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Sinopse

Quando Bambi se encontra acasalada com um alfa cego e temível com


um passado marcado pela guerra, ela deve encontrar uma maneira de
fazê-lo ver a beleza do mundo novamente, antes que a raiva e a dor o
consumam por inteiro.
Classificação etária: 18 +
Autor Original: Veronica
Livro sem Revisão
E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
https://t.me/GalateaLivros

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda


Sumário
1. Sangue e plumas
2. Visão perfeita
3. Olhos verdadeiros
4. Olhos de corça
5. Planejando
6. Boas-vindas ao Alfa
7. Síndrome do Estresse Pós-Traumático
8. Amaldiçoado
9. Enfeitiçada
10. Rosette
11. Juntos
12. Novos aliados
13. Terrores noturnos
14. Três Palavras
15. histórias de fantasmas
16. A verdade
17. Provações e tributações
18. Negócio arriscado
19. Linhagens de sangue
20. Alfa vs. Luna
21. Julgamento
22. Entorpecida
23. Recomeço
24. Desaparecida
25. Jimmy
26. Matthias
27. Propósito
28. As Trevas
29. A Luz
30. Despertar
Capítulo 1
SANGUE E PLUMAS
BAMBI

Eu invejo você, pequeno pássaro azul.


Livre para sair e cantar suas canções.
Para abrir suas asas e voar
Ir aonde seu coração desejar.
Enquanto observava o pequeno pássaro azul voando no galho do lado
de fora da minha janela, ansiava por trocar de lugar com ele - voar para
algum lugar novo e excitante.
Ele pousou no parapeito da minha janela e olhou para mim, cantando
sua melodia alegre.
Eu cautelosamente estendi meu dedo, tomando cuidado para não o
assustar, e ele pulou em seu novo poleiro com curiosidade.
— Olá, — eu sussurrei. — Você é tão linda, pequena.
Para onde você vai agora?
Enquanto eu acariciava suas asas macias, o pássaro azul ficou inquieto
e voou para fora da janela.
Eu assisti ele subir no ar, até -
CA-CAW!
Uma enorme águia mergulhou no céu, agarrando o pequeno pássaro
com suas garras afiadas.
Restaram apenas sangue e penas.
Lágrimas inundaram meus olhos.
Este é o preço da liberdade?
— Não chore, irmã... esse é apenas a lei da natureza, — meu irmão
disse de repente atrás de mim, colocando a mão no meu ombro.
Eu me virei e enterrei minha cabeça em seu peito.
— Por que a natureza é tão cruel? — Eu chorei.
— Não é cruel, Bambi. Ela é dura, sim, e implacável ainda mais, mas
acima de tudo, ela é justa. Ela favorece os fortes, não os fracos. Portanto,
devemos aprender a ser fortes.
Meu irmão... Alfa Supremo Máximo, um Alfa do Conselho Divino do
Lobisomem, era conhecido por ser bastante implacável.
Ele tinha que ser depois que nossos pais morreram quando eu tinha
apenas cinco anos. Max tinha me criado nos últimos quinze anos, e
embora seu exterior tivesse endurecido com os outros, comigo ele
sempre foi genuinamente atencioso e afetuoso, embora um pouco
superprotetor.
— Mas você não precisa se preocupar com essas coisas, — ele disse,
apertando minha mão. — Você me tem para protegê-la, por agora e
sempre.
Eu engoli em seco. Eu tinha algo para dizer a Max, mas sabia que ele
não iria gostar.
— Eu... recebi boas notícias ontem. — Hesitei em continuar.
— E que notícia seria essa? — ele perguntou, levantando as
sobrancelhas em dúvida.
— Foi-me oferecido aquele estágio... o de design de interiores... na
cidade de Nova York.
Seus olhos se estreitaram. — Bambi, Nova York não é para nós,
lobisomens. Precisamos de espaço para correr, para caçar, para uivar. A
cidade é sufocante e repleta de humanos.
Era verdade que a maioria dos lobisomens preferia o campo. Mas eu
não era a maioria dos lobisomens.
Era esta extensa propriedade palaciana com suas empregadas e
governantas, prontas para me servir, que realmente parecia sufocante.
Eu precisava de espaço para descobrir quem eu realmente era, para
esculpir minha identidade.
Mesmo que tal espaço fosse um minúsculo apartamento de duzentos
e cinquenta pés quadrados em Manhattan.
— Max, sei que você não acha que posso fazer isso sozinha, mas
preciso tentar. Esta é minha paixão, meu sonho, e...
— Bambi, você acha que está pronta para sair por aí por conta própria,
para deixar a matilha? Você chora com a morte de um único pássaro azul.
Você não tem ideia da verdadeira dor e sofrimento que a espera lá fora.
— E de quem é a culpa, Max? Você me protegeu de tudo. Tudo —
argumentei.
— Isso é só porque eu quero o que é melhor para você, — ele rosnou.
— Você deve ter a melhor vida que a nossa matilha pode oferecer... tudo
que nossos pais teriam dado a você.
— Mas e se isso for o melhor para mim? — Eu implorei. — Eu nunca
saberei, a menos que eu faça meu próprio caminho.
— Eu a proíbo, — disse ele severamente.
— E o que você vai fazer quando eu encontrar meu companheiro?
Quando ele vier me levar embora? Você vai proibir isso também? — Exigi
saber, começando a me irritar. Ele sempre me tratou como uma criança.
A menção de um companheiro, Max ficou rígido. Era um assunto
delicado para ele, e eu sabia disso.
Ele tinha trinta e três anos e não estava acasalado, apesar de ser o Alfa
de nossa matilha.
Quando eu saísse, ele estaria sozinho. Eu havia fornecido um senso de
propósito para ele nos últimos quinze anos. Ele teria que abrir um novo
caminho também.
— Eu... eu sinto muito, Max. Eu não queria trazer isso à tona, — eu
disse, abraçando-o com força.
— Eu sei, pequena corça. Eu sei. Eu só não quero ver você ir, — ele
disse calmamente.
Eu teria que adiar essa conversa para outra hora. Teríamos uma
grande gala real em nossa propriedade esta noite, e Max estava sem
dúvida tenso com a vinda do rei e seu filho, junto com todo o conselho.
— Oh, eu quase esqueci - o presente está pronto, — eu disse olhando
para ele. — Eu terminei ontem à noite. Você quer ver?
— Claro. — Ele sorriu.
Corri para o canto do meu quarto e puxei uma lona pesada para o
chão, revelando uma pintura considerável do brasão de nossa matilha.
— É perfeito, — disse ele. — O Rei Dmitri vai adorar. Você realmente
tem um verdadeiro talento, Bambi.
Max me beijou na cabeça e me deixou para me preparar para a festa.
Quando uma brisa fria varreu minha janela aberta, cruzei meu quarto
e fechei-o.
Uma única pena azul esvoaçou do peitoril e flutuou até meus pés.
*
Alisei meu vestido de cetim tangerina enquanto descia as escadas em
direção ao pátio. Meu volumoso cabelo ruivo balançava a cada passo que
meus saltos dourados davam.
Parecia que todos os olhos estavam em mim e isso me fez corar. Eu
não estava acostumada a tanta atenção.
Carros pretos estavam chegando com todos os Alfas do conselho e a
Matilha Real.
Eu me sentei em meu assento ao lado de meu irmão e seu Beta, Ryan.
— Você está nervosa? — Ryan me perguntou. — Esta é a primeira vez
que você encontra a maior parte do conselho e do rei.
— Um pouco, — eu admiti. — Há tanta energia poderosa e dominante
em uma festa. E um pouco demais.
Meu irmão riu. Foi bom vê-lo sorrir, especialmente cercado por seus
pares. Mas me entristeceu que ele fosse o único deles sem uma
companheira, e eu sabia que ele estava pensando nisso também.
— Esses são alguns dos homens mais temidos do país, — disse Max
sério. — Muitos deles são heróis de guerra - os poucos que sobreviveram
a ela.
A mesma guerra que reivindicou nossos pais.
Max nunca me contou o que aconteceu com nossos pais na guerra.
Ele me protegeu disso, assim como ele me protegeu de todo o resto.
Eu gostaria de ter tempo com eles como ele teve. Tudo o que eu tinha
eram memórias nebulosas, e elas ficavam mais turvas a cada dia.
Eu saí de meus pensamentos quando Ryan fez um movimento
exagerado com as mãos.
— Um deles, Alfa Supremo Ekon, é tão aterrorizante que até o rei o
teme, — disse Ryan. — Eu ouvi um boato de que ele perdeu a visão em
uma emboscada, suas córneas permanentemente marcadas por um
ladino, mas agora ele está ainda mais temível. Eles dizem que mesmo
sendo cego, ele pode sentir tudo. Ele sente o cheiro de seu medo e se
alimenta disso.
— Pare, você está apenas tentando me assustar. — Eu ri. — Isso parece
inventado.
A expressão no rosto do meu irmão me disse o contrário.
Quando um carro preto com vidros escuros e bandeiras de cada lado
parou, Ryan deu um passo à frente e abriu a porta.
— Anunciando sua Alteza Real, o Rei Dmitri Alfred William
Constantine. Você é bem-vindo na matilha Suprema Divina em nome
Alfa do Alfa Supremo Maximus Bryan Woodard.
Que convencido.
Tentei abafar uma risada quando Max me lançou um olhar. A postura
real sempre foi muito divertida para mim.
O rei saiu de seu veículo estufando o peito, que estava coberto de
medalhas de guerra.
Ele se aproximou de meu irmão, que se curvou e apertou sua mão
com firmeza.
— Bem-vindo, meu rei.
Os olhos do rei vagaram para mim e eu enrijeci. Ele era um homem
intimidante, mas ainda havia um sorriso atrás de seus olhos.
Ele pegou minha mão com ternura e olhou para meu irmão.
— E quem é essa linda jovem?
— Minha irmã, Bambi Rosebud Woodard, — respondeu ele.
— Anunciando sua Alteza Real Príncipe Apollo Haydon Noah
Constantine, — Ryan gritou novamente.
Meu coração acelerou quando um garoto hipnotizante com cabelos
loiros curtos e um temo impressionante, que acentuava seu corpo magro,
mas musculoso, saiu do próximo veículo. Seus olhos pararam em mim e
eu os vi se arregalando, sua boca ligeiramente entreaberta.
Ele poderia ser meu...
Meu irmão congelou e os olhos do rei se arregalaram.
Mas quando o príncipe olhou nos meus olhos, não houve
reconhecimento, de nenhum de nós.
Ele beijou minha mão educadamente e parou ao lado de seu pai, que
parecia desapontado, embora meu irmão soltasse um suspiro de alívio.
Tive de admitir que também fiquei aliviada. Eu posso estar pronto
para abrir minhas asas, mas eu não estava pronta para ser levada embora
por algum homem estranho.
Eu ainda estava tentando descobrir quem eu era. Como eu poderia
fazer isso se estivesse amarrada a outra pessoa?
Quando o último carro parou, fiquei feliz que toda essa pretensão real
acabaria logo.
— Anunciando o Alfa Supremo Ekon Helmer Jedrek, — Ryan gritou,
começando a perder a voz depois de anunciar um conselho real inteiro.
De repente, fui dominada pelo cheiro de concreto úmido e madeira
queimada, uma combinação estranha, mas de alguma forma atraente
para mim.
Meus olhos beberam da figura alta e robusta, vestida com um belo
smoking preto, que saiu do veículo.
Ele não era magro de forma alguma. Parecia que cada parte de seu
corpo tinha músculos merecidos, com cicatrizes nas mãos e bochechas.
Seu rosto estava escuro e bonito, mas quando olhei em seus olhos,
eles estavam completamente nublados.
Ele é... ele é cego.
Nosso olhar se conectou, independentemente de sua falta de visão, e
eu senti uma onda de calor fluindo por todo o meu corpo.
Oh meu Deus.
Você é meu companheiro.
Capítulo 2
VISÃO PERFEITA BAMBI
Prendi a respiração e cerrei os punhos, olhando para o general
comandante, Alfa Ekon, enquanto ele permanecia apontado em minha
direção.
Isso não pode estar certo, pode?
Ele é realmente meu companheiro?
Quando seus lábios se separaram, meu coração começou a bater no
meu peito.
— Companheira, — ele murmurou do outro lado do pátio.
Então, ele também sentiu...
Alfa Ekon, o homem mais assustador da Matilha Real, era meu
companheiro.
Rei Dmitri se virou para Ekon com um olhar de surpresa.
— Você acabou de dizer algo sobre uma companheira, Ekon?
— Sim, ela está ali, — disse ele rispidamente.
Várias meninas perto de mim se entreolharam, assustadas.
Meu irmão se virou, olhando para ver de quem Ekon estava falando.
— Onde ela está, Alfa Ekon? Você pode sentir a presença dela?
— Sim, ela está bem ao seu lado, — disse ele, rapidamente se
aproximando de nós.
Virei-me para meu irmão com um sentimento de pavor e, quando
percebeu o que estava acontecendo, ele retribuiu meu olhar com um
olhar de horror.
— Não... isso não pode estar certo.
— Max, não quero fazer isso, — falei, tentando conter as lágrimas.
Max me puxou para trás e estendeu as mãos.
— Está é a minha irmã. Ela não irá deixar a matilha. Ela ainda não está
pronta - disse ele com firmeza, embora não conseguisse esconder o medo
em sua voz.
— Afaste-se, — Ekon rosnou. — Eu não me importo se ela é sua irmã.
Ela é minha companheira, e isso supera qualquer vínculo familiar.
Max tentou se manter firme, embora fosse inútil.
— Eu não vou entregá-la a você, — disse ele com os dentes cerrados.
Ekon colocou a mão no punho da espada e puxou-a ligeiramente para
fora da bainha, o sol poente refletindo na lâmina polida.
Eu pensei que o rei tinha muitas medalhas de guerra, mas a jaqueta
requintada de Ekon tinha o dobro, e suas cicatrizes de batalha eram a
prova real de sua coragem.
— Maximus, pare com essa loucura de uma vez! — Rei Dmitri exigiu.
— Entregue sua irmã para Alfa Ekon imediatamente!
Todos na festa estavam reunidos ao nosso redor neste ponto,
fechando-nos em um círculo fechado.
— A loucura é que minha irmã não tem voz nisto, — Max rebateu,
caminhando em uma linha perigosa. Foi o rei Dmitri quem fazia cumprir
as leis arcaicas, incluindo aquela em que uma companheira não tinha
escolha em seu próprio acordo de acasalamento.
Quando vi os olhos do Rei Dmitri se estreitarem e a espada de Alfa
Ekon deslizar ainda mais para fora de sua bainha, eu sabia que a teimosia
do meu irmão e seu amor por mim seria o fim dele.
E eu não podia deixar isso acontecer.
— Pare! — Eu gritei, ficando entre eles. — Não há necessidade de
violência.
Ekon pareceu surpreso com o primeiro som da minha voz. Ele
estendeu a mão e tocou meu rosto enquanto meu irmão estremecia.
— Vamos nos reunir no refeitório para o banquete, — eu disse
cuidadosamente. — Cabeças mais firmes prevalecerão com o estômago
cheio.
— Palavras sábias. — Rei Dmitri riu. — Você deveria estar celebrando,
não lutando. Temos um casal recém-acasalado na Matilha Real.
— Seu nome, — Ekon comandou como um sargento instrutor.
— Bambi, — respondi humildemente.
Enquanto Ekon sentia todos os traços em meu rosto com seus dedos
calejados, uma sensação de calor brotou na boca do meu estômago, mas
estava lutando com o calafrio correndo pela minha espinha.
*
Quando me sentei ao lado do meu irmão e em frente ao meu novo
companheiro, eu poderia ter cortado a tensão com a minha faca, que
deslizou suavemente pelo meu bife ensanguentado.
Assim como este animal foi criado em cativeiro com este único
propósito, eu também me senti como se tivesse sido criada para um
propósito desde o nascimento...
Para ser a companheira de Ekon.
Quer eu gostasse ou não, essa era a posição em que eu estava. Eu
precisava permanecer forte... por Max.
— Mais vinho, — Ekon gritou, batendo seu copo na mesa, me
assustando.
Enquanto um garçom reabastecia seu vinho, percebi que esta já devia
ser sua quarta ou quinta taça.
Então, estava acasalada a um herói de guerra implacável e um bêbado.
Olhando para as cicatrizes de batalha correndo para cima e para baixo
nas partes de sua pele que eram visíveis, eu arriscaria que essas duas
coisas não estavam desconectadas.
— Ekon, você deve compartilhar algumas velhas histórias de guerra,
— o Rei Dmitri implorou, ele mesmo bêbado com alguns copos de vinho.
Os olhos turvos de Ekon escureceram como uma tempestade.
— Aqueles dias estão no passado, meu rei. É onde eu gostaria que eles
ficassem.
— Bobagem, — disse o rei, acenando com o garfo.
— De que adianta todos essas medalhas em nossos casacos se não
podemos contar as histórias por trás deles?
— É melhor não contar algumas histórias, — Ekon disse
sombriamente.
— A Grande Guerra foi uma era de heróis, — o Rei Dmitri retrucou.
— E suas façanhas foram impressionantes, se você me perguntar.
Ekon bateu com o punho na mesa, fazendo até o rei pular.
— A Grande Guerra foi uma calamidade para todos os tipos de
lobisomem. Eu revivo os pesadelos em meu sono todas as noites. Não
vou revivê-los aqui, durante a porra desse jantar.
Ekon se levantou de repente. — Arruíne suas coisas, Bambi. Temos
uma longa viagem pela frente.
— Vamos... vamos embora? — Eu gaguejei. — Achei que íamos ficar
aqui um pouco...
Nem mesmo me ocorreu que estaríamos partindo para a matilha de
Ekon tão cedo. Eu nem sabia onde ficava.
— Leve roupas quentes... o Alasca faz frio nesta época do ano.
Alasca...
Tive uma sensação repentina de pavor na boca do estômago.
Ele não estava apenas me levando embora...
Ele estava me levando embora, para milhares de quilômetros de
distância daqui.
*
Arrumei meus muitos vestidos lindos cuidadosamente em minha
mala, pensando solenemente que meu companheiro nem seria capaz de
apreciá-los em mim.
Isso pode ter sido um pensamento infantil, mas minha vida estava
sendo arrancada de mim em um instante. Pensamentos infantis seriam
um luxo que eu não poderia mais ter depois que fosse morar com meu
companheiro.
Eu estava prestes a ser levada para o Alasca, isolada de todos os meus
amigos e família...
Olhei para um folheto de uma escola de design de Nova York na
minha cômoda.
Totalmente isolada...
Havia tanto que eu queria fazer e agora não tinha certeza se algum dia
teria essa chance.
Max bateu de leve na porta e entrou, parecendo estar no meu funeral.
— Como vai? — ele perguntou hesitante.
— Estou com medo, — respondi honestamente.
— Não sei quase nada sobre ele. E o que eu sei me apavora. Não quero
sair de casa.
— Sinto muito, Bambi. Talvez eu estivesse errado.
Talvez a natureza seja cruel, afinal.
Pensei no pequeno pássaro azul desta tarde.
Talvez ele tenha deixado o ninho antes de estar pronto para...
Max me puxou para um abraço.
— Ouça-me, pequena corça. Seja forte. Não mostre nenhuma
fraqueza. Ele exigirá seu respeito, mas você deve exigi-lo de volta. Um
homem como Ekon respeita a força e a confiança. Sempre mantenha sua
posição e, o mais importante, ouça seu coração.
— Não sei o que vou fazer sem você, — falei, começando a chorar.
— Você pode me encontrar a hora que quiser.
Estou apenas a uma mensagem de texto ou um telefonema de
distância, — ele me assegurou.
Eu o olhei diretamente nos olhos. — Max, me diga a verdade... você
realmente acha que eu posso fazer isso?
Ele colocou as mãos nos meus ombros e sorriu gentilmente.
— Acho que você pode fazer qualquer coisa que decidir, Bambi.
*
Enquanto estávamos sentados na parte de trás do carro com chofer de
Ekon, observei minha casa de infância desaparecer na distância.
Lágrimas rolaram pelo meu rosto, mas eu rapidamente as enxuguei,
agradecida que Ekon não pudesse vê-las.
Ficamos sentados em silêncio quando uma forte chuva começou a
bater nas janelas.
Eu me senti mais vulnerável do que nunca, presa neste carro com um
completo estranho.
— Você está assustada? — Ekon perguntou como se pudesse ler minha
mente.
— Eu... não, claro que não, — respondi, pego de surpresa.
— Não minta para mim, — ele disse severamente. — Haverá
consequências por mentir. Esconder coisas de mim é inútil. Meus
sentidos estão aguçados além dos de um lobisomem comum.
— Como posso não ter medo quando você diz coisas assim? — Eu
respondi, lembrando-me das palavras do meu irmão.
Mostre sua força.
— Exijo respeito. Sempre. Às vezes, a melhor maneira de ganhar
respeito é por meio do medo, — disse ele em tom áspero.
— E às vezes a melhor maneira de ganhar respeito é ganhando-o, —
rebati com confiança.
Ele sorriu levemente enquanto acariciava o queixo.
— Não se engane - minha matilha não é a matilha de seu irmão.
Fazemos as coisas de maneira diferente no Alasca. Você pode ter tido
rédea solta aqui, mas em minha matilha, você cumprirá minhas regras e
somente as minhas. Está claro?
Hesitei em responder, mas agora não era hora de pressioná-lo.
— Sim, está muito claro.
Quando Ekon agarrou meu rosto, senti suas garras se estendendo pela
minha bochecha. Seus olhos turvos ficaram negros como breu, e eu me
engasguei, me afastando dele.
O que diabos ele está fazendo? Ele está começando a mudar?
Enquanto seus olhos escuros observavam meu corpo, senti uma onda
repentina de excitação. Por alguma razão, gostei da maneira como ele
estava olhando para mim, embora eu soubesse que ele não podia
realmente me ver.
Seus olhos voltaram ao normal e suas garras se retraíram quando ele
se recostou.
— O que acabou de acontecer? — Eu perguntei nervosamente.
— Meu lobo quer emergir. Ele queria ver você, — Ekon respondeu.
— Me ver?
— Sim, posso ser cego, mas meu lobo...
Ekon se inclinou para frente e sussurrou, causando arrepios na
superfície da minha pele.
— Meu lobo tem uma visão perfeita.
Capítulo 3
OLHOS VERDADEIROS
BAMBI

Sra. Jedrek.
Sra. Jedrek, acorde.
Você está em casa.
— Sra. Jedrek, — uma voz disse alto em meu ouvido enquanto eu
acordava de repente.
Desorientada, olhei ao meu redor. Esta não era minha casa.
Eu ainda estava enrolada em um cobertor no avião particular de Ekon.
Devo ter dormido por horas depois que saímos de Anchorage.
Um homem excepcionalmente alto estava de pé acima mim. Ele era
bonito de uma forma discreta, embora um pouco magro.
— Desculpe acordá-la, Sra. Jedrek, mas você está em casa, — ele disse
educadamente.
— Por que você continua me chamando assim? — Eu perguntei, um
pouco irritada.
Não desejava ouvir o sobrenome de Ekon como substituto do meu.
— Bem, você é a companheira de Alfa Ekon agora.
Você prefere que eu te chame de Luna?
Ambas as opções me fizeram estremecer, como se alguém estivesse
passando as garras em um quadro-negro.
— Você pode apenas me chamar de Bambi. Quem é você para Alfa
Ekon?
— Eu sou seu Beta. Ryland.
Ryland. O nome soava tão parecido com o Beta do meu irmão, Ryan.
De repente, senti saudades de casa quando a situação se tornou real
para mim.
Estou acasalada.
Com o Alfa Ekon Jedrek.
E quando eu sair deste avião, não será o conforto da minha mansão no
Maine que me cumprimentará, mas sim a realidade fria da propriedade de
Ekon no Alasca.
— Você está pronta Sra.... uh... Bambi? Alfa Ekon foi na frente, mas
vou levá-la até a casa.
Assenti com a cabeça e Ryland me conduziu para a pista, onde um
carro estava esperando, já carregado com minha bagagem.
Enquanto subia no carro, me perguntei o que me esperava em minha
nova casa.
Casa. Essa palavra tem um gosto amargo na minha boca agora.
Não parece certo descrever este lugar dessa forma.
Eu me pergunto se algum dia isso acontecerá.
*
Eu cresci em uma casa palaciana, mas quando chegamos à magnífica
propriedade de Ekon, minha mansão se tomou absolutamente diminuta
em tamanho e estilo.
A propriedade de Ekon era mais um complexo militar com uma
estética de castelo do que uma casa real.
Era tão grande que poderia ser sua própria cidade, e com a quantidade
de seguranças que cercam o local, poderia muito bem ser.
— Por que há tanta segurança? — Perguntei a Ryland enquanto
passávamos por um portão eletrônico alto, flanqueado por guardas
armados.
— Alfa Ekon resistiu muito na Grande Guerra, — respondeu ele. —
Ele viu muitos de seus amigos próximos e familiares morrerem. Todos
com quem ele se importava. Ele não vai deixar isso acontecer de novo.
Duas das pessoas de quem mais gostava também morreram naquela
guerra.
Eu me pergunto se Ekon já se cruzou com meus pais...
Eu queria tanto perguntar a ele sobre meus pais, mas vendo a maneira
como ele reagiu quando o rei trouxe à tona histórias de guerra, eu não
ousaria.
Quando paramos na entrada. Ryland saiu do carro e abriu a porta para
mim. Dois criados imediatamente começaram a descarregar minhas
malas.
— Onde está Ekon? — Eu perguntei, embora eu não estivesse
realmente ansiosa para vê-lo.
Eu ainda estava perturbada por seu rosto meio mudado - aqueles
olhos escuros rastejando pelo meu corpo.
Fiquei chocada ao descobrir que ele recuperava a visão na forma de
lobo, embora ele não pudesse ficar assim por muito tempo.
O que ele pensa de mim? Espero que ele não tenha ficado desapontado...
Eu queria me dar um tapa por me preocupar com algo tão tolo. O que
importa se ele me acha bonita ou não? Estamos acasalados para o resto
da vida.
— Ekon queria dar a você algum espaço para se instalar, — Ryland
disse. — Ele sabe que essa é uma grande mudança para você.
Ekon não disse uma palavra para mim depois que ele mudou. Foi só
silêncio e depois ele dormiu.
Talvez ele realmente tenha ficado desapontado comigo...
Eu afundei na minha enorme cama de dossel, grata por não ter que
dormir juntos ainda. O que eu teria feito se ele tentasse dormir comigo?
Tentei afastar o pensamento da mente. Ele não parecia ser esse tipo de
homem, mas, novamente, eu mal o conhecia.
Pensei nas últimas palavras do meu irmão para mim...
Mantenha-se firme.
Ouça seu coração.
Max... eu precisava falar com ele.
Eu precisava sentir um pedaço de casa, meu verdadeiro lar.
Peguei meu telefone, mal conseguindo sinal, e comecei a enviar
mensagens de texto.
Bambi: Max, você está acordado?

Bambi: Estou com saudades.


Bambi: Estou com saudades de casa.

Max: claro que estou pequena corça Max: como posso dormir sabendo que você está aí
Max: com aquele desgraçado

Max: como ele está te tratando?

Bambi: Ele me deu meu próprio quarto por enquanto...

Bambi: Mas não sei o que ele espera de mim.

Bambi: Max, esse lugar é como uma fortaleza.

Bambi: Me sinto uma prisioneira.

Max: seja forte Bambi

Bambi: Eu não sou um soldado

Bambi: Ou um alfa

Bambi: Não posso fazer isso. Me sinto sobrecarregada. Eu sou fraca.

Max: nem toda força é física

Max: suas emoções não são uma fraqueza Max: você tem um tipo diferente de força
dentro de você Max: você é compreensiva, atenciosa e criativa Max: use isso... você vai
fazer o Ekon respeitar você Max: você me fez uma pessoa melhor, Bambi Max: talvez
você possa amolecê-lo também Bambi: Obrigada, Max.

Bambi: Eu precisava disso.

Bambi: Até mais, irmão.

Enquanto eu agarrava meu telefone no meu peito, adormeci,


desejando que eu acordasse e voltasse ao meu antigo quarto...
*
Quando acordei, o sol já estava se pondo novamente. Eu realmente
dormi o dia e a noite inteiros?
Não estava acostumada a viajar, mas não era apenas o cansaço físico.
Eu também me sentia emocionalmente esgotada.
Saí da cama e fui até o banheiro, onde tirei a roupa que estava usando
nos últimos dois dias e abri a torneira da banheira com pés em forma de
garra.
Quando encheu, deixei meu corpo afundar na água escaldante,
sentindo todos os meus músculos relaxarem.
Quando fechei os olhos, um milhão de pensamentos começaram a
nadar em minha cabeça.
Eu não tinha visto meu companheiro uma vez desde que Cheguei, e
enquanto parte de mim estava aliviada com esse fato, a outra parte estava
insegura sobre isso.
Eu estava realmente começando a achar que ele não tinha interesse
em mim.
Eu queria que ele gostasse de mim? Quando eu estava perto dele, me
sentia atraída por ele. Eu simplesmente não pude evitar.
Talvez fosse o vínculo de acasalamento...
Ou talvez a ideia de que ele pode ter conhecido meus pais...
Ou talvez eu apenas achasse suas cicatrizes e corpo musculoso e
robusto atraentes?
Estremeci com o último pensamento enquanto meu rosto ficava
vermelho. Apesar de ter quase o dobro da minha idade, eu o achei muito
agradável aos olhos.
Levantei-me e saí da banheira, envolvendo-me em um robe
aconchegante.
Calcei um par de chinelos e saí do quarto com a missão de caçar um
pouco de comida para o meu pobre estômago roncando.
Beta Ryland estava esperando ao pé da escada.
— Ah, Bambi, você chegou bem na hora do jantar, — ele disse olhando
meu robe, chinelos e meu cabelo molhado com cautela. — Está com
fome?
— Faminta, — eu respondi. — Alfa Ekon irá nos acompanhar?
— Ele vai. Ele já está sentado, mas talvez você queira mudar a sua...
Antes que Ryland pudesse terminar, já estava entrando na sala de
jantar, ansiosa para comer.
A cabeça de Ekon inclinou-se quando entrei e me sentei em frente a
ele.
— Você dormiu bem? — ele perguntou. — Você está se acomodando?
— Sim, obrigada, — respondi, sem saber como interagir com ele. —
Estou me acomodando.
— Eu posso ver isso, — disse ele em tom de desaprovação. — Da
próxima vez que você vier jantar, vista-se primeiro.
Meu queixo caiu. Como ele...
Claro, seu lobo.
— Só porque sou cego não significa que não posso sentir o seu
desrespeito. Você se vestiria assim para o seu irmão?
— Eu não quis te desrespeitar, — eu disse rapidamente. — Eu
simplesmente não pensei que-
— Que eu me importaria com a aparência de minha companheira?
Porque sou cego, porra? Bem, eu quero.
Notei uma garrafa de vinho vazia ao lado dele enquanto ele bebia de
um copo recém-enchido. Ele já estava bêbado.
— Não pense que minha visão é uma limitação, algum tipo de
fraqueza para você explorar. Isso só me torna mais forte, — ele rosnou.
— Você está exagerando, — eu disse, começando a me sentir na
defensiva. — Eu só pensei que você não se importaria porque você deu
uma olhada para mim no carro e não disse uma palavra para mim depois.
É claro que você já decidiu que sou horrível.
A princípio ele pareceu surpreso, mas seu choque rapidamente se
transformou em raiva.
— Você acha que eu não sinto o jeito que você olha para mim? Porque
eu sinto. Eu sinto o nojo. O medo. O ódio, — ele rebateu. — Você é quem
já me julgou.
Enquanto Ekon passava suas garras no ar, ele acidentalmente
derrubou seu vinho, derramando tudo em sua camisa de cetim branco.
Ele imediatamente pareceu envergonhado, mas antes que pudesse se
levantar, eu já estava ao seu lado com meu guardanapo, enxugando a
mancha.
— Deixe-me cuidar disso, — eu disse calmamente.
— Eu não preciso-
— Eu disse deixe-me cuidar disso. Sua visão não é uma fraqueza. Nem
minha empatia. — Ele relaxou enquanto eu lentamente desabotoava sua
camisa. Ao removê-la, não pude evitar de olhar para seus músculos
protuberantes.
Corei ao ver seu torso nu. Tinha cicatrizes como as mãos e a
bochecha, mas não me importei com as cicatrizes. Elas faziam seu corpo
masculino parecer ainda mais robusto e forte.
Quando toquei levemente suas cicatrizes, sua mão deslizou sobre a
minha e ele me deu um aperto afetuoso.
— Eu nunca pensei que você fosse horrível, Bambi. No momento em
que meu lobo viu você, fui dominado por sua beleza. Eu só sabia que você
não sentia o mesmo quando me viu.
Ele pensou que eu havia o achado -hediondo? Ele estava... ele estava
realmente sendo vulnerável comigo?
Enquanto eu continuava a correr meus dedos em suas cicatrizes,
coragem brotou dentro de mim.
— Essas cicatrizes... são da Grande Guerra?
— Sim, — ele respondeu suavemente.
— Você... você lutou ao lado dos meus pais na guerra?
Eu me preparei para uma reação volátil, mas em vez disso ele apenas
permaneceu em silêncio.
Eu esperei com antecipação até que ele finalmente -fizesse um
movimento.
Seus olhos ficaram escuros e suas garras cravaram na cadeira
enquanto seus músculos aumentavam ainda mais.
O lobo de Ekon olhou para mim com seus olhos verdadeiros.
— Sim. Eu os conhecia.
Capítulo 4
OLHOS DE CORÇA EKON
Quando seus olhos suaves e largos de corça me encararam, não pude
deixar de sentir um calor dentro de mim. Sua beleza era incomparável.
Eu gostaria de poder vê-la assim o tempo todo. Eu gostaria de poder
gravar essa imagem em minha memória para que, toda vez que eu
voltasse para minha forma humana, seu rosto fosse tudo que eu visse.
Em vez disso, eu apenas via escuridão.
Comecei a respirar pesadamente, sentindo uma onda de raiva
tomando conta de mim.
Mesmo em uma forma meio mudada, a raiva do meu lobo era
poderosa.
Minhas presas começaram a sair da minha boca e eu vi o medo nos
olhos de Bambi.
Porra!
Pare! Não mude de forma!
Não pude controlar meu lobo quando mudei completamente, não
desde a guerra.
A Grande Guerra me deixou com PTSD, e era desencadeada sempre
que eu estava na forma de lobo.
Era perigoso para todos ao meu redor quando mudava de forma.
Eu não podia arriscar machucar Bambi. E eu não poderia contar a ela
sobre isso também. Ela teria ainda mais medo de mim.
Respirei fundo e comecei a retrair minhas garras e presas, fechando
meus olhos.
Quando os reabri, minha visão voltou a ser uma névoa escura.
Eu podia sentir os batimentos cardíacos de Bambi. Ela estava mais
calma.
— Eu... sinto muito... eu só queria ver você. Eu não queria te assustar.
— Está tudo bem, — ela respondeu calmamente.
Eu podia ouvi-la se mexendo. Ela tinha acabado de perguntar sobre
seus pais. E a guerra.
Ela tinha perguntas.
Havia coisas que eu não podia contar a ela, para sua própria
segurança.
Mas talvez se eu cedesse um pouco, saciasse sua curiosidade.
— Quanto você sabe sobre a Grande Guerra? — Eu perguntei.
— Não muito, — respondeu ela. — Max nunca falaria sobre isso. Só
sei que muitas pessoas morreram, incluindo meus pais.
— A Grande Guerra superou todas as outras guerras que aconteceram
antes dela. Cada matilha do país estava envolvida, e até mesmo alguns
aliados de países estrangeiros. O clímax do campo de batalha foi o reino
do rei Dmitri na Romênia. Foi aí que finalmente triunfamos contra os
Rebeldes.
— Os Rebeldes? — ela perguntou inocentemente. — Quem eram eles?
— Havia duas facções principais se enfrentando na Grande Guerra, —
respondi. — Os Reais e os Rebeldes. O acampamento real era feito de
matilhas que lutavam pela família real, que incluía tanto a minha matilha
quanto a sua, entre outros.
— E quem liderou os Rebeldes? — ela questionou. — Que problema
ele tinha com o rei?
Estou indo longe demais com isso?
Eu pretendia dar a ela uma breve aula de história, mas ela era muito
inteligente para isso. Essas perguntas estavam em sua mente há algum
tempo.
Eu teria que agir com cuidado com minhas respostas.
— Os rebeldes foram apoiados pela família Blackwood. Eles foram
excluídos do Conselho depois de discordarem da maneira como a realeza
governava o reino, — respondi. — Fomos forçados a escolher um lado, e
isso acendeu uma guerra.
O silêncio de Bambi me disse que ela estava perdida em pensamentos.
— E... meus pais... você disse que os conhecia?
— Só de passagem, — menti. — Eles eram bravos guerreiros. Eles
lutaram bravamente até o fim pelo que ouvi.
Eu a senti tocar minha mão enquanto ela estava na minha frente. Por
que ela estava de repente tão perto?
— Seus olhos... quem fez isso com você? Foi um Blackwood?
Eu quase puxei minha mão longe de seu aperto.
— A hora da história acabou, — eu rosnei. — Já respondi o suficiente
de suas perguntas.
— É realmente tão terrível que eu queira conhecê-lo melhor? — ela
respondeu indignada. — Você sofreu muito com isso. Eu só quero
entender... como isso mudou você.
— Todos sofreram baixas na guerra. Você acha que existe uma pessoa
que sobreviveu e não mudou? Não sou um caso especial. E eu tenho
certeza que não sou um maldito herói que deveria ser colocado em um
pedestal, — eu rosnei.
Eu não preciso disso agora. Eu não preciso da porra da piedade dela.
O que eu preciso é de uma bebida.
BAMBI

Nos últimos dois dias, eu revirei toda a biblioteca de Ekon enquanto


ele estava em reuniões, mas ele não tinha um único -livro sobre a Grande
Guerra.
Ele claramente se recusou a lidar com seus problemas por qualquer
outro meio que não o álcool.
Eu estava começando a pensar que a escassa informação que ele havia
me dado era na verdade uma enxurrada de informações para seus
padrões.
Mas eu não estava satisfeita... nem perto disso.
Ele estava escondendo coisas de mim e eu não viveria sob o mesmo
teto que alguém que mentiu para mim.
Quando agarrei sua mão, senti. Deve ter sido o nosso vínculo de
acasalamento, mas eu sabia, sem sombra de dúvida, que ele não estava
me dizendo toda a verdade.
Mas eu não estava satisfeita... nem perto disso.
Ele estava escondendo coisas de mim e eu não viveria sob o mesmo
teto que alguém que mentiu para mim.
Quando agarrei sua mão, senti. Deve ter sido o nosso vínculo de
acasalamento, mas eu sabia, sem sombra de dúvida, que ele não estava
me dizendo toda a verdade.
Eu precisava descobrir mais sobre as mortes dos meus pais e o próprio
papel de Ekon na guerra.
Embora a biblioteca pessoal de Ekon possa ter proibido os livros de
guerra, duvido que esse seja o caso com a biblioteca da Casa da Matilha
da cidade.
O único problema era que eu não poderia deixar o complexo sem um
guarda armado e, mesmo assim, teria que argumentar sobre meu motivo
para fazê-lo.
Eu preciso ter uma desculpa convincente. O tédio não era bom o
suficiente. Eu já tentei isso.
Entrei no escritório de Ekon, tentando ser o mais casual possível, sem
levantar suspeitas.
— Você quer algo. Eu posso sentir isso, — ele disse imediatamente.
Droga, ele é bom.
— Eu... eu só queria... saber se eu poderia ir à biblioteca, — gaguejei.
— Há uma biblioteca aqui, — ele disse laconicamente.
Eu me preparei para isso...
— Sim, bem, eu ouvi algumas das empregadas falando sobre um clube
do livro na biblioteca da cidade. Achei que seria bom conversar sobre
livros com outras garotas da minha idade.
Ele acariciou o queixo, considerando meu pedido.
Como ele pode dizer não a um clube do livro? Por favor, não diga não.
Ekon suspirou e concordou com relutância.
— Tudo bem, você pode ir por algumas horas mas apenas uma vez por
semana... e apenas sob guarda armada.
Eu gritei de emoção real. Na verdade, pensei que seria mais difícil.
Corri e dei-lhe um beijo na bochecha, o que surpreendeu a nós dois.
Ele soltou uma tosse envergonhada e se virou. — Eu vou... uh... eu vou
mandar minha Gamma com você. Meu terceiro no comando. Faça
exatamente -como ela diz.
Ekon apertou um botão e falou em um alto-falante em sua mesa.
— Kalindi, por favor, venha ao meu escritório imediatamente.
— Sim, meu Alfa, — respondeu uma voz exótica sedosa.
Comecei a ficar nervosa. E se meu plano fosse descoberto? Por que ele
estava enviando alguém tão importante para me acompanhar?
Momentos depois, uma mulher incrivelmente alta com pernas
impossivelmente longas entrou no escritório, parecendo uma princesa
com sua pele caramelo e cabelo preto escuro em um rabo de cavalo alto.
Seus olhos eram castanhos escuros e seu nariz afiado e majestoso tinha
vários anéis.
— Bambi, conheça Kalindi. Ela foi treinada em várias artes marciais,
estudou profundamente no Himalaia e também é minha estrategista-
chefe, — afirmou Ekon.
Ótimo, estrategista-chefe. Eu serei descoberta com certeza.
— Ela a observará o tempo todo durante este... clube do livro, — disse
ele severamente.
Kalindi me lançou um olhar curioso e seus lábios se curvaram em um
sorriso.
Oh não...
— Não se preocupe, meu Alfa. Minha irmã e sua amiga também
frequentam este clube do livro. Tenho certeza de que todas elas se
tomarão amigos rapidamente.
Ele acenou com a cabeça em aprovação, mas eu tive que me controlar
para não ficar com a boca aberta.
Ela tinha acabado de mentir na cara dele. Eu inventei aquele clube do
livro do nada.
Mas por que ela me deu cobertura?
*
Na viagem de carro até a biblioteca, nós andamos em silêncio
enquanto eu mordia meu lábio nervosamente.
Ela contaria a ele sobre minha mentira? Ela estava mesmo me levando
para a biblioteca? Eu provavelmente estava sendo levada para uma sala de
interrogatório, onde ela usaria cinquenta tipos de artes marciais em mim
até que eu...
— Você pode relaxar, — Kalindi disse enquanto me olhava pelo
espelho retrovisor. — Eu não vou dizer a ele que você inventou o clube
do livro. É fácil perceber o porquê.
— É? — Eu perguntei hesitante.
— Você deve estar completamente entediada, presa naquele
complexo. — Ela riu.
— Sim, é exatamente isso, — eu disse, dando um suspiro de alívio. —
Que bom que você entende.
— Você me deve por isso, — ela brincou. — Mas eu puxei algumas
cordas para tomá-lo mais legítimo.
— O que você quer dizer?
— Eu convidei minha irmã mais nova, Ela, e sua amiga Victoria para
se juntar a você nos seus dias de biblioteca. Elas vão fazer parte do seu —
clube do livro.
Esta mulher é uma deusa.
— Muito obrigada. Você está realmente me ajudando, — eu disse,
sorrindo de volta.
Ajudando-me a descobrir a verdade sobre meus país e meu companheiro.
EKON

Eu sabia que seria bom para Bambi estar perto de outras garotas da
idade dela, mas ainda me incomodava. Era muito mais seguro aqui no
complexo, e com o clima atual de atividade desonesta, eu não queria
correr nenhum risco.
Kalindi era uma guarda-costas mais do que capaz, então eu não tinha
nada com que me preocupar.
Além disso, se eu mantivesse Bambi aqui, ela me odiaria ainda mais.
E se ela soubesse a verdade sobre tudo...
O vínculo de acasalamento pode nem mesmo ser forte o suficiente
para mantê-la aqui.
Eu estava começando a pensar que nunca teria um acasalamento
antes de conhecer Bambi. Eu era tão incompetente quando se tratava de
vida de acasalamento.
Tudo que eu conhecia era a vida militar. Comandos e ordens.
Mas eu não poderia tratá-la como um de meus soldados. Não se eu
quisesse ficar mais próximo dela.
As portas do meu escritório de repente se abriram quando meu Beta
entrou correndo, parecendo em pânico.
— Ryland, qual é o significado disso?
— Sinto muito, meu Alfa, mas acabei de descobrir... Ele nem mesmo
enviou uma notificação, apenas veio sem ser anunciado. — Ryland
ofegou, sem fôlego.
— Quem veio? Quem diabos está aqui? — Eu rosnei.
— Alfa Hunter Blackwood, — disse ele.
Aquele filho da puta.
Um Blackwood aparecendo na minha matilha...
Ele terá sorte de sair vivo.
Capítulo 5
PLANEJANDO
BAMBI

— Ninguém realmente vai à biblioteca a Casa da Matilha da casa da


matilha, exceto um ocasional estudante do ensino médio fazendo um
projeto de pesquisa, — disse Kalindi enquanto me conduzia por uma
escada íngreme. — Embora seja um lugar ideal para traçar e criar
estratégias - sem olhares curiosos ou distrações.
Não sei se o que estou fazendo é considerado um complô, mas parece que
escolhi o local perfeito para pesquisar a Grande Guerra.
Entramos em uma sala com teto baixo e uma dúzia de mesas e
cadeiras, cercada por estantes empoeiradas e descoloridas em todas as
paredes.
Kalindi estava certa. Este lugar claramente não tinha sido muito
usado nos últimos tempos.
Sentadas a uma mesa no canto estavam duas meninas da minha idade.
Uma delas parecia com Kalindi, mas menos atrevida e tonificada.
Deve ser a Ela.
A segunda garota era uma loira bonita, com olhos cinzentos e óculos.
Ela saltou da cadeira assim que me aproximei e estendeu sua mão.
— Victoria Spencer, — ela disse, se apresentando. — Estou tão feliz
que você pensou em começar um clube do livro. Acho que é uma ideia
maravilhosa.
Troquei um olhar compreensivo com Kalindi.
— Prazer em conhecê-la, Victoria.
— E esta é minha irmãzinha, Ela, — Kalindi disse, envolvendo os
braços em volta da outra garota. — Ela é uma assistente jurídica, aqui no
escritório da matilha.
— Eu apertaria sua mão, mas minha irmã está me apertando até a
morte com seu aperto de mão. — Ela riu.
— Você trabalha aqui também? — Eu perguntei a Victoria.
— Oh não, às vezes eu trabalho na padaria da minha mãe, mas
honestamente, quando ela me contou sobre este clube do livro, eu
simplesmente agarrei a chance de ter algo social para fazer, — disse ela,
começando a relaxar. — Eu não saio tanto quanto gostaria.
— Ela está acasalada com Beta Ryland, — Ela disse, afrouxando o
aperto de sua irmã. — Então ela entende a questão de estar acasalada
com alguém da Matilha Real.
— Realmente, você está acasalada com Ryland? — Eu disse, surpresa
quando Victoria corou.
É fofo que a menção de seu companheiro a faça corar eu gostaria de me
sentir assim.
— Sim, ele ficou muito animado quando eu disse que passaria um
tempo com a Luna, — ela respondeu.
— Oh, um... por favor, apenas me chame de Bambi... vocês duas, — eu
disse envergonhada.
— Não sou ã de títulos.
— Feito e feito. — Ela disse com um sorriso.
— Então, eu estarei patrulhando o perímetro da biblioteca enquanto
vocês garotas fazem suas coisas. Para a segurança da Luna — Kalindi
piscou.
Ela esperou até que sua irmã fosse embora, então imediatamente se
inclinou para perto de mim.
— Ok, fala sério, — ela disse, animada. — Qual é a verdadeira razão
pela qual você queria vir aqui? Não pode realmente ser sobre os livros,
certo?
Ela claramente tinha a mesma mente rápida de sua irmã.
— Sim, diga-nos, Bambi. Preciso de emoção na minha vida, — disse
Victoria, puxando-me para a cadeira ao lado dela.
Posso confiar nessas duas? Meu instinto diz sim...
— Não é tão interessante, mas...
Ambas me olharam com olhos arregalados.
— Estou aqui para pesquisar... a Grande Guerra, — revelei.
— Oh, é isso? — Ela parecia desapontada. — Eu esperava que fosse
pelo menos como... estudar posições do Kama Sutra -ou algo assim.
— Não, nada disso. — Eu ri nervosamente. — É que Ekon não
mantém nenhum livro sobre a guerra em sua propriedade... tipo,
nenhum. E tenho algumas perguntas que preciso responder.
— Tudo bem, agora você conseguiu minha atenção, — disse Victoria,
intrigada. — Eu sei sobre a aversão de Alfa Ekon a qualquer coisa
relacionada à guerra através de Ryland.
— Meus pais morreram na Grande Guerra, — expliquei. — E acho que
Ekon sabe mais do que está me dizendo.
Ela esfregou as mãos com entusiasmo. — Parece arriscado. Estou
dentro. E não se preocupe com a Vicky aqui. Só porque ela está acasalada
com o Beta, não significa que ela vai delatar.
— Como eu disse, preciso de um pouco de emoção na minha vida, —
disse Victoria, recostando-se na cadeira.
Olhei para minhas novas amigas com um sorriso determinado.
— Então por onde começamos?
Victoria se levantou e foi até a prateleira mais empoeirada da sala. Ela
puxou um livro enorme que parecia não ter sido pego há anos.
— Podemos começar com as Crônicas de Lobisomem - a história
registrada de todas as matilhas, — ela disse, deixando cair o livro sobre a
mesa com um baque. — Este é o volume três. Deve cobrir a maior parte
da Grande Guerra.
— Perfeito, então vamos começar, senhoras, — eu disse, ansiosa para
começar.
A verdade sobre meus pais e Ekon pode estar enterrada neste livro...
Quando Cheguei em casa da biblioteca, ouvi gritos do escritório de
Ekon.
Eu me esgueirei silenciosamente até sua porta, que estava entreaberta.
Enquanto espiava pela fenda, pude ver Ekon, andando de um lado
para o outro ao redor de Ryland em fúria.
— Aquele farejador de boceta tem muita coragem de aparecer aqui -
na minha matilha, — Ekon rosnou.
Cobri minha boca em choque.
De quem ele está falando de maneira tão dura?
— E inesperado, sim, mas os tratados que o rei Dmitri assinou
permitem que qualquer -matilha cruze as fronteiras de outra quando
quiser, até mesmo os Blackwoods, — Ryland disse. — E isso inclui dar-
lhes comida e alojamento se eles...
— Foda-se esse tratado. Eu não estou oferecendo hospitalidade para a
porra de um Blackwood, — Ekon cuspiu.
— Eu entendo sua preocupação, mas Hunter Blackwood não é o pai
dele. Ele não começou a Grande Guerra. Ele herdou a matilha de seu pai,
muito parecido com você, e temos o dever sob o rei de...
— Não tente ser diplomático sobre isto, Ryland. Um Blackwood é um
Blackwood. Eles são todos bastardos podres. Especialmente o farejador
de boceta.
— Ele tem uma... certa reputação... Eu admito, mas esta é uma chance
de fazer as pazes e mostrar que a Matilha Jedrek está disposta a curar
velhas feridas, — Ryland respondeu. — E apenas uma noite, e então ele
vai para a Matilha do Norte.
— Eu não vou deixar aquela cobra ir para a Matilha do Norte sozinho,
— Ekon rosnou. — Ele está tramando algo. Eu mesmo vou acompanhá-lo
até lá e ver quais são suas reais intenções.
Enquanto Ryland se aproximava da porta, rapidamente me afastei e
subi correndo as escadas para meu quarto. Sentei-me na cama, tentando
desconstruir tudo o que acabara de ouvir.
Um Alfa chamado Hunter Blackwood estava vindo aqui para passar a
noite. E sua reputação claramente o precedeu.
Já tinha ouvido esse nome antes, mas não conseguia identificá-lo...
Max saberia, disso eu tinha certeza. Peguei meu telefone e comecei a
digitar.
Bambi: Max, tenho uma pergunta sobre um Alfa...

Bambi: Ele está vindo aqui para ficar com a matilha de Ekon esta noite.

Bambi: Não consigo identificar o nome dele.

Max: Quem é?
Bambi: Alfa Hunter Blackwood

Max: PORRA

Max: Bambi

Max: fique longe dele

Max: você entende

Max: não confie em nada do que ele diz

Max: nem mesmo olhe pra ele

Bambi: Max, acalme-se.

Bambi: Ele é tão ruim assim?

Max: sim

Max: ele é um farejador de bocetas

Bambi: Por que todo mundo o chama assim?

Bambi: Isso não é um pouco extremo?

Max: você considera extremo foder a companheira de outro alfa?

Bambi: O quê??

Bambi: Isso nem é possível!

Max: ele conseguiu

Max: e quando o alfa o atacou

Max: blackwood o estripou

Max: ele se safou porque estava tecnicamente se defendendo

Bambi: Isso é terrível!

Max: apenas me prometa que você terá cuidado

Bambi: Eu prometo.

Então Hunter Blackwood dormiu com a companheira de outro Alfa?


Os laços de acasalamento eram extremamente difíceis de quebrar. Era
quase inédito.
Não sabia se isso me assustava mais do que o fato de seu pai ter
ajudado a iniciar a guerra que matou meus pais e inúmeras outras
pessoas.
De qualquer forma, Hunter Blackwood era uma má notícia...
*
Enquanto estávamos no portão do complexo, Ekon parecia mais tenso
do que eu já o tinha visto. Ryland ficou ao seu lado enquanto Kalindi
ficou ao meu lado, e todo o pessoal e soldados se enfileiraram atrás de
nós.
Esta era uma recepção típica para um Alfa. Eu já tinha feito isso
muitas vezes ao lado do meu irmão em nossa matilha lá em casa, mas
nunca como uma Luna.
Ekon não tinha me contado nada sobre Hunter Blackwood,
provavelmente esperando me proteger dele, mas era melhor que eu
soubesse o que fazer.
Eu estava preparada para seus truques.
Quando os pesados portões de ferro se abriram. uma longa carreata
começou a passar.
Os olhos de Ekon ficaram mais escuros e os cabelos de seu pescoço se
arrepiaram. Ele parecia estar se segurando para não mudar.
A carreata parou na nossa frente.
— Farejador de bocetas, — Kalindi rosnou baixinho.
Eu sorri para mim mesma. Esta recepção pode ter sido obrigatória,
mas não seria calorosa.
Um dos soldados de Blackwood abriu a porta do carro de luxo no
meio da carreata. Um homem alto e musculoso com pele bronzeada e
cabelo escuro saiu.
Ele tinha um sorriso diabólico em seu rosto, e seus olhos amarelos
brilhavam com malícia sob os holofotes do complexo.
Ele definitivamente parecia um problema.
— Alfa Supremo Jedrek, — ele disse, estendendo sua mão enquanto se
aproximava de Ekon.
Eu percebi que Ekon estava se controlando para não estender suas
garras em vez disso.
Hunter Blackwood se virou para mim em seguida e olhou para mim
com uma sede insaciável em seus olhos.
Ele fechou os olhos e cheirou o ar ao meu redor.
Meu estômago embrulhou. Eu estava congelada enquanto esperava
seu próximo movimento. E então seus se abriram de novo, brilhando, e
seu olhar fixou-se em mim.
— Você cheira... bem, — disse ele, lambendo levemente os lábios.
Capítulo 6
BOAS-VINDAS AO ALFA BAMBI
Começou a tempestade depois que Hunter Blackwood chegou. Um
mau presságio, provavelmente.
Enquanto colocava meu pijama, estremeci, pensando em dormir sob o
mesmo teto que ele.
Quando ele me cheirou mais cedo, ele não estava tentando sentir o
cheiro do meu perfume.
Ele era um lobo depravado e lascivo, e eu não lhe daria nenhuma
oportunidade de me cheirar novamente.
Eu até me encharquei de óleos de banho e sabonete líquido para
mascarar meu perfume cítrico natural, só para seguro-me precaver.
Eu pulei quando um relâmpago passou pela minha janela e um trovão
estalou no ar tão alto que parecia que estava em cima de mim.
Aquele canalha pode estar vagando pelos corredores agora, procurando
meu quarto...
Procurando uma chance de cheirar minha...
— Aham. — Alguém pigarreou atrás de mim.
Eu me virei para ver Ekon parado na minha porta.
— O que você está fazendo aqui? — Eu gaguejei.
— Estou aqui para... uh... ver como você está, — disse ele
timidamente.
Eu sorri para mim mesma. Ele não confiava em Hunter sob o mesmo
teto que eu também.
Eu não podia culpá-lo e, honestamente, já me sentia mais segura com
ele parado aqui na minha frente.
— Então, você precisa de alguma coisa? — ele perguntou, dando um
passo para dentro do quarto.
— Na verdade, eu não me importaria se você ficasse um pouco. A
tempestade é meio assustadora, — eu menti.
— Sim, claro... a tempestade. E por isso que estou verificando você, —
ele murmurou.
Nenhum de nós iria admitir que os lendários poderes de farejar
bocetas de Hunter Blackwood eram mais assustadores do que a
tempestade, então poderíamos muito bem usar isso como nossa
desculpa.
Eu fui para a cama e puxei os cobertores até meu queixo enquanto ele
se sentava na beirada.
— Você irá conosco para a Matilha do Norte amanhã, — Ekon disse.
— Eu gostaria que você visse como eu trabalho com outras matilhas.
Como minha Luna, é algo em que você também estará envolvido
eventualmente.
— Tem certeza de que não é que você simplesmente não confia em
mim aqui sozinha? — Eu provoquei.
— Isso também pode ser um fator. — Ele sorriu. Era estranho como
seu rosto áspero ficava mais suave quando ele sorria.
O trovão retumbou do lado de fora novamente, e eu vacilei, feliz por
Ekon não poder me ver parecendo uma garotinha, escondida sob seus
cobertores.
Ele calmamente colocou a mão na minha perna.
— Por que você está sufocada por cheiros que não são seus? — ele
perguntou, franzindo o nariz, de repente.
— Não há razão, só tomei um banho, — respondi nervosamente.
Quando um relâmpago iluminou minha janela, tive uma imagem de
Hunter vagando pelos corredores novamente... farejando o ar.
— Ekon, você se oporia a dormir aqui esta noite? — Eu soltei.
Ele pareceu surpreso, mas de um jeito bom.
— Se isso fizer você se sentir melhor... por causa da tempestade, —
disse ele.
— Sim, por causa da tempestade. — Eu sorri, aliviada.
Ekon tirou a camisa e eu senti o cheiro de seu agradável aroma
amadeirado.
Quando ele apagou as lâmpadas e se arrastou para a cama ao meu
lado, minhas pálpebras começaram a ficar pesadas.
Minhas preocupações desapareceram enquanto eu caía no sono, me
sentindo segura e protegida.
*
Apesar de ser tão cedo pela manhã, eu me sentia revigorada como
uma margarida.
Na noite anterior, eu dormi melhor do que em qualquer outra noite
desde que cheguei aqui. Surpreendeu-me que um homem tão rude
pudesse ser tão calmante deitado ao meu lado.
Eu caminhei para fora, onde estavam colocando as bagagens na
caravana de veículos para nossa viagem para a Matilha do Norte.
Hunter Blackwood estava encostado no carro, fumando um cigarro.
Quando ele me viu, seus olhos persistentes percorreram meu corpo e
ele me deu uma piscadela diabólica para combinar com seu sorriso.
As histórias sobre ele eram realmente verdadeiras? Eu nunca quis
descobrir.
Eu adentrei um carro estilo limusine, onde Ryland e Ekon estavam
sentados na minha frente.
Ekon olhou para Hunter através da janela escurecida. Fiquei grato por
ele ter insistido em pegar carros separados.
— Motorista, vamos lá, — Ekon gritou, batendo na divisória. —
Quanto mais cedo acabarmos com isso, melhor.
Quando saímos do complexo, senti uma onda de excitação. Esta era a
primeira vez que conseguia deixar a cidade.
Talvez Ekon me tratasse mais como um igual se eu continuasse a
mostrar minha força?
Meu telefone começou a zumbir e eu o verifiquei discretamente.
Victoria: Bambi, divirta-se muito em sua viagem!

Victoria: Dê lembranças ao Ryland Victoria: Queria ter ido com ele.

Bambi: Obrigado, gostaria que você também estivesse aqui!

Ela: Ouvi dizer que HUNTER BLACKWOOD está com você Victoria: É por isso que eu
não pude ir...
Bambi: Sim, ele é um grande verme Ela: Mas meio gostoso, né?

Bambi: EW, NÃO

Victoria: (emoji de dedo para baixo) Ela: BRINCANDO, DEUSA!

Ela: (emoji revirando os olhos)

Ela: Mas falando sério...

Ela: Os Blackwoods aparecem muito nas Crônicas de Lobisomem Victoria: E nada disso
é sobre caridade ou boas ações Ela: Eles são fomentadores da guerra Bambi: Sim, estou
bem ciente da reputação de sua família Bambi: Definitivamente há desentendimento
entre Hunter e Ekon Victoria: Só tome cuidado. Estou feliz que você esteja com Ekon e
Ryland.

Bambi: O que mais você achou?

Bambi: Algo sobre meus pais?

Ela: Ainda não

— Bambi, tire seu


Ela: Mas vamos continuar procurando enquanto você estiver fora
nariz do seu telefone, — Ekon rosnou, me puxando para fora do meu
bate-papo.
— Desculpe, apenas... fazendo planos para o clube do livro para a
próxima semana.
— Bem, seja útil, — disse ele, empurrando uma pasta em minhas
mãos. — Leia isso para mim.
Eu preferia a versão de Ekon que estava dormindo e silenciosamente
reconfortante.
Abri a pasta para encontrar um resumo sobre a Matilha do Norte.
— Diz que há cerca de três mil membros na Matilha do Norte. O Alfa
é Jeremy Rudolph, sua esposa é Nora Rudolph e... ela está grávida de
vários meses.
— Quatrocentos de seus soldados são designados para o regime de
treinamento de nossa matilha, — continuei, — e eles pagam uma taxa
anual por seus serviços de proteção até que sua matilha tenha concluído
o treinamento.
— Em outras palavras, eles são um bando de fracos, — Ekon grunhiu.
— Suas fronteiras não são seguras, o que significa que eles são os
principais alvos de bandidos. Vulnerável a todos os tipos de ataques. Eles
não levaram meu programa de treinamento a sério. A milícia deles é uma
piada. E o Alfa deles também.
— O que Blackwood quer com eles? — Ryland perguntou.
— Provavelmente tentando caçá-los para seu próprio exército. Sobre o
meu cadáver. — Ekon fez uma careta. — A última coisa de que
precisamos é os Blackwoods ganhando mais poder.
Continuei folheando os arquivos e notei um registro de suas contas.
Seus fundos foram quase completamente drenados e eles quase não
tinham nenhuma fonte de renda. Essas pessoas não viviam no luxo,
como Ekon ou meu irmão.
Eles estavam lutando apenas para sobreviver. Talvez eles estivessem
prestes a fazer algum tipo de acordo com Hunter?
Eu não os culparia. Eles precisavam de ajuda, e ninguém estava dando
a eles. Eles ficaram sem opções...
*
As horas passaram lentamente, mas quando me inclinei contra a
janela, um edifício borrado começou a entrar em foco.
— Estamos aqui — anunciou Ryland. — Eu posso ver o portão à
frente.
Esta foi a primeira vez que fui recebido por outra matilha como um
Luna...
A companheira de um Alfa poderoso e temido...
Eu tinha esse título por muito pouco tempo.
E se eu disser as coisas erradas ou envergonhar Ekon?
Quando nossa caravana parou em frente ao portão da Matilha do
Norte, parecia que meus medos eram irrelevantes.
Ninguém saiu para nos cumprimentar.
Sem boas-vindas.
Sem Alfa.
Nada.
O que estava acontecendo?
— Que porra está acontecendo? — Ekon expressou meu pensamento
em voz alta, saindo do carro.
Enquanto eu o seguia, Hunter e seu grupo também saíram do veículo.
— Que tipo de incompetência é essa? — Hunter rosnou.
— Mais como desrespeito, — cuspiu Ekon, seus olhos ficando pretos
de raiva.
— Eu visitei matilhas com menos da metade dos membros deste, e
eles ainda me deram as boas-vindas de Alfa, — Hunter disse com raiva.
— Eu nem mesmo sinto o cheiro de nenhum soldado mantendo
guarda, — Ekon disse, enojado. — O regime de patrulha deles é
inexistente.
— O Rei Dmitri ouvirá sobre isto, — Ryland disse amargamente.
Enquanto os homens reclamavam entre si sobre a falta de boas-
vindas, eu fui em frente e empurrei o portão, que havia sido deixado
aberto.
Fileiras de prédios sujos e malcuidados alinhavam-se nas ruas. Essas
pessoas viviam na pobreza. Eu nunca tinha visto nada parecido.
Eu gostaria que houvesse algo que eu pudesse fazer por eles.
Ekon pode ver apenas pessoas que são fracas, mas eu vejo pessoas que
precisam de ajuda.
Compaixão não é uma fraqueza. Eu tenho que me lembrar disso.
Continuei me movendo pela cidade até que os prédios ficaram tão
imundos que ficaram totalmente escuros.
Isso não era sujeira... era cinza.
Eu vacilei quando os restos carbonizados de uma moldura de porta de
madeira desabaram ao meu lado.
Um fedor pungente encheu o ar quanto mais eu me movia para
dentro da cidade. Eu estava quase na praça da cidade.
O que é esse cheiro horrível?
Parece que algo está queimando...
Tem cheiro de...
Oh meu Deus.
Carne em chamas.
No centro da praça da cidade havia centenas de cadáveres
carbonizados, alguns deles ainda em chamas.
A cidade inteira foi saqueada e massacrada.
Ninguém ficou vivo.
— Bambi! — Ekon gritou ao longe. Ele deve ter cheirado os cadáveres.
Eu estava congelada no lugar. Eu não conseguia parar de olhar para os
incontáveis corpos ao meu redor enquanto as lágrimas se formavam em
meus olhos.
Quem poderia ter feito uma coisa tão impensável?
— Ele — me ajude...
Eu gritei quando uma mão negra carbonizada disparou da pilha de
corpos e agarrou meu tornozelo.
Um homem com metade da carne derretida em seu rosto puxou-se
em minha direção enquanto eu recuava com horror.
— Ele... ele fez isso.
— Quem? — Eu perguntei, apavorada.
Ele estava quase morto, agarrado aos momentos finais de sua vida.
— Ma...
Ele lutou para erguer o que restou de seu queixo.
— Matthias.
Sua cabeça desabou no chão quando ele deu seu último suspiro.
Capítulo 7
SÍNDROME DO ESTRESSE PÓS-T RAUMÁTICO
BAMBI

O nome ecoou na minha cabeça enquanto meu coração disparava.


Matthias.
Eu não sabia quem ele era, mas se ele podia causar uma devastação
como esta, ele deve ser realmente um demônio.
Lágrimas escorreram pelo meu rosto quando fechei os olhos com
força, incapaz de suportar a visão dos incontáveis corpos queimados na
minha frente.
Eu dei um passo para trás e encontrei alguém.
— Ekon? — Eu perguntei, abrindo meus olhos e me virando.
— Este lugar não é para os vivos, — uma voz sibilou em meu ouvido.
— Talvez você queira se juntar aos mortos?
Tentei gritar, mas sua mão atingiu minha boca.
Ele estava vestido com trapos esfarrapados e coberto de sujeira, uma
grande mochila pendurada nas costas.
Este homem era um rebelde.
Um lobo sem matilha.
Lutei para me libertar de seu aperto, mas ele apenas riu da minha
tentativa débil.
— Pare de se contorcer, vadia. Isso só torna mais difícil estripar você.
De repente, o rebelde foi arrancado e lançado ao ar por uma força
poderosa.
Em seu lugar estava Ekon. meio mudado e pronto para despedaçar
alguém, a julgar pelo olhar sanguinário em seus olhos.
Essa expressão feroz imediatamente mudou para uma de choque
quando Ekon viu os corpos atrás de mim pela primeira vez.
Cheirá-los era uma coisa, mas vê-los com seu lobo o parou de repente.
— O que aconteceu...
Ekon ficou instável e começou a cair, voltando à forma humana.
Corri para frente e segurei seu peso, tentando mantê-lo em pé.
— Ekon, você está bem? Me responda! — Eu gritei.
— Tantos... tantos soldados. Todos mortos. Apenas meninos. Éramos
apenas meninos. Eu deveria ter feito mais, — ele murmurou.
Soldados?
Ele... ele acha que está de volta à guerra.
E este lugar realmente parece uma zona de guerra.
— Morte em toda parte, — ele murmurou. — Se a morte é tudo o que
há para ver... Estou feliz por não ter minha visão.
— A Grande Guerra acabou, Ekon, — eu disse, tentando confortá-lo.
— Vai ficar tudo bem. Nós vamos ser Atrás de Ekon, eu peguei um
vislumbre do rebelde correndo direto para nós, com a faca na mão.
— Ekon, cuidado! — Eu gritei, mas ele não se mexeu um centímetro e
seu peso me prendeu no lugar. — Você tem que sair dessa!
Estávamos praticamente mortos...
Mas antes que o ladino pudesse nos alcançar, Hunter apareceu de
repente do nada e ele foi arremessado pelo ar, jogando-o no chão.
Ele agarrou um pedaço de madeira lascada e enfiou-o no peito do
rebelde, fazendo com que o sangue jorrasse de sua boca.
Mesmo que eu achasse o sangue desnecessário, dei a Hunter um olhar
agradecido, mas então senti as garras de Ekon cravarem em meu ombro.
Ele estava voltando ao normal.
Ele me empurrou para trás no que foi possivelmente um ato de
proteção, mas mais provável, foi um ato de constrangimento.
— Nunca mais saia correndo assim, — ele rosnou, sem olhar para trás.
Quando Ekon caminhou até o ladino empalado, Hunter lançou-lhe
um sorriso maroto.
— Está ficando um pouco lento na sua velhice, Ekon? Eu sei que você
não me deixou matar esse aqui apenas pela bondade do seu próprio
coração.
— Meus dias de matança acabaram, — ele rosnou, tateando em busca
da mochila e arrancando-a das costas do ladino.
Ele a abriu e a virou, espalhando um monte de joias, talheres e
antiguidades, ouvindo o som de seu barulho quando atingiam o chão.
— Apenas um saqueador... porra de ladrão mesquinho, — ele rosnou.
— Ele não teve nada a ver com este massacre.
— Então quem diabos fez isso? — Hunter perguntou, seus olhos
ficando escuros.
Matthias.
O nome ecoou na minha cabeça novamente.
— Puta merda, isso é... — Hunter de repente se ajoelhou ao lado do
mesmo homem que havia pronunciado aquele nome. — Ekon, você
precisa ver isso...
Ekon fez uma careta. — O que é isso, Blackwood?
— É o Alfa Rudolph... ou o que sobrou dele, de qualquer maneira.
Eu engasguei antes que pudesse me impedir.
Então esse é o Alfa da Matilha do Norte? Aquele que viemos ver...
Ryland veio correndo rua acima, um olhar de pura repulsa em seu
rosto enquanto examinava os corpos.
— Alfa Ekon, batedores avisaram que mais ladinos estão a caminho
para este local. Não é seguro ficar aqui.
Ekon acenou com a cabeça e caminhou até mim, agarrando-me pela
mão.
— Não há nada para nós aqui de qualquer maneira. Nada além de
profanação.
O silêncio no caminho de volta ao complexo de Ekon foi insuportável.
Ele estava com raiva de mim. Eu percebi. Eu tinha vagado por conta
própria quando sabia melhor, mas também sabia que minha natureza
curiosa era apenas uma pequena parte dela.
Ele estava bravo por eu tê-lo visto agir tão fraco... tão vulnerável.
Ele estava absolutamente paralisado por suas memórias da guerra. Eu
não conseguia imaginar os horrores que ele deve ter enfrentado para
fazê-lo se dissociar daquele jeito.
Eu queria falar com ele...
Para confortá-lo...
E para dizer a ele o que Alfa Rudolph havia revelado antes de morrer.
Mas ele estava me ignorando e eu estava com medo de que qualquer
coisa que eu dissesse fosse a coisa errada.
— O que você estava pensando? — ele finalmente perguntou em um
tom áspero.
— O que? Como assim? — Eu gaguejei.
— O que diabos você estava pensando? Fugindo por conta própria
assim. Você poderia ter morrido.
— Eu... eu acabei sendo levada por minha curiosidade-
— Sua curiosidade, — ele repetiu com desgosto. — Isso seria o que
faria você ser morta.
Como minha natureza curiosa já estava testando sua paciência, decidi
testá-la ainda mais.
— Você já ouviu falar de alguém chamado Matthias?
A cabeça de Ekon se ergueu e seus olhos ficaram negros.
Sua reação severa me assustou.
— O que você acabou de dizer?
— Matth...
— Onde diabos você ouviu esse nome? — ele rosnou com um ódio tão
fervente que me fez recuar.
— Alfa... Alfa Rudolph. Ele disse o nome com seu último suspiro, —
eu respondi humildemente. — Talvez tenha sido ele quem massacrou a
matilha?
— Isso é impossível. Não fale sobre coisas sobre as quais você não sabe
nada.
Comecei a ficar aborrecida. Por que ele estava me tratando como uma
criança?
— Por que isso é impossível? Só porque veio de mim? Você acha que
eu estava apenas sentada por aí, uma companheira de espera de cabeça
vazia antes de você me trazer para este pesadelo frígido? — Eu cuspi de
volta.
É
— Não, — ele rosnou. — É impossível porque Matthias está morto. Eu
o matei com minhas próprias mãos.
Sentei-me atordoada.
— E, Bambi, preciso que você faça algo por mim, — disse Ekon,
inclinando-se para frente e pairando sobre mim. Eu percebi que ele ainda
estava furioso, mesmo que seu tom fosse mais suave. De alguma forma, o
volume mais baixo me fez tremer mais.
— O que? — Eu perguntei, quase um sussurro.
— Nunca fale essa porra de nome de novo.
EKON

Quando me inclinei contra a porta de Bambi, ouvi um leve soluço


vindo de trás dela.
Ela tinha se isolado em seu quarto desde que voltamos da Matilha do
Norte.
Talvez eu tenha sido muito duro com ela...
Porra, eu sabia que fui muito duro com ela.
Ela nunca tinha experimentado a morte antes... não assim.
As pilhas de cadáveres...
O fedor de carne queimada...
Não era nada novo para mim, mas fui eu quem congelou.
Eu tentei tanto esquecer o que tinha visto na Grande Guerra...
O que eu fiz...
Mas algumas coisas você nunca esquece.
Algumas coisas ficam gravadas em sua mente por toda a eternidade.
Bambi provavelmente nunca esqueceria o que viu na Matilha do
Norte...
Agora ela precisava do meu conforto, não do meu julgamento. Eu não
estava lá para ela quando ela precisava de mim antes, mas eu poderia
apoiá-la agora.
Bati na porta e entrei quando ouvi Bambi sentar-se rapidamente. —
Ekon, — ela disse timidamente.
— Vim pedir desculpas, — disse eu, sentando-me na beira da cama. —
Eu não deveria ter sido tão duro com você. Eu só...
Quando minha voz sumiu, ela colocou sua mão na minha. Isso me
deu força para continuar.
— Eu quase perdi você hoje. Por causa das minhas memórias malditas.
Elas me amarram como a porra de uma coleira. Eu não as controlo. Elas
me controlam, — eu disse, começando a me sentir furioso.
— Pare, — disse Bambi em um tom suave. — Não se culpe por isso.
Depois do que vi na Matilha do Norte, não posso acreditar que você
viveu visões como essa durante uma guerra inteira.
Eu vacilei com a palavra — visão, — e ela percebeu.
— Desculpe, eu não queria...
— Está tudo bem, — eu disse calmamente. — Eu só queria ter
protegido você de ter que ver isso também. Tive um amigo próximo na
guerra, Alfa Leonardo. Ele perdeu sua companheira para... para um
homem chamado Matthias. Quando você disse em voz alta, desencadeou
algo escuro dentro de mim. Eu... imaginei perder você. Não quero perder
você. Bambi.
Ela se aproximou de mim, até que nossas pernas estivessem
pressionadas uma contra a outra.
— Essa coisa de companheiro é difícil, não é? E como um quebra-
cabeça, mas as peças nem sempre se encaixam, — ela supôs.
Eu tive que rir de sua analogia. A natureza curiosa e atrevida de Bambi
era na verdade uma das minhas qualidades favoritas, mas eu não podia
dizer isso a ela... para seu próprio bem-estar.
Ela já tinha problemas suficientes.
— Suponho que seja como um quebra-cabeça, — respondi. — Mas
talvez as peças se encaixem depois de um tempo.
— Ekon... você queria uma companheira? — ela perguntou
suavemente.
Parei por um momento enquanto considerava sua pergunta. Era uma
resposta complicada.
— Durante um tempo, sim. Mas depois que perdi minha visão, desisti
da ideia de uma companheira.
— Por que? — ela perguntou surpresa.
— Porque eu não queria decepcionar minha companheira, — eu disse,
me afastando. — Eu não queria ser uma decepção.
De repente, senti os braços de Bambi envolverem levemente meu
pescoço.
Seus lábios macios tocaram os meus e eu me vi segurando seu rosto
em minhas mãos.
A sensação era diferente de tudo que eu já experimentei. Era como se
as nuvens da minha mente tivessem se dissipado e um brilho intenso
tivesse me envolvido.
O beijo foi curto, mas doce, e então ela retirou os lábios e sussurrou
em meu ouvido.
— Você não é uma decepção para mim.
As palavras de Bambi foram uma fonte de força para mim, mas à
medida que meus sentimentos ficavam mais fortes por ela, também
crescia minha apreensão.
Ainda havia uma escuridão dentro de mim que eu nem sempre
conseguia controlar.
Pelo bem de minha companheira, eu só esperava poder mantê-la
trancado...
Capítulo 8
AMALDIÇOADO
BAMBI

Olhei fixamente para o grande texto na minha frente, tentando me


concentrar em minha pesquisa, mas minha mente estava em outro lugar.
Meu pequeno clube do livro que virou operação de espionagem agora
residia no terceiro andar da biblioteca da casa da matilha, onde Ela nos
assegurou um depósito vazio para usarmos como escritório.
Quando perguntei como ela conseguiu essa conquista, ela respondeu
dizendo que seria melhor se eu não soubesse. Eu estava feliz que ela
estava disposta a usar sua posição na Casa da Matilha para nosso
benefício.
Eu também estava grata por ter um lugar para escapar do complexo.
Um lugar para enterrar meu nariz nos livros...
E evitar o que aconteceu com Ekon outro dia.
O beijo.
O que diabos eu estava pensando?
Eu honestamente não sabia o que tinha acontecido comigo naquele
momento.
Talvez fosse Ekon finalmente mostrando alguma vulnerabilidade, ou
talvez fosse a experiência de quase morte, ou talvez fosse algo
completamente diferente. Tudo que eu sabia era que eu tive uma
necessidade irresistível de colocar meus lábios nos dele...
E eu fiz.
E foi...
— Uma loucura absoluta! — Ela gritou, exasperada.
— Hein? O quê? — Eu disse, voltando à realidade.
— O que aconteceu na Matilha do Norte... tão fodido. Isso reflete
muitos massacres semelhantes durante a Grande Guerra, — Ela disse, me
dando um olhar engraçado. — Você está bem? Se for muito cedo para ler
sobre essas coisas depois do que você viu...
— Não, não, estou bem, — respondi, afastando meus pensamentos de
Ekon. — Foi terrível, mas esse é mais um motivo para ir ao fundo disso. E
agora temos um nome.
— Certo, Matthias, — Victoria respondeu, correndo o dedo linha após
linha de um livro enorme. — Mas eu não encontrei nada sobre sua morte
neste volume de Crônicas de Lobisomem -ainda. Você realmente acha que
ele poderia ter sobrevivido?
— Não sei, mas vou descobrir. Você sabe, é estranho que ele era o líder
dos Rebeldes, mas há surpreendentemente poucas informações sobre ele
disponíveis, — eu contemplei.
— Nestes volumes de qualquer maneira. Talvez haja mais na seção
restrita, — Ela respondeu com um sorriso ousado.
— Ela, você tá louca?! Apenas o próprio Alfa tem acesso a eles! —
Victoria a repreendeu.
— Eu sei eu sei. Eu só estava dizendo, — Ela bufou, afundando em sua
cadeira.
Por mais intrigada que eu estivesse com essa seção restrita, um
pensamento me ocorreu de repente.
Eu me lembrei de como Ekon ficou sensível quando o rei estava
tentando incitá-lo a contar as histórias por trás de todas as suas
recomendações de guerra.
— Você disse que não há quase nada sobre Matthias nas Crônicas de
Lobisomem certo? Mas e sobre a pessoa que o matou?
Victoria e Ela se animaram.
— Você quer dizer Ekon? Claro, por que não pensamos nisso antes? —
Victoria deu um tapa na lateral de sua cabeça.
— Existe uma lista de recomendações? — Eu perguntei quando Ela
começou a folhear furiosamente as páginas.
— Aqui está, — respondeu ela. — Diz que ele recebeu uma garra roxa
por despachar o líder dos Rebeldes. Há uma nota de referência aqui. Está
no... volume três... página quatrocentos e vinte. Quem tem esse?
Eu olhei para o livro na minha frente e percebi que era o meu volume.
Virei para a página correta e me engasguei com as palavras que vi.
— Diz... Alfa Ekon Jedrek lutou com Matthias, líder dos Rebeldes, no
topo de uma torre do castelo do rei, depois que um ataque dos Rebeldes
deixou todos os esquadrões de Ekon mortos, exceto ele. Ekon conseguiu
cavar suas garras, que ele tinha amarrado com acônito, no pescoço de
Matthias.
— Espere, o acônito não teria matado Ekon também? — Victoria
interrompeu.
Embora acônito parecesse com uma bela flor roxa inofensiva, era o
veneno mais mortal que se possa imaginar para o tipo de lobisomem.
— Isso mataria um lobisomem normal, mas a mãe de Ekon era uma
bruxa de matilha, então ele nasceu com imunidade, — Ela entrou na
conversa.
Eu sabia um pouco sobre as bruxas da matilha, mas não muito. Muitas
matilhas as mantinham por perto como xamãs ou curandeiras, mas
algumas matilhas, incluindo a do meu irmão, não aprovavam bruxas.
Pensando bem, Ekon também não as usava. O que era estranho,
considerando a herança de sua mãe.
— Bem, no meu volume, diz que, embora a ascendência de Matthias
seja desconhecida, havia rumores de que sua mãe poderia ser uma bruxa.
Então, quem disse que ele também não estava imune? Talvez a ferida não
tenha sido fatal, — Victoria rebateu.
— Apenas ouça a próxima parte, — eu disse, engolindo em seco. —
Depois que Ekon arrancou suas garras da garganta de Matthias, ele ateou
fogo ao corpo com uma tocha e jogou-o da torre para uma ravina.
As mandíbulas de Ela e Victoria se abriram.
— Parece muito fatal, — eu disse, abatida.
*
As descobertas de ontem abriram um grande buraco na minha teoria
sobre Matthias, mas eu sabia que algo ainda estava faltando. Eu não
tinha a história completa.
Eu tinha certeza de que as respostas poderiam ser encontradas
investigando o passado de Ekon, mas como ele era um livro tão fechado,
minha única opção era consultar um livro de verdade.
Eu pedi a Kalindi que mandasse um carro para me levar à biblioteca,
onde me encontraria com as meninas, mas no meu caminho para fora da
porta, uma voz de soldado me parou no meio do caminho.
— Pare! — Ekon gritou. — Onde você está indo?
— Hum, para o meu clube do livro, — eu disse, inquieta.
— Você foi lá ontem. Isso é inaceitável. Você vai passar o dia comigo,
— ele ordenou.
— Oh, uh... ok. — Eu corei.
Fiquei surpresa para dizer o mínimo. Ekon nunca tinha me pedido
para passar o dia com ele antes.
Por mais que eu quisesse voltar para a biblioteca e pesquisar, não pude
deixar de sentir um frio na barriga.
Isso é um encontro?
— Vou acompanhá-la prontamente às mil e duzentas horas. Vista-se
para o ar livre, — ele disse secamente.
Eu ri com seu tom excessivamente militarista. Ele devia estar nervoso.
— O que você quer dizer com ao ar livre? — Eu perguntei.
— Vamos fazer um piquenique, — respondeu ele, deixando o mais
leve sorriso aparecer em seus lábios.
*
— Este é literalmente um cego guiando outro cego. — Eu ri enquanto
Ekon cobria meus olhos com as mãos, me levando a um local secreto. —
Tem certeza de que sabe para onde está indo?
— Eu costumava vir aqui o tempo todo com meus pais quando era
criança. Acredite em mim, não preciso da visão para navegar por este
lugar, — ele respondeu com confiança. — Vou usar o som do riacho
como meu guia.
Seus sentidos aguçados nunca deixavam de me surpreender. Depois
de mais alguns passos, paramos e ele tirou as mãos.
A vista era absolutamente deslumbrante.
Um prado perfeitamente verde com uma árvore gigante e retorcida ao
lado de um riacho murmurante. O sol dançava através das folhas acima
de nós, criando uma cascata de luz suave. Era como um cartão postal.
— Você gostou? — ele perguntou.
— É lindo, — respondi, colocando minha mão em seu braço.
Fiquei repentinamente triste por ele não poder ver o que eu estava
vendo, mas emocionada por ele querer me levar a um lugar especial para
ele.
— Pode não ser o mesmo para mim, mas ainda posso apreciá-lo, —
disse ele, sentindo minha incerteza. — A sensação da grama macia, os
sons dos pássaros cantando, o estalar das folhas. E como eu me lembro.
Coloquei um cobertor debaixo da árvore e puxei Ekon para perto de
mim enquanto desfrutávamos da serenidade da natureza. Eu nem sabia
que o Alasca tinha florestas tão lindas.
Quando me aninhei no corpo de Ekon, comecei a sentir um calor que
não pude explicar. Aquilo me aqueceu de dentro para fora.
De repente, me vi beijando-o de novo, para minha surpresa. Era como
se eu não pudesse me conter. Só que este não foi o beijo casto e suave
que eu dei a ele antes...
Este foi longo, profundo e... apaixonado.
Ekon assumiu o controle e me colocou em seu colo. Eu passei meus
braços em volta do pescoço e gemi enquanto nossas línguas exploravam
uma à outra.
Suas mãos agarraram minha cintura e me puxaram para mais perto,
fazendo com que minhas pernas se separassem até que eu estava
montada nele.
Senti meu rosto corar, mas não queria parar de beijá-lo. Era tão bom -
uma onda de emoções e euforia - e eu amei cada segundo disso.
O calor dentro de mim era um fogo totalmente queimando agora.
Enquanto sua mão descia pela minha perna, pude sentir seu desejo
por mim...
Sua fome...
Era insaciável, e só eu poderia satisfazê-lo.
Sua mão deslizou pelo meu vestido e encontrou seu caminho entre as
minhas pernas.
Eu me engasguei com seu toque e rapidamente me afastei, caindo de
seu colo.
— Não, não... — eu disse, puxando meu vestido de volta para baixo.
— O que está errado? Achei que você estava gostando.
— Eu estava, realmente, foi incrível. É apenas...
Isso estava acontecendo muito rápido. Eu mal conhecia Ekon, apesar
do fato de que ele era meu companheiro.
Da mesma forma que ele não estava pronto para se abrir comigo sobre
seu passado, eu também não estava pronta para me entregar a ele, pelo
menos não esta parte de mim.
Eu precisava saber que podia confiar nele.
— Só quero que passemos mais tempo juntos. Conhecer um ao outro
melhor primeiro, — eu disse cuidadosamente.
Ele considerou minhas palavras por um momento. Achei que ele fosse
me repreender novamente, mas em vez disso, ele se encostou na árvore e
colocou as mãos atrás da cabeça.
— Ok, o que você quer saber?
Ele realmente iria se abrir comigo? Talvez baixar minha guarda de
alguma forma inspirou o mesmo nele.
— Bem, você mencionou que costumava vir aqui com seus pais. Você
nunca me contou sobre eles.
— Meu pai era general. Ele morreu em um ataque desonesto, pouco
antes da Grande Guerra, quando eu tinha apenas dezesseis anos. Eu tive
que assumir o comando da matilha em uma idade jovem.
— E a sua mãe? — Eu pressionei.
— Ela morreu no mesmo ataque, — ele respondeu distante. — Ela
gostava de flores, o que era adequado, já que seu nome era Rosette. Ela
tinha o jardim mais lindo que eu já vi. Ela costumava dizer que era seu
toque mágico que o mantinha tão perfeito.
— Ela era uma bruxa? — Eu perguntei.
Ekon parecia surpreso, e eu cobri minha boca, me amaldiçoando por
ter deixado isso escapar. Ele não deveria saber que eu sabia.
— Sim... como você sabia disso? — ele perguntou cautelosamente.
— Eu não sei, devo apenas ter ouvido isso de passagem na casa da
matilha, — eu menti. — Eu estava realmente me perguntando por que
você não tem uma bruxa de matilha.
Os olhos de Ekon ficaram escuros e tempestuosos. — Eu amava minha
mãe, mas nunca permitirei outra bruxa em meu complexo, — ele rosnou.
— Por que? — Eu perguntei, assustado.
— Porque... foi uma bruxa que roubou minha visão. Com uma
maldição, — ele respondeu, suas palavras ásperas me atingindo.
E então, antes que eu pudesse me impedir, eu estava me perguntando
quanta verdade Ekon me revelaria hoje.
Capítulo 9
ENFEITIÇADA
BAMBI

Sentei-me na cama, brincando distraidamente com as cortinas de


renda com babados penduradas no dossel.
O conhecimento da maldição de Ekon estava me corroendo desde que
ele me disse que uma bruxa roubou sua visão.
Quem é essa bruxa?
Qual é o nome dela?
Ela ainda está viva?
Ele não divulgou mais detalhes, mas era uma nova pista na minha
investigação de qualquer maneira.
Se eu fosse ajudar Ekon e provar que Matthias ainda pode estar lá fora,
eu teria que continuar a cavar mais fundo em seu passado e descobrir
tudo que ele não estava me dizendo.
Fazer isso escondida do meu companheiro parecia errado,
especialmente quando estávamos nos aproximando, mas se ele não fosse
ouvir, eu teria que fornecer evidências inegáveis para fazê-lo ouvir.
Meus pensamentos foram interrompidos pela visão de Hunter
passando pela minha porta aberta com uma mochila. Ele parou na porta
e respirou fundo pelo nariz. Ele olhou para mim e me deu um sorriso
malicioso.
— Vou sentir falta desse perfume.
Eu me encolhi com suas palavras, mas então me lembrei de como ele
veio heroicamente em minha defesa na Matilha do Norte.
Eu pulei da minha cama e corri atrás dele. Ele já estava no corredor.
— Ei, espere! Eu não tive a chance de te agradecer, eu disse,
alcançando-o. — Por me defender na Matilha do Norte.
— Não mencione isso. Mas se você está realmente agradecida, posso
pensar em algumas maneiras de mostrar isso... — Ele sorriu, olhando
maliciosamente para mim.
Eu enruguei meu nariz. — Se você vai ser assim...
Virei-me para sair, mas ele agarrou meu braço.
— Desculpe, não quis te ofender. Só não consigo evitar quando estou
perto de uma mulher linda, — ele disse, fazendo-me corar. — Na
verdade, tenho algo sério para discutir com você.
— Mesmo? — Eu perguntei, surpresa.
O que Hunter Blackwood tem a discutir comigo?
— O nome que Alfa Rudolph disse a você antes de morrer...
— Matthias, — eu murmurei, pensando na visão assustadora da carne
queimada do Alfa Rudolph.
— Sim, Matthias. Tenho minhas dúvidas de que ele realmente morreu
desta vida. Baratas como ele não morrem tão facilmente.
— Você realmente acha que ele poderia estar vivo? — Eu suspirei. —
Ekon diz que é impossível.
— Eu tenho minhas suspeitas há um tempo. — Hunter colocou sua
bolsa no chão e colocou as mãos em meus ombros. — Cuidado com essa
informação, Bambi. Ninguém quer ver outra Grande Guerra, e a negação
é uma emoção poderosa. A maioria das pessoas não está pronta para
aceitar que Matthias possa voltar.
— E se eu encontrar uma prova? — Eu perguntei.
Hunter olhou para mim com preocupação, o que eu não pensei que
ele fosse capaz de fazer.
— Bambi, não vou te dizer o que fazer. Esse não é o meu lugar. Mas,
por favor, não faça nada estúpido. Existe escuridão neste mundo. Você
viu isso por si mesma na Matilha do norte.
Eu tinha visto isso e era por isso que precisava fazer algo a respeito.
— Para onde você vai agora? Você está voltando para a sua matilha?
— Não, eu vou ver seu irmão. Temos muito que discutir.
— Você vai ver o Max? — Meu coração doeu com o quanto eu sentia
falta do meu irmão e de minha casa.
— Se Matthias realmente estiver de volta, precisaremos convencer a
todos que podemos vencê-lo. Eu sei que seu irmão vai ouvir.
— Por favor, você pode entregar uma mensagem para mim? Diga a ele
que sinto falta dele e que... que estou tentando ser forte, como ele disse.
Hunter me deu um sorriso genuíno pela primeira vez, não um sorriso
malicioso ou travesso. — Claro que sim, minha querida.
Este era um lado de Hunter que eu nunca tinha visto. Ele estava
quase... decente.
— Vou te dar meu número de telefone. Por favor, me ligue se precisar
de alguma coisa, — disse ele, pegando meu telefone do bolso e inserindo
suas informações. — E eu quero dizer qualquer coisa
Revirei meus olhos enquanto ele colocava meu telefone em minhas
mãos.
Acho que teria que me contentar com meio decente.
— Hunter... me diga uma coisa. Os rumores sobre você são realmente
verdadeiros?
Ele instantaneamente mudou de volta para seu sorriso malicioso, e
seus olhos começaram a piscar. — Ah, você já ouviu falar de mim? Devo
dizer que as histórias do farejador de bocetas são muito exageradas...
Enquanto ele pegava sua bolsa e se dirigia para as escadas, ele se virou
para mim e piscou.
— Mas sempre há um grão de verdade em cada boato.
Quando ele desapareceu escada abaixo, meu telefone começou a
zumbir.
Rezei para que não fosse uma foto de pau de Hunter, mas felizmente,
eram apenas as meninas.
Ela: BORA

Bambi: Devo saber o que isso significa?

Victoria: ENCONTRO DE EMERGÊNCIA

Ela: Encontramos algo

Ela: Quando começamos a procurar bruxas, bem...

Victoria: Venha à biblioteca e discutiremos isso aqui.


Bambi: Ok, acho que Ekon ficará distraído com a partida de Hunter

Bambi: Vou pedir uma carona para sua irmã

Ela: Eca... ele AINDA ESTÁ AÍ?

Bambi: Sinceramente, não acho que ele seja tão ruim

Victoria: Uh, o quê?

Ela: Essas luzes de aviso são para você dessa vez, garota

Victoria: Sim, estou com Ela nessa.

Victoria: Uma vez farejador de bocetas, sempre farejador de bocetas.

Bambi: Ele pode ajudar nossa investigação, só isso

Bambi: Vou explicar quando chegar lá

Bambi: Vamos fazer isso

Essa investigação começou a parecer algo real, como se tivesse um


certo peso, como se eu estivesse fazendo algo importante.
Inicialmente, tinha começado como um meio de entender a morte de
meus pais na Grande Guerra e, para ser honesta comigo mesma, um
meio de evitar meu novo companheiro.
Mas agora tinha se tomado algo muito maior do que apenas eu.
A segurança do reino estava em jogo.
Quando Cheguei à biblioteca, tivemos um momento de silêncio para a
Matilha do Norte.
Se nossa investigação pudesse impedir que algo assim acontecesse
novamente, então teríamos que fazer tudo ao nosso alcance para rastrear
Matthias.
E podemos ter encontrado uma nova pista...
Ela pegou um barbante vermelho e puxou-o através de uma placa de
cortiça, prendendo-o ao lado de um recorte de artigo sobre ataques
desonestos.
Ela havia construído um mapa inteiro de ataques desonestos das
últimas décadas, e seu compromisso com a investigação era bastante
surpreendente - e francamente um pouco assustador.
— Você pelo menos dormiu noite passada? — Eu perguntei a ela com
cautela, olhando as olheiras sob seus olhos.
— Sim, claro... tipo duas horas.
Victoria suspirou. — Vou preparar outro bule de café.
Ela se virou para mim com um brilho de mistério nos olhos e colocou
a mão sob o queixo, como se fosse uma detetive em um filme preto e
branco.
— Qual é a característica definidora de um rebelde? — ela me
perguntou enquanto andava para frente e para trás.
Eu queria que ela fosse direto ao ponto e me dissesse o que havia
encontrado, mas ela claramente se esforçou muito para isso, então eu a
deixei ter esse momento.
— Eles costumam viajar sozinhos. Eles não têm matilha, — respondi.
— Exatamente, — ela disse, se virando. — Antes da Grande Guerra, os
rebeldes eram em sua maioria inofensivos, cometendo pequenos crimes
isolados e roubos. Você sabe por que foi esse o caso?
— É porque-
— É porque, inerentemente, os rebeldes são fracos, — disse ela, me
interrompendo. — Eles não têm o sistema de suporte de uma matilha -
sem recursos compartilhados, sem estabilidade, sem liderança.
— Ela, vá em frente, — Victoria retrucou.
— Meu ponto é — —Ela lançou um olhar sujo para Victoria— — Eu
notei um padrão. Ataques desonestos antes da Grande Guerra eram
desorganizados, ineficazes, basicamente amadores. Mas consegui
identificar o período exato em que as coisas começaram a mudar. Os
ataques tornaram-se mais estratégicos, implacáveis... Os bandidos
estavam unidos.
— Quando Matthias assumiu a liderança deles, — pensei em voz alta.
— Veja, isso foi o que eu pensei no início também, mas não dá certo,
— ela disse, os olhos acesos, claramente ansiosa para me contar o que
havia aprendido. — O primeiro ano do reinado de Matthias dos rebeldes
foi tão ineficaz quanto antes. Sua ascensão ao poder não foi obra sua.
— Você está dizendo que ele não estava trabalhando sozinho? — Eu
perguntei, começando a entender.
— Exatamente. — Ela sorriu. — Matthias e seus bandidos só
chegaram à infâmia depois de assassinarem uma matilha inteira a sangue
frio, durante uma celebração de aniversário real. Todo o lugar foi
queimado até o chão, assim como a Matilha do Norte. O alfa da matilha
era um primo da família real, mas muitos outros alfas ou oficiais
importantes da matilha estavam presentes, incluindo os pais de Ekon.
Eu cobri minha boca em choque. Eu sabia que eles morreram em um
ataque desonesto, mas não sabia dos detalhes.
— Foi esse evento que desencadeou a Grande Guerra nos próximos
dois anos, — ela continuou. — Muitos questionaram de onde veio essa
força e unidade repentinas. Mas a ascensão de Matthias estava ligada à
ascensão de outra pessoa - uma bruxa chamada Devina. Uma bruxa foi
vista em muitos ataques subsequentes, após o primeiro massacre.
— Uma bruxa? — Eu imediatamente me lembrei da admissão de Ekon
sobre sua maldição. — Ela, você acha que esta é a mesma bruxa que-
— Bem à sua frente, — disse Victoria, saltando.
— Procuramos o relatório de lesões de Ekon e, com certeza, foi ela
quem o cegou durante a Grande Guerra.
— Então, onde diabos ela está? O que aconteceu com ela? — Eu disse,
pondo-me de pé.
Se Devina ainda estava viva, então talvez houvesse uma chance para
Ekon recuperar sua visão.
— Essa é a questão. Ninguém registrado a viu. Nem mesmo Ekon. Ela
é apenas um grande ponto de interrogação, — Victoria respondeu. —
Mas definitivamente parece que o poder de Matthias estava ligado a ela.
— Nós temos -que descobrir mais, — eu exigi. — Ela é a chave para
este mistério. Eu posso sentir isso. — Victoria e Ela trocaram olhares
hesitantes, e Ela se virou para mim.
— Há algo que podemos fazer, mas é arriscado.
Precisamos acessar os arquivos restritos.
Meu coração afundou em meu estômago. — Ekon nunca vai aprovar
isso.
— Verdade, você precisa do Alfa para autorizar a permissão... ou da
Luna, — Ela respondeu.
Victoria começou a roer as unhas nervosamente. — Ela, nós
conversamos sobre isso. Não podemos pedir a ela para fazer isso. E muito
perigoso.
— Eu vou fazer isso.
Ambas olharam para mim em choque.
— Eu farei tudo que -for preciso para encontrar aquela bruxa.
Capítulo 10
ROSETTE
BAMBI

Fiz a cozinha preparar três refeições - uma para mim, Ela e Victoria.
Hoje seria um longo dia de pesquisas.
Se Ela conseguisse obter os arquivos restritos, teríamos algum
material sério para examinar, e provisões eram uma necessidade.
Peguei as refeições embrulhadas do chef e, enquanto as carregava
precariamente em meus braços, quase esbarrei em Ekon, que estava
saindo de seu escritório.
— Que cheiro é esse? Frango? — ele perguntou, farejando o ar. —
Cheira o suficiente para alimentar um pequeno exército.
— Sem exército, apenas meu clube do livro, — respondi, colocando os
recipientes em uma mesa próxima.
Ekon fez uma careta com a menção do meu clube.
— Não gosto de quanto tempo você passa longe de mim. Inicialmente
concordamos em um dia por semana.
Era verdade que — um dia — havia se transformado em vários dias, o
que agora era quase todos os dias. Eu estava testando meus limites com
Ekon, mas agora que havia um relógio correndo, não podia perder mais
tempo.
Eu realmente queria passar meu dia com Ekon, mas agora, a
investigação era a única coisa em minha mente.
— Você está tentando me evitar? Depois do que aconteceu no nosso...
encontro? Eu fui rápido demais?
Meu rosto queimou de vergonha e me virei, embora ele não pudesse
me ver.
Eu tinha que admitir que inicialmente usei a investigação para tirar
meus sentimentos da minha mente, mas agora eu estava fazendo isso por
-Ekon - por meu companheiro.
Eu queria me aproximar dele, mas todos esses segredos, toda essa
tristeza sobre o passado estava nos separando.
Se eu tivesse que estar um pouco distante agora, isso só nos
aproximaria depois que eu encontrar Devina e a fizer devolver a visão a
Ekon.
— Não é você. Eu... eu só preciso de um lugar para relaxar. Ler me
relaxa e discutir o material mantém minha mente afiada.
Sua careta permaneceu. Ele não estava acreditando.
— Talvez eu deva fazer mais esforço para me envolver em seus
interesses. Talvez eu devesse assistir a uma dessas reuniões do clube do
livro...
— NÃO! — Eu imediatamente cobri minha boca. — Uh, quero dizer,
eu não quero incomodá-lo com meu clube bobo.
Ele parecia ainda mais convencido agora.
— O que você está lendo neste clube que é tão interessante que você
tem que discutir isso diariamente? — ele perguntou, erguendo uma
sobrancelha.
Droga, não estamos lendo absolutamente nada!
Eu não posso dizer As crônicas de Lobisomem...
Ele nunca mais me deixará sair de casa.
Como é que eu respondo?
Qual é um livro que ele não teria interesse?
— Chama-se Tranquilidade! — Eu soltei, pensando no primeiro livro
que veio à minha mente. — Apenas um romance sobre um alfa e sua
companheira. Provavelmente feminino demais para o seu gosto.
— Eu sou um alfa. E eu tenho uma companheira. Parece que posso
relacionar, — ele respondeu.
Por que ele tinha que complicar tudo hoje?
Se ele me fizesse mais perguntas, eu seria pega em minhas mentiras,
com certeza.
Eu não lia Tranquilidade há -anos e já era uma péssima mentirosa.
Aproximei-me dele e coloquei minha mão em seu peito,
sedutoramente.
— Isso é verdade... você é um alfa. Um grande, forte -alfa.
Ele se inclinou e sussurrou em meu ouvido: — Que tipo de coisas o
alfa faz com sua companheira neste livro?
Eu estava tentando distrair Ekon, mas me vi ficando nervosa.
— Hum... todos os tipos de coisas, como...
— Coisas sujas? Este livro tem conteúdo sexual? — Ele disse isso em
um tom falso de reprovação que me deixou saber que esperava que a
resposta fosse — sim.
— Sujo, — eu respondi descaradamente, meus lábios pairando em
frente aos dele.
Comecei a sentir o mesmo calor em meu corpo que sentira em nosso
encontro. Mesmo que minha cabeça estivesse me dizendo que eu não
estava pronta, meu corpo estava me dizendo o contrário.
Eu o agarrei pelo colarinho e pressionei meus lábios contra os dele.
Ele me puxou para seu escritório, chutando a porta quando caímos em
seu sofá de couro.
Não era onde eu esperava que as coisas fossem, mas pelo menos
mudou de assunto.
Nossos beijos foram tão apaixonados quanto da última vez, e fiquei
surpresa com a rapidez com que voltei ao ritmo.
Parecia natural a forma como nossos corpos estavam entrelaçados no
sofá. Parecia que era assim que sempre deveríamos ser.
Eu senti outra coisa também... algo saindo das calças de Ekon. Ele
estava tão excitado quanto eu.
O problema era que eu queria parar, mas não sabia como. Em vez
disso, apenas o beijei ainda mais profundamente.
Sua mão deslizou pela minha coxa enquanto eu envolvia minhas
pernas em volta de sua cintura.
— Ekon, espere... — Eu gemi baixinho.
Mas enquanto ele pressionava contra mim. eu não queria esperar. Eu
o queria agora.
Cravei minhas garras em suas costas, desejando que ele pressionasse
ainda mais forte. Essas roupas estavam apenas atrapalhando. Eu queria
que ele as arrancasse de mim.
Não aqui, não agora. Este não é o momento certo.
Minha mente estava lutando com meu corpo e eu sabia que estava
certa. Eu precisava esfriar.
De repente, me afastei de Ekon e recostei-me, segurando minha mão.
— Nós precisamos parar. Eu... eu não posso fazer isso agora, — eu
disse, ofegante.
Ele parecia frustrado e eu entendi o porquê, mas ele precisava
respeitar meus desejos.
— Você veio atrás de mim! — ele disse desafiadoramente.
— Eu sei, eu só estou... atrasada para o clube do livro, — eu murmurei.
Eu precisava ficar focada na investigação. Isso era tudo o que
importava agora.
— Não se trata do clube do livro, Bambi. Eu era a porra de um general
e estrategista de guerra. Você acha que eu não sei quando você está
mentindo? — ele rosnou. — Por que você não me quer lá?
— Porque eu preciso de um lugar para mim. Preciso de um lugar onde
possa ter um pouco de privacidade. Para ser uma garota e falar sobre
coisas com outras garotas, — eu gritei de volta.
— Que coisas você fala com eles que não pode discutir com seu
companheiro? Nada entre nós deve ser privado, — disse ele, ficando
ainda mais irritado.
Agora eu estava ficando brava.
Nada entre nós deve ser privado?
— Isso é uma piada, — eu respondi. — Você guarda tantos segredos de
mim, Ekon. Você poderia preencher todos os livros da biblioteca com a
quantidade de segredos que guarda.
— Isso é diferente. Eu mantenho coisas de você para sua própria
segurança.
— Bem, há algumas coisas sobre as quais eu também não posso falar
com você!
Essa conversa estava indo para o sul, e eu estava perigosamente perto
de me encurralar. Tinha que escolher minhas palavras com cuidado.
— Como o quê? — ele rosnou.
— Como sexo, — eu respondi, fazendo-o calar a boca imediatamente.
— E relacionamentos, inseguranças, tudo.
— Você... você fala sobre nós? Para elas? — ele gaguejou.
— Às vezes. Ou Victoria fala sobre Beta Ryland. Ou Ela fala sobre seus
problemas de relacionamento. As meninas precisam dos pontos de vista
de outras meninas. E assim que as coisas são.
O rosto de Ekon de repente se contraiu e ele parecia irritado.
— Com qual conselho sexual você tem a contribuir? Nós nem mesmo
estamos transando.
Eu estava começando a perder a paciência. — Oh, então você acha que
eu não tenho nenhuma experiência? Eu sou apenas uma virgem ingênua?
É isso?
Eu era -virgem, mas isso não vinha ao caso.
— Você... você dormiu com outros homens?
— Sinceramente, não, mas se eu tivesse, você não teria o direito de
ficar com raiva. Não é como se você não tivesse tido outras amantes.
Ele parecia aliviado, mas sabia que estava caminhando sobre uma
linha tênue. — Você é minha companheira. Claro que ficaria com ciúme
se outro homem tocasse em você. Pode ser irracional, mas quero você só
para mim. Eu quero ser aquele que vai te abraçar, te agradar, te proteger.
Quero ser seu de uma forma que nenhum outro homem foi ou será.
Corei, meu coração batendo mais rápido a cada respiração.
— Eu... acho que também quero isso, — respondi. — Mas, por favor,
me dê mais tempo para descobrir tudo.
Não era mentira.
Eu quis dizer isso.
Mas havia outra coisa que precisava ser resolvida primeiro, e eu não
podia deixar meus sentimentos atrapalharem.
Ela jogou um livro enorme na mesa, enviando uma nuvem de poeira
para o ar. Era tão antigo que parecia que a única coisa que o segurava era
mágica e, dada a natureza do livro... provavelmente era.
— O Grande Livro das Bruxas — Ela anunciou com orgulho. — Vocês,
meninas, não têm ideia do que eu passei para conseguir isso. Meia dúzia
de verificações de segurança e o dobro de mentiras, mas a assinatura da
Luna vai te dar quase tudo.
— Fico feliz em servir. — Eu ri. — Então, como isso funciona?
— Ele se atualiza por meio da magia, — explicou Ela. — Cada vez que
uma nova bruxa nasce, ela é gravada aqui. Mesmo as bruxas
excomungadas ainda estão listadas.
— Então isso significa que Devina tem que estar aí, — Victoria disse,
animada. — Abra, abra!
Enquanto eu digitalizava o índice com meu dedo, encontrei Devina.
Uma coroa de espinhos apareceu ao lado de seu nome.
— O que significa este símbolo?
— É o símbolo de seu clã, — respondeu Ela. — Cada clã tem um
diferente.
Eu olhei para a entrada de Devina, mas não havia nenhuma foto ou
ilustração dela. Quase não havia informação alguma, apenas a data de
nascimento e o nome da mãe.
DEVINA ESTONIA CABOT
DDN: 12 DE JUNHO DE 1978
MÃE: ROSETTE VIVIAN CABOT
— Rosette, — eu disse em voz alta, algo terrível me ocorrendo.
— A mãe dela? — Victoria perguntou.
— Sim, — eu disse suavemente, não acreditando muito nas palavras
que estavam saindo da minha boca. — E de Ekon também.
Capítulo 11
JUNTOS
BAMBI

Eu não sabia se era a magia do livro ou apenas o fato de que estava


completamente em estado de choque, mas parecia que o tempo tinha
diminuído.
Isso não pode ser real.
A bruxa que tirou a visão de Ekon é na verdade sua meia-irmã?
— Bambi, saia dessa! — Ela gritou comigo.
Eu me virei para Victoria e Ela, ambas parecendo tão abaladas quanto
eu.
— Devemos... devemos contar ao Ekon? — Victoria gaguejou.
— Não! — Eu gritei de repente. — Não até que aprendamos mais.
Vamos continuar lendo.
Victoria parecia nervosa. Ela estava claramente com medo de
desenterrar mais segredos obscuros e era honestamente esperta por estar
hesitante.
Mas eu fiz uma promessa para mim mesma. Eu encontraria essa
bruxa, não importa o quê.
Corri meus dedos pelo símbolo da coroa de espinhos novamente. —
Vamos começar aqui.
As páginas do livro começaram a bater descontroladamente como se
uma rajada de vento tivesse acabado de soprar no quarto, mas este era
um armário de armazenamento sem janelas.
Era a magia do livro. A página parava em uma seção dedicada ao clã
que trazia o sigilo da coroa de espinhos— et covina de aprisionamento.
— O Clã da Armadilha, — Ela leu em voz alta.
As palavras latinas reorganizadas na página, formando palavras em
inglês.
— O Clã da Armadilha foi fundado no ano de 1256 por Joan Cabot, —
disse Ela enquanto continuava a ler. — Eles acreditavam em aproveitar a
magia mais negra para alcançar as posições mais poderosas, para ter
domínio no reino dos vivos. As bruxas deste clã realmente nasceram com
a mais poderosa das habilidades.
— Eu não gosto disso, — Victoria murmurou. — Não deveríamos
brincar com magia negra.
Ela olhou para mim e eu acenei para ela. — Continue.
— Elas eram extremamente boas com ervas e poções, e os feitiços
criados pelo clã eram bem guardados. O veneno era uma especialidade
particular do Clã da Armadilha. Elas gostavam de torturar suas vítimas
antes de matá-las, garantindo mortes longas e dolorosas.
Victoria estremeceu e eu também estava começando a me sentir
enjoada.
— Dizia-se que Joan Cabot era uma mestre em torturar pessoas
sussurrando com sua mente. Suas palavras eram tão poderosas que ela
fez seu amante, o Rei da Arcádia, pular de um penhasco por mera
sugestão. Os descendentes de Joana receberam suas habilidades e se
consideram bruxas superiores.
— Rosette deve ter sido descendente de Joan, o que significa que
Devina também é, — eu disse, olhando para sua pequena lista de
membros.
Rosette foi listada como — excomungada.
Talvez ela tenha deixado o clã para seguir uma vida normal com o pai de
Ekon?
Mas não antes de ser mãe de Devina... Será que ela abandonou a
menina?
Ou a deixou para ser criada pelo clã?
Ainda havia muitas perguntas sem resposta.
— Rosette Vivian Jedrek, — eu disse, falando para o livro.
As páginas novamente começaram a virar por conta própria até que
pousaram na entrada de Rosette.
ROSETTE VIVIAN JEDREK antes CABOT
Data de nascimento: 8 de janeiro de 1956
CÔNJUGE: ALFA SUPREMO HELIOS ADRIAN JEDREK
STATUS: MORTA
SUCESSORES: DEVINA ESTONIA CABOT
Não havia engano. Rosette era definitivamente a mãe de Ekon e
Devina.
Eu procurei por sua entrada, procurando por algum sinal ou pista do
porquê ela deixou o clã, mas seu motivo para a excomunhão não estava
claro.
— Diz simplesmente que ela foi exilada por deserção, desobediência e
destruição de uma profecia, — eu disse em voz alta enquanto Ela lia por
cima do meu ombro e Victoria nos deu um olhar irritado. — Que
profecia ela poderia ter destruído?
— Não deveríamos estar fazendo isso, — Victoria bufou. — Isso é uma
merda realmente sombria. Se Ekon descobrir, ele nos jogará nas
masmorras.
— Ele não vai jogar sua própria companheira na masmorra, — Ela
zombou.
Ela provavelmente estava certa, mas eu não queria descobrir.
— E como isso se refletirá em sua irmã, Kalindi? O Gama e o chefe da
guarda? Você pelo menos pensou nisso? — Victoria fervilhava.
Ela parecia inquieta. Era óbvio que ela não tinha pensado nisso.
Eu bati o O Grande Livro das Bruxas , assustando os dois.
— Não posso pedir a vocês duas que se envolvam nisso. E muito
perigoso. Victoria está certa. Como a Luna, provavelmente estou segura,
mas vocês duas podem perder seus empregos, ou até pior. E vocês duas
têm pessoas que amam que são leais ao meu companheiro.
— O que você está dizendo? — Ela gaguejou.
— Como sua Luna, estou ordenando que vocês se afastem desta
investigação. Vou cuidar disso sozinha.
*
Eu me senti mal por dispensar Ela e Victoria, mas não podia continuar
a colocar minhas amigas em perigo. Isso estava se tornando muito maior
do que eu poderia imaginar.
Matthias...
Devina...
Como eles eram conectados?
Ela o ajudou a subir ao poder, mas por quê?
E por que Rosette abandonou sua filha?
Do que ela estava fugindo? Isso tem a ver com a profecia mencionada
no livro?
Tudo isso estava me enlouquecendo, e eu não me sentia mais perto
das respostas do que quando comecei esta investigação.
Agora havia ainda mais perguntas sem resposta.
Meu principal objetivo era provar que Matthias ainda estava vivo, mas
isso seria mais complexo do que eu imaginava.
Ekon de repente entrou na sala de estar e eu imediatamente forcei um
sorriso no rosto.
— O que está errado? — ele perguntou rispidamente.
Eu esqueci de perceber que ele não podia realmente ver meu sorriso
falso, mas ele ainda podia sentir minhas emoções através de seus
sentidos aguçados, e eu não estava nem um pouco feliz.
Não havia sentido em tentar negar.
— Estou me sentindo um pouco sobrecarregada, — respondi. — Mas
não é nada com que você precise se preocupar.
— Acho que sei por quê, — disse ele, sentando-se ao meu lado.
— Você... você sabe? — Eu perguntei nervosamente.
— Sim, trata-se de mais cedo. Estou colocando muita pressão em você
para... fazer sexo. Por isso, sinto muito.
Oh, ele pensou que era sobre -isso?
Soltei um suspiro de alívio. — Ekon, está tudo bem. Realmente, está
tudo bem. Mas obrigada pelo pedido de desculpas.
Ele segurou minha mão e apertou levemente, provocando um sorriso
genuíno em mim.
— Como estão as coisas com você? Como está indo à investigação da
Matilha do Norte? — Tive que ser cuidadosa com essa pergunta,
certificando-me de não parecer muito interessada, mas não era algo fora
do comum para eu perguntar.
— Na verdade, houve um desenvolvimento, — respondeu ele. —
Parece que houve vários sobreviventes.
— O que? — Eu suspirei. — Como? Achei que todos estivessem
mortos.
— Alguns adolescentes haviam saído para uma caminhada antes do
ataque. O destino deve ter sorrido para eles naquele dia. Eles estão se
escondendo na floresta desde então, mas alguns dos meus batedores os
encontraram. Estamos trazendo-os para nossa matilha como refugiados.
— Isso é... muito gentil de sua parte, — eu disse emocionada. Ekon
nunca realmente me pareceu o tipo de pessoa que aceitaria adolescentes
sem-teto.
— Uma delas é uma garota não muito mais jovem que você - uma
leitora ávida. Eu sugeri que ela se juntasse ao seu clube do livro.
Eu inalei profundamente. Como eu poderia explicar a ele que acabei
de dissolver meu — clube do livro.
Talvez fosse melhor descobrir isso mais tarde.
— Como ela está se saindo? — Eu perguntei, mudando de assunto.
— O melhor que se pode em uma situação como esta. A casa dela está
destruída e não temos pistas sobre quem pode ser o responsável, —
respondeu Ekon.
Sem pistas? Ele está falando sério?
— Você tem uma vantagem, — eu disse, com raiva. — Matthias.
Lamentei dizer seu nome quase que instantaneamente. Eu sabia
melhor, mas estava cansada de meu próprio companheiro não me ouvir.
Os olhos de Ekon escureceram e os pelos de seus braços e pescoço se
arrepiaram, crescendo rapidamente.
— Eu te disse... — ele rosnou. — NUNCA FALE ESSE NOME
NOVAMENTE!
Seu rugido encheu a sala inteira, fazendo meus olhos se encherem de
lágrimas.
’Eu... eu sinto muito. EU...
— Ele está morto, e o que está morto deve permanecer no passado! —
ele rosnou. — Estou cansado da porra das suas perguntas e do seu
desrespeito à minha autoridade!
Levantei-me e saí correndo da sala, soluçando. Eu pensei que ele tinha
parado de falar comigo daquele jeito, que ele tinha começado a me
respeitar, mas acho que estava errada.
Eu ainda era apenas um inconveniente para ele. Um espinho em seu
pé.
Eu me joguei na minha cama e chorei em meus cobertores.
Havia uma coisa que eu tinha certeza agora...
Eu estava realmente sozinha nisso. Ekon nunca ouviria.
Meu telefone de repente começou a zumbir e eu enxuguei minhas
lágrimas enquanto lia minhas mensagens.
Victoria: Bambi, precisamos conversar.

Ela: tipo agora

Bambi: Não é realmente uma boa hora Victoria: Venha ao meu café.

Ela: chá e scones por conta da casa Victoria: Ei, eu não disse isso!

Ela: só venha Bambi Victoria: Você vai querer ouvir isso.

Quando entrei no café, Victoria e Ela estavam esperando por mim.


Elas trocaram olhares e acenaram com a cabeça em uníssono.
— Sente, por favor. — Victoria gesticulou para uma cadeira em frente
a elas.
— Do que se trata? — Eu perguntei, confusa. — Espero que não tenha
nada a ver com a investigação.
Porque eu ordenei que vocês duas...
— Desculpe, Luna, mas vamos ter que desconsiderar esse comando. —
Ela sorriu.
— Concordo, — Victoria disse com uma resolução incomum. — Não
vou agir como se não tivesse medo disso, mas de jeito nenhum vou
deixar você fazer isso sozinha.
— Queremos que você saiba que não está sozinha, — acrescentou Ela.
— Estamos nisso juntas. — Lágrimas encheram meus olhos novamente,
mas desta vez, eram lágrimas de felicidade.
O que eu fiz para merecer amigas como esse?
Elas colocaram as mãos no meio da mesa e eu coloquei a minha em
cima, em solidariedade.
— Ok, então... juntas. — Eu sorri.
Fiquei grata a ambas por quererem ficar ao meu lado e seguir em
frente com a investigação.
Mas também havia uma sensação de aperto no estômago que eu não
podia ignorar.
Uma parte de mim se perguntou se eu estava arrastando minhas
amigas para o perigo...
Estou arriscando suas vidas em minha busca pela verdade?
Capítulo 12
NOVOS ALIADOS
EKON

Uma raiva intensa e incontrolável.


Uma escuridão que nada tem a ver com a ausência de luz.
Uma fúria que cega todos os meus sentidos.
Isso é o que eu sinto quando deixo meu lobo assumir o controle.
É parte da minha maldição.
Eu posso ver novamente, mas eu perco todo o controle.
Bambi mal tinha falado comigo desde que eu explodi com ela no dia
anterior.
Eu deixei meu lobo tirar o melhor de mim. quase mudando, e ela
tinha todo o direito de querer me evitar.
Por que diabos eu continuei afastando-a quando tudo que eu queria era
me aproximar dela?
Eu teria que encontrar uma maneira de superar a escuridão dentro de
mim se quisesse fazer Bambi confiar em mim novamente.
Mas minha raiva era facilmente desencadeada apenas com a menção
de seu -nome.
Era desencadeado por qualquer coisa envolvendo a Grande Guerra.
Eu não queria nada mais do que deixar todo aquele trauma para o
passado, mas não podia escapar disso.
O que aconteceu na Matilha do Norte...
Era indescritível.
O cheiro dos cadáveres em chamas.
Os sons dos edifícios em ruínas.
Eu tinha me permitido mudar apenas o suficiente para ver um
vislumbre do horror com meus próprios olhos, mas eu gostaria de não ter
feito isso.
Eu estava congelado.
Paralisado no momento.
Revivendo tudo que eu tentei tanto esquecer.
Eu queria proteger Bambi das atrocidades do passado, mas quanto
mais ela fazia perguntas sobre a Grande Guerra, mais isso me
preocupava. Ela ainda era tão inocente, tão pura, e eu não queria que essa
inocência fosse manchada como foi para tantos dos jovens sobreviventes
da guerra...
Como foi para mim.
Eu sabia que deveria estar dizendo tudo isso para Bambi, em vez de
meditar enquanto bebia uma garrafa de conhaque, mas sempre era difícil
encontrar as palavras certas quando estava perto dela.
Quando se tratava de Bambi, eu me sentia como aquele soldado
assustado de novo, lançado em uma batalha sem qualquer tipo de
experiência ou estratégia.
Mas eu encontraria uma maneira de me relacionar com Bambi se
fosse a última coisa que fizesse.
Se eu pudesse sobreviver a uma guerra, eu poderia sobreviver a uma
briga com minha companheira.
Eu empurrei a garrafa vazia de bebida para o lado e peguei outra
debaixo da minha mesa.
Mas primeiro... outra bebida.
BAMBI

— Então... — Ela bateu o pé ansiosamente no porão da biblioteca. —


O que vamos fazer com essa nova garota?
Suspirei pesadamente. — Honestamente, eu não tenho ideia. Se este
fosse um clube do livro de verdade, faria todo o sentido que ela se
juntasse a nós. Eu meio que me sinto culpada por não ser.
— Não podemos simplesmente dizer a ela que não estamos aceitando
novos membros? — Ela disse impaciente.
— Você está sugerindo seriamente que recusemos uma refugiada? —
Victoria empacou.
— Ugh, você tem razão, — Ela gemeu. — Mas não é como se
tivéssemos tempo para realmente discutir os melhores pontos da
literatura clássica com ela. Temos um trabalho a fazer.
— Talvez eu possa distraí-la enquanto vocês pesquisam em nosso
escritório? Posso correr para a frente e para trás e ajudar quando tiver
oportunidade, — sugeri.
— Eu realmente odeio que essa seja nossa melhor ideia até agora. —
Victoria suspirou.
Antes que pudéssemos pensar em algo melhor, uma bela loira alta
entrou na sala e começou a andar diretamente em nossa direção.
Estávamos todas boquiabertas como idiotas.
— Essa é ela? — Ela perguntou surpresa. — Ela é uma maldita
modelo?
Tinha que admitir que essa garota era linda. Eu não era realmente do
tipo ciumenta, mas imaginei que ela tinha dificuldade em fazer amigas.
E, no entanto, aqui estávamos nós, tentando afastá-la e tirá-la do
nosso pé enquanto escapávamos para fazer nossas próprias coisas.
Essa garota literalmente não tinha ninguém. Seu mundo inteiro foi
tirado dela. Seus amigos e familiares assassinados.
Mas era exatamente por isso que não pudemos parar nossa
investigação, nem mesmo por um segundo.
A garota parou na nossa frente, e Victoria calorosamente estendeu a
mão.
— Eu sou Victoria, prazer em conhecê-la. E estas são Ela e Bambi.
— Eu sou Holly. — Ela sorriu e apertou a mão de Victoria antes de
voltar sua atenção para mim.
— Você é a Luna, certo? Muito obrigado por me receber. Eu realmente
não sei onde estaria sem a sua generosidade.
Deusa, ela estava tomando muito difícil desconsiderá-la, mas eu teria
que ser um pouco vadia, ou nunca faríamos nada.
— Então, o que iremos ler? — ela perguntou com uma empolgação
borbulhante.
Victoria e Ela trocaram olhares.
— Bem, na verdade, eu tenho alguns trabalhos da Casa da Matilha que
precisam ser feitos, então terei que me retirar, — Ela disse, dando um
passo em direção às escadas.
— E eu tenho, uh, alguns scones no forno, — Victoria disse não
convincente. — Não quero que eles queimem.
— Oh, tudo bem. — Holly pareceu desapontada. — Foi bom conhecê-
la.
— Hum, eu me sinto péssima sobre isso, mas na verdade eu tenho
alguns, uh, deveres de Luna para cumprir, mas vou te visitar de vez em
quando para ver como você está, — eu disse, dando a ela um sorriso fraco
em troca. — Enquanto isso, por que você não faz uma lista dos livros que
gostaria de ler.
Ela assentiu com a cabeça, uma expressão desanimada em seu rosto.
— Claro, vou ficar bem sozinha.
Eu senti como se tivesse acabado de chutar um cachorrinho, mas eu
realmente tinha que me concentrar na tarefa em mãos.
Para o bem daqueles que permaneceram de sua matilha, e de todas as
outras matilhas lá fora.
*
— Por que você acha que Devina estava lutando ao lado dos Rebeldes
em vez dos Reais? — Victoria questionou enquanto nós três
mergulhávamos de volta na investigação em nosso quartel-general
improvisado.
— Bem, se Rosette a abandonou para ir viver uma vida de luxo com a
realeza, então talvez tivesse algo a ver com isso, — Ela ofereceu.
— Eu acho que é mais complicado. Não acho que Rosette abandonaria
sua filha por motivos egoístas. Ekon a pintou como uma mãe amorosa e
carinhosa, — eu rebati.
Ela encolheu os ombros. — Talvez ela tenha desenvolvido essas
qualidades depois que ela estava vivendo como uma rainha? Eu sei que
minha disposição poderia ser iluminada com algumas belas joias.
— Ok, mas nada disso explica sua conexão com Matthias, — Victoria
disse, exasperada. — Por que ela de repente colocou todo o seu poder
atrás de um ninguém desonesto e o tornou o homem mais temido do
reino? Não faz sentido.
Era verdade que nada disso fazia sentido. O que Devina tinha a ganhar
com tudo isso?
Um pensamento sombrio cruzou minha mente.
— Os pais de Ekon foram mortos em um ataque desonesto pouco
antes da Grande Guerra, certo?
— Certo, foi um dos principais eventos que desencadearam a Grande
Guerra, — Victoria confirmou.
— E também coincidiu com a ascensão de Matthias ao poder, que
agora sabemos que estava ligado a Devina, — eu disse, caminhando até o
quadro complexo de recortes de artigos e fios vermelhos de Ela.
— Aonde você quer chegar? — Ela perguntou.
— Rosette era a mãe de Devina. Talvez ela visasse especificamente
aquela festa da matilha porque ela sabia que Rosette estaria lá. Talvez
tenha sido um ato de vingança...
— Devina ainda era um membro ativo do Clã da Armadilha, e Rosette
não era. Não é muito louco pensar que um clã conhecido por ser tão
cruel teria como alvo seus ex-membros, — Ela disse, concordando com
minha teoria.
Eu olhei para O Grande Livro das Bruxas sentado na mesa. Mal
havíamos arranhado a superfície daquela coisa. Ainda havia muito sobre
bruxas que não entendíamos.
— Isso ainda não explica Matthias, — Victoria repetiu. — Isso tudo é
apenas palpites.
— Mas você não acha interessante que o massacre na festa todos
aqueles anos atrás espelhe o massacre na Matilha do Norte? — Eu
perguntei.
— Tem que ser Matthias e Devina novamente. Mas quem eles estão
alvejando agora? E por quê?
— Bem, Alfa Rudolph era um membro do Conselho Real, então talvez
seja todos os membros da realeza quem eles estão atrás? — respondeu
uma voz açucarada.
Eu me virei para ver Holly parada na porta, um olhar endurecido em
seu rosto.
Ela e Victoria ficaram igualmente chocadas, com a boca aberta.
Isso era ruim.
Muito ruim.
— Quanto... quanto você ouviu? — Eu perguntei com cautela.
— O suficiente para saber que você está indo atrás das pessoas que
massacraram minha matilha, — ela respondeu friamente.
— Escute, Holly, preciso que me prometa que não contará a ninguém
sobre isso — implorei. — Ninguém pode saber que estamos investigando
isso. Isso é muito perigoso para todos os envolvidos.
Ela considerou o que eu disse por um momento e acenou com a
cabeça. — Ok, vou guardar seus segredos...
Suspirei um suspiro de alívio.
— Com uma condição, — disse ela, estreitando os olhos.
E imediatamente eu fiquei tensa de novo.
Claro -havia uma condição.
— Qual condição? — Ela perguntou desconfiada.
— Eu quero participar, — respondeu ela. — Eu quero ajudar.
— Oh, — eu disse, um pouco surpresa. — Olha, Holly, eu não acho
que...
— Luna Bambi, eu preciso fazer isso. Esse era o meu povo. Essa era
minha casa. Quero fazê-los pagar pelo que fizeram.
Havia um fogo em seus olhos, uma sede de justiça. Se eu estivesse no
lugar dela, gostaria de fazer o mesmo, mas...
— Holly, você é apenas uma criança e isso não é coisa de criança.
Pessoas estão morrendo e você já passou por tanta coisa. Como você acha
que pode ajudar?
Holly de repente estalou os dedos e O Grande Livro das Bruxas se -
abriu rapidamente.
Inclinei-me sobre a mesa para ler a entrada em que ela caiu.
HOLLY STONE
DDN: 20 DE MAIO DE 2002
Ã
O CLÃ DE ROSEMARY
— Porque... — ela começou, seus olhos brilhantes fixos nos meus. —
Sou uma bruxa.
Capítulo 13
TERRORES NOTURNOS
BAMBI

Holly puxou o cabelo loiro longo e sedoso para o lado e expôs uma
pequena tatuagem de um raminho de alecrim atrás da orelha.
— Nosso clã não é importante, — ela disse suavemente. — E agora
que Luna Rosemary está morta, sou a única membro sobrevivente.
Eu ainda não conseguia acreditar que Holly era uma bruxa. Ela
definitivamente tinha aquela flor de criança, — um com a natureza, —
mas isso não combinava com os tipos de bruxas que estávamos
pesquisando.
— Mostre-nos seus poderes! — Ela gritou animadamente. — Você
pode colocar fogo nas coisas?
— Ela, isso é rude! — Victoria a advertiu, embora sua própria
expressão animada parecesse indicar que ela também esperava por um
espetáculo.
— Eu... eu não sou tão impressionante, de verdade. Não tive o
treinamento adequado para me tomar uma bruxa completa, embora
tenha potencial para ser. Meu treinamento foi interrompido depois de...
As palavras de Holly se transformaram em um silêncio triste e me
lembrei de que tudo o que ela amava havia sido arrancado dela.
Coloquei minha mão em seu ombro e sorri. — Nós ajudaremos você a
treinar, Holly. Afinal, você faz parte do grupo agora.
— Espere, você está realmente me deixando me juntar a vocês? — ela
perguntou esperançosa.
Eu balancei a cabeça e ela jogou os braços em volta de mim, gritando.
— Hum, um problema, — Ela interrompeu. — Nenhum de nós sabe
absolutamente nada sobre bruxaria.
— Sim, e não tenho certeza de quão confortável estou com toda essa
magia negra, — Victoria disse apreensivamente.
— Oh, o Clã de Rosemary nunca praticou magia negra, — Holly nos
assegurou. — Somos especializados em feitiços de purificação,
preparação de poções e limpeza.
— Parece um dia de spa. — Eu ri.
— Podemos usar um desses. — Victoria suspirou.
— Para treinar, vou precisar de acesso a livros de feitiços, mas já dei
uma olhada e esta biblioteca está completamente desprovida de
literatura de bruxaria, — disse Holly, desanimada.
Victoria e eu imediatamente nos voltamos para Ela.
— Oh não, não olhem para mim. Já arrisquei meu pescoço uma vez ao
conseguir materiais restritos. Eu não posso fazer isso acontecer
novamente. Eu não sou a feiticeira, lembra?
— Então o que vamos fazer? — Victoria perguntou, caindo em sua
cadeira. — Não podemos treinar uma bruxa sem os materiais de
treinamento adequados.
Holly seria um recurso inestimável para nós em nossa busca por
Devina e Matthias. Eu tinha certeza disso
Só restava uma opção e, embora não gostasse, sabia o que tínhamos
que fazer...
EKON

— Ainda não temos nenhuma pista, e a equipe de Alfa Hunter


também não descobriu nada, — Ryland disse, frustrado. — Uma matilha
inteira não entra em combustão espontânea.
— Precisamos olhar para isso de outro ângulo, — eu rosnei.
Tínhamos determinado que a matilha tinha sido de alguma forma
barricada dentro da cidade, incapaz de escapar, o que era simplesmente
sádico.
Este não foi simplesmente um massacre. O assassino queria que suas
vítimas sofressem.
E o uso do fogo significava que eles não deixariam evidências para
trás.
Parecia que o perpetrador precisaria ter conhecimento íntimo do
layout e das estruturas da matilha para realizar algo tão calculado, o que
tomava tudo ainda mais confuso.
Para piorar as coisas, as terras da Matilha do Norte estavam agora no
meio de uma disputa de propriedade.
Por direito, a terra de uma matilha extinto normalmente iria para o
Alfa mais próximo, que, neste caso, era eu.
Mas parecia que outros sentiam sua própria — conexão — com a
propriedade.
Primos distantes e filhos bastardos.
Amigos íntimos do Alfa.
O assunto teria de ser resolvido no Conselho Real agora, que era a
última coisa com a qual eu queria lidar.
O que eu realmente queria lidar era minha companheira. Ela ainda
estava com raiva de mim e eu não sabia como consertar isso.
Assim como eu estava perplexo com a Matilha do Norte.
Parecia que estava perdendo o controle novamente.
Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos, seguido pela
voz do meu Gama.
— Sua companheira está aqui para vê-lo, meu Alfa, — Kalindi
anunciou.
Senti o cheiro de Bambi quando ela entrou na sala, e foi inebriante.
Eu a tinha visto claramente com meu lobo apenas uma vez, mas eu
tinha guardado sua imagem na memória.
Ela tinha cabelo âmbar flamejante, olhos da cor de uma floresta de
musgo e sardas delicadas no nariz.
Seus olhos estavam transbordando de admiração inocente, e seus
lábios rosados e macios estavam sempre fazendo beicinho, prestes a fazer
uma pergunta.
Essa era a imagem em que sempre pensava quando Bambi entrava na
sala, e isso me aquecia por dentro.
Ela não estava sozinha, no entanto. Havia um segundo cheiro - eu o
reconheci como a garota refugiada.
Por que Bambi a estava trazendo ao meu escritório?
Fiquei surpreso que ela estivesse aqui, dada a maneira como tínhamos
deixado as coisas...
— Ekon, preciso falar com você sobre nosso nova convidada, Holly. E
uma questão de negócio de matilha.
H/z, ela quer algo. Claro.
— E que negócio é esse? — Eu perguntei secamente. — Não me diga
que você está começando um segundo clube do livro.
— Não, mas preciso de alguns livros, — respondeu ela com frieza. —
Livros sobre bruxaria para ser exato. Parece que você removeu todos eles
da biblioteca.
Senti os cabelos da nuca se arrepiarem enquanto enterrava minhas
garras na mesa.
— Por que diabos você precisaria de livros sobre bruxaria? — Eu
rosnei.
— Por favor, Alfa, é para mim. — A refugiada deu um passo à frente
humildemente. — Eu era uma bruxa em treinamento na Matilha do
Norte, e Luna Bambi me encorajou a continuar meu treinamento aqui.
Então a refugiada era uma bruxa?
— Ryland, por que não estava ciente disso? — Eu perguntei com raiva.
— Eu... eu também não estava ciente, Alfa, — ele gaguejou.
— Ekon, eu sei que você é cauteloso com bruxas, — disse Bambi,
caminhando e colocando sua mão na minha. — Mas eu acho que ela
poderia ser um trunfo para nossa matilha se você a deixasse treinar. Seu
clã se especializou em magia de cura.
Seu toque acendeu uma onda de desejo dentro de mim.
Eu queria que ela confiasse em mim...
Talvez este seja um bom lugar para começar.
— Minha mãe era uma bruxa, então eu sei que há valor em ter uma
bruxa na matilha. Eu não sou discriminatório. Eu só tenho minhas
reservas. Se eu permitir o treinamento, todos os feitiços e materiais
precisarão ser aprovados por mim primeiro.
Senti Bambi apertar minha mão afetuosamente. — Oh minha Deusa,
muito obrigada, Alfa Jedrek. — O chão vibrou enquanto Holly pulava
para cima e para baixo.
— Você também deve devotar sua lealdade a esta matilha. Se vamos
treiná-la, deve ser como um membro oficial do clã Jedrek.
— Eu ficaria honrada, — Holly respondeu, rapidamente ficando séria.
— Você me trouxe para sua casa, e vou trabalhar para ser um trunfo para
esta comunidade.
Eu concordei. — Muito bom. Você está dispensada.
Bambi também começou a sair, mas agarrei sua mão e a puxei para o
meu colo.
— Não você, — eu sussurrei em seu ouvido enquanto agarrava seus
quadris.
Ryland pigarreou, incomodado com nossa demonstração pública de
afeto.
Merda, esqueci que ele ainda estava aqui.
— Você também está dispensado, Ryland, — rosnei.
Ele fechou a porta atrás dele, e eu beijei a bochecha da minha
companheira, ouvindo as batidas suaves de seu coração. — Você vai se
juntar a mim para uma caminhada?
Ela suspirou, mas senti seus dedos correndo pelo meu cabelo. Acho
que ela também sentiu minha falta.
— Sim, eu gostaria, — respondeu ela.
*
Caminhamos pela floresta ao redor do complexo, de mãos dadas,
nossa briga esquecida por agora.
O luar iluminou nosso caminho por entre as árvores, e caminhamos
quase sempre em silêncio, apenas curtindo a companhia um do outro.
Um leve trovão ribombou ao longe, mas geralmente eu podia sentir o
cheiro quando a chuva estava chegando, e o ar estava claro esta noite.
Bambi liderou o caminho, embora eu pudesse navegar facilmente por
essa floresta sozinho.
— Há uma caverna não muito longe daqui que tem entalhes antigos
de uma matilha antiga, — eu disse, apontando em sua direção. — Eu
costumava brincar lá muitas vezes quando era criança.
— Como você sabe onde estamos agora? — ela perguntou, surpresa.
— Eu mudei de forma aqui muitas vezes. Era o único lugar em que me
sentia seguro para fazer isso, — respondi. — Tenho todas as árvores,
pedras e riachos memorizados.
— Cada -árvore? — ela perguntou, com uma pitada de ceticismo.
Eu abruptamente a agarrei pela cintura e a pressionei contra a árvore
mais próxima. Eu podia sentir a emoção em sua respiração aguda.
Suas unhas cravaram em meu peito e ela me puxou um pouco mais
para perto.
Comecei a beijar seu pescoço e ela soltou um gemido suave. —
Acreditas em mim agora?
— Sim, — ela respondeu enquanto eu mordiscava sua orelha.
Começamos a nos beijar com um tipo rude de paixão, a floresta
aflorando nossos lados mais selvagens.
Eu agarrei sua bunda e a levantei, e ela não resistiu, em vez disso,
cavou em minha pele ainda mais forte.
— Sou muito bom em encontrar coisas no escuro. — Eu sorri. — Você
gostaria que eu mostrasse que outras coisas eu posso encontrar?
— Deusa, sim, — ela respondeu em um tom ofegante. Fiquei de
joelhos e levantei sua saia, habilmente colocando minha língua entre
suas pernas, provocando gemidos de prazer.
Ela me empurrou, mas desta vez foi brincalhão - ela estava rindo.
— Se você quiser mais, você terá que provar a si mesmo. Pegue-me se
puder, — ela disse, correndo para a floresta.
Então, ela queria jogar um jogo? Isso seria fácil. Seus movimentos
amplos ricocheteavam nas árvores, dando-me sua localização exata... sem
mencionar seu cheiro forte.
— Isso vai acabar em minutos. — Eu ri. — Vou até te dar uma
vantagem.
Esperei vários minutos e então comecei a correr rapidamente pela
floresta, evitando as árvores e seguindo seu cheiro.
Eu parei no meu caminho quando uma gota de água me atingiu na
testa.
E depois outro.
Merda.
A chuva começou a cair - não, não apenas caindo, caindo
torrencialmente.
Seu perfume cítrico começou a desaparecer rapidamente.
Comecei a entrar em pânico. Não só não consegui sentir o cheiro dela,
mas a chuva também afetou todos os meus outros sentidos...
Eu não conseguia me orientar.
— Bambi! — Eu gritei no topo dos meus pulmões.
Eu me virei e comecei a correr, nem mesmo sabendo em que direção
estava indo.
RACHADURA.
Eu bati de cara em uma árvore e uma dor lancinante percorreu minha
cabeça. Senti sangue escorrendo pelo meu rosto.
Enquanto eu estava parado na floresta, completamente indefeso, ouvi
um grito de gelar os ossos à distância.
Eu o reconheci imediatamente.
O grito de Bambi.
Capítulo 14
TRÊS PALAVRAS
BAMBI

Eu o empurrei, rindo. Eu não era tão fácil.


Eu ia fazê-lo trabalhar para isso.
— Se você quiser mais, você terá que provar a si mesmo. Pegue-me se
puder, — eu disse, girando nos calcanhares e correndo para a floresta.
Eu não sabia o que tinha me deixado assim, mas minhas bochechas
estavam quentes, mesmo no ar frio da noite.
Acho que me sentia feliz
Pela primeira vez desde que Cheguei à matilha de Ekon, eu realmente
queria estar aqui.
Estar com ele...
— Isso vai acabar em minutos, — ele gritou atrás de mim. — Vou até
te dar uma vantagem.
Meu coração estava batendo forte no meu peito, mas não era porque
eu estava correndo pela floresta...
Era porque eu estava me apaixonando por Ekon.
Esse pensamento me fez correr ainda mais rápido. Eu me senti como
se estivesse deslizando pela floresta, leve como uma pena.
Essa sensação era estimulante.
Era assim que era o amor?
Parei para recuperar o fôlego após vários minutos de corrida,
percebendo que não tinha ideia de onde estava.
Realmente não importava. Eu sabia que Ekon viria me encontrar.
Eu me inclinei contra uma árvore, ofegante, e uma gota d'água atingiu
meu rosto.
Quando olhei para o céu, a chuva começou a cair, encharcando-me da
cabeça aos pés quase que instantaneamente.
No começo eu ri da minha sorte, mas parei quando percebi que Ekon
ainda não tinha vindo.
Onde ele estava? Ele disse que tinha toda a floresta memorizada.
Apesar de tudo, eu precisava encontrar algum abrigo. Esta não era
uma chuva de primavera suave; era uma chuva torrencial.
Talvez eu pudesse encontrar aquela caverna que Ekon mencionou?
Eu caminhei pela floresta enquanto ela ficava cada vez mais
lamacenta. Quando meu pé ficou preso em uma raiz, tropecei na terra.
A água fria doeu ao bater em meu rosto. Este não era mais um jogo.
Eu precisava ir para casa. Eu precisava do meu companheiro.
Uma garra de repente girou por trás e se cravou no meu braço.
— Ekon? — Eu estremeci quando a garra quebrou minha pele. —
Ekon, o que você...
Quando me virei, um relâmpago iluminou o céu noturno e vi o que
havia me agarrado.
Seu fedor cheirava a carne podre.
Seu corpo estava marcado e endurecido por marcas de queimadura.
Sua pele estava descascando e ele tinha olhos amarelos com pupilas
vermelho-sangue.
Eu gritei de terror enquanto me afastava, suas garras rasgando meu
braço.
Eu caí para trás, fechando meus olhos, até que tudo que vi foi
escuridão.
Minhas pálpebras se abriram e eu imediatamente me encolhi quando
uma dor latejante reverberou em minha cabeça. Devo ter batido em
alguma coisa.
Eu olhei em volta. Este era o quarto de Ekon e eu estava em sua cama.
Mas como diabos eu vim parar aqui?
Meu braço estava enfaixado e doía ainda mais do que minha cabeça.
Enquanto um relâmpago brilhava do lado de fora da janela, a imagem
de uma criatura horrível esfolada também brilhou em minha mente.
O bosque. Eu estava na floresta.
E fui atacada por... bem, não sei o que exatamente, mas cheirava a
morte. Eu me lembro muito disso.
Eu pulei quando a porta se abriu, mas era apenas Kalindi.
— Luna, você está acordada, — disse ela, parecendo aliviada. — Como
você está se sentindo?
— Kalindi, o que está acontecendo? Onde está Ekon? — Eu perguntei
freneticamente. — Nós estávamos na floresta e-
— Eu sei, Luna. Você escorregou e caiu, mas está bem agora. E Ekon
também está bem. Ele está em-
— NÃO! — Eu gritei em pânico. — Kalindi, me escute. Eu não
escorreguei e caí. Eu fui atacada. Algo está lá fora.
Os olhos de Kalindi se arregalaram e seu rosto ficou pálido.
— Violação de perímetro! Alertem Ekon imediatamente! — ela gritou
para um guarda postado do lado de fora da porta.
Kalindi correu para o meu lado e agarrou minha mão. — Luna, você
viu quem era?
— Eu nem tenho certeza o que -era, — eu respondi, ainda abalada.
Depois do que aconteceu na Matilha do Norte, todos estavam
nervosos e com razão.
Momentos depois, Ekon invadiu o quarto e se sentou ao meu lado na
cama. Eu me lancei em seus braços enquanto as lágrimas se formavam
em meus olhos.
— Bambi, o que aconteceu? Conte-me tudo, — disse ele, acariciando
meu cabelo.
— Algo tentou me machucar, — solucei. — Sua pele estava
descascando e ele cheirava a cadáver.
Suas garras eram duas vezes maiores que as de qualquer lobisomem e
seus olhos estavam vermelhos.
Ekon falou com Kalindi como um general militar. — Este complexo
está fechado. Estou colocando dois guardas em cada saída e vou levar o
resto comigo, para a floresta. Enviaremos um esquadrão para a Casa da
Matilha também, por precaução. Eu quero que você, pessoalmente, fique
de guarda sobre a Luna. Se essa coisa ainda estiver lá, nós encontraremos.
— Compreendido, Alfa. — Ela voltou a ficar de guarda do lado de fora
da porta, e Ekon se permitiu deixar o modo militar por um momento.
— Eu estou... estou feliz que você esteja bem. Você me preocupou, —
ele disse ternamente.
— Eu também estava preocupada com você, — respondi, segurando
seu rosto. Sua barba áspera arranhou meus dedos.
— Eu prometo que você não tem nada com que se preocupar. Eu
sempre vou te proteger, Bambi. Não vou deixar nada te machucar nunca
mais.
Havia dor na voz de Ekon, e eu senti em minha alma.
Quanto mais tempo eu passava com meu companheiro, mais forte
nossa conexão se tomava.
Era uma conexão que não era meramente física - era espiritual.
Se ele sentiu dor, eu também senti.
— Ekon, eu—
Um guarda Delta apareceu de repente e saudou Ekon. — Alfa, os
homens estão se preparando no quartel. Devo dar a ordem de mudança?
— Não, eu farei isso, — disse Ekon, levantando-se. — Eu mesmo
quero liderar os homens. Eu irei com você.
— Você está indo? — Eu disse, meus olhos se arregalando.
— Kalindi estará aqui para cuidar de você, mas eu tenho que ir. Tenho
que dar o exemplo, — disse ele, beijando-me na testa.
Havia tantas coisas que eu queria dizer a ele naquele momento, mas
eu congelei.
Eu queria dizer a ele para ficar comigo.
Eu queria dizer a ele para não fazer nada estúpido por minha causa.
Eu queria dizer a ele o quanto me preocupava com ele.
Eu queria dizer a ele que eu...
Não importava porque ele já havia partido.
Eu passei meus braços em volta dos meus joelhos, rezando para a
Deusa para que ela mantivesse Ekon seguro, quando meu telefone
começou a zumbir.
Victoria: Estão todos seguras?
Ela: estou bem. minha irmã me avisou Holly: Sim, estou segura, mas o que está
acontecendo??

Bambi: Fui atacada, mas estou bem Bambi: Só um pouco abalada Holly: Oh minha
deusa!!

Ela: Estou tão feliz que você está bem garota Ela: quem você acha que te atacou?

Bambi: Não tenho certeza

Bambi: Estava escuro e aconteceu tão rápido Bambi: Mas foi definitivamente algo do
mal...

Victoria: Você não acha que foi ele, acha?

Holly: Matthias...

Bambi: Poderia ter sido, mas ele mal estava vivo Bambi: Ele mal era uma pessoa Bambi:
E Ekon vai atrás dele Ela: você acha que ele sabe que estamos investigando ele?

Bambi: Não sei de nada agora Bambi: Mas eu queria que vocês meninas estivessem
aqui comigo Victoria: A cidade inteira está trancada.

Victoria: E Ryland está preso no complexo.

Victoria: Ele está mandando um carro para mim.

Bambi: Boa ideia

Bambi: Estou mandando um carro para ela e a Holly também Ela: amém

Eu
Holly: Vou trazer alguns amuletos de proteção Bambi: Beleza, fiquem todas bem
desliguei meu telefone e percebi que meu companheiro pode estar
prestes a ir atrás do homem mais perigoso vivo e tudo que eu fiz foi
piscar para ele.
Eu precisava dizer a ele como me sentia, e precisava fazer isso agora.
Pulei da cama e corri para a porta, abrindo-a.
— Luna, o que você está fazendo? — Kalindi perguntou surpreso.
— Desculpe por isso, Kalindi, mas eu realmente preciso falar com
Ekon, — eu disse, me abaixando debaixo do braço dela e correndo para as
escadas.
— Bambi, espere! — ela gritou, correndo atrás de mim.
Eu desci as escadas e, felizmente, Ekon ainda estava no foyer, dando
ordens a Ryland.
— Ekon, precisamos conversar, — eu disse, inclinando-me sobre o
corrimão, sem fôlego.
— Bambi, o que você está fazendo fora do quarto? Não é seguro, — ele
disse, fazendo uma careta para Kalindi. que tinha acabado de me
alcançar.
— Por favor, eu só preciso falar com você antes de você sair, — eu
implorei.
Ele acenou com a cabeça e fez sinal para eu descer as escadas. Peguei
sua mão e puxei-o para um corredor vazio, exceto pelos dois guardas
parados na porta.
Ekon grunhiu e eles nos deram um pouco de privacidade.
— O que é tão importante que você já está me desobedecendo,
momentos depois de ter sido ferido? — Ekon suspirou.
— Eu... eu só comecei a pensar em você ir embora, e isso... me
assustou, — eu disse, abraçando-o e enterrando meu rosto em seu peito
blindado.
Ele me abraçou de volta com força. — Eu disse que você não precisa se
preocupar.
Ryland enfiou a cabeça na esquina. — Alfa, o esquadrão está pronto
para partir.
Eu liberei meu aperto em Ekon quando ele começou a andar pelo
corredor. — Agora volte para o quarto para que eu saiba que você está
segura.
Eu ainda não tinha dito a ele o que queria dizer.
Eu não sabia o que as próximas horas trariam.
Era agora ou possivelmente nunca.
— Ekon... espere.
Ele parou no final do corredor e eu respirei fundo.
— Eu... eu te amo.
Capítulo 15
HISTÓRIAS DE FANTASMAS

BAMBI

Ekon estava no final do corredor, de costas para mim.


Eu não conseguia ver sua expressão, mas ele não estava reagindo. Ele
ainda estava em uma das armaduras vazias alinhadas no corredor.
Eu queria que ele dissesse algo, qualquer coisa.
Não, isso não era verdade.
Eu queria que ele dissesse uma coisa.
Eu queria que ele retribuísse meus sentimentos, mas seu silêncio
estava me matando.
Eu disse isso muito cedo?
Ekon estava me julgando por ser tão emocional?
Não, eu não deveria me questionar.
Eu disse o que senti no momento, e não me arrependi.
O amor não é uma fraqueza.
Ekon finalmente se virou e fiquei surpresa com sua aparência.
Suas presas estavam à mostra e suas garras estavam para fora. Seus
olhos escuros e tempestuosos me encaravam com uma intensidade que
eu nunca tinha visto.
Ele está com raiva de mim?
Eu choraminguei enquanto ele caminhava pelo corredor em minha
direção, mas quando ele me alcançou, ele já havia voltado ao normal.
Ele gentilmente segurou meu rosto com as mãos e olhou nos meus
olhos.
— Eu sinto Muito. Eu não queria te assustar. Eu... eu só precisava ver
você. Eu precisava ver este momento com meus próprios olhos.
Seus lábios estavam de repente nos meus, e o beijo pareceu a liberação
de mil preocupações.
Tudo o que aconteceu esta noite desapareceu no ar, e a única coisa
entre nós era o calor da nossa paixão.
Ekon pressionou sua testa contra a minha e me segurou perto.
— Eu também te amo, Bambi.
Meu coração se encheu de felicidade quando passei meus braços em
volta do pescoço do meu companheiro e comecei a beijá-lo novamente.
Eu nunca esperei estar neste lugar com Ekon, mas agora eu não
conseguia me imaginar em outro lugar.
Eu o empurrei contra a parede e comecei a beijar seu pescoço e passar
minhas mãos por seus músculos firmes.
O roupão solto que eu estava usando escorregou do meu ombro
quando ele me ergueu com seus braços poderosos.
Ele chutou abrindo a porta mais próxima, e nós nos encontramos em
um banheiro, nos beijando e mordendo com uma fome sexual.
Quando ele me colocou no chão, o ladrilho de mármore estava frio
contra meus pés descalços.
Afrouxei o cordão do roupão e ele caiu no chão, caindo nos meus
tornozelos.
Parecia estranho estar completamente nua, totalmente exposta, na
frente do meu companheiro, mas sabendo que ele não podia nem mesmo
ver meu corpo.
Mas ele podia senti-lo.
Enquanto suas mãos ásperas corriam pela minha pele macia, eu tremi
com seu toque.
Fiquei assustada com a ferocidade que estava sentindo. Eu queria que
ele me possuísse bem aqui, agora, um sentimento desesperado e urgente
que eu nunca senti antes.
Mas em vez disso, Ekon recuou, como eu fiz tantas vezes.
— O que está errado? Sou eu? — Eu perguntei conscientemente,
colocando meu roupão.
— Não, você é... perfeita. Mais que perfeita. Você não tem ideia do
quanto eu quero isso...
— Mas?
— Mas a sua segurança está em primeiro lugar.
Este não é o momento, embora eu desejasse para a porra da Deusa
que fosse, — ele disse em um rosnado baixo.
Ele me puxou pela cintura e me beijou novamente. — Vamos
continuar de onde paramos assim que eu souber que você e o resto da
matilha estão seguros.
Eu balancei a cabeça, sabendo que ele estava certo, mas também me
preocupei com sua segurança.
Eu sabia que não poderia mencionar Matthias. Se aquele era um
momento ruim para sexo, era um momento ainda pior para trazer à tona
aquele tópico tabu.
Tudo que eu podia fazer era confiar em meu companheiro.
— Por favor, tome cuidado, Ekon.
*
Victoria, Ela, Holly e eu nos amontoamos na minha cama, contando
histórias e bebendo cidra quente, enquanto os guardas ficavam do lado
de fora da porta.
Era uma sensação estranha estar conversando e rindo enquanto um
monstro espreitava em algum lugar na floresta, mas era a distração que
todas nós precisávamos.
— Uma vez, quando eu tinha treze, ou talvez quatorze anos, estava
fechando a padaria com minha mãe, — Victoria disse em sussurros
abafados. — Eu estava enrolando um pouco de massa para o dia seguinte,
derramei um pouco de farinha no chão e... não estou brincando. Eu vi
pegadas aparecerem. E então pequenas marcas de mãos farinhentas na
parede. Eles eram do tamanho de uma criança. Isso tinha -que ser um
fantasma. — Holly se engasgou, cobrindo a boca. — Oh minha Deusa,
isso é assustador.
— E também uma besteira total. — Ela riu, revirando os olhos.
— Com licença, não é besteira. Juro que os vi, — Victoria disse
indignada.
— Victoria, uma rajada de vento faz uma porta bater em sua bunda e
você acha que todo o prédio está assombrado, então me desculpe se não
compro suas memórias nebulosas de infância sobre fantasmas. — Ela
sorriu.
Eu tive que rir quando Victoria cruzou os braços em um beicinho. Ela
tinha uma tendência a exagerar.
— Bem, também tenho uma história de fantasmas — ofereceu Holly.
— Pode ser muito assustador por enquanto.
— Duvido, — respondeu Ela, sempre cética.
— Hum... na verdade aconteceu apenas algumas noites atrás —
respondeu Holly. — Mas não sei se devo contar.
Victoria e eu chegamos mais perto uma da outra. Histórias de
fantasmas não eram realmente minha praia, mas especialmente as
recentes. Isso as tomavam muito mais reais.
— Como chegamos nesse assunto, mesmo? — Eu genuinamente me
perguntei. Havia um maldito monstro lá fora, e achamos que seria uma
boa ideia nos assustar?
— Vá em frente, desembucha. — Ela me ignorou e instigou Holly.
— Ok, bem, eu estava... praticando feitiços de comunicação e... só
comecei a pensar em todas as pessoas de quem não consegui me despedir
- disse Holly, abaixando a cabeça. — Eu só... só pensei que talvez se eu
contatasse o reino espiritual, eu poderia ter essa chance.
As lágrimas começaram a rolar por seu rosto e meu coração começou
a bater mais rápido. Isso não seria como a história de fantasmas de
Victoria... de forma alguma.
— Então, eu... eu fiz um feitiço, e acho que fiz errado porque... eu os vi
- todos eles. Mas não aqueles que passaram pacificamente. Devo ter
contatado as almas que ainda estavam presas aqui.
Ela estava começando a chorar, e eu também.
— Eles estavam chorando, gritando de agonia.
Presos e... queimados vivo. Eu vi seus espectros chamuscados,
implorando por libertação, mas eu... eu não podia fazer nada. Não sou
poderosa o suficiente. Eu nem deveria ter tentado executar o feitiço em
primeiro lugar.
Quando Holly começou a soluçar, todos nós a abraçamos
confortavelmente.
— Está tudo bem. Holly. Estamos aqui por você, — eu disse.
Isso foi muito mais sinistro do que eu esperava. Nunca me ocorreu o
quão difícil deve ter sido para ela lidar com tudo isso.
Ela sempre tinha um sorriso radiante, mas por trás desse sorriso havia
muita dor.
Ela também estava soluçando. Parecia que algumas histórias de
fantasmas poderiam afetá-la, afinal.
Mas talvez fosse a hora de mudarmos de assunto.
— Chega de histórias de fantasmas esta noite, — declarei. — É uma
ordem oficial da Luna.
Todas sorriram enquanto enxugavam as lágrimas. Elas sabiam que eu
só usava meu poder de Luna por leviandade.
— Ok, vamos falar sobre algo estúpido. Qual é a coisa mais estúpida
que você pode pensar? — Victoria disse, tentando mudar o clima.
— Homens, — Ela sugeriu.
— Sim, por favor. Vamos falar sobre pessoas que estão vivas — disse
Holly, a cor começando a retomar às suas bochechas.
Meus pensamentos voltaram para Ekon e as palavras que dissemos um
ao outro.
Esta noite foi uma noite de honestidade e vulnerabilidade, então
posso também incluir minhas amigas mais próximas nesse círculo de
confiança.
— Eu tenho algo a contribuir sobre esse assunto, — eu disse enquanto
elas olhavam para mim com a respiração suspensa. — Eu disse a Ekon
que o amava esta noite.
— O QUE!? — Victoria gritou.
— Uau... uau, — Ela disse, balançando a cabeça, mas sorrindo.
— Isso é incrível, Bambi. Você deve estar muito animada. — Holly
sorriu.
Eu deveria ter estado, mas em vez disso, havia apenas uma sensação
de pavor e ansiedade na boca do meu estômago.
Não havia confusão sobre como eu me sentia. Eu realmente o amava e
tínhamos nos tomado próximos, mas eu ainda guardava segredos dele, e
eles criavam uma distância entre nós que não podíamos fechar.
Talvez esta não fosse uma noite de honestidade, afinal.
EKON

Não havia sinal do intruso misterioso. A chuva havia lavado qualquer


evidência que pudesse ser encontrada.
Eu teria que aumentar a guarda fora do complexo no caso de quem
quer que seja - ou seja o que for - voltasse.
Provavelmente era apenas um rebelde perdido, mas que tipo de
rebelde teria coragem de chegar tão perto de uma matilha por conta
própria?
Depois do incidente na Matilha do Norte, isso não fazia sentido para
mim.
Para piorar as coisas, eu não conseguia para de pensar em minha
companheira.
Ela estava constantemente invadindo meus pensamentos, e depois do
que dissemos...
Nunca pensei que amaria alguém do jeito que a amo, mas ainda mais
inacreditável é que ela também me amava.
Quando voltasse para o complexo, faria tudo certo desta vez.
Eu daria a ela a cerimônia de acasalamento dos seus sonhos.
Eu tomaria seu status de Luna oficial.
Eu faria tudo que pudesse para fazê-la feliz... do jeito que ela me fez
feliz.
— Alfa! Alfa, aqui!
Eu ouvi os passos rápidos de um soldado se aproximando de mim.
— Alguns guardas da Delta encontraram algo suspeito, — disse o
soldado, sem fôlego.
— Mostre o caminho, — eu rosnei.
— Não está na floresta, meu Alfa. Está na casa da matilha.
Enquanto o soldado me guiava pelos corredores a Casa da Matilha da
casa da matilha, minha mente parecia confusa.
O que poderia estar acontecendo ali que eu não sabia?
Eu só enviei soldados aqui por precaução.
Paramos no meio de um corredor no terceiro andar, e um guarda
Delta se aproximou de mim.
— Alfa, você vai querer, uh... você deveria ver -isso.
Rosnando, eu deixei meu lobo ter controle apenas o suficiente para
começar a mudar.
Senti minha raiva crescendo e meu sangue fervendo quando meu pelo
e minhas garras começaram a se libertar.
A escuridão diante dos meus olhos começou a se materializar em uma
pequena sala... o que parecia um armário de armazenamento, convertido
em um escritório.
As paredes estavam obsessivamente cobertas de artigos e recortes
sobre bruxas, sobre Matthias, sobre a Grande Guerra e...
Sobre mim.
Capítulo 16
A VERDADE
BAMBI

Enquanto a chuva continuava a cair, me vi perdida em pensamentos


sobre meu companheiro.
As outras garotas se distraíram com seus telefones ou um livro, mas
não havia distração que pudesse me fazer parar de me preocupar com
Ekon.
— Vamos continuar de onde paramos assim que eu souber que você e o
resto da matilha estão seguros.
Suas palavras se repetiam em minha mente uma e outra vez.
Meu corpo não queria nada mais do que continuar de onde parou
com Ekon, mas meu coração ainda estava em conflito.
Não estávamos na mesma página - sobre a investigação... ou sobre
Matthias.
Se ele apenas me ouvisse, então talvez pudéssemos...
— Ei, o que diabos você pensa que está fazendo!? — Kalindi gritou do
lado de fora da porta.
Havia uma briga acontecendo lá fora, e parecia que Kalindi estava
resistindo a alguém.
Todas nós, meninas, instantaneamente nos juntamos e demos as
mãos, sem saber o que estava acontecendo.
Dois guardas Delta irromperam pela porta com uma Kalindi furiosa
em seu encalço.
— Este é o quarto da Luna, e estamos trancados! — ela disse,
fervendo. — Você não tem o direito de estar aqui.
— O próprio Alfa nos deu o direito, — rebateu o guarda. — Agora vá
para o lado, ou você estará violando as ordens diretas de Alfa Ekon
Jedrek.
O que diabos estava acontecendo? Ekon deve ter um bom motivo para
essa intrusão.
Aproximei-me dos guardas, que se erguiam sobre mim.
— Qual é o significado disto? Você encontrou o culpado que me
atacou?
— Não, minha Luna, mas descobrimos outra coisa. Um traidor em
nosso meio. Alguém que está liderando uma conspiração contra você e
seu companheiro.
Eu engasguei e Victoria se juntou a mim ao meu lado.
— Onde está o Alfa? E onde está meu marido, Beta Ryland? — ela
perguntou aos Deltas. — Por que eles o enviaram aqui para nos dizer
isso?
— Eles estão na casa da matilha. Fomos enviados aqui para fazer uma
prisão, — o guarda respondeu rispidamente.
Minha garganta secou de repente e eu entendi o que estava
acontecendo.
— Encontramos uma sala de pesquisa secreta a Casa da Matilha
contendo inteligência secreta sobre o Alfa, pesquisa sobre magia negra e
materiais restritos que não têm o certificado de segurança adequado.
Todas nós ficamos chocadas. Não havia nada que pudéssemos dizer.
Quando um dos Deltas puxou um par de algemas de prata, preparei-
me para o pior, mas ele passou direto por mim e agarrou Ela pelo pulso.
— Ei, saia de cima de mim! O que você está fazendo? — ela gritou,
lutando para se libertar.
— Tire suas malditas mãos dela! — Kalindi gritou, brandindo sua
lança para os Deltas. — Não tem como ela ter algo a ver com isso!
O outro Delta desembainhou sua própria espada e apontou-a para
Kalindi em um impasse. — Na verdade, tanto o depósito quanto os
materiais restritos foram retirados com o nome de sua irmã. Temos até
imagens de segurança para provar que foi ela.
A lança de Kalindi caiu no chão enquanto ela olhava para a irmã em
estado de choque.
— Por favor, isso é apenas um mal-entendido, — implorei. — Deixe-
me falar com Ekon.
— Você está sob ordens estritas de permanecer aqui, — ele respondeu.
Victoria e Holly começaram a chorar, completamente impotentes para
impedir o que estava acontecendo.
Se disséssemos uma palavra errada, seríamos todas arrastadas
algemadas.
Enquanto os Deltas puxavam Ela em direção à porta, Kalindi
bloqueou seu caminho.
— Não seja tola, Kalindi. Você sabe que o Alfa confia em você
implicitamente, mas temos provas inegáveis de que sua irmã está
conspirando contra ele. Se você intervir, só vai piorar as coisas. — Kalindi
parecia que estava prestes a se transformar e destruir os guardas, mas ela
sabia que o que eles estavam dizendo era verdade.
Ela deu um passo para o lado, com lágrimas nos olhos. — Ela, não se
preocupe. Chegaremos ao fundo disso. Eu sei que você é inocente.
— Kalindi, não deixe que eles me levem! — Ela gritou enquanto a
arrastavam porta afora.
— Eu sou a Luna e ordeno que pare com isso de uma vez! — Eu gritei,
atingindo os guardas enormes em suas costas revestidas de metal, mas
eles nem mesmo olharam para trás.
Eles a levaram embora e não havia nada que eu pudesse fazer.
Isso é tudo minha culpa.
Eu sabia do perigo quando começamos.
Eu sabia que não seria responsabilizada.
E eu a deixei me ajudar de qualquer maneira.
Caí de joelhos e comecei a soluçar.
— Isso é tudo minha culpa... tudo minha culpa.
Holly e Victoria se ajoelharam de cada lado meu.
— Eu entendo como você está se sentindo, Luna, mas não é hora para
lágrimas, — Holly disse suavemente.
— Precisamos consertar isso, — disse Victoria, com um olhar de
determinação. Eu nunca a tinha visto tão obstinada. — Esta é nossa
responsabilidade.
Elas estavam certas. Por que eu estava sentindo pena de mim mesma?
Eu me levantei e enxuguei minhas lágrimas. — Kalindi, para onde a
estão levando?
— Provavelmente para... para as masmorras, — ela disse, sua voz
falhando. Seu comportamento normalmente confiante tinha se
quebrado, e isso quebrou meu coração.
— Então é para lá que estamos indo, — afirmei.
EKON

O que eu tinha visto naquela sala me chocou e me enojou.


Uma pesquisa detalhada sobre meu passado e minha história de
guerra.
Artigos e fotos de ataques desonestos terríveis e horríveis.
O Grande Livro das Bruxas uma das heranças de família de valor
inestimável de minha mãe, que eu tornei altamente restrita.
E Matthias...
Seu nome estava em toda parte, porra.
Eu não conseguia acreditar que essa traição estava acontecendo
debaixo do meu próprio nariz.
E pior, por uma das amigas mais próximas da minha companheira e a
irmã do meu Gama de confiança.
Qual era o objetivo dela? Ela estava por trás do ataque a Bambi na
floresta?
Eu não entendia sua motivação, mas eu tinha certeza de que iria
descobrir.
Percorri os corredores escuros das masmorras, passando por
incontáveis celas de ferro. Cada célula tinha vários metros de espessura,
com algemas como precaução extra.
Pode ser muito difícil conter um lobisomem e estávamos preparados
para qualquer coisa.
Ryland estava esperando por mim fora da cela de Ela.
— Você está pronto para fazer isso, Alfa? — ele perguntou, raiva
vazando em seu tom.
Sua companheira também era próxima a essa garota. Ele deve ter
ficado tão furioso quanto eu.
— Vamos começar esse interrogatório, — eu rosnei.
Entramos na cela onde Ela estava acorrentada à parede.
Eu nem mesmo tive que deixar meu lobo sair para ver. Já estava
agachado na superfície, pronto para se soltar e rasgar algo ao meio.
Seu rosto estava manchado de lágrimas e seus olhos arregalados
estavam assustados. Ela certamente não parecia uma vadia astuta e de
coração frio, mas eu sabia que as aparências enganavam.
Não havia dúvida de que ela estava conectada ao conluio que ocorria
naquela sala.
Inclinei-me e Cheguei perto de seu rosto, e ela choramingou de medo,
sem dúvida com medo da minha aparência meio mudada.
Fiquei surpreso com o quanto ela se parecia com Kalindi. mas nem
mesmo suas relações familiares poderiam salvá-la agora.
— O que... o que você vai fazer comigo? — ela chorou.
— Isso é inteiramente com você, — eu rosnei.
— Se você responder às minhas perguntas com sinceridade e me
disser o que quero saber, será do seu interesse. Mas se você for difícil...
Eu cortei a parede ao lado dela com minhas garras, fazendo-a gritar.
— Você não quer descobrir o que acontece se você for difícil.
BAMBI

Corri pelo saguão da Casa da Matilha o mais rápido que pude, com
Holly, Victoria e Kalindi logo atrás de mim.
Eu sabia como Ekon ficava quando estava com raiva, e agora, ele tinha
que estar furioso. Não tínhamos um momento a perder.
Eu não podia simplesmente sentar e deixar Ela assumir a
responsabilidade por algo pelo qual eu era responsável.
Eu mantive minha investigação de Ekon antes porque eu sabia que ele
não iria ouvir, mas agora eu não tinha escolha.
Ele teria que ouvir, mas eu também teria que lidar com as
consequências.
Enquanto descíamos correndo as escadas para as masmorras úmidas e
escuras, eu me perguntei se eu estaria em uma dessas celas antes que a
noite acabasse.
Gritos de raiva imediatamente me indicaram a localização de Ekon.
— Porra, me diga por que você está pesquisando sobre Matthias! E
com quem você está trabalhando? — Ekon rugiu.
— Por favor, ninguém. Era só eu. Só eu, — Ela soluçou.
Eu não podia acreditar que ela não tinha desistido do resto de nós. Se
eu fosse interrogada por Ekon, provavelmente cederia instantaneamente.
Kalindi correu na minha frente e abriu a porta da cela, correndo e se
ajoelhando ao lado da irmã, que estava encharcada de suor nervoso.
— Kalindi, o que diabos é o significado disso? — Ekon trovejou.
Sua aparência de lobo desapareceu um pouco enquanto ele me
cheirava, parado na porta.
Ryland parecia tão chocado ao ver Victoria aqui embaixo.
— Bambi, por que você está aqui? Eu disse para você ficar em seu...
— Estou aqui porque você prendeu minha amiga e precisa libertá-la
imediatamente!
Ekon parou por um momento, e então sua voz intensa e profunda
deixou escapar um aviso. — Você precisa pensar sobre o que está fazendo
e recuar, — ele rosnou.
— Não, você precisa recuar! — Eu gritei em resposta, convocando
cada grama de coragem que eu tinha. — Pela primeira vez, você precisa
parar e me ouvir!
— Bambi, isso é para sua própria proteção!
— Ekon, o que fizemos... foi para sua -proteção! E para a proteção do
reino! — Eu gritei, lutando contra as lágrimas.
Ele ficou tenso e seus olhos nublaram. Eu sabia que ele não podia mais
me ver.
— O que... o que você acabou de dizer? O que você quer dizer com nós
— Fui eu que pedi a Ela que pegasse esses arquivos restritos. E era eu
quem estava pesquisando sobre Matthias, — eu disse desafiadoramente.
— Então, se você vai punir alguém... deveria ser eu.
— Não, você precisa recuar! — Eu gritei em resposta, convocando
cada grama de coragem que eu tinha. — Pela primeira vez, você precisa
parar e me ouvir!
— Bambi, isso é para sua própria proteção!
— Ekon, o que fizemos... foi para sua -proteção! E para a proteção do
reino! — Eu gritei, lutando contra as lágrimas.
Ele ficou tenso e seus olhos nublaram. Eu sabia que ele não podia mais
me ver.
— O que... o que você acabou de dizer? O que você quer dizer com nós
— Fui eu que pedi a Ela que pegasse esses arquivos restritos. E era eu
quem estava pesquisando sobre Matthias, — eu disse desafiadoramente.
— Então, se você vai punir alguém... deveria ser eu.
Capítulo 17
PROVAÇÕES E TRIBUTAÇÕES
BAMBI

Quando o lobo de Ekon recuou e ele voltou ao normal, seu rosto


exibiu uma expressão de pura traição.
— Você está... você está mentindo para encobrir sua amiga, — disse
ele, incrédulo. — Não há como você estar por trás do que eu vi naquela
sala.
— Eu dei a Ela a autorização para acessar os arquivos restritos. Envolvi
ela e Victoria e, mais tarde, Holly, em minha própria investigação.
Nenhuma delas deve ser responsabilizada. Elas agiram sob as ordens da
Luna.
Minha voz estava trêmula, mas permaneci firme. Eu não deixaria
Ekon punir essas garotas por minhas ações.
— Isso não é verdade, Alfa, — Victoria disse de repente, saltando.
Ryland se estremeceu ante as palavras de Victoria. Ele estava em uma
posição terrível, entre seu Alfa e sua companheira, as duas pessoas às
quais ele jurou lealdade.
— Eu tomei minha própria decisão. Não fui mandada por Luna Bambi
para fazer nada que eu não quisesse, — ela disse teimosamente.
— Nem eu, — respondeu Holly.
— Estávamos nisso juntas, — disse Ela em solidariedade.
Fiquei comovida com a recusa de minhas amigas em me deixar
assumir toda a culpa, mas também com raiva por elas estarem se
colocando nessa posição.
Eu sabia que qualquer punição que Ekon distribuísse me afetaria
menos. Elas não entenderam que eu estava apenas tentando salvar a pele
delas.
— Se for esse o caso, então todas vocês serão punidas igualmente, —
Ekon rosnou.
Ele correu até as algemas de Ela, destrancando-as, e ela abraçou
Kalindi em lágrimas.
Ele chamou alguns guardas Delta que estavam do lado de fora, e eles
nos cercaram como se fôssemos gado sendo conduzido para fora de
nosso curral.
— Ekon, não há necessidade disso, — eu disse com raiva. — Podemos
falar sobre isso de forma racional.
— Que lógica minha companheira estava usando quando ela mentiu
para mim e conduziu esta investigação imprudente e tola sem pensar nas
consequências? — ele perguntou na sala, agindo como se eu nem
estivesse lá.
Os Deltas nos levaram para fora da cela e pelo corredor até chegarmos
a uma sala de metal quase vazia, com nada além de uma mesa
enferrujada e cadeiras.
Ekon acenou para que eu, Victoria, Ela e Holly nos sentássemos.
— Beta Ryland e Gama Kalindi, vocês vão esperar do lado de fora
enquanto eu conduzo este interrogatório. Vocês dois estão muito
próximos disso, — Ekon disse friamente.
Nem Ryland nem Kalindi pareciam felizes com sua decisão, mas
sabiam que não deviam questionar seu Alfa quando seus entes queridos
estavam em jogo.
Eles nos deixaram a sós com Ekon, que ficou em silêncio,
provavelmente pensando em todas as maneiras de nos julgar.
Mas eu não ficaria mais em silêncio. Eu tinha segurado minha língua
por muito tempo.
— Eu fiz isso por você, Ekon. Era para sua própria segurança.
— Eu sou aquele que deveria protegê-la! — ele rosnou. — Mas como
posso fazer isso quando você está colocando a si mesma e aos outros em
perigo pelas minhas costas?
— Você não quis ouvir! — Eu comecei a ficar irritada. — Você nunca
escuta. Tentei falar sobre Matthias, mas sua única reação foi a raiva. Eu
não tive escolha a não ser lidar com isso sozinha.
Ekon parecia furioso. — Não comece a falar de Matthias de novo. Ele
Á
está morto. Você está me ouvindo, porra? ELE ESTÁ MORTO!
— Foi ele quem me atacou na floresta - tenho certeza disso. Ele deve
ter ficado com medo de que estivéssemos chegando muito perto de...
Ekon rugiu tão alto que Victoria e Holly taparam os ouvidos.
Ele pegou a mesa de metal que nos separava e a jogou contra a parede.
Ela caiu no chão, completamente amassada.
Ofegando pesadamente, Ekon se virou para mim enquanto o suor
escorria por seu rosto. Ele estava parasse esforçando ao máximo para não
mudar novamente.
— Você vai parar com esse absurdo imediatamente. Este joguinho que
você está jogando acabou, — Ekon disse, tentando manter sua
compostura.
— Você foi exposta a mais do que poderia suportar nos últimos meses,
e eu assumo a responsabilidade por isso, mas ainda tenho que manter
meu dever como o Alfa desta matilha. Garanto que sua punição será
justa.
Então, ele se recusa a ouvir...
Ou agir
Eu não posso aceitar isso.
Eu sei em meu coração o que é verdade, e eu tenho que expor isso.
Mesmo correndo o risco de prejudicar meu relacionamento com meu
companheiro.
O que eu estava prestes a fazer poderia criar um buraco entre nós que
eu não poderia fechar de volta, mas eu tinha que fazer o que era melhor
para o reino.
— Eu... eu quero um advogado, — eu disse suavemente. — Quero que
o Conselho Real decida o que é uma punição justa.
— Você... você quer um julgamento? — Ekon perguntou, a dor se
infiltrando em sua voz.
Olhei para as meninas e elas concordaram com a cabeça.
— Sim, — respondi.
Ekon parecia que eu tinha acabado de atirar em seu coração.
Poucas horas antes, havíamos declarado nosso amor um pelo outro, e
agora eu estava dizendo que não confiava nele para ser justo.
Mas ele também não tinha confiança suficiente em mim. Ele ainda se
recusou a ouvir o que eu tinha a dizer sobre Matthias.
Essa era a única opção.
— Muito bem... se você não tem fé em seu companheiro, então eu
darei a você seu julgamento, — ele respondeu depois de se recompor,
suas palavras sem emoção. — Mas espero que você entenda que nem
mesmo eu posso mudar uma decisão tomada pelo Conselho Real.
Com esse aviso, ele saiu da sala sem dizer mais nada.
*
Passei a noite com Ela e encontramos Holly e Victoria na biblioteca
pela manhã para planejar nosso próximo passo.
A primeira coisa que precisávamos era de um advogado e, felizmente,
Ela tinha formação em direito, então ela sabia como isso iria funcionar.
— O Conselho Real é formado pelo rei e seis alfas, incluindo Ekon. Já
que ele está envolvido no caso, ele será substituído por alguém da escolha
do rei. Seu irmão, Max, também deve ser substituído, pois não pode ser
imparcial, — explicou Ela.
— Dependendo de seus substitutos, isso pode funcionar contra nós,
— disse Victoria, preocupada.
— É verdade. — Ela acenou com a cabeça. — Não teremos ninguém
no conselho para influenciar os votos a nosso lado, o que significa que
nosso caso terá que ser infalível.
— Então, precisamos de um advogado muito bom. — Holly suspirou.
— E quem seria louco o suficiente para aceitar este caso?
Ela tinha um bom argumento. Nenhum advogado colocaria sua
reputação em risco para defender alguém que estava tentando provar que
Matthias estava de volta e que ele representava uma ameaça real ao
reino.
Aqueles foram tempos sombrios que todos tentaram empurrar para
fora de suas memórias, incluindo Ekon.
Peguei meu telefone e comecei a enviar mensagens de texto para meu
irmão. — Talvez Max tenha algum tipo de conselho sábio, porque estou
perdido.
Bambi: Max, por favor me diga que você conhece um bom advogado Max: tenho
ligado para todo mundo em quem consigo pensar...

Bambi: E?

Max: e todos eles me rejeitaram.

Bambi: O que eu faço? Parece impossível...

Max: fique forte, Bambi. Eu estarei ao seu lado em breve.

Bambi: Você será o único ao meu lado...

Max: estou sempre do seu lado, pequena corça.

Max: mas acredite em mim, não sou o único.

Max: existem outros que acreditam nos sinais

Max: eles não esqueceram o que o Matthias fez...

Fiquei repentinamente impressionada com as palavras de Max, e me


lembrei de algo que Ekon tinha me contado.
Seu amigo, Alfa Leonardo Salvatore, havia perdido sua companheira
nas mãos de Matthias.
Ele queria matar o monstro sozinho, mas Ekon o venceu, ou assim
eles pensaram.
Se havia uma pessoa que poderia ter empatia com o que eu estava
tentando fazer, era ele.
Mas era um tiro no escuro...
Como eu sabia que ele não iria apenas reagir como Ekon fazia toda
vez que eu mencionava Matthias?
Eu tinha que pelo menos tentar...
— Ela, você tem o número de telefone de Alfa Leonardo?
— Sim. mas... por que você quer entrar em contato com ele? — ela
perguntou, confusa. — Ele está no Conselho Real.
— Porque Matthias matou sua companheira. Ele pode ser o único que
vai entender o que estamos tentando fazer.
— Retirá-lo do Conselho para nos representar seria uma jogada
arriscada. Esse é um terceiro ponto de interrogação para quem estará
julgando nosso caso, — Victoria disse cautelosamente.
— Vale a pena o risco, — eu disse enquanto Ela me entregava o
telefone que tocava.
Uma recepcionista atendeu. — Escritório do Alfa Leonardo Salvatore.
Como posso direcionar você?
— Hum, eu preciso falar com Alfa Leonardo, — eu respondi.
— Ele está esperando sua ligação? — ela perguntou com uma nota de
nitidez.
— Não, mas eu-
— O Alfa é um homem muito ocupado. Posso agendar uma consulta
em várias semanas se for uma questão legal, mas se for relacionada às
funções do Conselho dele, posso redirecioná-lo para seu Beta...
Ela pegou o telefone da minha mão e começou a gritar nele. — Você
está falando com Luna do Alfa Supremo Ekon Jedrek, e ela será
conectada ao Alfa Leonardo neste instante!
Meus olhos se arregalaram, mas depois de um momento de silêncio,
ouvi um clique e o telefone começou a tocar novamente.
— Funciona sempre. — Ela sorriu. Eu soltei uma risadinha.
Uma voz profunda e autoritária respondeu. — Luna Bambi? Este é
Alfa Salvatore. Devo admitir que esta é uma ligação inesperada.
— E lamento impor tão repentinamente, mas é urgente. Preciso da
tua ajuda. Eu preciso que você me represente contra Ekon.
— Estou bem ciente da sua situação, Bambi, mas o que o faz pensar
que eu assumiria o seu caso? Você está enfrentando acusações de roubo
de arquivos de inteligência, uso de dados restritos, invocação de
elementos sobrenaturais proibidos, espionagem, roubo de dados
confidenciais e traição à matilha.
Parecia muito ruim quando ele listou assim...
— Você não está ciente de toda a situação, Alfa Leonardo. Estou
perguntando porque sei que você é a única pessoa que vai entender por
que fiz o que fiz.
— E qual seria o motivo? — ele perguntou, parecendo cético.
— Porque tenho evidências de que Matthias ainda pode estar vivo e
pretendo compartilhar essas evidências com o tribunal, — eu disse com
confiança.
Houve um momento de silêncio do outro lado da linha, mas a voz
profunda de Leonardo finalmente voltou.
— Bem, então, Bambi, vamos trabalhar.
Houve um momento de silêncio do outro lado da linha, mas a voz
profunda de Leonardo finalmente voltou.
— Bem, então, Bambi, vamos trabalhar.
Capítulo 18
NEGÓCIO ARRISCADO
BAMBI

Ao chegar em casa no complexo, me senti uma pilha de nervos. Eu


não tinha visto Ekon desde a noite anterior, quando ele me deixou na
sala de interrogatório.
Ele parecia tão magoado e traído quando saiu, mas eu estava me
sentindo da mesma maneira.
Se Alfa Leonardo podia ter tempo e ouvir o que eu tinha a dizer, por
que meu próprio companheiro não poderia?
Por que Ekon estava com tanto medo de confrontar seu passado?
Enquanto eu caminhava pelo saguão da casa, encontrei um confronto
me esperando.
Ekon estava sentado na sala de estar, um copo de conhaque na mão,
uma expressão fria no rosto.
Ele tinha me cheirado no momento em que coloquei os pés pela
porta.
Sentei-me em uma poltrona em frente a ele. Parecia que aqueles
vários metros entre nós eram mil milhas.
— Eu nunca quis isso, — eu disse, quebrando o silêncio. — Eu não
achei que fosse tão longe.
— Bem, foi, — ele disse rispidamente. — E agora nós dois temos que
lidar com as consequências de suas decisões estúpidas de merda.
Ele estava bêbado novamente. Ele sempre recorria à garrafa quando as
coisas ficavam difíceis.
— Um julgamento era a única maneira de fazer você ouvir, a única
maneira de fazer com que todos ouvissem, — eu disse, tentando justificar
minha posição.
— Sim, eles podem ouvir como você cometeu traição, e minhas mãos
estarão completamente amarradas, — ele rosnou. — Você não tem a
porra da ideia do que fez. Espero que você tenha um advogado muito
bom.
— Eu... eu pedi a Alfa Leonardo para me representar. — Eu sabia que
Ekon não iria gostar disso. Eles foram amigos íntimos por anos.
As garras de Ekon cravaram na cadeira enquanto ele rosnava com
raiva. — Você continua me surpreendendo, sabia disso? Bem quando eu
acho que você não pode piorar as coisas...
— Eu esperava que Leonardo e meu irmão pudessem ficar em alguns
dos quartos de hóspedes, — eu disse timidamente.
A propósito, do jeito que ele riu do meu pedido, você pensaria que eu
lhe pedi a lua.
— Aquele traidor não é meu amigo se ele concordou em representá-la
sem me perguntar, — Ekon rosnou. — Ele não vai ficar sob este teto.
— Ekon, por favor... isso não é pessoal, — eu implorei.
— Você tem razão. Devemos ser profissionais e, pensando bem,
também não acho uma boa ideia você ficar aqui enquanto o julgamento
está acontecendo, — disse ele bruscamente. — É melhor se eu
permanecer imparcial — Você está... você está me expulsando? — Eu
gaguejei.
— Claro que não, — respondeu ele, irritado. — Vou providenciar para
que sua equipe fique em um hotel junta, mas... eu não quero você aqui
agora.
Ele desviou o olhar quando disse essas últimas palavras, e eu percebi
que o machucou dizer isso.
— Se isso é o que você acha que é melhor, — disse eu, levantando-me,
— vou empacotar minhas coisas.
Ele se serviu de outra bebida quando comecei a me afastar.
Mesmo que ele fosse teimoso, mesmo que eu estivesse frustrada e
triste, eu não queria deixar as coisas assim.
— Ekon, eu tenho que confiar que tomei a decisão certa, — eu disse
calmamente. — E você apenas terá que confiar nisso também.
— Confiar? — ele cuspiu. — Você tem mentido para mim desde que
veio aqui. Como posso confiar em qualquer coisa que você diga? E tudo
mentira!
— Quando eu disse que te amava, você acha que era mentira também?
— Eu perguntei enquanto as lágrimas brotaram dos meus olhos.
Ele engoliu sua bebida e bateu o copo na mesa.
— Sim, — ele respondeu friamente.
Tentei lutar contra eles, mas as lágrimas jorraram como uma
cachoeira.
Não deixe ele ver você chorar!
Era um pensamento estúpido... não apenas porque ele era cego, mas
porque, apesar de quão bravo ele estava, ele não tinha deixado seu lobo
vir à tona.
Ele não conseguia nem olhar para mim...
Subi as escadas correndo para o meu quarto e comecei a jogar roupas
aleatórias em uma mala. Talvez fosse uma coisa boa eu sair daqui.
Afinal, não faz muito tempo que eu queria exatamente isso.
Enxugando minhas lágrimas, peguei meu telefone e mandei uma
mensagem para as meninas.
Bambi: Ekon está fazendo arranjos para eu ficar em um hotel durante o julgamento
Bambi: Ele nem quer me ver

Bambi: Eu gostaria que toda a equipe ficasse comigo Ela: claro!

Ela: e me desculpe menina...

Ela: isso deve ser muito difícil para vocês dois Ela: vamos todos superar isso juntos
Holly: (emoji triste)

Holly: Eu estarei lá!

Victoria: Provavelmente é o melhor.

Victoria: Ryland também não está falando comigo.

Bambi: Agradeço à Deusa por vocês meninas todos os dias Bambi: Não sei o que faria
sem vocês Ela: nós vamos passar por isso

Victoria: Juntas

Holly: Juntas!
Ela: juntas

Já me sentia mais fortalecida por apenas uma palavra simples.


Juntas.
Eu não estava lutando sozinha. Essas garotas me protegeram desde o
início e não iam a lugar nenhum.
Eu só queria que meu companheiro não estivesse do outro lado disso.
Eu tinha cometido um erro ao não confiar nele?
Eu não poderia me questionar agora. Não importa o que acontecesse
comigo, qualquer punição que o Conselho considerasse adequada, o
importante era que minha voz fosse ouvida.
Arrastei minha mala para fora do quarto e desci as escadas, onde
Kalindi estava esperando perto da porta.
Ele já tinha chamado um carro para mim. mas ele não veio para se
despedir de mim.
Eu sabia que as coisas estavam ruins entre nós, mas sua ausência
machucou meu coração de uma maneira que eu não poderia imaginar.
Ele nem queria se despedir...
*
Quando Cheguei ao hotel, prometi a mim mesma que iria tirar Ekon
da cabeça até que o julgamento terminasse.
Se eu fosse vencer, precisava colocar tudo o que tinha na preparação.
Eu estava grata por ter meus amigos e meu irmão ao meu lado, mas
quando entrei no saguão do hotel, vi a última pessoa que esperava.
— Hunter Blackwood? — Eu disse, atordoada quando ele sorriu para
mim com aquele sorriso diabólico. — O que diabos você está fazendo
aqui?
— Eu não conseguia ficar longe de você, minha querida. Esse seu
aroma perfeito me atraiu de volta. — Ele pegou minha mala e começou a
me levar pelo corredor. — Vamos conversar no seu quarto, sozinhos.
— Boa tentativa, — eu disse, pegando minha mala de volta. — Só
porque estou em uma posição vulnerável, não significa que vou buscar
seu conforto.
— Eu nunca pensaria em tirar vantagem de você, doce Bambi, — disse
ele, de forma pouco convincente.
Revirei os olhos, mas mesmo enquanto ele flertava descaradamente
comigo, vi através de sua fachada.
Ele não estava aqui para tentar dormir comigo. Então, para que ele
estava realmente aqui?
— Pare de brincadeira, Hunter. O que realmente te trouxe aqui?
Sua expressão tomou-se estranhamente séria e ele olhou em volta
como se estivesse nervoso por alguém estar ouvindo.
— Na verdade, eu preciso falar com você sozinho, — ele disse
sombriamente. — Há um pátio do lado de fora. Vamos dar um passeio?
Eu balancei a cabeça e entreguei minha mala a um carregador
enquanto caminhávamos para um jardim de arbustos bem cuidados que
chegava mais alto do que nossas cabeças.
Era o local isolado perfeito... para alguém que não queria ser visto.
— O que há com todo esse sigilo? — Eu perguntei. — Bem, para
começar, como membro do Conselho Real, fui chamado para fazer parte
do seu júri.
Eu disse a você antes que eu sou... digamos, simpático à sua causa, mas
é melhor se o Conselho não souber disso, para o seu bem.
Isso fazia sentido. Se ele não fosse considerado imparcial, ele seria
removido, como meu irmão. Mas havia mais nisso.
— A verdade é, Bambi, não sou muito querido no Conselho. A parte os
rumores sobre meu apetite sexual, meu pai lutou por Matthias ao lado
dos renegados durante a Grande Guerra. É difícil viver assim.
— Você não pode ser responsabilizado pelas ações do seu pai, — eu
disse, sentindo a honestidade em suas palavras. — Você é você mesmo.
— É verdade, mas independentemente, eu fui um grande espectador
na Grande Guerra. Eu era jovem, é claro, mas agora estou em uma
posição diferente - uma posição para ajudar a consertar os erros de meu
pai. E por isso que vim aqui - para ajudá-la a vencer. Não vou ficar parado
enquanto Matthias sobe ao poder... não de novo.
Hunter estava constantemente me surpreendendo.
Talvez houvesse mais no farejador de bocetas do que as pessoas
imaginavam.
Corei ao pensar em seu apelido. A coisa mais sensata a se fazer ainda
seria manter distância.
— Como você vai ajudar? — Eu perguntei com cautela.
Hunter parou em seu caminho e puxou um envelope de sua jaqueta
de couro.
— O que é-
— Bambi, ouça com atenção. Tenho algo que pode virar a maré, talvez
o suficiente para ajudá-la a vencer, mas se você usar... pode mudar seu
relacionamento com Ekon para sempre.
Hunter me olhou gravemente, como se já estivesse reconsiderando.
— Eu procurei nos cofres antigos do meu pai e encontrei uma
montanha de informações restritas da Grande Guerra, mas esta era a
agulha no palheiro que eu estava procurando. Este envelope contém uma
bomba, mas eu só quero que você o abra se estiver disposta a correr o
risco, — ele disse ameaçadoramente.
Peguei o envelope de suas mãos, sem saber o que pensar.
Se o que ele disse fosse verdade, meu relacionamento com Ekon
poderia ser irreparavelmente alterado, mas se isso pudesse ajudar a
provar que Matthias ainda estava vivo...
Eu estendi minhas garras e cortei o envelope.
Alguns riscos valiam a pena correr.
Capítulo 19
LINHAGENS DE SANGUE
BAMBI

Eu cuidadosamente deslizei um documento amarelo esfarrapado para


fora do envelope.
Era tão fino que pensei que se desintegraria em minhas mãos.
Prendi a respiração quando comecei a ler o documento.
HOSPITAL ALCATEIA GUERREIRA
Esta certidão de nascimento confirma que:
MATTHIAS CALEB CABOT
Nasceu em:
12 DE JUNHO DE 1978
À mãe, ROSETTE CABOT
Eu derrubei o documento horrorizado, mas Hunter o pegou no ar.
— Como... como isso é possível? — Eu perguntei, chocada.
— Bem. parece que a mãe de Ekon realmente se prostituiu, — disse
Hunter, fazendo pouco da situação.
— Isso não é uma piada, Hunter. Se Rosette é a mãe de Matthias, isso
significa...
— Isso significa que Ekon e Matthias são irmãos, — ele finalizou para
mim.
— E Devina é a irmã deles, — acrescentei.
— Quem? — Hunter perguntou, mas eu apenas o ignorei, tentando
entender essa informação.
Este era potencialmente o trio de irmãos mais problemático que já
existiu, e Ekon estava completamente no escuro sobre tudo isso.
— Devina se tornou uma bruxa, assim como sua mãe, criada pelo clã
depois que Rosette a abandonou. Então ela abandonou Matthias
também? Que tipo de mãe faz isso com seus próprios filhos? — Eu me
perguntei, andando em volta de uma fonte no meio do jardim.
— Você está me perdendo, — disse Hunter, confuso.
De repente, pensei no ataque desonesto que matou os pais de Ekon.
Devina e Matthias deviam saber que Rosette era sua mãe e que ela estava
presente naquela festa.
Mas por que ela os abandonou?
Por que eles a mataram?
E se a vingança contra uma pessoa era seu objetivo final, por que eles
começaram uma guerra?
Essas perguntas giravam em minha cabeça como um carrossel, me
deixando tonta.
— Eu tenho que contar a Ekon. Ele merece saber, — eu disse, me
sentindo atordoada.
— Ei, ei, ei, — Hunter disse, colocando as mãos nos meus ombros. —
Espere aí. Você não está pensando direito. Você percebe o quanto isso
pode sair pela culatra?
— Eu não posso esconder mais segredos dele. É por isso que estamos
aqui em primeiro lugar! — Eu senti como se estivesse desabando. Eu
estava presa nessa viagem desorientadora e queria descer.
— Não, nós estamos aqui porque Ekon se recusou a ouvir. Ele se
recusou a enfrentar o que estava bem na sua frente. Ekon enterrou seu
passado tão profundamente que ele nunca teria descoberto essa
informação sozinho. Você acha que ele ficará grato por termos
desenterrado essa merda? — Hunter disse, tentando falar com bom senso
para mim.
Ele estava certo, é claro. Todo esse caso estava por um fio, e qualquer
coisa que eu fizesse a qualquer momento poderia causar o rompimento
desse fio.
— Consulte sua equipe sobre isso. E por isso que eu trouxe a você a
informação em primeiro lugar, — ele disse firmemente.
Eu balancei a cabeça e coloquei o documento na minha bolsa. —
Obrigada, Hunter.
— Não me agradeça ainda. Essa coisa toda ainda pode dar errado. —
Ele sorriu. — Mas eu tenho mais uma coisa para você.
Ele me entregou uma pasta fina contendo documentos sobre ataques
desonestos.
— Você pode realmente agradecer ao seu irmão por este. Quando fui
vê-lo, ele me ajudou a investigar uma série de ataques desonestos no
norte que acreditamos ter sido orquestrados por Matthias. Está tudo
nesses dossiês.
— Meu irmão ajudou você Eu estava cético para dizer o mínimo.
— Ok, bem, primeiro ele disse para eu e o meu faro nos retirássemos
de sua propriedade antes que ele me partisse em dois, mas eu fiz um caso
convincente quando disse a ele que estávamos fazendo isso por você.
— Isso soa como Max. — Eu ri. — Mas, sério, Hunter, obrigada.
— Tudo pelo bem do reino ou alguma besteira. O que quer que me
faça transar mais rápido. — Ele sorriu. — Mas, honestamente, é melhor
eu dar o fora daqui antes que alguém nos veja juntos.
— Vejo você no tribunal, — eu disse enquanto ele discretamente se
afastava.
*
Havia muito para desempacotar nas informações que Hunter me deu
enquanto eu voltava para o saguão. Para começar, a certidão de
nascimento de Matthias provava que sua mãe era uma bruxa, o que
significa que ele era imune à acônito, assim como Ekon.
O principal motivo pelo qual todos tinham tanta certeza de que ele
estava morto, mesmo que seu corpo nunca tenha sido encontrado, era a
tal planta.
O problema era que sua certidão de nascimento também revelava que
ele era irmão de Ekon, e essa informação destruiria Ekon de maneira
absoluta.
Eu realmente seria capaz de deixá-lo cego assim?
De repente, me senti pega de surpresa, quando um par de braços
fortes me envolveu em um abraço.
— Já faz muito tempo, pequena corça.
Eu me virei para ver Max sorrindo para mim com um sorriso bobo, e
eu imediatamente desabei, soluçando. Este momento demorou muito a
chegar.
Eu o abracei de volta, incapaz de conter as lágrimas.
— Droga, eu deixo você sozinha por alguns meses e você comete
traição? — Max brincou.
— Max, isso não é engraçado! — Eu o acertei no peito com força. Eu
realmente senti falta desse idiota. — Você não tem ideia de como estive
perdida sem você.
A expressão de Max ficou séria. — Bambi, você pode ter se sentido
assim, mas olhe para tudo o que você realizou. Sua investigação pode
acender um fogo sob a bunda do Conselho. Você pode salvar todo o
reino.
— Espero que sim, — disse uma voz profunda e autoritária atrás de
mim.
— Alfa Leonardo! — Exclamei, reconhecendo instantaneamente sua
voz no telefone.
Ele era alto e bronzeado, e cada detalhe sobre ele era mais distinto do
que o anterior. Sua energia confiante exalava charme e inteligência, e
fiquei feliz por ele estar do nosso lado.
— Devo estar louco por aceitar este caso, — disse ele, sacudindo a
cabeça. — Mas acho que preciso de um bom desafio.
— Eu tenho algo que você precisa ver, — eu disse, segurando a
certidão de nascimento na minha bolsa. — Eu prometo que você não vai
se arrepender de me ajudar.
— Acredite em mim, Bambi, já me arrependo o suficiente, mas ajudar
você a derrubar Matthias não vai ser um deles.
— Vamos para a sala de conferências. Todo mundo está esperando por
nós lá, — Max disse, liderando o caminho.
Quando entramos na sala, vi que toda a pesquisa que eu Conduzi com
as meninas durante nosso clube do livro falso estava espalhada pela
mesa, incluindo o quadro de avisos obsessivo de Ela com os fios
vermelhos.
— Deusa, no que eu me meti? — Leonardo suspirou.
*
Demorou um pouco para explicar, mas contei a Leonardo e Max todas
as informações que descobri sobre Ekon. Devina e Matthias.
Todos ficaram especialmente chocados ao descobrir que Matthias e
Ekon eram irmãos, mas era a melhor prova que tínhamos para provar
que Matthias ainda estava vivo.
— Há muitas perguntas sem resposta aqui, mas focar no que não
sabemos só vai nos prejudicar, — disse Leonardo enquanto
examinávamos nossa defesa. — Precisamos nos concentrar nos fatos e na
exposição de Matthias acima de tudo.
Leonardo disse que não estava convencido antes de eu revelar tudo,
mas agora ele disse que tinha mais do que uma dúvida razoável para
acreditar que Matthias ainda pudesse estar vivo.
E se ele ainda estava vivo, era fácil acreditar que ele tentaria subir ao
poder novamente.
— Os fatos são estes. Matthias era imune ao acônito porque sua mãe
era uma bruxa. Seu corpo nunca foi encontrado, apesar de uma busca
minuciosa. Ele tinha conexões com uma bruxa que praticava magia
negra.
— Os recentes ataques desonestos correspondem aos mesmos
padrões dos ataques durante a Grande Guerra. E, finalmente, Bambi
testemunhou Alfa Rudolph murmurando o nome de Matthias com seu
último suspiro após o massacre da Matilha do Norte.
Não era muito, mas poderia ser suficiente se o apresentássemos da
maneira certa. Eu só queria que pudéssemos ter usado minha experiência
na floresta como prova também, mas não havia como isso ser admissível,
e eu não tinha certeza do que tinha acontecido.
Eu simplesmente sabia que a presença na floresta era do mal.
— A informação de Hunter foi uma virada de jogo do caralho, — disse
Leonardo, recostando-se na cadeira.
— Temos certeza de que podemos confiar nisso? — Ela perguntou
desconfiada. — É de Hunter Blackwood que estamos falando.
— Sim, mas você nem conheceu o homem, — eu disse, defendendo-o.
— Os rumores não são todos verdadeiros.
— Eu posso garantir isso também, — disse Max, concordando comigo.
— Quero dizer, ele ainda é um farejador de bocetas, mas não é de todo
ruim.
— Hunter teve seu papel a desempenhar nisso, assim como o resto de
vocês, — disse Leonardo. — Estou feliz que ele esteja no Conselho. Isso é
pelo menos um voto a nosso favor.
— A experiência de Holly com bruxas também será útil, — respondi.
— Victoria está em boa posição como esposa do Beta, e a posição de Ela
na Casa da Matilha não nos prejudica.
— Temo que você esteja sob um grande escrutínio, Sra. Shetty. —
Leonardo voltou-se para Ela.
— Mas seus documentos de autorização foram -assinados por uma
Luna, então devo ser capaz de descartar essas acusações facilmente.
— Isso é um alívio, — Ela respondeu, exalando uma respiração
profunda.
— Ninguém deve se sentir aliviado ainda, — disse Leonardo, olhando
para cada um de nós. — Tudo aponta para a subida de Matthias ao poder
novamente, e sabemos que ele está esperando sua vez por dezesseis anos.
Não há como dizer o que ele está planejando para o reino.
Uma sensação de mal-estar varreu a sala. Passamos tanto tempo
tentando provar a existência de Matthias que realmente não pensamos
sobre o que ele estava planejando... ou que ele teve dezesseis anos para
planejar.
O massacre da Matilha do Norte foi apenas o começo...
Leonardo se levantou, cravando os nós dos dedos na mesa de
conferência. — É de máxima -importância que convencemos o Conselho
Real do ressurgimento de Matias.
— Ou a tempestade que está se formando poderá destruir todos nós,
— eu disse gravemente.
Capítulo 20
ALFA VS. LUNA BAMBI
Tínhamos apenas uma semana para nos preparar para o julgamento,
mas Alfa Leonardo estava confiante em nossa defesa. Ele e Max me
treinaram por horas a fio, mas eu ainda me sentia desconfortável.
Não estava realmente nervosa por mim. Eu já tinha decidido aceitar
qualquer decisão do tribunal. Os sentimentos de ansiedade eram por
causa de Ekon.
Este julgamento mudaria sua vida para sempre...
E hoje era o dia.
Eu gostaria de poder não contar a Ekon sobre sua família, mas eu
tinha que me lembrar do que Leonardo tinha dito - convencer o
Conselho do retomo de Matthias era nosso único objetivo.
Enquanto eu entrava nas câmaras do Conselho, onde o tribunal seria
realizado, Alfa Leonardo me conduziu por filas e filas de assentos cheios
de espectadores. Todos tinham aparecido para ver a companheira do Alfa
ser julgada.
Todo o Conselho Real estava presente, assim como a família real.
Pegamos nosso lugar na frente da sala do tribunal ao lado do resto de
nossa equipe. O time de Ekon estava do outro lado, mas ele ainda não
havia chegado.
Embora eu tenha reconhecido vários alfas sentados atrás do banco do
tribunal, havia alguns que eu nunca tinha visto antes.
— O rei nomeou três embaixadores alfa no lugar dos membros do
Conselho Real que estavam envolvidos no caso, — Leonardo sussurrou
em meu ouvido. — Dois dos embaixadores são dignitários estrangeiros
que não têm preconceitos, então sua neutralidade pode trabalhar a nosso
favor. O terceiro é filho do rei, no entanto. A família real é muito
próxima dos Jedreks.
Eu olhei para o Príncipe Apoio, o garoto que eu pensei, por um
momento, poderia ser meu companheiro. Eu não teria cometido esse
erro hoje.
Ele estava olhando para mim com ódio.
Aparentemente, ele já havia se decidido sobre a minha culpa.
Eu desviei o olhar, tentando me concentrar em outra pessoa, mas
meus olhos pousaram em Ekon enquanto ele entrava na câmara.
Nossos olhares se encontraram, e toda a dor que eu estava
empurrando veio correndo de volta à superfície.
Eu não o via ou falava com ele há uma semana, e agora, aqui
estávamos nós nos encontrando novamente, mas em lados opostos...
adversários.
Faltava ver se o fim desse julgamento tomaria as coisas melhores ou
piores entre nós, mas pelo menos a verdade viria à tona. Esse era um
fardo que se tomaria muito pesado para carregar por mais tempo.
Ekon ocupou seu lugar com sua equipe, e tentei me recompor. Chorar
aqui não me faria parecer simpática, apenas fraca.
Depois que todos estavam em seus lugares, o rei Dmitri entrou e
todos nós nos curvamos ou nos ajoelhamos. A última vez que vi o rei, ele
foi brincalhão e gentil comigo, mas desta vez, ele era muito mais
imponente.
Especialmente sentado em um trono a três metros do chão...
— Sentem-se, — disse ele em sua voz poderosa e potente. — O
tribunal está em sessão agora.
Todos nós voltamos a sentar, mas o rei imediatamente voltou seu
olhar para mim.
— As acusadas, Bambi Jedrek, Ela Shetty, Holly Stone e Victoria
Ryland enfrentam acusações de roubo de arquivos de inteligência, uso de
dados restritos, invocação de elementos sobrenaturais proibidos,
espionagem, roubo de dados confidenciais e traição em massa. Por favor,
enviem um representante e diga ao tribunal como vocês se declaram, —
ordenou o rei Dmitri.
Lentamente, caminhei em direção ao pódio e falei no microfone.
— Nós nos declaramos inocentes, Vossa Majestade.
— Muito bem, então ouviremos seu caso, — ele disse, soando como se
esperasse o contrário.
— O Conselho jura permanecer imparcial durante os procedimentos,
sob a luz da Deusa da Lua, fornecendo um veredicto justo e imparcial?
Um por um, cada um dos membros do Conselho Real jurou fidelidade.
— Eu juro, — responderam os dois embaixadores estrangeiros.
— Eu juro, — disse o Príncipe Apoio, embora parecesse longe de ser
imparcial.
— Eu juro, — rosnou Alfa Hades, um homem que era ainda mais
temível na aparência e no comportamento do que Ekon. Ele era primo de
Ekon, embora eu não tivesse ideia de como era o relacionamento deles.
— Eu juro, — seguiu Alfa Vladimir, que tinha uma expressão difícil de
ler.
Hunter estava sentado no final, o último do Conselho.
— Eu... — Hunter não conseguia pronunciar as palavras. O infame
farejador de boceta com a língua de prata ficou completamente sem fala
por algo.
Seus olhos se arregalaram e ele parecia pálido, como se tivesse visto
um fantasma.
— Eu... não posso, — disse ele, provocando uma onda de suspiros na
multidão.
— Ordem! — gritou o rei.
O que diabos ele está fazendo?
Eu segui seu olhar até Ela, que parecia tão chocada e confusa quanto
ele.
Oh minha deusa.
— Eu... acabei de perceber que uma das acusadas, Ela Shetty, é minha
companheira, — Hunter gaguejou.
A multidão explodiu em diversas conversas que nem mesmo o rei
conseguia silenciar.
— Ordem, ordem! — ele gritou novamente.
— Lamento ter de me retirar deste assento, pois posso achar meu
julgamento nublado por este desenvolvimento recente, — Hunter disse
atordoado, levantando-se e deixando o pódio do Conselho.
Ele se sentou no fundo do local, os olhos vidrados, parecendo como se
tivesse levado um dardo tranquilizante.
Ele não era útil para nós agora...
— Merda, isso é ruim para nós, — Leonardo rosnou baixinho. —
Hunter era nosso único aliado.
Ela estava tremendo, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Eu sabia
exatamente como ela se sentia... Foi como me senti quando descobri que
estava acasalado com o terrível general de guerra, Ekon.
Eu olhei para ele, mas Ekon não parecia satisfeito com este
desenvolvimento.
Ele parecia tão preocupado quanto Leonardo...
EKON

Aquele maldito bastardo realmente tinha que se acasalar nesse


momento? Bem no meio de um julgamento em que minha companheira
pode ser acusada de traição?
Isso era ruim pra caralho.
Ele era o único naquele Conselho que a teria apoiado.
Apesar de estarmos em lados opostos desse assunto, é o lado de Bambi
que eu esperava que ganhasse.
Sim, eu estava furioso com minha companheira pelo que ela fez...
Ela mentiu na minha cara por meses sobre seu chamado clube do
livro.
Ela pesquisou meu passado contra a minha vontade.
Ela colocou a si mesma e aos outros em perigo mais vezes do que eu
poderia contar.
Mas ela tinha um bom coração e segurava o meu na palma da sua
mão.
Eu sabia que ela nunca me machucaria intencionalmente.
Esta foi apenas uma busca equivocada por respostas sobre a morte de
seus pais, ou pelo menos é o que eu estava dizendo a mim mesmo.
Eu só queria deixar tudo para trás e continuar de onde paramos
depois que ela me disse que me amava.
Eu nunca esperei ouvir essas palavras dela, mas quando eu fiz, eu senti
um renovado senso de propósito que eu não sentia desde a Grande
Guerra.
Agora, uma nova guerra estava ocorrendo, uma neste mesmo tribunal.
Era a primeira batalha que eu esperava perder.
WHACK.
WHACK
WHACK
O rei Dmitri bateu o martelo contra seu pódio, sinalizando que o
curto recesso havia acabado.
Disseram-me que sua esposa, a rainha Grace, estava sentada no lugar
de Hunter, embora eu não pudesse prever o que isso significaria para
Bambi.
— Que o processo comece, — Dmitri trovejou.
— Vamos continuar com isso, porra, — eu murmurei para mim
mesmo.
O advogado nomeado pelo conselho para a acusação se aproximou da
bancada e se dirigiu ao Conselho.
— A promotoria tem a palavra, — Dmitri anunciou.
O promotor falou com uma presunção desarmante. — Vossa
Majestade e distintos membros do Conselho, este é um caso histórico. É
repleto de escolhas difíceis e sem dúvida testará nossos escrúpulos, mas a
promotoria confia que o Conselho chegará à conclusão certa depois de
examinarmos as evidências.
Esse cara era um idiota nojento. Ele já estava beijando a bunda dos
membros do Conselho.
— O querelante, Alfa Supremo Ekon Helmer Jedrek, abriu este caso
contra sua própria companheira para o bem maior de sua matilha. Foi
uma decisão difícil da parte dele, mas ser um Alfa justo é de extrema
importância para ele, — disse o promotor.
Eu não tive nenhuma escolha nessa merda.
Quando Bambi e suas amigas decidiram solicitar um julgamento
envolvendo um membro do Conselho Real, a decisão estava fora de
minhas mãos.
— Eu gostaria de começar com as acusações de roubo. Arquivos
restritos foram retirados da Casa da Matilha por Ela Shetty, a pedido de
Bambi Jedrek, mas a devida autorização não foi usada. Alfa Ekon não
tinha conhecimento deste pedido, nem deu sua permissão.
Era verdade, e não havia nada que eu pudesse dizer para contestar esse
fato.
— Eu me oponho a essa afirmação, Sua Majestade, — Leonardo
rebateu. Ele caminhou para o chão para desafiar a acusação. — Sr. Shetty
tinha a permissão necessária para verificar os documentos.
Ouvi um farfalhar de papel e, em seguida, uma página foi jogada sobre
a mesa.
— Apresento ao tribunal o termo de autorização assinado por Luna
Bambi, — afirmou Leonardo. — Embora um alfa normalmente aprove
materiais restritos, a lei da matilha afirma que uma Luna tem essa
autoridade também. Nada de ilegal foi feito nesta situação, e a defesa
solicita que esta acusação em particular seja retirada.
— Sim, você está correto neste assunto, Alfa Leonardo, — o promotor
disse em seu tom presunçoso. — Uma Luna pode realmente conceder
autorização para tais materiais.
Por que ele parece tão presunçoso? Qual é a porra do seu objetivo?
— Mas, Vossa Majestade, Bambi Jedrek não é uma Luna, pelo menos
não oficialmente. Ela ainda não foi iniciada de acordo com a lei da
matilha, um costume geralmente realizado imediatamente após o
acasalamento, — disse ele, causando o caos em erupção na multidão.
Meu coração afundou ao ouvir as vozes dos espectadores.
Ele... ele estava certo.
Ela nunca foi iniciada...
Eu só queria dar espaço a ela.
Mas pelas regras do costume da matilha, Bambi nunca foi
oficialmente uma Luna.
Capítulo 21
JULGAMENTO
BAMBI

Eu mal conseguia ouvir meus próprios pensamentos por causa dos


murmúrios da multidão.
— Por que eles ainda não tornaram isso oficial?
— Onde foi a cerimônia de acasalamento?
— Eu nem acho que ela quer estar aqui.
— Ela acha que é boa demais para esta matilha.
— Ela não é a porra da Luna.
Eu cobri meus ouvidos e fechei meus olhos, tentando bloqueá-los.
Mas eu sabia que eles estavam certos.
Eu não era a Luna deles, não oficialmente.
Quando Cheguei a este lugar, tudo que eu queria era ir para casa. A
matilha de Ekon era fria e estranha, e eu me senti isolada e sozinha.
Mas ao longo dos últimos meses, passei a amar esta matilha.
Eu aprendi a amar seu Alfa.
E eu não conseguia me imaginar em outro lugar. Esta era a minha
casa agora, e eu já podia senti-la sendo arrancada de mim.
— Gostaria de solicitar um breve recesso para discutir esse assunto
com minha cliente, — disse Leonardo, correndo até mim e me colocando
de pé.
— Concedido, — o rei disse, balançando a cabeça.
— Este é um grande desenvolvimento.
Leonardo me levou a uma pequena sala vazia atrás do banco do
Conselho e fechou a porta.
— Estamos fodidos, — ele disse assim que estávamos fora do alcance
da voz do tribunal.
Eu apenas balancei minha cabeça em derrota. — Não vamos nem
chegar a um ponto em que possamos falar sobre Matthias. Isso acabou
antes de começar.
— Vou pensar em alguma coisa. Sempre penso em alguma coisa, —
disse Leonardo, andando de um lado para o outro na sala.
Eu juntei minhas mãos e comecei a orar. — Querida Deusa, por favor-
— Você está orando 1- Foda-se a Deusa! Se você acha que ela vai te
ajudar, então talvez você devesse ter pedido aquela vadia para
representação em vez de mim!
Meu queixo caiu. — Alfa Leonardo, por favor! Não diga coisas assim!
E uma blasfêmia.
Leonardo apenas revirou os olhos. — Não sabia que você era do tipo
religioso. Então, por suposto, pode rezar, porque não temos nenhum
outro -
Leonardo de repente parou no meio da frase e parecia que uma luz
acabara de se acender em sua cabeça.
— Espere, é isso! Você acabou de me dar a ideia perfeita! — ele gritou.
— Hum, eu dei? — Eu perguntei, confusa.
— Venha, vamos. Eu cuido disso, — ele disse com confiança, me
puxando de volta para o tribunal.
— Sua Majestade, nosso recesso acabou. Vamos continuar se o
tribunal estiver pronto, — disse Leonardo secamente.
Tanto o rei quanto a promotoria pareceram perplexos com a
brusquidão de nosso recesso.
— Uh, muito bem, o tribunal está em sessão, — disse o rei, batendo o
martelo contra o pódio.
Leonardo se lançou direto para um solilóquio.
— Vossa Majestade, o Conselho Real, sob seu reinado e a soberania de
seus antepassados, todos vocês juram seguir as leis da Deusa da Lua,
correto?
— Claro, — o rei disse, franzindo as sobrancelhas.
— As leis da Deusa da Lua têm precedência sobre as leis do homem. A
família real sempre foi uma seguidora devota da Deusa.
Leonardo sorriu, e o promotor franziu os lábios como se tivesse
acabado de provar algo amargo.
— De acordo com as leis da Deusa, uma fêmea se toma uma Luna no
momento em que o Alfa a reconhece como sua companheira, através de
sua conexão espiritual compartilhada. E um vínculo instantâneo e
inquebrável.
Agora que ele estava em posição, Leonardo partiu para a matança.
— As leis da matilha de Alfa Ekon e os costumes de sua família podem
ditar que uma companheira só se toma Luna após uma cerimônia de
acasalamento adequada, mas todas as matilhas de membros do Conselho
Real são unidas sob a lei comum da Matilha Real. Sob a luz da Deusa,
Bambi é de fato uma Luna.
Os murmúrios da multidão ficaram ainda mais altos do que quando o
promotor questionou minha posição como Luna e, desta vez, sorri. Leo
era um mestre das palavras.
Eu olhei para Ekon, e quando os cantos de seus lábios se contraíram,
parecia quase -como se um sorriso estivesse lutando contra seu rosto
também.
— Ordem! — O rei bateu com o martelo. — Alfa Leonardo, você está
correto neste assunto. O tribunal nunca deveria ter questionado o título
de Luna Bambi. Afinal, foi concedido pela própria Deusa. As acusações de
roubo foram rejeitadas.
Eu sorri para Ela, Victoria e Holly enquanto elas se abraçavam com
entusiasmo.
— Não fique muito convencida. Estamos apenas começando, —
Leonardo sussurrou para mim.
Ele estava certo. Essa foi apenas a primeira acusação de muitas, e a
verdadeira vitória viria quando expuséssemos Matthias.
— Vossa Majestade, a acusação gostaria de chamar Bambi Jedrek para
depor, — disse o promotor, atirando adagas em Leonardo.
— Luna Bambi Jedrek, — o rei disse, em tom de censura.
— Ah, sim, erro meu, — disse ele amargamente.
Leonardo acenou com a cabeça para me tranquilizar e me sentei ao
lado do pódio.
O promotor lambeu os lábios enquanto batia na mesa à minha frente.
— Luna Bambi, por que você colaborou com suas amigas para praticar
magia negra? Qual era a sua intenção?
— Objeção, induzindo a réu! — Leonardo rugiu.
— Tudo bem, eu vou reformular. Você praticou magia negra com suas
amigas em seu esconderijo secreto?
— Não, nunca! — Eu disse indignada.
— Por que então você precisava de O Grande Livro das Bruxas Por que
você consultou todos os livros de feitiços restritos na biblioteca da casa
da matilha, incluindo livros sobre necromancia?
A verdade é que não sabíamos quando daríamos outra olhada nos
materiais restritos, então simplesmente pegamos tudo, sem realmente
olhar muito de perto, mas eu sabia que essa explicação não funcionaria
com o tribunal.
— Eu não os estava usando para feitiços. Eram para pesquisa, —
respondi. — Eu estava tentando encontrar a bruxa que roubou a visão do
meu companheiro. A bruxa chamada Devina.
A sala retumbou com murmúrios abafados, mas o processo não parou.
— Então, você estava secretamente procurando por um conhecido
associado dos Rebeldes, sem o conhecimento de seu companheiro? Isso é
certamente suspeito, — disse o promotor, dirigindo-se ao Conselho.
— Não vamos esquecer que alguns membros deste Conselho também
já foram conectados a associados conhecidos -dos Rebeldes, — eu disse
bruscamente.
Isso irritou todo mundo, especialmente Alfa Hades, que se mexeu
desconfortavelmente na cadeira.
— Luna Bambi, lembre-se, você é quem está sendo julgada aqui, — o
Rei Dmitri avisou.
— Sim, claro, Sua Majestade, — eu disse em um tom doce.
Leonardo olhou para mim como se eu tivesse acabado de perfurar
meu próprio barco salva-vidas. Eu sabia que era arriscado e
provavelmente uma coisa estúpida de se dizer, mas ainda era verdade.
— Eu só queria ilustrar que a maioria de vocês aqui tem uma conexão
com a Grande Guerra e as batalhas do passado. Todos nós perdemos
alguém. Eu mesma perdi meus pais. Meu companheiro perdeu a visão.
Minha busca por Devina foi uma tentativa de corrigir algumas das
atrocidades da guerra. Na verdade, toda a minha investigação foi
centrada nesse objetivo.
Eu vi vários alfas acenando com a cabeça, e Leonardo silenciosamente
murmurou, — boa defesa.
Eu não mencionei a linhagem de Devina, esperando não ter que usá-la
aqui.
O promotor se aproximou de mim.
— Luna Bambi, sua pesquisa foi muito mais perturbadora do que
apenas magia negra. Você tinha informações detalhadas sobre ataques
desonestos terríveis, anteriores e extremamente recentes. Fotos de
cadáveres. Diagramas obsessivos de assassinato. Em particular, você e
suas amigas pareciam fixadas no massacre da Matilha do Norte.
Ele estava tentando me fazer ficar mal, e estava funcionando, a julgar
pela expressão no rosto da rainha. Ela ficou chocada e eu não poderia
culpá-la. Nada disso parecia bom.
— Luna Bambi, pela forma como você coletou esses materiais em
segredo, construiu uma linha do tempo e reuniu um grupo de
seguidores, parece que você estava planejando algo. Você pode esclarecer
o tribunal quanto ao verdadeiro propósito do seu grupo?
— Objeção! — Leonardo gritou. — Ele está fazendo suposições.
— Negado, — o rei respondeu. — Eu gostaria de ouvir a resposta dela.
Agora ele estava me fazendo soar como uma líder de culto maluco. Eu
estava começando a ficar confusa.
— Eu estava... eu estava tentando provar a existência de alguém, —
gaguejei.
— Quem? — perguntou o rei. — Por que uma garota como você
deveria estar investigando as bruxas das trevas e a morte?
— Porque estou tentando prevenir essas coisas! — Eu levantei minha
voz e imediatamente me arrependi.
O rei não gostaria que falassem assim com ele.
— Tentando prevenir o quê, exatamente? — o promotor continuou.
— Alguma ameaça inventada?
— Matthias! — Eu disse, levantando-me. — Ele está vivo e é uma
ameaça muito real, e se continuarmos a ignorar isso, então todos
acabaremos como a Matilha do Norte!
A sala do tribunal de repente explodiu em um tumulto limítrofe.
Espectadores estavam se levantando e gritando, os membros do
Conselho discutiam entre si, e o rei parecia que estava prestes a atirar
lava do topo de sua cabeça.
— Essa é uma acusação ultrajante! — a rainha gritou. — Você está
usando propaganda perigosa para incitar a instabilidade dentro da
matilha.
— Isso é traição do caralho! — o rei rugiu.
Eu estava encurralada em um canto e de repente perdi toda a
credibilidade.
Ekon estava de pé, mas se firmou contra a mesa. Todo o barulho e
turbulência estavam confundindo seus sentidos.
Leonardo correu para o meio da sala e ergueu as mãos, gritando a
plenos pulmões.
— TODOS, QUIETOS!
A sala se acalmou por um momento e Leonardo aproveitou a
oportunidade.
— Majestade, sei que parece ruim, mas temos provas de que Matthias
voltou, — disse Leonardo, passando-lhe o envelope com a certidão de
nascimento. — O último suspiro de Alfa Rudolph foi o nome de
Matthias. Luna Bambi assumiu a responsabilidade de proteger o reino e,
ao fazer isso, ela descobriu uma teia de escuridão que levou de volta ao
homem que antes pensávamos estar morto pelas mãos de Alfa Ekon.
— Você também não, Leonardo. Ele morreu! Eu estava lá. Você -estava
lá pelo amor de Deus. O acônito das garras de Ekon o estrangulou por
dentro, e ele foi lançado para a morte. — Rei Dmitri fervilhava.
Leonardo olhou para mim com urgência. Este era o momento.
Eu olhei para Ekon com tristeza em meus olhos. Ele não conseguia
nem ver o que estava por vir.
— Vossa Majestade, Matthias nunca foi envenenado porque ele era
imune a acônito. E uma característica transmitida de bruxas a seus filhos.
A mãe de Matthias era uma bruxa, assim como sua irmã, Devina, nascida
dessa mesma mãe.
— Como você pode saber que eles eram irmãos? Como você pode
saber disso? — ele perguntou, enfurecido.
— Porque aqueles dois irmãos tinham outro irmão. Se você abrir o
envelope, vai entender por que eu era tão reservada, e por quê escondi
isso do meu companheiro, — eu disse, desejando que não tivesse
chegado a este ponto.
Ele abriu o envelope e leu o documento em voz alta.
— É uma certidão de nascimento de... Matthias. Sua mãe era... puta
merda.
O rei olhou para Ekon, que ainda não tinha conhecimento do furacão
que se aproximava.
— A mãe de Matthias era Rosette Vivian Cabot, — disse o rei,
balançando a cabeça em descrença.
Cada pessoa nesta matilha conhecia esse nome - o nome da mãe de
seu Alfa.
Eu me virei para Ekon, que estava olhando diretamente para mim, seu
lobo na superfície. Ele não parecia feroz, no entanto. Era um tipo
diferente de emoção intensa.
Ele estava devastado
Estripado pela minha traição desinibida.
Talvez eu tivesse vencido o julgamento, mas isso me custou meu
companheiro.
Capítulo 22
ENTORPECIDA
BAMBI

Houve uma comoção na sala do tribunal quando fui levada para fora
na escada por minhas amigas, que me abraçaram, chorando lágrimas de
alegria.
O rei conferenciou com o Conselho Real, e eles declararam o caso
anulado.
Uma investigação seria aberta sobre Matthias e Devina, e
concordamos em compartilhar todas as nossas pesquisas com a equipe
de investigação.
As meninas ficaram em êxtase por todas as acusações terem sido
retiradas, mas eu senti uma nuvem negra pairando sobre mim.
Não senti alegria por vencer o julgamento ou por expor Matthias.
Eu apenas me senti entorpecida.
Victoria colocou os braços em volta do meu pescoço e gritou. — Nós
conseguimos! Você arrasou lá!
— Eu não posso acreditar em como você estava calma e controlada!
Eu estava prestes a fazer xixi nas calças! — Disse Holly, encostando-se
em uma coluna para se firmar.
— E o mais importante, TODAS as acusações foram retiradas, — disse
Ela com orgulho. — Eu preciso de uma garrafa de champanhe para
estourar agora
Forcei um sorriso, deixando-as ter o seu momento, mas ainda me
sentia vazia por dentro.
— Oh, aí está meu companheiro! — Victoria exclamou, acenando para
Ryland enquanto ele era encurralado por alguns jornalistas. — Estou feliz
que finalmente acabou e podemos continuar de onde paramos.
— Vamos continuar de onde paramos.
A voz de Ekon ecoou na minha cabeça. Seríamos capazes de nos
reconciliar depois do que eu fiz?
Eu havia revelado as informações mais pessoais e devastadoras que se
possa imaginar em um fórum público cheio de seus colegas, informações
que eu havia ocultado deliberadamente dele, nada menos.
— Falando em companheiros... — Holly cutucou Ela. — Para onde o
seu foi?
Ela de repente parecia que ia vomitar. Na emoção do momento, ela
conseguiu esquecer que seu novo companheiro era Hunter Blackwood.
— Por favor, eu não consigo lidar com tanta coisa em um dia, — disse
ela, segurando a cabeça. — Eu nem mesmo processei isso ainda.
Eu não estava em um lugar para ajudar a treinar Ela acerca de sua vida
de recém-acasalada agora, embora eu quisesse. Eu tinha que consertar as
coisas com meu próprio companheiro primeiro.
— Se vocês me dão licença, eu preciso descansar um pouco, — eu
disse, me afastando do amontoado do grupo.
— Você está bem? — Victoria perguntou, uma expressão preocupada
em seu rosto.
Deusa, eu não posso incomodar essas garotas com mais dos meus
problemas. Já pedi muito delas.
— Estou bem. — Eu sorri. — Eu só quero ir para casa. — Eu tenho que
dar o fora daqui.
Enquanto eu empurrava através do mar de pessoas saindo do tribunal,
Max agarrou meu braço.
— Bambi, aí está você. Para onde você está indo?
Comecei a soluçar no peito de Max, me sentindo completamente
sobrecarregada.
— Max, eu estraguei tudo. Ele me odeia agora, e eu não o culpo.
— Ele não te odeia, pequena corça. Ninguém poderia odiar você, —
ele disse, me abraçando com força.
— Então eu me odeio, — eu disse, fungando. — O que eu fiz foi
imperdoável.
— Bambi, o que você fez foi a serviço do reino.
Se Ekon não pode ver isso, então ele não merece você, — Max disse
com raiva. — Ele é de uma linhagem ruim de qualquer maneira.
— Claro que ele não pode ver -isso, Max. E tudo o que fiz até este
ponto foi às custas dele, — eu retruquei. — Ekon é um bom homem, não
importa quem seja sua família. Você não sabe do que está falando!
— Não há como falar com você quando você fica assim, — Max
resmungou. — Olha, estou feliz que você esteja segura e tenha cumprido
o que se propôs a fazer. Mas se o seu cônjuge não apoiar você, não venha
chorar para mim sobre isso.
Quando Max saiu furioso, senti uma mão em meu ombro.
Eu me virei para ver Alfa Leonardo me dando um olhar compreensivo.
— Sei que foi uma decisão difícil de tomar, Bambi. Isso terá
consequências, não vou mentir para você, mas você mostrou verdadeira
força naquele tribunal.
Eu balancei a cabeça em apreciação.
Leonardo não era condescendente. Ele não culpou Ekon. Ele não
pulou de alegria e me disse que tudo ia ficar bem.
Eu realmente respeitava essa honestidade. Acho que ele realmente
entendia como eu estava me sentindo.
— Escute, eu tenho que te agradecer, Bambi. Não pelo reino, mas por
razões pessoais, — disse ele.
— Me agradecer? Por quê?
— Por me dar uma segunda chance. Não fui capaz de desferir um
golpe fatal em Matthias durante a Grande Guerra, quando ele matou
minha companheira, mas você me deu a oportunidade de desferir um
tipo diferente de golpe nele com este julgamento.
— Ele ainda está lá fora, tramando algo, — eu disse, cruzando os
braços enquanto estremecia. — Só espero que realmente tenhamos feito
a diferença.
— Não importa o que aconteça, Bambi, isso fez diferença para mim e
para o resto de suas amigas, — disse Leonardo, me dando um sorriso.
Sim... e isso fez diferença para Ekon também. Uma diferença terrível.
EKON
Não havia bebida suficiente no mundo para abafar o que aprendi hoje.
Bebi direto da garrafa, já na minha segunda, tentando entorpecer
meus sentidos, mas o julgamento continuou se repetindo em minha
mente uma e outra vez.
Bambi. minha própria maldita companheira, sentou-se lá em cima e
disse aos meus colegas que eu era de sangue contaminado.
Meu irmão, Matthias, o assassino em massa...
Minha irmã, a bruxa Devina, que tirou minha visão...
Minha mãe, Rosette, que gerou dois filhos do inferno e depois os
abandonou por uma vida de luxo...
Eu nunca poderia pensar em minha mãe - ou minha companheira - da
mesma forma novamente.
A pior parte é que Bambi estava certa e eu não tinha escutado.
Matthias estava lá fora, curando-se e recuperando as forças, enquanto
eu negava sua existência.
O reino estava em perigo, mas eu não estava mais apto para servi-lo.
Eu era um líder incapaz e um companheiro ainda mais incapaz.
Peguei um copo da minha mesa e o esmaguei na parede, quebrando-o.
Mesmo que eu não pudesse ver, o som era satisfatório.
Então, eu quebrei outro... e outro.
Eu fui até o meu bar e passei minhas garras nele, derrubando todos os
meus copos no chão.
O mar de vidro quebrado rangeu sob minhas botas quando voltei para
minha garrafa e continuei bebendo.
Sonhava quase todas as noites com os terrores da Grande Guerra.
Os jovens soldados rasgados ao meio por Rebeldes no campo de
batalha.
As crianças cujos pais nunca voltaram para casa.
Aqueles que perderam seus companheiros - e, portanto, uma parte de
si mesmos.
A única coisa que me manteve indo, que me manteve são, foi saber
que eu tinha matado Matthias, o homem responsável por tantas mortes.
Mas eu não o matei.
Eu não vinguei ninguém.
Eu estava feliz por estar cego.
Ainda bem que não pude ver os olhares nos rostos dos membros do
Conselho quando Bambi revelou que Matthias estava vivo.
Ainda bem que não pude ver a maneira desencantada com que minha
matilha estava olhando para mim quando descobriram que eu não era a
porra de um herói.
Quando conheci Bambi, pensei que talvez ainda houvesse alguma
beleza no mundo, mas agora percebi que era apenas uma ideia de um
tolo.
Uma porta se abriu na entrada e um cheiro cítrico flutuou em meu
escritório.
Minha companheira chegou.
BAMBI

Quando entrei em casa após o julgamento, estava com medo de ver


Ekon.
Ele saiu imediatamente após o veredicto, e eu sabia que ele estaria
bebendo em seu escritório.
Eu não conseguia imaginar como ele deveria estar se sentindo,
aprendendo sobre os segredos sombrios de sua família dessa maneira.
Não importa o que tenha acontecido conosco no passado, agora ele
precisava do meu apoio.
Na verdade, meu coração doeu por ele enquanto estávamos separados.
Meu amor pelo meu companheiro nunca havia desaparecido e eu queria
que ele soubesse disso.
Eu cautelosamente empurrei a porta de seu escritório e entrei. Meu
sapato pousou em um vidro quebrado - estava por toda parte.
Oh, Ekon, sinto muito...
Ele se sentou em sua mesa, tomando goles de uma garrafa. Quando
entrei, ele olhou para cima.
— Você venceu, — ele disse sombriamente.
— Parabéns.
— Não se tratava de vencer, mas de ser ouvida, — eu disse
calmamente.
— Eu sei... e você estava certa, — respondeu ele. — Eu deveria ter
escutado.
— Eu também sinto muito. Eu não queria te contar tudo assim, — eu
disse, me aproximando.
— O que está feito está feito, — respondeu ele com indiferença. —
Nós dois fizemos nossas escolhas.
Quanto mais perto eu chegava dele, mais eu queria que ele me pegasse
em seus braços e me dissesse que tudo ficaria bem entre nós.
Para me dizer que passaríamos por isso juntos.
— Ekon... eu só quero seguir em frente. Quero que continuemos de
onde paramos, — eu disse, estendendo a mão e tocando sua mão.
Ele se levantou bruscamente e me agarrou pelo braço, empurrando
minhas costas contra a parede.
Suas mãos correram pelo meu corpo, sentindo minhas curvas.
Fechei meus olhos, derretendo em seu corpo.
Fazia muito tempo desde que eu senti seu toque.
Sua respiração dançou em meus lábios enquanto ele agarrava minha
cintura.
Eu queria que ele me beijasse. Eu queria que ele tomasse tudo melhor.
— Bambi, eu quero...
Eu me inclinei, mas ele se afastou
— que você saia.
Lágrimas inundaram meus olhos quando os abri e vi a expressão fria
de Ekon.
Naquele momento, senti meu coração se partir em dois.
Capítulo 23
RECOMEÇO
Duas Semanas Depois
BAMBI

Victoria: Ei Luna Bambi, como você está?

Victoria: Você recebeu meu pacote cheio de pastéis?

Victoria: Faz algum tempo que você não dá notícias...

Bambi: Estou ocupada me acomodando em casa Bambi: E Victoria, nós conversamos


sobre isso...

Bambi: Não me chame mais de Luna

Victoria: Mas você é minha Luna.

Victoria: Isso não mudou.

Victoria: Alfa Ekon vai entender, eu sei disso.

Bambi: Que fofo Vic, mas ele não quer nada comigo Bambi: Eu tenho que seguir em
frente

Victoria: Não diga isso!

Victoria: Eu sei que você vai voltar!

Victoria: Ryland diz que é impossível trabalhar com Ekon desde que você saiu.

Victoria: Ele era uma pessoa melhor quando você estava por perto.

Bambi: Eu não melhorei nada vindo para sua matilha, Vic Bambi: Eu só piorei as coisas

Victoria: (emoji triste)

Victoria: Gostaria que você pudesse ver a verdade, Bambi Victoria: Da mesma forma
Era estranho estar de volta à casa da
que você ajudou outros a ver a verdade
minha família depois de todos aqueles meses longe.
Era apenas temporário, é claro...
Eu planejava me mudar e conseguir minha própria casa assim que
iniciasse meu estágio de design na cidade de Nova York.
No meu curto tempo longe, percebi que havia superado este lugar.
Mesmo que parecesse que eu não estava pronta para ir embora naquele
momento, agora estava claro para mim que eu estava.
Eu precisava ser independente, e agora que tinha experimentado, não
poderia voltar para esta vida protegida sob o teto do meu irmão.
Eu amava o cara, mas ele já estava começando a me irritar. Ele ainda
me tratava como uma criança, do jeito que ele fazia antes de eu ser
acasalada com Ekon.
Afundei no sofá da nossa enorme sala de estar e liguei a TV para ouvir
o ruído de fundo.
Eu me encontrei nesta posição muitas vezes desde que deixei a
matilha de Ekon.
Chorei todas as noites durante uma semana, mas havia um limite de
choro para todos, até para mim Depois das lágrimas, veio a fase viciada
em sofá, na qual eu estava deprimida demais para fazer qualquer outra
coisa que não fosse assistir todos os episódios de Alfa e Beta: Unidade de
Vítimas Especiais.
Mas agora, eu estava pronta para seguir em frente e começar de novo.
Ou pelo menos eu continuei dizendo isso a mim mesma.
Eu esperava que meu estágio e um pouco de vida na cidade fossem o
que eu precisava para mudar as coisas.
Meu telefone começou a zumbir e vi uma mensagem de Holly.
Holly: Ei!

Holly: Estou com saudades!

Holly: Como você está?

Bambi: Estou melhor

Bambi: Como vão as coisas aí?


Bambi: Seu treinamento de bruxa está indo bem?

Holly: TÃO BEM!

Holly: Vou preparar uma poção especial para você Holly: suposto É para livrar a sua
aura de qualquer desgraça e melancolia Bambi: Haha, eu gostaria muito disso

Bambi: Você já teve notícias da Ela?

Holly: Ninguém teve notícias dela desde que ela foi embora com Alfa Hunter Holly: Mas
ela vai voltar para casa para uma visita em breve Holly: Então, com certeza vou ouvir
todas as fofocas Bambi: Sim, por favor

Bambi: Eu preciso de uma boa distração

Bambi: Obrigada a propósito

Holly: Por?

Bambi: Por não me interrogar sobre o Ekon Holly: proibido Ekon

Holly: entendo perfeitamente

Holly: Mas saiba que essa ainda é sua casa e nós sentimos sua falta Bambi: emoji de
coração

Eu sentia muita falta delas.


A investigação me deu um propósito e, sem ela, eu não sabia mais o
que estava fazendo.
Pelo que eu sabia, a investigação do Conselho Real estava estagnada e
eles não estavam fazendo nenhum progresso.
Fiquei frustrada com a falta de ação deles, especialmente
considerando que meu irmão fazia parte daquele conselho.
Matthias e Devina ainda estavam lá fora, e os ataques desonestos
aumentavam diariamente.
Quando Max entrou na sala, olhei por cima do sofá e joguei um
travesseiro nele.
— Ei, como foi a reunião do Conselho esta manhã? Algum novo
desenvolvimento? — Eu perguntei esperançosamente.
— Ainda estamos tentando descobrir a melhor estratégia. Não
queremos que isso se tome muito público ainda, — respondeu ele. — Já é
uma situação tão complicada. Não queremos jogar combustível no fogo.
Minhas bochechas queimaram quando me sentei. Isso era o que eles
repetiam sem parar.
Parecia que o Conselho estava apenas tentando jogar sua própria
sujeira para debaixo do tapete. — Max, não podemos simplesmente
esperar que Matthias dê o primeiro passo! Pessoas estão morrendo lá
fora! — Eu agarrei.
— Estou ciente disso, Bambi, mas é um assunto delicado e essas coisas
levam tempo. Não queremos provocar outro ataque como o massacre da
Matilha do Norte, — ele retrucou.
— Eu só não quero que ninguém mais se machuque, — eu disse,
pensando novamente na visão daqueles corpos queimados caídos em
uma pilha. — Já houve muito derramamento de sangue.
— Eu sei, pequena corça, mas nós o encontraremos. Ele
provavelmente está apenas se escondendo agora que sabemos que ele
está lá fora. De qualquer forma, você deve se concentrar em coisas mais
agradáveis, como o seu estágio.
Ali estava aquele tom condescendente novamente.
Eu queria dar um tapa nele, mas algo na TV chamou minha atenção -
uma reportagem.
— Deixe a investigação para o profissional treinado.
— Shhh, Deusa, cale a boca, — eu disse, pegando o controle remoto e
aumentando o volume.
Um repórter de pé no meio-fio de uma rua tranquila de Nova York
falava ao microfone.
— A jovem, que atende pelo nome de Jimmy, ainda está desaparecida.
As autoridades dizem que foram encontradas marcas de garras nas
paredes, batente da porta e pilares da cama.
— Aposto que foi outro ataque desonesto. Eles estão cada vez mais
perto, — eu disse, meus olhos ainda grudados na tela.
— E você se pergunta por que não quero que você se mude para Nova
York, — disse Max mal-humorado.
— Jimmy era estudante de culinária em uma escola de artes local. Se
você tiver alguma informação sobre o paradeiro dela, ou souber de algum
parente ou parente, entre em contato pelo número abaixo, — continuou
o repórter.
Uma foto da garota apareceu na tela com o número. Ela tinha um
rosto agradável e redondo e olhos brilhantes.
Eu não sabia por que fiquei tão afetada por sua imagem, mas meus
olhos começaram a lacrimejar.
Ela era mais jovem do que eu e parecia tão inocente, e agora ela nunca
mais seria a mesma.
— É disso que estou falando, Max. Matthias está lá fora tirando
meninas de suas camas, e não estamos fazendo nada sobre isso! — Eu
disse com raiva.
— Como você sabe que isso tem alguma coisa a ver com Matthias? —
ele zombou. — Esses casos podem ser completamente não relacionados.
— Eu simplesmente sei, — eu murmurei. — Eu posso sentir isso.
— Olha, Bambi, eu prometo a você que não vamos deixar todo o reino
dos lobisomens entrar em colapso, — Max disse, suspirando. — Mas você
pode, por favor, se concentrar em outra coisa por um tempo? Você
precisa esquecer o passado.
*
Embora ainda não confiasse no Conselho para fazer o que precisava
ser feito, decidi seguir o conselho de Max.
Eu peguei todas as minhas tintas antigas e suprimentos de arte e
comecei uma nova pintura.
Se eu não fizesse algo para me distrair, iria enlouquecer.
Aquela pobre garota desaparecida, Jimmy...
Ekon...
Eu precisava limpar minha mente, mas em vez disso, essas foram as
duas últimas imagens que passaram pela minha cabeça enquanto minhas
pálpebras pesadas se fechavam e eu adormeci.
*
— Bambi? Bambi, acorde. Está um lindo dia!
Eu abri meus olhos para o sol brilhando através das minhas cortinas e
meu companheiro beijando meu pescoço.
Ekon rosnou de brincadeira e mordeu meu lábio enquanto me beijava.
Eu beijei de volta, quase com fome. Eu precisava desesperadamente de seu
toque.
— Você está sempre com tanto tesão pela manhã. — Ele riu.
— Ekon... o que... o que está acontecendo? — Eu perguntei, confusa.
— Vamos fazer outro piquenique hoje? É o dia perfeito para isso, — disse
ele, pulando da cama e abrindo as cortinas, lançando uma cascata de luz
solar para o quarto.
Eu apertei os olhos contra o brilho quando me sentei.
Isso era real? Eu não entendi, mas parecia...
Parecia que eu estava apenas vendo o que queria ver.
Um vestido absolutamente deslumbrante foi colocado sobre o armário, e
eu deslizei para fora da cama e o peguei, sentindo a seda lisa entre meus
dedos.
— Vá em frente, coloque-o, — ele persuadiu.
— Comprei isso só para você.
Coloquei o vestido e Ekon fechou o zíper das costas para mim, tirando
meu cabelo do caminho.
Ele deu um passo para trás e me olhou da cabeça aos pés.
- — Você está linda, querida. Palavras realmente não podem descrever
sua beleza, — disse ele, sorrindo.
— Você... você pode me ver? — Eu disse, ficando mais confuso a cada
segundo.
— Claro que posso te ver! Do que você está falando?
Percebi que Ekon não era mais cego. Ele estava diante de mim e seus olhos
estavam perfeitamente claros. Seu lobo não tinha aparecido em nenhum
momento.
— Como isso é possível? — Eu perguntei, chocada.
— A bruxa... ela tirou sua visão.
— Ela fez isso, foi? — Ekon sorriu, me pegando em seus braços. — Bem,
isso foi desagradável da parte dela.
— Isso... isso não está certo, — eu disse, me sentindo tonta.
Ele me beijou de novo, e eu esqueci tudo o que estava dizendo. Eu mal
sabia onde estava.
— Ekon, o que é...
Ele colocou as mãos em volta do meu pescoço e começou a apertar,
levemente no início, mas depois de forma agressiva.
Eu não conseguia respirar, e comecei a engasgar Eu tentei bater nele, mas
ele não desistiu-me soltou.
— Você é uma lutadora, não é? — Ele sorriu amorosamente, o tempo todo
sufocando minha vida. — Você deveria apenas ter ficado fora disso.
Acordei com um solavanco e encontrei um par de mãos frias e oleosas
em volta do meu pescoço.
Uma mulher encapuzada com cabelos longos e claros pairava acima
do meu corpo.
Tentei gritar, mas ela pressionou o centro do meu pescoço com os
polegares e eu não consegui nem abrir a boca.
— Durma, — ela sussurrou.
Senti uma sensação espinhosa percorrer todo o meu corpo e, em
seguida, meus olhos se fecharam com força, enviando-me para um
abismo escuro.
Capítulo 24
DESAPARECIDA
MAX

— Alfa Maximus, você participará da reunião do Conselho de hoje? —


meu Beta, Ryan, perguntou ao entrar cautelosamente em meu escritório.
— Não, dê a eles minhas desculpas. Ou diga a eles para se foderem. Eu
realmente não me importo, — eu respondi, passando minha mão pelo
meu cabelo oleoso.
Eu não tomava banho há dias, e pelo jeito que Ryan torceu o nariz
quando entrou, estava claro que ele tinha percebido isso.
— Alfa, você está fazendo tudo que pode, mas precisa se cuidar. Por
que você não faz uma pausa e...
— Não faça isso. — Eu levantei minha mão e estreitei meus olhos. —
Só não diga outra merda de palavra.
Ele acenou com a cabeça nervosamente e saiu da sala.
Eu não tinha controle sobre minhas emoções neste estado de espírito.
Já havia despedido um de meus conselheiros por sugerir que eu adiasse a
busca e queria poupar Ryan do mesmo destino.
Minha irmã estava lá fora em algum lugar, desaparecida, e eu faria
tudo que pudesse para trazê-la de volta para casa.
Eu não desistiria nem por um segundo.
Era Matthias ou aquela bruxa que a haviam levado, eu tinha certeza
disso, e não havia como dizer o que eles fariam.
Bambi estava certa sobre eles, assim como ela estava certa sobre tudo.
O Conselho estava se movendo muito devagar, sem agir, e Matthias
tinha aproveitado a oportunidade.
E agora ela estava em suas mãos...
Se aquele bastardo tocasse um fio de cabelo em sua cabeça, eu rasgaria
a porra da garganta dele com meus dentes.
Eu havia enviado soldados para patrulhar toda a Costa Leste, mas não
havia sinal de Matthias, Devina, nem houve qualquer outro ataque ou
sequestro.
Eu sabia que ele não estava baseado aqui, mas ele poderia estar em
qualquer lugar.
Eu só precisava de uma pista, algum tipo de pista, mas não tinha nada.
Eu bati meus punhos na minha mesa, uivando de fúria, espalhando
papéis por toda parte.
Franzi a testa ao notar que dezenas de documentos que joguei no
chão tinham uma foto da mesma pessoa, uma jovem.
A palavra — desaparecida — estava escrita em negrito na parte
superior.
Abaixei-me e peguei um para examiná-lo mais de perto.
Eu já tinha visto essa garota antes...
Ela estava no noticiário, sequestrada poucos dias antes de Bambi.
Bambi deve ter impresso esses panfletos para pendurar pela cidade. Eu
tive que sorrir. Ela realmente não ia ficar sentada sem fazer nada.
Lembrei-me de que havia algo estranho no desaparecimento dessa
garota. Eu tinha descartado isso na época, mas as marcas de garras e a
falta de parentes levantaram uma bandeira vermelha.
Lobisomens que se mudavam para cidades congestionadas com
humanos muitas vezes o faziam discretamente, para evitar chamar a
atenção para suas origens.
Talvez essa garota, Jimmy, tenha alguma conexão com o que
aconteceu com Bambi...
Duas lobas sequestradas no espaço de alguns dias... Era um tiro no
escuro, mas era tudo que eu tinha para continuar.
Peguei meu casaco e as chaves e me dirigi para a porta.
*
Já era noite quando Cheguei à cidade. O apartamento de Jimmy
parecia ser um alojamento de baixa renda para estudantes. O prédio
estava praticamente desmoronando.
Consegui o endereço dela na estação de notícias, alegando que era um
parente com informações, e isso me trouxe até aqui.
Havia fita isolante policial descascada no batente da porta.
Eu balancei a maçaneta, mas a porta estava trancada.
Uma pequena manobra com minha garra e ela se abriu com um
clique, embora a porta estivesse tão quebrada que eu provavelmente
poderia tê-la derrubado.
Seu quarto era em estilo dormitório, embora parecesse que ela morava
sozinha. Quase não havia móveis além do essencial.
Exatamente como a notícia havia descrito, havia marcas de garras por
toda parte. Definitivamente as marcas de um lobisomem. Talvez mais de
um...
Procurei na sala de cima a baixo, mas havia pouco interesse - alguns
livros de receitas, roupas, material escolar.
Peguei uma mochila que parecia gasta e virei de cabeça para baixo,
sacudindo-a.
Vários cadernos e lápis caíram, mas uma coisa chamou minha atenção
- um envelope, com o que parecia ser uma insígnia de uma matilha.
Abri o envelope e tirei uma carta escrita em papel de carta para uma
empresa chamada United Armory. A data postal era de meses atrás.
CARA JIMMY,
ESPERO QUE TUDO ESTEJA BEM NA ESCOLA.
VOCÊ ENCONTRARÁ A PROPOSTA DESTE SEMESTRE EM
ANEXO.
ANSIOSO PARA O SEU RETORNO À ALCATEIA DO NORTE.
—MCC
A Matilha do Norte.
Eu sabia que reconhecia aquela insígnia.
Mas quem diabos era esse MCC? A United Armory era sua empresa?
Não reconheci o nome, mas conhecia alguém que reconheceria.
Eu preferia rolar em um campo de acônito do que pedir ajuda a ele,
mas eu não tive escolha.
A vida da minha irmã estava em jogo, e a Matilha do Norte estava sob
seu domínio no momento.
Eu a contragosto peguei meu telefone.
Max: Ekon...

Max: Preciso de sua ajuda.

Ekon: foda-se

Ekon: Tudo o que sua família fez foi mijar em mim

Ekon: Por que eu iria te ajudar?

Max: Porque Bambi foi sequestrada por Matthias

Max: E eu acho que há uma pista na Matilha do Norte

Ekon não respondeu imediatamente, mas pude ver que ele estava
digitando. Ninguém sabia do desaparecimento de minha irmã ainda,
nem mesmo o Conselho.
Eu realmente não queria me juntar a esse idiota, mas além de estar
perto da Matilha do Norte, ele também tinha a melhor chance de farejá-
la porque ele era seu companheiro.
Ekon: Onde você está?

Max: Nova York

Ekon: Estou alugando um jato particular para o Alasca

Ekon: Nós a encontraremos, Maximus

EKON

Ainda havia tensão entre mim e Maximus. Isso era um eufemismo, na


verdade.
Mas quando ele me disse que minha companheira foi levada por
Matthias, nossas queixas pessoais não importaram mais. A única coisa
que importava era trazer Bambi de volta e com segurança.
Lamentei como havíamos deixado as coisas. Eu pensava nela todos os
malditos dias e todas as noites, mas não conseguia engolir meu orgulho e
pedir a ela para voltar.
Eu ainda estava magoado com o que ela tinha feito, mas também
sentia que tinha falhado com ela.
Eu não falharia com ela novamente.
Maximus havia obtido todas as informações sobre a Matilha do Norte
que meus bancos de dados continham, e estávamos repassando todos os
detalhes.
Muitos dos meus arquivos foram convertidos para Braille, então fui
capaz de ajudá-lo a pesquisar os materiais, mas alguns dos documentos
mais antigos ainda não foram convertidos.
— Não estou encontrando nada sobre uma empresa chamada United
Armory, — rosnei. — Eu vivi nesta matilha minha vida inteira. Eu
conheço todos os distribuidores de armaduras por aqui. Há algo
definitivamente duvidoso sobre isso.
— Você acha que poderia ser uma empresa fictícia? Max perguntou. —
Apenas um disfarce para outra coisa?
— Teria que ser. A Matilha do Norte estava falida, sempre pedindo
dinheiro à coroa. Eles mal tinham empresas para começar. Eles eram
uma das poucas matilhas sem um comércio real, — eu disse, e eu sempre
desaprovei isso.
— O que eles fizeram durante a guerra? — Max questionou.
— Eles eram neutros eu disse com desgosto. — O que significava que
eles não tinham problemas para fazer acordos com os dois lados da
guerra. Rudolph sempre seguiu o caminho dos covardes.
— Espere, posso ter encontrado algo! — Max, gritou. — Está
profundamente enterrado em seus livros, mas as iniciais MCC
definitivamente aparecem várias vezes. Para... despesas com
mensalidades. Isso deve ter a ver com aquela garota, Jimmy.
— Rudolph criou uma empresa fictícia para despesas de ensino? Isso
não é algo de vilão, — eu resmunguei, me sentindo confuso. — Faz com
que ele pareça um humanitário de merda.
— Sim, mas a única razão pela qual fariam isso é se quisessem que o
benfeitor fosse anônimo, — Max pensou em voz alta.
Algo de repente me ocorreu, mas não podia ser verdade. Se fosse...
— Maximus, tire a certidão de nascimento de Matthias dos arquivos e
leia em voz alta para mim — falei bruscamente.
— Uh, ok, espere, — disse ele, vasculhando os arquivos. — Ok, aqui
está... Matthias Caleb Cabot, nascido em...
— Pare! — Eu gritei. — É ele. MCC é Matthias Caleb Cabot.
— Oh, porra, — disse Max, percebendo o que tínhamos acabado de
descobrir. — Isso significa que ele não simplesmente incendiou a Matilha
do Norte do nada. Ele morou com eles por anos.
— Ele os manipulava, sem dúvida, e Rudolph era muito fácil de
manipular quando havia dinheiro envolvido, — disse eu, desgostoso. —
Ele estava se curando e recuperando o poder sob meu próprio nariz.
— Mas por que ele os massacrou? Por que agora? Ele tinha a
configuração perfeita, — Max deliberou.
— Porque ele percebeu que Alfa Hunter estava fazendo uma visita a
eles, junto comigo. Hunter queria comprar a matilha.
— Merda, então ele massacrou a matilha para remover qualquer
evidência de sua presença. Rudolph o teria desistido no segundo em que
Hunter oferecesse a ele um negócio melhor do que o que Matthias estava
espremendo dele, — Max disse com admiração.
— Exatamente. — Eu concordei.
Max colocou a mão no meu ombro. — Então, acho que sabemos para
onde nossa pesquisa irá nos levar agora.
BAMBI

Eu estava cercada pela escuridão, exceto por um raio de luz que


apareceu por uma fenda no teto.
O solo estava úmido e áspero, com ervas daninhas saindo de todos os
buracos.
Senti vermes viscosos cavando na sujeira ao meu redor.
Eu estava no subsolo, mas não tinha certeza de onde ou a que
distância abaixo da superfície.
Eu tive uma nova apreciação pelo que Ekon lidava todos os dias.
A frustração de não ter visão...
Ekon, eu preciso de você.
Eu queria gritar seu nome, mas ele não viria, mesmo se pudesse me
ouvir.
Eu estava completamente sozinha.
De repente, ouvi um som vindo de um canto distante e passos lentos
vieram em minha direção.
— Quem está aí? — Eu gritei, minhas mãos lutando ao redor da terra,
procurando por algo para me defender.
A figura parou sob o raio de luz e eu me engasguei. Era a garota do
noticiário...
Jimmy.
Acho que não estava sozinha, afinal.
Capítulo 25
JIMMY
BAMBI

— Você é... Jimmy? — Eu perguntei suavemente.


A garota pareceu surpresa por eu saber o nome dela, paralisada sob a
luz e não dando mais nenhum passo.
Percebendo que ela não podia me ver nas sombras, dei um passo à
frente. Ela recuou um pouco, mas continuei a falar baixinho.
— Meu nome é Bambi e não vou machucar você. Posso chegar mais
perto?
Ela timidamente acenou com a cabeça e eu dei mais um passo para
sair das sombras.
A boca de Jimmy se abriu ligeiramente, mas ela a fechou novamente,
permanecendo em silêncio.
Lembrando o que aquela bruxa, Devina, tinha feito comigo quando eu
tentei gritar, eu me perguntei se ela tinha lançado uma maldição que
tirou a voz de Jimmy, o jeito que ela pegou a visão de meu companheiro.
— Você está muda?
— N-não, — ela gaguejou. — Desculpe, só não falo há alguns dias.
— Graças à Deusa, — eu disse, segurando meu peito. — Eu pensei que
aquela bruxa havia roubado sua voz.
— Não, ela não me machucou... ainda, — Jimmy respondeu, sua voz
seca e rouca.
— Você sabe onde estamos? — Eu perguntei.
— Não tenho ideia, mas estamos no subsolo. Acho que são túneis, mas
não encontrei uma saída.
— Devina levou você também? — Eu disse, segurando a mão dela. —
Eu vi você na TV. Você foi dado como desaparecida.
— Sim, ela vem diariamente para trazer comida e água, mas não tenho
certeza do motivo que a faz me manter aqui. Acho que ela conhece
Matthias, mas não acho que ele saiba que estou aqui.
Eu estremeci com a menção de seu nome. — Você conhece Matthias?
— Sim, ele vivia na Matilha do Norte. É de onde eu venho
originalmente.
— Ele estava morando na Matilha do Norte? — Eu perguntei, pasma.
— Ele era muito doente, mas muito gentil comigo. Quando decidi me
mudar para estudar, ele até pagou todas as minhas mensalidades, — disse
ela em voz baixa.
Eu estava tão confusa. Estávamos falando sobre o mesmo Matthias?
O assassino que massacrou toda a Matilha do Norte?
— Jimmy, você sabe quem é Matthias? Quem ele realmente é?
— Eu... eu pensei que sim, — ela disse tristemente. — Recebi uma
carta de Alfa Rudolph enquanto estava na cidade, avisando-me que, se
algo acontecesse com ele, a culpa seria de Matthias.
Eu... eu não entendi, mas então, alguns dias atrás, ouvi a notícia de
que o Norte...
Ela sufocou suas palavras quando começou a chorar. — A Matilha do
Norte estava morta. Todos eles.
Puxei Jimmy para um abraço apertado. — Eu sei... eu vi com meus
próprios olhos. Foi horrível.
— Eu não posso acreditar que Matthias estaria por trás de algo tão
indescritível, — ela disse, fungando. Conhecíamos duas versões muito
diferentes de Matthias, mas não era hora de estourar sua bolha. Eu
precisava que ela continuasse falando.
— O que mais dizia a carta de Alfa Rudolph?
— É... apenas disse para encontrar o Alfa Ekon, mas eu não sei quem
é, — ela disse humildemente.
Fiquei surpresa com o quão pouco essa garota parecia saber. Ela tinha
vivido em uma caverna maldita toda a sua vida?
— A sua família é da Matilha do Norte? — Eu perguntei.
— Eles eram, mas meus pais morreram quando eu era muito jovem, e
Alfa Rudolph agiu como um irmão mais velho para mim, — ela
respondeu.
De repente, me senti horrível quando uma compreensão me atingiu.
Essa garota sou eu...
Ou pelo menos a minha versão de quatro meses atrás.
Eu morava no campo, protegida pelo meu irmão, meus pais mortos
desde que eu era criança.
Eu não sabia quem era Ekon antes de colocar os olhos nele no baile e
perceber que éramos companheiros.
Eu não sabia nada -sobre a Grande Guerra.
Eu não tinha a menor ideia de quem era Matthias ou das coisas
terríveis que ele tinha feito no passado.
Eu estava completamente alheia a qualquer coisa do mundo lá fora.
Era incrível o quanto minha perspectiva mudou em tão pouco tempo.
E essa garota ainda não tinha visto ou entendido o mundo lá fora.
Eu não poderia castigar essa garota sem noção por não saber sobre o
mundo, não quando eu via tanto de mim mesma nela.
— E Matthias... ele alguma vez... machucou você? — Eu perguntei
com cuidado.
— Não, ele nunca faria isso! — ela disse com segurança.
— Por que ele estava pagando pela sua mensalidade? O que ele era
para você?
Acho que seu rosto ficou vermelho, mas era difícil dizer na escuridão.
— Bem, para dizer a verdade, acho que ele... ele estava apaixonado por
mim.
Eu me inclinei para frente e agarrei Jimmy pelos ombros, assustando-
a.
— Jimmy, por favor, me diga que Matthias não é seu companheiro, —
eu disse, apavorada.
— Não, claro que não, — ela disse, atordoada. — Eu não penso nele
assim. Ele sempre disse que se sentia atraído por mim, mas acho que ele
só gostou de mim porque eu ajudei a cuidar dele quando ele estava
doente.
— E ele não está mais doente? — Eu engoli em seco.
— Ele estava melhorando da última vez que o vi, — ela respondeu.
Sua ascensão ao poder já estava começando. E isso vinha acontecendo
há anos, bem à vista de todos.
Parecia que se Matthias estivesse aqui, Jimmy saberia, mas se ele não
estivesse aqui, onde ele estaria?
— Você tem um companheiro? — Jimmy perguntou de repente.
— Eu, uh... sim, eu tenho, — eu respondi.
Eu sentia falta dele com cada fibra do meu ser.
— Ele virá te resgatar?
Era uma pergunta simples, mas para a qual eu não sabia a resposta.
*
Holly: Meninas, me encontrem na biblioteca da matilha Holly: Está na hora

Victoria: Estou pronta.

Ela: eu também

Ela: meu carro irá direto do aeroporto Holly: ótimo

Holly: Porque vamos encontrar a Bambi Holly: E a trazer de volta para casa HOLLY

Estávamos de volta ao antigo depósito que costumava funcionar como


nossa sede de investigação, mas agora só continha esfregões e vassouras.
Todas nós descobrimos sobre o sequestro de Bambi por Max, quando
ele começou sua busca alguns dias atrás.
Ele nos fez jurar segredo. Ele não queria que o Conselho tomasse isso
público, temendo por sua segurança.
De qualquer maneira, era o melhor. O Conselho não faria nada.
Mas com certeza faríamos.
Comecei a desenhar um círculo no chão com giz feito de uma rocha
lunar e depois desenhei um pentagrama no meio.
— Tem certeza de que está pronta para isso? — Victoria perguntou
nervosamente. — Este é um feitiço realmente avançado.
Eu vinha treinando dia e noite, e realmente comecei a melhorar.
Foi tão bom o que tínhamos feito, expor Matthias, e eu queria ficar
mais poderosa como uma bruxa, não para meu próprio benefício, mas
para ajudar os outros - para protegê-los de Matthias, Devina e sua magia
negra.
Desde que tomei essa decisão, senti como se algo tivesse se
desbloqueado dentro de mim.
— Estou pronta, — eu disse, focando em aperfeiçoar o pentagrama. —
Mas não temos exatamente escolha.
Temos que agir agora.
Uma sirene fraca começou a soar ao longe e todos nós nos
entreolhamos.
— O que é aquilo? — Victoria se encolheu.
— Nada de bom, — respondi.
A porta se abriu de repente e Kalindi entrou com a lança em uma das
mãos e a outra no quadril.
— Mana, o que você está fazendo aqui? — Ela perguntou surpresa.
— Certificando-se de que você não se meteu em problemas, — ela
disse severamente. — E parece que é exatamente o que você está
fazendo. O que é tudo isso?
— Holly está realizando um feitiço localizador para que possamos
encontrar Bambi, — respondeu Ela. — Por favor, Kalindi, não tente nos
impedir. Temos que fazer isso.
Todos nós olhamos para ela, esperando uma chicotada de palavras e
um despejo da casa de matilha, mas em vez disso, ela sorriu.
— Eu não vou te impedir; Vou ficar de guarda por você! Mas você
precisa se apressar. Estamos em alerta máximo.
— Alerta máximo? — Victoria parecia assustada.
— Você quer dizer...
— Rebeldes. Eles foram avistados na área. Uma matilha deles.
— Uma matilha de bandidos... que porra de contradição, — Ela
cuspiu.
— Pode ser, mas eles estão se sentindo confiantes. As notícias sobre
Matthias viajaram rápido, não importa o quanto o Conselho tenha
tentado suprimi-las. Então, você precisa fazer isso rápido — Kalindi bateu
com sua lança no chão rapidamente para provar seu ponto de vista.
— Entendido. — Eu concordei.
Sem pressão nem nada.
— Eu estarei lá fora, — ela disse, fechando a porta atrás dela.
— Ok, vamos fazer isso, porra, — Ela disse enquanto Victoria puxava
uma pequena bolsa de veludo de sua bolsa. — Você trouxe tudo?
— Sim, Ryland conseguiu tudo de seu quarto, coisas que ela deixou
para trás, — Victoria disse, entregando-me a bolsa.
Eu examinei o conteúdo - uma escova de cabelo com mechas de seu
cabelo, uma foto emoldurada de Bambi com Max e um colar que Ekon
deu a ela de presente.
Joguei os itens no meio do pentagrama. — Se aproximem. A próxima
parte não vai ser bonita, mas é necessária.
Puxei uma toalha de uma pequena gaiola sentada ao meu lado, onde
um minúsculo pássaro azul piou alegremente.
Eu realmente espero ter treinado o suficiente para isso.
Peguei o pássaro azul em minha mão e segurei-o sobre os itens do
pentagrama.
Em um movimento rápido, quebrei seu pescoço e ele parou de chiar,
fazendo Victoria fechar os olhos com força.
Cortei a barriga do pássaro e deixei seu sangue escorrer sobre os
pertences de Bambi.
— Que o sacrifício desta criatura me dê a visão que preciso para
encontrar minha amiga, onde quer que ela esteja. Sua morte não será em
vão e pode evitar a morte de quem ainda vive, — gritei. — Deixe-me ver
através dos olhos de outra pessoa!
A sala começou a girar e eu senti como se estivesse deixando meu
próprio corpo.
*
É
O que é isso abaixo de mim? É...
Puta merda, estou a centenas de metros do chão!
Estou... estou voando!
Funcionou?
Achei que tivesse desmaiado.
Oh minha deusa, eu não estou em meu próprio corpo.
Estou no corpo de um pássaro.
Isso é tão, tão estranho.
As coisas que faço pelos meus amigos...
Ok, onde estou? Isso parece familiar
Eu reconheço aquela estrada de terra.
E aquele pedaço de floresta.
Essas são... ruínas?
Oh... Deusa...
— HOLLY! — Ela estava gritando bem na minha cara e Victoria estava
parada ao lado dela, parecendo preocupada.
Devo ter sumido por apenas trinta segundos.
— Você nos assustou! — Victoria bufou. — Seus olhos ficaram
vidrados e você caiu para trás.
— Gente, — eu disse, começando a ficar animado, — Eu sei onde ela
está!
Antes que tivéssemos a chance de comemorar, Kalindi irrompeu pela
porta.
— Nós temos de ir agora! — ela gritou, seus olhos urgentes. — Eles
estão aqui!
Capítulo 26
MATTHIAS
HOLLY

As sirenes soaram alto enquanto as pessoas se espalhavam pelos


corredores da casa da matilha, tentando evacuar, mas era tarde demais.
— A Casa da Matilha está sob ataque! — um guarda Delta gritou,
acenando para as pessoas em direção a uma saída dos fundos.
Kalindi nos conduziu por um corredor diferente.
— Por que não estamos indo para lá? — Eu gritei quando vários
funcionários da Casa da Matilha passaram por mim.
— Há uma saída menos conhecida pelas masmorras, — disse Kalindi.
abrindo os braços e separando a multidão. — Nós vamos sair por lá. E
mais seguro.
— Quantos ladinos existem? — Ela perguntou enquanto corríamos
escada abaixo para o nível principal.
— O suficiente para ser uma ameaça quando você está despreparado,
— respondeu Kalindi.
— Onde está o Alfa Ekon? — Victoria bufou, sem fôlego, quando
paramos no saguão.
— Ele está procurando a Luna. Os rebeldes provavelmente pensaram
que estariam vulneráveis, — disse Kalindi, procurando por inimigos na
sala. — Precisamos seguir em frente. — De repente, as portas duplas de
vidro na frente do prédio se espatifaram e seis bandidos pularam pelo
batente da porta quebrado.
Um deles lambeu os lábios enquanto olhava para mim e puxava sua
adaga.
— A loira é minha. — Ele sorriu, mostrando suas presas.
Kalindi brandiu sua lança e se manteve firme. — Vou cortar todos os
seus pênis antes de você tocar em uma dessas garotas. Seis de vocês não
se comparam a uma Gama.
Vários outros bandidos caíram escada abaixo atrás de nós, suas facas
pingando sangue.
— Os bandidos estão se levantando de novo, vadia, — ele zombou. —
Nosso mestre está de volta!
— Vamos ver isso, porra, — Kalindi disse, puxando uma espada ao
lado de sua lança. — Meninas, venham para a masmorra agora!
— Não vamos deixar você para trás, — gritou Ela.
— VÁ AGORA! — ela gritou, os pelos subindo em seus braços e as
presas saindo de sua boca.
Kalindi entrou em ação, acertando um dos bandidos no peito
enquanto simultaneamente cortava a garganta de outro com sua espada.
Victoria agarrou a mão de Ela e puxou-a escada abaixo em direção às
masmorras enquanto eu corria atrás delas.
Olhei por cima do ombro para ver Kalindi sendo cercada por bandidos
antes de desaparecer na escada escura.
Deusa, proteja-a.
EKON

Maximus e eu estávamos dirigindo em direção à Matilha do Norte -


ou o que restou dela, de qualquer maneira.
A longa viagem e o silêncio tenso e constrangedor me forçaram a
refletir sobre como eu tinha sido um alfa de merda.
Eu baixei minha guarda, amoleci.
E agora um monstro estava se recuperando e planejando sua vingança
nos últimos dezesseis anos.
Bambi foi a única que pôde ver a verdade, mas ninguém ouviu.
— Pare de se culpar, — Max grunhiu de repente, lendo minha
expressão.
— Achei que você teria me culpado acima de tudo, — eu disse
estoicamente.
— Eu culpei... no começo. Mas somos todos culpados. Todo o
Conselho.
— Nenhum de nós merece o título de alfa, — eu rosnei. — Nós
falhamos no reino.
— Ekon, éramos adolescentes quando a Grande Guerra aconteceu,
porra. Nossos pais morreram e suas responsabilidades caíram sobre nós.
— Max fez uma careta. — Fizemos o melhor que podíamos sem ninguém
por perto para nos orientar.
— Bem, o melhor era uma merda então, — eu cuspi. — Eu não pude
nem mesmo proteger uma -pessoa. A que mais importava.
— A guerra foi dura, Ekon, mas nós somos fodidos sobreviventes. E a
Bambi também. Ela não vai desistir, e nem nós.
Eu balancei a cabeça em concordância. Ele estava certo sobre isso,
pelo menos.
Parecia estranho concordar com Maximus em algo, mas se havia algo
que nos uniria, seria sua irmã.
Bambi estava negociando a paz, mesmo quando ela não estava aqui.
— Só não quero cometer os mesmos erros que Cometi da primeira
vez. — Suspirei. — Tanta morte e destruição...
— Não vamos cometer os mesmos erros, — disse Maximus, colocando
a mão no meu ombro. — Porque crescemos muito desde então. Acredite
ou não, eu realmente respeito você como líder.
— Minha crença realmente foi testada recentemente. — Eu ri. — Mas
isso pode ser a coisa mais difícil de acreditar.
Maximus sorriu e parou o carro. — O que acontece é que Matthias
acha que vai voltar mais forte do que nunca e terminar o que começou,
mas na verdade é o contrário.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer que nós é que estamos mais fortes desta vez. Nós vamos
matá-lo para sempre desta vez, — ele disse com confiança.
— É isso aí, irmão, — eu disse, sorrindo. — Ele é apenas um homem
morto caminhando, e vamos colocá-lo de volta naquela sepultura.
— Falando em sepulturas... — Max disse sombriamente.
Mesmo que eu não pudesse ver, eu ainda podia sentir o cheiro da
morte que permaneceu na Matilha do Norte. Esse cheiro nunca iria
embora.
Saímos do carro e começamos a caminhar em direção ao portão.
— Merda, isso é ainda pior do que eu imaginava, — disse Max,
espantado com a carnificina diante dele. — Temos que parar aquele
monstro antes que isso aconteça novamente.
Quando entramos na cidade, agora reduzida a ruínas, comecei a sentir
o cheiro de algo familiar - um leve aroma de flores de primavera
desabrochando e frutas cítricas.
— Você acha que vamos encontrar uma pista do paradeiro de Bambi
aqui? — Max perguntou.
— Não, — eu respondi, fixando no cheiro. — Acho que acabamos de
encontrá-la.
— Ela está aqui? — Max me agarrou pelos ombros.
— Tem certeza?
— Sim, eu sinto o cheiro dela. Mas ela não está sozinha...
— Quem mais está aqui?
— A bruxa que me cegou... minha irmã, — eu respondi, cavando
minhas garras em minhas palmas.
Eu só a cheirei uma vez antes na minha vida, mas esse cheiro nunca
me deixaria. Eu não poderia esquecer, mesmo se quisesse.
BAMBI

— Me impulsione. Acho que posso alcançá-lo, — eu disse, e então subi


nos ombros de Jimmy.
A lasca de luz espreitando pelo buraco no teto era a coisa mais
próxima de uma saída que eu podia ver, e agora que éramos duas,
podíamos realmente alcançá-la.
Bati na fenda com o cotovelo várias vezes, fazendo com que sujeira e
detritos caíssem sobre nossas cabeças, mas o buraco só aumentou um
pouco.
Eu desci de volta, suspirando. — Isso é inútil.
Há algo duro em cima de nós que não consigo destruir. E mesmo se
eu fizesse, este lugar inteiro poderia desabar em cima de nós.
— Pelo menos você nos deu um pouco mais de luz. — Jimmy sorriu.
Eu sorri de volta, enxugando o suor da minha testa. Eu realmente
queria proteger essa garota por algum motivo.
Eu não sabia se era porque ela me lembrava de mim mesma ou porque
eu tinha me acostumado a tentar ser uma libertadora, mas eu já tinha
assumido a responsabilidade por ela em minha mente.
Eu nos tiraria daqui, mas precisava de um plano.
— Você não seria secretamente uma bruxa, seria? — Perguntei a
Jimmy com otimismo forçado.
— Hum, não, desculpe, — ela respondeu, parecendo confusa.
— Já imaginava. — Suspirei.
— Falando em bruxas, Devina não apareceu com comida e água ainda
hoje, — Jimmy sussurrou.
— Ela volta logo? — Eu perguntei, de repente tendo uma ideia.
— Geralmente é nessa hora, sim, — respondeu Jimmy.
Caí de joelhos e comecei a cavar na terra sob o buraco de luz.
— O que... o que você está fazendo?
— Procurando por isso, — eu disse, segurando um grande pedaço de
entulho que se soltou do teto. — Ouça com atenção, Jimmy. Eu preciso
que você fique aqui, sob a luz, enquanto eu me escondo nas sombras.
Quando Devina chega...
Fui interrompida pelo som de chaves tilintando em uma fechadura.
Sem tempo para explicar, eu me escondi enquanto Jimmy ficava
parada ali, nervosa.
Uma porta se abriu e uma bela mulher magra em uma capa vermelha
entrou na sala, carregando uma tocha.
Seus olhos caíram imediatamente em Jimmy, e ela deu um sorriso
malicioso.
Ela jogou um saco no chão e pão velho e uma garrafa de água rolaram
para a terra.
— Você sempre parece uma vadia acovardada. — Devina riu. — Eu
não entendo o que meu irmão vê em você.
— Ele está... ele está aqui? Matthias?
— Cala a sua boca. Você não é digna de falar o nome dele, — Devina
cuspiu, levantando a mão para dar um tapa em Jimmy.
WHACK.
Eu bati na nuca de Devina o mais forte que pude, e ela caiu no chão.
Sua tocha rolou pela terra e eu a agarrei antes que se apagasse.
— Esse era o seu plano? — Jimmy ficou boquiaberta. — Bater na
cabeça dela?
— Era um plano simples, ok, — eu sibilei. — A porta está aberta e
temos luz. Vamos dar o fora daqui antes que ela acorde.
Eu agarrei a mão de Jimmy e saímos correndo da masmorra, correndo
pelo corredor.
Quando chegamos ao final, o corredor se ramificava em várias
direções.
— É uma série de túneis, — disse Jimmy enquanto eu apontava minha
tocha para cada um deles. — Ouvi rumores de que havia minas antigas
abaixo da cidade que se estendiam por quilômetros.
— Qual caminho nós vamos? — Eu perguntei freneticamente.
Jimmy respirou fundo, inalando pelo nariz. — Hum, o do meio?
— Por que o do meio?
— Eu não sei. Só... cheira familiar de alguma forma, — ela disse,
parecendo confusa.
Isso foi bom o suficiente para mim. Eu a puxei pelo túnel central e
continuamos correndo.
— Há luz à frente! Estamos quase lá, — eu disse animadamente.
Minha excitação se transformou em horror quando chegamos à
câmara e um homem dobrou a esquina, parecendo tão chocado quanto
eu.
Ele era bonito e musculoso, com o ar de um militar. Na verdade, ele
me lembrou de Ekon imediatamente.
Mas este não era Ekon...
Jimmy deu um passo em direção ao homem e ele sorriu.
— Matthias?
Capítulo 27
PROPÓSITO
BAMBI

Fomos escoltadas até o bunker de Matthias, um abrigo subterrâneo


que parecia uma mansão vitoriana em pequena escala por dentro.
Ele provavelmente tinha saqueado a maior parte da mansão de Alfa
Rudolph.
Devina circulava a mim e Jimmy com raiva enquanto massageava a
parte de trás de sua cabeça. Percebi uma mecha ensanguentada de cabelo
emaranhado onde a golpeei com a pedra.
Matthias a repreendeu. — Devina, você vai parar de assediar essas
meninas? Eles são nossas convidadas.
— Você sempre mantém seus convidados trancados em masmorras
subterrâneas escuras? — Eu respondi sem perder o ritmo.
Matthias olhou para Devina, e ela encolheu os ombros. — Minha irmã
e eu temos conceitos diferentes sobre como tratamos os hóspedes.
Acabei de chegar em casa - se você pode chamar este buraco no chão de
casa — Matthias, o que está acontecendo? — Jimmy perguntou,
perturbada. — Por que você nos trouxe aqui? E por que você está tão
diferente? A última vez que te vi, você ainda estava doente demais para
sair da cama!
— Ah, minha querida, tenho certeza de que você tem muitas
perguntas, mas elas serão respondidas no devido tempo, — disse ele,
aproximando-se e colocando a mão sob o queixo dela.
Eu queria arrancar seu rosto até mesmo por tocá-la.
— Que tal responder agora! — Eu gritei, fervendo.
— Bambi Jedrek, minha cunhada, sempre tão curiosa... muito curiosa
para o seu próprio bem, — ele disse em um rosnado baixo.
— Cunhada? — Jimmy se engasgou. — Do que ele está falando?
— Sim, como está nosso querido irmão, Ekon? — Devina perguntou
com um sorriso maligno.
— Eu não sei, — eu disse com os dentes cerrados.
— Não nos falamos há semanas.
— Não se preocupe. Em breve teremos uma reunião de família e tudo
ficará bem. — Matthias sorriu.
Do que diabos ele estava falando? Ele realmente queria que Ekon
viesse aqui? Eu era apenas uma isca?
— Por que estou aqui? — Eu exigi. — O que você quer comigo?
— Você estava causando problemas para nós... sendo uma praga geral,
— ele disse casualmente enquanto começava a servir uma taça de vinho.
— Você nos forçou a agir antes do previsto.
As lágrimas começaram a brotar dos olhos de Jimmy. — Matthias, eu
não entendo o que está acontecendo, mas..., mas eu quero que você nos
deixe ir.
— Eu não posso fazer isso, querida. Como eu disse, ainda não estamos
prontos, — respondeu ele.
— Você... você... massacrou a Matilha do Norte? — ela perguntou,
tremendo.
— Esse foi um efeito colateral infeliz da corrupção de Alfa Rudolph, —
disse ele, suspirando. — E sua corrupção se espalhou pela sua matilha,
assim como aconteceu com todas as matilhas reais. Elas têm que ser
limpas pelo fogo.
Jimmy cobriu sua boca e balançou a cabeça, as lágrimas escorrendo
pelo rosto.
— Você é um mentiroso, — eu cuspi. — Ele ia expor você, então você
queimou as evidências!
— E verdade. Ele saiu da linha, mas isso não anula sua corrupção.
Tentei acabar com a doença purulenta dentro da Matilha Real durante a
primeira Grande Guerra, mas não fui forte o suficiente. Desta vez eu vou
conseguir. — Jimmy começou a soluçar alto e Matthias se encolheu. Ele
acenou com a cabeça para Devina, e ela apareceu atrás de Jimmy,
agarrando sua cabeça.
— Espera! — Eu disse, estendendo minha mão.
— Durma, — Devina sussurrou quando o corpo de Jimmy ficou mole
e caiu em uma poltrona.
— O que você fez com ela? — Eu gritei.
— Ela está apenas dormindo. Eu nunca machucaria Jimmy, —
Matthias disse, como se estivesse incomodado com minha pergunta. —
Mas acho que choro e emoções são bastante irritantes.
— Eu me sinto da mesma forma sobre o assassinato, — eu cuspi.
— Você é terrivelmente hipócrita para uma vadia a quem entregaram
tudo, — Devina rosnou. — Você viveu como uma princesa toda a sua
vida, e agora está acasalada com um membro da Matilha Real.
— O que isso tem a ver com a situação? — Eu perguntei com raiva.
— Você não vê o desequilíbrio que está ao seu redor? — Matthias
questionou. — A realeza tem tudo porque eles levam -tudo. Seus legados
foram construídos nas costas dos plebeus. Os Rebeldes são deixados para
se defenderem sozinhos, enquanto o rei e seu conselho vivem uma vida
de luxo.
Lembrei-me dos arquivos que li na Matilha do Norte. Eles viviam na
pobreza e ninguém enviava ajuda, apesar dos repetidos pedidos de ajuda.
Mas Matthias os massacrou. Como isso os salvou?
— Você quebra suas próprias regras! — Eu disse acusadoramente. —
Você matou as mesmas pessoas que disse que ajudaria!
— Você precisa ouvir com mais atenção, garota. Eu disse a você mais
de uma vez, eles eram corruptos. Você realmente acha que eu os
massacrei porque eles iriam me revelar? Eu não sou tão facilmente
exposto. — Matthias riu.
Devina sorriu. — Como você acha que ele ficou escondido por
dezesseis anos?
Matthias se aproximou de mim e se aproximou.
— Eu os matei porque eles fizeram um acordo com os Blackwoods -
uma família que uma vez entendeu minha causa, mas que se juntou aos
Reais assim que eles pensaram que eu estava morto, — Matthias rosnou.
Eu estava começando a ter uma imagem melhor de Matthias e,
quanto mais eu fazia, mais ele me apavorava.
Ele não era o assassino louco e fanático que eu pensei que fosse. Ele
era um estrategista militar brilhante com uma sede mortal de vingança.
— Você vai me matar também? — Eu perguntei, lutando contra
minhas lágrimas.
— Se eu quisesse matar você, teria feito Devina cortar sua garganta
enquanto você dormia em sua cama. — Ele sorriu.
— Então me deixe ir, — eu implorei.
— Não até que nossa reunião esteja completa, — ele disse
ameaçadoramente. — Aquela que foi profetizada.
— O que... que profecia?
Eu me lembrava vagamente da menção de uma profecia em minha
pesquisa. Rosette foi excomungada por destruí-la...
Devina acenou com a mão e um livro com capa de couro voou de uma
prateleira e pousou na mesa na nossa frente. Parecia com O Grande Livro
das Bruxas. -mas era muito menor.
— Este grimório pertenceu à minha mãe uma vez, e agora pertence a
mim, — Devina disse ameaçadoramente. — Ele contém os segredos mais
sombrios da minha mãe.
Holly havia me falado sobre grimórios. Eles eram livros de feitiços
pessoais das bruxas.
Se este fosse de Devina, poderia até conter a maldição que ela usou
para tirar a visão de Ekon.
Observei atentamente as páginas do livro à medida que iam virando,
mas estava escrito em uma linguagem que não reconheci.
— Não se preocupe, — Devina assobiou em meu ouvido. — Apenas
bruxas podem entender o texto.
— Nossa mãe gravou sua profecia naquele livro, — disse Matthias,
andando pela sala. — Devina, por que você não faz as honras.
Ela ergueu o livro com uma expressão cruel e começou a ler.
— Três irmãos, o sangue de seu sangue, destinados a se unir. Três
crianças que trarão três Grandes Guerras, que arrasarão o reino,
deixando para trás ruína e desolação. Juntos, eles cumprem seu destino.
Devina fechou seu grimório e sorriu. — Esclarecedor, não?
— Isso foi escrito por Rosette, sobre ela? — Eu suspirei.
— Nossa querida mãe descartou Devina e eu como se fôssemos nada.
Éramos apenas crianças, mas ela pensava que a separação e o abandono
eram a chave para impedir a profecia, — disse Matthias com amargura.
— Mas o pequeno Ekon era diferente. Ele era o terceiro filho, e ela ficou
com ele... deu-lhe tudo.
— Mas ela teve o destino que merecia. — Devina curvou seus lábios
vermelho-sangue em um sorriso. — E eu tenho o grimório dela.
— Eu era apenas um jovem lobo raivoso, vagando pelo país com uma
pequena matilha de bandidos quando Devina me encontrou e revelou
meu verdadeiro destino, — disse Matthias. — Ela me deu um propósito.
Um propósito.
Eu também encontrei o meu recentemente.
E era para impedir que idiotas como esses dois machucassem pessoas
inocentes.
Eu me lancei no grimório de Devina, agarrei-o da mesa e corri para os
túneis.
Foi uma tentativa fraca, pois Matthias me pegou em segundos, me
jogando no chão.
— Você não quer ficar e cumprimentar seu companheiro? — ele
perguntou com olhos selvagens.
— Ele nem está vindo, — eu cuspi.
Matthias riu cruelmente. — Ele já está aqui, Bambi.
Meu coração disparou. Ele realmente veio por mim?
— Ekon nunca vai se juntar a você, — eu gritei. — Ele não é como
você.
Devina se ajoelhou e acariciou meu cabelo, sorrindo. — Você está tão
esperançosa que é quase comovente, mas eu sei que você não é ingênua.
Ela arrancou o grimório de meus dedos.
— Ele tem uma escuridão dentro dele... e você vai ajudá-lo a
destrancá-la.
Enquanto eu me agachava no chão, Matthias pairava sobre mim.
Sorrindo com suas presas afiadas, ele puxou uma lâmina de prata de
sua bota.
EKON

Abri uma escotilha de madeira podre e tossi quando uma nuvem de


poeira saiu de dentro.
— O cheiro é terrível, — eu disse, sufocando o odor.
— Minas de enxofre, — disse Max, encolhendo-se. — Você acha que
ainda será capaz de sentir o cheiro?
— Nós vamos descobrir, — eu disse enquanto caia no buraco.
Pousei no túnel úmido e Maximus seguiu atrás de mim.
— O que você vê? — Eu perguntei.
— Nada, está escuro como breu, — respondeu ele, irritado. — Como
você faz isso?
— Esta é realmente uma vantagem para mim. — Eu sorri. — Eu tenho
sentidos aguçados. Em espaços fechados como este, o som ricocheteia
nas paredes e é basicamente como eu posso ver.
— Bem, então você lidera porque meus sentidos estão entorpecidos
para porra agora, — ele grunhiu. — Você sente o cheiro dela?
— Acho que sim, mas está fraco. É por aqui, — eu disse, puxando-o
pelo braço.
À medida que avançávamos no túnel, parei no meio do caminho, um
medo paralisante agarrando meu corpo.
— O que é? O que está errado? — Max perguntou ansiosamente.
— É a Bambi. Eu consigo cheirar o sangue dela.
Capítulo 28
AS TREVAS
EKON

Eu desci o túnel, seguindo o cheiro do sangue de Bambi, esperando


que não fosse tarde demais.
Se aquele bastardo a machucar, eu vou matá-lo... mesmo que ele seja meu
irmão.
Uma risada feminina perturbadora começou a ecoar pelas paredes e
confundiu meus sentidos.
— Quem está aí? — Eu rosnei.
— Você sabe quem é, — ela zombou. — Você não reconhece sua
querida irmã?
Eu não sabia de onde vinha a voz. Eu não tinha escolha a não ser
deixar meu lobo vir à tona, mas teria que ser cuidadoso.
Quando minha visão foi restaurada, o resto dos meus sentidos se
embotou e minha raiva aumentou. Era difícil permanecer racional
quando eu mudava de forma, mesmo parcialmente, mas eu
simplesmente teria que mantê-lo sob controle.
De repente, todas as tochas do túnel se acenderam e eu vi minha irmã,
a bruxa, flutuando acima de mim em um manto vermelho esvoaçante.
Ela se parecia com minha mãe. A semelhança era incrível.
Fiquei atordoado e, quando Devina partiu para cima de mim, não
consegui me mover.
— Ekon, cuidado! — Max correu pelo túnel e me jogou no chão pouco
antes de Devina me agarrar com suas garras afiadas.
Recuperei meu equilíbrio e coloquei para fora minhas próprias garras.
— Onde diabos está minha companheira, sua vadia malvada!?
Devina estalou a língua em desaprovação. — Que linguagem suja,
irmão. Talvez eu devesse ter tomado sua voz em vez de sua visão.
Eu me lancei contra ela, mas ela desapareceu em uma nuvem de
fumaça e reapareceu atrás de mim. — Não há necessidade de violência.
Eu só vim cumprimentá-lo. — Ela sorriu.
— Eu não quero sua saudação. Eu quero sua cabeça, — eu rosnei.
Eu podia sentir minha raiva começando a assumir o controle e
precisava mantê-la sob controle.
— Não, você quer sua companheira, e posso dá-la a você, - disse
Devina, aproximando-se. — Tudo que eu preciso de você é uma
assinatura simples.
Um livro e uma pena apareceram no ar por magia e flutuaram na
minha frente.
— O que é essa magia negra? — Eu rosnei. — Não vou assinar nada.
— Nós pertencemos um ao outro - você, eu e Matthias. É o destino. Se
você se juntar a nós, libertarei sua companheira. Vou até devolver sua
visão. Mas se você não... a pequena Bambi será quebrada.
— Sua vadia de merda, — Max rosnou, começando a se transformar.
O grito de Bambi de repente ecoou pelo corredor, e meu corpo parecia
que estava pegando fogo. Minha companheira estava com dor.
— Faça sua escolha rapidamente Devina zombou. — Assine o grimório.
Não havia maneira de passar por Devina... ela era muito poderosa.
Mas assinar aquele livro não era uma opção.
Um grito de gelar o sangue perfurou meus ouvidos novamente e me
senti perdendo o controle.
Porra, o que posso fazer?
CRACK.
O que parecia um raio de repente explodiu entre mim e Devina.
Enquanto a luz ofuscante desaparecia, uma jovem garota de cabelos
loiros se colocou em seu lugar.
Holly.
— Holly! Como diabos você nos encontrou?
— Feitiço localizador. E então um feitiço de teletransporte. Bem,
alguns deles realmente. A sexta vez é o charme. — Ela sorriu.
— Outra bruxa? — Devina acendeu uma bola de fogo em sua palma.
— Vamos ver o que você pode fazer!
Ela jogou a bola de fogo em Holly, que a bloqueou com um escudo de
água.
Ambas as bruxas lançaram maldições uma na outra simultaneamente,
criando uma explosão de magia oposta, causando um impasse entre elas.
— Vão! Eu vou segurá-la! — Holly gritou. — Mas se apressem! Eu não
sei quanto tempo posso durar! — Eu não sabia quando ela tinha ficado
tão poderosa, mas agradeci a Deusa que a Bambi me convenceu a deixá-
la treinar.
Eu corri passando pelas bruxas com Maximus me seguindo, e
chegamos a uma câmara cheia de móveis antigos e elegantes e
antiguidades.
Bambi estava coberta de sangue, inconsciente em uma poltrona ao
lado de outra garota sem vida.
— Bambi! — Eu rugi furiosamente, saltando para ela.
Tentei acordá-la, mas ela estava mole e sem resposta.
— Irmão, nos encontramos novamente. Quanto tempo.
Eu me virei para ver Matthias, com quase a mesma aparência que ele
tinha dezesseis anos atrás, vivo e saudável.
Eu estreitei meus olhos e mostrei minhas presas. — Você não
envelheceu um dia. Impressionante para um homem que mutilei,
queimei e joguei em uma ravina.
— Alguns de nós voltam mais fortes quando somos derrubados. — Ele
sorriu.
— Eu concordo, — eu rosnei. — Maximus, cuide da minha
companheira.
Eu caí de quatro e ataquei Matthias, derrubando-o no chão.
Por mais forte que parecesse, ele caiu com muita facilidade. Ele
parecia estar gostando disso.
— Se liberte, irmão. Eu sei que está aí. — Ele riu.
Eu bati seu corpo contra o chão repetidamente. Minha mente estava
começando a ficar confusa e eu não conseguia pensar direito.
— Do que diabos você está falando? — Eu rosnei.
— Sua escuridão, Ekon. Liberte-a e junte-se a nós, — ele persuadiu.
— Não... não, eu não quero fazer isso, — eu disse, cambaleando para
trás.
— Apenas mude de forma, Ekon. Deixe seu lobo assumir o controle.
— Não dê ouvidos a ele! — Max gritou. — Você é um sobrevivente,
lembra? Todos nós somos!
Minha mente parecia que estava dividida ao meio, como se eu fosse
duas pessoas em um corpo.
Eu me curvei e segurei minha cabeça, gritando de dor.
Meu lobo queria sair, mas eu o segurei. Eu era mais forte do que ele,
caramba!
— Se você vai ser difícil... — Matthias puxou uma adaga de sua bota e
correu em direção a Bambi, com um sorriso maligno no rosto.
— NÃO! Bambi!
Em um instante, a escuridão tomou conta e minha mente se afastou.
BAMBI

— NÃO! Bambi!
Ekon... ele estava com dor.
Ele precisava de mim.
E eu precisava acordar...
ACORDE!
Acordei com um solavanco, encontrando-me nos braços do meu
irmão.
— Bambi, você está bem! — ele se engasgou, me agarrando.
Ekon estava curvado no chão, uivando de dor.
— Ekon, não mude! — Eu gritei, mas era tarde demais.
Sua camisa rasgou em pedaços quando seus músculos saltaram de
suas costas.
Pelo brotou de cada centímetro de sua pele, e uma cauda longa e
espessa brotou de sua parte traseira.
Em instantes, ele estava de quatro, rosnando e rangendo os dentes.
Seu lobo tinha assumido o controle, e não estava mais claro para ele
quem era um amigo e quem era um inimigo.
Ele olhou para todos nós com fome, como se fôssemos uma presa.
As unhas de repente cravaram em meu braço quando um grito agudo
ecoou em meu ouvido.
Jimmy havia acordado e a primeira coisa que ela viu foi o lobo
monstruoso de Ekon.
Eu joguei minha mão sobre a boca de Jimmy para impedi-la de gritar
novamente, mas ele imediatamente se concentrou nela, agachando-se e
abanando o rabo como se estivesse pronto para atacar...
E a despedaçar.
HOLLY

Eu estava começando a enfraquecer enquanto Devina jogava toda a


sua energia mágica em mim, e eu fazia o mesmo.
Ela era uma bruxa extremamente poderosa e eu ainda era uma bruxa
em treinamento.
— Você lutou bem, garota, mas posso sentir seu poder diminuindo.
Desista agora e não serei forçada a dizimar você, — ela disse em um tom
intimidante.
— Eu... posso... fazer... isso... todo... o dia, — eu disse, me esforçando,
concentrando cada gota de minha energia em bloqueá-la.
— Patética. — Ela zombou.
Meus poderes acabaram e uma explosão de magia me atingiu e me
jogou contra a parede.
Eu lutei para respirar enquanto lutava para respirar.
O sangue pingou do meu nariz e boca, e minha visão começou a ficar
turva.
— Não é sua culpa, bruxinha. Talvez se eu não tivesse queimado todo
o seu clã, você teria recebido um treinamento melhor, — ela disse, rindo
enquanto ficava de pé sobre meu corpo ferido.
De repente, senti uma onda de energia tecendo em minhas veias. Era
diferente de tudo que eu já senti antes.
Eu olhei para cima e meu queixo caiu com a visão na minha frente.
Centenas de espectros translúcidos, flutuando atrás de Devina.
Espíritos dos mortos.
Espíritos com assuntos inacabados.
Eu dei a Devina um sorriso malicioso. — Você cometeu um erro,
Devina. Esta era a minha casa e aquele era o meu povo. E eles ainda estão
aqui.
Seus olhos se arregalaram de horror.
O espírito de cada membro da Matilha do Norte que Matthias e
Devina massacraram combinados em uma orbe sedosa e brilhante.
Eu absorvi seu poder e o lancei contra Devina como uma lança.
Ela caiu de joelhos enquanto sangue escorria da lateral de seu corpo.
Ela me olhou fixamente por um momento antes de desaparecer em
uma nuvem de fumaça.
BAMBI

Ekon investiu contra Jimmy e eu a protegi com meu corpo enquanto


me preparava para o pior.
Outro lobo atingiu Ekon pelo lado, fazendo-o voar contra a parede.
— Max!
Meu irmão havia mudado também, e ele estava rosnando para Ekon
enquanto eles lutavam, atacando e mordendo um ao outro.
Senti Jimmy sair de meu abraço quando Matthias a agarrou pelo
pulso.
— Você vem comigo, — ele rosnou.
— Pare, me deixe ir! — ela gritou, chutando e lutando contra ele.
Tentei puxá-la para longe dele, mas ele me empurrou para o chão e
puxou sua faca.
— Eu não tenho mais uso para você. — Ele sorriu.
Antes que Matthias pudesse fazer outro movimento, ele largou a faca
e seu corpo começou a convulsionar.
— O que está acontecendo? — disse ele, com medo.
Cobri minha boca de horror quando sua pele começou a descascar de
seu rosto e furúnculos começaram a aparecer em seu corpo.
Jimmy olhou para Matthias com pura repulsa enquanto ela se
afastava.
É ele... o monstro que me atacou na floresta!
Esta era a verdadeira forma de Matthias.
Ele não tinha se curado tanto quanto ele dizia...
Sua aparência era apenas uma fachada criada pela mágica de Devina.
Jimmy me agarrou com força enquanto Matthias se afastava de nós.
— Não olhe para mim! — ele gritou.
Devina de repente se teletransportou para a sala em uma nuvem de
fumaça, agarrando Matthias, e eles se foram em um piscar de olhos.
Um grito agudo perfurou o ar e eu me virei.
— Não... — eu chorei ao ver a cena diante de mim, lágrimas
escorrendo pelo meu rosto. — NÃO!
Porque lá estava Max, ofegando e sangrando profusamente, enquanto
Ekon cravava os dentes em seu corpo repetidas vezes.
Capítulo 29
A LUZ
BAMBI

Os olhos escuros de seu lobo olharam para mim como se eu fosse um


estranho...
Ekon estava tão perdido que não conseguia nem reconhecer sua
própria companheira.
Ekon, eu sei que você está aí em algum lugar.
Por favor, volte para mim.
Max tinha mudado de volta para a forma humana e estava deitado no
chão, sangrando.
Foi quando me dei conta. Se eu não fizesse algo rápido, ele morreria.
— Jimmy, fique atrás de mim, — ordenei enquanto Ekon nos olhava
com uma fome voraz.
Eu lentamente tentei dar um passo em direção a Max, mas Ekon
estalou suas mandíbulas para mim e rosnou.
— Ekon, por favor, sou eu. Eu posso sentir sua dor em meu coração.
Eu sei que você pode sentir o meu também.
Seu lobo começou a ficar agitado, ofegando descontroladamente,
mordendo seus próprios membros e arrancando seu pelo.
Ele estava lutando contra si mesmo por dentro.
Eu precisava ajudá-lo. Eu precisava dar força a ele.
Corri em direção ao lobo selvagem e Jimmy gritou: — Bambi, não!
Ekon me derrubou no chão, suas patas pesadas esmagando meu peito
enquanto ele ficava em cima de mim.
Sua baba salpicou meu rosto e, quando suas mandíbulas se abriram,
levantei meu braço para me proteger.
Seus dentes afundaram em meu braço e eu gritei de dor, mas
finalmente estava perto o suficiente para tocá-lo.
Eu gentilmente agarrei seu pelo com minha outra mão e acariciei
suavemente, apesar da dor lancinante em meu braço.
— Ekon, eu te amo e preciso que você volte para mim, — sussurrei,
com lágrimas nos olhos. — Nossa história ainda não acabou - está apenas
começando. Precisamos terminar o que começamos.
Ele gradualmente tirou os dentes do meu braço e um olhar de
reconhecimento infiltrou-se em suas pupilas escuras.
Ekon lentamente voltou a ser humano, seu corpo nu deitado em cima
de mim e me abraçando enquanto chorava.
Foi a primeira vez que o vi derramar uma lágrima.
— Bambi, eu...
— Shhh, está tudo bem, — eu disse, segurando-o enquanto nos
sentávamos. — Você está de volta agora. Isso é tudo que importa.
Eu encontrei uma das capas de Matthias pendurada em um gancho,
puxei-a para baixo e coloquei em volta dos ombros de Ekon.
Jimmy fez o mesmo e cobriu Max com um cobertor. — Bambi, ele
está... ele está mal. Eu fiz um pouco de trabalho de enfermagem na
Matilha do Norte, mas não há muito que eu possa fazer.
Corri para o lado de Max enquanto ele gemia de agonia.
— O que podemos fazer? — Eu perguntei, meu corpo tremendo.
— Precisamos colocar pressão sobre o ferimento para que possamos
diminuir o sangramento, — disse ela, arrancando um pedaço do cobertor
e amarrando-o firmemente em volta da cintura dele.
— Agh, porra do inferno. — Ele estremeceu.
— Deusa, vocês todos estão horríveis, — uma voz familiar brincou
atrás de mim.
Eu me virei para ver Holly entrando cambaleando na sala, parecendo
muito cansada.
— Holly! Você está aqui! Como-
— Vamos comparar as notas mais tarde, mas agora, temos assuntos
mais urgentes, — disse ela, lutando para se levantar.
Ekon ajudou-a a chegar até mim, mesmo enquanto cambaleava.
— Onde estão Matthias e Devina? — ela perguntou, olhando ao redor
com cautela.
— Eles escaparam, — respondi, cabisbaixa.
— Bem, pelo menos eu consegui agarrar isso antes que aquela vadia
fugisse. — Holly fez uma careta enquanto tirava o grimório de Devina de
sua bolsa.
— O grimório! — Jimmy se engasgou. — Talvez haja um feitiço lá que
possa ajudar o irmão de Bambi?
— Receio que seja apenas magia negra — disse Holly enquanto
colocava as mãos sobre as feridas de Max. — Mas posso ser capaz de
estabilizá-lo. — Holly estremeceu ao emitir um brilho suave com as
mãos. Ela estava enfraquecida. Eu duvidava que ela fosse capaz de manter
isso por mais de um minuto antes de desmaiar sozinha.
De repente, um estrondo baixo sacudiu o chão. Eu pensei por um
momento que as minas poderiam estar entrando em colapso, mas era
outra coisa...
Passos... centenas deles.
Kalindi e Hunter entraram correndo na sala, uma onda de soldados
chegando atrás deles.
— Kalindi, você está viva! — Holly gritou de alívio.
— Sim, graças ao farejador de bocetas. — Ela acenou com a cabeça
para Hunter, que abriu a boca em protesto, mas deixou passar. —
Conseguimos acabar com todos os bandidos.
— Graças a Deusa...
As pálpebras de Holly se fecharam de repente e ela desmaiou. Ekon a
pegou antes que ela atingisse o chão.
Sua energia foi completamente gasta.
Corri e abracei Kalindi, aliviada por ver esses reforços bem-vindos.
— Ei, eu não recebo um também? — Hunter perguntou, ofendido.
Eu dei a ele um olhar de reprovação. — Você é um homem acasalado
agora.
— Sim, você é, — Kalindi disse, dando a ele o mesmo olhar. — Com a
minha irmã.
— Kalindi, Max e Holly precisam de atenção médica de emergência,
— eu disse ansiosamente. — Você trouxe algum curandeiro?
— Minha Luna, você também precisa de atenção médica, — disse ela,
olhando para o meu braço, onde Ekon tinha me mordido, e para minha
costela, onde Matthias tinha me cortado para tirar sangue.
Eu perdi muito sangue, mas não estava preocupada comigo mesma.
Eu só precisava ter certeza de que todos estavam bem.
Não foi até aquele momento que percebi que a sala estava girando.
— Não, Kalindi, estou bem! Apenas se concentre em... concentre-se
em...
Minha visão começou a ficar embaçada e eu não conseguia ver nada
com clareza.
— Estou bem, — eu disse enquanto me deixava cair nos braços de
Kalindi, fechando os olhos.
*
Quando acordei, me encontrei em um lugar familiar - o quarto de
Ekon.
Ele estava deitado ao meu lado, em um sono tranquilo.
Meu braço estava enfaixado com um gesso fino, que Ela, Holly,
Victoria e Jimmy haviam assinado, fazendo-me sorrir amplamente.
Enquanto Ekon se mexia, eu acariciava suas costas suavemente. Ele se
virou para mim e me deu um sorriso fraco.
— Você está acordada, — disse ele calmamente. — Como você está se
sentindo?
— Estou bem, mas e todos os outros? Eles estão seguros?
— Maximus e Holly estão se recuperando, — disse Ekon, colocando a
mão no meu rosto. — Eu... eu sinto muito, meu amor. Eu deixei a
escuridão assumir o controle de mim... e eu machuquei você. Eu
machuquei Maximus. Eu falhei com você de novo.
Pressionei minha testa contra a dele. — Ekon, você não falhou. Você
revidou. Eu sou quem falhou com você. Fiz uma promessa de recuperar
sua visão e deixei Devina fugir.
Ekon pressionou seus lábios contra os meus, beijando-me com paixão,
e eu senti uma onda de calor pelo meu corpo que eu não sentia há muito
tempo.
— Eu não preciso desse tipo de visão, Bambi. Mesmo quando eu
estava no meu lugar mais escuro, você ficou ao meu lado e me tirou da
escuridão. Você era minha luz. Você me mostrou que a beleza ainda
existe neste mundo.
Eu o beijei de volta enquanto as lágrimas molhavam meu rosto.
Deusa, por que eu choro tanto? Mas essas são lágrimas de amor e
felicidade...
— Ekon, você se lembra do que você me disse? Antes de tudo isso?
— Eu... eu disse que continuaríamos de onde paramos, — disse ele,
ficando vermelho.
— E você se lembra onde foi que paramos? — Eu sorri, passando meus
dedos por seu cabelo.
— Claro, minha pequena Luna. — Ele sorriu. — Como eu poderia
esquecer?
— Eu estou... estou pronta, — eu disse, corando. — Eu quero me
entregar a você... tudo de mim.
— E eu para você, — ele disse, envolvendo seus braços musculosos em
volta de mim.
Sua língua se contorceu contra a minha enquanto o calor entre nossos
corpos se tomava quase insuportável.
Eu levantei meus braços e ele puxou meu vestido pela cabeça,
deixando meus seios expostos.
Enquanto eu tirava sua camisa e corria meus dedos pelas cristas de seu
abdômen, senti sua protuberância pressionando contra mim.
A mão de Ekon deslizou para dentro de minha calcinha, e sua boca
beijou meu pescoço, até meus seios, até que seus lábios alcançaram meu
mamilo, e eu gemi em êxtase quando ele o mordeu de brincadeira.
Eu estava ficando cada vez mais molhada enquanto ele me provocava,
mas queria mais.
Eu preciso de mais.
Eu desabotoei suas calças e agarrei meu companheiro, sentindo sua
masculinidade em minhas mãos.
Ele era um alfa em mais de um aspecto.
Ekon deslizou minha calcinha pelas minhas pernas e tornozelos,
jogando-as de lado. Ele tirou suas próprias calças e ficou em cima de
mim, seu corpo musculoso e cheio de cicatrizes em plena exibição e sua
masculinidade em plena atenção.
Soltei um gemido suave de antecipação enquanto meu companheiro
rastejava em cima de mim.
— Você está realmente pronta? — ele perguntou, me dando um beijo
carinhoso.
— Sim, sou sua. — Eu sorri. — Me possua.
Ekon cuidadosamente deslizou para dentro de mim, e estremeci com
a dor e o prazer.
Ele começou suavemente e me acomodou no ritmo de seu
movimento.
As estocadas foram leves no início e então gradualmente mais fortes, e
eu não pude deixar de gritar seu nome.
— Ekon, sim... sim, é isso. Por favor, não pare, — eu gemi.
Ele grunhiu enquanto deslizava para dentro e para fora,
repetidamente, levantando minhas pernas mais alto para que pudesse
empurrar com mais força.
Eu gozei várias vezes e, finalmente, o prazer foi demais para ele, e ele
fez o mesmo.
Até um alfa tem seus limites.
Ele rolou e se deitou ao meu lado, ofegando pesadamente, e olhou
para mim com hesitação.
— Isso...
— Foi perfeito, — eu disse, colocando minha cabeça em seu peito.
Ficamos deitados em silêncio por um tempo, apenas abraçados, mas
finalmente Ekon falou.
— Estou com medo, Bambi...
Eu olhei para Ekon com completo espanto.
Eu não podia acreditar que ele tinha acabado de compartilhar algo
que o fazia parecer tão vulnerável.
— O que você quer dizer? — Eu perguntei, acariciando seu peito.
— Aquela escuridão que estava dentro de mim... a escuridão dentro da
minha família - isso me assusta, — ele disse, beijando minha testa.
— Ekon, você não é como eles. Você pode compartilhar o mesmo
sangue, mas você é a luz na escuridão. E aconteça o que acontecer, vamos
enfrentar juntos.
Capítulo 30
DESPERTAR
Duas Semanas Depois
BAMBI

Era uma sensação estranha de que o mundo em que vivia hoje era o
mesmo mundo de sempre, mas agora parecia diferente de alguma forma.
Não foi o mundo que mudou. Era eu e estava pronta para começar a
fazer a diferença.
Os Rebeldes estavam lentamente ficando mais confiantes, fortalecidos
pelos sussurros da ascensão iminente de Matthias.
Meu clube do livro falso não era mais um depósito de segredos, mas
um verdadeiro escritório onde eu trabalhava como investigadora oficial
para o Conselho Real.
Na verdade, o próprio rei Dmitri me deu uma medalha e brinquei com
Ekon que em breve teria uma lista delas que rivalizaria com a dele.
Mas mesmo que as coisas estivessem relativamente calmas e Matthias
estivesse escondido, os efeitos posteriores de nosso encontro na Matilha
do Norte ainda eram recentes.
Max estava programado para sair do hospital hoje, e eu pedi a Ekon
para me acompanhar para buscá-lo.
Max não estava feliz por ter que se recuperar em um hospital do
norte, mas era bom tê-lo por perto por um tempo.
Enquanto caminhávamos pelas portas deslizantes da ala ambulatorial,
Max nos cumprimentou com um sorriso e mancou para me dar um
abraço.
— Estou finalmente saindo dessa casa de loucos. Você sabe quanto
pudim eles te obrigam a comer? — Ele riu. — Eu sou praticamente feito
de pudim neste momento.
É
— É bom ver que você está tão bem, Maximus — disse Ekon, dando
tapinhas em suas costas.
— Não, graças a você. — Max sorriu.
Fiquei surpresa ao ver os dois brincando sobre isso. A última vez que
os vi juntos, antes de me encontrarem nos túneis, eles teriam rasgado a
garganta um do outro.
Agora eles agiam como velhos amigos e, embora isso me confundisse
profundamente, eu não poderia estar mais feliz com isso.
Max apertou meu braço e me lançou um olhar de orgulho,
balançando a cabeça em descrença.
— O que? foi — Eu perguntei, meio esperando um comentário
condescendente.
— Nada, só... você cresceu tanto. Mamãe e papai ficariam muito
orgulhosos se estivessem aqui.
Suas palavras tocaram meu coração, e mesmo que eu quisesse chorar,
eu prometi a mim mesma que me seguraria.
— Eu gostaria de ter participado de sua cerimônia de premiação, irmã,
mas sempre há uma próxima vez. — Max sorriu.
— Você vai voltar para a Costa Leste? — Ekon perguntou depois que
Max recebeu alta e fomos em direção à porta.
— Sim, eu provavelmente deveria ir para casa. Este repouso na cama
foram ótimas férias e tudo, mas acho que meu Beta. Ryan, pode estar
ficando um pouco sobrecarregado. Ele parecia um pouco doido na
mensagem de voz. — Max riu.
— Bem, esperávamos que você ficasse apenas mais um dia, — disse
Ekon com um sorriso.
— Você pode ter perdido a cerimônia de premiação, mas temos outra
pequena cerimônia improvisada que gostaríamos que você
comparecesse, — eu disse com um sorriso brincalhão.
HOLLY

Desci a estrada de terra empoeirada com Jimmy enquanto apreciamos


a brisa fresca e as canções suaves dos pássaros cantando.
Eu amava estar na natureza. Isso me fazia sentir mais conectada à
minha magia.
Eu tenho treinado dia e noite desde a minha batalha com Devina.
Ela era extremamente poderosa e me assustou o quão perto estive de
perder aquela luta.
Se não fosse pelos espíritos do meu povo, eu mesmo teria me tornado
um espírito.
Mas esse era o problema de Devina. Não importa o quão poderosa ela
se tomasse, ela nunca conheceria o poder de amigos e familiares e
pessoas que realmente se importavam com ela.
— Obrigada por me convidar para vir com você, — disse Jimmy
enquanto caminhávamos ao longo da trilha.
Ekon permitiu que Jimmy ficasse no complexo até que ela decidisse o
que queria fazer, mas ela ainda estava se ajustando à sua nova vida.
Eu não conhecia Jimmy bem quando ambas morávamos na Matilha
do Norte, mas nos tomamos amigas rapidamente, nos unindo por causa
de nossas experiências compartilhadas.
Ela até se ofereceu para me ajudar a tentar traduzir o grimório de
Devina, mas até agora, não tivemos sorte.
— Estou feliz que você veio. — Eu sorri. — Você deveria fazer parte
disso.
Aproximamo-nos do portão da Matilha do Norte e paramos.
Eu respirei fundo. Sempre foi difícil ver minha casa assim - reduzida a
ruínas - mas hoje era sobre prestar meus respeitos às pessoas que
perderam suas vidas aqui.
Seguimos para o centro da cidade, onde um novo memorial foi
construído em sua homenagem.
Todos os corpos foram enterrados adequadamente nos túneis sob a
cidade.
— Você quer dizer algo primeiro? — Eu perguntei.
Jimmy acenou com a cabeça e colocou a mão no memorial que
continha os nomes de todos aqueles que morreram.
— Esta era a minha casa e sempre guardarei com carinho minhas
memórias aqui. Mas por causa dos espíritos bondosos que emprestaram
seu poder a minha amiga Holly em sua hora de necessidade, tenho a
chance de construir um novo lar em algum lugar. Juro sempre buscar
justiça para aqueles que não podem buscá-la por si próprios.
— Falou bem, Jimmy.
Ajoelhei-me em frente ao memorial e lancei um feitiço de proteção
para mantê-lo seguro.
— Se algum espírito ainda estiver ligado a este lugar, eu o liberto para
que você possa seguir seu caminho para a próxima vida, — eu gritei. —
Você ficou aqui tempo suficiente e seus compromissos nesta vida agora
estão cumpridos.
Eu me levantei e olhei para Jimmy, de repente me lembrando de outro
compromisso.
— Nós próprias demoramos muito, — eu disse, em pânico. — Bambi
disse que queria que fossemos naquela cerimônia esta noite!
— Certo, por que ela estava cheia de segredos? — Jimmy perguntou,
mordendo o lábio.
— Você fica enjoada facilmente? — Eu perguntei freneticamente.
— Espere, o quê? — disse ela, perplexa.
— Esquece! Não há tempo! — Eu agarrei o braço de Jimmy. — Temos
que nos teletransportar!
— HOLLY!
Bambi: Vocês vão estar lá esta noite?

Victoria: Ainda não tenho certeza de onde seria o — lá, — mas sim, estarei lá.

Ela: sim, por que tão secreta?

Bambi: Apenas confie, ok

Victoria: Tudo bem.

Victoria: Quer dizer, você merece.

Ela: hunter não gostou de ter que voar até aqui, mas eu o obriguei

Ela: (emoji de diabinho)

Victoria: Oh Deusa, vocês dois estão brigando de novo?


Ela: isso é uma pergunta séria?

Ela: quando não estamos brigando?

Bambi: (emoji rindo)

Bambi: Eu amo vocês, meninas

Bambi: Estou muito feliz por podermos compartilhar esta noite juntas

Ela: ok O QUE está acontecendo

Victoria: Não é outro irmão secreto, é?

Victoria: Sinceramente não acho que Ekon aguentaria...

Bambi: DEUSA, NÃO!

Bambi: qualquer revelação de futuro não será realizada em eventos públicos rs

Victoria: Você está brincando agora, mas...

Ela: qual é o código de vestimenta para essa coisa?

Ela: o que você está vestindo?

Bambi: Ummm

Bambi: Digamos apenas semi formal

Bambi: Hoje é lua cheia

Ela: então uma roupa de piranha?

Ela: (emoji de vestido e emoji de carinha de esperto)

Victoria: (emoji fechando os olhos)

Bambi: Haha, não me importo com a roupa de vocês

Bambi: Só quero que fiquemos juntas!

Ela: Sim

Victoria: Sim

Bambi: Sim
BAMBI

Eu nervosamente espiei através das cortinas para ver todos os meus


amigos, que estavam sentados ansiosamente na clareira da floresta, onde
eu havia montado cadeiras dobráveis e um palco improvisado.
Isso foi meio que de última hora, mas todos tinham vindo, o que fez
meu coração inchar de afeto.
Victoria estava sussurrando para Ryland, e ele não parava de suar.
Ryland sabia do que se tratava, mas tinha jurado segredo, e Victoria, sem
dúvida, o tinha interrogado durante todo o dia.
Kalindi se sentou ao lado de Ela, que estava ativamente ignorando seu
companheiro, Hunter.
Holly e Jimmy tinham acabado de aparecer e Jimmy parecia um pouco
enjoada, mas pelo menos elas chegaram a tempo.
Max estava sentado na frente, radiante de orgulho. Ele sabia o que
estava por vir também.
Alfa Leonardo veio por trás de mim e tocou levemente meu ombro. —
Você está pronta, Bambi?
Eu balancei a cabeça e respirei fundo.
Eu finalmente estava fazendo isso...
Alfa Leonardo entrou no palco e ficou atrás do pódio.
— Sejam todos bem-vindos. Estamos reunidos aqui hoje para uma
cerimônia muito especial, — disse ele, dirigindo-se à multidão. — Esta
noite será a coroação oficial de Bambi Jedrek como Luna de Ekon Jedrek,
de acordo com as tradições desta matilha.
— Eu sabia! — Ouvi o grito abafado de Ela e sufoquei uma risada.
Eu saí para o palco enquanto meus amigos pulavam para cima e para
baixo e gritavam por mim.
Provavelmente não era assim que uma cerimônia tradicional -seria,
mas era exatamente o que eu queria.
Ekon caminhou pelo corredor atrás de nossos convidados e se juntou
a mim no palco.
Sorrindo de orelha a orelha, ele pegou minhas mãos. — Bambi, pela
autoridade que possuo como um Alfa da Matilha Real, eu coroo você
minha Luna, por agora até o fim dos dias.
Ekon colocou uma coroa de rosas na minha cabeça e me beijou sob o
luar enquanto nossos amigos mais próximos comemoravam nossa união.
Foi perfeito.
Devina
— Tão rude de nosso irmão não nos convidar para sua cerimônia de
acasalamento, — eu disse com desdém. — Embora pareça um caso
bastante estranho
Corri meu dedo pelo poço mágico que me permitiu ter um vislumbre
da cerimônia ocorrendo nos jardins de Ekon, distorcendo a imagem.
— Sim, ele parece sempre se esquecer de sua família -sua família real
Matthias saiu das sombras, seu novo feitiço de glamour ativado, até
que eu pudesse encontrar uma maneira de consertar seu corpo
permanentemente.
— Suas palavras são adequadas, no entanto. O fim dos dias está
chegando mais cedo do que ele imagina, — Matthias disse com um
sorriso.
Nossa hora estava chegando.
O reino não perde por esperar.
Continua no Livro 2…
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