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A Rainha Do Capà - A Máfia Italiana 2 - Gleen Black
A Rainha Do Capà - A Máfia Italiana 2 - Gleen Black
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Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Todos os personagens, nomes,
eventos, organizações e diálogos neste romance são produto da imaginação do autor ou foram usados neste trabalho de
forma fictícia.
ISBN: 9798573372075
Não é permitida a reprodução total ou parcial da obra, nem a sua incorporação a sistema informático, nem a
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“O inferno está vazio e todos os demônios estão aqui”
William Shakespeare
“A tempestade”
Prefácio
Caminho ereto, apesar das duas costelas que pressionam meus pulmões. É
possível que estejam fraturadas. O terno que Dominic me emprestou torna
meu caminhar muito difícil, pois tenho mais músculos do que ele e seus
ternos são feitos sob medida. Preciso que de um terno que seja dois números
maiores do que este. Se eu me mover bruscamente, acho que algumas
costuras se abrirão.
Seguro uma toalha para que ele possa sair da piscina da mansão Cavalli. A
natação é uma das atividades com a qual consegue liberar sua mente. Este
homem é sempre uma bomba à beira do desastre. Temo por sua vida,
principalmente, quando os sentimentos o arrasam por dentro. Ele assassinou
seu irmão, no entanto, não me estranha que carregue essa culpa sobre seus
ombros.
— Onde diabos estava? — assovia, expandindo suas narinas.
«Recuperando-me da última surra», quero dizer, seu pai Gabriel Cavalli se
encarrega de me fazer relembrar continuamente do lixo de onde eu vim. Sou
um cachorro sendo adestrado ou isso é o que ele pensa... A paciência é minha
virtude, porém, não acho que algo possa quebrar-me. Não depois de ter
nascido na Bratva, nascido e criado para suportar a dor.
— Treinando com os soldados — minto.
Não sou bom com as palavras, gosto do silêncio e assim, posso analisar
meus movimentos e manter a presa por perto.
— O filho da puta me enviou para Jersey esta noite.
— Precisa controlar o distribuidor local — assinto, concordando. Dominic
é uma arma de intimidação, sua crueldade o precede... Porque ninguém
conhece o garoto por trás daquele Made Man[1].
— Não quer que venha comigo, acho que tem medo de nós.
— Somos sua ameaça, você é seu herdeiro e eu sou um desertor da Bratva
que lhe deu todos os segredos para governar a Rússia. Teria medo de nós.
— Sim — clama com um sorriso demoníaco. Se tudo correr bem, em dois
anos terei plenos poderes sobre a Sicília. Dominic, embora possua tudo para
ser um chefe forte, sua explosão o levará à morte.
Sou a melhor opção para unir a Sicília, para sua própria segurança. «Se eu
fosse italiano... Talvez um casamento solucionasse esse conflito». Viver com
os Cavalli não é coisa do destino, quando traí a Rússia e embarquei em um
barco clandestino, sabia muito bem que meu único objetivo era tornar-me
indispensável nesta família.
Meu principal objetivo era Damon, mas ao investigar seus passos, acabei
descobrindo que um homem como ele nunca me aceitaria, no entanto,
Dominic tem ou melhor dizendo, tinha uma alma caridosa naquela época.
Agora só vejo dor, crueldade, alguém instável e muito ferrado.
Sua família o criou assim, mas de alguma forma, tornei-me seu projeto de
caridade há um bom tempo. Meu pai não podia atacar a Sicília, sem antes
receber alguma prova de traição e temo que Joseph Greystone era o único que
sabia de tudo. Sendo assim, Gabriel Cavalli orquestrou um acidente aéreo,
para eliminar qualquer evidência que o diretor da CIA possuísse. Minhas
provas foram por água abaixo com a morte de Joseph. Minha opção de salvar
meu irmão Raze, de nosso pai, enfraquece com o passar do tempo... O último
recurso era uma alma que hoje em dia está envenenada.
— Governaremos juntos, minha lealdade está com você — diz unindo
nossas testas, mas cerro os dentes para compensar a dor vinda das minhas
costelas fraturadas.
— Meu irmão por escolha — concluiu. Um lema que parecia mentira e
distante, mas que começa a tomar uma força que me apavora, apesar de saber
que é mentira... Porque enquanto Dominic tiver que a opção de escolher entre
seu maldito pai italiano e o lixo russo, Gabriel será o vencedor. Sangue sobre
a lealdade, sempre.
Seguindo-o alguns passos atrás, caminhamos pela mansão em silêncio até
seu quarto, que de alguma forma sempre me pareceu agradável desde minha
chegada à América.
Dominic entra para tomar banho, fica constantemente embaixo d’água,
purificando o sangue que costuma encharcar seu corpo, é uma espécie de
fetiche imaginário. Não gosto de comentar, muito menos falar sobre seus
problemas violentos, sei que um dia terá uma crise emocional tão forte que,
sinceramente, espero estar bem longe quando isso acontecer. Esta noite dará
uma lição no distribuidor local de Jersey, por isso escolhi um de seus
melhores ternos de três peças de cor cinza.
Fazer qualquer tipo de movimento está acabando comigo, no entanto, sei
que seu pai chamará o médico da famiglia para poder continuar com a tortura
esta noite. Eu o ajudo a vestir-se ouvindo suas reclamações habituais, às
vezes dando uma opinião ou duas, mas sempre me mantendo uma posição
neutra a maior parte do tempo. Uma hora depois, temos o próprio Gabriel
Cavalli na porta.
— Você acha que tenho a noite inteira livre? Pare de chupar o pau de
Rocco e vá de uma vez por todas para Jersey, ou devo levá-lo pela mão?
Fico tenso sem olhá-lo, odeio que me chame de Rocco ou Roqui em
particular. Um dia desses eu, simplesmente, acabarei com sua vida.
— Foda-se, papai — assovia Dominic, jogando sua faca favorita na minha
direção.
— Seu irmão não precisava de um russo marica para agradar uma mulher.
«Maldito velho filho da puta.» Se há alguém entre nós três que ama um
maldito pau é ele, não é toa que me obriga a fodê-lo em qualquer maldito
canto dessa mansão. Durante anos dormi com Dominic na mesma cama e
nunca foi incômodo algum e nunca nenhum de nós cruzou o limite, juntos e
ou separados arrombamos diversas bocetas de inúmeras putas, não posso
dizer o mesmo de seu pai. Talvez por isso seu casamento não tenha saído
como o esperado com Isabella Cavalli. É um homem impotente com uma
mulher e, embora seja bem dotado, somente tem ereção quando alguém fode
seu cu ou quando está prestes a foder uma menina.
— Desculpe por não estuprar menininhas.
— Devia ter sido você.
Quatro palavras que marcam Dominic, não se refletem em seu rosto
porque sua máscara sempre o protege, mas a ferida interna sangra toda vez
que ouve essas malditas quatro palavras «devia ter sido você». Gabriel sorri
triunfante quando Dominic sai do quarto, eu o sigo, como sendo seu fiel lixo
russo, seguido por Gabriel.
É um homem na casa dos cinquenta anos, um pouco grisalho e com os
olhos cinzas sem vida, muito parecidos com os olhos do meu irmão mais
novo, por quem faço tudo o que estiver ao meu alcance. Quando eu assumir a
Sicília, meu irmão terá um lugar para chamar de lar e cada golpe recebido
terá valido a pena.
O carro de Dominic está estacionado na entrada da casa, franzo a testa por
não ver mais homens atrás, pois sempre leva quatro ou cinco soldados
quando não estou ao seu lado... Olho por cima do ombro e vejo Gabriel
sorrindo e olhando para seu filho, o único herdeiro que lhe resta, entrar no
veículo e ligar o som com uma música americana escandalosa de uma banda
de rock que ele tanto ama. Olho para Dominic que acelera e sinto um gosto
estranho e amargo na minha boca, quando está contornando a fonte. Gabriel
fica atrás de mim e deixa sua mão cair no meu ombro, exercendo pressão, de
repente os soldados saem da mansão.
— O que está fazendo? — pergunto com a voz rouca.
«Não pode ser.» Eu imploro.
— O que deveria ter feito desde que vocês dois se tornaram tão unidos.
Exterminar um... — diz deixando as palavras no ar. Não deveria estar
tranquilo ao saber que esta será minha última noite.
— Faça o que tiver que fazer — olhando fixamente ao garoto explosivo,
esperando o portão de segurança se abrir.
— Você é um bom brinquedo, Roqui. Não penso livrar-me de você tão
cedo — explica impassivelmente.
— Não... — Suspiro, sinto o pânico atravessando meu sangue gelado.
Antes de reagir, dou três passos para escapar de seu agarre. É uma armadilha,
é uma maldita armadilha! —. Não! Dominic! Dominic!! — grito com força,
dois soldados tentam deter-me, mas sou muito mais rápido e ágil, escuto o
assovio furioso de Gabriel antes de sentir outros dois pares de mãos tentando
deter-me. Grito seu nome descontroladamente, apesar de saber que não me
ouvirá com essa música altíssima dentro de seu carro. Gabriel, sabendo do
meu machucado, ataca diretamente nas minhas costelas, grito caindo de
joelhos, ficando quase inconsciente.
Ouço a ordem de me levarem ao porão, enquanto tento lutar contra os
quatro homens, algo que só me machuca ainda mais.
— Eu o matarei! — ameaço, os soldados suspiram surpresos ao entrar no
hall. Gabriel sorri, pensa que me quebrará, que conseguirá dobrar meu
espírito —. Se tocar em um único fio de cabelo de Dominic, eu o matarei. —
Cuspo sangue, com esse sabor metálico me sufocando.
— Tocarei mais do que um fio de cabelo desse bastardo, eu o matarei. Ele
receberá a melhor surra de sua vida no cais e deixarei seu corpo jogado aos
corvos. Esse maldito assassinou meu herdeiro legítimo...
— Você o obrigou! — grito desesperado. A princípio, Dominic nunca teve
espaço e jamais compartilharia seu trono comigo, mas isso não quer dizer que
o deixe morrer sem saber seu destino —. Mate-me em seu lugar! Não está
raciocinando direito, um Capo deve sempre ter alguém para quem deixar seu
legado. Leve-me, mate-me e deixe-o viver. Sou apenas um lixo russo, um
cachorro... Deixe-o viver — eu imploro.
— Se eu não tivesse visto, não acreditaria — comemora, mas eu não
entendo porra nenhuma. Vocês estão vendo isso? — questiona seus soldados.
— Por favor, farei o que for preciso.
— Lealdade — rosna, agachando-se diante de mim, jogando meus cabelos
preto para trás e levantando meu rosto —. Eu lhe pedi para que o assassinasse
— confessa Gabriel —. Disse que lhe daria a Sicília desde que ele o matasse
na minha frente e ele não hesitou em sua resposta... Não, meu filho, meu
herdeiro, desistiu de seu futuro por causa de um rato como você, Roqui. Você
é um mal na minha casa, contaminou meus filhos! Agora estão condenados a
fraqueza!
— Ele desistiu da Sicília por mim? — pergunto piscando. Não é possível...
A Sicília é tudo o que Dominic Cavalli sempre almejou.
— Renunciou sua vida por você, disse que preferiria morrer do que matá-
lo e, hoje, cumprirei seu desejo.
— Não, não é possível, — nego, por que merda fez isso, Dominic?
Os alarmes de segurança são ouvidos na casa, isso só acontece se um
veículo ou pessoa estranha se aproxima. O sorriso de Cavalli se amplia, o que
mais está planejando? Um dos seus empregados entra sem hesitar e me vê no
chão sendo mantido por quatro soldados, sou testemunha de que presenciei
coisa piores.
— Os jovens Greystone estão aqui, senhor.
— Deixe-os entrar e leve a garotinha diretamente ao meu escritório. Não
deixe ninguém nos incomodar — ordena sem deixar de me olhar.
Greystone... Joseph Greystone diretor da CIA.
Por que seus filhos estão aqui? Uma vez ouvi Joseph mencionar um cofre
impenetrável, eles falaram sobre algum tipo de armazenamento incomum.
— Levem esse russinho de merda ao posto de segurança, amarre-o para
que possa ver em primeira mão a minha carta de Ás na manga.
Capítulo 01
Minha esposa está dormindo, seus longos cabelos cobrindo seus ombros
nus. Engulo em seco o nó na garganta enquanto se remexe um pouco inquieta
e detenho meus dedos, recuando e apertando minhas mãos. Quero tocá-la,
sentir sua pele macia e delicada na ponta dos meus dedos, seu aroma suave e
doce no meu nariz. Fecho meus olhos negando na escuridão, lembrando de
suas palavras de algumas horas atrás. Minha mulher, que deve ser destinada à
minha cama, dormindo sozinha e cheia de coragem contra mim. Ela me
odeia.
O único sentimento que qualquer ser humano deve sentir por mim. Ela é
uma deusa que vive entre monstros. Acabará contaminada, como todo
mundo, talvez perca a vida, na melhor das hipóteses, de uma forma rápida ou
pode ser que seu ódio contra mim a consuma. A pressão em meu estômago,
essa que me vem perseguindo desde a Itália, acentua-se ainda mais. Sou um
maldito filho da puta, eu sei disso. Vi em seus olhos, a ferida interna. O que
podia fazer? Fingir um sentimento? Não a amo. Não faço por onde... Por que
esse mal-estar estranho no corpo? E hoje na frente da igreja, dizendo meus
votos... Foi real. Ela é minha, para cuidá-la e adorá-la todos os dias da minha
existência. Para livrá-la de qualquer ameaça e preservar sua inocência o
máximo que puder, mas a necessito forte, de uma mulher que seja capaz de se
defender. «Ela é», eu me lembro.
Ela me ameaçou, minha esposa ficou bem na frente e ergueu o queixo
ameaçando uma guerra entre duas facções que se odiavam até a morte, um
legado de sangue e dor por séculos. Devo fazer algo a respeito, não posso em
hipótese alguma deixar minha esposa dar um único passo, ela poderia destruir
meu esforço em um piscar de olhos. «Foda-se».
Roth me avisou sobre isso, ele o fez uma dezena de vezes, mas subestimei
a garota, pensei que poderia dominá-la e moldá-la ao meu gosto. Ledo
engano e como fui estúpido, ela nunca sucumbirá ao meu domínio, não
nasceu para ser enjaulada. E, merda, sabia desde o dia do orfanato. Ela é uma
pantera por natureza, se pudesse tê-la ao meu lado poderíamos ser o casal
mais poderoso, mas a machuquei... Sou um covarde, o que poderia dizer?
Afrouxando o nó da gravata, dou um passo para trás, eu me preocupo e isso é
uma sentença de morte.
Sem tocá-la saio em direção a porta principal da suíte presidencial, não
poderia levá-la à cobertura, não com meus planos futuros e sem colocá-la em
risco. Meu braço direito está na sala ao lado com um bolsa, ele aposentou seu
terno clássico de homem elegante — seu traje — para usar suas roupas
matadoras, Raze quando veste jeans e uma jaqueta preta faz com que sua
imagem ressalte, que por sua vez, está lá fora primando pela segurança do
local.
Se algo der errado esta noite, não apenas deixarei minha recém-esposa
viúva, como também se tornará o principal alvo de meus inimigos. Lucas
Piazza, por exemplo. Todos viram e perceberam minha fraqueza por ela no
casamento, como não perdia nenhum detalhe de sua silhueta ou a aproximava
de mim quando nossos rivais fingiam gratidão. No entanto, não deveria
importar-me com ela... As pessoas que o fazem morrem.
— Tudo pronto? — questiono.
— Sim — responde com essa maldita indecisão em tudo o que concerne a
minha esposa —. Tem certeza, Don? Se ela descobrir...
— Preciso saber onde ela está o tempo todo.
— Isso é muito mais, você sabe. Merda. Está ferida, magoada, pensa que a
traiu... Deveria temer uma mulher assim, Dominic.
— Medo? Da minha própria esposa?
A escuridão existe dentro de mim, é uma muralha de pedra resistente,
nunca quis levá-la a sério totalmente até essa parte, é preciso destruir algumas
dessas ilusões que nunca cumprirei, suas expectativas de um romance
perfeito não têm futuro.
Roth pisca, desviando seu olhar do meu.
— Há algo que deseja compartilhar, irmão? — pergunto baixando a voz,
Nikov é um dos poucos que não pressiono, não é necessário, sempre foi um
livro aberto...
Antes de Emilie, mesmo depois dela, nosso relacionamento ficou um
pouco instável.
— Você é meu Capo.
— Mantenha essa frase presente, sou seu Capo e é responsável se sua
lealdade for questionada — assovio. Fui treinado para isso, para exterminar
qualquer ameaça ao meu legado —. A famiglia primeiro.
Roth repete retomando sua postura, aperta com mais força a maleta e se
dirige ao quarto de minha esposa, comigo seguindo seus passos. Um bom
capo age de forma fria e calculada, deve ficar de olho no futuro e suas
variantes... Por isso preciso saber a todo momento onde minha esposa está,
primeiro o colar Cavalli me concedia essa pequena vantagem. Emilie não é
uma mulher previsível e astutamente relacionou sua localização com a joia,
descobriu rapidamente o GPS integrado, obrigando-me a tomar essa decisão
extrema. Colocar um GPS em seu quadril, no qual me dará sua localização
em tempo real no meu celular. Roth e eu temos um em nosso pescoço e
também inseri uma terceira linha em Raze anos atrás.
Nunca pensei que precisasse de um extra, porque nunca imaginei na minha
vida que seria necessário controlar remotamente uma mulher, na verdade,
Emilie não deveria receber um GPS esta noite, mas sou o Capo fodão e ela é
minha esposa. Minhas ordens sempre serão atendidas. Acendo a luz central
com uma palmada, minha esposa não acordará graças ao sonífero que lhe dei
em sua última bebida, antes de fugirmos do casamento. Curiosamente,
deveria estar fodendo-a como um maldito demente e, ao invés disso, continuo
cheio de desejo por possuir o que é meu por direito, porém, ela decidiu negar-
me, sou um assassino, não um estuprador. Pegá-la a força não me tornará um
homem melhor. Posso bancar um bom marido por um tempo e esperar que,
eventualmente, ela ceda ou serei forçado a buscar satisfação fora de nosso
casamento. Não sou santo e quero tentar reparar meu erro, dar um passo
adiante depois de minhas dúvidas sobre ela e Katniss...
Emilie desperta emoções adormecidas em mim, eu sei disso. E tenho
lutado contra essas emoções confusas, mas não posso continuar assim por
muito mais tempo. O que mais posso fazer para ter um relacionamento um
tanto normal? Nada, exceto dominar minha esposa e lembrá-la o seu lugar.
Um herdeiro poderia acalmar certas partes dela, poderia enviá-la para
longe e levar uma vida normal de solteiro. Ninguém em nosso mundo se
ofenderia em me ver transar no meio de Nova York enquanto minha esposa
pode muito bem carregar meu filho em seu ventre na Itália. Emilie deve
aprender seu lugar de uma forma tranquila — o que, claramente, não
funciona — ou pela forma mais difícil. No entanto, enviá-la para longe do
meu alcance está fora de cogitação, eu a quero perto de mim, sendo um
incômodo ou não. Controlo um exército de homens, mas é diferente, se
algum deles me desobedece é castigado e minha mulher pode receber o
mesmo tratamento. Desmembrá-la não me fará nenhuma diferença.
— Espere aqui — ordeno. Deixando-o próximo da porta. A mulher que
está dormindo na cama é minha esposa e, não quero expô-la a outro homem,
de forma alguma, pois isso é um golpe para o meu ego. Tiro os lençóis sobre
seu corpo cobrindo suas nádegas e subo sua camisola um pouco acima de
suas costelas. Suas costas nuas, as curvas que tanto me enlouquecem à mercê
de Roth.
— Se quiser mais alguém pode...
— De jeito nenhum — rosno, pedindo para que Roth se aproxime, ele não
olha mais do que o necessário. Abre sua maleta retirando seus instrumentos e
o pequeno dispositivo.
— Tem certeza disso?
— É para sua própria segurança.
— Você se preocupa demais com ela — sentencia meu irmão —. Se não
me preocupasse, ela estaria morta.
— Disse que devo ser cauteloso, certo? — questiono ironicamente,
desviando a verdade.
—Sua cautela é exterminar a ameaça, por isso devia estar fora do negócio
por um tempo, não se lembra?
«Maldito filho da puta».
— Gosto de fodê-la — digo dando de ombros.
Minhas mãos tremem quando o vejo tocá-la, verificando aquele lugar onde
ela tem duas pequenas reentrâncias perfeitas na parte inferior das costas.
— Ter sentimentos pela garota não o torna menos poderoso, Don.
Continua sendo você, porém, com sentimentos diferentes.
— E para onde me levaram meus sentimentos no passado? — cuspi em
sua direção começando a ficar furioso —. Por causa dos meus sentimentos,
meu irmão morreu, eu o matei, meus sentimentos fizeram com que seis
homens da Bratva morressem. O que aconteceria se Vladimir descobrir que
fui o responsável direto pela morte de seu pai porque fodeu minha mãe, assim
como aconteceu com os outros cinco? Os sentimentos me cegaram. A raiva
se apodera de mim toda vez que os sentimentos saem da minha alma. É
melhor no falar sobre sentimentos.
— Você matou Gabriel para me salvar, Dominic, salvou meu irmão tantas
vezes que que é muito difícil contá-las, e a garota Miller... continua
protegendo-a porque é importante para Raze, por que não seria assim com
Emilie?
— Eu a desejo e a odeio... Esse é o motivo, odeio desejá-la do jeito como
faço. Estou tornando-me em uma boceta sentimental, entreguei-lhe a metade
da Sicília! Meu legado! O legado dos meus filhos!
— E seus filhos, Dominic. Seus filhos virão do ventre dessa garota...
Mesmo que ela o destrua de mil maneiras, você a procurará novamente. Não
sei se é obsessão ou amor, mas capto em seu olhar o desejo quando a olha,
observo como age quando está perto dela. Como se fosse dois homens
totalmente diferentes, o Capo sangrento e respeitado ou homem doce como
nas semanas anteriores. Deve parar de brincar de um dia sim e outro não...
Ser um bom marido não o torna um Capo melhor ou pior.
— Vladimir está vivo — eu o lembro. Eu o deixei viver por Emilie.
Pensando em um acordo de paz com a Bratva, pois minha doce esposa não
merece viver dentro de uma guerra, tê-la com medo de meus inimigos ou que
possam machucá-la —. Tentar ser um bom marido vai contra a famiglia.
— Vladimir é melhor como um aliado... Fazer isso Pakhan[2] será uma
boa jogada. Sabe bem disso.
— Dei-lhe seu trono. Seu direito de governar a máfia vermelha.
— Nunca foi meu, Don. E Raze está feliz em saber que nosso tio estará
morto ao amanhecer. Você nos libertou da Rússia. — Dá de ombros e insere
a agulha no quadril da minha esposa —. Não pertencemos mais à máfia
vermelha, agora somos da Sicília. E estou feliz em servi-lo. Deixe o ego para
trás, encontre uma maneira de conquistar sua esposa e ganhar o seu respeito.
— Apenas a fodi, meu Deus! Fazem parecer como um crime.
— Você transou com Katniss e horas depois levou sua prometida, não
para olhar o amanhecer precisamente, e isso para ela é desrespeitoso. Como
se sentiria se Emilie transasse com qualquer homem e minutos depois com
você?
A parte sombria da minha mente fica nublada, uma explosão de sangue
dança em meus olhos. Se algum filho da puta tocar em algum lugar da minha
esposa… Eu o mato. Quebrá-lo de formas diferentes não será suficiente.
Destruiria seu espírito. E Emilie? O que lhe faria a minha esposa? Nada. Não
tocaria em nenhuma parte de seu corpo, não me daria nenhuma satisfação
machucá-la. Merda.
Foder com Katniss foi apenas para descarregar minha frustração, foi como
transar com uma boneca de plástico, já com Emilie não há como comparar.
Gosto dela, guardo em minha memória cada olhar ou gemido, fico
embriagado com seu aroma quente e doce. Minhas mãos se enchem de
esperança ao segurá-la. E algo sem precedentes.
Indecifrável, cativante e enigmático.
Conquistar minha esposa é algo que nunca pensei ser possível, estou
disposto?
~♦~
Roth termina o procedimento depois das duas da manhã, bem a tempo de
minha partida. Certifico-me de cobrir seu corpo e deixá-la confortável, por
algum impulso estranho me inclino deixando um beijo em seu ombro,
afastando vários fios de seus cabelos no processo. Ela é tão linda, nunca
encontrei uma mulher tão exuberante ou interessante. Sua pele é suave e lisa
e tem um aroma adocicado como pêssegos frescos.
— Minha pequena, pela primeira vez não tenho interesse em fazer um
homem dobrar-se diante de mim. Desejo muito mais ficar aqui com você
nessa cama — sussurro negando. Matar o Pakhan da máfia russa deveria ser
muito divertido, no entanto, estou aqui com a minha recém-esposa, falando
como um idiota e desajeitado.
«Ser um bom marido não o tornará um Capo melhor ou pior».
Roth sempre encontrou um jeito de entrar na minha cabeça, sei que dessa
vez não será diferente. Deixando Emilie dormir, saio da suíte encontrando-me
com Raze, que caminha de um lado para outro nervoso.
— Deixe-me ir com você — exige. Nego rindo de lado, este garoto é
como um irmão caçula para mim. Nunca arriscarei seu bem-estar.
— Você tiraria a minha diversão.
— Porra! Não pode ir sozinho, e se for uma armadilha? Se eles o
matarem?
— Bem, que pouca fé você tem em mim — ironizo arqueando uma das
minhas sobrancelhas. Roth decide que é hora de entrar, está verificando sua
Glock 9mm. A arma que lhe salvou a vida há tantos anos, a mesma que Raze,
seu irmão mais novo, usou para atirar em Robert, o mais velho dos Nikov.
— Irei com ele — anuncia. Como se isso fosse possível.
— Não, irei sozinho e não quero escutar mais nenhuma palavra. Você tem
que cuidar de Emilie e, se alguma coisa acontecer comigo, ambos serão
responsáveis por mantê-la segura.
— Dominic...
— Basta! — assovio, silenciando a voz de Raze —. Os dois cuidarão da
minha esposa e ponto final.
Espero alguns segundos caso algum deles queira acrescentar algo, quando
Roth acena com um ligeiro movimento, sei que concorda e se eu entrar em
uma armadilha russa, ele cuidará da única coisa que é valiosa para mim nesse
momento. Minha esposa.
Não tenho nenhum tipo de arma ou faca, estou desarmado graças ao meu
casamento recente. É como se estivesse nu, elas formam parte de mim, metal
e pólvora são meus aliados, mas não nesta noite.
Deixo o hotel conduzindo meu BMW preto, verificando no retrovisor se
nenhum dos meus soldados me está seguindo, viro algumas vezes no
quarteirão distraindo um possível companheiro indesejado. Quando tenho
certeza de que não há ninguém atrás de mim, vou até o cais onde Vladimir
Ivanov me espera. Pertence a mim, mas esta noite está abrigando um Audi
Spyder com as luzes acesas. Estaciono meu carro de frente, desligando
minhas luzes. Poderia morrer nos próximos três segundos, mas não é algo
que tenha temido no passado e não começarei a tê-lo nesse momento. Se eu
morrer, meu legado irá para Nikov. Estará em boas mãos. Saio do meu carro
esportivo e dois segundos depois Vladimir faz o mesmo, antes de desligar as
luzes. Nós nos odiamos e isso não é um segredo para nenhum dos dois.
— Pozdravlyayu[3] — diz em russo, gosto de ver como mantém distância
olhando para o alto dos edifícios.
— Não há atiradores, Vlad.
— Apenas meus amigos me chamam de Vlad.
— Até onde sei, não tem nenhum. No entanto, não é um assunto que me
apaixone, como já sabe estou recém-casado e quero voltar para minha esposa.
— Sorrio ao ver como a cicatriz em seu rosto se contrai quando franze a testa
—. O que você quer, Vladimir Ivanov? Diga-me e será seu.
— Agora você é a porra do gênio da lâmpada? — tenta zombar da minha
cara.
Sorrio esticando a manga do meu terno, um par de abotoaduras com a flor-
de-lis gravada nelas.
— Sou muito mais poderoso do que esse bastardo, acredite em mim.
Ele fica em silêncio e dá dois passos à frente, com as mãos em sua
gabardine, provavelmente uma faca e alguma Glock guardada para o
momento certo, que nunca será. Por que será que os russos amam tanto as
armas? Pessoalmente, prefiro as facas, gosto de sentir de perto a morte dos
meus inimigos e saber que os trouxe a esse estado com as minhas próprias
mãos.
— E se eu lhe dissesse que quero Emilie Greystone?
— Eu lhe diria que, não se trata de quem a quer, mas com quem ela quer
ficar.
— Pelo que sei, ela não teve muita escolha, Cavalli.
— É aí que você se engana — digo, sem perder o sorriso —. Ela teve a
oportunidade de fugir, no entanto, decidiu ficar. Decidiu ser minha. Embora
esteja um pouco decepcionado, esperava que você mantivesse minha esposa
fora de nossas negociações, caso contrário, terminarão antes de começarmos
e de uma forma muito desagradável, não acha?
— Não tem nada para me dar.
— Sei, por meio de uma fonte fidedigna, onde está Igor nesse momento,
tenho o local exato onde seu Pakhan está agora, sem nenhum dos seus
homens e com uma mira apontada em sua direção... poderia ser o dono da
Rússia em um piscar de olhos, Vlad — anúncio dando outro passo, agora
nada nos separa um do outro. A oferta é tentadora —. Eu o matarei por você,
nenhum dos seus homens hesitará. Vingará sua irmã e governará a máfia
vermelha. Só precisa pedir.
Estou muito mais do que disposto a fazê-lo, se pudesse, eu mesmo
cuidaria de quebrar este maldito, que está nesse momento abusando de uma
garota de acabou de completar dezoito anos e está tendo uma noite com um
homem que se diz dominante para impor crueldade em suas amantes,
manipular suas mentes com dor e prazer... Só que recebem noventa por cento
de dor e o resto é repulsa até o russo.
— O que você quer em troca?
«Oh, doce pergunta. Até a árvore mais resistente sempre tem raiz podre».
Quero a paz entre a Rússia e meu reinado, pois se penso lutar contra Lucas
Piazza, não interporei a segurança de minha jovem esposa. Claro, não direi
isso a Vladimir.
— Quero um acordo entre nossas famílias.
— Um acordo? Você é meu inimigo por natureza.
— Uma união, tenho uma prima; Dalila. É jovem e linda, criada para ser
esposa de um líder — ela estava destinada ser minha mulher, assim que me
tornasse o Capo —, é a mulher mais dócil que já conheci. Seu pai concorda
que ela seja o presente perfeito para uma aliança.
— E se eu não aceitar?
— Matarei o Igor... E será culpado de traição por vir conversar comigo
contra as ordens de seu superior.
— Você é um maldito filho da puta — assovia.
Olho para o cais, os barcos ancorados e um céu escuro no horizonte. Sim,
realmente sou filho de uma puta. É um mal que me assombra há anos.
— Certamente — respondo um pouco amargurado —. Estou oferecendo a
possibilidade de ser dono da facção mais importante depois da Sicília, estou
também entregando uma garota linda que lhe dará herdeiros como é
determinado entre vocês, estou tornando-o em um homem poderoso, alguém
que será lembrado mesmo depois de sua morte. Jamais obedecerá a nenhum
homem, não terá que dar satisfações dos seus atos a ninguém.
— Somente a você — interrompe. Não será o primeiro e, certamente, não
será o último.
— Terá as armas, será um negócio de Raze, entre russos se entendem. As
prostitutas são problema seu, fico com a droga. É um negócio justo.
— Muito e ele não é um homem conhecido por ser justo, Dominic, por
que está fazendo isso?
— Isso é um sim? — olho para trás
Ele lentamente tira as mãos da sua gabardine enquanto pondera algo em
sua mente. Estou lhe dando um tratamento muito além do que realmente
merece. Preciso manter minha esposa viva o maior tempo possível, se devo
oferecer um acordo à Rússia... Então, eu farei.
— Por que deveria casar com a garota?
— Ela era minha prometida e o nome de sua família ficará comprometido
se não se casar nos próximos meses. É pura, ninguém nunca a tocou em um
único fio de cabelo... Você será o primeiro em tudo.
— Você não a tocou?
— O pai desta garota e meu pai se comprometeram que ela seria minha
prometida, mas eu nunca a vi dessa maneira. Espero que seja um bom
marido, pois pelo que sei nenhuma mulher sua se queixa das suas habilidades
e Dalila será um tratado de paz, caso você a machuque de alguma forma, o
nosso acordo será quebrado. A paz se acaba e eu o matarei, Vladimir. Não é
uma ameaça, é uma promessa.
— Você me oferece ser seu cachorrinho de estimação em troca de dar-me
um poder imaginário. Rússia nunca será minha em sua totalidade, sempre
estarei em dívida com você por obtê-la de forma tão fácil.
— É pegar ou largar, é simples assim.
— Você garante que me deixará viver se eu o deixar?
— Garanto uma luta justa — respondo. Se não aceitar, um dos dois ficará
boiando nas águas deste cais, não serei eu, principalmente agora, que tenho
uma vida recém-adquirida. Quero desfrutar de minha esposa o quanto puder.
Não penso em ter uma vida longa, aliás nenhum homem que se dedica ao
submundo pode iludir-se com isso, no entanto, desejo desfrutar mais alguns
anos e, para que consiga isso, tiver que lutar até a morte com você, então eu o
matarei aqui e agora.
Capítulo 02
Cinco meses depois
A cobertura possui sua própria piscina aquecida, dado que meu dia foi
reorganizado, aproveito uma parte do tempo para tomar sol com as meninas,
os homens preparam um churrasco, Raze e Holden, porque Dominic e Roth
vão para o escritório perdidos em seus negócios criminosos.
— Como é ser esposa de um russo? — pergunta Hannah, ajeitando seu top
preto, para uma mulher que teve um filho recentemente, tem um corpo
invejável, não quero saber os principais motivos de sua insistência em se
exercitar e quase sobreviver de alface.
— O mesmo que ser esposa de um italiano, suponho — diz Dalila. Finjo
atenção às suas palavras, mas coloco meu olhar no meu irmão ao lado de
Savannah, na piscina ensinando Emma a nadar, meu irmão sorrindo para suas
duas mulheres. Está feliz, brilha e resplandece como nunca, atraída pela cena,
afasto-me das meninas para ir em sua direção, sentindo os olhos de Raze em
mim, sempre observando meu próximo movimento. Estou quase chegando
quando a figura do meu marido atrapalha, é difícil ignorar o todo-poderoso,
Dominic Cavalli, que ainda continua vestido de terno.
— É uma festa na piscina — declaro o óbvio por meio de escárnio.
Ele puxa as abotoaduras, focando consertar algo perfeito, ele é um homem
muito bonito e uma pequena parte de mim se enche de orgulho por saber que
ele me quer e, acima de tudo, é meu marido.
— Vamos conversar em particular.
— Sempre dando ordens — digo, revirando os olhos. E o sigo.
— Feliz aniversário — sussurra, puxando uma pequena caixa preta de seu
bolso ao chegarmos ao corredor, onde Roth já se encontra —. Tenho uma
reunião importante, não posso ficar mais.
— Alguma de suas putas? — assovio. Ele nega, suspirando. Sempre faz
isso...
— O cartel mexicano está na cidade. Não, não foderei nenhuma puta.
— Leve-me com você.
— Não.
— Se vai falar sobre nossos negócios, eu devo ir. Sou sua sócia e se isso
não for suficiente, sou sua esposa — eu o desafio atravessando seu caminho.
Sinto a mão de Roth tocar meu ombro. Santo Roth, sempre invocando a paz.
— O cartel mexicano não é importante — diz ele no meu ouvido,
conciliador.
— Marcelo Quintero estará depois de amanhã à noite na cidade, então eu a
levarei comigo — anuncia Dominic.
— Os laboratórios colombianos?
— Você sabe demais, Emi — murmura, passando a mão pelos cabelos —.
Sim, mostrarei as rotas, implementaremos sua fórmula na nova droga de
ouro. Marcelo está contido, Rodriguez do cartel mexicano, é grotesco.
— Bem, esperarei — concedo. Nikov se afasta de nossa vista. Meu marido
suaviza sua máscara um milissegundo, antes de inclinar-se e dar-me um beijo
na minha testa, demora como de costume mais do que o necessário. Por ter
essas ações tão humanas, pequenas barreiras lutam para ceder.
— Roth ficará com você — diz ele, embalando meu rosto em suas mãos
fortes —. Seja precavida, não quero arrepender-me.
— Do quê?
— Seu presente.
— Não é um colar?
— Não, mas acho que esse presente você gostará mais.
Meu marido sai com Raze, a mudança de Nikov me intriga um pouco,
minha segurança sempre lhe confia ao mais novo. Suponho que será mais um
mistério adicionado à lista. As meninas me distraem quando volto ao seu
lado, Hannah é a mais animada de nós, Dalila é muito submissa e Savannah
irá embora logo com minha sobrinha e meu irmão.
— Você está bem? — questiona Holden antes de sair, é um novo hábito
adquirido —. Como vocês estão?
— Sim, muito melhor — meio que minto. Meu irmão não precisa saber da
minha vida de casada, é muito tarde para arrependimentos.
— Estou feliz... eu te amo, abóbora.
— E eu muito mais, Holden.
Beijo a cabecinha loira de Emma antes de eles irem embora, algo se
contorce em meu peito observando-os saírem. Hannah pulando de excitação
corta meu lado meloso instantaneamente.
— Hora de partir! — grita animada.
— Onde?
— Ver seu presente!
Nem perguntarei como é que ela sabe, Dominic sempre está vários passos
à frente. Nego olhar as horas no celular, não posso perder tempo com
presentes.
Falta pouco para a inauguração, tanto que Roth deve pensar o mesmo
porque não para de olhar para o relógio.
— Tenho que ir à inauguração, o que você acha se o vemos amanhã?
— Mas, Don queria...
— É bom nunca fazer o que Don espera, você não acha?
— Ah! Você estragou tudo — lamenta.
— Que tal compensar isso deixando-a que me ajude a arrumar para a
inauguração?
Sou um desastre para isso, algo que nonna e Hannah sabem muito bem,
mesmo Dalila aprendeu em pouco tempo. Ela é a uma garota sofisticada, foi
criada e educada como uma perfeita mulher italiana. É a única a não mostrar
o corpo, mesmo na piscina, está coberta com um vestido recatado e por ser a
esposa de Vladimir Ivanov, eles a fazem ser incrivelmente discreta, acho que
reflete um pouco a personalidade submissa e dominável dela.
Todos insistem em algo chamativo, devido à pouca iluminação do cassino,
mas acabo usando um vestido de seda dourado, justo, corte sereia, sem
ombros. A joia Cavalli no meu pescoço é demais, mas removê-la é uma
ofensa para meu marido em um dia como hoje. Ele gosta de vê-la nesses
eventos, ler as matérias na imprensa onde fica muito claro que não saio sem
ela e que a peça e eu somos uma só, a joia Cavalli, o verdadeiro tesouro... sou
eu. Os jornais e noticiários se divertem com isso e meu marido gosta. É uma
dessas pequenas coisas que o fazem feliz. Minha assessora de imagem, cujo
nome não sei, manda meus looks com várias opções de sapatos e casacos
para esse tempo frio. Os vencedores são os de Giuseppe Zanotti italianos
brancos com detalhes dourados e meus cabelos soltos em ondas.
— A joia Cavalli — sussurra Hannah. E, não, não se refere ao diamante
no meu pescoço, é a forma como a imprensa decidiu chamar-me. Sou o
adorno chamativo de meu marido, muitos poucos ressaltam meu trabalho no
orfanato, para todos sou a mulher perfeita para meu marido.
— Meu segurança está lá embaixo — declara Dalila —. Nós nos
encontraremos em breve?
— Sim, — responde Hannah dando-lhe dois beijos —. Preciso de um dia
de álcool e meninas conversando.
— Reservarei uma mesa — concedo. Fazemos isso de vez em quando,
bebemos e conversamos sobre qualquer coisa em um dos restaurantes da
famiglia.
Capítulo 04
— Dom...
— Não me siga! — exclama desativando o alarme e abre o carro sem dizer
uma palavra e sem nenhuma sutileza abre a porta do passageiro, seu nariz
está expandindo-se como uma animal enraivecido. Conhecendo quando o
jogo não está a meu pavor, entro onde me indica. Fecha e contorna o veículo
abrindo a portado motorista. Dou uma última olhada e o clube que está em
chamas... «Deuses, o que acabei de fazer?».
Dominic nos conduz para fora dos limites da cidade, música de rock ao
volume máximo. A banda The Score parece cantar suas canções de acordo
com seu humor. As algemas restringem minhas mãos, causando danos aos
meus pulsos e dores nos ombros... Tenho uma revolução de pensamentos,
Dominic matou esse homem a sangue frio, atirou em sua cabeça sem hesitar.
E, Roth. A menina, três garotas inocentes.
Em quem me tornei? O que demonstro com isso? Como faço para
apoderar-me de uma organização, a qual Dominic criou sua própria imagem,
perfeita e imaculada? Não tem nenhuma falha, exceto a mim. Sou seu erro, ao
se casar comigo me tornei sua cruz.
Penso que me está levando para acabar com a minha vida. Entra em um
desvio na interestadual 95 ao sul e meus alarmes disparam como fogos
artificiais em um 4 de julho. O caminho é de pedra e sem luzes. Fico nervosa,
tenho a baca seca, remexo no assento incômoda.
Está farto de mim, cinco meses com pouca paciência, fui grosseira, e
ousada, bati em seu rosto, brigamos quase todos os dias, não tenho a menor
dúvida que seu copo transbordou. Estaciona o carro e só vejo uma espécie de
cabana abandonada no meio da mata, com cipós verdes naturais nas paredes
de tijolos avermelhados.
Tudo está desligado dentro e fora da casa. Somos os únicos aqui, a
quilômetros de distância. Não há como alguém escutar meus gritos de
socorro. A música para e aparece uma chamada de Raze. Droga.
— Você me matará? — pergunto assim que a música é silenciada. Ele
abre a porta do seu lado e a luz é ativada dentro do carro, deixando-me ver
suas feições duras —. Vladimir está morto?
— Não.
E sai do carro, não, o quê? Você não me matará? Vladimir não está morto?
Dominic parece capaz de me machucar, com esse olhar de pura crueldade.
Abre minha porta, deixando um pequeno espaço para que eu possa sair, com
as mãos algemadas e minhas pernas tremendo pelo terror, torna este processo
difícil. Olho ao meu redor tentando encontrar alguma forma de escapar,
correr nessa terra seria impossível com estes sapatos de saltos finos e ainda
mais com as minhas mãos algemadas. Agredi-lo não é uma opção... Estou a
sua mercê.
— Sinto muito — sussurro, as palavras borbulham no eco da noite. Sem
música, tudo fica mais sombrio —. Só queria sair um pouco.
— Você me mentiu — acusa ao estar atrás de mim, suas palavras são
como pequenas adagas na minha garganta —. Tem alguma ideia do prejuízo
que causou esta noite? Chegou a pensar nisso?!
— Dominic...
Não me permite continuar, suas mãos pegam minha cintura, virando-me
para enfrentá-lo, uma delas subindo pelas minhas costas nuas até meu
pescoço, onde se apodera de um punhado de fios loiros. Só havia a luz do
carro, mas isso não me impediu de ver a ameaça velada em seu rosto. Superei
seu limite esta noite. Inclina-se e pega minha boca tremendo de raiva,
punitiva e cruel, meu corpo esmagado contra seu carro esportivo.
Seu agarre é violento, comparado aos outros momentos que praticamos
sexo depois de uma discussão e sempre era glorioso, mas desta vez não foi
uma discussão qualquer. Pessoas morreram por minha causa, fui imprudente.
Sei e aceito, queria pedir-lhe mil desculpas pelo que causei.
Meu marido não me permite, sua boca e língua saqueando a minha. Puxo
as algemas fazendo-as machucarem meus pulsos, suspiro de dor ao receber
um beijo. Meus olhos se enchem de lágrimas quando morde meu lábio
fazendo-o sangrar... Estou molhada e quente, não acredito que esteja tão
excitada. Lambe meu lábio sugando o sangue e abro meus olhos vendo a
satisfação nos seus.
Desequilibrado ou não, eu o desejo, aqui e agora, por isso quando libera
minha boca, ele me gira jogando-me contra seu carro esportivo e dobrando
meu corpo, fico com a minha bochecha pressionada contra o capô do carro e
sinto a minha saia subindo pelas minhas pernas, apenas as abro ainda mais,
deixando-o fazer o que quiser comigo. O tecido da minha calcinha cede,
deixando minha pele ardendo quando ele a arranca.
— Querido... — suspiro tentando raciocinar.
— Cale a porra da sua boca — assovia sob sua respiração. Não estou
preparada, não o vi chegar, só escuto algo cortando o ar e em seguida um
ardor na minha bunda. O grito sai da minha boca e explode em meus ouvidos
e, mesmo assim, não posso conceber a ideia de que meu marido acaba de me
dar uma palmada.
— Por ser imprudente — rosna, deixando cair o peso de seu corpo sobre
minhas costas, pressionando-me contra o metal. Esforço-me para tirá-lo, de
cima de mim, mas é uma tarefa ridícula —. Quieta.
Sei que uma palmada não será o suficiente, é tudo que sempre precisei no
passado. Ele nunca me forçou nada sexual, sempre tive esse domínio
invisível, mesmo em nossas primeiras semanas de casamento.
Passo minha língua sobre meu lábio, saboreando o sangue. O silêncio se
estende por alguns segundos, quando se afasta ao sentir-me dócil, quase
posso ver seu sorriso em minha mente, zombando de conhecer esse meu lado.
— Eu te odeio, você é um filho da puta...
E a segunda palmada vem, gemo empurrando meus quadris para trás,
sentindo minhas entranhas tensionarem ao receber a terceira palmada. É mais
forte, medindo se posso ou não suportá-la... Uma quarta palmada eu grito seu
nome, precisando desesperadamente de seu toque, suas mãos, seus dedos ou
seu pau dentro de mim.
— Dominic! — exclamo ao receber a quinta palmada, quando
imediatamente sinto seus dedos abrindo meus lábios vaginais, procurando
meu clitóris e zombando da minha dor.
— Você mentiu — assovia dando a sexta palmada, desta vez no lado
direito da minha bunda, quantas palmadas faltam para ser libertada?
— Você mentiu pri... — Não consigo terminar a frase, pois recebo a
sétima palmada. Deuses do Olimpo —. Quero que me coma — imploro
choramingando — Fode-me com vontade, Don.
Meus movimentos são restritos, ainda mais com as mãos algemadas, não
há forma de levantar meu corpo. Estou sob seu desígnio e não me importa
absolutamente nada. Vivi loucamente, com as semanas me transformei na
imagem viva de meu marido.
Três palmadas mais antes de senti-lo dentro de mim, não é suave ou gentil.
Está castigando-me, suas mãos segurando minha cintura, olho para trás e é
um inferno de pecado. Seus cabelos estão despenteados, sua camisa aberta e
posso ver o suor escorrendo pelo seu pescoço, mesmo com a temperatura fria
da noite.
Foder por trás é a sua posição preferida, sei disso e ele nunca negou, mas
nos nossos encontros sempre me fodeu de frente. Fecha os olhos e joga a
cabeça para trás, rosnando uma maldição. O prazer é agudo e suas estocadas
são aceleradas, nego sem poder articular nenhuma palavra, prestes a ter um
orgasmo intenso, começo a mover minha cintura em círculos, venho ao seu
encontro, esperando por ele e envolvendo seu pau dentro de minhas
entranhas.
Estou pronta e será maravilhoso... Até que sai de dentro de mim,
assoviando alguma coisa ao vento, então, um líquido quente toca minha
bunda nua. A realização me toca forte, quando meu marido acaba gozando na
minha bunda, como se eu fosse uma prostituta barata.
— Possivelmente…? Seu filho da puta! Você acabou de me usar como se
fosse uma prostituta!
Dá uma gargalhada desagradável, tento vê-lo, mas meus cabelos agora
estão despenteados sobre meu rosto. Ele me levanta puxando meu antebraço,
do qual rapidamente me solto, soprando fios de cabelos loiros para longe do
meu rosto. Seu sorriso só aumenta minha raiva, pretendo dizer-lhe uma boa
rodada de insultos, quando segura meu queixo, seus dedos exercendo pressão.
— Até mesmo uma prostituta sabe seguir ordens e não posso dizer o
mesmo de você, ou essa cabecinha não entende que acabo de assassinar um
homem por apontar-lhe uma arma. Que três garotas e possivelmente uma
dúzia de adolescentes morreram no incêndio?
Não sei o que responder, a verdade se instala em meu corpo com a brisa
fria. As pessoas morreram por nada e, se parte disso é minha culpa, jamais
admitirei diante de Dominic Cavalli.
— Tudo estava sob controle... — sussurro, minha voz me traindo.
Solta meu rosto, pois o toque parece errado aos olhos de meu marido.
— Acha que cheguei a ser quem sou porque entro no quarto de um homem
procurado pela Interpol em mais de cinco países, incluindo este, quando está
drogado e fodendo loucamente? Isso não é ter o controle! Esta noite poderia
ser diferente se não lhe desse um tiro nesse segundo.
— Se você tivesse deixado! Agora não estaria lidando comigo!
— Você queria formar parte de tudo isso e a deixei... Droga! O que mais
você quer de mim, sua mulher diabólica de merda?!
— Não me levante a voz! Onde merda está indo? Não pode deixar-me
aqui sozinha! — grito quando começa a contornar o carro.
Grito seu nome pela segunda vez quando ele entra em seu carro e tranca a
porta. Sem acreditar o vejo manobrar seu carro enquanto as luzes focam meu
corpo e se afasta de mim, simplesmente ele me abandona no meio do nada?
Permaneci sem chorar desde nossa infeliz viagem à Itália e, a partir desse
momento, eu o enfrento sempre que posso, mas quando as luzes do BMW
desaparecem deixando apenas o som do motor para trás e eu imersa na
escuridão, com uma saia enrolada nas minhas coxas e minha bunda à mostra
cheia de sêmen do meu marido, o mesmo que prometeu cuidar de mim na
frente de um padre cinco meses atrás, a vontade de chorar explode.
Sinto um frio terrível nas minhas pernas e tento com os meus dedos
abaixar a minha saia, não adianta muito, mas com um pouco de dificuldade,
cubro um pouco minha bunda sujando meus dedos com o líquido pegajoso.
Minhas opções são limitadas, caminhar até a estrada principal e conseguir um
bom samaritano que me ajude a chegar até Holden, talvez; a outra opção é
sentar em qualquer lugar aqui e implorar a Dominic que volte quando
perceber seu erro.
A segunda opção é definitivamente mais rentável, embora não saiba se é
mais acertada, caminho até a porta principal, meus saltos cravando na terra.
Está escuro e meus olhos apenas se adaptam ao luar, subo os dois únicos
degraus antes de chegar à porta de ferro, giro meu corpo e tateio com os
dedos a fechadura.
Claro que esta porta não estaria aberta, o frio começa a ficar mais forte nas
minhas pernas... Estraguei tudo, é verdade. Continuo ainda estragando tudo.
Jogar o jogo de Dominic é cansativo e exaustivo. Quero ter poder e decidir
meu próprio destino, mas já está selado com esse homem. Posso continuar
lutando e fracassando, ou pegar outro caminho.
Phils Rawson, esse é o meu único caminho sem falhas. Entregar
Dominic… Mas é isso que quero? Não, exatamente. Quero respeito e
honestidade por parte do meu marido... Talvez um pouco de amor. Fecho os
olhos e deslizo em direção ao chão de tijolos, sentindo frio e apreciando a
queimação, porém, o que vejo é a imagem de Roth quebrando o pescoço da
garota, a cabeça de Quintero explodindo...
Valerie com seus olhos vazios. Estou preparada para a vida? Não se trata
apenas de governar, ser uma mulher na máfia, definitivamente, significa
muito. Não se trata apenas de ser a rainha. De liderar um bando de homens,
também tenho que fazer o trabalho sujo... Assassinar, mandar torturar
alguém. A bílis se remexe só de pensar nisso, sabendo que em menos de um
ano vi morrer pessoas diante de mim, inocentes ou não, eram seres humanos.
— Sou uma assassina! — Suspiro afogando-me com o choro.
Lágrimas escorrendo pelo meu rosto, não consigo detê-las.
A culpa me atinge e oprime meu peito. Essas pessoas estavam bem antes
de eu colocar os pés dentro do clube. Acabei levando a desgraça para eles.
«Eu sou a culpada...».
Capítulo 09
Desejaria dizer que tudo isso fosse um pesadelo, que nada tivesse
acontecido. Que não sou culpada da morte de inocentes, mas sou. Igualmente
desejo estar incomodada com Dominic, no entanto, o sentimento de culpa que
sinto é tão intenso que me faz relevar muitas coisas, principalmente, quando
meu marido retorna, depois de poucos minutos, e sem dizer uma palavra,
libera minhas mãos e em seguida se senta ao meu lado, com seus cabelos
despenteados e aura torturada.
Os soluços me sufocam e desejo estar em seus braços, aqueles que
mataram para me salvar, essas mãos que há pouco bateram na minha bunda...
Como posso amá-lo? Depois de tudo? As mentiras, as decepções, as
humilhações e a traição? Como? Então meu marido faz o impensável, ele me
abraça, deixa-me chorar em seu peito e suas palavras me condenam. Cada
uma delas instalando em meu peito enquanto minha razão grita todo o nosso
passado.
Que ele é culpado de quem sou agora. É meu dono, ele me guiou por este
caminho turvo. Apoderou-se de mim e não me permitiu ter outra escolha,
mesmo assim, meu coração palpita iludido. Essa garota romântica amante dos
livros, quer ser amada custe o que custar, mas não lutarei por um amor se não
o encontrar no meio do caminho.
O nó queimando-me em fogo lento. Está aqui ao meu lado, sentado no
chão olhando para um céu estrelado, como se fosse um homem comum e
normal, como se não tivesse assassinado um homem fazendo voar sua cabeça
ou incendiando um clube cheio de pessoas, por que isso não me afeta? Estou
tão fodida quanto ele. Somos o caos e a tempestade. Sem pensar sobre isso, o
que realmente quero é senti-lo, tê-lo dentro de mim. A única maneira de nos
conectarmos, onde posso dominar essa relação tóxica e disfuncional.
Ambos precisamos dessa pequena conexão, mas um ruído mecânico
ensurdecedor irrompe de algum lugar. Dominic fica completamente tenso,
empurrando meu corpo e colocando sua camisa em mim quando vislumbro
um desfile de motos.
— Fique aqui — exige, como se isso fosse possível. Ele caminha até Raze,
que deixa cair sua motocicleta, com uma fúria colossal.
Raze é quem dá o primeiro golpe, que Don desvia, no segundo ele para o
punho violento do mais jovem dos Nikov, virando-o até que esteja contra o
carro. As veias de seus braços incham e seus músculos se contorcem. Nunca
o vi assim, já treinamos juntos antes, quando me ensinou um pouco de defesa
pessoal, mas isso entre eles não é um jogo nem um treino, posso até ver meu
marido se contorcer. Um dos garotos saca uma arma e aponta para Dominic,
enquanto os outros não fazem nada, reconheço um deles. Byron Miller. Meu
marido reprime Raze com a força de seu corpo e com uma das suas mãos,
sendo que a mão direita livre, saca a Glock de suas costas.
— Don, não! — grito. O terror estremece cada parte de mim. Sinto o
medo rasgando. «Não posso perdê-lo». Um pensamento simples e cheio de
veracidade. Raze empurra Dominic para trás, saindo do seu agarre, o último
joga a arma no chão enquanto continuam apontando-lhe, mas agora seu único
alvo é Nikov, que rosna e o ataca novamente. Don o acertou na lateral e
depois com um soco no rosto. Raze balança a cabeça, desorientado, a
surpresa brilhando em seu rosto e perde o controle. Vejo o segundo exato em
que adota essa determinação assassina que possuem. Grito alto ao ficar no
meio dos dois, quando braços rodeiam minha caixa torácica e apertam um
dos meus seios. O toque é desagradável.
— Solte-me, seu filho da puta! — grito, jogando minha cabeça para trás e
ouvindo um som abafado de ossos quebrados.
O homem me solta, deixando-me cair e ao mesmo tempo empurrando meu
corpo. Todos os outros ficam alertas quando olham para algo que não
compreendo em uma lateral.
— Cadela! — revira o sujeito cheio de tatuagens, com olhos selvagens,
sua mão segurando o nariz que acabei de quebrar.
Byron e outro garoto de cabelo comprido agarram Raze, empurrando-o e
forçando-o a recuar, dois outros, um loiro quase da altura de Dominic, tenta
impedi-lo quando vejo meu marido aplicar um movimento em seu pescoço. O
corpo do loiro cai inconsciente ou morto, o outro está prestes a sofrer o
mesmo golpe quando me arrasto pela Glock, tem a trava livre e só atiro para
o alto. O som do disparo fez com que todos parassem. Uma dor no quadril
abrindo caminho e minha vista embaçada, eu me levanto um pouco
cambaleante. Raze parou de lutar e Dominic envolve minha cintura.
— Emilie — implora segurando-me.
— É minha culpa! — Suspiro para Raze —. Don fez isso por mim...
— Claro que é sua culpa! — brada—. Tem ideia do que fez?!
— Não levante sua voz para minha esposa! Caso contrário, esquecerei o
sangue que carrega!
— Esqueça-a e me ataque! — Raze está fora de controle.
— A vadia quebrou meu nariz — outra voz reclama.
— Dominic... — gemo sentindo um frio entre minhas pernas. Ao olhar
para baixo o mundo girar a uma velocidade anormal. Meu marido está
paralisado e todos estão em silêncio. Sangue, vermelho e brilhante, banhando
minhas pernas. Tudo o que consigo visualizar é o corpo sem vida de Valerie
seguido pela explosão e sangue de Quintero, antes de cair diretamente na
escuridão atrás de minhas pálpebras.
A luz é irritante, minha cabeça lateja enquanto ouço ameaças e vozes
sussurrando. Trago uma das minhas mãos ao meu rosto sentindo algo nele,
pisco encontrando uma intravenosa, movo-me quando vejo Roth em uma
esquina vestido com roupas informais e um Raze de aparência torturada
sentado ao pé da minha cama ou onde quer que esteja.
— Não posso permitir que o mate, é meu clube, minha responsabilidade.
— Tem ideia do que acaba de fazer? — rosna Roth —. Poderia ter-me
esperado e isso teria outro final.
— Incendiou meu clube — afirma Raze abaixando a cabeça.
— E você, o que fez?
— O que houve? — pergunto assustada — . Don? Você o matou...?
O medo, seu semblante sério me consome e apenas quero voltar a dormir.
Raze se levanta da cama ao ouvir minha voz e recua.
— Onde está meu marido? — pergunto tentando sentar-me na cama e
sentindo uma dor aguda no meu ventre, estou ferida?
— Eu o trarei para você — anuncia Roth, não deixando dizer mais nada,
enquanto sai do quarto.
— Sinto muito — rosna Raze olhando para qualquer lado, menos para
mim.
— Ainda bem que você sente muito. Não pode atacar Dominic, o que
aconteceria se vocês se matassem? Hein? Vocês são sua única família. Não
pode agir assim por causa de um clube, está mal isso, sei e se for a porra do
dinheiro, eu o ressarcirei. Dê-me a porra de um valor... E o garoto? —
pergunto, lembrando-me de um garoto loiro caído no chão —. Oh, meu
Deus... Dominic o matou, certo?
— Ele está bem — sussurra.
— Olhe para mim, por que não pode olhar-me?
Seus olhos atormentados conectam com os meus, suas sobrancelhas
franzidas olhando-me cheio de arrependimento, oh, mas o resto são golpes e
rosto inchado. Sufoco um soluço vendo seu rosto machucado, uma ferida
aberta em seu pescoço com algum tipo de lâmina, Don lhe fez isso? E como
se acabasse de invocar, meu marido entra no quarto, ao contrário de Nikov,
seu rosto está limpo de qualquer violência física, mas há outra coisa...
Angústia e dor. Roth fica parado na porta rosnando para seu irmão, que não
olha nem para mim nem para meu marido, apenas sai como se fosse um
corpo vazio e inerte, sim alma.
— O que você fez? — murmuro negando.
— Não tanto quanto queria — responde com sua voz fria de Capo.
Olho para as minhas mãos, empurrando os lençóis que cobrem meu corpo.
Tenho uma boxer cobrindo minhas partes íntimas e meu pequeno top da noite
anterior. Estou deitada sobre toalhas e nelas só há sangue, as mesmas que
cobrem minhas pernas, que merda é essa? Abro por completo, procurando de
onde é a origem desse sangue, no entanto, não tenho nenhuma ferida visível.
Procuro meu marido, esperando que me diga alguma coisa... quando vejo
suas bochechas, seus olhos, sua respiração alterada.
— Se tivesse ficado em casa — assovia, caindo no mesmo lugar onde
Raze havia sentado antes, levando suas mãos ao rosto e tremendo de
impotência. Sinto suas lágrimas em minhas bochechas, não sou idiota... Há
coisas que não precisam ser ditas.
— O que…? — suspiro tocando meu ventre.
— Você estava grávida — anuncia sem cerimônia. Sinto o golpe antes de
ouvir as próximas palavras —. Você acabou expulsando o feto... O que podia
ser nosso filho.
— Não — respondo negando —. Não é possível, nós nos cuidávamos.
— Nem sempre usamos preservativo e confiou nisso.
— Eu perceberia, uma mulher sabe dessas coisas — nego. Não pode ser
possível, mas, por que estou chorando? —. Vamos para um hospital, eles...
— A Dra. Falcón está aqui — interrompe sem dizer mais nada, levanta-se
e abre a porta. Vejo a mulher e seu rosto tem todas as minhas respostas. Entra
e anuncia uma série de palavras enquanto choro e me abraço. Dominic se
afasta, olhando para fora de uma pequena varanda. Tinha oito semanas, não é
preciso ir ao hospital, ela me dá alguns comprimidos que me ajudarão a
expulsar o que ainda possa haver do meu bebê dentro de mim. Nenhuma
medida anticoncepcional é cem por cento segura, meu marido e eu fizemos
sexo em muitos lugares, alguns daqueles momentos irritantes, em que
nenhum de nós estava preocupado com o preservativo. Repete o processo que
foi feito quando estava desmaiada, tem um equipamento portátil que coloca
sobre meu ventre e que revela algumas imagens brancas e pretas que só ela
entende e que garantirá que o feto não tem batimentos cardíacos e se
desprendeu da placenta, sua casa... Meu útero deixou minha própria criatura
sem um lar para crescer. Choro, fico destroçada enquanto ela fala.
— Estarei aqui no processo, aplicarei morfina para as dores... Gostaria de
levá-la a um hospital, Sra. Cavalli, mas por segurança seu marido se recusa.
Porque graças a mim Quintero está morto e não só isso, como também meu
bebê que estava crescendo em meu ventre e do qual não tinha a menor ideia.
— Há algo que possa fazer pela senhora? — pergunta, retirando o líquido
restante do meu ventre. Nego agarrando os lençóis com minhas mãos. Não
deveria doer, mas dói. Meu eixo gira, minha mente fica turva e algo dentro de
mim lateja, quebra, grita... Não sei. É confuso e caótico, é como ter uma
segunda pessoa dentro de você cheia de sentimentos e paranoia. E do lado de
fora só posso deixar crescer muros e mais muros de proteção. Uma barreira
se levanta entre nós, desta vez não tem nada a ver com Dominic, sou eu quem
começa a mudar, sou eu que me afasto de ambos. A garota inocente
diminuindo e dando lugar a algo sombrio, a alguém desconhecida.
A porta é o próximo barulho que se ouve quando alguém a fecha, depois
percebo a cama afundando antes que sentir os braços do meu marido
envolvendo meu corpo. Grito e me parto em milhões de pequeníssimas partes
em seus braços, sentindo as lágrimas caindo em meu ombro nu, enquanto
meu marido sussurra notas de uma canção de ninar em italiano, isso me
consola quando tenho certeza que internamente sou culpada por esta perda.
Se não tivesse saído... Se não continuasse lutando uma guerra boba de poder
destinada a me deixar destroçada.
— Shh, mia regina — implora com palavras sufocadas —. Sono qui, ti ho
la mia regina. Sempre... Ti darò um milione di bambini, per favore no
piangere più. [7]
— É minha culpa... Não devia ter saído, é minha culpa.
E quando não me contradiz é a parte mais difícil, porque ambos sabemos,
criei e condenei este destino para um ser indefeso, o único inocente entre nós.
E fui eu quem promoveu esta cadeia de eventos.
A dor emocional é um vulcão em erupção e horas mais tarde se soma a dor
física quando o medicamente começa a fazer efeito, a dor no meu ventre é
insuportável, o suor frio umedece minha testa. Dominic é um leão enjaulado
caminhando no pequeno quarto, enquanto a Dra. Falcón tenta fazer seu
trabalho, a morfina não é suficiente, suas pequenas doses não impedem que
sinta tudo dentro de mim.
Ela continua suplicando ao meu marido para levar-me a um hospital, algo
que não é possível. Os homens de Quintero podem estar em qualquer lugar e,
possivelmente, eu seja seu objetivo principal. Roth tenta convencê-lo a viajar
para a Colômbia em meio aos meus gritos. Posso ver como isso afeta meu
marido e sua resposta retumbante de ficar ao meu lado abala Roth, mesmo
em meu próprio tormento, não posso acreditar.
— Você deve ir — soluço, curvada contra meu próprio corpo. Sentindo
náuseas na boca do estômago e um gosto amargo no palato.
— Não se preocupe com isso — ele me tranquiliza, empurrando alguns
fios úmidos de suor do meu ombro e deixando um beijo que parece doce e
quente nesse lugar —. Um banho quente ajudaria?
— Sim, vou prepará-lo — anuncia a médica.
— Pode deixar, eu cuidarei disso — responde meu marido, afastando-se
de mim, levantei minha mão pegando a sua.
— Leve-me com você — imploro, sentindo-me fraca.
Ele concorda e cuidadosamente levanta meu corpo. Sou um desastre e me
sinto destruída, mas Dominic pela primeira vez me olha com tanta adoração
que chega a oprimir meu peito. Beija minha testa suada, diante da médica que
se coloca de lado deixando-nos passar. O banheiro é espaçoso e me coloca
sentada no vaso sanitário enquanto ele trabalha rápido na banheira. As cólicas
não param enquanto praticamente estou abortando meu próprio bebê morto.
Ele me ajuda a tirar a pouca roupa que tinha e com calma me introduz na
banheira, o contato com a água me faz suspirar, está mais quente do que o
normal e isso é algo que agradeço, tudo se tinge de vermelho imediatamente.
Don abre calmamente a chave e começa a molhar meu cabelo, lavar meu
rosto e de alguma forma cuidar de mim. A forma e sua delicadeza me fazem
lembrar dos nossos primeiros dias, quando depois de quase ser estuprada, ele
lavou meu corpo. Há algo diferente desta vez, e é sua própria tristeza, sua
própria agonia, não tenta escondê-la de mim, pelo contrário, parece cansado.
— Você precisa descansar — digo fazendo-o parar seus movimentos
mecânicos, seus olhos azuis nublados de dor me observam.
— É você quem está sofrendo.
— Você me odeia? — pergunto, mordendo meu lábio.
— Não.
— Mas você está chateado.
— Sim.
— Comigo?
— Sim... E não, porque isso poderia ter sido evitado se tivesse ficado em
casa, com segurança. Você e o nosso bebê, estou chateado porque descobri de
sua existência no momento em que não existia mais, chateado porque minha
esposa está sofrendo e eu não posso fazer ou dizer nada para aliviá-la, mesmo
sendo um filho da puta milionário, não tenho o poder para devolver o nosso
bebê ao seu ventre, sendo o Capo, o homem mais poderoso deste país... Não
posso fazer nada... Porque, se pudesse, seria isso o que faria. Trazê-lo de
volta ao seu ventre e trancá-lo, se necessário. E não diga que sente muito, eu
vejo, posso sentir — diz franzindo a testa —. Se você disser que sente muito,
serei eu quem ficará destruído e não preciso dessa merda agora.
— Também faria de tudo para devolvê-lo para dentro de mim, mesmo que
não sabendo que estava grávida, Dominic, e apesar de tudo o que aconteceu
conosco. Eu o teria amado muito.
— Oh, cara mia — lamenta —. É meu castigo viver e morrer sozinho.
— Não estamos sozinhos, temos um ao outro. — Tento sorrir pegando sua
mão entre as minhas pálidas e fracas —. Apenas dei isso, Dominic...
— Eu a tenho, mia regina. Eu a tenho o tempo todo, sempre.
Capítulo 11
Matei a sangue frio, tendo minha vítima diante dos meus olhos... Arrebatei
a vida de meu irmão, minha outra metade e a do meu próprio pai. Conheço os
gritos de agonia, e desfruto da maioria. Sempre ao tirar uma vida sinto um
prazer destorcido que mais tarde me leva a uma ereção violenta. Agredi Raze,
tentei esvaziar toda minha fúria em cima dele e nada disso me mortificou
mais do que ouvir minha mulher gritando de dor, tremer de suor frio com
uma febre alta. Nunca havia sentido medo antes, não até este momento, onde
devo fazer algo rápido ou terminarei perdendo-a.
E, merda, a mulher é uma dor de cabeça e estamos em algum ponto mais
além do ódio e as contínuas brigas, mas pensar em perdê-la não é opção.
Egoísta ou não, é a mulher que desejo e a única forma na qual aceitarei sua
morte é por questões naturais depois de anos ao meu lado, não antes. Ela tem
que viver e, se existe um Deus, espero que tire minha vida e deixe Emilie
viver para sempre.
— Preciso levá-la ao hospital, Sr. Cavalli... Sua esposa correndo sérios
riscos e não tenho os antibióticos necessários para medicá-la corretamente e,
muito menos temos estrutura e equipamentos para o caso de uma intervenção
cirúrgica.
Retiro o pano de sua testa aceitando as explicações da doutora. Sei que
precisa de um hospital para possíveis emergências. Ela está fria e pálida, seus
lábios estão rachados por causa da febre alta. Olho para Roth e Raze, ambos
estão exaustos devido as últimas horas e eu não quero pensar em mim neste
momento.
— Don... — implora Roth. Curioso como sabe meu próximo passo.
— Ligue para Florentino, peça um andar completo do hospital e reúna
nossos melhores homens. Tente não chamar a atenção, mas que sejam
suficientes para que ninguém entre lá. E preciso de uma ambulância aérea
para levá-la o mais rápido possível.
— Kain se apoderou da Colômbia.
— Poderia deixar de ser meu consigliere por um maldito dia?! Preciso
salvar Emilie e não dou a mínima se Kain é presidente ou se Obama se tornou
terrorista. Preciso do meu irmão, esse com quem lutei ombro a ombro, por
quem construí um império sangrento. Não queria ser Capo e você sabe bem
disso, fiz isso por você — rosno fazendo a médica pular de medo e Roth pisca
olhando-me.
Passa horas e horas preocupado com a Colômbia, insistindo que devo
viajar para fazer novos laços com o novo comando, mas não dou a mínima.
Ao contrário da crença popular, a Colômbia representa apenas 5% do mundo
das drogas. Itália, Rússia, México e Brasil têm maior poder de distribuição
internacional. Toda minha mercadoria é trabalhada principalmente na Itália.
A Colômbia não significa muito para mim.
— Conseguirei a ambulância — sentencia Raze levantando-se.
Pelo menos um deles não está sendo mais idiota.
— Não sabia que você... — Roth continua a negar.
— Você foi quem sempre quis isso, só o deixei trabalhar sob minha
chancela. Sim, gosto de matar, desfruto ter o controle, mas não era a vida que
teria escolhido, se não fosse por essa noite... Agora seria diferente.
Não posso evitar de olhar para minha esposa em meus braços. Se essa
noite nunca tivesse acontecido quem sabe poderia amá-la, ser um pouco mais
luz e menos trevas. Teria partes que mereceria ser apreciadas, mas, agora?
Como pode um anjo amar um demônio? A escuridão sempre será mais
atraente do que a luz. Ela é luz e só me atrai porque sou escuridão e quero
devorar sua luminosidade, alimentar-me dela. Um ímã de destruição em
massa. Sinto uma mão forte apertando meu ombro, dizendo sem palavras que
está aqui comigo. O único ser humano que nunca saiu do meu lado.
Nada mais é necessário, nada de promessas ridículas ou sentimentalismos.
Ambos conhecemos nossos lugares e agimos em relação a isso.
Florentino fez sua parte, a ala completa do Hospital de Nova York está
isolada, Raze consegue uma ambulância aérea em tempo recorde. Três dúzias
de meus melhores homens e quatro da diretoria do clube. A médica com sua
própria equipe, de quem garante a sua confidencialidade. Ordeno ao meu
garoto que invente uma exclusiva para a imprensa que nós estamos em uma
lua de mel improvisada no Caribe.
Preciso tirar não apenas nossos inimigos, como também a imprensa do
nosso caminho. O translado é realizado com sucesso enquanto minha esposa
delira, Roth é quem tem a decência e chama Holden para atualizá-lo em
relação a saúde de Emilie, cuido de Hannah. Depois de Dalila que é sua única
amiga e penso que ela precisará de um ombro feminino, dada a nossa falta de
comunicação, não sou o mais indicado para consolá-la. Horas mais tarde a
febre começa a diminuir, Dra. Falcón descobre uma fissura no colo do útero e
Emilie é submetida a uma curetagem endocervical, assim como uma
transfusão de sangre devido à grande perda de sangue que teve.
— Onde ela está? — questiona o Holden Greystone caminhando em
minha direção enquanto dois dos meus homens o escoltam até a sala de
espera —. O que diabos você fez com ela?
— Ela está recuperando-se — respondo. Não posso dizer que não fiz nada,
porque contribui para levar a minha própria esposa a este estado. Se a tivesse
levado para longe de mim, onde Raze não fosse capaz de chegar e liberar sua
fúria, talvez nada disso teria acontecido.
— Por que ela está aqui? O que houve?
— Estava grávida — explico. Minha garganta arde com a palavra.
“Estava” ... Porque, se Deus existe, Ele sabe o quanto esse termo no passado
está preso em meu corpo. Esse feto era células e sangue em formação. Algo
apenas tentando criar-se em si mesmo e meses mais tarde ser um ser vivo e
perfeito... Ele era quase nada, no entanto, fez-me sentir tudo.
Posso estar errado? Será que os psiquiatras que me diagnosticaram estão?
Porque desde a notícia só tenho um buraco, algo está diferente... Como posso
sentir falta de alguém que não existia?
— Grávida…? — repetiu lívido, deixando-se cair em uma cadeira.
— O quê? — Soluça uma segunda voz, Hannah com seu marido, que
também é um dos meus homens. Landon Ward meu Cassetto, o responsável
pelas contas e dinheiro da famiglia —. Ela sabia?
— Não, nenhum de nós sabia disso — rosnou, desconfortável com esta
situação que só deve ser tratada entre nós, mas não posso negar a minha
mulher e sua gente, a quem ela ama. Raze que ficou à margem se manifestou,
sei que se sente culpada e gostaria de dizer-lhe que não é sua culpa, é parte da
natureza... Suponho.
Minha parte egoísta e vingativa precisa de culpados. É assim que funciona
o mundo da máfia, um erro, um culpado e uma morte. Tudo é um gatilho para
ações. O primeiro erro cometido pela minha esposa, que nunca saiu de casa,
segura sob um teto projetado para provê-la de tudo, um culpado, eu?
Vladimir? Raze? Esse filho da puta que a agarrou quando ela queria deter-
me? Muitos são os culpados e só uma morte. A de um inocente, o que sei
sobre ser pai? O que poderia ser para aquela criatura? Eu o protegeria, não
tenho a menor dúvida disso.
Eu lhe daria tudo, assim como sua mãe, só por ser nosso. Daria minha vida
por ambos e descobri isso n instante em que a Dra. Falcón me disse que
Emilie estava perdendo nosso bebê, porque tudo o que queria era trocar de
lugar se isso deixasse minha esposa feliz, se isso lhe garantisse que voltaria a
sorrir como no passado, antes de ser amarrada a um monstro, porque se assim
fosse... então daria minha vida.
— Isso tem a ver com o misterioso incêndio no clube, no qual pertence a
um de vocês? — pergunta Greystone.
— Não é da sua conta — cuspi, perdendo a calma. Roth fica em alerta.
Sabe que não tenho dormido e muito menos comido há um bom tempo,
entende que a pressão é grande por todos os lados e minha cabeça está em
uma sala iluminada em chamas. No momento, sou puro fogo prestes a
consumir.
— É minha irmã — alega, não é um tom ameaçador ou alto, mas consome
minha pouca paciência. Movo-me rapidamente para que o homem comum
perceba, Hannah grita assustada e Roth se move em sincronia comigo, sem
interferir, mas pronto para me parar se necessário.
— Não era quando você a me entregou? Porque não nos enganemos, não
fez muito para mantê-la ao seu lado. Tremia como uma bichinha assustada e
aceitou ainda sabendo o tipo de diabo que sou, não foi assim?
— Você é o Capo, como lhe negaria algo?
— Se ela fosse minha irmã e Lúcifer a quisesse, primeiro ele teria que
passar sobre a porra do meu cadáver antes de colocar um dedo nela. E pelo
que vejo ainda está respirando, então não fez o suficiente — rosno olhando-o
quando evita meu olhar —. E nem vamos levar em consideração a parte em
que você a deixou com a lunática da sua mãe, que quase a matou quando era
apenas uma criança... Ah, e para finalizar com chave de ouro tinha um
padrasto pedófilo — assovio. Minhas palavras provocam um sorriso
zombeteiro em seus lábios, é a primeira vez que vejo Holden Greystone
mostrar um pouco de sua escuridão na frente dos meus olhos e quando fica na
minha frente para enfrentar-me, sei que suas próximas palavras me farão mal.
— Você não é o único Cavalli que a queria primeiro...
— Holden! — grita Roth, puxando-me de surpresa quando se atreve a
empurrar-me. Meu consigliere, meu irmão, acabou de empurrar meu corpo
ficando entre Greystone e eu, que porra...?
— Do que você está falando? — viro-me pronto para me jogar em seu
pescoço.
— Gabriel Cavalli transou com ela primeiro, é disso que estou falando.
— O quê? — questionei entorpecido ao meu consigliere, que suspeito
sabe muito mais sobre esse assunto.
— A cicatriz que ela tem sem seu pulso foi feita pelo seu pai com um abre
cartas, enquanto tentou fodê-la em grande estilo, e ainda quer falar de
pedófilos? Peça para que Nikov lhe descreva como Gabriel obrigou a Emilie
a chupar seu pau quando ela era apenas uma garotinha, confiamos nele e
acreditamos que nos daria proteção... Porque era nosso padrasto Sua família é
quem arruinou a nossa! Vocês, Cavalli, só sabem causar danos!
Emilie chegou a comentar algo, mas sabia que sua história não estava bem
contada naquela noite na Itália, sou um homem inteligente e sei reconhecer
quando faltam peças importantes em uma história, mas nunca pensei que isso
fosse possível, por que meu pai a machucaria...? O USB universal. Emilie e
sua capacidade de arquivar em sua cabeça tudo o que colocavam na sua
frente. Minha esposa é a arma secreta do meu pai, para quem trabalhou por
meses. E se isso é verdade, Emilie tem informações tão confidenciais que só
ela e meu pai, que está revirando no túmulo, sabem. Confuso com as palavras
expostas, olho para Roth, «por que estou com este sentimento de que você me
mentiu, irmão?».
— Por que você precisamente? — pergunto, vocalizando meus
pensamentos.
— Dominic...
— Desde quando? — corto. Não preciso de nenhuma merda de
explicação. Só quero a porra da verdade —. Você sabia antes ou depois de
colocá-la na minha mira? Foi você quem me mandou sua foto, qual era o
verdadeiro propósito de tudo isso, Nikov?
— Você tem minha lealdade.
— Desde quando?!
— Nessa noite — diz abaixando a cabeça. A noite na qual cometi um
massacre em Jersey para chegar até meu irmão, essa na qual o encontrei
quase morto, estava tão ferido que mesmo para movê-lo custou-me um
inferno, a noite na qual o escolhi acima da famiglia.
— Meu irmão por escolha — sussurro, rindo descaradamente na cara de
um traidor. Sabia que queria Sicília para salvar Raze e eu a dei, tornei-me
nesse homem para que ele tivesse o que desejava, porque era meu irmão,
porque nos escolhemos e descubro que sua lealdade nunca esteve comigo —.
Por que você colocou isso diante dos meus olhos? Qual era o propósito?
— Ela salvou minha vida — anuncia —. Antes dela, ninguém me mostrou
bondade.
— Eu! Eu lhe mostrei isso! — grito em sua cara, rosnando como um
animal selvagem —. Eu o mantive ao meu lado quando era um maldito rato
traidor russo, eu o coloquei acima da famiglia e dos meus homens, eu lhe dei
o juramente para integrar-se a famiglia. Cuidei de você e do seu irmão Raze
como se fossem as coisas mais importantes no mundo, ainda o faço! Tenho
feito de tudo para que Raze seja feliz e tenha a vida que quiser, porque sei o
quanto isso significa para você, eu fiz isso, Nikov! O que mais você me está
escondendo? Nem se atreva a responder!
— Emilie acordou — interrompe Hannah hesitante, aparentemente saiu da
sala antes, deixando apenas os homens presentes —. Ela está perguntando por
você, Dominic... Ela quer vê-lo.
Oh que ótimo, minha esposa que também é uma mentirosa me quer ver. A
quem eu disse a poucas horas que faria de tudo para que nosso casamento
melhorasse, fazendo-me sentir culpado por tratá-la mal, sendo que ela omitiu
suas próprias verdades. Lúcifer, assim você me fode.
Capítulo 12
Ele escreve meu nome em uma bola de Natal, dessas para personalizar
com um marcador, é metódico e calmo desenhando uma borboleta ao lado.
Não posso acreditar no que meus olhos veem, temos mais da terça parte
decorada, mas ao me virar o encontrei concentrado no desenho, suas
sobrancelhas franzidas enquanto trabalhava cada peça com calma.
Nunca imaginei ver algo parecido ou ser a destinatária de um Dominic
amoroso... Não tinha natais normais, brinquedos ou tradições. Às vezes, ou
melhor, sempre esqueço sua vida real, é um menino que cresceu na máfia
com um pai como Gabriel Cavalli. Limpo minhas mãos, removendo o resto
de brilhantina, fizemos um bom trabalho e nossa árvore é linda, mas a
montamos toda desorganizada. Sentindo-me um pouco cansada pela falta de
movimento físico nas últimas semanas, vou até Dominic no móvel central e
me sento em seu colo, procurando um lugar perto de seu peito.
Meu marido não se mexe, deixa-me quase cair sobre ele, mas continua
rígido. Giro minha cintura e suspiro fechando meus olhos, ignorando o
quanto me afeta este momento, implorando internamente para que não
arruíne com essa muralha de crueldade já conhecida no passado.
— Diga-me uma coisa — sussurro —. Como foi no trabalho?
— Tudo em ordem. Nada do que precise preocupar-se.
— Você sempre diz isso... — eu me viro. Mordendo meu lábio —. Conte-
me sobre sua mãe.
Eu o agarro firme, esperando, enquanto o silêncio começa a se instalar
entre nós.
— Como é terrível conhecer, quando o conhecimento não favorece quem
o possui — parafraseia uma citação de Sófocles.
— Você acabou de citar Sófocles? — gemo, impressionada.
— Não sou ignorante, esposa, acredite ou não, gostava de ler em uma
época muito, mas muito remota. Mas me surpreende que uma devoradora de
livros eróticos reconheça um dramaturgo grego.
— Sou uma amante da mitologia grega — confesso.
— Não tenho a menor dúvida disso, às vezes quando estou fodendo este
corpinho, você não para de me chamar de grande deus todo-poderoso do
Olimpo. Sou um Zeus do século vinte e um...
— Dominic! — grito repreendendo seu comentário.
Embora, isso seja verdade. Uma porra de um deus destinado a destruir.
Deixa sair uma risadinha infantil, fresca e um pouco estranha, não porque
seja feia ou estridente, mas porque nunca o ouvi sorrir desse jeito. Levanto
meu olhar para encontrar o seu, ao lado de seus canais lacrimais duas linhas
de rugas são formadas pelo seu sorriso amplo.
— Os doze deuses o invejam, criou um império para você e aos seus. É
grande em seu mundo...
— Nosso — ele a interrompe, surpreendendo-me ao pegar meu queixo
com um pouco de força —. Este é o nosso mundo e as últimas semanas
apenas reafirmam minha promessa, não deixarei ninguém machucá-la.
Matarei por você, Emilie. Assassinarei sem culpa em seu nome... Não posso
jurar amor, mas prometo-lhe disponibilizar a minha vida e garantir seu futuro,
embora soubesse que não queria essa vida e reconheço que a obriguei a se
casar comigo, mas não sabia...
— O que você não sabia...? — questiono montando em seu colo. Suas
mãos vão para minha cintura, segurando-me no lugar.
— A dor que você sentiu.
— Você sabia, o fato é que você não se importava.
— É verdade — rende-se, sua mão sobe lentamente pelas minhas costas
até o meu pescoço, puxando-me para seus lábios.
— E agora você se importa?
Pronta para receber seus golpes habituais com minhas palavras.
— Sim, é verdade. Eu me importo muito com você.
É de longe a coisa mais próxima de mostrar qualquer sentimento.
— Perdemos um bebê... É por isso que me trata assim agora?
Não consigo parar de pensar em Hannah, como Landon a trata e mais a
agora. Ele morre pelo filho, mas Hannah é apenas um acessório em sua vida.
Não quero ser essa mulher, «a mãe de seus filhos e ponto».
— Assim é como desejava tratá-la desde meu erro na Itália, só que você
abaixou apenas algumas defesas. As primeiras semanas do nosso casamento
não foram as melhores e não havia meio onde pudesse chegar até você, tinha
direito de agir dessa forma.
— Por que fez isso?
Suspirando, joga a cabeça para trás na mobília, expondo seu pescoço
áspero e barba, mas isso dá um toque sexy.
— Sou um idiota... quero dar-lhe uma desculpa melhor, mas não a
encontro. Estava um pouco assustado do quanto a queria, da nossa
proximidade, da sua rebeldia. Antes de você entrar na minha vida, nessa
manhã em que soube da sua existência, só queria voltar para a famiglia,
governar meus homens e, de repente, nessa mesma manhã, tinha uma garota
com fios de mel em uma foto, com grandes olhos esmeraldas me enfeitiçando
e todo meu universo começou a girar ao redor de você... Isso me assustou,
ainda me assusta. Não tem ideia de todas as coisas que estou disposto a fazer
por você, Emilie.
— Senhor. — A voz de Nick nos faz olhá-lo, com seu semblante
aparentando certo desconforto.
— Avisei para não ser incomodado hoje, Nick.
— Sim, senhor, mas algo aconteceu... O Sr. Ward está chegando.
— O quê? — resmunga Dominic, tornando-se novamente o Capo dos
Capos.
Desço de seu corpo e ele se levanta rapidamente começando a sair da sala,
olho para a árvore e suspiro está quase pronta, antes de seguir os passos do
meu marido até o corredor, onde as portas do elevador estão abrindo-se,
revelando um Landon extremamente preocupado.
— Tenho tentado chamá-lo, temos que tratar este problema agora — diz
sem qualquer tipo de saudação e perdendo todas essas palavras doces que
sempre usa para envolver Dominic. Meu marido me observa por cima do
ombro, sei que me está mandando sair da sala e subir para o nosso quarto,
mas ele me conhece e sabe que isso é impossível.
— Qual é o problema? Pode falar na frente da minha esposa.
— Acho que não seja indicado.
— Fale, Landon, seja o que for. Apenas diga.
— Uma de suas contas com o dinheiro lavado está zerada... Não há um
puto centavo — diz Landon recuando, como se Dominic fosse atacá-lo.
— Qual conta? Quem pode ser tão idiota de fazer isso?
Então Landon me observa e, consequentemente, meu marido. Não recuo
diante de seu olhar analítico, porque não tenho culpa aqui, na verdade, não
tenho a mínima ideia do que estão falando.
— Não fiz nada — digo quase sussurrando —. Não tenho ideia do que se
trata.
— Quem? — assovia meu marido em uma ameaça baixa, seus olhos
suavizaram em mim antes de voltar a olhar para nosso convidado.
— Holden Greystone, senhor.
Oh, meu Deus. Meu mundo estremece e eu recuo, colidindo com Nick
atrás de mim, buscando apoio na mesa de centro com uma mão e a outra
levando-a à minha boca, evitando deixar escapar um soluço de angústia.
— Quero meu carro pronto para sair — rosna para Nick, cruzando diante
de nós sem parar.
Conheço meu marido, viver com ele me mostrou certas partes, sei quando
algo o incomoda, quando está feliz com algum fechamento de negócio ou
essas noites nas quais alguém morreu em suas mãos, até mesmo quando está
disposto a incendiar a porra do universo. E agora quer a cabeça de alguém
que se considera mais inteligente do que ele, e esse é, simplesmente, meu
irmão.
— Dominic! — grito seguindo seus passos, tento impedi-lo na escada,
mas ele está subindo o último lance. Landon agarra minha mão, implorando
para não segui-lo —. Ele vai matar meu irmão, não entende?
— Eu sei. Mas ele roubou dinheiro de il capi de tutti capi.
— Ele é meu irmão — rosnou livrando-se de seu agarre e subindo ao
andar superior para encontrar meu marido no nosso quarto trocando suas
roupas por uma informal preta.
— Não me diga nada, Emi.
— Dominic, o que vai fazer? O que Holden fez? Quanto dinheiro é? Posso
pagar isso. Por favor me escute. Explique-me o houve?!
— Vou matar esse filho da puta desgraçado! É isso o que farei!
— Ele é meu irmão! — grito desesperada, observando quando ele pega
suas facas.
Movo-me angustiada, confusa e com o coração batendo disparado. Sua
arma está sempre apoiada ao lado da cama, nunca a escondeu de mim, não
representa uma ameaça. Sabe que nunca usaria para machucá-lo, mas hoje é
diferente quando a pego.
Dominic está parado em pé na frente da minha cômoda pegando seu
celular e carteira quando a destravo e aponto. Minha mão não treme com a
nove milímetros banhada a ouro e a flor de lis gravada no cabo. Meu marido
fica parado, um made man reconhece quando uma arma está destravada,
reconhece também quando uma pessoa está desesperada e possui o controle
sobre o projétil. Não pressagia um desenlace nada agradável para ninguém.
— Não me obrigue a escolher — gemo, endireitando os ombros. Se tentar
atacar-me atirarei em você três quarto abaixo da costela, você viverá, embora
eu não tenha o mesmo destino.
— Você já fez, querida, é para mim que está apontando minha arma. Este
é um novo nível de loucura, se atirar, não terá saída nesta cobertura, você não
é uma assassina.
— Ele é meu irmão… — soluço.
— E eu sou seu marido — afirma, encurtando a distância entre nós, sem
medo de uma lunática armada. Põe sua mão no bolso de sua calça jeans e
retira um cilindro da mesma cor da arma e me entrega —. Este é um
silenciador, isso lhe dará alguns minutos para fugir. No meu escritório está o
meu cofre, a senha é o mesmo número da sua conta bancária e lá encontrará
documentos de identidade com sua foto e não são rastreáveis, só por mim,
mas já estarei morto — aponta com uma voz fria —. E com muito dinheiro,
terá que viajar de um ponto a outro por cerca de quatro ou seis meses,
podendo assim afastar-se da mira de Roth. Então, aproveite sua única chance,
porque se não fizer isso, sairei e matarei seu irmão por foder-me. Roubou-me
e isso não permito.
— Ele é milionário, não precisa roubar... Não faz sentido.
— Ele fez isso para zombar da minha cara, acreditando que possui alguma
imunidade pelo fato de eu foder sua irmã — cospe.
— Lembre-se de suas palavras um pouco antes de recebermos esta notícia.
Sei que é o seu ego falando, mas disse que se preocupava comigo, isso não
conta?
— Ah, claro que conta, é a única razão pela qual ainda me está apontando
esta arma... — E antes de registrar, move seu corpo em sincronia com sua
mão, gira meu pulso no processo e um segundo depois não tenho nada em
minhas mãos, ele me desarma com maestria —. Nunca hesite quando tiver a
oportunidade em suas mãos.
— Farei qualquer coisa, o que quiser, mas não o mate. Fale comigo, por
favor, por que Holden quer zombar de você?
— Porque não é homem suficiente e lhe disse isso diante de todos, não
lutou por você, não a protegeu como deveria e agora quer brincar de mafioso.
Vou assassiná-lo — rosna, deixando para trás a situação desastrosa da arma.
Eu o chamo, caminhando atrás dele, desesperada, lutando para fazê-lo
raciocinar, mesmo sabendo que não existe poder humano no mundo que seja
capaz de pará-lo. Ele ordena a Nick que não me deixe sair e seu rosnado é tão
mortal que chega a me assustar. Landon o segue como se fosse um
cordeirinho.
— Dominic, não!
Desesperada, corro para o telefone discando o número de Holden, mas não
atende, tento o de Savannah, que me envia para a caixa postal. Os dígitos do
telefone celular de Roth são os seguintes, isso sim responde ao segundo tom.
— O que houve? — pergunta tranquilamente.
— Ele vai matá-lo, Roth. Dominic matará meu irmão, meu Deus!
Choro, as lágrimas simplesmente saltam dos meus olhos.
— Ajude-me, por favor me ajude.
— Emilie, calma e me explique o está acontecendo. Não estou entendo
nada — diz, dá para ouvir ruído de animais, cavalos talvez. Começo a relatar
o pouco que sei, as palavras de Landon e as de Dominic, pois assim que
termino de falar Roth promete sair de emergência e tentar controlar a
situação. Rezo por meu irmão, prometo fazer o que for possível para salvar
sua vida. A desligar, estou trêmula e com um Nick surpreso ao meu lado.
As horas seguintes são um martírio, não tenho notícia e estou prestes a
enlouquecer, não parei de chorar. Nonna, aparentemente estava em outro
lugar, entra e tenta convencer-me a comer um pouco, mas recuso.
Também não parei de chamar a Savannah e Holden... A essa altura, os
dois poderiam estar mortos, oh Emma! Se Dominic causar algum dano à
minha família, meu sangue, jamais poderia viver com ele, se prejudicar de
alguma maneira o futuro de Emma. Então o enviarei diretamente ao inferno.
Às quatro da manhã estou na sala andando de um lado para o outro,
nervosa e à beira de um colapso, quando ouço barulho no corredor, caminho
abraçando-me e encontro meu marido vestido diferente de quando saiu há
algumas horas da cobertura. «Estava assassinando».
Ele parou de voltar para casa manchado de sangue quando percebeu que
isso me causava nojo, embora nonna não se incomodava de lavar suas
roupas, eu sim, mais de uma vez fui vomitar no vaso sanitário.
Atrás, cauteloso, está Roth, tem uma barba mais longa, assim como seu
cabelo. Dominic cambaleia e percebo que está bêbado. Viro meu olhar para
Roth que me nega, mas não sei se para minha pergunta silenciosa sobre meu
irmão ou se deveria ficar em silêncio.
— Dom...
— Tssk! — assobia para me parar —. Você, panterinha... Você bagunçou
minha cabeça.
— Só me diga que não o machucou, por favor.
— Como poderia machucar minha esposa assim? Como…? Antes de
conhecê-la era todo poderoso e agora...! O que sou agora um maldito imbecil.
Um pouco de paz vem até mim, envolve meu corpo e só deixa para trás
um halo de cansaço, angústia e dor para meu marido.
— Vamos, Dominic. A garota não tem culpa — intervém Roth.
— Cale a boca, traidor. Vocês dois, foram feitos um para o outro, por que
não se unem e têm mini traidores juntos? Isso a deixaria feliz, esposa? Certo?
— Não — respondo —. Isso não me deixaria nada feliz.
— Mentirosa... mentirosa, mentirosa! — cantarola.
— Vamos para a cama, você está bêbado.
— E tirará vantagem de mim? — pergunta como uma criança inocente.
Roth não pode deixar de rir recebendo um olhar duro do meu marido.
— Não, estou muito chateada e quero dormir.
— Não quero dormir, quero fazer muitas miniaturas de você, Emilie... —
Ela para franzindo a testa, aproveito para agarrar sua mão —. Acho que eu
ficaria louco, melhor seria ter minhas miniaturas.
— Então, eu ficaria louca.
— Quero um de cada, mas você me odeia, então não me deixará colocar
dentro da sua vagina.
— Dominic! — eu o repreendo, minhas bochechas se ruborizaram.
— E fica corada em todas as partes... Eu sei.
Mãe do divino, enterre-me na lua se possível agora mesmo. Não sou capaz
de olhar para Nikov agora, apenas levando meu marido bêbado para cima e
encontrando uma maneira de ficar sozinha com Roth e descobrir o que diabos
aconteceu. Dominic é um bêbado brincalhão, toca meus seios, tenta colocar
uma das mãos na minha virilha e como se não bastasse puxa meu corpo,
subindo em cima de mim e me encurralando na cama, com todo seu peso
sobre mim. Começa a beijar meu pescoço e, porra, cada parte certa ganha
vida com desejo e expectativa.
— Você está bêbado — gemo sentindo seus dedos subindo pelo meu
vestido e chegando perigosamente da minha privacidade. Desde essa noite
não tivemos nenhum contato sexual.
— Você disse que me daria qualquer coisa — murmura próximo ao meu
pescoço entre mordidas.
— E o que me garante que não está mentindo?
— Garota esperta — cantarola, movendo-se e pegando o celular e ligando-
o sem ajuda. Deixa o celular ao lado da minha cabeça tocando alto.
— O que você quer, Cavalli? — rosna a voz de Holden na linha. Meus
olhos se enchem de lágrimas.
— Você está bem? Savannah, Emma? — pergunto.
— Abóbora… Sim, eles estão bem.
— Por que, Holden? Por quê?
— Fim da chamada — ordena Dom, cortando a chamada e observando
minhas lágrimas —. Ninguém pode machucá-la.
— Só você, certo?
— Não quero, mas é inevitável. Sou um Cavalli, eles não sabem amar de
outra forma... Por isso nosso bebê morreu, teria o meu sangue e seria uma
maldição para você carregar em seu ventre o filho de um monstro como eu.
Você o odiaria como minha mãe me odeia, como você me odeia.
E minha alma se quebra ao ouvi-lo.
— Eu o amaria... — «Assim como eu o amo».
Puxo seu pescoço, procurando sua boca e sentindo aquele gosto azedo de
whisky nela. Don me responde e rosna, sua boca punitiva não desiste,
impulsiona sua língua saqueando em todos os lugares, suas mãos trabalham
no cinto de sua calça e então o sinto empurrar minha calcinha sem rasgá-la,
colocando a cabeça de seu pênis em meu clitóris dolorido, sem preliminares
ou hesitações ele me penetra com essa calma que usou na nossa primeira vez,
aos poucos, afastando o rosto do meu e fechando os olhos, deixando a cabeça
cair para trás, sussurra palavras em italiano, externando sua satisfação com a
minha boceta. Com as emoções colidindo umas com as outras, eu puxo sua
camisa, rasgando os botões e admirando a obra de arte que é meu marido,
meu. Sem se mover dentro de mim, expandindo-se de tal forma que esbarra
na dor.
Grito quando ele recua e é empurrado com um golpe brutal
— Dominic — choramingo. Leva seu polegar a minha boca, abrindo meus
lábios e o coloca dentro dela. Fodendo minha boca da mesma forma que entra
e sai do meu interior, mantendo um padrão e não deixando de tirar aquele
olhar azul das minhas esmeraldas.
— Quero fazer amor com minha esposa, mas estou muito bêbado — diz
antes de tirar o dedo da minha boca e seu pau com uma ereção dolorosa
dentro de mim. Ele cai ao meu lado, com o rosto para cima —. Quero que
você me foda, Emi. Tire vantagem de seu marido.
— Adoraria fazer isso — gemo de dor. Maldição. Ficamos deitados, meio
nus, meio loucos e um pouco tóxicos. Seu braço cai sobre minha cintura me
puxando para seu peito, eu me aconchego, deixando os eventos das últimas
horas cobrarem seu preço. E me adormeço nos braços de um homem
atormentado, que mata sem piedade, mas por algum poder divino, hoje se
controlou e perdoou a vida da única pessoa que me resta nesta vida a quem
posso chamar de família.
~♦~
Quando acordo, estou suada e com minhas pernas entrelaçadas de forma
pouco natural ao corpo do Capo com a luz do sol entrando no quarto. Bocejo
e, como posso, saio de suas pernas e braços, colocando no lugar um
travesseiro no qual meu marido se agarra.
Eu tiro minhas roupas e tomo um banho antes de me enrolar em uma
toalha e com o cabelo molhado desço até o primeiro andar, para minha
surpresa Roth está na cozinha diante de um prato cheio de panquecas e com
uma nonna sorridente servindo-lhe bacon.
— Bom dia — digo em italiano para os dois, que olham para o meu
pescoço —. Tenho mordidas, certo?
Roth, que está com a boca cheia, concorda.
— Onde você esteve? — pergunto finalmente, há dias que não o via aqui
desde a noite do clube.
— Dominic ficou chateado comigo e me mandou manter distância —
explica depois de digerir a comida.
— Por que se irritaria com você? Vocês dois são como um casal
inseparável.
— Cometi um erro.
— E não é da minha conta. Ok, ok... eles me cansam de tanto mistério. Eu
me preocupo mais com meu irmão, o que aconteceu?
— Por que você não lhe pergunta?
— Você está proibido de falar comigo? — olho para trás.
— Não, Emilie, mas estou cansado de prejudicar Dominic por sua causa.
Ele é meu Capo, meu chefe, meu irmão e já o traí várias vezes por você,
adivinha? Não farei mais isso, sabe do que me arrependo? O fato de ter
manipulado Dominic para que se casasse com você, devia ter deixado que
Vladimir fosse seu marido, talvez assim valorizasse mais o que os outros
fazem por você.
— Como assim? Não posso acreditar que me diga isso. Não é minha
maldita culpa e você sabe disso...
— E o bebê? Não foi sua culpa? Tem ideia do mal que fez a Dominic ou a
Raze? Para o relacionamento de todos nós? Você é como uma infecção, ataca
silenciosamente e, quando é detectada, já é tarde demais.
— Por que de repente me odeia? Como ousa mencionar meu bebê? Fui eu
quem o perdeu! E, sim, é minha culpa e tenho que carregar isso! Mas você
não tem o direito de jogar isso na minha cara...!
— E não o fará de novo — rosna Cavalli com uma voz rouca e sonolenta
—. Exijo que mostre respeito por minha esposa e não mais lhe fale assim
novamente, Roth. Não tolerarei isso.
— Sabe perfeitamente todos os danos que ela fez e, ainda a defende?
— Enquanto Emilie Cavalli respirar, qualquer um dos meus homens terá
que demonstrar-lhe respeito, incluindo você. Se não puder cumprir essa
ordem, as portas da famiglia estão abertas para que possa sair.
Não posso acreditar no que ouço ou vejo, não foi minha intenção, mas
estou dentro da tempestade vendo como a lealdade e o respeito foram
quebrados, como sem querer, separei dois homens em conflito sob um
juramento de sangue mútuo. Estou testemunhando em primeira mão a queda
de uma irmandade. E não sei o que fazer com isso.
Capítulo 14
— Você tem menos de um minuto para tirá-la desse lugar. Não estou nem
um pouco preocupado quem você subornará ou até mesmo assassinará, mas
quero a minha esposa fora desse prédio do FBI, entendeu?! — gritou soltando
sua camisa. O advogado da famiglia pisca, surpreso com minha falta de
controle e possivelmente vendo a besta que realmente sou.
— Sim, senhor, estou fazendo o meu melhor...
— Não é suficiente fazer o seu melhor! Ela está presa com aquele filho da
puta há cinco horas! Cinco horas!
— Voltarei a falar com nosso homem.
— Isso não resolverá nada... — digo, passando a mão pelos meus cabelos.
Preciso pensar, controlar minha mente e agir friamente —. O juiz
criminalista... tem uma filha? De quinze ou dezoito anos? Então o ameasse
com isso, se não está em nossa em nossa lista de contribuições, então tem
uma boa razão para entrar. Mexa-se, Rogers — assovio. Assente
freneticamente antes de sair correndo da sala de interrogatório, que foi
atribuída graças a minha gente, esses do submundo cujas cabeças estão nas
minhas mãos. Mas não tenho o mais importante neste jogo, Phils Rawson.
— E se ela nos deletar? — questiona Roth, falando pela primeira depois
de muito tempo. Tiro o paletó deixando-o sobre a mesa.
— Ela não fará isso.
— E se fizer?
— Está sob controle — minto. Emilie tem muito poder sobre mim e na
organização. Não, não tenho nada sob controle, repassei-lhe muita
informação ao longo destes meses, informações claras e precisas... Em que
merda estava pensando quando fiz isso?
Não pensei, esse é o problema. Estava focado em sua pessoa e não no que
representa. Erroneamente, acreditei que sempre a teria sob meu domínio,
sendo que ela nunca esteve.
Roth não diz nada e suspiro silenciosamente. Pela primeira vez, tenho de
admitir que não estou preocupado caso ela fale ou não sobre os negócios.
Deixo a pequena sala de interrogatório, os uniformizados nos olham, conheço
muitos deles, seus rostos, mas todos nos conhecem. Sabem que, apesar de
estarem cumprindo a lei, todos os dias eles nos atendem, ao meu braço
direito, Roth Nikov e a mim.
A única imagem que tenho de Emilie é a que está algemada a uma maldita
mesa e cheia de sangue, não sei se é seu e essa dúvida me corrói. Por sorte,
encontro Phils Rawson na máquina de café, flertando a moça que serve.
— Dominic... — implora Roth, mas é tarde demais quando empurro o
filho da puta. O qual fica surpreso ao me ver de frente.
— Tire a porra das algemas da minha esposa, desde quando ela é uma
criminosa? Como se atreve a tê-la sob interrogatório federal? Isso não ficará
assim, Rawson — assovio na sua cara. Os policiais não fazem nada, para eles
esse homem e o FBI são apenas o lixo que acredita ser ouro dentro do
sistema. Se decidisse assassiná-lo neste exato momento, eles guardariam a
porra do seu corpo.
— O que fará? Comprar todo o departamento do FBI? — pergunta rindo.
Sim, exatamente isso, se tiver que fazê-lo... eu farei. Sorrio, dando um passo
em seu caminho.
— Você contou aos seus superiores sobre sua antiga vida? Eles sabem
quem você foi no passado? Não queira agir como um Jesus de Nazaré quando
foi um maldito de um Judas. Deveria agradecer-me por estar vivo — exclamo
com as narinas expandidas.
— Você é um fora da lei, Cavalli. Salvando minha vida ou não, é um
criminoso vestindo ternos de grife.
— Prove. Consiga as provas necessárias, mas deixe minha esposa fora
disso. E isso é uma maldita ameaça, caso queira uma devidamente
formalizada.
— Sr. Cavalli — exclama Rogers, mais vermelho do que uma lagosta —.
O Sr. Graham está a caminho.
Sorrio ainda mais, enfrentando Phils. Que pisca, pois sabe que tenho seu
superior nas minhas mãos. E o único motivo por ter esperado tanto, é porque
o velho devia fingir que estava fora da cidade e não no meu prédio, mas
agora está de volta.
— Tirarei seu distintivo e sua arma e o mandarei para casa como um
filhinho da mamãe, chorando pelos cantos. Fique longe da minha esposa. E
não repetirei mais, Phils.
— Não tem poder para isso — afirma.
— Eu lhe demonstrarei — digo na sua cara, quase cuspindo. Olha por
cima dos meus ombros, toda o departamento testemunhando e não fazendo
absolutamente nada por ele. Ele vai à sala onde está Emilie.
Estou morrendo por dentro porque não sei como isso a afetará. Rogers
finalmente tem uma boa notícia, o juiz coopera após um pequeno susto. A
garota não é tocada ou molestada, de fato, meus homens foram orientados a
não fazer nada, mas o juiz não sabe. Sebastián Graham também fez sua parte
com Florentino e consigo o que quero, minha esposa com um paletó largo de
algum homem e seu rosto neutro e vazio, sem nada que me lembre a garota
doce e inocente em vestidos floridos.
A mulher caminhando em minha direção é um fantasma.
Encontro-a no meio do caminho, nervoso com a possibilidade de que
possa desmaiar-se. Faz pouco tempo que sofreu com a perda do nosso bebê,
viu as pessoas morrerem diante dela e agora seu próprio irmão. Fico surpreso
que não esteja histérica ou louca. Embalo seu rosto procurando por qualquer
lesão física depois de verificar seu corpo.
— Você está bem. — Demônios, graças a porra do inferno. Eu a trago até
mim, sem me importar com a cara de surpresa de Fiorentino, nem mesmo
percebi quando Raze se juntou a nós. Eu a protejo dos meios de comunicação
e a ajudo a entrar no veículo. Está perdida na paisagem e em nada ao mesmo
tempo, quando tenho que lhe dizer que seu irmão morreu, simplesmente,
meus próprios demônios se remexem. Ela grita, depois me bate e me insulta.
Deixo-a externar toda sua dor, cumpro cada ordem sua e vejo como
começa a mudar seu comportamento.
Ela se afasta de mim, enfrenta-me e me culpa de tudo. Como um círculo
vicioso, não importa o que faça, sempre serei o culpado de sua desgraça
diante de seus olhos.
~♦~
Em pé, a poucos centímetros de distância, vejo-a consolar Savannah e
falar baixinho enquanto o padre realiza a missa em homenagem ao seu irmão.
Não a reconheço diante dos meus olhos e isso é minha culpa. Conforme suas
palavras, ditas ontem, eu a forcei a entrar nessa vida e ela não merecia. Ela é
a coisa mais pura que já tive ao meu lado e a tornei nisso que meus olhos
presenciam.
— Vejo o que faz — murmura Roth, parando-se ao meu lado.
— Não estou fazendo nada.
— Você a está deixando pensar que é culpado.
— Ela precisa de um alvo, Roth. E não pode saber a verdade — exponho
cerrando os punhos. Como posso explicar-lhe que Holden foi um idiota...?
Aliou-se a Lucas Piazza voltando-se contra mim, roubou meu dinheiro como
uma zombaria mal feita e, como se isso não fosse suficiente, o idiota esperava
que eu descesse para ser baleado pelo atirador.
Não sei por que acabou atirando em Holden, talvez tenha sido por Emilie?
De acordo com Byron, um dos garotos de Raze, um especialista em balística,
junto com Damián, outro de seus garotos, determinou que Emilie era o alvo,
mas Holden pode ter visto a linha e se moveu para o campo de tiro. Quero
acreditar que parte dele amava sua irmã e que, apesar de seus erros, tentou
protegê-la naquele momento. Sim, é minha culpa saber os passos que Holden
dava e não tê-lo impedido a tempo.
Talvez hoje poderia estar vivo se tivesse sido mais duro com ele desde a
primeira suspeita e não simplesmente ter ignorado a bola de neve que se
formava e que no final acabou explodindo na minha cara. Tentei mantê-la
longe das partes podres da máfia, mas ela continua tentando repetidamente
ser o alvo. Não entende que quanto mais eu a protejo, mais meus inimigos a
amam. Vladimir não é uma ameaça por enquanto, mas Lucas e Kain? Quanto
tempo demorara para um deles perceber isso?
Phils Rawson, embora me odeie, não tem recursos para ser um inimigo
respeitável e Emilie é muito mais inteligente do que isso, espero realmente
que seja. E que não envolva em nenhuma estupidez.
Caminho até ela, pois é hora de dar-lhe meus pêsames. Colocar-me ao seu
lado e observar Savannah, que é a mais destruída das duas. Os Wards são os
primeiros da fila, depois alguns dos sócios, minha esposa acena com a cabeça
até eles com a pequena urna fechada em suas mãos, agora é a vez de
Vladimir, este fica petrificado com a ruiva chorando. Dalila é quem me
surpreende ao falar. Ela que sempre foi uma garota reservada e tímida, mas
agora tem um comportamento um pouco mais arrogante.
— Você está bem? — questiona minha esposa para minha ex-prometida.
A garota afirma abraçando-a.
— Sinto muito por sua perda, Sra. Greystone — murmura Ivanov para
Savannah.
— Obrigada, senhor.
— Não era sua esposa — digo, para que percebesse seu equívoco.
Sei que mantinha algum tipo de flerte, mas não eram um casal formal,
Savannah apenas desempenha um papel de empregada na vida de Holden e,
como era um grande idiota, acabou envolvendo-a para que cuidasse da
pequena Emma.
— Entendo — murmura o russo, antes de pegar sua esposa e ser sua vez
de abraçá-la. Meu Deus, de onde vem esse desejo de quebrar todas as partes
de seu corpo? Como ousa tocá-la assim?
E pior ainda, o que está acontecendo comigo? Desde quando me importo?
Roth não fica indiferente ao meu estado de espírito, sinto como se um fogo
crescesse lentamente dentro de mim e, de repente, tivesse vontade de explodir
e que a onda de calor acabasse com todos os nossos problemas.
Essa distância me incomoda, quero voltar ao que parecíamos ter
recentemente. Tê-la sorrindo comigo, esses olhares cumplices e seu corpo
quente em meus braços... Quero isso.
Não estas discussões, a culpa que ela lança sobre meus ombros. Estes
confrontos contínuos. Na hora de irmos embora, não compartilhamos o
mesmo veículo. Movo minha cabeça até Raze e ordeno que Roth as
acompanhe. A imprensa, irritante e chata, não hesita em capturar o momento
de nossa chegada à cobertura, pelo menos tem uma foto dela ou minha.
— Não pode continuar assim, está muito distraído.
— Roth, não é o momento — rosno servindo-me um whisky puro, sem
gelo.
— Eu lhe disse para que consertasse as coisas com ela.
— Bem, tentei fazê-lo, mas você viu como isso terminou — respondo com
amargura ao beber o líquido —. Não queria uma mulher por essas razões. São
muito complicadas.
— Ela lhe faz bem, você a necessita — comenta, fechando a porta do meu
escritório. Rio de mim mesmo, zombeteiramente.
— Um dia a ataca e no outro a defende. Decida-se Roth.
— Sabe que não queria atacá-la... Simplesmente, odeio como as coisas
terminaram. Precisam conversar, Dominic. Precisa ter a mente tranquila para
enfrentar Lucas e, finalmente, tirá-lo do jogo. O mesmo que Kain.
— Se mato Kain. Vladimir já não será um aliado da famiglia — murmuro
tirando o colete, depois minhas abotoaduras. Sinto o desconforto em meu
corpo como uma coceira na pele. Está no primeiro andar traçando um plano,
junto com Savannah, para adaptar à nova realidade da pequena Greystone.
— Quando dirá a Emilie que foi você quem permitiu a Vladimir dar-lhe
certas informações? Vocês dois deveriam conversar. Digo isso como seu
braço direito, ela é muito benéfica para a famiglia.
Sei disso, seu poder, sua habilidade. Sento-me brincando como vidro. Sim,
sei o que faz com Vladimir e como lhe repassa algumas informações fazendo
sentir-se poderosa. No início, quando o contatou, não tinha ideia, até a
primeira vez que ela foi à suíte e seu dispositivo de rastreio saltou em meu
celular.
Meu primeiro pensamento era que me traía, afinal de contas, sua
ameaçava quando estávamos na Itália ainda permanece latente na minha
cabeça, mas quando me diverti um pouco com Vladimir tirando-lhe algumas
informações, não era mais minha esposa desejando formar parte do meu
mundo. Um com o qual não quero comprometê-la, mas ela não entende.
— Emilie não tem o porquê saber o que sei.
— E esse é o erro de ambos. Não falar…
— Desde quando me dá conselhos românticos? — corto com um assovio
baixo —. Você é o menos indicado para falar sobre isso. Sou eu quem está
casado aqui, mesmo sabendo que as mulheres são um incômodo.
— Passei a dar-lhe conselhos desde o momento que Emilie não o deixa ser
você mesmo nos negócios. Está tomando decisões para agradá-la e não para o
bem da organização.
Uma batida fraca na porta o silenciou. Giro meus olhos apontando para a
porta com minhas mãos, estou cansado. Só quero ter pelo menos uma noite
tranquila. Antes este era meu refúgio, mas agora é um campo de batalha.
Roth se levanta, caminhando até a porta e dando um passo para o lado
quando a abre e uma pequena figura de cabelos loiros surge. Ela tomou
banho e apenas usa um roupão para cobrir seu corpo.
— Quero falar com o meu marido, Roth, se você não se importa — pede
autoritariamente. Meu consigliere assenti e busca meu olhar de concordância
de sua saída. Quase posso vê-lo gritando de sua cabeça à minha
telepaticamente. Bufo, servindo-me de outra bebida quando ouço a porta ser
fechada novamente.
— Se veio discutir, sugiro que vá com Garfield. Certamente, deve estar
entediado em sua caixa de areia... Jesus — Suspiro deixando a garrafa cair
sobre a mesa causando um grande ruído. Minha esposa está diante de mim,
andando completamente nua, apenas com o colar Cavalli em seu pescoço,
como a única peça de roupa. Engulo em seco enquanto ela empurra minha
cadeira para trás e monta sobre minhas pernas. Nua, em cima de mim, pernas
abertas. Inferno, ela está louca? Você perdeu completamente a cabeça?
— Decida-se, Emilie, você me odeia ou me fode. Você não pode ter as
duas coisas.
— Quem disse que não? — replica, pegando minha mão direita e levando-
a ao seu seio. Seu mamilo rosa se enruga ao tocá-lo.
— Eu digo.
— Você não conta — geme, trazendo sua própria mão para sua
privacidade. Merda, eu vejo na linha de frente como abre sua boceta e
começa a circular seu monte de prazer. Engulo em seco, querendo beber o
whisky que atrás dela.
— O que está fazendo, Emi? — questiono confuso e excitado ao mesmo
tempo. Em vez de responder, começa a cavalgar sobre sua própria mão e,
porra, não sou um santo e sinto meu pau endurecendo dentro das minhas
calças como o Monte Everest a passos largos —. Pare agora, se continuar,
não vou parar e não quero que amanhã me diga que abusei do seu estado
emocional.
O fato é que se o mundo acabar amanhã, provavelmente minha esposa me
culpará. Emilie só sabe apontar-me o dedo, mas se esquece que os outros
quatro dedos estão voltados em sua direção.
Ela para de se tocar e abaixa as mãos na minha calça, tirando meu cinto e
abrindo o zíper. Envolve meu pau livre com suas mãos finas e rosno quando
seu polegar travesso move o anel. Maldita seja. Ela descobriu minha
fraqueza; seu corpo e essa mulher desinibida nas portas fechadas do meu
escritório.
— Por que Phils Rawson quer que fale sobre seus negócios? — pergunta,
empurrando para trás em meu eixo. Umedeço meus lábios secos. Sei o que
está fazendo... E a deixo. Ela pensa que não percebi, mas entro em seu jogo.
— Está obcecado em me colocar em evidência — relevo à verdade. Levo
minhas mãos aos seus quadris, quando posiciona a cabeça do meu pau em sua
boceta úmida e escorregadia. Porra Jesus! quero morrer na boceta desta
mulher, se é que me permite conhecer o paraíso.
— Quem são os homens da ordem?
Uma pergunta que esperava, embora talvez em outras condições.
— Máfia alemã, Divisão de Inteligência, Capitão General do Exército ...
Merda! — rosnou quando se sentou em cima de mim, levando-me
profundamente em suas entranhas.
Solta um grito de prazer e dor misturados, jogando sua cabeça para trás.
Expondo seu pescoço, onde minha mão o envolve rapidamente. E a penetro
profundamente, cego por tudo o que nos rodeia e tento afrouxar um pouco do
peso em meus ombros. Ela consegue isso, transformando-me em um idiota
capaz de dividir o homem cruel e sanguinário, por esse otário ansioso de sua
esposa como uma porra de adolescente que está com seus hormônios na
puberdade.
Aplico uma força em seu pescoço quando o agarro, só o necessário para
deixá-la um pouco sem ar por alguns segundos, ela, como sempre,
surpreende-me movendo-se com mais violência, golpeando seu corpo contra
o meu e formando círculos com seus quadris. Suas entranhas me apertam
com força, pois é questão de tempo para que tenha um grande orgasmo.
Afrouxo o meu agarre apertando meus dentes, ela sorri porque reconhece o
poder que tem sobre mim, e longe de me aterrorizar... gosto disso.
Eu a movo levando-a à superfície da mesa e jogando a maioria dos objetos
que estavam sobre ela no chão, ouço em momento de transe o som de vidro
sendo quebrado, acho que meu laptop está neste meio. Cego pela minha
esposa e pela paixão que nos une, começo a penetrar fundo sem lhe dar um
segundo para dizer mais nada. Suas unhas cravam em meus braços, suas
pernas envolvem meus quadris, eu a penetro cada vez mais fundo e forte,
dou-lhe cada grama de ouro que me pede sem dizer uma palavra. Quando
tento beijá-la, ela vira o rosto, negando-me sua boca, seus lábios.
O que me pertence... tento mais uma vez ao perceber que está com os
olhos fechados. «Não, de novo não. Não como no passado».
Negando-me o privilégio de olhar seus olhos perdidos de prazer e esse
olhar de adoração. Respirando com dificuldade, forço-me a ter controle sobre
meu corpo e deixar de me mover. Se não é para se entregar completamente,
então não quero seu maldito sexo vazio.
— Olhe nos meus olhos, Emilie.
— Continue — exige e tenta mover-se, mas eu paro. Sentindo essa fúria
conhecida, seguro sua mandíbula. Fazendo-a encarar-me, sei que estou sendo
bruto e de certa forma um idiota. Seus olhos se arregalam e aí está, a repulsa.
Isso me atinge diretamente na boca do estômago. Porque até poucas horas
atrás tinha minha esposa sob meu corpo suspirando por mim e me vendo
como um desses deuses que tanto ama —. O que aconteceu?
Saio de cima dela, recuando e enfiando minha dura ereção dentro das
minhas calças. É duplamente doloroso parar e agora só quero sentir sangue
escorrendo pelas minhas mãos. Movo-me, deixando-a nua sobre a mesa para
pegar seu robe e, jogá-lo sobre seu corpo.
— Saia da minha frente, Emilie.
— O que há de errado com você? — questiona.
— O que há de errado comigo?! Pergunte a si mesma! Suas mudanças de
humor não têm limites, não têm! Cansei disso! Isso é — grito, perdendo
completamente o controle da minha própria máscara. Não me reconheço
enquanto continuo falando —. Você me odeia, mas três dias depois me ama.
Você me acusa de matar o seu irmão e depois de seu funeral vem aqui para
transar comigo. Não se cansa, Emilie?! Essa indecisão permanente! Porque
eu já cansei disso!! De você, de tudo isso! Decida-se de uma vez por todas,
porra!
— Eu não…
— Acha que não sei o que está fazendo? — rosnou em sua cara —. Pensa
que sou tão estúpido?
— É melhor eu sair — murmura, empurrando-me, deixo-a descer da mesa
e a vejo caminhar nas pontinhas dos seus pés para não cortar-se com os cacos
de vidro espalhados pelo chão. Ouvi a voz do meu consigliere na minha
cabeça e sei que depois disso temos apenas duas opções, ou me odiará
permanentemente, ou nos dará uma oportunidade definitiva. Viverei com
qualquer uma das duas opções, e se tiver que mandá-la para longe de mim
para não ter que suportá-la, eu farei, mesmo contra minha vontade. Mas isso
terminou, não dá mais.
— Eu sei tudo — murmuro. Isso a faz parar e olhar para mim por cima do
ombro, ela ainda está nua, cada curva de seu corpo incitando o meu —.
Gabriel Cavalli.
Sei que fugirá, é boa nisso. Corre até a porta, mas sou mais rápido,
impedindo-a antes que possa abri-la e a encurralo contra a madeira e meu
corpo. Lute como uma pantera que você é por natureza.
— Socorro! Alguém me ajude! — grita descontrolada. Eu a viro e tapo sua
boca depois de levantar suas duas mãos sobre sua cabeça e segurando-as com
força.
— Estou de farto de fingir que não sei de certas coisas e deixá-la jogar
como bem entender. Estou sempre dez passos à sua frente, Emilie. De
qualquer um, sempre estou na frente. E você não é exceção. Agora... —
murmuro, falando em um tom de voz um pouco mais delicado —. Falarei
primeiro e você me escutará, em silêncio. Primeiro ponto, não assassinei seu
irmão, não fiz e não faria isso por você. Não entendo como não consegue
acreditar em mim se sempre fui direto com você sobre o que penso
geralmente. Não jogo, Emilie, e se eu o quisesse morto, nem você nem
ninguém teria evitado, entendeu?
Seus olhos estão cheios de lágrimas e algumas escorrem por suas
bochechas, molhando meus dedos. Move a cabeça suavemente. Está com
medo e não sei se de mim ou do passado.
— Quer que a solte? E parará com esses gritos irritantes? — pergunto.
Precisamos conversar —. Bem? Agora você se sentará e me ouvirá. Hoje
resolveremos isso de uma vez por todas.
Capítulo 17
A primeira vez que vi minha mãe chorar, estava na varanda de seu quarto
olhando para suas pinturas jogadas no chão. Não entendia sua reação, afinal
de contas, éramos milionários, tínhamos tudo. Comprar novas tintas não era
um problema. Foi um dos meus primeiros pensamentos frios e egoístas.
Lembro-me de ter feito um comentário desagradável, porque há anos vinha
lutando ganhar sua atenção e ela assumiu a responsabilidade de nos afastar
em diversas oportunidades.
Nossa mãe nos odiava e não se sentia nenhum pouco incomodada em
expor este sentimento. Tinha uma certa preferência em nos punir, e seus
castigos não eram nada convencionais, mas essa noite apenas se sentou no
chão e abraçou suas pernas contra seu peito e chorou inconsolavelmente por
horas.
«Eu não queria esta vida.» Cinco palavras que me marcaram. Queria
libertá-la de tudo isso, dos abusos de meu pai, das noites em que ele a punia
deixando que seus homens violentassem seu corpo, de tantas outras onde o
castigo foi ainda maior, incluindo-nos a Damon ou a mim.
Hoje, esta noite, muitos anos depois, minha esposa é o reflexo de minha
mãe. Sentada no sofá do meu escritório, abraçando suas pernas e repetindo
quase as mesmas palavras. Relatando os fatos dessa noite, que aparentemente
nos marcaram. Conta como seu pai a enganou para que aprendesse a
memorizar números, fazendo-a acreditar que era um simples jogo e não como
o descobriu meses depois.
— Ele fingiu tratar-me bem, minha mãe me disse que ele era meu novo
padrasto. Eles prometeram que estaria segura — soluça.
— Você disse que ele era um pedófilo.
— Por um acaso não era? — questiona. Não posso negá-lo. Gabriel
Cavalli cometeu muitos erros ao longo de sua vida, o poder se apoderou de
seu coração e foi um homem ruim e pai —. Só menti para minha própria
segurança, nunca pensei que Roth me denunciaria.
— Não foi Roth quem me contou — confesso, isso a fez olhar-me
surpresa —. Holden me contou tudo, no dia do hospital.
— Sabia disso todo esse tempo? P-Por que não me contou?
— Que diferença faria? Havia acabado de perder nosso bebê, não
precisava disso e estou conversando sobre isso esta noite porque não suporto
mais continuar com esse relacionamento de mentiras e discussões. Um ciclo
vicioso sem fim.
— Agora me machucará? — pergunta. Eu a olho, tentando decifrar suas
palavras e como depois de tanto, ela ainda é capaz de me perguntar se a
machucarei, suspeito fisicamente, mesmo depois de cada momento vivido.
— Nunca faria nada para machucá-la, Emilie.
— Você já me disse isso no passado, Don. Muitas vezes e adivinhe?
Sempre o faz novamente.
— Então me ensine a não fazê-lo mais — imploro, dando um passo em
sua direção e duvidando da minha própria sanidade mental, por que me afeta
tanto vê-la sofrer? Chorar? —. Se quero algo, exijo que seja feito dessa
maneira porque não sei como fazê-lo de outra forma.
— Meu irmão morreu — sussurra.
— Eu sei, mia regina... deixe-me confortá-la. É a única coisa que sempre
quis fazer. Protegê-la deste mundo, Emi. Você é meu templo — confesso,
aproximando-me um pouco mais —. Quero chegar em casa e encontrar
minha doce esposa nela, quero esquecer quem sou fora dessas paredes e me
entregar a você, mas você torna isso tão complicado. Age nas minhas costas,
mente na minha cara e acha que sou um idiota por acreditar em você.
Acaricio seu pulso esquerdo, onde ela tem uma pulseira simples, mas
delicada, como ela. Movo a pequena joia fazendo-a levantar seu olhar
esmeralda e encarar meu rosto.
— Quem foi que lhe deu essa pulseira, Emilie? — pergunto, sabendo a
resposta. Ela pisca —. Quando lhe pergunto algo, já sei a resposta.
— Vladimir Ivanov — sussurra.
— E qual foi o presente que lhe dei no dia do seu aniversário?
Ela não sabe, porque a chave permaneceu na cômoda por diversos dias.
Nunca o levou em consideração, não como esta pulseira de Vladimir.
— Um colar? Por que estamos falando sobre isso? É irrelevante — afirma
ao assumir esse seu caráter defensivo.
— Não é irrelevante para mim — sussurro, liberando-a —. Isso me mostra
que você não se importa quão duro eu trabalhe para reconquistar sua
confiança, nunca serei digno dela.
— Você me traiu, como posso confiar em você?
— Eu dormi com Katniss na Itália, fiz isso sim. Sou culpado. Não quito
minha responsabilidade deste ato, mas você se incomoda mais com a minha
traição do que o fato de ser um criminoso? Mato pessoas, meu negócio é
fazer com que milhões de pessoas fiquem viciadas e dependentes das drogas,
vendo armas com as quais se cometem atrocidades...
— Basta! — grita, interrompendo-me —. Não é o que vejo em você.
— Mas é o que eu sou e é o que você nunca será. — Arregala os olhos,
chocada com minhas palavras —. Acha que pode ordenar a morte de alguém?
Fazer por conta própria? Acha que nasceu com o perfil para brincar de chefe
na máfia? Acha que dormir com Katniss é suficiente para sujar sua alma?
Que poderá olhar na cara de qualquer inimigo e cravar-lhe uma faca? Há
quanto tempo não lê um destes livros bobos de romance? Há quanto tempo
deixou de ligar a TV e assistir uma série ou um filme romântico? — franze a
testa para minhas perguntas.
— Eu...
— Eu quero essa garota — confesso, cerrando os punhos e sentindo como
se deixasse uma parte minha aberta ao público e disponível para
entretenimento —. Essa é quem você é, não esta versão que se empenha por
construir e que só a está machucando. Você é muito boa no cassino e eu não
quero perder este trabalho que realiza lá, mas também é uma garota que ama
passar horas ajudando os outros sem pedir nada em troca.
O reconhecimento finalmente começa a abrir sua mente, observo seu
rosto, suas sobrancelhas franzidas, seu lábio inferior preso entre os dentes e
seus olhos arregalados.
— Você luta uma guerra que não lhe pertence e isso a está prejudicando
— digo, inclinando-me até que tenha esse rosto angelical próximo ao meu —.
Quero, mesmo que haja uma pequena chance, recuperar a garota que conheci
no passado. Não quero que entenda mal as minhas palavras. Ser forte não é
ruim, defender-se também não é, mas não quero que se prejudique no
processo. Você já passou por muita coisa ao longo desses meses e entendo,
mas meu deslize com Katniss não é desculpa suficiente para se condenar
neste mundo de almas negras e corações mortos. Esta é a máfia, querida. Um
punhado de homens lutando pelo poder e soberania.
— Se pensa assim, então, por que é o chefe?
— Nasci para isso, fui criado dentro da famiglia e era meu dever assumir o
controle. Não é a única a quem este mundo impõe algo, Emilie. — Inferno, o
que estou fazendo? Por que lhe digo tudo isso? É como se abrisse a porta da
minha alma sem avisar —. Nos meus primeiros anos, pensei que poderia ser
pintor. Minha mãe gostava muito de arte e eu aprendia à distância, mas aí a
realidade sempre prevaleceu. Sou um mafioso, tive que aprender a matar,
estudar meus inimigos e controlar meu caráter e pequenas coisas como a
pintura e a arte, perderam seu valor.
Ela levanta a mão e a coloca no meu coração, sobre o tecido da minha
camisa. Parece frágil, mas é, a garota que vi pela primeira vez por meio de
uma foto. Fecho meus olhos sentindo seu toque e, em seguida, seus lábios
contra os meus. Eu a beijo, envolvendo-a em meu corpo e puxando-a contra
mim, ambos nos levantamos em sincronia, suas mãos rodeando meu pescoço
e suas pernas ao redor dos meus quadris, enquanto caminho em direção à
parede, pressionando seu corpo nu.
Esta mulher, minha esposa, tem a capacidade de me deixar completamente
louco. Deixo de ser quem sou por sua alma, eu me torno um idiota ridículo
quando a tenho tão perto e tão minha. Ela é quem para de me beijar, recuo
um pouco para olhar seu rosto e encontro lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Sabe o que é ter pesadelos com ele e depois acordar ao seu lado? —
soluça sem olhar-me. Não posso negar que é um duro golpe e que sinto um
certo desconforto —. Às vezes só quero matá-lo por ser quem é... Pelo que
representa.
— Não sou ele, deixe-me prová-lo. Deixe-me mostrar-lhe o verdadeiro
homem que há dentro de mim, que você me transformou... Não sou um
homem bom, Emilie. Deus sabe que não, mas sou melhor do que ele e posso
ser ainda mais. Serei um bom marido, um pai para nossos filhos. Nada como
ele, Emilie — garanto unindo nossas testas. Abra seus olhos deixando-me ver
toda a sua dor. Não se esconda de mim desta vez —. O que você quer? O que
posso fazer pela sua felicidade?
— Liberte-me, deixe-me sair da máfia.
«Não posso...» O pensamento é brutal. Eu a necessito comigo, não consigo
imaginar o resto da minha vida sem ela.
— Não posso…
— Esta não é minha vida, Don. Liberte-me, por favor.
— Disse que me amava — eu a lembro. Sai do meu agarre. Ela impõe
aquela distância que a mantém segura de mim. Viro-me para encará-la
quando está cobrindo seu corpo nu com o robe —. É mentira?
— Não, não é... Você está jogando sujo — recrimina, tremendo.
— Então sofrerá, certo? Se me ama e não me tem ao seu lado, você
sofrerá, além disso algumas pessoas não estão felizes com tudo o que
aconteceu e só esperam o momento de vê-la vulnerável para atacar.
— Não me deixará ir porque sofrerei e tenho inimigos? Essas são as duas
únicas razões?
Franzo a testa, sabendo o que ela deseja ouvir e que não posso dar-lhe.
Abro a boca tentando falar, dizer qualquer coisa, mas não quero mentir.
— Mereço mais — sussurra.
E inferno, eu sei. Merece viver todo esse romance épico de seus livros.
Como posso dá-los? Sou bilionário, tenho tanto dinheiro que nem mesmo
meus bisnetos precisariam mexer um dedo. Poderia levá-la ao redor do
mundo, comprar joias, roupas e colocar todos os desejos a seus pés, mas não
é o que Emilie deseja. Ela me quer, não os bilhões que estão atrás, como
posso dá-lo? Como posso garantir-lhe que tentarei desenvolver este
sentimento?
— Fique, mia regina. Eu a necessito. Sei que é irritante e me tira do sério
com duas palavras, mas eu a necessito ao meu lado... Quero que fique
comigo.
— Isso significa que eu tenho uma opção? O que me deixaria ir?
Sua emoção causa esse golpe típico na boca do meu estômago. Se este é o
amor que os seres humanos professam com tamanha magnitude... pelo qual
alguns até morrem. Eu não quero conhecê-lo. Semanas atrás disse “que me
amava” e hoje salta de emoção com a probabilidade de estar livre do nosso
casamento.
Passo a mão pelo meu cabelo, organizando minhas ideias. Muitos
casamentos dentro da máfia são malsucedidos e ninguém percebe isso. Sou o
Capo, tenho preocupações maiores do que isso. Deveria ser capaz de dominar
minha esposa sob minha demanda absoluta, sem me preocupar com mais
nada, mas acabo de dizer-lhe que sou melhor que meu pai e por isso devo
prová-lo.
— Responda esta pergunta, Emilie — eu a desafio, rodeando seu corpo e
sentando na superfície da mesa enquanto cruzo os braços sobre o peito,
observando-a não como minha esposa, mas como mais uma negociação —. O
que, na sua opinião, você mais ama? A sua liberdade ou a mim? Você só
pode ter um dos dois.
— Isso é injusto.
— Nunca fui um homem justo, não com as pessoas em geral. Lidei com
você, mas veja aonde isso nos levou. Se desde o primeiro momento do nosso
casamento eu tivesse imposto a minha mão forte, hoje você seria uma doce
ovelha, no entanto, aqui estou eu negociando a base do nosso casamento
pouco meses depois de oficializarmos. O mundo não é justo, por que deveria
ser?
— Porque sou sua esposa...
— Mas não quer ser — digo. Vejo mover sua perna como um tique
nervoso e desvia seu olhar dos meus olhos.
— Minha liberdade. É tudo o que me importa.
Sorrio de lado e ela dá um passo para trás. Afirmo lentamente, sem
mostrar-lhe o duro golpe em carne viva.
— Então... — murmuro. Não sei o que dizer, não estava preparado para
essa resposta. Esperava que me escolhesse, que alguém pela primeira vez na
minha vida me escolhesse e assim deixasse de ser a segunda opção —. Já é
tarde, deveria estar descansando, por que não vai para o quarto?
— Dominic...
Não posso ficar perto dela. Encurto a distância entre nós, aos poucos, para
que não pense que a machucarei e não fuja. Levanto seu rosto com a ponta do
polegar, aquelas esmeraldas cheias de lágrimas sem derramar, sem uma
palavra porque são inúteis, beijo sua testa demorando alguns segundos.
— Gostaria de dizer-lhe o quanto lamento a perda de seu irmão, mas não
posso deixar de saber quão ruim foi Holden em sua vida e que nunca fez nada
para mantê-la segura. Meu pai era um demônio, todos sabiam disso... Holden
nunca deveria tê-la levado essa noite para ele, comigo ele não teve chance de
recusar, mas se você fosse minha irmã, estaria vivendo sua melhor vida em
um país remoto, mesmo que tivesse que dar a minha vida em troca. Ele nunca
a protegeu, Emilie. E pelo fato de estar morto, não o tornará um santo, não
para mim.
Então a deixo caminhar em direção à porta e saindo do meu próprio
escritório, arrumo minha camisa, enfio-a dentro das calças e penteio meus
cabelos com as mãos. Savannah está na sala de estar com a pequena Emma
no colo, ambas de pijama de desenho animado.
Vou até a cozinha, onde encontro nonna preparando alguma coisa no
fogão.
— Amanhã retire todas os meus pertences deste apartamento — ordeno
em italiano com um tom de voz rude. A pobre mulher olha para mim
espantada —. Contrate uma empresa de mudanças.
— Como quiser — diz hesitante —. Mas ela não é Isabella, filho.
— Bobagem — rosnou sentindo essa raiva cegante —. São iguais, ambas
juraram amar-me e ambas me abandonaram.
— Isabella não tinha escolha.
— Tinha quando a procurei na Rússia e ela preferiu continuar fodendo ao
invés de vir comigo. Todos nós temos uma opção, nonna, e se escolhemos as
erradas é um outro problema. Cumpra o que lhe pedi.
— Sim, senhor — desiste abaixando a vista.
— Dominic! — Emilie chega ofegante.
Não tenho um pingo de paciência para continuar falando com ela ou
tentando consertar o que claramente só eu vejo.
— Não temos mais nada para conversar, Sra. Cavalli — assovio por cima
do ombro, sem olhá-la e começo a caminhar para fora destas paredes. Sinto
que tudo aqui me asfixia —. Todo mundo consegue o que quer, Emi. Então
não se arrependa.
— O que significa isso? Don!
— Significa que não quero vê-la, não quero falar mais com você e me
afastarei o máximo que possa de você. O Dominic benevolente acabou! Quer
a sua liberdade? Você a tem sob meus termos! É isso o que significa.
E saio antes de dizer coisas das quais no futuro eu me arrependa. Ela quer
liberdade, então a terá.
Capítulo 18
O único erro que pode existir é o de não fazer nada, não tentar e ficar com
aquela dúvida, e se...? Não quero essa pergunta em nossa história. Quero
seguir em frente, continuar, seja um erro ou não, uma vitória ou talvez uma
queda. Seja lá o que for, só terei uma saída. Levantar-me novamente.
Deixar Nova York de alguma forma parece certo, é como se nós dois
deixássemos nossos problemas para trás e fôssemos apenas um casal recém-
casado e apaixonado. O semblante de Dominic é mais sereno e sua atitude é
até despreocupada. Trabalha em seu laptop durante o voo e bebe um pouco
de whisky, enquanto eu me entretenho com uma garrada de vinho.
— Venha aqui — ordena com essa voz carregada de desejo.
Ele enlouqueceu com a bofetada que recebi e parece olhar apenas para
essa parte e nada mais. Cumpro sua ordem, saindo do meu assento e
caminhando até ele, Dominic deixa seu laptop de lado antes de agarrar minha
cintura e me puxar para seu colo. Meu vestido preto sobe pelas minhas
pernas, revelando muito da minha pele, partes da pele que meu marido
certamente aprecia ver.
— No que está trabalhando? — questiono, acenando com a cabeça para o
laptop.
— As contas do cassino — responde subindo sua mão pela minha coxa —.
Aparentemente, os meus clientes gostam que vê-la passeando de um lado
para outro lá e quando não vai, eles decidem gastar menos dinheiro, o que
você acha disso?
— Acho que eles vão embora quando você não está por perto para vê-los
gastar. Afinal, é a você quem eles querem deslumbrar — explico mordendo-
me o lábio quando seus dedos alcançam a ponta da minha calcinha —. Não
estamos sozinhos, Dominic.
— Poucas coisas me deslumbram, esposa — responde, ignorando meu
comentário.
— Não gosta que eles gastem seu dinheiro?
— Gosto, claro, mas não me deslumbra — responde, puxando o tecido,
ouço o som típico e fecho os olhos em negação —. Quer entrar ao clube?
— Que clube? — gemo, deixando cair minha cabeça em seu ombro. Deus,
seus dedos já estão causando uma tortura —. Alguém pode-nos ver. Temos
duas comissárias de bordo e é um jato pequeno.
— Essa é a diversão, Emi. Possivelmente, elas a ouvirão gemer e
desejarão ser você, e já o fazem assim que entrou ao meu lado, elas queriam
estar no seu lugar — afirma introduzindo dois dedos dentro de mim. Nego
ofegante sem conseguir externar nada criativo — mas você está certo.
— O quê? — exclamo confuso.
— Deseja algo, senhor? — Pergunta uma das comissárias de bordo. Meu
rosto fica corado de vergonha enquanto tento escondê-lo em seu pescoço.
— Um sanduíche de frango para minha mulher e dois whiskies lacrados…
Em meia hora — diz, sem agradecimento nem por favor. A garota responde
antes de sair desesperada.
— Você é muito cruel — murmuro, abrindo dois botões de sua camisa —.
Não vai comer nada?
— Não, estou guardando minha fome para quando estivermos sozinhos...
Emi — clama suspirando baixinho. Continuo meu caminho em suas calças
—. Temos companhia, lembra?
— Sou exibicionista, além disso, quero que saiba que não tem nenhuma
chance comigo — murmuro flertando, saindo do meu esconderijo para
encará-lo —. Ou você tem medo de que me escutem gemer?
— Emilie... — avisa, mas é tarde demais. Envolvo seu pau com a minha
mão e começo a movê-lo. Adoro quando me faz isso, umedecendo seus
lábios.
— Você deixará que saibam que posso dominá-lo? — pressiono,
levantando um pouco e colocando seu pau na minha boceta. Estou pronta e
molhada para recebê-lo. Nunca é o suficiente, sempre quero mais uma
pequena dose.
— Acha que pode? — rosna antes de pegar um punhado do meu cabelo e
puxar —. Dominar-me?
— Posso, mas não sei se o seu ego está pronto para sabê-lo.
E tenho a cara de pau de sorrir, algo que parece perturbá-lo. Ele me
empurra, deixando-me em pé, o tecido da minha calcinha cai no chão,
rasgado, antes que se levante. Sem se preocupar em afastar seu amigo, ele
puxa minha mão e fazemos o nosso caminho para a cabine particular.
Estou quase pulando de alegria. Ele me abre a porta para que passe com
esses olhos de um desejo selvagem. Entro no quarto ouvindo a chave de
segurança sendo ativada nas minhas costas. É simples, com um toque de
elegância em preto e branco. Dominic se posiciona atrás de mim, antes de
começar a procurar a bainha do meu vestido e lentamente retirá-la do meu
corpo, levanto as mãos facilitando sua tarefa, finalmente caindo na cama,
após ser jogada por ele. Sua mão acaricia minhas costas, uma linha reta do
meu pescoço até minhas nádegas, estou tentada a me curvar e deixá-lo
desfrutar da boa vista.
Abro o fecho do meu sutiã na frente e ele me ajuda puxando-o para fora
dos meus ombros, então suas mãos vão para os meus cabelos, ajeitando-os de
lado. Eu os deixei soltos para esconder a marca da bofetada que havia levado
de Savannah, mas foi uma bobagem, pois os olhos atentos e críticos de
Dominic perceberam instantaneamente.
— Você é tão linda e delicada... nunca vi uma obra de arte tão linda.
Às vezes, quando ele diz essas coisas, acho que são apenas pensamentos
revelados em voz alta. Então, quando tenho esse olhar de frente, sei que sou
bonita, ele consegue que não tenha a menor dúvida sobre isso.
Eu me viro, de frente para meu marido e levo minhas mãos para sua
camisa, removendo lentamente cada botão, revelando seu torso, as pequenas
cicatrizes. Algumas parecem como arranhões, outras são pequenos pontos...
Feridas de disparos, quantas vezes tentaram matá-lo? Quem chegou tão longe
a ponto de cometer este ato? Há tantas perguntas que gostaria de fazer, mas
prefiro ficar em silêncio.
Removo suas abotoaduras, pequenos quadrados pretos com uma flor-de-lis
dourada no centro, em seguida, retiro sua camisa lentamente, tendo tempo
para adorá-lo. Antes, não fazia, era apenas sexo.
Louco, selvagem e desenfreado, nunca o inspecionei em detalhes. Este é o
meu marido, que sofreu, que tem vestígios do seu calvário e que ainda tenta
melhorar, pelo menos me mostra uma versão mais humana e real.
— Emilie... — ele suspira quando caio de joelhos aos seus pés. Começo a
tirar um dos seus sapatos e ele me ajuda. Mordo meu lábio inferior puxando
suas calças para baixo. Sua ereção no meu rosto é extremamente intimidante.
— Você poderia ensinar-me? — pergunto quase sussurrando. Ele engole
em seco, seu pomo de Adão se move e lentamente afirma —. É muito grande
— expresso meus pensamentos em voz alta.
Primeiro é só a ponta da minha língua, um contato quase inexistente que
me permite saborear algumas gotas do seu líquido seminal, depois abro mais
a boca e insiro sua glande, delicadamente sugada. Don dá algumas baforadas
e vejo suas mãos em punhos nas laterais, como se quisesse trazê-las à minha
cabeça e me empurrar. «Como ele...» O pensamento é tortuoso e me vejo, a
garotinha... Esse homem é meu marido, que me protege, que não me machuca
assim, aqui, o chefe dos chefes disposto a mudar... Por mim.
Somos só nós dois, é seu corpo, são meus lábios. Levanto meu olhar e o
observo, a luxúria em seus olhos escurecendo. Desta vez dou-lhe uma sugada
completa, Don fecha os olhos e nega assoviando alguma coisa e depois volta
a focar-me. Admirada pelo tipo de prazer que isso lhe proporciona. Eu o
agarro com as duas mãos e começo a movê-las, para cima e para baixo em
todo o seu membro. Abro a boca para recebê-lo, sem perder o contato visual.
— Posso mover-me...?
Não entendo sua pergunta até que seu quadril se move e entra em minha
boca um pouco mais fundo. Não é chato nem desagradável, pelo contrário,
gosto do seu sabor.
— Agarrarei sua cabeça — avisa cauteloso. Pisco quando sinto uma de
suas mãos pegar um punhado de cabelo —. Eu o farei bem devagar, se isso a
incomodar apenas me empurre e eu a soltarei.
Empurra um pouco mais fundo, olhando-me, movo minha língua sentindo
o metal frio do anel e o movo, brincando com ele.
— Porra! — clama cerrando seus dentes e agarra os meus cabelos um
pouco mais —. Desculpe, é que isso... Oh, merda!
Começo a sugar um pouco mais forte, ele entra e sai controlando tudo de
forma metódica e calma. Seus gestos, a maneira como me deixa ter isso, seu
prazer, a fragilidade dentro do ato. Eu o masturbo com ambas as mãos e
minha boca. Ele não me avisa, mas sei que está prestes a gozar, porque seu
pau cresce dentro da minha boca, ele se recusa a me olhar, ordenando para
que não o tire da minha boca. Sua mão aperta e fica mais firme, retira a
minha mão substituindo-a pela sua e ele fode minha boca.
Tê-lo tocando-se, onde apenas espero o culminar de seu orgasmo. Ele diz
meu nome em uma pequena exalação e sinto o primeiro jorro quente, quase
direto na minha garganta. Não é desagradável ou incômodo, jamais poderia
sê-lo com ele. Engulo o máximo que posso e no final ele se afasta, deixando
intencionalmente parte de sua ejaculação cair nos lábios, no meu pescoço e
seios. Ele se inclina enquanto seu polegar pega um pouco de seu esperma e
empurra em minha boca, eu chupo descaradamente com um meio sorriso nos
lábios. Ele me puxa para cima, levantando-me e colando sua boca na minha,
sua língua me saqueando, assumindo o controle.
É assim? Todo mundo tem esse tipo de desejo intenso por outro ser
humano? O sexo, quando os sentimentos começam a fazer parte, tem algum
poder mágico? Por que tudo de repente se intensifica a mil?
— Tudo bem? — questiona ofegante, unindo nossas testas. Deuses... Seus
olhos, seu olhar têm exatamente isso pelo qual esperei tanto tempo.
Não sei responder, não sei como nomear... Não preciso de um te amo, não
quando está observando-me como se fosse seu próprio universo. Eu o beijo e
me rendo, deixo-o possuir-me, formar isso no qual somos bons. Um inferno
nos braços do outro, procurando nosso próprio paraíso.
~♦~
O ar seco de New Orleans nos recepciona na madrugada, para minha
surpresa, sem um homem de segurança, percorremos as ruas até o bairro
francês, ficamos em uma suíte do Hampton Inn como qualquer casal normal,
conversamos muito. Seus natais e aniversários, meus dias de escola, meus
gostos musicais, sua extravagância com o rock. Ele me conta sobre suas
viagens, sobre todos os lugares que já passou, mas não conhece bem, porque
não eram férias. Prometemos visitá-los nós mesmos, conhecer o mundo
juntos. Adormeço em seus braços e quando acordo estou cercada por ele, sua
perna na minha, seus braços me segurando. A manhã não pode começar
melhor com um bom sexo precoce, mas mesmo assim, no café da manhã
estou em um mar de nervos, a comida não desce pela garganta e só tomo um
suco de cereja, mesmo quando Dominic começa a se incomodar com isso.
Vê-la, tê-la na minha frente é difícil. Não me reconhece, os médicos a
mantêm sedada e amarrada a uma maca. Dominic se encarrega de falar com
sua enfermeira, enquanto me aproximo e tiro os cabelos brancos de seu rosto.
É seu rosto, mas não é minha mãe. Fecho os olhos quando tenho a imagem de
quando ela estava em cima de mim, a faca cheia de sangue. Esta não é minha
mãe, Emma Greystone era risonha e carinhosa, preparava bolos de abóbora e
espera por mim quando o ônibus escolar me deixava na esquina. Ele se
ajoelhava com seus braços abertos enquanto eu corria para receber um
abraço, era quem nas noites em que adoecia, dormia ao meu lado. Essa é a
Emma que quero lembrar, não esse fantasma, essa concha sem alma.
Nesse mesmo dia voltamos para Nova York, Dominic me segura enquanto
choro em seus braços durante o voo, em algum momento adormeço e quando
acordamos estamos na garagem de nossa casa.
Os garotos estão em casa com Savannah e Emma, vou direto ao encontro
da menina, sei que estou com os olhos inchados de tanto chorar e minhas
roupas não estão nada apresentáveis, apenas tenho um jeans e uma camisa
branca de Dominic.
— Emilie — sussurra Savannah, mas recuso a iniciar uma conversa
pegando a pequena que levanta suas mãozinhas imediatamente.
— Que tal brincar com sua tia? — sussurro baixo.
Tê-la na cama comigo, deixando-a chateada, começa a curar minha alma.
Eu a banho, arrumo seus cabelos cacheados e aprendo como colocar uma
fralda. Algo que é uma super tarefa, Emma finalmente adormece e eu ao seu
lado, observando-a, quando percebo que Dominic está na porta, meio que
sorrindo. Faço sinais para que fique em silêncio. Meu estado é lamentável,
estou com a camisa suada e tenho mechas fora do meu penteado.
— Venha aqui, linda — ordena e abre os braços para mim. Eu me agarro a
ele com força, sentindo seu coração bater forte —. Melhor?
— Sim, agora sim. Você tem que trabalhar?
— Sim... — sussurra, limpando a garganta —. Tenho alguns
compromissos.
— Depois, volte para casa — sussurro, olhando para cima —. Não quero
perdê-lo.
— Ei, isso não acontecerá, você me ouviu? — pergunta, embalando meu
rosto —. Voltarei para casa, para você
— Eu te amo — digo em resposta, com um nó na garganta. Vejo seus
tormentos quando afirma lentamente —. Prefere que não lhe diga isso? Não
quero que...
— Estou-me acostumando a ouvir... Só me dê um tempo, é difícil
processar essa palavra quando você é a primeira a me dizer — confessa,
deixando-me gelada da cabeça aos pés.
— Dominic...
— Shh, nada de tristeza. Repita quantas vezes quiser, ok? Sempre, mesmo
quando seja um verdadeiro idiota, lembre-se de me dizer.
— Eu prometo — digo com um pequeno sorriso. Sua vida não foi o sonho
que se pode imaginar. Tinha dinheiro, sim, mas não era a coisa mais
importante para uma criatura. Afeição.
— Você percebe algo? — pergunta nervoso.
Nunca vi Dominic temer alguma coisa.
— O que…?
— Seremos os pais de Emma — diz. Abro e fecho a boca, não sei o que
dizer. Eu me imaginava sendo sua tia, a tutora legal, mas não cheguei a
pensar nela como uma filha. Deus, só tenho vinte e um anos.
Não me vejo como mãe de ninguém, mas ele está certo. Ela será minha
garota, eu sou a única coisa que ela tem.
— Se você não quiser…
— Não estou falando de não querer, só estou dizendo que seremos seus
pais e talvez você queira... um futuro melhor para ela — finaliza.
— Eu não o deixarei, se isso é o que está sugerindo. Podemos ser seus
pais, vamos aprender juntos... Entendo que isso não estava nos seus planos.
— Dou uma risada nervosa —. Você não queria uma esposa e agora estou eu
com uma garotinha incluída.
— E é perfeito, ok? Ela é nossa, como qualquer filho.
Eu o beijo. Beijá-lo é quase como dar-lhe minha própria alma, senti-lo
perder o controle e me deixar dominar o beijo. Suas mãos no meu corpo, as
palavras ditas entre ambos e os momentos compartilhados um após o outro,
amo muito este homem. Assassino, cruel, egoísta e sociopata. Estou
perdidamente apaixonada por ele. Quando se afasta, sinto o vazio de não tê-lo
por perto.
— Preciso de um banho de água gelada.
— Você é insaciável — repreendo limpando seus lábios.
— De você, sim. Você é uma delícia e não pode-me culpar. Você tem um
sabor único.
A insinuação nos lembra nosso momento no avião e sei que também o está
visualizando, mis bochechas ficam coradas. Não entendo como às vezes
posso ser ousada e depois sentir esse tipo de vergonha.
Pelos deuses! Dominic me viu em cada posição criada, ele me machucou e
não fomos santos no sexo precisamente.
Afastamo-nos porque se continuarmos beijando-nos é um presságio de
acabarmos nus e suados, movendo-se em sincronia.
Eu o observo no batente da porta tirando a roupa e deixando seus
pertences em nossa cômoda, brinco com a joia Cavalli no meu pescoço.
Tornou-se parte de mim, às vezes simplesmente esqueço que ainda está lá.
Deixo que ele tome banho em paz e vou até o closet encontrar outro terno,
escolho sua roupa e a coloco na cama, depois inspeciono suas facas, que
precisam de outro lugar. Com Emma aqui, não podemos deixá-los na
mesinha de cabeceira, muito menos sua arma, embora agora esteja sempre
descarregada desde o dia em que apontei para ele, mesmo em minha raiva
sabia que Don nunca me machucaria.
Seu celular se ilumina com uma mensagem de K. Florentino. Tem a tela
bloqueada e não posso ler a mensagem. Continuo olhando até que este se
apaga. «Confie, confie...» Pode ser qualquer uma, mas sei quem é, Katniss.
Seu pai tem negócios com Dominic. Uma mensagem não significa nada.
Respiro, então é a vez do meu próprio celular tocar. Existem quatro
notificações. Franzo a testa, muito poucos têm meu número.
Ando em direção à minha cômoda, descobrindo que não reconheço o
remetente, desbloqueio meu celular e três fotos são baixadas. No começo não
entendo muito bem, somos Dominic e eu. Em uma em que ele abre a porta do
carro esportivo que usamos em Nova Orleans; em outra estamos parados,
abraçados, lembro-me de ter saído da clínica e da última uma foto de
Savannah carregando Emma e Holden com a bolsa de fraldas. O rosto de
Holden está riscado com um X, enquanto Emma está circulada em vermelho,
assim como a foto de Dominic. E por último é uma mensagem... «Se você
não cumprir sua parte, eles serão os próximos».
Capítulo 21
—
Emilie? — Eu a olho com seu celular na mão, retrocede colocando uma mão
ao peito e nega —. O que está acontecendo?
— Nada... nada, você me assustou.
Franzo a testa, mas Emma na cama resmunga baixinho começando a
acordar, esfregando os olhos enquanto se senta. Sinto meu estômago revirar,
sempre tive muitas mulheres na minha cama, mas nunca pensei que teria uma
menina de um ano. Emi corre em sua direção carregando-a, deixando a pobre
criatura sem ar.
Suspiro, deve acostumar-se com nossa nova realidade. Começo a trocar de
roupa, tenho um encontro com Fiorentino e sua filha para encontrar uma
forma de incluir esta última como publicitária e depois me dedicar ao casino
e deixar que os meus clientes me vejam jogar um pouco, pois a possibilidade
de levar Emilie é nula. Seu estado emocional está um pouco abalado. Sai do
quarto sem me dar uma segunda olhada. Já passará, é só mais um episódio.
Mulheres, mulheres. Desço ao primeiro andar, pronto para sair, quando ouço
as mulheres conversando na cozinha, Emilie parece ansiosa.
— Você não precisa sair, pode ficar aqui conosco. Essa cobertura é
segura, não tem como entrar aqui — garante.
— E o que acontece com à empresa? Preciso sair, a dor... Quero ocupar
minha mente — a ruiva responde. Entendo, trancar-se aqui com a dor da
perda só lhe causará mais problemas. Deve retornar à sua rotina, que espero
que minha esposa entenda logo —. Sinto muito pelo que fiz, Emilie. Não
deveria ter levantado minha mão. Não sei no que pensava, você só quer o
melhor para Emma, assim como eu, e sei que não deixará que nada lhe
aconteça.
— Ele é meu marido e eu o amo com toda a minha alma. Sei que você não
entende e é difícil explicá-lo, mas conheço partes que os outros não entendem
e, quem ele é... me faz estar conectada a ele por decisão própria. Quero que
você fique aqui, mas para isso deve entender que Dominic forma parte da
minha vida, assim como será para Emma.
Ouvi-la falar assim me faz pensar se realmente pode-me ver. Sou uma fera
sanguinária, vivo no mundo para causar o caos e trago comigo a condenação
de ser um Cavalli... Ela me faz acreditar que é possível ser duas pessoas
diferentes em um só corpo, de certa forma, isso me dá alguma esperança.
Algo que desconhecia anteriormente.
— Como não pode ter medo deles? Ele e Roth me assustam, o outro
garoto Raze é mais tratável — responde a inocente. Quase quero rir, Raze
tratável? Sim, claro. Entro na cozinha interrompendo-as. Caminhando
diretamente a minha esposa, se viverá aqui conosco é bom que se vá
acostumando e de certa maneira eu também. Tenho os ombros rígidos quando
me inclino para lhe sussurrar.
— Não me espere acordada, chegarei tarde. — Assenti sem olhar-me
movendo algo no fogão que mais parecia a vômito, o que diabos é isso? Pela
forma como Emma está sentada no balcão da cozinha, pode ser sua comida.
— Tenha cuidado — implora agarrando-se ao meu pulso —. Volte para
casa.
— Ecco dove sei, Cara[10] — pronuncio em italiano, virando-me antes de
beijá-la e torná-la minha novamente na frente de dois pares de olhos curiosos.
Savannah me observa e parece encolher quando paro a uma distância segura.
«É por Emilie. Faça isso por ela» repito incomodado em minha mente.
— Bem-vinda a nossa casa.
— Obrigada, Sr. Cavalli. — Acena com sua mão nervosa.
Emma, que está a seu lado, levanta suas mãos gorduchinhas na minha
direção, que as têm sujas com algum tipo de purê de merda, os bebês comem
isso? Ah, além disso ela está comendo meu doce.
— Alguém tem que banhá-la — digo sem jeito, caramba, não tinha algo
melhor para dizer? Um passo de cada vez —. Quero dizer... vejo você em
breve, Emma.
A criatura me olha com olhos arregalados e surpresos.
— Ela gosta que penteiem seus cabelos — murmura Savannah —. Assim
— explica, remexendo seus cabelos com os dedos, estão esperando para que
eu faça isso? Procuro Emilie por uma ajudinha. Sim, bem, isso não
acontecerá no momento.
Saio antes de ter alguma ideia maluca que inclua trocar fraldas ou algo
parecido... Estou tentando não enlouquecer. Adaptar-me às novas mudanças.
Não apenas em nosso relacionamento, mas em nossa casa. Não estamos mais
sozinhos para fazer sexo onde quisermos, nem tenho a intimidade de beijá-la
onde e quando quiser. Savannah, não é uma ameaça, mas não confia
totalmente em mim. Ter nonna é diferente, sabe quando se transformar em
um fantasma e foi criada para ver e se calar.
~♦~
O Natal nunca foi uma data memorável na nossa família, lembro que meu
pai nos levava à igreja e depois ofereciam uma festa enorme à famiglia, não
uma festa típica, mas de formar relacionamentos e criar aliados. Não havia
presentes debaixo da árvore, nem uma esposa pulando em cima de você de
pijama, esperando que entregasse seu presente, muito menos uma garotinha
de fralda. Nos meus antigos Natais, tinha uma ou duas mulheres em minha
cama, depois de uma noite cheia de sangue e álcool, mas essa visão supera as
outras.
— Você tem que abrir o seu presente — cantarola feliz. Fico feliz só de
olhá-la rapidamente, pois estes últimos dias ela estava bem tensa.
— Passarem o dia na casa de Roth — anuncio sentando-me, Emma
gatinha ao meu lado levantando suas mãos. Ele tenta sempre que me olha,
mas o medo de machucar seu corpinho fraco e frágil me impede.
— Não acontece nada se você a pegar — murmura, puxando-a para longe
de mim. Sei que a machuca, pois entende como indiferença.
— É muito pequena.
— Ela não te morderá — assovia, levantando-se da cama. Foda-se com
seu humor.
— Emilie...
— Eu a vestirei com o pijama antes que exploda ao seu lado — ironiza.
Eu me jogo na cama, tapando meus olhos, por que não entende?
A viagem para a fazenda é silenciosa, está irritada ou pensativa. Às vezes
não consigo diferenciar seu nível de humor, mas ela não para de olhar no
espelho retrovisor. Emma está sentada em sua cadeirinha especial no bando
de trás e Savannah está em uma van com Nick e nonna, parece gostar deles.
— Conte-me sobre o pijama — pergunto, tentando distraí-la.
— Hmm?
— O pijama, Emi, está tudo bem? Por que olha tanto para trás?
— Não há mais segurança?
— Não há necessidade, estaremos com Roth. A fazenda é protegida —
digo, levando sua mão aos meus lábios —. Tudo está em ordem.
— Confio em você — sussurra, sentando-se ereta.
Começa a dizer-lhe o porquê estão usando roupas de dormir com desenhos
de Natal. Ela e Emma têm pijamas iguais e Savannah tem um vermelho.
Chegamos à fazenda ao meio-dia, Roth nos recebe com um almoço, até Raze
está aqui com alguns de seus garotos preparando um churrasco. As mulheres
são a principal atração com suas tradições.
— Loira, Don não permitiu que você trocasse de roupa esta manhã?
— Ha-ha — brinca Emilie com Emma em sua cadeira. É tão linda com a
garotinha. Nick, com seu novo trabalho, pega o pacote de fraldas. E nonna
pulou de alegria ao rever Madame, a empregada de Roth.
— Pensando em criar os seus? — pergunta Roth, batendo no meu ombro.
— Sim — admito —. Ela é uma boa mãe, vejo como cuida de Emma.
— Temos que…
— Não, nada de negócios. É Natal, quero que ela seja feliz hoje.
Se você falar algo sobre a famiglia, todo este dia estará arruinado. Prometi
dar-lhe um dia sendo só Dominic, o homem que ela ama. Ela comprou
presentes para todos, o Natal é uma época que a emociona.
Raze ganha um convite para conhecer a empresa Harley Davison, Roth
uma faca genovesa sem cabo em forma de semicírculo. Fiquei ligeiramente
enciumado. Savannah e nonna recebem um envelope, deduzo que há um
cheque, assim como Nick, que com os olhos me pede permissão para aceitá-
lo. Para ela, essas pessoas não são funcionários, são como sua família. É a
sua vez de receber presentes e ela está muito animada, batendo palmas. Raze,
um pouco incomodado lhe entrega uma pulseira, sei que significou muito
para ele. É de ouro com Skull Brothers gravado na placa, Roth lhe dá uma
caixa e assim que a vejo, meu desejo é de mata-lo.
— Maldito filho da puta — assovio, prestes a golpeá-lo.
—-Don! Emma — aponta, cobrindo as orelhas do bebê.
— Uma arma! Você lhe comprou uma arma, não encontrou uma loja de
vestidos no último minuto? Um relógio?!
Savannah está surtando ao olhar a caixa aberta e Raze simplesmente não
para de rir.
— Ela tem diamantes, quem ela machucará com isso? — pergunta com
um meio sorriso.
— Ela é tão tonta que provavelmente a si mesma — aponto, em seguida,
olho em sua direção —. Sabe que estou certo. Não aceitamos o seu presente,
devolva-o.
— Mas ela é muito bonita! Veja como brilha — revira, movendo-a sem
nenhum cuidado —. E tem meu nome.
— E poderia arrebentá-lo — rosno, tirando esta coisa ridícula de sua mão.
Ela é muito mais rápida e sobe no meu colo, envolvendo meu pescoço com
suas mãos. Meu Deus, meu corpo reage como uma explosão atômica.
— Por favor — implora, fazendo beicinho —. Só a usarei se você me
ensinar como manuseá-la com segurança e nos seus termos, por favor.
— É rosa, ninguém a levará sério com uma arma dessa cor — exponho,
cedendo diante de seu pedido. Ela sorri, porque já sabe que me tem em suas
mãos —. Você não abriu meu presente — aponto antes que a pegue e suba
para fodê-la em cada canto desta fazenda.
— Certo — diz antes de me dar um beijo rápido e sair do meu colo. Roth e
Raze não dissimulam seus olhares surpresos e agradeço que os demais, Byron
e Damián, estejam assando carne neste momento. Emma se encontra
rastejando até Roth e puxando o tecido de sua calça.
— Olá, pequena — sussurra em russo, pegando-a nos braços e sentando-a
em seu colo. Emma sorri feliz por ter o que estava pedindo dias atrás. Roth
sabe mais sobre crianças, já que era ele quem cuidava de Raze na maior parte
do tempo. E isso transparece em sua maneira de segurá-la. Savannah quase
quer arrancar os cabelos e tirá-la do seu colo e Emilie só observa com olhos
sonhadores o que ela mesma anseia. Uma família, um homem que não tenha
medo de segurar seu próprio filho e machucá-lo, será que poderei dar-lhe
isso?
— É hora da sua refeição, posso pegá-la? — Savannah está enfrentando
Roth, que retorna ao seu semblante sério e frio. Leva a garota para fora da
sala, com nonna seguindo-a.
— Desculpe por isso, está tentando adaptar-se — murmura Emi corada —.
Logo entenderá que somos uma família aqui.
— Abra o seu presente, Emi — instruo.
Não quero que fique triste, não neste dia. Então, ela volta à tarefa
segurando meu envelope, ela me olha com um olhar questionador. Roth, que
já sabe o que contém, ele a motiva que rasgue o envelope. A princípio tirando
as folhas e fotos não tendo muito ideia de nada, confusa continua tirando toda
a papelada.
— Não entendo, o que é isso?
Limpo minha garganta passando minha mão pelos meus cabelos.
— Fundação Greystone — explico um pouco nervoso —. No seu
aniversário eu lhe dei o orfanato, o terreno é seu. Quando nos conhecemos,
você pensou que eu queria aquele local para fazer outra coisa e pensei que
ficaria feliz em saber que esse local agora é seu. Roth me ajudou com os
procedimentos legais para a fundação... — Emi — suplico. Está chorando,
merda não. Pensei que ficaria feliz, levanto-me pedindo para que os rapazes
saiam... Que diabos há de errado? — Se não é isso o que você quer, eu o
devolvo. Não chore, meu amor.
— Comprou-me uma fundação de presente? — pergunta soluçando.
— Sim e um livro, aquele sobre o qual conversava com Hannah outro dia.
Que não estava no mercado e que você morria de vontade de ler.
— O quê?! Como fez isso? — exclama, sorrindo em meio às lágrimas.
Pula no meu pescoço, jogando-nos no chão.
— Comprei os direitos autorais do autor — informo.
— Você está louco! — grita, procurando minha boca, dando-me um beijo
curto.
— Por você — confesso, colocando minhas mãos sob seu pijama.
— Eu lhe comprei um relógio e imprimi alguns bônus...
— Bônus? — pergunto confuso —. Bônus para quê? — ela me entrega a
última caixa do chão e a abre. Lá dentro encontro um Rolex antigo, não é um
modelo atual, talvez tenha vinte anos e é personalizado.
«Eternamente sua. Na alma e no corpo, meu Capo.»
— Era do meu pai... Você me deu algo dos Cavalli e eu quero que você
tenha algo dos Greystone. Que nos faça lembrar sempre que somos a
diferença entre eles — sussurra. Embalo seu rosto e a puxo para mim,
beijando-a vagarosamente. Meu coração está acelerado. «Se eu acreditasse no
amor, você seria a desculpa perfeita para me apaixonar.» Se existe, é o que
sinto por esta mulher quando a tenho em meus braços, quando só penso nela
mesmo não estando ao seu lado. Se amar é querer entregar-lhe minha vida à
sua mercê, a famiglia e controle absoluto sobre mim... Então ela é minha
desculpa perfeita.
— E você tem esses bônus — diz ela, entregando-me alguns folhetos
impressos com suas fotos, que porra é essa?
— Diga-me, pelo bem da minha sanidade mental, é editável, Emilie!
Está com uma roupa íntima provocante e a primeira diz: “Faça o que
quiser comigo, quando e onde meu chefe quiser. Mate-me de prazer”.
— Ah, estou com vontade de usar este primeiro bônus, agora, no segundo
andar.
Capítulo 22
“Casino”
Tenho muitas de suas mensagens, “Onde está? Tudo bem?”. São dos mais
comuns. Sabe que por segurança nunca envio minha localização exata nas
mensagens. Prefiro dizer-lhe antes de sair de casa meus possíveis
movimentos, deixando de lado esses onde o sangue está contido.
Sua pele está fria, seus lábios perdendo aquele rosado natural que sempre
me deixou louco. Verifico seu corpo por qualquer possível lesão óbvia, mas
não consigo encontrar nada a olho nu. «O que houve? Veneno? Um possível
esgotamento nervoso?». Questiono internamente ouvindo Raze e Roth me
chamarem simultaneamente, ambos chegam ao meu lado enquanto a carrego
em meus braços. Nós a colocamos rapidamente parte traseira do meu carro. O
copiloto Raze e Roth sacando sua faca. Abro sua camisa procurando uma
possível lesão. Nada, sem nenhum dano aparente.
— Seu pulso está muito fraco, precisa de um médico agora.
— Vou ligar para o nosso...
— Não dá tempo, vamos para o hospital.
Sem ouvir mais nada, seguro Emilie em meus braços, apoiando-a contra
meu peito, ela está respirando superficialmente. Raze é quem começa
explicando que Emilie se queixou algumas vezes por não se sentir bem.
— Será que comeu algo estranho? Você se certificou de que estivesse livre
de alguma toxina? — questiono Nick, que está atrás do volante.
— Sim, senhor, como sempre. Marcela preparou e eu fiquei vigilante, ela
foi com as amigas ao restaurante, mas não comeu nada e eu mesmo dei-lhe
uma garrafa de água lacrada. Responderia com minha vida se algo
acontecesse com sua esposa, o senhor sabe disso — diz sério.
— Ela não comeu nada no shopping — diz Raze —. Talvez tenha sido um
colapso nervoso, a surpresa de nos ver aqui. — Posso ver que está avaliando
todas as possibilidades. Emilie manipulou todos nós em suas mãos —. É
minha culpa, Don. Acabei distraindo-me por um segundo, com um demônio!
Foi apenas um segundo.
— Ela encontraria um jeito de escapar — tranquilizo —. O que ela quer,
ela consegue inclusive passar sobre o Papa Francisco.
Sei que não está alimentando-se adequadamente desde a morte de Holden,
tem sido dias difíceis para todos nós e com a responsabilidade de Emma,
Emilie está diminuindo cada vez mais. Chegamos ao hospital de Nova York e
é levada a ala do Pronto-Socorro, onde sou proibido de entrar, ainda está
inconsciente quando vejo seu corpo na maca.
Nunca me senti tão desesperado e desamparado como agora, quero saber o
que houve com a minha esposa, estar ao seu lado, não confio em ninguém por
perto... pode ser uma armadilha. Lucas tentará fazer seu trabalho, minha
esposa. Espero que Byron Miller avance com o filho da puta, caso contrário,
eu mesmo o matarei. O que farei com minha vida nada se Emilie es ferida de
alguma forma por minha culpa? Não me perdoaria. Jurei protegê-la e aqui
estamos nós, minha esposa inconsciente, seu irmão morto por causa do meu
negócio, uma menina de um ano sem pai e com uma menina deprimida no
comando. O que estava fazendo com Phils Rawson?
— Ela ficará bem — murmura Roth.
— E se não ficar? — pergunto sentindo a angústia cravada na minha
garganta — e se a pressionei excessivamente? Se a magoei e por isso correu
para Phils? Talvez neste momento ele tenha algumas informações muito
valiosas sobre nós. E veja onde estamos, em um hospital, preocupados com
ela, sem saber o que ela realmente tem.
— Emilie é forte, nós dois sabemos disso.
— Ela não come há semanas, droga! Eu a vi cair bem debaixo do meu
nariz e não fiz nada.
Estou andando de um lado para o outro no pequeno espaço, sentindo-me
trancado. Não gosto de me sentir impotente, de não ter o pleno controle de
tudo. É como ser um menino fraco e indefeso, a garota da recepção está
perdida com os encantos de Roth, babando sobre sua roupa de enfermeira
quando vislumbro um rosto familiar. A Dra. Falcón, está escrevendo algo em
um tablet quando agarro seu antebraço com força. Ela grita assustada
chamando a atenção das pessoas ao redor.
— Minha esposa chegou inconsciente, eles a conduziram ao pronto-
socorro não me deixaram entrar e nãos sei absolutamente nada sobre ela.
Estou prestes a perder minha paciência e começar a cortar, literalmente,
algumas cabeças aqui.
— Sr. Cavalli! — Suspira, engolindo em seco —. Sabe quem a levou? O
nome do médico que a atendeu?
— Não, eu não sei nada.
— Dominic. — interrompe Roth sabendo que minha raiva está a apenas
um milissegundo de explodir —. Você tem que se acalmar, um escândalo
aqui não será recomendado. A Dra. Falcón nos ajudará, certo? Você pode
entrar e verificar se está tudo em ordem? E, pode conseguir uma permissão
para o Sr. Cavalli entrar? Isso seria de grande ajuda.
Lentamente e enquanto a velha doutora afirma, vou soltando meu agarre
em seu antebraço. Dra. Falcón acaricia o lugar com um sorriso tenso. Sabe
quem sou e tem medo de mim.
— Você tem dez minutos — ameacei antes de me virar e me jogar sobre
uma cadeira. Roth diz mais algumas palavras em tom conciliador e a mulher
desaparece atrás das mesmas portas por onde Emilie minutos antes havia
entrado.
— Onde está Raze? — rosno percebendo que não está no pequeno espaço.
Preciso saber se todos estão bem.
— Ele foi para a cobertura, sente-se culpado — explica, sentado à minha
frente. Aqueles olhos escurecidos olhando para mim com censura —. Você
não pode tornar-se um Neandertal.
— Cale a boca, Roth. Se a garota atrás daquelas paredes fosse Britney
Ginore, você estaria recolhendo cadáveres neste momento — declaro o
óbvio. Sei que de alguma forma essa garota é importante, principalmente
porque não o negou e nesse momento se sinta como uma criança obediente ao
meu lado, olhando para o chão —. Só espero que não seja um problema entre
nós, Roth. A famiglia vem primeiro lugar, você sabe disso. Ela é a filha de
um traidor e está despedaçada, por que quer uma garota abusada quando pode
ter uma mulher à sua altura?
— Ela é menor de idade, pelo amor de Deus. Só a ajudo, quando atinja a
maioridade já não será problema meu. E você sabe que não a vi de novo. Eu
lhe dei minha palavra.
— Sinto que nesse momento é quando se dará o verdadeiro problema —
sentencio —. Não pode tê-la, então comece a soltar esse laço invisível que os
uniram.
O tempo passa, as pessoas entram e saem da sala de emergência, Roth
caminha no espaço confinado. As roupas atrapalham, o paletó me esquenta,
as abotoaduras pesam, a gravata me sufoca. Minhas mãos estão suando por
algum motivo e minha testa está encharcada de suor. Preciso de uma dose de
whisky. Merda, não. Minha necessidade se estende a algo que agora não
consigo dominar, está fora do meu alcance. Minha esposa, aquela mulher
insuportável e exigente. Ela ficará bem, assim espero. É forte. Tem uma alma
guerreira, e se de alguma forma, Lucas conseguiu chegar até ela? Se coloquei
sua vida em perigo?
Nesse momento as portas se abrem revelando uma Dra. Falcón pálida...
Preparando-me para o pior, eu me levanto. O medo não é um sentimento com
o qual estou familiarizado, mas é a única coisa que sinto quando a vejo.
Medo de perder minha esposa. «Por que você a ama.» Essa voz interna grita
comigo, descartando-a ao balançar minha cabeça. É costume. «O amor não
existe».
— Ela…? — pergunta Roth, parando. Ele está tão inquieto e nervoso
quanto eu —; está tudo bem?
— Encontrei sua esposa, Sr. Cavalli. Por favor, venha comigo. — Aponta
o caminho atrás dela.
— Está tudo bem? — questiono.
— Ela ficará bem, estão fazendo exames de sangue agora e transferindo-a
para um quarto melhor. Achei que fosse exigir isso. Fique tranquilo, ela está
em boas mãos, vamos? — insiste.
Afirmo dando um tapinha no ombro de Roth. Deixar-me sair de sua vista
nestes dias é algo o corrói. Dra. Falcón nos conduz, passamos por diversos
corredores, pegamos o elevador até uma área mais quente e confortável, as
paredes pintadas de rosa claro.
Tudo muito limpo e fresco nesta ala do hospital. A mulher na minha frente
me sorri antes de abrir uma porta, ela se afasta para me deixar entrar quando
vejo minha esposa na cama, brincando com seus dedos. Tem uma intravenosa
na mão esquerda e bebe algum tipo de líquido de um copo descartável. Meus
lábios formam uma linha dura, ela é estúpida em aceitar alguma coisa? Mas a
explosão de raiva dura por uma fração de segundo quando seus olhos grandes
olham para mim. Parece frágil e vulnerável.
Ela não é a mulher poderosa e arrogante, aquela que vive para me
enfrentar e promover uma guerra. Emilie agora é aquela que conheci no
orfanato. Esquecendo a doutora, eu encurto a distância, envolvendo minhas
mãos em seus ombros e puxando seu corpo magro para o meu peito. É minha,
minha esposa, a quem negligenciei e a coloquei em perigo.
— Sinto muito... — sussurra com uma voz ridiculamente baixa. Ela aperta
minha camisa em seus punhos. Dra. Falcón limpa a garganta, fazendo-me
recuar. Dou uma olhada rápida em Emilie. Ela recuperou a cor em suas
bochechas, seus lábios um pouco ressecados.
— Estou bem, Don — garante.
— Você não aparenta estar bem, cara mia.
— Tenho um pouco de pressão alta, só isso.
— E dor abdominal — diz a doutora, dou uma olhada séria para minha
esposa, que tem coragem de se curvar ligeiramente.
— Dor abdominal? — olho para trás
— Sim, é normal antes do meu período.
— Sra. Cavalli — sussurra a Dra. Falcón angustiada. Eu a encaro e um
único passo para trás me avisa que há algo mais.
— O que está acontecendo aqui? — rosno, alternando o olhar entre ambas
—. Um da duas começará a falar agora.
— Dominic...
— Cale-se. É melhor você ficar quieta! — finalmente explodi —. Você, o
que está acontecendo?
— Estou grávida — confessa Emilie. Está jogando com seus dedos,
entrelaçando-os. Algo quente se expande em meu peito, esse pequeno lugar
onde Emma ocupa a parte primordial.
Meus olhos vão para sua barriga coberta por uma bata azul de médico.
«Grávida...» Ela me repete enquanto esfrego meu rosto e puxo meus
cabelos...
«Um bebê.» É possível? A felicidade explode em minhas veias,
transformando-se em sangue líquido. Quero beijá-la e amarrá-la em meu
corpo para sempre, prometer e cumprir que os três, ela, Emma e nosso
pequeno, serão felizes.
— Não o terei — sussurra ainda mais baixo. Estou atordoado em meu
lugar —. Não trarei um inocente a este mundo, sem saber se ele viverá, para
torná-lo alvo de seus inimigos. Nós dois sabemos que ter um filho seu é
colocar uma sentença de morte em sua testa.
— Temos Emma. — É a única boa explicação que posso dar.
— Ela não é sua filha, Dominic.
— Ela não tem meu sangue, é isso que quer dizer.
— Você é um péssimo marido e acha que pode ser um bom pai? Não me
faça rir, Dominic.
A reprovação e amargura são destiladas em suas palavras.
— Oh, Emilie. Eu lhe garanto que serei um bom pai se tiver de defender
meu filho de sua própria mãe. Você me chama de monstro por assassinar
quem se intromete no meu caminho, mas nenhum deles era inocente, o que
isso tem a ver com você? Quer matar nosso filho porque tem o meu sangue...
— digo negando e virando-me para a Dra. Falcón —. Eu matarei qualquer
um que se atrever a tocar em um único fio de cabelo da minha esposa e se ela
tiver que ficar amarrada na cama até o nascimento do meu filho, então assim
será.
— Dominic...
— Não fale mais nada, droga! Não diga uma única palavra!
— Dominic!
Eu me afasto, porque o meu desejo agora é arrancar a única parte onde
deveria ir meu coração, sei que está batendo, mas me sinto morto. Ela acaba
de arrancá-lo do meu peito, justamente ela, a mulher que o fez bater forte pela
primeira vez na minha vida.
Minha mente está desorientada, ouço esse bip irritante quando a raiva
começa a me superar, quando minhas emoções me controlam sem piedade.
Coloquei a mão na parede, tentando equilibrar-me. Alguém diz meu nome, é
um grunhido reconhecido.
As lembranças são uma sequência de fatos desencadeantes das minhas
emoções reprimidas e escondidas em uma longínqua parte da minha
memória. Isabella, minha mãe ajoelhada, enquanto fazia um boquete em seis
ou sete homens, seus lábios vermelhos e seus olhos perdidos me observando.
Damon rosnando enquanto a engasgava com seu pênis. Sentia uma dor
imensa quando chegava minha vez, pois tinha que fazer meu corpo reagir
para algo que não queria fazer. Sua voz como um eco distante no tempo. «Eu
te amo, Dominic... Você é meu pequeno» e depois seus gritos, seu ódio, suas
palavras. O repúdio que sentia por saber que era um Cavalli, filho de um
monstro.
«Seu sangue é amaldiçoado», ela me disse na última vez que a vi na
Rússia, rolando no chão, quando tentei tirá-la de lá para desintoxicá-la mais
uma vez, depois de acabar com todos eles. Acreditava que ao matar todas as
pessoas que fizeram mal a minha mãe, se cobrasse com o sangue de cada um
deles, ela estaria livre... Mas não está, não enquanto eu existir. Condenei
minha mãe, mas arrastei Emilie para uma vida que não queria e agora estou
pagando pela minha própria dose de inferno.
— Don, volte. Preciso que volte — rosna a voz de Roth, trazendo-me de
volta. Minhas mãos estão cobertas de sangue e há dois corpos no chão. Um
deles sem rosto, completamente irreconhecível. Eu fiz isso... Minhas mãos
estão em carne viva —. Tudo bem, olhe-me. Foi apenas um episódio. Você
fez bem o trabalho, mas preciso que se levante. Devemos lidar com este
desastre. Vamos, irmão, estou aqui.
— Roth... — Balanço minha cabeça negativa afastando as memórias.
— Não está com Gabriel, ele está morto. Nós o matamos juntos, o
torturamos por anos e, finalmente, nós o matamos. Não podia fazer nada por
Isabella, eles escolheram seu destino. Mas pode fazer algo por sua esposa, ela
o necessita.
— Mate-a — rosno tirando meu paletó. Estou salpicado de sangue por
toda parte. Reconheço um quarto de hospital, o que diabos eu fiz?
— Tem uma explicação, olha — assovia, deixando cair folhas manchadas
de sangue. São mensagens, de meses atrás e outras insistentes desta semana.
Franzo a testa folheando as páginas. É o número da Emilie e, embora não
tivesse identificado o remetente, sei muito bem quem é que enviou —. Ela
está em perigo, devemos tirá-la daqui. Está tentando chamar nossa atenção.
Sebastian disse que Phils Rawson não estava no prédio do FBI. Ela não falou
com ninguém, Dominic. Está procurando uma forma de tirar-nos dos lugares
que frequentamos. Temos uma porra de um informante entre nós.
— Sabe que está grávida — digo, lendo todas as suas ameaças —.
Conhece cada movimento que fazemos.
— Sim, droga. Estamos em perigo, sabia que não nos trairia! Vamos,
droga.
Capítulo 25
Deixo um bilhete no meu lado da cama e termino de cobrir seu corpo. Está
exausta, tanto que para não acordá-la, dou um beijo curto em seus lábios.
Gostaria de ficar ao seu lado e vê-la acordar, mas o dever me chama. Eu me
levanto e abro a porta para que nonna possa encher a sala de rosas e balões.
Somos só nós no apartamento, não confio em mais ninguém, além dos do
pessoal do segurança. Ninguém pode notar que Emilie está grávida. Agora é
mais vulnerável do nunca.
— Obrigado por cuidá-la — murmuro em italiano. Nonna sorri, alisando
meu terno antes de me entregar uma xícara de café fumegante.
— Ela é sua alma, pequeno.
— Você sabe que ninguém me chama de pequeno?
— É mais um segredo nosso — afirma —. Eu a cuidarei, filho. Mas
lembre-se de voltar para casa por eles. Nunca se perca pela vingança.
— Você me conhece tão bem, nonna, o que faria sem você?
Nenhum dos dois precisa de uma resposta, ambos sabemos que sem seu
amor e carinho nos meus primeiros anos de vida, eu seria uma pessoa
horrível, «pior».
Deixo o apartamento, digitando o código de segurança e selando qualquer
entrada possível. Ninguém entra e ninguém sai, não posso confiar que minha
mulher não volte a fazer uma estupidez. Essa é a máfia, qualquer pequena
decisão pode estragar tudo e hoje preciso cavar as sepulturas dos meus
inimigos, sabendo que minha família está a salvo. Ligo para Byron enquanto
estou subindo no terraço, a única maneira de entrar no andar do Edifício
Cavalli Corporation Inc.
O lixo barulhento e irritante está pronto para minha partida e só preciso de
uma data exata, que Byron Miller me fornecerá. A vida de Lucas está com as
horas contadas, assim como também a do meu traidor.
Uma hora depois, estou esperando reunir-me com Landon fora da casa de
sua amante. É chato ter que pegá-lo e, acima de tudo, esperá-lo na parte de
trás do meu carro. Nick está ao volante passa de uma estação para outra
deixando em uma de notícias locais. Encontraram os restos mortais de dois
corpos e estão tentando identificar as vítimas.
Olho para meus dedos machucados e a memória distante do meu episódio.
É algo que não pode acontecer de novo, não posso perder-me dentro da
minha cabeça quando tenho uma esposa grávida e uma menina que precisa de
mim e da integridade do meu cérebro.
Visualizo um movimento na porta da frente, a garota sai com roupas
minúsculas se despedindo dele com um beijo e um abraço. Ward lhe
murmura que a faz pular de felicidade. Alguma joia talvez. Bufo, perdendo
minha paciência.
— Bom dia, Sr. Cavalli — saúda fechando a porta traseira.
— Pensei que o veria fodê-la na porta — rosno irritado —. Não gosto de
esperar, Ward. Você sabe disso. Nick, vamos.
— Não acontecerá novamente.
— Sim, senhor — os dois respondem em uníssono.
— Você não estava na Colômbia? — pergunta Ward, abrindo seu laptop
para me passar os detalhes das últimas transações.
— Estava na Rússia — digo de propósito.
— Hannah tem chamado Emilie. — O olhar castanho claro de Nick se
conecta ao meu no espelho retrovisor —. Está preocupada em não saber nada
dela.
— Emilie está morta — digo sem emoção —, ela me traiu, e isso é algo
que não posso perdoar. Além disso, era irritante, muito impulsiva.
— Como que o traiu? Quero dizer... Ela parecia genuinamente
apaixonada, magoada talvez, mas apaixonada.
— A mente humana é complexa, pensa que pode dominar tudo e os
pequenos detalhes sempre escapam. É o que aconteceu com Emilie, mas não
falemos de mortos, sendo que o mais interessante são as cifras.
Sorrio, a máscara de frieza tomando conta de mim. Sinto a tensão de Nick
escapando em ondas enquanto vamos para meu armazém favorito. Landon
Ward cita as duas entregas perdidas e a última da noite anterior. Assinto,
ainda olhando para o meu primeiro alvo.
— Deposite um milhão na conta de Sebastian. Quero dar-lhe um
incentivo. Seu trabalho nas últimas horas tem sido impecável — ordeno
saindo do veículo no estacionamento de Jersey. Aqui estava eu meses atrás
com Vladimir, entregando-o a Dalila, também matando alguns pobres idiotas
que não tiveram nada a ver com a morte de Holden.
— Claro, senhor, algo mais? — pergunta prestativo.
— Dez para você, é um dos meus melhores homens e valorizo muito
tantos anos de dedicação —. Pressiono seu ombro sem tirar meus olhos de
Nick —. Merece ser recompensado por isso.
— Obrigado... Eu, não sei o que dizer!
— Não é nada, Ward. Vamos entrar, odeio o pólen da primavera. E ser
viúvo me deixa de bom humor — sussurro.
Nós três entramos no lugar, não perco de vista a felicidade de Landon
assim que insere os dígitos e a inquietação de Nick. Sei que está pensando
que estou muito relaxado, então pensa que não sei o que fez. Fico de costas
para ele liderando o caminho, meus ombros tensos em direção ao salão de
jogos, como Roth o chama. Desfruta muito dos gritos que só nós podemos
ouvir. Cada morte, traidor e alma que foi executada por nossas mãos. Gabriel
Cavalli foi o primeiro a usá-lo, a experimentar nossa vingança em primeira
mão e, depois dele, muitos outros homens para contar.
Abro a porta para meus companheiros sem perder a paciência, o primeiro
a entrar é Landon, depois Nick e, finalmente eu, ouvindo o fechamento
automático da porta.
As perspectivas são sombrias. Treze corpos pendurados, sangue pingando
de uma ferida aberta na garganta. Todos eles morreram sangrando, o que faz
com que o chão ficasse coberto de sangue espesso. Uma quarta pessoa que
está sentada em uma cadeira, com um saco preto cobrindo seu rosto e as
mãos amarradas nas costas.
— Bem-vindo! — Aplaude Raze, sentado na mesa de aço, movendo as
pernas para frente e para trás, dá uma risada zombeteira, que o faz parecer
com um adolescente travesso —. Ops! Fui um menino mau, muito mau! —
brinca com a cabeça inclinada.
Pego minha arma e atiro na cabeça da quarta pessoa. Landon larga o
laptop assim que ouve o estampido e tenta rodear-me.
Por que diabos sempre tentam fugir? Reviro os olhos e atiro na perna
direita. O rato traidor grita quando o agarro pelo pescoço, jogando-o no chão,
seu terno fica todo manchado com o sangue de cada homem infiltrado por
Piazza na minha área, na porra da minha cidade! Contra minha esposa!
— Dominic... — engasga, recuando e escorregando no processo. O que
está acontecendo?
— Por que se fazem de idiotas? — questiona Raze.
— Porque pensam que podem convencer-me de sua inocência, não é
assim, Ward? — pergunto, guardando minha arma. Não preciso dela, sua
morte será lenta e dolorosa —. Eles sempre pensam que estão um passo à
minha frente.
Nick se levanta, pensando que pode ter o mesmo destino. Ele cometeu
apenas um erro.
— Não sei do que está falando — choraminga.
— Nick! — grito em sua direção, este dá um passo à frente —. Esclareça-
nos.
— O Sr. Ward veio à casa algumas vezes nas últimas semanas, disse que o
senhor o havia enviado, senhor — explica Nick, engolindo a saliva.
— Eu o enviei? — questiono o filho da puta —. Seu pai é uma honra para
a famiglia e sujou anos de serviço com sua traição!? Você fez minha esposa
acreditar que era Lucas Piazza?! Você pensou que nunca descobriria quem
estava por trás das mensagens!
— Eles estão mentindo, não fiz nada!
Sorrio, inclinando minha cabeça em direção a Raze, ele pula da mesa
vindo em nossa direção. Eu amo o som de ossos sendo quebrados e Raze é
uma montanha de carne, devastadora. Sua força supera a minha. Landon tenta
fugir, mas meu garoto pega seu braço, dobrando-o para trás, o osso se quebra
de uma maneira nada convencional. O grito é uma ópera aos meus ouvidos, a
melhor pornografia da porra da minha vida. A ereção é instantânea e o prazer
percorre meu corpo doentio. Nasci para isso, para quebrar meus inimigos e
trazê-los ao meu terreno. O medo não pode formar parte de um Capo, nunca
me verão recuar, enquanto defender minha gente, minha esposa e meus
filhos.
— Sente-se, Nick — ordeno. Penso em não matá-lo pelo seu erro, mas
quero que veja o faço com os meus traidores.
— Você mexeu com a nossa garota — ruge Raze, lambendo o sangue de
sua bochecha e se divertindo. Aposto que meu pau precisará de uma boa foda
depois disso —. Você achou que era mais astuto do que nós? Diga-me, você
usou Nick para configurar as câmeras e os microfones? E vamos falar sobre
Holden Greystone...
Cerro meus punhos.
— Você me fez acreditar que ele me havia roubado, assovio pegando a
furadeira. Raze já o está colocando em nossa cadeira favorita, ouço um novo
osso sendo quebrando.
— Ops! Sinto muito... Não, não sinto. — Raze está acostumado a brincar
até com suas vítimas. É ainda mais doentio do que o silêncio de Roth.
Preparo dez seringas, com ácido do diabo dentro, e coloco algumas luvas de
jardinagem. Landon está com as mãos e pés atados na cadeira médica
ligeiramente modificada com algumas argolas de aço.
Tiro o meu paletó, ficando apenas com as calças, camisa e minhas facas
no colete. Ward foi uma das poucas testemunhas a saber o quanto me
preocupava com Emilie, ele também é o marido de sua melhor amiga. As
mulheres costumavam falar umas com as outras durante toda a vida e Landon
só queria escalar, ele conhece os passos de Roth em primeira mão. O atentado
foi seu primeiro passo para um plano decadente. Sem poder e dinheiro, não
havia como ocupar o meu lugar, sem falar na falta de contatos. Manipular
Emilie foi uma jogada que não esperava, certamente as mulheres foram
deixadas de fora dos negócios.
Quem mais acredita que pode derrubar-me dessa posição? Usando Emilie
para conseguir alguma vantagem sobre mim. Sorrio para a câmera que está
gravando tudo. Vladimir Ivanov por outro lado, é aquele que tem que saber o
seu lugar. Estou acima deles, sou o rei e senhor da Ordem.
Governo e dirijo, são o lixo em que piso. Nasci para governar a Sicília e
consegui ter o poder da Rússia. Sou o maldito Capo.
— Você é parte do meu jogo — digo movendo meus lábios antes de me
virar para Landon. Ele ferrou não só comigo, mas com minha mulher, e com
seu irmão. E agora vingarei como se fosse o homem mais leal que já andou
na terra.
Todos aprenderão que não é de bom senso comprar uma briga comigo.
Injeto a primeira dose na veia principal de seu braço direito, ele se contorce,
queimando por dentro, sentindo a dor e o desespero. Ele clama por
misericórdia, algo que não teve com Emilie.
— Não sou o único que o quer morto!! — grito. Começo a arrancar suas
roupas para continuar minha doce tortura.
— E todos terão o seu fim — rosno em seu rosto —. Não nasci para me
curvar, minha esposa, talvez, mas você levará o segredo para o túmulo, Ward.
E, sabe o que mais? Graças a você, seu filho estará morto, que vou
despedaçá-lo aos poucos. Hannah terá o mesmo destino e será sua culpa,
Ward. Sua família sofrerá com sua traição.
— Não! Logan, não! Farei o que for necessário...
— É muito tarde para isso, não chegou a se questionar onde está Roth
agora? Sim, Ward. Exatamente. Ao trair a famiglia, o destino dos seus é a
morte.
Estou mentindo, não tocaria em nenhum deles porque são inocentes. No
entanto, Ward não é, e seu destino é ter uma morte terrível e lenta. Raze
querendo ser partícipe começa a cantar Leave me in Hell de Venom,
procurando-a em seu celular e reproduzindo a canção como um hino de
morte. Sabemos que, existe um lugar onde nos encontraremos depois de
morrer, esse lugar é o inferno, agora só falta criar nosso próprio paraíso na
terra.
A morte é doce, é agradável e reconfortante; agora a maneira como é
levado até ela é outro ponto. A de Ward é apreciada — por nós — é uma
tortura terrível para ele, sua pele começa a descascar quando todas as suas
veias estão congestionadas com ácido, seu coração trabalha cada vez mais
rápido para encontrar um pouco de sangue. Raze faz as honras, abrindo seu
peito com o T de traidor. Seu rosto está irreconhecível. E reúno meus homens
mais perto. Todos eles têm belas fotos do destino dos traidores. O medo
move as massas, o ódio dá uma razão para agir, sim, mas o medo o faz
recuar. Não quero ser odiado, quero ser temido e respeitado. E agora eles
sabem.
Mexer comigo é conhecer o inferno. Este é o meu trono e só tenho dois
irmãos com quem compartilhá-lo. Eles dariam suas vidas por mim e eu daria
a minha por eles.
Ao fim da tarde tenho o respeito que tanto tenho procurado, ninguém se
atreverá a me trair e reafirmam o juramente a famiglia. Raze retorna ao seu
clube e vou sem nenhum segurança à casa de Hannah, devem aprender que
sou temido pela minha mera presença.
Meus homens estão lá para cumprir o que ordeno, não para me cuidar
como um bebê recém-nascido. As únicas duas razões pelas quais visito a casa
de uma das famílias, é para levar duas notícias, seu marido morreu ou eu o
assassinei por ser um traidor. E ela quando me olha na porta. Suspira
espantada como a criança em seu colo.
— Dominic, quero dizer, senhor. Sinto muito... eu... — gagueja.
— Calma, Hannah, — murmuro entrando em sua casa.
— Maria! — grita chamando os servos —. Quer beber algo?
— Água seria bom.
— Claro, agora mesmo — murmura entregando criatura uma senhora
Latina, que abaixa a cabeça ao me olhar, sou tão temível assim? —. Traga
um copo d'água para o homem, Maria — diz Hannah em um idioma que
identifico como espanhol. É um léxico muito semelhante ao italiano. Ando
pela sala, olhando para as diferentes fotos. São de ela com seu filho e muito
poucas com Landon Ward.
— Ward traiu a famiglia — explico, procurando seu olhar. A mulher cai
de joelhos, lágrimas intensas escorrem pelo seu rosto. Sabe bem o que isso
significa.
— Misericórdia — implora, soluçando. — Misericórdia para meu
pequeno. Você é meu Capo, nunca o trairia. Imploro por misericórdia.
— E você tem — afirmo, dando-lhe minha mão —. Não estou aqui para
matá-la, Hannah. Estou aqui para informá-la, Logan será o próximo
encarregado a assumir a função de Cassetto quando meu sucessor passe a
governar. Quero que saiba que continuará pertencendo à famiglia como
viúva. Você provou ser fiel e leal. Esta é a sua recompensa, quando Logan
tiver onze anos, ele deverá ser treinado para ocupar seu lugar.
— Sim, senhor. — Chora afirmando. Sei que acabo de destroçar seu
coração. Ela amava Ward, ela o olhou como seu príncipe por muito tempo.
— Você tem uma nova oportunidade, Hannah. Aproveite-a.
Não digo mais nada antes de sair de sua casa e ir para a minha. Algo
quente e morno esfriando meu destino, esperança florescendo em meu peito.
Este é apenas o caminho para minha casa, para a mulher que me deu a
ferramenta para acreditar que até um monstro como eu tem chance de ser
feliz. Afinal de contas, talvez o amor realmente exista.
É onde e com quem você menos imagina, e não será fácil encontrá-lo ou,
no meu caso, saber identificar os sinais corretos.
Capítulo 27
Pode dar-me ordens por bilhetes?? Sim, sim, pode fazer o que quiser.
Sorrio levando minha mão ao meu ventre, encontro a pequena mania
satisfatória de me tocar. É uma espécie de lembrete.
Está aí? É nosso e será um bebê muito amado. Sei que ainda sou muito
jovem, imatura e impulsiva. Tenho que aprender muito antes de ter essa
pequena parte de nós em minhas mãos, mas vale a pena. Eu sei que sim. Don
não dá sinal o dia inteiro, tento não me preocupar, mas é impossível.
Caminho de um lado para outro, embora nonna insista que deveria acalmar-
me. A incerteza é maior.
O cansaço volta a cobrar seu preço e acabo dormindo no sofá, com o livro
nas mãos. Mais tarde, sinto mãos me tocando e abro os olhos, Don me está
carregando e, aparentemente, levando-me para o quarto.
— Dominic... — gemo envolvendo seu pescoço.
— Continue dormindo — ordena com uma ponta de preocupação em sua
voz. Minha cabeça cai em seu peito, antes de sentir o tecido macio do lençol
e cair no sono novamente.
Quando abro os olhos, estou sozinha na cama, as cortinas abertas deixando
entrar um pouco de ar frio no quarto e percebo que estou apenas de calcinha.
Algo cheira mal e meu nariz começa a coçar. Fumaça, tabaco.
Meu estômago torce com a vontade de vomitar, saio da cama me
enrolando no lençol e caminho até a varanda. Dominic está sentado, fumando
um charuto e bebendo whisky. Ele me observa, inclinando a cabeça de onde
está sentado, enquanto estou próxima das portas deslizantes. Tem que olhar
algo que desagrada em meu rosto, já o que o seu está cheio de preocupação.
— O que houve...? — pergunta franzindo a testa.
— Você está fumando — sussurro baixo.
— Você não gosta? Isso nunca a incomodou.
— Eu gosto, mas o cheiro me dá enjoos.
— Ohh... — diz com um sorriso zombeteiro. Ele apaga o charuto no
cinzeiro e toma um longo trago de whisky. Ele está só de toalha, expondo seu
abdômen marcado —. Venha aqui — exige, dando tapinhas em suas pernas.
Caminho até ele, deixando atrás o lençol me cobria. Visualizo seu pomo de
adão se movendo quando seu olhar permanece fixo em meu corpo. Está
quente, bom, porque tenho um desejo sobrenatural me queimando. Preciso de
suas mãos, senti-lo e terminarmos em um único corpo.
— Você é minha droga, Emilie. — Um vício abençoado, profere,
levantando-se e embalando meu rosto, sua mão sendo áspera agarrando meus
cabelos —. Quero fodê-la como uma besta.
Porra. Minha intimidade fica toda molhada instantaneamente e grita de
necessidade, meus mamilos entumecem. Don me carrega, agarrando minhas
pernas, estas estão envoltas em sua cintura e minhas mãos em seu pescoço.
Só quero que me encurrale contra a parede e me penetre. Minhas expectativas
são muito altas quando o golpe de realidade me atinge. Ele me coloca em pé
ao lado da cama e volta para pegar o lençol.
— Não vamos transar? Fazer amor? — pergunto indignada. Temos
semanas sem nenhum contato nesse nível. Preciso disso, mais do que antes.
— Você tem que dormir — diz, sentando-se na cama.
— É uma piada? Eu já dormi muito.
— São quatro horas da manhã, não dormiu o suficiente.
— Você não quer mais me tocar? — corto —. É por causa da gravidez,
certo? Não se nota! O que fará quando eu parecer uma bola enorme? —
Tenho vontade de chorar e não sei se é porque nos está protegendo ou porque
quero que me toque.
— É justamente por isso, pois se a toco vou querer muito mais. Agora não
somos só nós dois, temos uma família, Emi. Nossa, pela qual lutarei
incansavelmente. Seu corpo não me desagrada e, acredite, não deixarei de
fazer isso no futuro, mesmo enrugada continuará sendo a mulher mais linda
do mundo. Vem aqui.
Cumpro sua ordem, movendo-me para seu colo. Suas mãos fortes pousam
nas minhas pernas, depois no meu rosto. Don roça meu queixo com seus
dedos e eleva meu rosto para que nossos olhares se encontrem.
— Você é linda, esposa. Cada fodido centímetro.
— Então, por que não me toca? — insisto. Posso sentir quão duro você
está, vejo também a luxúria e desejo em seus olhos. Reconheço quando fica
excitado.
— Diga-me, qualquer coisa — insisto, levando minhas mãos ao pescoço,
acariciando o início dos seus cabelos. Ele coloca sua cabeça no vale dos meus
seios e depois mostra a língua, lambendo-os. Deuses, meu núcleo é aquecido
por essa única ação. Preciso.
— Estou muito excitada, beirando ao perigo.
— Você nunca me machucaria. — Suas mãos cravam na minha cintura,
pressionando-me com força para senti-lo, movo meus quadris, mas paro
imediatamente —. Don, por favor...
— Não seria terno — confessa —. Eu a foderia de costas, com essa bunda
deliciosa aberta para mim. Puxaria seus cabelos e envolveria minhas mãos em
seu pescoço cortando sua respiração, sua boceta me apertando como uma
luva. Eu iria, Emi, continuaria duro querendo mais... — Assim que termina
de falar estou rogando para que faça exatamente o que acabou de falar —. E
me perco com esses pensamentos...
— Não o deixarei — afirmo, empurrando-o para a cama.
Meus seios estão à sua inteira disposição e suas mãos não demoram a
agarrá-los, amassá-los. É desconfortável porque os tenho sensíveis, mas ao
mesmo tempo essa pequena dor é gratificante.
Procuro o nó da toalha e o retiro sem deixar de olhá-lo. Totalmente nu a
minha mercê. Ele me vira antes que possa tocá-lo, suas mãos pressionando as
minhas sobre minha cabeça.
— E como pensa defender-se de mim? Sou o lobo mau e você é a
Chapeuzinho Vermelho, amor. Não tem jeito.
— Você acabou de me dar um bom motivo — respondo, umedecendo
meus lábios —. Você é o lobo mau que me protege. Não tenho que me
defender de você, não quando sou sua de todas as formas humanamente
possíveis.
Seus lábios se chocam contra os meus, sua língua invade minha boca,
arrastando meu desejo incontrolável para a superfície. Meu corpo estremece
com essa necessidade incontrolável.
Don abre minhas pernas com as dele, posicionando-se em cima de mim,
sem me esmagar. Com uma das mãos ele puxa minha calcinha, não a rasga
complemente, mas cede bastante, ainda como tecido cobrindo parte do meu
corpo, agarra seu pau, torturando meu clitóris enquanto me masturba com ele.
Estou molhada e muito louca para tê-lo dentro de mim. Abro minhas pernas
ao máximo me oferecendo para ele e então nesse momento, ele empurra seu
membro para dentro de mim em uma única estocada, grito seu nome
enquanto me penetra cinco vezes e depois sai de mim e me vira.
Dando-me uma bela palmada no lado direito da minha bunda.
Gemo, enterrando minha cabeça no travesseiro e empurrando minha bunda
para ele. Ele não diz uma palavra, apenas termina de rasgar minha roupa
íntima completamente e introduz dois dedos na minha boceta. Suplico por
mais contra o travesseiro enquanto os mete e os retira, masturbando-me. O
terceiro dedo passa em uma parte proibida, nunca fizemos sexo anal, mas, do
jeito como as coisas vão, sinto que esta noite isso acontecerá.
Com esse dedo começa a brincar e a metê-lo dentro de mim, é um pouco
desconfortável, mas que termina sendo substituído quando sinto sua língua
lambendo todas as minhas intimidades de cima para baixo, recolhendo a
minha umidade, chupando meu clitóris. Agarro os lençóis e me abro o
máximo que posso.
— Quero isso — avisa, introduzindo um segundo dedo e lubrificando com
sua saliva —. Esta noite — afirma. Ele empurra para dentro e para fora um
pouco mais rápido. Grito quando um terceiro dedo é adicionado e sinto o
desconforto dos meus nervos. Don não se altera, tem a tarefa de continuar
devorando minha boceta com sua boca, sua língua... Não me canso de dizer
isso, é mágica, celestial. Ele se afasta e eu sinto quando ele substitui seus
dedos pela cabeça do seu pau.
Quero empurrá-lo para frente e para trás ao mesmo tempo. É algo que,
embora já tenha me tocado antes, um dedo, uma lambida, nunca fomos além.
Ele empurra seu pau expandindo-me, sei que está contendo-se e, mesmo
assim, sua penetração não é nada tranquila. Suas mãos me abrem, expondo-
me completamente. Grito alto enquanto ele continua empurrando mais, tento
contê-lo um pouco, mas suas mãos fortes me seguram, retrocede um pouco e
volta a empurrá-lo. Ele é muito grande, merda, seu membro é enorme e
grosso.
— Don... — Gemo de forma sufocada.
Então o faz, ele me preenche completamente, empurrando seu membro
com um nível controlado de força.
Grito, a dor e o prazer me invade. Ele não se detém, está possuído e agora
entendo sua advertência. Ele me penetra com força, suas mãos me abrindo
cada vez mais. Sinto que perderei a consciência. Gosto disso, mas é
incômodo... grito quando ele puxa meus cabelos com força que me separa da
cama, levando minhas costas a sentir seu peito, expondo meu pescoço ao seu
deleite, sua outra mão vai para frente abrindo minha carne e me masturba,
jogo minhas mãos para trás, em seu pescoço, porque preciso segurar em algo.
Minhas costas se arqueiam enquanto ele ataca, penetrando com ímpeto na
minha bunda. na minha bunda. Eu vou gozar, grito seu nome e sinto como
seu membro se avoluma dentro de mim, sei que acaba de gozar também, mas
seu membro não diminui por isso. Ele o tira de dentro de mim e eu me viro
no momento que está limpando-se com os lençóis... No, ele não gozou.
As veias de seu pênis estão marcadas e o sêmen começa a pingar dele.
Seus olhos escurecidos me observam. Ele está esperando que eu o masturbe,
agora que vejo sua outra faceta.
— Limpe-o — ordena, inclinando a cabeça. Eu vou gatinhando até ele,
move a mão envolvendo seu pau —. Abra sua boca e me chupe.
Eu engulo em seco, balançando minha cabeça antes de cumprir sua ordem.
Abro minha boca e ele se move metendo seu membro dentro dela.
— Quero gozar dentro da sua garganta — admite empurrando, eu o
observo apertando meus lábios sobre seu pau e introduzindo-o mais fundo,
vou até onde der, antes de recuar —. Mais.
E assim eu faço e ele se move, afundando, fodendo minha boca. Ele não
agarra meus cabelos, fato este que agradeço, é uma ação mínima que me dá
segurança, se eu quiser recuar estou livre para fazê-lo.
— Use seus dentes, assim... Cacete! — assovia e joga a cabeça para trás
enquanto raspo meus dentes ao longo do seu pau. Jorros de esperma quente
inundam minha boca, eu engulo o máximo que posso, mas não consigo
engolir tudo e recuo. Cai no queixo e seios. Don está perdido em seu prazer e
continua empurrando seu eixo. Quando me olha, seus olhos são diabólicos.
— Você recuou — rosna cobrindo-me com seu corpo, sua mão
envolvendo meu pescoço e me pressionando contra a cama —. Abra suas
pernas, Emilie. Eu a punirei.
— Deuses…! — clamo, contorcendo-me sob seu corpo assim que ele
penetra minha boceta, de uma forma desordenada. Começa a mover sua
cintura, em círculos, punindo-me. É rápido e eficiente, o quarto se enche com
os sons dos nossos corpos, gemidos e súplicas.
Seu aperto em meu pescoço aumenta, cortando meu ar. Ele não para de
olhar para mim até que sua cabeça caia para trás, seu longo pescoço à minha
vista, seus músculos tensos. Ele se esforça muito mais, ele é selvagem e
furioso. Estou ofegante e cravo minhas unhas em seu braço. Dominic é muito
mais forte e leva minhas duas mãos sobre minha cabeça.
Essa linha tênue de entrar em pânico se abre e fecha com rapidez, quando
seu aperto cessa em poucos segundos, deixando-me respirar e dane-se, estou
prestes a gozar intensamente. Minhas pernas começam a tremer, as minhas
entranhas se contraem e o pau de Dominic de alguma forma se avoluma ainda
mais. Sinto seu segundo orgasmo da noite me enchendo completamente. Ele
solta sua mão do meu pescoço e desde entre nossos corpos para torturar meu
clitóris inchado. Grito e imploro para que não faça mais isso, mas é esse tipo
de apelo que não espero que cumpra. Abro meus olhos quando sinto uma
umidade ainda mais forte e Don abaixa a cabeça para devorar meus lábios.
Sua boca não me dá trégua, é possessiva e exigente, sua língua penetra e
me reclama, seus dentes cravam em meu lábio e puxam levemente rompendo
a pele. O gosto de sangue no meio de tudo.
Ele se afasta e me observa enquanto passa a língua nos lábios coletando o
resíduo do meu sangue. E é a coisa mais excitante de se ver. Ele me gira sem
sair de dentro de mim. Como demônios seu pau continua duro? Não sei, e
nem quero saber.
— Quero que me coma muito — ordena. Olho e penso a que ponto
chegamos, ruborizando-me na hora quando vejo na cama uma mancha de
umidade considerável.
Ele abre suas pernas, fazendo-me cair sobre seu peito e levando sua mão a
minha bunda, mete dois dedos em mim, aí, nesse lugar. Sinto-me totalmente
preenchida e, muito, mas muito satisfeita. Ele não tem vontade de parar.
Começo a mover minha cintura, encontrando-o entre suas próprias estocadas
e literalmente gritando de prazer. Isso é mais do que já fizemos, é como se ele
fosse outro homem.
— Don...
— Minha — ele me interrompe —. Completamente minha.
— Sim, sim! Oh, meu bom Senhor!
E atinjo um terceiro orgasmo. Os músculos me doem, minha bunda
também. Meu corpo está cansado e ao mesmo tempo satisfeito, acho que em
algum momento desmaiei e quando abro os olhos novamente tenho meu
marido circulando meu ventre, cantando aquela canção de ninar italiana
baixinho.
Fala sobre proteger e salvar, conta a história da luta de um guerreiro
sombrio que não sabe como chegar à luz, narra o encontro com um anjo da
paz. Talvez sejam os hormônios da gravidez ou apenas eu sendo sentimental.
Meus olhos se enchem de lágrimas, porque desta vez ele não está cantando
para mim, mas sim para o nosso bebê. Levo minhas mãos aos seus cabelos,
acariciando suas mechas, ele deixa um beijo curto no meu umbigo antes de
levantar a cabeça. Seus olhos estão vermelhos, irritados. Eles me fazem
lembrar daquela noite na Itália, acordando no iate.
— Bom dia, amor — sussurra com a garganta arranhando, antes de me dar
um beijo doce, continuo acariciando seus cabelos.
— Bom dia, meu Capo. — Sorrio sobre sua boca.
— Tudo bem? — questiona, retirando-se.
— Hmm, sim, um pouco dolorida. Por todo o meu corpo — confesso,
corando. Ele, por sua vez, toca meu lábio, sei que deve estar inchado e
possivelmente tenha um pequeno ferimento.
— Sinto muito — ele se desculpa.
— Você não tem do que se desculpar, não quando eu desfrutei de tudo
isso. — Mordo meu lábio e o solto ao sentir a coceira instantaneamente —.
Mas... por que estava assim? Quero dizer, um pouco mais bruto.
Ele cai ao meu lado, cobrindo o rosto com as mãos.
— Pode-me dizer, querido — insisto, acariciando seu peito.
— É apenas energia acumulada... É algo complicado.
— Temos tempo de sobra, pode falar — pergunto novamente.
— É uma mescla, estou excitado e tenho um prazer extra. Não sei como
dizer sem assustá-la — murmura. Tenho uma teoria, uma que me apavora
vocalizar. Engulo algumas vezes antes de abrir a boca e voltar a fechá-la
porque não sei como perguntar.
— Você tem prazer... ao assassinar? — pergunto finalmente.
— Sim — confessa e não para —. Nas primeiras vezes, foi um trauma.
Era muito jovem e, embora quisesse ser forte, era mais fraco do que Damon.
Não queria ser um made man, vi coisas em casa que não quero que saiba, mas
que eram ruins, Emi. Terríveis.
— Preciso saber, é a única maneira de nos ajudarmos, de entender o
passado... — interrompe, segurando meu queixo.
— Você acabou de dizer, é passado. Não vale a pena relembrá-las.
— Isso nos faria bem, quero dizer. Conversar sobre isso, só nós dois.
Fica pensativo e envolve meus ombros puxando-me para perto do seu
peito, sei que deve temer que ao tomar conhecimento de certas coisas, eu saia
correndo. É normal que não confie em mim, já falhei muitas vezes.
— Você se lembra que eu lhe disse que nasci no orfanato?
— Sim — sussurro.
— É verdade, nascemos lá porque Isabella, minha mãe, estava fugindo de
Gabriel. Ela não sabia se éramos seus filhos, porque acabou envolvendo-se
com seu segurança e quando engravidou ficou com essa dúvida. Gabriel a
amava de sua maneira distorcida e quando a encontrou e descobriu o motivo
de sua fuga, aparentemente, quase enlouqueceu. Nonna disse que era um bom
homem, que a amava, que desistiu de tudo por ela e naquela noite ela o
transformou. Isabella não estava apaixonada por Gabriel, para ela era só uma
boa vida, as viagens e as joias... Ele não aguentou e a trancou.
Não posso imaginar esse monstro como uma pessoa boa.
— Ela era uma prostituta — continua em uma voz controlada, sem
emoção —. Ela se dedicava a isso antes de estar com ele, se vendia aos
homens. Ficou deslumbrada com o dinheiro e beleza de Gabriel. Ele a
castigou durante anos, ele a drogou e a ofereceu aos seus amigos...
— Oferecia...?
— Sim, eles a fodiam em grupo — sussurra, limpando a garganta —. À
medida que crescíamos, nós também participávamos disso.
Meu cérebro leva um tempo para processar suas palavras “Participávamos
disso”. Quando entendo essa terrível informação, o vômito quer subir à
minha garganta e tenho que lutar contra mim mesma para não demonstrar o
nojo que dá ao imaginar essa cena grotesca. Oh, meu Deus.
— Ela nos odeia, repudiava que tivéssemos o sangue de Cavalli, acho que
no fundo ela mantinha alguma esperança de que fôssemos filhos de seu
amante. Gabriel me odiava, porque era parecido com ela. A arte me chamava
muito a atenção, sorria e curtia muito a natureza. Damon era mais parecido
com ele. — Aconchego-me mais perto de seu peito —. Então sempre recebia
um castigo maior, porque Damon desfrutava e eu não.
— Não... — imploro com lágrimas nos olhos.
— Ele a obrigava a se vestir especialmente para mim, obrigava que todos
olhassem como se ajoelhava e me levava dentro de sua boca pintada de
vermelho e ela chorava, Emi. E eu não podia fazer nada por nós...
— Não continue, não continue — imploro chorando. Toco meus lábios,
entendendo agora o porquê odeia que use batom vermelho. Ele afirma com
um gesto sem me dar uma segunda olhada.
— A primeira morte que gostei foi a de um deles, eu o matei enquanto a
fodia e a ajudei a escapar da mansão... Depois continuei matando um por um.
E o prazer começou a formar parte de mim. É uma explosão dentro de mim,
apenas visualizo um vermelho brilhante que me cega.
— É a primeira vez que está comigo assim, isso significa que...
— Não estive com mais ninguém, não depois do nosso casamento. Antes
disso é a razão de eu estar com Katniss. — Eu me afasto assim que ele
menciona seu nome e Don permite —. Não queria machucá-la e realmente
não pensei que faria. Nesse momento, isso não fazia a menor diferença.
Quero que entenda que foi uma válvula de escape.
— Então não foi apenas o beijo — murmuro, abraçando minhas pernas.
Ele nega e assimila suas palavras. Sabia que tinha dormido com ela, mas não
tinha certeza, tinha na minha mente somente a imagem do beijo —. Por que
estava no seu colo nessa noite?
— Por duas razões; a primeira porque me recusava deixar que uma
garotinha ingênua me dominasse como estava fazendo e, a segunda, porque
não queria que ninguém percebesse quão dominado estava.
Balanço a cabeça assimilando tudo, esse homem que amo profundamente
e será o pai do meu bebê, é um assassino, gosta de ser um. Ele foi empurrado
para essa vida por cada ato que teve que perceber ou participar, sei que sua
confissão agora é apenas uma pequena parte de todas as coisas que
aconteceram em sua vida.
— E depois do nosso casamento, como acalmava esse desejo? —
questiono, voltando à nossa conversa. Amo este homem, cada parte dele.
— Eu me masturbava algumas vezes, na verdade, fiz isso ontem à noite.
Você estava dormindo —. E ainda tem coragem de sorrir.
— Ohh — murmuro, ficando corada. Merda, a imagem de Dominic se
tocando deveria ser um castigo —. Acho que deveríamos sair da cama, não?
— Não — diz brincando, puxando minha perna, fazendo-me cair para trás
com uma risada infantil —. Você está bem, não tenho a menor dúvida que
quero fazer amor com você agora, e depois alimentá-la.
— Sou toda sua, Sr. Cavalli — murmuro, oferecendo-me. Essa é a forma
de saber que tudo está em ordem. Que sua confissão não nos afastou e jamais
poderia. Eu o amo, desiquilibrado ou não. Eu o amo.
Capítulo 28
Aos oito anos descobriu sua paixão pelas letras, deixando-se envolver em
um mundo de fantasia com sua primeira história lida.
Obrigada a você por chegar até aqui. Não se esqueça de deixar uma
mensagem em alguma das minhas redes sociais me contando sua experiência
com as minhas obras, pois a sua opinião é muito importante para mim.
Até a próxima, Gleen Black.
REDES
[1]
Homem feito.
[2]
Chefe da máfia russa.
[3]
[4]
Americana louca.
[5]
[6]
Minha rainha.
[7]
Estou aqui, tenho a minha rainha. Sempre… Eu lhe darei um milhão de filos, por
favor não chore mais.
[8]
Pequena.
[9]
O amor o condenará e trarei o fogo do inferno à sua porta.
[10]
É aqui estarei, querida.