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T
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1ª Edição
Revisão: Kreativ Editorial
Imagens livres de direito autoral, retiradas do banco de imagens
CanvaPro
SUMÁRIO
SINOPSE
Nota da autora
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
EPÍLOGO
Agradecimentos
Outras obras
Música tema: Genius(feat. Sai, Diplo and Labrinth)
Fabíola Vasconcelos
Minha única missão naquele país era encontrar meu irmão mais novo,
Diego. A Itália tinha um clima gostoso, lugares lindos para se visitar, mas a
sensação pesada em meu peito me alertava de que algo não estava certo.
Infelizmente, eu tinha razão.
Nunca imaginei que meu irmão estivesse envolvido com a máfia, pior
ainda, com a Yakuza. Cada segundo da minha vida que, até então, era
planejado, se tornou uma confusão de chutes, xingamentos e idiomas
diferentes. Em uma noite eu estava caminhando pelas ruas italianas, no dia
seguinte, eu acordava no quarto de hóspedes de um homem debochado e
cheio de tatuagens que morava no Japão. Os olhos escuros daquele
desgraçado eram carregados de malícia e um toque de maldade que me
arrepiava, no entanto, nunca fui de abaixar a cabeça, tampouco aceitar
situações impostas.
Ele dizia estar me protegendo, mas eu via, no fundo da escuridão
daquele buraco negro, que suas intenções estavam longe de serem heróicas.
Hey, que bom que voltou para mais um livro desse universo sombrio
e instigante!
Primeiro, deixo claro que, se você está lendo fora da plataforma
Amazon, então significa que encontrou uma cópia pirata deste livro, o que é
ilegal e apenas me prejudica. Não seja mais uma a atrapalhar os autores
nacionais, seja a diferença.
Qualquer dúvida, estou à disposição.
Sempre disponibilizo ebooks gratuitos para evitar esse tipo de
desvalorização com meu trabalho. Minhas mídias sociais estão a sua
disposição, tire dúvidas, converse comigo, mas, em hipótese nenhuma,
compartilhe esse livro por meios escusos e ilegais.
Esse livro se trata de um dark romance, isso significa que tratei de
assuntos delicados, que não são recomendados a pessoas sensíveis.
Esse é o segundo livro de uma trilogia, porém, pode ser lido de forma
independente. Talvez pegue algum spoiler do que aconteceu no primeiro,
então se preferir, leia o primeiro: Quando toquei você. Todos são dark e
sobre máfia!
Pesquisei sobre máfias para realizar essa trilogia, mas deixo claro que
usei, sim, da minha licença poética para alguns eventos descritos. Vamos
lembrar que se trata de uma obra de ficção.
Acompanhem-me nas redes sociais, fiquem por dentro dos próximos
lançamentos e tudo que estou preparando para essa trilogia.
Onde me encontrar!
Boa leitura e não esqueçam de deixar suas avaliações ao final!
Existia um mito sobre nossas costas. Uma lenda de herói e vilão, até
mesmo de anti-herói, mas aqui está a verdade: nós somos apenas homens
que buscam por algo; seja a liberdade de expressar nossos demônios, o
conforto de ter dinheiro suficiente para não se preocupar com nada ou o
poder acima das leis de nosso país.
Nós criamos as leis.
Empresas bilionárias e cheias de premiações se moldaram através do
nosso império. Trabalhadores que juravam moralidade, gastavam do nosso
dinheiro no final da semana.
Não somos a Yakuza que eles dizem, somos Gokudos, porque, a partir
do momento que alguém entra nisso aqui, não sai mais. Não com vida!
Disciplina, fidelidade e força.
Criamos uma honra deformada, feia e nada aclamada pelo resto do
mundo, mas nossa.
Formamos monstros capazes de comer carne humana com um sorriso
nos lábios, ainda que seja crua; que matariam suas irmãs e filhas, se assim o
líder desejasse. Realizávamos sonhos, mas a cobrança que vinha em
seguida era por sua conta e risco.
Não foi surpresa nenhuma encontrar mais um jovem estrangeiro em
meu porão. Gostava de manter tudo sob meus olhos, incluindo meus
inimigos. Por isso, o pequeno cativeiro onde corpos e mais corpos sofreram
com as minhas facas ficava abaixo da minha casa, mais precisamente na
mesma direção do meu quarto, um lugar com entrada restrita pela única
porta que mantenho com cadeado.
O corpo magro já sangrava, mostrando-me que deu trabalho a Dorso,
meu soldado mais leal e forte. Segui para a mesa onde deixava minhas
preciosidades, sem me voltar para o corpo pendurado. Avistei a minha
lâmina trailing point, conhecida por ter uma curvatura apropriada para
esfolar peles. A observei por mais alguns segundos, pensando se valia a
pena perder todo meu tempo com aquele idiota. Deslizei minha mão sobre
um canivete comum, lâmina resistente, perfeito para perfurar, ferir rápido.
Melhor esse!
Peguei meu brinquedinho e voltei, parando a frente do peso morto.
Algo sempre prevaleceu em meu comando, um ritual que meu pai
também seguia e formou nosso nome, nos fazendo ser conhecidos como os
gênios da morte. Uma besteira de apelido, mas, até que fazia sentido; não
quanto aos três pedidos, pois apenas um era realizado.
A dinâmica sempre foi simples: para mostrar que, em qualquer
hipótese, honramos nossa palavra, damos aos nossos prisioneiros a chance
de um último pedido; não valia implorar pela própria vida e nem a morte de
algum membro dos Gokudos.
Isso nos garantiu a fidelidade de muitos, respeito até mesmo dos
inimigos e um exército bem doutrinado, ao ponto de nos idolatrarem.
Respirei fundo, estralei meu pescoço e sorri devagar vendo o garoto
me reconhecer. Urina escorreu por suas pernas e o choro voltou com força.
Era sempre assim, já tinha me acostumado a isso.
Algo permanecia em minha mente: eu precisava ser o melhor, nunca
poderia ser pego. Se algum inimigo colocasse as mãos em mim, seria
triturado, fotos dos meus membros circulariam mundo a fora e poderiam ser
capazes de vender algumas partes minhas. Quem sabe a pele com as minhas
tatuagens?!
Eram possibilidades. Eu faria isso, com certeza.
— Fala inglês? — perguntei no idioma, sabendo que ele não nos
entendia, assim como não falava italiano.
— Sim...
— Matamos os outros, você era da parte de tecnologia. Vamos
simplificar... — Circulei seu corpo, causando mais tensão, o canivete ainda
em minha mão. — Você me conta o que eu quero e, em troca, te mato
rapidinho e concedo um pedido, mas não vale pedir pela sua vida. —
Pisquei, parando de frente para ele. — Conseguiu entender?
Ele assentiu, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. O rapaz
tinha a pele escura, olhos negros com fundo amarelado, lábios grossos e
cabelos crespos cortados bem rente ao couro. O corpo era magro, mas alto,
muito alto. Inclinei minha cabeça.
— Como se meteu nessa merda?
Ele tossiu e gemeu, talvez sentindo dores a cada movimento.
— Dinheiro!
— Claro, meio óbvio. — Mostrei o canivete novamente. — Então,
temos um acordo?
— Sim — resmungou baixo. Já não existia resquícios de esperança
em seus olhos, sequer tentou implorar. O garoto sabia que nossos rostos
seriam os últimos que ele contemplaria — Meu pedido...
— Primeiro a informação. Não sou idiota.
Aquiesceu, derrotado.
Era uma pena, pelo que recebi dos relatórios, ele quem cuidava da
parte tecnológica dos traidores da máfia italiana, os que queriam me acusar.
Aproveitaria muito mais a sua inteligência, no entanto, os Gokudos não
concediam segundas chances.
Todos que agiam pelas nossas costas ou que nos envolviam em algo,
morriam. Todos.
Sua juventude escorreria pelos bueiros daquele lugar, o sangue lavaria
meu chão e mais nada faria parte de sua vida. Ele seria um desperdício.
— O que deseja saber?
— Quem está envolvido?
— O Don enfraquecido, os irlandeses e pelo menos dois capos e
alguns soldados.
Levei a ponta do canivete até meu indicador, brincando com ele.
Interessante. Os italianos estavam fodidos mesmo. A lealdade foi para o
rabo deles, pelo que parecia. O próprio Don preferindo trair sua famiglia.
Lastimável.
— O que pretendiam?
— Não sei muito bem, trabalhava com os irlandeses. — Tossiu de
novo, grunhindo com as dores. — Mas, é claro que uma guerra entre
italianos e japoneses seria promissora para Boston.
— Boston? Certo.
Encarei Dorso, ele rapidamente preparou sua arma, mirando a parte
detrás da cabeça do meu visitante. Promessa era dívida para nós. Ele se
comprometeu a dizer o que sabia sem complicar e o fez. Eu disse que seria
rápido, então assim faria.
— Tem algo mais?
— O meu... pedido...
— Diga!
— Minha irmã, senhor — murmurou, a respiração ficando mais
acelerada, talvez o desespero de lembrar que nunca mais a veria. — Minha
irmã mais velha está em perigo. Ela veio atrás de mim... não... não sabe de
nada — exasperou-se e abaixei o canivete, esperando. — Meu pedido é que
a proteja. Eles vão matá-la quando... souberem que fui pego.
Odiava proteger pessoas. Eram os pedidos mais desgraçados que
poderiam fazer.
— Só a tire da mira... deles. Por favor, a deixe segura.
Certo. Isso seria fácil.
— Tudo bem, rapaz. Qual o nome da sua irmã? — Fiz sinal com a
cabeça e outro soldado veio com um celular em mãos, pronto para anotar as
informações.
— Fabíola Vasconcelos — continuou falando sobre ela.
A garota era irmã mais velha dele, não fazia ideia dos esquemas em
que seu irmão se meteu e agora corria risco de vida. Tinha apenas dois anos
a menos do que eu, o que me fez presumir que o garoto era realmente bem
novo.
Não existia mais um homem à minha frente, apenas uma carcaça com
a esperança de fazer algo certo nessa vida inútil a qual ele se manteve até
agora. Sua irmã conseguiria uma segunda chance, se já não estivesse morta.
Apesar de tudo, cumpriria minha palavra. Ele morreu com certa
honra.
Dorso disparou no mesmo segundo que ele terminou de passar as
informações. Fabíola não precisava saber que seu irmão mais novo tinha se
tornado um fantoche de mafiosos poderosos e que, no primeiro momento
que as coisas complicaram, ele foi abandonado.
Às vezes, eu tinha misericórdia. Poucas, mas tinha.
O italianinho me esperava no hall da minha casa. Odiava ostentar, por
isso, não chegava nem perto do que ele estava acostumado.
Todos estavam aglomerados no espaço mínimo que dediquei às
minhas visitas, que odiava receber. Ele era mais velho, marrento também.
Abri meus braços, saudando-o do meu jeito. O tradicionalismo só me
cativava no que dizia respeito a tortura, formas de matar mais lentamente e
com arma branca, de resto, eu não fazia questão.
— Ciao — cumprimentei no meu italiano mais ou menos. Ele ergueu
uma sobrancelha e cruzou os braços, deixando claro que não me receberia
muito perto. — Marrento mesmo — retruquei divertido para Dorso. Ele
apenas riu de volta.
— Podemos ir?
— Claro. Acha que seu Don me concederia um pequeno favor? É que
preciso resgatar uma pessoa que acabou de pousar em terras italianas —
disse, sem rodeios.
Enrolação também não me agradava.
Romero, o consigliere de Rafaello, novo Don da máfia italiana
concentrada na Sicília, bufou sutilmente, demonstrando pouca vontade em
lidar comigo. Bom, somos dois. Pessoas mal-humoradas também estavam
na lista dos que não me agradavam.
— Terá que pedir diretamente, Yakuza.
— Gokudo — corrigi. — Mais respeito, somos aliados agora, não é
mesmo?
Romero cerrou o maxilar.
— Ainda está sob vigilância, garoto. Não somos aliados, apenas
temos algo em comum.
— Que seja. — Dei de ombros e passei por eles. — Não quero vocês
aqui, então vamos logo.
Ouvi os passos atrás de mim, meus funcionários cuidariam da casa
enquanto eu estivesse fora, nunca permitia movimentação aos meus
arredores, me deixava nervoso. Preferia fazer tudo sozinho, mantendo meus
soldados apenas vigilantes pela parte de fora.
O italianinho recém-nomeado estava prestes a comer uma mulher
quando cheguei. Tive a sensação de ser odiado um pouco mais por ele, algo
que não me interessava ou importava. Até o entendia, ela era bonita, tinha
um corpo bom para foder.
— Atrapalhei algo? — disse debochado, pois sabia que sim.
Rafaello me escaneou com atenção e tomei a liberdade de fazer o
mesmo. Até que ele tinha porte para a sua idade, o que eu não poderia
questionar, afinal, não cheguei aos trinta ainda. Se bem que, vinte e oito era
quase.
A grande diferença entre nós, no entanto, era a criação. Rafaello
lidava bem com a alta sociedade, passava despercebido entre figurões. Eu
não.
A maldade estava escrachada em meu andar, olhar e nas tatuagens
que carregava no corpo. Todos sabiam que eu era problema no segundo em
que colocavam os olhos em mim. Minha presença era prenúncio de sangue
e morte.
— Não. Eu já o esperava.
Virei-me para os meus homens, sinalizando que ficassem atentos.
— Só entrarei com um, os outros fiquem de olhos abertos e não
deixem ninguém nos atrapalhar — orientei em nosso idioma; eles
concordaram. Já imaginava como as coisas funcionariam.
— Vamos ao escritório, se quiser, traga apenas o seu soldado de maior
confiança, os outros podem ficar aqui embaixo ou irem direto para o quarto
onde você ficará para fazer as devidas checagens.
Tão clichê de mafiosos de terno.
— Todos são de confiança — soltei divertido. Tudo nele me
entretinha, adorava ver o tipo pinguim bancando o mafioso. — Mas, apenas
Dorso virá comigo.
Como previsto, ele estranhou o maldito apelido.
— Ele tem o dorso inteiro de cicatrizes, foi atacado por um urso e
sobreviveu. — Dei de ombros. — Não fui eu quem escolheu o apelido.
E não foi mesmo. Eu teria tido mais criatividade.
Rafaello nos ignorou, seguindo em direção a uma escadaria, e supus
que nos levaria ao andar de seu escritório. Eles sempre tinham um. Incrível.
Um tipo ainda mais interessante nos encontrou lá: loiro, com olhos azuis
cortantes; este parecia mais perigoso.
Gostei do cara, quanto mais perigoso, mais precisava estar perto de
mim.
Me larguei na poltrona deliciosa de couro italiano, frescuras que,
devo admitir, eu não me importaria de aderir. Ainda que não fosse útil,
passava mais tempo no meu porão do que no escritório em Tóquio.
— Antes de começarmos essa conversa, preciso pedir um favor —
comecei a falar, antes que a reunião fosse até os ratinhos irlandeses; os
quais esmagaríamos sem pena, só pela audácia de nos acusarem de algo que
não tínhamos qualquer interesse. — Preciso levar uma brasileira comigo. —
O Don pareceu um pouco alarmado, então tratei de finalizar a negociação.
— Uma jovem chamada Fabíola, Fabiula, Fabeola... algo assim.
O nome sempre se embaralhava na minha boca, mas precisava
reconhecer que a garota era linda demais.
Pedi a Dorso que trouxesse uma foto dela. A garota tinha expertise,
pois saiu dos EUA na primeira suspeita de estar sendo seguida. Contudo, eu
gozava de recursos e foi fácil encontrá-la passeando na Itália, também
ótimo para minha logística.
— Posso saber o motivo de querer levar uma estrangeira?
— Uma promessa que irei cumprir. Em troca, fico te devendo, vai
adorar me ter como aliado, italianinho.
Ele concordou e isso foi o suficiente para começar a minha caçada.
Nunca ia pessoalmente atrás de alguma “promessa”, porém, tudo estava
interligado. Uniria o útil ao agradável. Pegá-la deixaria um recado aos
irlandeses.
Hey, seus cuzões! Estou com a irmã do seu garoto, sabe o que isso
significa? Isso mesmo, sei tudo sobre vocês!
Katsuo
Ele colocou apenas uma calça e prometeu que voltaria logo, seu
destino era a porta que vivia trancada com cadeado, depois que ele a
fechava, eu não conseguia ouvir nada, porém, minha intuição me alertava
sobre a existência de alguém importante lá dentro.
Comia um pedaço do frango que ele fez e acabei sendo levada à sua
história, a que Dorso me contou. Tínhamos algo em comum, afinal. Eu
sentia ter perdido toda a minha família, no fundo da minha alma eu sentia,
enquanto ele realmente perdeu a todos. Também éramos dois cabeças duras
que não queriam falar muito um com o outro com medo do quanto isso
mudaria todo o resto.
Observei quando ele saiu de lá, seus punhos feridos e o olhar
semicerrado, parecendo tão letal como quando o ataquei no quarto da casa
do italiano. Levei mais um pedaço à boca e fui notada por ele, seus lábios
comprimidos e corpo nu da cintura para cima. Não conseguia vê-lo com os
mesmos olhos, passou de algo puramente carnal para uma sensação
estranha de proteção e carinho. Katsuo era lindo, não tinha como negar, mas
existia mais ali, uma parte que eu sentia ser minha e isso não deveria
acontecer conosco.
Notei que não trancou a porta, fiquei calada vendo-o se aproximar e
se sentar ao meu lado.
— Está bem? — perguntou, me medindo com interesse genuíno.
Umedeci os lábios e sorri, assentindo e tentando não me deixar levar pelo
momento de fragilidade. — Que bom que encontrou a comida. — Piscou
divertido e levantou para se servir.
— Sabe que nunca imaginei que seria alimentada por um mafioso e
ainda gostar disso. — Dei de ombros e ele apenas riu curto.
— Acha que poderia se acostumar com isso? — Ele estava de costas,
mas o tom de sua voz não era de brincadeira, ele queria mesmo uma
resposta sincera. O pedaço de frango que eu levei a boca ficou engasgado
na minha garganta por segundos. Percebendo a minha demora, ele virou o
rosto, me encarando sobre seu ombro.
— Eu... eu... — bati no peito, tentando desengasgar, tanto das
palavras quanto da porra do pedaço que ainda estava preso.
Katsuo correu até mim, me ergueu do assento e aplicou a manobra de
Heimlich, abraçando-me por trás e fechando as mãos na frente, apertando-
me com força suficiente para fazer o pedaço voar para fora da minha boca.
Me apoiei sobre a bancada de madeira e puxei o ar com força.
Senti sua mão sobre meu ombro e o olhei de relance, nunca o vi tão
preocupado, buscando saber se tinha funcionado ou precisaria correr
comigo para algum hospital.
— Estou bem! — Tentei acalmá-lo. — Juro que estou bem. — Sorri
envergonhada. O homem estava tentando uma conversa adulta comigo e eu
simplesmente travei com um pedaço de frango na goela.
Ele me ajudou a voltar para o banquinho e parou ao meu lado, calado,
analisando a toda a situação.
— Você também precisa comer, Saki. — Tentei mudar o foco, sair
daquele clima estranho. Era melhor quando nos resumíamos a sexo e não
existiam conversas constrangedoras.
— Farei isso. — Continuou me olhando, parado ao meu lado. — Você
não me respondeu, Fabíola. Conseguiria se acostumar a isso? A nós?
Meu coração parecia querer eclodir com o tanto que acelerou, quase
se mostrando de forma física para ele, deixando claro o quanto aquela
pequena pergunta ativava gatilhos intensos.
Me levantei ainda aturdida, recuei alguns passos e sorri da maneira
mais estranha possível, porque eu não entendia bem o que ele queria com
tudo aquilo. Para quem estava de fora poderia não ser nada, uma pergunta
qualquer, sem nenhum propósito senão de brincarmos um com o outro. Para
mim, significava decidir sobre algo que eu mesma não fazia ideia, quase
como decretar a ele uma autorização, dar permissão que se aproximasse
mais, que quisesse mais.
Infelizmente, eu ainda não confiava cem por cento; não poderia.
— Talvez — respondi, meio confusa. — Não sei, eu precisaria ter
certeza de que me acostumar com isso não é uma sentença para mim.
Ele aquiesceu e voltou a se mover na cozinha. Decidi deixá-lo ali,
pensando um pouco sobre até onde desejava ir com essa história e o quanto
seria possível de fato. Eu tinha uma empresa no Brasil que perderia se não
desse sinal de vida tão logo, meu irmão estava desaparecido e pessoas
queriam me matar, ao menos era o que Katsuo me dizia para justificar a
minha estadia aqui.
Como poderia simplesmente abandonar tudo para ficar com um
homem que conheci há dois meses e algumas semanas?
Seria loucura demais para mim.
Subi na intenção de tomar um banho e esquecer essa conversa,
enterrá-la no fundo da minha cabeça, naquele lugar que eu apenas a
resgataria anos depois, quando estivesse lembrando das maiores aventuras
da minha vida, como uma doce lembrança de algo que no fim deu certo.
Desci após esfriar a cabeça e segui para a sala, mas o silêncio me fez
entender que Katsuo havia saído. De repente, me veio uma sensação
estranha, então olhei em direção a porta que sempre ficava com o cadeado
fechado e o encontrei aberto. Mais cedo ele se esqueceu de fechar, contudo,
pensei que notaria o erro e voltaria para corrigi-lo. Mesmo quando estava
enfiado lá, o cadeado ficava fechado pelo lado de dentro.
Estava tentada a vasculhar, mesmo depois de ter prometido que não
me colocaria em risco, porém, se está dentro da casa, é porque ele tem
certeza de que não irá me ferir, certo?
Mordisquei o canto da boca, pensando nas minhas opções; a
curiosidade sempre foi meu ponto fraco, embora o instinto de sobrevivência
me mantivesse bem esperta sobre as situações. Preferi arriscar, se ele não
me contava nada, então eu descobriria de alguma forma, foi assim que
soube de sua história. A culpa era dele, não minha, não é?!
Abri a porta devagar, ouvindo seu rangido, parecia o som de algo se
quebrando, eu não fazia ideia de que analogia que se formou em minha
cabeça se comprovaria verídica no momento em que encontrei o homem
pendurado como um animal prestes a ser esfolado. Ânsia de vômito subiu
por minha garganta e o cheiro que me atingiu quando pisei no último
degrau me fez virar para o lado e colocar tudo para fora.
Os barulhos que emiti chamaram a atenção do homem que eu pensava
já estar morto. Ele puxou o ar com força e arregalou os olhos, seu corpo
completamente nu e cheio de marcas e pequenos filetes de sangue
escorrendo.
— Você! — falou baixinho, quase sem forças, mas apegando-se em
uma última chance. — É a irmã do garoto, é você. — Assenti e me
aproximei dele, querendo saber mais e entender o que ocorria naquele
maldito lugar. Era escuro e fedido, cheio de correntes, algemas e muitas
gavetas com trancas do lado de fora.
— Sou eu, você sabe onde ele está? — O homem confirmou com a
cabeça, seus lábios rachados parecendo secos demais para ele se esforçar.
— Por que está aqui?
— Eles irão me matar. — A primeira lágrima escorreu, mostrando
que ele tinha acabado de se dar conta do tamanho do problema em que
havia se metido. — Assim como fizeram com Diego.
Paralisei. Inclinei a cabeça e deixei um riso frouxo escapar.
— O que disse? Acho que não entendi! — Na verdade, o inglês dele
era perfeito mesmo naquelas condições, algo que me fazia acreditar que ele
não era daqui. Seu rosto estava machucado demais e inchado, não
conseguia determinar se ele parecia com italiano ou americano.
— Eu irei morrer aqui, igual ao seu irmão. — Chorou fraco, seu
corpo chacoalhando na corrente, alguns gemidos também se misturaram ao
desespero do homem.
— Diego está morto? — Meus olhos lacrimejaram, as imagens do
sorriso grande e tão lindo do meu irmão e todos os sonhos que ele guardava
em seu peito. A dor veio tão forte que recuei alguns passos, minhas mãos
sobre meu peito e, quando menos pensei, meu choro se misturou ao do
desconhecido ferido.
Sacudi a cabeça diversas vezes, negando a mim mesma o óbvio, o que
estava estampado bem diante dos meus olhos. Meu caçula morreu aqui, na
casa do homem que dizia me proteger, do mesmo homem que se mostrava
disposto a me dominar, me possuir inteiramente. Era um jogo sádico, cruel
de formas que eu não poderia nomear.
Outra dor. Mais uma decepção.
Todos que diziam querer me proteger, encontraram formas
irreversíveis para me ferir.
Um grito ficou preso em minha garganta, a culpa me atingiu junto
com as imagens embaralhadas entre os sorrisos de Diego e os meus para o
homem que o matou. Quando ergui meus olhos, conectei-me com a dor
daquele estranho, os dois carregados de lágrimas e com a certeza de que a
vida tinha sido tão cruel quanto podia.
Me levantei, arranjando forças daquele sentimento de ódio que
crescia e crescia e...
Ahhh, eu queria gritar tão alto. Queria pegar a primeira faca ou arma
pelo caminho e matá-lo, arrancar dele o coração que ele arrancou de mim.
Ainda mole, perdida, dolorida e com ânsia de vômito, caminhei para
o corpo pendurado e analisei as cordas que o prendiam. Vasculhei o lugar e
apenas um canivete estava sobre a bancada de madeira podre.
Eu conhecia aquele maldito canivete.
Peguei aquela merda e comecei a cortar as cordas dos pulsos, quando
terminei, tive dificuldades em mantê-lo de pé.
— Arranje forças e me ajude a tirá-lo daqui! — declarei firme, ele
assentiu e apontou para um canto que não parecia ter nada.
— Eles me trouxeram por ali.
Certo, a escada levaria direto para a casa, talvez fosse melhor apostar
pelo caminho que ele chegou; as chances de encontrar Katsuo me
procurando lá em cima eram gigantescas. Caminhamos devagar até lá, ele
apoiado em meu ombro e cintura, pouco me importei com o sangue, com a
falta de suas roupas, eu queria sair daquele lugar e só voltar para arrancar a
cabeça daquele desgraçado.
Tateei pela parede, achando o pequeno puxador quase imperceptível,
o deixei encostado no lado e coloquei a cabeça para dentro, dava para os
fundos do jardim, os carros ficavam parados naquele lado. Virei meu
pescoço para onde o homem estava.
— Sabe fazer ligação direta? — Ele assentiu. — Ótimo. Vamos!
Voltei para lhe dar apoio e passamos, quase sem respirar, pelos fundos
do jardim, chegando na pequena garagem coberta onde deixavam os carros;
o portão mais à frente poderia ser um problema, mas Katsuo nunca disse
que eu era proibida de sair, não nos últimos meses. Ele pediu que eu não
tentasse, nada além disso.
— Vá para o banco de trás, fique deitado — orientei, antes de dar a
volta e entrar no da frente. Não sabia se encontraria as chaves ali, mas como
o carro estava aberto, apostei que sim. Era automático e suspirei aliviada,
menos um trabalho. O botão de ligar aceso me fez tentar, o motor roncou e
sorri satisfeita, apenas depois que acelerei sem olhar para trás que vi a
chave cartão encaixada no suporte dela.
Ok, eles eram arrogantes demais. Que bom para nós.
Apertei o volante conforme chegava perto da portaria, ninguém me
notou, e se notou, não deu a devida importância, pois eram soberbos sobre a
segurança do local. A bomba que explodiu dias atrás foi colocada em
Tóquio, quando ele se escondeu em algum buraco por lá, a casa foi dada
como extremamente segura, logo, não acreditariam que um carro sairia da
garagem sem autorização para tal, tampouco que a brasileira domada pelo
chefe seria louca de arriscar.
Filhos da puta! Todos eles.
Engoli o choro, limpei os olhos e estampei um sorriso no rosto, parei
de frente para o porteiro.
— Fala inglês? — Ele assentiu, então continuei: — Preciso fazer
umas comprinhas e seu chefe está ocupado demais para se preocupar com
futilidades.
Ele demorou um pouco até apertar o botão e me deixar sair. Eu não
era nada aos olhos daqueles homens. Voltei a pressionar o volante e acelerei
como se nada mais importasse. O homem no banco detrás gemeu e se
sentou quando notou estarmos fora do alcance do seu cativeiro.
— Você não sabia? — perguntou confuso, olhei-o pelo retrovisor.
— Não.
— Por que estava com eles? Todos pensam que você traiu ao seu
irmão.
Apertei os olhos e quando os abri, encontrei ódio e dor.
— Eu não sabia de nada. Nem sobre o que Diego fazia, nem de sua
morte... — Engasguei por alguns segundos, ainda digerindo. — Muito
menos que tinha sido Katsuo a fazê-lo.
— Entendo. Na verdade, o executor é o grandão careca, ele quem
deve ter feito o serviço sujo. Você é bem-vinda conosco, estará protegida.
— Quis rir. Por que de alguma forma todos os homens eram assim? Quem o
resgatou fui eu, quem o protegeu da morte fui eu, e mesmo assim ele jurava
que poderia me proteger.
— Só me diga para onde ir e eu decido o resto.
Ele concordou e começou a me instruir, o que agradeci internamente,
já que não conhecia nada naquele país, mal sabia onde estava e não
continha nenhum GPS comigo ou no carro. Continuei acelerando, ouvindo
suas coordenadas. Não queria pensar em tudo que descobri e no quanto isso
me fazia sentir suja, culpada... Não era o momento.
Ainda que eu controlasse, doía tanto, tanto...
As lágrimas rolaram, mas o desespero só viria pela noite, quando
minha cabeça estivesse contra um travesseiro em um lugar qualquer com
outros homens os quais eu não confiava, assim que fechasse meus olhos e
lembrasse do meu irmão, de Katsuo, até mesmo Dorso.
Eu fraquejei diante do que era confortável. Algo sempre me alertava
para ficar atenta, eu sabia que ele iria me ferir e, mesmo assim, me deixei
levar.
Porra!!
Tudo que estava à minha frente foi para o chão; a mesa de centro
quebrada em mil pedaços e meus soldados apenas ao redor, sem saberem
bem o que fazer. Gritei irritado, meus músculos tensos e minha mandíbula
dolorida de tanta força que fiz.
Ela me traiu!
A maldita me traiu debaixo do meu teto e fugiu com o filho da puta,
mas tudo seguia conforme o planejado, eu só não gostava nada de saber que
ela caiu sem precisar de muito. Ela sequer hesitou.
O sofá foi revirado e meu peito subia e descia frenético.
— Eu o avisei, Oyabun! — Kiro disse, se aproximando. Virei meu
pescoço em sua direção e apenas o meu olhar o alertou. — Não o culpo por
isso, mas a menina jamais trairia o sangue por nós.
Esse era o problema. Ela não tinha que fazer nada pelos Gokudos, e
sim, por mim. Quando Kiro me apresentou seu plano para que pudéssemos
achar onde aqueles filhos da puta se escondiam aqui no Japão, eu não
pensei que daria certo. Fabíola sempre foi sangue quente comigo, imaginei
que ela sentiria ódio de mim e viria tirar satisfações, me socar, tentar me
matar, mas nunca que me largaria aqui sem olhar para trás, entregando sua
vida a um maldito estranho, arriscando a tudo e, quem sabe, entregando-nos
de bandeja.
O ódio ainda vibrava em meu corpo.
Ela sabia.
Agora não existia mais nada a esconder um do outro.
— Tem consciência de que o correto é matá-la, certo? — Não
respondi, apenas apertei meus punhos com força. Não deveria ser tão difícil
pensar em sua morte, ainda mais com a raiva que sentia, mesmo assim, eu
não queria considerar essa opção. — Ela jamais irá perdoá-lo.
— Eu não recebo ordens de ninguém, Kiro. — Achei prudente avisá-
lo, seu tom manipulador não entraria em minha cabeça, embora estivesse
certo.
— Matamos o irmão dela, chefe. Como você agiria em seu lugar?
Uma boa pergunta.
Minha respiração se tornou mais calma e olhei para todos na sala,
encontrando a expressão de tristeza de Dorso. O soldado tinha se apegado à
pequena endiabrada e sentia culpa por ter apertado o gatilho, algo que
nenhum Gokudo jamais se arrependeu antes.
Como eu agiria no lugar dela?
Droga! Se tivesse o mínimo de sentimento prevalecendo nela, teria
me confrontado, certo?
Você a perfurou profundamente, Katsuo, por isso ela partiu sem olhar
para trás.
Aquela voz intrusa novamente, me levando a praticamente puxar
meus cabelos de ódio.
O plano era simples: o prisioneiro que ficou vivo era filho de Frank, o
líder da máfia irlandesa, por isso seria aceito imediatamente se retornasse.
Rasgamos sua pele como uma brincadeira e quando perdeu a consciência
pela terceira vez, injetamos um dispositivo de rastreio em seu corpo.
Contudo, para o plano dar certo, precisava parecer que não queríamos sua
fuga, alguém precisaria resgatá-lo, o que seria impossível para alguém de
fora. No entanto...
Foi quando Kiro falou o nome de Fabíola e eu ri da hipótese, jurando
que ela cumpriria a maldita promessa que me fez. Óbvio que a curiosidade
foi maior, ela entrou no porão que deixei propositalmente aberto e agiu
exatamente como meu soldado disse que ela agiria. Isso fodeu com a minha
cabeça.
Três meses tendo-a comigo. Três fodidos meses em que a fiz gozar
chamando meu nome, cozinhei para ela e a trouxe para mim, e no primeiro
segundo que teve oportunidade, ela simplesmente se foi.
Eu entendia o amor pela família, perdi a minha e decepei o homem
que fez isso, eu esperava por esse conflito e seria capaz de permiti-la me
ferir, no entanto, a sua escolha foi partir, sequer me deu o benefício da
dúvida, não passou pela sua cabeça que eles estivessem mentindo.
Fabíola quis fugir de mim, não pelo seu irmão, não apenas.
— Saiam todos, eu quero ficar sozinho.
— Oyabun...
— Eu mandei sair — gritei.
Dorso foi o único que ficou, mesmo diante do meu olhar.
— A culpa é nossa — falou baixo.
— Ela teve escolha.
— Não, ela não teve, chefe.
— Poderia ter conversado comigo, ter esclarecido tudo e...
— Você a prenderia nessa casa — cortou-me decidido. — A obrigaria
a engolir nossa presença e a venceria pelo cansaço, mas ela nunca seria a
mesma. Ainda seríamos os culpados.
— Matamos mais pessoas do que apenas o irmão dela, ninguém é
inocente. Porra! — exaltei-me, seguindo em sua direção. Ele permaneceu
firme, me encarando nos olhos.
— Exatamente! — respondeu, quase rosnando. Me impressionei com
sua coragem, ao mesmo tempo em que quis rasgar sua maldita garganta. —
Por que ela precisa ser julgada se todos somos culpados? Matamos os
filhos, irmãos, sobrinhos de muita gente, chefe. Um dia, pagaremos o preço
por isso, talvez já estejamos pagando, seria melhor deixá-la em paz.
— Nunca, me escutou? Ela me traiu e vai sofrer as consequências —
declarei.
— Sabe o que penso, Oyabun? — Neguei, esperando suas palavras.
— Que você queria muito que ela o traísse só para ter uma desculpa para
prendê-la aqui, com você, sem que se sinta tão culpado.
Dorso me deu às costas, deixando-me pensar sobre seu palpite. Levei
minhas mãos aos cabelos, puxando-os.
Talvez fosse verdade, mas que se foda, eu a pegaria de volta e ela
aprenderia uma ou duas lições sobre nunca, jamais, me deixar sozinho
como se eu não significasse nada.
Mal me recuperei da crise de ódio e meu celular vibrou com uma
mensagem.
“Eu não estou com eles, mas não quero estar com você. Me deixe ir!”
Apertei o aparelho com tanta força, que quase o quebrei.
“Volte, Pansã. Sabe que não vou demorar a te achar.”
Enviei e esperei. O número estava como privado, provavelmente de
algum celular descartável, entretanto, eu tinha meus meios de conseguir
localizá-la. Caminhei para fora, ainda esperando alguma resposta e segui
pelo jardim até a pequena central atrás da garagem, abri a porta e encontrei
meus rapazes trabalhando em seus computadores, todos com olhos atentos
ao localizador do maldito que fugiu com a minha mulher apitando em
vermelho na tela.
“Não há motivos para que queira isso. Nunca vou amar alguém como
você.”
Não deveria, mas me atingiu.
Fiquei lendo aquela mensagem repetidamente, tentando me convencer
de que não precisava do amor dela, somente daquele corpo ao meu lado, da
sua obediência e completa rendição, era questão de poder, nada mais.
Encarei um dos garotos e estendi meu celular para ele.
— Descubra de onde vem as mensagens, passe a informação apenas
para mim ou Dorso, entendeu? — Ele assentiu e voltou-se para frente,
conectando meu celular em seu computador e começando a fazer o seu
trabalho.
Eu tinha os melhores comigo, logo os ratos irlandeses morreriam e ela
voltaria para as minhas mãos. A faria sofrer, marcaria seu corpo com meu
nome e deixaria exposto para todos que ela havia se tornado meu mais novo
brinquedinho.
Se ela não poderia me amar, eu também faria esse favor a ela.
A brincadeira de casinha acabou no momento em que ela desceu até
aquele porão. Agora ela conheceria o mafioso que tanto julgou e que eu
escondi debaixo da pele do homem que ela adorou ter por perto.
O homem chorava feito criança enquanto era cercado pelos meus
soldados, todos os outros estavam mortos, espalhados pela casa pequena do
lado inverso do Monte Fuji, onde eles tinham se escondido. Não era muito
longe, mas precisava dar a volta pela estrada.
Demoramos cinco dias para organizar nossos homens e cercar os
filhos da puta.
Contudo, ela não estava lá.
Apertei a faca com mais força contra seu braço, apenas abrindo a pele
e vendo o sangue escorrer. Ele tinha sofrido da primeira vez que esteve
comigo, mas nada se comparava ao que eu iria fazer assim que ele abrisse a
boca de onde estava a Fabíola.
— Por favor! — implorou mais uma vez, os olhos avermelhados de
tanto chorar, o cheiro de xixi subindo.
Seu corpo ainda permanecia vestido, a minha intenção era bem
objetiva e não perderia tempo despindo o filho da puta.
— Diga, onde ela está? — Outra vez a pergunta de milhões. Ele
sacudiu a cabeça em negativo.
— Eu juro que não sei, ela fugiu de nós!
— E como conseguiu um telefone descartável para me enviar
mensagens? — Chutei a cadeira onde ele estava amarrado, o fazendo cair e
gemer de dor. — Por que a localização dela nos trouxe aqui? — gritei, me
agachei mais perto de seu rosto ao mesmo tempo que estendia a mão, Dorso
logo me trouxe a outra faca, sua lâmina perfeita para escalpelar.
— Não foi ela! — murmurou.
— Como disse? — Aproximei ainda mais meu rosto.
— Não foi... não — ele gritou quando forcei a ponta da faca contra a
pele de seu rosto, mostrando-o o quanto estava bem afiada e servia
esplendorosamente para o que eu pensava. — Fomos nós — confessou.
— É melhor você explicar isso direitinho...
— Nós temos seu telefone e a usaríamos para atrair você... Mas ela
fugiu, por isso mandamos mensagens como se fôssemos ela, torcendo para
que rastreasse o aparelho. Pela forma como agiu, pensamos que você cairia
e viria despreparado atrás dela.
Ri alto, sendo acompanhado por Dorso.
— Idiota! Acreditou mesmo que eu, o líder de uma organização
conhecida pelo mundo, temida e respeitada, sairia de cabeça quente para
enfrentar um inimigo que me quer morto?
Ele engoliu em seco e recebeu um chute nas costelas pela ousadia de
me diminuir tanto. O irlandês tossiu sangue e voltou a chorar, parecia uma
criança escandalosa.
— Não conseguiram nem prender uma mulher — resmunguei e dei
outro chute, o ouvindo gritar de dor. — Uma mulher sozinha em um país
que ela não conhece e nem sabe falar a língua. — Mais um chute, dessa vez
por me fazer pensar em tudo que aquela desgraçada poderia estar passando.
Não deveria, porém, me preocupava com ela.
Depois de esfriar a cabeça e ver o vídeo de sua fuga mais de uma vez,
tendo Dorso como seu advogado, me dizendo a lista de motivos pelos quais
ela merecia ser ouvida, acabei cedendo.
Ou talvez eu mesmo tenha chegado a essa conclusão, porque não
queria pensar na possibilidade de matá-la.
— Acho que eles são fracos demais, chefe. Não valem a pena —
Dorso disse, debochado.
— Também acho. — Umedeci meus lábios e suspirei. — Por ter
tirado minha mulher de mim, vou tirar algo que gosta muito de você
também. — Puxei sua cadeira para que ficasse de pé novamente, então usei
a faca para cortar o tecido de sua calça, exatamente onde estava seu pau
mijão. Ele começou a se tremer e tentar fugir, o que piorou a sua situação.
Seus gritos se tornaram ainda mais altos quando comecei a rasgar a
pele e a carne do seu membro fora, não demorou e ele desmaiou no meio do
caminho; a quantidade de sangue não me causava repulsa, na verdade,
fiquei satisfeito por descontar nele toda a frustração que sentia por tê-la
perdido. Por ela ter preferido ir com ele.
Joguei o pedaço inútil no chão, nem era tanta coisa assim.
Caminhei para a porta e bastou um olhar na direção de Dorso para
que ele soubesse o que fazer.
— Vamos, ele vai apodrecer sozinho — falou, movimentando os
outros soldados que nos acompanhavam.
O irlandês sangraria até a morte e, se desse sorte, logo seria
encontrado por algum turista que chegasse naquela altura do monte Fuji.
Eu precisava encontrá-la, sabendo que estava sozinha seria muito
fácil. Uma estrangeira linda como ela não passaria despercebida por
ninguém. Fabíola não deveria estar longe. Há poucos metros dali existia o
início de um vilarejo, mais à frente a estrada que poderia levá-la a Tóquio,
de lá, sim, ela seria capaz de conseguir algo para ir mais longe; o que
também não ocorreria, pois sua foto estava sendo compartilhada por todos
os aeroportos do Japão e distritos policiais, se ela procurasse por ajuda, eu
seria informado imediatamente, o mesmo valia para uma tentativa de sair
do país.
A ligação era com um italiano e não parecia ser algo muito bom.
Dorso nunca levava bobagens para Saki resolver em casa, isso porque meu
mafioso estava se dedicando para demonstrar que eu poderia confiar nele de
olhos fechados. Eu já o fazia, mas ele não precisava saber disso, gostava
das massagens e porções extras de Manju.
Em minha defesa, eu comia por dois, precisava das doses extras
daquele bolinho dos deuses.
Katsuo andava de um lado a outro falando um italiano rápido e um
pouco arrastado, enquanto Dorso apenas me olhava com as sobrancelhas
erguidas, sabendo que eu estava doida para saber do que se tratava.
— Posso ver como está? — perguntou tímido. Concordei, arrastando
a blusa para cima e expondo a minha barriga de seis meses.
Meu filho deu uma boa esticada entre um mês e outro, surpreendendo
com o tamanho atual da minha barriga, agora era difícil ficar de quatro e em
pé, sendo assim, de lado ou apoiada na parede com sustentação nos joelhos
vinha sendo as melhores opções para saciar meu apetite sexual.
— Meu Deus, que salto foi esse? — disse divertido e sorri de canto.
Ainda era difícil. Na verdade, nunca nada seria fácil para mim naquele
mundo, eu não cresci dessa forma, apesar de ter visto a violência pingando,
literalmente, em meu rosto.
— Também fiquei surpresa quando vi as fotos.
— Ele tira todo mês?
— Religiosamente.
Katsuo dizia existir muitas tradições de sua família, mas ele não
seguia a todas e algumas não chegou a aprender da maneira correta, por
isso, decidiu criar uma que começaria por nós e seguiria do nosso filho em
diante. Todo mês, no dia que descobrimos sua existência, ele tirava uma
foto minha usando apenas shorts e top para mostrar a barriga, porém,
ninguém além de nós veria, pois ele ainda não lidava bem com o fato de
outros homens me verem dessa forma.
— Falando nisso, melhor eu abaixar a blusa antes que ele volte.
Dorso concordou rindo e eu cobri minha barriga novamente.
O soldado já não era apenas isso, tornou-se quase um irmão, assim
como Kiro.
Saki desceu a passos pesados e estendeu o telefone de volta a Dorso.
— Mande homens para Boston, Lucca vai precisar.
— Irlandeses de novo? — questionou Dorso.
— Não, algo novo e mais pessoal.
Existia uma fúria no brilho escuro de seus olhos.
— Eu iria pessoalmente, mas não arriscarei estar tão longe assim de
vocês. — Encarou-me. — Muito menos carregá-la comigo e colocá-la em
perigo.
Não sabia o que era, mas trouxe fantasmas do passado de Katsuo;
alguém sairia morto nessa história e eu agradecia que ele não faria parte
dessa conta, mesmo que fosse errado esse tipo de pensamento.
Minhas mãos estavam cheias com seus peitos, eles cresceram ainda
mais e eu aproveitava cada segundo dessa fase. Afundei meu rosto contra a
curva do seu pescoço e meti devagar, enchendo-a com meu pau; gemi rouco
e aproveitei para morder o lóbulo de sua orelha, conseguindo um
choramingo delicioso escapando de seus lábios.
Minha Pantera seguia quase insaciável e só conseguia tudo que queria
de mim por causa dos bons resultados dos seus checkups. A vida do lado de
fora dessa casa se tornou um borrão em minha mente, pois as pessoas mais
importantes para mim se encontravam dentro dela.
Kiro e Dorso seguiam sendo excepcionais, demonstrando a lealdade
que me juraram e o respeito que poucos poderiam ter daqueles homens,
Tóquio não era mais minha segunda casa, meu escritório permanecia sem
minha presença há pelo menos um mês. Fabíola completaria nove naquela
mesma semana.
— Katsuo — chamou, parei o movimento, temendo que estivesse
machucando-a. — Quero algo diferente, por favor.
— O que você quer, Pansã? — sussurrei, minhas mãos desceram até
sua barriga, acariciando-a.
— Que me foda por trás.
— Já estou fazendo isso — respondi divertido, então me dei conta do
que ela queria dizer. Travei no mesmo instante, meu pau tão duro quanto
antes, pensando na possibilidade. — Fabíola...
— Por favor — balbuciou. — Eu pesquisei e não tem problema, eu
quero você assim, quero muito gozar tendo seu pau no meu...
— Eu entendi, Pansã. — A interrompi sôfrego. Caralho, só de pensar
sobre isso já me perdia em luxúria.
Não que o sexo fosse ruim, jamais, qualquer contato íntimo com
Fabíola era o céu para mim, a mulher me tinha por completo e eu sabia que
não encontraria ninguém que me fizesse sentir tantas coisas em questão de
segundos. Mas, comê-la daquele jeito era sublime, meu pau pulsou só com
a expectativa.
— Tem certeza? — insisti, precisava saber o quanto era o tesão
falando ali.
— Sim, por favor. — Apertei seu quadril e soltei o ar devagar, me
controlando para não estocar bruto e obrigá-la a parar de me excitar dessa
forma. — Mas terá que colocar a camisinha, tudo bem? — Virou a cabeça
para me encarar, assenti, ainda aturdido com seu pedido.
Movi o quadril mais algumas vezes, a fazendo suspirar e deslizei
minha mão para o seu clitóris, a queria gozando outra vez, já que o primeiro
foi na minha boca, pois eu amava seu gosto na minha língua. Esfreguei com
cuidado, acompanhando o ritmo das minhas estocadas, ela se agarrou ao
lençol, contorcendo-se inteira e chamando por mim daquele jeito deleitoso.
— Goza, minha Pantera, prometo que depois eu deixo todo meu
esperma nessa bunda gostosa. — Mordi sua nuca e a ouvi gemer alto ao
mesmo tempo que seus músculos internos me apertavam com força, ela
parecia ainda mais apertada nos últimos meses.
Prendi a respiração e esperei que ela se acalmasse para poder sair de
seu corpo com cuidado. Me levantei rápido, a deixando recuperar o ar, e
assim que voltei do banheiro com a embalagem de camisinha na mão,
paralisei ao pé da cama. Fabíola parecia uma miragem perfeita, suas curvas
maiores por causa da gravidez e a barriga linda e grande apoiada sobre um
travesseiro; os seios pesados e cheios com as aréolas escuras e os bicos
duros me fazendo lembrar como era gostoso chupá-los, mas ela estava
evitando meu acesso a eles por causa da sensibilidade. Subi o olhar,
encontrando os olhos cor de avelã me analisando também, os cabelos
bagunçados e espalhados pelos lençóis e seu rosto.
Selvagem e delicada, era assim que se parecia enquanto estava nua
sobre a minha cama e grávida do meu filho, esperando ansiosa pelo seu
homem, sabendo bem o que queria e como faria para conseguir.
Me senti uma presa e, porra, adorei isso.
Rapidamente, abri o pacotinho laminado e vesti a camisinha, em
segundos eu me encontrava posicionado atrás de seu corpo com meus dedos
penetrando sua boceta e se melando com a lubrificação. Esfreguei sobre
meu pau e aproveitei do próprio líquido da camisinha para circular seu
ânus, conseguindo um gemido manhoso dela.
Apertei os olhos quando me posicionei e o empurrei devagar,
sentindo-a relaxar e me permitir ir mais fundo, agarrei seu quadril.
— Porra! — resmunguei. — Eu vou gozar logo, Pansã.
— Não antes de mim — rebateu, a voz ainda baixa e languida.
Minha pélvis bateu contra sua bunda e soltei o ar com certa
dificuldade; esperei até sentir que não a machucaria, então comecei a
estocar fundo e constante. A lascívia era derramada a cada gemido que
compartilhávamos naquele quarto, eu queria que o mundo explodisse do
lado de fora, não me importava, eu só pararia de foder aquela mulher se me
matassem. Seu corpo era completamente receptivo a mim, a pele brilhando
do suor e a bunda atrevida rebolando contra cada movimento meu.
Fabíola era impiedosa, queria tudo de mim e conseguiria isso com
facilidade.
Escorreguei a mão novamente para a sua boceta e introduzi dois
dedos, seus gemidos se tornaram gritos e logo ela explodiu naquela
ejaculação intensa que me deixava fascinado por ter conseguido tal feito.
Não demorou para que eu também acabasse desnorteado, esporrando com
força em seu rabo e perdendo o controle sobre meu corpo com pequenos
espasmos involuntários.
Beijei seu pescoço enquanto minhas mãos desciam e subiam suaves
por suas costelas, acalmando-a ao mesmo tempo em que eu mesmo me
controlava.
— Vai precisar ir mesmo? — murmurou.
Saí de seu corpo lentamente e me levantei, ela não se mexeu, sabendo
bem o que eu faria. Retirei a camisinha a amarrando e jogando no cesto de
lixo, depois peguei uma das toalhas lavadas do armário e umedeci com água
morna do chuveiro, retornei e me sentei na cama, passei o tecido felpudo
suavemente por suas coxas, depois a ergui com cuidado e limpei suas partes
íntimas, acalmando a pele com a temperatura da água. Ela suspirou
satisfeita.
— Não iria se pudesse, mas tenho que assinar algumas coisas e os
dois estão ocupados.
Kiro foi presencialmente para Boston ao saber do que se tratava,
enquanto Dorso ficou com a carga do escritório e soldados, mas,
infelizmente, não poderia me trazer os documentos para assinar e mandar
ao nosso representante.
— Quer saber? Eu estou sendo injusta. — Ela tentou se sentar
sozinha, mas o cansaço cobrou seu preço e a ajudei antes que caísse de
volta. — Você não pôs a cara fora dessa casa desde o mês passado.
Me inclinei em sua direção e acariciei seu rosto. Algo nasceu entre
nós, muito forte e cheio de carinho e respeito, e eu presava por isso, passar
o tempo ao seu lado não era sacrifício e eu percebia o quanto ela também
apreciava estar comigo. Contudo, algo a fazia sempre ficar insegura, com
pensamentos irreais de que se tornou um fardo para mim. Na verdade, eu
mal lembrava do mundo do lado de fora quando não a tinha comigo.
— Não está, eu prefiro ficar com você nessa casa do que sair para
qualquer lugar do mundo. — Lembrei de algo e sorri para a minha linda
mulher. — Que tal viajarmos assim que for permitido para o nosso filho?
Ela arregalou os olhos.
— Seria seguro?
— Eu farei ser. O que acha de me apresentar o Brasil? — Fabíola
parecia uma criança descobrindo que iria para a Disney. — Pensei também
que poderia conversar com sua sócia no Brasil e administrar sua parte
daqui.
Dei um celular para ela há três meses, a primeira coisa que fez foi
contatar a mulher e assegurar que está bem, dessa forma, ela parou uma
investigação de desaparecimento que estava em andamento. A desculpa de
Fabíola para demorar a contatar alguém foi que perdeu o celular na Itália e
demorou para conseguir dinheiro para outro, depois ela encheu a mulher de
informações e isso desviou o assunto.
Fabíola venderia sua parte para a sócia, mas eu via que ela não era do
tipo que ficaria tranquila em casa sem fazer outra coisa a não ser cuidar do
filho e do lar.
— Acha que daria certo?
— Bom, você pode gerenciar tudo a distância e quando precisar
viajar, vamos todos juntos. Posso arranjar isso.
Ela se jogou em minha direção, enlaçando meu pescoço com seus
braços.
Nunca foi minha intenção desmontá-la de quem era, se existia
possibilidade de devolver a vida que lhe roubei, eu faria, só não
conseguiria, infelizmente, trazer seu irmão de volta, porém, todo o resto
sim. Mesmo que me custasse a paz, eu daria um jeito.
Os gritos de Fabíola invadiram a minha alma e apunhalaram meu
coração uma vez mais. Segurei firme sua mão e observei enquanto a shin-
sanba [5] a instruía com cautela e extremo profissionalismo. Foi difícil achar
alguém que atendesse aos Gokudos e falasse o inglês fluente, pois eu
duvidava ter cabeça para ficar traduzindo tudo à minha Pantera. Foi a
melhor decisão que tomei.
A senhora compassível a mantinha centrada e lhe dava forças para
continuar, a posição foi escolhida por Fabíola, o que depois descobri se
chamar parto de cócoras; eu fiquei à sua frente enquanto ela apoiava as
mãos sobre a cadeira adaptada que a própria shin-sanba trouxe em seu
carro. Os olhos avelã buscaram pelos meus e tratei de passar toda a
segurança que ela procurava em mim, então ergueu a cabeça, soltando mais
um grito alto e pude ver a movimentação rápida da parteira, outro grito e
segundos depois o chorinho que tanto esperávamos ouvir.
Foi um momento de conexão, nossos olhares se encontraram e
sorrimos juntos, assim como deixamos as lágrimas escorrerem livremente.
A vida que nós dois geramos gritava por atenção, afeto e esperança, e sem
aguentar, a abracei, tomando cuidado para não atrapalhar o que a parteira
fazia. Quando nos afastamos, o vimos, lindo, grande e com um fôlego
potente.
Ajeitei Fabíola em meu colo e nosso bebê foi colocado em seus
braços com os meus por baixo.
Diogo Toyosaki era uma mistura perfeita de nós dois, os olhos
levemente mais puxados, a boca carnuda e a pele alguns tons mais escura
do que a minha.
O nome foi uma pequena homenagem ao irmão caçula de Fabíola,
onde ela preferiu não deixar igual, mas uma variante dele. Segundo ela, era
uma forma de demonstrar que jamais o esqueceria, porém, aceitava seu
destino e entendia que ele tentou reparar seus erros ao pedir sua proteção.
Fiquei hipnotizado pelo pequeno em nossos braços e ali reconheci
algo que vinha sendo empurrado para o lado a cada vez que eu pensava
sobre: era amor.
Começou como desejo carnal, se tornou possessão da mais crua e
distorcida e, com todas as nossas nuances, desenvolveu-se em algum ponto
do caminho. Olhava para Fabíola e encontrava a minha Pantera linda de
olhos cor de avelã e cabelos volumosos, ao mesmo tempo, enxergava a
mulher forte e intensa que causou a turbulência na minha vida, ainda mais
do que toda a guerra em que enfiei os Gokudos, também via a irmã que
lutava todos os dias para se convencer de que não era errado me amar, não
quando seu próprio irmão a inseriu nesse mundo. Agora, no entanto, eu
conseguia sentir a mãe feroz que ela se tornou, mesmo antes de Diogo
nascer.
Ela era inteira para mim, todas as pequenas partes, desde as mais
lindas até as sombrias.
[1]
Traduzido do japonês para o português= Pantera
[2]
Equivalente a “querida” “meu bem” em japonês
[3]
Um tipo de pedra na cor preta.
[4]
Bolinho mais tradicionais japoneses, feitos à base de mochi e, geralmente, recheados com
anko.
[5]
Equivalente as doulas no Brasil.