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PRÍNCIPE
DE MANHATTAN
Livro 1
VANESSA R. R. HART
Copyright © 2018 by Vanessa Hart
Estava na varanda da minha casa quando meu celular vibrou em meu bolso.
Um sorriso involuntário surgiu em meu rosto quando vi o nome no visor: era a
minha irmã caçula, Carly.
— E aí, pitica?
Ri com a ansiedade em sua voz. Além de Jack, Carly era a minha melhor
amiga. Ela era três anos mais nova do que eu, e uns bons trinta centímetros mais
baixa. Enquanto eu chegava perto dos dois metros de altura, ela mal passava do
um e sessenta. Dizia-me que não era pitica, que tinha uma estatura mediana, e eu
que era o gigante da história.
Ela soltou um som nada educado do outro lado da linha, fazendo-me rir.
Virei a chave e abri a porta da entrada, quando escutei um som vindo do quarto
de casal. O meu quarto e de Lara.
Na época, eu era tão inocente que nem considerei a hipótese de que minha
namorada perfeita não era tão perfeita assim. Achei que fosse um ladrão
vasculhando a suíte. Deixei as compras ao lado da porta e prendi o celular entre
a cabeça e o ombro.
Entrei devagar, tomando cuidado para não fazer barulho, quando escutei um
grito vindo do quarto, comprovando que minha casa não estava sendo assaltada.
Queria eu que estivesse. Teria sido menos doloroso.
— Caralho! — Uma voz familiar gritou. — Assim eu vou gozar na sua boca!
Era um idiota de vinte e poucos anos, então, uma mulher que dava um
boquete de excelente qualidade parecia ser o suficiente para colocar um anel em
seu anular esquerdo.
Ela devia ter percebido, devia ter reconhecido a voz dele também, mas a
ficha dela, assim como a minha, ainda não tinha caído. Eu precisava ver com
meus próprios olhos, e Carly precisava ouvir a revelação dos meus lábios.
O trajeto da entrada até a suíte principal não tinha mais do que dez metros,
porém, naquele momento, pareciam ser quilômetros de distância. A porta estava
entreaberta, e eu vi a cena no momento em que o filho da puta estava se
aliviando na boca da minha ex-quase-noiva.
***
Dias Atuais...
1
Levi
Isso estava se prologando demais! Queria que aquela merda acabasse logo.
— Miau!
Esta era a terceira mulher que ele comia só esta semana. E ainda era terça-
feira, porra!
Paguei caro, como tudo em Manhattan, mas era uma mixaria se comparado
com os lixos que eu tinha visitado por preços exorbitantes. Eu dei sorte porque
um dos meus clientes tinha acabado de se divorciar da mulher, um mês depois de
ter terminado de reformar o imóvel inteiro e comprar todos os móveis.
Ela o tinha largado por um bilionário árabe que cagava petróleo. Meu cliente
ficou tão estarrecido que deixou tudo exatamente como estava no apartamento:
os móveis, os eletrodomésticos, até mesmo os talheres. Queria alguém que
pudesse lhe pagar rapidamente, e esse alguém fui eu.
Estava trabalhando no portfólio de um novo cliente, Dan Elliot. Ele era uma
estrela em ascensão em Hollywood, um pouco como eu em Wall Street. Dois
anos antes, eu e Jack tínhamos saído de um dos maiores bancos de investimentos
do mundo para montar nosso novo negócio.
Muitos dos clientes que nós tínhamos no nosso antigo trabalho nos seguiram
para a nossa nova empresa, porém, eu queria consolidar nossa posição com
novos clientes. E Hollywood poderia ser nossa caixinha de dinheiro. Todos
queriam uma fatia das fortunas dessa indústria, mas era difícil conseguir os
contatos certos.
Agora, pelo menos, tudo havia retornado para o maravilhoso – e raro – silêncio,
então eu poderia me concentrar de novo.
Foi quando a minha outra vizinha, a maluca que nunca saía de casa, colocou
uma merda de uma música clássica nas alturas.
Eu sabia que não adiantaria de nada dizer “por favor” depois do “porra”, mas
eu tinha perdido o controle da minha boca àquela altura.
— E aí, Levi?
Em geral, eu tentava convencer meus clientes que o ideal era ter o portfólio
mais diversificado possível, tanto em termos de segmentos em que poderíamos
trabalhar como em níveis de risco. Eu gostava de recomendar que investissem
entre dez e trinta por cento de seus montantes em ações de risco maior, porque o
retorno compensava.
— Perfeito, Dan. Estava estudando aqui a Rich Tech e acho que pode ser
uma boa opção.
— Combinado.
Se não queria que eu escutasse, deveria ter feito o telefonema dentro do seu
apartamento.
— Sr. Rider?
Olhei para o lado; um dos porteiros, Joe, estava me observando. Ele já havia
passado dos sessenta havia alguns anos, tinha uma pança considerável e costas
que o faziam gemer de dor sempre que precisava se levantar para abrir a porta
para algum morador.
Assim que me mudei, percebi que Joe era um daqueles porteiros que adorava
uma fofoca. Apesar de ter alguma preocupação em sua face, eu notei como seus
olhos escuros moviam-se da porta da minha vizinha para mim, curiosos para
saberem o que se passava.
O quê? O vizinho que ficava transando aos berros na sala que dividia parede
com meu apartamento estava reclamando do barulho que eu estava fazendo?
***
Porra, depois de tanto miado ela ainda estava pronta para outra?
Não que eu fosse topar qualquer coisa com ela. A mulher era bonita para os
padrões atuais, claro: um par de peitos siliconados, pele bronzeada
artificialmente, cabelo tingido de ruivo, e olhos azuis. Porém, o que me atraía no
sexo oposto era outra coisa: inteligência. E a Madame Miau parecia ser o tipo de
mulher que não sabia juntar uma frase.
Na realidade, a forma como ela me olhava dizia que ela topava trepar com
qualquer um que tivesse dinheiro e um corpo decente. E eu sabia que meu corpo
era bem acima da média: adorava pensar nos meus números enquanto corria e
malhava, então eu fazia ambos com frequência diária.
Fiquei com medo, por um momento, de que Joe fosse ter um ataque cardíaco
com aquela visão grotesca. Aí o momento passou quando ele encarou os peitos
da mulher desavergonhadamente.
— Que é isso, cara? Vou ter que chamar a polícia? — James disse, parecendo
estar entorpecido.
— Vamos ligar, sim! Inclusive, vou pedir para eles trazerem cães
farejadores! — James ficou pálido com o meu comentário. — Quem sabe o que
eles vão achar quando chegarem aqui?
— Imagina, amigão. Vamos deixar para lá desta vez — ele finalmente disse,
com a voz trêmula.
— Pode pedir a Parker — comentei. — É por causa dele que você subiu.
A Sra. Smith comentara, quando nos conhecemos, que a moça não saía do
seu apartamento, porém, eu não tinha dado ouvidos. Talvez houvesse alguma
verdade no que ela dizia.
Filho da mãe. Sabia qual era o joguinho de Joe. Ele não me ofereceria mais
nenhuma informação se eu não lhe desse gorjeta.
Puxei-o para o meu apartamento, e lhe dei uma nota de dez dólares.
— E?
— Nunca?
Três anos? Ela era o quê, uma das mais procuradas pela CIA? O que poderia
fazer alguém ficar mais de um dia inteiro presa em um apartamento? E ela
parecia saber alguma coisa sobre investimentos de alto risco, com base no
bilhete que havia me passado.
— Você já a viu?
— Não. — Para um fofoqueiro como ele, devia ser uma decepção não poder
vê-la. A Srta. Westbrook devia ser uma lenda no prédio. — Apenas Karl entra no
apartamento dela, quando algum reparo precisa ser feito.
Karl era o cara da manutenção do prédio. Ele era antipático, ranzinza, mas
bom pra cacete. Eu tinha encomendado um armário quando me mudei: contratei
um cara por duzentos dólares para montá-lo, Karl me disse que fazia por
cinquenta e deixou tudo pronto em menos de uma hora.
Ele era foda. Por isso, apesar de seus resmungos e mau humor, todos do
prédio davam gorjetas gordas para ele. Para o desespero e inveja dos porteiros
inúteis.
Ele esperou por mais dinheiro. Nova pergunta, nova informação, nova
gorjeta. Dei mais dez dólares para ele. Eu tinha que ganhar muito dinheiro para
poder continuar morando nesta merda de prédio. Daqui a pouco, gastaria tanto
com gorjetas quanto com despesas do apartamento.
— O mesmo que o senhor, creio — ele confirmou minhas suspeitas. Será que
ela estava me espionando? — É a Princesa de Wall Street.
Por algum motivo ridículo, fiquei com um certo ciúme do título que Joe dera
para ela.
— Claro. Você me disse que com o que ganhou vai pagar a faculdade do seu
filho — repliquei, sentindo-me o foda do pedaço.
— Ah. — Ele virou-se para sair, mas eu segurei seu braço. — Ela também
lhe enviou um bilhete falando no que deveria investir?
***
2
Carly
“Blue eyes
Baby's got blue eyes
Like a deep blue sea
On a blue blue day”
“Olhos azuis
Meu amor tem olhos azuis
Como o azul do mar profundo
Em um dia triste, triste”
Não apenas meu irmão mais velho tinha me dado um imóvel, como ele
também tinha me ajudado com as despesas da faculdade. A herança que mamãe
deixou para mim não foi suficiente para todos os gastos, e o inútil do nosso pai
nos havia abandonado quando eu tinha oito anos.
Porém, apesar de Levi ser o melhor irmão do mundo, ele certamente era um
dos piores decoradores. Ele tinha deixado seus móveis para trás, já que seu novo
apartamento, uma cobertura chique pra cacete na Madison Avenue (para a qual
ele ainda não havia me convidado, diga-se de passagem) foi comprado já
decorado.
O que dizer do estilo de Levi? Bem, ele claramente não passava um segundo
sequer pensando em seu estilo, porque era inexistente. Seu apartamento, apesar
de ter um potencial enorme, não parecia ter recebido qualquer atenção sua.
Era verdade que eu, uma médica residente, ainda não tinha condições de
gastar muito dinheiro, mas, como o imóvel estava em meu nome, tinha valido a
pena deixá-lo mais estiloso.
E quem era Dr. Richard Davis, alguns poderiam perguntar? Bem, ele era o
meu futuro marido.
Estava tão animada que nem reparei alguém chamando meu nome até uma
mão me segurar pelo ombro. Era a Jessica, uma das minhas enfermeiras favoritas
do hospital psiquiátrico onde eu fazia a residência. Ao longo dos anos, ela se
tornou uma grande amiga também.
— Diga.
— Então, eu soube que você ficou responsável pela seleção do novo
segurança.
— Ah, não sabia que ele era seu primo — eu tinha visto o nome dele na lista
de candidatos.
— Pois é... — ela parecia sem graça com alguma coisa. — É que... Ele já foi
preso.
— Hum...
Aquilo era ruim. Eu não tinha problemas com ex-presidiários, desde que não
tivessem sido presos por crimes violentos, uma vez que não era aconselhável
pessoas com potencial de agressividade cuidarem da segurança de pacientes
psiquiátricos.
Infelizmente, meu diretor era bastante elitista, e não era tão compreensivo
quanto eu. Era muito fácil para alguém que nasceu em berço de ouro e jamais
passou por qualquer necessidade julgar quem havia vindo da margem da
sociedade.
— Porque o Javi sempre conta sobre o passado dele. Ele não gosta de manter
esse tipo de segredo — ela explicou. — Mas ele foi preso por uma estupidez de
adolescente: ficou bêbado com uns amigos e resolveu roubar uma Ferrari. Claro
que foi pego menos de vinte minutos depois....
Já gostei do cara. Ele poderia fingir que jamais tinha ficado em qualquer
instituição para adolescentes, mas preferia ser honesto, mesmo que isso lhe
custasse o emprego.
— Olha, não posso garantir que ele vá ser selecionado, mas também não vou
reprová-lo por algo que ele fez quando era adolescente, tá?
Jessica era uma das melhores funcionárias. Ela jamais falaria tão bem de um
candidato se não acreditasse que ele era excelente, mesmo sendo seu primo.
Apenas uma observação: a mão dele era grande, e macia, e muito firme.
Claro que passei a imaginá-la percorrendo meu corpo, aqueles dedos longos e
morenos entrando na minha...
Claro, não era ele quem estava com a periquita pegando fogo.
— Escreva uma redação, por favor — pedi, pegando um papel e caneta que
estavam em cima da mesa.
A voz dele tinha ficado ainda mais rouca e sexy ou era impressão minha?
Enquanto ficava focado em seu trabalho, eu notei que ele era ainda melhor
do que Ricky Martin: era bem mais musculoso. Só de escrever os músculos de
seu braço praticamente pulavam. Ele estava forçando, não era possível.
Olhei para a ficha dele, tentando buscar inspiração para fazer uma entrevista
profissional e adequada. Assim que ele terminou a redação, decidi que eu estava
pronta, e voltei a encará-lo.
Puta que o pariu, os olhos do cara eram sensuais. Parecia que ele transpirava
sexo.
— É casado?
Que merda de pergunta era aquela? Ele deve ter se feito a mesma questão,
porque apenas me encarou, com as sobrancelhas negras arqueadas, os olhos
escuros me observando intensamente, como se buscassem entender o que se
passava na minha cabeça.
Bem, o que se passava eram muitas cenas de posições que poderíamos fazer
em cima daquela mesa.
Carly! Céus, eu não ficava daquele jeito por causa de um homem havia
tempos, desde que tinha visto Chris Hemsworth pela primeira vez naquele filme
de super-herói. Comecei a ler histórias em quadrinho da Marvel só por causa
dele.
Ricky Martin Junior já estava com um meio sorriso irônico nos lábios
perfeitos.
— Não tenho esposa. Nem namorada — a língua dele passou pelos lábios, e
eu os encarei descaradamente. — E a doutora, como faz para conciliar os
horários do hospital com seu namorado?
— Quem faz faculdade de medicina sabe que vai precisar aturar alguns anos
de residência — enfim consegui dar uma resposta que era educada e, ao mesmo
tempo, não dava abertura para ele fazer outras perguntas pessoais.
— Malha muito?
Ele poderia me processar apenas por causa daquela pergunta idiota. Para a
minha surpresa, ele gargalhou: uma gargalhada masculina, sonora e cheia de más
intenções.
Eu não poderia reclamar daquela indireta, uma vez que fui eu quem começou
com toda a paquera. Levantei-me e olhei pela janela, para a rua movimentada,
tentando relaxar um pouco.
Olhei para ele pelo reflexo da janela, e o notei virado para mim, me
analisando de um jeito nada profissional. Movimentei-me para encará-lo de
novo, deixando meu rosto expressar a minha irritação, mas ele não levantou o
olhar.
Senti meus mamilos endurecendo sob os olhos negros de Javier. E ele estava
sorrindo? Cruzei os braços, escondendo a fonte de felicidade dele, obrigando-o a
olhar para o meu rosto.
Devia ter perdido o interesse: afinal de contas, não era do meu feitio ficar
interessada em um cara que eu acabara de conhecer e que era claramente um
safado.
Mas eu não conseguia parar de pensar como ele deveria ser na cama...
Limpei a garganta. Depois, de novo.
Ele se levantou, apertou a minha mão, e agradeceu pelo meu tempo. Quando
chegou à porta, virou-se para me encarar de novo.
Devagar, retornei à cadeira, e foi quando notei a redação que ele havia
escrito. Ele escrevera a letra da canção Blue Eyes, do Elton John. Era uma das
minhas favoritas: mamãe costumava dizer que os olhos azuis sobre os quais ele
cantava eram os meus.
Por que Javier Rodriguez não era gay como seu clone?
***
3
Levi
— Vejam se não é o homem da vez! — Jack Mills, meu melhor amigo e sócio
na firma, entrou no meu escritório de braços abertos.
Sete anos antes, nós tínhamos começado um negócio de café com a minha
ex. Quando eu a peguei com a boca na botija – ou, melhor dizendo, no pau do
amante – eu e Jack consideramos as nossas possibilidades.
Eu e Jack, por outro lado, tínhamos feito ótimo proveito do nosso dinheiro.
Reinvestimos o montante e, quando havíamos faturado o suficiente, usamos para
abrir nosso fundo de investimentos. Jack cuidava de toda a parte administrativa
(que era foda, diga-se de passagem), enquanto que eu encabeçava a área que
lidava com nossos clientes e, de fato, fazia os investimentos.
À medida que íamos ganhando mais dinheiro para nossos investidores, novos
clientes surgiam. Claro que havíamos perdido um pouco também, mas as perdas
sempre eram compensadas pelos ganhos.
Não, nem todas as empresas que investiam na bolsa ficavam em Wall Street.
Atualmente, apenas as maiores e mais ricas tinham condições de ter escritórios
naquela região.
Dei um abraço no Jack; ele estava comemorando os ganhos que tivemos com
as ações da Rich Tech. Demorou quase um mês para as ações subirem conforme
eu havia previsto, mas o aumento ocorrera, e ganhamos outras duas contas
milionárias no processo.
Eu tinha lido tudo sobre as ações da LogMed nos últimos dias, tentando
entender como a Srta. Westbrook havia adivinhado que elas subiriam tanto.
Todos os analistas financeiros de Wall Street estavam tão surpresos quanto eu.
Como uma mulher que nem sequer saía de casa poderia saber mais do que todos
nós?
Mas não fazia sentido, porra! Eu não era o melhor apenas com base nos
meus instintos. Eu era o melhor porque eu era muito dedicado. Muitos, inclusive,
me chamavam de viciado no que eu fazia. Eu estudava os dados, analisava-os
com profundidade, não deixava passar um detalhe sequer.
Como ela pôde ter visto mais do que eu? Eu apenas me permitia ir à
academia uma hora por dia e me aliviar com alguma das minhas parceiras de
cama uma ou duas vezes por semana. Desde criança, sempre dormi pouco,
menos de seis horas por noite.
Passei a mão pelos cabelos, dando-me conta de que não transava havia mais
de uma semana. Eu passei tanto tempo pensando na porcaria da vizinha que eu
jamais tinha visto que sequer tive tempo de buscar alívio.
Mandei uma mensagem para Lena. Ela era uma psicóloga bem gostosa que
eu havia conhecido em um evento chato de um cliente que não consegui faltar.
Ela respondeu alguns minutos depois, dizendo que me esperaria no apartamento
dela às oito da noite.
O pôr do sol seria em alguns minutos, mas eu tinha muita coisa para ler antes
de sair. Jack ainda estava em frente à minha escrivaninha, um sorriso estampado
em sua face.
— Não posso.
— E veja se não pega a estagiária nova, Jack. Não quero ser processado por
assédio sexual — avisei seriamente.
— Então vou ter que demiti-la, porque mal posso me segurar, Levi.
— Estou pouco me importando com o que vai fazer: só não pode comer
funcionária.
Desde Lara, eu tinha aprendido a lição. Não apenas não me apaixonava por
ninguém como também controlava a minha atração. Não via as mulheres do
escritório como mulheres, e sim como colegas de trabalho.
Uma vez, passei um final de semana inteiro transando com uma estudante de
finanças que conheci em um bar porque ela era uma fera em economia. Toda vez
que ela abria a boca, eu ficava duro. E ela nem era bonita.
Talvez fosse por isso que eu não conseguia parar de pensar na Srta.
Westbrook: não tinha ideia se ela parecia a Scarlett Johansson ou a Bruxa Má do
Oeste, mas eu estava interessado só de saber que ela fizera uma escolha melhor
que a minha.
Merda. Fiquei com uma ereção que quase estourou meu zíper só de pensar
que a Srta. Westbrook poderia ser melhor que eu na Bolsa de Valores. Peguei
meu casaco, torcendo que ele escondesse minha situação, e fui até a casa de
Lena antes do horário combinado.
***
A resposta dela naquela escrita elegante trouxe um sorriso aos meus lábios.
Inteligente e com um humor ácido. A cada nova interação, eu gostava mais dela.
Acelerei o vídeo até a parte que estava passando quando eu cheguei. Não
tinha nada a ver com a bolsa de valores. Era uma notícia de um cara que tinha
fugido do hospital psiquiátrico onde Carly fazia residência. Provavelmente, outra
coisa a havia assustado.
Mandei uma mensagem para Carly, perguntando se estava tudo bem com ela,
e sobre a identidade do paciente, já que o noticiário não passou aquela
informação. Estava esperando pela resposta dela, quando o meu interfone tocou.
O que era agora? Atendi meio puto, meio curioso, mas jamais imaginei quem
seria a pessoa do outro lado da linha.
— Sr. Rider?
Puta que o pariu. Era ela. Consegui reconhecer sua voz apenas por causa do
grito que ouvi mais cedo.
***
— Posso ajudá-la com algo, Srta. Westbrook? — Torci para que ela dissesse
que estava me esperando nua em seu apartamento.
Ela devia saber que eu não havia investido na companhia que ela sugerira.
— Sabe que não, Rapunzel — sem querer, usei o apelido que havia criado
para ela, já que não sabia qual era seu nome.
Ah, então ela estava interessada. Por que outro motivo saberia aquilo ao meu
respeito?
A Forbes tinha feito uma reportagem sobre a nossa firma e os sócios um ano
atrás. Claro que, como nem eu ou Jack éramos casados, eles fizeram questão de
salientar como éramos partidos desejáveis.
— Deve ter seus processos para escolher seus investimentos, Sr. Rider. Eu
tenho os meus.
Ela ficou muda do outro lado. Merda! Ainda não era hora de fazer aquela
pergunta. O problema era que a questão andava coçando a minha garganta desde
que eu conversara com o Joe.
Não consegui tirar uma palavra sequer de Karl, nem quando lhe ofereci uma
nota de cinquenta, então teria que entender as razões para ela se prender em seu
apartamento da boca da própria.
Foi assim, com uma frase, com cinco palavras, que eu compreendi: algo
muito sério acontecera a ela. Sério o bastante para fazê-la se trancar em seu
apartamento.
Eu sabia que fazia no mínimo três anos. Ela fez outra pausa antes de
responder:
— Cinco anos.
Continuava pensando nela quando fui dormir. A Srta. Westbrook não era só
inteligente. Ela tinha a voz mais feminina e sexy que eu já escutara na vida.
***
4
Carly
Hoje, por exemplo, fiquei muito incomodada quando seu pai exigiu ficar a
sós com ele. Ia contra todas as nossas regras. Porém, como meu diretor sempre
nos lembrava, a área VIP praticamente sustentava o St. Patrick, então todos os
seus pacientes eram exceções, não a regra.
Javier, que estava do lado de fora da sala de visitas, notou meu incômodo
quando eu deixei pai e filho a sós. Ele parecia notar tudo o que se passava
comigo. Devo admitir que era difícil manter a concentração no meu trabalho
quando ele estava por perto.
Quando o juiz Flynn finalmente foi embora, o turno de Javier estava no fim.
Chegava a ser ridículo como eu já havia decorado seus horários, apesar dele
estar trabalhando no hospital havia poucas semanas.
Ele me perguntava aquilo o tempo inteiro. Não parecia nada demais: uma
pergunta inocente e natural de um funcionário para uma das médicas de seu
departamento.
Era a forma como ele fazia a questão: o tom de sua voz, rouca e cheia de
segundas intenções; seu olhar, que viajava pelo meu corpo como se me
imaginasse sem roupa; seus lábios, que se curvavam em um sorriso preguiçoso e
sensual.
— Não. — Meu tom foi mais firme daquela vez, mas minhas bochechas
ardendo com uma mistura de desejo e vergonha entregaram o que se passava na
minha cabeça.
— Que pena. Estava louco para saber se a doutora ia querer companhia para
o fim de semana.
***
— Pena que não dá para apresentar para a família — Melissa replicou, como
sempre venenosa.
Pobre Brenda. Ela era tão inocente. Tinha uma alma pura e, por isso, não
enxergava como a de Melissa era podre e cheia de preconceitos.
Não aguentei.
— Pois eu acho que mulheres como nós merecem coisa melhor do que um
segurança porto-riquenho.
Vaca venenosa.
Estava prestes a perguntar se uma mulher que abria as pernas para pelo
menos três médicos do hospital não tinha nada melhor para fazer – ou alguém
para quem se oferecer –, quando outra voz me surpreendeu.
— Pois eu acho que você está é recalcada porque o meu primo não te deu
nenhum mole — Jessica disse secamente, saindo de um dos cubículos e
caminhando lentamente até a pia.
Minha amiga, no entanto, não era facilmente intimidada. Nem mesmo por
uma cobra venenosa.
— Não foi você quem começou a enviar mensagens para ele no meio da
noite? — Eu e Brenda precisamos segurar a risada. Se tinha algo que Melissa
valorizava, era o próprio ego. — E também notei que seus decotes têm sido bem
mais ousados nos últimos dias...
Senti como se uma corrente elétrica tivesse passado pelo meu corpo.
— O que ele queria saber? — Claro que tentei soar casual. Óbvio que não
consegui.
— Ele estava louco para saber se você era solteira, sobre os seus gostos,
coisas assim...
Merda! Mais uma vez, não consegui disfarçar meu interesse na conversa
deles a meu respeito.
— Ontem, nós saímos para beber no lugar favorito dele, a Casa Latina.
Depois que ele ficou alto, começou a falar da entrevista de emprego...
— Ai, merda.
— Não se preocupe, eu não vou contar para ninguém. Mas claro que vou te
zoar pelos próximos dez anos.
— Ai, merda.
Não resisti: gargalhei junto com ela, apesar de saber que estava
completamente ferrada. A cada dia que passava, ficava mais difícil manter a
postura profissional perto do primo dela.
O pior era que a atração estava crescendo por conta da personalidade dele
também. Javier não era apenas gato e gostoso: ele era muito simpático com todos
os funcionários, desde os diretores aos faxineiros; ele era incrivelmente gentil
com os pacientes, mesmo os casos mais complicados, e ele era discreto em
relação às mulheres.
Eu detestava homens que ficavam dando em cima de todas, como alguns dos
médicos mais metidos faziam.
— Pelo menos, hoje ele não está mais aqui para me distrair.
— Engraçado, ele fala o mesmo de você. Veio me dizer, no outro dia, que
está louco para saber qual é o seu perfume, para ele poder esparramar na
almofada dele.
***
5
Carly
— Preciso voltar para o meu posto, Javier. O seu plantão já terminou. O meu,
não.
— Sei que está no seu intervalo.
Como nosso hospital não tinha emergência, não era sempre que tínhamos
plantões dobrados de vinte e quatro horas. No entanto, às vezes era necessário
mais médicos do que o normal, quando havia novas admissões, por exemplo.
— Mesmo assim...
Eu tinha que fazer alguma coisa. E rápido. Precisava usar algum argumento
elaborado e inquestionável para acabarmos com aquele absurdo agora mesmo.
— E?
Foi tudo o que eu consegui dizer. Sim, anos e anos de faculdade para sequer
conseguir formar uma frase numa hora daquelas.
Seus lábios brincaram com a minha pele, e senti-a queimando onde ele me
tocava. Era difícil pensar com aquela boca me provocando, as mãos me
segurando firme, o corpo musculoso contra o meu.
Não, não e não! Eu tinha que salvar nossos empregos, já que ele não parecia
preocupado o suficiente com eles.
A resposta dele foi levantar meu quadril, para que a minha bunda ficasse na
altura do gigante acordado dele. Nossa, ele era bem proporcional...
— Se eu perder o emprego, vai ter valido a pena. Pelo menos, vou tê-la na
minha cama.
Porra, ele estava me matando. Mesmo. As mãos gigantes dele invadiram meu
jaleco. Eu usava uma camiseta de algodão por baixo, com um top confortável,
para eu aguentar o longo plantão.
Seus dedos ágeis encontraram a barra da blusa e passaram por baixo. Soltei
um gemido nada discreto quando senti sua mão quente sobre a minha pele, e
quase tive um orgasmo quando eles chegaram aos meus seios.
— Javi... Para... — eu arfei de um jeito que implorava para ele não parar.
— Quer que eu pare, doutora? É por isso que está esfregando sua bundinha
gostosa no meu pau?
— Um final de semana — ele puxou meu lóbulo entre seus dentes, enquanto
continuava me enlouquecendo com seus dedos especializados em deixar uma
mulher muito molhada. — É tudo o que eu peço.
O problema era que a parte racional do meu cérebro estava sendo esmagada
pela parte que queria acabar com as teias de aranha lá embaixo. Afinal de contas,
nos últimos anos, além de muito seletiva com os homens, eu não tinha tempo
para praticamente nada, em meio a estudos, a residência e o novo apê.
— Foda-se — ele me puxou para junto dele de novo, e tornou a atacar meu
pescoço e meus seios.
Eu precisava de muita ajuda dele. Mas não era no hospital, e sim na minha
cama. Claro que não diria aquilo em voz alta.
***
Quando eles se moveram para falar comigo, vi que a pessoa estirada no chão
era Mike, o segurança que tinha ficado no lugar de Javier. Mãos pressionavam
um tecido sobre a lateral de seu pescoço, que estava encharcado de sangue.
Quem tinha uma faca? Logo eu descobriria a resposta para esta questão da
pior forma possível. Senti um braço me puxando para trás, uma lâmina fria
pressionando meu queixo.
Robert Flynn. Como ele tinha conseguido uma faca? Nem mesmo nós, da
equipe médica, andávamos com qualquer objeto cortante exatamente para evitar
este tipo de situação.
— Robert — Jim, o terceiro enfermeiro, levantou-se devagar, um molho de
chaves em sua mão. — Pode levar as chaves. Mas deixe a Dra. Rider ir, por
favor.
Como eu tinha medo daquele homem, de tudo a respeito dele. Agora, minha
vida dependia da decisão que ele tomaria a seguir.
— Tome, Robert. — Jim jogou as chaves no chão, que deslizaram até os pés
do meu pior paciente.
Todas as alas tinham uma salinha onde guardávamos alguns kits de primeiros
socorros e remédios mais básicos para os pacientes. Precisava de um kit para
ajudar Mike. E precisávamos alertar o hospital que Robert estava armado.
— Não — respondi com firmeza. Ele era um homem com muito ódio e
agressividade acumulada, era esperto, e estava no hospital havia anos, então o
conhecia melhor do que a maior parte da equipe. Não era mera coincidência ele
ter nos atacado menos de uma hora depois do turno diurno terminar. Ele sabia
que haveria poucas pessoas para interceptá-lo à noite. — Porém, vamos tentar
garantir que ele não machuque outra pessoa em sua fuga.
***
Já eram quase três da manhã quando, enfim, o diretor da ala VIP e o pai de
Robert decidiram parar as buscas. Eles retomariam com uma equipe formada por
alguns detetives particulares contratados pelo hospital e algumas pessoas de
confiança do pai de Robert.
— Como ele arranjou uma faca? — o juiz se dirigiu a mim e aos três
enfermeiros que estavam na ala VIP no momento do ataque em um tom
acusatório.
— Alguém de fora deve ter conseguido entrar! — Mais uma vez, aquele tom
indicando que devíamos ter errado de alguma forma.
— A única pessoa que o visitou esta semana foi o senhor, juiz Flynn —
devolvi seu tom acusatório.
— Está dizendo que eu dei uma faca ao meu filho esquizofrênico? — Ele
ficou imediatamente vermelho de raiva.
— Claro que não e... Merda — ele pareceu dar falta de alguma coisa.
Merda, mesmo.
— O que foi? — Meu diretor enfim percebeu que isso poderia ser uma falha
de segurança do próprio juiz e que, portanto, havia uma chance ínfima não
sermos processados.
Claro que ele estava mais preocupado com processos do que com seus
funcionários que foram atacados. Ele sequer havia me perguntado sobre Mike
quando chegou no hospital naquela noite.
Tive que respirar fundo para não esbofetear aquele imbecil e o meu chefe. Eu
tinha avisado. Tantas vezes. Não era certo o juiz poder entrar no hospital sem ter
seus pertences verificados.
E quem pagava o pato por aquele erro dos dois era o pobre Mike. Fiz uma
nota mental para falar com o Jack sobre um advogado para o Mike. Ele tinha um
irmão que era excelente advogado, devia conhecer alguém que pudesse ajudar.
— Mistério revelado — finalmente disse, sem conseguir tirar o ódio da voz.
Os três enfermeiros que me acompanhavam também pareciam estar prestes a
cuspir fogo. — Seu erro quase custou muitas vidas aqui neste hospital, Juiz
Flynn. Mike, nosso segurança, está hospitalizado, perdeu bastante sangue.
Leo e Jim, agora não mais amedrontados pelo juiz desgraçado, deram alguns
passos à frente, formando uma muralha sufocante em volta dele.
Bem feito. O desgraçado tinha que ser mais humilde em suas decisões.
Sabíamos muito bem o que o diretor estava fazendo. Ele estava nos dando
alguns dias de férias extras pagas como um “cala boca”. Eu aceitaria aqueles
dias de merecido descanso, claro. Mas isso não significava necessariamente que
eu deixaria de processá-lo por ter arriscado a minha vida.
Eram três da manhã e, ainda assim, não estava pronta para ficar sozinha.
***
6
Carly
Você me corta e eu
Olhei para o céu: estava começando a clarear. Eu tinha passado o que sobrara
da minha noite tomando todas com Jessica.
— E?
Cara, eu devia estar muito mal, porque comecei a ver tudo dobrado. Havia
dois Javiers na minha frente. Se um já era difícil de resistir...
— Quê?
— Seria tudo mais fácil...
Eu vomitei todo o vinho que havia tomado com Jessica na calçada, nos pés
de Javier.
***
Por último, dei-me conta do mico que eu havia passado naquela mesma
manhã. Nossa, eu tinha vomitado no Javier, ele tinha subido comigo no colo, e
eu tinha apagado antes mesmo de chegar à cama.
Irritada comigo mesma, abri os olhos. Foi quando eu vi. Eu não estava
usando a minha camiseta coberta de vômito. Na realidade, eu não estava usando
muito, apenas calcinha e sutiã. E sequer era o conjunto que eu tinha vestido
ontem, eu tinha certeza.
Sim, minha mãe tinha me criado para ser uma dama, mas a pobre coitada não
conseguiu.
— Eu achei que você ia querer um café e algo para comer quando acordasse
— ele justificou devagar, como se não compreendesse a razão da minha fúria. —
Usei o que tinha na sua geladeira.
— Você se aproveita de uma mulher bêbada e ainda acha que vai compensar
com uma merda de café?
Ele deu alguns passos em minha direção, esticando o braço para me tocar. Eu
recuei. A mão dele ficou alguns segundos no ar, depois caiu ao lado do seu
corpo.
— E você acha que justifica você ter se aproveitado de mim depois que eu
desmaiei no seu colo? — aproximei-me dele, pressionando meu indicador contra
seu peitoral.
Ele segurou a minha mão, tirando o indicador do seu peito. Daquela vez, eu
não me afastei. Estávamos a um passo de distância.
— Também notei — ele inclinou a cabeça para a frente; senti seu bafo
quente contra meus lábios, seu cheiro másculo deixando minhas pernas pesadas
e trêmulas.
— E o resto?
Não sei se foi para me irritar, ou se foi um gesto inconsciente, mas aquele
sorriso de homem sem-vergonha prestes a fazer alguma safadeza retornou aos
seus lábios.
Não havia sido um sonho? Merda! Se eu tinha dito aquilo mesmo para ele,
então eu também tinha feito outras coisas...
— Eu me contive enquanto você tirava a roupa, mas notei que você mal
ficava em pé, então preparei sua banheira e te ajudei a se preparar para o Ricky
Martin.
— Eu tentei colocar pijama em você também, mas você não deixou. Insistiu
em usar apenas calcinha e sutiã e queria que fosse de renda.
— Ai, meu senhor.
— Como é que é?
Ai, meu santo protetor de bêbadas sem noção, por favor não me deixe
desmaiar de novo. Ou pior, vomitar novamente no Javier.
— E você ainda está de calcinha e sutiã, Carlita — ele puxou uma das alças,
aproximando-me dele de novo, seus olhos grudados nos meus lábios. — Já foi
difícil resistir enquanto você tentava tirar a minha calça.
As mãos dele agarraram a minha bunda, e ele esfregou seu quadril no meu,
fazendo que eu sentisse sua ereção sem qualquer pudor. Nossa, como ele era
grande...
— Posso esquecer o que se passou esta manhã, mas certamente não vou
deixar você se esquecer do que vamos fazer daqui em diante.
Como assim? Antes que eu pudesse perguntar de que merda ele estava
falando, ele abafou a minha pergunta – e todo o meu autocontrole – com um
beijo.
***
Os lábios dele eram macios, mas não havia qualquer gentileza naquele beijo.
Era um ato desesperado, como se uma barragem tivesse acabado de ruir,
deixando passar milhões e milhões de litros de água.
Como se eu fosse tão leve quanto uma pluma, ele me levantou, ainda me
segurando pela bunda, e minhas pernas abraçaram seu quadril automaticamente,
como se aquele já fosse um ritual só nosso.
— Não era você que estava toda preocupada com a sua carreira?
Desgraçado!
Eu uivei de prazer. Sim. Uivei. Como uma cadela no cio. Apertei o dedo dele
dentro de mim, e ele riu, uma gargalhada rouca e cheia de segundas intenções,
como se ele soubesse que eu estava na mão dele. Literalmente.
— Você? Desistir? Do jeito que está molhada? Vou ter dificuldade é de sair
de você, doutora, não de entrar.
Em tempo recorde ele tirou a roupa, e mal tive tempo de apreciar o corpo
delicioso dele, quando ele se deitou sobre mim, separou bem as minhas coxas e,
encarando-me intensamente, deixando claro que eu, a partir daquele momento,
seria marcada por ele de forma irreversível, enterrou-se dentro de mim.
Nos dois dias seguintes, ele apenas permitiu que eu deixasse a cama para
tomar banho e comer. E, apesar de ter gozado naquelas quarenta e oito horas
mais do que em anos de relacionamentos, assim que ele deixou o apartamento
para fazer seu plantão no hospital, eu já estava sedenta por ele.
***
7
Levi
— Eu também adoro. Pelo menos uma vez por semana corro no Central
Park.
Era raro termos conversas que não estivessem diretamente relacionadas com
investimentos. Nos últimos dias, entretanto, ela vinha soltando informações
pessoais. Ontem, por exemplo, ela tinha contado que se formara em economia e
tinha um mestrado em Administração de Empresas. Estudou tudo, é claro, à
distância.
— Então invista nas duas — ela rebateu. — Mas saiba que a Patch’s vai dar
mais dinheiro.
Aquela era a terceira vez que ela fazia uma de suas previsões. Nas duas
primeiras, eu preferi apostar as fichas nas minhas próprias avaliações. Daquela
vez, eu seguiria o conselho dela. Não poderia ser arrogante o bastante a ponto de
deixar de ganhar dinheiro para os meus investidores.
Ainda assim, não fui capaz de lhe contar as minhas intenções. Eu era
competitivo pra caralho, não queria jogar a toalha e admitir que ela era melhor.
Uma vez, eu bati punheta enquanto ela me dava um sermão por ser um
babaca arrogante que não fazia os investimentos que ela sugeria. Foi a melhor
gozada do ano. Mal imaginava como seria quando eu estivesse dentro dela.
Jamais havia sentido uma atração daquelas por ninguém, nem mesmo por
Lara. Talvez fosse o fato dela ser a primeira mulher que se recusava a transar
comigo. Porra, ela se recusava a me ver pessoalmente!
Aquela era outra nova rotina nossa: ela começou a colocar músicas em sua
suíte à noite, e me perguntava se eu aprovava sua escolha no dia seguinte.
Adormeci pensando em todas as coisas que eu faria com ela ao som de jazz.
***
Abri os olhos no meio da noite. Não conseguia ver nada em meu quarto, mas
sabia que ela estava ali. Nua. Molhada. Pronta para mim.
Toda vez que eu tentava segurá-la pela cintura, para poder enterrar meu pau
na boceta dela, ela batia nas minhas mãos e se afastava. Então, eu deixei que
ela me guiasse. Eu deixei que ela me torturasse. Mas eu estava chegando
perigosamente no limite.
— Eu quero gozar dentro de você, Rapunzel — consegui dizer, entre
gemidos.
— RAPUNZEL!
***
Meu primeiro pensamento foi que aquele tinha sido o sonho mais real da
minha vida. Porra, meu lençol estava encharcado de suor, e, ao sentir algo
molhado entre as minhas pernas, eu me dei conta de que tinha gozado!
A resposta veio alguns segundos mais tarde, quando escutei um som abafado
de um risinho do outro lado da parede.
Ela gargalhou ainda mais alto, e não consegui resisti e sorri também, que
nem um imbecil.
— Nossa, o sonho deve ter sido bom mesmo, Sr. Rider — ela comentou
sarcasticamente.
Eu tinha dito aquilo também em voz alta? Merda, o que estava acontecendo
comigo?
Saí da cama, tomei uma ducha fria e fui trabalhar no meu escritório. Bem
longe da parede que dividia com ela.
***
8
Levi
“If you're lost you can look and you will find me
Time after time
If you fall I will catch you, I will be waiting
Time after time”
“Se você estiver perdido você pode procurar e vai me encontrar,
Vez após vez
Se você cair eu vou te pegar, eu vou estar esperando,
Vez após vez”
Por mais ricos que nossos clientes fossem, uma coisa era certa: eles nunca
eram ricos o bastante.
Deve ter sido a primeira vez que eu saí do trabalho antes das sete da noite, de
tão animado que estava para falar com Rapunzel. Ela ainda não sabia que eu
tinha seguido o conselho dela, e eu queria preparar uma surpresa.
Sim, sempre fui bom em mentiras, especialmente quando elas eram dirigidas
a mim mesmo.
Ela deve ter ficado muito surpresa com a notícia de que eu investira na
empresa que ela havia sugerido, pois abriu a fenda retangular que ficava na
altura dos seus olhos.
Pela primeira vez, eu vi uma parte de seu rosto; e aquilo já foi suficiente para
me deixar excitado. Ela tinha olhos castanhos. Da cor de chocolate. Redondos,
grandes, encantadores.
— Oi, Rapunzel — minha voz saiu rouca. Merda, ela com certeza saberia no
que eu estava pensando.
— Olá, Levi — eu tinha pedido a ela que me chamasse pelo primeiro nome
alguns dias antes.
Sabia que ela não abriria a porta. Eu estava quase lá, mas ainda não tinha
chegado naquele ponto do relacionamento. Eu dizia a mim mesmo que estava
me esforçando daquele jeito porque valeria a pena levá-la para a cama e que era
só isso.
Deixei a minha surpresa, que estava em um saco de lixo preto, à sua porta.
Entrei no meu apartamento e fui checar pelo olho mágico. Talvez eu conseguisse
vê-la saindo no corredor para pegar o presente.
O que vi, entretanto, foi um braço muito pálido agarrar o saco e puxá-lo para
dentro antes que eu pudesse ver alguma coisa. Segundos depois, meu telefone
tocou.
Assim que abriu o saco, ela gritou. Largou o telefone, mas o deixou fora do
gancho, então pude ouvi-la gritando de alegria pela casa enquanto devia estar
esvaziando o saco.
Eu estava sujo, teria que lavar meu terno novo a seco, mas nada importava:
eu tinha sido recompensado ao ouvir o som de sua voz cheia de alegria.
Deviam ter se passado ao menos dez minutos até ela pegar o telefone de
novo. Eu não tinha me importado nem um pouco: ouvi-la cantarolando e
brincando com as folhas de outono tinha sido um dos sons mais prazerosos que
eu já escutara.
Amanda.
Sim, passar uma hora me sujando no parque tinha valido muito a pena.
***
Naquela noite, eu nem reclamei quando ela colocou música nas alturas. Na
realidade, deve ter sido a primeira noite em muitos anos que eu continuei
assistindo televisão depois de terminar o noticiário.
Era a quinta vez que ela me ligava para dizer aquilo. Não que eu me
importasse. Todas as garotas com quem eu saía gostavam de joias, buquês de
flores elaborados, e jantares em restaurantes exclusivos.
Amanda, que devia ter no mínimo dez vezes mais dinheiro do que eu, mal
podia se controlar por causa de folhas de outono. Eu gostava das prioridades
dela.
— Jamais, Amanda.
Ela deu uma risadinha e desligou. Era cômico como uma mulher inteligente,
independente, e isolada estava alegre como uma criancinha de cinco anos em
noite de Natal.
Vesti calça e casaco de moletom, peguei a carteira e saí antes que pudesse
mudar de ideia. Era meio de semana e quase meia-noite: o restaurante não
demoraria muito para fechar.
Subi a Madison Avenue até chegar à rua 91. Virei a esquerda nela para
chegar à Quinta Avenida. Eu já estava na quadra do restaurante, quando senti
que alguém me observava.
Olhei para trás: havia apenas um cara do outro lado da rua, com um
sobretudo preto e um boné que escondia seu rosto. Ele estava cabisbaixo e não
parecia nem um pouco interessado em mim, então voltei a caminhar
tranquilamente.
Suspendi a cabeça por um momento, apenas para ver quem era o meu
agressor. Era o homem de sobretudo e boné.
Sabia que precisava me manter acordado: minha irmã Carly me ensinara que
o mais importante, numa hora de merda daquelas, era ficar consciente. No
entanto, o cansaço foi mais forte, e me entreguei à escuridão antes de me dar
conta do que estava acontecendo.
***
9
Carly
Meus instintos diziam isso: ele era sexy demais para ser um bom moço.
Deveria ter seguido meu plano inicial e me insinuado para o Dr. Davis, quem,
por sinal, tinha perdido todo o brilho depois que eu fui apresentada à vasta
experiência de Javier na cama.
— Javi gosta de você, eu tenho certeza — Jessica insistiu pela centésima
vez.
E eu sabia que aquilo era um forte indício de que ele tinha me sacaneado
mesmo. Desde então, ele me tratava com um profissionalismo cordial, porém
distante, e eu havia notado que ele ficava especialmente formal quando a Dra.
Peitos de Fora (ela mesmo, Melissa) estava por perto.
Nossa, eu tinha feito aquele comentário em voz alta? Estava ficando meio
obcecada com essa história de Javier. O melhor que eu tinha a fazer era aceitar a
derrota e seguir em frente, desta vez sendo criteriosa de verdade em relação aos
homens.
— Poderia ir hoje comigo à Casa Latina. Javier vai estar lá, e tenho certeza
de que vai adorar te ver fora do hospital.
— Preciso ir, Jess — não queria brigar com a Jessica, principalmente por
causa do babaca do primo dela.
Ela devia ter seus motivos para duvidar das razões por trás do que ele fizera
comigo (pura babaquice, na minha opinião), porém, ele era família, então a
opinião de Jessica a seu respeito era, no mínimo, enviesada.
Dias antes, quando eu admiti que tinha transado com o primo dela nas
principais posições do kama sutra (além de algumas outras criadas pelo próprio
Javier), para ser posteriormente ignorada por ele, ela implorou para conversar
com ele, entender o que estava acontecendo.
Ela tinha certeza que ele teria uma explicação plausível para sua mudança de
atitude. E tinha mesmo: ele já tinha me usado e agora estava me descartando.
Jessica, entretanto, não conseguia enxergar aquela verdade tão óbvia.
Eu estava perdida em meus devaneios emeus planos de vingança contra
Javier quando esbarrei em alguém. Alguém bastante cheiroso, diga-se de
passagem. Porém, seu cheiro era sofisticado e elegante, e faltava aquela
brutalidade máscula de Javier.
Afastei-me para passar em volta dele, quando senti uma mão segurando meu
pulso.
Estranho ao quadrado. O Dr. Davis era bastante formal. Tipo, nem com o Dr.
Perry, que tinha sido seu professor e era amigo de seu pai de longa data, ele
conversava usando o primeiro nome.
— Claro, Richard — sorri discretamente para ele, tentando fingir que aquela
situação era normal. — Precisa de algo?
Ele passou as mãos pelos cabelos claros. Meses atrás, eu daria de tudo para
passar as mãos por aqueles cabelos, enquanto o beijava enlouquecidamente.
Agora, entretanto, apenas pensava em como preferia cabelos escuros e sedosos
como os de...
Maldito clone do Ricky Martin! Se ele não fosse primo da Jess, eu jogaria
uma praga em toda a sua família e seus descendentes!
O Dr. Davis, digo, Richard, limpou a garganta, e foi quando me dei conta de
que ele me encarava como se esperasse uma resposta. Merda, eu não tinha
escutado a pergunta dele!
— Perdão, Richard, estou no final de um plantão de vinte e quatro horas, e
foi bem cansativo... Não ouvi nada do que disse.
— Pois é, era sobre isso que eu queria conversar.... — Sobre o meu plantão?
— Eu venho acompanhando os seus horários, e vejo que hoje é uma das poucas
noites em que teremos uma folga juntos. Então eu pensei que poderíamos sair
e....
Como eu podia não sentir qualquer atração por aquele cara, que semanas
antes era meu sonho de consumo, por causa de um babaca que sequer se dera ao
trabalho de me mandar uma mensagem dizendo que não queria mais nada
comigo?
***
— Que maravilha — Jess disse do outro lado da linha. — Eu sabia que você
ia mudar de ideia. Deixei um vestido pra você no seu armário.
— Estava pensando em ir com a roupa que estou vestindo mesmo — que era,
basicamente, meu uniforme habitual: jeans e camiseta.
— Não, Carly! Tem que ir caliente! O Javi vai adorar o vestido que eu
escolhi para você!
Mal sabia ela que não estava indo para seduzir seu primo, e sim para deixá-lo
azedo de ciúme. Estava rezando para que o pau dele caísse de raiva quando me
visse com o médico mais gato do hospital.
E era para estar mesmo: Richard era um médico discreto, que não dava
qualquer corda para as funcionárias do hospital, nem mesmo para Dra. Melissa
Peitos de Fora Tyler, que vivia se jogando para cima dele.
— Pois é...
Quando abri o meu armário no vestiário feminino, entendi o que Jessica quis
dizer a respeito do vestido.
Não, nem ferrando eu vestiria aquilo. Nem mesmo para impressionar Javier.
***
Não, ele não era vulgar. Mas chegava bem no limite. Era azul marinho,
contrastando com os meus olhos e minha pele pálida.
Ele batia no meio das minhas coxas e tinha um decote em V discreto. Porém,
ele era justo nos lugares certos, revelando as minhas curvas e me deixando bem
sensual, eu tinha de admitir.
Deixei os cabelos soltos, que caíram nas minhas costas, e maquiei os olhos,
para ficarem ainda mais evidentes.
Eu tive certeza de que o vestido da Jessica me vestiu bem quando Richard
me viu; os olhos dele quase soltaram do crânio. Ele ficou em silêncio, tentando
se controlar para não me encarar muito, enquanto esperávamos pelo táxi.
Ele ganhou vários pontos por não demonstrar qualquer preconceito pela
região. Em geral, o pessoal das partes mais ricas de Manhattan torcia o nariz
para o Harlem. Eu mesma, quando cheguei em Nova Iorque, tinha meus
preconceitos. Até a Jessica me apresentar a várias partes legais do bairro.
Mais pontos para Richard. Ele não era um daqueles metidos que achavam
ruim fazer amizade com funcionários do hospital que não fossem médicos.
— O primo dela também estará lá. Ele trabalha como segurança no setor
VIP.
Se não gostava antes, agora ia odiá-lo, pensei. Pelo menos, era isso que eu
esperava. Não era que eu estivesse saindo com Richard apenas para irritar Javier.
Porém, vê-lo bufando de ódio seria um bônus. Um belo bônus.
***
A primeira pessoa que vi na Casa Latina foi Jessica. Não era surpresa: ela
usava um vestido vermelho, e veio correndo em nossa direção assim que
pusemos os pés lá dentro. Entretanto, ao invés de um sorriso de boas-vindas,
fomos recebidos por uma face pálida e olhos esbugalhados.
— Dr. Davis, que bom que chegou! — Jessica estava esbaforida, mas havia
algo de estranho naquela cena.
— O que houve?
— Uma paciente sua, a Lisa. Ela rejeitou um dos novos remédios que o
senhor receitou.
Desgraçada.
Eu entendi exatamente o que ela estava fazendo. O Dr. Davis era conhecido
por ser um médico excessivamente atencioso com seus pacientes. Para piorar, ele
ainda não confiava muito no médico que fazia os plantões noturnos na ala dele,
então era bastante comum ele retornar ao St. Patrick pelo menor dos problemas.
Ou seja: Jessica sabia muito bem que, ao falar que uma de suas pacientes
teve qualquer problema, ele não hesitaria em retornar ao hospital. Ele sequer
ligaria para verificar se o plantonista já havia resolvido o problema: Richard era
daqueles médicos que precisava ver tudo com os próprios olhos.
O que eu queria mesmo era afogar minhas mágoas na tequila por causa do
meu encontro sabotado pela minha suposta amiga.
— Ah, na verdade...
— Quer ganhar uma fratura no nariz, Carlos? — Ouvi uma voz rouca atrás
de mim, e uma mão familiar me segurou de forma possessiva pelo ombro.
***
10
Carly
— Foi mal, cara, não sabia que ela estava com você.
— Ah, é?
Tentei me afastar dele, mas Javier se recuperou antes que eu me movesse,
desta vez segurando-me pela cintura.
Tentei dar outro pisão em seu pé, mas ele já esperava o movimento, então
conseguiu se safar. Aí eu dei o golpe que Levi me ensinou anos antes, para me
proteger de babacas safados: abaixei-me e dei uma cotovelada em suas partes
íntimas.
— O caralho que sou sua! — Gritei para ele, chamando a atenção do clube
inteiro.
Javier devia ser conhecido por essas bandas, porque as pessoas me olharam
como se eu fosse uma louca por atacá-lo daquele jeito. Algumas mulheres me
encaravam como se eu fosse uma completa idiota.
E eu tinha sido mesmo. Tinha deixado que ele me usasse e me jogasse fora
como uma merda de uma camisinha. Não mais!
— Ela está aqui — odiava quando as pessoas falavam de mim bem na minha
cara, como se eu não estivesse no recinto.
O sorriso havia retornado aos lábios de Carlos. Ele não chegava aos pés de
Javier (infelizmente), mas tampouco era de se jogar fora.
Tentei me afastar de novo; mais uma vez, fui interrompida pela mão de
Javier. Daquela vez, ele me segurou pelo pulso.
— Preciso falar contigo, Carly.
Depois de todos os lugares onde ele me beijou, lambeu e chupou, ele não
tinha a merda do direito de me chamar de “doutora” e fingir que era profissional!
— Pouco me importa!
— Foda-se!
— Já fodi, Carly.
Sem conseguir segurar o ódio, dei um tapa sonoro na cara dele, daqueles de
novela.
Sua bochecha morena ficou avermelhada onde eu bati, e seu rosto retornou
na direção do meu devagar, seus olhos escuros ficando ainda mais negros, suas
sobrancelhas juntando-se, seus lábios virando uma linha.
Ele me segurou pela nuca, e me jogou contra a porta.
***
Ele me prendeu entre a parede e seu corpo, rápido como uma onça. Um de
seus joelhos enfiou-se entre as minhas pernas, me suspendendo no ar. Tentei
empurrá-lo, mas ele agarrou as minhas mãos e as prendeu pelos pulsos acima da
minha cabeça com uma das suas.
— Soube que você está saindo com o médico almofadinha — ele sussurrou
no meu ouvido, mordiscando meu lóbulo.
— É por isso que você está pingando para mim, Carly? Porque o médico de
merda te satisfaz tão bem?
Queria negar, mas estava encharcada, então nem tinha como me defender da
acusação.
— Tá ocupado, porra! — ele berrou para a mulher que tentava entrar, e ela
deve ter reconhecido a voz dele, porque não insistiu. A seguir, afastou o rosto do
meu pescoço, e, enquanto enfiava os dedos bem fundo, disse: — Tudo a seu
respeito é da minha conta agora, Carly. Transou com ele?
Seus dedos me deixaram, e me senti uma idiota por desejar que eles
retornassem. Ele lambeu cada um deles, seus olhos negros me queimando.
Lentamente, desabotoou o cinto e abriu a calça jeans apenas com a mão livre.
Sua crueza me excitou. Ele soltou as minhas mãos, mas estava com tanto
tesão que o segurei pelos ombros largos e musculosos, ao mesmo tempo em que
ele me suspendeu no colo, e se enterrou dentro de mim de uma vez.
— Me diz que você não deu pra ele, Carly — ele rosnou, me comendo com
força, sem esperar que eu parasse de convulsionar. — Você é minha!
— Não sou! — Gritei, mas minha voz saiu trêmula de prazer, e minhas
palavras apenas o fizeram se enterrar em mim ainda mais freneticamente.
Ele explodiu dentro de mim, e foi apenas naquele momento que eu me dei
conta de que ele não tinha colocado camisinha, como na nossa primeira vez.
Assim que ele saiu, surgiu a preocupação e o arrependimento.
Afastei-me dele e fui até um dos cubículos, para me limpar e para pensar em
como fugiria dali.
Ouvi meu celular tocando, mas eu tinha deixado a minha bolsa em cima da
pia. Nem ferrando eu sairia dali agora. Ainda não estava pronta para encará-lo.
Porra, nem estava pronta para me encarar no espelho!
— Toma, Carly — ele comentou, passando a bolsa por cima da porta. — Vou
te esperar do lado de fora. Realmente precisamos conversar.
— Alô — atendi o telefone, torcendo para que fosse a Jessica querendo saber
onde eu estava. Talvez, ela conseguisse me salvar do primo.
Meu coração quase parou. Eu não tinha qualquer relação com aquele
hospital, o que significava que alguém que tinha colocado meu nome como
contato de emergência estava internado lá. E só havia uma pessoa assim em
Nova Iorque.
— Sim, Dra. Rider. Seu irmão foi internado aqui. Ele foi atacado esta noite.
Recebeu uma facada.
***
11
Levi
“Some day, when I'm awfully low
When the world is cold
I will feel a glow just thinking of you
And the way you look tonight.”
“Algum dia, quando eu estiver terrivelmente triste
Quando o mundo estiver frio
Eu sentirei um calor só de pensar em você
E no jeito que você está essa noite”
A primeira voz que eu escutei ao despertar foi uma das minhas favoritas no
mundo. Ela estava irritada: ou melhor, irada. Felizmente, não era comigo.
— Dra. Rider, entendo sua preocupação, mas quanto antes falarmos com o
seu irmão, maior é a probabilidade de encontrarmos o homem que fez isso com
ele e...
— Dra. Rider, quero apenas estar aqui quando seu irmão acordar e...
— Olha aqui, se ficar insistindo em falar com Levi quando ele acordar, então
serei forçada a chamar meu noivo, que é advogado!
Ela estava agora ameaçando o detetive? E com um noivo que nem sequer
existia?
— Cale a boca, seu idiota! — Ela me deu um sermão. — Quer estourar seus
pontos?
— Só assim para eu conseguir ver meu próprio irmão, quando ele está à
beira da morte!
No entanto, eu não sentia como estivesse prestes a ver a luz no fim do túnel.
Carly deve ter visto o medo na minha face, porque ela fez questão de esclarecer:
— Você vai sobreviver, Levi. Mas vai ter que ficar algumas semanas de
repouso.
***
Aparentemente, apesar do ferimento ter sido grave, eu dei muita sorte. Perdi
bastante sangue, mas a faca não havia atingido nenhum órgão, então eu não
precisaria de nenhuma cirurgia, apenas de muito descanso.
***
Quando acordei pela terceira vez, notei que eu não estava mais no quarto do
hospital. Estava em minha suíte do meu novo apartamento e, pela janela, percebi
que era dia.
— Tirei alguns dias de folga para cuidar de você, mas preciso voltar para o
plantão esta noite — ela informou.
— Tudo bem.
— Que vizinha?
— Sim. E a voz dela é bem sexy... — Carly sentou-se ao meu lado na cama
king size. — Pena que ela tenha agorafobia...
— Duvido muito...
— Não. Você quer acreditar nisso, mas acho que já se transformou em algo
mais.
— Sim, e volto só amanhã — ela explicou. Não era incomum Carly fazer
plantões de vinte e quatro horas. — Espero que, até lá, meu plano já tenha
começado a funcionar.
— Que plano? — Queria complementar com um “porra”, mas não tinha
energia para tirar minha irmã do sério naquela manhã.
— Ah, eu comentei com a sua vizinha que a Sra. Smith somente poderá ficar
contigo até hoje no final do dia.
— Ela não precisa saber disso. Na verdade, eu dei a entender que estava
bastante preocupada em deixar você sozinho a noite inteira.
***
— Quer que ele seja mais discreto, Sra. Smith? — Perguntei na ocasião.
— Então ameace de contar para seus pais sobre a maconha que ele passa o
dia fumando.
Antes de deixar meu apartamento, ela me deu um remédio para dor. Não
queria tomá-lo, pois sabia que ele me deixaria sonolento. Não sei quanto tempo
havia se passado até eu escutar a porta batendo. E, logo em seguida, escutei-a
abrindo novamente.
Senti um perfume no ar, uma mistura de jasmim com algo cítrico, como
limão. Em seguida, vi um vulto se aproximando da cama. Já era noite, então
apenas consegui ver sombras, os contornos de um corpo feminino.
Definitivamente não era a Sra. Smith. Será que eu estava sonhando?
Senti o colchão afundar-se ao meu lado quando alguém se sentou ali. Uma
mão quente e delicada segurou a minha, e uma voz rouca e sensual sussurrou:
— Sim.
— Que pena... Acho que mereço um strip tease depois do que passei...
— É isso que você merece por sair de casa tarde da noite. O que você estava
fazendo?
Ela apertou a minha mão. Não sei se foi um gesto inconsciente, mas o que
ela fez a seguir não foi nada acidental. Para mim, foi quase erótico, apesar de
não ter sido sexual. Ela inclinou-se para a frente, seu rosto praticamente colado
ao meu, e consegui ver seus belhos olhos castanhos.
Caralho. Ela tinha acabado de me convidar para jantar na casa dela? E desde
quando eu ficava excitado com um simples pedido de jantar? Desde Amanda,
pelo visto, porque nada com ela era simples.
A última coisa que eu desejava fazer, agora que ela finalmente estava ao meu
lado, ao meu alcance, era dormir. Entretanto, meu corpo ainda estava fraco para
reagir. Ela estava certa: eu precisava descansar.
Estranho era que eu não mais me importava em melhorar para retornar logo
ao trabalho. Ironicamente, eu não queria ficar saudável para sair da cama: queria
continuar nela, só que com Amanda.
***
12
Carly
Eu sabia que devia ter sido difícil para o pessoal da ala VIP não poder contar
comigo, especialmente com Robert ainda desaparecido.
Desde o início, achei que o hospital deveria ter envolvido a polícia, apesar de
Robert não ser um paciente judicial; eles poderiam nos ajudar a descobrir seu
paradeiro mais rápido, antes que ele se machucasse ou machucasse alguém.
Por isso eu imaginei que alguma coisa bem séria deveria ter acontecido
enquanto eu estava fora; o Dr. Perry tinha enviado uma mensagem pedindo que
eu fosse fazer o plantão daquela noite.
Mais estranho ainda foi ser recebida pelo diretor da ala VIP assim que entrei
no hospital.
— Dra. Rider, que bom que pôde vir. Peço desculpas por afastá-la do seu
irmão. Como está Levi?
O que ele não parecia ser, todavia, era estressado. Contudo, ele claramente
estava agora, apesar de sua tentativa de parecer tranquilo e em seu habitual
estado de serenidade.
Ele tirou um lenço do bolso do jaleco e secou a testa. O Dr. Perry suando?
Ele apenas fazia isso quando algum dos familiares da ala VIP estava insatisfeito
com os nossos serviços.
— Tem um detetive que está a sua espera, Carly — devia ser sério mesmo,
para ele me chamar pelo primeiro nome no hospital.
***
Passei quase duas horas com o detetive responsável pelo caso do juiz,
respondendo às suas questões, contando o máximo que eu podia sobre Robert.
Duas noites antes, eu descobri naquele interrogatório, o juiz havia aberto mão do
sigilo entre médico e paciente em relação a seu filho, avisando ao Dr. Perry que
ele envolveria a polícia nas buscas por Robert.
— Acha que o juiz Flynn decidiu incluir a polícia nas buscas por temer que o
filho fosse atrás dele? — O detetive perguntou.
Aquela questão me deixou arrepiada dos pés à cabeça. Ele estava dizendo o
que eu achava? Se fosse isso, as coisas estavam bem piores do que eu antevira.
— Não posso divulgar isso, Dra. Rider, mas ele é uma pessoa de interesse no
caso. Então, preciso perguntar: acha que ele seria capaz disso?
Porém, havia uma maldade em Robert que ia além de sua doença, e nem os
melhores tratamentos e medicamentos tiravam aquilo dele. Era um tipo de
escuridão em seu olhar, como se ele enxergasse todos à sua volta como inimigos,
mesmo aqueles que desejavam ajudá-lo.
— Mas Robert é diferente, não é, Dra. Rider? Ele não é como a maioria dos
pacientes do hospital, não é?
Eu detestava fazer aquilo: meu trabalho era cuidar dos meus pacientes,
protegê-los dos perigos externos, tentar, ao máximo, deixar suas mentes
saudáveis, para que eles pudessem ter a vida mais normal possível.
— Eu sei que é difícil, doutora. Mas preciso da sua ajuda. O Dr. Perry contou
que você é a médica que passava mais tempo com ele.
— Robert não está tomando sua medicação. Então, em teoria, seria possível
que ele atacasse o pai em uma de suas crises — desembuchei, falando o mais
rápido possível antes que desistisse.
Ou seja: o juiz havia passado tanto tempo escondendo tudo o que podia sobre
o filho que agora, ironicamente, nem mesmo a polícia estava conseguindo achar
pistas para poder localizá-lo, como seu pai desejava.
— Soube que seu irmão sofreu um ataque. Falei com o detetive responsável,
que comentou desconfiar se tratar de um assalto mal sucedido — Muito mal
sucedido mesmo: o desgraçado sequer se deu ao trabalho de levar alguma coisa,
apenas machucou Levi. — Acha que pode ter sido algum tipo de retaliação de
Robert?
— Não faz muito sentido — comentei, depois de pensar durante alguns
segundos. — Não estou dizendo que Robert não tem nada contra os funcionários
deste hospital. Talvez tenha. Mas eu não via o Levi há alguns meses, desde que
ele se mudou para o novo apartamento. Não seria mais provável, se ele quisesse
se vingar de alguém daqui, que nos atacasse diretamente, ou, pelo menos, o
marido ou esposa de algum médico ou enfermeiro?
O detetive fez mais algumas poucas perguntas, e me deu seu cartão, pedindo
que eu avisasse caso me lembrasse de alguma informação relevante sobre
Robert.
— Dra. Rider, não quero deixá-la ainda mais assustada, mas evite sair
sozinha do hospital, está bem?
— A pessoa mais próxima dele está morta. E, até onde sabemos, você é a
segunda mais próxima.
***
Senti a bile subindo para a minha garganta quando saí da sala. Minha cabeça
estava latejando; parecia que tinha um bolo no estômago.
— Está bem, Carly? — Jess se aproximou de mim, seu primo logo atrás dela.
Acabei aceitando conversar com ele (afinal de contas, eu tinha bastante coisa
entalada na garganta), mas só quando eu saísse da casa do Levi.
— Acha que Robert está com uma arma? — aquilo era péssimo.
Verdadeiramente péssimo.
— A delegacia não tem certeza. Pode estar guardado em outro lugar que não
seu apartamento — ele admitiu. — Na dúvida, é melhor vocês sempre pedirem
para um dos seguranças de plantão as acompanharem até o metrô quando saírem.
Especialmente à noite.
Aproveitando que Jessica precisou sair para ver um paciente, Javier pegou
uma cadeira e a colocou em frente à poltrona onde eu estava, e sentou-se,
deixando nossos joelhos se tocarem.
— Você precisa é do meu pau enterrado em você, doutora. Está muito tensa.
— Comporte-se, Carlita.
— Ou o quê? Vai me atacar como fez na Casa Latina?
— Não preciso atacá-la, sabe muito bem disso. Basta um beijo ou um toque e
você já fica molhadinha para mim. Será que está agora? — As mãos dele
apertaram as partes internas das minhas coxas. Sim, eu já estava, mas morreria
antes de deixá-lo descobrir.
— Aqui, não.
Ele era errado para mim de tantas formas, de tantas maneiras. Ainda assim,
eu o desejava enlouquecidamente, mesmo sabendo que nós não tínhamos
qualquer futuro.
Não, eu não era a babaca aqui. Antes de mais nada, ele havia me descartado.
Porém, se ele não estava interessado, porque me olhava sempre com tanta
intensidade, mesmo quando se dirigia a mim com uma formalidade
irritantemente distante? Por que parecia estar sempre me observando, sempre
prestando atenção no que eu dizia e, nos últimos dias, me mandava tantas
mensagens?
Estava prestes a perguntar todas aquelas coisas para ele, quando a Dra.
Melissa Peitos de Fora Tyler entrou na sala de forma abrupta. O mais irritante
não foi a presença dela: foi a reação de Javier.
Assim que a viu, ele pulou da cadeira e se afastou o máximo que podia de
mim, plantando-se do lado oposto da sala.
Meu irmão podia ser um galinha, mas jamais ficaria com uma mulher que
estava interessada no dinheiro dele.
— Oi, Javi — ela decidiu que não tinha mais nada de interessante para me
falar, então voltou sua atenção para ele.
Ele estava nervoso. Tipo, muito nervoso. Como se não quisesse ter aquela
conversa na minha frente. E era precisamente por isso que eu estava louca para
saber o que Melissa diria a seguir.
De repente, a verdade me atingiu como um caminhão. Era por isso que ele
estava usando o celular da Jess para falar comigo. Não era por medo de eu não
responder se ele me mandasse mensagens pelo dele, e sim porque não queria que
sua nova conquista soubesse que ele ainda estava dando em cima de mim.
Pois ele nunca mais tocaria um dedo sequer nesta conquista aqui.
Saí da sala irada, mas, lá no fundo, eu queria que ele tivesse vindo atrás de
mim. Nesse meu mundo paralelo, ele deixaria a sala de descanso desesperado,
me agarraria enquanto eu dava um baita sermão nele, me contaria que era tudo
um engano, e nós faríamos as pazes no armário de limpeza, sem qualquer
dignidade e com muita paixão.
Não foi o que aconteceu. Ele não veio. Ele não mandou outras mensagens,
nem mesmo pelo celular da Jessica. Ele sequer me olhou no olho pelo restante
do plantão.
***
13
Levi
Apesar de saber que eu era muito sortudo por não ter tido nenhuma
consequência grave, estava puto da vida que tinha Amanda ao meu lado todas as
noites e, ainda assim, não podia fazer merda nenhuma a respeito.
Claro que ela tinha começado a me provocar. Eu não tinha ideia por que ela
fazia tanta questão de ficar na escuridão, de não me deixar vê-la direito, porque o
pouco que eu conseguia ver e sentir era bem agradável.
Carly me contou que a agorafobia dela vinha se desenvolvendo desde que ela
era criança. Aparentemente, ela era muito frágil de saúde quando era mais nova,
então seus pais decidiram que ela teria aulas em casa. Isso já a deixou um tanto
medrosa com o “lado de fora”, já que era comum ela adoecer quando deixava a
proteção de sua casa.
Para piorar, sua mãe morreu quando ela era muito jovem, durante um assalto.
E sua tia, que cuidou dela depois que os pais faleceram, faleceu durante um
acidente de carro. Mortes trágicas, e “do lado de fora”, como ela repetira para
Carly.
No entanto, a gota d’água, segundo Carly, havia sido outro trauma. Minha
irmã era uma excelente psiquiatra, mas nem mesmo ela conseguira descobrir o
que se passara. Ainda.
Outro avanço aconteceu na minha relação com a Sra. Smith. Ela começou a
ler o jornal para mim, em particular, as notícias sobre a bolsa. Desde que eu lhe
desse dicas sobre ações em que ela deveria investir, ela aceitava ler durante horas
a fio. Assim, eu tinha muitos assuntos sobre os quais conversar com Amanda à
noite.
Esta manhã, Carly tinha diminuído a dosagem dos meus remédios, o que
significava que, não apenas eu estava melhorando, como também eu ficaria
menos sonolento à noite.
Escutei a Sra. Smith batendo a porta, e senti um grande alívio, porque isso
significava que ela logo seria substituída pela minha cuidadora favorita. Alguns
minutos mais tarde, ouvi o som de Amanda entrando no apartamento, e meu
amigo ficou logo duro.
***
O clima do quarto estava perfeito. Tinha pedido à Sra. Smith que deixasse
apenas a luz do corredor acesa, para que Amanda ficasse bem confortável
comigo no quarto. Coloquei Frank Sinatra para tocar: ele sempre era uma ajuda
nessas horas.
Amanda parou na soleira da porta, e foi como ver um anjo. A única fonte de
luz a iluminava por trás, dando a impressão de que emanava dela. Seus cabelos
dourados brilhavam sob a luz fraca, e consegui ver sua expressão: ela sorria.
Havia algo familiar nela, eu apenas não sabia exatamente o quê. Talvez, se
ela não estivesse sempre se escondendo nas sombras, eu conseguiria me lembrar
de onde a conhecia.
— Você parece o Bob de vez em quando — ela comentou de repente, o
sorriso ainda estampado no rosto.
— Bob?
— Ah.
Eu tinha acabado se sentir ciúme de uma mulher com quem eu jamais havia
saído? Que eu nunca tinha beijado? Por causa de um cachorro? Que merda
estava acontecendo comigo?
A voz dela ficou embargada, e mais rouca do que de costume. Ela estava
emotiva falando daquilo, e eu precisava mudar o quanto antes de assunto.
Não, não, não. Ela tinha que se aproximar, não se afastar de mim.
— Juro! Nossa, senti uma pinçada aqui — apontei para o local onde tinha
recebido a facada.
Carly sempre falava em como tínhamos que ver o lado positivo das coisas.
Receber uma facada definitivamente não era agradável, mas ter uma enfermeira
como Amanda todas as noites...
— Onde exatamente sentiu dor? — ela ficou preocupada assim que apontei
para a região da ferida. Estava a dois passos da cama.
— Aqui — disse, sem conseguir tirar os olhos dos seus seios. — Chega mais
perto.
— Oh!
***
Assim que seu corpo colou-se ao meu, puxei-a pela nuca. Ela veio sem
resistência, sem queixas. Quando nossos lábios se tocaram, foi como um vulcão
entrando em erupção. Se bem que o vulcão entre minhas pernas estava perto da
explosão mesmo.
Seus lábios eram ainda mais macios do que eu imaginava, seu gosto, ainda
mais sensual do que os meus melhores sonhos. Merda, ela era perfeita. Assim
que senti seu gosto, sabia que não me satisfaria com apenas com um beijo. Ou
dez. Ou cem.
Puxei a alcinha para baixo com facilidade, expondo um seio redondo e firme
aos meus olhos abençoados. Caralho, ela era linda. Afastei meus lábios de sua
pele apenas para admirar seu seio, e a mão dela foi automaticamente para ele.
A mão dela caiu ao lado de seu corpo, e um sorriso tímido surgiu em seus
lábios.
Ao invés disso, eu baixei meus lábios para seu seio e o puxei entre meus
dentes, fazendo-a gritar alto.
— Serve para beijar também — ela arfou de volta, puxando minha cabeça
para o seio dela.
Claro que eu atendi ao seu pedido, e com prazer. Abocanhei seu seio,
puxando-o para a minha boca, enquanto a mão que estava em seu quadril
encontrou a calcinha sob a barra do vestido. Ela afastou um pouco a virilha da
minha, deixando suas intenções claras.
— Quer que eu toque a toque aqui, Mandy? — Afastei meus lábios do seio
perfeito dela apenas para perguntar.
— Levi — ela arfou de forma incoerente. Estava perto do ápice, pude sentir
em sua voz.
— O que você está fazendo? — Perguntei, quando ela caminhou até a janela
do quarto e espiou o lado de fora. — Eu ainda não terminei.
Mal tinha começado, na verdade.
— E daí?
— Não gosto da polícia — ela replicou, e agora havia raiva em seu tom.
Era raro ela sentir raiva de alguma coisa. Apesar de ter um medo extremo
“do lado de fora”, ela parecia uma mulher sociável. Porém, ela ficou tão
incomodada com a presença da polícia em nosso prédio que notei seus ombros
ficando tensos. Será que o trauma pelo qual ela havia passado envolvia a polícia?
— Algum rico deve ter perdido uma pulseira de diamantes ou algo assim,
Mandy — ela olhou para mim por cima do ombro, e aproveitei a atenção para
convidá-la de volta à cama a cama com um movimento do dedo que, momentos
antes, estava quase dentro dela.
— Outro ataque? Neste bairro? Sei que é Nova Iorque, mas duvido muito.
Ela ignorou meu comentário e foi até a sala para usar o interfone. Não sei
com quem ela falou mas, ao retornar, sua voz estava trêmula. Ela estava longe
demais para eu ver as lágrimas em seus olhos, ou a expressão do seu rosto, mas
eu tinha certeza de que ela chorava.
— Falei com a Sra. Smith. Foi Joe, Levi. Ele levou uma facada enquanto saía
do trabalho — ela se interrompeu, como se não conseguisse continuar.
***
14
Levi
Nos últimos três dias, minha recuperação acelerou bastante. Eu ainda estava
proibido de sair de casa e trabalhar, porém, já conseguia me levantar sem ajuda e
caminhar — bem devagar — pelo apartamento.
Infelizmente, Carly não teve plantões de vinte e quatro horas nos últimos
dias, o que significava que ela vinha passando as noites comigo. Por isso,
Amanda não me visitou desde o nosso beijo.
Mal podia esperar para Carly ficar longe de novo. Ela estava me ajudando
muito a melhorar rápido, mas estava me atrapalhando em relação a Amanda.
Esta noite, entretanto, Carly tinha sido avisada que precisaria fazer plantão à
noite. Fingi ter ficado chateado por ela ter que ir embora, mas claro que ela não
acreditou.
— E que não vai fazer nada com Amanda que possa abrir seus pontos.
Eu faria muito sexo com ela esta noite. Dos bons. Daqueles que a deixariam
dolorida e me deixariam ardido. Talvez, eu pudesse estrear as algemas que tinha
comprado meses atrás. Eram para usar com Lena, mas ela tinha perdido
completamente a graça.
Tive uma ideia de como seduzir Amanda de uma vez por todas quando Carly
mencionou que me ajudaria no banho. Era uma das poucas coisas que eu ainda
não conseguia fazer completamente sozinho. Em geral, era a Sra. Smith quem
me auxiliava nessas horas.
Nem preciso dizer que, além de muito paciente comigo, a Sra. Smith adorava
me despir para o banho. Eu fingia não notar: a vida dela era tão monótona
quanto aqueles romances chatos que mulheres adoravam, então ela merecia
alguma diversão no seu dia.
E eu sabia que tinha um corpo que fazia muito bem aos olhos femininos.
Eu estava certo do horário porque havia pedido a Carly para confirmá-lo com
Amanda pelo menos umas três vezes hoje.
— Sei, sei... — o tom dela estava cheio de escárnio. — Você acha que ela
não vai te resistir por causa desse seu corpinho malhado?
— O pai do Jack fala a mesma coisa da mãe dele. — Nós dois gargalhamos.
Desde que nos mudamos para Nova Iorque, havíamos nos aproximado bastante
da família do Jack, que tinha praticamente nos adotado. — Ele diz que a Sra.
Holmes é o Everest dele. Talvez, Amanda seja o seu.
Eu devia ter ficado preocupado. Uma parte de mim de fato ficou. Porém,
uma outra parte, bem mais preponderante, estava acumulada e mal podia esperar
para explodir dentro de Amanda. Por isso, eu esqueci minhas dúvidas e esperei
até que ela chegasse.
***
— Eu devia saber que você estava aprontando alguma — a voz sensual veio
da porta do banheiro.
Não conseguia enxergar os detalhes dela, uma vez que apenas havia deixado
uma vela acesa no banheiro, entretanto, conseguia ver os contornos de seu corpo.
Apenas de ouvir aquela voz rouca e sentir a proximidade dela, meu amigo
despertou.
— Sei também que a Sra. Smith adora participar desta parte específica do
seu dia. Ela não para de falar nisso.
Foi quando eu ouvi. Na voz dela. Amanda tentou disfarçar, mas havia
curiosidade em saber se eu era tudo aquilo que a Sra. Smith vinha fofocando.
Mais do que isso: tinha desejo na voz dela também.
— Quer finalmente ver com seus próprios olhos do que ela tanto fala,
Mandy?
Ela aproximou-se, seu rosto ficando mais visível à medida que a luz fraca da
vela atingia sua face. Puta que o pariu, ela era linda. E, agora que eu via melhor
suas feições delicadas e seu rosto anguloso, tinha a sensação de que já nos
conhecíamos de algum lugar.
Nem ferrando eu ia questioná-la onde já havíamos nos visto. Se ela não tinha
mencionado até agora, era porque não desejava falar no assunto. E hoje não era a
noite para falarmos de passado, e sim para aproveitarmos o presente.
Ela sentou-se em uma banqueta que eu deixava ao lado da banheira. Ela não
planejava que eu saísse agora; estava querendo alguma coisa antes. E, pela
carinha de safada dela, era alguma coisa muito indecente.
— Não consigo ver com a luz da vela — ela comentou, e senti-me aliviado.
Estava prestes a sugerir que ela ligasse todas as luzes da casa – afinal de
contas, não era eu o tímido – quando ela abriu um outro sorriso safadinho e
colocou a mão sob a água. Em volta do meu pau.
— Ela nunca viu duro, Mandy. Fico assim especialmente para você.
Quando percebi que não conseguiria mais me controlar, segurei a mão dela:
— Mandy, estou amando o que você tá fazendo, mas não quero gozar na sua
mão.
Senti seu pulso acelerando sob meus dedos. Seus lábios partiram-se. Seus
olhos ficaram mais brilhantes. Não podia ver a coloração de sua pele, mas
imaginava que estivesse corada.
Eu estava mais do que pronto para o próximo passo. E, pela forma que ela
me encarava, Amanda também estava.
Usando o pequeno espaço a meu favor, colei seu corpo junto ao meu,
esfregando a minha ereção contra a calcinha de renda dela, beijando-a como se
não nos víssemos há três anos, não três dias.
Enfiei um dedo nela. Ela gritou junto comigo: estava molhada, apertada,
deliciosamente perfeita. Com esforço e paciência, consegui enfiar um segundo
dedo, e ela afastou-se um pouco do meu corpo, colocando uma de suas mãos
entre nós, segurando minha ereção de novo. Daquela vez, eu não iria interrompê-
la.
— Está cansado? — Pelo seu tom, ela estava torcendo que minha resposta
fosse não.
Com o auxílio dela, deixei a banheira, encarando-a, tentando dizer para ela
tudo o que eu faria quando chegássemos à cama, quando um som a assustou.
— Deve ser o idiota do Parker chegando em casa bêbado com alguma amiga.
— Pode ser que sim, pode ser que não. Vou verificar — ela insistiu, já
caminhando rápido para longe de mim.
***
15
Levi
Três noites depois, e eu tinha uma boa notícia e uma péssima notícia.
A boa notícia era que a Sra. Smith estava viva e se recuperando bem. A
péssima notícia era que, desde que a encontrara no corredor apagada, Amanda
tinha voltado a ficar reclusa, e recusava-se a deixar seu apartamento novamente,
mesmo que apenas para cruzar o corredor e vir até o meu.
Minha primeira ideia, óbvio, foi tentar oferecer meu próprio corpo. Nas
últimas semanas, consegui o celular da Amanda, então enviei algumas fotos
bastante... Íntimas. Nada. Ela apenas me mandou um joinha de resposta.
Pelo menos, ela também enviou uma foto dela. O que apenas me serviu para
ficar ainda mais louco para vê-la.
Foi na noite passada que eu finalmente vi a luz. Na realidade, foi Jack quem
me deu a ideia, quando veio passar a noite na minha casa, já que a Sra. Smith
estava no hospital, e Carly tinha plantão.
Não apenas meu melhor amigo provou que amizades serviam para alguma
coisa além de falar merda, como ele foi essencial para o plano. Carly também:
ela ficou quase tão animada quanto eu.
Estava preparando uma nova surpresa para Amanda. E, daquela vez, ela não
resistiria. Era ainda melhor do que meu corpo. Sim, isso era possível.
— Ei, Rapunzel.
— Para — ela pediu, mas seu tom indicava que ela queria mais.
— Do seu gosto.
— Levi!
— Uma surpresa?
— Impossível.
— Possível — era fato. Jack teve uma ideia ainda melhor do que a minha.
Claro que ela acreditaria que fui responsável por tudo. — Pode ser melhor do
que eu com investimentos, mas eu ganho de você em surpresas.
— Vem.
***
Dez segundos depois, escutei alguém girando a chave na fechadura e abrindo
a porta do meu apartamento.
— Sim.
— Sim — levantei-me, e caminhei até ela. — Bob agora tem uma casa,
Mandy.
Queria dizer que eu tinha feito aquilo pelo cachorro. Claro, Bob era bem
simpático, e carinhoso também. Além de surpreendentemente educado. Porém,
foi por ela que fiz aquilo.
Depois de Han Solo, o cão que tive quando era criança, eu jurei que jamais
teria outro. Eu sabia como era fácil se apegar a eles, e como era difícil perdê-los.
No entanto, por ela, eu iria me arriscar de novo.
Lembram-se da grande merda que eu fiz na minha vida? Pelo jeito, eu estava
prestes a repeti-la. Porém, daquela vez, não parecia que eu estava fazendo uma
merda. Parecia certo. Ela parecia certa para mim.
E ele também tinha me ajudado com a surpresa. Tinha levado Jack até o local
favorito de Bob, depois tinha nos ajudado com a veterinária que havia atendido
Bob desde que ele era filhote. Depois de um longo banho e alguns exames, ele
estava pronto para vir à sua nova casa.
Agora, ele estava rolando no chão com a mãe que ele nem sabia que cuidara
dele sua vida inteira.
Eu nunca tinha visto Amanda tão feliz, nem mesmo quando ela gritou pela
casa dela durante horas por causa das folhas de outono.
— Mas... Você não pode passear com ele! — ela disse em tom acusatório.
— Carly e Jack vão me ajudar enquanto eu ainda não posso sair com ele. Já
falei com um passeador de confiança também — cocei as orelhas de Bob,
cruzando meus dedos com os dela. Puxei sua mão, e ela veio de encontro ao meu
corpo, exatamente onde ela pertencia. — E eu esperava que você me ajudasse.
Porém, sua palidez repentina indicava que ela ainda não estava pronta para
deixar o prédio.
Segurei-a pela cintura, inclinando minha cabeça para frente, colando minha
testa na dela. Bob estava pulando em volta de nós: ele preferia quando a atenção
de Amanda estava focada nele.
Eu também, meu amigo. Nós teríamos que dividi-la. Ele seria o único macho
que eu deixaria chegar perto dela.
Ela se interrompeu, como se aquela lembrança fosse ainda pior que as outras.
Carly estava certa. Havia vários motivos para ela ter ficado isolada, mas um
evento tinha sido a razão para o copo dela transbordar de vez.
— Acha que o que aconteceu com a Sra. Smith tem relação com o homem
que atacou você e Joe? — Ela mudou de assunto abruptamente.
— Minha irmã não gosta de se pronunciar até ter todos os exames na mão.
Mas ela me garantiu que a Sra. Smith está estável.
Como a Sra. Smith tinha sido mais do que gentil ao cuidar de mim nas
últimas semanas, minha irmã garantiu que ela teria o melhor tratamento possível.
O que significava que ela estava importunando os médicos e enfermeiras do
hospital sem parar. Nenhum cuidado era bom o bastante, nenhum exame era
demais.
Cobri suas bochechas com as mãos, aproximando meus lábios dos dela.
Antes que pudesse beijá-la, entretanto, ela saiu do meu abraço.
Ela realmente detestava a polícia. Não como uma foragida, mas era como se
ela tivesse precisado da ajuda deles antes, e eles tinham se provado inúteis para
protegê-la. Eu podia apostar que tinha a ver com o que ocorrera ao pai dela.
— Por que iam querer? — puxei-a de volta para o meu abraço. — Eu disse
que fui eu quem vi a Sra. Smith no corredor. E, de qualquer modo, os porteiros já
devem ter dito que você não sai do apartamento há cinco anos.
Como se tivesse me ouvido pronunciar seu nome, Carly ligou para o meu
celular. A contragosto, soltei Amanda para pegar o aparelho e colocá-lo no modo
silencioso. Quando voltei a encarar Amanda, ela estava acariciando Bob, seus
ombros relaxados de novo, o sorriso de encantamento de volta em seu rosto.
— Nem sei o que dizer sobre o Bob — ela enfim disse. — Nem sei como
agradecer.
***
16
Levi
“Every breath you take
Every move you make
Every bond you break
Every step you take
I'll be watching you”
Ela não reclamou quando eu a guiei até meu quarto. Porém, ela quase me
chutou quando fechei a porta na cara do Bob.
Uni nossos lábios antes que ela pudesse me dar outro sermão.
Eu ainda não podia carregá-la — ordens da Carly, minha empata foda oficial
— porém, já estava bem o bastante para ficar em cima dela. Gentilmente (ou
nem tão gentilmente assim), enquanto eu explorava sua boca, empurrei-a na
direção da minha cama.
Quando ela caiu no colchão, puxou-me junto com ela, e nós nos deitamos
num emaranhado de pernas e braços e mãos e lábios.
Hoje, ela não usava um de seus vestidinhos fáceis de tirar, e sim uma
camiseta simples com calça de moletom, provavelmente não esperava ter que vir
tão repentinamente.
Porém, se alguém imaginava que eu ficaria com menos tesão de vê-la tão
coberta, o efeito foi o oposto: eu senti uma necessidade ainda maior de arrancar
suas roupas para revelar suas pernas compridas e seus seios firmes.
Sentei-me sobre o quadril dela, e tirei minha camisa. Ela me encarou com
olhos famintos, e nem piscou quando eu arranquei sua calça velha e sua calcinha
de algodão juntas.
Comecei por seus pés. Seus pequenos e delicados pés. Chupei cada um dos
dedos, em seguida, fiz uma trilha de beijos do seu calcanhar até a parte interna
de sua coxa e, a partir daí, usei somente a minha língua.
— Levi! — Ela arfou quando minha língua chegou à sua virilha. — Por
favor...
— Levi! — Ela gritou, antes de apertar o dedo que estava dentro dela em
uma longa gozada.
Abri a primeira gaveta do criado-mudo, e não tinha nada. Estranho. Fui até o
banheiro da suíte e olhei nos armários. Havia uma caixa vazia.
Ah, merda. Eu tinha parado de transar desde que comecei a falar com
Amanda, então não tive necessidade de repor o estoque de camisinhas.
Calculei: eu poderia quebrar o clima que eu tinha levado meses para criar.
Ou, poderíamos transar sem camisinha. Gostava infinitamente mais da segunda
alternativa.
Eu fazia exames regularmente, então sabia que estava limpo. E Amanda não
transava havia pelo menos cinco anos. Como eu sabia? Carly,
inconscientemente, havia me contado.
Amanda não saía do seu apartamento há mais de cinco anos, a não ser para
vir até o meu. Nenhum homem – a não ser Karl – entrara no seu apartamento
desde que ela se mudou. E nem ferrando ela e Karl tinham transado.
Eu já estava pelado. Ela, não. Tirei sua camiseta e seu sutiã, notando, com
satisfação, que seu corpo ainda estava mole, que ela ainda não se recuperara por
completo.
Começaram a bater na porta. Porra, devia ser Carly mesmo, só ela pra ser tão
pentelha.
Ah, merda.
***
Assim que eu ouvi o nome do detetive, sabia que a noite havia terminado
para a minha ereção. Nem ferrando a Amanda ia querer continuar qualquer coisa
com um detetive da polícia de Nova Iorque esperando na porta.
Ela não respondeu, mas eu fiz exatamente como havia prometido. Coloquei
uma camiseta e uma bermuda, deixei a suíte, fechando bem a porta atrás de mim,
fiz carinho atrás das orelhas de Bob enquanto passava lentamente pela sala, e dei
de cara com um detetive bastante abatido.
— Sei — se não era o meu caso, então o problema não era meu. Eu ia
expulsá-lo em dez segundos se ele não justificasse a presença dele no meu
apartamento.
— Por insistência da Srta. Rider, o hospital fez mais alguns exames na Sra.
Smith.
Ela achava que a Sra. Smith podia ter algo mais sério do que um problema
alimentício. Era provável: a Sra. Smith parecia ser saudável, mas algumas
doenças surgiam repentinamente na idade dela.
— E ela estava certa. Apenas errou o motivo. A Sra. Smith foi envenenada.
— Envenenada? — Que merda estava acontecendo com o mundo? A Sra.
Smith era um doce, jamais faria mal a ninguém. Além de fofocar e assistir
novelas, ela não fazia muita coisa. Talvez, ela tivesse feito fofoca da pessoa
errada... — Tem ideia de como ela foi envenenada?
— Acha que é a mesma pessoa que me atacou e matou Joe? Ele tem alguma
coisa contra os moradores deste prédio?
— Acha que foi ele também que matou Joe? — Eu tinha que ter certeza.
Se esse cara era capaz de matar... Bem, ele podia tentar acabar o serviço
comigo.
Puta merda. Precisava falar com o síndico: era melhor que ele aumentasse a
segurança do prédio. Não sabíamos qual era o objetivo do sujeito, mas ele era
claramente capaz de qualquer coisa.
— Ah, e sabe da sua irmã? Tentei falar com ela e não consegui.
O que eu não esperava, entretanto, era deparar-me com ela aos prantos,
encolhida na minha cama, em posição fetal.
— Porque é tudo culpa minha. Tudo isso é por minha causa — ela disse, e
deixou meu apartamento correndo.
***
17
Carly
Eu menti para o meu irmão. Não, não foi exatamente uma mentira. Foi mais
uma omissão. Eu sabia que ele mal podia esperar para se livrar de mim e mostrar
sua surpresa para Amanda (que foi adorável, por sinal. Ele era o único tolo da
Terra que não tinha se dado conta de que estava apaixonado).
Por isso, saí bem mais cedo do que precisava. Meu plantão começaria apenas
à meia-noite, e combinei de jantar com a Jess no West Village e pegaria algumas
roupas limpas no meu apartamento depois.
Jessica estava me esperando na porta do restaurante, e entramos juntas. Era
um lugar pequeno, porém muito agradável. Havia meia dúzia de mesas para
dois, cada uma coberta por toalhas com as cores da bandeira da Itália e uma
cesta de pães. Três casais estavam no local, em clima romântico.
Os olhos dela moviam-se de mim para a porta que dava acesso à cozinha.
— Nada! — ela gritou, segurando meu rosto para que eu olhasse de volta
para ela.
— Boa noite, senhoritas — uma voz com um sotaque bastante sensual nos
desejou, servindo a entrada.
Tentei manter o tom baixo, porém, ao notar que os três casais fregueses nos
encaravam horrorizados, considerei que não devia estar sendo tão discreta assim.
— Mas...
Inspirei fundo. Eu tinha de reconhecer que Jessica não era o tipo de mulher
que permitiria que um homem acabasse com qualquer amizade sua. Porém, não
confiava em Javier.
— Faça isso. Por mim. — Ai, que ódio quando o povo diz isso. Jessica sabia
que, por ela, eu faria praticamente qualquer coisa. — Se nunca mais quiser falar
com ele depois de hoje, eu vou apoiá-la.
Aceitando derrota, acenei para ela, que chamou seu primo com um
movimento de cabeça. Ele quase tropeçou ao retornar. Pelo menos, Javier
parecia tão ansioso quanto eu. Ele pegou uma cadeira e a posicionou entre a
minha e a de Jessica.
— Pode continuar aí, Jess — comentei friamente, quando a notei se
levantando.
Eles se entreolharam, mas ela permaneceu em seu lugar. O clima estava tão
tenso que era quase palpável. Eu pressentia que más notícias estavam a caminho.
***
— Não estou dando nada para você — usei o termo com duplo sentido de
propósito: se ele achava que iria daqui para a minha cama (de novo), estava
muito enganado. — Que fique bem claro que estou fazendo isso pela Jess.
— Mas fui ameaçado, Carly — ele tentou segurar a minha mão, mas eu a
esbofeteei para longe.
— Sei, sei...
Um outro garçom (o verdadeiro, creio), trouxe água para nós três, além da
entrada. Depois de deixar os copos e a comida na mesa, continuou nos
encarando com expectativa, até Javier lhe dirigir um olhar ameaçador. O pobre
garçom fugiu imediatamente.
— Não foi assim, Carly. Eu tive que fazer tudo o que ela pediu.
— Nossa, essa deve ser a pior desculpa que eu já ouvi na minha vida. E olha
que eu já tive um namorado que me traiu com a namorada do meu irmão.
Ele estava arranjando uma desculpa para nos escutar, não era possível.
Enquanto isso, os outros dois casais do restaurante entraram para o time da
fofoca, e mal podiam conter a gargalhada. Pois é, desgraça no buraco dos outros
é refresco.
— Claro que não, Javi! — Ele replicou como se Javier fosse um completo
idiota. Eu tinha que concordar com o garçom. — Tá todo mundo querendo saber
o resto da história da sua gata.
Ouvi suspiros de choque das moças, e risinhos abafados dos rapazes. Uma
das namoradas não curtiu muito a graça que seu companheiro achou da minha
história; jogou o conteúdo de sua taça na cara dele e saiu do restaurante em
passadas que quase furaram o chão de tão furiosas.
Seu companheiro deixou algumas notas sobre a mesa e saiu correndo atrás
dela.
— Que cretino! — Mateo comentou, pegando uma cadeira para ele próprio
sentar.
— Ai, meu senhor — Javier olhou para os céus, ficando cada vez mais
impaciente.
— Não estou mentindo — o tom dele estava duro, o que me fez acreditar
nele. Só um pouquinho de nada.
— Eu tenho como provar — ele disse lentamente, segurando uma faca como
se desejasse enterrá-la em Mateo.
Teria pena dele, se não o tivesse flagrado olhando para as pernas da Jessica.
Nojento!
Ele tinha deixado sua conversa com Melissa aberta, e, nas primeiras frases,
reparei que o tom dele era agressivo, sem um pingo sequer de clima romântico.
Isso poderia acabar com a minha carreira: de alguma forma, ela tinha
descoberto que o juiz Flynn tinha sido deixado sozinho no quarto com o pai, e
foi assim que ele tinha conseguido ter acesso a um canivete.
Ela provavelmente estava transando com o Dr. Perry também, era a única
explicação plausível para ela ter descoberto tantos detalhes sigilosos da ala VIP.
Aquela ali faria literalmente de tudo para ser promovida.
— Por que ela está me ameaçando assim? — Eu sabia que ela não valia nem
o silicone dos peitos dela, mas eu jamais a havia prejudicado!
— Inveja, penso eu. — O pessoal do restaurante parecia concordar com
Javier. — Há boatos de que ela sempre quis trabalhar na área VIP, mas o Dr.
Perry escolheu você.
— É por isso que estou aqui agora — ele tocou a minha mão de novo.
Daquela vez, eu não a empurrei para longe.
Se havia alguém que poderia me ajudar, seria ele. Mal ou bem, a reputação
dele também estava em jogo. E eu ia deixar claro que não afundaria sozinha.
Porém, arruinar meus muitos anos de estudos, suor e esforço? Isso eu não
permitiria.
— Então me perdoa?
— Do quê?
(You Can’t Always Get What You Want, The Rolling Stones)
— E o Dr. Davis? Você ainda não me falou sobre ele... O que está rolando
entre vocês?
— Dr. Davis é passado — fiz questão de ser vaga, e ele apertou minha
bunda.
— Nada que seja da sua conta — usei meu tom mais meigo.
— Pois agora é você quem vai pagar por todas as noites que eu não passei
dentro de você, Carlita — ele sussurrou em meu ouvido, e me pegou no colo,
fechando a porta com um chute.
— Tem ideia de como eu senti a sua falta? — Javier questionou, seus olhos
repousando sobre os meus lábios.
Sem novas palavras, ele me puxou para o chão, me virou de costas para ele,
de frente para a mesa. Segurou meus pulsos, plantando minhas mãos sobre a
superfície de vidro e, com um sussurro no meu ouvido, ele me deixou molhada e
pronta para ele:
— Se segure bem, porque eu não vou ser gentil.
Uma das mãos dele suspendeu minha saia, enquanto a outra arrancou a
minha calcinha; ele era cru, rude, másculo, não tinha nenhum dos atributos da
minha lista.
Já tinha passado da hora de eu queimar aquela merda daquela lista. Javi era
exatamente o que eu precisava.
Senti sua ereção se aproximando da minha abertura. Ele penetrou com força
ao mesmo tempo em que colocou seu polegar sobre o meu clitóris. Enquanto ele
me penetrava e saía em um ritmo cada vez mais frenético, meu clitóris movia-se
sobre seu dedo diabólico.
Nem preciso dizer que levei alguns segundos para gozar, gemendo alto,
gritando por seu nome. Menos de um minuto depois, foi a vez dele de se aliviar
dentro de mim, gritando também meu nome.
Javier saiu de dentro de mim, e logo senti a falta da nossa conexão. Suado,
sem camisa (nem tinha visto ele tirando), e com a calça arriada, ele jogou-se no
sofá. Despiu-se da calça e dos sapatos, ficando completamente exposto para
mim.
Apesar de der gozado por bastante tempo, fiquei surpresa ao ver que ele
ainda tinha uma ereção bastante impressionante. Fiquei com água na boca.
— Aquilo ali? — ele apontou para a mesa, com uma sobrancelha arqueada,
tocando-se, ficando mais duro ainda. Não conseguia tirar os olhos do pau dele.
— Ainda nem começamos, Carlita.
Ele relaxou contra o apoio do sofá, e eu me sentei sobre ele, cada joelho de
um lado do quadril dele, minha abertura sobre sua ereção.
— Se você atender o celular, vai pagar caro, doutora — ele disse em tom de
aviso.
Desci mais um pouco, sentindo sua cabeça latejante contra a minha entrada
úmida e já um pouco sensível.
— Eu nem pensaria nisso — puxei seu lábio inferior com os dentes, e ele
grunhiu em resposta.
— Eu sou todo seu, Carly — ele me deu um beijo avassalador, sua língua
invadindo a minha boca com a mesma feracidade que ele havia me invadido
contra a mesa momentos antes. — Faça como quiser. O que quiser.
— Se segure bem, porque eu não vou ser gentil — repeti o que ele havia me
dito, e ele deu uma gargalhada rouca.
Sentei de uma vez, deixando-o se enterrar dentro de mim. Sim, eu não seria
gentil, pensei, começando a rebolar com ele dentro de mim.
***
A hora seguinte foi bastante proveitosa, devo admitir. Javier garantiu que
aproveitássemos cada segundo que passamos na companhia um do outro. Nem
mesmo quando estava tomando uma ducha para me preparar para o plantão
noturno ele me deixou sozinha. Ou sem gozar.
Sabe quando as coisas estão indo tão bem que a gente começa a desconfiar?
Eu tive a sensação de que algo ruim estava prestes a cair no meu colo e explodir
na minha cara quando, no meio de um beijo romântico a caminho do metrô, meu
celular tocou pela vigésima vez e eu vi que era o Detetive Walker.
— Detetive?
Ah. Então era ele quem estava ligando sem parar? Provavelmente, o telefone
desconhecido que eu tinha visto antes era de sua sala na delegacia. Eu tinha
apenas seu celular salvo na minha lista de contatos.
— Estava certa sobre a Sra. Smith — ele informou. — Não foi anemia. Ela
foi envenenada.
Por um lado, eu sabia que era muita coincidência tantos ataques violentos
acontecerem naquele bairro, especialmente a três pessoas relacionadas a um
mesmo edifício. Por outro lado, estávamos em Manhattan, e Nova Iorque não era
exatamente conhecida por ser uma cidade pacífica.
— Como sabem que os casos estão relacionados? Como podem ter certeza
de que não se trata de uma trágica coincidência?
— O agressor disse apenas uma frase para o seu irmão. A mesma frase
estava na caixa onde o cupcake foi guardado.
Sim, Levi havia comentado que o agressor não havia exigido dinheiro ou
feito ameaça; ele apenas havia dito palavras incongruentes, porém, jamais
perguntei quais eram elas.
— Ah, não.
— O que foi?
— Quem foi?
***
19
Carly
Precisava desesperadamente falar com o meu irmão. Robert, para quem não o
conhecia, era um homem muito educado, gentil, e atraente. Ele sabia disfarçar
sua doença, sua paranoia, desde que mantivesse suas conversas rápidas e casuais.
Ademais, ele era o tipo de pessoa que conseguiria entrar neste prédio sem
levantar suspeitas. Se fosse mesmo ele quem tivesse matado o pai, isso
significava que ele estava com bastante dinheiro nas mãos (um amigo próximo
do juiz Flynn comentou com a polícia que ele guardava alguns milhares de
dólares em seu cofre), e com roupas elegantes que levara do pai.
Felizmente, o mesmo porteiro que havia me visto saindo mais cedo estava na
portaria quando eu retornei. Ele nem fez questão de ligar para meu irmão a fim
de avisar que eu estava subindo. Fez cara feia para o Javier, mas, quando viu que
estávamos de mãos dadas, não ousou tecer comentários preconceituosos.
Tinha ligado para o Dr. Perry no caminho até aqui, e avisado para ele tudo
que eu havia descoberto, além de exigir alguns esclarecimentos.
Claro que ele tinha me dado mais um plantão de folga: se ele já estava
preocupado com a reputação do hospital antes, agora ele se consideraria
vencedor se essa história não acabasse com sua carreira.
— É tudo minha culpa, Levi! Seu ferimento, a morte de Joe, a Sra. Smith!
Era melhor desembuchar de uma vez; a verdade era dolorosa demais para ir
soltando as informações aos poucos. Não, eu jamais tinha falado do meu irmão
para Robert. Ainda assim, ele tinha conseguido descobrir que ele era a pessoa
mais importante da minha vida.
— Não acho que é minha culpa, tenho certeza! O seu agressor é Robert
Flynn, o paciente do hospital que fugiu.
Uma linha profunda surgiu entre as sobrancelhas de Levi. Seus olhos azuis
escureceram, seus lábios formaram uma linha. Ah, finalmente! Ele tinha
compreendido! Foi Levi quem me ligou para avisar que a fuga de Robert tinha
aparecido na TV.
— Não é coincidência. Mas acho que não foi por minha relação com você
que ele me atacou — ele não estava fazendo qualquer sentido. Ele estava ou não
concordando comigo, no fim das contas? — Acho que foi por causa da minha
relação com Amanda.
— Como assim? Amanda não sai de casa há pelo menos cinco anos!
Quando eu comecei a tratá-lo, três anos antes, ele já havia passado por dúzias
de médicos, e nenhum tinha conseguido ficar com ele mais de seis meses. Por
isso eu cheguei à conclusão de que ele tinha desenvolvido algum tipo de fixação
por mim quando me dei conta de que era o responsável pelo ataque a Levi.
Porém, Levi tinha um ponto: Amanda não saía de casa havia muitos anos,
porém, Robert também não deixava o hospital por um longo período. O que
significava que havia a possibilidade deles terem se conhecido antes da
internação dele e da agorafobia dela a deixar presa em casa.
— Acho que Amanda o conhece — Levi disse.
Levi era racional, apesar de que, com Amanda, ele não estava se
comportando como geralmente fazia. Ainda assim, se ele estava afirmando
aquilo, era porque tinha razões bem convincentes para tal.
Uma nova possibilidade surgiu em minha mente, fazendo meu sangue gelar:
e se Robert fosse a causa para a agorafobia de Amanda ter ficado tão extrema?
Ela me disse, em uma de nossas conversas, que teve vários problemas e traumas
ao longo dos anos, que a fizeram ter medo do “lá fora”.
***
Por alguns segundos, não ouvimos nada do outro lado, aí os olhos dela
apareceram em uma pequena abertura na porta.
Levi ficou tão ansioso que tentou me empurrar para o lado, mas eu o impedi.
Era melhor que eu falasse com ela agora.
Para o bem ou para o mal, o juiz não estava mais entre nós para proteger
Robert. E era melhor que Amanda soubesse. Desta vez, Robert seria pego pela
polícia, e ficaria em uma instituição apropriada para uma pessoa agressiva e
violenta como ele.
— O juiz não pode fazer mais nada por ele, Amanda. Está morto. A polícia
agora busca por um assassino, não um paciente foragido.
— Se ele é perigoso, por que não estava em uma prisão psiquiátrica? — Levi
e seus comentários fora de hora.
— Não posso...
— Vou lhe contar o que sei sobre ele e você complementa a história se
quiser, está bem? — Inspirei fundo. Estava prestes a dar informações sigilosas
sobre um paciente, mas era por um bom motivo. Era para ajudar outra pessoa
cuja doença estava consumindo sua vida. E eu tinha me tornado médica para
ajudar pessoas como Amanda. — Robert tem trinta e três anos, e sua mãe
faleceu no parto.
Expliquei para ela que, segundo o histórico de Robert, seu pai era um
homem frio e distante. Robert já apresentava sintomas de esquizofrenia desde a
adolescência, porém, o juiz Flynn os confundiu com problemas de hormônios e a
boa e velha adolescência.
Durante esse lapso temporal em que o pai foi negligente, a doença aflorou,
desenvolveu-se, e tomou a mente de Robert por completo. No início da fase
adulta, aos vinte anos, ele entrou para uma espécie de culto, e se tornou um
fanático religioso. Aproveitou que não mais morava com o pai, quando foi fazer
faculdade de tecnologia da informação, e passava os finais de semana em um
sítio de uma igreja muito radical.
Quando retornou a Nova Iorque, ele já havia se tornado outra pessoa. Falava
em perseguições, demônios, o Apocalipse. Estava fora de controle. O juiz passou
a mantê-lo a maior parte do tempo em casa. Ele saía raramente, apenas para
visitar seu psiquiatra, uma vez ao dia. E, em duas dessas saídas, ele foi
agressivo.
Eu não conhecia os detalhes, o Dr. Perry jurou que nem mesmo ele sabia o
que se passara, porém, deve ter sido sério, pois foi quando o juiz percebeu que,
ou internava seu filho, ou ele seria enviado à prisão.
— Não posso.
Ela colocou música clássica nas alturas, nos bloqueando. Estava pensando no
que poderia fazer a seguir, quando Levi disse, assustado:
***
No meio daquela confusão de proporções bíblicas, eu tinha esquecido
completamente de Javier. Fiquei sem palavras. Levi olhava de mim para o meu
segurança gostoso.
— Está com uma mulher e está dando em cima de outra? — Meu irmão
perguntou, incrédulo.
— Ai, merda.
Aproveitando que Levi estaria ocupado com seu vizinho e a amiga dele nos
minutos seguintes, eu aproveitei para agarrar Javier pela mão e fugir.
— Vou falar de novo com Dr. Perry. Precisamos descobrir uma maneira de
localizar Robert antes que ele machuque mais alguém.
— Não precisa, Levi. O Detetive Walker está indo para o St. Patrick para me
ajudar. Ele ficou de ligar para o detetive do caso do juiz Flynn também.
— E Amanda?
Ele estava nervoso, e eu sabia por quê. Agora que sabíamos haver uma
ligação entre ela e Robert, ela se tornaria uma pessoa de interesse para a polícia.
Bem, para a sorte dela, eu estava mais preocupada com a sua saúde mental
do que com um caso de polícia. Eles teriam que encontrar Robert
independentemente do histórico de Amanda com ele.
Essa era a última coisa que ele queria escutar naquele momento.
***
20
Levi
“Well you only need the light when it's burning low
Only miss the sun when it starts to snow
Only know you love her when you let her go
Only know you've been high when you're feeling low
Only hate the road when you're missing home”
Tempo. Paciência.
Aquilo havia se tornado o meu mantra. Sempre que tinha vontade de socar a
porta de Amanda até machucar minhas mãos, quando desejava ligar e ligar e
ligar, até ela atender a merda do telefone, eu me lembrava das palavras de Carly.
Ainda assim, Carly me fazia companhia praticamente toda vez que não
estava de plantão. Às vezes, Amanda falava com ela pela porta. Hoje, ela até
deixou Carly entrar na cobertura dela, juntamente com Bob, onde ficaram
conversando por mais de duas horas.
Porra, até o cachorro dormia com ela! Mas comigo? Ela não queria trocar
uma palavra sequer. Me dava vontade de quebrar a porra da parede que separava
nossos apartamentos, para eu atravessá-la, jogá-la na cama, entrar nela e não sair
nunca mais.
Ela calou Javier com um olhar ameaçador e injetou algo no meu braço que
me fez apagar em segundos. Quando eu acordei, uma hora mais tarde, tive que
jurar que não tocaria na parede para ela me deixar em paz.
— Falta pouco para ela voltar — Carly comentou, e revirei os olhos. Ela
estava dizendo aquilo havia dias. — Prometo. Você vai ver. Ela vai ter que vir
para deixar Bob contigo quando ele precisar passear, não é?
***
Mas que porra... Eu não tinha acendido a lareira na noite passada, e tinha
certeza que ela estava apagada antes de eu dormir. Talvez, Jack tivesse passado
aqui em casa antes de ir para o escritório.
Contudo... Ainda estava escuro lá fora. Que horas eram? Olhei para o relógio
digital que ficava no criado mudo e vi que ainda eram três da manhã. Carly e
Javier estavam fazendo plantão no hospital, e Jack não tinha razão para aparecer
aqui no meio da noite. Então sobrava apenas...
Amanda!
Saí correndo da cama, e fui até a sala. Estava vazia. A lareira estava apagada.
Mas o cheiro de queimado estava forte pra cacete. Olhei pela janela. Havia
fumaça do lado de fora. Saí na varanda, e olhei para baixo.
Porra, o mundo seria melhor sem ele, não é? Ainda assim, senti-me na
obrigação de avisá-lo que ele deveria sair com a sua foda da noite o quanto
antes, ao mesmo tempo em que insistia para Amanda abrir a porta.
Claro que ela foi olhar no mesmo instante em que meu vizinho saía correndo
do apartamento com a loira peituda, ambos pelados. Ele, sacudindo seu amigo;
ela, sacudindo suas gêmeas.
Puta que o pariu, eu seria perseguido por aquela visão grotesca pelo resto da
minha vida.
— Sério que você me tirou da cama para ver aquilo? — ela parecia enjoada.
Eu a compreendia.
— Que desculpa absurda para me fazer sair, Levi! Incêndio é assunto sério!
Jura? Pois eu sabia muito bem! E não estava disposto a virar churrasco, nem
mesmo pela vista do Central Park. Tampouco estava disposto a deixar Amanda
para trás.
— Se está dizendo a verdade, então por que o alarme de incêndio não soou?
Ainda havia uma luz fraca, vindo de vários andares abaixo de nós, que
iluminava minimamente o caminho. Entretanto, não poderíamos arriscar correr
nas escadas e quebrar o pescoço, então teríamos que nos mover lentamente, com
bastante cuidado. Em, quanto mais demorávamos, maior nosso risco.
Devemos ter descido poucos andares, quando vimos o casal peladão subindo
de novo com celulares em suas mãos guiando o caminho. Pelo menos, a pouca
luminosidade escondia os detalhes de sua nudez. Nem tudo era ruim.
***
Merda, puta que o pariu. Não podíamos usar a escada de incêndio porque,
ironicamente, o fogo tinha bloqueado a passagem.
Era surreal demais para acreditar. Ainda assim, eu tinha que estabelecer
alguns limites: segurei-o pela nuca e o puxei na minha direção, com cuidado
para as partes íntimas dele não ficarem perto demais de mim.
— Quer que eu o derrube dessa escada, você caia no fogo, quebre o pescoço
e seu pau vire carvão?
— Que é isso, cara? Bastava ter dito que ia me jogar da escada e eu já teria
entendido o recado!
— Então vamos ter que arriscar aqui mesmo — comentei, já tentando achar a
porta de acesso ao hall daquele andar.
Ai, merda. Estávamos correndo risco de morte e eu ainda ia ter que escutar à
merda da discussão deles.
— Nem acredito que eu deixei você comer o meu cú! — A amiga do meu
vizinho reclamou.
Não havia o que fazer. Se pulássemos nas árvores, a chance era praticamente
nula que sobreviveríamos. Muito menos com Bob no meu colo.
Duas coisas muito boas aconteceram naquele momento: um, meu vizinho
maluco de fato sobreviveu. Dois: algumas pessoas que estavam na rua viram a
manobra arriscada dele e chamaram os bombeiros, que vieram em nossa direção.
Nós três começamos a gritar, tentando chamar a atenção dos bombeiros que
socorriam James. Por sorte, o barulho fez Bob latir também, então eles logo nos
viram.
Estava muito alto para a escada deles nos alcançarem, então eles
posicionaram um daqueles colchões infláveis de bombeiros abaixo de nós. Não
tínhamos muito tempo. Já sentia o calor chegando até nós. Teríamos que pular. E
logo.
Claro que a peituda – Star, não Stephanie – sequer nos esperou para pular.
Ela caiu no colchão, mas bem na ponta, quicou para cima, e caiu de cara no
asfalto. Deve ter se machucado sério, pelo gemido de dor que soltou.
— Vamos juntos.
— E o Bob? — O tom dela indicava, como eu imaginava, que ela não pularia
sem o Bob.
***
21
Carly
O maldito Dr. Perry levou o meu plantão inteiro de doze horas para querer falar
comigo apenas no fim. Já deviam ser quase oito da manhã quando ele, enfim, me
chamou para a sua sala.
— Dra. Rider, soube que queria falar comigo — ele sequer olhou para mim
quando entrei em seu escritório espaçoso.
Estava cansada, impaciente e louca para ficar com Javier. Passaria algumas
horinhas com ele no meu apartamento antes de ir ficar com o Levi.
— Claro que ela contou para o senhor — se eu tinha minhas suspeitas, agora
ele havia acabado de confirmar que era um dos muitos médicos do hospital que
estavam comendo a Melissa.
Ainda assim, não havia oferecido a ela a vaga na ala VIP. Ele não era burro a
esse ponto.
— O que eu quero ou não fazer com a minha carreira não é da sua conta, Dr.
Perry — ele estava prestes a vociferar alguma ofensa, mas eu fui mais rápida. —
Assim como não é da minha conta que o senhor transa com a Dra. Taylor nesta
sala sem sua esposa ou a diretoria saberem.
— Mas... Como...
— Por favor, preencha este formulário, porque desejo começar meu plantão
no departamento da Dra. Jones amanhã mesmo.
A Dra. Jones era especializada em tratamento de doenças psiquiátricas em
crianças e adolescentes. Ela era gentil, atenciosa e, principalmente, estava mais
preocupada com seus pacientes do que com o dinheiro que eles trariam para o
hospital.
Estava a caminho da sala da Dra. Jones — quem, por sinal, não apenas sabia
do meu relacionamento com Javier, como não fizera qualquer comentário racista
a respeito dele —, quando o Dr. Davis me parou.
Nós não havíamos nos falado direito desde a Casa Latina. Entre os cuidados
com Levi, as posições de kama sutra com Javier, e os meus plantões, no máximo
nos cruzávamos pelos corredores do St. Patrick.
— Claro, Richard — não queria dar qualquer abertura para ele me convidar
para sair de novo; todavia, tampouco desejava ser grosseira. Ele não tinha sido
nada além de extremamente cordial e cavalheiro comigo.
Eu estava livre para fazer o que bem entendesse com Javier e a Jessica ainda
ia sair com o médico mais desejado do hospital?
O St. Patrick estava ficando mais interessante a cada minuto... Mal podia ver
a cara da Dra. Melissa Peitos Pra Fora Tyler quando descobrisse.
Saí cantarolando para o banheiro feminino, e nem notei que estava sendo
vigiada.
***
Ou seja: ele surgiria quando bem entendesse. Eu apenas torcia para que não
machucasse mais ninguém até lá. Aparentemente, até o FBI estava ajudando no
caso agora.
Estava perdida nos meus devaneios quando senti uma mão me tocar lá. Não
qualquer mão: aquela mão morna e deliciosa que eu já conhecia tão bem,
especialmente quando ela estava massageando meu clitóris.
— Javi, está louco? Para — claro que eu arfei, como se estivesse dizendo,
“enfia logo um dedo em mim!”.
Nossa, não um castigo... Aqui, não... Não que os castigos de Javier não
fossem maravilhosos; da última vez que ele quis me punir, me cobriu com calda
de chocolate e lambeu meu corpo inteiro, dizendo que eu era seu sorvete de
creme.
Ele vinha brincando de fazermos sexo anal, mas sempre tive um certo
preconceito, além de muito, mas muito medo. Havia, por outro lado, uma
curiosidade bem sexual: algumas das minhas amigas diziam que gozavam bem
melhor durante o sexo anal. Mas o parceiro tinha que saber muito bem o que
estava fazendo, senão machucava.
E posso garantir que Javier sabia muito bem o que fazer na cama. Ou, neste
caso, no chuveiro.
— Acha que não te vi dando mole para o Dr. Texas, Carlita? — ele
questionou, enfiando a língua na abertura virgem, enquanto mexia o dedo dentro
da outra, o polegar massageando meu clitóris.
Sabe quando dizem que homens não eram bons em fazer diversas tarefas de
uma vez? Isso certamente não se aplicava a Javier, especialmente quando ele
estava me dando prazer.
— Javi, sobre o Dr. Davis... — ele enfiou os dedos com força — Ah!
— Não ouse pronunciar o nome dele numa hora dessas, doutora — ele
sussurrou, tirando os dedos de vez, me chupando por trás.
— Javi...
Não era uma mulher submissa; longe disso. Porém, na cama, adorava ser
controlada por Javier. Adorava como ele sussurrava putarias em espanhol
enquanto transávamos, quando dizia frases românticas em sua língua natal
depois de gozar em mim, como me seduzia nos lugares mais inusitados.
Aquilo poderia acabar com a minha carreira; talvez fosse por isso, pela
emoção, pelo risco de ser pega, que eu estava tão excitada.
Senti sua ereção, dura e pulsante, na minha entrada de trás. Ele mordiscou o
espaço entre meu pescoço e a minha orelha, sabendo que era um dos meus
pontos de fraqueza. Em geral, com pouco mais de umas lambidas e beijos ali, e
eu me derretia toda.
Ele se concentrou no meu ponto mais sensível para eu relaxar. Ele foi
entrando devagar, e saiu de novo, dizendo coisas sexuais e safadas no meu
ouvido, me chamando de nomes que me deixavam ainda mais molhada, ainda
mais pronta para ele.
Ele foi entrando e retirando, cada vez mais dentro, até que mergulhou de uma
vez dentro de mim, ao mesmo tempo em que a mão que segurava a minha
cintura foi para a minha intimidade e ele voltou a acariciar meu clitóris.
E assim eu fiz. Ele rosnou, eu rebolei. Ele mordeu meu lóbulo, eu empurrei a
bunda para trás, enterrando-o ainda mais fundo. Cheguei ao ápice antes dele e,
assim como as revistas e os livros semipornográficos prometiam, foi bom, foi
dolorido, e foi absolutamente perfeito.
Assim que comecei a apertá-lo dentro de mim, ele também gozou, e foi forte,
ele passou longos segundos tendo espasmos com seu clímax.
— Você é tão perfeita que é difícil achar motivos para puni-la, doutora.
Então, eu aproveito todos, mesmo os falsos.
— Desgraçado.
Queria dizer que estava mais preocupada com o meu emprego do que com o
risco de uma das funcionárias flagrarem o meu gostoso pelado, mas.... Seria uma
grande mentira.
Enfim, ele saiu, e pude tomar o meu banho confortavelmente. Quando fui me
trocar, notei algumas ligações perdidas no meu celular, algumas delas do
Detetive Walker. Fiquei imediatamente tensa.
— O que aconteceu?
— Ah, Dra. Rider. Não foi nada sério... — Ele estava me enrolando! —
Digo, seu irmão está bem...
— Fala logo!
— Houve um incêndio no prédio onde seu irmão mora, mas ele conseguiu
sair ileso, com a vizinha e um cachorro.
— Hã... Então...
Ah, merda. Merda ao cubo. Merda vezes um milhão. Então alguma coisa
tinha sim acontecido!
— Ele não se machucou na queda, Dra. Rider — sim, isso ele já tinha me
dito. Eu sabia que não era tudo. — Mas ele desapareceu logo em seguida.
***
22
Levi
“O tempo para
A beleza em tudo o que ela é
Serei corajoso
Não deixarei nada levar pra longe
O que está na minha frente
Cada suspiro
Cada momento chegou a isso”
Cada vez que eu quicava no colchão de ar, com maior firmeza eu segurava
Amanda. Bob mal precisou de mim; rapidamente saiu do colchão, como se
tivéssemos descido de elevador.
Ele estava dando voltas em torno de nós, latindo para quem quer que se
aproximasse. Notei duas macas próximas a nós, supostamente levando James e
Star para ambulâncias que já os aguardavam.
Havia outras pessoas a alguns metros de distância, que, como nós, estavam
de pijamas e roupas de baixo. Parecia que nossos vizinhos que tinham
conseguido fugir do fogo, felizmente.
Disquei o telefone de Jack. Não queria usá-lo como mensageiro, mas eu não
sabia de cor o telefone da pessoa que eu acreditava poder nos ajudar.
— Quem é?
— Está tudo bem, Levi? — O tom dele estava bem menos agressivo.
— Não, não está. Explico depois. Preciso que você ligue para Nathalie.
Não, aquela que é dona de um puteiro, quis replicar, mas estava cansado
demais para fazer comentários cínicos. Achava que já estava cem por cento, mas
meu ferimento começava a latejar, provando que Carly estava certa quanto à
necessidade de eu continuar de repouso em casa.
— Sim, preciso da ajuda dela urgente. Diga que, se ela mandar um carro para
me buscar em dez minutos, trabalharemos para ela sem cobrar qualquer taxa
durante um ano.
***
Exatos dez minutos depois da minha ligação para Jack, um carro preto SUV,
com janelas escuras, impossibilitando que enxergássemos seu interior, parou ao
lado do caminhão de bombeiros.
O motorista, um cara que devia ter mais de dois metros e pesar pelo menos
uns cento e vinte quilos, saiu do carro e se dirigiu a mim.
— Sr. Rider? — Confirmei com a cabeça. — Fui enviado pela Sra. Nathalie
Ward.
Sem mais delongas, entrei no carro, segurando Amanda no colo. Bob entrou
atrás de mim, sentando-se ao meu lado no banco de trás. O motorista fez cara
feia, mas não reclamou. Provavelmente, Nathalie havia ordenado que ele
atendesse a todos os meus pedidos, por mais absurdos que fossem.
Olhei para Amanda; mal tínhamos entrado no veículo, e ela já parecia menos
pálida. Seus olhos castanhos me encaravam, e ela me ofereceu um sorriso
mínimo de agradecimento. Merda, como ela era linda.
Dei um beijo em sua face, e sussurrei para ela que nós seríamos levados para
um local seguro. Seu corpo ainda tremia um pouco, mas bem menos do que
quando estávamos “lá fora”.
E ela tinha sido mesmo: não tinha reclamado nenhuma vez sequer, apesar de
estar morrendo de medo. Não tinha hesitado em pular ao meu lado, não tinha se
desesperado quando precisei dela atenta e rápida para fugir do prédio.
E ela sequer havia me perguntado quem era Nathalie quando pedi a Jack que
ligasse para ela: Amanda aceitou meu julgamento sem nenhuma pergunta.
Estava embalando Amanda como uma criança, e ela já estava até com os
olhos fechados, quando um telefone fixado entre os bancos da frente tocou, e o
motorista avisou que a ligação era para mim.
— Entrada especial?
— Para celebridades, políticos e pessoas que não querem ser vistas. Não há
câmeras, para que nem mesmo meus funcionários saibam sua identidade.
— Não se preocupe, querido. Com suas habilidades para investir, sei que vou
receber em dobro.
Desejo.
Analisei a curva de seu pescoço, sua pele de porcelana, a veia ali acelerando.
Desci o olhar para seus seios, seios que eu havia experimentado, e que mal podia
esperar para chupar de novo. Desci mais, para suas pernas longas e perfeitas,
pernas de modelo.
Meus olhos voltaram para os dela. Seus lábios carnudos estavam curvados
em um sorriso irônico, e seus olhos observavam a minha boca. Agora que ela
também havia se acalmado, estava com outras coisas em mente, pude notar.
Coisas bem safadas.
— Obrigada, Levi — ela tocou meu rosto com as pontas dos dedos. Não era
um toque sexual, mas me deixou com uma ereção da porra mesmo assim.
***
Apesar do céu estar um pouco mais claro, ainda não havia amanhecido
quando chegamos no hotel butique de Nathalie. Era elegante, ainda mais do que
os de Manhattan.
— Perfeito — eu nem tinha pensado nisso, que bom que uma profissional
estava nos ajudando.
— Sobre roupas: solicitei ao concierge algumas que creio ser dos tamanhos
de vocês, porém, se não couberem, é só pedir que troquem.
Amanda estava apagada em meu colo; agradeci mais uma vez o motorista,
que me ajudou com Bob, avisando que o concierge também havia providenciado
o que precisaríamos para ele, e nos deixou.
A nossa casa pelos próximos dias tinha dois andares, com uma varanda em
volta do primeiro piso. Havia, no térreo, um espaço amplo, com cozinha, sala de
estar e jantar no mesmo espaço, além de um pequeno lavabo. A lareira ali já
estava acesa, deixando o ambiente com uma temperatura muito agradável.
Tudo era decorado de forma simples, porém elegante, a medida certa para se
passar alguns dias na praia com conforto e sofisticação. Carly morreria se viesse;
ela adorava decoração. Não parava de dizer como tinha deixado meu antigo
apartamento com a cara do de uma mulher famosa qualquer.
Subi as escadas de carvalho e dei de cara com uma suíte ampla, com uma
parede de vidro com vista para o oceano, e uma cama que fazia a minha king size
parecer de criança.
Não mais. O lugar dela era ao meu lado, e eu a convenceria daquilo. No fim
das contas, seria bom passar uns dias longe de tudo e de todos.
Ao entrar, uma nova surpresa: havia uma hidromassagem para duas pessoas,
ao lado de um chuveiro onde eu poderia brincar com Amanda assim que ela
acordasse. Seria divertido usar esse banheiro nos próximos dias.
Deixei a banheira encher enquanto escovava os dentes com uma das muitas
escovas que deixaram para nós. Entrei na água quente, deixando que ela
relaxasse meus músculos doloridos. Minha ferida ardeu um pouquinho, mas ela
já estava latejando bem menos que antes.
Puta que o pariu, ela estava de volta. E estava maravilhosa. Eu tinha deixado
apenas a luz do closet acesa, então podia ver seus contornos, e ela parecia um
anjo, iluminava por trás daquele jeito.
***
23
Levi
Ela tentou se soltar de mim, e bateu com o cotovelo no meu estômago sem
querer.
— Ai! — Sim, eu jogava sujo. Estava fingindo que ela tinha batido na ferida.
Enquanto ela tentava verificar se tinha feito algum estrago (claro que não, a
única coisa que ela havia feito tinha sido me deixar ainda mais duro, remexendo-
se no meu quadril daquele jeito), notei que um de seus mamilos rosados havia se
soltado do sutiã durante a nossa guerra aquática e estava saltitando pertinho da
minha boca.
Ela, toda distraída, nem tinha reparado. Eu, sim. E nem ferrando ia deixar
uma oportunidade daquelas passar.
Abocanhei o mamilo fujão, e ela gritou, seu corpo se arqueando quase que
automaticamente, oferecendo-me ainda mais acesso ao seio. Chupei-o até sentir
o mamilo tocando o céu da minha boca, e cheguei ao paraíso.
Enfiei um dedo dentro dela, e porra, ela estava tão apertada, mas tão pronta
para mim ao mesmo tempo, que meu pau chegou a doer e tanto tesão. Enfiei um
segundo dedo, e passei a enfiá-los e tirá-los dela vigorosamente, ao mesmo
tempo em que passava minha atenção de um mamilo ao outro.
— Levi! — ela arfou, e começou a convulsionar, apertando meus dedos,
gozando com um vigor que fez suas costas arquearem ainda mais.
Depois de muitos segundos, ela caiu sobre mim, mole e satisfeita, e tirei os
dedos dela, acariciando seus cabelos.
Eu rezava para que ela dissesse sim. Não sabia o que faria se sua resposta
fosse negativa. Bateria punheta sem parar pelo próximo mês, provavelmente.
Porém, nos últimos dias, eu e Carly tínhamos chegado a uma conclusão que
deveria ter sido óbvia desde o início: do jeito que ela era isolada, era bem
provável que Amanda fosse virgem.
Ela vivia separada do mundo “lá fora”, então seria difícil ela ter tido um
relacionamento duradouro nos últimos anos. Ademais, como ela mesma havia
dito, sua agorafobia não era recente, e tinha passado por diversas fases.
E, por mais que eu a desejasse, não queria ser o primeiro dela por ser sua
única opção, e sim por ser a sua primeira opção, como ela era agora a minha.
Merda. Eu estava apaixonado. Não havia como fugir disso.
Se fosse para cometer esse erro de novo, eu estava feliz que era com uma
mulher como Amanda. Só restava saber se ela sentia o mesmo a meu respeito, se
eu era tão importante para ela quanto ela era para mim.
Ela me olhou com uma intensidade que quase me fez gozar na água mesmo,
fora dela.
— Eu nasci para ser sua, Levi — ela sussurrou, e eu perdi de vez o controle.
Minhas mãos escorregaram pela sua pele úmida e macia, até agarrarem
aquela bundinha deliciosa. Ela arfou nomes incongruentes, e me segurou mais
forte pelos ombros. Eu a levantei, e suas longas pernas fecharam-se em volta da
minha cintura.
Deslizei-a para baixo e para cima enquanto caminhava até o quarto, sentindo
meu pau escorregar em sua entrada úmida, e sair de novo. Nossos lábios não se
desgrudaram, e eu acabei tropeçando na cama e caindo com tudo, ela por baixo
de mim.
Tentei me levantar, já irritado que teria que revirar a merda do chalé para
encontrar camisinha (isto é, se eles tivessem deixado algumas), mas ela enroscou
as pernas em volta de mim, me trancando entre elas.
— Não quero nada entre nós na minha primeira vez, Levi — ela sussurrou e
eu grunhi em resposta.
Isso mesmo: eu grunhi como um animal. Caralho, minha vontade era entrar
nela e nunca mais sair. Nós nem tínhamos transado e eu já estava viciado na
minha Rapunzel.
Completei a penetração, e ela mordeu meu ombro. O que minha diabinha fez
em seguida? Abriu ainda mais as pernas, enterrando-me ainda mais fundo nela.
Não foi um beijo gentil; foi desesperado, como eu disse que me sentia em
relação a ela. Quando a senti relaxando, se acostumando comigo dentro dela,
voltei a mexer-me. Rapidamente, ela entrou no mesmo ritmo que eu, e, daquela
vez, gozamos juntos.
— Eu também te amo, meu Príncipe de Manhattan.
***
Bob começou a latir depois que nós paramos de fazer nossos sons
animalescos. O coitado tinha se segurado, mas devia estar apertado pra cacete,
porque, no meio de toda a confusão, ele ainda não tinha saído para fazer
necessidade.
Descobri que, além da almofada e das tigelas, haviam deixado também todos
os apetrechos de cachorros para conseguir passear com ele, até saquinhos
plásticos biodegradáveis.
Usei o bosque atrás da nossa cabine e, meia hora depois, estávamos de volta,
cada um com sua missão: Bob foi direto para a sua cama, onde apagou de
imediato, enquanto que eu voltei para a minha Rapunzel, que imediatamente se
enroscou no meu corpo, relaxando a cabeça no meu ombro.
— Já? — ela olhou para o meu pau, e ele começou a ficar animado de novo.
— Eu sei que é difícil, Mandy. Mas eu quero este homem fora da sua vida
para sempre. O que só vai acontecer quando ele for achado.
— Não... Não, por favor... — o tom dela era de partir o coração. Caralho, era
melhor a polícia achar logo aquele filho da puta, porque, se eu o encontrasse
antes, não tinha ideia do que seria capaz.
Ele era um esquizofrênico paranoico? Pois eu era um apaixonado. Em uma
luta, eu estaria muito mais desesperado para acabar com a raça dele do que ele
com a minha.
Para mim, era uma questão de salvar a minha princesa e futura esposa (não
que eu fosse dizer isso a ela) e a boceta mais deliciosa da face da Terra, enquanto
que para ele, eu era apenas um servo do demônio.
Ela inspirou fundo, e ficou calada. Achei que ela não diria mais nada, até ela
admitir:
E, com aquela revelação, ela explicou tudo. Agora eu entendia por que ela
parecia tão familiar.
Durante quase uma década, James Warren foi o homem mais rico dos
Estados Unidos. Com sua morte, entretanto, ninguém soube ao certo o que
aconteceu com a sua fortuna.
Dizia-se que metade dela tinha ido para fundações e organizações sem fins
lucrativos de causas que ele apoiava. O resto, segundo esses boatos, teria ficado
com a sua única filha.
Merda. Ela era só uma criança. Que porra o juiz tinha na cabeça para deixar
o filho andar por Nova Iorque livremente? O rapaz precisava de internação
urgente, e tratamento.
Carly sempre dizia que o maior problema das doenças psiquiátricas não era a
doença em si, mas o preconceito. As pessoas preferiam viver na negação, como
o juiz Flynn tinha feito, e acabavam piorando a situação. Apenas buscavam
ajuda quando era tarde demais.
Senti lágrimas caindo no meu peito, e as sequei com as pontas dos dedos.
Dei um beijo em seu nariz, e comecei a embalá-la. Minha princesa, o que aquele
monstro tinha feito com ela?
Ela começou a soluçar. Levantei-me, fui até a cozinha pegar um copo d’água
para ela, e coloquei mais lenha na lareira. Quando eu voltei, ela me agarrou
como se eu a tivesse deixado havia horas.
— Eu nunca corri tanto na minha vida, Levi. Assim que o vi, saí correndo.
Passei três horas perdida em Nova Iorque, encharcada pela chuva. Depois de
muito tempo, Liam finalmente me encontrou e me levou para casa.
— Ele reclamou com o juiz Flynn. Mas, como o filho não tinha, em teoria,
cometido nenhum crime, papai não pôde envolver a polícia. O que ele fez foi
contratar dois seguranças para me acompanharem.
— E a polícia?
Segundo ela, Amanda, seu pai e um advogado foram diversas vezes à polícia
para tentar incentivá-los a investigar Robert Flynn. Ela foi submetida a
interrogatórios intermináveis, que não pegaram leve com ela por ser uma
criança, e tudo para nada. Desde então, Amanda deixou de ter qualquer
confiança em policiais.
Ela tinha comentado comigo que, durante alguns períodos da sua vida, tinha
estudado em casa. Porém, foi depois da morte do pai que sua agorafobia piorou,
e agora eu entendia como isso estava relacionado ao aparecimento de Robert em
sua vida.
— Sim. Eu pedi a papai que voltasse a ter aulas em casa, como acontecia
quando eu era mais nova, e estava sempre doente. Papai deixou, acreditando que
isso fosse me proteger. Mas Robert era paciente.
— Desgraçado.
— A briga com Robert o fez ter um ataque cardíaco. Ele morreu naquela
noite.
***
24
Levi
Dormi um sono profundo e sem sonhos, e acordei muitas horas mais tarde,
em outra posição. Ainda estávamos com os corpos colados um ao outro, porém,
agora, ela estava de costas para mim.
Meu pau, que parecia ter uma bússola que apontava firme e forte na direção
de Amanda, estava pulsando na bunda durinha dela, e uma das minhas mãos
estava sobre o seu seio.
Ela deve ter acordado no mesmo instante que eu, porque suas costas se
arquearam, empurrando o mamilo que virou uma pontinha contra a minha
palma, e empinando a bunda, provocando ainda mais o meu pau.
O que eu não imaginava, entretanto, era que iria desejá-la ainda mais toda
vez que fizéssemos amor, que ia precisar dela mesmo que estivesse dentro dela,
que eu ia me tornar mais seu a cada estocada, e ela, mais minha.
— Eu quero o seu pau, Levi — ela arfou quando mordisquei seu pescoço, ao
mesmo tempo em que puxava o mamilo com os dedos.
— Dentro de mim.
Entrei nela de uma vez; ela estava tão molhada, tão preparada para mim.
Caralho, como ela era apertadinha. Tínhamos passado a noite inteira fodendo
gostoso e, ainda assim, senti-a se esticando para acomodar a minha ereção.
Levantei sua perna direita para ter mais acesso e a penetrei profundamente,
em movimentos lentos e controlados. Caralho, eu estava quase explodindo, mas
valia a pena deixá-la desesperada.
Enfiei com força, soltando um rosnado e virei a boca dela para beijá-la
profundamente, penetrando minha língua nela no mesmo ritmo em que dava
estocadas.
O braço que estava sob ela, massageando seus mamilos, desceu até seu
clitóris, enquanto eu arremetia mais forte, deixando-a no limite.
Ela começou a gozar um segundo antes que eu; despejei litros e litros de
sêmen dentro dela. Porra, se ela não estivesse tomando pílula, já estaria grávida
àquela altura. Porém, ela comentou que, por conta de problemas hormonais, ela
tomava pílula desde a adolescência.
O mais louco era que eu não fazia muita diferença. Mesmo que ela não
estivesse tomando, eu não me importava com o risco: pelo contrário, me dava
mais tesão só de pensar na possibilidade.
***
— O que você quiser, Levi — diabinha. O tom dela era de apetite sexual.
Por sorte, eu estava com tanta fome por comida que deixaria aquela
provocação passar. Até depois de comermos, claro.
— O que foi?
— Ah, merda!
Calculei meus riscos, mas tive certeza de que deveria sair correndo quando
olhei de novo para Amanda. Seus lábios estavam inchados.
Corri até a recepção e, por sorte, havia apenas duas hóspedes, que estavam
sentadas em poltronas e perdidas em uma conversa. Toquei a campainha do
balcão e, minutos depois (que mais pareceram horas), uma mulher de meia idade
e com um sorriso gentil apareceu.
— Não há problema.
Porra, onde estava a comida? Felizmente, nossa refeição nova não tardou em
chegar, e aproveitamos nosso espaguete ao molho quatro queijos e um vinho
californiano que o hotel enviou de cortesia como pedido de desculpas.
Depois do longo jantar, Amanda anunciou que tomaria uma chuveirada, mas
não permitiu que eu a seguisse: ordenou que eu fosse passear de novo com Bob
antes de voltar para a cama.
Praticamente arrastei o pobre do Bob para o lado de fora. Ele queria segui-la
(como o cachorro esperto que era), mas eu queria que ele fizesse logo
necessidade. Deixei-o um pouco solto, já que não havia ruas ou carros por perto,
sempre chamando por seu nome quando ele se afastava muito.
Não era boa notícia. Eu tive certeza quando ela se aproximou e consegui ver
sua expressão sob a luz de um pequeno poste.
— Nathalie?
— Querido, vou pedir para um carro ir buscá-lo — fiquei preocupado.
— O que houve?
— Chame a polícia! — pedi a ela, lhe dando a guia de Bob, e corri até
Amanda.
***
O chalé estava totalmente escuro; a única fonte de luz vinha das grandes
janelas. Porém, como já era noite e o céu estava nublado, não ajudava muito.
Com cuidado para não cair e partir o pescoço, subi as escadas. Olhei em
volta, mas não a vi na cama. Havia, no entanto, uma sombra no canto mais
afastado das janelas.
Robert.
***
25
Levi
— Porque está com ela! — ele apontou para Amanda, que estava sentada e
encolhida na porta do closet. Movimentei-me para ficar na frente dela, para que
ele não pudesse mirar nela. — Ela é o demônio.
— Por que acha isso?
— As vozes! — ele gritou, como se eu fosse um idiota por ainda não ter
compreendido. — As vozes me disseram que ela é o demônio!
Talvez fosse impressão, mas eu podia jurar que vi, pela janela da suíte, duas
formas se movimentando pelo jardim da frente. Na dúvida, não podia deixar
Robert vê-los, senão ele poderia se desesperar e atirar em nós.
Carly tinha conversado comigo quando descobriu que era Robert quem tinha
me atacado. Ela havia me dado dicas do que eu poderia fazer se cruzasse com ele
de novo. Basicamente, ela havia dito para eu correr dele ou me esconder em
algum lugar.
Poderia deixá-lo mais agressivo, ela insistiu na ocasião. Bem, não havia
como me trancar no banheiro ou fugir dele enquanto ele estivesse segurando
aquela arma, então...
Merda!
E, para mim, era impossível fugir e não levar algumas balas no processo. Ele
estava a poucos passos de mim.
— Claro que não! — Ele berrou, balançando as mãos para todos os cantos.
Só faltava ele atirar por acidente. — As vozes sempre estiveram comigo!
Sempre acreditaram em mim!
Peraí. Foi dúvida que vi nos olhos dele? Talvez, as loucuras sem sentido que
eu estava dizendo estivessem começando a fazer efeito. Decidi continuar
naquela linha de pensamento.
***
No susto, caí para trás, e verifiquei se estava sangrando. Não estava. A bala
não havia me atingido. Amanda pulou em cima de mim, e alguém começou a
chutar as minhas pernas. Mas que porra...
— Oi, pessoal — Javier disse com dificuldade. Olhei de soslaio para ele, que
ainda lutava com Robert. Pelo menos, a arma tinha caído da mão de Robert, mas
eu não sabia para onde ela tinha escorregado.
— Não ouse ferir meu namorado, Robert! — Claro que ela não pediu que
seu paciente não me ferisse também.
Na última vez que eu perguntei o que estava rolando entre eles, ela tinha
praticamente cuspido na minha cara e me dito que não era nada sério.
Robert nos olhava como se fôssemos nós que estivéssemos ouvindo vozes.
— Peguei a arma dele! — Carly avisou. — Robert, Javi não quer machucá-
lo, mas você precisa parar de se debater.
De repente, percebi uma coisa: aquele cara à minha frente não era um
monstro. Ele tinha uma doença, que tomava conta de sua mente, enuviava sua
razão e seus sentidos. Porém, enquanto a doença de Amanda a fazia ter medo, a
dele o deixava agressivo.
Agora eu entendia a raiva que Carly nutria pelo pai de Robert: se ele tivesse
recebido o tratamento adequado desde o início, talvez a doença não tivesse se
tornado tão preponderante, talvez nada disso tivesse acontecido.
— Como sabe?
— Por que você é o imbecil, não ela — ela replicou, as mãos na cintura,
como fazia desde que tinha cinco anos de idade.
— Carly....
— Bem...
— E você não estava ainda mais perto que eu dos Hamptons quando avisei
que tinha descoberto o paradeiro do meu irmão? — Ela o interrompeu uma
segunda vez.
— Veja...
— Da luz? De que merda a luz adiantaria já que meu irmão estaria morto a
essa altura?
— Sr. Rider, queria avisar que o prédio já foi liberado — O Detetive Walker
avisou do andar de baixo. Nem ferrando ele voltaria aqui para cima, a fim de
evitar outro sermão do Furacão Carly. — O fogo não causou danos estruturais,
mas o prejuízo foi grande.
— Obrigado.
— Belo quarto este, não? — Javier olhou em volta, passando a mão pela
cintura de Carly, cuja expressão imediatamente suavizou.
***
Epílogo
6 meses depois…
CARLY
Os meus últimos seis meses foram mais agitados que os meus últimos seis
anos.
Nele, o juiz deixou uma quantia considerável para mim, a ser paga
mensalmente ao longo dos próximos dez anos. Ele desejava garantir que, no caso
de sua morte, eu cuidaria de seu filho, e os valores deveriam pagar minhas horas
de consulta. Deixe-me dizer: eram muitas, mas muitas horas mesmo.
Ah, naquele período, Levi e Amanda tinham ficado noivos! E, daquela vez,
não houve quaisquer surpresas durante o pedido de casamento.
— Quer me matar?
— Quer que nosso filho nasça com a cara do seu pau, Javi?
Ele gargalhou sonoramente com aquilo. Voltei minha atenção para a ereção
latente.
— Carly, preciso ir para o trabalho.
— E Levi?
Tinha comentado com o meu irmão que talvez nosso filho teria o nome dele.
Frisa-se o “talvez”.
— Ele já vai ser padrinho! Eu tenho questões mais urgentes neste momento...
— Ele... — Javi estava com dificuldade de falar, o que era ótimo. Menos
palavras, mais ação. — Vai ficar chateado, Carly...
Ele me puxou para cima, colou meu fronte colado ao vidro, com cuidado
para não machucar a barriga, e enterrou sua ereção dentro de mim.
***
LEVI
Eu tinha pressentido que Carly não tinha me ligado por um bom motivo.
Todavia, em nenhum momento, nem em meu pior pesadelo, eu teria imaginado
que ela havia mudado de ideia a respeito do nome do filho.
O pior era que eu tinha certeza de que a ideia não fora de Javier. Ah, não.
Todos sabiam que, em termos de nome, era ela quem dava as cartas.
— Ainda estou chateada por você ter sumido depois do incêndio sem dar
notícia!
Não acreditava que ela ainda estava chateada comigo. No período desde o
incidente no hotel, eu havia me comportado como o irmão perfeito.
— Mas...
Eu estava muito orgulhoso dos progressos dela nos últimos seis meses. Aos
poucos, ela começou a sair de casa.
Primeiro para passear dia ou outro com o Bob no Central Park. Depois,
começou a jantar comigo em seu restaurante italiano favorito uma vez por
semana. Por fim, nos últimos meses, estava vindo para reuniões quinzenais no
nosso escritório. Escritório que seria dela também.
Não, meu desejo por ela não diminuiu nem um pouco desde que transamos
pela primeira vez. Muito pelo contrário. E, depois que ela passou a usar o anel de
noivado, sei lá, eu sentia uma necessidade inquietante de sempre deixá-la sem
absolutamente nada a não ser por ele.
Foi mal, parceiro, mas não tinha como negociar com a ereção latente que eu
estava.
Ah, mulher diabólica. Mal podia esperar para me casar com ela.
A gente vinha conversando sobre aquilo havia meses, mas ainda não tinha
rolado. E só de pensar no cuzinho virgem dela... Ah, merda, meu pau estava
quase estourando a porra do zíper.
— Um terço! Fechado.
***
A cada dia, eu tinha certeza de que não poderia desejar Amanda mais. No
entanto, ela sempre arranjava um jeito de me provar o contrário. Como naquela
manhã.
Isso era outra coisa que eu amava nela: ela era tão apaixonada por números e
investimentos quanto eu. O que significava que, entre transas maravilhosas,
conversávamos sobre trabalho com a maior naturalidade.
— Não vamos ser sócios? — Ela cruzou os braços sob os seios, empinando-
os mais. Nossa, que vontade de chupá-los...
Do que estávamos falando mesmo? Ela fazia esse tipo de coisa para me
distrair de propósito?
— Juro.
— Você nunca mais vai ter isso aqui na sua vida — ela disse, olhando para
mim por cima do ombro.
— Juro pela vida do Bob que sua amiga famosa nunca se tornará nossa
cliente.
— Ei!
— É Isabelle Harper.
Não. Não era possível. Merda! Por que eu tinha jurado tão rápido? Olhei
para a bunda dela e me lembrei do motivo.
— Isso mesmo.
— Como a conhece?
***
Fim
DISPONÍVEL NA AMAZON:
LÁGRIMAS DE SANGUE
ANIMAIS NOTURNOS
LIVRO 1
LÁGRIMAS DE DIAMANTE
Spin-off de Lágrimas de Sangue
As aparências enganam.
Quem não conhece Rebecca Mackenzie, acha que sua vida é perfeita. No
entanto, poucos sabem que seus privilégios vieram com sofrimentos e perdas
irreparáveis.
Agora, ela precisará ajudar uma das pessoas que mais ama no mundo, e contará
com a ajuda de um homem misterioso, o enigmático Charlie, que guarda
segredos do passado dos Mackenzie.
LIVRO 1
As histórias de Lady Charlotte Morgan eram lidas pelas damas da Europa e das
Américas, mas ninguém sabia quem era a famosa autora que se identificava
apenas como Lady M. Ela consegue manter-se anônima por muitos anos, até que
seu editor exige que ela se revele ao visitá-lo em sua propriedade na Escócia.
Naquele ambiente frio e longínquo, ela descobrirá um dom que desconhecia, e
segredos que podem ser fatais.
LÁGRIMAS DE DIAMANTE
Prólogo
Os pequenos flocos brilhavam enquanto faziam seu lento trajeto até o chão.
Era como se o céu estivesse chorando lágrimas de diamante, Becky pensou,
rindo. Sua mãe amava diamantes, mas ela preferia o brilho incolor da neve.
Ela e seu marido, o Sr. Hardy, um dos principais diretores de seu pai, sempre
vinham para a sua casa. Eles tinham um filho, e Becky era deslumbrada por ele;
sempre que ele vinha, ela o admirava de longe, seu sorriso, seus olhos intensos, a
forma como falava com as meninas de sua idade. Ela o colocara no pedestal,
alguém que jamais estaria a seu alcance.
Ela correu para dentro de sua casa e acordou sua mamãe, aos prantos,
contando em detalhes tudo o que testemunhara.
***
Ele tinha acabado de retornar de uma missão sangrenta, a qual fora, para dois
dos membros de seu time, fatal. O seu ombro, do qual os cirurgiões haviam
tirado pedaços de metal, estava latejando de dor, mas não aumentaria a dose
diária de seus remédios. Analgésicos em excesso deixavam sua mente nebulosa,
e detestava não estar completamente atento ao que acontecia à sua volta.
Há muitos anos não considerava uma cidade seu lar, mas Burlington, onde
ele nascera e crescera, o atraía cada vez mais. Jamais imaginara que gostaria de
novo do lugar, depois de tudo o que sua família havia passado ali, mas a verdade
era que, sempre que visitava o pai, sentia-se mais à vontade, tinha uma sensação
inexplicável de pertencimento. Talvez, em alguns anos, quando deixasse o
exército, aquela poderia se tornar sua casa de novo.
O pai teria uma surpresa quando o visse: ele não esperava Charlie, em
Vermont, antes do Dia de Ação de Graças, que seria apenas em alguns meses.
Charlie sorriu ao imaginar a animação do seu velho, que adorava sua companhia,
especialmente depois que se tornara viúvo. Era engraçado como as mesmas
coisas que destruíam uma família eram capazes de uni-la. Ele e seu pai haviam
se tornado melhores amigos pela perda, e haviam fortalecido seus laços por
conta do luto.
Uma moça, que devia ter no máximo dezoito anos e parecia ligeiramente
familiar, dirigia um olhar assassino a um casal que caminhava à sua frente.
Charlie soube o que ia acontecer antes mesmo da moça começar a correr; a raiva
dela estava estampada em suas feições, no movimento de seu corpo, no azul dos
seus olhos.
Enquanto ela corria até o casal, seus cabelos vermelhos balançavam. Charlie
ficou surpreso com a agilidade da moça, já que usava saltos altos. A ruiva pulou
nas costas do rapaz, que deu um grito estridente de susto, e começou a golpeá-lo
com sua bolsa, a qual, para registro, era bem grande.
Geralmente, ele assistiria ao show e seguiria seu caminho, mas alguma força
inexorável o levou a atravessar a rua e puxar Becky para longe daquele que,
certamente, agora seria seu ex-namorado.
Mal sentindo o peso da moça, Charlie a carregou de volta para o outro lado
da rua segurando-a sobre um ombro, enquanto ela, ignorando-o por completo,
continuava a discutir com o rapaz:
— Você não vai conseguir falar porcaria nenhuma quando eu enfiar meu
salto na sua garganta, seu filho da p...
Aquele comportamento fora bizarro; Charlie não se metia nos problemas dos
outros, e era ainda mais raro ele dizer mais que uma sentença de uma vez. No
entanto, algo naquela moça de cabelos de fogo o atraiu até ela, o fez interceder.
Porém, agora que a encarava de perto, com aqueles olhos que pareciam uma
tempestade se formando, notava que não havia sido uma boa ideia. Ele a
desejava, sim, aquele impulso quase magnético que o puxara até ela fora atração.
Ao mesmo tempo, algo alertava para o perigo que ela representava, algo familiar
e maligno, que fazia seu estômago embrulhar.
Sim, aquela era Rebecca Mackenzie, filha do maior desgraçado que jamais
pusera o pé na Terra. Por um momento, a atração que sentiu pela moça misturou-
se à sede de vingança. Seria uma doce forma de retaliar o miserável por tudo que
ele fizera.
Entretanto, ela era tão jovem e inocente, outra voz incomodou seus planos.
Ela não era culpada do que ocorrera. Bem, tampouco era Charlie, mas ele havia
pago, e caro, pelo erro dos outros. Talvez essa garota não fosse culpada, mas ela
era uma Mackenzie, no final das contas, e qualquer um sabia que gente daquela
família não prestava. Eles eram egocêntricos, frios e narcisistas.
Mesmo com saltos, o topo da cabeça dela batia no ombro dele. A altura e o
porte dele, no entanto, não a afligiram. Ela colocou as mãos sobre a cintura, e
respondeu, no mesmo tom desaforado que usara com o ex-namorado:
— Olha aqui, Rambo, eu já tenho pai, não preciso que um troglodita me diga
o que fazer!
— Ele não é meu namorado! — Ela deu um pisão no pé dele, virou-se, e saiu
caminhando pela rua como se tivesse acabado de vencer o concurso de Miss
Universo.
Charlie a observou por um tempo, até que ela desse a volta no quarteirão e
ele a perdesse de vista. Graças aos céus, ela havia se afastado antes que ele
fizesse algo de que pudesse se arrepender. Já havia arrependimento demais
dentro dele, mágoa, ressentimento. Ele comprou a pizza e, ao retornar ao carro,
irritou-se ao notar que ainda sorria.
***
Capítulo 1
Becky
Apertei várias vezes o botão, como se o gesto fosse acelerar o elevador. Se eu
demorasse muito mais para deixar Burlington, teria que dirigir mais rápido do
que gostaria e, com a neve na estrada, aquilo seria um perigo para mim, para as
pessoas, para os animais e seres vivos que estivessem próximos ao meu carro.
Nunca fui acostumada a dirigir. Quando era mais nova, papai tinha um
motorista, e ele me levava para todo lugar. Em South Royalton, onde morei para
cursar Direito pela Universidade de Vermont, tampouco usei carro, pois vivia no
campus, e ia às aulas a pé. E, se precisava passar um final de semana em
Burlington com meus pais, sempre havia alguém para dar carona.
O meu primeiro emprego foi como estagiária no escritório deles, onde fiquei
mais de um ano. Entretanto, eu não gostava muito daquela especialidade, então
eles me indicaram para uma firma muito badalada de Nova Iorque, que cuidava
de divórcios dos ricos e famosos. E, quando tive que retornar a Vermont, eles
tinham me apoiado na abertura do meu próprio escritório de advocacia na
cidade.
***
— Vai ter vários homens interessantes lá, com certeza! Você se arrumou
bem?
Sem um “bom dia”, um “olá”, ou mesmo um “você está viva”? Essa era
Victoria Mackenzie, senhoras e senhores, a minha querida mãe casamenteira.
Ela conhecera meu pai no primeiro ano de faculdade, foi amor à primeira
vista, e eles se casaram antes mesmo de terminarem a graduação. Papai cometera
vários erros com ela, um dos quais eu mesma havia testemunhado quando
criança, mas ela sempre o perdoava.
Se, por um lado, eu não conseguira perdoar meu namorado como ela fizera;
por outro, eu a compreendia; papai a olhava com tamanha admiração e amor que
era fácil, por vezes, esquecer que ele cometia erros. Ao todo, eles ficaram juntos
por trinta e quatro anos.
Ela tinha feito questão de comprar um vestido novo para eu usar em cada
evento até o casamento de Maddy. Para hoje, ela havia selecionado um vestido
vinho justo de mangas longas, que batia no meio das minhas coxas.
De nada adiantou eu dizer que estaria frio; ela alegou que a festa seria do
lado de dentro e, portanto, eu poderia expor minhas pernas.
— Se um homem não quiser que eu o ache um idiota, então ele não deveria
agir como tal — rebati, esquecendo como ela ficava quando eu dizia aquelas
coisas.
— Ai, meu pai eterno, juro que vou morrer sem netos! — ela esbravejou do
outro lado da linha. — Você, pelo menos, se deu ao trabalho de se depilar,
Rebecca Mackenzie?
O uso de nome e sobrenome não era bom sinal. Por sorte, não precisaria
mentir; já imaginando que ela faria aquela pergunta, eu tinha passado no salão de
beleza no dia anterior.
Atualmente, ela defendia que, assim que eu o visse o homem certo (ela
alegava que eu teria certeza quando pusesse os olhos nele), eu deveria levá-lo
logo para a cama, ir até Vegas, casar-me com o cara e viver feliz para sempre
com ele. Tudo em menos de uma semana. Ah, e ela esperava a notícia de um
neto um mês depois, claro.
— Sim, mãe, eu me depilei. — Nossa, que conversa mais bizarra para uma
filha ter com a mãe em uma tarde fria de sábado.
— Pelo amor, mãe! Se eu conhecer um cara hoje, vai querer que eu conte
para você também o tamanho do p...
Ela ia me fazer pagar por aquela discussão, eu tinha certeza, mas não
conseguia parar, minha mãe simplesmente me tirava do sério!
Olhei para trás, e o vi; um cara alto e forte, com a maior cara de mal-
encarado, uma barba espessa e escura que escondia parte de seu rosto, cabelos
mantidos bem curtos, quase o deixando careca, e olhos verdes.
E ele estava sorrindo. Um sorriso maroto, que não combinava em nada com
o visual de Duro de Matar dele.
— Boa tarde. — A voz do cara era rouca e profunda, como se ele não fosse
habituado a falar, o que contribuía com a impressão que tive dele.
— Ai, ai, Rebecca! Você me mata com essas perguntas! — minha mãe
continuou gritando no meu ouvido, enquanto o meu rosto pegava fogo. — Eu
quero saber se fez depilação francesa, triângulo das bermudas, brasileira... Ou
deixou lisinha mesmo?
Oh, céus! Ela tinha dito mesmo aquilo? E, pela cara do marmanjo à minha
frente, ele tinha ouvido cada palavra da minha mãe, que geralmente falava
berrando ao telefone.
***