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Copyright©2022Isabela M.O.

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Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser


reproduzida ou transmitida, independentemente dos meios empregados, sem
prévia autorização do autor.
Esta é uma obra de ficção: nomes, personagens ou quaisquer
acontecimentos aqui descritos, são advindas da criatividade da autora, logo,
qualquer semelhança é mera coincidência.
Plágio é crime, pirataria também!!
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº
9.610/98, punido pelo artigo 184 do código penal.
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1ª Edição
Revisão: Kreativ Editorial
Imagens livres de direito autoral, retiradas do banco de imagens
CanvaPro
SUMÁRIO
SINOPSE
Nota da autora
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
EPÍLOGO
Agradecimentos
Outras obras
Música tema: Genius(feat. Sai, Diplo and Labrinth)

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Dark romance/aviso de conteúdo sensível: tortura, violência e
sexo explícito. Se for sensível aos temas, não leiam.
“— Talvez, eu precise mesmo de proteção, mas não a sua, e sim, de
você! — ciciei baixinho, sentindo-me nauseada.
— Talvez esteja certa.”
Katsuo Toyasaki
Justo!
Era dessa forma que muitos me enxergavam, um homem que, embora
rastejasse por meios escusos, permanecia sendo justo. A fama veio junto
com um ritual do meu pai, algo que fazia por seus prisioneiros como um
pequeno ato de misericórdia: um último pedido.
Quando assumi os Gokudos, tive certeza de que continuaria seu
legado e mantive o rito final a quem adentrava meu porão, um último
pedido que não incluía sua própria vida, pois nosso lema principal era
nunca, jamais, dar segundas chances; o inimigo que visitava minha casa,
nunca saia vivo de lá.
Não poderia imaginar que em um desses pedidos encontraria a
Pantera mais linda e selvagem que faria da minha vida uma constante entre
irritação e excitação. Eu deveria protegê-la, encontrar algum lugar seguro
em minhas terras enquanto meus soldados limpavam Boston da infestação
de ratinhos abusados que tentavam nos prejudicar, porém, o desejo tornou-
se impossível de frear e mandá-la embora não fazia mais parte da equação.

Fabíola Vasconcelos
Minha única missão naquele país era encontrar meu irmão mais novo,
Diego. A Itália tinha um clima gostoso, lugares lindos para se visitar, mas a
sensação pesada em meu peito me alertava de que algo não estava certo.
Infelizmente, eu tinha razão.
Nunca imaginei que meu irmão estivesse envolvido com a máfia, pior
ainda, com a Yakuza. Cada segundo da minha vida que, até então, era
planejado, se tornou uma confusão de chutes, xingamentos e idiomas
diferentes. Em uma noite eu estava caminhando pelas ruas italianas, no dia
seguinte, eu acordava no quarto de hóspedes de um homem debochado e
cheio de tatuagens que morava no Japão. Os olhos escuros daquele
desgraçado eram carregados de malícia e um toque de maldade que me
arrepiava, no entanto, nunca fui de abaixar a cabeça, tampouco aceitar
situações impostas.
Ele dizia estar me protegendo, mas eu via, no fundo da escuridão
daquele buraco negro, que suas intenções estavam longe de serem heróicas.
Hey, que bom que voltou para mais um livro desse universo sombrio
e instigante!
Primeiro, deixo claro que, se você está lendo fora da plataforma
Amazon, então significa que encontrou uma cópia pirata deste livro, o que é
ilegal e apenas me prejudica. Não seja mais uma a atrapalhar os autores
nacionais, seja a diferença.
Qualquer dúvida, estou à disposição.
Sempre disponibilizo ebooks gratuitos para evitar esse tipo de
desvalorização com meu trabalho. Minhas mídias sociais estão a sua
disposição, tire dúvidas, converse comigo, mas, em hipótese nenhuma,
compartilhe esse livro por meios escusos e ilegais.
Esse livro se trata de um dark romance, isso significa que tratei de
assuntos delicados, que não são recomendados a pessoas sensíveis.
Esse é o segundo livro de uma trilogia, porém, pode ser lido de forma
independente. Talvez pegue algum spoiler do que aconteceu no primeiro,
então se preferir, leia o primeiro: Quando toquei você. Todos são dark e
sobre máfia!
Pesquisei sobre máfias para realizar essa trilogia, mas deixo claro que
usei, sim, da minha licença poética para alguns eventos descritos. Vamos
lembrar que se trata de uma obra de ficção.
Acompanhem-me nas redes sociais, fiquem por dentro dos próximos
lançamentos e tudo que estou preparando para essa trilogia.
Onde me encontrar!
Boa leitura e não esqueçam de deixar suas avaliações ao final!
Existia um mito sobre nossas costas. Uma lenda de herói e vilão, até
mesmo de anti-herói, mas aqui está a verdade: nós somos apenas homens
que buscam por algo; seja a liberdade de expressar nossos demônios, o
conforto de ter dinheiro suficiente para não se preocupar com nada ou o
poder acima das leis de nosso país.
Nós criamos as leis.
Empresas bilionárias e cheias de premiações se moldaram através do
nosso império. Trabalhadores que juravam moralidade, gastavam do nosso
dinheiro no final da semana.
Não somos a Yakuza que eles dizem, somos Gokudos, porque, a partir
do momento que alguém entra nisso aqui, não sai mais. Não com vida!
Disciplina, fidelidade e força.
Criamos uma honra deformada, feia e nada aclamada pelo resto do
mundo, mas nossa.
Formamos monstros capazes de comer carne humana com um sorriso
nos lábios, ainda que seja crua; que matariam suas irmãs e filhas, se assim o
líder desejasse. Realizávamos sonhos, mas a cobrança que vinha em
seguida era por sua conta e risco.
Não foi surpresa nenhuma encontrar mais um jovem estrangeiro em
meu porão. Gostava de manter tudo sob meus olhos, incluindo meus
inimigos. Por isso, o pequeno cativeiro onde corpos e mais corpos sofreram
com as minhas facas ficava abaixo da minha casa, mais precisamente na
mesma direção do meu quarto, um lugar com entrada restrita pela única
porta que mantenho com cadeado.
O corpo magro já sangrava, mostrando-me que deu trabalho a Dorso,
meu soldado mais leal e forte. Segui para a mesa onde deixava minhas
preciosidades, sem me voltar para o corpo pendurado. Avistei a minha
lâmina trailing point, conhecida por ter uma curvatura apropriada para
esfolar peles. A observei por mais alguns segundos, pensando se valia a
pena perder todo meu tempo com aquele idiota. Deslizei minha mão sobre
um canivete comum, lâmina resistente, perfeito para perfurar, ferir rápido.
Melhor esse!
Peguei meu brinquedinho e voltei, parando a frente do peso morto.
Algo sempre prevaleceu em meu comando, um ritual que meu pai
também seguia e formou nosso nome, nos fazendo ser conhecidos como os
gênios da morte. Uma besteira de apelido, mas, até que fazia sentido; não
quanto aos três pedidos, pois apenas um era realizado.
A dinâmica sempre foi simples: para mostrar que, em qualquer
hipótese, honramos nossa palavra, damos aos nossos prisioneiros a chance
de um último pedido; não valia implorar pela própria vida e nem a morte de
algum membro dos Gokudos.
Isso nos garantiu a fidelidade de muitos, respeito até mesmo dos
inimigos e um exército bem doutrinado, ao ponto de nos idolatrarem.
Respirei fundo, estralei meu pescoço e sorri devagar vendo o garoto
me reconhecer. Urina escorreu por suas pernas e o choro voltou com força.
Era sempre assim, já tinha me acostumado a isso.
Algo permanecia em minha mente: eu precisava ser o melhor, nunca
poderia ser pego. Se algum inimigo colocasse as mãos em mim, seria
triturado, fotos dos meus membros circulariam mundo a fora e poderiam ser
capazes de vender algumas partes minhas. Quem sabe a pele com as minhas
tatuagens?!
Eram possibilidades. Eu faria isso, com certeza.
— Fala inglês? — perguntei no idioma, sabendo que ele não nos
entendia, assim como não falava italiano.
— Sim...
— Matamos os outros, você era da parte de tecnologia. Vamos
simplificar... — Circulei seu corpo, causando mais tensão, o canivete ainda
em minha mão. — Você me conta o que eu quero e, em troca, te mato
rapidinho e concedo um pedido, mas não vale pedir pela sua vida. —
Pisquei, parando de frente para ele. — Conseguiu entender?
Ele assentiu, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. O rapaz
tinha a pele escura, olhos negros com fundo amarelado, lábios grossos e
cabelos crespos cortados bem rente ao couro. O corpo era magro, mas alto,
muito alto. Inclinei minha cabeça.
— Como se meteu nessa merda?
Ele tossiu e gemeu, talvez sentindo dores a cada movimento.
— Dinheiro!
— Claro, meio óbvio. — Mostrei o canivete novamente. — Então,
temos um acordo?
— Sim — resmungou baixo. Já não existia resquícios de esperança
em seus olhos, sequer tentou implorar. O garoto sabia que nossos rostos
seriam os últimos que ele contemplaria — Meu pedido...
— Primeiro a informação. Não sou idiota.
Aquiesceu, derrotado.
Era uma pena, pelo que recebi dos relatórios, ele quem cuidava da
parte tecnológica dos traidores da máfia italiana, os que queriam me acusar.
Aproveitaria muito mais a sua inteligência, no entanto, os Gokudos não
concediam segundas chances.
Todos que agiam pelas nossas costas ou que nos envolviam em algo,
morriam. Todos.
Sua juventude escorreria pelos bueiros daquele lugar, o sangue lavaria
meu chão e mais nada faria parte de sua vida. Ele seria um desperdício.
— O que deseja saber?
— Quem está envolvido?
— O Don enfraquecido, os irlandeses e pelo menos dois capos e
alguns soldados.
Levei a ponta do canivete até meu indicador, brincando com ele.
Interessante. Os italianos estavam fodidos mesmo. A lealdade foi para o
rabo deles, pelo que parecia. O próprio Don preferindo trair sua famiglia.
Lastimável.
— O que pretendiam?
— Não sei muito bem, trabalhava com os irlandeses. — Tossiu de
novo, grunhindo com as dores. — Mas, é claro que uma guerra entre
italianos e japoneses seria promissora para Boston.
— Boston? Certo.
Encarei Dorso, ele rapidamente preparou sua arma, mirando a parte
detrás da cabeça do meu visitante. Promessa era dívida para nós. Ele se
comprometeu a dizer o que sabia sem complicar e o fez. Eu disse que seria
rápido, então assim faria.
— Tem algo mais?
— O meu... pedido...
— Diga!
— Minha irmã, senhor — murmurou, a respiração ficando mais
acelerada, talvez o desespero de lembrar que nunca mais a veria. — Minha
irmã mais velha está em perigo. Ela veio atrás de mim... não... não sabe de
nada — exasperou-se e abaixei o canivete, esperando. — Meu pedido é que
a proteja. Eles vão matá-la quando... souberem que fui pego.
Odiava proteger pessoas. Eram os pedidos mais desgraçados que
poderiam fazer.
— Só a tire da mira... deles. Por favor, a deixe segura.
Certo. Isso seria fácil.
— Tudo bem, rapaz. Qual o nome da sua irmã? — Fiz sinal com a
cabeça e outro soldado veio com um celular em mãos, pronto para anotar as
informações.
— Fabíola Vasconcelos — continuou falando sobre ela.
A garota era irmã mais velha dele, não fazia ideia dos esquemas em
que seu irmão se meteu e agora corria risco de vida. Tinha apenas dois anos
a menos do que eu, o que me fez presumir que o garoto era realmente bem
novo.
Não existia mais um homem à minha frente, apenas uma carcaça com
a esperança de fazer algo certo nessa vida inútil a qual ele se manteve até
agora. Sua irmã conseguiria uma segunda chance, se já não estivesse morta.
Apesar de tudo, cumpriria minha palavra. Ele morreu com certa
honra.
Dorso disparou no mesmo segundo que ele terminou de passar as
informações. Fabíola não precisava saber que seu irmão mais novo tinha se
tornado um fantoche de mafiosos poderosos e que, no primeiro momento
que as coisas complicaram, ele foi abandonado.
Às vezes, eu tinha misericórdia. Poucas, mas tinha.
O italianinho me esperava no hall da minha casa. Odiava ostentar, por
isso, não chegava nem perto do que ele estava acostumado.
Todos estavam aglomerados no espaço mínimo que dediquei às
minhas visitas, que odiava receber. Ele era mais velho, marrento também.
Abri meus braços, saudando-o do meu jeito. O tradicionalismo só me
cativava no que dizia respeito a tortura, formas de matar mais lentamente e
com arma branca, de resto, eu não fazia questão.
— Ciao — cumprimentei no meu italiano mais ou menos. Ele ergueu
uma sobrancelha e cruzou os braços, deixando claro que não me receberia
muito perto. — Marrento mesmo — retruquei divertido para Dorso. Ele
apenas riu de volta.
— Podemos ir?
— Claro. Acha que seu Don me concederia um pequeno favor? É que
preciso resgatar uma pessoa que acabou de pousar em terras italianas —
disse, sem rodeios.
Enrolação também não me agradava.
Romero, o consigliere de Rafaello, novo Don da máfia italiana
concentrada na Sicília, bufou sutilmente, demonstrando pouca vontade em
lidar comigo. Bom, somos dois. Pessoas mal-humoradas também estavam
na lista dos que não me agradavam.
— Terá que pedir diretamente, Yakuza.
— Gokudo — corrigi. — Mais respeito, somos aliados agora, não é
mesmo?
Romero cerrou o maxilar.
— Ainda está sob vigilância, garoto. Não somos aliados, apenas
temos algo em comum.
— Que seja. — Dei de ombros e passei por eles. — Não quero vocês
aqui, então vamos logo.
Ouvi os passos atrás de mim, meus funcionários cuidariam da casa
enquanto eu estivesse fora, nunca permitia movimentação aos meus
arredores, me deixava nervoso. Preferia fazer tudo sozinho, mantendo meus
soldados apenas vigilantes pela parte de fora.
O italianinho recém-nomeado estava prestes a comer uma mulher
quando cheguei. Tive a sensação de ser odiado um pouco mais por ele, algo
que não me interessava ou importava. Até o entendia, ela era bonita, tinha
um corpo bom para foder.
— Atrapalhei algo? — disse debochado, pois sabia que sim.
Rafaello me escaneou com atenção e tomei a liberdade de fazer o
mesmo. Até que ele tinha porte para a sua idade, o que eu não poderia
questionar, afinal, não cheguei aos trinta ainda. Se bem que, vinte e oito era
quase.
A grande diferença entre nós, no entanto, era a criação. Rafaello
lidava bem com a alta sociedade, passava despercebido entre figurões. Eu
não.
A maldade estava escrachada em meu andar, olhar e nas tatuagens
que carregava no corpo. Todos sabiam que eu era problema no segundo em
que colocavam os olhos em mim. Minha presença era prenúncio de sangue
e morte.
— Não. Eu já o esperava.
Virei-me para os meus homens, sinalizando que ficassem atentos.
— Só entrarei com um, os outros fiquem de olhos abertos e não
deixem ninguém nos atrapalhar — orientei em nosso idioma; eles
concordaram. Já imaginava como as coisas funcionariam.
— Vamos ao escritório, se quiser, traga apenas o seu soldado de maior
confiança, os outros podem ficar aqui embaixo ou irem direto para o quarto
onde você ficará para fazer as devidas checagens.
Tão clichê de mafiosos de terno.
— Todos são de confiança — soltei divertido. Tudo nele me
entretinha, adorava ver o tipo pinguim bancando o mafioso. — Mas, apenas
Dorso virá comigo.
Como previsto, ele estranhou o maldito apelido.
— Ele tem o dorso inteiro de cicatrizes, foi atacado por um urso e
sobreviveu. — Dei de ombros. — Não fui eu quem escolheu o apelido.
E não foi mesmo. Eu teria tido mais criatividade.
Rafaello nos ignorou, seguindo em direção a uma escadaria, e supus
que nos levaria ao andar de seu escritório. Eles sempre tinham um. Incrível.
Um tipo ainda mais interessante nos encontrou lá: loiro, com olhos azuis
cortantes; este parecia mais perigoso.
Gostei do cara, quanto mais perigoso, mais precisava estar perto de
mim.
Me larguei na poltrona deliciosa de couro italiano, frescuras que,
devo admitir, eu não me importaria de aderir. Ainda que não fosse útil,
passava mais tempo no meu porão do que no escritório em Tóquio.
— Antes de começarmos essa conversa, preciso pedir um favor —
comecei a falar, antes que a reunião fosse até os ratinhos irlandeses; os
quais esmagaríamos sem pena, só pela audácia de nos acusarem de algo que
não tínhamos qualquer interesse. — Preciso levar uma brasileira comigo. —
O Don pareceu um pouco alarmado, então tratei de finalizar a negociação.
— Uma jovem chamada Fabíola, Fabiula, Fabeola... algo assim.
O nome sempre se embaralhava na minha boca, mas precisava
reconhecer que a garota era linda demais.
Pedi a Dorso que trouxesse uma foto dela. A garota tinha expertise,
pois saiu dos EUA na primeira suspeita de estar sendo seguida. Contudo, eu
gozava de recursos e foi fácil encontrá-la passeando na Itália, também
ótimo para minha logística.
— Posso saber o motivo de querer levar uma estrangeira?
— Uma promessa que irei cumprir. Em troca, fico te devendo, vai
adorar me ter como aliado, italianinho.
Ele concordou e isso foi o suficiente para começar a minha caçada.
Nunca ia pessoalmente atrás de alguma “promessa”, porém, tudo estava
interligado. Uniria o útil ao agradável. Pegá-la deixaria um recado aos
irlandeses.
Hey, seus cuzões! Estou com a irmã do seu garoto, sabe o que isso
significa? Isso mesmo, sei tudo sobre vocês!

O primeiro jantar na casa do Don foi divertido. Servi como um


quadro exposto, daqueles caros que todos olham admirados, mas não tem
coragem nem de encostar. Era algo normal na minha vida, quer dizer,
quando saía da minha amada Tóquio, claro.
Seriam três dias, então agi rápido e no segundo dia, já a tinha na mira.
Prometia ser algo tranquilo, a mulher de pele negra e cabelos
cacheados desfilava com seu corpo robusto e tão cheio de carne e curvas
que aguei com gosto. Não existia possibilidade de ela passar despercebida,
a beleza, junto da confiança que seus passos exalavam, apagava todo o
resto.
No terceiro dia, eu fui à caça.
Fabíola Vasconcelos tornou-se uma tentação aos meus olhos. Um
monumento bem à minha frente. Por foto já tinha me agradado muito do
que vi, mas, pessoalmente, não existiam palavras suficientes para descrever.
— Chefe, é ela mesmo? — Dorso questionou, tão admirado quanto
eu.
— Já se esqueceu das fotos? — Ele não respondeu. — Vou conversar
com ela. — Ia abrindo a porta do carro quando meu soldado me impediu,
conseguindo um olhar nada amistoso vindo de mim.
— Lembra que ainda não podemos ser vistos? O italiano não vai
gostar dessa ideia.
Revirei os olhos e voltei a me recostar no assento. Ainda estávamos
iniciando uma guerra, mostrar demais para os inimigos seria estupidez, o
pinguim mafioso tinha alguma razão.
— Tem alguém a minha disposição?
— O loirinho — retrucou impassível. Sorri de canto, sabendo que ele
seria perfeito.
— Liga para ele, precisamos dela ainda hoje.
— Sim, chefe. — Dorso se ajeitou no banco, pegando o telefone e
fazendo o que ordenei.
Mantive meus olhos na linda mulher, enquanto ela entrava em uma
loja de roupas italianas bem movimentada. O traseiro dela era ainda melhor,
cheio, redondo, marcado na calça colada e tendo coxas grossas o
sustentando com louvor.
Meu pau começava a endurecer quando me obriguei a desviar o olhar,
parando de procurar por sua silhueta entre as pessoas na loja, que era toda
envidraçada.
— Ele está a caminho, chefe. Disse que vai apenas capturar, mas o
transporte é com a gente.
Meu sorriso se formou devagar, imaginando como seria dividir o
assento traseiro com ela. O que a pequena acharia de mim? Teria medo?
Ah, eu apostava que sim.
Mas depois, ela sentiria outra coisa, uma bem mais ardente, pulsante.
Eu lhe daria isso. Prometi a seu irmão que a manteria segura, não disse nada
sobre manter minhas mãos longe.
Nunca reprimi desejos.
Nunca deixei de fazer algo por medo do julgamento alheio.
Não começaria naquele momento.
Me encaixaria entre aquelas coxas suculentas, aproveitaria de cada
segundo metendo fundo na boceta dela e, quando encontrasse um lugar
seguro, a deixaria lá, cumprindo a minha parte do acordo.
Não precisava ser um grande evento, simplicidade me atraía mais
nesse quesito.
O olhar doce, o penteado delicado, tudo me fazia crer que Fabíola
seria maleável. Uma mulher fácil de lidar.
Bom, eu descobri que as aparências enganam!
Lucca não brincou quando disse que apenas a capturaria. O homem a
abordou horas mais tarde, quando o céu começava a escurecer e a garota já
demonstrava um certo cansaço.
Chegou como um bom moço, vi tudo da janela do carro, rapidamente
a atraiu para um lugar mais reservado na rua de trás do pequeno restaurante
que ela estava.
Ele não demorou muito, logo fez sinal para meu motorista, que ficou
alerta e, segundos depois, estávamos parando o carro na tal rua, tendo em
nosso campo de visão uma mulher xingando e tentando gritar, com suas
mãos e pernas amarradas com certa precisão a impedindo de nos atacar.
Lucca tinha uma marca vermelha no pescoço, demonstrando que não foi tão
fácil quanto parecia.
— Quanto tempo se passou? — perguntei encarando Dorso, que
apenas deu de ombros.
— Peguem-na logo, a mulher é um furacão — Lucca resmungou, a
arrastando com dificuldade.
Dorso saiu do carro e seus olhos se arregalaram ao ver meu soldado, o
grito ficou estrangulado na garganta e seu corpo inteiro amoleceu.
Foi naquele momento que ela reconheceu: estava fodida!
— Mas que... — Lucca retrucou.
Dorso o ajudou e a colocaram ao meu lado, sua cabeça caiu em meu
ombro com os cabelos cacheados cobrindo um pouco do seu rosto.
Não resisti e enquanto eles se organizavam para partimos de volta a
mansão do Don, levei minha mão até seu rosto, gostando da textura macia
de sua pele e escorreguei meu polegar sobre seus lábios, notando que o
batom não fez nem menção de sair.
Eu adoraria ver um batom escuro naquela boca, enquanto engolisse
meu pau, de preferência.
— Chefe? — Pisquei, mirando meu soldado. — Escutou o que eu
disse? — neguei, sorrindo curto, quase um pedido de desculpas. — Não
acha que arrumaremos problemas com o italiano?
— Iremos embora amanhã cedo. Finalizarei todas as pendências que
tenho com aquele merda hoje mesmo.
Não aguentaria muito tempo longe de casa, ainda mais tendo em
minhas mãos uma mulher tão deliciosa quanto a que ressonava baixinho ao
meu lado.
Dito isso, todos se calaram e seguiram de volta à mansão. Assim que
o carro parou em frente a grande porta de entrada, ela acordou. Não foi
nada bonito o jeito como tentou chutar Dorso, seus gritos ecoando em uma
língua que eu não conhecia, apesar de algumas palavras soarem parecidas
com o italiano em alguns momentos.
Quis rir, pensando no quanto eu estava errado: a garota era uma
pantera com garras bem afiadas e colocá-la para dentro foi algo divertido,
quer dizer, para os meus soldados não; ela sequer me notou, sua energia
estava toda em atacar quem tocava seu corpo, mesmo amarrada ela
conseguia acertar um ou outro golpe.
Mas, foi quando, sem querer, um dos meus soldados roçou em seu
decote e quase expôs seus seios, que resolvi parar a brincadeira, fora a
bagunça na entrada da casa do pinguim mafioso.
Peguei meu canivete de bolso, estirei a lâmina e, em segundos, estava
atrás de seu corpo farto com uma mão apertando forte sua cintura,
deixando-a colada em mim e a outra posicionada contra a pele fina do seu
pescoço, permitindo-a sentir a lâmina gelada e afiada pronta para cortá-la se
não ficasse quietinha.
Apenas aí que ela me notou e soube do perigo, entendendo que não
fugiria de nós.
A pantera paralisou, sendo possível ver o movimento de seu peito
subindo e descendo com velocidade.
A porta foi aberta no momento em que aproximei meu nariz de sua
pele, louco por farejá-la.
— Que diabos pensa estar fazendo? — Rafaello olhou de um lado a
outro, então ordenou para que nós entrássemos logo. Fabíola voltou a
reagir, seus xingamentos transformando-se em gritos.
Eu odiava malcriações, porém, vindas daquela boquinha esperta, até
que apreciava.
Um dos soldados do Don a puxou com força demais, jogando seu
corpo no chão em um baque surdo. Fiquei puto.
Meus pés me levavam até o abusado quando a mulher que convivia
com o Don desceu as escadas apavorada. Ela conversou com a pantera e
fiquei atento.
Por fora, eu apenas sorria de canto, apreciando, imaginando como as
cordas poderiam ser úteis em outras ocasiões. Um pequeno
desentendimento rolou no hall de entrada, mas permaneci focado em quem
me interessava. De repente, cumprir uma promessa se tornou algo divertido,
interessante e... excitante.
Os olhos castanho-claros com leve toque de cor de avelã e levemente
pequenos me fuzilavam, prometendo muita dor; os lábios ainda saltavam
palavras que, pela intensidade dela, com certeza não eram elogios à minha
beleza.
Cansado de não ter respostas e louco para preparar meu retorno a
Tóquio, peguei minha pantera e a joguei sobre meus ombros, tendo sua
bunda na direção dos meus olhos e o preço por ter essa visão linda foi de
apanhar nas costas por todo o caminho.
Assim que entrei no quarto que me cederam, larguei um tapa forte em
sua bunda, ouvindo seu guincho de surpresa. Joguei seu corpo sobre a cama
e a encarei curioso.
— Sei que entende o inglês, não viria para um país desconhecido sem
saber o mínimo. Não sozinha — Ela virou o rosto. — Seu irmão me pediu
para protegê-la.
Devo admitir, mesmo tendo um vislumbre de surpresa e curiosidade,
ela se manteve calada, olhando-me de canto.
— Hoje vou te deixar descansar. Mas entenda, comigo você está
segura. — Apontei para a direção da porta. — Lá fora, estará morta em
dias.
Me ergui, tendo pela primeira vez toda a sua atenção e confesso que
gostei da reação que arranquei. O olhar deslizando por meu corpo,
buscando cada detalhe do que permiti expor, mas quando retornou ao meu
rosto sua expressão fechou, notando o vacilo e em como eu estava satisfeito
com tudo aquilo.
— Assim que entender que não sou um inimigo, tenho certeza de que
seremos bons um para o outro — falei, controlando mais a rouquidão da
minha voz.
Era difícil não pensar em sexo tendo seu corpo jogado sobre os
lençóis que me acolheram na noite anterior.
Depois, quando os ânimos se acalmassem e eu lhe contasse algumas
coisas, omitindo outras mais, teria armas para utilizar em uma tentativa de
aproximação. Eu não era do tipo que aceitava perder, isso se aplicava a uma
máfia inteira, como também a uma boceta quente e apertada.
Encarar tudo aquilo como um jogo tornava a situação empolgante,
tentadora demais para simplesmente desistir no primeiro não.
O olhar ferino permanecia me fitando, buscando por qualquer indício
de quem eu era, como conhecia seu irmão e porque deveria acreditar em
mim; sua mente trabalhando para saber se valia a pena começar um diálogo
com o estranho tatuado ou manter-se calada evitando soltar mais
informações do que deveria.
Ali pude ter certeza de duas coisas: sua inteligência e senso de
proteção, e que, definitivamente, aquela mulher não conhecia
completamente seu irmão mais novo, ou ela jamais teria chutado o
estômago de um soldado de confiança do líder da máfia japonesa.
Sua ficha começou a cair no momento que seu irmão foi citado, não
era apenas ela em risco, agora existia uma chance, mesmo que mínima, de
ela saber o paradeiro dele, e foi com esse pensamento que ela, pela primeira
vez aquela noite, se dirigiu a mim.
— No que meu irmão se meteu? — O inglês fluido, um sotaque quase
perfeito.
— Agora poderíamos ter uma conversa civilizada, Pansã[1], mas tenho
outros assuntos a resolver. — Segui em direção a porta e saí sem olhar para
trás.
Fabíola precisava entender quem mandava naquela situação, a quem
pertencia o poder de escolha. Primeiro, a morte do Don enfraquecido e
traidor, depois, uma conversa amistosa com a mulher que me teria como
companhia por alguns dias, até encontrar um lugar para mantê-la segura.
Os cortes foram apenas uma forma de extravasar, o trabalho duro
viria depois.
Conheciam os Gokudos como Yakuza e, apesar dos significados
serem diferentes e não sermos fãs da denominação que nos deram, a
crueldade igualava-se. Não deixaria aquele velho arrogante que pensou
poder tocar no nosso nome sem sofrer consequências desmentir tudo que
sabiam sobre nós.
A forma mais eficaz de dar exemplo era enviá-lo a cada um que
abraçou aquela causa.
— Se não quiser ver seu velho perdendo a cabeça e os membros,
sugiro que saia — avisei.
No lugar do Don, eu também não ficaria.
Ver o homem que, de certa forma, teve envolvimento em quem você
se tornou, perdendo cada membro à base de machadadas, não poderia ser
classificado como satisfatório; a menos que este o tenha abusado.
Contudo, não foi tristeza o que encontrei em seus olhos: foi nojo e
desprezo. Rafaello saiu porque não se importava o suficiente, e não pelo
significado de tudo aquilo.
— Vai começar por onde? — Lucca perguntou animado, girando o
cabo do machado.
— Pode escolher, loirinho. — Deixei que conduzisse, vendo o brilho
de excitação crescer cada vez mais em seu olhar.
Lucca analisou cada parte do velho, porém, deu mais atenção em suas
mãos e decidiu que seria um bom começo. Foram dois golpes em cada uma
até arrancá-las de uma vez. sangue e restos de carne se misturavam no chão.
Dorso tirou o machado das mãos do subchefe, tomando a frente e
decepando a cabeça com poucos golpes. Os olhos ainda abertos do Don
traidor me miravam quando rolou para perto do meu pé.
Busquei, no fundo da minha alma, motivos para ter alguma pena
daquela situação. Não encontrei. Ele não me causava nada. Era mais um
homem corrompido que sequer prestou para gerir sua família, não se tornou
digno de compaixão ou pena.
— Deixa que eu faço! — Estiquei a mão, pegando o cabo do
machado para mim.
Foi a vez dos braços, cortei-os com precisão e rapidez. O sangue
jorrou outra vez, me atingindo no processo, aquele cheiro não era incomum
ao meu olfato. Foi fácil.
Nos revezamos arrancando cada membro, depois dividimos o tronco,
tornando maleável para enviarmos em uma caixa cada partezinha.
— Vai mandar para os irlandeses? — Lucca questionou, seus olhos
focados em toda a sujeira que fizemos.
— Sim. Os capos traidores serão por conta de vocês. Frank irá adorar
a surpresa, tenho certeza.
Frank era o cabeça por detrás dos irlandeses. Começou pequeno,
fornecendo bebidas na lei seca e foi aumentando seus produtos, tendo
charutos cubanos, maconha, depois expandindo para cocaína e outras
drogas mais pesadas. O desgraçado ia bem, até pisar no calo dos italianos e
tentar passar a perna em nós, Gokudos.
Nunca gostei do tipo, sempre me pareceu um rato que se fingia de
gato, ganancioso ao ponto de jogar seu próprio filho na fogueira para livrar
a própria cara, infelizmente para ele, nós estávamos unidos e em maior
número, o que levaria a sua morte junto dos seus soldados e a queda do que
ele construiu.
Frank largou sua inteligência para os negócios pelo caminho, talvez
no mesmo lugar em que encontrou a arrogância para se sentir dono de tudo
e todos.
A janela foi trancada, os lençóis carregavam um cheiro gostoso,
apimentado, másculo, o qual estava me deixando inquieta; meu corpo ainda
permanecia amarrado e a calça começava a me incomodar, fora os
pensamentos embaralhados, circulando e voltando a um nome.
Diego, meu irmão mais novo.
Engoli o desespero, respirei fundo mais de uma vez e voltei a me
concentrar em tudo ao meu redor. Minhas pernas e mãos presos por cordas
dificultariam qualquer movimento, a casa parecia cercada de brutamontes
armados, e tinha aquele cara...
Um frio na espinha me atravessou e me encolhi um pouco.
Suas intenções não eram nada cordiais, seu olhar denotava malícia,
desejo pelo meu corpo. Conhecia o tipo, gostava de estrangeiras para
brincar. Meu medo era o empenho que ele colocaria sobre isso. Tentaria me
estuprar?
Ele disse que meu irmão o enviou para me proteger. Seria verdade?
Droga! Por que Diego era inconsequente assim? Eu o procurava há
dias. Sabia que estava encrencado com algo e temia o desfecho disso, por
este motivo, precisava vê-lo, me tranquilizar quanto sua segurança, queria
abraçá-lo forte e depois estapear aquela cabeça teimosa e gananciosa.
Meus olhos se fechavam no momento em que a porta abriu e fiquei
boquiaberta com o que vi. O homem estava apenas com uma toalha na
cintura, cabelos molhados e uma outra toalha na mão tirando o excesso de
água por seu corpo, o cheiro de sabonete de ervas invadindo o quarto.
— Desculpe, preferi não vir direto para cá, mas estava sem roupas
limpas no outro banheiro. — Deu de ombros e seguiu até uma porta,
mostrando ser um pequeno closet com uma mala preta de tamanho médio.
Isso me fez lembrar que tudo que eu tinha ficou no quarto do hotel
onde me hospedei.
— Preciso das minhas coisas — falei rápido, como se fosse uma
competição.
Ele estava de costas para mim, me deixando ver as tatuagens
coloridas e enormes que tomavam suas costas. Os ombros largos com
pequenos pingos escorrendo.
Deus, era uma visão tão gostosa, quase erótica.
Mantive meu foco mesmo assim.
Ele me olhou sobre o ombro, não foi algo muito longo, apenas uma
espiada, depois voltou à sua tarefa, passando uma cueca por suas pernas,
tomando cuidado para que a toalha não caísse antes de estar completamente
coberto; então jogou o pano que cobria sua cintura para o lado, pouco se
importando se cairia no chão ou na pequena mesa de canto, esfregou mais
os cabelos com a que permanecia em sua mão, a dispensando logo em
seguida.
Somente de cueca, ele caminhou até a porta pela qual entrou,
trancando-a e se virou para mim, seus braços cruzados em frente ao peito e
o olhar afiado e fixo, um escuro diferente, penetrante.
— Elas estarão no avião quando embarcarmos amanhã cedo.
Estreitei meu olhar, remexi meu corpo e consegui, com extrema
dificuldade, me sentar sobre minhas pernas com o tronco erguido. Seu
escrutínio desceu até minhas coxas, voltando para o meu rosto em seguida.
— Onde está Diego? — perguntei desesperada, quase suplicando.
Deixei de lado um pouco do meu orgulho, tentando entender onde
aquele cabeça de vento me enfiou. Ele ficou um tempo quieto, talvez
pensando.
— Seu irmão não está comigo, mas antes de ir embora ele me pediu
para te achar e te manter segura.
— Onde ele está?
— O que importa é que amanhã viajaremos e você ficará a salvo...
— Onde ele está? — aumentei a voz.
— Vou arrumar um lugar para você ficar, depois que tudo estiver
tranquilo.
— Onde, caralho, está o meu irmão? — rosnei, tentando me esticar
mais.
Ele caminhou devagar até mim, parando na beirada da cama, inclinou
seu corpo até ter seu olhar nivelado ao meu.
— Estou tentando ser gentil, Pansã. Não falarei mais do que o
necessário, não responderei suas perguntas se não quiser. De toda maneira,
prometi que a levaria para um lugar seguro — desceu o olhar para os meus
lábios — e farei isso, você gostando ou não.
Me sentei sobre minhas pernas novamente, minhas mãos amarradas à
frente do meu corpo, pesando sobre minhas coxas.
Diego foi longe demais dessa vez. Sua procura por estabilidade
financeira o acertou em cheio na cabeça e eu temia nunca mais vê-lo. O
cansaço se juntou a tristeza e eu perdi a vontade de lutar contra aquele
estranho.
— Me deixe. Eu não pedi e não quero um babá — proferi baixinho,
com o resto de dignidade que ainda me cabia.
— Sinto muito, querida, mas eu nunca deixei de cumprir uma
promessa.
O estranho tocou minhas mãos, o que me fez recuar, o obrigando a
segurá-las com força, seu olhar gélido de quem perdeu toda a paciência me
fez parar. O nó foi desfeito e minhas mãos soltas.
— Deite-se, vou desamarrar suas pernas — obedeci, ele tocou meus
calcanhares, massageando-os primeiro, depois ergueu a cabeça para mim.
— Se tentar algo contra mim, vai ser machucada. Não tem chances de fugir,
tudo aqui é monitorado, cercado por homens armados. — O aviso foi dado.
Aquiesci, virando o rosto quando voltei a sentir o calor de seu toque
em mim.
— Meu nome é Katsuo, mas pode me chamar de Saki também.
Concordei, mais uma vez sem me direcionar a ele.
— Vou dormir no chão para que se sinta à vontade, terá um quarto
para você na minha casa.
Absorvi a informação. Eu estava sendo sequestrada, ficaria presa e
teria um estranho me vigiando vinte e quatro horas por dia. O medo me
engolfou.
A sensação de impotência parecia me consumir de dentro para fora.
Ficou bem óbvio que ele, ao me soltar em um quarto onde apenas nós
estamos, me dava um pequeno, minúsculo, voto de confiança, e seria a
partir dos meus atos dali em diante que ele definiria a maneira de agir
comigo.
Não era ingênua, muito menos a primeira vez que Diego se metia em
encrenca e eu tinha que acompanhar o jogo. Homens como esse japonês
adoram denotar poder e uma mulher não deveria enfrentá-los. Nunca.
— Durma bem, Pansã.
Ouvi cada um de seus movimentos, mesmo que não me desse ao
trabalho de conferir.
O grande e principal problema começava com a minha língua afiada e
terminava com meu orgulho acima de qualquer medo. Sobrevivi a situações
diversas; como mulher: já chutei as bolas de abusadores; como negra:
enfrentei de peito aberto racistas enrustidos e aqueles que se fingem de
corajosos, até receber o que merecem; e como irmã do Diego: tive que
rastejar em bueiros fétidos chamando por ele, procurando o jovem
promissor que caiu na rede de merda que colocavam os viciados.
Sua inteligência consumida pelas drogas. O vício sendo maior que
tudo, engolindo-me junto dele.
Não seria um japonês tatuado que me colocaria em uma jaula. Ele se
enganou ao pensar, por um segundo, que tinha a companhia de uma mulher
medrosa.
Minha atenção estava toda em sua respiração. Ela entendeu meu
recado, mas a chama em seus olhos me manteve bem esperto quanto a sua
presença. Fora o tesão. Porra, aquela posição era perfeita para segurar firme
seus cabelos e fazê-la abaixar aquela boquinha raivosa direto para o meu
pau, a bunda ficaria arrebitada, me dando uma visão cheia.
Eu precisava ir com calma. Ela cederia, pelo olhar que lançou quando
me viu seminu, deixando claro que também gostou do que viu. Porém, a
situação não era das mais favoráveis para mim e eu conseguia entendê-la.
Não a peguei com delicadeza, convencendo-a a vir comigo e sua cabecinha
dura deveria estar imaginando mil formas com as quais poderia torturá-la.
Eu também estava..., mas não do jeito que ela achava.
Sua respiração começou a mudar, tornando-se mais pesada. Deitei
minha cabeça no travesseiro, não tinha nada no quarto que pudesse ser
usado como arma, garanti isso antes de sair a primeira vez. Minha faca
estava comigo, mais precisamente na minha cintura.
O abajur ao lado da cama continuou acesso, mas a luz não era forte a
ponto de incomodar. O sono foi me vencendo, me lembrando do jet lag e o
quanto não dormi direito.
Pensei em todas as possibilidades e ela não teria como fugir, pois as
janelas estavam trancadas e abaixo delas eu mantive um dos meus soldados
do lado de fora, Dorso e mais dois vigiavam a porta.
O ressonar baixinho e bem parecido com o que ouvi no carro
começou.
Suspirei, toquei a faca na minha cintura, acabei optando por cochilar.
Conseguia dormir por duas horas e acordar bem e ativo.
Algo não estava certo.
Puxei o ar com mais força e... nada. A dor no peito começou a me
incomodar e acordei de supetão. Não conseguia falar, tinha a porra de um
travesseiro sobre meu rosto e uma mulher endiabrada sentada na minha
barriga, aplicando força contra ele.
Minhas mãos foram para as dela, ouvi seu rosnado e a força
aumentou.
Caralho, ela fazia musculação? Algum tipo de luta?
Consegui arrancar o travesseiro dela, o jogando para o lado, mas ela
não se deu por vencida, dessa vez, foram suas mãos a tentar tampar meu
nariz. LOUCA.
Coloquei minhas palmas em suas coxas e ergui meu quadril, a
desestabilizando, então aproveitei o momento e nos girei no chão, mudando
a posição e assumindo a dominância. Ela tentou me estapear, seus rosnados
eram de um ódio que nunca pensei que veria em uma mulher tão pequena.
Travei minhas coxas para que não conseguisse sair, joguei todo meu peso
sobre seu corpo e capturei suas mãos, as esticando acima de sua cabeça.
— Pare agora! — grunhi irritado, ainda recuperando o fôlego que ela
me roubou.
Fabíola tentou erguer o rosto contra mim, no entanto, consegui afastar
antes de levar uma bela cabeçada.
Sem mais paciência, busquei a faca em minha cintura com rapidez e a
enfiei contra sua garganta, aplicando força suficiente para fazer um filete de
sangue escorrer.
Ela paralisou.
— Muito bem, agora me diga: o que pretendia com isso? — Ela virou
o rosto, recusando-se a me encarar. — Quer ser morta? Pretende mesmo me
deixar puto?
— Apenas me deixe em paz, não quero sua proteção. — Voltou-se
para mim, fixando aquelas pequenas avelãs raivosas. — Vou tentar te matar
a cada oportunidade — prometeu.
Por algum motivo, aquela merda toda só me deixou mais louco para
dominá-la. A fúria deu lugar a excitação. Quebrar aquela valentia toda me
tornaria um homem feliz pra caralho.
— Acha que é o melhor jeito de lidar com essa situação?
— Foda-se!
Inclinei a cabeça e um sorriso travesso se formou em meus lábios.
— Eu estava disposto a ser bonzinho com você, afinal, minha missão
é te proteger. Mas essa sua teimosia me deu ideias, Pansã. Muitas ideias.
Pressionei mais seus pulsos que segurava com apenas uma mão,
enquanto mantinha a lâmina na outra.
— Quero ver toda essa marra quando estiver se engasgando com meu
pau — disse debochado, descendo a lâmina do meu canivete por seu corpo,
sem cortar sua pele, a pressão certa apenas para ameaçar. — Ou quando
gritar meu nome gozando pra mim.
Ela comprimiu os lábios e afunilou ainda mais o olhar, sua respiração
controlada, temendo que um movimento diferente pudesse feri-la por causa
do caminho que meu canivete fazia. Parei acima do seu decote, o peito, que
antes subia e descia com sua respiração, ficou paralisado quando ela
simplesmente prendeu o ar. Aproveitei para rasgar toda a sua linda blusa.
Um silvo escapou entre seus dentes, surpresa misturada ao medo de
se mover. O corpo robusto e delicioso ficou tenso embaixo do meu. Fabíola
não usava soutien, o que me deu a linda visão dos seios pequenos e
pontudos com os mamilos enfeitados por aureolas escuras e grandes, os
bicos duros e chamativos. Lambi os lábios, imaginando minha boca
fechando em cada um deles.
Assim que afastei um pouco o canivete, ela voltou a soltar o ar e
tentar se mover.
— Quieta! — ordenei ríspido, mudando a forma de tratá-la.
A mulher tirou minha paciência com louvor, mas, naquele momento,
eu só pensava no esforço que fazia para não chupar seus peitos e,
definitivamente, balançá-los com seus movimentos não ajudava na minha
missão.
— Será que meu pau deslizaria entre eles? — perguntei para provocá-
la.
A abordagem tranquila caiu por terra a partir dali.
Fabíola, no entanto, riu; alto, como se realmente tivesse escutado uma
piada. Sua cabeça estava de lado e os olhos fechados. Isso me irritou.
— Qual a graça, brasileira?
— Nada... é que... — Direcionou o olhar para a minha cueca, que
ainda não estava apertada, pois meu pau era muito bem comandado por
mim, precisava de mais do que peitos para eu perder o controle sobre ele.
— Ah, quer saber, japonês? Esse seu pauzinho não me assusta, e sim, algo
tão pequeno quanto isso. — Novamente apontou com os olhos para a minha
cueca. — Cabe em qualquer lugar, até no bocal de uma garrafa pet.
Como é?
— Acha que meu pau é pequeno?
— Fui clara, não fui?
— E isso por quê? Por causa do meu olho esticado?
Ela deu de ombros, desviando de novo o olhar.
Me ergui, indignado com aquele papo. A desgraçada estava com um
canivete a ameaçando, a blusa rasgada e um pouco de sangue começando a
secar em seu pescoço, e ainda me desafiava falando mal do meu pau? O
MEU PAU!
A irritação foi tanta que corri os olhos pelo quarto e em segundos
tinha a porra da corda em minhas mãos.
— Ajoelha! — ordenei. O riso sumiu de seus lábios, ela procurou por
algo que pudesse usar para me ferir, mas era eu quem estava no comando
daquela merda. — Ajoelha, porra!
Percebendo meu humor, ela obedeceu. O medo transpassando em
seus olhos.
Parei atrás de seu corpo e amarrei suas mãos para trás, deixando seus
seios expostos para mim. Era a nossa primeira noite juntos e eu já queria
fazê-la engasgar-se com meu gozo até não ter o que falar; até seu olhar
revirar de tanto que eu a faria desmanchar e depois a machucaria com a
faca, com as minhas mãos, com as cordas. Porra, eu queria marcar aquela
pele e fazê-la nunca mais duvidar do estrago que meu pau poderia fazer em
seu corpo.
— O que vai fazer?
— Cala a boca! — Passei o restante da corda por sua cintura,
amarrando-a à frente de seu corpo e ficando com um pedaço em minha
mão. Puxei, fazendo-a gemer e vir um pouco para frente. — Assim está
melhor — rosnei.
— Vai me obrigar a te chupar? — insinuou sarcástica, parecendo
procurar por motivos para apanhar de mim.
— Ah, não. Isso você fará com gosto. — Prendi em meu pulso a
corda, e quando estava com as mãos livres, abaixei minha cueca o
suficiente para que ela visse meu pau e desfrutasse do show.
Comecei me masturbando devagar, seus olhos focados em meus
movimentos e, mesmo que quisesse desviar, ela não conseguia. A cada
novo subir e descer, me imaginava fodendo-a ainda assim, amarrada e
usando aquela boquinha raivosa somente para gemer. Grunhi baixo, o senti
engrossando e alongando. Não era anormal, gigantesco, mas,
definitivamente, não se comparava ao que ela imaginava de mim.
Vi na forma como se surpreendeu, suas pupilas dilatando-se, a
respiração pesando e o corpo ficando todo arrepiado. Intensifiquei,
bombeando forte, mordendo meu lábio e a fitando com tanto tesão que
poderíamos ser consumidos por aquela merda.
Aquele corpo se curvaria para mim.
Aquela língua rodearia meu pau mais de uma vez.
Aqueles cabelos seriam empunhados por minhas mãos.
Ah, e aquela boceta pulsaria forte ao meu redor, me reconhecendo
como o homem que a estragaria para sempre.
Fabíola me pertenceria pelo tempo que eu quisesse. Então, pagaria
por cada insulto que lançou e que ainda iria lançar contra minha pessoa.
Porque eu vou deixá-la, e enquanto eu seguirei minha vida sem lembrar de
seus rastros, ela permanecerá buscando a mim em cada maldito homem que
encontrar.
Gemi rouco, pensando no que faria com ela, então me aproximei,
vendo-a abrir e fechar a boca, surpresa, mas recebendo com louvor meu
esperma em seus peitos e sentindo a cabeça do meu pau lambuzando-a
ainda mais.
Ela não recuou. Não reclamou. Apenas observou a tudo admirada.
— Da próxima vez, será aqui — falei, ainda enebriado pelo prazer,
tocando seus lábios e os entreabrindo. — Vá tomar um banho e quando
voltar, terá roupas limpas para se trocar.
A pantera não resmungou, colocou seu rabo entre as pernas e me
obedeceu assim que a soltei das cordas.
— Dorso não é tão paciente quanto eu. Não o provoque — avisei
taciturno e saí.
Eu precisava ficar longe dela ou acabaria perdendo a minha cabeça.
Eu perdi alguns parafusos pelo caminho. É a única explicação.
O cheiro daquele homem misturado a adrenalina que perpassava meu
corpo ocasionou em uma torrente de sensações adversas, as quais eu
claramente não tinha completa consciência. Era o jeito mais simples de
justificar tanto tesão acumulado em meu interior. Jesus! Tudo aquilo se
tornou muito para a minha cabeça.
Foram vinte e quatro horas de desafios incalculáveis, o que explicava
a minha xenofobia escancarada, mas... porra! Como ser polida e sensata
depois de ser sequestrada e arrastada para Deus sabe onde?
Eu tinha meus motivos, ok?!
A tentativa de matá-lo foi uma medida desesperada em um momento
de impotência escrachado que me desestabilizou emocionalmente. Não foi
intencional, tudo passional da minha parte.
Consegui, em um piscar de olhos, perder a confiança daquele cretino
e ainda ganhei um puta espetáculo, vindo de um pau que não tinha nada,
nadica, de pequeno. Quase abri minha boca para que ele a penetrasse, meus
seios ficaram tão duros que poderia usá-los como arma. Em minha defesa, o
homem carregava o poder de hipnotizar, foi exatamente o que ocorreu entre
nós: ele me hipnotizou, quase me induzindo a adentrar seu mundo profano e
cheio de indecências.
Coisas que aconteciam comigo, uma lista muito bem preenchida e
tudo graças as loucuras de Diego.
Droga. Eu precisava daquele moleque por perto, sentia ter fracassado
na missão de torná-lo alguém honesto. Quando ele me falou da proposta de
trabalho em Boston, desconfiei, todavia, dei um voto de confiança que
acabou semanas depois, me obrigando a conseguir dinheiro do rabo para
voar do Rio de Janeiro para os Estados Unidos.
Assim que me viu, aquela pele preta ficou quase branca e soube
naquele instante que tinha se encrencado. Meti meu bedelho e estava
prestes a descobrir em que poço meu irmão tinha caído quando ele sumiu.
Aquela sensação estranha no peito não foi à toa.
Cá estou, em um maldito avião, com mais de cinco pares de olhos
estreitos me encarando, um em especial; uma águia desconfiada, com
pupilas pretas lembrando um buraco negro, me arrastando para ele. As
tatuagens cobrindo quase todo o corpo ficavam amostra pelas camisas
largas e com decotes grandes no peito, dando-lhe um ar mais jovial.
Precisava me focar em Diego.
Bastava o episódio da noite passada, que me deixou completamente
alheia ao perigo, querendo que eu o atiçasse apenas para ver se ele me
foderia naquela cama.
Prendada? Nunca fui.
Santa? Muito menos.
Agora, ligeira? Ah, nasci com esses genes. Uma pena que roubei
todos para mim, impossibilitando meu irmão de tê-los também. Talvez
assim ele não se metesse em tanta merda.
Aprendi desde cedo sobre coisas simples como: onde é meu lugar,
como passar despercebida entre brancos esnobes e o principal: nunca,
jamais acreditar que as coisas serão da mesma forma para mim. Tinha a ver
com a minha cor de pele e minha vagina.
Diego caiu demais na lábia de quem tinha dinheiro.
Meu lugar? É onde eu quiser estar!
Passar despercebida? Seja mais esnobe, ganhe onde eles perdem!
Tratada da mesma forma? Nunca fui, sempre exigi mais, sempre fui
mais!
Não cheguei à direção de uma loja de lingeries por acaso, foram anos
de aprendizado. Por isso se tornou tão difícil aceitar ordens de um
desconhecido tatuado cheio de marra e deboche. De homens assim eu
passava longe.
— Para onde está me levando? — perguntei mais calma, o vestido
não tinha decote, mas chegava até metade das coxas, subindo um pouco
quando me sentava.
— Japão — respondeu sem me olhar, focado em seu celular.
Fechei de leve os olhos, procurando calma. Agir de forma agressiva
me concedeu uma bela exibição de masculinidade tóxica, a qual, admito, foi
interessante de observar. No entanto, não passou disso, uma demonstração
de poder.
— Lá é o lugar seguro? — questionei irônica, sem controlar a minha
maldita boca.
— No momento, sim. Depois que eu terminar uma pequena faxina, te
mando pra longe... bem longe, Pansã.
Revirei meus olhos no exato momento que ele resolveu me encarar, a
sombra de um sorriso apareceu, mas na mesma velocidade, evaporou.
— Todas as brasileiras são assim? — perguntou debochado, fitando-
me de baixo.
— Assim como?
— Difíceis...
— Só as que foram sequestradas para o Japão ou qualquer lugar que
não queiram estar — retruquei, cruzando os braços abaixo dos seios.
— Ao final daquele corredor — apontou com a cabeça, observei o
lugar. Não era uma aeronave imensa, mas luxuosa o suficiente para eu saber
ser particular —, tem um quarto onde pode descansar. Vá dormir, a viagem
será longa.
Neguei, sem querer me render a qualquer sugestão dada por ele. Saki
— como prefiro chamá-lo mentalmente, pois é mais fácil — apenas deu de
ombros e voltou a olhar seu celular.
— Não vai mais encostar em mim — disse firme.
Ele sorriu novamente, deixando eu ver bem dessa vez. Não poderia
mentir, era fofo.
— Ah, minha Pantera, eu não só vou, como você vai adorar também.
— Piscou e voltou a se concentrar no aparelho.
Guerreei com ele por horas, porém, em algum momento, o sono me
nocauteou e eu cedi, dormindo torta no assento do avião.
— Está na hora Pansã — uma voz gostosa e sonolenta murmurou
contra meu ouvido e eu apenas sorri e virei o rosto, enfiando mais minha
cara contra um travesseiro delicioso. — Precisamos voltar para os assentos
e colocar os cintos.
— Cintos? — perguntei, ainda manhosa.
Senti mãos quentes deslizando por minhas costelas, um frio gostoso
se apossou da minha barriga e apertei as coxas.
— Sim. — Por que estava mais rouca? — Vamos, ou pedirei que o
piloto dê mais uma voltinha enquanto te fodo.
Abri os olhos em um impulso, ninguém falava assim comigo. Quando
percebi onde estava e com quem, me arrastei pela cama, a qual não
lembrava de ter ido. O estranho japonês me analisava com divertimento.
— Nunca mais toque em mim!
— Você tentou me matar, moça. Terei que puni-la por isso, então,
sim, encostarei em você.
Arregalei meus olhos, me encolhendo mais contra a parede fria do
avião. Um barulho soou, talvez alertando da falta de uso de cintos de alguns
passageiros. No caso, nós.
— Você já... já me puniu.
— Aquilo não foi nada. Agora levante-se, precisamos colocar os
cintos.
Sem que esperasse pela minha resposta, ele circulou a cama e me
puxou pelos calcanhares, até que meu corpo estivesse perto o suficiente
para ele me erguer em seus ombros.
— Seu troglodita, não precisa disso — resmunguei, batendo em suas
costas.
— Sua bunda fica linda desse ângulo e esse vestido não deixa muito
para a imaginação — respondeu debochado e eu quis enfiar minhas unhas
em sua cara, mas as finquei nas costas tatuadas do maldito, o fazendo
resmungar, mesmo que não tenha me soltado de qualquer forma, coisa que
fez apenas quando chegamos às poltronas. Meu corpo foi jogado e bati as
costas contra o acolchoado do assento. — Se antes eu deixaria passar, agora
eu faço questão de puni-la — retrucou, ajeitando a camisa em seu corpo,
talvez sentindo a ardência da minha unhada.
— Você faria da mesma forma!
— Sim, tem razão. — Riu de canto, depois colocou o cinto e me
encarou sério. — Coloque essa porcaria logo.
Obedeci a contragosto, pois o medo de dar merda foi maior.
— Sabe, a gente pode se acertar... O que acha? — falei como quem
não queria nada, mas almejando muito. — Pode me deixar sozinha em
algum canto do Japão, eu me viro bem, fico com seu telefone e quando tudo
estiver resolvido, eu volto para o Brasil. Que tal? — barganhei.
— Prefiro tê-la debaixo dos meus olhos. Algo me diz que é uma
expert em encrencas.
— Não seja estúpido! — resmunguei, emburrando de novo. — Ainda
nem sei quem você é de verdade, como posso confiar que terá condições de
me “proteger” como diz?
— Não seja por isso. — Ele inclinou mais seu corpo, olhos cravados
nos meus. — Sou Katsuo Toyosaki, líder dos Gokudos, conhecidos mundo
afora como Yakuzas.
Minhas pernas estremeceram e a boca ficou seca, meu corpo inteiro
parecia querer se fundir à poltrona. Um sorriso satisfeito preencheu seus
lábios.
— Ainda acha que não posso te proteger, Pansã?
— Talvez eu precise mesmo de proteção, mas não a sua, e sim, de
você! — ciciei baixinho, sentindo-me nauseada.
— Talvez esteja certa.
Novamente, aquele olhar carregado de malícia e determinação.
Era mais do que oficial, a merda que meu irmão se meteu foi muito
maior do que eu poderia prever. Nunca, em meus mais grotescos pesadelos,
imaginei que estaria sob a guarda de um Yakuza.
Ele não me deixou ver nada do lado de fora. Assim que o avião
pousou, o brutamontes que ele chamava de Dorso cobriu meus olhos com
uma venda preta. Katsuo — de quem me forcei aprender o nome, para o
caso de conseguir contato com a embaixada brasileira ou estadunidense —
disse que fazia parte da minha punição.
— Fique tranquila, brasileira — disse uma voz grossa, a qual atribuí a
seu soldado fiel e que vivia cheirando a porra do seu traseiro, o tal Dorso.
— Deu sorte que arrancar dedos não está mais nas prioridades do nosso
Oyabun.
— Oya o quê?
Ele riu.
— Chefe, brasileira, do nosso chefe.
— Certo — retruquei. Apenas segundos depois que absorvi a
informação. — Vocês cortam dedos das pessoas? — Outra risada grossa e
alta me atingiu, quando uma mão grande pegou firme em meu braço, me
guiando.
— Era tradição. Agradeça que Saki não é muito adepto ao que os
Gokudos faziam no passado. Você, brasileira, seria uma bela mercadoria,
renderia muito dinheiro.
Engoli em seco. Pela primeira vez me dei conta do real perigo. Do
tipo assombroso e sem volta. Apertei minhas mãos, sentindo que minhas
pernas tinham vida própria, seguindo com o auxílio do brutamontes.
— Onde está Katsuo? — perguntei, tendo ciência do sério risco que
corria com outro estranho, pois ao menos aquele lá demonstrava desejo por
mim, o suficiente para não me traficar. Era o que eu pensava ou queria
pensar.
— Em uma ligação importante com alguns italianos — falou
tranquilo. Então ele me puxou, me forçando a parar ao seu lado. — Sou um
soldado fiel, jamais encostarei no que pertence ao meu Oyabun, estará
segura comigo, desde que ele queira assim.
Assenti, esperando pelos próximos passos daquela situação. Foi
quando resolvi sondar -um pouco mais. Dorso parecia tranquilo em
conversar comigo.
— Sabe onde meu irmão está?
Uma porta foi aberta e eu fui jogada para dentro sem qualquer
delicadeza.
— O chefe já volta, aconselho que fique parada, evitará de quebrar
algo e conseguir mais punições para a sua lista.
Antes que eu pudesse dizer algo, a mesma porta foi fechada com
brutalidade, me fazendo saltar no lugar. O medo começou a digladiar com a
coragem, pensando se seria prudente retirar a venda e sair fuçando,
procurando qualquer informação que pudesse me levar de volta aos Estados
Unidos ou Brasil.
Optei pela obediência.
Já tinha testado muito os limites daquele homem, saber que fazia
parte de uma organização criminosa tão grande e feroz quanto a Yakuza me
fez pensar o quanto arrisquei a minha vida, e, ocasionalmente, a de Diego.
Como caralhos ele foi se meter com eles?
O que meu irmão fez de tão pesado que precisou de proteção daqueles
caras?
Apertei mais minhas mãos uma na outra. Foram longos minutos nessa
mesma posição, temendo mover qualquer músculo para não irritar o tal Oya
alguma coisa.
Mais uma vez a porta foi aberta, passos pesados chegaram próximos a
mim, então senti a respiração sobre a curvatura do meu pescoço, me
deixando completamente alerta. Me obriguei a não se afastar, sabendo, por
algum motivo, de quem se tratava.
— Nunca pensei que permaneceria do jeito que a deixaram — falou
baixinho, perto do meu ouvido. — O que a fez mudar de ideia?
— Você ser da Yakuza e falar algo sobre punição, quem sabe? —
debochei.
— Gokudo — corrigiu bruto. Sua mão afastou meus cabelos para um
único lado, deixando minha pele exposta. — Ah, sim, que bom que me
lembrou sobre sua punição.
A venda preta foi retirada com certa delicadeza. Pisquei algumas
vezes, vendo que se tratava de uma casa comum e pequena. Dava para ver a
escada do andar de cima, ainda que estivesse no hall de entrada, mas não
por ser parte da arquitetura, e sim, pelo tamanho do ambiente.
— Vamos subir, quero mostrar o quarto em que ficará. — Apesar da
indicação sutil de onde eu deveria ir e a voz tranquila, eu sabia que se
tratava de uma ordem.
Segui à frente, tendo a mão quente e grande apoiada na minha lombar.
Subi cada degrau imaginando o que me esperava lá em cima. Seria um
quarto apenas para tortura?
Fui surpreendida por um ambiente claro, com porta deslizante para o
lado e, dentro dele, apenas uma cama encostada a parede, uma mesinha de
canto, cômoda em frente e um grande espelho. Do lado esquerdo, uma porta
pequena me indicava o banheiro, nada mais do que isso. O encarei, sem
entender.
— Acomode-se, mais tarde teremos o almoço, então eu lhe darei seu
castigo.
Estreitei o olhar, ele pouco se incomodou.
— Vá descansar e procure não me desobedecer mais, Pansã. A
brincadeira acabou.
Dito isso, deslizou a porta, fechando-a e me dando privacidade. A
mala já estava sobre a cama, a peguei, olhando cada uma das poucas roupas
que trouxe para a minha viagem de fuga. Sentei-me na cama com um
vestido de mangas compridas, o clima estava gostoso, mas a diferença de
temperatura me engolfou, me dando noção de que, em menos de meses, eu
passei por três fusos horários diferentes. Estava exausta.
Me arrastei para o chuveiro e a primeira coisa que notei foi o tamanho
gigantesco dele, que pegava meu corpo todo. Sorri feliz, mesmo diante de
tudo, afinal, nada se comparava a um bom banho relaxante que pudesse
tirar um pouco da carga de exaustão que meu corpo sofria.
Esperei que junto a água morna viesse o alívio, mas tudo que pude
pensar foi em Diego. O caminho que percorremos arduamente até chegar
àquele instante.
As lágrimas desceram, eu deixei que viessem, que soltassem de
dentro do meu peito a angústia de ter um irmão desaparecido, um mafioso
perigoso no meu encalço e estar em um país ao qual não sabia dizer duas
palavras sequer do idioma.
Uma carga pesada demais para aguentar sobre meus ombros; um
medo estarrecedor, embora tenha agido de cabeça quente, deixando a
adrenalina ditar as regras. Agora, parando para pôr a cabeça no lugar, pensei
o quanto me compliquei sozinha, jogando-me no perigo e rindo dele, quase
implorando para ser amputada, como o brutamontes disse.
Mas Katsuo pareceu gostar. Sua excitação falou mais alto do que a
necessidade de me cortar, e imagino que isso seja positivo, certo?
Por outro lado, até quando a minha boceta seria distração para
punições verdadeiramente pesadas? Até que ponto meu irmão o conhecia
para que sua promessa fosse cumprida?
Eu não poderia me apegar a uma fala tão simplória e escassa, ainda
mais quando o homem saía pela tangente a cada pergunta sobre meu irmão.
Enfiei o rosto contra a água, obrigando-a a calar meus pensamentos, a
silenciar o medo que por muitos anos não me acompanhava. Até onde a
palavra importava para um desgraçado da Yakuza?
Esfreguei bem meus cabelos, sentindo-os pesarem em minhas costas,
observei minha pele, o ressecamento começava a me pegar devido ao
desleixo após tantas mudanças climáticas.
Porra. Japão! Eu estava no Japão!
Quando eu viria para esse país por vontade própria? Nunca. Essa era a
verdade.
Aquele desgraçado me tornou em um fetiche ambulante para ele. Isso
poderia ser usado ao meu favor, conseguiria distraí-lo dessa forma. O tesão
era capaz de cegar, a luxúria foi responsável por catástrofes desde a era
medieval, por que não usar e abusar de tal situação?
Soltei o ar devagar, mais racional, colocando minha linha de
pensamento em uma torrente de ideias vexaminosas. Ele queria meu corpo,
eu precisava sobreviver.
Dependendo da sua punição, eu acataria calada, resistindo até o
último segundo e, quando ele acreditasse me domar, eu viraria a mesa.
Pensei sobre Perséfone, que chegou ao submundo sem pretensões e
acabou se tornando rainha daquele lugar, tornando Hades o seu maior fã.
Ao menos, era a história que eu preferia acreditar. Se ela pôde domar o
símbolo do que seria infernal, eu conseguiria colocar uma focinheira no
líder dos Yak...ops, Gokudos.
Saí do banho com a toalha enrolada em meu corpo e abri minha mala,
pegando um short de malha que cobria apenas o suficiente e uma blusa solta
no corpo; me recusei a usar soutien, provavelmente perderia aquela peça de
roupa se a punição de Katsuo para mim envolvesse facas afiadas.
Lembrando disso, toquei meu pescoço, o corte que ele fez me tirou um
filete de sangue, mas foi tão mínimo que nem senti quando me enfiei
debaixo d’água. Para completar, e porque meu corpo inteiro se arrepiou,
coloquei uma jaqueta jeans por cima.
Parei de frente a porta, analisando minhas opções mais uma vez.
Fugir se tornava mais difícil a cada constatação. Estava no Japão, mas
não tinha ideia de qual cidade, se as pessoas saberiam falar inglês, se existia
movimentação do lado de fora ou se o desgraçado me carregou para algum
lugar distante de tudo, enfiada em uma floresta qualquer.
O almoço foi tranquilo, algo parecido com macarrão, mas de textura
mais grossa. Estava gostoso, tinha alguns pedaços de carne e um molho
também grosso que eu chutava ser tarê. Não perguntei nada, não olhei em
seus olhos.
O tempo seria meu maior aliado e a confiança precisava ser
estabelecida entre nós, do contrário, jamais sairia do domínio daquele
homem e, quem sabe, até pudesse me ferir no processo.
A minha maior alternativa nessa história era ceder um pouco e
conhecer mais sobre onde pisava.
— Suba e me espere, darei sua punição pela forma como agiu durante
a nossa estadia na Itália — Katsuo falou tranquilamente, após perceber meu
prato vazio sobre a mesa. Não existiam funcionários passando de um lado a
outro, apenas nossas respirações e o barulho dos nossos talheres eram
ouvidos. Me ergui, o encarando, esperando qualquer reação, porém, ele
mantinha-se fixo no celular, parecendo gostar do que via.
— Está esperando algo? — Levantou devagar o olhar, sem erguer
demais a cabeça, o que lhe deu um ar sombrio com a franja curta e escura
caindo sobre sua testa. Lindo e obscuro, exatamente como o diabo se
pareceria para tentar suas vítimas a cometerem o pior dos pecados.
— Não! — rebati grosseira, perdendo um pouco da minha postura, e
jurava ter visto a sombra de um sorriso, foi rápido.
Girei meu corpo olhando mais um pouco daquele lugar. Fora algumas
portas de correr com tecido grosso, quase se assemelhando a madeira, nada
me fazia crer que eu pisava em solo japonês. Suspirei, seguindo para o meu
destino, um quarto pequeno, com poucos móveis e janela gradeada, sem
chances de pulá-la.
Ele me deixou esperando por alguns minutos, algo que atiçava meu
lado impulsivo, acreditando ser alguma brincadeira ridícula, um jogo de
presa e caçador. Eu odiava jogos.
Quando abriu a porta, sorriu lento. Seu peito nu, expondo as tatuagens
diversas que contavam com carpas, demônios de rostos desfigurados e
flores de vários tipos. Engoli em seco. Os músculos estavam mais
acentuados ou talvez eu quem estivesse dando atenção demais a eles.
— Ajoelhe sobre a cama — ordenou secamente.
Busquei em seus olhos qualquer indício de ser uma brincadeira de
mal gosto, mas não encontrei nada além de seriedade. Por isso, obedeci. Ele
permitiu-se uma investigação por meu corpo, parecendo gostar do que via.
— Retire a jaqueta. — Caminhou até um botão ao lado da parede,
mexendo devagar, e logo descobri se tratar de um aquecedor.
Deslizei as mangas da jaqueta por meus braços lentamente.
Seus passos calculados e o olhar avaliativo percorrendo-me como se
tivesse uma maldita mira, pronto para me acertar. Katsuo parou atrás de
mim, subiu na cama e ficou com o peito colado em minhas costas, suas
mãos deslizaram por meus ombros deixando cada pelo do meu corpo
arrepiado e todos os meus sentidos em alerta; até demais.
Sua boca desceu até meu ouvido e poderia jurar que ele estava me
farejando.
— Coloque os braços para cima. — Suas mãos não esperaram uma
reação minha, deslizando por meus braços e, com movimentos cadenciados,
colocou-os para cima. Sua pele toda contra a minha, mesmo com a
separação da roupa pareceu quente demais.
O que estava acontecendo?
Suspirei quando fechou seus dedos em meus punhos, unindo-os e
atando com uma corda. Ergui minha cabeça e, apenas naquele momento,
percebi o gancho que ficava firme no teto. Meus olhos se arregalaram
quando ele apoiou uma parte frouxa da corda naquele lugar, deixando-me
com os braços suspensos, sentada sobre minhas coxas, como uma submissa
perfeita, faltando apenas as porcarias das tranças.
— O que vai fazer? — resmunguei, não conseguiria me soltar, nem
mesmo se levantasse mais meu corpo. O gancho era bem curvado,
precisando de alguém muito mais alto para me ajudar a sair.
— Quieta, Pansã.
— Esse apelido ridículo é porque sou negra? — retruquei, querendo
discutir para me distrair da sensação que começava a se formar em meu
interior, algo indesejável que poderia me dizer mais sobre mim do que sobre
ele.
Ele fez questão de parar de frente para mim logo após descer da cama
e admirou seu trabalho, parecendo satisfeito. Na posição que eu estava,
meus seios ficavam inclinados para frente, a bunda descansando sobre
minhas pernas, as coxas dobradas para trás e a barriga levemente esticada.
— Também. Mas, principalmente, pela sua selvageria. Quando a vi
pela primeira vez, fiquei fascinado pela sua postura, o olhar. Parecia tão
delicada, elegante. — O sorriso que surgiu em sua boca quase me ganhou.
Quase. — Então, quando acordou, parecia uma lutadora, deixando toda e
qualquer altivez para segundo plano. Você é uma verdadeira pantera,
formosa e perigosa, capaz de nos atrair com sua beleza, da mesma forma
que pode nos matar com suas presas. — Piscou daquele jeito cafajeste.
Seus passos voltaram para perto, sua cabeça ficou exatamente na
altura dos meus mamilos. Foi quando ele me permitiu ver o pequeno
canivete em suas mãos. Prendi a respiração, o encarando, atônita, com meu
maxilar travado, tudo em meu corpo ficou tenso. Ele iria mesmo me
amputar?
Sem esperar, Katsuo rasgou minha blusa. Gritei, sem acreditar que ele
me deu outro prejuízo em roupas, mas não parou por aí, seu olhar foi de
reprovação a minha atitude, sua lâmina desceu pelo meu short, tendo mais
dificuldade de rasgá-lo, mas o fazendo mesmo assim. Nada além da
calcinha cobria meu corpo, a respiração já tinha se perdido dentro de mim e
um silvo de surpresa atravessou todo o maldito quarto.
Ele era insano, seus olhos demonstravam enorme satisfação com o
que via. O japonês safado abriu minhas pernas em um movimento grosseiro
e firme, me fazendo odiá-lo um pouco mais. Com a mesma habilidade, a
lâmina do canivete veio parar entre minhas coxas e, se eu me movesse, me
cortaria. Prendi o fôlego novamente.
Olhos fechados e por que diabos a minha boceta pulsava
insistentemente?
— Abra mais as pernas e não a machucarei — pediu rouco, um
timbre gostoso de se ouvir. Afastei mais minhas coxas. — Isso.
Plaft.
Abri os olhos em surpresa, meu corpo estremeceu e um gemido parou
no meio da minha garganta. Ele acabou de estapear meu clitóris, por cima
da calcinha, usando um canivete com a lâmina mais grossa? Entreabri os
lábios, mas parei diante do seu olhar devorador.
Katsuo exalava tesão, erotismo do mais sujo e provocativo. Poderia
me sugar para o buraco negro que existia em seus olhos nos momentos que
demonstrava extremo desejo por mim.
Sua mão se moveu de novo, atingindo em cheio meu montinho de
carne que pulsou, me causando dor. Nunca na minha vida imaginei que meu
corpo trairia minha confiança. Mas, há primeiras vezes para tudo, não é?
Naquele segundo, eu tentava conciliar tesão e racionalidade. Ele
estava usando uma maldita lâmina, não era possível que algo tão perigoso
assim me excitasse ao nível de me deixar dolorida por mais.
Outro golpe, dessa vez mais forte. Notei o cuidado e a agilidade no
manuseio, sem nem passar perto de me ferir naquela região. Minhas coxas
tremeram, minha cabeça caiu e meus mamilos me deduraram, ficando
pesados e com os bicos endurecidos.
Ele se afastou, parecendo satisfeito com seu feito, então me circulou,
ficando atrás mais uma vez, sem subir na cama. O desgraçado me conferia
na cara dura.
— Olhando-a assim, fico imaginando como seria fodê-la enquanto
está pendurada.
Droga, eu também imaginei, criando a cena em minha mente, me
causando um calafrio gostoso, que repuxou com força meu ventre. Gemi
baixo.
Algo era fato sobre mim e o sexo: nós dois tínhamos uma relação
fácil, gostosa. Um homem precisava saber o básico para me dar prazer. Meu
corpo sempre reagiu bem aos toques certos, não era anormal ter mais de um
orgasmo quando meu parceiro entendia como lidar comigo. Eu conhecia
cada ponto de sensibilidade, cada lugar que me causava reboliço e
inquietação. O que eu não esperava, no entanto, era gostar de facas perto
demais.
Ainda que a sensação da lâmina gelada contra meu clitóris quente
fosse empolgante, toda a maldita situação não era. Logo, a minha reação
não foi nada saudável. E isso me preocupava, muito.
— Acabou sua punição? — perguntei, ingênua e envergonhada.
— Não! — Senti as tiras da minha calcinha serem cortadas e lá se foi
a única peça que me cobria.
Apertei os olhos com força, temendo que seu intuito fosse a
humilhação, que ele usasse do meu corpo exposto para me tratar feito lixo.
Eu não precisava disso, me conhecia, me amava, mas... sempre existiria
aquele resquício de insegurança cravado bem no fundo das minhas
pequenas marcas de estrias e celulites. Não gostava de saber que estava
vulnerável daquele jeito apenas para ser motivo de ofensas.
Katsuo, no entanto, planejava algo diferente.
— Abra um pouco mais essas coxas para mim, Pansã. — Aquele
timbre ainda mais pesado me desestabilizou. Duvidava muito que ele
estivesse desagradado com o que via.
E porque isso me importava, inferno?!
Assim que cumpri com sua ordem, tive o deleite de dois dedos
grossos escorregando entre minhas dobras, o gemido que escapou de meus
lábios parecia um chamado para o coito, daqueles que as fêmeas ecoavam
no mundo animal. Ouvi o rosnado rouco vindo detrás de mim.
— Molhada — murmurou. — Escorregadia o suficiente para me
receber.
— Sim — balbuciei, já perdida no prazer de tê-lo indo e vindo,
massageando levemente meu clitóris no caminho.
— Posso te foder, minha Pantera? — perguntou baixo.
— Sim...
— Mas não será hoje e nem assim — decretou, suspendendo seus
toques. Meu interior dolorido, pulsando por mais contato. — Mais tarde eu
venho para te soltar.
E assim o desgraçado saiu, me deixando sem ter como me masturbar
para acabar com aquela agonia e sem seus toques deliciosos.
— Seu filho da puta! — gritei quando ele bateu à porta.
Não perdia o controle. Nunca.
Mas naquele momento, eu precisei sair ou ela continuaria sempre me
desafiando, me afastando de si. Meu pau dolorido e apertado na cueca e
bermuda que vestia pedia por aquele corpo.
Caminhei a passos rápidos para o meu próprio quarto, arranquei as
roupas com uma velocidade assustadora e o agarrei com a mão, fechando
meus dedos sobre ele e masturbando-me, ainda com sua lubrificação em
meus dedos. O esfreguei, gemendo baixinho ao sentir seu cheiro gostoso
agora em minha pele.
Subi e desci feroz, apertando, bombeando. Porra!
Ela não seria um ponto permanente, não mesmo. Bastaria uma foda e
o desejo que me consumia, com toda certeza, cairia muito. Até não importar
mais. Fora que, jamais conseguiria domá-la de vez. Não. Era impossível.
Continuei firme, lembrando de seus cabelos pesados e escuros,
cacheados e marcados em suas costas. A boca ofegante, carnuda e aqueles
olhos perdidos. Fabíola gozaria rapidinho.
O canivete não teve o efeito que eu esperava, a mulher gostou da
sensação. Caralho, medo foi a última coisa que encontrei naquelas avelãs
cheias de luxúria.
Não precisou muito, logo jorrava meu gozo em minha barriga, vendo
que, mais uma vez, ela me minou de foder sua bocetinha.
Me recusava a tê-la dessa forma. Nunca precisei implorar por uma
vagina gulosa. Nunca. Independentemente de onde vinham. Já comi outras
estrangeiras, inclusive brasileiras, todas vieram até mim, fosse por saberem
quem sou ou por me acharem atraente.
Essa promessa não me custaria a sanidade, não permitiria isso.
Respirei fundo, levantei-me e segui até meu banheiro. Ouvi seus
gritos e a deixei lá até que se silenciasse. Sabia que, dependendo do tempo,
os braços estendidos a deixariam cansada e incomodada.
Depois de me limpar, me joguei na cama mais uma vez, ouvindo os
palavrões ditos do inglês ao português. Foram horas assim, eu apenas
relaxando, ela gritando, me xingando, então o silêncio dominou a casa.
Contudo, fiquei afastado de seu quarto até perto de anoitecer.
Ela permanecia com a cabeça inclinada, ressonando baixinho, me
mostrando que não aguentou o cansaço da viagem e adormeceu mais uma
vez. Subi na cama atrás de seu corpo, nenhum movimento dela, ergui meus
braços, retirando a ponta frouxa da corda do gancho do teto, então ela caiu
para trás e a segurei, deitando-a com cuidado sobre o colchão. Afastei os
cabelos de seu rosto, vendo-a solene.
Formosa... e perigosa.
Observei por mais alguns segundos a pele retinta, linda, brilhando
com seu suor, marcando ainda mais os montes que me atraíam tanto. Seios
pequenos, mas o suficiente para pesarem em minhas mãos. Uma tentação.
Desamarrei seus pulsos, recolhi a corda para mim e desci da cama,
deixando-a lá, dormindo tranquila. Ainda teríamos a nossa conversa.
Fabíola não era minha. Apenas se tornaria uma distração gostosa, me
fazendo unir o útil ao agradável. Precisava protegê-la das merdas de seu
irmão, enquanto meus soldados iam para Boston finalizar com aquela raça
de ratinhos traiçoeiros dos irlandeses.
Segui até o lado de fora da minha casa, observando a movimentação
que naquele horário era mínima. Morar no extremo entre Tóquio e o monte
Fuji me dava certas regalias. Eu tinha uma vista boa, apesar de pegar climas
intensos. O local era reservado e se eu quisesse, poderia ir até Tóquio sem
problemas e trânsito. Ao contrário dos italianos, eu preferia meu escritório
no coração da capital, onde tudo acontecia e o dinheiro importava. Mas,
para manter minha pantera sobre vigilância, optei por permanecer a maior
parte do tempo em minha casa afastada.
Até tinha uma cobertura no prédio onde ficava meu escritório,
contudo, achei arriscado deixar aquela pequena encrenqueira perto de
pessoas instruídas e que falavam mais línguas além do japonês. Fabíola era
astuta demais para dar margem a erros.
Encarei Dorso, que veio junto de um novato.
— Tudo certo, chefe?
— Sim. Tem um cigarro aí? — Eles se entreolharam. Não era
costume meu fumar, entretanto, existiam situações que me faziam recorrer a
ele.
Sem demorar mais, vendo minha cara de poucos amigos, Dorso me
estendeu o seu maço, peguei um e levei aos lábios, logo meu soldado o
ascendeu para mim.
— Vou dar uma volta por aqui, fiquem de olho, não a deixem sair —
adverti, eles apenas concordaram.
Caminhei em torno da minha propriedade, o cigarro fazendo seu
efeito de relaxar meu corpo e mente.
Há alguns anos, os Gokudos eram conhecidos pelo tráfico de pessoas,
principalmente mulheres e crianças. A grana era fácil, a quantidade de
pervertidos com fortunas absurdas era estarrecedora e extremamente
lucrativa. Meu pai, no entanto, preferiu mudar os rumos de nossa história.
Foi tenso, feio de conseguir, muitos soldados mortos, mulheres da nossa
família sequestradas e estupradas, homens mutilados, sem língua, pênis ou
braços. Eu mesmo não carrego o sangue do meu falecido pai, ele apenas me
adotou. Sou fruto do estupro que minha mãe sofreu.
Eu nasci, ela se matou.
Poderia ter tido um destino mais sombrio, porém, fui acolhido, feito
de força e honra. Tudo estava montado; armamento, drogas e prostituição
eram tão lucrativos quanto o tráfico de pessoas, mais fácil de comandar e
passar pelos federais das fronteiras, mais barato também, já que as mãos
que tinha que molhar não precisavam ser de governadores e presidentes. Os
peixes pequenos bastavam-me.
Mais uma tragada.
A vida nunca foi justa com ninguém, então, por que eu iria me curvar
e chorar?
Minha mãe sofreu e fez sua escolha, eu também tive as minhas, e
assim seguimos nossas vidas. Meu pai se casou outra vez, mesmo assim, me
manteve por perto, porém, amor não sobressaía ao poder.
E o que mais atraía novos membros e nos mantinha vivos, era sermos
poderosos.
Infelizmente, ele foi morto antes de me ver tomando de volta o meu
lugar de direito. Arranquei os olhos do homem que biologicamente
carregava meu sangue, para que jamais olhasse a mulher de outro, depois o
castrei, nunca mais colocaria o pau em outra vagina. No fim, o deixei viver
por um ano, sofrendo com partes de pele sendo arrancadas. Um ano de
lágrimas, pedidos de desculpas, implorando por um filho que ele obrigou
uma mulher a ter. Meu pai e minha madrasta foram mortos em seus quartos,
em um dia que eu viajava; ela estava grávida de sete meses do que seria
meu único irmão. Um ano sendo esfolado foi pouco para o que ele me fez
perder.
Outra tragada.
Nunca estuprei nenhuma mulher. Não seria capaz. Mesmo que este
castigo fosse usado com frequência em nossas tradições.
Não chorei. As lágrimas não faziam parte da minha vida.
Soltei o ar com força, olhei o céu escuro sem nenhuma estrela.
Retornei, encontrando Dorso e o novato na porta conversando sobre
futilidades.
— Ache um lugar seguro o quanto antes. Vamos nos livrar dela.
Ele assentiu, pegando seu celular e, creio eu, buscando por contatos
dentro do país, a fim de cumprir minhas ordens.
Seria uma pena, gostaria de fodê-la sem pausas. Seria gostoso vê-la se
dobrando para mim.
Apaguei o restando do cigarro que sobrou em minha mão, jogando no
chão de terra e pisando em cima.
Entrei, ombros relaxados e cabeça no lugar.
Fui direto para a cozinha, as facas estavam trancadas na gaveta, onde
só eu tinha a chave. A abri, pegando uma de corte simples para carne,
separei os ingredientes para um Kantan Shougayaki.
Cozinhar me acalmava, adorava cortar os ingredientes devagar,
pacientemente, vendo como a lâmina perfurava a carne de porco. Coloquei
a panela no fogo, preparando o molho de gengibre que começava a cheirar
deliciosamente. Quando fechei a tampa de onde estava a carne de porco,
virei meu corpo e a encontrei parada, observando a tudo quietinha. Seu
olhar era uma incógnita para mim, mas fingi não me interessar.
Apenas um vestido até metade das coxas a cobriam.
— Foi você quem me desamarrou ou o brutamontes que me trouxe
vendada?
— Eu. Ninguém entra nessa casa quando estou aqui, não sem a minha
autorização.
— Certo. — Deslizou o olhar pela cozinha, vi quando sua cabeça deu
uma leve erguida, sentindo o cheiro e identificando de onde vinha.
— Está com fome? — perguntei casualmente e me virei de volta ao
fogo, vendo o ponto da carne. — Pode se sentar, vamos comer, depois
conversaremos. Você vai apenas escutar, entendeu? — A observei sobre
meu ombro, encontrando-a com seus olhos semicerrados para mim e os
lábios comprimidos, impedindo-a de me dar uma resposta atravessada.
Melhor assim!
Aquiesceu, puxando a cadeira com certa violência, dando um jeito de
demonstrar seu desagrado com meus comandos, ainda que fosse me
obedecer. Ela queria respostas, apenas eu as tinha, logo, eu mandava
naquela situação e ela aprenderia a me ouvir sem resmungar.
Saber cozinhar é covardia!
Gemi baixinho, depois de saborear a carne de porco mais gostosa que
já comi na vida. Aquela porra tinha gengibre e estava bom.
Eu odeio gengibre e amei o que ele fez. Como isso é possível?
A profundeza dos meus pensamentos não se comparava as sensações
de estar ali, sendo observada com tamanha atenção e desejo, apenas por um
gemido fora de hora, após experimentar um suculento prato bem-preparado.
Um segundo de desconforto, mais alguns longos minutos de uma satisfação
inebriante. Era a isso que as pessoas se referiam, sobre ser puxada, sugada
por bad boys? Então eu não era à prova deles?
Inferno.
Pisquei, colocando garfo e a maldita faquinha de plástico sobre meu
prato, indicando a minha satisfação. Ele se reclinou após fazer o mesmo.
— Então? — questionei ansiosa. Ele ficou calado novamente, soltei a
respiração, cruzei os braços à frente dos seios. Katsuo apenas esticou os
cantinhos dos lábios, deixando seus olhos ainda menores.
— Você precisa trabalhar essa sua pressa — disse tranquilo. — O que
achou da comida? — Ele sabia que tinha me agradado, estava apenas me
provocando. Resolvi entrar no seu jogo, ainda que odiasse isso.
— Não gosto de gengibre, mas até que ficou bom — Dei de ombros,
arrancando uma risada gostosa dele.
— Claro, vou me lembrar disso na próxima vez.
— Por que cozinhou? Não tem funcionários ou só porque estou aqui?
— Olhei ao redor, nenhuma alma viva dentro da casa.
— Não gosto de ninguém me cercando. — Existia mais ali, uma
ponta de fúria perpassou suas íris. Não quis insistir, algo em seu tom
deixou-me claro que não era um assunto que ele visitaria comigo.
— Vai me falar sobre meu irmão? — Voltei a um terreno conhecido, o
qual ele me devia respostas. Sua postura mudou.
— Não. Vamos falar como as coisas serão daqui para frente.
— Katsuo, por favor, eu quero ver meu irmão.
— Não é algo que eu possa fazer por você, Pansã — Seu tom foi
arrepiante, não daquela forma gostosa de mais cedo. Sombrio. Ruim de
maneiras que me abracei, com meus olhos marejando. — Estou arrumando
um outro lugar, você ficará lá, até tudo se normalizar. Quando souber onde
é, te levarei ok?
— Por quê? — A força estava se esvaindo de mim. Meu coração se
partindo com uma possibilidade que relutei em pensar. — Por que
simplesmente não me diz a verdade?
— Não sou dono dela — respondeu ríspido, arrastou sua cadeira e se
levantou. — Recupere suas forças, entenda de uma vez que meu objetivo é
deixá-la segura, cada um seguindo com suas vidas.
Ele montou uma barreira firme. Minhas perguntas o incomodaram,
claramente por saber as respostas e preferir não me dizer.
— Foram os italianos? — perguntei, em um sopro de esperança, e
quando busquei seus olhos, nada existia ali, não naquele momento. Não
para mim.
— Acabamos aqui. Vá descansar.
Katsuo retirou nossos pratos e me deu às costas, encerrando nossa
conversa.
De tudo que pude experimentar desde que o conheci, aquela
indiferença me assustava mais. Significava que minha existência era nula,
um nada. A barganha acabaria ali, assim como chances de ele se aproximar
de mim, nem que fosse por puro interesse sexual.
Senti-me uma perdedora. Fora do meu país, sem meu irmão caçula,
dependente de um estranho mafioso que se recusava a me dizer a verdade...
fosse ela dolorosa ou uma chama mínima de esperança.
Saí de sua cozinha, caminhei por suas escadas e adentrei o maldito
quarto.
Então eu desabei.
O choro contido, silencioso, tendo apenas minhas mãos contra o
rosto, notando a quebra considerável de uma mulher que segurou a barra
por tanto tempo. Diego era o que restava da minha família. Um pedaço do
meu pai e... uma parte de mim.
Ele parecia nervoso, sua voz soava ameaçadora pelo celular, não era
japonês, me lembrava o italiano. Odiava não ter tido interesse em aprender
outro idioma que não fosse o inglês. Sua mandíbula se movia de uma forma
estranhamente sexy, ele inteiro era uma aura difícil de resistir.
Aguardei calada, encostada entre o batente de separação da sala e a
varanda. Um lugar que ele não me mostrou, na verdade, apenas me deixou
conhecer o quarto que ficava e a cozinha, fora o hall de entrada, que era
inevitável. Isso deixava claro que minha estadia seria rápida e nada
desejada, já que ele sequer fez questão de me mostrar o ambiente inteiro.
Quando me notou, seu olhar fincou minha alma, me fazendo petrificar
no lugar. Katsuo desligou o telefone sem dizer nada a quem estava do outro
lado. Seus passos o trouxeram para mim, parando a centímetros do meu
corpo.
— Mudanças de planos, Pansã. Não posso confiar em ninguém além
de mim para cuidar de você. — A cabeça levemente inclinada me deixava
mais pertinho de seus lábios.
Algo acontecia comigo, talvez ainda estivesse sob efeito da exaustão
de viagens contínuas e longas. Só isso seria capaz de me fazer esquecer, por
minutos inteiros, que não era um passeio em um outro país, e sim, uma
fuga, algo que eu desconhecia. Me cegaram e pareceu surtir efeito. Eu perdi
a noção de tempo, de proximidade.
Em poucas horas, sentia-me parte daquele mundo estranho, homens
tatuados de olhos pequenos, uma casa isolada, uma atração estranha,
medonha, e a falta do meu irmão. Tudo em um combo confuso e
enlouquecedor.
Minha cabeça doeu. Levei as mãos até ela e o encarei aflita, nervosa.
Precisava descarregar aquela tormenta. Precisava fugir daquela
realidade distorcida em que me enfiei, em busca de um fantasma que há
semanas eu não encontrava. Me ajoelhei, sentindo a cabeça explodir.
— Fabíola? — A voz estava distante, baixa.
Senti mãos me pegarem com firmeza, então agarrei-me ao seu corpo,
querendo que aquilo passasse, que o pesadelo acabasse, porém, o cheiro que
me invadia era apimentado demais, infiltrando-se em meu sistema como um
aviso.
Isso aqui é o mundo real e você terá que suportar!
— Me põe no chão! — exigi, esmurrando seu peito. Mas a dor voltou
forte. — Por favor, me solte — choraminguei.
Que porra acontecia comigo?
Eu não era assim, não era.
— Me solta! — Ele fez o contrário disso, apertou-me mais forte
contra seu corpo e subiu as escadas me carregando como se eu não pesasse
nada. Então ele me colocou na cama. Sentei-me rapidamente, me afastando
dele, do seu toque, dessa merda que ele fazia comigo. — Não quero ficar
aqui.
— Não há escolha.
— Sempre existe uma — gritei. — Sempre.
Enruguei minha testa, sentindo a força de uma martelada me
atingindo na cabeça.
— Porra! — xinguei, apertando o local.
— O que você tem? — Parei os movimentos e o analisei. A risada
veio sarcástica, começou alta e, aos poucos, se transformou em um choro
intenso, descontrolado.
Ridícula. Era assim que eu me sentia.
— Saia daqui, me deixe sozinha.
Ele negou com a cabeça.
— O que você tem?
— O que eu tenho? — retruquei. — O que eu não tenho é o problema
— aumentei o tom de voz. — Não tenho meu pai, não tenho meu irmão,
não tenho meu país. É essa a porra do meu problema. É que eu não tenho
nada. — As lágrimas me consumiram, as falas engasgadas. — Não tenho...
ninguém — Meu corpo se tornou pesado, os ombros caindo enquanto meu
peito subia e descia com o choro. — Eu nadei tanto, com tanta força, contra
todas as correntes intensas que me atingiram... E pra quê? Morrer na praia?
Foi pra isso toda a porra do meu esforço? — Soquei o colchão, me deixei
cair de lado, deitando minha cabeça sobre o travesseiro.
— Quer que seja assim? — Não o olhei. — Deseja terminar dessa
forma? Como você mesma disse, quer morrer na praia?
Ri entre o choro, ainda me negando a encará-lo. Ouvi seus passos
saindo, mas a porta ficou aberta; espiei, encontrando sua sombra se
movendo em algum lugar perto dali, talvez o seu quarto. Então ele voltou
segurando uma espada enorme. Voltei a me sentar, batendo as costas contra
a cabeceira da cama. O medo me engolfando.
Eu não queria morrer. Estava esgotada, mas não...
— Pegue. — Estendeu a espada na minha direção, a lâmina
completamente afiada, brilhando. Neguei com a cabeça. — Você tem duas
opções e ouça-as com bastante atenção — soou extremamente ríspido.
Engoli o choro no mesmo instante, secando meus olhos com as costas da
mão. — Pode pegar essa espada e acabar com isso você mesma, ou pode
aceitar a sua situação e aproveitar. Seu irmão não pensou em você quando
se meteu com mafiosos. — Registrei a informação. Os italianos estavam
envolvidos, pois ele usou o plural. — Por isso, trate de deixá-lo para
segundo plano quando você estiver em perigo. Não vai chegar a lugar
nenhum se lamentando.
— Eu não estava me lamentando...
— Então o quê?
— Porra! — resmunguei, levando a mão a cabeça de novo. — Eu só
estou... Tá, eu estou me lamentando também. Mas a dor de cabeça, e... Ah,
vai pro inferno, não sou de ferro e não devo força nenhuma a ninguém.
Guarde essa merda, o dia que eu quiser morrer, eu mesma te aviso e a pego.
Ele ficou ereto. Guardou a espada em sua capa protetora e relaxou sua
posição.
— Quer um remédio para a cabeça? — perguntou, um pouco sem
graça. Bufei, envolvendo alguns lençóis em minhas coxas.
— Quero — retruquei irritada.
Ele saiu, e eu fiquei pensando o quanto alguns dias me pareciam
semanas, e a loucura que estava meu corpo e mente.
Algo que ele disse ficou cravado em minha mente: eu precisava
cuidar de mim primeiro, para poder fazer algo por Diego, se ainda fosse
possível.
— E quanto aos italianos, chefe?
— Problema todo daquele pinguim de terno.
Dorso riu.
— E a garota? Não vai mesmo mandá-la para a casa que consegui?
O encarei por um longo tempo, então suspirei, sacudindo a cabeça em
negativo. Estava no meu escritório em Tóquio, esfriando a cabeça e
colocando um pouco de distância entre nós. Eu vivia a ponto de fodê-la ou
matá-la. Fabíola tinha a língua afiada, e mesmo quando se forçava a ser
educada, acabava vacilando e respondendo sarcasticamente.
Ainda assim, não fiquei nada satisfeito de saber que meus homens
encontraram irlandeses em minhas terras. Poderia ter a lealdade deles,
porém, não confiava em ninguém além de mim para assegurar a vida
daquela Pantera selvagem. Ela arrumaria um problema com qualquer
soldado que ficasse de olho.
Mesmo ali, eu não parava de vigiar as câmeras da minha casa, vendo-
a fuçar cada porta que deixei aberta de propósito. Não demorou nem uma
hora da minha saída para que ela fosse espiar pelos cômodos. Uma curiosa
abusada.
— As mortes em Boston começaram, chefe. Não vai demorar para
que tudo esteja limpo.
— Sabem que somos nós? — Sorri de canto, já prevendo a resposta.
— Sim. Deixamos nossa marca registrada.
— Quantos?
— Todos, incluindo os dos pés — Dorso comunicou orgulhoso. Meu
sorriso se abriu mais.
A amputação de dedos não era muito a minha praia, assim como me
enfiar em meio aos políticos e empresários, mas de vez em quando, era
preciso. Existia um tipo mais formal que representava as empresas lícitas
dos nossos negócios. Minha presença tornava-se pertinente quando a coisa
mudava de grau, fui treinado para isso. Meu lado educado e instruído foi
para o lixo, junto com meu pai biológico.
— Tudo bem! — Analisei o corpo que vinha desejando há dias, se
movendo por minha casa. — Sairei mais cedo hoje.
— Temos a reunião no nosso cassino esta noite, não irá comparecer?
Revirei os olhos e voltei minha atenção para a tela do computador. A
endiabrada estava me fazendo esquecer os compromissos. Deixá-la por
algumas horas era aceitável, agora, durante toda a noite? Sem chances.
— Prepare mais três homens para hoje. Levarei a brasileira comigo.
— Dorso saiu imediatamente, procurando obedecer às minhas ordens, como
sempre.
Tamborilei os dedos sobre o vidro da minha mesa. Odiava usar roupas
sociais, entretanto, uma vinda ao centro de Tóquio pedia por isso. As
tatuagens não eram mais vistas como algo positivo. No meu ambiente
fechado, eu deixava dois ou mais botões abertos, dispensava o terno pesado
e permanecia assim, relaxado.
Os cassinos nos rendiam bastante dinheiro, possibilitando nosso
afastamento do tráfico humano. Fora que, a quantidade de mulheres e
homens que nos procuravam por conta própria para venderem seus corpos
era o suficiente para abastecer nossos locais de diversão. Todos ganhavam.
Vez ou outra, eu dava as caras para controlar as finanças e observar as
regras sendo cumpridas. Não existiam segundas chances, eles sabiam disso,
por este motivo, sempre encontrava tudo em seu mais perfeito andamento.
Seria burrice me desobedecer. Somente uma estrangeira tinhosa tinha
coragem de chegar perto de aumentar o tom de voz comigo.

Ela me esperava sentada no pequeno sofá da sala de estar. O cabelo


estava preso em um rabo de cavalo perfeito. Pedi para que um soldado a
avisasse sobre nossa pequena saída de hoje. A maquiagem era dourada,
realçando seus olhos, o batom quase da mesma cor de sua pele com um
brilho bonito. No corpo, um vestido preto colado a cada curva. Deliciosa.
Fabíola se ergueu assim que me viu a analisando de cima a baixo, os
saltos a possibilitaram chegar perto da minha altura.
Linda, formosa, selvagem. Tudo que eu adorava em sua
personalidade, estampado do lado de fora.
Fabíola não fingia força, ela era forte!
Sua postura sempre altiva, queixo erguido e olhos alinhados aos de
quem a enfrentava, já denotavam isso. Por este motivo, fiquei sem reação e
agi feito um brutamontes ao vê-la tão frágil no dia anterior.
— Vou tomar um banho e me trocar, espere aqui — ordenei seco.
Resolvi manter uma certa barreira entre nós, apesar de querer muito
fodê-la em algum momento da nossa convivência. Era difícil mensurar os
problemas que poderíamos conseguir com esse arranjo que nem deveria ser
tão complicado assim.
Praticamente corri até o banheiro, procurando acabar logo com essa
noite, finalizar essa pequena reunião. Ninguém além dos meus soldados
mais próximos sabiam da existência dela, tampouco o que significava. Não
era da conta deles, ninguém além de mim precisava saber dos meus
assuntos. A minha palavra era lei e todos tinham plena consciência de que
cumpriria com a promessa ao prisioneiro.
Tomei uma ducha rápida e ajeitei meus cabelos com gel, deixando-os
para trás. Coloquei meu jeans desbotado e uma camisa branca larga no
corpo que permitia uma parte do meu peito à mostra. Preferia ficar à
vontade quando se tratava de assuntos noturnos. Uma jaqueta preta foi
suficiente para aplacar o clima de fora dos ambientes fechados. Desci e ela
estava no mesmo lugar em que a deixei.
Franzi o cenho, estranhando sua obediência, mas minhas
desconfianças se perderam um pouco quando a peguei no flagra, me
secando. Fabíola desviou o olhar e pescou sua jaquetinha jeans do sofá.
— Vamos? — perguntou, mais ansiosa do que deveria. Fitei-a com
intensidade, meus pés levando-me para centímetros de distância de seu
corpo. Minha mão tocou seu rosto com delicadeza.
— Não pense que é uma oportunidade de fugir, Pansã. Todos nesse
país sabem quem sou e você estará rodeada dos meus soldados e
funcionários. — Pisquei, me afastando antes de capturar aquela boca
deliciosamente atrativa.
Seu olhar não aliviou nem um segundo. A postura ainda firme.
— Eu sei!
Assenti satisfeito, coloquei minha mão sobre a sua lombar e a conduzi
para fora da casa, onde o carro nos esperava com a porta aberta. Primeiro
ela entrou, depois eu ocupei o lugar ao seu lado. Meus olhos caçando cada
pedaço de pele exposto.
— Há algo que eu precise saber sobre o lugar que estamos indo?
— Fique perto de mim e não terá problemas. — Ela revirou os olhos e
bufou. — E não se espante com mulheres e homens nus passando ao nosso
redor — completei, ajeitando-me no assento, ouvindo seu guincho baixo de
surpresa.
— Prostituição?
— Sim!
— Tráfico de pessoas...
— Não! — Virei meu corpo em sua direção, encontrando-a
novamente na defensiva. — Estou indo justamente conferir se o lugar
obedece às minhas ordens. Nada de pessoas contra a vontade. Há gente
suficiente disposta a trabalhar de forma consensual.
Manteve-se calada, sem saber se poderia confiar em mim.
— Mesmo se fosse tráfico, não lhe diz respeito, Fabíola. Você será
apenas um acessório pendurado em meu corpo. Nada além disso — reiterei
seu papel.
O brilho de raiva voltou com força, soube naquele segundo que
precisaria mantê-la em rédea curta ou acabaria causando uma baita dor de
cabeça.
— Se tentar algo, eu juro que te penduro de novo, mas dessa vez, a
deixo dois dias, recebendo papinha na boca para se alimentar e
completamente pelada para o meu desfrute. Estamos entendidos?
Ela aquiesceu, um leve rosnado saltando de sua garganta, apenas para
registrar seu desagrado. O corpo ficou ereto novamente, focado na janela ao
seu lado.
Melhor assim.
Putaria!
Essa palavra definia bem o ambiente.
Pessoas de todas as nacionalidades reunidas, jogos, bebidas, drogas,
mulheres e homens aos montes, desfilando pelados pelos corredores e
salões. Vi de longe uma área reservada a fumantes, velhos com seus ternos
dividindo seu tempo entre embriagar-se e puxar mais uma tragada de seus
charutos cubanos.
Também existiam os gemidos. Muitos. Vindos de todo lugar.
Não seria ingênua, aquele ambiente fedia a sexo sujo e profano.
Demonstrações de boquetes não eram nada comparado a uma sala imensa a
qual passamos. Foi rápido, mas eu vi o casal no centro, transavam feito
selvagens, ao redor, um bando de tarado se masturbando, ampliando a
sinfonia de gemidos guturais e... excitantes.
Aquilo mexia comigo, há meses não gozava, nem mesmo com meus
brinquedinhos.
— Isso é... — Fechei a boca quando Katsuo me puxou para uma
quarta sala, o lugar era imenso. Nela, encontrei homens sentados com
mulheres muito mais novas em seus colos. Alguns muito mais velhos do
que elas, outros nem tanto.
Assim que notaram a presença de Katsuo, se levantaram e o
cumprimentaram respeitosamente. Me impressionei com a devoção e
admiração que encontrei em cada olhar presente, inclusive das mulheres.
Ele sorriu largo, me arrastando para uma poltrona que ficava ao canto,
com visão para todos da sala. Fui sentada de lado em seu colo e quase gritei
de susto, mas me contive, apenas ajeitando meu vestido. Suas mãos quentes
e ousadas se fincaram em meu corpo, uma na lateral da minha coxa,
pegando parte da pele exposta, outra em minhas pernas. Engoli em seco.
Tudo naquele lugar lembrava a sexo. O cheiro, as luzes... os olhares.
— Podemos começar? Ainda quero mostrar o lugar para a minha
acompanhante — falou, apertando-me mais.
Todos concordaram. Daí em diante, começaram a discutir em seus
idiomas enquanto eu apenas observava, procurando por alguma indicação
do que se tratava. O clima ameno me deixou um pouco mais confortável.
Falavam suavemente, suas posturas amistosas, até mesmo algumas risadas
exageradas foram parte daquela reunião.
Fiquei pelo menos uma hora ouvindo e não entendendo bulhufas.
Então, um tapa inesperado atingiu no mesmo local em que a mão do
japonês abusado estava repousando, me obrigando a encará-lo.
— Terminamos aqui, que tal uma volta? — A intenção por detrás de
suas íris eram claras, e, por causa de todos os elementos daquele maldito
lugar, junto ao meu jejum de rolas e orgasmos, acabei me animando com a
ideia. Ele notou, surgindo um sorriso nada inocente em seus lábios. — Quer
voltar a sala de exibicionismo?
— Aquilo é insano — comentei.
Katsuo me ajudou a ficar de pé, seu braço dominou minha cintura,
tendo a mão espalmada sobre meu quadril.
Apenas esse pequeno toque me deixou ciente da nossa proximidade.
— É mais normal do que imagina. Temos diversas salas espalhadas
por toda a Tóquio, com fetiches bem interessantes.
— Tipo? — perguntei, enquanto era conduzida entre as pessoas,
depois de cumprimentos polidos para quem ficava ali.
— Simulações de sexo em ambientes como: metrôs, ônibus,
consultórios médicos, até necrotério.
— E as pessoas gostam disso? — Seus orbes pequenos e escuros me
puxaram para si.
— Mais do que você pode contar sem precisar anotar.
— Aqui tem essas salas?
Saki parou de repente.
— Porque, quer experimentar alguma? — A rouquidão me deu uma
leve ideia do que se passava em sua cabeça.
— Claro que não! — tratei de esclarecer. — Estou curiosa, só isso.
Ele riu curto, voltando a caminhar comigo ao seu lado.
— Aqui é algo mais liberal, sem separações tão específicas —
revelou tranquilo.
Paramos entre os outros, as pessoas se afastavam quando percebiam a
presença dele, não com medo, mas respeito, dando-lhe uma visão clara do
que ocorria no centro daquela sala.
— Veja como eles ficam mais excitados tendo plateia. Para eles, não
importa o lugar, apenas o tesão, a satisfação de dar prazer um para o outro e
a todos que os assistem.
A mulher estava de quatro, gemendo horrores, enquanto o homem
metia forte contra seu corpo, puxando seus cabelos para trás. Meu clitóris
pulsou forte, contorci as coxas e desviei o olhar por alguns segundos.
Péssima ideia. Encontrei Katsuo me analisando, a língua travessa saiu para
lamber seus lábios.
— É gostoso, não é? — murmurou rouco.
— Não sei se... — engoli as palavras, tive dificuldades de quebrar
nosso contato, mas o fiz, voltando a atenção para o casal. — seria capaz de
algo assim — confessei.
Ele se moveu devagar, o peito colado em minhas costas, o arrepio
veio involuntário quando suas mãos me prenderam pela cintura. Encaixou-
se em meu corpo, me deixando senti-lo duro.
— Quando o prazer fala mais alto, ninguém ao redor importa, só
quem está fodendo e sendo fodida — sussurrou, com a boca colada na
minha orelha. Apertei os olhos, tentando lembrar como fui parar naquele
antro de safadeza, e o porquê não deveria gostar e nem considerar essa
ideia. — Eu vou proteger você, Pansã. Mas, se me permitir, eu posso
acabar com essa agonia.
Não tinha percebido o quanto esfregava-me, procurando por atrito e
satisfação. No processo, acabei roçando em seu pau, deixando minha bunda
encaixada nele. A sua mão direita deslizou da cintura para o ventre, do
ventre para a barra do vestido, se infiltrando e encontrando minha calcinha.
Encostei minha cabeça em seu ombro, dando mais acesso aos seus
movimentos. Primeiro tateou, então encontrou o que queria e, ainda por
cima do tecido fino da calcinha, esfregou meu clitóris. Gemi baixinho.
— Abra os olhos, veja como você os deixou. — Mordiscou o lóbulo
da minha orelha. Obedeci imediatamente ao seu comando e encontrei vários
pares de olhos me observando, afoitos, excitados.
O casal no centro mudou de posição, a mulher por cima, de frente
para mim, me olhando enquanto cavalgava em seu homem, as mãos
acariciando seus seios. Fiquei presa àquele momento, meu corpo pegando
fogo, o quadril de Katsuo batendo devagar contra mim, acompanhando os
movimentos de sua mão sobre meu montinho de prazer.
Nada parecia fora do lugar. Tudo levava a um tesão que nunca senti
antes. Mordisquei o lábio, ainda fitando a japonesa gostosa que não parava
de se mover, os seios balançando, fartos. Gemíamos juntas, uma para a
outra. O choque que atingiu meu ventre me fez procurar por contato,
estiquei meus braços para trás, alcançando os cabelos de Katsuo que
mantinha sua cabeça inclinada próxima a minha têmpora.
— Não feche os olhos, viva o presente. Veja o quanto ela está perto.
— Ele tinha razão, os lábios da garota se entreabriram, suas mãos mais
violentas sobre os seios e os movimentos acelerados. O gemido ficou preso
em nossas gargantas, as duas sincronizadas.
— Por favor — supliquei baixinho, querendo chegar com ela,
desejando gozar.
— Shiii! — Seus dedos mais firmes e rápidos, me fazendo vacilar na
firmeza dos meus pés. Capturei o segundo em que a mulher gozou, o corpo
caindo sobre o do seu parceiro, que a girou no chão ficando por cima e
estocou algumas vezes mais, até gozar também. Porém, a mão de Katsuo
parou, segundos depois um tapa forte acertou meu clitóris, me fazendo
gritar. — Não vai gozar, Pansã. Não sem me implorar antes.
O desgraçado ajeitou meu vestido e me arrastou pelo pulso entre o
mar de pervertidos que, assim como nós, aproveitavam o show.
— Seu idiota! — resmunguei quando entrei no carro, me esquivando
de seus toques, querendo distância de tamanha tentação.
O caminho inteiro foi feito com a sombra de um sorriso travesso
naqueles lábios que pareciam ainda mais suculentos.
Que inferno de situação!
No primeiro segundo que o carro parou, abri a porta e saltei, tendo
pelo menos três soldados me cercando.
— Vão se foder, vocês e seu chefe pau no cú — esbravejei, em uma
mistura de inglês com português, de tão desestabilizada que estava.
Bati o pé a cada novo passo, sabendo que parecia uma criança
birrenta, mas era inevitável. A frustração atingia aquele ponto bem
específico, que pulsava dolorido, repuxando meu ventre e me lembrando o
quanto aquele desgraçado me atiçou, para no fim recuar.
— Melhor esfriar sua cabeça, Fabíola.
— No momento, só penso em arrancar a sua, e não estou falando da
de cima — resmunguei. Dei a volta no carro com os três palermas me
analisando e a sombra de um japonês desgraçado nos meus calcanhares.
Novamente, a noção de tempo parecia distante para mim. Já conhecia
um pouco mais daquela casa, exceto uma porta que vivia trancada com
cadeado bem reforçado, que não consegui vasculhar.
Subi as escadas bufando feito touro. Porra! Custava ter me deixado
gozar? Apenas mais dois toques no lugar certo e eu teria voltado
minimamente satisfeita. Arranquei a roupa do meu corpo feito um tufão,
jogando tudo pelo caminho.
Não era mimada, mas porra! Nunca provoque um corpo feminino se
não tem intenção alguma de saciá-lo.
Me enfiei debaixo da água gelada, xingando até a oitava geração
futura daquele imbecil. Quando voltei para o quarto, encarei a cama e
pensei seriamente em me tocar, driblando a sua conversinha ridícula de que
só gozaria com ele e quando lhe implorasse.
Desisti da ideia no momento em que fechei os olhos e encontrei um
corpo tatuado, sentado em uma poltrona qualquer, me esperando pelado,
tocando-se lindamente. Droga. Eu me recusava a tocar uma para aquele
filho da puta!
Eu simplesmente abri mão de qualquer planejamento no quesito
relação com Fabíola.
A brasileira me fazia voltar atrás frequentemente. Quase como se,
para ela, não existissem regras. Meu corpo pedia pelo dela e eu soube disso
quando, em meio a tantas bocetas disponíveis, eu só pensava na dela.
Sempre olhei aquele cassino como fonte de renda e nada mais, um lugar
impudico, feito para pervertidos. A classe alta que gostava de se sujar entre
gozos e gemidos.
Mas lá estava eu, masturbando uma estrangeira na frente de todos,
algo que nunca fiz naquele ambiente, adorando sentir sua bunda rebolando
indecorosamente no meu pau, ouvindo seus gemidinhos manhosos e
sentindo a calcinha empapada da sua excitação. Por pouco eu quase ergui
aquele vestido e a fodi de pé, diante de todos os meus funcionários, aliados
e soldados. Nada me atraía mais do que o prazer daquela criatura
endiabrada e cheia de gana.
Foi uma faísca que me abrasou de maneira indecente. Desejei que
todos vissem como eu a satisfaria. Desejei marcar sua pele com a minha
faca, deixando minha inicial naquela bunda gostosa. Queria gozar em cada
parte, vendo meu líquido branco escorrendo pela pele retinta.
Minha respiração voltou a pesar, meu pau endurecendo de novo,
depois de horas tentando me acalmar.
Só a alguns metros.
Eu precisava apenas me levantar, dar alguns poucos passos e arrastar
a porta daquela deliciosa e perigosa Pantera. Do jeito que estava furiosa,
seria capaz de me atacar, então eu a foderia com mais força, até que se
rendesse. Ela tomaria cada gole da minha porra.
Criatura lasciva, essa era a definição para o que vi em seus olhos
naquele cassino.
Será que meu orgulho me fez perder uma chance única?
O relógio marcava a madrugada adentrando. Meus lençóis pareciam
ter tachinhas pontudas que não me permitiam dormir em paz.
Foda-se! Se ela me recusasse a cada tentativa, seria ela a perder.
Bocetas não me faltavam. Antes de sua chegada, eu tinha uma vida e não
pararia tudo por sua causa.
Um vulto chamou a minha atenção para a porta. Me sentei na beirada
da cama, esfreguei meu rosto para ter certeza de que ainda permanecia
acordado. O corpo robusto se deslocou para dentro do meu espaço íntimo, a
porta deslizando devagar até se fechar atrás de suas costas. Sua camisola
branca contrastando com a pele encheu meus olhos da luxúria que vinha me
corroendo desde que me meti no caminho daquela criatura.
Inclinei levemente a cabeça, deixei que ela visse o sorriso sacana em
meus lábios.
— Sabe o que quero, Pansã — falei baixo, a penumbra do quarto não
me impedia de vê-la graças à luz do corredor acesa, atravessando a camada
da porta deslizante.
— Não vou implorar — respondeu, na mesma altura que eu usei. —
Se não quer me foder, tenho opções do lado de fora dessa casa.
— Não, você não tem. — Levantei-me furioso, caminhando até seu
corpo. — Está louca se pensa que meus soldados serão burros em tocar
você.
— Se eu permitir, qual será o problema?
— Quer que eu te ofereça a eles? — Ri sarcástico. — Então gosta da
ideia de pertencer a um mafioso?
— Não, mas também não gosto da ideia de implorar algo a você e
nem de ficar excitada. — Ergueu seu queixo, mas não deslizou nem um
pouco em sua postura.
— Vou amarrar você de novo — rosnei, puto.
— Chega tá? Ou você me fode ou me deixa escolher outro — exigiu,
o peito estufado e uma determinação que enlouqueceu cada pensamento
meu. — É só sexo e...
A calei com um movimento, colocando minha mão sobre sua boca e a
empurrando com força contra a parede; suas costas bateram, mas, ao
contrário de dor, a vagabunda gemeu baixo. Meu corpo inteiro a prensando,
nossos olhares digladiando e nenhum querendo ceder.
— Está na minha casa, tem que seguir as minhas regras — grunhi,
com meu rosto alinhado ao seu, minha coxa entre as suas. A ergui, sentindo
que a endiabrada estava sem qualquer calcinha por baixo da camisola. —
Caralho! — Abaixei o olhar, o tecido tinha subido um pouco com nossos
movimentos.
Retirei a mão que cobria sua boca e a deslizei até seu rabo de cavalo,
puxando sua cabeça para trás, expondo o pescoço que latejava com a sua
pulsação.
— Você me obrigou a estar aqui, não pedi por isso— falou entre
arfadas, buscando ar.
Ela me enlouquecia.
Quis apertar seu lindo pescocinho e contorcê-lo, ao mesmo tempo em
que meu pau pulsava, doido para experimentar a boceta melada que
começava a deixar minha coxa escorregadia. Minha cueca boxer não
escondeu minha excitação.
— Vá para o seu quarto e durma — ordenei, mas não recuei. Ela
começou a se mover, abaixei os olhos e vi que a safada se esfregava em
minha coxa, buscando por atrito. Voltei a encarar os orbes amendoados, o
brilho enviesado de tesão, os peitos marcando no tecido, duros, pontudos.
— Não quero — choramingou.
— E o que você quer? — me rendi, a voz pesada com toda a
depravação que passava por minha cabeça.
— Ser fodida! — gemeu rouca.
O orgulho que eu tinha em ser controlado foi para a puta que pariu. A
peguei pelas coxas, tendo suas pernas enroladas em minha cintura, então
caminhei até a cama e me sentei com ela ainda montada em mim.
— Eu não confio em você, por isso, vamos tomar algumas medidas.
— Estiquei os braços, pegando na gaveta da mesa de canto uma algema
revestida em couro. Os olhos de Fabíola a miraram, mas nenhuma hesitação
passou por eles. — Braços à frente — ordenei. Ela obedeceu. Prendi em
seus pulsos, a chave estava guardada na gaveta de onde a retirei, ela teria
que passar por mim para conseguir pegá-la. — Apoie os joelhos na cama e
erga o quadril.
Eu sempre deixava pacotes fechados de camisinha embaixo do
colchão, algo que aprendi ser mais fácil para não quebrar o clima do
momento procurando em armários ou gavetas. Tateei achando um pacote,
enquanto ela fazia o que mandei. Puxei minha cueca o suficiente para
libertar meu pau, tendo seu foco nele, já duro, pronto para se afundar nela.
Abri a camisinha e a vesti rápido, também sedento por aquele
momento. Primeiro deslizei um dedo em sua boceta, me certificando que
estava molhada para mim; ele escorregou fácil pela lubrificação e um
choramingo manhoso escapou de seus lábios.
Minha pantera entregou-se finalmente.
Retirei meu dedo, o chupando com gosto, adorando seu sabor. Era
uma pena que estivéssemos tão atiçados ao ponto de não podermos mais
esperar.
— Senta, pega o que veio buscar aqui — exigi sério, o peso da
devassidão em cada palavra.
Fabíola desceu o quadril de uma vez, me colocando com força para
dentro de si. Gememos juntos, enlouquecidos. ela estava muito molhada e
apertada, me sugando com força. Suas coxas tremeram e ela jogou a cabeça
para trás de maneira sexy, pecaminosamente tentadora. Com uma mão
segurei seus pulsos presos pela algema, com a outra apertei seu seio direito
por cima do tecido fino, ela começou a rebolar, movimentando-se
violentamente, cavalgando com tanto gosto que poderia jurar que
quebraríamos aquela porra de cama.
Seus músculos se fecharam mais e pela forma como me olhava, foi
proposital. Era gostoso, mas sufocante, me levava à beira do ápice e depois
me soltava, interrompendo-me. Gemi rouco, trocando o aperto para o seio
esquerdo, nossos olhares travados.
Ainda disputávamos, eu só não fazia mais ideia do que.
Quando cansei da brincadeira, a suspendi novamente; gemidos e
rosnados ecoavam por todo o quarto. A colei contra a parede, apertando
com força suas coxas e metendo sem intervalos, sua cabeça se recostou
contra a frieza do concreto. Fabíola me enjaulou, aproveitando-se da folga
que ficava entre seus braços. Aquilo provavelmente a machucaria, porém,
ela não parecia se importar e eu que não a contrariaria naquele momento.
Não com meu pau tão fundo, ouvindo suas lamúrias e vendo seus olhos
pesarem.
A boca suculenta me chamou, pedindo pela minha.
A beijei.
Foi forte, uma luta gostosa pra caralho. Sabor de amoras com o creme
dental que ela deve ter usado depois do banho. Busquei por sua língua e
adorei sugá-la, tirando um choramingo manhoso e complementando com
um gemido que fiz questão de engolir para mim. Eu não conseguia soltar,
minha boca enlouquecida em busca daquela carne, enquanto meu pau ia e
vinha em uma luta acirrada contra seus músculos internos. Ela me mamava,
puxando meu gozo das minhas bolas, quase implorando pelo meu esperma
em sua boceta.
Por um segundo, odiei a ideia de ter uma camisinha e me assustei
com essa constatação.
A deixei livre para respirar, deslizando minha boca por seu pescoço,
ouvindo-a ronronar, tendo a parte gelada do ferro da algema contra a minha
nuca, me puxando para mais perto.
A sede voltou e quando estava prestes a jorrar na camisinha, voltei a
beijá-la; algo nisso a quebrou. Encontramos juntos o paraíso da pequena
morte que o orgasmo nos causava. O corpo inteiro dela estremeceu, tive que
aplicar mais força para mantê-la erguida e segura, enquanto pulsava e
jorrava na camisinha, a sentindo me estrangular.
A melhor sensação que já tive. Nunca foi simultâneo, eu sempre
vinha depois da minha companheira.
Não viveria tranquilo se não fizesse isso de novo... e de novo.
Ele pegou meus braços com delicadeza, se libertando da pequena cela
que fiz ao procurar apoio para mais contato. A sua pele cheirava bem, uma
mistura de sexo e loção corporal masculina. Não sabia dizer direito.
Fiquei mole, o abraçando pelo pescoço assim que libertou meus
pulsos da algema, minha cabeça recostando em seu peito. Katsuo caminhou
comigo pendurada em seu corpo até a cama, então me deitou devagar. Vi
quando ele foi para o banheiro se livrar da camisinha, voltou e ficou parado,
observando eu me aconchegar em suas cobertas, cercada pelo seu cheiro.
Ele tinha razão. Quando o tesão fala mais alto, a sanidade foge. Do
contrário, eu jamais teria permitido que fôssemos tão longe.
— Me procurou para ter sexo — falou baixinho, se inclinando na
direção do colchão, passou as mãos por debaixo dele, pescando outro
pacotinho de camisinha. Direcionei meu olhar até seu pau, percebendo que
ele o masturbava com a outra mão. — É isso que terá, Pansã. — Colocou o
pacote na beirada da cama, perto do seu corpo. — Vem cá, me deixa sentir
essa boquinha afiada aqui.
Como uma maldita cadela no cio, me acendi de novo com a cena
erótica daquele homem de corpo definido e cheio de tatuagens, a respiração
acentuando o peitoral suado. Os cabelos lisos caindo sobre a testa e aqueles
pequenos orbes escuros, me puxando para si; o braço direito movendo-se
devagar, manuseando aquele pau delicioso, que me fez gozar junto dele
ainda enquanto pulsava e jorrava dentro de mim.
Lambi os lábios. Fui até ele de quatro, sabendo que a visão da minha
bunda o enlouqueceria.
— Isso, minha Pantera — rosnou bruto, pegando-me pelos cabelos e
me obrigando a olhá-lo. Seu jeito grosseiro não me inibia, pelo contrário,
despertava o pior de mim. O sexo sempre foi um terreno de descobertas que
eu fazia questão de experimentar.
Tendo prazer envolvido, eu topava.
Ele abaixou, buscando pelos meus lábios, mordiscou a carne macia da
minha boca e a lambeu em seguida. Ficou por segundos encarando meus
olhos, como se buscasse algo, talvez a minha alma. Eu não saberia dizer,
estava perdida, completamente imersa na loucura que meu corpo
comportava em momentos de excitação.
Eu era toda feita para me desmanchar.
Saki se afastou, embora permanecêssemos nos fitando intensamente.
Coloquei minha língua para fora e ele aproximou a glande, me deixando
provar da gota que começava a escorregar por ali, levemente salgada. Suas
mãos se firmaram mais em meus cabelos.
— Abra, vou foder com força essa boquinha — sorri maliciosa, então,
bem devagar, obedeci. Ele empurrou para dentro, cumprindo com a sua
promessa, fodendo minha boca com força e me deixando quase engasgada,
retirando a cada vez que notava que era demais. Saliva escorria pelos
cantinhos dos meus lábios, também o lambuzando inteiro. Seus gemidos
roucos e a forma como mantinha-se fixo em meu rosto me fizeram prender
as coxas.
— Está bom — murmurou ofegante. — Deita pra mim, abre bem
essas pernas.
Recuperei meu ar primeiro, depois deslizei para trás na cama,
descansando as costas sobre ela. Ele, completamente nu, eu, com a camisola
cobrindo-me. Os bicos dos meus mamilos cutucando o tecido e me
causando uma sensação gostosa e tortuosa.
Ele caminhou pelo quarto como um predador, logo me mostrou o
canivete que tanto amava. Ri desacreditada.
— Mais uma roupa perdida? Terá que comprar novas para mim.
Sua língua apareceu tímida no cantinho da boca e deslizou apenas por
aquela parte. Um gesto que nele ficou tentador para caralho.
— Se depender de mim, nunca vai precisar vestir nada. — Subiu na
cama e montou meu corpo, deixando uma perna de cada lado. — Agora
quietinha, quero experimentar algo com você.
Desceu a lâmina pelo tecido da minha camisola, expondo-me inteira
para o seu deleite outra vez. Então escorregou o corpo ficando com o rosto
alinhando de frente a minha boceta. A essa altura, meu clitóris já deveria
estar inchado e bem duro, ansioso por ser tocado. Primeiro, senti o gelado
do canivete. Ele o manuseava com habilidade, me deixando calma e
confiante de que só me machucaria se assim quisesse.
Eu só precisava convencê-lo a não querer.
O primeiro golpe veio devagar, com a lateral da lâmina ele acertou
em cheio meu montinho de nervos sensíveis. Gemi baixo, prendendo os
lençóis com os dedos, sabendo que não era prudente me mover. Katsuo
abaixou o rosto inteiro e, depois do segundo golpe, senti a lambida
deliciosa, como uma recompensa pela minha obediência. Choraminguei.
Foi quando o desgraçado simulou nosso beijo na minha vagina que
me perdi em gemidos altos e fora de contexto, uma mistura entre palavrões
ditos em português e alguns em inglês. Tentei fechar as coxas, mas ele me
impediu. Sugando. Lambendo. Beijando. Mordiscando.
Fui arremessada para uma galáxia diferente, estremecendo como uma
batedeira desgovernada. Seus dedos, não satisfeitos, resolveram fazer parte
da festa, e foi quando tudo saiu do meu controle. Dedinhos dos pés
esticados, olhos revirando e a voz sumindo. Ouvi seu gemido rouco e
ofegante, mas me permiti escurecer as vistas por alguns segundos, até me
dar conta de que esguichei. Molhei a cama, meu corpo e o peito dele inteiro.
— Caralho. Como você é sensível, Pansã.
— Eu... eu... — Fiquei sem ter o que dizer, nunca tinha acontecido
antes.
— Shii... Relaxa pra mim que vou te foder como a cachorra que você
é.
Palavras sujas, baixas, mas que me despertaram outra vez, mesmo
mole, pois literalmente me liquefiz e ainda tinha mais para esse japonês
desgraçado.
Ele abriu a segunda camisinha da noite, cobrindo-se e veio por cima.
Pensei que entraríamos em mamãe e papai tradicional, gostosinho e cheio
de carícias. No entanto, deveria saber que com ele nada seria tão simples
assim.
Saki juntou minhas pernas, me puxando para si e conseguindo me
arrancar um silvo de surpresa. Então ele as apoiou em seu ombro direito e
quando me penetrou, gritei alto, sentindo que meu mundo ficaria escuro
logo, pois aquele pau me mataria. Chamei por ele, enquanto seu quadril se
movia firme, parecia mais grosso nessa posição, atingindo os pontos certos
demais.
— Vai pagar por me enlouquecer, Pansã — prometeu, a voz pesada,
sombria e deliciosamente rouca.
E eu paguei mesmo. Com os meus gemidos chorosos e o gozo que
veio rápido, facilitando seu deslizar para dentro de mim. Ele continuou me
penetrando até que um orgasmo se tornou dois e eu já sentia meu corpo
cansar. Não fazia ideia de quantas vezes minhas coxas estremeceram
naquela noite.
Katsuo não gozou na camisinha como imaginei, ele se retirou de
dentro de mim, puxando-a de seu pau e jorrando esperma sobre minha
barriga e ventre. Pegou o canivete jogado próximo a cama e o passou com
cuidado sobre seu gozo, espalhando ainda mais em minha pele. Seus orbes
pretos e profundos vendo tudo com tanto prazer que me arrepiei inteira e
não foi em um mal sentido.
— É melhor voltar para o seu quarto ou juro que irei fodê-la por toda
a madrugada, e não creio que seu corpo irá aguentar.
A ameaça era verídica. Eu estava exausta, o provoquei e tive o que
queria, era o momento de pôr a cabeça no lugar e sair dali. Agora com os
ânimos mais relaxados, poderia pensar em algo para me livrar dele e de
toda essa merda que meu irmão me enfiou.
Arrastei minha bunda pelos lençóis, sem encará-lo. Não por
vergonha, mas medo de desejar mais. Minhas pernas tremeram e temi não
conseguir me mover. Vi a bagunça que fiz sobre sua cama, respirei fundo,
me impulsionei e sai dali, antes que o sexo fosse culpado pela minha morte.
Cai direto sobre o colchão macio do meu quarto e dormi como um
anjo, sem sonhos, apenas a profundeza de um descanso merecido depois de
ter meu corpo esgotado por um japonês nada convencional ou tímido. Não,
este era uma brasa viva, tocar em sua pele era sentenciar-se ao fogo.
No dia seguinte, minha mente parecia um turbilhão de pensamentos.
A racionalidade tomando lugar da emoção; o tesão havia passado e sobrou
apenas a maturidade para lidar com as consequências de ter entregado meu
corpo a um mafioso. Ainda que arrependimento não fosse o sentimento,
existia a dúvida.
Como me portar diante dele a partir de agora? Seria impossível não
lembrar da forma como me provou, do jeito que me pegou e, caralho, desde
quando eu tenho tanto tesão em facas por minha pele?
Com ele eu confiei. Não existiu medo, apenas o puro prazer e a
certeza de que Katsuo não me machucaria. Fiquei meia hora sentada na
cama, olhando o nada através de uma janela gradeada, pensando sobre tudo
isso.
— Como estamos?
Kiro, o saldado que foi escalado para viajar até Boston suspirou
pesadamente do outro lado.
— Temo que precise de mais homens aqui. Eles estão recrutando
americanos viciados para nos distrair.
— Está me dizendo que não consegue lidar com um bando de
viciados? Quem te treinou, Kiro? — questionei, já sabendo a resposta.
— Seu pai, Oyabun!
— Exatamente — rosnei, contra o telefone. — Ele não treinou
homens fracos, Kiro. Então espero que resolva essa merda. — Dei uma
pequena pausa. — Me diga, por que tem ratinhos irlandeses nas minhas
terras?
— Eu não sei, senhor... talvez eles tenham contato com alguém.
Pessoas que os coloquem no Japão.
— Não gosto dessa ideia, Kiro — ameacei, com um tom falsamente
tranquilo.
— Eu vou resolver isso, Oyabun, prometo.
Desliguei o telefone antes que o mandasse à merda. Não era assim
que eu conduzia aqueles homens, humilhá-los nunca os traria para o meu
lado; principalmente os mais velhos do que eu. Voltei para a tela onde me
mantinha atento a pequena fera que hospedei em minha casa. Ela parecia
mais pensativa hoje, quase não se movimentou, passou boa parte do tempo
sentada em algum canto olhando para o nada. Cheguei a vê-la limpar os
olhos. Estaria chorando pela falta do seu irmão ou arrependimento pela
noite passada?
De qualquer forma, a sentença estava dada. Ela permaneceria comigo
até que a faxina fosse feita e o italianinho decidisse quem seria o novo Don
de Boston ou seja lá como eles o chamarão. Desde que minha carga de
armamento passe sem problemas, eu pouco me importo de quem seja.
Recolhi minhas coisas e olhei de relance mais uma vez para a tela do
computador antes de desligá-lo e sair. No caminho, o gosto dela voltou para
a minha língua, lembrando-me que estaria perto de toda aquela tentação
mais uma vez. Afastar-me durante a manhã não surtiu efeito algum na
vontade que existia dentro de mim.
Já tive parceiras fixas, por anos frequentaram minha cama, mas nada
além disso. Com ela o prazo seria mais curto, porém, tão aproveitado
quanto.
Nós, Gokudos, não exigimos casamentos, meu pai só realizou a
cerimônia com a minha mãe, depois da morte dela, ele optou apenas por
viver junto. O tradicionalismo morria quando colocado à frente de uma boa
boceta. Nossas mulheres podiam ser compartilhadas, estupradas, vendidas,
toda essa merda. Meu pai se tornou o primeiro a não aderir essa prática,
embora não proibisse aos outros de fazê-lo.
Atualmente, eu prefiro não opinar na vida de um casal, mas se a
mulher me procurar para pedir amparo de seu marido abusador, ele será
punido e ela jamais voltará a ter contato. Nenhuma mulher deve ser forçada
a se prostituir em meus clubes, mas, infelizmente, não consigo e nem posso
controlar quanto aos outros e nem dentro da casa deles.
Certas atividades precisavam de mais do que duas gerações para
acabarem. Não seria eu a mudar a cabeça de milhares de homens e suas
mulheres.
A sorte da endiabrada Pantera era ter sido eu seu raptor, do contrário,
estaria sem cabelos, com o corpo marcado e sem qualquer roupa, sendo
violentada mais de uma vez por dia... e ninguém faria nada para ajudá-la.
Homens também são monstros.
Ela descobriria que eu não me tornei tão diferente disso, porém, com
ela, a missão era outra.
Apertei com mais força o volante, pensando na petulância de quem
tramava em meu território. Talvez não fosse pelas mortes que ocorriam do
outro lado do mundo, quem sabe seja por ela... Alguém que descobriu seu
paradeiro e veio finalizar com as possíveis pontas soltas. No entanto, se
importar tanto assim com uma mera vítima das circunstâncias não era
plausível.
Fabíola teria algo a mais nessa história?
Deixei o pensamento no canto, para ser repassado depois com mais
cautela. Quando estacionei de frente a minha casa, fui recebido pelos
cumprimentos dos soldados. Dorso só apareceria mais tarde, seu turno
havia sido alterado devido as frequentes viagens que fez comigo. Eu não
poderia deixar cansado e sem utilidade um soldado tão necessário e
confiável.
Abri a porta e a encontrei sentada no sofá como da última vez, porém,
sem as roupas de festa. Vestia um casaco largo e um short de malha
confortável. Busquei por alguma reação de timidez, mas não encontrei. Ela
fixou os orbes castanhos em mim, sem vida, sem brilho.
Algo me incomodou naquilo. Segui em direção às escadas, mesmo
que relanceasse o olhar para a pequena fera que parecia acuada em seu
próprio mundo.
Certo. Isso era novo.
As mulheres não costumavam me ignorar com tanta facilidade depois
de gozarem mais de uma vez comigo, contudo, ela não era uma garota
oriental, a cultura contava muito para julgar reações ou a falta destas.
Por que isso me diz respeito? Por que estou tentando justificar as
suas malditas ações?
Retirei minha roupa e segui para o banheiro, resmungando comigo
mesmo. São poucos dias em convívio, entretanto, debatemos tanto um com
o outro que jurava ter se passado semanas. Fora todo o estresse com aqueles
cretinos. Saí com a toalha enrolada na cintura e a encontrei sentada na
beirada da minha cama.
Ficamos em silêncio, encarando um ao outro, ambos esperando pela
primeira palavra. Odiava enrolação, mas senti que precisava deixá-la
prosseguir. Apertei mais a ponta da toalha em meu corpo.
Fabíola era uma força da natureza e vê-la se conter não me agradava.
Não ter suas respostas afiadas e sem noção também não.
— Eu não confio em você — declarou firme. Afunilei meu olhar.
Muitas pessoas não confiavam em mim, nunca foi um problema. No
entanto, saindo daqueles lábios carnudos me pareceu uma afronta direta, um
tapa em meu peito, daqueles bem de leve, ainda assim, eu senti.
— Me foder não te deixa mais perto de me dominar. E eu nunca vou
colocá-lo acima do meu irmão. Nunca.
Minha mandíbula enrijeceu, os dentes cerrados e todo meu corpo, de
repente, ficou tenso. Então era uma declaração de ódio ou um aviso para me
manter alerta? Quem sabe um maldito desafio?
Não gostei, de qualquer forma.
— Ainda vai tentar me matar? É o que está dizendo? — Ela se
levantou, parando a centimetros de mim. O queixo erguido, olhos centrados
nos meus e aquela petulância de sempre, em querer provar que é mais do
que vejo.
— Estou dizendo, Katsuo — falou baixo, escrutinando meu rosto. —,
que não será com sexo que irá me conquistar. Que não vai ser usando seu
pau que me fará esquecer quem sou e o que procuro fora do meu país.
Engoli em seco e desviei de seu olhar. Eu sabia o que precisava,
poderia lhe contar, mentir, acabar com essa esperança que via no fundo de
suas íris. Ela jamais encontraria seu irmão, neste momento, seu corpo
estava sendo comido por vermes em algum lugar da floresta Aokigahara.
Mesmo que fosse encontrado, as autoridades não se meteriam, atestariam
suicídio, visto que o lugar era conhecido por este motivo.
Apertei os punhos e resolvi tomar conta daquela situação. Eu não
tinha que justificar meus atos para ela, sua estadia aqui era temporária, logo
nosso convívio terminaria e essa culpa não deveria me pertencer. Foi o
irmão dela quem se meteu onde não deveria, ele apenas pagou as
consequências disso.
Voltei meu olhar para ela. Furioso. Irritado com algo que não sabia
denominar.
— Eu não quero conquistar você, Pansã. — Estendi minha mão
direita até seu rosto, deslizei até alcançar seus cabelos e os empunhá-los; ela
entreabriu os lábios, surpresa. A puxei para perto, deixando que algumas
gotas d’água caíssem dos meus cabelos para o seu rosto e colo, sobre o
casaco que vestia. — Foder você é o suficiente. Daria muito trabalho ter
que tirá-la do meu pé depois disso.
Aproximei minha boca da sua, apenas um roçar de lábios. Então
recuei, deixando-a solta. Virei-me de costas, seguindo para o meu armário,
deslizando a porta e pegando uma cueca, calça e camisa. A encarei sobre o
ombro, vendo seus olhos deslizarem por minhas costas, até a toalha, que fiz
questão de tirar em sua frente.
— Se não pretende me chupar agora, sugiro que saia — alertei.
Ouvi seus passos e a porta sendo bruscamente arrastada. Encarei as
roupas na minha mão.
Não precisava ser assim. Eu poderia me livrar dela, acabar com essa
nuvem cinza pairando sobre minha cabeça, com a possibilidade de uma
inimiga debaixo do meu teto. Mas, a ideia também me pareceu excitante pra
caralho. Fabíola tinha algo que me induzia a provocá-la, a querer ver qual
será seu próximo passo. A endiabrada seria capaz de me excitar mesmo
apontando uma arma para a minha cabeça, eu tinha certeza disso.
Ela deixou claro seu ponto. Eu também deixei o meu. Algumas
semanas seriam suficientes para nós dois e ela nem precisava ser a única,
poderia trazer mais convidadas para a festa, certo?
Mas, por enquanto, ela me bastava.
Observava seus movimentos na cozinha. Ele parecia tranquilo, a
coordenação bem desenvolvida no ambiente e aquele cheiro delicioso
tomando conta da casa. Me preocupava perceber que gostava disso, de ser
alimentada com algo feito por ele. Que a sensação de vê-lo cozinhar para
mim se tornava um conforto diante de toda aquela merda que acontecia na
minha vida.
Meu peito amanheceu pesado. Dolorido.
Senti que estava deixando meu irmão de lado, que precisava
esclarecer as coisas com Katsuo. Porcaria, aquela história de proteção,
mafiosos, tudo me enlouquecia e alugava um condomínio de cinco andares
na minha cabeça, me fazendo seguir por teorias e mais teorias. Não podia
esquecer que ali eu era apenas uma maldita prisioneira, do contrário, porque
tantos seguranças, qual a finalidade de ficar debaixo das suas asas?
Diego não poderia...
Soltei o ar devagar, enfiei as mãos em meu rosto e tentei controlar
aquela sensação desesperadora de que, mais uma vez, minha vida tinha sido
dominada por outras mãos.
— Tudo bem? — A voz veio baixa e mais perto do que ele realmente
estava. Me assustei, retirando as palmas dos meus olhos e o encontrando a
centímetros de mim. Como ele chegou tão perto sem que eu percebesse? —
Está se sentindo mal ou é fome? — Inclinou a cabeça.
Droga. Por que ele parecia fofo?
Como a porra de um mafioso tatuado até o pescoço, segurando uma
faca de cortar legumes, conseguia tirar esse pensamento de mim?
Aos poucos, me ajeitei no assento. O banquinho era alto, me deixando
emparelhado com ele. A voz me faltou, então sacudi a cabeça em
afirmação.
Me perguntei, naquele momento, se as palavras que eu disse a ele
mais cedo não eram um lembrete para mim mesma.
— Tem certeza?
— Sim — murmurei desgostosa. Odiava ter a preocupação de
qualquer pessoa, mas a dele era pior ainda.
Não muito satisfeito, ele permaneceu me encarando. A faca foi parar
na bancada ao meu lado, a olhei de relance.
— Nem tente! — advertiu.
Puxei o ar, quase bufando. Ele esticou os lábios, a língua safada
apareceu deslizando pelo canto do lábio esquerdo. Seus olhos caíram para o
meu peito, que agora subia e descia com força. O clima mudou,
contagiando-me de forma a me deixar desconfortável no assento. Apertei as
coxas e desviei o olhar.
— A panela está no fogo — avisei, tentando mudar a rota daquelas
sensações.
Ele me excitava, não importava se de forma bruta ou quando
demonstrava o mínimo de preocupação. Sua presença, um sorriso de canto e
aquele olhar esfomeado, eram o suficiente para fazer meu clitóris pulsar
como a porra de um alerta.
— Sim, está. — Olhou sobre o ombro e depois voltou a me encarar.
— Vou te alimentar primeiro — disse se afastando. Ergui uma sobrancelha,
sem entender.
— Como que é?
— Apenas se ajeite, já está quase pronto.
Ele voltou a ficar de costas, movendo suas omoplatas de forma que
me pareceu sexy pra caralho. Meus olhos eram como câmeras de efeito
lento, vendo os movimentos com perfeição, focados. O cabelo liso e
levemente bagunçado dava o toque ainda mais especial. A camisa colada ao
corpo, a calça larga, deixando-me ver uma ponta da cueca, nada de mais.
Katsuo me lembrava um estilo meio gângster fofo, daqueles de
doramas, em que o protagonista até tenta ser malvado, mas algo o deixava
sempre agradável demais... gostoso até.
— Como aprendeu a cozinhar assim?
— Minha madrasta.
— E sua mãe? — Algo mudou. O corpo ficou tenso demais. Notei ter
entrado em um terreno nada agradável para ele.
— Não a conheci. — Moveu os braços, retirando a panela do fogo
com cuidado.
— E seu pai e madrasta, onde estão? — Não existia qualquer quadro
de família, nenhuma foto dele pequeno. Simplesmente não existia história
naquele lugar.
— Estão todos mortos, Fabíola.
Engoli a saliva que desceu amarga. O timbre de sua voz foi cortante e
aquela impressão de fofura desceu junto do líquido quente que ele
derramava na pia. Um silêncio estranho nos cercou e me arrependi de tentar
uma leve aproximação, mas estava cansada de não fazer nada, e bem, ele
estava respondendo a algo, finalmente.
— E os seus pais? — perguntou enquanto voltava a panela para o
fogo, misturando algo dentro dela.
Eu mereci aquilo. Entrei em um assunto que o incomodou, ele
retribuiu. Fora que não tinha como ele saber. Não nos empenhamos muito
em nos conhecer nos dias anteriores.
— Meu pai morreu quando Diego tinha cinco anos — falei baixo,
procurando voz para o restante, porém, não entraria em detalhes, cada um
carregava suas cicatrizes e nunca foi minha intenção jogar mais sal entre
nossas feridas. — Minha mãe continua no Brasil.
— Sente falta? — Observei suas mãos espalmadas contra o inoxda
pia. Ele não me encarou, mas jurava ter os lábios comprimidos e a atenção
em minhas palavras. Eu sabia que sim, de alguma forma.
— Dela não. — Mordisquei o lábio. — Está pronto? — Mudei a rota
dos meus pensamentos. Ele virou um pouco a cabeça, me deixando ver a
escuridão de sua alma, o buraco negro forte o suficiente para me sugar.
— Está.
Nossa conversa parou nesse ponto. Nossos olhares perdidos em
pensamentos singulares, reservados apenas a nós com nossas bocas se
movendo no automático, mastigando. Tive a impressão de que não engolia
apenas os legumes e pedaços de carne que Katsuo nos preparou.
Enquanto eu lavava a louça, ele subiu para o quarto. Fiquei presa pela
espuma que se formava na esponjinha pequena, diferente da que usava em
minha casa. Coloquei tudo sobre a pia, deixando escorrer e me virei. Ele
desceu segundos depois.
— Venha aqui — mandou. Afunilei o olhar, cruzei os braços abaixo
do peito e ele apenas sorriu. — Por favor! — completou brando. Assenti e
segui para perto dele.
Katsuo sentou-se no sofá e me puxou para o seu colo, suas mãos
passando pelas laterais do meu corpo em uma carícia gostosa. Apoiei
minhas mãos sobre seus ombros, fitando-o ainda confusa com o tratamento.
— Podemos ter uma trégua? — murmurou, com a boca já sobre a
pulsação do meu pescoço. Minhas unhas se fincaram sobre sua camisa e
senti quando ele forçou meu corpo para baixo.
— Com isso você está sugerindo sexo?
— Exatamente isso — falou, sem vergonha alguma. Afastei meu
rosto para observar seus olhos. — Você é direta, eu também — justificou.
Umedeci os lábios. Uma avaliada rápida na situação e descobri que
meu corpo concordava com ele. Era isso, sexo. A carne pulsando pedindo
alívio, o corpo registrando sua necessidade. Nada que temer, nada que eu já
não tivesse experimentado.
Vazio de emoções, cheio de prazeres.
Quanto mais eu negasse, pior ficaria, confusões ocorreriam e
deturparia meus pensamentos.
Quanto mais eu negasse, mais eu desejaria.
Rebolei com força, ele sorriu malicioso, entendendo o recado. Saki
ergueu o quadril, me deixando perceber que já estava bem pronto para mim.
O short que eu usava era de uma malha fina e a calcinha não escondia muita
coisa, não precisaria sequer tirá-los, apenas afastar para o lado resolveria
nosso problema. Enfiei minhas mãos por seus fios, colocando sua cabeça
para trás e atacando sua boca.
Ele me deixou seguir, explorar, mordiscar. Permitiu que eu passasse a
língua por entre seus lábios, adentrando em sua boca e caçando pela dele.
Foi apenas quando eu a suguei que ele tomou posse do controle. Uma mão
forte sobre minha nuca e a outra coordenando a intensidade com a qual eu
rebolava, ainda esfregando-me nele.
Meu gemido foi bem recebido, meu quadril fazendo movimentos
circulares buscando o atrito perfeito. Senti quando espalmou com força
contra minha bunda, despertando o fervor com mais intensidade. Afastei
minha boca da sua e me deleitei com seus olhos pesados enquanto
continuava rebolando com força, ainda tendo as roupas nos atrapalhando.
— A camisinha, coloque-a em mim — pediu com a voz pesada.
Deslizei a bunda para seus joelhos, pegando o pacotinho laminado
que ele tinha colocado ao seu lado no sofá, deixando claro que sua intenção
sempre foi essa; talvez até antes de servir o almoço. Abri com cuidado,
nada de colocar os dentes, a chance de dar merda eram bem maiores desse
jeito. Ele ergueu um pouco o quadril e eu arrastei sua calça e cueca o
suficiente para liberar seu pau já duro.
O masturbei devagar, gostando da maciez e rigidez em meus dedos,
ele grunhiu baixo, os seus lábios entreabertos chamaram pelos meus dentes,
por isso capturei o inferior enquanto minha mão ainda subia e descia.
Estava me excitando, me preparando para recebê-lo sem preliminares.
Não precisava de muito, se antes eu era sensível a toques, com ele a minha
sensibilidade aumentava; olhares, palavras, suspiros e rosnados já me
deixavam a ponto de derreter. Sem esperar mais, soltei seu lábio e firmei os
joelhos no assento do sofá, ergui o quadril e subi até estar posicionada
perfeitamente na direção da sua glande. Meu olhar nele a cada movimento
das minhas mãos, afastando o short e a calcinha para o lado.
Desci tendo-o focado em meu rosto, o gemido nos cortou
deliciosamente e suas mãos pesaram sobre minha bunda, forçando mais
meu corpo para baixo. Ronronei baixinho, enfiando minha cabeça contra a
curva do seu pescoço, chupei onde encontrei pele exposta e o ouvi gemer
rouco. Era isso, eu começava a gostar dos malvados, ainda mais quando
gemiam tão gostoso e bem próximo do meu ouvido.
Rebolei, esfregando-me, ainda me adaptando a sua grossura. Minhas
mãos sobre seu peito e a boca grudada contra a sua pele. Ele esperou,
paciente.
Eu queria provar daquele momento, que fosse lento, do meu jeito.
Recuei a cabeça, o encarei séria e então comecei a subir e descer, devagar,
levando-o fundo. Katsuo mordeu o canto da boca, sem desviar do meu
olhar, suas mãos apenas me ajudando na subida e deixando-me comandar a
descida. Comecei a alternar reboladas circulares com quicadas mais firmes,
ele soltou um gemido rouco e deliciosamente excitante, incentivou-me a
repetir. Nossas respirações pesando mais, a roupa se tornando um
empecilho.
Quando perdeu a paciência, puxou meu casaco por minha cabeça,
jogando-o para um canto da sala, sua boca desceu sobre o seio direito
enquanto a mão amassou com violência o esquerdo. Gemi alto, aplicando
mais força no quadril, atingindo o ponto que me deixava fora de mim.
— Mais forte — pedi manhosa. Ele trocou de seio, mordiscando o
bico. — Por favor! — supliquei. Minha cabeça estava para trás e meus
olhos fechados.
Suas mãos voltaram com força para a minha bunda, a erguendo
enquanto ele estocava contra mim. Meu corpo arqueou.
— Olhe para mim! — ordenou rouco.
Obedeci, encontrando-o perdido em tesão. O preto dos seus olhos
brilhando tanto que podia ver meu reflexo, tão enebriada de desejo quanto
ele. Encostei minha testa na sua, seu pau entrando e saindo de mim, me
deixando fraca.
— Kat... suo — O desespero do orgasmo me pegando pelo ventre e
retorcendo-me inteira.
Arregalei os olhos e entreabri os lábios, nada saiu pela minha
garganta, mas o prazer veio entre minhas coxas, me desmontando. Finquei
minhas unhas contra seus ombros e escondi meu rosto contra seu pescoço.
— Sim... sim... — Não conseguia descrever o momento, apenas que
ele não parava e meu corpo se recusava a ceder, querendo mais, um atrás do
outro. — Oh... por... — engoli as palavras, ouvindo seu urro delicioso, tão
forte. A pulsação do seu pau dentro de mim me fazendo apertá-lo com mais
força.
Tudo ficou perdido. Até eu sentir suas carícias por minhas costas,
círculos relaxantes sendo formados por seus dedos contra a minha pele.
Nossas respirações voltando aos poucos e o corpo parando de tremer tanto.
Katsuo segurou minha nuca, afastando-me e capturou meus lábios. Um
beijo suave, apenas mais uma forma de acalmar nossos ânimos.
— Gozar com você ao mesmo tempo é simplesmente o paraíso —
confessou, me tirando do seu colo com cuidado, então se ergueu,
imponente, lindo pra caralho.
Filho da puta.
Eu precisaria de muita força de vontade para deixá-lo do lado de fora,
apenas com a vista superficial do que poderíamos ter. Ele caminhou para
um lavabo pequeno que tinha na parte inferior da casa. Foi a segunda vez
que notei uma porta trancada com cadeado, bem abaixo da escada.
Não me importei muito. Deveria ser onde guardava suas armas, não
me interessava, de qualquer forma.
— Você é péssima — Dorso resmungou divertido. Revirei meus
olhos.
— Me dá um desconto, nunca joguei isso antes. — Tudo bem, o jogo
era uma espécie de Presidente, que eu já jogava, sim, no Brasil, mas eu não
admitiria isso. — Ele ainda vai demorar?
Dorso assentiu, olhando suas cartas.
— Jogar em dois é horrível — confessou, chateado por ter me
vencido pela quinta ou sexta vez.
— Culpa do seu chefe que não deixa nada para eu me distrair.
O soldado brutamontes, que parecia menos perverso a cada dia,
apenas riu curto.
— Você é uma coisinha folgada, sabia? — Seu olhar encontrou o
meu, fiz uma careta e isso tirou mais risadas dele. — Muito atrevida.
— Não tenho culpa se a missão de parecerem assustadores não foi
executada por vocês. — Dei de ombros, me levantando e esticando o corpo.
Usava uma calça de moletom grosso e casaco, pois o dia tinha amanhecido
frio demais.
— Quem disse que tínhamos essa missão? — brincou, também se
erguendo. O observei com atenção.
Dorso era o tipo valentão na aparência: cabeça raspada, corpo grande
e largo, seus olhos eram dois risquinhos na cara levemente rechonchuda.
Quando o vi pela primeira vez, tive certeza de que seria morta, estuprada ou
sei lá, decepada viva. Desmaiei até. Mas, vendo-o agora mais de perto,
depois de algumas semanas de convivência, não conseguia temê-lo.
— Bom, talvez o jeito com o qual resolveram me “resgatar” — Fiz
aspas com a mão e, mais uma vez, ele caiu na risada.
— O chefe queria agir de outra forma, mas não podíamos ser vistos.
Sinto muito por assustá-la.
— Está perdoado. Só porque passa as tardes comigo, me aturando —
pontuei.
Dorso era o único permitido a ficar dentro da casa, e mesmo assim, eu
desconfiava que existissem câmeras pelo lugar. Katsuo sempre ligava para o
seu soldado em momentos pontuais demais para ser coincidência.
— Logo terá um lugar seguro para você.
Aquiesci, ainda o analisando devagar.
— Por que ele te chama de Dorso? — Ele sorria mais do que o
habitual na minha presença, isso me agradava de alguma forma. Talvez não
estivesse acostumado a ter tanto da atenção de uma mulher que não o
temesse. Uma amiga deveria ser novidade.
Na verdade, eu estava mais para um empecilho ou uma pirralha de
quem ele era o babá.
— Por causa disso aqui. — O soldado de Katsuo ergueu a blusa até o
pescoço, me mostrando as marcas ferozes em todo seu torso, literalmente.
Abri a boca chocada e, incentivada pela curiosidade, estiquei a mão,
tocando as cicatrizes em alto relevo. — Me protegi com o dorso das mãos e
foi a única parte que não foi afetada.
O telefone tocou no mesmo segundo. Dorso se afastou, o olhar meio
inseguro, então sorriu sem graça e pegou o celular.
— Preciso atender — falou, já saindo de perto de mim, atravessando
a porta como um flash.
Senti pena. Não. Não era pena, compaixão cabia mais. Ele parecia ter
vivido o inferno, com certeza demorou para se curar e viveria para sempre
com aquelas marcas pelo corpo. Quando retornou, estava com uma postura
mais distante.
— Quem fez isso em você? — perguntei, me sentando no sofá, ele
ficou encostado na porta.
— Um urso.
— Nossa! Você é um cara sortudo, sobreviver a isso não é algo
comum de acontecer.
— Não mesmo. Foram anos de recuperação, tive dificuldade em
andar sozinho, com medo de que ele voltasse. — Deu de ombros. — No
fim, ele só estava se defendendo, fui eu que invadi seu território.
Decidi que era melhor mudar de assunto, apesar de ele não se mostrar
chateado com o papo.
— Era Katsuo no telefone? — perguntei bem sonsa, fingindo não me
interessar.
— Sim!
— E então? — O soldado me deixou ver um pequeno esticar de
lábios.
— Não é da sua conta, Coisinha — caçoou, sabendo que eu não
gostava de ser chamada assim. Revirei os olhos e ficamos ali, jogando
conversa fora até Katsuo chegar.
Foram semanas de uma rotina chata durante o dia e intensamente
deliciosa pelas noites. Quase em todas ele me dominava em um sexo forte,
duro, gostoso pra caralho. Isso não me impedia de sentir culpa.
Enquanto eu me divertia cavalgando em um mafioso japonês, meu
irmão estava por aí, talvez precisando de ajuda, quem sabe preocupado
comigo? Vez ou outra a melancolia me atingia com força. Eu pensava sobre
nossos planos, o quanto ele fantasiava em me dar uma vida de luxo, como
se eu já não estivesse vivendo bem, sendo uma das donas da marca de
lingeries Devassa.
Meu irmão tinha ambições maiores do que isso. Ele queria ser
conhecido pelo mundo, desejava espalhar o nosso sobrenome como se fosse
uma citação divina na boca de quem o dizia. Sempre o achei sonhador,
nunca pensei que seguiria tão longe para cumprir com isso.
Mafiosos.
Eu ainda não me sentia nessa realidade. Quando sozinha na casa, eu
me dava conta do quão errada era a minha situação. Bastava Dorso aparecer
para conversar e essa sensação dispersava, e quando Katsuo chegava, tudo
se tornava parte de um sonho molhado ao lado de um japonês de pele macia
e lábios indecentes. Partes de uma vida que não me pertencia.
Temi me perder pelo caminho. Perder a Diego também.
— O que aconteceu? — Dorso se aproximou.
— Sinto que faz anos que estou aqui! — expliquei por alto. —
Quanto tempo faz?
Ele me encarou por alguns segundos, talvez tentando lembrar. Fez
uma careta engraçada, me tirando um sorriso sincero.
— Talvez um mês — chutou.
— Um mês — repeti. O calafrio que me cercou nada tinha a ver com
o frio. Foi a sensação horripilante que me fez fugir dos EUA, a mesma que
me deixou atenta enquanto caminhava pelas lojas da Itália. Me abracei. —
Acho melhor eu me deitar.
O soldado nada disse. Subi as escadas quase correndo, me enfiando
no quarto e me encolhendo contra os lençóis. Eu não dormia na mesma
cama que Katsuo, era um limite que nunca ultrapassei e me perguntava se
esse limite era o suficiente para me manter longe de uma queda terrível.
O subchefe dos italianos estava possesso com o envolvimento de seu
sogro na traição que pretendia criar uma guerra entre nós.
O olhar azul invadia a tela do meu celular, irritado como nunca.
— Não virá, presumo — resmungou.
— Não. É uma viagem longa e tenho meus problemas aqui. —
Fabíola era o problema. Viajar com ela era fora de cogitação, ainda que
estivesse mais acostumada e até acessível. A endiabrada poderia me causar
muitas dores de cabeça e ainda existia o perigo pairando sobre nós.
Irlandeses que pareciam se multiplicar como pestes.
— Tudo bem. Preciso desligar, tenho que reforçar a segurança.
— Mande minhas felicitações ao seu Don pelo casamento — falei
tranquilo, batendo com uma caneta sobre a mesa.
— Direi! — Ele desligou.
O Don não era mais um empecilho, embora fosse insistente quanto a
eficiência do meu pessoal, algo que não me agradava em nada. Ele tinha
que beijar meus pés, só estava casando-se com uma mulher fora dos
parâmetros porque eu garanti que todos os traidores fossem identificados.
Eu estava entediado, pois os assuntos mais mornos referente às
empresas lícitas foram resolvidos pela manhã, junto ao representante delas.
Era melhor assim. Eu ficava com o lucro, resolvia as questões processuais
com as minhas assinaturas e deixava o laranja enfrentar as reuniões
exaustivas e frequentar os tribunais quando necessário.
Abri as câmeras para observar minha pantera. Sua aproximação com
Dorso me incomodava, ao mesmo tempo que satisfazia. Era bom vê-la
conversando, se movendo sem timidez, tendo alguém para passar o dia sem
ficar recolhida em algum canto, pensando sobre seu passado.
Começava a me perguntar se a deixaria ir. Era uma decisão difícil,
implicaria em muitas coisas a serem expostas, como a morte de seu irmão e
a inexistência de um corpo para enterrar. Ela jamais perdoaria a mim e nem
a Dorso, que puxou o gatilho.
Eles jogavam conversa fora, nada de muito interessante. Analisei seu
corpo através da tela. Eu gostava da cor de sua pele, da forma como
brilhava com o suor enquanto ela rebolava no meu pau e dos seios pequenos
e pontudos que eram deliciosos para sugar. Lambi os lábios, pensando em
como a comeria dessa vez.
Seu corpo era tão receptivo a mim. Minha boca mal tocava seu
clitóris e ela estremecia, derretendo-se toda em meus dedos, língua e pau.
Fabíola inteira era uma tentação. Seria difícil me satisfazer com apenas
alguns meses. Quem sabe não a convenceria a ficar um pouco mais? Ela
não precisava saber do trágico fim de seu irmão, certo? Ele quem procurou
pela morte.
Esse assunto começava a me incomodar. Foram poucas as vezes em
que senti culpa em minha vida, mas, naquele momento, eu só tentava me
convencer de que não tinha culpa alguma.
Me ergui, pronto para voltar à minha casa, abandonando o
movimentado e intenso centro de Tóquio, onde eu costumava fazer morada.
Meu pequeno apartamento, neste mesmo prédio, agora vivia fechado, sem
qualquer resquício da minha presença.
Antes de sair, peguei meu celular e disquei para Kiro, precisava me
assegurar de tudo. Inclusive sobre os ratinhos que ainda roíam minhas
meias em terras estadunidenses.
— Quando terei a notícia de que estão todos mortos?
— Logo, Oyabun, logo.
Sorri de canto, gostando da firmeza em sua voz.
— Posso pedir para os italianos se prepararem?
Um segundo de pausa.
— Daqui uma semana.
— Certo. Me mantenha informado. — Estava prestes a desligar
quando ele me chamou.
— Oyabun, temo que nem todos os irlandeses estejam aqui, é bom se
manter atento — avisou.
— Ficarei. Obrigado, Kiro — Desliguei após sua saudação.
As notícias atribuíam as mortes a uma briga de gangues, ninguém
queria abrir a boca para culpar a Yakuza, como eles gostavam de nos
chamar.
Era preciso muito peito para isso e eles aguentaria a bomba se eu
decidisse soltá-la.
Dorso ria alto. Vi meu humor despencar em cinquenta por cento com
o timbre de sua voz me alcançando. Encarei o rapaz que estava do lado de
fora vigiando, ele apenas abaixou a cabeça e fingiu não notar o quão puto
eu estava.
Abri a porta de uma vez e encontrei Fabíola inclinada sobre o balcão,
enquanto meu soldado afastava de suas mãos um pote cheio de biscoitos de
chocolate. Cruzei os braços, vendo a bunda que eu amava estapear
empinada em minha direção. Eles não me perceberam, a brincadeira os
deixando em uma bolha a qual não fui convidado.
Aquela merda me incomodou, e muito.
Raspei a garganta, chamando a atenção para mim, Dorso rapidamente
voltou a uma postura ereta, Fabíola apenas virou a cabeça e sorriu mais
largo. Ela não parecia nem um pouco preocupada com a minha cara de
poucos amigos.
— Saki, olha o que Dorso me trouxe, mas ele não me deixa comer
mais do que dois — falou animada, ao mesmo tempo que frustrada.
— Ah, ele te traz presentes agora? — A pergunta não foi para ela.
Meu soldado abaixou a cabeça.
— Não, chefe. Esses biscoitos estavam rolando pela minha casa,
resolvi trazer para a senhorita Vasconcelos porque ela comentou outro dia
que gostava de doces.
— Deixa disso, Dorso. Já disse para me chamar de Fabíola, até
Coisinha é melhor do que senhorita Vasconcelos.
Ergui meu olhar devagar até o homem, que paralisou no centro da
sala. O seu tamanho encolheu no segundo que eu enruguei meus lábios e
testa. Agora ele colocava apelidos nas mulheres com quem eu transava?
— Não sabia que tinha apelidinhos, Fabíola.
Ela riu, sem notar o clima entre mim e Dorso.
— Você mesmo me chama de Pansã o tempo inteiro, que mal tem ele
me chamar de Coisinha? Eu até me irritava no começo, mas agora acho
fofo.
Mais uma bela encarada no meu soldado, que a essa altura já queria
se enfiar em algum quarto escuro. Meus punhos abrindo e fechando com
força.
— Ah, então acha fofo? — Inclinei minha cabeça para a pequena
endiabrada, finalmente a fazendo entender a porra da situação.
Não entendia bem o que se passava em minha mente, apenas que não
gostei, nem um pouquinho, do tamanho da intimidade entre aqueles dois.
Eu já dividi parceiras com Dorso, desde que todos estivessem de acordo, eu
não me importava.
Então porque cada veia do meu corpo parecia pulsar de raiva, quase
saltando pela pele?
Cerrei o maxilar e apertei os olhos, buscando calma. Todos ficaram
calados.
— Katsuo. — Senti o toque leve sobre meu peito, baixei os olhos em
direção a suas mãos. — É fofo quando me chama de Pansã também —
Seus olhos tinham um brilho de diversão. Soltei o ar devagar e a puxei com
força contra meu corpo.
— Não deveria ser, chamá-la assim só me lembra que não posso ser
delicado — rosnei, encostando meus lábios contra os seus.
Vi quando ela fez sinal para Dorso passar por mim e o filho da puta
obedeceu, antes que eu virasse o pescoço para adverti-lo, sem nem saber
bem o motivo, pois não estavam fazendo nada demais e, mesmo que
estivessem, ele tinha sua permissão. Fabíola segurou firme meu rosto, me
obrigando a encará-la.
— Estou entediada, ok? Ficar sempre nessa casa está me
enlouquecendo — falou manhosa, esfregando-se em mim como uma gata.
— Por que não fazemos algo diferente?
Apenas um lugar passou pela minha cabeça naquele momento, algo
que eu queria experimentar com a minha pequena e selvagem Pantera.
— Vá se arrumar, tenho algo em mente.
A minha vida era cercada por más decisões, mas as boas me tiraram
da vala. Foi assim que consegui criar, junto com uma colega, a marca de
lingeries Devassa, e me consagrei no Rio de Janeiro. O peso da cor da pele
e do tamanho do corpo não me impediu, tampouco me fez pensar sobre
isso, ainda que a realidade topasse no meu calo sempre.
Criei Diego da forma que pude, sendo a irmã mais velha que
carregava nas costas a tarefa de ser mãe e pai, vendo nossos familiares
tirando o corpo fora porque não queriam a responsabilidade, sentindo a
solidão de ser madura demais para a própria idade. Então, sim, era
compreensível que, de vez em quando, eu quisesse ser infantil, desejasse
agir imaturamente. Tinha direito a isso, a gozar da minha juventude sem
pensar nas consequências.
Quando desci as escadas usando um vestido preto colado ao meu
corpo que chegava até metade das coxas e carregava um decote em “v”
mostrando as laterais dos meus seios, foi com o intuito de errar essa noite;
de escorregar no mamão, meter o pé na jaca, tacar o foda-se para máfia,
responsabilidades, moralidade... tudo.
Por isso, muito me agradou o olhar que recebi de Katsuo e Dorso, que
me esperavam na sala. Meus cabelos soltos e armados do jeito que eu
gostava, meus lábios carregados em um batom vermelho e os olhos
marcados com um delineado preto.
Ficar naquela casa todos os dias começava a me deixar insana. A
realidade se misturava à fantasia, sentimentos começavam a me atormentar
e a melancolia sempre me fazia lembrar de diálogos que tive com Diego
dias antes de ele sumir no mundo. Também pensava sobre aquele japonês
desgraçado, o quanto era fácil para ele manipular meu corpo, minhas
sensações, e que até conseguiu me fazer esguichar.
Onde vou arrumar outro homem que faça isso por mim?
Eram pensamentos que me atormentavam demais. Eu precisava sair,
ver outras coisas, outras pessoas, sentir novas emoções. Talvez até me
envolver com outros homens, ainda que um fosse o bastante para mim.
Carência nunca era uma opção para mulheres em situações extremas.
Nunca!
Apertei a mão que Dorso me estendeu, vendo seu chefe fechar a cara.
Aquelas reações eram perigosas para uma mente desocupada e
extremamente cheia de romances questionáveis. Katsuo demonstrar ciúmes
abria precedentes para que a fanfiqueira dentro de mim criasse cenários
assustadoramente românticos.
Aquilo era apenas posse, nada além, e eu precisava tatuar essa
informação dentro do meu peito e cabeça.
— Vamos! — disse irritado, dando-nos as costas e seguindo para fora
da casa. Encarei Dorso que, rapidamente, se afastou de mim, talvez
temendo uma represália de seu chefe.
O caminho foi feito em silêncio, seus olhos afiados e escuros fitavam
o nada e ele parecia malditamente lindo desse jeito, com alguns fios caindo
sobre a testa e o lábio inferior preso entre seus dentes, distraído, tão perdido
quanto eu.
Era bom fingir de vez em quando que ele não era um mafioso que
poderia me triturar com facilidade e que apenas transar comigo não garantia
minha vida, caso eu viesse a deslizar com sua confiança.

O cassino estava movimentado, a primeira sala cheia de jogadores. As


máquinas barulhentas misturando-se aos sons de tilintar de taças e copos,
vozes animadas também contribuíam para a poluição sonora. Os olhares
vieram para mim assim que coloquei meus pés naquele lugar. Era mais do
que a roupa ousada e a presença de Katsuo ao meu lado, a cor da minha
pele também atraía. Mantive-me altiva, queixo erguido e olhar focado à
frente, sempre.
Adentramos mais ao fundo, o corredor na penumbra evocava a
sensação de perigo, mas não do tipo que me deixaria alerta e com receio, e
sim, o perigo instigante que arrepiava até minha espinha e me permitia criar
cenas bem interessantes do que poderíamos fazer contra aquelas paredes.
Aquele dia era, sem sombra de dúvidas, o meu dia de ser pervertida,
devassa, em homenagem a marca de lingeries que eu montei e perdi ao
seguir meu irmão mundo afora.
As grandes e quentes mãos de Katsuo se apossaram dos meus quadris,
me empurrando contra uma das paredes, a penumbra nos camuflando diante
dos outros, que passavam de uma sala para outra. Apenas uma fresta de luz
me deixava ver o olhar cortante. Aquele maldito buraco negro me puxando,
me induzindo. Algo naquele homem tornava-me mais afrontosa diante do
prazer, buscando sempre os desafios da carne.
Mordisquei seu lábio quando o senti esfregá-los contra os meus, ele
apertou minha cintura, movendo-me sutilmente para cima e colocando sua
coxa entre as minhas.
— Se entrarmos naquela sala, eu a foderei no centro diante de todos
— prometeu e aquilo me soou mais prazeroso do que amedrontador.
Puxei- o pela camisa, ficando com nossos corpos completamente
colados, esfreguei-me em sua coxa, deixando um gemido manhoso escapar,
ele apoiou as mãos contra a parede, me enjaulado. Seus olhos prometendo-
me fogo e eu estava desesperada para queimar.
— Só se for do meu jeito. — Olhei por sua lateral, encontrando Dorso
parado entre as salas, vigiando quem passava e tomando conta para não
sermos incomodados. — O que eles estão fazendo? — perguntei alto para o
soldado, Katsuo virou o rosto para observá-lo também.
Dorso engoliu em seco, espiou mais um pouco e voltou a nos encarar.
— Uma mulher e três homens.
— E o que eles estão fazendo com ela? — Foi Katsuo quem
perguntou, voltou-se para mim, um sorriso travesso no canto dos seus
lábios.
Algo que aquele safado não sabia sobre mim, era a minha disposição
para novas experiências e o quanto eu já tinha feito na minha vida sexual.
Nunca cheguei a ter três de uma vez, mas dois... não era bem novidade.
— Dois a fodem enquanto ela chupa o terceiro. — O soldado parecia
levemente incomodado, não por ser tímido, aquilo era tesão se acumulando
enquanto ele sabia que ficaria sem poder resolver, ao menos naquela hora.
— Ela está gostando? — continuou Katsuo com a voz rouca,
enquanto me mirava com satisfação.
— Sim, chefe, ela está.
Deslizei minha mão por seu corpo, tocando seu pau por sobre a calça,
ele permaneceu calado, apenas sentindo e observando meus movimentos.
— Desenvolva, Dorso — pedi enquanto masturbava seu chefe. O
soldado não conseguiria ver meus movimentos, mas, pelo gemido rouco
que Katsuo soltou quando comecei, ele já deveria adivinhar o que ocorria.
— Ela está de quatro, um homem embaixo, fodendo sua boceta e
outro atrás dela, comendo seu rabo. Sua boca está sendo fodida pelo
terceiro cara... ela mal consegue respirar entre eles.
Gemi manhosa, movendo meu quadril e me aproveitando da coxa de
Katsuo, escorreguei minha mão por dentro da sua calça, segurando-o com
firmeza; ele abaixou a cabeça mantendo a boca perto da minha, seu hálito
misturando-se ao meu.
— Está gostoso, Saki? — murmurei apenas para ele, deixando Dorso
de fora da nossa conversa. — Consegue me imaginar lá, sendo fodida por
você e mais dois homens? — Senti quando pulsou forte, a respiração ainda
mais pesada e irregular. — Vai permitir que outros me vejam? Que me
toquem? — Deslizei meus lábios por seu pescoço, sem interromper meus
movimentos. A carne dura contra meus dedos, cheia de veias.
Katsuo tirou uma das mãos da parede e a levou até meu pescoço,
apertando-o o suficiente para me manter ereta, mesmo assim não parei de
masturbá-lo.
— Você quer isso? — A pergunta saiu falhada, demorei alguns
segundos para entender. Deslizei meus olhos para onde Dorso se mantinha
atento. O show continuava na outra sala.
— Quero que me foda enquanto eu chupo seu soldado! — afirmei no
mesmo instante que tirei minha mão de dentro da sua cueca. Ele pareceu
atordoado no primeiro momento, então virou a cabeça encontrando Dorso
alarmado, talvez preocupado com a sua situação, temendo que seu chefe
pensasse que nos envolvemos.
— É isso que deseja? — Era um rosnado misturado à sua voz. O olhar
que me lançou indicava que a melhor opção seria negar, dizer que apenas o
provoquei e encher seu ego falando o quanto apenas ele me satisfaria. Mas
eu disse que meu maior objetivo aquela noite era ser imatura, errar como se
não existissem consequências, então faria jus a isso.
— Sim, meu Oyabun — provoquei. — Quero minha boca cheia
enquanto você me fode.
Seu aperto em meu pescoço aumentou, recebi um beijo punitivo
acompanhado por mãos gananciosas que erguiam meu vestido bruscamente.
Katsuo não seria delicado comigo, não haveria mais perguntas e, mesmo
assim, eu não conseguia me sentir arrependida. Aceitei seus beijos, gemi
com seus toques e me entreguei de bandeja para ser o que ele quisesse
naquele momento.
— Vira! — exigiu ríspido. Obedeci, apoiei minhas mãos contra a
parede e empinei minha bunda. Suas mãos acariciaram-me devagar. —
Veja, Dorso, como ela tem um rabo gostoso, pronto para que eu possua. —
Fiquei em alerta, mas não esbocei nenhuma reação. Ele desceu um tapa
forte na bochecha direita, me fazendo sobressaltar no lugar. — É uma pena
que você não vai conseguir enxergá-la inteira. Mas garanto que vale a pena.
— Mais um tapa. — Hoje é seu dia de sorte, vou deixar que use a boca
dessa vagabunda como quiser.
Meu vestido foi erguido e o calor de seu corpo dominou o meu, seu
peitoral cobrindo as minhas costas e sua boca raspando contra minha
orelha.
— Hoje você não precisará disso — sussurrou, ao mesmo tempo que
puxou com força a minha calcinha, rasgando-a e queimando minha pele por
causa da força aplicada. Suas mãos voltaram para as minhas bochechas, as
afastando devagar; choraminguei baixinho quando seus dedos deslizaram
por entre minhas dobras. — Já está molhada, Pansã? — Escorregou-os na
minha entrada, estocando cadenciadamente.
Sua língua resvalou sobre a pele fina abaixo da minha orelha,
estremeci, provavelmente melando ainda mais seus dedos. Meu corpo
inteiro vibrando e meu ventre se contorcendo, como se uma legião de
borboletas estivesse competindo lá dentro.
— Venha, Dorso, vou foder a bocetinha dela com força e quero que
você faça o mesmo com sua boca no segundo em que ela a abrir para
gemer.
Katsuo me puxou para trás e seu soldado se colocou rapidamente à
minha frente. Apoiei minhas mãos sobre sua cintura e busquei seu olhar.
Era difícil definir, a escuridão naquele ponto não me favorecia. Escutei o
barulho de zíper se abrindo e, quando acostumei melhor minha visão, notei
os movimentos frequentes de Dorso, masturbando-se.
Eu não me importava com o outro homem, mas o que estava atrás de
mim tinha total controle sobre minhas reações; a minha excitação era toda
dele. Por isso, foi quando sua glande pincelou a minha boceta que arfei,
tendo meus seios pesados e duros, roçando contra o tecido que ainda os
cobria. Katsuo empunhou meu cabelo, me obrigando a manter o rosto na
altura do quadril de Dorso, sabendo que ele esperava pelo momento certo
para se colocar na nossa brincadeira.
— Aproveite bem, pois será a primeira e última vez que outro homem
a tocará — sentenciou, segundos antes de empurrar contra mim,
penetrando-me duro e forte.
A fúria foi sutilmente aplacada pelo tesão que me cortou assim que
empurrei para dentro dela. Seus músculos apertando-me, me sugando com
tanta força que quase perdi o equilíbrio. Com uma mão a mantive firme
pela cintura e a outra permaneceu em seus cabelos. Ouvi o gemido de
Dorso, sabendo que o filho da puta se aproveitava de sua boca, a mesma
que deslizou tantas vezes pelo meu pau, e eu sabia ser deliciosamente
úmida e quente.
Mordi seu ombro, demonstrando um pouco da raiva que ela me fazia
passar; eu não me importava de compartilhar, mas ouvi-la pedindo por
outro mexeu com meu ego, feriu minha autoestima. Tive vontade de
arrastá-la dali e fodê-la tão forte que jamais teria coragem de repetir aquilo.
Fiquei tentado a marcá-la com a minha faca, fazendo a inicial do meu nome
em seu corpo para que todos soubessem a quem ela pertencia.
Possessivo como nunca fui em relação a uma boceta que eu fodia.
Movi meu quadril contra sua bunda, estocando fundo, ouvindo apenas
suas arfadas quando a boca não estava ocupada com o pau de Dorso. A
penumbra não me permitia ver muito além de silhuetas se movimentando, e
mesmo se pudesse, não me importava. Seu corpo tomava todo meu tempo,
minhas ideias ficavam vidradas em cada apertada gostosa que ela me dava.
Depois eu cuidaria dela sozinho.
Outro gemido rouco e alto vindo do meu soldado, aumentei a força e
apliquei dois tapas carregados com a minha raiva, sentindo-a vibrar e
estremecer, sua boceta me sugou de novo e dessa vez o gemido masculino
era meu, vindo do fundo da minha garganta, me rendendo aquela maldita
endiabrada.
Soltei seus cabelos e segui com a mão para o decote em “v” entre
seus seios, os expondo e apertando. Fabíola era sensível, eu sabia como
fazê-la gozar rápido e eu queria isso para ter uma desculpa em tirá-la de lá,
então lhe mostraria o quanto fiquei puto com aquela situação. Apertei o
bico endurecido e o contorci, ela gritou, afastando-se de Dorso por alguns
segundos, rebolou buscando por mais atrito e eu soube que estava quase lá.
— Eu vou... — Dorso começou a falar.
— Fora — rosnei alto para que ele entendesse e assim ele fez. Vi
quando saiu da frente de Fabíola.
A mantive contra meu corpo, fodendo-a sem pausas, minha boca
contra seu ombro, lambendo, mordendo.
— Sim... sim. — Seus gemidos aumentaram, suas mãos procuraram
pelo apoio da parede e eu aproveite para escorregar minha mão até seu
clitóris, massageando a carne dura e cheia de nervos.
A cada barulho da colisão de nossos corpos eu me sentia mais
poderoso, dono do seu prazer, das suas vontades e aquele que a teria sempre
que quisesse. Fabíola se tornou minha, uma posse que não pretendia
reivindicar, mas que ela me obrigou a declarar.
— Goza no pau do único que vai te foder de agora em diante! —
ordenei bruto. Seu corpo inteiro estremeceu e seu grito foi libertador. Nada
mais existia ao redor.
Meu pau pulsou forte enquanto era melado pelo seu gozo, seus
músculos me mamando com tanta gana que foi impossível não aceitar o
convite de jorrar meu esperma fundo em seu corpo. Minhas coxas
tremeram, mas eu mantive a postura, segurando-a firme e recuperando meu
ar. Sai lentamente, deixando minha porra deslizar e seguir escorrendo por
suas coxas. Abaixei a saia do seu vestido e a virei de frente para mim,
passei meu dedo por onde estava melado com meu esperma e a ofereci,
esfregando-o entre seus lábios.
Não conseguia vê-la, mas poderia apostar que seus olhos estavam
pesados de prazer, principalmente pela forma como ela sugou meu dedo,
satisfeita por provar do meu gozo misturado ao seu.
Ela estava mole, então a peguei no colo depois de fechar minhas
calças; Fabíola recostou a cabeça em meu peito e fechou os olhos, permiti
que seguisse assim no carro. A pequena Pantera não imaginava o que a
aguardava.
Minhas mãos, no entanto, pareciam afoitas por manterem-se em sua
pele, deslizava meus dedos pela curvatura do seu pescoço, vendo sua
pulsação embaixo deles. Fiquei bons minutos apenas apreciando-a tão
quieta e serena. Desviei meu olhar para o retrovisor, encontrando Dorso me
analisando.
— O que foi? — rosnei. Minha paciência com ele estava no limite,
ainda que não pudesse culpá-lo.
— Deveria ter me dito que era um problema, Oyabun, eu jamais teria
aceitado participar — falou devagar, ainda receoso. Dorso voltou sua
atenção para o trânsito e eu fiquei imerso em meus pensamentos.
Por que estava bravo com meu soldado mais fiel e que já participou
de orgias ao meu lado? Eu permiti que ele aproveitasse da situação, deixei
que desfrutasse dos encantos daquela boca indecente. De onde vinha toda
essa maldita fúria?
Relaxei contra o assento, desviando meu foco para a janela,
observando minha Tóquio ficando para trás, dando lugar a vegetação que
cercava minha casa.
— Pode descansar hoje, Dorso, deixe alguns novatos e mais um de
sua confiança vigiando a entrada.
Ele assentiu e estacionou de frente para a porta. Arrastei o corpo de
Fabíola para o lado e saí, depois me agachei em sua direção, a resgatando
de volta para mim.
— Quer ajuda? — Dorso perguntou.
Apertei com força meus olhos, buscando a paz interior para não enfiar
uma faca no meu soldado por um motivo tão fútil quanto possessividade.
— Sai. Daqui — pronunciei ríspido, cerrando os dentes para não
rosnar.
A levei para dentro sem ser impedido outra vez. A irritação voltou a
me afetar com tanta força que a deixei no sofá e me agachei, ficando com o
rosto na altura do seu. O ressonar baixinho quase me fazendo desistir, mas a
endiabrada me atiçou, provocou o pior de mim e pagaria por isso. Icei
minha mão até sua bochecha direita, acariciando-a e conseguindo uma
pequena reação, seus olhos piscaram pesados, até finalmente se abrirem e
focarem em mim.
— Espero que tenha descansado, minha Pantera. — Passei a língua
pelos meus lábios, analisando cada uma das suas sutis respostas ao meu
comportamento. Primeiro, foi o brilho de expectativa nascendo em seus
olhos amendoados e levemente sonolentos, depois o corpo ficando ereto, se
ajeitando no assento e se afastando do meu toque.
Me levantei, adorando vê-la assim, abaixo de mim, pequena diante do
meu poder e do que eu poderia lhe causar.
— Ainda estou me perguntando de onde veio seu interesse por Dorso
— questionei o que veio me perturbando por todo o caminho até ali.
Fabíola não hesitou ao pedir pelo meu soldado, o que me alarmou sobre o
que ela poderia sentir por ele.
— Não existe um motivo. — Deu de ombros, começando a ficar
incomodada. Ela odiava estar em posição de defesa.
— Posso parecer bem compreensivo, Pansã, mas não sou trouxa.
— Me acordou para discutir sobre quem eu chupo ou deixo de
chupar? É isso?
Maldita provocadora!
— Quer outros homens, é isso? Quer uma fila deles aqui, só para te
comerem e satisfazerem você? É sobre esse tédio que você falava? —
Minha voz soava mais ameaçadora a cada palavra. Eu não queria que ela
notasse o quanto aquela merda me consumia, contudo, já era tarde demais.
Fabiola se levantou, enfrentando-me peito a peito, com a mesma
ousadia que sempre teve. O único momento que aquela mulher se curvava
para mim era durante o sexo e apenas para receber prazer.
— Não é sobre querer outros, Katsuo, é sobre precisar, inferno! —
gritou, apontando o dedo contra meu peito. Olhei seu gesto e voltei para
seus olhos. A chama dentro deles demonstrava o quanto a minha pequena
Pantera se sentia transtornada. — Diz que não gosta de enrolações, então tá,
toma aqui a verdade, seu desgraçado — rosnou, se afastando de mim,
andando de um lado a outro. — Você não pode deixar uma mulher dentro
de uma maldita casa e dar orgasmos a ela todas as noites, sem esperar que
isso se torne em apego — confessou exasperada. — Não quando você faz
tão bem — murmurou indignada e eu quase sorri, se não fosse a minha
atenção em todo o resto. — Existe uma regra para essa merda dar certo.
— E qual é a regra? — Cruzei os braços em frente ao peito,
esperando.
— Variedades! — disse concentrada, como se me explicasse um
esquema tático. — Preciso de outros homens, dessa forma eu consigo não
me apegar a nenhum, zero vínculo. Sem conversas profundas, sem noites
dormindo juntos, sem ceninhas de ciúmes... Só sexo. Talvez a solução seja
procurarmos outros parceiros. — Voltou seu olhar para mim, concluindo
seu raciocínio.
Eu me neguei a respondê-la naquele momento, cada veia minha
pulsava, tamanho era o ódio por apenas imaginá-la sendo tomada por outro,
sequer veio à minha cabeça outra mulher que apagasse todo o caos e fogo
que ela me gerava. Apenas dei às costas a pequena endiabrada, subindo as
escadas com determinação, já sabendo bem o que fazer para que nunca mais
ela pensasse em foder com outro.
Certas coisas eram mais difíceis para eu admitir, todos tinham esses
pontos de vulnerabilidade que fingiam ignorar. Dizer para ele que existia a
possibilidade de me apegar, de criar algum tipo de afeto não permitido foi
um desses pontos. Todavia, eu não era de ferro, existiam carências que
precisavam ser supridas, o sexo se confundiu a partir do momento em que
eu pensava mais sobre a dor que ele sentiu em perder quem amava, do que
com a força que ele me comeria naquela noite.
Respirei fundo, afundando minhas mãos em meu rosto, aquela merda
de sensação voltando, me dizendo que a noite errante não foi um sucesso.
Katsuo demonstrou demais, mesmo com tão pouco, eram migalhas que eu
cismava em pontuar. Nunca aceitei migalhas antes, não seria condizente
fazê-lo agora. Escutei seus passos retornando à sala, ergui meu olhar e vi o
homem dominante que me rendeu em poucos movimentos.
— Tire o vestido — ordenou sem me olhar, sustentou uma pequena
maleta preta sobre a mesa de centro. — Agora!
Certo. Ele ainda estava irritado comigo, embora meu ponto fosse
plausível, ele tinha de admitir isso, que eu não estava delirando. Resolvi não
provocá-lo mais, apesar de nossa relação ter criado uma rotina agradável, eu
não sabia até que ponto ele poderia ir para ter suas vontades atendidas. Era
um limite que eu ainda não havia ultrapassado.
Me ergui do sofá, puxei o vestido pela cabeça, tirando-o lentamente.
A vergonha de ficar completamente nua em sua presença existiu apenas na
primeira vez, depois disso, os pudores foram por água abaixo. Joguei a peça
de roupa no canto do sofá e esperei pela próxima ordem.
— Fique de joelhos no sofá, tronco inclinado para a frente e essa
bunda atrevida empinada para mim. — Continuava sem me encarar,
esperando ser atendido sem qualquer relutância.
Ele acreditava mesmo que eu merecia ser punida, que meu raciocínio
era errado. Bufei, deixando claro que só o obedecia para evitar fadiga, ainda
sentia meus joelhos fracos pela brincadeira de horas antes. Me posicionei
como ele ordenou e virei meu pescoço para observá-lo sobre o ombro; algo
que parecia metálico surgiu no meu campo de visão, mas não pude
distinguir. Suas mãos tinham um tubo estranho, cheio de palavras em
japonês que eu não fazia ideia.
Katsuo melou a mão com o líquido do tubo, depois fechou-a sobre o
tal objeto metálico, melando-o também. Quando seus orbes escuros e
pequenos se concentraram em mim, vi a perversidade de perto, quase tendo
seu hálito contra meu nariz, dizendo-me que a partir daquele momento eu
não teria mais retorno.
Do quê? Não tinha certeza.
Ofeguei a cada passo daquele homem para perto do meu corpo, ainda
completamente vestido e malditamente sexy.
— Separe bem as coxas. Isso, assim. — Sua mão deslizou entre
minhas dobras, esfregando devagar, sem tocar exatamente no meu ponto de
maior prazer. Engoli em seco e me concentrei em permanecer com meu
corpo ereto. Katsuo escorregou dois dedos para dentro de mim, abaixei a
cabeça e mordisquei os lábios, por um momento fechei os olhos e foi o
suficiente para ter seu hálito quente contra minha boceta. Gemi alto quando
sua boca me atacou sem pena, chupando, beijando, lambendo
despudoradamente cada cantinho. Agarrei com força o encosto do sofá.
Perdida em tesão, envolvida por cada toque de seus lábios em mim,
me senti vazia quando ele se afastou e algo gelado tomou o lugar,
infiltrando-se em minha boceta e sendo melado pela minha lubrificação.
Choraminguei, virando o pescoço e tentando identificar o que seria aquilo.
Talvez um vibrador?
O japonês moveu o objeto em um vai e vem cadenciado, desfrutando
da visão que tinha. Então ele o afastou da minha boceta e o circulou sobre
meu rabo. Travei no mesmo instante, o medo da dor preso em minha
garganta e a pergunta circulando na minha cabeça.
Katsuo seria capaz de me machucar naquela região para provar seu
ponto?
— Relaxe — pediu com a voz mansa, mas não consegui atendê-lo,
ainda desconfiada de suas intenções. Sexo selvagem me deixava louca, me
fazia gozar rápido e ele sabia disso, mas nunca naquele lugar. Nunca.
— Quer me punir? — perguntei exasperada, quase saindo da posição,
contudo, ele não permitiu, segurando meus quadris e ficando atrás de mim
como uma barreira.
— Quero muitas coisas — murmurou contra meu ouvido, suas mãos
vieram até meus seios, enchendo-se deles e os apertando com força. — No
momento, só preciso que relaxe e me deixe te fazer gozar.
Engoli em seco. Seus lábios desceram até meu pescoço, lambendo e
chupando.
— Relaxe, Pansã. Me deixa te conduzir — pediu, com a voz rouca
contra a minha pele. Senti seu pau endurecendo, ainda preso pelas roupas.
— Promete que não vai me machucar? — soei mais frágil do que
queria.
— Prometo. — Saiu devagar de trás de mim, voltando para onde
deixou o objeto que agora eu identificava como um plug anal.
Sua língua voltou, dessa vez para um beijo grego que eu odiava
admitir ser muito bom, gemi baixinho quando um dedo começou a permear
por ali, voltando para a minha boceta e melando-se antes de retornar até
meu ânus e começar a me penetrar devagar. Katsuo estava sendo paciente,
isso me fez relaxar mais, permitindo a pequena invasão. Os movimentos
foram iniciados com cautela, cadenciadamente. Rebolei quando o prazer
veio, outro dedo foi acrescentado, tornando-se um pouco dolorido.
— Isso, Pansã. — A voz dele pingava luxúria, me deixando saber o
quanto aquilo o excitava. — Está perfeita! — Fechei os olhos e deixei meu
corpo se libertar, conduzindo a situação. Engolia seus dedos e rebolava
sobre eles, manhosa em cada movimento.
Katsuo se afastou, me causando um frio incômodo. Resmunguei,
chamando a sua atenção e lhe arrancando um riso curto.
— Acalme-se, logo te foderei bem gostoso — prometeu. Meu corpo
inteiro se arrepiou imaginando seu pau no lugar dos dedos, preenchendo
meu rabo inteiro, me consumindo e me fazendo ansiar em tê-lo. — Relaxe,
hachimitsu[2] — falou atrás de mim, me fazendo abrir os olhos novamente.
O plug foi empurrado devagar, esperando que eu relaxasse e o
sugasse cada vez mais, estava bem lubrificado, evitando que eu sentisse
muita dor, embora uma pequena ardência ainda fosse persistente. Sexo anal
não era um tabu para mim, apenas algo que eu preferia evitar por não ter
tido boas experiências, no entanto, lá estava aquele maldito me fazendo
mudar de ideia, gostando até mesmo do momento dolorido desse tipo de
sexo.
— Pronto, está todo em você — murmurou, segundos antes de deixar
um beijo na minha nuca.
Ele caminhou para a minha frente e começou a se despir bem
devagar, arremessando a camisa de lado, abrindo a calça e expondo a cueca
boxer azul-escuro marcada pelo volume do seu pau. Lambi os lábios,
sentindo o plug me alargando deliciosamente. Katsuo abaixou a cueca,
ficando completamente pelado em minha frente, sua mão movendo-se com
o punho fechado sobre seu pau, masturbando-se enquanto me apreciava.
— Abra a boquinha pra mim.
Mordisquei o lábio antes de obedecê-lo, e em segundos o tinha em
minha boca. A gentileza que usou para me penetrar no ânus não foi a
mesma que aplicou contra meus lábios, estocando até o fundo e prendendo
minha cabeça até que meu ar sumisse, soltando apenas para me ver
desesperada por fôlego, o encarando, perdida de prazer, entregue e com
muitas expectativas. Voltou a fazer esse movimento pelo menos cinco vezes
antes de retornar para trás de mim, as mãos pesando sobre minhas laterais e
o pau pincelando entre meus grandes lábios, provocando-me.
— Quer outro homem aqui? — perguntou rouco no mesmo momento
que fechou a mão sobre meu pescoço, colando-me ao seu corpo, a cabeça
pairando na minha entrada, apenas um movimento para frente e ele estaria
dentro de mim, me preenchendo ainda mais, tendo o plug ocupando meu
rabo.
— Não...
— Não ouvi. — Estocou fundo. Gemi alto, agarrando o encosto do
sofá com uma mão e o seu braço com a outra. O plug parecia tentar se
acomodar junto ao outro invasor.
— Não. — Praticamente gritei, sentindo-o me foder fundo e forte.
Tudo se perdeu e o prazer me consumiu. Não havia chance de pensar em
nada além da sensação de estar completamente preenchida.
— Isso, Pansã. Não quer nenhum outro porque só eu te faço
esguichar, só eu dou o que você precisa, entendeu? — Tornei-me uma
mistura de gemidos, líquido e muitos murmúrios inaudíveis. Nada fazia
sentido, somente seu corpo me tomando, suas mãos me apertando e a boca
me mordendo e chupando, marcando-me como se eu o pertencesse.
O primeiro orgasmo veio violento, me fazendo tremer inteira, cada
pelo do meu corpo se arrepiando e o fôlego sendo a última coisa a qual
pensei em resgatar. Ele não parou, mesmo sentindo-me desmanchar com
seu pau dentro de mim. Minha mente turvou, transformando aquela casa em
um grande borrão com pequenos flashes de luz, meu corpo esgotado, ainda
assim parecia reservar algo para ele, algo forte.
Katsuo saiu de mim com um rosnado, pensei que gozaria, mas não,
ele tinha outros planos. O plug foi removido com delicadeza.
— Vou gozar aqui e não haverá nenhum lugar que meu pau não tenha
explorado em seu corpo — disse, apertando com mais força meu pescoço,
voltando a me imobilizar. A glande cutucou meu ânus, por um segundo
travei, fechando os olhos e temendo que ele fosse bruto comigo. — Você
gozará primeiro, Pansã, não vou machucá-la. — Voltou a prometer,
enquanto acariciava minha bunda com a mão que estava livre.
Eu não sabia o que estava acontecendo dentro de mim, só sentia
minhas bolas puxarem com força, entendendo que não duraria muito dentro
de seu lindo e apertado rabo. Engoli a saliva, tirei o excesso de suor que
respingava dos meus cabelos, voltando a penetrá-la devagar, sentindo as
paredes do seu cuzinho se fechando contra meu pau. Gemi rouco, perdido
em cada sensação.
Me contive ou acabaria quebrando a minha promessa e eu realmente
não queria machucá-la, meu ponto seria bem explorado de outra forma.
Aquela endiabrada se contentaria com a minha rola todo maldito dia, sendo
minha, somente minha.
Seu corpo relaxou de novo e aproveitei para ir mais fundo; gememos
juntos, apoiei a cabeça contra seu ombro, deixando beijos e mordiscadas
por ali, aproveitando do seu gosto misturado ao suor.
Tão apertado e quente.
Porra!
Quando minha pélvis bateu contra sua bunda, eu já estava a um passo
de gozar feito um cavalo. Parei, buscando dar tempo a nós dois; ela, para se
ajustar com meu tamanho e grossura, e eu, para não gozar tão rápido. Desci
uma mão para o seu clitóris, esfregando-o suavemente, ela estremeceu e
choramingou. Após alguns minutos a senti rebolando devagar, movimentos
sutis que me fizeram ofegar.
Não era a minha primeira vez fodendo um rabo apertado, mas sendo o
dela parecia uma vitória muito mais doce. Fabíola era uma força da
natureza e me permitir fodê-la dessa maneira era a prova de que começava a
confiar em mim, mesmo que ela teimasse em não admitir. Porque sim, se
ela me pedisse para parar, eu não insistiria. Se ela reclamasse de dor, eu
recuaria no mesmo segundo, e a última coisa que aquela mulher aceitaria
era sofrer no sexo apenas para me agradar.
— Porra! — resmunguei, começando a me mover, sentindo-a acelerar
os movimentos de suas reboladas.
Aumentei a pressão das estocadas junto com as carícias em seu
clitóris, Fabíola me apertou com força, estremeceu-se inteira e então veio a
minha tão esperada glória, seu gemido libertador de prazer, começando
agudo e alto e terminando sem qualquer som, apenas seu corpo arqueado e
a boca aberta. Meus dedos ficaram molhados do esguicho delicioso da
minha Pantera, algo que ainda me deixava enlouquecido. Prolonguei seu
prazer a tendo se contorcendo em meus braços, então eu também ejaculei
gostoso, enchendo seu rabo com a minha porra e pulsando forte.
Parecíamos ter participado de uma maratona: corpos suados,
ofegantes, trêmulos e completamente esgotados. Minha respiração demorou
minutos inteiros para retornar ao normal, só depois me retirei devagar de
dentro dela, acariciando suas costas, deixando beijos por toda parte. Olhei
de relance o quanto meu sofá estava arruinado, mas na verdade nem me
preocupei.
A peguei para mim, sentindo meu esperma escorrer por seu corpo
mais uma vez aquela noite. Fabíola apagou em meus braços antes que eu
terminasse de subir as escadas carregando-a. Não a importunei, deixei que
dormisse sobre meus lençóis e tratei de fazer o mesmo. Meus músculos
gritavam, mas foi o galope do meu coração que me deixou preocupado.
Tudo bem, ela passar a noite aqui no meu quarto, seria apenas uma
vez, que mal faria?
Demorei algum tempo para pegar no sono, apenas me inebriando de
seu sono tranquilo, um sorriso de canto nos lábios. A sensação de dever
cumprido ao vê-la dessa forma era gostosa, parecia me completar.
Pela manhã, ela ainda dormia e, depois de ficar mais de vinte minutos
velando seu sono e reparando cada detalhe de seu rosto, me peguei
sorrindo. Isso me preocupou; não deveria tê-la trazido para o meu quarto...
ou para a minha vida.
Fabíola era uma ponta solta marcada para morrer por ser irmã de um
maldito informante, o mesmo que levou um tiro na nuca a meu mandado.
Ela comeria meu fígado cru se descobrisse isso. Droga, esses pensamentos
começaram a me incomodar muito, a reação dela ao descobrir, a forma
como me afastaria e eu perderia todo o controle da situação.
Eu precisava voltar a realidade, separar corpo e sentimentos, sequer
deveria ter algum em mim. Ela tinha razão sobre variedades e regras. No
entanto, o quanto eu seria escroto em foder com outras e a impedir de fazer
o mesmo? Sem chances, eu não conseguia nem pensar na possibilidade,
porém, poderia ser seu jeito explosivo me contaminando. Não mentiria que
era excitante ter alguém tão pequena e corajosa me enfrentando, uma
mulher que não abaixava a cabeça quando me via chegar.
Olhei as horas, me perguntando se deveria ir para Tóquio e deixá-la
dormindo em paz, ou se a acordaria para... Para o quê?
Não sabia, mas queria ver seus olhos abertos, saber o que estava
sentindo, ter certeza de que não a machuquei, tomar banho com ela e tocar
mais uma vez seu corpo.
Engoli em seco e me levantei em um pulo, sentindo-me estúpido. O
que eu sabia sobre ela, afinal? Não mais do que saberia de qualquer mulher
que frequentasse minha cama.
Sabia de seu amor pelo irmão mais novo, o qual eu mandei matarem.
Também sabia sobre uma possível relação conturbada com a mãe, a morte
de seu pai e, pela forma como ela enfrenta o mundo, que não teve uma
trajetória fácil.
Talvez eu devesse ficar em Tóquio por alguns dias, colocar minha
cabeça no lugar, me situar sobre os acontecimentos em Boston, quem sabe
perturbar aquele subchefe italiano, me distrair com algo mais sangrento e
que não me deixasse de pau duro.
A espiei mais uma vez antes de deixar o quarto. Peguei uma pequena
mala e joguei roupas para uma semana, depois pesquei meu celular, relógio
e tudo que me importava para ficar longe daquela endiabrada com feitiços
que não estavam me agradando nem um pouco.
Saí da minha casa batendo a porta e encontrei os soldados novatos me
esperando.
— Dorso e mais dois ficam aqui, vigiando. Não sei quando voltarei,
mas não a deixem sair. Nunca.
Eles assentiram e eu me enfiei no carro, precisando dirigir, mudar
meu foco, fugir daquela situação de merda... Fugir.
Rosnei, irritado comigo mesmo. Eu, um adulto que já tinha
esquartejado mais de dez homens, fugindo de uma mulher por não saber o
que estava acontecendo. Uma piada muito malfeita, fora de tom e que eu
não queria me prestar.
Acelerei, deixando-a para trás, forçando-me a focar no que precisava
resolver. Resmunguei ao sentir dor em minhas coxas, lembrando-me do
quanto a peguei forte e de como aquele rabo me recebeu tão bem.
Droga.
Balancei a cabeça e peguei a estrada, buscando pela movimentação da
minha cidade de berço, onde fui forjado e aprendi a ser quem era.
Meu corpo estava todo dolorido, essa conclusão me fez sorrir feito
idiota, revivendo o quanto a experiência com Katsuo havia sido boa. Eu não
costumava sentir prazer em sexo anal, mas com ele eu senti, tanto que até
esguichei outra vez.
Estiquei meus braços e rolei para o lado, notei estar sozinha e abri os
olhos, lembrando que simplesmente apaguei em seus braços, olhei ao redor
vendo suas coisas organizadas. O cheiro dele ainda estava forte nos lençóis.
Me sentei e pisquei algumas vezes, tentando me concentrar nas sensações
do meu corpo, no quanto minhas coxas e braços estavam fracos, na forma
como tremia e ainda sentia meu clitóris pulsar dolorido.
Demorei em torno de dez minutos até tomar coragem de me levantar,
a preguiça arrastando meus passos. Eu queria vê-lo, conversar sobre nossa
situação. Não dava para agirmos feito dois adolescentes cheios de
hormônios, fora o uso da camisinha que acabou sendo negligenciado, por
causa disso, teria que pedir a pílula do dia seguinte e depois fazer uma
consulta para começar com anticoncepcionais. Desci devagar e encontrei
Dorso parado no centro da sala, achei estranho a forma como ele ficou
desconfortável ao me ver, era para eu estar assim também, porém, não
consegui me sentir culpada ou errada, quis fazer e ele aceitou, estávamos de
acordo, todos nós.
Me espreguicei de novo e sorri, tentando quebrar o gelo.
— Bom dia! — falei, parando à sua frente. — Katsuo foi para o
escritório? — Ele assentiu devagar. Ainda tinha algo de estranho, ele
parecia preocupado. Não dei muita atenção naquele momento, apenas me
dirigi á cozinha e preparei meu café da manhã.
Eu já sabia onde cada coisa ficava naquela casa, também havia me
habituado a cozinhar, usando algumas receitas do próprio mafioso, outras
eu improvisava com o que tinha. Vivíamos como um casal disfuncional e
estranho, ainda assim, um casal. Me sentei no banquinho, apoiando meus
cotovelos sobre o balcão de madeira, encarei Dorso outra vez, mas ele
sequer me olhava.
Aquele sentimento intruso de que algo viria para me destruir tomou
conta do meu peito, levei a mão até ele, massageando-o, pensando que
talvez fosse exagero da minha parte. Contudo, aquela situação ainda era
desagradável para caramba, eu não queria ficar à vontade na casa de
Katsuo, não gostava de sentir que a presença dele me fazia mais falta do
que medo, ou que seu jeito de falar e agir não me causavam nenhum
estranhamento.
Eu estava, naquele momento, sentindo saudade dele.
— Dorso, o que aconteceu com os pais de Katsuo? — Ele ficou
calado, os olhos estreitando para mim. — Ele me contou que eles
morreram, mas nunca detalhou muito. — Levei um pedaço de torrada à
boca, esperando.
O soldado parecia indeciso sobre o que dizer.
— Não acho que ele iria gostar se eu contasse.
— Talvez ele não goste de lembrar, eu não falarei nada para ele, não
vou ficar cutucando o passado com a intenção de feri-lo. — Era verdade.
Não me aprofundei no assunto com ele porque isso significava ter que
contar sobre mim também, e eu não queria abrir nenhuma das nossas
feridas.
— Senhorita...
— Ah, vai pro inferno. Ontem eu estava com o seu pau na minha
boca, então pare com isso de senhorita — resmunguei e levei um pouco de
chá até os lábios; Katsuo me viciou nisso, todo dia era um diferente.
Dorso soltou o ar com força, a sombra de um sorriso ameaçou a
aparecer, no entanto, ele se conteve.
— Fabíola, eu não acho que seja certo. É sobre a vida do chefe.
— Todos os soldados sabem? — Ele acenou com a cabeça. — Então
qual o problema de eu saber também? Estamos convivendo há um mês e
não tentei matá-lo uma segunda vez — argumentei faceira, vendo sua
resistência esmorecendo aos poucos.
— Certo, mas por favor, não conte que soube por mim, o chefe parece
irritado o suficiente comigo.
Ri, concordando e me ajeitando para ouvir um pouco mais sobre a
vida daquele homem que vinha me consumindo todo o tempo.
— A mãe do jovem Katsuo se matou semanas depois de dar à luz —
falou baixo, se aproximando de mim. Meu peito apertou no mesmo
segundo, qualquer vestígio de divertimento fugindo da minha face. — Ela
não queria vê-lo como um assassino e não aceitava a forma como ele foi
concebido. O pai dele se sentiu culpado por meses, mas cuidou muito bem
do filho, formando seu caráter, ensinando tudo, até que ele encontrou outra
mulher e se juntou a ela; a madrasta do chefe adorava o demais, deu o amor
que a mãe não conseguiu.
Dorso abaixou a cabeça penoso e eu soube que o pior seria revelado.
— Então, um dos nossos se virou contra ele, por não aceitar o fim do
tráfico de pessoas, que era muito lucrativo pra nós. Ele atacou durante a
noite com a ajuda de alguns funcionários da casa, Katsuo estava viajando,
aprendendo e conhecendo outros aliados. Quando voltou, encontrou a casa
pegando fogo e partes dos corpos de seu pai e madrasta, que estava grávida,
pendurados do lado de fora, expostos para todos.
— Meu Deus! — Tampei a boca com as duas mãos e meus olhos se
encheram de lágrimas, foi inevitável imaginar uma versão mais jovem dele,
voltando para casa, feliz com a chegada do irmão, tendo finalmente tudo em
seu lugar, um pai que o amava, uma madrasta que não o destratava e
encontrar tudo arruinado, destroçado e exibido para todos verem.
— Foram tempos vermelhos, Coisinha — Dorso continuou, sentando-
se à minha frente. — Katsuo colocou a cidade inteira abaixo, depois o país,
ele só parou quando fez pior com o responsável pela morte deles, foi assim
que tomou a liderança e passou a ser respeitado por todos. Ninguém nunca
mais ousou desafiá-lo.
Meu estômago reclamou, mas eu não conseguia colocar mais nada na
boca. Ele sofreu e fez sofrerem por causa da sua família; eu entendia esse
sentimento.
— Eu também seria capaz de matar pelo meu irmão — desabafei.
Dorso se levantou, parecendo desconfortável com a situação, talvez
por ter aberto tanto sobre seu chefe. Os olhos dele arregalados para mim.
— Quantos anos ele tinha? — perguntou, ainda agindo estranho, seus
olhos desviando-se dos meus.
— Diego tem vinte, acabou de fazer, na verdade... — Parei por um
segundo, e então encarei Dorso com mais seriedade. — Por que você disse
tinha? — Me ergui em um pulo. — Por que usou do passado pra falar dele?
— Forma de falar, quis dizer quando se separaram — respondeu
rápido demais. Fiquei um tempo procurando por qualquer sinal de mentira,
trazendo à tona o meu maior medo, algo que me puxava durante as noites
que não tinha a atenção de Katsuo.
— Dorso, você sabe de algo? Conheceu meu irmão?
Ele engoliu em seco e se afastou de mim.
— Não, Fabíola. Acho melhor eu ficar do lado de fora, logo trocarei
de turno.
Não insisti, não existia mais forças dentro de mim, então apenas
fiquei ali, olhando-o sair. Existia uma grande chance de ele saber mais do
que me contava, ainda assim, eu preferi deixá-lo ir.
Fechei meus olhos e me recordei vagamente de uma das minhas
conversas com Diego. Ele sempre queria abraçar o mundo, mesmo que seus
dedos no final fossem incapazes de se tocarem.
“— Fafa, você não enxerga o mundo como eu — falou afoito, depois
de comprar a passagem para os Estados Unidos.
— É porque eu uso óculos para vê-lo do jeito que é. Mesmo se for
feio e injusto, você às vezes parece a Alice, perdido no país das maravilhas
— resmunguei, enquanto o via saindo de frente do computador e
começando a arrumar as malas.
— Eu quero mais do que sobreviver, Fafa.”
Essa frase não saía da minha cabeça. Eu o entendia, também queria
mais do que sobreviver, contudo, nada justificava tamanha sede de poder,
algo que não tivemos em nenhum momento.

O dia seguia esquisito, a sensação de vazio começava a me


atormentar e me fazer questionar o quanto eu estava confortável com a
presença de Katsuo e seu soldado, foi quando aquele pequeno atiçamento
no ventre iniciou, minutos depois de eu perceber que chegava o horário que
ele sempre retornava. Sentei no sofá e fiquei esperando.
Ok. Eu, definitivamente, havia ficado ansiosa pela presença do
japonês que jurava estar me protegendo, mas parecia esconder algo de mim
e eu tinha plena consciência de que não ficaria feliz ao descobrir o que era.
Respirei fundo uma, duas, três vezes...
— Dorso? — questionei, meio perdida ao vê-lo prostado no hall de
entrada, logo que ouvi a fechadura sendo acionada. — Onde está Katsuo?
— Meu estômago implorava por uma de suas refeições milagrosas, aquele
homem cozinhava como ninguém. Aproveitava disso para jogar a culpa de
esperar por ele todas as noites. Era apenas a minha fome falando alto. Nada
mais.
— O senhor Toyosaki ficará fora por alguns dias — falou
calmamente, embora se recusando a me encarar. — Passarei a noite aqui no
sofá, pode ficar tranquila.
Aquele jeito formal e distante me irritou e o incômodo de mais cedo
retornou com força total. Bufei e saí batendo o pé que nem criança. Foda-
se, eles estavam mesmo me tratando como uma, quer dizer... nem tanto.
Pensei mais um pouco.
Não. Nem um pouco, pra dizer a verdade!
Mas essa falta de conversa séria e objetiva me deixava doida. Era ele
quem sempre falava que gostava de ser certeiro? Por que agir com tanto
mistério de repente?
Naquela noite eu dormi com raiva, me sentindo jogada de lado, e tudo
isso depois de ter me entregado sem ressalvas para ele.
No primeiro dia, eu me recusei a vigiar seus passos. Sabia exatamente
onde ela estava e com quem. Confiava plenamente em cada um que ficava
ao seu redor e garanti o que prometi ao irmão mais novo: a protegeria.
O apartamento de Tóquio estava organizado, graças a equipe de
limpeza do lugar, mas nada ali era atrativo o suficiente para me fazer ficar
por tanto tempo. Resmunguei quase a noite toda, me revirando, pensando
em ligar as câmeras pelo meu celular e ver o que a endiabrada estava
fazendo. Passei no teste com muita relutância e me sentindo a porra de um
idiota.
No segundo dia, me ocupei com as informações dos irlandeses, teria
um em meu porão em alguns dias, algo que precisaria administrar bem para
não chamar a atenção de Fabíola. Novamente me vi tentado a seguir seus
passos por todo o dia, mas não cedi as minhas vontades, apenas afundei
minha cabeça nas informações e orientei Kiro a explodir aquela merda de
cidade se fosse preciso. Soube também dos abusados que colocaram os pés
no meu país, outros que seguiriam para conhecer meu porão. Com esses não
haveria acordo.
Terceiro dia e eu já estava prostrado à frente do computador, meu
corpo tenso e meus olhos sedentos por um vislumbre de suas curvas. Ao
menos foi o que pensei, até vê-la sorrir para Dorso; foi sutil, pequeno e de
lado, algo como uma escapada de riso. Caralho, foi tudo para mim, e me vi
fazendo o mesmo, sentado na cadeira confortável e imitando seu gesto.
Queria ser o motivo dele, saber o porquê apareceu ali. Queria estar lá no
momento que ocorreu.
Engoli em seco e me levantei, puto.
Ela perguntou de mim, mais de uma vez; eu quis voltar, mais de uma
vez também.
Já fiquei dias sem água, semanas sem comida, nunca implorei por
nenhum do dois. Tive desafios de resistência que poderiam assustar um
militar que foi enviado para a guerra... e, ainda assim, estava quase largando
qualquer motivo que enraizei na minha cabeça para ficar longe dela.
Então, Fabíola parou de perguntar, o quarto dia chegou e eu
permaneci a deixando no escuro e me sentindo preso a isso.
— Como estão as coisas? — Lucca nem esperou eu respirar na
chamada.
— Olá, subchefe, eu estou ótimo e você? — debochei. Minha
paciência se encontrava há alguns quilômetros de mim e provavelmente me
odiava naquele momento.
— Saki, por favor, sem brincadeiras. — Sua voz soou fraca,
aparentemente o subchefe estava esgotado. Me ajeitei na minha cadeira e
encarei o monitor, vendo-a sentada no sofá, olhando o nada.
Minha cabeça começou a viajar para seus possíveis pensamentos e o
quanto ela se encontrava puta comigo. Apostava todo o meu império que
receberia alguns xingamentos em português, isso é, se ela ainda se
importasse com a minha presença. Talvez até tenha se acostumado a ficar
naquela casa sem mim. Ela tinha Dorso ao seu lado.
Sem perceber, enfiei a ponta da faca, que não me dei conta de ter
pegado, sobre o tampo de madeira da mesa. O telefone ainda em meu
ouvido e a voz de Lucca soando longe, sem que eu realmente prestasse
atenção. Minha respiração pesou e a raiva foi a responsável pela interrupção
no que quer que ele estivesse falando.
— Depois te retorno — avisei, antes de desligar sem esperar uma
resposta.
Deslizei o dedo pela tela, atrás do telefone de quem poderia me ajudar
naquele segundo. Fabíola não se livraria tão fácil de mim, ela não se
esqueceria do homem que a colocou em segurança.
— Passa pra ela. — Agi como Lucca, foda-se, eu podia.
Demorou alguns segundos até sua voz soar pelo aparelho.
— O que quer? — Ríspida como eu imaginava, mas não com a
intensidade que eu esperava. A minha Pantera costumava ser mais
passional.
— Como está?
— Você sabe, não seja cínico — retrucou debochada.
Ela era inteligente o suficiente para saber que estava sendo vigiada
por câmeras, isso não me surpreendeu.
— Preciso de mais do que imagens para saber se está bem —
argumentei, esperando que ela cedesse um pouquinho e me desse aquele
sabor. — Quer que eu volte, Pansã? — Carreguei a minha voz, sabendo que
a rouquidão lhe deixava atenta.
— Tenho Dorso aqui, isso me basta!
Rosnei com tanto ódio que cheguei a apertar o telefone. Eu tinha
plena consciência de que nada rolou entre eles, eu chequei essa merda, mas
ouvi-la falar com tanta tranquilidade sobre isso me irritou pra caralho.
— Não brinque comigo!
— É você quem está brincando, não percebe? Está agindo feito uma
criança neste exato momento. Por que simplesmente não se decide, Katsuo?
— esbravejou.
Desviei meu olhar para a tela do monitor. Seu corpo ereto no centro
da sala e a mão pequena apertando o celular de Dorso contra seu ouvido.
Fabíola vestia apenas uma saia até os joelhos colada ao seu corpo e uma
blusa que mal tampava sua barriga. Fiquei ali absorvendo suas palavras,
vendo-a esperar.
— Você não está preparada para isso — confessei, sem desviar o
olhar dela por nenhum segundo.
— Talvez devesse me deixar decidir essa parte, não acha? — Vi
quando começou a caminhar de um lado a outro. — Na real, nem sei do que
estamos falando. É sexo e é temporário, não temos que agir como dois
adolescente idiotas.
— Você tem razão. Tem toda a maldita razão. — Ela pareceu atenta,
seus pés parando no lugar e seus olhos procurando por algo, talvez o local
por onde eu poderia vê-la. — Mas você não é tão importante assim na
minha vida, Fabíola. Não pense que saí da minha própria casa por causa de
você ou sei lá que merda esteja passando por sua cabeça. — Sim, eu saí da
minha casa pra fugir dela, contudo, jamais admitiria. — Tenho problemas
maiores para me preocupar.
Ela desligou, fiquei atento a sua forma deliciosamente robusta pela
câmera, vendo-a andar de um lado a outro gritando algo; o telefone foi
parar contra uma das paredes, como se soubesse que eu ainda a vigiava, a
pequena endiabrada, que eu aticei, começou a mostrar o dedo do meio para
todos os cantinhos que encontrava.
Meus lábios se esticaram sem a minha permissão, adorava provocá-la,
incitar seu lado mais revolto e cheio de surpresas. Depois eu compraria um
novo celular para o meu soldado.
O quinto dia chegou e com ele veio a vontade de me afundar naquela
mulher tempestuosa que se recusava a me deixar em paz. Mesmo que
ficasse longe das câmeras e falasse de suborno, mortes e tortura, sempre
voltava para olhos cor de avelã cheios de fúria e tesão.
No começo do dia, resolvi tudo que tinha para acertar com o meu
representante nas reuniões das empresas lícitas que eu controlava, a tarde
liguei para Lucca e tive que aguentar o mal humor do subchefe, mas
consegui compreendê-lo. A merda da traição do sogro caía em seus ombros
e ele precisava definir se sua esposa seria morta ou poupada por ser
inocente, o tempo cobrava e o Don seguia desconfiado.
Quando a noite chegou, resolvi subir e descansar, o apartamento
seguia sendo desconfortável e o meu sono inquieto. Peguei o celular e
resolvi espiar o que a pequena Pantera estava aprontando, procurei pela
câmera que ficava em seu quarto, mas eu raramente recorria para ela, o
mínimo de privacidade que eu lhe concedia. Ergui meu tronco, me sentando
preocupado quando não a vi deitada. A cama estava arrumada e sem
nenhum sinal da mulher.
Cliquei para as outras câmeras. Fabíola não estava na cozinha, nem
no corredor ou varanda. Comecei a me desesperar, antes de acionar o
telefone de Dorso, ordenando sua presença na casa para caçá-la, eu mudei
para a câmera do meu quarto, lá estava ela.
O corpo esparramado entre meus lençóis e travesseiros, as pernas
movendo-se de forma interessante... até que seu corpo deu uma leve
arqueada e soube o que a filha da puta estava fazendo.
A maldita se masturbava na minha cama.
Fiquei encarando a tela, incrédulo com tamanha ousadia, mas os
movimentos de seu corpo começaram a me atiçar, me fazendo lembrar o
quão bom era estar entre aquelas coxas, estocando fundo, ouvindo-a gemer.
Me amaldiçoei por não ter colocado uma câmera que também captava
áudio, queria ter seus gemidos me acompanhando enquanto movia minha
mão para cima e para baixo, já perdido no tesão que ela conseguiu
despertar, mais uma vez, mesmo estando longe de mim.
Gemi sôfrego, empunhando meu eixo com mais força, desesperado
por gozar, por ter um pouco daquela mulher. Apertei os olhos e deixei que
minha memória reproduzisse o som de sua voz chamando por mim, pedindo
por mais e implorando para que eu a autorizasse gozar. O líquido logo
jorrou em minha barriga, me deixando ofegante e levemente desnorteado.
Observei ao redor sentindo falta de poder tocá-la ou de encontrar seu olhar
provocador.
O mundo poderia acabar diante dos meus pés, ainda assim não
voltaria atrás na decisão de pegar minhas coisas e no primeiro sinal de sol
correr para a minha casa. Voltei a encarar a tela do celular, Fabíola estava
sentada agora, o peito subindo e descendo frenético; a endiabrada sorriu e
levantou-se, ajeitando a camisola que vestia, depois caminhou
tranquilamente de volta ao seu quarto e eu acompanhei pulando de câmera
por câmera. Ela se deitou sobre seus lençóis e dormiu como se não tivesse
me atiçado com tão pouco.
Foi proposital, ela contava com o fato de que eu a procuraria no
momento que não visse seu corpo descansando sobre a cama que tornou-se
sua em minha casa.
O barulho da porta da frente me fez acordar em sobressalto, alguém
estava bravo e eu sabia quem era. Katsuo pensava poder brincar comigo,
me manipular com sexo e me manter cativa aos seus malditos desejos. Ele
tinha se enganado. Me masturbar sobre sua cama foi a forma que achei de
esclarecer que não, ele não poderia sumir sem avisar e achar que me
tratando daquela forma garantiria uma mulher chorosa e decepcionada. Eu
sabia qual era seu joguinho ridículo.
A única coisa que ele conseguiu com isso foi me deixar mais
determinada, revoltada e com uma vontade gigantesca de cortar seu pau
fora.
Medir poder com um mafioso estando isolada em seu país, mais
necessariamente em sua casa, não era uma jogada inteligente, eu precisava
admitir isso a mim. Principalmente quando desci as escadas e o encontrei
jogando a pequena mochila que carregava no ombro no chão. Seu olhar
encontrou o meu e o que vi me deixou levemente preocupada. Voltei dois
degraus devagar, porém era tarde demais.
— Você, vem aqui agora — esbravejou, abrindo e fechando os
punhos, os músculos tensos e os dentes semicerrados. Neguei com a cabeça
e me virei com a intenção de correr para o meu quarto e só abrir a porta
quando tivesse certeza de que ele havia se acalmado.
Consegui chegar até o décimo degrau e fui pega pela cintura. Gritei,
esperneei, porém, nada adiantou. Katsuo me virou de frente para ele e
ergueu meus punhos acima da minha cabeça e contra a parede que esfriava
minhas costas. A camisola subiu e seu olhar foi direto para as minhas coxas,
depois retornou ao meu rosto. Ele parecia irritado.
— Não me lembro de autorizá-la a entrar no meu quarto enquanto não
estou em casa — grunhiu próximo do meu rosto, seu nariz a centímetros do
meu e nossas respirações se misturando.
— Também não lembro de ter dito que não podia! — retruquei
malcriada.
— No que estava pensando? Em quem estava pensando enquanto se
masturbava na minha cama? — A voz pesou, demonstrando que ele
começava a perder a guerra contra o tesão e algo a mais.
E ali estava. A confissão nas entrelinhas, a única forma que eu teria
de tentar decifrar suas atitudes. Ele sabia o quanto me entregar daquela
forma era importante para mim, que confiar nele não foi uma decisão fácil
de tomar. Katsuo se preocupou comigo, com o meu prazer, ele prometeu e
cumpriu, senti em suas palavras que ele realmente pararia tudo se eu
pedisse, então no dia seguinte ele fugiu para longe e se escondeu na
máscara de mafioso bravo que tem mais o que fazer... Eu não duvidava que
tivesse mesmo, contudo, ele estava de volta e sua primeira preocupação era
em quem eu pensava enquanto me masturbava.
Seus olhos irradiavam um ciúme que nem ele deveria entender. Seu
toque me prendia, mas não feria, porque ele não queria fazer isso.
Sem pensar, me estiquei em sua direção e selei nossos lábios. Ele
ficou quieto por segundos, depois tomou o controle da situação e invadiu
minha boca com sua língua, buscando pelo meu gosto e gemendo rouco
quando o encontrou. Seu corpo se colou ao meu e o aperto afrouxou,
deixando meus braços soltos e me permitindo enlaçar seu pescoço com eles.
Quando o beijo começou a se tornar mais bruto, exigente, eu me
afastei e virei o rosto.
— Isso responde sua pergunta? — disse friamente, ele recuou um
passo no degrau em que estávamos, seu olhar vasculhando cada detalhe
meu. — Estou farta disso — declarei, deixando meus ombros relaxarem. —
Me envie para algum lugar, eu não vou relutar, tentar fugir, quero apenas
que isso acabe e que meu irmão volte para a minha vida.
— Sinto muito, mas não é algo que eu possa fazer por você. — Voltei
a encará-lo. — Eu preciso te dizer...
— Chefe! — A porta foi escancarada no mesmo instante que a voz de
um dos soldados invadiu o lugar. — Seu carro... ele...
— Diga de uma vez! — exigiu impaciente.
— Explodiu com um dos novatos.
Levei a mão a boca, chocada com a informação. Katsuo desceu
rapidamente parando em frente ao homem que não conseguia encará-lo,
talvez por medo.
— Ele pegou agora para manobrar e... simplesmente explodiu.
— Caralho. Porra, mas que merda! — Ele andava de um lado a outro,
então os dois começaram a falar em seu idioma, me deixando de fora de
tudo que acontecia. Olhava para os dois tentando ler suas expressões
corporais.
Saki sempre falava em inglês na minha presença, às vezes em italiano
quando discutia com eles, mas nunca me excluiu de suas conversas dessa
forma, o que me fez pensar que algo muito grave estava para acontecer, pois
a forma como ele ficou nervoso e saiu batendo o pé sem lembrar de mim ou
da nossa conversa deixava claro que pessoas morreriam e era bom eu não
saber como.

Katsuo

O soldado me levou até onde estava o carro em chamas, as pessoas ao


redor tentando apagar e a certeza de que o soldado que estava dentro já
tinha sido completamente carbonizado, o cheiro de carne queimada era forte
demais para acreditar que ele sairia com vida. Odiava perder meus homens
de forma fútil, odiava saber que fui desleixado ao ponto de quase morrer
com uma maldita bomba, odiava ainda mais saber que tudo isso aconteceu
debaixo do meu nariz.
Com certeza, quem colocou a bomba estava em Tóquio, o único lugar
que abaixei a guarda e não dei a devida atenção aos cuidados, mesmo
sabendo que aqueles ratos estavam tentando me cercar. A gritaria junto com
a grande quantidade de pessoas correndo me deixou em completo torpor.
Aquilo não era frequente em meu território, não jogava dessa forma e não
permitiria essa merda.
Respirei fundo e encarei o soldado jovem que foi me avisar do
ocorrido, ele não deveria ter mais do que vinte anos, talvez a mesma idade
do irmão de Fabíola quando teve uma bala alojada em sua nuca.
Porra. Eu precisava contar pra ela, tirar essa esperança de reencontrá-
lo um dia, mas como faria isso em meio a uma guerra e tendo que lidar com
toda essa sujeira? Ela me mataria, comeria meu coração no segundo que
descobrisse a verdade. Pela primeira vez, eu me arrependia de algo.
Levei as mãos a cabeça, observando a tudo. Sem mais paciência,
peguei o telefone e liguei para Kiro.
— Quando o prisioneiro vai chegar? — perguntei assim que ele deu
sinal do outro lado da linha.
— Dois dias, chefe. Aconteceu algo?
— Explodiram meu carro. — O silêncio do outro lado indicava a
incredulidade do meu soldado.
— Nós os explodiremos, Oyabun. — Sua voz era sombria, refletindo
meu interior naquele momento.
— Termine a faxina aí e volte para limparmos nossa casa. — Kiro
apenas concordou e eu desliguei, voltando meu olhar para o carro em
chamas recebendo água dos meus soldados. — Preparem o porão, daqui a
dois dias teremos um visitante especial — falei decidido e retornei para
casa.
Fabíola me encarou aflita, seus olhos escaneando todo meu corpo
para ter certeza de que nada me aconteceu ao ir inspecionar o ocorrido.
— Alguém se feriu?
— Um soldado faleceu no local — respondi distante, retirando minha
blusa e indo me sentar ao seu lado. — Preciso que me escute, Pansã. As
coisas ficarão mais intensas nos últimos dias e você só estará segura aqui,
comigo.
Precisava ver em seus olhos que seria obediente, que ficaria ao meu
lado nesse momento. Mesmo que eu tivesse sido um merda e covarde,
precisava dela.
Fabíola deslizou para o meu colo, sentada de lado, seus braços me
circulando em um abraço gostoso e tão quente que me fez fechar os olhos e
apreciar sua respiração batendo contra meu peito.
— Eu sei que você não quer me ferir, mas por algum motivo, eu sinto
que vai. — Infelizmente ela tinha razão, entretanto, não disse nada, apenas
a apertei mais contra mim. — Seja sincero comigo, Saki, não me deixe de
fora.
Era tarde demais para isso. Minha pequena Pantera não entendia a
gravidade de tudo aquilo, em sua cabeça eu sabia onde seu irmão estava e
não queria falar, no entanto, o que tinha em mãos era o seu sangue, o último
membro de sua família que a mantinha forte daquele jeito, ao ponto de me
enfrentar sem qualquer medo.
— Eu já feri você, hachimitsu.
Ela não me respondeu, ficamos daquele jeito por minutos, quem sabe
horas, eu não fazia ideia. Apenas aproveitei o momento, sentindo que
tempos turbulentos nos alcançariam e eu perderia minha Pansã.
Não existia possibilidade de eu voltar ao passado e estava tentado a
prendê-la ao meu lado para termos um futuro, contudo, seria incapaz de
arrancar dela sua essência e tinha a plena certeza de que seria isso que
aconteceria se eu ousasse acorrentá-la a mim, o homem que viu seu irmão
morrer e não fez nada para mudar isso. Eu poderia ter feito.
Seus lábios deslizavam devagar sobre minha pele, me deixando mole
sob seu toque e acelerando meu coração como nunca antes. Algo mudou, a
forma como me olhava, a escuridão de seus olhos me deixando entrar, ver
além do que suas palavras me diziam. Katsuo parecia tentar se redimir e
isso me causava sentimentos agridoces, levando-me a imaginar que era uma
despedida. A movimentação em sua casa há três dias também me fazia
alerta.
Mas quando me tocava daquele jeito, com tanta devoção e carinho,
torturando-me ao mesmo tempo que me dava prazer, eu me esquecia de
tudo. Apenas nós dois importávamos naquele nosso mundo cercado pelas
paredes do seu quarto, ou da sala e às vezes da escadaria também.
Gemi baixinho quando deixou um beijo casto sobre meu clitóris e
escorregou mais para baixo, fechado os lábios sobre minha entrada,
sugando com cuidado meus grandes e pequenos lábios, me contorci
manhosa, entregue.
— Saki... — murmurei, precisando ter seus olhos em mim. Ele
obedeceu, sem deixar de me beijar indecentemente naquele ponto delicioso.
O escuro me puxando para dentro, me carregando naquela nuvem de tesão e
algo que eu não estava pronta para admitir. Eu me recusava.
Joguei minha cabeça para trás quando um dedo me penetrou,
ajudando aquela sensação no meu ventre a aumentar mais e mais. Minha
respiração entrecortada e todas as minhas forças minadas, cada parte minha
era instável e tremia diante daquela boca que me conhecia tão bem, ao
menos o meu corpo. Explodi em um orgasmo forte, mas nada comparado ao
que ele me proporcionava quando estava dentro de mim.
Amoleci sobre o colchão e tentei controlar minha respiração. Seu
corpo deslizou sobre o meu, as mãos grandes separando minhas coxas e se
colocando entre elas, gemi baixinho quando sua glande começou a me
penetrar. Enlacei sua cintura com as minhas pernas, o sentindo mais fundo e
amando cada segundo de sua pulsação dentro de mim.
— Você me aperta tão gostoso — sussurrou contra meu ouvido, sua
pélvis batendo contra a minha, movimentos lentos, mas fundos o suficiente
para me deixar completamente rendida em seus braços. Minhas unhas
fincaram-se em sua pele, porque eu também gostava da sensação de deixar
marcas nele. Algo em nós sempre seria violento ao ponto de ansiarmos por
isso, pela maldita dor.
Katsuo não me privava de seus gemidos roucos e profundos,
embalando-me na torrente de sensações orgásticas demais para pensar em
algo que não fosse em seu pau estocando em mim e sua voz pesando bem
pertinho do meu ouvido. Nosso suor e cheiros se misturavam e eu não
entendia como o carnal havia se tornado em tudo aquilo, ampliando meus
sentidos e me tornando parte daquele ambiente, daqueles sentimentos.
Quis chorar, pois me dei conta da profundidade em que me enfiava a
cada vez que o tinha perto. Eu não fugiria dele, não por medo do que
encontraria do lado de fora, simplesmente porque eu não queria e era errado
pra caralho.
O abracei com força, sua respiração mudou e seus lábios começaram
a beijar acima da minha pulsação. Ele também sentia isso? Também o
preocupava?
Deixei que a primeira lágrima viesse junto com o orgasmo mais
inexplicável que já tive. Fui ao céu e voltei para o inferno, tendo meu corpo
como refém de um homem que poderia me quebrar de diversas formas
diferentes. Bastava ele querer.
Nunca chorei nos braços de alguém, não enquanto meu corpo inteiro
pulsava e estremecia com o gozo e o prazer.
Katsuo mordeu meu ombro no segundo que seu pau jorrou dentro de
mim, seu corpo pesando um pouco mais pelo pequeno momento de
fraqueza, então mais beijos foram deixados por toda a extensão do meu
pescoço, até deslizarem pela minha bochecha e ele notar minhas lágrimas.
— Pansã? — Desviei meu olhar, mas ele não permitiu isso por muito
tempo, sua mão segurou meu queixo e, delicadamente, o virou para si,
encarando-me com cuidado. — Eu a machuquei?
Era difícil responder aquilo, então meu peito apertou, meu corpo
entrou em colapso e eu deixei que o choro viesse a superfície. Minhas mãos
foram para sua nuca e quis que ele me escondesse naquele momento,
puxando-o para mim, prendendo sua cabeça contra meu pescoço.
Ele não disse nada, apenas me acolheu como se seu corpo me
protegesse de todo o resto, do medo que eu sentia de mim, da vida, de toda
aquela loucura que me cercava, de nunca mais confiar em ninguém depois
de, erroneamente, me entregar para um mafioso que não me contava tudo.
Katsuo ficou ali, acariciando-me, beijando meu pescoço e me
deixando desabar. Ironicamente, o homem que mais tinha poder de me ferir
era o mesmo em que eu procurava abrigo para me sentir segura.

Ele colocou apenas uma calça e prometeu que voltaria logo, seu
destino era a porta que vivia trancada com cadeado, depois que ele a
fechava, eu não conseguia ouvir nada, porém, minha intuição me alertava
sobre a existência de alguém importante lá dentro.
Comia um pedaço do frango que ele fez e acabei sendo levada à sua
história, a que Dorso me contou. Tínhamos algo em comum, afinal. Eu
sentia ter perdido toda a minha família, no fundo da minha alma eu sentia,
enquanto ele realmente perdeu a todos. Também éramos dois cabeças duras
que não queriam falar muito um com o outro com medo do quanto isso
mudaria todo o resto.
Observei quando ele saiu de lá, seus punhos feridos e o olhar
semicerrado, parecendo tão letal como quando o ataquei no quarto da casa
do italiano. Levei mais um pedaço à boca e fui notada por ele, seus lábios
comprimidos e corpo nu da cintura para cima. Não conseguia vê-lo com os
mesmos olhos, passou de algo puramente carnal para uma sensação
estranha de proteção e carinho. Katsuo era lindo, não tinha como negar, mas
existia mais ali, uma parte que eu sentia ser minha e isso não deveria
acontecer conosco.
Notei que não trancou a porta, fiquei calada vendo-o se aproximar e
se sentar ao meu lado.
— Está bem? — perguntou, me medindo com interesse genuíno.
Umedeci os lábios e sorri, assentindo e tentando não me deixar levar pelo
momento de fragilidade. — Que bom que encontrou a comida. — Piscou
divertido e levantou para se servir.
— Sabe que nunca imaginei que seria alimentada por um mafioso e
ainda gostar disso. — Dei de ombros e ele apenas riu curto.
— Acha que poderia se acostumar com isso? — Ele estava de costas,
mas o tom de sua voz não era de brincadeira, ele queria mesmo uma
resposta sincera. O pedaço de frango que eu levei a boca ficou engasgado
na minha garganta por segundos. Percebendo a minha demora, ele virou o
rosto, me encarando sobre seu ombro.
— Eu... eu... — bati no peito, tentando desengasgar, tanto das
palavras quanto da porra do pedaço que ainda estava preso.
Katsuo correu até mim, me ergueu do assento e aplicou a manobra de
Heimlich, abraçando-me por trás e fechando as mãos na frente, apertando-
me com força suficiente para fazer o pedaço voar para fora da minha boca.
Me apoiei sobre a bancada de madeira e puxei o ar com força.
Senti sua mão sobre meu ombro e o olhei de relance, nunca o vi tão
preocupado, buscando saber se tinha funcionado ou precisaria correr
comigo para algum hospital.
— Estou bem! — Tentei acalmá-lo. — Juro que estou bem. — Sorri
envergonhada. O homem estava tentando uma conversa adulta comigo e eu
simplesmente travei com um pedaço de frango na goela.
Ele me ajudou a voltar para o banquinho e parou ao meu lado, calado,
analisando a toda a situação.
— Você também precisa comer, Saki. — Tentei mudar o foco, sair
daquele clima estranho. Era melhor quando nos resumíamos a sexo e não
existiam conversas constrangedoras.
— Farei isso. — Continuou me olhando, parado ao meu lado. — Você
não me respondeu, Fabíola. Conseguiria se acostumar a isso? A nós?
Meu coração parecia querer eclodir com o tanto que acelerou, quase
se mostrando de forma física para ele, deixando claro o quanto aquela
pequena pergunta ativava gatilhos intensos.
Me levantei ainda aturdida, recuei alguns passos e sorri da maneira
mais estranha possível, porque eu não entendia bem o que ele queria com
tudo aquilo. Para quem estava de fora poderia não ser nada, uma pergunta
qualquer, sem nenhum propósito senão de brincarmos um com o outro. Para
mim, significava decidir sobre algo que eu mesma não fazia ideia, quase
como decretar a ele uma autorização, dar permissão que se aproximasse
mais, que quisesse mais.
Infelizmente, eu ainda não confiava cem por cento; não poderia.
— Talvez — respondi, meio confusa. — Não sei, eu precisaria ter
certeza de que me acostumar com isso não é uma sentença para mim.
Ele aquiesceu e voltou a se mover na cozinha. Decidi deixá-lo ali,
pensando um pouco sobre até onde desejava ir com essa história e o quanto
seria possível de fato. Eu tinha uma empresa no Brasil que perderia se não
desse sinal de vida tão logo, meu irmão estava desaparecido e pessoas
queriam me matar, ao menos era o que Katsuo me dizia para justificar a
minha estadia aqui.
Como poderia simplesmente abandonar tudo para ficar com um
homem que conheci há dois meses e algumas semanas?
Seria loucura demais para mim.
Subi na intenção de tomar um banho e esquecer essa conversa,
enterrá-la no fundo da minha cabeça, naquele lugar que eu apenas a
resgataria anos depois, quando estivesse lembrando das maiores aventuras
da minha vida, como uma doce lembrança de algo que no fim deu certo.
Desci após esfriar a cabeça e segui para a sala, mas o silêncio me fez
entender que Katsuo havia saído. De repente, me veio uma sensação
estranha, então olhei em direção a porta que sempre ficava com o cadeado
fechado e o encontrei aberto. Mais cedo ele se esqueceu de fechar, contudo,
pensei que notaria o erro e voltaria para corrigi-lo. Mesmo quando estava
enfiado lá, o cadeado ficava fechado pelo lado de dentro.
Estava tentada a vasculhar, mesmo depois de ter prometido que não
me colocaria em risco, porém, se está dentro da casa, é porque ele tem
certeza de que não irá me ferir, certo?
Mordisquei o canto da boca, pensando nas minhas opções; a
curiosidade sempre foi meu ponto fraco, embora o instinto de sobrevivência
me mantivesse bem esperta sobre as situações. Preferi arriscar, se ele não
me contava nada, então eu descobriria de alguma forma, foi assim que
soube de sua história. A culpa era dele, não minha, não é?!
Abri a porta devagar, ouvindo seu rangido, parecia o som de algo se
quebrando, eu não fazia ideia de que analogia que se formou em minha
cabeça se comprovaria verídica no momento em que encontrei o homem
pendurado como um animal prestes a ser esfolado. Ânsia de vômito subiu
por minha garganta e o cheiro que me atingiu quando pisei no último
degrau me fez virar para o lado e colocar tudo para fora.
Os barulhos que emiti chamaram a atenção do homem que eu pensava
já estar morto. Ele puxou o ar com força e arregalou os olhos, seu corpo
completamente nu e cheio de marcas e pequenos filetes de sangue
escorrendo.
— Você! — falou baixinho, quase sem forças, mas apegando-se em
uma última chance. — É a irmã do garoto, é você. — Assenti e me
aproximei dele, querendo saber mais e entender o que ocorria naquele
maldito lugar. Era escuro e fedido, cheio de correntes, algemas e muitas
gavetas com trancas do lado de fora.
— Sou eu, você sabe onde ele está? — O homem confirmou com a
cabeça, seus lábios rachados parecendo secos demais para ele se esforçar.
— Por que está aqui?
— Eles irão me matar. — A primeira lágrima escorreu, mostrando
que ele tinha acabado de se dar conta do tamanho do problema em que
havia se metido. — Assim como fizeram com Diego.
Paralisei. Inclinei a cabeça e deixei um riso frouxo escapar.
— O que disse? Acho que não entendi! — Na verdade, o inglês dele
era perfeito mesmo naquelas condições, algo que me fazia acreditar que ele
não era daqui. Seu rosto estava machucado demais e inchado, não
conseguia determinar se ele parecia com italiano ou americano.
— Eu irei morrer aqui, igual ao seu irmão. — Chorou fraco, seu
corpo chacoalhando na corrente, alguns gemidos também se misturaram ao
desespero do homem.
— Diego está morto? — Meus olhos lacrimejaram, as imagens do
sorriso grande e tão lindo do meu irmão e todos os sonhos que ele guardava
em seu peito. A dor veio tão forte que recuei alguns passos, minhas mãos
sobre meu peito e, quando menos pensei, meu choro se misturou ao do
desconhecido ferido.
Sacudi a cabeça diversas vezes, negando a mim mesma o óbvio, o que
estava estampado bem diante dos meus olhos. Meu caçula morreu aqui, na
casa do homem que dizia me proteger, do mesmo homem que se mostrava
disposto a me dominar, me possuir inteiramente. Era um jogo sádico, cruel
de formas que eu não poderia nomear.
Outra dor. Mais uma decepção.
Todos que diziam querer me proteger, encontraram formas
irreversíveis para me ferir.
Um grito ficou preso em minha garganta, a culpa me atingiu junto
com as imagens embaralhadas entre os sorrisos de Diego e os meus para o
homem que o matou. Quando ergui meus olhos, conectei-me com a dor
daquele estranho, os dois carregados de lágrimas e com a certeza de que a
vida tinha sido tão cruel quanto podia.
Me levantei, arranjando forças daquele sentimento de ódio que
crescia e crescia e...
Ahhh, eu queria gritar tão alto. Queria pegar a primeira faca ou arma
pelo caminho e matá-lo, arrancar dele o coração que ele arrancou de mim.
Ainda mole, perdida, dolorida e com ânsia de vômito, caminhei para
o corpo pendurado e analisei as cordas que o prendiam. Vasculhei o lugar e
apenas um canivete estava sobre a bancada de madeira podre.
Eu conhecia aquele maldito canivete.
Peguei aquela merda e comecei a cortar as cordas dos pulsos, quando
terminei, tive dificuldades em mantê-lo de pé.
— Arranje forças e me ajude a tirá-lo daqui! — declarei firme, ele
assentiu e apontou para um canto que não parecia ter nada.
— Eles me trouxeram por ali.
Certo, a escada levaria direto para a casa, talvez fosse melhor apostar
pelo caminho que ele chegou; as chances de encontrar Katsuo me
procurando lá em cima eram gigantescas. Caminhamos devagar até lá, ele
apoiado em meu ombro e cintura, pouco me importei com o sangue, com a
falta de suas roupas, eu queria sair daquele lugar e só voltar para arrancar a
cabeça daquele desgraçado.
Tateei pela parede, achando o pequeno puxador quase imperceptível,
o deixei encostado no lado e coloquei a cabeça para dentro, dava para os
fundos do jardim, os carros ficavam parados naquele lado. Virei meu
pescoço para onde o homem estava.
— Sabe fazer ligação direta? — Ele assentiu. — Ótimo. Vamos!
Voltei para lhe dar apoio e passamos, quase sem respirar, pelos fundos
do jardim, chegando na pequena garagem coberta onde deixavam os carros;
o portão mais à frente poderia ser um problema, mas Katsuo nunca disse
que eu era proibida de sair, não nos últimos meses. Ele pediu que eu não
tentasse, nada além disso.
— Vá para o banco de trás, fique deitado — orientei, antes de dar a
volta e entrar no da frente. Não sabia se encontraria as chaves ali, mas como
o carro estava aberto, apostei que sim. Era automático e suspirei aliviada,
menos um trabalho. O botão de ligar aceso me fez tentar, o motor roncou e
sorri satisfeita, apenas depois que acelerei sem olhar para trás que vi a
chave cartão encaixada no suporte dela.
Ok, eles eram arrogantes demais. Que bom para nós.
Apertei o volante conforme chegava perto da portaria, ninguém me
notou, e se notou, não deu a devida importância, pois eram soberbos sobre a
segurança do local. A bomba que explodiu dias atrás foi colocada em
Tóquio, quando ele se escondeu em algum buraco por lá, a casa foi dada
como extremamente segura, logo, não acreditariam que um carro sairia da
garagem sem autorização para tal, tampouco que a brasileira domada pelo
chefe seria louca de arriscar.
Filhos da puta! Todos eles.
Engoli o choro, limpei os olhos e estampei um sorriso no rosto, parei
de frente para o porteiro.
— Fala inglês? — Ele assentiu, então continuei: — Preciso fazer
umas comprinhas e seu chefe está ocupado demais para se preocupar com
futilidades.
Ele demorou um pouco até apertar o botão e me deixar sair. Eu não
era nada aos olhos daqueles homens. Voltei a pressionar o volante e acelerei
como se nada mais importasse. O homem no banco detrás gemeu e se
sentou quando notou estarmos fora do alcance do seu cativeiro.
— Você não sabia? — perguntou confuso, olhei-o pelo retrovisor.
— Não.
— Por que estava com eles? Todos pensam que você traiu ao seu
irmão.
Apertei os olhos e quando os abri, encontrei ódio e dor.
— Eu não sabia de nada. Nem sobre o que Diego fazia, nem de sua
morte... — Engasguei por alguns segundos, ainda digerindo. — Muito
menos que tinha sido Katsuo a fazê-lo.
— Entendo. Na verdade, o executor é o grandão careca, ele quem
deve ter feito o serviço sujo. Você é bem-vinda conosco, estará protegida.
— Quis rir. Por que de alguma forma todos os homens eram assim? Quem o
resgatou fui eu, quem o protegeu da morte fui eu, e mesmo assim ele jurava
que poderia me proteger.
— Só me diga para onde ir e eu decido o resto.
Ele concordou e começou a me instruir, o que agradeci internamente,
já que não conhecia nada naquele país, mal sabia onde estava e não
continha nenhum GPS comigo ou no carro. Continuei acelerando, ouvindo
suas coordenadas. Não queria pensar em tudo que descobri e no quanto isso
me fazia sentir suja, culpada... Não era o momento.
Ainda que eu controlasse, doía tanto, tanto...
As lágrimas rolaram, mas o desespero só viria pela noite, quando
minha cabeça estivesse contra um travesseiro em um lugar qualquer com
outros homens os quais eu não confiava, assim que fechasse meus olhos e
lembrasse do meu irmão, de Katsuo, até mesmo Dorso.
Eu fraquejei diante do que era confortável. Algo sempre me alertava
para ficar atenta, eu sabia que ele iria me ferir e, mesmo assim, me deixei
levar.
Porra!!
Tudo que estava à minha frente foi para o chão; a mesa de centro
quebrada em mil pedaços e meus soldados apenas ao redor, sem saberem
bem o que fazer. Gritei irritado, meus músculos tensos e minha mandíbula
dolorida de tanta força que fiz.
Ela me traiu!
A maldita me traiu debaixo do meu teto e fugiu com o filho da puta,
mas tudo seguia conforme o planejado, eu só não gostava nada de saber que
ela caiu sem precisar de muito. Ela sequer hesitou.
O sofá foi revirado e meu peito subia e descia frenético.
— Eu o avisei, Oyabun! — Kiro disse, se aproximando. Virei meu
pescoço em sua direção e apenas o meu olhar o alertou. — Não o culpo por
isso, mas a menina jamais trairia o sangue por nós.
Esse era o problema. Ela não tinha que fazer nada pelos Gokudos, e
sim, por mim. Quando Kiro me apresentou seu plano para que pudéssemos
achar onde aqueles filhos da puta se escondiam aqui no Japão, eu não
pensei que daria certo. Fabíola sempre foi sangue quente comigo, imaginei
que ela sentiria ódio de mim e viria tirar satisfações, me socar, tentar me
matar, mas nunca que me largaria aqui sem olhar para trás, entregando sua
vida a um maldito estranho, arriscando a tudo e, quem sabe, entregando-nos
de bandeja.
O ódio ainda vibrava em meu corpo.
Ela sabia.
Agora não existia mais nada a esconder um do outro.
— Tem consciência de que o correto é matá-la, certo? — Não
respondi, apenas apertei meus punhos com força. Não deveria ser tão difícil
pensar em sua morte, ainda mais com a raiva que sentia, mesmo assim, eu
não queria considerar essa opção. — Ela jamais irá perdoá-lo.
— Eu não recebo ordens de ninguém, Kiro. — Achei prudente avisá-
lo, seu tom manipulador não entraria em minha cabeça, embora estivesse
certo.
— Matamos o irmão dela, chefe. Como você agiria em seu lugar?
Uma boa pergunta.
Minha respiração se tornou mais calma e olhei para todos na sala,
encontrando a expressão de tristeza de Dorso. O soldado tinha se apegado à
pequena endiabrada e sentia culpa por ter apertado o gatilho, algo que
nenhum Gokudo jamais se arrependeu antes.
Como eu agiria no lugar dela?
Droga! Se tivesse o mínimo de sentimento prevalecendo nela, teria
me confrontado, certo?
Você a perfurou profundamente, Katsuo, por isso ela partiu sem olhar
para trás.
Aquela voz intrusa novamente, me levando a praticamente puxar
meus cabelos de ódio.
O plano era simples: o prisioneiro que ficou vivo era filho de Frank, o
líder da máfia irlandesa, por isso seria aceito imediatamente se retornasse.
Rasgamos sua pele como uma brincadeira e quando perdeu a consciência
pela terceira vez, injetamos um dispositivo de rastreio em seu corpo.
Contudo, para o plano dar certo, precisava parecer que não queríamos sua
fuga, alguém precisaria resgatá-lo, o que seria impossível para alguém de
fora. No entanto...
Foi quando Kiro falou o nome de Fabíola e eu ri da hipótese, jurando
que ela cumpriria a maldita promessa que me fez. Óbvio que a curiosidade
foi maior, ela entrou no porão que deixei propositalmente aberto e agiu
exatamente como meu soldado disse que ela agiria. Isso fodeu com a minha
cabeça.
Três meses tendo-a comigo. Três fodidos meses em que a fiz gozar
chamando meu nome, cozinhei para ela e a trouxe para mim, e no primeiro
segundo que teve oportunidade, ela simplesmente se foi.
Eu entendia o amor pela família, perdi a minha e decepei o homem
que fez isso, eu esperava por esse conflito e seria capaz de permiti-la me
ferir, no entanto, a sua escolha foi partir, sequer me deu o benefício da
dúvida, não passou pela sua cabeça que eles estivessem mentindo.
Fabíola quis fugir de mim, não pelo seu irmão, não apenas.
— Saiam todos, eu quero ficar sozinho.
— Oyabun...
— Eu mandei sair — gritei.
Dorso foi o único que ficou, mesmo diante do meu olhar.
— A culpa é nossa — falou baixo.
— Ela teve escolha.
— Não, ela não teve, chefe.
— Poderia ter conversado comigo, ter esclarecido tudo e...
— Você a prenderia nessa casa — cortou-me decidido. — A obrigaria
a engolir nossa presença e a venceria pelo cansaço, mas ela nunca seria a
mesma. Ainda seríamos os culpados.
— Matamos mais pessoas do que apenas o irmão dela, ninguém é
inocente. Porra! — exaltei-me, seguindo em sua direção. Ele permaneceu
firme, me encarando nos olhos.
— Exatamente! — respondeu, quase rosnando. Me impressionei com
sua coragem, ao mesmo tempo em que quis rasgar sua maldita garganta. —
Por que ela precisa ser julgada se todos somos culpados? Matamos os
filhos, irmãos, sobrinhos de muita gente, chefe. Um dia, pagaremos o preço
por isso, talvez já estejamos pagando, seria melhor deixá-la em paz.
— Nunca, me escutou? Ela me traiu e vai sofrer as consequências —
declarei.
— Sabe o que penso, Oyabun? — Neguei, esperando suas palavras.
— Que você queria muito que ela o traísse só para ter uma desculpa para
prendê-la aqui, com você, sem que se sinta tão culpado.
Dorso me deu às costas, deixando-me pensar sobre seu palpite. Levei
minhas mãos aos cabelos, puxando-os.
Talvez fosse verdade, mas que se foda, eu a pegaria de volta e ela
aprenderia uma ou duas lições sobre nunca, jamais, me deixar sozinho
como se eu não significasse nada.
Mal me recuperei da crise de ódio e meu celular vibrou com uma
mensagem.
“Eu não estou com eles, mas não quero estar com você. Me deixe ir!”
Apertei o aparelho com tanta força, que quase o quebrei.
“Volte, Pansã. Sabe que não vou demorar a te achar.”
Enviei e esperei. O número estava como privado, provavelmente de
algum celular descartável, entretanto, eu tinha meus meios de conseguir
localizá-la. Caminhei para fora, ainda esperando alguma resposta e segui
pelo jardim até a pequena central atrás da garagem, abri a porta e encontrei
meus rapazes trabalhando em seus computadores, todos com olhos atentos
ao localizador do maldito que fugiu com a minha mulher apitando em
vermelho na tela.
“Não há motivos para que queira isso. Nunca vou amar alguém como
você.”
Não deveria, mas me atingiu.
Fiquei lendo aquela mensagem repetidamente, tentando me convencer
de que não precisava do amor dela, somente daquele corpo ao meu lado, da
sua obediência e completa rendição, era questão de poder, nada mais.
Encarei um dos garotos e estendi meu celular para ele.
— Descubra de onde vem as mensagens, passe a informação apenas
para mim ou Dorso, entendeu? — Ele assentiu e voltou-se para frente,
conectando meu celular em seu computador e começando a fazer o seu
trabalho.
Eu tinha os melhores comigo, logo os ratos irlandeses morreriam e ela
voltaria para as minhas mãos. A faria sofrer, marcaria seu corpo com meu
nome e deixaria exposto para todos que ela havia se tornado meu mais novo
brinquedinho.
Se ela não poderia me amar, eu também faria esse favor a ela.
A brincadeira de casinha acabou no momento em que ela desceu até
aquele porão. Agora ela conheceria o mafioso que tanto julgou e que eu
escondi debaixo da pele do homem que ela adorou ter por perto.
O homem chorava feito criança enquanto era cercado pelos meus
soldados, todos os outros estavam mortos, espalhados pela casa pequena do
lado inverso do Monte Fuji, onde eles tinham se escondido. Não era muito
longe, mas precisava dar a volta pela estrada.
Demoramos cinco dias para organizar nossos homens e cercar os
filhos da puta.
Contudo, ela não estava lá.
Apertei a faca com mais força contra seu braço, apenas abrindo a pele
e vendo o sangue escorrer. Ele tinha sofrido da primeira vez que esteve
comigo, mas nada se comparava ao que eu iria fazer assim que ele abrisse a
boca de onde estava a Fabíola.
— Por favor! — implorou mais uma vez, os olhos avermelhados de
tanto chorar, o cheiro de xixi subindo.
Seu corpo ainda permanecia vestido, a minha intenção era bem
objetiva e não perderia tempo despindo o filho da puta.
— Diga, onde ela está? — Outra vez a pergunta de milhões. Ele
sacudiu a cabeça em negativo.
— Eu juro que não sei, ela fugiu de nós!
— E como conseguiu um telefone descartável para me enviar
mensagens? — Chutei a cadeira onde ele estava amarrado, o fazendo cair e
gemer de dor. — Por que a localização dela nos trouxe aqui? — gritei, me
agachei mais perto de seu rosto ao mesmo tempo que estendia a mão, Dorso
logo me trouxe a outra faca, sua lâmina perfeita para escalpelar.
— Não foi ela! — murmurou.
— Como disse? — Aproximei ainda mais meu rosto.
— Não foi... não — ele gritou quando forcei a ponta da faca contra a
pele de seu rosto, mostrando-o o quanto estava bem afiada e servia
esplendorosamente para o que eu pensava. — Fomos nós — confessou.
— É melhor você explicar isso direitinho...
— Nós temos seu telefone e a usaríamos para atrair você... Mas ela
fugiu, por isso mandamos mensagens como se fôssemos ela, torcendo para
que rastreasse o aparelho. Pela forma como agiu, pensamos que você cairia
e viria despreparado atrás dela.
Ri alto, sendo acompanhado por Dorso.
— Idiota! Acreditou mesmo que eu, o líder de uma organização
conhecida pelo mundo, temida e respeitada, sairia de cabeça quente para
enfrentar um inimigo que me quer morto?
Ele engoliu em seco e recebeu um chute nas costelas pela ousadia de
me diminuir tanto. O irlandês tossiu sangue e voltou a chorar, parecia uma
criança escandalosa.
— Não conseguiram nem prender uma mulher — resmunguei e dei
outro chute, o ouvindo gritar de dor. — Uma mulher sozinha em um país
que ela não conhece e nem sabe falar a língua. — Mais um chute, dessa vez
por me fazer pensar em tudo que aquela desgraçada poderia estar passando.
Não deveria, porém, me preocupava com ela.
Depois de esfriar a cabeça e ver o vídeo de sua fuga mais de uma vez,
tendo Dorso como seu advogado, me dizendo a lista de motivos pelos quais
ela merecia ser ouvida, acabei cedendo.
Ou talvez eu mesmo tenha chegado a essa conclusão, porque não
queria pensar na possibilidade de matá-la.
— Acho que eles são fracos demais, chefe. Não valem a pena —
Dorso disse, debochado.
— Também acho. — Umedeci meus lábios e suspirei. — Por ter
tirado minha mulher de mim, vou tirar algo que gosta muito de você
também. — Puxei sua cadeira para que ficasse de pé novamente, então usei
a faca para cortar o tecido de sua calça, exatamente onde estava seu pau
mijão. Ele começou a se tremer e tentar fugir, o que piorou a sua situação.
Seus gritos se tornaram ainda mais altos quando comecei a rasgar a
pele e a carne do seu membro fora, não demorou e ele desmaiou no meio do
caminho; a quantidade de sangue não me causava repulsa, na verdade,
fiquei satisfeito por descontar nele toda a frustração que sentia por tê-la
perdido. Por ela ter preferido ir com ele.
Joguei o pedaço inútil no chão, nem era tanta coisa assim.
Caminhei para a porta e bastou um olhar na direção de Dorso para
que ele soubesse o que fazer.
— Vamos, ele vai apodrecer sozinho — falou, movimentando os
outros soldados que nos acompanhavam.
O irlandês sangraria até a morte e, se desse sorte, logo seria
encontrado por algum turista que chegasse naquela altura do monte Fuji.
Eu precisava encontrá-la, sabendo que estava sozinha seria muito
fácil. Uma estrangeira linda como ela não passaria despercebida por
ninguém. Fabíola não deveria estar longe. Há poucos metros dali existia o
início de um vilarejo, mais à frente a estrada que poderia levá-la a Tóquio,
de lá, sim, ela seria capaz de conseguir algo para ir mais longe; o que
também não ocorreria, pois sua foto estava sendo compartilhada por todos
os aeroportos do Japão e distritos policiais, se ela procurasse por ajuda, eu
seria informado imediatamente, o mesmo valia para uma tentativa de sair
do país.

Era a segunda semana em que eu voltava para as suas imagens, vendo


seu corpo desfilando pela minha casa e sabendo que teria seu cheiro nos
meus lençóis, porque eu me recusei a apagá-la daquele lugar. Foi nesse
momento que descobrir estar fodido e pior, eu ainda sentia raiva por ter sido
deixado para trás.
Kiro me dizia o quanto matá-la era o correto perante a todos que me
seguiam e sabiam da minha força, e Dorso me implorava para deixá-la ir
embora; os irlandeses estavam exterminados em minhas terras e em Boston,
o que não me deixou feliz.
Porque eu a perdi no maldito processo.
A verdade era que eu não queria seguir as falas de nenhum dos dois.
Em minha cabeça, ela me pertencia e pronto. Fabíola teria que lidar com
essa merda de situação, seu irmão não era nenhum santo, nossas vidas não
eram convencionais. Droga! Não fui eu que corri atrás de problemas, ele
sabia onde estava se metendo e continuou. Pagou por isso.
Esfreguei meus cabelos e quando voltei para as câmeras, a filmagem
estava no dia que ela ficou quieta, olhando o nada enquanto tomava seu
café.
Será que ela pensa em mim?
Desviei o olhar, recusando-me a cair nesses pensamentos intrusivos
que poderiam me enlouquecer. Não importava, de qualquer forma, eu a
buscaria onde estivesse.
Pausei a imagem quando ela se levantou e esfregou os olhos, talvez
de lágrimas indesejadas depois de deixar sua mente vagar por caminhos
cruéis aos quais não pretendia admitir para si. No fundo, ela sempre soube
que Diego não estava vivo, apenas se negou a acreditar.
Porra!
Eu não me importei com seu sofrimento, eu o via, mas fingi que não.
Era mais fácil para não me culpar, não voltar para aquele dia e ter certeza de
que aqueles olhos escuros estariam mais claros e penosos na face da mulher
que eu...
A culpa era minha. Dorso também a sentia, mas ela era toda minha.
Fabíola jamais seria a mesma, seus olhares, a forma de falar comigo,
talvez até mesmo seus sentimentos... Nada mais seria igual.
Joguei tudo que tinha sobre a mesa do meu escritório de Tóquio no
chão, até mesmo o monitor com sua imagem congelada.
Me tomaram tudo que era importante para mim, menos os Gokudos, e
eu me senti no direito de fazer o mesmo contra o mundo. Era minha forma
de gritar ao universo que não ficaria sentado esperando que ele me fodesse
também. Eu reagi, todavia, me encontrava no lugar de quem fez o mesmo
comigo.
“O que faria no lugar dela?”
Eu rasgaria cada parte do corpo do responsável por isso, e fiz
exatamente assim.
Ela escolheu me deixar para trás.
Fabíola poderia ter tramado minha morte de forma limpa e silenciosa.
Uma mulher que teve coragem de me sufocar com a porra de um
travesseiro, com certeza teria coragem de usar uma faca contra mim ou de
me envenenar...
Ela preferiu apenas ir embora.
Eu deveria deixá-la em paz, permitir que fosse para longe e ficasse
segura como prometi, seria o justo a fazer por ela depois de tudo. Eu a fodi,
mesmo sabendo o quanto seu irmão importava para ela e que eu fui o
responsável pela sua morte. Infelizmente, o meu lado egoísta jamais
permitiria isso, não quando eu já perdi tanto.
Sinto muito, Pansã. Mas você voltará para mim!
Controlei minha respiração, arrumei o monitor de volta e o conectei
de onde tinha escapado graças ao meu ataque de fúria, então a imagem dela
voltou a acender diante dos meus olhos.
Não vou perder você também.
A pequena e assustada pantera estava há duas semanas desaparecida
dentro da minha cidade e eu temia por sua integridade física; estrangeiras
davam bons negócios no quesito prostituição e não queria pensar o quão
longe ela iria para se esconder de mim e conseguir dinheiro para fugir.
Os italianos estavam se decidindo sobre quem iria para Boston tomar
conta, a esposa do Don anunciou sua gravidez e tudo entre eles parecia estar
entrando nos eixos, enquanto isso, eu perdia minha sanidade de pouco em
pouco por causa de uma brasileira teimosa e nada obediente.
Era a terceira boate que eu entrava para procurá-la e, ao mesmo
tempo que tinha medo de encontrá-la naquele lugar, também nutria
esperanças. Queria ver seus olhos ferozes me acusando, me odiando,
qualquer coisa, mas que estivessem em mim.
Apertei os punhos enquanto escaneava todo o lugar, as luzes
vermelhas eram um acréscimo ao que encontramos ali. Drogas, sexo e
muitas mulheres dançando nuas sobre o palco mediano que fazia um “T” no
meio do clube. Respirei fundo, me lembrando da noite que tivemos no
cassino; ela poderia surpreender na ousadia, isso também me deixava aflito,
não são todos os homens que admiram uma boa troca de farpas, na verdade,
nem eu gostava, mas com ela era... uma preliminar.
— Acha que ela correu para esse tipo de trabalho? — Dorso também
analisava em volta.
— Uma mulher desesperada e sozinha é capaz de tudo — Kiro
acrescentou.
— Qualquer pessoa em situações extremas é capaz de muitas coisas,
Kiro — rebati, sem olhar para nenhum dos dois.
— Mas ela já tentou matá-lo, chefe. É perigosa até. — Ele realmente
estava empenhado em me irritar.
— Isso interessa apenas a mim.
— Está errado, Oyabun. Se ela é perigosa para você, então interessa a
todos os Gokudos.
Respirei fundo, entendendo o ponto de vista do meu soldado, ele
sempre foi preocupado com meu bem-estar, afinal, carrego toda a
responsabilidade de nos mantermos de pé.
No geral, nos respeitavam muito e tínhamos grande alcance, a
legalidade estava ao nosso favor, mas as pessoas vinham questionando e a
polícia começava a se movimentar, fora os curiosos de outros países que
alimentavam a crença de que somos apenas criminosos com o governo em
nossas mãos. Não era nenhuma mentira, porém, para o povo, precisávamos
parecer heróis ou no mínimo Robin Hood, qualquer anti-herói que ganhe a
população na lábia e nos mantenha sempre na boca do povo como
respeitosos com eles.
Não matamos por matar, não colocamos a cidade abaixo sem um
motivo plausível e eu não saio da minha rotina por causa de uma mulher
estrangeira. Infelizmente, Kiro tinha razão e recriminá-lo por algo que eu
fazia errado não seria justo e causaria mais conflitos dentro dos Gokudos.
— Kiro, eu sou grande o suficiente para cuidar de uma mulher um
pouco... enérgica. — Parei em um ponto mais alto, olhando todas as pessoas
que podia, tentando encontrar qualquer indício da minha Pantera. —
Entendo sua preocupação, mas eu decidi que a quero comigo, é minha
responsabilidade mantê-la no controle.
— Mas, Oyabun...
— Escute. — Volvi meu corpo em sua direção. — Ela não é um risco.
Fabíola caiu de paraquedas nesse mundo, está assustada e acabou de
descobrir que seu irmão foi morto. — Suspirei, vendo meu soldado me
analisar com certo medo. Podia imaginar o que se passava em sua cabeça.
Quando seu Oyabun anterior, meu pai, se permitiu amar, ficou fraco,
morreu sem honra e ele temia que o mesmo acontecesse comigo.
Mas eu não amava Fabíola.
— Eu vou saber lidar com ela — respondi, por fim. Ele apenas se
calou. — Vamos, ela não está aqui.
Dorso foi o primeiro a sair e depois eu e Kiro. Ela não tentou pedir
ajuda para a polícia, também não apareceu no aeroporto, o que me fazia
pensar nos clubes de stripper e prostituição ou moradores locais que não
aprovavam nossos métodos.
— Amanhã procuraremos aos arredores, nas casas — avisei sério,
eles assentiram e voltamos para o carro. Mais uma noite sem saber onde a
endiabrada tinha se metido, se dormia bem e se alimentava. Esperava
encontrá-la com vida, ninguém fugiu por tanto tempo dos Gokudos e
apareceu respirando.
— Ela é esperta, chefe — Dorso murmurou, segundos antes de eu
entrar em casa e ele ficar na porta, cumprindo seu papel de vigia da noite.
— Ela é.
Entrei e fui direto para o quarto, a comida perdeu o sabor sem os seus
gemidos de aprovação. Ela não era importante antes, mas bastou aparecer
para remexer cada parte da minha vida, me fazendo pensar sobre meus
métodos, algo que nunca ocorreu. Fabíola trouxe consigo o poder de me
desestabilizar, ao mesmo tempo que se tornou meu combustível.
Me joguei sobre a cama com seu cheiro ainda ali, trazendo-me a
irritação rotineira desde que a perdi. Seria impossível para um homem
como eu simplesmente a permitir ficar longe; se ela pensava que em algum
momento me cansaria de procurá-la, estava bem enganada.
Fechei os olhos e tentei pensar em lugares que ainda não tinha ido e
que ela poderia se esconder; suas fotos estavam circulando entre meus
soldados, funcionários e aliados, se ela tivesse colocado a cara para fora, a
teria encontrado.
Ela provavelmente se escondia em algum lugar fechado, sem
necessidade de sair para conseguir comida e água, o que significava que
alguém a estava ajudando. Cada vez mais acreditava na possibilidade de
que Fabíola tinha sido acolhida por algum morador que não se importava
em me enfrentar, porém, a língua poderia ser um problema. Como se
comunicaria com algum morador mais antigo?
Não importava de fato, eu ainda a encontraria.

— Chefe, achamos a garota — Dorso falou animado. Sorri


lentamente e me levantei, pegando tudo que precisava pelo caminho. Eu
não podia simplesmente parar minha vida por causa da endiabrada, embora
quisesse muito. Esse tipo de desleixo só me causaria mais problemas no
futuro, gerando maior instabilidade entre os meus.
— Onde? — perguntei, já seguindo para o elevador do prédio que
ficava em Tóquio, lugar que me estabeleci para não enlouquecer e estar
mais próximo de estradas e bairros movimentados.
— Você estava certo, uma senhora a abrigou todo esse tempo.
Meus lábios se curvaram ainda mais.
— Claro que eu estava. Me mande a localização, estou entrando no
carro.
Meu soldado se despediu e logo recebi o mapa de onde ela havia se
escondido de mim. Em quase um mês de buscas, tive certeza de que ela
infiltrou-se em meu sistema de forma tão profunda que seria o fim desse
país caso não a encontrasse com vida. Mataria todos os envolvidos e seus
familiares para garantir que nenhuma geração permanecesse respirando o
mesmo ar que eu.
Notei também a saudade. Não apenas do corpo e do prazer que ela
podia me proporcionar, mas dela inteira; das risadas, da ousadia e em como
costumava me olhar quando pensava que eu não prestava atenção.
Porém, enquanto dirigia para o local que Dorso me enviou por
mensagem, lembrava da frieza com a qual me deixou para trás. Ela não
duvidou das palavras do prisioneiro, não esperou para despejar toda sua dor
sobre mim, o que me fez repensar se o sentimento que começava a tomar
forma dentro de mim também existia nela.
Não importava, de uma forma ou outra, já estávamos manchados por
nossos erros, nosso destino foi traçado no momento em que me vi preso em
seus olhos e ela também se afundou nos meus. Não havia possibilidade de
estar enganado.
Fabíola me odiava por causa da morte de seu irmão, era fato, e tinha
toda a razão de ser, mas existia a possibilidade de haver uma paixão
crescendo em seu peito e eu fisgaria essa pequena esperança, porque seria
muito mais fácil para nós dois que ela aceitasse esse sentimento.
Eu não a deixarei ir, nunca!
Apertei o volante e desviei rapidamente para o meu reflexo no
espelho retrovisor. Ela havia se infiltrado demais em meu sistema para que
fosse simplesmente deixada de lado por mim. Nunca fui esse homem.
Nunca.
Se ela criou em sua cabeça um vilão do tipo impiedoso que destruiria
tudo para vê-la sofrer, que seja, eu seria, mas permaneceria ao meu lado,
vendo-me tomar as rédeas do seu destino dali para frente, tendo que me
olhar nos olhos todos os dias, sentindo-me por perto e tendo meu cheiro por
cada cantinho daquela casa, e ela iria adorar ser minha, mesmo que
segundos depois se sentisse culpada por estar, mais uma vez, tendo prazer
com o homem que causou a morte de seu único irmão.
Era assim que ela gostaria de encarar as coisas? Que se foda, então
assim seria.
Parei em frente a pequena casa familiar, um pouco mais afastada do
centro comercial de Tóquio.
Meus olhos travavam uma batalha com o filho da puta que lambia as
bolas de Katsuo.
Eu sabia que homens não eram confiáveis, não precisava de muito
para chegar a essa conclusão, ainda assim, me entreguei para um que
exalava perigo por cada poro de seu corpo, fui burra, trocando meus
instintos por prazer.
Odiava admitir que sentia falta dele!
Isso era causado pela carência. Foi carnal, gostoso, cheio de novas
experiências e com muito tesão envolvido, porque ele conseguia alimentar
um lado profano meu, mesmo que nunca tivesse sido santa, também não
vivia no cio como nos meses que fiquei em sua casa.
Suspirei, atraindo a atenção da senhora mais fofa e acolhedora que
encontrei no caminho, um achado que nunca mais faria parte da minha vida.
Infelizmente, Dorso nos encontrou e ela me olhava com extrema
preocupação e até mesmo como se tivesse falhado comigo.
Não conseguia me comunicar muito bem, apenas gestos mínimos
foram suficientes para entender que eu estava fugindo. Não sabíamos
nossos nomes, não era algo que a preocupava.
Dorso falava em seu idioma com ela, parecia irritado, enquanto ela
mantinha a calma diante do brutamontes à sua frente. Engoli em seco,
prevendo que Katsuo viria correndo para me colocar na linha. Talvez me
considerasse uma traidora e me matasse...
Abracei-me com força, me fechando em um casulo seguro, ou nem
tanto assim. Ouvia suas vozes, contudo, não entendia nada, até que o olhar
do soldado com quem um dia pensei estar criando algum tipo de amizade
deslizou em minha direção ficando mais brando, mas eu desviei.
— Fabíola...
— Me deixe em paz, apenas... não diga nada.
Ele obedeceu, então, outro homem que eu nunca havia visto entrou
apressado.
— É ela mesmo? — perguntou, porém, antes que Dorso respondesse,
ele pousou os olhos em mim, a raiva que encontrei em suas íris me fez
questionar se realmente já não o tinha visto e lhe causado algum problema.
Em um momento eu estava encarando orbes escuros e sem qualquer
vestígio de conforto, no outro, o cano de uma arma quase tocava minha
testa. Fechei os olhos com força e prendi a respiração. Droga.
— Afaste-se dela! — A voz alta e grossa reverberou pela casa, me
fazendo abrir os olhos novamente.
— Oyabun, ela não merece misericórdia, traiu todos os Gokudos —
falou, ainda com a arma em minha direção.
— Mandei afastar-se, Kiro.
Certo, um nome. Eles falavam em inglês e eu acreditava ser uma
forma de Katsuo me reconfortar enquanto aquele maldito cano ainda seguia
erguido em direção a minha testa.
— Kiro, ouça nosso Oyabun, afaste-se dela — Dorso complementou.
Ele parecia genuinamente preocupado comigo e isso me fez curvar o
corpo, sem querer admitir ter o mínimo de carinho por aquele homem. Na
verdade, ninguém ali merecia sequer consideração.
O clima ficou tenso entre eles, eu via a relutância do tal Kiro em me
deixar sair com vida. Foram minutos que começaram a me torturar, talvez
esse fosse meu legado: tirar de Katsuo o que ele tanto iria adorar possuir, a
única forma que ele encontraria de me manter amarrada em sua vida
fazendo parte de toda essa sujeira que era a máfia.
Agarrei o cano da arma e aproximei minha testa até tê-lo tocando-a,
todos pareceram surpresos. Encarei Kiro com determinação e as primeiras
lágrimas caíram.
— Faça! — ordenei trêmula, mas segurando a merda do ferro frio
contra minha cabeça. — Por favor, faça — supliquei.
O soldado arregalou os olhos e vi de relance a movimentação de
Dorso, estendi a mão para que ficasse onde estava.
— Deixe que ele acabe com isso. — Cometi o erro de buscar por ele.
Seu corpo inteiro estava rígido, os olhos fixos em mim, sem acreditar
que eu seria capaz de me oferecer para a morte. Ele não entendia. Deveria,
mas não entendia; a dor profunda que eu carregava em meu peito jamais se
fecharia, talvez se eu conseguisse fugir, poderia reconstruir minha vida
longe de toda aquela merda. Bom, minhas esperanças tinham acabado
naquele segundo, cercada por três homens envolvidos até o último fio de
cabelo.
Deixei que mais lágrimas escorressem.
— Por favor! — pedi, desviando de volta para Kiro.
A dor se tornou maior, um buraco grande na minha alma, pegando
todos os meses que fiquei ao lado daquele homem e o transformando em
uma enorme lâmina que me dilacerava de dentro para fora, tão intensa,
tão...
— Vamos, faça! — gritei, o desespero tomando conta de mim.
Puxei o cano outra vez, batendo minha testa contra ele.
Kiro abriu a boca, entretanto, nada saiu dela.
— Pansã? — Havia dor em sua voz, contudo, não era nada parecido
com o que me consumia.
— Não... não tem direito de me chamar assim. — Voltei a fitá-lo.
O escuro de suas íris não era mais indiferente como da primeira vez
que o vi, nem enervante quando me provocava ou cheio de tesão como
quando vinha procurando por prazer.
— Por favor! — supliquei mais uma vez, fraca. Perdida.
Não se tratava apenas de mim, era egoísmo da minha parte pedir por
aquilo, porém, eu não conseguia ficar firme na presença dele em saber que
voltaria para aquela casa, sentiria seu perfume, teria seus olhares focados
em mim. Não.
Gritei, deixando meu corpo cair quando a dor foi demais para me
manter de pé, minhas palmas tocando o chão e as gotas do que minha alma
vinha se enchendo, caindo em forma líquida e salgada.
— Você destruiu tudo... — falei, engolindo os soluços. — Kiro. —
Ergui a cabeça, o encontrando confuso, a arma agora abaixada ao lado do
seu corpo. — Atire, vamos. Você mesmo disse, eu sou uma traidora e vou
passar cada segundo da minha existência tentando matar seu chefe.
O homem voltou-se para Katsuo, como se conversassem por olhares.
Ele queria me exterminar de uma vez, limpar as chances de uma retaliação,
fazer o que eles mais sabiam fazer: tirar vidas.
A violência acompanhada da morte vil não era uma novidade em
minha vida, presenciei isso anos atrás quando ainda começava a trilhar meu
caminho no mundo, mas perder Diego foi um atestado gigantesco de
fracasso e castigo, eu me sentia derrotada, à mercê do que o mundo estava
para me reservar. De repente, eu saí da mulher que criou seu destino de
forma esplêndida e fugiu das estatísticas cruéis, para me tornar mais um
número em algum gráfico fornecido por pesquisadores globais.
A brasileira desaparecida e nunca mais vista, tendo a última filmagem
feita em algum ponto da Itália, enquanto buscava pelo irmão desordeiro que
almejava o mundo e ganhou a morte.
Fechei minhas unhas contra o piso duro, sem me incomodar com a
dor por quebrá-las próximo a carne, minha visão embaçada, assim como
todas as minhas memórias.
Tudo estava tão distante; a vida em que conheci Roberta e montamos
nosso próprio negócio de lingeries sexys para mulheres de todos os
tamanhos, visando que cada uma tem sua beleza e ela merece ser ressaltada.
A última vez que falei com meu irmão e o vi pessoalmente ou quando
larguei minha mãe e peguei a mão de Diego, tomando para mim a
responsabilidade de criá-lo... Tudo longe demais, quase como um sonho que
tive sobre uma realidade paralela.
Um grito rouco e quase gutural escapou da minha garganta, era a
minha alma pedindo descanso, meu corpo reconhecendo a sobrecarga de
todos aqueles meses e minha mente se rasgando em pedacinhos.
Rompi minha capacidade.
Perdi minha vontade de viver, e eu nunca cheguei a esse ponto, nem
mesmo quando vi meu pai sendo morto pela minha mãe, depois que ela
passou a noite se drogando.
Apertei meus olhos enquanto tremia e me sustentava de joelhos no
chão, com as mãos ainda fincadas contra o piso duro. Então, eu lembrei...
ainda existia chance de vida, de salvação, porém, poderia ser meu atestado
de prisioneira, as algemas que me manteriam sempre cativa na vida daquele
maldito mafioso.
A não ser que eu...
Ardeu no meu peito quando ouvi o grito que saiu de sua garganta.
Não foi agudo e nem de dor física, veio de dentro, muito mais fundo do que
qualquer machucado que eu pudesse fazer em sua pele.
Me feriu também.
Encarei Kiro, deixando as chamas de desespero se tornarem em fúria
pura, tão palpável que ele não se atreveu a mover um dedo, apenas abaixou
a arma e observou enquanto minha Pansã sentia o mundo sumir debaixo de
seus pés.
Vi as lágrimas acumuladas em seus olhos, os fazendo brilhar ainda
mais, não da maneira que eu gostava, e sim, de um jeito melancólico, tudo
em segundos que ela me dedicou atenção, depois desviou para suas mãos e
eu fiz o mesmo, vendo que suas unhas tinham se quebrado ao ponto de
sangrar.
Preocupado, me aproximei em passos rápidos e agachei à sua frente,
puxei suas mãos para mim, ela relutou e eu insisti, novamente nos
encaramos, agora existia a mágoa de volta.
— Me deixa em paz! — Não respondi, apenas foquei em suas feridas
e xinguei mentalmente. Ela conseguiu quebrar mais de uma unha na carne,
isso doeria por dias e arderia como o inferno quando fosse limpar, porém,
Fabíola não parecia se importar muito com isso. — Me solta! — Puxou as
mãos com mais força dessa vez, escapando do meu toque.
Já havia decidido nossos destinos, ela viveria comigo e descobriria
que nem sempre eu seria paciente.
— Não adianta fingir indiferença ao meu toque, eu sei que sentiu
minha falta. Agora levante-se e enfrente essa merda.
Ela rosnou algum palavrão em português, mas não me obedeceu.
Peguei sua nuca com um pouco de brusquidão e a trouxe para mais perto do
meu rosto, sua respiração mudou, tornou-se pesada e descompassada. Sorri
de canto, ela ainda se sentia afetada por mim.
— Escute bem e entenda isso de uma vez. — Parei apenas para
umedecer meus lábios, adorando vê-la acompanhando o movimento,
mesmo que com raiva e vivendo uma batalha interna, ela me queria.
Fabíola não sabia ainda, mas não existia volta em nossa relação, era
isso que Gokudo significava e ela se tornou parte de nós. Precisava de mim
tanto quanto passei a necessitar dela.
— Eu nunca vou deixá-la ir. Nunca.
Mais uma batalha se iniciava em sua cabeça, os olhos inquietos e os
lábios comprimidos em uma linha fina, ela gostou de ouvir isso na mesma
medida em que odiou.
Desvendá-la era intrigante, deliciosamente excitante e tornava-me um
maldito sádico, porque estava claro que ela seria um grande problema para
mim, por mais que a atração fosse mútua, o orgulho e toda a mágoa ainda
dominavam seus instintos. Minha pantera queria se entregar e aceitar seu
destino ao meu lado, porém, não se permitiria, constatar isso só me puxou
ainda mais para ela, como um desafio que eu adoraria cumprir.
— Vá para o inferno! — rebateu, a voz ríspida e rasgada pelo choro e
grito recente.
— Nós iremos, Pansã — prometi.
Sem aguentar de saudade, mesmo sabendo dos riscos de ser ferido, eu
selei nossos lábios. Primeiro, ela tentou se afastar e me bater, no fim,
amoleceu e correspondeu timidamente ao meu beijo, no entanto, era mais
que óbvio que ela não se entregaria tão facilmente, por isso, quando senti a
mordida forte rasgando a carne do meu lábio inferior, não liguei ou me
afastei, deixei que ela descontasse um pouco em mim.
Quando recuei, toquei o local e limpei o sangue que escorreu.
— Senti sua falta — falei, logo em seguida lambi o restante de sangue
que ficou na minha boca.
Começava a me agradar com a bagunça que ela causava dentro de
mim. Não suportava imaginá-la ferida, sofrendo por causa de alguém,
sequer me descia a possibilidade de perdê-la para sempre. Ainda que não
me importasse de ter sua fúria direcionada a mim, de saber que seu maior
combate era interno e que não conseguia controlar o desejo e todos os
sentimentos que eu causava nela; mesmo que quisesse muito e tivesse uma
razão para isso.
Ela voltou a ficar arredia, saindo do meu toque e virando o rosto para
evitar me encarar. Me levantei e a olhei de cima, tão pequena e acuada, as
mãos feridas e as gotas de suas lágrimas ainda machadas no piso da
pequena casa que a escondia de mim, o que me fez lembrar da mulher que
assistia a todo o espetáculo.
— Por que não nos avisou que ela estava aqui? — perguntei, havia
uma tranquilidade na minha voz em meu idioma que não condizia com a
situação.
— Parecia tão triste e sozinha, apenas a trouxe para casa. Se fosse
uma filha minha, eu iria gostar que alguém a acolhesse e mantivesse segura
— falou devagar, um pouco chateada por toda a situação.
Foram duas semanas me revirando na cama, pensando em como
Fabíola estava e se cuidavam bem dela, perdoei sua falha em não me
contatar por ver sua dedicação e cuidado com minha pantera.
— Venha! — Estendi minha mão em sua direção, ela pareceu pensar
um pouco, algo a fez se erguer devagar e agarrar a minha mão.
— Não tem a ver com você — murmurou, depois se desvencilhou de
mim e seguiu na frente, notei que fez o possível para não encostar em
Dorso.

Soltei o ar devagar, a bebida em minha mão servindo apenas como


enfeite, pois não coloquei um gole na boca, a situação toda já era amarga
demais. Fabíola se enfiou no quarto que nomeou como seu, deixei pensar
que seria desse jeito e que eu realmente a permitiria dormir todos os dias
longe de mim. Não era o momento, ela precisava absorver a realidade que a
atravessou com força.
Mais uma sacudida no copo, observei a casa no escuro com a sala
silenciosa e a tranquilidade em saber que ela dormia no andar de cima, sem
mais riscos. Eu era, de fato, um miserável em busca de um pouco de
carinho e ela me deu isso, acabei me tornando dependente de sua presença,
olhares, beijos e temperamento ferino. Como poderia renunciar a isso?
O líquido chamou minha atenção outra vez, não costumava tomar
Whisky e não fazia ideia do motivo de tê-lo colocado em meu copo, apenas
me peguei hipnotizado pela cor âmbar.
Fabíola um dia se renderia, poderia demorar um pouco e exigiria
muito da minha paciência, mas ela cederia, até porque, eu conseguia ver o
mesmo sentimento que me incomodava e confundia irradiando de seus
olhos.
Nessa loucura, somos dois perdidos tentando descobrir como
sobreviver.
Retornei à lembrança de sua mão firme no cano da arma e o pedido
feito a Kiro... Aquilo sim, me deixou derrotado. Ela preferiu a morte ao ter
que retornar para mim, bastou me ver chegando para que implorasse por
isso, um sinal gritante de desespero.
Naquele momento, eu senti raiva dela, quis chacoalhar seu corpo e
questionar o porquê desperdiçar sua vida por alguém que só lembrou dela
no momento que sentiu o gosto amargo da morte.
Seu irmão correu atrás das próprias ambições e só pensou nas
consequências de seus atos quando não teve mais escapatória, ele não se
preocupou com o quanto sua irmã poderia sofrer com sua morte ou quem a
pegaria para si depois que isso acontecesse. Na verdade, ele a jogou direto
em minhas mãos, diminuindo o poder de atração que ela poderia ter sobre
mim, até mesmo que algum outro soldado ou líder que a tocasse.
Porra. Qualquer um que tivesse ouvido seu gemido de prazer e visto
seu corpo se contorcendo tão lindamente enquanto goza, a reivindicaria
para si.
Ele não merecia toda a tristeza que causava nela.
Deixei o copo de lado e subi para o meu quarto, no entanto, bastou
chegar ao corredor para mudar de ideia. Arrastei a porta do seu quarto com
cuidado, pensando em não acordá-la, entrei com passos leves e calculados,
parando próximo da cama e tendo a visão de seu rosto relaxado.
Não pretendia machucá-la, não queria nada além de vê-la sorrindo,
brincando, me provocando.
— O que você quer?
Inclinei a cabeça e estiquei os lábios, ela sequer abriu os olhos ou
mudou a posição. A voz sonolenta e rouca.
— Você, Pansã. Quero você por inteira — sussurrei.
Ela se virou, me dando as costas. Soltei a respiração com certo pesar.
— Boa noite! — Saí do quarto, a deixando em paz.

Permaneci fingindo não ter percebido sua presença no meu quarto,


queria saber o que ela faria, se seria capaz de tentar me matar mais uma vez.
O meu canivete estava sobre a mesa de canto, eu tinha consciência disso e
palpitava que ela também. Controlei a respiração para que não percebesse e
esperei, nada aconteceu por segundos.
— Merda! Merda! — Ouvi seus sussurros, fiquei curioso e abri
apenas um olho, pegando-a parada segurando meu canivete na mão, mas
olhando fixamente para o objeto sem conseguir se aproximar de mim.
O que ela estava esperando?
Se sentia tanta raiva de mim e queria vingança, então por que não
veio acabar com isso?
Eu estava bem ali, perto o suficiente para ela apenas rasgar alguma
parte do meu corpo, até mesmo a garganta. Claro, ela não fazia ideia de que
eu já havia acordado e esperava por um ataque. Ainda assim, nada
aconteceu.
Não dava!
Apertei o canivete com mais força, pensando em várias formas que
poderia fazer aquilo acontecer, mas apenas de imaginá-lo sufocando em seu
próprio sangue e me olhando, eu já me arrepiava inteira. Não.
Droga. Eu não conseguiria matá-lo, de forma alguma aguentaria esse
fardo, então o que estava pensando?
Em toda a maldita dor que ele me causou.
E se eu apenas o ferisse um pouco? Se o fizesse gritar e se contorcer
da mesma forma que eu me sentia por dentro?
Lambi os lábios e voltei a olhá-lo, dormia tão lindo, o rosto perfeito e
com marcações quadradas e firmes, as tatuagens em seu pescoço só
ressaltavam ainda mais a sua beleza, fora a boca que, ao contrário da
maioria dos japoneses, era carnuda, tão cheia quanto a minha. Tudo em
Katsuo me puxava para ele, mas eu procurava pelo brilho profundo dos
olhos escuros, aquele pequeno sinal de que eu estava perdida, consumida e
sem qualquer chance de querer fugir.
Então eu lembrava de Diego...
Essa maldita batalha interna me deixava exausta, carregada de um
fardo que não deveria ser meu, pois me sentia culpada por ter me deitado
com o seu algoz e ainda ter gostado. Pior, talvez até tenha...
Puxei o ar e deixei o canivete cair no chão, fazendo um barulho
irritante. Rapidamente, busquei por ele e não me surpreendi ao encontrar
seus orbes focados em mim.
Katsuo se sentou devagar, ficando com os pés para fora da cama e as
mãos apoiadas sobre o colchão, seus cabelos escuros caindo sobre a testa
hora ou outra eram retirados pelos dedos longos e arrastados para trás. Tudo
nele me deixava presa, reparando e acompanhando.
— Quer me matar, Pansã? — Seus olhos seguiram até a comprovação
das minhas intenções e o que o despertou.
Ele se levantou e eu recuei, sentindo meu coração martelar na caixa
toráxica, agachou-se apenas para pegar o canivete e continuou andando em
minha direção.
— Se é o que deseja, faça! — grunhiu, estendendo a mão com o
objeto cortante em minha direção, esperando que eu pegasse. Neguei com a
cabeça. — Vamos, continue, me mate.
— Não! — rebati, minha cabeça ainda sacudindo em negação. —
Não.
— Então o que veio fazer aqui? — perguntou, o sarcasmo escorrendo
por cada palavra. Ergui meu olhar e me arrependi no instante que fui
capturada em sua armadilha escura e intensa.
— Eu... — engoli minha saliva e a senti descer embolada, como se
fosse algum pedaço de farinha se prendendo em minha garganta. — Eu... —
Minha voz saiu mais rouca do que o normal. — Não sei... eu não sei.
Sua mão alcançou minha bochecha em uma carícia que me deixou
sem reação, ainda presa em seus olhos e imóvel quanto ao carinho
inesperado, seus dedos longos e quentes deslizaram até se fecharem em
minha garganta. Ofeguei.
— E se eu quisesse matá-la? — murmurou, a cabeça se alinhando
com a minha, nos deixando da mesma altura. Apertou com mais força. —
Você lutaria para respirar ou apenas deixaria que eu roubasse seu ar?
Não respondi. Mais um aperto e não duvidei de que ele seguiria
adiante. Era isso que mais mexia comigo: eu não sabia se Katsuo me
enxergava como mais um de seus soldados, algo descartável que logo
poderia ser jogado no lixo e esquecido com facilidade. Se sim, por que não
me deixar ir embora? Ego?
— Não aprendeu nada, mesmo convivendo comigo por todos esses
meses? — Soltou o aperto e deu um passo atrás. — Eu só tiraria seu ar para
que alcançasse o prazer com mais intensidade enquanto meu pau estivesse
dentro de você. Nunca para feri-la. Não sentiu nada diferente de tesão? Em
nenhum momento?
Abri a boca, contudo, nem uma palavra saltou dela.
— Eu não matei seu irmão injustamente, ele fazia parte de algo que
queria me atingir, causar uma guerra entre Gokudos e a máfia italiana, não
era tão diferente de mim e sabia onde se metia. Não me torne o vilão de um
mundo em que heróis não existem.
Fiquei paralisada, culminando suas palavras e sentindo o peso de cada
uma delas. Abaixei a cabeça, envergonhada, ainda que não estivesse errada
em temê-lo.
Ele voltou para a cama e me encarou uma última vez depois de se
cobrir.
— Mais uma vez, boa noite!
E assim ele fechou os olhos e embora eu soubesse o quanto estava
atento aos meus movimentos, achei muita ousadia de sua parte me
subestimar dessa forma.
— Eu ainda posso tentar matá-lo.
— Tudo bem, já estou cansado de fazê-la enxergar que eu é que não
sou capaz de matá-la.
Eu não deveria me sentir assim, palavras tão bobas e genéricas não
merecem ter esse poder sobre meus sentimentos e causar esse calor em meu
peito, deixando-me saber que alguém ainda era capaz de estar por perto,
mesmo que...
Não!
Eu entendo que Diego não era nenhum santo e a morte foi
consequência de seus atos, entretanto, não justificava me envolver com seu
assassino, mesmo que eu não soubesse disso antes.
Hipócrita. Você, no fundo, sentia que o desaparecimento do seu
irmão tinha ligação com essa proteção repentina da máfia.
Algo me ocorreu e eu me neguei a deixá-lo dormir.
— Se meu irmão era inimigo, por que estou viva? — perguntei.
Katsuo abriu os olhos novamente, porém, permaneceu do mesmo
jeito, deitado.
— Eu dei a ele um último pedido e ele escolheu a sua proteção. —
Seu olhar vasculhou minhas reações.
— Ele pediu mesmo por... isso? — Assentiu. — Você me disse uma
vez, que me deixaria em um lugar seguro quando tudo acabasse. O que
mudou? Você pegou todos eles, então por que ainda estou aqui?
— Porque eu não consigo deixá-la ir. Não posso mais ficar tranquilo
sem ter você aqui.
Suas palavras soaram sinceras e tão ardentes que ergui minha mão até
o peito. Era demais, eu precisava...
— Vá descansar, Pansã.
Katsuo voltou a fechar os olhos e decidi que tinha sido o suficiente
por ora, eu precisava pensar sobre tudo. Saí devagar de seu quarto com as
pernas ainda moles da minha quase tentativa de homicídio, me perguntando
o motivo de não ter ido até o fim.
Poderia tentar me enganar, dizer que foi culpa da minha ética e que
jamais tiraria uma vida, mas a verdade estava mais entranhada por debaixo
da minha pele e fluindo junto com meu sangue; era isso que esquentava
meu corpo, que me fazia sentir vergonha de mim mesma, eu deveria ser
mais racional, deixar de lado qualquer sentimento que floresceu durante os
meses que pude ter a presença de Katsuo. Era apenas sexo.
Então por que ele age como se não fosse apenas isso?
Pensamentos começavam a me afogar em minhas próprias paranoias e
construções de realidades paralelas. Uma em que mafiosos são capazes de
se apaixonar, amar e proteger os seus.
E se Katsuo realmente gostar de mim?
E se ele também sentiu a força da nossa proximidade?
E se não for apenas possessividade?
Rapidamente me vem a história de seus pais, a mãe que se suicidou
sem conhecê-lo, o pai que foi morto junto a madrasta por um rival de forma
macabra e tão maldosa.
Ele deveria saber como é, certo?
E se ele sabe, então entende minha dor e o quanto é difícil chutar tudo
isso para o lado e me deixar ser abraçada por ele. Ainda assim ele insiste
nisso, em nós.
Me sentei no colchão confortável com meus pensamentos se
acumulando e minha ansiedade fazendo sua participação, me trazendo as
situações mais prováveis.
Ele a quer como um prêmio. Vai destruí-la e depois a trocará por
outra.
Aquela voz insistente não me deixava em paz. Mal percebi em que
momento me deitei, entretanto, era o teto branco que eu enxergava depois
de piscar, na tentativa de expulsar aquelas... verdades?!
Minhas mãos seguiram direto sobre meu ventre, me acolhendo como
sempre foi.
Nunca houve alguém para mim, eu sempre acolhi meus amigos, meus
funcionários, meu irmão, mas... quantas vezes alguém me acolheu?
Mais lágrimas, eu já me sentia uma manteiga derretida de tão fácil
que era deixá-las escorrerem por minhas bochechas. Droga.
Puxei o ar com força e uma leve tontura acompanhada do enjoo se
aproximou para me afundar ainda mais, me trazendo outra constatação
difícil de lidar, e eu ainda me sentia sozinha.
“— Você, Pansã. Quero você por inteira.”
Eu acreditava em suas palavras e preferia que fossem mentiras
bonitas contadas apenas para aliviar meu medo, pois não queria acender
essa pequena chama de expectativa somente para vê-la sendo apagada no
momento que eu mais precisasse dele.
Empurrei a porta do seu quarto com certa força, ainda com a cabeça
borbulhando com tudo que enfrentaria dali em diante; foram os barulhos
vindos do banheiro que me fizeram correr até lá, com medo de que Fabíola
tivesse tomado uma decisão estúpida.
A encontrei agachada com a cabeça em direção ao vaso sanitário, seu
corpo estremecendo a cada vez que ela deixava uma porção do que comeu
no almoço sair. Prontamente, me coloquei atrás de seu corpo, agachando
também e segurando seus cabelos no alto, ela não reclamou, não disse nada,
apenas limpou sua boca com as costas das mãos e agarrou com força as
bordas de cerâmica.
— Está melhor? Quer algum remédio? — Meu olhar buscou Dorso
que estava atrás de mim, mas ele deve ter ficado do lado de fora do quarto.
— Pode sair, por favor?
— Não, não posso — grunhi de volta, ainda me mantendo atrás dela.
Vi quando apertou com mais força onde segurava e uma respiração irregular
escapou dos seus lábios, em seguida veio o choro forte, daqueles que
faziam meu coração parar e minha alma doer junto com o sofrimento dela.
Sem pensar, a peguei para mim, acolhendo seu corpo em meus braços
e aninhando-a em meu colo, abracei-a, querendo poder arrancar tudo de
ruim que eu fiz, sentindo que a minha penitência estava sendo dura demais
para suportar, nada comparado a dela, mas, ainda assim, intensa.
Cheguei disposto a obrigá-la a se mudar para o meu quarto, cortando
a distância que ela impôs e agora só pensava no quanto não desejava feri-la
outra vez; não queria mais do seu ódio. A brincadeira era interessante: ela
fingia me odiar e me enfrentava, então se entregava da forma mais deliciosa
possível... Mas isso? Isso... não é uma brincadeira excitante, não fiquei
satisfeito em vê-la se odiar por minha causa.
Na verdade, eu me senti impotente, por isso, apertei mais meus braços
em volta dela, enfiando meu rosto contra seu pescoço e deixando as poucas
lágrimas que se acumularam em meus olhos caírem.
Eu só experimentei isso uma vez e foi quando cheguei em casa e
encontrei partes do meu pai e madrasta espalhados e não pude fazer nada
para ajudá-los.
Aquela sensação de estar deixando-a escapar por entre meus dedos,
perdendo o controle da situação como um todo, se foi no segundo que senti
seus braços enlaçarem meu pescoço. Suas lágrimas misturando-se com as
minhas, assim como aquele sofrimento compartilhado. Ficamos por longos
minutos dessa forma, nos acalmando com o calor do corpo um do outro.
Fabíola reagiu primeiro, se levantando devagar e indo em direção a
pia do banheiro, eu fiz o mesmo em seguida, apenas olhando-a limpar a
boca e escovar os dentes, depois encarando-me pelo reflexo, ambos com os
olhos vermelhos e o brilho daquela tristeza profunda que carregávamos e
não queríamos mostrar.
Eu já tinha certeza de que a queria e que isso se dava por saber que
ela seria a única capaz de lidar com meus demônios, porém, depois de ver
os dela vagando pelo fundo de suas íris, entendi que eu também seria o
único para ela.
— Nunca vai me deixar ir embora, não é? — perguntou, ainda me
fitando intensamente pelo espelho.
— Nunca, Pansã.
Ela engoliu em seco, mas eu consegui ver aquela pequena e perversa
versão que brilhava em suas pupilas, satisfeita com o que ouviu de mim,
feliz até.
Umedeci meus lábios e me aproximei ainda por trás, encostando meu
peito contra suas costas. Ela não reagiu, continuou me desafiando através
do reflexo.
— Acaba aqui — falei, minhas mãos acariciando seus braços. — A
gente se pertence, e essa guerra entre nós acaba aqui.
— Quer que eu simplesmente esqueça que foi você que...
— Não, quero que supere isso e entenda que esse é seu mundo agora.
— Abaixei a cabeça até ter meu rosto emparelhado com o dela, olhando-
nos. — Quero que aceite o quanto somos perfeitos um para o outro, mesmo
com toda a nossa bagagem.
Fabíola piscou, mas não conseguiu desviar de nós.
— Quero você e toda a tristeza que lhe causei, mas também quero os
seus sorrisos, seus medos e seu prazer, tudo que faz parte de você. — Beijei
sua bochecha, depois no canto da sua boca, minhas mãos circularam seu
corpo a prendendo mais contra mim. — Pode me odiar, Pansã, desde que
me ame também — murmurei segundos antes de virá-la de frente para mim.
Capturei seus lábios de leve, esperando ser rejeitado, no entanto, ela
apenas fechou os olhos, cansada de lutar contra, aceitando a verdade mais
tenebrosa que poderia ocorrer em sua vida. Foi um beijo casto, apenas para
matar a saudade que eu tinha daqueles lábios macios e cheios.
— Quero a sua bagunça e a sua paz. — Acariciei seu rosto e sorri de
canto ao vê-la inclinando-se para ter mais contato com meu toque. —
Nunca mais me deixe de fora, até porque, eu sempre encontrarei um jeito de
entrar. — Ela amoleceu em meus braços quando deixei um selinho em seu
pescoço.
Eu estava sedento por ela e não aguentei quando ouvi um gemido
dengoso fugir de seus lábios. A virei de costas para mim de novo, dessa vez
minhas mãos foram para os seus seios e me perguntei se eles estavam
maiores ou era apenas a minha saudade em tocá-los. Fabíola jogou a cabeça
contra meu ombro, me deixando espalmá-los e provocá-los ainda por cima
do seu vestido. Desci minhas mãos devagar testando sua receptividade, eu
pararia no mesmo segundo que ela me rejeitasse, contudo, isso não
aconteceu. Cheguei até a barra da saia do vestido e a ergui, ela apoiou as
mãos na borda da pia e se empinou para mim.
— Se não quiser continuar, me diga — sussurrei, ela apenas assentiu.
— Diga que entendeu, Fabiola — exigi, parando meus movimentos.
— Eu entendi, Saki.
Foi quando algo me veio à cabeça e sem dizer nada, me afastei. Ela
pareceu ligeiramente confusa, até piscar algumas vezes e se virar para me
olhar.
— Quer saber? Se recomponha e quando não estiver frágil como
agora, me procure.
Saí dali antes de voltar atrás com a minha decisão e acabar estragando
tudo mais uma vez.
Talvez ela não tenha se dado conta, mas eu percebi. Minha Pantera
sempre recorria ao sexo quando queria parar de pensar sobre si mesma, suas
decisões e as consequências, se a tomasse naquele momento, só daria mais
combustível para que ela não enfrentasse a realidade e entendesse que não
era apenas sexo, não entre nós.
Ela me culparia, se convenceria que eu havia a manipulado e por isso
cedeu.
Fabíola precisava admitir pra si mesma que eu já ocupava uma parte
do seu coração tanto quanto ela ocupava do meu.
Fiquei um tempo parada, meu peito subindo e descendo e minhas
mãos apertando a borda da pia.
Ele simplesmente me atiçou e me deixou aqui.
A impulsividade me colocava em situações complicadas, mas eu não
me importava com isso naquele momento, em segundos eu estava em seu
encalço, abrindo a porta do seu quarto logo depois de vê-lo fechá-la.
— Você é um maldito covarde! — bradei. Fui criada em meio a
desavenças, vozes alteradas, drogas e muita violência, não era difícil alterar
meu tom e tornar-me potente demais, era como se cada fibra minha pedisse
para ser ouvida com certo desespero, e porra, eu ainda estava excitada.
Katsuo virou-se com um sorriso de canto, debochado como sempre.
Irritei-me mais, avançando em sua direção com o dedo em riste.
— Me trouxe para cá, tirou de mim a chance de escolher todas as
malditas vezes e agora quer ser o mocinho dessa merda? Não, não mesmo
— vociferei. — Você é culpado por isso, acha que vou cair na sua conversa
para daqui um ou dois anos, quem sabe alguns meses, me descartar? Eu não
sou fácil de lidar, Katsuo, não sou mesmo. — Sacudi a cabeça e bati com o
dedo em seu peito, empurrando-o para trás até tê-lo contra a parede, da
mesma forma que um dia fez comigo. — Mas esse inferno que você vê só
desperta quando estou apavorada.
Minha voz começou a falhar e a potência que me atingiu antes, se
dissipava, trazendo o lado mais vulnerável de mim. A versão que tentava
esconder a todo custo.
— E eu confesso, estou com medo, por que, pela primeira vez em
anos, não faço ideia do que fazer, de como fazer...
E elas voltaram, enchendo meus olhos e embaçando minha visão;
lágrimas de ódio misturadas com tristeza.
— Você me tirou tudo, tudo... — Parei de falar para evitar um soluço
e mais uma torrente de choro.
Desviei o olhar, envergonhada por não conseguir nem formular uma
frase.
— Eu odeio você — murmurei.
Abaixei meu dedo, entregando-me a loucura que era minha vida e
minha cabeça.
Braços fortes me cercaram mais uma vez, prendendo-me e me
sufocando da mesma forma que me confortavam. Soquei suas costelas na
tentativa de me livrar dele e tudo que me causava, mas foi em vão, ele se
manteve intacto, apertando meu corpo colado ao seu.
— Está mentindo — sussurrou. — Você não me odeia, Pansã. A
palavra que está procurando é outra. — Escondi meu rosto contra seu peito,
me sentindo tola. — Eu sinto muito por tudo que te causei, não posso
mudar o que fiz, mas posso te dar a certeza de que jamais a manteria
comigo dessa forma se não tivesse convicção de que é você quem quero
hoje, amanhã e enquanto meu coração bater. O que sinto é forte o suficiente
para eu não suportar que esteja longe de mim.
— Por que eu? — murmurei.
— Eu também não tenho essa resposta. — Ele beijou o topo da minha
cabeça. — Mas não consigo pensar em nenhum motivo do porquê não você
— ciciou.
Sempre ouvi dizer que o amor era algo que fazia sorrir, transbordar
em sentimentos bons e poderosos, contudo, todos escondem que quando
não há algo bom, o amor transborda o que há de ruim. Nossos demônios se
alimentavam de nossas péssimas decisões e uma delas era a que eu estava
prestes a tomar enquanto me sentia acolhida e presa pelo mesmo maldito
homem.
Nenhum de nós era vítima ao fim do dia.
Eu queria que a culpa me consumisse o suficiente para que não
pudesse acreditar em suas palavras e assim, agisse como a filha da puta que
gostaria de ser, no entanto, me restou apegar-me ao seu corpo e me deixar
iludir com a desculpa de que fui condicionada a amá....
A gostar de estar com ele.
A verdade inconstante que me consumia as vísceras e apodrecia meu
interior era bem mais sórdida e fora de contexto entre tudo que vivi e o que
estou vivenciando agora. A Fabíola de cinco meses atrás era uma irmã
dedicada que sofreu o diabo na vida e soube se levantar, a mulher que
venceu e colocou o mundo aos seus pés; era a pessoa mais decidida e cheia
de fibra que poderiam encontrar pelo caminho, a irmã modelo e a filha que
qualquer um desejaria ter. Essa Fabíola morreu no segundo que perdeu seu
caçula para o mundo, então me restou a criança assustada que via os pais
brigando e sentia pavor de que algo pior acontecesse com ela quando
chegasse nessa idade.
Aquela criança... aquela menina encolhida no canto, vendo o sangue
pingar da faca que a própria mãe usou para rasgar o peito do pai.
Aquela pequena inocente que não podia chorar enquanto sua genitora
a encarava com loucura e fazia sinal de silêncio, com aquela faca ainda em
mãos...
Onde foi parar? Porque quando a lâmina enxercada da vida de outro
está nas mãos de Katsuo eu não me sinto aterrorizada como aquela menina?
E quanto ao resto?
Seria uma psicóloga capaz de me diagnosticar neste momento?
Poderia me fazer enxergar o tamanho do meu erro ao colocar em um
mafioso a esperança de um final feliz para mim? E quem explicaria para o
meu coração o que minha mente não parava de me recordar: que foi esse
mesmo mafioso que matou meu irmão?
Quem eu havia me tornado?
Solucei com o rosto contra seu peito e finquei minhas unhas em sua
pele. Ele não reclamou, minhas pernas perderam as forças, assim como eu
perdi a vontade de entender tudo isso. Saki, percebendo a situação, decidiu
nos levar ao chão devagar, me mantendo em um casulo feito por seus
braços.
Talvez as minhas duas partes tenham se tornado uma terceira, um
ciclo novo?!
Ninguém poderia imaginar o quanto todas as questões me feriam de
pouco em pouco. Eu queria viver aquilo, abraçar essa parte doentia com
força e me permitir seguir em frente, mas, ao mesmo tempo, eu não
conseguia deixá-lo para trás sem causar um buraco no meu coração, grande
o suficiente para passar uma barra de ferro e me tornar vazia.
E tinha um acréscimo que selaria meu futuro ao lado dele ou não.
E se for isso que está mexendo comigo?
— Eu não quero perdoá-lo — falei baixo. — Isso significaria
esquecer tudo que passei para manter Diego saudável e vivo... — Aquele
pequeno nó voltando a minha garganta. Katsuo permaneceu me abraçando,
ainda me protegendo do mundo que ele mesmo me trouxe. — Também não
quero ir embora, porque isso significaria não te ver nunca mais. — Ergui
minha cabeça caçando aquele buraco negro e implorando para ser puxada
de volta para ele. — Você tem razão sobre o sexo, enquanto sinto prazer,
consigo calar a minha mente, assim ela para de gritar comigo, de apontar o
quanto eu sou hipócrita e... mais parecida com você do que gostaria de
admitir.
Sua mão veio até meu rosto segurando-me firme, o brilho sombrio me
arrepiando inteira; não era tesão, era pior. A sensação de ter um viveiro de
borboletas voando em meu estômago começou, apenas um presságio do
quanto eu estava fodida.
— Grite comigo, me odeie e use suas unhas para me ferir. —
Deslizou a mão até minha nuca, puxando o pouco dos fios que encontrou
por ali, me mantendo cativa. — Jogue em meus ombros a culpa por estar
envolvida comigo, eu não me importo. Se isso for o suficiente para que
volte... que sorria em algum momento e que pare de chorar encolhida no
quarto... me use o quanto quiser, Pansã, mas volte para mim.
Sua testa veio até a minha, nos mantendo conectados desta forma.
— Eu não aguento perder mais ninguém.
Aquela confissão poderia ser infundada vindo de um mafioso que
tirava pessoas da vida de quem as amava, inclusive, ele fez isso comigo, no
entanto, pude ler as entrelinhas, no brilho profundo de suas íris e encontrei
o jovem Katsuo, aquele que voltou para casa e teve como surpresa as partes
de seu pai, madrasta e irmão que ainda estava no ventre.
Percebi que o estava machucando com minhas unhas quando senti o
líquido viscoso escorrendo entre nós, abaixei o olhar e vi os pequenos
filetes de sangue vindo de onde eu ainda mantinha minhas mãos. Afastei-
me de leve.
— Eu também não — confessei.
Me sentia uma tola depois de ter desabafado com ele. Não era tudo,
tampouco a ponta do iceberg, mas não éramos esse tipo de casal, sequer
tínhamos uma relação bem definida.
Mordi outro pedaço do bolinho de arroz, sabia que o nome não era
esse, no entanto, era o mais fácil para mim e ele não pareceu se incomodar
com isso. Seu olhar estava longe, o corpo curvado e os cotovelos apoiados
sobre a madeira da mesa baixa e pequena, a qual nunca usávamos e eu me
perguntava qual era o problema de ter cadeiras ao invés de almofadas no
chão, ainda que tenha ficado calada por todo o jantar.
— Me conte sobre ele — falou, enquanto me fitava interessado.
— De quem? — Coloquei mais um pouco de água no copo e
beberiquei, esperando sua resposta.
— Diego, seu irmão.
Por um momento, pensei que ele estivesse brincando, todavia, sua
expressão não mudou.
— Por que quer saber? — Limpei minha boca com um guardanapo,
fingindo que aquela conversa não voltaria a despertar meu lado mais
chorão.
— Não sei como é ter um irmão, talvez pudesse me dizer.
E lá estava o jovem que não viu seu irmão nascer e crescer. Umedeci
os lábios e apertei os olhos.
— Se não quiser falar, não precisa. Não estou debochando da sua dor
ou querendo te machucar mais do que já fiz.
— Tudo bem. — Respirei fundo e abri os olhos. Ele não queria me
diminuir ao me fazer lembrar de Diego, na verdade, ele parecia empenhado
em se aproximar de formas diferentes, sem aquela aura de tesão nos
cercando e consumindo. — Nós não éramos tão grudados, era algo como:
brigas e xingamentos entre nós e com os outros amor e orgulho. Ele tinha
facilidade com tecnologia, mas era sonhador demais quanto ao mundo e
suas dificuldades e cobranças. Eu que sempre fui pé no chão, mais realista.
— Dei de ombros. — Acho que a culpa é minha — voltei a olhá-lo —, se
eu não tivesse pegado leve com ele... se não o tivesse protegido tanto, talvez
ele ainda estivesse comigo.
— Não é sua culpa... talvez minha, mas não sua.
Soltei uma risada curta e sem qualquer humor.
— É um pouco de tudo, Katsuo. Essa é a verdade dura e tão difícil de
engolir. Diego escolheu vir e se envolver com a ilegalidade, eu o deixei
chegar a esse ponto confiando que ele jamais ultrapassaria o limite, e você...
Bom, você foi o limite que ele ultrapassou, estava seguindo com as leis da
sua vida, a única que conheceu.
Era isso. Verbalizar doía e aquele gosto amargo na boca voltou, me
fazendo beber mais alguns goles de água.
— Dorme comigo hoje? — perguntou hesitante, segundos depois de
me ver finalizar o jantar. — Apenas dormir.
Franzi o cenho, então suspirei baixo e assenti.
As coisas seriam difíceis entre nós, porém, não mentiria sobre um
fato: já estávamos fundidos, acorrentados permanentemente.
O teto branco com alguns detalhes feito de gesso parecia mais
atraente a cada segundo, tendo meu foco total em cada pequeno formato, e
ao fundo, existia o barulho do vento forte movendo galhos.
Nunca quis tanto conhecer alguém profundamente, nem repassar a
minha história ou o quanto isso marcou a minha vida, era um drama ao qual
não queria reviver, tampouco precisava. Estava cercado dos homens mais
cruéis e leais que poderia encontrar pelo país, eu mesmo era assim, mas não
com ela.
Minha respiração calma chamou sua atenção e senti quando ela
moveu a cabeça de lado para poder me encarar. Foram minutos de silêncio
após nos deitarmos e não me atrevi a encostar um dedo em seu corpo, não
quando me sentia responsável por tudo aquilo, e eu realmente era.
Ainda assim, não conseguia abdicar da sua companhia, do seu cheiro
e voz.
Queria ser o tipo que faria a coisa certa mesmo que significasse ficar
sozinho para sempre, infelizmente, essa não era minha realidade.
Virei minha cabeça também, encontrando seus olhos mais claros, um
tom avelã que transparecia uma calma inexistente naquela mulher.
— Me conta sobre seu pai? — Sua voz baixa e delicada demonstrou o
quanto ela imaginava ser difícil para mim voltar até este ponto.
Justo, eu a fiz pensar sobre Diego e vi o esforço que foi para que ela
não desmoronasse novamente.
Umedeci os lábios e encarei o teto novamente, precisava manter meus
olhos abertos para não ser puxado pelas memórias indesejadas. Todos
tínhamos um ponto de corte profundo, aquela ferida que até se fechava,
porém, sua pele nunca mais seria a mesma naquele local, talvez mais fina e
clara ou com uma cicatriz suave que apenas você e aqueles que chegam
bem perto conseguem enxergar.
Minha família era essa cicatriz suave, só machucava quando lembrava
de sua existência, só vista por mim e quem acompanhou de perto toda a
merda. Remexer nessa história não apenas trazia imagens, também
reavivava sentimentos que eu não gostava de sentir.
Foi depois desse corte que me tornei o homem que sou hoje, e admitir
que preferia tê-los vivo comigo era o mesmo que negar quem sou.
Um pensamento controverso e fora do que seria aceitável por
qualquer pessoa comum, mas eu nunca fui alguém comum. Nasci e cresci
com o peso de uma organização nas minhas costas, aquele Katsuo jamais
daria conta, contudo, ele seria o ideal para estar ao lado de Fabíola.
— Um homem sério, focado em seus objetivos e muito justo em suas
decisões, ainda que carregasse para a vida um dos maiores lemas dos
Gokudos — falei, divagando comigo mesmo, lembrando-me um pouco
dele.
— Qual lema?
Voltei a encará-la.
— Não existe segundas chances. — Seus olhos tornaram-se inquietos,
sabia que sua mente viajava para tudo que já vivemos.
— Era para eu estar morta — sussurrou, voltando a focar-se em mim.
— Aquele soldado... Kiro. Era por isso que ele queria me matar?
Assenti.
— E porque ainda estou aqui, Katsuo? — perguntou baixo.
Girei meu corpo todo, ficando completamente de frente para ela.
Eu me perguntava isso todos os dias desde que ela fugiu com o
irlandês. Aquilo deveria ser motivo suficiente para que sua garganta fosse
rasgada, porém, não tive coragem, precisava dela comigo.
— Quando ele ainda era vivo, eu o desafiei a me matar — confessei,
o gosto amargo do arrependimento subindo por minha garganta. — Soltei
um de seus prisioneiros, igual você fez com o irlandês. Ele foi atrás de mim
e me jogou no chão quando chegamos em nossa casa, fiquei estático,
pensando que seria morto, principalmente quando percebi que ele carregava
sua espada na cintura, a lâmina brilhou diante dos meus olhos. — Fabíola
estava vidrada e ansiosa por cada revelação minha. — Então ele a guardou
e me disse: “a sua sorte, filho, é que não estou preparado para morrer ainda,
e tirar sua vida significaria isso para mim”.
Estiquei a mão e empurrei os cabelos que caíam sobre seu rosto para
trás de sua orelha, apreciei as pequenas maçãs de seu rosto, acompanhando
cada movimento dos meus dedos sobre sua pele.
— Acho que ainda não estou preparado, Pansã.
Seus orbes inundaram-se novamente, as lágrimas descendo
silenciosamente e encontrando-se com meus dedos em suas bochechas; me
aproximei mais, preocupado com a frequência que isso vinha acontecendo.
Apesar da fragilidade do luto, não conseguia imaginá-la tão melancólica e
chorosa.
— Você está bem?
Ela assentiu.
Não me convenci, porém, decidi não pressioná-la e permaneci da
forma que estava.
— E sua madrasta? — questionou, depois de se recuperar.
— Era uma mulher admirável e carinhosa, me criou como filho. —
Sorri, me recordando. — Ela fazia o possível para que eu tivesse uma vida
normal.
O que jamais aconteceria.
— Sente falta deles? Pensa em como seria se estivessem aqui? —
Voltei a me deitar de barriga para cima, afastando-me um pouco dela.
Eram perguntas complicadas de serem respondidas. Não diria que
odiava a minha vida, talvez nem fosse tão diferente assim, em algum
momento eu precisaria mudar meu comportamento e me tornar letal. Mas, a
forma como falou deixava claro que seus pensamentos a levavam para seu
irmão, e se ele estivesse vivo, nós jamais nos encontraríamos.
A minha feiura começava a vir à tona, tomando a frente e levando-me
ao egoísmo e a obsessão pífia que comecei a adquirir por ela. Nesses
momentos, eu a via como minha, nada além disso, uma mulher que me
pertencia de formas abrasadoras, sendo o suficiente para que nada que fosse
capaz de tirá-la da minha vida merecesse existir, nem mesmo seu irmão.
Pensamento cruel, mas que fazia parte de quem eu era, um dos meus
vários demônios mostrando a cara.
— Do que isso adiantaria? — Apertei os olhos e esfreguei o vinco
que se formou em minha testa. — Eles não irão voltar de qualquer forma,
então por que remoer isso e criar realidades que só me prendem ao passado?
— Não os amava? — questionou incrédula.
— Sim, mas apenas isso não é suficiente para trazê-los dos mortos.
Ela ficou calada por longos minutos, pensei ter encerrado a conversa
e até me senti grosseiro, pois era uma chance de nos conhecermos além do
sexo.
— Então é assim que você faz — murmurou. Virei para encontrá-la
perdida dentro de suas teorias. — Não pensar sobre eles é o jeito que você
encontrou de seguir em frente.
— Está enganada — rebati. — Eu penso neles a cada novo ciclo em
minha vida, penso em suas palavras e em cada lição que me ensinaram. Eu
só não me prendo a algo que nunca acontecerá. Eles morreram, eu não.
Seus lábios se comprimiram e suas mãos foram até seu ventre, uma
carícia leve que pareceu ser automática, acompanhei o movimento e quando
ela percebeu, tentou disfarçar, retirando as mãos rapidamente.
— Boa noite, Saki! — sussurrou, em seguida fechou os olhos, ali foi
nosso ponto final naquela conversa.
— Boa noite, Pansã.
Duas semanas em que dormia e acordava ao lado de Katsuo, e apenas
isso.
Meu corpo implorava por seu toque, meus lábios viviam sedentos por
seus beijos, porém, ele não cedeu a sua promessa estúpida e que, diga de
passagem, sem o meu consentimento. Ele sabia ser paciente e bem
controlado, pois seu pau roçava minha lombar duro como uma pedra e
mesmo assim, ele não voltava atrás.
Em algo ele tinha completa razão: eu escondia minhas tristezas mais
profundas e as camuflava com orgasmos, era mais fácil dessa forma. Sem o
sexo, eu acabava me afundando em pensamentos contraditórios e medos
que nunca quis que emergissem do fundo mais sombrio da minha mente,
aquela portinha trancada a sete chaves que eu evitava abrir a qualquer custo.
Para mim, ele era o assassino do meu irmão e ao mesmo tempo, o
homem que eu queria por perto, sentindo seus braços me acolherem e a sua
respiração contra a minha nuca.
Foi difícil aceitar essa constatação, entender que quem cresceu na
violência dificilmente sairia dela, não que fosse impossível, mas, por
alguma piada de mal gosto, a minha já estava traçada dessa forma, quase
como se tivesse sido forjada em dor e ferocidade, tendo como meu porto
seguro um desgraçado que nunca saberia como lidar com sentimentos
comuns, no entanto, conseguia suportar a minha brutalidade quando perdia
completamente o meu controle.
“— Acho que ainda não estou preparado, Pansã.”
Foi seu jeito de dizer que me ama? Ou que está apaixonado?
Talvez seja seu jeito de dizer que está obcecado e nada mais.
Mordi mais um pedaço da maçã, o encarando enquanto lavava a louça
do nosso almoço; minha fome aumentou consideravelmente e os enjoos
continuaram acontecendo quase todas as manhãs.
Katsuo me deu suporte em todas as vezes, também abdicou de ir ao
escritório em Tóquio para ficar comigo, ofertou trazer um médico,
suspeitando de alguma virose e eu recusei, sabendo bem qual era o meu
diagnóstico.
Ele limpou a pia e depois se virou, seus olhos escuros me escaneando
com cuidado. Apesar de ter conseguido aceitar a realidade brutal em que
minha vida havia rumado, não me sentia feliz com isso, refletindo em um
humor nada agradável. Entretanto, ele tirava de letra os meus ataques de
fúria, que geralmente começavam quando ele me negava o seu pau.
Alguém bateu na porta, chamando sua atenção e eu aproveitei para
me levantar.
— Entre!
— Chefe — Dorso disse, a voz baixa, assim como sua cabeça. Ele era
um caso à parte, ainda não conseguia encará-lo por muito tempo, apesar da
ordem ter vindo de Katsuo. — Desculpe, posso voltar outra hora.
— Pode ficar, lacaio, eu estou subindo — rebati ríspida.
— Fabíola! — Katsuo me repreendeu, mas continuei meus passos em
direção às escadas.
Todos temos nosso tempo para absorver e lidar com nossas feridas, eu
ainda vinha lambendo as minhas e tinha toda aquela situação que agravava
meus sentimentos, me fazendo parecer um pêndulo de emoções.
Subi cada degrau devagar, pequenas cólicas começavam a me irritar e
eu ainda não sabia como contar para ele nem qual seria sua reação. Todo o
carinho que ele vinha me ofertando permaneceria com uma notícia tão séria
assim?
Passei a mão pela minha barriga, a certeza de que faria tudo para
manter essa criança comigo, pois ela era minha antes de ser dele também, e
mesmo que me pedisse ou tentasse me obrigar, eu não seria capaz de tirá-la.
Cheguei ao quarto e fui direto para o banheiro, a vontade de fazer xixi
era outra coisa que vinha aumentando esporadicamente. Me sentei e assim
que terminei de mijar e peguei o papel para me limpar, olhei o fundo da
minha calcinha vendo uma leve mancha de sangue, o que me fez ficar
paralisada nos primeiros cinco segundos, depois corri em cada movimento
e, sem perceber, eu já descia as escadas agarrada ao corrimão e em passos
mais rápidos.
— Katsuo! — gritei, já estava nos últimos cincos degraus. — Katsuo!
Ele apareceu e estendeu a mão para mim, seu olhar preocupado
passando pelo meu corpo procurando por qualquer ferida.
— O que houve, Pansã?
— Me leva para um hospital, por favor — pedi.
Saki olhou para Dorso, depois me encarou sério.
— Vou chamar um aqui.
Engoli em seco, sabendo que ele jamais me deixaria ir embora e que
aquela medida estava sendo tomada com o medo que ele sentia de eu estar
armando uma forma de fugir.
— Não pode ser qualquer médico — murmurei, ainda receosa de
contar a verdade.
Eu não precisava mais de exames para ter certeza, no entanto, sabia
da importância deles, eu contaria de qualquer forma. Respirei fundo, dois
pares de olhos pareciam ansiosos por uma explicação.
— Preciso de um obstetra.
O silêncio que se estendeu após a minha confissão foi cortante,
principalmente com a forma que Katsuo ficou sério, tão taciturno que me
arrepiei inteira.
— Tem certeza disso, Fabíola? — Ele deu dois passos, seu corpo
ocupando meu espaço pessoal. Ergui o queixo, enfrentando-o.
— Sim. Preciso ter certeza de que está tudo bem, estou...
— Por que não me contou antes? — cortou-me. Soltei o ar com força
e cruzei os braços abaixo dos meus seios, precisando me sentir tão
intimidante quanto ele.
— Estou fazendo agora, não estou?
Suas sobrancelhas franziram e o olhar se tornou tão frio que dei um
passo atrás, temendo congelar. Seus ombros caíram e o maxilar ficou rígido,
assim como seus punhos se fecharam.
— Dorso, chame o melhor de Tóquio, avise que é urgente.
O soldado saiu já com o telefone em mãos, correndo para
providenciar o que seu chefe pediu.
— Pretendia esconder um filho de mim? — perguntou, sentia que
estava sendo investigada.
— Não por muito tempo — confessei. — Só estava criando coragem.
Ele abaixou o olhar para a minha barriga, depois voltou para os meus
olhos.
— Criando coragem ou esperando a barriga crescer?
— O que importa? Você saberia de qualquer forma, estou presa aqui.
— Abri os braços e girei no meu próprio eixo, depois deixei meus braços
soltos ao lado do meu corpo.
Sem dizer mais nada, ele saiu de perto de mim e subiu para o seu
quarto. Quer dizer, nosso quarto.
Esperei sentada no sofá da sala até Dorso retornar com o médico.
Assim que Katsuo desceu e o recepcionou, Dorso se retirou e eu fui levada
para o quarto em que fiquei quando cheguei aqui.
— Ele pediu para se deitar — Saki falou seco, traduzindo tudo que o
médico lhe dizia durante a pequena “consulta”.
Obedeci aos seus comandos, retirando minha roupa e vestindo um
roupão com abertura na frente, o equipamento era simples, mas suficiente
para verificar o motivo do sangramento, só fiquei calma quando ele me deu
a notícia de que não era nada com o que se preocupar.
— É comum que a cada dez mulheres, duas tenham sangramento nos
primeiros meses, ele vai coletar seu sangue para confirmar, se tivesse sido
algo mais grave, seria necessário levá-la ao hospital — suspirou cansado e
esfregou a testa. — Deveria ter me dito, está atrasada em tudo, precisa de
vitaminas, fazer exames e ultrassom. Bom, recebemos uma bronca do
doutor.
Sorri para o velhinho com cara de emburrado e me despedi sem graça.
Realmente, eu errei em não colocar a vida do meu bebê em primeiro lugar e
permitir que o orgulho e medo sobressaíssem a necessidade de
acompanhamento.
— Sinto muito — murmurei, o velhinho já havia recolhido suas
coisas e se retirado do quarto, me deixando sozinha com Katsuo enquanto
eu vestia minhas roupas.
— Quando te encontrei na casa daquela mulher, você já sabia? —
Mordisquei o lábio e não respondi a sua pergunta, era algo de que me
envergonhava. As íris de Katsuo se expandiram e não foi por um bom
motivo. — Sabia que carregava um filho nosso e mesmo assim pediu para
morrer? — Aumentou o tom de voz, uma nota de incredulidade
atravessando cada palavra.
— Eu... — Abaixei o olhar, engolindo a lembrança daquele cano frio
contra a minha testa e meus dedos o mantendo ali.
Espalmei minhas mãos sobre a minha barriga, olhando-a com certa
culpa e pedindo desculpa àquela criança por ter desejado a nossa morte,
mesmo que por um ínfimo momento.
— Não somos boas pessoas. — Ergui meus olhos até encontrar
turmalinas negras [3] me mirando. Ele concordava comigo, podia ver isso.
— Pensei que seria melhor se... se...
— Ele nem existisse — sussurrou.
Assenti, meus olhos começaram a marejar, porque naquele momento
doía pensar em um mundo sem esse bebê, machucava-me profundamente
saber que cheguei a cogitar ser tão egoísta a ponto de levá-lo comigo para o
túmulo.
A lascívia foi capaz de fazer com que tudo sumisse de nossas visões,
as noites em meio ao sexo regadas de perversidade e aquela obsessão carnal
que sentíamos um pelo outro, porque sim, ela também demonstrava toda a
fome que existia em mim. Tudo isso sempre fez parte da minha vida, mas
nunca dessa maneira, mesmo que eu tentasse me convencer do contrário,
estaria mentindo. Fabíola enraizou-se em mim como se tivesse feito um
rasgo fino e adentrado sob minha pele, rastejando até encontrar o caminho
do meu coração e mente.
Em algum momento, entre gemidos e arranhões, nós nos perdemos.
Não existia outro motivo para justificar o porquê de eu não conseguir
simplesmente puni-la da maneira que deveria. Não existiam segundas
chances, e mesmo assim, ela me traía pela segunda vez e eu simplesmente
não me atrevia a feri-la.
Minha respiração estava pesada e minhas mãos foram até meus
cabelos, a intenção era penteá-los para trás, mas acabei mantendo-as ali,
enfiadas em minha raiz. O chão da minha casa parecia girar com a
quantidade de coisas que circulavam por minha cabeça. Fabíola omitiu um
filho de mim e ela já sabia disso quando decidiu se esconder.
A decisão que o Katsuo de cinco meses atrás teria tomado era esperar
a criança nascer e matá-la logo em seguida, ficando com meu herdeiro e o
deixando ser criado por uma desconhecida qualquer, que viria a ser minha
dama, nada além disso.
Porra.
Se eu não a tivesse encontrado, provavelmente nunca saberia dessa
gravidez. Nunca.
Tentava lembrar em que momento aconteceu...
Quando a deixei ter tanto poder sobre mim?
Voltei a encará-la, mas Fabíola parecia presa em sua própria miséria,
as mãos sobre a barriga e os olhos inchados do choro, ainda que ela
recusasse fazer qualquer barulho, seu olhar focado sobre a barriga que ainda
não demonstrava carregar meu filho.
“— Não somos boas pessoas.”
E não éramos mesmo. Ela com suas explosões de raiva e atitudes
inconsequentes, eu, com todo o sangue que já derramei pairando sobre
minha alma suja, contudo, eu jamais abriria mão de um filho, jamais abriria
mão dela.
Fabíola não pensava da mesma forma, e isso mexia com algo bem
sombrio dentro de mim.
— O médico voltará amanhã com o resultado do exame de sangue e a
partir daí, você será monitorada por ele durante toda a gravidez — falei,
tentando manter meu foco na situação atual e não perder o controle.
— Tudo bem... — Ela mesmo se interrompeu, virando o rosto. — Eu
vou descansar um pouco.
A vi subir devagar cada degrau, o corpo levemente curvado e toda a
ousadia que chegou a me mostrar horas antes, havia desaparecido. Deixei
que fosse e saí da casa, precisando dispersar meus demônios e aliviar todo o
combustível de ódio que começava a crescer em mim.
Encontrei Dorso esperando do lado de fora com o olhar questionador.
— Preciso lutar, quem está disponível?
— Kiro e eu.
Sorri lentamente, apreciando mais a possibilidade de socar a cara do
soldado que quase matou a minha mulher e filho.
— Chame-o, vamos ter um momento nosso. — Pisquei para Dorso e
segui até o alojamento em que eles ficavam, um pouco mais fundo na parte
florestal do terreno.

Sua boca escorria com o sangue e seu corpo cambaleava um pouco,


demonstrando que o último golpe foi mais forte do que ele esperava.
Confesso que também apanhei, Kiro era muito bom e por isso foi escalado
para ir aniquilar os malditos irlandeses.
— Me pergunto se é um treinamento ou algum acerto de contas,
Oyabun. — Ele limpou a boca com as costas da mão e voltou a se
posicionar.
Lambi os lábios, começando a rondá-lo novamente.
— Um pouco dos dois.
— Creio que está sendo injusto comigo — rebateu e avançou, desviei
e o soquei nas costas, vendo seu corpo cair de bruços no tatame. O montei
enfiando a mão direita em seus cabelos, puxando sua cabeça para trás.
— Você quase passou por cima de uma ordem minha, ameaçou a
minha... — Engoli as palavras a tempo, soltei sua cabeça e me levantei,
dando trégua para que ele também se erguesse e me fitasse preocupado. —
Nunca mais me desobedeça, Kiro. Você é um soldado importante para todos
nós, eu entendo sua preocupação — pontuei. — Mas a minha vida
particular é um terreno inacessível para vocês, entendeu?
Ele concordou enquanto se ajeitava.
— Eu realmente precisava dessa luta. Obrigado, Kyodai. — Juntei as
mãos e me curvei levemente, cumprimentando-o com respeito, da forma
como sempre fui ensinado.
Kiro era mais velho do que eu, cuidava dos meus interesses desde que
perdi meus pais, esteve em cada novo ciclo da minha vida, viu o inferno
que esse país se tornou quando cacei os culpados pela morte da minha
família. Chamá-lo de irmão, respeitando sua idade superior à minha, era
uma honra para ele.
— Peço que fale comigo, jamais tome a decisão sobre algo particular
sem a minha autorização. — Toquei seu ombro e vi o brilho em seus olhos,
a lealdade tinha um gosto agridoce e precisava ser conquistada, eu tive a de
Kiro quando chorei em seus braços depois de arrancar o coração do meu
inimigo do peito e jogá-lo longe.
Dorso também estava lá, mas foi Kiro quem me colocou de pé e me
fez retomar o controle, e eu sempre seria grato, ainda que não
concordássemos com algumas coisas.
— Nunca mais, Oyabun, eu prometo.
Voltava para casa com a companhia de Dorso ao meu lado, passos
hesitantes pensando em como lidaria com aquela... aquela... Fechei os
punhos, não existia uma palavra correta para definir, Fabíola era uma
incógnita para mim.
— Se ela quiser, pode me ferir ou me matar. — Encarei meu soldado
e pausei os passos, atordoado com sua fala, ele apenas abaixou a cabeça. —
Para perdoar você, chefe, e se sentir vingada por causa do irmão...
— Não diga idiotices — rosnei. — Ela jamais o mataria.
— A coisinha tem força e raiva. Por que não faria? — Voltou a me
fitar.
O desespero aparente em suas pupilas me fazia questionar que tipo de
droga existia naquela boquinha respondona, afinal, uma chupada e o
homem se oferecia para morrer em suas mãos?
Se bem que fiz o mesmo na outra noite...
Sacudi a cabeça, afastando a vontade de socar a cara dele por me
fazer lembrar que já experimentou o quanto aqueles lábios poderiam ser
pecaminosos. Segurei seu ombro e respirei com certa força, equilibrando
minhas vontades.
— Primeiro: nunca mais a chame assim, não na minha frente. — Ele
assentiu. — Segundo: ela gosta de você, está magoada, triste pela situação,
mas não seria capaz de te matar.
— Eu não quero vê-la daquele jeito — afirmou, havia tanto carinho
que fiquei com uma dúvida pertinente.
— Está apaixonado por ela, Hidetaka? — Ao dizer seu nome e não o
apelido, fiz com que ele temesse por suas próximas palavras.
— Não... não... eu... gosto da mulher, só isso. Acho que se existe
alguém que saberia lidar com você e capaz de fazê-lo bem, é ela. Mesmo
sendo tão brava às vezes.
Ri curto, lembrando do quanto ele apanhou quando a pegamos na
Itália, porém, aos poucos esse riso foi acabando.
“— Não somos boas pessoas.”
— Talvez eu devesse deixá-la ir, como você disse. — O ar se tornou
um opressor em meus pulmões, a pequena possibilidade de aceitar isso me
machucando como se tivesse levado um soco de Kiro diretamente em
minhas costelas. — Infelizmente, não existe possibilidade de permitir isso.
— Ela carrega um filho seu no ventre, é três vezes mais arriscado
soltá-la no mundo, Fabíola está a salvo aqui.
Concordei, então resolvi colocar para fora algo que me incomodava
mais do que o aceitável.
— Acha que ela seria capaz de... — As palavras travaram em minha
língua, pesadas demais para serem ditas —De fazer como minha mãe?
Dorso segurou meu rosto, me obrigando a focar em seus olhos.
— Não. Não acho. Pelo contrário, aquela mulher seria capaz de matar
qualquer um que pensasse em tirá-la de seu filho, e até arrisco dizer que
isso se estenderá a você, caso ela deixe o orgulho um pouco de lado.
Ele soltou meu rosto e sorriu. Hidetaka não era muito de demonstrar
essas coisas ou talvez eu que nunca me preocupei em enxergar esse lado
dele. Mais uma mudança que Fabíola havia conseguido fazer, mesmo que
sem querer e de forma indireta: enxergar aqueles que estavam ao meu redor
como amigos ou irmãos, e não apenas soldados programados para me
dizerem “sim, chefe”.
— Dê um tempo para ela, Dorso, tenho certeza de que vocês se
acertarão.
— Digo o mesmo a você, Saki. Não a puna por ter omitido uma
gravidez, tratá-la com indiferença só a fará se sentir deslocada e culpada por
tudo.
Continuamos seguindo para a casa.
Fabíola não repetiria a estupidez de pedir pela morte, eu não deixaria.
Ela não era a minha mãe, não largaria um filho no mundo por medo do que
ele se transformaria.
O médico exigiu uma visita ao consultório e isso foi arranjado
imediatamente pelo Katsuo. Desde que teve o resultado confirmando minha
gravidez, ele se colocou todo a minha disposição, quer dizer... menos o
sexo.
Algo sobre isso o deixava receoso, percebia o desejo fervilhando
entre nós, ainda que tenha ficado um pouco distante no primeiro dia em que
contei sobre nosso bebê, contudo, eu o entendia, também estava confusa,
preocupada e com certa mágoa de mim mesma por ter pensado em morrer
com meu filho no ventre.
Existia também aquela nuvem pairando sobre nossas cabeças, uma
que ainda me impedia de olhar Dorso nos olhos, embora admitisse sentir
falta de conversar com ele e me fazia sentir culpa pelos sentimentos que
carregava no peito com relação a Katsuo; o sangue de Diego que eles
derramaram.
Acariciei minha barriga, segundos depois de sair da consulta. Nosso
filho estava na sétima semana e por isso pudemos ouvir seu coraçãozinho
batendo. Nunca me esquecerei desse momento e nem dos olhos de Katsuo
focados na tela, enquanto os braços se contraíam mesmo que ele se
recusasse a descruzá-los da frente de seu peito.
Ainda era difícil determinar como ele enxergava essa criança, se a
trataria com carinho ou indiferença e isso me apavorava. Suas reações eram
econômicas, e mesmo que eu sentisse que existia um carinho e visse seus
olhos brilharem conforme o som ecoava na pequena sala médica, tinha
medo. Temia estar vendo apenas o que eu queria e nada mais.
Esperava enquanto ele tratava dos detalhes, mas não estava sozinha,
Dorso e Kiro vigiavam-me de longe. Nossa relação não tinha completa
confiança, um grande problema para uma mulher grávida de um mafioso
japonês.
Pensando sobre isso, cheguei à conclusão de que somos dois
inconsequentes gerando um filho em meio ao crime; um arrepio perpassou
meu corpo, pensando em um futuro nublado onde a cada vez que meu filho
ou filha sair na rua, poderá ser alvo de inimigos ou em como será treinado.
Poderá viajar? Essa criança terá o mínimo de liberdade em sua vida ou
estará sempre em uma grande jaula, assim como eu?
Perdi o ar, minhas costelas começaram a doer e, por algum motivo, eu
não consegui voltar à normalidade. Apoiei minhas palmas sobre meus
joelhos, levemente curvada.
Não poderia ser por causa da gravidez, ainda era muito cedo para
faltas de ar e dores similares a contrações.
— Fabíola? — A voz de Dorso estava mais próxima, ergui os olhos e
encontrei ele e Kiro parados a centímetros de mim. — O que houve?
— Eu... — Lambi os lábios, o ar ainda... por que não voltava? Tremi.
O soldado que tanto odiei nas últimas semanas não esperou para ouvir
o restante, apenas me pegou em seu colo como se eu fosse uma boneca de
pano, e meu corpo reagiu exatamente assim, não consegui revidar, me
mover.
— Abra essa porta, agora — ordenou a Kiro.
Meus olhos embaçaram, meu peito estava disparado e tudo ao redor
começava a girar.
Que droga estava acontecendo comigo?
Apesar de tudo, não desmaiei, mas o ar era muito difícil de vir. Fui
colocada deitada sobre a mesma cama que antes fui examinada, senti mãos
fortes e quentes acariciando meu rosto, porém, as vozes estavam longe.
Virei meu rosto, procurando, tentando entender o que estava acontecendo.
Puxei o ar, doeu para conseguir respirar.
Apertei os lençóis da cama e tentei falar... nada saiu.
Meu corpo tremia e suava como nunca.
Meus olhos desfocados e a garganta seca.
Eu estou morrendo?
Apertei os olhos e me tornei consciente das lágrimas que não percebi
estar derrubando.
Pensei em Diego, Dorso e Katsuo, aquela dor no peito de novo, então
aprofundei minha dor criando imagens de uma criança infeliz, sendo levada
de mim para viver em um inferno, matando, torturando ou sendo entregue
para algum casamento de negócios.
— Respire, senhorita Vasconcelos. — Meus olhos foram
desanuviando, mostrando-me o rosto de Kiro. Desviei para as mãos em
minhas bochechas, encontrando Katsuo desesperado, o olhar pequeno e
inquieto. — Respire devagar.
Assenti.
Ainda encarando Saki, comecei a obedecer aos comandos de Kiro.
— Isso, senhorita, puxe devagar e solte pela boca. Isso, assim mesmo.
O calor do toque do homem que um dia prometi não perdoar nunca
começou a se espalhar por todo meu corpo, agora eu tinha consciência. Vi
quando ele olhou para o médico e falou algo em seu idioma.
— O que aconteceu? — Minha voz saiu chorosa, meu corpo ainda
parecia se recuperar.
— Você já procurou alguma ajuda psicológica antes, Pansã? —
Voltou a me fitar, preocupação estampada em suas turmalinas negras.
Meu coração começava a voltar em seus batimentos calmos, a
tremedeira diminuindo e meus olhos focados; me sentei e procurei por
todos que permaneciam ao meu redor.
— Não, nunca procurei — disse, receosa.
— Então, talvez seja culpa minha.
— O quê? — Procurei pelo médico que continuava calado no canto
da sala. — Me diz, o que aconteceu?
— Você teve uma crise de ansiedade — murmurou.
Fiquei alguns minutos em silêncio, presa na percepção de meus
medos se tornarem em algo externo, refletindo toda a minha preocupação e
agonia.
Não era culpa dele, não apenas. Eu também tinha parte nisso, o futuro
me assombrava porque eu não conseguia me imaginar longe de Katsuo.
— Vamos para casa, Fabíola, precisamos conversar.
Concordei, me arrastei na cama até a beirada, ainda um pouco zonza,
ele me ajudou e seguimos para o carro, tendo Kiro à frente e Dorso vindo
atrás de nós.
O hospital era pequeno e reservado, não muito longe de onde
estávamos, porém, mais perto de Tóquio. Passei por alguns funcionários
que pareciam conhecer quem era Katsuo Toyasaki e mediante a isso, sequer
olhavam em nossa direção, ainda que tivesse um plano de fuga, seria
incrivelmente ignorada por todos daquele ambiente.
Eis minha indignação comigo mesma: eu não queria.
Agarrei a mão daquele japonês teimoso e nada convencional,
passando por cima das minhas próprias convicções e das dele também,
pensei que pudesse me rejeitar, visto que é temido e acredito que goste
dessa imagem, mas ele não apenas aceitou, como a apertou em uma forma
de me fazer pensar que estivesse me reconfortando.
Neste momento, percebi algo importante: eu já o havia perdoado pelo
passado, no entanto, temia pelo nosso futuro e o quanto a máfia poderia
sujar tudo que sentia naquele momento.
Diego jamais seria esquecido e sua morte ainda apertava meu peito e
me fazia sentir desonrosa, contudo, ele não entrou nesse mundo alheio às
consequências de seus atos, por isso pediu por minha proteção, não seria
justo que eu pagasse por um erro que ele cometeu consciente. Quanto a
Katsuo, eu não conseguia mais culpá-lo completamente, era o seu mundo, a
forma como foi criado e cresceu, antes mesmo de saber mais sobre seus
próprios sentimentos, vivendo em uma família mais conservadora quanto a
demonstrar afeto.
Não estou aqui para reparar seu passado, nem mesmo nosso filho
seria capaz disso, também não me vejo vivendo eternamente em uma
agonia de estar apaixonada pelo mafioso que segurava minha mão com
tanto carinho quanto me olhava, ainda que resistisse em falar algo
diretamente, sem as analogias as quais aprendeu.
Meu maior problema era pensar em um filho vivenciando o lado sujo
dessa relação, de me sentir culpada por essa criança nascer sem escolhas e
trilhar os mesmos caminhos que seu pai.
Apertei mais minha mão dentro da sua, chamando sua atenção.
Ele me queria por inteira, disso eu tinha certeza, rejeitar o sexo foi
apenas uma forma de me dizer isso.
“Primeiro me aceite sem o tesão envolvido e o prazer como
consequência, depois voltaremos do ponto inicial, o sexo que tanto amamos
ter um com o outro.”
Ele me disse em uma noite que quase implorei pelo seu toque.
Eu não entendia onde havia começado, em que momento passei a
enxergá-lo como algo além do prazer, porém, aconteceu e eu precisava
enfrentar isso. Não seria fácil, porque nunca passou pela minha cabeça
ceder paixão a um criminoso, tampouco a alguém que me feriu de formas
inimagináveis. Parece fácil nos livros, mas, porra... doí todos os dias, a cada
maldito segundo que minha alma pede por ele e minha mente me culpa por
isso.
Contudo, eu sabia que amenizaria, não deixaria de existir, mas
diminuiria e, aos poucos, se tornaria uma cicatriz fina e pequena, que me
faria pensar sobre de tempos em tempos, vendo de onde surgiu até onde
estava.
Aquele bebê me merecia por completo, entregue aos seus sorrisos e
choros, presente em sua vida de forma plena. Meu filho ou filha não tinha
culpa das decisões de seu tio falecido, nem da sua mãe teimosa ou seu pai
inconsequente.
Ainda assim... pensar em seu futuro me trazia aquele calafrio
indesejado.
O caminho foi feito em silêncio, durante o trajeto parei para pensar
sobre Dorso também. Ele era o executor, por isso efetuou o disparo e se
calou quando teve a oportunidade de me dizer a verdade, culpá-lo enquanto
perdoava Katsuo era injusto, seria hipócrita da minha parte. Na verdade,
joguei em suas costas a raiva que eu tinha de mim mesma por ter cedido aos
toques e beijos de Saki, ainda que já soubesse de seu envolvimento no
assassinato do meu irmão.
Nunca seria fácil me manter sã envolta de tantas coisas as quais
discordava, mas eu faria isso.
Por mim, pelo meu bebê e por Katsuo.
— Acho que é melhor eu ficar no escritório de Tóquio...
— Não! — rebati. — Quero você comigo.
— Fabíola, eu causei isso em você — disse baixo, os olhos inquietos,
sem conseguir me encarar. — O médico disse que pode te causar uma
depressão pós-parto e até mesmo afetar o desenvolvimento do nosso filho,
não é frescura. — Concordei sobre a última parte.
As pessoas costumam atribuir as crises de ansiedade há uma
disfunção hormonal do período gestacional, o que também pode ocorrer
durante a gestação, mas era preciso ter cuidado e eu tinha consciência disso.
— Podemos resolver isso — comecei a falar, andando de um lado a
outro. — A gente muda a alimentação, eu me disponho a ter um
acompanhamento psicológico e eu... — Ergui meus olhos, buscando pelos
escuros mais hipnotizantes que já pude conhecer. — Eu preciso de você
comigo, Saki.
— Precisa? Tem certeza disso? Porque eu sinto que sou culpado por
tudo isso, Pansã. — Suas mãos se fecharam em punhos. — Nunca lidei com
problemas tão... tão pessoais. Nunca. Você me rejeitou todas as vezes que
teve chance, e eu entendo seus motivos, mas... talvez seja melhor eu não
estar aqui, não quero machucar nosso filho também.
— Katsuo, por favor...
— E se for momentâneo esse seu desejo de me ter por perto ou quem
sabe o tesão falando por você? — Inclinou a cabeça levemente. — O doutor
me disse sobre as possíveis alterações de humor e libido — murmurou.
— Por favor! — pedi.
— Não consigo acreditar que mudou de ideia tão rápido, será o
melhor para nós três.
— Então se esforce para isso — grunhi, irritada com seus planos
descabidos, justo no momento que mais precisava dele. — Fique e me faça
sentir que posso confiar em você e que realmente quer esse filho. Fique e
me deixe tranquila quanto ao nosso futuro e em como vai tratar essa
criança. Fique, Katsuo, e me deixe ver se há algo de bom aí dentro para ser
compartilhado com a gente. — Bati meu indicador em direção ao seu peito
esquerdo, meu queixo erguido e olhos focados nas turmalinas negras que
me desafiavam.
Ele piscou algumas vezes e sorriu de canto, em seguida, me puxou
para os seus braços, reconfortando-me da maneira que mais vinha ansiando
e me acostumando a ter. Enfiei meu rosto contra seu peito, inalando o
cheiro gostoso e apimentado tão característico dele.
— Não ouse me deixar agora, teve suas chances e me trouxe de volta
em cada uma delas, agora vai ter que ficar, Saki. Você está me ouvindo?
Ele deixou um beijo no topo da minha cabeça e fechei os olhos,
sentindo-me mais tranquila. Meu coração voltando a se acalmar.
— Tudo bem, Pansã, eu juro que não irei te deixar.
Poderia ser a gravidez, mas eu precisava dele ao meu lado, pela
primeira vez na minha vida eu quis ser protegida por alguém, quis me sentir
acolhida e mais importante do que qualquer outra coisa.
Não me arrependia de doar parte de mim para aqueles que amei, mas
doía saber que não recebia nada de volta. Faltavam-me palavras para
descrever as sensações esquisitas e diferentes que começavam a surgir,
talvez fosse a água no final do poço começando a bater em minhas pernas,
me indicando o quanto eu estava fundo, quase para me afogar nessa loucura
que minha vida havia se tornado. Minha mente iniciava uma releitura de
tudo que vivi, fazendo-me enxergar o quanto deixei de mim, que talvez
tenha sido muito e agora não havia me sobrado o suficiente para ser forte,
justamente quando mais precisava.
Katsuo se tornou uma corda de salvação que poderia me fazer subir e
sair daquela profundidade ou ser cortada e me deixar cair de vez, sendo
submersa pela água podre.
O apertei mais.
A vida não poderia ser tão injusta comigo, com a gente. Perdemos
tudo que tínhamos, entrelaçamos nossos destinos de forma cruel e violenta,
colidimos na realidade um do outro e seria disso que nosso filho nasceria.
— Fabíola, olhe para mim — pediu. Ergui meus olhos, mas não
conseguia me concentrar em seu rosto, ele percebeu, seus dedos vieram até
minhas bochechas, travando-me em seu olhar. — Você não quer esse filho?
Semicerrei os olhos, minhas mãos indo acima das suas.
— Eu quero, claro que quero.
— Então o que está acontecendo? — Soltou o ar devagar. — Eu sou
incapaz de fazer qualquer coisa para ferir você e essa criança, ainda não
conseguiu enxergar isso? É o que teme, que eu machuque vocês?
Inclinou levemente a cabeça, caçando a verdade do fundo das minhas
íris.
— Não, eu... eu entendi isso, Katsuo. — Hesitei, mas não porque
tinha dúvidas, não mais. Apenas não consegui formular um jeito de dizer
todos os meus anseios, na verdade, temia pelas suas respostas. — Só não
consigo lidar com tudo que envolve...
— Os Gokudos — cortou-me, ríspido.
— Pois é. —Abaixei a cabeça. — Não quero nosso filho lidando com
isso.
— Será uma decisão dele — revelou.
— Como assim? Ele terá escolha? — Katsuo soltou meu rosto e deu
um passo atrás, cruzando os braços à frente do peito.
— Quando disse que estava viajando para aprender algumas coisas
sobre os negócios, eu menti. — Revirei os olhos, cansada dessas omissões e
joguinhos. — Escute, depois pode me xingar — pontuou, antes que eu
abrisse a boca. Assenti e esperei. — Eu estava nos Estados Unidos cursando
políticas públicas na universidade de Chicago. É, eu sei, muito para
assimilar vindo de um mafioso cruel. Acontece que, para fazer parte dos
Gokudos, é preciso querer isso, quem nasce no meio, geralmente cede ao
tradicionalismo e se mantém conosco, mas sempre existe a possibilidade de
seguir sua vida longe. Contamos com lealdade e disciplina, Pansã, se a
pessoa é obrigada a viver com a gente, ela tem mais chances de nos odiar e
causar problemas do que ser um acréscimo. Eu deixei a vingança dominar
minhas decisões quando voltei para casa e encontrei... você sabe. Nosso
filho terá a chance de escolher e não irei interferir sobre isso.
— Mas e quanto ao perigo? — Lembrei do pedido do meu irmão e o
principal motivo de eu estar aqui. — Ele vai poder viajar sem riscos de ser
alvo de algum inimigo dos Gokudos?
— Sempre haverá riscos, isso é parte de estar vivo, Hachimimitsu,
mas nosso filho terá proteção e poucas pessoas seriam ousadas o suficiente
para enfrentar a fúria de um Gokudo, fora que, no momento que ele decidir
seguir outro caminho, estará fora dos nossos negócios e não será de grande
ajuda para informações, eles teriam um rival potente a troco de nada.
Aquela pressão no peito foi amenizando e um toque de alívio
tomando conta de todo o meu corpo.
Então ele teria escolhas.
— E quanto a você, Pansã — aproximou-se novamente, suas mãos
espalmadas nos lados do meu rosto e sua testa encostada contra a minha —,
terá a vida que merece, fará as viagens que planejava e ao final do dia,
ainda estará ao meu lado, porque é a única concessão que eu jamais estarei
disposto a fazer. Entendeu bem?
Acenei sutilmente com a cabeça e sem conseguir me controlar, e eu
culpo, mais uma vez a gravidez, me estiquei até ter meus lábios selados
com os seus. Sua fala deveria me apavorar e de fato o fazia, mas também
me trazia paz, uma que nunca experimentei antes, a de alguém me querer
para sempre em sua vida.
O beijo foi se transformando, carregado da saudade que ambos
sentíamos um do outro, ainda que dormíssemos juntos todas as noites.
Vivenciamos a pior distância existente entre um casal, aquela que criamos
em nossas mentes mesmo com nossos corpos tão perto.
Enlacei seu pescoço e ele me envolveu pela cintura, colando-nos e
intensificando nossa conexão, mas ele resolveu parar, afastando-se ofegante
e com as pupilas dilatadas, fora a marcação do seu pau ficando duro sob a
cueca e calça.
— Saki — choraminguei.
— É melhor descansar hoje, Fabíola. — Olhou para a minha barriga e
depois retornou até meu rosto. — Eu preciso verificar algumas coisas e já
vou fazer o nosso jantar.
Saiu rápido, sem me dar chance de retrucar. Cruzei os braços abaixo
dos meus seios e fiz um bico enorme, irritada com o tesão acumulado que
ele se recusava a dar um jeito.
Deus, quando me tornei tão pervertida?
Acariciei minha barriga e me vi rindo sozinha. Então era verdade que
algumas grávidas sentiam mais tesão do que de costume.
A porta foi aberta naquele instante e encontrei Dorso parado, sua
cabeça abaixou quando percebeu meu olhar e suas mãos foram para atrás de
seu corpo, assim como seu tronco ficou levemente curvado, uma posição de
submissão e até mesmo vergonha. Enruguei os lábios, desagradada com
essa situação de merda.
Eu gostava daquele filho da puta, mesmo agora, sabendo da sua
participação nas omissões de Katsuo e... Droga, ainda era difícil pensar
sobre isso.
Perdoá-lo diria o que sobre mim?
— O chefe pediu para que eu fique a sua disposição até ele voltar
para o jantar.
— Tudo bem — murmurei. — Pode se sentar no sofá se quiser, não
irei me incomodar.
— Estou bem aqui, senhorita Vasconcelos.
Chega. Foi meu limite.
— Você sabe meu primeiro nome, não precisa de tanta formalidade,
não quando já chupei seu pau, Dorso.
Ele ergueu a cabeça, chocado, os olhos arregalados, logo escaneou o
ambiente, preocupado que seu chefe pudesse ouvir, como se ele também
não estivesse lá.
— Não posso dizer que já te perdoei, mas também não consigo ficar
vivendo dessa forma — suspirei. — Katsuo, meu filho e você são tudo que
tenho agora — confessei.
Existia um mundo inteiro fora da bolha em que vivi por anos, um que
não era tão aceito, tampouco visto de forma positiva e que se tornou meu
mundo da forma mais irresponsável e incorreta, contudo, neste mundo, eu
consegui algo que em qualquer outro não pude ter acesso, perdi muito no
processo e ainda tinha o risco de perder mais, se a vida resolvesse aprontar
comigo outra vez.
Sorri mais largo ao ver o pontinho pequeno que o doutor mostrava na
tela, e assim que ele circulou uma parte específica, eu soube do que se
tratava e que carregava um menino em meu ventre. E expressão do médico
era tranquila, diria até que animada, enquanto ele falava em japonês com
Katsuo.
Limpei o gel utilizado para fazer o ultrassom e esperei pelo desfecho
daquela conversa ser traduzido para mim.
Saki tinha um brilho lindo e caloroso em suas turmalinas negras, me
deixando ver o quanto estava animado, me dando a segurança que tanto
temi nas primeiras semanas de gravidez.
Somente agora, entrando na décima quarta semana, que conseguimos
identificar o sexo; ele me ajudou a levantar e me abraçou de lado, algo que
dificilmente fazia. Eu não o condenava por ser mais reservado em alguns
aspectos de carinho, sabia que existia um peso sobre suas costas quanto a
liderança dos Gokudos, o que ele vinha fazendo com menos frequência para
me dar o suporte necessário, e também existia a diferença cultural,
japoneses não costumavam ostentar nas demonstrações de carinho fora de
suas casas.
Aprendi a lidar com isso e a ler através de suas íris, identificando
quando aquele homem estava irritado, alegre, excitado ou triste com algo. A
convivência me proporcionou enxergá-lo de uma forma diferente, até
mesmo mais humana, eu diria.
Saki tentava suprir a minha necessidade de interação mantendo-se ao
meu lado, cozinhando para mim e me ouvindo falar sobre como era a minha
vida antes, algo que vinha o interessando com frequência. Sempre me
perguntava coisas como: “o que gostava de fazer na sua empresa? Quais
produtos vendia? Você iria fazer graduação?” Entre outras coisas sobre a
vida que deixei no Brasil.
Em uma dessas vezes, ele me perguntou se eu sentia falta de alguma
colega de trabalho, isso me fez perceber que eu mal socializava com as
meninas. Todas as vezes que me chamavam para sair, eu negava, e sempre
por causa de coisas como: tenho que ver se meu irmão voltou, preciso fazer
o jantar para Diego ou porque estava cansada demais para sorrir e acenar.
Eu não vivia, apenas existia para cumprir tarefas do meu checklist
diário.
Mais uma máscara caindo e a noção de que estava me sentindo mais
adorada e viva entre um bando de mafiosos, pois Dorso voltou a ser uma
constante também.
Ele pedia para ver minha barriga, contava histórias de quando
aprontava com Kiro, que descobri ser o mais velho dos três, sempre me
mantendo dentro de uma parte da realidade deles que poucos tinham
conhecimento.
Durante as noites, eu era mimada pelo mafioso e líder dos Gokudos,
algo que sempre me dava vontade de sorrir largo. O homem mais temido de
todo o Japão, talvez do mundo, massageava dos meus pés até as minhas
costas usando óleos deliciosos e suaves, com a promessa de relaxar o nosso
filho e a mim.
— O que o médico disse? — perguntei, assim que nos ajeitamos no
banco de trás do carro.
— Que é um menino grande e saudável. — Um sorriso malicioso
despontou em seus lábios. — Também me garantiu que você está fora de
qualquer risco, seus exames estão perfeitos apenas mantendo as vitaminas e
alimentação balanceada.
Estreitei o olhar, vendo que ele escondia alguma informação de mim,
mas sentia que descobriria depois. Dei de ombros e me ajeitei mais perto de
seu corpo, sendo recebida com carinho.
— Estou enjoada de comer tantos legumes — resmunguei. Katsuo
riu, me fazendo sorrir espontaneamente. Sua mão veio até a lateral do meu
pescoço, acariciando o local, uma mania que ele adquiriu durante nossas
noites juntos ou sempre que me encostava contra seu corpo.
— No que está pensando?
— Manju![4] — falei rápido, conseguindo mais uma risada deliciosa.
— Vou preparar para você, ok? — assenti, satisfeita.
— Adoro que você cozinhe bem e seu filho também. — Peguei sua
mão a colocando sobre a minha barriga, ele estava se mexendo e seu pai
travou ao senti-lo. Levantei os olhos procurando pela emoção que brilharia
neles, encontrei choque com um pouco de felicidade e quem sabe... amor.
— É estranho — sussurrou, ainda perdido.
— Também acho. — Ri e voltei a encarar a mão grande e quente
sobre minha barriga, as tatuagens em seus dedos me fazendo lembrar o
quanto ele gostava disso. — Pensa em fazer mais alguma? — Passei os
dedos sobre elas.
— Pelo menos mais duas — respondeu sério. — Para mim, as
tatuagens são provas do meu comprometimento, são eternas.
Fiquei em silêncio, ouvindo o motor do carro em funcionamento.

Gemi enquanto fechava os olhos. Aquele deveria ser o melhor Manju


que comi desde que experimentei o primeiro, na lanchonete do hospital.
— Vejo que gostou. — Concordei, ainda apertando os olhos, e
quando os abri, encontrei um Katsuo fascinado em meus lábios, aquele
olhar predador, cheio de más intenções, e porra, fazia tempo que ele não me
presenteava com ele.
Cada pelo do meu corpo se arrepiou. Engoli devagar o pedaço que
ainda mastigava na boca, ele puxou o banquinho de madeira e se sentou à
minha frente, os cotovelos apoiados sobre o balcão.
— Se alimente bem, minha Pantera, e eu prometo te dar exatamente o
que você quer — murmurou provocativo, com a rouquidão pesando em
cada palavra.
— Não brinque comigo, Katsuo — rosnei de volta, pegando outro
bolinho nas mãos. — Estou te avisando.
Ele riu, depois me encarou divertido, mordiscou o canto do lábio e eu
quase derreti sobre o balcão.
— Brincar é a única coisa que não farei com você hoje — prometeu.
Cruzei as pernas e mordi com força um pedaço daquele Manju dos
deuses, ele apenas continuou me observando, como se estivesse se
preparando para atacar sua presa, cercando-me com sua aura sexual e me
fazendo criar imagens de como seria dessa vez, de qual forma Saki me
possuiria em sua cama.
Aquelas borboletas malditas, que eu jurava estarem mortas há meses,
voltaram com força e me indicavam o quanto esperei por esse momento.
Poderia parecer pura luxúria, e talvez fosse, porém, valia a pena, porque
sexo com Katsuo era me reconectar com a minha versão suja, feia e que
ansiava por ser reconhecida, exposta. Nós éramos feitos disso, do bom e do
ruim, negar a existência de um era o mesmo que negar a mim mesma, e eu
estava cansada de lutar contra.
O prazer vinha como consequência e uma forma de prêmio final, pois
os olhares e toques que antecipavam o momento do gozo eram os
verdadeiros protagonistas do nosso momento.
Eu queria ter certeza de que Fabíola sentia algo além de tesão por
mim e, a cada noite seu sono vinha mais rápido em meus braços, seu corpo
parecia calmo com meu toque e as explosões de raiva haviam diminuído
para quase nada.
A conquistava de pouco em pouco, mostrando que para ela, eu não
era uma ameaça. Não mais.
Estava na hora de lhe dar o que precisava, e sendo sincero, minhas
bolas já estavam azuis de tanto me negar o prazer, sequer me masturbei para
ser justo com ela e não me perder em minhas fantasias.
Via a ansiedade estampada em suas pupilas e na forma como mordia
o canto do lábio, parei à sua frente e levei a mão até sua nuca, a puxando
para mim. Seu gemido baixo foi saudoso, do tipo que me colocava de
joelhos apenas para confirmar que sua lubrificação já estava escorrendo de
sua linda boceta, mas eu era paciente, aguentei por tantos dias e não iria
servir metades para a minha Pantera selvagem.
Estávamos nus, apreciando nossos corpos de forma crua e sincera,
não existiam nuvens nublando o jeito de nos enxergarmos. Era Fabíola e
Katsuo de pé, completamente expostos um ao outro. Deslizei meu olhar por
seus seios, depois segui até a barriga que já tinha um formato gracioso, com
a ponta um pouco mais arredondada, e com a mão livre a toquei exatamente
ali, sentindo meu filho e pedindo perdão pelo que planejava fazer com sua
mãe. Um dia ele entenderia.
— Eroi — murmurei, completamente entorpecido pela figura mais
encantadora que conheci e que estava carregando um filho meu, a mulher
que eu queria ter por toda a eternidade de maneiras absurdas, até mesmo
perversas.
A puxei para mim, beijando-a com ternura no início, sentindo seu
sabor e me perdendo em deleite profundo, porque Fabíola me causava tudo:
desde o medo que me deixasse até a vontade de fazê-la me amar o
suficiente para nunca mais sonhar em fazer isso. Afastei nossos lábios a
deixando respirar, seu peito subindo e descendo com certa força.
— O que disse? — perguntou ofegante.
Sorri de canto e massageei sua nuca.
— É uma expressão para sensual, erótico o suficiente para que a
palavra escape de meus lábios mesmo sem querer. Mas, também poderia
dizer Kanpekida. — Aproximei meus lábios dos seus mais uma vez,
raspando-os, a provocando e vendo-a esticar sutilmente os pés para me
alcançar. — Perfeita! — expliquei.
A mão que deixei em sua barriga escorregou para a lateral, depois até
sua bunda, que apertei com força.
Ela ainda não sabia, mas eu havia pesquisado as melhores posições e
conversei muito com seu obstetra para saber até onde poderia ir sem
prejudicar nosso filho, foi assim que descobri sobre os benefícios das
massagens com óleos e o quanto isso poderia ajudar com eventuais coceiras
e estresse. Fabíola visitava uma psicóloga que trabalhava há anos para os
Gokudos, não era muito procurada porque muitos negavam precisar de
alguma ajuda, porém, se dispunha sempre que necessário, uma vez por
semana ela vinha e eu me retirava para lhe dar privacidade.
Suas crises se tornaram apenas pequenos momentos de vazio, nos
quais ela olhava em algum ponto por tempo demais, se perdendo em seus
pensamentos. Não era o ideal, mas para uma grávida tendo que lidar com a
ansiedade, era o suficiente para controlar sua respiração e intensidade. Eu
ajudava no que podia e me foi indicado pela psicóloga, sendo presente em
toda a sua gestação.
Mordisquei seu pescoço, me sentindo orgulhoso da sua força e
sortudo por ter conseguido quebrar algumas barreiras, pois, se ela não
sentisse nada além de raiva e nojo, não se esforçaria tanto, nem mesmo pelo
nosso filho. Eu não a quebrei, apenas desmontei o muro de moralidade que
a impedia de me aceitar como seu homem.
Me afastei, controlando meus movimentos, ainda que meu pau já
estivesse duro e babando para entrar em ação, ela notou isso, lambeu os
lábios e tornou minha tarefa de autocontrole ainda mais difícil.
— Prometo foder sua boca com bastante carinho, Pansã, mas agora é
sobre você. Deite-se — pedi, ainda que sôfrego.
Levei minha mão até meu pau, masturbando-o devagar enquanto
observava seu corpo se ajeitando sobre os lençóis e seus olhos brilhando ao
me admirar. Meu lado megalomaníaco sentiu-se satisfeito pelos efeitos que
causava nela, pois a grandeza de quem eu era ficava pequena em vista da
grandeza de quem ela era para mim e tê-la comendo-me com os olhos era o
ponto alto daquela sensação.
— Toque-se para mim, me deixe ver o quanto te excito — exigi.
Ela obedeceu sem hesitar, os dedos pequenos e finos se embrenhando
entre os poucos pelos aparados e separando com cuidado os grandes e
pequenos lábios até encontrar seu clitóris; primeiro ela o massageou
calmamente, depois deslizou o mesmo dedo até sua entrada e voltou
trazendo sua lubrificação para o montinho de carne e nervos. Apertei mais a
mão, bombeando meu pau no mesmo ritmo em que ela se masturbava.
Era uma troca interessante e excitante. Ela gemia, eu seguia seus sons
e emitia um rosnado rouco, como se pudesse desvendar suas sensações
fazendo parte daquele momento mesmo sem tocá-la diretamente.
— Isso, minha pantera, goza pra mim — pedi.
Fabíola arqueou as costas e abriu a boca, o som do gemido não saiu
de seus lábios, mas a intensidade não foi menor por causa disso, ainda mais
quando seus olhos não conseguiam se manter abertos e seu corpo caiu
trêmulo sobre o colchão.
Caminhei a passos largos e subi na cama ficando entre suas pernas, as
separei sem gentileza, louco para ter o gosto do seu gozo em minha língua.
Prendi suas coxas e abaixei meu rosto até sentir o seu cheiro característico,
meu pau pulsou, estava com tanto tesão que chegava a ser dolorido.
— Katsuo... — choramingou, apenas ergui meu olhar, encontrando a
expectativa junto com a mesma aflição que eu sentia.
— Só mais um pouquinho, Hachimimitsu.
Voltei a me concentrar em seu sexo, que escorria a lubrificação e
chamava pela minha boca, lambi sem pena ou suavidade, ouvia seus
gemidos baixos, porém, pareciam distantes demais enquanto eu me fartava
com seu sabor. A chupei, subindo até seu clitóris e mordiscando a pontinha
daquela carne fina e tão sensível; ela chamou por mim, então a penetrei
com um dedo, arrancando um ofego. Sorri malicioso e lambi o excesso de
seu líquido em minha boca.
— Quer gozar de novo na minha boca? — Ela exasperou-se e senti
seus músculos apertarem meu dedo em um pequeno espasmo. — Vai
apertar meu pau assim, Pansã?
Sua resposta foi um gemido mais agudo e o apertar de olhos, algo que
sempre fazia minutos antes de explodir com um orgasmo intenso. Voltei a
chupá-la com gana e a brincar com seu clitóris usando a língua,
endurecendo a ponta e chicoteando-o. Não demorou, Fabíola gritou meu
nome e se perdeu em seu próprio prazer, a limpei o máximo que consegui.
Beijei a parte interna de suas coxas, esperando que se acalmasse e os
tremores diminuíssem.
— O que quer agora? — perguntei, ainda distribuindo selinhos por
suas coxas.
— Que cumpra sua promessa e foda minha boca — pediu, a voz
ainda falhando.
— Tudo o que desejar, minha Pantera.
Saí da cama e parei ao seu lado, ela se sentou sobre as pernas e a
altura foi suficiente para que ficasse confortável, observei se existia algum
risco de machucá-la e não encontrei nada, permitindo que ela segurasse
meu pau e o lambesse como desejou desde o momento em que fiquei nu em
sua frente. Apertei os olhos e desfrutei da sensação de sua língua quente
contra a minha glande, e quando os abri novamente, a encontrei me fitando,
e foram tantas coisas não ditas passando por suas lindas íris cor de avelã
que me senti fraco e forte ao mesmo tempo.
Segurei seus cabelos empunhando-os como se fosse um rabo de
cavalo e a fiz abrir bem a boca, penetrando-a cadenciadamente no começo,
controlando o impulso de fazê-la me receber até se engasgar e, aos poucos,
fui aumentando a força e profundidade dos movimentos, vendo-a babar e
puxar o ar a cada vez que eu tirava e voltava logo em seguida.
Algumas pessoas classificariam aquela situação como decadente: uma
mulher grávida, ajoelhada sobre a cama com o rosto melado da sua baba e o
pau do seu homem preenchendo sua boca com certa brutalidade, mas o
brilho nos olhos da minha Pantera me indicava o quanto ela adorava isso.
Ali, nossos demônios se uniam e faziam as pazes.
Foda-se os outros e seus pensamentos sobre nós.
Foda-se o quanto isso poderia ser sujo.
Gemi rouco, afastando sua cabeça antes que acabasse gozando em sua
boca, me abaixei e a beijei de forma indecente, selando nossa depravação.
— Deite-se de lado — ordenei, seguindo para me encaixar em seu
corpo com a posição.
Era confortável para ela e garantia uma penetração profunda, do
jeitinho que minha endiabrada gostava, pegá-la por cima poderia acarretar
algum acidente e ferir sua barriga; de quatro a deixaria cansada mais rápido
e com provável dor nas costas, mesmo que a barriga ainda não pesasse
tanto.
Preferi optar pelo seguro, testando seus limites e cuidando do que
havia se tornado mais importante na minha vida.
Sua mão deslizou por minha coxa, acariciando-a e a subindo até seu
quadril, me deixando apoiada e minimizando meu esforço; seus lábios
seguiram deixando selinhos pela minha nuca e ombro, demonstrando o lado
delicado que Katsuo vinha me oferecendo, mas foi quando me penetrou que
encontrei aquela sua versão deliciosamente viril e poderosa, me arrancando
um gemido alto e a vontade de afundar o rosto contra o travesseiro que
apoiava a minha cabeça. Rebolei em seu pau depois de esperar por seus
movimentos e não os receber, soube que sorria pretensioso quando encostou
os lábios contra minha pele.
Às vezes, eu me assustava com o quanto aprendi a conhecê-lo por
seus gestos e a falta deles também.
— Está com pressa? — divertiu-se. — Gozou duas vezes e ainda não
ficou satisfeita? — Apertou minha cintura.
— A culpa é sua, me deixou de castigo por tempo demais —
resmunguei, depois gemi alto ao receber mais uma estocada. — Katsuo...
— Muito malcriada, Pansã. — Arrastou os lábios pelo meu pescoço.
— Está estrangulando meu pau, talvez seja eu que não aguente.
— Não ouse — rosnei. Ele riu de novo contra minha pele.
Seus movimentos começaram a ficar ritmados, me deixando mole e
aumentando a sensação de que logo cederia para mais um orgasmo, o
repuxar delicioso que fazia cada parte minha se arrepiar.
Katsuo segurou minha coxa que estava sobre seu quadril e continuou
estocando fundo e sequencialmente. Eu ouvia seus rosnados e sentia seu
hálito batendo contra minha nuca.
Parecia ainda melhor do que me recordava, mesmo que a posição não
fosse a minha preferida. Gemi, chamando-o, sabendo que ele também
segurava seu gozo com certa dificuldade. Levei meu dedo até o clitóris,
ajudando a acelerar o momento de ser jogada no paraíso e depois puxada
para o inferno e assim aproveitar o agridoce que vivia acompanhando nossa
relação, porém, ele não deixou, saindo de dentro de mim e interrompendo a
nós dois.
— Quero que ajoelhe na cama, empine bem essa bunda gostosa para
mim e apoie as mãos na parede — exigiu ofegante, entrecortando as
palavras.
O encarei por um segundo, antes de me posicionar como falou. Ele
estava tomando cuidado com as posições, talvez testando algo.
— Sabe que minha barriga ainda é pequena para tanto cuidado, não
sabe?
— É bom nos acostumarmos, e eu gostei das ideias que vi — disse
tranquilo, ficando atrás de mim. Suas mãos passaram pela minha barriga de
forma reverenciadora, deslizando até minha cintura e me equilibrando sobre
o colchão.
Sua boca se fechou em meu ombro, mordendo com certa força e me
tirando um resmungo, como nunca conseguia deixar de revidar, estiquei
meu braço para trás e finquei minhas unhas em sua nuca, tendo certeza de
que ficaria marcado.
— Quero que belisque seus mamilos enquanto eu fodo você até ter
meu gozo misturado ao seu.
Aquelas palavras mexiam com algo bem dentro do meu ventre e
faziam minha boceta pulsar de forma dolorida. Apertei os olhos e icei
minhas mãos da forma que ele ordenou, pescando os bicos dos meus seios
com as pontas dos dedos e os apertando, no mesmo instante ele voltou a
penetrar, gememos juntos, embriagados pelo prazer que nos envolvia.
Cada músculo meu apertando-o com gana, pedindo pelo seu esperma,
implorando por mais um alívio do tipo enlouquecedor e eu sentia que teria
isso tudo, porque minhas coxas tremiam e a sensação de que precisava
liberar algo aumentava a cada estocada que recebia.
Minha cabeça apoiada contra seu ombro, meus dedos pressionando
mais meus mamilos e tudo se tornando muito intenso, único. A saudade
também se mesclava nessa loucura que formava nós.
— Katsuo...
— Goza, Pansã. Vamos, goza comigo — suplicou, a voz estrangulada.
Apertei os olhos e senti cada parte de mim se rasgando, de novo e de novo.
Ele veio junto, sendo apertado enquanto eu espasmava, durou mais do que o
normal e tive que me curvar e apoiar as palmas contra a parede, puxando o
ar para voltar ao controle.
Seus lábios deixavam beijos demorados por minhas costas e ombros,
também tentando voltar a si.
— Eu não me canso de fazê-la ejacular desse jeito — disse, me
fazendo abrir os olhos e notar a umidade por todo o colchão e lençol. Quis
rir da bagunça que fiz, mas as minhas forças tinham sido minadas.
Ele saiu devagar de mim, acariciou minhas costas e depois me ajudou
a deitar, fiquei admirando sua bunda linda e redondinha, apesar de pequena,
enquanto ele se direcionava ao banheiro e voltava com uma toalha úmida
em mãos.
— Abra as pernas — pediu delicadamente. — Isso, me deixe tirar o
excesso, depois cuidarei de você no chuveiro.
Ele falava tranquilamente, como se não percebesse o quanto estava
sendo amoroso em seus gestos, era algo que ele fazia inconscientemente e
isso me deixou encantada. Sua mão era leve percorrendo minha entrada e
coxas, limpando seu gozo que escorria de mim. Lambi os lábios e
permaneci calada, acompanhando seus movimentos.
Depois de se sentir satisfeito, ele levou a toalha para o balde de
roupas sujas que ficava no banheiro e voltou, sentou-se ao meu lado e tirou
os fios de cabelo que grudaram em minha testa por causa do suor.
— Não vou quebrar, Saki — brinquei, vendo seu olhar inspecionar
cada cantinho do meu corpo.
— Eu não permitiria isso mesmo se fosse possível — ciciou.
Engoli em seco, tendo uma clara certeza, pela primeira vez, que
aquele homem realmente seria capaz de me amar, talvez não fosse realidade
agora, porém, uma possibilidade.
Minutos depois, eu o tinha lavando meus cabelos enquanto eu estava
de costas para ele, sendo mimada em um banho morno revigorante. Suas
mãos eram leves ao deslizar o sabonete por todo meu corpo sem segundas
intenções, apenas distribuindo seu carinho para mim, a segurança que eu
temia nunca ter, vivendo uma relação com ele.
Passei a mão pelo sofá, fingindo estar arrumando algo em cima dele,
mas na verdade, apenas fugia da pergunta que Chika fez. Devido a minha
crise de ansiedade e os episódios em que simplesmente me desconectei do
mundo, ficando imersa em uma escuridão medonha bem no fundo da minha
mente, tive que iniciar um acompanhamento psicológico. Não vou mentir
que me choquei ao encontrar a mulher baixinha no meio da sala, seus
cabelos escuros estavam presos em rabo de cavalo perfeito, a pele um
pouco mais clara do que a de Saki.
Nunca imaginaria que mafiosos tinham psicólogos de prontidão,
porém, segundo Katsuo, muitos acabavam com problemas psicológicos
após presenciarem o pior da espécie humana ou fazê-lo com suas mãos,
algumas vezes são as companheiras que precisam desse auxílio, como é o
meu caso.
Chika era de confiança e especializada em transtornos
comportamentais, isso a tornava um perigo para a minha parte adulta, pois,
resgatar a criança que escondi a sete chaves seria necessário para
continuidade do processo, e era exatamente isso que ela estava tentando
fazer. Por mais que sua voz soasse delicada e seus olhares fossem de quem
não quer te fazer chorar por horas, isso aconteceria, já que sua pergunta
era...
— Não se lembra desse período, senhora Toyosaki? — insistiu
sutilmente, fingindo que não estava tentando cavar em minha mente.
A olhei de relance e voltei a encarar o sofá.
— Não somos casados.
— Gokudos não precisam se casar para terem suas mulheres
respeitadas — respondeu, o sorriso meigo ainda lá, junto com a voz suave.
— Mas isso pode ser explicado pelo senhor Toyosaki.
— Certo. — Passei a língua pelos dentes e permaneci calada.
— Tudo bem se não quiser falar sobre seu pai.
— Eu pensei que o foco era a minha gravidez — rebati.
O pior de tudo é que eu tinha plena consciência de que tudo se
interligava e ela não errava em cavar mais fundo. Chika inclinou levemente
a cabeça e aumentou o sorriso, mostrando sua calma em lidar com uma
grosseira vinda de mim.
— Então me diga, como está sendo?
Comecei a tagarelar sobre o quanto as mudanças do quinto mês me
afetaram, a fome aumentando junto com o tamanho dos meus seios, a
frequência maior de agitação do bebê e o cansaço, que apesar de não ser do
tipo “morri em pé”, era chato de lidar e me sentia uma preguiçosa.
— Ter o senhor Toyosaki ao seu lado, é bom?
Sorri inconscientemente e dei de ombros, só para minimizar o quanto
me sentia satisfeita e feliz por ser cuidada, sempre tratada como uma deusa,
fora todo o carinho que também era transmitido ao nosso filho. Katsuo
sempre tocava minha barriga, eu desconfiava até que falasse mentalmente
com o pequeno que crescia em meu útero, pois fechava os olhos e sorria
curto, depois me beijava na testa e nos lábios. A frequência dele em casa
aumentou em quase cem por cento, deixando uma parte da responsabilidade
com Dorso e Kiro.
— Sim, ele cozinha, faz massagem e ainda atende muito bem aos
meus momentos de tes... — Me calei antes de ser indiscreta, ela apenas riu,
escondendo a boca, uma mania que eu não entendia, mas Katsuo me disse
que muitas japonesas faziam isso, então deixei para lá e decidi não a
constranger perguntando. — Ele é útil.
— Somente isso? — A encarei incrédula. Ela ouviu a parte que eu
disse que ele cozinhava e fazia massagem em mim? — Quer dizer... só o
acha útil, não há nada mais? — sondou. — Não quero que me diga, ok?
Pense sobre e o que decidir está bom, é sobre você e ele, não precisa
compartilhar comigo — tratou de explicar.
Ela sempre deixava claro que eu não tinha obrigação de nada, como
se temesse pisar no meu calo e acabar passando de algum limite, ainda que
fosse o trabalho dela me revirar, principalmente quando se referia aos meus
sentimentos sobre Katsuo e nossa relação. Chika era tão reservada quanto,
então me dei o direito de acreditar que fosse mais cultural do que por medo
de ser repreendida pelo chefe, pois de todo o resto ela cumpria sem
restrições.
Não era a primeira vez que ela tentava puxar meu pai para as nossas
sessões e o mais estranho de tudo era que falar da minha mãe, que causou
toda a merda na minha vida e do meu irmão, não foi doloroso dessa forma,
nem mesmo a morte de Diego me causava sufocamento como mencionar
meu pai.
— Também quero que pense sobre o que te perguntei antes, ok? —
Assenti, sem encará-la mais. — Depois, se você se sentir confortável, pode
compartilhar comigo.
Ela se levantou e eu repeti seu movimento, Chika sorriu e esticou a
mão, a peguei.
— Até semana que vem, senhora Toyosaki. — Acenei e ela se retirou.
Saki só entrou depois que ela se foi, eu ainda estava de pé no meio da
sala.
— Tudo bem, Pansã? — Assenti no automático, ele não se deu por
convencido, suas mãos segurando meu rosto. — Quer que eu faça Manju?
O fitei, me dando conta da nossa mudança de comportamento e o
quanto evoluímos um com o outro. Antes vivíamos medindo forças,
querendo provar nossa dominância, mas agora procurávamos nos entender,
ler nas entrelinhas e aceitar que cada um tinha suas feridas e não seriam
sozinhas que elas iriam deixar de doer tanto; talvez nunca parasse de latejar,
porém, já não sangrava mais. Me perdi no buraco negro mais encantador e
doce que encontrei em toda minha vida.
O abracei sem dizer nada, apenas encostando meu rosto contra seu
peito e inalando seu cheiro apimentado, deixando meu mundo mais
saboroso e completo.
— Você está me preocupando — murmurou, sua mão descendo por
meus cabelos em uma carícia lenta.
— Eu nunca mais vou ser fraca daquele jeito — funguei, me sentindo
estúpida por mais uma vez ceder a vulnerabilidade, algo que mascarei por
tantos anos e evitei deixar surgir na superfície. — Nunca mais vou desistir
do nosso filho e nem de mim.
Afastei meu rosto do seu peito, ele estava concentrado, pisquei,
deixando algumas lágrimas caírem.
— Mas se você merecer, eu vou deixá-lo, Katsuo, e você não fará
nada a respeito disso. Vai continuar sendo o pai do meu filho, jamais serei
capaz de afastá-los. — Limpei meus olhos com as costas das mãos e dei um
passo atrás. — E você vai me deixar em paz, entendeu? — Continuou
calado, absorvendo a tudo. — Se você me trair, se me ferir de novo... não
terá mais nada de mim, pois estou aqui de peito aberto e passando por cima
de toda a moral e ética que criei para a minha vida durante anos, para ser
feliz com você, então, não ouse me magoar outra vez — decretei, minha
voz firme e olhos focados. — Entendeu, japonês?
— Sim, Fabíola, eu entendi. — Sorriu de canto e me puxou de volta
para os seus braços, o beijo que recebi no topo da minha cabeça foi uma
forma dele me dizer que decifrou as minhas palavras.
Esse era meu jeito de dizer que o amava, seria o suficiente por
enquanto.

A ligação era com um italiano e não parecia ser algo muito bom.
Dorso nunca levava bobagens para Saki resolver em casa, isso porque meu
mafioso estava se dedicando para demonstrar que eu poderia confiar nele de
olhos fechados. Eu já o fazia, mas ele não precisava saber disso, gostava
das massagens e porções extras de Manju.
Em minha defesa, eu comia por dois, precisava das doses extras
daquele bolinho dos deuses.
Katsuo andava de um lado a outro falando um italiano rápido e um
pouco arrastado, enquanto Dorso apenas me olhava com as sobrancelhas
erguidas, sabendo que eu estava doida para saber do que se tratava.
— Posso ver como está? — perguntou tímido. Concordei, arrastando
a blusa para cima e expondo a minha barriga de seis meses.
Meu filho deu uma boa esticada entre um mês e outro, surpreendendo
com o tamanho atual da minha barriga, agora era difícil ficar de quatro e em
pé, sendo assim, de lado ou apoiada na parede com sustentação nos joelhos
vinha sendo as melhores opções para saciar meu apetite sexual.
— Meu Deus, que salto foi esse? — disse divertido e sorri de canto.
Ainda era difícil. Na verdade, nunca nada seria fácil para mim naquele
mundo, eu não cresci dessa forma, apesar de ter visto a violência pingando,
literalmente, em meu rosto.
— Também fiquei surpresa quando vi as fotos.
— Ele tira todo mês?
— Religiosamente.
Katsuo dizia existir muitas tradições de sua família, mas ele não
seguia a todas e algumas não chegou a aprender da maneira correta, por
isso, decidiu criar uma que começaria por nós e seguiria do nosso filho em
diante. Todo mês, no dia que descobrimos sua existência, ele tirava uma
foto minha usando apenas shorts e top para mostrar a barriga, porém,
ninguém além de nós veria, pois ele ainda não lidava bem com o fato de
outros homens me verem dessa forma.
— Falando nisso, melhor eu abaixar a blusa antes que ele volte.
Dorso concordou rindo e eu cobri minha barriga novamente.
O soldado já não era apenas isso, tornou-se quase um irmão, assim
como Kiro.
Saki desceu a passos pesados e estendeu o telefone de volta a Dorso.
— Mande homens para Boston, Lucca vai precisar.
— Irlandeses de novo? — questionou Dorso.
— Não, algo novo e mais pessoal.
Existia uma fúria no brilho escuro de seus olhos.
— Eu iria pessoalmente, mas não arriscarei estar tão longe assim de
vocês. — Encarou-me. — Muito menos carregá-la comigo e colocá-la em
perigo.
Não sabia o que era, mas trouxe fantasmas do passado de Katsuo;
alguém sairia morto nessa história e eu agradecia que ele não faria parte
dessa conta, mesmo que fosse errado esse tipo de pensamento.
Minhas mãos estavam cheias com seus peitos, eles cresceram ainda
mais e eu aproveitava cada segundo dessa fase. Afundei meu rosto contra a
curva do seu pescoço e meti devagar, enchendo-a com meu pau; gemi rouco
e aproveitei para morder o lóbulo de sua orelha, conseguindo um
choramingo delicioso escapando de seus lábios.
Minha Pantera seguia quase insaciável e só conseguia tudo que queria
de mim por causa dos bons resultados dos seus checkups. A vida do lado de
fora dessa casa se tornou um borrão em minha mente, pois as pessoas mais
importantes para mim se encontravam dentro dela.
Kiro e Dorso seguiam sendo excepcionais, demonstrando a lealdade
que me juraram e o respeito que poucos poderiam ter daqueles homens,
Tóquio não era mais minha segunda casa, meu escritório permanecia sem
minha presença há pelo menos um mês. Fabíola completaria nove naquela
mesma semana.
— Katsuo — chamou, parei o movimento, temendo que estivesse
machucando-a. — Quero algo diferente, por favor.
— O que você quer, Pansã? — sussurrei, minhas mãos desceram até
sua barriga, acariciando-a.
— Que me foda por trás.
— Já estou fazendo isso — respondi divertido, então me dei conta do
que ela queria dizer. Travei no mesmo instante, meu pau tão duro quanto
antes, pensando na possibilidade. — Fabíola...
— Por favor — balbuciou. — Eu pesquisei e não tem problema, eu
quero você assim, quero muito gozar tendo seu pau no meu...
— Eu entendi, Pansã. — A interrompi sôfrego. Caralho, só de pensar
sobre isso já me perdia em luxúria.
Não que o sexo fosse ruim, jamais, qualquer contato íntimo com
Fabíola era o céu para mim, a mulher me tinha por completo e eu sabia que
não encontraria ninguém que me fizesse sentir tantas coisas em questão de
segundos. Mas, comê-la daquele jeito era sublime, meu pau pulsou só com
a expectativa.
— Tem certeza? — insisti, precisava saber o quanto era o tesão
falando ali.
— Sim, por favor. — Apertei seu quadril e soltei o ar devagar, me
controlando para não estocar bruto e obrigá-la a parar de me excitar dessa
forma. — Mas terá que colocar a camisinha, tudo bem? — Virou a cabeça
para me encarar, assenti, ainda aturdido com seu pedido.
Movi o quadril mais algumas vezes, a fazendo suspirar e deslizei
minha mão para o seu clitóris, a queria gozando outra vez, já que o primeiro
foi na minha boca, pois eu amava seu gosto na minha língua. Esfreguei com
cuidado, acompanhando o ritmo das minhas estocadas, ela se agarrou ao
lençol, contorcendo-se inteira e chamando por mim daquele jeito deleitoso.
— Goza, minha Pantera, prometo que depois eu deixo todo meu
esperma nessa bunda gostosa. — Mordi sua nuca e a ouvi gemer alto ao
mesmo tempo que seus músculos internos me apertavam com força, ela
parecia ainda mais apertada nos últimos meses.
Prendi a respiração e esperei que ela se acalmasse para poder sair de
seu corpo com cuidado. Me levantei rápido, a deixando recuperar o ar, e
assim que voltei do banheiro com a embalagem de camisinha na mão,
paralisei ao pé da cama. Fabíola parecia uma miragem perfeita, suas curvas
maiores por causa da gravidez e a barriga linda e grande apoiada sobre um
travesseiro; os seios pesados e cheios com as aréolas escuras e os bicos
duros me fazendo lembrar como era gostoso chupá-los, mas ela estava
evitando meu acesso a eles por causa da sensibilidade. Subi o olhar,
encontrando os olhos cor de avelã me analisando também, os cabelos
bagunçados e espalhados pelos lençóis e seu rosto.
Selvagem e delicada, era assim que se parecia enquanto estava nua
sobre a minha cama e grávida do meu filho, esperando ansiosa pelo seu
homem, sabendo bem o que queria e como faria para conseguir.
Me senti uma presa e, porra, adorei isso.
Rapidamente, abri o pacotinho laminado e vesti a camisinha, em
segundos eu me encontrava posicionado atrás de seu corpo com meus dedos
penetrando sua boceta e se melando com a lubrificação. Esfreguei sobre
meu pau e aproveitei do próprio líquido da camisinha para circular seu
ânus, conseguindo um gemido manhoso dela.
Apertei os olhos quando me posicionei e o empurrei devagar,
sentindo-a relaxar e me permitir ir mais fundo, agarrei seu quadril.
— Porra! — resmunguei. — Eu vou gozar logo, Pansã.
— Não antes de mim — rebateu, a voz ainda baixa e languida.
Minha pélvis bateu contra sua bunda e soltei o ar com certa
dificuldade; esperei até sentir que não a machucaria, então comecei a
estocar fundo e constante. A lascívia era derramada a cada gemido que
compartilhávamos naquele quarto, eu queria que o mundo explodisse do
lado de fora, não me importava, eu só pararia de foder aquela mulher se me
matassem. Seu corpo era completamente receptivo a mim, a pele brilhando
do suor e a bunda atrevida rebolando contra cada movimento meu.
Fabíola era impiedosa, queria tudo de mim e conseguiria isso com
facilidade.
Escorreguei a mão novamente para a sua boceta e introduzi dois
dedos, seus gemidos se tornaram gritos e logo ela explodiu naquela
ejaculação intensa que me deixava fascinado por ter conseguido tal feito.
Não demorou para que eu também acabasse desnorteado, esporrando com
força em seu rabo e perdendo o controle sobre meu corpo com pequenos
espasmos involuntários.
Beijei seu pescoço enquanto minhas mãos desciam e subiam suaves
por suas costelas, acalmando-a ao mesmo tempo em que eu mesmo me
controlava.
— Vai precisar ir mesmo? — murmurou.
Saí de seu corpo lentamente e me levantei, ela não se mexeu, sabendo
bem o que eu faria. Retirei a camisinha a amarrando e jogando no cesto de
lixo, depois peguei uma das toalhas lavadas do armário e umedeci com água
morna do chuveiro, retornei e me sentei na cama, passei o tecido felpudo
suavemente por suas coxas, depois a ergui com cuidado e limpei suas partes
íntimas, acalmando a pele com a temperatura da água. Ela suspirou
satisfeita.
— Não iria se pudesse, mas tenho que assinar algumas coisas e os
dois estão ocupados.
Kiro foi presencialmente para Boston ao saber do que se tratava,
enquanto Dorso ficou com a carga do escritório e soldados, mas,
infelizmente, não poderia me trazer os documentos para assinar e mandar
ao nosso representante.
— Quer saber? Eu estou sendo injusta. — Ela tentou se sentar
sozinha, mas o cansaço cobrou seu preço e a ajudei antes que caísse de
volta. — Você não pôs a cara fora dessa casa desde o mês passado.
Me inclinei em sua direção e acariciei seu rosto. Algo nasceu entre
nós, muito forte e cheio de carinho e respeito, e eu presava por isso, passar
o tempo ao seu lado não era sacrifício e eu percebia o quanto ela também
apreciava estar comigo. Contudo, algo a fazia sempre ficar insegura, com
pensamentos irreais de que se tornou um fardo para mim. Na verdade, eu
mal lembrava do mundo do lado de fora quando não a tinha comigo.
— Não está, eu prefiro ficar com você nessa casa do que sair para
qualquer lugar do mundo. — Lembrei de algo e sorri para a minha linda
mulher. — Que tal viajarmos assim que for permitido para o nosso filho?
Ela arregalou os olhos.
— Seria seguro?
— Eu farei ser. O que acha de me apresentar o Brasil? — Fabíola
parecia uma criança descobrindo que iria para a Disney. — Pensei também
que poderia conversar com sua sócia no Brasil e administrar sua parte
daqui.
Dei um celular para ela há três meses, a primeira coisa que fez foi
contatar a mulher e assegurar que está bem, dessa forma, ela parou uma
investigação de desaparecimento que estava em andamento. A desculpa de
Fabíola para demorar a contatar alguém foi que perdeu o celular na Itália e
demorou para conseguir dinheiro para outro, depois ela encheu a mulher de
informações e isso desviou o assunto.
Fabíola venderia sua parte para a sócia, mas eu via que ela não era do
tipo que ficaria tranquila em casa sem fazer outra coisa a não ser cuidar do
filho e do lar.
— Acha que daria certo?
— Bom, você pode gerenciar tudo a distância e quando precisar
viajar, vamos todos juntos. Posso arranjar isso.
Ela se jogou em minha direção, enlaçando meu pescoço com seus
braços.
Nunca foi minha intenção desmontá-la de quem era, se existia
possibilidade de devolver a vida que lhe roubei, eu faria, só não
conseguiria, infelizmente, trazer seu irmão de volta, porém, todo o resto
sim. Mesmo que me custasse a paz, eu daria um jeito.
Os gritos de Fabíola invadiram a minha alma e apunhalaram meu
coração uma vez mais. Segurei firme sua mão e observei enquanto a shin-
sanba [5] a instruía com cautela e extremo profissionalismo. Foi difícil achar
alguém que atendesse aos Gokudos e falasse o inglês fluente, pois eu
duvidava ter cabeça para ficar traduzindo tudo à minha Pantera. Foi a
melhor decisão que tomei.
A senhora compassível a mantinha centrada e lhe dava forças para
continuar, a posição foi escolhida por Fabíola, o que depois descobri se
chamar parto de cócoras; eu fiquei à sua frente enquanto ela apoiava as
mãos sobre a cadeira adaptada que a própria shin-sanba trouxe em seu
carro. Os olhos avelã buscaram pelos meus e tratei de passar toda a
segurança que ela procurava em mim, então ergueu a cabeça, soltando mais
um grito alto e pude ver a movimentação rápida da parteira, outro grito e
segundos depois o chorinho que tanto esperávamos ouvir.
Foi um momento de conexão, nossos olhares se encontraram e
sorrimos juntos, assim como deixamos as lágrimas escorrerem livremente.
A vida que nós dois geramos gritava por atenção, afeto e esperança, e sem
aguentar, a abracei, tomando cuidado para não atrapalhar o que a parteira
fazia. Quando nos afastamos, o vimos, lindo, grande e com um fôlego
potente.
Ajeitei Fabíola em meu colo e nosso bebê foi colocado em seus
braços com os meus por baixo.
Diogo Toyosaki era uma mistura perfeita de nós dois, os olhos
levemente mais puxados, a boca carnuda e a pele alguns tons mais escura
do que a minha.
O nome foi uma pequena homenagem ao irmão caçula de Fabíola,
onde ela preferiu não deixar igual, mas uma variante dele. Segundo ela, era
uma forma de demonstrar que jamais o esqueceria, porém, aceitava seu
destino e entendia que ele tentou reparar seus erros ao pedir sua proteção.
Fiquei hipnotizado pelo pequeno em nossos braços e ali reconheci
algo que vinha sendo empurrado para o lado a cada vez que eu pensava
sobre: era amor.
Começou como desejo carnal, se tornou possessão da mais crua e
distorcida e, com todas as nossas nuances, desenvolveu-se em algum ponto
do caminho. Olhava para Fabíola e encontrava a minha Pantera linda de
olhos cor de avelã e cabelos volumosos, ao mesmo tempo, enxergava a
mulher forte e intensa que causou a turbulência na minha vida, ainda mais
do que toda a guerra em que enfiei os Gokudos, também via a irmã que
lutava todos os dias para se convencer de que não era errado me amar, não
quando seu próprio irmão a inseriu nesse mundo. Agora, no entanto, eu
conseguia sentir a mãe feroz que ela se tornou, mesmo antes de Diogo
nascer.
Ela era inteira para mim, todas as pequenas partes, desde as mais
lindas até as sombrias.

— Então? — perguntei baixo. Diogo dormia em meus braços depois


de minutos o sacudindo e cantarolando todas as músicas que pude lembrar.
— Está feito! — Ela apertou com mais força o celular, tinha certeza
de que se não fosse o sono do nosso filho, ela já teria gritado e pulado em
meus braços.
— Vou levá-lo para o quarto, ligue a câmera de lá para ficarmos de
olho.
Ela assentiu e eu comecei a subir para o quarto que pertencia a ele.
Colocá-lo no berço sem despertá-lo era uma prova de fogo, tomei todo o
cuidado possível e no final tive êxito. Sorri satisfeito enquanto o cobria.
Tive que alterar o sistema de câmeras, atualizar para as que emitiam o
som também, tudo com o conhecimento de Fabíola, que achou mais seguro
para ficarmos de olho em Diogo, pois decidimos não contratar ninguém
para ficar com ele em casa. Dividíamos todas as atividades. Acordei muitas
noites para dar suporte à minha Pantera enquanto ela amamentava nosso
filho.
Conquistá-la era uma tarefa diária, reconhecia seu esforço para se
manter inabalável para nós, até mesmo para Dorso e Kiro. Seu tratamento
trouxe benefícios, as crises quase não aconteciam, porém, foi explicado pela
doutora Chika que era um processo longo e ainda existiam brechas que
Fabíola se negava a completar, era parte do processo.
Quando desci, a encontrei servindo dois copos de vinho e antes que
eu falasse algo, ela se adiantou.
— Somente uma taça não faz mal, pode confirmar se quiser. —
Piscou e se inclinou, selando nossos lábios. — Não vou embebedar nosso
filho através do leite dele. — Riu curto, me fazendo sorrir.
Aceitei a minha taça e beberiquei junto com ela.
— Estou dentro novamente — falou sorridente. Eu amava aquele
sorriso. — A Devassa continua sendo minha. — Mais um gole, mais um
olhar brilhante junto ao esticar de lábios mais encantador que já vi.
— Falou sobre horários?
— Sim. De manhã sou toda do nosso garotão. — Sentamos nas
almofadas dispostas à frente da mesa de jantar, ela apoiou sua taça sobre o
descanso de copo e virou-se para mim. — A noite me dividirei entre a
empresa e sentar gostoso em você. — A endiabrada mordiscou o lábio e
arrastou as unhas em minha nuca. Meu pau endureceu sem problemas.
Acontece que eu sempre fui rígido com as regras, — menos a de não
dar segundas chances para a criatura — logo, restringi o sexo até o período
de resguardo que o seu obstetra me disse.
— Fabíola... — resmunguei, lutando para manter meus olhos abertos,
pois pesavam com o tesão que aquela mulher me causava.
— Sabe quantos dias se passaram? — sussurrou, a boca quase
roçando a minha. De repente o vinho foi esquecido, assim como a conversa.
Espiei a televisão à frente, mostrando nosso filho dormindo tranquilamente;
a única exceção, ele jamais seria esquecido por nenhum de nós. — Hoje
nosso filho completa quarenta e sete dias de vida, Katsuo.
Agarrei sua nuca e empurrei a mesa, em segundos eu a tinha sobre
meu colo, esfregando-se descaradamente em meu pau. Minhas mãos foram
para a sua cintura.
— E você não está preocupada de que ele acorde a qualquer
momento?
— A televisão está no máximo e você irá olhar para a tela a cada
cinco minutos, tenho certeza disso. — Seus dedos pentearam meus cabelos
para trás.
— Não quer a atenção completa, Pansã? — Deslizei meus olhos até
seus seios, barriga e o triângulo entre suas coxas, depois voltei para os orbes
cor de avelã.
— Bom, teremos que nos acostumar com sexo rápido e a atenção
compartilhada. — Deu de ombros, me tirando uma risada curta.
— Então pega. — Ofereci, abrindo os braços e lhe dando acesso a
mim. — Pega tudo o que quiser de mim, Fabi.
Ela apenas se moveu, primeiro retirando minha blusa e arranhando
cada centímetro do meu peitoral e chegando ao cós da minha calça de
moletom, a ajudei quando puxou para baixo libertando meu pau e o
masturbando. Minha respiração pesou, o clima ficou mais denso e tudo que
eu queria era afundar em seu corpo, mas deixei que ela decidisse como
seria.
Sua camisola tinha um tecido fino, mas seus seios ainda estavam
sensíveis da última mamada do nosso pequeno guloso, fora o soutien com
absorventes específicos para pós-parto, então tomei cuidado ao descer as
alças e expor o topo de seus peitos suculentos, ela se curvou com cuidado,
ainda dando atenção ao meu pau em uma masturbação lenta e apertada,
lambi a pele ao redor dos bicos, ouvindo seu choramingo baixo.
— Me avise se machucar, ok? — Ela concordou, os olhos pesados e a
boca entreaberta.
Afastei mais um pouco do tecido e fechei os lábios sobre o mamilo a
ouvindo gemer, o gosto do leite ainda estava ali e me senti um pervertido
por ocupar o lugar que pertencia ao meu filho, mas quando ela se remexeu e
chamou por mim, continuei.
Era sobre o prazer dela, pois antes de ser mãe, Fabíola era mulher e
tinha suas necessidades particulares.
Sua mão livre foi até minha nuca, me incentivando a aplicar mais
força e assim eu fiz, tendo outro grunhido excitante acompanhado de mais
ritmo em seu subir e descer em meu membro. Mudei de lado, dando o
mesmo tratamento, sempre devagar e atento aos seus sons, qualquer sinal de
dor me faria parar instantaneamente.
— Quero você dentro de mim — gemeu contra meu ouvido.
Afastei meu rosto para encará-la, mais uma vez me perdendo em sua
beleza e no quanto parecia mais radiante e única diante de mim. Agarrei seu
rosto e depois de dar mais uma checada no visor e confirmar que nosso
filho permanecia dormindo, a puxei para mim, beijando-a com luxúria,
buscando pela sua língua e sugando seu sabor. Deslizei uma mão pela
lateral de seu corpo e a infiltrei por debaixo da camisola, encontrando a
calcinha pequena, uma própria da sua marca de lingeries; a coloquei para o
lado ainda com nossas bocas conectadas, ela ergueu o quadril e eu
direcionei meu pau em sua entrada.
Seu corpo desceu devagar, o beijo foi interrompido por seus gemidos
manhosos, apertei os olhos e deixei minha cabeça cair para trás enquanto a
tinha esticando-se com minha grossura. Nunca era previsível, as reações do
meu corpo em contato com o seu sempre aumentavam, sempre se tornavam
explosivas, por isso, agarrei seus quadris e a ajudei a mover-se sobre mim,
mais rápido, mais forte, até ser demais e eu precisar ir de encontro as suas
reboladas.
Nossos gemidos foram engolidos entre beijos sedentos e mãos brutas,
apertando e arranhando nossas carnes.
Sua boceta pulsou forte, me prensando contra seus músculos e
arrancando-me as forças para segurar por mais tempo, afundei meus dentes
contra seu ombro, tentando manter o controle, mas quando ela gritou por
mim, acabei perdendo-me de novo, gozando junto com ela e sentindo-nos
estremecer.
Assim que ela me abraçou e nossos corpos começaram a se acalmar,
ouvimos o chorinho vindo da televisão. Fabíola riu alto e deslizou para o
lado, deixando escorrer meu esperma por suas coxas.
— Teremos que ser mais silenciosos da próxima vez — decretou.
Me levantei, olhei a bagunça que fizemos e em nada me incomodou
saber que teria que lavar a almofada e o tapete embaixo dela, isso era o de
menos, pois nada se comparava a ver a minha mulher com um sorriso
lânguido nos lábios e os cabelos bagunçados depois de ter sido bem fodida.
— Eu cuido disso, pode se ajeitar tranquila — falei, ela assentiu,
ainda meio mole.
Subi para o quarto de Diogo e o encontrei aos berros, assustado com o
grito de prazer de sua mãe. Acendi a luz e vesti a camisa que trouxe em
minha mão, depois o peguei no colo, demorou apenas alguns segundos para
que ele se acalmasse.
Nunca imaginei que um bebê se sentiria seguro em meus braços ao
ponto de apenas isso ser suficiente para que parasse de chorar, e lá estava eu
com meu filho, sentindo-me o homem mais feliz do mundo.
No passado, pensei que meu destino era ser apenas um líder para
homens sem esperança e alma; não esperava encontrar uma Pantera teimosa
e abusada pelo caminho, muito menos ser pego pelas bolas por ela e agora,
me derreter ao ver a cor avelã de seus olhos refletidas em uma mistura de
nós dois e sentir tanto orgulho por isso.
Diogo voltou a dormir e eu o coloquei no berço, admirei-o por mais
um tempo antes de voltar para o quarto e a encontrar me esperando para
tomar banho.
— Pensei que estaria dormindo.
— Não antes de cuidar de você no banho.
O sorriso malicioso se estendeu em meus lábios.
— Sem gritos dessa vez, Pansã — murmurei, caminhando em sua
direção e nos conduzindo ao banheiro.
— O moleque tem um bom pulmão, isso não podemos questionar. —
Dorso entrou junto com Kiro, rindo da minha situação.
Era o meu horário com Diogo, mas ele se recusava a ceder sua mãe
para o que quer que ela estivesse fazendo. Tudo bem que ela carregava o
alimento favorito dele, porém, naquela noite, ele teria que ser paciente, pois
nem em casa ela estava.
Fabíola tinha livre acesso a tudo: carro, celular, computadores e toda
o Japão, já que ninguém ousaria em tocar na mulher do Oyabun,
principalmente depois do que fiz para ter esse posto. Nossa viagem para o
Caribe estava marcada para o final do ano, seria uma entrada de ano
especial e à sua maneira.
Diogo fez um ano há pouco tempo, no entanto, a empresa estava o
consumindo muito e a viagem teve que esperar, assim como eu também tive
problemas com a liderança dos Gokudos, a juventude se dividia entre os
que concordavam com a nossa forma de agir e os que repudiavam e
tentavam criminalizar nossa existência perante o governo. Fui obrigado a
me movimentar estrategicamente, aliando-me com políticos que me
causavam nojo e pagando um pouco mais para líderes de outros países,
facilitando minhas negociações e me tornando ainda mais rico e poderoso.
Nada tinha a ver com luxo, tudo tinha a ver com a segurança deles.
— Diogo! — Aumentei um pouco mais meu tom de voz, algo que só
fazia em último caso.
O garoto de olhos pequenos e selvagens como os da mãe balançou a
cabeça e me encarou emburrado; a boca era carnuda, uma mistura de nós
dois, a pele realmente mais escura que a minha, porém, mais clara do que a
da mãe e cabelos escuros com a raiz lisa e as pontas cacheadas.
— Mama!
— Eu sei, garotão. Eu também sinto a falta dela, mas controle-se, ok?
— Dorso e Kiro cruzaram os braços, adorando a cena de seu líder
conversando com uma criança como se ele fosse um adolescente.
— Hei, Dido, que tal jogar bola comigo e Kiro nos fundos, enquanto
seu pai termina o jantar?
Revirei os olhos para o apelido que Fabíola inventou para ele e
acabou se espalhando entre os soldados.
Ele me olhou esperançoso e eu apenas fiz sinal para que fosse de uma
vez; Diogo saiu rindo ao lado dos dois. Minha Pantera explicou que Kiro e
Dorso seriam como tios para ele, não acreditei muito, achando que meus
soldados se manteriam distantes, pois bem, me enganei e gostei disso, eles
me ajudavam a lidar com o menino, algo que eu vinha me adaptando todos
os dias, procurando por caminhos menos rígidos e impessoais.
Uma hora depois, estávamos arrumando a mesa quando a porta foi
arrastada e Fabíola sorriu, acenando para todos.
— Mama! — Diogo gritou, se levantando e indo abraçá-la.
Ele era uma criança muito ativa e apegado a nós, mesmo que eu não
conseguisse dar a mesma recepção calorosa de sua mãe, que o pegava no
colo e girava, como se o menino não pesasse nada.
Decidimos educá-lo aprendendo os três idiomas, mas, principalmente
o inglês. Fabíola tinha muita dificuldade com o japonês, fora os dialetos que
sempre a embaralhavam, por isso estranhei ela ter saído sozinha, sempre
acabava indo junto para ajudá-la.
— Hora de comer — ela disse e o espertinho já colocava a mão em
seu peito quando ela o afastou. — Sem leite agora, Dido.
Ele emburrou de novo e ela apenas o encarou séria, era uma batalha
de poder que ele nunca vencia. Se nem eu conseguia, quem diria uma
criança de um ano.
— A coisa tá feia pro garoto — Dorso comentou, eu apenas ri e
terminei de colocar a mesa.
— Ele está aprendendo a ficar sem seu leite precioso — falei.
— Bom, ele não parece satisfeito com isso — acrescentou Kiro.
Fabíola veio até a mesa o carregando, mas notei que evitava deixá-lo
tocar seu peito, mais especificamente o lado esquerdo. Ela o colocou no
chão e se sentou conosco, o jantar foi tranquilo, quanto aos alimentos
sólidos o nosso filho nunca deu trabalho.
Kiro e Dorso comentaram sobre as novas alterações nos alojamentos
dos soldados e as inscrições para recrutamento, nada além disso, pois
Fabíola proibia assuntos da máfia dentro de casa com a presença dela e de
Dido.
Um dia ele entenderá o que faço e porque tantos homens andando
próximo da nossa casa, quando esse dia chegar, ele também terá que
escolher seu destino. Acariciei seus cabelos, aproveitando esse momento ao
seu lado, registrando tudo dessa fase.
Após o jantar, os dois se despediram e Fabíola levou Diogo para
tomar banho e escovar os dentes, aproveitando para colocá-lo para dormir.
Uma das pequenas mudanças que fiz na casa, além de todo o quarto
do nosso filho, foi a instalação de uma banheira em nossa suíte, os cuidados
eram mais confortáveis nela, então aproveitei para enchê-la e perfumar a
água com sais de banho com cheiro de lavanda, também ajudava a relaxar o
corpo e a mente. Assim que senti ser o suficiente, fechei a torneira e a
encontrei parada no batente da porta, me observando.
— Você é perfeito. Tirando o toque mafioso, todo o resto é perfeito.
— Apontou para mim, sorrindo.
Me levantei e estendi a mão para ela, Fabíola não hesitou em pegá-la
e se grudar em meu corpo, ainda tendo um cuidado exacerbado com a
região esquerda de seu peito. Franzi o cenho e resolvi conferir o que tinha
ali, preocupado que fosse um machucado. Sua blusa era larga e pude apenas
arrastar o decote para o lado, expondo uma tatuagem protegida por plástico
filme e pomada.
Um vinco se formou em minha testa e ela apenas riu curto.
— Me deixe tirar a roupa, preciso mesmo de um banho.
— Antes. — A parei. — O que tatuou?
— Preciso me livrar disso para te mostrar.
Concordei, dando um passo para trás. Ela retirou a blusa, depois a
calça e calcinha, tentei focar meus olhos apenas no local onde o plástico
estava, logo acima de seu seio esquerdo, Fabíola retirou a proteção e depois
removeu o excesso da pomada e eu pude ver com clareza...
— Katsuo. — Li baixo o primeiro nome escrito pequeno. — Diogo.
— O segundo nome, logo abaixo. Meu peito pesou com a minha respiração
alterada. Ergui meu olhar procurando por ela.
— Vocês estão marcados para sempre em mim, na alma e na pele —
murmurou.
A puxei de volta, tomando cuidado com a tatuagem, segurei seu rosto
e beijei seus lábios com extrema devoção.
Ela teve a opção de se fechar para mim e tudo que eu tinha a oferecer,
até mesmo rejeitar Diogo em sua vida, mas ela lutou consigo mesma para
nos aceitar em sua vida, nos ter em seu dia a dia e conseguir renascer em
meio ao caos, e agora nos tinha em sua pele.
— Amanhã você me levará até onde tatuou nossos nomes e farei o
mesmo.
— Não precisa, Katsuo, eu fiz por que quis e ...
— Eu quero. Não fiz antes porque temi sua reação — confessei.
Fabíola riu e eu deslizei minha boca por seu pescoço.
— Já te disseram que é emocionado, japonês?
— Não, porque não sou. Mas você e Diogo são tudo para mim, não
quero correr nenhum risco de perdê-los.
Ela gemeu baixinho quando alcancei seu seio esquerdo e mordisquei
seu bico, olhando para a homenagem que fez a mim e ao nosso filho, depois
troquei para o outro seio dando a mesma atenção.
— Fica de quatro na banheira e segura bem firme, Pansã, que seu
homem vai te foder como merece — sussurrei voltando a boca para a sua
orelha.
Ela assentiu, já envolvida pela embriaguez do tesão. Enquanto ela se
posicionava como pedi, tirei minha roupa e apreciei a visão da sua bunda
empinada e exposta para mim, ela adorava sexo anal, mas ficaria para uma
próxima noite quando pudesse gritar por mim sem riscos de ser ouvida pelo
nosso filho.
Entrei na banheira e empunhei seus cabelos, a fazendo erguer um
pouco a cabeça, com a outra mão posicionei meu pau, já sabendo que estava
pronta para me receber bruto, fundo, do jeito que nós gostávamos de fazer.
— Vai precisar ser silenciosa, Pansã, será que consegue?
Ela assentiu com dificuldade, já que eu segurava com firmeza seus
cabelos.
A penetrei de uma vez e ela resistiu à vontade de gritar meu nome, eu
também tive que me segurar, então comecei a estocar ritmado, sempre o
mais fundo que podia, pois minha mulher era uma gulosa pervertida que
gostava das coisas extremas, desde sentir a minha lâmina arrastando contra
seu corpo, até meu pau empalado em sua boceta pequena.
O barulho da água era embalado com o dos nossos corpos se
chocando e os poucos murmúrios e grunhidos que soltávamos; mantive uma
mão firme em seus fios e a outra apertando com ferocidade seu quadril. Não
demoramos a gozar juntos, do jeito que me deixava fraco e ela com as
pernas trêmulas, sincronizados e saciados.
Beijei suas costas e saí devagar de sua boceta, me sentando na
banheira e a trazendo para o meu colo, minhas mãos passeando por seu
corpo espalhando a água com o cheiro delicado de lavanda para o seu
pescoço e seios.
Ali eu entendi mais uma coisa importante da nossa dinâmica: nenhum
de nós dois precisava proferir as palavras para sabermos que era isso que
existia em nossa relação, aquela tatuagem foi a maneira sutil, ou nem tanto,
de Fabíola me expressar seus sentimentos, assim como cuidar dela é a
minha maneira de fazer o mesmo.
Beijei o topo de sua cabeça e saboreei mais um dia sendo feliz por tê-
la comigo.
Ela e Diogo eram a minha redenção e renascimento, somente os dois
conseguiram unir as partes de mim que pensei ter perdido com meus pais.
Juntos, poderíamos enfrentar nossos fantasmas e aceitar nossos demônios
internos.
Agradeço as minhas leitoras por sempre me motivarem, por
confiarem no meu trabalho e apoiá-lo, assim como respeitá-lo. Vocês são
parte essencial de tudo isso aqui e não me cansarei de tecer agradecimentos
a vocês. Cada novo aprendizado é para alcançá-las, agradá-las, assim como
agrado a mim mesma. Obrigada por todo o suporte, pelas indicações diretas
ou indiretas, e por ficarem até o fim.
Meus agradecimentos ao grupo de autoras que amo tanto e vem
fazendo parte da minha rotina há um ano: Desafio Mari Sales me
aproximou de muitas possibilidades, me deu colegas sublimes, de tanto
talento e carinho que desejo carregar para sempre em meu coração. Vocês
são fodas, meninas!
Agradeço ao meu marido que, mesmo perdendo um pouco de espaço
para as loucuras de Mandy e Erick, me apoiou, deu todo o amparo preciso e
aguentou meus surtos durante esse processo de escrita. Ele é quem me
levanta e sempre me traz de volta ao principal, que é o amor pela escrita e
literatura, e a vontade de me consagrar nessa carreira.
Aos meus familiares, que mesmo achando doideira as minhas
escolhas, me apoiam, embarcam junto comigo. Amo vocês!
Sou a típica pisciana de imaginação ilimitada, nascida em 01/03/1996
na cidade de Santos. Sou caiçara com orgulho. Casada.
Escrevo desde a adolescência e minhas histórias ganhavam vida em
cadernos escolares, tendo coragem de publicar meu primeiro livro aos vinte
e quatro anos.
A escrita é meu ar, o motivo de me manter lúcida. Perco-me e me
encontro no mundo dos personagens que crio. Apaixonada pelos romances,
e louca pelo terror. Ando pelos dois gêneros trazendo o drama e o erotismo
entre eles e a certeza de que escrevo para mim, para os outros e para cada
personagem que desenvolvo. São novos romances, dramas, medos e
realidades.
Em resumo: eu vivo para escrever e eu escrevo para viver!
Livros únicos
Obcecados
A parte que nos falta
O garotinho de Lucy
O hospedeiro de Anne
Meu desjejum de Natal
Isso não é amor
Série Contos de escritório – Podem ser lidas independentemente
O chefe que não manda
Sabemos de nós
Meu viúvo proibido

[1]
Traduzido do japonês para o português= Pantera
[2]
Equivalente a “querida” “meu bem” em japonês
[3]
Um tipo de pedra na cor preta.
[4]
Bolinho mais tradicionais japoneses, feitos à base de mochi e, geralmente, recheados com
anko.
[5]
Equivalente as doulas no Brasil.

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