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Sinopse

O amor é uma loucura.


O amor é angústia.
O nosso foi malfadado desde o início.
Mais louco do que a loucura.
Mais doente do que a doença.
Samael era o epítome de um lindo pesadelo.
Juntos, éramos poesia. O tipo que sangrava e chorava, uma
confusão de felicidade eufórica e desgosto.
Eu prometi que estaria ao seu lado até o amargo fim, mas depois
de muito tempo eu precisava me livrar dele.
Sair seria uma das coisas mais difíceis que já fiz. Ele viria atrás
de mim, disso eu tinha certeza. Muitos perderiam suas vidas, se
tornando vítimas em nossa guerra.
Quando tudo isso fosse dito e feito, nossa história seria
sussurrada em cantos escuros por muitos anos.
A história de um lobo perseguindo um cordeiro, mas com uma
torção masoquista. Pois até os cordeiros têm dentes, e este morde
de volta.
Arvore da Família
Romero + Calista
Adelaide
Lucifuge
Belladonna

Grimm + Arlen
Nyx
Samael

Cobra + Blue
Braxton AKA Butcher
Cameron
Lilith
Bonus Um
Grimm + Arlen

Grimm

Não importa o quão quieto estivesse, minha mente nunca


parecia se acalmar. Eu passei inúmeras noites assim, acordado e
fazendo perguntas que não podiam ser respondidas. Continuei
caindo no mesmo ciclo repetitivo e de merda, sempre quando o sol
se punha.

Mas eu poderia lidar com isso.

Isso não me impediu de preferir a escuridão ao sol. Se alguma


vez fosse demais, tudo o que eu precisava fazer era alcançar a
mulher que sempre esteve ao meu lado.
A contragosto, eu desci silenciosamente da nossa cama,
deixando para trás o conforto do calor de Pirralha. Encontrei minha
calça no chão e olhei para ela enquanto a vestia. A luz da lua
filtrada por um painel parcialmente aberto iluminou a tinta em sua
pele dourada. Ela ainda era a coisa mais linda que eu já vi.

Seu cabelo estava espalhado sobre um travesseiro, bagunçado


de nós como adolescentes cheios de luxúria uma hora ou mais
atrás.

Duas crianças, alguns bons momentos, e alguns outros


reconhecidamente difíceis depois, eu ainda estava pasmo de que
aquela mulher selvagem pertencia a mim. Pareceu uma vida atrás
desde que eu a tirei do buraco de merda degradado que ela estava
trancada.

Eu estava mais grato ao nosso Lorde das Trevas do que nunca


por nos unir.

Ela era minha única constante e eu dela. Depois de tudo que


passamos para estar onde estávamos hoje, ela nunca se permitiu
ceder ao caos, mesmo quando tinha um milhão de razões para
poder.

Especialmente agora.

Eu sabia que ela estava sofrendo, com o coração partido por


nossos amigos. Mais para nossos filhos. Nyx, nossa linda garotinha
que foi forçada a crescer com mais traumas do que jamais
queríamos que ela crescesse.
Eu estava preocupado com ela, mas ela provou que era uma
Savage por completo.

Agora ela estava aprendendo ansiosamente a navegar no


caminho que eu uma vez fiz como ceifeiro, apesar de toda a merda
que ela tinha que superar.

E então havia Samael.

Acho que todo homem sensato quer um filho. No dia em que


ele nasceu quase chorei. Se ao menos eu tivesse uma ideia do
caminho que ele escolheria seguir. Ele escapuliu de nós e se tornou
uma força em Badlands só sua. Achei que estávamos agindo bem
com ele, mas claramente não era o caso.

O único conforto que eu tinha mais era que ele aprendeu o


suficiente com sua família, com os Savages, para prosperar. Ele
estava fazendo um nome para si mesmo, implacavelmente. Eu me
lembrava disso toda vez que outro boato chegava até mim ou sua
mãe.

Não ouvimos nenhuma besteira sem sentido. Se não pudesse


ser provado, não era nada além de uma fofoca idiota.

Me abaixando, eu gentilmente puxei o edredom para cobrir o


peito nu de Pirralha, tomando cuidado para não acordar ela.
Virando, peguei minhas botas perto da mesa de cabeceira e saí do
nosso quarto. Na semana passada, estive me encontrando com
Romero e Cobra.
Com tudo que estava acontecendo agora, Rome havia
intensificado seus esforços para obter informações. Ele não estava
brincando sobre enviar mensagens claras para as outras facções
também, pegando seus membros um, dois de cada vez. Eu não
tinha certeza de qual era o jogo final ou o que estava acontecendo
dentro de seu cérebro diabólico.

Eu não saberia todos os detalhes até que ele quisesse. Essa


era a norma, no entanto. Eu estava bem com isso. Eu estive com ele
desde que éramos dois meninos, crescendo entre canibais.

Ele sempre fez o que era necessário para garantir que Cobra e
eu estivéssemos bem em mais de uma área. Os métodos podem ser
considerados não convencionais. Isso era apenas Rome. Além disso,
eles funcionaram. Nunca tive motivos para questionar eles.

Até agora.

Ele era como um irmão para mim. Eu sabia que ele se sentia
irracionalmente responsável pelo que havia acontecido.

Isso me irritou.

Eu gostaria de poder enfiar na cabeça dele que ele não poderia


controlar todos os malditos resultados da vida. Diabo venerado ou
não, nenhum homem tinha tanto poder. Eu dei crédito a ele, ele
sempre parecia estar um passo à frente de todos, mas não havia
como ele saber que isso iria acontecer.

Saí da casa de minha família e me dirigi para o armazém


designado.
Era tarde, apenas os acólitos em patrulha estavam fora,
figuras encapuzadas que se misturavam às sombras.

Exatamente meu tipo de pessoa.

Eu cheguei onde eu precisava estar, parando do lado de fora


da entrada. Os dois acólitos posicionados de cada lado não
prestaram atenção em mim, permanecendo em silêncio e imóveis
como estátuas, os rostos cobertos por suas máscaras brancas
características.

Passei a mão pela barba, contendo um suspiro. Eu não tinha


certeza de qual era o meu problema ultimamente. Talvez fosse a
previsão de que o que quer que viesse em nosso caminho desta vez
poderia muito bem envolver minha própria carne e sangue.

—Entrando,— eu disse, dando um passo para trás para que


um dos acólitos pudesse me deixar entrar no prédio.

Houve um leve zumbido quando a porta do armazém deslizou,


a luz de dentro se espalhando.

O cheiro de desinfetante, sangue e medo atingiu todos os


meus quatro sentidos quando entrei.

Vendo que Romero e Cobra já estavam imersos na preparação


para a noite, me perguntei há quanto tempo eles estavam aqui.

—Eu cheguei aqui há vinte minutos, ele esteve aqui antes de


mim, — Cobra respondeu ao meu pensamento não falado.
Eu balancei a cabeça e levei um minuto para avaliar o que
estava acontecendo. Dois acólitos estavam de cada lado da sala.
Havia uma engenhoca pesada do tipo de ferro no centro da sala. Eu
não conseguia me lembrar de ter visto isso antes. Eu com certeza
não sabia o que fazia. Um pedaço grosso de corda foi enrolado em
torno de uma das vigas de metal do armazém, a extremidade
deixada pendurada livremente perto do topo do dispositivo.

Isso não era a coisa mais importante a descobrir naquele


momento. Havia um homem amarrado como porco, com um trapo
que parecia coberto de merda enfiado na boca, no chão em frente a
ele.

Uma mulher ajoelhada ao lado dele, a cabeça baixa, uma


massa de cabelos castanhos desgrenhados escondendo seu rosto.
Os tremores contínuos que sacudiam seu corpo revelavam o quanto
ela estava com medo.

Os cadáveres da noite anterior já haviam sido retirados,


deixando apenas essas almas patéticas para o entretenimento desta
noite.

—De onde são esses dois?

—Apenas alguns atrasos, — Rome respondeu, puxando a


ponta da corda como se fosse testar ela.

—Oh.

—Oh? Isso é tudo que você tem? — Cobra questionou. Ele


parecia desapontado com minha falta de entusiasmo. Eu duvidava
que fosse por meu desinteresse em nossas mais novas cobaias de
teste. Eu não precisava saber quem eles eram. Uma vez que Rome
os fizesse começar a falar, eu descobriria.

Tinha que ser o novo dispositivo. Cobra ainda era como uma
criança, sempre animado para novos brinquedos.

—Você conhece meu estilo.

—Sim... — ele suspirou, esfregando a parte de trás do pescoço,


—você está bem fixado em seus caminhos agora, velho.

—O que quer que você diga, garoto lagosta, — eu atirei de


volta com um sorriso.

Rome riu baixinho, mas permaneceu focado em qualquer coisa


que ele trouxera.

Alguns podem ter achado chocante que pudéssemos estar


perto um do outro como sempre estivemos. Eu seria um mentiroso
se dissesse que não há nenhuma tensão sob a mentira entre nós.
Como poderia não haver?

O filho de Cobra ajudou a nos trair e meu filho levou sua filha.
Então havia Rome, tão quieto e imprevisível como sempre, com um
protegido um ou dois passos atrás dele.

Todos nós estávamos fazendo o melhor para manter a cabeça


fria e descobrir esta situação sem falar sobre o que todos nós já
sabíamos.
Os Savages sempre foram mais fortes por causa da unidade e
da confiança. Eu tinha fé, não importava o resultado que
permaneceríamos como sempre estivemos, juntos.

—Com quem eu começo? — Rome perguntou, finalmente se


afastando da engenhoca.

O topo obviamente foi feito para infligir o maior dano. Ao todo,


essa coisa parecia um banquinho de três pernas, mas o assento era
uma pirâmide de peso pesado em vez de plana.

Ouvindo sua pergunta, o cara com a mordaça tentou falar,


uma enxurrada de sons ininteligíveis veio por trás do pano.

—Como ele já está tão ansioso para falar, comece com a


mulher.

—Ela precisa ser despojada. — Sem mais debate, Rome a


agarrou pelo braço esquerdo e a colocou de pé, deixando seu
protesto choramingado cair em ouvidos surdos.

Olhei entre ela e a pirâmide e tive uma ideia repentina do que


era.

—Onde você encontrou aquilo?

—Na verdade, — ele começou, passando a mulher para Cobra,


—isso foi obra da sua irmã.

Ele parecia bastante orgulhoso. Ele sempre estava quando


falava de Calista.
—Bom gosto, como sempre, — comentou Cobra, rasgando a
blusa da mulher com um canivete.

—O que você precisa que eu faça?

—Eu vou levantar ela. Um de vocês segura as pernas dela e o


outro pode amarrá-las com uma corda.

Com essa pequena informação, tive certeza de que meu palpite


estava certo. Me movi para ficar ao lado do homem agora se
contorcendo como um verme da terra, na chance remota de ele
conseguir se levantar em uma demonstração estúpida de bravura.

Nunca tive uma morte complicada, mas às vezes gostava de


ver o sofrimento que daí advinha.

Depois de passar tantas noites matando pessoas diferentes


para obter informações, eu estava começando a gostar um pouco
mais.

Se ajudasse a corrigir os erros, eu poderia fazer isso o dia


todo.
Arlen

Azul tingiu os cantos mais longínquos do céu. Em mais duas


horas, seria ouro. Grimm estaria aqui antes disso. Ele sempre
voltava na mesma hora todas as manhãs.

Quando isso começou, eu tinha ido com ele, mas depois de


algumas noites preferi ficar aqui e esperar o retorno do meu
homem.

Eu sabia que eles estavam procurando pistas e outras coisas


sobre algumas coisas. Era um pouco suspeito quando considerei
que a cabeça de Romero continha a maioria das respostas para
tudo.

Ele não iria torturar pessoas sem motivo, no entanto.

Esses três eram certamente assassinos sem emoção, mas não


se comportavam como cães selvagens.

Mesmo quando Cobra arrastou alguém para suas atividades


recreativas, ele não era um isolado aleatório arrancado de
Badlands. Para ser franca, eu não poderia me importar menos com
o que qualquer um deles fazia. Todos nós tínhamos o mesmo
interesse comum e o tempo não parava para que todos pudessem
fazer suas merdas juntos.

Quando eu voltasse a acordar nos braços de Grimm, seria


quando tudo estivesse bem novamente. Eu tinha fé que seria em
breve, mas não era uma idiota ingênua. As coisas iam ficar muito
mais difíceis antes de melhorar.

Eu não sabia qual era o meu papel em tudo isso. Apesar de


todo mundo estar dançando ao redor desse elefante, com certeza eu
faria tudo o que pudesse para ajudar. Não importa o que
acontecesse, eu tinha que ver Samael uma última vez.

Eu não estava planejando arrastar ele para casa ou exigir uma


explicação do por que ele fugiu.

Eu só precisava ver ele novamente. Ele poderia nos dar um


verdadeiro adeus, certo? Ele tinha que saber o quanto sua família
sentia falta dele, e que Nyx ainda era loucamente protetora quando
se tratava de seu irmão mais novo.

Ouvindo os passos familiares e pesados na varanda da frente,


me sentei um pouco mais reta e ajustei a manta de lã nos ombros.
Pode ter estado queimando lá fora, mas o ar-condicionado manteve
frio aqui.

Grimm entrou na sala parecendo muito vibrante para um


homem que mal dormia. Simplesmente não era justo alguém ter
uma aparência tão boa quanto ele.

Os fios de prata começando a aparecer em sua barba e em


cima de sua cabeça cheia de cabelos eram os únicos sinais
perceptíveis de envelhecimento.

Olhando para ele naquele momento, você não saberia que ele
estava escondido em uma câmara de tortura.
Sua camisa estava um pouco amassada, mas poderia ser por
estar no chão a maior parte da noite.

—Bom dia. — Ele afofou o topo da minha cabeça e se sentou


ao meu lado, fazendo com que o sofá afundasse.

Ele se reajustou depois de um mero minuto, chutando as


pernas por cima do braço do sofá e posicionando a cabeça no meu
colo. O homem era como um cachorro gigante.

Eu alisei o cabelo que ele tinha acabado de perturbar e tentei


encarar ele com raiva. Assim que olhei para aqueles olhos
castanhos escuros, era uma causa perdida.

—Você está esperando há muito tempo?

—Quem disse que eu estava esperando?

Ele sorriu para mim, mudando seu peso para ficar confortável.

—Você sempre espera por mim. É por isso que eu sempre


volto.

Coloquei minha mão no meu peito com um sorriso. —Você tem


que me avisar antes de vir buscar meu coração.

—Cale-se.

Ele fechou os olhos e exalou, relaxando em sua posição de


dormir. Ele não conseguiu esboçar um sorriso, no entanto. Corri
um leve toque em seu rosto, me estabelecendo em meu assento
para que eu pudesse ficar confortável.
Ele só dormiria um pouco. Quando ele acordasse, ele falaria
comigo enquanto passávamos o dia. Grimm não era um grande
falador para começar, mas ele sempre tinha palavras para mim.
Claro que eu ouvia. Seria então que descobriria o que ele fez a noite
toda.

É assim que as coisas eram.

Relevante ou não, eu gostava de ouvir. E eu sempre esperei.

Eu mal podia esperar pelo dia em que ele seria capaz de falar
comigo sem estar tão sobrecarregado. Quando essa hora chegasse,
eu estaria aqui como estou agora.
Bonus Dois
Cobra + Blue

Cobra

Peguei a rota panorâmica de volta à minha casa. A essa hora, a


primeira leva de acólitos e semelhantes se preparava para a
agitação do dia.

Não havia nada de grande para ver no complexo, mas o ar fresco


e o calor sempre me ajudaram a descomprimir.

Eu gostava de ter meus pensamentos um pouco em ordem antes


de ver Blue. Não demorou muito para que o homem trazido aqui
quebrasse. Assistir a um pedaço de ferro abrir a bunda de sua
garota teve um efeito muito satisfatório.

A pessoa que Romero realmente procurava seria encontrada


agora. Foi uma jogada inteligente quando pensei sobre isso. Quem
quer que estivesse por trás da persona que ele procurava sabia
muito sobre o que acontecia em diferentes áreas de Badlands para
ser coincidência.

O que quer que Rome tenha planejado, esperançosamente nos


traria um resultado logo. Embora eu honestamente não pudesse
dizer qual deveria ser o resultado. Eu não sabia por onde começar
em termos de consertar nada disso, só sabia o que precisava ser
feito agora.

A dor que veio de perder Braxton nunca diminuiu.

Sua traição era uma coisa. Eu poderia tê-lo protegido se ele


estivesse arrependido.

Eu teria feito tudo ao meu alcance para salvar ele, mas ele não
se desculpou no final e o que ele fez à nossa família foi imperdoável.
Seu raciocínio seria para sempre uma das minhas maiores
decepções.

Ele desistiu de tudo por um fio de poder. Acontecia o tempo todo


aqui em Badlands. Merdas como essa nunca aconteceram aqui, no
entanto. Não machucamos as pessoas que estavam em nossas
costas. Cam foi seu maior defensor até o dia em que se voltou
contra ele.

Eu sabia o que era ter demônios habitando dentro de sua


cabeça. Quando eu olhava para Cam às vezes, era tudo o que via
refletido em seus olhos.

Brax o tinha fodido.


Ele tinha fodido muitas pessoas por causa daquela besteira
inconstante chamada confiança.

Foi tão fácil quebrá-lo em pedaços e uma tarefa árdua de


construir.

Eu não poderia culpar Brax totalmente, no entanto. É meu


trabalho proteger e guiar ele. Eu falhei em fazer isso. Era algo com
que eu teria que viver até dar meu último suspiro.

Antes que esse dia chegasse, eu tinha muito que fazer. Eu


precisava descobrir o que aconteceu com Lilith. A garota que
afirmava ser minha filha perdida tinha que ser tratada. Havia uma
lista de pessoas que eu sentia que devia e no topo estava a mais
importante de todas.

Blue

Eu o vi chegando pela janela e quase caí na minha pressa de


topar com ele na porta.
Quando a tela se abriu, agarrei os dois lados do batente da porta
e bloqueei sua entrada.

—O que... porra? — Com as sobrancelhas franzidas, Cobra olhou


para mim, seus olhos cinzas cheios de confusão.

—Você sabe que não deve entrar aqui usando essas roupas
imundas.

Eu evitei colocar a mão em concha sobre o nariz e a boca quando


cheirei pela primeira vez o que quer que estivesse em sua camisa.
Não era simplesmente sangue. Eu não faria um grande problema
com isso. Fluidos corporais desconhecidos eram um assunto
diferente. Ele sempre parecia estar diretamente na frente de feridas
abertas e fervilhantes.

—Você quer que eu tire minhas roupas lá fora?

—Não é por isso que temos uma caixa de queimar? — Eu apontei


para o final da varanda.

Este foi um conceito que eu criei depois que me cansei de


recolher roupas questionavelmente sujas.

Sua expressão mudou e um sorriso iluminou seu rosto.

—Minhas calças também?

Eu cruzei meus braços e sorri de volta. —Você quer dizer que


metade do complexo ainda não viu sua bunda?

—Mavi, — ele trouxe seu rosto para mais perto do meu. —Você
está questionando minha pureza?
Eu ri e abaixei meus braços. —Estou bem ciente de quão ‘puro’
você é.

Ele recuou e puxou a camisa pela cabeça, expondo o corpo que


não havia mudado muito. Eu não poderia dizer o mesmo de mim
mesma. Os gêmeos e Lilith me deram mais bunda do que eu sabia o
que fazer e as meninas não estavam tão empinadas, mas eu nunca
reclamaria disso.

O bônus é que o Cobra amou tudo sobre essas mudanças.

—Posso entrar agora? — Ele perguntou, jogando a camisa para o


lado.

—Basta tirar as botas.

—Sim senhora, — respondeu ele.

Eu balancei minha cabeça e me afastei. Um segundo depois, ele


estava entrando pela porta e fechando atrás de si.

—Eu preciso de um banho.

—Sim, — eu concordei, olhando para um tom diferente de


vermelho misturado com a cor natural de seu cabelo. Eu estava
acostumada a ver ele assim. Eu nunca mais pestanejei. Se isso o
ajudasse, eu nunca faria objeções. E se isso levasse meu bebê a ser
encontrado e desse o encerramento a Cam, eu apoiava.

Nada era mais importante para mim do que isso. Isso me ajudou
a manter a mente clara. Havia dias em que eu não queria mais me
levantar e sair da cama.
Eu perdi a noção de quantas vezes eu queria que tudo parasse
para que a dor no meu peito fosse embora, mas então pensei em
minha família e em nossos amigos. Eu pensei no homem incrível na
minha frente e sabia que tinha que continuar. Se não fosse por
mim, então por ele e nossos filhos.

É nisso que me concentrei.

Eu não me permiti pensar muito sobre o que Braxton tinha feito


ou o fato de Cobra poder ter outra filha.

Eu ficaria louca.

Em vez disso, tentei ser positiva. Minha filhinha ainda estava


desaparecida depois de todo esse tempo, mas nunca houve um
corpo encontrado ou boato de que foi vista. Em minha mente, isso
significava que ela ainda estava viva. Sabendo o que eu sabia sobre
Samael, ele teria se assegurado disso.

Cam tinha um longo caminho a percorrer, mas estar cercado por


aqueles que ele ainda considerava sua família estava fazendo
maravilhas por ele.

E havia aquela garota bonita com quem ele ficava de vez em


quando.

Eu não tinha certeza se isso aconteceria ou não, mas dormi bem


sabendo que ela não viveria para ver outro dia se ele se machucasse
por causa dela. Ele era querido dessa forma. Ele sempre foi.
Eu gostaria que ele soubesse o quanto era amado antes da
tragédia acontecer.

—Blue, — Cobra chamou suavemente.

Piscando com o toque gentil sob meu queixo, dei a ele um


pequeno sorriso e segurei sua mão. Ele abriu a boca novamente. Eu
fui rápida em trazer minha outra mão para impedir ele de falar.

—Seu banho, — afirmei, entrando em ação, me movendo em


direção ao nosso quarto.

—Já que você está me levando para lá, isso significa que você vai
entrar?

Eu olhei para ele e sorri. —Quem se atreve a perder essa


oportunidade?

O que quer que ele quisesse dizer, ele poderia fazer depois. Nada
mudaria nas próximas três horas. Ele havia desenvolvido o péssimo
hábito de derramar vômito de palavras quando se tratava de mim.
Era a sua maneira de me fazer sentir melhor.

Enquanto eu estava ansiosa para ouvir qualquer coisa e tudo o


que ele sabia, eu tinha que ter certeza de que ele me contaria em
seus termos. Eu nunca pisaria em cima de como ele estava
mentalmente para me deixar bem. Eu precisava que ele estivesse
bem também.

Essa era a única maneira de superar o que estava por vir.


Bonus Tres
Romero

Romero

Foi uma coisa boa eu já ter conhecido bem o inferno, porque


não havia outro lugar para eu ir. Nesse ponto, o chão
provavelmente me cuspiria de volta se alguém tentasse me colocar
abaixo dele.

Eu não estava nem um pouco enojado comigo mesmo ou com


o que fiz para chegar onde estava agora. Meu único arrependimento
foi não ter lidado com Braxton. Para ser justo, eu nunca esperei que
o pequeno filho da puta fosse tão estúpido. O poder pelo qual ele
estava tão desesperado nunca foi seu. Ele não era forte o suficiente
para carregá-lo.

Eu tinha uma visão clara de como seria o futuro da próxima


geração e iria garantir que isso se concretizasse. Foi sua culpa por
não chegar ao quadro geral. Isso também se aplicava a qualquer
pessoa que fizesse merdas imprudentes. Incluindo as facções que
disputam a minha.

Essas pessoas eram um rato para um leão. Muito mais cedo


ou mais tarde, eles seriam lembrados de como tudo isso
funcionava. Eles se arrependeriam do dia em que tiveram bolas
grandes o suficiente para me testar.

Eu encarei os corpos sem vida diante de mim, não sentindo


absolutamente nada. A emoção da morte havia desaparecido assim
que a luz esmaeceu de seus olhos.

Grimm e Cobra já tinham saído, me deixando o último aqui


além dos acólitos ainda de pé em cada lado da sala. Eles estavam
esperando para limpar a bagunça que fizemos.

Boa sorte para eles.

O topo do berço de Judas1 estava coberto de merda, sangue e


tecido de bunda.

O chão onde a morena nua estava esparramada tinha uma


poça decente de vômito de cor escura e mais sangue.

Ela morreu de forma mais lamentável do que o necessário,


fazendo merda estúpida no último segundo.

1
Grimm estava amarrando a corda que prendia seus tornozelos
quando ela teve a brilhante ideia de chutar. Sua bunda não tinha
sido o ponto de entrada pretendido. Eu ia conceder a ela o benefício
de destruir sua boceta até que ela tentou chutar ele.

O processo depois disso foi rápido. O berço funcionava


inserindo a extremidade em forma triangular em um orifício ou
outro. Amarrar seus pés tornou impossível para ela se reajustar
sem causar mais danos.

Você já ouviu o som de um reto sendo aberto de dentro para


fora? É realmente incrível. Não sei se foi ela vomitando ou cagando
que fez seu parceiro fraco desmoronar. Independentemente disso,
eu consegui o que queria e os dois seriam sepultados.

Agora eu precisava recuperar meu prêmio.

Me virando nas botas, sem palavras me dirigi para a saída.

Os acólitos conheciam essa rotina bem o suficiente para


começar a limpar quando eu saísse.

Abri a porta e fiquei cara a cara com Cali. Ou mais, seu rosto
estava no meu peito até que ela olhou para mim.

—O que você está fazendo aqui?

Eu agarrei sua mão esquerda e a guiei na direção oposta.

—Olhando para você. Por que mais eu viria tão longe?

—O que aconteceu?
—Nenhuma coisa. Por que não posso ir encontrar meu
marido? — Ela inclinou a cabeça para trás para que pudesse ver
meu rosto. O sol estava brilhando alto no céu agora, fazendo o azul
de seus olhos parecerem ainda mais brilhantes.

—Porque seu marido disse para você ficar parada.

Ela zombou e desviou o olhar. —Ele pensa que eu sou um


cachorro?

—Nah, apenas uma grande dor na bunda.

—Você ama essa dor na bunda, no entanto.

Ela riu quando eu não respondi, se aconchegando mais perto


de mim. Eu não estava exatamente limpo ou sujo, mas isso nunca
importou para ela. Cali não se importava se eu estava acabando de
sair do banho ou coberto de sujeira ou sangue.

Isso é o que tornou sua pergunta muito retórica. A Terra não


girou em torno do sol? Isso é o que ela era para mim. De uma forma
completamente não extravagante. Mesmo agora, enquanto
caminhávamos pelo complexo de volta para nossa casa, com vários
acólitos agora ativos e cuidando do dia, eles poderiam muito bem
estar invisíveis.

Fada era meu centro. Ela me deu uma razão para viver para
alguém além de mim. Ela me manteve enrolado em seu dedo e eu a
tinha na palma da minha mão.
Tive pena daqueles que nunca experimentariam isso. Não
importa o quão alto os Savages escalassem, havia uma coisa que
nunca mudaria.

O Badlands era um monstro. Isso engoliria sua bunda inteira,


deixando nada além de alguns resquícios de osso para trás. Ter
alguém para passar por este inferno com você era uma bênção.

Provavelmente era uma que eu não merecia, mas eu era muito


egoísta para tê-la deixado ir. Aquela nave havia caído, queimado e
afundado anos atrás. Boa coisa também. Sem Cali, eu não teria
Luce, Bella e Adelaide.

Ela brincou com uma longa mecha de cabelo, facilmente


mantendo o ritmo ao meu lado.

—Você conseguiu o que precisava?

—Em algumas horas eu vou. Você estará comigo quando eu


fizer isso.

—Então é melhor você começar a explicar o que essa


afirmação enigmática significa no caminho para onde quer que
esteja essa coisa de que você precisa.

—Não explico sempre, Fada?

O olhar que ela me deu foi bom o suficiente para servir como
uma resposta.

Ela entendeu que eu nunca revelei as cartas que tinha ou as


que distribuí até a hora de fazer isso. Eu confiei nela com todo o
meu legado e minha vida, mas me recusei a fazer meus movimentos
com ela sabendo deles também. Isso a colocava em risco para
qualquer um que suspeitasse que ela foi informada de meus planos.

Eu a mantive segura todos esses anos. Eu não mudaria


absolutamente nada na minha maneira de fazer as coisas. Era o
mesmo para qualquer pessoa que eu considerasse importante para
mim. Não havia orgulho em carregar toda essa merda sozinho, mas
alguém tinha que fazer isso.

Nossa próxima geração iria intensificar e fazer isso


eventualmente, eu já tinha considerado tudo. Neste exato momento,
havia apenas uma variável incontrolável.

Samael.

Eu sabia muito mais sobre ele do que qualquer outra pessoa.


Ele me lembrava muito de mim mesmo.

Eu faria tudo o que pudesse para solidificar o lugar que tinha


em mente para ele, mas havia um limite para o quão longe eu era
capaz de ir.

No final, antes que as coisas saíssem do controle, ele estaria


conosco ou contra nós. Eu esperava sinceramente que ele fizesse a
escolha certa.
Prologo

Ore ao diabo.

Devore a carne.

Mate para sobreviver.

Por emoções também, se é isso que você gosta.

De onde eu venho, tudo isso é tão comum quanto o céu ser azul.

Meu mundo, Badlands, é feito de fantasias sombrias e terrores


sem fim. Você deve escolher uma marca do mal e dedicar sua vida a
ela se quiser sobreviver.

Ter esperança de que as coisas mudem é tolice. Elas não vão.


Ninguém vai chegar como um salvador. Heróis não existem aqui,
mas existem muitos vilões para escolher.

Você pode fazer amizade com um clã de canibais. Trabalhar nas


fazendas que esfolam as pessoas vivas. Se juntar a alguma outra
facção que está conseguindo prosperar. Não importa, contanto que
você encontre alguma forma de lealdade. Muito poucos conseguem
sobreviver por conta própria.

Eu tinha ouvido como as coisas eram antes de o poder mudar,


antes que os depravados e corrompidos pavimentassem o futuro
para uma nova maneira de viver. Não vou te aborrecer com a
logística, você vai poder testemunhar isso em primeira mão.

Quanto a mim e onde me encaixo?

Eu nasci uma Savage e levada por outro. Toda a situação é


complicada e caótica, assim como nós.

Como é nossa história.

Samael é tão perverso quanto parece, a epítome de um lindo


pesadelo.

Mais louco do que a loucura.

Mais doente do que a doença.

O único homem que amarei.

E meu melhor amigo.

Ele é meu protetor mais feroz e meu maior inimigo.

Eu sou sua paz e seu tormento.

O nosso não é um conto de romance benevolente e terno. É


sangrento e cruel. É dor e tristeza, às vezes imperdoável e
enfurecedora. Não é poético ou indutor de borboletas, mas é uma
história de amor. Uma história de amor sobre uma menina e um
menino, para sempre amarrados em um belo purgatório de
carnificina requintada.
Parte Um

‘Não há amor maior do que o amor que o lobo sente pelo cordeiro que não
come.’
Hélène Cixou
CAPiTULO UM

Quatro anos antes

Você conhece a história de Ícaro e do sol? Ele foi avisado para


ficar longe, que era perigoso. Ele sabia disso, mas ainda assim
escolheu se aproximar. No final, o que ele ansiava é o que lhe
custou a vida. Achei isso trágico.

Claro, a mitologia por trás disso era provavelmente mais


complexa do que isso, mas eu preferia acreditar que ele fez isso por
uma razão romantizada, como o amor proibido. 

Embora, o final seja triste, não importa como você olhe para ele.

Se minha mãe não tivesse me dado um livro de mitos gregos, eu


não teria lido sobre ele. De toda a coleção, esta foi a história que
mais me marcou. 

Isso me lembrou de um certo garoto que conheci.

Eu também fui avisada sobre ele.


Eles o pintaram como um patife sem dizer diretamente a palavra.
Eu fui feita para ser um anjo que precisava ser protegido de sua
degeneração.

Se eles soubessem que toda a fita isolante usada para nos dividir
apenas encorajava nossa curiosidade rebelde, eles teriam feito algo
diferente?

Isso teria importância?

Assim como na história que eu não conseguia tirar da cabeça,


Samael e eu ignoramos todos os sinais de alerta e bandeiras
vermelhas.

Havia apenas uma coisa que eu ainda não sabia. 

Qual de nós era Ícaro e quem era o sol?

Colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, esfreguei meu


rosto uma última vez antes de sair de trás do prédio.

Eu estava me escondendo aqui nos últimos quinze minutos,


graças ao idiota do Francis.

Corri pela grama e pisei na passarela, fingindo que estava


andando nela o tempo todo. Não ver Bella ou meus irmãos por perto
teve uma sensação de alívio tomando conta de mim. Eles teriam
feito muitas perguntas. Já era embaraçoso ser ultrapassada tão
facilmente por ele. Eu não queria ter que explicar a situação para
ninguém.

Corri o resto do caminho até a casa de Samael, acenando para os


poucos acólitos pelos quais passei. Ele e a unidade de sua família
ficava mais perto da casa principal onde Bella e seus pais viviam.

Chegando à porta da frente, alisei minha camisa e entrei. Nunca


me preocupei em bater. Mamãe teria um derrame se soubesse
disso. Ela era uma tirana da etiqueta. Eu segurei a porta de
tempestade antes que ela pudesse se fechar, puxando a de carvalho
para fechar ela também.

Eu me virei e pulei ligeiramente, encontrando Samael


praticamente bem na minha frente. Eu odiava quando ele fazia isso,
se movia como um fantasma enlouquecido.

—O que você está fazendo?

—Você está atrasada, — ele comentou passivamente antes de se


virar.

Eu o segui pelo corredor de entrada, carrancuda para suas


costas musculosas.

—Bella está aqui?

—Não.

—Então não é ela que está atrasada?


Viramos a esquina e descemos o amplo degrau que levava à sala
de estar. Estávamos indo para nosso ponto de encontro de costume,
o covil que era o espaço exclusivo de Samael.

Não mais no corredor principal, a luz que entrava pelas janelas


me permitia ver ele melhor. Seu cabelo estava úmido, o que o fazia
parecer mais escuro do que já era, com um pouco mais de cachos
do que o normal, indicando que ele tinha acabado de sair do banho.

Ele não estava usando nada além de uma calça esporte cinza
que caía um pouco baixo o suficiente para ver seu V. bem definido.
Em seus pés estavam as habituais botas pretas que a maioria dos
caras usava por aqui. Fiz um esforço consciente para não olhar
para nada abaixo de sua cintura.

—Você treinou hoje? — Ele perguntou.

—O céu é azul? Você sabe que meu pai não me deixa matar aula,
não importa o quão inútil seja, — eu acrescentei quietamente.

—Estou ansioso para o dia em que você perceber que se


subestimou gravemente.

Eu rolei meus lábios em um beicinho. Deixe que ele acerte o


prego na cabeça sem precisar de uma explicação. Não importava o
que ele ou Bella dissessem para me tranquilizar, eu sabia que não
estava no mesmo nível que os outros Savages da nossa idade.

Se fosse apenas com Belladonna que eu tivesse que me


comparar, eu não me sentiria tão mal. Ela brilhou mais forte do que
todos os nossos colegas. O problema é que não era só ela. 
Não foi como se eu não tivesse tentado. Eu realmente fiz o meu
melhor, mas nada mudou. Eu me sentia deprimentemente
inadequada.

Samael sentou no braço da seção do sofá de couro. Fui direto


para a geladeira no canto traseiro. Como sempre, sua mãe tinha
abastecido ela com alguns de seus potes de conserva cheios de
suco. Tinha que ser uma forma de arte para acertar o gosto todas
as vezes. Ela fez isso especialmente para mim e Bella.

Samael não bebeu, que era um crime pelo qual ele deveria ter
sido punido. Peguei um e abri a tampa, tomando um gole
generoso. Beber o líquido frio neste calor foi uma das melhores
sensações da terra.

—Você não sabe o que está perdendo. — Suspirei


dramaticamente, saboreando os diferentes sabores.

Ele me encarou com a mesma expressão irritantemente obscura


de sempre.

—Quando Bella estará aqui? — Limpei minha garganta e


perguntei.

Deveríamos estar discutindo como escapar do complexo


hoje. Veja, eu era boa em coisas assim. Precisa de alguém para
bagunçar alguma coisa e estragar tudo? Eu era sua garota.

—Assim que ela chegar aqui.


Tomei outro gole, sem me incomodar com sua franqueza. Eu era
amiga dele há muito tempo para que isso me afetasse mais.

Samael parecia como uma parede impenetrável de gelo, mas essa


era apenas a sua superfície. Abaixo dessa barreira sólida havia
tantas camadas que parei de contar. Tive a sorte de conhecer os
lados dele que ele nunca mostrou a ninguém. Sua aura misteriosa
fez com que todas as garotas do complexo se casassem com ele
dentro de suas cabeças.

Samael era perverso. Seus olhos eram do tom mais profundo de


castanho, mais perto do preto. Às vezes, quando eu olhava para
eles, eu me sentia como se estivesse olhando para um período
infinito de meia-noite. Seu cabelo estava igual. Ele manteve as
mechas de obsidiana altas no topo com um corte rente abaixo. E
como ficava preso em casa a maior parte do tempo, fazia bom uso
da sala de exercícios.

Então, isso parecia solitário, eu entendi completamente de onde


isso tinha surgido. Graças a Satanás, meu outro melhor amigo era
sua prima. Sabíamos que ele era mais do que algo bonito de se
olhar.

Como ele ainda estava me encarando, me concentrei na


tapeçaria do selo de Baphomet pendurada na parede do fundo.

—Você estava chorando?

—Não...
Merda. Como ele poderia saber? Eu adiei vir aqui exatamente por
esse motivo. Normalmente eu não me importaria se ele soubesse ou
não. No meu melhor ou no meu pior, Samael ficou ao meu lado sem
julgamento. Eu não poderia contar a ele sobre isso, no entanto. Foi
muito constrangedor. Além disso, se eu contasse a ele, teria que
contar a Bella, e ela não deixaria passar de jeito nenhum.

—Lilith, — ele pressionou.

—Eu não chorei. Você sabe que está calor lá fora.

—Isso nem faz sentido. — Ele se levantou e começou a caminhar


em minha direção.

—O que você está fazendo? — Eu olhei para ele com


desconfiança.

—Vendo se você vai mentir na minha cara.

Ele parou bem na minha frente. Com a geladeira nas minhas


costas, eu não poderia recuar a menos que o empurrasse. Muito
mais baixa do que ele, inclinei minha cabeça para trás e olhei para
ele.

Ele realmente tinha que estar tão perto? Eu podia ver cada um
de seus cílios irritantemente longos. E eu percebi como seus lábios
eram lindos. Pisquei surpresa quando ele segurou meu rosto. Seus
dedos hábeis envolveram meu queixo, me forçando a ficar focada
em nada além dele.

—Você apareceu tarde porque estava chorando. Quem fez isso?


—Você está... você está tentando usar seu charme para me
interrogar?

—Meu charme? — Ele riu e imediatamente se afastou.

Eu amava sua risada, mas eu nunca diria isso a ele. Eu agarrei o


frasco de vidro com força, sentindo o calor explodir em meu
rosto. —Pare de rir, você sabe o que eu quis dizer.

—Então, você tem prestado atenção em mim.

—Por que isso soa como um fato?

—Estou errado? — Seu tom antagônico foi acompanhado por um


sorriso correspondente.

Outra onda de calor floresceu em minhas bochechas. —N-Nem


vá lá. Você é meu melhor amigo, como um irmão.

Seu sorriso desapareceu antes que eu terminasse de falar. Ele


não tinha nenhuma expressão específica que eu pudesse nomear,
mas havia algo em seus olhos que eu não conseguia explicar. Isso
me deixou totalmente desequilibrada.

—Realmente não é grande coisa. Você vai achar que é estúpido,


— eu disse com um sorriso forçado.

—Você é vidente agora? — Ele cutucou secamente.

Com um suspiro, tampei o pote de conserva e fingi que ia colocá-


lo na mesinha de canto. Samael me seguiu, sua aura brilhando
atrás de mim. Eu me virei para olhar para ele, brincando com uma
ponta do meu cabelo. Ele não ia deixar isso passar.
—Francis...

—A mesma vadia que sempre está incomodando você?

—Huh? — Minha sobrancelha franziu. —Francis é um menino.

—Eu sei.

—Oh sim. Ele... —Eu parei com uma risada nervosa. Eu não


sabia por que estava tendo tanta dificuldade em cuspir isso, talvez
por ser tão humilhante. Mas contei tudo a Samael. 

—Lilith, — ele pressionou.

—Ele roubou meu primeiro beijo, — eu murmurei.

Tenho certeza de que meu rosto estava a caminho de ficar com


um tom horrível de vermelho tomate. Eu corajosamente arrisquei
um olhar para Samael, tentando avaliar o que ele estava pensando
por sua expressão facial. Era impossível, como de costume.

—Você não queria beijar ele?

—Não! — Eu não queria gritar, mas como ele poderia perguntar
isso? Fiquei seriamente ofendida. —Isso é nojento. Não estou nem
remotamente atraída por ele, e sua personalidade é um lixo
completo.

—Por que diabos você ficou com vergonha de me dizer então?

—Porque eu não pude impedir ele. Você sabe que meu pai me faz
treinar como uma escrava. É por isso que não preciso que você ou
Bella me digam que não sou fraca. Não consigo nem mesmo impedir
que um garoto idiota me beije.

Eu não mencionei a parte do primeiro beijo novamente, mas isso


estava realmente me incomodando também. Por mais infantil que
possa ter sido, eu não queria que fosse com aquele idiota. Samael
tinha ido muito além dos beijos nesta fase de nossas vidas, no
entanto. Por isso era ainda mais constrangedor explicar isso a ele.

—Você disse que eu sou como um irmão, certo? — Ele deu um


passo à frente e pegou meu rosto em suas mãos. Fui atingida por
uma nova sensação de déjà vu.

—Hum…

Muito perto. Ele estava perto demais!

Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, sua boca


estava na minha. Minha mente ficou em branco, me tornando
incapaz de reagir imediatamente. Ele provocou meus lábios até que
eles se separaram, a língua deslizando entre eles.

Ele se aproximou, e a sensação de seu corpo fez com que o calor


subisse pelo meu. Meu peito inteiro formigou. Acho que meu
coração estava prestes a quebrar sua gaiola. Isso estava realmente
acontecendo agora? Com Samael de todas as pessoas? Achei que
tinha escondido bem o fato de gostar dele mais do que um amigo
deveria.
—Lilith. — Ele se afastou e falou meu nome suavemente, suas
mãos ainda segurando meu rosto. —Será que um irmão mais velho
beijaria sua irmã assim?

—Eu espero que não, — eu murmurei e engoli. —Porque você fez


isso?

—Por que você acha?

A batida da porta da frente me fez pular ligeiramente. Samael


ainda demorou para me liberar.

Inclinando novamente, ele falou baixinho. —Ele roubou seu


primeiro beijo. Estou roubando o seu último.

Eu estava confusa.

E deve ter mostrado. Meu rosto parecia que ia explodir. Desde


quando ele gostava de mim?

—Lilith, ninguém nunca mais vai tocar em você. Não se eles


sonharem em viver outro dia.

Ele se afastou e voltou ao seu lugar original no sofá, assim que


Bella dobrou a esquina.
CAPiTULO DOIS

Quatro anos antes

Pária.

Uma marca social que nunca fiz nada para ganhar. Eu tinha dez
anos quando ouvi pela primeira vez os boatos sobre eu ser uma
vergonha. Eu era uma mancha suja no legado dos Savages. Meu pai
se livrou dos que ousavam falar mal de seu único filho, mas o
estrago já estava feito.

Nunca deixei transparecer que suas palavras tiveram qualquer


influência no estado mental. Eu fingi que não era grande coisa. A
verdade é que eu odiava o quão fraco eu era. Eu já sabia que algo
estava errado comigo. Desde o momento em que nasci até meus
pais terem um diagnóstico adequado, lutei para sobreviver. Eu era
o garoto em uma bolha.
À medida que fui crescendo, fiz uma promessa a mim mesmo de
que me tornaria alguém que ninguém poderia desprezar. Solicitei
que minha cura permanecesse um segredo de todos, exceto
daqueles que absolutamente precisavam saber o contrário. Meu
próximo passo foi condenar e me distanciar do garotinho patético
que eu tinha sido.

Eu escolhi crescer na solidão. Eu me isolei. Cada movimento foi


feito nas sombras. Eu retive todo o conhecimento dos Savages como
era esperado de mim, eu superei.

Quando chegou a hora de testar se eu tinha impulso para matar,


descobriram que tinha sede de sangue e uma inclinação para
tortura. Ficar perto de alguém segurando o frágil fio de sua vida em
suas mãos era uma sensação revigorante.

Eu não tinha a porra da ideia do que ou quem eu estava me


tornando. Quando finalmente se espalhou a notícia de que eu não
estava tão acamado quanto as pessoas acreditavam, os resultados
falaram por si.

Eu fui da desgraça ao demônio.

A pena se tornou um elogio sem fim.

De repente, eu era um monstro sem emoção ou remorso.


Engraçado como isso funcionou. Não me lembrava de ter conhecido
nenhuma dessas pessoas e muito poucos me conheciam.
Neste ponto, por mais fodido que possa parecer, eu não me
importava mais com a forma como eles me viam. Eu não sentia que
pertencia aqui, de qualquer maneira.

Tudo mudaria em breve.

Ao encontrar a cabana que procurava, parei e escutei para me


certificar de que não havia ninguém por perto. Meu tio segurava
meus pais por enquanto, e os acólitos tinham acabado de passar
em sua patrulha. Isso me deixou quinze minutos para entrar e sair
antes que eles circulassem de volta.

Eu precisava de menos de dez.

A falsa sensação de segurança de Francis tornou entrar na


cabana tão fácil quanto entrar na minha própria casa. Entrei e usei
minha bota para fechar a porta que ele não se incomodou em
trancar.

Ele estava de pé em sua cômoda. Ao me ouvir entrar, ele


imediatamente se virou. Eu não dei a ele tempo para reagir. O aço
afiado de uma lâmina ceifadora de cinco polegadas abriu seu
pescoço. Cortou sua carne sem resistência. Seus olhos azuis se
arregalaram em choque. Um fluxo constante de vermelho veio da
fenda, a vazante e o fluxo mais rápidos devido ao quão
irregularmente seu coração estava batendo, matando ele mais
rápido.

Eu mantive seu corpo meio inclinado para trás sobre a cômoda


com uma mão firmemente fechada sobre sua boca. Quando ele
começou a afundar, fui com ele, mantendo minha posição. Era
como assistir a um show de teatro silencioso.

Agora que eu sabia que ele não estaria gritando ou indo a


qualquer lugar, comecei a remover seus lábios e língua.

Não fazia diferença se ele sabia ou não, mas me perguntei se ele


sabia por que isso estava acontecendo com ele. Ele sabia que tocou
em algo que me pertencia? De todos os boatos que essas merdas
espalharam sobre quem eu era, esse foi um que pude confirmar que
era um fato. Lilith era minha e eu quis dizer isso da maneira mais
possessiva possível.

Os gemidos abafados de dor de Francis não me


perturbaram. Usei a ponta da ceifeira para fazer um rasgo no lado
esquerdo de sua boca, e então comecei a puxar. A textura dos
lábios parecia estranha quando se separaram de seu rosto.

Para removê-los totalmente, tive que usar a ceifeira o tempo


todo.

Quando terminei, coloquei Francis na cama e deixei seus lábios


na cômoda. Eu deveria ter cortado seu pau. Eu poderia ter tirado
seus olhos também.

Mas ele estava morto agora, então não haveria nenhuma


gratificação imediata. Meus talentos seriam desperdiçados.

Lavei minha faca e as mãos na pia do banheiro, enxugando elas


assim que estavam limpas. Não era educado visitar alguém e depois
deixar uma bagunça. Minha mãe me ensinou isso. Deixei tudo
como estava. 

Não havia uma gota de sangue em minhas botas quando saí da


cabana.
CAPiTULO TReS

Quatro anos antes

Era tudo sobre o que alguém podia falar.

Um Savage sendo morto por outro não era uma notícia


inovadora. Esta facção estava cheia de homens e mulheres
perversos que tinham bússolas morais deficientes. No entanto,
sempre resultou na exterminação do assassino. Só porque
aconteceu, não significava que fosse permitido. Os Savages eram
grandes em lealdade e unidade. Devíamos proteger um ao outro.

Então, fiquei um pouco surpresa por a mãe de Francis ser


realmente a única a ter uma reação emocional com a morte dele. A
maioria de nossos colegas estava morbidamente curiosa, e Romero
não estava tão preocupado quanto eu pensei que ele estaria. Nem
meu pai. Então, novamente, eles não eram aqueles que mostravam
muita emoção em primeiro lugar.
—Lilith?

Eu parei e me virei. Jonah, um de meus colegas, estava


caminhando em minha direção. Droga. Eu estava literalmente a
poucos metros de distância da passagem que levava à porta da
frente de Samael. Eu tinha que me apressar aqui antes de Bella
para que eu pudesse falar com ele a sós. Achei muito coincidente o
fato de Francis ter aparecido morto sem lábios no dia seguinte que
contei a Samael o que aconteceu.

—E aí, como vai?

—Eu não tive a chance de falar com você antes. Você está bem?

Hum. Eu podia ver agora, a razão pela qual Bella o achou


fofo. Ele tinha cabelos loiros escuros e olhos uma mistura de
castanho e verdes. Ele estava no último ano para acólitos, você
poderia dizer que ele se manteve em boa forma.

Mas o que ele quis dizer?

—Você quis dizer algo... sobre Francis? Estou bem.

—Isso não. Ele merecia o que estava por vir. Eu queria ter


certeza de que você se sentia segura.

—Uau, você realmente não se conteve, — brinquei. —Eu não


sinto nada. Tenho certeza de que quem fez isso não vai entrar em
uma onda de assassinatos em massa, nos matando um por um.

—Sim, provavelmente você está certa, — respondeu ele com uma


risada leve.
A atmosfera mudou sem aviso. Um sentimento de consciência
tomou conta de mim. Sem precisar me virar, eu sabia que ele
estava nos observando.

Jonah também viu.

Sua atenção foi brevemente atrás de mim. Antes que eu pudesse


dizer qualquer outra coisa, ele agarrou minha mão e deu um aperto
rápido. —Se você quiser que alguém caminhe com você, é só me
avisar. Te vejo na próxima semana.

Que diabos?

Eu o observei se afastar, super confusa. Sobre o que era tudo


isso? Jonah e eu éramos amigos, mas não muito próximos. Me
voltei para a casa de Samael e, como já sabia, ele estava me
observando da porta.

Seu olhar era intenso. Quase me senti como se tivesse sido pega


fazendo algo errado. Tentando me livrar da sensação enervante,
subi o caminho.

—Eu preciso falar com você.

—Eu ia dizer a mesma coisa para você, — ele respondeu, se


movendo para o lado para que eu pudesse entrar.

Fomos para a saleta como sempre fazíamos, mas hoje eu não


tinha nenhum interesse nos potes de suco de sua mãe.

Sentei no sofá e fui direto ao ponto. Meu tempo era


limitado. Bella provavelmente já tinha acabado na sala de matar
agora e se limpando antes de se juntar a nós. Samael sentou a uma
almofada inteira de distância e olhou para mim com o que ousei
dizer que era expectativa.

—O que é isso?

—Você sabe alguma coisa sobre o que aconteceu com Francis?

—Sim.

Eu pisquei, um pouco surpresa. Sim? Foi tão direto e definitivo.

—Você é o único...

—Todo mundo não sabe?

Oh. Isso é o que ele quis dizer... claro, todo mundo já deve ter
ouvido os detalhes agora.

—Eu queria falar com você sobre isso também. Aquele cara com
quem você estava. Tem certeza de que foi uma boa ideia?

—Jonah? O que há de errado com ele?

—Ele vale o esforço que pode trazer para você?

O que estava acontecendo com ele? Sim, nós nos beijamos e ele


fez a promessa de me proteger, mas o que isso tem a ver com isso?

Com a minha resposta atrasada, ele continuou a me encarar.


Concentrado. Focado. Eu me senti como se estivesse sob um
microscópio. Esfreguei minha nuca para aliviar uma sensação
repentina de formigamento.
—Relaxa, Lils, — ele disse suavemente, oferecendo um sorriso
que não chegava nem perto de seus olhos. —Eu só quero que você
esteja segura. Francis teve seus lábios cortados. E se Jonah
perdesse as mãos? — Ele se levantou do sofá e foi até a geladeira.

Eu o encarei, sem palavras.

Acho que entendi o que ele quis dizer agora.


CAPiTULO QUATRO

Quatro anos antes

Eu não tive um bom pressentimento sobre isso.

Não só escureceria em breve, mas também havia luz vindo de


dentro de alguns quartos e este prédio não deveria ter eletricidade.

Samael não parecia incomodado com isso. Quando ele estava?


Acho que ele não sabia o que era o medo. Eu acreditava que ele
nunca me levaria a uma situação perigosa ou imprevisível. Por esse
mesmo motivo, fiquei ainda mais cautelosa com esse lugar.

Eu tinha um nó no estômago que parecia se torcer mais forte


quanto mais perto chegávamos dele. Eu não entendi o que era esse
sentimento. Apreensão?

Bella olhou para o prédio decrépito com uma expressão que a fez
parecer ainda mais com sua mãe. Quando ela parou abruptamente
de andar, o resto de nós fez o mesmo.
Samael virou a cabeça, olhando para ela. —O que é isso?

—Por que você nos trouxe aqui de todos os lugares?

—Achei que tivéssemos concordado em fazer algo emocionante?

—Sim, mas até agora a coisa mais emocionante que aconteceu


foi a nossa fuga do complexo.

Deixe que Bella se expresse com algo assim. Se tivéssemos sido


pegos...

Bem, foi uma coisa boa não sermos. Eu podia imaginar em


quantos problemas teríamos quando voltássemos.

Minha mãe provavelmente estava escolhendo minha lápide


agora.

—Mais como um desafio à morte, — eu murmurei.

Os olhos castanhos escuros de Samael piscaram para os meus, e


eu percebi que ele me ouviu.

—A vida é muito mais aterrorizante do que a morte.

Bella, que não tinha entendido o que eu disse, franziu a testa


para ele. —Afinal, o que isso quer dizer?

Eu sabia exatamente o que ele quis dizer. Antes que ele pudesse


responder, dei um aperto suave em sua mão e repeti sua pergunta
anterior.

—O que você está fazendo aqui?

—É uma surpresa.
—Que tipo de surpresa? — Bella perguntou. —Como você sabe
que algo está aí?

—Se eu respondesse qualquer uma dessas perguntas, iria


estragar tudo. Venho planejando isso há muito tempo. Lilith sabe
tudo sobre isso.

O que?

Minha mente estremeceu com sua implicação. Eu não tinha


ideia do que diabos ele estava falando.

Eu não poderia simplesmente deixar escapar isso, no entanto.


Bella estava desconfiada o suficiente. Se ela soubesse que eu estava
tão por fora quanto ela, eles iriam bater de frente. Eu mantive meu
rosto neutro e fingi que sabia a que ele estava se referindo.

—Você tem certeza que planejou que fosse aqui? — Eu esperava
que meu ceticismo não fosse óbvio.

Samael gentilmente voltou meu rosto para o dele. —Você sabe


que sempre vou te manter segura.

Isso foi mais do que uma declaração vinda dele. Era uma


promessa da qual ele sempre me lembrava. Deixando de lado sua
constituição questionável, nunca duvidei da sinceridade dessas
palavras. Mas o que isso tem a ver com o que eu perguntei a ele?

—...Sim, — eu respondi lentamente, muito ciente da maneira


como Bella estava observando nós dois.

Ela suspeitava muito de nosso relacionamento.


Eu não poderia culpar ela. Ela não tinha ideia do que ele e eu
fazíamos quando estávamos sozinhos. Ninguém sabe. Nosso
primeiro beijo foi há quase três semanas, um dia antes de ele
praticamente confessar ter matado Francis e ameaçado Jonah. Nós
havíamos ido muito mais longe desde então. Eu tentei ficar
chateada com ele, mas não consegui.

—Isso é tudo o que importa então, — disse ele.

Ele se afastou e segurou minha mão novamente, caminhando


para frente sem nos dar mais nenhuma explicação.

Eu encarei suas costas, desconcertada pelo movimento. Bella


murmurou algo baixinho, nos seguindo sem protestar. Eu lancei
um olhar para Jesse e Makayla. Eles não eram tipicamente francos,
mas nesta situação, eu me perguntei se algum deles falaria.

Talvez eles temessem o que aconteceria com eles também. Eu me


senti um pouco mal por permitir que eles me acompanhassem. Não
havia nenhuma maneira de nossos pais simplesmente deixarem
isso passar.

Esses dois inevitavelmente assinaram suas próprias certidões de


óbito.

Por que eles fariam isso, então? Acólitos estavam dispostos a dar


suas vidas por nós, mas não por algo tão infantil.

Bella e eu trocamos um olhar entre nós. Eu sabia que ela só


estava concordando com isso por minha causa. Eu queria dizer a
ela que não tinha ideia do que Sam realmente estava planejando,
mas não estava tentando estar no meio de uma discussão entre os
dois.

Soltei um suspiro silencioso enquanto subíamos um lance de


escadas e caminhávamos em direção a portas duplas enferrujadas.
Eu não sabia o que ele estava fazendo, mas imaginei que estávamos
prestes a descobrir.

Entramos em um átrio que se dividia em três níveis diferentes no


final do corredor. Cheirava a poeira e algo que havia ficado muito
úmido. Lixo e manchas de tinta descascada cobriam o linóleo.

—Para onde você está nos levando? — Bella questionou.

—Lá. — Ele acenou com a cabeça em direção a uma grande


porta que dizia 'Ginásio' acima dela.

Havia um brilho fraco vindo de baixo. Se eu não estivesse


enganada, poderia ouvir o som fraco de vozes. A sensação na boca
do estômago aumentou dez vezes. Era como um milhão de
pequenas agulhas me apunhalando no estômago.

—Eu não tenho certeza sobre isso, — Bella se preocupou.

—Viemos até aqui, podemos muito bem ver o que ele passou por
todo esse trabalho para planejar. — Jesse finalmente falou.

—Do que você está com tanto medo de repente? — Samael a


cutucou.

Essa palavra mágica era tudo que Bella precisava ouvir para
enfrentar um desafio.
—Eu não estou com medo, — ela retrucou. —Vamos, Lilith.

—Bella...

Sentindo pressão, olhei para baixo e vi que Samael entrelaçou


nossos dedos.

Eu olhei para ele interrogativamente, mas todo o seu foco estava


na porta à nossa frente.

Bella foi ousada o suficiente para passar primeiro, deixando


Samael e eu seguirmos. Quando entramos, fiquei surpresa ao ver
que o ginásio não era nada mais do que isso, um ginásio grande e
vazio.

Bella estava no centro da sala, os braços cruzados sobre o


peito. —Sua grande surpresa é um ginásio abandonado?

—Quer dizer que você não está gostando disso?

Seus olhos se transformaram em fendas, parecendo dois


redemoinhos azuis, as chamas direcionadas para a cabeça de
Samael. —Isso é uma piada?

—Se você não gosta disso, então acho que vai adorar o que está
por vir. — Ele soltou minha mão e se virou para falar com Jesse. —
Sua vez. Faça exatamente como discutimos.

—Sim. — Ela curvou a parte superior do corpo para ele como se


ele fosse algum tipo de realeza enlouquecida, e então ela correu pela
porta que tínhamos acabado de passar.

—Onde você está indo? — Makayla a chamou.


Pelo menos ela parecia tão confusa quanto eu.

Houve um guincho perceptível do lado esquerdo do ginásio. Foi


transportado por entre dois conjuntos de arquibancadas. Se eu não
estivesse enganada, os vestiários normalmente ficavam lá. Como
apenas algumas lanternas de papel foram espalhadas, ver nos
cantos mais escuros era quase impossível.

Acontece que não precisamos ver eles. Nós os ouvimos


primeiro. O som de passos trouxe consigo figuras mascaradas
saindo das sombras. Eu nunca tinha visto nada parecido com eles
antes. Seu capacete consistia em cabeças de veado esfoladas.

Alguns eram totalmente brancos, enquanto outros eram brancos


com o sigilo de nossa facção pintado em seus centros. Suas vestes
também eram como as de nossos acólitos, mas essas pessoas não
tinham nenhuma afiliação com os Savages.

—O que diabos é isso? — Bella se endireitou, indo


imediatamente para a defesa.

—Eles estão aqui por mim, — Samael respondeu calmamente.

O que? Eu dei dois passos para longe dele. Sua mão disparou e


agarrou meu pulso, fechando em torno dele em um aperto
contundente.

—Fique, — ele ordenou friamente.

Não tive outra opção senão obedecer. As pessoas mascaradas se


espalharam, nos envolvendo em um grande semicírculo. Apenas um
se apresentou. Ele segurava uma corrente de metal enferrujada em
suas mãos enluvadas, arrastando alguém preso à outra
extremidade. Percebi que era um cara quando ele começou a falar
diretamente com Samael.

—Seu filho da puta louco. Você realmente conseguiu.

—Nós conseguimos. E ainda não terminamos, — respondeu


Samael.

O cervo assobiou e, como cães bem treinados, seu pessoal


entrou em ação.

Bella e Makayla foram presas, duas pessoas de cada lado delas,


cada uma segurando um braço atrás das costas.

—Samael, o que diabos você fez? — Bella fervia de raiva, ficando


de joelhos enquanto lutava para se libertar.

A cabeça do cervo principal girou na direção de Bella. —Ah não.


Malum, a princesa parece chateada.

Malum?

—Ela vai superar isso. Vamos terminar isso.

—Certo. — Ele deu um puxão firme na corrente e um homem


caiu para frente, caindo na madeira podre com um baque.

Felix? O rosto perturbado do homem se registrou em meu


cérebro no momento em que o vi. Foi ele quem nos trouxe até
aqui. Mas eu o vi partir. Como eles o capturaram?
Ele estava tremendo tanto que a corrente começou a balançar.

—Vamos usar ele para bloquear a porta, apenas no


caso. Podemos tornar ele irreconhecível? — Perguntou Samael.

—Remover suas mãos e sua cabeça?

—Isso funciona. Quebre as pernas primeiro para que ele não


possa ir a lugar nenhum.

O que foi isso?

—Não! — Eu me libertei do aperto de Samael e corri para o lado


de Felix antes que ele pudesse me agarrar novamente, olhando para
ele e para o idiota com cabeça de veado assustador. —O que você
está fazendo? Ele nos ajudou!

—Lilith. — Ele disse meu nome com um suspiro, como se eu


fosse uma criança tendo um ataque de raiva. —Ele é um velho
motorista. Ele serviu ao seu propósito.

—Tanto censo de justiça. Você tem certeza que ela é uma


Savage?

Samael deu a ele um olhar plano. —Lide com ele. Eu cuido


disso.

O cervo riu e começou a arrastar Felix pela corrente enrolada em


seu pescoço.

Eu tentei parar ele, mas uma vez que Samael me segurou, não
havia nada que eu pudesse fazer. Minha mente girou. Eu não
entendi o que estava acontecendo.
—Mas ele é um de nós, — me peguei dizendo.

—Não mais.

O que? Com minhas costas em seu peito, tive que me torcer


parcialmente para olhar para ele. —O que isso significa?

—Isso não é importante agora. Precisamos sair.

—Por que você está fazendo isso?

Pelos mais longos segundos da minha vida, pensei que ele não
fosse me responder, mas mesmo quando o fez não foi o que eu
esperava.

—Porque você é minha.

Essa resposta explica o que ele acabou de fazer?

Eu confiei nele.

Eu confiava nele muito antes de me apaixonar por ele.

Cegamente.

Tolamente.

Essa lealdade era o meu calcanhar de Aquiles.

Quando se tratava de Samael, ignorei todos os sinais de alerta


óbvios e desconsiderei o bom senso.

Seguir ele foi o maior catalisador da minha vida.


CAPITULO CINCO

Presente

Eu escondi bem, mas por causa dele eu amava derramamento


de sangue tanto quanto qualquer outra garota. Demonstrações
explícitas de violência tendiam a fazer meu coração disparar de
excitação.

Isso... o que estava acontecendo nos últimos vinte minutos... Era


totalmente desnecessário e estava começando a me entediar. Sem
mencionar que a limpeza seria um pé no saco.

No entanto, esse não era o meu problema. Eu nunca sujava


minhas mãos se não fosse necessário.

Um estalo audível alcançou meus ouvidos quando a bota preta


gigante de Brody acertou o rosto de Jim. Ele gritou de dor quando
sua mandíbula mudou com o impacto, indo anormalmente longe
para a direita. Eu não conseguia ver nada no brilho da fogueira,
mas assim que o sol nascesse, eu sabia que seria capaz de
encontrar metade dos dentes desse cara espalhados.

Eu me perguntei o que ele fez para merecer isso. Os novos


recrutas sempre passavam por um período de estágio antes de
serem totalmente empossados como prosélito. Você não permitiu
que qualquer pessoa entrasse em sua facção, por mais ansiosos que
parecessem.

As pessoas de quem você se cercou seriam sua família. Eles


estariam às suas costas e ao seu lado, ajudando você a sobreviver.
Aqueles que não conseguissem chegar até o fim quase certamente
acabariam como esse homem.

Morto.

Ele pode estar vivo agora, mas sua morte era inevitável.

A grande forma de Brody cortou minha linha de visão, movendo


um segundo depois quando ele abriu o jeans e começou a mijar no
rosto de Jim. Risos atrevidos explodiram dos outros homens,
alguns chicoteando seus paus para se juntarem a ele.

Sempre tão elegantes, esses caras.

Enquanto a urina enxaguava o sangue do rosto de Jim, ele tossia


e engasgava, incapaz de impedir que um pouco entrasse em sua
boca. Um fedor opressor de amônia começou a rastejar em direção
ao pinheiro em que eu estava encostada. Meu nariz torceu em
desgosto. Alguém precisava seriamente começar a beber mais água.
Tomando isso como minha deixa para deixar a área, me afastei
da árvore e me preparei para levar minha bunda para a cama,
vacilando quando Brody se moveu novamente.

O olhar pesado de Samael encontrou o meu enquanto ele se


aproximava do grupo de bárbaros da direção oposta.

Ele não pareceu surpreso em me ver fora tão tarde ou em pé


perto dos poços. Mas então, ele sempre teve a habilidade bizarra de
saber exatamente onde eu estava e quando. Eu costumava
encontrar conforto no fato de que ele poderia me encontrar de
qualquer maneira. Agora eu não aguentava mais.

Eu me virei e continuei andando, os sapatos se movendo sobre


as folhas espalhadas pelo caminho de terra. Havia apenas alguns
metros entre esta extremidade do acampamento e a outra,
esparsamente separados por um bosque de árvores.

Samael me chamou quando fiz a primeira curva. Eu não


respondi. Nossa última conversa, se você pudesse chamar assim,
comigo gritando enquanto ele permanecia irritantemente impassível
na conversa, não foi a lugar nenhum, mas azeda. Eu não estava
pronta para uma continuação.

Eu tinha feito tudo que podia para evitar ver ele recentemente,
uma tarefa muito mais fácil de planejar do que implementar quando
ele era o equivalente a um rei por aqui. Mesmo quando eu não o vi,
ele estava lá. Em sussurros reverenciados. Discursos inspiradores. 

Execuções.
Eu odiava testemunhar sua revolta enquanto do lado de fora
olhando para dentro, mas era uma medida necessária para proteger
um coração já agredido e machucado.

—Lils, — ele tentou novamente, mais perto do que antes.

Droga.

Eu esqueci o quão rápido esse homem pode se mover. Apesar de


saber o quão irado ele ficava quando ignorado, eu ainda não
diminuí a velocidade. Além disso, eu pedi a ele para parar de me
chamar assim há quase um ano.

Eu podia sentir ele vindo bem atrás de mim. Era impossível não


sentir quando sua aura era maior do que tudo que nos rodeava.

Era assim desde que éramos jovens. A primeira palavra que me


veio à mente quando tentei descrevê-lo foi 'latente.'

Sua aura queimava tão intensamente que você estava condenado


a ficar preso dentro dela, felizmente sendo vítima das chamas ou
lutando para não se inflamar.

Era exatamente por isso que eu deveria ter me movido mais


rápido. Ele não teria sido capaz de estender a mão e agarrar meu
pulso, não me deixando outra opção a não ser parar de andar.

—Eu sei que você me ouviu chamando você. — Seus dedos se


mantiveram firmes enquanto ele se manobrava na minha frente,
bloqueando efetivamente o meu caminho.
Eu testei seu aperto tentando me soltar, carrancuda quando ele
apertou. Eu levantei meu olhar para o dele, deslizando sobre seu
peito vestido com a camisa.

—O que você quer?

—Ah, então você está na fase três.

—Estou em quê? Qual é a fase três?

Tentei me afastar novamente. Ele estalou a boca para mim numa


repreensão simulada. —Quanto mais você luta, mais apertado eu
vou segurar.

Ele enfatizou seu ponto, apertando ainda mais o aperto. Não


doeu, mas eu sabia que ele poderia facilmente mudar
isso. Enquanto seus dedos calejados esfregavam contra minha pele,
a ideia de usar meus dentes ia e vinha. Se eu o mordesse, ele
morderia de volta com mais força. Eu sabia, por experiência
anterior, que isso poderia fazer com que nossas roupas caíssem.

—Você não precisa me segurar. Eu não vou fugir.

—Você simplesmente estava.

—Não, eu não estava, — eu menti. —O que você quer, Mal?

Mal. Porque era isso ou Malum atualmente, e eu me recusei a


chamar ele por qualquer outro nome que não o seu. Pelo menos eu
poderia me convencer de que Mal veio de Samael.
—Você sabia que passa por quatro fases quando tenta ficar
chateada comigo? Um, você fica louca. Dois, você supera. Três é
onde você finge que ainda está chateada.

—E quatro?— Eu falei secamente.

—É quando você se lembra que está perdidamente apaixonada


por mim e nada do que eu disser ou fizer mudará isso.

Eu mantive meu rosto em branco. Eu era bem versada em


esperar o inesperado quando Samael abriu a boca. Você nunca
sabia o que ele ia dizer até que ele disse. Fase um a três era
besteira, mas quatro? Isso estava muito perto da verdade maligna.

—Estou com raiva de você, — eu desviei.

—Mentirosa.

—Você não tem nada produtivo para fazer? Talvez você devesse ir


tomar conta daqueles Neandertais e dizer a eles para guardarem
seus paus.

Seus dedos flexionaram em torno do meu pulso. —Você não tem


permissão para falar sobre pau.

Eu teria rido, mas sabia que ele estava falando sério.

À medida que crescemos, sua possessividade amadurece junto


conosco.

Eu puxei contra seu aperto novamente, um tanto surpresa


quando ele me soltou. Um pouco confusa, mas não ousando perder
tempo pensando em seu comportamento, continuei meu
caminho. Não fui muito longe antes de suas mãos grandes
agarrarem meus quadris, facilmente manipulando meu corpo para
que eu ficasse de frente para a direção oposta mais uma vez.

Eu deveria saber que isso ia acontecer.

Soltando um suspiro alto e exagerado, olhei para cima em seu


rosto parcialmente obscurecido. A fogueira continuou a explodir
atrás dele, as chamas lançando um brilho laranja fraco no
caminho.

Ele estava com uma barba por fazer, chamando a atenção para
uma mandíbula que era para morrer. Uma mecha de cabelo escuro
tinha se soltado do estilo penteado para trás que ele mantinha e
agora descansava em sua testa.

Samael reajustou seu aperto, propositalmente arrastando as


pontas de seus polegares sobre a pele que minha blusa não cobria.

—Pare com isso.

Bati em suas mãos e bloqueei o arrepio que tentou correr pela


minha espinha. Não havia nada que eu pudesse fazer sobre os
arrepios ou a maneira como ele fez meu estômago revirar.

—Tem certeza? — Ele zombou, uma borda rastejando em seu


tom. Ele tentou repetir o movimento com os polegares.

Eu agarrei seus dois pulsos e os segurei no lugar para impedir


ele de fazer qualquer outra coisa.

—O que você quer?


—Depois de amanhã, vou supervisionar uma corrida. Precisa de
alguma coisa?

Uma corrida? De novo? Ele tinha saído há duas semanas. Ele


sempre foi cuidadoso e meticuloso com a coleta de suprimentos. Eu
não conseguia pensar em uma única coisa faltando agora.

Não gostei da ideia de ele deixar o acampamento, a menos que


seja necessário. Havia demasiados idiotas que gostariam de matar o
líder infame misterioso dos Stags e Lazarus.

Eu mantive minha palestra para mim, no entanto. Não era como


se ele tivesse dado ouvidos a nada que eu aconselhei. Os avisos
nada mais eram do que desafios triplos para Samael.

—Eu preciso de algo... — Eu parei, jogando os pequenos traços


de inocência que eu ainda possuía.

—Que é? — Ele perguntou, soando tão impassível como sempre.

Eu sorri docemente. —Minha liberdade.

Seu aperto aumentou, uma risada tranquila se desenrolou entre


nós, fazendo meu coração palpitar e meu estômago revirar
novamente.

—Você está um pouco velha para acreditar em merdas que não


são reais. Você quer um unicórnio também?

—Sim, então eu posso enfiar o chifre na sua bunda.

—Onde minha doce menina aprendeu a falar assim?


—Você.

Ele riu e usou meu aperto em seus pulsos para me puxar para
mais perto.

—Sammy? — A voz suave de Dawn chegou ao redor da curva


parcial, cortando a tensão que estava aumentando rapidamente
entre nós.

Urgh. Esse apelido me fez querer correr pelo caminho e chutar


ela na fogueira. Ela era a única pessoa que eu conhecia que o
chamava de algo próximo ao seu nome verdadeiro. Eu não tinha
ideia de por que ele permitiu isso. Ele odiava ser chamado assim
quando éramos pequenos. Odiava. Eu odiava também. O que
diabos era Sammy? Parecia algo que você chamaria de cachorro.

Ha. Eu sorri para ele. —Sua amante está chamando por seu


animal de estimação. Seja um bom menino e vá ver o que ela quer.

Percebendo o quão amarga eu soei, limpei minha garganta e


mais uma vez tentei sair de seu controle.

Ele ainda não me deixou ir.

—Alguma coisa errada? — Eu não pude ver o sorriso, mas eu


sabia que estava lá. Claro, ele detectou meu desdém. Ele percebeu
praticamente tudo.

—Acho que você deveria estar mais preocupado em ser pego em


uma posição comprometedora.
Ele riu de novo e facilmente se livrou do aperto que eu tinha em
seus pulsos. Com as mãos escorregando, ele aplicou pressão nas
covinhas na parte inferior das minhas costas e me puxou contra
ele. Eu engoli, respirando ele enquanto o fazia.

Ele sempre cheirava tão bem. Hoje à noite, o aroma


reconfortante de fumaça e chamas misturado com seu sabonete
perfumado de menta.

Eu trouxe minhas palmas até seu peito para manter alguma


aparência de espaço entre nós, sentindo o contorno de seu físico
através da camisa que ele vestia.

Samael não era um daqueles cabeças-duras ridiculamente


musculosos que andavam por aí com os braços na forma de um U
constipado. Ele era musculoso e proporcionalmente tonificado de
uma maneira que dava vontade de passar as mãos em cada
centímetro dele.

Some isso a sua aparência ridiculamente bonita e você terá a


definição viva de uma armadilha de sede.

—Talvez seja hora de ela aprender a verdade. Devíamos deixar


ela ver o quão forte eu posso fazer você gozar em sessenta
segundos.

Eu zombei e me inclinei um pouco para trás, mantendo minha


boca longe da dele. —Você tem que ser um porco tão vulgar?

—Não finja que você não gosta disso. Me lembro vividamente de


uma vez em que te fodi com nada além de minhas palavras.
Eu me lembrei disso também. Isso não estava bem, no entanto.
Isso vindo da mulher insanamente possessiva sobre ele. Dawn não
merecia ser magoada por causa da nossa incapacidade de nos
recompor.

—Ela merece coisa melhor do que você está dando a ela, — eu


sibilei, ouvindo passos suaves se aproximando.

—Você está certa. Ela deveria receber todas as partes de mim


que você perdeu o privilégio de ter.

Ai. Eu engoli a resposta que imediatamente surgiu, determinada


a esconder qualquer indicação de que aquelas palavras tinham
encontrado um alvo.

—Isso era para me incomodar? Eu escolhi deixar a minha


bagagem, lembra? Eu a elogio por assumir o fardo de tantos danos
irreparáveis.

Lamentei o golpe assim que disse isso. Eu fui longe demais. Uma


voz na minha cabeça gritou para eu retirar isso, mas eu não pude.

Era tarde demais e, apesar das palavras serem falsas, seu


veneno queimaria do mesmo jeito. Ele deu um passo para longe, me
deixando ir com o menor empurrão, sua mandíbula cerrada. Essa
pequena demonstração de emoção me disse que eu acabei de
machucar ele muito mais do que ele jamais deixou
transparecer. Ele sempre foi tão controlado e cínico, guardando
seus problemas e segredos para si mesmo.
—Você não escolheu merda nenhuma. Se eu quisesse você, eu
teria você. — Ele balançou sua cabeça. —Seu irmão me disse que
você nunca seria nada mais do que um corpo quente.

—Eu...

—Ele disse que eu deveria te foder uma ou duas vezes e então te


largar para sempre. E pensar que eu arruinei a vida dele porque ele
disse a verdade...

Eu sabia exatamente a qual irmão ele estava se referindo, e puta


merda. Foi um golpe baixo. Parecia que ele tinha acabado de me
dar um soco no estômago. Minha máscara caiu
momentaneamente; minha garganta balançou enquanto eu engolia.

Não se atreva a chorar, a voz em minha cabeça fervia. Eu me


virei assim que Dawn alcançou onde estávamos.

—Ei, — ela saudou. —Está tudo bem?

Eu podia ouvir a preocupação genuína em sua voz quando ela


percebeu a tensão óbvia.

Não me incomodei em olhar para trás ou ouvir sua resposta. Eu


não aguentaria ver eles juntos agora, e não queria cavar mais fundo
o buraco em que estava.

Você não deveria permitir que as palavras tivessem poder sobre


você. Você não deveria deixá-las doer.

E elas não fizeram.

Elas destruíram.
Elas se enterraram em minha alma e se gravaram nos pedaços
sangrentos de meu coração. Era impossível discutir com alguém
que parecia te conhecer melhor do que você mesmo. Cada vez que
um ódio inútil saía de nossas bocas, a decisão que eu tomava
pesava muito mais sobre mim.

Se continuássemos assim, não sobraria nada de nós quando os


estilhaços de nossas balas finalmente virassem pó.
CAPITULO SEIS

Ele disse que as flores silvestres o faziam pensar em mim. Todas


as manhãs havia um novo arranjo esperando quando eu acordei.

Hoje não foi exceção. 

Um triângulo de luz da manhã brilhava através das minhas


cortinas azuis Tiffany, e ali na cômoda, bem na frente da janela,
estava um buquê branco, feito à mão e cuidadosamente
embrulhado com uma fina fita preta, preto sendo minha cor
favorita.

Quem disse que não era uma cor poderia beijar minha bunda. O
preto era o pária do espectro, frequentemente usado para
representar a escuridão. Isso me lembrou dele. Talvez seja por isso
que eu amei tanto. Samael também nunca se esqueceu disso.
Não sei onde ele foi buscar as flores, ou por que, mas ele nunca
faltou um dia e sempre se certificou de que eu estava dormindo
antes de entrar aqui para deixar elas. Eu tentei pegar ele em
flagrante, falhando uma e outra vez.

Eu esperava ansiosamente quando ele iria parar. Eu não merecia


esse gesto dele em primeiro lugar, mas não importa o quanto nós
nos cortamos, independentemente de como fizemos o outro doer, ele
continuamente me lembrava que não iria a lugar nenhum. Ele não
se esqueceu de mim.

Nesse sentido, ele manteve a promessa que fizemos um ao outro.

Jogando o edredom com um chute nele, me sentei e passei a


mão pelo cabelo para tirar do rosto, piscando para tirar o sono dos
olhos. Além do som de chiado fraco vindo da sala principal, a
cabana estava quieta e silenciosa. Se Samael tinha dormido aqui
ontem à noite, ele já tinha ido embora há muito tempo.

O relógio na parede oposta havia parado de bater à meia-noite e


quinze, três dias atrás. Eu realmente precisava fazer algo sobre
isso, mas então qual seria o ponto? Não importaria logo de qualquer
maneira.

Se eu tivesse que adivinhar, era hora do café da manhã, o que


significava que eu precisava colocar minha bunda em
marcha. Levantei e fui até a cômoda, abrindo algumas gavetas
diferentes para escolher uma roupa simples. Roupa de
baixo. Sutiã. Calção. Regata simples, meias e uma camiseta. Tenho
certeza que você pode adivinhar de que cor era tudo.

Com o pacote de roupas na mão, empurrei o pedaço de tecido


que servia de porta para o meu quarto e entrei na única parte da
cabana. Não era um espaço grande, mas era inegavelmente
aconchegante. O ar-condicionado na janela da frente era o culpado
pelo barulho. Esta máquina era um salva-vidas. Sem ele, seríamos
como porcos assando no espeto aqui.

Havia uma sala de estar, cozinha e um pequeno espaço para


uma mesa. Embora os móveis fossem escassos, todos estavam em
boas condições. Forma incrível, quando você leva em consideração
que teve que ser levado para o que era basicamente o meio da
maldita floresta.

Uma leitura do sofá mostrou tudo estava exatamente como no


dia anterior. As duas almofadas xadrez e manta combinando não
foram alteradas. O baú e a pequena cômoda onde Samael guardava
algumas de suas coisas também pareciam iguais. Normalmente eu
teria que reposicionar tudo depois que ele fosse embora.

Havia apenas uma conclusão óbvia.

Ele não tinha dormido aqui.

Eu não tinha certeza de que ele dormiu. Não era anormal para


ele ficar acordado por longos períodos de tempo agora que
supervisionava uma facção inteira. Discutimos sobre isso em
inúmeras ocasiões. Ele não cuidando de si mesmo, não a coisa da
facção. Eu nunca o criticaria por ser um ídolo corrompido. Eu era
um de seus maiores fãs.

Usando meu ombro para abrir facilmente a porta do banheiro,


entrei e fechei com um movimento do quadril. Eu fiz o movimento
de me vestir, começando com um banho. Eu tinha que cronometrar
exatamente certo, então eu não acabava debaixo de uma chuva de
água gelada.

Foi mais rápido do que o normal, já que tinha lavado meu cabelo
no dia anterior. Tive alguma sorte nesse aspecto. Os fios eram
naturalmente retos como um lápis e exigiam pouca manutenção.

Assim que saí e me vesti, tratei de todas as outras coisas


essenciais que vinham com o fato de ser excessivamente
feminina. Essa não era a coisa mais fácil de fazer quando você
morava em um antigo alojamento, mas trabalhei com o que
tinha. Samael me disse uma e outra vez que ele iria se certificar de
que eu recebesse tudo e qualquer coisa que eu pedisse, tudo que eu
precisava era pedir. Me recusei a aproveitar a oferta.

Quando terminei, me dei uma olhada crítica no espelho oval. O


que vi foi uma mistura uniforme de minha mãe e meu pai. Eu tinha
os traços pequenos da mamãe e era mais construída com mais
definição na área do quadril e do peito. Minha altura ficava bem
entre os dois, então, embora eu não fosse baixa, também não era
alta.
Olhos verdes profundos se destacaram contra a pele de
porcelana que fez o tom do meu cabelo loiro morango parecer mais
vibrante do que era. Finalmente cresceu muito além das minhas
omoplatas.

Eu o cortei alguns meses atrás, para grande consternação verbal


de Samael.

Ultimamente, vinha pensando muito em mamãe e papai, em meu


irmão também, mais do que queria ou gostava. O tempo não
diminuiu a dor da ausência deles nem embotou a memória do dia
em que tudo que eu sabia se tornou algo que eu conhecia. Eu
odiava os sentimentos que vinham com as lembranças. Dúvidas e
arrependimentos se encontraram em um cruzamento com raiva e
tristeza.

Me afastei do meu reflexo e fiz meu caminho para fora da


cabana. Antes que eu pudesse pisar totalmente na pequena
varanda, um calor abafado me empurrou para trás.

Sempre foi quente em Badlands, mas este julho era um ano


para os registros. Estava muito frio na primeira parte da manhã e
sufocante assim que a luz do dia chegou. Eu juro que o sol estava
cuspindo fogo do céu.

Fechei a porta atrás de mim e foi quando finalmente o notei.


Obviamente, eu precisava trabalhar minhas habilidades de
percepção. Ele estava de costas para mim, olhando para a linha de
árvores ao redor no lado esquerdo da varanda. Eu o tinha visto
algumas vezes antes. Eu vasculhei minha mente, tentando lembrar
seu nome.

—Hum, Mack? — Tentei.

Ao som da minha voz, ele se virou com um sorriso amigável no


rosto, grande o suficiente para mostrar o espaço de duas moedas
entre os dentes da frente.

—Ei, bom dia, — ele cumprimentou, alisando a mão sobre o


cabelo loiro.

—Você precisa de algo?

—Só queria levar a garota mais bonita do local para o café da


manhã. Procurei por você ontem à noite, mas não te vi em lugar
nenhum.

Isso era uma piada?

Tinha que ser.

E cruel, porque o que ele proclamava tão casualmente lhe


renderia uma sentença de morte.

Para sua sorte, Samael não estava por perto. Eu não ficaria
surpresa se ele soubesse que veio por aqui, no entanto. Nossa
cabana ficava no final do alojamento, a uma distância razoável de
todo o resto. Ele queria privacidade quando chegamos, porque mal
me deixou sair da cama. Mack vindo nessa direção não teria
passado despercebido.

—Isso foi muito forte? — Ele perguntou quando eu não respondi.


—Isso é... — Eu balancei minha cabeça. —Quem colocou você
nisso?

—O que você quer dizer? — Ele piscou para mim, parecendo


genuinamente confuso.

Tive um palpite sobre quem era o responsável, mas resolveria


isso mais tarde. Eu precisava lidar com isso primeiro, que era
a última coisa que eu queria fazer agora, especialmente em meio a
todo o resto que estava planejando.

Pensei em matar ele para me poupar de uma dor de cabeça, mas


em questão de segundos ele começou a me encarar como um
cachorrinho ferido.

—Venha comigo, — eu disse, pulando para fora da varanda.

Se eu fosse fazer o controle de danos, não poderia fazer isso em


movimento imóvel. Ser pega conversando com ele só nos causaria
problemas. Eu examinei a folhagem, meio que esperando que
alguém estivesse nos observando de dentro dela.

Era ridículo ter que se preocupar com essas coisas? Sim. Mas


Samael levou a possessividade a um novo nível. Ele era o epítome
do maníaco. Era assim desde que éramos crianças.

—Eu deixei você brava? — Mack perguntou assim que me


alcançou.

—Não.

—Tem certeza? Você parece chateada.


—Eu não estou. E para responder à sua pergunta de antes, o
problema não é que você estava indo muito forte, mas que decidiu
vir.

—Eu não sou o seu tipo?

Essa foi a sua conclusão? A resposta era um sonoro não.

Eu não tinha um tipo.

Eu tinha Samael.

Esse cara nunca poderia se comparar a ele. Com uma rápida


varredura de Mack da cabeça aos pés, comecei a pensar que ele foi
iniciado como uma piada gigante em geral.

Não seria a primeira nem a última.

Ele não só não tinha a insígnia com tinta que representava a


dupla facção, mas também estava vestido como uma roupa
comum. Ele não tinha recebido o costumeiro uniforme de Stag ou
Lazarus, e ele não estava carregando uma máscara.

—Olha, quem quer que te disse para se aproximar de mim estava


fazendo isso para seu próprio entretenimento. Os homens não
fazem isso por aqui. Nunca.

—Você não tem permissão para ter amigos?

—Eu não disse isso. Os caras de quem gosto de estar perto são,
essencialmente, minha família. Eu os conheço há anos.

—Eu poderia ser uma família.


Eu ri. Ele não tinha a menor ideia do que isso implicaria.

—Nós dois sabemos que você realmente não quer ser


considerado amigo ou família.

—O que? Claro que sim, — ele protestou.

—Não. Você quer ir para a minha cama.

Ele ficou em silêncio por um minuto ou mais, deixando a


tagarelice dos pássaros para preencher o silêncio enquanto
caminhávamos. Eu praticamente podia ver as engrenagens girando
dentro de sua cabeça.

—Há algo de errado com isso? Eu falei sério, sobre você ser a
garota mais bonita aqui.

Argh. Ele estava me dizendo que eu deveria fazer minhas pernas


se abrirem em um convite?

—Bajulação não levará você a lugar nenhum comigo. Há muitas


mulheres bonitas aqui que não foram tomadas. Eu fui.

—Você foi?

Achei que eu dizendo que estava em um relacionamento seria o


fim disso, mas Mack estava se mostrando determinado, cimentando
o fato de que alguém o havia incumbido disso.

Nunca reconheci ou divulguei meu status de


relacionamento. Era uma besta complicada que precisava ser
deixada dormindo. Muitas poucas pessoas entenderam a
perplexidade que era Samael e eu.
—Quem é o sortudo? — Mack cutucou, assim como eu sabia que
ele faria.

—Não importa, — brinquei. —O lugar que você quer na minha


cama não está disponível, e o único homem que pode ocupar vai
tirar sua vida em um piscar de olhos se ele pensar que você quer o
que é dele.

Eu sabia que ele teria uma tonelada de perguntas a mais agora,


mas, felizmente para mim, estávamos nos aproximando do final do
caminho que levava para a minha cabana. Se ele realmente
quisesse saber a identidade do meu cara misterioso, tudo o que
tinha a fazer era perguntar a alguém. Só não a pessoa que disse a
ele que isso seria uma boa ideia.

Com isso em mente, decidi oferecer ao cara algumas dicas não


solicitadas. Eu parei completamente, levando a mão ao peito de
Mack para que ele fosse forçado a fazer o mesmo.

—Você precisa ser cuidadoso. Nem todo mundo aqui leva bem a


estranhos. Se você quer viver, se concentre em ser totalmente
iniciado. Eles são lentos para matar um dos seus, a menos que você
irrite o rei do castelo. Então, falando sério, pare de deixar todas as
células do seu cérebro fluírem para a cabeça errada e comece a
usar a que está entre seus ombros.

—Não estou preocupado em ser morto, mas estou feliz que você,
pelo menos, se importe.
Como alguém pode ser tão estúpido? Ele estava propositalmente
perdendo o quão sério eu estava falando agora?

—O que você quer dizer com eles matando um dos 'seus'? Você


diz isso como se não fosse um deles.

—É complicado. — Essa foi a resposta mais honesta que eu


poderia dar a ele.

A insígnia com tinta na parte inferior do meu pulso dizia que


sim. A cruz Leviatã tatuada no meu quadril tornava isso
contraditório. Meu coração estava dilacerado sobre o assunto, mas
isso não mudou os fatos. Sangue Savage era o que nadava em
minhas veias e me fazia quem eu era.

—Eu posso lidar com coisas complicadas, — ele continuou.

—Isso pode ser verdade, mas você não pode lidar comigo.

O sorriso infantil que se espalhou por seu rosto não me deu


muita esperança para seu futuro.

—Essa é a sua maneira de me dizer para me foder?

—Não. Essa foi a minha maneira de dizer que é complicado, —


reiterei. — Agora estou mandando você se foder.

Com isso, me virei e me dirigi para onde o café da manhã era


sempre servido.
Consegui colocar uma distância razoável entre Mack e eu. O
suficiente para que, quando cheguei aos pavilhões, ele estivesse
bem para trás ou tivesse decidido ir para outro lugar. Felizmente,
ele não tinha ficado de mau humor ou zangado. Eu fiz um grande
favor ao rejeitar ele.

Eu diminuí a velocidade na área de cozinha principal para dizer


olá aos cozinheiros.

Ao todo eram oito, mas só falei com dois, meus favoritos. Eles


estavam com a facção há mais de um ano e eram como uma babá e
pai para a maioria de nós.

—Lilly, — Kodak cumprimentou alegremente quando me viu,


passando um prato para um seguidor que eu não conhecia.

Eles não podiam ser novos porque usavam um dos mantos com
capuz e em seu pescoço estava a insígnia tatuada de costume para
a facção. Era uma loucura pensar que já conheci todo mundo
aqui. Isso parecia uma eternidade agora.

—Eu estava começando a achar que você estava pulando o café


da manhã, — Patty, a companheira de longa data da Kodak, disse
por cima do ombro.
Eles eram um casal doce, ambos originários de uma reserva que
havia sido invadida.

—Nunca. Vocês dois sabem como eu sou sobre comida.

—Vá se sentar. Vou fazer um prato para você, — Kodak ordenou


com seu forte sotaque, acenando para mim como quando outro
seguidor entrou na fila.

Essa era uma tradição de longa data conosco. Sempre vim


buscar um prato, mais do que disposta a esperar como todo
mundo, e sempre fui negada. Samael foi o responsável por iniciar
todo o tratamento preferencial.

Normalmente teríamos ido e voltado, sabendo que o resultado


permaneceria o mesmo, mas eles estavam ocupados demais para eu
brincar com eles hoje. Compreensivelmente. Sua carga de trabalho
estava aumentando junto com os prosélitos da facção. Os dois
supervisionavam tudo relacionado à comida, desde cozinhar e
verificar o inventário até esfolar, plantar e estripar.

Eu os deixei e continuei até a área onde estavam as mesas de


piquenique.

Tecendo entre elas para chegar ao meu lugar normal, eu ignorei


todos os olhares que se seguiram, acostumada a eles agora. Os
prosélitos normalmente se enquadravam em uma das três
categorias quando se tratava de mim.

Curiosidade, por causa de quem eu era para Samael e para os


Savages.
Desdém, exatamente pelo mesmo motivo.

Simpatia, eles não se importavam com meu status ou posição,


gostando de mim.

O último reino de julgamento, ou a falta dele, era obviamente o


que eu preferia. Em geral, não me importava com o que as pessoas
pensavam de mim, a menos que os valorizasse como pessoa. 

Sobre o tema das pessoas que considerei significativo... me


juntei a Takara e Poet em nossa mesa de costume.

—Ei, — eu cumprimentei, sentando entre os dois.

—Estávamos conversando sobre ir te buscar, — disse Poet, se


afastando para que eu tivesse um pouco mais de espaço.

Dado que ele tinha a constituição de um urso pardo musculoso e


tatuado, ele não podia se mover muito mais longe sem esmagar a
garota do outro lado dele.

—Eu dormi demais. — Peguei uma uva de sua bandeja e


coloquei na minha boca. Então, sentindo o cheiro de tudo o que ele
usou para tomar banho, eu inalei profundamente para cheirar
mais. Algo parecido com mel.

—Você cheira bem. O que você usou?

—Algumas coisas novas que Mal trouxe. Torna o cabelo luxuoso,


não é? — Ele balançou a cabeça, fazendo com que suas ondas na
altura dos ombros saltassem ao redor.
—Sim, o marrom está excepcionalmente radiante hoje, —
respondi com uma risada.

—Não o faça começar de novo. Eu tive que aturar isso a manhã


toda, — Takara reclamou. —Quer minha laranja?

Aceitei a fruta e imediatamente comecei a descascá-la. Eu não


estava brincando quando se tratava de meu amor por
comida. Ainda não havia me feito mal.

—Você ouviu o que está acontecendo hoje?

—Não. Eu quero ouvir isso?

—Vamos apenas dizer que o boato é outra coisa esta manhã, —


afirmou Takara, colocando uma longa mecha de cabelo preto atrás
da orelha.

—As pessoas não têm nada melhor a fazer do que criar um


drama de merda, — acrescentou Poet.

Seus tons eram casuais, mas eu sabia que essa era sua maneira
de me dar uma pista. Se o que quer que estivesse sendo dito não
fosse relevante, eles não teriam tocado no assunto. Nunca
participamos dos círculos de fofoca.

Um palpite maluco foi que tinha algo a ver com Mack. Eu não ia
falar sobre isso agora.

Havia tópicos que não discutíamos em torno dos prosélitos, eu


sendo um deles. Às vezes, os recrutas mais novos espumavam pela
boca por qualquer detalhe sórdido que eu pudesse deixar escapar,
apenas para que pudessem correr até Samael e repetir.

Era uma tentativa tola, mas isso não os impediu. A transmissão


de informações nunca valeu a pena. No segundo em que
terminassem de derramar o que sabiam, Samael ficaria muito feliz
em fazer sangue jorrar de fendas em suas gargantas. A menos que
ele pedisse especificamente, deslealdade para comigo era
deslealdade para com ele. Não havia espaço para isso aqui.

Felizmente, isso não acontecia com tanta frequência. Samael e


os poucos que ajudaram a supervisionar as coisas do ponto de vista
da produção eram bons em eliminar as maçãs podres. Eles eram
mais exigentes sobre quem poderia entrar, o que tornava
ainda mais evidente que Mack era a ideia de entretenimento
mesquinho de alguém.

—O que vocês dois fizeram ontem à noite? — Eu perguntei,


mudando de assunto.

—A pergunta que você deveria estar se perguntando


é quem Kara fez. Eu saí cedo, — Poet respondeu.

—Hmm, escondendo os detalhes sujos de mim, hein? — Eu a


cutuquei suavemente.

—Os únicos detalhes a compartilhar são sobre minha enorme


vergonha e decepção por causa do cara que levei para a cama, —
ela resmungou.
Poet começou a rir, cobrindo isso com um pigarro quando seus
olhos o encararam.

—Quem era?

—Tigger, — ela murmurou, escondendo o lado do rosto com uma


das mãos.

Meus dedos pararam de descascar enquanto meu cérebro


processava o que ela acabara de dizer. —O Tigger parece um
polegar ambulante?

Seu silêncio e a gargalhada de Poet foram toda a confirmação de


que eu precisava.

—Kara, — eu gemi.

Eu sabia que aparência não era tudo, mas aparentemente


também não eram cérebros, porque Tigger não tinha nenhuma das
opções acima. Sem mencionar que Takara era boa demais para a
maioria dos homens, e aquele com certeza.

Ela era divertida e corajosa e não tinha problemas em dizer


exatamente o que pensava ou sentia. Ela também era incrivelmente
linda, por dentro e por fora. Sendo totalmente vietnamita, sua
pequena forma coberta por uma tinta linda. Ela parecia uma
boneca que você colocaria protetoramente nas prateleiras mais
altas.

—Ei, — ela ergueu as mãos como se estivesse protegendo nós


dois, —em minha defesa, o último pau que vi foi o de algum velhote
quando eu era uma vadia A.R.C. Tudo que eu queria era um
excelente P. Isso era pedir muito?

—Totalmente compreensível. Você tem que me dar mais


detalhes, no entanto. Foi bom? Ele estava dando P maiúsculo ou
minúsculo?

—Sim, ele estava balançando um lombo grande e grosso? — Poet


perguntou com uma risada.

Sua pergunta arrancou risadas de alguns dos prosélitos


vizinhos.

—Eco. — Eu ri, empurrando ele de brincadeira.

—Colocando dessa forma, o pau dele era tão pequeno que ele
meio que deitou em cima de mim e vibrou por alguns minutos. Eu
sei que é o poder do bastão e não o tamanho, mas... urgh. Estou
tão envergonhada.

Comecei a rir, parando abruptamente quando um dos adorados


bonecos de Samael veio caminhando da direção oposta.

—Vá encontrar outro lugar para se sentar, — ele ordenou, sua


voz afiada.

Todos, exceto nós três, decolaram como baratas que foram


apanhadas sob um holofote no meio da noite. Ele deslizou para o
espaço diretamente em frente a mim, empurrando uma bandeja de
comida em minha direção. Eu não ficaria surpresa se estivesse
misturado com algo.
—Isso veio diretamente da Kodak. Não está envenenado.

Aborrecida por ele ter adivinhado a direção que minha mente


tinha tomado, inclinei para trás e cruzei os braços.

—Você não seria responsável pelo recruta com olhos de cachorro


fora da minha cabana esta manhã, seria?

—Alguém estava fora de sua cabana?

Sua fingida ignorância confirmava que ele era o culpado. Ele


sempre estava fazendo essas merdas quando ficava entediado,
geralmente com todo mundo. Eu nunca entenderia como alguém
caiu em sua oferta de orientação ao chegar aqui. Eles praticamente
imploraram por isso. Nada em Amo era bom ou doce. Ele era um
demônio doente e caótico com um rosto bonito. Como a maioria de
nós, suponho. Mas ele também era um idiota gigante.

Fiz um gesto para minha bandeja. —Você não trouxe isso para


mim por gentileza genuína. Então o que você quer?

Ele se inclinou para frente, apoiando os braços em cima da


mesa.

—Eu fiz, na verdade. Samael iria enviar sua irmã mais velha. Eu


sei o quanto você a ama.

Tudo bem. Ele me pegou lá. Entre Asmodeus e Rory, eu não era


uma grande fã de qualquer um, mas escolhia Amo todas as vezes.
—Mal está com Dawn, ou ele mesmo teria vindo. — Ele parou e
estudou meu rosto para uma reação que eu era inteligente o
suficiente para não dar a ele.

Havia uma infinidade de respostas que circulavam pela minha


cabeça, e eu não conseguia verbalizar nenhuma delas.

—É só isso que você veio dizer? — Takara questionou, seus olhos


escuros lançando adagas nele.

—Ele quer ver você. Trinta minutos nos poços.

—Por que ele mesmo não disse isso a ela? — Poet perguntou.

—Como eu disse, ele está ocupado. Aprecie a sua refeição,


princesa. — Ele se levantou e mudou seu olhar para Kara, um
sorriso tingindo seus lábios.

—É uma pena sobre o Tigger. Se você quiser gozar pela primeira


vez, meu pau está sempre disponível para uma carona gratuita.

—É exatamente por isso que nunca vou chegar perto disso. Essa


disponibilidade aberta grita DST.

—A única coisa que estaria gritando é você.

Ela revirou os olhos para isso, naturalmente.

—Absolutamente não.

Ele sorriu e começou a se virar. —Quando você mudar de ideia,


sabe onde fica minha cabana.
Ela observou as costas dele, balançando a cabeça. —Por que os
homens mais bonitos são esses cabeças de merda?

—Porque eles sabem como são maldito mente bons, — Poet


meditou, olhando para Amo. —Aposto que ele tem mais
circunferência do que comprimento.

Minha boca se curvou nos cantos. Esse era um visual para


clarear meu cérebro.

—Bruto. Muito encolhido, Poe.

Ele me dispensou. —Você não consegue ter uma opinião válida


sobre isso. Você é tendenciosa. Você o mataria se pudesse.

Eu não iria tão longe. Eu não acho...

Ele nunca fez nada comigo pessoalmente, além de combustível e


espalhou boatos de merda sobre como eu estava sendo
tratada. Minha antipatia por ele estava no mesmo nível de seu
desprezo por mim.

A maioria das seguidoras amava Amo quase tanto quanto amava


Samael. Alguns dos homens também. Eu gostaria de poder dizer
que não tive o fascínio, mas isso seria uma mentira. Bem
constituído, com suaves olhos cinzentos e uma cabeça de cabelo
castanho escuro afilado, ele estava longe de ser feio, e sua
autoconfiança estava em outro nível. Seu ego era quase tão grande
quanto este local de hospedagem.
No entanto, meu julgamento era tendencioso, assim como Poet
havia apontado.

Sua personalidade era um assunto. A outra era minha falta de


atração por ele estar tão perto de Samael. Isso fez Amo
automaticamente fora dos limites. Os dois se tornaram como
irmãos, e eu não era fã de ménage. Ou trocando irmãos.

—Você vai ficar bem? — Kara perguntou baixinho, olhando para


mim com preocupação.

Não fingi não saber do que ela estava falando. Isso seria inútil.
Estes foram dois dos raros poucos prosélitos que entenderam a
relação pouco ortodoxa que Samael e eu tínhamos.

—Não, mas a dor é necessária.

—Não tem que ser, — respondeu Poet.

Eu dei a ele um pequeno sorriso. —Já está doendo há muito


tempo. Por que fazer parar apenas para aprofundar a ferida quando
eu reabri-la?

Nenhum deles tinha nada a dizer sobre isso. Eles sabiam que eu


estava certa. Claro, eu não queria estar.

Não houve um dia em que eu não sentisse falta do garoto que


tinha sido meu melhor amigo. Eu não conseguia entender essa
nova versão de nós, porque ainda estava de luto pela antiga.

Eu odiava o que nos tornamos.


A pior parte de tudo isso, entretanto? Como tínhamos sido bons
em partir o coração um do outro quando prometemos sempre
proteger eles.

Tínhamos nos tornado uma mistura ruim de animosidade,


segredos e mentiras. Uma mistura que continuou a fermentar mais
e mais com o passar do tempo. O ciclo tinha que acabar.

Eu nunca estaria pronta para deixar ele ir, mas eu sabia que
tinha que fazer.

Mesmo que isso significasse destruir parte de mim mesma.


CAPITULO SETE

Levou tempo não apenas para planejar, mas também para


executar uma fuga elaborada de um homem comprovadamente
maluco.

Tempo que não tínhamos.

Isso era tão arriscado que poderia ser argumentado que nunca
conseguiríamos. Mas, a menos que quiséssemos esperar ainda
mais, não havia outra opção. Pior cenário?

Nós falharíamos e seríamos mortos.

Eu tentei convencer Poe e Kara a não virem comigo por este


motivo, mas todas as minhas objeções caíram em ouvidos surdos.

Eu deveria ter esperado isso. Essas duas almas desviantes me


mantiveram com os pés no chão em alguns dos meus piores
dias. Éramos próximos desde o primeiro encontro. Isso era
exatamente o que Samael queria: substitutos para a única outra
amiga que eu tive e finalmente perdi.

Ele trouxe Kara de volta com algumas outras garotas depois de


uma grande corrida alguns anos atrás. Ela estava em uma forma
rude e lamentavelmente reservada, mas com o tempo ela melhorou.

Eu não conseguia lembrar a hora exata em que Poet apareceu,


mas ele se tornou uma espécie de ursinho de pelúcia. Ele também
era um dos poucos homens que Samael não perdia a cabeça por eu
estar perto.

Eles nunca poderiam substituir minha Belladonna. A sombra de


uma pessoa não poderia preencher a forma de outra. Eu os amava,
no entanto. A amizade deles era inestimável.

—Você tem certeza que ele vai correr? — Poet perguntou pela


sexta vez.

—Ela respondeu isso mais de duas vezes agora, — Takara


respondeu antes que eu pudesse.

—Se concentre, amigo. Temos uma janela ainda menor do que


pensávamos que teríamos.

—Certo, desculpe. Para onde vamos depois de deixar a floresta?

—Lembro de que havia uma cidade fora daqui. Teremos que


passar dela.

—Tudo bem, eu tenho duas sacolas de suprimentos guardadas e


prontas para ir. Isso não vai durar muito. O que você quiser levar,
torne-o leve e de preferência útil. Vou fazer o meu melhor para
reunir mais suprimentos, mas em tão pouco tempo, não espere
milagres.

—Ele tem razão. E precisamos descobrir como encontrar os


Savages o mais rápido possível, — disse Kara.

Eu balancei minha cabeça com a sugestão dela. —Você não


apenas 'encontra' os Savages. Não podemos sair por aí perguntando
sobre sua localização. Essa é uma maneira rápida de morrer.

—Então o que você sugere que façamos?

—Eu posso ajudar com isso, — uma voz desconhecida


interrompeu.

Nós o ignoramos, como fizemos com a maioria das pessoas


trancadas dentro dos currais. Eles estavam todos lá por um motivo
ou outro. Eles seriam negociados como moeda em troca de algo, ou
eventualmente mortos. As razões para isso variam.

De qualquer forma, eles eram irrelevantes. Os prosélitos tendiam


a ficar longe daqui até a hora de remover um. Isso é o que faz desta
área do complexo o melhor lugar possível para nos encontrarmos e
discutirmos nosso plano.

Eu mordi meu lábio inferior, tentando me lembrar do layout da


Badlands. Aproximar-se de facções aleatórias não era uma opção e
não poderíamos perambular sem destino em mente. Isso seria tão
suicida quanto.
Já era ruim o suficiente nenhum de nós saber o quão extenso o
alcance da facção do Stag-Lazarus se tornou desde que fui
sequestrada.

—Me dê um pouco mais de tempo para pensar, tudo


bem? Preciso encontrar Samael antes que ele envie seu pelotão de
fuzilamento para me encontrar.

—Certo, mas não muito. Já adiamos isso duas vezes. Se isso der
certo, amanhã é nossa chance de realmente fazer isso, — ressaltou
Kara.

—Você é filha de Blue, certo?

Minha resposta a Takara morreu em meus lábios. Nós trocamos


um olhar entre nós três e então viramos nossas cabeças para o
curral mais próximo de nós. Agora essa pessoa tinha minha
atenção. Eu não tinha ouvido o apelido de mamãe em Satanás sabe
quanto tempo.

Um cara de meia-idade com cabelo castanho bagunçado se


afastou de todas as outras pessoas que foram empurradas para
dentro, nos observando de perto.

Ele não devia estar aqui por muito tempo, porque estava
relativamente limpo e parecia estar são.

—Como você sabe disso? — Poet se mexeu na minha frente,


protetoramente.
Eu olhei ao redor de sua forma maciça, curiosa sobre o que o
cara iria dizer.

Ele ergueu ambas as mãos defensivamente e ofereceu um


sorriso. —Não foi tão difícil descobrir. Cameron foi muito descritivo.

—Você conhece Cam? — Meu coração apertou com a menção do


meu irmão mais velho.

—Sei algumas coisas que acho que seriam de grande ajuda para
você.

Pelo seu tom, ele não iria simplesmente dar essa informação
livremente, o que era de se esperar. Se eu estivesse no lugar dele e
tivesse algo com que negociar, teria feito o mesmo. Não havia muito
que eu pudesse dar a esse cara em troca, no entanto.

—Vá encontrar Samael, — Poet ordenou, seu lado protetor


erguendo-se. —Eu vou lidar com isso.

Eu estava relutante em deixar ele sozinho. Não porque ele não


conseguisse se controlar ou porque eu achasse que esse homem
pudesse escapar da prisão, mas queria ouvir o que ele tinha a
dizer. Infelizmente, eu não podia arriscar que Samael ou um de
seus fantoches me pegassem falando com ele. Isso não iria acabar
bem.

—Vamos lá, vamos, — Takara pediu suavemente, segurando


minha mão para me levar embora.
Eu fui sem mais demora. Eu confiava em Poet para obter todas
as respostas que pudesse.

—Você acha que ele estava sendo honesto? — Takara perguntou


uma vez que colocamos alguma distância entre nós.

Eu levantei ambos os ombros em um encolher de ombros. —Ele


sabia o nome do meu irmão, mas isso não significa nada. Todo
mundo sabe quem ele é...

Minha mente vagou para a última vez que vi meu irmão mais
velho em pessoa. Eu estava sentada na arquibancada de um antigo
ginásio. Cam não tinha ideia de que eu estava lá. Eu estava com a
roupa do Stag totalmente equipada para me manter escondida.

Se ele soubesse o quão próximos estávamos, o encontro teria se


transformado em um banho de sangue. Belladonna e seu irmão
também estiveram lá, junto com a irmã de Amo.

Eu não poderia falar. Eu não devia dar qualquer indicação de


que estava na sala. Foi o termo com o qual Samael me fez
concordar quando me permitiu ir com eles naquele dia. Isso
acontecera há muito tempo, um pouco antes de nos mudarmos
para o local de hospedagem.

Assim como fui cuidadosa com minhas palavras, os prosélitos


faziam o mesmo. Eles apenas permitiam que informações triviais
escapassem. Eu não tinha como saber como estava minha família
até que voltasse para eles. Tudo que eu sabia com certeza era que
já havia perdido um irmão, o gêmeo de Cam.
Eu queria culpar tantas pessoas por sua destruição, mas tive
que enfrentar a música. As escolhas de Braxton eram suas, me
deixando apenas com ele para culpar pelo que eu sabia do que
aconteceu.

Ele cobiçou tudo que Samael e Amo haviam acumulado. Ele se


ressentia de Cam por razões que eu ainda não tinha
descoberto. Suas más decisões o levaram a trair ambas as facções
e, eventualmente, sua queda inevitável. Com o que estávamos
prestes a tentar realizar, não pude deixar de me perguntar se logo
estaria me juntando a ele na vida após a morte.

Conforme Takara e eu nos aproximávamos dos poços, o som de


gritos fez minha mente voltar à realidade. Eu diminuí, mas não
parei de andar. Os gritos eram cruéis. Quem quer que estivesse
sofrendo a ponto de liberar tal som, estava claramente sendo
consumido pela dor.

Não era nada incomum de se ouvir por aqui, mas não gostei que
eles estivessem vindo da direção para a qual estávamos indo.

Não pode ser coincidência.

O fedor de carne queimada também era evidente. Presumi que


isso veio do corpo de Jim sendo eliminado. De jeito nenhum ele
conseguiu sobreviver ontem à noite.

—Eu só posso imaginar o que estamos prestes a ver, — disse


Takara.

—Com Mal, nunca se pode ter certeza.


Seguimos o mesmo caminho da noite anterior. A área era
conhecida como 'poços' por causa das valas rasas cavadas sob cada
fogueira armada.

—Parece que toda a tripulação está aqui, — Takara observou


quando contornamos a curva final.

—Acho que é nosso dia de sorte. — Meus olhos percorreram


Aurora, Dawn e Samael.

Três outros prosélitos estavam todos a uma distância respeitável


da cena que estava acontecendo.

—Não é o cara novo?

Eu não respondi a ela. Avancei pela clareira e entrei no rosto de


Amo antes que ele pudesse golpear a marreta que segurava com
força em suas mãos. Empurrei seu peito com força suficiente para
que ele fosse forçado a dar um passo para longe de Mack.

Eu estive tão focada em montarmos uma estratégia de saída


eficiente que quase esqueci esse cara. Ele não estava no topo da
minha lista de coisas com que me preocupar. Ainda assim, eu
deveria saber que algo assim aconteceria. Ver ele no chão, indefeso,
com as mãos erguidas para afastar Amo, foi enfurecedor.

—Que diabos está fazendo?

Amo sorriu, mostrando duas fileiras de dentes que eu estava a


segundos de derrubar em sua garganta.
Seu olhar se moveu para a pessoa que estava agora atrás de
mim.

Não precisei me virar e olhar.

Eu conhecia a sensação dele em qualquer lugar.

—Eu disse que ela seria ingrata, não? — Amo falou sobre mim.

—Devo te agradecer por ser um psicopata furioso?

—Não, mas você poderia nos agradecer por nos importarmos


com você.

Nós? Quem era o nós de quem ele falou?

Ele piscou como o idiota arrogante que era. Quando eu estava


prestes a atacar ele, um braço forte passou pela minha cintura e me
puxou para trás, bem acima do corpo de Mack.

Ele gritou quando minha bota colidiu com algo branco e


sangrento. Eu dei uma boa olhada nele. Sua perna esquerda estava
dobrada em um ângulo estranho. A direita tinha um pedaço de osso
afiado saindo dela.

Isso tinha que ser o que meu pé tinha acabado de acertar. O


sangue pingou da ferida aberta para a sujeira.

Ele abaixou a cabeça no chão e fechou os olhos. Sua pele estava


pálida e respirações pesadas saíam de seu peito. Eu dei a Amo um
olhar que o deixou saber exatamente o que eu pensava dele.

—Por que você faria isso? Ele não fez nada de errado!


—Ele olhou para você como se você fosse o elixir da vida, —
Samael respondeu petulantemente, seu hálito frio soprando na
minha nuca.

—Então, você quebrou as pernas dele? Isso vai ajudar a clarear


sua visão?

—Eu não fiz nada. Ainda.

Incapaz de ver seu rosto, tentei me desvencilhar do aperto em


que ele me segurava. Sua resposta foi muito parecida com a da
noite anterior. Ele me segurou contra ele, puxando minhas costas
contra sua frente.

—Todo mundo aqui conhece as regras, Lil. — Aurora falou em


um tom suave, como se eu fosse uma criança tendo um ataque de
raiva. Eu raramente a reconheci. Ela era a meia-irmã que eu não
sabia que existia até que ficamos cara a cara. Eu tinha oitenta por
cento de certeza de que meus pais também não sabiam sobre ela.

Pelo menos, eles não tinham quatro anos atrás. Provavelmente


sim agora, já que ela foi e se apresentou a Cam. Samael sabia sobre
ela, no entanto. Ela era um dos muitos segredos que ele
convenientemente se esqueceu de compartilhar comigo.

Ela era a cara de nosso pai e irmãos. O mesmo cabelo ruivo e


expressivos olhos prateados. Eu sei que não era culpa dela, mas
doeu olhar para ela. Quando Samael deixou claro que eu era mais
prisioneira do que parceira, ela legitimamente tentou assumir o
papel de irmã mais velha, como se fôssemos criar um vínculo por
causa do meu cativeiro.

Tão maldito.

—As regras são uma besteira, — rebati.

—Elas mantêm você segura, — argumentou Amo.

—Elas mantêm o ego de Samael intacto, você quer dizer?


— Takara saltou defensivamente. —Deus proíba um homem de
pensar que ela é bonita, certo?

—Ninguém pensa isso, — rebateu Samael. —Todo mundo sabe


que ela é linda. Um cego pode ver isso. Mas a beleza não a impede
de fazer escolhas erradas.

Isso foi um elogio indireto? Ele não estava basicamente dizendo


que eu era toda aparência e nenhum cérebro?

—Essa é uma das coisas mais idiotas que eu já ouvi você dizer,
— Takara bufou, plantando as mãos nos quadris. —Ele não merecia
ter as pernas quebradas por algo tão simples.

—Você sabe o que, Toria? Você está absolutamente


correta. Matar ele por algo tão trivial seria muito tirânico da minha
parte.

—É Takara, — ela mordeu.

—Eu não dou a mínima para o seu nome. Você é tudo e quem eu


quero que você seja.
Sendo abençoada com bom senso, Kara sabia quando empurrar
e quando não. Ela apertou os lábios e olhou para ele.

Ao contrário dela, eu ficaria feliz em irritar Samael. Eu abri


minha boca para gritar com ele por falar com ela daquele jeito,
fechando quando seus lábios pressionaram contra minha
bochecha. Seus braços caíram e ele se aproximou para que
ficássemos lado a lado, inclinando parcialmente o rosto para que
pudesse olhar para mim.

Era injusto alguém ter uma aparência tão boa. Samael era lindo
quando rodeado pela escuridão, mas na luz, ele era devastador. Eu
não tinha esquecido nossas palavras um para o outro na noite
anterior, ou o fato de que ele me deixou flores novamente. Então,
enquanto eu queria acertar suas bolas de forma limpa, eu também
queria jogar meus braços em volta dele e me desculpar.

Minhas sobrancelhas franziram em suspeita quando eu peguei o


brilho travesso dançando em seus olhos. Um sorriso permaneceu
nos cantos de sua boca.

Eu conhecia esse olhar.

—O que você está...?

Ele avançou antes que eu pudesse terminar de perguntar o que


ele estava prestes a fazer.

Ele ergueu a bota com ponta de aço e a acertou no osso irregular


que se projetava da perna de Mack. O grito de dor que Mack lançou
fez minha boca ficar seca.
—Peça desculpas, — Samael exigiu, aplicando pressão suficiente
para que algo estalasse audivelmente sob o tecido, fazendo com que
mais sangue vazasse.

Pensei em tentar empurrar ele até que Amo me lançou um olhar


severo, balançando levemente a cabeça. Eu não me importava com
o cara, mas isso não significava que eu estupidamente iria contra o
que eu sabia que era certo apenas ser rancoroso.

Intervir em nome de Mack só pioraria as coisas. Ele agarrou o


chão, gritando em agonia, tentando freneticamente rastejar para
longe.

—Peça desculpas ou eu partirei ao meio e depois mandarei Amo


terminar a outra perna. — A voz de Samael estava enganosamente
calma, apenas alta o suficiente para ser ouvida acima dos apelos de
Mack.

Fiquei um pouco confusa, para ser honesta. Eu sabia que ele


não gostaria que ele se aproximasse de mim, mas por que ele o
estava fazendo se desculpar? Ele não tinha feito nada, exceto me
acompanhar da minha cabana.

—O que... pelo que ele deveria estar se desculpando? — Eu


finalmente perguntei.

—Para simplificar, ele confidenciou a Tigger e Brody sobre você,


— Aurora respondeu.

Suspirei. De todas as pessoas a quem falar, Mack escolheu duas


das pessoas mais leais aqui. Que idiota.
Meu conselho esta manhã não mudou nada. Ele quase derrubou
a guilhotina sobre si mesmo.

Com a bota ainda no osso, Samael começou a dobrar ele na


direção oposta. Ele estourou, fazendo meu estômago embrulhar. Eu
cruzei minhas mãos atrás do meu pescoço e suspirei. Se Mack fosse
semi-inteligente, ele cuspiria um pedido de desculpas e soaria como
se estivesse falando sério, mesmo que não o fizesse. Caso contrário,
isso pode durar horas.

—Sinto muito, — gritou Mack. —Eu não deveria ter...!— Sua voz


estridente cortada com outro grito agonizante quando Samael
colocou mais peso no osso, fazendo com que uma parte se partisse.

—Você está certo, você não deveria, — afirmou ele com


naturalidade.

—Lilith, — Dawn sussurrou, chegando muito perto de mim.

Como tínhamos a mesma altura, me vi olhando em olhos quase


da mesma cor que os meus.

Eles eram mais brilhantes, quase cintilantes. Eu gostaria de


poder dizer que essa era a única semelhança que tínhamos.

Era mais fácil listar as diferenças entre nós. Como as sardas que


cobriam suas bochechas em forma de bolha e seu peito amplo. Ou
seus lábios incrivelmente carnudos. Não precisava ser um gênio
para saber por que Samael a mantinha por perto. O jeito que ela
estava olhando para mim não era apenas meio assustador, mas...
era a esperança refletida em seu olhar?
—Faça alguma coisa, — ela pediu com um sussurro.

—Desculpe?

Não havia como ela estar falando sério. Essa garota não tinha


aprendido nada desde que estava aqui? Sua angústia não teria
nenhum efeito, e nem eu fingindo me importar. Samael não se
deixou influenciar pelo desconforto ou opiniões emocionais dos
outros. Isso é parte do que o tornou tão letal, nunca dando a
mínima.

Quando Samael queria infligir dano, ele o fez. E ele não pararia
até que fosse ele quem decidisse que era o suficiente. O nível de
brutalidade sempre esteve sujeito ao motivo pelo qual ele sentiu a
necessidade de ser violento em primeiro lugar, justificado ou não.

Ele era como eu, um Savage no coração. O único código moral


que ele seguiu foi aquele que ele achou que estava certo. Ele havia
usado a mesma perspectiva ao construir um império para chamar
de seu, o que era um dos principais atributos do porque estava
prosperando tão bem.

Para provar meu ponto...

—Maly, — chamei para chamar sua atenção.

Sem surpresa, fui ignorada. Ele estendeu a mão para trás e


levantou a camisa, indo para a faca que estava protegida em um
coldre horizontal.
Tendo a clarividência de saber o que viria a seguir, tentei
novamente. —Samael.

Ainda me ignorando, ele cambaleou e inseriu a lâmina na nuca


de Mack.

Ele a puxou com força para baixo até que descansou entre suas
omoplatas, empurrando a lâmina mais profundamente enquanto
avançava.

O sangue jorrou e transbordou, criando vários riscos sobre a


carne separada e pingando no chão. Mantendo um controle firme
do cabo da faca curva, ele inverteu o movimento, arrastando a
lâmina de volta e torcendo ela duas vezes para aprofundar o
ferimento de entrada inicial. Houve uma forte entrada de ar quando
Mack engasgou e gorgolejou. Seu corpo teve um espasmo, os dedos
se enterrando na terra antes que ele ficasse completamente imóvel.

Fiquei olhando para ele, sem sentir nada pelo cara, apenas um
leve caso de pena. Se eu não tivesse crescido entre Savages ou
testemunhado as tendências homicidas de Samael em múltiplas
ocasiões, isso teria me traumatizado.

Samael removeu sua lâmina, limpando ela na bainha da camisa


de Mack antes de se erguer de volta à sua altura total. Seus ombros
se ergueram ligeiramente enquanto ele inspirava e
expirava. Quando ele se virou para olhar para mim, seus olhos
transmitiram o que a matança o fazia sentir.

Satisfação.
Excitação.

Morte. Tirar uma vida. Pode trazer consigo uma sensação


indescritível. Uma que Samael precisava. Lutando para permanecer
indiferente e calma sob o peso de seu olhar, fiz um gesto para o
corpo imóvel de Mack.

—Isso foi tudo?

—Sim, você pode ir agora. — Ele se afastou de mim, seu tom de


desprezo.

Eu encarei suas costas por um momento, sentindo que deveria


dizer outra coisa, mas estava hesitante em fazer isso com uma
audiência.

Dawn me deu um pequeno sorriso que não alcançou seus olhos


antes de pisar ao lado dele.

Teria sido errado da minha parte agarrar ela pelos cabelos e


arrastar ela para longe dele? Eu sabia que o ciúme era uma perda
de tempo, mas lá estava eu, presa em meus sentimentos e pronta
para jogar fora um pouco mais dos meus.

Não era como se eu não a entendesse também. Samael era


incrivelmente especial. Leal em seu próprio detrimento. Inteligente.
Intensamente masculino. Se apaixonar por ele era uma vítima da
qual qualquer mulher poderia se tornar. 

Uma pena que esse conhecimento não esfriou a queimadura que


ver ela perto dele causou. 
Em minha mente, mesmo quando ele não era meu, ele era meu.

Ensanguentado e tudo.

No final, Takara sabiamente agarrou minha mão e me levou


embora, salvando minha dignidade antes que eu pudesse fazer um
grande espetáculo de mim mesma.
CAPITULO OITO

—Você não pode aprender com os erros que nunca


cometeu. Alguns de nós fazem mais do que alguns antes de ver o
erro de nossos caminhos. O dano que causamos pode ser
irreparável. Isso é uma parte da vida de merda, mas ninguém pode
tirar as lições que eles nos dão.

As palavras foram ditas a mim por meu pai três dias antes de
tudo mudar. 

Três dias antes, e fui enganada sem qualquer tipo de aviso ou


adeus.

Eu era jovem e tola, mas o problema é que eventualmente somos


forçados a crescer como o diabo. Existem certas realizações que
vêm com o crescimento como pessoa, boas e más. Para mim,
percebi que há mais vida do que eu jamais imaginei.
Aprendi da maneira mais difícil que é impossível permanecer
livre de fardos e dores de cabeça. Mais cedo ou mais tarde, você
terá que fazer escolhas, e com elas vêm as consequências, negativas
e positivas.

As palavras do meu pai, muitas vezes repetidas dentro da minha


cabeça. Eu me perguntei o que ele diria para mim agora, hoje. Eu
não era nada parecida com a menina daquela época. Ele ficaria
desapontado ao ver essa versão de mim?

E minha mãe? O quanto ela mudou depois de perder todos os


seus filhos? Eu sabia que Cam estava vivo, mas de jeito nenhum ele
ainda era o mesmo depois do que Braxton tinha feito com ele.

Com um suspiro, vesti um short de algodão, vasculhando minha


cômoda por uma regata combinando.

Estava escuro agora, e a facção estava tão ativa como sempre. A


música tocava sem consideração pela hora ou pelas finas paredes
de painéis de carvalho da cabana. Takara se ofereceu para ficar
comigo, mas acho que ela percebeu que eu precisava ficar sozinha
por um tempo. Minha mente não tinha parado de girar desde a
noite anterior. Os eventos do dia apenas aumentaram o redemoinho
caótico. Eu precisava de um pouco de silêncio antes que isso
aumentasse ainda mais.

Um farfalhar veio da esquerda e a cortina começou a se mover.


Samael entrou, parecendo recém-banhado. De repente, meu quarto
ficou dez vezes menor. Eu desviei meus olhos dele e agarrei a
primeira regata que vi.

—Você esqueceu como bater?

—Você nunca fez.

Eu fiz beicinho, puxando minha blusa.

Eu não o tinha visto desde que fui chamada para testemunhar a


morte de Mack.

—O que você quer?

—Para você olhar para mim.

A suavidade de seu tom tocou minhas cordas cardíacas. Eu me


virei e dei a ele toda a minha atenção. Ele estava encostado na
parede, o brilho suave da minha lâmpada iluminando suas
feições. Seus olhos pareciam tão escuros naquele momento,
piscinas sem fundo de nada. Ser o alvo de seu olhar pesado me
deixou inquieta. Sempre senti como se ele pudesse ver através de
mim.

—Você está feliz agora?

—Sim. — Huh? O que houve com aquela resposta direta? —Você


nunca mais olha para mim. Você me evita como se eu estivesse
carregando uma praga.

—Isso não é...


—Eu não culpo você por fingir que me odeia, mas isso não vai
mudar nada. Você sempre será minha.

De onde isso estava vindo? Não consegui encontrar palavras


para responder imediatamente. Meu primeiro pensamento foi
rebater imediatamente sua acusação.

A segunda era que talvez deixar todos esses mal-entendidos


como estavam me beneficiaria a longo prazo. Senti uma dor física
no peito, deixando aquelas palavras entre nós, mas perseverei
mudando de assunto.

—Então? — Sem saber o que fazer com meus braços, eu os


cruzei frouxamente e levantei o quadril, tentando não parecer
afetada. —Por que você está indo para outra corrida?

—Há algo que preciso ver pessoalmente.

Ele respondeu sem perder o ritmo. O que eu realmente


esperava? Samael nunca se deixou ser vulnerável.

—Algo que não está na unidade de armazenamento gigantesca


que você tem?

—Sim, — ele respondeu com desdém.

—Certo, então a que horas você vai embora, e quem vai levar
com você?

Ele inclinou a cabeça para o lado e me deu uma leitura


minuciosa. —O que há com todas as perguntas, Lils? Planejando ir
a algum lugar?
Meu pulso disparou. Não havia como ele saber o que estávamos
fazendo, certo? Não foi por isso que eu perguntei. Eu estava
genuinamente preocupada com ele. Com a compostura sob
controle, eu descartei sua pergunta.

—Só se você me levar com você.

—Você e eu sabemos que não é possível.

—Mas por que? Estou na hospedaria há mais de um ano. Estou


ficando louca.

—Quando você vai deixar pra lá? Já falamos sobre isso. Não é


seguro para você lá fora.

—Não é seguro para você também!

—Você não sabe o que é... — Ele se interrompeu e passou a mão


pelo cabelo, um sinal de que estava frustrado. —Porra, Lilith. Você
é a única pessoa que me deixa louco.

—Bom, — eu disse. Então, porque ele acabou de me irritar, olhei


ao redor do quarto por algo para lançar em sua maldita cabeça.

Sua risada rouca teve minha atenção voltando para ele.

—Procurando algo para jogar?

—Não. Isso seria infantil.

Ele me deu um sorriso arrogante. —Eu acho que você esqueceu


o quão bem eu te conheço, garotinha.
Seu sorriso... seu sorriso foi o que fez a verdade me atingir. Que
esta poderia ser a última vez que estivemos juntos assim. O duro
tapa da realidade alimentou chamas de raiva que queimava
lentamente e fez meu coração se partir ainda mais. Eu não tinha
nem remotamente começado a contemplar isso. Eu não
sabia como processar a vida sem ele.

Se ele fosse o sol, eu seria a lua. Não era para um ser capaz de


existir sem o outro, mas ele havia construído uma parede entre nós,
enfrentando o peso do mundo sozinho.

Eu sabia que ele tinha seus motivos, me protegendo entre


eles. Ele tinha feito isso uma e outra vez. Então um dia ele parou de
me deixar entrar. Eu não entendi. E pensar que teria que me
afastar dele quando havia tanto o que falar... como era possível
sentir esse nível de dor e ainda estar tão apaixonada?

—Eu não queria isso.

—O que você está falando? — Eu perguntei, mais dura do que eu


pretendia. A amargura que subiu pela minha garganta me rendeu
outro olhar que não consegui decifrar.

—Eu não vim aqui para discutir com você.

—Então por que você está aqui? Esta cabana não está


exatamente perto de nada ou de ninguém.

—Eu não tinha certeza se você estaria acordada quando eu sair


amanhã. Vim para ter certeza de que você estava bem.
—Como você pode ver, estou bem. — Eu estiquei meus braços de
cada lado de mim.

Ele estreitou os olhos, sua expressão indo de estoico para


estudioso. —Você está mentindo.

—Como você vai me dizer o que ou como me sinto?

—Porque você tende a mentir sobre isso.

—Mal. — Suspirei e esfreguei minha testa. —Tenho certeza de


que você tem coisas mais importantes a fazer. Estou bem. Você
pode sair agora.

—Nah, acho que vou ficar aqui esta noite.

—É melhor que seja sarcasmo.

Claro, com minha sorte, não era. Ele começou a tirar as botas,


se alongando vagarosamente no processo.

—Hum. O que você está fazendo? O sofá está na outra sala.

—Se você precisar que eu esclareça, eu quis dizer que vou


dormir na sua cama.

Ah não. Eu não poderia estar tão perto dele agora. Minha


decisão estava em jogo.

—E como Dawn se sentiria sobre isso?

—Que você pensa nela muito mais do que eu? Ela provavelmente


se sentiria apavorada.
—Qualquer que seja. Você pode ficar com a cama. Eu fico com o
sofá.

Comecei a passar por ele como uma tempestade. Ele deu um


passo para o lado e bloqueou meu caminho.

—Se estou dormindo na sua cama, é porque você está nela.

—Mas eu não estou.

—Eu posso consertar isso.

Ele me pegou, me içando por cima do ombro como se eu não


pesasse nada. Ignorando todos os meus protestos e lutas, ele me
carregou para a cama e me largou.

Eu bati no colchão, saltei uma vez e tentei imediatamente me


levantar. Sua mão disparou e envolveu minha garganta, me
forçando para trás até que eu estava deitada de costas. Seu aperto
não era forte o suficiente para doer, mas forte o suficiente para
fazer meu corpo obedecer às suas ordens.

—Agora, Lilith, — ele repreendeu com uma voz zombeteiramente


severa, se elevando acima de mim. —Esta é apenas uma das muitas
razões pelas quais você não tem permissão para sair. Você vê como
seria fácil para um homem tirar vantagem de você?

—Isso só está acontecendo porque é você, — retruquei.

—Você tem certeza sobre isso?


Ele se inclinou, posicionando seu corpo em cima do meu. Seu
rosto pairando a um fio de cabelo de distância, nossos lábios
roçaram.

—Você sempre gostou assim. Você goza sabendo que eu poderia


te matar a qualquer segundo.

Ele deu um beijo suave na minha testa antes de se levantar o


suficiente para ver meu rosto. Eu engoli, me perguntando se ele
podia sentir a maneira como meu pulso estava acelerado contra
suas palmas. Eu deveria ter afastado ele, mas realmente queria
puxá-lo para perto.

—Existe um ponto para tudo isso?

—O que você acha que estou provando agora? Olhe a posição em


que você está. Se não fosse eu, quem poderia te manter segura?

—Eu mesma. — Eu agarrei um de seus pulsos ofensivos e tentei


virar minha cabeça.

—Você se lembra do Francis?

Estremeci quando seu aperto ficou mais forte, me prendendo sob


seu olhar pesado. Eu sabia que ele estava me provocando. Molhei
meus lábios, ciente de que ele observava cada pequeno movimento
meu. Como um predador estudando sua presa.

—Como eu poderia esquecer? — Eu murmurei.

Para ser honesta, eu não pensava nisso há algum tempo.


Esse incidente não causou tanto alvoroço quanto deveria. E
ninguém jamais suspeitou de Samael. Então, novamente, naquela
época ele ainda era considerado um menino doente que não podia
sair de casa. Que merda essa 'doença' acabou sendo.

Independentemente disso, o ponto que ele estava tentando fazer


era discutível. Não havia nenhuma maneira no inferno de eu
simplesmente ficar lá e aceitar o que quer que acontecesse
comigo. Ele foi o único que eu deixei me tocar desde o incidente
com Francis.

Ele riu e recuou um pouco, deixando a mão onde estava.

—Parece que eu estava ficando preocupado por nada. Você ainda


é a mesma.

Com o coração batendo de forma irregular, eu o encarei, lutando


contra o desejo lascivo de tentar arrebatar meu bom senso. Suas
palavras, seu toque. Eles evocaram uma onda de emoções dentro de
mim.

Samael me teve desde antes de eu ter idade suficiente para


entender que estava apaixonada por meu melhor amigo. Antes que
eu percebesse como era assustador se apaixonar por alguém de seu
calibre.

—Não se mova, — ele ordenou calmamente. Suas mãos caíram,


indo direto para a bainha de sua camisa.

Com a mente girando, eu permaneci quieta, esfregando meu


pescoço para aliviar a sensação que seu toque deixou para trás.
Quando ele finalmente removeu a única peça de roupa que
estava bloqueando minha visão de seu torso incrível, minha mão
congelou. Meus olhos devoraram avidamente cada linha
emoldurando seu pacote de oito.

Varrendo para cima, observei a enorme tatuagem que se


expandiu em seu peito tonificado. Quando encontrei seu olhar, fui
recompensada com outro sorriso.

—Devo deixar cair minhas calças, também? Eu prometo que a


vista ainda é tão boa.

Mordi meu lábio para abafar uma risada, os olhos voltando para
seu peito. O olhar sinistro de um cervo colidiu com o meu. Seus
grandes chifres se estendiam para cada um de seus peitorais.

—Isso te incomoda?

Eu não tinha certeza do que ele estava perguntando, mas seu


comportamento foi de brincalhão para sombrio antes que eu
pudesse piscar. Ele realmente acha que uma tatuagem mudou o
que eu sinto por ele? Independentemente do que os símbolos em
nossos corpos representassem, eu apenas o vi.

Respirando fundo para acalmar meus nervos, estendi minha


mão para ele. Ele aceitou e me deixou puxá-lo para mais perto. Eu
deslizei para que ele tivesse espaço para se sentar ao meu lado.

—Nada sobre quem você é ou o que você realizou me incomoda.

—Nada, hein? — Ele questionou, afundando.


—Não. — Eu coloquei minha cabeça em seu ombro sólido. —
Você se saiu incrivelmente bem. Estou orgulhosa de você.

Ele puxou sua mão da minha e passou um braço em volta dos


meus ombros, me puxando em seu peito quando ele se inclinou
para trás. Ainda bem que eu tinha uma cama queen-size, ou isso
nunca teria funcionado.

—Você está orgulhosa de mim?

Eu não estava gostando da dúvida que ouvi em seu tom. —Por


que eu não deveria estar?

—Eu nunca ouvi você dizer isso até agora. Eu pensei... — ele
parou, deixando a frase inacabada.

Sua voz havia voltado ao padrão: monótona e sem emoção.

Voltei o tempo dentro da minha mente. Eu tinha certeza de que


havia dito isso a ele antes, mas não havia nenhuma memória
específica para provar isso.

Eu nunca tinha dito isso a ele até agora? Um entorpecimento se


espalhou pelo meu peito já dolorido. Tudo que eu queria dizer foi
engolido de volta.

—Estou orgulhosa de você.

Essas quatro palavras tinham um significado mais profundo


para ele do que se poderia imaginar. Está ligado ao passado que
influenciou na formação de quem ele era.

Eu odiei isso.
Eu queria desesperadamente quebrar suas barreiras, mas eu
sabia que no final seria melhor para nós dois se eu não fizesse
nada. Quem era eu para cavar suas feridas e deixá-lo sangrar?

Lembrando o que eu disse a ele na noite anterior, fechei os olhos


de vergonha e arrependimento.

Quando os reabri, olhei para ele e descobri que ele já estava


olhando para baixo. Havia uma tensão tangível entre nós. Se este
fosse um momento diferente, esta situação não teria sido nem
remotamente assim. Ele estaria tocando cada parte de mim antes
de finalmente trazer nossos corpos juntos.

Eu senti falta disso.

Eu senti falta dele.

—Você vai me beijar? — Eu soltei.

Suas sobrancelhas perfeitas se ergueram levemente. Meu rosto


esquentou. Por que disse isso?

—Igno...

Ele me virou de costas, fazendo com que minha frase terminasse


em um —ufa.— Ele abriu minhas pernas e colocou seu corpo entre
elas. Mãos macias e calejadas deslizaram sob minhas coxas, me
puxando confortavelmente contra ele.

—Mal. — Eu espalmei a mão contra seu peito. Ele fez tudo


intensamente, principalmente isso. —Você realmente não precisa.
—Diga-me onde, — ele respondeu, deslizando as palmas das
mãos para cima.

—Qualquer lugar? — Eu não queria que soasse como uma


pergunta, mas parte do meu cérebro ainda estava enviando sinais
de alerta. Não era uma boa ideia. Eu evitei ficar embaixo dele por
quase quatro semanas.

Ele riu levemente e se inclinou, capturando minha boca. Assim


que nossos lábios se encontraram, o debate em minha cabeça se
tornou obsoleto. Ele me beijou brevemente, mas profundamente
antes de mover suas atenções gradualmente para baixo. Meu corpo
aqueceu em resposta, a sensação na parte inferior do meu
estômago trazendo mais umidade entre as minhas pernas. Seus
lábios no meu pescoço, ele mordiscou suavemente a carne, me
fazendo estremecer.

—Maly, — eu respirei.

—Não fale. Apenas sinta. — Sua voz era fria e controlada. Ele


trabalhou seu caminho para baixo, me dizendo para levantar para
que ele pudesse remover minha blusa.

O ar frio tinha arrepios se espalhando pela minha pele. Sem


sutiã, meus mamilos endureceram. Sem comentários, ele continuou
seu caminho para baixo, sem pressa. Os lábios roçaram meu
umbigo, fazendo meu estômago embrulhar.

Agarrando o elástico do meu short, ele o tirou e fez uma


pausa. Eu não estava usando calcinha, mas não estava com
vergonha. Ele tinha visto meu corpo centenas de vezes antes. Seus
olhos viajaram da minha boceta nua até a linha do cabelo, sem
pressa. Ao fazê-lo, suas mãos se apertaram em volta das minhas
coxas.

—Eu odeio o quão bonita você é. Eu odeio, mas também adoro.

Eu mordi meus lábios, sem saber o que dizer. Esta não foi a


primeira vez que ele disse algo assim.

Ele era quem falava. Ele era irritantemente lindo também.

—Você sabe o que a torna melhor? — Ele continuou espalhando


minhas pernas ainda mais enquanto colocava seu rosto entre
elas. Sua barba por fazer esfregou contra minha pele, aumentando
meus sentidos. —Saber que você é minha. Isso faz sua boceta ficar
mais doce.

A primeira tentativa de lambida provocante fez um leve gemido


derramar da minha garganta. Sua língua forte lentamente fez seu
caminho até minha boceta e meu clitóris, fazendo minha mente
ficar em branco. Não havia pensamentos, apenas uma necessidade
urgente de continuar.

Seus dedos deslizaram ao longo das minhas coxas. Ele me


provocou e torturou antes de deslizar um único dedo. Seu dedo
rodou contra minhas paredes, atingindo os pontos mais sensíveis
enquanto ele esticava minha boceta. Um segundo dedo deslizou
para dentro e ele começou a balançar eles para dentro e para fora
de mim enquanto sua língua trabalhava no meu clitóris.
Meus gemidos suaves se tornaram repetitivos e altos.

Fazia tanto tempo que não demorou muito para me levar ao


limite.

Abaixei e enfiei meus dedos em seu cabelo escuro e espesso,


puxando seu rosto mais profundamente entre minhas pernas.

—Maly, — choraminguei.

—Goza,— ele pediu, empurrando seus dedos mais


profundamente dentro de mim. —Goze, garotinha. Me deixe provar.

Os músculos da minha coxa começaram a travar, minhas


paredes internas se contraíram quando ele me trouxe ao
clímax. Apertando meu aperto em seu cabelo, eu gritei enquanto
meu corpo tremia e o calor impregnava minhas veias. Ele continuou
a me lamber enquanto eu descia. Eu me senti como uma poça de
mingau. Quando ele recuou, o abajur iluminou os sucos em seu
rosto.

Ele se afastou para remover seu jeans e cueca, puxando sobre o


V afiado que conduzia a seu pau. Eu me apoiei nos cotovelos para
poder observar ele.

Como ele, eu tinha visto seu corpo tantas vezes, mas nunca
consegui me acostumar com isso. Ele estava tonificado de todas as
maneiras certas. As mangas tatuadas e as insígnias duplas faziam
dele uma obra de arte que está saindo e respirando.
Meus olhos viajaram ao longo da mancha escura de cachos e
para seu pau. Era grosso e longo, com uma veia proeminente que ia
da cabeça lisa à base. Porém, algo estava diferente.

Seu piercing.

Ele só tinha um antes, mas agora parecia que havia dois ou três
na forma de um X. Eu podia ver quatro contas de metal saindo de
baixo da pele.

—Você já terminou?

Meu olhar voou para o dele. —Quando você fez aquilo?

—Um tempo atrás. — Ele subiu de volta na cama e se acomodou


entre minhas pernas. —Isso vai fazer você se sentir bem.

Isso trouxe uma tonelada de perguntas ao primeiro plano do


meu cérebro. Mas eu estava ofegante e agarrando suas costas antes
que pudesse perguntar. Ele empurrou dentro de mim sem
hesitação. A prazerosa queimação criou outro jorro de líquido. Eu
estava pingando, mas seu pau era muito grande para eu aceitar
facilmente.

—Porra, — ele murmurou, se mantendo quieto.

Enterrei meu rosto em seu pescoço e agarrei seus ombros,


sentindo minha boceta esticar para acomodar ele. Eu senti as
barras de metal de seu piercing também, roçando minhas
paredes. Ele levantou minhas pernas sobre seus antebraços e se
empurrou mais fundo.
Eu choraminguei, cavando meus dedos em sua pele. Depois de
se retirar, ele empurrou de volta. Ele não diminuiu a velocidade ou
parou desta vez. Ele me fodeu com mais força do que em meses,
mas ainda mais gentil do que o normal, me forçando a ficar quieta e
tomar cada centímetro dele.

Gemidos se tornaram choramingos, e o som de nossa pele


batendo ecoou pelo quarto.

Eu gozaria novamente. Eu senti isso crescendo em meu núcleo.


Acho que disse o nome dele de novo, mas não tinha certeza. Minha
boceta se contraiu em torno dele e um grito mutilado saiu da minha
garganta.

—Porra, Lils, — ele rosnou, capturando minha boca em um beijo


contundente enquanto continuava a bater em mim.

Corri minhas mãos por suas costas, enrolando meus dedos em


sua carne aquecida enquanto outro orgasmo se construía
rapidamente. Ele manteve o mesmo ritmo, tornando isso muito
mais intenso.

—Maly, por favor, — eu implorei, puxando ele mais fundo.

—Por favor? — Ele brincou comigo, sua voz ainda nivelada,


exceto por um ligeiro som áspero.

—Me faça gozar.

Ele se reajustou e começou a me foder de um ângulo


diferente. Seu pau e seu piercing atingiram meu ponto G
simultaneamente. Eu podia ouvir, sentir, o quão molhada eu estava
enquanto ele empurrava para dentro e para fora de mim.

Eu senti a inundação de calor e líquido dentro da minha boceta


antes de perceber que estava gozando. A bem-aventurança absoluta
fluiu por todo o meu corpo.

Eu montei no alto enquanto Maly encontrava sua própria


liberação, se retirando no último segundo. Ele agarrou seu pau,
movendo a mão para cima e para baixo para fazer cada gota sair. O
líquido pegajoso espirrou na parte inferior do meu estômago e
boceta, pingando no colchão.

Meu peito subindo e descendo, eu o envolvi em meus braços e o


abracei com força, nunca querendo deixar isso passar. Ele beijou
minha testa, depois meus lábios, antes de recuar.

Eu deitei minha cabeça, mas não me preocupei em me mover,


observando sua bunda tonificada enquanto ele desaparecia na sala.

Quando ele voltou, ele tinha um pano quente e voluntariamente


enxugou entre minhas pernas.

Quando ele terminou, ele se deitou ao meu lado, com as costas


apoiadas na cama. Eu me aproximei e descansei minha cabeça em
seu ombro.

Ficamos assim por alguns minutos, ambos consumidos por


nossos próprios pensamentos.
No início, pensei que me arrependeria disso, mas agora sabia
que não iria. Ter ele dentro de mim era um dos meus vícios
favoritos.

O outro era ele.

Estar ao seu lado e amar ele era tão natural quanto


respirar. Talvez seja por isso que a dor era inevitável, porque não
era para ser. Nosso amor era maníaco, uma loucura agridoce e
possessiva. Não importava que fosse alimentado por sangue e
obsessão, altos viciantes e baixos esmagadores. Ele continuou a
crescer.

Os segredos e animosidade entre nós não fizeram nada para


retardar seu progresso.

Estava crescendo tão rapidamente que fiquei ansiosa.

O homem ao meu lado havia se tornado alguém incrível, mas eu


não o conhecia mais e ele não estava me dando a chance de
descobrir quem era o novo ele.

Apesar de tudo isso, eu o amava agora mais do que antes. Achei


essa percepção aterrorizante, ainda mais quando me lembrei do que
ele disse na noite anterior.

Ele começou a traçar para cima e para baixo na minha


espinha. Eu me aconcheguei mais perto dele, relaxando em seu
calor e na maciez do edredom embaixo de nós.
—Eu não gosto de te manter cativa. — Sua voz profunda rompeu
nosso confortável cobertor de silêncio.

—Então por que você faz?

—Porque tudo é diferente, e você fugiria de mim na primeira


chance que tivesse.

Havia tanta coisa que eu poderia perguntar ou dizer em resposta


a isso, mas eu simplesmente não estava com vontade de falar
mais. Eu estava cansada de girar nesta roda de hamster, correndo
no mesmo lugar. Ou falamos muito pouco ou quase não falamos o
suficiente e chegamos a outro obstáculo.

Tudo o que precisava ser vocalizado foi pego em nossa falha de


comunicação ou nossos fios se cruzando. 

A menos que tiremos nossas roupas. Não tivemos problemas de


comunicação então.

Isto. Estava. Exaustivo.

Se, quando, eu fugisse dele, sabia que ele viria atrás de mim. Ele


pode até me pegar, mas não era com isso que eu estava mais
preocupada.

Fechei os olhos e fingi estar adormecendo. Ou ele acreditou no


ato ou optou por não me chamar por isso. Suas próximas palavras
ameaçaram estilhaçar minha decisão.

—Não posso desfazer o que fiz, mas preciso que você saiba que
nunca esqueci nossa promessa. Você sempre será a paz no meu
mundo. Estou fazendo tudo o que posso para torná-lo um do qual
você queira fazer parte.

Por que diabos ele tinha que dizer isso agora?

Eu queria gritar, urrar para fazer ele explicar como eu poderia


ser sua paz quando a única coisa que demos um ao outro era o
caos.

Eu mantive meus olhos fechados, lutando contra as lágrimas


que queimavam atrás deles. Se eu olhasse para ele novamente,
neste tipo de posição, estaria perdida. Samael estava contra a
corrente. A qualquer momento, ele poderia me arrastar para baixo.

Eu estava sempre prendendo a respiração e me preparando para


o caos que viria assim que ele me pegasse em suas águas
turbulentas.

Minha melhor defesa era a única que me restava: correr.


CAPITULO NOVE

A parte mais difícil do desgosto não é o fim. São as memórias do


que já foi e as possibilidades de todas as coisas que poderiam ter
sido.

Ver as flores foi outro golpe para minha psique. Quando ele


encontrou tempo para escapar e voltar antes de sair para correr?

Eu apertei minha bolsa com cordão, testando o peso dela. Eu


tinha seguido o conselho de Poet e embalado o menos que pude,
levando poucos itens sentimentais.

Pisando para fora da cabana, olhei para o céu dominado por


nuvens, em busca de um toque de azul ou qualquer tipo de luz do
sol. O ar parecia mais pesado esta manhã, combinando com o meu
humor.
Me impulsionando em um ritmo rápido, pulei os degraus da
varanda e comecei a caminhada pelo caminho. Eu ainda podia
senti-lo enquanto caminhava. Tentei não pensar muito nisso.

O silêncio era cortante.

A maioria da facção ainda estaria dormindo enquanto quem


estava em patrulha fazia suas rotas. Eu sinceramente esperava que
a pessoa que guardava as docas não fosse alguém que eu
conhecesse bem o suficiente para dar a mínima.

Minha respiração veio em pequenas baforadas, o frio no ar quase


forte o suficiente para me fazer desejar ter vestido algo mais
pesado. Seria substituído pelo calor em breve, no entanto. Eu tinha
seguido o caminho mais simples: short, camiseta, cardigã de flanela
e um par de botas gastas até o joelho.

Era prático e flexível, caso tivéssemos problemas. Cheguei ao


final do caminho que se dividia em dois e entrei no mesmo ritmo de
Takara, que estava esperando por mim.

Ela não perdeu tempo em divulgar tudo que eu perdi enquanto


entregava um coldre como o de Samael, equipado com o mesmo
estilo.

Nós duas tomamos o cuidado de não parecer abertamente


suspeitas enquanto permanecemos alertas caso alguém nos
visse. Se chamássemos muita atenção para nós mesmas agora,
nunca chegaríamos às docas.
—Samael e seis outros saíram há cerca de três horas. Colocamos
Poet no lugar com nosso equipamento e o outro cara.

—Que outro cara?

—Há dois prosélitos de guarda nas docas.

— Que outro cara?

Ela achou que eu perderia de como ela evitou essa pergunta?

—Travis, — ela cuspiu.

—Quem diabos é Travis? Por favor, me diga que não é o homem


dos currais.

—Nós precisamos dele. Explicarei mais assim que sairmos daqui.


Precisamos agir rápido. Ninguém parece saber para onde Samael
estava indo.

—Então, não temos ideia de até onde ele foi ou quando estará de
volta

—Exatamente. — Ela assentiu com tanta força que seu rabo de


cavalo balançou de um lado para o outro.

Algo me ocorreu quando nos aproximamos do prédio decrépito


que um dia fora uma casa de barcos. —Como esse Travis saiu do
cercado?

—Eu deixei ele e alguns outros saírem, então dei-lhes instruções


para correr para o lado errado enquanto íamos para outro.

—Droga, garota. Brutal.
Ela encolheu os ombros. —Pelo menos agora eles vão morrer por
uma causa nobre.

—Certo. Mas se eles disserem a quem acabar pegando eles que


foi você quem abriu a porta...

—Droga. Eu não pensei nisso.

—Vamos. — Comecei a correr, tentando ouvir qualquer coisa que


indicasse que tínhamos sido descobertos.

Quando chegamos à velha casa de barcos, Poet não perdeu


tempo colocando seu traseiro em marcha. Eu teria rido da pose de
tigre agachado que ele estava se a nossa situação não fosse tão
terrível.

—Pegue as bolsas, — ele ordenou a Travis antes de assumir a


liderança em direção ao local onde os barcos estavam
ancorados. Havia apenas quatro, e dois eram do tipo que você tem
que mover com os pés. Um dos dois estava extremamente
desgastado, a ponto de eu não confiar nele para nos levar de um
lado a outro do lago.

Toda essa coisa de fuga teria sido muito mais simples se


pudéssemos pegar a estrada principal que todo mundo costumava
ir e vir. Isso era quase impossível, no entanto.

Considerando que o acampamento era patrulhado como uma


medida extra de segurança, tanto a entrada real quanto a longa
pista de asfalto que conduzia a ela tinham um pequeno exército
esperando por alguém para experimentá-los. Sem falar na facilidade
com que seríamos seguidos nessa rota.

Além disso, imaginei que o alcance de Samael se estendesse por


alguns quilômetros. Os prosélitos ou aliados em potencial podem
estar em qualquer lugar. Pelo menos assim, se alguém nos
perseguisse, teria que pegar um barco e descobrir o caminho que
tomamos na floresta.

O lago apareceu logo à frente. A névoa se agarrou à sua


superfície geralmente cintilante. Em algum lugar além daquele
vapor branco estava o dique que precisávamos chegar.

Os dois prosélitos que Takara mencionou estavam de costas para


nós.

Eles estavam com o uniforme completo de Stag-Lazarus: mantos


escuros com capuz que poderiam passar por pretos e as máscaras
de Stags com chifres pontiagudos letais. Samael queria aquele
pequeno detalhe adicionado de propósito. Ele nunca quis que seu
povo ficasse sem uma arma.

Eu tinha visto incontáveis indivíduos empalados por aqueles


chifres afiados.

—Você pega a esquerda, eu pego a direita? — Poet perguntou


sem olhar para mim.

—Claro, — eu respondi, já alcançando minha faca curva.

—Você me ajuda com os barcos, — Takara disse a Travis.


Não estava mais sussurrando e nossas botas se encontrando
com as tábuas de madeira, os prosélitos foram alertados de nossa
presença. Eles viraram à direita quando Takara e Travis se
separaram de nós, Kara tirando minha bolsa de mim no processo.

Eu não poderia dizer para quem estava olhando devido ao


equipamento da facção, não que isso fizesse muita diferença.

Eu não conseguia pensar nessa pessoa como um de meus


conhecidos amigáveis. Eram eles ou nós, e eu tinha que ir com
eles. As saliências do cabo da minha lâmina pareciam naturais
contra a palma da minha mão. Já fazia um tempo desde que eu fiz
isso, mas você nunca se esquece de como matar alguém.

—Lilith? — O homem questionou.

Sua confusão era inconfundível.

—Desculpe por estragar sua manhã, — eu brinquei, caminhando


direto para ele.

Eu levantei a faca e bati em seu estômago. O som que ele fez me


encorajou a subir, minha lâmina cortando sua barriga com a
mesma facilidade com que faria com manteiga. Meus dedos ficaram
imediatamente cobertos de calor líquido. Ele nem mesmo tentou se
defender. Um ruído estrangulado saiu de sua boca.

Uma de suas mãos agarrou meu ombro, a outra foi para a faca
grossa alojada em seu estômago.
Olhando nos olhos da máscara, girei da esquerda para a
direita. Então, usando meu antebraço, empurrei seu peito e o
empurrei para trás, forçando seu corpo pesado para longe da minha
lâmina.

Suas mãos estavam pressionadas contra o estômago quando ele


caiu do cais, atingindo a água como um tapa satisfatório. Houve um
segundo respingo do seguidor com o qual o Poet estava lidando.

Sem tempo para perder ou demorar, nós corremos em direção ao


barco que Takara e Travis haviam adquirido. Poet subiu primeiro,
depois estendeu a mão para me ajudar. Assim que eu estava
totalmente a bordo, ele passou para os remos.

—Pegue o par extra e reme, — ele direcionou para Travis,


sentando no banco central.

Sentei ao lado de Takara, observando o cais em busca de


qualquer sinal de aproximação de vigias.

Poet e Travis já estavam remando, aumentando gradativamente


a distância entre o barco e o acampamento, nos levando ainda mais
para dentro do nevoeiro espesso.

A adrenalina correndo em minhas veias me anestesiou até do


frio.

Quando estávamos longe o suficiente das docas, me virei e


mergulhei as mãos na água para lavar o sangue delas e minha faca.

—Conseguimos, — Takara disse suavemente.


—Sim. — Recuei e me virei para sentar corretamente, colocando
a lâmina de volta no coldre em volta da minha cintura. —Mas
estamos longe de estarmos seguros.

—Oh eu sei.

À medida que nos afastávamos ainda mais do local de


acampamento, começamos a compreender exatamente o que
havíamos feito.

Traímos nossa facção.

Traímos Samael.

As repercussões de nossas ações não cairiam apenas sobre nós.


Fui passar a mão pelo meu cabelo, parando quando me lembrei que
o tinha penteado com uma única trança.

Eu me perguntei onde ele estava. O que ele faria quando voltasse


e descobrisse que eu tinha partido.

Eu esperava que ele não me odiasse por isso. Depois de tudo que


ele fez por mim e tudo que passamos juntos, eu não o culparia se
ele fizesse. 

Não quando eu me odiava.


CAPITULO DEZ

Eu soube que ela se foi no momento em que coloquei o pé de


volta em meu território. Uma melancolia arranhou o ar. Os
prosélitos engasgaram com o medo tangível.

Como deveriam.

Cheguei às docas no momento em que Grant estava removendo


um segundo corpo da água, sem a máscara de Stag há muito
tempo.

Eu prontamente disse a ele para colocá-lo de volta.

Eles eram inúteis para nós agora, nada além de cadáveres que
perderíamos tempo enterrando ou queimando. Ao menos fornecer
uma refeição para os peixes beneficiava o ecossistema.

Não fiquei surpreso por eles terem morrido.


Lilith não saberia que poderia poupá-los. Se eles tivessem
colocado um dedo sobre ela, teria sido eu os jogando na água um
pedaço de cada vez.

Se havia algo positivo sobre essa bagunça que ela acabara de


criar, era que essas mortes mostravam o quão leal meu povo
era. Embora, para ser honesto, eu não fiquei muito impressionado
com isso. Lealdade era um dos únicos valores que mantive como
padrão.

Eu me cerquei de canalhas implacáveis para garantir que o que


era forte nunca enfraquecesse. As pessoas que estiveram aqui por
mim desde o início, e aquelas que finalmente se provaram, eram
devotadas a mim até seus núcleos voláteis.

Eu nunca seria ingrato por eles, e não considerava um único


seguidor garantido, mas também não iria sentar e chorar por causa
de um único seguidor. Se isso me deixou sem coração, tudo bem.

Nenhum de nós pode ser classificado como ‘boa’ pessoa. Sempre


achei a definição dessa palavra subjetiva, de qualquer forma. Era
um rótulo. Depois de ser falsamente rotulado por metade da minha
vida, eu parei de me importar com o que alguém pensava de mim
há muito tempo. As pessoas só veriam o que queriam ver, e seus
julgamentos sempre rugiam mais alto do que minhas verdades.

Eu encarei a superfície de vidro do lago, levando alguns minutos


para colocar meus pensamentos em ordem. Se eu não controlasse
meu temperamento, começaria a massacrar todos ao meu redor.
Ela foi embora.

Eu sabia que ela faria, mas ela realmente fez isso, porra.

Eu não era um idiota. Confinado em casa pela metade da minha


vida, eu não tive nada além de tempo para estudar os caminhos dos
melhores dos melhores. O próprio diabo foi meu mentor. Foi ele
quem me encorajou a construir um império sob o nariz dos que
estão no topo, sem excluir a si mesmo.

Basta dizer que não cheguei tão longe por não ser mais
inteligente do que qualquer um que pensou que poderia me
superar. Isso estava fadado a acontecer. Eu previ isso meses
atrás. Mas isso não tornou nada mais fácil de aceitar. Saber que eu
estava perdendo Lilith não se compara à realidade disso.

Ontem à noite, ter ela em meus braços me trouxe um conforto


que eu sempre ansiava e só ela poderia dar.

Ao mesmo tempo, segurar ela enquanto meu pau latejava com a


ideia de sentir ela em volta de mim novamente... isso tinha sido um
novo tipo de agonia.

Não havia nenhuma maneira de eu recusar estar dentro dela.


Segurar e tocar seu corpo incrível, observando cada expressão
enquanto eu a fazia gozar, era um hobby pelo qual eu era
apaixonado. Eu poderia estar no meu leito de morte e pedir sua
boceta como meu último desejo. Se eu estivesse muito machucado
ou doente para foder, eu ainda enfiaria meu rosto nela.

Eu não deveria ter sido tão gentil com ela.


Se ela não pudesse andar, ela não teria sido capaz de fugir. 

Eu sabia que transar com ela até que ela não pudesse sentir
suas pernas ou proferir um único apelo não resolveria os problemas
entre nós. Palavras por si só não seriam suficientes. Isso funcionou
a meu favor, no entanto. Eu não era bom com palavras para
começar.

Seriam essas e minhas ações tornando minhas intenções


cristalinas, revelando a ela qual era seu papel.

—Eles estão aqui, — afirmou Amo, me tirando dos meus


pensamentos.

Descruzei os braços e me afastei do lago para observar a


pequena procissão de prosélitos. Brody e Aurora viram que os três
em questão chegaram aqui inteiros, junto com dois fugitivos dos
currais que eles recapturaram, mas ainda não mataram. Dawn se
arrastou atrás deles, uma carranca estragando seu rosto.

—Eles estavam falando em ir embora antes que os pegássemos,


— Rory anunciou.

—Achamos que seria o melhor para todos, — explicou uma


seguidora.

—Você achou que seria o melhor para todos? Eu poderia jurar


que fui eu quem tomou as decisões por aqui.
—Ela não quis desrespeitar, — o seguidor à esquerda correu em
sua defesa, —mas sabemos o que acontece quando um de nós
falha.

—Então você ia correr assustado como cadelinha? — Amo


perguntou.

—Chamar eles de cadelas é um elogio demais, — Rory


objetou. —As cadelas têm lealdade e são muito mais fofas.

—Não temos tempo para isso. Queime suas máscaras para dar o


exemplo e depois fazê-los ver um ao outro morrer.

—E os dois dos currais? — Perguntou Dawn. —Eles são os


únicos que sobraram. O resto já foi morto.

—Você acabou de responder sua própria pergunta. — Tirei


minha lâmina e caminhei até um homem quase encolhido no chão.

Com um golpe rápido, abri a lateral de seu pescoço. Me voltando


para a mulher mais velha ao lado dele, repeti o movimento, sem
prestar atenção ao apelo que ela me deu para poupar ela. Pisando
em seus corpos em espasmos, me dirigi a Amo, Rory e Dawn.

—Lide com esses três e, em seguida, empacote qualquer merda


aleatória de que você precisa. Estamos saindo antes do anoitecer.

Deixando eles com isso, eu me afastei das docas e me dirigi para


minha cabana.

 
 

Era estranho estar aqui, sabendo que Lilith havia partido. Foi ela
quem fez em qualquer lugar que estivéssemos nos sentir em casa.

Normalmente, quando eu entrava, ela estava dormindo, sem


acordar nem uma vez enquanto eu ficava de pé sobre ela e
observava. Mesmo sabendo que ela iria embora, deixei suas flores
onde sempre deixei. As mesmas que me fizeram pensar nela.

Flores silvestres.

Elas prosperam nas condições mais adversas.

Elas são resistentes, fortes, mas gentis. Essa era Lilith. Eu a


prendi em minha prisão de espinhos, e ela ainda encontrou uma
maneira de florescer.

Olhando para o sangue em minhas mãos, afundei no sofá e


descansei meu queixo nos nós dos dedos. Se meu tio pudesse me
ver agora...

Eu ri comigo mesmo ao pensar nisso. Já fazia muito tempo


desde que eu cruzei com alguém do meu passado. Eu não tinha
certeza se eles me reconheceriam. O que eles esperavam e o que eu
havia me tornado eram duas raças de predadores drasticamente
diferentes.
Todos nós temos aspirações, algo ou alguém que sonhamos ser
quando crescermos. Nascido como um Savage, meu caminho
deveria ter sido fácil, simples e já pavimentado. Eu deveria ser a
morte personificada, um ceifador na carne. 

Meu pai não olhou para mim dessa forma, no entanto. 

Eu podia ver em seus olhos que ele não acreditava que eu algum
dia seguiria seus passos.

Essa constatação trouxe consigo um esperado grau de decepção


de ambos os lados. Logo ficou óbvio que minha irmã mais velha
enfrentaria o desafio de nosso pai. Eu não nutria nenhum
ressentimento em relação a Nyx por isso. Ela era tudo que eu não
podia ser e eu queria algo diferente.

Eu não queria ser conhecido apenas como filho do Ceifador. Eu


odiava a ideia de ser uma cópia ou protegido quase tanto quanto
odiava a ideia de me tornar apenas mais um Savage. Havia
centenas deles.

Então, embora eu não tivesse problemas com minha irmã, fiquei


ressentido por ela não ter me libertado. Se qualquer coisa, fez as
correntes ao meu redor muito mais apertadas. 

Talvez eu pudesse ter vivido com tudo isso, mas então veio o
ultimato, e não era algo que eu estivesse disposto a aceitar.

Nada disso importava agora.

Eu fiz minhas escolhas.


Eu fui por um caminho de destruição da qual nunca poderia
voltar.

Ironicamente, isso não impediu que meu passado me alcançasse.


Veio chamando na forma de uma convocação que eu enterrei no
fundo de uma gaveta da cômoda.

Um pedido eloquente para me encontrar com meu pai e tio


Romero. Duas lendas notórias em Badlands. 

Eu ainda tinha que responder ou realmente considerar isso.

Havia assuntos mais urgentes a tratar antes de lidar com os


Savages.

Lilith.

E o inevitável banho de sangue que estava prestes a se espalhar


por Badlands.

Se eu não os encontrasse antes de qualquer uma dessas


questões ser resolvida, eles seriam tratados por último. Não importa
o que acontecesse, Lilith sempre viria em primeiro lugar antes de
qualquer coisa ou qualquer outra pessoa. Desistir dela não era uma
opção.

Ela não tinha o direito de sair do meu lado quando era sua culpa
eu ter me tornado assim.

Dizem que se você ama algo, deve deixar ser livre e, se voltar, é
para ser.
Isso soou como besteira para mim, e foi por isso que criei minha
própria versão. 

Se você ama alguém, deixe-o ir. Em seguida, cace e arraste seu


traseiro de volta, chutando e gritando.

Levantei do sofá e olhei ao redor da cabana, fazendo uma lista


mental de tudo que posso precisar. Espero que ela esteja preparada
para o efeito dominó que acabou de criar.

Sempre serei seu protetor, mas também era seu predador.


CAPITULO ONZE

A floresta estava assustadoramente silenciosa.

Levou aproximadamente trinta minutos para cruzar o lago e


chegar a um nível suficiente para descer do barco. Estávamos
lidando com ela por mais vinte, pelo menos.

O sol estava parado orgulhosamente no céu neste


ponto. Manchas azuis rompiam as copas das árvores a cada poucos
passos. Eu não sabia se eles estavam ajudando ou tornando mais
quente. Já sentia falta do frio da manhã.

Esta floresta não era como a do outro lado do chalé.

As pessoas não passeavam casualmente por ela quando queriam


dar um passeio. Portanto, não havia nenhum caminho feito pelo
homem, tornando a jornada adiante muito mais difícil. Nossos
passos eram dramaticamente altos no silêncio, se movendo sobre
um terreno irregular à medida que avançávamos por arbustos e
galhos.

—Como você está? — Takara perguntou atrás de mim.

—Um pouco quente, mas por outro lado bem.

Poet olhou para mim por cima do ombro suado, afastando


mechas de cabelo castanho da testa úmida. —Eu acho que ela
estava perguntando como você está sobre Samael. Se ela não
estava, eu estou.

A pergunta não deveria ser surpresa, mas era chocante, no


entanto. Não pude contar a verdade a eles, que tudo isso foi um
grande erro. Amar Samael às vezes doía, mas deixar ele era um tipo
inteiramente novo de angústia.

Era como cortar propositalmente um órgão vital porque você era


estúpido demais para perceber que precisava disso para viver. Disse
a mim mesma que o tempo faria tudo melhor, mas isso era uma
porcaria completa.

Meu coração estava acorrentado ao dele. Indo para um lado


enquanto era puxado para outro estava me matando. Eu não podia
fazer nada a não ser seguir em frente. Poet e Takara arriscaram
muito para eu fugir porque eu era egoisticamente indecisa.

—Realmente estou tentando não pensar nisso agora, — eu


murmurei, dando um tapa em algum minúsculo inseto marrom que
estava tentando pegar uma carona no meu ombro. —Qual é o
problema com ele? — Eu balancei a cabeça para Travis. Eu
precisava mudar de assunto e estava genuinamente preocupada
com esse homem estranho viajando conosco.

Ele era tão alto quanto Poet, mas mais magro que eu. Seu cabelo
castanho era espesso e ondulado, indo até a nuca.

O fato de ele estar usando uma maldita jaqueta jeans estava me


irritando seriamente. Estava quente demais para todo aquele
absurdo. Eu tinha oitenta por cento de certeza de que ele só o
usava para tentar cobrir a cicatriz feia na parte inferior do pescoço.

A pele parecia ter sido queimada, um sinal revelador de que a


facção a que ele pertencera o havia exilado com respeito suficiente
para não matá-lo. Isso, ou ele fugira e fez isso a si
mesmo. Provavelmente o último era mais provável, agora que pensei
sobre isso. A maioria das facções não deixaria você respirar se
quisesse sair.

—Ele sabe como podemos entrar em contato com sua família, —


respondeu Poet, abrindo caminho através de outro tufo de
amoreiras.

Sua família. Essas duas palavras deixaram meus nervos à flor


da pele mais do que já estavam. Eu não tinha certeza se minha
família me considerava um inimigo ou não hoje em dia. Eu suponho
que eu descobriria em breve….

—Considerando que não tenho ideia de como fazer isso, alguém


pode compartilhar esses detalhes comigo?
—Assim que chegarmos a Phobos, vou dar uma dica, —
respondeu Travis.

Eu não gostei do som disso.

—Quem é Phobos?

—Phobos é a cidade para a qual ele está nos levando, — Takara


respondeu.

—Nunca ouvi falar.

—Temos mais cerca de trinta minutos até chegarmos lá.

Mais trinta minutos disso? Isso precisaria ser em vinte rápido.


Eu estava começando a coçar em lugares que não deveriam coçar, e
precisava urinar seriamente. Sem mencionar que havia uma facção
inteira prestes a nos procurar. Precisávamos acelerar o traseiro e
ficar o mais longe possível deles, independentemente do quanto eu
quisesse fazer o oposto.

—Podemos diminuir isso?

Travis torceu o quadril e olhou para mim com um sorriso irônico.

—Se corrermos, claro.


Se eu nunca mais pusesse os pés na floresta, seria muito cedo.
Onde acabamos não era muito melhor.

Phobos era a casca de uma cidade que parecia completamente


deslocada, localizada bem do outro lado da floresta em que
tínhamos acabado de passar muito tempo. Saímos primeiro em
uma estrada que nos oferecia apenas uma direção. A outra foi
bloqueada.

—Não me lembro deste lugar estar aqui quando Samael me


trouxe para o local de hospedagem.

—Eu acho que você veio de outra direção. Há outra pequena


cidade antes de você pegar a estrada para o Acampamento
Lazarus. Isso tem...

—Acampamento Lazarus? — Eu interrompi. —Desde quando


tem nome?

Travis olhou para mim do final de nossa fila horizontal, seus


olhos cinzas se estreitaram. —Tem sido chamado assim desde que
me lembro.

—Por que não há marcas em lugar nenhum? — Poet apontou


para os prédios abandonados situados em ambos os lados da
estrada.

Travis pigarreou. —Eu não sabia que eles deixavam muitas


marcas visíveis. Eles parecem marcar edifícios aleatórios, carros
antigos. Coisas assim. Então, quando pegarem alguém em seu
território, como eu, eles podem reivindicar que você invadiu.
—Parece algo que Mal faria.

—Um pouco, — Takara concordou. —Mas isso nos coloca em


nosso próprio quintal, e não há nenhum seguidor aqui montando
guarda, o que não soa como Samael.

—Também tem isso. — Travis apontou na direção oposta,


apontando o bloqueio.

Uma confusão de carros e escombros com um bueiro alguns


metros à frente estavam por ali. O meio da rua parecia uma boca
gigante, pronta para comer qualquer coisa que ficasse muito perto
dela, efetivamente proibindo qualquer pessoa de seguir naquela
direção.

—Com a única outra estrada que leva ao acampamento


bloqueada, alguém teria que refazer o caminho que acabamos de
percorrer para chegar aqui ou ali.

—Principalmente impossível e suicida.

—Sim, mas isso não é muito diferente do que vocês três


acabaram de fazer. É preciso grandes bolas de aço para irritar
aquele cara.

—Como você sabe que ele vai ficar puto?

—Vocês acabaram de matar duas pessoas dele... e ela é seu


tesouro roubado. — Ele apontou para mim.

Oh, então ele era um desses.


Havia muitas histórias circulando sobre Samael e eu. Algumas
nos descreveram como uma tragédia romântica. Outras afirmavam
que minha irmã mais velha era aquela por quem ele estava
loucamente apaixonado. Em última análise, apenas uma estava
mais próxima da verdade, e as origens disso estavam ligadas à
nossa infância.

Um conto falava de um lobo silencioso e seu precioso cordeiro.


Todos temiam pelo dia em que o predador agarraria e mataria sua
presa. Afinal, os lobos eram famosos por fazer refeições de
cordeiros, não eram? Mas essa história tinha uma falha
importante. O quão fraco eles retrataram este cordeiro estava
errado.

Tão errado quanto os outros rumores sobre ele me roubando


como uma donzela indefesa.

Isso sempre me fez zombar. Ele me levou embora de uma forma


pouco convencional, mas ele não me sequestrou de forma alguma.

Takara me deu um sorriso suave, sabendo exatamente como eu


acabei onde estava. Eu não me incomodaria em corrigir o cara. Eu
não o conhecia bem o suficiente nem me importava em mudar suas
crenças. As pessoas podiam pensar o que quisessem.

Me recusando a me prender a mais pensamentos sobre Mal,


decidi dar uma olhada ao nosso redor. Havia uma hora e um lugar
para tudo, uma cidade abandonada não era o lugar para ter um
colapso.
Além disso, esta era minha primeira vez longe do chalé em uma
eternidade.

Grama irregular, amarelada e quebradiça por estar


constantemente ao sol, havia crescido em toda parte. Nas calçadas,
embaixo de prédios antigos, no meio da rua.

Todas as casas e lojas estavam agrupadas juntas.

Elas foram dispostas lado a lado de uma forma que significava


que você poderia subir de uma janela para a próxima. Muito poucas
ainda tinham vidro.

Era óbvio que ninguém vivia aqui há anos. Talvez alguns


animais e lagartos se abrigassem aqui ao passarem como nós, mas
as pessoas não sobreviveriam em um lugar como este por muito
tempo. A própria cidade não parecia que deveria existir.

—Não quero nos atrasar, mas realmente preciso fazer xixi.

—O mesmo, — Takara concordou rapidamente. —Eu não queria


ser a primeira a dizer isso. Eu também tenho que ir.

—Uh. — Poet coçou a nuca e começou a olhar em volta.

—Há um antigo posto de gasolina em algum lugar à frente, —


Travis ofereceu.

—Ou podemos escolher uma dessas casas com arbustos


crescidos, — respondi.

—Qual delas? — Poeta perguntou.


Eu olhei para a esquerda e escolhi aleatoriamente. —A que
costumava ser azul.

—Vamos esperar aqui. Seja rápida.

Eu balancei a cabeça e fiz sinal para Kara vir comigo.

—Eu tenho lenços na minha bolsa.

Ela a tirou dos ombros e o passou para mim. —Eu sabia que


podia contar com você para a higiene pessoal, — ela brincou.

—Bem, é claro, — respondi com altivez.

Subimos uma pequena colina e caminhamos até a lateral da


casa. Os arbustos haviam crescido tão incontrolavelmente que
começaram a se fundir. Abri minha bolsa e recuperei meu pequeno
invólucro de lenços umedecidos, removendo dois antes de entregá-
lo a Kara para que ela pudesse pegar o seu.

Eu abri meu botão e abaixei meu short, agachando ao lado de


Kara, nossas bundas nuas a alguns centímetros de distância da
lateral da casa esgotada.

—Sinto que estou segurando isso há muito tempo, — confessei


com um suspiro.

—Nós temos. Eu posso me sentir ficando mais leve.

Terminando, joguei os lenços nos arbustos e comecei a arrumar


meu short. Ouvindo o que soavam como vozes, eu lentamente
prendi o botão, olhando para Kara para ver se ela os ouviu também.
—O que é isso? — Ela sussurrou, ajustando seu jeans.

—Acho que ouvi alguém. — Olhei para o outro lado da casa,


incapaz de ver ao redor. —Vamos.

Peguei minha bolsa do chão e puxei o cordão, voltando para a


rua.

Os olhos castanhos de Poet se moveram entre nós duas. —Vocês


estão bem?

—Ela pensou ter ouvido alguém.

—Isso é plural, — eu corrigi.

Ele e Travis olhavam na direção geral da casa.

—Melhor seguirmos em frente. Não deveria haver ninguém aqui,


a menos que seja alguém de sua facção.

—Ele tem razão. Vamos continuar. Definitivamente, não


queremos ter nenhum desentendimento.

Nos acomodando em nossa fila horizontal, continuamos na


mesma direção que estávamos indo, todos nós à procura de
qualquer sinal de vida. Outros dez minutos se passaram antes que
eu ouvisse mais alguma coisa. Eu levei um dedo aos lábios para
sinalizar para eles se calarem, depois apontei para o meu ouvido e
murmurei. —Você ouviu isso?

Takara acenou com a cabeça assim que as vozes vieram


novamente, muito mais distinguíveis.
—Eu posso escutar dois, — Poet disse humildemente.

Tentei determinar de onde vinha o som. Onde quer que


fosse, quem quer que fosse, estávamos chegando mais perto.

Eu me senti extremamente exposta no meio da rua assim, mas


não era como se tivéssemos uma tonelada de lugares para nos
esconder. Ainda precisávamos dar o fora do local do alojamento,
imediatamente.

—Qual é a maneira mais rápida de passar por esta cidade?

—Pegue a próxima à esquerda, — Travis respondeu.

Aumentei meu ritmo, passando para aquele lado da estrada,


então eu estava na calçada. Pegando movimento com o canto do
olho de uma janela superior, eu não parei, mas fiz os outros cientes
disso com um pequeno gesto de mão.

—Alguém está chorando, — Takara sussurrou. —Uma mulher,


eu acho.

—Sim, também ouvi isso.

Virei à esquerda e meus olhos imediatamente caíram para uma


pick-up toda preta.

O veículo estava limpo demais para pertencer aqui, tão fora do


lugar quanto estávamos. Ela estava estacionada na beira da
estrada, parcialmente estacionado no meio-fio. Quando um homem
saiu correndo de uma das casas alguns metros à frente, diminuí a
velocidade até quase parar. Outro saiu atrás dele, assobiando. Seu
ritmo carecia de qualquer indício de urgência.

Ele olhou em nossa direção e acenou, mas não parou sua


perseguição, como se ele não se importasse com o mundo, mais do
que provavelmente devido ao fato de que ele tinha uma arma
enorme nas mãos.

Quando ele mirou no cara que fugia, Takara agarrou meu pulso,
puxando meu corpo na direção oposta. O tiro reverberou em meus
ouvidos, ecoando no ar. Decolamos quando a bala atingiu o alvo,
enviando o homem em fuga para a frente.

Correndo de volta pelo caminho de onde havíamos acabado de


sair, pegamos outra esquerda, então estávamos correndo pela
estrada da qual havíamos saído. 

Um segundo tiro disparou, o eco me fazendo correr mais


rápido. Eu olhei para Travis, o vendo lutando.

—Onde vamos? Como vamos sair daqui?

—Reto, certo... merda... esquerda?

—Por que isso soou como uma pergunta? — Takara respirou


fundo.

—Esquerda!

É melhor ele estar certo sobre isso, ou eu enfiaria minha lâmina


tão fundo em sua garganta que ela sairia de sua bunda.
Ouvindo um motor, dei uma rápida olhada por cima do ombro,
mas não havia nenhum sinal da pick-up. Sem ficar parada, eu não
conseguia identificar de qual direção o som estava vindo.

Tive minha resposta menos de dois segundos depois, quando um


velho veículo em forma de fusca apareceu no final da rua.

—Quem é essa porra? — O Poet resmungou, derrapando para


parar, estendendo o braço para que eu parasse ao lado dele sem
cair.

Engolindo, tentei recuperar o fôlego. —Não são Stags ou Lazarus.

—Quem quer que sejam, são obviamente insanos. Quem em sã


consciência estaria tão ousadamente no território de Mal? — Takara
perguntou.

A caminhonete preta apareceu na rua atrás de nós, o rugido do


motor combinando com as batidas do meu coração.

Droga. Eles nos encurralaram.

—Porra, porra, porra, — Travis ofegou, agarrando as alças de


sua mochila.

—Ei! — Eu bati em seu braço. —Você precisa relaxar. Se acalme


e se recomponha. Posso sentir o cheiro de mijo que você está
prestes a liberar nas calças.

—Desculpe, — ele murmurou, fazendo questão de olhar para o


chão. Ele começou a sussurrar baixinho, algo que parecia muito
com uma oração.
Eu era a pessoa errada para fazer isso por perto, considerando
todas as coisas. Mas, inferno, se isso parasse de entrar em pânico,
eu oraria com ele.

—Estou de olho neste aqui, — disse Poet, se virando para ficar


de frente para a caminhonete preta.

Colocando minhas costas contra as dele, ombro contra o de


Takara, ela e eu encaramos o carro azul. A porta se abriu e um
homem saiu. Óculos de proteção pretos obscureciam grande parte
de seu rosto, enquanto uma bandana laranja brilhante envolvia
toda a parte inferior.

Alcançando rapidamente dentro, ele agarrou algo, outra arma ao


que parece, e então fechou a porta.

Outros dois seguiram da pick-up. Eu estava menos preocupada


com essas pessoas e mais preocupada com a mulher chorando
histericamente. Eu podia ouvir ela nitidamente, mas ela ainda não
estava em qualquer lugar que pudéssemos ver.

—Isso não é bom, — murmurou Poet.

—Não diga isso.

—Você prefere que eu minta?

Ele não teve que dizer nada. Qualquer pessoa com dois olhos e
um cérebro poderia ver em que situação horrível tínhamos acabado
de entrar. No dia de nossa grande fuga, e sem armas como aqueles
homens.
Não que o Stags-Lazarus não tivesse nenhuma. Pelo contrário,
Samael tinha um maldito arsenal de armas e munições. O problema
estava chegando até elas. Era um dos prédios mais bem guardados
do local de hospedagem.

O homem que saiu do carro azul nos alcançou. O que parecia ser
uma espingarda estava pendurada em seu ombro.

—Vocês todos são um belo espetáculo de se ver.— Eu não


conseguia ver seus olhos, mas os senti deslizando sobre nós. Eu
imaginei que ele estava sorrindo também.

—Eu disse que fomos abençoados, — disse outro homem atrás


de mim.

Ambas as vozes tinham um som agudo.

—Não queremos problemas, — Travis expressou, finalmente


levantando a cabeça.

—Nem nós, — respondeu um terceiro homem.

—Se você fizer o que dizemos, não haverá problema nenhum, —


disse Óculos, exibindo um sorriso de dentes amarelos.

Ele deu um passo para trás e nos olhou com um movimento


exagerado de sua cabeça. Excelente. Um cara que carregava suas
bolas na forma de uma arma. Essa era a última coisa de que
precisávamos. Quanto mais ficarmos aqui, maior será a chance de
sermos pegos por alguém com quem estou realmente preocupada.

—Você pode pular toda a apresentação teatral?


O Óculos jogou a cabeça para trás e riu. Eu não tinha certeza do
que eu disse para justificar esse tipo de reação, mas tudo bem. Ele
ergueu a espingarda do ombro e estendeu ela para fora,
pressionando o cano enferrujado contra meus lábios.

Essa era a reação que eu esperava. Embora, não tendo ideia de


onde o barril dessa coisa tinha estado, era revoltante.

—Querida, você é tão sortuda que estou de bom humor hoje e


tenho uma queda por um rosto bonito.

Muita sorte. Eu evitei revirar os olhos. Se ele não tivesse dois


lacaios com ele, ele já teria sido eliminado para que pudéssemos
seguir nosso caminho. Eu mantive minha boca firme em uma linha
reta. Eu não seria uma espertinha enquanto houvesse uma arma
capaz de abrir um buraco no meu rosto apontada diretamente para
mim.

—Jacob, você tem espaço na caminhonete?

—Mais do que o suficiente.

—Bom. — O Óculos olhou para Takara. —Não encontro muitos


como você.

Seus lábios se contraíram levemente, mas ela não mostrou


nenhuma reação visível.

O Óculos moveu a arma para o peito de Travis e deixou seu olhar


permanecer por um minuto ou dois.
—Eu quero as duas meninas e o grandalhão. Não tenho uso para
este.

Esse foi todo o aviso que ele deu antes de puxar o gatilho. Eu
tinha ouvido tiros várias vezes, mas desta vez... eu juro que foi uma
das coisas mais altas que eu já ouvi na minha vida.

Meu canal auditivo restringiu para proteger meu tímpano, mas


ainda doía como um filho da puta. Houve uma sensação de toque
que abafou tudo o que acontecia ao meu redor. O corpo de Travis se
sacudiu para trás, sangue jorrou do meu lado direito. Houve uma
sensação de toque que abafou tudo o que acontecia ao meu redor.

Eu mais senti do que vi Poet ser puxado antes que um par de


mãos ásperas me agarrassem. Um saco grosso desceu sobre minha
cabeça, obscurecendo minha visão. Cega e surda, não pude me
defender quando um dos idiotas chutou minhas pernas debaixo de
mim.

A última coisa de que me lembrei foi meu corpo batendo no


asfalto ensanguentado.
CAPITULO DOZE

Eu não procurei na floresta.

Era mais lógico começar minha caça em Phobos. Esta merda era


o que Lilith e seus amigos teriam encontrado assim que
terminassem sua jornada de aventura por uma pequena selva.

Esses foram os amigos que eu garanti que ela tivesse, para que


conste. Eu deveria ter encontrado um cachorro em vez disso.

O que me recebeu aqui não foi totalmente inesperado.

Eu me levantei da minha posição agachada e cutuquei o corpo


de Travis com minha bota. O buraco no centro de seu peito já tinha
sangue coagulando ao redor. Eu examinei o cartucho queimado que
tinha atravessado ele, virando entre o polegar e o indicador.

—Há outro corpo algumas ruas adiante. Ninguém vale a pena


identificar — declarou Brody, passando os dedos pela barba.
—Sozinho? — Perguntei.

—Alguns dos prosélitos encontraram sacos de dormir em uma


das casas e uma bolsa de suprimentos. Achamos que havia mais
dois com eles, possivelmente três. Todas mulheres, se seu
equipamento for alguma indicação.

—Não deveria haver ninguém aqui, — Amo disse, pegando o


cartucho quando eu a ofereci.

—Phobos pode parecer uma merda, mas se você levar em conta o


estado das Badlands, é um paraíso. Está intocado e livre dos efeitos
de uma guerra territorial.

—Isso é o que eu estava pensando, — Aurora concordou.

—Você acha que quem mais estava aqui, a pessoa que fez isso,
chegou até Lilith? — Dawn perguntou, franzindo a testa para
Travis.

—Eu sei que eles fizeram. Junto com Takara. Poet também. Seu


corpo não é algo que perderíamos. E todas as mulheres estúpidas o
suficiente para se refugiarem aqui foram provavelmente levadas
também.

Seus olhos verdes brilhantes focaram no meu rosto. —Isso é


bastante duro. Você mesmo disse que é um paraíso. Elas não são
estúpidas por querer...

Eu levantei a mão para silenciar ela antes que ela pudesse subir
a um pódio imaginário.
—Não quero ouvir nenhuma dessas merdas simpáticas de tornar
o mundo um lugar melhor. Era uma figura de linguagem. Olhe a
sua volta. Parece um lugar legal, Dawn? É um lugar onde você iria
viver os dias de glória?

Com as bochechas ficando vermelhas, ela piscou e olhou para


baixo, murmurando algo ininteligível antes de colocar algum espaço
entre nós.

—Samael, — Rory suspirou.

—Você acabou de ferir os sentimentos dela, — Amo meditou,


olhando para ela.

Eu sabia. Não consegui me importar também. —Se você planeja


usar seu pau para fazer ela se sentir melhor, você terá que fazer
isso mais tarde.

—Você se torna um grande idiota a cada dia. É ótimo pra


caralho. — Ele riu.

—Estou feliz por ter a aprovação que não estava procurando.

—Você sempre teve minha aprovação, — afirmou ele,


repentinamente sério.

Eu também sabia disso.

Amo era o irmão que eu nunca tive. Nós dois tínhamos sido


apresentados por meio de uma terceira pessoa anos atrás, antes
que Lazarus ou Stags existissem. Imediatamente caímos em uma
companhia fácil, nos comunicando por meio de um boato
escondido.

Ele, Brody e Aurora ficaram ao meu lado em cada passo desta


expedição maluca. Quanto a Dawn... ela não era nada nem
ninguém. Uma falha de distração. Isso, juntamente com o fato de
que ela tendia a nunca calar a boca, tinha me arrependido de
deixar ela vir conosco.

Ela me lembrou de um antigo desenho animado que Lilith


costumava assistir quando éramos mais jovens. Era sobre esses
ursinhos de pelúcia coloridos que corriam por aí atirando
sentimentos para fora de seus estômagos. Honestamente, uma das
coisas mais perturbadoras que eu já vi.

Como tal, o coração de ouro de Dawn não era algo que eu


achasse remotamente atraente.

Ele colidiu com o meu escuro de forma consistente. Se não fosse


por ela ter se tornado amiga de Rory, eu já teria me livrado dela há
muito tempo.

Apesar do que permiti que Lilith acreditasse, Dawn e eu não


éramos nada. Ela deixou meu pau mais macio do que pudim.

Amo, por outro lado, colocava o pau em cada um de seus


buracos sempre que tinha vontade. Com quem ele escolheu ficar,
por que e onde, não havia nada que eu quisesse acompanhar. Eu
meramente o encorajei a embrulhar seu pau, para que não
apodrecesse. Ele foi um excelente exemplo do motivo pelo qual me
certifiquei de que nossa facção tivesse anticoncepcionais.

Os prosélitos eram humanos e humanos gostavam de foder.

Eu não estava me excluindo dessa equação. Eu poderia


conseguir uma boceta a qualquer hora, de quem quer que fosse,
mas não tinha aproveitado esse privilégio desde que deixei os
Savages. Naquela época, meu corpo era uma ferramenta para
promover minha agenda. Eu obviamente percorri um longo
caminho desde então.

Eu não daria a uma única mulher o poder de machucar Lilith só


porque não conseguia manter meu pau dentro das calças. Não
havia bunda suficiente no mundo para me fazer arriscar a única
garota pela qual eu estava fortalecendo um império. Isso seria como
comer merda, quando você poderia ter o melhor chocolate fodido
que já existiu, feito com tudo o que você deseja.

O celibato não era uma tarefa muito difícil de realizar. A parte


mais difícil sobre isso era restringir o desejo animalesco de
imobilizar Lilith e foder com ela até a submissão. Eu estive dentro
dela mais de uma dúzia de vezes desde que fui o primeiro, e ainda
não era perto do suficiente.

Eu tinha muitas ideias para quando eu colocasse minhas mãos


nela novamente. 

Tudo que eu precisava fazer era descobrir quem a tinha. Então


eu faria eles se desculparem por ousarem tocar o que era meu.
 

Eu me inclinei contra uma de nossas picapes Brabus e olhei do


lixo amontoado em uma bola no chão para Brody. Ele e os dois
prosélitos parcialmente atrás dele descobriram o cara durante outra
varredura.

—De onde você tirou essa coisa? — Amo perguntou, olhando


para o homem sem se preocupar em esconder seu desgosto.

—Ele estava agachado em outra casa. Tentou sair correndo pela


porta dos fundos quando passamos pela frente, — respondeu Leo, o
prosélito da esquerda.

Batendo meus dedos contra meu queixo, eu encarei o homem,


debatendo se ele era uma fonte confiável ou não. Seu rosto era
esquelético. As maçãs do rosto se projetavam tanto que podiam ser
usadas como alças. Vestindo nada além de camadas de trapos, sua
pele estava tão coberta de sujeira que era difícil decifrar como ele
realmente era. Seu cabelo pendurado em uma mecha emaranhada
de um cinza escuro.

—Como você chegou a Phobos sozinho?

—Eu corri, — veio sua resposta abafada. Olhos opacos e vazios


continuando a olhar fixamente para a frente.
—Você acha que podemos conseguir algo útil com ele? — Aurora
perguntou.

—Eu posso conseguir fazer ele falar se você me der alguns


minutos, — Dawn disse, agora tendo se juntado a nós.

—Fazendo o quê? — Amo desafiou.

—Ser...

—Não temos tempo a perder com velhos potencialmente senis.


Levante ele.

Os prosélitos entraram em ação, cada um agarrando um dos


braços do homem e forçando ele a se levantar.

—Eu não fiz nada, — ele gritou, a saliva voando e caindo em sua
barba irregular. Com as pupilas dilatadas e as narinas dilatadas,
era evidente que este homem não valia o ar que as árvores lhe
davam para respirar.

Sua óbvia instabilidade respondeu à pergunta de como ele fez


todo o caminho até Phobos inteiro. Ele não era útil para ninguém
vivo ou morto. Sua existência não era nem mesmo um sinal no
radar dos Badlands.

—Ele cheira a um barril inteiro de merda, — comentou Amo.

—Havia algumas pilhas disso na casa, junto com carcaças de


animais crus. Ele tem comido tudo o que consegue por as mãos.
Roedores... insetos... lixo, — explicou Brody.

Isso me deu uma ideia.


Eu me virei e fui para a parte de trás do Brabus. Alcançando a
traseira do SUV quadrado, vasculhei uma de nossas mochilas até
encontrar o que vim buscar. Voltando à minha posição anterior,
segurei o pacote de papel alumínio para que o homem pudesse
observar enquanto eu o abria.

—Você quer isso?

Seus olhos ganharam vida, parando na carne curada que eu


segurei entre meus dedos. Quando ele inalou como um animal
pegando o cheiro de sua presa, eu sabia que o tinha.

—Sim, — ele respondeu monótono.

—Me diga algo útil e é todo seu.

—Eles vieram no meio da noite, — ele respondeu rapidamente,


tentando avançar.

Ele foi facilmente contido.

—Você vai ter que fazer melhor do que isso, — disse Amo.

Eu balancei a cabeça para mostrar que concordo. —Precisamos


encontrar alguém.

—Eu não vi ninguém, — ele lamentou.

—Você acabou de dizer que eles vieram no meio da noite, —


Aurora o lembrou.
Ele começou a gaguejar e olhar em volta como se tivesse medo de
ser pego conosco. Foi a coisa mais coerente que ele fez desde que
Brody arrastou sua bunda para a minha caminhonete.

—Ei. — Eu estalei meus dedos na frente de seu rosto. —Quem


quer que tenha te assustado... se você não me contar exatamente
tudo que consegue se lembrar, vou deixar você descobrir o quanto
somos piores.

Ele olhou nos meus olhos e não deve ter gostado do que foi
refletido nele. Ele se inclinou o mais longe que pôde de mim e virou
levemente a cabeça.

—O homem com tranças fez isso com eles.

—Continue, — eu persuadi, acenando com o charque na frente


dele.

Seus lábios rachados se separaram e eu me vi querendo dar um


passo para trás. Sua boca era uma porra de fossa de carne podre,
tiras não identificáveis presas entre dentes imundos que não
estavam todos voltados para o lado correto.

Viver em Badlands era difícil para as pessoas, mais ainda para


os viciados. Por que isso parecia afetar sua capacidade de lavar a
bunda e cuidar da saúde bucal era uma incógnita. Eles já não
tinham nada a seu favor, o que diabos um idiota rabugento faria?

O homem fechou a boca e começou a falar rapidamente. —


Grande pick-up preta. É o que ele entrou.
—E?

—Isso é tudo que eu sei, eu juro. Ele pegou duas meninas e


matou o homem.

Eu olhei para Amo. —Alguém com tranças que dirige uma picape


preta. Você tem alguma coisa?

Um olhar pensativo surgiu em seu rosto.

—Eles precisam ter acesso a alguns recursos interessantes se


puderem pagar o combustível em algo assim...

—Os Nailers? — Brody perguntou.

—Não. Eles se dão bem conosco.

—E Kovu não tem pena de idade ou gênero. Ele garante que eles


matem todos, — acrescentou Aurora.

—E os Roboys, então? — Brody sugeriu.

Eu conhecia esse nome. Olhei para Amo em busca de


confirmação e quase pude ver o clique da lâmpada acima de sua
cabeça. —Esse é um bom palpite. Mais do que bom... ah, não
importa. Isso é ruim.

—Não me diga. — De todas as fodidas pessoas, de todas as


facções ilimitadas que Lilith poderia ter seu traseiro arrebatado,
tinha que ser aqueles idiotas consanguíneos.

—Não é o cara que anda por aí com aqueles óculos de cosplay?


— Perguntou Dawn. —Você não o conhece, Rory?
O olhar que apareceu no rosto de Aurora deixou claro que não
era algo que ela queria falar.

—Eles são óculos de proteção, — Brody corrigiu, deslizando para


a conversa com sua capa.

—Eu não dou a mínima para o que eles são. Precisamos nos


mover. — Eu segurei o charque para o lixo, permitindo que ele
finalmente o pegasse. —Pegue isso e vá.

Ele aceitou a carne e saiu correndo, já rasgando a carne como


um cachorro raivoso.

—Essa é uma última refeição de merda.

—Huh? — Dawn questionou.

—Leo, espere cinco minutos e então vá lidar com ele. Amarre ele


na entrada da cidade e faça uma marca maior. — Isso fora do
caminho, me virei para me dirigir a Rory. —Você pode levá-la de
volta e avisar os outros que estaremos em casa em breve?

Ela levou menos de um segundo para saber a quem eu estava


me referindo.

—É claro. Tem certeza?

—Positivo.

Entrei no Brabus, começando a contar cada minuto que levamos


para chegar a Lilith. Agradeci a Satanás por não ter mostrado ela
ainda. Funcionou a seu favor que ninguém soubesse como ela
era. Assim que descobrissem sua identidade, saberiam o quão
inestimável ela era. Eu tinha que chegar até ela antes que ela se
tornasse uma vítima ou um peão.
CAPITULO TREZE

Essa tinha que ser a maneira do universo de confirmar que eu


cometi um erro colossal.

Eu não tinha certeza de quanto tempo estávamos na caçamba da


caminhonete. Minha audição não havia voltado ao normal ainda, e
havia uma batida na minha cabeça de onde alguém me nocauteou.

—Kara? — Tentei chamar, minha voz se perdendo no vento. —


Droga. — Eu me contorci na tentativa de trazer minhas mãos
amarradas para cima e remover o saco que estava sobre minha
cabeça.

Eu podia sentir um corpo quente pressionando minhas costas.


Havia outro na minha frente. Ambos eram pequenos demais para
ser Poet.

De repente, a caminhonete virou, nos fazendo rolar como


troncos. Eu cerrei meus dentes enquanto nossos corpos se
chocavam. Não houve tempo para se recuperar antes que o terreno
fosse de liso a acidentado. Começamos a pular junto com a
extremidade traseira do veículo. Isso pareceu durar uma eternidade
até que os freios fizeram um barulho estridente e paramos
bruscamente.

Minha cabeça saltou novamente, colidindo com o metal cheio de


ranhuras. Portas se abriram, fecharam e então mãos calejadas me
levantaram. Eu tropecei, sendo mantida em pé por um aperto de
ferro na parte superior do meu antebraço.

—Calma com o estoque, — a voz abafada de um homem veio da


minha esquerda.

—Eu sei eu sei. Sempre me esqueço de como as fêmeas ficam


instáveis.

Pelo que parecia, era uma coisa recorrente que esses homens
faziam. Acho que isso fez sentido, no entanto. Eles estavam muito
organizados e preparados para que fosse algum acontecimento
aleatório.

Incapaz de ver nada, não tive escolha a não ser confiar em quem
estava me levando para ser meus olhos. Pelo menos eu ainda podia
sentir e cheirar. Eu sabia que o chão estava enlameado porque
minhas botas continuavam afundando. O ar estava pesado com
mau cheiro e vestígios de serragem.

Eu fiz uma contagem regressiva de sessenta, então eu sabia


quanto tempo levaria para voltar ao veículo de onde estava sendo
conduzida. Depois de três minutos, paramos. Uma corrente
sacudiu, um ruído baixo de gemido se seguiu, e então estávamos
nos movendo novamente.

—Cuidado com os passos, — o homem avisou, puxando meu


braço.

Usei a ponta da minha bota como um apalpador, descobrindo


uma saliência baixa e sólida de algum tipo.

Eu levantei minha perna e passei nela, hesitando um pouco. O


ar estava viciado e abafado. Havia um fedor de urina e... sangue
velho? Fosse qual fosse o cheiro, era horrível. Em algum lugar bem
acima de mim, um ventilador soprava um ar morno, o que não
ajudava na situação do cheiro.

—Indo para a direita. — Meu guia me guiou em torno de algo.


Então, depois de mais alguns passos, ele disse. —Fique aqui.

Suas mãos pousaram em meus ombros e me angularam


horizontalmente. Outro corpo quente, um braço, roçou no meu
enquanto eles eram instruídos a fazer o mesmo. Esfreguei meus
pulsos o melhor que pude para fazer o sangue circular por baixo
das amarras.

Depois que o saco na minha cabeça foi removido, pisquei


algumas vezes, permitindo que meus olhos compensassem a fraca
palidez da luz. Minha visão clareou, revelando velhos pilares
empoeirados e uma curvatura de barracas de madeira construídas
em forma de U.
Atrás de mim estava o homem que tinha sido meu guia. Ele
tinha altura média, ostentando duas tranças escuras sob um
chapéu Stetson. Achei que ele estava tentando estar no
personagem, visto que estávamos em um celeiro com correntes de
ar que já tinha visto dias muito melhores.

As pranchas de madeira que compunham as paredes começaram


a apodrecer. O telhado era tão antigo que pequenos feixes de luz
passavam por onde não existiam mais telhas perdidas. Uma grande
arena era a principal atração do espaço. Ela ocupava todo o meio,
me lembrando de uma tigela cheia de molho.

Uma pequena sensação de alívio fluiu pelo meu peito quando vi


Takara bem ao meu lado e inteira, embora parecendo chateada e
confusa. Imediatamente à sua esquerda estava uma ruiva. Do meu
outro lado estava uma loira. Todas nós parecíamos estar bem,
fisicamente, pelo menos.

Os olhos da loira estavam transbordando de lágrimas e tão


inchados que era incrível que ainda conseguiam abrir.

Eu apostaria meu pulmão esquerdo que ela era a única que


estava histérica em Phobos.

O Óculos bateu palmas ruidosamente para chamar nossa


atenção. —Bem-vindas ao Roadhouse dos Roboys, senhoras. Onde
alegria e dor fazem parte do ganho.

Roadhouse de Roboys.
Acho que a placa pendurada no portão da arena dizia isso uma
vez, mas estava muito desbotada e gasta para distinguir agora.

—Seja boa e continue a não me causar problemas, e prometo


que sua estadia aqui será agradável para nós dois, — continuou
Óculos.

Enquanto falava, ele fazia movimentos selvagens com os braços.


Teria sido difícil levar ele a sério se eu não estivesse presa como
refém.

Presa, mas não indefesa.

Havia sempre opções. Eu só tinha que considerar quais tirariam


Takara e eu daqui com mais segurança. Também havia Poet em
quem pensar. Eles o levaram em um veículo separado. Como o
Óculos estava na nossa frente e não estava dirigindo no momento, o
Poet poderia estar em qualquer lugar. Eu não sabia se ele estava
bem ou não.

—Mamãe disse que o jantar estará pronto em vinte, — outro cara


anunciou enquanto entrava no celeiro. A arma suja que Óculos
empunhava em Phobos estava em suas mãos.

—Bom, me deixe revistar elas e então podemos ir ajudá-la.

—Nos revistar? — A ruiva questionou, sua voz baixa e um tanto


arrastada. Eles devem ter dado algo a ela.
—Não podemos permitir que nenhuma de vocês tente machucar
um de nós ou usar qualquer coisa para escapar. — O Óculos
removeu uma faca suíça e forçou a ruiva a dar um passo à frente.

—Mas você já tomou...

—Ainda tenho que verificar você. — Ele cortou o tecido marrom


de sua camisa, direto no meio. Por baixo, havia um sutiã um
tamanho muito pequeno.

Com uma inalação pervertida de ar, ele colocou a faca entre os


dentes e agarrou cada um de seus seios. Ela fechou os olhos e virou
a cabeça enquanto os dedos dele os massageavam através do tecido
de seu sutiã.

Que raio de arma ele esperava encontrar lá? Mas então, se


tornou aparente que não se tratava de termos armas quando ele
colocou as mãos no cós do short dela e o puxou para baixo.

Era fácil ver que ela não estava escondendo nada embaixo dele.
Ele nem tinha bolsos. Este filho da puta insignificante ainda corria
as mãos sobre sua bunda, pelas coxas e de volta para cima. Sua
mandíbula se apertou, mas ela não implorou ou pediu para que ele
parasse.

—Sem marcas de facção, — ele notou depois de levantar seu


cabelo e verificar suas costas. —Acho que foi uma sorte termos sido
nós que a encontramos. — Ele pegou as duas mãos dela e as
estendeu para que ela fizesse a forma de um T.

—Jacob, Tyson, o que vocês dois acham desta?


—Ela é muito velha para ser uma potrinha, — respondeu o
homem com o Stetson.

—Ela também não é novilha, olhe esse traseiro, — o outro


homem respondeu.

Novilha? Portinha? Eles estavam nos comparando seriamente a


animais de fazenda?

—Égua então, — Óculos confirmou, empurrando seus braços


para baixo. Ele teve a decência de levantar o short dela de volta
antes de puxar ela para frente novamente e empurrar ela para uma
das cabines vazias. Ele a trancou com o cadeado pesado pendurado
do lado de fora.

Uma vez que ela estava segura, ele se voltou para nós.

Passando direto por mim e de Takara, ele foi até a loira, dando a
ela quase o mesmo tratamento.

O homem que se juntou a nós e anunciou que o jantar estaria


pronto logo se aproximou do outro lado da loira e passou a mão
pelo cabelo dela. Era quase da mesma cor que o dele, mas um tom
mais claro. Ela se encolheu, fazendo com que ele sorrisse
perversamente.

—Posso ficar com esta, Knox?

O Óculos virou a cabeça dele. —Por que diabos você iria querer


isso?

—Ela não se parece com Danielle?


—Ty, nossa irmã ficaria furiosa se aparecesse e a visse.

—Ela não terá uma chance. Eu só preciso de um dia.

A certeza com que disse isso foi perturbadora.

—Vamos, Knox. Ela é claramente uma novilha, não tão valiosa


quanto as outras. — Ele cutucou seu seio direito como se para
provar seu ponto.

—Além disso, você ainda tem essas duas, a ruiva e aquele cara
grandão. São quatro extras antes do dia da entrega.

—Tem aquele capão magricela também, — disse Jacob, que eu


determinei ser o cara do Stetson.

—Bem, bem. Mas é melhor ela ir embora antes que Dani chegue


aqui.

Ty acenou com a cabeça como uma criança que acaba de


conseguir o que quer. Quando ele tentou alcançar ela, Knox bateu
em sua mão e a arrastou para frente, empurrando ela para a baia
ao lado da ruiva. —Depois que mamãe for para a cama, você pode
brincar. Nem um minuto antes.

Ele a trancou como fez com a ruiva e depois se moveu para


Takara. Enviei a ela um pouco de força, endurecendo minha
espinha enquanto ela se endireitava e se preparava para ele tocar
ela.
—Você tem uma bela pele suave como a seda, — ele murmurou,
rasgando sua blusa ao meio. —No entanto, o baú está na
extremidade menor.

—Porco.

Ele olhou e agarrou sua mandíbula com força suficiente para


fazer seus lábios franzirem. —Tome cuidado com o que você diz.
— Sua cabeça abaixou e ele sorriu, colocando um beijo no centro de
seu peito. —Não foi um insulto.

Mordi minha língua e olhei para o teto. Atacar esse idiota e


chutar a merda dele provavelmente não iria me levar tão longe,
embora certamente me fizesse sentir melhor. Esperei que ele
encontrasse sua insígnia, mas ele a perdeu completamente entre
todas as suas outras tatuagens. Idiota.

Knox colocou Kara em outra das cabines e a trancou. Ela estava


imediatamente na grade enferrujada da janela, olhando para fora
para assistir.

—Você será a última, — disse ele, dando um passo à minha


frente com um sorriso.

—Isso me faz ter sorte?

Ele sorriu ainda mais, cortando a frente da minha regata como


fez com as outras. Eu permaneci estoica, não deixando
transparecer o quanto isso me incomodava. Obrigada, Satanás, que
eu usava um sutiã esportivo.
—Sabe, — ele começou, —acho que gosto de você...?

Ele achou que eu ofereceria meu nome? Esse era um dos


truques mais experimentados e cansados do livro. Eu sabia que
minha boca tinha que permanecer fechada. Manter meu rosto
neutro, no entanto, era mais fácil falar do que fazer. No momento
em que suas mãos sujas tocaram minha pele, eu queria dar uma
cabeçada nele.

—Tem alguma coisa sobre você que eu deva saber?

—Não.

Ele já tinha pegado meu coldre e minha bolsa. As armas mais


letais que eu tinha nunca poderiam ser roubadas de mim, de
qualquer maneira. Eu peguei o bom senso de minha mãe e a
capacidade imprudente de levantar o inferno de meu pai.

Enquanto seus dedos percorriam meus dois braços, juro que


minha pele enrugou sob seu toque. Por que suas unhas estavam
tão irregulares?

Ele girou meu pulso esquerdo, depois o direito. No momento em


que avistou a insígnia na parte inferior, ele congelou. Sua cabeça se
moveu para cima e para baixo enquanto ele olhava de mim de volta
para o alvo.

—Bem, eu serei amaldiçoado. — Seu aperto aumentou e ele


ergueu os óculos, revelando uma sombra escura de olhos âmbar e
sobrancelhas surpreendentemente bem cuidadas.
—O que é, Knox? — Seu amigo com o cabelo loiro escuro, Tyson,
perguntou.

—Ela é um daqueles filhos da puta do Stag.

—Creed então? Ou aquele é Lazarus?

—É a mesma coisa, Jacob. Uma conspiração de séculos.

Levei um segundo para lembrar que Creed era Amo. 

Não sei por que ele precisava de um pseudônimo, mas o mais


preocupante era Knox saber que ele e Samael jogavam pelo mesmo
time.

—Ela parece jovem, — disse Jacob. —A chinesa também.

Takara zombou. Que pedaço de porco ignorante.

—Sim, ela é...— Ele se inclinou, quase pressionando seu nariz


no meu. —Eu tenho idade suficiente para ser seu pai. Não tenho,
garota? Sempre gostei disso.

Eca. Como ele ousa?

—Felizmente, meu pai é muito mais polido do que você e não


gosta de meninas.

Eu esperava dor em retaliação por isso, mas ele simplesmente


deu de ombros. —Isso é comum em nossa família. Quanto mais
próximo for o parente, melhor.

Isso não era algo que eu gostaria de saber.

—Suponho que seus amigos vieram do mesmo lugar que você?


Eu não estava confirmando ou negando nada quando seus
motivos eram desconhecidos. Eu mal tinha escapado dele encontrar
minha outra tatuagem de insígnia, aquela que me marcava como
um Savage.

—Vou descobrir por mim mesmo. — Ele deu um tapinha na


minha bochecha e deu um passo para trás, me puxando para outra
baia. Assim que entrei, ele se virou para seus companheiros. —
Chame os meninos, Jacob. Temos que aumentar algumas apostas.

—O que você vai fazer conosco? — A loira choramingou de


algumas baias abaixo.

—Eu não posso te dizer ainda. Isso estragaria toda a diversão.


— Ele se virou para Jacob. —Me ajude a colocar o grandalhão
situado, sim? — Eles se despediram, Knox chamando por cima do
ombro antes de fechar a porta do celeiro. —Vejo você em breve.

Tirei minha regata rasgada e me virei para Takara assim que eles
se foram.

Eu não podia tocar ela devido às barras da janela estarem tão


próximas, mas eu podia ver ela.

—Você está bem?

—Não. Isso é humilhante! Não chegamos a lugar nenhum.

—Eu estava perguntando se você está ferida.

Ela agarrou a maçaneta da porta da cabine e puxou. Ela não se


mexeu, exceto por um pequeno guincho. —Ficarei bem assim que
sairmos daqui e encontrarmos Poet, — ela respondeu com um
grunhido de frustração.

Eu olhei ao redor dela e tentei o meu melhor para distinguir as


outras duas.

—Garotas, quais são os seus nomes?

—Cassandra, mas todos me chamam de Cherry. Clichê, certo?


— A ruiva respondeu primeiro. Dava para perceber como ela estava
ansiosa, apesar do tom otimista.

—Não... — Eu parei, pensando em minha mãe.

Eu não poderia divulgar quem eu era para ela.

Podemos ter sido sequestradas e trancadas em um celeiro


juntas, mas ela ainda era uma estranha, e isso era Badlands. Eu
não estava mais no chalé. Essas pessoas não tinham lealdade a
mim ou a Samael.

—Eu conhecia alguém que se chamava Blue.

—Cabelo azul? — Ela adivinhou.

—O nome dela realmente significa azul, mas ela tem, tinha


cabelo azul também.

—Isso é...

Eu a cortei com uma rápida mudança de assunto. —Eu sou


Layla, a propósito. Essa é Tiny.

—Tiny? — A loira fungou.


—Eu sou uma vadia magrinha. — Takara concordou com a
minha mentira, fazendo a garota soltar uma risada trêmula.

—Eu sou Hannah.

—Certo, Hannah. Cherry. Vocês duas querem nos ajudar a dar o


fora daqui?

—Diga o que você precisa, — respondeu Cherry ansiosamente.

—Apenas ouça quem está vindo.

Virei na minha cabine e fui até o pedaço de compensado


apodrecido que cobria uma janela.

Eu o tinha visto no segundo em que fui empurrada aqui graças


aos pequenos feixes de luz que vinham da parte inferior.

Ciente de que meu peito estava exposto graças à necessidade


pervertida de Knox de redescobrir como eram os seios reais, eu
queria evitar pressionar eles contra ela. Contra qualquer coisa ao
meu redor, na verdade.

Admito, eu estava uma bagunça. Tudo que eu tinha como blusa


era meu sutiã esportivo, a camisa de flanela estava dentro da
minha bolsa em algum lugar. Meu cabelo estava crespo e quase
todo desfeito por causa da trança em que esteve. Como eu estava
suada, sujeira misturada com flocos de grama grudavam em mim
de onde eu havia batido no asfalto, e o sangue de Travis seco na
minha pele.
Mesmo com tudo isso acontecendo, a cabine estava mais suja do
que eu. O chão estava coberto por uma fina camada de palha
descolorida e serragem.

No canto esquerdo posterior havia uma desculpa patética para


uma cama improvisada, nada mais do que uma pilha questionável
de linho com uma mancha marrom suspeita no centro.

Me aproximei da peça apodrecida de madeira compensada e corri


os dedos pelas bordas, procurando qualquer tipo de cedência.

Tentei levantar o canto que já tinha um pouco da madeira


lascada, mas estava firme. Eu tracei ao longo da borda externa,
sentindo as pontas dos pregos enferrujados.

—Tanto para essa ideia. Essa coisa não vai a lugar nenhum.

—Estamos presas aqui, então? — Takara perguntou.

—Por enquanto. — Corri minhas mãos sobre meu cabelo


bagunçado e suspirei.

Eu realmente não deveria ter saído do chalé.


CAPITULO QUATORZE

Os erros não pretendem nos definir, mas é difícil pensar de outra


forma quando eles continuam a se repetir dentro da sua cabeça, te
lembrando de como você estragou tudo.

Eu não estava tentando dar uma festa de pena. Eu não gosto de


sentir pena. Mas eu tinha que enfrentar os fatos. Não estaríamos
trancados em um celeiro que cheirava pior a cada hora se não fosse
por um plano de fuga tão estúpido que eu não tinha colocado meu
coração.

Estaríamos no local do chalé agora, fazendo o que normalmente


fazíamos.

Travis ainda estaria trancado em uma baia aguardando qualquer


destino que Samael escolhesse para ele. Ele foi trazido porque
precisávamos de todas as informações que ele tinha. O homem
tentou nos ajudar. Isso valeu um pequeno reconhecimento.
Além disso, sua morte não teve impacto sobre meu bem-estar
emocional. Eu me importava mais com os prosélitos que não faziam
nada além de seu trabalho.

Eu forcei meu cérebro, tentando chegar a uma solução realista


para nos tirar disso. Nossas bolsas foram tiradas de nós, então o
equipamento havia sumido. Minha faca curva também se foi, ela
estava amarrada em volta da minha cintura antes de me
nocautearem.

Takara e eu trocamos ideias e aceitamos sugestões de Cherry e


Hannah.

Quando não havia mais luz alguma entrando pelas frestas da


janela fechada com tábuas e uma sinfonia de grilos começou,
percebi que o dia havia acabado.

Não chegamos a lugar nenhum.

Incapaz de ficar de pé por mais tempo, sentei no lado oposto da


cabine.

De costas para uma parede coberta de sujeira, cochilei sem


querer.

Um som de tilintar me fez acordar de volta. Meu cérebro lento


levou um segundo para identificar o que estava ouvindo.

Correntes.

—O que você está fazendo? — A voz cansada de Takara me


atraiu do meu lugar no chão.
Ignorando a dor na minha metade inferior, me levantei e
caminhei até a frente da baia. A iluminação aqui estava ainda pior
agora que estava escuro lá fora, mas eu podia ver um dos homens
de antes. Tyson, eu acho. Ele estava abrindo o cadeado do lado de
fora da baia de Hannah. Ela disse algo que eu não consegui
entender, seguindo com um suave apelo.

—Ei! — Eu balancei a porta da minha baia, tentando chamar


sua atenção.

Ele não prestou atenção a nós nem às objeções de Hannah. Ela


foi retirada da baia com pouca dificuldade.

Suas mãos envolveram as barras em uma tentativa de não ser


carregada. Bastou um puxão forte para remover seu aperto.

—Fique quieta, — Tyson resmungou, lutando com ela no


corredor do celeiro.

Suas palavras não surtiram efeito algum. Ela se contorceu e


empurrou para ele, tentando fugir. Isso só piorou sua
situação. Tyson amaldiçoou e atirou o punho, atingindo o lado de
seu rosto com um golpe sólido. Ela imediatamente caiu no chão,
soluçando de angústia.

—Eu disse para você parar.

Ele a puxou de volta pelo braço e foi embora, deixando ela com a
opção de seguir ela obedientemente ou ser arrastada.

—Para onde você a está levando? — Cherry o chamou.


Ainda sem dar uma resposta, ele saiu do celeiro com Hannah. A
batida da porta eclipsou o último de seus gritos que pudemos ouvir.

—Temos que encontrar Poet e dar o fora daqui, — Takara disse


monótona.

Afastei meu olhar das linhas de luz que começavam a rastejar de


volta e respirei fundo para me manter calma. Eu sabia que
precisávamos sair daqui, essa era uma declaração redundante.

Brincar com ela não iria nos ajudar em nada, no entanto. Dado


de onde ela veio, ela estava lidando com isso excepcionalmente
bem. Eu não era uma leitora de mentes, então não sabia o que se
passava em sua cabeça, mas sabia que isso deveria trazer de volta
as memórias do tempo em que ela estava no A.R.C

Antes de Mal e Amo se infiltrarem neles, sua antiga facção estava


seguindo um regime estrito que mantinha suas mulheres
severamente oprimidas, marcando e trocando elas. Aquelas que não
atendiam aos padrões ridículos que tinham foram mortas.

Muito parecido com... gado.


—Nós encontraremos uma saída, Kara. Acabamos de escapar de
uma das facções mais poderosas de Badlands. Isso não deve ser
nada.

—Nós fizemos?

Eu estiquei meus braços de cada lado. —Você vê Mal em algum


lugar?

—Não foi isso que eu quis dizer. Estou falando... — ela se


interrompeu e olhou na direção de Cherry, cautelosa com o que
estava sendo dito na frente de uma estranha.

Eu esperava que essa garota ficasse um pouco emocionada por


sua amiga levar um soco no rosto e ser puxada para longe, mas
não. Ela tinha estado estranhamente silenciosa desde que Hannah
foi arrastada para longe.

Pensando bem, nenhuma dessas mulheres havia dito uma


palavra sobre o cara que havia levado um tiro nas costas. Eu tinha
certeza de que Hannah estava histérica demais devido a uma falha
de personalidade, não porque quem quer que aquele homem fosse
em Phobos tivesse sido morto. Então Cherry estava ouvindo
atentamente tudo o que dizíamos, ou ela entrou em choque ou algo
assim.

—Ei, você está bem aí? — Perguntei.

—Tão bem quanto eu posso estar.

—Sinto muito pelos seus amigos, — Takara disse suavemente.


—Eles não eram realmente meus amigos. Acabamos de nos
conhecer há seis dias.

Bem, agora eu tinha perguntas. Por que ela estava viajando com


dois estranhos, e como eles acabaram em Phobos de todos os
lugares?

A porta do celeiro se abriu de repente, fazendo com que a luz do


sol incidisse no interior mal iluminado do prédio.

Eu apertei os olhos, observando a silhueta de alguém se


aproximando.

—Bom dia, meninas, — Knox nos cumprimentou alegremente. —


Mamãe tem seu café da manhã quase pronto para vir. Eu preciso
pegar ela emprestada por alguns minutos.

O 'ela' a que ele se referia era na verdade eu. Ele não tinha a


bandana que usara no dia anterior, mas os óculos ridículos
estavam de volta no lugar. E, é claro, ele estava com a arma
aninhada na dobra do braço.

Eu me perguntei para onde ele iria me levar. Hannah ainda não


tinha voltado de onde Tyson a arrastou. Algo me disse que ela não
voltaria.

Uma energia apreensiva percorreu minha espinha, mas mantive


minha boca fechada e segurei minha compostura. Quando ele
agarrou o cadeado para me deixar sair, percebi que Takara diria
algo em minha defesa. Eu balancei minha cabeça para deter ela.
—Eu estarei de volta para buscá-la depois desta noite. — Knox
falou diretamente com ela.

Ele abriu a porta da cabine e nivelou um olhar para o meu peito


parcialmente exposto, apontando para que eu avançasse.

—Você até pensa em tentar algo e vou explodir em você.

—Anotado, — brinquei secamente.

Quando eu estava perto, ele agarrou meu braço e me levou para


fora do celeiro. Saímos para o calor escaldante e eu tive minha
primeira visão real de onde estávamos. Uma antiga arena de
shows. Mais à direita, havia uma pequena casa que parecia estar
em melhor estado do que o celeiro.

Roadhouse de Roboys foi pintado em uma placa feita à mão


perto da pick-up e do carro azul em que fomos trazidos aqui. Não
parecia haver nenhum tipo de civilização por perto.

Knox continuou a me levar para onde as vozes vinham como se


eu fosse um cachorro.

Caminhamos ao lado de outro prédio, este feito de chapa de


metal. Flechas estavam penduradas na lateral dele, nos guiando.

—Se prepare.

Eu encarei o lado de sua cabeça. —Prepare para que?

Viramos uma esquina e o cheiro que estava me incomodando


profundamente no celeiro se tornou incrivelmente potente. E não é
de admirar.
—Estamos um pouco atrasados na limpeza, — explicou Knox.

—Não diga? — Eu murmurei.

Pelo menos uma dúzia de corpos estavam empilhados uns em


cima dos outros dentro de um cercado menor. Alguns estavam meio
queimados. Eu deveria saber que era isso que eu estava sentindo.
Decomposição. Carne em chamas.

Esse odor sempre foi mais fácil de reconhecer do que descrever.


Você nunca se esquece realmente, depois de respirar algumas
vezes.

Imagine carne em uma frigideira com um lado de gordura de


porco. Então, como essas pessoas não foram estripadas, fígado
queimado misturado com um bom perfume almiscarado curado do
fluido espinhal.

Basicamente, o cheiro era nauseante e doce. Às vezes, como


agora, era tão espesso e pútrido que havia uma riqueza que quase
dava para sentir o gosto.

Esses idiotas colocaram os cadáveres em uma grande prateleira


parecida com uma grade, o que não estava lhes ajudando em
nada. À medida que os corpos gradualmente derretiam, pedaços e
peles ficavam presos nas grades. Felizmente, não vi ninguém que se
parecesse com Poet entre eles.

Eu desviei o olhar da grade para a arena surgindo à minha


esquerda.
Eles também não haviam limpado isso.

O sol brilhou, lançando uma névoa sobre a serragem


ensanguentada, tornando ela muito mais vívida.

As arquibancadas ao redor estavam vazias, exceto quatro


pessoas que não prestaram atenção em nós.

Outros quatro homens estavam dentro da arena. Jacob e Tyson.


Um homem que não reconheci. E Poet. Ambos estavam voltados
para nossa direção geral, de costas para os outros dois.

—O que é isto? — Eu questionei.

—Isso vai determinar o que eu faço com você.

—Como Hannah?

—Quem?

—A loira que seu amigo tirou do celeiro no meio da noite.

—Este é meu irmão.

—Certo?— Eu não me importava qual era a relação. Eu estava


procurando alguma clareza.

Ela não estava em lugar nenhum, então o que eles fizeram com
ela?

—Ela está sendo bem aproveitada, — ele zombou, acariciando


meu braço com o polegar.

Não precisei de mais detalhes.


Ele me conduziu por um portão vermelho sólido, e descemos
uma pequena inclinação que nos levou mais fundo na arena. Eu
não conseguia pensar em nenhum motivo para ter sido trazida
aqui.

Tyson começou a dizer algo para o cara que estava atrás dele, ao
mesmo tempo, Jacob trouxe uma lâmina enorme para descansar
contra a garganta de Poet.

—O que está acontecendo? — Eu exigi.

—Você viu aquele homem perto do seu amigo? — Knox


perguntou baixinho.

—Sim…

—Eu preciso que você o mate.

Eu não poderia ter ouvido isso corretamente. —Por que eu iria


matar ele?

Knox parou de andar. Seu aperto no meu braço aumentou. —Eu


posso te dizer por que você está fazendo. — Eu me afastei dele o
máximo que pude, não gostando do quão perto ele estava de
repente do meu rosto. —Porque se você não fizer isso, vou vender
sua bunda para quem der o lance mais alto. Você será fodida de
todas as maneiras até domingo até que eles se cansem de sua
boceta ou te façam cuspir alguns filhos.

—Algo mais?

—Aquele grandão com Jacob é...


—Poet. O nome dele é Poet.

—Bem, se você perder, o Poet vai ter aquela lâmina enfiada na


garganta.

Ele poderia ter lidado com isso. Eu examinei minha suposta


vítima, vendo ele fazer o mesmo. Ele estava me avaliando. Se
estivéssemos indo para o tamanho sozinhos, ele me derrotava, sem
dúvida. Alto e atarracado, eu não tinha certeza de como deveria
pegar ele.

Eu estive dormindo uns vinte minutos e não tinha tido nada


substancial desde que deixei o local de hospedagem.

—O que acontece se eu ganhar?

Ele retomou o passo. —Se você ganhar? Seu amigo vai viver, e


você vai ficar comigo esta noite.

Era um prêmio de consolação de merda. Eu não queria estar em


qualquer lugar perto deste doente. Eu tinha que ganhar isso para
Poet, no entanto. Eu nunca poderia ficar parada e deixar algo
acontecer com ele ou Kara.

Ficamos a poucos metros dos outros e Knox soltou meu braço,


me dando um empurrão na direção do meu oponente.

—Vá em frente agora.

O homem imediatamente começou a vir em minha direção, sem


pausa. Eu dei alguns passos para trás e ele sorriu. Tenho certeza
de que isso parecia relativamente fácil do ponto de vista dele.
Lambi meus lábios, sem saber como fazer meu primeiro
movimento.

Já fazia anos desde que eu deveria lutar contra alguém assim, e


naquela época isso sempre esteve sob a supervisão de meu pai. Ele
nunca me empurrou em uma maldita arena e me disse para lutar
até a morte.

—Vamos, Kyle, — Tyson gritou, batendo palmas.

Como um cão de ataque que acabou de receber uma ordem, Kyle


correu para frente. Havia menos espaço entre nós do que eu
pensava inicialmente. Ele levantou seu punho e atingiu o lado do
meu rosto. A dor explodiu em minha mandíbula.

Eu tropecei, sentindo uma poça de sangue em minha boca. Eu


cuspi o excesso de saliva no chão enquanto os pedaços de merda
que orquestraram aquilo gritaram e gritaram, torcendo por Kyle.

—É isso aí, Lils, — Poet me chamou de forma encorajadora.

Kyle veio para cima de mim novamente, atacando como um


touro enfurecido.

Não havia nenhuma maneira que eu pudesse levar um golpe de


corpo inteiro dele e permanecer de pé. Eu mal saí do caminho a
tempo, evitando antes de colidirmos.

Ele chegou perto o suficiente para que eu pudesse alcançar


ele. Peguei um punhado de seu cabelo e puxei sua cabeça para
baixo. Meus braços pareciam que iam saltar das órbitas
malditas. Eu ignorei a dor e bati meu joelho em seu rosto.

Isso também doeu como o inferno. O estalar satisfatório valeu a


pena, no entanto. Kyle se soltou de mim, me deixando com dois
punhados de cabelo. O sangue escorria do nariz ligeiramente torto
até os lábios. Ele não prestou atenção, se jogando em mim
novamente.

O ar passou zunindo na frente do meu rosto enquanto eu me


esquivava. Eu me endireitei e girei para trás, desferindo um golpe
sólido. Nós circulamos um ao outro como dois animais selvagens,
nenhum querendo cair facilmente.

O sol batia em nós, aumentando a resistência e tornando isso


dez vezes mais difícil. Com o canto do olho, vi algo brilhante pousar
no chão a alguns metros de distância.

—Caiu alguma coisa, — Jacob gritou levianamente.

A ligeira distração me custou. Kyle investiu novamente, desta vez


me derrubando no chão com ele tentando pousar em cima de
mim. A dor sacudiu por todo o meu corpo. Minha cabeça bateu na
serragem, dentes afundados em minha língua. Consegui escapar de
ser esmagada por seu peso, mas ele ainda me segurou pelas
pernas. Seus olhos brilharam para o objeto largado na serragem.

Uma faca.

—Desista princesa, — ele zombou com um sorriso irritante.


—Você deseja, fodido, — eu rebati.

Claramente, ele pensou que isso estava acabado.

De jeito nenhum seria assim que minha história terminava. Nem


de Poet nem de Takara.

Meu sangue zumbia em minhas veias enquanto a determinação e


a raiva assumiam o controle. Ignorando a torcida, eu olhei para o
idiota me comportando como se ele já tivesse ganhado. Com um
grunhido, cambaleei para frente e agarrei sua cabeça de cada
lado. Eu peguei seus olhos se arregalando enquanto batia minha
testa na dele.

Uma série de maldições voou de sua boca.

Estrelas explodiram em minha visão, mas eu as afastei. Com um


novo vigor e uma raiva inexplorada que me fez ferver de dentro para
fora, lutei para ficar de pé.

Eu imediatamente o chutei bem no queixo. Sua cabeça girou


para a esquerda e ele cambaleou para o lado. Agora eu sabia por
que Brody tinha mijado em Jim. Se eu tivesse um pênis, teria feito
o mesmo com esse cara.

Ele não tentou vir para mim novamente.

Com olhos selvagens e enfurecidos, ele foi para a faca. Eu


mergulhei, caindo de costas e puxando ele de volta para baixo com
um grunhido.
Me movendo mais rápido do que ele poderia, usei seu corpo
como alavanca e me empurrei para frente, quase sentando em sua
cabeça quando fui para a mesma lâmina.

Eu agarrei, perdi e finalmente consegui pegar ela no momento


em que Kyle me desalojou. Agarrando o cabo com força, me
aproximei dele, apunhalando logo abaixo de seu olho esquerdo. Seu
grito de dor me estimulou. Eu o coloquei nas costas e subi em cima,
usando todo o peso do meu corpo para manter ele no chão. Eu
puxei a lâmina e o esfaqueei novamente, aleatoriamente. Então,
novamente e novamente, em qualquer lugar que eu pudesse
alcançar.

O sangue vazou entre meus dedos, cobrindo minha barriga. Não


parei até que Knox estava me arrastando para longe dele e Tyson
arrancou a faca.

—Se acalme, garota — Knox me acalmou com uma risada, me


colocando de pé.

O suor escorria pelo meu corpo, se misturando com a serragem e


o sangue que eu estava coberta.

Observei o corpo de Kyle. Seu rosto era uma confusão de


buracos abertos. Alguns estavam em seu pescoço e na lateral de
sua cabeça. O carmesim se acumulou em torno de sua forma
imóvel. O cheiro metálico foi intensificado pelo sol escaldante.

—Vamos pegar seu prêmio, — disse Knox, me guiando para


longe de Kyle segurando meu braço.
Jacob começou a levar Poet na direção oposta. Eu puxei contra o
aperto de Knox, querendo ir até ele.

—Vou ficar bem, — disse o Poet por cima do ombro de maneira


tranquilizadora.

Eu não acreditei nisso por um segundo. Nenhum de nós estava


seguro aqui.

—Para onde você o está levando? — Eu soltei uma respiração


irregular, ainda tentando me acalmar.

—Não se preocupe, eu nunca mataria aquele sujeito


grande. Tenho alguns planos para ele. Se eu fosse você, estaria
mais preocupada com você.

Ignorei seu conselho e encarei Poet, desejando que ele ficasse


seguro.
CAPiTULO QUINZE

Depois de ser conduzida para fora da arena, tomei consciência


de minha nova situação. Eu estava além de suja e, à medida que a
adrenalina foi passando, tudo começou a doer.

Fiquei momentaneamente confusa quando Knox me levou de


volta pelo caminho por onde vimos, mas depois desviou do
celeiro. Só demorei um segundo para perceber para onde ele estava
me levando. Eu ainda me fiz de boba na esperança de estar errada.

—Onde estamos indo? — Eu questionei.

—Para receber seu prêmio.

—E se eu não quiser?

—Você acha que está em posição de negociar?

Claro que não, mas teria passado semanas trancada dentro de


seu celeiro se isso significasse não entrar na maldita casa da
fazenda. Sem ter escolha, fui conduzida pelos degraus frágeis da
frente e por uma porta de tela rasgada. Percebi um cheiro estranho
assim que entramos, mas não consegui identificá-lo.

—Mãe! — Knox chamou.

—Traga ela para dentro, — respondeu uma voz idosa.

—Mova-se. — Ele me cutucou com a perna, passando a me levar


por uma escada, por uma porta que dava para uma cozinha vintage
e em direção ao que parecia ser um pequeno quarto.

Havia um espelho alto angulado dentro do quarto e uma cama


parcialmente refletida em seu vidro. Assim que Knox abriu
totalmente a porta, fui atacada por papel de parede floral rosa
escuro, tapete felpudo e uma parede cheia de bonecas de porcelana.

Deixando a decoração horrível de lado, eu não sabia se deveria


me concentrar em Hannah, que estava em péssimo estado
amarrada à cama, ou na velhinha parada ao lado de uma
penteadeira. Seu cabelo grisalho estava puxado para trás em um
coque tão apertado que fazia seus olhos castanhos parecerem ainda
mais nítidos. Eles me olharam com franca suspeita por trás de um
par de óculos de armação oval. Ela mancou para frente e parou a
dois passos de mim.

—Essa é ela? Aquela sobre o qual você estava me falando?

—Sim. Você pode limpar ela? Vou levar algo para os outros.

A mulher olhou para um velho relógio cuco que estava


pendurado na parede dos fundos.
—Acho que posso fazer um milagre.

—Eu sabia que podia contar com você. — Knox soltou meu
aperto de ferro em meu braço e deu um passo à frente. Ele deu um
beijo na bochecha da velha e depois se virou para mim.

—Você tenta qualquer coisa, você até olha para ela errado, e
aquela sua amiga linda vai levar uma bala na cabeça.

—Entendi.

—Boa menina.

Ele se virou para sair e de repente parou. Antes que eu pudesse


empurrar ele para longe, ele agarrou meu rosto e me deu um beijo
desleixado, arrastando sua língua com cheiro de tabaco em meus
lábios cerrados.

Eu recuei, empurrando ele para longe de mim e empurrando


para trás enquanto meu estômago caiu na ponta dos pés. —Tire
suas malditas mãos de mim! — Limpei minha boca com meu
antebraço, engolindo repetidamente para suprimir a vontade
irresistível de vomitar.

—Eu sabia que estava certo sobre você. — Ele saiu do quarto,
rindo de si mesmo.

No momento em que ele se foi, olhei para sua mãe, descobrindo


que sua expressão desconfiada havia sumido e em seu lugar estava
um sorriso assustadoramente caloroso.
—Você não quer vir se sentar? Eu prometo que não mordo.
— Ela se afastou e deu um tapinha no banquinho de veludo
vermelho na frente da penteadeira.

Eu a encarei por um minuto, me perguntando o que deveria


fazer. Mesmo na minha condição atual, eu estava confiante de que
poderia matar uma mulher idosa. O problema era o que eu faria
depois. Eu precisaria encontrar Poet, pegar as chaves do cadeado
para libertar Takara e então encontrar uma maneira de nos tirar
da propriedade. Eu não estava confiante de que poderia administrar
todos os três e não estava escolhendo e decidindo entre meus
amigos.

Eu lentamente fiz meu caminho até a penteadeira e me sentei


cautelosamente. Eu estava tão dolorida que até isso doía. A
condição do meu corpo era parcialmente minha culpa. Eu nunca
deveria ter ficado relaxada ou muito confortável quando se tratava
de me certificar de que continuaria no topo do meu
condicionamento.

A mulher mais velha deu um passo atrás de mim e colocou as


mãos nos meus ombros, encontrando meu olhar no espelho oval.

—Você tem um cabelo adorável e uma pele muito bonita.

Estávamos olhando para o mesmo reflexo agora? Eu parecia algo


que havia sido sugado por um furacão e depois cuspido de volta.

—Sim, — ela continuou falando para si mesma. —Eu tenho o


visual perfeito para você. Espere bem aqui.
Observei no espelho enquanto ela se movia pelo quarto para
recuperar uma boneca de uma das prateleiras superiores. Ela
voltou para o meu lado carregando uma réplica minha, rosada com
cara de querubim. O mini-eu assustador foi apoiado contra uma
parte do espelho, e então ela começou a trabalhar.

Pela centésima vez em menos de vinte e quatro horas, lamentei


profundamente esse plano de fuga estúpido.

Me ajoelhando na beira da cama, ousei mais uma vez testar a


lucidez de Hannah. Ela estava nessa posição embolada por mais de
duas horas. Eu não tinha entendido onde ela estava ferida, ou o
quão gravemente.

Tammy, a mulher mais velha responsável por criar os três


idiotas que nos sequestraram, havia limpado Hannah
também. Quando ela removeu a combinação rasgada que alguém a
fez vestir, pude ver o hematoma preto e o sangue seco entre suas
pernas e na bunda. Tenho certeza de que alguns de seus problemas
agora eram inteiramente psicológicos.

Suspirei e me virei para descansar com as costas contra o


colchão. Eu estava exausta e dolorida demais para continuar
andando e nervosa demais para ousar dormir. Até uma hora ou
mais atrás, eu tive dores de fome torturantes.

Depois que Tammy fez um trabalho de merda, esfregando meu


corpo e me vestindo como uma boneca, com blush e rabo-de-cavalo
baixo, fiquei trancada no quarto. Eu não sabia o que estava
acontecendo lá fora, porque a velha casa parecia amplificar cada
pequeno ruído.

Eu me perguntei onde Samael estava e o que ele estava fazendo


naquele momento. Uma parte de mim esperava que ele aparecesse e
nos salvasse deste pesadelo. Mas eu realmente mereço que ele faça
isso? Para começar, foi tudo culpa minha. Eu me senti meio
patética por estar presa assim. Eu tentei a única janela neste
quarto que como a porta estava trancada do outro lado.

Cansada de ficar quieta, fiquei parada quando a porta se abriu.


Knox apareceu, usando um par de suspensórios azul-marinho com
gravata borboleta, o cabelo úmido e penteado para trás.

—Você limpa fica bem, mocinha.

Tudo bem, certo. Eu parecia um palhaço.

O vestido fino que me deram para usar combinava com o papel


de parede espalhafatoso deste quarto.

Eu nunca o teria vestido se não fosse por precisar evitar que sua
mãe visse minha insígnia de Savage. Meu cabelo tinha laços
infantis enrolados nas pontas. Laços. Eu parecia mais uma menina
do que uma mulher.
Eu olhei para Knox, sem me preocupar em esconder meu
desgosto.

Ele riu e estendeu a mão. —Se lembre de seus amigos.

Então era assim que ia ser? Takara e Poet eram uma


vantagem. Se ele os tivesse, ele poderia me fazer, fazer quase
qualquer coisa. Tudo sobre este homem me repelia. Eu não sabia
qual era o seu jogo final, mas agora não havia muitas outras opções
se apresentando.

Eu coloquei minha mão na dele e o deixei me levar. Passamos


por Tyson e passamos pela cozinha, que agora cheirava a pão e
outra coisa, e entramos na sala de jantar.

Quando Tyson passou pela segunda vez, ele tinha Hannah


pendurada em um ombro. Ele a sentou perto do final da mesa de
jantar, posicionando ela como se fosse uma marionete. Sua cabeça
pendeu para o lado, seus lábios inchados e descoloridos
ligeiramente entreabertos com uma baba escorrendo por eles.

Eu tinha perdido alguma coisa?

Ela parecia ter sido drogada.

—Você vai ficar assim no final da noite, — Knox sussurrou em


meu ouvido.

Eu me afastei dele e me sentei em uma cadeira qualquer,


tomando nota da espingarda no canto da sala. Examinando a mesa,
notei que eles me forneceram talheres de verdade. Havia também
uma grande panela com carne e feijão, pão e uma jarra de água. 

Embora o tipo de carne a que essas pessoas teriam acesso fosse


questionável.

Não se parecia com nada que eu já tivesse visto antes. Eu não


comia há quase 48 horas, mas morreria de fome antes de colocar o
que quer que fosse na minha boca.

Knox sentou imediatamente à minha esquerda e me ofereceu a


mão novamente. Não entendi o que ele queria até que Tyson fez a
mesma coisa à minha direita. Jacob sentou no lado oposto da mesa
com sua mãe e imitou seus irmãos. Todos fecharam os olhos e
abaixaram a cabeça, dando as mãos.

O que diabos está acontecendo?

Tammy olhou para mim com uma expressão tempestuosa


quando eu não fiz nenhum esforço para tomar a iniciativa.

—Nesta casa, damos graças ao Senhor.

Eu ri. Eu não pude evitar. Essa era uma das coisas mais


absurdas que eu já vi. E as pessoas tiveram coragem de falar
da minha família? Eu a contragosto peguei cada mão que foi
oferecida.

Isso é o mais longe que eu estava indo com essa encenação. O


próprio diabo entraria pela porta da frente antes que eu fixasse
meus lábios para adorar algo diferente do que espreitava abaixo.
—O Pai Celestial nos abençoe e esta festa generosa que
recebemos de tua bondade, por meio de Jesus Cristo, nosso
Senhor. Amém.

Um pequeno coro ecoou no final de seu breve sermão, excluindo


eu e Hannah. Com sua graça de merda fora do caminho, os pratos
foram passados.

O som da porta da frente colidindo com uma parede fez com que
todos fizessem uma breve pausa. Jacob deu um pulo, olhando
direto para a arma. Ao mesmo tempo, peguei a faca de carne que
eles estupidamente colocaram ao lado do meu prato. Knox tentou
me impedir, mas foi lento demais. Eu já estava de pé, pressionando
a lâmina dentada contra a garganta de Tyson com uma mão
agarrando seu cabelo desgrenhado.

—Sente-se, — ordenei a Jacob antes que ele pudesse pegar a


arma.

Vários passos vindos do corredor da frente, cada vez mais


perto. Eu permaneci onde estava. Eu não teria tempo de chegar ao
outro lado da sala, e agora eu tinha influência.

Jacob hesitou, obviamente sem saber que risco correr. Eu não


tinha como saber quem tinha acabado de entrar, mas deveria ter
previsto que seria ele.

Não foi o diabo que apareceu.

Era alguém pior.


CAPITULO DEZESSEIS

Tempo é tudo.

Um olhar para Lilith e eu sabia que cheguei mais tarde do que


deveria. Tínhamos encontrado este lugar na noite anterior. Na
época, parecia tão deserto quanto agora, mas nunca se podia ter
certeza. Não podíamos nos apressar em alguma besteira heroica até
saber com o que estaríamos lidando.

Amo abriu a fechadura das portas da frente e nos fez entrar em


menos de cinco minutos.

Que esses idiotas não tinham segurança estava além do meu


nível de compreensão. Eles não sabiam o quanto eram
desprezados? A maioria os consideravam oportunistas que tiveram
sorte. Hoje era quando essa sorte acabaria.

—Que porra é essa? — Um homem com o cabelo penteado para


trás estalou.
—Você não gostou da surpresa? — Amo questionou brincando.

Seus olhos foram para a pessoa que tinha entrado conosco, e ele
cerrou o punho, permanecendo em silêncio.

Ah. Agora eu entendi.

Os rumores podem ser surpreendentemente poderosos.

Tínhamos espalhado propositalmente o suficiente para que


nossa facção fosse mais misteriosa do que a maioria. Ninguém
conhecia meu rosto ainda. Acabara de descobrir que Amo estava
cumprindo minhas ordens em duas frentes diferentes.

Havia também a persona Creed criada por seus próprios motivos


pessoais, mas ainda assim me beneficiou no final.

Com Jin usando o capacete hoje à noite, essas pessoas


provavelmente pensaram que ele era eu. Isso funcionou melhor do
que eu esperava.

—Chegamos tarde demais? — Amo continuou a incitar.

—Acho que chegamos bem a tempo, — respondi no mesmo tom.

Além da loira de aparência rude, todos eles olharam para nós


com expressões variadas. A única pessoa em que me importava em
me concentrar era Lilith. Ela estava atrás de um dos consanguíneos
com uma faca de jantar em sua garganta.

Apesar de querer envolver minhas mãos em volta do seu pescoço


esguio, foi revigorante ver ela novamente.
—O que você está vestindo? — Eu circulei ao redor da mesa para
ficar ao lado dela.

Lilith ficaria linda em um saco de lixo se ela quisesse usar


um. Este estilo de roupa não era dela, no entanto. As tranças e o
blush a faziam parecer mais jovem do que já era, como uma
criança. Visto que os homens nesta mesa eram visivelmente muito
mais velhos do que qualquer um de nós, acho que alguém tinha um
fetiche.

—O que você está fazendo aqui?

Ela estava falando sério?

—Você não parece muito feliz em me ver, Lils. — Eu agarrei seu
pulso e apliquei mais pressão do que o necessário. —Largue a
faca. Ele não vai a lugar nenhum.

Ela estremeceu, finalmente fazendo o que eu disse com os dentes


cerrados. Eu a puxei para mais perto, deixando a faca cair no chão.
Quando ela olhou para mim com seus grandes olhos verdes, isso
me lembrou de quando éramos crianças e ela sabia que me irritou.

Pouco ou nada sobre essa garota havia mudado.

Ela ainda era minha mesma Lilith, apenas mais velha e sem
ninguém para salvar ela de mim agora. Eu gentilmente toquei a
descoloração em sua bochecha. Havia mais alguns hematomas
estragando seus braços e sangue seco sob suas unhas geralmente
impecáveis.
—Eu não faria isso se eu fosse você. Não viemos sozinhos, —
Amo se dirigiu ao idiota com longas tranças.

Eu não tinha esquecido a espingarda encostada na parede em


um canto. Eu queria ver se algum deles tinha coragem de ir bem na
nossa frente.

A velha foi a segunda a falar. —O que vocês estão fazendo


aqui? Se for sobre aquela garota, pegue ela e vá embora. Não
queremos problemas.

—Você trouxe problemas para a sua porta no segundo em que


tocou no que era meu.

—Como poderíamos saber que ela era sua?

—Então, você não viu a marca dela? — Amo questionou


preguiçosamente.

Havia uma resposta clara para essa pergunta. Você não podia


perder a insígnia na parte inferior de seu pulso.

É exatamente por isso que a coloquei lá. Era uma companheira


do Savage, que eles claramente não haviam encontrado, ou então
teriam sabido exatamente quem ela era. Havia apenas duas pessoas
que andavam com as duas. Ela era uma e eu era a outra.

—Vamos dar uma folga para eles, Amo. Três dos nossos caíram
nas mãos deles por causa da ingenuidade irresponsável de
alguém. Eles ficaram tão entusiasmados pensando que ganharam a
sorte grande que esqueceram o bom senso.
O homem que Lilith tinha pego começou a acenar com a cabeça
em concordância.

—Você tem certeza que não é um produto do irmão da mamãe


fodendo sua boceta? Ou ele era o avô? — Amo perguntou.

A mulher bateu com a mão na mesa. —Você ousa entrar em


minha casa e me desrespeitar?

—Sua casa? — Inclinei minha cabeça e a considerei


interrogativamente. —Esta é a nossa casa agora, querida. Então,
por que não cala a boca para que possamos nos instalar?

Sem surpresa, nenhum de seus filhos falou em seu nome. Que


bando de maricas. Eu olhei para Lilith, examinando ela da cabeça
aos pés novamente.

—Como isso aconteceu com você? — Eu perguntei a ela


diretamente.

—Ela... — o homem ao nosso lado começou a responder.

—Ela tem uma voz, — eu interrompi.

—Ele me fez lutar.

Fez ela lutar. Eu examinei o que Amo e Brody tinham me dito,


combinando com o que eu já sabia sobre os Roboys. Eles pegaram
homens e mulheres e os fizeram lutar em uma arena. As pessoas
apostavam em quem iria ganhar, comprando esses indivíduos como
gado assim que as lutas terminassem.
—O que mais ele fez? — Eu encarei o homem, observando até
mesmo o menor sinal de movimento.

—Ele colocou as mãos em Takara depois que ele cortou sua


camisa e...

—E? — Eu cutuquei.

—Ele me beijou. — Ela olhou para o chão para evitar meu olhar.

Esta confissão era muito déjà vu para o meu gosto.

—Oh, isso vai valer a sua desqualificação instantânea, Knox, —


Amo repreendeu.

Eu inalei, expelindo uma respiração profunda silenciosamente


enquanto a raiva se torcia e se distorcia dentro do meu peito.

Um

Esse é o número de vezes que alguém além de mim chegou perto


o suficiente para tocar ela. Mesmo quando Amo, sob o disfarce de
Creed, alguns anos atrás, fez parecer que ele estava transando com
ela, eu queria cortar ele. E essa ideia foi minha.

Qualquer forma de desrespeito contra ela era altamente ofensiva


para mim. Eu não tolerava isso, porra. Se alguém fosse degradar
minha garota ou colocar as mãos em algum lugar que não deveria,
seria eu, quando eu tivesse meu pau enfiado em sua garganta ou
enterrado dentro de sua boceta.

Corri um toque suave em seus braços para me acalmar e


tranquilizar ela. Pegando seus ombros, eu a posicionei um pouco
atrás de mim. Jin se moveu para poder cobrir as costas dela, caso
as coisas saíssem de ordem.

—Knox? Esse é o seu nome? — Perguntei ao homem.

—Eu não estou te dizendo merda nenhuma, — ele cuspiu.

—É Knox. O cara vestido como se tivesse acabado de sair de um


faroeste é Jacob. O feminino é Tyson. Aquela velha bruxa é Tammy,
também a mamãe querida, — Amo mais do que felizmente
esclareceu.

Eu sorri para Knox, vendo sua expressão passar por três fases
diferentes.

—Você gosta de fazer shows, certo? Ouvi dizer que sua família é


conhecida por ser divertida. Você deve se sentir honrado, porque
agora você vai estar em um para mim e para meus amigos.

Peguei a espingarda do canto e passei para Amo.

—Vocês quatro, levantem-se e fiquem contra a parede.

Achei que eles iriam pelo menos protestar, mas todos se


levantaram e foram para o fundo da sala como reféns
obedientes. Talvez eles tivessem um pouco de bom senso. Contornei
a mesa e agarrei a cadeira em que a loira estava sentada para que
não ficasse no caminho.

Eu a arrastei para trás, sem querer, fazendo com que ela


caísse. Ela caiu para o lado e bateu no chão com um baque. Além
de um gemido, ela mal reagiu. Eu não tinha certeza do que eles
fizeram com ela e não me importei. Vendo Lilith a segundos de vir
para ajudar ela, eu me coloquei na frente do corpo da garota e a
forcei a olhar para mim em vez disso.

—Nem pense nisso.

Ela mal conseguiu esconder a carranca, cravando os dentes no


lábio inferior. Eu estava começando a pensar que ela estava
tentando me provocar de propósito.

Ainda precisando de mais espaço, agarrei uma extremidade da


mesa de jantar e levantei, virando ela de lado. O jantar caiu no chão
de madeira fosco ao lado de pratos e talheres quebrados. Eu tinha
juntado a essência do que estava acontecendo e suas intenções
para Lilith, mais do que provavelmente Takara, também.

—Você e você. — Apontei para Knox e sua mãe. —Fique cara a


cara no centro da sala.

Ele avançou com toda a cautela de um coelho encurralado,


segurando a mão de sua mãe.

—O que você quer de nós?

—Queremos um show, — respondeu Amo.


—Um confronto, — reiterei.

Knox olhou para mim, sua mandíbula cerrada. Ele deve ter se


sentido excepcionalmente impotente agora.

Eu não pude relacionar.

Ele se virou para sua mãe, ainda segurando sua mão


trêmula. Isso era fofo. Mas era muito cedo para ter tanto medo, nós
nem tínhamos começado ainda.

—Tudo o que você fez com ela, você vai fazer com sua mãe.

Eu fui até Lilith e me sentei contra a parede.

—O que você acabou de dizer? — Jacob gaguejou, se


endireitando em toda sua estatura.

—Não estava claro o suficiente? Tudo o que ele fez com a minha


garota, agora ele vai fazer com a sua mãe.

—Não vou machucar mamãe, — protestou Knox.

—Amo.

Ouvindo isso, ele imediatamente perdeu sua expressão entediada


e se animou.

—Finalmente.

Ele andou para nossos jogadores e se aproximou de Jacob e


Tyson. Ele ergueu a espingarda e verificou a munição, um sorriso
largo se espalhando por seu rosto.
—Que bela vista. Calibre grosso .00 — Ele checou o cartucho na
posição de tiro, segurando pela a coronha. —Quem vai ser? — Ele
perguntou.

Eu olhei para Knox com uma sobrancelha ligeiramente


levantada. —Tem certeza que não quer reconsiderar?

—Tenho certeza, — afirmou.

Jacob olhou para trás da cabeça de seu irmão. —Que diabos


você pensa que está...

—Bem, você então? — Amo girou o cano e puxou o gatilho.

Foi o choque que atrasou a resposta de Jacob. Isso e o fato de


que ele não parecia perceber o que tinha acontecido até que o osso
que se projetava se partiu com o peso de seu corpo. Ele caiu na
madeira praguejando e gritando, agarrando o que restava de seu
membro decepado.

Carne e chumbo misturados com a gordura esponjosa


pendurada precariamente na ferida aberta, me lembrando de carne
desfiada.

Eu podia ver visivelmente a carnificina feita no tecido. A


protuberância mutilada parecia jorrar sangue em sincronia com
seus gritos frenéticos.

—Que porra é essa? — Seu irmão imediatamente se ajoelhou ao


lado dele, tirando sua camisa para usar como um torniquete. O
resultado foi ele puxando descuidadamente mais carne para
prendê-la.

Os lamentos de Jacob continuaram enchendo a sala. Eu poderia


ter ouvido seus gritos agonizantes a noite toda, mas ele não era a
atração principal, apenas colateral.

—Cale a boca dele, — eu disse a Amo.

Sem uma palavra, ele bateu a coronha da arma na lateral da


cabeça de Jacob, ignorando Tyson implorando para ele parar. Ele o
acertou uma, duas vezes, a terceira vez sendo o charme e deixando
apenas um pequeno ferimento.

A mãe chorou e começou a correr em sua direção. Eu empurrei a


parede e agarrei ela pelo coque em sua cabeça. Ela gritou quando
eu a girei num círculo completo para o peito de Knox. Ele a pegou
nos braços e rosnou para mim como um cachorro, um maricas
grande demais para dar um passo à frente e fazer qualquer outra
coisa.

—Quem diabos é você?

—Se você ainda não descobriu, se lembre de mim como seu


maior arrependimento.

Eu olhei entre ele e sua mãe, completamente impressionado.

Minha mãe nunca teria tolerado essa merda. Então, novamente,


essa comparação não era tão justa. Meu pai, Grimm, nunca iria
deixar ela acabar neste tipo de situação novamente.
—Eu sugiro que você comece, ou a próxima bala pode estar na
cabeça dele.

Knox murmurou um pedido de desculpas engasgado e começou


a tirar o vestido da mãe. Eu não vi qual era o grande problema. Não
havia nada de impressionante em seu corpo. Seus seios eram
brancos como pó, em forma de pepino.

Assim que o vestido dela estava no chão, Knox finalmente me


surpreendeu. Ele ergueu o braço e atacou. Seu punho atingiu o
rosto de sua mãe com um baque retumbante, derrubando seus
óculos. Ela caiu no chão, soluçando tão intensamente que
engasgou com a própria respiração.

—Sinto muito, mãe. — Knox se agachou e a ajudou a se


levantar.

Ele a embalou contra o peito, soando como se estivesse prestes a


chorar também.

—Você está satisfeito? — Ele ferveu, olhando para mim com ódio
puro.

Eu amei.

—Dou ao golpe uma nota de cinco em dez. Seu soco precisa de


algum trabalho. E você esqueceu o beijo. Tudo bem, no
entanto. Ver ela caída no chão assim me deu uma ideia ainda
melhor. Eu acho que ela deveria dar tudo de si e chupar seu pau. O
que é que vocês acham?
—Oh, eu certamente acho que seria um espetáculo para ver, —
Amo concordou.

—Lil? — Eu me virei para olhar para ela.

Ela nem hesitou. —Isso é o mínimo que ela poderia fazer, já que


eles machucaram Hannah.

—O que há de errado com você? — Tyson gritou, ainda lutando


para impedir que Jacob sangrasse.

—O que há de errado comigo? — Eu apontei para mim


mesmo. —Estou fazendo isso pelo seu irmão. Acabei de salvar ele
de um caso de bolas azuis.

—Farei qualquer coisa, menos isso, — Knox murmurou.

—Oh sério? Que tal você ficar de joelhos e chupar meu pau,


então?

—Isso a poupará? — Knox perguntou.

—Este é realmente um novo nível de entretenimento, — Afirmou


Amo, rindo muito.

Knox o ignorou e começou a implorar. —Por favor. Eu farei


qualquer coisa. Você quer suprimentos? Um suprimento de
pessoas?

—Pare, — eu exigi friamente. —Eu detesto sua espécie


mais. Você é patético. Você é fraco. Você não merece ficar na
mesma sala ou respirar o mesmo ar que eu. — Alguém deveria ter
matado esta merda há muito tempo. Avancei e agarrei a nuca de
sua mãe, forçando ela a ficar de joelhos. — É melhor largar a calça
jeans, Knox. A vida de sua família depende disso.

Da minha periferia, vi Lilith se mover um pouco mais perto de


Jin, seus olhos fixos em Knox e sua mãe.

—Você tem três segundos.

—Por... — a mulher mais velha tentou implorar.

—Dois, — eu interrompi.

Amo engatilhou a arma e a mulher rapidamente assumiu a


posição correta. Com as mãos trêmulas, ela desabotoou a calça
jeans do filho, o rosto manchado de lágrimas. Ela murmurou um
pedido de desculpas, alcançando seu pau mole.

Eu não entendia completamente a necessidade de teatro. Essas


pessoas mantiveram suas relações na família. Mamãe estava fora
dos limites? Se fosse esse o caso, ela não hesitou tanto quanto
pensei que faria.

Ela fechou a boca em torno do pedaço triste de carne, segurando


com força com uma das mãos. Não era tão grande, mas aos poucos
ele estava ficando duro. Knox fechou os olhos e cerrou os punhos,
com o corpo todo tenso. Assisti por cerca de cinco minutos antes de
ficar entediado. Onde estava o vigor?

—Mais rápido, — ordenei.

Ela deixou escapar um soluço ofegante, obediente.


—E pare de agir como se não tivesse chupado um pau
antes. Pegue tudo.

Demorou alguns segundos, mas ela obedeceu. O excesso de


saliva escorria de seus lábios, gradualmente cobrindo as bolas de
seu filho cada vez que batiam em seu queixo. O pau de Knox estava
duro agora, e uma linha de suor se formou em sua testa.

Ele estava tentando não gozar? Eu acho que isso não importa. O
fato de ele gozar não era uma recompensa que eu queria
conceder. Sua mãe engolir seus netos teria sido um bom bônus por
sua humilhação, no entanto.

Eu me virei para olhar para Lilith. —Você está pronta?

Ela assentiu, estranhamente silenciosa. Tenho certeza de que


havia um milhão de tramas passando por sua linda cabecinha. Eu
iria acorrentar ela à porra do meu lado antes que ela tivesse a
chance de fugir novamente.

Eu olhei para Amo e rolei meus ombros. —Vamos terminar isso.


CAPÍTULO DEZESSETE

Ele tentou correr.

Quando percebeu que Mal não tinha intenção de deixar eles


saírem com vida, Tyson deu um pulo e saiu correndo, deixando um
irmão desmaiado no chão e o outro com o pau na boca da mãe.

Amo girou a arma e puxou o gatilho. A bala encontrou um lar


na bochecha esquerda inferior da bunda de Tyson. Ele foi em
espiral para a frente, colidindo com a parede. Fui atingida por uma
onda de déjà vu, que me lembrei da cena em Phobos.

A arma disparando fez Tammy saltar para longe de Knox,


soltando um grito que me encolheu. Ela saltou e correu para o lado
de Tyson. Amo tentou atirar nela também, obtendo um ruído de
clique em resposta.

—Droga, estou sem balas. — Ele girou a arma e acertou a


coronha na nuca da mulher.
—Pare! — Knox tentou ir ajudar sua mãe sem se preocupar
em se vestir.

Ele correu direto para a ceifadora de Mal. A expressão em seu


rosto não tinha preço. Ele olhou para baixo, onde o cabo de cor
metálica estava saindo de seu umbigo, como se ele não pudesse
acreditar no que tinha acabado de acontecer.

—Você não achou que sairia dessa situação ileso, não é?


— Mal puxou a faca e deu um empurrão forte.

Knox recuou. Ele se encontrou com a mesa da sala de jantar e


caiu sobre ela, caindo em cima de um vidro quebrado e grãos
picantes.

—Pegue aquela vadia velha e vamos, — ele dirigiu a Amo.

Ele olhou para mim e estendeu a mão.

—E quanto a Hannah?

—Que ela se foda.

Eu dei um passo para trás e olhei para ele. —Não. Ela ainda


está viva!

Algo brilhou em seus olhos que enviou um arrepio pela minha


espinha. Ele não estava mostrando por fora, mas eu sabia por
dentro que ele provavelmente queria me matar aqui e agora.

—Eu te encontro na frente, — afirmou Amo, carregando


Tammy para fora da sala, embalada em um braço como uma bola
de futebol.
Sem outra palavra falada para mim, Samael caminhou até
Hannah e se agachou.

Me olhando bem nos olhos, ele agarrou a cabeça dela e a


ergueu, mantendo uma bota do lado dela.

Ele torceu com tanta força que seus músculos flexionaram


visivelmente.

Houve um leve estalo, o estalo de seu pescoço.

—Ocorreu um milagre. Ela não está mais viva, — ele meditou,


deixando cair seu corpo agora sem vida.

Eu só conseguia olhar para ele. Por que ele me olhou


assim? Ele claramente entendeu mal o que eu quis dizer. Eu a
queria morta também. Ela não seria boa para nós viva, e deixar ela
aqui assim teria sido muito cruel. 

Ele propositalmente pisou nela enquanto fazia o seu caminho


de volta para mim, agarrando minha mão.

—Estamos indo agora.

—Jacob e Knox também estão vivos, — consegui dizer


enquanto cruzávamos o foyer. Eu ouvi os dois gemendo e
respirando pesadamente quando saímos da sala.

—Isso é porque ainda não terminei.

O que ele quis dizer com isso?


Eu o segui, deixando ele me levar para fora de casa. O
prosélito que viera com ele silenciosamente nos seguiu.

Lá fora, as luzes de dois Brabus e do celeiro iluminavam


parcialmente nosso ambiente escuro. Alguns corpos de pessoas que
não reconheci estavam espalhados na garagem.

Takara, Poet e Cherry estavam todos ao lado de um dos SUVs


em forma de caixa. Eles pareciam estar bem, observando o que
estava acontecendo com a mãe.

Uma grande caixa de ferramentas estava entre Brody e outro


prosélito. Eles criaram uma insígnia na porta do celeiro, marcando
este lugar como Lazarus. A insígnia era muito parecida com os
Savages, a ponto de algumas pessoas ficarem confusas. Acho que
Mal fez isso de propósito. Era o oposto de como Travis descreveu em
Phobos, nem um pouco escondido.

Amo se aproximou de Brody com Tammy ainda em sua


posse. Os dois e o prosélito trabalharam rapidamente para prender
ela no centro da insígnia, começando pelos pulsos.

O prosélito a segurou enquanto Brody prendia seu braço para


que Amo pudesse inserir o que parecia ser um grande pedaço de
metal em seu pulso.

O ar se encheu com o eco de marteladas e seus lamentos


dolorosos. Eu me perguntei se eles fariam com seus pés
também. Já seria agonizante o suficiente ser deixada pendurado
pelos pulsos. Todo o peso de seu corpo estaria apoiado nesses dois
parafusos.

A gravidade logo estressaria todos os seus músculos,


articulações e ligamentos. Eles estariam sobrecarregados. Seus
braços certamente sairiam de suas órbitas neste momento.

Takara finalmente me notou, lançando um olhar para


Samael. Eu queria ir até eles, mas, como se ele pudesse ler minha
mente, o aperto de Samael aumentou a ponto de eu ter que abafar
um grito de protesto. Ele me levou a um dos Brabus e abriu a porta
do passageiro.

—Entre.

Eu não tinha energia para lutar com ele, nem me atrevi a


testar seu humor agora. Entrei no carro sem qualquer resistência e
me acomodei no assento de couro. Mal fechou a porta sem me dar
uma segunda olhada e então desapareceu de volta para dentro da
casa da fazenda.

Eu não queria adormecer.


Quando acordei, havia sido coberta com um tecido suave e
não estávamos mais no terreno da fazenda.

Me reajustando, sentei rigidamente e olhei ao redor,


analisando ao meu redor.

Olhei no banco de trás, vendo apenas os dois prosélitos. Eu só


podia presumir que Takara e Poet estavam no SUV nos
seguindo. Eu olhei para frente novamente, vendo Samael na minha
visão periférica. Ele manteve sua atenção na estrada à frente.

Havia muito a dizer, mas não consegui falar. Por onde você


começa quando sabia que sua ignorância tinha estragado tudo
epicamente? Um pedido de desculpas pareceria zombaria.

Por muito tempo, eu fiz tudo que podia para tentar afastá-
lo. Tudo tinha sido em vão, mas isso não importava muito quando o
dano irreparável já estava feito. Nessa situação, era melhor não
dizer nada? Olhei para o meu colo, desejando poder voltar ao
momento exato em que terminamos nesta colisão intensa.

—Você não tem nada a dizer?

Seu tom não revelou nada, e ele ainda não olhou para mim.

—Me desculpe por ter te decepcionado. Sinto muito... — Eu


não consegui terminar a frase. Eu tinha muito pelo que me
desculpar.

Não era apenas a ele que eu devia um pedido de


desculpas. Meus arrependimentos eram vastos e abundantes,
assim como minha raiva, mas não pelos motivos que se possa
pensar. Lamento ter magoado aqueles que mais se importavam
comigo. Fiquei zangada com as traições e o sofrimento sofrido em
ambos os lados da linha metafórica. Chorei por todos os corações
que parti.

Deles.

Dele.

Meu.

—Nada está certo.

Eu inclinei minha cabeça contra a janela, sem me preocupar


em perguntar para onde estávamos indo. Das dores e hematomas
no meu corpo aos na minha alma, tudo doeu. Não havia ninguém
para culpar por isso além de mim. Não sei por que criei o hábito de
foder minha vida.

Eu tinha me tornado uma bola de demolição com pernas,


sozinha, causando estragos em qualquer um que se aproximasse
demais de mim.

Samael estava longe de ser perfeito, mas ele não merecia isso.

Eu não valia a pena.


PARTE DOIS

Então este é um caminho de glória


Ou um beco sem saída para uma história triste e solitária .
Sadistik
CAPiTULO DEZOITO

Minha curiosidade me deu algo diferente do silêncio sufocante


para me concentrar. Nós estávamos dirigindo por duas horas
inteiras comigo, ainda sem ter nenhuma ideia de onde estávamos
ou para onde estávamos indo. Não poderia ser o local de
hospedagem. Já teríamos chegado lá.

As árvores começaram a se formar em ambos os lados da


estrada. Samael diminuiu a velocidade e virou à direita, dirigindo
por um caminho de terra que eu não havia notado.

Eu me perguntei como ele sabia que essa estrada existia, mas


não ousei perguntar. O terreno passou de liso a acidentado. Tudo o
que vi foi uma floresta. Samael dirigiu mais fundo nela, levando o
Brabus cautelosamente em uma curva fechada. Comecei a ficar um
pouco nervosa.

—O que você está fazendo aqui?


—Este não é um bom lugar para esconder alguns corpos?

Cruzei os braços e fiz questão de olhar pela janela. Ele


contornou outra curva e então o terreno se inclinou ligeiramente
para baixo. Houve um barulho de tilintar na traseira do SUV e uma
resistência repentina perceptível, como se algo tivesse sido pego.

Me inclinei para a frente e olhei para o espelho lateral, incapaz


de ver nada devido ao quão escuro estava. O tilintar se transformou
no som de algo sendo arrastado.

—Você não ouviu isso?

—É Knox.

—Knox...?

Eu parei, momentaneamente esquecendo tudo sobre


ele. Samael deu outra volta e agora estava indo direto para uma
estrutura enorme onde uma pequena multidão de pessoas
permanecia do lado de fora.

Havia luzes penduradas desde o edifício principal, que parecia


muito com um velho celeiro, até aquele um pouco atrás dele. A
grande insígnia pintada em cada edifício denunciava que este lugar
já existia há algum tempo.

Todos se viraram para assistir à procissão de dois veículos que


passava. Samael desviou para a esquerda e praticamente
estacionou o Brabus em uma vaga de estacionamento. O segundo
seguiu seu exemplo. Ele desligou a ignição e saiu, dando a volta
para abrir minha porta para mim.

Não foi feito por um senso de cavalheirismo.

Eu soltei meu cinto de segurança antes que ele chegasse ao


meu lado do carro.

Ele me agarrou não muito gentilmente, não me soltando


mesmo depois que meus pés estivessem no chão sólido. Eu levei
alguns segundos que ele me deu para olhar ao redor, percebendo
que algumas das pessoas do lado de fora estavam vestindo as
túnicas de prosélito quase pretas e o resto estava vestindo roupas
normais.

—Vamos.

Samael segurou meu cotovelo e começou a caminhar em


direção ao maior dos dois edifícios. Ouvindo o outro conjunto de
portas do carro bater, olhei para trás a tempo de ver Takara, Poet e
Cherry sendo conduzidos para fora do SUV por Amo, entre todas as
pessoas.

Eu também dei uma olhada no que estava pendurado na parte


de trás não apenas do carro de Samael, mas de Amo
também. Quando ele disse que era Knox alguns minutos atrás, ele
estava sendo literal. Bem, pelo menos, foi o que restou de Knox.

Do engate do Brabus, uma corrente grossa se estendeu e


envolveu as pernas de Knox, unindo elas.
Sua cabeça havia sido decepada desleixadamente junto com
seu braço direito. O que restou foram três membros mutilados e um
torso esfolado e ensanguentado. O segundo veículo tinha apenas
uma perna sobrando do Roboy preso a ele.

Eu cochilei quando Samael voltou para dentro da casa da


fazenda e perdi ele arrastando Knox para fora. Devo ter ficado mais
exausta do que pensei inicialmente para ter dormido durante todo
aquele espetáculo. Eu achei isso perturbador. Não o que ele fez, eu
dormindo enquanto acontecia.

Enquanto nos dirigíamos para o que eu podia ver agora ser


uma espécie de casa, as pessoas que estavam por perto foram todas
rápidas em sair do caminho. Peguei algumas insígnias, mas não
eram todas iguais.

—Bem-vindo de volta, nosso soberano, — uma mulher


cumprimentou quando passamos por ela.

Soberano?

Samael não respondeu, mas eu sabia que ele tinha ouvido.

Entramos no prédio por uma porta lateral, entrando em uma


planta baixa de conceito aberto. O teto era alto, feito de grossas
vigas de madeira da mesma cor do chão. Tudo parecia estar um
passo acima dos chalés. Das aparências externas, eu não esperava
isso.
Três pessoas estavam lá dentro, e duas delas usavam
máscaras na cabeça, enquanto a outra usava apenas um
manto. Era exatamente como no acampamento.

Samael me levou escada acima e por um corredor, abrindo a


penúltima porta à direita. Assim que cruzei a soleira, minha
confusão aumentou dez vezes. Ele usou sua bota para nos trancar
lá dentro, e eu observei o espaço.

Havia uma grande cama contra a parede principal, feita de


linho azul escuro e preto. Duas mesinhas de cabeceira que
combinavam com uma cômoda à direita ficavam de cada lado
dela. Mas a mobília não era a principal fonte de minha
confusão. Na verdade, era trivial.

Fiquei perplexa com tudo o mais que estava vendo. Este


quarto era claramente dele. O cheiro dele permaneceu, e alguns
itens diversos que eu sabia que pertenciam a ele chamaram minha
atenção.

—Você precisa tomar um banho.

Não havia nenhuma maneira no inferno que isso fosse tudo


que ele tinha a dizer. 

Bem, ele não estava errado, mas seriamente não iria explicar
nada disso? Eu estava evitando questionar ele porque sentia que
não tinha o direito de fazer isso, dado o que tinha feito, mas isso era
demais. Eu puxei meu braço e dei um passo para longe dele.

—O que está acontecendo? O que é este lugar?


O olhar que recebi foi quase o suficiente para me fazer
abandonar qualquer linha de questionamento.

—Essa é a última coisa com a qual você precisa se preocupar,


— ele respondeu calmamente.

Sua total falta de emoção ameaçou abrir a tampa de nossa


caixa de Pandora.

—Por que? Porque é mais um dos seus segredos?

Ele ignorou completamente a minha pergunta e se virou para


sair, acrescentando insulto à injúria. —Eu sei que sua inteligência
está faltando hoje em dia, mas você deve ser capaz de descobrir
onde fica o banheiro.

Esse idiota!

Ele quase não reagiu a nada disso. Minhas emoções estavam


em todo lugar, e ele parecia estar tão calmo e controlado como
sempre. Sua indiferença cortou como uma lâmina. Eu estraguei
tudo, entendi. Mas seriamente? Percebi que estar ao lado dele era
onde eu queria estar, mas isso não significava que ficaria sentada
de braços cruzados e continuaria sendo ingênua com o que
acontecia ao meu redor.

Este esconderijo era apenas uma das muitas outras coisas que
ele manteve em segredo. Desde o momento em que tudo começou,
ele me manteve isolada e ignorante. Não entendi. Por que ele criou
essa divisão entre nós? Ou sempre foi assim e eu nunca tinha
notado?
—Você tem toda uma outra vida que você mantém
escondida. Por que você nunca me deixa entrar? Por que você ainda
me mantém por perto?

—Pare.

—Não. Responda à pergunta. Por tudo isso, você poderia ter


me deixado ir. Você não precisava se precipitar e ser um
herói. Então, por que você fez isso?

Seu sorriso era cruel. —Você acha que eu te salvei, Lils? Eu


não fiz. Eu não sou um herói. Vim buscar algo que me pertence.

—Mentiras, — eu respondi bruscamente.

Ele riu balançando a cabeça lentamente. —Qual parte?

—Eu pertencendo a você. Eu não pertenço a ninguém.

—Isso é muito hipócrita da sua parte. Você já foi humilhada o


suficiente por uma noite, não acha? Você nem mesmo conseguiu
fazer as vinte e quatro horas completas por conta própria. Eu
preciso provar isso também?

—Eu não preciso que você faça nada além de me deixar em


paz. Da próxima vez que eu me afastar de você, vou ter certeza de
que continuará assim.

Ele apareceu na minha frente tão rapidamente que nem o vi se


mover.
—Você nunca soube quando parar. Eu cuidei demais de
você. Eu não queria fazer isso agora. — Com a mão em volta da
minha garganta, ele quase me levantou do chão.

Usando seu corpo, ele me forçou a andar para trás enquanto


eu me equilibrava na ponta dos pés. O colchão tocou a parte de trás
das minhas pernas e ele me empurrou para baixo. Antes que eu
pudesse tentar me levantar, ele prendeu meus pulsos acima da
minha cabeça com uma das mãos e usou o joelho para abrir
minhas pernas.

—Você fez exatamente o que eu esperava que não fizesse. Você


sabe o que eu quero fazer com você agora por causa disso? Você
não parece dar valor à sua vida, Lils.

Era estranho, como ele podia soar sinistro enquanto falava


como normalmente fazia. Eu não estava acostumada com sua ira
sendo direcionada a mim. Eu o irritei e chateei antes, claro. Mas eu
nunca voltei atrás na promessa que fiz a ele.

—O que quer que você vá fazer, faça ou saí de cima de mim.

O olhar que recebi faria um homem adulto murchar por baixo


dele. Tudo o que isso fez por mim foi fazer meu coração disparar
mais rápido. Talvez eu devesse ter ficado apavorada, porque ele era
apavorante, mas nunca me senti mais segura com alguém do que
com ele.
—Lembre-se, você queria isso. — Ele levantou o vestido que eu
estava usando e agarrou minha calcinha, rasgando ela enquanto a
tirava de mim.

Essa ação por si só fez meu núcleo apertar e minha boceta


ficar mais molhada. Eu estava incitando ele de propósito,
pressionando ele a fazer algo, qualquer coisa além de não
reagir. Acho que ele sabia disso.

Era uma loucura, mas eu sabia que se eu estivesse com ele,


ele não me machucaria, não importa o quanto ele quisesse. Ele
tirou meu vestido e me virou de bruços. Na minha visão periférica,
vi sua camisa cair no chão. O som de seu zíper descendo veio em
seguida.

Meu coração se alojou na minha garganta. Arrepios de


antecipação e um tipo de medo erótico dançaram pela minha
espinha, persistindo no meu peito. O lado caótico e violento dele, eu
adorei.

Ele agarrou minha bunda e massageou a carne, beijando seu


caminho até minhas costas. Estremeci quando ele atingiu meu
pescoço. Ele deixou mordidas de amor enquanto criava um
caminho para meu ouvido. Seu peito pressionou contra minha
espinha.

Senti seu pau, o quão duro ele estava, o piercing provocando


os lábios da minha boceta.
Ele beijou minha bochecha e colocou uma mão em volta da
minha garganta, batendo dentro de mim sem aviso.

Um som gutural saiu da minha boca. Eu agarrei o lençol,


tentando respirar através da dor inicial de sua intrusão. Ele se
acomodou até as bolas, puxando para fora e empurrando
novamente.

Ele me fodeu como uma besta primitiva. Eu tremi em torno de


seu pau, sentindo a excitação gotejar em suas bolas. O aperto na
minha garganta ficou mais e mais forte até que a água escorreu do
canto dos meus olhos e meus pulmões começaram a protestar.

Ele continuou a suprimir minhas vias respiratórias e me foder


por trás. Sua boca veio ao meu ouvido e sua voz hipnótica falou
baixinho, apesar dos meus gemidos repetitivos.

—Você sabe o que você é para mim, Lilith? Você é uma


obsessão. Um vício. Você é um dos meus maiores feitos.

Fechei os olhos, tentando me concentrar no que ele estava


dizendo, sentindo a pressão crescendo em meu núcleo.

—Você me olhou com estrelas em seus olhos, então decidi


usar você e torná-la minha. — Ele amarrou a mão no meu cabelo e
cerrou os punhos, puxando minha cabeça para trás até que eu
quase não consegui engolir enquanto segurava minha garganta. —
Você é minha, não é?

De joelhos, com as costas encostadas em seu peito, as unhas


cravadas no braço que segurava minha garganta, eu não conseguia
falar. Esta posição me forçou a tomar tudo dele sem
prorrogação. Ele estava me fodendo como um demônio. Nada
inteligível saiu da minha boca, apenas gemidos irrestritos.

—Me responda. — Ele soltou meu cabelo e deslizou a mão pelo


meu umbigo, indo direto para o meu clitóris.

Ele brincou com o botão, aumentando a pressão até que eu


estava bem na borda antes de aliviar. Isso estava me deixando
louca. Minha cabeça estava leve. Meu corpo, dolorido de antes, de
repente parecia que iria se despedaçar a qualquer momento.

O suor escorrendo de nossa carne aumentava a fricção cada


vez que nos encontrávamos.

—Maly, — eu disse asperamente, lutando para puxar mais ar


para meus pulmões.

Abruptamente, ele se retirou.

—Você não gozará até que diga a verdade. Não vou parar até
conseguir o que quero. Posso ficar na sua boceta a noite toda,
Lilith. Eu não me importo se eu tiver que te foder cru.

Ele deixou minha garganta ir longa o suficiente para me virar


de costas e jogar minhas pernas sobre seus ombros, prendendo no
lugar para que eu não pudesse correr de seu pau enquanto ele
batia em mim novamente. A cama rangeu embaixo de nós, se
movendo gradualmente de sua posição contra a parede.
A pressão doeu. Ele era tão grande que eu não poderia pegar
ele facilmente, independentemente da posição, mas ele não estava
me dando uma opção. A dor e o prazer estavam se misturando tão
rapidamente que eu estava prestes a gozar e soluçar.

Eu me concentrei no que precisava dizer e não no homem


prestes a me dividir ao meio com seu pau.

—Sua. — Era tudo que eu lembrava de ser capaz de


transmitir.

Algo como lava impregnou meu corpo, da cabeça às pontas


dos pés enquanto eles se enrolavam no colchão. Sua boca cobriu a
minha em um beijo contundente um segundo antes de minha
mente ficar em branco, tudo ficando preto.

Quando a realidade entrou em foco novamente, as mãos de


Samael estavam emaranhadas no meu cabelo e ele ainda estava
dentro de mim, seu pau sendo espremido pela minha boceta
enquanto gozava.

Eu agarrei seu rosto e o puxei para minha boca


novamente. Ele me beijou de volta, sua língua se enredando na
minha.

Seus cachos de obsidiana tinham uma leve ondulação de suor,


mas eu não me importei. Corri meus dedos por seu cabelo, os fios
sedosos deslizando entre eles.

Ele saiu depois de alguns minutos, o movimento me fazendo


estremecer.
—Você está bem?

—Não, — eu resmunguei, caindo desgraçadamente sobre meu


estômago.

—Bom. — Ele varreu meu cabelo bagunçado sobre um ombro


e deu um beijo na minha omoplata. —Você está linda assim,
machucada e recém-fodida.

—Humph.

—Você vai ficar comigo de agora em diante.

Não foi uma pergunta. Ele e eu estávamos uma bagunça, mas


eu sabi que não iria fugir dele uma segunda vez.

Eu o amava muito. Eu precisava muito dele. Eu teria que


descobrir como ver minha família com o conhecimento dele desta
vez.

—Se você quebrar sua promessa novamente, farei o que for


preciso para ter certeza de que você estará comigo para sempre,
mesmo que isso signifique te manter em pedaços. — Ele beijou o
topo da minha cabeça. —Eu te amo, Lils.

A cama afundou e mudou quando ele se levantou. Deitei


exatamente como estava, sem estar pronta para me levantar. 

Suas últimas palavras antes de sair foram algo sobre um


banho, mas eu estava muito ocupada processando tudo o que ele
disse para responder.
CAPiTULO DEZENOVE

Manter a compostura foi uma das batalhas mentais mais difíceis


que tive que enfrentar. Eu só fazia isso quando se tratava de
questões relacionadas à minha garota. Havia inúmeras coisas que
eu queria fazer com ela, mas não podia. Eu não poderia machucar
Lilith mais do que já fiz.

Se ela me deixasse de novo, eu cumpriria as palavras que acabei


de dizer, mas estava confiante de que ela não faria isso, nem queria.
Agora que eu sabia a origem de seus problemas, poderia tentar
resolvê-los.

Do meu jeito, é claro. Seria um grande pé no saco, mas eu tinha


que fazer isso. Estávamos destinados a repetir o que não
consertamos. O fato de eu ter esquecido que ela estava sofrendo
também queimou meu maldito coração. Eu deveria saber. Foi um
descuido incomum da minha parte. Desde que éramos crianças,
Lilith tinha um complexo de inferioridade fodido.
Desci as escadas, observando onde todos estavam. O nível
principal era uma sala grande, o que tornava isso fácil de
fazer. Esta foi uma das minhas primeiras fortalezas. Eu descobri
isso graças a uma dica do meu benfeitor silencioso. Apenas alguns
de meus prosélitos o ocuparam. Os outros estavam espalhados em
outro lugar.

Nossa insígnia principal, uma cabeça de cabra com chifres de


veado no centro do grande selo de Baphomet, foi pintada como um
mural ocupando toda a parede posterior.

O segundo, a cabeça de um veado solitário, estava em


outro. Eram essencialmente duas facções em uma.

O Lazarus era meu.

Os Stags eram de Amo.

Assumimos responsabilidade e controle iguais de ambos. Não era


diferente de fazer uma aliança, além do fato de que fizemos tudo
juntos, criando uma espécie de exército gigantesco. Nossos Stags
foram nossos corredores da frente, enquanto mantivemos os
movimentos de Lazarus silenciosos. Os dois eram noite e dia. Os
recrutas de Lazarus tendiam a ser o pior tipo de merda maluca,
enquanto um Stag só precisava saber como matar quando
necessário, então funcionou bem.

Agora que isso estava se tornando de conhecimento comum,


assim como Amo e eu revelamos nossas verdadeiras identidades, as
coisas iam ficar muito mais interessantes.
Brody e Poet estavam jogando cartas, ambos dando atenção total
às mãos que tinham.

Eu não iria interromper eles.

Aurora e Cherry estavam no balcão do café da manhã.

Eu não tinha decidido o que fazer com essa garota ainda. Ela


parecia ser uma retardada que ia de um lugar para outro apenas
para que ela não tivesse que ficar sozinha. Isso soou como um
problema pessoal para mim.

No meu caminho para fora da porta, chamei a atenção de


Amo. Ele estava envolvido em um jogo de dardos com Takara, seus
dardos eram facas de arremesso e seu alvo, algum porra aleatório,
amordaçado e pendurado na parede. Isso também não era problema
meu. As pessoas tinham que se divertir de alguma forma. Se não
fosse um dos nossos, quem se importaria?

Lá fora, lancei um olhar para Jin. Ele estava no prédio de trás,


preparando o primeiro Brabus para amanhã.

O que eu precisava ainda estava onde eu o havia estacionado,


embora os restos de Knox já tivesse sido levado embora. Abri a
parte traseira e tirei a mochila que tinha o que eu precisava.

Ouvindo alguém se aproximando, olhei e vi Amo e Rory. Se o


problema duplo era uma pessoa, eram esses dois.

—Quando você chegou aqui?

—Talvez meia hora atrás. Tudo pronto para o movimento.


—Bom.

—Como ela está? — Rory perguntou.

—E você? — Eu retruquei.

Seus olhos cinzentos se estreitaram. —Ainda estou respirando,


não estou?

Eu ri suavemente. Ela não suportava ninguém demonstrando


preocupação com seu bem-estar, mas ela foi rápida em mostrar
preocupação com nossa facção e seus irmãos, Butcher excluído. Ela
garantiu que mantivéssemos o controle sobre Cam, que estava
superando seu pai e irmão gêmeo em termos de brutalidade.

Quanto a ela e Lilith, uma estava cautelosa e a outra não sabia


como preencher a lacuna entre elas. Esse era um dos raros
parentescos que eu esperava que resolvesse bem.

Para o bem de ambas.

Rory tinha passado por seu quinhão de merda. Ela merecia uma


chance de mostrar que estava genuinamente interessada em tê-los
em sua vida. Ela era um bebê de favela. Ela correu com alguns
garotos do Venom antes que eles se separassem e seguissem seus
próprios caminhos.

Badlands não tinha grandes estatísticas para solitários. As


mulheres tiveram uma taxa de sobrevivência ainda menor. Aurora
era uma raridade por fazer isso sozinha. Não era surpresa que meu
tio tivesse um grande interesse por ela.
—Dolorida. Cansada, —eu finalmente respondi.

—Nem todas as informações são boas informações, querido.

—Foi você quem perguntou, — respondeu Amo. —Você me deve,


por falar nisso.

Eu bati a extremidade traseira do Brabus e me virei para eles. —


Por?

—Eu mantive aquela vadia mesquinha entretida.

Ele devia estar se referindo a Takara.

—Awnn, não finja que não está olhando para ela há semanas, —
Rory comentou.

—Você está pronto para o grande encontro? — Ele me


perguntou, mudando de assunto.

—É o que é.

Eu não ia mencionar que tinha notado seu fascínio por Kara


também. Quando ou se ele quisesse falar sobre isso, nós o
faríamos. É assim que trabalhamos, respeitando os limites um do
outro o suficiente para saber quando empurrar um problema e
quando calar a boca.

A menos que ele tivesse uma grande mudança de personalidade,


esse emparelhamento nunca aconteceria, de qualquer
maneira. Amo deixou claro que as únicas pessoas do sexo oposto de
quem ele se importava eram sua irmãzinha, Rory, e Lilith, que
nunca acreditaria nisso.
No que diz respeito a relacionamentos íntimos, ele matou todas
as garotas com quem fodia depois que se cansou delas. Minha
prima Bella foi uma exceção.

—Você já contou a ela? — Rory questionou.

—Nah. — Enrolei a bolsa por cima do ombro e comecei a voltar


para o feudo. —Eu vou amanhã... talvez.

—Tem certeza que você vai ficar bem?

—Eu fui convidado. Se eles me quisessem morto, não teriam


feito tanto esforço.

Não era a resposta que ela estava procurando, mas eu não tinha
vontade de discutir como me sentia ou pensava com ninguém. Se
meu tio quisesse se livrar de mim, ele não manteria em
segredo. Disse a eles que os veria pela manhã e voltei para o quarto
de cima.

Eu ri comigo mesmo quando vi como ela adormeceu,


parcialmente enterrada sob o edredom, uma longa distância da
cabeceira da cama.

Ela odiava as manchas molhadas de foder. Normalmente, ela


usaria meu corpo como seu amortecedor. Larguei a mochila e me
sentei na beira da cama.

Com o cabelo emoldurando parte do rosto, ela parecia em


paz. Sem esforço linda como ela sempre era. Eu queria fazer desse
tipo de paz sua realidade, mas isso levaria muito mais tempo do
que uma noite para ser alcançado.

Quando conheci Lilith, ela não era nada além da melhor amiga
da minha prima. Nunca tive a intenção de me apaixonar por ela.
Começamos amigos também e, antes que eu percebesse, a vi sob
uma luz diferente. Ela era a garota que eu não conseguia parar de
pensar, meu mundo inteiro de merda.

Me disseram que não tinha permissão para ter ela. Eu fui


avisado inúmeras vezes. Aqueles no meu caminho nunca tiveram a
porra da chance de manter ela longe de mim. Ela não conseguia
entender o quanto eu a valorizava. Nunca quis que ela lidasse com
os efeitos colaterais da minha bagagem ou da dor que não pertencia
a ela.

O que ela disse antes era a verdade trágica. Eu estava


machucado. Mentalmente, eu estava perdido. Demônios viviam em
todas as minhas cicatrizes, auto infligidas ou não. Eles moravam
dentro da minha cabeça, nunca me dando um momento de silêncio,
a menos que eu estivesse com minha Lilith.

Ninguém sabia as batalhas que lutei todos os dias. Eu não os


informaria também. Eu era o único que poderia me enfrentar. Fui
eu que escolhi seguir este caminho.

Desde o início, tudo que eu queria era ser algo maior. Era um


sonho prolixo, a fantasia tola de um pária.

Ela se tornou uma parte fundamental do devaneio.


Foi só isso.

Até que não foi.

Me foi oferecida a chance de torná-la realidade e eu a


aproveitei. Eu fiz o trabalho de base. Eu estudei e planejei, ainda
hoje.

Eu me conectei. Eu planejei. Finalmente, eu executei. Então


comecei tudo de novo. Cada objetivo riscado da minha lista me
trouxe cada vez mais perto de onde eu queria estar.

Mas quanto mais perto você estiver do topo, mais forte poderá
cair.

Ele me contou sobre essa parte também.

Ele disse que tudo iria me alcançar eventualmente. Ele disse que


cada respiração que eu fizesse seria cheia de enxofre, e os demônios
dentro de mim tentariam destruir tudo que eu havia
conquistado. Ele não apenas me avisou, ele me permitiu entender
que ele era tão humano quanto o resto de nós quando todos o viam
sob uma luz imortal.

Ele não era destemido, mas era maior do que seus medos. Os
demônios de Romero eram muito mais fortes do que os meus, mas
ele aprendeu como coexistir e domesticá-los.

Eu não estava lá ainda.

Nem perto, porra.

E Lilith...
Lilith, ela não é um anjo.

Ela é exatamente o oposto, mas ela envergonha os anjos. Ela


amava cada versão de quem eu era. Ela merecia todas as partes de
mim que eu não poderia dar. Com certeza, porra, não merecia um
coração partido.

Eu sabia que precisava deixar ela entrar, só não sabia como ou


por onde começar. Fui refém do meu orgulho. Era uma espada de
dois gumes. Uma das minhas maiores inseguranças era que ela
desprezaria o que encontrasse. Eu não tinha como explicar porque
estava tão fodido.

Se eu não me entendia, porra, como poderia esperar que ela


entendesse?

Era uma indicação do que eu havia me tornado.

O inimigo.

Eu era um perigo para mim mesmo.

Para tudo e todos ao meu redor.


CAPITULO VINTE

A única coisa em que consegui pensar era em comida. Esquecer


como meu corpo estava dolorido ou a situação atual, eu precisava
de sustento. Sentei, segurando o cobertor no meu peito nu. A luz do
sol entrava pela janela de bloco de vidro do outro lado do quarto,
então devo ter dormido a noite toda.

Eu puxei meu cabelo para trás para que ficasse fora do meu
rosto e olhei melhor ao redor. Eu esperava que houvesse roupas
aqui em algum lugar. Colocar o vestido horrível de vintage de volta
não era uma opção.

Como se alguém lá embaixo tivesse ouvido meu apelo, a porta se


abriu e Samael entrou, carregando o equivalente a um banquete
gourmet. Eu não poupei um único olhar para seu rosto. Tudo o que
importava estava em suas mãos. Não sei dizer qual foi a última
coisa que comi.

—Em uma escala de um a dez, quão faminta você está?


—Se você não me der aquele prato, eu lutarei com você.

Ele segurou o prato em minha direção com um leve sorriso. Eu


rapidamente o agarrei e deslizei até a cabeceira da cama para que
eu pudesse me apoiar.

—Você fez isso? — Engoli uma colherada do mingau de aveia


primeiro, saboreando o calor e o toque de tempero que havia sido
usado.

—Só para você, minha deusa, — ele brincou. —Isto também.


— Ele jogou uma caixa de suco.

—Obrigada, — eu murmurei em torno de outra colherada. —


Como você sabia que eu estava acordada?

—Eu estava vindo para te acordar. — Ele se sentou ao meu lado,


usando a beira da cama como assento.

Com comida no estômago e bastante sono, minha mente estava


muito mais clara do que nas últimas quarenta e oito horas. Tudo
começou a se repetir em repetição, desde a noite que passei com ele
na cabana até a noite de ontem. Houve muitos desenvolvimentos.

Agora que pensei sobre isso...

—Ei, você não...

Ele me deu toda a atenção e perdi a coragem de terminar a


frase. De repente, eu estava agudamente ciente do homem sentado
ao meu lado. Sua barba estava raspada recentemente. Seu cabelo
escuro era todo bonito e afilado. Ele estava vestindo uma camiseta
azul marinho que abraçava seus bíceps perfeitamente igualmente
com seu jeans escuro, cores que funcionavam para sua pele bronze
e tatuagens sombreadas. Ele era lindo demais para palavras.

Seu olhar era outra conversa.

Quando ele olhou para mim, parecia que ele estava dando uma
volta por cada cômodo privado em minha mente, decifrando
facilmente o que cada um continha. Meu rosto esquentou e fiz
questão de olhar para o meu prato.

—Por que está corando? — Ele perguntou com uma risada.

—É você! Olhe para a parede ali. Sua beleza é demais para mim


agora.

Ele estendeu a mão e beliscou meu queixo, virando meu rosto de


volta para ele. —Você ia trazer à tona como foi bom quando eu gozei
dentro de você.

—O que?

—Eu sinto o mesmo. Acho que vou passar muito mais tempo


entre suas pernas.

Eu balancei minha cabeça de um lado para o outro. —Não era


isso que eu ia dizer.

—Eu iria uma vez por dia. Você quer duas vezes? Você pode lidar
com isso?

—Pare com isso, — eu disse, tentando não rir, —e não faça um


desafio do qual você se arrependerá.
—Vou manter isso em mente no futuro, — afirmou.

Seu tom era casual. Seu olhar era tudo menos isso. Eu poderia
derreter sob ele. Por que parecia que acabei de cair em uma
armadilha?

—Você realmente é demais.

Um leve sorriso brincou nos cantos de sua boca. —Eu perdi isso.

—Eu também, — eu concordei calmamente. Ele sempre foi tão


sério e emocionalmente reservado. Fazer ele ser semi-brincalhão
aqueceu meu coração.

Ele desviou o olhar, parecendo imerso em pensamentos por um


minuto. —Eu não posso te perdoar ainda, — ele afirmou. —Você me
deixando não é algo que eu possa esquecer ou superar, não importa
o quão curto ou longo você tenha ido.

Eu engoli e peguei meu suco, precisando molhar minha


garganta. 

Normalmente eu não poderia me importar menos se ele me visse


nua ou não, mas me senti exposta demais, tendo essa conversa sem
usar nenhuma roupa. Eu acho que não importa muito, no
entanto. Roupas ou não, como nos sentíamos não mudaria. Eu
viveria com esse arrependimento pelo resto da minha vida,
machucando ele tão inutilmente.

—Eu não espero que você faça. Eu sei que te machuquei. Eu


sinto que isso é tudo que eu sempre faço. E eu te amo também. Eu
não consegui dizer isso ontem, então estou te dizendo agora, caso
eu esquecesse.

—É mútuo.

—Huh?

—Eu machuquei você também. Eu sei o que você precisa de


mim, Lils. Eu não posso te dar isso durante a noite também. Talvez
nunca. Não totalmente.

—Mal...

—Se cale e ouça.

Eu fiz uma careta e dei outra mordida no mingau de aveia.

—Você é minha rainha. Eu quero te dar tudo. Vou pintar todo o


mundo de vermelho para te ver feliz. Ainda sou seu melhor
amigo. Eu posso te manter alimentada, manter segura, ter certeza
de que você tem o melhor lugar para deitar sua cabeça, e posso te
foder até que ambos desapareçamos, mas não posso te deixar
entrar agora. Eu não posso dar tanto.

Eu engoli, colocando meu lábio inferior entre os dentes. Isso era


muito para entender. Ele tinha acabado de me chamar de sua
rainha. Eu sabia o que essa reivindicação significava para uma
facção. Esse título não me convinha em absoluto. As rainhas eram
muito mais do que a bagunça que eu era. Inferno, minha irmã era
mais rainha do que eu jamais poderia ser. Eu estava feliz o
suficiente apenas por ser dele e ele ser meu. Ainda assim, esse
humor era terrível.

—Sabe, quando você fala assim, a vida não parece tão ruim, —
eu provoquei suavemente.

Essa melancolia me sufocaria. Eu não acho que ele já expressou


tanto em toda a sua vida. A dor queimou meu coração.

Ninguém nasceu com uma fortaleza ao seu redor. O que foi que o
tornou assim?

Nossas famílias?

Os que decidiram quem e o que ele deveria ser antes de poder


escolher por si mesmo?

Não.

Eu sabia que era parte disso, mas parecia muito mais profundo
do que isso. Fosse o que fosse, eu estava começando a entender ele
melhor. Engraçado como é preciso uma situação de merda para
você ver o forro de prata.

—Ei.

Passei por ele e coloquei meu prato e caixa de suco na mesa de


cabeceira para que eu estivesse livre para correr até ele.

Eu passei meus braços em torno de sua cintura e coloquei


minha bochecha contra suas costas. —Quando você estiver pronto
para me deixar entrar, estarei aqui. Tudo bem? Não precisamos nos
apressar. Eu não estou indo a lugar nenhum.
—Você diz isso com tanta confiança. Eu não tenho você por um
dia ainda.

—Para começar, eu nunca quis ir. Eu apenas senti que não


estávamos fazendo nenhum favor um ao outro por ficarmos juntos.

Outra pausa.

—Você sabe melhor agora, certo?

—Sim.

—Bom. Não se esqueça disso.

Suspirei e o abracei com mais força. Ele e eu éramos uma


combinação perfeita, presos em um labirinto confuso de prazer e
dor. Amor e ódio. Nós dois sabíamos que estar juntos às vezes
doeria, mas sem o outro estávamos destinados a sofrer.

—Eu não estou indo a lugar nenhum. Eu não quero ser cortada
em pedaços, — eu acrescentei despreocupadamente. —Mas e
quanto...?

Maly gentilmente se retirou do meu abraço e se levantou, se


virando para olhar para mim.

—A coisa com Dawn? Isso nunca foi o que você pensou que


fosse. Não tenho tempo para explicar agora, apenas confie em mim.

Eu pisquei para ele. —Como você sabia o que eu ia dizer?


—Porque eu conheço você. Assim como eu sei que você ainda
não pode me perdoar. Eu não mereci. Vamos analisar uma coisa de
cada vez. Vou compensar você enquanto isso.

—…Certo?

Seus olhos viajaram do meu rosto para onde eu segurei o


cobertor no meu peito.

—Tanta coisa para fazer e tudo que eu realmente quero é estar


fodendo você. — Ele passou a mão pelo meu cabelo, segurando
minha nuca para me puxar para cima e receber seu beijo
possessivo.

Eu o queria também. Passamos muito tempo evitando essa parte


do nosso relacionamento. Éramos drogas um para o outro. Um
toque e a intoxicação era instantânea. Até agora sempre parávamos
antes que o vício nos consumisse.

Eu sabia que isso seria uma das coisas que mudaria em breve.
Agora, no entanto, minha boceta estava aliviada por ela estar
recebendo um pequeno alívio.

—Há uma mochila com roupas no chão. Se vista e desça.


Precisamos sair logo. Estamos a cerca de um dia de distância do
complexo dos Savages.

—Certo... espere. O que você acabou de dizer?

Ele sorriu e se afastou, se virando-se para sair do quarto.

—Mal?
Me ignorando, ele entrou no corredor e fechou a porta.

Eu quebrei todos os recordes de quão rápido alguém pode comer


e se vestir. Ele se saiu bem, sem surpresa, escolhendo algo para me
vestir sem roupa íntima. Pareciam ter sido esquecidas. Ele teve
sorte de ter trazido minhas jeggings e nenhuma calça jeans. De jeito
nenhum o jeans estava esfregando na minha boceta.

Quando desci, pude ouvir que todo mundo já estava do lado de


fora. Demorei para me juntar a eles. Eu estava genuinamente
curiosa sobre este lugar, sobre Samael em geral.

Eu sabia que ele estava fazendo seu nome em Badlands, mas


nunca poderia ter imaginado isso. Era o fato de que ele parecia não
ter terminado ainda. Quanto poder ele e Amo tinham?

Observei os contrastantes murais das paredes enquanto saía


pela porta. Ele e eu definitivamente ainda tínhamos muito o que
conversar.

—Uma coisa de cada vez, — disse a mim mesma.

Pisquei para ajustar meus olhos à luz do sol. Foi mais um


daqueles dias em que o calor se infiltrava nos ossos.
Os dois Brabus estavam carregados e voltados para a estrada
que precisaríamos tomar para sair daqui. Nenhum tinha partes do
corpo anexadas agora. Também não vi nenhum sinal de Amo ou
Mal.

—Lils! — Takara me atacou, me envolvendo em um abraço


sufocante antes que eu pudesse retribuir sua saudação.

—Tudo bem, eu também senti sua falta. — Eu ri e dei um


tapinha nas costas dela. Eu estava feliz por ela não ter passado pela
mesma provação que eu na arena.

Ela recuou e me olhou criticamente.

—O quê ele fez pra você? — Ela se inclinou e sussurrou.

Ela estava se referindo ao hematoma em forma de impressão de


mão em volta da minha garganta. Eu não podia fazer nada para me
livrar dele, então eu o usaria até que desaparecesse. Tenho certeza
de que Mal ia adorar isso.

—Use sua imaginação, — respondi.

Um olhar de desgosto simulado transformou suas feições. —


Vocês dois fodem ou tentam matar um ao outro?

—Um pouco dos dois, — respondi levianamente.

—Teve uma boa noite? — Poet perguntou ao se juntar a nós.


Cherry estava alguns passos atrás dele.

Claro, ele entendeu o que era imediatamente. Esses dois


precisavam encontrar seu próprio pau. Bem, para Poet, o pêndulo
pode ir para qualquer lado. Mais importante, eu o examinei de cima
a baixo, me certificando de que ele não estava ferido em lugar
nenhum.

—Ei, eu sou mais forte do que pareço, — ele me assegurou.

—Vamos, — a voz de Mal interrompeu nosso amontoado quando


ele e seus vilões chegaram à cena. —Poet, você vai cavalgar
conosco.

—Você vai cavalgar comigo, barbie, — Amo sorriu enquanto


passava com Brody.

—Oh, eu sou a garota mais sortuda do mundo, — Takara


brincou. —Vamos. Você vem comigo. — Ela agarrou a mão de
Cherry e o seguiu.

Eu olhei para Poet. —Acha que ela ficará bem com ele?

—Eh. Eles estavam muito íntimos na noite passada.

—Mesmo?

—Sim. — Ele passou um braço em volta do meu ombro e me


guiou para o nosso Brabus. —Eu não conseguia acreditar, mas faz
sentido quando você pensa sobre isso.

Ele deve ter descoberto algo que eu não tinha, porque não fazia
sentido para mim nem um pouco.

—Tire suas mãos dela, — Mal exigiu.


—Oh vamos lá. Esse cara é inofensivo, — Rory o repreendeu
antes de subir no banco de trás.

—Certo? — Eu joguei a mão para cima.

Poet ainda me deixou ir indo tão longe quanto dar um passo


para longe.

—Tanto para ser duro, Poe.

—Eu valorizo minha saúde, — ele brincou, circulando ao redor


do outro lado do SUV.

—Viu o que você fez? — Eu me dirigi a Mal.

—Eu não quero homens tocando você. — Ele pegou minha mão e
me acompanhou até o lado do passageiro.

Desde quando Poet era homem? Passando na frente do SUV,


pude ver melhor a pessoa no banco da terceira fila. Não era alguém
que eu reconheci.

—Sobre o assunto dos homens, quem é esse?

—Jin. Ele estava conosco ontem.

Ele estava?

—Oh, o prosélito? Você só está trazendo um?

—Eu nunca levaria meu pessoal para onde estamos indo. Jin é a


melhor escolha para isso.

Ah! Eu quase esqueci por que corri até aqui em primeiro lugar.
Ele abriu minha porta para mim e me ajudou a subir antes de
dar a volta para o lado do motorista.

Outro prosélito se aproximou e falou com ele por alguns


minutos, mas não consegui ouvir o que diziam. Eu brinquei com a
ventilação do ar condicionado e foi quando algo me ocorreu.

Eu me virei e olhei para minha irmã. Ela olhou para mim com


expectativa. Meu Satanás. Eu não conseguia superar o quanto ela
se parecia com nosso pai e Cam.

—Quando você chegou aqui?

—Noite passada.

Ela foi deixada aqui?

—Com quem você veio?

Ela sorriu para mim. —Se não estou fazendo algo por Mal ou
Amo, costumo viajar sozinha.

Fiquei surpresa. Ela sempre fez isso?

Eu realmente não sabia muito sobre Rory, o que era minha


culpa. De qualquer maneira, isso era incrível. Eu a deixei saber
disso.

Ela encolheu os ombros como se não fosse grande coisa. —Sim,


estou pensando em começar uma revolução feminina.

Mal subiu no banco do motorista assim que ela terminou sua


frase.
—Então estaríamos todos fodidos.

—Não mais do que já estamos, — eu atirei de volta. —Mas não


importa, me diga para onde estamos indo.

—Eu já te disse. Vamos visitar os Savages.

—Você sabe onde eles estão? — Eu queria perguntar como, mas
parecia mais provável obter uma resposta.

—Eu sei. Travis não.

Ele engrenou o Brabus e passou por Amo, assumindo a


liderança de nosso comboio de dois carros.
CAPiTULO VINTE E UM

Ele estava lá para me enganar.

Essa foi a única conclusão a que cheguei em relação a


Travis. Ele nunca teria sido deixado para apodrecer nos currais se
Samael soubesse que ele tinha informações valiosas.

Era frustrante quando alguém sabia todas as respostas, mas não


as respondia.

Por que de repente ele estava tão passivo sobre isso? Ele nunca
foi quando se tratava de nossas famílias. Eu mencionei ir vê-los
várias vezes no passado.

Me recostando no assento, cruzei os braços e olhei pela janela.


Estávamos dirigindo por quase trinta minutos agora, nos
aproximando do que era a civilização.

Pelo que vi até agora, a cabana era como um palácio. A morte


parecia se agarrar a todos os cantos. O primeiro corpo não era nada
para se piscar. Um homem ou uma mulher pendurada como um
espantalho não era nada incomum na Badlands. É mais um sinal
de que uma facção já havia passado pela área,

Varas estavam no chão com cabeças decapitadas em cima delas,


muitas sendo crianças... essa era uma história diferente. Eu nunca
tinha visto nada assim antes. Alguns eram recentes. A carne deles
não havia descascado e apodrecido ainda.

Se você olhasse de perto, parecia que as cabeças estavam se


movendo devido ao grande número de insetos comendo todas as
coisas que a olho nu não conseguia ver.

Com a temperatura tão alta quanto recentemente, essas partes


do corpo estavam basicamente assando.

Os edifícios que vi estavam em ruínas. Alguns deles tinham não


uma, mas três etiquetas de diferentes facções em camadas umas
sobre as outras. 

Então, eles estavam essencialmente se extinguindo.

Depois de aproximadamente quinze minutos, outro corpo


apareceu, pendurado como o primeiro e perto de uma marca de um
quilômetro ao lado da estrada. Eu poderia dizer que era uma
mulher facilmente e assumi que ela já estava morta há pelo menos
três dias. Era difícil identificar com todas as outras variáveis que
entraram em vigor.
O ambiente em que ela morreu e a temperatura em Badlands
fariam uma diferença em seu nível de decomposição, mas era
evidente que ela estava grávida.

Havia abutres mergulhando desesperadamente seus bicos nas


órbitas onde seus olhos estavam, arrancando carne e músculos
apodrecidos.

Na calçada aquecida estava o que teria sido seu bebê. Na


bagunça que ainda não tinha sido comida por algum animal
selvagem, havia a menor das mãos e dos pés, não estavam mais
presos ao feto.

O volume de gás e a pressão crescente dentro dela teriam


forçado vários fluidos corporais a escorrer de todos os seus orifícios
naturais, que é como seu útero teria explodido. Foram coisas
básicas que aprendemos ao crescer. Sobre morte e decomposição,
não nascimentos em caixões.

Não havia regras ou diretrizes morais em Badlands. Homens,


mulheres, nascituros e vivos... eram todos iguais. Sexo e idade não
eram a salvação. Na verdade, funcionou contra você.

Geralmente, porém, apenas os tipos de humanos mais bárbaros


costumavam caçar os fracos como um esporte.

—O que está acontecendo por aqui?

—São preliminares para a guerra.

—Como batalha naval?


Uma risadinha veio do banco de trás.

—Lilith. — Ele disse meu nome categoricamente. —São guerras


de gangues. Guerras territoriais. A tensão vem crescendo há
anos. Quanto mais civilizada a área, maior a probabilidade de você
se deparar com uma situação hostil. Todo mundo quer estar no
topo, controlar os principais recursos e pontos críticos.

—Mas os Savages fazem isso.

—Os Savages fazem um pouco disso, — Aurora corrigiu. —Você


sabe o quão grande é a Badlands?

—Eles também estão envolvidos nisso. Você verá, — Maly


continuou. —É uma coisa de controle. Essa facção ainda está
crescendo, junto com os outros principais contendores. Os Savages
também precisam de espaço e recursos. Você acha que Romero
desistiria da posição de sua facção para que outra pudesse tomar o
seu lugar?

—Certamente não, — respondi, sem nem mesmo pensar no


assunto. —Mas... onde isso nos deixa?

Ele não respondeu de imediato, então acabamos dirigindo em


silêncio.

—Eu tenho isso planejado. Não é algo com que você precisa se


preocupar.

Eu olhei para ele.


—Como você pode dizer isso? Tenho que me preocupar se isso
envolve você e os outros.

—Não. É por isso que mantive sua bunda longe de tudo isso. Eu
nunca iria te arrastar para a mesma guerra da qual vou te proteger.

Não consegui encontrar nenhum defeito nisso. Samael nunca


deixou de me proteger. Mesmo com essa falha espetacular de uma
fuga que eu fiz, ele ainda me manteve segura. Eu queria ficar ao
lado dele, no entanto. Não atrás dele.

Inclinando minha cabeça contra a janela, eu o observei da minha


periferia, pensando nos últimos dias e comparando com estes
últimos anos que estivemos juntos. Ele me lembrou de alguém...

Soberano.

Essa única palavra realmente disse tudo. A única pessoa que eu


já testemunhei sendo chamada era conhecida como o próprio
diabo. Quão irônico que esse mesmo homem fosse seu parente de
sangue? Eu não tinha certeza se isso era uma coisa boa.

Romero era outra coisa. Ele foi extremamente bem-sucedido, no


entanto. Ele e nossos pais. Eu estudei o perfil lateral de Mal. Foi
assim que ele conseguiu chegar tão longe? Quando pensei nas
conexões que ele tinha, levando em consideração que
provavelmente havia uma tonelada a mais que eu não sabia,
percebi que alguém devia estar o patrocinando. Acho que poderia
conectar alguns dos pontos agora, mas não era algo que eu diria em
voz alta.
Não era tão estranho, já que Romero era seu tio, mas qual era o
seu fim de jogo? Por que ele precisava do meu Mal?

—O que é?

—Acabei de perceber que você me lembra Romero, — respondi


honestamente.

—Eu posso ver, — Rory concordou. —Um homem tão bonito


também.

Mal fez uma careta para a estrada à frente. —Então, você


transaria com ele também?

De onde veio isso? Mordi minha bochecha, tentando muito não


rir. Se ele queria que eu fosse honesta, então...

—Eu preferiria arrancar um pau do que sentar em um, mas se


eu tivesse que escolher, ele seria a melhor escolha, — Aurora
cortou.

—Eu faria isso agora, — Poet apoiou.

—Essa conversa acabou.

Ele fez uma curva e depois fez uma curva acentuada à esquerda.
Vendo o que estava à frente, me sentei mais ereta.

Uma estrada de quatro pistas tinha se tornado mais mato e


grama do que pavimento, e havia vários veículos que pareciam estar
abandonados bloqueando nosso caminho. Além disso, quatro
prosélitos estavam de lado a apenas alguns metros de distância.
—Temos que caminhar a partir daqui. Eles levarão os carros
para o outro lado e nos encontrarão na volta, — explicou Maly.

—Por que não escolhemos esse caminho para começar?

Ele estacionou o SUV e abriu a porta. —Porque é uma rota


principal, e eu não estava colocando você em risco. Esta é a estrada
secundária. Ainda é perigoso, mas nem tanto.

—Você não precisava fazer tudo isso por mim, — protestei.

—Saia, — ele respondeu, saindo do veículo.

Eu joguei minha cabeça para trás e suspirei, levando um minuto


para obedecer ao seu comando. Eu me preparei para o calor e segui
o exemplo de todos os outros.

Não demorou muito para que nosso grupo fosse reunido e se


separasse dos prosélitos que esperavam.

—Quanto tempo vamos levar para atravessar este labirinto de


metal enferrujado? — Takara perguntou.

—Não muito, se mantivermos um ritmo constante, — Rory


respondeu a ela.

Eu olhei tudo enquanto fazíamos nossa jornada adiante. Embora


parecesse que a maioria sabia o que fazer, tudo isso era novo para
mim. A estrada estava praticamente ao meio, o asfalto se partindo,
permitindo que a sujeira aparecesse e uma vegetação sem fim
crescesse.
Os carros abandonados estavam em várias condições. Alguns
não podiam estar aqui há tanto tempo, enquanto outros estavam
tão enferrujados que começaram a desmoronar, cobertos de
vegetação excessiva.

Eu me perguntei qual era a história por trás deles. Havia o


suficiente para que precisássemos contornar uma carcaça a cada
dois metros. Alguns tinham restos mortais dentro, pilhas de ossos
empoeirados pelo tempo que ninguém se importava.

Estávamos nos aproximando de um viaduto quando Samael


parou abruptamente de andar. Antes que eu tivesse a chance de
perguntar o que estava acontecendo, ele estava me empurrando
para Aurora. Eu bati em seu peito, levando nós duas para o chão.

Ao mesmo tempo, Jin exigiu que todos abaixassem, um mero


segundo antes de um tiroteio explodir no ar.

—Não se mova, — Aurora latiu, cobrindo meu corpo com o dela.

—O que diabos está acontecendo? — Takara gritou de perto, se


escondendo com Amo.

As balas atingiram o que restava do para-brisa, atingindo os


corpos de tantos carros que parecia que estava chovendo metal. As
balas vinham de cima de nós, do viaduto coberto de hera com uma
cerca enferrujada. Eu não sabia quem diabos estava atirando ou
por quê, mas nunca conseguiríamos sair desta estrada se
continuasse.
As rodadas pararam abruptamente, e um som de tinido pesado
ecoou.

—Eu acho que eles estão recarregando, — Poet comentou de


onde quer que ele tenha se protegido.

Excelente, pensei sombriamente, enxugando o suor da minha


testa. Estávamos muito expostos, amontoados atrás de carros
esfarrapados como patos sentados apenas esperando por uma bala
na cabeça.

—Por que eles pararam de atirar? — Cherry perguntou depois


dos cinco minutos mais longos da minha vida.

—Eles não precisam desperdiçar munição. Eles provavelmente


estão nos esperando fora, — Aurora respondeu.

—Estão todos bem? — Brody chamou de seu esconderijo mais


atrás.

—Em cinco minutos, — respondeu Maly.

—O que acontece em cinco? — Sussurrei para minha irmã.

—Precisamos nos mover, — respondeu ela, ainda pairando sobre


mim como um escudo. Seus seios gigantes estavam pressionando
minhas costas.

—Mover para onde exatamente? — Eu perguntei alto o suficiente


para ele me ouvir.

—Vamos para a esquerda. Usar os outros carros como escudos.


Assim que atingirmos a linha das árvores, ficaremos bem.
—Que porra? Ou eles podem simplesmente atirar em nós lá em
vez disso.

—Tome cuidado com o que você diz. Os vigias patrulham apenas


as estradas. Eles vão nos deixar ir assim que sairmos. Eles não
deveriam estar vigiando tão longe.

Seu comportamento calmo me fez querer sacudir ele. Minha


cabeça girou com todas essas novas informações. Como ele sabia de
todas essas coisas? Incapaz de ponderar direito, olhei ao redor de
Aurora para ver o caminho que Mal sugeriu que tomássemos.

Porra, como?

—Você quer que a gente vá para a esquerda? Você quer que


cruzemos três faixas de tráfego enquanto desviamos de balas?
— Eu não pude parar as risadas que se seguiram.

—Apenas corra muito, muito rápido, — Amo interrompeu


sarcasticamente.

—Três, — disse Maly.

Esses idiotas malucos.

Meu coração estava batendo tão rápido que eu podia ouvir em


meus ouvidos. Essa maldita ansiedade estava me fazendo suar
mais do que já estava.

Aurora se mexeu para ficar ao meu lado e ofereceu um sorriso


encorajador. —Não se preocupe, farei o meu melhor para cobrir
você.
—Por que você faria isso?

—Porque você é minha irmãzinha, — ela respondeu com


naturalidade.

Bem, isso me fez sentir como uma vadia de nível épico. Isso me


irritou também. Eu não era feita de vidro, mas estávamos nessa
estrada porque Samael me via como frágil. Ele pediu que nos
movêssemos e, sem hesitação, me lancei para frente, sentindo uma
queimação satisfatória nas panturrilhas.

Por um total de três segundos, eu sei porque contei, nada


aconteceu. O tiroteio começou novamente logo depois.

Para não sermos crivados de balas, nós nos abaixamos e


contornamos os carros. Mais de uma vez, juro que quase fui
atingida. Eu podia ouvir as balas passando zunindo. Aurora ficou
comigo, desnecessariamente fazendo o que ela disse que faria. Mal
propositalmente ficou mais para trás, também fazendo algo
desnecessário e estúpido.

Takara e Amo chegaram primeiro, Brody e Jin logo em seus


calcanhares enquanto os quatro desapareciam entre as árvores.

—Mova essa bunda, Lils, — gritou Maly.

—Cale-se! — Eu respondi. Eu estava indo bem, considerando o


quanto eu me esforcei nos últimos dois dias.

Estávamos a alguns passos de distância quando um grito soou


atrás de nós, quase me fazendo tropeçar.
Eu olhei para trás, vendo Cherry, segurando o lado de seu rosto
e não mais tentando correr, se abaixou atrás de uma velha pick-
up. Eu não podia arriscar voltar para ajudar ela.

Depois de chegar ao aterro gramado antes da floresta, corri para


a floresta e me virei para ver como Cherry estava. Aurora parou ao
meu lado, Mal logo atrás dela.

—Precisamos continuar. — Mal disse.

—E quanto a Cherry?

Eu descansei minhas mãos nos joelhos, segurando meu lado


direito para aliviar um ponto. Eu olhei através da folhagem,
tentando encontrar ela.

Eu podia ouvir ela chorando e sussurrando para si mesma. Eu


não conseguia ver muito bem deste ponto de vista. Eu consegui
pegar um pequeno vislumbre, revelando que ela tinha sangue
escorrendo pelo lado de seu rosto.

—Você foi atingido? — A voz de Amo veio das profundezas da


folhagem.

A preocupação em seu tom me assustou. Eu nunca tinha ouvido


ele soar assim antes. Eu me virei para ver com quem ele estava
falando, meus olhos pousando em Maly.

Ele já havia tirado a camisa para usar como torniquete. Um


pequeno buraco era visível na parte superior de seu peito direito,
com sangue escorrendo dele.
Eu queria correr e fazer alguma coisa, mas o que eu poderia
fazer? Não havia nada por perto para consertar magicamente sua
ferida. Enlouquecer também não beneficiaria ninguém.

—Precisamos seguir em frente, — disse Takara.

—Ela está certa. Não podemos ficar aqui. Teremos que deixar a


garota. Ela não vai sobreviver e não vamos salvá-la.

A 'garota' em questão era Cherry. Teria sido mais humano se um


de nós a tivesse matado do que deixar sua vida equilibrada assim,
mas não tínhamos nenhuma outra opção agora. Samael sempre
viria primeiro.

Cherry tinha chegado até aqui aparentemente sem marcas de


nenhuma facção. Se ela milagrosamente conseguisse sobreviver a
isso, sua maior vantagem seria essa.
CAPITULO VINTE E DOIS

Não demorou muito para sairmos da floresta. Pegamos um


caminho óbvio em linha reta por aproximadamente vinte minutos
antes de chegar a um campo. Desse ponto em diante, seguimos
outro caminho.

Quando avistei o Brabus no estacionamento do Glady's Inn,


fiquei mais uma vez me perguntando quem Samael realmente
era. Como ele poderia saber deste lugar a menos que já tivesse
estado aqui antes? 

Imediatamente, no momento em que pisamos no estacionamento


da pousada, os prosélitos começaram a sair de dois dos três
Brabus.

Eles nos cercaram, claramente preocupados com seu líder real.

—Estou bem. — Mal os enxotou se fossem moscas incômodas. —


As chaves do quarto? — Ele questionou.
—Aqui.

Ele recebeu quatro cartões de plástico, distribuindo todos, exceto


um. Ele tinha emparelhado todo mundo. Brody com Jin. Amo com
Poet. Aurora com Takara.

—Podemos relaxar aqui um pouco. Vamos nos encontrar no


restaurante em duas horas. Vou limpar isso.

Ele se separou do resto do grupo e foi para a traseira de um dos


SUVs junto com Amo e Rory. Eu fiquei para falar com Takara e
Poet, tentando não prestar muita atenção em Brody.

Eu não sabia muito sobre ele além de que ele se juntou a Samael
nos estágios iniciais de construção de uma facção. Ele era o mais
alto aqui e parecia um tanque. Seu rosto masculino tinha uma
longa cicatriz diagonal que ia da têmpora esquerda ao queixo.

Com uma barba áspera e seu cabelo totalmente cortado em


volta, sem se misturar de forma alguma e o cabelo mais longo no
topo trançado para trás em um coque de homem, ele tinha uma
atração peculiar sobre ele. Os estranhos olhos azuis gelados
aumentaram o fascínio geral. O mais exuberante que já o vi foi
quando infligia violência.

—Vocês dois vão ficar bem? — Perguntei a Takara e a Poet.

—Rá, eu pretendo tomar um banho e dormir. Estou exausta, —


respondeu Takara.
Samael chamou meu nome para chamar minha atenção,
esperando que eu fosse com ele.

—Vá em frente. Encontro vocês na lanchonete, — assegurou


Poet.

—Certo…

Deixei os dois juntos e me juntei a Samael perto do Brabus. Ele


tinha uma caixa de alumínio em uma mão e uma bolsa na
outra. Eu não poderia dizer o quanto ele estava sangrando, mas era
natural que ele estivesse sentindo dor.

—Me deixe carregar a bolsa.

—Eu levo. — Ele inclinou seu corpo para que eu não pudesse
agarrar ela.

Entramos em nosso quarto e ele jogou a bolsa na cama, levando


a caixa direto para o banheiro. Eu olhei em volta enquanto o
seguia. Era óbvio que o responsável por este lugar tentava fazer o
seu melhor. A roupa de cama abstrata em tons de joias não estava
muito surrada. Combinou com as paredes cor de mel. O ar-
condicionado tinha um cheiro estranho e estava chacoalhando, mas
prefiro isso do que ficar sem ele.

Ao todo, isso não era tão ruim.

Samael já tinha a torneira ligada e um kit de primeiros socorros


aberto no momento em que me juntei a ele no banheiro simples.
Os ladrilhos azuis já tinham visto dias melhores, mas pareciam
estar limpos. Mesmo com o chuveiro e a banheira.

—Me deixe te ajudar, — eu disse com determinação, segurando


seu lado ileso.

Ele permitiu que eu o guiasse até o vaso e o sentasse na tampa.

—Você está se preocupando comigo agora?

—Não me faça perguntas estúpidas. Quando não me preocupei


com você? — Procurei no kit de primeiros socorros e reuni o que
precisava. —Remova a camisa.

Ele fez o que lhe foi pedido, sem protestar pela primeira vez. Eu
podia sentir seus olhos em mim, observando cada movimento meu
enquanto lavava minhas mãos.

—Você é muito bonita, — disse ele calmamente.

—O que? — Quase derrubei o kit na pia, pegando ele no último


segundo.

—Por que você está tão surpresa?

—Porque... — Eu balancei minha cabeça e encontrei um pano


branco simples embaixo da pia. Deixando ele úmido, limpei
suavemente a ferida de entrada.

—Porque? — ele pressionou.

—Estou imunda, para começar.


—Eu te amo o tempo todo, mas isso sempre me lembra o quão
perfeita você é, quando você está ensanguentada e coberta com a
sujeira que a tornou assim.

—Você está em seu estado de espírito certo? — Eu perguntei,


apenas parcialmente brincando.

—Eu já estive em meu estado de espírito certo?

—Verdade.

Eu sabia que ele não estava mentindo totalmente agora. Ele


tinha me visto no meu melhor e no meu pior. Sempre foi o lado
infernal de mim que ele mais desejou.

A parte que foi escavada nos sulcos das trevas com uma luxúria
insaciável por seu tipo exclusivo de caos volátil.

—Para responder à sua pergunta, me sinto bem.

—Nesse caso, você também é bonito. — Continuei a cuidar dele


enquanto conversávamos. A ferida não estava mais sangrando
tanto, mas a área ao redor tinha virado sua pele dourada de um
vermelho profundo.

—Quão ruim dói?

—Vou sobreviver, mas minha moral vai despencar se você parar


de cuidar de mim.

Ele falou como se estivesse falando sério. Como ele poderia


flertar agora? Ele tinha acabado de levar um tiro. É verdade que ele
não gritou nem reclamou nenhuma vez. Ainda tinha que doer, e
isso era completamente evitável. Falando de…

—Se você fosse antes de mim, isso não teria acontecido.

—Ou você seria a única com o buraco de bala.

—Não sou alguém com quem as pessoas contam para sobreviver.


Eu também não sou tão frágil quanto você me trata.

Ele agarrou minha mão e a manteve no lugar. Eu olhei para ele


interrogativamente.

—Eu não te trato como se você fosse frágil, eu te trato como se


você fosse insubstituível. Eu não dou a mínima se você gosta dos
meus métodos ou não, eu sempre vou sangrar por você antes de
você sangrar por mim.

Eu engoli, sentindo meu rosto aquecer sob seu olhar


aquecido. Eu não sabia o que dizer. Claro, eu não concordaria com
isso porque eu sentia o mesmo, vice-versa. Eu não tinha certeza do
que fazia para receber sua devoção sem fim, mas era algo que
estava começando a valorizar.

Limpei a garganta e dei um puxão suave de resistência para que


ele me soltasse. —Não podemos tirar a bala aqui, mas tem Celox2 e
ataduras antiaderentes até chegarmos onde podemos. Esses devem
funcionar por agora, certo?

2 Celox- para interromper o sangramento rapidamente, de pequenos cortes até feridas graves. Muito seguro,
extremamente eficaz e fácil de usar, basta aplicar o pó granulado diretamente na ferida e fazer pressão direta no
local. Quando misturado com sangue, o Celox forma um gel robusto em apenas 20 segundos. Essa ação de
coagulação é independente do processo de coagulação normal do corpo.
—Sim.

Com o consentimento dele, comecei a trabalhar em consertá-lo e


finalmente perguntei algo que queria saber desde antes. —Como
você sabia quem estava atirando em nós?

—Eu sei muitas coisas. Se você desempenhar bem o seu papel,


um dia você também o fará.

—E o que é isso?

—Exatamente o que você prometeu.

Eu segurei um suspiro, sem resposta. Tudo voltou a ser


assim. Eu não poderia dizer que odiava, no entanto. Afinal, era o
que eu também queria.

Eu estava meio adormecida quando ouvi a batida.

Eu podia ouvir o chuveiro ligado, então Samael ainda não tinha


terminado. Ele queria banhar juntos, mas precisávamos ter cuidado
para que seu ferimento não molhasse.

Rolando para fora da cama, fui ver quem era. Uma rápida olhada
no olho mágico mostrou Amo. Depois de exalar uma respiração
profunda, abri a porta e tive uma visão perfeita de seu peito.

—Como ele está?


—Ele vai ficar bem, — respondi, encontrando seus olhos
cinzentos.

Eu estava feliz que alguém como Amo se importava tanto com


Mal. Desde o dia em que o vi pela primeira vez em um ginásio
abandonado, Amo nunca vacilou ou fez algo que pudesse fazer você
questionar sua lealdade ao amigo.

—Posso falar com você?

—Eu? — Eu me afastei um pouco.

Ele sorriu, um sorriso verdadeiro e genuíno, e acenou com a


cabeça. —Sim, você.

—Certo…

Ele deu um passo para trás e percebi que queria que eu saísse
do quarto. Avancei e deixei a porta atrás de mim entreaberta para
não me bloquear de fora

—E aí? — Eu perguntei, olhando ao redor.

Exceto por um cara velho alguns quartos abaixo, éramos os


únicos dois lá fora agora.

—É sobre o seu irmão.

Minha atenção imediatamente voltou para ele. —O que tem ele?


Espere, qual irmão?

—Eu tentei parar ele. Ele não quis ouvir. Não havia nada que eu
pudesse fazer depois que ele tomou essa decisão. O papel que
desempenhei não permitia isso, e eu estava fazendo isso por outra
pessoa.

Eu sabia quem ele estava protegendo, sua irmãzinha. Tudo o que


ele fez como Creed foi para garantir que ele a libertasse do
purgatório em que ela vivia.

Você pode ficar com raiva de alguém por uma escolha que ele fez,
mas você não tem o direito de dizer a ele que foi a escolha errada.
Não quando se tratava de seus amigos ou familiares.

—Eu nunca culpei ninguém pelo que Brax fez, exceto Brax.
Mas…

—Você não me conhece bem o suficiente.

Não era isso que eu ia dizer. Eu trabalharia com isso, no


entanto.

—Algo parecido.

—Então, acho que é hora de mudarmos isso. — Sem me dar a


chance de dizer mais nada, ele se afastou, indo na direção da
lanchonete que Samael havia mencionado.

Eu esfreguei minha nuca, meio confusa. Ele não estava errado.


Se fôssemos continuar próximos um do outro, já era hora de
mudarmos nosso relacionamento.

Havia muitas coisas que precisavam ser diferentes.


CAPITULO VINTE E TRES

Era um estabelecimento pequeno, mas excessivamente alegre,


feito de verdes intensos, preto e branco, que servia comida barata e
gordurosa. Fazia tanto tempo que não tocava em moeda que quase
esqueci que ainda era uma coisa nos lugares civilizados que não
tinham perdido completamente a cabeça. Estar apegado à pousada
claramente proporcionou à facção familiar de alguém um modo de
vida decente.

Para este lugar existir, entretanto, deveria haver alguém que o


apoiasse. O incivil superava o civil por uma margem enorme.

De jeito nenhum uma pousada poderia prosperar sem algum tipo


de proteção ou barganha externa.
Eu balancei meu joelho, procurando por algum sinal do
banheiro. Esqueci de fazer xixi no quarto e minha
bexiga não estava aguentando.

—O que está errado? — Takara perguntou da cabine atrás da


minha.

—Eu preciso usar o banheiro.

Ela jogou outra batata frita encharcada de massa na boca e


começou a deslizar para fora. —É naquele corredor. Eu irei com
você.

—Seja rápida, — disse Samael do outro lado da mesa.

Huh. Fiquei um pouco surpresa por ele estar me deixando fora


de sua vista. Se isso fosse algum tipo de teste, ele não tinha nada
com que se preocupar.

Ele me observou levantar, mas não disse mais nada, retornando


à sua conversa com Poet e Brody.

—Como estão vocês dois? — Takara perguntou no segundo em


que estávamos fora de alcance.

—Não tenho certeza. Não tivemos uma oportunidade real de


conversar sobre nada. Nem mesmo indo para o complexo dos
Savages ainda.

Ela me seguiu até o banheiro feminino, segurando a porta para


que ela não fechasse. —Como você se sente em voltar?

—Eu não sentei e pensei sobre isso.


Sinceramente, eu não estava pronta para pensar nisso agora que
era quase uma realidade. Eu examinei as baias, julgando sua
limpeza. Três das quatro estavam abertos. Escolhi uma no final e
fui cuidar do meu negócio. Não era um espaço que eu queria
examinar muito profundamente.  Minha vagina me implorou para
não fazer isso.

Quem quer que ocupasse outra baia deu descarga e saiu. Eu


podia ouvir o tilintar de uma fivela enquanto caminhavam.

Verificar o suporte do papel higiênico me lembrou que nunca


recuperei nossas malas dos idiotas caipiras que nos sequestraram,
o que por sua vez me fez pensar em Cherry. Ela tinha saído daquela
estrada? Ou ela tinha morrido do ferimento na cabeça que a fez
hesitar por muito tempo?

Sentindo o início de uma dor de cabeça, fechei os olhos e


suspirei baixinho.

—Nós vamos dar jeito, — Takara acalmou.

Eu sorri e limpei, me levantando do meu agachamento no vaso


sanitário, usando minha bota para dar descarga. Ao sair da minha
baia, fui até a pia para lavar as mãos. À primeira vista para a garota
ao meu lado, não pensei muito. Ela tinha cabelo loiro cinza
brilhante que ia até a cintura. Isso é o que inicialmente chamou
minha atenção. Mas enquanto ensaboava minhas mãos, avistei
suas tatuagens.
Várias tintas correram para cima e para baixo em seus braços, a
marca do diabo se destacando como um farol. Eu levantei meu
olhar para o espelho e descobri que ela já estava me observando,
uma pequena cruz invertida sob seu olho esquerdo.

Eu congelei por uma fração de segundo, sem saber o que


fazer. Não tem como não ser ela, mas só para ter certeza...

—… Addy?

—Lilith?

Ela girou e me agrediu com uma mistura de um golpe e um


abraço, quase me jogando contra a parede próxima contra a qual
Takara estava encostada. Fui pega de surpresa por sua
empolgação, mais do que um pouco chocada.

Ela se inclinou para trás para que pudesse ver meu rosto, ainda
não me deixando ir. —Você está tão crescida agora! Não achei que
ele realmente apareceria com você!

—Quem?

—Samael. Ele não te contou?

—Não, — eu respondi exasperadamente. —O que você está


fazendo aqui?

—Nós estamos pegando uma carona com vocês.

Eu poderia ter um dia em que não estivesse confusa ou perdida


como a merda? Por que a princesa Savage precisaria pegar uma
carona? Melhor pergunta.
—E quem é o nós?

Ela finalmente me soltou, um sorriso brilhante em seu rosto


bonito. —Uau. Ele não te fala muito. Típico dos homens que
devemos aturar. — Seu olhar saltou para Takara. —Quem é?

—Aquele é Takara, minha amiga. Ela está comigo há um tempo.

—Certo. Já ouvi seu nome algumas vezes, — disse Addy,


surpreendendo ela também. —Vamos. Não vamos conversar em um
banheiro.

Nós três saímos juntas e voltamos para a área principal da


lanchonete. Samael encontrou meu olhar quando nos aproximamos
da cabine, mas não mostrou nenhuma reação externa por eu
encontrar Addy em um maldito banheiro de lanchonete.

Havia uma pessoa extra na mesa, um cara grande que se parecia


tanto com Brody que eu automaticamente soube que ele era seu
irmão gêmeo, Ice.

Eu olhei para baixo para o hambúrguer comido pela metade de


Samael enquanto eu recuperava meu lugar, abrindo espaço para
Addy ao meu lado.

Que tipo de carne era essa? Eu não tinha certeza se realmente


queria saber.

Agora, antes de qualquer coisa, eu queria uma explicação real


sobre o que diabos estava acontecendo.

 
 

Meu cérebro funcionava sem parar, como se estivesse correndo


em um círculo repetitivo. Saber tudo me aprisionaria? Ou isso me
faria sentir mais livre de alguma forma?

A explicação para Addy estar aqui não era nada espetacular.

Ela precisava de distância do cara com quem estava, e ele não


teria permitido que ela simplesmente saísse pela porta. Sem ela
revelar todos os detalhes, eu poderia dizer que nossas situações
eram notavelmente semelhantes, a maior diferença sendo como
Addy e Zane acabaram juntos.

Eu nunca o conheci pessoalmente. Eu o vi algumas vezes


quando ele interagiu com Creed, e houve um momento em que seu
irmão mais novo era essencialmente um refém. Eu também não o
conhecia bem. Samael se certificou de que ele e eu ficássemos
separados.

—Você está puta?

Eu abri meus olhos e inclinei minha cabeça para que eu pudesse


ver um pouco de seu rosto. Achei que ele tivesse
adormecido. Estávamos de volta ao quarto abraçados por pelo
menos uma hora depois que eu tomei banho, esfriando em
silêncio. Eu estava embrulhada em um pacote com meu lençol do
Brabus, a cabeça do lado ileso de seu peito.

—O que eu mudaria estando puta?

Ele silenciosamente brincou com as pontas do meu cabelo.

—Isso tudo fazia parte do seu plano, certo? Travis também.

—Eu não sabia que ela ia deixar Zane, aquele cara do Venom, e
voltar para casa. Esbarrei com ela alguns meses atrás. Mantivemos
contato desde então.

—E ela não contou a ninguém?

—Addy sabe que não deve revelar todas as cartas que possui.

Tive a sensação de que ele sentia o mesmo. Todos os líderes de


facção eram assim? Não. Eu não acho que as coisas eram tão
simples.

—Quanto você sabia?

—Eu sabia de tudo, até você se encontrar nos currais. É por isso
que plantei Travis.

Suspirei suavemente. Nosso plano era um fracasso muito antes


de implementar ele.

—Claro, eu esperava que você fosse mais longe do que você


foi. Ele iria te levar a um ponto de encontro.

Satanás. Quanto mais ele revelava, mais embaraçoso ficava.

—E depois?
—Eu ia usar Dawn como sua substituta e matar ela. Deixar que
rumores se espalhem de que você estava morta antes de se mudar
para o nosso novo lugar.

Eu me afastei um pouco, boquiaberta para ele. —Que tipo de


plano maluco é esse? Por que você quer que todos pensem que eu
estou morta?

—Não é óbvio? Ninguém jamais tentaria tirar você de mim.

—Mal. — Eu descansei minha testa em seu peito. Não havia


raciocínio com ele. Dentro da coisa caótica que ele chamava de
mente, isso era uma coisa perfeitamente lógica de se fazer.

—Eu pensei que você e Dawn...

—Amo e sua irmã transaram com Dawn. Ela nunca foi nada


para mim, mas que cadáver ambulante. Ela acreditava que era
importante.

Uau. Isso foi duro.

—Já que estou falando sobre cadelas sem sentido, eu nunca fodi
ninguém além de você.

—O que? — Eu me afastei dele, precisando ver seu rosto


inteiro. —Não tem jeito. Eu ouvi... coisas. E a primeira vez nós...

—Você ouviu uma mistura de mentiras e pequenas verdades. Eu


me usei para ganhar o que queria, mas um pau na boca de alguém
ajuda muito.
Eu fiz uma careta para isso. Ele continuou falando, sem se
intimidar.

—Entendo. Eu fodi você tão bem que você não poderia imaginar
que era minha primeira vez.

Agora ele parecia muito orgulhoso. Eu também não poderia estar


brava. Foi fortalecedor saber que este homem lindo e louco era
exclusivamente meu e sempre tinha sido. Me inclinei para frente,
com cuidado para não colocar pressão em seu peito, e o beijei,
interrompendo o que ele estava dizendo. Ele não mostrou nenhum
tipo de surpresa.

Era tudo o que pretendia fazer.

Comecei a me afastar, mas ele enredou a mão no meu cabelo


para me impedir de escapar e pressionou minha boca contra a
dele. Sua língua empurrou entre meus lábios, aprofundando o beijo
em algo carnal. As cerdas de sua barba esfregaram contra mim.

Ele tentou puxar meu corpo para cima dele. Eu ri e finalmente


me afastei.

—Você está ferido.

—Meu pau não está.

Eu sorri, colocando um beijo rápido em seus lábios macios


novamente. Movendo para seu peito, com cuidado com o ferimento,
passei rapidamente por seu torso até sua calça jeans, abrindo o
botão e abrindo o zíper. Ele me ajudou a deslizar ela e sua cueca
para baixo. Eu não as removi completamente, apenas as empurrei
para baixo o suficiente para que eu pudesse facilmente chegar ao
seu pau. Ele estava duro e me observando de perto.

Corri meus dedos ao longo de suas coxas, provocando


suavemente suas bolas, colocando um beijo lá também.

Mantendo contato visual, agarrei ele em minha mão e comecei a


abaixar minha boca. Sua pequena inalação teria sido perdida se eu
não estivesse prestando atenção. Escondi um sorriso e comecei a
chupar ele lentamente, correndo meus lábios ao longo de seu
comprimento, brincando com seu piercing duplo, usando o lado
plano da minha língua.

Eu gemia em apreciação, encorajada pelo aperto de seu abdômen


e coxas.

Para dar uma pausa na minha mandíbula, eu ocasionalmente


fico na cabeça e uso a ponta da minha língua, girando e lambendo
ao redor da coroa. Colocando meus lábios, movi minha cabeça para
baixo, sugando em diferentes ângulos e adicionando
pressão. Trazendo a mão para cima, eu gentilmente provoquei suas
bolas, alternando com punheta e chupando mais fundo até que eu
não aguentasse mais.

Ele disse meu nome com um gemido, amarrando a mão no meu


cabelo, me guiando mais rápido, empurrando seu pau no fundo da
minha garganta. Respirei pela boca e pelo nariz, engolindo o
excesso de saliva e usando para deixar ele mais úmido.
Ele não me avisou, mas eu sabia que isso iria acontecer pela
forma como seu abdômen se contraiu. Eu angulei seu pau dentro
da minha boca para que seu gozo fosse para o fundo da minha
garganta, permitindo que seu piercing roçasse o céu da minha
boca. Eu engoli cada pedacinho disso. Ele tinha um gosto simples,
um pouco salgado, mas no geral não era tão ruim.

Eu o tirei da minha boca, conseguindo engolir mais uma vez


antes que ele puxasse meu cabelo e me arrastasse de volta para
encontrar seus lábios.
CAPITULO VINTE E QUATRO

Saímos ao amanhecer.

Levaríamos cerca de três horas para chegar ao novo local dos


Savages. Eu sabia onde estava desde que recebi o convite um tempo
atrás.

Eu tinha Addy e Ice comigo na frente, enquanto Lilith andava na


no bando atrás do meu e Jin sentava no terceiro banco. Deixei Amo
como o guardião dos outros até que lhe desse mais notícias.

Eu não tinha certeza de como os Savages reagiriam a ele ou


Aurora, e não iria arriscar. Takara e Poet saíram menos
ameaçadores, mas no final do dia eles ainda estavam sob minha
facção e protetores de Lilith. Isso era o suficiente para causar
hostilidade.
Jin estava aqui porque era neutro. Ele não reagiria a nada ou
ninguém a menos que eu mandasse, ou minha vida estar em perigo
absoluto de morrer.

Ninguém falou muito, muito ocupado com nossos próprios


pensamentos. Lilith me perguntou como eu me sentia em voltar.
Sinceramente, não senti muita coisa. Não houve muitas ocasiões
alegres para lembrar quando pensei no que já foi meu lar. A
nostalgia tingida de sépia tinha Lilith em todas as minhas
lembranças de felicidade.

Eu estive longe do meio ambiente por tempo suficiente para ter


mudado completamente. Eu estava fazendo isso por Lilith, mas a
escolha não era totalmente altruísta.

Era para beneficiar o futuro da minha facção. Eu não sabia


como as coisas iriam bem até chegarmos lá. A única ligeira
preocupação que eu tinha era eles tentando tirar minha rainha de
mim.

Eles poderiam tentar, é claro.

Eu nunca deixaria isso acontecer.

Eu rasgaria essa facção de cima a baixo antes de perder ela para


eles. Eu tinha acabado de recuperar ela, de várias maneiras. Me
recusei a perder ela novamente. Se a morte me aguardasse em meio
ao caos, ela viria comigo para qualquer inferno que viesse depois
desse.
Eu olhei por um breve segundo, me perguntando o que ela
estava pensando. Como ela realmente se sentiu em voltar? Foi
difícil segurar minha raiva quando ela partiu. Eu dei a ela as
ferramentas e abri o caminho afinal, mas não pude deixar de ficar
chateado por ela ter escolhido utilizar elas.

—De quem são esses túmulos? — Ela perguntou, apontando


para a janela do passageiro.

Era uma grande extensão de planície coberta por cruzes de


madeira. Você podia ver os novos montes de terra que foram usados
para cavar o local de descanso final de alguém. Havia muitos desses
cemitérios improvisados aparecendo ultimamente.

—Seu palpite é tão bom quanto o meu. Existe uma facção que


atende pelo nome de Oasis. Eles assumiram a responsabilidade de
'limpar' as Badlands. Eles enterram corpos e adicionam essas
cruzes para marcar cada túmulo.

—É uma perda de tempo, — afirmou Addy. —Isso tudo vai piorar


nos próximos meses.

Fiquei de olho no lado esquerdo da estrada, me lembrando do


que procurar como guia: uma placa de DEAD END que já tinha
visto dias muito melhores

—Segure.

Eu diminuí a velocidade e virei o Brabus em direção à planície


oposta, saltando para cima e para fora de uma vala quando saímos
da estrada principal.
Lilith agarrou a alça do teto para se manter firme. —O que você
está fazendo?

Em vez de dar a ela uma resposta verbal, eu a deixei descobrir


como aconteceu. Romero havia movido sua base principal para
mais longe. Se não lhe dissessem especificamente o que procurar,
seria quase impossível encontrar.

Você tinha que dirigir propositadamente para fora da estrada,


através de arbustos e contornar um lago que estava secando
lentamente para encontrar o caminho que levava aos portões
principais. Demorou cerca de outros oito minutos de carro para
chegar até eles.

Em ambos os lados da estrada havia pequenas caixas pretas se


projetando do solo, sensores de movimento que eram acionados por
qualquer tipo de movimento na frente deles. Ele não estava
brincando quando se tratava de segurança e proteção.

Eu peguei uma página de seu livro ao projetar nosso novo lugar.


Mais adiante, a cerca que cercava o complexo começou a tomar
forma. Era alta o suficiente para que a escalada levasse mais do
que alguns segundos e, mesmo que você chegasse ao topo, teria que
passar pelo arame farpado.

Vendo os barracos dos guardas à frente, comecei a desacelerar.

Dois acólitos vieram do da direita enquanto outro observava da


esquerda. Eles estavam vestindo o traje habitual de Savage: um
manto preto com capuz e uma máscara branca com uma cruz
invertida no centro.

Eu olhei para Lilith.

—Está pronta?

—Não tenho muita escolha agora, — ela murmurou.

Comecei a baixar a janela e frear. Um dos acólitos ergueu o


braço e fez algum tipo de sinal, por sua vez, os portões à frente
começaram a se abrir. Ele não deve ter me visto como uma ameaça.

Dentro do complexo real, à direita, estava a frota de veículos


Savage, o sigilo de Baphomet com a marca orgulhosamente em
grande parte nas laterais. Dirigi o Brabus, passando pelo pequeno
grupo que esperava para nos cumprimentar e estacionei.

No retrovisor, pude ver os meus pais e os de Lilith, junto com


meu tio. Dois acólitos estavam um pouco atrás deles.

—Você vai ficar bem?

—Isso é o que eu deveria estar perguntando a você. — Eu podia


sentir seu nervosismo, mas não ia comentar sobre isso. Isso não a
ajudaria em nada. —Se você precisar de mim, é só dizer.

Ela sorriu para mim. —Eu sei disso, mas obrigado de qualquer


maneira.

—Vocês dois são adoravelmente nauseantes e tudo mais, mas


alguém pode nos deixar sair do carro? — Addy perguntou.
Certo. Ela e Ice não podiam ir a lugar nenhum até que nós o
fizéssemos. Desliguei o motor e abri minha porta, saindo para o
calor. Jin seguiu minha liderança assim que Addy e Ice o deixaram
sair.

Encontrei Lilith no para-choque traseiro, nós dois olhando para


os três homens que deixamos para trás anos atrás. Eles estavam
nos observando da mesma forma.

Terceiro homem na fila, o da direita. Ele parecia uma versão


envelhecida de mim mesmo. Havia mechas prateadas em sua
barba, mas tudo o mais nele era o mesmo. Boas notícias para mim
no futuro, eu acho.

Cobra não tirou os olhos de Lilith desde que ela saiu do


carro. Eu me perguntei como seria o rosto dele se soubesse que ela
teve meu pau na boca algumas horas atrás.

Graças a Addy estar ao meu lado para lidar com sua própria
provação, isso nos salvou de qualquer besteira embaraçosa
imediata.

Romero olhou para ela com um sorriso malicioso no rosto. —Eu


ouvi como você conseguiu escapar.

Ela encolheu os ombros e cruzou os braços. —Foi necessário.

—Por quanto tempo você planeja se esconder aqui?

—Eu não estou me escondendo.

—Você sabe que ele virá por você.


—Você não vai deixar ele me levar, — ela respondeu com
naturalidade.

—Você tem certeza disso? — Ele questionou.

—É o mínimo que você pode fazer. Se você ao menos pensar


sobre isso, vou contar para a mamãe, — ela ameaçou com um olhar
furioso. —Vamos, Ice. — Ela começou a se afastar e então parou,
olhando para mim e Lilith com um sorriso. —Obrigado pela carona.

Eu a observei ir em direção à porra do prédio enorme no centro


do complexo. Sem saber do funcionamento interno de sua facção,
eu não sabia do que se tratava. Eu sabia que ela tinha deixado o
cara Venom com quem ela fodeu, nada mais ou por quê.

—Eu deveria ter tido todos meninos, — afirmou Romero, focando


sua atenção em mim e Lilith.

Acho que falo por todos quando disse que ele não quis dizer isso.
Bella e Addy significavam tanto para ele quanto meu primo Luce.

—Agora que ela se foi, por que você não vem comigo?

Ele colocou isso como uma pergunta, mas eu sabia que não era
algo que eu pudesse recusar. Eu fiz a mesma merda em meu
próprio território.

—Você pode vir comigo, — disse Cobra para Lilith.

Quando nenhum de nós respondeu ou se moveu, Romero


riu. Ele olhou para Lilith, qualquer pensamento desconhecido de
qualquer um de nós parados aqui suando pra caramba.
—Eu sei como isso vai. Eu não vou matar ele. Eu gosto dele. E
seu pai não aprovaria.

—Lilith, — Cobra implorou.

—Tudo bem. Vamos, — ela respondeu. —Não morra e não faça


nada imprudente, — ela ordenou para mim, indo embora com ele.

Ela esqueceu com quem estava falando? Eu não era


descuidadamente imprudente. Sempre fui calculado com isso.

Os olhares me levaram de volta aos velhos tempos. Eu não me


importava, as circunstâncias não eram nem de longe as
mesmas. Eu acharia mais ofensivo se eles não prestassem atenção
em cada movimento meu. Jin me acompanhou, sem se preocupar
com a atenção ou com os dois acólitos de cada lado dele.

—Eu estava me perguntando quando você iria aparecer, — disse


Romero.

—Eu não ia.

—As mulheres mudam tudo.

Eu interpretei isso como uma forma de me deixar saber que ele


sabia o quão importante Lilith era para mim.
Ao nos aproximarmos do prédio de estuque cinza no centro do
complexo, observei como era grande. O paisagismo ao redor era
imaculado, a grama mais verde que eu já vi em Badlands, com
arbustos bem aparados cheios de flores azuis.

—O que é este lugar?

—Minha casa.

—É mais como três casas, — disse meu pai.

Foi a primeira vez que ele falou desde que cheguei aqui. Sua
observação não estava errada. Este lugar era enorme pra caralho.

—Você poderia ter tido um igual, — Romero respondeu com


desdém.

Subimos um amplo lance de escadas, entrando por duas portas


duplas. O ar frio nos rodeou imediatamente.

Tudo em sua casa gritava luxo e Savage. Olhei para o teto alto e


o piso de mármore ao redor. No centro do saguão havia um enorme
sigilo de Baphomet. Outro pendurado no centro da varanda
superior na forma de uma tapeçaria preta e branca. As luminárias
escuras eram todas adornadas com detalhes simbólicos de Savage.

Não posso mentir, estava com inveja. Não da maneira como ele


representava orgulhosamente sua facção, mas desta casa. Assim
como eu sabia que uma grande parte dele indo por esse caminho
era para minha tia Calista, Lilith merecia algo tão bom.

—Podemos ir para a sala de estar.


Fodida de sala de estar.

O som de passos leves me fez olhar para a esquerda. De onde ele


veio? Uma criança estava perto da base da grande escadaria. Se
não fosse pelo cabelo preto e olhos azuis estranhamente familiares,
eu não saberia quem estava olhando.

Mesmo sem esses traços e o fato de que ele ainda tinha


bochechas rechonchudas, esse garoto tinha a porra da cara do meu
tio.

—Esse é o meu Nero, — tio Romero apresentou casualmente.

—Você teve outro filho?

—A idade não me tornou menos homem. Eu ainda fodo minha


esposa todas as manhãs e às vezes duas vezes à noite.

A esposa dele era minha tia, então eu não iria dignificar seu


exagero com uma resposta. Eu ainda estava presa a ele ter outro
filho que ninguém parecia conhecer. Não houve um único maldito
sussurro ou dica de que esse garoto existia.

—Vocês dois vão em frente e conversem. Vou levar ele para a


mãe dele.

Ele se separou de mim e de meu pai, nos deixando na porta de


sua sala de estar. Meu pai abriu, revelando uma área que
apresentava a estética do meu tio em qualquer lugar que você
olhasse.

—Você está bem com ele esperando lá fora?


Eu olhei de volta para Jin e balancei a cabeça.

—Está bem.

Eu dei a volta nele e fui sentar em um sofá barroco vermelho


escuro. As portas se fecharam e então meu pai se juntou a mim no
sofá em frente a uma mesa de centro. Ele apoiou os cotovelos nos
joelhos cobertos por jeans e me olhou pensativo.

—Sua mãe quer ver você. Sua irmã está vindo também. Achei


que seria melhor se falássemos primeiro.

—Eu concordo, — respondi.

—Você me odeia?

Essa não era uma pergunta que eu esperava. Eu não tinha razão
para mentir ou fingir, no entanto.

—Eu nunca odiei você ou mamãe. Eu odiei o jeito que você olhou
para mim.

—Eu...

—Não importa mais, — eu o interrompi.

—Isso importa, — ele respondeu laconicamente. —Esperei muito


tempo por este momento. Eu tenho uma longa lista de coisas que
quero dizer e o dobro de coisas para perguntar, mas agora que você
está bem na minha frente, tudo que posso pensar em dizer é que
sinto muito e que não poderia estar mais orgulhoso do homem que
você se tornou.
Eu me inclinei para trás, pela primeira vez na minha vida sem
palavras. Sua emoção me pegou desprevenido, a minha me deixou
desconfortável. Eu não sentia esse tipo de merda. Eu podia ouvir a
sinceridade em cada palavra sua. Quase me deu vontade de pedir
desculpas também, mas não sabia como fazer isso.

Meu pai não era um homem mau. Em nosso mundo lindamente


cruel, ele era muito bom. Mamãe também era ótima. Se eles fossem
pedaços de merda, tenho certeza que teria ficado um pouco fodido.

Eu nunca teria vergonha de onde vim ou de quem me criou. O


problema? Eu não estava feliz, então persegui minha própria
felicidade. Eu queria um império próprio, então construí um.

Havia problemas profundamente enraizados que eu tinha com


ele, sem dúvida, mas não podia culpar conscientemente por me
sentir um merda sobre ele. 

—Eu não sou bom em bate-papos emocionais. Mas não posso


culpar você ou mamãe pelo que fiz. Era algo que eu precisava para
mim.

—E eu não posso aceitar isso agora. Eu sei que não podemos


consertar isso em um dia, talvez não em cinco anos, mas não
importa que decisão você tome com seu tio... — Ele parou com um
suspiro e passou a mão pelo cabelo. —Sangue Savage, meu sangue,
corre em suas veias. Você sempre será meu filho e esta sempre será
sua casa.
Eu segurei seu olhar por um minuto, engolindo um objeto
estranho em minha garganta.

Eu não achei que me importava com o relacionamento que


tínhamos, mas talvez fosse mais por eu ser um idiota teimoso.

O que diabos eu digo de volta para ele?

O próprio Romero me salvou de ter que dar uma resposta ali


mesmo.

As portas da sala de estar se abriram e ele entrou com um


pacote grosso nas mãos.

—Vocês dois podem se abraçar mais tarde. Acho que é hora de


tirar a proposta do caminho. O que você acha?
CAPITULO VINTE E CINCO

Ele estava feliz por eu estar viva.

Essa foi a primeira coisa real que ele me disse. Isso quebrou meu
coração e me irritou. Ele era um daqueles que pensavam que
Samael era cruel e impiedoso. Ele era. Mas não para mim. Não da
maneira que ele estaria pensando.

Eu ignorei o número incontável de olhares que estava recebendo


e caminhei ao lado dele.

Estávamos nos aproximando de um bangalô de tamanho decente


quando de repente ele parou e se virou para mim. Sem nenhum
aviso, ele me abraçou.

—Eu não sabia se veríamos você de novo.

Sua voz falhou.

Meu peito apertou tão dolorosamente que fechei os olhos e o


abracei.
—Eu sempre encontraria um caminho de volta, — eu jurei.

Ele parecia praticamente o mesmo, mas eu poderia dizer por


seus olhos que ele estava sobrecarregado por muito peso do
mundo. Ele ainda sentia o mesmo. Ele era forte e quente, como se
ele pudesse me proteger de qualquer coisa. Mas esse não era mais
seu trabalho. Eu não esperava que ele fizesse isso. Eu estava aqui
para tentar fazer as pazes.

Ele deu um passo para trás e colocou as mãos nos meus


ombros. —Você é tão bonita quanto eu esperava que fosse.

—Obrigada. — Eu sorri sem jeito. Era estranho ser elogiada por


ele depois de tanto tempo.

—Você está pronta para ver sua mãe?

—Não, mas eu preciso.

Ele me deu um sorriso torto e passou um braço em volta dos


meus ombros, me guiando pelo resto do caminho até o bangalô. Eu
mal consegui subir os degraus da varanda antes de a porta se
abrir. Se meu pai não estivesse me segurando, eu teria sido
derrubada no chão.

De repente, tudo que eu podia sentir era a fragrância


característica da minha mãe. Eu sabia que ela estava chorando com
a umidade contra minha bochecha. Ou talvez fosse de mim. Ela era
tão pequena que senti como se pudesse levantar ela do chão.
—Deixe ela respirar, Mavi, — papai aconselhou com uma risada
leve.

Quando ela me soltou, ela ainda não me soltou. Ela agarrou


minha mão e me arrastou para dentro.

Eu me sentia mentalmente exausta.

Eu sabia que amanhã seria mais do mesmo. Cam deveria chegar


então, e ele era realmente quem eu mais queria ver.

Fui com meus pais até uma das moradias extras, repassando
tudo em minha cabeça. Minha mãe tinha feito muitas
perguntas. Algumas eu não pude responder, outras eu não
queria. A oferta para dormir na casa deles deve ter me deixado
visivelmente desconfortável, e foi assim que acabamos onde
estávamos agora.

—Você ama ele?

Eu segurei um suspiro, olhando o lugar onde eu dormiria


naquela noite. Eu estava esperando por essa pergunta. Tanto ela
quanto meu pai dançaram em torno do tema Samael, sendo o mais
indireto possível. Eu não mentiria para eles sobre isso. Não houve
necessidade.
—Sim eu amo. Ele é diferente de então, mas o mesmo também.

Minha mãe agarrou minha mão e apertou, as linhas de riso ao


redor de seus olhos se aprofundando com o sorriso triste que ela
me deu.

—Tudo que você precisava dizer era sim, querida. Você não tem
que validar seu amor para nós. Nós sabemos como é mais do que
ninguém. Nenhum de nós começou como um conto de fadas. Eu
não o conheço bem, e não posso mentir e dizer que o perdoo
também, mas se ele te faz feliz, ele te trata bem e te mantém segura
neste inferno, o que mais eu poderia pedir? Ninguém conhece o seu
coração melhor do que você.

Que diabos? Ela estava tentando me fazer chorar? Eu apertei


sua mão de volta e desviei meu olhar para o chão.

Se eu começasse a chorar, ela começaria de novo também. Eles


se despediram com a promessa de ir à sua casa para o café da
manhã.

Eu os observei até não poder mais vê-los. Fico feliz que eles


tenham entendido que eu precisava de tempo para pensar sem ter
que ir e dizer isso. Ainda assim, a generosidade deles aumentou a
culpa que eu sempre senti ao partir. Acho que poderia ter lidado
com a raiva deles melhor do que essa compaixão. Eu esperava que
eles me odiassem e me culpassem por tantas coisas que deram
errado. E por Brax.

Tudo era o oposto.


O que eu fiz para merecer isso?
CAPITULO VINTE E SEIS

Fiquei mortificada quando olhei no espelho. Eu tinha me


esquecido completamente do hematoma em volta da minha
garganta. Ele havia desbotado significativamente, mas se você olhar
bem o suficiente, ainda poderá ver ele.

Tenho certeza que mamãe e papai viram.

Romero e Grimm também.

Havia um buraco no qual eu pudesse rastejar?

Ouvindo a porta da frente se abrir, saí do banheiro, mantendo


minha toalha bem apertada em volta do meu corpo.

Samael entrou e imediatamente franziu a testa. —Que porra você


está fazendo?

—Acabei de sair do banho.

—Eu poderia ter sido qualquer um.


Revirei os olhos e fui sentar na cama. —Ninguém em sã
consciência entraria aqui aleatoriamente sem bater. Exceto você.

Ele chutou as botas e depois tirou a camisa.

—O que você está fazendo?

—Estou ficando confortável. Você pensou que eu dormiria sem


você porque estamos aqui? Não vai acontecer.

Fiquei satisfeita com isso. Já era estranho estar aqui. Eu não me


importava em ficar sozinha também. Ele tirou a calça jeans em
seguida, permanecendo apenas com a cueca preta.

—Como foi para você? — Eu perguntei, dando um tapinha na


cama para que ele viesse se sentar.

—Eu aprendi muito.

Eu franzi meus lábios. —Isso não foi o que eu quis dizer.

Ele se sentou ao meu lado na beira da cama e, em seguida,


manobrou meu corpo para que eu estivesse essencialmente
montada nele.

—Maly, — eu repreendi, tentando não rir.

—Não estou pronto para falar sobre isso ainda. Me diga o que
aconteceu com você.

Claro que não. Eu não podia esperar que ele fosse uma bola de
compartilhamento e emoções de repente. O que quer que ele
sentisse, ele iria processar à sua própria maneira. Eu disse que
daria a ele tempo para se abrir comigo. Eu quis dizer isso. Eu sabia
que sexo era um método de enfrentamento dele. Eu também não
reteria isso.

Eu passei meus braços em volta do seu pescoço e comecei a


contar o que aconteceu. Enquanto eu falava, ele puxou o nó da
minha toalha, dando um beijo entre meus seios. Fiz uma pausa e
sorri para ele, completamente confortável com ele vendo cada parte
de mim.

Suas mãos deslizaram para os globos da minha bunda, e ele


começou a massagear suavemente a carne, puxando meu corpo
contra o dele.

—Tenha cuidado, — eu avisei, me inclinando um pouco para


trás.

—Eles me costuraram, — respondeu ele, beijando meu pescoço.

Eu segurei seu rosto e o fiz olhar para mim, provocando seus


lábios com os meus. Sua língua varreu, exigindo acesso que eu
alegremente dei a ele. Suas mãos subiram pelas minhas costas, os
dedos espalmados pela minha pele enquanto ele me puxava para
perto, pressionando meus seios em seu peito quente. Sentindo seu
pau duro contra meu ápice, me abaixei, me esfregando contra ele. A
excitação cresceu, o suficiente para que eu pudesse deixar uma
mancha úmida em sua cueca.

—Você sabe que eu te amo, certo? — Quebrei nosso beijo para


perguntar.
—Eu disse a você alguns dias atrás. Eu também te amo. Eu vou
te amar ainda mais depois que você tirar meu pau e sentar nele.

—Você é um idiota, — retruquei com uma risada.

Alcançando entre nós, eu trabalhei nele por baixo do elástico de


sua cueca, passando a ponta do meu polegar ao redor da cabeça
lisa de seu pau, tomando cuidado com onde seus piercings ficavam.

A veia do lado pulsou quando eu apertei suavemente. Eu


esfreguei a cabeça dele para cima e para baixo na minha fenda,
fazendo minha boceta apertar em antecipação, liberando outro fio
de excitação.

—Lilith, você tem dois segundos para parar de brincar comigo.

—Oh, e o que acontece depois de dois segundos? — Eu


provoquei, fingindo que iria colocar ele dentro de mim.

—Eu vou arrastar você para fora e te foder forte o suficiente para
que cada Savage neste composto saiba exatamente quem está
sendo fodido. Tenho certeza que seu pai adoraria isso.

Mordi meu lábio e lentamente me abaixei em seu pau. Ele


agarrou meus quadris e empurrou para cima, me forçando a tomar
tudo dele de uma vez.

Um gemido saiu da minha garganta. Ele amaldiçoou e começou


a controlar meus movimentos, me jogando para cima e para baixo
em seu pau até que encontrei um movimento constante e assumi.
Eu o montei devagar, então rápido, alcançando ao redor para
segurar suas bolas enquanto me alinhava para fazer seu pau atingir
meu ponto G. Nós transamos até que estivéssemos ambos cobertos
por um brilho de suor, mesmo com o ar-condicionado no máximo.

Quando minhas coxas não aguentaram mais, ele se levantou


com seu pau ainda dentro de mim, mantendo minhas pernas em
volta dele. Me colocando na cama, minhas pernas agora em seus
ombros, ele agarrou meus tornozelos e bateu em mim sem
inibições.

A pressão desta posição era avassaladora. Jurei que seu pau iria


me separar. Seu piercing fez minha boceta se contrair, os sucos
cobrindo cada centímetro dele até suas bolas.

—Samael, — chamei seu nome, enrolando os lençóis de lavanda


que estávamos bagunçando.

—Continue gritando meu nome, — ele exigiu, deixando cair


minhas pernas para envolver sua cintura.

Ele empurrou mais rápido, alcançando entre minhas pernas


para brincar com meu clitóris. Eu senti que não conseguia respirar,
engasgando com gemidos e seu nome.

—Goza para mim, Lils. — Ele revirou os quadris, se acomodando


mais profundamente dentro de mim.

Ao seu comando áspero, uma pressão estourou na parte inferior


do meu estômago, enviando um calor prazeroso correndo por todas
as partes do meu corpo. Eu o alcancei em um estado de êxtase,
envolvendo meus braços em volta do seu pescoço quando ele se
abaixou para me beijar, seus dedos cavando em minhas coxas
escorregadias enquanto ele continuava me fodendo.

Ele gozou com um gemido que cresceu dentro de seu peito. Eu


engoli com um beijo, enfiando meus dedos em seu cabelo macio e
úmido.

Ficamos enlaçados pelo resto da noite, só nos separando quando


ele foi procurar um pano para nos limpar.

Uma vez que estávamos limpos do esforço, coloquei meu corpo


sobre o dele para que eu pudesse ficar longe dos pontos molhados.
Enquanto estava deitada com meu rosto em um lado de seu peito,
examinei sua ferida recém-remendada com preocupação.

—Você está bem? Você está dolorido?

—Sou eu que devo fazer essas perguntas agora.

—Mal.

—Romero me deu uma proposta. — Ele mudou de assunto,


passando os dedos pelo meu cabelo.

—Que tipo de proposta?

—O tipo de aliança.

Dei um leve beijo em sua bochecha. —É algo que você quer?

—Não é um desejo. Mais um trampolim necessário.

—Então faça isso, — eu respondi casualmente.


Ele não disse mais nada. Com um braço me segurando perto, ele
rolou para que ficássemos de lado encarando um ao outro.

—Obrigado, — eu o ouvi dizer enquanto eu estava cochilando.

Eu não sabia o que ele tinha que me agradecer. Eu era quem


deveria agradecer ele, por nunca desistir de mim e continuar sendo
meu melhor amigo.
Epilogo Um

Alguém estava me tocando.

Não era Samael.

Os dedos eram muito delicados e macios.

—Pensei que você disse que ninguém em sã consciência entraria


aqui sem bater? — Sua voz profunda veio do meu lado.

Eu abri meus olhos e imediatamente apertei os olhos. Cabelo


comprido loiro-neve e olhos azuis centáurea, pele pálida como a lua.
Claramente, eu estava olhando para um anjo.

Ela riu e acenou com a mão na frente do meu rosto.

—A maioria das pessoas se refere a mim como cria do


diabo. Gosto mais da sua primeira impressão. Complementa minha
beleza.

—Bella?
—Acho que é hora de acordar. — Samael se sentou ao meu lado,
descuidadamente permitindo que o edredom caísse enquanto ele
saía da cama.

—Malum! O que há de errado com você? — Bella gritou,


cobrindo os olhos.

Eu balancei minha cabeça enquanto sua bunda nua e tonificada


desapareceu no banheiro. Quando a porta clicou, outra coisa fez o
mesmo.

—Você acabou de chamá-lo de Malum?

Ela se virou e olhou para mim, depois desviou o olhar


apressadamente, protegendo os olhos. —Você pode cobrir isso?

Eu olhei para baixo, rindo ao ver meu peito nu. —Você é aquela


que entrou correndo aqui com as armas em chamas.

—Você acha que isso são armas em chamas? Você não viu nada.

Ela pulou como um coelho e se dirigiu para a porta. —Se apresse


e se vista. Precisamos ficar com sua mãe, e você tem muito a me
contar.

Sentei e abracei meus joelhos contra o peito quando ela se


foi. Toda a nossa interação acabou como se eu não tivesse ido
embora há algum tempo. Era estranho. De todas as pessoas, eu
esperava que ela fosse a mais brava, mas ela era apenas... Bella.
 

Eu as vi quando saí do banheiro, recém-saída do banho.

Foi uma surpresa o suficiente para me parar no meio do


caminho.

—Onde diabos ele conseguiu isso? — Eu vaguei até a cômoda


para dar uma olhada mais de perto.

—Eu perguntei ao meu tio onde encontrar algumas ontem.

Eu levemente pulei ao som de sua voz. Eu não o tinha visto


parado na porta, muito distraída com a visão das minhas
flores. Parecia que fazia uma eternidade desde que eu tinha
recebido isso, e em um ponto eu pensei que nunca mais receberia.

Eu era um idiota.

Quem desistiria de um homem como ele?

—Sempre gostei delas, — admiti.

Ele se aproximou para ficar ao meu lado, seu cheiro de menta


agredindo meu olfato.

—É por isso que você parecia triste?

—Não, isso foi porque perdemos muito tempo sendo estúpidos.

—Você fez isso.


Eu virei minha cabeça e olhei para ele.

—Eu estava brincando. — Ele ergueu as mãos em falsa


autodefesa e riu. —Não perdemos tempo, Lils. Ainda somos
jovens. Essa merda não teria funcionado melhor se fosse mais fácil.

—Então, você está dizendo que faria tudo de novo?

—Você não faria?

Eu poderia?

Eu não era nada mais do que uma menina ingênua quando fiz
uma promessa a um lindo menino com um sorriso trágico. Ele
cresceu muito desde então. Cansado. Desequilibrado. A escuridão
dentro dele também. Mas ele era tão fodidamente incrível aos meus
olhos. Se eu tivesse que fazer tudo de novo, sabendo o que sabia
agora, ainda escolheria fugir com ele.

Eu só queria poder preencher o vazio que ele tinha dentro dele e


tornar tudo melhor. As coisas não funcionavam assim, no entanto.

Se tudo o que fosse necessário fosse o desejo de alterar a vida


que vivíamos, ninguém jamais teria que passar por algo ruim. O
único que poderia curar Samael era ele mesmo. Eu ainda estaria
aqui, lembrando-o de que ele não teria que enfrentar suas lutas
sozinho.

—Eu faria isso de novo. Talvez pular a parte em que quase me


tornei o gado de alguém.
Ele sorriu e pegou minha mão, entrelaçando nossos dedos. —
Você se lembra da promessa que fizemos?

—Você me fez sangrar por isso. Eu nunca esquecerei isso.

—Acha que pode ficar com ela agora?

—Eu vou, — eu afirmei, recitando as palavras na minha cabeça.

Para o pior ou para o melhor. Sempre cair juntos, nunca


desmoronar.

Estranhamente, isso me fez pensar em uma história que li


quando era mais jovem.

Talvez tenha sido estar de volta aqui que evocou a história


novamente. Eu também tinha uma resposta para a pergunta.

Éramos poesia, do tipo que sangrou e chorou, uma ode


tragicamente bela. Não importava o quanto lutamos ou a dor que
inevitavelmente causamos, nós amamos mais. Nenhum de nós
poderia ficar sem o outro. Não podíamos escapar de qualquer
cadeia invisível que nos mantinha unidos.

Então, qual de nós era Ícaro e quem era o sol?

Bem, acho que funcionou nos dois sentidos. Fomos atraídos um


pelo outro, sabendo que poderia ser mortal, mas se um caísse,
cairíamos juntos. Minha mãe disse isso melhor. Nossa história de
amor não era um conto de fadas ou algo para se invejar, mas era
nossa.
Epilogo Dois

Duas semanas.

É quanto tempo eu ficaria aqui antes de ir para casa. Lilith não


tinha ideia de que estaríamos nos mudando para um novo local, em
algum lugar melhor e mais seguro do que o chalé.

Bella se aproximou de mim, seguindo meu olhar. —Você não vai


se juntar a eles?

Eu assisti Lilith e Cam conversando, lado a lado perto da


fogueira. Minha mãe e Blue se sentaram em frente a eles, me
verificando a cada poucos minutos.

—Nah. Eles deveriam ter algum tempo juntos.

—Hm. Qual é o problema com ele? — Ela acenou com a cabeça


na direção geral de Jin.

—Nenhuma coisa. Ele está sendo ele mesmo.


—Uma estátua é ele mesmo?

—Em geral. Por que você está me incomodando?

Quase todo mundo parecia estar aqui, exceto Addy. Ela se


escondeu em algum lugar, e Nyx não tinha voltado de fazer uma
verificação completa ainda. Seu amigo de foda tinha ido com ela.
Agradeça a Satanás por suas bênçãos. Eu não poderia lidar com ele
tentando bater papo comigo.

—Pare de ser tão inacessível e sorria, — Bella repreendeu


brincando.

—Você pode ir embora agora.

Ela riu e se aproximou ainda mais, ficando séria com sua


próxima pergunta.

—Por que você nunca disse a ela que eu estava por dentro de
tudo?

—Porque eu faria isso?

—Eu chamei você de Malum e percebi que ela não sabia. Eu tive
que suavizar durante o café da manhã. Você poderia ter contado a
ela.

Eu balancei minha cabeça. Eu não tinha contado muitas coisas


a Lilith.

Eu queria me abrir com ela.


Isso não significava compartilhar merdas que potencialmente a
machucariam. Eu não poderia prever como ela reagiria ao saber
que Bella estava no meu plano desde que foi levada do ginásio
abandonado, portanto, eu não diria nada. Eu também não queria
que minha prima se machucasse potencialmente.

—Me deixe ser o cara mau. Estou acostumado com isso.

Ela franziu a testa, balançando a cabeça.

—E um alerta, Amo e Aurora estarão aqui em dois dias com


alguns amigos de Lilith. Eu queria que você soubesse que ele estava
vindo para que você não fosse pega de surpresa.

De minha periferia, vi seus olhos azuis me estudando de perto.


Com um leve suspiro, ela deu um passo para trás. —Você não é um
cara mau, Mal. Você é o oposto.

Ela se afastou, parando no meio do caminho que ia para onde


estava o fogo quando viu sua mãe se aproximando com seu irmão
mais novo.

—Você fez a escolha certa.

—Há quanto tempo você está parado aí?

—Longo o suficiente.

Meu pai avançou, deslizando o manto das sombras como se


fossem sua segunda pele.

—Eu concordo com ele, — tio Romero interrompeu, se


aproximando da direção oposta com Cobra ao seu lado.
Excelente. Era a porra do meu dia de sorte.

Meu pai riu, percebendo meu aborrecimento.

—Você vai ser bom para ela, — afirmou Cobra.

—Eu sempre fui. Para ambas as suas filhas.

Sim, foi uma brincadeira com ele. Eu não me importei. Quem


diabos era ele?

Romero riu baixinho. —Quanto mais estou perto de você, mais


gosto de você.

Cobra sorriu, me pegando desprevenido pela primeira vez. —Eu


só queria ouvir sua resposta. Eu não vou dar um sermão para você.

—Ele não precisa mesmo, — respondeu meu pai.

Senti um pouco de hostilidade ali. Papai estava certo, no


entanto.

Eu não iria ouvir um discurso sobre como tratar Lilith. Eu a


valorizava mais do que tudo. Foi o que me fez antecipar o dia em
que iria embora daqui e a levaria para casa.

Ela não conseguia ver o que eu fiz. A maneira como ela se viu
machucou a porra do meu coração. Este império que criei não era
só meu. Era nosso. Eu ficaria nas sombras e ela poderia se sentar
no trono. Eu só precisava dela ao meu lado.

Eu teria certeza que ela nunca teria que se comparar a qualquer


outra pessoa, porque todos eles estariam fodendo abaixo dela.
Nós passamos por algumas situações fodidas
juntos. Aprendemos a prosperar em um mundo de
escuridão. Tempos mais sombrios estavam à nossa frente, mas era
melhor enfrentar o abismo juntos do que separados. Pelo menos
agora não estaríamos fazendo isso sozinhos.

Fim
SOBRE A AUTORA
Natalie Bennett é uma autora de best-sellers internacional e amante de
todas as coisas obscuras e distorcidas.
Construindo romance com fortes elementos de terror, em seus livros os
vilões, anti-heróis e oprimidos sempre saem por cima, ‘encontrando’ seu par
perfeito ao longo do caminho.
Quando ela não está trabalhando, ela está curtindo o tempo com a
família ou relaxando com uma mistura de rum gelado.

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