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PERIGOSAS NACIONAIS

A CORTESÃ E O REI

LILY FREITAS
1ª EDIÇÃO

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Copyright © 2018 – Lily Freitas

Capa: Jéssica Gomes


Revisão: Sara Ester
Diagramação: Denilia Carneiro

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
__________________________________

A Cortesã e o Rei
1ª Edição
2018
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Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e / ou a reprodução


de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios ─ tangível ou intangível ─ sem o
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consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido


na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.

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Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15

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Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Epílogo

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Sinopse

Pedragon, de Arzola, é o rei de Barilla, um


reino que por muito tempo foi assolado por intensas
guerras, mas que através do governo da família

Arzola, encontrou a paz.

Depois de muito tempo em grandes batalhas,


Pedragon necessita de uma rainha, porém não
deseja se casar com a princesa, no qual lhe foi

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prometida quando ainda era uma criança.

Quando Soledade de Cantillano, filha da


famosa cortesã do reino, chega a Barilla, o rei se
encanta pela linda jovem.

Agora, Pedragon terá que escolher entre


honrar o acordo feito pelo seu pai, e tomar a
princesa prometida, ou quebrar o protocolo e se
casar com a mulher, no qual aprisionou o seu
coração.

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Capítulo 1

O silêncio no campo de batalha indicava que


os inimigos de Pedragon, mais uma vez haviam
sido subjugados. Depois de quase um ano de
prosperidade em seu reino, um levante organizado
pelo Emir de Arabas, tentou desestabilizar a paz.

Mas com pouco esforço, Pedragon reprimiu os


rebeldes, mantendo assim, a paz que seu povo tanto
prezava.

— Majestade, o restante das tropas do Emir,

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bateu em retirada e foram para a província de


Césares. Deseja que encurralemos as tropas na
cidade, meu rei? — Padilha perguntou, pronto para
seguir com a batalha.

— No momento não, meu amigo. —


Pedragon bateu no ombro do seu fiel cavaleiro.

Desde criança, Padilha era seu parceiro, os


dois travaram inúmeras batalhas imaginárias nos
jardins do palácio, mas agora, os dois já tinham

vinte e sete anos, e lutavam de verdade para


garantir a paz de Barilla.

— Vamos voltar para o palácio e descansar.


Nossas tropas tiveram dias exaustivos, e todos

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merecem uma cama quente, um pouco de vinho e


as garotas da madame Cantillano.

Um alvoroço se formou entre os homens do


rei, e Padilha ordenou que o acampamento da tropa

fosse erguido.

A comitiva que sempre acompanhava o rei


foi a primeira a deixar as terras de Arabas, para
seguir rumo ao reino. Era de praxe o rei entrar
primeiro na cidade, a fim de mostrar que voltou

com a vitória, no qual tanto alegrava o povo de


Barilla.

Quando chegaram às proximidades do


palácio, as bandeiras com o brasão de Barilla

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saudaram a comitiva real. Mais uma vez, Pedragon


voltava vitorioso e mostrando que era um rei que
lutava incansavelmente pela paz do povo, ao qual
Deus o confiou para governar.

— Viva ao rei! — alguém gritou, quando


Pedragon atravessou austeramente a rua principal
rumo ao palácio.

A multidão em torno do rei começou a gritar


feliz com a chegada do líder, no qual tanto amavam

e que os protegia com a própria vida. Pedragon,


assim como o seu pai, o rei Oton, era respeitado e
amado pelo seu povo.

— Bem-vindo à Barilla, majestade —

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Aquino, o Cardeal de Barilla, prestou reverência ao


rei. — O vosso reino está em festa com a sua
chegada.

— Mais uma vez, eu trago a vitória, Aquino.

— Pedragon apertou a mão do Cardeal, sorrindo, e


seguiu pelo imenso corredor do palácio.

— Vossa majestade é um iluminado por


Deus, por isso tantas vitórias.

— Verdade, meu caro. — A fé de Pedragon

era acima da média se comparada à de alguns reis


do seu tempo, mas ele bem sabia que as suas táticas
de exterminar o inimigo eram fundamentais para
garantir suas vitórias. — Deus me concedeu uma

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mente brilhante e coragem para não fugir do


inimigo.

— Seja bem-vindo, majestade — A voz de


Abgail, provocou um sorriso no rei. Ela dedicou-se

a cuidar dele desde pequeno e, por isso, era a


responsável pela sua privacidade no palácio.

— Saudades de mim?

— Estive bordando por muito tempo, acho


que senti um pouco a sua falta nos últimos dias. —

Pedragon sorriu e seguiu para a entrada dos seus


aposentos.

— Majestade, assim que tiver o seu refresco,


eu gostaria de ter uma conversa privada com vossa

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excelência. — Aquino se precipitou, antes que o rei


entrasse em seus aposentos com Abgail e seu fiel
mordomo.

— Deixemos as conversas para amanhã, hoje

quero apenas dar atenção às necessidades do meu


corpo. — Ao longe, Pedragon viu a aproximação
do seu conselheiro.

— Majestade, me perdoe por não estar


presente à sua chegada. — Luiz reverenciou o rei e,

em seguida, sorriu.

— Senti a sua ausência, Luiz.

— Tive um contratempo. — Pedragon apenas


acenou e não perguntou o tipo de contratempo, no

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qual ele se referia.

— Luiz, eu desejo que madame Inês acolha


meus homens e conceda o prazer que eles tanto
necessitam. E certifique-se de que tenha vinho à

vontade para todos, pois hoje é um dia de festa.

— Farei isso imediatamente. — Luiz prestou


outra reverência e se afastou.

Sem mais palavras, Pedragon entrou no


quarto real e suspirou profundamente feliz por estar

em casa. Lutar lhe causava grande prazer, mas


regressar ao seu lar era uma satisfação imensurável.

— Prepare o meu banho, Abgail, eu necessito


me lavar.

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— Já está tudo preparado, meu senhor.

— Às vezes, eu esqueço que você conhece as


minhas vontades melhor do que ninguém.

— É meu dever, majestade. — Quebrando

todo o protocolo, o rei se aproximou e beijou a testa


da sua fiel serva.

— Que Deus te conceda muitos anos de vida,


não sei o que será de mim quando faltar.

— Tu és o rei, meu senhor, e não dependes

de ninguém — Abgail respondeu, com toda


prudência que lhe era esperada. — Sirva ao seu
senhor no que ele necessitar, Ubaldo, vou
providenciar a refeição do rei.

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Pedragon observou Abgail partir e seguiu ao

lado do seu camareiro para o banho. Ele precisava


descansar os músculos para ter resistência e assim
conseguir enfrentar a noite na casa de madame

Inês.

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Capítulo 2

A confusão ao redor poderia significar um


incômodo ao monarca, mas nesse momento, ele se
sentia satisfeito por ver que os homens, nos quais
lutaram tão bravamente ao seu lado estavam
felizes.

— Quer mais vinho majestade? — madame


Inês perguntou, quando uma de suas garotas se
aproximou com a jarra de vinho.

— Por enquanto, eu estou satisfeito.

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Com um gesto de mão, Inês dispensou a

jovem que sorria encantada com o rei.

— Essa cidade sem os seus soldados não é a


mesma. Minhas meninas estavam reclamando do

mau cheiro dos homens que sobraram no reino. —


Pedragon sorriu, Inês tinha um humor único, que o
animava.

— Suas meninas, na verdade, estavam com


saudades das moedas de prata dos meus homens.

— Também. — Inês deu de ombros,


sorrindo.

Ela não era mais jovem, porém preservava


uma beleza única. Quando menino, Pedragon havia

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se apaixonado por ela.

Seu pai o trouxe ao bordel de Inês, pela


primeira vez, quando tinha treze anos e ela
escolheu uma das suas meninas para cuidar da

virgindade do jovem príncipe.

Daquele momento em diante, Pedragon virou


um frequentador assíduo da casa de madame Inês,
nome pelo qual ela ficou conhecida em todo o reino
de Barilla, por ser a cortesã oficial do rei. Mas

Pedragon, nunca teve o prazer de experimentar dos


encantos dela, já que Inês era exclusiva de seu pai.

O rei Oton, nunca amou a rainha, ele havia se


casado devido a um acordo entre reinos, assim

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como Pedragon faria, mas encontrou em Inês, o


amor, no qual sempre sonhou.

Quando Pedragon, ainda criança, descobriu o


caso entre eles, se ressentiu de ambos. Mas quando

chegou a certa idade, entendeu que a vida adulta e,


principalmente a vida de um rei, não seguia as
convenções tradicionais.

Agora, depois de tantos anos, Inês era sua


amiga. Ela tinha um tipo de acesso ao rei que nem

o seu conselheiro real conseguia ter. Era nos braços


de Inês, que ele jogava seus temores e, por mais
assustador que pudesse parecer, muitas guerras
foram evitadas, porque Inês soube como convencer
o rei de que a diplomacia deveria ser explorada até
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o limite.

— Depois do longo tempo em que passou


lutando, eu não imaginei que apareceria ao meu
estabelecimento com tanta rapidez. Não deveria

descansar, majestade?

— Está me chamando de velho?

— Jamais, senhor. — Inês colocou a mão


sobre a barriga e fez uma leve careta. — Estou
apenas preocupada com o seu bem-estar. Não quero

o meu rei doente.

— Doente, eu ficaria se tivesse que ficar


trancafiado naquele palácio, com o Cardeal me
policiando e Luiz querendo me jogar mais

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problemas.

— Não invejo a sua vida, meu senhor. —


Inês ergueu-se, mas quando deu um passo à frente,
ela vacilou.

— O que tens? Por que está tão pálida?

— Não é nada, senhor, não se preocupe.

— Sente-se — Pedragon ordenou enquanto


encarava o rosto branco de Inês. — Vou mandar
chamar um médico, você não está nada bem.

— Não exagere criança — Inês, falou


baixinho o apelido que deu a Pedragon desde o dia
que o conheceu. Ela só se atrevia a chamá-lo assim
quando estavam a sós, como agora.

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— Sente-se, é uma ordem real — Por mais

que as ordens dele não surtissem muito efeito nela,


Pedragon tentou ser o mais firme possível.

O olhar de Inês encontrou o dele e, com

pavor, o rei viu sangue escorrer pela boca da amiga.

Com agilidade, Pedragon correu ao seu


socorro e amparou seu corpo enquanto ela gemia e
se contorcia de dor. O grito do rei pedindo ajuda
fez a sala privada de Inês, lotar com seus homens e

com as meninas do bordel.

Uma confusão se formou ao redor dos dois


enquanto tentavam ajudar Inês. Mas em poucos
minutos, o corpo dela estava no chão, frio e sem

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vida, não lembrando em nada a mulher vibrante, no


qual sempre foi.

— Não podemos fazer mais nada por ela —


Padilha disse ao rei, consternado.

— Como não?! — Pedragon esbravejou. —


Já chamaram o médico? Algo tem que ser feito.

— Senhor, ela está morta, nenhum médico


poderá fazer nada.

— Ela estava bem, não pode ter morrido do

nada — O rei bradou.

— Madame andava com problemas de saúde,


majestade, mas ela nunca quis que ninguém
soubesse — uma das meninas disse em voz baixa.

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— Ela estava doente e, eu não soube disso?

— Pedragon rosnou, ameaçadoramente. — Alguém


será punido aqui. — Todas as meninas se
entreolharam com medo do rei.

— Calma, majestade, vós conheceres bem a


teimosia de Inês, nenhuma dessas meninas
poderiam enfrentá-la. Apenas vossa majestade teria
esse poder — Padilha soltou a verdade ao monarca,
com cuidado.

— Maldição! — Com raiva, Pedragon


esmurrou a mesa ao lado levando-a ao chão, e
derramando o vinho e a comida que haviam sido
colocados para sua degustação.

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— É melhor vossa majestade voltar para o

palácio. Eu cuidarei de tudo por aqui.

— Quero o melhor para a despedida de Inês,


Padilha.

— Ela terá senhor.

Com um último olhar para Inês, Pedragon


saiu em disparada tentando controlar a fúria que o
consumia. Ela era seu porto seguro, a única pessoa
em quem podia confiar qualquer segredo. Agora

estaria sozinho, sem ter em quem se apoiar.

Algumas semanas depois.

— O mensageiro que enviamos para noticiar


a morte de madame Inês, retornou, majestade.
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— Ele encontrou a filha dela?

— Sim. — Padilha acenou respeitosamente


ao rei. — De acordo com ele, a jovem virá ao reino
em poucos dias.

— Pobre menina, nunca teve oportunidade de


conviver com a mãe — Pedragon relembrou das
histórias, nas quais Inês lhe contou sobre a filha e
de como se ressentia por não poder ter convivido
com ela. — Padilha, quero que todos os pertences

de Madame sejam preservados, nada deve ser


escondido de sua filha.

— Meu senhor, eu mesmo me encarreguei de


guardar os objetos de Madame Inês, todas as joias

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dela estão trancafiadas juntamente com o tesouro


real.

— Muito bem. — O rei acenou, contente. —


O bordel de Inês está sendo respeitado? Não quero

nenhum homem abusando de suas meninas.

— O conde Armenes está controlando tudo


até sabermos o que a filha dela irá fazer.

— Padilha, a menina foi criada por uma


família cristã, ela nunca irá colocar os pés ali. Mas

quero que se certifique de pagar uma boa quantia


pelo lugar que a mãe dela ocupava e que ela receba
as joias que meu pai presenteou Inês ao longo do
tempo em que estiveram juntos. Preste toda a

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assistência que ela necessitar, eu não quero deixar


nada a desejar à lembrança da mulher, no qual
tantas vezes me estendeu a mão.

— O senhor é um rei de bom coração. —

Padilha reverenciou-o.

— Sou justo para aqueles que sempre me


apóiam. — Pedragon era um homem que mantinha
o compromisso com todos que ajudavam o seu
reino a ser próspero. — Estarei seguindo para o

casamento da filha do rei de Portugal, Padilha, e


quero que fique responsável pelos cuidados com a
herdeira de Inês.

— Mas senhor, devo lhe acompanhar por

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onde for — Padilha protestou.

— Deves servir ao seu soberano, meu caro, e


nesse momento seu rei necessita que alguém de sua
confiança fique responsável por essa missão, no

qual tanto me aflige.

— Sempre estarei aqui para vos servir,


majestade.

— Eu sei. — Pedragon ergueu-se do trono e


viu ao fundo o Cardeal Aquino se aproximar. —

Podemos ir, Cardeal?

— Tudo está pronto, majestade.

— O reino de Barilla está em suas mãos,


Padilha, cuide com toda devoção do meu povo.

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— Vá em paz, meu senhor, estarei dando a

vida pelo seu reino.

Pedragon acenou para seu fiel cavaleiro e


seguiu o Cardeal, rumo ao início da sua jornada até

o reino de Portugal, para acompanhar o casamento


da infanta.

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Capítulo 3

Soledade entrou no reino de Barilla e


admirou a organização e beleza do lugar. Ela
passou boa parte da vida na província de Cáron,
mas nos dois últimos anos, estava morando em
Salles, com a prima de sua mãe.

A sua vida foi sempre entre idas e vindas


pelas casas dos seus parentes. Como sua mãe lhe
entregou aos cuidados da tia Ana Luz, ela acabou
sendo jogada nas mãos de várias pessoas após a

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morte da tia.

Agora estava se sentindo mais sozinha do que


nunca, pois mesmo sua mãe estando distante, ela
sempre se mantinha presente através das cartas que

enviava.

Um sorriso triste escapou dos lábios da


jovem, ela viu a mãe apenas duas vezes depois que
fez doze anos, mas recordava da beleza dela. Inês
era sorridente e tinha uma vontade de viver

diferente das mulheres, que sempre a cercaram. A


liberdade que sua mãe exalava, era um desejo que
sempre iluminou o seu coração. Ela queria ser livre
e se negava a seguir a vida triste das tias e primas
do seu convívio.
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Sol estava em Barilla, para se apossar da

herança da mãe e depois que fizesse isso, deveria


regressar a Salles, para se casar com um nobre, no
qual sua tia Acásia havia lhe prometido.

O seu futuro não era promissor e uma tristeza


profunda estava alojada em seu coração por ter que
viver uma vida tristonha, ao lado de um homem
que sequer conhecia.

— Senhora, vamos direto ao palácio, pois

temos uma audiência com Padilha, o fiel cavaleiro


do rei.

— Quero conhecer o estabelecimento da


minha mãe, ele também me pertence.

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— Jamais, senhorita, não pode entrar em um

local onde o pecado é consumado.

Sol se segurou para não blasfemar ao abade,


que foi lhe confiado à companhia. Ela não gostava

da maneira como as pessoas se referiam à sua mãe.


Por mais que ela tivesse sido uma mulher da vida,
sempre prezou pelo melhor para a filha. Inês
entregou Sol aos cuidados da irmã, justamente para
que ela não sofresse por ser filha de uma prostituta.

— Seguiremos ao palácio então — Sol falou,


sem revelar que iria de qualquer maneira ao local
onde sua mãe morou e trabalhou.

Quando entraram nas dependências do

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palácio, foram encaminhados a uma sala e


esperaram por algum tempo a chegada do enviado
do rei.

Enquanto não era atendida, Sol examinou

com cuidado o lugar em que estava. Era a primeira


vez que entrava em um palácio e por isso se sentia
encantada com a grandiosidade do lugar.

Ser rei ou rainha deveria ser sensacional, pois


ter um lugar tão bonito e repleto de pessoas

dispostas a servir, era uma grande dádiva. Ela


sempre teve que realizar as atividades básicas do
dia a dia, nunca sequer imaginou ter alguém para
fazer algo por ela.

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— Senhor, desculpa a demora. — Padilha

entrou apressado na sala de reuniões. — Senhorita!


— Ele acenou para a bela jovem à sua frente.

A filha de Inês era ainda mais bonita do que

ela, a menina exalava uma sensualidade natural,


tinha o rosto redondo, com maçãs do rosto
proeminentes e um cabelo castanho claro contido
em uma trança.

Ela era linda e fez o coração de Padilha

disparar. Ele já havia conhecido mulheres bonitas,


mas nenhuma era tão bela quanto Soledade
Cantillano.

— É uma honra conhecê-lo, senhor Padilha.

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— Adilmo, fez um gesto de respeito ao cavaleiro


real.

— Prazer em conhecê-lo também, senhor


abade. — Os olhos de Padilha se concentraram na

jovem. — Senhorita, minhas condolências, sua mãe


era muito querida.

— Obrigada. — Sol respondeu, examinando


com cuidado o homem à sua frente. Ele era bonito e
diferente dos homens que sempre estavam ao seu

redor.

— Vamos nos sentar. Tenho algumas


instruções a lhe passar abade, antes de anunciar os
direitos da senhorita Cantillano.

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— Sou todo ouvidos, meu senhor.

Padilha sentou e começou a explicar os


direitos que a filha de Inês havia herdado. Ele
relatou que a mãe da jovem guardava uma

quantidade substancial de joias e moedas de ouro,


herdados do antigo rei de Barilla. Além dessa
fortuna em prata e ouro, a propriedade onde estava
o bordel, fora concedida pelo rei e também
pertencia a Soledade.

O cavaleiro real fez questão de especificar


que Pedragon, exigiu que a filha de Inês herdasse
cada centavo que a mãe havia deixado escrito em
seu testamento. E que todo o tesouro herdado por
ela estava seguro pela coroa de Barilla.
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Ele também esclareceu que o rei pagaria pelo

local onde Inês mantinha o bordel. Em seu


testamento, ela deixou claro que não queria que as
meninas fossem desabrigadas. Por isso, Padilha

afirmou ao abade que pagaria em moedas de ouro o


valor da propriedade. Pois o rei se prontificaria
pelos cuidados necessários para que as meninas
fossem bem tratadas.

— Estou satisfeito com a bondade do rei —

Adilmo falou respeitosamente.

— Pedragon é conhecido por ser


misericordioso. — Padilha olhou para a jovem e
sorriu. — Vocês são convidados de vossa
majestade. Ficarão hospedados no palácio e terão
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tratamento digno das visitas do rei.

— Ficaremos aqui? — Sol perguntou,


surpresa.

— Sim, senhorita, Pedragon deseja que vocês

tenham todo o conforto possível.

— Ficamos gratos com a hospitalidade,


senhor — Adilmo agradeceu a bondade.

— Depois de uma longa viagem, eu tenho


certeza que vocês necessitam descansar. Vou pedir

para prepararem os quartos para ambos, me


acompanhem, por favor.

Ele ergueu-se e seguiu pelo imenso corredor,


acompanhado de perto por Soledade e Adilmo. No

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meio do caminho encontraram com uma mulher


sorridente, que os chamou para mostrar onde
seriam seus aposentos.

Quando Sol entrou no imenso quarto que lhe

reservaram, ela se deslumbrou. Nunca havia estado


em um lugar tão imenso, o aposento era maior do
que a casa da sua prima. Ali poderia viver uma
família inteira com tranquilidade.

Sem conter a curiosidade, ela examinou com

cuidado cada detalhe do lugar e só depois foi se


refrescar. Quando viu o banho que antecipadamente
já havia lhe sido preparado, sorriu. Ser nobre
deveria ser o paraíso, ter tanto espaço e
comodidade era uma benção.
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— Não só quero como irei conhecer a casa da

minha mãe. — Sol bateu o pé, irritando o abade.

— A senhorita jamais irá pisar no antro do

pecado. Não permitirei isso.

— Calma, não vamos entrar em conflito —


Padilha pediu com serenidade.

Ele não estava gostando da maneira com o


abade se referia a casa de Madame Inês, mas
entendia a recusa dele em permitir que a jovem

fosse até lá. Não era conveniente uma mulher de


família entrar em um bordel, mas ele também tinha
ciência que por se tratar da casa da mãe de
Soledade, ela tinha o direito de conhecer o lugar.

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— Não posso ter calma quando Soledade está

indo contra as leis de Deus.

— Como é? — Sol perguntou, indignada. —


O senhor está ficando senil, abade? Não estou indo

contra lei nenhuma, apenas desejo conhecer o lugar


onde minha mãe passou boa parte da vida.

— Queres conhecer a perdição? Vossa mãe


era uma meretriz. — Padilha cerrou os dentes
quando ouviu o tom de nojo na voz do homem.

— Abade, eu entendo perfeitamente sua


posição e a respeito profundamente, porém peço
respeito pela memória de Inês. — Com cuidado, ele
recriminou o religioso. Se por acaso Pedragon

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ouvisse o religioso falando com tanto desprezo de


Inês, certamente o homem teria sérios problemas.
— Se ela se transformou em uma mulher da vida,
não foi por querer, Inês teve uma história de vida

difícil e exijo que seja comedido ao falar dela.

Sol sorriu com a repreensão que Padilha deu


em Adilmo, o abade andava tirando sua paciência.
Tudo o que ela desejava era ficar livre dele e de
todas as pessoas que queriam mandar na sua vida.

Na verdade, ela queria ser como a mãe, livre das


conveniências sociais e dona do próprio nariz.

— Senhorita, se desejas realmente conhecer o


lugar em que sua mãe viveu, eu irei preparar alguns
guardas para acompanhá-la. — Ele olhou
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diretamente para o abade. — Fique tranquilo,


senhor, irei cuidar pessoalmente para que a honra
da senhorita Cantillano fique intacta. Estarei com
ela nessa visita me certificando de que ninguém

manchará a sua honra.

Adilmo prendeu os lábios com raiva. Ele veio


até Barilla para tomar conta de Soledade e garantir
que a herança dela fosse entregue. Mas não estava
disposto a permitir que ela colocasse sua reputação

na lama. Sua prima iria se irritar caso descobrisse


que ele permitiu essa loucura, sem contar que
Soledade estava prometida a um nobre e esse tipo
de comportamento não era condizente para uma
donzela.

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— Meu senhor, eu fico grato por fazer esta

oferta, mas não acho apropriado que Soledade vá a


casa da mãe dela.

— Eu aceito a oferta, e quero ir

imediatamente à casa da minha mãe — Sol falou,


desafiando o abade.

— A senhorita não vai e encerramos o


assunto aqui — Adilmo tentou impor limites à Sol.

— O senhor veio apenas para me

acompanhar, abade. Não me comunicaram que


responderia pelas minhas vontades. — Sol encarou
Padilha. — Quando podemos ir?

A determinação dela causou admiração em

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Padilha, ela tinha a mesma personalidade da mãe e


isso era algo que sempre o encantou em Inês.

— Vou preparar alguns homens e podemos


seguir imediatamente para a casa de Madame Inês.

— Ótimo, vou me preparar. — Sol saiu e


seguiu na direção dos seus aposentos. Finalmente
ela teria contato com a realidade, no qual sua mãe
vivia.

— Não pode permitir essa barbaridade. —

Adilmo segurou o braço de Padilha.

— Ela merece se despedir de qualquer


memória da mãe, abade, nada irá acontecer, eu
estarei com ela.

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Não permitindo mais protestos da parte do

abade, Padilha se retirou da sala e seguiu para


reunir os homens necessários para acompanhar
Soledade.

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Capítulo 4

Soledade entrou na imensa casa com passos

incertos. Ela queria se conectar um pouco com a


mãe, mas não imaginava que a vida dela era tão
diferente.

Os olhos de Sol correram pelas mulheres que


a observavam com curiosidade, todas estavam

vestidas, o que a surpreendeu. De acordo com as


histórias que contavam para ela, as prostitutas
andavam nuas, apenas colocavam roupas quando
iam à rua. Por isso, ela estava surpresa em

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encontrá-las tão bem arrumadas.

— Em nome de todas as meninas, eu lhe


desejo boas-vindas, senhorita. É uma honra poder
conhecer de perto a filha de Madame Inês — Uma

mulher falou para Soledade, com extrema simpatia.

— Muito obrigada — Sol respondeu e olhou


para Padilha. — Posso conhecer o quarto dela?

— Claro que sim. Encarnación, leve a


senhorita Soledade para conhecer os aposentos de

Madame Inês e sane qualquer curiosidade que ela


tiver.

— Farei isso. meu senhor.

Encarnación pediu que Soledade a seguisse e

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foi para o segundo andar do lugar. Elas andaram


por um corredor, onde Sol observou diversas portas
que deveriam indicar o quarto das meninas que
moravam ali e, quando alcançaram a última porta,

Encarnación abriu e fez um gesto para ela entrar.

Por alguns segundos, ela hesitou e apenas


olhou o lugar, mas a vontade de saber como era a
personalidade da mãe a fez entrar.

Os olhos de Sol correram com atenção pelo

quarto, tudo era de bom gosto e fino. Se ela não


soubesse de quem pertencia o aposento, apostaria
de olhos fechados que uma dama da corte era a
dona do lugar.

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A cama de dossel dominava o ambiente, com

cobertas finas que davam um ar romântico ao


ambiente. Cortinas pesadas caíam sobre as janelas e
um móvel de madeira maciça tinha perfumes e

alguns objetos da sua mãe.

Uma dor profunda se instalou no peito de


Soledade, foi ali que morou a mulher que a gerou, e
que a deu para ser criada pela família para que
tivesse uma vida decente.

A tia de Sol sempre dizia que Inês era forte e


que apesar de sofrer muito em se separar da filha,
ela não hesitou em tentar lhe dar um futuro.

De acordo com as histórias que a tia lhe

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contava, Inês havia entregado a sua virtude à um


nobre, que prometeu casar-se com ela. Mas ele
tomou a sua virgindade e, em seguida, foi para a
guerra. Quando voltou, trazia consigo uma esposa e

fingiu não ter tido nenhum envolvimento com Inês.

A mãe de Sol chegou a dizer que estava


prestes a ter um filho dele, mas o homem disse que
jamais poderia ter certeza de que a criança era sua e
ordenou que Inês sumisse da sua vida.

O desgosto dominou a jovem e, assim que


teve a filha, Inês entregou aos cuidados da irmã e
pediu que a criasse como se fosse sua.

Inês mudou de cidade, assim como a tia de

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Sol. Desse dia em diante, Ana Luz passou a ser a


mãe de Soledade. Apenas quando Sol cresceu, é
que a tia contou a verdade.

Na época, Sol se revoltou, ficou com raiva da

tia e da mãe, mas depois que recebeu todas as


cartas que Inês lhe mandou ao longo dos anos,
percebeu todo o amor que a mãe tinha por ela.

Ter que tomar uma atitude como a que Inês


tomou, não devia ter sido fácil, por isso Sol acabou

admirando a mãe e amando ainda mais a sua tia


Ana Luz.

Infelizmente, uma doença de pulmão levou a


sua tia há cerca de três anos e agora sua mãe

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também tinha partido. A vida nunca havia sido fácil


para ela e seria bem pior quando voltasse e tivesse
que se casar com um homem, no qual sequer
conhecia.

— O quarto da minha mãe é lindo — Sol


falou ao espantar os pensamentos. — Ela tinha
muito bom gosto.

— Madame Inês gostava de decoração e que


tudo estivesse arrumado — Encarnación falou com

um sorriso nostálgico nos lábios. — Não mexemos


em nada desde que ela partiu. As meninas sequer
gostam de entrar aqui. Ela era a alma dessa casa, a
alegria dela contagiava a todos. Madame, tratava
todas nós com carinho e jamais permitia que
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alguém nos machucasse.

Encarnación engasgou com as lembranças e


começou a chorar. Rapidamente Soledade foi ao
seu encontro e a abraçou. Perder alguém que se

ama não era fácil, ela sabia bem o que a pobre


mulher estava sentindo.

— Quem está cuidando de vocês?

— O rei pediu que o conde de Armenes, nos


proteja, mas Madame Inês jamais será substituída.

— Encarnación, eu estou feliz em saber que


minha mãe era uma mulher amada. Infelizmente, eu
não pude conviver com ela e a vi em poucas
oportunidades. Mas agora, estando em seu quarto e

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vendo todo o seu respeito por ela, estou me


sentindo mais conectada do que nunca com a minha
mãe. Eu queria muito ter a coragem dela e poder
viver livre.

— És livre senhora, muito mais do que


qualquer uma de nós. — Soledade sorriu
tristemente.

— Não sou livre, pelo contrário, sou


controlada em cada passo que dou e estou

condenada a passar a vida com alguém que não


amo.

— Mas pode amar.

— Quem me garante? — Sol suspirou

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pesadamente.

— A senhora vai ter família e filhos, isso é


uma grande benção para uma mulher.

— Não acho que seja uma benção quando

isso é imposto à mim. — Sol olhou ao redor do


quarto. — Eu não quero viver sob regras, odeio que
me digam o que fazer. — Ao fundo, ela ouviu o
sorriso de Encarnación.

— A senhorita fala como a sua mãe. Madame

vivia quebrando regras.

— Eu daria tudo para ter convivido com ela.

— Você sentiria muito orgulho dela.

— Com licença. — Padilha apareceu na

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porta. — Está na hora de irmos, senhorita.

— Mas já? Acabamos de chegar.

— Sequer deveríamos estar aqui e a senhorita


sabe disso.

— Quero ficar mais um pouco, senhor, eu


não vi tudo.

— Soledade, eu acredito que viu o suficiente


— Por mais que soubesse que nada poderia
acontecer a ela, Padilha queria evitar os rumores

caso demorassem mais do que o apropriado para


uma visita.

— Não vou embora agora, ainda não


conversei com as meninas, e nem vi o resto da casa.

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— Por favor, senhorita, não complique a

minha vida.

— Só mais um momento, por favor.

Padilha olhou para Encarnación, pedindo

ajuda, mas ela apenas sorriu e não disse nada.

— Vou encher uma taça de vinho e quando a


bebida acabar, nós iremos embora sem protestos —
Padilha falou firme.

— Combinado — Sol respondeu, sorrindo.

— Mostre com cautela o que a senhorita


Soledade pedir Encarnación, mas tenha prudência.

— Terei, meu senhor.

À contragosto, Padilha seguiu para o salão.

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Ele não deveria permitir que Soledade tivesse a

última palavra, mas não conseguia negar nada a ela


quando a mesma o encarava com olhos suplicantes.

— Quer ver os vestidos da sua mãe?

— Quero muito — Sol respondeu,


empolgada e seguiu Encarnación para conhecer um
pouquinho mais da sua mãe.

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Capítulo 5

Soledade nunca tinha visto tantas joias na


vida. Quando Padilha disse que a mãe dela havia
deixado alguns pertences valiosos, jamais imaginou
que fosse praticamente um tesouro. Certamente, ela
passaria a vida toda e nunca gastaria todo o

dinheiro que a mãe havia lhe deixado.

— Tem certeza de que é tudo meu? — ela


perguntou a Padilha.

— Tenho sim, senhorita — Padilha

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respondeu, sorrindo. — O rei fez questão de


guardar cada moeda e joia, no qual sua mãe deixou.

— Minha mãe era rica. — Sol pegou um


bracelete de ouro e olhou. — Como vou levar tudo

isso embora?

— Vou ordenar que alguns cavaleiros reais


acompanhem vocês. Pedragon já escolheu os
homens que irão zelar pela sua herança.

— O rei era muito amigo da minha mãe?

Percebi que ele teve muito cuidado com todas as


coisas que pertenciam a ela.

— Ele conhecia sua mãe desde pequeno e ela


se tornou uma boa amiga.

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— Amiga? — Essa revelação a deixou

curiosa.

— Eles eram amigos, vossa majestade tinha


um grande apreço por Inês.

— Lamento por não encontrá-lo, gostaria de


lhe agradecer por ter sido tão cuidadoso com ela
tanto em vida quanto na morte.

— Fique tranquila, pois transmitirei seus


agradecimentos.

Soledade olhou para Padilha e prendeu os


lábios. Ele estava sendo um bom homem desde que
ela chegou ao reino. Sempre atencioso e prestativo.
E havia demonstrado ser prudente e inteligente,

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talvez ele pudesse ajudá-la com as questões que


começaram a invadir sua cabeça.

— Senhor Padilha, eu não quero voltar para


casa — Soledade soltou seu desejo de uma só vez.

— Quero ficar na casa da minha mãe, tomar conta


das meninas, ser livre.

Padilha deu um passo para trás, surpreso com


a revelação de Soledade. Estava bem nítido que ela
tinha traços da personalidade da mãe, mas ele

jamais imaginou que passava pela cabeça dela ter o


mesmo tipo de vida.

— A senhorita está falando sério?

— Estou. Não quero me casar à força. Nem

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quero ser controlada por um homem, no qual não


conheço. É injusto tentarem determinar a vida que
devo ter. Quero escolher o que fazer e quando
quiser.

— A senhorita tem noção dos absurdos que


falou? Como pode pensar em ter uma vida de
meretriz? Por acaso pensa que as mulheres que
conheceu possuem uma vida feliz? Você já parou
para pensar como deve ser difícil ter que se

relacionar intimamente com homens que não


conhece?

O rosto de Soledade esquentou, ela nunca


teve esse tipo de conversa com as tias e primas, que
dirá com um homem que mal conhecia.
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— Eu... — depois de ouvir o que ele falou,

ela ficou sem palavras.

— Acredite em mim, Soledade, ter que se


casar com um desconhecido, não é a pior coisa que

pode acontecer na sua vida. Várias pessoas fazem


isso todos os dias. Esse tipo de arranjo faz parte da
nossa cultura.

— Tudo pode ser mudado e, eu quero iniciar


essa mudança.

— Você quer ser uma revolucionária? É isso?

— Não, apenas quero ser dona de mim


mesma. — Padilha sorriu.

— Esqueça essa ideia, a senhorita vai voltar

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com o abade e viver como uma dama. Sua mãe


viveu longe de você para te manter a salvo da vida
profana que levava.

— O senhor não pode mandar em mim — A

rebeldia que sempre a dominava quando era


contrariada, explodiu.

— Mando sim, sou um cavaleiro real e estou


no comando da situação por ordem de vossa
majestade. Isso me dá o direito de intervir quando a

senhorita quer tomar uma atitude insana.

— Eu vou morar na casa da minha mãe e vou


cuidar das meninas. Mas não vou ser uma meretriz,
não desejo ser tocada por ninguém. Apenas quero

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ter o poder de decidir o que fazer da minha vida.

— Soledade... — com um gesto de mão, Sol


o calou.

— Está decidido, amanhã levo os meus

pertences para a casa da minha mãe. Agora vou me


recolher, senhor. — Com uma reverência, ela
começou a caminhar para a saída.

— Volte aqui, Soledade, não terminamos


nossa conversa.

— Lamento, meu senhor, mas não tenho mais


nada a falar.

Praticamente correndo, Sol deixou para trás,


um Padilha nervoso e prestes a cometer a loucura

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de interceptá-la e trancá-la na torre do palácio. Se


Pedragon voltasse e encontrasse a filha de Inês
tomando conta do bordel, certamente colocaria a
cabeça dele nas mãos do carrasco.

— Por Cristo, senhor Padilha. Como essa


jovem pode pensar em um absurdo desses? Ela não
pode abandonar a vida de dama para ser meretriz
— Abgail comentou, alarmada.

— Eu não vou deixá-la morar no bordel, ela

jamais vai fazer isso. Amanhã mesmo, eu vou


providenciar a viagem de volta.

— Faça isso, jamais permita que ela cometa


essa loucura.

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— Eu vou fazer a minha parte, mas necessito

que você me ajude.

— Em que posso ajudar? — Padilha engoliu


em seco ao ouvir a pergunta de Abgail. Ele estava

sem jeito para pedir o que se passava na sua cabeça.

— Pode falar senhor, eu ajudo no que for


necessário.

— Quero que vá conversar com ela e fale


sobre a dificuldade da vida de uma meretriz. — Ele

observou o rosto de Abgail ficar rosado.

—Senhor, eu não tenho intimidade para


abordar tal assunto.

— Você é mulher, saberá como fazer. Eu é

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que não posso contar todas as consequências, que o


tipo de vida que ela quer levar, pode lhe trazer.

— Eu posso falar sobre a intimidade de um


casal, não sobre o que acontece em um prostíbulo.

Sou uma mulher cristã e nunca entrei em um lugar


profano como o bordel de Inês.

— Abgail, eu não quis dizer que sabe sobre a


vida de prostituta, apenas quero que fale que não é
fácil o momento íntimo se for com um estranho.

— Entendo. — Com timidez, Abgail olhou


para o chão. — Vou falar com ela imediatamente.

— Faça isso, não quero ter mais problemas.


Se Pedragon chegar, e essa menina estiver na casa

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da mãe, eu perderei o meu pescoço.

— Por Deus, não diga isso, senhor!

— É a verdade, agora vá! Converse com


Soledade e me ajude.

Abgail acenou e seguiu para o quarto, onde


Soledade repousava. Ela faria de tudo para que a
moça fosse embora. Ela era doce demais para se
perder em um mundo que só trazia tristeza.

— Eu entendo a sua preocupação, mas já


tomei a minha decisão. — Soledade gostava de
Abgail, mas não cederia a seu pedido.

— Senhorita, eu acredito que não tenha


noção do que é a vida em um bordel.
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— Você tem? — A pergunta dela pegou

Abgail de surpresa.

— Eu não tenho, mas sei como é difícil


satisfazer um homem. Pelo que sei, a senhorita está

prometida e acredito que ainda seja pura. — Os


olhos de Sol desabaram para o chão. — Se resolver
viver no bordel, terá que ver e ouvir coisas que
jamais imaginou existir. Os homens em ambientes
como o que quer morar, não são comedidos como

nas vilas ou nos corredores de palácios como este.


Nos bordéis, os homens são eles mesmos e dão
vazão aos seus desejos. — Agora foi a vez de
Abgail olhar para o chão, constrangida. — Lá,
Soledade, eles fazem coisas que jamais poderiam

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praticar com suas esposas. Pode apostar que não vai


querer ver ou ouvir nada.

— O que eles fazem? — Soledade perguntou


em um sussurro.

— Jamais falaria, até por que, eu só sei o que


se comentam pelos cantos. Nunca fui a um lugar
como o bordel de sua mãe.

— Não quero ser uma meretriz, Abgail,


apenas quero ser dona de mim. Quando penso que

terei que casar sem amar o meu marido, eu sinto


vontade de morrer.

— Pare de falar bobagens, você vai aprender


a ter carinho por ele.

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— E se eu não tiver? O marido da tia Ana

Luz, batia nela e a machucava quando ficavam


juntos — Soledade confessou. — Ele tentou passar
a mão em mim quando eu ainda era uma criança,

mas meu primo viu e contou para a tia. Aí, ela me


mandou ficar por uns tempos aos cuidados de uma
prima. Só voltei para a casa dela depois que ele
morreu.

— Meu Deus, que tristeza. — Abgail abraçou

Soledade. — Lamento por isso, menina.

— Nunca me esqueço das mãos grossas


dele... Eu senti tanto nojo.

— Eu imagino. — Abgail se consternou ao

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ver as lágrimas de Sol. — Quantos anos você tem,


querida?

— Tenho dezenove, minha tia Acácia diz que


estou velha. O nobre que vai se casar comigo está

guerreando nas cruzadas, por isso ainda não casei.


— Soledade apertou os olhos, irritada. — Que
Deus me perdoe, mas queria que ele morresse por
lá. Assim, eu ficaria livre e talvez morresse
sozinha.

— Não diga uma atrocidade dessas.

— Por que, Abgail? Se ele morrer, irá para o


céu, afinal, estará defendendo os interesses de
Deus.

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— Ainda que ele vá para o céu, não é certo

desejar a morte de alguém.

— Não quero me casar — Sol disse com a


voz chorosa.

— Já parou para pensar que pode amá-lo?


Que pode ser feliz com ele?

— Não quero pensar em nada. Eu já disse


para a minha tia que prefiro ser freira.

— És tão formosa, querida, não deveria

pensar em passar a vida sozinha.

— Mas prefiro a solidão de um convento a


ter que permitir que um homem me toque.

— Então volte e diga que deseja servir ao

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senhor.

— Minha tia já disse que não irá permitir, por


isso vou ficar aqui e cuidar das meninas como
minha mãe fazia. Como dona do bordel, eu não

serei obrigada a me deitar com ninguém. Tenho a


herança da minha mãe, posso passar a vida com
extremo conforto.

— Nada é tão simples assim — O desespero


de Soledade para não se casar, consternou o

coração de Abgail. — Pense no que falei; sua vida


junto às meninas também não será fácil.

— Tudo bem, eu vou pensar. — Abgail


beijou a testa de Sol e sentiu uma conexão profunda

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com ela.

Assim como Inês, ela tinha uma força


extrema, seus olhos eram expressivos e cheios de
vida. Não era por menos que Padilha estava

encantado com ela. Abgail já havia percebido os


olhares furtivos dele para Soledade, por isso essa
extrema preocupação quanto ao futuro da moça.

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Capítulo 6

Soledade se esgueirou pelos corredores do


palácio carregando poucos pertences. Depois da
discussão intensa que tivera com Padilha, ela
percebeu que se não fugisse, seria obrigada a
retornar para sua cidade à força.

O abade quase a arrastou para o cavalo


quando soube das suas intenções. Ele blasfemou, e
gritou uma série de barbaridades, nos quais um
religioso jamais deveria dizer.

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Sabendo que o seu futuro seria o que tanto

temia caso fizesse as vontades de Padilha e do


abade, a jovem tomou a decisão de fugir para a casa
da mãe durante a madrugada.

A partir do momento em que colocasse os pés


na casa, sozinha, ela estaria desonrada e ninguém
iria querer ficar com ela. O abade, certamente iria
embora sozinho e diria a sua família que ela se
perdeu tal como a sua mãe.

Por mais que ela pensasse na decepção que


daria para sua família, não queria seguir o destino
que presenciou em muitos casamentos arranjados.

O desejo de Sol era viver uma vida sozinha e

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sem a preocupação de agradar alguém e parir todos


os anos. Ela se manteria casta, jamais se entregaria
a um homem, porém se para ser livre precisasse se
fingir de mulher da vida, ela desempenharia esse

papel com todo o coração.

Com certa dificuldade, conseguiu pegar um


cavalo no celeiro e partiu às cegas para a casa da
mãe.

Soledade se lembrava do caminho que havia

feito durante o dia, mas à noite, com a pouca


iluminação que a lua e a pequena tocha que
carregava lhe proporcionavam, ela estava temerosa
por se perder.

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Como se os anjos estivessem lhe guiando,

conseguiu encontrar a casa no final da cidade,


depois de muito cavalgar.

Agradecendo a Deus por não deixá-la se

perder, Soledade soltou as rédeas do cavalo e se


aproximou da porta da casa. Ao fundo, ela ouviu
uma cantoria e uma confusão de vozes. Isso a fez
ficar temerosa, por isso optou por aguardar do lado
de fora até que a casa ficasse vazia.

Quando colocou o cavalo para pastar, avistou


uma pedra bem próxima da porta e seguiu para se
sentar. Mas um cavaleiro real saiu cambaleante
pela entrada da casa e a encarou.

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Ela segurou a bolsa que trazia consigo e

observou o homem. Ele parecia bem embriagado e


certo medo correu pelo seu corpo.

— Quer se divertir um pouco, menina? — ele

perguntou, sorrindo.

— Não! — Sol respondeu, balançando a


cabeça com medo. — Quero falar com
Encarnación.

— Quer trabalhar para ela? Posso testá-la

aqui mesmo. — Ele tentou tocar-lhe o cabelo, mas


Sol se esquivou do seu toque.

— Não me toque, sou filha de Madame Inês e


não permito que me desrespeite na frente da casa da

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minha mãe — A resposta dela foi com uma


autoridade que nem sabia possuir, mas quando viu
o homem dar um passo atrás, percebeu que fez a
coisa certa.

— A senhorita não deveria estar no palácio?


O senhor Padilha sabe que está aqui?

— Não sabe e nem tem que saber. Agora vá


lá dentro e chame Encarnación. Preciso falar com
ela urgentemente.

O homem acenou e entrou na casa. Segundos


depois, Encarnación apareceu, assustada e
descrente em encontrar Soledade ali.

— O que faz aqui menina? Estás louca?

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— Vim para ficar, não quero ir embora. Vou

morar aqui, a casa é minha. — Sol estufou o peito e


camuflou o medo que sentia. — Quero ir descansar
no quarto da minha mãe.

— Não pode fazer isso. Volte para o palácio


e siga a vida que sua mãe sempre quis para você.
Jamais permitirei que se perca.

— Não vou me perder, apenas quero morar


aqui. Vocês manterão o trabalho que fazem, mas eu

não farei nada.

— Perdeste o juízo. — Encarnación falou,


perplexa.

— Quero entrar agora!

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Um suspiro cansado escapou de Encarnación

e, sem alternativas, ela encaminhou Sol para a porta


dos fundos.

Em instantes, as duas estavam subindo as

escadas, enquanto deixavam para trás o burburinho


do salão principal.

— Quero que saiba que não concordo com


essa loucura. Amanhã terás que enfrentar a ira de
Padilha.

— Ele não manda em mim.

— O que pensas que estás fazendo? Já parou


para pensar nas consequências que essa sua
imprudência vai lhe causar?

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— Nada será pior do que o destino que me

aguardava em casa. — Sol sentou na cama da mãe.


— Não pude conviver com a minha mãe, mas agora
vou ficar perto dela de alguma forma.

— Que Deus tenha piedade do seu futuro —


Encarnación falou com pesar. — Preciso descer,
mas assim que todos forem embora, eu volto para
saber se necessitas de algo.

— Pode ficar tranquila, não desejo nada, pois

tudo o que queria, eu já consegui.

— Ah, menina, sua inocência terá


consequências.

Sem mais palavras, Encarnación partiu e

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deixou para trás uma Soledade esperançosa e sem


saber as armadilhas que o futuro lhe reservava.

— Maldição! — Padilha bateu com fúria na

mesa, assustando Abgail.

Quando Abgail contou que não encontrou


Soledade no quarto, ela mandou procurá-la pelos
jardins, porém foi informada por um guarda real
que a jovem tinha fugido para a casa da mãe.

Mesmo sabendo que Padilha não reagiria

bem, Abgail decidiu não ir atrás de Soledade e


contar imediatamente o que ela aprontou.

— O guarda me contou que Encarnación teve


o cuidado de esconder a sua chegada. Talvez

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ninguém saiba que ela está lá.

— Que menina arteira. Só me trouxe


problemas desde que chegou aqui.

— Ela é filha de Inês, senhor, não podia ter

atitudes sensatas.

— Por Deus, Abgail, essa garota poderia ser


imprudente nas mãos de Pedragon, não nas minhas.

— Vossa majestade não colocará sobre seus


ombros o infortúnio da jovem. Ninguém tem culpa

se ela colocou na cabeça que não quer se casar.

— E qual mulher não quer se casar? Toda


mulher saudável deseja ter uma família — Padilha
falou, confuso e viu o rosto de Abgail ficar sério.

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— O que foi? Também acha errado uma mulher se


casar?

— Claro que não, senhor — Rapidamente,


Abgail respondeu. — Mas quando se casa por amor

é diferente do que ser prometida para alguém. Esse


é o problema de Soledade, ela tem medo de não
gostar de quem vai se casar com ela — Como não
queria abrir os segredos de Sol, Abgail decidiu não
contar que ela quase sofreu um estupro pelas mãos

do tio.

— É melhor se casar prometida do que viver


uma vida seca. — Padilha falou, irritado. — Mande
selar o meu cavalo, vou buscar aquela arteira.

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— Tenha calma com ela, senhor.

— Perdi a calma faz tempo, Abgail.

Soledade sorriu com a história que ouviu de

uma das meninas; sempre que elas falavam sobre


sua mãe, ela sentia como se aproximasse um pouco
mais dela.

— É tão bom saber que minha mãe era uma


pessoa querida. Meu maior desejo era poder ter tido
a oportunidade de conviver com ela.

Um burburinho interrompeu a conversa e


quando Soledade olhou para o grande salão da casa,
viu Padilha romper pela porta, irado.

Encarnación apareceu na frente dele, mas de


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longe, Soledade viu Padilha gesticular com as


mãos, irritado e, em seguida, ele correu os olhos até
que a encontrou.

— O que pensa que estais fazendo? —

Padilha berrou enquanto caminhava na direção de


Soledade. — Pegue suas coisas e venha comigo.

— Não vou! — Sol respondeu com


segurança. — Ninguém me tira daqui.

— Eu tiro. — Padilha segurou o braço dela e

tentou levantá-la.

— Me solta. — Se esquivando de Padilha,


Soledade levantou e se refugiou atrás da mesa. —
Não volto nem para o palácio, muito menos para a

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minha casa. Agora moro aqui e só sairei desse lugar


quando Deus me chamar.

— Por que está sendo tão intransigente?


Pegue a sua herança e vá ser feliz como qualquer

menina da sua idade. Pare de ser teimosa.

— Senhor, eu quero ser feliz onde meu


coração mandar e ele exige que eu fique aqui.

Sem deixar de encarar os olhos de Padilha,


ela expressou de maneira clara o que estava

sentindo.

— Se eu soubesse que me traria tantos


problemas, teria pedido ao rei para levar
pessoalmente sua herança. — Padilha decidiu ser

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tão sincero quanto ela. — Encarnación! — ele


gritou o nome da mulher, que agora tomava conta
do bordel.

— Estou aqui, senhor!

— Vou deixar um guarda de prontidão para


garantir a honra de Soledade. Não permita que ela
fique perambulando pelo salão, nem que seja vista
pela cidade. Para todos os efeitos, ela está no
palácio. Irei me certificar de abafar os boatos de

que ela está aqui. Pedragon irá regressar em poucos


dias e tomará a dianteira sobre a rebeldia da jovem.

— Não se preocupe com ela, estará segura.

— Se ainda não percebeu, Padilha, eu estou

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aqui. Como se atreve a falar de mim como se eu


fosse um objeto, no qual precisa zelar?

— Perdoe o insulto de Soledade, ela está


nervosa.

— Não estou nervosa, Encarnación —


Imediatamente, Soledade protestou.

— Só não vou te arrastar daqui, porque quero


dar o prazer ao meu rei, de ver que Inês deixou uma
cópia dela pelo mundo. Mas quando ele chegar,

você verá que tudo será diferente.

Evitando seguir o desejo de jogá-la nos


ombros e levá-la embora a força, Padilha deixou
esse prazer para Pedragon, certamente, o rei iria

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adorar o desafio de domar a filha de Inês. Assim


que ele chegasse, Soledade não teria chances. Em
poucas horas, ela estaria de volta à casa da sua
família.

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Capítulo 7

Pedragon jogou o corpo sobre a cama e


fechou os olhos. Depois de ter passado tanto tempo
longe do seu reino, finalmente estava em seu
domínio.

Ele não podia negar que gostava de festas,

mas a diplomacia atrapalhava tudo. Os conflitos


que pareciam nunca ter fim, era o motor das
conversas entre os mais altos membros da corte.

Por hora, ele estava em seu território, e iria

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aproveitar os dias de paz, mas em breve sabia que


as conquistas o chamariam. O que o forçaria a ter
um período desgastante de batalhas.

— Majestade, eu atrapalho? — A presença de

Padilha, dispersou os pensamentos do rei.

— Você sabe que jamais atrapalha. —


Pedragon pulou da cama, e caminhou na direção do
amigo. — Não quero mais chegar e encontrá-lo se
divertindo. — Com um abraço o rei saldou seu fiel

cavaleiro.

— Quem me dera que estivesse me


divertindo. Ensinar aos jovens os movimentos com
a espada não é uma tarefa agradável. — Padilha fez

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uma careta.

— Infelizmente, temos que passar por


momentos ruins antes de alcançarmos a vitória.

— Eu sei disso, meu rei.

— Venha, vamos nos sentar. Quero saber


tudo o que aconteceu durante o tempo em que
estive fora.

Um arrepio correu pelo corpo de Padilha com


o pedido do monarca. Quando descobrisse que

Soledade se negou a ir embora, o rei se encheria de


fúria.

— Tivemos algum problema? Como anda a


situação de Arabas? Os mulçumanos ainda estão

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tentando nos tomar a cidade?

— Depois da derrota do Emir, eles


entenderam que não vamos permitir o avanço deles.

— Muito bom. — Pedragon, apoiou o

cotovelo no braço da cadeira e colocou o indicador


no meio dos lábios. — Não quero entrar em outro
conflito agora, pois preciso repor nosso armamento.
Sem contar que os gastos para afugentar o Emir
foram imensos.

— Acredito que todos nós merecemos


descansar; nossa última batalha foi desgastante. —
Padilha viu o rei concordar com um aceno positivo.
— Mas lamento informar que temos um conflito

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complicado nas terras do reino. — Agora o


semblante de tranquilidade de Pedragon,
desapareceu como mágica.

— Conflito dentro do meu reino? Quem se

atreve a me desafiar assim? — A maneira como o


rei falou fez Padilha reprimir um sorriso.

Assim que descobrisse que o conflito usava


saias e era tão bonita como uma noite estrelada,
Pedragon se irritaria ainda mais. Soledade era um

grande problema, que Padilha se sentiria feliz em


resolver, caso pudesse tomá-la para si.

— Diga logo, Padilha! Odeio suspense. —


Pedragon se levantou já se preparando para

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confrontar o infeliz que ousava desestabilizar a paz,


no qual tanto se orgulhava em manter no seu
território.

— Calma, majestade, não se altere tanto.

— Não me alterar? Como tem coragem de


dizer isso ao seu soberano quando me informa que
alguém tenta perturbar a ordem?

— Meu senhor, eu disse conflito, não


perturbação da ordem — Por um segundo, Padilha

repensou sobre o que falou e acabou por ficar em


dúvida se Soledade perturbava a ordem.

— Por Cristo, homem, abre essa boca ou


quem estará em maus lençóis será você.

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— É a filha de Inês, senhor, ela é bem pior do

que a mãe. —Pedragon enrugou a testa sem


entender o que ele estava dizendo.

— O que a filha de Inês tem a ver com o

conflito no meu reino?

— Ela é o conflito.

A risada do rei ressoou por todo o quarto. Ele


encarou o amigo com vontade de chamá-lo para um
duelo apenas por tê-lo preocupado sem

necessidade. Jamais uma menina seria um conflito


para o seu reino, Padilha certamente estava
querendo fazer uma brincadeira, no qual não cabia
a um homem que era o braço direito do rei.

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— Meu amigo, agradeça a Deus por eu estar

feliz hoje, caso contrário, iríamos para a sala de


treinamentos agora. Essa sua brincadeira não foi
nada apreciada pelo seu rei.

— Não estou brincando, senhor. Soledade é


incontrolável, ela está me levando à loucura em
todos os sentidos. A jovem se negou a ir embora; o
abade, que veio na companhia dela partiu para
contar para a família o que ela aprontou. Enquanto

isso, eu estou tentando a todo custo manter a honra


dela.

— Continuo sem entender nada. Por que você


tem que manter a honra dela?

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— Ela está no bordel da mãe.

Pedragon olhou para seu cavaleiro, perplexo.


Instintivamente, ele buscou a cadeira, onde a pouco
estava sentado, e desabou sobre ela. Agora, o

“conflito” fazia sentido, eles realmente estavam


com um problema delicado nas mãos.

— Como permitiu que uma garota fosse parar


no bordel? Você tinha a obrigação de zelar por ela.

— Eu zelei, senhor, mas ela fugiu do palácio

durante a noite sem que eu soubesse.

— Por que essa menina teve uma ideia tão


infeliz?

— Ela quer ser livre — Padilha reproduziu a

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justificativa dela. — Está prometida a um nobre e


se nega a casar. — Pedragon apertou os dedos nas
têmporas.

— Definitivamente é filha de Inês.

— É igual a ela na beleza e na coragem.


Confesso que não fui muito incisivo com ela para
dar a oportunidade de vossa majestade ver de perto
sua petulância. Ela é admirável na defesa do que
deseja. Muito parecida com a mãe, porém não tem

a mesma prudência.

— Inês me deixou mais um desafio para


enfrentar. — Pedragon sorriu. — Mesmo não
estando aqui, ela consegue me manter entretido.

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— O que deseja que eu faça com ela?

— Por enquanto nada. Estou cansado agora.


Neste momento, eu preciso apenas de um bom
jantar e cama. Amanhã farei uma visita surpresa à

jovem e resolverei sua insolência.

— Não seria mais apropriado se eu a


trouxesse ao seu encontro?

— Não será necessário. Eu quero ir até ela e


depois iremos caçar. Estou com saudades de uma

aventura.

— Seu desejo é uma ordem majestade.


Estarei à espera para levá-lo até lá — Internamente,
Padilha desejou boa sorte ao monarca, pois

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duvidava que ele conseguisse controlar Soledade


com apenas uma visita.

— Obrigado, amigo, agora mande servir meu


jantar. Quero descansar o quanto antes.

— Peço licença, majestade.

— Pode se retirar. — Pedragon dispensou


Padilha com um gesto de mão e caminhou até a
janela.

Amanhã conheceria a filha de Inês e daria um

jeito nela. A jovem poderia ter desafiado seu servo,


porém não se atreveria a rebater uma ordem do rei.
Ela voltaria para casa e teria o enlace, ao qual havia
sido prometida.

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Capítulo 8

O olhar atento de Abgail acompanhou o rei


enquanto ele vestia as botas de montar. Ele havia
tomado o desjejum mais rápido do que de costume
e estava calado demais.

— O senhor está bem? — Com cuidado, ela o

interrogou.

— E por que não estaria? — Pedragon


levantou e encarou Abgail.

— Desculpe, majestade, mas achei o senhor

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muito quieto, normalmente gosta de conversar


enquanto toma o desjejum.

— Estou bem. — Ele esperou o camareiro


vestir seu sobretudo.— Onde está Padilha? Pedi

que estivesse aqui cedo.

— Acabei de chegar, majestade. — Padilha


apareceu na porta dos aposentos reais e reverenciou
o seu soberano.

— Por onde estava?

— Eu decidi conferir sua montaria.

— Perfeito. — Pedragon dispensou o


camareiro e vestiu pessoalmente suas luvas. —
Então vamos, quero chegar o mais cedo possível.

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— Provavelmente a encontraremos

dormindo, majestade.

— Melhor ainda. — Ele queria pegar a jovem


arteira, desprevenida.

— O senhor vai convencer Soledade a partir?


— Abgail se atreveu a perguntar.

— Convencer? — o rei perguntou, ofendido.


— Desde quando convenço alguém a algo, Abgail?
— ele a encarou, irritado. — Irei ordenar que parta

o quanto antes, não admitirei insolência nos meus


domínios. — Abgail olhou apreensiva para Padilha.

— Soledade é uma menina difícil, majestade,


bem pior do que a mãe. — Abgail tentou mostrar

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que a missão do rei não seria simples.

— Não será difícil para mim.

Encerrando a conversa, Pedragon se


precipitou pelo corredor e seguiu para as portas do

palácio. Ele iria resolver rapidamente o problema


de Soledade e, em seguida, teria uma reunião com o
Cardeal e o conselheiro real sobre as providências
para neutralizar o Emir.

Como Padilha já havia alertado, o cavalo do

rei estava pronto. Com destreza, Pedragon montou


nele e partiu para o bordel. Desde que Inês faleceu,
ele não voltou lá. A memória dos momentos felizes
que passou com a amiga ainda o perturbava, mas

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agora, ele teria que deixar as lembranças de lado


para fazer a filha de Inês partir.

Desfilando por entre seu povo, Pedragon


acenou para todos que o cumprimentavam. Ele

gostava de interagir com seus súditos, isso não só o


aproximava deles, como estreitava os laços de
fidelidade.

Em caso de guerra, o monarca tinha certeza


de que poderia contar com cada um deles para

defender Barilla.

Sem maiores problemas, Pedragon alcançou


o bordel de madame Inês. Auxiliado por um dos
seus servos, o rei desmontou e seguiu para a

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entrada.

Como não poderia ser diferente, a porta se


abriu rapidamente e Encarnación apareceu para
recepcioná-lo.

— Majestade, que alegria tê-lo aqui tão cedo.


— Ela reverenciou o soberano como deveria ser.

— Gostaria de dizer que estou feliz, mas não


me alegra voltar aqui sabendo que Inês não se
encontra. — Pedragon foi sincero. — Muito menos

fico feliz em vir aqui por causa de um capricho.

— Entendo, senhor — Encarnación não


soube o que responder. Claramente, o rei estava
aborrecido e ela não desejava ser o centro da sua

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raiva.

— Onde está a filha de Inês? Quero vê-la.

— Senhorita Soledade ainda se encontra


dormindo.

— Acorde-a! Diga que o rei a espera.

Expressando grande irritação, Pedragon


entrou no bordel contendo a dor imensa, no qual
sentia por saber que a sua amiga já não estava ali.
Aquele lugar era sua fonte de diversão, sempre

vinha à noite para se divertir com seus cavaleiros.


Mas agora, tudo havia perdido a graça.

— Deseja algo enquanto espera? —


Encarnación perguntou após pedir que uma das

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meninas chamasse Soledade.

— Não, mas veja se meus homens necessitam


de algo.

— Verei agora, senhor. — Ela abaixou a

cabeça e se retirou.

— Majestade, não desconte a sua ira na pobre


Encarnación.

— Padilha, não me diga o que fazer. —


Pedragon respondeu, exasperado. — Se soubesse

controlar a jovem, eu não estaria aqui. Então, cale-


se!

Padilha respirou fundo e baixou os olhos.


Sempre que recebia uma repreensão do rei na frente

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de seus subordinados, ele se sentia impotente.

Internamente, ele xingou Soledade por ser tão


teimosa. E também se recriminou por não ter sido
duro com ela. Se houvesse outro problema com

uma dama, não se deixaria levar pela beleza.

Agora que o desastre tinha sido realizado,


Padilha não podia reclamar. Teria que aguentar
firme o mau humor do rei e torcer para que
Soledade também não fosse petulante com ele.

— O que o rei quer comigo? — Soledade


perguntou, enquanto Lina a ajudava a fechar o
vestido.

— Ele deve ter vindo te conhecer. O rei

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Pedragon era amigo da sua mãe, então certamente


está curioso para saber como você é.

— Pela cara dele está irritado, duvido que


tenha vindo apenas para ver a Soledade. —

Armênia respondeu rapidamente.

— Ele está irritado comigo? — Sol


perguntou já se preparando para enfrentá-lo.

— Muito — Armênia respondeu. — E isso o


deixa ainda mais lindo. — Ela colocou uma mão

sobre o peito. — Como queria que o rei me


escolhesse para passar a noite com ele. Nunca vi
homem mais bonito que vossa majestade.

— O rei tem suas escolhidas, Armênia, se

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comporte e quem sabe um dia será eleita para dar


prazer ao nosso soberano.

Soledade acompanhou com interesse a


conversa das meninas. Elas falavam sobre a

fornicação com extrema tranquilidade. Ao mesmo


tempo em que era assustador esse tipo de conversa,
também era engraçado.

Ela nunca tinha ouvido assuntos tão abertos


sobre relações íntimas, como estava ouvindo desde

que foi morar no bordel. A realidade que encontrou


junto às garotas era completamente oposta ao que
vivia com a tia.

— Pronto, Sol! Agora está linda para

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encontrar o rei — Lina falou, sorrindo.

— Não quero estar linda, pouco me importo


com o rei. Apenas quero ficar livre dele logo. —
Sol saiu do quarto e caminhou para o salão.

Ela sabia que teria problemas, mas manteria


sua posição de ficar na casa da mãe. Nem mesmo o
rei a faria voltar atrás na sua escolha.

Respirando fundo, Sol começou a descer as


escadas. Certo nervosismo passou por ela, nunca

havia estado na presença de um rei. Seria a


primeira vez que enfrentaria, pessoalmente, uma
figura real.

A demora da filha de Inês em aparecer fez a

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inquietação de Pedragon aumentar. Quando ele


estava prestes a pedir que um de seus homens fosse
buscá-la, viu um frondoso vestido despontar no seu
campo de visão.

Com interesse, o rei observou uma bela


jovem descer vagarosamente as escadas. Sem que
precisassem avisá-lo, soube que ela era a filha de
Inês.

A jovem era ainda mais bonita do que a mãe

e tinha um cabelo castanho brilhoso que mesmo


preso, alcançava até a altura da cintura. A pele dela
era clara e parecia ser bem macia.

Pedragon se manteve onde estava e esperou

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ela se aproximar para conferir de perto a cor dos


seus olhos. Desejava ver se tinha os mesmos olhos
verdes escuros da mãe.

Desde o momento em que saiu do quarto, Sol

estava segura do que faria, mas quando observou o


homem sentado no canto do salão, perdeu todo o
controle.

De fato o rei era lindo, ela jamais tinha


encontrado alguém com uma beleza tão perfeita e

viril. Certo nervosismo a dominou e ficou sem


saber para onde olhar quando ele a encarou com
interesse.

O olhar penetrante do monarca quase fez com

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que ela tropeçasse na barra do vestido, mas Sol se


recuperou e parou na frente dele.

O rei Pedragon tinha uma barba espessa,


cabelo castanho claro e olhos azuis atentos. Os

lábios dele estavam travados em uma linha fina,


indicando que estava irritado.

Soledade ficou parada sem saber como agir,


apenas esperou o exame minucioso que ele estava
fazendo sobre a sua figura.

— Curve-se ao seu rei — Ao longe, ela ouviu


a voz de Padilha e só neste momento, percebeu que
ele estava na sala. — Reverencie seu soberano,
senhorita Cantillano.

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Como se estivesse saindo de um transe, Sol

fez a reverência que aprendeu desde pequena e


esperou a ordem do rei para voltar a se erguer.

— Pode levantar — De uma maneira

estranha, a voz de trovão dele arrepiou todo o seu


corpo.

— Majestade, esta é Soledade Cantillano,


filha de Inês Cantillano. — Padilha fez a
apresentação formal.

— Sente-se ali, senhorita. — Pedragon


indicou a cadeira, no qual pediu que colocassem a
sua frente.

Ele esperava encontrar uma jovem bonita,

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mas nem os elogios de Padilha lhe prepararam para


uma beleza estonteante que tinha diante de si.
Soledade Cantillano era perturbadoramente bela.

As maçãs do rosto dela eram proeminentes e

seus olhos tinham o mesmo tom da mãe. Mas o


atrevimento que existia neles era mais intenso do
que os olhos de Inês. Soledade era destemida de
uma maneira perigosa e, certamente lhe traria
problemas.

— É uma imensa satisfação conhecer a filha


de Inês. — Pedragon disse tentando conter a
inesperada onda de desejo que varria o seu corpo.

— Obrigada, majestade — A voz de

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Soledade saiu mais instável do que ela gostaria.

— Uma pena que nosso encontro seja por


causa de uma situação tão delicada — Apesar de se
sentir mexido com a presença dela, Pedragon não

podia negligenciar o objetivo, pelo qual estava ali.

— Lamento incomodá-lo, senhor — Sol


respondeu com a solenidade que o momento exigia.

— Lamenta mesmo? — Pedragon perguntou


sem tirar os olhos dela.

Soledade olhou para o rei e, em seguida,


buscou por Padilha. Ela queria dizer que não
lamentava nada, mas não tinha certeza se era
apropriado revelar o que sentia para um rei.

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Como esperado, Padilha fez um gesto

discreto de cabeça para que ela não falasse nada e,


para evitar um confronto, Sol se calou. Por hora,
ela seria educada, mas se por acaso ele tentasse

mandá-la ir embora, o enfrentaria.

— Claro que lamento, majestade. — Ela


ergueu os olhos e perdeu o ar quando percebeu a
intensidade, no qual o rei a encarava.

— Nos deixem a sós — Pedragon ordenou,

sem se dar o trabalho de olhar para quem estivesse


a sua volta.

— Majestade, seria mais...

— Não vou repetir a minha ordem — O

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rosnado do rei fez Padilha se calar.

Com um gesto firme de mão, o cavaleiro


dispensou todos ao redor e foi aguardar o rei na
sala ao lado, acompanhado de Encarnación.

O silêncio caiu sobre a sala de maneira


desconfortável. Soledade se remexeu na cadeira
sem saber o que fazer.

A alternativa mais plausível que encontrou


foi encarar as próprias mãos. Como ele era o

soberano, deixaria ao seu encargo conduzir a


conversa. Apenas abriria a boca para dizer que
jamais voltaria para casa.

— Estou aqui me perguntando como algo tão

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bonito e delicado pode ter causado grandes


problemas ao meu fiel cavaleiro real — Pedragon,
questionou Soledade com bom humor.

— Não sou algo, me chamo Soledade. — Os

olhos de Sol esqueceram o interesse nas mãos e


encararam o rei.

A audácia dela deixou o Pedragon perplexo.


Nunca uma pessoa o insultou tanto como ela estava
fazendo naquele momento. O certo seria puni-la

por rebater ironicamente o comentário real.

— Quem ensinou bons modos à senhorita?


— A pergunta dele, não fez sentido para Sol.

— Quer saber da minha educação?

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— Responda ao que perguntei — Apesar de

estar tentando ser tolerante, Pedragon percebeu que


sua paciência começou a esvair.

— Minha tia Luz me ensinou tudo o que sei

— A contragosto, ela respondeu.

— Então espero que ela tenha lhe ensinado a


tratar o seu rei com reverência e sem ironias — A
voz de Pedragon foi firme, para mostrar que quem
mandava na conversa era ele.

— Perdão senhor — Com dificuldade,


Soledade se desculpou.

— Por que se recusou a voltar com o abade?

— Não quero voltar para minha vida antiga.

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— Por quê?

— Tenho os meus motivos.

— Novamente digo que não vou repetir a


minha pergunta — Pedragon falou baixo.

Com irritação, Soledade respirou fundo, ela


definitivamente não tinha sido criada para lidar
com a realeza. Toda essa cerimônia para falar com
um homem não estava sendo do seu agrado.

— Quero viver como acho certo, e não vou

me casar com um nobre que não conheço, porque a


minha família quer. Irei assumir o lugar da minha
mãe e cuidar das meninas.

— Compreendo.

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O rei gostou da maneira que ela se expressou.

Soledade era forte, sabia o que queria e defendia


suas ideias com extrema paixão. Igualmente a sua
mãe, apenas não era sensata como Inês.

— E acredita que viver em um bordel será


uma maneira eficiente de ser livre?

— Acredito.

— Muito bem. — Pedragon bateu


sucessivamente o indicador sobre o lábio inferior

enquanto estudava Soledade.

Se ela não fosse filha da sua grande amiga,


faria dela sua cortesã. Já que ela queria ser livre,
poderia tranquilamente servir ao rei de uma

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maneira prazerosa, sem ter que assumir um


matrimônio. Mas como Soledade representava a
lembrança de alguém tão importante, Pedragon iria
dar o destino que Inês tanto sonhou para a filha.

— Sua mãe abdicou de conviver com você,


porque não queria que tivesse a mesma vida que
ela. Sempre pensou em você desde o dia em que te
deixou. Todas às vezes em que conversávamos, ela
deixava escapar que sentia muito a sua ausência.

Um dia, ela me fez prometer que quando faltasse,


eu iria encontrá-la para lhe entregar toda a fortuna
que acumulou ao longo da vida.

A emoção que surgiu nos olhos de Soledade


fez com que o rei amenizasse a sua fúria. Mesmo
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estando insatisfeito com as atitudes da jovem, ele


compreendia que a vida dela não havia sido nada
fácil.

— Sua mãe teve você em um parto difícil, ela

quase morreu. Desde então, nunca mais conseguiu


gerar outra vida. Ela engravidou algumas vezes,
mas perdeu todos os bebês nos primeiros meses.
Isso a fez se apegar a você de uma maneira forte,
mesmo não podendo te ter por perto; vivia para um

dia presenteá-la com uma boa herança. Inês foi uma


mulher forte, bondosa e sensata. Devo muito a ela
e, independentemente do que você deseja, eu vou
cumprir a promessa que um dia fiz a Inês.

— O que significa cumprir a promessa que


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fez? — A maneira que ele falou sobre a sua mãe


deixou Soledade entristecida. Ela daria tudo para
ter convivido com Inês.

— Você vai embora daqui, jamais deixarei

que se torne uma mulher da vida. Você se casará,


ainda que eu escolha pessoalmente o seu marido —
Pedragon sentenciou rapidamente o destino que
daria a Sol.

— Nunca sairei daqui! — Sol se ergueu e

esqueceu toda solenidade, no qual deveria tratar o


soberano. — Estou na minha casa e daqui apenas
Deus me tira. — Um sorriso discreto se precipitou
nos lábios do rei.

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— Minha jovem, eu sou Deus na terra, foi ele

que me concedeu a honra de guiar os homens nessa


vida de tantas amarguras. Portanto, você irá embora
comigo, agora!

Soledade olhou para o rei em pânico, ela não


queria ir embora, mas ao mesmo tempo, sabia que
ele possuía os meios para forçá-la a ir.

— Majestade, me deixe aqui, não quero


partir. Estou feliz com as meninas como nunca

estive antes.

— Padilha! — O rei gritou pelo fiel cavaleiro


e imediatamente o cavaleiro se aproximou.

— Pois não, majestade.

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— A senhorita Cantillano está indo para o

palácio.

— Não vou para palácio algum — Soledade


desafiou a ordem real.

— Leve-a para o cavalo agora, se necessário


amarre mãos e pés. — Pedragon levantou e chamou
um dos guardas para pegar seu sobretudo. — E se
ela reclamar muito pode amordaçar.

— O quê? Como se atreve a querer me

amarrar? Não sou uma cabra.

— Antes fosse, pois me daria menos trabalho


— O rei respondeu, sorrindo.

Pedragon virou-se para sair e viu

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Encarnación olhá-lo, nervosa.

— Encarnación, depois enviarei um servo


para pegar os pertences da senhorita Cantillano.

— Majestade, vós não iria caçar? — Padilha

perguntou quando viu seu soberano caminhar para


a porta.

— Acabei de abater a minha presa, Padilha.


— Com um rápido olhar para Soledade, o rei saiu
do bordel sorrindo e sentindo-se revigorado pelo

surpreendente embate que teve com a jovem


rebelde.

Além de linda, ela era atrevida. Isso deveria


irritá-lo profundamente, mas, infelizmente,

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Pedragon estava encantado pela jovem e ansioso


para ver o que ela aprontaria quando chegasse ao
palácio.

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Capítulo 9

Soledade lutou bravamente para não ir


embora, mas quando Padilha pediu as cordas para
amarrá-la, ela cedeu e aceitou acompanhá-lo. Pois
se era para ela voltar ao palácio, que ao menos
voltasse com dignidade.

Durante o caminho, ela foi se enchendo de


fúria com a calma e satisfação que o rei exibia por
tê-la resgatado. Por várias vezes, a jovem olhou
para a espada de Padilha e teve vontade de pegá-la

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para cortar a cabeça do exibido monarca.

Mas ela sabia que se fizesse isso, teria uma


morte lenta nas mãos do carrasco. Sem contar que
seria um desperdício matar alguém tão bonito.

Ela podia estar odiando Pedragon neste


momento, mas não iria negar que ele era o homem
mais bonito que já havia visto de perto.

— Não afronte mais o rei, ele sabe o que faz


e deve ter sempre a última palavra — Padilha falou,

rente ao ouvido de Soledade.

— Eu apenas desejo cortar a cabeça do seu


rei — Soledade respondeu em um sussurro.

— Por Deus, mulher, jamais repita isso. —

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Padilha parou o cavalo e fez Soledade olhá-lo. — O


rei é um enviado de Deus, não podemos desejar
mal a ele. É um pecado contra o nosso criador.

— Não vou fingir que estou bem com o rei

quando apenas desejo que ele caia do cavalo e vá


encontrar o criador. — Padilha arregalou os olhos e
procurou o rei para saber se tudo estava bem.

— A senhorita precisa controlar esse


temperamento, se alguém ouvir tantos absurdos,

terá sérios problemas.

— Então pare de falar comigo e me irritar


ainda mais.

— Algum problema? — Pedragon perguntou

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quando um dos seus vassalos avisou que Padilha


estava parado e conversando com Soledade.

— Nenhum, majestade. — Padilha voltou a


cavalgar.

Por um tempo fizeram o caminho em


silêncio, porém quando entraram na rua principal
de Barilla, uma intensa saudação ao rei se iniciou.

A maneira sorridente com a qual as pessoas


acenavam para o rei, demonstrava o quanto ele era

querido por seus súditos. Soledade acompanhou


com interesse, enquanto Pedragon acenava para o
seu povo e algumas vezes, ela o viu parar para
cumprimentar crianças, que se espremiam para vê-

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lo.

— Vê como nosso rei é amado? Pedragon


trouxe paz para esse povo, castigado por guerras e
fome. Cada um que está aqui daria a vida por ele.

Vossa majestade sabe ser justo e sempre busca o


bem para todos. Você deveria estar feliz por ele ter
se importado em te buscar pessoalmente.

— Senhor, eu sei da sua devoção ao seu


soberano, mas não tente me acalmar no estado de

fúria em que me encontro.

— Não o desafie, Soledade. Seja obediente e


acate sem contestação a decisão que o rei tomar
para o seu futuro. Pedragon é um homem bom, mas

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pode ser muito cruel quando contrariado.

Soledade viu Pedragon descer do cavalo e


seguir para a entrada do palácio. A luz do sol fez o
cabelo dele brilhar e o corpo forte do rei ganhou

atenção especial por parte dela.

Pedragon era tão lindo quanto prepotente. A


beleza do rei a incomodava de uma maneira que a
jovem não sabia explicar, mas na verdade, ela
também não queria saber o motivo do incômodo.

Só sabia que de alguma maneira fugiria e, se para


viver na casa da mãe tivesse que se deitar com um
dos clientes do bordel, faria isso assim que
colocasse os pés lá.

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— O seu rei nunca irá conseguir me domar,

Padilha, ele não perde por esperar. — Soledade


falou enquanto o cavaleiro real descia do cavalo.

— Pare de rebeldia. — Padilha a recriminou

e segurou sua cintura para ajudá-la a descer. — Já


pensou que pode conseguir um pretendente no
reino? Com o poder do nosso rei, ele pode revogar
o seu casamento com o nobre, no qual foi
prometida e fazer um novo acerto.

— Qual a parte que o senhor não entendeu


quando eu disse que desejo ser livre? — A jovem
fez esse questionamento enquanto segurava os
ombros de Padilha.

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— Já pensou que pode se apaixonar e desejar

se casar? És tão bonita, poderia ter um bom


casamento. — Os olhos de Padilha percorreram o
rosto de Soledade e depois se concentraram na boca

rosada, que estava muito próxima à dele.

— Eu não... — a resposta de Soledade não se


concretizou, pois foi interrompida pela voz gutural
do rei.

— Padilha! O que está acontecendo?

— Nada, majestade. — Padilha virou-se e viu


o rosto contrariado do rei.

— Traga a senhorita Cantillano aqui — A


intensa conversa entre Soledade e seu vassalo não

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estava agradando o rei. — Leve-a para a ala leste


do palácio e a acomode no quarto dos fundos. Peça
para Abgail ver o que ela necessita e mande servir
o desjejum.

— Majestade, tem certeza de que devo levá-


la para a ala leste? — Padilha perguntou duvidoso,
pois a ala leste era reservada apenas para o rei e,
em algumas vezes, acomodava monarcas que o
visitavam.

— Está questionando minhas ordens?

— Jamais, majestade, só que...

— Continua a me questionar, Padilha? A


insolência da jovem o contaminou? Será que terei

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que me indispor com você também?

— Perdão, senhor, vou levar a senhorita para


seus aposentos.

— Ótimo — Pedragon respondeu, irritado. —

Não apronte nada, senhorita, em breve pedirei que


venha a minha presença.

Pedragon afastou os serviçais, que estavam a


sua frente, com um gesto brusco de mão e se
encaminhou para o seu gabinete. Ele se sentia

irritado por descobrir que Soledade era bonita


demais, rebelde demais e também por saber que seu
fiel cavaleiro estava interessado nela. Os elogios
que Padilha fez sobre a jovem tinham um fundo de

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interesse. Por algum motivo isso o irritava muito,


mas em compensação, esse interesse poderia ser
sua salvação.

Padilha já tinha passado da idade para casar,

assim como o próprio rei. Unir Soledade a ele


poderia ser um bom arranjo, mas no momento em
que ele pensava que seu amigo iria desfrutar de
toda a beleza dela, uma profunda inveja movia-se
dentro de Pedragon. E inveja era algo que ele nunca

sentiu por alguém.

— Maldição! — o rei esbravejou quando


entrou em seu gabinete.

Sequer tinha conhecido a filha de Inês e já

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estava perturbado com as emoções que ela havia


lhe despertado; certamente, Soledade era um
problema, mas ele teria um grande prazer em
resolvê-lo.

Assim que Abgail foi comunicada por um


serviçal que Soledade havia retornado ao palácio,
correu para saber onde ela estava. Mas no caminho
encontrou Padilha, que lhe passou as ordens do rei
e avisou que Soledade se encontrava na área leste.

A surpresa sobre a revelação da localização


da jovem não passou despercebida por Padilha,
porém Abgail não expressou nenhuma opinião,
apenas seguiu para o local onde fora informada que

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encontraria Soledade e pediu que fosse servido o


desjejum.

— Posso entrar? — Abgail bateu à porta dos


aposentos de Soledade.

— Não! — Sol gritou do outro lado, nervosa.

— É Abgail, Soledade, eu só quero saber


como está. — Rapidamente, Sol correu para a porta
e a abriu, sorrindo.

— Entre. — Ela puxou Abgail enquanto

olhava feio para o guarda que estava do lado de


fora. — Quero que me ajude a fugir e tem que ser
esta noite.

— Não acredito que vai querer fugir

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novamente.

— Claro que vou, jamais admitirei que um


desconhecido me diga o que fazer — Soledade
ainda não conseguia se conformar com a audácia

do rei em lhe trazer a força para o palácio.

— Minha querida, você deveria agradecer ao


rei por te tirar do meio da perdição. Ele fez isso,
porque sabia que sua mãe não aprovaria vê-la no
bordel.

— Abgail, eu sei o que devo ou não fazer da


minha vida.

— Você não sabe, querida, mas o rei


Pedragon tomará as atitudes certas por você.

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— Não quero que ele tome nenhuma atitude

por mim! Eu nem o conheço.

— Ele é um homem justo e gostava muito de


sua mãe. Não o enfrente, seja uma boa menina e

espere para saber o que ele decidirá.

Soledade olhou em choque para Abgail. Ela


estava sozinha para realizar o seu plano de fuga.
Ali no palácio todos seguiam cegamente as ordens
reais. Se dependesse de algum deles para fugir,

jamais conseguiria.

— Deseja alguma coisa, Soledade? Pedi que


trouxessem seu desjejum.

— Não desejo nada, eu estou bem — Sol

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respondeu, desanimada.

A vida mais uma vez não estava sendo fácil


para ela, mas em algum momento ela daria um jeito
e seguiria o caminho que já havia traçado para si

mesma.

Pedragon experimentou um pouco do vinho e


pensou nas possibilidades para o futuro de
Soledade. Ele ainda não sabia a fundo sobre o
acordo em que a família dela havia firmado com o

tal nobre, mas se ela realmente não quisesse casar


com ele, daria um jeito de usar sua influência real
para desfazer o casamento.

Não era correto esse tipo de atitude,

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principalmente, de um rei que prezava a palavra.


Mas em nome de Inês, ele contrariaria os bons
costumes e informaria ao nobre que tinha planos
para Soledade.

A imagem do rosto delicado dela tremulou na


frente do monarca, fazendo com o que os
pensamentos dele fugissem para o exato momento
em que colocou os olhos nela.

Se ele não ocupasse a posição de rei,

cortejaria Soledade e a faria sua. Ela era tão


perfeita e determinada, que seria um grande desafio
fazê-la desejá-lo. Mas ele tinha suas obrigações e
por mais que tivesse adiado o seu casamento, sua
noiva já havia feito dezenove anos, e passado do
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tempo, no qual ele prometeu que se casaria com


ela.

A angústia que o dominou acabou levando


seus pensamentos mais uma vez à Sol. Ela deveria

se sentir impotente como ele. Se casar com quem se


amava era fácil, mas com alguém que sequer
conhecia o rosto, era um verdadeiro calvário.

— Majestade, eu posso entrar?

— Entre, Aquino, o que foi?

— Temos um problema de saque na


província de Soltez. Parece que um grupo de infiéis
decidiu roubar os comerciantes da cidade.

— O que deu neles? Será que o último

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encontro que tivemos com esse povo não foi


suficiente?

— Vossa majestade sabe que não foi.


Precisamos expulsá-los de vez das nossas terras e

mandá-los para junto do seu povo de origem. Aqui


não existe mais lugar para eles, somos cristãos e
devemos lutar para propagar a fé em Cristo —
Aquino fez o discurso, no qual sempre usava para
influenciar o rei a combater os povos mulçumanos

que ainda habitavam algumas terras de Barilla.

— Essa guerra é dispendiosa, Aquino e, eu


preciso me recuperar financeiramente.

— Podemos aumentar os impostos, além

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disso, nós temos Roma. Sua Santidade sempre está


disposta a ajudar os reis que lutam pela cristandade.

— Não ouse sugerir mais uma vez a


Inquisição. Não vou jogar o meu povo nas mãos de

inquisidores.

— Se instaurasse a inquisição aqui,


poderíamos proteger ainda mais o nosso povo das
influências dos hereges.

— Veio me falar apenas isso? Se for pode ir.

Depois vou conversar com Luiz e veremos qual


caminho iremos seguir com os infiéis.

— Não foi só esse assunto que me trouxe ao


senhor.

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— Então fale.

— O rei Andreas enviou uma carta. —


Aquino se aproximou e estendeu a
correspondência, no qual o rei da Áustria enviara.

Com descontentamento, Pedragon pegou a


carta e abriu. Em uma rápida olhada, ele percebeu
que se tratava do que tanto temia. Andreas exigia o
casamento, alegando que sua filha já passara do
tempo de se casar e que estava se sentindo rejeitada

por ele.

Com raiva, Pedragon descartou a


correspondência sobre a mesa e encarou a longa
janela à sua frente. Ele teria que cumprir a

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promessa que seu pai fez, não poderia mais adiar o


casamento, mas na verdade não tinha nenhuma
vontade de seguir em frente.

— Ele está cobrando o casamento?

— Vá cuidar da sua vida. — Pedragon virou


para o Cardeal, raivoso. — Saia, Eminência, eu não
quero conversar agora.

— Majestade, o mensageiro do rei Andreas


aguarda uma reposta.

— Dê vinho a ele e um pouco de comida.


Mande o infeliz descansar e dormir. Quando eu
quiser irei enviar uma resposta, não tenho pressa, a
pressa está do lado de Andreas. Agora suma da

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minha frente.

Mesmo com o olhar furioso, Aquino


reverenciou ao rei e saiu do gabinete, irritado.
Pedragon estava perdendo o rumo nos últimos

tempos e, se por acaso ele resolvesse revogar o


casamento, um imenso transtorno diplomático iria
abalar profundamente o reino de Barilla.

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Capítulo 10

Três dias depois

Sol escutou a ladainha de Augusta e tentou


não dormir. A camareira era uma mulher educada,
atenciosa, mas falava demais. Ela parecia que tinha

compulsão por contar histórias. Cada vez que Sol


encontrava com ela, a senhora tinha uma lembrança
nova para dividir.

— Quando me casei, o reino de Barilla era


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governado pelo rei Oton. Ele era corajoso e


empreendeu muitas guerras que trouxe intenso
sofrimento ao povo, mas que foi necessário para
unificar o nosso território.

— Todos falam muito dele.

— Ele foi um herói, assim como o rei


Pedragon. Os dois são amados por nosso povo.

— Como era o rei Oton? O filho se parece


com ele?

— O rei Pedragon é viril como o pai e sabe


ser forte e intransigente como um bom governante.
Mas os olhos e o sorriso do rei são da mãe. Isabel
era muito bonita e doce. A rainha foi uma grande

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companheira para o rei e uma excelente mãe para


os filhos.

— Onde estão os irmãos do rei?

— A irmã casou-se jovem e mora com o

marido na corte de Flandres. O irmão do rei é o


príncipe de Arabas, e toma conta da província.
Recentemente vossa majestade teve que socorrer o
irmão quando os infiéis tentaram conquistar a
província.

— Então o rei mora aqui sem nenhum


familiar?

— Luiz, o conselheiro real, é seu tio. Irmão


da falecida rainha Isabel. Mas ele também tem

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alguns primos que, na verdade, não são próximos a


ele, com exceção dos filhos do conselheiro.

— Compreendo — Soledade pensou sobre


tudo o que ouviu.

— Não compreenda demais ou terá ideias


absurdas — Ambas as damas foram surpreendidas
com a chegada do rei. — Boa tarde senhora... —
Pedragon cumprimentou sua fiel serva —... e
senhorita. — Ele voltou a atenção para a

indecifrável Soledade.

Depois de três dias sendo vigiada, dia e noite,


ela estava mais calma. Ao menos na noite passada
não tentou fugir como fez nas noites anteriores.

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— Boa tarde, majestade — Augusta

respondeu, sorrindo.

— Soledade, pode me acompanhar por


alguns minutos? —Pedragon demonstrou

tranquilidade ao fazer o convite.

Com um suspiro cansado, Sol ergueu-se e


passou pelo rei. Nesses três dias em que estava
sendo prisioneira no palácio, ela não tinha tido
nenhum encontro a sós com ele, apenas se viam

durante o jantar, pois o monarca exigia a presença


dela.

Quando esbarrava com ele pelos corredores,


sempre se incomodava com a maneira como ele a

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olhava. O rei parecia lhe despir com os olhos, e as


sensações que essa cobiça causava no corpo dela,
despertava um medo profundo em seu interior.

Eles caminharam em silêncio pelos

corredores do palácio, até que o rei encaminhou Sol


para a porta que dava ao jardim. Desde que chegou
ali, ela passava muito tempo caminhando pelo
belíssimo jardim do palácio, tudo era de uma beleza
extrema e muito bem cuidado.

— O que está achando da sua estadia na


corte?

— Devo responder o que eu acho ou o que


vossa majestade quer ouvir? — Pedragon

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interrompeu os seus passos e a olhou, intrigado.

Essa era a fala habitual da mãe da jovem


quando ele queria uma opinião. Inês sempre
ironizava sobre como falar o que achava com o rei,

pois sabia que Pedragon não gostava quando ouvia


uma opinião que não o agradava.

— Do que está rindo? — Soledade


perguntou, irritada quando o rei soltou uma risada
profunda.

— De você — Pedragon respondeu e encarou


os olhos tempestuosos de Soledade. Ela era linda,
cheia de energia e com um fogo latente no olhar
que o enlouquecia.

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Desde que ela chegou, as noites de Pedragon

não foram as mesmas. Ele pensava em Soledade o


tempo inteiro e deseja fervorosamente possuir o seu
corpo. Porém, sabia que não poderia realizar os

seus desejos, uma vez que em breve, se casaria e


também porquê providenciaria um matrimônio que
satisfizesse Soledade.

— Está se divertindo as minhas custas? —


Sol rosnou esquecendo-se completamente que

estava na frente do rei.

— Não. — Pedragon se posicionou na frente


dela. — Estou apenas sorrindo, porque você disse a
resposta exata que sua mãe me dava quando eu
pedia uma opinião. Estou impressionado com a
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maneira que vocês se parecerem. Acredito que se


você tivesse sido criada por Inês, não seria tão
parecida com ela.

— Ela lhe falava desaforos? — Soledade

sentiu curiosidade para saber como era o


relacionamento da mãe com o rei.

— Inúmeros. — Pedragon soltou uma risada


triste. — Inês era a única pessoa que realmente
tinha permissão para me falar desaforos sem ir para

a forca.

— Deus, que coisa horrível. — Sol


respondeu enquanto colocava a mão sobre o
pescoço. — Vossa majestade deveria se manter

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distante de mim, pois não sei se me controlo caso


ouça algo que não me agrade vindo do senhor. Eu
não quero ir para forca.

Com interesse, Pedragon viu os olhos

amedrontados da jovem, encará-lo. Ela era atrevida


além do tolerável, porém, ele jamais mandaria algo
tão bonito para a forca.

— Você jamais iria para a forca. — Pedragon


estendeu a mão e tocou o rosto de Soledade. Nesse

momento, ele se sentia hipnotizado com a beleza da


jovem.

Soledade prendeu a respiração quando sentiu


os dedos dele acariciando sua bochecha.

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— Algo tão belo como você, apenas deveria

ficar ao alcance dos olhos para ser admirado, não ir


para a forca. — Com gentileza, Pedragon arrancou
a mão dela do pescoço e beijou os nós dos seus

dedos. — Você é ainda mais bela do que sua mãe.


— Ele sorriu ao ver o formoso rosto dela ficar
corado. — Inês era considerada a mulher mais
bonita do reino quando eu era menino. A minha
mãe a odiava por ser tão bonita. Todas as damas da
corte se ressentiam por não possuírem uma beleza

como a dela.

— Não sou mais bonita do que minha mãe —


Sol sussurrou para o rei.

— Acredite em mim quando digo que é. —


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Pedragon segurou a mão dela, fascinado com tanta


beleza. — Conheci Inês no auge da beleza, quando
encantava monarcas de todas as regiões que
visitavam Barilla. Mas você, Soledade, é

infinitamente linda. Jamais presenciei tanta beleza


de perto.

O ar sumiu dos pulmões de Soledade, e ela


não soube o que fazer quando viu o rosto do rei se
aproximar de si. Ele parecia fora da realidade,

olhava para ela com uma intensidade que homem


nenhum jamais olhou.

Sem saber o que fazer, Sol fechou os olhos.


Nunca tinha sido beijada, então não sabia como
reagir. Deixaria nas mãos do rei o controle da
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situação, ele era um homem experiente e


certamente deveria ter beijado milhares de
mulheres ao longo da vida. E, por Deus, ela queria
beijá-lo, não ia negar essa verdade a si mesma.

— Majestade! — O chamado de Padilha


interrompeu o momento e irritou Pedragon.

Virando o rosto lentamente, o rei encarou seu


fiel cavaleiro com um intenso desejo de matá-lo.
Neste momento, se pudesse, mandaria Padilha para

a forca sem piedade.

— Como se atreve a me interromper,


Padilha? — Pedragon aprumou o corpo para
encarnar com propriedade, a sua figura real.

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— Perdão, majestade, mas vim avisar que o

príncipe Afonso acabou de chegar.

— Meu irmão está em Barilla?

— Sim, majestade, e estamos com problema

na província de Arabas.

— Maldição! — O monarca praguejou com


mais um problema para resolver. — Mande Afonso
me esperar na sala de reuniões, estou seguindo para
lá em segundos.

— Com licença, majestade. — Padilha se


retirou.

— Preciso saber o que aconteceu de tão grave


para meu irmão sair de Arabas.

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— Tudo bem — Soledade respondeu com a

voz instável.

— Nos encontramos no jantar. — Pedragon


voltou a segurar a mão dela. — Eu gostaria muito

de desfrutar um pouco mais da sua companhia, mas


o dever me chama.

Nesse momento, Soledade não se sentia em


condições de dar nenhuma resposta, então ela
apenas acenou e não se moveu quando ele se

inclinou e beijou suavemente o seu rosto.

— Não pense mais em fugir, Soledade, fique


no reino em segurança.

Pedragon desfrutou por mais alguns segundos

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da beleza de Soledade e, em seguida, partiu em


direção ao palácio para descobrir o que de tão grave
tinha acontecido para trazer o seu irmão ao reino.

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Capítulo 11

Depois do encontro com o rei, Soledade se


sentiu indisposta. O corpo dela parecia estar
passando por um processo intenso de inquietação.

A necessidade de fugir cresceu ainda mais


dentro dela, pois ficar nos domínios do reino

poderia ser perigoso para o seu coração. Por isso


decidiu se refugiar no quarto e planejar a sua fuga.

Talvez com a presença do príncipe, a


vigilância dos guardas não ficasse de maneira tão

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intensa sobre ela e, assim, a sua fuga pudesse ser


bem-sucedida.

Fingindo um mal-estar, ela pediu que


servissem o jantar nos seus aposentos. Só assim

poderia evitar o rei e seu olhar que a fazia ficar


estremecida.

Depois do encontro tenso, no qual os dois


tiveram no jardim, ela não se sentia capaz de ter
outro embate com Pedragon.

Assim que jantou, colocou suas vestes de


dormir e admirou a Lua por alguns minutos. Em
seguida jogou-se na cama para tentar descansar um
pouco antes de tentar fugir.

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Quando os seus olhos estavam começando a

pesar, uma batida suave na porta a assustou. Ela


ficou em silêncio para poder identificar se estava
sonhando ou se alguém realmente a chamava. E ao

ouvir uma nova batida, seguida do chamado do seu


nome, ela soube que estava mais do que acordada.

Pulando da cama, Sol foi na direção da porta


e pensou brevemente se deveria ou não abri-la.
Raramente era prudente na vida, porém dessa vez

decidiu ser para verificar quem era.

— Quem é? — ela perguntou com o rosto


encostado na porta.

— Vossa majestade. Abra a porta agora! —

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A voz vibrante de Pedragon fez Sol dar um pulo


para trás. Ela imaginava qualquer pessoa do reino a
sua porta, menos o rei.

— E se eu não abrir? — O medo de ficar

sozinha com ele foi maior do que a curiosidade em


saber o que o levou a ir até o seu quarto.

— Não teste a minha paciência agora,


senhorita, posso afirmar que não é uma boa ideia.
— Só para não parecer má educada, ela abriu uma

fresta da porta.

— Até onde me lembro, vossa majestade me


tirou da casa da minha mãe para preservar minha
honra. Então por que acha que devo deixá-lo entrar

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nos meus aposentos a noite?

— Porque sou seu rei. — Pedragon colocou o


pé na pequena abertura da porta e se precipitou para
dentro do quarto. — Eu jurava que a senhorita

fosse mais destemida.

— O que vossa majestade deseja? —


Soledade perguntou enquanto dava um passo para
trás.

— Desejo muita coisa. — Pedragon

escorregou os olhos pela camisola dela e se


controlou para não perder a cabeça e descobrir o
que ela escondia por baixo do pano alvo. — Mas
por hora, eu desejo saber porquê não cumpriu a

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ordem que dei para jantar comigo.

— Eu não me lembro de ordem alguma. —


Soledade deu de ombros fingindo não se lembrar
do que o rei havia dito quando se despediram no

jardim, que iria encontrá-la no jantar.

— Vou fazer uma confissão real e espero que


isso fique entre nós.

— Que confissão? — perguntou curiosa.

— Sua insolência deveria me irritar, mas

confesso que em você fica extremamente atrativa.

— Veio apenas zombar de mim? — Sol


olhou para o chão sem saber como agir com a
intensidade do olhar dele.

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— Não estou zombando de você, apenas

expondo o sentimento que desperta em mim —


Pedragon estava cada dia mais encantando por
Soledade. Desde que ela veio para o palácio, ele

não parava de pensar na jovem. — Está se sentindo


mal? Abgail me disse que sentiu uma indisposição.

— Foi algo de momento, mas já me recuperei


— Sol respondeu sem olhá-lo.

— Devo acreditar que sua indisposição foi só

para o jantar?

— Eu não disse isso.

— Mas não nega. — Pedragon ergueu uma


sobrancelha e viu o desgosto estampar o rosto dela.

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— O meu irmão estava curioso para conhecê-la.

— Não consigo encontrar o motivo para ele


querer me conhecer.

— Você é filha de Inês, isso é um bom

motivo.

— Como sou prisioneira aqui, acredito que


não irá faltar oportunidade para nos conhecermos.

— Ainda quer fugir?

— Todo prisioneiro quer fugir, majestade.

— Realmente acredita que pode ser feliz com


as meninas do bordel?

— Acredito — Sol respondeu com


veemência.

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— Fascinante. — Pedragon sorriu e se

aproximou de Soledade. — Esse seu desejo por


liberdade é motivador.

Sem resistir, ele roçou os dedos ao longo da

mandíbula dela e viu os olhos de Soledade se


fecharem. O certo era ele sair e deixá-la em paz, só
que o desejo e o ciúme nublavam seu
discernimento.

Durante o jantar o Cardeal sugeriu que

Pedragon arrumasse um cidadão do reino para


desposar Soledade. Mesmo ele não simpatizando
com ela por ser filha de Inês, o religioso
acompanhou de perto os esforços da cortesã para
manter a filha longe da sua vida profana.
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Fingindo serenidade, Pedragon ouviu os

conselhos do Cardeal, porém não se sentiu feliz


quando o nome de Padilha foi sugestionado para
ser o marido de Soledade.

Quando Luiz, seu conselheiro, concordou


com Aquino, toda paciência de Pedragon escapuliu
e ele foi obrigado a encerrar o jantar antes da hora.

Apesar de saber que estava com uma noiva a


caminho de Barilla, ele estava se sentindo cada dia

mais enfeitiçado por Soledade. Ela havia


despertado nele um sentimento que até então não
conhecia. Olhar para ela lhe causava uma paz
prazerosa, no qual queria experimentar
desesperadamente.
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— Se eu arrumar um marido para você aqui

no reino, aceita se casar? — Soledade soltou a


respiração quando ele retirou a mão do seu rosto.

— Não — A resposta dela foi dita com um

fio de voz.

— Você precisa de alguém para cuidar de


você.

— Preciso de liberdade, nada além disso.

Pedragon olhou para a boca dela tão perto da

sua e desejou fervorosamente beijá-la. Sem pensar


nas consequências, ele passou o polegar pelo lábio
inferior de Sol e sentiu o quanto era macio.

— Não deseja ser beijada? — Ergueu os

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olhos para ver sua expressão. — Alguém já teve o


prazer de beijar seus lábios?

As palavras pareciam ter fugido de Sol e, ela


apenas negou sem conseguir dizer nada. A presença

do rei sempre a perturbava e despertava nela


sensações desconhecidas.

— Você deveria ser beijada a cada instante


do dia — Pedragon falou sem deixar os olhos de
Soledade. — Eu gostaria de te beijar agora, mas sei

que devo deixar esse prazer para o seu marido. —


Ao dizer isso, ele trincou os dentes com raiva. —
Você vai se casar e, em breve, eu vou escolher o
nobre que terá o prazer de ter seus lábios, Soledade.

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Antes que perdesse o controle, Pedragon deu

um passo atrás e admirou por alguns segundos o


rosto corado de Sol.

— Tenha uma boa noite, amanhã espero você

para o desjejum.

Como um fugitivo, o rei correu para fora do


quarto antes que desse vazão aos seus instintos
primitivos e tomasse Soledade, estragando assim os
planos de encontrar um marido para a jovem.

Soledade segurou com força a bolsa, que


carregava e se esgueirou pelo corredor do palácio.
Depois do encontro que tivera com o rei, soube que
necessitava fugir antes que se perdesse em seus

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encantos.

Ela havia sido cortejada por outros homens,


mas nenhum deles possuía a beleza de Pedragon.
Ele era excepcional e tinha um olhar que mexia

com o seu coração, além de possuir uma virilidade


que causava uma reação desconhecida em certas
partes do seu corpo.

Quando ela alcançou a área externa do


palácio, sorriu, mas em seguida ficou apreensiva.

Nas outras duas vezes em que tentou fugir, desde


que o rei a trancafiou no palácio, ela tinha sido
interceptada pelos guardas. Mas desta vez, ela
havia conseguido chegar aos jardins sem nenhum
problema e, por incrível que pareça, não encontrou
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nenhum guarda no corredor da ala leste.

Sem pensar muito na sorte que estava tendo,


correu feliz para os estábulos. Pegaria um cavalo
qualquer e sairia dali, quando dessem falta dela, já

seria tarde demais.

Um sorriso de satisfação brilhou nos seus


lábios e a fez correr ainda mais em busca da sua
liberdade. Mas quando chegou perto da porta do
estábulo, um guarda apareceu desfazendo toda a

sua esperança.

Sem conseguir ter tempo de pedir para que


ele fingisse que não a tinha visto, foi carregada para
o palácio enquanto ouvia resmungos do guarda.

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— Já estamos no palácio, não pode me

soltar? — Com raiva, ela se debateu no ombro do


guarda real.

— Não posso, senhorita, vou deixá-la nos

seus aposentos em segurança.

— Poderia parar de ser intrometido e me


deixar fugir. Não aguento mais este lugar.

— Faça esse pedido ao rei. — O guarda


seguiu para a ala leste, mas no meio do caminho foi

interceptado.

— Problemas com a donzela? — A voz de


Pedragon arrepiou o corpo de Sol.

— Já está tudo resolvido, majestade, estou

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levando a senhorita para seus aposentos. — Sol


escutou os passos de Pedragon até que viu suas
botas a sua frente.

— Eu sabia que se relaxasse na segurança

você fugiria. — Com dificuldades, ela se apoiou


nas costas do guarda para encarar o rei.

— Você facilitou a minha fuga?

— Digamos que sim. — Pedragon respondeu,


sorrindo. — Sua persistência é inspiradora. — Ele

rodeou o guarda e estendeu os braços. — Deixe


essa arteira comigo, eu mesmo vou me encarregar
dela.

— Majestade, eu posso levá-la, não é

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necessário se esforçar.

— Pode apostar que não será esforço algum.


— Pedragon segurou a cintura de Soledade e a
pegou no colo. — Mantenha a segurança na entrada

da ala, não é necessário ficar no corredor.

— Mas majestade, não é seguro... —


Pedragon calou o guarda apenas com um erguer de
sobrancelha. — Boa noite, majestade. — O guarda
reverenciou o monarca e seguiu para a saída.

Pedragon fixou o olhar em Soledade e viu a


tempestade que estava explodindo em seus olhos.
Sem dizer nada, ele seguiu para o quarto dela,
disposto a encerrar de vez a sua saga em busca de

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fuga.

Quando ele entrou no quarto, bateu a porta de


madeira maciça com força e caminhou determinado
até a cama de Soledade. Em um movimento firme,

jogou o corpo dela sobre o colchão e esperou ávido


pelo seu protesto.

— Não vais me xingar? — perguntou


enquanto ela o encarava, furiosa.

— Fiz isso mentalmente enquanto me

carregava até aqui — A sinceridade dela causou um


reboliço de excitação em Pedragon.

Antes que medisse suas atitudes, colocou-se


de joelhos na cama e aprisionou o corpo pequeno

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dela sob o seu.

— Seu desejo é realmente ser livre?

— Sim — Soledade respondeu sem fôlego.

— Queres realmente assumir o lugar da sua


mãe?

— Sim — Mais uma vez, ela confirmou.

— Por acaso sabe o que representa a alcunha


de cortesã? — Agora Soledade não respondeu. —
Se queres assumir o lugar de Inês, terá que fazer os

serviços de uma verdadeira cortesã.

— Não me importo com o significado de


cortesã, quero apenas ser dona de mim mesma.

— Pois deveria procurar o significado da

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palavra. Sua liberdade pode ter um preço alto,

senhorita.

— Estou disposta a pagar.

— Tem certeza? Será que está preparada para

ser uma verdadeira cortesã? Ter algum


desconhecido possuindo o seu corpo?

Soledade não queria demonstrar medo, mas


quando imaginava que teria algum homem estranho
a tocando, ela sentia repulsa. Ainda trazia na

memória a imagem do marido da tia deslizando a


mão sobre si.

— Não preciso ser tocada para assumir o


lugar da minha mãe.

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— E como pretende ser uma cortesã como a

sua mãe? — Pedragon fez a pergunta sorrindo, pois


a bela jovem ainda não havia percebido que as
cortesãs eram destinadas justamente aos reis.

— Isso não é da sua conta, majestade —


Agora ela perdeu a compostura e deixou de lado o
respeito que deveria ter pelo rei.

— Seu atrevimento será a sua perdição.

Com apenas uma mão, Pedragon aprisionou a

cabeça de Soledade e colou seus lábios aos dela. A


surpresa do movimento inesperado do rei fez com
que Sol abrisse a boca e, nesse momento, ele
aproveitou para inserir a língua por entre seus

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lábios.

Soledade nunca havia permitido que um


homem a beijasse e sequer sabia que para tal ato
usavam a língua. Ela não soube o que fazer, mas

quando o rei mordeu o seu lábio inferior e, em


seguida, correu a língua pelo local; ela segurou em
seus braços fortes e se deixou levar pelos
movimentos habilidosos que ele fazia.

Em pouco tempo, ela o beijava com

sofreguidão, gemendo em sua boca e sentindo uma


inesperada umidade banhar suas partes íntimas. A
jovem sentiu uma ânsia por algo que ainda não
conhecia, e sabia que o simples beijo do rei não
seria capaz de aplacar o desejo que consumia o seu
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corpo.

— Você é um sonho. — Pedragon falou


quando abandonou a boca dela e salpicou beijos
pelo seu pescoço. — Desejo você como nunca

desejei outra mulher.

A declaração do rei provocou um verdadeiro


incêndio no corpo de Sol. Ela queria ser dele,
queria que o rei a tocasse, como jamais quis que
outro homem fizesse.

— Eu deveria ir embora agora, e te manter


isolada até que chegasse o dia do seu casamento,
mas não consigo, quero que seja minha, quero
saber que fui o primeiro homem a tomar a sua

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virtude.

O coração de Sol batia tão rápido que ela


achou que a qualquer momento ele iria explodir.
Com medo de não resistir à emoção que dominava

o seu corpo, ela embrenhou as mãos pelo cabelo


espesso do rei e o puxou para mais um beijo.

Agora que sabia o quanto era bom ser


beijada, ela queria guardar essa sensação mágica
caso o seu coração não resistisse a tanta emoção.

Sem decepcioná-la, Pedragon afundou os


lábios aos dela e a beijou com intensidade. Quando
ela sentiu a mão do rei erguendo a saia do seu
vestido e tocando a sua perna, o seu corpo se

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retraiu.

— Soledade — Pedragon disse o nome dela


com voz profunda. — Eu quero te ensinar todos os
segredos do prazer, mas, para isso, preciso que me

autorize a possuí-la. Jamais te obrigaria a se deitar


comigo, ainda que como o seu soberano, eu tenha
certos privilégios.

— Pouco me importa se és o rei, se eu não


quisesse que me tocasse agora, eu arrancaria a sua

orelha com meus dentes sem me importar com


quem és. Mas também lhe desejo majestade, e, se é
para descobrir o que representa o ofício de uma
cortesã, que ao menos seja em seus braços.

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— Por Deus, mulher, essa sua língua é

extremamente impertinente.

Pedragon voltou a beijá-la e dessa vez tocou


o seu seio sobre o vestido. Desde que a viu pela

primeira vez, notou o quanto era privilegiada com


seios fartos e chamativos. Em breve, ele iria
saboreá-los com reverência, pois jamais
negligenciaria algo tão perfeito.

Com cuidado, ele foi despindo Soledade das

suas vestes e, em seguida, se satisfez em observá-la


a ajudá-lo a tirar a sua roupa com um sorriso
embriagado de paixão nos lábios.

Quando ambos estavam nus, Pedragon sentiu

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o coração pulsar intensamente ao ver o rosto


vermelho de Soledade. Ele segurou a mão dela e
colocou sobre o seu peito, em seguida fez com ela
deslizasse até o seu abdômen.

Soledade jamais vira um homem nu e, agora


que se encontrava diante de um, estava com medo
do que viria depois.

Quando conseguiu coragem para desvendar


todo o corpo do rei, temeu em ver o tamanho da sua

virilidade. Ela não sabia com clareza como


ocorreria o que estava para acontecer entre eles,
mas certamente seria doloroso aceitá-lo dentro de
si.

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— Não temas, eu jamais te machucaria. —

Pedragon segurou o rosto dela para que visse o


quanto estava sendo sincero.

— Então não me permita pensar, majestade.

— Sol segurou em seus ombros firmes, tentando


assimilar um pouco da sua força.

— Vou amá-la como merece.

Com suavidade, o monarca descansou o


corpo dela na cama e iniciou uma lenta sessão de

beijos para poder relaxar o corpo de Soledade e


deixá-la pronta para recebê-lo.

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Capítulo 12

A boca de Pedragon experimentou cada parte


do corpo de Sol. Ele ouviu com satisfação os
gemidos dela, mas quando chegou perto do centro
do seu prazer, ela o paralisou.

— O que pensa que está fazendo? —

Soledade perguntou se sentindo escandalizada por


ele querer colocar a boca em sua intimidade.

— O que qualquer casal faz quando está


desfrutando de um momento íntimo.

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— As pessoas fazem... — ela não conseguiu

terminar de falar, pois o seu constrangimento foi


imenso — Isso não é contra as leis de Deus?

— Deus tem mais o que fazer, querida, agora

deixe seu rei amá-la como você merece.

Pedragon segurou as coxas dela e enterrou o


rosto entre suas pernas. O gemido de Soledade o
incentivou a desfrutar ainda mais da sua umidade,
pois escutar o quanto ela estava envolvida com o

momento deles, o deixava ainda mais excitado.

Quando o corpo de Sol estava quase perto do


ápice do prazer, Pedragon ergueu-se sobre ela e se
preparou para penetrá-la. Assim que pressionou

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sobre suas dobras, sentiu o corpo dela retrair.

— Não tema, meu anjo, apenas relaxe, pois


em breve, eu prometo que terá um prazer
indescritível.

O medo estava corroendo Sol, ainda assim,


ela concordou com o pedido de Pedragon e fechou
os olhos com força quando ele pressionou com
vigor em sua entrada. Uma ardência inflamou entre
suas pernas, mas ela ficou firme até que sentiu o rei

deslizar completamente dentro de si.

Ele gemeu profundamente e permaneceu por


alguns segundos, parado, até que começou a se
movimentar vagarosamente, enquanto espalhava

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beijos pelo pescoço dela.

O corpo do rei estava repleto de suor e seus


músculos estavam tensos assim como os dela. A
dor que dominava o corpo da jovem, não permitia

que ela relaxasse, ainda que ouvisse palavras


delicadas do monarca.

Em alguns momentos de sua vida, ela escutou


certas conversas de mulheres casadas e, algumas
delas, diziam que gostavam do momento íntimo

com o marido, mas, neste instante, Sol não estava


gostando, ela apenas desejava que tudo acabasse.

Porém tudo mudou quando Pedragon colocou


uma mão entre eles e pressionou uma parte

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específica da sua anatomia. Uma corrente elétrica


correu pelo corpo da jovem e, ela começou a sentir
um rebuliço profundo vibrar dentro de si.

De repente, uma sensação desconhecida

dominou o seu corpo e, a dor que antes lhe


consumia, foi substituída por uma onda de prazer
que tirou a sua respiração.

Mesmo quando o corpo dela foi relaxando,


Pedragon não parou de se mover. Em pouco tempo,

ela ouviu um rosnado escapar dos lábios do rei.


Segundos depois, o corpo dele despencou sobre o
seu e os dois ficaram calados e com a respiração
irregular.

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— Você está bem? — Pedragon aliviou o

peso sobre Soledade e olhou seu rosto corado.

Ela estava ainda mais linda com os fios de


cabelo grudados em seu rosto e gotículas de suor

escorrendo pelos seus seios fartos. Pedragon já


tinha tido um número incalculável de mulheres na
sua cama e já havia tirado a virtude de algumas
delas, porém, nenhuma das suas aventuras lhe
causou o tipo de emoção, no qual Soledade lhe

despertou.

Durante o sexo, ele teve que se esforçar para


não esquecer que tinha em suas mãos uma virgem e
não transar com ela com a intensidade que sempre
utilizava com as suas parceiras. Pedragon sabia que
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Soledade não tinha condições de acompanhar o tipo


de sexo que ele gostava, mas com um pouco de
treino, certamente, ela apreciaria o prazer que ele
poderia lhe dar.

— Na verdade, eu não sei, estou tentando


respirar. — Ela virou o rosto para ele e sorriu.

Pedragon sentiu o coração disparar com o


sorriso sincero e inocente de Sol. Por um momento,
ele se arrependeu de ter tomado algo tão precioso

dela. Foi um ato egoísta de sua parte, ela era


formosa, como poucas mulheres que conheceu e,
certamente, conseguiria um excelente casamento.
Mas agora, que ele havia tirado a sua pureza, teria
que usar da sua influência para que algum nobre a
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aceitasse sem ser mais virgem.

Uma onda de ciúmes o invadiu, e Pedragon


sentiu a necessidade de tocar Soledade para sentir
que, naquele momento, ela era sua. Por isso

segurou o queixo dela e a beijou com toda paixão.


Se ela não estivesse dolorida, ele a amaria
novamente, se perderia mais uma vez no seu corpo
para tentar aplacar a onda furiosa de ciúme que o
corroia.

— Foi incrível o que aconteceu entre nós,


desejo profundamente que você também tenha
gostado.

— No início, eu não gostei, pois doeu e, eu

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só queria que acabasse, mas aí... — ela baixou os


olhos sem ter coragem de continuar a falar.

— Aí o quê? — Ele escorregou a mão pela


curva do seu quadril.

— Você tocou em mim e, eu senti uma


sensação que não conhecia. — Um sorriso escapou
dos lábios do rei.

— Eu toquei em seu ponto de prazer, querida,


é uma região delicada da anatomia da mulher. É ali

que se concentra o segredo para você sentir prazer


no sexo.

— E como sabe disso? — Soledade


perguntou, fascinada por descobrir que tinha uma

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zona no seu corpo, no qual podia lhe dar uma


sensação tão intensa.

— É a prática. — Pedragon sentou na cama


para poder pegar um pouco de água, mas viu um

rastro de sangue sobre a manta que recobria a


cama. — Soledade, a manta está suja, levante-se
por um momento que vou retirá-la.

— Suja? — Ela perguntou, confusa.

— Com o seu sangue, querida.

— Oh! — Mais uma vez, Soledade ficou


constrangida.

— Não se preocupe com nada, pois isso é


normal. Mas vou retirá-la para nós não ficarmos

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sobre ela.

— Deixe que eu retiro. — Sol se ergueu e fez


uma careta quando sentiu um repuxar entre suas
pernas.

— Vá com calma, meu anjo, deixe que eu


retire a manta. Amanhã, eu peço para lavarem.

— Eu lavo. — Sol olhou para ele, nervosa.

— Claro que não vai lavar nada. — Pedragon


enrolou a manta e jogou no canto do quarto.

Depois, ele voltou e esticou o lençol que ficava por


baixo da manta. — Existem funcionários na corte,
justamente para isso.

— Não quero que vejam essa manta. — A

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vergonha dominou Soledade. Se alguém visse,


saberia que tinha perdido sua pureza.

— Para quem deseja morar em um bordel,


você está pudica demais. — Pedragon sentou na

cama e sorriu. — Para onde foi todo o seu


atrevimento?

— Isso não tem nada a ver com o meu desejo


de morar na casa da minha mãe.

— Ainda quer ir para lá?

— Agora, mais do que nunca, eu tenho que ir


morar lá — A realidade caiu sobre Soledade com
uma força imensa e, só agora, ela entendeu o passo
que havia dado ao se entregar para o rei.

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— Você não precisa morar lá, eu estou aqui

para te proteger. — O rei esticou a mão e Soledade


pegou, sem pensar duas vezes. — Sei que lhe
roubei algo precioso, mas serei responsável por

você, não se preocupe com nada.

— Não estou preocupada.

— Está sim, mas não vamos falar sobre isso.


— Roçou os lábios nos dela. — Quero passar a
noite com você.

— Vai dormir comigo? — Ela perguntou,


empolgada.

— Hoje vou dormir, porque sei que está


sensível, mas quando se acostumar comigo, vamos

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passar boa parte da noite acordados — Só em


pensar no que desejava fazer com Soledade, o rei já
sentia o seu corpo ganhar vida.

— Iremos ter intimidade outra vez? — A

expectativa em poder ficar mais uma vez com ele,


animou Sol.

— Teremos sim, quero você todos os dias,


quantas vezes aguentar. Vamos esperar apenas você
se recuperar.

— E quanto tempo leva para que eu consiga


me recuperar? —Pedragon sorriu com a ansiedade
dela.

— Com sorte, amanhã à noite você estará

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confortável, não quero insistir em mais nada hoje,


sei que está sensível, mas se você se sentir bem
amanhã, nós teremos uma nova aventura.

— Eu estarei.

— Definitivamente, és filha de Inês. —


Pedragon girou o corpo dela e a deitou na cama. —
Agora esqueça a saliência, e vamos descansar um
pouco.

Ele puxou a coberta e jogou sobre os dois e,

em seguida, atraiu Soledade para dentro dos seus


braços. Ela se aconchegou nele e Pedragon sorriu
com a sorte que estava tendo em ter alguém tão
especial quanto a jovem, junto de si.

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Internamente, ele agradeceu a Inês por ter

colocado a filha em seu caminho. Ela era um


refresco no meio da intensa tensão, no qual a sua
vida se encontrava.

Pedragon olhou para o campo e se perdeu na


lembrança da visão dos cabelos revoltos de
Soledade sobre os travesseiros, quando saiu do
quarto dela.

A beleza dela na luz da manhã era

embriagadora, se dependesse dele não a deixaria


sozinha, passaria o dia com ela, embolado na cama.

— O que está levando o seu pensamento para


longe na hora da caçada, irmão? — A voz de

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Afonso despertou Pedragon dos seus pensamentos.

— Os problemas do reino sempre me levam


para longe — Decidiu mentir, jamais contaria que
estava enamorado por uma mulher que não poderia

ser sua.

— Tem certeza que são apenas os problemas


do reino? Seu olhar está mais para um homem
apaixonado.

— Desde quando conhece um olhar

apaixonado? — Pedragon concentrou toda a sua


atenção no irmão. — Por acaso está apaixonado e,
eu não sei? — Afonso sorriu.

— Não estou apaixonado, mas já vi esse

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olhar em muitos homens.

— Está vendo demais, irmão. — Pedragon


viu Padilha aparecer puxando uma corça. Ao que
tudo indicava, seu amigo havia tido uma caçada

proveitosa. — Padilha teve mais sorte do que todos


nós.

— De fato foi um golpe de sorte, majestade


— Padilha respondeu, sorrindo.

— Você sempre foi um grande caçador,

Padilha, e está com sorte, porque hoje estou com


problemas ocupando a minha mente.

— Esse é o momento de esquecer tudo, meu


senhor, deixe as responsabilidades do seu reino

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para depois. — Pedragon sorriu com a resposta do


seu amigo, pois o que ocupava a sua mente não era
o reino, mas sim uma linda dama, no qual estava
aguardando o seu regresso para uma noite intensa

de amor.

— Vamos ver o que podemos caçar. —


Pedragon montou no seu cavalo e galopou em
direção à floresta. Passaria o dia tentando conter o
desejo por Soledade, mas quando a noite chegasse,

daria vazão à paixão que fervilhava dentro de si.

Soledade sentia o corpo todo dolorido,


parecia que havia passado o dia no lombo do cavalo
em uma viagem longa. Mas ainda assim, ela se

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sentia ansiosa para a noite, no qual Pedragon


prometeu que os dois teriam.

Pela manhã, ela não o viu sair do quarto, mas


antes de dormirem, ele prometeu que passariam

mais uma noite juntos.

Quando se recordava dos momentos intensos


que passaram, o corpo dela ganhava um calor
intenso. Nunca imaginou que um dia poderia
encontrar tanta felicidade ao lado de um homem.

Soledade sempre dizia a si mesma que nunca


aceitaria que alguém do sexo masculino a tocasse,
pois trazia na memória, o instante em que o marido
da tia ousou tocá-la, mas com Pedragon tudo foi

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diferente, ela não conseguia deixar de desejar que


as mãos dele estivessem pelo seu corpo.

— Soledade, eu fiquei sabendo que tentou


fugir mais uma vez. —Abgail olhou para a jovem

sem saber mais o que fazer para impedir que


fugisse. — Quando vai tomar juízo e parar com
essas ideias malucas? A casa da sua mãe, não é
lugar para uma donzela. Você pode conseguir um
bom casamento, o rei pode desfazer o acordo que a

sua família fez e conseguir um bom pretendente


para a senhorita aqui no reino.

A ideia de ter outro homem exigindo a


intimidade que dividiu com Pedragon, arrepiou o
corpo da jovem. Agora mais do que nunca, ela não
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desejava um marido, jamais permitiria que lhe


arrumassem um matrimônio. Manteria a ideia de ir
para a casa da sua mãe, uma vez que a sua aventura
com o rei acabaria em algum momento.

— Não quero um casamento, Abgail, mas


não quero brigar com você. Vamos esquecer esse
assunto?

— Você é teimosa. — Abgail suspirou,


cansada.

— Só um pouco. — Soledade sorriu. — Ouvi


dizer que o príncipe chegou — Sol decidiu mudar
de assunto. — Como ele é?

— O príncipe Afonso é um anjo, sorridente e

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educado. Sempre está de bom humor e pronto para


uma aventura.

— Ele parece ser uma ótima pessoa.

— É sim, quando ele chegar da caçada você

irá conhecê-lo, o rei deixou ordens para fazer um


jantar especial para recebê-los depois de um dia de
caça.

— Eles foram caçar? — Soledade perguntou,


fingindo desinteresse.

— Saíram cedo, mal tomaram o desjejum e


partiram para a mata.

— Que aventura — falou, retorcendo o nariz.

Então era por isso que o rei não a esperou

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para tomar o desjejum. Ele havia dito que a queria


na mesa para dividirem a primeira refeição. Mas
quando Sol acordou, ele já havia saído.

— Talvez essa seja uma boa hora para tentar

uma fuga, duvido que os guardas imaginem que


posso fugir tão cedo.

— Por Deus, menina, será que nunca vai


sossegar? — Sol levantou e beijou o rosto de
Abgail.

— Se parar, não serei mais “eu”, mas por


hoje fico aqui, quero conhecer o príncipe.

— Você está com um brilho diferente nos


olhos, um viço especial na pele. — Abgail olhou

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com interesse para sua expressão animada.

— São os planos que tenho em mente; dessa


vez, eu passo a perna no rei.

— Soledade... — Abgail a recriminou, mas

Sol a ignorou e saiu sorrindo, imaginando como


seria bom passar a perna ao redor do corpo do rei.

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Capítulo 13

A mesa de jantar estava praticamente


completa quando Soledade chegou. Ela havia sido
informada que o rei a chamava para o jantar e, por
isso, correu para terminar de se arrumar.

Completamente envergonhada, ela se

aproximou da mesa e foi prontamente recepcionada


por Padilha. Ele a convidou para se sentar ao lado
dele e Sol se sentiu mais confortável.

Ao longe, ela viu os olhos do rei

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acompanharem a sua interação com o seu cavaleiro,


mas para não demonstrar o quanto se sentia
balançada com a presença real, Sol decidiu
concentrar toda a atenção em Padilha.

Um jovem extremamente bonito entrou na


sala e, antes que fosse anunciado que se tratava do
príncipe, ela soube quem era. Afonso lembrava
muito o irmão, porém tinha uma candura no olhar,
que era inexistente ao rei.

— Alteza, essa é a senhorita Cantillano, filha


de Inês — Padilha anunciou ao príncipe.

— É um imenso prazer finalmente conhecê-


la, senhorita Cantillano, eu ouvi diversas histórias

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sobre sua pessoa.

— Espero que não acredite em todas, alteza.

— Confesso que todas as minhas fontes são


seguras e estou surpreso com a sua coragem.

Soledade sorriu.

O príncipe era agradável e parecia ter um


senso de humor inexistente ao irmão.

— A coragem da senhorita Cantillano é


irritante — Pedragon interrompeu a conversa

animada do irmão. — Mas não é o momento para


comentar sobre o atrevimento dela, vamos jantar.

O rei fez sinal para que servissem o jantar e


todos entraram em uma conversa amena enquanto

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os alimentos eram servidos.

Durante todo o jantar, Pedragon acompanhou


a conversa animada de Padilha com Soledade, seu
cavaleiro não escondia o fascínio que sentia pela

jovem e isso o irritava profundamente. E ainda


tinha o seu irmão, que não parava de fazer
perguntas para Soledade, parecendo bem
interessado nela.

Ela tinha o dom de atrair os olhares dos

homens, assim como sua mãe. Até mesmo Aquino,


que era um homem discreto com relação às
mulheres, desviava sempre o olhar para
acompanhar os movimentos de Soledade. Essa
atração natural, que ela despertava nos homens era
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um grande perigo.

Contendo a vontade de trancá-la em seu


quarto, Pedragon segurou o ciúme e se manteve
calado ao máximo que pode. Se começasse a falar,

certamente soltaria alguns desaforos que atrairiam a


desconfiança dos seus homens de confiança. Isso
traria desconforto para Soledade e revelaria que os
dois estavam tendo um caso, coisa que não tinha
interesse que ninguém soubesse.

— Foi um prazer conhecê-lo, príncipe


Afonso, mas preciso me retirar. — Soledade sorriu
com ternura para o príncipe e se levantou. —
Obrigada pela atenção, senhor Padilha —
Agradeceu por Padilha ter suavizado o jantar,
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sendo amistoso.

— É sempre um prazer ter a sua companhia.


— Soledade acenou, agradecendo as palavras do
cavaleiro real.

— Majestade, obrigada pela refeição. — Ela


reverenciou ao rei como era de praxe.

— Espero que dê sossego aos meus guardas


hoje, senhorita Cantillano. — Pedragon fez a
recomendação habitual quando se despediam

depois do jantar.

— Vou tentar, majestade. — Soledade baixou


suavemente a cabeça, evitando sorrir.

— Acho que deve entrar em oração, filha. —

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O Cardeal se dirigiu a Soledade. — Você necessita


lutar bravamente para fugir desse desejo de ir para
uma casa da perdição. — Sol mordeu os lábios,
louca para responder o desaforo do Cardeal, a

altura.

Através de Augusta, ela descobriu que o


Cardeal tinha dois filhos e, para Sol, um homem de
Deus não deveria se envolver com o mundo carnal
do sexo.

— Vou seguir o seu conselho Eminência


Reverendíssima. — Ela respondeu, segurando a
vontade de dizer que a vida era dela e que ninguém
iria lhe dar ordens.

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Pedragon cruzou o olhar com Soledade e viu

as faíscas que pulavam de seus olhos.

Essa fúria contida o incendiou e o rei


começou a contar os segundos para poder ir até o

quarto dela. Essa noite, ele a teria de uma maneira


diferente, ensinaria a jovem uma nova forma de lhe
dar prazer.

O rei beijou o ombro de Soledade enquanto


investia lentamente dentro dela. Hoje, ele a tomou

de lado, para deixá-la sentir uma nova sensação no


sexo. Iria ensinar a Soledade todas as posições, no
qual já experimentou.

Ele segurou firme a perna dela e arremeteu

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intensamente gemendo com o prazer que se


espalhava pelo seu corpo. Quando ela estivesse
mais acostumada com o sexo, ele a possuiria com a
paixão, no qual gostava na hora da intimidade.

— Você está bem? — Pedragon quis se


certificar de que ela não estivesse sentindo dor.

— Estou — Ela respondeu sem fôlego.

Dessa vez estava sendo melhor do que na


noite passada, hoje ela sentiu um pequeno

desconforto no início, mas que rapidamente havia


sido substituído por prazer quando a paixão
inflamou o seu corpo.

— Você é tão perfeita. — Pedragon acelerou

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suas investidas, pois já não conseguia mais segurar


a vontade de sentir sua liberação.

Ele voltou a elogiar Sol e acariciou com


precisão o seu botão secreto. Rapidamente, ele teve

a resposta de Soledade e quando sentiu as


contrações de sua vulva, sorriu em saber que ela
estava entregue ao prazer.

Imprimindo um pouco mais de vigor, investiu


firme nela aproveitando o seu canal estreito e

deixou-se dominar pelo gozo.

Soledade era uma raridade, ela tinha uma


sensualidade nata e despertava nele um sentimento
de possessão que o assustava. Agora que sabia o

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quanto era incrível na cama, não queria abrir mão


da sua presença todas as noites.

Pedragon decidiu que manteria a jovem para


si, como se fosse um grande presente da vida. Por

hora, ele não pensaria em um casamento para ela,


porém quando as obrigações reais batessem na sua
porta, ele teria que dar um futuro digno para essa
mulher especial.

Uma tristeza dominou o rei e ele escondeu o

rosto na curva do pescoço de Sol. Quando


imaginou outro homem tomando o seu corpo, uma
força intensa comprimiu seu coração.

— Algum problema majestade? — Soledade

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sentiu a mudança em Pedragon, ele apertou a sua


cintura a ponto de doer.

— Nenhum — O monarca mentiu, pois não


podia revelar que ela era uma grande fraqueza na

sua vida.

Quando ele a liberou do seu aperto, Soledade


virou e observou o corpo suado do rei. Ele era lindo
quando estava com as vestes reais, mas nu, ficava
completamente encantador.

— Ficas muito bonito quando está assim,


suado e ofegante — Soledade falou, constrangida,
mas precisava revelar que achava atraente esse
momento do rei.

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— Gostas de me ver assim? — Pedragon

tirou alguns fios de cabelo, que estavam grudados


no pescoço dela.

— Muito. — Confirmou enquanto passava a

mão pela pelugem do peito do rei. — Na verdade,


eu acho tudo bonito em vossa majestade.

Pedragon segurou a nuca dela e a beijou.


Invadiu a sua boca e duelou com a sua língua.
Queria assimilar ao máximo o sabor dela, para

deixar gravado em sua memória quando não


pudesse mais tê-la.

— Nada nesse mundo é mais belo do que


você, Sol — A maneira íntima que ele a chamou

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surpreendeu-a. Apenas os membros da sua família


a tratavam de maneira tão carinhosa.

— Sol? — Ela perguntou, encantada.

— És o meu Sol particular. — O rei correu o

polegar por seus lábios. — A senhorita é o brilho


intenso que passou a iluminar e, ao mesmo tempo,
infernizar a minha vida.

— Não infernizo a vida de ninguém —


Soledade respondeu, chateada.

— Sabes que inferniza e fez isso durante o


jantar, jogando seu charme para Padilha e meu
atrevido irmão.

— Jamais joguei charme para eles. — Sol

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sentou-se na cama e Pedragon acompanhou,


encantado, o balançar dos seus seios.

— Jogou sim, até mesmo o Cardeal não


tirava os olhos de você. Porém, o que me manteve

sereno, foi saber que eu teria toda a sua beleza


inteiramente para mim. Nenhum deles pode tocá-la,
apenas eu.

O rei esticou a mão e envolveu o seio de


Soledade. Ela fechou os olhos e Pedragon sentiu

seu corpo esquentar. Iria possuir sua pequena


arteira mais uma vez, não se sentia nenhum pouco
satisfeito.

— Ainda desejo você, Soledade, quero te

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tomar por mais uma vez.

— Também desejo vossa majestade, mas


preciso me recuperar. Ainda me sinto dolorida.

— Perdão, carinho, eu não quero te

machucar. — Pedragon se sentiu envergonhado por


não pensar em como ela se sentia.

— Sei que não vais me machucar, mas vamos


esperar um pouco.

— Tudo bem. — O rei fez sinal para Sol

deitar junto de si. — Meu anjo, eu preciso tratar de


um assunto delicado com você.

— E o que seria?

— Terei que contar a Abgail sobre os nossos

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encontros.

— Por quê? — Sol ergueu o tronco para


encarar os olhos do rei.

— Porque ela precisa te administrar um

composto que evita a gravidez. Talvez você já


esteja esperando um filho, mas se por acaso não
estiver, necessitamos evitar.

Soledade baixou os olhos se sentindo triste.


Ele não queria um fruto da paixão que dividiam e

isso de alguma maneira a feriu. Mesmo sabendo


que jamais poderia ficar com um rei, ela não pôde
evitar o encantamento que sentiu desde o primeiro
momento que viu Pedragon.

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— Olhe para mim, Soledade. — O coração

do monarca estava contrito em ver a decepção na


face da jovem. — Não quero te magoar, mas
também não quero que tenha um bastardo. Sou um

rei e isso me deixa nas mãos de certas obrigações.


Sei que errei em tomar a sua virtude, mas se posso
evitar que sua honra seja jogada na lama, eu irei
usar de todos os meios possíveis.

— Eu entendo. — Ela respirou fundo e

encarou a realidade com bravura.

Quando chegou a Barilla, ela desejava ir para


o bordel para ser livre, mas agora tinha consciência
de que não era simples ser uma mulher que apenas
servia para dar prazer aos homens.
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— Sei que não entende, perdoe-me por te

magoar.

— Não magoou, majestade, eu sou filha de


uma meretriz, então não me sinto magoada em ser

vista como uma.

— O quê? Não és uma meretriz! —


Pedragon, exclamou com veemência.

— Não era, mas agora sou uma cortesã real.


Depois de pesquisar, eu entendi o real significado

da palavra. Não sou uma prostituta qualquer, sou a


sua prostituta.

— Pare de falar bobagens, menina! —


Pedragon se sentiu escandalizado com o que tinha

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acabado de ouvir.

A conversa deles não estava seguindo o


caminho que o rei havia programado.

— Não vamos deixar assuntos desagradáveis

atrapalhar a nossa noite, majestade, eu ainda o


desejo, e quero que o senhor me faça sentir prazer
novamente. — Soledade subiu a mão pela coxa do
rei e rodeou vagarosamente a sua virilha. — Se
sente pronto para me tomar?

— Sempre, carinho. — Pedragon puxou Sol


e a beijou, em seguida, colocou a mão entre as suas
pernas e acariciou até que a sentiu inchada e pronta
para recebê-lo.

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As noites de Soledade e Pedragon passaram a

ser cada vez mais intensas. O rei contava os


segundos para poder ter a jovem dentro dos seus
braços. Ele encontrava a paz apenas quando estava

com ela e desenvolveu um sentimento profundo por


Sol.

Abgail não aceitou o envolvimento do rei e,


desde que Pedragon pediu para que ela desse o
contraceptivo que as mulheres do reino usavam,

estava sem falar direito com o seu soberano.

Sua camareira o tratava com reverência, mas


não fazia mais as brincadeiras que sempre o
animavam. Ela o tratava como se não o conhecesse
e isso estava ofendendo o rei.
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— O que estás pensando para ter o cenho tão

contrito?—Pedragon perguntou, enquanto ela


colocava um copo de vinho na sua frente.

— Não penso em nada, majestade. — Abgail

baixou os olhos para evitar se indispor com seu


senhor. — Desejas mais alguma coisa, majestade?

— Desejo que pare de me tratar como um


estranho.

— Não o trato como estranho.

— Por Deus, Abgail, você sequer me olha.


Quando vai me perdoar?

— Quem sou eu para condená-lo? Não tenho


o poder para isso. Apenas nosso Senhor poderá

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julgá-lo pelas suas transgressões.

— Eu juro que tentei resistir à senhorita


Cantillano, mas ela é tão linda e tem aquela
impetuosidade que me deixa louco. Não fui forte o

suficiente para me manter longe — Abgail ouviu


com atenção, o desabafo do rei.

— E por isso a condenou a ser sua cortesã?


Não foi o senhor mesmo que se esforçou para tirá-
la do bordel de Inês para que não se transformasse

em uma meretriz?

— Eu errei, sei disso.

— Majestade, me perdoe sobre o que vou lhe


dizer, mas o senhor vai continuar a ser rei, já

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Soledade, ganhou o mesmo destino da mãe. Inês


abdicou de viver ao lado da filha para que ela
pudesse ter uma vida digna, mas o senhor fez a
jovem repetir o erro de Inês. Peça ao Nosso Senhor

que ela não conceda um filho, porque senão, a


história dessa menina será igualzinha a da mãe.

As palavras de Abgail acertaram Pedragon


em cheio. Ele se sentiu envergonhado por ter
deixado o desejo nublar o bom senso e fazê-lo trair

a promessa de proteger a filha da sua grande amiga.


Abgail lhe trouxe uma verdade dolorosa, que o
devastou profundamente.

Agora teria que encontrar uma maneira de


reparar o seu erro, mas não gostava de nenhuma
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das ideias que estavam passando pela sua cabeça,


para fazer Soledade ter um futuro honrado.

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Capítulo 14

O sorriso de Soledade se espalhou pela sala


de treinamento. Quando o príncipe Afonso a
convidou para assistir o seu treinamento com a
espada, ela não pensou que fosse ser tão divertido.
Mas, para a sua surpresa, estava adorando a

desenvoltura do príncipe, e de Padilha.

— Você precisa antevir o movimento do


inimigo — Padilha explicou a um jovem, que
estava em treinamento para entrar na tropa real. —

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Todos os seus seis sentidos necessitam estar em


ação.

— Não seriam cinco sentidos, senhor? —


Soledade se intrometeu na aula, confusa.

— No campo de batalha são seis, senhorita.


— Padilha rodeou o jovem com a espada em
punho, enquanto respondia Soledade.

— E qual seria o sexto? — Se ela não


soubesse a resposta, ficaria curiosa pelo resto do

dia.

— A intuição. — Padilha respondeu,


sorrindo. — Em determinados momentos,
precisamos seguir nossa intuição para prever os

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movimentos do inimigo e tomar as decisões.

— Nossa... nunca imaginei que em uma


guerra usassem a intuição — Essa revelação
surpreendeu a jovem.

— Na guerra, senhorita, existem situações em


que apenas quem está lá, pode saber.

— Um dia, eu quero entender porquê os


homens gostam tanto de guerras, não vejo motivos
para tantos conflitos.

— Existem assuntos que, infelizmente, não se


resolvem com a diplomacia, senhorita. — Padilha
respondeu, sorrindo.

— Aqui em Barilla, sempre tentamos ser

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diplomáticos, Soledade, mas em alguns momentos


a guerra é inevitável. — Afonso se aproximou de
Sol. — Estou cansado, vou tomar um banho. — O
príncipe entregou a espada para um criado. —

Caminha comigo pelo jardim mais tarde, senhorita?

— Será um prazer. — Sol respondeu feliz,


pois gostava de Afonso, ele era sempre alegre e a
tratava como se fossem amigos.

A oportunidade de fugir estava diante de

Soledade, mas para a sua surpresa, ela não queria ir


embora. Agora que passava as noites com o rei, não
sentia mais vontade de abandonar o palácio.

Quando Afonso a convidou para cavalgar nos

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campos, ela se alegrou, mas assim que a imagem de


Pedragon brincou na sua frente, deixou de lado o
desejo de seguir para o bordel da mãe.

— Padilha me contou que se recusou a casar.

— Afonso olhou para Soledade e admirou seus


lindos cabelos, voando. Ela era linda e se fosse um
homem comum, se candidataria a ser seu marido.

— Não me conformo em ser obrigada a casar


com alguém, no qual não conheço.

— Eu admiro muito a sua força. Poucas


mulheres se atrevem a enfrentar as convenções
sociais.

— Não quero enfrentar nada, alteza, apenas

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desejo viver ao meu modo.

— Conte comigo para conseguir o que


desejas, só não vou te apoiar a ir para o bordel. Na
minha singela opinião, você merece um lugar

tranquilo para morar.

— Agradeço por não querer me obrigar a


casar.

— Jamais faria isso, mas Padilha gosta de


você, ele já passou do tempo de se casar, talvez

pudesse vê-lo com outros olhos.

— O senhor Padilha gosta de mim?

— Nunca percebeu? — Afonso sorriu e


conduziu o cavalo de volta ao palácio.

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— Jamais, ele sempre foi cortês, nada além.

— Essa cortesia tem um fundo de interesse,


Soledade, preste mais atenção.

As palavras do príncipe mexeram com Sol,

ela o acompanhou de volta ao palácio, em silêncio,


pensando no que ele falou e tentando recordar se
em algum momento, Padilha deixou transparecer
algum interesse.

Porém, acabou espantando os pensamentos

sobre o cavaleiro. Agora que estava envolvida


intimamente com o rei, não poderia mais se
entregar a outro homem. Seu futuro estava
determinado e, ele seria basicamente o mesmo de

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sua mãe.

Eles chegaram ao palácio, sorrindo. Desde


que Soledade chegou à corte, não tinha tido uma
tarde tão feliz. Afonso era um bom companheiro e

conversava com ela como se fossem bons amigos.


Mas a alegria dos dois acabou quando esbarraram
com o rei no corredor.

— O que pensas que estais fazendo, Afonso?


— Pedragon indagou o irmão, segurando a vontade

de arrancar o pescoço dele.

Quando foi informado que o príncipe havia


saído com Soledade, sentiu uma onda de ciúmes
que não conseguiu controlar. A sua vontade foi

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correr atrás dos dois e trazê-la de volta para a


segurança do palácio. Porém, manteve as
aparências e apenas deixou a ordem de avisá-lo
assim que os dois estivessem nas dependências da

corte.

— Nada demais, majestade, eu apenas fui


aproveitar a tarde em boa companhia.

— Aproveitar a tarde em boa companhia? —


Pedragon rosnou para o irmão com olhos

semicerrados. — Estás louco? Como leva Soledade


para fora do palácio? Por acaso não o informaram
das tentativas de fuga dela?

— Calma, irmão, estás nervoso sem motivos.

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— Basta! — Pedragon esbravejou e mirou

Soledade. — Vá para o seu quarto Soledade, não


quero mais problemas por hoje. — Ele viu a fúria
nos olhos dela e por um momento, temeu que ela o

enfrentasse na frente dos seus servos. — E você


nunca mais se atreva a levá-la para fora sem a
segurança adequada e minha autorização.

— Pedragon... — Afonso tentou debater, mas


o rei virou as costas para os dois e caminhou

determinado, em direção ao gabinete real.

— Deus! Não sei o que deu no meu irmão.

— Não se surpreenda tanto, o rei gosta de


dizer o que devo fazer, mas ele jamais me vencerá,

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quando menos esperar, estarei longe do seu


alcance.

Soledade falou com uma calma que neste


momento não sentia e, com muita educação,

despediu-se do príncipe e caminhou para o seu


quarto contento a vontade de ir atrás do rei para
dizer tudo o que estava borbulhando dentro de si.

— Soledade, abra a porta, preciso falar com


você — A voz de Pedragon assustou a Sol.

Depois do encontro deles no corredor há


pouco tempo, ela pensou que o rei não apareceria
nos seus aposentos tão cedo. Mas, ao que tudo
indicava, Pedragon ainda queria briga.

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— O que desejas, majestade? — perguntou

ao abrir apenas uma fresta da porta.

— Quero entrar. — Ele colocou uma mão na


porta.

— E se eu não deixá-lo entrar?

— Sou o seu soberano, você tem que me


deixar entrar.

— Não sou boa com regras. — Sol deu de


ombros e irritou o rei além do aconselhável.

— Pare de me provocar. — Pedragon


empurrou a porta e forçou a entrada.

Ele observou Soledade dar um passo atrás e,


nesse momento, a vontade dele era segurar o seu

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corpo e mostrá-la, de uma maneira não muito


delicada, que ela não deveria jamais ficar a sós com
o seu irmão.

— Está tentando seduzir o meu irmão?

A pergunta dele surpreendeu e ofendeu


Soledade. Mesmo sabendo que o rei apenas a via
como uma cortesã, sentiu-se extremante triste por
ele não confiar nela.

— Se veio aqui para me ofender, retire-se e

não me venha com essa história de que é meu rei;


eu cansei de ouvir isso — A rebeldia que tentava
controlar quando estava perto dele, fugiu
completamente do seu alcance.

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— Fiz uma pergunta e exijo uma resposta. —

Pedragon esticou a mão e aprisionou a nuca de


Soledade. — Não se sente satisfeita comigo? Quer
experimentar o vigor de um homem mais jovem?

— Cretino. — Soledade ergueu a mão e deu


um tapa firme no rosto do rei.

Nesse momento, ela não avaliou a gravidade


do que fez, mas quando viu os olhos dele
escurecerem perigosamente, se preparou para

receber bem mais que uma correção do monarca.


Ela se viu caminhar para a forca.

— Maldita! — Pedragon inclinou a cabeça


dela e desceu os lábios sobre a sua boca sem

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nenhum cuidado.

O rei estava com muita raiva e mostraria a


Soledade que jamais deveria brincar com ele.

O beijo inesperado de Pedragon desarmou

Soledade, ela não esperava que ele tivesse esse tipo


de atitude depois de bater em seu rosto. Ainda que
sua mente dissesse para resistir, ela segurou os
braços firmes do rei e abriu a boca para apreciar
por completo o seu sabor.

Resistir ao desejo que sentia por ele era


impossível, era como se Pedragon tivesse controle
não só do seu corpo, como do seu espírito.

— És minha, entendeu? Não quero nenhum

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cavalheiro lhe rondando. Apenas, eu posso tê-la,


ninguém mais vai saber como é perfeito ter esses
lábios. — Pedragon apalpou um dos seios dela. —
Te quero agora, Soledade, preciso sentir o seu calor

para saber que ainda sou o seu homem.

Soledade não ousou falar nada, não queria


estragar o momento de paixão que estava vivendo.
Apenas virou-se para que tirasse a sua roupa como
ele gostava de fazer.

Agora que todas as barreiras haviam sido


eliminadas entre eles, queria apenas sentir prazer, e
que ele a tomasse com desejo.

Uma batida na porta quebrou o momento de

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tranquilidade entre Soledade e o rei. Depois de


dividirem um momento intenso de paixão, eles
estavam jogados entres os lençóis, apenas
aproveitando a companhia um do outro.

— Senhorita, eu posso entrar? — A voz da


camareira, que cuidava de Sol, a fez sentar na cama
nervosa.

— O que faço? Ninguém pode nos ver juntos.


—Pedragon sorriu ao vê-la tão nervosa. Algumas

pessoas já sabiam do relacionamento deles, mas


Pedragon ordenou que todos mantivessem segredo.

— Diga para ela voltar em alguns minutos,


está ficando escuro, ela deve ter vindo acender os

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candelabros.

— Tudo bem. — Ela caminhou nua para a


porta. — Augusta, por favor, volte em alguns
minutos.

— Precisa de ajuda, senhorita?— A


camareira respondeu, solicita.

— Não, só desejo que retorne depois.

— Tudo bem. — Encostando o ouvido na


porta grossa de madeira, Soledade escutou os

passos de Augusta se afastando.

— Voltarei mais tarde, querida. — Pedragon


falou enquanto terminava de vestir a calça. —
Espero que estejas se sentindo bem.

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— Apenas desejo dormir, me sinto esgotada.

— Sorrindo, ela se aproximou e ajudou Pedragon a


vestir a blusa.

— Descanse até a hora do jantar. — Ele

amarrou o laço da blusa. — Quero dormir junto


com você.

— Só dormir? — O sorriso sacana que surgiu


nos lábios do rei foi uma clara resposta sobre as
suas intenções. — Não cansas, majestade?

— Cansar de você? Jamais, querida. — Para


reafirmar as suas palavras, ele se aproximou e a
beijou profundamente.

Queria deixá-la desejosa para a noite que

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teriam. O rei voltaria a possuir o seu corpo para


reafirmar que apenas ele era o responsável pelo seu
prazer.

Depois do desentendimento que tiveram por


causa do passeio entre o príncipe Afonso e
Soledade, o casal de amantes passou a dormir junto
todos os dias.

A princípio, Soledade não aceitou muito bem


ir para o quarto do rei, mas Pedragon garantiu que

os guardas não tinham ordem para pensar, muito


menos para falar sobre o encontro dos dois.

Como a jovem sabia o quanto o rei era


temido e respeitado por seus súditos, confiou na

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discrição dos guardas reais. Porém, ainda assim


saía da companhia de Pedragon quando os
primeiros raios de sol invadiam o quarto.

A cada dia que passava ao lado de Soledade,

o rei se sentia mais apaixonado. Ela era um oásis no


meio da confusão da sua vida. Após um dia de
decisões difíceis com seus conselheiros, ele sabia
que teria o carinho dela para relaxar o seu corpo.

— Majestade — A voz severa do Cardeal

cortou os pensamentos do rei.

— O que foi? — Pedragon voltou à atenção


para Aquino.

— Vossa majestade não acha que essa

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situação com a filha de Inês Cantillano, passou dos


limites? — A pergunta do Cardeal surpreendeu
completamente o rei.

A vida pessoal dele jamais entrava em pauta

quando estava reunido com o seu conselho, com


exceção do casamento com a princesa da Áustria.

Pedragon olhou ao redor da mesa e viu todos


os rostos dos seus conselheiros baixos. Eles,
claramente, sabiam que o Cardeal iria tocar no

assunto, mas nenhum deles teve coragem para tanta


afronta.

— Que situação, Eminência Reverendíssima?


— Pedragon decidiu usar do tratamento formal para

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lidar com a audácia do Cardeal.

— Meu senhor, não é segredo para boa parte


da corte que está mantendo a jovem como sua mais
nova cortesã. — O Cardeal olhou para Luiz em

busca de apoio.

— Infelizmente, o burburinho é crescente


pelos corredores do palácio, majestade, as damas da
corte estão evitando Soledade.

A informação do seu fiel conselheiro

surpreendeu Pedragon. Ele sempre tentou manter


seus encontros com Soledade com a maior
discrição possível, mas pelo o que acabou de ouvir,
alguém traiu a sua confiança e espalhou boatos

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sobre a sua vida.

— A corte deve obediência ao rei, qualquer


pessoa que ousar falar ou destratar Soledade deve
ser apresentada a mim, imediatamente — Pedragon

foi enérgico ao ditar a ordem.

— Majestade, vós sabes que não é fácil


controlar as damas, elas sempre se sentem
ameaçadas pelas cortesãs.

— Cale-se. — Pedragon bateu sobre a mesa,

furioso ao ouvir o Cardeal chamar Soledade, mais


uma vez de cortesã.

— Se chamar a senhorita Cantillano mais


uma vez de cortesã, Eminência, teremos um

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problema imenso. — Aquino respirou fundo,


descontente com o comportamento do rei.

— Como queres que a chame? — O Cardeal


optou por enfrentar o soberano. — A jovem,

infelizmente, seguiu os passos da mãe, majestade,


com o agravante de não ter a prudência de Inês.

— Quem pensa que és para ousar falar assim


comigo? — Pedragon se levantou e colocou ambas
as mãos sobre a mesa.

— Majestade, acalme-se — Luiz sentiu a


fragilidade do momento e decidiu acalmar os
ânimos. — Em breve, a princesa Amelie estará
chegando ao reino, o senhor terá que cumprir o

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acordo que seu pai firmou com o rei Andreas; não é


sábio que a jovem chegue à corte e encontre os
burburinhos sobre a sua cortesã.

Pedragon viu a sua visão ganhar um tom de

vermelho. Se ele não se acalmasse, tomaria uma


atitude drástica com os dois homens que tanto
estimava.

— Abra novamente essa sua maldita boca


para depreciar a senhorita Cantillano, que confisco

todas as suas terras duque — Pedragon ameaçou o


próprio tio, sem medo. Apesar de respeitá-lo como
um segundo pai, não admitiria que destratasse
Soledade.

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— Senhores, por favor, vamos ter moderação

— Padilha cortou a tensão. — O rei sabe o que faz


e tenho certeza que ele preza, não só pela honra da
senhorita Cantillano, como da sua futura esposa.

Apesar de Padilha se sentir traído por


Pedragon estar dormindo com Soledade e não ter
contado a ele, sabia que não era ninguém para
tentar questionar o seu soberano.

— Todos estão dispensados e saibam que

estou profundamente irritado com essa conversa. Se


ousarem alçar esse assunto mais uma vez, não me
responsabilizo pelas ações que terei de tomar.

— Sua noiva está muito perto de chegar, ela

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merece respeito. — Aquino não se deu por vencido


— Eu garanti ao pai dela que a princesa seria muito
bem tratada na corte de Barilla.

— Case-se com ela se está tão preocupado

com o seu bem-estar — Pedragon berrou para o


Cardeal. — Eu sei o que faço e, se ela quiser casar
comigo, terá que se acostumar a nunca me
questionar e apenas ocupar o cargo para o qual foi
designada. Ela será rainha, mas isso não lhe dará o

direito de ser a minha preferida. Agora saia


Cardeal. Por hoje, eu não quero ouvir a sua voz e
muito menos o seu conselho. Sou seu soberano,
nunca se esqueça deste detalhe.

Imediatamente, a sala ficou vazia e Pedragon


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caiu pesadamente sobre a cadeira, irritado com o


fim da reunião. Ele não esperava esse tipo de
atitude dos seus homens de confiança, por mais que
eles tivessem razão por temer sua atitude

impensada com Soledade, o rei não gostava de ser


questionado.

Pedragon camuflou um gemido de frustração


quando pensou que em pouco tempo teria que
assumir um matrimônio. Na verdade, ele nunca

sentiu curiosidade em conhecer a princesa Amelie,


adiou ao máximo esse casamento e, agora que
Soledade estava em sua vida, o desejo de desfazer o
maldito acordo do seu pai era insuportável.

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Capítulo 15

Soledade finalizou o bordado e se sentiu


satisfeita com o resultado. Ela não era exímia nos
bordados, mas não fazia tanta vergonha. Os
ensinamentos da sua tia Luz tiveram resultado e,
com a ajuda de Augusta, ela ao menos encontrava

algo interessante para passar o tempo enquanto


estava na corte.

Quando morava com seus parentes, ela tinha


alguns afazeres domésticos para fazer, mas no

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palácio, os funcionários da corte pareciam se


multiplicar para servi-la. Às vezes era preciso que
Soledade fosse enérgica com eles para fazer
serviços simples como pentear o próprio cabelo.

E pensando nos parentes, Sol sentiu o


coração comprimir com a lembrança da carta, no
qual havia recebido da tia, lamentando pela sua
escolha. Acácia demonstrou o quanto ficou
desapontada com a escolha da sobrinha, e avisou

que o nobre ao qual havia sido prometida não


aceitou a recusa da jovem.

Depois que recebeu a carta, Soledade passou


a sentir medo de o nobre prejudicar sua família, por
isso, teria que pedir ajuda a Pedragon para que ele
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não permitisse que seus familiares sofressem


alguma vingança.

— A princesa Amelie chegou — Uma jovem


anunciou ao entrar na sala, agitada.

— Está certa disso, menina? — Augusta


perguntou, surpresa.

— Sim, eu a vi entrando no palácio. Ela é


linda, tem os cabelos negros, abaixo da cintura.
Todos estão fascinados com a sua beleza.

— Quem é Amelie? — Soledade questionou


Augusta, fazendo a senhora encará-la com um olhar
apreensivo.

— É a princesa, prometida do rei.

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O coração de Sol se despedaçou com a

revelação da querida camareira. O momento em


que mais temia chegou e agora a jovem teria que
interromper seu envolvimento com Pedragon.

As pessoas podiam achar que ela não tinha


caráter por ter se transformando em uma cortesã,
mas Soledade apenas não soube resistir à paixão
que sentia pelo rei. Só que agora, com a chegada da
sua futura rainha, ela sabia que não poderia mais

manter os encontros.

Augusta olhou para Sol com olhos tristonhos,


ela sabia o que acontecia todas as noites entre ela e
o soberano. Na verdade, muitas pessoas na corte
sabiam, ainda que tentassem fingir discrição.
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Apesar de ter consciência de que havia

tomado o mesmo destino da mãe, quando estava


com o rei, ela apenas se sentia feliz, como nunca se
sentiu antes. Isso a fazia seguir em frente e não

pensar na situação delicada em que havia se


metido.

— Eu lamento, querida, mas uma hora, ela


iria chegar para tomar o seu lugar. — Augusta
tocou suavemente a mão de Sol.

— Tudo bem, Augusta, eu também sei o meu


lugar.

Para evitar chorar na frente da amiga,


Soledade pediu licença e correu para o refúgio do

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seu quarto. Mas durante o caminho, teve o azar de


trombar com Padilha.

— Senhorita, eu preciso falar com você.

— Em outro momento, Padilha, eu estou com

dor de cabeça. — Sol tentou passar por ele, mas seu


toque a paralisou.

— Já sabes que a futura rainha chegou? É por


isso que estás tão abatida?

— Não é da sua conta. — Com um puxão, ela

se livrou do toque de Padilha e encarou seus olhos


com raiva.

— Você sempre soube que isso iria


acontecer, o casamento do rei não era segredo. Por

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que se entregou a ele? Poderia ter encontrado um


bom marido na corte.

— Eu nunca quis um marido, e sempre disse


isso. — Padilha a encarou intensamente, antes de

falar.

— Sei que o rei usou de toda a sua vivência


para te seduzir, ele é um grande amante. Todas as
mulheres que passaram pela sua cama ficaram
encantadas. Você jamais teria chances de resistir às

investidas dele. Confesso que me decepcionei com


Pedragon, ele não poderia te condenar a alcunha de
cortesã.

— O que queres, Padilha? Me humilhar?

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— Nunca, Soledade. — Padilha tocou

suavemente o rosto de Sol. — Case-se comigo,


senhorita Cantillano. Deixe-me te dar um futuro
digno. Pouco me importo que não sejas mais pura,

posso conviver com isso sem problemas. Quero


apenas a sua companhia, ter o prazer de tê-la como
minha esposa. Podemos nos mudar se quiser ficar
longe de todas as complicações da corte.

O pedido de Padilha deixou Soledade em

choque. Ela sabia, depois da conversa que teve com


Afonso, que o cavaleiro real nutria uma paixão por
ela, porém jamais imaginou que ele estaria disposto
a desposá-la.

— Estás falando sério?


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— Não sou homem de brincar.

Padilha respondeu com firmeza, sem tirar os


olhos de Sol e desejando ardentemente que ela
aceitasse a sua proposta.

Pedragon se sentia desorientado com a


presença de Amelie na corte. Ele sabia que não
poderia evitar este momento, mas esperava que ela
demorasse um pouco mais para chegar.

Se fosse outro momento, ficaria satisfeito

com a princesa. Ela era bonita, seus seios eram


fartos, a pele parecida com uma porcelana. Seu
olhar era firme e certamente se tornaria uma boa
amante. Mas o coração dele era de Soledade,

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sequer conseguia imaginar dormir ao lado de outra


mulher.

— Como podes notar, majestade, o rei


Andreas enviou todo o séquito da princesa e seu

dote — O Arcebispo da Áustria, informou a


Pedragon. — Ele também me pediu que apenas
regressasse ao reino quando o casamento da
princesa estiver consumado.

Os lábios de Pedragon se comprimiram com

raiva. De alguma maneira, ele teria que impedir


esse casamento. Ele, como rei, deveria ao menos ter
direito de encaminhar a sua vida como bem
quisesse.

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Um sentimento de impotência caiu sobre o

monarca quando a realidade lhe sorriu com


deboche, dizendo que suas obrigações reais
deveriam estar acima dos seus desejos. Seu pai

sempre lhe ensinou que um rei deveria suprimir as


suas vontades em prol do reino.

Foi por controlar seus desejos, que o seu pai


jamais assumiu o amor que sentia por Inês. Eles
tiveram que renunciar a felicidade, para manter a

ordem em Barilla.

— Luiz, prepare a ala sul para a comitiva da


princesa, certifique-se que todos sejam acomodados
com conforto.

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— Agora mesmo, majestade. — Luiz

inclinou-se e saiu da sala do trono.

— Descanse Arcebispo Clemens, depois


iremos conversar sobre os detalhes do acordo que

meu pai fez com o seu soberano. — Os olhos de


Pedragon foram para a princesa, que o encarava
com verdadeira admiração. — Sua alteza terá todos
os privilégios que sua posição lhe oferece. Se por
acaso tiver algum problema na minha corte, reporte

imediatamente ao seu Arcebispo que tomaremos


todas as providências.

— Obrigada, majestade. — Amelie


agradeceu, envaidecida com a atenção do rei.

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— Estão dispensados. — Sem nenhum

interesse, Pedragon fez um gesto de mão para que


todos saíssem.

O rei não perdeu o olhar duro que o

Arcebispo lhe deu. Certamente, o homem não


estava contente com a falta de interesse dele, mas
no momento, Pedragon só pensava em encontrar
Sol e esquecer que teria dias difíceis pela frente.

— O que pensas em fazer, majestade? Vais

manter sua cortesã como seu pai fez? —


Lentamente Pedragon virou o rosto para Aquino.

— Estás a criticar o comportamento do meu


pai? — Pedragon rosnou para o Cardeal.

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— O comportamento de Oton não está em

questão, até porquê, ele não se encontra mais entre


nós, porém o seu está. — A maneira com o que o
Cardeal andava o desafiando não agradava em nada

o rei.

— Pois deverias cuidar da sua vida profana


antes de se preocupar com a minha. — Agora o rei
ergueu-se do trono. — Um homem que presa bons
costumes e temor a Deus, não deveria ter filhos

bastardos. — O semblante de Aquino se contraiu.

— Majestade, não queira comparar os meus


erros com os seus. Os deslizes que cometo só afeta
meu lugar no paraíso, porém, as suas transgressões
podem destruir todo o reino de Barilla.
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As palavras do Arcebispo irritaram ainda

mais o rei, ele sabia das suas responsabilidades,


mas a vida era feita de mudanças e, neste momento,
ele queria mudar os costumes e se casar com

Soledade.

— Meu reino não será destruído por que


desejo uma mulher diferente da que me foi
prometida, Aquino. Não precisa se preocupar com
isso. Sei o que faço.

— Já não tenho certeza se realmente sabes o


que está fazendo, Majestade. — Aquino inclinou-se
e, contrariando o protocolo, saiu da sala do trono
sem o rei tê-lo dispensado.

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Depois de um jantar longo, onde ele teve que

se fazer de receptivo com todo o séquito da


princesa, Pedragon só queria cair nos braços
quentes de Soledade. No entanto, sabia que talvez

não fosse possível naquela noite, já que ela não


apareceu no jantar.

A informação que seu camareiro lhe passou,


foi que a senhorita havia pedido para que o jantar
fosse entregue nos seus aposentos. Isso confirmava

a suspeita de Pedragon, de que Soledade estava


abalada com a chegada da princesa.

Por mais que quisesse tranquilizá-la


afirmando que nada mudaria entre eles, o monarca
sabia que nada era tão simples. Encontrar uma
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saída para não se casar com Amelie, não estava


sendo fácil. Se o casamento não se concretizasse,
um grande conflito diplomático estaria a caminho.

O rei deu uma batida firme na porta de

Soledade e aguardou que ela lhe atendesse. Porém


depois de três batidas, ele empurrou a porta pesada
e viu que o quarto estava vazio.

Certo temor passou pelo seu corpo, pois do


jeito que Soledade era travessa, poderia ter fugido

com toda a distração que a comitiva da Áustria


despertou na corte.

— Guardas! — Pedragon gritou da porta do


quarto.

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Dois guardas entraram na ala leste, correndo,

assustados com a voz irritada do rei.

— Onde está a senhorita Cantillano?

— Não a vimos sair do quarto senhor. —

Eles se entreolharam.

— Como não viram? Ela não está aqui. Onde


estavam que não a viram sair?

— Majestade, entramos no turno ainda


pouco, talvez ela tenha saído antes de começarmos

a nossa guarda.— A explicação do guarda irritou


ainda mais o rei.

— Quero que achem a senhorita Cantillano


agora! — O berro do rei ecoou por todo o corredor

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e, quando os guardas se afastaram, apressados, a


figura elegante de Soledade entrou pelo corredor.

O alívio que Pedragon sentiu não podia ser


colocado em palavras. Por algum motivo, acreditou

que nunca mais poderia vê-la.

— Onde estava? — A pergunta do monarca


saiu rude até para ele mesmo.

Os olhos de Soledade correram pelos guardas


e depois foram para o rei. Pela expressão dele,

estava descontente por não encontrá-la no quarto.

— Nos deixem a sós, guardas. — Para evitar


ser afrontado na frente de seus súditos, Pedragon os
dispensou. — Não me respondeu, Soledade.

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— E não responderei. — Sem olhá-lo, ela

caminhou para a porta do quarto, e quase foi


contida pelo toque real. Quase, pois Soledade se
afastou como se ele pudesse queimá-la.

— Soledade, sei que está chateada comigo,


eu queria ter vindo conversar com você antes, mas
o meu dia...

— Seu dia foi para recepcionar a sua noiva,


todos na corte sabem disso. Inclusive não pararam

de comentar sobre a beleza angelical da princesa


cada vez que me encontravam — Ela o
interrompeu, sem se importar em contrariá-lo.

Quando Soledade decidiu passear pelos

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jardins do palácio para espairecer e controlar seu


temperamento, tinha em mente aceitar a sua
situação e passar os últimos momentos que teria
com Pedragon, sem brigas, para poder guardar na

memória o quanto havia sido feliz ao seu lado.

Só que o ciúme não a deixou em paz, e Sol


estava regressando ao palácio com uma vontade
homicida de matar a princesa e o rei.
Definitivamente, ela não tinha dom para ser

cortesã, nesse ponto não puxou em nada a mãe.

— Se alguém foi indelicado com você, eu


quero que me diga — Só de pensar que ela havia
sofrido alguma ofensa por parte dos súditos da
corte, deixava Pedragon fora de controle.
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— E o que fará, majestade? Por acaso vais

dizer aos nobres que devem respeitar uma cortesã?


— A raiva em cada palavra proferida por ela,
deixou claro a Pedragon, que não seria fácil

convencê-la de que ele não a abandonaria.

— É exatamente isso que vou dizer, jamais


vou admitir que alguém a destrate.

— Vive em outra realidade. — Agora


Soledade conseguiu passar por ele e entrou no seu

quarto, mas quando tentou fechar a porta, Pedragon


não permitiu.

— Soledade, sei que estás ferida, eu também


estaria no seu lugar, mas quero que saiba que

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procuro uma saída para não me casar com Amelie.

— O quê? — Ela não pôde conter a surpresa


com as suas palavras.

— Não quero me casar com ela, só que tenho

esse maldito acordo do meu pai. Adiei o quanto


pude, e depois de te conhecer tive certeza de que
não poderia me casar. Mas não sei como impedir
esse casamento sem causar um grande conflito
político.

A angústia na voz dele desarmou Soledade,


os olhos do seu amado revelavam todo o seu
desespero. Ele sofria tanto quanto ela, os dois
estavam fadados a terem seus corações partidos.

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— Não podes impedir, majestade, este é o

seu destino.

Encarando a realidade e mesmo com o


coração sangrando, Soledade conscientizou-se do

seu futuro e decidiu que ao menos aproveitaria os


últimos instantes com o homem que amava.

Era uma mulher forte, assim como a sua mãe


foi. Errou ao ceder à paixão, mas não iria mais se
lamentar como fez a tarde toda. Seu pranto não

mudaria a realidade, por isso, encararia a situação


com coragem e aproveitaria o pouco tempo que
ainda tinha com Pedragon.

— Vós sois um rei, necessita assumir as

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responsabilidades do seu cargo. — Sem querer


perder tempo, aproximou-se de Pedragon. —
Vamos aproveitar o pouco tempo que nos resta,
quando estiveres casado, deverá honrar a sua

rainha.

— Sou um rei querida, isso me dá privilégios


irrestritos. Ser fiel não está em pauta, posso ter a
mulher que eu quiser. — A mão dele segurou o
queixo de Soledade com firmeza. — Quero você,

ainda que eu me case, jamais abrirei mão do que


temos.

— Não sou completamente como a minha


mãe, Pedragon, eu jamais conseguiria me deitar
com o homem de outra mulher. Posso ser vista por
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todos como uma prostituta, mas sei que não sou.


Entreguei a minha virtude a vós, porque estava
apaixonada, se não tivesse sentimentos por vossa
majestade, preferiria ir para a forca a ter que deixá-

lo me possuir. — Uma lágrima caiu no rosto de Sol


ao dizer essas palavras.

— Me perdoe por ter sido tão egoísta. —


Pedragon inclinou-se e a beijou suavemente. — Eu
te quis tanto, que não pensei o quanto te faria

sofrer.

— Fui feliz em seus braços. — As mãos de


Soledade começaram a despir o rei. — E quero ser
ainda mais feliz até o dia do seu casamento.

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— Não vai haver casamento, pois eu

encontrarei uma solução.

— Não podes fugir do destino, meu senhor,


mas podes me fazer sua agora.

Com essa declaração, ela despiu o rei e deu a


ele o prazer de fazer o mesmo com ela. A
iluminação tênue dos castiçais dava uma visão
romântica dos corpos nus caindo na cama enquanto
as bocas digladiavam-se em um beijo intenso e

repleto de paixão.

Ambos sabiam que jamais conseguiriam


encontrar a felicidade longe um do outro, porém,
também tinham consciência de que a realidade que

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lhe rodeavam era cruel e implacável.

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Capítulo 16

Por três dias, Soledade conseguiu evitar


esbarrar com a futura rainha, mas sua sorte acabou
quando estava na sala de treinamento com o
príncipe.

— Amelie, que bom vê-la. — Afonso saldou

a princesa com um sorriso encantador. — Veio


assistir ao treinamento?

— Queria convidá-lo para uma cavalgada,


mas vejo que está ocupado.

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— Já estou terminando, sente-se ao lado de

Sol. — Assim que o príncipe fez o convite,


percebeu seu erro.

Ele buscou o olhar de Soledade e viu que ela

observava a princesa com apreensão. Pedragon a


colocou em uma situação difícil e, essa
imprudência do irmão, era algo que Afonso jamais
perdoaria.

As duas mulheres se olharam, e a

intensidade, no qual Amelie encarou Soledade, fez


com que a jovem ficasse corada.

— Soledade, está é Amelie, a princesa da


Áustria. — Já que não podia fugir da situação

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delicada em se encontravam, Afonso fez as


apresentações.

— É uma honra conhecê-la, alteza. — Com


dificuldade, Sol controlou o temperamento e

prestou a devida reverência à princesa.

— Ouvi falar de você. — Amelie disse ao


analisar o rosto da mulher a sua frente.

A princesa percebeu que Soledade era bela e,


que tinha uma confiança no olhar que normalmente

apenas era reservada a poucas mulheres da nobreza.


Sua pele era viçosa, os lábios encorpados e seu
longo cabelo trançado, dava-lhe sensualidade.

Sem dúvidas era o tipo de mulher que

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despertava o interesse dos homens. Agora Amelie


entendia o motivo de Pedragon estar envolvido por
ela.

Antes mesmo de chegar a Barilla, a notícia

que o rei tinha uma cortesã já era motivo de


preocupação no governo austríaco. Por esse
motivo, o Arcebispo havia vindo junto da comitiva,
para se certificar de que Pedragon cumprisse o
acordo e respeitasse a princesa.

— Amelie, se quiser pode me aguardar em


outro lugar, assim que terminar o treino, nós
poderemos caminhar — Afonso decidiu amenizar a
tensão do encontro das duas.

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— Não será necessário, Afonso, ficarei

aguardando aqui mesmo.

Sorrindo, Amelie sentou-se ao lado de


Soledade e assistiu ao treino de Afonso com

entusiasmo. Em alguns momentos, ela bateu


palmas e em outros sorriu com certo exagero.

— Afonso é corajoso, ouvi histórias dele e do


irmão em algumas batalhas.

— É mesmo? — A voz de Sol saiu com certa

precaução. Não sabia como deveria conversar com


uma princesa, principalmente, ela sendo a futura
esposa do seu amante.

— Sim, sempre recebíamos notícias do reino

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de Barilla.

— Humm — Soledade apenas resmungou,


tentando encerrar o assunto.

— Você ama Pedragon? — Amelie virou-se

para a sua rival. — Pretende continuar sendo a


cortesã dele quando nos casarmos?

A pergunta da princesa fez Sol dar um pulo e


se desequilibrar. O corpo dela se inclinou
perigosamente e quando deu por si, o assento em

que estava virou levando-a até o chão.

Rapidamente um cavaleiro veio ao seu


socorro, juntamente com Afonso. Os dois homens a
ergueram e, Soledade encarou a princesa,

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constrangida.

— Se machucou? — Afonso perguntou,


solícito.

— Estou bem, alteza. — Com medo do que

poderia acontecer se ficasse ali, decidiu que era


hora de voltar para seus aposentos. — Continue o
seu treino, irei para o meu quarto.

— Vou pedir que um vassalo te acompanhe.

— Não será necessário, estou bem. — Ela

prestou reverência aos príncipes e escapou


correndo da vergonha, no qual passou.

Quando teve a péssima ideia de se entregar a


Pedragon, não imaginou o que teria que enfrentar.

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Na verdade, nunca pensou o quanto era opressor a


vida que sua mãe levava. Agora, entendia bem o
motivo de ela não querer ter a filha por perto.

Uma lágrima caiu pelo seu rosto, tinha feito

tudo errado, se sua mãe estivesse viva, certamente


estaria decepcionada com ela.

Os preparativos para o casamento real


estavam a todo vapor. Por mais que Pedragon
tentasse conter a avidez da festividade, parecia que

todos estavam empenhados em realizar o


casamento o mais rápido possível.

Amelie já estava no reino há quase um mês, e


nesse tempo, Pedragon só a encontrou com mais

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intimidade duas vezes. Evitava a princesa a todo


custo, jogou nas mãos do seu irmão a
responsabilidade de pagear a dama. Por mais que
soubesse que deveria cortejá-la, como manda a

tradição, não se sentia capaz de realizar nenhum ato


de romantismo.

Claro que a sua indiferença causou grande


conflito com o Arcebispo austríaco, mas Pedragon
assumiu sua posição real e neutralizou Clemens

com toda a autoridade que um rei possuía.

Apenas encontrava a paz quando a noite caía


e se refugiava nos braços de sua amada. Ela lhe
dava o refrigério de que tanto necessitava. Ao lado
de Soledade, sentia-se inteiro e esperançoso. Ela
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alimentava a sua alma de alegria como jamais outro


alguém conseguiu.

— A comitiva do rei de Portugal já se


encontra nas terras de Barilla, majestade — Padilha

anunciou. — Sua irmã também deve chegar de


Flandres ainda hoje.

A mente de Pedragon estava longe, não


conseguia deixar de pensar no cheiro de Soledade e
nos gemidos que ouviu hoje pela manhã quando

deixou o seu quarto. Cada vez que ficava com ela,


abominava a sua linhagem real.

— Majestade, está se sentindo bem?

— Não! — respondeu com irritação. —

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Providencie tudo o que for necessário para


acomodar a minha irmã. Ela virá com o marido?

— Acredito que sim.

— Ótimo. Também deixe tudo pronto para a

chegada do rei de Portugal. Quero que toda a sua


comitiva seja muito bem tratada, assim como fui,
no casamento da infanta.

— Já está tudo organizado, meu senhor.

— Mais alguma coisa, Padilha? — Os olhos

frios do rei encaravam seu cavaleiro.

Há tempos os dois andavam se estranhando.


Saber que seu grande amigo desejava a sua mulher,
abriu um abismo entre eles. O pior de tudo era que

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Pedragon sabia que Padilha teria sido o homem


apropriado para cuidar de Soledade.

Se ele não tivesse sido impulsivo, teria


organizado para que os dois se casassem. Mas o

desejo o cegou e destruiu a vida da jovem,


condenando-a ao destino, no qual um dia a sua mãe
se esforçou para que ela não tivesse.

Vergonha! Esse foi o sentimento que caiu


sobre o peito do rei. Ele traiu Inês covardemente.

Aproveitou-se da inocência da sua filha, para poder


sanar o desejo de tê-la.

— O mensageiro que foi enviado para


resolver o problema com o nobre, no qual se

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casaria com a senhorita Cantillano retornou. —


Agora Padilha ganhou a atenção do rei.

— Onde ele está? Quais foram às notícias


que trouxe?

— O pobre estava faminto da viagem, pedi


que fosse comer e descansar um pouco, mas me
inteirei de toda a situação.

— Conte o que aconteceu.

— O nobre estava pronto para vir ao reino

reclamar seu direito sobre a dama, mas o nosso


mensageiro lhe transmitiu o seu recado.

— Ele desistiu do casamento?

— Como não desistiria com os privilégios

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que lhe concedeu? Quando viu que ganharia a


liderança de uma província, sequer pensou em
Soledade.

— O bastardo só a queria como prêmio, com

a idade dele apenas desejava exibi-la aos seus


amigos.

— Isso é certo senhor, Soledade fez bem em


não aceitar voltar para se casar. Evitou ficar
aprisionada a um homem com a idade para ser seu

pai e que não sabemos se a trataria com dignidade.

— Nosso mensageiro entregou o que mandei


para a família dela?

— Claro que sim, a família de Soledade está

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bem abastada, como pediu.

— Muito bom, Padilha, depois quero


conversar com o mensageiro.

— Assim que ele estiver recuperado

fisicamente virá ao seu encontro. A viagem foi


longa e ele não pode descansar antes de retornar a
Barilla.

— Ótimo. — O rei sentiu satisfação em ter


libertado Soledade do compromisso, no qual sua

família lhe prendeu. Agora, esperava conseguir se


libertar do próprio casamento.

— Posso me retirar, majestade? — O pedido


de Padilha fez o rei lamentar a distância que a

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amizade deles ganhou.

— Será que algum dia nós voltaremos a ser


melhores amigos?

A pergunta do rei deixou Padilha surpreso,

depois de tanto tempo trocando apenas algumas


palavras necessárias, o cavaleiro real sequer se
lembrava de que um dia dividiram uma amizade
verdadeira.

— Tudo é possível, majestade. — Pedragon

sorriu da resposta do seu súdito.

— Não se sinta temeroso em dizer que nunca


mais será o mesmo. Você tem liberdade para isso.

— Não estou temeroso, só incerto sobre o

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futuro — Padilha evitou dizer que havia proposto


casamento a Soledade, e que aguardava ansioso
pela resposta dela. Se ela aceitasse o seu pedido,
eles jamais conseguiriam manter um amizade.

— Pode se retirar.

O rei o dispensou antes que entrassem em


atrito. Ver a maneira como o seu fiel cavaleiro lhe
olhava não era agradável. Eles cresceram juntos,
sempre dividiram alegrias e tristezas. Mas agora,

eram apenas dois desconhecidos.

Um sentimento de solidão corroeu o peito do


rei. Seu pai sempre o alertou que deveria ser forte
nos momentos de dificuldades. Mas nada o

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preparou para perder a confiança de um grande


amigo e não poder ser feliz com quem amava.

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Capítulo 17

O vento de fim de tarde desfez o penteado de


Soledade, ela estava há tempos sentada no jardim
pensando no que deveria fazer. Seus dias estavam
resumidos em esperar a noite cair para poder estar
nos braços de Pedragon.

A vida já não tinha mais cor, o que sempre


acreditou querer, agora era apenas uma lembrança
distante e a tristeza acabou sendo a sua grande
companheira.

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Uma lágrima correu pela face da jovem

quando recordou a esperança de liberdade que


corroia o seu peito quando chegou as terras de
Barilla. Naquele momento, ela achou que

conseguiria ser livre, sem precisar responder as


vontades da sua família e seguir a sua vida sozinha.

Só que não esperava conhecer o homem mais


bonito que já viu; muito menos sentir por ele um
sentimento que jamais imaginou existir.

Quando Pedragon lhe tocou pela primeira


vez, não se recordou em momento algum do
episódio com o marido da tia, que em muitas
oportunidades lhe tirava o sono. Na realidade, o
toque do rei parecia ser certo, como se o seu corpo
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o reconhecesse de vidas passadas. Era um pouco


absurdo esse pensamento, mas era exatamente
assim que ela se sentia cada vez que via o monarca.
Eles eram como almas gêmeas, que estavam

destinadas a se encontrarem.

— Soledade — A voz profunda de Padilha a


assustou.

— Por Deus, Padilha, quer me matar? — Sua


mão foi para o meio do peito, na tentativa de conter

as batidas desenfreadas do seu coração.

— Perdoe-me, senhorita, não tive a intenção.


— Com calma, Padilha se aproximou e ocupou o
lugar ao lado dela. — Em quem pensava? Fiquei

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por um bom tempo a observando e estavas tão


longe...

Um suspiro triste escapou do peito dela e,


para a surpresa do cavaleiro, a cabeça de Sol

descansou em seu ombro. O coração de Padilha se


aqueceu com esse gesto inusitado, talvez ainda
existissem chances para os dois ficarem juntos.

— Não pensava em nada demais, apenas em


como sinto que tenho uma ligação estranha com

Pedragon — Apesar de saber do interesse


romântico do cavaleiro, Soledade decidiu ser
sincera. — Não me ache louca, mas não sei
explicar a força da ligação que sinto quando estou
com ele.
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Agora o coração de Padilha murchou, como

uma flor que não recebe água.

— Acredito que essa sensação seja o


sentimento profundo que sente pelo rei.

— Pode ser. — Ela suspirou e fechou os


olhos quando uma brisa fria atingiu seu rosto.

Antes que pensasse no que estava fazendo,


Soledade se ouviu contando sobre sua infância, a
raiva que sentiu quando descobriu que não era filha

de tia Luz e da curiosidade que passou a ter sobre a


mãe.

Ela também contou sobre algumas


dificuldades que passou, e acabou revelando a sua

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traumática experiência com o marido da tia. Sol


não deixou nada de fora, abriu o coração para
Padilha.

Na verdade, ela queria saber qual seria a

reação dele ao lhe conhecer tão profundamente.


Desde que o cavaleiro propôs casamento, Soledade
remoia a sua proposta.

Ficar na casa da sua mãe era sua primeira


opção, no entanto, lá ficaria muito perto de

Pedragon. Mas se ela saísse do reino, teria que


encontrar um lugar onde pudesse morar com
segurança. Então, aceitar ser a esposa de Padilha e
sair da corte, já não era uma má ideia para a jovem.

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Seus conceitos já não eram os mesmos desde

que chegou a Barilla. Agora sabia que a vida livre,


no qual acreditou que poderia ter na casa da mãe,
traria consequências que nunca estaria preparada

para enfrentar.

O cavaleiro real era um homem honrado,


gentil, honesto e muito bonito. Se afeiçoar a ele não
seria difícil. Na verdade, ela já desfrutava de um
grande carinho por Padilha. Um dia, quem sabe,

poderia amá-lo como um homem, e não como


amigo.

— Meu Deus, Soledade, nunca imaginei que


tivesse passado por tantos problemas. — O
sentimento de proteção fez com ele passasse o
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braço pelos ombros de Soledade.

— A vida fora da corte não é fácil.

— Eu sei disso, mas quando ouvimos um


relato triste de alguém que amamos, é impossível

não sentir o coração se partir.

Os olhos de Soledade encararam o rosto de


Padilha, sem acreditar que ele havia dito que lhe
amava. Apesar de saber do sentimento que existia
da parte dele, ela não sabia que era amor.

— Já passou — Ela optou por não comentar


nada sobre o que ele falou. — Agora só me
preocupo com meu futuro, estou sozinha, sei que a
minha família me odeia.

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— Por falar em família. — Padilha lhe

entregou uma carta.

— O que é isso?

— Um mensageiro foi resolver o problema

do seu casamento e encontrou a sua família. Sua tia


mandou essa carta para você.

— Como assim um mensageiro foi resolver o


meu casamento?

— O rei queria informar ao seu prometido

que ele tinha planos na corte para você. Como sua


família havia se comprometido com o nobre,
Pedragon não queria que eles faltassem com a
palavra. Então, enviou um mensageiro real,

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avisando que o rei de Barilla estava desfazendo o


acordo. Isso não é algo normal de acontecer, porém
legítimo e sem chances de contestação, uma vez
que o nobre recebeu uma compensação.

— Compensação?

— Nada com que deva se preocupar. Que tal


ler a carta? — Padilha não queria discutir detalhes
do acordo com ela.

— Vou para os meus aposentos, quero um

pouco de privacidade.

— Não conte ao rei sobre a carta, não o


informei sobre a sua existência.

— Não vou contar.

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Eles ergueram-se e caminharam para o

palácio, mas no meio do caminho esbarraram com


o casal de príncipes, extremamente sorridentes.

— Altezas. — Padilha foi o primeiro a

cumprimentá-los e depois foi seguido por Soledade.

A princesa Amelie não perdeu a mão de


Soledade no braço de Padilha. Seu semblante ficou
confuso, uma vez que ela era a cortesã de
Pedragon.

— Soledade, faz tanto tempo que não


conversamos. — Afonso pegou a mão da jovem e
beijou. — Como Amelie se sente sozinha na corte,
tenho me esforçado para distraí-la.

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Os dois se entreolharam sorrindo e algo na

maneira como se olharam, fez Soledade se lembrar


da forma que ela e Pedragon também se olhavam.

— Entendo os seus compromissos, alteza,

não precisa se preocupar comigo — Soledade


respondeu, ainda intrigada com a comunicação
intensa entre os príncipes.

— Se nos derem licença, precisamos entrar


— Padilha decidiu interromper a conversa.

— Claro, Padilha. — Afonso deu a permissão


para os dois se afastarem.

Por algum tempo, ambos caminharam em


silêncio. Mas assim que pisaram nas dependências

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do palácio, Soledade não se conteve.

— Você viu o que eu vi? — Ela indagou a


Padilha.

— O que exatamente viu?

— Ora, Padilha, não se faça de inocente,


você percebeu o clima de paixão entre os príncipes.

— É... venho notando esse clima desde que


se viram — Padilha confessou. — Parece que a
princesa não se engraçou por Pedragon como

deveria ter acontecido.

Uma esperança começou a corroer o coração


de Soledade. Se a princesa se apaixonasse por
Afonso, talvez o casamento dela com o rei, pudesse

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ser cancelado.

— E se ela não quiser se casar com


Pedragon? Ele ficaria livre desse compromisso?

Por algumas noites, Padilha pensou sobre

isso desde que percebeu o sentimento entres os


príncipes. Na verdade, ele não sabia ao certo a
resposta, mas tinha certeza de que se o casamento
não acontecesse, Soledade jamais seria dele.

— Acho pouco provável o casamento não

acontecer. Na vida da monarquia, os sentimentos


não devem ser o centro da atenção.

A resposta de Padilha despedaçou o coração


de Soledade. A pouca esperança que surgiu dentro

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do seu peito, desapareceu com a resposta do


cavaleiro.

— Depois nos falamos Padilha, vou ler a


carta.

— Nos encontramos no jantar. — Padilha


beijou a mão de Soledade e a observou se afastar,
sentindo que estava cada vez mais longe de
conseguir tê-la para si.

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Capítulo 18

Essa era a quarta manhã que Soledade


amanhecia passando mal. Desde que leu a carta da
tia, uma tristeza profunda se abateu sobre ela. A
jovem acreditava que o remorso estava cobrando o
seu preço, fazendo com que seu corpo perdesse o

ritmo normal.

Também estava triste, porque o casamento


aconteceria em poucos dias. Agora, Pedragon
sequer tinha tempo para vê-la. Desde que a irmã

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dele e o rei de Portugal chegaram à corte, ele estava


envolvido em eventos com a realeza.

— Vou chamar o médico da corte para ver o


que você tem Soledade. Se o rei descobrir que está

doente e não foi devidamente tratada, ele irá me


mandar à forca. — Sol revirou os olhos para o
drama excessivo de Augusta.

— Ninguém irá para a forca, eu apenas estou


triste.

— Tristeza não deixa ninguém vomitando e


com o rosto verde.

— A minha deixa. — Sol virou na cama e


respirou fundo para tentar controlar mais uma onda

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de mal-estar.

A falta de protesto de Augusta surpreendeu


Soledade, a camareira era bem teimosa e, desde que
começou a se sentir mal, ela não parava de dizer

que precisava avisar ao médico.

— Augusta? — Vagarosamente Sol levantou


o tronco e buscou a mulher, mas o quarto estava
vazio. — Droga! — Praguejou prevendo o que a
camareira tinha ido fazer.

Sem poder tomar nenhuma atitude, ela


decidiu ficar quieta e tentar se recuperar antes que o
médico chegasse. Porém, uma nova onda de enjoo
a colocou de joelhos na frente do recipiente, no

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qual Augusta havia colocado ao lado da cama.

— Por Deus, Soledade, o que está


acontecendo?

A voz estridente de Abgail fez Sol gemer.

Agora tudo ficaria pior, certamente não conseguiria


escapar dos cuidados do médico e Pedragon saberia
que não se sentia bem.

— Eu estou bem, não precisa se preocupar.

— Como não? — Abgail segurou o braço

dela e a ajudou a ir até a cama. — Guarda! —


Chamou com autoridade.

— Estou aqui!

— Vá chamar Cassilas, diga que é urgente e

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que a senhorita Cantillano necessita de seus


cuidados. Porém, certifique-se de que ninguém,
além do médico, saiba dessa informação.

— Certo.

O guarda deixou os aposentos as pressas sem


contestar. Abgail pegou um pano e umedeceu para
poder colocar na testa de Soledade.

— Por que é tão teimosa menina? Quer que


ocorra uma tragédia neste reino se acontecer algo a

você? Pedragon é um bom rei, mas jamais nos


perdoará se souber que esteve doente e que não a
socorremos.

— Pare de ser exagerada como a Augusta.

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— Não sou exagerada — Augusta ralhou,

indignada.

— Calem-se, vamos aguardar o médico. —


Abgail ordenou, asperamente.

Cassilas lavou as mãos e olhou tenso para as


três mulheres, que o observavam ansiosas.

— Quando suas regras vieram pela última


vez, senhorita? — Soledade olhou sem graça para o
médico e, em seguida, buscou a ajuda de Abgail.

— Responda, querida — Abgail falou com


carinho.

— Não me lembro de ter vindo no mês


passado.
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— Sei. — O médico respirou fundo. —

Sente-se tonta? Com muito sono?

— Sim.

Cassilas olhou para Abgail com os lábios

apertados em uma linha fina, sem saber como dizer


que o reino iria enfrentar tempos difíceis.

— Bem... — ele fez uma pausa antes de falar.

— Soledade está grávida? É isso o que vai


dizer, Cassilas? —Abgail não se conteve e foi

direta.

— É exatamente isso.

— Que Nossa Senhora de Barilla tenha


piedade do que está por vir! — Augusta exclamou,

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estarrecida.

— Grávida? — Soledade esqueceu todo o


mal-estar e se sentou na cama. — Não é possível,
pois eu tomo religiosamente o composto, no qual

Abgail me dá.

— Não é completamente eficaz senhorita. —


Cassilas sorriu. — Se o composto fosse tão eficaz,
muitos bastardos teriam sido evitados.

— Cassilas, preste atenção ao que fala —

Abgail repreendeu o médico. — Se o rei ouve a


maneira como se refere ao seu futuro filho, não irá
gostar.

— Perdão, Abgail, mas não menti, temos um

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bastardo a caminho. — Os olhos de Soledade se


encheram de lágrimas com as palavras do médico.

— Já basta! Saia daqui. Irei reportar a


Pedragon sua insolência. E mantenha para si essa

informação, nem sob tortura diga o que sabe.


Apenas revele ao rei caso ele o procure.

— Abgail... — Cassilas tentou protestar, mas


Augusta chamou um guarda para retirar o médico
do quarto.

Quando ele saiu, o silêncio caiu sobre as três


mulheres com força extrema. Todas estavam com o
semblante tenso, sabendo que estavam diante de
um grande problema.

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— Não quero que Pedragon saiba de nada.

— Devo lealdade ao rei, Sol — Abgail


respondeu.

— É a minha vida — A raiva dominava

Soledade profundamente. — Não quero que ele


saiba, esse filho é meu.

— Você não o fez sozinha, menina —


Augusta se intrometeu.

— Meu filho não merece ser visto como um

bastardo. Não vou fazer isso com ele, quero lhe dar
um futuro justo.

— E como pensa em fazer isso? Irá fazer


como a sua mãe quando abriu mão de você? — O

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coração da jovem se comprimiu quando se lembrou


do esforço da mãe para lhe dar um futuro honroso.

— Padilha se ofereceu para se casar comigo e


mudar da corte, Abgail. Vou aceitar e pedir que me

leve para uma região onde não saibam da minha


relação com o rei.

As duas mulheres se entreolharam,


abismadas, nenhuma delas esperava ouvir uma
novidade como um possível casamento da cortesã

com o mais estimado cavaleiro real.

— Será uma traição ao rei se fizerem isso —


Abgail disse, chocada.

— O rei tem sua vida, agora tenho que pensar

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no melhor para o meu filho.

— Tens certeza de que Padilha irá aceitar se


casar sabendo que espera o filho de outro homem?

— Se ele não aceitar, eu terei que seguir o

meu destino sozinha.

A notícia sobre a gravidez desestruturou


Soledade, porém não tirou a sua determinação de
proporcionar um futuro digno ao filho. Colocaria
de lado o seu coração, pois agora deveria apenas

viver para os interesses da vida, no qual estava


crescendo no seu ventre.

Tentando passar despercebida pelos


corredores do palácio, alcançou a ala administrativa

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em busca de Padilha. Iria aceitar o pedido de


casamento; neste momento não tinha outra saída.

Com receio, ela se aproximou de um guarda e


perguntou se havia visto o cavaleiro real e recebeu

como resposta que ele estava em reunião. O guarda


mostrou a sala que ele se encontrava e, sem
demora, Soledade seguiu na direção indicada.

Quando estava se preparando para bater na


porta, ela foi aberta e, Padilha apareceu, juntamente

com Luiz, o conselheiro real.

— Soledade, o que está fazendo por aqui? —


Padilha perguntou sorrindo, mas o homem ao seu
lado a encarava com o rosto tenso.

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— Aqui não é lugar para alguém como você.

Não deve perambular pelas dependências do


palácio — Luiz recriminou Soledade sem nenhum
tato.

— Não seja indelicado com a senhorita


Cantillano, Luiz, tenha mais respeito.

— Respeito. — Luiz repetiu a palavra dando


um sorriso debochado e, em seguida, se afastou.

— Lamento constrangê-lo. — Agora certo

receio dominou Soledade.

— Não tem constrangimento nenhum. —


Padilha estava se sentindo radiante por vê-la depois
de uma reunião tão tensa. — Está com algum

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problema?

— Queria tratar de um assunto com você —


O coração do cavaleiro se encheu de esperança.

— Venha por aqui.

Ele apoiou a mão no meio das costas de


Soledade e a encaminhou para um local onde
pudessem conversar sem serem incomodados.

— Então, Soledade, o que deseja?

O olhar temeroso de Sol despertou o instinto

de proteção de Padilha. Ela parecia não só aflita,


como desesperada. Algo havia acontecido e, ele
estava ansioso para saber o que foi.

— Ainda quer se casar comigo?

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— Mais do que imagina. — O coração de

Soledade começou uma cavalgada alucinante com


o nervosismo da revelação que faria..

— Tenho um problema, Padilha.

— Problema? De que tipo? — ele a observou


prender os lábios demonstrando todo o seu
nervosismo.

— Estou grávida.

Instintivamente, Padilha deu um passo para

trás enquanto seu queixo despencava.

— Pedragon sabe disso?

— Não quero que saiba.

— Quem sabe sobre a sua gravidez?

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— Abgail, Augusta e o médico. — Padilha

correu a mão pelo cabelo, nervoso.

— Cassilas é um homem discreto, já não


posso dizer o mesmo das duas linguarudas.

— Pedi que não contassem, não quero que


meu filho seja um bastardo.

— Se Pedragon desconfiar dessa gravidez,


sequer se casará. Ele está como um louco tentando
descobrir uma maneira de desfazer o casamento.

Apesar de saber que a vida da realeza não era


como das pessoas comuns, Soledade ainda tinha
um sonho bobo de que Pedragon conseguisse
desfazer o casamento.

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— Ele não vai saber, mas preciso que me tire

do palácio o quanto antes, se ainda quiser se casar


comigo. Estou passando muito mal desde cedo,
alguém pode desconfiar e contar a ele.

— Claro que quero me casar com você, mas


confesso que não estou preparado para te tirar
daqui agora. A corte está agitada com a
aproximação do casamento. Mas vou tentar
encontrar um lugar onde possa ficar.

— Obrigada. — Soledade abraçou Padilha,


pegando-o de surpresa. — Prometo ser eternamente
grata por tudo o que está fazendo por mim e pelo
meu filho.

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— Se você sorrir desse jeito para mim todos

os dias, pode ter certeza de que será o melhor


agradecimento que poderá me dar. — Sem resistir,
ele tocou o rosto dela tentando segurar ao máximo

a vontade de roubar-lhe um beijo.

O dia de Soledade não havia sido fácil, além


do seu mal-estar não ter passado como nos dias
anteriores, teve um encontro constrangedor com a
irmã de Pedragon.

Apesar de manter a postura e educação,


estava bem claro nas poucas palavras que falou;
que a princesa de Flandres não aprovava a sua
presença na corte.

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Na realidade, Soledade sabia que não estava

no direito de se ressentir da indiferença da princesa,


mas a verdade é que doía muito saber que as
pessoas não a queriam por perto.

O amor era algo que ela sempre evitou, mas


quando teve o seu coração roubado, foi justamente
por um homem que jamais seria seu.

— Que injustiça, Senhor! — Choramingou


quando sentiu uma profunda tristeza esmagar o seu

peito.

Não era justo ter passado uma vida tão difícil


e tudo piorar quando veio em busca da herança da
mãe. Se soubesse que a sua vida mudaria tão

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radicalmente, teria enfrentado o rei e ficado no


bordel. Ao menos lá, estaria livre da dor que
parecia consumi-la.

Um barulho na porta dos seus aposentos a

assustou, mas quando viu o cabelo encorpado de


Pedragon surgir, relaxou. Com a agitação dos
convidados no palácio, ele não a visitava mais.
Suas noites que antes eram repletas de paixão,
agora eram frias e tristes.

— Pedragon, não deveria estar aqui.

— Por que não? — O sorriso embriagado do


rei não agradou Soledade.

— Está bêbado?

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— Só bebi um pouco mais de vinho, nada

que me embriagasse — Ele respondeu, enquanto


despia a roupa. — Ter o rei Manoel por perto é
complicado, aquele português adora uma farra. —

Pedragon sorriu. — Estou com saudades de você.

— Seu casamento será em alguns dias, não


deveria mais aparecer aqui.

— Ainda não sei se terá casamento, tudo


pode acontecer até lá e, eu posso descobrir uma

maneira de me livrar da maldita princesa austríaca.

— Não fale assim dela, a pobre menina não


tem culpa de toda essa situação.

— Por que estamos falando de outra mulher?

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Não quero Amelie dentro do nosso quarto.

— Pedragon, volte para seu quarto.

— Vou dormir com você, preciso sentir o seu


calor. — Pedragon se ajoelhou na cama, ansioso

por tomar Soledade.

Ele se aproximou, deitando ao lado dela e


passando uma das mãos no seu quadril. Mesmo
sabendo que seu corpo estava condicionado a
desejá-lo, Soledade não estava mais disposta a

aceitá-lo na sua cama.

Em poucos dias, ela estaria indo embora do


palácio e se entregando a outro homem, por isso, já
sentia necessidade de ser fiel a ele.

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— Não, Pedragon. — A negação saiu de seus

lábios no exato momento em que o rei baixava a


manga da sua camisola para poder beijar-lhe seu
ombro.

— Não? — A pergunta dele saiu com misto


de surpresa e frustração. — O que está
acontecendo?

Por alguns segundos, Soledade fechou os


olhos para não gritar com ele e dizer que não queria

mais ser a outra em sua vida; que o seu coração


estava sangrando por não poder ficar com o homem
que amava.

— Não estou me sentindo bem hoje.

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— O que tens? Quer que eu chame Cassilas?

— A menção do nome do médico fez a jovem


gelar.

— Não é preciso, apenas estou com dores

normais.

— Nenhuma dor é normal — Pedragon


respondeu, preocupado.

— Quando se é mulher, dores mensais é mais


do que natural.

— Ah, sim. — Agora o rei entendeu seu


desconforto. — Espero que melhore logo. — Com
carinho, ele tocou o rosto dela. — Vou dormir com
você de qualquer maneira.

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— Vá para o seu quarto, está na hora de parar

de fugir dos seus compromissos.

— Você não me quer mais? Está me


dispensando?

— Estou apenas me livrando de mais dor.

— Eu te amo Soledade, estou buscando


desesperadamente uma maneira de não concluir
esse casamento. Não me sinto feliz com toda essa
situação, eu queria você caminhando até o altar.

As palavras do rei entraram profundamente


no coração de Sol. Ele estava sendo sincero e
assumindo abertamente o amor que sentia por ela.
Porém, toda a realidade dizia que não seria como

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eles queriam, pois não se podia mudar o destino de


um rei.

— Eu te amo com toda minha devoção, meu


rei, mas não podemos ficar juntos. Somos de

mundos diferentes, você é da realeza, eu sou apenas


uma humilde mulher, filha de uma prostituta de
bom coração. Jamais estarei a sua altura, ainda que
nos meus mais secretos sonhos, eu ouse acreditar
que posso passar a vida ao seu lado.

Sem resistir ao desejo que sentia por


Pedragon, beijou suavemente os seus lábios. Esse,
talvez, fosse o último contato físico entre eles, por
isso ela queria muito guardar este instante na
memória.
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— Deixe-me te segurar entre os meus braços

apenas por esta noite, não quero ficar sozinho.

Esse tipo de pedido não era algo que um rei


deveria fazer, mas Pedragon já não se importava

com a sua postura real. Apenas queria esquecer


quem era e viver os últimos momentos ao lado da
única mulher que amou.

Sem resistir ao desejo de senti-lo um pouco


mais perto de si, Soledade abriu os braços e

acolheu o corpo do rei com todo o amor que


carregava dentro do peito.

Com toda a movimentação no palácio, a


vigilância que antes era intensa ao redor de

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Soledade, agora estava centrada nos monarcas que


chegaram para o casamento.

Isso deu a Padilha a liberdade para tramar a


saída de Sol da corte. Como ele ainda não tinha tido

a oportunidade de pedir dispensa da cavalaria real,


não poderia sair do reino junto com ela.

Foi por esse motivo, que uma ideia absurda


passou pela cabeça dele. No estado delicado em
que Soledade se encontrava, Padilha não a queria

muito longe, por isso organizou com Encarnación,


a hospedagem momentânea da jovem no antigo
quarto de Inês, no bordel.

No fundo era arriscado deixá-la ali, mas com

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toda a confusão do casamento, Pedragon não


desconfiaria quando fosse avisado que Soledade
partiu em busca da família.

Certamente, o rei iria esbravejar, mas não

poderia abandonar as suas obrigações reais. Apesar


de estar louco por Sol, ele tinha uma obrigação
maior com o Reino de Barilla.

— Você quer que eu fique com as meninas?


— A proposta de Padilha foi completamente

surpreendente.

— Até eu conseguir organizar a nossa casa e


pedir dispensa dos meus serviços reais, prefiro ter
você por perto. Só assim vou poder cuidar de você.

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Os olhos de Sol encheram-se de lágrimas. A

bondade de Padilha sempre a tocava


profundamente, ela se esforçaria para amá-lo como
ele merecia.

— Que Deus pague toda a sua bondade.

— Deus está me dando você, melhor


recompensa não há. — Padilha beijou a mão dela.
— Arrume tudo o que quer levar, pois hoje à noite,
nós estaremos partindo para a casa da sua mãe.

— Estarei pronta.

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Capítulo 19

— Como ela não está no palácio? Para onde


Soledade foi? — O grito do rei assustou a todos. —
Se a senhorita Cantillano não aparecer na minha
frente em uma hora, cabeças vão rolar.

— Calma, majestade, não se descontrole —

Luiz tentou, sem sucesso, acalmar o rei.

— NÃO VOU FICAR CALMO! —


Pedragon berrou. — Todos vocês... — ele apontou
para seus homens mais próximos —, se não me

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trouxerem Soledade, irão esperar a morte na


masmorra.

— Não pode nos ameaçar por causa de uma


prostituta. — Aquino, corajosamente, confrontou o

rei. — Esqueça essa maldita mulher, estará se


casando amanhã. Não pode arruinar um reino por
causa dos prazeres da carne.

Perdendo o pouco controle que ainda possuía,


Pedragon avançou sobre o Cardeal prendendo

ferozmente o seu pescoço. O homem se debateu


tentando escapar do aperto do monarca, mas a força
ao qual o rei lhe aprisionava, era quase sobre-
humano.

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— Não me casarei se ela não for encontrada

— Pedragon rosnou. — E nunca mais a chame de


prostituta.

— Vai matá-lo se não o soltar. — Luiz

segurou o braço do rei. — Por favor, majestade,


solte Aquino, iremos procurar a senhorita
Cantillano agora — A voz do conselheiro real era
calma e firme. — Solte-o.

Apesar do desejo de acabar com a vida do

religioso, Pedragon decidiu ter um pouco de


misericórdia. Daria a chance de Aquino se redimir
dos insultos, nos quais falou, trazendo Soledade de
volta.

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— Suma da minha frente, Aquino. —

Pedragon o soltou. — Só me apareça aqui se estiver


ao lado de Soledade, fora isso, eu não quero mais
vê-lo. Saia!

Com os olhos brilhando de ódio, Aquino


cambaleou para fora da sala de reuniões
praguejando e desejando que Soledade
desaparecesse de vez.

— Irei pedir que um grupo de cavaleiros, saia

à procura de Soledade — Percebendo a delicadeza


do momento, Luiz decidiu não entrar em atrito com
seu soberano. — Mas vossa majestade não pode
desistir do casamento, isso causaria um grande
conflito entre reinos, não podemos nos indispor
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com um aliado tão antigo como o reino austríaco.

— Não me importo com aliança nenhuma,


quero Soledade no palácio — Pedragon se sentia
incapaz de ter algum pensamento racional. —

Chame Padilha, quero que ele coordene as buscas.

— Majestade, eu estou aqui. — Padilha se


apresentou no exato momento em que ouviu o seu
nome. — Tenho uma carta de Soledade; acabei de
receber da sua camareira.

Certa esperança dominou o peito do rei,


talvez nesta carta, ele pudesse ter uma ideia do
paradeiro de Soledade.

— Dê-me a carta. — Ele, rapidamente tomou

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a carta da mão do cavaleiro.

Majestade,

Quando esta carta chegar em suas mãos, eu


estarei distante. Peço que não me procure, pois
não tenho mais intenção de retornar ao reino de
Barilla.

Fui muito feliz enquanto estive no seu reino,


mas já não sou capaz de viver nele quando sei que

nunca poderemos ficar juntos.

Espero que encontre alegria no seu


matrimônio, que vocês tenham os filhos que os
seus súditos esperam. Sei das responsabilidades

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de um rei e por isso estou lhe deixando livre para


assumir todas elas, sem me ter por perto lhe
causando preocupação.

Estou seguindo para a casa de uma prima, e

lá, eu espero reconstruir a minha vida. Quero que


também reconstrua a sua sendo feliz com sua
futura rainha.

Adeus, Pedragon, sempre estará em meu


coração.

Soledade Cantillano.

Quando terminou de ler, Pedragon trincou os


dentes e lutou fortemente para não permitir que as

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lágrimas caíssem.

— Encontrei Aquino no corredor e ele estava


desesperado, disse que o senhor, majestade, perdeu
o juízo por causa de Soledade — Padilha disse,

receoso da reação do rei quando ouvisse o que


estava prestes a falar. — Mas precisa respeitar a
vontade da senhorita Cantillano. Ela estava
sofrendo demais, majestade, seu casamento a
desestruturou completamente.

— Não vou ficar sem ela — Quando


imaginava não ver mais o rosto delicado de Sol, o
rei sentia vontade de procurá-la pessoalmente.

— Soledade quer ter uma vida comum,

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Pedragon, não tire esse direito dela — Padilha


disse, sem temer a explosão do monarca.

— Não conteste o que digo, Padilha, não te


dei essa autoridade. — Os dois homens se

encararam. — Quero que reúna os melhores


homens para procurar Soledade, ela não deve estar
muito longe. Também quero que descubra como ela
saiu dos domínios do palácio sem ser vista. Ocorreu
uma falha na segurança, exijo saber quem foi o

responsável.

— Se a pegarmos, Soledade ficará furiosa


com vossa majestade. Respeite o desejo dela,
deixe-a em paz.

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— Maldito! — Mais uma vez, Pedragon

avançou sobre um dos seus homens de confiança.


— Você a quer, não é? Está tentando me impedir
de buscar a minha mulher. Vou matá-lo se não me

disser onde ela está.

Padilha não esboçou reação quando o rei


prendeu seu pescoço, apenas observou o pânico em
seus olhos e sentiu pena. Pedragon estava sofrendo,
assim como Soledade. Apesar de querer mais do

que tudo ficar com ela, estava triste por ver a dor de
duas pessoas que amava.

— Não sei onde ela está, mas me sinto na


obrigação de tentar não vê-la sofrer. Vossa
majestade sabe que ela não merece viver sob a
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alcunha de cortesã, permita que ela encontre uma


vida livre de tantos julgamentos. Inês ficaria feliz
se fizesse isso.

Um longo minuto se passou antes do rei

soltar Padilha. A respiração do monarca estava


acelerada e gotas de suor brotavam sobre a sua
testa.

— Quero ficar sozinho. Saiam daqui! —


Agora a voz do rei era apenas um sussurro. A

verdade nas palavras do cavaleiro, o afetou


profundamente.

Obedecendo a ordem do rei, todos saíram da


sala deixando Pedragon com a dor de perder o seu

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grande amor.

— Maldição! — Ele berrou quando se viu


sozinho e abominou a sua má sorte em ter nascido
um rei.

Se fosse um homem comum, agora estaria


feliz ao lado da mulher que possuía o seu coração.

Quando Sol chegou em Barilla, seu plano era


assumir o lugar da mãe, só que agora, olhando o
quarto que um dia a pertenceu, não sentia mais

vontade de ficar ali.

Seu desejo era sumir da cidade, se refugiar


em algum lugar onde não soubessem do seu
passado, muito menos do seu envolvimento com o

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grande rei Pedragon. Desejava apenas ser uma


pessoa comum, viver na simplicidade em que
estava acostumada.

— Menina, eu posso estar enganada, mas não

acredito que consiga escapar do rei. Conheço bem a


sua persistência, ele não a deixará escapar sem
lutar.

— Não quero que ele lute por mim,


Encarnación, apenas desejo que ele me deixe em

paz.

— Nem sempre conseguimos o que


desejamos, principalmente, quando somos o alvo
de um rei. — Com ternura, Encarnación correu a

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mão pelo cabelo de Soledade. — Que Nossa


Senhora de Barilla lhe guarde, vai precisar de muita
luz.

— Agradeço por estar fazendo tanto por

mim.

— Não faço mais do que a minha obrigação.


Quando precisei, sua mãe me estendeu a mão sem
pensar duas vezes. É muito bom poder retribuir o
que ela fez por mim.

Soledade não conseguia colocar em palavras


toda a gratidão que sentia pelo enorme carinho, no
qual recebeu de todas as meninas do bordel, além
de terem lhe jurado guardar segredo sobre a sua

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breve estadia.

Agora, ela só precisava aguardar passar o


casamento, para enfim, poder ir embora de Barilla e
reconstruir a vida ao lado de Padilha.

Pedragon olhou o rosto pesaroso da irmã e


esperou a sua recriminação. A notícia sobre o
romance dele com Soledade já havia chegado aos
ouvidos da princesa há tempos, mas como ela o
conhecia bem, não se atreveu a opinar. Porém, ao

que tudo indicava, Alicia tinha mudado de postura.

— Você perdeu o juízo? O assunto na corte é


o seu desequilíbrio com o sumiço da sua amante.
Por Deus, irmão, você não está no seu perfeito

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juízo. O Pedragon que conheço jamais deixaria a


emoção encobrir os deveres reais. Nós não somos
pessoas comuns, precisamos assumir nossa posição
de realeza, você sabe disso mais do que eu.

Tudo o que Alicia dizia era verdade, ainda


assim a razão de Pedragon não tinha forças para
superar a fúria do seu coração.

— Você sabe que todas essas palavras não


me abalam, não é? Sou o soberano de todos vocês,

minha vontade é lei. — Alicia fez um gesto de


desprezo com a mão.

— Não me assusta com esse discurso de


grande rei incontestável. Sou a sua irmã, tão nobre

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quanto você, isso me deixa no seu nível.

— Sou rei e você uma princesa. Não é a


mesma coisa. — A réplica de Pedragon fez Alicia
sorrir.

— Está se comportando como um garoto


mimado. Pare com isso.

— Alicia, já terminou? Se acabou pode sair.

— Não acabei e, eu só saio daqui quando me


prometer se casar e se esquecer daquela mulher.

Como pôde se apaixonar pela filha de Inês? Logo


ela, que acabou com o casamento dos nossos pais.

— Papai nunca amou nossa mãe, ele se casou


nas mesmas condições em que eu terei que me

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casar. Tenho certeza de que se ele tivesse condições


de escolher, teria tomado Inês como sua esposa
assim que a viu.

— Você só pode estar possuído, como pode

falar da nossa mãe com tanto desprezo?

A sala do trono foi invadida impetuosamente


pelo Arcebispo Clemens, interrompendo a conversa
dos irmãos.

Depois de receber a notícia de Aquino, que

Pedragon estava louco por causa do sumiço da


cortesã, o religioso decidiu cobrar uma postura
definitiva do rei.

— Já chega de me conter, quero uma posição

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sobre o casamento. Cansei de ver Amelie sendo


insultada e ignorada por você, Pedragon —
Clemens esbravejou.

Se fosse em outro momento, certamente

Pedragon não reagiria bem a impetuosidade do


Arcebispo, mas como estava exausto
emocionalmente, deixaria essa afronta sem
punição.

— Em primeiro lugar... — Pedragon ergueu

um dedo —, nunca mais entre em qualquer lugar


que eu esteja para me cobrar algo. Eu quebro
facilmente os meus laços com Roma e te mando
para a forca — A voz do rei não se alterou. — E,
em segundo lugar, terá o seu casamento, pois vou
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honrar o acordo que o meu pai fez.

Um sorriso escapou de Alicia, ela olhou para


o irmão, orgulhosa pela sua escolha sensata. Já
Clemens, ficou surpreso pela rendição do rei.

Depois de ter ouvido tantos absurdos de


Aquino, pensou que Pedragon iria blasfemar contra
o casamento.

— Tenho a sua palavra que amanhã se


casará?

— Não sabia que era surdo — Agora,


Pedragon não conseguiu conter a raiva. — Guardas,
tirem o Arcebispo daqui.

— O quê? Está me expulsando?

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— Estou evitando que encontre o Criador

antes da hora.

Os guardas entraram na sala, e retiraram o


Arcebispo a força, deixando Alicia em choque.

— Você perdeu completamente o juízo. Não


pode fazer isso com um Arcebispo.

— Alicia... — Pedragon olhou a irmã, sem


paciência —, ou você sai agora com suas próprias
pernas, ou vai sair com a ajuda dos guardas. O que

prefere?

O olhar perplexo da irmã quase fez o rei


sorrir, mas o seu rosto estava tão tenso, que foi
incapaz de tal ato.

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Como se ainda fosse uma criança, Alicia saiu

batendo o pé, demonstrando toda a sua indignação


com a ameaça do irmão.

Assim que ficou sozinho, Pedragon olhou ao

longo da sala do trono e percebeu o quanto era


sozinho. Sem Soledade todo o poder que possuía
não valia de nada. Trocaria todos os privilégios que
a coroa lhe oferecia para poder ficar com a mulher
que amava.

Só que as palavras de Padilha revelaram uma


verdade que o rei se negava a admitir. Ele estava
impedindo Sol de ter um futuro feliz, com uma vida
tranqüila; sem ter que ser discriminada por onde
passava.
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Por mais que ele ordenasse que todos na corte

tivessem respeito por ela, sabia que as mulheres a


olhavam com desprezo. E que os homens a
cobiçavam tentando descobrir o que ela tinha de

especial para o rei cair de amores.

Soledade era única, merecia um futuro


repleto de alegrias, com um homem que a amasse e
filhos para abençoar seu matrimônio. Ela merecia
tudo o que Pedragon nunca poderia lhe dar.

— Eu te deixarei partir em nome do amor


que sinto por você Soledade, quero apenas que seja
feliz — A voz do rei saiu como um sussurro, mas
com força suficiente para selar a promessa de
deixá-la livre para seguir a sua vida.
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Capítulo 20

A expressão de Pedragon não se modificou


enquanto seu camareiro o ajudava a se vestir.
Quando Abgail chegou para arrumar seu cabelo, ele
não encarou em nenhum momento os olhos da sua
estimada criada.

Um verdadeiro rei jamais deveria demonstrar


fraqueza, por mais que se sentisse dilacerado por
dentro. Infelizmente, Pedragon demonstrou toda a
sua fraqueza perante seus homens por causa de seu

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grande amor, mas agora não faria mais isso. Iria


mostrar seu comprometimento com seu povo,
deixaria que todos acreditassem que estava
colocando Barilla acima de seus interesses.

Apenas Deus saberia que no fundo, ele estava


apenas respeitando a vontade de Soledade.
Caminharia até o altar para poder tentar colocar
alguma barreira na vontade que sentia de sair
correndo pelos quatro cantos do mundo a procura

do seu grande amor.

— Majestade, está pronto. — Abgail disse


com a voz embargada. — Mantenha sua força, pois
ela ficaria feliz. — Segurando a mão do rei, Abgail
a beijou deixando cair uma lágrima antes de erguer
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a cabeça.

— Não chores, querida. — Pela primeira vez,


Pedragon a fitou nos olhos. — Tinha que ser assim.

— Eu sei, majestade, mas sinto falta dela.

— Ela sempre estará em nossos corações.

Mais uma vez o rei colocou sua máscara de


indiferença e esperou, Ubaldo, colocar sua coroa.
Assim que seu camareiro a ajeitou, ele seguiu para
o corredor e caminhou de queixo erguido até a

capela, onde haviam sido realizados diversos


casamentos dos seus ancestrais.

Quando chegou a capela, todos os


convidados se ergueram para ver o rei passar. O

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burburinho fora do palácio era audível dali. Todos


estavam ansiosos para verem o casal real quando o
casamento acabasse.

Pedragon sabia que muitas pessoas

duvidaram da realização do casamento, na verdade,


até ele mesmo duvidou, mas o destino foi
implacável e não o deixou escapar.

Mantendo a seriedade, ele aguardou, sem


transparecer nenhuma emoção, a princesa austríaca

entrar. Quando Amelie despontou na porta da


capela, o coração do rei se estilhaçou.

Ela estava bonita, com um vestido elegante e


um véu cobrindo o rosto. Em outro momento, seria

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satisfatório para o rei tê-la como esposa, mas


depois de ter tido a mulher mais bela em seus
braços, nada na princesa o agradava.

Como o rei da Áustria não pôde estar

presente, Clemens era o responsável por conduzir a


noiva. O olhar de repreensão do Arcebispo era
claro, mas como sempre, Pedragon o ignorou e
manteve sua fachada de indiferença.

Quando a cerimônia começou, todas as

palavras de Aquino passaram despercebidas.


Apesar da briga que tiveram, Pedragon manteve o
Cardeal para fazer a sua cerimônia. Como não tinha
mais como evitar sua ruína, já não se importava
quem seria o responsável por abençoar o seu
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matrimônio.

Um soluço profundo fez o rei sair do seu


mundo de dor, ele olhou para o lado e viu o peito
da princesa tremer com o pranto profundo. Ela não

estava conseguindo conter as lágrimas, e a cada


segundo chorava mais alto.

— Só um minuto, Cardeal. — Pedragon


pediu quando ela começou a soluçar
descontroladamente ao seu lado. — Amelie, você

quer um tempo para se acalmar? — A princesa não


respondeu, apenas manteve o choro.

— Ela está muito emocionada com o


casamento, pois estava muito ansiosa. — Clemens

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falou enquanto se aproximava da princesa para


acalmá-la. — Foram dias difíceis, com muitas
incertezas. — Ele cutucou o rei. — Querida,
precisa se acalmar para que a cerimônia prossiga.

— Não consigo, Eminência, eu tentei, mas


não consigo — Amelie disse entre os soluços.

— Pare com isso, menina, já conversamos —


O Arcebispo resmungou com a voz ríspida. —
Continue, Aquino — Clemens ordenou.

— Espere! — Com a mão, Pedragon


paralisou o Cardeal. — O que não consegue
Amelie? Por que está chorando tanto? — O peito
da jovem tremeu quando tentou parar de chorar. —

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Pode me dizer o que está te afligindo.

— Ela está passando por muita pressão desde


que chegou a corte, majestade, acredita que saiba
os motivos, nos quais estão levando a princesa a se

descontrolar — Clemens acusou o rei,


discretamente.

Ignorando o Arcebispo, Pedragon quebrou o


protocolo e ergueu o véu que cobria as feições da
jovem. Um som de espanto se espalhou pela capela,

mas o rei ignorou tudo ao redor.

— Diga o que está acontecendo. Se eu não


souber o verdadeiro motivo do seu pranto, iremos
adiar a cerimônia.

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Amelie olhou para o Arcebispo pedindo

silenciosamente desculpas e voltou sua atenção


para o rei.

— Não posso me casar com vossa majestade

— A voz dela era tão baixa, que Pedragon não


conseguiu ouvir direito.

— Não pode o quê? — Ele baixou um pouco


o rosto para tentar entender o que ela falava.

— Não posso me casar, pois estou

apaixonada por Afonso — Agora a voz dela saiu


forte o suficiente para causar uma onda de
exclamações exaltadas dos convidados.

— Pare com isso, Amelie! Eu já falei que não

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pode fazer o que quer — Clemens a recriminou.

— Por que não me deixa em paz, Clemens?


Eu só quero ser feliz.

— Amelie — A voz de Afonso soou

próxima. — Eu te amo, fique comigo.

Pedragon acompanhou, estático, a noiva


correr na direção do seu irmão e se jogar nos braços
dele. Os dois se beijaram com paixão, causando um
reboliço profundo na capela.

— Isso é um disparate! Não pode permitir


isso Clemens — Aquino disse, em desespero.

Aos poucos, Pedragon sorriu pela primeira


vez desde que Soledade se foi, ele se sentiu

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verdadeiramente feliz. Com Amelie se recusando a


casar, ele poderia ir atrás de Sol para finalmente
viver o amor que os unia.

— Amelie não quer se casar e vocês irão

respeitar a decisão dela — O rei decretou assim que


se recuperou da surpresa. — Não irei condená-la a
viver comigo quando pode se casar com Afonso.

— Não foi isso que seu pai acordou com o rei


Andreas.

— O mundo está evoluindo, Clemens, vamos


quebrar o protocolo. — Virando-se para os
convidados que olhavam tudo com espanto, ele
declarou: — O casamento está suspenso, todos

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podem seguir para o banquete que estava reservado


para a festa. Em breve, todos serão novamente
convidados para assistirem a união do príncipe de
Barilla com a princesa da Áustria. Novos tempos

estão chegando e nele o amor deve vir acima dos


acordos diplomáticos.

Por alguns segundos os convidados apenas se


entreolharam, mas em seguida, começaram a deixar
a capela.

— Não vou permitir que esse casamento seja


interrompido —Clemens disse, em desespero. —
Você é um rei fraco, não pode se deixar subjugar
pela vontade de uma menina.

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— Meu caro, estou imensamente feliz com a

vontade da princesa. Abençoarei esse casamento e


arcarei com todas as despesas dele. Se for preciso,
vou a Áustria conversar com Andreas pessoalmente

para conseguir a sua benção.

Sorrindo, Pedragon caminhou até o casal e


abraçou os dois. Mais cedo, quando saiu da cama,
jamais imaginou que teria tantas alegrias neste dia.

— Obrigado por se amarem, que vocês sejam

felizes e tenham muitos filhos.

— Não se sente chateado? — Afonso


perguntou, receoso.

— Me sinto feliz, irmão, muito feliz. —

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Perdendo a prudência, ele beijou o rosto da


princesa e depois o do irmão. — Respeite Amelie,
Afonso, assim que eu achar Soledade tomarei as
devidas providências para o casamento de vocês.

— Vá atrás do seu amor, irmão.

— Espero que a encontre logo. — Amelie


apertou a mão do rei, sorrindo.

Sem acreditar na sorte que estava tendo,


Pedragon saiu correndo pela capela, repleto de

esperança em conseguir encontrar sua amada.

— Vamos formar uma comitiva e ir,


primeiramente, até a cidade onde os parentes dela
moram. Quero que alguns homens perguntem sobre

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ela pelas vilas. Alguém pode ter visto Soledade


passar e com um pouco de sorte nos indica o
caminho, no qual ela seguiu — Pedragon começou
a ditar o que seus homens deveriam fazer.

— Majestade, tem noção do conflito


diplomático que estamos prestes a entrar? Não seria
mais sábio tentar convencer a princesa a se casar?
— Com calma, Luiz tentou colocar um pouco de
juízo na cabeça do rei.

— Se não for para me ajudar, está dispensado


da reunião, Luiz. Assim como Aquino se retirou,
sinta-se a vontade de fazer o mesmo.

— Depois não diga que não o avisei. — Luiz

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suspirou, derrotado.

Um nobre sugeriu que Pedragon conversasse


com Augusta, a camareira que passou a cuidar de
Soledade. De acordo com ele, as mulheres tinham

tendência a confidenciarem suas fugas.

A ideia foi aceita pelo rei e, no exato


momento em que pediu que um guarda fosse
chamá-la, viu Padilha entrar na sala.

O semblante do seu cavaleiro estava tenso, há

tempos, Padilha estava diferente, mas agora a


expressão dele causou curiosidade no rei.

— Padilha, algum problema? — Por algum


motivo, Pedragon sentiu medo. Pela maneira como

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seu amigo o olhava, algo dentro do seu coração


disse que não eram boas notícias.

— Majestade, eu acabei de selar o seu cavalo.


Se puder, quero que me acompanhe — O pedido de

Padilha não fez nenhum sentido para o rei.

— Acompanhá-lo agora? Posso saber o


motivo?

— Confia em mim?

A pergunta de Padilha ficou no ar por alguns

instantes, até que Pedragon levantou e caminhou na


sua direção.

— Você sabe que sempre confiei em você,


estou ofendido com a pergunta.

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— Então venha comigo.

Padilha saiu da sala de reuniões e caminhou


apressado pelo corredor. Escutou os passos do rei
logo atrás e tentou bloquear a voz dentro do

coração que dizia para não fazer essa loucura.

Porém, o cavaleiro real sabia que nunca


encontraria a felicidade se negasse a chance de
Soledade e Pedragon ficarem juntos. Eles se
amavam e mereciam viver esse amor.

Se em algum momento, Padilha tivesse


presenciado a dúvida no rei sobre o amor que sentia
por Soledade, não permitiria que ficassem juntos,
mas na verdade, ele sabia o quanto os dois se

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amavam. Sem contar que existia um filho nessa


história, a criança merecia viver junto do
verdadeiro pai.

— Sua montaria, majestade. — Padilha

ofereceu o cavalo ao rei.

— Por que tanto mistério? Não vai me dizer


o que está acontecendo?

— Tenho certeza que sabe o que estou


fazendo. — Um leve sorriso se espalhou pelos

lábios de Pedragon e, sem mais comentários, subiu


no cavalo e seguiu Padilha.

Assim que ganharam o rumo do bordel de


Inês, o rei sentiu o coração disparar. Ele se xingou

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mentalmente por não ter pensado naquele local para


procurar Soledade, mas no fundo sabia que não
havia se empenhado para encontrá-la. Quando teve
a discussão com Padilha, acreditou que o melhor

era deixá-la livre para viver como queria.

Quando chegaram na porta do bordel,


Pedragon desmontou e correu, desesperado, em
busca da sua amada. Precisava vê-la para voltar a
acreditar no futuro, pois sem ela a sua vida já não

tinha sentido.

— Soledade, Soledade, eu vim te buscar! —


Ele gritou quando entrou na casa.

— Majestade, o que fazes aqui? —

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Encarnación perguntou, temerosa.

Desde que Sol chegou, ela sabia dos riscos


que corria, mas confiou em Padilha para manter o
rei distante.

— Vim buscar Soledade. — Pedragon


respondeu, sorrindo.

— Soledade não está aqui

— Pare de mentir. — O rei tirou Encarnación


da sua frente e, instintivamente, seguiu para o

quarto de Inês.

A sua respiração parecia não obedecer aos


seus pulmões enquanto seguia na direção do lugar
onde o seu coração dizia que sua amada estava. A

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sensação que tinha era que a casa era muito maior


do que o palácio. Quando alcançou a porta do
quarto de Inês, respirou fundo e abriu de uma só
vez.

A imagem de Soledade rente a janela


acalmou os seus nervos. Ela estava com o cabelo
trançado, como gostava, e com um vestido claro,
que evidenciava sua candura.

— Meu amor, eu vim buscá-la. — A voz do

rei estava ofegante.

— Não deveria estar aqui, pois hoje é o se


casamento.

Desde o instante em que Soledade ouviu o

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barulho de cavalos, soube que o pior havia


acontecido.

— Meu casamento ainda irá acontecer, mas


não será agora; preciso que façam o vestido mais

lindo para você.

Sorrindo, como só os apaixonados eram


capazes, Pedragon se aproximou de Sol.

— Pare de brincadeira, Pedragon.

— Não estou brincando. — Disse quando

parou em sua frente. — Iremos nos casar, só que


antes de isso acontecer, eu preciso providenciar
outro casamento.

— Do que está falando? — Sem resistir, o rei

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segurou a mão de Sol antes de respondê-la.

— Já ouviu sobre a história do cupido? —


perguntou brincalhão.

— Claro que sim.

— Acho que o cupido chegou a Barilla, pois


ele flechou Afonso e Amelie. — A expressão de
surpresa no rosto de Sol fez o rei sorrir ainda mais.
— Ela se negou a casar, disse que ama o meu
irmão. — Pedragon deu de ombros. — Não posso ir

contra a vontade de uma dama, então, eu abençoei


o amor deles e vou convencer o pai dela a aceitar o
casamento dos dois.

— Está falando sério?

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— Não sou homem de mentir — Agora, ela

havia ofendido o rei.

— Ah, Pedragon, é um milagre.

Sem reservas, Soledade se lançou sobre o rei,

chorando. Rapidamente, ele a envolveu em seus


braços e a beijou com paixão. Finalmente poderia
ter a mulher que tanto amava para sempre. Faria
dela a rainha mais feliz que já pisou na terra.
Enquanto estivesse vivo, faria de tudo para amá-la

cada dia mais.

— Eu te amo, Soledade, certamente Deus viu


que não poderíamos viver longe um do outro.

— Eu também te amo, estava morrendo a

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cada segundo por saber que nunca mais iríamos nos


ver.

— Depois vou conversar com você sobre


fugir de mim, mas primeiro, eu quero você.

— Agora?

— Imediatamente. — Pedragon começou a


virá-la para tirar o vestido.

— Mas aqui é o quarto da minha mãe, e tem


os soldados lá em embaixo.

— Não devo satisfação para ninguém. —


Mais uma vez, ele tentou abrir o vestido.

— No quarto de mamãe não, Pedragon. — A


frustração correu pelas veias do rei, mas ainda

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assim a vontade de Soledade foi respeitada pelo


monarca.

— Pegue suas coisas, vamos embora. Quando


chegarmos ao palácio, não sairemos do quarto tão

cedo.

— Pedragon. — Depois de tantos problemas,


Soledade decidiu contar logo sobre o filho, no qual
carregava. — Tenho algo para contar antes de
irmos embora.

— O que é? Vai dizer que pretendia fugir


com Padilha? Já entendi essa parte. Jamais o
perdoarei por pensar em tomá-la de mim.

— Padilha é um homem nobre, apenas se

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preocupou com a minha honra. Mas não é sobre ele


que quero falar.

— Então diga o que é, estou ansioso para ir


embora.

O sorriso de Soledade iluminou o ambiente.


Sem dizer uma palavra, ela pegou a mão de
Pedragon e colocou sobre a sua barriga. O rei a
encarou, incrédulo, mas quando ela aumentou o
sorriso e deixou escapulir uma lágrima, ele caiu de

joelhos e a abraçou pela cintura.

Ambos choraram pelo milagre de terem


criado uma vida, através do amor que transbordava
em seus corações.

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— Tem certeza de que está grávida?

— Absoluta.

— Mas não estava passando mal, porque suas


regras estavam para vir?

— Eu menti, estava enjoada por causa do seu


filho.

— Assim que tudo se acalmar, me lembre de


puni-la severamente por mentir e tentar fugir
carregando o meu filho. Se eu não te amasse tanto,

juro que a mandava para o carrasco. Estou louco de


raiva por tudo o que fez.

— Pare de exagero. — Soledade o fez se


erguer. — Você nunca foi de dramas.

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— Isso era antes de te conhecer, depois que

invadiu a minha vida, eu nem sei quem sou. —


Pedragon passou a mão, delicadamente, pelo rosto
dela. — Desejo mais filhos, quero ver lindas

crianças correndo por aquele palácio.

— Depois podemos treinar para isso. — Um


reboliço de excitação passou pelo corpo de Sol e
ela deslizou a mão pelo peito de seu amado.

— Pode apostar que vamos treinar até não

termos mais forças. — Com um movimento ágil,


ele a ergueu nos braços. — Vamos embora, não
posso mais esperar.

— Eu te amo, agora e sempre. — Soledade

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encostou os lábios ao dele.

— Eu te amo ainda mais, em breve vou te


mostrar o quanto estou explodindo de amor.

Sorrindo, Pedragon saiu com Soledade rumo

a um futuro onde ela seria a rainha mais linda que a


história de Barilla já conheceu, enquanto ele seria o
primeiro rei a se casar com a mulher, que realmente
amava.

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Epílogo

Seis anos depois

O som da risada de Nina despertou profunda


alegria na rainha, a pequena estava crescendo mais
rápido do que ela desejava, e amava brincar com o

seu irmão mais velho.

Soledade sorriu com ternura para o casal de


príncipes que brincava ao redor da fonte, alheios as
responsabilidades que o futuro lhes reservava.
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Seu primogênito, Oton II, já estava sendo

iniciado nos ensinamentos para se tornar o rei,


mesmo que ela houvesse reclamado com Pedragon
que ele era muito jovem, o rei não cedeu a sua

vontade e afirmou que essa era a idade padrão para


os monarcas de Barilla começarem seus estudos.

Por mais que ela soubesse que Oton tinha um


reino para herdar, queria proteger ao máximo seu
pequeno. Ele havia puxado o pai, com sua beleza

estonteante e um sorriso encantador, mas a rebeldia


era completamente da mãe. Sempre que cismava
com algo, levava os pais à loucura.

Já Nina, era uma verdadeira alegria, sempre


com um sorriso nos lábios e receptiva com todos
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que chegavam. De acordo com Pedragon, ela havia


puxado a simpatia de Afonso.

— Tenha cuidado com sua irmã, querido. —


Soledade disse ao filho quando ele pegou a irmã no

colo. Mesmo Oton sendo grande para seus quase


seis anos, Nina aos três, também não poderia ser
considerada pequena.

— Sou forte mãe. — Oton respondeu,


sorrindo.

— Eu sei, meu amor, mas ainda assim tenha


cuidado.

— Soledade — A voz de Padilha chamou sua


atenção. — Amelie e Afonso acabam de chegar.

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— Que alegria, Padilha, já irei recebê-los.

— Aguarde um pouco, Amelie não estava se


sentindo bem e foi descansar um pouco, parece que
a gravidez a deixou enjoada.

— Pobrezinha, os primeiros meses sempre


são os piores.

— E, eu não sei?— Padilha sorriu.

Depois que entregou Soledade nos braços do


rei, Padilha passou um tempo vivendo uma espécie

de luto, até que a sobrinha de um dos nobres


chegou à corte e conseguiu quebrar o gelo do
coração do cavaleiro. Agora, ele era casado com
Carmem e os dois estavam esperando o segundo

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filho.

— Como está Carmem?

— Louca para ganhar o bebê, ela está


cansada de dormir sentada.

— Esses últimos dias são os piores. —


Padilha se aproximou de Soledade, sorrindo.

— Já contou ao rei?

— Contou o quê? — A voz de trovão de


Pedragon atrapalhou a conversa dos amigos. — O

que Padilha sabe que eu não sei?

Apesar do casamento de Padilha, o rei ainda


sentia certo ciúme quando o via junto da rainha.
Para Pedragon, a beleza da esposa era motivo de

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desassossego. Ele via nos olhos dos homens, o


quanto eles se encantavam por ela quando chegava
a qualquer lugar.

— Afonso, que prazer tê-lo aqui. — Soledade

ignorou a pergunta do marido e sorriu para o


cunhado, que estava ao lado do irmão.

— Majestade, o prazer é meu. — Afonso vez


uma reverência exagerada.

Apesar de ter se tornado rainha logo que

Pedragon convenceu o pai de Amelie a concordar


com o casamento da filha, ela ainda se sentia
estranha quando a chamavam de majestade.

— Pare de me tratar assim, sou apenas Sol.

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— Ela abraçou o cunhado com entusiasmo.

— Ela é sua rainha, então a trate como deve.


— Pedragon afastou Soledade do irmão. — O que
estava conversando com Padilha? Quero saber o

que precisa me contar.

Padilha sorriu e olhou para Soledade. O


ciúme do rei já havia virado motivo de piada na
corte entre os homens, e de suspiros entre as damas.
O amor que os dois sentiam, certamente entraria

para a história.

— Não precisa ficar nervoso, Padilha só sabe


o que é, porque flagrou a minha confissão quando
conversava com Carmem. Desde então, não para de

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me perturbar para contar a novidade.

— E que novidade é essa? — Agora foi a vez


de Afonso perguntar.

— Estou grávida — Anunciou de uma só

vez.

— Grávida? — Pedragon perguntou


enquanto olhava para a barriga dela.

— Vou ter um irmão? — Oton se aproximou


dos adultos.

— Sim querido. — A rainha passou a mão


pelo cabelo do filho.

— Serei irmã mais velha, mãe? — A pequena


Nina estava exultante com a possibilidade de ter

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um irmão mais novo.

— Será. Você poderá cuidar do seu


irmãozinho. — Soledade pegou a filha no colo.

— Não se esforce, carinho. — Pedragon

pegou a filha e entregou ao irmão. — Estou me


sentindo ainda mais abençoado com essa gravidez,
mais uma vez o nosso amor deu frutos.

Sem se importar com os olhares ao redor, o


rei inclinou-se e beijou a esposa. Em seguida, olhou

dentro dos seus olhos, transbordando de felicidade.

— Que Deus abençoe nosso filho e que


venha com muita saúde.

— Ele será tão forte quanto o pai. — Sol

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acariciou a barba do esposo.

— Você quis dizer forte como você, não é


Soledade? Porque se me lembro bem, quando
Pedragon viu o Oton despontar para a vida,

desmaiou. — Padilha disse, sorrindo.

— Pare agora, isso é segredo de estado —


Pedragon rosnou.

— Perdão, majestade, só quis lembrar a


rainha de que a força está com ela.

— Não seja implicante, Padilha, foi muita


emoção naquele momento, por isso Pedragon se
sentiu mal — Como sempre, Soledade defendeu o
marido. — Até onde me lembro, você sequer quis

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ficar no quarto com a sua esposa.

— É por isso que te amo. — Pedragon sorriu


da expressão de constrangimento do amigo. —
Padilha, faça algo de útil, e prepare um banquete

especial para o jantar. Vamos comemorar a


chegada do meu irmão e sua família, e a chegada
do novo príncipe, herdeiro de Barilla.

Com um sorriso nos lábios, o fiel cavaleiro


seguiu para cumprir a ordem do seu soberano e

deixou para trás a tão querida família real.

Por causa do amor de Pedragon e Soledade,


um novo costume começou a se espalhar por todos
os reinos da Europa. Agora, a maioria das famílias

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reais, já não arranjavam casamentos, eles


entenderam que não existia nada mais justo do que
dar uma chance ao amor.

O casal real de Barilla serviu de exemplo

para muitos reinos, e sua história de amor ficou tão


marcante, que já estava registrada nos novos livros
para servir de exemplo para a posteridade.

Fim

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