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Copyright © 2020 Gleen Black

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Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Todos os personagens, nomes,
eventos, organizações e diálogos neste romance são produto da imaginação do autor ou foram usados neste trabalho de
forma fictícia.

ISBN: 9798573372075

Correção: Isaura Tapia


Crítica: Denisse López
Capa: Daya Araujo
Layout: Gleen Black
Traducción: Divinas Lectoras

Não é permitida a reprodução total ou parcial da obra, nem a sua incorporação a sistema informático, nem a
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“O inferno está vazio e todos os demônios estão aqui”
William Shakespeare
“A tempestade”
Prefácio

Caminho ereto, apesar das duas costelas que pressionam meus pulmões. É
possível que estejam fraturadas. O terno que Dominic me emprestou torna
meu caminhar muito difícil, pois tenho mais músculos do que ele e seus
ternos são feitos sob medida. Preciso que de um terno que seja dois números
maiores do que este. Se eu me mover bruscamente, acho que algumas
costuras se abrirão.
Seguro uma toalha para que ele possa sair da piscina da mansão Cavalli. A
natação é uma das atividades com a qual consegue liberar sua mente. Este
homem é sempre uma bomba à beira do desastre. Temo por sua vida,
principalmente, quando os sentimentos o arrasam por dentro. Ele assassinou
seu irmão, no entanto, não me estranha que carregue essa culpa sobre seus
ombros.
— Onde diabos estava? — assovia, expandindo suas narinas.
«Recuperando-me da última surra», quero dizer, seu pai Gabriel Cavalli se
encarrega de me fazer relembrar continuamente do lixo de onde eu vim. Sou
um cachorro sendo adestrado ou isso é o que ele pensa... A paciência é minha
virtude, porém, não acho que algo possa quebrar-me. Não depois de ter
nascido na Bratva, nascido e criado para suportar a dor.
— Treinando com os soldados — minto.
Não sou bom com as palavras, gosto do silêncio e assim, posso analisar
meus movimentos e manter a presa por perto.
— O filho da puta me enviou para Jersey esta noite.
— Precisa controlar o distribuidor local — assinto, concordando. Dominic
é uma arma de intimidação, sua crueldade o precede... Porque ninguém
conhece o garoto por trás daquele Made Man[1].
— Não quer que venha comigo, acho que tem medo de nós.
— Somos sua ameaça, você é seu herdeiro e eu sou um desertor da Bratva
que lhe deu todos os segredos para governar a Rússia. Teria medo de nós.
— Sim — clama com um sorriso demoníaco. Se tudo correr bem, em dois
anos terei plenos poderes sobre a Sicília. Dominic, embora possua tudo para
ser um chefe forte, sua explosão o levará à morte.
Sou a melhor opção para unir a Sicília, para sua própria segurança. «Se eu
fosse italiano... Talvez um casamento solucionasse esse conflito». Viver com
os Cavalli não é coisa do destino, quando traí a Rússia e embarquei em um
barco clandestino, sabia muito bem que meu único objetivo era tornar-me
indispensável nesta família.
Meu principal objetivo era Damon, mas ao investigar seus passos, acabei
descobrindo que um homem como ele nunca me aceitaria, no entanto,
Dominic tem ou melhor dizendo, tinha uma alma caridosa naquela época.
Agora só vejo dor, crueldade, alguém instável e muito ferrado.
Sua família o criou assim, mas de alguma forma, tornei-me seu projeto de
caridade há um bom tempo. Meu pai não podia atacar a Sicília, sem antes
receber alguma prova de traição e temo que Joseph Greystone era o único que
sabia de tudo. Sendo assim, Gabriel Cavalli orquestrou um acidente aéreo,
para eliminar qualquer evidência que o diretor da CIA possuísse. Minhas
provas foram por água abaixo com a morte de Joseph. Minha opção de salvar
meu irmão Raze, de nosso pai, enfraquece com o passar do tempo... O último
recurso era uma alma que hoje em dia está envenenada.
— Governaremos juntos, minha lealdade está com você — diz unindo
nossas testas, mas cerro os dentes para compensar a dor vinda das minhas
costelas fraturadas.
— Meu irmão por escolha — concluiu. Um lema que parecia mentira e
distante, mas que começa a tomar uma força que me apavora, apesar de saber
que é mentira... Porque enquanto Dominic tiver que a opção de escolher entre
seu maldito pai italiano e o lixo russo, Gabriel será o vencedor. Sangue sobre
a lealdade, sempre.
Seguindo-o alguns passos atrás, caminhamos pela mansão em silêncio até
seu quarto, que de alguma forma sempre me pareceu agradável desde minha
chegada à América.
Dominic entra para tomar banho, fica constantemente embaixo d’água,
purificando o sangue que costuma encharcar seu corpo, é uma espécie de
fetiche imaginário. Não gosto de comentar, muito menos falar sobre seus
problemas violentos, sei que um dia terá uma crise emocional tão forte que,
sinceramente, espero estar bem longe quando isso acontecer. Esta noite dará
uma lição no distribuidor local de Jersey, por isso escolhi um de seus
melhores ternos de três peças de cor cinza.
Fazer qualquer tipo de movimento está acabando comigo, no entanto, sei
que seu pai chamará o médico da famiglia para poder continuar com a tortura
esta noite. Eu o ajudo a vestir-se ouvindo suas reclamações habituais, às
vezes dando uma opinião ou duas, mas sempre me mantendo uma posição
neutra a maior parte do tempo. Uma hora depois, temos o próprio Gabriel
Cavalli na porta.
— Você acha que tenho a noite inteira livre? Pare de chupar o pau de
Rocco e vá de uma vez por todas para Jersey, ou devo levá-lo pela mão?
Fico tenso sem olhá-lo, odeio que me chame de Rocco ou Roqui em
particular. Um dia desses eu, simplesmente, acabarei com sua vida.
— Foda-se, papai — assovia Dominic, jogando sua faca favorita na minha
direção.
— Seu irmão não precisava de um russo marica para agradar uma mulher.
«Maldito velho filho da puta.» Se há alguém entre nós três que ama um
maldito pau é ele, não é toa que me obriga a fodê-lo em qualquer maldito
canto dessa mansão. Durante anos dormi com Dominic na mesma cama e
nunca foi incômodo algum e nunca nenhum de nós cruzou o limite, juntos e
ou separados arrombamos diversas bocetas de inúmeras putas, não posso
dizer o mesmo de seu pai. Talvez por isso seu casamento não tenha saído
como o esperado com Isabella Cavalli. É um homem impotente com uma
mulher e, embora seja bem dotado, somente tem ereção quando alguém fode
seu cu ou quando está prestes a foder uma menina.
— Desculpe por não estuprar menininhas.
— Devia ter sido você.
Quatro palavras que marcam Dominic, não se refletem em seu rosto
porque sua máscara sempre o protege, mas a ferida interna sangra toda vez
que ouve essas malditas quatro palavras «devia ter sido você». Gabriel sorri
triunfante quando Dominic sai do quarto, eu o sigo, como sendo seu fiel lixo
russo, seguido por Gabriel.
É um homem na casa dos cinquenta anos, um pouco grisalho e com os
olhos cinzas sem vida, muito parecidos com os olhos do meu irmão mais
novo, por quem faço tudo o que estiver ao meu alcance. Quando eu assumir a
Sicília, meu irmão terá um lugar para chamar de lar e cada golpe recebido
terá valido a pena.
O carro de Dominic está estacionado na entrada da casa, franzo a testa por
não ver mais homens atrás, pois sempre leva quatro ou cinco soldados
quando não estou ao seu lado... Olho por cima do ombro e vejo Gabriel
sorrindo e olhando para seu filho, o único herdeiro que lhe resta, entrar no
veículo e ligar o som com uma música americana escandalosa de uma banda
de rock que ele tanto ama. Olho para Dominic que acelera e sinto um gosto
estranho e amargo na minha boca, quando está contornando a fonte. Gabriel
fica atrás de mim e deixa sua mão cair no meu ombro, exercendo pressão, de
repente os soldados saem da mansão.
— O que está fazendo? — pergunto com a voz rouca.
«Não pode ser.» Eu imploro.
— O que deveria ter feito desde que vocês dois se tornaram tão unidos.
Exterminar um... — diz deixando as palavras no ar. Não deveria estar
tranquilo ao saber que esta será minha última noite.
— Faça o que tiver que fazer — olhando fixamente ao garoto explosivo,
esperando o portão de segurança se abrir.
— Você é um bom brinquedo, Roqui. Não penso livrar-me de você tão
cedo — explica impassivelmente.
— Não... — Suspiro, sinto o pânico atravessando meu sangue gelado.
Antes de reagir, dou três passos para escapar de seu agarre. É uma armadilha,
é uma maldita armadilha! —. Não! Dominic! Dominic!! — grito com força,
dois soldados tentam deter-me, mas sou muito mais rápido e ágil, escuto o
assovio furioso de Gabriel antes de sentir outros dois pares de mãos tentando
deter-me. Grito seu nome descontroladamente, apesar de saber que não me
ouvirá com essa música altíssima dentro de seu carro. Gabriel, sabendo do
meu machucado, ataca diretamente nas minhas costelas, grito caindo de
joelhos, ficando quase inconsciente.
Ouço a ordem de me levarem ao porão, enquanto tento lutar contra os
quatro homens, algo que só me machuca ainda mais.
— Eu o matarei! — ameaço, os soldados suspiram surpresos ao entrar no
hall. Gabriel sorri, pensa que me quebrará, que conseguirá dobrar meu
espírito —. Se tocar em um único fio de cabelo de Dominic, eu o matarei. —
Cuspo sangue, com esse sabor metálico me sufocando.
— Tocarei mais do que um fio de cabelo desse bastardo, eu o matarei. Ele
receberá a melhor surra de sua vida no cais e deixarei seu corpo jogado aos
corvos. Esse maldito assassinou meu herdeiro legítimo...
— Você o obrigou! — grito desesperado. A princípio, Dominic nunca teve
espaço e jamais compartilharia seu trono comigo, mas isso não quer dizer que
o deixe morrer sem saber seu destino —. Mate-me em seu lugar! Não está
raciocinando direito, um Capo deve sempre ter alguém para quem deixar seu
legado. Leve-me, mate-me e deixe-o viver. Sou apenas um lixo russo, um
cachorro... Deixe-o viver — eu imploro.
— Se eu não tivesse visto, não acreditaria — comemora, mas eu não
entendo porra nenhuma. Vocês estão vendo isso? — questiona seus soldados.
— Por favor, farei o que for preciso.
— Lealdade — rosna, agachando-se diante de mim, jogando meus cabelos
preto para trás e levantando meu rosto —. Eu lhe pedi para que o assassinasse
— confessa Gabriel —. Disse que lhe daria a Sicília desde que ele o matasse
na minha frente e ele não hesitou em sua resposta... Não, meu filho, meu
herdeiro, desistiu de seu futuro por causa de um rato como você, Roqui. Você
é um mal na minha casa, contaminou meus filhos! Agora estão condenados a
fraqueza!
— Ele desistiu da Sicília por mim? — pergunto piscando. Não é possível...
A Sicília é tudo o que Dominic Cavalli sempre almejou.
— Renunciou sua vida por você, disse que preferiria morrer do que matá-
lo e, hoje, cumprirei seu desejo.
— Não, não é possível, — nego, por que merda fez isso, Dominic?
Os alarmes de segurança são ouvidos na casa, isso só acontece se um
veículo ou pessoa estranha se aproxima. O sorriso de Cavalli se amplia, o que
mais está planejando? Um dos seus empregados entra sem hesitar e me vê no
chão sendo mantido por quatro soldados, sou testemunha de que presenciei
coisa piores.
— Os jovens Greystone estão aqui, senhor.
— Deixe-os entrar e leve a garotinha diretamente ao meu escritório. Não
deixe ninguém nos incomodar — ordena sem deixar de me olhar.
Greystone... Joseph Greystone diretor da CIA.
Por que seus filhos estão aqui? Uma vez ouvi Joseph mencionar um cofre
impenetrável, eles falaram sobre algum tipo de armazenamento incomum.
— Levem esse russinho de merda ao posto de segurança, amarre-o para
que possa ver em primeira mão a minha carta de Ás na manga.
Capítulo 01

Minha esposa está dormindo, seus longos cabelos cobrindo seus ombros
nus. Engulo em seco o nó na garganta enquanto se remexe um pouco inquieta
e detenho meus dedos, recuando e apertando minhas mãos. Quero tocá-la,
sentir sua pele macia e delicada na ponta dos meus dedos, seu aroma suave e
doce no meu nariz. Fecho meus olhos negando na escuridão, lembrando de
suas palavras de algumas horas atrás. Minha mulher, que deve ser destinada à
minha cama, dormindo sozinha e cheia de coragem contra mim. Ela me
odeia.
O único sentimento que qualquer ser humano deve sentir por mim. Ela é
uma deusa que vive entre monstros. Acabará contaminada, como todo
mundo, talvez perca a vida, na melhor das hipóteses, de uma forma rápida ou
pode ser que seu ódio contra mim a consuma. A pressão em meu estômago,
essa que me vem perseguindo desde a Itália, acentua-se ainda mais. Sou um
maldito filho da puta, eu sei disso. Vi em seus olhos, a ferida interna. O que
podia fazer? Fingir um sentimento? Não a amo. Não faço por onde... Por que
esse mal-estar estranho no corpo? E hoje na frente da igreja, dizendo meus
votos... Foi real. Ela é minha, para cuidá-la e adorá-la todos os dias da minha
existência. Para livrá-la de qualquer ameaça e preservar sua inocência o
máximo que puder, mas a necessito forte, de uma mulher que seja capaz de se
defender. «Ela é», eu me lembro.
Ela me ameaçou, minha esposa ficou bem na frente e ergueu o queixo
ameaçando uma guerra entre duas facções que se odiavam até a morte, um
legado de sangue e dor por séculos. Devo fazer algo a respeito, não posso em
hipótese alguma deixar minha esposa dar um único passo, ela poderia destruir
meu esforço em um piscar de olhos. «Foda-se».
Roth me avisou sobre isso, ele o fez uma dezena de vezes, mas subestimei
a garota, pensei que poderia dominá-la e moldá-la ao meu gosto. Ledo
engano e como fui estúpido, ela nunca sucumbirá ao meu domínio, não
nasceu para ser enjaulada. E, merda, sabia desde o dia do orfanato. Ela é uma
pantera por natureza, se pudesse tê-la ao meu lado poderíamos ser o casal
mais poderoso, mas a machuquei... Sou um covarde, o que poderia dizer?
Afrouxando o nó da gravata, dou um passo para trás, eu me preocupo e isso é
uma sentença de morte.
Sem tocá-la saio em direção a porta principal da suíte presidencial, não
poderia levá-la à cobertura, não com meus planos futuros e sem colocá-la em
risco. Meu braço direito está na sala ao lado com um bolsa, ele aposentou seu
terno clássico de homem elegante — seu traje — para usar suas roupas
matadoras, Raze quando veste jeans e uma jaqueta preta faz com que sua
imagem ressalte, que por sua vez, está lá fora primando pela segurança do
local.
Se algo der errado esta noite, não apenas deixarei minha recém-esposa
viúva, como também se tornará o principal alvo de meus inimigos. Lucas
Piazza, por exemplo. Todos viram e perceberam minha fraqueza por ela no
casamento, como não perdia nenhum detalhe de sua silhueta ou a aproximava
de mim quando nossos rivais fingiam gratidão. No entanto, não deveria
importar-me com ela... As pessoas que o fazem morrem.
— Tudo pronto? — questiono.
— Sim — responde com essa maldita indecisão em tudo o que concerne a
minha esposa —. Tem certeza, Don? Se ela descobrir...
— Preciso saber onde ela está o tempo todo.
— Isso é muito mais, você sabe. Merda. Está ferida, magoada, pensa que a
traiu... Deveria temer uma mulher assim, Dominic.
— Medo? Da minha própria esposa?
A escuridão existe dentro de mim, é uma muralha de pedra resistente,
nunca quis levá-la a sério totalmente até essa parte, é preciso destruir algumas
dessas ilusões que nunca cumprirei, suas expectativas de um romance
perfeito não têm futuro.
Roth pisca, desviando seu olhar do meu.
— Há algo que deseja compartilhar, irmão? — pergunto baixando a voz,
Nikov é um dos poucos que não pressiono, não é necessário, sempre foi um
livro aberto...
Antes de Emilie, mesmo depois dela, nosso relacionamento ficou um
pouco instável.
— Você é meu Capo.
— Mantenha essa frase presente, sou seu Capo e é responsável se sua
lealdade for questionada — assovio. Fui treinado para isso, para exterminar
qualquer ameaça ao meu legado —. A famiglia primeiro.
Roth repete retomando sua postura, aperta com mais força a maleta e se
dirige ao quarto de minha esposa, comigo seguindo seus passos. Um bom
capo age de forma fria e calculada, deve ficar de olho no futuro e suas
variantes... Por isso preciso saber a todo momento onde minha esposa está,
primeiro o colar Cavalli me concedia essa pequena vantagem. Emilie não é
uma mulher previsível e astutamente relacionou sua localização com a joia,
descobriu rapidamente o GPS integrado, obrigando-me a tomar essa decisão
extrema. Colocar um GPS em seu quadril, no qual me dará sua localização
em tempo real no meu celular. Roth e eu temos um em nosso pescoço e
também inseri uma terceira linha em Raze anos atrás.
Nunca pensei que precisasse de um extra, porque nunca imaginei na minha
vida que seria necessário controlar remotamente uma mulher, na verdade,
Emilie não deveria receber um GPS esta noite, mas sou o Capo fodão e ela é
minha esposa. Minhas ordens sempre serão atendidas. Acendo a luz central
com uma palmada, minha esposa não acordará graças ao sonífero que lhe dei
em sua última bebida, antes de fugirmos do casamento. Curiosamente,
deveria estar fodendo-a como um maldito demente e, ao invés disso, continuo
cheio de desejo por possuir o que é meu por direito, porém, ela decidiu negar-
me, sou um assassino, não um estuprador. Pegá-la a força não me tornará um
homem melhor. Posso bancar um bom marido por um tempo e esperar que,
eventualmente, ela ceda ou serei forçado a buscar satisfação fora de nosso
casamento. Não sou santo e quero tentar reparar meu erro, dar um passo
adiante depois de minhas dúvidas sobre ela e Katniss...
Emilie desperta emoções adormecidas em mim, eu sei disso. E tenho
lutado contra essas emoções confusas, mas não posso continuar assim por
muito mais tempo. O que mais posso fazer para ter um relacionamento um
tanto normal? Nada, exceto dominar minha esposa e lembrá-la o seu lugar.
Um herdeiro poderia acalmar certas partes dela, poderia enviá-la para
longe e levar uma vida normal de solteiro. Ninguém em nosso mundo se
ofenderia em me ver transar no meio de Nova York enquanto minha esposa
pode muito bem carregar meu filho em seu ventre na Itália. Emilie deve
aprender seu lugar de uma forma tranquila — o que, claramente, não
funciona — ou pela forma mais difícil. No entanto, enviá-la para longe do
meu alcance está fora de cogitação, eu a quero perto de mim, sendo um
incômodo ou não. Controlo um exército de homens, mas é diferente, se
algum deles me desobedece é castigado e minha mulher pode receber o
mesmo tratamento. Desmembrá-la não me fará nenhuma diferença.
— Espere aqui — ordeno. Deixando-o próximo da porta. A mulher que
está dormindo na cama é minha esposa e, não quero expô-la a outro homem,
de forma alguma, pois isso é um golpe para o meu ego. Tiro os lençóis sobre
seu corpo cobrindo suas nádegas e subo sua camisola um pouco acima de
suas costelas. Suas costas nuas, as curvas que tanto me enlouquecem à mercê
de Roth.
— Se quiser mais alguém pode...
— De jeito nenhum — rosno, pedindo para que Roth se aproxime, ele não
olha mais do que o necessário. Abre sua maleta retirando seus instrumentos e
o pequeno dispositivo.
— Tem certeza disso?
— É para sua própria segurança.
— Você se preocupa demais com ela — sentencia meu irmão —. Se não
me preocupasse, ela estaria morta.
— Disse que devo ser cauteloso, certo? — questiono ironicamente,
desviando a verdade.
—Sua cautela é exterminar a ameaça, por isso devia estar fora do negócio
por um tempo, não se lembra?
«Maldito filho da puta».
— Gosto de fodê-la — digo dando de ombros.
Minhas mãos tremem quando o vejo tocá-la, verificando aquele lugar onde
ela tem duas pequenas reentrâncias perfeitas na parte inferior das costas.
— Ter sentimentos pela garota não o torna menos poderoso, Don.
Continua sendo você, porém, com sentimentos diferentes.
— E para onde me levaram meus sentimentos no passado? — cuspi em
sua direção começando a ficar furioso —. Por causa dos meus sentimentos,
meu irmão morreu, eu o matei, meus sentimentos fizeram com que seis
homens da Bratva morressem. O que aconteceria se Vladimir descobrir que
fui o responsável direto pela morte de seu pai porque fodeu minha mãe, assim
como aconteceu com os outros cinco? Os sentimentos me cegaram. A raiva
se apodera de mim toda vez que os sentimentos saem da minha alma. É
melhor no falar sobre sentimentos.
— Você matou Gabriel para me salvar, Dominic, salvou meu irmão tantas
vezes que que é muito difícil contá-las, e a garota Miller... continua
protegendo-a porque é importante para Raze, por que não seria assim com
Emilie?
— Eu a desejo e a odeio... Esse é o motivo, odeio desejá-la do jeito como
faço. Estou tornando-me em uma boceta sentimental, entreguei-lhe a metade
da Sicília! Meu legado! O legado dos meus filhos!
— E seus filhos, Dominic. Seus filhos virão do ventre dessa garota...
Mesmo que ela o destrua de mil maneiras, você a procurará novamente. Não
sei se é obsessão ou amor, mas capto em seu olhar o desejo quando a olha,
observo como age quando está perto dela. Como se fosse dois homens
totalmente diferentes, o Capo sangrento e respeitado ou homem doce como
nas semanas anteriores. Deve parar de brincar de um dia sim e outro não...
Ser um bom marido não o torna um Capo melhor ou pior.
— Vladimir está vivo — eu o lembro. Eu o deixei viver por Emilie.
Pensando em um acordo de paz com a Bratva, pois minha doce esposa não
merece viver dentro de uma guerra, tê-la com medo de meus inimigos ou que
possam machucá-la —. Tentar ser um bom marido vai contra a famiglia.
— Vladimir é melhor como um aliado... Fazer isso Pakhan[2] será uma
boa jogada. Sabe bem disso.
— Dei-lhe seu trono. Seu direito de governar a máfia vermelha.
— Nunca foi meu, Don. E Raze está feliz em saber que nosso tio estará
morto ao amanhecer. Você nos libertou da Rússia. — Dá de ombros e insere
a agulha no quadril da minha esposa —. Não pertencemos mais à máfia
vermelha, agora somos da Sicília. E estou feliz em servi-lo. Deixe o ego para
trás, encontre uma maneira de conquistar sua esposa e ganhar o seu respeito.
— Apenas a fodi, meu Deus! Fazem parecer como um crime.
— Você transou com Katniss e horas depois levou sua prometida, não
para olhar o amanhecer precisamente, e isso para ela é desrespeitoso. Como
se sentiria se Emilie transasse com qualquer homem e minutos depois com
você?
A parte sombria da minha mente fica nublada, uma explosão de sangue
dança em meus olhos. Se algum filho da puta tocar em algum lugar da minha
esposa… Eu o mato. Quebrá-lo de formas diferentes não será suficiente.
Destruiria seu espírito. E Emilie? O que lhe faria a minha esposa? Nada. Não
tocaria em nenhuma parte de seu corpo, não me daria nenhuma satisfação
machucá-la. Merda.
Foder com Katniss foi apenas para descarregar minha frustração, foi como
transar com uma boneca de plástico, já com Emilie não há como comparar.
Gosto dela, guardo em minha memória cada olhar ou gemido, fico
embriagado com seu aroma quente e doce. Minhas mãos se enchem de
esperança ao segurá-la. E algo sem precedentes.
Indecifrável, cativante e enigmático.
Conquistar minha esposa é algo que nunca pensei ser possível, estou
disposto?
~♦~
Roth termina o procedimento depois das duas da manhã, bem a tempo de
minha partida. Certifico-me de cobrir seu corpo e deixá-la confortável, por
algum impulso estranho me inclino deixando um beijo em seu ombro,
afastando vários fios de seus cabelos no processo. Ela é tão linda, nunca
encontrei uma mulher tão exuberante ou interessante. Sua pele é suave e lisa
e tem um aroma adocicado como pêssegos frescos.
— Minha pequena, pela primeira vez não tenho interesse em fazer um
homem dobrar-se diante de mim. Desejo muito mais ficar aqui com você
nessa cama — sussurro negando. Matar o Pakhan da máfia russa deveria ser
muito divertido, no entanto, estou aqui com a minha recém-esposa, falando
como um idiota e desajeitado.
«Ser um bom marido não o tornará um Capo melhor ou pior».
Roth sempre encontrou um jeito de entrar na minha cabeça, sei que dessa
vez não será diferente. Deixando Emilie dormir, saio da suíte encontrando-me
com Raze, que caminha de um lado para outro nervoso.
— Deixe-me ir com você — exige. Nego rindo de lado, este garoto é
como um irmão caçula para mim. Nunca arriscarei seu bem-estar.
— Você tiraria a minha diversão.
— Porra! Não pode ir sozinho, e se for uma armadilha? Se eles o
matarem?
— Bem, que pouca fé você tem em mim — ironizo arqueando uma das
minhas sobrancelhas. Roth decide que é hora de entrar, está verificando sua
Glock 9mm. A arma que lhe salvou a vida há tantos anos, a mesma que Raze,
seu irmão mais novo, usou para atirar em Robert, o mais velho dos Nikov.
— Irei com ele — anuncia. Como se isso fosse possível.
— Não, irei sozinho e não quero escutar mais nenhuma palavra. Você tem
que cuidar de Emilie e, se alguma coisa acontecer comigo, ambos serão
responsáveis por mantê-la segura.
— Dominic...
— Basta! — assovio, silenciando a voz de Raze —. Os dois cuidarão da
minha esposa e ponto final.
Espero alguns segundos caso algum deles queira acrescentar algo, quando
Roth acena com um ligeiro movimento, sei que concorda e se eu entrar em
uma armadilha russa, ele cuidará da única coisa que é valiosa para mim nesse
momento. Minha esposa.
Não tenho nenhum tipo de arma ou faca, estou desarmado graças ao meu
casamento recente. É como se estivesse nu, elas formam parte de mim, metal
e pólvora são meus aliados, mas não nesta noite.
Deixo o hotel conduzindo meu BMW preto, verificando no retrovisor se
nenhum dos meus soldados me está seguindo, viro algumas vezes no
quarteirão distraindo um possível companheiro indesejado. Quando tenho
certeza de que não há ninguém atrás de mim, vou até o cais onde Vladimir
Ivanov me espera. Pertence a mim, mas esta noite está abrigando um Audi
Spyder com as luzes acesas. Estaciono meu carro de frente, desligando
minhas luzes. Poderia morrer nos próximos três segundos, mas não é algo
que tenha temido no passado e não começarei a tê-lo nesse momento. Se eu
morrer, meu legado irá para Nikov. Estará em boas mãos. Saio do meu carro
esportivo e dois segundos depois Vladimir faz o mesmo, antes de desligar as
luzes. Nós nos odiamos e isso não é um segredo para nenhum dos dois.
— Pozdravlyayu[3] — diz em russo, gosto de ver como mantém distância
olhando para o alto dos edifícios.
— Não há atiradores, Vlad.
— Apenas meus amigos me chamam de Vlad.
— Até onde sei, não tem nenhum. No entanto, não é um assunto que me
apaixone, como já sabe estou recém-casado e quero voltar para minha esposa.
— Sorrio ao ver como a cicatriz em seu rosto se contrai quando franze a testa
—. O que você quer, Vladimir Ivanov? Diga-me e será seu.
— Agora você é a porra do gênio da lâmpada? — tenta zombar da minha
cara.
Sorrio esticando a manga do meu terno, um par de abotoaduras com a flor-
de-lis gravada nelas.
— Sou muito mais poderoso do que esse bastardo, acredite em mim.
Ele fica em silêncio e dá dois passos à frente, com as mãos em sua
gabardine, provavelmente uma faca e alguma Glock guardada para o
momento certo, que nunca será. Por que será que os russos amam tanto as
armas? Pessoalmente, prefiro as facas, gosto de sentir de perto a morte dos
meus inimigos e saber que os trouxe a esse estado com as minhas próprias
mãos.
— E se eu lhe dissesse que quero Emilie Greystone?
— Eu lhe diria que, não se trata de quem a quer, mas com quem ela quer
ficar.
— Pelo que sei, ela não teve muita escolha, Cavalli.
— É aí que você se engana — digo, sem perder o sorriso —. Ela teve a
oportunidade de fugir, no entanto, decidiu ficar. Decidiu ser minha. Embora
esteja um pouco decepcionado, esperava que você mantivesse minha esposa
fora de nossas negociações, caso contrário, terminarão antes de começarmos
e de uma forma muito desagradável, não acha?
— Não tem nada para me dar.
— Sei, por meio de uma fonte fidedigna, onde está Igor nesse momento,
tenho o local exato onde seu Pakhan está agora, sem nenhum dos seus
homens e com uma mira apontada em sua direção... poderia ser o dono da
Rússia em um piscar de olhos, Vlad — anúncio dando outro passo, agora
nada nos separa um do outro. A oferta é tentadora —. Eu o matarei por você,
nenhum dos seus homens hesitará. Vingará sua irmã e governará a máfia
vermelha. Só precisa pedir.
Estou muito mais do que disposto a fazê-lo, se pudesse, eu mesmo
cuidaria de quebrar este maldito, que está nesse momento abusando de uma
garota de acabou de completar dezoito anos e está tendo uma noite com um
homem que se diz dominante para impor crueldade em suas amantes,
manipular suas mentes com dor e prazer... Só que recebem noventa por cento
de dor e o resto é repulsa até o russo.
— O que você quer em troca?
«Oh, doce pergunta. Até a árvore mais resistente sempre tem raiz podre».
Quero a paz entre a Rússia e meu reinado, pois se penso lutar contra Lucas
Piazza, não interporei a segurança de minha jovem esposa. Claro, não direi
isso a Vladimir.
— Quero um acordo entre nossas famílias.
— Um acordo? Você é meu inimigo por natureza.
— Uma união, tenho uma prima; Dalila. É jovem e linda, criada para ser
esposa de um líder — ela estava destinada ser minha mulher, assim que me
tornasse o Capo —, é a mulher mais dócil que já conheci. Seu pai concorda
que ela seja o presente perfeito para uma aliança.
— E se eu não aceitar?
— Matarei o Igor... E será culpado de traição por vir conversar comigo
contra as ordens de seu superior.
— Você é um maldito filho da puta — assovia.
Olho para o cais, os barcos ancorados e um céu escuro no horizonte. Sim,
realmente sou filho de uma puta. É um mal que me assombra há anos.
— Certamente — respondo um pouco amargurado —. Estou oferecendo a
possibilidade de ser dono da facção mais importante depois da Sicília, estou
também entregando uma garota linda que lhe dará herdeiros como é
determinado entre vocês, estou tornando-o em um homem poderoso, alguém
que será lembrado mesmo depois de sua morte. Jamais obedecerá a nenhum
homem, não terá que dar satisfações dos seus atos a ninguém.
— Somente a você — interrompe. Não será o primeiro e, certamente, não
será o último.
— Terá as armas, será um negócio de Raze, entre russos se entendem. As
prostitutas são problema seu, fico com a droga. É um negócio justo.
— Muito e ele não é um homem conhecido por ser justo, Dominic, por
que está fazendo isso?
— Isso é um sim? — olho para trás
Ele lentamente tira as mãos da sua gabardine enquanto pondera algo em
sua mente. Estou lhe dando um tratamento muito além do que realmente
merece. Preciso manter minha esposa viva o maior tempo possível, se devo
oferecer um acordo à Rússia... Então, eu farei.
— Por que deveria casar com a garota?
— Ela era minha prometida e o nome de sua família ficará comprometido
se não se casar nos próximos meses. É pura, ninguém nunca a tocou em um
único fio de cabelo... Você será o primeiro em tudo.
— Você não a tocou?
— O pai desta garota e meu pai se comprometeram que ela seria minha
prometida, mas eu nunca a vi dessa maneira. Espero que seja um bom
marido, pois pelo que sei nenhuma mulher sua se queixa das suas habilidades
e Dalila será um tratado de paz, caso você a machuque de alguma forma, o
nosso acordo será quebrado. A paz se acaba e eu o matarei, Vladimir. Não é
uma ameaça, é uma promessa.
— Você me oferece ser seu cachorrinho de estimação em troca de dar-me
um poder imaginário. Rússia nunca será minha em sua totalidade, sempre
estarei em dívida com você por obtê-la de forma tão fácil.
— É pegar ou largar, é simples assim.
— Você garante que me deixará viver se eu o deixar?
— Garanto uma luta justa — respondo. Se não aceitar, um dos dois ficará
boiando nas águas deste cais, não serei eu, principalmente agora, que tenho
uma vida recém-adquirida. Quero desfrutar de minha esposa o quanto puder.
Não penso em ter uma vida longa, aliás nenhum homem que se dedica ao
submundo pode iludir-se com isso, no entanto, desejo desfrutar mais alguns
anos e, para que consiga isso, tiver que lutar até a morte com você, então eu o
matarei aqui e agora.
Capítulo 02
Cinco meses depois

— Olhe-me — assovia meu marido, com sua mão ao redor do meu


pescoço. Nego e acelero meus movimentos, deixando cair minha cabeça para
trás. Os dedos de sua mão direita afundam em meu quadril e ele avança
minha privacidade com ímpeto, punindo-me. Grito, o suor escorre entre meus
seios e meu cabelo fica grudado na minha testa e pescoço.
Oh, é dolorosamente bom. Meu marido sabe como me foder até tirar
minha alma do meu corpo. Sinto seu membro dentro de mim talhando minhas
entranhas, perfurando por dentro quando fica mais grosso. Ele me expande,
dando uma última estocada e me segurando no lugar. Rosna, soltando minha
cintura para ir direto ao meu clitóris inchado e o puxa, exatamente como eu
gosto.
O orgasmo é enorme, mordo o lábio com força, evitando dar-lhe a
satisfação de ouvir meus gemidos, no entanto, sua mão em meu pescoço não
me permite, puxa com força até apoderar-se de minha boca. Seu beijo é
furioso, intenso e faminto.
Lentamente, ele se afasta, respiro agitada, saciada e cansada. Forço-me a
olhá-lo reunindo tudo o que sou, no que em seus atos me tornaram uma
rainha, combatendo esse olhar gelado, que há poucas horas era puro fogo
ardente. Esta noite se desatou como norma apenas duas rodadas de sexo. Sai
de mim e a conexão se perde, uma linha tênue borrada no ar. Perdemos tudo
quando a chama atinge o seu ápice e cai em uma montanha-russa de sedução
e desejo, culminando nas lembranças de suas mentiras. Beija minha testa
como se isso significasse outra coisa.
No passado queria chorar por ser fraca e dar-lhe meu corpo, mesmo depois
de sua traição, não fiz isso antes e não farei agora. Conhecendo nossas
rotinas, deixo-me cair ao seu lado, sentando-me na cama e mantendo uma
distância segura.
Dominic com um grunhido de desagrado, remove o preservativo que cobre
seu pênis e o joga na lata de lixo que está perto da cama. Estico meu corpo
saindo dos lençóis, neste momento não sinto mais vergonha de me mostrar
nua.
— Emi... — diz, movendo-se para segurar minha mão.
— Já é tarde — anúncio, soltando-me de seu agarre —. Temos a
inauguração do cassino e receberei um pedido de fornecimento no orfanato.
— Fique — ele me pede.
— Preciso descansar — respondo sem olhá-lo. Encontro meu vestido de
noite todo rasgado no chão. Maldição.
— Você é minha esposa, porra! — exclama furioso.
— Boa noite, Don — declaro, enquanto caminho em direção à saída de
seu quarto.
Ouço seus xingamentos quando fecho a porta que divide nossos quartos,
um segundo algo como um abajur ou talvez o telefone acabe se espatifando
contra a parede. Suspiro, deixando cair o que sobrou do vestido na minha
mobília após trancar a porta, ele nunca tentou arrombá-la ou violar minha
privacidade, mas por segurança adicional, eu a tranco.
Quero um banho rápido, porém passa das duas da manhã. Vou direto para
a minha cama, nua, cheia do perfume do meu marido. Se não posso ter um
homem que me ame, pelo menos desfruto de um bom sexo e Dominic é um
mestre nisso. Quem acreditaria que Don ficaria cinco meses sem sexo? Ele é
um homem quente como o próprio sol de verão.
Há sexo, muito e é incrivelmente alucinante, só que ao terminar escolho e
imponho distância. Quando chegamos ao orgasmo e ele tenta abraçar-me, o
abismo se abre e me envolve totalmente.
Vejo a súplica em seus olhos ao levantar-me e sair do quarto. Não posso
confiar, uma segunda oportunidade leva a uma longa lista de decepções.
Oficialmente, sou uma Cavalli há cinco meses, nos quais meu marido vem
respeitando meu espaço, tenho aulas de italiano todas as tardes depois de
supervisionar o orfanato, que agora me pertence. Continuo administrando
dois cassinos em Atlantic City, graças a isso recebo uma boa soma de
dinheiro sujo na minha conta, dinheiro que meu esposo deposita depois de ser
lavado por alguns parceiros do mercado financeiro, é destinado
anonimamente a diversas instituições de caridade.
Nosso casamento não é tradicional, não compartilhamos a mesma cama,
nem qualquer outra coisa, saímos juntos em reuniões sociais, somos
fotografados como se fosse um casal de Hollywood e nos inventaram uma
vida pública, sou a esposa abnegada do banqueiro mulherengo nova-iorquino.
Sou o troféu a ser mostrado para as câmeras e para a sociedade; enquanto
isso, a portas fechadas, continua sua atitude promíscua e suas atividades
criminosas na calada da noite.
Tiro minha única vestimenta que sobreviveu esta noite, a calcinha e o
vestido cederam à força do meu marido. Um par de sapatos de Christian
Louboutin acabou sendo o vencedor, aliás estes sapatos são os seus favoritos,
e sei disso, porque me fodeu com uns parecidos no banheiro do hotel
Baccarat, no anúncio que fez sobre o financiamento da candidatura de
Florentino a prefeito de Nova York, sim, esse homem, o pai de Katniss.
Dois meses depois do nosso casamento, Don não me havia tocado em um
único fio de cabelo, mas ela estava lá, altiva, olhando-o furtivamente,
enquanto falava baixinho e ria junto com suas amigas. Transei com ele, muito
mais por coragem do que por prazer, queria demonstrar nossos níveis, ela
teve que se esconder e esperar para ser fodida em um lugar discreto, quanto a
mim, onde eu quisesse e escolhi esse momento.
Foi uma foda incrível, arranhei seu pescoço quando me empurrou contra a
parede, eu o deixei tomar meu corpo com um preservativo entre nós. Rosnou
como um animal e mordeu meus lábios, era caótico e sublime, cheio de
selvageria, exatamente o que precisava. Às vezes isso se repete sob minhas
condições e vontade, com proteção e nunca fico ao seu lado.
Acordo com o alarme quatro horas depois. Morar com Dominic me
ensinou a ser mais disciplinada, sem mencionar que tenho uma agenda muito
mais apertada do que na minha vida anterior. Marcela — a nonna que agora
mora conosco —, bate na minha porta, cubro meu corpo nu antes de deixá-la
entrar em meu quarto. Quando o faz, traz meu café da manhã em uma
bandeja e um delicado buquê de rosas.
— O senhor ordenou isso? — questiono em italiano. Meu sotaque ainda é
forte, às vezes me confundo um pouco com as vogais e acabo alongando
algumas palavras.
— Ele está tomando banho — comenta isso ao invés de responder minha
pergunta direta.
Ela está feliz por servir-me, mas é algo que ainda não me acostumei.
Sempre fiz meu próprio café da manhã até o dia que me casei há apenas seis
meses, também vivi uma vida cheia de mentiras e agora posso pelo menos
cuidar de mim mesmo, quando necessário. Don tem uma tendência de passar
as manhãs entre lutas e testosterona em um ginásio dos soldados da Ordem.
Conheço o lugar por causa do meu treinamento recente em defesa pessoal
com o único homem que teve permissão para me tocar, Cavalli. Foi duro e
cruel, o primeiro dia derrubou meu corpo várias vezes no tatame e, embora
pudesse defender-me com os punhos, sou uma formiguinha diante do meu
marido, que é uma fera impulsiva lutando. Três meses depois de treinar cinco
dias por semana, posso pelo menos me defender.
Cobrindo-me com os lençóis, saio da cama e vou para o banheiro, tenho
uma manhã agitada no orfanato e por volta das quatro da tarde encontro com
o Pakhan da máfia vermelha, da qual meu marido não tem ideia. Sim, muitas
coisas mudaram.
O tráfico de mulheres foi deixado nas mãos dos xeques árabes e alguns
alemães continuam a praticá-lo junto com os colombianos.
Itália e Rússia estão em um acordo, recebemos as armas e lhe fornecemos
a droga, pelo menos é isso que meu marido faz. Minha parte para manter o
acordo é ser apenas uma esposa linda, eficiente e doce, a qual ignora
informações importantes e trai os dois chefes. Nenhum deles precisa saber
meus planos, não agora, de qualquer maneira.
A água ajuda a relaxar meus músculos enrijecidos pelas atividades físicas
executadas. Quando saio do banho, tomo café da manhã enquanto seco meus
cabelos úmidos.
Nonna se encarregou de arrumar a cama e deixar duas roupas para que
possa escolher. Opto por usar calça preta de corte reto, blusa de cetim verde,
sapatos fechados Valentino e casaco de cashmere preto. Continuo sendo
pouco amante de maquiagem, então só uso protetor, base, máscara e
delineador, os lábios sempre à mostra.
Satisfeita com o resultado final, pego minha bolsa, meu celular e a xícara
de café bem adocicado. Normalmente, meu marido sai bem cedo para sua
rotina de exercícios e quando eu acordo está em seu quarto, esta manhã ele
decidiu esperar por mim ao pé da escada. Curiosa, aceito sua mão, ele por sua
vez tira minha xícara de café para deixá-la sobre a mesa circular com um
lindo buquê de rosas vermelhas de caule longo.
— Algum problema? Está tudo bem? — questiono.
— Bom dia, esposa — responde sério. Limpa a garganta antes de
continuar —: Eu a buscarei no orfanato antes da inauguração.
— Por quê? Esqueci algum compromisso? — questiono levantando uma
sobrancelha.
— Surpresa! — gritam várias vozes em uníssono.
Meu sorriso falso vacila um pouco e Dominic pressiona minha mão.
Nossos amigos estão em casa. Hannah, Landon com o pequeno Logan com
poucos meses, Raze de braços cruzados com um gesto bem zombeteiro, Roth
sério com seu estilo habitual, meu irmão carregando minha linda sobrinha
Emma ao lado de Savannah, sua assistente, que ama loucamente a menina e
Marcela carregando um bolo com algumas velas acesas.
Garfield, o gato temperamental e confidente que agora me pertence,
caminha entre os convidados. «Não pode ser...», penso.
— Feliz aniversário — sussurra meu marido, antes de inclinar-se um
pouco, levando minha mão aos seus lábios e deixando um beijo rápido e
terno em meus dedos. Exibições públicas são totalmente proibidas e isso é o
máximo que é permitido na frente de nossos seres mais próximos.
Dalila, prima de Don, que foi minha dama de honra no casamento após a
morte não intencional de Valerie, é a primeira a me abraçar. Ajeito algumas
mechas de seus cabelos castanhos para trás, de certa forma me faz lembrar do
meu próprio destino, um cordeiro leiloado. É uma peça em um tabuleiro da
Bratva.
— Você está linda — exclama.
— Você também... Está tudo bem? — demando.
— Em breve — sussurra baixinho. Acaricio sua bochecha, ela é uma
menina nas mãos de um animal.
— Obrigada, Dalila.
— A famiglia é o mais importante — declara orgulhosa.
— Sim — rosno, apertando minha mandíbula —. A famiglia primeiro,
sempre.
Sorri, com seus olhos grandes e brilhantes. Somos muito parecidas em
espírito, a única diferença é que Dalila aceitou seu destino, ao ser entregue
nos braços de Vladimir como uma oferta de paz.
— Hannah... — gemo mortificada. Ela também é outra que passou por
tamanha barbaridade.
— Você disse que não queria uma grande festa! — grita cheia de energia,
acenando com os balões dourados e pretos em sua mão —. Isso é uma coisa
pequena, apenas um café da manhã!
Recuso-me, não havia forma no mundo de evitar isso, um a um me
parabeniza, até que chega a vez da pequena Emma e fico com ela nos braços.
Ela é uma garotinha maravilhosa, com os olhos idênticos aos de Holden e seu
cabelo fino muito parecido com Rebekah, que decidiu viver sua vida pública
sem mencionar à pequena que agora se encontra no meu colo. Minhas
bochechas ficam coradas quando Dalila começa a cantar a canção de feliz
aniversário. Olho para meu marido que não deixa de observar-me com aquela
criaturinha inocente em meus braços.
Roth diz algo para eles em russo, fazendo com que Raze dê uma
gargalhada. «Ótimo, agora preciso aprender russo», penso, já que desde que
comecei a estudar italiano, as frases de Dominic nessa língua foram reduzidas
e, quando quer ter alguma conversa delicada com seu braço direito ou com o
meu segurança Raze, falam estritamente em russo. Recebo alguns presentes,
votos de boa sorte, saúde, abraços e sopro as velas enquanto a sala de jantar
se enche de aperitivos.
— Eu a matarei, Hannah. Eu juro — afirmo enfaticamente.
— É apenas um café da manhã. Liguei para a irmã Ângeles, ela cuidará do
orfanato por algumas horas pela manhã, e isso é obra do Capo — responde
com um sorriso.
— Obrigada — sussurro, ignorando a menção do meu marido, que não
deixa de olhar-me com Emma em meus braços, puxando meus cabelos.
— Acho que alguém quer um filho — diz minha ex-chefe.
— Hannah — eu a aviso.
— Basta olhar para o seu marido, ele não para de olhá-la desde que você
pegou a garotinha em seus braços.
— Está agindo estranhamente — concordo em termos. Savannah estende a
mão para tirar Emma dos meus braços. A menina parece estar com fome —.
Ontem à noite ele me pediu para ficasse em seu quarto.
— E você ficou, certo?
— Não — declaro negando —. Não dormirei com ele, não confio em
Dominic.
— Não os entendo. Não dormem juntos, mas fodem como coelhos — diz
bufando.
— Foder não envolve nada além da união de dois corpos, Hannah, é algo
que deveria saber — sentenciou, acenando para seu marido com o queixo.
Hannah passou a não ter valor algum depois do nascimento de Logan,
Landon vive estritamente para seu filho e minha amiga é uma sombra atrás
deles.
Não quero isso para a minha vida. Lamento trazer à tona seu
relacionamento quando vejo a dor em seu olhar, seu rosto se aflige e o sorriso
muda para uma careta. Ela o ama, mas de uma forma que nunca entenderei.
Mulheres dispostas a perder sua identidade recebendo migalhas de homens
que não as valorizam.
— Ele ama Logan, isso é importante, certo? — pergunta tristemente.
— Sim, porém, é importante que você se ame um pouco mais — afirmo.
— Quem diria que acabaria dando-me conselhos. Seis meses atrás,
chorava pelos cantos e agora está aqui, em pé, enfrentando sua nova vida —
manifesta, e noto uma pitada de orgulho em sua voz.
— Chorar pelos cantos é muito melhor do que não chorar... às vezes acho
que perdi minha alma, estou vazia por dentro.
— É bom ter medo, Emilie. Deus, minha menina, tem apenas vinte e um
anos e sua vida foi parar no meio do inferno da máfia — diz ela.
«Oh, Hannah! Se você soubesse...», penso. Minha vida está apenas
começando, o novo destino que me foi imposto está a poucos passos de se
tornar realidade. Não tenho mais aquela inocência de antes dentro de mim.
— Assusta-me um pouco o fato de como me agrada não sentir nada,
Hannah. Fico assustada ao entender meu marido do jeito que o entendo
agora. Se não sente, se não mistura suas emoções, então ninguém pode
machucá-la, nenhum ser humano tem poder sobre você. De alguma forma,
Dominic me ensinou como é errado amar — explico.
— Você diz isso porque está machucada pela sua traição, mas...
— Só tenho uma sede exagerada de poder — confesso, sem deixar de
observar todos que estão presentes —. Tudo o que quero é que os homens se
curvem e abaixem a cabeça ao me ver. Quero arruinar meu marido, tenho até
vontade de matá-lo enquanto me fode. Entre a Emilie do passado e a do
presente, há um enorme abismo de diferença — proclamo seriamente.
Capítulo 03

A cobertura possui sua própria piscina aquecida, dado que meu dia foi
reorganizado, aproveito uma parte do tempo para tomar sol com as meninas,
os homens preparam um churrasco, Raze e Holden, porque Dominic e Roth
vão para o escritório perdidos em seus negócios criminosos.
— Como é ser esposa de um russo? — pergunta Hannah, ajeitando seu top
preto, para uma mulher que teve um filho recentemente, tem um corpo
invejável, não quero saber os principais motivos de sua insistência em se
exercitar e quase sobreviver de alface.
— O mesmo que ser esposa de um italiano, suponho — diz Dalila. Finjo
atenção às suas palavras, mas coloco meu olhar no meu irmão ao lado de
Savannah, na piscina ensinando Emma a nadar, meu irmão sorrindo para suas
duas mulheres. Está feliz, brilha e resplandece como nunca, atraída pela cena,
afasto-me das meninas para ir em sua direção, sentindo os olhos de Raze em
mim, sempre observando meu próximo movimento. Estou quase chegando
quando a figura do meu marido atrapalha, é difícil ignorar o todo-poderoso,
Dominic Cavalli, que ainda continua vestido de terno.
— É uma festa na piscina — declaro o óbvio por meio de escárnio.
Ele puxa as abotoaduras, focando consertar algo perfeito, ele é um homem
muito bonito e uma pequena parte de mim se enche de orgulho por saber que
ele me quer e, acima de tudo, é meu marido.
— Vamos conversar em particular.
— Sempre dando ordens — digo, revirando os olhos. E o sigo.
— Feliz aniversário — sussurra, puxando uma pequena caixa preta de seu
bolso ao chegarmos ao corredor, onde Roth já se encontra —. Tenho uma
reunião importante, não posso ficar mais.
— Alguma de suas putas? — assovio. Ele nega, suspirando. Sempre faz
isso...
— O cartel mexicano está na cidade. Não, não foderei nenhuma puta.
— Leve-me com você.
— Não.
— Se vai falar sobre nossos negócios, eu devo ir. Sou sua sócia e se isso
não for suficiente, sou sua esposa — eu o desafio atravessando seu caminho.
Sinto a mão de Roth tocar meu ombro. Santo Roth, sempre invocando a paz.
— O cartel mexicano não é importante — diz ele no meu ouvido,
conciliador.
— Marcelo Quintero estará depois de amanhã à noite na cidade, então eu a
levarei comigo — anuncia Dominic.
— Os laboratórios colombianos?
— Você sabe demais, Emi — murmura, passando a mão pelos cabelos —.
Sim, mostrarei as rotas, implementaremos sua fórmula na nova droga de
ouro. Marcelo está contido, Rodriguez do cartel mexicano, é grotesco.
— Bem, esperarei — concedo. Nikov se afasta de nossa vista. Meu marido
suaviza sua máscara um milissegundo, antes de inclinar-se e dar-me um beijo
na minha testa, demora como de costume mais do que o necessário. Por ter
essas ações tão humanas, pequenas barreiras lutam para ceder.
— Roth ficará com você — diz ele, embalando meu rosto em suas mãos
fortes —. Seja precavida, não quero arrepender-me.
— Do quê?
— Seu presente.
— Não é um colar?
— Não, mas acho que esse presente você gostará mais.
Meu marido sai com Raze, a mudança de Nikov me intriga um pouco,
minha segurança sempre lhe confia ao mais novo. Suponho que será mais um
mistério adicionado à lista. As meninas me distraem quando volto ao seu
lado, Hannah é a mais animada de nós, Dalila é muito submissa e Savannah
irá embora logo com minha sobrinha e meu irmão.
— Você está bem? — questiona Holden antes de sair, é um novo hábito
adquirido —. Como vocês estão?
— Sim, muito melhor — meio que minto. Meu irmão não precisa saber da
minha vida de casada, é muito tarde para arrependimentos.
— Estou feliz... eu te amo, abóbora.
— E eu muito mais, Holden.
Beijo a cabecinha loira de Emma antes de eles irem embora, algo se
contorce em meu peito observando-os saírem. Hannah pulando de excitação
corta meu lado meloso instantaneamente.
— Hora de partir! — grita animada.
— Onde?
— Ver seu presente!
Nem perguntarei como é que ela sabe, Dominic sempre está vários passos
à frente. Nego olhar as horas no celular, não posso perder tempo com
presentes.
Falta pouco para a inauguração, tanto que Roth deve pensar o mesmo
porque não para de olhar para o relógio.
— Tenho que ir à inauguração, o que você acha se o vemos amanhã?
— Mas, Don queria...
— É bom nunca fazer o que Don espera, você não acha?
— Ah! Você estragou tudo — lamenta.
— Que tal compensar isso deixando-a que me ajude a arrumar para a
inauguração?
Sou um desastre para isso, algo que nonna e Hannah sabem muito bem,
mesmo Dalila aprendeu em pouco tempo. Ela é a uma garota sofisticada, foi
criada e educada como uma perfeita mulher italiana. É a única a não mostrar
o corpo, mesmo na piscina, está coberta com um vestido recatado e por ser a
esposa de Vladimir Ivanov, eles a fazem ser incrivelmente discreta, acho que
reflete um pouco a personalidade submissa e dominável dela.
Todos insistem em algo chamativo, devido à pouca iluminação do cassino,
mas acabo usando um vestido de seda dourado, justo, corte sereia, sem
ombros. A joia Cavalli no meu pescoço é demais, mas removê-la é uma
ofensa para meu marido em um dia como hoje. Ele gosta de vê-la nesses
eventos, ler as matérias na imprensa onde fica muito claro que não saio sem
ela e que a peça e eu somos uma só, a joia Cavalli, o verdadeiro tesouro... sou
eu. Os jornais e noticiários se divertem com isso e meu marido gosta. É uma
dessas pequenas coisas que o fazem feliz. Minha assessora de imagem, cujo
nome não sei, manda meus looks com várias opções de sapatos e casacos
para esse tempo frio. Os vencedores são os de Giuseppe Zanotti italianos
brancos com detalhes dourados e meus cabelos soltos em ondas.
— A joia Cavalli — sussurra Hannah. E, não, não se refere ao diamante
no meu pescoço, é a forma como a imprensa decidiu chamar-me. Sou o
adorno chamativo de meu marido, muitos poucos ressaltam meu trabalho no
orfanato, para todos sou a mulher perfeita para meu marido.
— Meu segurança está lá embaixo — declara Dalila —. Nós nos
encontraremos em breve?
— Sim, — responde Hannah dando-lhe dois beijos —. Preciso de um dia
de álcool e meninas conversando.
— Reservarei uma mesa — concedo. Fazemos isso de vez em quando,
bebemos e conversamos sobre qualquer coisa em um dos restaurantes da
famiglia.
Capítulo 04

— Graças à minha esposa a quem respeito profundamente... —


Desconecto das palavras de meu marido, em seu discurso, levantando a taça
de champanhe com um sorriso falso e discreto.
A sala vibra em aplausos. Os homens mais ricos dos Estados Unidos no
novo cassino de meu marido, onde sou oficialmente nomeada como gestora.
Roth, impassível, fica ao lado de Dominic, sem piscar com a mentira que
meu marido conta. Quando os olhares sobre minha pessoa finalmente se
voltam para outro lugar, bebo o líquido restante da minha taça, gesticulando
para um dos garçons. Quero que a noite termine, sair dessa falsidade e meter-
me em minha cama o mais rápido possível. Não posso acreditar quanto
cinismo uma pessoa é capaz de abrigar por dentro.
Seu discurso termina e ele é cercado por um grupo de homens elegantes de
terno. Aproveito a oportunidade para fugir das máquinas caça-níqueis, da luz
fraca e da música suave.
Caminho entre as pessoas com Nick, meu segurança, atrás de mim,
algumas vezes Raze se encarrega de me proteger, mas ultimamente Nick é
quem tem essa responsabilidade. Subo até o segundo andar, direto para a
varanda que dá para a pista de corrida de cavalos.
Está aceso apesar de não estar em funcionamento. Respiro com
dificuldade, acalmando meu coração acelerado e tirando algumas mechas do
meu cabelo loiro do rosto, tomando minha taça número seis de champanhe.
Um ano atrás minha vida era completamente diferente, no meu aniversário
anterior, 21 de novembro, estava no meu antigo apartamento assistindo uma
maratona de vampiros, comendo asinhas de frango picantes, Coca-Cola com
muito gelo e Valerie ao meu lado, rindo das ocorrências de Lafayette.
Ela não era uma boa amiga e os deuses sabem disso, mas tinha seus
momentos e que nesse meu aniversário foi um deles. Era feliz e não sabia
disso, também vivia uma mentira. Nunca estive a salvo deste mundo.
— Preciso algo mais forte. — Suspiro na beira da varanda em construção,
sem grades.
— Para uma mulher que acabou de fazer vinte e um anos, está bem
familiarizada com o álcool — diz uma voz desconhecida. Viro assustada,
recuando dois passos. Suspiro ao encontrar um rosto e figura desconhecida e
estou prestes a voltar um pouco mais, quando o homem envolve minha
cintura e me leva até seu peito —. Não deveria procurar mais perigo.
— Quem é você? Solte-me — demando empurrando-o. O homem sorri,
afrouxando os braços e me soltando. Nick, que viu tudo em primeira mão,
vem até nós. Aceno com minha mão em negação, não podem proibir-me de
compartilhar algumas simples palavras.
— Esta é uma área proibida — informo ao estranho.
Ele afirma sem perder o sorriso.
— Será este o camarote particular de seu marido? — questiona. Mesmo
depois de cinco meses, fico um pouco surpresa quando as pessoas me
reconhecem, isto devido às fotos magicamente filtradas em diferentes meios.
— Não, meu marido gosta de estar perto da adrenalina.
O homem alto e ereto, no estilo do meu marido, não perde o sorriso, mas
seu olhar vacila.
Sua tez bronzeada, vestida com um terno azul escuro e camisa branca por
baixo, seus cabelos com um corte militar me faz lembrar o ator Will Smith,
só que com a pele mais clara. Dominic me treinou para nunca dar sua
localização exata ou possíveis lugares que visite regularmente. Este camarote
será destinado aos seus convidados VIP, o do meu marido se encontra no
terceiro andar do cassino, com câmeras de segurança integradas em cada
canto de toda a propriedade.
— Sra. Cavalli, devemos voltar para a festa — sugere Nick.
— Traga uma garrafa de champanhe e duas taças, Nick — ordeno. Odeio
o pavor que todos têm de Dominic, como se beijassem o chão que meu
marido pisa.
— Senhora...
— Agora — demando, pisca duas vezes antes de se virar para atender
minha ordem. Os homens devem começar a aprender a seguir minhas ordens.
— A senhora deveria voltar à festa, nãos seria de bom-tom ser vista
sozinha comigo aqui — diz o estranho.
— Eu decido o que é bom ou ruim, senhor...
— Rawson.
— É um prazer, Emilie.
— Emilie Cavalli — murmura.
— Sim, Emilie Cavalli.
— Você não precisa fingir felicidade comigo.
— Sou uma mulher felizmente casada, por que devo fingir?
Minha voz vacila, porque passo uma imagem falsa para o público em
geral.
— Você não ama seu marido, sou um bom observador.
É aí onde se engana, certamente, não amo meu marido intensamente, mas
parte de mim está vinculada a Dominic Cavalli mais do que um casamento
forçado, tenho sentimentos de ódio, tenho que igualar essa parte ingênua,
essa que acreditou em suas palavras e em cada mentira. Oh, essa garota que o
ama com uma força devastadora. Essa garota que se sente magoada e ferida,
ela nunca levou a sério os avisos contínuos de meu marido. Dominic estava
no comando desde o início, para me alertar sobre uma série de situações;
seria sua esposa, ele é dono de toda a cidade, além de outros estados que
estão sob seu poder, sem contar a guerra silenciosa na Sicília, da qual meu
marido pensa que não tenho conhecimento. Ser pequena tem suas vantagens,
aprendi a infiltrar-me sorrateiramente pela cobertura para ouvir certas
conversas secretas em seu escritório.
— Ele não me conhece — respondo mal-humorada. Encurrala meu corpo
e dou um passo para trás, olhando sobre meus ombros o quão perto estou da
borda.
Não tenho como retroceder mais quando o homem avança outro passo
cheio de confiança. Don o matará por respirar meu ar.
— Eu a conheço, Emilie Greystone, pelo menos sei tudo sobre o seu pai e
sei quem é o seu marido — declara levantando a mão e tentando tocar minha
bochecha. Adotando a frieza de Dominic, eu o olho desafiadoramente, quem
ele pensa que é? Uma cópia barata do meu marido?
— Todo mundo conhece meu marido, sua vida é de domínio público e
quando aceitei ser sua esposa, minha vida se tornou pública. Todo mundo
sabe sobre o meu falecido pai, a minha mãe que está em um hospital
psiquiátrico e um irmão milionário que é dono de uma das marcas mais
reconhecidas de venda de automóveis, onde está o segredo? E o recomendo
que retroceda nesse instante ou...
— Ou o quê? — insiste, desafiando-me —. O milionário Cavalli mandará
seus homens buscar meu cadáver?
São palavras destinadas a causar algo em mim, mas continuo olhando-o
impassivelmente. Não, Don cuidaria pessoalmente de enviá-lo para o outro
mundo.
— Meu marido não é um assassino. — A convicção em minha palavras
me deixa zonza, sei o que faz pelas noites e em algumas ocasiões ouço certas
notícias muito conectadas ao mundo da máfia, tais como encontrar quatro
corpos com o L gravado em seus peitos, destruídos ou de confrontos em
Staten Island de algumas vans não identificadas, ou melhor, o corpo de Igor
Kozlov na noite após meu casamento, deixado na metade da estrada 95
quando se encontraria com meu marido, que estabeleceu um pacto com
Vladimir, levando-me assim até a entrada direta com o novo chefe da máfia
vermelha.
— Tem certeza disso? Sei que o odeia, sei também que foi obrigada a se
casar contra sua vontade. Tenho a chave de sua liberdade, se a quiser me
procure.
— O quê…?
— Cavalli estará aqui em apenas um minuto — avisa, um segundo mais
tarde seus braços envolvem minha cintura e me leva ao seu peito novamente,
seus lábios em minha boca. É apenas um tênue instante de hesitação devido a
comoção da surpresa, só posso gritar, então a memória do meu marido traidor
passa pela minha mente e aquela voz maliciosa me diz para aceitar o beijo
ainda não recebido e lhe mostra a Don a cara feia da traição, mas meus
princípios sempre venceram sobre qualquer ato. Levanto minha perna direita
com força para atingir suas bolas e quando este se curva gritando de dor, abro
as palmas de minhas mãos e empurro seu peito, por estar muito perto da
borda quando percebo, o homem em sua dor estende uma de suas mãos
pegando as minhas e puxando meu corpo em direção à parede. Grito
interpondo minhas mãos e me movo rapidamente graças ao treinamento que
tive com meu marido, quando nesse momento vejo Dominic caminhando em
minha direção com uma expressão férrea, seus olhos observam meu corpo,
então olha para o homem curvado sobre si mesmo a quem Nick o cerca, uma
mulher desconhecida entra chorando e caindo de joelhos ao lado do meu
agressor.
— Você está bem? — questiona meu marido.
Os olhos castanhos do desconhecido me olham.
«Tenho a chave da sua liberdade».
— Emilie, o que está acontecendo aqui? — rosna.
— Estava prestes a cair e este homem me ajudou — minto olhando ao
mencionado —. Precisava tomar um pouco de ar.
— Gostaria de saber, Sr. Rawson, por que está encurralando minha esposa
em particular? Se continuar importunando serei obrigado a entrar com uma
ordem de restrição contra sua pessoa.
Phils Rawson — agora sei como se chama —, permanece curvado,
incapaz de dizer uma palavra, a garota que reconheço como a encarregada do
design de interiores do cassino, seus olhos se arregalam. Sei que todos os
colaboradores que não pertencem à famiglia assinam acordos de
confidencialidade. Ela solta Luc endireitando-se e olhando para meu marido
com extrema cautela.
— Sr. Cavalli, eu...
— Você está despedida, Estela — assovia Don —. Cuide dela, Nick.
Você está planejando matá-la? Assim? Sem mais nem menos? A garota
tem que acreditar na mesma coisa, porque só falta que comece a chorar
compulsivamente, no entanto, ela golpeia a cabeça de Phils com força antes
de ser escoltada para fora por Nick.
— Não quero vê-lo perto da minha esposa, Rawson. Se eu fosse você,
manteria a porra da distância.
— Está ameaçando um agente do FBI? — pergunta, retomando sua
postura enquanto respira com dificuldade. FBI? Ordem de restrição? «Sei
quem é o seu marido». Ele é um detetive, como poderia ajudar-me...? Oh,
Merda.
— Dominic... — suspiro, agarrando-me em seu antebraço.
Está prestes a perder sua postura fria e atacar o homem, onde diabos está
Roth?! Conheço a parte explosiva de Don, sei que às vezes a raiva cega suas
decisões e temo que esta seja uma dessas vezes, sem Roth para impedi-lo, o
medo se instala em meu peito.
— Não vale a pena, querido. Leve-me para casa, por favor.
Não uso palavras afetuosas com ele, de fato, Dominic é quem continua a
me chamar de pequena na intimidade do nosso quarto, além disso, apenas
usamos nossos nomes ou fazemos referência ao nosso estado civil. Esse
tratamento afetuoso não faz meu marido se mexer, ele está cerrando os
punhos cada vez mais.
— Não perca o controle, seja o homem que eu conheço. Dê um passo
para trás hoje e amanhã avance quatro — rosno em italiano, cravando
minhas unhas em seu antebraço. Minhas palavras chamam sua atenção, Phils
no chão me olha com novos olhos, acho que não conhecia minha nova
linguagem em sua investigação, «então não é tão bom em seu trabalho». Meu
marido recua, nesses cinco meses é a primeira vez que se guia pelas minhas
palavras.
Eu o odeio, mas ninguém pode machucá-lo, esse direito só pertence
exclusivamente a mim. Respira várias vezes antes de mostrar aquele sorriso
sinistro.
— Eu o quero fora da minha propriedade imediatamente, não é bem-vindo
em nenhum dos meus estabelecimentos. Afaste-se, Rawson, antes de que eu o
arrebente e isso é uma porra de ameaça, caso tinha dúvida.
Meu marido me conduz para fora do camarote privativo, olho por cima do
ombro para o desconhecido. Ele não deixa de me olhar enquanto me afasto,
«procure-me». Gesticula com os lábios.
Don ordena que o segurança escolte Phils para fora e disca o número de
Roth, furioso, este último não responde. Cansada, olho ao redor e vejo Nick
de volta.
Como aquele homem pode-me ajudar? Você quer a cabeça de Dominic?
Claro que sim, tenho certeza que metade do mundo quer meu marido debaixo
da terra, inclusive eu? Não sei, sinto ódio e raiva dele, mas não consigo
imaginá-lo morto... Esse homem pode ser um aliado na minha causa, mas
quero confiar em suas palavras, Don merece tanto ressentimento...?
Continua ocupado preocupando-se com Roth, seu braço direito, eu me
afasto de Nick pedindo-lhe para que me leve para casa. Esta noite acabou
para mim, atuei como se esperava, os jornalistas têm as fotos do casal
perfeito. Dominic precisa lidar com sua gente e tem sido um dia cansativo,
não avancei nada com as minhas reais obrigações. Não me importa ser a
imagem do cassino, pois deixa claro que as crianças e adolescentes do
orfanato têm tudo de que precisam ou que esta noite alguma mulher abusada
se refugiou em um dos abrigos, para mim, Cavalli pode ficar com seus
amigos ricos e fingir perfeição a noite toda.
— Onde diabos pensa que vai? — questiona, agarrando meu antebraço
com força.
— Quero ir para casa.
— Você não vai a nenhum lugar sem mim — sentencia —. Voltará para o
cassino e me verá jogar. Iremos embora quando eu quiser.
— O que aquele homem quer de você?
— Acha que este momento é uma boa hora para falar sobre isso? Todo
mundo está olhando para nós.
E tem razão, por isso que não respondi como se deve às suas malditas
ordens e em troca lhe toco seu peito aproximando-me de seu corpo, para
quem nos olham apenas temos um momento de intimidade, o casal do ano
demonstrando união.
— Quero ir para casa, ligue para Roth. Ele pode ficar no comando.
— Não sei onde diabos ele está, volte para dentro. Agora, Emilie.
Mostrando meu sorriso falso, aceno, ele sabe que é apenas uma mostra de
minha fúria interior. Don joga blackjack enquanto fico ao seu lado, nunca
mais me sentei em seu colo, prefiro manter distância. Os outros homens
enchem a cara de álcool grátis, cortesia da casa, dois deles são senadores e
outro me parece vagamente familiar. Cavalli ganha vários jogos sempre
olhando para o celular o tempo todo, assim duas horas se passam e Roth não
aparece. Começo a ficar um pouco preocupada, mas Dominic fica cada vez
mais tenso.
Não consigo parar de pensar no homem do camarote, de suas palavras, «a
chave da minha liberdade». Sabe quem sou, não só devido a informação
pública, mas sabe porque está investigando Dominic. O champanhe começa a
me deixar meio tonta, continuei bebendo entre seu jogo e os meus
pensamentos, se fosse uma noite qualquer já estaria em casa, mas hoje
Dominic se empenha em me ter ao seu lado.
Depois de alguns minutos um dos homens sai conformado com o fato do
meu marido ser muito bom no jogo, a fumaça de seu charuto chegou a ficar
um tanto agradável, agora compreendo mais de onde desprende esse cheiro
de especiarias picantes, confere mais uma vez o celular e vejo um tipo de
aplicativo estranho com luzes piscantes, duas delas estão reunidas e outras
duas se encontram em lugares opostos, «que merda é isso? Ao olhá-la, sua
coragem só se intensifica.
Desta vez, ele perde a partida e tenta sorrir educadamente, disfarçando
suas emoções aparentemente ferozes. Oh, acho que o Nikov mais velho está
com problemas. Ele sai da partida e sinaliza aos soldados, um deles se
aproxima para receber ordens e sou recompensada quando anuncia nossa
despedida. Não saímos pela porta da frente que, certamente, está cheia de
jornalistas esperando por fotos exclusivas dos homens ricos dentro do
cassino. Saímos pelo estacionamento subterrâneo e deixamos as instalações
pela porta projetada para meu marido, que nos leva diretamente à
interestadual.
— Coloque os pés no meu colo — ordena ele. Suspiro fazendo o que ele
me diz. Nunca falamos, de nada adianta perguntar se no final não confiarei
em sua palavra.
Silenciosamente, tira meus sapatos e massageia meus tornozelos, se não o
conhecesse, acharia que era um marido atencioso. Nick dirigindo a limusine
nos dá privacidade fechando a divisória de vidro.
— Quem é esse homem?
— Você já sabe, Phils Rawson, detetive do FBI — responde sem parar de
massagear minha pele com seus dedos longos.
— Achei que tinha comprado a polícia.
— Mas comprei. — Sorri de lado na escuridão —. Sempre vem um ou
outro que quer fazer o bem, como se isso fosse possível.
— Não acredita no bem? — aventuro.
— Conheci uma garota meses atrás que me disse que este mundo estava
cheio de merda. Não, não acredito no bem... Mesmo que tente ser bom, a
escuridão sempre o alcança. Você é o exemplo vivo disso. A mulher que
corrompi e não só no corpo — diz subindo sua mão na minha perna, quase
chegando ao início da minha calcinha —. Você, mais do que ninguém,
deveria saber que o mal é muito mais poderoso do que o bem, não acha?
— Por que não o parou?
— Ainda não encontrei seu ponto fraco, não tem família, não tem
namorada, não tem laço algum...
— A quem pode ameaçar.
— É um homem solitário — murmura.
— E não tem preço? Todos nós temos um, certo? Veja bem, já tive meu
próprio preço.
— Não a comprei — responde, deixando de me tocar —. Não é uma
prostituta.
— Sinto-me assim quando me ordena a ficar em um lugar que não quero,
como um objeto decorativo.
— Gosto de tê-la ao meu lado quando jogo.
— Para mim é como se não estivesse na minha vida. Nem todos temos o
que queremos.
O silêncio se estende, tira meus pés de seu colo.
Odeio terrivelmente essa guerra constante de palavras... Era isso que
queria evitar, sentir-me enjaulada acarretando uma série de discussões, às
vezes sem sentido, a palavras ofensivas. Ele tenta ficar em silêncio e respeitar
meu espaço tanto quanto necessário.
Não sei quando isso mudará ou se nosso relacionamento melhorará. A
união italiana só se rompe com a morte, estarei ligada ao meu marido até que
um de nós deixe este mundo, nem antes, nem depois.
Assim que chegamos, para minha surpresa, Dominic sobe comigo à
cobertura, geralmente desaparece com Roth que hoje está ausente e retorna
várias horas mais tarde, ao amanhecer. Está concentrado em enviar
mensagens pelo celular, pelo jeito como o usa deve estar irritado, comigo?
Com Roth?
Quando as portas se abrem, vou direto para o meu quarto, mas meu
marido decide fazer-se notar.
— Fale comigo — exige, parando-me antes de avançar às escadas. Ele não
grita comigo, desde que nos casamos —. Se você não falar, nunca
resolveremos isso.
«O que…?».
— Resolver? Falar? — perguntei cerrando os dentes, a bolsa em minhas
mãos sendo retorcida —. Que merda devemos conversar, Don?
— Itália, por exemplo. Vamos encontrar uma solução, Emilie. Dormir em
camas separadas, não falar um com o outro durante o jantar ou foder como
idiotas claramente não consertará isso...
— A meu ver, “isso” não existe.
— Você é minha esposa.
— Porque um pedaço de papel diz isso, porque me forçou.
— Droga, Emilie! — assovia perdendo sua máscara de tranquilidade, seu
punho golpeia a parede —. Estou tentando ser paciente, adaptar-me à nossa
situação, mas você dificulta e eu sinceramente cansei de jogar em seu
tabuleiro, Emi. Então, comece a ser a mulher que espero que seja ou
conhecerá o filho da puta que levo dentro de mim.
— Oh, eu já o conheci, querido, você se lembra da Itália? A vagabunda da
Katniss em seu colo quando meu calor não tinha esfriado em suas pernas?
Você se lembra disso, Don? Não se engane, foi você quem falhou, foi você
quem estragou tudo. Estava disposta a ser sua e você me apunhalou primeiro.
— Eu lhe disse que não foderia nenhuma prostituta.
— E por que acha que devo acreditar em você agora?
— Porque eu dizendo!
— O mesmo homem que me disse que não tinha fodido aquela prostituta!
O mesmo homem que estava apenas jogando! Você não tem palavra,
Dominic! — grito jogando minha bolsa em sua cara, mas ele é muito mais
rápido e se move do lugar —. Você acha que foder essa mulher o faz ser um
bom Capo? Um homem melhor? E que devo perdoá-lo só porque é meu
marido? Transo porque me dá vontade!
Sem percebermos já estamos um do lado outro, seu rosto contorcendo-se
de raiva, respirando-me na minha testa. Meus saltos quase nos deixam com a
mesma altura. Sua mão com os dedos machucados, pingando sangue, agarra
meu antebraço com força. Meu vestido dourado manchado com a tinta de seu
sangue.
— Você acha que fui um filho da puta na Itália por beijar Katniss? Não
tem a mínima ideia das merdas que já fiz, que faço diariamente, assassinar a
porra do detetive com minhas mãos e desfrutar de uma porra de uma ereção
ao vê-lo morrer. Oh, isso é parte do filho da puta que seu marido é e não se
engane, Emilie, posso tê-la forçado a ser minha noiva, mas antes disso era
você quem me pedia aos gritos para enterrar meu pau na sua boceta.
— Desgraçado…!
Tento dar-lhe uma bofetada, mas mesmo tentando é um ato estupido. Sua
mão esquerda me detém no mesmo instante.
— Essa noite no bar... na manhã seguinte me teria deixado fodê-la, se eu
não recuasse. Eu a avisei de diferentes maneiras que não era um homem para
você. Queria afastar-me mais de uma vez, e você voltou, Emilie, cada vez
mais forte... Isso é tudo de bom que existe em mim e destino ou não, você
está aqui, viva, compartilhando minha casa, é melhor começar a compartilhar
tudo.
Não esperarei mais por você... Você tem um dia para sair do seu quarto e
ocupar minha cama.
— E se eu não fizer isso, o que fará?
— Quer desafiar-me? Você acha que ao brigar comigo mudará a direção
dos meus desejos e ordens? Você me pertence.
— Não sou uma porra de um móvel.
— Inferno, claro que não, se fosse, estaria na minha cama com essa boca
deliciosa preenchida com meu pau. Um dia, Emilie. Um único maldito dia.
Ele me solta e recua, pronto à espera de uma luta. Ah, mas aprendi como
jogar minhas batalhas e quais guerras provocar. Esta não é uma delas, não
com tanto em jogo. Ele sorri, satisfeito com minha docilidade. Antes que
possa fazer qualquer coisa, subi a escada. Meu vestido era um desastre de
sangue e o mármore branco. Minha bolsa brilha no chão, eu a agarro,
vasculhando dentro, encontro a tela quebrada do meu celular. Ótimo, mais
alguma coisa? Claro, sempre sou privilegiada. Nonna entra no quarto e vê a
minha desgraça, por um segundo, ela hesita se deve voltar ou ficar onde está.
— Seu garoto estragou meu vestido e o chão — digo em italiano, olhando
para a tela quebrada —. Cuidarei da bagunça, e vá descansar.
— Quer um chá, senhora? — pergunta. Sem mais delongas, ela se vira na
direção da cozinha. Um chá tornaria minha vida muito mais fácil, talvez
devesse dizer, ou à noite, principalmente, depois do ultimato de meu marido.
Guardo o sarcasmo na minha mente, nonna não merece. Por Deus! Deixo
meu telefone celular inútil na mesa central, junto com minha bolsa e tiro
meus sapatos, Marcela se encarrega de me trazer um chá com especiarias
italianas, limpo a sujeira de sangue. Então, satisfeita com o cheiro de limpeza
a acompanho na cozinha, uma xícara repousa sobre a bancada ao lado de um
copo de leite frio e um pequeno recipiente cheio de doces. Ela sempre o
agrada.
— Eu não entendo — sussurro, apontando para os itens —. Ele é uma
pessoa má.
— Sim — concorda, desequilibrando-me —; mas meu coração se lembra
de um menino, correndo para se esconder em minhas roupas.
— Escondendo de quem?
— Do mundo, senhora. Meu garoto vem escondendo-se do mundo há
muito tempo.
— Não consigo imaginar isso — comento dando meu primeiro gole da
bebida quente.
— Não é uma boa esposa — afirma, fazendo-me endireitar minha coluna
—. As italianas obedecem, ficam caladas, muitas choram pelos cantos. Você
não obedece, não chora para que não a veja... Ele não precisa de uma boa
esposa, mas uma mulher forte, mas há muito ódio dentro de você para olhar
além disso.
— Não estou magoada, nonna.
— Ah, você está. Seu coração apodreceu de amargura, isso lhe fará bem.
Você acabará se machucando, não o meu garoto.
— Disse palavras bonitas que acreditei... Ele fez...
— Todos falam bem — comentou, descartando-o com um passe de
mágica —. Mostre-lhe que falar bem não é o suficiente.
— Como faço isso?
Meu marido decide entrar na cozinha nesse momento. Por alguns
segundos sinto seu olhar em mim antes de beber seu leite sem dizer obrigado
ou por favor, toma o líquido rapidamente e deixa o caramelo de lado. São
pequenos detalhes que me fazem lembrar que é uma pessoa, humana e talvez
em algum ponto remoto... com sentimentos. Marcela acena com a cabeça,
como se comunicassem em silêncio.
Ela o ama, tentar descobrir algo sobre Dominic com ela é como tentar
dizer a uma mãe que seu filho é um ladrão, ela o defenderá com unhas e
dentes, mesmo tendo evidência em seu rosto. Não adiantará, sendo assim,
afasta a xícara assim que termino de beber o líquido, desejo boa noite aos
dois e subo ao meu quarto, meu canto de paz, no qual meu marido decidiu
que só tenho mais um dia para usar. Sim, como não. É hora de jogar no meu
tabuleiro, Dominic. Eu sou a rainha e estou na liderança, tenho seu próprio
peão ao meu lado. Xeque-mate, bebê.
Capítulo 05

O orfanato é uma distração, conecta minha mente ao o que eu era no


passado. Ajudar e servir aos outros de alguma forma me traz paz e bem-estar.
Dominic nunca interfere nas minhas horas comunitárias, na verdade, ele é
extremamente favorável à causa. A Madre Superiora encontrou novos aliados
e voluntários, temos duas professoras que dão aulas às crianças, uma médica
que vem uma vez por semana para monitorar as mulheres que chegam
abusadas física ou emocionalmente.
Temos um caso particular muito delicado, uma garota italiana... Ela é um
caso à parte, pois tem dificuldade em se comunicar com os outros, vive
isolada em seu próprio mundo, só sai algumas vezes para pintar rostos
sombrios e tenebrosos. Ontem à noite tentou suicidar-se, esta é a segunda
vez, os paramédicos chegaram a tempo e por sorte não acabou sangrando no
chão do quarto.
Não sei o que fazer com ela, como tratá-la... Ajudá-la. Por enquanto vigio
seu sono grande parte do dia até a hora de ir embora, mas antes retiros os
cachos loiros curtos e delicados de sua testa, quando a conheci os tinha mais
longos, mas agora são apenas fios desiguais graças a uma tesoura que
encontrou na primeira vez que tentou o suicídio.
— O que tanto lhe atormenta? — pergunto. Está acordada, mas gosta de
fingir que está dormindo para se isolar em seu mundo —. Deixe-me ajudá-la.
Chego a suplicar-lhe, pois é uma criatura triste, ainda na adolescência, o
que será que aconteceu para estar assim?
— Escuro... — sussurra. Tenta falar em inglês com esse sotaque
melodioso e romântico. Sorrio, sem dúvida é um grande avanço.
— Escuro?
— Cabelo, escuro…
— Você quer pintar seu cabelo? — pergunto, inclinando-me até a cama.
Seu quarto está igual ao seu humor, triste, com as janelas fechadas e seus
desenhos a carvão e suas roupas largas e compridas.
— Sim, pintar.
— Bem... — Penso em recusar, porque seu cabelo é um belo loiro
dourado, mas é seu único avanço e não quero vê-la retroceder. Pintar o cabelo
em algum momento pode ser um recomeço, uma mudança —. Comprarei
uma cor escura e o pintaremos na segunda, o que acha?
— Gostaria de pintá-lo hoje — diz em italiano, pela primeira vez olhando
diretamente nos meus olhos. Puxa as mangas para cobrir a bandagem
cirúrgica.
Amaldiçoo em pensamento, pois hoje será impossível, tenho que fugir de
Nick e pegar um taxi para ir até o edifício do meu aliado. Preciso obter toda a
informação possível de Phils Rawson e como conseguir minha liberdade.
— O que você acha se saio por alguns minutos e compro sua tintura? Tudo
bem pra você? — indago em seu idioma, facilitando nossa comunicação.
Concorda, olhando-me com esses olhos multicoloridos. Tiro várias
mechas de seu rosto.
— Será um segredo nosso, ok?
— Sim, — concorda, retraindo-se. Afasto-me e saio de seu quarto, mas
sem antes de dar-lhe uma segunda olhada, observando como a tristeza e a
desesperança a cobrem. Ela me lembra Isabella Cavalli, a mulher das pinturas
na Itália.
Não há muito o que eu possa fazer por essa garota, exceto pedir ajuda à
Madre Superiora para conseguir uma tintura e sua descrição em minha
escapada, como no tenho mais meu telefone celular graças ao meu ataque de
fúria na noite anterior, isso me dificulta saber onde Dominic está. Saio pela
porta dos fundos atravessando o jardim. O fato de Nick se distrair com as
crianças não percebe minha ausência, pois pensa que estou cuidando da
garota, Britany, como decidiu chamar-se.
Abro a porta de serviço e verifico os dois lados antes de atravessar a rua,
meu casaco e óculos escuros me cobrem o suficiente do frio ou de algum
paparazzi ou investigador inimigo. Alguns quarteirões depois, pego um táxi
em direção à oitava avenida, onde já me está esperando uma pessoa. Quando
o táxi para diante do edifício, dois homens vestidos de ternos escuros e com
um pequeno aparelho no ouvido me recepcionam. Abro a janela e eles
cumprem o objetivo de me cobrir saindo com um guarda-chuva. Ser
fotografada ao entrar no prédio não seria nada agradável, não quero imaginar
as coisas horríveis que Dominic poderia fazer comigo apenas por descobrir.
— Permita-me seu casaco, senhora.
— Obrigada.
— O senhor já a espera, como sempre na suíte.
Assinto ao entrar no elevador, eles se afastarão até serem avisados de
minha saída e voltarão aos seus postos. Por enquanto, precisamos de
privacidade. As portas duplas se abrem para a suíte presidencial, um belo
arranjo de orquídeas violetas na mesinha de centro, coloco minha bolsa em
cima e caminho em direção à sala de jantar, onde com certeza está sentado
sentindo-se o homem mais importante de Nova York, mas está enganado,
porque essa posição é exclusivamente do meu marido e, em breve, talvez de
quem se sente do outro lado da mesa.
— Está atrasada — rosna sem tirar os olhos de seu laptop.
— Você tem o que quero? — questiono, isso me traz um meio sorriso.
— Direto aos negócios, eu gosto disso.
— Você é um homem ocupado, não quero tomar muito seu precioso
tempo — ironizo.
— Você não toma meu tempo, pelo contrário.
— Onde ela está?
A careta de desagrado se intensifica e se levanta bruscamente de seu lugar,
caminha até o minibar da suíte, não me movo, espero pacientemente que se
sirva três dedos de vodka. Fico muito satisfeita, como sempre, com sua
educação ao me servir uma taça de vinho, a qual aceito de bom grado. Seu
cheiro excessivamente forte e viril não é um dos meus favoritos, então recuo
e caminho até a varanda. Gosto de olhar a cidade deste ponto ou da cobertura,
porque me dá uma sensação vertiginosa de autoridade absoluta sobre todos.
O ar nesta altitude é muito mais frio.
Saboreio um pouco do meu vinho, deliciando meu paladar. Uma pasta de
papel manilha entra no meu campo de visão, tem uma pequena foto anexada
ao arquivo. Rawson, um famoso e condecorado agente do FBI.
— Por que quer saber sobre ele? — Vladimir Ivanov pergunta atrás de
mim, seu corpo musculoso quase em cima de mim.
— Suspeito que será útil para mim em algum momento.
As folhas não mostram muito, nasceu em Nova York e viveu sua infância
em lares adotivos, tem pequenos crimes por brigas de rua, entrou no serviço
militar aos dezoito anos, formou-se com honras e foi trabalhar para a polícia
dois anos antes de entrar na academia do FBI. Sem família, sem apego a
nada. É um fantasma.
— Isso não me diz nada — lamento.
— As lutas da rua — diz rodeando meu corpo e parando diante de mim,
ele tenta levantar para apoiar meu queixo, mas eu me afasto. Sorri meio sem
graça, sempre sorri quando sente de alguma forma a minha rejeição.
— O que é que tem?
— Ele tem a idade de Cavalli, talvez eles tenham lutado juntos naquela
época?
Volto a verificar esse detalhe, é certamente a mesma idade. Ele era menor
de idade quando foi preso quatro vezes por brigar.
Eles se conhecem? Eles lutaram entre si? O que Phils está escondendo?
— Venha comigo para a Rússia. — «De novo não», imploro internamente.
Fechando os olhos, nego, não se trata de um lugar, mas de cumprir meu
objetivo —. Se você me pedir, eu o matarei por você — sentencia.
— Mas não é algo que lhe quero pedir, Vlad. Você sabe, matar Dominic...
Que sentido teria isso?
— Sempre diz isso, porque não o quer ver morto!
— Acabei de me casar, sou muito jovem para ficar viúva.
— Não é isso — rosna, pegando minha taça. Em um movimento rápido,
sua mão esquerda envolve meu pulso, parando-me enquanto procura por
alguma merda no meu olhar —. Você o ama, você ama esse filho da puta.
Não pisco quando o olho e libero meu corpo de toda essa tensão,
desafiando-o a continuar, mas ele desiste, afastando-se, liberando-me de suas
mãos. Levanto minha mão dando-lhe uma bofetada, porém meu anel de
compromisso corta seu rosto, marcando uma de suas cicatrizes.
— Sem mim, Dominic o mataria antes que abrisse a boca. Dei-lhe a
conexão da paz com a Sicília e lhe consegui uma italiana linda e dócil que
tem a responsabilidade de aquecer sua cama. Nunca mais coloque suas mãos
em mim, Vladimir. Nunca mais, entendeu?
Viro o rosto, apertando as mandíbulas. Tenho um segredo, é parte do meu
plano. Meu peão no jogo, mas não é o rei. É descartável.
— Você me deu uma mulher que não quero, além disso me fez aliar a um
homem que odeio por ter o que quero. Poderia dar-lhe tudo, por que não
consegue entender isso, senhora? Por quê?
— Não preciso de um homem que me dê tudo, quando posso conquistar
tudo por conta própria.
— Isto é a máfia, uma mulher nunca governará.
Isso me faz sorrir descaradamente.
— É tarde demais para isso, não é mesmo? Aparentemente, eu já governo
entre as sombras.
Fico calada olhando para o horizonte e deixando a taça ao lado. Eu criei
Vladimir, conhecendo seu maior temor e usando-o a meu favor. Ele odeia
Don, tanto ou mais do que eu, mas ele o inveja. A máfia é perigosa e ao
mesmo tempo um jogo para crianças, querem o brinquedo do outro, o poder e
os bens do outro, mas Vladimir se engana em algo.
Nunca será como Cavalli. Dominic não é apenas um Capo, não, ele é um
negociador. Ele protege vários cartéis, tem sob seu poder homens de
considerável prestígio político, ganhou a confiança de chefes do alto escalão
dos Estados Unidos, Itália, Alemanha e até da Rússia. Meu marido não só
transporta drogas, sua especialidade é fazer você acreditar que ele o protege
do inimigo e o convence de que o protege de você mesmo.
É um jogo de poder, onde mantém uma contagem cautelosa e estratégica
dos outros, exceto do meu. Fingi muito bem o meu papel de esposa, aqueço a
sua cama, satisfaço certas exigências e só dou a minha opinião sobre os
negócios como pequenas gotas em um mar agitado. Lentamente, injeto a
ideia, então a executo calmamente.
Dominic possui a rede do maior mercado negro, que opera sob o nome de
«A Ordem». Políticos, advogados, agentes da CIA e do FBI estão sob sua
jurisdição e mandato, por isso não entendo totalmente como um agente de
uma categoria tão baixa possa tornar-se um obstáculo no futuro do meu
marido; deve haver uma conexão que não estou conseguindo enxergar, algo
que está oculto na mente escabrosa de Dominic Cavalli. Algo que papéis
nunca poderão dizer, mas que meu marido compartilhará comigo na cama.
— Quando você me procurou e me disse que me daria meu maior desejo
não pensei que era isso. Eu a quero, não a insípida Dalila. Quero uma mulher
de caráter forte ao meu lado, ou seja, você. Como pode amá-lo? Não consigo
entender e, o que é ainda melhor, se você o ama, por que quer acabar com
ele.
— Essa é a graça de tudo, acabará quando eu quiser. Nem antes, nem
depois, será do meu jeito.
— сумасшедший американец![4] — amaldiçoa em sua língua.
— Odeio que me falem em outro idioma, deverei aprender russo também?
— Não pode lutar contra Bratva e Sicília. Nunca vencerá.
— Bratva é sua, não estou interessada... Só quero ver Sicília cair, quero
todos os seus homens apontando-lhe como o pior Capo da história, quero ver
seu mundo reduzido aos esgotos desta cidade.
— E depois, o quê? — questiona.
— Ainda não cheguei nessa parte — admito.
— Bem, eu lhe direi. O ressentimento a afogará, alguém surgirá em seu
nome, provavelmente, seu braço direito, Nikov. Ele governará e controlará
soldados e subchefes. Ele já fez isso no passado, ele uniria a famiglia.
— Do que está falando? Por que Roth se uniria a famiglia? — pergunto,
essa é uma informação que não possuo, o que mais Cavalli esconde?
— Destruir Dominic inclui acabar com Roth Nikov. Eles são um só.
Roth Nikov é minha própria fraqueza, nunca pensei em machucá-lo. Não
consigo conceber a ideia sem que algumas lembranças do passado surjam em
minha mente.
— Tenho que ir — aponto, afastando-me alguns passos.
— Sabia que Quintero está na cidade? — fazendo-me parar. Vendo meu
rosto, ele continua —: Cavalli se reunirá com ele e me pediu para estar
presente. Suponho que tenha escondido este fato de você.
— Um pouco — rosno —. Onde se encontrarão?
— Enviarei um dos meus homens para você antes da meia-noite.
— Caso faça alguma estupidez...
— Nunca a machucaria — assovia. Desequilibrado ou não, acredito em
você.
— Está tarde, obrigada pela informação.
Seu olhar se concentra em mim, intenso, forte, ansioso; tira uma pequena
caixa do bolso. Internamente, desejo um dia ver toda essa veneração em meu
marido, a garota sonhadora que adora livros e histórias românticas anseia que
seu marido a observe apenas uma vez como sendo seu próprio mundo, da
mesma forma como Vladimir Ivanov faz neste segundo.
— Feliz aniversário — pronuncia, extraindo uma delicada pulseira, que
coloca no meu pulso esquerdo, não sem antes acariciar meus anéis de
compromisso e casamento.
— Ela é linda — sussurro. Nunca pensei que o russo fosse tão vulnerável
—. Não cometa os mesmos erros do seu inimigo... Você é um homem melhor
que meu marido, posso ver isso e gostaria que as coisas fossem diferentes
para todos nós, mas não são, Vladimir. Você e eu somos algo impossível, eu
pertenço a Cavalli, assim como Dalila lhe pertence. Ela é uma boa menina.
— Ela não é você.
— Essa é a sua maior virtude. — Sorri negando —. Sou...
— A ruína de dois homens.
— Exatamente, não devo ser a sua também. É o Pakhan agora tem a máfia
vermelha e uma esposa disposta a amá-lo.
— Quando você destruir Dominic precisará de um lugar para onde ir.
— Nunca serei infiel ao meu marido, não é do meu caráter fazer este tipo
de coisa. Não sou assim, quando cumprir meu objetivo necessitarei de um
lugar, mas não será a Rússia.
Estico meu corpo até alcançar sua bochecha e dou-lhe um beijo curto.
— Seja um bom marido — digo, separando-me, entregando-lhe a pasta e
minha taça. É meu dever voltar para casa.
— Prometo — sussurra enquanto me afasto.
Não tendo nada a receber de Vladimir, saio do hotel em outro táxi com
destino ao orfanato. Assim que chego, vejo Britany lavando seu cabelo com
um tom mais escuro e uma das irmãs está feliz ao vê-la penteando-se. Nick
está em seu lugar me esperando, peço-lhe que me leve para casa. Não tenho
informações sobre Rawson, apenas as brigas de rua e um fim de semana
inteiro com Dominic para descobrir.
Marcela está preparando o jantar. A massa favorita do Capo, que está em
seu quarto. Sabendo que possivelmente está preparando-se para um jantar
silencioso e, portanto, indo para seus negócios criminosos, entro em seu
quarto começando a me despir. Ouço que o chuveiro está aberto e olho para
sua arma, colete e três facas, que parecem ser seus favoritos sobre a mesa de
cabeceira.
Tiro minha calcinha antes de abrir a porta do banheiro. Dominic é um
homem em constante alerta, sempre vigilante contra qualquer ameaça. Está
gloriosamente nu na chuva de água quando me observa, cada passo e curva
exposta. Nua e ardente, abro a porta de vidro.
Meu marido sabe bem minha razão de estar aqui e não hesita em dar-me o
que procuro, sem dizer uma palavra ele me joga contra a parede, abre minhas
pernas e me penetra, rosnando. Fechando meus olhos e deixando minha
cabeça cair contra seu peito, tremo. Prazer e informação com Dominic
Cavalli andam de mãos dadas, saber quem é Phils Rawson levará cerca de
dez orgasmos antes que meu marido diga uma palavra. Estou muito feliz por
me sacrificar.
~♦~
Encharcada, tento abrir a porta que separa nossos quartos, Dominic está na
cama, olhando para o terno que planejava usar esta noite molhado e amassado
após nosso terceiro encontro.
— Está trancada — rosno olhando-o.
— Parece que sim.
— Preciso das minhas roupas, Dominic.
— E está no nosso closet, esposa — diz ele, apontando para o armário.
Claro, ele ordenou que minhas coisas fossem transferidas para seu... Nosso
closet.
— E o que acontece se eu ficar chateada e querer o meu espaço?
— Você fingirá que está com dor de cabeça e me dará as costas.
Mordo meu lábio segurando as palavras em minha boca.
— Você sairá hoje à noite?
— Irei ao cassino para resolver alguns negócios.
— Sobre Quintero? — questiono, talvez ele já esteja na cidade.
— Não.
— Você não me dirá?
— Você poderia cobrir-se?
— Se incomoda ao me ver nua?
— Não... — sorri, pondo de lado o terno —. O que me incomoda é não ter
tempo para fodê-la a noite toda como gostaria.
— Você é il capi di tutti capi...[5] Pode fazer tudo o que quiser. — Nada
como inflar o ego de um homem para tê-lo aos seus pés. São pequenas
marionetes com os quais, se sabe jogar, manipula para a eternidade ao seu
desejo e vontade.
— Certamente, porque sou, tenho deveres a cumprir.
— Chato — cantarolo entrando no closet e procurando um outro terno,
escolho um de duas peças azul de sua grande seleção, não três como ele
costuma usar sempre. Observa meus movimentos, analíticos. Também
escolhi uma camisa de linho branca e um par de sapatos de bico quadrado.
Meu marido me segue de volta para ao quarto.
— Venha, vamos mudá-lo.
— A que se deve esse bom humor? — pergunta introduzindo um braço na
camisa e depois o outro, enquanto eu seguro para ele. Não estou disposta a
responder até que percebe minha pulseira e seus dedos cravam em meu pulso,
girando-o para observar a joia —. Não me lembro de ter comprado nada
parecido para você, de onde saiu isso?
— É um presente de aniversário — respondo sem desviar o olhar.
— Será melhor que se apresse, caso contrário não poderei jantar com
você.
— Não vai — sussurro. Dominic me olha impassível, seu comportamento
frio usual tomando conta dele —. Leve-me a algum lugar neste fim de
semana, apenas nós dois.
— Quintero estará na cidade amanhã, achei que queria conhecê-lo —
anuncia, começando a se vestir. Oh, ele é um bom mentiroso. Ocupo meu
lugar na cama pegando a camisa preta amassada e colocando-a no meu corpo.
Escolher entre o chefe do cartel ou o agente do FBI é muito fácil. Quero saber
tudo sobre Phils Rawson, Quintero pode esperar. Conhecê-lo não fará
nenhuma diferença.
— Não fomos de lua de mel... pensei que poderíamos ir este fim de
semana em uma viagem curta e agradável, só nós dois.
— Se pudesse…
— Você pode, você tem Roth. Ele é capaz de cuidar de tudo enquanto
temos um momento só nosso, nunca lhe pedi nada, Dominic... — murmuro
fazendo beicinho, ele nega com uma risada baixa arqueando as sobrancelhas
perfeitas —. Sei que reclamo muito, mas não peço nada.
— Caprichosa — cantarola.
— Isso significa que sim?
— Isso significa que sou um homem de prioridades, embora morra de
vontade de passar um fim de semana com você e com seu bom humor,
infelizmente, não posso fazer isso. Quintero chegará amanhã. É um assunto
que tem de ser resolvido, tenho dois casinos para visitar esta noite e outros
pormenores que não precisa saber.
Não adianta tentar insistir, em vez disso, dou de ombros, deixando-o
terminar de se arrumar enquanto procuro uma calcinha e penteio meus
cabelos. Encontrarei outra forma de mantê-lo feliz na cama e levá-lo ao
terreno necessário. Ambos descemos para jantar, naquele silêncio habitual. O
macarrão, como sempre delicioso, algo que Dominic elogia sem parar,
Marcela adora saber que seu filho gosta da comida, da mesma forma lhe
agradeço por seus cuidados em relação a minha pessoa. Sem ela estaria
perdida, é uma companhia agradável que hoje desfrutarei.
Finjo bocejar, exausta e cansada, puxando uma das minhas pernas para
cima da cadeira.
Meu marido registrando cada movimento.
— Cansada?
— Muito, dormirei cedo.
— Você está doente? — questiona registrando minha testa. Faço um
sorriso amargo —. Enviarei o médico da famiglia para vê-la.
— É apenas cansaço por nossas atividades.
— Emilie... — Seu telefone celular começa a vibrar dentro do terno, ele
franze a testa atendendo a ligação sem dizer nada e desliga —. Preciso ir.
Você tem um novo iPhone em seu escritório.
— Obrigada.
— Descanse e é uma ordem. Bons sonhos, mia regina[6].
— Volte para casa — sussurro em italiano. Vê-lo passar pela porta exige
um sacrifício da minha parte, para evitar de lhe gritar o quanto preciso dele.
Há cinco meses pensava que não era capaz de amar este homem e hoje
estamos aqui. Eu o odeio e amo na mesma intensidade, os dois sentimentos
colidindo.
Capítulo 06

O diesel é uma das minhas torturas favoritas, queimar é uma pequena


fraqueza que tenho, ver um traidor ser consumido lentamente, leva-me a um
sentimento de satisfação seguido de uma ereção que não terá um final feliz
esta noite.
Há meses fiz uma promessa a minha esposa, o qual tenho mantido em pé,
mesmo tendo uma linha borrada consigo visualizar a tentação latente. Cinco
meses nos quais estou caindo em uma rede de humanidade, eu a deixo mover
seus fios, mas mantenho outro o outro extremo, caso em algum momento seja
obrigado a puxá-la de volta.
Mentir para minha esposa é muito difícil. Quero resguardar certos níveis
de inocência, pois ela nunca deve presenciar nenhum ato deste nível, algo que
certamente lhe causaria um grande trauma. Ela é forte, mas não como uma
assassina que tem a alma podre.
Quintero sorri satisfeito, vendo seu rival Rodríguez sendo reduzido a
cinzas, seu corpo continua contorcendo-se amarrado à cadeira. Uma mordaça
cobrindo sua boca e absorvendo seus gritos.
— Você é um sociopata, Cavalli.
Roth ao meu lado fica rígido. Sim, de acordo com um punhado de
psiquiatras que já morreram em sua grande maioria, chegaram a qualificar-
me como sociopata, usualmente tenho um comportamento antissocial e uma
conduta de risco, sou um diletante do engano e da manipulação, sofro às
vezes da falta de autocontrole, impulsividade e Emilie dá credito a minha
irritabilidade.
— Um de muitos males. — Sorrio ao comentar isso. Os psiquiatras
atribuem esse desvio comportamental a carência de interesse por outro
indivíduo. Termos como amor, não é identificado em meu cérebro. Não
acredito nisso, não existe. Desejo carnal e a nuvem de satisfação são
reconhecidas por mim. Antes de Emilie vivia sumido na satisfação, agora
existe uma atraente tonalidade vermelha. Seu corpo ao lado do meu desperta
meus sentidos, nenhuma mulher conseguiu algo semelhante.
Segundo minha última terapeuta, também sofro de algolagnia, desfruto da
dor que causo nos outros, mais um ponto em que minha doce esposa é
exceção. Machucá-la não traz nenhuma satisfação, pelo contrário, apenas
uma cria uma agonia incessante dentro de mim.
— Preciso de uma rodada de drogas, bebidas e prostitutas, devo
comemorar! — exclama batendo palmas. Quintero e Rodríguez
permaneceram em uma guerra de territórios e mercadoria. Ambos eram
irrelevantes, até que Lucas Piazza decidiu unir-se ao colombiano e desviar
minha cocaína.
Sou, se assim poderia chamar de... o vendedor universal, se não é comigo,
não terá onde ou como fazer seus negócios. Quintero não estava na minha
lista de homens importantes, mas agora está. Enquanto me sirva e não venda
um único grama para Piazza, posso jogar ser mais um mafioso.
— Temos de tudo — digo enquanto ordeno a dois dos meus homens que
limpem a bagunça.
Saímos da fábrica abandonada e fomos diretamente a um dos clubes da
famiglia. Drogas, álcool, prostitutas, música alta. O que um homem comum
chamaria de seu paraíso pessoal, isso é Belladonna, que leva o nome do
pequeno Nikov, dono de mais dois clubes e nos quais seus nomes se
destacam.
Quintero, um homem na casa dos quarenta, é bem atendido pelas garotas,
uma garrafa de tequila sobre a mesa e carreiras de cocaína dourada se
tornando suas favoritas. A ideia de tingir nossas mercadorias foi da minha
esposa, assim como nosso novo meio de transporte. Ela é boa em conhecer
pontos estratégicos. Dê-lhe um mapa e rapidamente ela o grava, como uma
memória fotográfica, não é somente linda, como também, constitui uma
grande ameaça se não conseguir encontrar uma maneira de dominá-la.
— Está mais calado do que o normal — murmuro ao meu braço direito,
observando a festa de vinte e poucos anos da área VIP, as luzes coloridas não
deixam distinguir um do outro, a música é muito alta atrás do vidro
polarizado.
— Você tem certeza sobre a Itália? Realmente a quer ou é apenas um
capricho?
Hmm... Sabia que algo o incomodava por algumas semanas e preferia não
ter essa conversa com mais pessoas atrás de nós. No entanto, chegou a hora,
algo que está na minha cabeça há meses.
— Você não é um soldado, Roth.
— Onde quer chegar? — rosna.
— Você realmente acha que sempre estará sob meu comando? Você não
nasceu para isso — declaro sem olhá-lo, porque não posso ver dor nos olhos
de quem sempre me preocupei. Não quero machucar mais ninguém —. Quero
a Itália, então poderá ficar com Nova York.
— Não... que tal governarmos juntos?
— Não quer deixar de ser meu braço direito e se tornar seu próprio patrão?
Seria um Capo, governaria Nova York sobre todos.
— Ninguém governa sobre você, nós dois sabemos disso. Até Vladimir
lhe respeita.
— Você é diferente... Você e Raze sempre foram diferentes. Tenho uma
fraqueza com os Nikov, uma que alguns conhecem e não posso manter mais.
— E Emilie?
— O que tem ela?
— É diferente…?
Às vezes acho que sim, vejo e sinto esta opressão dentro de mim, em
seguida, em outros momentos quando seus olhos pedem aos gritos aquilo que
nunca poderei dar-lhe, a realidade ganha terreno.
— Ela me odeia e estou em paz com esse sentimento. Quando descubra
que nunca poderei amá-la, destruirei qualquer parte que ainda esteja intacta
dentro dela.
— Fiz um pacto de sangue, jurei protegê-lo e ser seu braço direito a cada
dia de minha existência. Se quisesse ser o chefe, nós dois sabemos que você
estaria morto. Não é o que eu quero, ansiava por um futuro para Raze e já
tenho isso. Ele é um homem agora, ele tem seus próprios negócios... Não
preciso mais cuidá-lo, mas ainda precisa de mim. E eu estarei ao seu lado,
Don.
— Não nasceu para ser sombra, você é alguém que gosta de brincar Ser
sombra não está em você, você é alguém que gosta de jogar, ter o controle
das pessoas em seu círculo...
— Isso é bobagem — corta, perdendo sua integridade —. Somos uma
equipe, não existe um sem o outro, nunca estaremos separados e se necessito
controlar algo, que sejam os meus cavalos. Voltando ao assunto da Itália, se
você realmente a quer, prepare-se, Lucas vai contra-atacar.
— Estaremos prontos — afirmo com um meio sorriso.
Capítulo 07

Vermelho, intenso e brilhante; uma mulher vestida com essa cor


internamente se sente poderosa, sedutora e indomável. É a maneira pela qual
estou vestindo um minúsculo top sem alças e uma saia pequena, meus
cabelos penteados para trás e minha boca com batom da mesma cor do meu
top, mas fosco.
As pessoas se aglomeraram na fila antes de entrar no clube assoviam
irritadas quando os seguranças de Vladimir abrem caminho entre as pessoas.
Belladonna tem um grande potencial para o crime organizado, um ambiente
barulhento e cheio de garotos da minha idade. Vladimir está tenso e calado
em nosso caminho até uma escada em espiral, seus homens são deixados para
trás enquanto subimos.
Afirmo com um gesto ao russo na porta de um local que parece ser
privativo. Sair do meu próprio apartamento exigiu uma habilidade muito
grande para passar entre os pontos cegos da segurança da cobertura e um
sedativo no chá de Marcela.
«Façamos isso», incentivo-me interiormente. Vladimir empurra
suavemente a porta, mentalmente estou preparada para encontrar meu marido
comendo a boca de uma mulher ou fodendo-a.
Primeiro vejo um velho, Quintero. Reconheço-o pelas fotos, ele tem
algumas características modificadas em seu rosto, menos rugas e braços
musculosos dentro de uma camisa de manga curta. É estranho ver suas
roupas, ele se parece com um cowboy da Louisiana, limpando seu nariz com
a cocaína inalada, tem duas mulheres com os seios nus ao seu lado, uma delas
dançando. Roth tem uma cena bem semelhante, está com suas calças abertas
e uma mulher morena montando-o.
Dominic, por outro lado, não está na sala reservada. Assim que entro no
local, Quintero empurra uma das mulheres e saca uma arma da sua cintura e
aponta na minha direção, Vladimir que está ao meu lado tema mesma reação.
— Cavalheiros — assovio nesse mesmo tom usado pelo meu marido que
conheço muito bem. Quintero pisca, Roth conecta seu olhar com o meu,
segura a mulher em seu colo. Claramente está um pouco bêbado, porque leva
vários segundos para perceber o que está acontecendo. A garota grita caindo
no chão após ser jogada para fora de seu colo.
— Emilie? — pergunta, confuso.
— O que está acontecendo aqui? — exige Quintero —. Quem é essa puta?
— Chame-a de prostituta novamente e eu decorarei a parede atrás de você.
Vladimir não vacila quando diz isso, sempre fui fascinada por ver esses
homens se ameaçarem de morte de uma forma tão ridícula.
— Vocês dois abaixem as armas — determina Roth, enquanto introduz
seu amigo dentro de suas calças.
— Cavalli armou para mim! — grita o colombiano com os olhos
arregalados. O medo começa a ganhar espaço dentro de mim quando o vejo
tão desequilibrado, claramente consumiu muita droga. Roth levanta a mão,
não tem uma porra de uma arma?
— Diga ao homem para abaixar sua arma ou o matarei!
— Quintero, calma, ela é...
— Abaixe a arma — rosna Vladimir.
Isso está saindo do controle. Levanto minha mão para tocar no ombro de
Vlad e fazê-lo abaixar sua arma primeiro, mas assim que tento, um ruído
familiar preenche a sala, seguido por um grito de Roth e uma rajada. O russo
ao meu lado puxa meu corpo em sua direção quando vejo a cabeça de
Quintero explodir. A parede atrás dele ficou toda manchada de sangue, as três
garotas gritam e uma delas se levanta para correr quando Roth a intercepta e
em um movimento rápido e preciso quebra seu pescoço. É simples e direto,
sem um pingo de humanidade.
Minha boca se abre, quero gritar, mas não sai nada. Um minuto atrás, tudo
estava tranquilo e agora duas pessoas estão mortas. Levanto minha cabeça
para encarar o russo e o vejo. Azul frio e intenso. Vladimir não é quem me
tem em seus braços, de alguma maneira Dominic me puxou para seu corpo
em direção a porta de saída, sei com apenas um olhar, que estou em apuros.
Mais gritos se unem aos que vem do andar inferior, ecoam entre a música e o
caos. A sala privativa está cheia de homens, soldados da família, enquanto
meu marido continua a me observar.
— O que está fazendo aqui? — rosna em um tom baixo e assustador.
Nego sem conseguir expressar nenhuma palavra. Estou em choque? Mais
alguns gritos são silenciados, paro de olhá-lo observando a cena terrível lá
dentro. As últimas garotas com o mesmo fim da primeira e Roth tendo um
Vladimir preso contra a parede. Estou tentando encontrar uma maneira de sair
disso, é uma loucura, não esperava. Pensei equivocadamente que ao chegar
aqui impondo minha presença não causaria nada, mas ocorreu justamente o
contrário, trouxe aborrecimento ao meu marido e mortes.
— Precisamos sair, os tiros alertarão a polícia. — Roth consegue dizer.
Meu marido solta meu corpo em direção a um de seus homens e ordena que
me amarre. Ele, desgraçadamente, manda algemar minhas mãos. Mesmo sem
ter capacidade mental para emitir uma palavra, o homem me algema com as
mãos para trás. Vladimir levanta a cabeça quando Dominic para diante dele e
o esbofeteia.
— Você a trouxe? — pergunta com uma voz que nunca tinha ouvido
antes. Está frio e vazio. Ele o matará.
— Ele me encontrou na rua! — grito, a primeira coisa que vem à mente
—. Escapei da cobertura e ele me encontrou, só queria trazer-me em
segurança para você.
— Roth, tire-a daqui! — assovia.
Roth pisca soltando Vladimir e vem até mim, cambaleando um pouco.
Está tão irritado quanto meu marido, o homem ao meu lado me solta.
— Cale a porra da sua boca — grita segurando meu antebraço e levando-
me para fora da sala privativa —. Quando é que não precisarei tirar a sua
bunda problemática de alguma merda? Você tem ideia do fez?
— Não fiz nada! Só queria sair e me divertir um pouco! Vladimir não
deveria ter-me trazido aqui!
— Não, não deveria! Você é a única culpada! Dominic explodirá e se
decidir acabar com sua raça de uma vez por todas, o problema será todo seu!
Não a salvarei, cansei de ser o cavalheiro de armadura brilhante. Poderia ser
uma mulher dócil, caralho!? O que estava pensando?!
Tinha um plano; chegaria ao clube e me apresentaria, Dominic
possivelmente teria um aneurisma. Escapar de casa sem ser notada faria sua
cabeça explodir, sem falar ao me ver chegar aqui acompanhada por
Vladimir... Isso, o que acaba de acontecer, não passou pela minha cabeça.
Roth me leva a um tipo de estacionamento e vamos direto ao BMW de
Dominic. Amaldiçoa quando percebe que não tem as chaves. O frio arrepia
minha pele, o cheiro a fumaça é irritante, fumaça? Oh, meu Deus. O clube
está em chamas.
— Droga! — suspira observando a mesma cena —. Raze ficará puto da
vida, pois é o seu clube favorito.
— Você matou uma garota — reclamo perdendo a força das minhas
pernas.
— Bem, além de tonta, é boa observadora.
— Qual é o seu problema?
— Você! Você é sinônimo de problema! Há muito tempo foi um grande
problema e não satisfeita com isso, volta a sê-lo. Deveria tê-la matado!
Meus olhos lacrimejam e a dor da culpa invade meu corpo.
— Ótimo, agora vai chorar?
— Vá à merda — assovio.
Ele abre a boca para dizer algo, quando de repente abre-se uma porta
violentamente que me faz pular. Satanás, esse é meu marido. O próprio
demônio caminhando com um desígnio, recuo instintivamente chocando-me
com a carroceria do carro, Don lança um molho de chaves para Roth, que não
me dá uma segunda olhada.
— Não me siga — rosna meu marido.
Capítulo 08

— Dom...
— Não me siga! — exclama desativando o alarme e abre o carro sem dizer
uma palavra e sem nenhuma sutileza abre a porta do passageiro, seu nariz
está expandindo-se como uma animal enraivecido. Conhecendo quando o
jogo não está a meu pavor, entro onde me indica. Fecha e contorna o veículo
abrindo a portado motorista. Dou uma última olhada e o clube que está em
chamas... «Deuses, o que acabei de fazer?».
Dominic nos conduz para fora dos limites da cidade, música de rock ao
volume máximo. A banda The Score parece cantar suas canções de acordo
com seu humor. As algemas restringem minhas mãos, causando danos aos
meus pulsos e dores nos ombros... Tenho uma revolução de pensamentos,
Dominic matou esse homem a sangue frio, atirou em sua cabeça sem hesitar.
E, Roth. A menina, três garotas inocentes.
Em quem me tornei? O que demonstro com isso? Como faço para
apoderar-me de uma organização, a qual Dominic criou sua própria imagem,
perfeita e imaculada? Não tem nenhuma falha, exceto a mim. Sou seu erro, ao
se casar comigo me tornei sua cruz.
Penso que me está levando para acabar com a minha vida. Entra em um
desvio na interestadual 95 ao sul e meus alarmes disparam como fogos
artificiais em um 4 de julho. O caminho é de pedra e sem luzes. Fico nervosa,
tenho a baca seca, remexo no assento incômoda.
Está farto de mim, cinco meses com pouca paciência, fui grosseira, e
ousada, bati em seu rosto, brigamos quase todos os dias, não tenho a menor
dúvida que seu copo transbordou. Estaciona o carro e só vejo uma espécie de
cabana abandonada no meio da mata, com cipós verdes naturais nas paredes
de tijolos avermelhados.
Tudo está desligado dentro e fora da casa. Somos os únicos aqui, a
quilômetros de distância. Não há como alguém escutar meus gritos de
socorro. A música para e aparece uma chamada de Raze. Droga.
— Você me matará? — pergunto assim que a música é silenciada. Ele
abre a porta do seu lado e a luz é ativada dentro do carro, deixando-me ver
suas feições duras —. Vladimir está morto?
— Não.
E sai do carro, não, o quê? Você não me matará? Vladimir não está morto?
Dominic parece capaz de me machucar, com esse olhar de pura crueldade.
Abre minha porta, deixando um pequeno espaço para que eu possa sair, com
as mãos algemadas e minhas pernas tremendo pelo terror, torna este processo
difícil. Olho ao meu redor tentando encontrar alguma forma de escapar,
correr nessa terra seria impossível com estes sapatos de saltos finos e ainda
mais com as minhas mãos algemadas. Agredi-lo não é uma opção... Estou a
sua mercê.
— Sinto muito — sussurro, as palavras borbulham no eco da noite. Sem
música, tudo fica mais sombrio —. Só queria sair um pouco.
— Você me mentiu — acusa ao estar atrás de mim, suas palavras são
como pequenas adagas na minha garganta —. Tem alguma ideia do prejuízo
que causou esta noite? Chegou a pensar nisso?!
— Dominic...
Não me permite continuar, suas mãos pegam minha cintura, virando-me
para enfrentá-lo, uma delas subindo pelas minhas costas nuas até meu
pescoço, onde se apodera de um punhado de fios loiros. Só havia a luz do
carro, mas isso não me impediu de ver a ameaça velada em seu rosto. Superei
seu limite esta noite. Inclina-se e pega minha boca tremendo de raiva,
punitiva e cruel, meu corpo esmagado contra seu carro esportivo.
Seu agarre é violento, comparado aos outros momentos que praticamos
sexo depois de uma discussão e sempre era glorioso, mas desta vez não foi
uma discussão qualquer. Pessoas morreram por minha causa, fui imprudente.
Sei e aceito, queria pedir-lhe mil desculpas pelo que causei.
Meu marido não me permite, sua boca e língua saqueando a minha. Puxo
as algemas fazendo-as machucarem meus pulsos, suspiro de dor ao receber
um beijo. Meus olhos se enchem de lágrimas quando morde meu lábio
fazendo-o sangrar... Estou molhada e quente, não acredito que esteja tão
excitada. Lambe meu lábio sugando o sangue e abro meus olhos vendo a
satisfação nos seus.
Desequilibrado ou não, eu o desejo, aqui e agora, por isso quando libera
minha boca, ele me gira jogando-me contra seu carro esportivo e dobrando
meu corpo, fico com a minha bochecha pressionada contra o capô do carro e
sinto a minha saia subindo pelas minhas pernas, apenas as abro ainda mais,
deixando-o fazer o que quiser comigo. O tecido da minha calcinha cede,
deixando minha pele ardendo quando ele a arranca.
— Querido... — suspiro tentando raciocinar.
— Cale a porra da sua boca — assovia sob sua respiração. Não estou
preparada, não o vi chegar, só escuto algo cortando o ar e em seguida um
ardor na minha bunda. O grito sai da minha boca e explode em meus ouvidos
e, mesmo assim, não posso conceber a ideia de que meu marido acaba de me
dar uma palmada.
— Por ser imprudente — rosna, deixando cair o peso de seu corpo sobre
minhas costas, pressionando-me contra o metal. Esforço-me para tirá-lo, de
cima de mim, mas é uma tarefa ridícula —. Quieta.
Sei que uma palmada não será o suficiente, é tudo que sempre precisei no
passado. Ele nunca me forçou nada sexual, sempre tive esse domínio
invisível, mesmo em nossas primeiras semanas de casamento.
Passo minha língua sobre meu lábio, saboreando o sangue. O silêncio se
estende por alguns segundos, quando se afasta ao sentir-me dócil, quase
posso ver seu sorriso em minha mente, zombando de conhecer esse meu lado.
— Eu te odeio, você é um filho da puta...
E a segunda palmada vem, gemo empurrando meus quadris para trás,
sentindo minhas entranhas tensionarem ao receber a terceira palmada. É mais
forte, medindo se posso ou não suportá-la... Uma quarta palmada eu grito seu
nome, precisando desesperadamente de seu toque, suas mãos, seus dedos ou
seu pau dentro de mim.
— Dominic! — exclamo ao receber a quinta palmada, quando
imediatamente sinto seus dedos abrindo meus lábios vaginais, procurando
meu clitóris e zombando da minha dor.
— Você mentiu — assovia dando a sexta palmada, desta vez no lado
direito da minha bunda, quantas palmadas faltam para ser libertada?
— Você mentiu pri... — Não consigo terminar a frase, pois recebo a
sétima palmada. Deuses do Olimpo —. Quero que me coma — imploro
choramingando — Fode-me com vontade, Don.
Meus movimentos são restritos, ainda mais com as mãos algemadas, não
há forma de levantar meu corpo. Estou sob seu desígnio e não me importa
absolutamente nada. Vivi loucamente, com as semanas me transformei na
imagem viva de meu marido.
Três palmadas mais antes de senti-lo dentro de mim, não é suave ou gentil.
Está castigando-me, suas mãos segurando minha cintura, olho para trás e é
um inferno de pecado. Seus cabelos estão despenteados, sua camisa aberta e
posso ver o suor escorrendo pelo seu pescoço, mesmo com a temperatura fria
da noite.
Foder por trás é a sua posição preferida, sei disso e ele nunca negou, mas
nos nossos encontros sempre me fodeu de frente. Fecha os olhos e joga a
cabeça para trás, rosnando uma maldição. O prazer é agudo e suas estocadas
são aceleradas, nego sem poder articular nenhuma palavra, prestes a ter um
orgasmo intenso, começo a mover minha cintura em círculos, venho ao seu
encontro, esperando por ele e envolvendo seu pau dentro de minhas
entranhas.
Estou pronta e será maravilhoso... Até que sai de dentro de mim,
assoviando alguma coisa ao vento, então, um líquido quente toca minha
bunda nua. A realização me toca forte, quando meu marido acaba gozando na
minha bunda, como se eu fosse uma prostituta barata.
— Possivelmente…? Seu filho da puta! Você acabou de me usar como se
fosse uma prostituta!
Dá uma gargalhada desagradável, tento vê-lo, mas meus cabelos agora
estão despenteados sobre meu rosto. Ele me levanta puxando meu antebraço,
do qual rapidamente me solto, soprando fios de cabelos loiros para longe do
meu rosto. Seu sorriso só aumenta minha raiva, pretendo dizer-lhe uma boa
rodada de insultos, quando segura meu queixo, seus dedos exercendo pressão.
— Até mesmo uma prostituta sabe seguir ordens e não posso dizer o
mesmo de você, ou essa cabecinha não entende que acabo de assassinar um
homem por apontar-lhe uma arma. Que três garotas e possivelmente uma
dúzia de adolescentes morreram no incêndio?
Não sei o que responder, a verdade se instala em meu corpo com a brisa
fria. As pessoas morreram por nada e, se parte disso é minha culpa, jamais
admitirei diante de Dominic Cavalli.
— Tudo estava sob controle... — sussurro, minha voz me traindo.
Solta meu rosto, pois o toque parece errado aos olhos de meu marido.
— Acha que cheguei a ser quem sou porque entro no quarto de um homem
procurado pela Interpol em mais de cinco países, incluindo este, quando está
drogado e fodendo loucamente? Isso não é ter o controle! Esta noite poderia
ser diferente se não lhe desse um tiro nesse segundo.
— Se você tivesse deixado! Agora não estaria lidando comigo!
— Você queria formar parte de tudo isso e a deixei... Droga! O que mais
você quer de mim, sua mulher diabólica de merda?!
— Não me levante a voz! Onde merda está indo? Não pode deixar-me
aqui sozinha! — grito quando começa a contornar o carro.
Grito seu nome pela segunda vez quando ele entra em seu carro e tranca a
porta. Sem acreditar o vejo manobrar seu carro enquanto as luzes focam meu
corpo e se afasta de mim, simplesmente ele me abandona no meio do nada?
Permaneci sem chorar desde nossa infeliz viagem à Itália e, a partir desse
momento, eu o enfrento sempre que posso, mas quando as luzes do BMW
desaparecem deixando apenas o som do motor para trás e eu imersa na
escuridão, com uma saia enrolada nas minhas coxas e minha bunda à mostra
cheia de sêmen do meu marido, o mesmo que prometeu cuidar de mim na
frente de um padre cinco meses atrás, a vontade de chorar explode.
Sinto um frio terrível nas minhas pernas e tento com os meus dedos
abaixar a minha saia, não adianta muito, mas com um pouco de dificuldade,
cubro um pouco minha bunda sujando meus dedos com o líquido pegajoso.
Minhas opções são limitadas, caminhar até a estrada principal e conseguir um
bom samaritano que me ajude a chegar até Holden, talvez; a outra opção é
sentar em qualquer lugar aqui e implorar a Dominic que volte quando
perceber seu erro.
A segunda opção é definitivamente mais rentável, embora não saiba se é
mais acertada, caminho até a porta principal, meus saltos cravando na terra.
Está escuro e meus olhos apenas se adaptam ao luar, subo os dois únicos
degraus antes de chegar à porta de ferro, giro meu corpo e tateio com os
dedos a fechadura.
Claro que esta porta não estaria aberta, o frio começa a ficar mais forte nas
minhas pernas... Estraguei tudo, é verdade. Continuo ainda estragando tudo.
Jogar o jogo de Dominic é cansativo e exaustivo. Quero ter poder e decidir
meu próprio destino, mas já está selado com esse homem. Posso continuar
lutando e fracassando, ou pegar outro caminho.
Phils Rawson, esse é o meu único caminho sem falhas. Entregar
Dominic… Mas é isso que quero? Não, exatamente. Quero respeito e
honestidade por parte do meu marido... Talvez um pouco de amor. Fecho os
olhos e deslizo em direção ao chão de tijolos, sentindo frio e apreciando a
queimação, porém, o que vejo é a imagem de Roth quebrando o pescoço da
garota, a cabeça de Quintero explodindo...
Valerie com seus olhos vazios. Estou preparada para a vida? Não se trata
apenas de governar, ser uma mulher na máfia, definitivamente, significa
muito. Não se trata apenas de ser a rainha. De liderar um bando de homens,
também tenho que fazer o trabalho sujo... Assassinar, mandar torturar
alguém. A bílis se remexe só de pensar nisso, sabendo que em menos de um
ano vi morrer pessoas diante de mim, inocentes ou não, eram seres humanos.
— Sou uma assassina! — Suspiro afogando-me com o choro.
Lágrimas escorrendo pelo meu rosto, não consigo detê-las.
A culpa me atinge e oprime meu peito. Essas pessoas estavam bem antes
de eu colocar os pés dentro do clube. Acabei levando a desgraça para eles.
«Eu sou a culpada...».
Capítulo 09

Bato no volante violentamente, em seguida dou um cavalo de pau e vou


até ela. A raiva nublou meus pensamentos, quero castigá-la por expor-se ao
perigo e, ao mesmo tempo, envolvê-la em meus braços e não deixá-la que se
mova nem por segundo fora deles. Um caminhão buzina diante do meu
movimento repentino, ultrapassando no lado oposto da estrada. Tenho
vontade de matar alguém e ela poderia ser minha vítima perfeita se não fosse
pela mulher que acabo de abandonar.
Como posso fazer-lhe isso? É minha esposa, minha mulher! Merda,
acelero retomando o caminho de volta à cabana. É um lugar tranquilo, onde
sempre ficamos quando ocorre alguma merda na cidade, é meu refúgio e a
trouxe comigo sendo o que mais quero é curvá-la novamente e dar-lhe uma
centena de estocadas com a porra do meu pau. Talvez a faça entender de uma
vez por todas que este mundo não é para um ser como ela. Que apenas tento
proteger suas partes boas, que não quero vê-la cheia de amarguras como eu.
Por que ela não consegue entender que é a luz em toda minha escuridão?
Há poucas horas só queria ir para casa, com minha esposa esperando em
nosso quarto, onde pudesse abraçá-la e dormir sem me preocupar com mais
nada... Vê-la sendo um alvo. Jesus, estou com um nó na porra da minha
garganta. Nesse lapso de tempo, eu a imaginei morta, banhada em seu
sangue, seu corpo doce deitado na área VIP do Belladonna. Minha esposa
morta. Isso é tudo o que podia ver enquanto lhe dava algumas palmadas na
sua bunda.
Apago as luzes do carro assim que vejo a cabana. Sou um maldito filho da
puta, ela está sentada contra a porta, seu rosto entre as pernas dobradas. Deve
estar desconfortável com as algemas limitando os movimentos de suas mãos.
Satanás já me reservou um lugar no inferno, como posso causar tanto mal a
essa garota? Um ser divino e precioso como é minha esposa?
Dou um toque no porta-luvas para desligar meu carro e retiro a chave
universal para remover as algemas. Sei que lutará, não ficará apenas
esperando. Porra, meu pau lateja só de imaginar. É disso que preciso agora,
que me deixe sair dessa impotência. No entanto, minha esposa precisa de um
ombro para se apoiar enquanto desmorona. Conduzo meu carro em sua
direção, já é de madrugada na hora mais escura da noite.
Sem dizer uma palavra, sento ao seu lado no chão e levanto minha mão,
circulando seus ombros enquanto a puxo para o meu peito.
Sei que se sente culpada e tudo que posso fazer agora é abraçá-la e deixá-
la chorar. Dar-lhe um pouco do meu calor. Levá-la para dentro, imergir seu
corpo em água quente, colocá-la na cama e dormir abraçado com ela por uma
semana. Quero amá-la, só que... não está em mim.
— Sinto muito — soluça contra o meu peito. Beijo sua cabeça, o que devo
dizer para que entenda? Como posso ser racional como Roth e expressar a
gravidade do que acabo de fazer sem magoá-la?
«Dizer-lhe a verdade.» Quase ouço a voz do meu braço direito dentro de
mim.
— Senti medo — digo, engolindo em seco. Tentando não arruiná-lo mais
—. Quando a vi subir as escadas pensei que era uma ilusão... Tenho muitas
dessas. Quando sinto sua falta e quero voltar para casa, qualquer garota loira
me faz lembrar minha doce esposa. Pensei que era apenas um truque da
minha mente e estava pronto para ir com você quando a olhei novamente.
Reconheceria esses cabelos e pernas até mesmo no inferno, se necessário.
— Don…
— Eu os segui até a sala privativa quando vi Quintero apontando-lhe uma
arma, é a única imagem que não posso tirar da minha cabeça, depois a
imaginei no chão ensanguentada e sem vida — confesso enquanto ela treme
em meus braços —. Tive e tenho medo de perdê-la... E não conhecia esse
sentimento até esta noite. Antes de você, eu só me preocupava com os irmãos
Nikov, mas não tenho que protegê-los mais. Eles são fortes e sabem
defender-se, no entanto, você é frágil e devo cuidá-la. Quero cuidá-la, é tão
difícil entender isso? Se você morrer por minha causa... — suspiro sentindo
um aperto no meu peito. Pego alguns fios dos seus cabelos colocando-os de
lado para que possa ver um pouco de humanidade que desperta em mim —.
Nunca me perdoaria. Mia regina.
Seus olhos se arregalam, olhando-me como costumava fazer no passado,
quando não sabia quem eu era, ou meu estilo de vida. São vivos e ousados,
cheios de fascínio e anseio. Oh, minha doce garota. Sempre quero ver esse
olhar dirigido a mim.
— Não sei o que dizer — sussurra, mordendo o lábio, que ainda tem
vestígios de batom vermelho. Deveria dar-lhe mais cinco palmadas por
arruinar esses lábios naturais tão marcantes.
— Então não diga nada, apenas deixe-me remover essas algemas, levá-la
para a cama e dormir antes que Raze comece a incomodar.
— Apreciaria um banho — diz ela hesitante.
Se bem que não importo em olhar essa deliciosa bundinha coberta com
meu sêmen, é algo que quero repetir e deixá-lo vermelho de alguma forma.
Sorrio, não posso evitá-lo, inclinando até brincar com seu lábio machucado,
passando a língua na mordida que havia dado. «Que merda você está fazendo
comigo, Emilie?»
Pego a chave, tiro as algemas, ela reclama de dores nos ombros e os pulsos
estão levemente machucados, o metal cravou na carne em alguns lugares.
Sopro um pouco nos lugares feridos e não deixo de olhá-la.
«Devo cuidá-la.» Nunca mais se envolva em tamanho perigo.
— Deixe-me ser um bom marido, uma última chance de tentar. Se eu
estragar tudo, prometo libertá-la.
«Merda, de onde saiu isso? Como poderia libertá-la? Não posso conceber
essa ideia.» Sei de onde vem o pensamento e é dela, dos seus olhos e o que
me transmitem ao estar cheio de bondade.
«Esta é minha esposa, a quem jurei proteger para sempre.»
— Não dá para confiar na sua palavra.
— Confie em minhas ações, Emilie — exijo suave e tranquilo —. Pode
pedir qualquer coisa e lhe darei.
— Sem manipulação?
— Só nós, cara mia. Sem manipulação ou segundas intenções, apenas seu
marido desejando ser melhor, desejando mantê-la segura.
Ela se move, montando em mim e envolvendo suas mãos delgadas ao
redor do seu pescoço. Está fria, então movo minhas mãos ao longo de seus
braços. Sinto meu cheiro nela, e adoro isso. Meu pau fica tenso quando ela
move seus quadris. Meu corpo sempre reage à sua proximidade.
— Vamos entrar, não quero que adoeça.
— Só um pouco... Quero ver o sol nascer enquanto me faz sua novamente.
Porra. Sua segurança, essa que vem ganhando com o passar dos meses,
desestabiliza-me. Não pede permissão, já não é mais tímida na cama. Agora o
que ela quer, ela consegue e, neste momento, ela me quer. Termina de puxar
os últimos botões da minha camisa e expõe meu peito, as pontas de seus
dedos dirigindo-se ao meu coração.
Ele tem uma fraqueza com a minha tatuagem, meu juramento à famiglia.
Fecho meus olhos, baixando minha guarda ao seu toque. Levo minha mão
direita ao seu top, puxando-o para baixo e expondo seus seios, abro meus
olhos para o meu deleite. Ela é uma obra de arte, cada curva ou relevo. E é
minha, ela me pertence.
Nunca tive certeza de nada, até mesmo ser Capo parecia um sacrifício. Ser
seu marido é o que quero, foi minha escolha e, antes disso, não pude escolher
nada para mim. Ser um Cavalli marcou meu destino.
Não quero marcá-la; vê-la curvada, chorando, é como ter um vislumbre do
passado de minha própria mãe. Quero ser melhor do que meu pai em todos os
sentidos e isso inclui minha esposa. Não sei amar, não acredito nisso, mas
não quero enganar Emilie com a promessa de um amor eterno que não possa
cumprir. Sei que posso viver para fazê-la feliz, posso ser um homem e um
marido melhor para minha borboleta, sem interferir em ser quem sou no
submundo.
— Não sabia que era capaz de sentir minha falta — sussurra, abaixando
sua mão na minha calça, tocando meu pau sobre o tecido.
— Continuamente — confesso. Se quiser que isso realmente funcione, é
melhor ser honesto tanto quanto possível —. Sinto sua falta quando estou no
escritório, quando chego em casa, quando está no orfanato e em cada noite
quando voltava ao seu antigo quarto sentindo falta do calor do seu corpo
junto ao meu. Não desempenho meu papel como chefe da famiglia por
completo, porque estou distraído procurando em minha mente como trazê-la
de volta para mim. — Envolvo seu rosto acariciando suas bochechas —.
Cometi um erro, aliás vários, ao longo desses meses. Não a trato como
merece, desde o início tenho sido um idiota, humilhando-a, traindo sua
confiança, quebrando o que estávamos construindo na Itália... Não quero que
soe como desculpa, mas foder para mim nunca foi um problema, com as
outras, quero dizer. Todos os homens fazem isso em meu mundo, não é algo
novo para ninguém e agora sei que é errado e isso está mal. Você golpeou
meu ego na nossa primeira noite, estava satisfeito de como estávamos indo,
depois vi as lágrimas e a acusação em seu rosto. Você me culpou pela
primeira vez, quando foi você quem começou e eu segui em frente porque me
pediu.
— Chorei por... — Silencia, fechando seus olhos.
— Por quê? Conte-me. A comunicação deve fluir em ambas as direções.
— Não queria amá-la, estava apavorado com tudo o que aconteceu entre
nós nessa noite. Estávamos discutindo e no segundo seguinte nos
devorávamos.
Claro, sua constante indecisão e o tema central: amor, o sexo para as
mulheres não vai sem o outro.
— Você transou com outra pessoa? — questiona em voz baixa.
— Prometi não fazê-lo e, independentemente do que você pensa, eu
cumpro minhas promessas. Não, não transei com mais ninguém. Tenho
minha esposa e ela é boa deixando-me satisfeito em mais de um sentido,
exceto quando se põe teimosa e quer dominar o mundo em um dia, sem falar
que sempre tem algo para responder e não fica em silêncio.
— É uma esposa muito chata, suponho.
— Sim, às vezes é muito chata.
— Eu te odeio — afirma, dando-me soquinhos no meu peito, brincalhona.
— Se essa é sua maneira de dizer que sou incrível, um bom amante que a
faz implorar para fodê-la... Hmm, eu também te odeio, esposa.
— Esse ego não mudou nada — repreende.
— Sem o meu ego, não seria eu — digo inclinando-me e pegando seu
mamilo rosado e entumecido na minha boca, brincando com minha língua no
seu biquinho e, em seguida, cerrando meus dentes ao redor dele.
Ela joga sua cabeça para trás me oferecendo mais. Oh, minha garota adora
sentir um pouco de dor no meio do prazer. Suporta certo nível. Suas mãos
trabalham no zíper da minha calça, puxando meu pau dolorosamente duro,
pressionando meu eixo enquanto a torturo. Experimentamos certas posições
ou gostos, mas ela nunca tentou fazer-me um boquete ou acariciar-me dessa
maneira. A princípio eu lhe faço as preliminares e me delito com seus
gemidos.
Que me toque desta maneira, aumenta ainda mais o grau de confiança
entre nós. E estou disposto a foder a minha esposa no meio do caos e com o
amanhecer aparecendo atrás de nós, de não ser por um ruído conhecido.
Motos, várias delas.
Empurro Emilie de cima de mim e puxo seu top de volta no lugar. Ela
reclama, somos uma bagunça de fluidos e roupas desorganizadas.
— O que é isso…? — suspira horrorizada.
— Raze e seus companheiros. Coloque minha camisa — ordeno sem
tempo de poder cobri-la decentemente.
Obedece pela primeira vez sem responder nada. Enfio meu pau ainda ereto
dentro das minhas calças no momento em que as motos param uma atrás da
outra ao lado do m eu carro. Raze está vermelho de raiva.
— Fique aqui — instruo, sabendo o que vem a seguir. Maldita seja.
Capítulo 10

Desejaria dizer que tudo isso fosse um pesadelo, que nada tivesse
acontecido. Que não sou culpada da morte de inocentes, mas sou. Igualmente
desejo estar incomodada com Dominic, no entanto, o sentimento de culpa que
sinto é tão intenso que me faz relevar muitas coisas, principalmente, quando
meu marido retorna, depois de poucos minutos, e sem dizer uma palavra,
libera minhas mãos e em seguida se senta ao meu lado, com seus cabelos
despenteados e aura torturada.
Os soluços me sufocam e desejo estar em seus braços, aqueles que
mataram para me salvar, essas mãos que há pouco bateram na minha bunda...
Como posso amá-lo? Depois de tudo? As mentiras, as decepções, as
humilhações e a traição? Como? Então meu marido faz o impensável, ele me
abraça, deixa-me chorar em seu peito e suas palavras me condenam. Cada
uma delas instalando em meu peito enquanto minha razão grita todo o nosso
passado.
Que ele é culpado de quem sou agora. É meu dono, ele me guiou por este
caminho turvo. Apoderou-se de mim e não me permitiu ter outra escolha,
mesmo assim, meu coração palpita iludido. Essa garota romântica amante dos
livros, quer ser amada custe o que custar, mas não lutarei por um amor se não
o encontrar no meio do caminho.
O nó queimando-me em fogo lento. Está aqui ao meu lado, sentado no
chão olhando para um céu estrelado, como se fosse um homem comum e
normal, como se não tivesse assassinado um homem fazendo voar sua cabeça
ou incendiando um clube cheio de pessoas, por que isso não me afeta? Estou
tão fodida quanto ele. Somos o caos e a tempestade. Sem pensar sobre isso, o
que realmente quero é senti-lo, tê-lo dentro de mim. A única maneira de nos
conectarmos, onde posso dominar essa relação tóxica e disfuncional.
Ambos precisamos dessa pequena conexão, mas um ruído mecânico
ensurdecedor irrompe de algum lugar. Dominic fica completamente tenso,
empurrando meu corpo e colocando sua camisa em mim quando vislumbro
um desfile de motos.
— Fique aqui — exige, como se isso fosse possível. Ele caminha até Raze,
que deixa cair sua motocicleta, com uma fúria colossal.
Raze é quem dá o primeiro golpe, que Don desvia, no segundo ele para o
punho violento do mais jovem dos Nikov, virando-o até que esteja contra o
carro. As veias de seus braços incham e seus músculos se contorcem. Nunca
o vi assim, já treinamos juntos antes, quando me ensinou um pouco de defesa
pessoal, mas isso entre eles não é um jogo nem um treino, posso até ver meu
marido se contorcer. Um dos garotos saca uma arma e aponta para Dominic,
enquanto os outros não fazem nada, reconheço um deles. Byron Miller. Meu
marido reprime Raze com a força de seu corpo e com uma das suas mãos,
sendo que a mão direita livre, saca a Glock de suas costas.
— Don, não! — grito. O terror estremece cada parte de mim. Sinto o
medo rasgando. «Não posso perdê-lo». Um pensamento simples e cheio de
veracidade. Raze empurra Dominic para trás, saindo do seu agarre, o último
joga a arma no chão enquanto continuam apontando-lhe, mas agora seu único
alvo é Nikov, que rosna e o ataca novamente. Don o acertou na lateral e
depois com um soco no rosto. Raze balança a cabeça, desorientado, a
surpresa brilhando em seu rosto e perde o controle. Vejo o segundo exato em
que adota essa determinação assassina que possuem. Grito alto ao ficar no
meio dos dois, quando braços rodeiam minha caixa torácica e apertam um
dos meus seios. O toque é desagradável.
— Solte-me, seu filho da puta! — grito, jogando minha cabeça para trás e
ouvindo um som abafado de ossos quebrados.
O homem me solta, deixando-me cair e ao mesmo tempo empurrando meu
corpo. Todos os outros ficam alertas quando olham para algo que não
compreendo em uma lateral.
— Cadela! — revira o sujeito cheio de tatuagens, com olhos selvagens,
sua mão segurando o nariz que acabei de quebrar.
Byron e outro garoto de cabelo comprido agarram Raze, empurrando-o e
forçando-o a recuar, dois outros, um loiro quase da altura de Dominic, tenta
impedi-lo quando vejo meu marido aplicar um movimento em seu pescoço. O
corpo do loiro cai inconsciente ou morto, o outro está prestes a sofrer o
mesmo golpe quando me arrasto pela Glock, tem a trava livre e só atiro para
o alto. O som do disparo fez com que todos parassem. Uma dor no quadril
abrindo caminho e minha vista embaçada, eu me levanto um pouco
cambaleante. Raze parou de lutar e Dominic envolve minha cintura.
— Emilie — implora segurando-me.
— É minha culpa! — Suspiro para Raze —. Don fez isso por mim...
— Claro que é sua culpa! — brada—. Tem ideia do que fez?!
— Não levante sua voz para minha esposa! Caso contrário, esquecerei o
sangue que carrega!
— Esqueça-a e me ataque! — Raze está fora de controle.
— A vadia quebrou meu nariz — outra voz reclama.
— Dominic... — gemo sentindo um frio entre minhas pernas. Ao olhar
para baixo o mundo girar a uma velocidade anormal. Meu marido está
paralisado e todos estão em silêncio. Sangue, vermelho e brilhante, banhando
minhas pernas. Tudo o que consigo visualizar é o corpo sem vida de Valerie
seguido pela explosão e sangue de Quintero, antes de cair diretamente na
escuridão atrás de minhas pálpebras.
A luz é irritante, minha cabeça lateja enquanto ouço ameaças e vozes
sussurrando. Trago uma das minhas mãos ao meu rosto sentindo algo nele,
pisco encontrando uma intravenosa, movo-me quando vejo Roth em uma
esquina vestido com roupas informais e um Raze de aparência torturada
sentado ao pé da minha cama ou onde quer que esteja.
— Não posso permitir que o mate, é meu clube, minha responsabilidade.
— Tem ideia do que acaba de fazer? — rosna Roth —. Poderia ter-me
esperado e isso teria outro final.
— Incendiou meu clube — afirma Raze abaixando a cabeça.
— E você, o que fez?
— O que houve? — pergunto assustada — . Don? Você o matou...?
O medo, seu semblante sério me consome e apenas quero voltar a dormir.
Raze se levanta da cama ao ouvir minha voz e recua.
— Onde está meu marido? — pergunto tentando sentar-me na cama e
sentindo uma dor aguda no meu ventre, estou ferida?
— Eu o trarei para você — anuncia Roth, não deixando dizer mais nada,
enquanto sai do quarto.
— Sinto muito — rosna Raze olhando para qualquer lado, menos para
mim.
— Ainda bem que você sente muito. Não pode atacar Dominic, o que
aconteceria se vocês se matassem? Hein? Vocês são sua única família. Não
pode agir assim por causa de um clube, está mal isso, sei e se for a porra do
dinheiro, eu o ressarcirei. Dê-me a porra de um valor... E o garoto? —
pergunto, lembrando-me de um garoto loiro caído no chão —. Oh, meu
Deus... Dominic o matou, certo?
— Ele está bem — sussurra.
— Olhe para mim, por que não pode olhar-me?
Seus olhos atormentados conectam com os meus, suas sobrancelhas
franzidas olhando-me cheio de arrependimento, oh, mas o resto são golpes e
rosto inchado. Sufoco um soluço vendo seu rosto machucado, uma ferida
aberta em seu pescoço com algum tipo de lâmina, Don lhe fez isso? E como
se acabasse de invocar, meu marido entra no quarto, ao contrário de Nikov,
seu rosto está limpo de qualquer violência física, mas há outra coisa...
Angústia e dor. Roth fica parado na porta rosnando para seu irmão, que não
olha nem para mim nem para meu marido, apenas sai como se fosse um
corpo vazio e inerte, sim alma.
— O que você fez? — murmuro negando.
— Não tanto quanto queria — responde com sua voz fria de Capo.
Olho para as minhas mãos, empurrando os lençóis que cobrem meu corpo.
Tenho uma boxer cobrindo minhas partes íntimas e meu pequeno top da noite
anterior. Estou deitada sobre toalhas e nelas só há sangue, as mesmas que
cobrem minhas pernas, que merda é essa? Abro por completo, procurando de
onde é a origem desse sangue, no entanto, não tenho nenhuma ferida visível.
Procuro meu marido, esperando que me diga alguma coisa... quando vejo
suas bochechas, seus olhos, sua respiração alterada.
— Se tivesse ficado em casa — assovia, caindo no mesmo lugar onde
Raze havia sentado antes, levando suas mãos ao rosto e tremendo de
impotência. Sinto suas lágrimas em minhas bochechas, não sou idiota... Há
coisas que não precisam ser ditas.
— O que…? — suspiro tocando meu ventre.
— Você estava grávida — anuncia sem cerimônia. Sinto o golpe antes de
ouvir as próximas palavras —. Você acabou expulsando o feto... O que podia
ser nosso filho.
— Não — respondo negando —. Não é possível, nós nos cuidávamos.
— Nem sempre usamos preservativo e confiou nisso.
— Eu perceberia, uma mulher sabe dessas coisas — nego. Não pode ser
possível, mas, por que estou chorando? —. Vamos para um hospital, eles...
— A Dra. Falcón está aqui — interrompe sem dizer mais nada, levanta-se
e abre a porta. Vejo a mulher e seu rosto tem todas as minhas respostas. Entra
e anuncia uma série de palavras enquanto choro e me abraço. Dominic se
afasta, olhando para fora de uma pequena varanda. Tinha oito semanas, não é
preciso ir ao hospital, ela me dá alguns comprimidos que me ajudarão a
expulsar o que ainda possa haver do meu bebê dentro de mim. Nenhuma
medida anticoncepcional é cem por cento segura, meu marido e eu fizemos
sexo em muitos lugares, alguns daqueles momentos irritantes, em que
nenhum de nós estava preocupado com o preservativo. Repete o processo que
foi feito quando estava desmaiada, tem um equipamento portátil que coloca
sobre meu ventre e que revela algumas imagens brancas e pretas que só ela
entende e que garantirá que o feto não tem batimentos cardíacos e se
desprendeu da placenta, sua casa... Meu útero deixou minha própria criatura
sem um lar para crescer. Choro, fico destroçada enquanto ela fala.
— Estarei aqui no processo, aplicarei morfina para as dores... Gostaria de
levá-la a um hospital, Sra. Cavalli, mas por segurança seu marido se recusa.
Porque graças a mim Quintero está morto e não só isso, como também meu
bebê que estava crescendo em meu ventre e do qual não tinha a menor ideia.
— Há algo que possa fazer pela senhora? — pergunta, retirando o líquido
restante do meu ventre. Nego agarrando os lençóis com minhas mãos. Não
deveria doer, mas dói. Meu eixo gira, minha mente fica turva e algo dentro de
mim lateja, quebra, grita... Não sei. É confuso e caótico, é como ter uma
segunda pessoa dentro de você cheia de sentimentos e paranoia. E do lado de
fora só posso deixar crescer muros e mais muros de proteção. Uma barreira
se levanta entre nós, desta vez não tem nada a ver com Dominic, sou eu quem
começa a mudar, sou eu que me afasto de ambos. A garota inocente
diminuindo e dando lugar a algo sombrio, a alguém desconhecida.
A porta é o próximo barulho que se ouve quando alguém a fecha, depois
percebo a cama afundando antes que sentir os braços do meu marido
envolvendo meu corpo. Grito e me parto em milhões de pequeníssimas partes
em seus braços, sentindo as lágrimas caindo em meu ombro nu, enquanto
meu marido sussurra notas de uma canção de ninar em italiano, isso me
consola quando tenho certeza que internamente sou culpada por esta perda.
Se não tivesse saído... Se não continuasse lutando uma guerra boba de poder
destinada a me deixar destroçada.
— Shh, mia regina — implora com palavras sufocadas —. Sono qui, ti ho
la mia regina. Sempre... Ti darò um milione di bambini, per favore no
piangere più. [7]
— É minha culpa... Não devia ter saído, é minha culpa.
E quando não me contradiz é a parte mais difícil, porque ambos sabemos,
criei e condenei este destino para um ser indefeso, o único inocente entre nós.
E fui eu quem promoveu esta cadeia de eventos.
A dor emocional é um vulcão em erupção e horas mais tarde se soma a dor
física quando o medicamente começa a fazer efeito, a dor no meu ventre é
insuportável, o suor frio umedece minha testa. Dominic é um leão enjaulado
caminhando no pequeno quarto, enquanto a Dra. Falcón tenta fazer seu
trabalho, a morfina não é suficiente, suas pequenas doses não impedem que
sinta tudo dentro de mim.
Ela continua suplicando ao meu marido para levar-me a um hospital, algo
que não é possível. Os homens de Quintero podem estar em qualquer lugar e,
possivelmente, eu seja seu objetivo principal. Roth tenta convencê-lo a viajar
para a Colômbia em meio aos meus gritos. Posso ver como isso afeta meu
marido e sua resposta retumbante de ficar ao meu lado abala Roth, mesmo
em meu próprio tormento, não posso acreditar.
— Você deve ir — soluço, curvada contra meu próprio corpo. Sentindo
náuseas na boca do estômago e um gosto amargo no palato.
— Não se preocupe com isso — ele me tranquiliza, empurrando alguns
fios úmidos de suor do meu ombro e deixando um beijo que parece doce e
quente nesse lugar —. Um banho quente ajudaria?
— Sim, vou prepará-lo — anuncia a médica.
— Pode deixar, eu cuidarei disso — responde meu marido, afastando-se
de mim, levantei minha mão pegando a sua.
— Leve-me com você — imploro, sentindo-me fraca.
Ele concorda e cuidadosamente levanta meu corpo. Sou um desastre e me
sinto destruída, mas Dominic pela primeira vez me olha com tanta adoração
que chega a oprimir meu peito. Beija minha testa suada, diante da médica que
se coloca de lado deixando-nos passar. O banheiro é espaçoso e me coloca
sentada no vaso sanitário enquanto ele trabalha rápido na banheira. As cólicas
não param enquanto praticamente estou abortando meu próprio bebê morto.
Ele me ajuda a tirar a pouca roupa que tinha e com calma me introduz na
banheira, o contato com a água me faz suspirar, está mais quente do que o
normal e isso é algo que agradeço, tudo se tinge de vermelho imediatamente.
Don abre calmamente a chave e começa a molhar meu cabelo, lavar meu
rosto e de alguma forma cuidar de mim. A forma e sua delicadeza me fazem
lembrar dos nossos primeiros dias, quando depois de quase ser estuprada, ele
lavou meu corpo. Há algo diferente desta vez, e é sua própria tristeza, sua
própria agonia, não tenta escondê-la de mim, pelo contrário, parece cansado.
— Você precisa descansar — digo fazendo-o parar seus movimentos
mecânicos, seus olhos azuis nublados de dor me observam.
— É você quem está sofrendo.
— Você me odeia? — pergunto, mordendo meu lábio.
— Não.
— Mas você está chateado.
— Sim.
— Comigo?
— Sim... E não, porque isso poderia ter sido evitado se tivesse ficado em
casa, com segurança. Você e o nosso bebê, estou chateado porque descobri de
sua existência no momento em que não existia mais, chateado porque minha
esposa está sofrendo e eu não posso fazer ou dizer nada para aliviá-la, mesmo
sendo um filho da puta milionário, não tenho o poder para devolver o nosso
bebê ao seu ventre, sendo o Capo, o homem mais poderoso deste país... Não
posso fazer nada... Porque, se pudesse, seria isso o que faria. Trazê-lo de
volta ao seu ventre e trancá-lo, se necessário. E não diga que sente muito, eu
vejo, posso sentir — diz franzindo a testa —. Se você disser que sente muito,
serei eu quem ficará destruído e não preciso dessa merda agora.
— Também faria de tudo para devolvê-lo para dentro de mim, mesmo que
não sabendo que estava grávida, Dominic, e apesar de tudo o que aconteceu
conosco. Eu o teria amado muito.
— Oh, cara mia — lamenta —. É meu castigo viver e morrer sozinho.
— Não estamos sozinhos, temos um ao outro. — Tento sorrir pegando sua
mão entre as minhas pálidas e fracas —. Apenas dei isso, Dominic...
— Eu a tenho, mia regina. Eu a tenho o tempo todo, sempre.
Capítulo 11

Matei a sangue frio, tendo minha vítima diante dos meus olhos... Arrebatei
a vida de meu irmão, minha outra metade e a do meu próprio pai. Conheço os
gritos de agonia, e desfruto da maioria. Sempre ao tirar uma vida sinto um
prazer destorcido que mais tarde me leva a uma ereção violenta. Agredi Raze,
tentei esvaziar toda minha fúria em cima dele e nada disso me mortificou
mais do que ouvir minha mulher gritando de dor, tremer de suor frio com
uma febre alta. Nunca havia sentido medo antes, não até este momento, onde
devo fazer algo rápido ou terminarei perdendo-a.
E, merda, a mulher é uma dor de cabeça e estamos em algum ponto mais
além do ódio e as contínuas brigas, mas pensar em perdê-la não é opção.
Egoísta ou não, é a mulher que desejo e a única forma na qual aceitarei sua
morte é por questões naturais depois de anos ao meu lado, não antes. Ela tem
que viver e, se existe um Deus, espero que tire minha vida e deixe Emilie
viver para sempre.
— Preciso levá-la ao hospital, Sr. Cavalli... Sua esposa correndo sérios
riscos e não tenho os antibióticos necessários para medicá-la corretamente e,
muito menos temos estrutura e equipamentos para o caso de uma intervenção
cirúrgica.
Retiro o pano de sua testa aceitando as explicações da doutora. Sei que
precisa de um hospital para possíveis emergências. Ela está fria e pálida, seus
lábios estão rachados por causa da febre alta. Olho para Roth e Raze, ambos
estão exaustos devido as últimas horas e eu não quero pensar em mim neste
momento.
— Don... — implora Roth. Curioso como sabe meu próximo passo.
— Ligue para Florentino, peça um andar completo do hospital e reúna
nossos melhores homens. Tente não chamar a atenção, mas que sejam
suficientes para que ninguém entre lá. E preciso de uma ambulância aérea
para levá-la o mais rápido possível.
— Kain se apoderou da Colômbia.
— Poderia deixar de ser meu consigliere por um maldito dia?! Preciso
salvar Emilie e não dou a mínima se Kain é presidente ou se Obama se tornou
terrorista. Preciso do meu irmão, esse com quem lutei ombro a ombro, por
quem construí um império sangrento. Não queria ser Capo e você sabe bem
disso, fiz isso por você — rosno fazendo a médica pular de medo e Roth pisca
olhando-me.
Passa horas e horas preocupado com a Colômbia, insistindo que devo
viajar para fazer novos laços com o novo comando, mas não dou a mínima.
Ao contrário da crença popular, a Colômbia representa apenas 5% do mundo
das drogas. Itália, Rússia, México e Brasil têm maior poder de distribuição
internacional. Toda minha mercadoria é trabalhada principalmente na Itália.
A Colômbia não significa muito para mim.
— Conseguirei a ambulância — sentencia Raze levantando-se.
Pelo menos um deles não está sendo mais idiota.
— Não sabia que você... — Roth continua a negar.
— Você foi quem sempre quis isso, só o deixei trabalhar sob minha
chancela. Sim, gosto de matar, desfruto ter o controle, mas não era a vida que
teria escolhido, se não fosse por essa noite... Agora seria diferente.
Não posso evitar de olhar para minha esposa em meus braços. Se essa
noite nunca tivesse acontecido quem sabe poderia amá-la, ser um pouco mais
luz e menos trevas. Teria partes que mereceria ser apreciadas, mas, agora?
Como pode um anjo amar um demônio? A escuridão sempre será mais
atraente do que a luz. Ela é luz e só me atrai porque sou escuridão e quero
devorar sua luminosidade, alimentar-me dela. Um ímã de destruição em
massa. Sinto uma mão forte apertando meu ombro, dizendo sem palavras que
está aqui comigo. O único ser humano que nunca saiu do meu lado.
Nada mais é necessário, nada de promessas ridículas ou sentimentalismos.
Ambos conhecemos nossos lugares e agimos em relação a isso.
Florentino fez sua parte, a ala completa do Hospital de Nova York está
isolada, Raze consegue uma ambulância aérea em tempo recorde. Três dúzias
de meus melhores homens e quatro da diretoria do clube. A médica com sua
própria equipe, de quem garante a sua confidencialidade. Ordeno ao meu
garoto que invente uma exclusiva para a imprensa que nós estamos em uma
lua de mel improvisada no Caribe.
Preciso tirar não apenas nossos inimigos, como também a imprensa do
nosso caminho. O translado é realizado com sucesso enquanto minha esposa
delira, Roth é quem tem a decência e chama Holden para atualizá-lo em
relação a saúde de Emilie, cuido de Hannah. Depois de Dalila que é sua única
amiga e penso que ela precisará de um ombro feminino, dada a nossa falta de
comunicação, não sou o mais indicado para consolá-la. Horas mais tarde a
febre começa a diminuir, Dra. Falcón descobre uma fissura no colo do útero e
Emilie é submetida a uma curetagem endocervical, assim como uma
transfusão de sangre devido à grande perda de sangue que teve.
— Onde ela está? — questiona o Holden Greystone caminhando em
minha direção enquanto dois dos meus homens o escoltam até a sala de
espera —. O que diabos você fez com ela?
— Ela está recuperando-se — respondo. Não posso dizer que não fiz nada,
porque contribui para levar a minha própria esposa a este estado. Se a tivesse
levado para longe de mim, onde Raze não fosse capaz de chegar e liberar sua
fúria, talvez nada disso teria acontecido.
— Por que ela está aqui? O que houve?
— Estava grávida — explico. Minha garganta arde com a palavra.
“Estava” ... Porque, se Deus existe, Ele sabe o quanto esse termo no passado
está preso em meu corpo. Esse feto era células e sangue em formação. Algo
apenas tentando criar-se em si mesmo e meses mais tarde ser um ser vivo e
perfeito... Ele era quase nada, no entanto, fez-me sentir tudo.
Posso estar errado? Será que os psiquiatras que me diagnosticaram estão?
Porque desde a notícia só tenho um buraco, algo está diferente... Como posso
sentir falta de alguém que não existia?
— Grávida…? — repetiu lívido, deixando-se cair em uma cadeira.
— O quê? — Soluça uma segunda voz, Hannah com seu marido, que
também é um dos meus homens. Landon Ward meu Cassetto, o responsável
pelas contas e dinheiro da famiglia —. Ela sabia?
— Não, nenhum de nós sabia disso — rosnou, desconfortável com esta
situação que só deve ser tratada entre nós, mas não posso negar a minha
mulher e sua gente, a quem ela ama. Raze que ficou à margem se manifestou,
sei que se sente culpada e gostaria de dizer-lhe que não é sua culpa, é parte da
natureza... Suponho.
Minha parte egoísta e vingativa precisa de culpados. É assim que funciona
o mundo da máfia, um erro, um culpado e uma morte. Tudo é um gatilho para
ações. O primeiro erro cometido pela minha esposa, que nunca saiu de casa,
segura sob um teto projetado para provê-la de tudo, um culpado, eu?
Vladimir? Raze? Esse filho da puta que a agarrou quando ela queria deter-
me? Muitos são os culpados e só uma morte. A de um inocente, o que sei
sobre ser pai? O que poderia ser para aquela criatura? Eu o protegeria, não
tenho a menor dúvida disso.
Eu lhe daria tudo, assim como sua mãe, só por ser nosso. Daria minha vida
por ambos e descobri isso n instante em que a Dra. Falcón me disse que
Emilie estava perdendo nosso bebê, porque tudo o que queria era trocar de
lugar se isso deixasse minha esposa feliz, se isso lhe garantisse que voltaria a
sorrir como no passado, antes de ser amarrada a um monstro, porque se assim
fosse... então daria minha vida.
— Isso tem a ver com o misterioso incêndio no clube, no qual pertence a
um de vocês? — pergunta Greystone.
— Não é da sua conta — cuspi, perdendo a calma. Roth fica em alerta.
Sabe que não tenho dormido e muito menos comido há um bom tempo,
entende que a pressão é grande por todos os lados e minha cabeça está em
uma sala iluminada em chamas. No momento, sou puro fogo prestes a
consumir.
— É minha irmã — alega, não é um tom ameaçador ou alto, mas consome
minha pouca paciência. Movo-me rapidamente para que o homem comum
perceba, Hannah grita assustada e Roth se move em sincronia comigo, sem
interferir, mas pronto para me parar se necessário.
— Não era quando você a me entregou? Porque não nos enganemos, não
fez muito para mantê-la ao seu lado. Tremia como uma bichinha assustada e
aceitou ainda sabendo o tipo de diabo que sou, não foi assim?
— Você é o Capo, como lhe negaria algo?
— Se ela fosse minha irmã e Lúcifer a quisesse, primeiro ele teria que
passar sobre a porra do meu cadáver antes de colocar um dedo nela. E pelo
que vejo ainda está respirando, então não fez o suficiente — rosno olhando-o
quando evita meu olhar —. E nem vamos levar em consideração a parte em
que você a deixou com a lunática da sua mãe, que quase a matou quando era
apenas uma criança... Ah, e para finalizar com chave de ouro tinha um
padrasto pedófilo — assovio. Minhas palavras provocam um sorriso
zombeteiro em seus lábios, é a primeira vez que vejo Holden Greystone
mostrar um pouco de sua escuridão na frente dos meus olhos e quando fica na
minha frente para enfrentar-me, sei que suas próximas palavras me farão mal.
— Você não é o único Cavalli que a queria primeiro...
— Holden! — grita Roth, puxando-me de surpresa quando se atreve a
empurrar-me. Meu consigliere, meu irmão, acabou de empurrar meu corpo
ficando entre Greystone e eu, que porra...?
— Do que você está falando? — viro-me pronto para me jogar em seu
pescoço.
— Gabriel Cavalli transou com ela primeiro, é disso que estou falando.
— O quê? — questionei entorpecido ao meu consigliere, que suspeito
sabe muito mais sobre esse assunto.
— A cicatriz que ela tem sem seu pulso foi feita pelo seu pai com um abre
cartas, enquanto tentou fodê-la em grande estilo, e ainda quer falar de
pedófilos? Peça para que Nikov lhe descreva como Gabriel obrigou a Emilie
a chupar seu pau quando ela era apenas uma garotinha, confiamos nele e
acreditamos que nos daria proteção... Porque era nosso padrasto Sua família é
quem arruinou a nossa! Vocês, Cavalli, só sabem causar danos!
Emilie chegou a comentar algo, mas sabia que sua história não estava bem
contada naquela noite na Itália, sou um homem inteligente e sei reconhecer
quando faltam peças importantes em uma história, mas nunca pensei que isso
fosse possível, por que meu pai a machucaria...? O USB universal. Emilie e
sua capacidade de arquivar em sua cabeça tudo o que colocavam na sua
frente. Minha esposa é a arma secreta do meu pai, para quem trabalhou por
meses. E se isso é verdade, Emilie tem informações tão confidenciais que só
ela e meu pai, que está revirando no túmulo, sabem. Confuso com as palavras
expostas, olho para Roth, «por que estou com este sentimento de que você me
mentiu, irmão?».
— Por que você precisamente? — pergunto, vocalizando meus
pensamentos.
— Dominic...
— Desde quando? — corto. Não preciso de nenhuma merda de
explicação. Só quero a porra da verdade —. Você sabia antes ou depois de
colocá-la na minha mira? Foi você quem me mandou sua foto, qual era o
verdadeiro propósito de tudo isso, Nikov?
— Você tem minha lealdade.
— Desde quando?!
— Nessa noite — diz abaixando a cabeça. A noite na qual cometi um
massacre em Jersey para chegar até meu irmão, essa na qual o encontrei
quase morto, estava tão ferido que mesmo para movê-lo custou-me um
inferno, a noite na qual o escolhi acima da famiglia.
— Meu irmão por escolha — sussurro, rindo descaradamente na cara de
um traidor. Sabia que queria Sicília para salvar Raze e eu a dei, tornei-me
nesse homem para que ele tivesse o que desejava, porque era meu irmão,
porque nos escolhemos e descubro que sua lealdade nunca esteve comigo —.
Por que você colocou isso diante dos meus olhos? Qual era o propósito?
— Ela salvou minha vida — anuncia —. Antes dela, ninguém me mostrou
bondade.
— Eu! Eu lhe mostrei isso! — grito em sua cara, rosnando como um
animal selvagem —. Eu o mantive ao meu lado quando era um maldito rato
traidor russo, eu o coloquei acima da famiglia e dos meus homens, eu lhe dei
o juramente para integrar-se a famiglia. Cuidei de você e do seu irmão Raze
como se fossem as coisas mais importantes no mundo, ainda o faço! Tenho
feito de tudo para que Raze seja feliz e tenha a vida que quiser, porque sei o
quanto isso significa para você, eu fiz isso, Nikov! O que mais você me está
escondendo? Nem se atreva a responder!
— Emilie acordou — interrompe Hannah hesitante, aparentemente saiu da
sala antes, deixando apenas os homens presentes —. Ela está perguntando por
você, Dominic... Ela quer vê-lo.
Oh que ótimo, minha esposa que também é uma mentirosa me quer ver. A
quem eu disse a poucas horas que faria de tudo para que nosso casamento
melhorasse, fazendo-me sentir culpado por tratá-la mal, sendo que ela omitiu
suas próprias verdades. Lúcifer, assim você me fode.
Capítulo 12

Conheço a sensação de estar em um hospital, esse cheiro de desinfetante


no ambiente, a luz extremamente branca e irritante, os bipes dos
equipamentos que não o deixam fechar os olhos. Então, quando abro minhas
pálpebras, não fico impressionada ao acordar um pouco confusa. A última
vez que fechei os olhos, meu marido me segurava nos braços e cantava uma
espécie de canção de ninar italiana, sua voz era calorosa e amorosa, com um
timbre doce.
Agora tenho a Dra. Falcón dormindo dobrada em um sofá em uma posição
aparentemente desconfortável, enquanto estou em uma cama de casal, nada
parecido com as macas típicas. Há uma pequena mesa com um arranjo de
flores rosa e uma televisão passando as notícias em silêncio. Estou prestes a
chamar a médica quando uma figura conhecida se aproxima da porta do
quarto. Hannah com seus olhos inchados e lágrimas escorrendo por suas
bochechas.
— Emi... — geme baixinho ao se aproximar de mim e me envolver em um
abraço, do qual preciso —. Sinto muito, pequena.
— Eu o perdi — digo e me desabo —. Não sabia que existia, Hannah. Não
sabia, caso contrário o teria cuidado mais.
— Shh... fique calma. Estou com você, ok? Superaremos juntas. É minha
amiga e não a deixarei passar este momento sozinha.
— E Dominic? Onde está…? Ele está bravo comigo? — questiono
sentindo meu peito doer. A culpa é minha, eu sei... Se não tivesse saído de
casa, nosso bebê ainda estaria no meu ventre. Se não tivesse tentado impedi-
los, se esse filho da puta não me tivesse jogado no chão —. Hannah, procure
por Dominic. Eu o preciso, por favor, encontre-o. Ele tem que saber...
— Calma, vou procurá-lo — ela me tranquiliza saindo da cama. Em um
piscar de olhos, sai correndo do quarto enquanto a Dra. Falcón aperta os
olhos.
— Sra. Cavalli, você tem um rosto melhor.
— Quanto tempo passou? Quanto eu dormi? Por que estou aqui?
— Tinha febre alta e realizamos uma curetagem endocervical, pois tinha
uma lesão no útero... Gostaria que fosse ao meu consultório quando tudo
acabar, ok? Preciso fazer algum teste para descartar...
—-O quê? — interrompi sabendo que Dominic poderia entrar a qualquer
momento —. O que há de errado?
— Eu gostaria…
— O que está mal? — exijo desta vez em um tom que não admite réplicas.
— Talvez não consiga ter filhos no futuro.
Merda. Inconscientemente, coloco minha mão com a intravenosa no meu
ventre. Antes não poder ter filhos não fazia a menor diferença, mas agora... É
aquele desejo persistente de ter o impossível?
— Não estou afirmando nada, Sra. Cavalli, só quero descartá-lo.
— Mas a possibilidade existe?
— Sim — sussurra cansada —. Você tem endometrioma, por isso o
sangramento vaginal intenso e uma fissura no útero.
— Por favor, você poderia não mencionar nada ao meu marido?
— É tarde demais para isso, seu marido já sabe — surge com sua voz
rouca —. Deixe-nos a sós, Dra. Falcón, e obrigado por salvar a vida de minha
esposa.
Suspiro ao ouvir essa simples palavra, até mesmo a própria doutora está
impactada ao escutar meu marido agradecer-lhe por algo. Suas bochechas
ficam coradas enquanto sai da sala. Observo meu marido, que não usa seu
terno elegante de sempre, e muito menos com seus cabelos devidamente
penteados. Ele parece cansado e triste, agora olhando-me com esses olhos
frios carregados de pena e dor.
— Pare de esconder coisas de mim, Emilie. Isso me incomoda.
— Só não queria preocupá-lo mais ou, na pior das hipóteses, você me
abandonaria por não poder dar-lhe herdeiros.
— Não é hora de falar sobre isso. Está convalescente, acabou de superar
momentos dificílimos, não acha?
— Continua chateado comigo? Eu...
— Nada disso importa, não agora.
— Venha aqui, querido — imploro, convidando-o com a minha mão.
Ele hesita, há algo que o atormenta e me surpreende conhecê-lo dessa
forma. Depois de alguns segundos de hesitação fecha a porta e se encaminha
até a cama, sentando-se.
— Tire essa camisa.
— Está mandona, não acha? — ironiza.
Dou de ombros, quero senti-lo. Preciso desta pequena conexão a qual
somente é possível quando ambos estamos nus e uma cama. Bufa, mas tem
aquele brilho em seus olhos quando começa a retirá-la, a tatuagem da
famiglia ri de mim. Deveria tentar fugir desta vida como sempre, dele e das
consequências de ser sua esposa..., mas estou tão cansada de lutar contra um
destino já traçado. Abraço seus quadris, deixando minha bochecha em seu
peito, ouvindo seu coração. Seu braço envolve meus ombros, levando-me
para trás, ambos encostados contra os travesseiros. Este é o meu lugar?
Quero acreditar que sim, porque estar envolta em seus braços é muito bom
e seguro. Não quero continuar lutando.
— Você está bem? — pergunto suavemente, jogando com as pontas dos
dedos nos músculos de seu abdômen.
— Não — admite —. Falhei com minha família.
Meu estômago se retorce, deixo de acariciá-lo e fecho os olhos, chorando
no processo. Não é sua culpa, é toda minha. Fui eu quem desobedeceu, quem
deixou a segurança da nossa casa. Seu polegar limpa meu rosto e quando seus
lábios tocaram minha testa, cada uma das minhas barreiras cai, com lágrimas
e agonia. Eu o abraço com força, soluçando.
— Mostre-me esse coração partido... Deixe-me conhecer cada cicatriz
interna, Dominic. Quero amar meu marido e que ele me ame também —
sussurro, enxugando minhas bochechas sem olhá-lo. Não posso, ainda
continuo sendo uma covarde. Don está em silêncio. Ambos sabemos a
verdade, não pode amar-me. Nunca me amará.
— Eu te amo — confesso, renunciando à minha dignidade por alguns
segundos —. Quero que saiba... Eu te amo e continuarei amando-o sem me
importar com o nosso futuro juntos.
Dominic franze a testa olhando-me, como se acabasse de ser golpeado. Ele
se repõe, como sempre, voltando a ser essa pessoa fria e controladora.
«Este homem acaba de me quebrar, mais uma vez».
— Dorme um pouco, descanse algumas horas. Este não é o momento para
esta conversa.
E quando será? Provavelmente nunca.
~♦~
Queria acreditar que voltaria a normalidade, mas não foi assim. Saí do
hospital dois dias depois, com um Dominic diferente, menos frio e distante e
muito mais compreensivo.
Ele cuidou de me manter limpa e saudável, sempre fazendo as refeições na
hora certa. Passamos na cama do hospital, conversando sobre coisas sem
importância. Em outras situações, apenas observei trabalhar silenciosamente
em seu laptop. Hannah passou algumas horas comigo, Raze era responsável
por monitorar minha porta como um falcão. Roth, por outro lado, não voltou
mais a falar com Dominic; nem Holden, apenas enviou flores com um cartão
expressando seus sentimentos.
Vladimir também enviou flores, as suas mais discretas ao unir o nome de
Dalila no cartão, eu a havia chamado, mas ela não respondeu nenhuma de
minhas ligações, então simplesmente desisti.
Em meio a dor da perda algo me unia ao meu esposo, uma linha tênue
invisível agora nos mantinha pendentes um do outro. Os dias se passaram,
voltamos a nossa cobertura onde Marcela nos recebeu com um semblante
triste, também sofria um pouco com a nossa dor. Os dias eram longos, estava
na cama chorando, dormindo de cansaço emocional, minha vida se tornava
sombria.
Ouvia Don perguntar se eu estava um pouco melhor e recebia a mesma
resposta. Não me incomodava, não invadia meu espaço, apenas o sentia na
madrugada ocupar seu lugar na cama e nas manhãs quando ele saía do nosso
quarto. Três semanas depois daquela noite, quase na véspera do Natal, meu
marido ficou na cama, dormindo comigo, envolvendo meu corpo em abraço
forte.
É estranho acordar em seus braços, mesmo depois do meio-dia. Sinto
meus olhos inchados e meus cabelos despenteados, não me lembro quando
foi a última vez que os alisei. Dominic se move, enfiando sua cabeça na
curvinha do meu pescoço.
— Hmm, você cheira a frutas — sussurra dando-me beijos curtos no meu
ombro e pescoço —. Tenho algo para você.
— Quero ficar na cama.
— Já está na cama há muito tempo, agrade-me por favor.
— Don...
— Por favor, mia regina. Isso me deixaria muito, muito feliz.
— Devo vestir-me elegante?
— Você pode até ficar nua... embora não seja uma boa ideia. Vamos, está
aqui em casa.
— Aqui? — perguntou franzindo a testa enquanto meu marido retira os
lençóis e me carrega em seus braços.
Minha longa camisola preta agarrada aos meus seios e ele dando um olhar
atrevido neles.
Bati em seu peito, brincando, é isso que quero dizer, agora há uma
pequena paz entre nós. Nenhum tenta iniciar uma conversa, muito menos
uma briga. Não mencionamos essa noite ou a razão pela qual Roth não está
perto de nós. Dominic não fala e estou muito cansado emocionalmente para
perguntar.
Preciso desse tempo para mim, um pouco de tranquilidade em meio a
tantas mudanças. Existem, desde então, sequelas tanto físicas quanto
emocionais, agora tenho pesadelos com a morte de tantas pessoas. Dominic
tem seus braços mais fortes, aparentemente, vem treinando para deixá-los
assim, seus cabelos estão um pouco mais compridos e está com olheiras.
— Onde está Roth? Por que ele não voltou?
— Não se preocupe com isso.
— Você parece cansado — murmuro, tocando sua bochecha.
— Tem sido semanas difíceis, só isso.
— Sim..., mas estamos bem? Nós, certo?
Ele hesita, colocando-me em pé enquanto se inclina sem me dar tempo
para reagir e pressiona seus lábios contra os meus em um beijo suave, um
toque calmo. Sinto essa sensação familiar atrás do meu pescoço, algo
gritando-me que tudo irá para o inferno em um piscar de olhos. Quando se
afasta seus olhos cheios de adoração... Deus, minhas pernas tremem ao me
ver refletida neles. É como se o tivesse mudado, acordar um dia e ver o
sentimento mais puro nos olhos de quem você ama profundamente. O que
está acontecendo? É porque perdi nosso bebê? Por um acaso é tristeza
disfarçada de outra coisa?
Ele me vira delicadamente, deixando-me apreciar uma enorme árvore de
Natal natural que decora nossa sala central, a ponta quase chega ao teto, é
verde e frondosa. Meus olhos se iluminam vendo as caixas cheias de bolas
coloridas, luzes e decorações em miniatura, tem até um trem!
— Isso é um nascimento! — grito caminhando até o móvel e pegando a
imagem de José e os animais. É uma bagunça generalizada, precisa ser
organizada imediatamente —. Você comprou tudo isso para mim? Você quer
ter uma árvore?
Ele parece vulnerável quando evita meu olhar.
— As famílias tem tradições, pensei que gostaria de ter uma para que
fosse decorada por você.
— Claro! Venha! — chamo dando pulinhos de felicidade —. Temos muito
o que fazer e pouco tempo, meu Deus! Que dia é hoje? Podemos convidar os
rapazes? Uma festa! Não fique parado! Ajude-me com as luzes!
Dominic apesar de estar sorrindo, franziu a testa e já está negando aos
poucos.
— Ah, vamos lá, não me diga que não decorava com sua mãe? Sei que é
um milionário, mas decorar a árvore é tradição.
— Minha mãe estava muito ocupada com sua vida para lembrar-se de
coisas tão... simples — comenta um pouco amargurado.
— E a nonna?
— Provavelmente a teriam castigado.
— Então você nunca comemorou o Natal? Don?
— Não...
Às vezes me esqueço de como deve ser difícil crescer na máfia, ser um
dos próximos filhos a assumir o comando. Meu coração se aperta enquanto
olho para a bolsa vermelha em minha mão, é brilhante e grande.
E só posso ter uma imagem. Uma criança triste e solitária sem comemorar
o Natal e, em contrapartida, uma menina rindo alegremente nos ombros de
seu pai colocando uma estrela na ponta de uma árvore. Jogo a bolsa para o
meu marido que, graças aos seus reflexos, ela a pega imediatamente.
— Nossa primeira tradição será decorar a árvore e ensinar nossos filhos, a
cada Natal... Promete?
— Droga, mulher — assovia, antes de perceber que estou em seus braços
—. É minha rainha, a porra de um anjo enviado à minha vida.
— Eu o tenho, lembra-se?
— Eu te odeio, Emilie Cavalli, você é uma foda insuportável.
— Uau, que romântico! — rio, ficando nas pontinhas dos pés pronta para
beijá-lo —. Aprendi com o melhor.
Capítulo 13

Ele escreve meu nome em uma bola de Natal, dessas para personalizar
com um marcador, é metódico e calmo desenhando uma borboleta ao lado.
Não posso acreditar no que meus olhos veem, temos mais da terça parte
decorada, mas ao me virar o encontrei concentrado no desenho, suas
sobrancelhas franzidas enquanto trabalhava cada peça com calma.
Nunca imaginei ver algo parecido ou ser a destinatária de um Dominic
amoroso... Não tinha natais normais, brinquedos ou tradições. Às vezes, ou
melhor, sempre esqueço sua vida real, é um menino que cresceu na máfia
com um pai como Gabriel Cavalli. Limpo minhas mãos, removendo o resto
de brilhantina, fizemos um bom trabalho e nossa árvore é linda, mas a
montamos toda desorganizada. Sentindo-me um pouco cansada pela falta de
movimento físico nas últimas semanas, vou até Dominic no móvel central e
me sento em seu colo, procurando um lugar perto de seu peito.
Meu marido não se mexe, deixa-me quase cair sobre ele, mas continua
rígido. Giro minha cintura e suspiro fechando meus olhos, ignorando o
quanto me afeta este momento, implorando internamente para que não
arruíne com essa muralha de crueldade já conhecida no passado.
— Diga-me uma coisa — sussurro —. Como foi no trabalho?
— Tudo em ordem. Nada do que precise preocupar-se.
— Você sempre diz isso... — eu me viro. Mordendo meu lábio —. Conte-
me sobre sua mãe.
Eu o agarro firme, esperando, enquanto o silêncio começa a se instalar
entre nós.
— Como é terrível conhecer, quando o conhecimento não favorece quem
o possui — parafraseia uma citação de Sófocles.
— Você acabou de citar Sófocles? — gemo, impressionada.
— Não sou ignorante, esposa, acredite ou não, gostava de ler em uma
época muito, mas muito remota. Mas me surpreende que uma devoradora de
livros eróticos reconheça um dramaturgo grego.
— Sou uma amante da mitologia grega — confesso.
— Não tenho a menor dúvida disso, às vezes quando estou fodendo este
corpinho, você não para de me chamar de grande deus todo-poderoso do
Olimpo. Sou um Zeus do século vinte e um...
— Dominic! — grito repreendendo seu comentário.
Embora, isso seja verdade. Uma porra de um deus destinado a destruir.
Deixa sair uma risadinha infantil, fresca e um pouco estranha, não porque
seja feia ou estridente, mas porque nunca o ouvi sorrir desse jeito. Levanto
meu olhar para encontrar o seu, ao lado de seus canais lacrimais duas linhas
de rugas são formadas pelo seu sorriso amplo.
— Os doze deuses o invejam, criou um império para você e aos seus. É
grande em seu mundo...
— Nosso — ele a interrompe, surpreendendo-me ao pegar meu queixo
com um pouco de força —. Este é o nosso mundo e as últimas semanas
apenas reafirmam minha promessa, não deixarei ninguém machucá-la.
Matarei por você, Emilie. Assassinarei sem culpa em seu nome... Não posso
jurar amor, mas prometo-lhe disponibilizar a minha vida e garantir seu futuro,
embora soubesse que não queria essa vida e reconheço que a obriguei a se
casar comigo, mas não sabia...
— O que você não sabia...? — questiono montando em seu colo. Suas
mãos vão para minha cintura, segurando-me no lugar.
— A dor que você sentiu.
— Você sabia, o fato é que você não se importava.
— É verdade — rende-se, sua mão sobe lentamente pelas minhas costas
até o meu pescoço, puxando-me para seus lábios.
— E agora você se importa?
Pronta para receber seus golpes habituais com minhas palavras.
— Sim, é verdade. Eu me importo muito com você.
É de longe a coisa mais próxima de mostrar qualquer sentimento.
— Perdemos um bebê... É por isso que me trata assim agora?
Não consigo parar de pensar em Hannah, como Landon a trata e mais a
agora. Ele morre pelo filho, mas Hannah é apenas um acessório em sua vida.
Não quero ser essa mulher, «a mãe de seus filhos e ponto».
— Assim é como desejava tratá-la desde meu erro na Itália, só que você
abaixou apenas algumas defesas. As primeiras semanas do nosso casamento
não foram as melhores e não havia meio onde pudesse chegar até você, tinha
direito de agir dessa forma.
— Por que fez isso?
Suspirando, joga a cabeça para trás na mobília, expondo seu pescoço
áspero e barba, mas isso dá um toque sexy.
— Sou um idiota... quero dar-lhe uma desculpa melhor, mas não a
encontro. Estava um pouco assustado do quanto a queria, da nossa
proximidade, da sua rebeldia. Antes de você entrar na minha vida, nessa
manhã em que soube da sua existência, só queria voltar para a famiglia,
governar meus homens e, de repente, nessa mesma manhã, tinha uma garota
com fios de mel em uma foto, com grandes olhos esmeraldas me enfeitiçando
e todo meu universo começou a girar ao redor de você... Isso me assustou,
ainda me assusta. Não tem ideia de todas as coisas que estou disposto a fazer
por você, Emilie.
— Senhor. — A voz de Nick nos faz olhá-lo, com seu semblante
aparentando certo desconforto.
— Avisei para não ser incomodado hoje, Nick.
— Sim, senhor, mas algo aconteceu... O Sr. Ward está chegando.
— O quê? — resmunga Dominic, tornando-se novamente o Capo dos
Capos.
Desço de seu corpo e ele se levanta rapidamente começando a sair da sala,
olho para a árvore e suspiro está quase pronta, antes de seguir os passos do
meu marido até o corredor, onde as portas do elevador estão abrindo-se,
revelando um Landon extremamente preocupado.
— Tenho tentado chamá-lo, temos que tratar este problema agora — diz
sem qualquer tipo de saudação e perdendo todas essas palavras doces que
sempre usa para envolver Dominic. Meu marido me observa por cima do
ombro, sei que me está mandando sair da sala e subir para o nosso quarto,
mas ele me conhece e sabe que isso é impossível.
— Qual é o problema? Pode falar na frente da minha esposa.
— Acho que não seja indicado.
— Fale, Landon, seja o que for. Apenas diga.
— Uma de suas contas com o dinheiro lavado está zerada... Não há um
puto centavo — diz Landon recuando, como se Dominic fosse atacá-lo.
— Qual conta? Quem pode ser tão idiota de fazer isso?
Então Landon me observa e, consequentemente, meu marido. Não recuo
diante de seu olhar analítico, porque não tenho culpa aqui, na verdade, não
tenho a mínima ideia do que estão falando.
— Não fiz nada — digo quase sussurrando —. Não tenho ideia do que se
trata.
— Quem? — assovia meu marido em uma ameaça baixa, seus olhos
suavizaram em mim antes de voltar a olhar para nosso convidado.
— Holden Greystone, senhor.
Oh, meu Deus. Meu mundo estremece e eu recuo, colidindo com Nick
atrás de mim, buscando apoio na mesa de centro com uma mão e a outra
levando-a à minha boca, evitando deixar escapar um soluço de angústia.
— Quero meu carro pronto para sair — rosna para Nick, cruzando diante
de nós sem parar.
Conheço meu marido, viver com ele me mostrou certas partes, sei quando
algo o incomoda, quando está feliz com algum fechamento de negócio ou
essas noites nas quais alguém morreu em suas mãos, até mesmo quando está
disposto a incendiar a porra do universo. E agora quer a cabeça de alguém
que se considera mais inteligente do que ele, e esse é, simplesmente, meu
irmão.
— Dominic! — grito seguindo seus passos, tento impedi-lo na escada,
mas ele está subindo o último lance. Landon agarra minha mão, implorando
para não segui-lo —. Ele vai matar meu irmão, não entende?
— Eu sei. Mas ele roubou dinheiro de il capi de tutti capi.
— Ele é meu irmão — rosnou livrando-se de seu agarre e subindo ao
andar superior para encontrar meu marido no nosso quarto trocando suas
roupas por uma informal preta.
— Não me diga nada, Emi.
— Dominic, o que vai fazer? O que Holden fez? Quanto dinheiro é? Posso
pagar isso. Por favor me escute. Explique-me o houve?!
— Vou matar esse filho da puta desgraçado! É isso o que farei!
— Ele é meu irmão! — grito desesperada, observando quando ele pega
suas facas.
Movo-me angustiada, confusa e com o coração batendo disparado. Sua
arma está sempre apoiada ao lado da cama, nunca a escondeu de mim, não
representa uma ameaça. Sabe que nunca usaria para machucá-lo, mas hoje é
diferente quando a pego.
Dominic está parado em pé na frente da minha cômoda pegando seu
celular e carteira quando a destravo e aponto. Minha mão não treme com a
nove milímetros banhada a ouro e a flor de lis gravada no cabo. Meu marido
fica parado, um made man reconhece quando uma arma está destravada,
reconhece também quando uma pessoa está desesperada e possui o controle
sobre o projétil. Não pressagia um desenlace nada agradável para ninguém.
— Não me obrigue a escolher — gemo, endireitando os ombros. Se tentar
atacar-me atirarei em você três quarto abaixo da costela, você viverá, embora
eu não tenha o mesmo destino.
— Você já fez, querida, é para mim que está apontando minha arma. Este
é um novo nível de loucura, se atirar, não terá saída nesta cobertura, você não
é uma assassina.
— Ele é meu irmão… — soluço.
— E eu sou seu marido — afirma, encurtando a distância entre nós, sem
medo de uma lunática armada. Põe sua mão no bolso de sua calça jeans e
retira um cilindro da mesma cor da arma e me entrega —. Este é um
silenciador, isso lhe dará alguns minutos para fugir. No meu escritório está o
meu cofre, a senha é o mesmo número da sua conta bancária e lá encontrará
documentos de identidade com sua foto e não são rastreáveis, só por mim,
mas já estarei morto — aponta com uma voz fria —. E com muito dinheiro,
terá que viajar de um ponto a outro por cerca de quatro ou seis meses,
podendo assim afastar-se da mira de Roth. Então, aproveite sua única chance,
porque se não fizer isso, sairei e matarei seu irmão por foder-me. Roubou-me
e isso não permito.
— Ele é milionário, não precisa roubar... Não faz sentido.
— Ele fez isso para zombar da minha cara, acreditando que possui alguma
imunidade pelo fato de eu foder sua irmã — cospe.
— Lembre-se de suas palavras um pouco antes de recebermos esta notícia.
Sei que é o seu ego falando, mas disse que se preocupava comigo, isso não
conta?
— Ah, claro que conta, é a única razão pela qual ainda me está apontando
esta arma... — E antes de registrar, move seu corpo em sincronia com sua
mão, gira meu pulso no processo e um segundo depois não tenho nada em
minhas mãos, ele me desarma com maestria —. Nunca hesite quando tiver a
oportunidade em suas mãos.
— Farei qualquer coisa, o que quiser, mas não o mate. Fale comigo, por
favor, por que Holden quer zombar de você?
— Porque não é homem suficiente e lhe disse isso diante de todos, não
lutou por você, não a protegeu como deveria e agora quer brincar de mafioso.
Vou assassiná-lo — rosna, deixando para trás a situação desastrosa da arma.
Eu o chamo, caminhando atrás dele, desesperada, lutando para fazê-lo
raciocinar, mesmo sabendo que não existe poder humano no mundo que seja
capaz de pará-lo. Ele ordena a Nick que não me deixe sair e seu rosnado é tão
mortal que chega a me assustar. Landon o segue como se fosse um
cordeirinho.
— Dominic, não!
Desesperada, corro para o telefone discando o número de Holden, mas não
atende, tento o de Savannah, que me envia para a caixa postal. Os dígitos do
telefone celular de Roth são os seguintes, isso sim responde ao segundo tom.
— O que houve? — pergunta tranquilamente.
— Ele vai matá-lo, Roth. Dominic matará meu irmão, meu Deus!
Choro, as lágrimas simplesmente saltam dos meus olhos.
— Ajude-me, por favor me ajude.
— Emilie, calma e me explique o está acontecendo. Não estou entendo
nada — diz, dá para ouvir ruído de animais, cavalos talvez. Começo a relatar
o pouco que sei, as palavras de Landon e as de Dominic, pois assim que
termino de falar Roth promete sair de emergência e tentar controlar a
situação. Rezo por meu irmão, prometo fazer o que for possível para salvar
sua vida. A desligar, estou trêmula e com um Nick surpreso ao meu lado.
As horas seguintes são um martírio, não tenho notícia e estou prestes a
enlouquecer, não parei de chorar. Nonna, aparentemente estava em outro
lugar, entra e tenta convencer-me a comer um pouco, mas recuso.
Também não parei de chamar a Savannah e Holden... A essa altura, os
dois poderiam estar mortos, oh Emma! Se Dominic causar algum dano à
minha família, meu sangue, jamais poderia viver com ele, se prejudicar de
alguma maneira o futuro de Emma. Então o enviarei diretamente ao inferno.
Às quatro da manhã estou na sala andando de um lado para o outro,
nervosa e à beira de um colapso, quando ouço barulho no corredor, caminho
abraçando-me e encontro meu marido vestido diferente de quando saiu há
algumas horas da cobertura. «Estava assassinando».
Ele parou de voltar para casa manchado de sangue quando percebeu que
isso me causava nojo, embora nonna não se incomodava de lavar suas
roupas, eu sim, mais de uma vez fui vomitar no vaso sanitário.
Atrás, cauteloso, está Roth, tem uma barba mais longa, assim como seu
cabelo. Dominic cambaleia e percebo que está bêbado. Viro meu olhar para
Roth que me nega, mas não sei se para minha pergunta silenciosa sobre meu
irmão ou se deveria ficar em silêncio.
— Dom...
— Tssk! — assobia para me parar —. Você, panterinha... Você bagunçou
minha cabeça.
— Só me diga que não o machucou, por favor.
— Como poderia machucar minha esposa assim? Como…? Antes de
conhecê-la era todo poderoso e agora...! O que sou agora um maldito imbecil.
Um pouco de paz vem até mim, envolve meu corpo e só deixa para trás
um halo de cansaço, angústia e dor para meu marido.
— Vamos, Dominic. A garota não tem culpa — intervém Roth.
— Cale a boca, traidor. Vocês dois, foram feitos um para o outro, por que
não se unem e têm mini traidores juntos? Isso a deixaria feliz, esposa? Certo?
— Não — respondo —. Isso não me deixaria nada feliz.
— Mentirosa... mentirosa, mentirosa! — cantarola.
— Vamos para a cama, você está bêbado.
— E tirará vantagem de mim? — pergunta como uma criança inocente.
Roth não pode deixar de rir recebendo um olhar duro do meu marido.
— Não, estou muito chateada e quero dormir.
— Não quero dormir, quero fazer muitas miniaturas de você, Emilie... —
Ela para franzindo a testa, aproveito para agarrar sua mão —. Acho que eu
ficaria louco, melhor seria ter minhas miniaturas.
— Então, eu ficaria louca.
— Quero um de cada, mas você me odeia, então não me deixará colocar
dentro da sua vagina.
— Dominic! — eu o repreendo, minhas bochechas se ruborizaram.
— E fica corada em todas as partes... Eu sei.
Mãe do divino, enterre-me na lua se possível agora mesmo. Não sou capaz
de olhar para Nikov agora, apenas levando meu marido bêbado para cima e
encontrando uma maneira de ficar sozinha com Roth e descobrir o que diabos
aconteceu. Dominic é um bêbado brincalhão, toca meus seios, tenta colocar
uma das mãos na minha virilha e como se não bastasse puxa meu corpo,
subindo em cima de mim e me encurralando na cama, com todo seu peso
sobre mim. Começa a beijar meu pescoço e, porra, cada parte certa ganha
vida com desejo e expectativa.
— Você está bêbado — gemo sentindo seus dedos subindo pelo meu
vestido e chegando perigosamente da minha privacidade. Desde essa noite
não tivemos nenhum contato sexual.
— Você disse que me daria qualquer coisa — murmura próximo ao meu
pescoço entre mordidas.
— E o que me garante que não está mentindo?
— Garota esperta — cantarola, movendo-se e pegando o celular e ligando-
o sem ajuda. Deixa o celular ao lado da minha cabeça tocando alto.
— O que você quer, Cavalli? — rosna a voz de Holden na linha. Meus
olhos se enchem de lágrimas.
— Você está bem? Savannah, Emma? — pergunto.
— Abóbora… Sim, eles estão bem.
— Por que, Holden? Por quê?
— Fim da chamada — ordena Dom, cortando a chamada e observando
minhas lágrimas —. Ninguém pode machucá-la.
— Só você, certo?
— Não quero, mas é inevitável. Sou um Cavalli, eles não sabem amar de
outra forma... Por isso nosso bebê morreu, teria o meu sangue e seria uma
maldição para você carregar em seu ventre o filho de um monstro como eu.
Você o odiaria como minha mãe me odeia, como você me odeia.
E minha alma se quebra ao ouvi-lo.
— Eu o amaria... — «Assim como eu o amo».
Puxo seu pescoço, procurando sua boca e sentindo aquele gosto azedo de
whisky nela. Don me responde e rosna, sua boca punitiva não desiste,
impulsiona sua língua saqueando em todos os lugares, suas mãos trabalham
no cinto de sua calça e então o sinto empurrar minha calcinha sem rasgá-la,
colocando a cabeça de seu pênis em meu clitóris dolorido, sem preliminares
ou hesitações ele me penetra com essa calma que usou na nossa primeira vez,
aos poucos, afastando o rosto do meu e fechando os olhos, deixando a cabeça
cair para trás, sussurra palavras em italiano, externando sua satisfação com a
minha boceta. Com as emoções colidindo umas com as outras, eu puxo sua
camisa, rasgando os botões e admirando a obra de arte que é meu marido,
meu. Sem se mover dentro de mim, expandindo-se de tal forma que esbarra
na dor.
Grito quando ele recua e é empurrado com um golpe brutal
— Dominic — choramingo. Leva seu polegar a minha boca, abrindo meus
lábios e o coloca dentro dela. Fodendo minha boca da mesma forma que entra
e sai do meu interior, mantendo um padrão e não deixando de tirar aquele
olhar azul das minhas esmeraldas.
— Quero fazer amor com minha esposa, mas estou muito bêbado — diz
antes de tirar o dedo da minha boca e seu pau com uma ereção dolorosa
dentro de mim. Ele cai ao meu lado, com o rosto para cima —. Quero que
você me foda, Emi. Tire vantagem de seu marido.
— Adoraria fazer isso — gemo de dor. Maldição. Ficamos deitados, meio
nus, meio loucos e um pouco tóxicos. Seu braço cai sobre minha cintura me
puxando para seu peito, eu me aconchego, deixando os eventos das últimas
horas cobrarem seu preço. E me adormeço nos braços de um homem
atormentado, que mata sem piedade, mas por algum poder divino, hoje se
controlou e perdoou a vida da única pessoa que me resta nesta vida a quem
posso chamar de família.
~♦~
Quando acordo, estou suada e com minhas pernas entrelaçadas de forma
pouco natural ao corpo do Capo com a luz do sol entrando no quarto. Bocejo
e, como posso, saio de suas pernas e braços, colocando no lugar um
travesseiro no qual meu marido se agarra.
Eu tiro minhas roupas e tomo um banho antes de me enrolar em uma
toalha e com o cabelo molhado desço até o primeiro andar, para minha
surpresa Roth está na cozinha diante de um prato cheio de panquecas e com
uma nonna sorridente servindo-lhe bacon.
— Bom dia — digo em italiano para os dois, que olham para o meu
pescoço —. Tenho mordidas, certo?
Roth, que está com a boca cheia, concorda.
— Onde você esteve? — pergunto finalmente, há dias que não o via aqui
desde a noite do clube.
— Dominic ficou chateado comigo e me mandou manter distância —
explica depois de digerir a comida.
— Por que se irritaria com você? Vocês dois são como um casal
inseparável.
— Cometi um erro.
— E não é da minha conta. Ok, ok... eles me cansam de tanto mistério. Eu
me preocupo mais com meu irmão, o que aconteceu?
— Por que você não lhe pergunta?
— Você está proibido de falar comigo? — olho para trás.
— Não, Emilie, mas estou cansado de prejudicar Dominic por sua causa.
Ele é meu Capo, meu chefe, meu irmão e já o traí várias vezes por você,
adivinha? Não farei mais isso, sabe do que me arrependo? O fato de ter
manipulado Dominic para que se casasse com você, devia ter deixado que
Vladimir fosse seu marido, talvez assim valorizasse mais o que os outros
fazem por você.
— Como assim? Não posso acreditar que me diga isso. Não é minha
maldita culpa e você sabe disso...
— E o bebê? Não foi sua culpa? Tem ideia do mal que fez a Dominic ou a
Raze? Para o relacionamento de todos nós? Você é como uma infecção, ataca
silenciosamente e, quando é detectada, já é tarde demais.
— Por que de repente me odeia? Como ousa mencionar meu bebê? Fui eu
quem o perdeu! E, sim, é minha culpa e tenho que carregar isso! Mas você
não tem o direito de jogar isso na minha cara...!
— E não o fará de novo — rosna Cavalli com uma voz rouca e sonolenta
—. Exijo que mostre respeito por minha esposa e não mais lhe fale assim
novamente, Roth. Não tolerarei isso.
— Sabe perfeitamente todos os danos que ela fez e, ainda a defende?
— Enquanto Emilie Cavalli respirar, qualquer um dos meus homens terá
que demonstrar-lhe respeito, incluindo você. Se não puder cumprir essa
ordem, as portas da famiglia estão abertas para que possa sair.
Não posso acreditar no que ouço ou vejo, não foi minha intenção, mas
estou dentro da tempestade vendo como a lealdade e o respeito foram
quebrados, como sem querer, separei dois homens em conflito sob um
juramento de sangue mútuo. Estou testemunhando em primeira mão a queda
de uma irmandade. E não sei o que fazer com isso.
Capítulo 14

Preciso voltar à minha rotina, essa que me mantém estável. Roth e


Dominic se reuniram no escritório para discutir logo depois de sua ceninha na
cozinha, quanto a mim, troquei de roupa para sair enquanto espero Raze
chegar, já que será meu segurança quase que permanente por ordens do meu
marido. Olho para a árvore, essa que ontem a decorava com tanta ilusão, em
que notei partes do meu marido.
A esfera de plástico transparente na qual ele desenhou meu nome, está
localizada na mesa central. Agacho-me para avaliá-la na minha mão, a letra
cursiva do meu nome e essa delicada borboleta de um lado, não compreendo
que ela tem a ver com o Natal, mas suspeito que não tem nada a ver comigo.
Sinto sua presença atrás de mim, é estranho, como se de alguma forma
estivéssemos unidos por algo mais poderoso a este mundo. Sorrindo triste, eu
me viro encontrando-o só de calças de moletom, parece que tem planos para
treinar.
— Está trocada, quero dizer, como antes.
— Irei ao orfanato e depois ao restaurante com as meninas. Raze está a
caminho.
— É domingo... pensei que ficaria em casa.
— Preciso voltar à normalidade ou pelo menos tentar.
— Leve Nick com vocês e, pelo amor de Deus, Emilie, não me faça outra
bobagem. Não me obrigue a algemá-la novamente.
— Bom — desisto e caminho até ele esticando-me para beijar sua
bochecha —. Ontem você queria formar tradições e eu estava muito animada
com isso, mas então nosso mundo nos atingiu novamente e me pergunto, será
sempre assim? Vai abandonar sua família pela máfia? Terei que ver meu
marido sair de uma reunião de família porque algo aconteceu na organização
e não pode ser delegado a mais ninguém?
Entendo que este é o nosso mundo, mas o que aconteceu ontem, é
imperdoável. Sim, Holden foi um grande imbecil, mas Dominic não pode
agir assim por impulsividade... Não sou a melhor pessoa para dizer sobre
isso, porque tenho errado muito em tão pouco tempo, as pessoas pagaram por
isso, inclusive a vida do meu próprio bebê.
— Fiz isso por você — confessa, olhando-me —. Acha que um dos meus
homens hesitaria em matá-lo? Acha que Holden estaria vivo se ele não fosse
seu irmão? Fiz por você, mas não quer entender, não é mesmo? Sempre se
faz de vítima. Ocultei quem eu era, sim, mas a partir do momento que tomou
conhecimento de quem eu realmente era, passei a ser sincero com você. Disse
que não poderia amá-la, mas a protegeria e assim faço todos os dias. Na Itália
falamos sobre isso, teria que fingir que você não representava nada para mim,
para que os meus inimigos não a vissem como minha fraqueza, para que não
se tornasse um alvo contra mim. Está tão fechada e cega na minha suposta
infidelidade que não consegue ver nada além disso. Mato pessoas, Emilie.
— Cale a boca... — suspiro, afastando-me.
— Desfruto fazer essas coisas... — continua aproximando-se, fecho meus
olhos quando sua mão vai ao redor do meu pescoço. E não posso deixar de
reagir à sua proximidade, minhas mãos contra seu peito nu, seus músculos
tensos. Deuses —. Estas mãos que lhe dão prazer, também se mancham de
sangue, castigam mais de um homem. Deveria tê-lo claro, inclusivo você
sofreu com elas.
Não deveria ruborizar-me ou até mesmo sentir-me úmida... Mas tudo está
conectado a essa lembrança, sua mão batendo na minha bunda, a forma como
se apoderou de mim. Abro os olhos cheia de desejo.
— Eu o deixaria fazê-lo novamente — sussurro em um gemido baixo e
calmo.
— Não preciso de sua permissão para tirar o que é meu, cara mia —
afirma nesse jogo de poder e ego, sorrindo meio de lado —. Coloque sua
delicada mão dentro das minhas calças e agarre meu pau, Emilie. É meu
prazer e o quero agora.
— Você quer ou precisa?
— Preciso — rende-se, sua mão direita pegando meus cabelos e puxando
com força.
— Necessitar não o torna fraco.
— Não sabe o que está dizendo. E, que tal agir mais e falar menos?
— E você poderia parar de ser um filho da puta? — repreendo-o rodeando
seu eixo com minha mão sem conseguir envolvê-lo totalmente e o espremo.
Meu marido passa a língua sobre seu lábio inferior. Está tentando seduzir-me.
— Oh, estou apenas começando. Quero um boquete da minha doce esposa
com essa boca incrível que possui.
Pisco, desconcertada. Nunca me pediu tal coisa, temos praticado novas
posições e, embora não seja uma safada na cama, temos um bom sexo e ele
uma língua prodigiosa...
— O que houve? Não gosta da ideia?
— Eu não... — gaguejo sem ter absolutamente nada na minha mente.
— Não consegue imaginar isso? Meu pau entrando e saindo da sua boca?
Seus mamilos duros contra a blusa de uma boa menina e sua boceta
encharcada, pingando e implorando para ter meu pau em troca ou, algo a
impede para que eu possa desfrutar de seus lábios na minha demanda?
— Tenho que ir e qualquer um dos rapazes pode entrar...
— Estamos sozinhos, Marcela está de folga, Roth está no primeiro nível e
Raze não sobe neste andar.
Sua mão solta os meus cabelos e a outra o meu pescoço, descendo até os
meus seios e os botões sendo abertos um a um, engulo em seco nervosa como
se fosse a primeira vez. Dominic faz isso com uma calma metódica, deixando
seus dedos me tocarem. Quando abre o último botão do meu top, ele o
empurra para fora dos meus ombros, deixando-me com uma saia floral e um
sutiã de renda branca.
— Dominic, por favor, não.
— Por favor, o quê?
— Não quero fazer isso — confesso com lágrimas nos olhos. Minha
respiração está acelerada e tenho imagens, muitas delas desagradáveis.
— Alguém conseguiu isso de você.
Não é uma pergunta e me sinto tentada a mentir.
— Sim... — Sinto-me suja e ferida, como se fosse um artigo defeituoso.
Abaixo a cabeça, não consigo olhá-lo com receio de encontrar vergonha e
pena. Seu polegar segura meu queixo, fazendo com que nossos olhares se
encontrem quando ele levanta meu rosto ternamente.
— Você quer falar sobre isso?
Oh, meu Deus. Ele acaba de me perguntar isso? O homem mais poderoso
que conheço e que me tratou como lixo desde o primeiro dia, acaba de me
perguntar isso? Como se eu fosse um ser humano e não apenas um item em
seu poder?
— Prefiro esquecer — confesso.
Eles não são iguais e se meu marido tem uma pequena oportunidade de se
redimir, eu a aceitarei. Porque agora, neste exato momento, o que vejo em
seus olhos é pura devoção, ternura e orgulho.
— Você pode negar, Emilie Greystone, mas foi projetada em cada célula
para ser minha.
Sem mediar uma segunda palavra, sua cabeça se inclina rapidamente, sua
boca se apodera da minha, seus lábios levando guerra e fogo aos meus. Essa
língua perfeita e prodigiosa entrando e reclamando como sempre fez. Minhas
mãos seguram seus bíceps fortes, meu peito seminu sentindo o seu, sua pele e
o frenesi de seus batimentos cardíacos. Seu beijo castigando minha alma,
todas essas palavras doces gritando em minha mente de que realmente ele me
ama, que se preocupa comigo, que somos um... O que criamos juntos é
perfeito.
Eu sou sua e o amo, este homem tenta todos os dias, todos os momentos
possíveis, gritar que sou valiosa para ele, mas algo o está impedindo de se
abrir.
Ontem apontei uma arma para meu marido, um homem que horas depois
voltou sem machucar meu irmão, o que mais lhe posso pedir? Esteve comigo
nos momentos mais difíceis, não me deixou cair. Isso é a máfia... nunca me
prometeu amar, mas sei que me advertiu sobre isso.
E assim foi, mas vê-lo com Katniss sentada em seu colo aos beijos me
destruiu, por que teve que me trair daquele jeito? Por que mentiu para mim e
a manteve na Itália? Por que não foi apenas sincero? Não poderia... meu peito
dói ao perceber que Dominic só teve Roth em toda sua vida. Ele era uma
criança sem pais normais, assassinou seu irmão para sobreviver, vive lutando
todas as noites para provar seu valor e poder. Que outros o observem como
fraco o coloca na mira de todos... E eu sou sua fraqueza? Por quê?
Sei que ele assumiu o orfanato na minha ausência. Não dorme à noite, ou
apenas o suficiente, desde que caí neste sentimento de culpa, por acaso esse
homem pode realmente me amar? Preciso ouvir as duas palavras para ter
certeza? A própria vida do meu irmão já não é um sinal claro disso? Suportar
cada um dos meus erros? Não me culpando em nenhum momento pela perda
do nosso bebê?
Não quero me animar e depois me decepcionar, mas não posso evitar
quando ele empurra meu corpo no sofá e me mantém sob seu corpo. A
delicadeza de seu toque, um roçar de beijos calmos, suas mãos puxando
minha saia lentamente.
Isso não é sexo desenfreado ou uma guerra de poder, isso é a criação de
algo que nunca experimentei antes. Olhares carregados de tudo e almas se
unindo. Enfim, somos nós dois. Suplicando sem mais palavras, tê-lo dentro
de mim calmamente, com movimentos doces e gemidos baixos. Nós dois
chegamos juntos olhando um para o outro, esbanjando e sem pedir nada em
troca.
— Venha comigo — murmura beijando meu pescoço com a respiração
alterada após sua liberação, seu corpo me cobrindo, minhas pernas
envolvendo seus quadris e sua ereção recuando ainda dentro de mim.
— As meninas e o orfanato...
— Elas podem esperar. Venha comigo, por favor.
— Você usa esse “por favor” para me convencer.
— Já usei sexo para isso — brinca puxando minha orelha entre seus
dentes.
— Ok, mas quero saber uma coisa primeiro.
— Quando é que você não quer saber? — Levanta o olhar —. Isso me
incomodará?
— Talvez? — pergunto, inocentemente —. Como Holden pode roubá-lo?
Supõe-se que já não trabalha para você, não é mesmo?
— É a mesma conta de onde você lava o dinheiro do cassino — explica,
saindo de dentro de mim e colocando uma distância —. Nunca mudou,
porque passou a ser sua e meus homes me temem. Nenhum deles é tão
estúpido.
«Oh merda, isso é muito dinheiro».
— Ele lhe devolverá o dinheiro, certo?
— Esse não é o problema, Emilie. Ele zombou da minha cara, il capi de
tutti capi e tenho três homens cientes disso... Devo dar um exemplo, sou o
seu líder e não tive piedade para com os outros que fizeram muito menos do
que Holden. Além disso, há rumores de que ele está trabalhando com um dos
meus inimigos.
— O quê? Isso é impossível, eu sou sua irmã, Dominic! É estupido!
— Só quero que entenda... caso isso seja verdade, mesmo que a machuque
muito, Holden me obrigar a tomar medidas mais drásticas. Ontem, eu lhe
poupei a vida, não existe uma segunda vez.
— O que Roth diz em relação a tudo isso? — questiono levantando-me do
sofá e cobrindo meu corpo com sua camisa que estava jogada no chão. Não
quero encorajar discussões desnecessárias, conversarei com Holden. O que
quer que esteja planejando fazer, deve parar.
— Não precisa dizer nada, eu sou seu chefe e ele é meu subordinado.
— Ele é sua família, sei que está chateado com ele por algum motivo, mas
não deixa de ser seu irmão. Não o diminua... Sinto-me muito bem quando me
defende cheio de ego e sendo todo o macho alfa, mas de Roth isso não é
necessário. Não quero ser a discórdia entre os vocês dois.
— Você o quer? — indaga, deixando a insegurança florescer.
— Não como um homem, não. Eu o quero porque você o quer.
— Não quero isso — afirma, endireitando-se.
— Don...
— É melhor irmos, você está falando bobagem.
— Será nosso segredo.
— Não há segredo aqui — diz sério. Grito quando me carrega em seu
ombro e bate na minha bunda, brincando —. Você precisa de um banho, por
mais que eu goste de sentir o meu cheiro em você, não quero ninguém
cheirando-a.
— Só o neandertal do meu marido... Don!
~♠~
É estranho ter essa versão lúdica, beijando-me e acariciando-me no
chuveiro e depois procurando por olhares no espelho do nosso quarto.
Vestindo-se com cumplicidade e sincronicidade, ajudo-o com a camisa, pois
odeia profundamente a gravata; esta tarde ele irá todo de preto, dando-lhe um
ar de mistério e sedução.
Coloquei um vestido branco a seu pedido, um bem revelador e colado ao
meu corpo, o colar Cavalli no meu pescoço e os cabelos presos em um rabo
de cavalo com algumas mechas soltas e só um toque de maquiagem. Ligo
para as meninas para contar os novos planos, Hannah se ressente um pouco,
mas Dalila responde com uma breve mensagem.
Tenho que descobrir o que acontece com ela, assim que voltar dessa saída
com Dominic, aliás não tenho a menor ideia onde iremos. A garagem está
cheia de picapes Rangers cinzas com vidros polarizados e pelo menos uma
dúzia de homens, quando Dominic lentamente empurra meu corpo em um
dos seis veículos. Na nossa, Raze já está sentado na frente e Roth ao volante.
— Por que temos tanta segurança? — Questiono quando as picapes
começam a sair divididas, três à esquerda e três à direita, nós estamos no
meio do primeiro grupo rumo a Manhattan.
— Distração — responde frio, digitando algo em seu celular. Busco os
olhos negros de Roth no espelho do retrovisor, mas ele evita meu olhar. A
tensão pode ser sentida dentro do espaço confinado, mas sei que será inútil
tentar passar algumas informações na frente dos rapazes.
Depois de meia hora chegamos à sede do Banco Cavalli Corporation Inc.,
o banco central de Nova York, local este onde foi a primeira e última vez que
vim e meu marido estava fodendo uma jovem curvada na mesa do seu
escritório. Saímos rapidamente dos veículos e quatro dos homens estão
vigiando o perímetro vestidos de preto. Dominic está tenso e puxa meu
antebraço suavemente, mas me apressa para andar.
Algo sério está acontecendo, talvez algo relacionado aos meus erros.
Colombianos planejam retaliação? Vladimir agiu sem minha autorização?
Um novo inimigo? Lucas Piazza...? Entramos diretamente no elevador,
apenas os rapazes ficam para trás.
— Don…?
— Está tudo bem, confie em mim.
— O que estamos fazendo aqui? Não entendo. Pensei...
«Que iríamos a um lugar romântico e longe deste drama e da máfia.
Talvez uma verdadeira lua de mel, já que não tivemos uma».
Confie em mim, ok? Não deixarei nada lhe aconteça, prometo.
E suas palavras estão carregadas de segurança e domínio. Aceno,
engolindo em seco. «Confiar...» Essa palavra mágica que nunca me caiu bem.
— Confio em você — declaro segurando sua mão.
Inclina-se e beija minha testa, parando alguns curtos segundos até que as
portas se abrem no último nível e nos separamos.
— Não fará nada para machucar-me, certo?
— Tem minha palavra e sei que não é suficiente, mas espero demonstrá-la
com minhas ações. Lembre-se que devo fingir na frente de um certo grupo de
pessoas indiferença por você... Lembre-se disso nas próximas horas. Não
abaixe a cabeça, use aquela coragem que você sempre me mostra e essa cara
de poker que você personalizou nestes meses, fique ao meu lado, mesmo que
minhas palavras lhe desagradem — instrui, deixando-me nervosa.
— Dominic, por favor — imploro, mas meu marido atravessa o lobby e
guiando-nos al final do corredor onde abre uma porta de vidro ao que parece
uma sala de reuniões. Sete homens se viram para olhar-me surpresos, dois
deles não param de olhar meu corpo detidamente.
Don me empurra como um cordeiro para o matadouro. Vladimir está aqui,
sentado à mesa comprida brincando com um copo, quando nossos olhos se
encontram ele me olha estranhamente, nego aos poucos porque não entendo o
que estou fazendo neste lugar. Landon está na ponta da mesa com um laptop
aberto, e duas garotas servindo aperitivos e bebidas aos presentes.
— Senhor Cavalli — cumprimentam os três homens mais velhos, os
outros não param de me olhar, o que claramente incomoda meu marido. Que
envolve minha cintura com mais força, levando-me até seu peito.
— Roth nos acompanhará em breve. Emilie, sente-se.
Movo-me perplexa, sem saber qual lugar ocupar, quando desliza a cadeira
ao seu lado direito, convidando-me a tirar meu casaco. Estou tremendo de
ansiedade e arrisco dar uma olhada rápidos a todos os homens presentes na
sala, exceto a Landon e Vladimir, todos estão confusos e olhando a Dominic
com algum tipo de pergunta secreta.
Meu marido, que parece estar maior, tem uma postura ameaçadora e forte,
os ombros retos e um olhar entediante. Deus, só quero que se incline sobre
esta mesa e me faça sua olhando seu poder, seu jogo de manipulação... Meu
Deus, será que estou ficou louca?
Ele se senta balançando a cabeça negativamente quando uma das garotas
tenta oferecer-lhe um copo com whisky e uma taça de champanhe para mim,
que a recuso a duras penas. Preciso de algum tipo de líquido no meu sistema
ou terei um ataque de nervos diante de estes homens. A porta principal se
abre, com Roth entrando na elegante sala. O vidro permite-nos apreciar a
cidade de Nova York aos nossos pés, as paredes em branco com apenas uma
pintura central de aquarelas, vermelho, preto, com tons de cinza e branco
entrelaçados.
É uma bela explosão colorida à vista, o vermelho sugerindo o sangue e o
preto desaparecendo na morte. Roth deixa uma garrafa plástica de Coca-Cola
diante de mim, antes de contornar a mesa e sentar-se em seu lugar à esquerda
de Dominic, que apenas está jogando com seus dedos o tampo de vidro. Abro
a garrafa sob o olhar atento de todos os presentes e dou um gole, Deus, queria
tomá-la inteira. Estou muito ansiosa.
— Bem, já que estamos todos reunidos, é hora de começar esta reunião —
diz, abrindo a palma da mão na direção de Landon. Um dos senhores
presentes arregala os olhos, passando a mão pelos seus cabelos grisalhos e
hesitando em abrir a boca... Eles têm tanto medo de Dominic assim? Do meu
ponto de vista, Roth é mais misterioso e segundo os rumores... perigoso, mas
nunca me inteirei de nada de Don, porque ele é só um mito sem rosto na
máfia. É quem controla e define, mas seu nome não é mencionado. Agora,
ver o nervosismo neste homem e como meu marido desempenha seu papel
tão bem, faz-me duvidar de minha própria sanidade mental. Qual é o
verdadeiro Dominic Cavalli? Este ou aquele de horas atrás? Que me beijou
minha testa minutos atrás?
— Co-com todo respeito, meu senhor... Sua esposa ficará? Esta é uma
reunião da famiglia — gagueja entre palavras, sem olhar para o rosto do meu
marido. Don sorri, esse sorriso sádico e zombeteiro que só ele tem.
— Minha esposa não, Sebastián, mas Emilie Greystone sim.
— Não entendo — diz outro dos presentes que está ao lado de Vladimir.
— Quero apresentar-lhes formalmente Emilie Greystone, filha de Joseph...
Sim, esse Joseph Greystone e que em seus anos de vida serviu à famiglia com
honra e lealdade. Neste dia, anuncio a incorporação da senhora aqui presente
à mesa central.
— Falo por todos, quando digo que estivemos de acordo quando lhe
entregamos o poder sobre vários cassinos, mas ter um posto na mesa central
da ordem? O que uma mulher pode contribuir...?
— Seis milhões dólares são lavados semanalmente, somente em um dos
meus cassinos. Agora tente imaginar o quanto é lavado ao longo de um mês.
No entanto, pelo que sei, vocês lavam de seis a oito milhões de dólares por
mês — digo cerrando os dentes e os punhos sobre a mesa. Meu coração bate
a mil por hora, porque, se Dominic acabou de nomear meu pai, primeiro, é
porque muito provavelmente ele sabe mais do que me disse até agora e,
segundo, porque ninguém me menosprezará por ser uma mulher. Posso não
ser capaz de ordenar a matança ou fazê-lo com minhas próprias mãos, como
eles, mas sou boa no que faço. Dinheiro limpo, sem ter um único problema
com as leis federais, tenho os livros em ordem dos dois casinos sob meu
poder.
O homem fecha a boca, os olhos acinzentados me lançam minúsculas
adagas, enquanto os outros dois murmuram surpresos não sei se é pelo
volume de dinheiro ou pelo fato de que tenha uma boca e me permita falar.
— Ela será seu braço direito agora? — pergunta o velho, a quem Dominic
chamou de Sebastián.
— O mundo está evoluindo — responde Dominic, em troca, de pé à sua
altura máxima e deixando a palma da sua mão aberta sobre a mesa. Sem
perder esse seu maldito sorriso —. As mulheres são, além disso, mais
inovadoras do que os homens arcaicos. Por exemplo, foi sua ideia de
implementar a cor dourada na nossa mercadoria. Literalmente, é ouro para o
consumidor, também foi sua ideia a camuflagem nas bordas das obras de arte.
E, Landon, mostre-lhe um de nossos mapas da Itália — ordena. Uma imagem
digital e tridimensional é exibida no tampo de vidro da mesa, rios e
montanhas, é como vê-la ao vivo, um mapa de última geração.
— Emilie, você poderia encontrar uma maneira eficaz de passar do ponto
B ao A sem ser detectada pelos pontos vermelhos?
Observo-o, implorando para que não faça isso comigo, se eu errar, serei o
alvo de chacota desses homens e, se não me enganar, acabarei expondo uma
parte de mim que é delicada e muito perigosa. Sou uma arma, e Dominic sabe
disso, meus olhos caem em Roth que estão focados na mesa e não em mim,
sei que minha vida foi manipulada mais uma vez.
Dominic sabe de tudo, ninguém precisa mais fingir. Empurro a cadeira
para trás e me coloco em pé, todos estão pendentes de mim e poderia ir
embora agora ou enfrentar isso. Olho para as linhas no mapa, uma azul e uma
verde.
— Essas são rotas alternativas? — questiono Landon.
— Sim, uma é a que usamos e outra é nosso desenho mais recente.
— Foco — exige Dominic em voz baixa —. Ao cruzar Florença em
direção a Roma sem que ninguém o detecte, imagine que é você e que tem
algum recurso. Ar, mar e terra, como faria isso?
Ele leva seus dedos longos à boca e ao queixo, acariciando sua barba rala
que tem e me observa com intensidade, isso é um desafio?
— Em primeiro lugar, não poderia, isto é a selva. Você não me está
mostrando um mapa da Itália.
Todos os homens na sala recuam em seus assentos, agora posso ver o
espanto e até o orgulho nos olhos do mais velho de todos. A realização me
toca, Don controla esses homens e ele é o mais jovem de todos. Seus ombros
carregam a responsabilidade desta organização e não me leva para o
matadouro, mas confiando-me algo importante.
— O ponto A é o Brasil e o ponto B é a Colômbia.
— E quem transportará a mercadoria no meio da selva?
— Meus homens — Vladimir fala pela primeira vez, levantando-se e
caminhando ao redor da mesa. Dominic aperta seus punhos quando Vladimir
fica ao meu lado, muito próximo —. A linha verde é o meu percurso, o que
considero mais rápido.
— Mas não é o mais seguro, quero dizer, preciso olhar um pouco mais o
mapa, mas essa linha cruza pontos onde podem dar de cara com a guerrilha.
E não é a mais rápida, se você notar, enviaria seus homens para um terreno
pantanoso. Nenhuma dessas rotas é segura, a azul passa pela Venezuela...
Você quer atacar a Colômbia? Por quê?
— Meu irmão, Kain está encarregado de assumir a Colômbia.
— Bem, então chame-o e diga-lhe que você tirou o seu brinquedinho —
ironizo, revirando os olhos —. O mundo não é grande o suficiente? Se seu
irmão ficar com a Colômbia, então fique com o Equador.
— Sou eu que quero a Colômbia, Emilie — esclarece meu marido, e me
dirijo a ele —. Por respeito a união da Bratva e Sicília não estou indo
pessoalmente pegar o meu território, e ofereço a Vladimir a oportunidade de
agir antes que a famiglia.
«Mentira...» Quero gritar-lhe. Está fingindo dar-lhe um adiantamento para
Vladimir, mas com que finalidade?
— Raze já a espera lá fora, Emilie — anuncia sabendo que estou prestes a
mandá-lo para o inferno na frente desses homens, é por isso que me fodeu
antes? É o motivo de tanta ternura e bondade? Maldito filho da puta —.
Landon enviará o mapa e as coordenadas.
— Sim, senhor, deseja massa ou carne para o jantar? — cuspo.
— Carne... ao ponto.
E tem a audácia de rir pela metade. Vladimir é quem segura meu
antebraço, guiando-me até a saída.
— Podemos ir ao tema do irmão? — pergunta o velho.
— Eu assumi — responde Dominic com desdém, acenando com as mãos.
Vladimir abre a porta e a fecha atrás dele, liberando-me instantaneamente.
— Que merda foi isso? O que está fazendo?
— Está bem. — Suspira Ivanov. Temia por sua vida, por alguns dias
pensei que Dominic o havia assassinado, antes de ter a certeza de que estava
vivo.
— Você também — digo.
— Acho que sim. — Ri baixinho. Separando meu corpo do seu e acaricia
meu rosto —. Está bem? Ele não a machucou...?
— Não fisicamente — admito —. Não deve tocar-me na frente de
Dominic ou ficar aqui, volte para aquela reunião.
— Tinha que me certificar que estava bem. Hannah contou para Dalila que
não estava em sua casa. Não posso deixar de me preocupar.
— Precisava de alguns dias... essas pessoas.
— Não é sua culpa. Não deveria tê-lo levado comigo.
— Dominic o machucou?
— Não, mas me custou alguns milhões para limpar a bagunça.
— Eu lhe restituirei o valor gasto — ofereço.
— Dinheiro não importa — diz, levantando a mão para me tocar, mas fica
no ar —. Tenho que entrar.
— Sim...
— Você ainda está usando a pulseira — sussurra, olhando para o meu
pulso.
— É muito bonita.
— Não mais do que você, маленький[8]
— Encontrarei outra forma de mantermos contato. Volte para a reunião e
veja o que Dominic está tramando... está mentindo sobre alguma coisa, mas
não sei o que é.
Afirma antes de entrar e deixar-me sozinha no corredor. Olho para a porta
como se isso me desse alguma resposta para o que acabou de acontecer,
realmente posso confiar? Isso é uma janela para seu mundo, nosso?
Com Dominic nada é claro ou estável, sei quão poderosa é sua
manipulação para atingir seu objetivo, mas nas últimas semanas, foi real ou
apenas mais uma de suas mentiras? Na noite passada, ele poupou a vida do
meu irmão, isso conta, não? Deuses, estou ficando louca, nem tudo pode ser
um plano. Algo em seu interior deve ser real.
Sinceramente, isso é o que espero, porque se é mais uma de sus mentiras
não sei se conseguirei recompor-me de mais uma queda. Não quero ser
vítima de outra manipulação.
Estou cansada emocionalmente, como sempre me deixa, faço meu
caminho até o elevador encontrando Raze sentado na área de espera do lobby
com seu telefone na mão e um vídeo de sua ruiva desconhecida. Desta vez, a
garota parece estar ensaiando balé clássico. Raze bloqueia a tela assim que
percebe minha presença, ao contrário de quando estava na Itália, prefere não
dizer nada. Apenas se levanta até o elevador e pressiona o botão de chamada.
— Por que não foi mais à cobertura? — pergunto à montanha de carne,
que também não me olha nos olhos.
— Você precisava de espaço, eu...
— Não é sua culpa.
— Um dos meus homens a tocou, isso é imperdoável. Sei que foi um
incidente...
— Não foi um incidente, ele agarrou meus seios e é por isso que quebrei
seu nariz — confesso, ao entrar no elevador.
— Parker não faria isso, Emilie. Você está confusa.
— Claro, a vítima nunca está certa, não é mesmo? Sei o que é, esse
homem me tocou sem meu consentimento. Eu o golpeei e ele me empurrou
jogando-me no chão e, se não disse nada a Dominic, é porque nós dois
sabemos o destino que esse garoto teria, seria comida de cachorros vira-lata.
— Inferno, não me diga que você é uma dessas.
—-De essas, quais? — rosno deixando escapar meu mau humor.
— Das que inventam uma mentira só para não admitir o erro.
— Está insinuando que preciso mentir para quebrar o nariz de um filho da
puta depravado? Foda-se, Raze. Achei que você entenderia e não me
apontaria como uma mentirosa. Perdi meu bebê e, sim, é minha culpa, mas
esse maldito me tocou e lhe mostrarei mesmo que seja a última coisa que
faça. Lembre-se, terei a chance de dizer: “eu lhe avisei” — assovio saindo do
elevador na garagem e caminho em direção a uma picape Ranger —. E trate
de ir em outra picape, não estou com vontade de ficar olhando para sua cara
de mal humor.
— Sim, senhora. — Essa última o ouço de forma irônica antes de entrar na
picape com Nick como motorista.
— Deveria ter ido com as meninas — sussurro cansada dessa vida, não há
um dia de paz? Quero voltar a minha vida de antes e apenas sobreviver na
cama o dia inteiro.
Estou tão cansada. Deuses, mereço um pouco de tranquilidade. Mas sei
que não a terei, porque do lado de fora do estacionamento vejo o carro
esportivo de Holden na frente da porta do banco e dois homens jogando-o
contra o capô do carro. Ordeno a Nick a encostar e saio do carro atravessando
a rua correndo. Não tenho meu casaco e isso faz com que o frio de quase
inverno me pegue de cheio. Escuto as outras duas picapes frearem cantando
os pneus.
— Holden! — grito, agredindo um dos grandalhões —. Solte meu irmão!
É uma ordem!
— Emilie! Volte aqui, agora mesmo! — vocifera Raze descendo do
veículo. Holden é libertado por um dos grandalhões, deixando-o em paz.
Holden o amaldiçoa antes de virar-se na minha direção, dou dois passos para
abraçá-lo quando ele passa por mim, ouço o grito de Raze e sua voz é de
desespero, mas não consigo mover-me e também não consigo gritar, abro a
boca e não sai nada.
A primeira explosão é em seu ombro, parte de seu sangue cai em meu
rosto, em meu vestido, a segunda é em sua cabeça e desta vez o sangue entra
em minha boca. Um corpo cai ao meu lado, um dos seguranças é atingido,
enquanto caio de joelhos segurando Holden, que tosse agarrando-se o
pescoço. E então outro corpo, Raze me puxa pela cintura, com uma força
descomunal e me carrega. Grito, chuto tentando chegar ao corpo inerte na
rua, enquanto ouço tiros em todas as direções e as ordens de Raze enquanto
me joga na parte traseira da picape.
Luto, luto contra ele e sua força, mas é uma rocha indestrutível,
restringindo meu movimento, o veículo dá ré, voltando para a garagem
subterrânea. Nick lança palavras em código e é quando finalmente um grito
devastador inunda tudo. Não o reconheço, mas sou eu. A angústia e a dor me
destrói, como se estivessem tirando meu coração com garras a sangue frio.
Grito contra o couro do assento...
Não queria essa vida, mas ela me escolheu.
Capítulo 15

— Senhora Cavalli, quanto tempo mais precisa para começar a falar? —


questiona com uma voz enganosamente doce, Phils Rawson. Se soubesse o
que vivi com o mestre da manipulação e da enganação, não tentaria adoçar
minha mente com esse tom de voz meloso e baixo.
— Onde está o meu marido? — pergunto pela décima vez, deixando
minhas mãos algemadas sobre a mesa, observando o sangue espesso nas
minhas mãos, no vestido que esta manhã era puro e imaculadamente branco e
agora é apenas um pedaço inútil de pano.
— Ele não a salvará... Fale comigo.
Engulo em seco, sentindo as lágrimas escorrerem no meu rosto.
— Posso ajudá-la — continua e se atreve a segurar minhas mãos —.
Deixe-me agraciá-la com uma saída, Emilie. Pense em você e se isso é o que
realmente deseja para o seu futuro. O que conversarmos aqui ficará entre nós,
eu garanto. Confie em mim.
«Confie em mim». Quantas vezes já ouvi esta frase? Quantos já falaram
esta frase no passado? Sim, confiei e depois saí ferida. A confiança não é um
mérito, é uma virtude. Deve ser cuidada e valorizada todos os dias, respeitada
e amada como um ser vivo e não apenas como palavras vazias. A confiança é
conquistada, não solicitada.
— Meu pai me pediu exatamente o mesmo, sabia? Sentou-me em seu colo
e me disse “confia em mim, princesa. É apenas um jogo. Você se divertirá...”.
Tudo o que queria era passar um tempo com ele.
— Você foi abusada pelo seu pai? — pergunta agora com pena.
— Ah, sim. Abusou-me, mas não sexualmente. O abuso vem de diversas
formas, Sr. Rawson. Não é apenas a penetração em si. É um homem da lei,
não entende do que estou falando. Estou delirando, eu acho.
— O que aconteceu, Emilie?
— Já disse, detetive. Estava com meu marido e assim que saí do escritório
vi meu irmão discutindo com dois seguranças, eu me aproximei dele e já sabe
o que aconteceu depois...
— E sobre o que discutiam?
— Não sei.
— Por que acha que discutiam?
— Também não sei.
— Não está ajudando, Emilie. Eu lhe direi o que acontecerá...
— Não — corto, batendo na mesa —. Eu lhe direi o que acontecerá! Você
me soltará e me deixará ir em menos de cinco minutos. Fará isso, dirá aos
seus amigos atrás deste vidro que meu marido não ficará nada contente
sabendo que estou aqui algemada como uma criminosa.
Ele se inclina sobre a mesa, olhando-me, avaliando até onde aguentaria.
Homens, todos eles me cansam.
— E se eu disser que não há ninguém atrás deste vidro, que somos só nós
dois, que posso devolver sua liberdade, acreditaria em mim?
— Os contos de fada da Disney já estão fora de moda.
— Agora são os mafiosos...?
— Sei quem é, não me venha a fazer papel de bom policial. Talvez o
momento seja este, mas você veio da lama, Phils Rawson.
— Você me investigou? — pergunta sorrindo, sentando na cadeira atrás
dele e colocando os pés em cima da mesa. Estamos em uma sala escura,
iluminada apenas por uma luz fraca no centro.
— Faltam três minutos, Phils.
— Sim eu o investiguei.
— Mas eu também a investiguei e sei que não quer essa vida para você e
nem para Emma...
Viro meu rosto com a menção de seu nome e encontro apenas uma visão
sangrenta contra o cristal que mal me reflete. Engulo, sentindo as últimas
lágrimas escorrerem. E fico em silêncio, procurando em minha mente como
minha vida se transformou nisso e só tendo um culpado à vista. Mentir para
mim mesma é inútil... Já não sinto, o que resta de mim é uma concha vazia
começando a se encher com uma escuridão alarmante.
Meu acompanhante assovia prestes a dizer algo quando batem na porta e
anunciam minha libertação. Não estou sorrindo, não lhe digo nada de que o
havia advertido de que isso aconteceria. Apenas me levanto e estendo meus
braços, esperando que me solte. Phils Rawson, um detetive da unidade do
FBI em investigação federal, tira várias mechas do meu rosto, tendo o
atrevimento de tocar minha bochecha. Sua pele morena em contraste com
minha palidez.
— Você sabe onde me encontrar, Emilie. Quando se sentir pronta estarei
esperando-a. Só quero ajudá-la.
— Ninguém pode — sussurro. Ninguém tem tanto poder para enfrentar
Dominic, exceto eu.
— Estaria no programa de proteção a testemunhas, Emma e você não
merecem esta vida.
As chicotadas psicológicas são mais violentas dessa vez, então ele retira as
algemas dos meus pulsos e as deixo cair sobre a mesa, abatido. Não pode
lançar-se contra seu inimigo se não tiver os recursos necessários e, embora
Phils tenha uma boa força de vontade para querer destruir Dominic, não há
como fazê-lo, não agora. Precisa de informações mais precisas.
Caminha até a porta e a abre, dois homens idosos estão atrás, Florentino, o
pai de Katniss, e Sebastián, que o conheci hoje de manhã.
— Reter a Sra. Cavalli sem qualquer prova o levará a ser destituído de seu
cargo, Rawson — assovia Sebastian.
— Eram apenas perguntas de rotina, senhor — murmura, abaixando a
cabeça. Um sorriso esboça em meus lábios, devo ter perdido a razão. Claro
que Dominic estava por trás de toda essa ação.
É um maldito filho da puta, quem é a pessoa que conseguirá dominar o
Capo e sair vitorioso?
— Deixe seu distintivo e arma, Rawson — ordena Sebastián enquanto
Florentino me segura pelo antebraço, puxando-me ligeiramente.
Não é um homem mau, apenas se envolveu com meu marido, um homem
cruel e sedento de poder. Olho para Phils por cima do ombro mais uma vez,
antes de sair completamente. Parece aborrecido e surpreso, mas cumpre a
ordem de seu superior. Um paletó cinza cobre meus ombros, cortesia do
homem ao meu lado e, finalmente, paro de olhar para o detetive avançando
pelos corredores do prédio do FBI em direção à saída, os uniformizados nos
observam passar até onde se estão Dominic e os irmãos Nikov.
Raze está manchado de sangue, mas não visivelmente ferido. Dominic tem
um rosto frio e sério. Ele caminha até nós, encontrando-me no meio do
caminho e suas mãos segurando minha cabeça, embalando-me como seu
pequeno pardal perdido.
— Está bem. — Suspira tão baixo que, se não visse seus lábios mover-se,
pensaria que havia imaginado. Só aceno, incapaz de usar minha boca.
— A imprensa está cercando o local, senhor — relata Florentino —.
Deveriam sair agora, antes que se transforme um grande circo.
Meu marido não responde nada e, de forma habitual, não agradece.
Apenas me puxa contra seu peito e chama os irmãos Nikov, os três e com
segurança cobrem o máximo possível meu corpo. Lá fora os jornalistas tem
câmeras apontadas para mim, fazem perguntas estúpidas enquanto há um
homem adiante abrindo caminho — o advogado da famiglia, suponho — diz
que não tem nenhuma declaração para dar no momento. Falam de uma
tentativa de sequestro, de um assalto milionário, cada uma de suas perguntas
e hipóteses mais distantes da realidade. Entro na parte de trás da picape,
seguida por Dominic e um motorista diferente atrás do volante.
Os policiais uniformizados protegem o veículo para deixar o complexo
completamente.
— Leve-me com ele — exijo observando lá fora, o pôr do sol em Nova
York, as nuvens cinzentas e reflexos laranja tocando-se.
— Emilie...
— Onde está? — deixo escapar.
— Estão preparando o corpo.
— O que…? — Suspiro virando-me para olhá-la. Franze a testa e abre a
boca —. Preparando que corpo? Fale de uma vez!
— Querida, inferno... Ele está morto, Emi. Morreu no local.
— Holden? Meu irmão? Isso não é possível... Você está mentindo!
Tenta agarrar-me quando começo a agredi-lo. No peito, no rosto, em todos
os lugares possíveis. Grito, não me reconheço. Dominic me domina contra as
costas do banco dianteiro. Converse comigo, ele me pede para que eu pare,
diz que me machucarei agindo assim, grita alguma coisa sobre a minha
respiração, mas não obedeço, não reajo, simplesmente me descontrolo.
Deixo que entre a dor e a angústia e me levem com eles. Tornam-se parte
da minha alma, unificam-se em meu peito. Perdendo completamente a
esperança, a realidade abatendo-me dura e cruelmente. Está morto, meu
irmão, minha única família.
~♠~
A parte mais difícil de tudo isso é vê-lo, seu corpo frio e sem vida, a
palidez de seus lábios. Uma toalha cirúrgica cobrindo metade do seu rosto.
Seu corpo com diversos disparos que transpassaram seu corpo. Morto,
assassinado.
— Ela terá uma vida melhor — prometo-lhe beijando sua bochecha, neste
momento parei de chorar e só tomei um banho rápido.
Não sabia que para limpar seu sangue do meu corpo era tão difícil. É de
noite, não comi nada, tenha uma Savannah devastada e uma pequena Emma
que não tem a menor ideia de que não terá mais seu pai por toda sua vida.
Que esse dia a mudará. O Capo manteve distância desde que chegamos à casa
e somente falou comigo quando desci pronta para ver meu irmão pela última
vez.
— Senhora Cavalli — chama o médico que nos permitiu entrar.
— Já sairei, só mais um segundo.
Ajeito seu cabelo rebelde enquanto me lembro dele me repreendendo por
invadir seu quarto sem permissão, ou essa vez que descobri suas revistas
adultas. As discussões com nosso pai quando queria ir a Londres. Boas
lembranças, substituindo as ruins.
Não era um homem bom, era um covarde e um desastre em sua vida
pessoal, mas era um bom pai para Emma, igual um chefe de dezenas de
pessoas, contribuía em obras de caridade... Deixou-me com Dominic, eu sei,
mas...Que outra saída eu tinha?
É fácil condená-lo e colocar um pôster de bandido do filme, mas se for
realista e honesta comigo mesma, como poderia defender-me? Era um
empresário envolvido com a máfia e essa será sempre a nossa condenação, a
menos que mude as regras do jogo. Dominic Cavalli queria uma rainha, eu
lhe darei uma.
— Por você, irmão — juro antes de sair —. Queime o corpo.
— Isso não pode ser possível.
— Faça o que ela manda — exige a voz do meu marido. O homem afirma
antes de entrar na sala e nos deixar sozinhos no corredor.
— Você é responsável por isso? — questiono. Ele não tenta esconder seu
crime e isso me enfurece, levanto minha mão e lhe dou uma bofetada,
virando seu rosto. O golpe ressoa no local, em um eco distante —. Não o
perdoarei, Cavalli, você se acha melhor que seu pai? Ambos foram cortados
com o mesmo fio de navalha. Tenho nojo de você e de todo seu mundo.
— Sempre será assim, certo? Se algo acontecer de ruim, serei condenado
por isso.
— Matou meu irmão.
— Não fiz isso! — diz enfurecido, batendo na parede ao meu lado.
— Só porque suas mãos não estão manchadas com o sangue do meu
irmão, não significa que não foi seu assassino. Você, matou seu próprio
irmão, por que teria misericórdia do meu?
— Você está sendo injusta.
— Injusta, eu? Diz o homem que me condenou a suportá-lo a cada
segundo da minha vida! Que me forçou a me casar com ele por um capricho!
Deveria ter sido você! Você! Tinha que morrer essa noite... — Envolve meu
pescoço com mais força que nunca havia usado, seus olhos azuis diabólicos.
Mostrando-me o verdadeiro monstro —. Tem que usar a força porque não
tem palavras. Ao contrário de você ou de Holden, não tenho medo de morrer,
quer acabar comigo? Assassinar-me? Vá em frente, se eu fosse você, faria
isso neste exato momento. Vamos, Dominic, é o chefe dos chefes. l'amore ti
condannerà. Porterò il fuoco dell'inferno ala tua porta.[9]
— A dor da perda a tem cegado, ignorarei suas palavras e se decidir ir
contra mim...
— Você me matará?
— Não, eu a trancarei na mansão Cavalli e a usarei todos dias ao meu bel
prazer, acha que sou mau? Não conhece a minha verdadeira face e, acredite
em mim, não quererá vê-la. Nas condições que planejo tê-la, a morte seria
uma benção.
Ele vai embora deixando-me plantada no lugar, sem dizer mais nada. Sem
saber a guerra que está criando, uma que farei questão de vê-lo perder. Aliso
minha blusa e limpo minhas bochechas, tirando o celular da minha bolsa e
envio uma mensagem curta.
«Estou dentro». E preciso enviar antes de excluir o remetente.
O funeral é rápido, apenas algumas palavras curtas de conforto. Savannah
é a mais afetada. Não faz uma grande festa, apenas os sócios, os Nikov,
Hannah e Dalila junto dos seus respectivos maridos e Dominic atrás de mim,
em pé, a uma boa distância e com quem não lhe dirigi uma palavra sequer, e
algumas pessoas amigas próximas do trabalho. Emma está na cobertura com
Marcela.
Savannah chora no meu ombro enquanto a conforto.
Não choro mais, as lágrimas não trarão meu irmão de volta. Ao finalizar a
cremação, os responsáveis me entregam suas cinzas em uma urna preta.
— O que acontecerá agora? Emma precisa de mim, Emilie. É minha
garota.
— Nós a cuidaremos juntas, Savannah. Eu a protegerei — prometo.
— Como? — questiona, rindo e chorando ao mesmo tempo —. Está
casada com ele.
— Fugiremos, nós três. Por favor, deixe-me encontrar uma saída. Devo ter
certeza de que não será um perigo para nenhuma de nós.
— Basta entregar-me a minha menina, eu a levarei para longe. Já em
relação ao fato de fugirmos juntas, isso não dará certo, Dominic não a deixará
em paz. Está obcecado por você.
— Não é lugar e nem o momento para falar sobre isso, ok? Mais tarde —
imploro. Ela concorda e se levanta, é hora de deixá-lo ir ao lugar onde sempre
pertenceu, com Emma Greystone, minha mãe.
Capítulo 16

— Você tem menos de um minuto para tirá-la desse lugar. Não estou nem
um pouco preocupado quem você subornará ou até mesmo assassinará, mas
quero a minha esposa fora desse prédio do FBI, entendeu?! — gritou soltando
sua camisa. O advogado da famiglia pisca, surpreso com minha falta de
controle e possivelmente vendo a besta que realmente sou.
— Sim, senhor, estou fazendo o meu melhor...
— Não é suficiente fazer o seu melhor! Ela está presa com aquele filho da
puta há cinco horas! Cinco horas!
— Voltarei a falar com nosso homem.
— Isso não resolverá nada... — digo, passando a mão pelos meus cabelos.
Preciso pensar, controlar minha mente e agir friamente —. O juiz
criminalista... tem uma filha? De quinze ou dezoito anos? Então o ameasse
com isso, se não está em nossa em nossa lista de contribuições, então tem
uma boa razão para entrar. Mexa-se, Rogers — assovio. Assente
freneticamente antes de sair correndo da sala de interrogatório, que foi
atribuída graças a minha gente, esses do submundo cujas cabeças estão nas
minhas mãos. Mas não tenho o mais importante neste jogo, Phils Rawson.
— E se ela nos deletar? — questiona Roth, falando pela primeira depois
de muito tempo. Tiro o paletó deixando-o sobre a mesa.
— Ela não fará isso.
— E se fizer?
— Está sob controle — minto. Emilie tem muito poder sobre mim e na
organização. Não, não tenho nada sob controle, repassei-lhe muita
informação ao longo destes meses, informações claras e precisas... Em que
merda estava pensando quando fiz isso?
Não pensei, esse é o problema. Estava focado em sua pessoa e não no que
representa. Erroneamente, acreditei que sempre a teria sob meu domínio,
sendo que ela nunca esteve.
Roth não diz nada e suspiro silenciosamente. Pela primeira vez, tenho de
admitir que não estou preocupado caso ela fale ou não sobre os negócios.
Deixo a pequena sala de interrogatório, os uniformizados nos olham, conheço
muitos deles, seus rostos, mas todos nos conhecem. Sabem que, apesar de
estarem cumprindo a lei, todos os dias eles nos atendem, ao meu braço
direito, Roth Nikov e a mim.
A única imagem que tenho de Emilie é a que está algemada a uma maldita
mesa e cheia de sangue, não sei se é seu e essa dúvida me corrói. Por sorte,
encontro Phils Rawson na máquina de café, flertando a moça que serve.
— Dominic... — implora Roth, mas é tarde demais quando empurro o
filho da puta. O qual fica surpreso ao me ver de frente.
— Tire a porra das algemas da minha esposa, desde quando ela é uma
criminosa? Como se atreve a tê-la sob interrogatório federal? Isso não ficará
assim, Rawson — assovio na sua cara. Os policiais não fazem nada, para eles
esse homem e o FBI são apenas o lixo que acredita ser ouro dentro do
sistema. Se decidisse assassiná-lo neste exato momento, eles guardariam a
porra do seu corpo.
— O que fará? Comprar todo o departamento do FBI? — pergunta rindo.
Sim, exatamente isso, se tiver que fazê-lo... eu farei. Sorrio, dando um passo
em seu caminho.
— Você contou aos seus superiores sobre sua antiga vida? Eles sabem
quem você foi no passado? Não queira agir como um Jesus de Nazaré quando
foi um maldito de um Judas. Deveria agradecer-me por estar vivo — exclamo
com as narinas expandidas.
— Você é um fora da lei, Cavalli. Salvando minha vida ou não, é um
criminoso vestindo ternos de grife.
— Prove. Consiga as provas necessárias, mas deixe minha esposa fora
disso. E isso é uma maldita ameaça, caso queira uma devidamente
formalizada.
— Sr. Cavalli — exclama Rogers, mais vermelho do que uma lagosta —.
O Sr. Graham está a caminho.
Sorrio ainda mais, enfrentando Phils. Que pisca, pois sabe que tenho seu
superior nas minhas mãos. E o único motivo por ter esperado tanto, é porque
o velho devia fingir que estava fora da cidade e não no meu prédio, mas
agora está de volta.
— Tirarei seu distintivo e sua arma e o mandarei para casa como um
filhinho da mamãe, chorando pelos cantos. Fique longe da minha esposa. E
não repetirei mais, Phils.
— Não tem poder para isso — afirma.
— Eu lhe demonstrarei — digo na sua cara, quase cuspindo. Olha por
cima dos meus ombros, toda o departamento testemunhando e não fazendo
absolutamente nada por ele. Ele vai à sala onde está Emilie.
Estou morrendo por dentro porque não sei como isso a afetará. Rogers
finalmente tem uma boa notícia, o juiz coopera após um pequeno susto. A
garota não é tocada ou molestada, de fato, meus homens foram orientados a
não fazer nada, mas o juiz não sabe. Sebastián Graham também fez sua parte
com Florentino e consigo o que quero, minha esposa com um paletó largo de
algum homem e seu rosto neutro e vazio, sem nada que me lembre a garota
doce e inocente em vestidos floridos.
A mulher caminhando em minha direção é um fantasma.
Encontro-a no meio do caminho, nervoso com a possibilidade de que
possa desmaiar-se. Faz pouco tempo que sofreu com a perda do nosso bebê,
viu as pessoas morrerem diante dela e agora seu próprio irmão. Fico surpreso
que não esteja histérica ou louca. Embalo seu rosto procurando por qualquer
lesão física depois de verificar seu corpo.
— Você está bem. — Demônios, graças a porra do inferno. Eu a trago até
mim, sem me importar com a cara de surpresa de Fiorentino, nem mesmo
percebi quando Raze se juntou a nós. Eu a protejo dos meios de comunicação
e a ajudo a entrar no veículo. Está perdida na paisagem e em nada ao mesmo
tempo, quando tenho que lhe dizer que seu irmão morreu, simplesmente,
meus próprios demônios se remexem. Ela grita, depois me bate e me insulta.
Deixo-a externar toda sua dor, cumpro cada ordem sua e vejo como
começa a mudar seu comportamento.
Ela se afasta de mim, enfrenta-me e me culpa de tudo. Como um círculo
vicioso, não importa o que faça, sempre serei o culpado de sua desgraça
diante de seus olhos.
~♦~
Em pé, a poucos centímetros de distância, vejo-a consolar Savannah e
falar baixinho enquanto o padre realiza a missa em homenagem ao seu irmão.
Não a reconheço diante dos meus olhos e isso é minha culpa. Conforme suas
palavras, ditas ontem, eu a forcei a entrar nessa vida e ela não merecia. Ela é
a coisa mais pura que já tive ao meu lado e a tornei nisso que meus olhos
presenciam.
— Vejo o que faz — murmura Roth, parando-se ao meu lado.
— Não estou fazendo nada.
— Você a está deixando pensar que é culpado.
— Ela precisa de um alvo, Roth. E não pode saber a verdade — exponho
cerrando os punhos. Como posso explicar-lhe que Holden foi um idiota...?
Aliou-se a Lucas Piazza voltando-se contra mim, roubou meu dinheiro como
uma zombaria mal feita e, como se isso não fosse suficiente, o idiota esperava
que eu descesse para ser baleado pelo atirador.
Não sei por que acabou atirando em Holden, talvez tenha sido por Emilie?
De acordo com Byron, um dos garotos de Raze, um especialista em balística,
junto com Damián, outro de seus garotos, determinou que Emilie era o alvo,
mas Holden pode ter visto a linha e se moveu para o campo de tiro. Quero
acreditar que parte dele amava sua irmã e que, apesar de seus erros, tentou
protegê-la naquele momento. Sim, é minha culpa saber os passos que Holden
dava e não tê-lo impedido a tempo.
Talvez hoje poderia estar vivo se tivesse sido mais duro com ele desde a
primeira suspeita e não simplesmente ter ignorado a bola de neve que se
formava e que no final acabou explodindo na minha cara. Tentei mantê-la
longe das partes podres da máfia, mas ela continua tentando repetidamente
ser o alvo. Não entende que quanto mais eu a protejo, mais meus inimigos a
amam. Vladimir não é uma ameaça por enquanto, mas Lucas e Kain? Quanto
tempo demorara para um deles perceber isso?
Phils Rawson, embora me odeie, não tem recursos para ser um inimigo
respeitável e Emilie é muito mais inteligente do que isso, espero realmente
que seja. E que não envolva em nenhuma estupidez.
Caminho até ela, pois é hora de dar-lhe meus pêsames. Colocar-me ao seu
lado e observar Savannah, que é a mais destruída das duas. Os Wards são os
primeiros da fila, depois alguns dos sócios, minha esposa acena com a cabeça
até eles com a pequena urna fechada em suas mãos, agora é a vez de
Vladimir, este fica petrificado com a ruiva chorando. Dalila é quem me
surpreende ao falar. Ela que sempre foi uma garota reservada e tímida, mas
agora tem um comportamento um pouco mais arrogante.
— Você está bem? — questiona minha esposa para minha ex-prometida.
A garota afirma abraçando-a.
— Sinto muito por sua perda, Sra. Greystone — murmura Ivanov para
Savannah.
— Obrigada, senhor.
— Não era sua esposa — digo, para que percebesse seu equívoco.
Sei que mantinha algum tipo de flerte, mas não eram um casal formal,
Savannah apenas desempenha um papel de empregada na vida de Holden e,
como era um grande idiota, acabou envolvendo-a para que cuidasse da
pequena Emma.
— Entendo — murmura o russo, antes de pegar sua esposa e ser sua vez
de abraçá-la. Meu Deus, de onde vem esse desejo de quebrar todas as partes
de seu corpo? Como ousa tocá-la assim?
E pior ainda, o que está acontecendo comigo? Desde quando me importo?
Roth não fica indiferente ao meu estado de espírito, sinto como se um fogo
crescesse lentamente dentro de mim e, de repente, tivesse vontade de explodir
e que a onda de calor acabasse com todos os nossos problemas.
Essa distância me incomoda, quero voltar ao que parecíamos ter
recentemente. Tê-la sorrindo comigo, esses olhares cumplices e seu corpo
quente em meus braços... Quero isso.
Não estas discussões, a culpa que ela lança sobre meus ombros. Estes
confrontos contínuos. Na hora de irmos embora, não compartilhamos o
mesmo veículo. Movo minha cabeça até Raze e ordeno que Roth as
acompanhe. A imprensa, irritante e chata, não hesita em capturar o momento
de nossa chegada à cobertura, pelo menos tem uma foto dela ou minha.
— Não pode continuar assim, está muito distraído.
— Roth, não é o momento — rosno servindo-me um whisky puro, sem
gelo.
— Eu lhe disse para que consertasse as coisas com ela.
— Bem, tentei fazê-lo, mas você viu como isso terminou — respondo com
amargura ao beber o líquido —. Não queria uma mulher por essas razões. São
muito complicadas.
— Ela lhe faz bem, você a necessita — comenta, fechando a porta do meu
escritório. Rio de mim mesmo, zombeteiramente.
— Um dia a ataca e no outro a defende. Decida-se Roth.
— Sabe que não queria atacá-la... Simplesmente, odeio como as coisas
terminaram. Precisam conversar, Dominic. Precisa ter a mente tranquila para
enfrentar Lucas e, finalmente, tirá-lo do jogo. O mesmo que Kain.
— Se mato Kain. Vladimir já não será um aliado da famiglia — murmuro
tirando o colete, depois minhas abotoaduras. Sinto o desconforto em meu
corpo como uma coceira na pele. Está no primeiro andar traçando um plano,
junto com Savannah, para adaptar à nova realidade da pequena Greystone.
— Quando dirá a Emilie que foi você quem permitiu a Vladimir dar-lhe
certas informações? Vocês dois deveriam conversar. Digo isso como seu
braço direito, ela é muito benéfica para a famiglia.
Sei disso, seu poder, sua habilidade. Sento-me brincando como vidro. Sim,
sei o que faz com Vladimir e como lhe repassa algumas informações fazendo
sentir-se poderosa. No início, quando o contatou, não tinha ideia, até a
primeira vez que ela foi à suíte e seu dispositivo de rastreio saltou em meu
celular.
Meu primeiro pensamento era que me traía, afinal de contas, sua
ameaçava quando estávamos na Itália ainda permanece latente na minha
cabeça, mas quando me diverti um pouco com Vladimir tirando-lhe algumas
informações, não era mais minha esposa desejando formar parte do meu
mundo. Um com o qual não quero comprometê-la, mas ela não entende.
— Emilie não tem o porquê saber o que sei.
— E esse é o erro de ambos. Não falar…
— Desde quando me dá conselhos românticos? — corto com um assovio
baixo —. Você é o menos indicado para falar sobre isso. Sou eu quem está
casado aqui, mesmo sabendo que as mulheres são um incômodo.
— Passei a dar-lhe conselhos desde o momento que Emilie não o deixa ser
você mesmo nos negócios. Está tomando decisões para agradá-la e não para o
bem da organização.
Uma batida fraca na porta o silenciou. Giro meus olhos apontando para a
porta com minhas mãos, estou cansado. Só quero ter pelo menos uma noite
tranquila. Antes este era meu refúgio, mas agora é um campo de batalha.
Roth se levanta, caminhando até a porta e dando um passo para o lado
quando a abre e uma pequena figura de cabelos loiros surge. Ela tomou
banho e apenas usa um roupão para cobrir seu corpo.
— Quero falar com o meu marido, Roth, se você não se importa — pede
autoritariamente. Meu consigliere assenti e busca meu olhar de concordância
de sua saída. Quase posso vê-lo gritando de sua cabeça à minha
telepaticamente. Bufo, servindo-me de outra bebida quando ouço a porta ser
fechada novamente.
— Se veio discutir, sugiro que vá com Garfield. Certamente, deve estar
entediado em sua caixa de areia... Jesus — Suspiro deixando a garrafa cair
sobre a mesa causando um grande ruído. Minha esposa está diante de mim,
andando completamente nua, apenas com o colar Cavalli em seu pescoço,
como a única peça de roupa. Engulo em seco enquanto ela empurra minha
cadeira para trás e monta sobre minhas pernas. Nua, em cima de mim, pernas
abertas. Inferno, ela está louca? Você perdeu completamente a cabeça?
— Decida-se, Emilie, você me odeia ou me fode. Você não pode ter as
duas coisas.
— Quem disse que não? — replica, pegando minha mão direita e levando-
a ao seu seio. Seu mamilo rosa se enruga ao tocá-lo.
— Eu digo.
— Você não conta — geme, trazendo sua própria mão para sua
privacidade. Merda, eu vejo na linha de frente como abre sua boceta e
começa a circular seu monte de prazer. Engulo em seco, querendo beber o
whisky que atrás dela.
— O que está fazendo, Emi? — questiono confuso e excitado ao mesmo
tempo. Em vez de responder, começa a cavalgar sobre sua própria mão e,
porra, não sou um santo e sinto meu pau endurecendo dentro das minhas
calças como o Monte Everest a passos largos —. Pare agora, se continuar,
não vou parar e não quero que amanhã me diga que abusei do seu estado
emocional.
O fato é que se o mundo acabar amanhã, provavelmente minha esposa me
culpará. Emilie só sabe apontar-me o dedo, mas se esquece que os outros
quatro dedos estão voltados em sua direção.
Ela para de se tocar e abaixa as mãos na minha calça, tirando meu cinto e
abrindo o zíper. Envolve meu pau livre com suas mãos finas e rosno quando
seu polegar travesso move o anel. Maldita seja. Ela descobriu minha
fraqueza; seu corpo e essa mulher desinibida nas portas fechadas do meu
escritório.
— Por que Phils Rawson quer que fale sobre seus negócios? — pergunta,
empurrando para trás em meu eixo. Umedeço meus lábios secos. Sei o que
está fazendo... E a deixo. Ela pensa que não percebi, mas entro em seu jogo.
— Está obcecado em me colocar em evidência — relevo à verdade. Levo
minhas mãos aos seus quadris, quando posiciona a cabeça do meu pau em sua
boceta úmida e escorregadia. Porra Jesus! quero morrer na boceta desta
mulher, se é que me permite conhecer o paraíso.
— Quem são os homens da ordem?
Uma pergunta que esperava, embora talvez em outras condições.
— Máfia alemã, Divisão de Inteligência, Capitão General do Exército ...
Merda! — rosnou quando se sentou em cima de mim, levando-me
profundamente em suas entranhas.
Solta um grito de prazer e dor misturados, jogando sua cabeça para trás.
Expondo seu pescoço, onde minha mão o envolve rapidamente. E a penetro
profundamente, cego por tudo o que nos rodeia e tento afrouxar um pouco do
peso em meus ombros. Ela consegue isso, transformando-me em um idiota
capaz de dividir o homem cruel e sanguinário, por esse otário ansioso de sua
esposa como uma porra de adolescente que está com seus hormônios na
puberdade.
Aplico uma força em seu pescoço quando o agarro, só o necessário para
deixá-la um pouco sem ar por alguns segundos, ela, como sempre,
surpreende-me movendo-se com mais violência, golpeando seu corpo contra
o meu e formando círculos com seus quadris. Suas entranhas me apertam
com força, pois é questão de tempo para que tenha um grande orgasmo.
Afrouxo o meu agarre apertando meus dentes, ela sorri porque reconhece o
poder que tem sobre mim, e longe de me aterrorizar... gosto disso.
Eu a movo levando-a à superfície da mesa e jogando a maioria dos objetos
que estavam sobre ela no chão, ouço em momento de transe o som de vidro
sendo quebrado, acho que meu laptop está neste meio. Cego pela minha
esposa e pela paixão que nos une, começo a penetrar fundo sem lhe dar um
segundo para dizer mais nada. Suas unhas cravam em meus braços, suas
pernas envolvem meus quadris, eu a penetro cada vez mais fundo e forte,
dou-lhe cada grama de ouro que me pede sem dizer uma palavra. Quando
tento beijá-la, ela vira o rosto, negando-me sua boca, seus lábios.
O que me pertence... tento mais uma vez ao perceber que está com os
olhos fechados. «Não, de novo não. Não como no passado».
Negando-me o privilégio de olhar seus olhos perdidos de prazer e esse
olhar de adoração. Respirando com dificuldade, forço-me a ter controle sobre
meu corpo e deixar de me mover. Se não é para se entregar completamente,
então não quero seu maldito sexo vazio.
— Olhe nos meus olhos, Emilie.
— Continue — exige e tenta mover-se, mas eu paro. Sentindo essa fúria
conhecida, seguro sua mandíbula. Fazendo-a encarar-me, sei que estou sendo
bruto e de certa forma um idiota. Seus olhos se arregalam e aí está, a repulsa.
Isso me atinge diretamente na boca do estômago. Porque até poucas horas
atrás tinha minha esposa sob meu corpo suspirando por mim e me vendo
como um desses deuses que tanto ama —. O que aconteceu?
Saio de cima dela, recuando e enfiando minha dura ereção dentro das
minhas calças. É duplamente doloroso parar e agora só quero sentir sangue
escorrendo pelas minhas mãos. Movo-me, deixando-a nua sobre a mesa para
pegar seu robe e, jogá-lo sobre seu corpo.
— Saia da minha frente, Emilie.
— O que há de errado com você? — questiona.
— O que há de errado comigo?! Pergunte a si mesma! Suas mudanças de
humor não têm limites, não têm! Cansei disso! Isso é — grito, perdendo
completamente o controle da minha própria máscara. Não me reconheço
enquanto continuo falando —. Você me odeia, mas três dias depois me ama.
Você me acusa de matar o seu irmão e depois de seu funeral vem aqui para
transar comigo. Não se cansa, Emilie?! Essa indecisão permanente! Porque
eu já cansei disso!! De você, de tudo isso! Decida-se de uma vez por todas,
porra!
— Eu não…
— Acha que não sei o que está fazendo? — rosnou em sua cara —. Pensa
que sou tão estúpido?
— É melhor eu sair — murmura, empurrando-me, deixo-a descer da mesa
e a vejo caminhar nas pontinhas dos seus pés para não cortar-se com os cacos
de vidro espalhados pelo chão. Ouvi a voz do meu consigliere na minha
cabeça e sei que depois disso temos apenas duas opções, ou me odiará
permanentemente, ou nos dará uma oportunidade definitiva. Viverei com
qualquer uma das duas opções, e se tiver que mandá-la para longe de mim
para não ter que suportá-la, eu farei, mesmo contra minha vontade. Mas isso
terminou, não dá mais.
— Eu sei tudo — murmuro. Isso a faz parar e olhar para mim por cima do
ombro, ela ainda está nua, cada curva de seu corpo incitando o meu —.
Gabriel Cavalli.
Sei que fugirá, é boa nisso. Corre até a porta, mas sou mais rápido,
impedindo-a antes que possa abri-la e a encurralo contra a madeira e meu
corpo. Lute como uma pantera que você é por natureza.
— Socorro! Alguém me ajude! — grita descontrolada. Eu a viro e tapo sua
boca depois de levantar suas duas mãos sobre sua cabeça e segurando-as com
força.
— Estou de farto de fingir que não sei de certas coisas e deixá-la jogar
como bem entender. Estou sempre dez passos à sua frente, Emilie. De
qualquer um, sempre estou na frente. E você não é exceção. Agora... —
murmuro, falando em um tom de voz um pouco mais delicado —. Falarei
primeiro e você me escutará, em silêncio. Primeiro ponto, não assassinei seu
irmão, não fiz e não faria isso por você. Não entendo como não consegue
acreditar em mim se sempre fui direto com você sobre o que penso
geralmente. Não jogo, Emilie, e se eu o quisesse morto, nem você nem
ninguém teria evitado, entendeu?
Seus olhos estão cheios de lágrimas e algumas escorrem por suas
bochechas, molhando meus dedos. Move a cabeça suavemente. Está com
medo e não sei se de mim ou do passado.
— Quer que a solte? E parará com esses gritos irritantes? — pergunto.
Precisamos conversar —. Bem? Agora você se sentará e me ouvirá. Hoje
resolveremos isso de uma vez por todas.
Capítulo 17

A primeira vez que vi minha mãe chorar, estava na varanda de seu quarto
olhando para suas pinturas jogadas no chão. Não entendia sua reação, afinal
de contas, éramos milionários, tínhamos tudo. Comprar novas tintas não era
um problema. Foi um dos meus primeiros pensamentos frios e egoístas.
Lembro-me de ter feito um comentário desagradável, porque há anos vinha
lutando ganhar sua atenção e ela assumiu a responsabilidade de nos afastar
em diversas oportunidades.
Nossa mãe nos odiava e não se sentia nenhum pouco incomodada em
expor este sentimento. Tinha uma certa preferência em nos punir, e seus
castigos não eram nada convencionais, mas essa noite apenas se sentou no
chão e abraçou suas pernas contra seu peito e chorou inconsolavelmente por
horas.
«Eu não queria esta vida.» Cinco palavras que me marcaram. Queria
libertá-la de tudo isso, dos abusos de meu pai, das noites em que ele a punia
deixando que seus homens violentassem seu corpo, de tantas outras onde o
castigo foi ainda maior, incluindo-nos a Damon ou a mim.
Hoje, esta noite, muitos anos depois, minha esposa é o reflexo de minha
mãe. Sentada no sofá do meu escritório, abraçando suas pernas e repetindo
quase as mesmas palavras. Relatando os fatos dessa noite, que aparentemente
nos marcaram. Conta como seu pai a enganou para que aprendesse a
memorizar números, fazendo-a acreditar que era um simples jogo e não como
o descobriu meses depois.
— Ele fingiu tratar-me bem, minha mãe me disse que ele era meu novo
padrasto. Eles prometeram que estaria segura — soluça.
— Você disse que ele era um pedófilo.
— Por um acaso não era? — questiona. Não posso negá-lo. Gabriel
Cavalli cometeu muitos erros ao longo de sua vida, o poder se apoderou de
seu coração e foi um homem ruim e pai —. Só menti para minha própria
segurança, nunca pensei que Roth me denunciaria.
— Não foi Roth quem me contou — confesso, isso a fez olhar-me
surpresa —. Holden me contou tudo, no dia do hospital.
— Sabia disso todo esse tempo? P-Por que não me contou?
— Que diferença faria? Havia acabado de perder nosso bebê, não
precisava disso e estou conversando sobre isso esta noite porque não suporto
mais continuar com esse relacionamento de mentiras e discussões. Um ciclo
vicioso sem fim.
— Agora me machucará? — pergunta. Eu a olho, tentando decifrar suas
palavras e como depois de tanto, ela ainda é capaz de me perguntar se a
machucarei, suspeito fisicamente, mesmo depois de cada momento vivido.
— Nunca faria nada para machucá-la, Emilie.
— Você já me disse isso no passado, Don. Muitas vezes e adivinhe?
Sempre o faz novamente.
— Então me ensine a não fazê-lo mais — imploro, dando um passo em
sua direção e duvidando da minha própria sanidade mental, por que me afeta
tanto vê-la sofrer? Chorar? —. Se quero algo, exijo que seja feito dessa
maneira porque não sei como fazê-lo de outra forma.
— Meu irmão morreu — sussurra.
— Eu sei, mia regina... deixe-me confortá-la. É a única coisa que sempre
quis fazer. Protegê-la deste mundo, Emi. Você é meu templo — confesso,
aproximando-me um pouco mais —. Quero chegar em casa e encontrar
minha doce esposa nela, quero esquecer quem sou fora dessas paredes e me
entregar a você, mas você torna isso tão complicado. Age nas minhas costas,
mente na minha cara e acha que sou um idiota por acreditar em você.
Acaricio seu pulso esquerdo, onde ela tem uma pulseira simples, mas
delicada, como ela. Movo a pequena joia fazendo-a levantar seu olhar
esmeralda e encarar meu rosto.
— Quem foi que lhe deu essa pulseira, Emilie? — pergunto, sabendo a
resposta. Ela pisca —. Quando lhe pergunto algo, já sei a resposta.
— Vladimir Ivanov — sussurra.
— E qual foi o presente que lhe dei no dia do seu aniversário?
Ela não sabe, porque a chave permaneceu na cômoda por diversos dias.
Nunca o levou em consideração, não como esta pulseira de Vladimir.
— Um colar? Por que estamos falando sobre isso? É irrelevante — afirma
ao assumir esse seu caráter defensivo.
— Não é irrelevante para mim — sussurro, liberando-a —. Isso me mostra
que você não se importa quão duro eu trabalhe para reconquistar sua
confiança, nunca serei digno dela.
— Você me traiu, como posso confiar em você?
— Eu dormi com Katniss na Itália, fiz isso sim. Sou culpado. Não quito
minha responsabilidade deste ato, mas você se incomoda mais com a minha
traição do que o fato de ser um criminoso? Mato pessoas, meu negócio é
fazer com que milhões de pessoas fiquem viciadas e dependentes das drogas,
vendo armas com as quais se cometem atrocidades...
— Basta! — grita, interrompendo-me —. Não é o que vejo em você.
— Mas é o que eu sou e é o que você nunca será. — Arregala os olhos,
chocada com minhas palavras —. Acha que pode ordenar a morte de alguém?
Fazer por conta própria? Acha que nasceu com o perfil para brincar de chefe
na máfia? Acha que dormir com Katniss é suficiente para sujar sua alma?
Que poderá olhar na cara de qualquer inimigo e cravar-lhe uma faca? Há
quanto tempo não lê um destes livros bobos de romance? Há quanto tempo
deixou de ligar a TV e assistir uma série ou um filme romântico? — franze a
testa para minhas perguntas.
— Eu...
— Eu quero essa garota — confesso, cerrando os punhos e sentindo como
se deixasse uma parte minha aberta ao público e disponível para
entretenimento —. Essa é quem você é, não esta versão que se empenha por
construir e que só a está machucando. Você é muito boa no cassino e eu não
quero perder este trabalho que realiza lá, mas também é uma garota que ama
passar horas ajudando os outros sem pedir nada em troca.
O reconhecimento finalmente começa a abrir sua mente, observo seu
rosto, suas sobrancelhas franzidas, seu lábio inferior preso entre os dentes e
seus olhos arregalados.
— Você luta uma guerra que não lhe pertence e isso a está prejudicando
— digo, inclinando-me até que tenha esse rosto angelical próximo ao meu —.
Quero, mesmo que haja uma pequena chance, recuperar a garota que conheci
no passado. Não quero que entenda mal as minhas palavras. Ser forte não é
ruim, defender-se também não é, mas não quero que se prejudique no
processo. Você já passou por muita coisa ao longo desses meses e entendo,
mas meu deslize com Katniss não é desculpa suficiente para se condenar
neste mundo de almas negras e corações mortos. Esta é a máfia, querida. Um
punhado de homens lutando pelo poder e soberania.
— Se pensa assim, então, por que é o chefe?
— Nasci para isso, fui criado dentro da famiglia e era meu dever assumir o
controle. Não é a única a quem este mundo impõe algo, Emilie. — Inferno, o
que estou fazendo? Por que lhe digo tudo isso? É como se abrisse a porta da
minha alma sem avisar —. Nos meus primeiros anos, pensei que poderia ser
pintor. Minha mãe gostava muito de arte e eu aprendia à distância, mas aí a
realidade sempre prevaleceu. Sou um mafioso, tive que aprender a matar,
estudar meus inimigos e controlar meu caráter e pequenas coisas como a
pintura e a arte, perderam seu valor.
Ela levanta a mão e a coloca no meu coração, sobre o tecido da minha
camisa. Parece frágil, mas é, a garota que vi pela primeira vez por meio de
uma foto. Fecho meus olhos sentindo seu toque e, em seguida, seus lábios
contra os meus. Eu a beijo, envolvendo-a em meu corpo e puxando-a contra
mim, ambos nos levantamos em sincronia, suas mãos rodeando meu pescoço
e suas pernas ao redor dos meus quadris, enquanto caminho em direção à
parede, pressionando seu corpo nu.
Esta mulher, minha esposa, tem a capacidade de me deixar completamente
louco. Deixo de ser quem sou por sua alma, eu me torno um idiota ridículo
quando a tenho tão perto e tão minha. Ela é quem para de me beijar, recuo
um pouco para olhar seu rosto e encontro lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Sabe o que é ter pesadelos com ele e depois acordar ao seu lado? —
soluça sem olhar-me. Não posso negar que é um duro golpe e que sinto um
certo desconforto —. Às vezes só quero matá-lo por ser quem é... Pelo que
representa.
— Não sou ele, deixe-me prová-lo. Deixe-me mostrar-lhe o verdadeiro
homem que há dentro de mim, que você me transformou... Não sou um
homem bom, Emilie. Deus sabe que não, mas sou melhor do que ele e posso
ser ainda mais. Serei um bom marido, um pai para nossos filhos. Nada como
ele, Emilie — garanto unindo nossas testas. Abra seus olhos deixando-me ver
toda a sua dor. Não se esconda de mim desta vez —. O que você quer? O que
posso fazer pela sua felicidade?
— Liberte-me, deixe-me sair da máfia.
«Não posso...» O pensamento é brutal. Eu a necessito comigo, não consigo
imaginar o resto da minha vida sem ela.
— Não posso…
— Esta não é minha vida, Don. Liberte-me, por favor.
— Disse que me amava — eu a lembro. Sai do meu agarre. Ela impõe
aquela distância que a mantém segura de mim. Viro-me para encará-la
quando está cobrindo seu corpo nu com o robe —. É mentira?
— Não, não é... Você está jogando sujo — recrimina, tremendo.
— Então sofrerá, certo? Se me ama e não me tem ao seu lado, você
sofrerá, além disso algumas pessoas não estão felizes com tudo o que
aconteceu e só esperam o momento de vê-la vulnerável para atacar.
— Não me deixará ir porque sofrerei e tenho inimigos? Essas são as duas
únicas razões?
Franzo a testa, sabendo o que ela deseja ouvir e que não posso dar-lhe.
Abro a boca tentando falar, dizer qualquer coisa, mas não quero mentir.
— Mereço mais — sussurra.
E inferno, eu sei. Merece viver todo esse romance épico de seus livros.
Como posso dá-los? Sou bilionário, tenho tanto dinheiro que nem mesmo
meus bisnetos precisariam mexer um dedo. Poderia levá-la ao redor do
mundo, comprar joias, roupas e colocar todos os desejos a seus pés, mas não
é o que Emilie deseja. Ela me quer, não os bilhões que estão atrás, como
posso dá-lo? Como posso garantir-lhe que tentarei desenvolver este
sentimento?
— Fique, mia regina. Eu a necessito. Sei que é irritante e me tira do sério
com duas palavras, mas eu a necessito ao meu lado... Quero que fique
comigo.
— Isso significa que eu tenho uma opção? O que me deixaria ir?
Sua emoção causa esse golpe típico na boca do meu estômago. Se este é o
amor que os seres humanos professam com tamanha magnitude... pelo qual
alguns até morrem. Eu não quero conhecê-lo. Semanas atrás disse “que me
amava” e hoje salta de emoção com a probabilidade de estar livre do nosso
casamento.
Passo a mão pelo meu cabelo, organizando minhas ideias. Muitos
casamentos dentro da máfia são malsucedidos e ninguém percebe isso. Sou o
Capo, tenho preocupações maiores do que isso. Deveria ser capaz de dominar
minha esposa sob minha demanda absoluta, sem me preocupar com mais
nada, mas acabo de dizer-lhe que sou melhor que meu pai e por isso devo
prová-lo.
— Responda esta pergunta, Emilie — eu a desafio, rodeando seu corpo e
sentando na superfície da mesa enquanto cruzo os braços sobre o peito,
observando-a não como minha esposa, mas como mais uma negociação —. O
que, na sua opinião, você mais ama? A sua liberdade ou a mim? Você só
pode ter um dos dois.
— Isso é injusto.
— Nunca fui um homem justo, não com as pessoas em geral. Lidei com
você, mas veja aonde isso nos levou. Se desde o primeiro momento do nosso
casamento eu tivesse imposto a minha mão forte, hoje você seria uma doce
ovelha, no entanto, aqui estou eu negociando a base do nosso casamento
pouco meses depois de oficializarmos. O mundo não é justo, por que deveria
ser?
— Porque sou sua esposa...
— Mas não quer ser — digo. Vejo mover sua perna como um tique
nervoso e desvia seu olhar dos meus olhos.
— Minha liberdade. É tudo o que me importa.
Sorrio de lado e ela dá um passo para trás. Afirmo lentamente, sem
mostrar-lhe o duro golpe em carne viva.
— Então... — murmuro. Não sei o que dizer, não estava preparado para
essa resposta. Esperava que me escolhesse, que alguém pela primeira vez na
minha vida me escolhesse e assim deixasse de ser a segunda opção —. Já é
tarde, deveria estar descansando, por que não vai para o quarto?
— Dominic...
Não posso ficar perto dela. Encurto a distância entre nós, aos poucos, para
que não pense que a machucarei e não fuja. Levanto seu rosto com a ponta do
polegar, aquelas esmeraldas cheias de lágrimas sem derramar, sem uma
palavra porque são inúteis, beijo sua testa demorando alguns segundos.
— Gostaria de dizer-lhe o quanto lamento a perda de seu irmão, mas não
posso deixar de saber quão ruim foi Holden em sua vida e que nunca fez nada
para mantê-la segura. Meu pai era um demônio, todos sabiam disso... Holden
nunca deveria tê-la levado essa noite para ele, comigo ele não teve chance de
recusar, mas se você fosse minha irmã, estaria vivendo sua melhor vida em
um país remoto, mesmo que tivesse que dar a minha vida em troca. Ele nunca
a protegeu, Emilie. E pelo fato de estar morto, não o tornará um santo, não
para mim.
Então a deixo caminhar em direção à porta e saindo do meu próprio
escritório, arrumo minha camisa, enfio-a dentro das calças e penteio meus
cabelos com as mãos. Savannah está na sala de estar com a pequena Emma
no colo, ambas de pijama de desenho animado.
Vou até a cozinha, onde encontro nonna preparando alguma coisa no
fogão.
— Amanhã retire todas os meus pertences deste apartamento — ordeno
em italiano com um tom de voz rude. A pobre mulher olha para mim
espantada —. Contrate uma empresa de mudanças.
— Como quiser — diz hesitante —. Mas ela não é Isabella, filho.
— Bobagem — rosnou sentindo essa raiva cegante —. São iguais, ambas
juraram amar-me e ambas me abandonaram.
— Isabella não tinha escolha.
— Tinha quando a procurei na Rússia e ela preferiu continuar fodendo ao
invés de vir comigo. Todos nós temos uma opção, nonna, e se escolhemos as
erradas é um outro problema. Cumpra o que lhe pedi.
— Sim, senhor — desiste abaixando a vista.
— Dominic! — Emilie chega ofegante.
Não tenho um pingo de paciência para continuar falando com ela ou
tentando consertar o que claramente só eu vejo.
— Não temos mais nada para conversar, Sra. Cavalli — assovio por cima
do ombro, sem olhá-la e começo a caminhar para fora destas paredes. Sinto
que tudo aqui me asfixia —. Todo mundo consegue o que quer, Emi. Então
não se arrependa.
— O que significa isso? Don!
— Significa que não quero vê-la, não quero falar mais com você e me
afastarei o máximo que possa de você. O Dominic benevolente acabou! Quer
a sua liberdade? Você a tem sob meus termos! É isso o que significa.
E saio antes de dizer coisas das quais no futuro eu me arrependa. Ela quer
liberdade, então a terá.
Capítulo 18

O sangue escorre pelas minhas mãos, enquanto agrido o homem número


seis, esperando ter uma pista do franco-atirador que matou Holden
Greystone. Roth, atrás de mim, está tirando os molares de sua quarta vítima,
lentamente desfrutando de seu sofrimento.
De minha parte, destruí o homem, só lhe resta um dos dez dedos, ele tem
marcas de minha faca em grande parte de seu corpo e não possui nenhuma
informação relevante. Escorpião, como é conhecido no submundo das armas,
pende do teto e quando paro de agredi-lo, sua cabeça cai para o lado,
provavelmente, com o pescoço quebrado. Cuspo no chão, desapontado. As
pistas me levam de uma pessoa a outra, mas sem o responsável direto. Grito,
frustrado com essa caça absurda.
— Isso não está funcionando — assovia Roth, que já ultrapassou seu
limite e só acaba com a vida do pobre homem com sua faca de caça favorita,
cortando sua garganta. A sala é um matadouro, corpos desmembrados,
sangue espalhado por toda parte. Sei que é uma perda de tempo, mas não
posso deixar de querer encontrar o maldito homem e poder levá-lo à morte
com minhas próprias mãos. Alguns dos meus homens se olham com cara de
doentes e não posso imaginar meu aspecto, possivelmente, estou coberto de
sangue.
— Esses homens não tinham a menor ideia — disse, jogando a chave
industrial na mesa. Sei que nenhum deles tinha alguma informação, mas
serviram para devolver minha coragem e dissipar minha mente. Matar é a
única coisa que controla minha vontade de correr até ela, trabalhar os
negócios da famiglia ocupam minha mente, mas não o suficiente. É hora de
dar o próximo passo. Byron deve ir à Itália e conseguir o que eu preciso, é
hora de controlar Piazza e deixar que Vladimir cuide de Kain não está
funcionando.
— Eu irei à Itália — murmuro.
— Dominic...
— Não diga nada, Nikov — assovio, saindo e sinalizando aos meus
homens para cuidar da bagunça.
— O que aconteceu com Emilie quando eu saí? Por que está disposto a
matar todos que estão à sua frente?
— Então, afaste-se — afirmo.
Deixei a cobertura e vim direto para Jersey, para nossa geladeira pessoal
de traidores. Temos vários lugares destinados à tortura, mas esse é um dos
meus favoritos, está longe da civilização e tem uma vista incrível da cidade, a
porra da minha cidade.
Uma em que minha esposa, provavelmente, está dormindo em paz e feliz
por não me ter ao seu lado na cama. Entro no banheiro comum para tomar um
banho deixando-o para trás, enquanto tiro minha roupa que é um desastre e
fico só de cueca boxer preta.
Ligo o chuveiro e deixo que a água quente lave o sangue no meu corpo. Se
fechar os olhos, só tenho a imagem da minha esposa em meus braços na
manhã onde decoramos sua árvore, seus olhos olhando-me, a entrega de seu
corpo... Como nos levou a esse ponto? Como faço para fazê-la entender que
podemos ser perfeitos juntos, sem brigas e sem culpa? Sem o passado de
Gabriel sobre nós? Por que nos condenamos graças a este maldito? Isso o faz
ter poder sobre todos nós, mesmo depois de anos de sua morte.
— Até quando? — golpeio a parede rosnando entre os dentes —. Quando
é que sua maldita memória ficará no inferno com você? Tirou-me tudo, o que
mais precisa? Claro, também a mulher que... O quê? — balanço minha
cabeça, milhares de pensamentos correndo em todas as direções. A mulher
que, o quê? O que me importo? O que preciso?
Tomo banho, sem ter clareza de nada e ao mesmo tempo essa voz interna
que fica sussurrando palavras que nunca havia levado em conta antes, nem no
presente, mas que ultimamente são o novo mundo em que pareço viver.
Roth está com uma toalha levantada, como sempre já tomou banho e só
cobre sua nudez com outra toalha vermelha. Limpar o sangue é sempre chato,
mas ao contrário de mim, Roth é muito mais eficiente.
— Tem um grande problema — brinca apontando para o meu pau.
— Foda-se, é uma excelente companhia quando não fala nada.
— Está mal, florzinha? — insiste. E lhe mostro meu dedo médio.
Já vestidos com roupas informais e do teto do armazém, pode-se ver a
cidade de Nova York, antes costumava ir aos meus clubes e encontrar uma
mulher para apagar meu fogo, depois de minha esposa, isso é uma
possibilidade nula. Nenhuma me provoca nada, não mexem com nada.
— Ela quer deixar-me — digo, terminando um gole de conhaque. Roth,
tem um olhar vazio e está bebendo uma cerveja, olha na minha direção,
piscando e pensando que me havia escutado mal —. Depois que você saiu,
foi uma merda. Ela quer sua liberdade e não quero que seja mantida à força.
Não quero ser outro Cavalli. Então, estou deixando minha própria esposa e
apartamento. Ir para a Itália é uma boa ideia, controlar negócios, ocupar
minha mente. Dar-lhe espaço.
O silêncio se estende entre nós, bebemos um pouco mais. Só de olhar para
o que construímos juntos, diante dos meus homens sou o todo-poderoso
Cavalli, mas sem Roth, nunca teria controlado esse meu lado explosivo e
destrutivo. Esta noite é um exemplo claro. Não quero tê-lo ao meu lado como
uma fraqueza, mas e se não é isso e sim poder?
Como Emilie, ela me centra, faz com que tenha vontade de voltar para
casa, vê-la na minha cama, saber que ela está ali, que me pertence.
— Ela tem vinte e um anos — sussurra Roth.
— O que…?
— Ela é uma garota, é imprudente. Eu sei, mas ainda é uma garota.
— Nós quando tínhamos essa idade, já éramos...
— É diferente, pense bem. Nascemos nesta vida e fomos treinados para
ser assim. Ela não teve chance. É uma garota magoada, tentou competir com
você, tem uma ferida que não para de receber golpes. Não a estou eximindo
de qualquer culpa, mas ela mudou sua vida da noite para o dia, tentava dar-
lhe uma oportunidade de reconstruir sua vida, mas sua amiga morre, vê seu
marido aos beijos com outra... Essas coisas são importantes e marcantes para
as mulheres.
— Perdemos nosso bebê — sussurro, engolindo em seco —. Seu irmão foi
morto diante dela.
— Tudo isso aconteceu em menos de um ano. Tem todo o direito de não
saber o que deseja da vida.
— Disse que me amava — confesso hesitando.
— E você duvida? Todos nós vemos isso, Dominic. Ela é louca por você e
só quer um pouco de carinho em troca.
— Não sei como fazer isso sem torná-la um refletor brilhante para meus
inimigos.
— Pelo amor de Deus! — exclama, jogando a garrafa de cerveja vazia
para o alto —. E? Para protegê-la, essa é a sua desculpa para ir embora? Para
afastá-la de você? Porra, Dominic. Ela é sua esposa, ela te ama e só precisa
de um pouco de paciência, sei que você não a tem, mas, não vale a pena pelos
bons momentos? Porra, ela lhe faz bem. Basta olhá-lo, está muito mais
cuidadoso, faz de tudo para protegê-la, não é impulsivo. É como a porra da
sua droga pessoal, é o seu Diazepam e sei que me dirá que faz tudo isso por
ela, mas é mentira. Está fazendo isso como forma de afastar-se de tudo o que
isso lhe causa, deixa-o assustado e quer fugir. Eu sei, conheço-o bem. Você é
meu maldito irmão.
— E os negócios? A famiglia? Não posso deixar isso de lado.
— Você já fez isso uma vez — ele me lembra. Sim, é verdade, pensei
apenas em minha mãe, em vingá-la, e assassinar cada homem que a
machucou, talvez ela pudesse ter um pouco de paz, mas minha própria mãe
preferiu continuar na Rússia, em uma merda de vida a que está condenada
por vontade própria.
— Você tem a mim — diz ele, apertando meu ombro —. Lute por ela,
tire-a desta cidade, mostre-lhe o mundo. Seja somente o Dominic e mostre-
lhe que nunca será como Gabriel, faça isso. Este mundo em que vivemos já é
uma merda, não escolha separar-se da única coisa que lhe faz bem, apenas
por aumentar seu ego. Continuará governando a famiglia, sendo o Capo que
é, mesmo que não queira e, seja um bom marido, um bom pai. Vi como
sofreu com a perda do seu bebê, você cuidou da sua esposa e a famiglia
continua unida. Sim, perdemos a Colômbia, mas isso não o tornou menos
Capo.
— Desde quando você é um conselheiro? — questiono meio de
brincadeira.
— Desde o momento que passei a invejá-lo do que tem, desde que percebi
que poderia ser eu. Chegar ao meu apartamento vazio e fazer a mesma coisa
dia após dia é triste.
— E a garota...? — pergunto, ambos sabemos a quem me refiro.
— É uma menina, Jesus, Dominic!
— Uma pelo qual larga tudo e corre para ficar aos seu lado. Sim, também
sei de algumas coisas — abro uma segunda garrafa de conhaque.
Ouvimos o barulho de várias motocicletas familiares e, em seguida, as
luzes, Roth se comunica com a segurança por meio de seu dispositivo. São
apenas três os que entram, observamos do telhado, quase amanhecendo.
Raze, Byron e Damián não demoram em se unir a nós, parecem três bad boys
com roupas de couro.
Analiso o último, há alguns anos era consigliere, igual ao seu pai, era um
bom aliado e lembro-me dele era letal na hora de defender sua honra, sempre
quis tê-lo entre meus homens. Seria um excelente subchefe, e ele sabe disso.
Ele me olha nos olhos, não hesita e nem desvia o seu olhar, ao contrário de
Byron Miller, que muitas vezes tem medo da minha presença. Ele é um bom
garoto e sei que tem sangue em suas mãos, mas não é algo que o apaixone,
está neste mundo graças a Raze e por salvar sua irmã. Ele não tem coragem
de encarar-me por mais de dois segundos.
— Tenho cinquenta ligações perdidas da loira, deveria preocupar-me? —
pergunta Raze, pegando minha garrafa —. Onde diabos está o whisky? Que
merda é essa? Quantos anos você tem? Cem anos? Afinal de contas, quem é
que bebe isso neste século? Que nojo... — cospe para o lado dramaticamente.
Podia ganhar um Oscar de melhor dramático do ano.
— Raze — murmura Roth em uma tentativa de cumprimento.
— Sei como trazer boas bebidas — continua o pequeno Nikov, ignorando
propositalmente seu irmão mais velho. Damián me entrega uma garrafa —.
Scotch whisky, o melhor para o Capo.
Ouço Roth bufar e a risada zombeteira de Raze, mas estou focado em
Damián e sua segurança no momento que nos cumprimentamos. Tem força e
conhece minhas intenções. Isso só o torna perfeito. Nega apenas com a
cabeça e aceno em concordância, por enquanto. Não perco a esperança de tê-
lo ao meu lado, um dia o terei.
— Miller — o cumprimento soltando a mão de Damián e me
concentrando no terceiro.
— Senhor — responde, olhando para baixo.
— É um prazer revê-lo, como está sua irmã?
Só quero foder com o humor de Raze e consigo, pois seu sorriso muda e se
transforma nesse lobo mau feroz protegendo a Chapeuzinho Vermelho, é
assim que sou?
— Algum problema com ela? — rosna. Roth revira os olhos.
— Estava pensando visitá-la no teatro... — Continuo pressionando-o —.
Faça um investimento e verifique se está tudo em ordem. Gosto de lembrar às
pessoas o seu lugar. — Desta vez, olho para Byron —. Sabe, assim todo
mundo fica mais dócil e segue minhas ordens como espero.
— Não matei nenhum de seus traficantes de rua. Eu prometi, não precisa
ir vê-la. Dei-lhe minha palavra, Dominic. — Raze me faz lembrar do nosso
acordo. Sei que está seguindo minhas regras e não me atormentando.
— Fique calmo, não é minha intenção machucá-la — eu o tranquilizo.
Ao contrário de Emilie, Bess Miller tem um irmão capaz de me oferecer
sua cabeça para salvá-la e um Raze capaz de lutar por ela. Franzo a testa,
desconectando das próximas palavras quando me lembro da minha fúria,
queria quebrar cada parte de Raze na noite em que Emilie perdeu nosso bebê,
destruir o mundo que me parecia pouco, se com isso conseguisse devolver
esse batimento ao ventre da minha esposa.
«Ela não é Isabella. Eu não sou Gabriel e nenhum de nós deve condenar-se
pelo mal que outros causaram.» Penso enquanto jogo a garrafa de whisky na
direção de Roth, que a pega com um ponto de interrogação no rosto. Quase
tenho vontade de rir quando me desculpo e começo a andar.
Desta vez, não abandonarei meu próprio barco, não enquanto eu tiver uma
mínima possibilidade. Ela me ama e enquanto esse sentimento existir, eu
lutarei.
— Cuide de que eles voltem para casa, ok? — ordeno um de meus
homens, meu capitão mais confiável.
— Sim, senhor. Precisa de um dispositivo?
— Não — anuncio, trotando até o meu carro esportivo, deixando escapar
meu sorriso.
O caminho para casa é muito longo, mesmo quando não há tráfego nas
ruas escuras, parece eterno e tortuoso. Não ligo meu celular, sei que
aparecerão diversas chamadas perdidas e, possivelmente, algumas mensagens
que não estou pronto para ler. Estaciono e corro até o elevador, digitando o
código de segurança mais apressado que o normal.
Quando as portas se abrem, tudo fica quieto, subo para o segundo andar,
vendo a luz no quarto de hóspedes e ouvindo os soluços abafados de
Savannah, enquanto fala com a pequena Emma. Continuo até o final do
corredor em direção ao meu quarto.
Faz poucas horas que saí, o que isso quer dizer? Que me importa mais do
penso? Que talvez seja capaz de ter sentimentos por essa mulher? Merda.
Encosto minha testa na porta, respirando agitado... E se não me quiser aqui?
E se eu arruinar ainda mais as coisas? Cacete! Sou um dos homens mais
poderosos desta porra de mundo e estou hesitando em entrar no meu próprio
quarto? Onde dorme minha esposa? Giro a maçaneta abrindo-a e entro
receoso.
A cama está feita e minha esposa não está dormindo como esperava
encontrá-la. Olho para todos os lados do quarto, hesitando minha própria
sanidade mental no caminho para o banheiro, e este, também está vazio...
Onde diabos está?
E a resposta vem assim que percebo a temperatura no quarto, está
congelante. O medo, algo que até pouco não conseguia distinguir, sinto um
arrepio e um aperto na boca do estômago. Por mais de cinco minutos, apenas
observei as cortinas se movendo com o vento. Teria cometido suicídio?
Muitas mulheres em nosso mundo fazem isso, testemunhei alguns e tive que
encobrir a maioria.
Hesitante, começo a andar, mas o faço tão devagar que nem mesmo faço
barulho ao pisar no frio chão de mármore. Empurro as cortinas douradas,
aquelas que minha esposa decidiu colocar há poucos meses.
— Maldição! — suspiro ao vê-la no chão, tremendo de frio abraçando
suas pernas. Está gelada quando a carrego em meus braços e rapidamente a
coloco no quarto e a deito na cama, movendo-me para fechar as portas
deslizantes. Seus dentes batem uns com os outros.
— Es-tás a-aqui — gagueja. Começo a tirar sua camisola branca, a
temperatura está tão baixa que sua pele está quase roxa.
— O que estava pensando, amor? Porra! Nesta altura é terrivelmente frio,
além disso, é dezembro em Nova York! Pelo amor a Cristo, Emi! — grito.
Não sei com quem estou mais irritado, se com ela por fazer esta estupidez ou
comigo por deixá-la sozinha quando mais precisa de mim.
— Não posso fazer isso, Don... não posso — soluça.
— Shh, calma, bebê. Acalme-se, deixe-me aquecê-la — explico,
movendo-me para ligar a lareira elétrica.
Jogo lençóis e travesseiros no chão em frente ao aparelho. Rapidamente
tiro minhas roupas e a levei ao chão para aquecê-la, eu a abraço, nossos
corpos nus e a cubro com uma manta de lã com que costumava cobrir-se
quando lia na sala de estar nos primeiros dias que começamos a viver como
marido e mulher.
— Você voltou. — Chora.
— Não deveria ter ido, borboleta. Nunca deveria tê-la deixado sozinha.
— Você é tudo que me resta — soluça —. Não me abandone, eu preciso
ser forte por Emma. E só você me dá essa segurança, por favor, Dominic, não
me abandone.
— Está bem, não a abandonarei, ok? Não irei a nenhum lugar — afirmo e,
inferno, essas são as palavras mais verdadeiras que eu já disse.
— Jura — implora olhando para cima, os olhos irritados e inchados, ao
que parece passou a noite toda chorando, a boca vermelha e as bochechas da
mesma cor, quanto tempo teria ficado lá fora? —. Prometa-me, dê-me sua
palavra. Sua mais sagrada palavra de honra. Que nunca me machucará.
Posso ver minha garota por trás do desastre a olho nu, assinto, pegando
sua mãozinha e trazendo-a ao meu coração, essa parte onde as cicatrizes
ainda queimam e me lembram quem sou e para o qual nasci. O nó se instala
na minha garganta enquanto deixo sair as palavras, um juramento que nunca
quebrarei, até mesmo se for necessário darei minha vida para que isso seja
cumprido.
— Eu, Dominic Cavalli Schiavone, prometo a você, Emilie Greystone.
Protegê-la e respeitá-la... — Limpo minha garganta, sem saber como traduzir
o que ela precisa, sem ter ideia de como minhas palavras são verdadeiras —.
Sendo fiel a você todos os dias de nossas vidas, prometo voltar para casa por
mais difícil que seja e encontrar meu caminho de volta a você, mesmo que
seja chata e teimosa, mimada e exigente... Eu, prometo fazê-la sentir-se
amada, querida, valorizada e respeitada todos os dias, tanto quanto possível.
Prometo não mentir para você, não guardar segredos, jamais. E lhe dou
minha palavra de honra, meu sangue é seu sangue, minha lealdade é sua a
partir deste momento e para sempre, se eu falhar com você, minha senhora,
que minha alma seja arrancada do meu ser sob suas próprias mãos, que com
meu último suspiro qualquer ato de traição seja pago. A partir deste momento
e enquanto eu viver, você é a dona do meu destino, em suas mãos coloco
minha vida.
Prendo a respiração ao terminar de recitar o juramento da famiglia, claro
que um pouco modificado para ela. Agora se ela não entender o que isso
representa em minha vida, não existe nada neste mundo que possa fazê-la
compreender a magnitude de seu poder na minha pessoa. Ela me olha com a
boca aberta e os olhos lacrimejantes, então seus dedos se movem em meu
peito, tocando os queloides de minha queimadura, finalmente respira,
liberando o ar lentamente.
Começa a deslizar-se sobre minhas pernas, sentindo meu pau dentro da
boxer, então monta sobre meu corpo, e depois leva suas mãos aos meus
cabelos, ainda está fria e tenho medo que adoeça, mas não consigo parar de
olhá-la, pura ansiedade, será que depois do meu monólogo, acreditará em
mim? Ou talvez para ela sejam apenas palavras sem sentido?
— Você é meu marido — sussurra baixinho —. Sou sua esposa e não faria
nada para me machucar.
— Não, nunca. Quero que esteja transbordando de alegria, não de tristeza.
Quando entenderá?
— Por que temos que discutir tanto?
— É muito teimosa e eu sou um idiota — digo meio que brincando.
— Você me odeia, Dominic? — questiona.
Sei que não está perguntando exatamente isso, mas está procurando uma
resposta para algo que, no momento, não estou pronto para dar com outras
palavras exatas.
— Sim... — Limpo a garganta —. Eu te odeio muito, e com toda a minha
força. Você é a pessoa que mais odeio no universo.
Seus olhos ganham vida e posso ver a emoção antes de aproximar-se e me
beijar, finalmente. É desenfreado e louco, uma torrente de energia entre nós,
algo que nos rodeia e nos faz deixar de existir no mundo original. Seu beijo
me transporta para outra dimensão onde somos apenas duas pessoas, com
problemas, personalidades completamente diferentes, mas com um batimento
cardíaco marchando em sincronia. É ter a certeza de que não importa o que
Emilie faça na vida, sempre voltarei para ela, mas o que é melhor. Ela sempre
me esperará. Ela não é minha mãe.
Ela é uma garota com problemas, teve uma vida muito difícil, que não
conheceu outra coisa senão experiências ruins e que pretendo começar a
consertar definitivamente.
Ela se separa ofegante, tocando meus cabelos e brincando com eles, une
nossas testas, eu a abraço colocando-a sobre meu peito, sentindo sua pele fria
e os mamilos entumecidos.
— Menti... — diz, tento recuar, mas ele coloca mais pressão em seu
aperto, então deixo essa conexão entre nós —. No seu escritório... Não quero
ser livre se você não estiver ao meu lado... Estou louca? — Ri negando —.
Deveria odiá-lo, deveria ter pulado de alegria quando você saiu, mas só pude
entrar neste local e imaginar todos os dias da minha vida sem você... E não
pude. Preciso de você, Don. Eu te amo muito, com todas as minhas forças e
não sei como podemos fazer para que o nosso casamento dê certo, mas quero
tentar. Quero ter essa oportunidade que você falou ao seu lado, quero virar a
página. Não posso continuar culpando-o quando a culpa também é minha. E
olhe... — exclama, levantando o pulso agora com um dos meus presentes. É
uma pulseira simples com o seu nome gravado no interior.
— Você está falando sério? Não mudará de ideia se algo acontecer?
Confiará em mim? Desistirá dessa ideia de ser um chefe da máfia?
— Uma vez disse que eu era sua extensão e quero demonstrar-lhe isso.
Somos um, precisamos um do outro, se não, você não estaria aqui e eu estaria
pulando de felicidade e planejando uma vida de liberdade, mas, como seria
livre se estou atada a você?
— Oh, Emi... Porra, você é uma mulher perfeitamente imperfeita.
Não consigo descrever a magnitude da revolução que sinto dentro de mim.
Ou meus pensamentos caóticos, no entanto, só tenho uma parte de mim que
está acelerada, que por muito tempo pensei que não possuía. Desta vez sou
completamente seu e não precisa ouvi-lo quando começa a tocar-me sobre o
tecido da boxer e muito menos quando tira meu pau para fora, masturbando-
me, empurrando meu eixo. Seus olhos não perdem contato com os meus,
mesmo quando se move para me levar para dentro dela.
Quero jogar minha cabeça para trás e rosnar como um leão marcando seu
território, mas me contenho deixando-a subir e descer sobre mim, seu interior
um contraste caloroso com a temperatura de sua pele. Seus movimentos são
suaves, calmos, porque ela não está fodendo-me como outras vezes, mas está
perdida no prazer, no desejo e em sentir-me dessa maneira. Apenas agarro
sua cintura, cedendo-lhe o controle sobre o ato em si, deixando-me levar até
onde ela quiser.
Isso não é manipulação, muito menos um sexo forçado ou foder para
buscar o prazer comum, isso é uma entrega que não nunca pensei ser capaz
de experimentar.
Emilie Cavalli está fazendo amor comigo, acabei de eliminar de dentro de
mim o homem não faz nada por ela e liberei o homem que é capaz de matar
por ela no futuro.
E se ela pode aceitar-me tal como sou, então a tenho por ser quem é.
Louca, temperamental, teimosa e às vezes mimada. Mas é minha, em cada
porra de sua faceta.
— Eu te amo, Don, — geme, deixando cair a cabeça para trás, curvando
seu corpo e expondo seus seios para mim, sentada sobre meu corpo, que ao
mesmo tempo estou sentado sobre os lençóis e travesseiros mal colocados no
chão.
— Emilie — imploro ofegante. Balançando a cabeça e me recusando a
chegar ao orgasmo antes que ela atinja primeiro.
— Preencha-me, Dominic — pede, apertando esta boceta vodu —.
Marque-me para que todos saibam que tenho um dono. Que sou sua e de mais
ninguém.
— Minha — rosno, movendo-me rapidamente. Assumindo o controle do
ato quando a giro e a deixo sobre suas costas, colocando-me sobre ela e
investindo descontroladamente dentro dela —. Minha, minha... Repita.
— Sua.
— Mais forte — exijo, envolvendo seu pescoço. Umedece seus lábios,
porque sabe meu próximo passo.
— Sua! — grita, deixando-me louco, demente e possessivo. Eu a penetro
com tanta força que chega a gritar, mas fica sem ar quando pressiono seu
precioso pescoço, deixando-o marcado e cortando o oxigênio por alguns
segundos. Suas mãos se movem para meus quadris, onde crava suas unhas e
me pede para ir mais fundo. Conto mentalmente vinte segundos antes de abrir
meu agarre e deixá-la respirar um pouco, assim que o faz, suas entranhas me
sugam e apertam. Jesus Cristo, porra.
— Mais — pede e a presenteio sorrindo de lado. Cacete.
— Nunca mais deixará de olhar-me enquanto fazemos amor, ok? —
invisto com mais força e desta vez pressiono sua barriga contra meu pau, para
que seu ponto G me sinta. Grita e diz algo incompreensível que parece muito
com “filho da puta” —. Estou esperando a porra de uma resposta.
— Nunca! — grita suspirando. Belisco seu clitóris entrando em sua boceta
molhada. Ela ainda não está prestes a atingir o orgasmo e sei que será minha
completa perdição. Sendo assim, saio de dentro dela e começo apenas a
masturbá-la com a ponta do meu pau. Para cima e para baixo em seu clitóris
inchado.
— Acabou a manipulação com sexo, quer saber de uma coisa, pergunte-
me diretamente. Eu lhe direi sempre e quando não se coloque em perigo.
— Deuses! Don, apenas me faça gozar — implora choramingando.
— Você é minha, eu decido quando e onde chegará. E agora só quero
deixar sua bunda vermelha, e assim que você aprende — ameacei.
— Faça isso — concorda, totalmente entregue a mim. Não apenas seu
corpo, mas também sua confiança, algo que nunca pensei que teria de volta.
— Não esta noite. Hoje só quero fazer amor com você, abraçá-la para que
durma pelo menos até as cinco da tarde. Se estiver disposta a ficar tanto
tempo na cama.
— Ficarei minha vida inteira, Dominic. Toda a vida.
— Droga, Jesus Amado, mulher — clamo inclinando-me por sua boca e
penetrando fundo em seu interior, com calma desta vez, levando-nos ao auge
do prazer inebriante e torturante. Emoções sem fim nos catapultando em
milhões de fragmentos e no final apenas nos deixando reconstruídos em um
único ser. Essas palavras são tudo o que há de certo no mundo. Por essas
palavras farei coisas impensáveis.
O problema não é que ela seja minha, mas eu sou dela em cada célula do
meu ser. Ela me tem em suas mãos, sob seu encanto e hipnose absoluta e é
um poder que espero que saiba controlar.
Capítulo 19

Estico-me na cama, procurando com a mão o lado direito onde Dominic


dorme, sentindo-o vazio. Entro em pânico ao abrir meus olhos, sentando-me
de repente e olhando ao redor do quarto sem encontrá-lo a olho nu. O medo
que senti ontem à noite se agarra à minha pele e eu saio, nua, pisando no
mármore frio. Entro em nosso closet e vejo suas roupas penduradas e visto
uma camisola preta. O quarto está uma bagunça de lençóis e travesseiros
espalhados em todas as direções, não me lembro quando fui para a cama.
Saio do quarto correndo ao seu escritório para encontrá-lo vazio também,
em seguida, vou até a área da piscina aquecida e lá também não está, então
retorno à sala de estar. A essa altura, estou prestes a chorar de desespero,
procuro meu celular e o chamo.
— Nonna! — grito, entrando na cozinha. Fico congelada, Dominic está ao
telefone colocando suco de laranja fresco em um copo e segurando uma
bandeja cheia de sanduíches. Ele franze a testa quando me olha.
— Eu o chamarei mais tarde — diz, desligando sem esperar por uma
resposta. Deixa o telefone na ilha e vem até mim —. Emilie, o que houve?
Não o deixo dizer uma palavra, só pulo em seu corpo, envolvendo minhas
pernas ao redor da sua cintura e puxando seu pescoço, juntando nossas bocas,
ele tem gosto de queijo e leite e provavelmente hálito matinal, mas isso não o
impede de me ter com essa paixão e intensidade que sempre emana.
— Bom dia, amor. — Suspira, afastando-se para respirar.
— Bom dia, senhor.
— Tudo bem? — questiona, inclinando a cabeça.
— Você está aqui — explico mostrando minha angústia —. Por um
segundo, pensei que a noite passada fosse apenas uma invenção da minha
cabeça.
— Hmm, a noite passada foi real e esta manhã também, querida. Acabei
de sair da cama para fazer exercício. Não queria acordar minha linda esposa.
Ele me senta sobre o tampo da ilha e pega um pedaço de queijo e o
introduz em minha boca. Mastigo devagar, observando seu sorriso, aquele
que só eu tenho o prazer exclusivo de testemunhar.
— Onde estão todos? — pergunto, aceitando uma uva.
— Savannah foi trabalhar, levou Emma para a creche, e nonna está de
folga. Esperava passar estas horas só com você, o que acha?
A alegria floresce rapidamente dentro de mim, mas morre ao lembrar-me
que é meu dever carregar as cinzas de Holden até nossa mãe. Dominic
percebe e pergunta... Deixo sair tudo, cada um dos meus motivos para não
vê-la, o medo de apenas encará-la. Ela é a mesma mulher que queria me
matar uma noite, está doente, eu sei, mas não posso deixar de ficar com medo
de encará-la.
— Não estou pronta... não quero vê-la.
— Não faça isso, procuramos outro local. Não precisa vê-la e ninguém a
julgará por isso, se preferir posso cuidar de tudo, ok? Não precisa preocupar-
se, estou aqui, Emi. Não está mais sozinha, nunca mais.
Levanto minha mão, toco seu peito, na tatuagem da famiglia e revivo suas
palavras.
— Você é meu — indico, olhando para seus orbes azuis —. E de ninguém
mais.
— Sim — sussurra concordando —. De ninguém mais.
Coloca outro pedaço de queijo em minha boca, está alimentando-me e
sendo delicado. Não quero pensar nem voltar para trás. Vê-lo ir embora na
noite passada foi um golpe duríssimo, olhar a realidade do que estou fazendo.
Afastando e perdendo por escolha própria a única pessoa que me protegeu.
Não é perfeito, não tenta sê-lo e me agarrei ao que aconteceu na Itália, culpei
e lutei para entrar em um mundo onde vivo pedindo liberdade. Como poderia
tê-la? Se eu mesmo afundo nas águas turvas enquanto ele continua lutando
para me fazer brilhar. Não o estou protegendo e muito menos ignorando à
realidade do passado, mas pelo menos quero tentar para que a nossa relação
dê certo.
Desta vez dando tudo de mim. Ninguém nunca abriu os braços para mim e
me protegeu de tudo. Apenas Dominic, odeio que seja tão direto, mas ao
mesmo tempo é uma de suas melhores qualidades. Sempre me avisou, e na
noite passada suas palavras foram muito mais significativas do que duas
palavras vazias. Sei que ele me ama e não preciso ouvi-lo. Não o tradicional
"eu te amo", porque de que servem os te amos se estão cheios de mentiras?
— Você está pensando muito — diz, tocando meu lábio com o polegar —.
Deixe essa cabecinha descansar.
— O que faremos, Dominic?
— Que tal passar o ano novo em Paris? Em alguma ilha tropical? Ou na
França?
— Dom...
— Não quero falar sobre nenhum problema. É véspera de Natal, e logo
será Ano Novo. Sei que seu irmão acabou de falecer e tem todo o direito de
estar triste, mas, por favor, Emilie, vamos sair de Nova York. Só nós dois, em
algum lugar isolado...
— Você não pode — interrompo, acariciando seus cabelos —. Temos
muitas responsabilidades... Emma, por exemplo, tenho que cuidá-la. Ela é
minha única família de sangue, a empresa de Holden, o orfanato, os cassinos
e a famiglia. Não podemos simplesmente abandonar.
— Sim, podemos — corta —. Emma pode vir conosco e Savannah
também. O conselho de administração cuidará a G&G por pelo menos três
meses antes de convocar uma reunião. Roth cuidará do resto. Ele tem um
interesse especial pelo orfanato, então não se oporá a ajudar — explica, feliz
por ter tudo resolvido.
— Férias no meio de tudo...
— Seria a lua de mel que nunca tivemos.
— Teremos companhia, não seria uma verdadeira lua de mel.
— E se eu providenciar para que Savannah, Emma e nonna tenham umas
férias especiais? Então você e eu podemos ter uma verdadeira.
— Quero dizer que sim, mas não é hora, querido. Não teria ânimo
suficiente para isso e só o complicaria ainda mais, que tal se adiamos e
aproveitamos o dia de hoje? Quer fazer alguma coisa?
— Adiar algo significa que não acontecerá, cara mia — aponta, tocando
meu nariz —. E são três da tarde, nosso dia já acabou.
— Desvantagens de dormir tarde.
— Que tal um mergulho na piscina?
— Você está dizendo que estou cheirando mal? — brinco, fazendo
beicinho.
— Você tem o meu cheiro.
— Hmm, e você tem um cheiro delicioso — digo puxando seu corpo para
mais perto. Grito e depois dou uma risada infantil quando me coloca sobre
seu ombro, virando meu mundo de cabeça para baixo. Recibo um palmada na
bunda e, em seguida, sai da cozinha em direção à piscina. Grito, tento
derrubá-lo porque conheço suas intenções. É muito tarde quando senti meu
corpo no ar e depois dentro d’água. Ah não... Ele não fez isso! Dentro d'água,
enquanto me esforço para sair, sinto suas mãos na minha cintura me trazendo
à superfície. Respiro, abro a boca e tiro meus cabelos molhados do rosto.
Tenho uma boa lista de palavrões para dizer-lhe, alguns que morrem com
esse sorriso enorme. Nunca imaginei ver o que meus olhos testemunham.
Nunca pensei que este homem tivesse algo humano dentro, mas ao perceber
isso é simplesmente sublime. Eu o beijo, ele me beija. Nenhum dos dois
restringe o desejo de nos tocarmos, nossos lábios beijando cada espaço
disponível. Explicar o que é tê-lo dessa maneira não existe, é indecifrável e
único. Conhecer o verdadeiro homem por trás do monstro só faz com que
termine completamente apaixonada por suas duas versões, tanto seu lado
cruel e destrutivo, quanto por este.
Da piscina acabamos no chão da sala de jantar, depois de alguma forma na
escada e, finalmente, na cama do nosso quarto. É como se não tivéssemos o
suficiente.
— Dominic... — gemo segurando o lençol em meus punhos enquanto ele
saboreia minha intimidade, tenho uma perna sobre seu ombro e a outra sendo
pressionada por uma de suas mãos, ele me tem a sua disposição com essa
boca mágica que me leva ao limite —. Vou gozar — choramingo. Quero orar
para que continue e ao mesmo tempo que pare. Já perdi a conta dos orgasmos
que tive nessas horas e se continuar nesse ritmo acabarei perdendo a
consciência.
—Oh, meu bom senhor. — Arqueio meu corpo, tremendo de prazer. Meus
mamilos rígidos e meus lábios secos. É o melhor orgasmo da minha vida e as
pequenas convulsões uma felicidade extrema. Meu marido fica em cima de
mim, beijando minha barriga e me provocando uma corrente que vai até o
vale dos meus seios, para então deliciar-se com os biquinhos, brincando com
o meu seio esquerdo com a sua língua travessa.
— Você é uma delícia, minha esposa — murmura, puxando o biquinho
com os dentes —. Além do mais, é muito ruidosa.
— Sua culpa. — Suspiro movendo minha cintura até que sinto a cabeça de
seu pênis na entrada da minha carne úmida e sensível. Respiro fundo quando
o sinto deslizar dentro de mim. Nessa calma metódica que se propõe e
começa um balanço delicado e cauteloso —. Sei o que você está fazendo.
— Está funcionando?
— Sim! — grito extasiada.
— Você gozará mais uma vez? — questiona, aumentado sua força em
cada investida e adicionando um golpe circular alternado.
«Acho que desmaiarei, não vou aguentar».
Quero gritar, arranhá-lo, mordê-lo, tudo ao mesmo tempo. Nossos corpos
se chocam, sua ferocidade me domina e me deixo levar pelo seu prazer,
quando tudo explode e nos transforma em um único ser, em uma única alma e
em um único batimento.
Não há perguntas ou dúvidas, apenas nós deixando-nos ser dominados
pela paixão e pela necessidade de nos conectarmos para além das simples
palavras. Ele une nossas testas e não para de me olhar detalhadamente, seu
membro crescendo dentro de mim, preenchendo-me com ele. Seu olhar é tão
penetrante que não me atrevo a desviar o meu. Minhas unhas cravam em suas
costas, fazendo sulcos e Dominic ruge uma versão incompressível do meu
nome, seguido por algumas palavras em italiano.
Repousa seu corpo sobre o meu, sem esmagar-me, sua respiração
acelerada e o suor em sua testa. Sua boca entreaberta, lutando por recuperar o
ar.
— Boceta vodu? — pergunto, arqueando as sobrancelhas e tirando as
mechas cor de chocolate de sua testa —. Acaba de chamar minha amiga, de
boceta vodu?
— Você a tem enfeitiçada...
— Não se atreva a dizer isso! — grito empurrando-o, de brincadeira —.
Concordamos que nunca mais a chamaria assim!
— Mas é divertido — reclama, inclinando-se contra mim e me puxando
para seu peito —. Eu a chamei assim porque ela estava nervosa.
— Seja lá o motivo, não a chame mais assim!
— Para sua sanidade mental, prometo não chamá-la assim.
— Obrigada.
Rio e começo a traçar figuras em seu abdômen nu, em seus músculos
definidos e quadrados. Jogando em um silêncio confortável. Don acaricia
meus cabelos, enrolando uma mecha em seu dedo. Nenhum dos dois diz nada
por um longo tempo. Ainda há muito o que falar e resolver. Sexo é bom e nos
distrai, mas a realidade já está batendo à nossa porta. Tenho
responsabilidades a cumprir, verdades a dizer e outras a ouvir. Não quero ser
eu quem romperá a paz e a harmonia de nossas almas.
— Está pensando muito, novamente.
— Como sabes? — pergunto, olhando-o.
— Você morde o lábio e olha para baixo — explica —. Quando está
nervosa mexe seu pé esquerdo como um tic nervoso incessante, quando está
com raiva crava suas unhas nas palmas de suas mãos. Às vezes, alguns
alimentos não são seus favoritos, mas não diz nada, em vez disso, move a
comida no prato e quando dá uma mordida apenas engole, sem mastigá-lo. E
parece uma asiática, provavelmente, é a mulher que mais ama arroz neste
mundo, você o come com tudo.
— Isso não é verdade! Só acho que o arroz é delicioso!
— Quem mistura uma massa com arroz? Você, minha senhora. Sou
italiano, não pode comer macarrão com arroz. Isso deveria ser um
mandamento.
— Não vamos falar sobre hábitos estranhos. Você bebe leite com
caramelo e tem trinta anos — zombo, mostrando a língua, mas Dominic fica
calado e pensativo.
— Quando era pequeno, cerca de cinco ou seis anos. Era assustador,
Damon vivia constantemente em busca de aventuras. Uma tarde ouvi gritos,
eram da minha mãe... Gabriel mandou as babás nos levarem para o nosso
quarto, mas Damon saiu e eu não queria ficar sozinho, então nós dois
procuramos a origem dos gritos, que vinham do seu escritório — diz e um
arrepio invade meu corpo. Conheço aquele escritório, tenho certeza —. A
porta estava aberta e seus gritos eram assustadores e comoventes. Damon foi
o primeiro a olhar e ficou ali parado, paralisado e maravilhado com a cena, vi
em seus olhos como isso lhe resultava divertido, nossa mãe tinha uma faca
cravada em sua mão aberta sobre a mesa, ela não tentava tirá-la e muito
menos gritava por isso, mas sim pelo homem que estava atrás dela fodendo-a,
enquanto outros seis observavam extasiados. Foi a primeira vez que
presenciei um de seus castigos... Lembro-me de correr e correr para acabar
nos braços de nonna, estava chorando e tentando dizer o que tinha visto, mas
não tinha palavras e ela colocou um enorme pote de doce de leite na minha
frente, e comecei a comer tentando esquecer.
— Dominic. — Suspiro com os olhos cheios de lágrimas.
— Quando você me pergunta sobre minha vida e não respondo, não é
porque não queira compartilhá-la com você... É, porque prefiro que não tenha
essas imagens na sua linda cabecinha. Meu crescimento não foi bom e
inocente.
Ele envolve minha munheca com sua mão forte e em um movimento
suave e delicado leva essa cicatriz que tenho aos seus lábios e a beija.
— Você não é como ele — digo. Estava errada, Dominic o fez também,
mas nunca me forçou a nada, nem levantou sua mão para me machucar —.
Você nunca será como ele.
— É por isso que o casamento não formava parte do meu futuro, sabia que
precisaria de herdeiros e, provavelmente, eu os teria apenas por seguir um
código da famiglia, mas quando a conheci depois que se tornou minha
esposa, o receio de machucá-la atinge meu estômago constantemente. Não
me perdoaria, machucá-la fisicamente é um pensamento que me oprime e
depois de descobrir o que aconteceu nessa noite, a culpa de não ter chegado
antes... não a conhecia, mas só por ser uma menina. Eu a teria protegido,
Emilie.
— Não é sua culpa, querido. Não são seus demônios. Não tinha como
saber. Eu não lhe disse a verdade, eu... Perdoe-me, Don. Estava apavorada,
minha vida se acabava bem debaixo do meu nariz e não podia fazer nada.
Quando percebi quem era Roth, dizê-lo não foi algo que passou pela minha
cabeça — confesso.
— Ele me traiu — diz com certa amargura —. Seu dever para comigo, seu
Capo, seu líder, era dizer-me desde o primeiro momento quem você era. Seu
dever como irmão era contar-me a partir dessa noite. Falhou em ambos os
aspectos...
— Roth daria a vida por você — sussurro tentando fazê-lo ver —. Tenho
certeza que nunca falharia com você e que se nessa noite não lhe disse a
verdade foi para me salvar... O que você fez? Quando descobriu quem eu
era? De Roth?
Ele permanece em silêncio, deixando cair minha mão em seu peito e
trazendo a sua para cobrir seu rosto.
— Pode dizer-me…
— Nada.
— O que…?
— Não fiz nada, queria arrebentá-lo, desmembrá-lo, jogá-lo aos cachorros,
mas aí estava você, em uma maca de hospital. Precisando de mim... E a raiva
deu lugar à gratidão, porque não sei o que diabos passaram juntos, mas graças
a ele, você está viva hoje e graças a você, ele também está vivo e graças a
ambos eu estou. Porque se Roth não existisse, não sei o que seria de qualquer
um de nós. E se você não tivesse entrado na minha vida no momento em que
o fez, não sei o que seria de mim. — Oh meu Deus —. Você, Roth e Raze,
são minha família, são a âncora que preciso para voltar para dentro de mim
quando a escuridão me chamar. Seu sorriso e olhar me forçam a recuar
quando a crueldade me domina e controla minhas ações. Roth é a calma e
serenidade em meus dias e, Raze, esse garoto é como um filho para mim.
Vocês três acabam com a minha paciência, mas não imagino um mundo sem
nenhum de vocês. E isso destruiria o próprio universo — garante, procurando
meu olhar —. Se alguém se atrever a machucar qualquer um dos três, Emi.
Um único ferimento ou arranhão... prometo trazer o inferno à terra,
transformar as ruas em sangue.
E posso ver que não são palavras vazias. Deveria ter medo ou receio de
ver esse brilho diabólico em seus olhos e esse frio azul escurecendo-se.
Deveria querer fugir e ir embora, mas meu coração não evita bater mais
rápido, entendendo que Dominic é capaz de tudo para proteger sua família e
aquele único ato prova que nunca será como Gabriel... Dominic Cavalli está
disposto a dar sua vida por quem não carrega seu sangue. Isso é mais do que
Gabriel Cavalli já fez.
~♦~
— Pronta? — pergunta da porta —. Savannah está de volta, achei que
gostaria de se despedir.
— Mais um minuto — imploro, pressionando a urna no meu colo. Vestida
de preto, com apenas um pouco de vermelho nos lábios — algo de que
Dominic já reclamou mil vezes — e um chapéu preto cobrindo meu cabelo
loiro. Minhas mãos estão tremendo e meu coração acelerado. Ouço seus
passos se aproximando antes de levantar meu queixo. Esses olhos frios e
cruéis me observam. Ele, junto com Emma, são agora minha única família. A
única coisa segura em meu mundo.
— Se quiser fazê-lo, devemos partir nos próximos minutos, amor. Caso
contrário, encontrarei uma maneira de chegarem ao seu destino.
— Tenho que fazê-lo, devo.
— Segure minha mão, linda. Prometi e não a deixarei cair e não penso
soltá-la.
Assinto e aceito sua mão, ele me ajuda a ficar em pé e depois retira a urna
das minhas mãos. Ele entrelaça nossos dedos e delicadamente começa a me
conduzir.
Descemos para o primeiro andar, onde Savannah tem Emma em seu colo e
nonna parece radiante. Dominic providenciou tudo para que possamos viajar
para Nova Orleans, Louisiana, e entregar as cinzas para minha mãe. Devo
fazer isso e fechar definitivamente essa porta para o passado. É hora de seguir
em frente.
Recebo um olhar questionador da ruiva, mas não consigo resumir tudo o
que aconteceu em tão pouco tempo. Agora sei o que Dominic sente, embora
não tenha dito as palavras exatas, sei que tem sentimentos por mim. Voltou,
não me abandonou como meu sangue próximo sempre fez. Todos escolheram
a si mesmos, exceto Don. Ele, na noite passada, escolheu-me acima de tudo.
Holden não foi um bom irmão e cada palavra que Dominic disse antes de
sair era a pura verdade. Não posso continuar culpando-o por tudo porque
estava com Katniss. Não quando conheço profundamente seus negócios.
Muito menos lutar para me encaixar nesse lado escuro que me assola. Já
perdi muito. Minha família, meu bebê, não estou disposta a adicionar Don à
minha longa lista de erros. Quero que meu casamento dê certo e para isso
devo virar a página, fechar o livro e abrir outro onde sejamos só nós, capazes
de reescrever nosso futuro e destino. Gabriel não tem o porquê ser uma
sombra constante entre nós. É seu filho, mas não é seu clone. Merecemos
mais do que apenas ser o reflexo de nossos pais errantes. Eles escolheram
essa vida, não nós.
— Já volto... — O nó no meu estômago aumenta muito mais.
— Eu a cuidarei — garante Savannah, beijando a testa da pequena Emma.
— Raze ficará em casa, caso o necessite, é só pedir —murmura Dominic
um pouco desconfortável, sei que este não é o seu forte.
Exerço um pouco de pressão em nossas mãos entrelaçadas, mostrando-lhe
que aprecio o gesto.
— Quem é Raze? — questiona Savannah assustada.
— É um dos garotos Nikov, os dois ficarão em casa. Roth é mais sério e
quieto, é muito provável que não diga uma única palavra e Raze é o mais
novo, falará com você e terá uma atenção especial com Emma... Ambos são
confiáveis — explico, observando que não estou dando-lhe o conforto que
precisa.
Dominic recua um pouco, aparentemente percebendo algo que eu não.
Savannah está de olho em tudo, menos no meu marido, e parece estar com
medo de tê-lo diante dela.
— Eles são homens da máfia, como podem ser confiáveis?
— Eles são meus homens e farão de tudo para manter meu povo seguro —
assovia Dominic fazendo-a estremecer de medo.
Emma grita imediatamente e me encontro perdida sem saber qual decisão
tomar, ou como consolar minha pequena sobrinha. Nonna é quem cuida da
pequena e meu marido solta minha mão antes de sair e me deixar sozinha
com Savannah aterrorizada.
— Quero ir embora, posso cuidar dela no meu apartamento. Não preciso
estar com assassinos.
— Savannah...
— Sexo conserta tudo? — pergunta furiosa. Passando de uma emoção a
outra rapidamente, parece que o medo de Dominic sai pela janela quando sua
raiva floresce sobre minhas decisões. Um rubor ardente cobre minhas
bochechas instantaneamente —. Sim, não é muito silenciosa, se assim
podemos dizer. Ontem dizia que sairíamos desta vida e hoje descem de mãos
dadas e ele com as cinzas de Holden... Seu assassino.
— Don não o matou — olho para trás, cravando minhas unhas na palma
da minha mão. E sentindo um desejo profundo de agredi-la.
— E você acredita nele? Só porque fez um drama e voltou? Você
facilmente o perdoou?
— Não o conhece, não sabe quem ele é, e não tem o direito de apontar se
não conhece a história toda. Holden não era um santo... — digo e a próxima
coisa que sinto é uma bofetada no meu rosto, um golpe inesperado. Meu
chapéu cai no chão enquanto recuo.
— Como se atreve a falar dessa maneira do seu irmão? Ele a amava! Teria
dado a vida por você!
— Não! — rosno, virando-me e encarando-a —. Não lhe devo nenhuma
satisfação, Savannah, nada! Mas deixarei uma coisa bem clara para você,
Holden nunca daria sua vida por mim, ele não me defendeu quando eu mais
precisei dele, ele nunca o fez! Quem você acha que me lançou nesta vida?
Quem me entregou nos braços de Dominic sem piscar? Seu príncipe! Holden
foi quem nos trouxe a este ponto! Ele era um covarde, um homem egoísta e
aquele que condenava sua própria filha a estar em uma guerra que não
deveria.
Enlouquecida, tenta esbofetear-me novamente, mas desta vez sabia bem
para onde sua mão iria. Seus movimentos são de uma garota normal, não é
difícil para mim pegar seu pulso e virar seu braço, fazendo-a gritar sob minha
chave de braço, seu corpo bate no braço do móvel enquanto pressiono seu
peito contra ele.
— Você não me baterá dentro da minha própria casa, não chamará minha
gente que se ofereceu para protegê-la, de assassinos. Se você não quiser estar
aqui, a porta está aberta e ninguém a impedirá, Savannah. Basta manter uma
coisa em mente, Holden se aliou a pessoas perigosas e eles estão dispostos a
ir contra aqueles que pensam que foram importantes em sua vida. Se eu fosse
você, pensaria melhor antes de sair, mas se ficar, mostre um pouco de
respeito. Minhas decisões e minha vida pessoal não estão em disputa. Você
fica ou vai embora, você decide — rosno, liberando-a.
— Uau, loira! Você parece ter tudo sob controle por aqui — Raze assovia,
cruzando os braços na porta —. Outra ruiva problemática? Isso é uma
questão de genética ou o quê? Oh, conseguiu um bom golpe aí, Don perderá
a cabeça... literalmente.
— Cuide dela — resmungo pegando meu chapéu —. Se quiser ir, pode ir,
mas Emma fica. Não penso afastá-la de você, essa é sua decisão. Mas ela não
é sua filha, Savannah. Pode ir agora, antes que seja tarde demais.
— Ele me disse que você queria, que você escolheu esse... Cavalli. Que se
apaixonou por ele — confessa chorando. Sinto pena por ela, acreditou em
tudo que Holden decidiu dizer-lhe. Parece que meu irmão, mesmo após sua
morte, não para de me surpreender.
— Você estava no meu casamento, achou que era uma mulher
apaixonada?
— Eu...
— Pense no que quer fazer, assim que voltar espero que tenha uma
resposta, caso esteja aqui.
— Ou se Dominic não der o fim na sua amiguinha por ela tê-la tocado —
interrompe Raze brincando. Isso espero.
— A garotinha não sai dessas paredes — olho para trás, começando a
andar e ouvindo um “Sim, senhora” atrás de mim. Não preciso ser a mulher
da máfia para ganhar respeito dos homens. Só devo deixar de cometer
estupidez atrás de estupidez. Isso inclui responder a essa mensagem e cortar a
conexão que nunca chegará a ser exitosa. Dominic sempre estará atrás dos
meus passos. E é hora de admitir meus sentimentos.
Estou apaixonada por ele, assassino e cruel. É o homem que leva meu
coração, o único que sai de seu caminho para me proteger. Espero que
Savannah, no futuro, possa perceber isso.
Não quero afastá-la de Emma, mas também não permitirei que seja um
trampolim entre Dominic e eu. Devemos ambos melhorar muito juntos e
construir um verdadeiro casamento baseado na confiança e respeito. Se
Savannah quiser interferir, sentirei muito por ela, mas a tirarei de minha vida.
Não é minha família, não é da minha conta. Dominic e Emma, sim.
Holden não era um santo, Dominic também não é... A diferença é que o
meu marido não se veste de inocente, mas demonstra sua verdadeira besta
interior.
Capítulo 20

O único erro que pode existir é o de não fazer nada, não tentar e ficar com
aquela dúvida, e se...? Não quero essa pergunta em nossa história. Quero
seguir em frente, continuar, seja um erro ou não, uma vitória ou talvez uma
queda. Seja lá o que for, só terei uma saída. Levantar-me novamente.
Deixar Nova York de alguma forma parece certo, é como se nós dois
deixássemos nossos problemas para trás e fôssemos apenas um casal recém-
casado e apaixonado. O semblante de Dominic é mais sereno e sua atitude é
até despreocupada. Trabalha em seu laptop durante o voo e bebe um pouco
de whisky, enquanto eu me entretenho com uma garrada de vinho.
— Venha aqui — ordena com essa voz carregada de desejo.
Ele enlouqueceu com a bofetada que recebi e parece olhar apenas para
essa parte e nada mais. Cumpro sua ordem, saindo do meu assento e
caminhando até ele, Dominic deixa seu laptop de lado antes de agarrar minha
cintura e me puxar para seu colo. Meu vestido preto sobe pelas minhas
pernas, revelando muito da minha pele, partes da pele que meu marido
certamente aprecia ver.
— No que está trabalhando? — questiono, acenando com a cabeça para o
laptop.
— As contas do cassino — responde subindo sua mão pela minha coxa —.
Aparentemente, os meus clientes gostam que vê-la passeando de um lado
para outro lá e quando não vai, eles decidem gastar menos dinheiro, o que
você acha disso?
— Acho que eles vão embora quando você não está por perto para vê-los
gastar. Afinal, é a você quem eles querem deslumbrar — explico mordendo-
me o lábio quando seus dedos alcançam a ponta da minha calcinha —. Não
estamos sozinhos, Dominic.
— Poucas coisas me deslumbram, esposa — responde, ignorando meu
comentário.
— Não gosta que eles gastem seu dinheiro?
— Gosto, claro, mas não me deslumbra — responde, puxando o tecido,
ouço o som típico e fecho os olhos em negação —. Quer entrar ao clube?
— Que clube? — gemo, deixando cair minha cabeça em seu ombro. Deus,
seus dedos já estão causando uma tortura —. Alguém pode-nos ver. Temos
duas comissárias de bordo e é um jato pequeno.
— Essa é a diversão, Emi. Possivelmente, elas a ouvirão gemer e
desejarão ser você, e já o fazem assim que entrou ao meu lado, elas queriam
estar no seu lugar — afirma introduzindo dois dedos dentro de mim. Nego
ofegante sem conseguir externar nada criativo — mas você está certo.
— O quê? — exclamo confuso.
— Deseja algo, senhor? — Pergunta uma das comissárias de bordo. Meu
rosto fica corado de vergonha enquanto tento escondê-lo em seu pescoço.
— Um sanduíche de frango para minha mulher e dois whiskies lacrados…
Em meia hora — diz, sem agradecimento nem por favor. A garota responde
antes de sair desesperada.
— Você é muito cruel — murmuro, abrindo dois botões de sua camisa —.
Não vai comer nada?
— Não, estou guardando minha fome para quando estivermos sozinhos...
Emi — clama suspirando baixinho. Continuo meu caminho em suas calças
—. Temos companhia, lembra?
— Sou exibicionista, além disso, quero que saiba que não tem nenhuma
chance comigo — murmuro flertando, saindo do meu esconderijo para
encará-lo —. Ou você tem medo de que me escutem gemer?
— Emilie... — avisa, mas é tarde demais. Envolvo seu pau com a minha
mão e começo a movê-lo. Adoro quando me faz isso, umedecendo seus
lábios.
— Você deixará que saibam que posso dominá-lo? — pressiono,
levantando um pouco e colocando seu pau na minha boceta. Estou pronta e
molhada para recebê-lo. Nunca é o suficiente, sempre quero mais uma
pequena dose.
— Acha que pode? — rosna antes de pegar um punhado do meu cabelo e
puxar —. Dominar-me?
— Posso, mas não sei se o seu ego está pronto para sabê-lo.
E tenho a cara de pau de sorrir, algo que parece perturbá-lo. Ele me
empurra, deixando-me em pé, o tecido da minha calcinha cai no chão,
rasgado, antes que se levante. Sem se preocupar em afastar seu amigo, ele
puxa minha mão e fazemos o nosso caminho para a cabine particular.
Estou quase pulando de alegria. Ele me abre a porta para que passe com
esses olhos de um desejo selvagem. Entro no quarto ouvindo a chave de
segurança sendo ativada nas minhas costas. É simples, com um toque de
elegância em preto e branco. Dominic se posiciona atrás de mim, antes de
começar a procurar a bainha do meu vestido e lentamente retirá-la do meu
corpo, levanto as mãos facilitando sua tarefa, finalmente caindo na cama,
após ser jogada por ele. Sua mão acaricia minhas costas, uma linha reta do
meu pescoço até minhas nádegas, estou tentada a me curvar e deixá-lo
desfrutar da boa vista.
Abro o fecho do meu sutiã na frente e ele me ajuda puxando-o para fora
dos meus ombros, então suas mãos vão para os meus cabelos, ajeitando-os de
lado. Eu os deixei soltos para esconder a marca da bofetada que havia levado
de Savannah, mas foi uma bobagem, pois os olhos atentos e críticos de
Dominic perceberam instantaneamente.
— Você é tão linda e delicada... nunca vi uma obra de arte tão linda.
Às vezes, quando ele diz essas coisas, acho que são apenas pensamentos
revelados em voz alta. Então, quando tenho esse olhar de frente, sei que sou
bonita, ele consegue que não tenha a menor dúvida sobre isso.
Eu me viro, de frente para meu marido e levo minhas mãos para sua
camisa, removendo lentamente cada botão, revelando seu torso, as pequenas
cicatrizes. Algumas parecem como arranhões, outras são pequenos pontos...
Feridas de disparos, quantas vezes tentaram matá-lo? Quem chegou tão longe
a ponto de cometer este ato? Há tantas perguntas que gostaria de fazer, mas
prefiro ficar em silêncio.
Removo suas abotoaduras, pequenos quadrados pretos com uma flor-de-lis
dourada no centro, em seguida, retiro sua camisa lentamente, tendo tempo
para adorá-lo. Antes, não fazia, era apenas sexo.
Louco, selvagem e desenfreado, nunca o inspecionei em detalhes. Este é o
meu marido, que sofreu, que tem vestígios do seu calvário e que ainda tenta
melhorar, pelo menos me mostra uma versão mais humana e real.
— Emilie... — ele suspira quando caio de joelhos aos seus pés. Começo a
tirar um dos seus sapatos e ele me ajuda. Mordo meu lábio inferior puxando
suas calças para baixo. Sua ereção no meu rosto é extremamente intimidante.
— Você poderia ensinar-me? — pergunto quase sussurrando. Ele engole
em seco, seu pomo de Adão se move e lentamente afirma —. É muito grande
— expresso meus pensamentos em voz alta.
Primeiro é só a ponta da minha língua, um contato quase inexistente que
me permite saborear algumas gotas do seu líquido seminal, depois abro mais
a boca e insiro sua glande, delicadamente sugada. Don dá algumas baforadas
e vejo suas mãos em punhos nas laterais, como se quisesse trazê-las à minha
cabeça e me empurrar. «Como ele...» O pensamento é tortuoso e me vejo, a
garotinha... Esse homem é meu marido, que me protege, que não me machuca
assim, aqui, o chefe dos chefes disposto a mudar... Por mim.
Somos só nós dois, é seu corpo, são meus lábios. Levanto meu olhar e o
observo, a luxúria em seus olhos escurecendo. Desta vez dou-lhe uma sugada
completa, Don fecha os olhos e nega assoviando alguma coisa e depois volta
a focar-me. Admirada pelo tipo de prazer que isso lhe proporciona. Eu o
agarro com as duas mãos e começo a movê-las, para cima e para baixo em
todo o seu membro. Abro a boca para recebê-lo, sem perder o contato visual.
— Posso mover-me...?
Não entendo sua pergunta até que seu quadril se move e entra em minha
boca um pouco mais fundo. Não é chato nem desagradável, pelo contrário,
gosto do seu sabor.
— Agarrarei sua cabeça — avisa cauteloso. Pisco quando sinto uma de
suas mãos pegar um punhado de cabelo —. Eu o farei bem devagar, se isso a
incomodar apenas me empurre e eu a soltarei.
Empurra um pouco mais fundo, olhando-me, movo minha língua sentindo
o metal frio do anel e o movo, brincando com ele.
— Porra! — clama cerrando seus dentes e agarra os meus cabelos um
pouco mais —. Desculpe, é que isso... Oh, merda!
Começo a sugar um pouco mais forte, ele entra e sai controlando tudo de
forma metódica e calma. Seus gestos, a maneira como me deixa ter isso, seu
prazer, a fragilidade dentro do ato. Eu o masturbo com ambas as mãos e
minha boca. Ele não me avisa, mas sei que está prestes a gozar, porque seu
pau cresce dentro da minha boca, ele se recusa a me olhar, ordenando para
que não o tire da minha boca. Sua mão aperta e fica mais firme, retira a
minha mão substituindo-a pela sua e ele fode minha boca.
Tê-lo tocando-se, onde apenas espero o culminar de seu orgasmo. Ele diz
meu nome em uma pequena exalação e sinto o primeiro jorro quente, quase
direto na minha garganta. Não é desagradável ou incômodo, jamais poderia
sê-lo com ele. Engulo o máximo que posso e no final ele se afasta, deixando
intencionalmente parte de sua ejaculação cair nos lábios, no meu pescoço e
seios. Ele se inclina enquanto seu polegar pega um pouco de seu esperma e
empurra em minha boca, eu chupo descaradamente com um meio sorriso nos
lábios. Ele me puxa para cima, levantando-me e colando sua boca na minha,
sua língua me saqueando, assumindo o controle.
É assim? Todo mundo tem esse tipo de desejo intenso por outro ser
humano? O sexo, quando os sentimentos começam a fazer parte, tem algum
poder mágico? Por que tudo de repente se intensifica a mil?
— Tudo bem? — questiona ofegante, unindo nossas testas. Deuses... Seus
olhos, seu olhar têm exatamente isso pelo qual esperei tanto tempo.
Não sei responder, não sei como nomear... Não preciso de um te amo, não
quando está observando-me como se fosse seu próprio universo. Eu o beijo e
me rendo, deixo-o possuir-me, formar isso no qual somos bons. Um inferno
nos braços do outro, procurando nosso próprio paraíso.
~♦~
O ar seco de New Orleans nos recepciona na madrugada, para minha
surpresa, sem um homem de segurança, percorremos as ruas até o bairro
francês, ficamos em uma suíte do Hampton Inn como qualquer casal normal,
conversamos muito. Seus natais e aniversários, meus dias de escola, meus
gostos musicais, sua extravagância com o rock. Ele me conta sobre suas
viagens, sobre todos os lugares que já passou, mas não conhece bem, porque
não eram férias. Prometemos visitá-los nós mesmos, conhecer o mundo
juntos. Adormeço em seus braços e quando acordo estou cercada por ele, sua
perna na minha, seus braços me segurando. A manhã não pode começar
melhor com um bom sexo precoce, mas mesmo assim, no café da manhã
estou em um mar de nervos, a comida não desce pela garganta e só tomo um
suco de cereja, mesmo quando Dominic começa a se incomodar com isso.
Vê-la, tê-la na minha frente é difícil. Não me reconhece, os médicos a
mantêm sedada e amarrada a uma maca. Dominic se encarrega de falar com
sua enfermeira, enquanto me aproximo e tiro os cabelos brancos de seu rosto.
É seu rosto, mas não é minha mãe. Fecho os olhos quando tenho a imagem de
quando ela estava em cima de mim, a faca cheia de sangue. Esta não é minha
mãe, Emma Greystone era risonha e carinhosa, preparava bolos de abóbora e
espera por mim quando o ônibus escolar me deixava na esquina. Ele se
ajoelhava com seus braços abertos enquanto eu corria para receber um
abraço, era quem nas noites em que adoecia, dormia ao meu lado. Essa é a
Emma que quero lembrar, não esse fantasma, essa concha sem alma.
Nesse mesmo dia voltamos para Nova York, Dominic me segura enquanto
choro em seus braços durante o voo, em algum momento adormeço e quando
acordamos estamos na garagem de nossa casa.
Os garotos estão em casa com Savannah e Emma, vou direto ao encontro
da menina, sei que estou com os olhos inchados de tanto chorar e minhas
roupas não estão nada apresentáveis, apenas tenho um jeans e uma camisa
branca de Dominic.
— Emilie — sussurra Savannah, mas recuso a iniciar uma conversa
pegando a pequena que levanta suas mãozinhas imediatamente.
— Que tal brincar com sua tia? — sussurro baixo.
Tê-la na cama comigo, deixando-a chateada, começa a curar minha alma.
Eu a banho, arrumo seus cabelos cacheados e aprendo como colocar uma
fralda. Algo que é uma super tarefa, Emma finalmente adormece e eu ao seu
lado, observando-a, quando percebo que Dominic está na porta, meio que
sorrindo. Faço sinais para que fique em silêncio. Meu estado é lamentável,
estou com a camisa suada e tenho mechas fora do meu penteado.
— Venha aqui, linda — ordena e abre os braços para mim. Eu me agarro a
ele com força, sentindo seu coração bater forte —. Melhor?
— Sim, agora sim. Você tem que trabalhar?
— Sim... — sussurra, limpando a garganta —. Tenho alguns
compromissos.
— Depois, volte para casa — sussurro, olhando para cima —. Não quero
perdê-lo.
— Ei, isso não acontecerá, você me ouviu? — pergunta, embalando meu
rosto —. Voltarei para casa, para você
— Eu te amo — digo em resposta, com um nó na garganta. Vejo seus
tormentos quando afirma lentamente —. Prefere que não lhe diga isso? Não
quero que...
— Estou-me acostumando a ouvir... Só me dê um tempo, é difícil
processar essa palavra quando você é a primeira a me dizer — confessa,
deixando-me gelada da cabeça aos pés.
— Dominic...
— Shh, nada de tristeza. Repita quantas vezes quiser, ok? Sempre, mesmo
quando seja um verdadeiro idiota, lembre-se de me dizer.
— Eu prometo — digo com um pequeno sorriso. Sua vida não foi o sonho
que se pode imaginar. Tinha dinheiro, sim, mas não era a coisa mais
importante para uma criatura. Afeição.
— Você percebe algo? — pergunta nervoso.
Nunca vi Dominic temer alguma coisa.
— O que…?
— Seremos os pais de Emma — diz. Abro e fecho a boca, não sei o que
dizer. Eu me imaginava sendo sua tia, a tutora legal, mas não cheguei a
pensar nela como uma filha. Deus, só tenho vinte e um anos.
Não me vejo como mãe de ninguém, mas ele está certo. Ela será minha
garota, eu sou a única coisa que ela tem.
— Se você não quiser…
— Não estou falando de não querer, só estou dizendo que seremos seus
pais e talvez você queira... um futuro melhor para ela — finaliza.
— Eu não o deixarei, se isso é o que está sugerindo. Podemos ser seus
pais, vamos aprender juntos... Entendo que isso não estava nos seus planos.
— Dou uma risada nervosa —. Você não queria uma esposa e agora estou eu
com uma garotinha incluída.
— E é perfeito, ok? Ela é nossa, como qualquer filho.
Eu o beijo. Beijá-lo é quase como dar-lhe minha própria alma, senti-lo
perder o controle e me deixar dominar o beijo. Suas mãos no meu corpo, as
palavras ditas entre ambos e os momentos compartilhados um após o outro,
amo muito este homem. Assassino, cruel, egoísta e sociopata. Estou
perdidamente apaixonada por ele. Quando se afasta, sinto o vazio de não tê-lo
por perto.
— Preciso de um banho de água gelada.
— Você é insaciável — repreendo limpando seus lábios.
— De você, sim. Você é uma delícia e não pode-me culpar. Você tem um
sabor único.
A insinuação nos lembra nosso momento no avião e sei que também o está
visualizando, mis bochechas ficam coradas. Não entendo como às vezes
posso ser ousada e depois sentir esse tipo de vergonha.
Pelos deuses! Dominic me viu em cada posição criada, ele me machucou e
não fomos santos no sexo precisamente.
Afastamo-nos porque se continuarmos beijando-nos é um presságio de
acabarmos nus e suados, movendo-se em sincronia.
Eu o observo no batente da porta tirando a roupa e deixando seus
pertences em nossa cômoda, brinco com a joia Cavalli no meu pescoço.
Tornou-se parte de mim, às vezes simplesmente esqueço que ainda está lá.
Deixo que ele tome banho em paz e vou até o closet encontrar outro terno,
escolho sua roupa e a coloco na cama, depois inspeciono suas facas, que
precisam de outro lugar. Com Emma aqui, não podemos deixá-los na
mesinha de cabeceira, muito menos sua arma, embora agora esteja sempre
descarregada desde o dia em que apontei para ele, mesmo em minha raiva
sabia que Don nunca me machucaria.
Seu celular se ilumina com uma mensagem de K. Florentino. Tem a tela
bloqueada e não posso ler a mensagem. Continuo olhando até que este se
apaga. «Confie, confie...» Pode ser qualquer uma, mas sei quem é, Katniss.
Seu pai tem negócios com Dominic. Uma mensagem não significa nada.
Respiro, então é a vez do meu próprio celular tocar. Existem quatro
notificações. Franzo a testa, muito poucos têm meu número.
Ando em direção à minha cômoda, descobrindo que não reconheço o
remetente, desbloqueio meu celular e três fotos são baixadas. No começo não
entendo muito bem, somos Dominic e eu. Em uma em que ele abre a porta do
carro esportivo que usamos em Nova Orleans; em outra estamos parados,
abraçados, lembro-me de ter saído da clínica e da última uma foto de
Savannah carregando Emma e Holden com a bolsa de fraldas. O rosto de
Holden está riscado com um X, enquanto Emma está circulada em vermelho,
assim como a foto de Dominic. E por último é uma mensagem... «Se você
não cumprir sua parte, eles serão os próximos».
Capítulo 21


Emilie? — Eu a olho com seu celular na mão, retrocede colocando uma mão
ao peito e nega —. O que está acontecendo?
— Nada... nada, você me assustou.
Franzo a testa, mas Emma na cama resmunga baixinho começando a
acordar, esfregando os olhos enquanto se senta. Sinto meu estômago revirar,
sempre tive muitas mulheres na minha cama, mas nunca pensei que teria uma
menina de um ano. Emi corre em sua direção carregando-a, deixando a pobre
criatura sem ar.
Suspiro, deve acostumar-se com nossa nova realidade. Começo a trocar de
roupa, tenho um encontro com Fiorentino e sua filha para encontrar uma
forma de incluir esta última como publicitária e depois me dedicar ao casino
e deixar que os meus clientes me vejam jogar um pouco, pois a possibilidade
de levar Emilie é nula. Seu estado emocional está um pouco abalado. Sai do
quarto sem me dar uma segunda olhada. Já passará, é só mais um episódio.
Mulheres, mulheres. Desço ao primeiro andar, pronto para sair, quando ouço
as mulheres conversando na cozinha, Emilie parece ansiosa.
— Você não precisa sair, pode ficar aqui conosco. Essa cobertura é
segura, não tem como entrar aqui — garante.
— E o que acontece com à empresa? Preciso sair, a dor... Quero ocupar
minha mente — a ruiva responde. Entendo, trancar-se aqui com a dor da
perda só lhe causará mais problemas. Deve retornar à sua rotina, que espero
que minha esposa entenda logo —. Sinto muito pelo que fiz, Emilie. Não
deveria ter levantado minha mão. Não sei no que pensava, você só quer o
melhor para Emma, assim como eu, e sei que não deixará que nada lhe
aconteça.
— Ele é meu marido e eu o amo com toda a minha alma. Sei que você não
entende e é difícil explicá-lo, mas conheço partes que os outros não entendem
e, quem ele é... me faz estar conectada a ele por decisão própria. Quero que
você fique aqui, mas para isso deve entender que Dominic forma parte da
minha vida, assim como será para Emma.
Ouvi-la falar assim me faz pensar se realmente pode-me ver. Sou uma fera
sanguinária, vivo no mundo para causar o caos e trago comigo a condenação
de ser um Cavalli... Ela me faz acreditar que é possível ser duas pessoas
diferentes em um só corpo, de certa forma, isso me dá alguma esperança.
Algo que desconhecia anteriormente.
— Como não pode ter medo deles? Ele e Roth me assustam, o outro
garoto Raze é mais tratável — responde a inocente. Quase quero rir, Raze
tratável? Sim, claro. Entro na cozinha interrompendo-as. Caminhando
diretamente a minha esposa, se viverá aqui conosco é bom que se vá
acostumando e de certa maneira eu também. Tenho os ombros rígidos quando
me inclino para lhe sussurrar.
— Não me espere acordada, chegarei tarde. — Assenti sem olhar-me
movendo algo no fogão que mais parecia a vômito, o que diabos é isso? Pela
forma como Emma está sentada no balcão da cozinha, pode ser sua comida.
— Tenha cuidado — implora agarrando-se ao meu pulso —. Volte para
casa.
— Ecco dove sei, Cara[10] — pronuncio em italiano, virando-me antes de
beijá-la e torná-la minha novamente na frente de dois pares de olhos curiosos.
Savannah me observa e parece encolher quando paro a uma distância segura.
«É por Emilie. Faça isso por ela» repito incomodado em minha mente.
— Bem-vinda a nossa casa.
— Obrigada, Sr. Cavalli. — Acena com sua mão nervosa.
Emma, que está a seu lado, levanta suas mãos gorduchinhas na minha
direção, que as têm sujas com algum tipo de purê de merda, os bebês comem
isso? Ah, além disso ela está comendo meu doce.
— Alguém tem que banhá-la — digo sem jeito, caramba, não tinha algo
melhor para dizer? Um passo de cada vez —. Quero dizer... vejo você em
breve, Emma.
A criatura me olha com olhos arregalados e surpresos.
— Ela gosta que penteiem seus cabelos — murmura Savannah —. Assim
— explica, remexendo seus cabelos com os dedos, estão esperando para que
eu faça isso? Procuro Emilie por uma ajudinha. Sim, bem, isso não
acontecerá no momento.
Saio antes de ter alguma ideia maluca que inclua trocar fraldas ou algo
parecido... Estou tentando não enlouquecer. Adaptar-me às novas mudanças.
Não apenas em nosso relacionamento, mas em nossa casa. Não estamos mais
sozinhos para fazer sexo onde quisermos, nem tenho a intimidade de beijá-la
onde e quando quiser. Savannah, não é uma ameaça, mas não confia
totalmente em mim. Ter nonna é diferente, sabe quando se transformar em
um fantasma e foi criada para ver e se calar.
~♦~
O Natal nunca foi uma data memorável na nossa família, lembro que meu
pai nos levava à igreja e depois ofereciam uma festa enorme à famiglia, não
uma festa típica, mas de formar relacionamentos e criar aliados. Não havia
presentes debaixo da árvore, nem uma esposa pulando em cima de você de
pijama, esperando que entregasse seu presente, muito menos uma garotinha
de fralda. Nos meus antigos Natais, tinha uma ou duas mulheres em minha
cama, depois de uma noite cheia de sangue e álcool, mas essa visão supera as
outras.
— Você tem que abrir o seu presente — cantarola feliz. Fico feliz só de
olhá-la rapidamente, pois estes últimos dias ela estava bem tensa.
— Passarem o dia na casa de Roth — anuncio sentando-me, Emma
gatinha ao meu lado levantando suas mãos. Ele tenta sempre que me olha,
mas o medo de machucar seu corpinho fraco e frágil me impede.
— Não acontece nada se você a pegar — murmura, puxando-a para longe
de mim. Sei que a machuca, pois entende como indiferença.
— É muito pequena.
— Ela não te morderá — assovia, levantando-se da cama. Foda-se com
seu humor.
— Emilie...
— Eu a vestirei com o pijama antes que exploda ao seu lado — ironiza.
Eu me jogo na cama, tapando meus olhos, por que não entende?
A viagem para a fazenda é silenciosa, está irritada ou pensativa. Às vezes
não consigo diferenciar seu nível de humor, mas ela não para de olhar no
espelho retrovisor. Emma está sentada em sua cadeirinha especial no bando
de trás e Savannah está em uma van com Nick e nonna, parece gostar deles.
— Conte-me sobre o pijama — pergunto, tentando distraí-la.
— Hmm?
— O pijama, Emi, está tudo bem? Por que olha tanto para trás?
— Não há mais segurança?
— Não há necessidade, estaremos com Roth. A fazenda é protegida —
digo, levando sua mão aos meus lábios —. Tudo está em ordem.
— Confio em você — sussurra, sentando-se ereta.
Começa a dizer-lhe o porquê estão usando roupas de dormir com desenhos
de Natal. Ela e Emma têm pijamas iguais e Savannah tem um vermelho.
Chegamos à fazenda ao meio-dia, Roth nos recebe com um almoço, até Raze
está aqui com alguns de seus garotos preparando um churrasco. As mulheres
são a principal atração com suas tradições.
— Loira, Don não permitiu que você trocasse de roupa esta manhã?
— Ha-ha — brinca Emilie com Emma em sua cadeira. É tão linda com a
garotinha. Nick, com seu novo trabalho, pega o pacote de fraldas. E nonna
pulou de alegria ao rever Madame, a empregada de Roth.
— Pensando em criar os seus? — pergunta Roth, batendo no meu ombro.
— Sim — admito —. Ela é uma boa mãe, vejo como cuida de Emma.
— Temos que…
— Não, nada de negócios. É Natal, quero que ela seja feliz hoje.
Se você falar algo sobre a famiglia, todo este dia estará arruinado. Prometi
dar-lhe um dia sendo só Dominic, o homem que ela ama. Ela comprou
presentes para todos, o Natal é uma época que a emociona.
Raze ganha um convite para conhecer a empresa Harley Davison, Roth
uma faca genovesa sem cabo em forma de semicírculo. Fiquei ligeiramente
enciumado. Savannah e nonna recebem um envelope, deduzo que há um
cheque, assim como Nick, que com os olhos me pede permissão para aceitá-
lo. Para ela, essas pessoas não são funcionários, são como sua família. É a
sua vez de receber presentes e ela está muito animada, batendo palmas. Raze,
um pouco incomodado lhe entrega uma pulseira, sei que significou muito
para ele. É de ouro com Skull Brothers gravado na placa, Roth lhe dá uma
caixa e assim que a vejo, meu desejo é de mata-lo.
— Maldito filho da puta — assovio, prestes a golpeá-lo.
—-Don! Emma — aponta, cobrindo as orelhas do bebê.
— Uma arma! Você lhe comprou uma arma, não encontrou uma loja de
vestidos no último minuto? Um relógio?!
Savannah está surtando ao olhar a caixa aberta e Raze simplesmente não
para de rir.
— Ela tem diamantes, quem ela machucará com isso? — pergunta com
um meio sorriso.
— Ela é tão tonta que provavelmente a si mesma — aponto, em seguida,
olho em sua direção —. Sabe que estou certo. Não aceitamos o seu presente,
devolva-o.
— Mas ela é muito bonita! Veja como brilha — revira, movendo-a sem
nenhum cuidado —. E tem meu nome.
— E poderia arrebentá-lo — rosno, tirando esta coisa ridícula de sua mão.
Ela é muito mais rápida e sobe no meu colo, envolvendo meu pescoço com
suas mãos. Meu Deus, meu corpo reage como uma explosão atômica.
— Por favor — implora, fazendo beicinho —. Só a usarei se você me
ensinar como manuseá-la com segurança e nos seus termos, por favor.
— É rosa, ninguém a levará sério com uma arma dessa cor — exponho,
cedendo diante de seu pedido. Ela sorri, porque já sabe que me tem em suas
mãos —. Você não abriu meu presente — aponto antes que a pegue e suba
para fodê-la em cada canto desta fazenda.
— Certo — diz antes de me dar um beijo rápido e sair do meu colo. Roth e
Raze não dissimulam seus olhares surpresos e agradeço que os demais, Byron
e Damián, estejam assando carne neste momento. Emma se encontra
rastejando até Roth e puxando o tecido de sua calça.
— Olá, pequena — sussurra em russo, pegando-a nos braços e sentando-a
em seu colo. Emma sorri feliz por ter o que estava pedindo dias atrás. Roth
sabe mais sobre crianças, já que era ele quem cuidava de Raze na maior parte
do tempo. E isso transparece em sua maneira de segurá-la. Savannah quase
quer arrancar os cabelos e tirá-la do seu colo e Emilie só observa com olhos
sonhadores o que ela mesma anseia. Uma família, um homem que não tenha
medo de segurar seu próprio filho e machucá-lo, será que poderei dar-lhe
isso?
— É hora da sua refeição, posso pegá-la? — Savannah está enfrentando
Roth, que retorna ao seu semblante sério e frio. Leva a garota para fora da
sala, com nonna seguindo-a.
— Desculpe por isso, está tentando adaptar-se — murmura Emi corada —.
Logo entenderá que somos uma família aqui.
— Abra o seu presente, Emi — instruo.
Não quero que fique triste, não neste dia. Então, ela volta à tarefa
segurando meu envelope, ela me olha com um olhar questionador. Roth, que
já sabe o que contém, ele a motiva que rasgue o envelope. A princípio tirando
as folhas e fotos não tendo muito ideia de nada, confusa continua tirando toda
a papelada.
— Não entendo, o que é isso?
Limpo minha garganta passando minha mão pelos meus cabelos.
— Fundação Greystone — explico um pouco nervoso —. No seu
aniversário eu lhe dei o orfanato, o terreno é seu. Quando nos conhecemos,
você pensou que eu queria aquele local para fazer outra coisa e pensei que
ficaria feliz em saber que esse local agora é seu. Roth me ajudou com os
procedimentos legais para a fundação... — Emi — suplico. Está chorando,
merda não. Pensei que ficaria feliz, levanto-me pedindo para que os rapazes
saiam... Que diabos há de errado? — Se não é isso o que você quer, eu o
devolvo. Não chore, meu amor.
— Comprou-me uma fundação de presente? — pergunta soluçando.
— Sim e um livro, aquele sobre o qual conversava com Hannah outro dia.
Que não estava no mercado e que você morria de vontade de ler.
— O quê?! Como fez isso? — exclama, sorrindo em meio às lágrimas.
Pula no meu pescoço, jogando-nos no chão.
— Comprei os direitos autorais do autor — informo.
— Você está louco! — grita, procurando minha boca, dando-me um beijo
curto.
— Por você — confesso, colocando minhas mãos sob seu pijama.
— Eu lhe comprei um relógio e imprimi alguns bônus...
— Bônus? — pergunto confuso —. Bônus para quê? — ela me entrega a
última caixa do chão e a abre. Lá dentro encontro um Rolex antigo, não é um
modelo atual, talvez tenha vinte anos e é personalizado.
«Eternamente sua. Na alma e no corpo, meu Capo.»
— Era do meu pai... Você me deu algo dos Cavalli e eu quero que você
tenha algo dos Greystone. Que nos faça lembrar sempre que somos a
diferença entre eles — sussurra. Embalo seu rosto e a puxo para mim,
beijando-a vagarosamente. Meu coração está acelerado. «Se eu acreditasse no
amor, você seria a desculpa perfeita para me apaixonar.» Se existe, é o que
sinto por esta mulher quando a tenho em meus braços, quando só penso nela
mesmo não estando ao seu lado. Se amar é querer entregar-lhe minha vida à
sua mercê, a famiglia e controle absoluto sobre mim... Então ela é minha
desculpa perfeita.
— E você tem esses bônus — diz ela, entregando-me alguns folhetos
impressos com suas fotos, que porra é essa?
— Diga-me, pelo bem da minha sanidade mental, é editável, Emilie!
Está com uma roupa íntima provocante e a primeira diz: “Faça o que
quiser comigo, quando e onde meu chefe quiser. Mate-me de prazer”.
— Ah, estou com vontade de usar este primeiro bônus, agora, no segundo
andar.
Capítulo 22

E assim o Natal e o Ano Novo passaram, as primeiras nevadas da


temporada começaram a surgir. Minha esposa parecia ter recuado, não
discutíamos, mas também não tínhamos essa conexão ou intimidade. Dei-lhe
o espaço e tempo necessário, já que tinha acabado de perder seu irmão e
estava começando a ser responsável por Emma, a menina só era cuidada por
ela e Savannah, as duas dividiam a responsabilidade e um ponto interessante
é que estava terminantemente proibida de sair de casa.
Minha esposa nunca reclamou sobre a segurança, mas agora estava mais
pendente disso e muito nervosa. Era compreensível que depois da sua perda
começasse a cuidar mais disso, mas às vezes as ideias se misturavam na
minha cabeça, estava acontecendo algo do qual não tinha conhecimento? Não
estava sendo honesta comigo completamente? Perguntas como essas
assaltavam minha mente, mas ao voltar para casa e encontrá-la brincando
com Emma no quarto que anteriormente ocupava, acabava com todas as
minhas dúvidas. Ela era uma boa mãe, era responsável pelo aprendizado
especial de Emma, sua alimentação e dois médicos especializados para vê-la.
G&G passou a ser sua empresa, adquiriu a tutela legal de Emma e de comum
acordo decidimos que deveria ter o sobrenome Cavalli.
Foi uma honra quando me sugeriu essa ideia, ansiosamente. Agora não era
apenas marido, mas pai de uma menina. Não me interagia muito com ela,
apenas as observava, mesmo em algumas noites quando Emma
milagrosamente estava em nossa cama olhando-me ou brincando com os
meus cabelos. Foi estranho, diferente, mas de um jeito bom.
Parecia animar muito a Emilie e só isso já tinha uma parte minha. No final
de janeiro, estava apenas começando a ver alguns relances da velha Emilie.
Eu a encontrei dormindo no sofá com algum livro romântico, começou a
preparar meu jantar e se sentar à mesa, sorrir e me lançar aqueles olhares
furtivos.
Uma noite me surpreendi com seu desejo de retomar suas idas ao cassino,
sendo que ultimamente controlava as contas destes locais em casa e visitava o
orfanato esporadicamente. E isso para mim era muito bom, já que não nos
encontrávamos no momento adequado que ela saía para cuidar de suas coisas.
Meus inimigos estavam começando a se aliar.
Tinha meus próprios assuntos, um Lucas Piazza se julgando superior, um
Phils Rawson procurando evidências contra mim e, se isso não bastasse, tinha
Vlad e seu irmão Kain lutando uma guerra entre si. Tudo parecia sair do
controle, então minha melhor opção era agir, enviaria Byron à Itália.
— Você me informará, sem intermediários — ordeno, preparando sua
partida. Terá todo o dinheiro necessário para que seja um garoto milionário
na Itália, eu me encarreguei de encontrar e disponibilizar uma casa exclusiva
e com carros de luxo —. Faça bem o seu trabalho, Byron.
— E minha irmã…?
— Ela tem segurança atrás dela o tempo todo. Nem perceberá o que está
acontecendo.
— Se algo acontecer comigo?
— Eu cuidarei dela, você tem minha palavra. Não se distraia, seu objetivo
é coletar todas as informações de Piazza. Com quem ele fala, o que faz
quando está sozinho, seus lugares favoritos. Só preciso de uma chance —.
Um lugar e uma hora para acabar com a vida desse miserável.
— Ok e Raze?
— Estará ocupado.
Seus dias de ficar cuidando de Emilie vem diminuindo significativamente,
apenas um ou dois por semana, já que agora minha esposa sai pouco de casa.
Esta semana sim está um pouco mais animada. Byron finalmente sai e Roth
fica ao meu lado olhando-o sair. Sei que Roth não concorda muito com meu
plano.
— Ainda acho que deveríamos fazê-lo nós mesmos.
Eu sei, admito que é a melhor ideia, mas não quero deixar minha esposa
sozinha por semanas, não com este estado emocional em que se encontra.
— Irei ao cassino, você quer vir comigo? Ou irá onde está seu pequeno
experimento? — pergunto pressionando-o. Seus olhos negros me olham e
fazem meus lábios se curvarem —. Não sei o que está fazendo, mas é uma
menina, Roth. Ela nem mesmo é maior de idade.
— Não tenho nenhum interesse romântico com esta garota.
— Isso não quer dizer que não passe muito tempo com ela, mas ela sim
poderá desenvolver esses sentimentos por você. — Não entendo por que sinto
a necessidade de deixar esta situação bem clara para você, talvez será porque
me faça lembrar de Emilie? A garota perdeu tudo, tem muitos problemas
emocionais que chegam a afetar sua sanidade mental. Está ferrada e não
quero ver Roth envolvido nisso —. Não me importo com o que faça, desde
que não a toque sendo ela menor de idade, mas não se esqueça que é mais
velho do que ela, nem entraremos em detalhe de que é um açougueiro, e aí
vem minha dúvida, onde tudo isso se encaixa? Como separará um do outro?
Emilie é mais contemporânea comigo em idade e mesmo assim, depois de
meses, é difícil manter o Capo fora do homem e vice-versa. Você é treze ou
quatorze anos mais velho que a garota. Não é um santo fodendo e tem gostos
que uma jovem não entenderia... Só tome cuidado.
Concorda, sem dizer nada e só com esse ato deixa muitas cosas suspensas
no ar. Fecho os olhos negando, não quero vê-lo infeliz, mas necessita uma
mulher mais completa, alguém com um temperamento forte... Uma Emilie
em sua vida.
A imagem deles juntos semanas atrás, foi algo que me atingiu
intensamente, todos nós poderíamos ter um futuro diferente. Emilie talvez
tivesse sido sua esposa e os imagino, Roth seria paciente e lhe ensinaria,
cuidadosamente, esta vida passo a passo. Não seria um idiota fodendo a
outra, como fui na Itália.
Ele a adoraria, ao contrário de mim, sabe exatamente o que quer e só entra
em uma disputa quando tem plena certeza de vencerá. É a única razão pela
qual Emilie é minha esposa e não sua, no fundo ele nunca a quis com desejo.
Eu sou il capi di tutti capi, governo dezenas e dezenas de homens, mas sem
Roth, seria apenas Dominic Cavalli.
O herdeiro da Cosa Nostra, que não soube conduzi-la devido à sua
impulsividade, talvez estivesse morto se não fosse um estrategista que sou
hoje em dia. Ele me ensinou a ser um líder, quando só queria matar. Roth
Nikov é a mente perfeita por trás da minha figura impecável. Matar e destruir
faz parte da minha vida, mas graças a ele tenho um propósito e uma direção.

“Você virá para casa?”


Leio a mensagem subindo na tela do meu carro esportivo.

“Casino”

Tenho muitas de suas mensagens, “Onde está? Tudo bem?”. São dos mais
comuns. Sabe que por segurança nunca envio minha localização exata nas
mensagens. Prefiro dizer-lhe antes de sair de casa meus possíveis
movimentos, deixando de lado esses onde o sangue está contido.

“Sinto sua falta”

Responde em seguida. Não posso deixar de sorrir. Também sinto muito


sua falta, a cada segundo do dia. Mas ambos temos muitos compromissos.
Coloco meu celular de lado e me preparo para ir ao cassino.
As luzes, a música e o ambiente são de outro mundo. Monitoro e controlo
tudo da varanda de segurança. Quem está perdendo, quem está ganhando, em
quem devo concentrar-me em particular. Esta noite temos um empresário
grego, duas mulheres o acompanham e está muito absorvido no jogo e nas
bebidas alcoólicas. Não perco nada, e meus funcionários estão focados em
fornecer tudo o que precisa, antes que ele peça. As meninas continuam
levando bebidas e recebem uma boa soma de gorjetas.
— Senhor — chama um dos meus seguranças.
— Agora não — rosno olhando para a tela.
— Com todo o respeito, mas precisa dar uma olhada nisso — insiste.
Eu me viro e caminho para a área descoberta onde está parado em pé.
Pronto para dizer-lhe algumas palavras quando abro minha boca... Uma
mulher linda, divina, um demônio com um vestido vermelho, seus cabelos
soltos e dois homens andando atrás dela, é a dona de tudo. Todos a olham,
desejam, mas ela tem um único objetivo... Eu, ela mostra quando levanta a
vista me procurando, porque sabe exatamente onde me encontrará.
E ela é dona de tudo, inclusive de mim.
— Continue controlando o grego — ordeno antes de me encontrar com a
minha esposa.
No primeiro nível, ela está conversando com um de nossos sócios mais
exclusivos. Todo mundo a quer por perto, superstição de jogador, eu acho.
— Ela insistiu que lhe queria fazer uma surpresa — murmura Raze,
ficando ao meu lado, onde espero pacientemente por ela. Sinalizo para uma
das garçonetes para nos trazer duas taças de champanhe —. Nunca o vi tão
feliz.
«Tenho tudo o que poderia querer», penso. Nunca pensei que fosse
possível, mas esta mulher me faz feliz e completo. Não sou pai, por enquanto,
mas saber que Emma tem meu sobrenome desperta algo em mim.
Não lhe demonstro o que realmente gostaria, pois estou respeitando a
distância de Savannah, que é um incômodo em casa, mas quero aprender a
carregá-la e até brincar com ela como vejo Emilie fazer. Aprendi a tocar sua
cabecinha quando ela acorda em nossa cama e me acorda brincando com meu
cabelo. Não sou um bom pai, provavelmente, um péssimo marido, mas estou
tentando melhorar. Ser melhor para elas, dar-lhes o que precisam.
Eu a vejo se despedir com aquele sorriso falso e gentil que usa com as
pessoas em geral, alguém tenta falar com ela, mas Nick levanta a mão. Até
meus homens reconhecem quando fico ansioso por ela.
Ela me estende a mão, colocando sua mão delicada no meu peito e
levantando aquele rosto angelical, suas ondas soltas se movendo. É linda.
— Sua boca está vermelha — rosno olhando para seus lábios cheios de
batom. Ele o usa só faz isso para me provocar e ainda tem o desplante de
sorrir por causa disso. Eu me inclino para sussurrar baixo —. Você precisa de
algumas palmadas na sua bunda para não voltar a fazer isso?
— Provavelmente... E oi para você também, querido.
Tiro meu lenço do bolso e limpo seus lábios.
— Não. Faça. Mais. Isso. — Pontuo cada palavra.
— Se me beijasse, sairia rapidamente — murmura sedutoramente.
— Estamos em público.
— E? Por acaso, o público não sabe que sou sua esposa?
— Você veio sozinha procurando um beijo público? — remexo
incomodado.
Quero gargalhar, só por ser atrevida e esse seu lindo beicinho inocente.
— Eu vim até aqui para sequestrá-lo e também para ser notada. Você tem
uma esposa esperando em casa, é tarde. Quero meu marido na minha cama.
— Já estava prestes a voltar para casa — admito —. E não é tão tarde.
— São quatro da manhã, Don.
— O tempo voa aqui dentro — sussurro genuinamente intrigado com o
tempo. Uma das garçonetes vem até nós com duas taças e uma garrafa
fechada. Nick faz as honras e nos serve, entrego uma taça a Emilie,
envolvendo sua cintura. Os olhos de muitos outros estão sempre em nós, não
é um segredo.
Para o mundo, Emi é apenas mais um adorno na minha vida, tem o valor
que teria qualquer veículo da minha garagem, mas o mundo não sabe que é
incalculável, que não conseguiria viver sem ela.
— Vamos para casa — implora, assim que termina sua bebida —. Sinto
sua falta.
É a segunda vez que me diz isso, franzo a testa, aceitando que estamos um
pouco afastados e que passo muitas horas longe de casa.
Aceito, colocando as bebidas de lado e caminhando por nossa saída
privativa. Nick nos acompanha, ajudo Emilie a se sentar no banco traseiro e
trago seu corpo junto ao meu. Assim que o carro começa a se mover ela
boceja.
— Roth? Sabe onde está?
Nicolás me olha pelo espelho retrovisor.
— Não, senhor.
Ele sempre mantém contato com todos, olho para trás, Raze nos segue em
outro veículo. Estou tentando olhar o GPS, mas recuso, melhor dar-lhe um
momento, talvez esteja com essa garota ou descansando. Não gosto de ter
apenas Nicolás. É o que há para o momento. Emilie no meu peito começa a
bocejar e a esfregar os olhos.
— Está cansada?
— Um pouco. — Acaricio seus cabelos por alguns minutos em silêncio.
— Precisamos de férias — digo e isso a faz olhar para cima. Sua
maquiagem está manchada, eu a limpo com meus dedos.
— Deveria ter aceitado aquelas férias no Caribe.
— Ainda está a tempo — insisto, sorrindo.
— Você é incrível.
— Sou mesmo — sussurro e a próxima coisa que sinto é como está
sentada sobre mim, beijando e acariciando meu corpo sobre minha roupa com
o carro em movimento —. Eu o necessito, Don.
Adoro quando toma a iniciativa e começa a tocar-me e beijar-me com
tanta sede e desejo, que chega a despertar a besta que carrego dentro de mim
e me faz entrar nas profundezas de sua alma, sem tempo, ou arrependimentos.
Sou, sem medo de errar, o monstro mais temível e selvagem entre tantas feras
do mundo, mas nas mãos dessa Ninfa me torno fraco e seus beijos me deixam
vulnerável ao sentimento que me sentencia. Sendo assim, eu me sinto como
milhares de fragmentos sem sentido esperando para serem unidos pelas mãos
certas.
Tem medo de ser machucada por mim, mas ela não tem ideia de como me
sinto. Sou apenas fragmentos daquele homem que um dia fui. Emilie me
transformou completamente... Tenho tanto medo dentro de mim, emoções
que gritam para serem liberadas e um turbilhão de ideias dançando em minha
mente. Não consigo imaginar uma vida depois de Emilie.
Escuto um estampido. A porra do inferno explode com um grito de medo
de minha Emilie, um barulho de metal inunda tudo e assustado tento segurá-
la para que não bata sua cabeça contra o vidro. Tento, quando outro grito
inunda tudo, sei que não consegui segurá-la a tempo. Sua cabeça ricocheteia
junto com seu cabelo, rosno agarrando sua cintura com muita força e
puxando seu corpo contra o meu. O carro gira. Nicolás tenta estabilizá-lo e
outro impacto chega, só que desta vez na parte traseira.
Emilie grita novamente, talvez porque meu controle sobre ela esteja
ficando mais forte. Estou afivelado, estou seguro, enquanto minha maldita
vida está sobre mim, golpeada por ter sido descuidado. Nicolás freia ou algo
nos impede. Não sei, naquele momento eu seguro Emilie que agora me
abraça como se buscasse refúgio... O que diabos está acontecendo?
Desorientado, quero assegurar-me de que está bem, meu lado racional só
quer olhar para todos os lados procurando o motivo de todo esse movimento.
Um som muito familiar me desperta completamente. Tiroteio... Não é uma
coincidência ou é um acidente de trânsito comum, é uma maldita emboscada
contra nós. Nick grita algo que não consigo ouvir porque tudo o que tenho é o
grito de Emilie na minha cabeça. Removo meu cinto de segurança girando
nossos corpos para mantê-la sob o meu.
Os impactos da bala ressoam no vidro e ela grita cobrindo sua cabeça. Eu
a protejo com meu corpo também, esperando pelos vidros quebrados que não
vêm. Blindado. O veículo é blindado. Maldita merda, obrigado.
— Hmm, amor. Acalme-se, concentre-se em mim! — Ela só grita
assustada, tem sangue escorrendo de sua testa, seus cabelos loiros grudando
ao mesmo —. Nick! Tire-nos daqui. Porra!
— Senhor — diz, com as palavras sufocadas.
— Dominic! — Emilie chora sob meu corpo.
Tudo é muito claro. Dois carros nos encurralam e as luzes fortes de ambos
não me deixam olhar para nada. Nicolás está tentando manobrar para fora,
mas é impossível, então um carro choca-se contra nós, girando-o. Vejo neste
instante que Nick pega sua pistola e passa ao banco do passageiro abrindo a
porta e deixando o inferno entrar. O veículo atrás recua e quando o faz o
nosso carro se move dando um solavanco. Emilie grita novamente enquanto
eu a envolvo com mais força. Faíscas de balas surgem ao atingir o metal da
porta. Nicolás atira para todos os lados. Os tiros cessam em um segundo. E
minha porta está aberta. Raze.
— Don! — grita, puxando-me. Agarrei o pulso de Emilie no processo,
arrastando seu corpo que não para de tremer.
— Tire-a daqui — rosno.
Raze segura Emilie, ela grita enquanto verifico todo o desastre. Meu carro
está todo furado com os diversos disparos. Do outro, onde Raze bateu, um
homem sai correndo. E vejo Nicolás o seguindo. Estou pronto para segui-lo
quando ouço a voz de Emilie gritando comigo, Raze está tentando colocá-la
no outro carro, mas luta para se soltar do seu agarre.
Volto a olhar para Nick... Emilie. Sua segurança está em primeiro lugar.
Eu me viro correndo para alcançá-la, ela corre para o meu peito soluçando e
me abraça como nunca. Eu a apoio, empurrando seu corpo no banco do
passageiro e fechando a porta.
— Não me deixe — soluça sem parar.
— Estou aqui. — Tento tranquilizá-la voltando-me para Raze —. Entre
em contato com Nick e tirem os dois carros daqui — ordeno —. Sigam-me.
Corro contornando o carro onde Raze vinha e graças a Deus chega na hora
certa. Deslizo para trás do volante e saio do local.
— Coloque o cinto — rosno para Emilie. Ela obedece silenciosamente,
acalmando seus soluços. Rapidamente, dou uma olhada em seu rosto. Está
úmido de tanto chorar e com sangue na lateral de sua cabeça. Ele bateu a
cabeça contra o vidro. Droga.
— Está bem?
Suavizo meu tom de voz. Ela segura minha mão tremendo. Acho que está
em choque. Não é para menos, acabam de armar uma emboscada em plena
via, com o objetivo de acabar com as nossas vidas. É a jogada de
principiante, algo sem poder, extremamente mal elaborado. Apenas dois
carros, poucos homens, mal sabiam onde e como nos encontrar e seu objetivo
é mais um sinal. Quem fez isso, só queria dar um aviso.
Capítulo 23

Emilie está tremendo enquanto pressiono o gelo em sua testa, tem um


pequeno ferimento. Precisa de alguns pontos e Raze sob até o segundo andar
e procura alguns medicamentos. Seguro suas mãos, percebendo que as
minhas estão iguais, tremendo de impotência, ela não deveria estar ferida.
Prometi que a protegeria de tudo e, aqui a tenho, sentada no balcão da
cozinha, com um golpe na cabeça e uma ferida aberta.
— Continue contando — insisto quando para em vinte. Preocupado com a
possibilidade de o golpe causar uma hemorragia interna, mas até agora ela
respondeu todas as minhas perguntas de forma muito clara. Raze entra como
um furacão, deixando vários remédios e itens de primeiros-socorros ao meu
lado. Eu o instruo para chamar o médico da famiglia, mas não fico parado
esperando sua chegada. Desinfeto a ferida com álcool.
— Aqui está — diz Raze, entregando a Emilie uma garrafa de conhaque
—. Isso ajudará a suportar a dor.
Seus grandes olhos me observam. Não tenho anestesia e quero trabalhar o
mais rápido possível e fechar a ferida, mas não quero causar-lhe mais dor.
— Você me suturará? — murmura completamente assustada.
— O médico demorará mais uma hora, ele está em Jersey. — Ouço Raze
explicar. Emilie afirma tomando um longo gole e estremecendo-se com o
amargor da bebida.
Trabalhar com agulha não é o meu forte, mas tenho alguma experiência e
tenho visto Roth fazê-lo muitas vezes.
— Raze, venha aqui — exijo em um tom de voz violento. Ele sabe o que
está prestes a acontecer, então estende sua mão —. Emi, apenas exerce
pressão, serei rápido.
Ela é uma mulher corajosa, morde seu lábio e crava as unhas no braço de
Raze enquanto lhe dou três pontos, deveriam ser cinco, mas não quero expô-
la a dor maior. Estou suprimindo minhas emoções, deixando de lado o
desamparo e a raiva e me concentrando em curá-la primeiro. Bebe um pouco
mais até deixar sair um grito, alertando nonna na cozinha. O sol aparece,
enchendo a sala de luz. O médico chega quando já havia terminado de dar
alguns pontos na cabeça de Emilie, mas monitora seus reflexos e faz as
mesmas perguntas de rotina que fiz antes. Ela as responde quase adormecida
até que o sono a domina.
— Ela não está com uma boa cor, ela esteve doente antes deste evento? —
pergunta o médico, empurrando os óculos para o arco do nariz.
— Não está comendo muito bem — confesso.
Desde a morte de Holden, ela descuidou um pouco de sua alimentação e
somado a isso seu estresse aumentou muito devido às suas novas obrigações
com Emma. Dispenso o médico para que nonna possa acompanhá-lo até a
porta e tiro meu conjunto de moletom. Monitoro Emma que dorme
tranquilamente em seu berço e retiro várias mechas de cabelo de sua testa.
Ela é minha filha, minha responsabilidade.
O que seria dela se não voltássemos para casa? Quem a protegeria?
Ensinar-lhe que será a princesa de um trono de sangue?
— Você é uma inocente — sussurrou, cobrindo seu corpo —. Tudo ficará
bem, cuidarei disso. Luzinha.
~♦~
Não tenho a menor ideia de quem está atrás dessa porra de emboscada ou
acidente. O carro foi roubado e não encontramos nenhuma impressão digital.
Aqueles que nos interceptaram foram muito cuidadosos e experientes para
não deixar rastros. Não consigo dormir, e o sentimento de culpa e remorso
me superam. Saio da minha cama olhando-a dormir.
Nick e Raze estão no andar de segurança logo abaixo da cobertura, que
também não dormiram nada. Ambos ficaram trabalhando e tentando
encontrar alguma merda com a minha equipe de segurança. Não há nada. E
isso me fode completamente.
Não podem simplesmente me atacar no meio da rua, assim no mais sem
deixar uma maldita pista. Passei mais de uma hora com eles assistindo às
gravações de vigilância. Como encurralaram meu carro primeiro acertando
um lado, depois o outro freando diante de nós, seus rostos cobertos por
máscaras pretas. Os tiros e Raze vindo a toda velocidade batendo no carro.
Mais nada... um nome, só preciso disso.
— Você ligou para Roth? Porque não está aqui? — pergunta Raze,
fazendo nosso caminho para a cobertura.
— Não quero incomodá-lo — respondo. Sei onde está, claro que sim.
Envolvido com aquela garotinha enquanto seu Capo está em perigo.
— Ele não tem culpa, Dominic. — Reconhecendo até onde caminham
meus pensamentos. Eu a expus ao perigo na noite passada, isso não deveria
ter acontecido.
Entro na cozinha, é dia e estou surpresa ao ver Emilie acordada em uma
camisola rosa conversando com Savannah enquanto toma algo em uma
xícara.
A pequena Emma em suas pernas, o que teria acontecido se nos atacassem
com ela no carro?
— A Itália é linda, é uma vila... O mar está próximo. Nonna os
acompanhará — explica. Não percebeu minha presença.
— Do que você está falando? — pergunto, assustando-a.
— Quero que elas vão para a Itália.
— Emilie, elas têm que estar aqui — comento. Emma levanta as
mãozinhas para mim novamente, sempre faz isso, tenta para que eu a pegue
para carregá-la e quando não consegue, seu rosto fica vermelho e seus olhos
se enchem de lágrimas —. Não posso separá-las.
Estou lutando para manter a calma, sem perder o controle e ela não está
cooperando. Ver a ferida em sua testa também não diminui o turbilhão dentro
de mim. Isso não deveria ter acontecido, minha família não deve ser exposta
dessa maneira.
— Elas irão, não estou pedindo.
«Que diabos...?».
— Sou eu quem dá as ordens aqui. Goste ou não, deve acatar o que eu
decidir — assovio.
Oh, mas minha esposa se levanta entregando a garota a Savannah e pronta
para me enfrentar. Claro que ela me pressionará até o meu limite.
— Se você quiser dar ordens a alguém, vá com seus soldados. Emma é
minha filha, não vou colocá-la em perigo. Farei tudo para protegê-la, Don.
Até mesmo passar por cima de você — diz, apontando para o meu peito —.
Não a perderei.
— Venha comigo — rosno, pegando-a pelo antebraço e levando-a para
fora da cozinha até meu escritório. Eu a solto assim que entramos e fecho a
porta —. Não tome nenhuma decisão sem me avisar antes — assovio —.
Emma é nossa, sua e minha. Não a quero longe, eu a quero onde eu possa vê-
la e protegê-la. Aliás, as duas.
— Não me faça rir, nem mesmo a segura por um instante! É claro que não
se importa!
— Não discutirei isso com você, não retomarei esse círculo de merda mais
uma vez. Emma fica, é minha última palavra — ordeno.
— Nós morreremos, todos nós e isso será sua culpa — acusa antes de sair
batendo a porta com força, fazendo até eco.
Jogo meu corpo sobre a cadeira, negando. Sempre será assim, quando tudo
fica difícil, ela sai correndo e se tranca em sua concha e me aponta como seu
inimigo. Talvez tenha razão sobre Emma, o que sei sobre ser pai?
Preciso acalmar minha mente, pensar... Algo não está bem, estou deixando
as emoções e a fraqueza que sinto por minha esposa me cegarem. Não fui
atrás do inimigo, em vez disso fiquei com ela, para me certificar de que
estava bem. A água, nadar é um desses prazeres que me acalmam, mas terá
que esperar pois meu consigliere abre a porta com as mesmas roupas da
última vez que nos encontramos, com o cabelo despenteado. Ele não me
precisa dizer onde estava, porque está muito claro para mim.
— Finalmente o senhor aparece.
— Dominic... — Começa, eu o corto levantando minha mão.
— Quanto tempo estamos juntos? Quantos anos nos cuidamos
mutuamente? Ombro com ombro? E, onde estava na noite passada? Na cama
de uma garota.
— Não é o que está pensando, não a estou fodendo. Nunca a tocaria, é
uma garota. Estou apenas cuidando-a. — Sei que não a foderia, pelo menos
enquanto for menor de idade. Provavelmente só esteja vigiando para que não
se machuque.
— Se tivessem conseguido assassinar-me na noite passada, hoje você seria
o novo Capo e onde estaria? Em um orfanato, sem segurança, correndo o
mesmo risco. Ordeno que fique longe dela, se você sente a necessidade de
cuidá-la? Então, encontre uma clínica psiquiátrica, não me importo, mas
concentre-se em fazer o seu trabalho e pare de agir como um adolescente —
rosno, levantando-me e encarando-o. — Isso é tudo.
— Você é meu Capo, farei o que me pedir — diz.
— Comece a procurar quem foi o maldito que tentou acabar com a minha
raça.
— Farei isso — garante. — Sinto muito, isso não acontecerá novamente.
Prometo.
— Você me traiu duas vezes, Roth. Espero que não haja uma terceira vez,
você é o irmão que não tenho, pois o outro eu o matei com as minhas próprias
mãos. Você é minha âncora com o mundo, uma fraqueza que carrego nos
ombros, mas se me trair novamente e desobedecer à ordem que acabei de lhe
dar... Eu o deixarei viver, mas matarei essa garota. Fique longe dela, é o meu
último aviso — declaro saindo do meu escritório. Não dormi nada e preciso
queimar energia extra de alguma maneira. Não me importo se não estou
usando sunga, tiro minha calça de moletom e mergulho.
Quem disse que as coisas não podem piorar? Claro que podem. Em meu
mundo apenas basta um segundo para tudo mudar. O atentado é a primeira
coisa na pirâmide, então três semanas são adicionadas nas quais minha
esposa nega sua presença e só me dirige a palavra. Não durmo em nossa casa,
prefiro passá-lo em diferentes casas de vigilância. Perco três entregas, todas
interceptadas e me fazendo suspeitar que alguém esteja repassando a
informação.
Tudo está certo e preciso, sabem exatamente onde e quando. Nonna me
avisa quando Roth remove os pontos de Emilie.
Ela começa a fazer pequenos passeios, ao shopping, aos cassinos e ao
orfanato. Contrata pessoas para administrar a fundação e nomeia Christian —
um amigo de Holden — CEO da G&G. Não precisa de mim e mostra isso em
suas decisões.
Emma não sai de casa e eu renovo meus homens, troco a segurança de
ambas enquanto me mostro só ao lado de Roth. Seja quem for que estiver por
trás de tudo isso não pode me ver fugindo ou atrás de uma dúzia de homens.
Deve ficar claro que não tenho medo dele, que levo o medo correndo em meu
sangue e a destruição como parte de mim.
Byron continua na Itália, cumprindo cada uma de suas atribuições ao pé da
letra. As informações estão se tornando muito valiosas e por algum motivo
deseja estender sua estadia por mais um tempo. Suspeito o porquê e,
francamente, não me importo, desde que me entregue o momento certo para
realizar o meu plano a cabo.
Em meados de março, dou meu primeiro ataque, dois dos seus principais
homens morrem. Nicklaus cumpre muito bem seu domínio na Itália e estou
feliz com os resultados quando termino a chamada. Observando Nova York
aos meus pés dos escritórios da Cavalli Corporation Inc. Ouço a porta se
abrir. Vejo um Roth pálido e alarmado entrar na sala. Meus primeiros
pensamentos correm para minha esposa e Emma, mas pelo seu olhar
assassino deve ser algo relacionado à famiglia.
— Ela está com Phils Rawson — explica. Pisco, fico um bom tempo
tentando entender suas palavras —. Tenho vigiado seu localizador, não vai a
reuniões com Vlad, eles têm mantido uma certa distância.
É algo que já conheço e do qual cuidei pessoalmente.
— Está falando sobre Emilie? — questiono como um idiota.
— Sim, verifique você mesmo.
Procuro meu celular e checo meu aplicativo. Com certeza, é na sede do
FBI, olho para o ponto piscando.
— Há quanto tempo? — pergunto com uma voz embargada.
— Ela acabou de chegar, quer que interrompa a reunião?
— Não — respondo, negando. Parece que está prestes a perder a cabeça
quando encontro seu olhar —. Vamos esperar que saia. Tem que haver uma
explicação... É minha esposa, ela não... — Eu me calo, ouvindo minhas
próprias palavras.
—Claro — murmura —. Ela o ama, eu sei... Terá uma explicação.
Nós dois ficamos em pé, porque ambos nos importamos com Emi e
nenhum de nós sabe como proceder neste momento, porque estamos
condenados. Se ela está dando informações a Phils Rawson, quem de nós lhe
tocará em um só fio de cabelo? Quem de nós tirará sua vida? As traições em
meu mundo são pagas com sangue e morte... Mas e se a traição vier da
pessoa que menos esperava?
— Quer enfrentá-la? Prefere manter isso escondido? Não sei o que fazer
— confessa.
— Ela fugiu de Raze — digo, analisando tudo.
— Sim, eles estavam no shopping. Raze se distraiu e ela aproveitou para
escapar.
— Então ela sabe que tenho conhecimento de sua ação. — Passo a mão no
pescoço. Ela não é burra, não tem ideia sobre o localizador, mas sabe que a
encontraria nesta cidade —. Vamos esperar por ela, vamos encarar isso. Se
não tem uma explicação...
— Ela terá, Dominic. Sei que sim, ela o ama.
Estas semanas não foram das melhores, estive afastado de casa, dando-lhe
espaço para que nos acalmássemos... «A ideia de me estar traindo.» Quero
que me faça um relatório completo de cada lugar que esteve nos últimos dois
meses. Quero tudo nos mínimos detalhes. Tudo.
No caminho os Nikov entram em contato, assim que quando chego não me
surpreende encontrar Raze enfurecido diante do edifício e outro carro com
Nick ao volante. Ela saiu com vários seguranças e mesmo assim consegue
escapar deles, de que mais é capaz? Mentir na minha cara dizendo-me que me
amava? Fazendo-me acreditar que tudo estava bem entre nós?
— Estava com a Dra. Falcón há duas semanas... Depois disso, tudo está
normal.
— Dra. Falcón? — pergunto intrigado. Talvez tivesse ido em busca de
algum anticoncepcional —. Tinha alguns exames pendentes, mas esqueci
disso como todo o resto, essa é a sua única saída fora da cobertura?
— Sim, o resto é o orfanato.
— Verifique seu celular, quero um relatório de cada ligação recebida e
realizada — exigiu olhando para a porta da frente —. Deve ter um motivo.
Saio do veículo enfrentando Raze.
— O que acha que estava fazendo? — posso sentir a ansiedade em sua
voz.
— Ela estava agindo de forma estranha? — pergunto.
— Um pouco, sim, pensei que era devido à distância entre vocês dois,
acha que ela...?
Não posso afirmar nada, então ajeito meu terno enquanto espero
pacientemente que saia. É de tarde, os últimos ventos frios do inverno,
algumas folhas nas árvores anunciando a primavera. A cidade está tranquila,
bem diferente de cada uma das emoções dentro de mim, faria e se me traiu?
Serei capaz de matar minha esposa para proteger a famiglia? O único
pensamento é um punhal cravado na minha garganta.
As portas giratórias se movem, vários trabalhadores saem e, em seguida,
minha esposa. Vestida como uma garota comum da cidade, jeans azul,
camiseta verde e tênis brancos com uma bolsa da mesma cor, seus cabelos
atados em um rabo de cavalo alto e óculos de sol. Caminha perdida
procurando algo dentro de sua bolsa e não me olha avançar em sua direção.
— Oh, desculpe — geme enquanto esbarra em mim. Eu agarro pelos
ombros e levanta a cabeça com um sorriso amigável, mas fica séria quando
percebe que sou —. Don...
Removo seus óculos, colocando-os sobre sua cabeça. Já faz muito tempo
que não estamos assim, tão próximos um do outro. Ela fica pálida, perdendo
a cor de suas bochechas coradas e seu corpo desvanece.
Capítulo 24

Sua pele está fria, seus lábios perdendo aquele rosado natural que sempre
me deixou louco. Verifico seu corpo por qualquer possível lesão óbvia, mas
não consigo encontrar nada a olho nu. «O que houve? Veneno? Um possível
esgotamento nervoso?». Questiono internamente ouvindo Raze e Roth me
chamarem simultaneamente, ambos chegam ao meu lado enquanto a carrego
em meus braços. Nós a colocamos rapidamente parte traseira do meu carro. O
copiloto Raze e Roth sacando sua faca. Abro sua camisa procurando uma
possível lesão. Nada, sem nenhum dano aparente.
— Seu pulso está muito fraco, precisa de um médico agora.
— Vou ligar para o nosso...
— Não dá tempo, vamos para o hospital.
Sem ouvir mais nada, seguro Emilie em meus braços, apoiando-a contra
meu peito, ela está respirando superficialmente. Raze é quem começa
explicando que Emilie se queixou algumas vezes por não se sentir bem.
— Será que comeu algo estranho? Você se certificou de que estivesse livre
de alguma toxina? — questiono Nick, que está atrás do volante.
— Sim, senhor, como sempre. Marcela preparou e eu fiquei vigilante, ela
foi com as amigas ao restaurante, mas não comeu nada e eu mesmo dei-lhe
uma garrafa de água lacrada. Responderia com minha vida se algo
acontecesse com sua esposa, o senhor sabe disso — diz sério.
— Ela não comeu nada no shopping — diz Raze —. Talvez tenha sido um
colapso nervoso, a surpresa de nos ver aqui. — Posso ver que está avaliando
todas as possibilidades. Emilie manipulou todos nós em suas mãos —. É
minha culpa, Don. Acabei distraindo-me por um segundo, com um demônio!
Foi apenas um segundo.
— Ela encontraria um jeito de escapar — tranquilizo —. O que ela quer,
ela consegue inclusive passar sobre o Papa Francisco.
Sei que não está alimentando-se adequadamente desde a morte de Holden,
tem sido dias difíceis para todos nós e com a responsabilidade de Emma,
Emilie está diminuindo cada vez mais. Chegamos ao hospital de Nova York e
é levada a ala do Pronto-Socorro, onde sou proibido de entrar, ainda está
inconsciente quando vejo seu corpo na maca.
Nunca me senti tão desesperado e desamparado como agora, quero saber o
que houve com a minha esposa, estar ao seu lado, não confio em ninguém por
perto... pode ser uma armadilha. Lucas tentará fazer seu trabalho, minha
esposa. Espero que Byron Miller avance com o filho da puta, caso contrário,
eu mesmo o matarei. O que farei com minha vida nada se Emilie es ferida de
alguma forma por minha culpa? Não me perdoaria. Jurei protegê-la e aqui
estamos nós, minha esposa inconsciente, seu irmão morto por causa do meu
negócio, uma menina de um ano sem pai e com uma menina deprimida no
comando. O que estava fazendo com Phils Rawson?
— Ela ficará bem — murmura Roth.
— E se não ficar? — pergunto sentindo a angústia cravada na minha
garganta — e se a pressionei excessivamente? Se a magoei e por isso correu
para Phils? Talvez neste momento ele tenha algumas informações muito
valiosas sobre nós. E veja onde estamos, em um hospital, preocupados com
ela, sem saber o que ela realmente tem.
— Emilie é forte, nós dois sabemos disso.
— Ela não come há semanas, droga! Eu a vi cair bem debaixo do meu
nariz e não fiz nada.
Estou andando de um lado para o outro no pequeno espaço, sentindo-me
trancado. Não gosto de me sentir impotente, de não ter o pleno controle de
tudo. É como ser um menino fraco e indefeso, a garota da recepção está
perdida com os encantos de Roth, babando sobre sua roupa de enfermeira
quando vislumbro um rosto familiar. A Dra. Falcón, está escrevendo algo em
um tablet quando agarro seu antebraço com força. Ela grita assustada
chamando a atenção das pessoas ao redor.
— Minha esposa chegou inconsciente, eles a conduziram ao pronto-
socorro não me deixaram entrar e nãos sei absolutamente nada sobre ela.
Estou prestes a perder minha paciência e começar a cortar, literalmente,
algumas cabeças aqui.
— Sr. Cavalli! — Suspira, engolindo em seco —. Sabe quem a levou? O
nome do médico que a atendeu?
— Não, eu não sei nada.
— Dominic. — interrompe Roth sabendo que minha raiva está a apenas
um milissegundo de explodir —. Você tem que se acalmar, um escândalo
aqui não será recomendado. A Dra. Falcón nos ajudará, certo? Você pode
entrar e verificar se está tudo em ordem? E, pode conseguir uma permissão
para o Sr. Cavalli entrar? Isso seria de grande ajuda.
Lentamente e enquanto a velha doutora afirma, vou soltando meu agarre
em seu antebraço. Dra. Falcón acaricia o lugar com um sorriso tenso. Sabe
quem sou e tem medo de mim.
— Você tem dez minutos — ameacei antes de me virar e me jogar sobre
uma cadeira. Roth diz mais algumas palavras em tom conciliador e a mulher
desaparece atrás das mesmas portas por onde Emilie minutos antes havia
entrado.
— Onde está Raze? — rosno percebendo que não está no pequeno espaço.
Preciso saber se todos estão bem.
— Ele foi para a cobertura, sente-se culpado — explica, sentado à minha
frente. Aqueles olhos escurecidos olhando para mim com censura —. Você
não pode tornar-se um Neandertal.
— Cale a boca, Roth. Se a garota atrás daquelas paredes fosse Britney
Ginore, você estaria recolhendo cadáveres neste momento — declaro o
óbvio. Sei que de alguma forma essa garota é importante, principalmente
porque não o negou e nesse momento se sinta como uma criança obediente ao
meu lado, olhando para o chão —. Só espero que não seja um problema entre
nós, Roth. A famiglia vem primeiro lugar, você sabe disso. Ela é a filha de
um traidor e está despedaçada, por que quer uma garota abusada quando pode
ter uma mulher à sua altura?
— Ela é menor de idade, pelo amor de Deus. Só a ajudo, quando atinja a
maioridade já não será problema meu. E você sabe que não a vi de novo. Eu
lhe dei minha palavra.
— Sinto que nesse momento é quando se dará o verdadeiro problema —
sentencio —. Não pode tê-la, então comece a soltar esse laço invisível que os
uniram.
O tempo passa, as pessoas entram e saem da sala de emergência, Roth
caminha no espaço confinado. As roupas atrapalham, o paletó me esquenta,
as abotoaduras pesam, a gravata me sufoca. Minhas mãos estão suando por
algum motivo e minha testa está encharcada de suor. Preciso de uma dose de
whisky. Merda, não. Minha necessidade se estende a algo que agora não
consigo dominar, está fora do meu alcance. Minha esposa, aquela mulher
insuportável e exigente. Ela ficará bem, assim espero. É forte. Tem uma alma
guerreira, e se de alguma forma, Lucas conseguiu chegar até ela? Se coloquei
sua vida em perigo?
Nesse momento as portas se abrem revelando uma Dra. Falcón pálida...
Preparando-me para o pior, eu me levanto. O medo não é um sentimento com
o qual estou familiarizado, mas é a única coisa que sinto quando a vejo.
Medo de perder minha esposa. «Por que você a ama.» Essa voz interna grita
comigo, descartando-a ao balançar minha cabeça. É costume. «O amor não
existe».
— Ela…? — pergunta Roth, parando. Ele está tão inquieto e nervoso
quanto eu —; está tudo bem?
— Encontrei sua esposa, Sr. Cavalli. Por favor, venha comigo. — Aponta
o caminho atrás dela.
— Está tudo bem? — questiono.
— Ela ficará bem, estão fazendo exames de sangue agora e transferindo-a
para um quarto melhor. Achei que fosse exigir isso. Fique tranquilo, ela está
em boas mãos, vamos? — insiste.
Afirmo dando um tapinha no ombro de Roth. Deixar-me sair de sua vista
nestes dias é algo o corrói. Dra. Falcón nos conduz, passamos por diversos
corredores, pegamos o elevador até uma área mais quente e confortável, as
paredes pintadas de rosa claro.
Tudo muito limpo e fresco nesta ala do hospital. A mulher na minha frente
me sorri antes de abrir uma porta, ela se afasta para me deixar entrar quando
vejo minha esposa na cama, brincando com seus dedos. Tem uma intravenosa
na mão esquerda e bebe algum tipo de líquido de um copo descartável. Meus
lábios formam uma linha dura, ela é estúpida em aceitar alguma coisa? Mas a
explosão de raiva dura por uma fração de segundo quando seus olhos grandes
olham para mim. Parece frágil e vulnerável.
Ela não é a mulher poderosa e arrogante, aquela que vive para me
enfrentar e promover uma guerra. Emilie agora é aquela que conheci no
orfanato. Esquecendo a doutora, eu encurto a distância, envolvendo minhas
mãos em seus ombros e puxando seu corpo magro para o meu peito. É minha,
minha esposa, a quem negligenciei e a coloquei em perigo.
— Sinto muito... — sussurra com uma voz ridiculamente baixa. Ela aperta
minha camisa em seus punhos. Dra. Falcón limpa a garganta, fazendo-me
recuar. Dou uma olhada rápida em Emilie. Ela recuperou a cor em suas
bochechas, seus lábios um pouco ressecados.
— Estou bem, Don — garante.
— Você não aparenta estar bem, cara mia.
— Tenho um pouco de pressão alta, só isso.
— E dor abdominal — diz a doutora, dou uma olhada séria para minha
esposa, que tem coragem de se curvar ligeiramente.
— Dor abdominal? — olho para trás
— Sim, é normal antes do meu período.
— Sra. Cavalli — sussurra a Dra. Falcón angustiada. Eu a encaro e um
único passo para trás me avisa que há algo mais.
— O que está acontecendo aqui? — rosno, alternando o olhar entre ambas
—. Um da duas começará a falar agora.
— Dominic...
— Cale-se. É melhor você ficar quieta! — finalmente explodi —. Você, o
que está acontecendo?
— Estou grávida — confessa Emilie. Está jogando com seus dedos,
entrelaçando-os. Algo quente se expande em meu peito, esse pequeno lugar
onde Emma ocupa a parte primordial.
Meus olhos vão para sua barriga coberta por uma bata azul de médico.
«Grávida...» Ela me repete enquanto esfrego meu rosto e puxo meus
cabelos...
«Um bebê.» É possível? A felicidade explode em minhas veias,
transformando-se em sangue líquido. Quero beijá-la e amarrá-la em meu
corpo para sempre, prometer e cumprir que os três, ela, Emma e nosso
pequeno, serão felizes.
— Não o terei — sussurra ainda mais baixo. Estou atordoado em meu
lugar —. Não trarei um inocente a este mundo, sem saber se ele viverá, para
torná-lo alvo de seus inimigos. Nós dois sabemos que ter um filho seu é
colocar uma sentença de morte em sua testa.
— Temos Emma. — É a única boa explicação que posso dar.
— Ela não é sua filha, Dominic.
— Ela não tem meu sangue, é isso que quer dizer.
— Você é um péssimo marido e acha que pode ser um bom pai? Não me
faça rir, Dominic.
A reprovação e amargura são destiladas em suas palavras.
— Oh, Emilie. Eu lhe garanto que serei um bom pai se tiver de defender
meu filho de sua própria mãe. Você me chama de monstro por assassinar
quem se intromete no meu caminho, mas nenhum deles era inocente, o que
isso tem a ver com você? Quer matar nosso filho porque tem o meu sangue...
— digo negando e virando-me para a Dra. Falcón —. Eu matarei qualquer
um que se atrever a tocar em um único fio de cabelo da minha esposa e se ela
tiver que ficar amarrada na cama até o nascimento do meu filho, então assim
será.
— Dominic...
— Não fale mais nada, droga! Não diga uma única palavra!
— Dominic!
Eu me afasto, porque o meu desejo agora é arrancar a única parte onde
deveria ir meu coração, sei que está batendo, mas me sinto morto. Ela acaba
de arrancá-lo do meu peito, justamente ela, a mulher que o fez bater forte pela
primeira vez na minha vida.
Minha mente está desorientada, ouço esse bip irritante quando a raiva
começa a me superar, quando minhas emoções me controlam sem piedade.
Coloquei a mão na parede, tentando equilibrar-me. Alguém diz meu nome, é
um grunhido reconhecido.
As lembranças são uma sequência de fatos desencadeantes das minhas
emoções reprimidas e escondidas em uma longínqua parte da minha
memória. Isabella, minha mãe ajoelhada, enquanto fazia um boquete em seis
ou sete homens, seus lábios vermelhos e seus olhos perdidos me observando.
Damon rosnando enquanto a engasgava com seu pênis. Sentia uma dor
imensa quando chegava minha vez, pois tinha que fazer meu corpo reagir
para algo que não queria fazer. Sua voz como um eco distante no tempo. «Eu
te amo, Dominic... Você é meu pequeno» e depois seus gritos, seu ódio, suas
palavras. O repúdio que sentia por saber que era um Cavalli, filho de um
monstro.
«Seu sangue é amaldiçoado», ela me disse na última vez que a vi na
Rússia, rolando no chão, quando tentei tirá-la de lá para desintoxicá-la mais
uma vez, depois de acabar com todos eles. Acreditava que ao matar todas as
pessoas que fizeram mal a minha mãe, se cobrasse com o sangue de cada um
deles, ela estaria livre... Mas não está, não enquanto eu existir. Condenei
minha mãe, mas arrastei Emilie para uma vida que não queria e agora estou
pagando pela minha própria dose de inferno.
— Don, volte. Preciso que volte — rosna a voz de Roth, trazendo-me de
volta. Minhas mãos estão cobertas de sangue e há dois corpos no chão. Um
deles sem rosto, completamente irreconhecível. Eu fiz isso... Minhas mãos
estão em carne viva —. Tudo bem, olhe-me. Foi apenas um episódio. Você
fez bem o trabalho, mas preciso que se levante. Devemos lidar com este
desastre. Vamos, irmão, estou aqui.
— Roth... — Balanço minha cabeça negativa afastando as memórias.
— Não está com Gabriel, ele está morto. Nós o matamos juntos, o
torturamos por anos e, finalmente, nós o matamos. Não podia fazer nada por
Isabella, eles escolheram seu destino. Mas pode fazer algo por sua esposa, ela
o necessita.
— Mate-a — rosno tirando meu paletó. Estou salpicado de sangue por
toda parte. Reconheço um quarto de hospital, o que diabos eu fiz?
— Tem uma explicação, olha — assovia, deixando cair folhas manchadas
de sangue. São mensagens, de meses atrás e outras insistentes desta semana.
Franzo a testa folheando as páginas. É o número da Emilie e, embora não
tivesse identificado o remetente, sei muito bem quem é que enviou —. Ela
está em perigo, devemos tirá-la daqui. Está tentando chamar nossa atenção.
Sebastian disse que Phils Rawson não estava no prédio do FBI. Ela não falou
com ninguém, Dominic. Está procurando uma forma de tirar-nos dos lugares
que frequentamos. Temos uma porra de um informante entre nós.
— Sabe que está grávida — digo, lendo todas as suas ameaças —.
Conhece cada movimento que fazemos.
— Sim, droga. Estamos em perigo, sabia que não nos trairia! Vamos,
droga.
Capítulo 25

As lágrimas começam a cair enquanto coloco a mão no meu ventre. Sinto


que estou sufocando e tento respirar, lutando contra o nó na minha garganta,
com o desamparo. Não sei o que fazer, como proteger minha gente, acho que
estou enlouquecendo, sinto-me observada em minha própria casa, não durmo,
vagueio de um lugar a outro em silêncio. Acho que têm sistema de escuta por
toda parte, porque ele se sabe de tudo, como isso pode ser possível? E tudo
por causa da minha estupidez! Por causa da minha impulsividade! Se não
tivesse enviado essa mensagem, tudo seria diferente. A culpa é minha.
Soluço, a única pessoa que pode-me proteger é meu marido, mas eu o
magoei. Eu o vi, testemunhei suas emoções, a dor que minhas palavras lhe
causaram.
— Por que você disse isso, senhora? Foi a mulher mais feliz do mundo
quando soube que estava grávida. Ambas sabemos que não é um acidente,
poderia ter tomado comprimidos anticoncepcionais, mas não o fez. — Dra.
Falcón se move ao meu lado, entregando-me um copo d'água.
— Não entenderia — soluço. Seu olhar, a dor. Dominic me deixou ver
todas as suas emoções. O plano era me mudar para um campo longe de casa,
onde não me sentiria observada. Desmaiar não formava parte do meu plano e
nem descobrir sobre o bebê, não assim, não agora.
Choro não sei por quanto tempo, sem ter uma saída, sem encontrar uma
forma. Não posso enviar-lhe uma mensagem ou apenas me sentar e tentar
explicar-lhe minha idiotice. Ele me deixará, eu o afastei e sei que isso é o que
ele queria desde o início... Ele queria que fosse eu quem arruinasse Don.
E o pior é saber que ele está conseguindo.
A porta se abriu novamente, meu marido chegando. Seus olhos analíticos
em mim, atrás dele, Roth. Vê-los juntos sempre me traz paz, saber que são
inseparáveis. Que eles têm um ao outro.
Eu amo esses caras e não achei que fosse possível. Dominic está sem
paletó e sua camisa é um desastre respingada de gotas... Sangue.
— Tire-a daqui — ordena a Roth, que se move chamando a Dra. Falcón.
Meu marido me observa, seus cabelos despenteados, suas mãos empunhadas.
Ouvimos a porta sendo fechada, mas nenhum dos dois diz nada. Ele se
aproxima com cautela, sentando na cama e lentamente estende sua mão para
colocá-la sobre a minha.
— Já sei de tudo — diz atormentado —. O que quer que eu faça?
Pisco, confusa. E eu me jogo sobre ele, envolvendo seu pescoço.
— Sinto muito, muito mesmo. — Choro bem na curva do seu pescoço —.
Não sabia o que fazer. Fui uma idiota, fiquei magoada com a morte de
Holden e o culpei. Então tudo saiu do controle, eu te amo, Dominic. Acredite
em mim, por favor. Nunca deixei de amá-lo, nunca poderia. Não me odeie...
Acho que há sistema de escuta em casa, eu não sabia como falar sobre isso
com você.
— Você está realmente grávida? — pergunta com esse tom frio.
Estou perdendo meu marido e a culpa é minha.
— Sim — confesse. Ele me afasta lentamente —. Você disse que sabe de
tudo...
— Sim, tenho as mensagens. Eu sei o que ele está fazendo. Ele quer
deixar-me irritado, não?
— Ele me mandou sair de casa... Ele descobriu sobre o bebê — soluço.
Afasta o cabelo do meu rosto, enxugando minhas lágrimas.
— Por que, Emilie? Você deveria ter-me contado desde a primeira
mensagem, já que se arrependeu. Veja até onde chegamos, é que você se
esquece quem eu sou? Como pensava lidar com isso sozinha?
— Tive medo de que me odiasse — murmuro, baixando a cabeça.
— Você é a mãe dos meus filhos, Emi. Jamais poderia odiá-la mesmo que
quisesse, quando é que entenderá isso? Você realmente precisa ouvir essas
duas palavras vazias? Duas palavras que não abrangem a magnitude da minha
promessa, dos meus sentimentos, o que você precisa, mulher?
— Eu...
— Não pode fazer isso, Emi. Se há um problema, corra para mim, não
importa quão pequeno seja o problema, corra para mim, entendido? — exige
—. Peça minha ajuda e resolveremos juntos.
Ele segura meu queixo entre o polegar e o indicador movendo minha
cabeça para trás para olhar nos meus olhos. Deus, minha garganta está seca
com aquele olhar tão escuro na minha frente. Ele se inclina lentamente e eu
fecho meus olhos, esperando... Mas o beijo não vem. Suas mãos continuam a
me segurar quando abro meus olhos, vejo seu olhar escuro, malicioso e
perigoso em mim.
— No passado, você me disse que era um monstro, uma besta, não acha
que sou capaz de assassiná-lo? — Suas palavras me fazem estremecer e não
de medo. Sinto uma segurança que faltava há semanas e agora ela está aqui,
bem na minha frente —. Você deixou um dos meus inimigos jogar com sua
mente, você o deixou que a manipulasse à sua vontade. Você acha que ele
tem poder para assassinar-me? De tocar em você ou em Emma? Antes que
isso acontecesse eu transformaria o Hudson um rio de sangue, Emi, será que
ainda não entendeu?
— Eu sei quem você é, é só que...
— É só que, o quê? Que não as protegeria? O atentado, um golpe de sorte
e você caiu em sua armadilha, minha menina boba! O que farei com você?
— Não voltarei a fazê-lo — prometo.
— E como posso acreditar em você? Porque tem um milhão de coisas que
prometeu não fazer e voltou a repeti-las, hein?
— Você está certo. — Meus olhos se enchem de lágrimas novamente e
minhas mão tremem. Don percebe e gentilmente me puxa contra seu peito,
acomodando-me como um bebê. Começa a se mover suavemente e canta
aquela doce canção de ninar italiana. O sonho, o cansaço de semanas, agindo
sobre meu corpo. Não quero dormir, mas sua voz suave e baixa me acalma
aos poucos.
— Eu te amo, garota boba... — Um murmúrio distante é ouvido antes que
o sono me domine.
Dominic deve estar dando ordens em russo em seu celular quando abro os
meus olhos, está vestido com outras roupas e percebo que ainda estamos no
quarto do hospital. Eu o vejo caminhando, vestindo apenas um jeans preto e
uma camisa azul. Ele se parece com garoto comum da cidade, parece jovem,
embora ainda tenha essa aura perigosa. Sorrio quando me olha com o canto
do olho, ele diz outra coisa antes de desligar o telefone.
— Come — ordena em italiano, apontando para uma bandeja. Meu
estômago se revira. Odeio comida de hospital.
— Não gosto de comida de hospital — respondo em italiano. Suspeito que
não quer que a pessoa que está do outro lado da linha, entenda nossa
conversa.
— É sopa, não do hospital. Come — exige sem aceitar mais nenhuma
réplica antes de retomar a chamada.
Movo a pequena mesa e destapo o recipiente. Na verdade, é uma sopa de
frango e vegetais. Como lentamente, sem perder nenhum detalhe. Ele não
levanta a voz, mas fala sobre algo delicado. A televisão está ligada, em
volume baixo, e o noticiário está passando. Franzo a testa, piscando, com
base na data da manchete, estou no hospital há um dia. Olho para o meu
corpo, estou usando um vestido floral, eu o reconheço, é da minha velha
coleção, esses vestidos eu os usava antes de conhecer Dominic.
O que está acontecendo? As cortinas estão fechadas, mas se supõe que é
de noite, um dia depois de desmaiar. Meu marido encerra a ligação e começa
a colocar seus pertences em uma maleta preta.
— Continue comendo e pare de me olhar — rosna protetoramente —.
Você precisa comer, está muito magra.
— O que está acontecendo? Quanto dormi?
— Devo cuidar de alguns assuntos e você deve descansar. — Caminha até
mim, sentando ao meu lado e pegando a colher da minha mão. Fico surpresa
quando ele serve um pouco de sopa e começa a me alimentar —. Deixamos
você dormir algumas horas com a ajuda de calmantes. Agora você tem que
comer e depois iremos.
— Onde está Emma? O que faremos…?
— Emma está segura, pensei na Itália e é o melhor. Savannah e ela ficarão
na casa de Nicklaus Romano, é meu subchefe. Elas estão seguras lá, não se
preocupe. Assim que pousarem, faremos uma videochamada, ok?
— Mas ele saberá...
— Ei, ei. Eu cuidarei disso, só se preocupe com o nosso bebê, ok?
— Não me pode pedir tal coisa quando fui eu quem nos colocou nesta
situação.
— Posso e, eu exijo, eu quero que você esteja bem e que sua única
preocupação seja com os nossos filhos. Nada mais, ficou claro para você
deixará de jogar como a rainha da máfia. Você é minha mulher, sou o maldito
Capo. Todos entenderão que mexer com você é adiantar o Apocalipse —
afirma —. Ponto final, Emi. Começaremos a agir do meu jeito. E, no meu
mundo, só morre quem eu apontar.
— Só você me faz sentir segura com essas palavras, estou louca por amá-
lo tanto?
— Está louca por não aceitar quem sou, por não falar comigo quando
requerido e por não confiar.
— Sei quem você é — garanto e estou decidida a não perdê-lo, uno minha
testa a sua —. Você é o chefe, querido. Mostre-lhes a todos quem você é.
Faça-o pagar.
Pela primeira vez quero que saque esse demônio que traz dentro e destrua
a todos que queiram lastimar nossa família. O sorriso em seus lábios diz
tudo... «Eles se arrependerão, ficarão marcadas com o sangue dos nossos
inimigos».
— Oh, eu o farei e me divertirei muito. No entanto, antes eu a manterei
segura.
— Eu te amo, Don — digo antes de beijá-lo.
Colocando a mesa de lado, só quero despi-lo e senti-lo o mais perto
possível de mim. É minha casa, meu refúgio, como poderia permitir que isso
fosse tão longe? Este homem é meu marido, escuro e cruel, temido e
respeitado, como pude pensar que Lucas Piazza teria muito mais poder do
que ele? Afastamo-nos com a respiração agitada.
— É hora de ir — sussurra, espalhando beijinhos no meu rosto —. Precisa
tê-la em meus braços, Emilie.
— Eu também, ficar longe de você é uma tortura.
Sorri, escondendo o que realmente quer dizer. Não tê-lo por perto faz parte
do meu plano ruim.
Saímos do hospital de helicóptero, apenas os dois pilotos e nós. Don
acalma meu medo com este tipo de transporte aéreo. Não gosto nada disso e
agradeço a escuridão de não ver nada. Literalmente, estou morrendo de medo
fechada em um espaço tão pequeno. Aterrizamos em um heliponto de um
edifício de Nova York, não é nossa cobertura, mas na porta visualizo nonna,
que me dá um grande abraço e algumas palavras de boas-vindas. Tem pronto
uma mesa com alguns pratos. Don se recusa a comer algo e só ordena mais
comida para mim.
A sala é integrada com a cozinha, é um apartamento de solteiro ou talvez
uma das casas de vigilância que Dominic usa, tem duas paredes de vidro.
Está decorado com cabeças de animais, um tigre, um javali e dois veados.
Subimos ao segundo andar para um dos quartos de hóspedes, está tudo
arrumado como se fosse o nosso quarto da cobertura e tenho até roupas no
closet. É claro que Dominic quer que fiquemos uma boa temporada neste
lugar.
— Ninguém pode entrar — diz quando pergunto sobre segurança. Está
tirando suas coisas da sua maleta —. Possui sensores de movimento. Não há
serviço sem fio, e tinha medo de haver um sistema de escuta em nossa casa...
— Você checou?
— Raze encontrou, encontrou material suficiente. Até câmeras —,
confessa, caindo na cama. Eu me levanto, balançando minha cabeça
lentamente.
— Você sabe quem os colocou?
— Sim, agora eu sei.
— E você não me dirá? — nega olhando em silêncio —. Acha que será
uma preocupação.
— Falei com a Dra. Falcón, ela me disse que sua gravidez é delicada.
Explicou-me que por causa do seu estado, deve descansar... Fique calma. E é
exatamente isso que fará, vai relaxar e me deixar cumprir meu dever. Cuidar
da minha família.
Já sabia de tudo, ela me explicou no dia em que soube da minha gravidez.
Recentemente, perdi nosso bebê e tenho uma doença pré-existente.
— Venha aqui, Emi — pedi com uma voz gentil. Caminho até ele que
abre suas pernas abrindo espaço para mim. Seu rosto perto do meu ventre —.
Ajude-me um pouco, por favor? Apenas tente ficar bem e deixe o resto
comigo.
Começa a subir meu vestido, devagar, eu o ajudo puxando e tirando-o pela
minha cabeça. Ficando apenas com uma calcinha de algodão branca. Trocou
minhas roupas quando estava inconsciente. Sua mão toca meu ventre liso, as
pontas dos seus dedos me dão cócegas.
— Quanto tempo?
— Oito semanas. — Suspiro quando ele deixa um beijo no meu umbigo,
um e mais outro —. Dominic...
— Ninguém pode saber, amor. Deve ser um segredo por enquanto, e
quando começar a aparecer, você deve ficar em casa. Aos meus olhos, Emma
e este bebê terão os mesmos direitos, mas se meus inimigos descobrirem
sobre esta gravidez. Você será o alvo direto para o ataque, você entende o
que estou dizendo? Este bebê, se chegar a ser um homem, será o próximo no
comando, Emilie. É isso mesmo que você quer?
— Eu te amo.
— Mesmo conhecendo tudo o que isso implica?
— Sim — afirmo embalando seu rosto —. Você é o Capo e nosso filho
será seu sucessor e eu aceito isso, Don. Ensinaremos a ser melhor. Podemos
fazer isso juntos.
— Como ensinamos um capo a ser uma pessoa melhor? — pergunta com
um sorriso triste.
— Como você aprendeu, com amor e carinho.
— Daremos um passo de cada vez, agora deixe-me cuidar de você. Depois
praticaremos o amor e o carinho.
Assinto, porque sei que precisa disso. Ter o controle sobre mim, depois
destas semanas angustiantes. Eu também preciso, afastar-me do meu marido
foi uma das decisões mais difíceis que tomei em todos os erros dos últimos
meses. Não tê-lo ao meu lado quando suspeitei da minha gravidez ou nas
noites em que não conseguia conceber o sonho.
Vamos ao banheiro, onde entramos sob a água do chuveiro. Lava meus
cabelos e meu corpo, sem nada sexual. Só o sentimento que nos une. Ele me
ama, eu sei. Eu o ouvi dizer no hospital, mas antes disso tinha a certeza de
seus sentimentos por mim, ele se recusa a reconhecê-lo, mas posso ver e
sentir em cada gesto e olhar.
Saímos do chuveiro e entramos no quarto, onde ela me veste com uma
camiseta curta de seda verde, seca meus cabelos com uma toalha menor e,
finalmente, vamos para a cama. Seus braços fortes constroem um abrigo para
mim, eu me aconchego em seu peito e volto a dormir, pela primeira depois de
muito tempo, durmo em paz.
Algo um pouco chato na gravidez é levantar antes do nascer do sol e
correr para o banheiro. O problema? Um marido com sono leve. Corro,
curvando-me e abraçando meu melhor amigo, o vaso sanitário. Meu
estômago não tem comida e só vomito um catarro amargo, mas isso me
sufoca. Don bate nas minhas costas gentilmente, segurando meus cabelos.
— Vá embora — rosno, empurrando-o com a mão. Não quero que ele me
veja assim, vomitando minha alma.
— Já vi coisas piores, amor.
— Não quero que me veja assim. — E começo a chorar. Não tenho motivo
para isso, e Dominic está ainda mais confuso. Ele se move, entregando-me
uma pequena toalha e dando a descarga —. Desculpe, não sei o que há de
errado comigo.
— Está criando o nosso bebê, é isso o está acontecendo, querida —
sussurra baixinho e sorri calorosamente para mim. Lavo a boca e o rosto,
ouvindo meu estômago roncar. Don inclina a cabeça.
— São quatro da manhã... — murmura, esboçando um sorriso em seu
rosto. Mordo meu lábio —. Parece que teremos um menino que gosta de
dirigir.
— Fica falando como se fosse um menino, pode ser uma menina.
— Eu sei que é um menino. Deus me odeia, mas tenho certeza que não me
deixaria lutar uma guerra apenas com mulheres em casa. — Não quero
estragar seu bom humor.
— Temos chocolate aqui? Ou sorvete? — questiono fazendo beicinho.
— Você não gosta de chocolate.
— Nas últimas duas semanas, sim — digo, caminhando para fora do
quarto. Realmente me acalma quando acordo com essa ansiedade de
madrugada —. E também a pizza, nonna fez uma deliciosa, tinha pedacinhos
de abacaxi, não sabia que dava para combinar queijo, molho e frutas, é uma
loucura, né?
— Loucura é o fato de estarmos acordados a esta hora procurando um pote
de sorvete. — Abro a geladeira e há três marcas diferentes.
— Ela sabia — digo. Nunca me afirmou nada, mas sabia que algo
acontecia comigo.
— Quem mais sabe? — pergunta, pegando uma colher e segurando minha
mão. Voltamos para o quarto, direto para a varanda.
— Roth e a doutora?
— Savannah?
— Não, ela não sabe. Estivemos separadas — murmuro sentando-me em
uma das duas cadeiras —. Continua chorando por Holden... Ele está em seu
próprio mundo.
— Tudo bem, espere aqui — ordena e se vira dentro do quarto, quando
volta traz dois lençóis grossos —. Sente-se comigo.
Eu me sento no meio de suas pernas e nos cobre com o lençol. Abro o pote
de sorvete e começo a comê-lo. Por algum motivo, está delicioso e, não
açucarado, como costumava sentir antes no meu paladar.
— Onde está Roth?
— Voltando da Itália, ele levou Emma para Nicklaus.
— E Raze? — questionou, franzindo a testa —. Nick?
— Eles estão cuidando de algo.
Capítulo 26

Deixo um bilhete no meu lado da cama e termino de cobrir seu corpo. Está
exausta, tanto que para não acordá-la, dou um beijo curto em seus lábios.
Gostaria de ficar ao seu lado e vê-la acordar, mas o dever me chama. Eu me
levanto e abro a porta para que nonna possa encher a sala de rosas e balões.
Somos só nós no apartamento, não confio em mais ninguém, além dos do
pessoal do segurança. Ninguém pode notar que Emilie está grávida. Agora é
mais vulnerável do nunca.
— Obrigado por cuidá-la — murmuro em italiano. Nonna sorri, alisando
meu terno antes de me entregar uma xícara de café fumegante.
— Ela é sua alma, pequeno.
— Você sabe que ninguém me chama de pequeno?
— É mais um segredo nosso — afirma —. Eu a cuidarei, filho. Mas
lembre-se de voltar para casa por eles. Nunca se perca pela vingança.
— Você me conhece tão bem, nonna, o que faria sem você?
Nenhum dos dois precisa de uma resposta, ambos sabemos que sem seu
amor e carinho nos meus primeiros anos de vida, eu seria uma pessoa
horrível, «pior».
Deixo o apartamento, digitando o código de segurança e selando qualquer
entrada possível. Ninguém entra e ninguém sai, não posso confiar que minha
mulher não volte a fazer uma estupidez. Essa é a máfia, qualquer pequena
decisão pode estragar tudo e hoje preciso cavar as sepulturas dos meus
inimigos, sabendo que minha família está a salvo. Ligo para Byron enquanto
estou subindo no terraço, a única maneira de entrar no andar do Edifício
Cavalli Corporation Inc.
O lixo barulhento e irritante está pronto para minha partida e só preciso de
uma data exata, que Byron Miller me fornecerá. A vida de Lucas está com as
horas contadas, assim como também a do meu traidor.

Uma hora depois, estou esperando reunir-me com Landon fora da casa de
sua amante. É chato ter que pegá-lo e, acima de tudo, esperá-lo na parte de
trás do meu carro. Nick está ao volante passa de uma estação para outra
deixando em uma de notícias locais. Encontraram os restos mortais de dois
corpos e estão tentando identificar as vítimas.
Olho para meus dedos machucados e a memória distante do meu episódio.
É algo que não pode acontecer de novo, não posso perder-me dentro da
minha cabeça quando tenho uma esposa grávida e uma menina que precisa de
mim e da integridade do meu cérebro.
Visualizo um movimento na porta da frente, a garota sai com roupas
minúsculas se despedindo dele com um beijo e um abraço. Ward lhe
murmura que a faz pular de felicidade. Alguma joia talvez. Bufo, perdendo
minha paciência.
— Bom dia, Sr. Cavalli — saúda fechando a porta traseira.
— Pensei que o veria fodê-la na porta — rosno irritado —. Não gosto de
esperar, Ward. Você sabe disso. Nick, vamos.
— Não acontecerá novamente.
— Sim, senhor — os dois respondem em uníssono.
— Você não estava na Colômbia? — pergunta Ward, abrindo seu laptop
para me passar os detalhes das últimas transações.
— Estava na Rússia — digo de propósito.
— Hannah tem chamado Emilie. — O olhar castanho claro de Nick se
conecta ao meu no espelho retrovisor —. Está preocupada em não saber nada
dela.
— Emilie está morta — digo sem emoção —, ela me traiu, e isso é algo
que não posso perdoar. Além disso, era irritante, muito impulsiva.
— Como que o traiu? Quero dizer... Ela parecia genuinamente
apaixonada, magoada talvez, mas apaixonada.
— A mente humana é complexa, pensa que pode dominar tudo e os
pequenos detalhes sempre escapam. É o que aconteceu com Emilie, mas não
falemos de mortos, sendo que o mais interessante são as cifras.
Sorrio, a máscara de frieza tomando conta de mim. Sinto a tensão de Nick
escapando em ondas enquanto vamos para meu armazém favorito. Landon
Ward cita as duas entregas perdidas e a última da noite anterior. Assinto,
ainda olhando para o meu primeiro alvo.
— Deposite um milhão na conta de Sebastian. Quero dar-lhe um
incentivo. Seu trabalho nas últimas horas tem sido impecável — ordeno
saindo do veículo no estacionamento de Jersey. Aqui estava eu meses atrás
com Vladimir, entregando-o a Dalila, também matando alguns pobres idiotas
que não tiveram nada a ver com a morte de Holden.
— Claro, senhor, algo mais? — pergunta prestativo.
— Dez para você, é um dos meus melhores homens e valorizo muito
tantos anos de dedicação —. Pressiono seu ombro sem tirar meus olhos de
Nick —. Merece ser recompensado por isso.
— Obrigado... Eu, não sei o que dizer!
— Não é nada, Ward. Vamos entrar, odeio o pólen da primavera. E ser
viúvo me deixa de bom humor — sussurro.
Nós três entramos no lugar, não perco de vista a felicidade de Landon
assim que insere os dígitos e a inquietação de Nick. Sei que está pensando
que estou muito relaxado, então pensa que não sei o que fez. Fico de costas
para ele liderando o caminho, meus ombros tensos em direção ao salão de
jogos, como Roth o chama. Desfruta muito dos gritos que só nós podemos
ouvir. Cada morte, traidor e alma que foi executada por nossas mãos. Gabriel
Cavalli foi o primeiro a usá-lo, a experimentar nossa vingança em primeira
mão e, depois dele, muitos outros homens para contar.
Abro a porta para meus companheiros sem perder a paciência, o primeiro
a entrar é Landon, depois Nick e, finalmente eu, ouvindo o fechamento
automático da porta.
As perspectivas são sombrias. Treze corpos pendurados, sangue pingando
de uma ferida aberta na garganta. Todos eles morreram sangrando, o que faz
com que o chão ficasse coberto de sangue espesso. Uma quarta pessoa que
está sentada em uma cadeira, com um saco preto cobrindo seu rosto e as
mãos amarradas nas costas.
— Bem-vindo! — Aplaude Raze, sentado na mesa de aço, movendo as
pernas para frente e para trás, dá uma risada zombeteira, que o faz parecer
com um adolescente travesso —. Ops! Fui um menino mau, muito mau! —
brinca com a cabeça inclinada.
Pego minha arma e atiro na cabeça da quarta pessoa. Landon larga o
laptop assim que ouve o estampido e tenta rodear-me.
Por que diabos sempre tentam fugir? Reviro os olhos e atiro na perna
direita. O rato traidor grita quando o agarro pelo pescoço, jogando-o no chão,
seu terno fica todo manchado com o sangue de cada homem infiltrado por
Piazza na minha área, na porra da minha cidade! Contra minha esposa!
— Dominic... — engasga, recuando e escorregando no processo. O que
está acontecendo?
— Por que se fazem de idiotas? — questiona Raze.
— Porque pensam que podem convencer-me de sua inocência, não é
assim, Ward? — pergunto, guardando minha arma. Não preciso dela, sua
morte será lenta e dolorosa —. Eles sempre pensam que estão um passo à
minha frente.
Nick se levanta, pensando que pode ter o mesmo destino. Ele cometeu
apenas um erro.
— Não sei do que está falando — choraminga.
— Nick! — grito em sua direção, este dá um passo à frente —. Esclareça-
nos.
— O Sr. Ward veio à casa algumas vezes nas últimas semanas, disse que o
senhor o havia enviado, senhor — explica Nick, engolindo a saliva.
— Eu o enviei? — questiono o filho da puta —. Seu pai é uma honra para
a famiglia e sujou anos de serviço com sua traição!? Você fez minha esposa
acreditar que era Lucas Piazza?! Você pensou que nunca descobriria quem
estava por trás das mensagens!
— Eles estão mentindo, não fiz nada!
Sorrio, inclinando minha cabeça em direção a Raze, ele pula da mesa
vindo em nossa direção. Eu amo o som de ossos sendo quebrados e Raze é
uma montanha de carne, devastadora. Sua força supera a minha. Landon tenta
fugir, mas meu garoto pega seu braço, dobrando-o para trás, o osso se quebra
de uma maneira nada convencional. O grito é uma ópera aos meus ouvidos, a
melhor pornografia da porra da minha vida. A ereção é instantânea e o prazer
percorre meu corpo doentio. Nasci para isso, para quebrar meus inimigos e
trazê-los ao meu terreno. O medo não pode formar parte de um Capo, nunca
me verão recuar, enquanto defender minha gente, minha esposa e meus
filhos.
— Sente-se, Nick — ordeno. Penso em não matá-lo pelo seu erro, mas
quero que veja o faço com os meus traidores.
— Você mexeu com a nossa garota — ruge Raze, lambendo o sangue de
sua bochecha e se divertindo. Aposto que meu pau precisará de uma boa foda
depois disso —. Você achou que era mais astuto do que nós? Diga-me, você
usou Nick para configurar as câmeras e os microfones? E vamos falar sobre
Holden Greystone...
Cerro meus punhos.
— Você me fez acreditar que ele me havia roubado, assovio pegando a
furadeira. Raze já o está colocando em nossa cadeira favorita, ouço um novo
osso sendo quebrando.
— Ops! Sinto muito... Não, não sinto. — Raze está acostumado a brincar
até com suas vítimas. É ainda mais doentio do que o silêncio de Roth.
Preparo dez seringas, com ácido do diabo dentro, e coloco algumas luvas de
jardinagem. Landon está com as mãos e pés atados na cadeira médica
ligeiramente modificada com algumas argolas de aço.
Tiro o meu paletó, ficando apenas com as calças, camisa e minhas facas
no colete. Ward foi uma das poucas testemunhas a saber o quanto me
preocupava com Emilie, ele também é o marido de sua melhor amiga. As
mulheres costumavam falar umas com as outras durante toda a vida e Landon
só queria escalar, ele conhece os passos de Roth em primeira mão. O atentado
foi seu primeiro passo para um plano decadente. Sem poder e dinheiro, não
havia como ocupar o meu lugar, sem falar na falta de contatos. Manipular
Emilie foi uma jogada que não esperava, certamente as mulheres foram
deixadas de fora dos negócios.
Quem mais acredita que pode derrubar-me dessa posição? Usando Emilie
para conseguir alguma vantagem sobre mim. Sorrio para a câmera que está
gravando tudo. Vladimir Ivanov por outro lado, é aquele que tem que saber o
seu lugar. Estou acima deles, sou o rei e senhor da Ordem.
Governo e dirijo, são o lixo em que piso. Nasci para governar a Sicília e
consegui ter o poder da Rússia. Sou o maldito Capo.
— Você é parte do meu jogo — digo movendo meus lábios antes de me
virar para Landon. Ele ferrou não só comigo, mas com minha mulher, e com
seu irmão. E agora vingarei como se fosse o homem mais leal que já andou
na terra.
Todos aprenderão que não é de bom senso comprar uma briga comigo.
Injeto a primeira dose na veia principal de seu braço direito, ele se contorce,
queimando por dentro, sentindo a dor e o desespero. Ele clama por
misericórdia, algo que não teve com Emilie.
— Não sou o único que o quer morto!! — grito. Começo a arrancar suas
roupas para continuar minha doce tortura.
— E todos terão o seu fim — rosno em seu rosto —. Não nasci para me
curvar, minha esposa, talvez, mas você levará o segredo para o túmulo, Ward.
E, sabe o que mais? Graças a você, seu filho estará morto, que vou
despedaçá-lo aos poucos. Hannah terá o mesmo destino e será sua culpa,
Ward. Sua família sofrerá com sua traição.
— Não! Logan, não! Farei o que for necessário...
— É muito tarde para isso, não chegou a se questionar onde está Roth
agora? Sim, Ward. Exatamente. Ao trair a famiglia, o destino dos seus é a
morte.
Estou mentindo, não tocaria em nenhum deles porque são inocentes. No
entanto, Ward não é, e seu destino é ter uma morte terrível e lenta. Raze
querendo ser partícipe começa a cantar Leave me in Hell de Venom,
procurando-a em seu celular e reproduzindo a canção como um hino de
morte. Sabemos que, existe um lugar onde nos encontraremos depois de
morrer, esse lugar é o inferno, agora só falta criar nosso próprio paraíso na
terra.
A morte é doce, é agradável e reconfortante; agora a maneira como é
levado até ela é outro ponto. A de Ward é apreciada — por nós — é uma
tortura terrível para ele, sua pele começa a descascar quando todas as suas
veias estão congestionadas com ácido, seu coração trabalha cada vez mais
rápido para encontrar um pouco de sangue. Raze faz as honras, abrindo seu
peito com o T de traidor. Seu rosto está irreconhecível. E reúno meus homens
mais perto. Todos eles têm belas fotos do destino dos traidores. O medo
move as massas, o ódio dá uma razão para agir, sim, mas o medo o faz
recuar. Não quero ser odiado, quero ser temido e respeitado. E agora eles
sabem.
Mexer comigo é conhecer o inferno. Este é o meu trono e só tenho dois
irmãos com quem compartilhá-lo. Eles dariam suas vidas por mim e eu daria
a minha por eles.
Ao fim da tarde tenho o respeito que tanto tenho procurado, ninguém se
atreverá a me trair e reafirmam o juramente a famiglia. Raze retorna ao seu
clube e vou sem nenhum segurança à casa de Hannah, devem aprender que
sou temido pela minha mera presença.
Meus homens estão lá para cumprir o que ordeno, não para me cuidar
como um bebê recém-nascido. As únicas duas razões pelas quais visito a casa
de uma das famílias, é para levar duas notícias, seu marido morreu ou eu o
assassinei por ser um traidor. E ela quando me olha na porta. Suspira
espantada como a criança em seu colo.
— Dominic, quero dizer, senhor. Sinto muito... eu... — gagueja.
— Calma, Hannah, — murmuro entrando em sua casa.
— Maria! — grita chamando os servos —. Quer beber algo?
— Água seria bom.
— Claro, agora mesmo — murmura entregando criatura uma senhora
Latina, que abaixa a cabeça ao me olhar, sou tão temível assim? —. Traga
um copo d'água para o homem, Maria — diz Hannah em um idioma que
identifico como espanhol. É um léxico muito semelhante ao italiano. Ando
pela sala, olhando para as diferentes fotos. São de ela com seu filho e muito
poucas com Landon Ward.
— Ward traiu a famiglia — explico, procurando seu olhar. A mulher cai
de joelhos, lágrimas intensas escorrem pelo seu rosto. Sabe bem o que isso
significa.
— Misericórdia — implora, soluçando. — Misericórdia para meu
pequeno. Você é meu Capo, nunca o trairia. Imploro por misericórdia.
— E você tem — afirmo, dando-lhe minha mão —. Não estou aqui para
matá-la, Hannah. Estou aqui para informá-la, Logan será o próximo
encarregado a assumir a função de Cassetto quando meu sucessor passe a
governar. Quero que saiba que continuará pertencendo à famiglia como
viúva. Você provou ser fiel e leal. Esta é a sua recompensa, quando Logan
tiver onze anos, ele deverá ser treinado para ocupar seu lugar.
— Sim, senhor. — Chora afirmando. Sei que acabo de destroçar seu
coração. Ela amava Ward, ela o olhou como seu príncipe por muito tempo.
— Você tem uma nova oportunidade, Hannah. Aproveite-a.
Não digo mais nada antes de sair de sua casa e ir para a minha. Algo
quente e morno esfriando meu destino, esperança florescendo em meu peito.
Este é apenas o caminho para minha casa, para a mulher que me deu a
ferramenta para acreditar que até um monstro como eu tem chance de ser
feliz. Afinal de contas, talvez o amor realmente exista.
É onde e com quem você menos imagina, e não será fácil encontrá-lo ou,
no meu caso, saber identificar os sinais corretos.
Capítulo 27

Acordo entre dezenas e dezenas de rosas vermelhas. A sala foi


transformada em um jardim e cheia de balões dourados flutuando. A outra
metade da cama está fria, mas encontro um livro de capa dura com um
pequeno bilhete escrito.

Um pouco de companhia enquanto eu estiver fora.


Coma, é uma ordem.
Dominic

Pode dar-me ordens por bilhetes?? Sim, sim, pode fazer o que quiser.
Sorrio levando minha mão ao meu ventre, encontro a pequena mania
satisfatória de me tocar. É uma espécie de lembrete.
Está aí? É nosso e será um bebê muito amado. Sei que ainda sou muito
jovem, imatura e impulsiva. Tenho que aprender muito antes de ter essa
pequena parte de nós em minhas mãos, mas vale a pena. Eu sei que sim. Don
não dá sinal o dia inteiro, tento não me preocupar, mas é impossível.
Caminho de um lado para outro, embora nonna insista que deveria acalmar-
me. A incerteza é maior.
O cansaço volta a cobrar seu preço e acabo dormindo no sofá, com o livro
nas mãos. Mais tarde, sinto mãos me tocando e abro os olhos, Don me está
carregando e, aparentemente, levando-me para o quarto.
— Dominic... — gemo envolvendo seu pescoço.
— Continue dormindo — ordena com uma ponta de preocupação em sua
voz. Minha cabeça cai em seu peito, antes de sentir o tecido macio do lençol
e cair no sono novamente.
Quando abro os olhos, estou sozinha na cama, as cortinas abertas deixando
entrar um pouco de ar frio no quarto e percebo que estou apenas de calcinha.
Algo cheira mal e meu nariz começa a coçar. Fumaça, tabaco.
Meu estômago torce com a vontade de vomitar, saio da cama me
enrolando no lençol e caminho até a varanda. Dominic está sentado, fumando
um charuto e bebendo whisky. Ele me observa, inclinando a cabeça de onde
está sentado, enquanto estou próxima das portas deslizantes. Tem que olhar
algo que desagrada em meu rosto, já o que o seu está cheio de preocupação.
— O que houve...? — pergunta franzindo a testa.
— Você está fumando — sussurro baixo.
— Você não gosta? Isso nunca a incomodou.
— Eu gosto, mas o cheiro me dá enjoos.
— Ohh... — diz com um sorriso zombeteiro. Ele apaga o charuto no
cinzeiro e toma um longo trago de whisky. Ele está só de toalha, expondo seu
abdômen marcado —. Venha aqui — exige, dando tapinhas em suas pernas.
Caminho até ele, deixando atrás o lençol me cobria. Visualizo seu pomo de
adão se movendo quando seu olhar permanece fixo em meu corpo. Está
quente, bom, porque tenho um desejo sobrenatural me queimando. Preciso de
suas mãos, senti-lo e terminarmos em um único corpo.
— Você é minha droga, Emilie. — Um vício abençoado, profere,
levantando-se e embalando meu rosto, sua mão sendo áspera agarrando meus
cabelos —. Quero fodê-la como uma besta.
Porra. Minha intimidade fica toda molhada instantaneamente e grita de
necessidade, meus mamilos entumecem. Don me carrega, agarrando minhas
pernas, estas estão envoltas em sua cintura e minhas mãos em seu pescoço.
Só quero que me encurrale contra a parede e me penetre. Minhas expectativas
são muito altas quando o golpe de realidade me atinge. Ele me coloca em pé
ao lado da cama e volta para pegar o lençol.
— Não vamos transar? Fazer amor? — pergunto indignada. Temos
semanas sem nenhum contato nesse nível. Preciso disso, mais do que antes.
— Você tem que dormir — diz, sentando-se na cama.
— É uma piada? Eu já dormi muito.
— São quatro horas da manhã, não dormiu o suficiente.
— Você não quer mais me tocar? — corto —. É por causa da gravidez,
certo? Não se nota! O que fará quando eu parecer uma bola enorme? —
Tenho vontade de chorar e não sei se é porque nos está protegendo ou porque
quero que me toque.
— É justamente por isso, pois se a toco vou querer muito mais. Agora não
somos só nós dois, temos uma família, Emi. Nossa, pela qual lutarei
incansavelmente. Seu corpo não me desagrada e, acredite, não deixarei de
fazer isso no futuro, mesmo enrugada continuará sendo a mulher mais linda
do mundo. Vem aqui.
Cumpro sua ordem, movendo-me para seu colo. Suas mãos fortes pousam
nas minhas pernas, depois no meu rosto. Don roça meu queixo com seus
dedos e eleva meu rosto para que nossos olhares se encontrem.
— Você é linda, esposa. Cada fodido centímetro.
— Então, por que não me toca? — insisto. Posso sentir quão duro você
está, vejo também a luxúria e desejo em seus olhos. Reconheço quando fica
excitado.
— Diga-me, qualquer coisa — insisto, levando minhas mãos ao pescoço,
acariciando o início dos seus cabelos. Ele coloca sua cabeça no vale dos meus
seios e depois mostra a língua, lambendo-os. Deuses, meu núcleo é aquecido
por essa única ação. Preciso.
— Estou muito excitada, beirando ao perigo.
— Você nunca me machucaria. — Suas mãos cravam na minha cintura,
pressionando-me com força para senti-lo, movo meus quadris, mas paro
imediatamente —. Don, por favor...
— Não seria terno — confessa —. Eu a foderia de costas, com essa bunda
deliciosa aberta para mim. Puxaria seus cabelos e envolveria minhas mãos em
seu pescoço cortando sua respiração, sua boceta me apertando como uma
luva. Eu iria, Emi, continuaria duro querendo mais... — Assim que termina
de falar estou rogando para que faça exatamente o que acabou de falar —. E
me perco com esses pensamentos...
— Não o deixarei — afirmo, empurrando-o para a cama.
Meus seios estão à sua inteira disposição e suas mãos não demoram a
agarrá-los, amassá-los. É desconfortável porque os tenho sensíveis, mas ao
mesmo tempo essa pequena dor é gratificante.
Procuro o nó da toalha e o retiro sem deixar de olhá-lo. Totalmente nu a
minha mercê. Ele me vira antes que possa tocá-lo, suas mãos pressionando as
minhas sobre minha cabeça.
— E como pensa defender-se de mim? Sou o lobo mau e você é a
Chapeuzinho Vermelho, amor. Não tem jeito.
— Você acabou de me dar um bom motivo — respondo, umedecendo
meus lábios —. Você é o lobo mau que me protege. Não tenho que me
defender de você, não quando sou sua de todas as formas humanamente
possíveis.
Seus lábios se chocam contra os meus, sua língua invade minha boca,
arrastando meu desejo incontrolável para a superfície. Meu corpo estremece
com essa necessidade incontrolável.
Don abre minhas pernas com as dele, posicionando-se em cima de mim,
sem me esmagar. Com uma das mãos ele puxa minha calcinha, não a rasga
complemente, mas cede bastante, ainda como tecido cobrindo parte do meu
corpo, agarra seu pau, torturando meu clitóris enquanto me masturba com ele.
Estou molhada e muito louca para tê-lo dentro de mim. Abro minhas pernas
ao máximo me oferecendo para ele e então nesse momento, ele empurra seu
membro para dentro de mim em uma única estocada, grito seu nome
enquanto me penetra cinco vezes e depois sai de mim e me vira.
Dando-me uma bela palmada no lado direito da minha bunda.
Gemo, enterrando minha cabeça no travesseiro e empurrando minha bunda
para ele. Ele não diz uma palavra, apenas termina de rasgar minha roupa
íntima completamente e introduz dois dedos na minha boceta. Suplico por
mais contra o travesseiro enquanto os mete e os retira, masturbando-me. O
terceiro dedo passa em uma parte proibida, nunca fizemos sexo anal, mas, do
jeito como as coisas vão, sinto que esta noite isso acontecerá.
Com esse dedo começa a brincar e a metê-lo dentro de mim, é um pouco
desconfortável, mas que termina sendo substituído quando sinto sua língua
lambendo todas as minhas intimidades de cima para baixo, recolhendo a
minha umidade, chupando meu clitóris. Agarro os lençóis e me abro o
máximo que posso.
— Quero isso — avisa, introduzindo um segundo dedo e lubrificando com
sua saliva —. Esta noite — afirma. Ele empurra para dentro e para fora um
pouco mais rápido. Grito quando um terceiro dedo é adicionado e sinto o
desconforto dos meus nervos. Don não se altera, tem a tarefa de continuar
devorando minha boceta com sua boca, sua língua... Não me canso de dizer
isso, é mágica, celestial. Ele se afasta e eu sinto quando ele substitui seus
dedos pela cabeça do seu pau.
Quero empurrá-lo para frente e para trás ao mesmo tempo. É algo que,
embora já tenha me tocado antes, um dedo, uma lambida, nunca fomos além.
Ele empurra seu pau expandindo-me, sei que está contendo-se e, mesmo
assim, sua penetração não é nada tranquila. Suas mãos me abrem, expondo-
me completamente. Grito alto enquanto ele continua empurrando mais, tento
contê-lo um pouco, mas suas mãos fortes me seguram, retrocede um pouco e
volta a empurrá-lo. Ele é muito grande, merda, seu membro é enorme e
grosso.
— Don... — Gemo de forma sufocada.
Então o faz, ele me preenche completamente, empurrando seu membro
com um nível controlado de força.
Grito, a dor e o prazer me invade. Ele não se detém, está possuído e agora
entendo sua advertência. Ele me penetra com força, suas mãos me abrindo
cada vez mais. Sinto que perderei a consciência. Gosto disso, mas é
incômodo... grito quando ele puxa meus cabelos com força que me separa da
cama, levando minhas costas a sentir seu peito, expondo meu pescoço ao seu
deleite, sua outra mão vai para frente abrindo minha carne e me masturba,
jogo minhas mãos para trás, em seu pescoço, porque preciso segurar em algo.
Minhas costas se arqueiam enquanto ele ataca, penetrando com ímpeto na
minha bunda. na minha bunda. Eu vou gozar, grito seu nome e sinto como
seu membro se avoluma dentro de mim, sei que acaba de gozar também, mas
seu membro não diminui por isso. Ele o tira de dentro de mim e eu me viro
no momento que está limpando-se com os lençóis... No, ele não gozou.
As veias de seu pênis estão marcadas e o sêmen começa a pingar dele.
Seus olhos escurecidos me observam. Ele está esperando que eu o masturbe,
agora que vejo sua outra faceta.
— Limpe-o — ordena, inclinando a cabeça. Eu vou gatinhando até ele,
move a mão envolvendo seu pau —. Abra sua boca e me chupe.
Eu engulo em seco, balançando minha cabeça antes de cumprir sua ordem.
Abro minha boca e ele se move metendo seu membro dentro dela.
— Quero gozar dentro da sua garganta — admite empurrando, eu o
observo apertando meus lábios sobre seu pau e introduzindo-o mais fundo,
vou até onde der, antes de recuar —. Mais.
E assim eu faço e ele se move, afundando, fodendo minha boca. Ele não
agarra meus cabelos, fato este que agradeço, é uma ação mínima que me dá
segurança, se eu quiser recuar estou livre para fazê-lo.
— Use seus dentes, assim... Cacete! — assovia e joga a cabeça para trás
enquanto raspo meus dentes ao longo do seu pau. Jorros de esperma quente
inundam minha boca, eu engulo o máximo que posso, mas não consigo
engolir tudo e recuo. Cai no queixo e seios. Don está perdido em seu prazer e
continua empurrando seu eixo. Quando me olha, seus olhos são diabólicos.
— Você recuou — rosna cobrindo-me com seu corpo, sua mão
envolvendo meu pescoço e me pressionando contra a cama —. Abra suas
pernas, Emilie. Eu a punirei.
— Deuses…! — clamo, contorcendo-me sob seu corpo assim que ele
penetra minha boceta, de uma forma desordenada. Começa a mover sua
cintura, em círculos, punindo-me. É rápido e eficiente, o quarto se enche com
os sons dos nossos corpos, gemidos e súplicas.
Seu aperto em meu pescoço aumenta, cortando meu ar. Ele não para de
olhar para mim até que sua cabeça caia para trás, seu longo pescoço à minha
vista, seus músculos tensos. Ele se esforça muito mais, ele é selvagem e
furioso. Estou ofegante e cravo minhas unhas em seu braço. Dominic é muito
mais forte e leva minhas duas mãos sobre minha cabeça.
Essa linha tênue de entrar em pânico se abre e fecha com rapidez, quando
seu aperto cessa em poucos segundos, deixando-me respirar e dane-se, estou
prestes a gozar intensamente. Minhas pernas começam a tremer, as minhas
entranhas se contraem e o pau de Dominic de alguma forma se avoluma ainda
mais. Sinto seu segundo orgasmo da noite me enchendo completamente. Ele
solta sua mão do meu pescoço e desde entre nossos corpos para torturar meu
clitóris inchado. Grito e imploro para que não faça mais isso, mas é esse tipo
de apelo que não espero que cumpra. Abro meus olhos quando sinto uma
umidade ainda mais forte e Don abaixa a cabeça para devorar meus lábios.
Sua boca não me dá trégua, é possessiva e exigente, sua língua penetra e
me reclama, seus dentes cravam em meu lábio e puxam levemente rompendo
a pele. O gosto de sangue no meio de tudo.
Ele se afasta e me observa enquanto passa a língua nos lábios coletando o
resíduo do meu sangue. E é a coisa mais excitante de se ver. Ele me gira sem
sair de dentro de mim. Como demônios seu pau continua duro? Não sei, e
nem quero saber.
— Quero que me coma muito — ordena. Olho e penso a que ponto
chegamos, ruborizando-me na hora quando vejo na cama uma mancha de
umidade considerável.
Ele abre suas pernas, fazendo-me cair sobre seu peito e levando sua mão a
minha bunda, mete dois dedos em mim, aí, nesse lugar. Sinto-me totalmente
preenchida e, muito, mas muito satisfeita. Ele não tem vontade de parar.
Começo a mover minha cintura, encontrando-o entre suas próprias estocadas
e literalmente gritando de prazer. Isso é mais do que já fizemos, é como se ele
fosse outro homem.
— Don...
— Minha — ele me interrompe —. Completamente minha.
— Sim, sim! Oh, meu bom Senhor!
E atinjo um terceiro orgasmo. Os músculos me doem, minha bunda
também. Meu corpo está cansado e ao mesmo tempo satisfeito, acho que em
algum momento desmaiei e quando abro os olhos novamente tenho meu
marido circulando meu ventre, cantando aquela canção de ninar italiana
baixinho.
Fala sobre proteger e salvar, conta a história da luta de um guerreiro
sombrio que não sabe como chegar à luz, narra o encontro com um anjo da
paz. Talvez sejam os hormônios da gravidez ou apenas eu sendo sentimental.
Meus olhos se enchem de lágrimas, porque desta vez ele não está cantando
para mim, mas sim para o nosso bebê. Levo minhas mãos aos seus cabelos,
acariciando suas mechas, ele deixa um beijo curto no meu umbigo antes de
levantar a cabeça. Seus olhos estão vermelhos, irritados. Eles me fazem
lembrar daquela noite na Itália, acordando no iate.
— Bom dia, amor — sussurra com a garganta arranhando, antes de me dar
um beijo doce, continuo acariciando seus cabelos.
— Bom dia, meu Capo. — Sorrio sobre sua boca.
— Tudo bem? — questiona, retirando-se.
— Hmm, sim, um pouco dolorida. Por todo o meu corpo — confesso,
corando. Ele, por sua vez, toca meu lábio, sei que deve estar inchado e
possivelmente tenha um pequeno ferimento.
— Sinto muito — ele se desculpa.
— Você não tem do que se desculpar, não quando eu desfrutei de tudo
isso. — Mordo meu lábio e o solto ao sentir a coceira instantaneamente —.
Mas... por que estava assim? Quero dizer, um pouco mais bruto.
Ele cai ao meu lado, cobrindo o rosto com as mãos.
— Pode-me dizer, querido — insisto, acariciando seu peito.
— É apenas energia acumulada... É algo complicado.
— Temos tempo de sobra, pode falar — pergunto novamente.
— É uma mescla, estou excitado e tenho um prazer extra. Não sei como
dizer sem assustá-la — murmura. Tenho uma teoria, uma que me apavora
vocalizar. Engulo algumas vezes antes de abrir a boca e voltar a fechá-la
porque não sei como perguntar.
— Você tem prazer... ao assassinar? — pergunto finalmente.
— Sim — confessa e não para —. Nas primeiras vezes, foi um trauma.
Era muito jovem e, embora quisesse ser forte, era mais fraco do que Damon.
Não queria ser um made man, vi coisas em casa que não quero que saiba, mas
que eram ruins, Emi. Terríveis.
— Preciso saber, é a única maneira de nos ajudarmos, de entender o
passado... — interrompe, segurando meu queixo.
— Você acabou de dizer, é passado. Não vale a pena relembrá-las.
— Isso nos faria bem, quero dizer. Conversar sobre isso, só nós dois.
Fica pensativo e envolve meus ombros puxando-me para perto do seu
peito, sei que deve temer que ao tomar conhecimento de certas coisas, eu saia
correndo. É normal que não confie em mim, já falhei muitas vezes.
— Você se lembra que eu lhe disse que nasci no orfanato?
— Sim — sussurro.
— É verdade, nascemos lá porque Isabella, minha mãe, estava fugindo de
Gabriel. Ela não sabia se éramos seus filhos, porque acabou envolvendo-se
com seu segurança e quando engravidou ficou com essa dúvida. Gabriel a
amava de sua maneira distorcida e quando a encontrou e descobriu o motivo
de sua fuga, aparentemente, quase enlouqueceu. Nonna disse que era um bom
homem, que a amava, que desistiu de tudo por ela e naquela noite ela o
transformou. Isabella não estava apaixonada por Gabriel, para ela era só uma
boa vida, as viagens e as joias... Ele não aguentou e a trancou.
Não posso imaginar esse monstro como uma pessoa boa.
— Ela era uma prostituta — continua em uma voz controlada, sem
emoção —. Ela se dedicava a isso antes de estar com ele, se vendia aos
homens. Ficou deslumbrada com o dinheiro e beleza de Gabriel. Ele a
castigou durante anos, ele a drogou e a ofereceu aos seus amigos...
— Oferecia...?
— Sim, eles a fodiam em grupo — sussurra, limpando a garganta —. À
medida que crescíamos, nós também participávamos disso.
Meu cérebro leva um tempo para processar suas palavras “Participávamos
disso”. Quando entendo essa terrível informação, o vômito quer subir à
minha garganta e tenho que lutar contra mim mesma para não demonstrar o
nojo que dá ao imaginar essa cena grotesca. Oh, meu Deus.
— Ela nos odeia, repudiava que tivéssemos o sangue de Cavalli, acho que
no fundo ela mantinha alguma esperança de que fôssemos filhos de seu
amante. Gabriel me odiava, porque era parecido com ela. A arte me chamava
muito a atenção, sorria e curtia muito a natureza. Damon era mais parecido
com ele. — Aconchego-me mais perto de seu peito —. Então sempre recebia
um castigo maior, porque Damon desfrutava e eu não.
— Não... — imploro com lágrimas nos olhos.
— Ele a obrigava a se vestir especialmente para mim, obrigava que todos
olhassem como se ajoelhava e me levava dentro de sua boca pintada de
vermelho e ela chorava, Emi. E eu não podia fazer nada por nós...
— Não continue, não continue — imploro chorando. Toco meus lábios,
entendendo agora o porquê odeia que use batom vermelho. Ele afirma com
um gesto sem me dar uma segunda olhada.
— A primeira morte que gostei foi a de um deles, eu o matei enquanto a
fodia e a ajudei a escapar da mansão... Depois continuei matando um por um.
E o prazer começou a formar parte de mim. É uma explosão dentro de mim,
apenas visualizo um vermelho brilhante que me cega.
— É a primeira vez que está comigo assim, isso significa que...
— Não estive com mais ninguém, não depois do nosso casamento. Antes
disso é a razão de eu estar com Katniss. — Eu me afasto assim que ele
menciona seu nome e Don permite —. Não queria machucá-la e realmente
não pensei que faria. Nesse momento, isso não fazia a menor diferença.
Quero que entenda que foi uma válvula de escape.
— Então não foi apenas o beijo — murmuro, abraçando minhas pernas.
Ele nega e assimila suas palavras. Sabia que tinha dormido com ela, mas não
tinha certeza, tinha na minha mente somente a imagem do beijo —. Por que
estava no seu colo nessa noite?
— Por duas razões; a primeira porque me recusava deixar que uma
garotinha ingênua me dominasse como estava fazendo e, a segunda, porque
não queria que ninguém percebesse quão dominado estava.
Balanço a cabeça assimilando tudo, esse homem que amo profundamente
e será o pai do meu bebê, é um assassino, gosta de ser um. Ele foi empurrado
para essa vida por cada ato que teve que perceber ou participar, sei que sua
confissão agora é apenas uma pequena parte de todas as coisas que
aconteceram em sua vida.
— E depois do nosso casamento, como acalmava esse desejo? —
questiono, voltando à nossa conversa. Amo este homem, cada parte dele.
— Eu me masturbava algumas vezes, na verdade, fiz isso ontem à noite.
Você estava dormindo —. E ainda tem coragem de sorrir.
— Ohh — murmuro, ficando corada. Merda, a imagem de Dominic se
tocando deveria ser um castigo —. Acho que deveríamos sair da cama, não?
— Não — diz brincando, puxando minha perna, fazendo-me cair para trás
com uma risada infantil —. Você está bem, não tenho a menor dúvida que
quero fazer amor com você agora, e depois alimentá-la.
— Sou toda sua, Sr. Cavalli — murmuro, oferecendo-me. Essa é a forma
de saber que tudo está em ordem. Que sua confissão não nos afastou e jamais
poderia. Eu o amo, desiquilibrado ou não. Eu o amo.
Capítulo 28

Voltar à cobertura é difícil, Emilie não se sente segura e está


constantemente revisando tudo. Por mais que lhe garanta que não há
microfone ou câmera, ainda não se sente confortável. Por isso levantei a ideia
de procurar outro lugar. Com Emma — com quem esteve fazendo
videochamadas diárias — e o bebê a caminho, a cobertura já não é mais
segura. Assistimos ao enterro de Landon, Emilie não tem ideia do que
aconteceu e Hannah sabe de seu compromisso com a famiglia. Continuará
entre nós, mas as razoes pelas quais Landon Ward morreu, minha esposa não
deve conhecê-las. Não é algo que entenderia.
Fico feliz ao vê-la não lamentar sua partida, mesmo sabendo que lhe dói,
mas se mantém com a cabeça erguida recebendo as devidas condolências. No
entanto, ao ver que não chora a morte de um traidor, reafirma minha decisão
de deixá-la viver. Ela é uma mulher inocente e já teve o suficiente na vida.
Emilie está cansada quando chegamos em casa, vigio para que coma algo
antes que peça licença e me deixe sozinho com Roth.
— Ela está muito cansada, não está? — comenta Roth vendo-a subir a
escada.
— Sim, não dorme muito à noite e vomita tudo o que coloca em seu
estômago — murmuro, servindo-lhe uma bebida —. Liguei para a Dra.
Falcón, mas disse que é normal nos primeiros meses.
— Obrigado — murmura, recebendo a bebida—. Estou muito contente por
vê-lo feliz.
— Eu sei, é a mesma coisa que eu quero para você. Acho que deveria
olhar uma das nossas famílias, talvez encontre uma garota adequada.
— Uma garota adequada — murmura, olhando para a bebida —. E se eu
lhe disser que isso não é algo que estou interessado.
— Entenderia. Meu plano não é forçá-lo a se casar.
— Não estou interessado, Don.
— Por causa da garota — afirmo.
— Sim, por ela — confessa, olhando-me —. Estou atraído por ela.
— Mas ela está ferrada, Roth. — Esfrego meu rosto —. Sei que deve
pensar que eu não quero que você fique com esta garota problemática, merda,
mas se ela fosse normal no me importaria, mas está muito ferrada, o que acha
que acontecerá? Acabará sendo dependente de você, e já imaginou o dia que
ela tiver coragem suficiente e acabar com a sua própria vida? Isso explodirá a
sua cabeça. Ela é outra Ryanna. Você e Raze não podem passar a vida
procurando garotas cheias de problemas para salvar — digo. Preciso que
entenda que é para o seu bem, que não é saudável o rumo que este possível
relacionamento está tomando.
— E se quem está dependente dela sou eu?
Puta merda!
— Porra, Roth! Que merda você acha que devo fazer agora? — rosno,
movendo-me pela sala —. Ir até seus pais de merda e pedir-lhes a mão de sua
filha? — zombo, mas percebo que sua cabeça está trabalhando a um milhão
de anos-luz. Claro que ele pensou em tudo —. Deixe-o.
— Poderia falar com ela, explicar-lhe que quero que ela seja minha
esposa. O que acontecerá depois de se tornar maior de idade, que não poderá
estar com outro homem até então.
— Está brincando? — questiono. Não posso acreditar em suas palavras,
estou enlouquecendo enquanto se dedica a me olhar —. Desde quando
planejou isso? — Já sei a resposta, mas ainda assim a necessito.
— Desde o dia que me ordenou matá-la.
— Você e Emilie são únicos... São perfeitos! Ambos fazendo planos que
falham antes mesmo de serem executados — assovio.
— Dominic...
— Só quero que vá ao cassino ou ao clube. Não me importa, só quero que
vá.
— Você falará com ela?
— Haja paciência, Roth — rosno. Ele se levanta com um sorriso. Sabe que
farei tudo para seja feliz —. Falarei com ela, mas se ela não concordar, não
posso obrigá-la. Não tem obrigações para com a famiglia. Ela não é problema
nosso, se ela disser não... então está livre. Algo que sabe e por isso me está
enviando, maldito filho da puta, não é mesmo?
— Ela tem medo de você — confessa—. Ela não lhe negará.
— Vá antes que me arrependa e arrebente sua cara para que reflita.
— Obrigado — diz antes de sair.
Passo minha mão pelos meus cabelos. Sabia que essa garota estava metida
em sua cabeça. Subo as escadas para me encontrar com Emilie e me despedir
antes de sair para resolver alguns assuntos. Eu a encontro sentada no último
degrau com apenas uma camisola cobrindo-a.
— Você ouviu tudo.
— Sim — confessa, corando —. Queria um copo com água.
Subo a escada para ajudá-la a se levantar, ela é um anjo com o cabelo solto
e liso, geralmente sempre tem ondas. Ela boceja cansada, então eu me inclino
e a carrego.
— Não há necessidade — murmura bocejando outra vez.
— Para mim é — indico, empurrando a porta do nosso quarto e levando-a
diretamente para a cama —. Fique aqui, volto com a água.
— Eu te amo — diz. Engulo, ainda é difícil me acostumar a ouvi-la dizer-
me isso. Beijo sua testa, quando estou prestes a me afastar, sua mão me
impede ao agarrar meu pulso —. Você pode responder, eu também te odeio.
— Eu te odeio, minha esposa — afirmo. Seu sorriso é único.
Vou até a cozinha pegar o copo com água, mas quando volto ela já está
dormindo, coloco o copo ao lado da sua mesinha de cabeceira e cubro seu
corpo, baixando a temperatura do ambiente, para que possa descansar melhor.
Ir para o orfanato não fazia parte dos meus planos, queria abraçar minha
esposa e dormir com ela por algumas horas, mas quero dar uma olhada nessa
garota e garantir que Roth consiga o que quer. Estava pensando em lhe dar
um cavalo de aniversário, não um noivado. Bem, no final poderá montar
qualquer um dos dois. É tarde quando estaciono no novo jardim de Greystone
Home. Em cada passo que dou, o meu orgulho por Emilie só aumenta, ela
transformou esse lugar em um lar para crianças e mulheres necessitadas.
Tudo muito limpo e colorido. A Madre Superiora me espera na porta do
local.
— Sr. Cavalli... está tudo bem?
— Sim, Madre Superiora, posso falar com Britany?
— Britney, sim, ela tomando banho. Eu o levarei ao seu quarto.
— Pensei que eram quartos compartilhados — digo começando a segui-la,
as paredes estão recém-pintadas de amarelo claro.
— Sim, o Sr. Nikov sugeriu que ela ficasse sozinha.
— O Sr. Nikov é um santo — digo revirando os olhos.
— É aqui — ela me anuncia diante de uma porta de madeira escura, as
demais têm um desenho engraçado está tem somente uma plaquinha
vermelha com os dizeres “Não perturbe” pendurada em um prego mal
colocado —. Ela pendurou esta placa.
— Deixarei a porta aberta — sussurro, abrindo-a. Ligo o interruptor para
encontrar um quarto cheio de desenhos em preto e branco. O quarto é
pequeno, mas tem uma bela cama de ferro pintada de branco, uma
escrivaninha com uma cadeira e um baú da mesma cor. Sobre a mesa uma
caixa de tintas, passo a mão por ela.
Elas são caras e apenas uma pessoa tem dinheiro para comprar algo assim.
Os desenhos estão em tamanhos diferentes. Dois chamam minha atenção, um
deles é de um homem domesticando um cavalo preto. Estrondo, o cavalo
favorito de Roth e o segundo desenho é seu rosto de perfil. Eles têm passado
muito tempo juntos.
Sinto a sombra furtiva da menina, ela é pequena e caminha muito ágil. Eu
me viro para encontrá-la atrás de mim, um pouco surpresa por me ver aqui.
Tenho que ter cuidado com ela, a ideia não é assustá-la.
— Meu senhor. — Ela murmura, abaixando a cabeça em uma reverência.
É estranho vê-la fazer isso, embora seja uma tradição em nossas famílias.
— Oi, Britany.
Sei seu nome, só quero ver se me enfrentará diante disso e corrigir-me.
Mas isso não acontece, apenas permanece na mesma posição. Roth realmente
ama essa garota? É simples, veste uma camisa preta de grandes dimensões e
jeans que são pelo menos dois números maiores. Seus cabelos são tingidos de
castanho e curtos.
— Quanto lhe falta para adquirir sua maioridade? Levanta a cabeça.
Ela treme com o meu tom de voz e se afasta. Droga.
— Dois anos, senhor — diz, hesitante.
— Bem. — Exalo entre os dentes. Olho mais uma vez para o retrato a
carvão de Roth. Ela retratou o que olhava nesse instante —. Tenho uma
pergunta a lhe fazer, Britney. Pode recusar se não for o que deseja. Não a
forçarei a nada, quero que isso fique bem claro. Não é uma ordem... — Por
que diabos lhe estou dando uma saída? Não dou a mínima para isso... É por
Emilie, essa garota me faz lembrar muito dela e o medo em seus olhos
quando descobriu quem seria seu marido. A opção que nunca lhe dei —. Roth
Nikov, quer sua mão em casamento. Ele me perguntou esta noite, ele esperará
que atinja a maioridade, se é isso que você quer. Cabe somente a você decidir
se é isso o que realmente deseja para seu futuro. Repito que não é uma ordem
direta e você pode recusar.
— Por que ficaria comigo? — questiona quase como um soluço —. Ele o
enviou para brincar com a minha cara?
— Não sou homem de ficar brincando com ninguém pelas noites.
— Claro, sinto muito, senhor, é que...
— Já tentou suicidar-se duas vezes, tem muitos problemas. Sofre de
ansiedade, não? — pergunto olhando para suas unhas e as mangas compridas
que escondem as cicatrizes —. Onde mais você se corta? Você não tem que
se esconder de mim.
— Na coxa — confessa em voz baixa.
— Você se queima? — insisto. O quarto cheira a cigarro.
— Sim, às vezes.
— Em relação a Roth, você o ama? — Preciso saber disso, antes de
qualquer resposta possível.
— Sim, acho que o amo. Ele me faz sentir protegida.
— Sim — «Tem esse efeito em todos.» Penso —. Então tudo está
resolvido, quando você atingir a maioridade se casarão.
— Não — sussurra, surpreendendo-me, não acaba de dizer que o ama? —.
Não sou uma esposa, sou um fardo. Pensar em alguém me tocando? Não,
quero vomitar agora por causa disso. Um homem como ele precisa de filhos,
como poderia dar-lhes? E se o fizesse, teria todos os meus problemas. É
genético, eles sofreriam. Você disse que não era uma ordem, que poderia
recusar. Minha resposta é não, ele merece coisa melhor.
Estou surpreso com a maturidade de suas palavras e concordo com ela em
muitas coisas. Ele não é uma das minhas pessoas favoritas, não até neste
momento.
— Fingirei que não recebi resposta alguma e a deixarei pensar melhor a
respeito. Esse um trato mais do que justo, quando esteja pronta, avise a
Madre Superiora. Ela entrará em contato comigo.
Não a deixo dizer-me mais nada, porque a resposta que quero não a recebi.
Deixo seu quarto deixando-a confusa. Se Roth Nikov quer aquela garota,
então ele a terá. Aqueles com quem me preocupo sempre conseguem o que
querem e desta vez não desistirei.
Ela está sendo sua esposa, sim ou sim. Eu lhe escrevo uma mensagem
curta.
Ela é sua, irmão.
Virou rotina, Emilie acorda às quatro da manhã correndo para o banheiro,
eu a sigo dormindo enquanto se inclina e solta o estômago inteiro, por
alguma estranha razão ela acaba com um pote de sorvete de chocolate e uma
Coca-Cola, então volta a dormir em paz. Levanto-me para fazer algum
exercício, como o tempo está fresco e não faz frio, resolvo correr.
O som de uma motocicleta me estranha a essa hora da manhã, empurro as
portas principais do meu edifício. Raze está descendo dela, cambaleante.
Franzo a testa caminhando até ele.
— Raze — exclamo, vejo como cai de joelhos e o medo, sim, porra, o
medo atingiu meus ossos —. Raze!
— Don... — rosna. Chego até ele, pegando-o antes que ele perca a
consciência. Suas mãos estão vermelhas, uma van está movendo-se em nossa
direção e o celular no meu bolso toca, tudo ao mesmo tempo.
Confuso, dou um passo para trás, puxando o corpo de Raze em minha
direção, sentindo a umidade em seu lado quando a van branca abre as portas e
três dos meus homens saem dela. Roth e sua mania de ficar de olho em mim
o tempo todo. Foda-se, obrigado.
— Ele está ferido — digo, minha voz é irreconhecível. Quem quer que o
tenha machucado, está malditamente morto —. Vamos levá-lo para dentro —
rosno.
Rapidamente nos mobilizamos, um dos meus homens chama o médico
enquanto os outros carregam Raze, procuro alguma ferida em seu corpo e
encontro um ferimento a bala, rapidamente o levamos para dentro e o
deixamos sobre o sofá. Corro até meu escritório e agarro a maleta de
primeiros-socorros e, quando volto, ouço o grito de Emilie, ela está com uma
xícara nas mãos e desmaia.
— Emilie! — grito e corro em sua direção. Ela bate forte no chão ao cair.
Certamente, assustou-se ao ver os rapazes aqui dentro a essa hora da manhã
—. Encontre e tire a bala de Raze — ordeno a um dos meus homens —.
Emilie, querida, abra os olhos.
Dou alguns tapinhas em seu rosto e um dos meus homens me entrega uma
garrafa de álcool e a coloco sob seu nariz, quando ela respira de forma
agitada abre os olhos, seu primeiro reflexo é afastar-se até que olha para meu
rosto.
— Shh, acalme-se — instruo —. Eles são meus homens, está tudo bem.
— Estavam atacando Raze — diz soluçando.
— Não, eles o estão ajudando.
— O que está acontecendo? — questiona alarmada. Não deve receber
sustos como esses. Deveria ficar calma. Eu a ajudo a se levantar e peço que
suba, mas ela é minha esposa, nunca faz o que digo.
Fica observando como se retira a bala de Raze, até que sai da sala,
possivelmente, sai para vomitar. Nonna, graças ao divino, em algum
momento acorda e cuida de Emilie. O médico da família voa para nos
encontrar em breve e Raze acorda, não os deixando costurá-lo. Em algum
momento ao tentar contê-lo, recebo um golpe seu no rosto. Está delirando e,
chamando o nome de Bess Miller, grita que a garota está em perigo.
Sou obrigado a envolver seu pescoço e apertá-lo até deixá-lo inconsciente.
De outra forma seria impossível ajudá-lo. Estou muito confuso sobre suas
palavras e temo que apenas alguém tenha uma resposta.
— Don, o que está fazendo? — pergunta Emilie preocupada enquanto eu
troco de roupa.
— Está tudo bem, eu só tenho que procurar Roth — minto.
— Quem machucou Raze? Por que diz que a garota está em perigo?
— Emi... — rosno puxando meus cabelos —. Acalme-se, agindo assim
poderá prejudicar o bebê. Respire e deixe-me cuidar disso, ok?
— Raze está ferido! — grita em estado de choque.
— Eu sei amor. Estou tentando resolver um problema de cada vez, preciso
que se acalme para que possa ter minha mente tranquila sem me preocupar
com vocês dois. — Vou até ela envolvendo seu rosto —. Entende? Se me
preocupo com vocês dois, não faço meu trabalho direito.
— Tenho medo, tem que voltar.
— Eu voltarei, enquanto eu estiver fora, cuide de Raze e do nosso
pequeno, pode fazer isso por mim?
— Sim, eu o cuidarei — soluça, enxugando suas lágrimas antes de beijar
seus lábios macios lentamente —. Descubra mais sobre Emma.
— Ela está bem — afirmo —. Voltarei em breve.
Saio de casa ligando para Roth, que está com Bess Miller e não tem ideia
do que aconteceu, desligo e ligo para Byron, que me dá um endereço para nos
encontrarmos. Dirijo de Nova York até um estacionamento comunitário, que
está cheio de carros, localizo a descrição da picape que ele me deu. Está fora
da mesma com uma cerveja na mão, tem alguns cortes nas mãos e um golpe
em seu rosto.
— Don…
— O que diabos você fez?! — assovio, empurrando seu peito. Seu corpo é
jogado contra o veículo. Raze nunca deveria estar envolvido!
— Também não queria, mas é minha reputação. Não podia esconder-lhe o
que estava acontecendo.
— Ele está ferido, como um demônio!
— Disse que foi só um raspão...
— Não, não foi apenas um raspão! Dê-me uma maldita razão para não
matá-lo agora! — grito com raiva. Nenhum deles deve ficar ferido. Não
enquanto eu respirar. Byron deveria ter-me levado a Piazza, não a Raze.
Ele abre a porta e vejo um corpo coberto com um tecido preto, levanto e
encontro o rosto desfigurado de Piazza.
— Você o matou.
— Ele feriu minha honra, não podia permitir isso. — Afirmo com gesto a
sua resposta. Não gosto de saber que tirou o privilégio de matar Piazza com
as minhas próprias mãos, mas estou muito satisfeito com o que vejo. Sei que
Byron não é um garoto aficionado em matar, mas fez um bom trabalho.
— Está bem, cuidarei do corpo. Pode voltar com sua gente.
— Sobre isso — sussurra baixo—. Tenho algo a fazer.
— Deixe-me adivinhar, envolve uma vagina? — zombo.
— Sim, algo assim — hesita —. Era a mulher de Piazza.
Quando volto para a cobertura, Nikov está brigando com Emilie para ir
embora. Não gosto de mentir para minha gente... e dizer a Raze que Byron
está morto é difícil para mim, mas o garoto está desesperado para chegar até a
mulher e reivindicá-la. Ver o sofrimento em Raze é uma agonia para mim.
Vamos à casa de Miller, onde pede a Emilie para tentar convencer a garota
a comer alguma coisa. Ver como se preocupa com a ruiva faz com que olhe
para Roth. Apesar de todos os problemas, ele tem um semblante menos
sombrio e mais esperançoso.
— Obrigado por cuidá-lo — sussurra enquanto Raze sobe a escada.
— Ele também é meu irmão — digo, apertando seu ombro.
Emilie desce as escadas e seus olhos dizem tudo, o que está acontecendo a
afeta muito, quero explicar-lhe, no entanto, não posso colocar essa carga em
seus ombros. Quanto menos souber sobre meus negócios, melhor. No
entanto, Roth sabe de tudo e, mesmo que não esteja de acordo, mas entende.
Se Byron não pode sair da Itália, ele será um morto irreconhecível.
— Tudo bem? — pergunto a Emilie assim que ela chega ao meu lado,
levantando o queixo.
— Quero ir para casa. — Seus olhos estão cheios de lágrimas.
— Ok — concordo.
— Irei com você — anuncia Roth. Agora estará mais nervoso, esperando
por alguma retaliação dos homens de Piazza. Nenhum deles era leal e
construiu um trono sobre a fumaça. Ele desapareceu.
Nós iremos no Jeep, Emilie no meu colo. Escondendo seu rosto no meu
pescoço e sussurrando um suave eu te amo no meu ouvido.
~♦~
Minha esposa é um lindo diamante cintilante. Quando entra em uma sala,
todos os homens se viram para vê-la. Sou um louco possessivo com ela, mas
quando eles viram suas cabeças para olhá-la, ela não percebe nada, porque
está concentrada em mim, a porra do meu ego dispara ao infinito.
É o meu anjo, a luz no meu coração sombrio, que alimenta esses pequenos
vislumbres de um ser humano. Emilie me faz querer ser uma pessoa melhor,
por e para ela. O garçom nos guia até o terraço, reservei cinco mesas para
maior privacidade. O dia tem sido realmente muito difícil e quero dar-lhe
algo bom para ter, agora que está lembrando-se de Holden.
Puxo a cadeira de lado, ajudando-a a se sentar, então tomo meu lugar ao
seu lado. O garçom deixa duas cartas e oferece um pouco de vinho, peço uma
cidra sem álcool para que se sinta à vontade. Tem um sorriso adorável.
— Afinal estou tendo um encontro com um homem que não faz encontros,
brinca.
— Que prazer, não é? — viro, buscando sua mão sob a mesa —. Desculpe
ser um idiota na maioria das vezes.
— Também estava errado...
— Não estamos aqui para fazer uma lista dos nossos erros — digo
suavemente. Não quero que voltemos atrás, a vida é feita para seguir adiante
e ontem é algo sem remédio. Não se pode mudar o que já está feito, nem
apagar as feridas que foram causadas. Só nos resta seguir e não repetir os
erros que nos afastaram.
— E por que estamos aqui? — pergunta.
— Sempre tão curiosa, hein, pantera!
— Quando seu marido é o lobo mau, é melhor estar preparada —
murmura sedutoramente... Isso só me faz querer entrar no primeiro banheiro
disponível e fodê-la para o resto da vida. Movo minha cabeça afastando
dessas bobagens.
— Quero desfrutar de sua companhia, longe da cobertura ou do cassino.
Além do mais... — acrescento, beijando seus dedos —. Temos motivos para
comemorar. Emma está segura, nosso bebê está crescendo em seu ventre e
por um milagre divino, reconciliamos nossas diferenças. Não acha que são
bons motivos para festejar?
— São perfeitos — sussurra, sorrindo. O garçom surge com nossas
bebidas e o dispenso. Sou quem cuidará da minha esposa, abro a garrafa e lhe
sirvo. Observando seu deleite. Sabia que as borbulhas acalmariam seu
paladar. Brindamos, por nós e pelo futuro.
Vê-la relaxada enquanto come, quando conta suas histórias de quando era
criança, de sua mãe, da vida com seu pai. Ela me conta mais sobre o Natal, as
tradições de pedir doces.
Esta é a garota daquela foto, seus olhos vivos e ousados, tagarela e
carismática. É a garota que roubou parte de mim desde a primeira vez que
coloquei meus olhos nela no orfanato, como ajudou Hannah e o fazia rindo.
Seu vestido florido com manchas de pasta de dente.
A partir daquele momento entendi o quanto estava condenado por ela, não
era amor... Esse sentimento como Emi o chama. Foi uma conexão direta
comigo, algo invisível que me puxava para ela. Dois ímãs em polos opostos
que, de alguma forma, encontramos nosso caminho de volta. Queria ficar
irritado com Roth por brincar e planejar nossas vidas, queria realmente puni-
lo por isso, mas refletindo melhor sei que graça a ele hoje eu tenho esse
pedaço de sol ao meu lado, aquecendo minha alma — se é que ainda tenho
uma — permanentemente, mas agora eu lhe agradeço, aceito o presente
disfarçado de traição que meu irmão me deu.
— Desejam algo mais? — interrompe o garçom, Emilie pisca.
— Sorvete de chocolate e uma Coca-Cola gelada — peço por ela.
— Claro, senhor.
— Obrigada querido. — Ele se inclina em minha direção naturalmente e
me dá um beijo curto. Sinto uma luz, um pequeno flash, provavelmente, de
algum repórter. Emilie não percebe e eu agradeço.
— Não se merecem — afirmo.
— Você me trata como uma rainha.
— Você é uma, a minha rainha.
— A Rainha do Capo — murmura sorrindo. Afirmo acariciando sua
bochecha. É exatamente isso, minha rainha. A mulher pela qual seria capaz
de qualquer coisa — Hmm... preciso ir ao banheiro.
— Quer vomitar? — pergunto preocupado. Não é normal que você não
possa comer nada.
— Um pouco, sim — confirma. Eu a ajudo a se levantar e a vejo sair do
terraço. Levanto minha mão para o garçom, pedindo uma garrafa de vinho.
Talvez o doce alivie um pouco essa náusea. Abro a garrafa, servindo-me uma
taça e pensando no nosso futuro.
Antes não achava que isso fosse possível, vivia o dia a dia sem esperar
mais nada. Agora vejo meu futuro com ela, nossos filhos. Droga, eu a amo.
Amo minha esposa muito mais do que ela seria capaz de entender.
Semanas atrás, tudo parecia ser o fim do nosso relacionamento e agora estou
aqui. Não, não foi o fim para nós, é apenas o nosso começo. Surpreso com
sua demora, eu me levanto.
— Onde ficam os banheiros? — pergunto a um dos trabalhadores.
— No segundo nível, senhor.
Assinto começando a caminhar para fora do terraço. Dois conhecidos
aspirantes a políticos me interceptam dificultando o meu encontro com
Emilie, tento concentrar-me e não ficar ansioso. Começo uma pequena
conversa e me desculpo quando iniciam a falar sobre adversários. Se não
deseja ter inimigos, é melhor que se dedique a ser uma pessoa comum. O
poder sempre vem de mãos dadas com os rivais dispostos a tirá-lo do jogo.
Esse é o outro lado do sucesso.
Ao estar no segundo nível, encontro Emilie encostada na parede. Caminho
rapidamente em sua direção, ela está mais pálida do que o normal.
— Emilie... — Suspiro, segurando-a —. O que houve?
— Estou bem, foi só uma pequena tontura — sussurra, fechando os olhos
—. Um rapaz me ajudou.
— Que rapaz? — pergunto, olhando para os dois lados.
— O que estava... — Ela se cala, observando tudo, surpresa —. Parece
que me ouviu vomitar e foi ao banheiro feminino me ajudar. Olha... — revira,
entregando-me um lenço branco.
— Vamos — rosno, ajudando-a a caminhar. O lenço tem as iniciais MV
nele, minha mão treme ligeiramente, meu corpo se enche de fúria. Não me
preocupo em pagar a conta, eles me enviam uma fatura. O vallet demora
demais para o meu gosto e Emilie me olha com aqueles olhos enormes.
— O que há de errado, Don? — Mordo o lábio.
— Nada — minto, puxando seu corpo contra o meu —. Acho que vi um
paparazzi.
O carro finalmente chega, enquanto digito uma mensagem rápida. Eu a
apresso a entrar no veículo, preciso tirá-la daqui e levá-la para casa com
segurança. Olho para os edifícios... Kain tem uma tendência de andar nas
alturas. As vans de segurança saem uma após a outra na rua, cobrindo meu
carro esportivo, guiando-nos.
Roth está no estacionamento do cassino nos esperando, quando todos nós
freamos de repente. Emilie está hesitante e não entende o porquê não posso
responder, não agora.
— Leve-a para casa — ordeno, saindo e sacando minha arma.
— Don! — grita Emilie do seu lado.
— Kain esteve com ela, ele a teve na sua frente!
— Acalme-se — pede Roth sereno —. Resolveremos isso. Não ganhará
nada sair procurando-o agora.
— Mate-o — rosno. Emi contorna o veículo, jogando-se em meus braços.
— O que há de errado, Don?
— O rapaz no banheiro... É Kain, irmão de Vladimir. O lenço com as
iniciais de MV significa Máfia Vermelha — explico, envolvendo seus
ombros. Que se dane que meus homens nos vejam!
— Dominic...
— Não se preocupe, não permitirei que se aproxime de vocês, entendeu?
Emilie entrelaça nossas mãos, que levo aos meus lábios. Qualquer um que
tentar machucá-la... Deve passar pelo inferno primeiro.
Dominic tem tudo, amor, sua famiglia e o poder sobre seus homens.
Demonstrando seu domínio na máfia, lealdade para com os seus e a entrega
total a sua esposa.

Tem tudo ou talvez... Nada?

Serão capazes de sobreviver unidos contra seus adversários?

O poder tem um preço... Um que Dominic pagará muito caro.


Biografia do autor

Grislanddy L. Hernández nasceu em 27 de maio na República


Dominicana, é uma mulher apaixonada pelo romance, o que a motivou a
escrever. De sua predileção por roupas escuras, nasceu seu pseudônimo:
Gleen Black.

Aos oito anos descobriu sua paixão pelas letras, deixando-se envolver em
um mundo de fantasia com sua primeira história lida.

Para ela, nada como escrever de pijama, colecionar post-it e preenche-los


com suas frases extraídas de seus livros favoritos. Um mural e seu esposo são
fieis testemunhas dessa pequena fascinação, ama colar essas frases e revê-las
para reviver as histórias e seus personagens.

É mãe de dois filhos, mora na Big Apple, rodeada de amigos e familiares.


Amante da natureza, é fã das redes sociais e adora escrever e ler no inverno
com uma xícara de café e milhares de ideias.
AGRADECIMENTOS
Obrigada a todos os leitores, que inspiraram para que essas histórias
continuassem. Graças a Deus, porque apesar de todas as provas me guiou por
todo o caminho. Agradeço a minha família, sem eles seria difícil sentar e
registrar a vida desses garotos.

Agradecimentos especiais à minha editora Isaura Tapia, sem você nada


seria possível. Ao editorial Blanco & Negro, por dar-me a oportunidade de
levar meus livros a outro nível. Seu profissionalismo e dedicação não têm
limites. Denisse Lopez, meu novo anjo, bem-vinda ao time das
Superpoderosas.
Dayah suas capas são arte, eu te amo minha loira.

Graças aos Bookstagramers, vocês me criaram, confiaram em mim essas


ideias malucas e me deram seu apoio @locas_x_la_lectura_romantica,
Cecilia de Divinas Lectoras, Nanda de adictasLatinasdelalecturaerotica
@amorporloslibros62, @bookcover, @historya527,
@tengoganas_cresino_cresino_cresino_cres, @book_window,
@aryan_b_reader, @editoradelibros e
@we.are.bibliophiles#youaremyperson#MyMeredith. Lucy e as meninas da
Leitura Conjunta@Lucy_amante_de_la_lectura.

Aos meus Betas, Leidy, Marisol e Cecilia.


@LoveKiss nosso distribuidor autorizado no México. Obrigado, ser parte
de seus autores e cada detalhe seu deixa meus dias felizes.

Irmã mais velha, Marisol Morán, obrigada, seu amor e compreensão


constante conseguiram mudar minha vida. Minhas Gleenlunáticas, eu as amo.
Suas mensagens no WhatsApp, IG e FB me dão vida, isso é para vocês.

Obrigada a você por chegar até aqui. Não se esqueça de deixar uma
mensagem em alguma das minhas redes sociais me contando sua experiência
com as minhas obras, pois a sua opinião é muito importante para mim.
Até a próxima, Gleen Black.
REDES

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Grupo FB: Gleen Black Books
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Instagram: @gleenblack_author

[1]
Homem feito.
[2]
Chefe da máfia russa.
[3]
[4]
Americana louca.
[5]
[6]
Minha rainha.
[7]
Estou aqui, tenho a minha rainha. Sempre… Eu lhe darei um milhão de filos, por
favor não chore mais.
[8]
Pequena.
[9]
O amor o condenará e trarei o fogo do inferno à sua porta.
[10]
É aqui estarei, querida.

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