diriam
seus olhos quando a fizesse gozar e quando ouvisse seu nome em
meus lábios ao pé do ouvido dela.
Acompanho anestesiado ela girar nos saltos e sair desfilando
as curvas estonteantes em direção a cabine. Não sei quanto tempo
fiquei atônito olhando para a porta fechada.
Quando dou por mim, vejo o amiguinho barman perplexo
segurando o riso pela minha cara de pateta. E mais uma vez saio
atordoado e confuso, para não dizer envergonhado por não saber
agir com a presença envolvente de Vênus e o transtorno que ela me
provoca. Mas que merda! Como fui ficar de quatro por uma mulher
dessa maneira? E esse beijo me deixou totalmente rendido, foi
melhor do que imaginei! Toco minha boca tentando manter o gosto
de cereja neles andando para a porta da frente do clube como um
zumbi tocado pela cura, anestesiado de tesão pela mulher sedutora.
Só sei que tenho uma semana para pensar sobre o teste...
Pensarei nesse beijo... Pensarei no perfume, pensarei somente
nela, maldita mulher dominadora!
CAPÍTULO 6

Desde aquele beijo ardente onde a linda Dominatrix me


propôs um teste, passei a semana seguinte com a imagem dela na
cabeça. O gosto daqueles lábios delicados e cheios ainda estão nos
meus, foi realmente complicado me concentrar nas minhas
obrigações na presidência do cassino. Uma parte de mim deseja
desesperadamente aceitar aquele teste, mas o macho dominador
que sou se recusa a fazer a vontade dela.
Por mais que aquele corpo curvilíneo me assombre e o gosto
de seus lábios seja inesquecível, não consigo me imaginar sendo
controlado por nenhuma mulher. Desejo com todas as minhas forças
não ser assim, mas faz parte de mim esse instinto dominante.
Entre uma reunião e outra, tento elaborar um plano para me
aproximar dela e talvez descobrir onde mora, ou tentar me fazer
notar por ela. Depois de muito pensar, decido retornar ao papel de
dominador que há tempos não desempenho. Farei uma cena
naquele lugar, conversarei hoje mesmo com o barman que percebi
ser quem decide as coisas por lá. Ainda não descobri como fazer
para que Vênus me veja encenar, mas até quinta-feira pensarei em
algo.
Agora à noite, preciso ir ao jantar que minha mãe me
intimou.
Saio do cassino já atrasado respondendo uma mensagem
dela no celular lembrando-me do horário. Ao entrar no veículo,
instruo meu motorista George a se apressar e pegar a rota mais
rápida até a mansão do meu falecido pai. Durante o trajeto fico
meditando nesses convites constantes, nos quais aceito para não
decepcionar dona Soraya, minha amada mãe.
Sei exatamente que o objetivo do jantar é fazer com que me
interesse pela Christy Rockwell. Não consigo negar nada à mamãe,
ela ficou tão ou mais dependente de mim após a morte de meu pai,
e a última vez que fomos ao seu cardiologista, o próprio me chamou
de lado alertando sobre como o estresse e discussões agravam o
problema coronário dela. Desde aquele dia, procuro não discutir
nem a contrariar. O único problema é que se antes eu não tinha
interesse na garota, filha dos amigos de dona Soraya, agora menos
ainda. A obsessão pela mulher perfumada me tirou o prumo. Não
consigo raciocinar com qualquer outro assunto que não seja ela. E
agora nesse jantar não posso ser grosseiro nem agir como eu
quero, que é dispensar a garota.
Fora que o pai da moça não consegue disfarçar o quanto
minha presença o desagrada. Dane Rockwell não consegue ter uma
conversa sobre algo que não seja se pavonear no processo. Ele
está sempre com alguma indireta sobre alguma aquisição ousada
da minha parte. Cada vez mais tenho a clara certeza de que parece,
no fundo, uma inveja ressentida. Percebo que aquele homem é
frustrado com relação aos seus negócios, e isso é demonstrado nas
frases que ele solta, volta e meia nas nossas conversas. Isso me
irrita pra caralho! Preciso sempre manter a calma perto dele, tudo
pela minha mãe, pois quando meu pai faleceu essa família foi um
grande apoio para ela. A esposa desse homem, Marion, fez de tudo
para distraí-la, conseguiu com seus eventos sociais, jantares
beneficentes e outros tipos de atividades das mulheres da alta
sociedade, animar minha mãe. Então ela se apegou muito a eles,
ela mesma me disse que vê Christy, como uma filha, como posso
competir com uma coisa dessas? Como posso negar algo a ela,
mesmo não suportando o pai, nem a filha? Sim, é de minha mãe
que estou falando, a minha única parenta viva, não posso
decepcioná-la dessa maneira. Ao chegar à mansão Taylor, o
mordomo apanha meu casaco e dou um longo suspiro como uma
preparação para a guerra. As vozes aumentam à medida que
caminho pelo corredor até a sala de estar.
— Querido! Que ótimo que chegou. Estávamos ansiosos por
sua presença.
— Boa noite, mãe. Boa noite a todos. Desculpem o atraso.
— Nós entendemos que a vida de um CEO dos cassinos não
deve ser fácil — diz o idiota do Rockwell sentado no lugar de honra
na sala de estar, onde meu pai costumava ser o anfitrião dos
jantares nessa casa. Mas que afronta! Bebendo do whisky caro ao
qual eu pago e mando entregar assim que os estoques na mansão
ficam escassos.
Ergo um meio sorriso e nem me indigno a responder. Minha
cabeça não está aqui, vou passar por esse jantar como uma reunião
de negócios, formal e necessária, porém com contagem certa para
terminar. Há mais dois casais hoje, reconheço os dois homens, são
conhecidos tubarões do mundo imobiliário, amigos de Dane
Rockwell e suas esposas de fachada. Posso afirmar isso, pois nos
meus cassinos eles frequentam com outras mulheres. Dane deve ter
uma amante também, mas não tem coragem de desfilar diante dos
meus olhos com ela. Não sei o motivo, talvez hipocrisia ou para
manter essa imagem intocada de pai de família fiel. Sem paciência
alguma para nenhum deles. Assim que bebo uma dose, já somos
direcionados por minha mãe para a sala de jantar. Dona Soraya
habilmente coloca a garota Barbie sentada ao meu lado.
— Luke, que prazer revê-lo.
— Igualmente, Christy.
— Poderíamos jantar uma noite dessas sem essa plateia, o
que acha?
— Infelizmente não ando com muita folga na minha agenda
para eventos sociais, senhorita Rockwell.
— Ah... Por favor, me chame de Christy, já somos íntimos o
suficiente.
— Ok, Christy. Mas minha resposta não mudou. Minha vida
social se resume a trabalho ultimamente. Não tenho tempo para
encontros e jantares.
— Mas você está aqui, isso diz que consegue um tempinho
para pessoas realmente importantes.
A menina tem uma atitude ousada apalpando minha virilha
por baixo da mesa. Me surpreendo, mas não demonstro. Retiro sua
mão gentilmente do meu corpo e olho firme para ela.
— Aqui não é lugar e nem hora para isso.
— Quer dizer que podemos ficar um tempo sozinhos esta
noite?
— Pare com isso! Esse tipo de atitude não combina com uma
moça como você.
— Estou cansada de agir como esperam de mim! — O rosto
impassível da moça ganha um tom avermelhado.
Quando vou responder, a nossa entrada é servida e mamãe
faz um brinde aos amigos.
— Contou para Luke sobre a novidade, Christy? — pergunta
minha mãe animada.
A garota se pavoneia contando que está cursando uma pós-
graduação em administração. A mesma que fiz e na mesma
universidade. Relato cansativo, tedioso e estranhamente obsessivo.
— Percebeu filho? Poderá incluir Christy para estagiar com
você na administração dos nossos cassinos.
Agora entendi onde querem chegar, enfiar a Barbie na minha
rotina, mas nem fodendo!
— Eu me oporia se fosse qualquer outro trabalhando com
minha filhinha e num lugar tão perigoso como são os cassinos, mas
sendo um Taylor e ainda mais filho de uma grande amiga, dou meu
total apoio e incentivo. — O homem está seguro que vou aceitar
essa palhaçada.
— Agradeço a confiança, senhor Rockwell. Certamente sua
filha será uma profissional exemplar.
— Minha garotinha é uma ótima aquisição para sua equipe,
Luke.
Marion, a socialite loura, igual à filha, não é má pessoa,
apenas uma boneca de cordas a qual seu marido precisa para
manter a imagem na elite americana. Sei da origem dessa mulher, é
filha de um milionário do norte, criador de cavalos puro-sangue para
corridas de altas apostas. Dane, não é de origem tão nobre com
herança e essas coisas todas. Enriqueceu com seus negócios na
bolsa de valores, mas precisava de um nome poderoso ao seu lado.
— Concordo, quando terminar o curso pode entrar em
contato com meu representante e podemos fazer acontecer. — Ergo
minha taça de vinho, e sou retribuído pelo casal.
Preciso sair daqui urgentemente ou terei uma síncope.

Depois de uma hora e meia e longas suspiradas tentando


manter o controle, o jantar termina e eu finalmente posso ir para
casa e obter meu merecido descanso.
Saio de lá após me despedir de modo sucinto. Alcanço o
meu carro estacionado em frente à entrada da casa onde meu
motorista me aguarda, tal como meu cão fiel.
— Como foi o jantar, chefe? — questiona George assim que
entro no carro.
— Preciso de um analgésico para dor de cabeça, George.
Hoje foi um sacrifício extremo não mandar tudo pra casa do caralho!
— Vamos passar numa farmácia antes de ir para casa.
— Por favor, acelere, preciso dormir por pelo menos dez
horas. Estou há dois dias dormindo mal, pois as negociações com
aquele investidor árabe estão exaustivas.
— Ok. Estaremos em casa em breve.
— Obrigado.
CAPÍTULO 7

Passei o dia todo apreensiva hoje, depois que Benji repassou


o recado do homem que beijei na última quinta-feira. Pediu que
avisasse que fará uma cena especial, um presente em minha
homenagem e que gostaria que eu assistisse. Se ele não fosse tão
absurdamente gostoso, tão grandão, musculoso e com aquela cara
de mau que fez meu corpo todo desejá-lo, eu até negaria.
Mesmo com todos esses atributos que me atrai, gostaria de
mandá-lo à merda, mas não posso. Porque acima de tudo aquele
homem lindo é um cliente da casa, e a Benji lhe agrada ver a grana
dos milionários no caixa. Mas não gostei. Não suporto que me
desafiem.
Depois dos eventos de quinta passada, do beijo alucinante
que partilhamos, achei que aceitaria o teste. Pois seus olhos
demonstram o quanto me quer, mas por que luta contra isso? Para
posar de machão? Foda-se! Não vai me dobrar nem aqui, nem na
China!
Ele não quer ceder. Não deveria tê-lo deixado perceber meu
interesse, notei o quanto ele se acha. Sei que ele tem sua razão, o
cara parece um modelo de deus do Olimpo. Um metro e noventa de
corpo sarado, cabelos e olhos castanhos sedutores, uma boca
maravilhosa daquela, o tipo de qualquer garota, o único problema é
que seu porte é de dominador. Um homem acostumado a ordenar
quem estabelece as regras da relação e eu jamais descerei do
patamar que conquistei para aceitar ordens.
Benji falou algo sobre suas imposições, e isso não me
agradou. Não tenho perfil obediente, nunca tive e esses últimos
anos de conhecimento sobre o BDSM deu-me total certeza do que
eu quero. Meu desejo é que os homens implorem, rastejem, cedam
as minhas vontades, comandar para obedecerem às minhas ordens.
Aprendi que sou dona do meu corpo e das minhas vontades. Os
homens que eu desejar, farão o que eu quiser, e vão me levar pra
cama quando eu bem entender.
Vênus me ensinou a ser essa mulher, mas pelo jeito isso não
ocorrerá com esse homem que despertou meu interesse. Penso que
agora que sabe que me atraiu vai brincar comigo.
Hoje à noite, por cortesia, serei obrigada a assistir à
encenação que preparou para mim. Não sei minhas reações se ele
der prazer para uma submissa na minha frente. Me espanto por me
incomodar com o pensamento de vê-lo beijando outra mulher, mas
não me surpreenderia em nada se o fizesse.
Ademais, esse ‘presente me homenageando’ só demonstra a
sua prepotência.
Se ele deseja me subjugar, certamente não conseguirá o
intento. Ele não conhece a espanhola teimosa que desafiou. Tenho
uma carta na manga e vou pôr em prática o que planejei, vou deixar
claro que sempre dou a última palavra lá no clube Volcano.
(...)
— Alô, Benji?
— Ei, gata, o que houve?
— Sobre hoje à noite... Transmita ao Sr. Dominador que será
um prazer apreciar o seu show e que ao final lhe darei uma
lembrancinha em agradecimento pela homenagem.
— Stela! O que está planejando? Vocês dois estão se
enrolando em uma teia perigosa.
— Não seja dramático! Fica tranquilo que não vou espantar
seu precioso cliente, e desista de tentar descobrir o que tenho em
mente. Se quiser saber, assista à apresentação, prometo que será
divertido.
Prendo o lábio com os dentes impedindo meu riso travesso.
Você me paga bilionário atrevido!
— Certo, passarei o recado, mas olha lá hein Stela! Somos
melhores amigos, mas não estrague os negócios, odiaria ter que
demiti-la.
— Sei bem como agir, Benji, não se preocupe.
Ele se despede brincalhão, reconheço a confiança que Benji
tem em mim e por isso o amo. Agora vou me preparar, preciso de
um banho demorado e relaxante para incorporar minha deusa
interior.

Acertei com meus submissos exatamente como queria o


posicionamento do meu trono, disposto frente a uma distância de
quatro metros do palco onde o meu desafiante arrogante se exibirá,
não quero que ele perca nenhum detalhe de minha interação e nem
eu quero perder suas reações a mim.
Terminando de me preparar em minha cabine, resolvi
dispensar o sutiã, colei dois niple pasties[18] com enfeites
pendurados nos mamilos e puxei para frente meus longos cabelos
escondendo-os para que eu os mostre somente na hora que eu
achar apropriado, um espartilho preto marcando minha cintura, uma
calcinha um pouco menor que o normal, uma bota preta de vinil até
as coxas, e minha máscara, uma legítima Domme.
Quero que o Sr. Dominador não se esqueça disso quando me
olhar hoje. É imprescindível desfazer qualquer dúvida que um dia
me submeterei a ele, a lembrancinha está comigo pronta para
exercer o papel principal neste ato. Contemplo minha figura no
espelho e aprovo. A mensagem que quero transmitir será entregue
com categoria.
A música lá fora diminui e sei que é minha deixa para entrar
em cena. Abro a porta e meus meninos estão devidamente
posicionados aguardando meus comandos. Apanho suas coleiras e
me deixo conduzir até meu trono, ordenando com um aceno que se
ajoelhem um de cada lado do assento e acomodo-me em seguida.
Respiro fundo e só então ergo a cabeça em direção ao palco.
Meu rosto se mantém impassível, não vou demonstrar de
maneira alguma minha reação a ele, mas confesso que é bastante
excitante vê-lo com um chicote na mão flagelando uma garota nua
amarrada ao poste, ereta, contorcendo-se prazerosamente diante
de todos. Percebo que não é a mesma garota que o chupou
semana passada. Essa tem um corpo maior, mais forte, parecida
com meu porte físico em altura, propositalmente escolhida, suponho
para me ver nela. Seus cabelos estão atados em um coque no alto
da cabeça para deixar as costas à mostra, e ele, como um clássico
dominante, anda pelo espaço girando ao redor dela, desferindo
golpes em todo seu corpo já molhado de suor. Tento concentrar
meus pensamentos, mas é impossível tirar os olhos da forma
masculina. O dominador veste uma calça escura moldando as coxas
musculosas, e camiseta justa da mesma cor, o seu abdômen sob a
roupa úmida do esforço parece um tanque de tão definido, seu rosto
brilha de suor por desempenhar a cena. O cabelo bagunçado e seu
semblante obscuro conforme se move é arrebatador. Meu corpo
aquece e cada golpe que seu braço desfere é um impulso elétrico
em meu sexo. Será que me veria no lugar dela sendo subjugada e
flagelada por ele? Jamais! Quase deixo escapar um sorriso, não
senhor! Eu não me dobro para homem nenhum! Porém, outra cena
mais aprazível seria ele ajoelhado aos meus pés, implorando para
me dar prazer. Nossa! Me imagino cavalgando nesse homem,
sentando como uma rainha num trono de carne e músculos. Um
porte físico gigante desse deve ter uma arma no meio das pernas de
produzir estragos em qualquer mulher. O volume sob a calça dá
asas à minha imaginação fértil e safada. Cada pedaço do corpo dele
é um delírio para os olhos. Imagens minhas sendo agarrada pelas
suas mãos fortes e penetrada vigorosamente por ele seduzem
minha mente. Já me toquei algumas vezes imaginando-o em
diversas posições fodendo meu corpo com vontade. Meu rosto deve
me trair nesse instante, pois um olhar rápido em minha direção faz
seu sorriso arrogante aparecer. Merda! Mais que depressa me
recomponho e inicio meu plano.
Descruzo as pernas e começo a me tocar, primeiro por cima
da lingerie, continuo sensualmente até que ele perceba o que estou
fazendo. Assim que tenho sua atenção sem desviar o olhar, deslizo
minha mão dentro da calcinha já encharcada, dedilhando meu
clitóris com movimentos lentos, acariciando, imaginando seus dedos
grossos explorando meu corpo. Mordo meu lábio à medida que
intensifico a masturbação. Seus olhos escuros travam quando vê o
meu deleite, mas disfarçando, rapidamente concentra-se nas costas
e bunda da garota com tiros rápidos para antecipar os vergões e
acelerar a apresentação. Não pretendo gozar, meu objetivo parcial
foi atingido, molhei seu presentinho com meus fluidos e atrapalhei
sua concentração. Seu corpo todo tenso em nervosismo, me dá a
vitoriosa confirmação.
Assim que finaliza dando meia volta e olhando para o público,
retiro minha mão molhada de excitação e estendo ao jovem
ajoelhado que prontamente suga ávido limpando todos os meus
dedos. Afago em um carinho seu queixo em agradecimento com um
sorriso benevolente e retorno a encarar meu oponente. Tenho
vontade de gargalhar com a reação dele, está incrédulo,
boquiaberto, seu peito sobe e desce respirando pesado. Furioso,
por quê? Devo admitir que ele fica ainda mais lindo,
descompensado dessa maneira. Homem bravo, imagino brigar com
ele e fazer as pazes com aquele pau enterrado depois. Mordo o
lábio para não sorrir desse pensamento pecaminoso. Observo-o
desatar a menina e conversar com ela rapidamente. A moça atua
como submissa na casa vez ou outra, reconheço agora seu rosto.
Mas ela se retira do palco rapidamente sem interesse no 'after care'.
O Dom, retorna a beira do degrau, faz uma leve reverência, e
[19]

com as mãos estendidas presenteia-me com seu chicote. Sem


desviar de seus olhos, sinalizo ao outro servo que se levante e
apanhe para mim o instrumento. É divertido notar sua reação com
minha indiferença à sua cortesia. Trazendo o presente, o seguro nas
mãos e devolvo a reverência inclinando a cabeça, e alcanço ao
servo que guarda o instrumento.
Me ponho de pé com as mãos na cintura, em um movimento
previamente coreografado, o outro rapaz ao meu lado põe-se atrás
de mim graciosamente retirando meus cabelos, para que o tal Taylor
aprecie a visão dos enfeites em meus seios. É a glória analisar seu
descontrole, constatando o descer de seus olhos para eles. Depois
disso meu servo desliza a mão dentro da minha calcinha, e
vasculhando por alguns segundos retira a gravata molhada. Isso
quebra seu encantamento e dá lugar a um olhar gelado de raiva por
esse deboche da minha parte. Queria me intimidar? Sou mestra
nessa arte, bobinho!
Sorrindo com minha parcela de malícia, pego a peça melada
e ando em direção ao palco vestindo meu gostoso adversário com
ela:
— Agradeço a homenagem, foi realmente uma encenação
memorável. Devia pedir uma vaga, a casa está contratando.
Seus olhos intensos e penetrantes como punhais apontados
em minha direção me assustam, mas não dou tempo de resposta.
Finalizo nosso duelo silencioso com um menear singelo de cabeça e
me retiro discretamente para minha cabine…
Mais que depressa Benji a invade escandalizado e bufando
feito uma locomotiva a vapor.
— O que você fez, Stela?
— Dei-lhe uma lição, deixei claro quem dá as cartas por aqui.
Ele é o vassalo e eu sou a rainha desse 'castelo.'
— Você não está entendendo, o cara foi embora parecendo
um lobo raivoso! Não vi maldade no que ele fez. Foi apenas uma
maneira de chamar sua atenção, te agradar.
— Me agradar? O tal riquinho faz uma sessão de spanking[20]
com uma garota parecida comigo e diz que é em minha
homenagem? Ele quer fazer a mesma coisa, me dominar, você não
vê? Quer que eu seja sua submissa. — Minha cabeça não para de
balançar negativamente. Ando pelo camarim como se buscasse
uma saída, adrenalina, raiva e confusão permeando meu corpo e
mente. — Era o único jeito, tive que impor distância. Tenho que me
afastar daquele homem, Ben. Deixá-lo com raiva foi a melhor
maneira que encontrei para fazer isso. Não quero um dominador me
importunando no meu trabalho.
— Aquele bilionário é um homem muito poderoso, Stela.
Ninguém nega nada ao senhor Taylor.
— Ninguém até agora, querido. Se ele não conheceu o diabo,
vai conhecer se insistir nesse lenga-lenga de desafio.
Dispo minha roupa colocando a minha casual para ir pra
casa.
— Importunar não é a palavra exata. O cara quer te comer.
Eu não me importaria com esse incômodo. O homem é um gato. E
deve fazer loucuras com uma mulher.
— Ah, por favor, Ben, por uma foda? Acha que por um motivo
tão simplista me deixaria dominar por um cara do tipo dele?
Arrogante demais! É capaz de me deixar gorjeta depois do sexo. Ou
se vangloriar com os magnatas que pegou a Domme fofa do
Volcano.
— Pare com isso, Stela! Baixa estima agora?
— Você não entende! Sei o que conquistei durante esses
anos, não posso arriscar duvidar de mim mesma e me envolver com
um homem como ele.
— Por que não? Poderia haver várias vantagens nessa
relação, afinal você se interessou que percebi.
— Pare de falar besteira, Benji! — Meu amigo gargalha
entusiasmado.
— Eu vi que aquele beijo semana passada, não foi normal da
sua parte, você nunca fez nada parecido com aquilo. Foi naquela
hora que você tirou a gravata do bolso dele, não foi? — pergunta
agora divertido.
— Foi! E aquilo não pode se repetir. Extrapolei, não consegui
controlar, foi mais forte que eu, entende? Fui fraca ao demonstrar
que queria brincar com o metido a gostoso, e ele aceitou meu
convite? Não, muito pelo contrário, me desafiou com uma cena para
me intimidar.
— Claro que entendo, você está gostando dele, não é?
— Não! — respondo irritada tirando as botas de vinil e
jogando longe. — Você e essa mania de romantismo! É só atração
por um corpo bonito que preciso controlar. Ele não me afeta!
Mantenho a postura séria para não rolar os olhos pela nova
risada debochada, aguardo mais alguma repreensão a qual não
ouço. Benji está mudo se olhando no espelho da minha mesa de
maquiagem.
— Então? Não vai brigar comigo por espantar seu cliente
bilionário?
— De maneira nenhuma. Senhor gostoso Taylor, vai voltar.
Você está enganada Stela, esse cara tá de quatro por você e não é
uma gravata melada de boceta que vai afugentá-lo. Aliás, você tinha
razão, foi muito divertido, admito Miss Vênus, a sra. é muito criativa.
Aperto os lábios tensionando o maxilar. Não estou irritada!
Não! O tal Taylor não me afeta! Assim que Benji se retira, decido
encerrar o expediente usando costumeiramente a porta dos fundos
da cabine, não quero ver mais ninguém esta noite. Essa dinâmica
foi estressante demais, pois me deixou muito confusa. Aquele cara
mexe comigo de uma forma que ninguém fez até hoje.
Não pretendo ser Lady Vênus para o resto da vida apenas
para prender um homem. Isso é só uma válvula de escape, se eu
me envolver com ele, vou sofrer. Imagino que ele tenha a mulher
que quiser e para satisfazer quaisquer de seus desejos, se ele me
conhecesse fora desse lugar o encanto se quebraria. A mulher fatal
por quem ele está obcecado, transforma-se no final da noite nessa
Stela, a pessoa real, garota comum, gordinha, a simples escritora de
romances que ama cozinhar. Não preciso que um homem daquele
reparando e esfregando isso na minha cara zombando de mim,
convivo com essa realidade desde que me conheço por gente.
Por mais que meu corpo o deseje, definitivamente tenho que
me afastar dele depressa. Se ele aparecer no clube novamente
fingirei que ele não existe. Agora, o que necessito é de uma boa
noite de sono. Com isso embarco rapidamente no Uber deixando
minha fantasia para trás.
CAPÍTULO 8

TRÊS ANOS ANTES

Não deu nem tempo do garçom se afastar, e minha mãe


resolveu deixar às claras o real motivo desse almoço.
— Filho, pensou aonde vai levar Christy no fim de semana?
Quando Dona Soraya me convidou para um almoço fora de
hora, não esperava que a pauta desses quarenta minutos fosse a
garota Rockwell. Pensei sinceramente que mamãe tinha outro
assunto. Entretanto, desde que essa garota retornou a Los Angeles,
minha mãe dá um jeitinho de incluir ela nas nossas conversas. O
que me rouba a paciência e deixa o clima nada agradável entre
nós.
— Não tenho planos de sair com ela, mãe.
— Filho? Como assim? Uma companhia feminina é bom para
a imagem dos negócios. Um homem sempre sozinho não
demonstra solidez e prestígio.
— Mãe... — tento argumentar, mas ela já tem uma lista
pronta da versatilidade de uma mulher como a garota que deseja ao
meu lado.
Me preparo para ouvir o sermão de dona Soraya, só que
fazendo as contas de cabeça sobre os gastos da reforma no
pavilhão do museu no cassino. São tantos gastos, tantas
implementações que, às vezes, fico perdido com a obra em
andamento. E só mantendo a mente lá, para passar por esse
almoço sem irritação.
Meu pai amava arte. Era um homem sensível e de visão
apurada para novos e já conhecidos talentos. Sabia reconhecer
exatamente o que traria lucro e o que não passaria de um enfeite
caro em uma parede. Gostaria muito que ele estivesse aqui para
participar comigo na conclusão desse ambiente em que quero
transformar em museu. Era o sonho dele. Quero viver por ele e
homenageá-lo. Por que minha mãe não se interessa nesse tipo de
assunto? Seria tão bom conversar com alguém que o conhecia,
para incluir algo em sua homenagem... Uma obra que representasse
dignamente o homem que foi em vida. Mas, não. O interesse dela
é... Christy!
Porra! O assunto Christy além de cansativo é inconveniente.
Não deixa minha mente divagar sobre meus problemas e volta e
meia me traz a esse ambiente entediante. E as frases se seguem…

“Oh, Christy é inteligente, fala seis idiomas.”

Mas, será que sabe algo sobre artes? O que ela realmente
entende sobre política e economia? Isso é ser inteligente pra mim.
Claro, fluir em outros idiomas é imprescindível aos negócios. Mas
tenho certeza que os usa para fazer compras.

“Oh, Christy é tão gentil, me presenteou com uma bolsa


Gucci.”
A única coisa que vejo nesse gesto é interesse. Presentes
caros, fúteis que deixam uma senhora vaidosa feliz. É um bom
caminho para conquistar um coração solitário.

“Oh, Christy é como uma filha para mim.”

Rolo os olhos. Ser puxa saco inclui ocupar o lugar de uma


filha?

“Oh, Christy é perfeita, meu filho. Perfeita para você.”

Sim, perfeita. Excelente como um cabide ao qual posso


pendurar joias caras que me fará comprar.
Depois de uns cinco minutos de monólogo de dona Soraya
elogiando a garota, ouço a pergunta:
— Você ouviu o que falei, Luke? — Limpo a garganta
disfarçando meu desinteresse.
— Claro, mãe.
— Você está com vinte e sete anos, é uma boa idade para
firmar um compromisso. Aliás, vamos planejar a festa.
— Sabe que não festejo essa data. Além disso, estou lotado
de trabalho. Contei sobre o projeto novo que estou terminando o
pavilhão do museu no cassino, aquele que papai sempre quis
construir?
— Lembro, lembro. — Mentira. A cabeça ainda está na
pretendente que quer me empurrar e na festa a qual quer planejar.
— Por que não visita comigo para avaliar o andamento e
talvez dar algumas dicas? Preciso de um olho clínico para as artes
que papai preferia. — Ouço um suspiro alto.
— Vou ficar devendo, Luke. Ando sem tempo ultimamente. E
seu pai não compartilhava seus gostos extravagantes comigo.
— Como assim, mãe?
Como ela diz isso, se foram casados tanto tempo, e a
mansão é repleta de obras caríssimas adquiridas nos leilões que
papai frequentava?
— Vou ser sincera, Luke. Não gosto de artes. A minha visão
sobre elas estava sempre errônea na interpretação do seu pai. — O
pesar está estampado em seu rosto. — Ele gostava de ficar lá,
quieto, em profundo silêncio de contemplação diante delas. Com o
tempo, preferi não intervir. Tinha meus passatempos particulares.
Me dediquei ao que realmente me interessava.
Estranho, muito estranho, ela falando dessa maneira, dá
impressão que não eram um casal feliz.
— O que estávamos falando mesmo? — tenta retomar a
conversa enervante.
Devoro minha torta de chocolate com nozes, não querendo
voltar ao assunto anterior. Na realidade o clima azedou, nem mesmo
essa sobremesa o adoçou. E temo que se não ceder a ela, todas as
interações entre nós serão dessa maneira.
— Sim, lembrei, é da sua imagem que estamos falando.
Termino de degustar a última garfada da sobremesa e a
encaro curioso.
— Imagem? O que quer dizer?
— É querido, as pessoas falam. São maldosas, você é um
rapaz tão bonito, jovem e rico, não aparece nos tabloides ao lado de
belas mulheres.
— Não gosto que invadam a minha privacidade.
— Sim, mas isso dá motivos para boatos, filho.
Começo a rir na mesa, e minha mãe olha discretamente ao
redor para ver se as outras pessoas estão nos observando. Tão
preocupada com a imagem dos Taylor que sinto pena dela. Para
que se importar com os outros? Não dependemos de ninguém!
— Está com receio que eu seja gay? — solto no impulso.
Ela se engasga com o vinho branco, limpando-se
rapidamente e se desculpando. Seu rosto fica corado e os olhos se
arregalam diante da pergunta.
— E… você é? — pergunta abanando-se.
— Não sou, mas se fosse não haveria problema algum.
— Como não, Luke Taylor? Que vergonha! Seria um
absurdo!
— Mãe, por favor. Isso é uma coisa normal. Ei.., estamos no
século XXI…
— Se o seu pai estivesse vivo...
— Ele apoiaria, sem dúvidas, mãe.
— Não! Trate de chamar Christy para sair e de preferência
em um dia que a imprensa saiba. Bem, me avise que me encarrego
disso. — A voz dela se altera discretamente, me surpreendendo.
Desvio os olhos dos dela chateado, e peço ao garçom a
nossa conta. Esse teatro já passou dos limites.
— Tá bom, vou chamá-la para jantar.
— Estava pensando em algo mais íntimo. Algo que desse a
entender que vocês estão se relacionando ou pretendem tal fato.
— O que seria mais íntimo do que um jantar?
— Por que não a leva para aquele jardim de inverno que você
ia com seu pai? Sei que ainda vai lá às vezes, leve-a para um
passeio.
— No orquidário? Não! Nem pensar. — É minha vez de me
exaltar.
Pago a conta com ela reclamando feito um zumbido de
abelhas no meu ouvido, enquanto andamos em direção ao carro.
Era só o que me faltava. Levar aquela garota num lugar tão especial
quanto aquele. Se tornou meu alento após a morte de papai.
— Por que, filho? Qual mulher não gosta de flores?
— Quantas vezes a Sra. foi lá, mãe?
Ela disfarça olhando a sua volta toda envergonhada.
— Seu pai não me levava, dizia que era um refúgio e não
uma floricultura de madame. Anthony às vezes era uma incógnita.
— Exatamente, dona Soraya. Era o refúgio do meu pai. Não
vou levar estranhos naquele lugar — pontuo o embate e encerro o
assunto orquidário.
Ela bufa e entra no carro nervosa. Assim que se senta, já vai
arrumando o batom com o espelhinho da bolsa.
— Não vou insistir, então. — Se volta em minha direção com
o olhar em chamas. — Mas encontre um lugar mais íntimo para
levar a menina. Talvez um passeio no seu iate fosse bom. Isso! Ideia
excelente!
Me acomodo afundando no assento desanimado e George dá
a partida para nos levar em casa. Meu iate... ela perdeu o juízo?
Imagino nós dois sozinhos no meio do mar? Meu estômago
embrulha com a visão de uma louca me perseguindo nua por todo o
convés. Pois vindo daquela garota, todo tipo de loucura é
imaginável.
— Se você organizar um passeio em família posso aceitar,
sozinho com ela não!
— Ai... Meu filho, como você é difícil! Ok, vou ligar para
Marion e dizer que você fez o convite. Trate de enviar flores à
Christy essa semana.
Não respondo nada e ela percebe o meu desconforto com
relação à garota. Infelizmente, quando a conheci semanas atrás,
não fui com a cara dela. Fazia anos que a filha dos Rockwell estava
estudando na França. Foi pra lá logo depois do ensino médio. O
casal, amigo da minha mãe, constantemente falava da filha como se
a menina fosse a perfeição em pessoa. Há quatro anos eles a
visitam, mas ela nunca retornou, até semanas atrás.
E quando finalmente conheci a ‘beldade’... A conversa não
fluiu. Christy é esnobe, arrogante e fútil. Não consegui manter uma
interação decente com ela. Sem um único assunto que
considerasse aprazível e tudo o que eu dizia, ela concordava como
uma boneca de pilha repetindo um: “Oh, sim, que interessante!”
Nem a beleza de estátua de mármore da menina me atraiu. É
muito artificial e fabricada. Parece tirada de páginas de revistas
femininas. Por isso decidi, não vai haver nada entre nós e não sei
como fugir disso. Volto meu olhar na estrada já tentando bolar um
meio de desviar desse encontro familiar. Meu sorriso brota com as
ideias macabras que surgem em minha mente, mas o resmungo da
minha mãe ao meu lado já diz que terei que engolir mais esse sapo
em nome da família.
CAPÍTULO 9

DIAS ATUAIS

Após a recusa da minha oferta pela compra do clube


Volcano, vi que não terei alternativa. Estou obcecado por aquela
mulher. E se eu quiser tê-la... preciso ceder. Tomei a decisão de
aceitar o teste que ela me propôs. Desde o episódio com a gravata,
não voltamos a ter contato. Não por falta de esforço da minha parte,
Vênus simplesmente me ignora. Nos dias que voltei ao clube a vi
circular, desfilar, encenar, mas nem uma vez senti seu olhar em
minha direção. Pensei que depois da minha cena as coisas seriam
diferentes, mas a mulher é obstinada e não deu o braço a torcer.
Gosto disso, uma caça arisca é o que eu preciso como estímulo.
Mal sabe ela que fico ainda mais focado no objetivo.
Vênus sempre dá a última resposta. Foi o que ela fez,
devolvendo a minha própria gravata daquela maneira criativa, eu
admito. Só não imaginava gostar tanto da ousadia dela. Saí furioso,
mas de pau duro até em casa. E aquele jeito provocador, meu Deus!
Sonhei várias noites com ela colocando a gravata em meu pescoço
e pedindo meu beijo com voz manhosa. Entretanto, quando voltei
aqui, ela simplesmente finge que eu não existo. Desprezo é pior que
uma negativa. Mas reconheço que ela joga bem. Sei que é um jogo,
ela quer que eu ceda às suas vontades. Pois bem, é isso que farei
hoje. Preciso seduzir essa mulher para depois dominá-la como eu
quiser.
Atravesso o salão a passos largos, seguro do que farei a
seguir. Ao me recostar no balcão de linóleo polido, interpelo o
barman chefe:
— Ei Benji! Preciso daquele cartão teste, aceitarei o que sua
amiga propôs, na verdade, estou entediado, preciso de um pouco de
emoção esta noite. — Seu olhar desconfiado pela última frase que
ouviu não me intimida.
Jamais vou me abrir e contar que quero Vênus de qualquer
maneira, a abusada ficará sabendo e a situação ficará pior.
— Destaque a ponta adesiva e marque a sua lapela com ele.
Isso já é o suficiente — entrega-me o cartão meio desconfiado.
— Tem ideia de como funciona esse teste? — pergunto de
modo displicente.
— Não sei o que se passa naquela mente diabólica, só sei o
tempo de duração, menos de dez minutos.
Receio que ele também esteja se divertindo às minhas
custas. Apanho uma bebida e retorno para meu assento habitual.
Aguardo por quase uma hora até a porta vermelha se abrir, e ela
surgir sedutora. Penso se ela já sabe sobre ter aceitado o teste,
imagino que sim, pois vem me encarando à distância até chegar
próximo da minha poltrona.
Deixo um meio sorriso aparecer vendo seu olhar predador. A
cada passo das pernas maravilhosas, sou tomado de antecipação.
Observo o caimento da pouca roupa e umedeço meus lábios
apreciando os detalhes cada vez mais próximos. A lingerie é de
renda, nada de couro, hoje é quase delicada apesar das cores
fortes. Ela gira ao redor do meu assento, me envolvendo com seu
perfume inebriante, ficando às minhas costas. Desliza as mãos
delicadas em meu peito formigando cada centímetro no processo.
Se inclina aproximando-se devagar em meu ouvido. Sinto sua
respiração quente acariciando o meu pescoço, eletrizando cada
parte do meu corpo. Cereja, meu novo doce predileto!
— Ora, ora, vejo que aceitou meu teste afinal. Quero me
divertir um pouco com você. Vou passar as regras e você me diz se
está tudo bem quando eu terminar. — Sua voz é suave e desejosa,
mas muda instantaneamente quando começa a estipular as regras:
— Você vai me excitar hoje, me dará prazer, mas não poderá
usar as mãos ou falar, a única parte que lhe negarei será minha
boca. Se me desobedecer será castigado. Se me agradar lhe darei
uma recompensa. Concorda com isso?
— Sim.
— Sim o quê? — pergunta agarrando autoritária meus
cabelos para encará-la.
Ah merda! Ela quer que a chame de senhora? Lógico que
quer. Meu cabelo é puxado novamente com mais força, me
deixando a ponto de fazer o mesmo com o dela.
— Sim, minha Lady — preciso ceder antes, para receber o
prêmio depois.
Seus olhos faíscam de malícia e um sorriso sedutor surge em
seu rosto perfeito. É lindo, dentes alinhados com uma minúscula
fresta nos dois dentes da frente. Um charme que só é possível
perceber a mínima distância. Tem uma pintinha na bochecha do
lado direito.
Porra! Nunca pensei que ficaria tão apreensivo e hipnotizado
sendo comandado por uma mulher.
— Bom garoto.
Circula a poltrona retornando diante de mim, e estende a mão
para que a beije. Resvalo meus lábios no dorso de sua pequena
mão, é macia e delicada, cheirosa com gosto de... Cereja. Ao elevar
meu olhar ao dela, Vênus está me analisando cuidadosamente,
como se gravasse os meus movimentos. Interessante! Ela persiste
em manter a mão rente ao meu rosto. Afaga meu queixo e meu
lábio com o polegar, fazendo com que eu chupe seu dedo. Uau!
Meu peito está a ponto de explodir de entusiasmo. Rodo minha
língua pela digital macia como se fosse um doce delicioso, sugando
o dedo vendo seus olhos acenderem num acobreado intenso.
Depois começo a distribuir beijos pelo pulso, sempre deixando
minha língua participar como uma despretensiosa coadjuvante. O
antebraço é apenas o início da minha torturante diversão. Não me
distraio com seu olhar fixo no meu. É um olhar de desejo e
assombro que rapidamente se transforma em dominador, ditando o
percurso da minha boca sedenta em direção ao ombro. Seus
cabelos deslizam como uma cortina perfumada sobre nós à medida
que se posiciona com um joelho em cada lado montada sobre mim,
mas sem se sentar. Meu corpo inteiro se agita, louco ansioso por
ela.
Inclina-se mais até seu ombro alcançar meus lábios. Beijo-o e
avanço pela junção dele com seu pescoço me demorando ao raspar
meus dentes pela pele sedosa com gosto de fruta tenra. O tremor
na minha carne denota minha inquietação nessa poltrona em tocá-
la, agarrar seus cabelos e beijar os lábios vermelhos. Ouço a
respiração alterada de Vênus como um sopro vulcânico, rápido e
forte me desestabilizando. É fantástico confirmar que eu a afeto!
Minha língua continua deslizando pela pele sedosa e ela tem
o mesmo gosto de cereja do perfume, com uma mistura picante que
ainda não identifico. Deliciosa pra caralho! Observo a pele eriçada,
arrepiada ao toque de meus lábios, me deixando completamente
atordoado. Mordo a pontinha da orelha, ouvindo um silvo baixo
saindo de seus lábios cheios, fazendo meu pau babar, dolorido e
pronto. A abusada desliza o queixo o qual eu mordo também e noto
seu sorriso provocante apreciando, puta merda! É estonteante! A
vontade de beijá-la e sentir seu sabor outra vez, me alucina.
Vênus se move graciosa segurando-se no encosto da
poltrona, desamarra o lacinho do triângulo de renda do sutiã
vermelho e alcança o mamilo rosado excitado. Oh meu Deus! Ela
tem uma joia no seio. Um piercing delicado em prata atravessando o
mamilo. Meu pau molhado desliza dentro das calças com essa
constatação, e coloco toda minha força mental para não gozar. Ao
lamber, cuidadoso, estremeço de excitação. Sinto sua mão em
meus cabelos, puxando e empurrando conforme o acaricio com
minha língua ávida, então aproveito o momento sugando e
mordiscando ao abocanhar de forma sedenta. Ela se entrega e essa
atitude de comando a deixa irresistível! Nada ao redor entra na
minha percepção. Suspeito que qualquer coisa que ela pedir nesse
momento eu dou.
De repente, ela se afasta e se põe em pé, dando a
oportunidade de apreciar a minúscula sainha da lingerie. É de um
tecido delicado como uma cortina para o prazer. Seus dedos
esmaltados de carmim parecem em câmera lenta desatando o
lacinho da lateral, revelando a fenda nua, lisa e perfeita. É carnuda,
e a vontade de morder me deixa descontrolado e embriagado de
desejo. Caralho! Não saio vivo desse clube hoje!
Agarrando-se a barra suspensa acima do sofá, a dominadora,
com olhos de felina, me olha nos olhos uma última vez, ordenando
com eles o que devo fazer e compreendo exatamente. Encaro os
olhos lindos brilhando e involuntariamente umedeço meus lábios.
A felina se acomoda com os joelhos flexionados de tal
maneira que seu sexo fique ao alcance do meu rosto. Inspiro seu
cheiro, o perfume de excitação que vem dela como feromônios de
fêmea disposta. E o homem das cavernas emerge de dentro de
mim, feroz e faminto. Faço minha vontade, dou uma mordida no
lábio depilado. Olho pra cima e Vênus me espiando e mordendo o
lábio. Seus olhos conversam com os meus implorando alívio.
Afundo minha língua em seu interior, e a dificuldade em não tocar
com as minhas mãos ansiosas é extrema. Desesperado por agarrar
a bunda e apertar com força, porém, tenho consciência do que
significa o castigo de um dominante, não quero humilhação na
frente das pessoas.
Me descontrolo chupando a bocetinha quente como o melhor
manjar que um dia provei. Seu sabor pulsa meu corpo inteiro pela
ânsia de me enterrar nela. Encontro seu clitóris inchado e trabalho
com movimentos intensos sentindo seu corpo retesar sobre mim. O
rosnado da minha garganta me surpreende enquanto a fodo com
meu rosto afundando totalmente no sexo molhado. Vênus rebola
numa cadência elegante aprovando minha entrega. Seu mel
lambuza minha barba me deixando ainda mais louco.
Meu pau está a ponto de gozar, tamanho o prazer de lambê-
la assim. Mas ela interrompe meu deleite deslizando arfante e
senta-se novamente. Olha para mim com seus olhos nublados de
tesão. Os meus devem estar da mesma maneira, pois vejo tudo ao
redor embaçado, somente ela é o foco. Essa conexão potente que
há quando nos encaramos é algo que nunca senti na vida. Nossas
respirações se fundem pela excitação mesclando em conjunto pela
proximidade. As mãos de Vênus deslizam pelo meu peito enquanto
ela umedece os lábios mordendo-os sentada em minha ereção sob
a calça. Se movimenta sobre mim, roçando e rebolando
propositalmente somente para me enlouquecer. Cacete! Jogo minha
cabeça para trás por um instante para tentar manter o controle.
Essa abusada será minha e mais, ninguém vai ousar olhar
esse corpo e cobiçá-lo. Nenhum desses frequentadores vai sequer
inspirar seu perfume.
— Quero sentir meu gosto em sua boca. — Agarra meus
cabelos violentamente e toma de súbito meus lábios, voraz, me
mordendo, procurando minha língua.
Um beijo tão intenso e erótico, que me faz esquecer onde
estou. Sinto meus batimentos desgovernados dentro do peito com
sua boca possuindo a minha intensamente, os sons ronronando nos
meus lábios tiram completamente a sanidade da minha mente. Mas
quando começo a guiar o beijo, ela se afasta e sorri toda lambuzada
de batom.
— Você seria um excelente servo, mas como não alcançou
ainda esse posto, não terá a honra de me fazer gozar, sua
recompensa foi esse beijo.
Porra! O quê? Vai acabar assim? Rapidamente ela se retira
do meu colo, me deixando estático, decepcionado e irritado. Quando
ela faz menção de dar as costas, minha mão agarra seu braço, mas
ela rapidamente gira desferindo um tapa estalado em meu rosto.
Não sei se todos estão nos acompanhando, mas é uma
vergonha para um homem como eu apanhar de uma mulher em
público.
Ousou bater e humilhar Luke Taylor? É maluca? Me ergo
imediatamente encarando-a fervendo de raiva por essa ousadia.
Quem ela pensa que é? Longe de recuar, altiva a atrevida encara-
me mais raivosa ainda.
— Não lhe dei permissão para me tocar! — Dois seguranças
se põem ao lado dela, no entanto, com uma autoridade absurda ela
os afasta sinalizando com a mão sem deixar de me encarar.
Aguarda orgulhosa minha resposta me olhando fixamente,
gata pra caralho! Puta merda! Brava fica ainda mais gostosa.
— Quem você pensa que é para me humilhar desse jeito,
mulher?
Seu sorriso arrogante me irrita ainda mais. Ou é tesão?
— E quem é você, para achar que tem permissão de fazer o
que quiser nesse clube?
— Senhora? — interpela o segurança. — É o senhor Luke
Taylor, dos cassinos. — Ela me olha de cima a baixo.
— Nunca ouvi falar.
— Você é muito... — Eu falaria, mas ela interrompe
agarrando meu pau sobre a roupa, massageando languidamente e
sussurrando em meu ouvido:
— Muito o quê? CEO dos cassinos!
Ela me irrita tanto quanto me excita. Ranjo meus dentes,
nervoso com ela sovando meu comprimento duro, apertando e
roçando os lábios e a língua no meu lóbulo. Meus músculos
formigando pelo controle que coloco para não agarrar a mulher e
beijar sua boca. A voz arranhando minha garganta, falha
miseravelmente e quase não consigo pronunciar as palavras.
— Muito... abusada, Lady Vênus.
Sua risada rouca e baixa maltrata meu corpo inteiro em um
frenesi de prazer e me deixa totalmente rendido. Que som quente,
sedutor e instigante!
— E você quer essa abusada ajoelhada chupando esse pau,
não quer? — Como ela consegue me amansar somente com essa
voz sexy? Vênus mordisca a ponta da minha orelha fazendo meu
pau se contorcer no seu aperto — Quer que eu o faça gritar de
prazer com a minha língua, é isso que quer, Luke Taylor?
— Sim! — Estamos tão próximos, tão colados. Será que
arrisco levar outro tapa? — Quanto quer para passar uma noite
comigo, Lady Vênus? Faça seu preço, eu pago bem, cubro qualquer
valor.
Ela aperta mais meu pau me fazendo quase explodir de
tesão. Mais um riso audível, e uma lambida no meu pescoço me
deixando sem fôlego.
— Não estou à venda, Mister Taylor.
Então, como um raio, ela me dá as costas e vai em direção à
cabine me deixando completamente atordoado. Os seguranças se
aproximam para me retirar, mas Benji intervém e me acompanha até
a saída.
— Aquela atrevida não devia ter feito isso, Benji! — tento me
acalmar com o ar fresco da noite.
— Você sabia as regras, Taylor.
— Nunca mais ponho meus pés nesse lugar. Diga àquela...
Aquela abusada, que isso não vai ficar assim!
— Desculpe-me por isso, não posso fazer nada para mudar o
que aconteceu, tenha uma boa noite.
Saio dirigindo como louco, mas sou obrigado a parar a alguns
quilômetros adiante para me aliviar da dor nas bolas.
Definitivamente estou enlouquecendo, tocando uma dentro do carro
por não aguentar o cheiro e gosto daquela bocetinha dos deuses.
Ao chegar em casa, começo a sorrir quando percebo que estou
novamente duro como pedra, só de lembrar de sua risada baixa e
convidativa no meu ouvido, o piercing, os olhos nos meus, se
conectando como um ímã. Ah, aquela mulher abusada já é minha.
Nunca desisto do que eu quero, e não admito afronta. Vou
conseguir Vênus só para mim, ou não me chamo Luke Taylor.
CAPÍTULO 10

Já são duas quintas-feiras que vou ao clube especialmente


para vê-la ou ao menos tentar, ela não se apresentou mais depois
do meu teste e confesso que estou desapontado. Apenas circula
pelo salão desfilando aquela bunda gostosa com os malditos servos
na coleira a tiracolo. Ontem a vi sair da sua cabine particular e ir ao
bar pegar dois drinks.
“Dois”, quem mais estava lá dentro? Quem era o escolhido
sortudo? Fiquei possesso e não descobri quem era.
Jurei que não retornaria, mas é impossível. O gosto dela não
sai da minha boca. Sou um abobalhado mesmo em pensar que
seria fácil ter essa mulher. Ontem, enquanto desfilava pelo salão
para chegar até o bar, eu a acompanhava feito um cachorrinho
ansiando um afago, uma migalha de pão que fosse. Eu desconheci
a mim mesmo.
Meus olhos buscavam todos os seus movimentos, todos os
detalhes daquela criatura sedutora. Ela vestia um corpete inteiro
com cadarços escuros trançados dos seios ao umbigo, deixando a
forma redonda e cheia dos seios bem evidentes. Luvas vermelhas
de couro até o cotovelo, meia arrastão e um sapato vermelho
amarrado no tornozelo. Sua máscara rendada, deixava apenas os
lábios igualmente vermelhos aparentes a longa distância. Seus
cabelos escuros caíam em leves ondas com alguns cachos grandes
até a cintura. Daria tudo para pôr as mãos neles, sentir a maciez e
guiar meu corpo sobre aquelas curvas perfeitas. Mesmo que eu não
a visse, sua presença no salão é evidente, ou devo dizer, respirada
imediatamente. Seu perfume único e envolvente deixa rastros no
local com um aroma deliciosamente convidativo. É um aroma tão
único, é uma marca, tipo uma assinatura. Nunca inspirei nada
parecido.
Desde a primeira vez há quase dois meses, foi inevitável tirar
os olhos dela, mas a vontade de sentir sua pele é maior, o gosto de
cereja dela é enlouquecedor, tem algo mais naquela essência...,
mas meu pensamento não se concentra em nada mais além de
lamber e beijar todo aquele corpo. Morder, chupar, comer, foder
aquela mulher.
O nosso beijo e o teste foram apenas uma amostra
tentadora, tenho que admitir. Eu quero muito mais, aquilo foi só o
princípio. Tenho uma fome que nunca tive por nenhuma outra. E
preciso saciar. Pois está me consumindo esse mistério de não saber
quem ela é e onde mora. Ninguém é invisível e ela deve ter uma
vida fora daquele clube. Preciso encontrá-la para realizar com ela
tudo o que desejo antes que enlouqueça. Nunca fui obcecado por
mulher alguma. Nem recebi uma negativa. Ainda mais tão
desaforada assim! Acho que por ser tão fácil consegui-las, nunca
me prendi a nenhuma delas. Mas essa mulher... Ela se superou...
Está tirando meu juízo. É difícil se concentrar no trabalho, as
reuniões são incrivelmente maçantes, em cada minuto do meu dia
penso nela. Meu pensamento fantasia milhares de lugares onde me
vejo transando com Vênus. Isso tem que parar e a única maneira é
a possuindo. Planejo descobrir o que Vênus faz fora do clube e
onde a encontro fora daqui. Ela é inacessível, mas encontrei uma
maneira de conseguir alguma informação.
Antes de vir ao clube somente para vê-la, dedico meu tempo
a estreitar minha amizade com o barman. Isso mesmo! Benji sabe
mais do que aparenta e com paciência vou arrancar dele o que eu
preciso. Nessas duas semanas, nossa relação está até um pouco
mais amistosa.
Me aproximo do bar e me sento na banqueta que fica na
extremidade sul do clube.
— O que vai ser S.r. Taylor, o mesmo de sempre? —
pergunta ele animado, secando um copo com uma toalha branca.
— Um pouco mais forte hoje, Benji — suspiro afrouxando
minha gravata azul-marinho.
— Dia difícil?
— Extremamente, há muito não contava as horas para o fim
do expediente.
— Vou lhe preparar uma dose do mais forte, o
Bruichladdich[21] — meneio a cabeça em afirmativa. Assim que
prepara e me entrega o copo, ele continua.
— Há algo mais que posso conseguir para o senhor? — Dou
um leve sorriso e bebo um gole da bebida que desce rasgando e
aquecendo todo o meu corpo. — São quase dois meses que você
frequenta a Volcano e não escolheu nenhum brinquedo que o
divertisse, temos diferentes iguarias para diferentes paladares.
Continuando minha bebida, respondo:
— Deve ter percebido que sou um homem com um paladar
extremamente apurado, só me satisfaço com a melhor iguaria. —
Ele ergue uma sobrancelha sorrindo e pergunta:
— Entendi, posso conseguir aquele cartão vermelho que te
sugeri na primeira visita? — sorrio desmotivado.
— Não daria certo de nenhuma maneira, recorda o que
aconteceu há duas semanas naquele teste? — Bebo mais um gole,
descendo mais confortável dessa vez.
— Você se excedeu, se não fosse meu sinal para os
seguranças eles o teriam tirado a força daqui e sua entrada ficaria
proibida. — Reconheço para mim mesmo que não foi uma boa
ideia.
— Então parece que você me verá muito nesse balcão,
renove seu estoque de whisky, sou um cliente exigente para bebidas
também, é o que me resta — sorvo um último gole desanimado com
ele me dando um olhar sério e pensativo. Por algum tempo, ele
continua pensativo, mas tirando de uma gaveta um pequeno cartão,
desliza em minha direção e diz:
— Acho que você precisará de um café igualmente forte
depois dessa bebida. — Investigo seu rosto, a princípio não
compreendendo o que diz, mas notando minha dúvida, ele conclui.
— Talvez você encontre a iguaria correspondente ao seu
paladar refinado para acompanhar o café neste lugar — oferece
uma piscadela cumplice, e se afasta do balcão. Olho o pequeno
cartão em minhas mãos...

CAFETERIA MILLER
Então meu peito acelera com a informação que há muito eu
esperava. Vou encontrá-la nesse lugar. Benji finalmente desistiu de
manter segredo e deu uma pista de Vênus. Depois de pagar o drink,
saio com um sorriso largo e com todos os meus planos claros na
minha mente.
CAPÍTULO 11

Estou ansioso, quase nem dormi traçando os planos que


executarei hoje. Não tenho certeza se ainda é uma guerra, mas me
preparei para tal. É difícil saber como é Lady Vênus ao “natural.”
George, meu motorista, deixei de sobreaviso que sairíamos
mais cedo hoje, falei sobre o trajeto diferente antes de chegar na
empresa. Quando entro no veículo ele traça as coordenadas no seu
GPS. Fico muito satisfeito com a sua competência. Prezo pela
excelência dos meus funcionários e George é meu homem de
confiança. Por isso, tem a liberdade de falar o que quiser. Hoje, por
exemplo, fui alertado de que dispensar minha equipe de segurança
não é uma boa ideia. Sei disso, mas, preciso de um tempo, quero
que Vênus confie em mim pelo que sou e não pelo meu poder
aquisitivo e um nome famoso, que, aliás, deixou bem claro nem
conhecer da última vez que nos falamos. Em que mundo vive
aquela mulher? Ou era só um tom de desprezo por quem eu sou?
Havia o prazer da caçada no clube, mas agora passou a ser
vontade de seduzir uma mulher misteriosa e interessante.
Após explicar resumidamente para ele essa questão,
acertamos alguns detalhes finais para minha segurança e agora
pela manhã saímos.
O relógio marca um pouco mais das oito horas e o dia está
nublado, porém, abafado. Caprichei hoje na minha roupa, quero que
Vênus tenha uma boa impressão minha na luz do dia. Vesti um
terno grafite, com gravata da mesma cor e uma camisa azul-claro,
deixei de lado os tons escuros para não parecer tão intimidador.
Preciso que ela aceite sair comigo, não admito menos que isso.
Durante a insônia provocada pela apreensão do dia seguinte,
pensei em como a abordaria... Treinei algumas frases, mas
pensando agora, como soa estúpido! Nunca tive dificuldade de me
aproximar de uma mulher, mas essa me afeta mais do que eu
gostaria.
Paramos em frente ao estabelecimento de nome Cafeteria
Miller. Vejo que não é muito grande, uma fachada plana, com
janelas compridas em altura, quase até o teto e com pequenas
flores em cada uma. É um prédio antigo, porém bem cuidado,
pintado de verde com detalhes brancos. A porta é larga e se abre ao
meio quando entro. O aroma do interior é delicioso, lógico que essa
sensação é ampliada pelo meu estômago vazio. Chego ao balcão e
sou atendido por um senhorzinho calvo e atarracado que usa um
uniforme muito alinhado com o logo ‘Miller’ bordado em verde no
lado esquerdo do peito. Seu sorriso é amigável e caloroso:
— Bom dia, posso preparar uma mesa para o senhor? —
pergunta muito prestativo.
— Bom dia, prefiro olhar o cardápio aqui no balcão primeiro
se não se importa — respondo de maneira educada.
— De maneira nenhuma, aqui está meu rapaz, tome o tempo
que precisar — oferece-me o folheto das guloseimas.
Pego, mas não olho para as iguarias descritas, e sim
disfarçadamente com um rápido olhar procuro minha musa pelo
lugar. Há muito movimento nessa hora, casais tomando café juntos,
alguns homens solitários de terno apreciando o jornal. Meus olhos
passeiam por um minuto antes de avistar uma figura feminina na
última mesa no canto da janela atrás de um laptop. Fico
concentrado esperando algum vislumbre de algo que eu reconheça.
Seu cabelo está preso em um coque bagunçado, vejo que suas
pernas estão cobertas por uma calça de abrigo rosa que faz
conjunto com a malha leve de mangas longas arregaçadas até o
antebraço. A mulher dispersa a concentração da tela do seu laptop
e se distrai olhando pela janela e então reconheço seu perfil, é
ela…
Reconheceria aquela boca em qualquer lugar. Faço um sinal
para o homem que me atendeu e peço dois cafés com creme e
açúcar, acompanhado de um pedaço de torta de nozes e digo-lhe
que já escolhi a mesa e não precisa me acompanhar. Desabotoo
meu blazer e faço meu caminho até o fundo da cafeteria.
— Bom dia, que ótima surpresa te encontrar aqui esta
manhã, Vênus! — falo parando em frente a sua mesa.
Ela ergue os olhos para mim e vejo um olhar desconcertado e
muito surpreso por baixo de um delicado óculos de leitura. Me
espanto em notar a diferença dessa mulher para aquela dominante
que acertou um tapa em meu rosto.
Aquela tem um brilho de malícia latente e todo seu corpo
acompanha essa atitude, o brilho dessa é igualmente atraente, mas
aqui tem um ar maior de mistério. Me chama ainda mais a atenção a
classe e postura mesmo na vestimenta despojada. Seus cabelos
presos deixam seu rosto lindo em evidência, e mesmo sem o batom
vermelho a boca se destaca numa simetria perfeita.
Ela demora alguns longos segundos para me responder,
piscando os olhos amendoados de felina:
— Desculpe-me, o Sr. Deve estar me confundindo com outra
pessoa, meu nome é Stela. — Minha reação também é de surpresa,
mas não demonstro.
— Permita-me corrigir. Bom dia, que ótima surpresa te
encontrar aqui esta manhã, já nos conhecemos, entretanto, não
fomos oficialmente apresentados. Muito prazer, me chamo Luke
Taylor e a senhorita...? — pergunto estendendo a mão em
cumprimento.
Ela continua me olhando nos olhos sem reagir. Hesitante,
então me estende a mão.
— Stela Salvage. — E eu coloco um beijo delicado em um
cumprimento gentil. Stela puxa rápido a mão. Não é um bom sinal.
— Posso me sentar com você? — Não dou tempo para uma
negativa e puxo a cadeira me acomodando no assento.
— Não quero ser indelicada, mas estou trabalhando —
responde sem ainda me encarar.
— De maneira nenhuma, eu que peço desculpas. É que
como vi o estabelecimento lotado, o único lugar vago é aqui na sua
mesa e preciso tomar o desjejum antes do trabalho. Me pareceu
certo tomar meu café com o único rosto conhecido desse
estabelecimento.
— Não me lembro do Sr. Me desculpe, mas, de onde
exatamente o senhor acha que me conhece? — Stela abaixa a tela
do aparelho para melhor me analisar.
Ela realmente vai mentir e fingir que não me conhece? Mas
sei bem que me reconheceu no instante em que me viu. Me
pergunto por que está negando esse fato? Preciso ser direto ou vou
perdê-la. Me inclino mais próximo à mesa para poder conversar sem
que ninguém nos ouça:
— A senhorita realmente vai negar que me conhece? Deixou
sua sinceridade no clube Volcano? — Seus olhos faíscam ao ouvir
minha sentença e reconheço o brilho do olhar imperativo de Vênus,
mas imediatamente me arrependo dessa afronta.
Ela tira os óculos delicados guardando calmamente em um
pequeno estojo se aproximando na mesa também e me ataca
acidamente:
— Minha sinceridade deve estar se divertindo com a sua no
mesmo local, ou o Sr. acha que acreditei que precisa tomar seu café
antes do trabalho e não encontrou nenhum estabelecimento além
desse, sabendo que nunca o vi por aqui?
Nesse exato momento somos interrompidos por nossos cafés
que chegam à mesa em uma bandeja trazida pelo garçom, aceno
em agradecimento e ele se retira. Ela continua imóvel me fitando
aguardando minha resposta. Preciso mudar a estratégia. Não
esperava que as coisas tomassem esse rumo. É impossível deixar
essa oportunidade escapar assim. Então, resolvo ser sincero e
contar a verdade.
— Ok, me perdoe novamente por essa grosseria, não foi
minha intenção ofendê-la de forma alguma. A senhorita tem razão,
nunca vim a esse lugar, não conhecia até ontem, foi o Benji. —
Vênus cospe uma ofensa em outra língua que mal compreendo.
Cruzando os braços em defesa, essa reação não podia ser pior. O
barman está encrencado por quebrar a confiança dela.
— Benji não devia ter revelado onde me encontrar!
— Ele não tem culpa, o pobre só quis me ajudar. Fui
insistente ao pedir por informações suas, ele foi relutante no início,
mas por fim... Ontem consegui cartão da cafeteria, foi a única coisa
que ele fez. Por favor, perdoe o seu amigo. Sou bem perspicaz às
vezes.
— Você também não devia insistir. Por que fez isso? —
indaga.
— Porque queria te conhecer fora daquele ambiente.
Seus lábios apertados e cenho franzido não estão me
acalmando. Droga!
— Quero te chamar para sair, um encontro. — Minha voz sai
um pouco eufórica demais.
— Sem chance!
— Por que não? Podemos nos conhecer melhor, não há nada
de errado nisso, ou você é comprometida? — Ela balbucia em
negativa recebendo meu olhar magoado.
— Pelo menos tome esse café comigo, me faça companhia e
deixe um rapaz feliz pelo resto do dia — tento uma maneira de
suavizar o clima.
Ela pensa um pouco. Me estudando com seus olhos
desconfiados. A seguir suaviza e começa a beber da xícara. Uma
linha fina de creme se forma no lábio superior e ela varre com a
língua. É involuntário, percebi que não é proposital, mas isso é o
suficiente para o meu corpo acordar.
— Olha, Sr. Taylor — diz ela calma e friamente. — Não sou
comprometida, mas meus motivos para frequentar aquele clube são
particulares, por isso eu me disfarço quando atuo para não ser
reconhecida e evitar episódios como esse. Além disso, a minha
política de envolvimento com os frequentadores é bastante rígida.
Qualquer contato que alguém queira ter comigo é estritamente
dentro daquele ambiente. Que fique claro que Vênus só existe no
clube Volcano. Por esse motivo tentei disfarçar que não o conhecia,
não quis ofendê-lo. Se o fiz, peço sinceras desculpas, mas o que o
Sr. procura não encontrará aqui.
Me desaponta essa revelação e a maneira que diz isso, tão
desinteressada, tão indiferente a mim. Recuso a aceitar que são
duas pessoas distintas. Tento disfarçar minha reação, mas meu
rosto me trai. Preciso arrumar uma maneira de contornar essa
situação. Me atenho a minha torta, agora pela metade, enquanto ela
bebe o café casualmente. Preciso acelerar minha tática, seduzir
para conquistar depois.
— Você disse estar trabalhando?
— Sim, sou escritora.
— Me sinto lisonjeado, um dia contarei aos meus netos que
tomei café com uma escritora famosa — suavizo meu tom e a
tensão que provoquei. Noto que funciona, pois esboça um sorriso.
Falar da carreira a agrada.
— Não, por favor, não aspiro um dia ser famosa, é mais um...
Digamos hobby lucrativo.
— Possui alguma obra publicada?
— Dois livros. Estou iniciando o terceiro, tenho um contrato a
cumprir com minha editora e preciso deixá-lo pronto até o final do
ano.
— Talvez eu passe na livraria no final do expediente, poderia
me passar seus títulos?
— Não me parece ser o tipo que se interessa pelo gênero
que escrevo. — Percebo que está lisonjeada pelo meu interesse,
arruma uma pequena mecha de fios castanhos atrás da orelha.
Charmosa e inteligente, o combo perfeito.
— E qual o gênero que escreve?
— Romance.
— É tem razão, não tenho o hábito de ler romances, mas
estou aberto a descobrir se o livro for tão interessante quanto a
autora.
— Receio que não haja nada de interessante aqui Sr Taylor!
— Eu a assustei. Idiota! Calma, não seja afobado! Me repreendo
mentalmente.
— Agradeço o café, mas se me der licença tenho um
compromisso daqui a uma hora e preciso me apressar — faz
menção de apanhar seu laptop para sair.
— Claro, longe de mim atrapalhar. Mas se me permite,
discordo de sua afirmação anterior.
Stela decide me dar mais tempo, pois volta a se encostar no
assento fixando seu olhar no meu, é agora Luke:
— Nunca tive o prazer de conversar com alguém versada em
letras. Meu ramo de trabalho requer atenção a números. Mas
também sou formado em ciências humanas, assim como você. Fiz
administração na faculdade, porém um dos meus passatempos é a
leitura. Desse modo, minha consciência não permitiria perder uma
oportunidade como essa.
— A que se refere, Sr. Taylor?
— Aprimorar meu hábito de leitura com dicas valiosas de
uma escritora.
Vejo a sombra de um sorriso delinear seus lábios, tal qual
Monalisa, mistério e beleza atemporal.
— O que me diz Senhorita Salvage? Vai me honrar aceitando
um convite para um almoço, onde possamos conversar com mais
tempo sobre nosso hobby em comum?
Sorvo o último gole do meu café vendo Stela apertar os
lábios, premeditando uma resposta. Não ouso sugerir um jantar,
mas também não vou rastejar.
— Desculpe recusar, é melhor não prolongar nossa interação.
Previsível, ela deixou claro que não quer envolvimento, seria
contraditório se aceitasse.
— Ok. Aceite uma carona até sua casa pelo menos, como
uma cortesia por me deixar sentar na sua mesa.
— Agradeço a cortesia, mas não é necessário. Minha casa
não é muito longe daqui e estou na minha hora de exercícios. Vou
andando, me ajuda a pensar. — Pegando seu laptop e o estojo,
levanta e alcança ao garçom que está atrás do balcão. — Jeremy
pode guardar no meu armário, por favor? Me atrasei um pouco hoje,
diga ao Sr Miller que pego minha encomenda amanhã.
Acompanho seus passos até o balcão e acerto a comanda
dos cafés. Ainda hipnotizado com seus movimentos, ouvindo sua
voz melodiosa ecoando pela cafeteria e vendo o alvo das minhas
fantasias se afastando. O sorriso sincero e amável que direciona
para o funcionário e a graciosidade com que recusa minhas
investidas. Preciso tentar uma última vez:
— Senhorita Stela, devo insistir, acho que poderá se atrasar
para o seu compromisso, aceite minha carona. Por favor, é meu
caminho — argumento ao seu lado diante das portas duplas de
saída.
Ela mais uma vez me agradece em negativa e infelizmente
reconheço o fracasso do meu plano.
CAPÍTULO 12

Insisto que não preciso de carona para casa, mas assim que
levantamos da mesa ouvimos o início de um aguaceiro do lado de
fora. Maldita hora para uma chuva! Ele me olha com um olhar
presunçoso parecendo adivinhar o meu pensamento.
— Bem, acho que você terá que aceitar a minha oferta, afinal.
— Reviro os olhos percebendo o quanto estou encurralada nesse
momento, Dios mio! O senhor podia deixar passar essa, hein?!
— Ok, uma carona é apropriada agora, obrigada. — Ele abre
a porta da cafeteria e aponta para rua.
— Aquele SUV preto ali em frente é a nossa salvação.
Em um movimento rápido ele segura minha mão de maneira
firme, não consigo deixar de notar como ela some envolvida em seu
aperto. Seus dedos longos e grossos em uma palma ampla
escondem meus delicados dedos. Assusta um pouco a princípio,
porém, é tão quente e acolhedora, que a sensação faz meu corpo
responder imediatamente, prestes a iniciar uma fogueira. Me conduz
em uma corridinha até o meio fio onde abre a porta traseira do carro
e com ele, entro logo em seguida, escapando dos pingos da chuva.
Me sinto estranha, há muitos anos um motorista particular
não guia um carro comigo a passeio. Na Espanha, papai fazia
questão disso, dizia ser para minha segurança, mas eu achava tão
formal e desnecessário.
Olho para o meu acompanhante à minha direita e ele está
alisando os cabelos para trás com os dedos, como se penteando
algo fora de lugar que só ele vê. Tenho certa inveja desse pequeno
gesto, lembro-me como era macio ao tocar seus cabelos naquela
última vez que interagimos no clube. É tão assustador... eu já o
beijei, ele já me deu prazer, quer dizer, Vênus, foi ela que fez essas
coisas, não eu.
Agora estamos aqui, como se nos conhecendo pela primeira
vez, mas estamos nos conhecendo pela primeira vez, eu acho… ai
que confusão! Balanço minha cabeça para afastar o pensamento,
tenho que me concentrar para não demonstrar meu nervosismo com
essa situação.
O que esse homem quer afinal? Tudo bem que é um homão
da porra, mas eu não sou aquela mulher que o enfeitiçou no clube,
tenho que deixar isso claro pra ele.
Ele estende o longo braço, pegando um telefone dado pelo
motorista.
— Põe seu endereço para o GPS poder nos ajudar a deixá-la
em sua casa.
Digito rapidamente, e devolvo sem olhar em seus olhos.
Concentro minha atenção na paisagem se movendo pelo vidro da
janela, pensando que minha casa não é longe da cafeteria, mas
noto que estamos indo muito devagar, e o trajeto será mais
demorado do que eu gostaria. Será que pela chuva torrencial lá fora
o motorista está desacelerando ou por um código secreto entre ele e
seu patrão sedutor?
Meus pensamentos são interrompidos pela voz grave do Sr
presunçoso.
— Então, de onde a senhorita é? Ouço que fala nosso idioma
lindamente, mas presumo que pelo sobrenome que disse na
cafeteria não é natural dos EUA.
Volto meu olhar em sua direção, e ele agora se encontra
inclinado de frente, me estudando com o cotovelo apoiado na
saliência da maçaneta da porta. Não sei o que esse homem
pretende com essa conversa casual, resolvo ser sucinta, mas
educada, quero ver onde isso vai dar.
— Sou Espanhola. Agradeço o elogio sobre minha pronúncia,
há um pouco mais de sete anos que moro aqui. Por isso, minha
dicção é tão boa.
— Ah, Espanha, ouvi dizer que é o país das mulheres mais
lindas. — Seduz com o galanteio me encarando coçando o nó do
dedo indicador nos lábios, deixando uma fresta para que eu veja
uma parte dos seus dentes brancos e perfeitos. Dou um meio
sorriso sem mostrar os meus.
— O Sr. Está enganado, a Espanha é o país dos homens
mais lindos.
— Por favor, não seja tão formal, me chame de Luke,
senhorita contraditória, afinal acho que somos praticamente da
mesma idade. Stela, posso te chamar assim? Quantos anos tem?
Meu Deus, esse galã americano parecendo os mocinhos dos
romances contemporâneos que leio, está me intimidando com essas
perguntas. Estou um pouco desconfortável, tanto com como me olha
que não consigo decifrar, quanto essa conversa inquiridora. Respiro
fundo tentando disfarçar o meu desconforto para não dizer velada
curiosidade e respondo:
— Sim, você pode me chamar de Stela, mas por que me
chamou de contraditória? — Não revelo minha idade, quero que ele
o faça primeiro.
— Ora, se a Espanha é o país dos homens mais lindos, por
que partiu do seu país de origem para morar em outro continente,
soa bem contraditório, não acha?
Dessa vez o nó do dedo é alvo de uma mordidinha, como um
trejeito maroto aguardando minha resposta. Que visão dos infernos
esses dedos roçando os lábios desenhados!
Ah, seu moleque atrevido! Vou dar uma resposta bem
caprichosa. É uma provocação para me irritar? Está jogando
comigo, mal sabe ele a adversária que conseguiu. Não quero me
abrir a um estranho, e o pior é que cada vez que olho para ele
mordiscando esse dedo lembro-me do prazer que me proporcionou
no clube há semanas. Percebo que estou excitada agora, mas que
merda! Preciso disfarçar isso imediatamente.
— Há muito mais na vida de uma mulher, que a busca por
lindos homens, Luke, seja lá ou aqui, não estou à procura deles —
mantenho a voz mais calma e baixa possível.
— Touché[22]! — Fazendo um sinal com a mão no coração
como se tivesse sido ferido. Balanço minha cabeça de volta para a
janela para disfarçar meu sorriso.
— Então, você não me disse sua idade, sei que é falta de
educação em algumas culturas, nunca estive na Espanha, não sei
se sou mal interpretado, mas é apenas curiosidade. Eu acabei de
completar trinta anos, moro sozinho e trabalho quase doze horas
por dia.
Não sei como me sinto ouvindo-o falar tão casualmente sobre
si mesmo, acho que o empresário poderoso também está se
esforçando em ser o mais natural possível, mas sinto que tem mais
nele do que demonstra. Uma parte de mim quer desesperadamente
descobrir, mas para isso tenho que me revelar e isso é o que não
tenho intenção alguma de fazer.
— Tenho vinte e seis — busco seu olhar dessa vez — No que
você trabalha, Luke? — vamos ver se você disfarça tão bem, vamos
jogar baby. Já ouvi algo ao seu respeito, mas não sou muito de
redes sociais e notícias. Conte-me, mostre suas cartas, espertinho.
— Minha família tem uma rede de cassinos, meu falecido pai
com seu primo fundaram um, na juventude, ele prosperou tanto
quanto a cidade de L.A, agora sou o presidente da rede, temos
alguns dos maiores e mais bem sucedidos cassinos do Estado.
— É um cargo de muita responsabilidade para alguém tão
jovem.
— As circunstâncias exigiram isso e fui ensinado a nunca
fugir das responsabilidades.
— Entendo, e você então nunca foi a Espanha, mas já foi a
Europa, eu presumo?
— Sim, viajei a muitos países. Na juventude, fiz uma viagem
com alguns colegas para a França e Grécia em uma ilha particular
para ser mais exato.
— Ah — aceno tentando não parecer nervosa.
— É... Fazemos coisas loucas na juventude. Estávamos na
faculdade naquela época e tiramos uns dias de férias para curtir por
lá, mas pretendo um dia conhecer outros países europeus, inclusive
a Espanha, assim que conseguir um tempo para mim do trabalho.
— Tenho certeza de que você vai gostar muito da Espanha,
não deixe de conhecer os pontos turísticos da capital Madri, são
realmente encantadores. — Me arrependo no momento que as
palavras saem de minha boca e volto a olhar para o outro lado.
— É da capital que você vem?
— Sim — respondo sem me mover.
— Você não vai me contar os motivos da sua mudança para
esse continente, vai?
— É uma história longa e complicada, tenho certeza de que
seria tedioso. — Um longo suspiro acompanha minhas palavras.
As gotas de chuva desenham caminhos no vidro
transportando minha mente a buscar as memórias do passado.
Minha postura compenetrada na janela não dá espaço para olhar
para ele, não quero mostrar meu rosto e trair meus sentimentos com
relação a minha história e não desejo que ele veja o quanto estou
atraída pela conversa. Quanto tempo não falo sobre minha vida ou
sou íntima de alguém?
— Eu realmente gostaria de ouvir esse relato. E se for longo,
melhor ainda assim terá tempo para perceber como sou um ótimo
ouvinte, entre outras coisas é claro...
Dessa vez não consigo evitar encará-lo, o abusado está
sorrindo para mim. É a primeira vez que vejo seu sorriso, e é
realmente de tirar o fôlego, um sorriso atrevido e divertido, o senhor
sedutor está gostando muito da conversa também.
— Alguém já lhe disse o quanto você é presunçoso, Luke?
Ele solta uma risada rouca e melodiosa, gostosa de escutar,
arrepiando todos os meus pelinhos.
— Poucas pessoas têm essa coragem. E quase nenhuma me
enfrenta.
Ficamos nos olhando por segundos tão longos que a tensão
no carro é palpável, posso sentir a disputa que há entre nós,
caçador e presa a meio metro de distância.
Ele está me caçando desde o primeiro dia, mas mal sabe que
não vou me deixar ser pega. Enfrentarei você, príncipe alfa dos
cassinos!
A tensão é quebrada e um alívio toma conta de mim, quando
percebo que o carro estaciona na porta da frente da minha casa. A
chuva diminuiu, mas ainda é intensa, faço um sinal para abrir a
porta e sair, mas vejo que ele já saiu e está girando por trás do carro
para chegar a mim com um guarda-chuva gigante. Abre a porta,
estendendo a mão para que eu saia e rapidamente me enlaça junto
ao seu corpo de lado embaixo da proteção. Luke tem um corpo
grande e rígido, mesmo com todas as roupas consigo notar o
quanto ele é másculo. E seu perfume é muito instigante, respiro
tentando decifrar o aroma, flor de acácia misturada com cedro, sinto
uma pitada de tabaco também, não é para qualquer homem esse
cheiro, e esses minutos no carro percebi que sua personalidade é
de um predador.
Com uma mão firme faz pressão na minha cintura ativando
um calor entre minhas pernas. Ignoro. Andamos pelas quatro lajotas
da entrada da minha casa parando na porta. Coloco a mão no bolso
para apanhar o molho de chaves e percebo minhas mãos trêmulas,
preciso de um tempo para estabilizá-las. É melhor me despedir
primeiro.
Meus olhos encontram a sua figura imponente, escorado na
soleira da minha porta segurando o guarda-chuva sobre nós me
olhando, dessa vez consigo decifrar seu olhar, desejo, uma fome
intensa, um olhar matador... Concentra Stela, fala alguma coisa
agora! — ordena minha mente.
— Realmente não sei como agradecer a carona, eu chegaria
encharcada em casa, obrigada.
— Me agradeça aceitando um convite para sair comigo no
próximo dia ensolarado. — Não dando tempo para resposta, ele tira
o celular do bolso interior do blazer e começa a digitar e olha para
mim. Não posso recusar outra vez, não tem cabimento ser tão
durona com tanta gentileza, mesmo sabendo a intenção dele.
— Me diz o seu número para avisá-la a hora que virei te
buscar.
— Você não tem um cartão ou algo assim? Posso ligar para
você depois, deixei o meu carregando. — Não permito ser
intimidada assim. Quero decidir quando e se eu quero vê-lo
novamente fora do clube.
— Não, não, eu não quero correr o risco que você fuja de
mim, afinal essa é sua chance de agradecer a carona. — Me encara
com um sorriso jocoso.
Suspiro e decido dar o número. Ele imediatamente faz uma
chamada, enquanto pego as chaves para entrar, ouvimos o som do
celular de dentro de casa. Com um sorriso e com o dedo que estava
mordendo dentro do carro, faz um carinho na ponta do meu nariz.
— Só para garantir — diz ele indo em direção ao carro
enquanto destravo a porta. Ao chegar no meio fio grita de lá:
— Nos vemos amanhã, espanhola. — Estou quase fechando
a porta, mas interrompo o movimento contrariada.
— Você não disse que seria amanhã.
— É uma chuva de verão, Stela, amanhã será o nosso dia
ensolarado, confie, nós americanos conhecemos melhor o clima
daqui. — Com um sorriso largo entra no veículo me deixando sem
resposta.
Presunçoso até o final, sempre com a última palavra, é
melhor me acostumar, não vou me livrar dele facilmente... será que
quero me livrar desse homem?
CAPÍTULO 13

Não sei por que estou tão nervosa escolhendo uma roupa
para sair, não é nenhum encontro, é somente a paga pela carona.
Maldita carona! Mas que merda, estou nervosa... Ele já me viu sem
estar travestida em Vênus, por que dessa preocupação toda?
Mesmo assim, quero uma roupa que disfarce meu quadril
avantajado e meus seios fartos, mas não encontro nada do meu
gosto, e com o calor que está fazendo não posso usar um abrigo
folgado. E minhas outras roupas, bem, ultimamente andei fazendo
algumas mudanças em meu guarda-roupa, vasculhando dentro dele
só há decotes ou roupas curtas demais, o que eu faço?
Não quero que o senhor presunçoso tenha a impressão
errada sobre mim, que possa insinuar estar me jogando pra cima
dele. Concordo que ele pode ser o mais belo espécime masculino
que meus olhos tiveram o prazer de apreciar, mas não quer dizer
que vá acontecer nada além de um passeio despretensioso.
Porque quando Luke perceber que não sou a Vênus,
provavelmente perderá o interesse e por isso, não sei por que
preciso me preocupar com qual roupa irei. Isso! Assim também não
me iludo.
Escolho um vestido solto, mesmo sendo curto não marca
minha bunda proeminente, e por mais que caia nos ombros, cobre
meus seios de maneira firme e confortável. Certo, confortável é
minha escolha, sandália básica baixa e vou prender esse monte de
cabelo, não quero ficar grudenta e suar como uma foca. Assim que
termino de me arrumar escuto a notificação do meu celular:

Luke T: Estou aqui


Stela: Ok

Bem, é melhor eu ir, nervosa ou não, esse dia passará rápido


e certamente não o verei outra vez.
Me arrependo assim que o encaro ao trancar minha porta.
Escorado em um conversível vermelho, vestido casualmente, com
um jeans lavado e uma camiseta justa branca que demonstra o
físico perfeito. Uma visão que deixa qualquer garoto de vinte anos
comendo poeira.
Como controlar meus olhos? Devia ter lembrado de usar
meus óculos de sol, o qual ele não esqueceu, dessa forma poderia
passear pelo seu corpo sem timidez alguma.
— Oi Stela. — Muito galante abre a porta do carro para mim.
Será do seu feitio? Ou um esforço para parecer um cavalheiro?
— Oi, para onde vamos? — Não sei por que perguntei isso
de cara, mas minha ansiedade é tamanha em terminar o dia que
minha boca não se detém.
— Vou te levar a um lugar que você não esquecerá, mas
prometo que vai gostar muito.
— Certo, não vamos demorar muito, não é?
— Você me prometeu um dia ensolarado, provável que
demore algumas horas para terminar esse dia, e pretendo gastá-lo
todo com você.
— E se eu tiver um compromisso?
— Você não tem.
— Como sabe que não tenho?
— Agora eu sei — diz com um sorriso sedutor, meu Deus!
Minha calcinha já molhou. Merda!
A pequena viagem corre bem, mesmo em silêncio, não é
constrangedor, ele ligou o rádio e estou absorta pelas músicas pops
da estação local. O vento está gostoso, noto alguns fios do meu
cabelo se desprendendo, mas está tão bom que vou arranjar um
coque melhor só depois.
— O SUV ali atrás é seu?
— Meu motorista insistiu em me acompanhar para alguma
eventualidade.
— Ok.
Sei que ele é um homem muito importante, talvez aquele seja
até um segurança pessoal.
Quando encostamos o carro leio uma placa enorme com
letreiro: Park Garden sobre portões de metal escancarados, mas de
ótimo gosto, percebo também casais e famílias adentrarem o local
no qual só um caminho de pedras recortadas pode ser visto. Em
volta dele, mata fechada.
Não conheço esse lugar, mas como vi crianças não sinto
medo de entrar com um estranho. Sim, porque eu não o conheço,
salvo às vezes que tivemos contato no clube, mas só conversamos
de fato, fora dele.
— Já conhece esse lugar?
— Não. Não tenho costume de frequentar parques
familiares.
— É mais que isso, tem uma gama de diversão aqui, faz
tempo que não frequento, mas tenho boas recordações.
Não pergunto nada, porque não estou a fim de render
assunto, vou deixá-lo falar dele, vamos caminhar um pouco, deixarei
que mostre o lugar e depois fingirei uma dor de cabeça para me
levar embora. Não sei que ideia foi essa dele. Nem cesta de
piquenique ele providenciou para disfarçar. Esperava mais do
senhor arrogante sedutor. Caminhamos alguns metros pela
estradinha subindo uma pequena elevação, quando tenho a visão
completa do lugar.
Involuntariamente deixo escapar um gritinho, é lindo! Milhas e
milhas de gramado perfeito, como aqueles campos de golfe da
televisão. O caminho principal andam três pessoas lado a lado
tranquilamente. Adiante alguns metros observo esse mesmo
caminho de lajes de pedra se abrindo em ramificações, levando
para todas as direções do gramado.
Há diversos bancos espalhados, vejo casais namorando,
famílias praticando esportes juntos, carrinhos de comida e sorvete
por todo o lugar. Gazebos com pessoas tocando violão e cantando
alegres, até uma lagoa ao longe com pessoas pescando. No centro,
uma praça com plantas ornamentais formando um telhado de folhas,
inacreditável.
Olho para o meu acompanhante e ele está vidrado em
minhas reações, descansou os óculos pendurando na camiseta.
Percebo um brilho espetacular em seus olhos castanhos, moldados
com cílios longos e espessos, deslumbrantes. Rapidamente, desvio
de volta para a paisagem.
— Falei que ia gostar do parque, venha, quero lhe mostrar
meu lugar favorito.
Agarra minha mão com a dele, e novamente a eletricidade
reverbera pelo meu corpo, me arrepiando inteira. Me conduz pela
estradinha bonita de lajotas até sair dela e encontrar a grama
aparada. Andamos uns bons metros, eu curiosa atenta a tudo, me
pego sorrindo. Está um lindo dia, me sinto uma menina de treze
anos guiada pelo namoradinho há um lugar privado para dar uns
beijos escondidos.
Logo balanço a cabeça para tirar essa imagem da mente, o
que eu tô pensando? Não sou eu que ele vê, é Vênus, portanto não
sou interessante. Luke só quer tirar a prova.
Chegamos em frente a uma casinha de um cômodo talvez,
totalmente feita de vidros foscos, não consigo saber o que tem lá
dentro, um senhor franzino de avental de couro e chapéu de palha,
mas bem alegre, vem nos receber.
— Luke, há quanto tempo garoto! — diz ao abraçar o
homenzarrão ao meu lado.
— Seu Claiton! Realmente há um tempo que não venho aqui,
como elas estão?
— Precisando de carinho, sua namorada vai ajudar? Olá,
senhorita, sou Claiton Doneer trabalho para a família Taylor há
muitos anos, conheço esse menino desde que nasceu.
— Olá, me chamo Stela Salvage, apenas uma amiga.
— Desculpe senhorita, eu e essa minha boca grande, fiquem
à vontade, divirtam-se, meus jovens.
Luke abre a porta de vidro me conduzindo a uma experiência
sensorial única, um maravilhoso perfume invade meus sentidos,
cores, cores e mais cores
— Um orquidário?! — exclamo encantada.
— Sim, vejo que gosta de flores. — Ando pelo meio delas e
ele me acompanha apresentando-as por nomes, que caixinha de
surpresa esse homem!
— Você gosta de impressionar as mulheres, hein!
— Somente uma, nunca trouxe ninguém aqui. — Encaro
seus olhos por alguns segundos, mas desconverso, não acredito
que um homem desse, tendo todas as mulheres aos seus pés,
esteja interessado em uma espanhola rechonchuda!
— Posso me aproximar para sentir o perfume?
— Claro, vem comigo, vou apresentá-la as espécies mais
perfumadas.
O sigo até o fundo do cômodo e ele alcança um vaso com
uma delicada orquídea amarela, linda.
— Maxillaria Madida[23], experimente e me diga o que lembra?
— Inspiro fechando os olhos como meu pai ensinou, a fim de não
distrair meu olfato com os outros sentidos.
— Melão.
— Isso mesmo, e essa aqui? — Agora é uma flor lindíssima
em um tom de rosa violeta. Ainda mais perfumada.
— Uva.
— Acertou, é a Spathoglottis Unguiculata ou Orquídea
[24]

grapete.
— Você entende mesmo de orquídeas, Luke!
— Vínhamos aqui todo o fim de semana quando meu pai era
vivo. Se tornou minha paixão cultivá-las.
— Sinto muito, eu não queria trazer recordações dolorosas.
— Não, tudo bem, fazem quase oito anos da morte dele, não
que eu não sinta sua falta, mas o tempo deixa as coisas menos
dolorosas. — A dor do seu olhar me desmonta.
— Um último teste?
— Sim, por que não?
Luke caminha ao outro extremo da sala e me traz uma que
não consigo esconder meu encantamento, ela é delicada, pequena,
mas ao mesmo tempo imponente por suas cores, um vinho
amarronzado com detalhes em branco, uma ambiguidade
fascinante, delicada, mas forte, quando aproximo meu nariz dou um
grito eufórico.
— Chocolate!
— Oncidium Sharry Baby[25] a orquídea chocolate, parabéns,
Stela, você tem um olfato apurado, é um dom — sorrio com o
elogio.
— Não, é treino.
— Como assim?
— Cresci no meio de aromas e ingredientes, meu pai sempre
gostou de essências depois que se aposentou, se dedicou a carreira
de perfumista na Espanha, cheguei a aprender um pouco do ofício,
mas não persisti.
— E você já criou algum perfume?
— Para venda como meu pai não. Tenho algumas essências
em casa, fiz algumas receitas para perfumar minhas coisas, nada de
mais.
— Deve ser estimulante saber fazer seu próprio perfume.
— É interessante porque você pode misturar os aromas de
que mais gosta e criar um perfume só seu, único, como uma
assinatura.
Esqueço o desconforto e começo a divagar sobre o que
gosto, quando o encaro, noto que ele está prestando atenção no
que falo, mas aquele brilho malicioso não o deixa, sinto-me
despida.
— Posso imaginar qual foi a sua favorita.
— Quem não gosta de chocolate? — A risada rouca e
gostosa surge enquanto devolve a planta no lugar. Gosto de ouvir
esse som.
— Ela é rara, lembro-me quando meu pai a comprou, só ele
cuidava dela, eu queria de todas as maneiras chegar perto só pelo
perfume, mas seu Anthony me enchia de trabalho e eu não tinha
tempo para ela.
— Trabalho?
— Sim, o que viemos fazer aqui, podar, limpar, dar vitaminas,
meu pai até conversava com elas.
Começo a rir, mas não pelo fato do pai dele fazer isso, mas
de nervoso, nunca tive habilidades com plantas e ele quer me dar
uma tesoura de poda?
— Eu, com uma tesoura? Não, eu não posso fazer isso, não
levo o menor jeito.
— Não se preocupe, terá tempo de aprender, é fácil, e depois
dizem ser uma terapia conversar com plantas, mas como temos a
companhia um do outro, vamos nos conhecendo.
Ele vai até a porta, apanha um avental de couro e veste, vem
em minha direção com o outro para fazer o mesmo em mim.
— Espera, preciso prender melhor o cabelo, não quero ter
distrações e estragar uma delas sem querer.
Desfaço o resto do penteado desmontado e rapidamente faço
um coque no alto da cabeça. Rapidamente meu corpo é tomado por
uma onda de calor quando ele aproxima seu corpo do meu para
colocar o avental, sinto seu hálito quente no meu pescoço
arrepiando tudo, dos pés a cabeça, enquanto seus dedos amarram
a peça. Luke suspira fundo antes de se retirar, é enlouquecedor.
Uau, que clima tenso!
— Pronto, aqui está a sua arma afiada, tudo o que eu fizer
você reproduz, na dúvida, pergunte.
Com a tesoura em mãos começamos a trabalhar. Por umas
duas horas conversamos, assuntos corriqueiros, sobre plantas, o
trabalho dele. Contei sobre meus irmãos, a profissão que
escolheram, ele contou que é filho único, cuida da mãe com alguns
problemas de saúde e passamos agradavelmente por esse período.
Na saída, sinto uma picadinha no meu pé e enlouqueço.
— Ai! Um bichinho me mordeu, temos que ir embora! — Luke
desata a rir de mim, me deixando possessa.
— Não ria, sou alérgica! Olha como já inchou meu pé, temos
que correr para o carro.
— Calma exagerada, tenho um líquido repelente ali dentro,
dois segundos estou de volta, espere aqui. — É claro que vou
esperar, para onde eu iria, numa imensidão dessa, me perderia ou
seria comida por essas criaturas demoníacas minúsculas.
Ele retorna com um frasquinho, desamarra rapidamente
minhas sandálias e começa a espirrar o produto, nos pés,
espalhando com as mãos, e vai subindo pelas panturrilhas e
joelhos, não podia ser pior, de propósito ou não, suas mãos grandes
formigam minha pele. Quando elas tocam minhas coxas, sinto um
leve tremor pelas amplas palmas quentes dele.
— Quando te vi nesse vestido, imaginei que isso aconteceria,
mas você tem pernas tão lindas que não quis que as escondesse
avisando sobre os mosquitos.
Tomo uma surpresa com o elogio descarado dando um passo
para longe quase desequilibrando e ele me agarra não deixando
que eu caia, seu perfume me invade e meu corpo tensiona com seu
aperto de braços fortes me prendendo, meu Deus! Choco meu
corpo com uma parede de músculos. Que homem malhado e
enorme, pareço uma anã em comparação.
Estamos tão próximos que nossos narizes quase se tocam,
mas não quero beijá-lo, não vou me iludir com isso.
— Acho que é melhor amarrar a sandália ou não escaparei
de uma queda.
— Permita-me que eu faça isso, segure-se em mim, vamos
calçar você para podermos comer alguma coisa. — Assim que o faz,
pega minha mão possessivamente me conduzindo para um carrinho
de cachorro-quente.
Nunca poderia imaginar um homem desse nível levando uma
garota para um fast food, tudo bem que nesse parque é tudo
informal na questão alimentação. Quem sabe esse milionário ache
que pelo meu corpo eu só coma essas porcarias deliciosas. Ah!
Vamos lá, Stela! Já passamos da fase das paranoias. Se minha
terapeuta ouvisse meus pensamentos, agora diria que é só o meu
complexo falando. Certamente que é, pois, esse galã de cinema não
perderia seu precioso tempo com uma mulher como eu se não
quisesse algo. Desvio dos sentimentos depreciativos sobre mim,
mas não sou tola de não supor que a possibilidade de Luke ter
fetiche em gordas é possível. Afinal, ‘feederismo’[26] existe como
uma categoria nas parafilias listadas na psicologia, ou seja, atração
por corpos gordos. Mas de jeito nenhum quero ser objetificada
dessa forma. Sou uma mulher com atributos interessantes muito
além de um corpo avantajado.
Pode ser que este cavalheiro tenha consciência disso, mas
ainda acho que as intenções dele não são mais que sexo com a
Domme que conheceu no clube, e isso não irá acontecer.
Quer Vênus?
Submeta-se a ela!
Após sairmos do jardim paradisíaco, voltamos para o carro.
Vejo o motorista ‘cão de guarda’ do senhor presunçoso nos
aguardando. Próximo do SUV mexendo em seu celular, não me
dirigiu a palavra e nem sequer se aproximou de nós. Não me
incomodo, não o verei novamente para estreitar laços com pessoas
próximas a Luke Taylor.
O clima na volta para casa está bem melhor, acabei
gostando do passeio, ele soube surpreender agradando sem
pressionar. Até as perguntas no carro surgirem:
— Gostou do passeio, Stela?
— Foi ótimo. Obrigada, Luke.
— Também gostei, não achei que nos daríamos tão bem
depois de nossa interação conturbada no clube.
Rapidamente o motivo do meu receio se faz presente.
Vênus!
— Mas não era eu no clube, não sou Vênus, ela é uma
pessoa diferente de mim.
— Não entendo, vocês são a mesma pessoa.
— Não. Ela foi criada com um objetivo, eu sou real.
— Uma personagem? Para o quê? Você falou serem
particulares seus motivos de se apresentar no clube, lembro de suas
palavras, mas não são pessoas distintas para mim. — rolo os olhos,
não querendo responder.
— Você deixa de falar nela se obter sua resposta?
— Ok, se a irrita tanto.
— Minha terapeuta me incentivou a criar um alter-ego nesse
clube. Portanto, ela não existe aqui.
— Desculpe, não pergunto mais.
Passados alguns minutos no silêncio constrangedor, resolvo
ser direta e terminar logo com isso.
— Você a quer?
— Vamos continuar falando de Vênus na terceira pessoa?
— Prefiro, se não se importa.
— Quero. — O silêncio constrangedor se instala e sinalizo
com um menear de cabeça que entendi, o problema é que ele não
perde uma.
— E Vênus me quer?
— Talvez, Vênus é segura de si e quer muitas coisas. Ou
talvez queira apenas se distrair.
— Por que ela me beijou e jogou comigo?
— Já teve essa resposta Luke, porque ela quis e pode fazer o
quiser naquele lugar.
— Por que está sendo tão difícil se você quer a mesma coisa
que eu, Stela?
O riso me sobe pelo nervosismo. Tô tentando dizer que sou
diferente dela. Por que não entende que aqueles jogos não
funcionam comigo? Que difícil, mal parido[27]!
Ainda bem que estamos chegando em casa, já posso ver
minha porta ao longe e esse encontro vai terminar.
— Vou ressaltar pela última vez, Luke Taylor. Eu não sou
Vênus. Os jogos que vocês fazem no Volcano não funcionam
comigo, todo esse circo, esse trabalho que teve para seduzir a
mulher que você quer, falhou. Pelo simples motivo que não é ela
que está aqui. Você a quer, conquiste-a. Sabe bem onde encontrá-
la, mas não direcione seus esforços para mim, eu Stela sou só isso
que você viu, não tem nada de misterioso e envolvente aqui.
Obrigada pelo passeio, CEO dos cassinos!
Saio do carro sem permitir que me dê uma resposta. As
lentes escuras impedem de ver sua reação, ouço chamar meu
nome, mas num esforço descomunal entro em casa e tranco a
porta.
Um alívio toma conta de mim. Pronto, Stela, você se livrou de
um possível sofrimento. Não precisa se apaixonar a essa altura da
vida e quebrar a cara, traumatizando-se novamente com um
coração partido. Acabou!
CAPÍTULO 14

Dirigindo para casa, ainda atordoado pelo desilusão que


Stela me deu essa tarde, ela não sai da minha cabeça. Confesso
que estava preparado para quase tudo, na teoria, porque quando a
vi naquele vestidinho verde, curto daquele jeito e com toda aquela
pele à mostra, tive vontade de comer ela em cima do capô. Lógico
que minha primeira impressão foi o instinto de macho com tesão
pelo corpo lindo, no entanto, à medida que a conversa fluía dentro
do carro, Stela despertou um encantamento em mim que jamais
imaginei. A conversa era fácil e interessante. Percebi que qualquer
assunto que surgia ela tinha algo importante a acrescentar sobre
ele. Seus gestos elegantes também me deixaram hipnotizados. A
maneira que mexia nos fios soltos do cabelo, a voz suave e segura,
o sorriso doce, e a inteligência rápida em rebater o que eu dizia. O
jeito confiante de andar, meu Deus! A pintinha na bochecha me
pega de jeito cada vez que me concentro no detalhe. O que está
havendo comigo? Me fiz essa pergunta em vários momentos. O
conjunto todo me atrai, porém, ela me afasta. Como não se acha
envolvente e interessante? Uma mulher que cria o próprio perfume e
enlouquece os homens com ele por si só já é interessantíssima.
Cada vez que me aproximava dela tinha que colocar toda
minha força mental e corporal para não a agarrar e beijar aquela
boca desenhada. Calar as respostas atrevidas com meus lábios e
fazer o sorriso sedutor terminar na minha boca.
Os momentos mais difíceis sem sombra de dúvidas foram
quando arrumei o avental nela. Primeiro ela quis arrumar o cabelo,
fazendo com que o vestidinho minúsculo subisse, confesso que tive
uma ereção sob meu avental, graças a Deus era de couro pesado e
Stela não percebeu.
Ela tem o dom natural de seduzir em tudo, não é forçado e
nem proposital e isso quase me faz perder o controle quando estou
ao seu lado. Acho que essa situação nunca aconteceu comigo, nem
nos tempos de escola, quando me apaixonei pela líder de torcida e
a levei ao baile de formatura. Não, Stela difere de qualquer mulher
que despertou o meu interesse. Assim que inspirei seu perfume,
naquele momento soube que ela percebeu algo, vi os cabelos da
nuca arrepiando. Stela reage da mesma maneira a mim. Ela me
quer também, pois notei sua reação quando quase caiu. Queria lhe
roubar um beijo naquele instante. Seus olhos de desejo a traíram
confessando que ela permitiria aquela intimidade, mas algo a fez se
afastar.
Acho que essa relutância em não querer o que deseja tem a
ver com a terapia. Stela tem problemas de entrega ou de confiança,
não sei, mas preciso e vou quebrar essa barreira. Não é Vênus a
musa do meu desejo, é Stela. Ela parece a orquídea chocolate, é
delicada e forte mas também é uma ambiguidade desconcertante…
É isso a flor! Como não pensei nesse artifício? Apanho rápido meu
celular no bolso buscando o contato que vai me salvar.
— Alô, Sr Claiton?
— Oi menino, o que houve, esqueceu algo aqui no
orquidário?
— Sim, separe a orquídea Sharry Baby, se possível para
amanhã de manhã, vou buscá-la cedo.
— Certo filho, estará pronta.
Meu plano acabou de ganhar um plus, vou usar o dia de hoje
como um convite para um jantar. Está na hora de mostrar a essa
Espanhola arisca que Luke Taylor entra em uma disputa para
ganhar. E o coração dela será o prêmio mais precioso que vou
conquistar.
CAPÍTULO 15

“Stela, esse é um pedido de desculpas por ser tão insistente


em perguntar assuntos particulares. Prometo que nos nossos
próximos encontros, não tocarei no nome de outra mulher, porque é
você quem eu quero. Jantar hoje?”

Quando cheguei na cafeteria e vi a orquídea chocolate no


balcão, parei de surpresa. Como? Por quê? O cartão era fofo, mas
direto. Como assim me quer? E Vênus? Não faz sentido para mim.
Como reajo a isso?
Não posso me envolver com esse homem, mesmo meu corpo
desejando desesperadamente. Merda! E se eu me entregar e sofrer
depois? Não devo me apaixonar por uma ilusão, mas meu cérebro
argumenta que pode ser só diversão, que mal há em transar com
um cara gostoso daquele? E os argumentos são tantos! Parece
aqueles desenhos animados onde um diabinho sopra uma tentação
no ouvido da inocente indecisa.
“Há anos você não fica com alguém, suas companhias são os
brinquedos de borracha, que mal há em se divertir? Talvez esse
cisma termine depois de transarem. Impossível se apaixonar em
uma noite. É tesão puro e cru. Vá em frente! Você não é de ferro, vá
beijar na boca, criatura!” Pronto, acabei de ser manipulada por
minha própria consciência.
Sou adulta, sei dos meus limites e ele não vai repetir depois
de provar, homens como ele se divertem e não repetem mulheres.
Tenho vinte e seis anos, não sou uma adolescente que se envolve
por algumas palavras bonitas. Se ele disse que quer se divertir, por
que não? Decidido, depois envio mensagem agradecendo e vejo se
o convite está de pé.
Resolvo ir para casa com minha flor, não conseguiria
escrever nada mesmo com essa euforia. Meu livro ficará parado,
pois minha cabeça está a mil e a Dra. Elisa não pode me auxiliar
com meus dilemas. Melhor enviar o agradecimento por WhatsApp é
mais informal.

Stela: Oi, obrigada pelo presente


Luke: Vc merece
Stela: mas pq me dar uma orquídea tão rara?
Luke: pq foi sua favorita e ñ quero q recuse meu convite
Stela: ñ sei cuidar de plantas
Luke: realmente ela precisa de acompanhamento diário, sua
sorte é q sei cuidar
Stela: vc lembra do q falei ontem?
Luke: lembro, mas vc ñ me deu chance de falar
Stela: fala então o q quer
Luke: vc sabe o q eu quero, janta comigo hj?

Bem Stela, era essa a intenção, não era? Agradecer e ver se


o homem chamava você pra sair. Aceite de uma vez, e tire a prova.

Luke: ?
Stela: Ok
Luke: restaurante espanhol?
Stela: muito clichê
Luke: HAhahaha você é difícil hein!
Stela: sempre. Que h te espero?
Luke: Às 20 h, estarei aí

Ele quer, eu quero. Está decidido e combinado. Vamos tirar


esse cisma, quem sabe depois ele desiste.
Mas alguma coisa me diz que é uma péssima ideia. Deve ser
o anjinho do outro lado tentando me persuadir a não entrar numa
furada. Ah meu Deus! Preciso conversar com alguém. Marquei de
encontrar Benji no salão de beleza hoje à tarde, tínhamos horários
próximos, assim é uma oportunidade perfeita de puxar a orelha
daquele abusado língua frouxa.
Chegando ao local, minha cara de poucos amigos liga seu
alerta:
— Ora, vejam se não é o barman da língua comprida!
Não era o boa tarde que Benji esperava. A mulher que o
massageia sabe que somos amigos e não se importa com as
caretas dele, mostrando a língua para mim. Retiro meu roupão e me
acomodo na maca ao lado e viro o rosto para a janela lateral
contrária. Benji me pôs numa enrascada quando deu minha
localização a Luke. Aquele homem não vai descansar enquanto não
conseguir o que quer. E nesse momento estou fula da vida com meu
amigo linguarudo!
— Ei, mal-humorada! Marcamos a sessão juntos para fofocar.
— Acho que vou parar de fofocar com pessoas que não
cumprem promessas.
Ouço o rangido do metal da mesa de massagem.
— Quando foi que quebrei alguma promessa com você?
Giro de encontro a ele arrumando a postura para encará-lo
melhor.
— Você deve estar brincando, Benji! Deu informações para
Luke Taylor sobre mim, quando jurou que não daria meu endereço a
nenhum frequentador daquele clube!
— Ah Stela! Deixa de reclamar que você queria desde o
início.
Encaro meu amigo linguarudo se espreguiçando querendo
fugir do meu sermão.
— Não interessa o que eu queria Bem! Você prometeu que
não revelaria meu endereço a nenhum dos clientes do clube.
— Tecnicamente não revelei seu endereço, Stela. Apenas dei
uma dica de onde um cara gato, gostoso e bilionário poderia te
encontrar.
— Mas é muito atrevido! E quem me garante que não vai
soltar essa língua para o próximo ricaço que quiser me conhecer? A
confiança que eu depositava em você acabou de baixar
drasticamente o nível, Benji Melbourne!
Meu amigo percebe que o assunto é sério e começa a se
desculpar colocando justificativas nos seus atos, dizendo que minha
felicidade é importante para ele. Que me ama como uma irmã, e
sem minha amizade não faz sentido ficar em Los Angeles.
Dramático, chantagista! Bem sabe que tenho o coração de
manteiga.
Depois das promessas de que não vai fazer de novo,
continuamos a conversa enquanto somos agraciados pelo
relaxamento das mãos de fadas da massoterapeuta. Até contar ao
meu cupido glitterinado que seu trabalho deu resultado:
— O quê? Vocês estão saindo? — berra ele dando um salto
dos lençóis brancos.
— Fala baixo, doido! Saímos ontem à tarde, mas não houve
nada. E hoje só vamos jantar.
— Ah, sim, e eu sou a mamãe Noel de fio dental. Você vai
transar, o que estamos fazendo aqui nessa maca? Desce daí,
vamos preparar esse corpo para pecar, pecadora! — reviro os olhos
para meu amigo dramático.
— Por favor, não há nada para preparar.
— Como não? Depilação, unhas, hidratar esse cabelo lindo.
— Bem, esqueceu que fiz depilação a laser no início do ano?
Cabelo tratei semana passada. — argumento deixando a sala de
massagem com ele me empurrando para a manicure.
— OK, unhas já, e vamos fazer uma sessão de
bronzeamento para ativar essa melanina preguiçosa.
— Você só pode estar maluco!
— Não tô não, levanta dessa maca agora ou te derrubo daí!
— começo a rir sem parar do nervosismo do abusado.
Porém, faço o que ele quer, e enquanto a manicure termina
seu trabalho, Benji inicia o processo de planejamento do meu look.
Agradeço, porque ele é ótimo com moda e sempre que me dá dicas,
me sinto mais segura.
— Use aquele vestido pink, ficará um arraso na sua pele
cremosa da sessão de hoje, e solta o cabelo, nada de coque,
entendeu? Make leve, porque vai borrar toda, e lingerie escolhe uma
arrasadora que sei que você tem. Aquela vermelha de lacinho que
eu gosto.
— Sim, senhor mandão. Qual a cor do esmalte senhor?
— Vermelho, debochada, para seduzir com os talheres.
— Benji, falando sério, não sei se é uma boa ideia.
— Você quer, não é? Ele, nem preciso perguntar, fecha o
coração e fode minha amiga, se deixar passar aquele corpo vai se
arrepender pelo resto da vida.
Penso nesse conselho e medito durante as duas horas
seguintes. Repito essas palavras dentro do táxi até chegar em
casa. Não sei se consigo só me divertir, faz tanto tempo que não fico
com ninguém. Meu medo é me apegar e isso seria um pesadelo
com um homem como aquele.
Precisava tanto conversar com a Dra. Elisa, mas depois da
especialização resolveu tirar um ano sabático e não retornou mais a
L.A. e recusei outro profissional. Não me adaptaria.
O que me resta é seguir os meus instintos, vou me permitir e
tentar aproveitar esse momento sem culpa ou timidez. Algum dia eu
teria que tomar minhas próprias decisões e aguentar as
consequências delas. A hora chegou, infelizmente ou não. Mas vou
testar a paciência dele primeiro. Veremos do que você é feito, Luke
Taylor!
CAPÍTULO 16

Estaciono em frente à casa de Stela e envio uma mensagem


de aviso. Desde a nossa conversa hoje mais cedo, estou uma pilha,
e não entendo por quê. Não sou um adolescente, já tive tantas
mulheres que não consigo enumerar, porém, meu empenho com
essa é de longe minha mais difícil conquista.
Deve ser seu jeito de me desafiar e a delicadeza contrastante
que Stela demonstra. Semelhante à orquídea, é delicada, mas
arisca como a gata selvagem que conheci no clube e isso me deixa
maluco.
Me dei conta que a quero de qualquer maneira, a sedutora,
mandona e arrogante, mas também a delicada, divertida e
espirituosa. E fico satisfeito que é uma mulher que me surpreende,
quando acho que ela vai retrucar não faz, mas quando menos
espero ela toma uma atitude que me deixa sem palavras. Não
consigo tirá-la da cabeça. Será que depois de transar com ela ainda
vou me sentir dessa forma?
A porta da casa se abre e quase engasgo pela visão da
deusa perfumada. Stela tem o cabelo solto tremulando com a brisa
da noite, a pele brilha espetacularmente diferente hoje e a fenda no
vestido conforme anda revela a perna perfeita. Uau! Me imagino
entre as coxas grossas dela, ajoelhado, rendido, ouvindo seus
gemidos de prazer e disfarçadamente arrumo minha calça.
Porra! Ela vai achar que sou um tarado, sempre excitado
perto dela. Dessa vez não resisto e a cumprimento com um beijo no
rosto, o cheiro de cereja me faz querer lamber e morder a pele
macia, ela se surpreende com o gesto, mas pouco demonstra. É
treinada para reações.
— Boa noite, Stela, você está linda.
— Boa noite, obrigada.
— Gostei que aceitou meu convite.
Seu olhar está diferente esta noite, não vejo a resistência de
ontem, isso me deixa mais ansioso. Enquanto dirijo conversamos
amigavelmente, o que já é um progresso.
— Você foi muito gentil me presenteando com a orquídea.
— Gostou mesmo?
— Muito. Adorei. Escolheu o restaurante?
— Vou te levar em um japonês, você gosta?
— Ótima escolha, gosto sim. Já que escolheu o início da
nossa noite, eu escolho o final.
— Justo e como termina?
— Nós vamos dançar.
Não escondo minha decepção, mas também o que eu
esperava vindo dela? Que terminasse na minha cama? É o que eu
mais quero, mas temo que não será hoje.
— Ótimo, conheço um clube perto do restau…
— Não. Eu escolho a danceteria.
— Posso opinar? Você descartou o restaurante espanhol de
primeira.
— Certo. Permito uma concessão.
— Nada de rave, essas eletrônicas, não fazem meu estilo.
— Ah! Acabou com minha noite! — Quando olho para ela,
noto o sorrisinho e percebo a brincadeira. Fazendo piadas, que
maravilha! Ela está se soltando.
— Espertinha, não é o seu também, não é?
— De jeito nenhum, só para descontrair.
No restaurante ela também solta frases espirituosas, está
leve e despojada. Como se tivesse desistido de resistir a mim. Sorri
largo das minhas observações, me deixando embasbacado com a
pintinha na bochecha se movendo ao alçar os lábios.
Falamos de nossos gostos culinários, comidas e bebidas
prediletas. Contou que ama cozinhar, aprendeu desde cedo com a
avó na Espanha. A simpatia é irresistível, pois, enquanto fala, ouve.
Se interessa genuinamente pelo que eu converso. Passeia por
inúmeros assuntos, fala francês e italiano. Bem, ela poderia falar
latim que eu ouviria com gosto.
Nosso jantar discorre bem, consigo alguns toques
despretensiosos, ganho olhares e sorrisos receptivos, e me animo.
Mas ainda não me atrevo a nada mais ousado. Não gostaria de
outro balde gelado como da última vez.
Os hashis manuseados pela mão delicada pintada de
vermelho, mexem com meu corpo. Porra! Que loucura esses gestos
simples me afetarem dessa forma.
Após o jantar, saímos em direção a tal danceteria que ela
gosta, é em uma parte da cidade que não costumo frequentar, mas
é bem localizada e de bom gosto, ela diz que gosta das músicas
animadas e de dançar aqui. Não sei se estou preparado para vê-la
dançar outra vez sem tocá-la, mas prometi que ela encerraria a
noite e assim será.
Entramos no local chamado Paradise Club, um clube porto-
riquenho. É animado e está lotado. Ela aponta para algumas
cabines e fala que são lugares melhores, concordo e escolhemos
uma. Agarro possessivo a mão pequena sentindo o calor gostoso da
sua palma e subo com ela até o cubículo vidrado. Dentro do local há
apenas uma poltrona em meia-lua e uma pequena mesa no centro.
Parece aconchegante e íntimo. A música é dançante, apesar de não
ser costumado a ouvir esse estilo de melodia. Vozes de cantores
latinos, reconheço Maluma e Jennifer Lopez, nas batidas de um
reggaeton, observo muitas pessoas na pista requebrando entre si,
com esses sons eróticos e quentes, será que ela dança isso com
alguém? Meu rosto endurece com o pensamento. Se ela dançava
com alguém, hoje não vai mais. Quem tocar nela essa noite, além
de mim, será um cara acabado.
O garçom aproxima-se e ela pede tequila, agora entendo por
que não bebeu no jantar. Eu, por outro lado, continuo no whisky, não
gosto de misturar.
— Você vem sempre nesse lugar? — pergunto.
— Sempre que posso, já falei que adoro dançar nesse clube,
você não gostou? — Ela notou meu maxilar tensionado.
— Não é isso, só achei um pouco informal demais, alguns
frequentadores usam roupas vulgares. — Ela ri.
— Não sabe o que é bom. Você ia me levar para onde? Um
clube de jazz? — indaga lambendo o sal antes de beber. Porra! Não
vou aguentar essa lambida outra vez.
— Algo assim. — Ela me encara e se aproxima provocando.
— Acha mesmo que combino com Jazz, Luke?
A tequila a deixou mais provocante, maliciosa como ela é no
Volcano, mas com a delicadeza da Stela que conheci.
Constantemente a pego olhando para minha boca, disfarça e
bebe um gole. Resolvo tomar a iniciativa, não vou deixar essa
oportunidade passar. Me aproximo do seu ouvido para falar baixinho
e fazê-la arrepiar como já o fiz antes.
— Você combina com tudo o que é bom, espanhola. — Stela
umedece os lábios e sorri.
— Você é um homem muito galanteador, Luke.
— Só expresso minha opinião. Já lhe disse o quanto está
linda hoje?
Entrelaço os dedos nos dela para sentir seu calor e ela o
meu. Meus lábios estão tão próximos do seu pescoço, que nenhum
esforço seria necessário para beijá-la.
— Obrigada, é muito gentil também.
— Não há mulher aqui que se compare a você, Stela. — Sua
pele arrepia, tirando de mim um sorriso satisfeito.
— Não exagere, você não deve ter olhado direito esse lugar.
Olhe quantas garotas bonitas na pista.
Solto sua mão tocando seu braço, delicadamente, tão suave
e quente. Me atrevo a beijar seu ombro nu. Stela gira a cabeça e
toca seu nariz no meu, sua respiração doce se mistura com a minha
acelerando numa preliminar deliciosa. O perfume que adoro me
convida a me aninhar em seu pescoço e repousar em meio aos
seus cabelos. O sopro quente do seu hálito de cereja com tequila é
quase um alucinógeno para os meus sentidos. Me embebedando
ainda mais da minha deusa sedutora.
— Garotas? Só tenho olhos para uma e ela não está na pista.
— Seu sorriso largo me brinda.
Mas quando vou beijá-la, começa uma música que ela gosta
e Stela levanta num salto quebrando o clima propositalmente. Porra!
Não é possível!
— Vem Luke, vamos dançar comigo lá embaixo?
— Não sei dançar essas músicas.
— Você quem sabe, eu vou e logo estarei de volta. —
Secando o copo, dá meia volta em direção a pista.
É isso mesmo? A atrevida me deixou plantado aqui e foi
dançar sozinha? Permaneço na cabine extremamente irritado, se
fosse qualquer outra, por menos que isso eu já tinha mandado pro
espaço. Ela tá me fazendo de palhaço? Não quero acreditar nisso!
Levanto-me para ter melhor visão da pista e observo ela
encontrar uma turma de amigas, e começar a rebolar aquele corpo.
Requebra na cadência do pop porto-riquenho sorrindo com as
outras garotas, alguns caras as cercam só apreciando as
dançarinas.
Não, caralho! Isso não! Desço descontrolado até a multidão
abrindo caminho feito uma locomotiva e paro dois metros atrás dela.
A princípio não me aproximo, limito-me a apreciar os movimentos
sensuais da mulher que me desafia. O corpo serpenteando lento no
compasso da melodia e eu só a imaginando rebolando isso tudo
sobre mim. Deve ser um vulcão. Então, quando percebo, estou
engatado com ela se esfregando manhosa em mim. Sim, me
aproximei e colei em suas costas deslizando com a abusada na
pista de dança.
Mas que merda eu tô fazendo? Devia tê-la deixado aqui e ido
embora. Não sou capacho de mulher nenhuma para aceitar o que
me fez há pouco. Entretanto, há algo dentro de mim que não
suporta a possibilidade de deixá-la nesse lugar ou em qualquer
outro sozinha. Um sentimento crescendo que ainda não quero
admitir.
CAPÍTULO 17

JLo[28] começa a cantar e o convido para dançar na pista,


Luke nega, diz que não gosta desse tipo de música. Pois agora é a
hora do teste final, não planejei, mas surgiu melhor que o esperado.
Nenhum homem gosta de ser abandonado sozinho, não um como o
CEO poderoso. Acho que meu lado sádico[29] quer fazê-lo sofrer um
pouquinho. Saio da cabine e vou encontrar minhas amigas no meio
da multidão animada, o balanço é contagiante, é caliente como diz
minha amiga Gia. Rebolo requebrando os quadris ao som porto-
riquenho e no meio da melodia procuro com meu olhar, a nossa
cabine e Luke se foi, está vazia.
Eu sabia que em algum momento o encanto se quebraria, e a
Cinderela ficaria sem o príncipe. Volto a dançar fingindo não me
abalar, afinal, pedi por isso. Tenho total consciência que exagerei,
mas foi melhor assim, aquele homem seria um estrago no meu
coração tão carente. É melhor aproveitar minha noite com meus
amigos.
Mais alguns acordes e o final da melodia sexy vai terminar,
olho para as minhas amigas e estão cada uma com um par
dançando. Os corpos juntos no mesmo compasso são bonitos de
ver, Gia me olha e pisca um olho marota. É isso aí, vai se dar bem
hoje, garota! Desvio o olhar de um homem ao redor de nós com um
cigarro de canela na boca me encarando. Apesar de apreciar o
aroma, não gostei de seu olhar descarado para o meu corpo. Jogo
meu cabelo para o lado acompanhando o movimento da música e
de repente sinto uma mão grande na minha cintura, me agarrando
possessivo e puxando-me contra seu corpo enorme e rígido,
dançando junto comigo. Sorrio reconhecendo o perfume de cedro. A
respiração quente em minha pele me faz estremecer e a voz grave
chega em meus ouvidos como um feitiço irresistível, ativando minha
excitação no último grau.
— Se soubesse que você rebolaria dessa maneira para os
outros, eu teria vindo quando você convidou. Rebola só para mim
agora!
No seu abraço movo meu corpo recostado ao dele, no ritmo
da música dançante, me esfregando sensualmente em um propósito
de sedução. Sinto seu corpo todo tenso e seu comprimento evidente
cutucando minha bunda. Luke ofega excitado, respirando próximo
ao meu ouvido e beijando meu pescoço e a barba curta roçando na
minha pele faz minhas pernas amolecerem e minha calcinha
umedecer.
— Vou degustar com minha língua cada pedacinho desse seu
corpo delicioso, e vou fazê-la chorar de prazer, espanhola.
Uau! Sinto o líquido grosso empapar o tecido fino de renda.
Me apoio em seu peito largo, agarrando sua mão entrelaçando
nossos dedos. Giro a cabeça para falar mais próximo:
— Vai ter que merecer para sua língua provar tudo isso, mi
cariño.
— Porra mulher! Não me desafie. Vamos voltar para o
camarote, ou ergo seu vestido e me enterro em você aqui! Não vou
suportar Stela, tô avisando.
Deixo-o me conduzir de volta à cabine com um sorriso de
vitória que não cabe em mim. Afinal o pobrezinho passou no teste,
merece um crédito. Meu riso aumenta quando ele tenta se
acomodar na poltrona, ajeitando a ereção com uma careta enquanto
se senta perto de mim.
— Culpa sua — diz ele.
— Você que se esfregou em mim lá na pista. — Ele agarra
minha mão tentando puxar.
— Sério Luke, vai querer que eu sinta sua ereção? Estou
vendo.
— Jamais a trataria de maneira tão indecente, Stela! Você vai
pegar meu pau por livre e espontânea vontade. E vai gamar nele.
Abusado! O que ele vai fazer com a minha mão?
Desisto de resistir. Se não é o seu pau que quer me mostrar,
a curiosidade me impulsiona a ceder. Luke leva a minha mão
lentamente por dentro do botão aberto da camisa social e pousa
firme sobre o seu coração, demonstrando o quanto está acelerado.
Sinto os batimentos. Estão afoitos, uma batucada só. Gosto da
sensação sob meu toque. Me excita vê-lo alterado por mim.
Sorrindo, aproveito o pequeno deslize da minha palma em seu peito,
e confirmo o peitoral proeminente de quem malha religiosamente
para manter o corpo gostoso, oh, Deus, que homem é esse!?
— Meu coração está assim acelerado desde que te vi nesse
vestido, e você me provocando dessa maneira, não vou aguentar
muito tempo.
Desliza as costas da mão em minha coxa com a confiança de
quem não será repelido, adentrando pela fenda do vestido,
respirando pesadamente e acaricia devagar sentindo a maciez da
minha pele. Um calor me envolve começando pelas extremidades e
se alojando em meu ventre. O homem perfumado se achega mais
colando seu corpo no meu, me vejo quase sentada em seu colo. E o
sedutor continua seu ataque profissional, falando com sua voz
máscula e rouca no meu ouvido. Me fazendo desejar realizar as
mais devassas fantasias que permeiam minha mente nesse
instante. A mão abusada acaricia a parte interna da minha coxa me
fazendo ofegar audivelmente, ansiando que avance rápido.
— Desde que reparei nessa fenda e tentei recordar o seu
gosto, é esse descompasso que você provoca em mim, Stela,
nenhuma outra fez isso. — Roça os dedos lentamente na renda da
minha lingerie úmida e continua no meu ouvido com a voz sedutora,
falando coisas que nenhum homem me disse até hoje.
— Como se diz ‘te desejo’ em espanhol?
— Te... quiero. — Minha voz não passa de um murmúrio
vacilante.
— Te quiero. Quero você, Stela. Quero lamber você
inteirinha. Me enterrar em você e vê-la rebolar no meu caralho, até
perder os sentidos.
Eu tento, juro que tento controlar minha respiração, mas é
impossível. Estou excitada pra caramba e não consigo disfarçar.
Seu toque sob a renda da calcinha me desestabiliza e me vejo
apertando o punho na poltrona de veludo, mordendo o lábio para
não gemer.
— Tá molhada para mim, gostosa?
Deus! É torturante essa voz baixa no meu ouvido enquanto
sinto minha lubrificação aumentando a cada segundo. Inclino minha
cabeça e encontro algo firme de apoio, seu ombro. Luke cheira meu
pescoço, roçando o nariz e lábios na minha pele sensível, tirando
um gemido baixo de meus lábios desejosos.
E meu coração quase sai pela boca quando um de seus
dedos brinca com a borda da calcinha, fazendo meu instinto abrir
um pouco mais as pernas para lhe dar total acesso.
— Porra! Tô maluco pra me queimar nesse fogo, Stela. Está
sentindo como me deseja?
O sedutor desliza dois dedos pela minha fenda úmida
deixando escapar um gemido áspero delicioso de homem que sabe
o que faz. Me controlo para não rebolar na poltrona e demonstrar o
desespero em ser dele, porém Luke não alivia. Então sorrio sentindo
uma mordidinha no meu lóbulo. Mordo mais o lábio quando seu
toque encontra meu clitóris e começa a massagear lentamente
tirando meu fôlego num impulso de me remexer em seus dedos.
— E essa boca linda não vai gemer pra mim? — pergunta ele
lambendo os próprios lábios.
É arrogante, atrevido e ardiloso, mas é o homem que eu
quero.
— Minha boca prefere agir — consigo murmurar antes de
tomar os lábios carnudos dele, tão próximos aos meus.
O abusado estava aguardando por isso, pois me oferece um
sorriso perversamente sacana. Me devora possessivo e dominante.
Deliramos num beijo louco de tesão que há tempos esperávamos;
ávidos, esfomeados e indecentes. Chupo a língua dele numa
simulação do que o aguarda, ele gosta tanto que deixa escapar um
gemidinho tão sexy que me arrepia inteira. Em seguida, morde meu
lábio até quase a dor de tão urgente. Estamos pegando fogo no
amasso sobre a poltrona do camarote. Umedeço seus dedos com
minha excitação e ele rosna em meus lábios, me segurando firme
pela nuca e me beijando como um louco. Puxa meu cabelo sorrindo
na minha boca.
— Tá louca pra me dar, não tá, minha delícia?
Ah, meu Deus! Como resistir? Não vou, não quero resistir a
esse delírio de criatura.
O homem mordisca minha boca me olhando, fazendo meu
corpo arder em desejo por ele.
— Vai me dar gostoso, não vai?
— Ah... Luke!
Rapidamente ele afasta os dedos da minha umidade e leva à
própria boca, alçando um canto dos lábios em um sorriso satisfeito
enquanto me prova em deleite.
— Está na hora de acabar com essa tortura, espanhola! —
Segura meu queixo com firmeza para não desviar de sua
aproximação. Roça seus lábios nos meus sem beijar, apenas para
retribuir a tortura, e o efeito é bem eficaz. — Prometo ser bonzinho
se sairmos desse lugar agora. Para onde vamos? — Segue
beliscando meus lábios com os dentes, mas ainda assim não me
permite beijá-lo. Hipnotizada pelo homem dominador dos meus
desejos, respondo num sussurro:
— Minha casa.
CAPÍTULO 18

Dentro do veículo, Luke segura minha mão num carinho


cúmplice, às vezes a beija enquanto falamos sobre a trilha sonora
da estação local. Seus olhos escuros têm um brilho intenso e
convidativo ao me presentear com rápidos olhares enquanto guia
até minha casa. Minha mente ainda questiona se o que estou
prestes a fazer não será o maior erro que cometerei nesse país. No
entanto, meu corpo clama por Luke e preciso admitir que não é de
hoje. Talvez toda a minha luta contra meus receios e inseguranças
será testada realmente pela primeira vez, desde que me permiti
viver minha sexualidade sem amarras naquele clube. Essa noite
preciso apenas ter consciência de que devo deixar de fora o meu
coração nesse envolvimento.
Ao desligar o motor em frente à minha casa, Luke pede que
aguarde para abrir a minha porta. É um pouco exagerado esse
cavalheirismo, porém ele fez isso desde a primeira saída,
provavelmente é hábito. Observo o SUV de sempre estacionado a
metros da nossa traseira e reconheço o motorista particular do meu
acompanhante.
— Vai dispensá-lo? — questiono ao pegar a chave da porta
dentro da bolsa de mão.
Ele se aproxima arrumando uma mecha do meu cabelo atrás
da orelha.
— Depende de você, Stela. Devo dispensar George?
Me equilibro na ponta dos pés e capturo seus lábios,
juntando-me à parede de músculos e beijando o lindo sedutor que
me enlaça em seus braços. Ao me afastar observo seus olhos
totalmente negros de luxúria e seu meio sorriso de lado.
— Essa resposta é suficiente para você? — Agora o sorriso é
completo.
Imediatamente ele pega seu celular enquanto me direciono a
abrir a porta. A ordem foi dada, pois o som do motor do SUV
desaparece partindo rapidamente.
Ao entrar, Luke observa a decoração de conceito aberto que
é o meu espaço. Sala e cozinha juntos é mais prático e moderno
para minhas necessidades.
— Meu loft é igual ao seu — diz ele ao me ver indo em
direção a cadeira.
— Duvido muito, como pode ver, não tem o padrão de uma
residência de um CEO bilionário.
— Quis dizer sobre o conceito aberto na decoração. O que
vai fazer? — pergunta ele ao me ver sentando na cadeira de aço
escovado.
— Só preciso aliviar meus pés e tirar essas sandálias.
Desculpe se fui indelicada, quer beber algo?
Me surpreendo com a rapidez com que o homem se
aproxima e se inclina segurando meu pé.
— Deixa que eu faço isso.
Desata as fivelas do meu salto tirando e massageando meus
pés com cuidado, fecho os olhos por um instante tamanho alívio
pela carícia.
Stela, você tá ferrada! Que homem de conto de fadas é
esse? Pisco rápido saindo do transe ilusório dos meus pensamentos
quando Luke entra com o corpo entre minhas pernas. Me cheirando
e conversando baixo.
— Sobre a bebida...
— Sim, posso providenciar...-
— Vou beber você, Stela. Só você pode aplacar minha sede.
E a batucada no meu peito explode como fogos de artifício e
num impulso enlaço seu pescoço devorando sua boca como se
fosse meu doce predileto. Luke me faz levantar da cadeira e me
sinto ainda menor sem o salto quinze. Minhas mãos ansiosas
desabotoam a camisa branca de maneira frenética. O perfume
masculino de cedro e tabaco me envolve num torpor sensual. Adoro
esse perfume. Meu vestido é retirado rápido enquanto aliso seus
bíceps e peitoral e constato como sua pele é macia e quente. Posso
afirmar, que está ardente ao meu toque. É o corpo mais lindo que eu
já vi, desenhado caprichosamente por Deus. Grande, rígido e
lisinho. Depois que as peças maiores vão ao chão, os beijos
esfomeados retornam.
O momento poderia ser sublime? De jeito nenhum! Estamos
loucos de desejo, os dois seminus no meio da casa, em meio a
bocas e mãos ansiosas. Seus braços me suspendem como se eu
não pesasse nada. E sob o domínio do desejo, nos beijamos pelos
metros de corredor em direção ao meu quarto ao meu comando de
direção. Ao entrar não toco no interruptor, pois as persianas
abaixadas deixam o ambiente a meia luz. Agradeço internamente
por fazer a cama antes de sair. Troquei os lençóis e arrumei de
modo impecável. Inconscientemente, meus planos de trazê-lo para
cá já estavam delimitados na minha cabeça.
Quando ele se acomoda sentado na minha cama comigo
montada, seu abraço é delicioso. Me sinto tão bem envolvida pelos
braços musculosos e as mãos me apalpando que começo a rebolar
sobre ele. Luke é gigante, preciso ir com calma, porque o tamanho
que sinto cutucando minha boceta sobre a calcinha é
surpreendente. Em meio aos nossos gemidos lembro do
preservativo, afasto-me por um instante em direção a gaveta do
criado mudo próximo a nós.
— Seu quarto tem o seu cheiro. — comenta ele ao me ver
sacar o pacote laminado da gaveta.
— E você gosta?
— Adoro.
Deixo o invólucro sobre a cama e me aproximo.
— Você não toma pílula? Eu estou limpo.
— Claro que tomo, estou limpa também, mas nós vamos
usar, sim, Luke.
— Ok, Stela, como quiser.
Agora em pé consigo observar a ereção escondida sob a
cueca boxer preta. Isso fará um estrago delicioso!
— Posso tirar sua cueca?
Seu sorriso safado apoiado com as mãos no colchão o faz
parecer mais jovem do que é.
— Toque somente no tecido.
Ele está jogando comigo? Abusado! Arrogante! Gostoso
miserável!
Obedeço puxando as bordas do elástico escuro e livrando o
gigante do pano. Seguro a surpresa pela robusteza da obra de arte
repleta de veias, dura feito rocha e brilhante pela ansiedade
escapando na cabeça inchada. Ao olhar de volta seu rosto, deixo o
meu sorriso safado dançar em meus lábios.
Luke me deu uma ordem velada para só mexer na cueca ao
retirá-la. Acho que ele não entendeu a dinâmica dessa noite. Sem
dar tempo de reação, circulo com minha mão o pedaço enorme de
carne, massageando com uma lentidão sensual, encarando o
arrogante gostoso que apenas respira pesado e me espreita como
um predador.
— Tinha certeza que você não obedeceria — fala ele com
seu sorriso sedutor.
Me inclino mordendo seu lábio enquanto minha mão desliza
em um vai e vem torturante. Desço os beijos para o ossinho do
pescoço dele, tenho uma queda por essa parte masculina. Chupo o
pomo de Adão e arranho os dentes enquanto aperto o volume em
minha mão.
Luke libera pequenos silvos e gemidos de deleite implorando
com sua voz rouca para que eu não o torture.
— Stela… ah! Não quero gozar na sua mão.
Continuo distribuindo beijos molhados no pescoço, sorrindo
pelo descontrole do abusado.
— E na minha boca… você quer? — Minha nuca é agarrada
com rapidez e sou conduzida para beijá-lo. Luke fala enquanto me
devora.
— Quero tudo com você, Stela, mas no momento sentar no
meu caralho é a única coisa que vai acalmar essa loucura que você
despertou em mim.
Me alcança a proteção laminada e olha dentro dos meus
olhos com uma intensidade que me faz obedecer sem questionar ou
provocar. Uau! Que sensação estranha! Só desejo fazer o que ele
quer.
Rasgo o pacote, excitada e apavorada ao mesmo tempo.
Hipnotizada pela magnitude grossa acima da média. Com veias
salientes e uma cabeça gorda e bonita. Queria chupar essa
escultura até gastar. Mas sei que teremos tempo para tudo o que
quisermos depois. Sob seu olhar vidrado acompanhando meus
movimentos encapo com o preservativo o pau gostoso, minha mão
quase não fecha a circunferência, no entanto, disfarço muito bem o
deslumbre pelo tamanho. Mas também o que eu queria? Um metro
e noventa de puro tesão em um homem, o pau tinha que ser
fenomenal.
— Posso pedir uma coisa? — Sua voz desce um tom e a
rouquidão acentua de maneira sexy.
— Pode.
— Quero ver você tirar a lingerie para mim.
Ando um pequeno passo para trás e me livro da calcinha
vermelha. E rápido desato o sutiã também, pois não lembro de ter
feito desse modo para nenhum homem. É tão exposto e, ao mesmo
tempo, íntimo, que tento não pensar no porquê desse pedido.
Ao ficar totalmente nua, Luke pede um instante para me
olhar, porém, a pequena insegurança, me deixa apreensiva. Uma
porcentagem mínima de mim tem vergonha do que ele está vendo.
Entretanto, mesmo relutante, fico parada diante dele enquanto me
observa com total fascínio, olhando dos pés à cabeça, umedecendo
os lábios com a língua atrevida, parecendo se preparar para um
delicioso jantar.
— Vem cá, delícia.
As mãos enormes passeiam pelo meu quadril agarrando
minha bunda e apertando forte. Me apoio em seus ombros ao ser
conduzida para sua boca. E a língua fervente no meu ventre
distribuindo beijos molhados nas minhas poucas estrias me faz
relaxar. O modo como me olhou a pouco deu total certeza que
gostou do que viu.
Cada movimento cuidadoso que Luke usa para explorar
minha pele proporciona ondas de arrepios pelo meu corpo inteiro.
Seu olhar me venera, nunca recebi esses olhares na vida. Parece
que sou a mais linda das mulheres da face da terra.
— Adorei os piercings, nunca tinha visto algo combinar tanto
com alguém.
Penteio seus cabelos escuros com os dedos, tirando um
sorriso lindo da boca desenhada.
— Você… é muito perfeita, Stela — sussurra ele. — Perfeita
para minha boca e para o meu pau.
Sua língua retorna deixando um rastro de fogo até meus
seios. Por segundos ainda os contempla, fascinado, afogando-se
em seguida em meus mamilos eriçados. Lambendo e roçando o
rosto barbado neles, faz minha pele formigar e sinto minha
temperatura corporal se elevando, assim como os suaves gemidos
que escapam de meus lábios. Pareço estar no meio de uma
fornalha acesa e sua língua é a labareda que me consome pouco a
pouco. Delicia-se com as curvas dos meus quadris, cravando as
mãos nas minhas polpas em um sinal de que está no limite. Nossa!
No momento que eu sentar vou explodir em prazer.
Luke suspira, geme baixo e rouco, fazendo meu tesão
subir às alturas, abocanhando cada seio, sugando-os e deixando
suaves mordidas.
— Serei um anjo esta noite, mas se quiser o diabo, basta
pedir.
Tô ferrada! Que miserável sedutor!
— Ahhh! — Sem inibição alguma, meu gemido ressoa pelo
quarto delirando de desejo, querendo aplacar minha necessidade
quando Luke aumenta o ritmo da carícia, me deixando
completamente entregue à luxúria.
Agarro com força seus cabelos sentindo os choques no meu
sexo a cada chupada e a cada mordida na pele. Enlouquece-me
com a língua percorrendo meu corpo, descendo pelo umbigo
totalmente inclinado, me mantendo na jaula de seus braços
musculosos. A promessa de me lamber inteira tem seu ápice ao
deslizar e encontrar minha fenda úmida. Beija e chupa com
maestria, mas preciso de algo maior que a língua para saciar a
necessidade que pulsa em meu ventre.
— Luke?
Já não suportando mais, afasto seu rosto da minha boceta e
o vejo lamber os lábios em delírio. Monto em seu colo e ponho seu
pau na estrada molhada e sob seu olhar hipnotizado, vou deslizando
lentamente na enorme grossura que tanto desejo, me acomodando
cuidadosa com ele apertando minha bunda em delírio. Ah céus!
Como é grande!
— Adoro esse seu gosto, puta merda! Preciso de mais
tempo, quero sentir você se desmanchando na minha língua…!
Geme alto, cheirando meu colo e pescoço, lambendo e
deixando chupadas violentas, enquanto deslizo empalada, arfando
de prazer misturado com o ardor de sua grossura.
— Dou o tempo que quiser, mas agora preciso que me foda
forte!
Seu rosnado se mistura com o som da minha voz que se
torna mais e mais sonoro à medida que o comprimento enorme me
dilata e preenche.
Mesmo deslizando com facilidade é muito grande,
proporcional a ele, e nunca fui penetrada por algo tão volumoso.
Olho no olho, pegada na nuca, mordida na boca, ó Dios! O homem
vai acabar com minhas barreiras!
Após acomodar seu comprimento totalmente dentro de mim,
começo a cavalgar de modo lento, apreciando cada centímetro que
entra e sai de mim.
— Issoooo... Assim Stela, ahhhh!
Ele agarra meu quadril com as duas mãos, ajudando no ritmo
que quer. Sinto meu corpo completamente preenchido. Os sons que
ele faz são tão estimulantes que rebolo mais para extrair gemidos
intensos e palavrões da boca suja, que me lambe e beija com
devoção. Luke agarra meus cabelos lambendo meu pescoço,
incendiando meu corpo inteiro.
— Está me deixando doido, delícia! Essa boceta é dos
deuses!
Seu corpo compreende o meu e acompanha o ritmo como se
reconhecesse um ao outro. Me aperta possessivo, mordendo meu
pescoço e tecendo inúmeros elogios sacanas, o mais comum é que
sou gostosa pra caralho! É insano o jeito que ele geme contra mim,
a rouquidão sem pudor, quente como o inferno. Meus cabelos são
guiados pela mão firme que agarra e puxa, para que o beije como
deseja enquanto danço sobre ele. Sinto o orgasmo se construindo
em meu interior, as extremidades formigando e por Deus! Faltam
palavras para descrever a sensação, preciso me segurar nele para
não desabar tamanha a intensidade. Sinto flutuar numa tempestade
de emoções e êxtase. Ondas de prazer se formam e ganham força
em meu íntimo a cada estocada do homem viril, e quando a
excitação cresce em um nível inimaginável, Luke incrementa meu
prazer puxando com mais força meu cabelo, fazendo arquear o
corpo e oferecer meu seio novamente a sua boca faminta. É uma
descarga elétrica de sensações que me faz rebolar sobre ele
ensandecida, até eliminar qualquer pensamento racional e restar
apenas o orgasmo selvagem e pulsante.
— Ah!... Luke!
— Mais… grita meu nome, Stela!
São intensos os meus espasmos apertando, pulsando sua
carne.
— Luke!
Ele tensiona o maxilar se esforçando em reter seu gozo. Luke
quer prolongar. Ouço alguns palavrões enquanto ainda estou em
transe. Quando me acalmo totalmente, ele gira tombando meu
corpo no colchão, se pondo de joelhos e erguendo meu quadril para
enterrar novamente. E agilmente me apoio nos cotovelos, assim ele
tem acesso e eu visão total enquanto o encaro. Quero ver sua
ferocidade enquanto me possui, a que vi naquela sessão enquanto
flagelava a garota na cena que me homenageou. É o mesmo rosto
sexy de dominador experiente. Empurra sem dó, duro, golpeando e
me sugando, mordendo e apertando todos os lugares alcançáveis
nessa posição. Mete de um jeito que atinge um ponto exato dentro
de mim que explode uma nova maré de sensações em uma onda
orgástica ainda maior, me fazendo remexer o quadril descontrolada.
Desfaço a polidez da arrumação dos lençóis em meus punhos ao
amassar o tecido enquanto me desmancho em prazer.
— Ah, Dios mio! — grito misérias não me importando se os
vizinhos ou quem quer que seja estão ouvindo.
Ele libera o êxtase também nesse momento, sinto o pau
bombeando dentro de mim, me estirando ainda mais ao socar até o
fundo a última arremetida e sua voz estrondosa urrando meu nome
é uma loucura de se ouvir.
— Stelaaaaaa.... Caralho de mulher gostosa!
Desaba sobre mim suado e ofegante por alguns instantes
até recobrar o fôlego. Também estou suada e exausta, mas é o
melhor cansaço que já senti.
Luke é um cavalheiro até na cama, pois pede desculpas pela
rapidez e diz que logo vai compensar. Seus beijos delicados são
como se quisesse agradecer, sinto o salgado de nossos suores nos
lábios cálidos. É tão gentil que me derrete com suas mãos
deslizando suavemente sobre meu corpo, enquanto me olha nos
olhos sorrindo. Nossa que loucura essa conexão!
Não me arrependo nem um pouco de ter cedido a esse
homem, pois de longe foi a melhor transa que já tive. Luke sabe
exatamente como me pegar e onde tocar para me deixar no ponto
em segundos. É surreal! Fora que o jeito que me trata, parece
adorar cada pedacinho do meu corpo.
Nossa noite segue no mesmo ritmo louco, não sei quantas
vezes um corpo feminino consegue gozar, mas entre banho e cama
meus pontos sensíveis são acariciados e lambidos até a exaustão.
Luke é insaciável e sabe o que faz, eu, por outro lado, disperso os
pensamentos confusos apenas para curtir a noite.
Há quanto tempo não tinha um desses? Acho que nunca um
homem mexeu tanto comigo. Espero que consiga separar essa
atração avassaladora de qualquer sentimento. Se eu me apaixonar
por esse arrogante gostoso, tô ferrada!
CAPÍTULO 19

Acordo com um cheiro delicioso de comida, que invade o


corredor até o quarto. Estou ainda deitado na cama dela, pensando
que a noite superou minhas expectativas. Quando poderia imaginar
que dormiria em sua cama, e sentiria os aromas da sua casa ao
acordar, e me deliciaria um pouco mais em sua companhia?
Bem, moro sozinho, então posso me dar ao luxo de dormir
fora quando eu quiser sem dar satisfação a ninguém, mas se me
dissessem a um mês atrás que estaria neste lugar, com todo este
despojamento, eu duvidaria.
Ela foi difícil até o fim, mas quando se entregou, porra! Que
mulher! Não tô com a mínima vontade de deixar o aconchego dos
lençóis perfumados. Queria esperar a dona da casa voltar para
cama, mas acho melhor ver o que está acontecendo naquela
cozinha. Confesso que meu estômago está implorando por algo. Um
café da manhã com panquecas seria um sonho, será que ela
cozinha tão bem quanto fode? Soa um pouco machista, entretanto
seria a mulher perfeita. Boa de cama e de cozinha. Acho graça de
mim mesmo e me condeno por pensar assim.
Depois de uma ida rápida ao banheiro, me escoro na soleira
da porta que dá acesso ao cômodo cheiroso, observando a melhor
paisagem que eu poderia apreciar essa manhã. Stela com uma
blusinha minúscula e uma calcinha de babados rosa que se não
estivesse lindamente enfiada entre as almofadas perfeitas, seria
juvenil de tão delicada. Stela me apresentou um corpo e um charme
que me seduziu muito além de uma simples foda. Ela parece me
compreender como nenhuma outra mulher fez antes. Trouxe
sensações das quais não havia experimentado ainda e com tudo
isso, uma bagunça enorme em minha cabeça com tantas
novidades. Seus movimentos naturais pela cozinha conseguem
acordar meu corpo inteiro. É demais só observá-la, preciso tocar,
abraçar, senti-la grudada em mim.
Avanço a passos lentos admirando a linda escultura e a
enlaço pela cintura, deixo-a sentir como estou pronto para ela.
Agora não tenho medo de parecer tarado, porque ela é a culpada.
Beijo sua nuca e pescoço vendo-a arrepiar, delícia de resposta ao
meu toque.
— Bom dia, linda!
— Bom dia, dormiu bem?
— Como um bebê. O cheiro está ótimo, o que tem aí?
— Não haverá nada de bom se você não parar de me distrair.
— Desgrudo dela e vou para mesa.
— Gosto de ser alimentado por você. — O olhar divertido e
segurando o riso pelo duplo sentido me anima mais que a refeição
em si.
— Pensei que você quisesse comer antes de ir.
— Não vou a lugar algum. — Surpresa, Stela arregala os
olhos em minha direção. — Exceto se queira que eu vá embora,
mas não tenho planos para o fim de semana, pensei em ficar.
— E se eu tiver algum compromisso?
— Você tem? — Ela começa a arrumar a mesa, percebo que
ficou pensativa na resposta.
— Já lhe disseram que você é muito abusado? — A mulher
sabe tirar gargalhadas de mim. Ponto para ela.
— Não, uma moça bonita uma vez me disse que sou
presunçoso, vejo que minhas qualidades estão aumentando. — Seu
riso divertido me distrai, é um som lindo. Stela se aproxima com um
prato de panquecas, balançando a cabeça.
Em seguida chega o bacon, omelete, pães, geleia e um café
fresquinho, pareço um garotinho na manhã de Natal. Arrasto a
mulher perfeita para o meu colo, e roubo um beijo caprichado.
— Sério Luke, não tem nada para fazer nessa casa simples e
sem acomodações luxuosas como deve ser acostumado, você vai
se entediar.
— Verdade que não tem nada para fazer aqui? — Toco o seio
sobre a blusa delicada de algodão e sorrio sedutor sentindo o efeito,
Stela não vai se livrar de mim tão facilmente.
— Vamos passar o final de semana inteiro como dois
coelhos?
— Entre outras coisas, só vou embora se me disser que
cansou da minha companhia.
— Não é isso...
— Então relaxe, Stela, não seja tão séria. Vamos nos divertir
juntos, somos bons nisso.
— Certo. Seu café vai esfriar, melhor comer.
— Você não me acompanha?
— Tomei café quando retornei da caminhada.
— Que horas foi isso? Você saiu e não avisou seu hóspede?
E se eu acordasse sem você aqui? — Seu olhar misterioso me
brinda demoradamente.
— Meu exercício é sagrado, clareia minha mente. E meu
exausto hóspede estava num sono pesado, não ia acordá-lo às seis
horas da manhã. — Stela se levanta e vai em direção ao quarto.
— Ei, por que não fica enquanto saboreio este maravilhoso
café?
— Ouvi notificações no meu telefone, tenho que responder,
pode ser meu pai. Ele não gosta de vácuo nas mensagens, preciso
falar com ele.
— Pegue o telefone e responde daqui, não quero comer
sozinho. — A careta de insatisfação é nítida estampada em minha
face.
Por que desejo avidamente uma companhia para o café da
manhã, quando meu hábito é sempre o oposto? Talvez porque seja
a companhia dela que me é tão desejável. Stela finge que não ouve
minha ordem, mas volta, e quando vai se sentar na cadeira eu
reclamo.
— Aqui! — dou um tapinha na minha perna. E ela revira os
olhos obedecendo.
— Você não tem mais idade para revirar os olhos, mocinha —
A risada alta que se segue ao obedecer a meu comando e ser pega
travessa revirando os olhos faz meu peito estufar, adoro esse som.
Pretendo ouvir mais vezes.
— Desculpe, não consigo me livrar dessa mania.
Enquanto ela responde às mensagens do pai, eu devoro
minha refeição, realmente ela cozinha muito bem. Durante as
garfadas medito no que estou fazendo. Já percebi que é mais que
uma foda. E agora quero descobrir o que é essa confusão de
sentimentos novos. Quando termino a refeição, minha musa ainda
está ao telefone. Agradeço o café da manhã delicioso, ganhando um
sorriso e um avental.
— A louça é toda sua, gato.
— Lavo com prazer só pelo elogio. — me encaminho para a
pia, iniciando rapidamente a tarefa.
— Por favor Luke, como se não soubesse o homem bonito
que é, deve ouvir isso toda hora!
— Nunca tinha ouvido da sua boca um elogio, gostei de
saber que você me acha bonito. — Stela vem da poltrona e começa
a beijar minhas costas, arrepiando cada pelo do meu corpo, fazendo
transmissão direta com meu pau, enquanto lavo louça.
— Já que o CEO gato precisa de afirmação, saiba que você é
bonito, gostoso, bom de cama e... — desata o avental e por dentro
da cueca segura meu pau pronto. — Enorme... — Um sorriso
surpreso e contente brota nos meus lábios pela maneira relaxada
que age.
Giro com ela acariciando minha extensão, sorrindo.
— E você é uma espanhola tarada. — Stela sorri.
— Sabe o que essa Espanhola tarada deseja?
— Fala em espanhol o que é, não vou entender muito, mas
deve ser sexy para caralho, você falando. — Nunca vi um sorriso
tão satisfeito quando faço esse pedido
— Quiero chuparte la polla. Quiero que me folles la boca
hasta llegar.[30] — Porra! Isso é muito excitante!
— Não entendi mesmo, mas quero tudo isso! — Stela morde
o lábio inferior, fracassando em esconder o sorriso de menina
sapeca e me olha com seus olhos de felina, ajoelha-se e, então,
compreendo. Não lembro de alguém ter feito um oral tão bem-feito
como ela está fazendo, não sei se é porque esperei tanto por isso,
ou porque estou tão envolvido que as recordações das outras
sumiram.
Quando sua boca encontra meu pau quente e duro,
deslizando, absorvendo inteiramente, englobando-o em cada
sucção, me vejo hipnotizado com a visão. É um controle absurdo
para me enlouquecer, o movimento é lento e constante, até que ele
sai da boca dela brilhante de sua saliva com um leve estalo e depois
sua língua o envolve por completo. Seus olhos concentrados me
observam com total desejo, e me sinto um rei com a mais bela
consorte ajoelhada me dando prazer. Minha respiração se arrasta
pela boca e quando Stela suga a cabeça rodando a língua em uma
carícia molhada, sinto o pré-gozo escapando apressado. Ah!
Caralho!
Me domina por completo, nesse momento minhas pernas
fraquejam e me vejo apoiado na pia. Conduz tudo para culminar em
sua boca, somente agora quando com sua forma de sugar me
permite terminar.
— Minha orquídea tarada! — murmuro assim que ela levanta
e a puxo para um beijo de gratidão. Ser brindado com tamanho
espetáculo prazeroso é necessário agradecer. Mas vejo em seus
olhos a satisfação por me ter dessa maneira, atordoado apoiado em
sua cozinha.
Como é possível possuir esse poder sobre mim? Penso até
que poderia me apaixonar por ela, mas Stela se mostra tão distante
em alguns momentos, que chego a duvidar que possa corresponder.
Após me sentar na poltrona em silêncio para recuperar minhas
forças, admiro seus movimentos em guardar as sobras no
refrigerador:
— Stela, ainda estou com fome! — Ela gira constrangida.
— Desculpe, guardei a mesa sem perguntar se queria mais.
Por que não disse? Fique à vontade, fiz bastante coisa.
— Não é disso que estou falando. — Seus olhos apertados e
o sorriso matreiro são meu estímulo.
— Hum... Quer que eu te alimente, grandão?
É, preciso acostumar com o sorriso dançando em meus
lábios. Ela faz isso, me deixa bobo.
— Quero muito.
— Acha que merece? — pergunta tirando a própria roupa
devagar, e avançando como uma predadora. Não canso de admirar
os seios lindos com as joias, meus lábios são automaticamente
umedecidos e minha boca enche d’água. Stela me puxa pela mão
se esfregando no meu corpo, me ligando no 220v outra vez.
— Vou fazer por merecer, prometo minha orquídea.
Ela sorri tão genuinamente pelo apelido que pretendo chamar
outras vezes. Num gesto sedutor me conduz para o quarto, e me
beija antes de me empurrar para o colchão. Adoro seu beijo, é
quente, molhado na medida, e os lábios são tão macios que sinto
uma vontade louca de morder. Stela é toda deliciosa, seu corpo
inteiro me seduz, é meu espetáculo particular e seu cheiro de cereja
é dos deuses. Me farto apertando a bunda redonda com vontade,
enquanto deslizo beijos molhados e leves mordidas em sua pele.
Penso que a atitude na cama, a maneira que se entrega e domina, o
jeito que cavalga poderosa sobre mim, encaixando-se perfeitamente
em meu corpo é o que mais me fascina. Espontânea, charmosa e
segura do que quer, porra, meu pau até dói em necessidade.
— Fala em espanhol para mim, minha linda?
— Fóllame, Luke, me encanta la forma em que me atrapas.[31]
— Meu Deus, mulher! Vai me enlouquecer desse jeito!
Não há como resistir a isso!

Passei o sábado todo desfrutando de seu corpo e sua


comida, estou tão absorto no mundo dela que esqueci que há vida
fora dessa casa. Despistei minha mãe no telefone mentindo que
estou fora da cidade, para o meu alívio não era assunto grave que
precisasse sair daqui. Dona Soraya queria me empurrar a tal Christy
em um novo jantar organizado por ela, não dei brecha para
remarcar. Na verdade, não penso em sair dessa casa. Até solicitei
ao meu motorista para pegar uma muda de roupa na minha casa,
para não ir embora.
— Vamos pedir algo para comer ou você gostaria de sair? —
pergunto trocando os canais da tv.
— Já cansou do meu tempero?
— Não, tô te dando uma folga, prefiro que suas mãos se
ocupem de algo mais interessante que satisfazer meu estômago. —
Ela aceita feliz meu argumento.
— Prefiro pedir algo se não se importa, Luke.
— Ótimo, podemos ver um filme depois, o que acha? — teclo
um pedido no aplicativo do celular.
Ela me olha segurando o riso, não vou admitir que não quero
dividi-la com ninguém nessas saídas.
— O que aconteceu com os coelhos?
— Achei que você pudesse estar cansada.
— Acho que é você que está cansado e não quer admitir.
— Nem pensar.
— Que pena, sei fazer uma massagem bem estimulante.
A voz arrastada é um convite irrecusável, meus olhos se
voltam para ela no mesmo instante. Stela está na ponta dos pés
guardando copos no armário de cima da pia somente de lingerie. É
linda pra cacete!
— Mas já que não está cansado, não há necessidade de
massagem, não é? — fala sem me olhar. Ah! É um jogo?
Imediatamente saio da poltrona e vou até onde ela está,
agarrando o corpo macio, tirando-a do chão e ouvindo suas
gargalhadas.
— Pensando melhor, estou um pouco cansado sim.
— Ah é?
— Pra dizer a verdade, estou exausto. — Meu teatro parece
um dramalhão de novela. Seus olhos em fenda dizem que não será
tão fácil ganhar a massagem agora.
— Quer dizer que quer a minha massagem?
— Quero, preciso, na verdade. — respondo animado.
Ela alisa meu peitoral com cuidado.
— Hum... — bate seu dedinho no queixo me encarando
orgulhosa. — Neste caso terá que se esforçar para ganhar.
Safada, ardilosa, minha Domme sedutora! Bem, eu sabia
exatamente onde estava me metendo. Sorrindo, agarro seu pulso
puxando-a para mais perto.
— Stela, conceda uma massagem para esse pobre mortal
que necessita dos seus cuidados? Prometo uma recompensa
deliciosa depois. — Observo ela se arrepiar com meu apelo ao pé
do ouvido e um risinho baixo de satisfação.
— Um, “por favor”, seria adequado.
Mandona gostosa! Mordo o lóbulo da orelha, chupando em
seguida e soprando a palavra.
— Por favor…
Acho que ouvi um gemidinho, sorrio satisfeito.
Girando em seus pés, Stela me arrasta de volta para o quarto
me fazendo deitar de bruços, toda autoritária. Tira minha calça de
moletom e se direciona para o aparador de gavetas.
— Oh!
Sua surpresa me faz explicar a companhia que ela terá a
partir de hoje.
— Desculpe mudar a decoração do seu quarto. Mas nossa
orquídea estava triste naquela sala. — Stela gira rápido para me
olhar, mordendo o lábio, impedindo seu sorriso.
— Falei que não sabia cuidar de plantas. Mas por que essa
mudança de cômodo?
— Ela adora o sol da manhã e bem, seu quarto tem mais
vantagem nisso do que sua sala. — Stela volta a atenção para a
gaveta e de costas para mim, pergunta:
— É por isso que se referiu a ‘nossa’ orquídea? Por cuidar
dela também como se fosse um filhote?
Meus pensamentos divagam sobre o que ela questionou.
Sim, tenho um apreço especial pela orquídea chocolate, me lembra
de um tempo onde viver era fácil, onde meu pai me guiava e
ensinava com afeto e carinho. Essa flor me remete ao lar que eu
tinha com ele. Não que agora eu exclua minha mãe da equação,
mas não é a mesma coisa a vida sem meu pai, meu melhor amigo.
Por que escolhi essa flor especialmente pra presentear Stela? Não
quero pensar nisso agora. Não é o momento para entender meus
sentimentos novos.
— Prometi que ajudaria nos cuidados da planta, então me
sinto ainda um pouco dono dela. Tudo bem pra você?
— Claro, Luke. Agradeço por me ajudar nisso, eu realmente
quero aprender a cuidar do meu presente. Gosto de desafios e
adorei a orquídea. Nunca ganhei nada tão delicado e sei que você
tem um apego especial na sherry baby e farei de tudo para cuidar
dela.
Ela lembra o nome, recorda do que conversamos naquele
oásis onde a levei pela primeira vez. Nossa! Essa mulher está me
enfeitiçando de um jeito que não posso acreditar.
A sedutora pega um vidro com um líquido rosado e assim que
abre o pote, o cômodo é tomado pelo aroma delicioso de cereja.
Senta-se nas minhas pernas e percebo que também está nua.
Então começa a alisar minhas costas e braços, relaxando quase
todo o meu corpo. Suas mãos mágicas deslizam languidamente,
suavizando minha respiração pouco a pouco. É maravilhosa a
sensação! Ela dá atenção para meus pulsos e sobe pelo antebraço
e bíceps, depois ombro, pescoço e costas e quase ronrono em
apreciação.
— Nossa! Isso é bom demais! Esta é a essência que você
criou?
— É, sim, esse é somente o óleo, mas tenho o perfume e o
xampu, adoro cereja.
— Percebi, e o que tem mais nela?
— Sândalo e um toque de alcaçuz negro.
— Alcaçuz é um doce?
— Pode-se dizer que sim, é uma planta medicinal com raízes
adocicadas, com ela se faz uma infinidade de coisas, doces,
cerveja, além de ser ótima para saúde, usa-se na perfumaria
também.
— Agora entendi por que essa vontade incontrolável de te
morder.
— Você tem um autocontrole invejável, pois nunca vi marca
de mordida em mim.
— Ultimamente meu autocontrole anda me traindo, só não
mordi porque achei que você me puniria pelas marcas.
— Punir? Não. Eu, Stela, não puno ninguém. — Merda! Fui
misturar Vênus na relação, ela já disse que não é Vênus.
— Não me importo com marcas, na verdade — Ótimo, não se
chateou, subimos o nível. — Pronto. Sua pele absorveu o óleo, sinal
de que a massagem cumpriu seu papel.
Giro na cama, apanho os travesseiros e me acomodo para
dar a recompensa dela, na realidade a recompensa é minha, estou
louco para terminar o que não consegui fazer no dia daquele teste.
— Vem cá, quero te recompensar pela massagem deliciosa,
e todo esse mimo que está fazendo desde que entrei por aquela
porta. — Ela me encara sem entender.
— Não fiz nada de mais, não sou acostumada a trazer
ninguém em casa, só quero que se sinta bem.
— Eu também quero o mesmo. Quero você rebolando na
minha cara, faz tempo que estou salivando por isso.
— Luke, não acho que...
— Deixa disso, Stela. Sente-se aqui no meu peito, eu vou
erguer minhas pernas flexionando os joelhos para melhor apoiar
suas costas, deixa de timidez, vem cá, delícia! — Ela me olha por
alguns instantes mordendo o lábio e obedece.
Ter ela aberta para mim, permitindo que eu a faça gozar
quando e como eu quiser, demonstra que aos poucos ela confia em
mim. Me sinto satisfeito, além de excitado pra caralho.
Tão linda! Tudo no lugar, clitóris escondidinho esperando ser
descoberto e apreciado, lábios macios, lisinhos, molhada e pronta,
um delírio para os olhos e a boca. Beijo a parte interna de suas
coxas sentindo seus pequenos tremores. Roço a barba e volto a
beijar. Seu cheiro bom me faz inspirar deslizando o nariz por ela
toda, sem pressa, apreciando cada detalhe no percurso. Mordo um
lábio liso e ouço seu gemido. Meus cabelos são puxados de uma
forma ansiosa. Minha Domme está enlouquecendo e me carregando
com ela.
— Lu…keee! Oh Deus, Luke!
Mordo o outro provocando um suave rebolado. Sem mais
tortura, abro a fenda delicadamente e começo a lamber, sem
alcançar o ponto que ela deseja. Ouço os gemidos mais altos me
deixando totalmente à mercê desse momento. Me arrepio com o
ardor no meu couro cabeludo sendo puxado. Seus dedos entram
com força acompanhando seu contorcer sexy sobre mim. Deslizo
minha língua por toda a extensão das dobrinhas, fazendo sucção
em alguns momentos, lambendo e chupando com prazer, me delicio
por incontáveis minutos e aproveito as sensações de tê-la assim.
Ela rebola sensual fazendo seu calor incendiar meu corpo inteiro me
deixando no limite. Penetro um dedo e puxo em curva, me
concentrando onde sei que ela quer. Stela se descontrola nos
movimentos e arfadas.
— Luke, por favor, não pare!
Nem pensar, jamais, ainda mais com esse pedido
dolorosamente necessitado.
Seu clímax avassalador se aproxima, deixando o meu à beira
do precipício do ápice. Agarro sua bunda mantendo-a no lugar e
pressionando a língua em seu ponto vulnerável, enterrando meu
rosto, fodendo-a com gosto, me lambuzando com seu líquido
enquanto ela grita coisas que não compreendo, mas devem ser
boas.
— Ah Luke, ¿qué estás haciendo? No puedo enamorarme de
ti![32]
Os espasmos terminam e ela me encara com as pupilas
ainda dilatadas do orgasmo. Sorri enquanto respira com dificuldade.
Esse sorriso me derrete completamente, mas sentindo que estou
duro em suas costas, sua posição muda, se esparramando sobre
mim e deslizando se aconchega nele. Meu pau entra com facilidade
como se fosse uma peça de quebra cabeça a ser encaixado, o
encaixe perfeito. Um tremor toma conta de mim quando sinto o calor
molhado engolindo-o até o talo. Oh porra! Queima meu
comprimento pulsando minha carne.
E a melhor parte, Stela se inclina beijando minha boca,
lambendo todos os fluidos remanescentes nela enquanto se
movimenta agarrada em meus fios de cabelo úmidos.
— Adoro meu gosto em sua boca, Luke.
Essa voz sussurrada e manhosa é minha perdição.
— E seu beijo com ele é a melhor mistura, obrigado. —
sussurro.
— Pelo quê?
— Por não usar preservativo dessa vez.
— Você fez por merecer, meu grandão.
Uau! Adoro esse jeito dela de me elogiar.
Stela cavalga com vontade tomando meu corpo para ela,
alcanço seus seios de maneira ávida e acompanho seu ritmo que
acelera pouco a pouco, deslizando dentro e fora bombeando e
sentindo os seus apertos que literalmente devoram meu
comprimento. É tão boa a sensação de senti-la por completo, sentir
como penetro sua carne, pele com pele. Encho minha mão com a
bunda dela apertando forte. Minha orquídea selvagem geme tão
gostoso! E a satisfação total é fazê-la gozar agora sem nada, quero
sentir meu pau se afogar em nossos líquidos. Me afasto do
travesseiro sentando e me agarrando nela e encontro seus lábios
que me devoram.
E aquela sensação de ser mais que sexo vem com tudo. Os
olhares e carinho, os toques e compreensão do corpo um do outro
me levam a fantasiar coisas inéditas que nunca pensei durante o
sexo com uma mulher. Um lar para retornar no fim do dia é o que
minha mente projeta e com isso sinto o formigamento do prazer se
aproximando. Sei que irei encontrar minha libertação, então
concentro nisso. Não posso viajar com ilusões de mocinhas
sonhadoras. Sou um homem feito, pelo amor de Deus!
— Stela, goza comigo!
Ela fricciona mais e acelera contra mim, seus espasmos
pressionam meu pau mastigando com força liberando meu sêmen
dentro de sua boceta apertada. Nunca fui de fazer muito barulho no
sexo, mas vendo a expressão de luxúria dela, seus gritos de prazer
neste instante eu vocifero e minha voz ecoa pelo quarto.
— Meu Deus... — Que loucura, que prazer intenso é esse
que essa mulher me proporciona cada vez que me fode, porra! Não
há posições mirabolantes e nem jogos, parece apenas que ela sabe
o que eu quero. Simples assim, porém, viciante. Fico agarrado ao
seu corpo sentado na cama, assimilando todo prazer que sentimos
enquanto minha respiração volta ao normal. Meu coração acelerado
é uma distração ao beijar seu pescoço, lambendo sua pele salgada
misturada com cereja.
— Stela, você vai esgotar todas as minhas forças, mulher! —
Sinto seus dedos brincando com os fios do meu cabelo enquanto
ela ri do meu desabafo, poderia facilmente me acostumar com essa
sensação de completude que estou sentindo agora.
— Exagerado!
— Preciso me alimentar para o próximo round, delícia.
—Vamos tomar um banho, por favor, Lu. Se não a gente não
sai mais dessa cama.
— Gosto que você me chame de Lu.
— Por quê?
— Porque esse privilégio é só seu, ninguém tem permissão
para abreviar meu nome.
— Nem sua mãe?
— Minha mãe é bem formal, e faz questão de ser assim.
Ela sorri e beija meu pomo de Adão, depois levanta-se
colocando a mão na virilha tentando não sujar a cama com meu
líquido, que começa a escorrer pelas pernas.
— Vem meu Lu, tô faminta e precisamos de um banho rápido
para aguardar nosso jantar.
Meu Lu é ainda melhor. E a visão da minha porra escorrendo
pelas pernas de Stela me deixa extremamente satisfeito.

Nosso jantar é divertido, conversar com Stela é sempre


interessante. Tento saber mais sobre ela a cada pequena interação.
Descobri que trancou a faculdade de administração na Espanha, é
um progresso descobrir mais sobre sua vida. Ainda tem muita coisa
que gostaria de saber, entretanto não quero parecer afoito e maluco.
E além disso, percebi que é uma mulher misteriosa e discreta, não
gosta de falar sobre si mesma. Isso me atrai, pois dá a sensação
que nunca saberei ou provarei o suficiente.
Após a arrumação da louça decidimos assistir um filme. Não
lembro há quantos anos não faço esse tipo de programa, pipoca,
beijos e amassos no sofá. E tô achando o máximo tudo isso. Na
hora de dormir ainda estamos discutindo sobre detalhes do final do
filme, já que nenhum dos dois prestou a devida atenção.
Com jeito, me aninho abraçado em seu corpo na cama,
beijando os lábios macios, enquanto faço carinho em suas costas.
Arrumo as mechas de cabelo atrás de sua orelha fitando seu olhar
sereno.
Ficamos num silencioso carinho deitados, ou melhor dizendo,
grudados. Aliso a pele sedosa das costas até a nuca em uma
massagem suave na base do seu pescoço.
— Se você continuar com esse carinho, vou dormir, está tão
gostoso.
— Não quero que você durma, pequena.
— Pequena? — Seu olhar desconfiado não é do meu agrado.
— Olha como você é pequena — Me enrolo nela e a observo
sorrir.
— Não sorri assim, porque vou te comer de novo.
— Falei que seríamos como dois coelhos.
— Eu não tenho culpa se você me faz querer fazer tantas
coisas.
— É, e que coisas são essas?
— Primeiro, desvendar todos os seus segredos.
Seu sorriso sedutor tracejando meu peito com os dedos não
revela nada.
— Hum, e o que mais, CEO dos cassinos?
— Quero você inteira, já tive sua boca, quero sua bunda
também.
— Tem que conquistar essa parte.
— Mas eu vou conquistar — respondo orgulhoso, vendo ela
sorrir mais.
— E?
— E por último, quero te dominar, fazer o que eu quiser com
você numa sessão.
Essa confissão a faz se soltar do meu abraço, e suspirar
olhando para o teto.
— Desculpe Stela, sou sincero. É que você me deixa maluco.
Quero tudo com você, desde que te vi pela primeira vez não penso
em outra coisa.
— Você está indo rápido demais, e eu não sou assim.
— Não disse que quero agora, falei tudo isso para que saiba
de todos os meus, os nossos desejos. Você também quer, sei disso.
— Os olhos amendoados me encaram fixamente.
— É complicado para mim confiar nas pessoas. Não tenho
um lado submisso, Luke.
— Percebi.
— E ainda assim você quer?
— Quero.
— Acha que vai me dobrar, me convencer a ser sua
submissa?
— Não. Confesso que no início foi, mas agora estou
gostando muito da sua companhia se isso faz alguma diferença. E
gostaria de uma chance para fazê-la confiar em mim. E confiança
requer tempo, então, nós dois podemos passar mais tempo juntos.
Sua confiança já me satisfaz.
A sombra de um sorriso dança em seu rosto corado.
— Você é muito persuasivo, CEO dos cassinos!
Minha felicidade interna guardo para mim, é maravilhoso
perceber que provoquei uma fissura no muro de concreto do
coração da minha espanhola. Confiança é mais importante que
jogos e no momento só quero manter o que temos.
— Já me chamaram de presunçoso, abusado e agora
persuasivo. Minhas qualidades continuam aumentando com a dona
desta casa.
Stela mostra os dentes brancos num sorriso largo. Sim,
querida, lembro de todas as nossas interações, uma por uma. E vou
recordar todos os detalhes a meu favor sempre que precisar firmar o
que desejo. E no momento o que desejo é você, minha orquídea
selvagem.
Me aproximo fazendo carinho entre os seios, deslizando e
acariciando cada um, vendo-os enrijecer pouco a pouco. Stela me
olha com seu olhar de felina sexy. Alcanço seus lábios com
lambidas suaves, sorrio quando ela sorri e continuo lambendo, meu
Deus! Ela é meu vício delicioso.
— Você me deu muito prazer, uma sensação que há muito
não sentia, se é que já experimentei.
— Luke, essas palavras que você fala, do que sou, do que te
faço sentir, é muito difícil acreditar. Você é um homem atraente,
vivido, rico, deve ter provado uma infinidade de mulheres, as mais
lindas, por que se concentrar em uma mulher comum como eu?
Seu olhar não é desafiador, pelo contrário, vejo uma
vulnerabilidade escondida que poucas vezes aparece.
— Sinceramente, não sei o que você tem, só sei que quando
te vi pela primeira vez tive uma reação politicamente incorreta
naquele clube. Olhe para mim, Stela, estou falando sério. — Seu
rosto compenetrado nas minhas feições me deixa um tanto
apreensivo no que pretendo revelar, dedilho seu lábio com o polegar
apreciando a maciez dele. — Quando olho sua boca só tenho
vontade que esteja na minha. E é verdade, já tive muitas mulheres e
admito que a maioria eram do tipo modelos magras, mas nenhuma
me levou ao céu como você. E não consigo me afastar, não
somente do seu corpo, desses seios apetitosos, dessas pernas
grossas enroladas em minha cintura, do seu cheiro incrível que me
enlouquece. Vejo seus detalhes, foram eles que me fizeram
perceber que você não é uma mulher comum. A forma como arruma
o cabelo e a maneira que morde os lábios para esconder um sorriso,
seu olhar misterioso e seu jeito de andar. Sua voz quando pede o
que quer, nem penso em negar absolutamente nada. A maneira que
me desafia e tira sorrisos de mim, me faz sentir vivo. Espero que
você tenha entendido o quanto me atrai. — Stela pisca os olhos
rápido, acho que fazendo as engrenagens do cérebro funcionarem.
Será que foi um erro falar o que sinto? Ah, foda-se, joguinhos
de disfarce ou de cu doce não combinam com adultos. E eu nunca
senti as coisas que sinto com ela. E como diz minha mãe, está na
hora de pensar no futuro. Só preciso ir com calma e não assustar
essa mulher com minha intensidade.
Volto a beijar sua boca terminando meus argumentos e
qualquer coisa que ela retruque. Me afasto somente o suficiente
para falar:
— Eu te quiero, minha coelha. — Ela ri alto, e confirmo como
adoro esse som.
— Não, coelha não.
— O que então? Minha gata, minha cachorra...
— Tudo, menos coelha — fala rindo.
— Tá bom, minha orquídea perfumada é melhor, mas sabe
que somos coelhos nessa casa, não é?
— Certo, aceito a comparação que eu mesma sugeri, mas...
— Mas?
— Não precisamos imitá-los na rapidez!
Começamos a rir juntos, e faço o que ela quer e o que eu
também estou louco para fazer. Transar novamente, mas com
algumas ideias muito interessantes para não deixá-la escapar de
mim.
CAPÍTULO 20

Surgiu uma auditoria de última hora em Boston e tive que me


ausentar durante toda a semana. O pior que ainda é segunda-feira e
pelo andamento das inspeções aos cassinos daqui, ficarei fora mais
alguns dias. Não recebi mensagens nem ligação alguma de Stela
durante essa viagem. Admito que na segunda-feira passada me
encontrei exausto e esgotado, mas com um sorriso que não cabia
em mim. Até aquele arrogante do meu primo Edward notou, chegou
a fazer piadas tentando descobrir a minha nova conquista. Mas eu
estava tão envolvido com as recordações do fim de semana que
nem me abalei com a criatura boçal. Stela, certamente é a melhor
amante que conheci. Apesar de estar esfolado de tanto transar, se
paro para pensar nela, minhas calças apertam. Incrível. Tudo nela
me encanta, as lingeries que usa, o perfume, o sorriso, o jeito de ter
e dar prazer. Por Deus, isso é tão novo!
Não tenho medo de me apaixonar por ela, tenho medo de
que ela não corresponda se isso acontecer. Presumo que esses
dois dias em Boston serão um inferno se não ligar para ela, afinal
não vou conseguir chegar a tempo de vê-la no clube. Na realidade,
o pensamento dela se exibindo para aqueles pervertidos me deixa
nervoso. Só de imaginar alguém tocando nela me deixa desolado.
Eu sou o único pervertido que pode tocar naquela delícia.
Preciso tentar convencê-la a deixar de trabalhar naquele
lugar, mas tenho medo de ser precipitado e perdê-la se demonstrar
meu descontentamento. Sou muito possessivo, e tenho consciência
que preciso controlar esse meu ímpeto, pois, Stela é geniosa. Mas
eu não seria eu se não tentasse afastá-la daquele trabalho. O que é
meu, é somente para meus olhos e aquela mulher já se infiltrou nas
profundezas do meu ser. Desejo fazê-la minha em todos os
sentidos, essa é a verdade, preciso admitir isso logo de uma vez.
Pego meu telefone e começo a digitar, porra! Se eu soubesse
o que escrever. Após digitar e apagar umas quatro vezes, início o
contato:

Luke: Oi pequena, já foi dormir?


Stela: Rsrs, não.
Luke: Por que ri?
Stela: Não sou pequena e vc sabe.
Luke: Já te mostrei como vc é minha pequena.

Ah merda! Não devia ter escrito isso, agora vendo ela digitar
e digitar sem enviar, me arrependo do meu entusiasmo.

Luke: E nossa filha?


Stela: Filha? ... Ah, a orquídea.
Acho melhor ligar ao invés desse contato tão informal e frio.
Aperto para chamar e no segundo toque Stela atende.

— Prefiro relatório detalhado por áudio, espero que não tenha


deixado nossa planta morrer? — Ah Deus! Como adoro o som da
risada dela.
— Não, seu bobo. Estou seguindo à risca suas orientações
com relação a Sherry.
— Batizou nossa bebê?
— Meio óbvio o nome já que o científico é o mesmo. Mas
achei tão bonitinho.
— Combinou com ela.
— Como vai sua viagem? — Agora o meu suspiro é pesado.
— Produtiva, mas entediante.
— Lamento, mas faz parte do seu ramo de trabalho, não?
— Faz, mas não queria estar aqui.
— Hum.
— Queria estar aí com você. — O suspiro dela me deixa
apreensivo. Mude o foco, homem!
— Se eu conseguir chegar na quinta-feira posso ir à sua casa
te ver?
— Luke, você sabe que tenho compromisso nas noites de
quinta.
— Ah, sim, desculpe, esqueci. — Não esqueci, só fui idiota
de achar que ela não iria para o clube.
— Tem alguma cena programada?
— Ensaiei algumas coisas, mas é Benji quem decide. —
Minha curiosidade aflora.
— Dentro daquela cabine o que tem lá, é um camarim?
— Entre outras coisas, só entrando para descobrir.
— Tem cama naquele lugar?
— Luke, o que realmente você quer saber?
— Não vai se chatear se eu perguntar?
— Pergunte, não prometo responder. — O som de um riso
nervoso liga meu alerta.
— Você se excita com as cenas?
— Lógico, por que eu faria se não me excitasse?
— Depois das cenas você busca alívio... Com alguém?
— Luke?
— Hum?

De repente esse tempo de resposta aumenta um pouco


minha pulsação.

— Quer saber se eu uso meus servos além das cenas de


apresentação?
— Quero.
— Por quê?
— Por que você acha? É importante para mim.
— E por que é tão importante?
— Sabe que se eu tivesse aí meu questionamento seria feito
de outra maneira.

Sua risada baixa e sensual me faz arrumar a frente da minha


calça. Dou tempo para ela falar, mas Stela é muito mais controlada
que eu. Decido confessar de uma vez o que desejo desde que a vi.
— Gostaria que não fizesse com ninguém além de mim.
Quero você só para mim.
(...)
— Stela? Ainda está aí?
— Sim... é... — limpar a garganta nessa hora não me deixa
mais calmo. — Está propondo exclusividade por telefone?
— Tô, sou um homem egoísta e falo sério! Posso propor
novamente cara a cara assim que eu chegar, no máximo sexta-feira
tô aí.
— Tenho compromisso na sexta também.
— No clube Volcano?
— Minha vida não se resume ao clube, Luke.
— Ok, desculpe, me passe o endereço que busco você para
conversarmos sobre isso.
— Tenho um curso e não sei a hora certa que termina. —
Será que quer fugir do assunto ou de mim?
— Não importa, te espero na saída. — Mais um suspiro
audível.
— Ok.
— Endereço, por favor, ou devo implorar?
— Implorar? Gosto.
— Eu sei que gosta. Mande por mensagem que é melhor.
Estarei esperando você, juízo!
— Sempre tenho juízo, boa noite, Lu.
Reflito sobre essa conversa enquanto leio o endereço
recebido, e me martirizando sem saber se ela vai transar com
alguém. Porra, deixei claro que não quero que ela faça isso, mas
não posso exigir nada ainda.
O que eu tô fazendo? Merda! Estou me mordendo de ciúmes,
é isso que está acontecendo. Preciso voltar para casa, falar com
Stela olhando em seus olhos, tenho que descobrir se ela sente algo
por mim.
CAPÍTULO 21

Benji anda desconfiado da minha aparente mudança de


comportamento. Depois que me envolvi com Luke ando distraída e
apreensiva em terminar os espetáculos, mas como ajo de outra
maneira se não paro de pensar naquele homem? Ele me faz sentir
tão especial, impossível não me iludir. Tento de todas as formas me
manter no padrão pega e não se apega, mas está cada vez mais
complicado. Depois daquele fim de semana não esperava
mensagem alguma, ligação então? Fora de questão.
Tudo bem que demorou uma semana, resisti e não quis saber
da viagem nem por educação. Mas ele iniciou o contato e fiquei
balançada com as coisas que disse ao telefone. Minha mente diz
para não me envolver além da cama, porém Luke é tudo o que um
dia fantasiei e esse é meu medo. A fantasia é ótima, mas a
realidade vai me atingir em breve. Só não sei se em forma de soco
ou pontapé. Tiro minhas botas sentada na cama dentro do camarim,
meus pés hoje estão doloridos além do habitual, por circular com
esse calçado novo. Devia ter amaciado em casa antes. A porta da
frente se abre e Benji entra com duas garrafinhas de água com
limão. Me entrega uma enquanto bebe da outra.
Seu olhar especulativo e o silêncio de sua entrada, me dizem
que serei sabatinada em instantes. Ele pega minhas botas e
começa a limpar cuidadosamente, como se estivesse fugindo do
que quer que queira perguntar.
— Benji, o que foi? — Seus ombros encolhem e sua
respiração longa antecede a preocupação.
— Stela, o que está havendo com você? Anda tão distraída.
— Nada, Bem. Não tô distraída, é impressão sua.
— Caralho, pedi para você fazer a cena 9, você fez a 3.
Ah! Merda, não queria contar tão cedo o meu conflito interno.
— E qual a diferença? Só troquei os servos por servas, o
espetáculo não foi prejudicado.
— Sim, mas os clientes aguardavam outra coisa.
— Fodam-se os clientes, desde quando fazemos o que eles
querem?
— É ele, não é?
— Do que está falando? — Meu amigo solta a bota no chão
me encarando com os lábios apertados.
— Desde quando você dissimula para mim? Você está se
apaixonando?
Não consigo esconder nada dele, olho para meu amigo e
mesmo tentando não posso negar.
— Não me pergunte isso, prometo não me distrair mais, ok?
— Não estou preocupado pelo clube, Stela, você é minha
amiga, eu te amo, minha preocupação é só com você.
— Eu não sei o que está acontecendo Benji, mas tô feliz pela
primeira vez na vida. Estou tentando não me jogar, mas está difícil.
Minha mente voltou a ser a de uma adolescente iludida, vendo
sinais onde não tem.
— O que ele fez para te deixar desse jeito?
Pego o celular e mostro o início da conversa da noite
anterior.
— O que ele não fez seria mais fácil responder.
— Uau!
— Me pediu exclusividade, não quer que eu transe com mais
ninguém — Benji ri alto.
— E você transa?
— Não, mas ele não sabe disso, pelo jeito Luke acha que sou
uma predadora como Vênus aparenta.
— E ele é o que aparenta? Digo, na cama? Vocês passaram
um final de semana inteiro juntos, como foi? — Olho pro meu amigo,
mesmo antes de responder ele já sabe a resposta.
— É mais Benji, muito mais.
— Porra!
Termino de tirar a maquiagem e guardo alguns objetos que
usei no show de forma apressada.
— É melhor eu ir, preciso de uma boa noite de sono.
— Se precisar de mim para qualquer coisa, sabe como me
encontrar.
— Obrigado querido, boa noite.
— Boa noite, Stela e juízo, por favor, amiga.
Ah! Pronto! Todos pedindo juízo!
Chamo o Uber rapidamente e me apresso em direção a
minha casa, preciso descansar, desligar a cabeça de tudo hoje.
Estou atrasada novamente para minha aula de dança de
salão, subo as escadas correndo, já me preparando para ouvir
alguma merda daquele professor misógino. Desde que me viu pela
primeira vez, notei que não gostou nada de mim. Imagina ter uma
aluna gordinha na sua turma, mal me suporta e a recíproca é
verdadeira, mas era um desafio que queria superar, aprender todas
as danças que puder, e o maldito professor é o melhor da região.
Felizmente, estou no fim do curso e o ano passou rápido, me
concentrei no aprendizado e ignorei a pessoa ruim que ensina. Acho
que no fim isso valeu para outras situações também, com um passo
de cada vez, tô me tornando a pessoa que sempre quis ser. É bom
me concentrar nisso um pouco, ando pensando muito em Luke e
isso está me afetando mais do que eu gostaria.
CAPÍTULO 22

Chego ao aeroporto e encontro George à minha espera. Falo


o endereço que Stela me passou e sigo para o local, são oito e
meia, não dá tempo de ir até minha casa e voltar, e não quero correr
o risco de a mandona pensar que esqueci o compromisso com ela.
— Chefe, essa história de dispensar os seguranças é
perigosa.
— Eu tenho você, George. Me sinto seguro com a sua
experiência e proteção e, além disso, não quero dar a impressão
errada a Stela.
— Que impressão?
— De que eu sou um bilionário que quer comprá-la ou usá-la.
Às vezes damos a impressão disso quando ostentamos nosso
poder.
— Certo, mas em algum momento terá de mostrar que
realmente é um bilionário poderoso.
Concordo mentalmente, ele sempre tem razão. Se pretendo
levar esse relacionamento adiante, Stela tem que saber o que a
espera como a primeira dama dos cassinos. Uau! De onde veio
esse pensamento?
Chegando em frente ao prédio, percebo numa rápida análise
que é um estúdio de dança. Não me contenho em aguardar trinta
minutos no carro, então decido subir até o andar. Próximo à porta
consigo olhar sem ser visto, já que o estúdio é enorme. Mais ao
fundo do salão, uma meia roda de pessoas aglomeradas com
roupas de malha está em pé. Vejo minha espanhola concentrada
vestida com uma malha preta colada, uma saia vinho solta até os
joelhos e o cabelo preso com uma flor, tão bonita, minha vontade de
estar com ela observando-a, a poucos metros fica insuportável.
Outra novidade, saudade. Cacete! Tô com saudades de uma mulher
pela primeira vez, meus dedos estão formigando para tocá-la.
A música baixa me anima com a impressão que a aula teve
fim. Mas me engano, o homem arrogante que deve ser o professor,
posicionado diante das pessoas, começa a falar para turma e não
gosto nem um pouco do tom dele.
— Senhorita Salvage, onde está o seu acompanhante?
Precisamos ensaiar a dança de formatura, temos menos de
quarenta dias e a senhorita prometeu que teria um par até essa
semana. Já não basta aceitar os seus atrasos? Te dei a melhor
dança, a oportunidade perfeita para mostrar que me enganei e você
fracassou. Era de se esperar... Contra todas as probabilidades, você
conseguiu dançar quase um ano na minha turma, confesso que me
surpreendeu, pois, a primeira vez que olhei para você eu...
O que esse paspalho está falando para ela? Mas era só o
que me faltava! Ofender minha Stela? Nem pensar! Tiro meu blazer
e entro a passos largos dobrando as mangas da camisa.
— Querida, me desculpe a hora, meu voo atrasou.
Observo todos, inclusive Stela, pasmos pela minha entrada
improvisada, encaro o professorzinho e agarro minha garota pela
cintura dando um selinho rápido. Desejava afundar minha língua
nessa delícia, mas no momento é o que posso fazer.
— Algum problema? Espero não ter atrapalhado, podemos
demonstrar agora para avaliação.
O homem esqueleto gagueja ainda espantado, deve ter me
reconhecido dos tabloides, ótimo, poupa as apresentações.
Demonstro minha cara descontente aguardando sua resposta.
— Abso...lutamente nenhum, estamos ansiosos para ver o
ensaio de vocês. — Stela apavorada sussurra entredentes:
— O que está fazendo, Luke?
— Aparentemente te salvando.
— Nós nunca dançamos juntos.
Enquanto o homem vai trocar a melodia, tento acalmá-la.
— Na vertical não, mas somos ótimos juntos em outras
danças. — brinco, com um sorriso disfarçado.
— Você nem sabe qual ritmo vou dançar na formatura!
— Eu sei todos os ritmos de salão, fiz aula obrigatória na
adolescência.
— Claro que sabe, como pude duvidar do CEO dos cassinos.
Tem exatos cinco segundos para se preparar para um tango.
— Você confia em mim?
Ela acena nervosa com a cabeça, assim que a melodia
começa, deslizamos juntos pela sala sob os olhares atentos de
todos. Discorre tudo com perfeição. Estava um pouco enferrujado
confesso, mas ninguém além de Stela percebeu. Nos encaixamos
de maneira impecável como eu previa, dançamos tão bem que até o
professor maldoso aplaudiu. Stela é uma partner[33] perfeita. Assim
como na horizontal. É meu encaixe perfeito.
Não solto a mão quente delicada nem quando ela vai se
despedir de alguns colegas, reconheço dois deles do clube latino.
Sou educado, mas demonstro minha impaciência em sair da sala e
tê-la só para mim. Descemos as escadas, mas na metade dos
degraus não suporto e a prenso na parede para um beijo demorado.
Essa saudade não esperaria nem mais um segundo para encontrar
o calor de seu corpo e os lábios doces.
— Estou suada, grandão! — fala ela assim que consegue se
desvencilhar do meu aperto.
— Não me importo nenhum pouco, minha saudade também
não.
Seus olhos pequenos pelo alçar das bochechas devido o
sorriso largo, é uma alegoria dentro de mim.
— Sentiu saudades? — pergunta animada.
— Senti.
Alguém interrompe nossa conexão nos degraus e decidimos
seguir para a porta de saída.
— Obrigada pelo que fez, foi muito gentil, Luke.
— Não me agradeça agora, temos uma formatura pela
frente.
— Não precisa fazer isso.
— Como não? Sou seu par agora, ou você tem outro parceiro
para o evento?
— Não tenho. Mas não tinha intenção de ir à formatura.
Entramos no carro e sinto suas mãos geladas, a temperatura
da noite mudou, e não vi Stela de casaco. Rapidamente, peço a
George que aumente a temperatura e abraço seu corpo contra o
meu, ela se aninha e relaxo sentindo seu perfume.
— É sempre daquele jeito o seu professor?
— Já me acostumei, não é só ele, passei por tantas situações
desse tipo que nem me afeta mais.
— Por que fazem isso? Por que ele implica com você?
— Você não deve passar por esse tipo de coisa, por isso não
reconhece — fito os olhos amendoados tentando entender, e a dor
que vejo neles, particularmente, me abala.
— É preconceito, hoje em dia as pessoas são cruéis com
quem não se encaixa nos padrões que elas impõem, a vida inteira
eu convivo com isso, como disse já é um fato corriqueiro na minha
rotina.
Não tenho argumentos nessa hora, não sei como consolar,
então faço o que sei e quero sempre fazer quando estamos juntos,
beijo seus lábios doces, arrancando seu sorriso.
— Precisamos comer alguma coisa, eu ainda não jantei —
aviso.
— Hum... Não quero ir a nenhum restaurante desses que
você vai, minha roupa hoje não é apropriada para isso.
— Onde você quer ir? George nos leva onde quiser.
— Vamos naquele foodtruck perto da minha casa, é simples,
mas é bem famoso na rua pela qualidade.
— Isso é um convite para ir à sua casa depois? — A risada
melodiosa ecoa no veículo.
— Porque eu entendi isso, quer dizer, não estou me
convidando, mas se você insiste — Stela continua achando graça e
percebo George sorrindo também.
— Não é George? Você ouviu o convite, não ouviu?
— Alto e claro, senhor. — Meu motorista é uma peça, rimos
os três.
Paramos no lugar, e eu insisto que ela fique no carro, pois o
ar está frio, mas ela recusa, então coloco meu blazer nela.
Jamais seria possível comer em paz se eu estivesse com
minha equipe de segurança, por isso dou valor a esse tempo de
relativo anonimato com Stela.
— Você não costuma ler jornais, Stela?
— Na verdade, não, só livros, por quê?
— Nada, somente curiosidade.
Enquanto fazemos o pedido, vejo um jornal sobre uma das
mesas ali em frente. Dou uma espiada dissimulada, o viro ao
contrário escondendo uma foto minha estampada no pé da página,
enquanto aguardamos a comida. Volto a acompanhar a interação
dela com a atendente. Há quanto tempo não faço esse tipo de
refeição? Acho que a última vez foi com meu pai na saída de um
jogo de hóquei, no qual fomos juntos. Lembro do sorriso dele ao ver
um trailer de hambúrguer de um velho conhecido. Naquele dia não
éramos dois empresários sisudos sob um terno de alfaiataria.
Éramos somente pai e filho divertindo-se numa tarde de verão.
Saio da minha nostalgia e observo Stela sorrindo para a
moça que alcança as sacolas com nossa refeição, poderia ver esse
sorriso em todos os momentos do meu dia. É, com certeza gostaria
de ver esse sorriso lindo todos os dias. Decidimos levar o jantar
para viagem, mas ela não permite que eu pegue a carteira e ainda
leva um lanche extra. Só entendo ser para o meu motorista quando
com um sorriso ela coloca no banco da frente, dizendo a ele que é o
lanche preferido dela. Se já não tinha conquistado George Deal,
agora, definitivamente, ele foi fisgado pela simpatia e gentileza dela.
George não costuma ser simpático com as pessoas, é um cão fiel,
feroz e letal.
Chegamos rápido ao nosso destino, dispenso meu motorista
e sigo minha orquídea casa adentro.
Jantamos, conversamos sobre a minha viagem, e Stela vai
para o banho. Como não sou idiota acompanho, não vou perder a
oportunidade de grudar nela e matar a saudade de outras partes
além dos lábios. Depois de uma foda rápida no chuveiro,
alimentados e limpos, vamos para cama. Nem acredito que estou
aqui novamente, não esperava outro final de semana com ela.
Então recordo da nossa conversa ao telefone e lembro como Stela
modo evasiva e fria, estava ativada.
— Stela?
— Hum.
— Você pensou no que conversamos?
— Sobre?
— Exclusividade.
— Acho que não vou conseguir, preciso de alívio depois de
alguns tipos de encenação no clube. — Essas palavras me ferem
mais do que imaginei.
Saio do seu abraço, e passo a mão pelos cabelos, pensando
até em ir embora. Mas em um movimento de corpo ela se inclina e
abre a gaveta da mesinha de cabeceira ao lado e atira dois
vibradores coloridos entre nós. Seu sorriso tímido me sonda.
— Esse é meu alívio Luke, tenho mais desses na cabine do
clube, não transo com ninguém há tempos, muito menos com os
servos, é apenas encenação. — Encaro seus olhos brilhantes, e a
sinceridade neles desperta meu sorriso em resposta. — Não espero
que você acredite, resolvi ser sincera já que você foi tão gentil
comigo hoje, mas se quiser ir embora não tomarei como ofensa.
— Tem cama lá dentro?
— Tem.
— E você não leva ninguém pra lá?
— Nunca me interessei em ninguém que valesse a pena, tem
uma porta para rua e geralmente vou embora por ela.
— Então às vezes que via você levar duas taças para
dentro?
— Encenação.
— E quando esperava você sair, achando estar com
alguém?
— Eu já devia estar aqui na minha cama embaixo do
edredom. — Cada vez que ela fala vou me aproximando.
— Por quê? Para que iludir os pobres pervertidos que
frequentam aquele clube? — ela acha graça do meu deboche.
— E você não é pervertido também, abusado!
— Eu sou o seu pervertido. — Nossos sorrisos se fundem
num beijo rápido.
— Criei uma personagem repleta de mistérios, queria me
sentir desejada, e é bom brincar com os homens, vocês gostam de
brincar com as mulheres. Inverter os papéis nesse jogo nos dá um
poder incrível.
— E comigo a brincadeira acabou?
— Eu não brinco com você, sei que se encantou com Lady
Vênus, mas infelizmente ela não existe na nossa relação, ainda dá
tempo de pular fora, porque a garota real é essa aqui.
— Para mim a garota real é mais que suficiente. E é melhor a
garota real me beijar direitinho agora!
— Você vai ficar? — Seu olhar surpreso e feliz aquece meu
peito.
— Quer que eu fique?
Ganho um sorriso largo em resposta e muitos beijos, doces,
quentes, eróticos, famintos e de muitos outros tipos gostosos. A
realidade é infinitamente melhor que a fantasia.
CAPÍTULO 23

O final de semana foi, de novo, deliciosamente exaustivo,


Stela tem um preparo físico invejável, uma disposição
surpreendentemente insaciável. Tentei levá-la para sair no domingo,
mas disse estar indisposta, com a garganta arranhando, suspeito
que o ar gelado de sexta a noite não tenha feito bem a ela. Agora
aqui em minha sala estou planejando uma visita, ver como ela está,
se precisa de algo. Putz! Desculpa esfarrapada para estar com ela.
Tô muito viciado!
Assim que pego meu celular, recebo uma ligação de minha
mãe:
— Alô, filho?
— Oi mãe.
— Como está, querido? Duas semanas que não nos vemos.
Você anda viajando demais.
— Pois é mamãe, muito trabalho, desculpe não dar notícias.
— O que acha de vir jantar amanhã? Os Rockwell chegaram
de viagem, gostariam da sua companhia.
— Infelizmente não vai dar, tenho um compromisso que não
posso cancelar.
— À noite, meu filho?
— Sim, o único horário disponível que o cliente tinha, então
aceitei.
— Ah, uma pena, Christy ficará desapontada.
— Combinamos outra noite, pode ser?
— Certo, se cuide, dê notícias, sim?
— Pode deixar mãe, obrigado por ligar.
Imagina se eu trocaria uma noite com Stela para suportar
aquela loura sem graça. Não trocaria a companhia da espanhola por
nada. Tenho planos de contar logo para minha mãe que estou
envolvido com outra pessoa, assim ela para de tentar arrumar a filha
da amiga para mim. O problema é que essa doença no coração dela
me deixa preocupado, o médico disse que ela não deve sofrer
aborrecimentos e desgostos, e dona Soraya é tão apegada a essa
família que tenho que agir com cuidado para não decepcioná-la.
Assim que as coisas ficarem mais sérias com Stela, vou ter que
preparar minha mãe para conhecê-la, tenho certeza de que ela vai
se encantar com minha namorada.
Namorada? É, esse é o status da nossa relação.
Minha namorada, que outra coisa seria se não paro de
pensar nela? Passo o final de semana em seus braços e na
segunda-feira, não vejo a hora de voltar para a casa com perfume
de cereja. Adoro a companhia dela, sei que não é só físico o que
sinto por ela, quanto mais tempo passamos juntos, mais me dou
conta disso. Preciso vê-la hoje a propósito, vou ligar invés de
mandar mensagem:
— Oi pequena, como está? Queria te buscar para conhecer
minha casa, talvez fazer um jantar especial para você ou podemos
sair se preferir.
— Oi, infelizmente fica para próxima, aquele desconforto de
ontem evoluiu para uma infecção na garganta, não sou uma boa
companhia.
— Você foi ao médico? A mudança de temperatura de sexta,
eu sabia que não tinha lhe feito bem.
— Fui hoje cedinho, já comecei o tratamento com antibióticos
e logo estarei melhor.
— Precisa de algo? Posso passar aí?
— Não, obrigada, não se preocupe comigo, é só uma
laringite.
— O que você vai jantar? Passo na sua casa depois do
trabalho, nem pense em recusar.
— Ok Luke. Não consigo te convencer.
— Convencer de me manter longe? Não consegue, sou um
homem teimoso. Me deixa ser gentil, espanhola, logo eu chego,
meu expediente já terminou.
Nos despedimos e eu me apresso em deixar a minha sala
para o andar superior, passo no loft para pegar algumas mudas de
roupas e instruo meu motorista a me esperar do lado de fora na
saída discreta que sempre uso. Ligo para o meu melhor chef no
restaurante do terceiro andar do cassino, ao qual costumo jantar e
faço um pedido ressaltando minha pressa. Solicito um pouco de
tudo, pois ficarei por lá. Pedi também uma sopa especial com
legumes e frango em cubos, já que Stela está dolorida e um suco de
laranja natural engarrafado, ela precisa de muita vitamina C e se
hidratar bastante. Quero cuidar dela, ela mora sozinha nessa
cidade, mas agora ela não está mais só, Stela tem a mim. Faço tudo
em tempo recorde.
Ao chegar em frente à residência dela, dispenso George e
peço que venha me buscar cedo para o trabalho. Seu semblante é
risonho ao retornar para o carro. Sei que ele gosta de Stela e está
contente pelo nosso envolvimento, George me conhece há muito
tempo e nunca me viu agindo assim, percebe o quanto é séria essa
relação.
Stela atende a porta falando ao telefone e noto como está
abatida. Se surpreende pelo tanto de sacolas e pacotes que eu
trouxe, me fazendo entrar, com seu semblante constrangido
respondendo quem quer que seja do outro lado da linha. Revira os
olhos algumas vezes e acho que é alguém da família.
— Sim, já fui consultar. Estou bem, eu juro… talvez no final
de ano eu vá visitar…. Não precisa vir, é apenas um resfriado… tá
bom. Beijos. Também te amo.
Coloco tudo na mesa tirando os pratos dos pacotes, com ela
se desculpando pela ligação e me condenando pela quantidade de
comida.
— Pra que tudo isso, Luke?
— Stela, como você vai cozinhar para nós? — Ela me olha
por alguns segundos, então me aproximo e a beijo.
— Eu vim direto do cassino, achei que você não ia se
chatear, preciso jantar também e tomar um banho. Olha, faria tudo
isso no meu loft com você lá, mas visto que não está bem, fiquei
extremamente preocupado e queria te ver — descambo a falar,
nervoso, com receio que ela me dispense, não sei a reação dela,
mas quero ficar aqui esta noite. — Trouxe uma sopa nutritiva e
pastilhas para garganta e…
— Ei, tudo bem, então, calma, benzinho, você não me deixa
falar — diz ela sorrindo e tocando meu rosto. Benzinho é ótimo.
— Por que não toma seu banho, e eu arrumo a mesa? Sua
toalha está limpa e dobrada no banheiro.
— Eu tenho uma toalha aqui? — Enlaço-a em um abraço,
beijando seus lábios e pescoço, feliz como um garotinho.
— Claro que tem.
— Tenho uma gaveta também para guardar minhas coisas?
— Devagar apressadinho, vai pro banho para podermos
jantar.
Saio do seu abraço com um sorriso de orelha a orelha, sei
que aos poucos estou derrubando as barreiras que ela colocou,
quero que ela se apaixone por mim como eu estou por ela, porém,
não quero assustá-la, preciso ser cauteloso. Após o banho, Stela já
pôs a mesa, jantamos e conversamos, ela pergunta sobre meu dia,
e me sinto confortável em contar o que eu faço, é muito bom
perceber que ela não ouve simplesmente por ouvir, mas tem
interesse e pergunta animada.
— Stela, como está a garganta? Dói muito?
— Com a carga de remédios que tenho no corpo, agora só
sinto arranhar. Consegui comer normalmente. Obrigada pelo jantar,
foi muito gentil, mas não havia necessidade de se preocupar — Me
aproximo acomodando-a em meu colo.
— Minha intenção era que você jantasse comigo, queria
mostrar um dos meus cassinos. Aquele onde construí meu loft na
cobertura, mas com você doente fiquei preocupado, não conseguiria
descansar sem te ver hoje.
— Você tem uma segunda moradia em um dos cassinos?
— Tenho, além da praticidade, é meu lugar predileto. No
Cezare aprendi a gerenciar os negócios, meu pai deixou que
estagiasse, administração lá, na verdade, entregou o cassino sob
meus cuidados quando me formei. E era importante para ele, pois,
foi o primeiro empreendimento de sua vida
— Uau! Ele deve estar muito orgulhoso de você onde ele
estiver. É nítido que você ama aquele lugar.
— Queria que você o conhecesse quando estava vivo.
— Eu também. E sua mãe? Como ela é?
— É mais discreta, gosta de promover jantares íntimos, faz
as caridades dela, é bem sossegada.
— Vejo uma preocupação no seu jeito de falar.
— Mamãe, depois que meu pai se foi, desenvolveu um
problema no coração. Suspeito que a tristeza contribuiu para tal
infortúnio. Ela sempre foi muito dependente dele.
— Imagino. Você foi criado numa família muito amorosa. Me
lembro da minha, tenho saudades.
— Quantos irmãos você tem?
— Três irmãos mais velhos — rola os olhos daquele jeito que
adoro — Um porre!
— Como eles são?
— Super, master, blaster, protetores. — Primeira vez que
conversamos mais profundamente sobre família, preciso segurar
minha vontade de saber tudo sobre ela.
— Me diga como conseguiu cruzar o Atlântico sem os irmãos
Salvage em seu encalço? — A melodia de seu riso surge para me
felicitar.
— Nem preciso dizer que ocorreu quase um abalo sísmico
em Madri, quando decidi partir.
— Hum… e não será hoje que vou saber os motivos de sua
mudança de continente, eu presumo? Ressalto que não é uma
reclamação sobre sua presença nos EUA.
— Bobo! É muito drama familiar para uma garota
convalescente.
Misteriosa até o fim. Um dia eu desvendo todos os segredos
dela.
— Concordo, mas você sente falta do drama familiar, não
sente?
— Confesso que sinto muita falta. Era meu irmão mais
protetor, Diego, ao telefone. Queria que eu voltasse para casa.
— Devia visitá-los.
— Pretendo ir sem falta esse ano.
— Posso disponibilizar meu jatinho. — Seu sorriso se alarga.
— Você anda me mimando um pouco demais, não acha?
Minha risada alta ecoa pela casa, ela não tem ideia do quanto
é especial. Nunca fiz nada parecido com nenhuma outra.
— Acho que você precisa aproveitar e me deixar continuar. —
Seu sorriso aninhado em meu pescoço me enche de satisfação.
Abraço seu corpo numa jaula mantendo-a junto a mim, é tão boa
essa sensação de ser íntimo de alguém que eu gosto.
— Confesso que gostei muito que você veio, grandão —
murmura ela.
— Uau, que progresso! Você admitir que gostou.
— Sei que nos conhecemos há pouco tempo, um pouco mais
de um mês, mas gosto muito de você por perto. Gosto da sua
companhia.
Ah! Caralho! Se eu disser que tô apaixonado, será
precipitado? Melhor não.
— Nos conhecemos há quase três meses na realidade desde
que nos beijamos pela primeira vez, e eu gosto muito mais do que
sua companhia.
— Eu só não quero apressar as coisas e me arrepender
depois.
— Prometo que não vai se arrepender.
— E se você se arrepender, Luke?
— Por que eu me arrependeria? — Ela faz menção de sair do
meu colo.
— Você só sai daqui para cama mocinha. Não sei mais o que
fazer para te convencer que você é interessante, envolvente, linda,
e que te desejo, ou melhor, sei sim…
Carrego Stela até o quarto, e tiro o pijama leve que ela usa. E
a simples visão da lingerie branca delicada faz minha boca e meu
pau salivar. Não tenho desejo algum de dominá-la, o que mais quero
vendo-a tão linda sobre os lençóis é beijar seu corpo inteiro, deslizar
com suavidade dentro dela, fazê-la derreter em meus braços.
Preciso ouvir seus gemidos, escutar meu nome sussurrado de seus
lábios quando está em êxtase, respirar seu aroma no aconchego de
seu corpo após me liberar dentro dela. Me livro das minhas roupas
de modo ansioso, vendo seus olhos me analisarem, vendo-a sorrir
de desejo por mim, é isso que me deixa satisfeito, desde o início
quis ser notado por ela, que me desejasse e quisesse ser minha.
Em breve pretendo dizer isso a Stela, que é só ela que eu quero.
Tê-la assim me esperando, sem jogos, desejo que ela seja minha e
somente minha.
Me acomodo na cama distribuindo beijos e lambidas por toda
a pele macia, sei que ela precisa descansar, então controlo meu
entusiasmo e a envolvo num abraço. Antes de cair no sono,
pergunto se ela lembrou do remédio para garganta. Stela afirma que
tomou com o suco na hora do jantar, me tranquilizando.
— Vou ter que viajar na quarta-feira, tenho uma inspeção em
três cassinos, fora da cidade.
— Vai ficar fora muitos dias?
— Retorno na sexta. Quando eu chegar venho buscar você
para passar a noite comigo em minha casa, jantamos em algum
lugar antes, fique pronta.
— Me avise o horário, para me preparar.
— Sim, eu ligo, agora descanse, você precisa de repouso.
— Me acorda de manhã para fazer o seu café?
— Não precisa fazer o meu café, tomo no caminho.
— Eu quero fazer, além disso, tenho que acordar para tomar
os remédios na hora certa.
— Você quer é? Vai me deixar mal-acostumado. — ela acha
graça.
— Se você continuar sussurrando assim no meu ouvido,
desisto de dormir, Lu.
— Dorme, minha querida.
Pela manhã acordo com uma puta ereção, então percebo
duas almofadas gulosas se esfregando nela.
— O que está fazendo, Stela?
— Te acordando para o café da manhã. — A voz de sono é
manhosa e convidativa.
— Depois não sabe por que eu não consigo ficar longe de
você. — Ouço a risadinha safada. — Abre para eu entrar, minha
espanhola tarada…
Após me acordar para transar, um banho rápido e tomar um
café da manhã delicioso, relutante me despeço de Stela e vou para
o trabalho.

Nas dependências do cassino todos percebem o efeito Stela


em mim, meu humor é contagiante, os funcionários e claro meu
infame sócio, querem saber quem é a mulher que está me deixando
assim. Ouço o burburinho nos corredores, meu assistente, como
bom fofoqueiro que é, já espalhou a notícia das flores que mandei
para um certo endereço.
— Sr Taylor? O Sr. Shaed está aqui querendo falar com
você.
— Não temos nada marcado, Bred.
— Ele disse que tem uma dúvida que precisa esclarecer
pessoalmente.
Tinha que ser ele para estragar meu humor.
— Certo, mande entrar.
— Bom dia, primo.
— Bom dia, Edward.
— Vejo que os nossos funcionários mentiram.
— Sobre?
— Que você estava de muito bom humor, mas sua carranca é
nítida.
— Qual é o assunto que precisa tratar?
— Calma, vou me servir de um café primeiro.
— Aqui não é lanchonete, vá tomar café na cafeteria no
andar debaixo.
— Meu Deus! Agora entendo por que sua mãe prefere a
minha companhia que a sua, simpatia passou longe.
Respiro fundo e conto mentalmente até cinco, ele não vai me
fazer perder as estribeiras hoje.
— Vamos, anda estou ocupado, o que quer?
— Gostaria de trocar com você minha inspeção do fim de
semana, vou no seu lugar quarta e você vai na sexta-feira. Tenho
um compromisso que não gostaria de desmarcar no sábado.
— Não vou mudar minha agenda para cobrir uma foda sua no
sábado. — Ele mostra os dentes numa tentativa de sorriso, mas
noto sua raiva. — Se era isso, pode se retirar.
— Você não vai fazer a troca devido à sua foda, ou acha que
não ouvi as conversas na empresa que você mandou flores para
uma mulher hoje cedo.
— Não é da sua conta a minha vida pessoal.
— Ah não? Se você arrumar uma biscate que vai arruinar seu
patrimônio, eu não me importo, mas lembre-se que metade desse
conglomerado é meu.
— 30% infelizmente é seu pelo seu papai. Não esqueça! —
tento manter os olhos nos relatórios sobre a mesa.
— Não interessa, mas quem é a biscate? — Filho da mãe!
Largo a papelada e cruzo os braços encarando o sujeito arrogante à
minha frente.
— Então era só curiosidade de um covarde de merda que
não tem colhões para perguntar o que quer? Você está se
mordendo para saber com quem eu tô, não é? Pois saiba que não é
nenhuma biscate, ao contrário, uma mulher igual a minha você não
tem a capacidade de manter. — Edward sempre foi invejoso, mas a
raiva em seus olhos nesse instante é a glória para mim.
— Uau, finalmente o herdeiro do titio bilionário foi fisgado,
tenho pena da pobre moça, quando entrar para a família e conhecer
o primo refinado do namorado vai se arrepender de ter caído na sua
investida, mas pode deixar dou um trato nela para provar a
qualidade.
Levanto-me rapidamente da cadeira e vou em direção a ele,
que me empurra assim que me aproximo.
— Quer escândalo, Luke? Quer que todos saibam o troglodita
que é, ou melhor, que sua mãe veja na primeira página do jornal que
o filhinho empresário dos cassinos é um tirano e passou a noite na
delegacia? Sim, porque se encostar em mim, dou queixa contra
você e medida protetiva, como vai cuidar dos cassinos?
— Saia da minha sala, seu imbecil! — Ele vai com um
sorrisinho até a porta.
— Ah, e avisa a sua namoradinha que estou ansioso para
conhecê-la. — Antes que o alcance, ele desaparece pela porta.
Maldito desgraçado! Odeio esse infame, conseguiu estragar
meu dia, mas se ele pensa que vou deixá-lo se aproximar da minha
garota, está muito enganado.
CAPÍTULO 24

Preciso dar um jeito de conversar a sós com Dane. Preparei


esse jantar especialmente para que Christy consiga seduzir Luke de
uma vez por todas. É necessário apressar o compromisso deles,
está cada vez mais difícil solicitar dinheiro para qualquer coisa que
eu queira. Preciso botar a mão nas propriedades de Anthony, e
Dane precisa fazer a parte dele.
— Sejam muito bem-vindos.
Marion, como sempre me deixa com inveja de sua simples
presença dentro do vestido de alta costura, com seu corpo perfeito.
Deus poderia ter distribuído essa elegância para outras pessoas
também, em uma só chega ser uma ofensa!
— Obrigada, Soraya, sempre tão caprichosa nas recepções
— agradece ela ao me cumprimentar com beijos.
— Sempre o melhor para os meus amigos queridos.
— E Luke? Já chegou? — pergunta Christy com sua
ansiedade costumeira.
Não é a primeira escolha para Luke, mas meu tempo é
escasso em aguardar outra com berço de nascimento igual ao
dessa menina.
— Não querida, ainda não. Mandou mensagem que o trânsito
está caótico, mas já está a caminho e certamente ansioso em lhe
ver.
— Espero que ele não cancele outra vez.
— Não fique amuada, minha filha, seu pretendente é um
homem muito importante e leva a sério seu patrimônio. E isso é ser
um homem honrado, trabalhando para o futuro de sua família.
O rosto de Dane não disfarça o lampejo de desprezo pelo
elogio de sua esposa a Luke.
— Queridas, contratei um sommelier com os melhores
vinhos, gostaria da opinião de vocês sobre a melhor opção para
acompanhar os pratos. Sou péssima nisso. Enquanto me ajudam
com isso, preciso de um olhar mais apurado em um documento no
meu escritório, vou roubar seu pai por um momento. Sr. Rockwell,
poderia me dar cinco minutos?
— Claro que sim.
Ao entrarmos no escritório, tranco a porta atrás de nós.
— O que foi Soraya?
— Precisava de alguns minutos com você, Dane.
— Não é uma boa ideia, minha mulher e filha estão do outro
lado desta porta.
Puxo a gravata dele para vir até mim, faz uma semana desde
que nos vimos e uma mulher tem necessidades.
— Cinco minutos, Dane. Preciso de atenção também.
Sei exatamente como fazê-lo cair nas minhas graças, ele não
resiste e beija meu pescoço apertando minha bunda e erguendo
minha saia.
— Eu sei, meu amor, mas aqui não dá. Não estamos
sozinhos.
— Deixa disso. Seremos discretos e rápidos.
Não é a atenção devida, mas o breve alívio me satisfaz por
hoje. Após terminar a rapidinha, não nos prolongamos nos carinhos
de sempre, não podemos demorar esta noite. Temos um papel a
desempenhar. Nos arrumamos de maneira ágil e em poucos
minutos estamos conversando como dois sócios e não amantes.
Precisava disso, aliviar a tensão dessa última semana.
— Seu filho está atrasado, Soraya — diz ele ajeitando a
gravata preta.
— Luke anda atarefado com a aquisição do último cassino,
não crie caso, Dane. Em breve seremos uma família e vocês
precisam manter as boas relações, precisava pedir isso a você. Não
o provoque.
— Eu sei. Mas seu filho é um homem difícil, você sabe muito
bem.
— Não tenho culpa se puxou para o pai. — Alinho meu
cabelo e lhe dou um beijo singelo, limpando seu lábio do batom.
— Foi só por isso que me chamou aqui?
— Sabe que não é só isso, estava com saudades. Quando
vamos nos ver de novo?
— Essa semana, Marion vai com Christy a um spa, ficarão
fora e teremos o fim de semana inteiro para nós.
— Ansiosa por isso, meu querido.
Saímos depois de dez minutos. Ao chegar na sala vejo que
Luke já chegou. Respiro longamente e me direciono para ele. Não
está com a cara muito boa, talvez uma moça refinada e desejosa
como Christy o anime. Mas suspeito que já tenha quem o satisfaça.
Faz algumas semanas que ando percebendo algo estranho, pois ele
anda arredio e distraído. Preciso pedir para o detetive Zackary
segui-lo. Descobrir quem é a vadia que está tentando se aproveitar
da fortuna dos Taylor.
— Luke, meu querido, que ótimo que chegou. — Ele vem ao
meu encontro me cumprimentar, mas sussurra em meu ouvido.
— Christy de novo, mãe!
— Se acerte com ela, querido, por favor. Por mim. — Toco
seu rosto consolando-o, porém, seu sorriso forçado me diz que não
adianta minha insistência.
— Boa noite a todos.
Meus convidados o cumprimentam de forma reverente. Sei
como o nome Taylor inspira admiração e imponência. E Luke nessa
questão segue de perto o exemplo do pai. Anthony tinha seus
defeitos, mas impunha temor somente com sua postura. Devo
admitir que sua presença já era motivo de temor.
Sentamos a mesa para o início do jantar. Christy impõe sua
presença a Luke e quase provoca minha risada das caretas que ele
faz. Se eu não dependesse tanto desse casamento, juro que
avisaria a ela sobre o fracasso dessa relação.
— Então Luke soube da aquisição do Street Royal, estratégia
ousada. Admiro sua manobra arriscada. Parabéns pelo negócio.
— Obrigado, os riscos fazem parte da estratégia de um bom
CEO. Deve saber disso, comanda uma das maiores corporações de
finanças do Estado.
— Concordo. Mas no meu ramo esse risco seria encarado
como uma dose de loucura.
— Bom, ainda bem que o mercado financeiro não tem um
CEO louco. Os cassinos agradecem. — Luke ergue a taça de vinho
e Dane retribui com um sorriso amarelo.
Marion, graças a Deus, interfere com um assunto bem
menos interessante sobre os planos da viagem a Aspen e o jantar
segue sem maiores intercursos. Ao terminarmos, a sobremesa é
servida, e em seguida dou um jeito de deixar Christy jogar suas
cartas. Levando meus amigos para a outra sala e torcendo para a
garota ser ousada.
— Acha que deixá-los a sós vai funcionar, sra. Taylor? —
pergunta Dane.
Adoro meu amante todo formal diante da esposa. Pobrezinha
tão fabricada como a esposa do banqueiro. E o devasso adora uma
boa putaria que só eu sei lhe proporcionar.
— É claro, meu querido. Nossa filha é linda, de classe e
criada para ser uma esposa perfeita para Luke, não é Soraya?
— Certamente, minha amiga. Sua menina é perfeita para o
meu filho. Deixe-os a sós, Luke não vai resistir aos seus encantos.
— O que acha de um pouco mais daquela safra excelente
que serviu no jantar? — pergunta ela.
— Vou providenciar imediatamente, querida. Precisamos
brindar essa união.
CAPÍTULO 25

— Parabéns pela aquisição do cassino, Luke.


— Obrigado, Christy.
— Estava mesmo querendo ficar a sós com você. Sabe,
gostaria de terminar o que começamos naquele passeio de iate
meses atrás.
Bebo meu vinho acomodado na poltrona de dois lugares,
totalmente sem foco na Barbie diante de mim. Minha cabeça não
está aqui, está em Stela. Discutimos por telefone, a teimosa foi ao
clube. Porra! Eu falei como estava desconfortável com a situação.
Odeio que se exiba para aqueles tarados pervertidos. Eles a
devoram com os olhos, babando descarados sobre a minha mulher.
Estou farto disso!
— Luke?
— Oi?
— Onde você estava?
— Desculpe, estou de cabeça cheia e sem foco algum para
conversas.
— Quem sabe precise de uma massagem gostosa para
aliviar a tensão?
Suspiro exasperado, nem em outros tempos poderia aliviar
minhas preocupações com essa garota, e hoje, nenhuma me
interessa mais, somente a esquentadinha. Sorrio ao lembrar
daquela espanhola.
A loura circula ao redor da poltrona e se põe a massagear
meus ombros, achando que estou contente com seus carinhos,
merda! Preciso sair daqui, mas minha mãe ficará magoada, odeio
desapontá-la.
— Hum, está tão tenso, querido. Eu poderia resolver isso
rapidinho.
As mãos descem para o meu peito e a ousada beija meu
pescoço, consigo desviar rápido, mas a ardilosa está preparada
para as minhas negativas. Rapidamente se acomoda em meu colo.
Seu perfume doce enjoativo assola meus sentidos. Sua mão apanha
minha taça bebendo o resto dela. Está abusada pelo efeito do
álcool, percebo de imediato.
— Por que não subimos para o seu quarto, assim teríamos
mais privacidade?
— Christy, por favor. Está sendo inoportuna.
Ela segura meu rosto tentando avançar em minha boca e
minha paciência, que já era quase inexistente, se finda de vez.
Seguro seus pulsos de maneira firme e falo áspero de modo
impaciente:
— Não faça mais esse tipo de coisa, menina!
— Você não pode resistir, tenho tudo o que lhe agrada Luke.
Sou de boa família, tenho berço. E olha esse corpo. Posso fazer o
que você quiser.
— Não é isso, não me faça ser indelicado. Sou amigo da sua
família, é complicado.
A garota loura se levanta um tanto trôpega, me encarando
com os lábios apertados e testa vincada. Achei que seria impossível
pelo Botox.
— Qual é o problema comigo, Luke?
— Nenhum, Christy, por favor...
— São meus seios?
— Hã? — O choque em meu rosto deve ser visível.
Ela desce as alças do vestido de seda lentamente
escorregando por seu corpo esguio.
— Não faça isso, garota!
Os seios firmes e redondos ficam expostos, ela os toca, mas
não remete sensualidade. A pobre até tem um corpo bonito, mas
não sabe nada de sedução. A imagem da minha gata selvagem vem
em minha mente e lambo os lábios recordando daqueles peitos
fartos e macios com as joias adornando os mamilos rosados.
— É minha cintura, Luke?
O vestido vai ao chão e a moça fica apenas de calcinha
vermelha e saltos altos.
— Seus pais estão na outra sala, Christy! Vista-se!
A menina é esbelta, com pernas longas, tudo no lugar. Pele
sem nenhuma marca e cabelos longos parecendo de boneca. Nariz
empinado esculpido em bisturi. Ela vira de costas mostrando a
bunda com o fio dental, é redonda, perfeita, porém não sinto nada. É
como ver um manequim de vitrine. Ela continua a se exibir manhosa
e eu só consigo ver minha orquídea selvagem desfilando para mim
nua. Não é essa mulher que eu quero! Caralho!
— Chega, Christy! — Minha voz sai mais alta do que eu
previa, fazendo a menina pular nos próprios pés. — Tenha
dignidade, não estou interessado nos seus atributos, ponha logo a
sua roupa e saia. Aliás, sou eu que me retiro.
Pego a garrafa de vinho e meu celular no bolso, chamando
meu motorista para que me leve ao clube, não posso dormir sem
minha espanhola. Não vou ficar irritado com ela, preciso fazer as
pazes com minha deusa. Essa dinâmica com a filha dos Rockwell,
me fez ver que não consigo ter intimidade com outras mulheres,
porque só tem uma, na minha cabeça.
Antes de chegar ao local compro um buquê de rosas
vermelhas e seguimos o trajeto. Ao chegar, ordeno que estacione na
rua de trás, sei que é por lá que ela sai. Ao abrir a porta de madeira
pesada dou de cara com um segurança parrudo e mal-encarado,
primeira vez que tenho a iniciativa de entrar no camarim dela.
— Essa entrada não é para o público — sentencia ele
cruzando os braços.
— Eu sei. Mas sou o namorado, vim buscar Vênus.
— Tá bom espertinho e eu sou o Batman.
— Stela Salvage está me aguardando para levá-la em casa,
não queira que eu entre pela porta da frente e mande demiti-lo.
Não sei se foi a ameaça ou a menção do nome verdadeiro,
mas isso o faz recuar. Ando pelo corredor iluminado por luzes
amarelas e encontro a porta com o nome dela em uma placa
dourada. Bato de leve e percebendo não haver sons por trás dela,
entro e me acomodo na cadeira estofada do canto. Depois de
alguns minutos, minha gata entra alterada com Benji.
— Não o quero mais como servo, nem como substituto
freelancer! Não, Benji! Não admito ser desobedecida, ainda mais em
relação à dinâmica ao público, onde preciso do controle sobre meu
corpo! Não aceito aquilo! É a segunda vez que ele erra
propositalmente!
Eles não me veem de imediato pela posição onde estou, mas
compreendo rapidamente que algum dos homens a tocou sem seu
consentimento. Num impulso já estou no meio deles na sala.
— Quem foi o escroto?
— Luke!! — Os dois se surpreendem juntos.
— O que faz aqui?
— Quem foi que tocou em você? Me diga que eu acabo com
ele! — tento sair pela porta de onde Benji entrou, mas o próprio me
impede ao parar diante de mim.
— Não foi nada, apenas um engano.
— Não falei com você, Benji! — Ele dá um passo e me
enfrenta. Stela entra no meio e acalma os ânimos.
— Fala, Stela! Quem foi?
— Já mandei dispensar, não vai mais acontecer. E você não
vai fazer escândalo aqui. Não ouse interferir no meu trabalho!
Abro mais um botão da minha camisa em busca de ar. Esse
cômodo é muito pequeno, me sinto sufocado aqui dentro, qual o
tamanho disso? Dez por dez? Ando nervoso até a porta de trás
enquanto ela se despede do barman gerente. Mas as coisas mudam
muito rápido quando um homem seminu estilo surfista bombado
com uma coleira larga no pescoço entra pela porta que Benji saiu.
— Lady Vênus, preciso pedir desculpas. Foi indelicado
agarrá-la naquela parte da apresentação, juro que não vai mais
acontecer.
Não enxergo outra cor senão vermelho diante dos meus
olhos, em três passos estou socando o rosto do infeliz, que tenta se
defender, no entanto, consigo desferir dois socos antes que ele saia
sangrando pela porta de onde tinha entrado.
— Você tá maluco? Ficou louco, Luke?
— Ninguém toca na minha mulher e sai impune!
— Sua mulher? ... Que história é essa?
— Estamos juntos, não estamos? Quer dizer, combinamos
exclusividade. É natural eu me referir dessa maneira. E não admito
que a desrespeitem!
Stela se senta diante da penteadeira limpando a maquiagem
pesada com lenços umedecidos, bufando.
— Exclusividade não lhe dá o direito de interferir no meu
trabalho.
— Trabalho? O cara te agarrou e sei lá mais o quê naquele
salão. Para mim não é um trabalho.
Ela larga os objetos sobre o balcão e se aproxima
perigosamente de mim, e puta pra caralho! Fico louco com ela brava
dessa maneira. Que tesão maluco nessa mulher!
— O que quer dizer com isso, Luke? — Encaro seu
semblante altivo com o mesmo tom desafiador que o dela.
— Que não gosto de você se exibindo para esses otários de
merda, tendo esse tipo de interação seminua. Já disse como me
sinto sobre isso.
— Você não tem que gostar ou desgostar. É um show e eu
sou a estrela.
Melhor tentar amaciar a fera, seus lábios tensos em uma
linha fina não trazem alívio algum.
— Por que não vem trabalhar no meu cassino?
— Fazendo o quê? Crupiê, limpeza ou boquete no CEO?
Meneio a cabeça desmotivado, pagaria para que ela ficasse
em casa escondida de quaisquer olhos, a não ser os meus. Mas se
eu falar um disparate desses, ela me mata.
— Minha assistente.
— Saia!
— O quê? — Ela me gira para a porta de saída empurrando-
me.
— Sai Luke! Meu expediente ainda não terminou.
— Eu vi você tirando a maquiagem.
— Não quero um homem machista me atrapalhando no meu
trabalho.
— Orquídea da minha vida, por favor, vim buscar você. Fazer
as pazes.
— Vai, ou chamo o segurança!
Emudeço chateado, e dando meia volta aguardo do lado de
fora. Entro no carro, permaneço lá por uns quinze minutos bufando
feito um touro no abate, até um Uber encostar. Teimosa do caralho,
não vai sair daqui sem mim hoje, Stela. Saio do veículo e vou até o
motorista. Ao confirmar quem pediu o Uber. Dispenso-o
imediatamente com o seu pagamento.
Vejo meu motorista me olhando preocupado.
— George, não fique apreensivo, não farei nada por impulso.
Mas o que eu posso fazer com aquela atrevida?
— O senhor está enrascado, chefe!
Depois de uns cinco minutos, Stela sai pela porta de trás e
leva um susto ao me ver esperando por ela encostado no veículo. A
abusada olha o celular tirando de mim uma risada alta.
— Seu Uber acabou de sair!
— Você o dispensou?
— Claro, você vai embora comigo.
— Quem disse?
— Eu disse que você vai, entra no carro!
— Você não manda em mim! — Adoro quando ela me
enfrenta, é estimulante vê-la brava, sinto meu pau vibrando dentro
da calça.
— E você também não, e mesmo assim eu saí do seu
camarim para você terminar de se arrumar, então ceda, e entre no
carro!
— Ou o quê?
— Ou vou agir como um homem das cavernas e te carregar
para dentro, erguer o seu vestido e foder você sem preliminares.
Ela funga nervosa cruzando os braços com o olhar faiscando
para mim, mas quando abro a porta traseira ela entra. Ergo
imediatamente a divisória da Escalade, para ter privacidade com
minha esquentadinha. Pego o buquê que deixei no compartimento
do assento e entrego a ela sentada à minha frente.
— Achei que essa noite acabaria diferente. Para você, como
um pedido de desculpas do que disse no telefone hoje mais cedo.
— As sobrancelhas juntas aos poucos suavizam.
— Obrigada, são lindas.
— Entendo que você gosta do que faz, Stela. Mas coloque-se
no meu lugar. Se os papéis fossem invertidos e eu estivesse seminu
num clube onde todas as mulheres quisessem me pegar.
— Não é bem assim, Luke — responde ela revirando os
olhos.
— Ah, não? Esqueceu que já vi você encenar e fiquei
maluco.
— Ficou é?
Vejo que está se acalmando e me olhando com aquela cara
de moleca desentendida. Tiro meu blazer e me arrasto diante dela
entrando no meio de suas pernas.
— Você gostaria de ver seu homem desfilando quase pelado
sendo devorado por outras? — Stela pisca rápido os olhos
assimilando que sou seu homem. Eu sou, caralho!
— Não! — responde bagunçando meus cabelos enquanto
mergulho minha cara entre os seus seios.
— Então, minha orquídea. Por que não deixa de lado esse
clube? Vem trabalhar comigo. — Beijo seu colo subindo para o
pescoço ouvindo sua respiração acelerar. — Nós dois juntos todos
os dias, nas viagens, aproveitando cada lugar entre uma reunião e
outra, o que acha? — Alcanço a boca carnuda com a minha dando
uma mordidinha.
Ela sorri marota alcançando os botões da minha camisa.
— Não ia ser sem preliminares?
— Adoro as preliminares com você, minha delícia.
A risada baixa e sexy me deixa no ponto. Louco, alucinado.
Cheira e beija um lado do meu pescoço, o ossinho que tanto gosta e
depois o outro lado. Porém, no segundo beijo ela para me
encarando com os lábios apertados.
— Onde você estava antes de vir me buscar?
— Num jantar, por quê?
— Num jantar, seu hipócrita!
Não entendo seu rompante furioso. Há poucos segundos
estava amolecendo em meus braços, agora parece que vai me
matar.
— Com quem?
— Minha mãe e uns convidados dela, por quê? — Ela me
empurra para longe totalmente descontrolada.
— Imagino o tipo de convidados que estavam no jantar. Quer
exigir de mim que ninguém me olhe, mas nos seus jantares, as
mulheres, literalmente, lhe devoram.
— Não estou entendendo?
— Ah não, Luke Taylor! Tire essa camisa e eu esfrego no seu
nariz essa sua falta de entendimento. Mande seu motorista acelerar,
quero me ver livre quanto antes de você.
— Nós estamos indo para um dos meus cassinos.
— De jeito nenhum que estamos! Mal parido! Não vou a
lugar algum com você!
— Stela! Tenho um jantar com um investidor amanhã e quero
você ao meu lado.
A mandona, fita a janela sem me olhar e vejo que está muito
nervosa, batendo um pé inquieta e braços cruzados no tronco.
— Ligue para a dona do batom vermelho na sua lapela, ela,
sim, fará boa figura ao seu lado.
Merda! Merda! Christy conseguiu estragar minha noite.
— Não é o que está pensando.
— Não? O que você vai inventar agora, sem vergonha?
Seu olhar magoado me fere, mas realmente não tive culpa.
— Posso explicar se puder me ouvir.
— Jogue fora essa camisa!
— O quê?
— Se quiser que eu escute alguma das suas mentiras, tire-a
e jogue fora!
Sorrio pelo grau do ciúme, é tão ou maior que o meu. Abro
cada botão com seu olhar furtivo sobre meu peito seminu, aciono a
trava para baixar o vidro fumê da janela do carro e jogo a camisa
para fora.
— Satisfeita?
— Nem um pouco! Quem é a mulher que deixou a marca na
gola? — suspiro esgotado, pois, odeio falar nesse assunto.
— Filha de um casal amigo de minha mãe. Dona Soraya
cismou que devo me casar com ela.
— E você? Gosta dela?
— Não, claro que não.
— Quanto tempo ficou com ela? Namorou, noivou? Foi pra
cama com a garota?
— Não! Meu Deus, nem sequer a beijei. E hoje deixei bem
claro que não tenho interesse.
— Como assim?
— A menina ficou nua para mim na sala de jantar enquanto
minha mãe servia o vinho para os pais dela na sala de jogos. —
Stela me encara perplexa, engole saliva e espera que eu termine de
falar.
— Avançou em meu colo, tentou me beijar, recusei como
pude, por isso a mancha na camisa.
— Nossa... Eu jamais imaginei uma coisa dessas.
— É, acho que estão fazendo pressão sobre ela, para me
conquistar, não sei, ela parecia desesperada, e ela não precisa
disso.
— Como ela se chama?
— Christy Rockwell.
— É bonita?
— Isso importa? — Stela desvia o olhar para a janela outra
vez.
— Importa para mim, Luke. Ela deve ser incrível. Um corpo
perfeito né?
— Stela, por favor. — Arrasto seu queixo para que me olhe, e
percebo que está realmente abalada.
— Às vezes me dou conta que não tenho como competir com
essas mulheres, as princesas de conto de fadas que rodeiam você.
Olhe para mim, Luke.
Abraço seu corpo cheirando seu pescoço, trazendo a calma
que eu necessito quando inspiro seu perfume.
— E o fato de eu dispensar uma mulher nua, não significa
nada para você? Hum?
Começo a distribuir beijos molhados na pele até chegar na
boca, saciando minha sede da atrevida.
— Minha orquídea, sabe que eu falo a verdade, não fica
assim.
Agarro sua nuca a fim de comandar, devoro seus lábios
doces até meu corpo não suportar tocá-la vestida. Deslizo as alças
do vestido, beijando ávido seus seios, mordendo e chupando até ela
impulsionar seu corpo montando em mim. Abro minha calça trôpego
e atrapalhado com ajuda de Stela, e minha dureza salta livre,
babando.
— Vem minha Domme, toma o que é seu. Se acaba no meu
caralho! Onde só você é dona. Só você, delícia.
Afasto a calcinha dela para o lado, e ela senta em meu colo,
engolindo-o até o talo, gemendo no meu ouvido, me enlouquecendo
por completo.
— Me chama daquelas coisas? Chama?
— Mi cariño, ou mi pasión?
— Os dois, adoro quando faz essa voz no meu ouvido. Fico
maluco, segurando para não gozar.
Minha felina selvagem rebola em meu colo bagunçando meus
cabelos, saciando nossa saudade em beijos enquanto me fode com
gosto. Abraço seu corpo quente sentindo todas as minhas
terminações nervosas ligadas a um fio de alta tensão. Os gemidos
dela tornam-se cada vez mais altos, e consigo sentir os espasmos
dela começando a mastigar meu cacete.
— Não há ninguém além de você, minha orquídea...
ninguém...
Ela se inclina para trás apoiando as mãos nos meus joelhos,
contraindo e apertando somente a ponta do meu pau, sorrindo
safada.
— Porra... Stela!
Fecho os olhos ouvindo seu ronronar me matando aos
pouquinhos. O calor do corpo macio me acalenta, me inflama e arde
de desejo.
— Goze para mim, mi cariño. Me mostre seu prazer. — A voz
manhosa é minha ordem.
Avanço em sua boca quando ela começa a sentar duro, me
golpeando com seu rebolado. Seu perfume de cereja misturado a
sexo dentro do veículo me envolvendo, me leva ao precipício do
prazer. Um som primitivo sai de minha garganta em um gemido
longo e gutural de posse sobre essa mulher. Gozo intensamente
liberando toda a minha saudade em jatos longos e demorados. Me
aninho em seu pescoço tomando meu tempo para acalmar minha
respiração cansada. Sinto os dedos de minha dona massageando
meus cabelos. Essa mulher é minha dona, não tenho para onde
fugir dessa corrente que me atrai, que me puxa até ela.
Seus beijos em minha testa me dão a sensação de lar,
segurança e afeto, além do tesão absurdo que sinto por Stela.
— Pazes feitas? — pergunta ela.
— Nem de longe.
Sua gargalhada animada me faz beijar seu pescoço e
abraçá-la mais apertado em meus braços.
— Luke, você sabe que é enorme e tem muita força, né?
— Não quero que saia do meu colo, minha linda, estou com
tantas saudades, não gosto de brigar com você.
— Em algum momento vou ter que sair e vou lambuzar você
inteirinho.
— Espera, tenho toalhas aqui. — Enquanto nos limpamos
decido fazer o convite que planejei.
— Falei sobre o jantar de negócios, é muito importante para a
minha rede, gostaria que fosse minha acompanhante.
— Não sei se é uma boa ideia.
— Por que não?
— Não costumo frequentar a alta roda dos bilionários —
explica ela vestindo a roupa concentrada.
— Deixa disso. Vamos para o meu loft lá tem tudo o que
precisa.
— Como assim? Não está mesmo me levando para minha
casa antes?
— Não, quero você comigo esse fim de semana.
— Mas ainda é quinta.
— Tecnicamente é sexta, já passou da meia-noite.
Ela sorri de lado arrumando o vestido.
— Muito persuasivo, senhor Taylor.
— Às ordens, senhorita Salvage.
CAPÍTULO 26

Chegamos ao cassino de Luke, o mais luxuoso, ressaltou ele.


Jamais estive num lugar com esse patamar de riqueza. Mármore em
todos os cantos, tapeçaria luxuosa, realmente um palácio. A
grandiosidade do local encanta a todos os frequentadores, com
réplicas de estátuas romanas espalhadas por todos os lados.
Cezare Cassino Hotel é realmente um mundo à parte dentro de Las
Vegas.
Assim que descemos do veículo, os seguranças estão a
postos. Olho admirada para Luke, questionando silenciosamente,
não sou ingênua para ignorar que ele é bilionário, mas nunca vi
tantos seguranças reunidos.
— Teremos tempo para conversar sobre os seguranças.
Andamos pelos corredores escoltados feito celebridades.
Seguimos por alguns minutos e já me sinto desconfortável com a
pouca limpeza que fiz no carro. Necessito de um banho urgente.
Mas Luke está tão entusiasmado me mostrando a empresa dele,
que decido ignorar o desconforto.
— Já esteve em um cassino, Stela?
— Não, primeira vez.
— Vou mostrando e fazendo um breve resumo do que você
verá por aqui.
Andando pelo corredor largo, entramos em uma área repleta
de mesas.
— O cassino tem uma sala de pôquer, além de várias áreas
designadas para jogos diferentes de carteado. Então você nunca
apostou em jogos de azar?
— Não, mas jogava pôquer nas noites em família na
Espanha. Diziam que eu era boa no blefe.
Ele sorri malicioso conduzindo-me com a mão em minhas
costas.
— Imagino que todos caíam aos seus pés. Poderíamos testar
essa sua habilidade mais tarde.
— Talvez.
Continuamos o tour, e como é de se esperar de um luxuoso
cassino como esse, a decoração é superelegante e o ambiente é de
alta classe. Por onde passamos os olhares dos funcionários vão em
nossa direção, a mim precisamente. Me sinto vigiada e
provavelmente julgada, não gosto nem um pouco dessa sensação.
— Além dos mais variados de jogos de mesa tradicionais
como blackjack e dados, temos jogos de aposta chineses com caça-
níqueis e apostas em esportes, logo adiante naquela ala — explana
ele animado.
Luke vai andando comigo, mostrando as áreas de diversão.
O rei, em seu domínio, explica-me tudo e quando o questiono, ele
responde com total interesse, demonstrando que gosta de falar
sobre o trabalho dele para mim. Aponta para um ponto específico
adiante e fala que os elevadores levam ao andar subsequente, onde
há um hotel para hóspedes que procuram se divertir em outros
jogos não convencionais. Andamos até aquele ponto e subimos,
acompanhados de um segurança apenas, posicionado à nossa
frente. Luke se inclina beijando meu pescoço.
— Tô adorando mostrar minha segunda casa para você, vivo
a maioria do tempo aqui. Esse é meu mais lucrativo negócio e gosto
de ter você comigo.
Passamos o andar dos quartos e avançamos no próximo,
quando as portas se abrem, meus olhos não conseguem
acompanhar tanta modernidade. Os seguranças estão nos
esperando, não tem como passar despercebido por aqui.
Observo a diferença de um andar para o outro. Nunca estive
num ambiente tão requintado. Saímos de um andar de sons
inimagináveis de apostas, odor de charuto, cigarro, tudo isso
misturado a perfumes de todas as espécies e vozes animadas, para
entrar em um andar luxuoso, com música ambiente e perfumes
caros parecendo área vip de um hotel europeu.
— Aqui é o level up, — diz Luke com uma mão na minha
cintura, me conduzindo ainda sob os olhares de todos. — É uma
área de árcade com bar e lounge. Recebo os bilionários mais
excêntricos para se hospedar aqui, portanto me assegurei do
melhor.
— Vou querer um drink exótico, mais tarde.
— Querida, nós beberemos champanhe e o que mais quiser
na nossa suíte, você será a rainha desse castelo e o rei vai servi-la
esta noite — sussurra ele rouco em meu ouvido.
Sorrio sentindo o arrepio na minha pele pela promessa,
observando admirada o CEO em sua zona de conforto e os olhares
cobiçosos sobre ele. Circulamos mais um pouco e os sons das
máquinas dos jogos transmitidos nesse andar incomodam um pouco
quem não está acostumado.
— Ano passado mandei construir essa ala especificamente
destinada para esse tipo de aposta em corridas e esportes.
— Uau, Luke é grandioso!
— Tenho que admitir que investi muito nesse cassino. No
próximo andar estão os restaurantes, tenho os melhores chefs
trabalhando comigo. Qualquer menu que quiser, posso lhe oferecer
o prato do momento.
— É realmente um mundo em uma cidade, Luke.
— Exatamente. Pronta para conhecer meu loft?
— Mais que pronta, tô doida para deixar de ser vigiada, todos
estão me olhando sem disfarçar.
— É compreensível, nunca me viram circular com uma
mulher pelo cassino.
— Sério? Nem acompanhantes nos jantares de negócios
você trouxe?
— Não, nunca tive qualquer interesse em fazer media social.
Pegando outro elevador com o segurança conosco, subimos
até a cobertura. Ninguém tinha me preparado para um lugar como
esse. O loft é maravilhoso, é um espaço de pé direito duplo, com a
frente da parede em vidro, dando ao loft uma ‘vitrine’ de dez metros
para a vista de Los Angeles. Além do skyline, imagino a vista daqui
pela manhã. A entrada de iluminação natural em abundância deve
ser de outro mundo, dispensa o uso de luz artificial praticamente
durante todo o dia, e a noite oferece essa visão de tirar o fôlego.
Uau!
— Bem-vinda, Stela, mi casa es tu casa.
— Gracias. Que vista fantástica! Estou encantada! — Ando
pela sala passando pela poltrona com chaise, até chegar próximo à
parede de vidro, sendo abraçada por braços musculosos e seu
perfume envolvente.
— Já fantasiei você e eu aqui bem nesse lugar, nus gozando
e apreciando a lua.
Uma chama se acende queimando tudo dentro de mim, e
meu corpo logo dá sinal. Imagino a cena viva na minha cabeça e
giro o rosto para receber seu beijo. Um beijo carinhoso e sem
pressa, com uma mordida na minha bochecha para finalizar.
— Vem, quero mostrar o resto do andar para podermos
aproveitar o banho e um jantar. Vai pensando o que quer comer, vou
ligar para o chef subir com o melhor do cardápio para nós.
A escada acarpetada nos leva ao mezanino na metade do pé
direito, onde há suíte, closet e o banheiro. Observo que a iluminação
é indireta, trazendo uma sensação de relaxamento. Tem lustres e
arandelas por todo o espaço. Da mesma maneira que a cozinha
americana divide o mesmo espaço com a sala embaixo, esse
banheiro divide o andar com o quarto. Adorei todos os ambientes! É
fantástico! É assim que os bilionários vivem? Olho a cama, doida
para descansar meu corpo cansado na cama king size magnífica
com lençóis e tapeçaria escuros. Mas preciso de um banho antes.
Luke parece sentir minha necessidade urgente.
— Vou preparar a banheira para nós.
— E o que vou vestir se você não deixou que eu passasse
em casa antes de vir?
— Hoje você vai vestir somente meu corpo, amanhã cedo
virá meu personal stylist e o marido dele para deixá-la pronta para o
jantar e poderá solicitar o que for necessário.
Gosto de vestir somente ele, porém não posso sonhar com
essa vida de princesa dos cassinos, Luke está apenas se divertindo
comigo, nunca falou ou prometeu qualquer coisa e comandar minha
vida dessa maneira não é o que imagino em um relacionamento,
mesmo casual.
— Nem pense em montar um guarda-roupa para mim, Luke.
— Por que não? Eu posso e quero te ver linda nas
dependências do meu império. — A risada nervosa que ofereço
parece diverti-lo.
— Quanto tempo você acha que será minha estadia?
— Um mês? — franzo o cenho.
— Luke?
— Tá bom, uma semana, então. — Quem ri é ele agora,
aquele sorrisinho matreiro que ele costuma usar quando quer algo.
— Vem, vamos ver se um banho morno e relaxante não
aquece esse coração gelado e faz você repensar a estadia como
minha hóspede.
— Ok, senhor persuasivo.
A água morna é um bálsamo, e o homem me recebendo
como um pufe gigante gostoso dentro da banheira ainda mais.
— Nossa! Como eu precisava disso, Lu. — Ronrono os
próximos cinco minutos com o sedutor massageando meu couro
cabeludo com um xampu perfumado.
— Deve estar exausta da noite no clube, por isso seria bom
você deixar aquele trabalho. — O nariz roçando meu pescoço é
golpe baixo.
— Não quero voltar nesse assunto agora.
— Promete que vai pensar? — pergunta ele deslizando agora
beijos suaves em meu ombro enquanto massageia.
— Prometo.
O banho segue sem discussões, Luke é carinhoso em um
nível exagerado, acho que quer mesmo me persuadir a trabalhar
com ele. Após lavar meu cabelo, me ensaboa inteira com
massagem e carícias demoradas. Gozei em seus dedos quando me
estimulou e ordenou que eu fizesse. Estou tão mole e relaxada que
mal consigo sair sozinha da banheira. Suas mãos hábeis me guiam
e conduzem ao quarto, me enxuga com cuidado e põe seu robe
macio sobre meu corpo.
— Prefere jantar aqui em cima?
— Tá tão na cara que estou exausta?
— Sim, seus olhos estão pequeninos de cansaço, fique aqui,
vou buscar o jantar que solicitamos.
— Luke?
— Sim.
— Vem cá.
Ao se aproximar da cama me posiciono de uma maneira a
alcançar seu pescoço e beijo o pomo de Adão com uma lambida
demorada. As mãos grandes cravam em minha cintura e mesmo
sob o tecido grosso do robe, recebo sua força com a necessidade
em meu centro.
— Não acenda o que não será capaz de apagar!
Apenas deixo meu sorriso cansado responder. Luke me
devolve um beijo rápido nos lábios e vai para o andar debaixo.
Minutos depois retorna com os pratos leves que pedimos. Após o
jantar generoso não prolongamos muito a conversa, já passa das
duas da manhã e o sono não espera para avisar que está na hora
do corpo descansar. Sou envolvida pelo corpo grande e com sílabas
de um boa noite caio no sono profundo.

Pela manhã, desperto com um braço me envolvendo como


em uma jaula.
— Bom dia.
A voz baixa e rouca no meu ouvido me acende mais do que a
dureza se esfregando na minha bunda.
— Bom dia, grandão.
— Dormiu bem, minha orquídea?
— Dormi, adorei ter vindo.
— Não mais que eu.
Encosto meu rosto no dele sorrindo, ai que aperto gostoso,
aconchegante e protetor, adoro quando Luke toma meu corpo desse
modo.
— Pedi nosso café, daqui trinta minutos estará aqui.
Rebolo ao encontro do gigante ouvindo um gemido baixo.
— E o que pretende fazer nestes trinta minutos?
A resposta vem em mordidas no meu pescoço e uma risada
rouca e baixa, enquanto a carne quente e dura se acomoda entre
minhas nádegas, deslizando em meus lábios melados adentrando
lentamente.
— Puta merda! Que delícia ser recebido molhada dessa
maneira, Stela. Desse jeito, não vou segurar dois minutos sequer.
— Não segure, porque tô louca de vontade de sentir você
inteirinho dentro de mim.
Luke começa a se movimentar duro e rápido, deslizando a
mão pela frente, massageando meu clitóris com seus dedos e
impulsionando por trás a sua ferocidade. Rebolo de encontro a ele
sem timidez, ouvindo meu homem gemendo no meu ouvido. Ah,
céus! Seu hálito quente rente a minha pele me enlouquece, é a
melhor carícia de amante que ele destina a mim. Amo que Luke não
se limita a gemer baixo e falar o que o deixa alucinado. Seus dedos
hábeis também são estímulos poderosos que me fazem delirar.
— Goza, minha delícia, goza gostoso!
Explodo num orgasmo potente, segurando minhas palavras
para não confessar que estou apaixonada por ele. Assim que me
acalmo, peço por mais.
— Quer meu pau te comendo duro e forte?
— Humm! Quero!
Luke me fode com força e acelera com a disposição matinal
que conheço bem. E quando notamos, já estou de quatro no
colchão com ele golpeando fundo e urrando como um leão
protegendo o alimento. Puxa meu cabelo dominando-me como uma
rédea, fazendo meu corpo arquear. A outra mão no meu pescoço
aguardando o momento de me fazer flutuar em outro orgasmo
avassalador. O choque dos corpos e os gemidos de ambos me
fazem sentir mesmo a rainha dele. É assim que ele me trata, como
sua rainha e isso eu nunca vivi com ninguém. Mais algumas
estocadas puxando meu prazer a borda, fazendo meu corpo
sucumbir e ansiar por mais, indo ao encontro do dele, recebendo
tudo até o talo. Luke rege meus sinais como um maestro e aperta
meu pescoço no momento certo. Reviro os olhos de prazer e
satisfação sentindo meu corpo flutuar me entregando ao prazer.
— Ah… minha deusa gulosa… aperta esse caralho!
Me sinto cheia, empalada com a grossura de Luke que soca
ainda mais rápido no ápice da sua libertação. Seu prazer é lindo
ecoando pelo quarto como uma melodia rouca e sedutora. Essa
sensação de ser dele, ser desejada e apreciada em todos os níveis
é realmente um sonho que jamais havia me permitido sonhar.
Estouramos os trinta minutos exaustos na cama e no
chuveiro, quando o telefone do quarto toca avisando da mesa do
café na porta. Depois de nos alimentarmos, Luke diz que vai para a
sala da presidência no andar dos hóspedes, resolver os últimos
detalhes do jantar com o Sheik. Deixa um iPad sobre a mesa e diz:
— Escolha tudo o que precisar de roupas para uma semana
e para deixar aqui no loft quando precisar, essa conexão está
diretamente ligada ao ateliê de Dylan, meu stylist que virá mais
tarde. Ele providenciará tudo imediatamente. Quero que vá para o
SPA depois, tem todo o tipo de tratamento disponível para você.
Pode pedir a Cloud que lhe acompanhe para lhe orientar sobre o
jantar desse nível, precisei das orientações de etiqueta dele
também. Sou péssimo para gravar essas regras.
— Cloud?
— Sim, desculpe. É o marido de Dylan que virá com ele.
Confesso que esse jantar está me amedrontando.
— Luke? Não seria melhor você ir sozinho, deve ser muito
importante esse Sheik para o seu negócio, não quero envergonhar
você nesse evento. — Ele se aproxima, afagando meu rosto,
beijando minha testa.
— É importante, sim, quero que ele invista nesse cassino e
traga a clientela dos Emirados. Mas em relação a sua preocupação,
você nunca vai me envergonhar, isso tudo não é para o Sheik. Toda
essa preparação é para você, quero que seja muito bem tratada
aqui, que se sinta confortável no jantar e fique mais linda do que já
é. Leve isso como umas férias para uma diva de Hollywood. Minha
diva. E é indiscutível, quero você ao meu lado nesse jantar. Mereço
ostentar a minha joia, não mereço?
— Nossa! Você me deixa ... — Ele põe o dedo nos meus
lábios, impedindo de finalizar a frase.
— Com tesão? Eu sei e vamos acalmar ele olhando a lua
mais tarde, minha delícia. — Beijo seus lábios, deixando uma
mordida no lábio inferior fazendo-o rir.
— Não provoca que desisto de descer e fico naquela cama
até a noite.
— Não. Precisamos nos preparar para o jantar, príncipe dos
cassinos.
Fico toda bobona quando esse homem é meloso desse jeito.
Ofereço um sorriso relaxado e ganho outro beijo de despedida.
— Nos vemos depois, qualquer coisa, estou no celular, me
ligue se precisar.
— Ok CEO, bom trabalho.
Na hora seguinte, escolho algumas opções de roupas pelo
iPad. Engraçado que ao fazer isso, percebi que Luke tinha
premeditado me trazer para o loft dessa maneira, pois ao clicar
havia lista de modelos, e só era possível escolher blusa, se antes
tivesse escolhido vestidos, e na quantidade estipulada pelo
aplicativo. Desconfiei muito mais, quando lingeries eram as últimas
opções da lista. Portanto, não pude pular itens, pois, senão, eu não
escolheria as roupas de baixo. Safado manipulador.
Começo a rir sozinha, tô adorando essa atenção toda dele
comigo. O tempo passa rápido entre a escolha e a espera do casal
da beleza, até a campainha da suíte tocar. Lembro que Luke falou
sobre a pontualidade do stylist. Ando calmamente em direção a
porta para atendê-los, lembrando de fechar o roupão por estar
totalmente nua por baixo dele. Ao abrir a porta ganho de assalto
beijos na face como cumprimento animado dos homens. Os dois
furacões de proporções escala 10 adentram o apartamento, com
duas malas enormes a tiracolo. Perfumados, vestidos casualmente,
mas impecáveis. Um louro de um metro e oitenta e topete
engomado e um ruivo de cabelos cacheados e barba cerrada um
pouco menor em estatura.
— Oh, meu Deus! Sr Taylor não mentiu quando disse que
sua mulher era espetacular, não é amor?
— Sim, meu bem. E olha essa pele. — O ruivo sorridente
toca meu rosto. — Pronta para um dia de princesa, Stela? Um
prazer conhecê-la, eu sou Cloud e esse é meu esposo Dylan.
— Olá, muito prazer em conhecê-los também. Por favor,
acomodem-se, preciso trocar de roupa, desculpe recebê-los de
roupão, Luke me sequestrou sem escape para buscar minhas
roupas.
— Hum, a cara dele fazer isso. Mandão como ele não tem o
que discutir.
— Trouxemos tudo o que pediu e mais algumas surpresinhas,
fiquei sabendo que é uma Domme. Quase não acreditei.
— Dylan! Não seja indiscreto! Stela não deu abertura para
falarmos das atividades e vida particular deles. — Sorrio pelo puxão
de orelha. Cloud arruma o óculos de armação vermelha e se
acomoda na poltrona, fazendo um bico gigante.
— Tudo bem, Dylan. Não sou tímida quanto ao meu trabalho.
Me conte o que você trouxe, Cloud?
Ele desfaz a cara amarrada com um sorriso largo, abrindo a
mala. Me mostra algumas peças de renda e transparência, mas as
calcinhas todas com abertura embaixo me ganharam, sei como meu
Luke é visual. Já imagino a fome dele ao saber que não precisa tirar
a calcinha para transar. Trouxe também vários bodys de renda e
seda soltinhos. Uau! Lindos demais. Procuro pelo vestido, porém
Dylan diz que trará mais tarde as opções, pois quer tirar medidas
exatas do meu corpo para ajustar antes de eu ver. Assim com os
detalhes acertados e devidamente vestida, descemos para o SPA.
Dylan se despede, enquanto Cloud com sua bolsa de couro alemão
me acompanha, indo trocar seu jeans e camisa por uma roupa de
banho. Aproveitamos todas as opções: sauna e esfoliação da pele
ainda pela manhã, massagem e ofurô na parte da tarde. Por fim,
manicure e pedicure com hidratação capilar. E tudo isso sempre
regado a assuntos diversos. Além de assuntos triviais, tratamos de
conversar sobre minha maquiagem e penteado para a noite e os
detalhes de comportamento no jantar. Cloud ficará responsável por
me deixar pronta e é muito eficiente pela maneira que explica as
coisas. À tardinha Dylan nos encontra e subimos para o loft,
experimentar os looks. Um vestido mais lindo que o outro, todos
longos, com fendas, decotes, trançados, finos e ostensivos. Olho a
etiqueta de um deles por curiosidade no closet ao fazer uma troca, e
quase passo mal. Nenhum abaixo de cinco dígitos. Não falo nada,
seria uma gafe, afinal é o dono da loja sentado na sala de estar.
Escolho um modelo azul-petróleo, com um leve brilho no
tecido conforme a luz reflete. Mangas longas e decote profundo,
uma fenda indecente mostrando mais do que estou acostumada em
jantares, arrematado por uma sandália preta discreta, já que meu
esmalte é vermelho e o batom também. Cloud esfumou uma sombra
preta nos olhos, mas não subiu muito, apenas repuxou para fora,
deixando o olhar fatal e misterioso. Em meus cabelos ele pôs uma
presilha invisível em um lado, revelando a orelha com o brinco do
conjunto que Luke mandou entregar. Um exagero me fazer usar
ametistas verdadeiras. Mas o abusado não apareceu o dia todo para
que eu recusasse os presentes. Invés disso, ligou duas vezes
avisando que não viria se arrumar, porque precisou resolver um
problema no outro cassino e se arrumaria na casa dele no caminho
para não atrasar. Nem o almoço foi comigo, me deixou um pouco
incomodada, confesso. Às oito em ponto, Luke envia uma
mensagem que os seguranças estão vindo me escoltar até o
restaurante, pois ele já está com o Sheik e sua comitiva.
Ótimo, vou descer sozinha para um jantar importante, num
ambiente que não conheço! Você me paga, Luke Taylor!
CAPÍTULO 27

O dia foi realmente cheio, quando me despedi de Stela essa


manhã, não imaginei o turbilhão de problemas que iria enfrentar.
Dois fornecedores de bebidas deram calote no outro Cassino, o qual
fica do lado oposto da cidade, enganando meus supervisores com
falsificações. Precisei ir à delegacia prestar queixa e a burocracia
roubou toda a minha manhã. Nervoso e chateado por não conseguir
almoçar com minha namorada, convidei meu motorista para me
acompanhar no almoço em um restaurante perto da delegacia.
— Venha George, precisamos de uma pausa.
Meu motorista apanha a arma no porta- luva, verificando-a
antes de descer do veículo. Ninguém sabe, mas George é mais que
um motorista, trabalhou para o meu pai desde o início dos negócios
aqui em Los Angeles. Na época ele era segurança pessoal do meu
pai. Sei de algumas situações em que ele precisou agir para
defender seu patrão na época, e como terminou a situação. George
é meu homem de confiança, confio minha vida a ele. Quando meu
pai faleceu, ele me fez o pedido de não ser mais segurança à vista
do público, queria manter o anonimato e nos proteger. Desde aquele
dia, há oito anos, agimos assim. Mas quando estamos sozinhos o
modo segurança é acionado inevitavelmente e o instinto protetor de
quem me viu crescer também.
Escolhemos uma mesa no fundo, próximo à saída de
emergência, orientado por ele.
— Sempre exagerado, George.
— Não, chefe. Precavido é o termo, não está com a escolta
habitual e não darei chance ao azar. O senhor é um homem
importante.
— Não precisa ser formal aqui, por favor, preciso almoçar
com meu amigo e não meu funcionário.
— Está certo, Luke.
Pedimos a comida, excelente por sinal. Um bom corte de
carne, salada variada e um acompanhamento de grãos.
— Então, a senhorita Stela, é sério? Nunca lhe vi dessa
maneira com uma mulher, aliás nunca vi nenhuma fora dos seus
encontros... privados.
Deixo escapar uma risada, ele se refere às vezes que
marquei encontros, passei umas horas num quarto e nunca mais as
vi.
— É sério, George. Essa não é só uma diversão.
— Já falou para ela?
— Stela é inteligente, deve ter percebido que nossa relação
está evoluindo para algo sério. — Ele mastiga seu bife, dando uma
olhada rápida para a porta de entrada.
— Mulheres gostam de conversar, você sabe. Para terem
certeza de onde estão pisando, entende?
— Vou levar esse conselho em conta. — Ele sorri animado
limpando a boca com o guardanapo.
— Seu pai ficaria orgulhoso do trabalho que está fazendo. Ele
amava o que construiu.
— Gostaria que ele estivesse aqui, tocando a rede de
cassinos comigo. Vendo como estou feliz comandando o seu
legado.
— O que você está fazendo é o que ele gostaria que fizesse,
deve se sentir satisfeito com isso. Agora falta apenas uma coisa.
— O quê?
— Um herdeiro para perpetuar o nome Taylor.
— Abro um sorriso largo terminando minha refeição e
apanhando o celular.
— E será um menino lindo, com aqueles olhos acobreados.
Minha mulher é linda, não concorda, George? — pergunto olhando a
foto que tirei dela nua esta manhã na minha cama. Claro que é só
para meus olhos essa foto.
— Com todo o respeito, é sim. Fez uma excelente escolha.
Aviso a ela por mensagem que não conseguirei retornar
antes do jantar, já que devo voltar ao Cassino Solís para
acompanhar a polícia na apreensão da mercadoria falsificada.
Depois de resolver isso, espero conseguir passar na minha casa no
condomínio para me arrumar e ir direto para o Cezare.
Recebo um emoji furioso. Será que houve algum problema
com o dia de beleza? Decido ligar, ela atende logo no terceiro toque.
— Querida, o que houve?
— Vai me deixar o dia todo com estranhos? Não conseguiu
nem meia hora para almoçar comigo?
— Infelizmente, surgiram alguns imprevistos.
— Talvez a lua tenha um imprevisto hoje à noite.
— Stela? ... Ei, alô? — desligou? Desligou na minha cara a
abusada!
— É brava essa sua mulher, não percebi isso quando
conversei com ela. Nem a lua está a salvo?
— Não, a lua é nossa piada interna. Mas ela é geniosa e
confesso que adoro isso, George, me sinto vivo com ela.
Meu amigo dispara em uma gargalhada ruidosa e bebe um
gole do suco que pediu.
— Entendo, sei como é, seu estímulo sempre foi uma boa
briga. — Concordo achando graça da constatação.
Deixamos o restaurante, quinze minutos depois, indo resolver
os problemas do meu dia. Consigo me livrar deles apenas no fim da
tarde, às seis horas buscando alívio na ducha quente do meu
condomínio, envio uma mensagem para Stela dizendo onde estou e
recebo apenas um monossilábico ‘ok’. A esquentadinha dará
trabalho. Fico mais ansioso ainda em vê-la. Tomo uma ducha
demorada e visto meu fraque. George está a postos, nervoso do
lado de fora. Minha curiosidade ao chegar próximo do veículo é
gigante, pois meu motorista está em modo alerta assassino.
— O que houve?
— Não sei ainda, mas é a segunda vez nessa semana que
noto cruzando por nós um SUV parecido com o que usamos às
vezes, mas de um modelo antigo.
— Quantos SUVs pretos existem em Los Angeles, George?
— Muitos, mas com falha no friso esquerdo da porta, é
coincidência demais para mim. Estou batendo repetidas vezes
nessa tecla, e tem que me ouvir, não deve dispensar mais sua
equipe de segurança, senhor. Desde que começou a frequentar o
clube e conheceu a senhorita Salvage, o senhor relaxou a
segurança.
— Eu sei, George, aquele dia precisava de privacidade e nos
outros não queria que o meu poder influenciasse na decisão dela
em sair comigo. Estava gostando da caçada e depois me encantei
com a vida normal, sem holofotes e ostentação.
— Compreendo, mas o senhor não pode levar essa vida
normal, sabe disso. Basta de descaso com sua vida e a dela
também. Entende que sua namorada corre riscos assumindo esse
papel ao seu lado? — arregalo meus olhos surpreso. Não! Stela não
pode correr riscos!
— Bom. Vejo que entendeu a importância da segurança —
afirma vendo meu semblante surpreso pela constatação do perigo
que estou colocando a mulher que vou assumir.
— Certo, tem razão.
Seguimos para o Cezare e no trajeto medito nas palavras de
George. Preciso redobrar a segurança, invés de despistar, irei
conversar com Stela sobre nós. Ser namorada de um homem como
eu exige medidas severas de segurança. E ela vai ter que aceitar
essa nova mudança no estilo de vida. A começar pelo trabalho dela.
CAPÍTULO 28

Cada dia Luke se mostra mais possessivo, mais sério com


relação a nós. Aquele jantar semana passada no cassino foi a
prova. Quando me viu chegar no restaurante escoltada, seus olhos
se ampliaram. Me olhou demoradamente, dos pés à cabeça e
quando trancou o olhar no meu, abriu um sorriso encantador. Eu
ainda estava um pouco chateada por não tê-lo visto o dia todo,
porém derreti com seu cavalheirismo e gentileza. Me apresentou a
todos, com um elogio.
“Essa é minha ‘Linda Stela’ essa noite ela nos acompanhará
neste jantar.” Não desgrudou de mim em nenhum momento, e volta
e meia o via me olhando feito um predador.
“Não tô aguentando ficar mais um minuto sem tocar em
você.”
Foi o que disse antes de pegar minha mão sobre a mesa,
beijando-a com uma promessa do que faria mais tarde. Todos
ficaram espantados, visto que o protocolo do jantar de negócios era
bem rígido. Os árabes não gostam de demonstrações de afeto, faz
parte da cultura deles. As mulheres são única e exclusivamente
para os olhos e toques de seus maridos. Portanto, Luke me tocar
em público era um desrespeito e uma ofensa ao Sheik e sua
comitiva. Mas ninguém ousou advertir o dono do império.
Naquela noite fizemos amor olhando a lua. Ficou maluco com
a lingerie nova, me fazendo delirar com o que dizia. Bebemos todo o
champanhe na banheira e conversamos até altas horas. Foi a
primeira vez que se referiu a nós, quando expressou o desejo de
visitar a Espanha comigo, aquecendo o meu coração com
esperança de um futuro com ele.
Luke retornou hoje cedo de viagem e avisou que queria me
ver, mesmo sendo quinta-feira ele sabia que eu concordaria, pois,
decidi sair do clube Volcano. Sua satisfação é nítida por essa
decisão de minha parte.
Deixo escapar um sorriso pelo fato de ter cedido a sua
vontade de não me apresentar mais seminua para os pervertidos,
como ele se refere no deboche.
Sinto seus braços ao redor do meu corpo moldando-se a mim
com as pernas enroscadas nas minhas. Estamos na cama após um
banho relaxante depois de matarmos a saudade dos três longos
dias separados. O peitoral proeminente se eleva e retrai como um
embalo romântico comigo apoiada sobre ele. E como sempre meus
pensamentos se acotovelam como lutadores profissionais dentro da
minha cabeça.
É tão estranho e tão íntimo essa relação, meus poucos
relacionamentos anteriores não chegaram nem perto do que estou
vivenciando. Minhas experiências sexuais comparadas a Luke foram
bem desajeitadas, para dizer o mínimo. Sempre sei o que quero
quando estou com ele e sinto ser recíproco. Gosto disso mesmo não
estando tão segura sobre meu corpo quanto gostaria. Mas a
questão do interesse dele pela fantasia da Dominatrix é o que mais
permeia minhas inseguranças. O afago doce em meus cabelos
transporta a sonhos e lugares nunca experimentados.
— O que está passando nessa cabecinha atarefada? Sei
que não adormeceu. — Não tinha percebido que meus
pensamentos lhe causavam tanta curiosidade.
— Não sei — respondo sinceramente. — Acho que quando
estamos tão íntimos dessa forma começo a questionar se realmente
é o certo.
— Como assim?
— Você me trata de um jeito que nenhum homem me tratou
antes.
— Isso é bom de escutar porque você não merece menos
que isso — inclino meu queixo para encará-lo. E o que vejo em seus
olhos me parecem ser sentimentos tão intensos e verdadeiros que
me tomam o fôlego.
— Às vezes é difícil de acreditar.
— Ei, por que diz isso?
— Não sei, está tão bom que me sinto apreensiva quanto a
isso. Você me faz acreditar que sou a mais linda das mulheres e...
— E é.
— Ah, por favor, Luke! Meu corpo, não é...
— Não é o quê, Stela? — Avalia cada centímetro do meu
corpo com uma interrogação intensa no olhar.
— Já lhe disse que não sou essas garotas de capa de revista
esguias, com barriga chapada, silicone, como você deve estar
acostumado, você é todo malhado e forte... olhe para mim! —
Meneio a cabeça em uma interrogativa demonstrando minha
silhueta fora dos padrões.
— Estou olhando, ... E devo dizer que o que vejo me agrada
pra caralho. Não quero parar de olhar para você, nem de beijar,
abraçar, ou acariciar. Você é perfeita do jeito que é, já conversamos
sobre isso na primeira vez em sua casa. Falei o quanto me satisfaz.
Há mais de quatro meses que te olho sem desejar desviar meu
olhar. Deixe essas dúvidas de lado quando está comigo Stela, não
precisa delas, aliás não precisa ter dúvidas em nenhum momento.
Fico em silêncio assimilando essas palavras, enquanto ele
continua:
— Antes de te tocar, te vi seminua várias vezes naquele
clube, de lingeries, e ligas. Desde a primeira vez que te olhei,
desejei tudo em você, esses peitos, essa bunda, essa barriga, esse
cabelo, essa boca deliciosa. — A mordida provocante em meu lábio
acende todo o meu corpo. — Eu estava totalmente em desvantagem
porque você não me viu seminu. Não tinha ideia se fazia seu tipo,
ou se lhe agradaria, e nem olhou pra mim na primeira vez, mas você
me agradava tanto que tive que conquistar Benji para te encontrar.
— Acho graça de seu raciocínio e o beijo. — Você realmente não
percebe o poder que exerce nos homens ao seu redor, não é? —
sussurra na minha boca, deliciosamente cada palavra.
— Não sou eu quem faz isso, Vênus é essa mulher poderosa!
— Ele balança a cabeça em negativa e acaricia meu rosto com o
dorso da mão.
— Vênus é você, não é apenas uma personagem, pode ser
menos dominante fora do clube, mas a personalidade sedutora e
atraente é sua — penso alguns segundos nessas palavras. Em um
impulso em tirar a prova se Luke ainda deseja a Domme Vênus,
mulher ousada e fatal, decido questionar:
— Você gostaria de possuir Vênus? — Ele me encara
pensativo...
— Fazer a cena em público de coleira e dominado? Não
consigo, desculpe. Não tenho personalidade submissa. — Vejo o
desejo em seu olhar mesclado a uma frustração.
Hum…
— Você tem roupas dela em casa? — O sorriso travesso em
seu rosto me responde antes mesmo de questioná-lo.
— Tenho. Você seria meu servo em meu quarto? Como um
jogo em uma preliminar só nossa?
— Mas você disse que não fodia com seus submissos. —
Brinca batendo o indicador de leve no meu nariz.
— Pra você abro uma exceção. — Um sorriso sincero se
forma em seu rosto.
— Claro, no seu quarto, sou todo seu para fazer o que quiser
— afirma e ofereço um meio sorriso disfarçando encarando-o
seriamente.
— Mas eu ainda seria a Vênus Dominatrix. — Arqueio a
sobrancelha deixando claro as minhas regras.
— Comigo você pode ser o que quiser, minha espanhola.
Aceito todas vocês, a meiga, a Domme, a ciumenta e a mandona. —
Sorrio tentando relaxar com essa afirmativa.
Luke inicia um novo ritual de preliminares, arranho
suavemente suas costas, me permitindo aproveitar esse momento,
antes que isso tudo não passe de um sonho.
CAPÍTULO 29

Precisei sair de madrugada e deixei Stela dormindo em


minha cama, pois, recebi uma ligação de um dos seguranças da
minha mãe dizendo que ela foi ao hospital, com uma dor aguda no
peito. Nem acionei George, peguei um dos meus carros e estou
dirigindo nervoso até lá. Deixei uma nota na mesa de cabeceira. E
uma mensagem no celular para garantir, explicando onde fui.
Aumento um pouco a velocidade, talvez tenha cruzado um
sinal vermelho ou outro, mas apreensão dentro de mim faz com que
eu deixe os detalhes de lado. Minha mãe foi parar no hospital e nem
uma ligação para o próprio filho? O que ela está pensando?
Chegando lá, sou logo direcionado para a ala privativa do segundo
andar, onde avisto o doutor Ernest Baring ao longe no corredor,
fazendo anotações em um prontuário, totalmente concentrado…
Temos muita confiança nele, há anos toma conta de todos os
tratamentos que minha mãe faz.
— Dr. Baring? O que houve? Por que não fui avisado assim
que minha mãe deu entrada no hospital?
— Acalme-se Sr Taylor, foi apenas uma arritmia. O importante
é que sua mãe ligou logo para o meu número particular, por sorte eu
estava de plantão, ela não quis te deixar preocupado. Vá com
calma, sim? Não a deixe mais nervosa — explica ele de maneira
compassiva.
O jaleco branco impecável não esconde a camisa Gucci
preta. Não é vestimenta adequada para um plantão, no entanto, não
me prenderei a esse detalhe, não agora. Com as mãos no bolso, Dr.
Baring fala calmo e plácido, não sei se para me acalmar ou se
realmente a situação não é tão grave como eu imagino.
— O que resultou nessa crise?
— Sr. Taylor, veja bem. Sua mãe tem uma patologia
coronária. Temos conversado há algum tempo sobre a situação
delicada dela. Não sei o que ocorreu dessa vez, mas a Sra. Taylor
pode relatar. Entretanto, não seria o momento apropriado de insistir
em saber para evitar um possível agravamento em seu quadro, ok?
Sua mãe permanece aqui esta noite, farei mais alguns exames
quando ela estiver mais calma.
Calma? Por que ela precisa se acalmar?
— Certo, tudo bem. Compreendi. Mas agora como ela está?
— Já administrei os calmantes e medicamentos, está
descansando, mas como falei prefiro que fique aqui o resto da noite.
— Claro, claro, fique tranquilo. Vou me assegurar de não a
importunar, mas entenda que como filho e único parente preciso
saber todos os fatos, até mesmo para prevenir seu aborrecimento
da próxima vez.
— Certamente. O Sr é um ótimo filho. Venha! Vou lhe
direcionar ao quarto onde ela está.
Ao chegar até a porta fechada, ele se despede polidamente e
sai pelo corredor largo. Entro no quarto um pouco apreensivo. O que
eu esperava ao vê-la descansando plácida e serena no leito
hospitalar? Não sei, só ouço meu próprio suspiro de alívio, liberando
o fôlego pesadamente contido, me acomodando em uma cadeira ao
lado do leito. Dona Soraya em repouso parece tão frágil, e, ao
mesmo tempo, com seu semblante alinhado, não transparece que
sofre tanto com essa enfermidade coronária. Relaxada sobre o
colchão, dorme pesado, talvez pela carga de medicamentos. Melhor
assim. Após meia hora, ela desperta com um pesadelo, chamando o
nome de meu pai angustiada e grogue pelos remédios.
— Mãe, mãe, ei, sou eu, estou aqui. Foi um pesadelo. Está
tudo bem. Vou chamar a enfermeira!
— Não que...rido. Estou bem... Foi um sonho ruim. Pode me
alcançar um copo d’água... por favor? — Faço o que ela diz, dando-
lhe de beber.
— Como está se sentindo?
— Sonolenta, confesso.
Apanho o copo pela metade e coloco sobre a mesinha branca
ao lado da cama.
— Ficará aqui esta noite, conversei com o Dr. Baring e ele
quer fazer alguns exames detalhados, concordei, mas preciso
saber uma coisa.
— Hã? — Ela ainda está atordoada pela medicação, mas não
há jeito fácil de fazer isso.
— Por que não me ligou, mãe?
Vejo como a respiração dela se torna profunda e seus olhos
se fecham pelo cansaço ocasionado pela sedação.
— Não queria preocupar você. — Mais um suspiro longo —
Trabalha tanto e descansa tão pouco.
— Não interessa, só temos um ao outro, dona Soraya. A
quem vou recorrer se eu adoecer?
— Você é forte, tem tanta vida pela frente. Não se preocupe
comigo, eu já tive minha cota de felicidade.
— O que está dizendo, mãe? O que houve para fazer a
senhora pensar essas besteiras?
Pego suas mãos na minha, visivelmente angustiado. Afago
as mãos frias sentindo a maciez e delicadeza da pele fina.
— Não houve nada. Apenas uma reflexão que ando tendo
ultimamente.
— Fale, é algo que eu possa fazer?
— Não quero lhe sobrecarregar com meus anseios, filho.
— Mãe! Por favor?
Ela suspira longa e pesadamente, com os olhos rasos
d’água.
— A solidão da idade está corroendo meus ossos.
— Como assim? Estou aqui, sempre estarei. A senhora não
está sozinha, mãe!
Balançando a cabeça desanimada, ela nem sequer consegue
me olhar.
— Após a partida do seu pai, o choque inicial não teve tanto
impacto a curto prazo. Mas cada dia que me vejo naquela casa
sozinha, somente com recordações de uma vida, meu Deus! Estou
afundando na solidão.
Ela estende a mão para pegar o copo de água novamente e
eu a ajudo. Aguardo ela beber em pequenos goles a água fresca,
mas tenho a impressão que não é sede e sim uma pausa do que
realmente dona Soraya quer revelar.
— Fale, mãe. Estou escutando, quero ajudar.
O copo vazio me é oferecido para deixar na mesinha.
— Os Rockwell vão embora para a Europa. Marion me ligou
hoje à tarde dizendo que Christy não quer mais ficar no país.
Meu Deus! Todo esse estrago por causa daquela menina!
Entendo que seja pelo que ocorreu no último jantar, minha mãe me
ligou dias depois. Não esqueço sua voz chorosa ao telefone falando
da discussão que teve com os pais dela. Porém, achei que tivesse
voltado às boas na relação de amizade. Não consigo evitar me
sentir culpado. Mas o que eu posso fazer? Não gosto da garota, não
para o envolvimento que ela quer.
— Foi aquele jantar, não foi?
Ela aperta os lábios olhando as mãos em seu no colo.
— Depois daquela noite a pobrezinha entrou num desânimo
profundo. Queria tanto que as coisas dessem certo entre vocês dois,
querido. Ter algumas crianças correndo pela casa e preenchendo
aquela mansão com novas memórias. — Observo as mãos trêmulas
ao alinhar os lençóis sobre o próprio corpo. Essa conversa não vai
levar a lugar algum senão ao agravamento do quadro dela.
— Descanse mãe, conversamos depois dos resultados dos
exames.
— Não Luke! Precisamos definir agora antes que os Rockwell
se mudem definitivamente para Paris! — Me surpreende a firmeza
na voz e mudança de tom.
— Definir o que, mãe? Posso pedir desculpas formalmente,
pronto está resolvido.
Seu rosto fica com o semblante duro e sério.
— Não sei se um pedido de desculpas será suficiente. Talvez
ser um pouco mais amável com Christy. Se esforçar mais, ela é tão
bonita e gentil. É perfeita para você.
Tento argumentar, mas seu rosto choroso me destrói.
— Por mim, filho. Se o seu pai estivesse vivo, ele
concordaria, pense nisso, não quer deixá-lo orgulhoso? Cuide de
sua mãe. Não vou ficar muito tempo ao seu lado, já tenho uma
idade onde preciso do conforto de uma família grande, e você é meu
único filho, portanto, precisa decidir pelo certo como chefe de
família.
— Mãe, vamos fazer assim. Vou me retratar com eles. Darei
aquele cargo para a menina, assim ela desiste de ir embora.
— E talvez vocês possam, enfim, se acertar?
— Mãe é melhor descansar.
— Luke... vai se acertar com Christy?
— Não posso prometer nada.
As mãos pálidas apertam o lençol sobre o corpo até as
delicadas juntas esbranquiçarem.
— Filho, você não me ama? — O tom de voz muda
ligeiramente, mas percebo o nível de estresse subindo.
— Claro que amo mãe... Está bem, fique calma, vou ver o
que posso fazer para me aproximar um pouco mais da garota.
Agora descanse para retornar pra casa.
— Oh! Meu Deus! Que felicidade, meu filho. Desculpe pedir
isso a você, mas não tenho mais ninguém além do meu precioso
filho.
Beijo suas mãos vendo seu rosto sorridente, nosso momento
é interrompido pela própria senhora Rockwell, que entra esbaforida
pela porta.
— Amiga Soraya, céus! O que houve?
— Marion? O que faz aqui?
— Vim ficar com você. Luke, pode deixar que ficarei com sua
mãe. Não ficaria tranquila em casa sabendo que está no hospital
sozinha.
Me afasto avisando que vou pegar um café e que volto logo.
Do lado de fora pego o celular e aviso a George para ficar de
prontidão na minha porta. Stela certamente não vai querer ficar lá
em casa sozinha e não vou permitir que vá embora sem escolta, já
que ela mora do outro lado da cidade. Quanto a mim, preciso
mesmo de um café forte. Tenho que pensar em meus próximos
passos daqui para frente, pois, como vou negar um compromisso
com Christy sem desapontar minha mãe? Mas que merda! Agora
que as coisas estão se ajeitando com Stela, surge esse tipo de
situação? Não interessa, preciso encontrar uma solução, Stela é a
mulher que eu quero, não é Christy ou nenhuma outra. Preciso
encontrar a saída disso.
CAPÍTULO 30

Luke viajou para o estado vizinho esta semana, disse que


quando retornar vem direto me encontrar. Estou espaçando cada
vez mais minhas idas ao clube, evitando criar atrito entre nós. O
CEO dos cassinos ainda espera minha resposta sobre trabalhar
como sua assistente. Uma parte de mim quer aceitar, entretanto,
existe uma voz soprando em meu subconsciente que nossa relação
está boa demais, um conto de fadas maravilhoso para acreditar. O
que me deixa com um pé atrás. Minha mãe sempre me repreendia
quando esse sentimento pessimista pairava sobre mim, mas não era
isso. Sempre fui realista, não pessimista. Garotas como eu, não se
dão bem com homens como Luke. E olha só, estou me relacionando
com um príncipe, lindo, gostoso, bilionário e que se interessa em
mim independentemente de como sou. Essa realidade não
convence ter um futuro feliz. Se não der certo eu é que ficarei na
merda! Porque já entreguei meu coração e preciso saber se
realmente sou eu quem ele quer. Pois desde o início, era Vênus a
musa dos desejos de Luke, está na hora de trazê-la à tona. Opto por
fazer uma chamada no celular despretensiosa, para saber a quantas
anda essa viagem.
A conversa está boa, fico feliz que demonstre a animação
em retornar. Cinco dias distante e a falta que ele faz está
começando a me preocupar. Já estou atolada nessa relação e o
pressentimento que vou sofrer de alguma forma anda me rondando
ultimamente.
— Você tem certeza, Luke? — emprego um misto de malícia
e receio em minha voz.
— Tenho, chego de viagem e vou direto pra sua casa.
— Não vai encontrar a Stela quando chegar, quer que Vênus
receba você? — preciso de convicção, a voz dele, apesar de firme,
às vezes vacila em incerteza.
— Quero.
— Está preparado para isso?
— Caralho Stela! Pra que me assustar dessa maneira? —
Talvez fazer pressão não seja mesmo uma boa ideia.
— Tá bom, vamos estabelecer os limites então.
— Limites? — O tom da pergunta parece transmitir receio.
— Claro, o que eu posso ou não fazer, ah, homem! Você
sabe.
— Ok.
— Brinquedos, dildos, vibradores?
— Em mim não. — É tão rápida e precisa a resposta que
abro um sorriso em meus lábios. Inversão[34] é para Luke como o sol
para vampiros.
— Amarrar, vendar, chicote e palmatória?
— Amarrar e vendar.
— Palmadas? — A conversa me excita e já começo a bolar a
cena em minha cabeça.
— Não. — Desanimador, não vai se submeter a mim.
— Se me desobedecer será castigado.
— Ok, mas não vou desobedecer.
— Coleira?
— Nem pensar! — Tem um quase grito na resposta. Segura a
risada Stela!
— Luke, você não espera chegar aqui e apenas foder uma
mulher vestida de couro, tem que ceder.
— Tá bom, mas não me arraste, pet play,[35] não. — Pede ele
decepcionado, o seu ego dominante está em conflito com o desejo
de ser um vassalo por um dia.
— Gelo?
— Ok.
— Cera quente?
— Stela!
— Ok, tudo bem. — Dou uma risadinha baixa só pra mim.
— Lembre-se, sim senhora, não senhora.
— Certo, vou lembrar.
— Nos vemos amanhã então?
— Sim, tô com saudades.
— Vamos matar essa saudade amanhã, benzinho.
— Até amanhã, minha linda, dorme bem e sonha comigo.
— Até amanhã, meu Luke.
A ligação finaliza, e eu fico um tempo na cama para pensar
sobre essa conversa. Há um dilema se formando, entre minha
consciência e meu coração sobre essa conversa. Luke decidiu
experimentar todos os prazeres que Vênus pode proporcionar a ele.
Fico feliz, pois isso prova a confiança que entrega a mim. Vou dar o
melhor da Domme a ele, pois esse homem merece. O que eu mais
temia aconteceu. Me apaixonei por Luke. E se depois, ele quiser só
Vênus? Ou pior, perder o interesse e não querer se relacionar
comigo? Partirá meu coração, mas agora, já é tarde demais para
arrependimentos. Não deveria ter me envolvido a esse ponto,
mesmo sabendo do risco que era me apaixonar. Paguei o preço,
perdi a aposta. Ah, Stela Salvage, por que você não ouviu seu
instinto, mulher? Agora está de quatro pelo cara e com medo da
rejeição.

Chega o dia e meu coração está inquieto. Estou mais


nervosa do que imaginei. Não pela cena que vou desempenhar, mas
o que vai acontecer depois.
Na verdade, bem no fundo, sempre soube que esse dia
chegaria. Luke se aproximou de mim para chegar até Vênus, a
verdadeira fantasia dele. Toda vez que desperto pela manhã ao seu
lado, passa pela minha mente uma dúvida aterradora. Sou uma
mera distração no meio do percurso em ter a Domme na vida dele?
Entretanto, como adulta sei que sou a culpada por insistir nessa
ilusão a espera de ser mais que a fantasia. Aguardando um
sentimento que agora receio existir apenas da minha parte. Minha
consciência zomba de mim, o alerta se fez presente de várias
formas. E preferi ignorar até agora. Não posso viver nessa dúvida
de não ter certeza quem realmente é o desejo de Luke, comecei e
vou até o final, se for Vênus, essa relação acaba hoje!
CAPÍTULO 31

Confesso que estou eufórico, a primeira vez que vou interagir


como sempre desejei com Vênus, ainda que seja no papel de
submisso, não me importo, porque sei que por trás da Lady
dominadora existe a mulher por quem me apaixonei. O que faremos
hoje é só uma fantasia, para nos divertir. Apenas nós dois e
certamente será excitante como tudo é com ela.
Meu motorista me deixa na porta de sua casa, saudoso em
ver minha namorada. Aguardo a campainha da porta cumprir seu
papel.
Stela me atende vestida apenas com o sobretudo habitual
que usa no clube, séria e com um brilho diferente no olhar. Quando
vou beijá-la em cumprimento, ela se afasta. É um choque ver a
diferença na atitude. Um arrepio gelado perpassa em minha coluna
até a nuca. Adrenalina se elevando drasticamente.
— Os servos não têm permissão para tocar em sua senhora,
principalmente antes do banho, tome um banho e me espere nu no
quarto.
Sinalizo com a cabeça e obedeço. Ando pelo corredor que
conheço bem, cruzando cada arandela iluminando meus passos
como se fosse uma contagem regressiva. Tomo um banho de modo
calmo, porém minha mente está um tanto apreensiva, sei como
Vênus age, mas não é o momento de desistir, quero agradar a
minha deusa. Ela quer jogar, vamos jogar!
Após a ducha caprichada, agora dentro do quarto, percebo
que não está totalmente claro, também não é uma penumbra
desconfortável, muito pelo contrário, é uma atmosfera sensual e o
perfume de cereja no ar estimulando meus sentidos deixa tudo mais
excitante. Me acomodo na cadeira no meio do cômodo que deve ser
para mim e aguardo. O que será que ela está preparando para esta
noite? Não tenho muito tempo para pensar sobre isso, pois, Vênus
entra em seguida segurando uma taça de cristal com algo dentro,
que não identifico em um primeiro momento, provavelmente pela
minha apreensão com sua presença poderosa não me atenho nos
detalhes.
— Do que você quer ser chamado, meu servo?
O sobretudo escuro vai ao chão lentamente, enquanto
aguarda uma resposta, me encarando de forma intensa e
penetrante. Não consigo me concentrar em nada além da sua figura
altiva e sexy. Passeando meu olhar pela cinta liga e meias pretas
sobre um sapato altíssimo, subo observando a calcinha de renda. É
delicada e no lugar do sutiã usa algo como tiras de couro circulando
os montes perfeitos expostos formando molduras formidáveis,
culminando em uma coleira fina, vestida toda de negro e batom
vermelho nos lábios.
Não sorri, tem apenas a intensidade da Vênus que conheci
no clube.
— Não vai responder sua senhora?
— Sim, senhora.
— Então? Menino mau, cachorrinho?
— Do que quiser, minha Lady.
Ela sorri satisfeita, no entanto, não alcança seus olhos, será
que está apreensiva com algo ou é só concentração? Em seguida,
retira a coleira colocando em meu pescoço. Os dedos delicados
acariciando minha pele me fazem quase sibilar de euforia, se
aproximando mais um pouco agarra firme meu cabelo pela nuca.
Lambe os lábios próximo dos meus, me deixando completamente
maluco com seu hálito quente e doce. Saudade dessa boca, do
beijo, saudade da minha namorada!
— Sabe por que está usando coleira?
— Porque ... Sou uma posse.
— E a quem você pertence?
— A Sra. Vênus.
— Muito bem. Qual a palavra de segurança?
Palavra de segurança? Engulo o nó na garganta, não
havíamos combinado nada pesado que necessitasse de um escape.
O que será que essa atrevida está planejando?
— Cereja — respondo de queixo erguido.
— Ok. Use cereja se for demais para você.
Deus do céu! Ela está fazendo de propósito? Certamente.
Minha Domme não brinca quando atua.
— Toque seu corpo para mim, garotão! Brinque, provoque
sua dona! — Se afasta e se acomoda na poltroninha no canto de
frente para mim.
Enquanto começo a me acariciar para ela. O brilho em seu
olhar me admirando, enquanto, minha mão lentamente alisa a
ereção potente que projeto única e exclusivamente para ela, é
espetacular. Me envaidece em grau extremo o desejo em seus olhos
amendoados. Vejo seus lábios se abrirem na busca pelo ar, pela
respiração visivelmente alterada. Isso me instiga, me faz deslizar
lentamente e olhar para seu rosto ao segurar as bolas imaginando
seus lábios carnudos em cada uma delas. Ouço um gemido rouco e
percebo que saiu da minha garganta. É um delírio a sensação de
me exibir para Stela, que não desvia a atenção dos meus
movimentos lentos. Quero você aqui, minha dona, sentada nele
tendo prazer com meu corpo.
— Hum! — um gemido baixo escapa dela e observo
hipnotizado Stela brincando com uma cereja na boca. Está
simulando exatamente o que eu quero. Lambe e come a frutinha
para em seguida olhar minha mão parada, pega outra cereja
deslizando a fruta em seu seio, lambuzando em círculos colorindo a
pele enchendo minha boca d’água. Ao comer a fruta, olha
descaradamente meu pau duro, que está pronto e ansioso para
entrar nela, começando a melar minha mão. Nesse momento fico
desnorteado com as provocações.
— Pode parar de se acariciar, meu menino safado. Sua dona
gosta muito do seu pau, eu mesma quero apreciá-lo.
Ela levanta em posse de uma algema e prende meus pulsos
atrás da cadeira.
— Prefiro cordas, mas algemas vão servir — sussurra de
modo suave em meu ouvido, arrepiando todo o meu corpo
necessitado.
— Quer pedir algo, servo?
Seu olhar intenso em minhas feições é estimulante, consigo
admirar cada detalhe lindo do rosto perfeito. A marquinha na
bochecha é o charme mais sedutor que já vi.
— Sim. — Num golpe rápido desfere um tapa em minha face.
— É assim que se dirige e pede o que quer a sua dona?
Pisco rápido os olhos pelo susto do estalo.
— Não, senhora.
A mão desfere outro tapa leve e percebo que estou sorrindo,
pois, não é igual ao tapa que levei no clube, estou doido para fodê-
la com gosto pelo atrevimento.
— Peça perdão agora!
— Perdão, minha Lady.
— Pode pedir o que deseja agora.
— Quero sentir o gosto da cereja, senhora.
— O quanto quer isso? Implore!
— Muito, eu imploro, por favor, minha senhora, preciso
provar.
Vejo a diversão em seus olhos quando abaixo o olhar para os
seus seios. Stela avança, e coloca o mamilo lambuzado em minha
boca, na verdade, meu desejo era seu beijo gostoso, estou
morrendo de saudades, cinco dias fora e ainda não a toquei.
Entretanto, Vênus não concederá meu pedido e me contento em
lamber e chupar a carne com o sabor da frutinha. Ela aprecia minha
boca ávida, aproveito o momento até o mamilo endurecer na minha
boca, então ela agarra meus cabelos me afastando.
— Tenho uma surpresa para você, se for um menino
bonzinho, é claro.
— Surpresa?
— Está ansioso para ver?
— Sim, minha Lady. — A dor nas minhas bolas é tremenda! E
a aflição do desejo intenso lateja meu pau como um aperto
doloroso.
Stela se afasta e gira de costas começando a se despir da
renda preta, quando a peça vai ao chão, abre as pernas se
inclinando e abrindo a bunda linda para que eu observe a joia anal
que está usando.
Porra! Ela sabe o quanto eu quero essa bunda. Quase me
descontrolo em êxtase pela visão, uma gota brilhante e densa
escapa do meu pau duro escorrendo pela ponta inchada. Se não
estivesse algemado, não me controlaria.
— O que acha, servo?
— Um delírio, Lady Vênus.
— Não estou convencida de que gostou!
Engulo a saliva da boca cheia d’água e inspiro fundo o aroma
de cereja à minha volta. Não tinha percebido que havia algumas
velas acesas no canto do cômodo, talvez aromáticas. O perfume
dela.
— Eu... É a coisa mais linda que já vi, por favor, não me
negue essa delícia, minha senhora, me agracie. — Stela se
aproxima com passos calculados me encarando sem piscar.
— O que vai fazer com essa delícia? — questiona ela
próximo ao meu rosto. Ergo meu queixo com meio sorriso
indecente.
— Vou lamber, enfiar minha língua e preparar essa delícia
para que meu pau entre bem gostoso nesse rabo, e dar um
orgasmo alucinante para minha dona.
Stela não segura o sorriso e acaricia meu lábio com o
polegar, não com delicadeza, mas com firmeza até que eu o sugue
com vontade.
— Que garotinho pervertido eu tenho aqui!
Mais um puxão na raiz dos cabelos.
— Fala de novo o que pretende? — Ordens a deixam
excitada, sei disso pelas pupilas maiores e o rosto corado.
— Vou me enterrar todo nessa delícia, me fartar nessa bunda
até minha dona ordenar que eu pare.
Stela umedece os lábios e morde o inferior, tentando manter
o controle. Tô quase implorando para que monte em mim e acabe
comigo.
— Vai se comportar e obedecer?
— Sim, senhora.
Ela se afasta e pega um lenço de seda vermelho vendando
meus olhos. Sai do quarto por alguns instantes e retorna logo
depois. Meu Deus, o que ela está planejando afinal? Alguns minutos
se passam e sinto um beijo gelado no meu pescoço me dando um
susto na cadeira. Ok, é só gelo, então eu relaxo um pouco. Desce
lambendo meu mamilo, me arrepio com a sensação, chupa com a
língua gelada, me fazendo arquear. Desliza a língua se demorando
em cada um deles.
— Está com sede?
— Hum... Sim, por favor...
Seus dedos molhados e gelados passeiam sobre meus
lábios, luto com eles provocando que me ofereça para sugar, mas
no lugar deles ela encosta uma pedra de gelo em meus lábios,
suavemente por alguns segundos.
Em seguida ouço o som das pedras no copo. Ela está
mexendo com eles de modo proposital, desejoso abro os lábios para
recebê-los. Mas me engano redondamente quando salto da cadeira
ao sentir os lábios gelados retornando ao meu mamilo, ou é uma
pedra de gelo? Não sei, minha percepção junto a adrenalina e a
privação do sentido da visão faz tudo ficar ainda mais aflorado.
Percebo quando se acomoda entre minhas pernas, Oh Deus, vou
gozar no momento em que a língua gelada tocar a ponta melada.
Seria uma boa hora para uma prece? Não, nem pensar!
— Vou brincar um pouco, mas está proibido de gozar garoto,
pode fazer isso?
— Não vou conseguir!
— Vai perder a recompensa? A delícia que tanto quer?
Engulo mais uma vez, o coração batendo forte, ouço no meu
ouvido a pulsação feito locomotiva a vapor.
— Vou dar meu máximo, minha Lady.
Ouço novamente o som das pedras de gelo propositalmente
tilintando no vidro. Ah porra!
— Pode gemer, aliás, deve, mas não gozar.
Sinto a língua gelada resvalando no freio do meu pau e com
a mão ela toca uma pedra de gelo no meu mamilo, me fazendo
gritar e saltar da cadeira pendendo a cabeça para trás em busca de
ar.
— Ah caralho! Não vou aguentar, porra!
A boca gelada lambe a ponta em círculos molhados,
torturando em lentidão. Quando acostumo com a temperatura, ela
usa o gelo para me lembrar quem está no comando. Sinto o pré-
gozo escapando e um gemido de apreciação assim que ela limpa a
minha quase desobediência. Os músculos das minhas coxas doem,
tesão puro em segurar e obedecer. E os pulsos atados nas costas
ardem pela força em retesar o corpo, porém tudo desvanece quando
a boca molhada na medida encobre meu pau inteiro. Quente e
aconchegante feito veludo.
— Puta que pariu!
Meu quadril sobe involuntário de encontro a dona, ela permite
impulsionar uma e outra vez para engasgá-la e o arrepio do gozo
vem a borda. Nesse instante sinto uma carícia em meu períneo com
um dedo gelado me fazendo gemer alto e perder o fôlego. Essa
mulher vai me matar esta noite! Minhas pernas começam a tremer
inquietas tentando segurar a todo custo.
— Meu ... Deus! Vênussss! É demais... não aguento!
— O que deseja servo? Peça para sua dona, implore! —
Enquanto conversamos, ela arranha suavemente minhas coxas.
— Preciso gozar Lady ... Por favor...
— Onde quer gozar, meu menino pervertido?
— Onde a senhora permitir, ... por favor.
Estou realmente desesperado com um misto de sensações.
O meu corpo está no limite e minha pele está formigando sem um
simples toque. Preciso de alívio urgente! A concentração em não
liberar é extrema, mas qualquer descuido gozo e farei um estrago.
— Quer gozar com sua dona, baby? — Ela dá mais uma
chupada gelada agonizante em minha extensão, e meu corpo
tensiona, fazendo minha voz falhar de vez. Respiro como um touro
pronto para o abate.
— Por favor, ... É o que eu mais quero ... Ah!
Estou com tanta saudade da minha orquídea que estou a
ponto de jorrar a qualquer momento. Vênus monta em mim e
começa a esfregar o sexo molhado, mas sem penetrar. Queria beijá-
la, me afogar em seus olhos de felina.
— Peça agora!
Não suporto, não beijar a boca atrevida que tanto me
encantou, preciso da minha garota.
— Quero minha Stela de volta, preciso beijar sua boca
enquanto a penetro, olhar em seus olhos quando gozo, por favor, é
a minha garota real que eu quero!
Seus movimentos cessam, como se estagnasse no meio do
ato. Penso que estraguei a brincadeira, mas foda-se! ... Minha
venda é arrancada num golpe rápido e consigo ver seu rosto
surpreso enquanto se arruma montando em mim, engolindo por
completo minha grossura, me beijando loucamente. Devoro os
lábios doces enquanto meu cabelo é agarrado. Meu coração
também está se doando a ela nesse momento pelo prazer intenso
que o orgasmo mais avassalador que já experimentei me
desestrutura totalmente. Meu coração, meu corpo e minha alma
estão completamente entregues a mulher mais linda e corajosa que
conheci.
Stela lambe e morde meus lábios, me fode cavalgando e
gemendo palavras incompreensíveis em espanhol. E a mim só resta
apreciar as ondas de prazer tresloucado em delírio com que meu
corpo é atingido.
— Que saudade, Stela... Me beija, não para... tô gozando
agora, mas não afaste seus lábios, por favor, imploro ... Seu beijo.
— Seus olhos me encaram vidrados, brilhantes, enquanto dança no
meu colo.
— Não implora, meu Luke, para mim não precisa implorar,
estou aqui totalmente e você é o único que me tem.
Ah, Caralho! Queria agarrá-la, mas acho que as algemas
foram esquecidas nesse instante. E um segundo orgasmo vem com
tudo, porém seco, apenas espasmos e arrepios ao apreciar minha
orquídea selvagem gozando, gemendo meu nome e me devorando.
Não paro de beijar a boca de cereja, reivindicando o que é meu,
minha língua fica em agonia quando ela se afasta para tomar
fôlego.
Nunca tive uma foda como essa, mas sei que não
esquecerei jamais. A calmaria pós-prazer vem nos lábios serenando
em conjunto como se quisessem apaziguar e acalentar o corpo.
Quando se dá conta, rapidamente destrava as algemas e eu me
agarro a ela num abraço apertado de saudade. Stela aceita meus
carinhos agarrada a mim também e sorrio de felicidade ao vê-la
retribuir a intensidade. Deitamos um pouco na cama e ela retira a
minha coleira. Tira com cuidado a algema e beija cada um dos meus
pulsos marcados pelos vergões.
Meu Deus, tô perdido por essa mulher! Quero apenas olhar
para esse rosto corado e essa boca inchada pelos meus beijos.
Ficamos um tempo abraçados sob os lençóis. Meu rosto é afagado
por dedos delicados como o toque de uma pluma e seu olhar tem
uma forma diferente de me avaliar. Parece ter um mundo de
sentimentos neles querendo pôr em palavras. Posso estar sensível
pelo jogo de cena que fizemos há pouco, mas há uma conexão
maior agora. Os beijos que me oferece também são novos, beijos
lentos, necessitados, com ternura e cuidado.
— Odiei não ter beijado essa boca quando cheguei, minha
orquídea. — O paraíso deve ser assim, semelhante a visão do
sorriso dela contra meus lábios.
— Nunca mais quero recepção sem beijo, combinado?
— Prometo, meu grandão. — Aliso seus cabelos perfumados
sem conseguir desgrudar dela.
Stela diz que precisa de um banho e pergunto se posso
acompanhar, ela permite e entro no box quase implorando para tirar
eu mesmo a pouca roupa que veste. Acaricio, aperto, beijo e lambo
minha garota tirando sorrisos lindos que são só dela.
— Stela, você já tirou a joia?
— Não.
— Por que está usando um dilatador? Vai permitir que eu ...?
— Não negue que você quer!
— Você sabe que quero, mas não precisa ser hoje, é que deu
um tesão do caralho vendo a lindeza que a joia ficou em você.
— Hum... você é muito grande, Luke, tenho receio de não
aguentar. — Morde o lábio inferior fazendo charme.
— Sei que esses elogios são pra disfarçar que você quer
também.
O sorriso safado mexe comigo como nenhuma outra coisa
faz.
— Posso tentar se tiver paciência.
— Lembro que disse que nunca fez, confia em mim?
Ela balança a cabeça em afirmativo, e tenho vontade de
morder ela toda pelo jeitinho que me olha. Em seguida, ajudo no
banho lavando as costas com beijos na nuca e risos felizes. Ao
terminar nos secamos com olhares cúmplices.
— Vem minha pequena, vou cuidar de você.
Na cama, voltamos com as carícias gostosas, saboreando os
beijos dos lábios macios, me vejo sorrindo como um pateta em meio
as carícias. Cansaço? Jet lag? Não sei o que é isso! Agarro a pele
sedosa, aperto com gosto e não consigo me saciar.
— Posso ver de perto?
— Pode, comprei só para você.
— Verdade? Quer ser minha por inteiro? — Ela pisca os
olhos castanhos rapidamente pela pergunta.
— Porque eu sou seu, Stela.
— Quero. — E sorri na minha boca confirmando o paraíso
que estou vivendo.
A beijo com ternura e vou deslizando por todo o corpo, já
estou como sempre pulsando de desejo por tomá-la novamente.
Nem me surpreende essa sensação de querê-la a todo instante. Vou
girando seu corpo na cama distribuindo beijos molhados, fazendo
com que ela fique arrepiada sob meus toques.
— Empina para mim, benzinho.
Ela obedece e avisa que tem uma bisnaga com óleo na mesa
de cabeceira, rapidamente pego o frasco e deixo-o ao meu alcance.
Mas primeiro necessito de um momento para admirar o plug
enterrado com apenas a pedra colorida adornando a bunda gloriosa,
a minha bunda, porque me pertence e vou reivindicá-la agora.
Passo os dedos na sua umidade sentindo o quão preparada
para mim ela está. Mas como não resisto, desço minha língua para
acariciar do jeitinho que gostamos, preciso ouvir seus gemidos.
Minha ereção potente brilha pelo líquido de antecipação, gotejando
de desejo. Um desejo que só Stela satisfaz. Preciso sentir seu calor,
apreciar como me acolhe e me agracia com tudo o que ela é. E
assim o faço, a boceta de Stela é o ímã do meu pau. Entro nela
lentamente, e retiro o plug da mesma maneira com cuidado a fim de
lambuzar sua outra entrada com o óleo enquanto bombeio devagar,
curtindo os sons que exalam pelo quarto. Molho meus dedos ao
encontrar seu clitóris, está tão molhada e pronta que começo a
massagear, quero que ela goze assim para relaxar e chegar às
nuvens comigo.
Stela rebola encontrando meu ritmo e percebo o clímax se
aproximando. Quando ela começa a convulsionar, insiro meu dedo
melado na outra entrada. Introduzo mais um, mas o plug fez a maior
parte do trabalho em preparar. Não pretendo de maneira alguma
machucá-la, sei que se for desconfortável vamos parar na hora.
Quando se acalma, a ponho de lado e me acomodo para penetrar. A
ponta entra e o calor me incendeia esmagando centímetro por
centímetro conforme me recebe lentamente. É uma sensação louca
que mesmo parado dentro dela parece que está sendo pulsado e
estou pronto para gozar.
— Tudo bem, Stela?
— Sim, tudo bem.
Acaricio os seios túrgidos, beliscando com suavidade
enquanto beijo e lambo seu pescoço. Sussurro em seu ouvido,
como não parei de pensar nela durante a viagem e como a queria
comigo. Quando ouço ela ronronar manhosa, meu quadril começa a
mexer lentamente até formar a cadência do ritmo. Gemo como um
animal agarrado nela, mantendo nossa conexão. O perfume de seus
cabelos ao morder sua nuca me alucina de tesão.
— Luke...!
O calor de seu corpo em labaredas e, ao mesmo tempo,
remetendo a sensação de posse, me transporta para o sonho de ter
uma vida com alguém que me ama pelo que sou e não pelo minha
posição ou condição social. Sempre que ouço que sou o Luke dela,
há uma verdade tão latente que me tira do eixo, sinto vontade de
gritar que não vivo mais sem minha geniosa, minha ciumenta, meu
sonho de mulher. Stela se tornou minha droga, e cada dia confirmo
como estou apaixonado por minha orquídea selvagem.
— Me chama de seu de novo, repete pra mim, vai —
sussurro com minha voz ofegante
— Sim, meu Luke, você é só meu, mi cariño.
Depois de ouvir essas palavras, entro numa espécie de
transe sensorial. Deslizo minha mão em seu centro para chegar
comigo ao paraíso do prazer. Stela agarra minha mão apertado,
instigando a dar o orgasmo que ela necessita. A boceta quente,
macia e molhada acolhe meus dedos como uma extensão do meu
corpo. E o clitóris está tão durinho, tão pronto que começo a
massagear mais rápido enquanto meu pau bomba a bunda gostosa
que é só minha, eu, o primeiro e último a reivindicá-la. Seu corpo
convulsiona e Stela explode gemendo meu nome.
— Luke... Ó Deus! Luke! ... É tão quente! Gostoso demais!
Tontura, tremor e formigamento, um flash de escuridão como
uma perda da percepção me atinge. Começo a jorrar dentro dela,
agarrando seu corpo na ânsia do gozo, querendo me fundir a
lindeza grudada em mim. Não sou hipócrita para dizer que nunca
tinha feito anal, porque fiz, mas não recordo de absolutamente nada
das outras vezes, é como se eu tivesse comido um cu pela primeira
vez de tão avassalador.
Mas porra! As outras foram curiosidade e desejo primitivo,
essa mulher é propriedade. Ela é minha. Eu precisava disso para
me sentir o homem dela. Minha deusa de cabelos castanhos gira a
cabeça para me beijar, na calmaria ainda dentro dela não há outro
lugar que eu queira estar. Esse calor maravilhoso desse corpo
perfeito me acolhe como o lar que eu sempre quis.
— Você é perfeita! Toda... Perfeita, minha deusa!
Acaricio seu rosto com um sentimento tremendo, tentando
encontrar palavras para falar, mas só tenho perguntas na mente.
— Você é minha? — Ela pisca os olhos marejados.
— Sou.
— Quero você, Stela, como nunca quis outra mulher.
Meu coração transborda de sentimentos por ela. Encaro por
alguns instantes seus cílios úmidos e sinto sua respiração mudar,
meus dedos não param de acariciar seu rosto e sua boca carnuda, a
minha boca, a qual não consigo me afastar.
— Você me faz feliz, Luke. — Fecho os olhos quando sinto o
beijo no meu lugar favorito, o pomo de Adão. E o afago em meu
rosto com a mão delicada me faz enroscar nela e abraçá-la com
força. Beijo sua boca tentando dizer nesse gesto o quanto gosto
dela, tenho medo de dizer que a amo e ela fugir de mim, isso eu não
vou suportar. Aperto seu corpo contra o meu e a aninho em meus
braços inspirando seu aroma, confirmando o que já sei há tempos.
Encontrei a mulher da minha vida.
CAPÍTULO 32

Levanto num sobressalto e me sento novamente, uma tontura


estranha surge fazendo meu sangue gelar, rapidamente ignoro e
pego minha cartela de anticoncepcional. Nesse último mês transo
todas as semanas com Luke, não posso ter falhado algum.
Conferindo atentamente, fico aliviada em perceber que não fui
descuidada. Deve ser fome. Despertar sozinha na cama depois de
uma noite como a de ontem, sem bilhete, mensagem ou recado
habitual, me deixa angustiada. Faz as minhocas na minha mente
copular e gerar filhotes como ratos.
Luke nunca fez esse tipo de coisa, porém, ontem foi a prova
do que realmente é nossa relação. Será que vai acontecer como
meu último caso lá na Espanha? Depois que teve o que desejava, o
carinha nem se despediu, e ainda deixou a conta do motel para
mim. Aqui não me envolvi com ninguém mais que uns amassos e
beijos quentes. Mas Luke já teve muitas noites de sexo comigo e
não sumiu, no entanto, ontem foi a primeira vez que teve Vênus.
Bem, em todo o caso ainda é cedo para tirar conclusões erradas
sobre nós. É melhor começar meu dia com um bom desjejum para
acalmar a mente.
Preciso tomar meu café, já que ontem comi tão pouco e a
tarefa de dominar meu homem gastou mais energia que o comum.
‘Meu homem? Que espanhola patética e iludida! Palhaça é isso que
você é, sua gorda ridícula! O cara fugiu antes de você se dar conta!’
Não! Pare com esses pensamentos pessimistas! Condeno minha
consciência. Pode ser que Luke teve um compromisso urgente, é
isso. Apresso em fazer várias guloseimas para tirar essas
suposições idiotas da minha mente, encho a mesa de gostosuras,
monto um café da manhã esplêndido, afinal mereço comer bem
depois de uma noite fantástica como a de ontem. E depois, se esse
possível coração partido acontecer, vou me recuperar como das
outras vezes.
Ouço a fechadura na porta abrir. Trancada! Mas há uma
chave pendurada no lado de dentro. Espere um momento, a reserva
não está no chaveiro?
— Uau, que aroma delicioso, minha linda — diz ele entrando
rápido e me puxando para um beijo. Tira o blazer e acomoda na
cadeira, como o dono da casa sentando-se nela, aguardando o café.
Paralisada, estática e surpresa me mantenho no meio da sala de
jantar o encarando em um misto de pensamentos confusos.
— Você voltou?
Sua risada descontraída faz os cantos dos olhos se
curvarem. Lindo!
— Lógico, para onde eu iria num fim de semana, senão ficar
com a minha garota?
— Sua garota?
— Claro, você é minha garota, minha gata, minha gostosa,
minha orquídea selvagem ou minha Lady, se preferir.
Sorrio realizada pelo jeito descontraído do meu amor. Ainda
não revelei que ele é meu amor, mas quero dizer quanto antes que
o amo, só preciso perder o medo, está maravilhoso para ser
verdade.
— Saí só para fazer uma coisa rápida, já que viajo na
segunda.
— Você vai ficar fora muito tempo?
— Dessa vez um pouco mais, infelizmente, vou para o Japão,
tenho um encontro com um designer de interiores que quero fechar
uma parceria para uma ala especial do cassino, esse cara é muito
disputado, tenho que passar uns dias por lá.
Preparo o café dele, já aprendi o jeitinho que ele gosta e
sento-me também. Luke arrasta minha cadeira bem mais próxima a
dele. O que me faz rir.
— Não ria, safada, quero aproveitar todo o tempo que eu
puder esse fim de semana. Você não foi caminhar hoje?
— Como eu sairia se você acabou comigo ontem a noite. —
Ele gargalha.
— Ah é? Bem, não posso prometer pegar leve nas próximas
vezes. Mas foi por um bom motivo ter saído cedo. Depois do nosso
café eu conto.
— Ok. Quer me deixar curiosa então?
— Um pouco, mas você vai gostar. Eu acho.
— Pare de falar, se não vou tirar esse segredo de você
agora! — Ele ri.
— Não duvido, não consigo negar nada a você.
A conversa durante o café foi bem agradável, Luke contou
um pouco sobre sua viagem e acabei percebendo o quanto ele
gosta do meu tempero. Guloso, repete alguns dos quitutes que
sempre preparo quando estamos aqui em casa.
— Adoro seu tempero, sabia?
— Percebi e fico feliz com isso.
— Vou sentir saudades.
— Vai é?
— Muita saudade, na verdade.
— Da minha comida?
— Também, mas tô falando é de você.
Como terminei o café antes que ele, não me faço de rogada e
me acomodo em seu colo, sentindo-o aconchegar seu corpo contra
o meu num abraço, cheira meu pescoço de leve e tece elogios ao
perfume. O que me envaidece. Hoje Luke está especialmente fofo.
— Volto na quinta à noite, mas como você tem compromisso,
nos vemos na sexta ou quer que te busque lá?
— Posso pedir folga, na verdade, tem um tempo que deixei
Benji ciente que estou me desligando do clube, meu amigo
compreendeu o motivo, digamos assim.
O homem colado em mim se ilumina e ganho um beijo com o
gostinho do café forte que tanto gosta. Permito-me curtir esses
lábios cheios reclamando os meus possessivamente até tirar o meu
fôlego.
— Quero você me esperando em casa, então.
— Claro, pode vir direto pra cá.
— Não, Stela, na minha casa. No condomínio, sem cassino
nem reuniões ou jantares maçantes de negócios. Nós dois matando
a saudade um do outro durante o fim de semana inteiro.
O encaro surpresa e os olhos como duas opalas me
hipnotizam de volta com um sorriso sedutor, gira o braço no bolso
do blazer pendurado e me mostra a mão aberta.
— Fiz uma cópia da chave para minha gatinha, isso que fui
fazer hoje cedo.
Meu coração quase sai pela boca, minha respiração acelera
e sinto as lágrimas de emoção ameaçando escapar. Isso quer dizer
que Luke, quer ser meu namorado, talvez tenha planos de um futuro
comigo. Não escondo meu sorriso e agarro o homem lindo beijando
avidamente a boca gostosa, até roubar seu ar. Ele ri do meu
entusiasmo.
— Fico feliz que aceitou.
— Por que você não fez uma cópia da chave da minha
casa?
— Porque precisava da sua permissão.
É cavalheiro, fofo, sedutor, ai, ai, senhor, acho que é hora de
agradecer pelo presente de um metro e noventa que o senhor me
deu. Gracias Dios!
— Tá bom, eu mesma faço uma cópia, vai levar uns dias para
providenciar. — Luke sorri, me deixando toda derretida, enquanto
me carrega nos braços para o quarto.
— Eu espero, mas aceito minha gaveta no armário hoje —
sorrio entre os beijos doces.
— Ofereço uma porta inteira, não só a gaveta.
— Ah, minha orquídea cereja, por que você é tão irresistível,
hein? E, aliás, esqueci de contar uma novidade. Encomendei algo
pensando em você.
— Presente pra mim?
— Não, é pra mim.
— Não entendi. Pensando em mim, mas não vai me dar?
O sorriso sapeca me faz rir.
— Odontocidium Burgundian.
— Esse idioma eu aprendi, é uma orquídea!
Luke se ilumina quando mostro meu interesse pelo hobby
dele. É tão charmoso um homem que cultiva flores.
— Mandei o Sr. Claiton encomendar uma orquídea cereja.
— Pra lembrar de mim quando for ao orquidário? — Ele
estala um beijo rápido sorrindo com um brilho nos olhos escuros
parecendo duas joias preciosas.
— Vou deixar no meu quarto, pra exalar seu perfume quando
você não estiver lá.
Deus! É sonho? Ou esse homem é perfeito?
Sorrio meio sem jeito com tanto agrado e avanço em seus
lábios, devorando sem pressa.
Os beijos persistem ao me deixar perto da cama, delineando
meus lábios e pescoço, tira minha blusa e se ajoelha para me despir
da calcinha e beijar meu corpo. Luke me ganha com sua maneira de
conduzir. Me faz sentar, e se encaixa entre minhas pernas, puxa
rapidamente a camisa pela cabeça, fazendo despentear os cabelos
escuros os deixando fodidamente selvagem.
Por Deus, não quero acordar desse conto de fadas. O que
Luke viu em mim para me olhar do jeito que me olha, para fazer o
que faz comigo? Vou acreditar que está apaixonado, mesmo não
verbalizando. Quero tanto que seja verdade! Preciso desligar minha
mente dos ‘ses’ que se acumulam cada vez que estamos juntos.
Quero apreciar e aproveitar o máximo desse homem. Viver esse
sonho nem que seja para restar apenas lembranças no futuro.
CAPÍTULO 33

A semana transcorreu lenta e maçante, pela primeira vez em


oito anos estou agonizando numa Los Angeles sem graça. Tudo
porque o homem que eu amo está no Japão. Estou me
desconhecendo, pareço uma adolescente apaixonada. Nos falamos
todas as noites, por horas e na maioria delas acabamos os dois
gozando nas próprias mãos.
Luke fala coisas que parecem tão sinceras que me permito
acreditar que há sentimentos e não só o físico. Talvez não tenha
tanto quanto eu, mas já fico feliz em ouvir que está com saudades.
Deixou o motorista a postos na minha porta para me levar onde eu
precisar. Resmunguei por mensagem dizendo que não era
necessário, mas Luke, mesmo com seu fingido tom de brincadeira,
exigiu que aceitasse seu pedido.
Hoje é quinta, dia de seu retorno ao nosso aconchego. Não
vejo a hora de abraçar meu amor. São tantas saudades que a
ansiedade me deixa um pouco apreensiva. Resolvi fazer uma
surpresa em sua ausência. Renovei minhas lingeries e agora de
mochila em mãos vou rumo a casa dele, mas antes, passei no
mercado para comprar os ingredientes do jantar que vou preparar.
Ele ama minha comida, espero que lá no fundo me ame do mesmo
modo.
Avisei Benji que não vou ao clube, pois, certamente, ele sabe
os motivos, mas mesmo assim não posso simplesmente
desaparecer sem avisá-lo. Não sei se Benji ficou mais eufórico ou
me condenou ainda mais ao ouvir que vou para a casa do Luke, por
fim, começou a rir feito louco, pois, o danado é hilário nos toques de
drama e piada.
Saio de casa com George abrindo a porta do SUV com todo
aquele cavalheirismo de conto de fadas. Sinto-me a Cinderela na
carruagem com esses mimos de primeira dama dos cassinos. Já
passam das treze horas e não quero me atrasar em deixar tudo
pronto. Por isso, já me apressei em pôr meus planos em prática.
— Olá George, como vai?
— Muito bem, Senhorita Salvage, para onde quer ir antes do
seu destino?
— Por favor, nada de senhorita.
— Infelizmente é costume e não sei agir diferente — diz o
homem de terno com um sorriso largo.
— Pode ser senhorita Stela então? — tento conquistá-lo com
minha voz doce.
— Claro que sim, senhorita Stela.
— Vamos passar no mercado do centro e você entra comigo,
preciso de ajuda com as sacolas.
— Às suas ordens, senhorita Stela.
Sorrio retribuindo a simpatia. George é um senhor com uma
bondade no olhar que me faz lembrar meu pai, uma sinceridade
solícita em agradar, muito semelhante e me pego com uma
nostalgia de casa. Penso que tenho que visitar minha família, talvez
se eu e Luke realmente namorarmos vou planejar uma viagem para
apresentá-lo aos Salvage, preciso preparar meus irmãos por
telefone, porque os ciumentos vão encrencar certamente. Ora veja,
o que eu tô pensando? Ele nunca se declarou em palavras. Por
mais que diga que tem saudade e goste de estar comigo, não ouvi
ainda um ‘estou apaixonado por você’ ou mesmo um ‘eu te amo’. Ai,
ai... a Stela sonhadora ataca novamente.
Passamos umas boas horas no mercado, eu e George,
conseguimos conversar como pessoas normais por algum tempo
sem formalidades. Descobri que é casado e tem uma filha de nove
anos chamada Susan. Contei um pouco sobre minha família
também, como é grande e se reúnem todo domingo para o almoço
lá na Espanha. No caminho para casa rendemos assunto até
chegar.
— Ei George? As outras moças que seu patrão trouxe aqui,
fizeram comida para ele também? Quer dizer, acho que não, devem
ser todas patricinhas que só comem alface — falo na brincadeira,
mas logo me arrependo da gafe, pois, pode achar que quero
espionar a vida do seu patrão. Vejo seu sorriso pelo retrovisor me
olhando de soslaio, continuando a conversa animado.
— Sr. Taylor nunca namorou, que eu saiba, pelo menos
nesses oito anos que trabalho para ele. Aliás, nunca trouxe ninguém
aqui na sua residência, nem a própria mãe sobe sem ser anunciada
na portaria.
Engulo seco essa resposta, mas por dentro não deixo de me
sentir em êxtase de saber que fui a única.
— Ele trabalha muito, não é?
— Muito. Depois que o pai faleceu, ele tomou as rédeas dos
negócios, antes disso ele fazia faculdade em outro estado e eu não
tinha contato com o jovem Taylor, só com o pai dele.
— Eles eram parecidos? Digo, ele me falou como saiam
juntos sempre que podiam, presumo por terem os mesmos
interesses.
— Lembrando agora, no físico não são nada parecidos, Sr.
Anthony era um homem pequeno em porte, olhos muito claros,
gelados para quem não era próximo a ele. E o Sr. Luke, bom a
senhorita conhece, é quase um jogador de futebol americano —
acho graça na comparação e concordo, Luke tem o porte de um
quarterback.
— Deve ser mais parecido com a mãe, então, George?
— Nem pensar, aquela mulher... — Ele limpa a garganta
parecendo se controlar — O jovem Taylor não se parece em nada
com ela, nem fisicamente, nem na personalidade. A Sra. Soraya é
uma mulher muito... Diferente, nunca a vi sorrir, quase não ouço sua
voz também, mas os olhos dela, tem algo neles difícil de decifrar. A
senhorita antes de conhecê-la dê uma olhada nos sites de fofoca,
para se preparar, ela é muito séria.
— Acho que não vou conhecê-la — respondo no impulso.
Ele me olha sério de onde está.
— Mas por que pensa assim? O Sr. Luke fará questão de
apresentar a namorada para a mãe, a única parente viva dele. É de
praxe.
— Sou namorada?
— Ué, a senhorita não foi avisada? — responde ele em meio
às gargalhadas que ecoam no veículo. — Ora essa, estou muito
enganado ou busquei a moça errada? O patrão foi bem claro. ‘Fique
a postos se minha namorada precisar, a leve onde quiser e quinta
ela vai me esperar em casa’.
Seguro o riso pelo homem imitando a voz comedida de Luke.
— Ele disse isso?
— Não, na verdade, me mandou mensagem, estava
embarcando no aeroporto, quer ver meu celular?
— Não, não George, estou brincando, claro que sou a
namorada dele.
Uau, é oficial. Como sou namorada e não sabia disso? Fico
tão fora de mim com essa revelação que nem percebi que
chegamos. George me acompanha até a cozinha com as compras e
eu me despeço feliz, até meio boboca pela descoberta do namoro.
Preciso me apressar em preparar o jantar antes do banho,
quero tudo perfeito hoje à noite. Vou preparar um peixe no leite de
coco com especiarias, e a salada mista que ele gosta. Claro deixarei
encaminhado os molhos da lasanha também, afinal, após matar a
saudade, sei que ele foge para cozinha, procurando por mais.
Comprei um aventalzinho de renda no sex shop só para
acompanhar a lingerie nova, quero ver a cara dele ao me ver só
com esse conjunto.
Depois de tudo preparado coloco minhas coisas no quarto,
vou deixar um aromatizante de cereja também, sei que ele adora o
perfume e vai gostar de entrar no quarto e inspirar esse aroma.
Quase tudo pronto, deixo a prova na portaria e ligo para George
avisando para não esquecer de pegar antes de ir para casa. Muito
amável da parte dele contar esses pequenos segredos. Confesso
que adorei as revelações. Última etapa, banho.
CAPÍTULO 34

Ansioso em chegar, impaciente, na verdade. Quando o avião


aterrissa sou o primeiro a me despedir da tripulação. Avisto George
a distância e me apresso para alcançar o carro. Meu corpo já está
ligado em saber quem me espera em casa.
— Fez boa viagem, Senhor?
— Correu tudo bem George, toca pra casa, não pare em
lugar algum, nem restaurante nada — aviso, pois sempre paramos
para jantar quando chego, mas hoje a fome pode esperar, ou
melhor, vou saciá-la quando chegar.
George sorri me olhando pelo retrovisor enquanto afrouxo a
gravata.
— Não precisava avisar Senhor. Tenho certeza de que seu
jantar será ótimo, acompanhei a senhorita ao mercado hoje. Disse
que prepararia uma refeição especial.
— Ah é?
— Sim, senhor, me ligou há pouco para avisar que deixou
uma prova para mim na portaria.
Sorrio divertido vendo meu motorista contente e resolvo
continuar a conversa.
— Tem ideia do que é, George? — desabotoo os punhos da
camisa dobrando-os.
— Compramos peixe, e ouvi falar em lasanha também.
— Hum, aquela mulher é mais que perfeita!
George segue rindo e me divirto em acompanhar as risadas,
mas de apaixonado que estou por ela e em saber que a garota dos
meus sonhos, me espera na minha residência particular, no meu
cantinho privado onde nenhuma outra entrou. Somente ela tem a
chave, e não só da casa, mas do meu coração também.
Ao chegar no meu destino me apresso a me despedir do meu
motorista.
Subo a rampa da entrada com o coração acelerado, uma
saudade que não cabe em mim. Quando abro a porta, um aroma
espetacular me dá boas-vindas. Nunca ouvi ninguém dizer que o
aroma de comida é excitante, mas para mim é, porque a cozinheira
é o prato principal e vai dormir aqui o fim de semana todo, pois não
vou deixá-la partir até segunda-feira. Não vou desgrudar dela para
nada, e a comida, bem, é só um bônus gostoso que aproveito com
prazer.
Chego na cozinha chamando por ela e paraliso largando tudo
no chão quando a vejo. A mala, o blazer e a correspondência que
peguei na portaria vão ao chão como frutas maduras. Stela me
encara sorrindo na beira do fogão com uma forma enorme de
lasanha. Mas não é a comida a razão do meu encantamento. A
mulher vestiu uma lingerie rosa delicada, minúscula, com meias
finas na altura das coxas suculentas e um aventalzinho branco de
renda enfeitando a cintura, porra! Quero essa recepção pelo resto
da minha vida.
— Oi, meu bem, vou só colocar a lasanha no forno e vou te
dar um beijo de boas-vindas, fique aí paradinho!
Não me movo do lugar, de boca aberta, perplexo pela visão
da gostosa sorrindo vestida do jeito que está. A curva do quadril
redondo se inclina com seus passos elegantes. Stela tem duas
covinhas na lombar que são um delírio para os olhos, cada pequeno
detalhe dessa criatura sublime me faz sentir um rei, quase engasgo
quando ela se inclina para abrir o forno e a escultura redonda com
um pedaço mínimo de pano enfiado caprichosamente na bunda se
vira totalmente em minha direção. Impossível não me mover. Em
passos rápidos agarro ela por trás beijando seu pescoço enquanto
ouço seu riso sapeca. Que saudade desse perfume, meu Deus! É
como se só agora eu estivesse realmente em casa.
— Totalmente descabido esse pedido, minha orquídea, pois,
não vou ficar parado observando isso tudo. — Stela gira em meus
braços e toma meus lábios ansiosos num beijo arrebatador, me
agarra pela camisa, sentando-se na mesa, enlaçando-me com as
pernas. — Por que toda essa recepção cuidadosa?
— Quis fazer uma surpresa para o meu namorado, estava
com muita saudade. — Meu peito exulta ao ouvir essas palavras.
— É?
— Hum... sim — murmura ela beijando meu pomo de Adão.
— Não vai permitir que o seu namorado tome um banho
antes do jantar? — Minha calça é aberta de maneira apressada.
— E se eu disser que não me importo com isso, você se
chateia? — A pergunta feita de encontro aos meus lábios é a
confirmação que a mesa será inaugurada. O sorriso que surge em
meus lábios não é nem um terço de como me sinto nesse momento.
— Se você ficar com essa roupa por mais algumas horas
não, realmente adorei esse avental.
Stela sorri e arrebata minha boca lascivamente. Que saudade
desses lábios de veludo! Acaricia minha extensão, enquanto me
beija e num ímpeto de quase gozo, coloco o avental e a calcinha
para o lado enterrando de uma só vez.
— Saudade desse lugar quentinho, saudade de você, minha
delícia — murmuro entre suspiros.
Puxo seu cabelo pela nuca para ver seu sorriso entre
gemidos ao me sentir estocando dentro dela. A pegada mesmo
carinhosa é forte, sei que ela curte quando puxo as madeixas para
conduzir. Permito e afasto o beijo quando eu quero e isso a deixa
maluca.
São sensações de outro mundo quando estou em seu corpo.
Tudo se perde, é como se o tempo parasse para nos permitir viver o
momento. Só sinto Stela, seu perfume, sua pele sedosa, seus
toques e seu sabor viciante. Preciso me concentrar para não pedir
essa mulher em casamento cada vez que faço amor com ela.
Devo acelerar meus planos em oficializar o namoro. O que
tenho com Stela é único, sei disso e não quero trocar essa relação
por nada, mamãe precisa saber disso quanto antes. Quero uma
família com Stela, não me vejo longe dessa mulher.
Nos movemos sem urgência apesar da saudade, porém, não
consigo prolongar mais nem um segundo. Sei que ela não chegou lá
ainda, mas infelizmente não consigo segurar, por mais que tente,
hoje não. As pernas trêmulas me fazem descansar apoiando a
respiração sôfrega pós-orgasmo em seu pescoço.
— Desculpe,... não consegui esperar você, acho que essa
roupa foi demais pro meu cérebro controlar meu corpo. — Ela acha
graça, enquanto acaricia meu rosto agarrada a mim.
— Não se preocupe, depois do jantar você vai compensar,
tenho certeza. Quer tomar um banho agora, enquanto preparo a
mesa? Já que não posso tirar a roupa, dou um jeito e volto pra
cozinha, assim você relaxa e fica mais despojado para o jantar.
Sorrio concordando e já vou conduzindo-a na minha frente
até o banheiro, preciso avaliar em detalhes todos os movimentos
sensuais e cadenciados dela. Após se limpar antes de voltar para a
preparação da mesa, ela se aproxima da ducha escaneando cada
centímetro do meu corpo e fazendo a temperatura do ambiente
subir. Esse olhar de felina parece me tocar, pois sinto meu corpo se
arrepiando conforme os olhos me apreciam e o lábio é mordido.
Puta merda! Senti falta disso. Por alguns instantes deslizo minhas
mãos com o sabonete pelo corpo, onde seus olhos passeiam
sorrindo satisfeito para minha orquídea selvagem.
— Já que vou jantar seminua, quero meu acompanhante
seminu também.
— Certamente, não vou me vestir até segunda-feira.
— Você não vai trabalhar amanhã? Hoje ainda é quinta.
— Eu sou o chefe e me dei folga, tenho coisas muito mais
importantes para fazer amanhã aqui. — Stela se afasta ainda
olhando a espuma deslizando na minha pele.
— É melhor deixar você terminar sozinho esse banho, se não
o jantar não sai. — Gargalho feliz, prevendo que o fim de semana
promete.
Na sala de jantar respondo às perguntas dela sobre a
viagem sentado à mesa, embasbacado enquanto ela se movimenta
pela copa, preciso me concentrar no assunto, ela não colocou a
calcinha de volta, só o aventalzinho que a cobre. E as meias? Puta
que pariu! Não consigo desviar meus olhos, caralho! Os pratos são
servidos, coloca tudo na minha frente sentando-se ao meu lado.
— Quer que te sirva?
— Por favor, eu aceitaria você no meu colo me alimentando,
mas sei que não dará certo. — minha deusa concorda servindo uma
porção generosa de cada iguaria.
Jantamos tranquilamente, confesso que estava faminto,
devoro tudo o que ela prepara e não me envergonho. Conto mais
alguns detalhes, porém, me seguro para revelar que trouxe um
presente, pensando bem, se eu falar o nome da pérola do pingente
ela pode pesquisar o valor e não aceitar, jamais vou dizer os
milhares de dólares que gastei com ele. Talvez depois do
casamento eu conte. Sorrio pelo pensamento e ela percebe.
— Você não ouviu nada do que perguntei, não é?
— Desculpe, estou aéreo, me segurando para não perguntar
sobre a sobremesa. — Seu rostinho faceiro e corado tem uma
jovialidade linda, me seduz em cada detalhe.
— Como sabe que fiz sobremesa também?
Não era necessário doce com esse sorriso genuíno. Deve ser
assim que homens apaixonados se sentem, tão encantados pela
mulher que amam que o tempo se torna nada quando estão perto
da sua amada.
Stela pega uma travessa de algum doce, que deve ser
chocolate pela cor, não presto atenção, só acompanho a bunda dela
desfilando de meias cor de rosa, aproxima-se com uma tacinha
oferecendo e monta em mim na cadeira.
— Não vai provar o doce? É todo meu? — pergunto vendo só
uma colher.
— Tem razão, preciso provar antes para ver se está bom de
açúcar.
Pega a colher e lambuza minha boca provando em seguida.
É automático meu sorriso e gemido em sua boca pela maneira
descarada que a língua ávida me lambe. Seu atrevimento é tão
sacana que entra em sintonia direta com meu pau.
— Ah mulher! Está mexendo com o perigo...
O jogo é delicioso e excitante.
— Adoro o perigo, Mister Taylor. — O sussurro em meus
lábios me faz fechar os olhos por um instante.
— O creme está no ponto, deseja provar o recheio? —
pergunta maliciosa enquanto lambo meus lábios do pouco chocolate
que sobrou neles.
— Desejo provar tudo até me lambuzar de você!
Mexendo a colher no meio da taça, suja a própria boca de
vermelho, deve ser cereja. Ela adora a fruta e eu também. Não
penso duas vezes e tomo os lábios coloridos, sugando o sabor
delicioso, enquanto ela sorri tomando a taça de mim. Maroto que
sou, aproveito e desato o sutiã delicado e o avental.
— Hum... Delícia, preciso de um pouco mais desse doce. —
O meu pulso acelera pelo joguinho de antecipação com seus olhos
acobreados brilhando espetacularmente.
Seu sorriso imita o meu, carregado de malícia, conforme toco
o polegar em um dos seios alisando para senti-lo endurecer.
— Você tirou os piercings?
— Tirei, é melhor com a sobremesa.
Stela compreende exatamente o meu desejo e lambuza
generosamente cada seio com um sabor, cereja em um, chocolate
no outro e inclina-se apoiada contra a mesa me encarando.
— Seu manjar, espero que aprecie.
Queria fazer um quadro dessa cena. Observo o desenho com
os contornos das aréolas e mamilos cobertos com chocolate e
cerejas. Seus olhos pesados de desejo e os lábios corados pelos
meus beijos. Da Vinci é um amador comparado a essa tela.
Agarro sua cintura olhando os dois de perto, eriçados e
lambuzados para mim.
— Minha deusa, gostosa do caralho!
— Exatamente, toda sua. — Rosno ao ouvir a confirmação.
Um som feroz escapa da minha garganta ao me inclinar e
sorver o doce, a mulher me tira o juízo! Chupo cada seio como a
mais deliciosa e açucarada iguaria, ouvindo os gemidos melodiosos.
Parece que não me alimento há semanas, tamanha fome e desejo
por essa provocadora. E não tenho receio de demonstrar.
Abocanho, sorvendo os dois de maneira faminta, deixando-os
completamente limpos. Ela se ergue por um momento para que eu
possa me livrar da minha boxer.
Não há mais palavras pra dizer. Acomodo Stela, deslizando
sobre a minha grossura totalmente melada e preparada para minha
gulosa. Ela geme tão gostoso quando me leva por completo dentro
dela que me faz sentir um monarca poderoso.
— Adoro sentir você fundo dentro de mim, Luke! — A
confissão chiada e baixa contra minha pele me deixa nas nuvens.
Me beija ofegante de olhos abertos, cavalgando como uma
amazona poderosa. É tão fantástico vê-la entregue desta maneira, e
as formas de me agradar sempre me surpreendem. Enlaço meus
braços em volta dela, quando ela começa a convulsionar, dessa vez
consigo esperar e vale a pena. Sua cabeça pende para trás,
permitindo o acesso ao pescoço que aproveito com prazer. Chupões
e mordidas, sim, as minhas marcas de posse. Enquanto, goza geme
frases no idioma que ainda não consigo compreender muito bem.
Resvalo pelo colo e seio, chupando e degustando a textura na
minha língua até gozar dentro dela.
Na calmaria, abraçados na cadeira tomando fôlego, resolvo
perguntar:
— O que você disse antes? Ultimamente ouço frases inteiras
em espanhol quando você goza e não entendo.
— Mas os americanos têm esse idioma no currículo escolar,
você não aprendeu?
— ‘Mea culpa’. Eu dava mais importância a matemática e
futebol. Não recordo de quase nada. Ainda mais quando você fala
rápido.
— Na hora do prazer é muito intenso e me atrapalho, a língua
materna sai sem pensar...
Sorrio com o jeito dela, queria mesmo ouvir que ela me ama
assim como eu, mas não vou pressionar.
— Trouxe um presente do Japão para você.
— Verdade? E o que é?
— Depois do banho eu mostro. — Carrego minha amada nos
braços para o banheiro.
— Você gosta de me deixar curiosa, hein!
— Só um pouco, faz parte da sedução.
— Quer me seduzir, Luke?
— Quero muito mais que isso, minha orquídea.
Transamos mais um pouco no chuveiro. Esgotados vamos
pro quarto e apresso em pegar o pacote na mala, entregando para
ela na cama. Stela abre sorrindo para mim enquanto arrumo seus
cabelos que caem sobre os olhos atrapalhando a tarefa de abrir o
pacote. Abrindo a caixa, ela pega a joia entre os dedos, encantada.
— Uau! Que lindo! Que pedra é essa?
— Não é uma pedra, é uma pérola.
— Laranja? Nunca vi.
— Sim, uma pérola rara japonesa, eu a comprei e mandei
fazer o pingente com o colar.
Seus olhos fixos admirando a joia me enchem de orgulho por
acertar no gosto. Quem sabe eu arrume um anel de noivado
combinando? Boa ideia.
— Ela é diferente, tem uma mescla de outra cor dentro. —
Seu olhar brilhante retorna para mim.
— Fiquei paquerando-a na vitrine dentro da caixa por longos
minutos, não conseguia sair da frente do vidro, aí lembrei como te
conheci, não conseguia tirar meus olhos de você. Combina
perfeitamente.
Ela pisca os olhos surpresa pela minha confissão.
— Que lindo Luke, obrigada. Mas por ser rara deve ter
custado uma fortuna, acho que não posso aceitar um presente
desses.
— Por que não? Se você pudesse pagar por algo que
quisesse me dar, você não faria? Ainda mais um objeto raro que
combina exatamente com a pessoa que vai recebê-lo?
Me surpreende seu rosto corar, Stela ainda fica
envergonhada com meus galanteios. Isso me atrai tanto, porque é
natural e espontâneo.
— Lógico que eu faria. Foi muito gentil lembrar de mim,
enquanto você estava no Japão. Que namorado romântico! Me
convenceu a aceitar, obrigada.
Ganho o agradecimento em beijos e para mim é o melhor de
todos os agradecimentos.
— Acho melhor a gente dormir um pouco, tô te achando meio
abatido.
— É o fuso horário, quase não dormi, me sinto um pouco
cansado mesmo.
— Deite-se então querido, faço uma massagem relaxante e
você dorme rapidinho.
— Não quero acordar sem você na cama, hein, quero ser
desperto daquele jeitinho que você me desperta na sua casa
quando não preciso trabalhar.
— Tá bom, meu bem, relaxa agora.
Ela começa a me alisar e massagear minhas costas
demoradamente, com isso adormeço em segundos sabendo que
quando acordar vou tê-la ao meu lado.
CAPÍTULO 35

A pouca luz dos raios solares nos detalhes da persiana do


meu quarto, avisam que já amanheceu. Desperto sorrindo pelo
ronronar em meu pescoço, minha felina envolvida em meus braços,
aninhada em meu corpo, o que mais posso querer? Seu calor me
incendiando sem nem mesmo se mover, seu corpo me faz pulsar,
necessitado da sua dona e o meu acorda completamente. Fico
alguns minutos imóvel aproveitando a sensação maravilhosa de tê-
la assim. Quanto mais a aperto, mais a preguiçosa gruda,
reclamando para despertar, ronronando feito uma gata. A minha
gata. Começo a alisar o corpo lindo que arrepia ao meu toque,
— Amor, meu amorzinho, acorda Stela, quero você, minha
gostosa.
Cheiro a pele sedosa e sensível do pescoço, escorregando
meu nariz por toda a extensão do seu colo. Sinto os seios eriçando
ao meu toque, os bicos durinhos contra o meu peito vão fazendo o
favor de me deixar ainda mais maluco por ela. Sei que qualquer
palavra que sair de meus lábios, se torna incompreensível em seu
ouvido por estar retornando do mundo dos sonhos. Sonhos esses,
que espero ser comigo. Mas gostaria imensamente que ouvisse com
clareza como ela é o meu amor.
— Meu namorado acordou disposto. — fazendo carinho em
meus cabelos, ela se abre para meu corpo grande se acomodar.
— Você fica linda quando acorda.
— Pare com isso, Luke. Estou descabelada e com a cara
mais amassada que um filhote de shar-pei.
— Vou fazer mais que te elogiar, vou unir meu bafinho
matinal com o seu bafinho matinal num beijo de bom dia.
— Nãaao! — reclama ela gargalhando.
— Ok, vou relevar essa recusa pelo meu bafo e não pelo
seu.
Gosto de despertar ouvindo o som dessa risada feliz de
Stela. Nota mental para a meta dos próximos anos, fazê-la rir nos
lençóis. Beijo seu pescoço ao invés da boca. Acendo seu corpo com
a fogueira do meu. O melhor café da manhã da minha vida. Acordar
e fazer amor gostoso com a mulher dos meus sonhos antes de
realmente ser alimentado por ela na minha cozinha.

Depois do almoço generoso, Stela insiste em deixar a pia


limpa. Dispensei meus funcionários no fim de semana, queria
privacidade e total discrição com minha namorada. Bem, minha
Stela é geniosa e não tem persuasão que dê jeito com relação à
arrumação da cozinha. Desisto de argumentar, permito o que ela
quiser. Pego uma taça de doce me acomodando na poltrona da sala
de conceito aberto. Assim tenho visão completa dos armários onde
ela termina de guardar os copos.
— O que acha de irmos ao cinema mais tarde? Nem lembro a
última vez que assisti a uma sessão. — exclamo alto.
— Podemos ir, desde que eu escolha o filme. — Típico da
minha mandona.
— Romance clichê, me dá sono, já aviso. — Sei que ela ama
romances, mas em filme não aguento.
— Pensei em ver um suspense bem cavernoso, o que acha?
— Prefiro. Você trouxe roupa para ficar até segunda? — Ao
girar o corpo vestida apenas com minha camisa, meu ângulo de
visão fica ainda melhor. As pernas roliças e lisinhas são um delírio
para os olhos. E ela dentro da minha roupa é a visão dos deuses. É
toda minha essa perfeição!
— Vou ficar até segunda mesmo? O CEO não tem nenhum
compromisso?
— Achei que tivesse entendido ontem quando falei que ficaria
nu todo o fim de semana. Meu único compromisso é com você,
Stela.
— Pensei que fosse brincadeira, não trouxe roupa suficiente
se pretende sair muito.
— Não quero que cozinhe o fim de semana inteiro, mesmo
adorando seu tempero, vamos sair, temos três dias e três noites.
— Certo, preciso ir até em casa buscar outras roupas.
— Acho melhor irmos às compras.
— Não, eu tenho roupas, Luke Taylor!
— Ok, mandona. Aproveita e separa várias peças pra deixar
aqui.
Ela me encara apertando os olhos, com as mãos na cintura,
enquanto disfarço silencioso, degustando o doce e segurando o
riso.
— Vai me dar uma gaveta para guardar minhas coisas? — A
voz se torna lânguida e desejosa à medida que se aproxima da
poltrona onde estou, de mansinho feito uma predadora.
— Tenho a metade do guarda-roupa vazio, disponível, você
guarda suas coisas nele. Provavelmente suas roupas são delicadas,
precisam de cabide, não posso te oferecer uma gaveta. — Termino
o doce e descanso a taça na mesinha ao lado aguardando a
resposta que não vem. Stela continua a me encarar com os olhos de
felina e eu puxo seu corpo com um movimento rápido para o meu
colo.
— Você tem um poder de persuasão incrível, Luke.
Retribuo o sorriso beijando-a, é impossível me afastar dos
lábios doces, do cheiro e do calor, me espanto em conseguir
trabalhar a semana toda sem ter isso.
— Adorei o doce.
— Que bom, gosto de combinar sabores.
— Ontem parecia estar ainda mais gostoso. — Ela sorri
lembrando da noite, enquanto inicio as carícias.
— Aquela roupa... hum você acertou em cheio, Stela.
— Gosta de cor de rosa?
— Gosto de rosa em você.
Deslizo minha língua suavemente no ponto atrás da orelha
dela e continuo sussurrando.
— Dessa branca também, gosto muito.
Toco o seio por cima do tecido e afago o polegar no mamilo
lentamente, sentindo como ele responde imediatamente aos meus
toques.
— Gosto de todas as cores no seu corpo.
Meus dentes alcançam o lóbulo e esse gesto com as
lambidas faz com que ela arfe suspirando sobre mim, se remexendo
e apertando as coxas.
— Mas devo confessar que prefiro você sem nenhuma delas.
Abro cuidadosamente os botões da camisa enquanto beijo
seu pescoço e mordisco a pele sensível.
— Luke... Você...
— O quê? — Não dou tempo de escape, puxo a camisa
atirando o tecido para longe. Volto a beijar, dessa vez, a boca
suculenta que está risonha ao retribuir.
— Você é insaciável, homem!
— Não. Sou um homem viciado. Você me viciou nos seus
encantos e agora precisa alimentar essa necessidade que me
consome.
Seu sorriso aumenta e as mãos bagunçam meus cabelos.
Desato o sutiã de renda e aperto um mamilo entre os dedos
enquanto tomo seus lábios que não conseguem beijar, pois, o
prazer da dor a faz gemer na minha boca. Alterno a pressão e
toques delicados nele ouvindo seus sons manhosos, sorrindo
maroto ao vê-la se contorcer sobre mim.
— Ah! … Luke, você me deixa louca!
Disparo uma mordida em seu lábio inferior.
— Quando te vi pela primeira vez, fantasiei que tirava sua
calcinha com os dentes, mordia essa bunda gostosa e te fodia com
força.
Solto o seio e agarro os cabelos devorando a boca carnuda
que suspira e geme. Ela então murmura ofegante contra mim:
— Realiza agora essa fantasia, meu grandão.
Nossa! É mais do que um sonho essa mulher!
Stela se põe em pé de costas e me olha sobre o ombro, me
ajoelho e encontro a bunda apetitosa com a rendinha enfiada me
aguardando, roço minha barba nela toda, minha língua trabalha na
dobrinha lentamente, lambendo até começar a morder deixando
uma marca de um lado e somente depois tiro a calcinha com os
dentes. Ela se abre, desejando minhas carícias. Vai se inclinando
conforme minha língua desliza pelas dobras encharcadas, eu
excitado pra caralho, afundo meu rosto nela chupando com vontade.
Está molhada, com cheiro bom de seu sexo e de tesão por mim.
— Me come Luke, ... Pelo amor de Deus, me fode ou vou
explodir!
Ouvindo esse pedido angustiante, me dou por satisfeito. A
posiciono de joelhos sobre o sofá e começo a brincar com a ponta
do meu pau melado. Esfrego em sua umidade para frente e para
trás, lambuzando o caralho inteiro com seu mel. A visão dele
brilhante molhado me deixa ainda mais duro, caralho!
— Ah... Luke... Não tortura...
— Adoro quando você implora por meu cacete. Implora vai?
Implora para eu te possuir.
— Por favor... — ronrona ela rebolando. — Me come! Me
fode! Me enlouquece!
— Porraaaaa... Mulher! Essa voz manhosa acaba com minha
sanidade!
Sem demora, arremeto. Nessa posição consigo estocar com
força com as duas mãos apoiadas no encosto da poltrona com
minha namorada empinando e aguentando tudo de mim, não tem
outro lugar melhor que eu queira estar.
— Toque-se baby, se você não gozar eu não vou parar de
meter e amanhã você não senta. — Ela obedece e eu continuo
ouvindo o som feito pelos nossos corpos ao se chocar com violência
e sem demora me sinto deslizar mais e a boceta encharcar.
— Assim minha delícia, tão molhada, vai rebola… me leva às
nuvens!
Ela apoia a cabeça no meu ombro e ouço sua voz mais alta.
— Só o meu nome nessa boca! Bem alto! — ordeno.
Agarro o cabelo e a puxo contra mim, enquanto golpeio
vigorosamente, metendo fundo nela, sentindo sua boceta pulsar ao
redor do meu pau, apertando implacável.
— Grita o nome do seu homem, quero ouvir.
— Oh Luke!
— Quem te faz gozar, Stelaaaa?
— Só você... Só você!
— Quem te fode gostoso?
— Só... Você, Luke!
A gulosa me destrói com seu prazer avassalador. Bato até o
talo sentindo meu corpo formigando inteiro. A conduzo com a mão
em seu pescoço para que a boca não se afaste da minha tão
necessitada de beijos. Agarro um seio apertando sentindo a
bocetinha mastigar minha extensão. Nós dois ajoelhados na
poltrona tentando nos manter firmes e não desabar. O prazer é
espetacular! Por fim nos deitamos esgotados no sofá, Stela sobre
mim respirando com dificuldade assim como eu, não há nada
melhor que seus cabelos perfumados espalhados sobre mim.
— Você é meu homem ou foi só para me fazer gozar?
— O que você acha? Ninguém me toca além de você. —
Nesse instante ela abraça meu corpo e retribuo envolvendo-a num
abraço de urso.
— E esse seu corpo perfeito, me pertence também e você
sabe disso.
— Eu sei. — Os olhos amendoados me encarando,
desestabilizam todo meu ser.
— Posso cochilar aqui nessa posição um pouquinho? Tá tão
gostoso e você acabou comigo.
— É? Eu acabei com você, minha delícia?
Ela sorri safada, olhando meu sorriso convencido.
— Só por massagear meu ego, você pode tudo, Stela. — Ela
abre um sorriso largo.
— Olha que eu posso me apaixonar desse jeito.
— Digo o mesmo, minha orquídea cereja.
Sinto seus lábios suavemente nos meus, apenas fazendo um
carinho amoroso me derretendo ainda mais. Ah, se ela soubesse o
estrago que já fez no meu coração, não diria isso. Tenho
consciência que sou o cachorrinho dela e foda-se, não me importo
quem domina. Acho que esperei por Stela a vida toda e agora que a
encontrei não solto nunca mais. Cochilamos juntinhos por um
tempo. Depois levamos umas boas horas para conseguir finalmente
sair de casa, não nos afastamos em momento algum e não precisa
esforço para estarmos grudados, pois a dificuldade de desempenhar
qualquer outra tarefa além de se amar dentro de casa é extrema.
O fim de semana mais incrível que eu poderia imaginar.
CAPÍTULO 36

Cheguei da caminhada diária exausta, estava um pouco mais


quente que o normal, precisava de um banho, depois iria ao Miller
tomar meu café e dar uma olhada nos meus escritos. Esse último
livro está demorando um pouco mais para sair, não queria me
aproximar dos outros romances que escrevi, mas involuntariamente,
leio o esboço do dia anterior e acho parecido com algo que já
escrevi. E a narrativa ainda parece ser a mesma. Esse bloqueio está
me aterrorizando. E Luke me distraindo não está ajudando em nada
a manter o foco para entregar esse manuscrito.
Tomo um banho demorado, lavo meus cabelos e isso
demanda um pouco mais de tempo. Já fora do banheiro coloco
minha calça de moletom habitual e uma camiseta. Ao buscar a
toalha para secar o cabelo, ouço a campainha tocar.
Quem pode ser a essa hora da manhã? O relógio ainda não
marca 8h. Luke viajou só volta no fim de semana. Quando abro a
porta, levo um choque, uma mulher com dois homens parrudos
atrás dela.
Reconheço imediatamente, olhei os sites badalados e vi as
fotos, a mãe de Luke, uma senhora de meia-idade, muito elegante,
porém mais amedrontadora que nas fotografias. Não é magra do
tipo ex modelo, mas pode-se dizer que é manequim M, vestida em
um terninho verde musgo, sapatos de saltos pretos, com um lenço
de seda branco belamente ajustado no pescoço. Seus cabelos
escuros parecem saídos do salão de beleza nesse instante, bem
alinhados até o ombro, as ondas mal se movem, perfeitos, nenhum
fiozinho fora do lugar. No rosto as sobrancelhas são bem
desenhadas e as maçãs da face possuem maquiagem. Nos lábios
usa um batom vermelho fechado quase vinho, também usa luvas de
pelica da mesma cor da roupa e na mão uma pequena bolsa sem
alças. Com um dedo baixa os óculos escuros de grife apenas para
mostrar os olhos de megera e fala friamente:
— Não vai me convidar para entrar, menina? — Abro a porta
estendendo a mão em direção à sala. Estou nervosa demais para
falar alguma coisa.
— Aguardem aqui fora, rapazes, isso não vai demorar.
Ela avisa antes de entrar sem tirar os olhos de mim. Anda
lentamente girando e olhando o interior da casa, sua cabeça sempre
altiva e esnobe. Tira os óculos, guardando na pequena bolsa de
couro.
— Ora, ora, uma bela casa você possui senhorita, devo
admitir que não esperava por isso.
Impaciente decido perguntar logo o teor da visita, mesmo
sabendo que vou me arrepender:
— Em que posso ajudá-la, Sra. Taylor?
Ela sorri mostrando a fileira de dentes brancos como
porcelana chinesa, mas definitivamente não é um sorriso amigável.
— Que bom que sabe quem eu sou, e é direta também, gosto
disso — fala ela tirando as luvas e mostrando as mãos
perfeitamente adornadas de anéis e pulseiras douradas, com unhas
da mesma cor dos lábios. Pelo amor de Deus, quem usa luvas com
o clima que faz essa época do ano em L.A., parece a Cruella De Vil
me encarando parada no meio da minha sala.
— Vou direto ao ponto, vim comunicar a você que meu Luke
vai se casar com Christy Rockwell, e essa ... isso que vocês dois
tem... — girando o dedo no ar. — Não vai continuar. De quanto você
precisa para se afastar do meu filho? Eu pago bem — fala erguendo
uma sobrancelha para mim.
Ao ouvir isso fico mortificada, totalmente sem chão. Sabia
que ouviria algo ruim, só não sabia o quanto. Quem ela pensa que é
para tratar as pessoas dessa maneira? Não quero nada deles,
nunca procurei o filho dela, ele que insistiu e sei que não é apenas
sexo que há entre nós. Se ela soubesse disso, será que tentaria nos
separar dessa maneira? Receio que sim. Me controlo para não voar
no cabelo laqueado e arrebentar o nariz empinado que me encara.
Dou uma respirada longa e ergo minha cabeça, cruzando meus
braços na defensiva.
— Não preciso do seu, ou de dinheiro algum, Sra., tenho
meu trabalho e minha família tem posses. Além disso, Luke não me
falou de uma namorada, quanto mais de uma noiva, se assim fosse
não teria me envolvido com ele, não sou mulher de estragar
relacionamentos
Ela arreganha os dentes perfeitos mais uma vez em um
sorriso malicioso, para não dizer sarcástico e perverso, sua voz é
tão calma que me dá calafrios.
— Sei muito bem que tipo de mulher é você, Stela Salvage,
ou prefere ser chamada de Vênus? — engulo seco quando ouço
esse nome. Como ela descobriu tão rápido?
— Sei que não é americana, e está em nosso país sozinha
sem família aqui, de onde você veio mesmo? — retribuo o sorriso
sarcástico:
— A Sra. Está muito bem-informada a meu respeito, diga de
onde eu venho e poupe nosso tempo.
Sua risada maléfica ecoa novamente e caminhando em
minha direção, passa por mim e bate as luvinhas no meu ombro:
— Muito perspicaz, minha cara! — Para em frente o corredor
em direção a porta de saída, gira nos saltos e me encara, dessa vez
com um olhar gelado. — A família Salvage é abastada na Espanha,
mas não tão rica como a minha e não é muito conhecida, sem
tradição, sem um nome importante, enfim irrelevante. Meu
investigador não descobriu o que a senhorita fez para ser exilada da
família para América, no entanto ...
— Não fui exilada pela minha família! — interrompo irritada.
— Ainda não terminei! — sibila ela entre os dentes se
aproximando lentamente. O clima está muito pesado, as coisas
estão se tornando perigosas, e vou ficando mais nervosa. Seu olhar
reprovador é terrível, me faz querer me esconder da mulher que me
espezinha. Me sinto feia, uma indigente sem lugar para ficar.
— Que deselegante, vejo que os Salvage também não
ensinaram boas maneiras. Não se deve interromper os convidados
enquanto falam.
Segura a sentença e espera para ver se retruco, mas não
emito som algum, quero que ela termine e saia da minha casa antes
de notar como estou abalada com a sua visita.
— Muito bem — continua ela. — Sem tradição e sem
requinte. Não me importa o que lhe trouxe a Los Angeles. O que
quero dizer é que meu filho é um empresário brilhante, arrojado; por
isso, está onde está, no topo. Nunca me importei com sua vida
privada. No momento que acho necessário ... — fecha os olhos
como se procurasse a melhor palavra para usar... — Interfiro. Você
não é a primeira que tenta fisgar um cofre como ele. Sempre permiti
que se divertisse, porém, a data do compromisso se aproxima e
quero evitar aborrecimentos. E meu filho é muito obediente, mesmo
contrariado ele não vai me desapontar quando eu, sua mãe zelosa,
lhe mostrar a perda de tempo em continuar esse casinho. Afinal,
não sei o que o atraiu em você... — A megera se aproxima a dois
passos de mim e me lança um olhar dos pés à cabeça, dessa vez
com nojo. Me sinto despida, embrulha meu estômago o jeito que
franze a boca para mim. — Talvez faltasse realizar uma última
fantasia de foder uma estrangeira rechonchuda. Seu gosto exótico
não me surpreende, Luke sempre foi curioso, mas tenho certeza de
que ele se cansará em breve. Bem, seja como for, termine isso
imediatamente, sim. — Girando em direção a porta me dá as costas,
então volta a me encarar novamente colocando as luvas e conclui
com um brilho assassino no olhar dessa vez:
— E se por acaso pensar em dar o golpe da barriga,
espertinha, esteja ciente que antes de abrir os olhos no hospital
você já não vai encontrar seu filho. Tenho meios suficientes para
sumir com o bastardo antes que atrapalhe meus planos e ninguém
irá me impedir. Tenho pessoas em todos os lugares que farão o que
eu quero. DNA não é problema comprar o resultado que eu quiser.
Luke nem sequer ficará sabendo sobre isso e não esqueça que sua
palavra não é mais valiosa que a minha. Tente contar, ou melhor,
faça isso, assim esse rolo insignificante terminará ainda mais rápido.
— coloca os óculos escuros e sai da minha casa batendo os
saltos.
Abraço meu corpo trêmulo num consolo silencioso. Continuo
parada no lugar, em choque, embasbacada com o que acabou de
acontecer. Meu cabelo, agora quase seco espalhado pelos meus
ombros, ainda com a roupa casual que tinha vestido ao sair do
banho, não olhei no espelho, mas garanto que posso sentir a
palidez do meu rosto, posso afirmar que estou um pouco mais feia
do que costumava me achar quando era adolescente. Me sentindo
humilhada e pequena ouvindo todas as atrocidades e ameaças que
saíram da boca daquela mulher maligna.
Como podem ser da mesma família? Ter o mesmo sangue?
Luke não é ambicioso e arrogante como essa mulher, ela é má, ele
se torna mais gentil e doce à medida que eu o conheço melhor. Não
fez sentido o que acabei de ouvir, jamais quis dinheiro ou status da
família dele. Meu Deus, não sou interesseira, não preciso disso! Eu
o amo e doeu em meu coração ouvir tudo isso. Antes que minhas
lágrimas inundem de vez meu pensamento, pego o telefone e envio
mensagem para o Benji, preciso conversar com um amigo e
desabafar:

“Benji, preciso de ajuda, venha até minha casa assim que


acordar.”

Uma hora depois ouço a porta se abrir, é meu amigo, dei a


ele uma cópia da chave de minha casa há um ano para
emergências.
— O que foi Stela? Achei que estava passando mal ou algo
assim, você tem que ser um pouco mais específica nos seus
pedidos de ajuda, quase tive um infarto no caminho!
Eu ainda estou no mesmo lugar, apenas arrastei uma cadeira
e me sentei. A exaustão tomou conta de mim, acho que a adrenalina
da tensão se foram e meu corpo sentiu, esqueci de pentear os
cabelos, do café da manhã, dos planos para o dia, de tudo, só a voz
da megera me ameaçando ecoa em minha mente.
— Eu não podia escrever na mensagem, não conseguia nem
falar naquela hora, sente-se, por favor, tenho que te contar sobre a
visita que acabou de sair.
Começo a falar e conto tudo em meio às lágrimas de
nervosismo ao meu amigo e vejo como ele fica atônito e apavorado
conforme ouve meu relato.
— Garota, você tem que se afastar imediatamente desse
cara!!
— Sério? É isso que você tem para me dizer?
— Você não conhece essa gente, eles são perigosos.
— Não, Luke não é assim.
— Talvez ele não, eu quis dizer essa gente bilionária que tem
L.A nas mãos. Tanto a mãe dele quanto a família Rockwell fazem de
tudo para se manter no topo, eles são tubarões e vão engolir você.
Ouvi conversas de bastidores que eles não têm escrúpulos, já
houve até morte por causa deles.
— Tipo máfia?
— Não, os negócios deles são todos legais, mas eles
possuem um tipo de poder que pode comprar e encobrir qualquer
coisa, e exercem esse poder atropelando tudo e todos que ficam no
caminho. Eu sei que você está apaixonada por ele, mas você deve
se afastar pelo bem da sua vida, Stela.
— Não vou deixar uma mulher como aquela comandar minha
vida, preciso ouvir da boca de Luke o que ele sente e o que ele
quer, agradeço o aviso, vou me manter em alerta sobre isso, mas
não vou desistir assim facilmente. Estamos juntos e vamos jantar na
sexta, ele disse que tem algo importante para conversar e já aceitei
o convite. Vou pagar pra ver. — Benji me olha compadecido e
preocupado.
— Ok, Stela, você já é adulta e é dona da sua vida, vou te
apoiar sempre, mas precisa me prometer que vai tomar cuidado, me
prometa que não vai entrar em guerra contra essa gente?
Suspiro e aceno com a cabeça, me recosto na cadeira
pensando seriamente nessa promessa. Resolvo mudar de assunto,
lembro que não comi ainda e ele com certeza também não. Faço um
biquinho:
— Tô com fome e não tenho ânimo algum para cozinhar, faz
panquecas para gente, Benji? — Ele vai para cozinha um pouco
mais animado para preparar o nosso café da manhã.
— O que eu não faço para você, minha amiga complicada?
CAPÍTULO 37

Hoje vou caprichar no visual, Luke avisou que vamos naquele


restaurante espanhol panorâmico, Dolero’s, é fofa essa maneira de
me agradar. Diz que adora me ouvir falar o idioma, é sexy, diz ele, e
eu acho graça. Vou usar um vestido vermelho que gosto, não é tão
formal, mas é longo, de um tecido leve, com uma fenda generosa,
de alças trançadas nas costas, está muito quente hoje e quero me
sentir bem apesar de tudo.
Assim que termino de me preparar, ouço o som do motor
desligar lá fora. Vou correndo atender, três dias que não nos vemos,
apesar das ligações toda hora, a saudade é grande, meses
grudados, não consigo mais ficar sem ele.
Abro a porta e quase perco o fôlego, Luke perfeitamente
alinhado com uma camisa branca de mangas dobradas nos
antebraços e uma calça preta segurando um ramalhete de rosas
vermelhas. Vejo que meu esforço em escolher meu modelito valeu a
pena, ele me olha dos pés à cabeça assoviando:
— Uau gata, dessa maneira ficarei com ciúmes, as pessoas
do restaurante vão parar de jantar só prestando atenção em você.
— Não exagera seu bobo, não podia deixar de caprichar para
um jantar com um homem como você ao meu lado, não acha?
Me entrega as flores já me agarrando, e me beijando ao
entrar pela porta. Correspondo sem vontade de sair do seu abraço,
do seu cheiro envolvente, ele me alucina, quando me pega dessa
maneira
— Acho melhor irmos logo se não você terá que cancelar a
reserva e quero saber o assunto sério — saio de seu aperto para
colocar as flores em um vaso.
— Hum... terá que esperar pelo jantar para saber. Espero que
eles não sirvam sobremesa, gostaria de saboreá-la aqui na sua
casa, estou com muita saudade de você.
Sou uma boba mesmo, sempre acho graça das coisas que
ele diz, a paixão me deixou absurdamente idiota. Pego minha
bolsinha e saímos de mãos dadas em direção ao carro, estamos
sozinhos no carro, Luke dispensou o motorista para ele mesmo
dirigir. Porém, George está logo atrás no outro veículo. É bom
estarmos assim só eu e ele, ficamos flertando o tempo todo, com
olhares carregados de promessas entre uma conversa e outra. A
mão enorme sempre sobre minha perna, muito possessivo, me sinto
desejada e protegida.
Ando um pouco nervosa em não saber qual o assunto
importante que ele quer tratar, apesar que desconfio. Se ele firmar
algo sério comigo, vou me declarar de uma vez. Não suporto mais
esse receio de dizer que o amo, foda-se. Preciso perder o medo de
abrir meu coração em palavras.
Ao chegar no restaurante, ele, como um perfeito cavalheiro,
abre a porta do carro, me beija e entrega a chave ao manobrista.
Esse lugar deve ser incrível, vejo que há somente um elevador e
uma escadaria ao lado, resolvemos esperar para subir
confortavelmente.
Quando entramos, nossa mesa está localizada em uma parte
do salão onde a paisagem é estonteante, uma L.A iluminada nos faz
companhia, muito romântico está me saindo esse Luke. Nosso
jantar discorre formidável, um menu de ótimo gosto, faz lembrar
minha Espanha, estamos quase terminando a garrafa de vinho,
deliciosa por sinal.
— Então Espanhola, acertei no programa hoje? — segura
minha mão na dele e beija com carinho.
— Devo admitir que você se superou, Luke.
— A noite mal começou, o que quer fazer depois daqui?
Dançar? Sei que você adora, apesar que não sei se me controlo
vendo você rebolar ao som de alguma música, dois dias sem te
tocar e eu já estou em ebulição — fala roçando a língua nos nós dos
meus dedos, fazendo meu pulso acelerar instantaneamente. Como
desejo esse homem! A vontade dele é visível em mim, meu corpo
demonstra todos os sinais.
— Uma ótima sugestão, mas quero ir dançar em um lugar
mais silencioso essa noite, quem sabe aliviar essa saudade? — Ele
abre um sorriso largo.
— Tô doido de saudades também, ainda bem que vamos
dançar somente nós dois — Sorri com malícia.
— Você disse ter algo importante para falar? — pergunto
curiosa.
— Tenho, sei que você disse para ir com calma, e já que
estamos passando todos os finais de semana juntos, há mais de
quatro meses, mesmo eu não conhecendo seus pais e você não
conhece a minha... — Ele interrompe o pedido, sinto que ele vai
firmar um compromisso comigo, e meu peito está fervilhando de
alegria.
Nesse momento nos chama a atenção um pequeno alarde na
entrada do restaurante de um grupo de pessoas entrando, Luke
instantaneamente solta minha mão e se arruma na cadeira, fixo
meus olhos e vejo a mãe dele com um casal da mesma idade e uma
moça loura jovem muito bonita. Ela está linda em um vestido azul
que acentua todo o seu corpo perfeito.
Deve ser a tal Christy com seus pais da qual a megera falou
quando foi até minha casa, logo atrás um rapaz alto engomado da
idade de Luke, não tenho certeza, mas deve ser o sócio de quem
ele já conversou sobre estar sempre pendurado na mãe.
Eles vêm todos em direção a nossa mesa, e sinto o
desconforto de Luke à medida que se aproximam. O casal e a
mocinha passam pelo outro lado e escolhem uma mesa se
acomodando, ela e o sócio param para nos cumprimentar.
— Querido, que surpresa! Não sabia que encontraria você
aqui hoje?
— Pois é, nem eu sabia que a Sra. Tinha um jantar marcado
nesse mesmo lugar.
— Justamente, apesar de não apreciar muito o menu
espanhol, Marion me ligou dizendo que a filha havia chegado ontem
da França e estava ansiosa para nos ver. E o Sr. Rockwell revelou
que gostaria de conhecer esse restaurante. Achei por bem convidá-
los para jantar, não vai me apresentar sua acompanhante?
— Ah sim... Desculpe, senhorita Salvage, essa é minha mãe,
Soraya Taylor e meu sócio Edward Shaed, mãe essa é Stela
Salvage... Minha... — Ao limpar a garganta vejo que Luke está muito
apreensivo — ... Uma investidora nossa, uma cliente que decidiu
investir nos nossos cassinos. Na realidade estamos num jantar de
negócios, a propósito terminamos e já estávamos de saída.
— É um prazer, senhorita, aprecio a preferência em nossos
cassinos, vejo ser uma mulher de inteligência para oportunidades.
Meu ranger silencioso quase quebra meus dentes. Não sei se
fico mais chocada com o fingimento dela em me estender a mão
como se nunca tivesse me visto, ou pelo que Luke acabou de fazer
referindo-se a mim como uma acompanhante de negócios.
O homem que eu amo não quer me assumir como
namorada? Sou o quê? Prostituta de luxo? Meu instinto em me
levantar dessa mesa torna-se quase incontrolável, mas mantenho-
me calma e finjo também, não vou dar esse gosto à velha perua.
Retribuo o gentil cumprimento a ela que me encara com seus olhos
de megera sagaz.
— Meu filho venha comigo até a mesa dos Rockwell
cumprimentá-los, Christy estava ansiosa para vê-lo, não fará uma
desfeita dessa a sua pobre mãe, tenho certeza de que sua parceira
de negócios não se importa já que finalizaram o jantar, não é?
— Claro — respondo com meu sorriso falso mais charmoso.
— Edward, faça companhia a senhorita e acerte a conta dela,
sim — ordena ela, puxando Luke pelo braço, que me olha culpado e
seguindo a mãe.
— Será um prazer, titia — responde o bonequinho louro.
Meu Deus! Isso não pode estar acontecendo comigo! A
mulher faz o que quer mesmo! E pior, não posso fazer escândalo
aqui, é capaz dela mandar o dono do restaurante me expulsar como
um cachorro sem dono.
O rapaz senta-se no lugar de Luke, me olhando com
curiosidade, mas seus olhos azuis dizem mais, um canalha. Ele tem
um cabelo despretensiosamente alinhado como se tivesse penteado
com os dedos, é até bonito, com a barba clara, rala e bem
recortada, porte atlético, mas para mim é sem graça, não chama a
minha atenção, mas seus olhos azuis são perturbadores, o mais
clássico dos cafajestes. Um homem ardiloso e falso. Tenho que
pensar em um plano para me retirar urgentemente.
— Então, senhorita, estou encantado em saber que nossa
empresa atrai uma clientela tão interessante, qual o seu ramo de
negócios, quer dizer, qual imóvel rentável vai empenhar nos
cassinos, Taylor & Shaed?
Resolvo atuar melhor que a velha, vou jogar com esse
bonequinho, aliás ele me ajudará a extravasar essa raiva. Vou
disfarçar minha frustração pelo tratamento que recebi de Luke,
apesar de estar doendo, ninguém vai perceber isso, muito menos
esse franguinho metido a besta.
Limpo minha garganta e o encaro sedutora também, graças
ao Benji não me esqueci como se faz. Frieza Stela, você consegue.
— Tenho uma rede de casas noturnas, alguns de meus
clubes estão fazendo sucesso além do que imaginei. Gostaria muito
de uma parceria com a parte mais famosa dessa incrível cidade,
seus cassinos. — Ele me olha impressionado com minha
eloquência, vejo que não era isso que ele esperava ouvir.
— Desculpe, por um instante pensei que fosse a namorada
do meu primo, mas agora com essa resposta percebo que supus
erroneamente, porque meu primo não se interessaria por mulheres
assim tão...
— Tão? — Ergo uma sobrancelha e projeto meu decote, fala
logo infeliz! Se me ofender disparo um tapa na sua cara que vai
doer semanas!
— Tão seguras de si, exuberantes, voluptuosas como a
senhorita, mulheres de negócios, aliás, fazem mais meu tipo que o
dele. Sempre o vi com meninas bem sem graça, se é que você me
entende.
Ele pensa que vou cair nessa lábia fajuta, é muito ingênuo
esse cara.
— Compreendo perfeitamente, aquele é o tipo dele a que se
refere? Loura, modelo de capa de revista — aponto em direção a
mesa onde Luke está conversando polido e sério com a família da
garota.
— Isso, louras, magras e entediantes.
Esboço um meio sorriso pela cantada barata dele, e continuo
a minha farsa.
— Eles combinam bem mesmo, e realmente não sou
entediante, isso eu lhe asseguro. Seu sócio felizmente também não
é meu tipo, mas como tive referências ótimas sobre vocês, entrei em
contato e hoje era a única noite livre na minha agenda. Tem uma
caneta? Vou anotar o endereço do lugar que quero que você dê
uma olhada.
Ele mais do que depressa me passa a caneta encantado,
babando no meu decote, escrevo o endereço do clube Volcano e
continuo:
— Vá na quinta-feira é quando estarei lá, diga na portaria que
é meu convidado Sr. Shaed, e será recebido com honras, peça que
o Sr. Taylor o acompanhe, ele conhece o lugar.
— A honra será minha senhorita e, por favor, me chame de
Ed.
— Foi realmente um prazer conhecê-lo Ed, mas preciso me
retirar, tenho outro compromisso, sabe como é, tenho que passar
em um de meus clubes, essa hora é o início do movimento —
preciso sumir daqui imediatamente.
— Seria um prazer acompanhá-la, senhorita Salvage.
— Infelizmente, não será possível, tenho meus seguranças
aguardando no lado de fora, e não poderia lhe dar a atenção devida,
é um trabalho duro ser uma mulher de negócios nesta cidade.
— Ah, claro, imagino. — Ele beija minha mão numa
despedida galante. — Estou ansioso para revê-la senhorita, foi um
enorme prazer conhecê-la.
— Lhe asseguro que gostará muito da visita ao meu clube. —
Dou uma piscadinha de olho e me retiro sem olhar para trás.
Ufa! Achei que não conseguiria me livrar desse abusado.
Chego no elevador aflita pela espera, minha perna está trêmula por
aguardar o som das portas do elevador se abrirem para mim, é um
martírio. Não posso chorar, ninguém vai me ver desabar, não aqui.
Porém, no instante que entro no elevador sinto as lágrimas
surgindo, tento segurar ao máximo, mas lembrar do que houve me
destrói e a avalanche de lágrimas irrompe sem controle.
Luke não quis assumir que era um encontro, ele tem
vergonha de mim, como pude acreditar que um homem daquele
fosse ter algo a mais que sexo comigo? Eu não sou a garota
padrão, não tenho o corpo ideal para ser a Sra. Taylor, enfim tenho
que finalmente acordar desse sonho.
As lembranças da minha adolescência voltam com tudo, me
sinto aquela garota excluída que nenhum garoto convidava para
dançar nas festas da escola. A vergonha de ser defendida pelos
meus irmãos por ser a balofa com medo de chegar na aula sozinha.
A chacota da faculdade. Me sinto um nada, a rechonchuda que
sempre foi a última escolha em tudo.
Agora chegando ao térreo, não consigo segurar, a represa de
lágrimas irrompe, começo a soluçar em choro. Como fui burra!
Sonhei tanto com uma relação verdadeira com ele. Parecia que
realmente era amor. Eu sou tão carente assim por acreditar?
Vou correndo até a calçada e faço um sinal desesperado pro
táxi no meio fio, tenho que sumir desse lugar e me colocar no meu.
Quando o táxi se aproxima, sinto uma pressão no meu braço. Luke
deve ter descido pelas escadas porque o elevador estava ocupado
comigo.
— Stela, aonde vai? Me deixa explicar, minha deusa.
Quando giro, Luke me olha desconcertado. Era só o que me
faltava agora, ele me ver derrotada desse jeito. Nunca permiti que
visse minhas vulnerabilidades, não queria que percebesse meu
rosto desfigurado pelo choro. Minha decepção aumenta e se
transforma em fúria. Será que não percebe o que fez? Meu Deus,
não consigo nem ouvir sua voz, a vontade é de esbofetear a cara
dele. Vou colocar um ponto final nisso imediatamente! Ele precisa
saber da gravidade da situação.
Se para ele não foi nada, para mim significou tudo, ele me
deixar plantada com aquele primo que só faltou me convidar para
um motel e ainda por cima me apresentar como uma desconhecida,
não sou descartável se é o que ele pensa, está redondamente
enganado.
— Deusa? Tire suas mãos de mim, Sr. Taylor, nosso jantar de
negócios acabou, aliás, essa cliente, investidora, o caralho que for,
dispensa qualquer tipo de negócios com o Sr. Ou seus cassinos.
Suba a escada e volte para sua Barbie! É realmente a mulher
perfeita para você. Seu lugar não é comigo!
— Stela, espera, vou te levar em casa, preciso me desculpar,
eu fiquei nervoso, não foi minha intenção… — interrompo furiosa.
— Não ouse me seguir até em casa, não apareça mais na
minha frente, mando entregar sua chave, suas coisas e aquela joia
cara, e se quiser sexo, procure uma profissional. — Ele nota meu
olhar assassino e recua.
— Stela, me perdoa…
— Espero que eu tenha sido bem clara, pois não sou mulher
de repetir.
Entro no veículo e bato a porta, deixando o homem que me
magoou na calçada e espero nunca mais vê-lo. Dentro do carro não
consigo me acalmar, o motorista assustado me encara pelo espelho
retrovisor. Espero que não abra a boca para perguntar ou me atiro
para fora com o táxi em movimento. A volta para casa parece uma
eternidade, os soluços não param. Somente quando estaciona em
frente à minha porta que as lágrimas cessam. Luke está parado no
meio fio me esperando. Deve ter acelerado para chegar antes. Mas
que grande merda! Antes que eu perceba, ele avança com a carteira
para pagar a corrida. Abro a porta do carro e dou um tapa na mão
estendida com as notas.
— Não se atreva a tomar o resto de dignidade que me restou!
Não sou sua prostituta, entendeu? Riquinho metido a besta!
Pago o motorista e viro me desvencilhando de Luke no meu
encalço.
— Stela, por favor, nunca presumi uma coisa dessas. Me
escuta, não faça isso! Se acalme.
As palavras vão se desvanecendo ao passo que vasculho a
bolsinha a procura da chave, e em segundos milagrosos abro a
porta encerrando a conversa, trancando minha amargura dentro de
casa. Não sei por quanto tempo as batidas persistem. Mas não me
comovem. Me tranco no banheiro o mais longe possível daquela
porta e do homem atrás dela, preciso apenas ficar sozinha para
chorar minha desgraça.
CAPÍTULO 38

Quatro dias recebendo flores todas as manhãs, dispensei o


entregador e disse que não irei mais atendê-lo, se quiser jogue as
flores na lixeira da calçada, rasguei os cartões sem ler e desliguei
meu celular. O problema é que Luke vem a qualquer hora do dia, sei
que são os intervalos de trabalho, portanto é rápido, mas ele não
desiste de querer se explicar. Porém, não cedo. Me ver como uma
qualquer, sem mesmo ser intencional, me magoou demais.
Por fim, ele desiste. Parece entender que preciso de um
tempo. Tempo para quê, meu Deus? Para ficar remoendo tudo que
aconteceu?
Quatro dias chorando, sem comer, devastada pelo que
houve. Preciso me reerguer, até tonturas eu tive de fraqueza. Após
contar a Benji tudo o que houve precisei desligar, vou trocar o
número na segunda-feira, não quero ouvir desculpas esfarrapadas.
Não sou mais a adolescente trouxa que acreditava nos garotos e
depois era desiludida com a mesma facilidade que as palavras eram
ditas. Amanhã volto a minha rotina normal, porém hoje necessito de
uma boa diversão, botar para fora essa frustração e espairecer. Por
isso irei à danceteria latina que gosto tanto, sempre encontro alguns
amigos do curso lá, nada melhor para esquecer essa semana
fatídica, dançar e beber.
Chegando ao local, encontro Gia e Orlando na entrada,
cumprimento-os com beijos e nos direcionamos para o bar, e já
aviso, que no final da noite me coloquem num táxi que hoje quero
esquecer até o caminho de casa. Eles riem e concordam. Depois
de algumas tequilas, vamos para pista, começa a tocar as músicas
que adoro, reggaeton, rumbas modernas, me animo e empolgada
logo estou rodeada por todos os conhecidos e amigos que fiz nesse
lugar, danço até perder o fôlego.
No decorrer da festa noto um homem diferente, moreno, alto,
caliente, um dançarino espetacular, com um gingado de pirar
qualquer mulher, vem e se aproxima para dançar comigo. Eu muito
maluca me jogo, a tequila me desinibe mais que o normal, começa
uma música que gosto muito e deslizamos juntos pelo salão. Me
sinto ótima nos braços desse moreno simpático. Ele é lindo, tem
pegada e sabe conduzir, não penso em me envolver, mas não há
mal algum em dançar com ele. Talvez, eu esqueça por algumas
horas meu coração destruído. Meu amigo Orlando se engata atrás
de mim e dançamos os três.
Mas não demora segundos, um trem desgovernado de um
metro e noventa chamado Luke Taylor, joga a parede de músculos
nos atropelando e inicia uma briga com o moreno. Orlando, meu
amigo, tenta apartar e leva um soco também. Gia, apavorada, se
aproxima ajudando o irmão e com isso decido interferir pulando no
meio dos outros dois e encaro os rostos ensanguentados a minha
frente.
Os seguranças intervêm tomando conta da situação e
arrastam Luke porta afora, que me encara feroz, bufando e
limpando o lábio cortado. Depois de meia hora dentro da danceteria
pedindo desculpas aos meus amigos pela confusão, decido ir
embora, já não há clima para diversão.
Chegando na área externa encontro meu algoz escorado no
Porsche esperando por mim, a minha vontade é de correr para ele,
limpar o sangue do lábio, levá-lo para casa e cuidar do meu
namorado. Ex namorado, Stela, aprenda que o que ele fez foi uma
ofensa de boy lixo, e o amor por mim mesma é maior. Não aceite
ser tratada como um defeito que precisa ser escondido. Você é uma
mulher linda, independente do que a sociedade ou qualquer pessoa
diga. Você sabe que é.
Muito contrariada, decido confrontá-lo:
— O que faz aqui? Por que todo aquele escândalo?
— Você sabe porque, o quanto bebeu, Stela? Você ficaria
com ele ou com eles?
— Ah... por favor, não sou uma adolescente, sei me cuidar,
sei o meu limite e eu estava me divertindo, o que você tem a ver
com isso Sr. Taylor? Não é da sua conta com quem eu termino
minhas noites! Não sou nada sua.
— Virei Sr. Taylor, agora? — Seu corpo se aproxima do meu
e dou um passo na direção contrária.
— Você sempre foi o Sr. Taylor, só fingiu ser outra pessoa.
Vou andando em busca do táxi que sempre fica estacionado
nessa quadra. Luke me segue esbravejando.
— Precisamos conversar!
— Você acha que sou alguma idiota, que você trata como
quer, pisa e depois sou obrigada a conversar?
— Você precisa me ouvir, Stela!
— Ouvir? Acha que faremos as pazes na cama como sempre
acontece? Dessa vez não! Esqueça que um dia me conheceu.
— Precisamos nos acertar, minha orquídea.
— Não está envergonhado agora de conversar comigo aqui
em um lugar público em frente a tantas pessoas nos observando?
Porque no restaurante só faltava se esconder embaixo da mesa de
vergonha! Ah, esqueci, não tem nenhum conhecido seu aqui. A
mamãe não está presente.
— Stela, por favor.
— Não sabia que você era do tipo que fazia baixarias em
público! — Quando olho ao redor vejo muitas pessoas
acompanhando nossa briga e percebo o quanto estou alterada.
— Não gosto de violência, mas você me tira do sério. E
jamais me envergonhei de estar com você Stela, tira isso da cabeça,
quero explicar, mas não brigar. Você bebeu, está muito nervosa, não
vai lembrar da nossa conversa pela manhã, deixa eu te levar para
casa e conversamos com calma — finjo uma gargalhada teatral.
— Mas você está maluco se pensa que vai pra casa comigo,
e me comer. Já disse, me esquece! Não entendeu ainda a merda
que fez, Taylor? Chega de mentiras. Agora compreendo, para o
sexo sou ótima, a namorada linda, perfeita e blá blá, entre quatro
paredes, mas diante dos outros sou ‘a investidora.’ Pois bem, investi
meu tempo muito mal nesses meses com você!
— Pare com isso! — Ele segura meu braço para olhar em
seus olhos. — Você sabe que não é assim, você está sendo imatura
em não ouvir o que tenho para dizer, não quero só sexo, quero
você, você é minha!
— Sua, o caralho! — afasto a mão e saio andando com ele
correndo atrás, tentando chamar minha atenção. — Você não me
conhece, não sabe como me senti naquele restaurante. Tem o que
quer a hora que quiser. Comigo não!
— Stela! Você é evasiva cada vez que quero ir mais fundo na
sua vida.
— A culpa é minha por você agir como um escroto, agora?
— Não é isso! Vamos conversar.
O táxi chega de onde tinha ido, e apresso o passo.
— Não me deixe falando sozinho! Aliás, que história é essa
de convidar Edward para ir ao clube amanhã? Ele está eufórico, só
fala nisso. — aceno para o tio do táxi com um sorriso sarcástico e
embriagado.
— Maldita hora que me envolvi com você! A imatura cansou!
Posso não ser um espetáculo de mulher para sociedade que você
frequenta, mas tenho certeza de que vou encontrar um homem que
queira me assumir, mostrar pro mundo que está comigo. Por
exemplo, seu primo Ed me pareceu bem interessado e foi a única
coisa boa daquele jantar. Vou apresentá-lo a Vênus, acho que ela
vai se divertir muito com ele.
— Não me tente Stela, você não faria isso, ele não é homem
para você! — responde com um olhar furioso tirando de mim
gargalhadas ainda mais escandalosas.
— E você é? Pra quê? Para se esconder quando os
conhecidos te flagram comigo? Dispenso, tenho outras opções, quer
pagar para ver? — entro no veículo batendo a porta, sumindo da
vista dele.
Luke fica mais uma vez no meio fio, parado me olhando
desaparecer. Dessa vez não chorei, quero me enterrar na cama e
esquecer de tudo, até que eu existo.
CAPÍTULO 39

Sigo o táxi, preciso ter certeza de que ela chegará segura em


casa. Fico vigiando de longe quando Stela sai do veículo e abre a
porta com dificuldade. Queria tanto estar ao seu lado, ampará-la,
carregá-la para dentro, dormir envolto ao seu corpo. Mas eu sou um
idiota mesmo, planejei tudo o que dizer a ela, mas não esperava
minha mãe aparecer naquele restaurante, agi por impulso.
Eu ia pedir calma a Stela para preparar minha mãe para
conhecê-la. Fico me condenando, caralho! O que passou nessa sua
cabeça oca ao se referir a ela como uma cliente? Você é
apaixonado por essa mulher, seu infeliz! É a mulher da sua vida! Se
hoje eu dissesse que a amo, provavelmente ela pensaria que a
declaração seria apenas para levá-la para a cama.
Fico remoendo a cena para tentar me entender, fiquei
nervoso, ainda mais com aquele pulha pendurado na minha mãe, o
que ele tentaria se eu revelasse que ela é minha namorada? Não
pensei em nada no momento, agi por impulso e me lasquei. E agora
ela pensa que tenho vergonha dela, que não quero assumir nada,
muito pelo contrário, não consigo tirá-la da cabeça nem por um
minuto. O pior é que não tenho oportunidade de dizer isso, porque
simplesmente ela não quer me ouvir.
Estou tão arrependido por estragar tudo. Arranco com meu
carro e decido ir para casa, de nada adianta ficar parado aqui fora.
Demoro mais que o normal para chegar, não consigo me concentrar
direito, as lembranças dela, naquele inferninho requebrando com
aquele vestidinho me enlouqueceu. Nunca gostei daquela
danceteria, os caras são muito abusados, com a desculpa de
dançar, estavam sempre a sua volta, vi como eles a despiam com
os olhos. Fico louco com esse tipo de coisa, e minha namorada nem
percebe o que faz com eles. Quando George me avisou que ela
estava lá, nem pensei, saí atrás, nunca ficamos tanto tempo sem
nos falar, quatro dias e eu estava subindo pelas paredes sem
notícias. Não atende o telefone, a florista ligou dizendo que se
recusa a receber minhas flores, não atende a porta todas às vezes
que insisto em procurá-la, meu Deus, que mulher teimosa! Mas pelo
menos hoje falou o que pensa, o porquê de tanta mágoa.
Fiquei quase uma hora lá dentro, e Stela nem notou, vi o
quanto bebia, queria se divertir dançando, em outras circunstâncias
seria eu agarrando aquele corpo na pista, não me controlei quando
ela foi dançar com dois caras, rebolando entre eles. Stela dançava
de uma forma tão sensual, que me tirou do sério. E o pior, os caras
que estavam lá vidrados na dança da minha mulher, sentiam o
mesmo. Fiquei possesso. Não pude evitar interromper aquilo, foi
demais para o meu ego. O que teria acontecido se não tivesse
brigado por ela? Tenho medo só de imaginar que iria para casa com
algum daqueles caras.
E nossa discussão lá fora ecoa na minha cabeça repetidas
vezes. Preciso deixar claro como me sinto. Com esse pensamento
percebo que estou em casa, finalmente, necessito de uma bebida
para acalmar a mente conturbada. Preparo um whisky, entretanto,
não chego a terminar o drink porque jogo o copo na parede,
lembrando que Ed vai ao clube só para vê-la e o pior, a pedido dela.
Mas que merda!

Acordo com um mau-humor dos infernos. Tomo um café


rápido e vou depressa para o cassino. Preciso trabalhar, se me
concentrar em outras coisas, talvez consiga tirar Stela da minha
cabeça por hoje.
Com a aquisição do novo complexo, tenho muitos detalhes
para organizar e isso tirará um pouco o foco da bagunça que se
tornou minha vida pessoal. Passo pela minha secretária pegando
meus recados e vou direto para a sala de reuniões, tenho que
delegar aos acionistas quais as funções de cada um nessa
empreitada. Meu pai ficaria orgulhoso com o patamar que seu nome
alcançou. Pobre dele, deu a vida por isto e não viveu para ver seu
auge, prometo que vou honrá-lo pai. Olho para o céu numa prece
silenciosa.
A reunião segue sem maiores surpresas, demora um pouco
mais que o planejado, mas está me fazendo bem manter-me
ocupado com isso. Já passa das onze e meia, me retiro para minha
sala e ligo para meu assistente providenciar o almoço, não tenho
saco para subir e almoçar. Ficarei na minha sala e adiantarei
algumas ligações que precisam ser feitas pessoalmente.
Faço isso em meio a garfadas sem muita vontade. As
primeiras horas da tarde passam voando, meu assistente me
interfona, dizendo que Edward está aguardando para falar comigo,
respiro fundo e o mando entrar.
— Então Luke, tudo certo para o nosso compromisso hoje à
noite?
Não acredito que esse maldito veio aqui para falar disso
novamente. Me provocar. Tento disfarçar minha irritação, mas as
palavras de Stela voltam a ressoar no meu ouvido e não consigo
fazer isso.
— Não posso acreditar que você veio até a minha sala para
assuntos triviais outra vez, Edward? Temos coisas mais importantes
a discutir e você só fala disso há dias!
— Ei! Calma, homem, depois que você me falou de que tipo
de clube se trata, fiquei ansioso, só isso, e depois a mulher do
restaurante não sai da minha cabeça. Tenta entender, por mais que
não seja o seu tipo de mulher, você há de convir que ela é um
furacão, não me culpe por isso.
Dou a volta na mesa em direção a ele pronto para quebrar o
desgraçado, mas me contenho e fico a uma distância significativa do
infeliz.
— Não se atreva a mexer com ela!
— Meu caro primo, a sua política de tratamento aos clientes e
parceiros de negócios diverge da minha política, não me importo se
vamos fechar parceria ou não, se me der mole eu pego com o maior
prazer. — Cada vez que ele mexe no cabelo, imagino o infeliz sem a
cabeça.
Seu tom desafiador me desestabiliza e dessa vez não me
controlo, imprenso seu pescoço na parede com minha mão, falando
entre os dentes:
— Para o bem dela e principalmente o seu, eu disse, NÃO! —
Que merda! Não quero que ele saiba que é a minha mulher, porque
ele vai se esforçar ainda mais em tirá-la de mim. — Não envergonhe
o nome do meu pai! — Ele se desvencilha de mim e ainda mais
atrevido retruca:
— Primeiro, isso tudo era do meu pai também. E segundo
meu caro, não farei nada que ela não queira, e pelo convite receio
que ela quer, você aprovando ou não. Sabe, cheguei à conclusão
aqui com minha cabeça privilegiada, que a desconfiança inicial que
tive estava correta, vocês dois tiveram algo. — Meu rosto me trai,
nessa hora aperto meu maxilar segurando a raiva que ele desperta
em mim. — Pegou, não pegou?
Se eu botar novamente as mãos nele, eu mato. Preciso me
conter, porra! Não satisfeito, ele continua a me provocar:
— Não me admira, eu também não seria idiota de deixar
passar aquele espetáculo. Nem adianta dar showzinho que você
não me amedronta, te conheço desde criança, cara, não morremos
de amores um pelo outro, mas nunca brigamos por mulher, ... Ah, e
não precisa me buscar, vou com meu carro e te sigo, nove horas
passo na sua casa primo, vai que eu estique a noite depois, não
quero te atrapalhar. — Ajeita a gravata, e me imagino apertando o
nó com força até seu rosto ficar roxo. Arruma a gola amassada e
some da minha sala rapidamente.
Fico parado com os punhos cerrados me contendo e
assimilando a ousadia desse merdinha. Claro que ele quer ir com o
próprio carro, suas más intenções são claras. Filho da puta!!! Pego
meu celular e dou o fora da empresa antes que eu perca o juízo e
espanque esse pilantra.
CAPÍTULO 40

Acordo me sentindo mal, ainda tonta vou para o banheiro,


meu estômago ronca querendo comida. Estou desde ontem sem me
alimentar. Chego na cozinha e preparo ovos mexidos, quando sinto
o cheiro da refeição quase pronta, uma náusea horrível me faz
correr de volta para o banheiro.
Não consigo pôr nada para fora, pois não há nada dentro do
estômago. Depois de algum tempo, insisto em comer, estou
realmente faminta. Mas instantes depois me arrependo de ter feito,
boto tudo para fora em seguida. Isso não pode ser ressaca, tomei
poucas doses de tequila, fiquei um pouco animada, mas não foi
muito álcool para me deixar assim. Será que...
Nãooooo! Saio aflita pelo corredor para confirmar se não fui
descuidada. Neste quesito sou muito responsável, não vou trazer
uma criança ao mundo sem planejar e, aliás, não planejo em curto
prazo um bebê. Mas penso que de qualquer forma devo ir ao
médico, vou marcar amanhã uma consulta, pode ser alguma virose
ou algum descompasso do organismo, já que há dias não me
alimento bem por culpa da minha burrice em me apaixonar e claro
me iludir, fiquei mal mesmo esses dias, como há muito não ficava e
não é só meu coração que sofre, meu corpo está padecendo
também. Vou descansar mais um pouco, não gostaria de sair hoje,
estou com um cansaço e com um sono incomum. Mas como hoje é
quinta-feira, falei para o Benji que voltei, e o clube me espera
enfeitado com minha vingança usando o tal primo presunçoso do
Luke, ... Ai, ai, Luke, o que você fez comigo?
CAPÍTULO 41

À noite, já no clube, Ed e eu não trocamos uma palavra. Ele


sabe como me irritou esses dias e já se deu por satisfeito com as
provocações, estou aliviado, não costumo fazer cenas ou
escândalos, salvo ontem na danceteria, tenho pavor disso.
Mas admito, não tenho sangue de barata, haverá
consequências se eu quebrar a cara dele, e a essa altura pouco me
importo. Ficamos em lugares opostos, ele vai para as poltronas e eu
pro bar, me acomodando no balcão. Benji vem me atender, e pela
cara amarrada, posso afirmar com toda a certeza que ele sabe dos
últimos acontecimentos entre mim e Stela, sei o quanto são
próximos.
— O que vai ser Taylor? — pergunta de modo seco.
— O de sempre. — Não tiro os olhos de Edward, que está
bem distraído com a movimentação das garotas desfilando pelo
salão. Quando pego a bebida viro um gole e pergunto:
— Você sabe de tudo, não é Benji?
— O que você acha? — responde ele cortando a conversa.
— Falou com ela hoje? Como ela está? — pergunto tentando
amolecer a fera. Ele para o que está fazendo e me encara sem
simpatia.
— Não me mete nisso, Taylor, essa história de vocês nem era
para ter continuado, e se eu abrir minha boca, você não vai gostar
nem um pouco do que vai ouvir.
— Fala, eu mereço, fui um boçal, eu sei. — Bebo o whisky
cabisbaixo e peço outro em seguida.
Ele coloca o próximo copo diante de mim, e despeja:
— Você a conhece só há cinco meses, eu, há mais de cinco
anos, ela é uma mulher especial, não é para se brincar, cara — diz
ele com as duas mãos apoiadas no balcão como uma águia me
sondando. — Stela viveu a vida inteira odiando a si mesma,
traumatizada na adolescência, sofreu bullying na faculdade, por isso
trancou ainda no primeiro semestre. Depois de uma dura batalha
pela independência, conseguiu convencer a família que precisava
viver seus desafios sozinha. Partiu da Espanha para esquecer,
tentar um recomeço. Aqui, nesse clube, ela encontrou uma forma de
se amar. Trabalhamos seu lado fatal e sedutor, mas por dentro ela
ainda é aquela garota complexada que necessita de amor, ser
elogiada e amada. Minha amiga, merece um homem que a faça
perceber o quanto ela é linda por fora e por dentro, e não playboys
sem escrúpulos iguais a vocês dois disputando uma foda. — Me
surpreende muito essa revelação, ela nunca deu detalhes da vida
na Espanha.
— Não sou assim, gosto dela, Benji.
— E é o suficiente? O que você fez, demonstrou, sei lá o que
você pensa que sente? Entenda que a mágoa de Stela é bem mais
profunda, trouxe de volta todas as inseguranças que ela achava que
não existiam mais. Pode ser que você tenha feito sem pensar, não
sei, mas machucou muito, isso posso afirmar e é melhor se afastar.
— Absorvo essas informações como um soco no estômago, causei
mais estragos do que imaginei.
— Não vou me afastar. Não sou homem de desistir do que eu
quero. Me ajuda? Já tentei me explicar, ela não quer ouvir. — Benji
direciona o olhar para Ed.
— Aquele é o seu primo? — confirmo que sim. — Deixa ela
se vingar.
— O quê? — indago surpreso sem entender.
— Stela precisa disso, Taylor, hoje, a noite é dela. Ela quer
mostrar que tem o controle da situação, tentar te ferir e só a sua
insistência em não desistir, é que vai demonstrar se ela vai te
perdoar ou não.
Engulo essas últimas palavras pensativo e em silêncio,
terminando minha bebida.
Nesse instante o ar se transforma e o aroma de cereja toma
conta do lugar. Giro no banco para vê-la, acompanhando seus
movimentos ao sair de dentro da porta vermelha desfilando pelo
salão com dois servos atrás dela. Seus passos em conjunto com a
música sensual de fundo são calculados em direção ao meu primo
na poltrona. Meus nervos estão à flor da pele, sinto minhas mãos
suarem e um calor de fúria no meu rosto.
Diferentemente das outras noites, está totalmente vestida
com um tipo de macacão preto de vinil, todo recortado, colado ao
corpo, evidenciando cada curva. Está tão ou mais sexy do que
quando usa lingeries mínimas, tem um poder em torno dela que não
consigo explicar. O cabelo em um rabo de cavalo alto, liso e sem a
máscara. Não consigo desligar da cena, do meu assento tenho a
visão completa deles. Ed, boquiaberto e hipnotizado na poltrona,
vidrado, excitado com a bela mulher o rondando como uma
predadora. E não só ele, como de costume, o clube em torno está
em câmera lenta acompanhando os movimentos da Sra. Lady
Vênus pelo salão. Ela estende a mão como é de praxe o
cumprimento à dominante, Edward como ordenado a beija em
reverência. Depois desliza o chicote suavemente pelo peito dele e
se inclina falando algo, Benji ao meu lado está tão absorto com a
cena quanto eu. Minha boca seca quando ela gira de costas e se
acomoda no colo do maldito, propositalmente me dando a visão dele
sussurrando em seu ouvido, e ela acha graça do que ouve. Mesmo
sabendo que estou aqui, não olha em minha direção.
Sinto meu rosto em chamas, meus olhos enxergam vermelho
de fúria, e num impulso me movo rapidamente para terminar com
aquilo, tirá-la dos braços daquele imbecil, mas Benji segura meu
braço:
— Não. Fica aqui. Confia em mim, ela não fará nada de mais.
Não quero te expulsar, Taylor.
— Não vou ficar parado vendo minha mulher nos braços
daquele bastardo.
Saio desgovernado cruzando o salão em direção aos dois,
Stela quando percebe rapidamente se põe de pé com a cara
fechada e acena para os seguranças brutamontes que estão na
porta. Os dois imediatamente se posicionam na minha frente,
bloqueando minha passagem e um deles pergunta a ela o que
devem fazer comigo.
— Tire esse sujeito daqui, e cancele o cartão senha dele! —
ordena Vênus com autoridade.
Todos ao redor param para acompanhar minha desgraça,
não me importo, quero tirá-la dali, arrastá-la para casa comigo.
— Stela, não faça isso — imploro em vão, simplesmente
recebo um olhar mais gelado ainda e o bastardo do meu primo com
um ar de riso se ergue do sofá e agarra a cintura dela.
— Ouviram? Levem-no! Insubordinados e baderneiros não
são bem-vindos ao Volcano. A entrada dele fica proibida a partir
deste momento — pronuncia essa ordem olhando diretamente para
mim.
— Perfeitamente, Lady Vênus.
Eles obedecem, me agarrando pelos braços e conduzido à
saída, enquanto meus olhos os seguem sorrindo como dois
pombinhos andando em direção a cabine particular. Benji,
assustado com a cena e percebendo que estou transtornado, corre
em meu auxílio.
No estacionamento, com o ar morno da noite, as coisas
parecem ainda piores.
— Taylor, vai para casa, não adianta você ficar andando
como um touro raivoso aqui em frente ao clube.
— Vou estacionar lá atrás, vou arrancar aquele miserável da
cabine a socos.
— Não pense em fazer isso.
— Vou derrubar aquela porta com eles lá dentro, espanco
aquele escroto e tiro a minha mulher de lá — grito minha raiva para
ele.
— Você está se ouvindo? Está descontrolado, não vai ajudar
fazer mais escândalo.
— Ela preferiu ele ao invés de mim! — Benji agarra meus
ombros chacoalhando e me encarando.
— Não seja idiota, homem, ela não vai fazer nada. Me ouça
criatura! Será pior, Stela vai ficar ainda mais chateada. Vá para
casa, vocês terão tempo de conversar. Amanhã de cabeça fria na
casa dela, vocês se acertam. Calma porra! Quer que eu dirija e te
leve para sua casa? — Respiro fundo e abro mais um botão da
minha camisa. Me dou por vencido e derrotado após respirar fundo
uma dezena de vezes. Por fim, desisto do meu intento.
— Não, tudo bem, tem razão, não posso cometer uma
loucura hoje. Vou indo.
— Certo, siga meu conselho, por favor, se acalme e não vá
até a porta de saída.
Não sei como dirigi até em casa, não lembro como fiz isso,
recordo de desligar o motor na garagem, minha mente só pergunta
por que ela me castigou dessa maneira? Será que Stela vai para
cama com o cara que mais desprezo só para me magoar? Isso é
demais. Amanhã tenho que resolver isso de uma vez por todas.
CAPÍTULO 42

Não preguei o olho a noite toda, George percebe isso a


caminho da empresa e me olha aturdido no carro.
— Noite ruim, chefe?
— E o dia será ainda pior, George. — Encerramos o diálogo
monossilábico assim. Chego no cassino e vou direto para a
secretária de Ed:
— O Sr. Shaed já chegou?
— Ainda não, Sr Taylor, ele ligou avisando que se atrasará
um pouco, pois, perdeu a hora esta manhã.
— Assim que ele chegar avise-me imediatamente, tenho um
assunto urgente a tratar pessoalmente com ele.
Saio pisando duro em direção a minha sala, furioso pelo
maldito estar tão atrasado, imagino mil teorias do que eles fizeram,
passaram a noite inteira juntos? Como ela pôde me trair assim? Vou
acabar enlouquecendo por essa mulher.
O tempo passa devagar e minha fúria só aumenta, ando
descontrolado dentro da minha sala, passando a mão pelos cabelos,
querendo acalmar meus pensamentos com esse gesto involuntário.
Me livro do blazer e percebo meu corpo tenso e suado, mais de uma
hora à espera do desgraçado. O telefone toca e é o aviso que estou
esperando. Saio como uma locomotiva pelo corredor e entro na sala
sem bater, quando Ed me vê, me olha debochado:
— Ora, ora primo, veio saber os detalhes da minha
maravilhosa noit...? — Nem espero ele completar a frase,
interrompo com um passo o alcançando e desferindo o primeiro
soco na boca, abrindo o lábio superior, isso faz com que ele caia
como um saco de batatas no chão, entrando em pânico.
Mas não me dou por satisfeito, imobilizo-o e desfiro outro
soco, acertando seu nariz com tanta força que o ouço quebrar
enquanto minha mão lateja de dor.
Há anos me controlo com relação a Edward, uma vida inteira
de provocações, essa surra não é somente por Stela. Eu sabia que
quando explodisse com ele, me desconheceria, mas foi inevitável e
derradeiro esse resultado, em minha mulher esse infeliz não toca
mais.
Em meio a todo o sangue e olhos esbugalhados, ele começa
a gritar:
— Não fizemos nada, cara, nada! Ela não quis nada comigo,
por favor, pare com isso Luke!
Ouvindo esse apelo desesperado, seguro o braço já na
posição de socar outra vez e entre os dentes ameaço:
— Se você estiver mentindo para se safar, prometo que
termino de quebrar essa sua cara falsa de bom moço.
Ele começa a falar tropeçando e gaguejando nas palavras
com as mãos em defesa:
— Eu juro, juro cara, ela me levou naquele quartinho e disse
que tinha namorado, mas ia me dar a diversão que eu merecia.
Trouxe duas garotas e fiquei com elas a noite toda, e ela sumiu, saiu
por outra porta, sei lá, cara, não prestei mais atenção e aproveitei,
eu juro. Pergunta para ela, por favor, não me bate mais, você
quebrou meu nariz, seu louco!
Limpo minha mão ensanguentada na camisa dele, me
levantando do chão, e falo ainda alterado:
— Ela é minha mulher, e se você se meter outra vez em uma
de nossas brigas, eu te mato, melhor, mando fazer o serviço, você
entendeu bem, seu escroto?
— S-sim, eu não sabia que era sério, não vou mais me
aproximar dela — balbucia ele encarando-me apavorado.
— É muito sério, nunca mais se aproxime da minha
namorada! — vocifero ao homem ensanguentado no tapete, que
apenas meneia a cabeça compreendendo a ameaça. Saio pela
porta e noto a secretária dele acocada atrás da mesa, deve ter
ouvido o que aconteceu.
— Vá atender seu chefe, ele precisa de você lá dentro —
ordeno.
Agora mais calmo no banheiro do escritório lavando minha
mão esfolada, aliviado, recordo de Benji quando disse que ela não
faria nada demais, só queria se vingar. Outra vez fui idiota em
desconfiar dela. Preciso insistir em vê-la, tenho que me desculpar e
falar o que sinto por ela.
CAPÍTULO 43

No consultório da médica dou um salto da cadeira assustada


com a notícia que acabo de receber.
— Grávida? — Minha expressão em choque não podia ser
maior. — Como assim grávida Dra. Não falhei nenhum comprimido,
meu período veio normalmente, isso está errado, como é possível?
— Vários fatores podem cortar o efeito do contraceptivo.
— Mas não fiz nada fora do normal na minha rotina.
— Você toma algum medicamento para convulsões?
— Não.
— Costuma ingerir muito álcool?
— Bebo socialmente, às vezes, no fim de semana.
Conforme pergunta, vai anotando em um formulário muito
concentrada, com certeza é alarme falso, vou refazer o exame.
— Fez algum tratamento de saúde específico nos últimos
dois meses?
— Há dois meses tive uma infecção grave na garganta e o
médico receitou um antibiótico que eu nunca tinha tomado,
precisava me reestabelecer em poucos dias devido ao trabalho e
me receitou um mais forte que o habitual.
— Está aí a resposta, senhorita.
— Podemos repetir o exame, por favor, Dra?
— Não é necessário, me acompanhe, vou tirar sua dúvida,
deite-se naquela maca, pelas informações que tenho você já está
com 10 semanas, assim podemos ouvi-lo.
— Ouvi-lo?
— Sim, os batimentos cardíacos do feto.
Meu Deus do céu, não pode ser verdade!
Assim que ouvimos o coraçãozinho acelerado, começo a
chorar feito uma criança.
A médica assustada tenta me acalmar, falando sobre
aconselhamento. Dissertando sobre como filho é uma benção e
percebo que ela desconfia que eu vá abortar.
— Nunca faria um aborto, não se preocupe se é o que pensa
Dra. Mary. É meu filho e eu já o amo.
Depois de todas as informações sobre vitaminas, dieta e
dúvidas com relação às coisas que fiz sem saber da gravidez, sigo
para casa, não chamo carro de aplicativo, andar vai me fazer refletir
sobre meu futuro. Caminhar sempre me ajudou a pensar e serenar a
mente. Como eu poderia imaginar que cortaria o efeito? Deus sabe
que não fiz de propósito, por mais que eu ame Luke e tenha
fantasiado uma família com ele, jamais faria de propósito sem
consultá-lo. Ai, meu pai! Como vou contar a ele? Meu Deus e se a
mãe bandida descobre? Vou esconder ao máximo até me sentir
segura.
Mas agora está feito, não importa, estou grávida. Jamais vou
me lamentar de ter feito essa criança com todo o meu amor, pelo
menos da minha parte. Desejo mais que tudo esse bebê e nenhum
dos dois vai me impedir de tê-lo. Já amo esse serzinho mais que
minha própria vida. Luke não assumindo o filho não muda nada a
minha situação e minha intenção de criá-lo dando tudo de mim para
isso. Não sou inválida, posso trabalhar e me virar muito bem. E
afinal, tenho uma família na Espanha, em último caso volto para
casa. Desamparada eu não fico.
— Somos dois agora, não é bebê?
Converso alisando meu ventre tentando acalmá-lo e a mim
também. Aperto o passo em direção a minha casa. Tenho que
contar ao Benji sobre isso, ele é minha única família aqui.

Os dias passam agora cada vez mais arrastados, tirei uma


licença definitiva do clube para reorganizar minha mente e decidir
meu futuro, mas sei que não retorno mais para lá, por enquanto.
Luke todas as noites bate na minha porta querendo me ver, grita,
ameaça que vai ficar lá fora até eu recebê-lo, diz que não fez por
mal e quer se explicar. O problema é que não esqueço aquela noite
desgraçada no restaurante, nunca vai assumir nada. Entrei nisso
sabendo que ele não era homem para mim, mas a apaixonada aqui
queria tanto que fosse. A mocinha gorda da adolescência que
sonhava com um príncipe encantado que a amaria e protegeria,
permitiu ser feliz por quase cinco meses inteiros, com o homem por
quem se apaixonou, o príncipe tão sonhado e ele sempre me tratou
como se sentisse o mesmo, apesar de nunca ter se declarado.
Mas aquela noite no restaurante me dei conta do que estava
fazendo lá, papel de idiota. O príncipe tem vergonha da princesa.
Infelizmente, sou muito fraca contra o que sinto por ele, a semana
inteira batendo aqui, se hoje vier novamente não vou resistir. Anseio
beijar aquela boca, me enterrar naquele peito musculoso e ser
envolvida em seus braços fortes, nem que seja uma última vez. Ah
Deus, como desejo isso! Infelizmente sei o que é um coração
partido, o meu já se quebrou tantas vezes, que não sei por que
insisti dessa vez. Justo com um homem como ele.
Ouço a chuva lá fora, é uma noite triste, mesmo abrigada sob
um teto, é triste aqui dentro também. Preciso me alimentar pelo meu
filho, pois fome não tenho, tomarei um banho quente e tentarei
dormir. Com essa tempestade, vou poder descansar sem ninguém
batendo na porta, espero que ele tenha desistido, não tô preparada
para falar com ele, brigar e ainda por cima contar sobre a gravidez e
ser rejeitada, preciso de mais alguns dias.
Na cozinha preparo um lanche rápido com leite morno que a
vovó sempre dizia que ajuda a trazer o sono. Sorrio lembrando da
minha família, bate uma saudade gigante nesse instante, do barulho
de casa cheia, das gargalhadas de papai, dos conselhos da abuela.
Estou tão longe e sozinha aqui, deveria voltar para a Espanha.
Limpo rapidamente as lágrimas que ameaçam cair novamente,
termino meu lanche e vou paro o chuveiro. Depois de um banho
rápido, coloco minha camiseta de dormir, e quando me viro em
direção ao quarto, ouço uma batida leve na porta. Não posso
acreditar que ele está aqui.
Uma parte de mim se acende por perceber que Luke não
desistiu, por mais medo que eu tenha de conversar. Mas pode não
ser ele também. Das outras vezes a porta quase vinha abaixo e a
voz grossa retumbava a vizinhança chamando meu nome. Acho que
não é ele, é só fruto da minha imaginação esperançosa. Aguardo
um minuto e ouço novamente a mesma batida suave. Decido olhar
pelo olho mágico, nunca se sabe, a essa hora da noite abrir para um
estranho não é boa ideia. Então me equilibro nas pontas dos pés, e
meu coração quase falha.
Luke parado embaixo da tempestade, encharcado com uma
expressão que nunca vi antes, de dar pena, um olhar de súplica
esperando que a porta se abra.
Minha raiva essas duas semanas já passou, no entanto,
permanece a mágoa, mas receio que seja a última tentativa dele,
percebo isso pelo semblante derrotado.
Decido abrir a porta…

… nos encaramos por alguns segundos, então me rendo e


abro inteira sinalizando para entrar. Tranco atrás de nós e ainda não
falo nada. A temperatura carregada de tensão é palpável, e ele ali
parado olhando para mim esperando permissão. Minha vontade é
de agarrá-lo e arrastar o corpo enorme para o meu quarto.
— Fale. — indago tentando parecer fria.
— Stela eu... Reconheço que errei feio contigo, pensei que
estivesse chateada porque não te apresentei como minha
namorada, não pensei que tivesse dado a impressão de que não
quero que saibam sobre nós. Não tenho vergonha da nossa relação,
o que eu mais quero é estar ao seu lado, nunca nenhuma mulher
ocupou esse espaço na minha vida como você ocupa.
Continuo encarando o homem à minha frente que se
aproxima devagar, enquanto, continua a falar:
— Não sei o que deu em mim, acho que só disfarcei, porque
não era uma boa hora para contar para minha mãe que estamos
juntos, tenho receio pela saúde dela. No jantar falei sem pensar,
fiquei muito nervoso... quero que ela saiba, mas quero contar num
momento apropriado, e sei que vocês vão se dar muito bem.
Estampo um sorriso triste, pobre Luke, um homem tão bom,
não conhece a mãe que tem, mas não é minha função alcovitar.
Agora mais calma, vejo sinceridade em suas palavras, meu coração
quer tanto acreditar nisso.
— Me senti um trapo sujo usado, uma prostituta que você
precisava disfarçar quando as pessoas importantes da sua vida te
flagram, me machucou de verdade.
— Nunca imaginei ter causado isso tudo, você sabe que é
mais que sexo, como eu sei também, não consigo parar de pensar
em você, Stela. Mas é injusto condenar o que temos por um erro,
sou humano, cometo erros e admito. E tô aqui me humilhando há
semanas, implorando o seu perdão e farei isso uma centena de
vezes se for preciso.
— E seu primo? Achei que ele soubesse sobre a gente.
— Como falei nas nossas conversas, mesmo sendo parentes
e parceiros de negócios, não é por minha escolha, não nos damos
bem, desde a juventude ele sempre quer tudo que é meu, agora
adultos até a atenção da minha mãe ele monopoliza só para rivalizar
comigo... Imagina se eu contasse que você é a garota que me faz
chegar no trabalho atrasado, feliz como um pateta nas segundas-
feiras, e tirar dias de folgas que nunca tirei antes, Ed faria de tudo
pra tirar você de mim.
— Não fiz nada com ele no clube naquela noite e nunca faria.
— Minha voz sai mais culpada do que eu gostaria.
— Eu sei, quebrei a cara dele, fiz o infeliz confessar o que
aconteceu dentro da cabine.
— Sério?
— Sim, fiquei transtornado, Stela, quando você se sentou no
colo dele, não pude controlar, então vocês foram para a cabine e eu
enlouqueci de ciúmes. Estava a ponto de cometer uma loucura se
não fosse Benji me acalmar do lado de fora.
— Eu estava muito, muito zangada e magoada, mas jamais
faria algo com outro cara, Luke.
— Por que não?
— Porque em meu coração não cabe outra pessoa, não sou
dessas, se gosto de alguém, não tem espaço para outro na minha
vida. — Ele sorri e se aproxima.
— Isso quer dizer que é apaixonada por mim, assim como
sou por você?
Balanço a cabeça em afirmativo, mas não me atrevo a abrir a
boca e derramar meu coração, ainda tenho medo de dizer que é
amor o que eu sinto. Mas Deus! Como eu amo esse homem! Chega
doer.
Sinto sua respiração próxima, meu pulso acelera
instantaneamente, encaro seus olhos castanhos profundos, quase
negros, suplicantes, o cabelo molhado, fodidamente selvagem como
o meu dominador arrogante do clube Volcano. Acabo sorrindo pelo
pensamento.
Toco seu corpo sob a camisa molhada pela chuva, aliso o
peitoral proeminente ouvindo sua respiração mudar, enquanto ele
me encara. Um silêncio gostoso se instala entre nós, curtimos os
toques suaves. Mais de semanas sem sentir essa proximidade,
então, logo começo a desabotoar a camisa molhada. Não consigo
decifrar seu olhar, me olha como se não nos víssemos há anos,
prende meu rosto em suas mãos, como se eu fosse fugir do beijo.
Mal sabe ele que não há nada no mundo que me faça mover os pés
para longe daqui nesse instante.
Luke captura meus lábios, não faminto, devorando como
costuma ser, mas delicado e suave, tocando meus lábios
docemente. Um beijo com sofreguidão, resvalando e deslizando,
amolecendo-me por completo. Abro seu cinto e a calça, enquanto
ele tira os sapatos e se desfaz deles sem deixar de me beijar.
Quando está totalmente nu, me olha seriamente puxando minha
camiseta pela cabeça e enlaça os braços na minha cintura unindo
nossos corpos em um abraço sensual, me apertando possessivo,
cheirando meu pescoço num deslizar de nariz arrepiando cada
pedacinho do meu corpo.
Me sinto tão protegida no calor de seus braços, tão feliz de
estar acolhida em seu aperto. Sua pele está quente, fervendo
apesar da chuva gelada, e é tão reconfortante. O silêncio
permanece, nenhuma palavra sacana há para dizer, apenas nossos
corpos demonstram a necessidade de estarem juntos. Sinto sua
ereção potente pulsando contra mim, me deixando em chamas.
Me puxando pela mão, Luke me conduz até a poltrona.
Compreendo que não conseguiremos chegar ao quarto, o desejo de
selar a paz e aplacar a saudade nos impede até de andar alguns
metros para qualquer outro cômodo. Ele se acomoda comigo sobre
ele, e continua delicadamente me acariciando e beijando com
devoção, meus lábios, meu rosto todo. Seus dedos estão enterrados
em meus cabelos, ele os puxa suavemente, para ter acesso ao meu
pescoço, deixando um rastro de lambidas demoradas e molhadas.
Me posiciono para aceitar todas as carícias deliciosas quando
ele abocanha meu seio, alisando meu mamilo com a língua quente,
chupando-o devagar e de modo delicado. Eles estão mais sensíveis
e o mínimo contato me deixa alucinada. Nossos gemidos ecoam
pela casa deixando tudo ainda mais estimulante. Já não suporto
mais, meu corpo exige desesperado, desejando o dele, então agarro
seu pau segurando firme a grossura que já está esfregando na
minha entrada melada e encaixo.
Não há outra coisa na vida, que eu queira mais que fazer
amor com ele nesse momento, nossa transa é muito diferente das
outras pra mim e sei que é recíproca a sensação. Cavalgo em
movimentos prolongados, não quero mais sair do seu calor, e nem
me afastar dele outra vez. Luke retorna para minha boca me
devorando, adoro quando beija assim, correspondo com intensidade
o rompante febril do meu dominador.
Eu o amo tanto e estou gerando um fruto desse amor, essa
relação não é apenas para selar a paz, para mim é uma
comemoração pela vida que concebemos juntos.
Pelo seu beijo voraz e mãos firmes, sinto que ele não vai
aguentar muito tempo, acelero meus movimentos, quero me
entregar e encontrar o clímax juntos. Finalmente, ele murmura em
meu ouvido entre respirações ansiosas e entrecortadas:
— Stela, sou completamente apaixonado por você, não se
afasta de mim...
Não aguentamos e encontramos o prazer juntos, estávamos
carregados de saudade, foi muito rápido. Nos acalmamos unidos,
sentindo nossas respirações descompassadas por alguns instantes.
Permaneço sentada em seu colo, aninhada em seu pescoço,
sentindo seu cheiro e recebendo carícias suaves em minhas costas,
no cabelo e rosto.
— Diz que você me perdoa, minha orquídea?
— Você me magoou muito.
— Eu sei, baby, fui um otário, consegue me perdoar?
— Promete que nunca mais fará isso?
— Prometo. — Luke segura meu rosto nas mãos para olhar
em meus olhos.
— Eu perdoo, querido. — Seu sorriso aquece minha alma.
— Já falei o quanto sou apaixonado por você, quero dormir
aqui hoje, posso ficar, minha pequena? — Impossível parar de
sorrir
— Não precisa perguntar, mas acho que dormir é o que
menos faremos. — A risada rouca é meu som favorito. Luke me
carrega para a ducha, pendurada em sua cintura, me beijando
loucamente.
— Não me importo com o sono, se eu tiver você, o resto é
detalhe.
Meu peito infla com a quantidade de sentimentos que tenho
aqui dentro e por medo estou segurando as palavras. Mas eu te
amo, meu grandão. Um dia eu vou declarar isso a você.
— Luke, depois do banho tenho uma coisa importante para
contar.
Preciso que ele saiba da paternidade, esse é o momento,
estou assustada e apreensiva, não sei como ele vai reagir, mas ele
tem o direito de saber.
— Ah, e é coisa boa?
— Para mim é boa, vamos ver se você concorda.
— Vou providenciar um jantar essa semana para minha mãe
conhecer minha namorada.
Ai meu Deus, não falo nada, só um sorriso tímido disfarça
minha apreensão, mas por dentro estou muito preocupada com
esse encontro, e quando ela descobrir da gravidez? Não posso
pensar negativo agora. Estou com o homem da minha vida e vou ter
um filho com ele.
Tomamos banho, nos amando no chuveiro, era muita
saudade, não conseguimos nos largar. Quando estou secando o
cabelo dele com a toalha em meio a carinhos deliciosos, o celular
dele toca.
— Alô, ... Mãe... O que houve?… calma, não, não tô em
casa, sim, em qual hospital? Dez minutos eu chego aí!
— O que houve? — pergunto aflita.
Ele já vai se vestindo dizendo que a mãe está no hospital,
que ela sentiu dores no peito e a ambulância foi buscá-la, já que não
conseguiram contato com ele.
— Stela, vou lá e volto assim que puder.
— Mas preciso falar… — Me interrompe com um selinho.
— Na volta você me fala, não vou esquecer, você me
entende, não é? A pobre passou mal, tá sozinha no hospital. Em
algumas horas estarei de volta, vou dormir aqui, não vou desgrudar
de você pequena, me espere acordada.
— Claro. — Me dá adeus e sai a mil em direção ao carro.
Desse jeito vou perder a coragem, mas logo ele vai perceber
as mudanças do meu corpo. Tirando minhas desconfianças de que
foi uma armação da mãe dele, essa do hospital, resolvo organizar a
sala, limpar a poltrona que sujamos.
Alguns minutos depois, ouço um cantar de pneu, como estou
em frente a janela, apenas afasto a cortina da vidraça para ver a
rua. Um carro que não reconheço, todo preto com vidros escuros, se
aproxima diminuindo a velocidade, quando chega em frente a
fachada baixando o vidro rapidamente, coloca a mão para fora com
uma arma em punho e acerta um tiro na lâmpada do poste em
frente à minha casa.
Congelo, me jogando no chão assustada, minha boca seca, e
sinto lágrimas desesperadas rolando pelo meu rosto, espero em
silêncio paralisada pelo pânico. Então ouço o carro acelerar e partir
chiando em disparada. Me mantenho no chão amedrontada até
ouvir o burburinho dos vizinhos conversando e indagando o que
houve.
Desesperada, soluçando de tanto chora e aflita. Meu sexto
sentido estava certo, a mãe de Luke fez ele sair daqui, para me dar
um ultimato. Imediatamente faço uma pequena mala, pego só o
necessário, me visto, pego minha bolsa, carteira, teclo para o Uber e
espatifo o celular em pedaços para jogar fora no trajeto. Tenho que
manter o sangue frio e agir, fugir rapidamente, me salvar e salvar
meu filho, a única coisa que me mantém viva, nada mais que meu
bebê, importa agora.
Essa mulher é capaz de tudo, mas meu filho ela não vai tirar
de mim.
CAPÍTULO 44

Dentro do carro, que pedi pelo aplicativo desolada, ordeno ao


motorista:
— Leve-me à estação de metrô o mais rápido possível.
Durante o trajeto tento me acalmar, mas é impossível,
esfrego as mãos uma na outra para tentar aplacar o tremor que
acomete meu corpo e continuo a chorar descontrolada.
— A senhorita está bem? — O motorista pergunta
preocupado.
— Sim, é que recebi uma notícia ruim, já, já passa, não se
preocupe. — fungo. Vinte minutos depois estou no metrô a caminho
de San Diego.
Tenho que avisar lá em casa que estou retornando.
Certamente ficarão muito preocupados, mas não há o que fazer.
Melhor avisar Benji primeiro. Nessas três horas de viagem tenho
tempo de ligar e escolher bem as palavras.
— Alô, quem fala? — atende meu amigo desconfiado.
— Ben, não desliga, sou eu, Stela.
— Como você me liga de um número estranho? E a essa
hora? Você está bem, o que houve? Pelo amor de Deus, Stela, vou
ter um treco desse jeito.
— Calma, não me deixe ainda mais nervosa, me escuta,
deixa eu falar e não interrompa. Estou bem, estou segura, mas vou
deixar o país em algumas horas. Sobre aquele aviso que você me
deu, você tinha razão.
— A megera Taylor? O que ela disse?
— Não foi o que ela disse, foi o que ela fez.
— Fala criatura? Onde você está? Vou te buscar.
— Não pode me buscar. Não importa onde estou, a ameaça
deu certo dessa vez, acredito que ela não está sozinha nisso. Enfim,
eu tenho que aceitar esse fato, são pessoas perigosas e não posso
lidar com elas. Use a chave reserva, retire meus objetos pessoais
na casa, guarde contigo que mando buscar, não esqueça minha
orquídea, leve e cuide dela. O resto venda e alugue a casa, ok?
— Stela do céu! O que você está me dizendo? Você está
ferida? E Luke? Falou com ele, contou algo?
— Estou bem, o tiro não acertou a casa, destruiu uma
lâmpada, mas entendi o recado. Luke saiu a pouco de lá, fizemos as
pazes, mas não deu tempo de conversar, se é que você me
entende, ele saiu às pressas porque a mãe deu um jeito de tirá-lo de
lá.
— Tiro? Maldita! O que eu falo para ele? Vou levar uma surra
se eu não contar. Ele virá com tudo para cima de mim!
— Sim, ela planejou tudo. Presta atenção, amigo, você não
vai falar nada sobre as ameaças da mãe dele, tá me ouvindo? A
mãe do Luke é manipuladora, vai inventar qualquer coisa para
ludibriar o filho. Você vai dizer que fui embora porque havia um
cliente obsessivo me perseguindo, sei lá, e que tive que sumir por
uns tempos, que nem você sabe onde eu estou, certo? Assim que
puder mando notícias.
— Garota, isso não vai dar certo, ele vai colocar gente para
descobrir onde você tá! Ele não vai acreditar em mim, sua louca.
Você não vai contar que ele vai ser pai?
— Não. E você também não, porque nem sei se vou levar
adiante essa gravidez — preciso mentir, pois, meu amigo não
consegue manter segredos, minha consciência concorda, é meu
bebê que está em risco. — Quando descobrir será tarde e estarei
longe e em segurança, já destruí meu antigo telefone e joguei pela
janela do Uber, não confirmo para você nada além dessa conversa.
Assim não precisará mentir.
— Stela, assim você me magoa, você sabe que te amo e não
quero o seu mal, jamais te trairia.
— Querido também te amo, mas você tem coração mole, sei
que se eu te disser você vai contar, você já fez isso, lembra da
cafeteria? Amigo, você é um romântico inveterado, mas nós dois
sabemos que não daria certo, Luke e eu, desde o início tudo estava
contra nós. — Meus olhos ardem ao segurar as lágrimas e não
deixar Benji perceber que estou em pedaços. — Luke vai acabar me
esquecendo, casando-se com a tal Christy ou qualquer outra ricaça
que a mãe dele arrumar, e vai viver a vida glamourosa que ele está
destinado a viver, não posso lutar contra isso.
— Amiga, mas você o ama, eu sei que sim, não negue isso,
como você está tão calma? Tão conformada em ficar longe do
homem que ama?
— Não vou negar que o amo, mas acredito que o que ele
sente não é o mesmo, Luke falou que está apaixonado, sei que ele
gosta de mim, mas é só química e um bom sexo para ele, e eu
quero mais que isso, Benji. Como teremos um relacionamento com
a mãe dele tentando me matar?
— Sim, tem razão.
— Foi melhor isso acontecer, assim não sofro depois, não
acha? Longe não vou vê-lo com esposa e filhos, e a partir de hoje
não quero saber nenhuma palavra sobre Luke Taylor, entendido?
— Ok.
— Vamos nos comunicar pelo e-mail do clube, estou com
este telefone só por emergência nessa semana, assim que possível
mando o novo número pra você. Vou te atualizando da minha nova
vida, mas você vai me prometer que não passará essas informações
para ninguém, especialmente pra ele. Não se preocupe, acho que
você não será tio agora, não estou pronta pra ser mãe.
Preciso esconder meu filho pelo menos até ele nascer e estar
seguro na Espanha, se ela descobrir pode me encontrar, não sei o
poder dessa mulher.
— Tá bom, eu prometo, sei que você é maior, vacinada e
independente, sempre te admirei por isso, confio que vai fazer a
coisa certa. Talvez seja melhor mesmo não levar adiante uma
gravidez agora, você é jovem e tenho certeza de que a sua cara-
metade ainda não te encontrou.
Nos despedimos, prometo que vou sempre dar notícias e ele
promete que vai respeitar minha decisão. Quando desligo a
chamada, uma tristeza desesperadora me invade, então choro e
coloco tudo para fora soluçando no assento do metrô.
Lágrimas grossas rolam pelo meu rosto, por abandonar
minha vida, minha casa, meus amigos, e principalmente meu amor,
meu Luke. Por lembrar que não vou mais vê-lo, beijar aquela boca,
escutar as palavras doces e sacanas dele, dormir em seus braços e
viver a ilusão de ser sua namorada. Como sobreviver sem isso eu
não sei, mas preciso aprender.
Choro de medo por criar uma criança sem pai, mas tenho
uma família que me ama e vai me apoiar. Começo a me acalmar,
quando lembro que tenho um serzinho crescendo aqui dentro, um
pedacinho de amor que vai se tornar um bebezinho lindo, só meu,
meu filho e ninguém vai roubar isso de mim, nem todo o poder ou
dinheiro do mundo vai me separar dele.
Ao chegar em San Diego apanho um táxi até o aeroporto.
Sentada na área de embarque aguardando meu voo, mais calma
teclo o número do meu pai.
— Hola papi, sou eu, como vai?
— Está tudo bem por aqui, mi hija[36]. Por que me liga tão
cedo? O que houve?
— Papi, estou voltando para casa. Pode me buscar no
aeroporto? Meu voo sai em uma hora de San Diego. Se tudo correr
bem em doze horas estarei aí.
— Sim, mi hija, estarei esperando. O que houve aí na
América?
— Preciso sair daqui com urgência, mas não assuste a mami,
conversamos quando eu chegar.
— Sim, mi querida, me diga, você está realmente bem?
— Sim. Não se preocupe, logo estarei em casa.
Ao desligar, já vou em direção ao portão de embarque e aos
trâmites pra embarcar na aeronave. Olho uma última vez para o
que estou deixando pra trás com lágrimas nos olhos, mas o que me
conforta é o motivo do meu sacrifício, meu filho, por ele rasgo meu
coração e abandono qualquer coisa.
CAPÍTULO 45

Quando retorno do hospital, vou para casa da minha


espanhola sem demora, vou dormir agarrado ao meu amor.
Entretanto, ao chegar em frente à casa dela, algo chama minha
atenção. A lâmpada do poste em frente está apagada. Desço do
veículo e George me acompanha sinalizando os cacos na calçada.
As luzes de dentro da casa de Stela estão apagadas também, bato
na porta aguardando, mas ela não atende e o celular indisponível,
me preocupa pra caralho! Um arrepio estranho percorre minha
coluna e se aloja na minha nuca. O único que poderá informar seu
paradeiro será o amigo dela. Instruo George para dirigir direto para
o clube Volcano, talvez ela tivesse um compromisso e não teve
tempo de me avisar já que saí com pressa.
Chegando no clube vou direto ao bar.
— Ei Benji, pode avisar Stela que vim buscá-la. Bati na porta
dos fundos, mas o segurança não abriu.
— Ela não está aqui, Taylor
— Como? Não brinca comigo, Benji! Onde está minha
mulher? Você sabe e vai me contar o que está acontecendo!
Seu olhar desvia do meu, se concentrando na tarefa de um
drink qualquer. Muito suspeito.
— Ela teve um problema, me ligou e pediu para avisar que
tinha que sair da cidade, mas que entraria em contato assim que
pudesse. — Quase caio para trás. O rosto dele não demonstra
brincadeira, pelo contrário está mais sisudo do que o normal.
— Como é? Do que está falando? — me altero e o
formigamento de desconfiança incomoda meus dedos, fazendo
minha mão fechar em punho — Tentei ligar sem resposta, não ouse
mentir para mim, onde está Stela, Benji? — altero o tom da voz e a
aflição toma conta de mim. Sinto meu peito apertado, e o instinto
acusa haver algo muito errado.
Benji respira fundo e olha nos meus olhos pela primeira vez.
— Eu tô dizendo o que ela me falou. Não devia, mas vou
contar.
— Contar o quê?
Será que Stela tem outra pessoa? Não! Ela não faria isso!
— Um cliente obsessivo, há tempos a perseguia no clube,
mandando recados e tentando falar com ela. Para não me
preocupar, Stela não contou. Porém, hoje ela recebeu uma ligação
muito perturbadora e disse estar com medo e precisava sumir por
uns tempos.
— Como? Que merda é essa? — retruco incrédulo. — Ela
teria me contado, isso não está batendo, cara. Por que ela não me
atende? Stela não me deixaria sem avisar, sem explicação, não
acredito em você, ainda mais que fizemos as pazes e estamos bem.
— Taylor, não deu tempo, ela disse que ia quebrar o celular,
não tenho mais contato com ela, dê espaço, talvez o contato venha
logo, acalme-se.
Espalmo o tampo do balcão em fúria.
— Quem é o desgraçado? Quero saber, eu acabo com o
infeliz!
— Não sei, ela não me contou, cara. O que sei eu já te falei.
Agora vá para casa e descanse. Aguarde que logo teremos
notícias.
— Descansar? Você é louco, vou revirar esse país atrás de
Stela! E vou descobrir absolutamente tudo a respeito desse jogo
que vocês inventaram.
Saio pela porta da frente pisando duro, aturdido, desconfiado
e aflito. O conhecimento de que é uma mentira gruda em minha pele
como óleo.
— George, acione o responsável pela tecnologia de
segurança e monitoramento do Cezare.
— Sim, senhor. O que houve?
— Stela não está aqui. Me leve para o Cassino, farei algumas
ligações aos meus contatos para descobrir se ela saiu do país e
retornou pra Espanha.
Entramos no veículo e seguimos o mais rápido possível.
Acomodado, enquanto meu motorista guia com destreza pelo
trânsito de Los Angeles, aciono imediatamente o detetive que fazia
trabalhos para o meu pai. Marco uma reunião urgente na sala da
presidência do meu cassino Cezare. Não me interessa se é
madrugada ou o que está fazendo, vou pagar a quantia que ele
pedir para encontrá-la antes mesmo de aterrissar em qualquer lugar,
ou não me chamo Luke Taylor.
Benji não deu indícios de que mentiu, foi até convincente e
sou bem treinado para detectar pessoas querendo me passar a
perna. Entretanto, o barman é mais amigo de Stela do que meu. E
essa história está bem estranha para dizer o mínimo. É muito
suspeito ela sumir sem vestígios e logo após fazermos as pazes.
Qual seria o motivo? Não vejo nenhum.

Ando de um lado para o outro na minha sala, apreensivo. O


tapete felpudo está com as marcas do trajeto dos meus pés
inquietos. O chefe da tecnologia entra com dois subordinados
carregando alguns notebooks e aparelhos de monitoramento.
— Tem certeza que consegue hackear as câmeras das vias
públicas, Bob?
— Sim, chefe. Trouxe os melhores para o serviço.
— Acomodem-se e comecem. Talvez queiram adiantar o
trabalho hackeando as listas de passageiros nos voos internacionais
dessas últimas horas. O nome é Stela Salvage. Precisamente
Espanha, o destino se é Europa, não importa. Encontrem!
Algo me diz que ela foi para casa. Merda! Por quê?
Olho mais uma vez meu relógio de pulso, o detetive Gary
está demorando. Justo agora que preciso dele e minha apreensão
está no limite. Sei que ele é bom, meu pai sempre dizia que a águia
Gary valia ouro. Ah, papai! O que diria numa situação dessas? Qual
conselho ou consolo viria de sua boca inteligente? Uma batida na
porta me sobressalta. Um homem alto de terno cinza entra e me
cumprimenta, aponto para a cadeira e faço o mesmo.
— Como vai Taylor, o que precisa?
— Preciso que rastreie uma pessoa, juntamente a minha
equipe ali naquela mesa instalada. O nome é Stela Salvage, natural
de Madri, Espanha, mas morava aqui há oito anos. Lhe darei o
endereço dos lugares que ela frequentava, onde morava e a última
vez que a vi. Quero saber horários, locais, motivos e destino,
absolutamente tudo.
— O que essa pessoa é sua? Ou melhor, que tipo de
relacionamento tinha com ela?
— Minha namorada.
— Tempo de relacionamento?
— Estávamos juntos há cinco meses, ela sumiu sem
explicação depois de fazermos as pazes, por uma discussão.
— Tempo de desaparecimento?
Olho as horas, está quase amanhecendo.
— Bem, saí da casa dela por volta das onze horas, fiquei fora
umas duas horas aproximadamente. E quando retornei tudo estava
escuro e trancado. Ela já havia partido.
— E por que, o Sr. não acha que a moça partiu de livre e
espontânea vontade?
— Porque interroguei o único amigo e colega de trabalho
dela. E recebi informações de que Stela precisou fugir às pressas,
então não acredito que ela foi porque havia escolha.
— Por que acha que não pode ser isso?
— Porque não, caralho! — espalmo as mãos na mesa com
fúria, me levanto e ando até o aparador no canto da minha sala me
servindo de uma dose de whisky, levo um copo com a bebida para o
detetive. — Veja bem, detetive, acabamos de nos reconciliar de uma
briga, Stela não me deixaria sem conversar antes, não é do seu
feitio, entende? Estávamos bem.
— Compreendo. Havia algo de estranho ou fora do normal
quando retornou até a residência de sua namorada hoje, além da
casa silenciosa?
— Havia uma lâmpada no poste da frente da casa
espatifada.
— E a vizinhança? Falou com alguém?
— Não. Já passava de uma da manhã, havia algumas casas
com luzes, mas não me atrevi a bater em nenhuma porta.
— Preciso ir até lá assim que amanhecer. Quero que se
concentre e faça uma lista de pessoas com quem sua namorada se
relacionava. De onde as conhece e o que Stela falava sobre essas
pessoas. E mais importante, detalhes sobre como vive a família dela
na Espanha. Nomes e profissões.
Faço imediatamente o que Gary solicitou enquanto ele se
senta com os nerds cibernéticos na mesa montada do outro lado da
minha sala. Depois de alguns minutos ele retorna.
— Sr Taylor, é necessário que eu saiba uma coisa.
— Sim, pergunte!
— Há alguma possibilidade de haver outro homem?
— Não. Por isso chamei você. Como eu disse antes,
estávamos bem. Por quê? O que encontraram? Onde ela foi?
Ele arruma os óculos de armação escura.
— Ela não embarcou em nenhum voo que decolou essa
noite, e nenhum hotel recebeu uma hóspede com esse nome e
documentação.
A preocupação da falta de notícias me deixa desesperado.
— Como assim? Nenhum hotel da cidade?
— Não. — Gary se ergue rápido da cadeira — Não nos
aeroportos de Los Angeles, mas não investigamos arredores.
A águia Gary ordena aos meninos que revirem as estações
de metrô interestaduais. E com a tecnologia de inteligência artificial
conseguem detectar o rosto dela em minutos.
— San Diego. Procure voos para Europa que partiram nas
últimas duas horas ou que partirão a seguir — brada ele para um
dos hackers.
Infelizmente, meus receios se confirmaram. Stela me deixou.
Embarcou para Espanha há três horas. Entrego a folha com minhas
anotações de pessoas e detalhes sobre sua família a Gary.
Me sinto derrotado e enganado.
Depois de conseguir a informação que eu buscava, ainda na
sala da presidência do cassino, decido ligar para Benji. Sento em
minha cadeira observando o nascer do sol pela vidraça. A paisagem
do outono de Los Angeles ganhando tons ainda mais dourados com
o raiar do dia. Seria um lindo amanhecer se eu não estivesse tão
ferido. Por que fez isso Stela? Por que fugir como uma fora da lei?
Eu estava disposto a qualquer coisa por você.
— Alô.
— Ei Benji.
— Taylor?
— Bom que reconhece minha voz.
— Não lhe dei o meu contato!
Deixo escapar uma risada arrogante.
— Falei hoje mais cedo que descubro qualquer coisa. Você é
um bom amigo, não o julgo por protegê-la. E confiando nisso, peço
que avise Stela que viajarei para Madri nos próximos dias e não
retorno aos Estados Unidos sem ela ou respostas. Tenha um bom
dia.
CAPÍTULO 46

A viagem, para mim, foi a mais longa da minha vida. Com os


pensamentos em todos os fatos que ocorreram, mais a apreensão da
reação da minha família ao que houve comigo, me deixaram inquieta
e foi impossível descansar nessas doze horas. O burburinho de
passageiros pegando suas bagagens, agora que a aeronave
desligou os motores, traz um desassossego com relação à decisão
que tomei. Finalmente estou em casa, é meu lar, mas já não vou
encontrar meu sonho. Não o que sonhei com Luke.
Inspiro uma longa lufada de ar e alcanço minha mala saindo
com o mar de gente de dentro do avião. Passo pela checagem do
aeroporto e sigo pelo saguão em direção a saída e mesmo estando a
milhas de distância do outro lado do atlântico, me vejo
constantemente olhando para os lados buscando alguém a me
espionar. Quando vejo papai e meu irmão Diego ao longe, começo a
apressar o passo.
— Hija! Como foi seu voo? Que saudade querida!
Não sei exatamente por qual dos motivos, mas quando sinto o
abraço apertado de meu pai a torrente de choro chega sem aviso.
— Ei, Stela! O que você tem? Está sentindo dor? O que
houve?
Meu irmão segura minha mala e me abraça, mas como não
consigo falar, somente chorar, as perguntas continuam:
— O que aconteceu lá? O que fizeram pra você vir correndo
para casa? Ou melhor, quem? Nós vamos...
Meu pai aparta meu irmão mais velho que reluta em se afastar
de mim.
— Hijo? Diego, leve a mala de sua irmã, vou com ela e o
motorista. Leve meu carro para casa.
— Mas pai…?
— Em casa, Diego, Conversamos melhor em casa. Vamos
querida! Precisa ir a um hospital? O que está sentindo? Onde dói?
Se eu pudesse gritar, eu responderia, é meu coração. É ele
que dói estraçalhado.
— Não papi! Não. Só me leve para casa. Não tenho nenhum
problema de saúde — fungo limpando o rosto molhado.
Meu irmão ainda está parado no meio do corredor do
aeroporto com o semblante preocupado. Papai resmunga algo baixo
e ele se move dando as costas em direção a saída. Seu Alfonso
anda comigo abraçado até o veículo onde o motorista aguarda com
as portas traseiras abertas. Quando entra sobe rapidamente a
divisória para termos privacidade sentando-se ao meu lado.
Tentando me acalmar, pega uma garrafa de água fresca dentro do
mini refrigerador do veículo.
— O que está havendo, hija? Desde que me ligou estou
preocupado. Se não estivesse vindo, eu teria ido buscar você.
Tomo fôlego e tento encontrar a calma que necessito para
essa conversa difícil. Mas é melhor arrancar o curativo de uma vez.
— Me envolvi com um homem na América.
Bebo um gole da água, tentando manter a mão firme. Papai
abre mais um botão da camisa de seda azul-marinho e respira
longamente.
— As coisas não ocorreram como eu gostaria.
— O que ele fez? Maltratou você? Me diga quem ele é e
acabo com a raça do pendejo!
Minha reação no assento de couro não podia ser pior. Deixo a
garrafa de água cair no colo, me molhando inteira.
— Papi, não! Luke não foi ruim comigo! — Seco a calça jeans
com a toalha que ele me estende. — Ele não sabe do bebê.
— Bebê?!
— Estou grávida.
Meu pai assovia e se deixa esparramar no assento
exclamando uma sequência de palavrões.
— Meu Deus, Stela! Desse jeito vou infartar!
Agora é ele quem precisa se acalmar, inclina-se e vasculha o
frigobar pegando outra garrafa d’água.
— Ele rejeitou você? Ele tem que assumir essa criança!
Balanço a cabeça negativamente.
— Ele não deve saber. A mãe dele me ameaçou. Ela vai sumir
com meu filho!
— Hija de puta!
As maldições e o rosto vermelho do meu pai me assustam.
Nesse momento me sinto tão exausta e fatigada que as lágrimas
jorram novamente.
— Ei, calma pequeñita. Não estou nervoso com você. Estou
desse jeito por imaginar o que sofreu naquele lugar. Eu disse que
não deveria ir!
— Agora não adianta falar ‘eu avisei’, isso é a última coisa que
preciso ouvir, papi.
— Eu sei, eu sei... Desculpe. — A mão com anel de sinete
agarra a minha num gesto de consolo. Olho pelo vidro da janela e
vejo que saímos do centro de Madri pegando o desvio para a
mansão nos jardins.
— Preciso que conte para seu velho pai tudo o que puder para
que eu possa segurar seus irmãos. Diego quando souber... Por Dios!
Vejo a testa vincada e o olhar marejado. Conheço a família
que tenho e cada bomba relógio que são os meus irmãos
possessivos. Ele os comanda com punhos de ferro, mas sei que sou
o elo sensível de cada um dos homens da família.
— Esse homem é poderoso? Por que a matriarca ameaçou
você? E o pai dele? Ela teve coragem de ameaçar o meu neto?!
Ouvir a preocupação sincera de meu pai com o neto aquece
meu coração. Sempre fomos muito amigos, na juventude tive grande
facilidade de me abrir e contar meus sentimentos a ele, é o meu
conselheiro, entende e me apoia em tudo. É o melhor pai do mundo,
acho que por eu ser a caçula ele sempre foi compreensivo.
Respondo todas as perguntas de meu pai numa conversa
longa durante o trajeto até em casa. Relatei quase tudo, no entanto,
omiti a questão do clube e minha vida paralela como Vênus, por
questões óbvias, papai surtaria.
Expliquei meus medos sobre as ameaças que aquela mulher
fez. A relação manipuladora que tem com Luke, e ele meio
contrariado, se acalmou um pouco com os fatos, me deixando
segura e protegida com suas palavras mansas de apoio.
Mas o turbilhão de emoções agita minha mente, massacrando
meus sentimentos e esmagando meu coração, ainda estou cheia de
dúvidas sobre a minha decisão de partir, muito dividida só em pensar
como Luke ficou sem notícias minhas.
Será que se eu contasse a verdade, ele me daria um voto de
confiança? Será que subestimei os seus sentimentos por mim?
Nunca vou saber, não dei chance de ele provar isso. Me agarro a
desculpa de que não havia alternativa para nós. A megera da mãe
dele não deixaria que ficássemos juntos, e pior, vi em seus olhos
frios e malignos, que a ameaça que fez ao meu bebê, seria
cumprida. Só de pensar em me separar do meu filho, mesmo ainda
não nascido, me destrói de uma maneira que nunca imaginei. É uma
vida inocente que ela ameaçou, e despejou aquelas palavras como
se fossem nada. Nunca me deparei com uma pessoa tão feia por
dentro como dona Soraya, fria, calculista e dissimulada. Enganando
o próprio filho, brincando com ele como marionete. Me pergunto por
que é permitido seres como ela gerarem filhos? E filhos tão humanos
como Luke.
Ah, meu amado Luke, tão carinhoso e protetor, generoso e
atencioso, como é possível ser do mesmo sangue? Espero com fé
que um dia ele perceba a cobra que está ao seu lado, e que Deus o
proteja, que ela não faça nenhum mal ao próprio filho. Não! Não
devo cogitar uma coisa nojenta dessas! Sinto minhas lágrimas
rolando novamente, pela dor de não estar com meu amor. Quem
sabe um dia Luke possa me entender e perdoar pela minha atitude
desesperada. O desespero de uma mãe que rasgou o próprio
coração para escolher entre as duas pessoas que mais ama no
mundo. Faço uma prece silenciosa para cicatrizar logo essa ferida,
pois foi uma escolha difícil. Quero esquecer a dor e seguir em frente
pelo meu filho, que vai precisar de mim agora e muito mais no futuro
se eu tiver que brigar por ele. Me perdoe filho! Foi por amor.
Ao chegar na mansão a única coisa que imagino é cama
gigante para descansar meu corpo por algumas horas, porém
preciso enfrentar a conversa difícil com o resto da família também.
Minha mãe vem correndo ao meu encontro ainda na escadaria da
área principal e não seguro a emoção, senti muita saudade e as
lágrimas tomam conta outra vez.
Minha avó também se aproxima para me abraçar e vejo
Santiago e Ruan escorados nos dois pilares neoclássicos da fachada
da área externa. Como duas águias aguardando a presa se
aproximar. Atrás de mim papai e Diego vem conversando e pelo jeito
minha situação embaraçosa ainda não foi revelada. Depois de ser
recebida com beijos de cada um deles, entramos em casa. Com os
pés no hall, meu pai incentiva todos em direção a sala.
— Você não está bem, hija. Cansaço da viagem? Se molhou
também. Venha, vou mandar Tilda trazer o lanche que mandei
preparar. — diz minha mãe.
Andamos pelo corredor largo até a sala de estar.
— Não, Isabel! Antes, Stela tem um anúncio a fazer — ouço a
voz imperativa do meu pai atrás de mim.
Todos se acomodam nas poltronas e cadeiras na grande sala
de jantar. Minha avó praguejando que devo descansar e meus
irmãos querendo saber o que é de tão importante.
São muitas vozes juntas, sons familiares há muito não
ouvidos. O zumbido da aeronave ainda nos tímpanos, dor de cabeça
por não dormir, fome e a apreensão pela notícia que darei. A
decoração em tons terrosos da sala ostensiva da mansão me faz
suar de nervosa. Tudo muito perfeito com quadros famosos, porta-
retratos dourados, castiçais na mesa longa de mogno, tapeçaria
flamengas cobrindo o chão de mármore, o cheiro de jasmim das
flores naturais do vaso no aparador incomoda meu olfato, e um
pássaro pousa na aba do vitral piando desesperado por algo que não
compreendo. Meu Deus! É muita coisa para assimilar e a realidade
bate como um tijolo acertando minha cabeça e tudo desmorona feito
castelo de areia, minha visão escurece, as vozes se desvanecem e
eu apago...
Acordo em meu antigo quarto, devidamente acomodada na
minha cama king size.
— Oh! Querida, o doutor Soares já está vindo — a voz aflita
de minha mãe sentada na cabeceira é ouvida.
— Médico? Não, por quê? — exclamo um ai na nuca e levo a
mão até lá sentindo o calombo.
— Não saia dessa cama, Lela! Você bateu a cabeça, e sabe
se lá que outro estrago ocorreu — diz minha avó do outro lado da
cama sentada com uma xícara fumegante mexendo com a colher.
— Eu contei da gravidez. — A cabeça grisalha do meu pai
entra no meu campo de visão. E observo a sombra de um sorriso.
— Como foi que você deixou isso acontecer, Stela? — Outra
cabeça aparece com cabelos castanhos e semblante duro. Diego.
— Vou ensinar boas maneiras a esse playboy de meia pataca,
para não mexer com moça de respeito! — O rosto vermelho e barba
clara de Santiago me encara.
— Meia pataca o cara não se enquadra, Tiaguito. O tal Taylor
é dono da metade dos cassinos de Los Angeles. Puta Madre![37] —
ergo minimamente a cabeça e vejo o meu irmão nerd rockeiro, Ruan,
sentado nos pés da cama com um iPad tocando a tela quase na
velocidade da luz.
— Mas o que...?
— Em quinze minutos entrego a ficha completa do tarado,
papai!
Seria cômica se não fosse trágica a situação. Todos me
velando enquanto fico sem ação sobre a cama como um defunto
falante.
— Mas quem mandou você stalkear o Luke, Ruan?
— Eu. — Todos os outros respondem juntos.
— Papi!
— Não tem essa de papi, Lela. Temos o direito de saber com
quem vamos lidar — responde meu irmão do meio coçando a barba
daquele jeito pensativo que conheço. Meu Deus! O que ele está
planejando?
— Ninguém vai lidar com ele, Santiago. Luke não sabe do
filho portanto, não vem até a Espanha tirar satisfações.
— Mesmo assim, hija. Conhecimento é poder — ressalta meu
pai. — E vou preparar a casa de campo, caso tenha que enviar você
para lá, claro que iremos com você se for necessário. Agora,
descanse até o doutor chegar e olhar sua cabeça. Você não chegou
a cair quando desmaiou porque seu irmão segurou, porém, bateu na
quina no aparador, pode ser sério e precisamos acompanhar.
Longe da civilização, ele quer dizer. A casa de campo foi
construída para que a família se refugiasse na época que meu pai
era deputado estadual e vivia sob holofotes. A imprensa nunca
soube onde era a exata localização. Se quiserem me esconder de
Luke, será para aquele lugar que iremos. Mas não haverá
necessidade, ele nunca viria atrás de alguém que lhe deu um pé na
bunda e sumiu sem se despedir.
— Ok, papi. — A resignação me faz afundar ainda mais no
colchão.
Um por um, aos poucos deixam o quarto com recomendações
de repouso, depois que o médico entrou e examinou minha cabeça.
Minha avó coloca a xícara na mesinha ao meu lado me fazendo
prometer que vou beber o líquido. A única pessoa que fica andando
de um lado para o outro é Diego. Seu rosto, ao longo dos anos, ficou
sério e as linhas de expressão mais acentuadas, mas ainda assim é
um homem bonito. Dizem que quando se é adolescente idealizamos
o príncipe encantado como o nosso pai, no meu caso, sempre sonhei
com um que fosse parecido com meu irmão mais velho, talvez pelo
fato de ser tão apegada a ele.
— Você o ama, Lela?
Nessa hora os olhos chocolate olham nos meus.
— Amo, com todo o meu coração.
— Me deixa falar com ele então.
— Falar o que, Diego? Acha que ele vai acreditar se eu contar
sobre as ameaças da mãe? Luke é bilionário, a primeira coisa que
vai pensar é que estou dando o golpe da barriga. Vai me odiar! E
quando confirmar que o filho é dele, vai tirá-lo de mim.
Meu irmão se aproxima rápido e agarra minhas mãos.
— Ninguém vai tirar essa criança de você, hermanita. Nem
por cima do meu cadáver. Fique tranquila que a sua família vai
proteger vocês. Por ora, empurre esse amor para o fundo do seu
coração até esquecê-lo, é a única maneira de se manter saudável
para o meu sobrinho. Não pode se afundar na tristeza agora.
Balanço a cabeça e pisco os olhos para não chorar. Não
quero que veja o quanto estou sofrendo por isso. Afinal, preciso me
sentir feliz por estar em casa, segura e protegida. Vou começar uma
vida nova com minha família ao meu lado. Apesar da dor do coração
partido, é muito reconfortante ter esse apoio. Porém, assim que ele
sai fechando a porta do quarto, eu desabo em lágrimas.
*
Após o tumulto de ontem com minha chegada, e as notícias
que trouxe comigo, consegui dormir. Ou melhor, apaguei,
provavelmente devido aos analgésicos e calmantes que o doutor
Soares receitou, mais a garrafada de ervas naturais da vovó,
fizeram um bem danado para minha mente nublada. Desperto me
espreguiçando e olhando o meu quarto. Ontem, não tive tempo de
assimilar quase nada. Ele continua igualzinho, salvo os pôsteres do
“One Direction” que mamãe deu um jeito de consumir em
pedacinhos, imagino. Ah! Meus dezesseis anos, como era fácil viver
naquela época. As cortinas são novas apesar da mesma cor amarelo
suave que as antigas. Minha penteadeira com o espelho oval me
encara do outro lado do quarto. Posso apostar que os poucos
pijamas que deixei aqui, minha mãe os manteve limpos nas gavetas.
Respiro fundo me preparando para levantar devagar. A
cabeça quase não dói, toco o calombo atrás e parece ser menor do
que me lembro ontem. É melhor agilizar minha descida até a
cozinha. Tomar os remédios de estômago vazio não é recomendável.
E, além disso, necessito de um banho morno para iniciar o dia e a
vida nova que me espera. Após a ducha e vestir uma roupa leve,
pego o celular que comprei no aeroporto. Preciso de um aparelho
novo, mas por ora esse vai servir, pretendo ligar para minha amiga
Amália e saber onde a peste está. Sorrio pela memória feliz da
minha melhor amiga. Que saudade daquela maluca dramática!
Descendo a escada começo a ouvir a conversa na mesa do café da
manhã. É uma alegria com todos eles em casa. Quer dizer, Diego
não mora mais aqui, mas, ouço a voz dele reclamando com meu
irmão caçula. Ele quer estar por perto.
— Ei! Bom dia, família! — E é o próprio que quase derruba a
cadeira para me alcançar no último degrau.
— Sua louca! Mamãe pediu para Tilda levar o desjejum lá em
cima pra você.
— Gravidez não é doença! — aceito a cadeira que ele afasta
para mim, segurando meu braço.
— Diego! Pare com isso, me sinto uma inválida.
— Hija, você sofreu um acidente ontem, como está se
sentindo? Não devia descer as escadas sozinha.
Meus irmãos me olham cada um tomando do café que está
em suas xícaras e papai também, desviando a atenção do jornal.
— Estou bem, mami. Preciso me alimentar para tomar os
analgésicos.
— E para saciar o monstrinho na sua barriga.
— Ruan! Isso são modos? — ralha minha mãe nos fazendo
rir. Meu irmão pisca um olho para mim e aperta minha mão sobre a
mesa.
— Estamos felizes que voltou, fofa — diz Santiago. Reviro os
olhos, odeio esse apelido e meu irmão sabe muito bem, mas a
diversão está em seus olhos azuis, quando sorri ao morder um
biscoito.
— Estou feliz por estar em casa. — Não é uma mentira,
mesmo estando destruída por dentro. Casa é o único lugar que me
imaginei desde que aquela... Não! Melhor não pensar naquela perua
velha.
— Está se sentindo bem, hija? Como está a cabeça? —
pergunta meu pai.
— Só um desconforto, papi. — Ele sorri dando um gole em
seu café.
— Senti falta disso.
— Do quê? A mesa completa com sua prole? — pergunta
minha mãe cortando um pedaço de bolo para ele.
— Também, mas ser chamado de papi fazia tanta falta a esse
velho coração.
— Ahhhh! — O coro de ‘Ahs’ na mesa me faz rir. Sei bem que
os debochados dos meus irmãos mais velhos vão se aproveitar
disso.
— Assim o senhor nos ofende, papi — diz Ruan com um
sorriso jocoso.
O cutucão no ombro de Santiago é o início da brincadeira.
Diego também se diverte olhando a cena e balançando a cabeça.
— Nem adianta, Ruan. A princesinha voltou para casa,
perdemos todas as mordomias, não é papi?
O sorriso largo do meu pai aquece meu coração. Amo tanto
minha família, não devia ter ficado tanto tempo distante.
— Vocês nunca tiveram mordomias, seus marmanjos
abusados — retribui seu Alfonso sorrindo.
Como sempre, termino o café antes de todos. Mas fico na
cadeira conversando, o celular descartável que trouxe começa a
vibrar na mesa e me apresso a ligar a tela. Mensagem de voz. Não
percebi que tirei o som do aparelho ontem.
Ao ouvir a voz de meu amigo Benji, o peito aperta de
saudade, mas instantaneamente começo a hiperventilar. As mãos
suam e pela expressão da minha família a cor no meu rosto está
semelhante a um papel em branco.
— O que foi, querida?
Meu pai se agacha diante da minha cadeira, minha mãe me
abana com uma bandeja vazia. Meus irmãos se levantam da mesa.
— Fiquem onde estão! Stela precisa respirar — ordena meu
pai.
— Calma, hija!
Minha avó coloca um copo d’água na minha mão e eu a
agarro como um bote salva vida.
— Hija, por favor, o que houve nesse telefone? — indaga
minha mãe aflita.
Diego é rápido e agarra o aparelho ouvindo a mensagem no
correio de voz.
— Hijo de puta! — grita ele batendo o oráculo eletrônico na
mesa.
— Ele... Ele está vindo... Está vindo me buscar! — murmuro
gaguejando, odiando os soluços de choro na minha voz.
Meu pai olha para meu irmão mais velho que franze a boca
com os lábios apertados.
— Ninguém vai levar você daqui, hija! Ninguém, está ouvindo?
— afaga meu rosto limpando minhas lágrimas. — Calma, não fique
nervosa. Não faz bem para a criança. Estamos todos aqui e você
não vai a lugar nenhum.
Balanço a cabeça tentando me acalmar, minha mãe e avó
sugerem que eu suba para o quarto e começam a me conduzir. Ouço
meu pai dando ordens para os meninos irem para o escritório dele.
— Papi?
— Hum?
— Não façam nada com Luke. Ele é um homem bom.
— Não se preocupe, querida. Só vamos blindar você de
qualquer preocupação com relação a sua gravidez e retorno para a
América. Não precisa questionar meus métodos, violência é um
recurso fora de questão nesse caso.
— Mas um susto farei questão de dar.
— Ruan! — intervém meu pai, vejo Santiago sorrindo e
puxando Ruan para um cochicho.
— Tá bom, ok. Não está mais aqui quem falou. — O abusado
se rende com as mãos para o alto, mas vejo um olhar cúmplice com
meu irmão barbudo. Merda!
Subo as escadas sentindo a impotência e angústia da minha
situação. Queria muito encontrá-lo e esclarecer as coisas, talvez
manter o que tínhamos, mas sei que não poderei fazer isso. Lamento
minha sina e peço para ficar sozinha no meu quarto e descansar, no
entanto, repouso é um consolo miserável nessa situação.
CAPÍTULO 47

Após toda a descoberta sobre os lugares onde deveria


procurar Stela em Madri, dispensei minha equipe de tecnologia e
conversei com George, precisávamos elaborar um plano de como
agir, não queria assustá-la com uma abordagem invasiva. Preferi
que fosse ele a me acompanhar na Europa. George e Stela se
davam bem e poderia ser bem mais cômoda nossa aproximação do
que aparecer com seguranças dos quais lhe remetesse medo. Sem
pestanejar, meu escudeiro fiel preparou as nossas malas e em
tempo recorde de horas entramos na minha aeronave particular, na
qual faço a maioria das viagens a negócios. Me acomodo no
assento confortável, colocando o cinto de segurança e em minutos o
piloto põe o jato em movimento.
Tenho consciência que necessito de algumas horas de sono.
Venho de uma semana atípica. Sete dias que não estava nos braços
de Stela e quando finalmente consegui, culminou nesse desastre de
fuga sem aviso. Terei tempo para descansar nesse voo, o
impedimento será meus pensamentos sombrios sobre o motivo dela
ter escapado de mim. Se era por ameaça de terceiros, por que não
me contou? Moveria céus e terra para deixá-la segura e ela sabe
disso, dos meios, do poder e da minha índole. Essa questão fica
martelando em minha mente.
— Sr. Taylor, aqui está a refeição que solicitou. E o relaxante
para dormir também — fala o comissário de bordo.
— Meu amigo já foi atendido no que necessitava?
— Perfeitamente, senhor.
— Obrigado.
Me alimento e tento descansar um pouco. Se ficasse onze
horas acordado com o tanto de questionamentos silenciosos que
tenho, estragaria todas as minhas ações na Espanha. E afinal, não
sei como vou encontrar a situação por lá. Tenho os endereços de
todos os membros da família Salvage, porém, minha equipe
ressaltou serem discretos, poucas aparições na mídia e poucas
imagens. Sobre o patriarca foram encontradas apenas imagens
mais antigas de uma passagem rápida pela carreira política e da
fundação da empresa de perfumaria. Os irmãos com rede social, as
fotos são de longe ou de ângulos sem mostrar o rosto totalmente.
Inusitado para não dizer estranho. Quando as pessoas escondem
suas vidas a tal ponto, elas podem ter segredos escusos envolvidos.
Um arrepio me alerta para ter cuidado redobrado. Stela, apesar da
simplicidade em sua vida, sempre pareceu ter uma vida de posses
na Espanha. Seus modos e boa educação são evidências da alta
classe. Enfim, preciso de descanso e parar de pensar um pouco.

O clima em Madri está nublado, acabamos de pousar na


pista, George checa sua arma com meu olhar condenatório.
— Senhor, infelizmente, é um mal necessário. Sua segurança
em primeiro lugar.
— George, não estamos indo para a guerra e o que
pudermos evitar de conflitos nesse país, assim faremos.
Seu aceno firme me deixa mais tranquilo. Pega nossa
bagagem de mão e descemos do avião. Nos degraus da escadaria
um homem alto e de cabelos louros aparece do lado da estrutura de
metal postando-se diante de mim rapidamente como um fantasma.
De onde surgiu? Olho para os lados à procura de pistas, mas só
vejo um veículo preto luxuoso há alguns metros adiante. O vento
impertinente desalinha nossos cabelos e traz um perfume forte de
madeira de pinho com especiarias. É do cara a loção espalhafatosa.
— Sr. Taylor? — pergunta ele e eu confirmo. — Bem-vindo a
Madri. Fez boa viagem? — estende a mão a qual aperto.
— Sim, mas quem é você? — respondo desconfiado do
sujeito musculoso. Um homenzarrão vestindo roupas sociais,
camisa branca e calça de linho fino. Vejo tatuagens nos nós dos
dedos sumindo pela manga do tecido branco. Os cabelos claros
penteados para trás com alguns fios desordenados e barba cerrada
cobrindo parte da face. Será o...?
— Sou Santiago Salvage, irmão de Stela, estou aqui para
recepcionar o Sr.
Porra! Meu recado foi entregue e o muro de contenção é a
família e pelo jeito é blindado. Comecei com pé esquerdo na
questão evitar conflitos.
— E onde está Stela? — Vejo que além do seu Chrysler
luxuoso, não há mais nenhum veículo, George fica alerta ao meu
lado no final da escadaria.
— Ela o aguarda no hangar da família. Deve saber que ela
está um pouco chateada com as coisas que aconteceram em sua
vida ultimamente. — Ele mostra o carro indicando que o siga.
— Eu só preciso de uma conversa franca com sua irmã. Sei
que nos entenderemos…
— Acredite, Sr. Taylor, todos estamos ansiosos por esse
entendimento. Vamos?
Um arrepio gelado perpassa minha espinha. Isto está fora
dos planos, que era um hotel, campo neutro, onde marcaria um
lugar de confiança para encontrá-la. Olho de soslaio para George
que meneia um não com a cabeça. Entendo o recado e deixo claro
minha posição. Estou em terras estrangeiras, longe do meu domínio
em meio a pessoas que não conheço.
— E se por acaso, não quiser acompanhá-lo? — desafio o
cara que sorri arrogante.
— Pode voltar para o seu avião bonito e voar de volta à sua
América! — O sotaque acentuado vem em palavras duras e com o
semblante carregado ergue o queixo para mim. Duas polegadas
mais alto que eu, no entanto, não vou recuar.
— Sou um cidadão de bem. E penso que posso exercer meu
direito de ir e vir…
— No seu país, creio que sim. Aqui… — sinto a impaciência
em sua voz e decido acompanhá-lo.
Entramos no Chrysler encerado, me acomodo no banco de
couro enquanto ele guarda nossas malas no porta malas e George
senta ao lado do motorista, um jovem, com um sorriso cínico no
rosto, que pisca pra mim de um jeito estranho. Será outro irmão? O
louro senta-se ao meu lado e bate no banco para seguirmos viagem.
— Como vai, Sr. Taylor? — pergunta o jovem de cabelos
longos e negros com uma argola reluzente na orelha me encarando
pelo retrovisor. Os olhos muito escuros são acentuados com o que
parece maquiagem na área dos cílios inferiores. Parece um
metaleiro andrógino[38], pronto para se exibir em um show de hard
rock.
— Impaciente — respondo. Ele dá uma bufada e pisa no
acelerador do Chrysler.
— Então devemos acelerar.
— Ruan, não abuse — o louro ao meu lado censura.
— Você não interfira no jeito que guio o meu carro, irmão. —
O veículo desacelera aos poucos e segue o curso. São dois irmãos,
falta um. E não sei porque tenho a impressão que também não
vamos nos dar bem.
Saímos do estacionamento do aeroporto alcançando uma
avenida movimentada. O clima é tenso aqui dentro e não seguro a
pergunta que está me sufocando por dentro.
— Por que um encontro em um hangar? — questiono assim
que o veículo pega uma estrada secundária e se afasta da
civilização.
— Temos uma empresa de táxi aéreo. Costumamos fazer
reuniões importantes naquele local sossegado. Sua reunião com
minha irmã é importante, estou certo, Sr. Taylor? — trinca o maxilar
barbado e o gesto me assusta.
— Sim, precisamos esclarecer questões mal resolvidas.
— Claro, ela nos falou sobre seus últimos cinco meses.
Remexo as pernas, inquieto no assento. A respeito do que
Stela falou exatamente?
— O que Stela disse?
— O suficiente para nos deixar a par da situação.
— Sei que não sou o melhor dos namorados, mas…
— Calma, senhor Taylor. Terá tempo suficiente para
esclarecer todos os pormenores do relacionamento de vocês.
Passam-se dez minutos de angústia. A cada metro rodado,
mais o coração diz que estou indo para qualquer lugar, menos para
os braços de Stela. O tal Ruan colocou o rádio para tocar e o rock
alternativo me deixa ainda mais pilhado.
Enfim, mais dez minutos acompanhando pelo meu rolex e
estacionamos em frente a um grande armazém de estrutura
metálica. Teto ovalado e algumas sombras de máquinas lá dentro.
Quantas aeronaves eles possuem? Paramos diante das portas de
aço com o nome Salvage acima em letras garrafais. Entro ao lado
do irmão barbudo, não sei se é o mais velho ou o segundo e
sinceramente não me interessa a ordem de nascimento deles.
Percebo outra pessoa vindo do interior do galpão, um homem de
uniforme, funcionário. Anuncia que George deve acompanhá-lo.
— Mas nem fodendo! — rosna entre os dentes meu
motorista. — Não vou deixar o Sr. Luke sem assistência. Sou o
segurança dele!
— É uma reunião de família, meu caro. Você, pelo visto, não
pertence a essa reunião. — A voz grossa e baixa do tal Santiago
avisa.
— Sr. Luke?
— Tudo bem, George. Confio na hospitalidade dos irmãos de
Stela.
— Claro! A hospitalidade é a marca registrada dos Salvage.
Por favor… Por aqui — Santiago com um meio sorriso sinistro
mostra o caminho andando a passos largos pelo chão de concreto
polido.
O armazém é longo, calculo uns quinhentos metros e bem
iluminado pelos raios solares das telhas transparentes. Passamos
por três aeronaves de pequeno porte, duas cessnas, um bombardier
e um helicóptero, todos estacionados nas laterais do galpão. Nos
fundos há uma sala de reunião separada apenas por vidros jateados
com as iniciais ‘SC’ Salvage Company.
Ao me aproximar da porta, o diálogo com o restante da
família já tem início, pois dois pares de olhos me encaram de dentro
da caixa transparente. O primeiro sentado na cabeceira da mesa de
carvalho é uma versão madura deste homem que me conduz.
Grande em estatura, ombros largos e olhos azuis gelados, barba e
cabelos grisalhos, bem alinhados. O segundo, de olhar chocolate,
mas não menos imponente, está à direita do pai, os cabelos da
mesma cor dos olhos o faz parecer bem mais com Stela do que os
outros dois que conheci. O terno Tom Ford e as joias nos dedos e
pescoço me dizem que dinheiro não é problema por aqui. A forma
de ostentar seu poderio é discreta, mas bem visível.
— Sr Luke, fez uma boa viagem? — Sr. Salvage me
cumprimenta frio como um inverno polar ao se levantar e estender a
mão assim que entro no cômodo. Não me chama pelo sobrenome,
talvez para ressaltar que o respeito tem uma certa porcentagem.
Retribuo olhando em torno só para confirmar que Stela não está no
recinto.
— Fiz, sim, obrigado. Onde está Stela?
— Sua conversa é conosco. Sente-se, por favor — mostra à
cadeira e contrariado aceito a ordem abrindo o botão do blazer.
Ouço alguém entrar pela porta de vidro e vejo o cínico Ruan
fechando a mesma e se acomodando na grande mesa ao lado dos
dois irmãos já sentados diante de mim. Tão diferentes uns dos
outros! Mas tão parecidos no modo de me encarar. Frios, ciumentos
e decididamente dispostos a me dar uma boa lição por ter me
metido com a irmãzinha.
— Eu não sei o que Stela falou de mim pra vocês, mas estou
aqui para esclarecer qualquer dúvida sobre minhas intenções com
ela — exclamo aos quatro pares de olhos me fitando. Que clima
tenso do caralho é esse? Nenhum deles mostra os dentes.
— Nossa irmã está sofrendo… — o caçula começa.
— Ruan, Cállate[39] — o velho repreende.
— Sofrendo? Como assim? — Alguém fez algo contra ela
além do que Benji me contou? Ou foi uma mentira deslavada?
Tento manter o controle sobre minhas emoções, mas meu
coração vacila em pensar na minha Stela sofrendo sem estar por
perto para acalentá-la.
— Deixe-me lhe dizer uma coisa… — o pai começa — Eu
Alfonso Salvage tenho posses e são tudo para minha família, meus
filhos. Minha caçula Lela é minha preciosidade. Fiquei desolado com
a decepção dela na América. Está vendo esse hangar? Ele é fruto
do nosso trabalho. Meus filhos, Santiago, Diego e Ruan foram
ensinados que a família está sempre em primeiro lugar. E os
negócios depois, porém, os dois podem favorecer mutualmente em
época de necessidade.
O que esse Espanhol quer realmente dizer? Seu olhar duro
para mim me diz que não vou gostar dessa reunião nem um pouco.
— Transportamos todas as pessoas ilustres da Espanha —
continua ele — para qualquer lugar do mundo que elas queiram ir
sem questionamentos nem julgamentos. Sabe o que essa
disponibilidade nos favorece? — Meneio um não com a cabeça sem
compreender onde essa conversa vai chegar.
— Contatos importantes a outros negócios — o de olhar
chocolate chamado Diego completa — Gente disposta a nos
conceder favores por nossos préstimos. Pessoas que não ficariam
felizes, se alguém da nossa família estivesse sofrendo por pessoas
como você! — reitera.
— Mas o que foi que eu fiz? — Não compreendo o que
causei a Stela. Estávamos bem. Tenho certeza absoluta disso. —
Meus negócios são legais, posso provar. E não tenho interesse em
começar uma guerra, quero somente entender o que houve com
minha namorada. Por que fugiu sem me dar uma explicação? Tenho
esse direito de resposta!
— Sei que perdeu seu pai e tem uma mãe doente — Alfonso
Salvage levanta andando em volta da mesa e apoia a mão em meu
ombro. — Sinto muito por isso. Então entenda, um pai defende um
filho com as garras de um leão. E aqui, estou defendendo a minha
princesa do desprazer que o envolvimento de vocês causou na vida
dela.
— Desprazer? Como assim? Tudo que fiz foi por querer o
bem de Stela. Estava disposto a colocar minha equipe de segurança
para protegê-la. Tudo para sua filha viver bem em Los Angeles.
Nada aconteceria a ela, eu asseguro.
— Meu caro, entenda. Stela não precisa dos seus favores! —
aperta meu ombro como um lembrete. — Como pode ver, temos
posses, dinheiro, respeito em nossa terra, na qual o senhor não tem.
Então lhe digo, seja digno, pegue o seu avião, volte para o seu país
e esqueça minha filha. Ela vai estar segura aqui. Protegida. Não
deixarei que ninguém ouse fazer mal a ela!
— Não!
Olho para o rosto impassível do homem de terno escuro. Seu
olhar gelado e duro me ofende.
— Não vou esquecer Stela! — levanto e continuo encarando.
— Não saio daqui sem antes conversar com ela! Preciso que ela
explique o que foi que aconteceu para fugir na calada da noite!
Quem a ameaçou, quero eu mesmo dar cabo dessa pessoa.
— Cuidado gringo! — fala o brutamontes louro, que está
agora em pé ao lado do pai, o mais jovem circula a mesa e se põe
do outro lado estalando o pescoço. Puta que pariu!
— Aqui prezamos por respeito, o mantenha e manteremos o
nosso por você. — A voz baixa e calma atrás de mim me diz que o
mais velho, Diego, se aproximou também.
Estou encurralado, em um lugar onde quem manda não sou
eu. Pela primeira vez na vida sinto a pressão que ponho sobre os
meus oponentes em minhas costas. E não é uma das melhores
experiências vividas. Resolvo me calar e aceitar entrar nas regras
do jogo que decidi jogar.
— Mas preciso saber de Stela o que aconteceu? —
resmungo.
— Aconteceu que ela percebeu que você não anda com as
próprias pernas. Que é manipulável e que não está no controle da
própria vida. Pelas queixas de mi niña não o vejo dono de um
império como ostenta. — O velho oferece uma risada sarcástica.
Mas que afronta mexer com meus brios!
— Eu sou dono de um império! Herdei do meu pai! Sou digno
de cada centavo que ele me deixou e…
— Continue me desafiando e seu império ruirá na mesma
velocidade que um castelo de areia à beira-mar — vomita o grisalho,
agora com voz cortante.
Os irmãos todos se põem atrás do velho com seus olhares
fulminantes como numa peça ensaiada.
De que maneira essa ameaça se concretizaria? Stela contou
em conversas que o irmão do meio tinha uma empresa de
montagem de autopeças de motos de corrida e um Clube. Talvez se
isso tudo fosse de elite, teria acesso a pessoas importantes,
empresários de alto nível e tem as motos como atividade de lazer.
Sobre o mais velho contou pouca coisa, que era o braço direito do
pai nos negócios e que estava iniciando um novo empreendimento
com aeronaves. Bem, certamente gerou frutos e agora está
salvando a pele dos poderosos em viagens escusas. Não sei o que
o mais novo faz, não me falou sobre sua vida, além de ser um porre
de ciúmes com ela. O velho pode até ser um perfumista, porém, não
sei o que fez antes disso, aposentado da vida política da cidade e o
que mais? Deixou claro os contatos privilegiados, mas isso eu
também tenho, porra!
— Está me ameaçando, senhor Alfonso? — instigo tentando
descobrir se há motivo real de preocupação.
— Sr. Luke, estou sendo gentil com o senhor. Mi hija é mulher
de respeito. Que preza a família e a família faz o mesmo por ela. O
que estou lhe dizendo é que cobrarei favores se houver mais
insistência sua em procurá-la.
— Isso é loucura! Preciso ouvir essas palavras da boca dela!
Não podem escondê-la de mim! Ela está na sua residência nos
jardins ou na sua no condomínio Satre? — Olho em direção ao tal
Diego. Não vejo surpresa em seus rostos. Será que são ingênuos
para achar que eu não os investigaria? Porém, suas feições não
mudam, eles têm certeza do poder que tem sobre mim em Madri e
certamente previam os meus passos.
— Não precisa ostentar o tema de casa, hijo! Stela está no
seu lugar, nosso lar e muito feliz por retornar. E tenha certeza que
minhas palavras são as dela! — afirma o velho confiante. — Escute
bem, um cassino afunda sem clientes, sem bons fornecedores, sem
crédito no mercado, ou seja, um preço alto a pagar se continuar com
essa obsessão descabida pela mi niña.
Que caralho esse senhor está afirmando? Que tem um papel
nos bastidores do meu império? Como? Qual o impacto dessas
ameaças se realmente forem da alçada dele ter êxito? Alinho meu
terno e ergo a cabeça olhando para as pedras de gelo em forma de
olhos. Nenhum dos dois desvia, no entanto, devo recuar e
investigar.
— Isso não vai ficar assim! — rebato. Posso ter perdido a
batalha, mas não a guerra, vou saindo furioso da saleta vidrada.
Não vou desistir. Vou só reorganizar essas novas informações e
voltar pronto para encontrar meu amor.
— Sr. Luke?! — Olho sobre o ombro já na soleira porta — Dê
lembranças a sua mãe. Stela falou o quão gentil ela foi no pouco
tempo que passaram juntas.
— Minha mãe? — Será que Stela não engoliu aquela desfeita
no jantar? Foi o que reclamou ao pai e não quer me ver nem para se
despedir? Não... Foi um despeito meu, assumo. Mas tem algo muito
mais suspeito que uma briga ou rejeição por trás dessa afirmação.
Isso não acaba assim de jeito nenhum. Stela é minha e dona
Soraya será a primeira a entender isso, depois retornarei com tudo e
vou encontrar uma forma de falar com minha namorada. Nem que
seja a última coisa que faça nessa vida!
— Desejo um ótimo retorno, meu motorista vai levá-los de
volta em segurança ao aeroporto.
Viro as costas e me afasto bufando andando pelo galpão até
a saída. Do lado de fora, dois homens estão acompanhando George
que vem ao meu encontro aflito.
— O que houve?
— Vamos para casa!
Os dois sujeitos com uniformes de segurança abrem as
portas do veículo para nós e entram em seguida, na frente como
dois choferes.
A viagem até o aeroporto é silenciosa, não vou revelar meus
planos diante dos homens do Salvage. E minhas conjecturas sobre
a reunião intragável que estive há pouco não permite raciocinar
direito.
Quando chegamos ao nosso destino, os homens saem do
veículo esperando para confirmar o embarque. Ao me acomodar na
minha própria aeronave, olho os dois lá embaixo como pinguins
aguardando a decolagem. O velho Salvage deve ter exigido que
assim o fizessem.
Por ora decido me retirar, mas essa batalha ainda não é o
fim. Volto para Los Angeles determinado a encontrar uma maneira
de contatar Stela. Não sei por que a escondem de mim, mas, no
fundo da minha alma, sei que não é da vontade dela o que está
acontecendo.
CAPÍTULO 48

Assim que voltei da Espanha com a mente repleta de


informações daquela maldita reunião, me ocupei em traçar os
planos para o meu retorno. Iniciei uma investigação em toda a rede
das minhas empresas sobre laços e conexões que poderiam haver
com os poderosos da Espanha. Dei início a uma maratona de
auditorias com meu olho clínico em cada uma.
Nesse ínterim, aproveitei um dos fatídicos jantares da minha
mãe para sondar se ela conhecia alguém da Europa. Foi evasiva,
tentou conversar normalmente, mas vi seu nervosismo. No entanto,
ao apertar sobre a família de minha namorada, ela foi segura ao
dizer que não conhecia e nem lembrava de que pessoa eu me
referia.
Levei um susto naquela mesma noite. Dona Soraya deu
entrada no hospital com crise cardiovascular aguda. O doutor
informou que ela devia passar por um cateterismo. Um inferno de
dois meses de preocupação, entre o procedimento, o pós, o retorno
para casa e a contratação de enfermeiros.
Tive que me mudar por quase um mês para a mansão. Até
ouvir do médico que estava tudo normal como antes. Nesse meio
tempo dei início aos meus planos de pôr em pratos limpos as coisas
nos negócios. Mesmo não, podendo trabalhar com o ritmo habitual
devido às exigências da minha mãe. Consegui alguns resultados.
Demorei mais algumas semanas para juntar as peças das
ameaças dos Salvage. Descobri que alguns dos meus maiores
fornecedores e investidores têm envolvimento direto ou indireto com
eles. O que seria uma escolha rápida para eles definir o lado que
apoiariam numa guerra. Seus segredos sujos sempre serão mais
importantes do que uma noite de aposta num cassino qualquer.
Merda! Mais dois meses lidando com as intempéries das
palavras dos Salvage.
Nesse meio tempo tive que atender o pedido de dona Soraya,
com a chantagem velada de ter a saúde ainda mais debilitada.
Coloquei a garota Rockwell para estagiar no setor de relações
públicas e administrativas do cassino. Um sacrifício descomunal
aguentar o gênio fútil de Christy, quase que diariamente. Ela impõe
sua presença como se eu fosse obrigado a aceitar. E isso passou de
desconfortável para um ranço gigantesco pela garota.
Impossível também tirar Stela da cabeça. Gary me deixou um
relatório minucioso de seus passos na noite da partida. E realmente
Benji não mentiu. Na noite em que ela foi embora, um fato estranho
aconteceu, e fiquei realmente muito alarmado em saber que a
ameaça foi bem mais que um telefonema. Porém, não compreendo
por que não quis conversar comigo quando fui até lá? Poderia me
dispensar decentemente, me deixar livre para seguir minha vida.
Dessa forma parece que ainda estou amarrado a ela.
Em alguns momentos nesses quatro meses tentei esquecer
de vez Stela, mas não consegui sequer olhar para outra mulher com
interesse. Confesso que todo esse esforço em investigar me deixou
completamente exausto e sem rumo. O que eu era antes dela
aparecer? Era essa pessoa que trabalhava como um robô
programado, com horários regrados e vida social inexistente? Tinha
planejado voar para a Espanha neste final de mês com a ampla
gama de informações que obtive sobre as relações dos Salvage e
meus negócios. E toda a reestruturação que fiz nas trocas de
fornecedores contaminados com as relações dos Espanhóis.
Entretanto, o Sheik que se tornou um dos meus investidores, pediu
uma audiência no Cezare. E a preparação para a sua chegada e a
comitiva que o segue, estão me dando dor de cabeça.
Hoje solicitei um jantar com meus gerentes de departamento,
para alinhar todos os detalhes para a chegada do árabe. O desastre
é que perdi totalmente a concentração quando confundi uma mulher
no restaurante que estava sentada de costas para nossa mesa, me
lembrou muito Stela. As ondas do cabelo castanho são exatamente
iguais. O balanço dos fios me fez quase sentir o perfume do xampu
dela.
Antes de vê-la de frente e constatar o equívoco, me forcei a
desviar os olhos das costas da moça, parecia exatamente a minha
namorada. Quando a música começou a tocar e seu acompanhante
a conduziu em uma dança romântica, precisei fechar os olhos, pois,
a nostalgia da saudade do meu amor em meus braços me afogou. O
sorriso da mulher me fez lembrar da minha sorrindo para mim e
quase entrei em desespero na mesa.
Por causa disso precisei me retirar para a sala da
presidência. Não resisti e bebi de forma exagerada para tentar
dispersar os pensamentos. No entanto, as recordações me
enjaularam de maneira angustiante. Eu devia ter dito o quanto ela
significava para mim, agora eu pago o preço por calar meus
sentimentos. Cheguei à conclusão que não terei vida decente sem
ela. E quando me dei conta estava na porta da casa de Benji.
Trôpego e descontrolado trocando os pés, bato na porta com
menos discrição que o habitual.
— O que está fazendo aqui, Taylor?
Ele não me deixa entrar, mas foda-se, ele vai ter que falar.
— Preciso saber por que, me fala Benji? Eu fui até lá, não me
deixaram vê-la. Me fala por que Stela não quer falar comigo? Você
sabe o quanto eu gosto dela, Benji, eu tô enlouquecendo.
— Quanto você bebeu?
— Eu tô bem.
— Você veio dirigindo? E o seu motorista?
Balbucio que sim e me escoro na porta, aí percebo o quanto
exagerei, pois quase despenco porta adentro e beijo o assoalho de
madeira.
— Só um minuto, espere aqui — ouço ele falar com alguém.
— Threy, preciso levar um amigo para casa, já volto querido.
Ele me apoia, levando-me para fora em direção ao meu carro
e com a mão livre segura um pacote embrulhado em papel pardo.
— Por que está fazendo isso? Nossa última conversa por
telefone não foi amigável.
— E mesmo assim você está aqui na minha porta.
— Não tenho a quem recorrer — confesso derrotado.
— Me dá a chave, Taylor! — entrego o controle do alarme na
mão dele.
— Fala, somos amigos agora?
— Ela não me perdoaria se acontecesse algo com você —
ouvindo essa confissão explodo de modo impulsivo.
— Então você se comunica com ela? E mentiu para mim todo
esse tempo? E ainda tem coragem de dizer que somos amigos?
— Não. Entra e coloque o cinto.
Praticamente me empurra para o assento do passageiro.
— Não o quê? São quatro meses que você vê meu
sofrimento, eu não vivo mais, caralho! Não sei o porquê a mulher
que eu amo partiu, ela me deixou e você sabendo não diz nada?
Que tipo de pessoa é você, Benji, mentindo desse jeito?
— Ela não te deixou. E você está bêbado e tudo o que eu
disser você não vai lembrar. Outra hora conversamos.
— Exijo saber agora! — grito com Benji que revida
corajosamente.
— Você vai calar essa boca e me deixar dirigir até sua casa?
Não tenho medo de você e sei brigar, sou um gay muito macho,
entendeu? — ergo as duas mãos e me calo surpreso.
Faço exatamente o que ele diz, não pela voz estrondosa que
ecoou no carro, mas porque ele tem razão. Minha falta de controle
hoje não vai ajudar em nada. E sinto que Benji quer me ajudar e é o
único que pode fazer isso, afinal ele já me auxiliou uma vez.
Assim que terminamos o trajeto e estacionamos, o pacote é
colocado no meu colo.
— O que é isso?
— É o último livro dela, Stela terminou de escrever, mandou
para editora e uma cópia para mim, acabou de chegar ontem de
manhã.
O encaro um pouco aparvalhado, eles estão mesmo em
contato. Seguro e rasgo o pacote ansioso, aliso a capa com o
desenho dos dois mapas entrelaçados em uma utopia que talvez ela
tenha tocado o papel. Meus olhos ardem talvez pela bebida
exagerada da noite. Foco meu olhar embaçado nas letras, tentando
identificar o título e com muito custo faço com que as letras se
desembaralhem:

UMA ESPANHOLA NA AMÉRICA

Uma folheada e mesmo bêbado vejo que é todo escrito em


espanhol.
— Você quer que eu leia? Meu espanhol é péssimo, cara!
— Aprimore, contrate um tradutor, professor particular, faça
um curso, você tem meios de ler isso em uma noite, Taylor. — A
risada bêbada ou nervosa, não sei, cessa assim que olho para ele
me encarando seriamente.
— E como o livro dela vai responder o que quero saber?
— Você acabou de dizer que a ama, e veio me sondar sobre
os motivos dela ter partido, tenho certeza de que está tudo aí, é
como uma biografia.
— Você sabe o motivo, por que não me diz?
— Acredite, é melhor ler a história de vocês e só depois me
encontre, então prometo que conversaremos sobre todas as suas
perguntas.
— Isso vai me dar esperança de vê-la outra vez?
— Talvez. Agora vá, tome um banho frio e tente dormir.
Mande seu motorista buscar o carro pela manhã. — Solto o cinto
com muito custo.
— Você vai embora com meu carro?
— O que você acha, querido? Que vou a pé vestido de robe
vermelho a essa hora? Nem passa metrô aqui nesse seu bairro
nobre. Boa noite e não esqueça, leia o livro quanto antes. — Desisto
de discutir e saio do carro com o pacote.
— Boa noite. Obrigado amigo.
Vou cambaleando e só paro quando caio na cama e desmaio.

Pela manhã, com uma ressaca gigantesca, ligo para George


me buscar no condomínio. Provavelmente, ele bateu ponto no
cassino após tê-lo dispensado para a folga ontem à noite. Não tinha
planos de sair, entretanto, minha mente não anda pensando direito
nos últimos tempos.
Quando meu motorista chega, o rosto de preocupação é
notório assim que saio pela porta e o encaro diante do veículo. Vejo
adiante outro carro da equipe de segurança. George exigiu o retorno
habitual dos seguranças desde que Stela se foi. Merda! Esse é o
primeiro pensamento do dia. Minha namorada partiu. E a dor de
cabeça acabou de piorar.
— Bom dia, George.
— Bom dia, Sr. Taylor. O seu carro...
Antes que comece o sermão, já tenho total consciência que
ele rastreou o GPS de onde meu Porsche está e conto
resumidamente os fatos de ontem. Mas não permaneço nessa
pauta, pois o dia será longo e o apresso para me levar ao Cezare.
O expediente, assim como o fim de semana com o evento
para o Sheik, passam tediosos e exaustivos. Ainda mais que a
garota Rockwell insistiu em me acompanhar no coquetel para o
Árabe. Pois bem, permiti, mas não conseguiu trocar uma palavra
sequer comigo, mantive distância em todas as tentativas de
aproximação da parte dela. Não quero ver aquela infeliz metida a
besta nem pintada de ouro. Está na empresa como um mero
adereço imposto por Dona Soraya até eu ter certeza de sua melhora
na questão da saúde. Enquanto Chrysti estiver no Cezare não há a
mínima possibilidade de interação da minha parte. Acabou qualquer
sacrifício que eu faça em aturar a menina.

Comecei a ler o livro de Stela, claro que com a ajuda


tecnológica do tradutor e dicionário para não perder sequer uma
sentença do manuscrito. Apesar de os nomes e locais serem outros,
me reconheci nas palavras dela. Achei fantástico como descreveu a
nossa relação, bateu uma saudade enorme daquela época. Me
pego pensando nisso constantemente. Estou sempre
desconcentrado e distraído e o pessoal do trabalho já reparou nisso.
Hoje à noite, após, encerrar as reuniões tardias que haviam
necessidade da minha presença, resolvo passar na mansão e ver
como mamãe está. Nos telefonemas que trocamos nessas últimas
semanas ela me pareceu muito bem. Nenhuma reclamação, nem
queixa. Aliás, tenho notado mudanças em seu modo de agir há
algum tempo. Sua saúde nunca esteve melhor, ela quase não me
procura, exceto quando marca jantares com os Rockwell que eu
continuo a recusar. Não basta ver a fútil patricinha quase todo o dia,
ainda quer me fazer engoli-la nas folgas que tiro para descansar.
Dona Soraya passa do ponto nessa questão, não vou cair nas suas
chantagens. Mas é instigante que nunca mais precisou de mim ou
ligou para saber onde eu estava e com quem. Nenhuma visita ao
hospital, parece um milagre dos céus, se eu fosse mais religioso
agradeceria indo a uma missa.
George, ouvindo que mandei preparar o veículo blindado, liga
na linha particular da sala da presidência:
— Não acho boa ideia sair a essa hora dirigindo, já passam
das dez. — contesta ele com sua costumeira preocupação.
— Onde você está?
— Sempre a postos, senhor.
— Ok, George, desço em cinco minutos.
Chegando na mansão encontro o carro do antigo advogado
da família estacionado em frente e me apresso em entrar. Uso
minha chave reserva, constato ao entrar no hall acarpetado que a
governanta deve ter se recolhido, já é tarde e por isso o advogado
aqui, me é tão suspeito.
À medida que me aproximo do escritório, ouço uma
discussão acalorada e tento ouvir mais de perto. A voz alterada de
minha mãe me lembra algumas ocasiões na infância. Ela era ríspida
quando meu pai era vivo. Só mudou depois de sua morte. O fato de
uma reunião a essa hora da noite me deixa desconcertado.
Conforme me aproximo pelo longo corredor pé ante pé, as vozes
alteradas são mais nítidas. Mas qual o tamanho do problema para
tratar com o advogado em casa na surdina? Me posto do lado de
fora colado na porta de carvalho fechada do antigo escritório de
papai. Não está trancada, há uma fresta e os sons escapam por ela.
Ouço alguém bater o punho na mesa. Mas que merda é essa?
— Ele precisa saber Soraya. Luke tem direito! — Engulo um
nó que se forma em minha garganta. É sobre mim?

— Eu sou a mãe Carter, e Anthony já está morto. Não ouse


mexer nisso! Eu proíbo, entendeu? O que foi agora, precisa de mais
dinheiro para manter essa boca fechada?
O quê! Como é?
— É, dinheiro a mais não faz mal a ninguém. Ando com
algumas dívidas e meu filho mais velho ingressou recentemente na
faculdade…
— Ah, poupe-me de seus problemas suburbanos, Carter.
Arrumarei o dinheiro para seus luxos. Luke faz tudo o que eu quero
não será difícil. Mas não tome o hábito!
Faço tudo o que ela quer porque ela é minha mãe, caralho!
— E como anda as relações com os Rockwell?
Ouço uma bufada alta e alguém arrastar a cadeira.
— Está a passos lentos, mas Christy está exatamente onde
eu quero, não vai demorar. Aquele empecilho já resolvi. Logo eu
finalizo isso também. Boca fechada, entendeu?
Mas que merda é essa? Apoio sem querer na madeira e ela
range alto. Cacete! Preciso entrar.
— Mãe?
Ela se ergue rápido da cadeira e vem me receber surpresa.
Encaro seu olhar arregalado, mas logo disfarça. O advogado
também alisa o terno e ajeita os óculos.
— F-Filho? Faz tempo que você chegou?
Esse é o jogo de disfarces que quer jogar mãe?
— Não. Cheguei agora — minto. — Algum problema?
— Nada sério, querido. Estávamos resolvendo algumas
pendências com o meu testamento, sabe como é, aprendi com seu
pai a ser precavida, não sabemos o amanhã, não é!? — Testamento
uma ova! Mamãe tenta controlar a voz, porém, é muito perceptível o
tom alterado com que me responde.
— Mas está tão bem, mamãe, aliás, ultimamente não ouvi
mais a senhora reclamar de dores no peito, estou tão aliviado. —
Sou bom no teatro também, dona Soraya.
Ela suspira e põe a mão no peito.
— Meu filho, cuidado nunca é demais, nunca se sabe
querido, é bom deixar as coisas acertadas — afaga meu rosto com
a mão gelada que me arrepia a espinha. — E você, estou lhe
achando tão abatido, um pouco mais magro da última vez que te vi.
E essa barba, Luke? Está tão desleixado, não combina com um
empresário de alto padrão.
— Estou um pouco sem tempo, mãe, trabalhando muito, a
Sra. Me conhece — esboço um meio sorriso fajuto. — Mas só dei
uma passada para ver como estava e tenho que ir, tudo bem?
— Sim. Certo. Carter também está de saída, terminamos
aqui. Me ligue se precisar de algo.
— Digo o mesmo.
Despeço-me dela seguindo para o carro e ao meu lado o
homem com terno de segunda mão me acompanha. Não vou
perguntar nada, pois é nítido que estão de conluio.
Aceno um boa noite, aturdido com a conversa que ouvi. O
que ela esconde de mim que o advogado de meu pai acha que
tenho que saber? E mais, ele recebe para ficar calado? Vou
desvendar isso de uma vez por todas.
— Algo errado, chefe? — questiona George, ao sair do
veículo, vendo minha expressão ao acompanhar o carro do
advogado sumindo pelo portão de ferro.
— Não sei, George. Ainda não sei, mas tem, e é sério.
— Para o cassino? Ou o condomínio?
— Para o condomínio, por favor.
Como a leitura consome boa parte das minhas noites, a
ansiedade de ler o livro é enorme, preciso focar nisso primeiro.
Todavia, há algo ainda mais urgente em investigar. Preciso
contatar o detetive Gary novamente, Dona Soraya demonstrou um
fingimento hoje que eu não conhecia, e meu instinto apitou. Faço a
ligação a caminho de casa, não tenho como esperar, há algo de
muito errado, meu pai me ensinou a confiar na minha intuição. No
telefone, Gary me informa que está no Canadá em um trabalho
importante. Mas assim que retornar virá ao meu encontro.

Reservei uma hora na agenda para Gary esta manhã. Fiquei


aliviado quando disse que retornou ao país ontem. E outra vez estou
no aguardo ansioso. Algo me diz que as coisas vão mudar na minha
vida depois dessa investigação. Uma batida leve na porta e sei que
o homem chegou.
— Sr Taylor, a que devo seu chamado urgente? Quer que eu
continue as buscas pela sua namorada? — pergunta direto assim
que me vê. Gosto da maneira que conduz as coisas, dinâmico e
proativo.
— Não. Tenho outro trabalho para você. Não é apenas uma
pessoa, quero que investigue uma família inteira
— Sim, posso fazer isso, de quem se trata? Não acredito que
possa descobrir mais dos Salvage, mas posso fuçar no passado,
talvez...
— Não! Esqueça os Salvage, já tenho tudo o que preciso.
— Então de quem se trata a investigação?
— A minha família.
Faço o detetive sentar para que eu explique as nuances das
descobertas que fiz.
— Como? Quer que eu investigue os Taylor? O que o levou a
isso?
— Ouvi uma conversa muito estranha entre minha mãe e o
antigo advogado da família.
— Quanto estranha, conte-me mais?
— Ela proibiu que ele me contasse algo, que ele mesmo
disse que tenho direito de saber. Quero saber o que é, se tem algo a
ver com a morte de meu pai ou algo assim.
— O Sr. Sabe que mexer em assuntos familiares, às vezes,
pode-se descobrir coisas que não queremos realmente saber,
esqueletos, muitas vezes podres demais, como falamos no meio
investigativo.
— Mas quero saber tudo o que diz respeito ao meu pai.
— Tem certeza?
— Absoluta, comece imediatamente, qualquer acesso que
precisar, estou à disposição.
— Certo. Entrarei em contato o mais rápido possível.
CAPÍTULO 49

Uma semana sem notícias do detetive e não contenho minha


ansiedade. Bem, de todas as formas não há nada que eu possa
fazer para ajudar, já lhe dei todas as informações até às mais
estranhas sobre minha infância para que ele pudesse trazer as
respostas. O jeito é esperar. Essa noite, após dias de dedicação a
leitura do livro de Stela, vou finalmente terminá-lo. Poderia ter pago
um tradutor, mas sinto que devia isso a ela. Eu mesmo ler a sua
privacidade e a minha.
Agora depois do jantar e um banho relaxante, estou na cama
acomodado lendo o volume. Confesso que me emocionei várias
vezes nesse tempo em que li nossa história do ponto de vista dela.
Nas palavras de Stela, eu era seu sonho e nem acreditei quando a
protagonista do livro confessou para si mesma que me amava. É um
livro tão detalhado sobre seus sentimentos que em vários momentos
precisei parar e refletir. Eu sentia o amor naqueles olhos
amendoados, sabia que era recíproco. Queria dizer a Stela que ela
é meu sonho também. Que anseio o nosso ‘felizes para sempre’
assim como ela escreveu nas linhas.
À medida que folheio as páginas finais, e chego nas últimas,
descubro quem a amedrontou e o motivo de sua partida. E mais que
isso, Stela revela que partiu grávida de volta para casa! Um misto de
horror e descrença tomam conta de mim. Não pode ser real o que
está escrito, não pode ser! Minha mãe não é esse monstro que ela
descreveu. Não pode ter impedido a minha felicidade com a mulher
que amo!
Imediatamente visto uma roupa qualquer, pego a chave do
carro e dirijo até o clube. Preciso que Benji esclareça de uma vez
por todas, essa história. Chegando no local, sou informado que o
homem está de folga, mas não me interessa que já passa das dez
da noite, ele tem que me explicar o que li, e por esse motivo dirijo
até sua casa rapidamente. Ainda não acredito que o que li possa ser
verdade, talvez algum acréscimo ficcional na história para gerar
impacto no leitor.
Minha fúria tira o melhor de mim, fazendo com que eu bata
na porta quase derrubando-a. Ouço Benji gritando de dentro da
casa.
— Mas que porra tá acontecendo aí? Não se pode aproveitar
a folga em paz?
Quando abre e me vê, me dá passagem para entrar,
certamente compreendendo pela minha cara transtornada que
terminei de ler a biografia.
Percebo seus olhos me escaneando de cima a baixo, talvez
percebendo o trapo humano em que me transformei nessas últimas
duas semanas. A barba mal cuidada, abatido, magro, e de roupa
casual, que não costumo usar.
— Que merda é essa, Benji? Você me fez ler uma fantasia
dessa! Stela escreveu que estava grávida? — balanço o livro na
cara dele.
Ele me encara furioso, mas sua voz, diferente da minha, está
controlada.
— Baixa esse tom, que aqui não é o seu cassino e meu
namorado está dormindo. Se quiser conversar civilizadamente, se
acalme ou saia por onde entrou.
Passo as mãos pelos cabelos, nervoso, peço desculpas, e
me sento na poltrona de couro.
— Quer beber alguma coisa? Vou preparar algo para mim.
— Quero também, por favor. Me explica! É ficção ou é
verdade tudo o que está aqui?
Enquanto ele serve as bebidas, noto um notebook aberto na
mesinha e me atenho a fotografia de fundo da tela. Me ajoelho no
chão para olhar de perto porque reconheço a mulher estampada na
tela, é Stela sorrindo tomando um sorvete com uma barriga enorme.
— Benji?! — Ele se aproxima e me entrega o copo.
— Bebe isso num gole — bebo rapidamente o líquido sem
nem sentir seu gosto, agradecendo o ardor na garganta que resvala
e queima à medida que sorvo do copo. Minhas mãos trêmulas
indicam que meus nervos estão no limite.
— Ela fala pouco da gravidez no livro, não é?
— Então é real? Ele é meu?
— Você tem dúvidas? Essa foto é recente, recebi no final de
semana.
Toco a tela com meus dedos acariciando a barriga na ânsia
de poder tocar no meu filho e na minha mulher. Benji se assusta
quando começo a soluçar chorando, um choro desesperado,
lágrimas pesadas de tristeza de não estar com ela, de não ter
acompanhado a gravidez, de ela ter me negado isso.
Me apoio na poltrona escondendo o rosto desesperado e
aflito. Ele aperta meu ombro num gesto consolador, mas não
consigo me acalmar.
— Agora você entendeu por que sua namorada fugiu? Ela
estava apavorada porque sua mãe a ameaçou. Você leu, não foi?
— Eu li, mas é difícil crer nisso, Benji. É minha mãe.
— Mesmo sendo nomes diferentes, você reconheceu os
fatos, por que ela inventaria o final se o resto é verdade? Sei que é
difícil de acreditar, mas sua mãe é uma pessoa diferente longe dos
seus olhos.
— Você sabia de tudo? Eu precisava saber, eu tinha que
saber, Ben!
— Das ameaças, sim, eu sabia. Mas Stela me fez prometer
que não contaria, ela estava apavorada, você consegue entender
isso, Taylor? Eu não ia falar, porque achei que você a esqueceria
em algumas semanas, que fosse apenas uma atração que você
sentia.
— Eu amo aquela mulher, como nunca amei ninguém.
— Sei desse fato agora, por isso quebrei essa promessa
também, sou um péssimo amigo, sempre rompo as promessas que
faço a Stela.
— Mas é meu filho, você tinha que ter me contado quando
ela partiu, eu insisti tanto, porra! — Minha voz se exalta.
— Não, eu não sabia que ela levaria a gravidez adiante.
Minha amiga me assegurou que não faria, só fiquei sabendo da
gestação quando recebi essa foto, talvez ela queira garantir a
segurança do filho. Por isso ela partiu, não podia pôr em risco a vida
do bebê.
— Ela fala de mim?
— Não. Estou proibido de falar seu nome.
— Por quê? Ela não me ama? — limpo o rosto como um
garotinho faria. Mas nesse momento me sinto perdido como um.
— Certamente que te ama, mas falou que não queria sofrer
quando você seguisse em frente e se casasse, preferia não saber
para poder te esquecer.
— Preciso falar com ela, me ajuda, Benji! — suplico aflito. —
Se você tem o telefone precisa me dizer — agarro seus ombros
para que compreenda meu desespero, tenho que me redimir por
não perceber o que estava acontecendo. — Não posso perdê-los!
Ele aperta os lábios, visivelmente dividido entre dar ou não
essa informação.
— Por favor, cara, antes de ir até lá preciso avisá-la de que
meu intuito não é acusar, julgar ou mesmo ameaçar de tirar o nosso
filho. Preciso avisá-la para me receber, agora entendo porque a
família a protegeu. Os Salvage têm uma versão da história que não
é a minha. Sou inocente nisso tudo, apesar de me sentir culpado,
mas é a minha família, Benji. E quero fazer do modo certo.
— Taylor, sinto muito mesmo por tudo isso, Stela me disse
para não contar sobre sua mãe, ela não queria ficar entre vocês.
Disse ser errado fazer o filho brigar com a própria mãe.
— Ela é a pessoa mais especial que conheci. Deixe que com
minha mãe eu me entendo antes da viagem. Fique tranquilo,
compreendo que não foi de mim que ela fugiu. Stela é uma pessoa
melhor que eu. Me dê o número, Benji!
Ele concorda e pega o celular. Após me despedir entrando no
carro, recebo a ligação de Gary.
— Ei Gary?
— Taylor, estou em frente à sua casa, podemos conversar?
— Estou chegando, aguarde aí dez minutos.
— Certo.
Já era hora de notícias do detetive. Acelero com George no
viva voz perguntando se preciso dele.
— Não se preocupe, estou indo para casa e o carro da
equipe está me seguindo.
— Ótimo.
Chegando no destino, entro em casa com Gary para
conversarmos. Seu semblante transparece apreensão, me deixando
exatamente igual.
— Precisa de uma bebida? — indago percebendo sua
expressão carregada.
— Com certeza, Taylor.
— Certo, enquanto sirvo os copos, sente-se, comece a falar,
você não deu notícias e eu já estava apreensivo.
Ele abre uma pasta cheia de papéis e documentos sobre a
mesa de centro.
— Desculpe. Tivemos imprevistos. Investiguei a sua família
como me pediu. Mas não consegui todas as provas de que precisa.
Por isso a demora. Estava muito bem camuflado esse segredo.
— Preciso de provas para quê?
— Não sei o que você pretende, mas as suas dúvidas sobre
sua mãe vão acabar agora! — Bebo um longo gole de whisky.
— Despeje logo o que descobriu homem, sem rodeios!
Deixo a dose dele sobre a mesinha.
— Você não é filho natural dos seus pais.
— O quê? — Sento num baque na poltrona da sala surpreso
até para engolir o líquido âmbar.
— Você é adotivo, seus pais o adotaram ainda bebê.
— Tem certeza do que está falando?
— Sim, aqui nessa pasta tenho o registro, mas é falso.
Consegui algumas informações fiéis com um tabelião aposentado.
Ele disse fazer trabalhos para seu pai e que lhe confidenciou que o
bebê, o senhor, era mexicano. Deu o nome da casa de acolhimento
de onde as crianças eram recolhidas ou deixadas. Portanto, para
documentações precisas, tenho que ir ao país. A burocracia difere
da nossa, muito lenta e é necessário um incentivo para as
engrenagens rodarem, entende? Se quiser mexer em inventário e
questões do testamento precisa ter a documentação correta ou
legalizar.
Fico atordoado com essa revelação, minha cabeça a mil
tentando juntar as peças. Bebo um longo gole sem acreditar nas
reviravoltas da minha vida e algumas coisas começam a se
encaixar.
— De quanto tempo precisa? — Dou um suspiro longo, e
algo me diz que será tempo demais para mim.
— No máximo um mês.
— Tenho uma viagem urgente a fazer e gostaria de deixar a
papelada correta. Se não é minha parente, não levará nada meu. —
Gary bebe e me olha seriamente.
— Tem mais alguma coisa? — questiono.
— Não sei como falar isso, não descobri detalhes, mas tenho
quase certeza que sua mãe teve a ver com a fuga da sua
namorada. Vi dona Soraya, algumas vezes, em almoços e em
cafeterias com pessoas que, no nosso mundo, lidam com a
ilegalidade.
— Não me espanta, já tinha essa ideia, o que encontrou?
— Posso estar sendo precipitado, poderia ser uma visita de
sogra para nora, consegui as imagens das câmeras de uma das
vizinhas que não conseguia contatar, elas conversaram por dez
minutos a portas fechadas algumas semanas antes da fuga dela.
— Mas como? Elas nem se conheciam? — Me levanto
aturdido andando pela sala.
Não li nada sobre isso no livro dela, meu Deus! Agora as
palavras do velho Alfonso fazem sentido!
— Você vai ter que perguntar a ela.
— E na noite que ela sumiu, você descobriu algo mais
incriminatório com relação à Soraya?
— Apenas o que já te reportei, mas agora sabendo desse
fato, posso teorizar que aquele recado da lâmpada, que não
sabíamos de onde se originou, acabou de ser esclarecido.
— Foi a mando dela aqueles tiros! Obrigado Gary.
— Mais um detalhe — fala ele bebendo o resto do copo e
franzindo o cenho.
Mas que merda pior ainda tem?
— Sua mãe e Dane Rockwell... — Ele limpa a garganta e me
entrega um envelope pardo. — Imprimi algumas das fotos do meu
celular, as mais suaves.
Pego o envelope e olho a porcaria da relação dos dois, aos
amassos a caminho do motel, se agarrando nos corredores da
empresa dele, uma vergonha. E ela tratando Marion como sua
amiga íntima? Mas que tipo de mulher é essa? Uma cobra
disfarçada dentro da minha própria casa!
— Pode deixar que eu assumo daqui, vá para o México e me
atualize diariamente.
— Tenha cuidado, Taylor, pode ter gente poderosa envolvida,
além de dona Soraya.
— Mas eu também sou poderoso.
— Sim, mas sua mãe tem contatos no submundo e
infelizmente não tenho mais nada a informar para te ajudar.
— Já é mais que suficiente, não se preocupe, vou me acertar
com essa mulher ardilosa que se diz minha mãe.
Assim que o detetive vai embora, medito nas revelações e
juntando com o livro de Stela me sinto enganado, estou furioso com
tantas mentiras. Passo a noite em claro por causa delas, martelando
minha mente com teorias sem resposta.
Terei um filho longe de mim, por uma mulher que a vida
inteira achei que me amava.
Minha vida é uma mentira! Por que ela fez isso? Ameaçar a
garota que eu amo, a troco de quê? Que ligação é essa com a hiena
Dane Rockwell? Tem uma peça faltando e sei muito bem quem vai
fornecer esse desfecho.
Preciso resolver essa situação com cuidado, para não ser
enganado por Soraya novamente. Tenho que planejar meus
próximos passos.
Solicitarei imediatamente à minha assistente uma reunião de
emergência com o advogado salafrário amanhã cedo, aquele
assunto que discutiam naquela noite, eu vou descobrir, e ai dele se
não contar! Vai se arrepender de ter cruzado o meu caminho.
Agora preciso ligar para minha namorada, sei que há
diferença de nove horas daqui para Espanha, então, devem ser
quase nove da manhã lá.
Aperto send no meu celular, talvez Stela reconheça o número
e não atenda...
Como imaginei, o robô da caixa de mensagem me
cumprimenta, para minha decepção. Inspiro longamente antes de
falar:

”Stela, estou ligando para dizer que descobri tudo o que


Soraya fez a você. Descobri também que não sou filho de sangue
dos meus pais, sei que pode ser difícil de acreditar nisso, mas eu
precisava contar para esclarecer os fatos. Quero que saiba que não
vou para a Espanha tirar nosso filho de você. Vou para o seu país
construir o nosso sonho, juntos, a família que sempre desejamos…”

O tempo de mensagem esgota e eu aperto send novamente


na esperança que ela atenda. Mas entendo a desconfiança de Stela.

“... Amor, preciso deixar alguns negócios prontos antes de


viajar. Assegurar os cassinos sob os cuidados do meu braço direito.
Vou conseguir chegar antes do nosso filho nascer, quero ser seu
apoio, seu marido, se ainda quiser como disse no livro. Quero o
nosso “felizes para sempre” daquelas páginas. Eu amo você, Stela
Salvage.”
Desligo com o coração apertado. Não sei se isso é o
suficiente para que acredite, mas não há nada que eu possa fazer
além de palavras numa mensagem de voz a milhares de
quilômetros de distância.
Meu desejo é gritar aos quatro ventos meu sentimento, mas
não posso assustar a mulher que amo, pois sei que ela está
vulnerável pelas ameaças daquela cobra. Agora o jeito é alinhar a
papelada e ir ao seu encontro para provar o que eu sinto.
MANHÃ SEGUINTE

Depois de um tempo, Carter chega a minha sala e eu me


apresso em trancar a porta.
— Sente-se! — ordeno entre os dentes.
Espreito os olhos de doninha aproveitadora me olhando sem
piscar e alinho minha gravata. Movimento-me em minha sala, noto
que ele esfrega as mãos na calça do terno, inquieto na cadeira.
Retorno ao meu assento da presidência, impondo meu poder.
Percebo rápido sua apreensão e desconfiança aumentar sobre o
que vamos conversar, mas pouco me importa. Ele vai falar por bem,
ou por mal.
— Então Luke, em que posso ajudar?
— Comece por me dizer o que a Sra. Soraya esconde de
mim?
— Ora, aquela conversa? Não era nada urgente, era sobre as
escrituras, não se preocupe…
Levanto imediatamente de minha cadeira circulando a mesa
postado ao seu lado de braços cruzados, encarando firme o patife.
Controlo a voz ao máximo para que sinta o frio na espinha da
tragédia que vai se abater na sua vida miserável.
— Seu advogadinho de merda, ou você me conta tudo, ou
esqueço sua idade e te arrebento aqui mesmo! — Sua expressão
muda e noto a palidez de sua face.
— Que é isso, garoto, você me conhece, trabalho há anos
para sua família, era um grande amigo de seu pai.
— Amigo? Essa amizade foi comprada para esconder um
segredo.
— Imagina eu...
— Acho que não me entendeu, sei que sou adotivo e quero
saber o que a senhora que se diz minha mãe esconde de mim.
— M-me d-desculpe, não entendi. — Agarro seu colarinho,
erguendo-o da cadeira com os olhos faiscando de fúria.
— Não me faça de palhaço, seu maldito! Não tenho tempo
para jogos. Contratei um detetive que vai descobrir cada detalhe,
mas prefiro saber da sua boca logo, ou sua carreira está acabada.
Nem aposentadoria você terá e sairá daqui sem os dentes. Não
adianta correr para sua amiga Soraya, ela não poderá ajudá-lo e
assim que eu lidar com você, lidarei com ela!
— Ok, certo, me solta, eu falo tudo o que quer saber —
gagueja aflito.
— Desembuche, fale de uma vez!
— Seu pai deixou uma carta comigo para entregar caso
morresse sem te contar da adoção, com uma cláusula que
especifica que você é dono de tudo, pois o casamento com sua mãe
é com separação de bens. Ela não tem nada nem a mansão
pertence a ela.
— Mas na leitura do testamento ouvi que metade de tudo era
de Soraya.
— Sim, ela me pagou para mentir até ela conseguir passar as
propriedades para o nome dela.
— E como ela conseguiria isso?
— U-um acordo com o Senhor Rockwell, ele daria um jeito
assim que você se casasse com sua filha.
Um barulho furioso escapa ruidosamente da minha garganta,
provocando um soco violento no tampo da mesa, ele se engasga e
esbugalha os olhos pelo som da madeira estalando.
Mantenho o silêncio tentando recuperar o controle por alguns
minutos e volto em direção ao homenzinho, que sua frio, me
encarando apavorado.
— Escute bem o que vamos fazer agora, buscaremos essa
carta no inferno se for preciso. E depois você vai sumir da minha
vista, se possível do país ainda hoje, sem comunicar Soraya, ou
quem quer que seja, nem a sua família, entendeu? Se descobrir que
entrou em contato com ela, tenho uma pessoa de confiança que vai
te encontrar, e acertaremos nossas contas de uma vez por todas.
Você compreendeu o que pode te acontecer, Carter? — Ele acena
rapidamente em afirmativo. — Outra coisa, quero os papéis e toda a
documentação sobre a minha adoção, você tem, não é?
— Tenho, claro.
Alinho meu terno abrindo a porta da minha sala.
— Ótimo, pegue sua maleta, estamos saindo.

O que meu pai poderia querer deixar postumamente escrito?


Éramos tão amigos, com uma relação achegada, por que não
contou sobre minha origem? Será que imaginou que meu afeto por
ele mudaria? Ah, pai, jamais teria um pai melhor que o senhor!
Jamais.
Retiro a folha de papel timbrado de dentro do envelope com
as mãos trêmulas, a emoção da última vontade dele me deixa tão
sensível e nostálgico.
“Meu filho Amado

Espero que não me odeie por não ter contado toda a


verdade. Você não é meu sangue, mas desejo que seu amor por
mim não diminua, porque para mim, você é e sempre foi meu filho.
Deve estar se perguntando por que deixei todos os meus bens para
você e nada para sua mãe. É uma verdade triste, mas sua mãe é
dissimulada, fria, egoísta, é uma pessoa ruim, descobri isso depois
de muito tempo, infelizmente.

A pior coisa que ela me fez, foi me privar de ser pai, mentiu
que era estéril, conseguiu provas forjadas disso e eu tolo acreditei.
Ela nunca me amou, nem a você, me perdoe por te trazer para um
lar assim, mas acredite só descobri isso muito tempo depois. Soraya
sempre foi ambiciosa e inescrupulosa, casou comigo apenas pela
posição social e egoísmo, e eu, na verdade, era apaixonado por
uma amiga dela, mas caí nas suas armadilhas e me arrependo
amargamente.

Quando buscamos você no México, ela fingiu muito bem,


mas com o tempo descobri o desprezo por você e por mim. Agora
que sabe a verdade, deixo em suas mãos a escolha de dar a ela ou
não o que quiser. Você é um homem bilionário agora, além das
empresas que você conhece, temos muitos negócios rentáveis no
exterior, tenho um cofre no banco Goldman, e só você tem acesso a
ele, lá tem todas as informações que precisa. Não guarde rancor do
seu velho pai, eu contaria, mas não sabia como fazê-lo. Mas para
mim não faz diferença o sangue, eu te amo meu filho.

Lute pela sua felicidade, deixe seu pai orgulhoso

Com amor Anthony Taylor “

Me emociono muito lendo as últimas palavras de meu pai, ao


contrário do que ele pensa, não estou magoado, sempre senti que
me amava. Mas agora começo a recordar minha infância e entendo
porque aquela mulher sempre me tratou como um rejeitado, e como
mudou drasticamente depois da morte dele.
Acreditei nela e fiz todas as suas vontades por gratidão às
migalhas de amor que ela me dava. Mas nem isso era verdade, meu
Deus! Tudo era interesse para que eu me casasse com a filha do
amigo, com intenção apenas de me roubar e por isso ameaçou a
minha mulher. A única inocente levou a pior nessa história e não
posso imaginar a aflição dela, o pavor de ser separada do nosso
filho. E tudo por culpa dessa mulher ambiciosa egoísta!
Não tenho dúvidas que essa víbora me odeia. Mesmo
estando devastado com essa descoberta, não tenho tempo para
sentimentalismo, agora é hora de agir. Vou entrar em contato com
meu advogado particular para resolver todas as coisas práticas e
dar um ponto final na relação que tenho com essa mentirosa. Só
assim poderei embarcar o mais rápido possível para Espanha e
viver meu sonho interrompido. Mesmo estando devastado com essa
descoberta, não tenho tempo para sentimentalismo, agora é hora de
agir. Vou entrar em contato com meu advogado particular para
resolver todas as coisas práticas e dar um ponto final na relação que
tenho com essa mentirosa. Só assim poderei embarcar o mais
rápido possível para Espanha e viver meu sonho interrompido.
CAPÍTULO 50

Diante da mansão, instruo George a ficar preparado se eu


precisar dele. Estou consciente das atuações profissionais de
Soraya, por isso estou meditando desde que iniciamos o trajeto,
montando minha estratégia de palavras. Por mais que seja difícil
encarar que minha vida é uma mentira, é melhor lidar com a
verdade, mesmo dolorida.
Assim que entro pela porta, dona Soraya dispensa a
governanta e vem me receber com a costumeira falsidade de
sempre. O ódio é evidente no ranger de meus dentes, não digo uma
palavra até chegar no escritório de meu falecido pai.
— Meu filho, o que houve? Está tão sério, aconteceu algo
que sua mãe possa ajudar?
Deixo que fale e cante as costumeiras ladainhas atrás de
mim pelo corredor acarpetado. Observo nas paredes os quadros
pintados à mão, que meu pai gostava tanto. Anthony Taylor era um
amante de arte. Amante da família e mesmo convivendo com
alguém que não o amava e apenas queria seus bens, nunca deixou
transparecer o mal com o qual convivia. Jamais veio a público se
vingar dela ou desprezá-la. Meu pai me ensinou a ter caráter e ser
inteligente ao adiantar meus passos.
Me acomodo na cadeira dele e a observo me encarando com
seus olhos maquiados, por alguns instantes. Sempre bem-vestida,
alinhada como se estivesse indo a algum evento de moda.
— Pare com essa encenação e sente-se, dona Soraya!
Ela arregala os olhos e com falsa indignação se altera:
— Que jeito é esse de falar com sua mãe?
— Cale a boca e sente-se, já sei de toda a verdade, sua
víbora!
Nesse instante a mulher se desfaz da máscara de boa mãe,
sua expressão volta a ser a mesma que conheci na infância. Preciso
sanar a dúvida que corrói meus ossos:
— Me diga uma coisa, você me odeia só por que sou adotivo,
por que não sou americano, ou por que meu pai deixou tudo para
mim?
— As três opções.
— Ótimo, obrigado por ser sincera pela primeira vez.
Dissimulada, xenófoba e invejosa! Combinam com suas
outras qualidades aristocráticas.
— Se acha que muda alguma coisa essa sua descoberta,
está muito enganado.
Sorrio cruzando as mãos no colo, aguardando o discursinho
desesperado dela.
— Eu fui casada com Anthony Taylor, tenho direito sobre a
fortuna dele — bate no peito com uma propriedade assustadora.
— Você acha? Acha que tirar Stela do caminho, faria você
colocar a mão na minha fortuna?
— Como descobriu que fui eu? — Ofereço o meu melhor
sorriso sarcástico.
— Por favor, não me subestime.
— Aquela maldita não merece carregar um nome tão
poderoso como o meu!
— Você bem que tentou nos separar, não foi? Enfim, não
tenho que dar satisfação alguma, você graças a Deus, não é nada
minha, mas confirmo que seus planos falharam. Vamos às coisas
práticas — me alinho na cadeira para melhor explanar o meu
julgamento.
— Me respeite que eu te criei! — Minha gargalhada a deixa
perplexa. Ela quer discutir, claro que quer.
— Não, a nossa falecida governanta me criou, e meu pai. Ele,
sim, me ensinou a ser um homem de caráter, educado e capacitado
para a vida.
— Eu coloquei você nas altas rodas da sociedade americana.
Foi graças a mim que você tem nome e requinte.
— Discordo, mas como não tenho tempo para desperdiçar
com suas lamúrias. Vim comunicar que você está de mudança. Por
caridade, vou passar a casa de Villemont no seu nome.
— Muito gentil, mas dispenso. Já tenho uma casa para morar.
Aceito as propriedades do lago e a do haras também.
Ofereço meu riso sarcástico mais uma vez.
— Você não entendeu. Isso não é uma negociação. Você se
muda hoje!
— Essa é minha casa, não vou para aquele fim de mundo!
— Não! Essa é a casa do meu pai, portanto, minha. Se não
quiser morar numa sarjeta qualquer, arrume suas coisas e vá para
sua casa imediatamente.
Soraya se levanta indignada com as mãos na cintura,
tentando botar banca. Soa até engraçado ela pensar que tem direito
de ficar furiosa.
— Você não ousaria, seu fedelho, chicano!
— Gosto mais da sua verdadeira face Soraya, mas como já
disse, a casa em Villemont é mais do que merece. Vou reformar
essa mansão para trazer minha família para morar aqui.
— Seus verdadeiros pais devem estar mortos a essa altura
aqueles viciados!
— Não se preocupe com isso, meu investigador vai encontrá-
los, onde quer que estejam. Me refiro a minha mulher e meu filho,
que vou buscar em breve na Espanha.
— F-filho? ... Você não ouse trazer aquela espanhola
depravada para a minha casa! — Nesse momento me coloco em pé
a curta distância, furioso, porém, um fio de controle me prende para
não perder as estribeiras. Nunca bati em mulher e não será ela a
primeira.
— Lave essa boca suja para falar da minha Stela em primeiro
lugar. Ela é a mulher que eu amo e a mãe do meu filho.
— A esperta conseguiu dar o golpe, não adiantou o meu
aviso.
— Não, você não tem poder algum. É só uma mulherzinha
infeliz e invejosa que deu o golpe no meu pai, isso sim.
— Anthony não é seu pai, idiota!
— Anthony Taylor sempre será meu pai e a prova é a fortuna
que ele deixou para o único herdeiro. As ações na suíça estão todas
no meu nome, sou bilionário, se quer saber. — A vejo engolir e
comprimir os lábios numa ira descomunal. — E ressaltando essa
casa não é, nunca foi e nunca será sua. Saia da minha frente e vá
arrumar suas malas! Vou pedir ao meu motorista a cortesia de levá-
la até Villemont ainda hoje. Vou dispensar todos os seus serviçais,
ou melhor, a sua corja de capangas.
— Escute aqui, quem você pensa que é?
— Eu? — ofereço-lhe o meu sorriso mais cruel. — Eu sou
quem lhe proporcionava essa vida de luxo, a qual termina hoje.
Ela então se dá conta do abismo que a espera e tenta se
redimir.
— Meu filho, do que vou viver?
— Não sou seu filho! E não tenho a mínima ideia! Arrume um
emprego, porque seu único bem será aquela casa, como pagará as
despesas eu não sei e nem me interessa.
— Mas você tem coragem de abandonar sua mãe doente do
coração?
— Soraya, não gaste seu tempo com isso. Não subestime a
minha inteligência ou acha que não conversei com seu médico?
Com nosso advogado que há anos trabalhava pro meu pai? O
idioma deles sei exatamente qual é. Tenho conhecimento de todas
as suas farsas. Arrume suas coisas e saia, estou sem paciência e
antes que eu mude de ideia e te escorrace com a roupa do corpo,
suma da minha vista ou me arrependo da caridade! — Ela vai à
porta enquanto a observo em silêncio.
— Luke, seria tão difícil assim se casar com Christy, por que
você não se interessou por ela? Uma moça tão refinada e viajada.
— E fútil como você! Acha que um homem como eu precisa
aturar uma mulher como ela? Uma cópia sua? Nem nos meus
piores pesadelos. Estou aliviado por não ser do seu sangue.
— Idiota como seu pai — funga ela tentando parecer forte.
— Idiota é você, se acha que Dane vai abandonar a família
para assumir a relação que vocês têm. — A fúria estampada em seu
rosto me faz rir.
— Não tenho nada com o Dane! Jamais faria isso com
Marion.
— Você acredita mesmo nas coisas que fala? Tenho alguns
vídeos bem interessantes que provam que vocês dois tem uma bela
amizade.
Seu olhar vítreo me diz que a mulher é mais louca do que
imaginei.
— Você não entende a relação de duas pessoas como nós,
vai muito além de relação física.
— Ah... Meu Deus! Vai dizer que se amam? Não. Nem tente.
Você está muito iludida. Eu, sim, me orgulho de amar e ser amado e
de gerar um filho, coisas que você nunca saberá o que é, morrerá
sozinha, seca e na miséria.
— Não sei o que você viu naquela gorda depravada...-
Nesse instante perco o controle e saio desgovernado detrás
da mesa, prendendo-a pelo pescoço na porta, fazendo seus olhos
esbugalharem. O rosto ganha um colorido bonito para os meus
olhos. Quanto trabalho e recursos eu gastaria para sumir com um
defunto? George faria o serviço certamente.
— Soraya, eu avisei, tentei ser caridoso. Mas não admito que
fale da minha mulher! — Seu grunhido é de longe o melhor som que
ouvi desde que entrei nesta casa. — Deveria lamber o chão que ela
pisa. Por esse motivo vai sair daqui sem nada!
Solto a mulher, que alisa o pescoço irritado, recuperando o ar
desesperada.
— Não, pelo amor de Deus!
— Peça abrigo para o seu amado sobrinho Edward ou seu
amante, o que acho difícil receber.
Abro a porta e grito para George que se apressa em me
encontrar.
— Sim, chefe.
— Escolte essa criatura até o quarto para pegar algumas
roupas e não deixe que leve nenhuma joia. Seja firme se precisar e
a acompanhe até a rua, dê a mixaria do táxi.
George agarra seu corpo e a leva esperneando e gritando,
perdeu totalmente a pose de madame. E Deus é testemunha que
tentei ser bonzinho, mas ofendeu a minha Stela, tocou na íris dos
meus olhos.
Essa criatura me tirou de perto do meu amor na hora que ela
mais precisa de mim. Me afastou do meu filho, isso não tem perdão.
Não terei compaixão alguma.
CAPÍTULO 51

Dizer que é uma surpresa a ligação de Luke, é um


eufemismo.
Primeiro, me desesperei com seu número piscando na tela.
Estamos todos à mesa do café da manhã, quase às nove, e a
reunião familiar de todos os dias na primeira refeição está no auge.
Vendo que meu semblante muda e ameaço atender, meu
irmão Diego afasta o telefone para o seu lado.
Segundo, a fúria me domina. O controle da minha vida
escorrega de minhas mãos a cada nova situação nesta casa.
— É ele? — pergunta os olhos castanhos afiados.
Confirmo em silêncio e a mesa toda presta atenção. Somente
o ressoar do som do aparelho ecoa na sala de jantar. Meus outros
irmãos cessam de degustar as tortilhas de Tilda. E meu pai afasta o
jornal dobrado sobre a mesa. A mão de minha mãe sobre meu
ombro não me consola, pois, a angústia dos toques do maldito
telefone continua... Até parar. Parece que meu coração também
parou de bater com ele. Meu irmão mais velho observa calado a
tela. É um suspense insuportável até o telefone tocar novamente.
— Quero atender!
Todos me encaram como se eu fosse um ET.
— Deixe tocar, ele deixou mensagem de voz, deixará outra.
— Diego!
Meu irmão ignora meu apelo assim como todos os outros.
Quando o telefone para de tocar, Diego presta atenção na tela outra
vez. A seguir me entrega o aparelho.
— Queremos ouvir as mensagens dele.
— Sério isso?
Meu pai suspira alto do outro lado da mesa.
— É melhor sabermos dos seus passos para poder proteger
você e Ravi, antes de conversar com ele, hija.
Seu Alfonso sabe como me desestabilizar. Tocando no nome
do meu filho, neto dele. Sem mais argumentos, aperto a tecla para
ouvir.
É um misto de sentimentos escutar a declaração que sempre
quis ouvir, mas agora por milhares de quilômetros de distância. Luke
me ama e antes que eu tecle, meu irmão toma o celular das minhas
mãos.
— Pendejo! — Vocifero e me afasto da mesa. Ouço as vozes
me chamando, mas viro as costas pisando duro em direção ao meu
quarto.
Em instantes o cômodo está repleto de Salvage. Não consigo
ter paz para chorar sozinha, os hormônios da gravidez me deixam
totalmente alterada e ainda mais sendo controlada dessa maneira.
— Vou trocar seu número hoje à tarde — diz Diego.
— É claro que vai!
Avanço em meu irmão mais velho plantado no meio do quarto
e quando tento desferir um tapa ele agarra meu pulso.
— Fofa! — Santiago ao seu lado se surpreende.
— Nem experimente, Tiago! Ou o próximo é você! —
murmuro entre dentes.
Meu pai, com voz calma, se aproxima do embate entre nós
dois, os irmãos mais parecidos e mais achegados. Diego aperta o
maxilar me prendendo estática na posição de ataque. Meu olhar o
fulmina, se me soltar soco o nariz dele até sangrar. Estou fervendo
de raiva. Lógico! O amor da minha vida diz que me ama e sou
proibida de conversar com ele!
— Hija! Não queremos o seu mal, apenas estamos sendo
precavidos. As palavras são bonitas, mas por enquanto são só
palavras.
Relaxo o braço e Diego solta meu pulso se afastando um
passo e penteando os cabelos com os dedos, visivelmente nervoso.
— Ficamos aliviados que o rapaz gosta realmente de você,
entretanto não o conhecemos. E se após descobrir do filho essa
aproximação seja uma artimanha para tirá-lo de você? Não temos
certeza.
— Não confio no almofadinha! — brada Ruan do outro lado
do quarto sentado na poltrona com seu iPad em mãos.
— Ele ainda precisa de uma recepção dos meus punhos —
fala Santiago ao seu lado.
— Seus irmãos só estão preocupados — consola minha mãe
me conduzindo para a outra poltrona ao lado da minha cama. —
Não fique chateada com eles.
— Vamos para a casa de campo. Seu número será trocado.
E vou acionar meus contatos sobre a chegada do americano. Até lá
não haverá contato. Entende que precisamos nos certificar das
intenções do pai do seu filho?
Olho para meu pai e ele percebe como estou sofrendo.
— Querida, ninguém vai impedi-lo de ficar com você e o filho,
se assim decidirem, mas entenda, precisamos ter certeza do caráter
dele. Calma, ouça sua família.
Concordo, resignada esparramada no sofá cor de caramelo.
Não tenho como questionar nem bater o pé. Eles estão certos, mas
não deixa de doer no fundo da minha alma.
Um a um vão saindo do meu aposento e como sempre Diego
fica para trás. A recordação da voz de Luke na mensagem dizendo
que me ama rapidamente se transforma em lágrimas pesadas
molhando minha face. E em segundos o som do meu choro se
transforma em soluços descontrolados.
— Ei Lela... Ei! Não chore. — Meus olhos embaçados focam
em Diego me abraçando na poltrona. — Desculpe pelo meu jeito
rude. Sou de poucas palavras, só não admito minha irmã sofrendo.
E posso impedir esse cara de se aproximar.
— Você não tem esse direito! — Mesmo abafadas as
palavras em seu peito, sinto o corpo de meu irmão relaxar.
— É verdade, não tenho. E não vou — levanto meu rosto
para vê-lo preocupado me encarando. — Sei que você o ama, e
acredito que ele a ame também. Não vou impedir, pelo contrário
quero promover esse reencontro, mas preciso confiar nele, Lela.
Como o pai falou, queremos a sua felicidade. Não vou arriscar outro
sofrimento ainda maior que possa te atingir. Ele que não cumpra o
que disse nas mensagens para ver se não busco o infeliz pelas
orelhas. — deixo um risinho relaxado escapar.
— Posso ouvir de novo as mensagens? — fungo secando o
rosto.
Ele vasculha o bolso e me entrega o celular. Me acalmo com
as palavras dele e torno a ouvir o ‘amo você’ no correio de voz,
aquecendo meu coração. Coloco para tocar perto da barriga várias
vezes e vejo meu irmão tentando não demonstrar a emoção. Ravi
chuta em alguns momentos pela voz do pai nos fazendo rir. Sei que
minha família tem razão, o pior já passou e agora só preciso
aguardar o meu ‘felizes para sempre’.
CAPÍTULO 52

Meu pai sempre me ensinou a pensar em todas as


possibilidades. Depois dos últimos acontecimentos precisei mexer
no testamento. Sim, muitos podem me achar precipitado e até
maluco, porém, sou o único Taylor vivo, se acontecer algo comigo,
meu patrimônio será herdado pela única parente. Soraya ou o
estado garantirá os benefícios do espólio numa possível
contestação de não herdeiros. Aguardei ansioso por mais de um
mês o detetive Gary retornar do México com a documentação sobre
minha origem.
Conversei com George sobre algumas pessoas que
precisava ver fora da cidade e na surdina. Ele se assegurou de
preparar o carro de segurança máxima, blindado e verificado
previamente, para que eu pudesse usar. Mas disse que faria hora
extra para me atender. Não achei justo nem necessário, afinal eu
também tenho porte de arma e uma pistola no porta luva, porém,
meu amigo segurança não está convencido de que estou seguro.
Enfim, consegui contatar o tabelião, para certificar os documentos e
pôr em ordem minhas finanças caso algo aconteça comigo. Tenho
um herdeiro a caminho e mesmo não estando com ele no momento,
tenho total certeza que em breve estaremos juntos. Entretanto,
antes de tudo preciso resolver e deixar claro minha vontade nas
escrituras e documentos. Ninguém sabe, mas mantenho um grande
amigo da faculdade como meu advogado particular. Jhonatan
Brennand, fui buscá-lo no outro lado do estado para se reunir
comigo e George.
Ao chegar no lugar combinado, um hotel não muito
conhecido, nos sentamos no restaurante do saguão com a papelada
que mandei redigir dias antes por e-mail a Jhonatan. Pedimos um
jantar como se fosse apenas uma confraternização de velhos
amigos. Estamos seguros, George com seu faro e olhos de águia
não detectou nada de suspeito. Ninguém nos seguiu, pois fiz uma
volta estratégica para chegar ao destino.
— Então, meu amigo, o que é esse encontro confidencial?
— Você viu o que solicitei? Trouxe consigo os documentos?
— Sim, estão aqui.
— Bem, tudo o que é meu está nessas páginas?
— Sim. As contas que me passou também incluí e as
propriedades fora do país estão anexadas.
— Certo. Quero que vocês dois sejam meus procuradores
provisórios, caso algo aconteça comigo.
— Não vai acontecer nada com você, chefe — diz George ao
bebericar uma rara dose que pediu.
— Mas se eventualmente ocorrer, quero que vocês dois
gerenciem meu patrimônio até entrarem em contato com minha
mulher na Espanha e passarem para o nome dela. Vou deixar seu
contato, e o amigo que mora aqui de sobreaviso, caso precise e eu
por algum motivo não esteja aqui. Confio em vocês e sei que farão o
que pedi.
— Por que isso agora? — pergunta Jhonatan.
— Porque descobri fatos sobre minha vida nessa última
semana, que me fizeram mudar o testamento. — Ele me encara
seriamente.
— George já está sabendo que sou filho adotivo. Soraya,
conspirou para afastar minha Stela de mim, e ainda fez um acordo
com os Rockwell para passar o patrimônio de meu pai para ela.
Nem sequer agiu como uma mãe. Eu jamais negaria nada se
Soraya me pedisse ou fosse uma boa pessoa. Mas a mulher só
entende e vive pelo dinheiro.
— Poxa cara, que barra! Você acha que é possível que tente
fazer algo contra você? — questiona Jhonatan.
— Sinceramente eu não sei. Mas são muitos anos de
dissimulação, quase uma década que meu pai faleceu e as ações
dela todo esse tempo foram por interesse próprio. Temo que não vai
desistir tão facilmente.
— Ok, farei uma cópia a George e cada um de nós ficará com
os documentos.
— Isso, nenhuma decisão poderá ser tomada apenas por um
de vocês, somente os dois juntos poderão fazer qualquer ação,
enquanto eu não estiver.
— Não vai precisar, Taylor. Não pense o pior.
— Estou apenas me prevenindo. — Ele tira da pasta mais
alguns documentos e me entrega.
— Dê uma olhada e assine, essas são as cláusulas sobre
seus parentes desconhecidos que me pediu.
— Já teve alguma notícia? — pergunta meu segurança.
— Não ainda, pedi empenho a Gary, que investigasse minhas
origens de perto. Sei que foi para Culiacán, seguir algumas pistas
por lá. É uma agulha no palheiro, George. Meu pai não deu
detalhes, apenas disse que me buscou no México. Portanto, já
deixei aqui especificado que se encontrar meus pais biológicos, ou
irmãos, ou mesmo parentes meus, desejo proporcionar uma boa
vida a eles.
— Claro, será feito, coloquei na cláusula também que só
Stela Salvage pode outorgar direitos sobre qualquer parte de sua
herança.
— Sim, ela é a dona de tudo. Não passarei nada de volta ao
meu nome, mesmo não acontecendo nada.
— É uma grande responsabilidade para uma moça.
— Eu sei Jhonatan, mas estou com passagem comprada
para Madrid pra depois de amanhã. Vou encontrá-la e retomar
nossa vida juntos.
— Está certo, meu amigo. A família é o único bem que
precisamos para sermos felizes.
Rubrico todas as páginas e entrego para guardá-las.
Assinamos toda a papelada e jantamos a boa refeição do lugar. Ao
sair, George inspeciona os veículos e partimos de volta ao centro.
CAPÍTULO 53

Tudo é muito surreal nesse momento. Parece uma vida


desde aquela mensagem de voz do Luke, mas foram apenas
meses. Nesse meio tempo, a ansiedade de não poder me
comunicar e a espera pela sua chegada fizeram com que meu parto
adiantasse. Meu filho Ravi veio ao mundo antes do previsto, e o pai
dele não estava presente. E foi devido à notícia do acidente de Luke
que a bolsa estourou.
Desmaiei e acordei no hospital pronta para o parto de
emergência. Desde aquele dia, há quase um mês, a angústia não
me deixa dormir e não é indicado viajar com um bebê tão pequeno.
Por orientação da minha médica, preciso aguardar no mínimo trinta
dias para voar com meu filho. Fora meu pai que está preocupado e
não quer me deixar ir.
O bebê parece sentir meu tormento. Duas noites que
passamos praticamente em claro, ele com cólicas e eu sofrendo
junto. Sentada na poltrona do meu quarto, fazendo Ravi dormir em
meu colo, ouço uma batida leve na porta. Olho meu irmão mais
velho postado na porta.
— Entra, Diego.
— Como você está? Conseguiu dormir um pouco hoje de
manhã? — Com o tom de voz baixo, ele se acomoda ao meu lado.
— Não. Não paro de pensar em Luke.
— Conversei com papai.
— E então?
— Assim que Ravi completar um mês, vamos para Los
Angeles.
Me emociono com a notícia, mas me contenho para não
chorar e deixá-lo preocupado. Rapidamente levanto colocando o
bebê adormecido no berço.
— Quem vai comigo?
— Eu, nossos pais e Tiago quer ir também.
— Não! Santiago é muito explosivo e nervoso. Não sei o que
vou encontrar lá! Luke em coma! Não quero me preocupar com
nosso irmão surtando.
— Ok, calma! — Os braços me envolvendo como se eu fosse
aquela menina que ralou o joelho pela primeira vez, me consolam.
— Converso com ele. Agora se acalme, pois papai já está vendo o
hotel para nossa estadia na cidade. Se prepare, em alguns dias
voaremos.

Agora no avião a lembrança das semanas em casa


angustiada é apenas um borrão.
— Calma, Stela — consola minha mãe no assento ao meu
lado do avião. — Logo você vai vê-lo.
Minha família não gostou da minha decisão de ir a América,
mas eu não ficaria em paz longe de Luke nesse momento.
— Obrigada, mami.
— Quer que eu segure o niño para você dormir um pouco?
— Talvez mais tarde, Ravi está tão quietinho aqui no canguru.
Acho que minha respiração o acalma.
— Precisa descansar, hija. Depois no hospital não vai
conseguir relaxar.
— Eu sei.
Fico meditando nessas palavras, rezando silenciosamente
para que a Virgem Santa o guie e acompanhe, zele por sua saúde e
faça Luke voltar para mim.
Horas depois estamos aterrissando na pista do aeroporto.
Dez minutos no trânsito e fazemos check-in no hotel Rolden, um dos
mais exclusivos de Los Angeles. Papai reservou meio andar
somente para nós. Tilda, nossa governanta veio conosco para
ajudar com o bebê, já que minha intenção é passar o maior tempo
no hospital. E Ravi não pode ir comigo. Me apresso ao retirar leite
suficiente para o dia, e seguimos para o hospital.
Minhas pernas fraquejam ao descer do carro que meu irmão
alugou, no estacionamento do centro hospitalar San Juan.
No entanto, na recepção levo um balde de água fria, pois não
dão informações para pessoas fora os familiares. Não sou nada dele
e não tenho o que questionar. Ficamos na sala de espera por horas.
Meu irmão impaciente passa mais tempo lá fora do que comigo, sei
como odeia hospitais, mas está se esforçando em me apoiar e por
isso eu o agradeço. Começo a andar nervosa pelo saguão
aguardando um médico ou enfermeira, qualquer um que possa me
dizer algo. Em dado momento entra pela porta uma moça que me
parece familiar. Não presto atenção, mas é difícil ignorar. Seu
perfume caro e forte preenche o saguão, seu mau-humor e
arrogância na recepção, também. Desvio a atenção para um
enfermeiro vindo do largo corredor, e não hesito em interpelar o
rapaz de jaleco.
— Moço, com licença.
— Sim.
— Preciso de notícias sobre um paciente.
— Não posso dar informações de pacientes, senhorita.
— Por favor, só quero saber se o quadro evoluiu. Sem
detalhes, somente notícias, por favor, tô desesperada há horas.
— Quem é seu parente?
— Luke Taylor.
— Alguém falou o nome do meu noivo aí?
A modelo de capa de revista vem rebolando do balcão da
recepção num vestido justo até o joelho e óculos escuros. O bater
do salto irritante se sobrepõem aos outros sons no saguão. Ao se
aproximar, reconheço a tal garota que foi com Soraya ao
restaurante.
— Essa senhorita quer saber se ele está bem.
— E quem é você?
— Uma amiga — respondo à moça que afasta os óculos e
aperta os olhos para mim.
— Desculpe, essa informação não está disponível para quem
não é da família.
— Só quero saber se ele está bem, por favor, estou
preocupada.
A exibida solta um sorrisinho arrumando o cabelo ostentando
um anel gigante no dedo.
— Ele está em coma, mas se Deus quiser, e ele há de querer,
meu Luke vai voltar para mim. Afinal, acabamos de nos
comprometer e ele não me abandonaria por nada.
Ignoro e olho para o enfermeiro aguardando a resposta.
— O quê? Não basta a resposta que lhe dei? Acho que você
não é amiga coisa nenhuma. É uma repórter de quinta categoria.
— Nada disso, pare de escândalo, só quero uma informação
confiável, moço, por favor? — volto-me a ele.
— Sinto muito, senhorita. — Quando ele vira as costas
seguro seu braço em insistência.
— Por favor, moço?
Falta tão pouco para as lágrimas brotarem nos meus olhos.
Sei que não tenho direito sobre ele, mas só queria acalmar meu
coração.
— Segurança, segurança! — Olho para a Barbie de salto
quinze falando com um homem de uniforme e apontando para mim.
— Essazinha está importunando por notícias de Luke Taylor, isso é
contra a política do hospital, estou certa? — Seu sorriso por trás do
homem enorme me diz que ela sabe exatamente quem eu sou.
Sou mulher de conflito, nunca fui de calar a boca, entretanto
estou tão devastada por toda essa tragédia que não retruco e
acompanho sem reclamar o segurança até a porta. Sinto as
lágrimas grossas rolando pelo meu rosto, não pela humilhação, mas
por não poder saber nada do estado de Luke. Meu irmão entra
furioso ao me ver sendo escoltada a metros da porta.
— O que está havendo? Minha irmã não é nenhuma
criminosa! Ela é a mãe...
— Deixa, Diego. É inútil. Esse homem está apenas
cumprindo ordens. Está tudo bem, senhor, não vou mais importunar.
— Desculpe por isso, senhorita, só quis evitar um escândalo
nas dependências do hospital.
Aceno e desço os três degraus da entrada sentando na
mureta do canteiro do jardim da frente. Meu irmão se junta a mim
contrariado. Passa um braço no meu ombro em silêncio e me
permito desabar no choro, soluço abraçada em Diego que me
aperta em consolo. É tão desolador me sentir impotente por não
conseguir nem saber notícias confiáveis.
— Infelizmente, não somos nada nesse país. Ninguém nos
conhece, se fosse na Espanha ninguém ousaria lhe barrar,
hermanita.
— Sei disso, hermano.
— Senhorita Stela?
Essa voz! Conheço essa voz. Ergo o rosto em busca da voz
amiga e me lanço sobre o homem de terno em um abraço.
— George! Oh... George!
Ele retribui o abraço meio desajeitado e franze a sobrancelha
vendo que não paro de chorar.
— Senhorita, por que está aqui fora? Por que está chorando?
— O segurança a expulsou! — responde meu irmão cruzando
os braços no peito.
— Como ele está? Como está Luke, George? — agarro as
abas do terno em desespero.
— Ele está em coma induzido, mas estável. Por que
expulsaram a senhorita?
— Uma mulher acionou o segurança quando pedi
informações.
— Soraya?
— Não, a noiva dele.
— Noiva? Não filha, você está enganada. Sr. Luke estava
com passagem marcada para encontrar a senhorita. Foi uma
mentira que inventaram. Vamos entrar.
— Estou proibida.
— A senhorita tem o direito de estar com ele, é a única
família do meu chefe.
— Você não está entendendo, George.
— Na verdade, ele está. — Um homem louro de terno bem
cortado e pasta na mão ao seu lado, retruca.
— Quem é o senhor?
— Sou o advogado do senhor Taylor. Jhonatan Brennand e
preciso que assine alguns papéis, a propósito, Stela Salvage?
Dou um passo para trás, fitando-o seriamente.
— Sou eu. Mas acho que está havendo algum engano.
— Não. Sr Taylor disse que vocês têm um filho juntos, precisa
assinar alguns papéis.
— Está maluco! Não vou assinar nada!
Penso no meu filho imediatamente e meu irmão acho que
também compartilha da minha preocupação, pois se aproxima
rápido e se coloca ao meu lado com uma carranca.
— Sou o irmão mais velho. Cuidado com as palavras!
— Calma rapaz! — George abre o botão do terno revelando
um coldre carregado com uma pistola.
— George! — exclamo. — Quando foi que precisou de uma
arma? Esse é meu irmão, Diego. Parem já com isso! Meu Deus!
— Sei quem ele é, Stela — retruca Diego entre os dentes.
— Desculpe, senhorita. As coisas ficaram diferentes depois
que partiu. Estou nervoso confesso — diz o motorista relaxando a
expressão.
— Vamos entrar, você lê os documentos, é uma procuração e
depois assina se quiser.
— Procuração?
— Vamos explicar tudo. Ele nomeou você como detentora de
tudo no lugar dele, até dele próprio. Vemos isso lá dentro. Nós
lidaremos com os seguranças, mas acho que a senhorita precisa
lidar com alguém antes de entrar — diz George olhando à minha
esquerda.
Olho para o lado e vejo a princesinha batendo salto descendo
os degraus. Está na hora de mostrar a ela o seu lugar e
principalmente a não cruzar o meu caminho. Deixo a bolsa com
Diego e avanço em sua direção indo apressada para seu carro.
— Ora, ora se não é a falsa noiva!
— Ah... É você! Me deixa, quero ir para casa tirar essa inhaca
de hospital.
Interpelo seu andar antes de chegar na porta do carro, me
encostando nele.
— Não mesmo!
— O que você quer, hein? Afff, quer saber, vou chamar a
polícia para dar um jeito em você.
Espero ela vasculhar a bolsa de grife e pegar seu iPhone de
última geração.
Dou um tapa na mão dela, derrubando o celular e pisando
nele com toda a força do meu corpo.
— O que é isso, sua maluca?
— O que realmente veio fazer aqui?
Ela cruza os braços com o nariz empinado.
— Venho todos os dias.
— Confirmar se eu havia chegado?
— O quê! Sua gorda louca! Não vim por você? Vim ver como
Luke está.
— E viu ele? Deixaram? Você não é nada dele, sua cobrinha
oxigenada!
— Ah... Saia da minha frente!
Agarro seu braço e aperto forte, com ela gritando que está
doendo.
— Olhe bem para essa gorda, modelete! Estou finalmente
aqui, e é esse corpo que Luke deseja. — Ela bufa rindo.
— Entendo que esteja rindo da sua própria desgraça. Se
ofereceu nua para ele e meu namorado te dispensou? Não foi? —
Seu semblante cai na hora.
— Ele... ele contou?
— Claro que contou bonitinha, naquela mesma noite,
enquanto nos deleitamos dentro da limusine Escalade.
— Mentirosa! — Ela arranha meu pulso.
— Quanto mais arranhar, mais vou apertar — coloco mais
força afundando os dedos e unhas na pele branca a fazendo
grunhir. — Vou contar outra mentira então, daquelas que você não
vai acreditar. Eu e Luke temos um filho e seremos uma família assim
que ele acordar. E ouça bem, se algum dia você se atrever a se
aproximar da nossa família, não é só seu braço que vou apertar.
Não ouse sequer ficar no mesmo ambiente que Luke, ou acabo com
você.
— Idiota! Estou trabalhando ao lado dele no cassino. Será
questão de tempo para ele trocá-la por mim.
— Senhorita! Venha! — ouço a voz de George.
— Acabou de ser demitida, bonitinha!
Minhas palavras a fazem rir, entre a careta de dor do aperto
no braço.
— Quem é você para me demitir? Você não é nada!
— Ela é a dona do patrimônio do senhor Taylor.
A voz do advogado se faz ouvir ao meu lado e a loura
arrogante arregala os olhos muito curiosa.
— O quê?
— É isso que você ouviu. O Sr. Taylor deixou um documento
de plenos poderes sobre tudo o que ele tem, e as decisões
referentes à condução do seu tratamento também. Senhorita Stela
Salvage é dona de metade de Los Angeles.
Seus olhos me encaram como se estivesse vendo um
unicórnio.
— Não! Você não! Não é verdade! — Solto o braço dela e
sorrio.
— Eu sim. Não precisa pisar nas dependências do cassino.
George fará os trâmites da papelada para sua dispensa.
— Com prazer, senhorita.
Ouço o homem de confiança de Luke assentir ao meu lado.
Ela bufa e inspira fundo, depois arruma o cabelo como se
incorporasse um papel ensaiado, pega a chave do carro na bolsinha
e entra no veículo com um bico gigante baixando o vidro.
— Não pense que essa afronta vai ficar assim. Você não
conhece o meu pai, sua puta europeia!
Rapidamente ela vai embora cantando pneu sem olhar para
trás. Vai ver a puta europeia se aparecer na minha frente outra vez!
Dou meia volta e direciono meus passos, tremendo de
nervosa, para dentro do hospital com os homens que me
acompanham. Ao resolver a questão da procuração e de George me
apresentar no hospital como responsável por Luke, de imediato
peço para vê-lo pela vidraça do quarto. Sei que é possível fazer
isso. Insisto com a recepção, e eles liberam minha entrada que
aproveito imediatamente. Sou guiada pelo enfermeiro até o corredor
onde Luke está. Fico afagando o vidro, como se fosse seu rosto,
sentindo as lágrimas rolando pelo meu rosto. Não parece o meu
amor ali, repleto de cabos, monitor cardíaco, com os bips dos sinais
vitais, entubado numa cama. Nesse momento apenas faço uma
prece agradecendo por ele ainda respirar.
Interpelo o primeiro médico que vejo, mas ele diz que não é
paciente dele e não pode dar detalhes. Depois de alguns minutos o
profissional que está tratando de Luke, aparece.
— Senhorita, soube que é a namorada e responsável pelo
paciente?
— Sim. Até quando vão mantê-lo em coma?
— Amanhã vamos retirar os tubos e ver se ele respira
normalmente por algumas horas. E se tudo correr bem ele vai para
o quarto.
— Jura doutor? Ele vai acordar?
— Sim, mas saiba que não acontece em um passe de
mágica, depende de ele despertar e, além disso, a resposta desse
tempo de medicações, ainda não surtiu efeito, precisamos avaliar se
a concussão não deixou sequelas.
— O que quer dizer? — Meu coração se encolhe de medo de
sequelas.
— Talvez a memória dele demore um pouco para voltar ao
normal. Mas tenha em mente que o pior já passou.
— Ok, obrigada doutor.
Luke vai voltar inteiro para mim, tenho fé que não houve nada
de prejudicial em seu cérebro.
Mais algum tempo se passa e por fim me sento em uma
cadeira para poder descansar.
— Stela! — A mão de meu irmão em meu ombro me faz virar.
— Vamos para o hotel, já são quase oito da noite.
— Não quero sair daqui.
— Você precisa, são quase 19 horas sem dormir desde que
embarcamos. E Ravi já deve ter bebido todo o leite que tirou mais
cedo.
— Tem razão.
Ainda reluto um pouco olhando para Luke, tão sozinho
dormindo naquela cama, mas sei que as palavras de meu irmão
fazem total sentido para meu corpo exausto.
— Sempre tenho razão, hermanita.
Ainda revirando os olhos pelo modo protetor e nada modesto
do meu irmão, saímos pela porta da frente em direção ao hotel.
Levo um choque, ao me deparar com uma comitiva de seguranças
do lado de fora.
— O que é isso? — questiono assustada.
— Sua segurança, senhorita.
— Mas...
George interrompe abrindo o SUV de Luke para que eu entre.
— Não tem como recusar, patroa. Luke me esfolaria se não
cuidasse da segurança da mulher dele. E afinal, a senhorita é dona
da metade da cidade agora, após assinar os documentos hoje mais
cedo.
Engulo o nó que se forma na minha garganta. E se Luke não
acordar? Não quero ser essa pessoa que ganhou meia cidade por
ter um filho com um bilionário. Ser acusada de dar um golpe no rei
dos cassinos? Jamais. E pior, enfrentar tudo sem ele ao meu lado.
Sinto que vou chorar novamente, mas meu irmão me acalma do
lado de fora se despedindo.
— Ele vai acordar, Stela. Você acha que quando ouvir sua
voz, ele não vai lutar para vê-la? O cara te entregou tudo, até o
poder sobre a vida dele naquele hospital. Estou logo atrás no carro
que viemos. Fique calma.
Consinto, mascarando meus receios e empurrando para o
fundo dos meus pensamentos mais ocultos. Luke não vai me
abandonar, agora tenho certeza que me ama assim como eu o amo.

No dia seguinte desperto mais ansiosa do que nunca, ontem


o doutor disse que as possibilidades de Luke ir para o quarto são
grandes, por isso me arrumo em tempo recorde e aguardo o café da
manhã. Preciso tirar a quantidade de leite para Ravi e esperar Benji.
Liguei ontem quando cheguei, gostaria de vê-lo e lembrei de pedir
que trouxesse minha orquídea que deixei sob seus cuidados. Foi
maravilhoso rever meu grande amigo. As apresentações a minha
família foram breves. Precisei dizer a eles que eu era a relações
públicas da danceteria Volcano. Não podia contar o que exatamente
eu fazia lá. Nos despedimos com promessas de reencontros,
acompanho meu amigo até a saída onde meu pai e irmão me
aguardam para irmos ao hospital.
Papai me acompanha no SUV com George e meu irmão
segue nosso carro em outro. Seu Alfonso limpa a garganta várias
vezes. Sei bem que deseja falar algo e está se preparando para
isso.
— Fala, papi.
Olho para o seu rosto ao meu lado no assento de trás do
veículo e vejo um semblante neutro como costuma demonstrar aos
seus clientes. Entrelaço minhas mãos no colo na busca de uma
atividade para me distrair da apreensão.
— Não esperava a atitude do americano. Realmente o que
ele sente por você é sincero. Não que você não mereça, mas
homens como ele são volúveis por ter o mundo aos seus pés. Hija,
você é linda e…
— Entendi o ponto, papi. Falei que ele era um homem bom.
— Homens bons precisam provar que são bons.
— Ele provou desde o primeiro dia.
Meu pai acena e dá um tapinha em minha mão no colo, seu
jeito de assentir e concordar com um assunto.
— Mas preciso falar com ele quando acordar.
Dessa vez é minha forma de concordar silenciosamente.
Conforme avançamos pelo trânsito, meu coração vai acelerando de
emoção. Luke vai despertar e vou poder dizer a ele que o amo.
Ao chegar no hospital me apresso para encontrar o médico.
— Senhorita Stela, bom vê-la, tiramos os sedativos do Sr.
Taylor há alguns minutos. Daqui a algumas horas vou retirar a
ventilação mecânica e já podemos levá-lo para o quarto se tudo
correr bem.
— Que ótimo, estou animada para isso acontecer.
— Após levarmos ele para lá, a senhorita receberá instruções
se ele despertar. Presumo que estará no quarto acompanhando o
paciente?
Meu sorriso fala por mim.
— Sim, senhor.
— Ótimo.
Depois de duas longas horas os enfermeiros se movimentam
retirando os poucos aparelhos. Fico cada vez mais ansiosa, minha
adrenalina me faz caminhar voltas e voltas pelo corredor. Mais um
tempo e outra equipe entra para deslocar a cama de Luke para a
suíte conjugada do hospital. Tô muito pilhada e nervosa, chego a ter
palpitações para ficar perto dele. Meu pai e irmão ao meu lado
dizem que vão buscar o almoço e voltam em pouco tempo. George
fica a postos na porta do lado de fora e eu entro depressa.
Assim que ficamos sozinhos no quarto, me aproximo do leito
e contemplo o meu amor. A barba já está mais longa, e o semblante
calmo me traz uma angústia de que talvez ele não acorde. É
inevitável segurar minha emoção. Agarro sua mão e me sento ao
seu lado afagando e dando beijos doces em seu rosto.
— Querido! Que bom tocar em você. Não vou sair do seu
lado, meu amor. Até você acordar estarei aqui. Sairemos juntos,
para encontrar nosso bebê. Vou mimar e cuidar de tudo até você
despertar. Volte para mim, por favor!
Não me limito nas declarações e acabo adormecendo
apoiada em sua mão. Desperto quarenta minutos depois com a
enfermeira e meus parentes com o almoço.
Nos dirigimos a sala luxuosa da suíte para almoçarmos
juntos. Me sento o mais próximo da porta de modo a ouvir se Luke
despertar. Qualquer som estarei ao seu lado. À tarde meu pai volta
para o hotel e Diego fica comigo no quarto. Volta e meia, George
entra para perguntar sobre o chefe. Posso perceber como ele é
afeiçoado, pela idade do homem parece protegê-lo como um filho.
Quase no fim da tarde, enquanto tomamos café na sala
conjugada, ouço uma tosse. Um som diferente vindo do quarto,
corro até lá.
— Luke! — exclamo quase derrubando a xícara.
CAPÍTULO 54

Estou num loop eterno, tenho uma cena na minha mente,


onde estou embarcando num avião para ir ao encontro do meu
amor, mas sempre sou interrompido antes de embarcar. Muitas
vezes sou barrado no embarque, mas ouço Stela me chamando
para me apressar. É um zumbido constante, mas a voz dela é a
única coisa que se sobressai ao ruído. Em outra cena a aeronave
começa a taxiar na pista antes que eu a alcance, e da janela Stela
grita desesperada. É uma angústia sem fim estar tão perto e, ao
mesmo tempo, tão longe. É um pesadelo muito real, do qual por
mais que eu tente não consigo despertar. Soa tão nítida sua voz me
implorando para ir até ela, que meu desespero é enorme em não
conseguir atendê-la. É só um pesadelo, Luke, acorde, desperte,
você consegue! Ela está te esperando, seu filho também. Vocês
serão uma família, mas você precisa acordar desse pesadelo.
Coloco toda a minha concentração, minha força e empenho,
gradualmente começo a ouvir sons diferentes desse zumbido no
meu ouvido. A cada segundo os ouvidos vão se abrindo a novos
ruídos, ouço bips, sirenes distantes e vozes masculinas, uma
mistura de sons comuns da realidade. Começo a mexer os dedos
das mãos e pés, sentindo que é real, estou despertando. Graças a
Deus, esse pesadelo terá fim!
Os meus olhos aflitos e irritados ardem com a claridade.
Engulo, mas não há saliva que molhe minha garganta. Um ardor
terrível que queima o esôfago como se eu tivesse engolido um
punhado de pimentas por dias a fio. Onde estou? Minha cabeça
está confusa, procuro forçar a última lembrança nela, tento me
levantar de onde estou deitado, porém, tudo dói, não lembro de
nada. Meus músculos e minha cabeça doem tanto que não duvido
sentir dor até em meus cabelos. Ponho a mão na nuca e sinto uma
pontada forte. O que houve comigo? Preciso lembrar, o que fiz
ontem?
Saí de casa para ir até a casa de George, levar um cofre que
tinha de sobra na mansão para que ele guardasse os últimos papéis
que assinou...
Preciso lembrar do que houve depois. Quero sair daqui.
Tenho um voo para pegar. Stela! Stela!
Como vim parar nesse quarto com cheiro de remédio? É um
hospital? Em algum momento eu apaguei e fui trazido para este
lugar. Porra! Porra! Eu morri? Olho minha mão ligada ao soro, sinto
um incômodo no meu pau. Estou coberto por lençóis, não morri.
Tento gritar, mas não consigo falar. Minhas cordas vocais estão
fracas e ardem constantemente como se fossem facas retalhando
de dentro para fora. Me precipito agitado para arrancar a agulha do
braço, insistindo em levantar para sair daqui. Então um anjo com
lágrimas nos olhos me abraça impedindo qualquer ação. E eu a
vejo...
— Não, meu amor, se acalme. Está tudo bem. Você está vivo!
Voltou para mim. Sou eu, sua Stela. Lembra de mim?
A princípio fico paralisado, encarando os olhos amendoados
que choram copiosamente.
Minha respiração quase falha no leito, não posso evitar um
sorriso quando sinto suas mãos segurando meu rosto, mesmo
chorando ela está mais linda do que me lembrava.
— Olhe para mim, meu amor. Lembra quem eu sou?
Sinto meu rosto banhado com minhas próprias lágrimas que
são como torrentes de água. Começo a soluçar e a vejo assustada
chamando alguém. Quero dizer que não preciso de ninguém, que
estou bem com ela aqui. Mas a voz não sai. Arranho minha
garganta exaltado.
— Calma Luke, não posso lhe dar água agora. Enfermeiro!!!
Pelo amor de Deus, Diego essa campainha não funciona?
— Estão vindo, Stela.
Dois enfermeiros esbaforidos entram no quarto para ver
meus sinais, e eu desesperado seguro firme a mão dela. É um
sonho? Eu morri? Ela está aqui mesmo?
— Calma, Luke. Por favor, calma, não vou me afastar,
querido. Eles vão cuidar de você.
Recebo uma solução aquosa num canudinho, não é água.
Mas não importa o gosto do líquido, faço tudo o que mandam e
tento me acalmar olhando o rosto da minha mulher há alguns
passos do leito.
Ouço os enfermeiros dizendo que já retornam com o médico,
mas eu não desvio os olhos de minha amada nem por um segundo.
Tenho de chamá-la, no entanto, o esforço é em vão.
— Stel...
— Não força a voz, meu bem. Espere o médico, por favor, mi
cariño.
Mi cariño. É realidade mesmo!
Puxo seu braço para que se aproxime de mim, ela beija
minha testa e meus olhos sorrindo.
— Amo... Você... Amo... — consigo pronunciar baixo, apenas
um murmúrio para que ela ouça.
Stela, ainda chorosa, se inclina e me beija no rosto todo, eu
devo estar com um bafo do caralho, por isso não retribuo, apenas
relaxo e sorrio com meu coração em paz.
— Eu também te amo, meu Luke. Obrigada por voltar pra
mim.
Assim que ela diz isso, ouvimos vozes estranhas. Um homem
de jaleco branco, que deve ser meu médico e os enfermeiros
entram.
— Senhor Taylor, que bom que despertou. Precisamos fazer
alguns exames básicos para saber seu estado atual e para que eu
possa prescrever as medidas de acompanhamento para sua
recuperação. Ainda está com dificuldade para falar, não se exalte
porque é normal, gradualmente as cordas vocais dorminhocas
acordarão. Vamos lá?
Ele mira uma mini lanterna nos meus olhos, escuta meus
batimentos e pede para inspirar profundamente. Stela que estava ao
meu lado, tenta se afastar, mas seguro firme sua mão.
— Nã...oo! — Não quero que se afaste nem um segundo,
mas ela me acalma com mais beijos e um olhar firme.
— Não vou me afastar do quarto, Luke. Mas você precisa
deixá-los cuidar de você agora.
Balanço a cabeça como um garotinho, vendo-a se afastar
para uma poltrona na lateral do quarto, ao lado do irmão que
conheci na Espanha. Olho fixamente para os olhos chocolate
enquanto a cama é elevada como apoio para as costas pelo
controle remoto. Ele dá um tchauzinho e um suspiro de alívio faz
meu peito ressonar alto, enquanto o doutor, com o estetoscópio, faz
sinal de positivo.
— Ótimo senhor Taylor! Está respirando muito bem. Teve
uma fratura em uma costela, mas não atingiu o pulmão. Teve uma
concussão, mas não foi traumatismo cranioencefálico. Chegou
desacordado ao hospital. Então, a junta médica achou necessário
lhe dar um sedativo potente para que o seu cérebro tivesse menos
metabolismo. Dessa forma, as células do cérebro tiveram menos
atividade, e isso reduziu a pressão intracraniana. Ficou em coma
trinta dias.
Ainda rola algumas lágrimas pelo meu rosto. Trinta dias?
Perdi o nascimento do meu filho. Meu filho? Ou filha? Onde está
meu filho? Olho para Stela e estendo o braço chamando-a.
— O que foi, Luke?
Toco seu ventre chorando sem controle. Que merda essa
emoção que não consigo segurar.
— Calma, amor. O nosso menino está com meus pais no
hotel Rolden. Ele está bem.
Fecho os olhos e solto todo o ar dos meus pulmões como se
houvesse encontrado um oásis no deserto. Um filho! Ela se
acomoda em uma cadeira ao lado da minha cabeceira e segura
firme minha mão.
— Senhor Taylor, precisa relaxar e descansar umas horas
para o cérebro retornar com as atividades normais e as memórias
recentes também. Alguns flashes estão confusos, eu sei e isso é
normal — avisa o médico se afastando. — Bem, volto em breve, não
se agite muito — recomenda ele.
Aceno que compreendi e os profissionais de branco saem do
cômodo. Relaxar? Dormir novamente? Não! No entanto, não há o
que fazer. Depois de um tempo sem tentar falar e de ter bebido a
solução líquida do frasco, parece amenizar a dor na garganta.
Minha voz é baixa e estranha, mas preciso falar.
— E George?
— Está lá fora, vou chamá-lo — diz Stela se afastando da
cadeira ao meu lado.
— Não, Stela?... Fique por favor — imploro apertando sua
mão.
— Diego, vá chamar George para vir, por favor. Vou ficar com
meu namorado.
É bom, é maravilhoso ouvi-la. Ouvir que ainda somos nós,
me faz reviver um pouco mais. O casal que nunca deixamos de ser
está mais unido do que nunca. Quando ela se aproxima do leito
acariciando meu rosto, pergunto:
— Que nome você deu para o menino?
— Ravi Salvage Taylor.
Pisco os olhos tentando não me emocionar novamente.
— Lindo nome.
— Descanse um pouco, ficarei ao seu lado, depois teremos
tempo de conversar.
— Não quero dormir mais.
— O que quer, amor?
— Preciso escovar os dentes. Pergunte se posso beber
água?
Stela liga do telefone do quarto e abre um sorriso quando
recebe a confirmação. Estou maluco por um beijo da minha mulher,
matar a saudade dela.
— Vou buscar os itens de higiene e um recipiente com água,
o médico disse que não é para se agitar muito nas primeiras horas,
mas pode escovar.
Acompanho seus movimentos até ela sumir na sala
conjugada. Ouço sua voz animada do outro lado da parede.
— Mandei meu irmão comprar toalhas, escova e outros itens
necessários, porque eu tinha certeza que você despertaria logo.
Se aproxima com uma bolsa grande, com pacotes de lojas.
Ajeita tudo na mesinha, o creme dental na escova, muito cuidadosa,
segurando o recipiente de água para que eu possa escovar os
dentes. Faz tudo como uma enfermeira aplicada, e olho para ela
encantado pelo cuidado comigo. Assim que terminou, enlaço sua
cintura e ela sorri oferecendo o que tanto senti falta. Encaro seu
rosto de perto acariciando o lábio cheio e rosado.
— Deixa eu te cheirar?
Stela se inclina debruçando-se sobre mim, seus cabelos me
afagam como uma cascata de água fresca. O perfume de cereja e
alcaçuz me fazem lacrimejar de emoção. Beijo seu pescoço e rosto
até encontrar a fonte do meu desejo. Os sons dos gemidos no beijo
são música para meus ouvidos.
Seus lábios macios percorrem os meus com todo o
sentimento que nos une, línguas, desejo, paixão e lágrimas de
emoção.
— Estava com tanta saudade, Luke.
— Eu... Mais, minha delícia. Amo você, amo... — nunca mais
vou deixar de dizer isso a ela, pois vi que posso um dia não
conseguir fazer isso.
A vida é tão breve para calar o sentimento por receio ou
medo. Não devemos segurar um ‘eu te amo', quando só o que
possuímos é amor dentro de nós.
Seus olhos cintilam para mim, eu sabia que tinha saudades,
mas agora o desespero em tocá-la e fazê-la minha toma conta de
mim. Stela desliza as mãos em meu rosto, mantendo o sorriso
encantador e o desejo imenso de carregá-la para casa é quase
incontrolável, porém, não posso mover meu corpo, descobri que
estou com uma sonda para urinar, por isso meu pau arde tanto.
Seguro sua cintura para que não se afaste de mim, seu perfume me
embriaga de boas lembranças. Ficamos um tempo nos curtindo até
ela me convencer a descansar.
Depois de algumas horas a porta se abre e George entra
acompanhado de meu cunhado mal-encarado. Já desperto me
acomodando melhor no leito:
— Ei chefe, que bom vê-lo acordado.
— Bom te ver também, George. Cuidou das coisas em minha
ausência?
— Certamente senhor. Fiz tudo o que ordenou.
— Obrigado, você é um bom amigo, George.
— Amanhã cedo o delegado gostaria de ouvir seu
depoimento.
— Sim, pode confirmar.
O irmão de Stela a chama de lado enquanto converso com
George e posso ouvi-lo dizendo para ir descansar no hotel. E ela o
enfrenta enfezada, essa é a minha garota.
— Stela? — O quarto silencia. — Vá para o hotel descansar,
nosso filho precisa mais de você que eu.
— Tem certeza? — Ela se aproxima.
— Por que não vai e faz uma chamada de vídeo para me
apresentar nosso menino? Vá descansar, amor. Amanhã cedo você
retorna. George vai ficar aqui esta noite.
— Vou? — meu motorista interpela ao lado da cama.
— Sim, vai — respondo, mas continuo a olhar para minha
orquídea selvagem que sorri, o sorriso lindo que amo.
Encaro o irmão que parece se irritar com a atitude dela em
me obedecer prontamente arrumando a bolsa para partir. Stela vem
se despedir com um beijo doce. Seu irmão não me encara, apenas
espera ao lado da porta do quarto. A animosidade com a família
ainda não terminou, provavelmente amanhã além do delegado,
enfrentarei o meu sogro, o que é mil vezes pior.
E com esse prelúdio sombrio os dois partem para o Rolden.
Depois que ela sai, alerto George para uma conversa séria.
Preciso tratar em segredo com ele algumas preparações para minha
alta. George, como homem experiente que é, não precisa de muitos
detalhes e nem meias-palavras, temos uma relação de muitos anos
de convivência e confiança. Só preciso pedir que cumpra a ordem e
ele obedece. Então traçamos a estratégia para minha saída do
hospital em alguns dias, pois certamente tentarão me matar outra
vez. Ressalto a importância da segurança de Stela. Minha mulher
não pode ficar sozinha em lugar algum, pelo menos por enquanto,
até não partirmos para a Espanha ou até os envolvidos não serem
presos.
Antes de dormir, Stela faz uma chamada de vídeo que me
emociona novamente. Ela amamentando nosso menino. É uma
sensação absurda o amor que transborda dentro de mim. Me dou
conta que sou dono dessas duas preciosidades e que eu daria
minha fortuna para proteger. Ele é a coisa mais linda desse mundo,
o cabelo muito escuro e o narizinho arrebitado. Me despeço após
ver minha mulher abrindo a boca de sono me soprando um beijo de
boa noite.
George se acomoda no sofá enorme e adormece também e o
que me resta é desacelerar a mente e descansar.
CAPÍTULO 55

Pela manhã desperto eufórico para ir embora do hospital.


Mas sei que não será hoje a minha tão aguardada alta. Stela
retorna, e suspeito que os outros Salvage aguardam do outro lado
da porta. Seu sorriso ilumina o mundo inteiro, o meu mundo.
— Já tomou seu desjejum, amor? Dormiu bem? Como está?
— Vem cá, minha orquídea selvagem. Fiquei com saudade.
Dormi bem e você?
Ganho um beijo, com a melhora da mobilidade puxo ela pra
mim, para sentir seu cheiro. Senti tanta falta desse perfume, meu
Deus! Agora não vou me privar dele e nem de nada.
— Você está linda. Mudou o cabelo? Percebi ontem que
estão mais claros e curtos, estava tão atordoado que não elogiei.
Você está maravilhosa.
— Pare com isso, Luke.
— Não! Jamais vou deixar de dizer o que sinto com relação a
você. E só pra constar: Amo você, Stela Salvage. Todos os dias vai
ouvir essa declaração de mim. Combinado?
Seu sorriso enternecido e o afago com o rosto no meu,
esfregando como uma gata, aquece minha alma.
— Amo você, CEO dos cassinos. — Limpo a garganta para
falar outro assunto sério.
— Seu pai veio com você?
— Sim. Está com o delegado do lado de fora.
— Estou pronto para conversar com todos. Se quiser pode
mandar todo mundo entrar.
Assim acontece, todos entram. George que foi receber o
delegado, o homem da lei acompanhado de um escrivão magricelo,
meu cunhado mal-encarado e meu sogro no seu terno Armani.
— Como está, Luke?
Cumprimenta ele com um aperto de mão firme. Seu olhar não
é mais duro igual ao nosso último encontro e a expressão está um
pouco mais suave também.
— Bem melhor, senhor Salvage.
— Isso é bom. Tem certeza que podemos ouvir sua
declaração ao delegado?
— Tenho, afinal somos família, certo? — Os dentes do velho
aparecem, mas não da maneira ameaçadora que foi naquele
hangar. Não consigo definir se este é o sorriso simpático do meu
sogro, mas afirmo que é diferente do que conheci.
— Concordo — responde ele se sentando em uma das
poltronas do quarto.
Diego apenas acena um sucinto bom dia e com o pai se
acomoda em silêncio.
Stela vem para perto e senta-se na cadeira ao lado do leito.
George na porta, o delegado e seu ajudante em pé no meio do
cômodo. Assim que as apresentações ao homem da lei são feitas, o
inspetor pega o meu depoimento após se certificar que minha
memória está normal.
— Então recebi uma ligação, era uma ameaça numa voz
modificada. Dizia para me preparar para uma reunião no outro dia
com alguém, e que se eu não fosse, matariam Stela na Espanha.
Recordo muito bem de desligar e ligar para George que me alertou
para ficar de olho nos retrovisores para saber se alguém me seguia.
E minutos depois vi duas motocicletas japonesas me fechando com
armamento pesado. — Os flashes de imagens pipocam minha
mente. — Lembro bem de ser alvejado, não foi possível dano, pois
estava dirigindo um dos carros blindados. Meu segurança me fez
prometer que só sairia com o SUV que inspecionou. Acelerei para
fugir dos meliantes que eu sabia serem assassinos contratados.
— Como pode ter certeza? — pergunta o delegado.
— Aquelas armas de grosso calibre e a potência das motos,
não eram simples ladrões tentando roubar um figurão. Alguém
tentou me matar! Lembro que acelerei o veículo, mas um tiro
acertou um dos pneus. Perdi o controle ao tentar mantê-lo na pista.
Puxei o volante muito rápido para desviar de um caminhão, e em
alta velocidade o veículo capotou, acho que algumas vezes para
fora da rodovia. Um estrondo e em seguida o silêncio da morte. E
tudo virou breu.
O escrivão gravou todos os detalhes factuais sobre o meu
acidente de carro. O delegado denominou crime como tentativa de
assassinato. Disse que preencheram algumas lacunas que estavam
em aberto, pela vítima não ter sido ouvida, pois a minha versão de
como tudo ocorreu muda algumas pistas importantes. Mesmo com
as investigações em curso e os detetives seguindo uma linha de
assassinato por encomenda, até então não sabiam que outros
suspeitos poderiam estar envolvidos no crime.
Ele assegurou-me que vai chamar minha mãe adotiva e a
família Rockwell para depor e que a linha de investigação terá novos
ajustes. Me sinto aliviado pelo fato de estar bem perto de desvendar
o crime e obter justiça pelo que houve.
George acompanha o delegado e seu auxiliar até a saída, e
agora vem a parte difícil.
Stela arruma os lençóis e seus parentes se aproximam de
onde estou.
— Então você é mesmo o cara da minha irmã? — pergunta o
irmão me encarando firme.
— O cara? — questiono inspirando longamente.
— Sempre imaginei outro tipo de homem para Lela.
— Ah, sim? Ok, ainda bem que é Stela que escolhe quem é
melhor para ela. — Olho seu semblante ao meu lado e percebo
como está desconfortável com a conversa.
— Você acha que é a melhor opção porque é um bilionário e
vai cercá-la de luxo?
Vejo que a abordagem é ácida e protetora, gosto do estilo.
Stela estava segura com os seus, que lutam por ela. Preciso
garantir para ele que não vou roubá-la da família. Percebo o ciúme
de um irmão carinhoso e preocupado. A merda é que o velho não
diz nada, só acompanha.
— Não, Diego. Sou a melhor opção para Stela porque a amo,
independente do meu poder aquisitivo, amo como minha própria
vida e estou disposto a sacrificar qualquer coisa para ficar com ela e
nosso filho.
— Está disposto a deixar seus negócios por uma nova vida
na Espanha? — Seu Alfonso fala pela primeira vez. — Porque mi
Hija não vai ficar longe da família.
— Papi?
— Tudo bem, amor. Posso responder — volto-me a encarar o
homem grisalho. — Sem pensar sequer uma vez. Se for isso que
sua filha deseja.
Vejo um olhar divertido no velho. O filho da puta não vai
facilitar.
— Stela está em risco por sua causa — emenda o irmão.
— Eu sei, e sinto muito por isso. Se eu pudesse mudar as
coisas, eu mudaria.
— Não ajudou em nada colocar a sua fortuna no nome dela.
Dessa maneira, você pregou um alvo em suas costas.
— O que faria em meu lugar? Sabendo que tem um filho e
uma mulher a um oceano de distância, que pode não ver mais, e
talvez não possa proporcionar a sua família a vida que merecem por
direito? Eu não tenho ninguém além deles, Diego. Tudo o que é
meu é deles.
Seu olhar busca a irmã ao meu lado para talvez procurar o
que responder.
— Desculpe o meu filho, Luke. Só estamos muito
preocupados com ela. Ele não quis criar nenhuma situação
desconfortável ao expressar isso.
— Entendo, e está no direito de vocês. Mas considerem que
um homem protege sua família e Stela e Ravi são a minha.
Ninguém toca nela, já tomei todas as precauções necessárias.
Meu sogro dá outro passo aproximando-se mais do leito
estendendo a mão.
— Acho que ganhou mais membros nessa sua nova família.
Aceito o indulto de paz de meu sogro com o cumprimento de
mãos.
— Diego? Cumprimente o noivo de sua irmã — fala ele sem
desviar a atenção de mim. Suspeito que não aguarde contestação
do título de noivo e eu nem tenho intenção de contrariar.
— Bem-vindo a família, Luke Taylor. — Me estende a mão e
eu aceito. — Isso não quer dizer que vou perder minha irmã de
vista.
— Não esperava menos que isso, Diego.
— Bem, acho que é hora de irmos. Hija, você vem mais
tarde?
— Sim, o motorista me leva depois.
Eles se despedem e saem, Stela se desculpa pela forma da
família me tratar.
— Não há o que desculpar, amor. Eles amam você e só estão
protegendo a joia preciosa deles.
Minha amada se aproxima sorrindo feliz.
— Joia preciosa?
— Sim, minha joia. A mais preciosa do mundo.
Recebo seus beijos doces como o melhor presente dos céus.
— Stela, não posso me ajoelhar agora, mas é urgente o que
tenho a dizer.
Ela se espanta preocupada erguendo o lençol procurando
algum problema.
— Está com dor, o que você precisa? Me fala que eu faço.
— Não, amor, ensaiei um pedido, quando te encontrasse na
Espanha.
— Um pedido?
Seguro sua mão como se fosse colocar uma aliança, que não
está aqui.
— Preciso que saiba o quão desesperado estive todo esse
tempo desde que você me deixou. Jamais quero que isso se repita
enquanto eu viver, você é a mulher da minha vida. Não há distância,
ou tempo, ou qualquer pessoa que me impeça de ficar com quem eu
amo. Te amo mais que minha própria vida, me dê a honra de ser
seu marido? Aceita se casar comigo, meu amor? Sei que não é o
lugar ideal, mas não quero perder um segundo mais sem falar o que
sinto. — A emoção volta com tudo, rolando pela sua face
copiosamente.
Demora alguns segundos para que ela pronuncie alguma
palavra, apenas me olha marejando os olhos de emoção, parecem
ser longos minutos de espera pelo ‘sim’. Não resisto e me emociono
com ela. Sua mão solta da minha, deslizando num afago doce em
meu rosto. Seu beijo demorado e carregado de sentimentos, me faz
flutuar nos lábios de veludo e quando se afastam, sinto sua
respiração acelerada enquanto fala baixinho contra mim:
— É claro que me caso com você, eu também te amo,
sempre te amei, meu Luke — suspiro aliviado, secando a lágrima do
rosto delicado.
— Como desejei o som de sua voz me chamando de seu
outra vez, minha pequena, te amo tanto. — Ela sorri emocionada. —
Estou tão ansioso para ter nosso filho nos braços! — Sorrio como
um pateta e a beijo novamente, agarrado a ela.
— Assim que você tiver alta, vamos encontrá-lo.
O dia da minha alta finalmente chegou, Stela arrumou todas
as coisas e meus seguranças levaram as malas para o carro.
George, como combinado, depois dos últimos detalhes acertados,
saiu para comandar a equipe que estão a postos. O plano é entrar
no carro e ir até o hotel, não aguento a ansiedade em conhecer meu
filho. Conforme as horas avançam, percebo Stela nervosa,
apreensiva e preocupada, mexendo as mãos inquietas e verificando
a porta a todo momento à espera do médico. Eu também estou,
confesso, porém, confio que tudo sairá bem. Os últimos detalhes
para partir estão feitos. Após a alta concluída e as recomendações
do doutor, saímos em direção ao corredor.
— Calma, amor, vai dar tudo certo.
— Não estou com medo, Luke.
— Se acontecer o que previ, faça o combinado, não saia do
plano — ela concorda nervosa, a mão segurando a minha está
gelada e trêmula.
— Vai ficar tudo bem, minha orquídea.
Desviamos da porta da frente e saímos pelo corredor lateral
em direção a porta de serviço. Um segurança me apoia pela minha
mobilidade lenta e outro atrás nos seguindo. Vejo os dois que
ordenei para verificar os carros retornando ao nosso encontro pelo
corredor.
— Por que estão aqui dentro? A ordem é aguardar perto dos
veículos, não percam os carros de vista. Andem!
Devia ter segurado George comigo, mas o trabalho dele é
único, só ele pode desempenhar.
Andamos uns poucos metros e chegamos na porta. Do lado
de fora vejo os dois seguranças um ao lado de cada carro como
ordenei. O que nos segue auxilia o outro ao meu lado, pois os
degraus se aproximam para cruzar e sou pesado demais para
apoiar em Stela.
Olho os três SUVs estacionados em linha reta com o portão
do hospital, o do meio é o nosso. Os outros dois serão a escolta.
Precisamos descer esses poucos degraus da plataforma de
carregamento da área de serviço e estaremos seguros no carro
blindado.
Acho que no lapso de segundos de desatenção em verificar
os seguranças, a mão de Stela se solta da minha num puxão rápido.
Quando volto a atenção a ela, Stela está imobilizada pelo braço sob
a mira de uma arma.
— MÃE!
— Agora eu sou sua mãe? Seu idiota! — brada Soraya com a
pistola em punho pressionando o peito de Stela.
— Não faça besteira, mãe. Não é ela que você quer, deixe
Stela ir — ela ri histérica, está alucinada e desvairada pelo rancor.
De onde ela saiu? Não tenho tempo para descobrir ou
encontrar furos no meu plano, preciso tirar o foco de Soraya da
minha mulher.
— Ninguém se aproxima ou acabo com essa vagabunda.
Soltem todas as armas e chutem para cá, agora!
— Mãe, por favor?
— Cala essa boca, seu merdinha mimado! Acha que sou
burra? Uma perua ingênua? Tô planejando isso desde que você
saiu ileso da morte que encomendei. — Sua mão treme,
empunhando o gatilho e eu começo a suar frio.
— Façam o que ela diz! Joguem as armas no chão! Mãe
faremos o que quiser, mas, por favor, solta ela. — Stela está
apavorada e em choque olhando para mim fixamente.
— Pare de me chamar de mãe, seu fedelho, chicano! Acha
que me comove?
— É a mim que você quer, Soraya. Atire em mim se isso fizer
você se sentir vingada — ela ri ainda mais e mira a arma na cabeça
da minha mulher, levando-me ao desespero.
— Não! Foi essa puta que estragou meus planos. Ela roubou
tudo o que é meu. Sei que você passou para ela seu patrimônio, o
meu patrimônio por direito.
Arrisco um pequeno passo em sua direção sem que ela
perceba, na loucura do seu desvario. Preciso fazê-la acreditar que
darei a ela o que quiser.
— Era só provisório, passo tudo para o seu nome, me leve e
deixe Stela ir — ela arregala os olhos surpresa e olha de mim, para
minha mulher que chora silenciosa.
— Fácil assim? Acha que sou otária. Está mentindo! —
Avanço mais um passo.
— Fique onde está ou estouro os miolos dessa maldita! —
Ouço as batidas do meu coração explodindo no meu ouvido como
metralhadoras.
— Tudo bem, ok. Calma, abaixe essa arma. Você sabe que
eu falo a verdade, dou toda minha fortuna por ela, Soraya. É isso
que você quer. Se matar um de nós não terá nada, vai apodrecer na
miséria atrás das grades. Pense, sei que é uma mulher inteligente.
— Sim, sim, eu sou inteligente. Sou mesmo! Você não vai me
enganar! Quero tudo por escrito.
— Claro, vamos para algum lugar que chamarei meu
tabelião, faço a transferência de tudo o que tenho. Só eu e você —
avanço mais um passo ficando a três metros dela.
— Você não vai me enganar, eu mato você, garoto!
— Eu juro, Soraya. Mira em mim. Tô aqui, sou sua garantia
de fuga, deixe-a ir.
A mulher louca me olha com um brilho cruel nos olhos
vidrados, ela está fora de si. Mexendo a arma como um brinquedo,
fazendo com que eu implore aos céus por uma salvação. Torcendo
para que George tenha antecipado os passos dessa maluca.
— Vamos sair daqui, Soraya. Em instantes vão dar falta de
nós e acionarão a polícia. Solte Stela.
— Polícia? A polícia está aqui? — Ela gira a cabeça à
procura deles e falo silencioso a minha amada que se acalme.
— Eles chegarão a qualquer momento, me leve, vamos com
meu carro, é blindado. Você estará segura.
Nesse momento ela ouve meu apelo e solta o braço de Stela,
que corre para trás de um veículo estacionado à distância. O meu
alívio é evidente, e mesmo com a arma apontada para o meu peito,
não tenho medo algum. Stela está segura e amparada, vou protegê-
la até a morte. Meus passos em direção ao veículo são vacilantes e
lentos, com ela atrás de mim mirando minha nuca.
— Onde está a chave do carro?
— Está com um dos seguranças.
— Mande jogá-la para cá. Você dirige.
— Quem tem a chave do blindado, jogue para mim! — recebo
a chave acionando o controle.
— Não entre, até que eu esteja dentro do carro, não tente
nada, Luke ou acabo com você e nunca verá seu filho, pois vou
atrás dele se isso der errado. — Uma merda que vai, louca
desgraçada, se eu morrer você morre também. Penso comigo
segurando a porta e aguardando a desvairada circular a frente do
carro segurando a mira em mim.
Fico parado, quase sem respirar, acompanhando o andar
agitado dela com o braço esticado, andando ao redor do veículo.
Nesse instante parece até que o vento para de soprar, dando
passagem a munição do rifle de longa distância, que atinge de
forma letal a cabeça, estourando os miolos de Soraya, em frente ao
veículo. Um baque surdo é ouvido pelo seu corpo inerte indo ao
chão, em meio ao sangue e cérebro esfacelado. Solto a tensão do
corpo expulsando o ar longamente. Corro um pouco vacilante em
direção a minha mulher agachada atrás de um carro estacionado,
soluçando desesperada.
— Stela, amor? Acabou, você está salva.
— Luke! — É a única coisa que ela pronuncia quando desaba
em meus braços no meio fio.
A adrenalina nos faz chorar juntos, abraçados por alguns
minutos até nos acalmar.
— Você está bem? — pergunto afagando seu rosto.
— Estou, e você?
— Também estou, fiquei com tanto medo que ela atirasse em
você.
— E eu com medo de te perder.
— Mas acabou, vamos entrar e esperar a polícia chegar.
Além da polícia, precisar de esclarecimentos sobre os
eventos, minha mulher também está em choque. Dentro do hospital
começamos a nos acalmar da adrenalina e o desfecho dos eventos.
Da minha parte não digo que foi fácil, ver a mulher que conheci a
vida inteira como minha mãe, se revelar uma pessoa totalmente
diferente, a vilã da minha vida pelo dinheiro. E depois, vê-la ser
morta e saber que de alguma forma eu arquitetei essa morte é
confuso, e a confusão se dá por não me sentir culpado.
O que Soraya não sabia, é que os carros foram estacionados
de uma maneira que qualquer atirador de elite, posicionado no
prédio a duzentos metros de distância, não erraria o alvo nem que
estivesse vendado. A minha sorte é que tenho um desses
trabalhando para mim há muitos anos. George Deal, foi sniper
durante uma década na juventude, decidiu abandonar a carreira por
um fato que ocorreu em sua vida, e foi trabalhar com meu pai.
Deixou a atividade perigosa, mas nunca deixou de treinar e manter
atualizada sua mira.
Na realidade, não sabia que seria Soraya a vir nos matar,
apenas intuí que alguém viria. Portanto, conversei com George
sobre meu receio disso acontecer e ele me ofereceu um plano, que
nenhum de nós poderia garantir sucesso. E ousadamente ela
atentou contra a vida da minha mulher. O que eu faria se ela
conseguisse? O amor da minha vida poderia ser tirado de mim, na
minha frente e isso eu não podia permitir. Então não, não me sinto
culpado por naquele momento fazer a vilã cruel circular aquele carro
e entrar na mira de George. Nem Stela, a única que poderia me
julgar, não me julga ao ouvir os meus receios. Minha amada apenas
escuta meu desabafo e me consola.
Depois desse tempo e dos relatos ao delegado que veio ao
local periciar e fechar o inquérito. Já passa das oito quando somos
liberados. Seguimos imediatamente para o hotel. Stela atendeu
diversas ligações da família, pois acompanharam os veículos de
comunicação relatando a tragédia.
— Ansioso? — pergunta ela ao sairmos do veículo diante do
hotel.
— Nem imagina o quanto.
Ela agarra minha mão e andamos apressados pelo corredor
acarpetado.
— Amo você — sussurro no ouvido dela.
Seu sorriso sincero sempre me arrasa.
— Amo mais. Tô tão feliz que estamos juntos e seguros.
— De agora em diante, estarei onde você estiver.
Ganho um beijo singelo e um lindo sorriso hipnotizante.
Entramos na suíte dos meus sogros e nos acomodamos na
saleta esperando minha sogra trazer o bebê. Stela descalça as
sandálias apressada ao avisar que chegamos. O pai e o irmão ao
seu lado, preocupados pelo que houve, interrogam se está
realmente bem, mas Stela é a mulher mais forte que conheço. O
que ela quer é deixar o passado para trás e recomeçar comigo a
nossa história.
— Olha quem chegou, Ravi? A mamãe — A senhora de
terninho rosa me olha de lá. — E o papai.
— Filho! Eu trouxe seu papai. — diz minha amada.
O menino abre os olhinhos quando ouve a voz da mãe e a
ouço conversar com ele, pegando o bebê nos braços. Ainda
paralisado próximo à poltrona vendo a cena mais linda do mundo e
ouvindo o riso feliz dela. Nem parece que vivemos quase uma
tragédia horas atrás. Uma voz grave próxima a mim me desperta do
transe.
— Vá até lá conhecer seu filho, teremos tempo para nossas
conversas — diz Diego.
Aceno e faço o que ele diz, e quando me aproximo, não me
contenho chorando de emoção.
— Posso pegar ele?
— Claro que pode, papai — me entrega Ravi sorrindo
docemente.
Eu sou pai! A percepção disso agora é real.
Ao acomodar o anjinho junto ao peito, sinto um amor que
jamais imaginei sentir na vida. Ele tem o nariz da mãe e os meus
cabelos. Está sonolento e abre a boca de sono me fazendo sorrir
em meio às lágrimas. Me vejo conversando com meu menino como
se ele me entendesse.
— Ei filho, seu papai e sua mamãe estão aqui agora. E eu
estava maluco para te conhecer. — Ele é tão perfeito, tão lindo,
igual a você — digo para minha mulher que nos abraça. Impossível
não derramar lágrimas nesse momento. Parece que minha vida só
faz sentido agora. — Te amo, meu filho — beijo a testa suavemente
e quando olho para as pessoas próximas a nós, estão emocionadas
também.
Depois do momento família, de conversar um pouco com os
Salvage e de Stela alimentar nosso filho, fomos descansar sozinhos
no quarto reservado dela.
Agora na cama aconchegado a minha amada, depois de um
banho relaxante na banheira da suíte. Juntos imersos no olhar um
do outro, enquanto o bebê dorme em seu berço. Conversamos mais
sobre a descoberta da minha genealogia. Nossos arrependimentos
e medos. Stela me pede desculpas por fazer o que fez, ter fugido
sem falar comigo.
— Compreendi sua atitude, não se culpe mais. Admito que
fiquei devastado quando descobri. Triste em não acompanhar a sua
gestação. Teria sido maravilhoso, ver meu filho crescer no ventre da
mulher que eu amo, realizar seus desejos da gravidez.
— Eu sei. Depois do nascimento tinha planejado entrar em
contato. Mas confesso que o receio de não receber seu perdão me
assombrava. Ravi tinha direito de conhecer o pai mesmo que você
não quisesse a gente, eu juro. Mas naquela noite saí desesperada,
sua mãe ela...
— Ela não era minha mãe, não vamos trazer as tragédias
para o nosso recomeço. Me prometa que teremos mais um filho
logo? — Seu olhar me encara seriamente.
— Posso pensar? Passei por um parto de emergência, tenho
pavor de passar por aquilo novamente. Senti tanta aflição aquele
dia, eu só queria você lá comigo, foi horrível pensar que poderia
perder meu filho, o nosso pedacinho de amor.
Imaginar que a pessoa mais importante da minha vida sofreu
sozinha, sem mim, o pai da criança, que podia cuidar dela, deixá-la
segura e tranquila, que fui privado disso, me aperta o peito em
agonia. Afago seu rosto aninhando-a em meu pescoço.
— Nunca mais me afasto de vocês. Vou organizar tudo e
ficaremos um tempo na Espanha. Amanhã mesmo vou pedir sua
mão ao seu pai e daremos entrada nos papéis o mais rápido
possível, e quero colocar outro bebezinho aqui dentro. — Toco seu
ventre e beijo a boca sorridente.
— Jura, Luke? Vamos nos casar lá?
— Sim, e nos mudar para uma casa enorme, um castelo para
minha rainha, o que acha, minha orquídea?
Sinto seu sorriso contra minha pele e lambidinhas marotas de
gata manhosa.
— Mal posso esperar. Mas quero ajudar com seus negócios,
não nego que um tempo na Espanha nos faria bem, mas seu
império é aqui. Fico com você em Los Angeles o tempo que quiser,
podemos intercalar temporadas em cada país.
— Vamos nos adaptar gradualmente, não se preocupe agora.
— Queria tanto retroceder e fazer tudo diferente.
— Tudo bem, minha pequena, você fez pelo nosso filho o que
achou certo, chega de se martirizar, estamos juntos agora, não vou
para lugar algum sem você.
Stela começa beijar minha a boca, depois os olhos, por fim o
rosto todo, me fazendo rir.
— Quando você falou sobre ter outro filho logo, de quanto
tempo estamos falando?
— Por que, Stela?
— Porque não tomei mais pílulas desde que engravidei e
depois que nosso filho nasceu não retomei com os contraceptivos,
então meu bem, daqui uns dias quando você se recuperar
totalmente teremos que usar proteção.
Faço uma cara amuada, odeio preservativo com ela. Mas
qualquer sacrifício é nada, perto do amor da minha vida ao meu
lado. Aliso o rosto redondo e perfeito que me olha com paixão.
— Ainda faltam uns dias para o meu corpo se recuperar
totalmente do coma induzido. O médico disse que cada organismo
responde de uma maneira diferente, então acho que vai dar tempo
de nos preparar para nos amar em segurança até você se sentir
pronta para outro bebê. Eu não me importo de usar outras partes do
meu corpo para te satisfazer até aquela parte que você gosta se
recuperar.
— Está me saindo muito romântico CEO dos cassinos.
— Me transformo em qualquer coisa para ter a minha deusa
ao meu lado. Seu súdito está sempre pronto para te servir, minha
rainha.
— Você quer me fazer chorar novamente com essas palavras
bonitas?
— Não, minha delícia, quero só te fazer sorrir pelo resto de
nossas vidas. Amo você, mi corazón, mi vida!
— Te amo meu Luke. É lindo ouvir você falar meu idioma.
— Você que é linda, e é toda minha.
Beijo minha mulher com a certeza do sentimento infinito que
tenho por ela. A emoção do “felizes para sempre”, não permitiu cair
a ficha de que tudo acabou bem. Muita emoção e saudade,
adormecemos só na madrugada abrigados no corpo um do outro. O
único lar que idealizei é nos braços de minha Stela. Nos braços de
Vênus encontrei minha paz.
EPÍLOGO

Nossa vida de casados é uma lua de mel sem fim. Luke é o


homem mais atencioso, cuidadoso e romântico que existe. Daqueles
que fazem declarações e te surpreendem com flores, palavras
bonitas ao pé do ouvido e convites para dançar. Um sonho que
realizo diariamente.
Realmente os planos de alternar temporadas em cada
continente foram executados e o benefício para a nossa vida
conjugal foi maravilhoso. Metade do ano passamos na América e a
outra metade na Europa. Luke conseguiu uma maneira de
administrar seus negócios à distância e desse modo é possível viver
seis meses em Madri. Minha carreira como escritora elevou ainda
mais minha autoestima, e ajudei muitas mulheres a se inspirarem a
buscar o seu próprio prazer sem culpa. Afinal, ser uma mulher fora
dos padrões da sociedade não te faz ser menos ou inferior a
qualquer outra. Sou a prova viva de que precisamos nos amar
primeiro para depois estarmos prontas para dividir a vida com
alguém.
Pensando seriamente sobre isso, comprei uma editora para
publicar livros para o público feminino, que abordassem esse tipo de
tema, entre tantos outros como tabus e fetiches e o conhecimento
do próprio corpo e desejos. Contratei alguns profissionais brilhantes
para o meu casting. E minha empresa é um grande sucesso. Todo
esse processo foi com o apoio de meu marido orgulhoso. Não tenho
dúvidas que a vida sempre recompensa o esforço. Mas não
podemos esquecer a diversão peculiar que amamos. Os jogos de
prazer que compartilhamos esquentam e surpreendem nossa
relação. Não importa em qual de nossas casas estamos, aqui na
Espanha ou em Los Angeles, nosso ritual de manter o BDSM na
nossa vida foi uma escolha mútua.
Atualmente, estamos vivendo a época de verão na Europa. E
o calor nessa época do ano em Madri é infernal. Facilmente a
sensação térmica é de quarenta graus. Acabei de sair de um banho
demorado com meus sais e óleos perfumados para aguardar a
chegada de meu amado. Estou no quarto secando meu cabelo
ondulado e modelando com cachos que sei que meu Luke adora.
Meu amado marido e Diego, meu irmão, se tornaram amigos
e volta e meia saem juntos para escolher peças para o novo acervo
da galeria de artes plásticas, o qual é o atual investimento da família
Salvage. Enquanto, ele não chega em casa, arquiteto em minha
mente os brinquedos para nossa sessão semanal. Fazemos amor
quase todos os dias, mas nossos jogos de dominação somente uma
vez na semana, quando nosso filho vai para casa dos avós, e eu
dispenso a equipe de funcionários, sendo o caso desta noite.
Assim que termino de alinhar os cabelos como quero, vou em
direção à copa. Para essas ocasiões temos uma masmorra em cada
uma de nossas mansões pelo mundo, bem equipadas e luxuosas,
no entanto, esta noite o cenário para a sessão com cordas tem que
ser aqui. A mesa é mais curta e estreita, de madeira resistente e
com amplo espaço para o dominador girar ao redor dela e trabalhar
os nós. E, além disso, é feita na altura sob medida para o ápice
gostoso da penetração. As pernas são torneadas de uma maneira
que é mais fácil prender as cordas sem o risco de escorregar
durante a cena.
Nos descobrimos switchers, ora dominamos, ora desejamos
ser dominados, porém, somente um com o outro. Exclusivos,
possessivos e ciumentos.
Preparei tudo o que eu desejo. A parte submissa tem o poder
de escolha e hoje é minha vez. As cordas de fibras naturais que
meu marido separa e trata com cera de abelha, tesoura de ponta
redonda e diversos vibradores. Alinho todo o material no canto ao
pé do móvel e busco as velas aromáticas que guardo para essa
ocasião. Coloco um castiçal com duas velas em cada canto do
cômodo. Já que é rodeado por armários de pouco mais de um metro
com pia embutida, refrigerador e tudo o que minhas ajudantes
precisam para nos atender. A meia luz essa sala fica perfeita. Gosto
dessa parte da casa, é ideal para uma cena, pois, possui poucos
móveis nela. Acendo todas as velas e o aroma de cereja invade
meu olfato, preenche rapidamente o cômodo bem do jeito que
planejei.
Envio uma mensagem no celular apenas com a foto dos
brinquedos e a legenda:

“Sua Vênus o aguarda para brincar, Mestre Taylor”

Em segundos recebo uma figurinha de diabinho. Solto um


sorriso satisfeito para mim mesma. Luke certamente vai se apressar
no trânsito de volta para casa.
Algum tempo depois ouço o alarme do portão eletrônico e me
apresso em despir a camisola de seda e me acomodar no chão na
posição servil. Ajoelhada, com pernas separadas, e as palmas das
mãos viradas para cima repousando sobre as coxas, como uma boa
submissa deve se portar, esperando pelo comando do dono. Olho
para os desenhos das minhas palmas, concentrada no som da
chegada de meu marido, que a cada segundo vai ficando mais alto.
Os passos apressados no hall de entrada, no assoalho de
madeira polido, fazem um compasso com as batidas do meu
coração. Essa apreensão é porque pela primeira vez estou
recebendo meu Dom nessa posição de submissão. Jogamos muitas
vezes, mas a Domme que habita em mim ainda tinha um fio de
resistência em me dobrar, no entanto, na última sessão que o
dominei, Luke se entregou de tal maneira que fez inveja ao meu
lado submisso. Me agradou tanto que desejo proporcionar o mesmo
a ele.
— Puta merda! — exclama ele na entrada da copa.
Ouço uma inspiração profunda, ele ama o perfume de cereja
e incorpora muito rápido o personagem dominante quando está
nessa atmosfera. Adora quando preparo com cuidado o ambiente. O
mistério da baixa iluminação também me excita.
Seus passos cessam. O molho de chaves tilinta ao pousar
sobre o aparador ao lado da porta. Os sons do andar do dominador
são suaves, lentos e torturantes, provavelmente incorporou aquele
deus que conheci no clube Volcano quando encenou. Parece até
que ele ganha alguns centímetros na altura pela postura altiva que
exala. O sorriso já não é mais doce, pelo contrário, é perigoso como
se ameaçasse sem palavras. O olhar castanho escuro se transforma
em duas joias negras afiadas como adagas.
O perfume acentuado habitual do poderoso Mister Taylor se
mescla com o aroma das velas que acendi, à medida que se
aproxima.
Gira ao meu redor duas vezes, que a mim parecem dez pela
lentidão. É o predador admirando a presa à sua espera para ser
devorada. Observo os sapatos lustrosos e a calça social escura
diante de mim há centímetros de distância.
— Levante-se! — aceito o apoio da mão estendida.
— Olhe para mim! — obedeço ao comando da voz rouca e
encaro seu olhar de desejo que me admira descendo lentamente,
escaneando cada parte de mim como se me desenhasse em sua
mente escolhendo por onde começar, provocando faíscas na minha
pele nua, fazendo meus lábios se abrirem buscando um fôlego a
mais.
— Não lamba nem morda os lábios! Somente eu posso fazer
isso!
Apesar de amar essa voz baixa e autoritária que me deixa
maluca, fecho imediatamente a boca para não arriscar desobedecer.
Meu peito sobe e desce respirando pesado, nervosa e ansiosa pelo
que meu dominador fará comigo.
— Junte as mãos atrás e me ofereça, mostre os seios!
Ai, ai, já sinto a umidade aumentar entre minhas pernas.
Obedeço empinando os montes quase encostando em seu peito.
Ao retornar a conexão dos olhos cintilantes aos meus, Luke
se inclina no meu ouvido e sussurra:
— Tudo isso é pra mim? — Chego até a fechar os olhos pelo
arrepio da voz baixa e sexy.
— Sim, senhor.
— Abra os olhos!
Seu polegar acaricia meus lábios e penetra minha boca, me
fazendo chupá-lo. Imagino outra coisa no lugar do dedo e sugo com
vontade.
— Humm! — murmuro observando como admira hipnotizado
o movimento dos meus lábios sugando seu dedo.
Em seguida afasta o polegar e pousa sobre meu mamilo,
rodando o dedo ao deslizar a carícia molhada sobre ele. Deus! É tão
gostoso!
Luke se inclina próximo ao meu pescoço e roça a barba na
pele sensível, bambeando minhas pernas na hora. Juntando o
indicador ao polegar, belisca meu seio e sussurra:
— Gosta disso? Capriche na resposta para ganhar a
recompensa!
A lufada de ar quente do hálito na pele arrepia cada parte do
meu corpo e uma fisgada em meu ventre precede o que eu já sabia.
Esta noite estou completamente ferrada!
— Sim, meu dono. Amo ser seu brinquedo...
A velocidade do som da minha resposta e a junção de seus
lábios nos meus é praticamente supersônica. Uma mão possessiva
agarra firme minha nuca com a pegada no cabelo que abala
qualquer percepção que eu tenha. A outra, cobre o seio apertando
com luxúria. Não posso tocá-lo, ainda não fui permitida, portanto, ele
manipula meu corpo da maneira que quer. Sua língua habilidosa
traceja meus lábios um de cada vez para depois dar lugar às
beliscadas provocantes dos seus dentes perfeitos. Lambe outra vez
com vontade, mas molhado na medida certa para beber meu sabor
e entregar o dele. O gostinho das balas de gengibre que costuma
comer misturadas ao nosso sabor é delicioso. A brincadeira de
lamber rapidamente se torna voraz e incendiária. Meus seios pesam
e os mamilos doem excitados pela ansiedade da língua quente de
Luke neles. Entretanto, ele toma seu tempo com o beijo, pedindo
passagem com sua boca e língua explorando e tomando cada parte
da minha como um homem faminto de eras. Me tira totalmente o ar,
o juízo e qualquer pensamento que não seja ele. Ao me deixar
respirar parece até que estou um pouco tonta pela intensidade.
Sua outra mão se junta na minha nuca, guiando para que eu
permita seu nariz explorar minha pele, cheirando meu pescoço até a
raiz dos cabelos e descendo para o colo, pega uma mecha dos fios
nos dedos e inspira fundo.
— Eu poderia gozar só cheirando você, mulher! Juro por
Deus! Seu perfume é como uma droga que me alucina — cheira
esfregando o rosto todo, me fazendo ronronar. — Quer ser
amarrada, meu brinquedo? — pergunta enquanto lambe meu
pescoço.
Ah meu Deus! Me sinto fraca, falhando as pernas pelos
chupões quentes na pele arrepiada.
— Sim, senhor. — murmuro quase sem voz.
— Repete a resposta bem manhosa! — sorrio porque Luke
adora quando o chamo de dono com voz doce.
— Sim, meu dono. Sim, mestre, me amarre! — Sinto
empapar minha boceta com o som das lambidas e beijos descendo
pelo pescoço e colo.
A mordida na parte de cima do meu seio é violenta, forte,
mas não a ponto de romper a pele. Gosto de sentir a pressão dos
dentes que faz conexão com meu sexo pulsando. Mas rapidamente
a dor gostosa é anestesiada com uma lambida que percorre rápido
até chegar ao mamilo e abocanhar para sugar de maneira voraz.
Assim como as duas mãos deslizando pelas minhas costas e se
alojando agora na minha bunda, agarrando com gosto. Mister Taylor
dá atenção para os dois seios igualmente, deixando-os rubros de
tanto chupar e eriçados de excitação.
O meu coração pulsa agora entre as pernas, implorando por
Luke, qualquer parte dele que seja e minhas coxas dão sinal ao
esfregar uma na outra para obter alívio. Estou com pouco equilíbrio
pela posição dos braços nas costas e fraca pelo tesão que as
carícias provocam e, com isso, quase vou ao chão.
— Solte as mãos e me abrace.
Faço o que ele ordena jogando os braços em seu pescoço.
Meu dominador segura minha bunda me levando até ele
esfregando meu centro na protuberância sob a calça. O atrito da
calça esfregando a comichão no meu sexo não ajuda a aplacar a
necessidade. Esfrega ao ponto de umedecê-la com minha excitação
e lambe os próprios lábios, me deixando maluca.
— Ah... senhor...
Preciso de alívio, gozar e ser comida, pelo amor de Deus!
— Está encharcada para mim, meu brinquedo? Peça e eu lhe
darei alívio.
A boca próxima à minha é uma tentação irresistível.
— Por favor... Senhor, me dê alívio.
O sorriso diabólico afasta meus braços e dá um passo para
trás tirando os sapatos com os próprios pés e seus olhos tomam
uma forma selvagem, como se eu fosse um coelhinho e ele o
guepardo em modo caçador correndo pela campina.
— Abra e tire minha camisa!
Me apresso a desabotoar cada um dos botões da camisa
branca enquanto suas mãos alisam meu quadril. Desenham círculos
lentamente com a ponta dos dedos e os meus se atrapalham com a
tarefa. A vontade de tocá-lo é incontrolável. Uma palmada na lateral
da bunda me sobressalta. Uau! Me dê mais disso! Deslizo as mãos
pelo peitoral proeminente sentindo o calor e a textura macia da pele
lisa e musculosa.
— Não mandei tocar meu corpo, Vênus! Tire a camisa sem
tocar.
Engulo seco a ordem e continuo a desabotoar, sem parar,
desviando para os dedos ansiosos. Meu queixo é erguido para olhar
nos olhos do meu dono. Meu marido me encara fixamente
umedecendo os lábios com um sorriso sacana. Ele está adorando
me ver indefesa.
— Vou te amarrar naquela mesa ali com as pernas bem
abertas, para ver essa boceta escorrendo por mim.
— O que mais fará comigo amarrada, senhor? — me atrevo.
Meu Dom continua mantendo a conexão visual quando puxo
o tecido branco de dentro da calça. O sorriso que me derrete, alça
os lábios de lado, maroto e predador. Seu olhar escuro como duas
pedras Ônix brilham sob a volúpia da luz de velas.
— Farei tudo o que eu quiser, você é minha, — acompanho
com o olhar a roupa jogada longe de maneira impaciente. Mister
Taylor agarra novamente minha nuca desferindo uma lambida
descarada em minha boca, deslizando os dedos grossos da outra
mão na minha boceta escorregadia, dedando lentamente.
Admirando de perto meu rosto e como fecho os olhos gemendo e
sorrindo.
— Oh! Deus... Sim... Sim — gemo desesperada.
— Safada gostosa, puta que pariu! Abra os olhos! Essa
bocetinha deliciosa será meu jantar. Quero tudo de você esta noite,
Vênus.
Meu corpo quase chega ao limite, em pé trêmula sob o
comando do poderoso CEO dominando cada reação que provoca
em mim. O aroma da colônia máscula de cedro, misturada com o
cheiro almiscarado da sua pele, causam uma euforia gigantesca. O
hálito quente respirando pesado enquanto me fode com seus dedos,
quase acaba comigo. O som molhado da minha carne recebendo,
ansiando seus dedos são excitantes em grau superlativo.
— Ah... Mais...!
Involuntariamente começo a rebolar na sua mão, tirando dele
silvos de prazer.
— Essa gulosa quer o quê?
Os dedos resvalam esfregando meu clitóris em círculos, está
vindo, vindo com tudo o prazer absoluto. Prendo os lábios com os
dentes resmungando algo incompreensível.
— Não goze agora! Não respondeu a minha pergunta, o que
essa gulosa molhada quer?
— Seu pau… senhor. Por favor.
— Boa menina, vou dar tudo o que pedir.
Luke imediatamente cessa as carícias, me vendo contorcer o
quadril em busca do orgasmo. Mordo o lábio alucinada, mas, não
ouso pedir. Ele está no comando e quando meu marido se afasta,
prontamente aguardo suas instruções disfarçando meu desespero.
Luke me conduz até a mesa:
— Sente-se aqui! — espalma a mão sobre o móvel.
Faço exatamente como ordenado com sua ajuda ele me
posiciona, segura minhas pernas colocando-as sobre o tampo.
— Deite-se de bruços!
Giro e me acomodo ajeitando meus seios para não sentir dor
ao esmagá-los. Está gelado e faz minha pele nua arrepiar. Confesso
que estou ansiosa para saber como ele quer me ver e quais
amarrações fará em mim.
— Relaxe, se debruce e afaste os braços e as pernas, para
que eu possa te sentir melhor — ordena umedecendo os lábios.
Obedeço prontamente. Fico apoiada com a cabeça de lado
sobre a madeira, mas as mãos e pulsos esticados ficam para fora
da mesa construída sob medida, assim como as panturrilhas
também. Acompanho Luke girar ao redor da mesa apenas me
admirando, talvez planejando a arte no meu corpo. Depois de uma
volta inteira vai em busca de mais duas cordas além das que deixei
no canto ao pé do móvel e começa a trabalhar com elas. Passa uma
delas em dobra dupla por baixo do tornozelo fazendo um nó firme,
depois flexiona minha perna de modo a quase tocar minha bunda
com o calcanhar e amarra para que se mantenha assim. Procede de
igual maneira na outra, sempre confirmando a folga de um dedo
para a circulação não ser comprometida.
— Vou amarrar os nós e preciso que avise se estiver
machucando. Como está?
— Muito bem, senhor.
Fico atenta e cheia de expectativas com o que virá a seguir,
presto atenção em cada movimento que está em meu alcance.
Aberta e arreganhada sobre a mesa, Luke me puxa até a borda e
testa o encaixe de seu quadril. Em seguida passa por baixo do meu
tronco outra corda dupla fazendo um nó bem no centro da lombar, é
gostosa a pressão nesse ponto. Olho sobre o ombro e a outra ponta
balança solta. Onde será amarrada?
Atento a cada uma de minhas expressões de curiosidade,
Luke amarra com toda sua experiência na arte das cordas meus
pulsos, um de cada vez. Sinto seus dedos quentes em minha pele
testando, deixando um espaço adequado para não ficar apertado
demais. A fibra fazendo a pressão do nó por dentro do pulso parece
estimular acelerando a pulsação. A ponta sobressalente é amarrada
por baixo nos ganchos previamente afixados a mesa.
— Está com os braços confortáveis, Vênus?
— Sim, senhor... — Relaxo minha cabeça sob a mesa,
confiando em meu dominador para o que tem em mente.
Me vejo de braços abertos sobre a madeira tal qual o homem
venusiano de Da Vinci com a diferença das pernas flexionadas para
trás. As virilhas estão forçadas ao máximo abertas.
É completamente nova essa posição para mim, nunca
fizemos esse jogo específico, no entanto, é muito excitante estar
impotente nos movimentos. Não há expectativa alguma que eu me
mova ou aja de uma forma fora do roteiro do artista dominador e é
por isso que a pessoa submissa se sente tão perfeita moldada como
o dono deseja. Fecho os olhos quando meu cabelo é acariciado.
Meu marido amarra a ponta da corda que sobrou do quadril em um
rabo de cavalo improvisado fazendo minha cabeça se elevar. Meu
corpo está arqueado agora.
— Relaxe, você está perfeita. Sua palavra de segurança?
Lembra?
— Sim, senhor.
— Qual é?
— Orquídea.
— Precisa dela?
— Não, senhor.
Fecho os olhos enquanto aproveito a leve pressão em meu
couro cabeludo, percebo que foi amarrado de forma desordenada,
pois alguns fios mais curtos grudam na minha testa suada.
Entro em êxtase ao movimentar a cabeça, é como se ele
puxasse meu cabelo e, simultaneamente, aperta meu ventre pelo
roçar das amarras na cintura e quadril. E cada vez fico mais
molhada pelo atrito gostoso, ativando cada célula do meu corpo.
— Como está? — pergunta ele.
— Perfeitamente bem.
Sinto aos poucos a respiração aumentar à medida que os
nós, ficam completos. Cada um feito sobre um ponto exato de
pressão no meu corpo. Deixando tudo aflorado, se uma pena tocar
minha pele vou sentir cada centímetro por onde ela passar como se
fosse uma vareta de eletrochoque. A dorzinha é gostosa em meus
pulsos e virilha, por estar completamente esticada e debruçada
sobre a mesa e mais excitada em expectativa no que virá a seguir. A
sensação é de entrega ao sentir meu corpo totalmente imobilizado.
As fibras das cordas são como as mãos de meu amante. Me
prendem firmes e possessivas.
Ouço seus passos ao redor da mesa admirando seu trabalho.
Dá duas voltas pelo espaço circulando lentamente ao meu redor.
Cada vez que chega na minha frente olha dentro dos meus olhos
tão intensamente me fazendo ofegar de antecipação. Descobri com
o tempo a predileção do CEO poderoso não só por dominação, mas
por shibari. Quando se afasta em direção aos meus pés, é um misto
de curiosidade e apreensão sobre o que ele vai fazer com meu
corpo.
De supetão, sinto uma mordida na bunda e um tapa estalado
que me faz gemer alto. Parece que sinto a dentada na perna toda se
intensificar pelas cordas prendendo minha coxa. A impressão que
tenho é que o nó no tornozelo foi apertado, mas não. O dominador
continua minha tortura sem tocar nas cordas.
— Ah, nossa... Meu Deus!
A língua quente desliza pela minha costela e a pontada vem
na lateral do seio espalmado no tampo me fazendo tremer e sorrir.
O Dom desliza a mão nas minhas costas até a base da bunda
lentamente, depois deixa um rastro de beijos onde a mão passou
torturando mais a mim do que a ele com a preliminar.
Ouço seus passos se afastando e tento olhar. Conforme
movimento a cabeça sinto o repuxar prazeroso em minhas
madeixas, deixando-me ainda mais desejosa.
Escuto o farfalhar de roupas indo ao chão e umedeço os
lábios por imaginar a calça social sendo tirada revelando o corpo
que eu amo. O pau cheio de veias, enorme, grosso e com a cabeça
inchada para me tomar. Luke aparece diante de mim com uma
garrafinha de água gelada, só de cueca boxer preta. Está tão pronto
que a cabeça desponta para fora do tecido, como um doce na vitrine
da confeitaria perto do seu umbigo. Vermelha, inchada e brilhante
pelo líquido ansioso que escapa dali. Está pronto para ser devorado
por mim e essa constatação me faz estalar os lábios. Ouço uma
risada baixa e olho para seu rosto divertido bebendo água,
molhando o queixo barbado e pingando nos gominhos do abdômen,
minha boceta começa a pulsar no compasso que o pomo de Adão
dele faz os movimentos ao engolir.
— Está com sede?
— Sim... Senhor. — Minha própria voz está rouca e falhando.
Ele se aproxima despejando água com sua boca na minha,
bebo sedenta não somente do líquido refrescante que escorre em
nossos queixos, mas dos lábios frescos que chupam os meus em
cada gole compartilhado. Bebemos toda a água da garrafinha aos
beijos refrescantes.
Ao se afastar, seu olhar está nublado de desejo, ele não
pisca enquanto observa meu rosto, conectando-se com a minha
vontade de ser tocada, possuída, que me faça totalmente sua nessa
mesa.
— Agora está pronta para beber de seu dono, Vênus. — Meu
sorriso é gigante ao olhar a escultura diante de mim despindo a
cueca com movimentos controlados, acariciando o pau duro até a
cabeça molhada de pré-gozo, com a cara mais safada do mundo.
Meu cérebro pisca em néon, me dá, me dá!
— É isso que quer?
— Sim, senhor. — Me surpreende eu ainda ter voz. A
adrenalina do jogo é como um redemoinho de vento rodando as
folhas de outono em seu vórtice. — Por favor...!
Estar presa e impotente nesse momento aguardando algo
que normalmente eu pego quando quero é um pouco frustrante, no
entanto, sei que a recompensa será maravilhosa. Tento relaxar os
músculos à espera do presente do meu dono que se aproxima
lentamente, para torturar.
— Boa menina!
Ele afasta os fios teimosos da minha testa e com o pau
acaricia minha bochecha suavemente tracejando com o líquido até
chegar nos meus lábios.
— Abra a boca!
Brinca com ele nos meus lábios lambuzando com o líquido
brilhante que escapa, salgado, quente e abundante. Molha e esfrega
a cabeça macia na minha boca.
— A língua para fora, parada!
Bate a carne quente na minha língua, nos lábios e na cara
antes de empurrar a lentamente para dentro. Me empalando e
gemendo. Solto grunhidos abafados de prazer, lacrimejo quando
engasgo, mas quero mais, quero tudo e me esforço para isso. Luke
força minha cabeça com a mão e o couro cabeludo arde, a corda do
quadril estica me fazendo elevar a bunda na tentativa de alívio.
— Boca deliciosa do caralho! ... Isssso... Fode!
Ele fode minha boca com vontade, o vai e vem dos seus
movimentos faz as cordas que me prendem segurar meu corpo no
tampo da mesa, e a pressão gostosa nos membros põe uma fricção
excitante sobre a pele como se Luke estivesse com suas mãos
enormes sobre cada parte onde os nós estão amarrados,
tornozelos, coxas, quadril, cabelos e pulsos. E seu pau me
engasgando, esticando meus lábios com sua grossura exagerada
remete a sensação de pertencer totalmente a ele. Estou em transe
delirando de felicidade por ser tudo o que ele precisa e deseja.
— Abra os olhos para ver o prazer que me oferece.
Obedeço, com os olhos lacrimejando pelo esforço dos
movimentos bruscos de chupar seu delicioso comprimento e o
repuxar do meu cabelo. A baba escorre para suas bolas e minha
excitação entre as pernas pinga no tampo da mesa. Luke está
molhado de suor, seu corpo brilhando do jeito mais esplendoroso
que um corpo masculino pode brilhar. As gotas rolando pelo
abdômen trincado provoca um frenesi em lamber e sentir o sabor do
corpo todo e não só do sêmen jorrando na minha garganta. O
cabelo escuro grudado na testa, seus olhos castanhos conectados
aos meus num diálogo de prazer surreal fazem meu centro formigar.
Seus lábios cheios gemendo meu nome e o corpo todo em
espasmos de prazer é um delírio fantástico que estimula cada célula
viva do meu organismo.
— Ah... Minha dorei[40]! Você é tão perfeita! — murmura ele
assim que a última gota é sugada por mim.
Depois disso, Luke se afasta andando até a ponta oposta da
mesa. Toca minhas costas úmidas com a ponta dos dedos e o é
suficiente para que eu anseie pelo orgasmo que está na borda
desde que chupou meus seios ainda em pé. O rastro das carícias
arrepia cada centímetro da minha pele.
— Ah... Por favor!
— Eu sei o que você quer. Tenha paciência, pequena.
Seus dedos escorregam das costas, lentamente, para o meio
das minhas coxas numa carícia suave que me faz resfolegar. Sinto-
os deslizando em minhas dobras molhadas, fazendo com que eu
rebole e murmure gemidos baixos.
— Oh, por favor, por favor!
Luke deixa uma risada rouca escapar.
— O seu corpo está sedento, assim como eu por ele.
Rápido como a última sílaba é proferida, os dedos se
afastam. Protesto mentalmente, quem mandou me apaixonar por
um dominador abusado?
Totalmente exposta a sua mercê, sinto sua palmada estalar
em meu sexo, fazendo-me pular com o atrito, sentindo a boceta
pulsar ansiando por mais. Mas, me engano quando penso que vai
me torturar de modo prolongando. Sinto imediatamente o calor de
sua língua em brasas desferindo uma lambida longa na minha carne
molhada trazendo a sombra do alívio.
— Ah... Continua!... Não pare! — As pontas dos dedos
começam a formigar pela proximidade do orgasmo.
Os sons de satisfação dele a cada lambida deixam meu
corpo mais sensível do que o normal, como um fio de alta tensão
prestes a explodir ao simples toque. Rebolo insana, serpenteando o
corpo desesperada.
— Oh… ah!
Um objeto pequeno é inserido dentro de mim e assim que é
ligado, meu corpo explode em êxtase e Luke afunda a língua
alternando com mordidas leves no meu clitóris me fazendo ver
estrelas. Meu marido começa a devorar minha boceta como um
sedento no deserto e a onda do orgasmo potente toma o meu ser
espiralando de maneira contínua como ondas num mar revolto.
— Por Deus! Ah...
Tento mover as mãos para afastar a boca dele da minha
carne sensível, mas, é em vão, pois, estou presa a seu bel-prazer. A
vibração do brinquedo aumenta o nível, tirando de mim gritos
desconhecidos.
— Senhor… ah...! Não aguento... — imploro por clemência.
Ouço o som dele chupando meu mel, esfregando o rosto todo
no meio das minhas pernas, agarrando minha bunda para enterrar a
face e o nariz me fodendo como um animal esfomeado e uma nova
onda me alcança arrebatando minhas pernas em tremores violentos.
— Relaxa, você sabe que não deve tensionar os músculos
estando amarrada. Abrace o êxtase, Vênus.
O sangue em minhas veias corre muito rápido, estou
queimando e cada segundo meu corpo incendeia mais e mais.
Ainda no transe regido pelo prazer, Luke tira o vibrador e desliza o
comprimento inteiro para dentro do seu lugar favorito, penetrando
até o talo, esticando-me ao limite. Inicialmente, enterra de modo
lento e fica parado. Ele sabe que é enorme. Em seguida começa a
se mover até pegar a cadência de um ritmo e quando a velocidade
está do jeito que gosta, puxa a corda presa ao meu cabelo
bombeando seu volumoso pau, reverberando as estocadas no meu
corpo todo.
São tantas as sensações ao mesmo tempo, que me vejo
lacrimejando de êxtase. Os suores, sons e cheiros são um cenário
irresistível e mesmo não vendo o rosto dele metendo com vontade,
até o momento que goza dentro de mim, sinto o poder de
proporcionar ao meu marido dominador a grandeza do prazer que
está sentindo.
— Ah mulher... Como eu amo você!... Ah!
Quando seu ápice está no auge, Luke agarra meu dedão do
pé e começa a chupá-lo de um jeito que me deixa maluca. Sem
parar de mexer o pau que entra e sai de maneira tão potente e
torturante que o último orgasmo me devasta. Meu Dom é muito
eficiente, pois, sabe o momento exato de penetrar minha bunda com
dois dedos molhados. É nessa hora que reviro os olhos de luxúria
rebolando no pau e nos dedos como uma ninfomaníaca, liberando
um poderoso squirt[41], inundando a bela mesa de mogno. O
orgasmo mais longo da minha vida.
Em instantes, sinto o vazio do meu dono, mas estou
completamente saciada e orgulhosa da cena incrível e inesquecível
que acabou de acontecer. A calmaria só é bem aproveitada depois
que ele desfaz rapidamente os nós, alguns sem paciência ele corta
e me liberta das cordas. Me ajuda a sentar e normalizar minha
adrenalina, respirando longamente comigo.
— Um dia você vai acabar comigo, Stela. Quando te vi
naquele chão nua para mim, juro que paralisei feito um robô com
defeito.
Começo a rir sentada na mesa, com ele se acomodando
entre minhas pernas, oferecendo a doçura de seus beijos no meu
pescoço, me recebendo na jaula de seus braços, segurando meu
rosto, beija minha boca como se não me visse há dias.
— Stela, foi tão perfeito o que você fez para mim que não há
definição para o que senti esta noite.
Meus dedos correm por seu cabelo úmido num carinho
cúmplice.
— Eu amei, Luke. Nunca senti o que você me proporcionou.
— Amo essas surpresas, minha deusa. Amo viver com você
e te amar de todas as formas que eu consigo, seja dominando, ou
me submetendo, ou ainda fazendo um papai e mamãe rápido antes
de você ir trabalhar na agência. Amo tudo, obrigado por existir Stela
Taylor.
— Ah, amor, não faz essas declarações agora, sabe como
fico sensível e chorona após os jogos.
— Não posso me calar no que sinto. Nunca vou me calar.
Amo você, minha orquídea selvagem com sabor de cereja. — Ele é
tudo o que preciso, como sou abençoada por um marido como ele!
— Amo você, meu Luke.
— Vem, vamos para a banheira, vou cuidar de você, meu
amor.
O meu 'after care' é o melhor de todos.
Um marido que mima sua mulher no banho, deixando-a
relaxada com óleos perfumados e esponja macia. Lavando os
cabelos com cuidado e venerando seu corpo, é a melhor coisa do
planeta.
— Você estava linda naquela mesa, amor. Você fica cada vez
mais incrível. Espero que na próxima, minha Domme pegue leve
comigo.
— Ah, então os três orgasmos fantásticos que recebi foram
uma barganha para a sua vez como submisso?
— Nãooo, nem pensar — responde ele aos beijos dentro da
água morna. — Jamais proporia uma barganha a minha Lady
Vênus, a cruel.
O sorriso safado é impagável.
— Acho ótimo, porque pedi para me enviarem um certo
chicote que ganhei certa vez numa apresentação. Talvez eu precise
estrear o brinquedo. — A gargalhada rouca ecoa pelo banheiro de
mármore.
— O meu chicote? Usar em mim meu próprio objeto de
punição?
— Não é mais seu, você abdicou do instrumento em troca de
uma gravata melada.
— Ah... Sua safada, atrevida!
E o debate sobre a próxima sessão tem início ainda no
banho. Quero outra vida? Jamais.
Meu marido e a família que construí são minha razão de
viver.

FIM.
AGRADECIMENTO AO LEITOR(A)

Amada leitora, se você chegou até aqui e curtiu a história e a


forma que a contei, se seu coração se aqueceu e se emocionou
com o Luke e Stela, não deixe de avaliar o livro na Amazon. Sua
opinião é de máxima importância. Se estão me conhecendo agora,
agradeço de coração pleno por ter dado uma chance a minha
história, vocês tornam minha vida especial e completa ao apreciar a
minha escrita. Muito obrigado pelo carinho e espero vê-los
novamente em breve.
Beijos Francis Leone
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a mim, que mesmo diante à algumas


frustrações, dificuldades, crises de ansiedade, cansaço físico e
mental, nunca desisti, e nem vou. Ao meu marido que incentivou e
de alguma forma, mesmo que mínima, contribuiu para a minha
escrita. Um agradecimento especial à minha beta reader, Taci, por
não desistir e aguentar meus surtos, me ajudou diretamente com
leituras, correções e ideias. A minha revisora Pam que fez um
excelente trabalho. E não menos importante, à minha melhor amiga,
Madalena, a maior incentivadora do meu sonho de escrita
(Maldivas), às minhas amadas leitoras que estão comigo desde o
wattpad, e estão no meu gp do whatsapp e as novas que entraram
há pouco tempo e já são da família francisverso, me enchendo de
carinho e suporte.

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[1]

BDSM sigla, que vem de palavras em inglês, é um acrónimo para a


expressão Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e
Masoquismo.
Dominatrix (também conhecida em português apenas como
[2]

dominadora e também comumente denominada como domme) é


uma mulher que exerce o papel dominante em práticas de BDSM. O
papel de uma dominatrix não necessariamente envolve dor física em
relação ao submisso. O seu domínio também pode ser verbal,
envolvendo tarefas consensuais humilhantes ou servidão.
[3]
Servo pessoas que estão no papel de submissão, é comum a
utilização dos termos submisso, sub, servo, bottom, slave, escravo
ou qualquer palavra pejorativa que visa degradar ou humilhar o
submisso.
switch ou switcher Do inglês, aquele que troca. Versátil à pessoa
[4]

que exerce tanto papéis dominantes ou ativos como


papéis submissos ou passivos, dependendo do momento e da
pessoa com a que se relaciona nessa situação.
Dom às vezes chamado de dominante ou superior é alguém que
[5]

tem o papel ativo em um relacionamento com um sub (ou submisso)


O dom e a domme assumem o controle do submisso em uma cena,
atividade ou relação, claro, sempre de forma consentida.
[6]
Miranda Priestly é uma personagem do romance de 2003 de
Lauren Weisberger, The Devil Wears Prada, interpretado por Meryl
Streep na adaptação cinematográfica de 2006 do romance. Ela é
uma poderosa editora-chefe da revista de moda fictícia Runway,
sediada em Nova York.
[7]
Cena Forma de se referir a uma interação BDSM. Pode ocorrer na
frente de outras pessoas, como em festas e clubes noturnos. A
palavra indica que há um elemento performático nos encontros
BDSM, no qual os envolvidos assumem papéis de forma voluntária,
em uma espécie de interação ou jogo erótico.
[8]
Capuz para fetiches sado, em couro ecológico. Somente os olhos
e a boca aparecem. Material geralmente é couro.
[9]
dildo objeto com a forma de um pênis ereto usado para
estimulação sexual. Consolo.
Flogger geralmente consiste em várias caudas presas a um cabo
[10]

rígido. As caudas podem ser feitas de vários materiais, incluindo


crina de cavalo, borracha ou couro.
[11]
Domme, dominadora, Dominatrix.
Correias, arreios e harness são várias tiras cobrindo o corpo, e
[12]

as tiras normalmente terão 1-2 cm de largura. Pode ser de couro,


Neoprene, elástico ou couro sintético. Algumas possuem fivelas
para ajuste, alças para prender guias, ou hastes, ou ainda
braceletes de imobilização, outras são apenas usadas como adorno.
O bondage é o conjunto de técnicas e práticas que proporcionam
[13]

a privação momentânea do movimento ou de um dos cinco sentidos.


Na prática, uma parte do corpo é amarrada e imobilizada, ou a visão
ou a audição ficam privadas por um determinado período para
proporcionar prazer para si ou para o parceiro.
Voyeurismo é uma forma de parafilia. A maioria das pessoas
[14]

com tendências voyeurísticas não apresenta um transtorno de


voyeurismo. O que excita estas pessoas é o ato da observação
(espionar) e não a atividade sexual com a pessoa observada.
Voyeurs não buscam contato sexual com a pessoa sendo
observada.
[15]
Estilo Baby girl como o próprio nome já diz tem a ver com trazer
esse lado mais meigo e super, hiper, mega fofo. As garotas adeptas
do estilo Baby Girl gostam de brincar com essa coisa mais
“inocente.”
Mordaça Bola Ball Gag - instrumento de restrição da fala no
[16]

bondage e sadomasoquismo.
shibari uma técnica erótica, uma brincadeira adulta que os
[17]

entusiastas de BDSM consideram parte das preliminares do ato


sexual. É o jogo de imobilização por cordas em nós artísticos,
podendo ou não culminar no ato sexual.
Niple pasties ou cover é a famosa fita tapa-tetas. Usado para
[18]

vestir roupas que exigem a falta de sutiã. Outra alternativa é de um


adesivo decorativo para cobrir os mamilos.
[19]
É o cuidado após uma sessão que o dominante dispensa a um
submisso, pode ser uma conversa, cuidar das lesões ou um
feedback do que funcionou ou não.
O spanking é um ato de castigo corporal associado ao BDSM
[20]

que busca a excitação sexual ou gratificação das pessoas


envolvidas. Esta atividade varia de uma palmada espontânea nas
nádegas durante um ato sexual à interpretações ocasionais de
fantasias sexuais ou até mesmo fetiches específicos, como o
ageplay ou punições corporais disciplinares e pode envolver o uso
de uma variedade de instrumentos, como as mãos, chicote,
palmatória, etc...
[21]
Marca de destilado escocês com alto teor alcoólico.
Touché. Interjeição francesa no esporte onde o oponente marcou
[22]

pontos.
[23]
Orquídea com perfume de melão
[24]
Orquídea com perfume de uva
Orquídea híbrida com perfume de chocolate, está entre as mais
[25]

perfumadas da categoria.
Feederismo parafilia que consiste na atração ou excitação por
[26]

corpos gordos
Desgraçado em espanhol, mas também usa-se como maldição
[27]

quando se está chateado.


[28]
Jennifer Lopez
Sádico sente prazer em infligir dor, ou ver a outra pessoa sofrer
[29]

(no âmbito sexual)


[30]
Quero chupar seu pau, quero que foda minha boca até gozar
[31]
“Foda-me, Luke, adoro a maneira como você me pega.”
[32]
“Ah, Luke, o que você está fazendo? Não posso me apaixonar
por você!”
[33]
Par de dança
Inversao onde o homem é penetrado pela mulher com consolo
[34]

ou cinto com prótese. Inversão de papéis.


[35]
Pet Play é uma brincadeira que pode ser sexual ou não. É um
fetiche que costuma ser praticado entre casais. É uma encenação
em que as pessoas envolvidas desempenham papéis diferentes.
Uma faz de conta que é um animal (pet) e a outra pessoa
desempenha o papel de treinador ou de dono.
[36]
filha
Expressão espanhola pra dizer que algo é fenomenal,
[37]

maravilhoso ou do caralho!
[38]
Pessoa com características masculinas e femininas
[39]
cale-se
[40]
Termo usado no shibari que significa escrava de cordas.
[41]
Squirt /squirting” acontece quando a pessoa tem a sua
ejaculação e esguicha líquido ou fluidos da sua vagina, num
momento de prazer. Não tem cor nem cheiro e não dever ser
confundido com a lubrificação natural da vagina.

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