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Este livro ou qualquer parte dele não pode ser reproduzido ou usado
de forma alguma sem autorização expressa, por escrito, da autora,
exceto pelo uso de citações breves em resenhas ou avaliações
críticas. Livro contém linguajar chulo, conteúdo sexual e morte
violenta.
Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, e situações
reais é mera coincidência.
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NOTA DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 52
CAPÍTULO 53
CAPÍTULO 54
CAPÍTULO 55
EPÍLOGO
AGRADECIMENTO AO LEITOR(A)
AGRADECIMENTOS
PRÓLOGO
6 ANOS ANTES
4 ANOS ANTES
DIAS ATUAIS
Mas, será que sabe algo sobre artes? O que ela realmente
entende sobre política e economia? Isso é ser inteligente pra mim.
Claro, fluir em outros idiomas é imprescindível aos negócios. Mas
tenho certeza que os usa para fazer compras.
DIAS ATUAIS
CAFETERIA MILLER
Então meu peito acelera com a informação que há muito eu
esperava. Vou encontrá-la nesse lugar. Benji finalmente desistiu de
manter segredo e deu uma pista de Vênus. Depois de pagar o drink,
saio com um sorriso largo e com todos os meus planos claros na
minha mente.
CAPÍTULO 11
Insisto que não preciso de carona para casa, mas assim que
levantamos da mesa ouvimos o início de um aguaceiro do lado de
fora. Maldita hora para uma chuva! Ele me olha com um olhar
presunçoso parecendo adivinhar o meu pensamento.
— Bem, acho que você terá que aceitar a minha oferta, afinal.
— Reviro os olhos percebendo o quanto estou encurralada nesse
momento, Dios mio! O senhor podia deixar passar essa, hein?!
— Ok, uma carona é apropriada agora, obrigada. — Ele abre
a porta da cafeteria e aponta para rua.
— Aquele SUV preto ali em frente é a nossa salvação.
Em um movimento rápido ele segura minha mão de maneira
firme, não consigo deixar de notar como ela some envolvida em seu
aperto. Seus dedos longos e grossos em uma palma ampla
escondem meus delicados dedos. Assusta um pouco a princípio,
porém, é tão quente e acolhedora, que a sensação faz meu corpo
responder imediatamente, prestes a iniciar uma fogueira. Me conduz
em uma corridinha até o meio fio onde abre a porta traseira do carro
e com ele, entro logo em seguida, escapando dos pingos da chuva.
Me sinto estranha, há muitos anos um motorista particular
não guia um carro comigo a passeio. Na Espanha, papai fazia
questão disso, dizia ser para minha segurança, mas eu achava tão
formal e desnecessário.
Olho para o meu acompanhante à minha direita e ele está
alisando os cabelos para trás com os dedos, como se penteando
algo fora de lugar que só ele vê. Tenho certa inveja desse pequeno
gesto, lembro-me como era macio ao tocar seus cabelos naquela
última vez que interagimos no clube. É tão assustador... eu já o
beijei, ele já me deu prazer, quer dizer, Vênus, foi ela que fez essas
coisas, não eu.
Agora estamos aqui, como se nos conhecendo pela primeira
vez, mas estamos nos conhecendo pela primeira vez, eu acho… ai
que confusão! Balanço minha cabeça para afastar o pensamento,
tenho que me concentrar para não demonstrar meu nervosismo com
essa situação.
O que esse homem quer afinal? Tudo bem que é um homão
da porra, mas eu não sou aquela mulher que o enfeitiçou no clube,
tenho que deixar isso claro pra ele.
Ele estende o longo braço, pegando um telefone dado pelo
motorista.
— Põe seu endereço para o GPS poder nos ajudar a deixá-la
em sua casa.
Digito rapidamente, e devolvo sem olhar em seus olhos.
Concentro minha atenção na paisagem se movendo pelo vidro da
janela, pensando que minha casa não é longe da cafeteria, mas
noto que estamos indo muito devagar, e o trajeto será mais
demorado do que eu gostaria. Será que pela chuva torrencial lá fora
o motorista está desacelerando ou por um código secreto entre ele e
seu patrão sedutor?
Meus pensamentos são interrompidos pela voz grave do Sr
presunçoso.
— Então, de onde a senhorita é? Ouço que fala nosso idioma
lindamente, mas presumo que pelo sobrenome que disse na
cafeteria não é natural dos EUA.
Volto meu olhar em sua direção, e ele agora se encontra
inclinado de frente, me estudando com o cotovelo apoiado na
saliência da maçaneta da porta. Não sei o que esse homem
pretende com essa conversa casual, resolvo ser sucinta, mas
educada, quero ver onde isso vai dar.
— Sou Espanhola. Agradeço o elogio sobre minha pronúncia,
há um pouco mais de sete anos que moro aqui. Por isso, minha
dicção é tão boa.
— Ah, Espanha, ouvi dizer que é o país das mulheres mais
lindas. — Seduz com o galanteio me encarando coçando o nó do
dedo indicador nos lábios, deixando uma fresta para que eu veja
uma parte dos seus dentes brancos e perfeitos. Dou um meio
sorriso sem mostrar os meus.
— O Sr. Está enganado, a Espanha é o país dos homens
mais lindos.
— Por favor, não seja tão formal, me chame de Luke,
senhorita contraditória, afinal acho que somos praticamente da
mesma idade. Stela, posso te chamar assim? Quantos anos tem?
Meu Deus, esse galã americano parecendo os mocinhos dos
romances contemporâneos que leio, está me intimidando com essas
perguntas. Estou um pouco desconfortável, tanto com como me olha
que não consigo decifrar, quanto essa conversa inquiridora. Respiro
fundo tentando disfarçar o meu desconforto para não dizer velada
curiosidade e respondo:
— Sim, você pode me chamar de Stela, mas por que me
chamou de contraditória? — Não revelo minha idade, quero que ele
o faça primeiro.
— Ora, se a Espanha é o país dos homens mais lindos, por
que partiu do seu país de origem para morar em outro continente,
soa bem contraditório, não acha?
Dessa vez o nó do dedo é alvo de uma mordidinha, como um
trejeito maroto aguardando minha resposta. Que visão dos infernos
esses dedos roçando os lábios desenhados!
Ah, seu moleque atrevido! Vou dar uma resposta bem
caprichosa. É uma provocação para me irritar? Está jogando
comigo, mal sabe ele a adversária que conseguiu. Não quero me
abrir a um estranho, e o pior é que cada vez que olho para ele
mordiscando esse dedo lembro-me do prazer que me proporcionou
no clube há semanas. Percebo que estou excitada agora, mas que
merda! Preciso disfarçar isso imediatamente.
— Há muito mais na vida de uma mulher, que a busca por
lindos homens, Luke, seja lá ou aqui, não estou à procura deles —
mantenho a voz mais calma e baixa possível.
— Touché[22]! — Fazendo um sinal com a mão no coração
como se tivesse sido ferido. Balanço minha cabeça de volta para a
janela para disfarçar meu sorriso.
— Então, você não me disse sua idade, sei que é falta de
educação em algumas culturas, nunca estive na Espanha, não sei
se sou mal interpretado, mas é apenas curiosidade. Eu acabei de
completar trinta anos, moro sozinho e trabalho quase doze horas
por dia.
Não sei como me sinto ouvindo-o falar tão casualmente sobre
si mesmo, acho que o empresário poderoso também está se
esforçando em ser o mais natural possível, mas sinto que tem mais
nele do que demonstra. Uma parte de mim quer desesperadamente
descobrir, mas para isso tenho que me revelar e isso é o que não
tenho intenção alguma de fazer.
— Tenho vinte e seis — busco seu olhar dessa vez — No que
você trabalha, Luke? — vamos ver se você disfarça tão bem, vamos
jogar baby. Já ouvi algo ao seu respeito, mas não sou muito de
redes sociais e notícias. Conte-me, mostre suas cartas, espertinho.
— Minha família tem uma rede de cassinos, meu falecido pai
com seu primo fundaram um, na juventude, ele prosperou tanto
quanto a cidade de L.A, agora sou o presidente da rede, temos
alguns dos maiores e mais bem sucedidos cassinos do Estado.
— É um cargo de muita responsabilidade para alguém tão
jovem.
— As circunstâncias exigiram isso e fui ensinado a nunca
fugir das responsabilidades.
— Entendo, e você então nunca foi a Espanha, mas já foi a
Europa, eu presumo?
— Sim, viajei a muitos países. Na juventude, fiz uma viagem
com alguns colegas para a França e Grécia em uma ilha particular
para ser mais exato.
— Ah — aceno tentando não parecer nervosa.
— É... Fazemos coisas loucas na juventude. Estávamos na
faculdade naquela época e tiramos uns dias de férias para curtir por
lá, mas pretendo um dia conhecer outros países europeus, inclusive
a Espanha, assim que conseguir um tempo para mim do trabalho.
— Tenho certeza de que você vai gostar muito da Espanha,
não deixe de conhecer os pontos turísticos da capital Madri, são
realmente encantadores. — Me arrependo no momento que as
palavras saem de minha boca e volto a olhar para o outro lado.
— É da capital que você vem?
— Sim — respondo sem me mover.
— Você não vai me contar os motivos da sua mudança para
esse continente, vai?
— É uma história longa e complicada, tenho certeza de que
seria tedioso. — Um longo suspiro acompanha minhas palavras.
As gotas de chuva desenham caminhos no vidro
transportando minha mente a buscar as memórias do passado.
Minha postura compenetrada na janela não dá espaço para olhar
para ele, não quero mostrar meu rosto e trair meus sentimentos com
relação a minha história e não desejo que ele veja o quanto estou
atraída pela conversa. Quanto tempo não falo sobre minha vida ou
sou íntima de alguém?
— Eu realmente gostaria de ouvir esse relato. E se for longo,
melhor ainda assim terá tempo para perceber como sou um ótimo
ouvinte, entre outras coisas é claro...
Dessa vez não consigo evitar encará-lo, o abusado está
sorrindo para mim. É a primeira vez que vejo seu sorriso, e é
realmente de tirar o fôlego, um sorriso atrevido e divertido, o senhor
sedutor está gostando muito da conversa também.
— Alguém já lhe disse o quanto você é presunçoso, Luke?
Ele solta uma risada rouca e melodiosa, gostosa de escutar,
arrepiando todos os meus pelinhos.
— Poucas pessoas têm essa coragem. E quase nenhuma me
enfrenta.
Ficamos nos olhando por segundos tão longos que a tensão
no carro é palpável, posso sentir a disputa que há entre nós,
caçador e presa a meio metro de distância.
Ele está me caçando desde o primeiro dia, mas mal sabe que
não vou me deixar ser pega. Enfrentarei você, príncipe alfa dos
cassinos!
A tensão é quebrada e um alívio toma conta de mim, quando
percebo que o carro estaciona na porta da frente da minha casa. A
chuva diminuiu, mas ainda é intensa, faço um sinal para abrir a
porta e sair, mas vejo que ele já saiu e está girando por trás do carro
para chegar a mim com um guarda-chuva gigante. Abre a porta,
estendendo a mão para que eu saia e rapidamente me enlaça junto
ao seu corpo de lado embaixo da proteção. Luke tem um corpo
grande e rígido, mesmo com todas as roupas consigo notar o
quanto ele é másculo. E seu perfume é muito instigante, respiro
tentando decifrar o aroma, flor de acácia misturada com cedro, sinto
uma pitada de tabaco também, não é para qualquer homem esse
cheiro, e esses minutos no carro percebi que sua personalidade é
de um predador.
Com uma mão firme faz pressão na minha cintura ativando
um calor entre minhas pernas. Ignoro. Andamos pelas quatro lajotas
da entrada da minha casa parando na porta. Coloco a mão no bolso
para apanhar o molho de chaves e percebo minhas mãos trêmulas,
preciso de um tempo para estabilizá-las. É melhor me despedir
primeiro.
Meus olhos encontram a sua figura imponente, escorado na
soleira da minha porta segurando o guarda-chuva sobre nós me
olhando, dessa vez consigo decifrar seu olhar, desejo, uma fome
intensa, um olhar matador... Concentra Stela, fala alguma coisa
agora! — ordena minha mente.
— Realmente não sei como agradecer a carona, eu chegaria
encharcada em casa, obrigada.
— Me agradeça aceitando um convite para sair comigo no
próximo dia ensolarado. — Não dando tempo para resposta, ele tira
o celular do bolso interior do blazer e começa a digitar e olha para
mim. Não posso recusar outra vez, não tem cabimento ser tão
durona com tanta gentileza, mesmo sabendo a intenção dele.
— Me diz o seu número para avisá-la a hora que virei te
buscar.
— Você não tem um cartão ou algo assim? Posso ligar para
você depois, deixei o meu carregando. — Não permito ser
intimidada assim. Quero decidir quando e se eu quero vê-lo
novamente fora do clube.
— Não, não, eu não quero correr o risco que você fuja de
mim, afinal essa é sua chance de agradecer a carona. — Me encara
com um sorriso jocoso.
Suspiro e decido dar o número. Ele imediatamente faz uma
chamada, enquanto pego as chaves para entrar, ouvimos o som do
celular de dentro de casa. Com um sorriso e com o dedo que estava
mordendo dentro do carro, faz um carinho na ponta do meu nariz.
— Só para garantir — diz ele indo em direção ao carro
enquanto destravo a porta. Ao chegar no meio fio grita de lá:
— Nos vemos amanhã, espanhola. — Estou quase fechando
a porta, mas interrompo o movimento contrariada.
— Você não disse que seria amanhã.
— É uma chuva de verão, Stela, amanhã será o nosso dia
ensolarado, confie, nós americanos conhecemos melhor o clima
daqui. — Com um sorriso largo entra no veículo me deixando sem
resposta.
Presunçoso até o final, sempre com a última palavra, é
melhor me acostumar, não vou me livrar dele facilmente... será que
quero me livrar desse homem?
CAPÍTULO 13
Não sei por que estou tão nervosa escolhendo uma roupa
para sair, não é nenhum encontro, é somente a paga pela carona.
Maldita carona! Mas que merda, estou nervosa... Ele já me viu sem
estar travestida em Vênus, por que dessa preocupação toda?
Mesmo assim, quero uma roupa que disfarce meu quadril
avantajado e meus seios fartos, mas não encontro nada do meu
gosto, e com o calor que está fazendo não posso usar um abrigo
folgado. E minhas outras roupas, bem, ultimamente andei fazendo
algumas mudanças em meu guarda-roupa, vasculhando dentro dele
só há decotes ou roupas curtas demais, o que eu faço?
Não quero que o senhor presunçoso tenha a impressão
errada sobre mim, que possa insinuar estar me jogando pra cima
dele. Concordo que ele pode ser o mais belo espécime masculino
que meus olhos tiveram o prazer de apreciar, mas não quer dizer
que vá acontecer nada além de um passeio despretensioso.
Porque quando Luke perceber que não sou a Vênus,
provavelmente perderá o interesse e por isso, não sei por que
preciso me preocupar com qual roupa irei. Isso! Assim também não
me iludo.
Escolho um vestido solto, mesmo sendo curto não marca
minha bunda proeminente, e por mais que caia nos ombros, cobre
meus seios de maneira firme e confortável. Certo, confortável é
minha escolha, sandália básica baixa e vou prender esse monte de
cabelo, não quero ficar grudenta e suar como uma foca. Assim que
termino de me arrumar escuto a notificação do meu celular:
grapete.
— Você entende mesmo de orquídeas, Luke!
— Vínhamos aqui todo o fim de semana quando meu pai era
vivo. Se tornou minha paixão cultivá-las.
— Sinto muito, eu não queria trazer recordações dolorosas.
— Não, tudo bem, fazem quase oito anos da morte dele, não
que eu não sinta sua falta, mas o tempo deixa as coisas menos
dolorosas. — A dor do seu olhar me desmonta.
— Um último teste?
— Sim, por que não?
Luke caminha ao outro extremo da sala e me traz uma que
não consigo esconder meu encantamento, ela é delicada, pequena,
mas ao mesmo tempo imponente por suas cores, um vinho
amarronzado com detalhes em branco, uma ambiguidade
fascinante, delicada, mas forte, quando aproximo meu nariz dou um
grito eufórico.
— Chocolate!
— Oncidium Sharry Baby[25] a orquídea chocolate, parabéns,
Stela, você tem um olfato apurado, é um dom — sorrio com o
elogio.
— Não, é treino.
— Como assim?
— Cresci no meio de aromas e ingredientes, meu pai sempre
gostou de essências depois que se aposentou, se dedicou a carreira
de perfumista na Espanha, cheguei a aprender um pouco do ofício,
mas não persisti.
— E você já criou algum perfume?
— Para venda como meu pai não. Tenho algumas essências
em casa, fiz algumas receitas para perfumar minhas coisas, nada de
mais.
— Deve ser estimulante saber fazer seu próprio perfume.
— É interessante porque você pode misturar os aromas de
que mais gosta e criar um perfume só seu, único, como uma
assinatura.
Esqueço o desconforto e começo a divagar sobre o que
gosto, quando o encaro, noto que ele está prestando atenção no
que falo, mas aquele brilho malicioso não o deixa, sinto-me
despida.
— Posso imaginar qual foi a sua favorita.
— Quem não gosta de chocolate? — A risada rouca e
gostosa surge enquanto devolve a planta no lugar. Gosto de ouvir
esse som.
— Ela é rara, lembro-me quando meu pai a comprou, só ele
cuidava dela, eu queria de todas as maneiras chegar perto só pelo
perfume, mas seu Anthony me enchia de trabalho e eu não tinha
tempo para ela.
— Trabalho?
— Sim, o que viemos fazer aqui, podar, limpar, dar vitaminas,
meu pai até conversava com elas.
Começo a rir, mas não pelo fato do pai dele fazer isso, mas
de nervoso, nunca tive habilidades com plantas e ele quer me dar
uma tesoura de poda?
— Eu, com uma tesoura? Não, eu não posso fazer isso, não
levo o menor jeito.
— Não se preocupe, terá tempo de aprender, é fácil, e depois
dizem ser uma terapia conversar com plantas, mas como temos a
companhia um do outro, vamos nos conhecendo.
Ele vai até a porta, apanha um avental de couro e veste, vem
em minha direção com o outro para fazer o mesmo em mim.
— Espera, preciso prender melhor o cabelo, não quero ter
distrações e estragar uma delas sem querer.
Desfaço o resto do penteado desmontado e rapidamente faço
um coque no alto da cabeça. Rapidamente meu corpo é tomado por
uma onda de calor quando ele aproxima seu corpo do meu para
colocar o avental, sinto seu hálito quente no meu pescoço
arrepiando tudo, dos pés a cabeça, enquanto seus dedos amarram
a peça. Luke suspira fundo antes de se retirar, é enlouquecedor.
Uau, que clima tenso!
— Pronto, aqui está a sua arma afiada, tudo o que eu fizer
você reproduz, na dúvida, pergunte.
Com a tesoura em mãos começamos a trabalhar. Por umas
duas horas conversamos, assuntos corriqueiros, sobre plantas, o
trabalho dele. Contei sobre meus irmãos, a profissão que
escolheram, ele contou que é filho único, cuida da mãe com alguns
problemas de saúde e passamos agradavelmente por esse período.
Na saída, sinto uma picadinha no meu pé e enlouqueço.
— Ai! Um bichinho me mordeu, temos que ir embora! — Luke
desata a rir de mim, me deixando possessa.
— Não ria, sou alérgica! Olha como já inchou meu pé, temos
que correr para o carro.
— Calma exagerada, tenho um líquido repelente ali dentro,
dois segundos estou de volta, espere aqui. — É claro que vou
esperar, para onde eu iria, numa imensidão dessa, me perderia ou
seria comida por essas criaturas demoníacas minúsculas.
Ele retorna com um frasquinho, desamarra rapidamente
minhas sandálias e começa a espirrar o produto, nos pés,
espalhando com as mãos, e vai subindo pelas panturrilhas e
joelhos, não podia ser pior, de propósito ou não, suas mãos grandes
formigam minha pele. Quando elas tocam minhas coxas, sinto um
leve tremor pelas amplas palmas quentes dele.
— Quando te vi nesse vestido, imaginei que isso aconteceria,
mas você tem pernas tão lindas que não quis que as escondesse
avisando sobre os mosquitos.
Tomo uma surpresa com o elogio descarado dando um passo
para longe quase desequilibrando e ele me agarra não deixando
que eu caia, seu perfume me invade e meu corpo tensiona com seu
aperto de braços fortes me prendendo, meu Deus! Choco meu
corpo com uma parede de músculos. Que homem malhado e
enorme, pareço uma anã em comparação.
Estamos tão próximos que nossos narizes quase se tocam,
mas não quero beijá-lo, não vou me iludir com isso.
— Acho que é melhor amarrar a sandália ou não escaparei
de uma queda.
— Permita-me que eu faça isso, segure-se em mim, vamos
calçar você para podermos comer alguma coisa. — Assim que o faz,
pega minha mão possessivamente me conduzindo para um carrinho
de cachorro-quente.
Nunca poderia imaginar um homem desse nível levando uma
garota para um fast food, tudo bem que nesse parque é tudo
informal na questão alimentação. Quem sabe esse milionário ache
que pelo meu corpo eu só coma essas porcarias deliciosas. Ah!
Vamos lá, Stela! Já passamos da fase das paranoias. Se minha
terapeuta ouvisse meus pensamentos, agora diria que é só o meu
complexo falando. Certamente que é, pois, esse galã de cinema não
perderia seu precioso tempo com uma mulher como eu se não
quisesse algo. Desvio dos sentimentos depreciativos sobre mim,
mas não sou tola de não supor que a possibilidade de Luke ter
fetiche em gordas é possível. Afinal, ‘feederismo’[26] existe como
uma categoria nas parafilias listadas na psicologia, ou seja, atração
por corpos gordos. Mas de jeito nenhum quero ser objetificada
dessa forma. Sou uma mulher com atributos interessantes muito
além de um corpo avantajado.
Pode ser que este cavalheiro tenha consciência disso, mas
ainda acho que as intenções dele não são mais que sexo com a
Domme que conheceu no clube, e isso não irá acontecer.
Quer Vênus?
Submeta-se a ela!
Após sairmos do jardim paradisíaco, voltamos para o carro.
Vejo o motorista ‘cão de guarda’ do senhor presunçoso nos
aguardando. Próximo do SUV mexendo em seu celular, não me
dirigiu a palavra e nem sequer se aproximou de nós. Não me
incomodo, não o verei novamente para estreitar laços com pessoas
próximas a Luke Taylor.
O clima na volta para casa está bem melhor, acabei
gostando do passeio, ele soube surpreender agradando sem
pressionar. Até as perguntas no carro surgirem:
— Gostou do passeio, Stela?
— Foi ótimo. Obrigada, Luke.
— Também gostei, não achei que nos daríamos tão bem
depois de nossa interação conturbada no clube.
Rapidamente o motivo do meu receio se faz presente.
Vênus!
— Mas não era eu no clube, não sou Vênus, ela é uma
pessoa diferente de mim.
— Não entendo, vocês são a mesma pessoa.
— Não. Ela foi criada com um objetivo, eu sou real.
— Uma personagem? Para o quê? Você falou serem
particulares seus motivos de se apresentar no clube, lembro de suas
palavras, mas não são pessoas distintas para mim. — rolo os olhos,
não querendo responder.
— Você deixa de falar nela se obter sua resposta?
— Ok, se a irrita tanto.
— Minha terapeuta me incentivou a criar um alter-ego nesse
clube. Portanto, ela não existe aqui.
— Desculpe, não pergunto mais.
Passados alguns minutos no silêncio constrangedor, resolvo
ser direta e terminar logo com isso.
— Você a quer?
— Vamos continuar falando de Vênus na terceira pessoa?
— Prefiro, se não se importa.
— Quero. — O silêncio constrangedor se instala e sinalizo
com um menear de cabeça que entendi, o problema é que ele não
perde uma.
— E Vênus me quer?
— Talvez, Vênus é segura de si e quer muitas coisas. Ou
talvez queira apenas se distrair.
— Por que ela me beijou e jogou comigo?
— Já teve essa resposta Luke, porque ela quis e pode fazer o
quiser naquele lugar.
— Por que está sendo tão difícil se você quer a mesma coisa
que eu, Stela?
O riso me sobe pelo nervosismo. Tô tentando dizer que sou
diferente dela. Por que não entende que aqueles jogos não
funcionam comigo? Que difícil, mal parido[27]!
Ainda bem que estamos chegando em casa, já posso ver
minha porta ao longe e esse encontro vai terminar.
— Vou ressaltar pela última vez, Luke Taylor. Eu não sou
Vênus. Os jogos que vocês fazem no Volcano não funcionam
comigo, todo esse circo, esse trabalho que teve para seduzir a
mulher que você quer, falhou. Pelo simples motivo que não é ela
que está aqui. Você a quer, conquiste-a. Sabe bem onde encontrá-
la, mas não direcione seus esforços para mim, eu Stela sou só isso
que você viu, não tem nada de misterioso e envolvente aqui.
Obrigada pelo passeio, CEO dos cassinos!
Saio do carro sem permitir que me dê uma resposta. As
lentes escuras impedem de ver sua reação, ouço chamar meu
nome, mas num esforço descomunal entro em casa e tranco a
porta.
Um alívio toma conta de mim. Pronto, Stela, você se livrou de
um possível sofrimento. Não precisa se apaixonar a essa altura da
vida e quebrar a cara, traumatizando-se novamente com um
coração partido. Acabou!
CAPÍTULO 14
Luke: ?
Stela: Ok
Luke: restaurante espanhol?
Stela: muito clichê
Luke: HAhahaha você é difícil hein!
Stela: sempre. Que h te espero?
Luke: Às 20 h, estarei aí
Ah merda! Não devia ter escrito isso, agora vendo ela digitar
e digitar sem enviar, me arrependo do meu entusiasmo.
A pior coisa que ela me fez, foi me privar de ser pai, mentiu
que era estéril, conseguiu provas forjadas disso e eu tolo acreditei.
Ela nunca me amou, nem a você, me perdoe por te trazer para um
lar assim, mas acredite só descobri isso muito tempo depois. Soraya
sempre foi ambiciosa e inescrupulosa, casou comigo apenas pela
posição social e egoísmo, e eu, na verdade, era apaixonado por
uma amiga dela, mas caí nas suas armadilhas e me arrependo
amargamente.
FIM.
AGRADECIMENTO AO LEITOR(A)
bondage e sadomasoquismo.
shibari uma técnica erótica, uma brincadeira adulta que os
[17]
pontos.
[23]
Orquídea com perfume de melão
[24]
Orquídea com perfume de uva
Orquídea híbrida com perfume de chocolate, está entre as mais
[25]
perfumadas da categoria.
Feederismo parafilia que consiste na atração ou excitação por
[26]
corpos gordos
Desgraçado em espanhol, mas também usa-se como maldição
[27]
maravilhoso ou do caralho!
[38]
Pessoa com características masculinas e femininas
[39]
cale-se
[40]
Termo usado no shibari que significa escrava de cordas.
[41]
Squirt /squirting” acontece quando a pessoa tem a sua
ejaculação e esguicha líquido ou fluidos da sua vagina, num
momento de prazer. Não tem cor nem cheiro e não dever ser
confundido com a lubrificação natural da vagina.