Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Minha Menina
Adriana Vargas
Livro 2
De Meu Senhor
Editora Ella
Sumário
Minha Menina
Adriana Vargas
Editora Ella
Mundos Transponíveis
Capítulo 1
Capítulo 2
Confidências Pessoais
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
O Reencontro Decisivo
Epílogo
Mundos Transponíveis
Capítulo 1
O vento gélido anunciava a impressão da eternidade do frio que vinha de
Old, e parecia ser feito especialmente para o Castelo de Siv. A primavera
logo viria para forrar as calçadas de flores flamejantes do flamboyant, que
floresce profusamente quando recebe o Sol pleno, competindo com qualquer
outra planta que ficasse sob sua copa.
A atmosfera no Castelo não era mais a mesma desde a chegada dos dias
que se seguiram após a partida de Charlote para a Terra dos Mortos, e a
chegada de novas escravas para o clã de Aragorne Tirel. Por mais que se
esforçasse, Seren não conseguia distrair seu Senhor, que mantinha o
pensamento perdido, ora em algum canto do Castelo, ora no vagar dos olhos
pela janela diante do silêncio que agora o definia.
A menina subia delicadamente pelas pernas, a meia de seda com bordas
rendadas. Acabara de ser possuída pelo Dono, porém ele parecia não estar
presente, o que encheu seu coração de medo e insegurança. Amarrou o laço
na cintura, e ajeitou o pequeno arranjo de flores artificiais que prendiam o
feixe. Ensaiou um meio sorriso e caminhou em direção ao Senhor, que ainda
não havia se trocado. Não sabia se devia tocá-lo, mas algo dizia secretamente
em seu subconsciente, que o melhor a se fazer era permanecer otimista e leal.
Aproximou-se dele e se ajoelhou, olhando para os pés de Tirel, que desejava
imensamente tocá-los.
− Dono de mim, aqui estou à sua disposição. – silenciou na esperança de
ouvi-lo pedir que fizesse algo para agradá-lo.
− Sim, minha pequena. Adoro lhe ver sempre a meu dispor. – cingiu o
assunto enquanto ainda arrostava pela janela em busca de respostas, as quais
daria sua própria vida para trazê-las até ele.
calhamaço como se fosse feito da mais delicada joia, até seus olhos brilharem
diante de uma página. Olhou para Tirel e sorriu ao recitar.
“Este alguém aí…
Com um anjo chorando no peito
Posso ouvi-lo no frio de tua alma
Não envelheça sem antes me sentir
Pálido… Sagaz…
Então saberá sobre os ponteiros em minha garganta
E, se eu dissesse que o tempo está se ultimando
Com a aproximação de teus pés a sangrarem
Na benção de um sorriso?
Sente-me?
Tocaria meu corpo nu sob a luz de uma tocha
Nascendo em teus olhos?
Saberia gritar se tua voz se calasse
Se teus lábios pousassem agressivos
Arranhando o céu de minha boca?
Romperia o muro abstrato
Arte do além
Viscerantes ao escutar
A Divina Comédia recitada no rouco lento de minha voz?
Venha-te depressa…
O tempo na ampulheta se perfaz aos poucos
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
A unidade do perpétuo
Um crime mútuo
Sem redenção…”
Ao terminar, ela o olhou, sentia-se fascinada por cada palavra lida. Os
dedos dele apertavam com força o ferro da cadeira, como se quisessem
quebrá-lo. Os olhos firmes não escondiam a paixão latente pela irmã de
coleira que se foi. Seren mordeu o lábio inferior, sabendo que nada o
distrairia, e por mais que ele tentasse, não havia como esconder. Ela queria
acreditar que uma pessoa falecida se dissiparia no abismo dos dias passados,
mas isso não acontece com os sivianos, que não morrem simplesmente
quando enterrados e lembrados como alguém que passou um tempo ao lado
dos seus. Um siviano permanece vivo em outra dimensão, o corpo se refaz
após a entrada no mundo de Siv, semelhante a um ser infindo. Eles voltam
quando são liberados para um novo múnus, e neste momento esquecem a
vida predecessora. Por mais que Seren não entendesse como tudo funcionava,
ela sabia que Charlote estava viva em outra dimensão, e que poderia ter
voltado em seu lugar, mesmo se fosse por um tempo resoluto pela castra
superior da Terra dos Mortos, mas a irmã optou pela honra, cedendo seu
lugar a quem mais compreendeu o Senhor, mesmo quando ninguém poderia
fazê-lo. Seren se sentia grata. Talvez nunca conseguisse retribuir como
desejava, mas suas condolências eram sinceras.
− Vá, menina… Se junte às outras, tenho alguns afazeres. – disse tentando
disfarçar o esmorecimento.
A menina se levantou tristonha, e se foi. Ele a olhava caminhar, com seus
joelhos roçando um ao outro, e as pontas dos pés arcavam levemente para
dentro, dando a ela um ar quase infantil.
Tirel arfou um pouco de ar, arrumou os cabelos e calçou suas botas. Pegou
a bengala e caminhou pelos corredores de Siv, alheio a tudo, mas com
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
felinos, o que atraiu Tirel desde o primeiro instante. Ele apontou para ela, que
se levantou com graça e caminhou descalça até ele.
Ao se aproximar, cumprimentou-o num gesto e abaixou um dos joelhos até
ao chão. Tirel tocou sua mão e a puxou fortemente para si. Com um dos
dedos, acariciou o queixo afinalado e percebeu as bochechas dela rosarem.
Sorriu. Era assim que gostava… Chegou próximo à orelha da menina e
mordeu seu rosto e pescoço, sentindo o eflúvio apetitoso que vinha dos
cabelos dela. Sem olhar para trás, puxou-a pela guia rumo à masmorra.
Ao ver a porta se fechar, a menina se arrepiou. Estivera poucas vezes com
o Senhor, e ainda não se acostumou com a presença que a fazia atroar por
dentro. Ele passou a mão pela fenda da roupa dela, tocando em seu sexo,
estava como gostava, úmida e quente. Com o dedo anelar passou a manipular
seu clitóris, endurecendo-o até que ficasse como uma pequena semente de
alpiste. Voltou com a mão até aos lábios e provou o gosto dela, salivando.
Com os dedos lubrificados, penetrou-a sentindo a superfície interna cheia de
pontos, volúpia e pequenas contrações. Abrenhou-se dentro dela algumas
vezes e a viu fechar os olhos em delírio. Seus gemidos eram baixos e
abafadiços. Ele a agarrou pelo quadril e trouxe o corpo já entregue, junto ao
seu. Levantou a túnica com cuidado e passou a esfregar a vulva sedenta sobre
o volume voluptuoso que se formou em sua calça. Com uma das mãos,
apertava o cóccix dela, rente a sua ereção, para baixo e para cima. Apertou os
lábios pintados, sufocando-a, até ouvir a súplica na respiração. Levantou uma
das pernas bem torneadas de Erine, e beliscou seu mamilo, torcendo-o com
sofreguidão. Ao sentir sua calça umedecida pela excitação da fenda feminina
que desejava ardentemente ser penetrada. Ele a soltou. Levantou seu maxilar
com um toque apenas, mirou-a nos olhos, ela abaixou o olhar com timidez;
desejava secretamente, gozar. Ele gostaria de dizer que sua vontade era de
que ela o olhasse nos olhos, sem abaixar a cabeça. Ao invés disso, respeitou a
deficiência auditiva da menina, franziu o cenho e persistiu em levantar
novamente seu queixo, dessa vez, de uma maneira grotesca, firme… Ela
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
deveria saber que as coisas não são como quer, e que deve ter desejos, e não
vontades.
Afastou-se a um metro e meio, e pôs-se a olhá-la detalhadamente. Era uma
bela mulher ansiada de desejos, louca por um gozo profundo e desconexo.
Os olhos dele me desnudavam em silêncio. Passei a retirar a parte da roupa
por onde meu Senhor olhava, começando pelos ombros. A túnica logo correu
por meu corpo em arrepios. Eu sabia que deveria estar preparada todas as
noites para recebê-lo, mesmo sem saber quanto tempo demoraria a ser
escolhida. Por este motivo, nem uma de nós havia colocado a roupa debaixo
após o banho. E nesse dia em especial, algo me tocou por dentro, eu sentia
que seria dele… Preparei meu banho com rosas brancas, e deixei que as
pétalas tocassem meus mamilos, enrijecendo-os até que a água esfriasse. Sei
que é proibido me tocar longe do Senhor, mas acabei não resistindo, e passei
a me masturbar dentro da tina. Eu o desejo muito… Ardentemente… Ainda
me encontro com fome e sede do corpo e toque dele… Ele não pode ouvir
minhas palavras, mas, meus instintos, conhece bem…– pensou a escrava.
Ao fechar os olhos para ser tomada pelo seu Senhor, ela sentiu um par de
mãos, puxando-a. Quase cegamente, fora agarrada pelos cabelos que
deslizavam em suas mãos, e a colocou sobre uma mesa, de bruços. Acariciou
cada polegada da pele em desalinho, que se arrepiava exibindo poros fartos.
Abaixou a calça, cortejando a vista dela por trás, em todos os aspectos,
cada curva ou textura. Achava lindo ver uma mulher com as partes íntimas
dirigidas para cima, abertas, expostas, chamando-o… Passou por toda a parte
da vulva dela, a glande que latejava. Encostava apenas, depois, deslizava com
furor, penetrava um pouco somente, e a estocava com sofreguidão. Ele
precisava fazê-la sentir o próprio corpo, prepará-lo, conhecê-lo. Uma prática
sem preparo era como um prato vazio sem comida, não havia sentido. O
corpo de uma slave precisa ser bem cuidado e estimulado. Ela precisa sentir a
delícia que é, antes, durante e depois.
Quando as pernas já estavam vibrando, ele a puxou pelos cabelos
novamente, levando o rosto da menina para perto do seu, sentindo a
sério deveria ter acontecido para que não estivesse cumprindo as tarefas.
Chegando ao jardim, olhou para todos os lados, não estava em lugar
algum. Acelerou o passo e voltou para o Castelo, indo a passos apressados até
o aposento onde ela dormia. Abriu a porta com sede e a viu deitada na cama,
em delírio.
− O que houve, menina? – disse quase correndo ao seu encontro.
− Sir, eu não sei… Tenho febre… – a voz dela estava fraca e muito baixa.
Ele não quis acreditar… Talvez não fosse nada além de uma gripe, mas
como o local estava suspeito de ter sido acometido por uma epidemia, nada
poderia ser impossível de acontecer. Temia pela menina, era muito frágil e
franzina.
− Fique tranquila, vou chamar um médico. – saiu apressado em busca de
ajuda. Ele tinha mais um motivo para ir até Old. Não conseguia pensar na
possibilidade de perder a irmã e a menina. Pediu a Olaf que cuidasse de seu
clã até que ele voltasse, e que chamasse toda a equipe médica do povoado
para ficar no quarto junto a Seren. Não demoraria a chegar, esse era seu
objetivo, mais que uma honra, um compromisso consigo.
Foi até seu aposento, abriu a caixa de madeira forrada por cetim, e tocou
no cordão que tinha uma Medalha Tetragrammaton. Ao tocar na medalha,
seus dedos se aqueceram. Aquela seria a chave para o outro mundo. Não
deveria ter retirado de seu pescoço, talvez fosse por este motivo que o
Castelo fora inundado pela peste. Sentia-se eternamente culpado por sua
negligência. Rapidamente, colocou o cordão e saiu rumo ao portal. Ao passar
pelas portas do Castelo, Olaf, em um dos cômodos, cumprimentou-o com um
olhar de preocupação. Ele assentiu e seguiu seu destino.
Ao chegar ao portal, tocou fortemente na medalha, e algo o contagiou por
dentro e por fora, com uma vibração incomum que retirava seus pés do chão.
Fora transportado numa espécie de luz, que possuía uma velocidade
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
inenarrável.
Ao dar por si, estava chegando ao portal de Old, onde fora recebido por
alguns Mestres. A paisagem não era tão diferente da Terra, porém o ar era
mais leve, e a vegetação lembrava uma superfície aveludada, assim como as
flores que tinham uma aparência excêntrica e em grande variedade, muito
diferente das que já tinha visto. Não podia perder tempo, estava ali em uma
missão muito importante.
− Vim em busca de ajuda, a Rainha encontra-se muito doente, pode partir
para a Terra dos Mortos a qualquer momento. Preciso dos curandeiros. –
disse ele, confiante.
Em uma sala branca por todos os lados que olhasse, estava um senhor
bastante alto e de olhar sério.
− Temos a ajuda que precisa, antes, porém, precisamos conversar. – disse o
Ministro de Old, vestido em uma túnica de cor pérola cintilante.
− Não tenho muito tempo, caro Ministro.
− O destino já está traçado, nobre amigo. Podemos ir, mas nada mudará o
que é preciso acontecer.
Tirel ficou pálido. Não acreditava em destino, e sim, no que poderia fazer
para mudar a ordem das coisas.
− Você novamente está em provas! – disse o Ministro.
− O que quer dizer, Ilustre?
− Quero dizer que o destino traça e, nós, pelo motivo lógico e sem
alternativas, acatamos. Precisa procurar pelo Ministro de Siv, na Terra dos
Mortos. Levarei você até lá.
− Mas… – lembrou-se de Charlote. Lembrou-se do tempo que urgia e a
cada minuto passado seria tarde demais para ajudar Seren e Collins.
mundo. Caso a Rainha fizer a partida, saberá que ela estará aqui, entre os
seus, até o próximo momento de voltar.
− Sim, mas… ficaremos sem a Coroa?
− Acredita nisso?
− Não sei mais em que acreditar… E a menina… Ela morrerá, não é
siviana.
− Ela cumprirá também sua missão, porém como humana.
Tirel abaixou a cabeça e buscou por respostas.
− Ela faz parte de mim… – disse ele, num tom triste.
− Cumpriu seu papel com ela?
− Tenho feito o meu melhor.
− O seu melhor corresponde ao seu papel?
Aragorne o encarou, sem medo de responder.
− Sim, Ministro.
− E seu coração, corresponde ao seu melhor?
Então ele se calou. Não poderia dizer que amava Seren como um dia amou
Charlote, mas não mentira quando disse que a menina era parte de si.
− Corresponde, Ilustre. Eu a estimo pelo o espaço que conquistou dentro
de mim. Isso não quer dizer que…
− Não precisa se comparar a nada. O importante é que tenha cumprido seu
papel de Dominador, e não de amante.
− Não a vejo como amante, a vejo como minha. – disse firmemente.
Dessa vez foi o Ministro que se calou.
− E quanto a Charlote?
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
− Eu a vejo como a luz que um dia iluminou a minha vida. – seus olhos
brilharam.
− Você a via como sua? – o Ministro o olhou com um olhar desafiador.
− De todos os membros do meu corpo, Charlote era o meu coração.
O Ministro tocou no ombro dele, expressando considerações.
− Como disse, tudo tem um sentido em Siv. De certo, se tivesse sido por
outro modo, não teria jamais a acepção que hoje tem.
− Eu a sinto. Ela jamais esteve longe de mim.
− Seria capaz de novos desafios?
− Quais?
− Nunca se esqueça de que Siv deve vir sempre em primeiro lugar. Você
foi um escolhido para estar no Castelo, e zelar por nossas tradições. É uma de
nossas referências em uma terra distante, aquela que ainda luta por nossa
causa.
− Quais são os desafios?
− Terá de lutar novamente pela Coroa! – o Ministro disse de uma vez por
todas.
− Isso significa que… – ele desejou não terminar a frase.
− Significa que Collins está partindo para cá.
Mesmo sabendo que a morte não existia para os sivianos, seus olhos
encheram-se de lágrimas, pois vivendo no Castelo, envolto pelas tradições
que o cercavam, não havia como pensar na separação, e na falta que a irmã
lhe fará.
− E Seren?
− Um Dominador muitas vezes precisa perder para ganhar.
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
Capítulo 2
Ainda zonzo pelas circunstâncias, Tirel correu assim que pôde sentir seus
pés nos chão. Não sabia ao certo a quem socorrer primeiro, as informações
dadas pelo Ministro o deixaram aturdido. Não sabia exatamente qual era o
tipo de sentimento que tinha naquele momento, sabia apenas que eles
transbordavam em um vai e vem de sensações. Antes de se recuperar, de
longe vejo a movimentação dos criados, submissas e seus caros amigos
Dominadores. Estranhou.
Aproximou-se, parecia não ser visto. Viu Apsel jogada ao chão, chorando
com as mãos entre a cabeça. Chegou um pouco mais perto, e ela o olhou com
os olhos inchados e vermelhos.
− Ela se foi.
Foram as únicas palavras ditas. Continuou parado, olhando o nada. Era
estranho. Talvez a frustração tenha vindo por não ter sido bom o suficiente
para salvá-la, mesmo sabendo que neste momento está segura, e voltou para
os seus. Agachou-se de frente a menina, e buscou nos olhos dela, a resposta
que os seus queriam, para as perguntas que nem mesmo ele saberia formular.
− Ela estará bem. – disse, com a voz um pouco rouca, e por dentro, uma
aflição contagiante.
− Minha Rainha levou consigo toda m’alma. Sei que não posso
compreender o ponto de vista dos sivianos diante de uma situação desta, mas
eu… Eu sou uma pessoa comum, jamais voltarei a vê-la. Embora pressinto
que ela voltará… – após essas palavras, desabou num choro profundo,
abaixando a cabeça próxima ao colo dos seios.
Tentando confortá-la, sem saber se deveria, ele a trouxe para perto do seu
peito, e pela primeira vez, depois de muito tempo, sentiu novamente o esmero
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
Questões insolucionáveis…
Quero perder meu tempo
Escorregando em lodo sedento – denso!
Registrou-se em mim sendo-te uma quase reticência
Tão simples – uma incógnita no deserto
Benfazejo dom de me transformar
Em carne e alma.”
Ao terminar de recitar, olhou para a menina, ela estava dormindo. Tentou
refletir sobre o que tem envolvido os dois, e se questionou se tem feito seu
melhor. Por mais difícil que tem sido, fez o possível para se tornar presente,
apesar do inconformismo com os infortúnios, e por que não dizer, do destino
que o afrontou. Lidar com o que não aceita sempre fora seu maior desafio.
Não conheceu outra realidade, sem ser a de todos os seus desejos realizados,
criaram-no para ser Dominador. Este é o lema em Siv para toda criança que
nascesse do sexo masculino, algumas meninas, como Collins, eram exceção,
e isso se manifestava com o passar do tempo. Mas o fadário ditava as regras
em todo e qualquer confim. Não existia domínio para esta questão. Uma hora
ou outra deveria enfrentar o que não conseguia modificar. Perder uma pupila
era perder muito de si, sem se reconhecer. Era se esfarelar aos poucos, diante
da luz do dia e das trevas do anoitecer. Não existia ninguém para socorrê-lo
neste momento. Faria qualquer coisa para que Seren não fosse embora de sua
égide. Não suportaria ter de perder mais uma menina, e no caso dela, isolado,
uma pequena feita de mortalidade, jamais a encontraria novamente…
Precisava salvá-la.
Aconchegou-a mais em seus braços e tentou silenciar a mente, até que tudo
se acalmasse dentro de si, e pudesse apenas viver aquele momento. Estava
quase se entregando ao sono, perdendo-se e solvendo-se num ciclo
luto. Segurava algumas valises. Sentiu no peito um aperto que desejou recuar,
mas não o reprimiu. Ela estava deixando o Castelo. Pararam um de frente ao
outro, e ele se ofereceu para acompanhá-la a fim de atravessar o portal.
Assim que o imenso portão de ferro se fechou atrás de suas costas, ele
segurou firmemente nos braços da menina, olhou vagarosamente em seus
olhos e a beijou na testa.
− Eu desejo que siga com tudo que neste momento te fará forte. – desejou
a ela.
− Obrigada por me ajudar a me descobrir, e eu saber pelo menos uma vez
na minha vida, quem sou. E disso, jamais esquecerei. Grata. – ela se ajoelhou
e tocou as mãos do Dominador, beijando-as. – Gratidão, Senhor.
Então se levantou, olhou-o nos olhos e partiu, sem mais olhar para trás.
O vento lá fora assoviava e as folhas vinham de encontro com o rosto dele.
Naquele exato momento algo o tocava visceralmente. Porém, jamais saberá o
que significava. Não neste agora.
Entrou no Castelo, e sabia que sua missão urgia. Só não sabia quando se
daria. Para se precaver, precisava de um grande momento com suas meninas,
pois não saberia como ficariam em sua ausência. O Ministro prometeu cuidá-
las, mas não disse que Aragorne voltaria a vê-las. Pela primeira vez, perdeu
totalmente o controle da situação. Contava apenas com a boa sorte.
Foi até o grande aposento onde se encontravam, e entrou cabisbaixo. Isso
também doía muito em fazer. Perder parecia ser um lema maior em sua vida.
A única coisa que o fazia se sentir melhor era saber que muitas vezes
precisava perder para ganhar, e seja como for, valia tudo pela honra.
Entrou com cautela e levantou o rosto para olhá-las. Foi recebido com
sorrisos e uma canção de agradecimento. Em seguida, se ajoelharam e
esperaram a ordem. Mas naquele dia, não havia um mandato.
− Quero comunicar a todas, que estou em missão na busca do Trono de
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
palavras não saíam. Ela tentou várias vezes, e seu semblante era de
frustração, pois certamente esperou a vida toda por este momento, ou ensaiou
sozinha na expectativa de ser perfeito. Então com os olhos, lábios, mãos,
traço nos rosto, balbuciou:
− M-eeeu Se-nh-or.
Impossível! Como conseguiu falar? Não escuta, não aprendeu as
palavras… Então ela levou a mão até aos olhos do Dono, deslizando como
pluma, em seguida, na boca. Ele entendeu que ela lia os lábios, e certamente
tentava imitar os movimentos através das ondas sonoras.
Sorriu e a abraçou. Em seguida, saiu.
Ele sabia que aquele dia era o momento marcado para sua viagem, e a
qualquer momento deveria embarcar, seja lá como fosse. Então preferiu o
silêncio. Caminhou pelo jardim, pelos escombros do Castelo, pelas salas que
nunca mais havia entrado… Era estranho pensar que não precisaria levar
bagagem, e sim, tudo que era. Então parou para pensar em Charlote.
Como seria esse reencontro? Será que a reconhecerei? Será que me
reconhecerá? Como faremos para nos reencontrar? Em qual local? Em qual
dia? – perguntava-se.
Passou pela biblioteca, e lá estavam seus amigos Dominadores. Ficou um
tempo olhando-os, até que o convidaram para entrar.
− Está preparado, caro amigo? – perguntou Olaf, já sabendo certamente
sobre o feito. – Recebemos mensagem de Siv, para prepararmos a ida das
meninas. Estamos torcendo para que consiga realizar sua missão, e trazer
para nós, a Coroa, que o espera por merecimento.
− Grato, nobre. Mas não é tão fácil assim… Confesso que…
− Está com algum receio? – emendou Fendis.
− Confesso que sim. Não sei para onde vou, e o que preciso fazer. Penso
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
apenas que é necessário, e se assim for, então preciso estar pronto. Fiquei
sabendo sobre Arkadius… Eu não conhecia a possibilidade deste bárbaro
disputar o trono.
− Eu sabia… – disse Olaf. – Eles lutam há séculos pelo mesmo objetivo
que nós, a diferença é que não estão dentro do Castelo. Ele… Arkadius foi
quem jogou a lança em Charlote. O Ministério não queria que isso fosse
disseminado, para que uma nova guerra não se instaurasse, porém, meu
amigo, a guerra está dentro de nós.
Tirel sentiu os nervos tomarem conta de seu ser.
Ele não tomaria meu trono, nem minha escrava. Eu não permitiria. –
pensou consigo mesmo.
− Um siviano jamais se engana com o que deve fazer. Quando chegar o
momento certo, o nobre saberá. – disse Olaf. – Aqui não permitiremos que
um bárbaro tome nossa herança. O amigo tem minha palavra.
− Em qualquer lugar, amigo… Em qualquer lugar. Jamais perderá sua
essência. Ela é seu guia. – disse o Mestre.
− Estará no lugar certo… No lugar onde está a Coroa de Siv. – disse
Fendis.
Com essas palavras, apertaram-se as mãos num cumprimento, e Tirel
seguiu seu destino.
Ao chegar em seus aposentos, Seren estava na janela. Algo a perturbava,
ele precisava descobrir o que era. Tocou em seu ombro, e ela se virou.
− É estranho, Senhor, mas me sinto tomada por uma angústia… Como se
um medo se apoderasse de mim, e eu não soubesse lidar com ele.
− Aconteceu alguma coisa?
− Não Senhor, mas uma adrenalina me invade.
levava o copo à boca e sentia as pedras de gelo brincarem com sua língua,
assim conseguiu relaxar um pouco mais.
No palco subiu um casal vestido elegantemente enquanto todos os olhos
foram direcionados para eles. No microfone foi anunciada a presença do
Senhor Van Randon e sua escrava, Angelis Randon. Ele saudava os
presentes, ela olhava fixamente para baixo. Sem saber exatamente o que
esperar, Charlote continuou olhando a cena cada vez mais tensa. Observava
os detalhes, pois era lá que se encontravam as respostas que tinha ido buscar.
Com tato, Sr. Randon passou a despir sua escrava ali mesmo, diante do
público, deixando-a apenas com o corpete e uma tanguinha minúscula que se
escondia inteira entre suas nádegas. Ela não demonstrava timidez, e sim,
respeito por tudo que o homem realizava em seu corpo, mesmo diante das
pessoas.
Randon pegou o microfone, tocou no queixo de Angelis e a fez olhar para
ele.
− Existem algumas regras, que toda e qualquer submissa deve seguir, caso
queira se sentir bem em uma D⁄s. Eu tenho as minhas próprias, e me dedico a
repassá-las a minha menina. A primeira diz sobre a continência e a
necessidade de que esteja sempre disposta para quando e ao que eu quiser.
Lembre-se, eu mando e você obedece. A regra é simples.
Após dizer isso, ele a tomou e ela se ajoelhou, beijando os sapatos do
Dono enquanto um dos pés pisava em suas costas, e com a mão, ele puxou
seus cabelos forçando-a a olhar para seus olhos.
− Nunca perca a dignidade e o respeito por si mesma. Só os fortes sabem e
podem pertencer.
Ao dizer isso, ele se apossou de algemas e a prendeu, levando-a para a cruz
de Santo André fixada à parede. Prendeu os tornozelos e levantou os cabelos,
beijando a nuca delicada dela. Pegou um chicote médio de 30 tiras, e o
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
lábios avantajados. Teve medo de mirá-lo mais uma vez e ser notada,
tamanha era sua ansiedade em descobrir mais sobre ele. Algo lhe era familiar,
mas por nem um momento se lembrou de tê-lo visto antes.
Elegantemente ele puxou sua submissa pela guia e a colocou de joelhos,
próxima aos seus pés. Retirou a guia da coleira e a beijou sobre os olhos.
Existia nele algo mágico e hipnotizante. Não era comum apenas olhar para
uma pessoa e se sentir daquele modo. Pediu mais uma dose da bebida e
passou a esfregar as mãos, que suavam frio. Ela precisava saber ao menos seu
nome, que não fora anunciado. O que tinha naquele dominador que chamou
tanto a sua atenção?
− Beijar os pés de teu Dono é apenas uma de algumas das reverências…
Faça! – ele ordenou a menina, e esta cumpriu de imediato, tocando nos
sapatos dele como alguém que alcançasse o céu. Beijou-o e o venerou de tal
modo que chegou a tocar as pessoas que assistiam. Apossou-se das mãos do
Senhor e as beijou. Assim que terminou, ele a pegou pelos cabelos e a trouxe
para perto de si, falando baixo no ouvido, o que excitou ainda mais Charlote.
Ela não fazia ideia do que ele tinha dito para a escrava, mas imaginou uma
frase assim:
Quero-te uma putinha, uma cadela sempre no cio, sempre pronta…
Depois ele pegou o microfone e disse em voz alta:
− Ame teu Dono. Permita que ele te ame.
Dizendo isso, apossou-se de uma corda e passou a amarrar o corpo da
submissa, do ventre para cima, prendendo os seios até ficarem roxos, o que a
fazia entrar em delírio a cada toque do Senhor. Cada nó era feito com a
excelência de uma obra de arte. Sentou-a num banco baixo, prendendo as
pernas de modo que ficassem abertas. Olhava para o sexo da submissa com
lascívia e paixão. Eu sentia o cuidado que tinha com sua peça, por cada parte
do corpo dela. Com um flogger, passou a estocar toques rápidos e circulares
em sua vulva enquanto hora ou outra perguntava a ela quem era seu Dono.
Para o espanto de Charlote, a menina teve um orgasmo em pleno palco, o
que deixou o Dominador cheio de satisfação.
− Bater é satisfatório, mas quem está sob o jugo deve gostar de apanhar e
ter o hábito de gozar enquanto apanha, caso não tenha, descubra uma maneira
de fazê-lo.– disse ele, encerrando sua apresentação. – a voz dele era forte e
perene, como se pudesse cortar por onde fosse propagada.
Os olhos de Charlote acompanharam os movimentos enquanto ele descia
do palco seguido por sua submissa. Sentiu-se em desespero sem saber
exatamente o que fazer para ter informações sobre aquele Dominador. Sentiu
um aperto no peito, algo forte, sem nome. Não era normal o que estava
acontecendo, mas não havia outro modo de reagir.
Viu quando as costas largas do corpo grande passaram pela porta que dava
à recepção, e pensou em abordá-lo. Seria afamada de maluca, mas isso era o
que menos importava no momento. Precisava descobrir o motivo pelo qual
ficou daquela forma, perdida, e em êxtase, não acreditava que seu nível de
carência havia chegado a este ponto.
Saiu tropeçando nos degraus do local, com o copo na mão, sussurrando
palavras desconectas. Foi até a recepção e abordou a pessoa que a recebeu.
− Por favor, me diga quem é o último casal que se apresentou?
A mulher a olhou de forma estranha, sem muita vontade de responder.
− Ele é o proprietário do Clube. – disse apenas isso, secamente.
Até que a frase processasse lentamente na mente de Charlote, e ela
conseguisse ligar os fatos, agonizou cada segundo que se passava.
− Obrigada. – deixou o copo em cima do balcão e saiu.
Enquanto dirigia, foi pensando sobre o que aconteceu. Então ele era o dono
do Clube 167, sendo assim, percebeu que estava diante da pessoa que
contratou seus serviços. Quase não acreditou que havia falado com ele ao
telefone, mas não se lembrava do tom da voz, pois naquele momento era
apenas a profissional e seu cliente. Mais pasma ficou quando percebeu que
tinha o número do celular do Dominador em sua agenda, e que seu nome era
AT. Ficou se perguntando sobre as iniciais, mas era muito tarde para decifrar
mais um mistério.
Parou o carro na porta do condomínio, e entrou diretamente em sua vaga
na garagem. Subiu o elevador com o celular em mãos, olhando para o número
em seus contatos, obcecada pela ideia de ir além do que podia para saber
tudo, exatamente tudo a respeito daquele homem.
Ao acordar de manhã, com seu celular tocando, já sabia que Ito não
descansaria enquanto não o atendesse.
− Estarei pronta em uma hora. – disse, desligando o aparelho em seguida,
sem esperar por sua resposta.
Programou o celular para o modo soneca, e dormiu por mais meia hora.
Assim que começou a tocar novamente, levantou e se jogou com coragem
debaixo do chuveiro. Lembrou-se das cenas da noite passada, e nem percebeu
que estava se tocando, fielmente, como uma loba no cio. Sentia vontade de
experimentar o que vira. Jamais admitiria isso para qualquer outra pessoa,
mas não conseguia mentir para si mesma que seus desejos haviam se
acendido por conta das mãos daquele Dominador, da voz, da forma como fala
e toma.
Trocou-se de frente ao espelho, olhando para seu corpo. Nunca mais havia
se visto, sentia-se desejada por si mesma.
Após a caminhada, Ito e Charlote foram tomar café da manhã. Ela sentia-se
tomada, roubada da realidade. O olhar distante despertou a curiosidade do
noivo, que parecia insistente e incomodado com o jeito repentino dela.
prévia nesta semana que entrará. Precisava estar preparada para enfrentar a
ânsia quando estivesse de frente a ele. Precisava se mostrar boa no que faz,
eficiente e profissional. Queria causar alguma impressão. Queria que ele a
notasse de algum modo. Mal podia acreditar que estariam de frente um ao
outro por algum momento. Era a chance que teria para descobrir mais fontes,
mas… Como?
Jogou-se na cama e passou a imaginar de onde o conhecia para estar tão
impressionada. Havia muitas perguntas sem respostas em sua mente. Sua
vida parecia ser um mistério para si mesma. Tudo a sua volta denotava
desconexão com a realidade. Sentia-se um peixe fora d’água, isso lhe causava
dor sempre que pensava assim. Nunca obteve notícias de um parente sequer,
mal sabia se um dia eles existiram. Estava embriagada num mundo que
parecia, muitas vezes, inventado. Ou tudo não passava de um pesadelo que
em algum momento acabaria. Ela não lembrava exatamente de nada desde o
dia em que acordara e parecia ter nascido deste ponto. Jamais comentara isso
com Ito, que sempre perguntava sobre seu passado e família. Como explicar a
ele, que para si mesma isso não fazia sentido?
Chorou sem ruídos. Sabia que ser forte era um privilégio, e coragem não
lhe faltava. Ela mesma não identificava de onde vinha tamanha força.
Confidências Pessoais
Capítulo 1
Confidências de Charlote…
O dia raiou com ar de festa.
Saí de casa um pouco atrasada, mas não a ponto de me perder de mim
mesma. Estava ainda aflita por tudo que havia acontecido ontem. As cenas
estavam muito acesas em minha mente, o que poderia dificultar o processo
natural do meu dia.
Levei algum tempo para conseguir sair de casa, mas trouxe comigo o
rascunho de meu projeto,Clube 167. Havia muito trabalho para ser
desempenhado naquele dia. Pesquisas em comunidades do BDSM seriam
uma das opções. Talvez nosso trabalho começasse por ali.
Li tantos relatos, vi tantas imagens, que fiquei meio zonza. Entrar naquele
universo realmente era algo muito diferente do modo como o mundo se
apresenta aqui fora. Contei quase quatro páginas do que havia abstraído de
minha pesquisa, o que me rendeu boa parte do dia, mas estava satisfeita. O
restante eu sabia como desempenhar após ter todo o material em mãos, afinal,
este sempre fora meu trabalho. A ideia era a mais complicada de desenvolver.
Ito me fez cinco ligações até agora, às quinze horas. Confesso que
precisava pensar sobre este relacionamento após a entrega do projeto.
Certamente a proposta financeira fora boa, e quem sabe não poderia investir
em algo, ou até mesmo, fazer uma viagem. Mas sinceramente, o que me traga
de modo descomunal, ainda é o que está acontecendo por dentro. Parece que
despertei, e que devo de qualquer modo mudar a minha vida, mas não vejo
como fazê-lo. Ito é um ótimo rapaz, de boa índole, porém, não havia nada
nele que me atraia, a não ser a companhia num mundo tão vazio e sem
respostas. Pensando friamente sobre o assunto, ele está sendo utilizado por
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
mim, de modo egoísta, o que faz eu não me sentir bem comigo mesma.
Assim que terminei de fazer o café, segui de volta para minha sala,
pensativa e um tanto perdida. A primeira imagem foi o sapato marrom e a
postura através das costas. Arrepiei instintivamente. Eu sabia que era ele, mas
não queria acreditar. A primeira vontade foi de dar meia volta e sair pelos
fundos. O segundo desejo foi correr até onde ele estava e saciar minha
curiosidade sobre o que me tirou a paz. Com a força de uma águia, lá vou eu
para mais uma missão.
Entrei me sentindo meio estranha. Os olhos dele estavam afundados no
jornal que lia. A perna cruzada sobre o joelho direito lhe davam um ar de
superioridade. Eu tossi sem jeito, para que notasse minha presença, e assim,
sem pressa, os olhos dele percorreram meus pés, parecendo investigar cada
detalhe dos meus dedos que ficavam à mostra na sandália. Subiu no mesmo
ritmo até minhas pernas, baixo ventre, abdômen, seios, pescoço e parou em
meus lábios, o que me desconsertou no mesmo instante. Os olhos pousaram
sobre os meus, como se pudessem me desfigurar num único ato. Senti um
ardor queimar minha intimidade, e um lampejo de luz e cores invadirem
minha memória, tentando me forçar a algo que não acontecia. Vi os olhos
amendoados brilharem numa intensidade quase artística, eu o reconhecia sem
nunca antes termos nos visto. Percebi que do mesmo modo ele se prendeu em
algo sem nome e sem explicação em relação a minha imagem. Os segundos
passavam e não conseguíamos dizer uma só palavra. Parecia bom e temido
estar diante dele. Eu não estava errada, algo naquele homem era
impressionantemente anormal.
− AT? - fui a primeira a arriscar, ainda com a voz meio reprimida.
− Muito prazer, senhorita Charlote.
E era nesse exato ponto que eu queria cair no chão como uma boneca de
pano. Ele era ainda mais atraente quando falava com um par de olhos
profundos e brilhantes, e um meio sorriso que não se distraia.
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
resultado.
Pasmei. Arrogante. Exigente. Talvez fosse melhor ele procurar outro
profissional.
− Mas preciso saber se concorda com a proposta. Caso não se agradar, não
saberei se não me disser onde está o desacordo. O marketing está relacionado
ao posicionamento da empresa, que se materializa na memória do cliente
através dos produtos e serviços que atendem suas demandas. Isso tudo se dá
através da comunicação, que é o passo seguinte. Após estudar e compreender
o comportamento de compra do cliente agrupa-se um conjunto de
ferramentas e mídias formando um plano de comunicação que tem como
objetivo propagar as mensagens para seu público, através de um conceito
criativo e eficiente, ou seja, que facilite a compreensão da mensagem. E é
neste ponto que estou tentando lhe fazer prestar atenção quanto a minha
estratégia desenvolvida, que se encontra em suas mãos.
− Vou repetir. Como disse, a única coisa que me interessa é o resultado,
seja ele de onde vier. Eu não entendo sobre estratégias de marketing, e por
este motivo busquei seus serviços. Estou confiando em sua experiência como
profissional.
Senti o desejo de me afundar em minha cadeira. Se algo desse errado,
provavelmente eu sumiria do planeta para não encarar a ira deste ser
intrigante e explicitamente direto.
− Tudo bem. Amanhã já começo a execução.
Ele se levantou sem dar tempo de eu ficar vermelha.
− Espero-a no Clube amanhã, às vinte e duas horas. Seja pontual.
− No Clube?
− Creio que entendeu perfeitamente o que eu disse.
− Sim, mas não vejo a necessidade.
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
ser incomodada. Não queria saber se meu noivo estava louco atrás de mim.
Tudo que eu precisava era de um tempo para refletir e colocar minha cabeça
em ordem.
Fui para casa sem esperar mais nada daquele dia. Amanhã chegará como
um fenômeno em minha existência como publicitária. Minha campanha
estava fadada ao desastre ou a um grande marco em minha profissão. Já sobre
AT, eu não sabia mais o que pensar. Faria qualquer coisa milagrosa para
separar os fatos de impressões.
Ao abrir a porta de minha casa, ligo meu celular, e antes de jogar minha
bolsa sobre a mesa, ele toca. Olhei no visor, e apareceu lá o nome do homem
que tomou minha paz naquele dia. Sem saber se atendia, meus dedos me
traíram e coloquei o aparelho na orelha.
− Vá vestida apropriadamente. – disse ele com um fundo musical no
ambiente que se encontrava, o que me deixou curiosa.
− O que quer dizer?
− Para saber o que eles desejam, você precisa se sentir um deles.
− Acredito que estamos indo longe demais com os detalhes. – disse enfim,
sentindo-me cansada e aflita.
− Não quero saber sua opinião. Esteja pronta, isso basta.
Desligou.
Meu coração acelerou. O que quis dizer com – esteja pronta! Não
combinamos de nos encontrar no Clube?
Minha noite se tornou um inferno astral. Fui até a sacada e vi de lá uma
cidade cheia de luzes e segredos. Corri para o banheiro e entrei no chuveiro
de roupa e tudo. Estava a ponto de enlouquecer já nos primeiros momentos
desta viagem.
Como ele poderia amar alguém, como disse naquele dia no Clube?
Lembro-me de suas palavras: Ame teu dono. Permita que ele te ame.
Que universo é esse?
Tirei a roupa molhada e passei a tomar um banho normal. Sentia minhas
mãos percorrendo meu corpo, mesmo sem mexê-las. Elas se moviam
sozinhas. Estava enfeitiçada, um tipo de fascínio por um mundo que não me
pertencia.
Acordei com minha campainha zunindo em meu ouvido. Vesti meu roupão
e minha surpresa ao abrir a porta, foi algo contagiante.
− Encomenda para a senhorita Charlote. – disse um entregador com uma
caixa grande nos braços.
Esfreguei os olhos e arrumei o decote do roupão.
− Encomenda? Acabei de acordar. Não comprei nada ainda.
− Está aqui. – ele mostrou o endereçador com meu nome e endereço.
Peguei a caixa um tanto receosa e abri lentamente. Lá dentro, uma roupa.
Toquei-a e a peguei, colocando sobre meu corpo. Era um vestido vermelho
escuro e justo, forrado por um tecido preto, com uma fenda gigante dos pés
até a altura da coxa, ficando à mostra boa parte da perna. Peguei o bilhete que
acompanhava a roupa.
“Não se esqueça, esteja pronta às vinte horas em ponto.”
Cismei. Tossi. Arfei. E agora?
Cancelei meus compromissos do dia. Liguei para Ito e disse que estava
bem, prometendo vê-lo amanhã, e talvez até dormíssemos juntos. Inventei
uma desculpa, que faria uma curta viagem hoje para o interior e chegaria
somente à noite, muito cansada. Ele compreendeu, mas certamente não
gostou, o que não me atingiu, e o que infelizmente me fez reconhecer que
respondi quanto ao contrato. Não sei se devo aceitar. Tenho outras obrigações
e interesses a cuidar, não estou disposta a me dedicar apenas a um tipo de
projeto.
− Acredito que não está entendendo o que estou tentando falar há horas.
Temos um pré-acordo, seria muita falta de descomprometimento de sua parte,
me entregar o serviço pela metade. Poderia processá-la por falta de ética no
Conselho de sua profissão.
− Não desejo me sentir obrigada a nada. Sou autônoma, não estou
agregada a nenhum tipo de absurdo como este.
Ele me olhou diretamente nos olhos. Tocou-me pela primeira vez,
segurando forte em meus ombros, trazendo meu corpo pequeno, para perto do
seu porte másculo. Senti sua respiração em meu rosto, e observei seus lábios
se movimentarem enquanto ele pronunciava:
− Charlote, eu confio plenamente em seu trabalho. Confio que não me
deixará a ver navios. Mas para que tudo seja perfeito, é necessário abrir mão
de seu orgulho, pois ele não cabe diante de tanto talento. Ademais, você é
uma mulher inteligente, não estamos lidando com porcos ou equinos, estamos
tratando de um assunto sério, que depende neste momento de sua única e
exclusiva cordialidade em aceitar. Não posso obrigá-la a nada, exatamente. A
qualquer hora que desejar ir embora, assim como a trouxe, eu a levarei, mas
quero que seja honesta o suficiente para me dizer que não quer desenvolver
este trabalho.
Fiquei me sentindo encurralada. Os passos dele foram progredindo até que
eu andar para trás como caranguejo. Senti minhas costas na parede fria, e
com as mãos um pouco mais firmes sobre meus ombros, ele me suspendeu,
fazendo-me perder o ar, trazendo-me ainda mais para perto do seu rosto. Fui
esfregando em seu tórax até estar bem perto dos seus olhos.
− Diga-me, com suas palavras e lábios, que não deseja desenvolver o
projeto de marketing para o meu Clube. – sua voz era doce e contagiante,
fazia ciranda em torno dos meus ouvidos enquanto meus pés eram suspensos
do chão, por mãos fortes e imensas.
Um bater na porta me libertou dele, que ainda tinha suas mãos fazendo
pressão em minha pele mesmo sem estarem lá. Senti um formigamento no
local, e um sentimento confortável, mesmo diante de uma pressão
psicológica.
− Está quase na hora. – uma voz veio lhe chamar para a apresentação. Ele
ainda me olhou atravessado, e disse com o mesmo tom de voz de antes:
− Pense… Você tem até o final desta noite para me dar sua resposta. –
dizendo isso, chamou por Antonele e saíram do local, deixando-me passada.
Intimidada, segui o corredor que me levou para aquele ambiente, e me
sentei na mesma cadeira que antes estava. Antes que eu pedisse uma bebida,
o garçom já vinha trazendo algo na bandeja. Era um copo de Martini com um
bilhete curto:
“Experimente se permitir. Eu tenho certeza de que não se arrependerá.”
Peguei o copo da bandeja mais que rapidamente, e, em cinco goles, devorei
a bebida e pedi que trouxesse mais. Na terceira dose, um pouco tonta, percebi
que AT já estava em cima do palco em sua apresentação com Antonele. Ele
estava concentrado em tudo que fazia. Eu ouvi o chicote estralar e vi as
marcas no corpo moreno. As feições do rosto dele se modificaram num
segundo, trazendo à tona um lobo faminto e insaciável, que lambia a pele
chicoteada e levantava novamente o açoite em movimentos vorazes, com
pressa e sem redenção. Ele era insaciável.
− Quem é você? - ele perguntava por diversas vezes, e ela respondia:
− Sua cadela, Senhor.
Ele colocou o chicote nos lábios dela e a fez beijá-lo, encerrando sua
apresentação.
Ao vir em minha direção, ainda em estado de transe, secou o rosto com o
guardanapo e pediu uma bebida. Fiquei olhando impressionada para suas
feições, não conseguia piscar. Ele estava totalmente diferente. Sim. Era um
lobo, eu tinha certeza disso.
Meus dedos aflitos em cima da mesa foram observados por ele, nada
passava despercebido diante dos seus olhos. Tomou minha mão e prendeu
firmemente sob a sua. Com a outra, bebia o Martini. Vi quando colocou a
pedra pequena de gelo em sua boca, e assim, levou minha mão presa até seus
lábios, mordiscando somente a ponta do meu dedo, encostando-o ao gelo.
Senti um arrepio percorrer minha espinha dorsal. Queria me afastar, mas não
consegui. O efeito do álcool misturado às sensações que aquele homem me
causava era algo difícil de conter.
Ao me soltar, eu nem queria ter saído, então ele pegou sua pasta, abriu, e
de lá retirou o contrato.
− Vai assinar?
Observei o chicote sobre a mesa. Fechei os olhos. Ouvia a música inglesa,
ela pedia para alguém se entregar. Vi quando pegou a caneta e a deixou no ar,
diante de lábios irresistíveis. Neste mesmo instante meu pulso foi segurado
por uma mão gigante e pesada. Tremi.
Peguei a caneta de sua mão, que prendeu a minha mais uma vez. Olhou-me
de modo desafiador. Ele não queria apenas que eu assinasse, queria que eu
me rendesse!
Observei o local onde se colocava a assinatura, e mal consegui me atentar
às cláusulas contratuais. O que eu mais queria era me esconder de tudo isso,
ou me jogar de vez nas mãos daquele maluco.
Assim que assinei, levantei da cadeira.
− Para onde vai? - disse ele, percorrendo meu corpo com o olhar.
− Quero ir para casa. – eu disse.
− A noite nem começou… – disse ele pacientemente.
− Para mim já se concluiu.
Ele sorriu pela metade e molhou os lábios. Levou tranquilamente a mão
num botão sobre a mesa e apertou. Minutos depois, dois brutamontes vestidos
de terno cercaram o local onde estávamos.
− Podem levar a senhorita.
Sentime extremamente ofendida. Levei a mão na boca e suspirei. Fui
usada. Fui abusada. Fui ridicularizada. Que diabos eu esperava e queria desse
homem?
Não tive outra opção, precisava sair dali de qualquer modo. Segui os
homens que me levaram até um carro, e de lá, somente um me acompanhou,
dirigindo o veículo.
Quando estava quase relaxando, outro susto me tomou.
− Para onde o senhor está me conduzindo? - perguntei assustada, sabendo
que aquele não era o caminho para minha casa.
− Para onde fui ordenado a lhe conduzir.
Eu não podia acreditar que aquele cretino estava me raptando!
− Por favor, pare o carro, vou descer.
− Não tenho ordens para deixá-la descer antes de chegar em nosso destino.
− O senhor não entendeu? Eu não sou prisioneira de ninguém! E quero
descer desse maldito carro!
− Entendo senhorita, mas infelizmente não poderei atender ao seu pedido.
O que eu poderia fazer? Esmurrá-lo? Pular do carro com este em
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
Capítulo 2
Confidências de Charlote…
Entrei naquele casarão quase cega de raiva e revolta, mas ao abrir a porta, a
curiosidade tomou fortemente o lugar de já quase antiga angústia. Não era
apenas uma casa, mais parecia uma masmorra de filmes antigos, por todos os
lados haviam acessórios sadomasoquistas. A cor predominante era a preta e
vermelha escura. Ferros, correntes, couro e instrumentos de tortura. Nada ali
lembrava exatamente uma casa comum. Sentime tonta, como se já estivesse
conhecido antes algum lugar que tenha essas características.
Fui recebida por uma mulher uniformizada que me chamou pelo nome, o
que deixou bem nítida a intensão premeditada do tal AT, que certamente
cuidou de todos os detalhes e artimanhas.
− Boa noite, senhorita. Poderia me acompanhar? Vou levá-la até seu
aposento.
− Meu aposento? - fiz-me de demente.
− Sim, o quarto da senhorita já está preparado e aromatizado, espero que
goste.
Quem sou eu na fila do pão? Quando uma prisioneira iria ser tratada
assim? Enfim, nada o isenta de uma grosseria sem fim. O que ele fez foi
muito errado e eu não abrirei mão facilmente de meus direitos de me sentir
ofendida com tudo isso.
− Escute, senhora, por um acaso tem noção do horário que seu patrão
costuma chegar? Eu gostaria que me acordasse, caso eu adormecesse.
− Não tenho ordens para subir aos aposentos do andar de cima, senhorita,
quando lá há pessoas nos quartos. Lamento.
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
Fiquei olhando para ela com uma cara de paisagem, certamente tudo que
eu dissesse ela jamais ousaria a ir contra as ordens do poderoso AT, e só me
resta subir para a droga do quarto perfumado e esperar o infernal Dominador
chegar. Certamente fui quase marchando degraus acima.
Quando entrei no quarto, para minha total surpresa, não havia cama, e sim,
um tapete muito grosso e felpudo, forrado por um sutil lençol. As paredes
eram revestidas por couro, e o lustre tinha as luzes vermelhas que deixavam o
quarto todo naquele tom. Fui para o close, e lá continha um armário com
roupas femininas. Acendi a luz, e todos os cabides tinham um papel
indicando uma data. Fiquei olhando para aquilo, tentando entender o intuito.
Quem poderia marcar a data que usaria uma roupa? Certamente essa pessoa
não sou eu.
Saí do close e me joguei no único local que havia para dormir. Não tinha
outro jeito, tinha que dormir ali mesmo, apesar de que não era tão ruim assim,
o tapete era macio e felpudo. Ali estava realmente muito aromatizado, como
disse aquela senhora, não entendi o motivo do agrado, quando é oferecido o
chão para que sua visita dormir. A luz vermelha foi me causando um sono
incontrolável, eu ainda estava sob o efeito da bebida.
***
Confidências de AT…
Cheguei por volta das quatro da manhã. Subi até o andar de cima e abri
lentamente a porta do quarto de Charlote. Olhei-a dormir, parecia um
passarinho fora do ninho. Teimosa. Estava descoberta, o que me animou a
puxar o lençol até seu pescoço. Ela se mexeu levemente, e estacionei a
cabeça para olhá-la mais de perto. O rosto dela… Havia nele algo tão familiar
que senti vontade de beijá-la. Forcei-me a deixá-la. Saí do quarto com o
pensamento ainda na pele da pequena. Tudo naquela menina parecia ter sido
feito para me encantar. O cheiro dela… Ah, eu o sinto mesmo de longe…
Fechei a porta com cuidado e fui para meu quarto com a sensação de sono
perdido. Precisava mantê-la por perto até o momento de convencê-la a ser
minha. Não abrirei mão. Preciosa… Especial, eu a quero como nunca quis
outra menina. Não é de meu costume tomar alguém de si mesma a qualquer
custo, mas não haveria outra maneira de mostrá-la minha verdadeira face, e o
quanto ela lateja por dentro… Incontrolavelmente. Excito-me só de pensar
nela, com aqueles lábios… Eu em sua boca, derramando…
Quando procurei seus serviços, eu já a observava entrando e saindo todos
os dias de seu escritório. A primeira vez que a vi foi num dia de sol, assim
que saiu daquele bendito café, apressada e perdida. Notei seu olhar a procura
de algo, e suas mãos, quando soltas, não tinham direção. Mãos pequenas e
inquietas. Senti vontade de beijá-las. Percebi no seu jeito de andar, que sentia
a falta de alguém que segurasse em sua mão. Vi quando entrou em seu carro
e ficou mais ou menos uns cinco minutos parada, olhando para o nada.
Percebi sua solidão interna e carência por algo que ela mesma não havia
descoberto em si. Eu faria de tudo para mudar seu mundo…
Na segunda vez que a vi, ela entrava numa loja de roupas femininas. Eu a
observei enquanto seu descontentamento por tudo que havia no mundo,
perseguia. Entrei na mesma loja e fiquei por ali, escolhendo algo para
comprar para Antonele, desculpa para vê-la mais um instante. Seus olhos
percorriam as instalações e prateleiras, nada a fazia feliz. Cansada de
experimentar, ela se despediu da vendedora e novamente entrou em seu carro,
pensando em algum lugar para ir, submersa em seu mundo inacessível e
secreto. Sem encontrar uma opção, foi para seu apartamento.
Ao chegar à frente do prédio, atendeu o celular, e olhou para trás, ele
estava lá, o noivo baunilha que não a satisfazia como mulher. Os olhos dela
perderam ainda mais o brilho quando ele se aproximou. O namorado baunilha
não sabia, que nada em seu miúdo universo poderia preencher essa menina.
Vi quando ele a abraçou e os braços dela caíram estendidos nas laterais do
corpo. Naquele momento Charlote era uma boneca de cera, e não se agregara
àquele rapaz tão somente por amor, sobretudo, porque não sabia viver sem
proteção e cuidados. Precisava de amparo e uma mão forte que a sustentasse,
e não uma que não encaixava a sua, como a dele.
Deitei em minha cama e fiquei com a imagem dela em minha mente, sem
poder imaginar o que fazer para dominar seus anseios. O cheiro da menina
ainda me rondava como um castigo. Queria me levantar e trazê-la para minha
cama, mas se o fizesse, não conseguiria domar o cavalo selvagem que havia
em seu peito. Eu a conhecia de algum outro lugar, de algum tempo… Ela não
faria essa bagunça com a minha cabeça, do nada, sem explicação.
Quando o dia amanheceu, fechei os olhos e adormeci.
***
Confidências de Charlote…
Acordei sem saber ao certo onde estava, percebi apenas que a cortina
estava aberta, e havia a minha frente, um corpo alto e forte, parado como uma
estátua. Pestanejei os olhos e os abri com cautela.
− Que horas são, por favor? - perguntei já preocupada com meu horário do
trabalho, me sentindo constrangida de ele me ver assim, descabelada e de
qualquer jeito estirada naquele tapete.
− Hora de se levantar para tomar o café da manhã.
− Não… Não, não posso, tenho que ir para casa, tomar um banho e seguir
para o escritório. – eu queria era me livrar dele o quanto antes. Procurei
minha bolsa, e dentro dela, o celular. Tinha quinze ligações de Ito.
− Esqueceu-se de seu contrato comigo?
− Qual contrato? - minha cabeça rodava a mil por hora, e eu não sabia
sequer meu sobrenome naquela altura do campeonato. Não tinha o hábito de
beber, e muito menos de dormir na casa alheia. Como poderia me esquecer
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
ajudar, oferecer minha mão. Olhe para mim… – sua voz era macia e eu não
sabia mais o que fazer ou pensar. Ele tocou em meu queixo e mirou seus
olhos nos meus. Novamente aquele desejo intenso de chorar, como a
menininha que havia perdido o caminho de volta para sua casa. − Eu estou
aqui… Confie em mim… Apenas confie… Deixe eu te mostrar quem sou.
Não quero te enganar, nem te maltratar. Não quero que saia de perto de
mim…
Eu não entendia o motivo de me querer por perto. De desejar alguém sem
conhecer, mas algo naquelas palavras me tranquilizava mesmo sem ter
sentido algum. Algo nele era indescritivelmente diferente do que havia nas
outras pessoas.
− Eu só preciso entender o porquê está fazendo isso… Por favor, me deixe
entender. – então não consegui mais enlear o choro e este veio como uma
vazante para o rio.
− Porque… – o celular dele tocou bem no momento mais importante do
dia, e ele atendeu rapidamente.
Aproveitei para comer e sair dali com pressa, antes que ele voltasse ao seu
posto de comandante. Seus olhos não me olhavam, mas sua alma me sondava
mesmo quando ninguém percebia isso. Levantei da cadeira e segui
rapidamente para a porta da saída daquela casa que nem reparei na falta da
luz do sol.
Ao abrir a porta fui recebida por um jato de ar frio, caiu a temperatura e eu
nem me dei conta, respirei profundamente e com muita pressa, mas fui pega
por uma mão forte que me arrebatou novamente para dentro do casarão.
Apertou-me em seu peito e tocou forte em meu rosto, comprimiu-me com os
olhos faiscando de qualquer coisa que não era carinho.
− Onde pensa que vai?
Eu mal podia responder, pois seu corpo havia me prensado na porta. Sua
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
− Mas eu…
− Não pedi para justificar, apenas escolha. – ele continuou grosseiro, e o
que era pior, na frente da vendedora, o que me fez corar e me sentir um lixo.
Então somente nesse momento, ele sorriu. Sentia prazer em me humilhar. Vi
o brilho em seus olhos e a sensação de que conseguiu atingir seu objetivo.
Assim que pagou, novamente me segurou pelo pulso.
− Vamos embora.
− Pode soltar meu braço, por favor? Está me constrangendo na frente das
pessoas.
− Solto quando quiser. – disse apenas, e somente me soltou quando entrei
no carro.
Entrei em silêncio, esperando que os dias passassem logo, e eu pudesse
enfim acabar com aquele pesadelo e retomar as rédeas de minha vida.
Chegamos ao Clube pouco depois. Entramos direto para as dependências
administrativas do local as quais ainda não conhecia. Fiquei em silêncio o
tempo todo, esperando não levar novas repreensões.
− Sente-se. – disse ele me apresentando uma mesa com um computador.
− O que quer que eu faça? - perguntei sem entender, e já me sentindo uma
idiota.
− Escreva como se sente. – pediu.
− O quê? - fiz-me de demente.
− Eu disse para você escrever as sensações de como está se sentindo.
− Para quê?
− Para saber como é se submeter a alguém, e depois comece a desenvolver
seu projeto para o público feminino, primeiramente.
pressa. Por um momento pensei que aquele homem das cavernas havia
desaparecido da face da terra, mas assim que abri meus olhos, ouvi:
− Agora vá fazer o que mandei.
Eu o farei. Mas farei por orgulho, por desafio ou qualquer coisa que prove
que sou uma mulher forte. Muito mais forte do que ele pensa.
***
Confidências de AT…
O que eu sentia por aquela menina? – me perguntei ao vê-la de longe
cumprindo minha ordem. Quanto mais ela se mostrava difícil de ser domada,
mais eu desejava ver seus joelhos no chão, pronta para mim. Era difícil
adestrá-la. Um trabalho lento, mas que valeria a pena. Onça pintada, gata do
mato… Eu a dobraria, nem que fosse a última coisa que fizesse como
dominador.
No fundo eu sentia que Charlote estava se defendendo, e sua negação ao
que a obrigo é por simples questão de tempo. Quanto mais os minutos
passavam, mais eu a sentia minha… Como se a conhecesse há anos, e
soubesse exatamente o que fazer para adestrá-la.
Olhei seu traseiro arredondado, pernas bem torneadas, pele clara, que me
causava um frisson. Eu desejava aquela menina mais do que tudo neste
momento. Ela seria minha a qualquer custo. Não a tocarei como pretendo,
mas esperarei ansiosamente por cada pedaço de seu corpo.
***
Confidências de Charlote…
Quando terminei de fazer o solicitado. Joguei-me no sofá e fechei meus
olhos. Aproveitei sua ausência para me sentir em paz. Pensei em Ito e em
como ele estava se sentindo naquele momento, pois sei que não agi
corretamente, mas já era tarde demais para consertar, ainda mais nas
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
− Eu não sei por que está fazendo isso comigo… – as sensações ilógicas
me confundiam, ao mesmo tempo em que eu desejava correr, não queria sair
daqueles braços.
− Fique em silêncio. – disse ele tocando em meus lábios com o polegar. –
Tão linda e delicada… Tão doce… Por que ser tão rebelde?
Sua boca comprimiu a minha, levando minha resistência. Suas mãos
desciam e subiam pelas minhas costas, roçavam em meus cabelos com gana,
senti que ele desejava puxá-los, mas não o fez. Pensei que rasgaria minhas
roupas e me tomaria ali mesmo no tapete da sala, mas não ousou. Que
homem é esse?
− Vamos dormir. – disse ele seguindo na frente, me deixando parada no
mesmo lugar, com os lábios ainda entreabertos, esperando por mais. Apagou
as luzes da sala e subiu as escadas sem olhar para trás.
Capítulo 3
Confidências de AT…
Eu não consigo reconhecer de onde vem a atração tão arrebatadora que
sinto por esta mulher. Tudo se torna intenso e ínfimo quando me aproximo
dela, sentindo um cheiro familiar que me deixa completamente louco e cego,
a ponto de desejar romper suas muralhas, antes mesmo de roubá-la de si
mesma.
Os movimentos delicados dela entram em meu corpo num instante em que
me esforço cada vez mais para me lembrar de onde a conheço… A cautela se
esvai, temo por meus instintos… Não sei de seus limites, e mesmo assim,
meu desejo de superá-los é bem maior que a mim mesmo.
Deito na cama tentando adivinhar o modo como ela está posicionada neste
momento no tapete do seu quarto, onde eu desejaria passar a noite a
observando. Monto um cenário mental de seu corpo ajoelhado perante a mim,
querendo apenas servir aos meus insanos desejos.
Imagino seus joelhos avermelhando-se com a pressão e peso do seu corpo,
e a expressão de cansaço em seu rosto, mas permanecia na mesma posição
até o comando de minha voz para se levantar… Neste momento eu teria
certeza de que estava entregue somente a mim, apesar de seus limites, seria
minha… Como algo perene que faz parte de tudo que me traduz.
Rolei na cama feito um lobo em plena madrugada. Podia ouvir meus
próprios uivos de ansiedade e loucura por uma menina que acabara de surgir
em minha vida, mudando tudo de lugar. Fechei os olhos e tentei me
concentrar no que deveria fazer no dia seguinte, um compromisso com minha
honra dominante de permanecer intacto no meu posto junto às minhas
submissas, que já fazem parte do meu dia, ao mesmo tempo em que se
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
a vi fechar seus olhos quando minha voz chegou até seu acalento e a
adormeceu… Lindamente, como se fosse minha desde o dia em que nasceu.
Agora poderia dormir sossegado. Ela estava ali, ao meu alcance, junto de
mim.
O dia chegou e meu celular logo tocou me lembrando de que precisaria ir a
capital vizinha buscar alguns acessórios importados para o Clube, pois
haviam chegado minhas encomendas. Poderiam ser enviados pela
transportadora, mas eu fazia questão de ir pessoalmente experimentar cada
objeto em uma de minhas escravas. O teste é algo que faz parte de meu ritual
no momento de comprar qualquer acessório que esteja relacionado às sessões
sadomasoquistas, tanto para a minha vida pessoal, quanto para meu
estabelecimento. A qualidade sempre fora a alma do negócio. Aproveitaria
para comprar alguns móveis para a reforma surpresa que faria a ela, o projeto
de Charlote veio a calhar num momento em que minha inspiração estava a
toda a prova, queria revolucionar o que já estava muito bom. Sou exigente,
gosto sempre de alcançar o meu melhor.
Não saberia como fazer para mantê-la comportada em minha casa até meu
retorno. Certamente poderia dar na louca de fugir… E se o fizesse, eu a
acharia onde quer que esteja. Meu sentimento de posse já abrigava aquele
corpo e alma.
Chegamos em silêncio no escritório, apesar de ter me concentrado no que
deveria fazer naquele dia, minuto ou outro insisti em olhá-la de resvalo para
avaliar seu comportamento e sensações depois da noite anterior. Ainda não
falamos sobre o ocorrido. Ela me parecia alheia a qualquer situação que
pudesse acontecer naquele momento. Isso não era bom sinal. Eu não estava
conseguindo captar suas emoções.
Meu voo sairia às 16 horas, e eu já me encontrava ansioso. Precisava
deixá-la tranquila até o momento de partir, mas não haveria muito tempo até
lá, então o que fosse para ser dito, aquele era o momento.
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
Ao entrarmos na sala, ela se sentou e nada ainda havia dito. Eu virei sua
cadeira para mirá-la de frente. Os nossos olhos estavam dando choque ao
olharmos um para o outro. A energia era intensa. Eu podia sentir até o calor
que vinha do seu corpo.
− Sobre o que aconteceu ontem, iremos conversar assim que eu voltar de
viagem.
Ela então arregalou os olhos ao me ouvir pronunciar a palavra viagem. Sei
que queria perguntar algo, mas seu orgulho não deixava.
− Vou partir hoje no final da tarde, e só nos veremos daqui três dias. Acha
que pode permanecer comportada, indo e voltando da minha casa para o
trabalho e vice-versa?
− Eu não sei…
Ela quis certamente me desafiar.
− Saiba que nosso contrato está em vigência mesmo em minha ausência.
− Irei cumpri-lo.
Ela mudou de ideia ao se lembrar do que se dispôs.
− Posso confiar em você?
− Sim.
− Por que está monossilábica?
− Não há motivos para tagarelar.
− Sobre ontem à noite…
− Eu já esqueci… Assim como todas as coisas que me aconteceram antes
de eu conseguir me lembrar quais eram.
− Eu a pedi ontem, para mim. – eu disse logo de uma vez, na tentativa de
fazê-la se importar com o quanto isso significava.
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
***
Confidências de Charlote..
Passei o dia tentando adivinhar o que ele tinha feito a mim. Eu queria
resistir e não conseguia definir o motivo pelo qual estava me prendendo a ele
como se isso fosse realmente necessário. Tudo que saía dele invadia meu
âmago, eu não posso acreditar que estava apaixonada por um dominador. Não
posso admitir que sou realmente o que ele pensa que sou. No entanto, não
consigo questionar a hipótese, apenas sei sentir.
Estava incomodada com a minha relação com meu noivo. O que estava
acontecendo poderia ser perigoso a ponto de magoá-lo irremediavelmente.
Não quero ser considerada uma traidora, iludida por um sádico que tinha a
mania de dominar pessoas.
Fiquei olhando o celular por muitos minutos. Eu tomaria coragem e ligaria
logo para Ito, e o diria tudo que estava acontecendo… Mas… O que estava
acontecendo? Por enquanto não havia nada de tão errado, apesar que a todo o
momento eu me traía imaginando como seria se fosse possível.
Deixei o tempo passar um pouco mais. Precisaria ter certeza de que AT já
havia embarcado, e deste modo poderia sair um pouco do cárcere. Esperei
quarenta minutos a mais do horário que ele embarcaria, e novamente peguei
meu celular e disquei o número do telefone de meu noivo.
Assim que tocou, ele atendeu um pouco afoito. Fez uma porção de
perguntas, e resolvi marcar um encontro. No horário combinado, estava lá,
fui de táxi.
− Precisamos conversar. – eu disse logo que o vi.
− Pressinto o mesmo… Mas antes de tudo, me deve algumas
explicações… Onde esteve e por que está evitando atender minhas ligações?
− Não é bem o que você está imaginando, na verdade… Eu nem sei como
explicar.
− Você tem outro?
Por um momento achei que iria responder, sim, tenho. Mas isso não era
verdadeiro. Eu não tinha ninguém, apesar de… bem, eu beijei AT, mas o que
isso significa? Eu estava encurralada.
− Não tenho ninguém, este não é motivo de… – pausei.
− Qual motivo?
− De encerrar nossa relação.
Ele pôs as duas mãos na cabeça e suspirou profundamente.
− Charlote, eu não acredito que depois de tudo que vivemos juntos, você
terá a coragem de fazer isso, sem nem um motivo aparente… Mas deve
existir alguma razão, eu sinto que sim… É melhor que seja sincera comigo,
eu sempre agi desta forma com você.
− Acredite, não existe um motivo selecionado. O problema sou eu, minha
insatisfação com o mundo… Eu não me encaixo em uma vida normal, com
pessoas normais… Eu nem sei ao certo quem sou. Não posso me casar, nem
com você, nem com qualquer outra pessoa antes de descobrir quem sou.
− Dizendo assim, me dá a sensação de que está falando de uma alienígena.
Pare com isso, Charlote, você colocou essas coisas em sua cabeça com
desculpa para se desagregar do mundo, e eu não vou deixar.
− Você não pode interferir em minhas escolhas… – senti que a qualquer
momento choraria, precisava ser forte.
− Posso e devo! – disse ele, segurando em minhas mãos.
− Não deve! Você não é meu Dono! – eu nem percebi quando proferi esta
palavra, Dono. Deveria estar afetada por coisas que AT tentava por em minha
cabeça. Somente agora percebi que estava submetida a uma dominação
psicológica.
− Não existem essas denominações, Charlote. Eu sou apenas alguém que te
ama e quer estar ao seu lado…
− Mas eu não me adaptei… É difícil para mim, saber que existe uma vida
atrás do meu esquecimento, e nada consigo me lembrar. Não posso estar com
ninguém, esqueça nossos planos.
− Poderá buscar por um tratamento… Sei lá… Há de ter uma forma de
você se sentir melhor com isso.
− A solução é esta, eu não quero mais me casar. – olhei-o seriamente, até
que percebesse minha sincera vontade.
Então ele se levantou, e eu continuei o fitando. Tirei a aliança do meu dedo
e o entreguei. Ele a pegou e ficou com uma expressão confusa no olhar.
Finalmente se virou e saiu de dentro do restaurante.
Foi difícil optar por voltar para a casa de AT, eu poderia não ir, se
quisesse. Mas cumpriria a qualquer custo o nosso acordo. Quando cheguei,
logo fui abordada por seus seguranças que vieram me tirar satisfações.
− A senhorita sabe que não tem autorização para sair sem ser em nossa
companhia.
− Eu não tenho idade para ter babás.
− Estamos cumprindo ordens… É o nosso trabalho.
− E eu não tenho exatamente nada a ver com isso…
Entrei sem me importar com as bobagens que eles falaram. Mal coloquei
os pés dentro da casa, meu celular tocou, e então me lembrei de que AT me
pediu para atender no segundo toque. Eu não precisava obedecer, mas algo
dentro de mim dizia que sim, preferi não questionar e atendi.
− Boa menina… O que está fazendo?
− Acabei de chegar. – nem pensei em mentir. Talvez não fosse uma boa
ideia dizer a verdade. Esperarei pelo resultado.
− Onde foi sem minha ordem? – eu podia sentir sua ira daqui.
− Fui terminar minha relação.
Houve um silêncio. Achei até mesmo que ele tinha desligado.
− Não me comunicou que o faria…
− Fiz o que achei que deveria. Fiz por mim, e por mais nada ou ninguém. –
entrei na defensiva.
− Com a intenção de me pertencer?
− Eu não disse isso…
− Depois conversaremos sobre sua saída sem minha permissão. Preste
muito atenção no que vou lhe dizer agora. Eu a espero amanhã no aeroporto
de onde estou. Sua passagem estará comprada, poderá pegá-la com minha
secretária.
− Qual sua intenção, Senhor? – eu disse Senhor numa expressão que soasse
quase um deboche.
− Caso não venha, eu pago a multa da quebra contratual, e você poderá
encerrar seu trabalho por aqui. – sua voz não soava brincadeira, e isso me
causou um frio no estômago. Pela primeira vez senti medo de sair daquela
casa. Minhas mãos ficaram gélidas, e tive medo de responder. Em meu
silêncio, ele desligou o telefone e meu coração disparou.
Andei de um lado para o outro no quarto. Nem me dei conta de que havia
entrado no aposento dele. Sentia-me descompassadamente louca. Fui até a
janela, mas nada me distraia. Ele não estava brincando… Eu poderia inventar
um monte de desculpas para mim mesma, e deixar aquela casa de vez. Eu
poderia ligar para meu ex e dizer a ele que fora um engano, trazendo-o de
concordo. Nos que não concordar, diga, não concordo, e assine também.
Então passei a sentir frio. Era um acordo de relacionamento, D⁄s. Para
muitos que não sabem, ali diz que muitos dos meus direitos serão repassados
a ele, assim como sua total responsabilidade por meus atos a partir daquele
momento. Logo abaixo estão algumas práticas sadomasoquistas, muitas delas
eu já havia pesquisado na internet. Certamente ele elencou somente as
práticas que lhe interessavam, e isso me causou certo alívio em saber que
muitas das que eu teria certa ojeriza não estavam ali, como qualquer coisa
relacionada a fezes ou as que necessitam de perfurações. Essas na verdade,
são meus limites.
Olhando mais abaixo, atentamente, antes de assinar qualquer coisa, vi
sobre irmãs de coleira e a possibilidade de estarmos juntas em sessão. Eu o
olhei e ele fez um gesto com a cabeça para que eu retomasse a leitura do
acordo. Sinceramente, eu não sabia o que dizer sobre este aspecto, haja vista
que não imagino como seria isso, e se por algum momento eu teria de ficar
com outra mulher para satisfazê-lo, o que também não tinha nenhuma opinião
a respeito. Mas dentro do meu coração, algo apertou sem causa, mas com
efeito explosivo.
Ele me passou a caneta, e como se estivesse sendo movida por um instinto,
passei a assinar as cláusulas. Quando chegou a que se referia a irmãs de
coleira, eu parei por um momento sem saber o que faria. Assinei e escrevi
entre parênteses, negociável. Ele me olhou um tanto confuso e eu correspondi
do mesmo modo, pois nem eu mesma sabia o porquê de ter escrito aquilo.
Eu o entreguei o acordo, e tinha certamente muitas dúvidas e perguntas,
mas todas estavam tão misturadas em minha cabeça, mal conseguiria me
expressar.
− Agora é o momento de dizer qualquer coisa que queira. – disse ele numa
voz pacífica.
Ele pegou uma venda preta e colocou sobre meus olhos. Perdi-me no breu
de minhas próprias emoções. Senti seus dedos deslizarem sobre meus
ombros, em seguida, em minhas coxas que estavam à mostra. Ele percorreu
pela parte interna de minha perna. Por um momento achei que fosse tocar em
minha genitália, mas não o fez, apenas me deixou na expectativa, o que me
causou umidade entre as pernas.
Assim que o carro parou, ele me conduziu pela mão a fim de descermos.
Fui levada como uma criança que andava no escuro. Um pouco mais à frente,
paramos. Senti suas mãos potentes me puxando, em seguida seu corpo me
comprimiu contra a parede, o que me causou uma quentura no baixo ventre.
Sua mão subiu até meus lábios e me sufocou por alguns segundos.
− Fará apenas o que eu mandar…
Balancei a cabeça ainda com sua mão cobrindo fortemente a minha boca.
Senti um objeto frio percorrer meu colo, os beijos dele vinham atrás. Com
o ruído, identifiquei o que ele trazia em mãos e passava sobre minha pele, era
uma tesoura pequena que nesse momento cortava as alças do meu soutien.
Meus seios foram libertos e agora saltavam para fora em plena luz do dia,
sabe-se lá, onde. Meu corpo não suportava de excitação.
Adivinhando o que eu sentia, ele colocou a mão em meu sexo e passou a
me masturbar, ali, no ar livre. Eu tentava me esfregar em seu corpo, mas ele
se afastava.
Senti quando tirou algo do bolso e colocou em meu pescoço. Uma coleira
de couro. Então eu era dele, e isso significa que poderá fazer o que bem
quisesse em mim, pois nada mais existente em qualquer milésimo de minhas
células me pertencia.
− Eu quero que se solte e deixe vir o orgasmo… Bem gostoso…
− Mas… Aqui?
Capítulo 4
Confidências de AT…
Ela deve estar olhando para o relógio neste momento. Angustia-se com
minha ausência… Eu posso senti-la. Posso vê-la se levantar da cama e ir até o
espelho. Quando penso em Charlote, penso em coisas desconectas. Sinto que
a conheço tão mais do que posso imaginar.
Pego o celular por duas ou três vezes na ânsia de ligar e saber como ela
está. Mas não o farei, ela precisa ter este momento só seu, para identificar-se
como minha. Os dedos me traem, chego a discar seu número, mas retomo a
minha posição… Não posso me apaixonar a ponto de me esquecer de quem
sou, e deixar que esta relação perca seu sentido inicial. Mas em tudo que
faço, ela segue em minha mente, em minhas mãos… O cheiro do pescoço,
dos cabelos… O toque leve e sereno. Meu desejo era deixar o mundo apenas
para cuidá-la… Meu passarinho. Espera-me.
Ao terminar a escolha dos acessórios, telefonei para o restaurante para
saber se estava tudo certo, e por sorte, estava sim. Acalmei Antonele, que se
entristeceu após saber a notícia de mais uma irmã de coleira, e que não
dormiria esta noite comigo. Imagino o quanto essas novidades são difíceis de
serem aceitas, pois as submissas acabam se apegando a minha imagem como
homem, querendo ou não, são pessoas propícias a ciúmes, mesmo tomando
todo o cuidado para não sê-lo. Mas o combinado sempre fora ter um canil.
Desde o princípio sabia que seria assim.
− Quer dizer, Dono, que terei de dividi-lo com mais uma menina?
− Como sempre soube que assim o fosse.
− Desculpe, Senhor, estávamos tão próximo, acabei… – seus olhos se
encheram de lágrimas.
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
− Sim Sir. Porém eu não sei se este é o motivo por eu estar assim. Eu me
sinto apenas vulnerável. Como eu disse, algo nunca tocado foi desnudo por
dentro. Sinto-me fragilizada e com medo.
− Medo de quê?
− Bem… De não conseguir dizer não para as coisas que discordo.
− Sei que seus problemas vão além do que está sentindo. A submissão
inicialmente pode trazer à tona coisas que tentou esconder de si mesma. Você
está se sentido exposta. Mas com o tempo irá crescer de forma gigantesca, e
não sentirá mais tal abatimento. Está assim por causa de sua entrega, que está
sendo maravilhosa… Eu juro que me surpreendeu.
Abaixei a cabeça e comecei a tentar me lembrar dos muitos aspectos que
haviam se apagado de minha mente, mas nada vinha a minha lembrança,
apenas a sensação de que o conhecia de algum lugar.
− Precisa dar um primeiro passo. É você quem deve tomar a decisão de sair
do sofrimento. Pode não ser a mudança que queria neste momento. Porém,
provavelmente, será a mudança que mais necessita. Comece com algo
simples, um passo de cada vez.
− Entendo… Mas não sei dizer bem o que sinto na verdade… E nem o que
devo fazer. Que mudança é essa que está falando?
− Dominar não é apenas disciplinar, sobretudo, orientar, zelar, cuidar…
Curar as feridas. Trazer as respostas. Mas é preciso vencer a si mesma para se
sentir feliz numa relação assim. Há papéis que vivemos na vida por anos
seguidos, que nos estacionam numa mesmice enfadonha produzindo até
alguma satisfação, é verdade, mas superficial, não duradoura.
− Sir, o meu grande problema sou eu mesma… Saiba… Eu não me adaptei
a ideia de estar só neste mundo, sem me lembrar de coisas que tenho certeza
de serem fundamentais em minha vida… Eu não consigo descobrir o que
sinto…
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
− Quando a gente não sabe a resposta para alguma coisa na nossa vida, o
melhor a se fazer é parar e perguntar. Mas tem que aprender a perguntar com
a alma, com o coração, com a mente, com perseverança, com garra, com
raiva, com todas as suas forças! E persistir perguntando, mantendo sua
cabeça e coração abertos, porque a resposta virá. Na verdade, ela já está aí,
mas pode ser que você ainda não esteja pronta para percebê-la.
Nossos olhos se encontraram por um momento. Havia entre nós um vão de
algo forte e incomum. Estávamos prontos para viver o inevitável, mesmo sem
sabermos de onde vinha esse sentimento louco que tentávamos camuflar.
Nossas bocas se desejavam, eu a observei enquanto umedeceu suavemente o
lábio inferior, e meu corpo a desejou como jamais quis outra mulher. Linda
minha…
− Agradeço pelas palavras. Eu precisava ouvi-las.
Dizíamos coisas, e pensávamos em outras… Eu vi sua mão aflita descer
pelo seu colo, em seguida, esconder-se de meus olhos. Aflita, pequena…
Arisca ainda, como um bichinho perdido na selva de pedra. Ela precisava de
proteção para alcançar a liberdade de ser o que é, inteiramente para mim.
− Os conflitos podem produzir paciência. Depende de como encará-los.
Podemos e devemos aprender com eles, entender sua mensagem e evitá-los,
do que depender de nossas escolhas. A paciência produz a experiência. Ela
ajuda a observar e analisar, para aprendermos melhor.
Já estava sufocante só olhá-la… Eu a retirei de meu colo e a deixei parada
sob meus olhos, como um soldado à minha inteira disposição. Gosto de olhar
o corpo de minha menina, descobrir cada vereda para melhor cuidá-la.
Afastei suas pernas e olhei a virilha lisinha. A circunferência de seu umbigo
era uma linha tênue, quase tímida, que corria rapidamente para o interior.
Subi com os olhos até os mamilos, que se arrepiaram com meu olhar, um par
de botões recentemente nascidos, rosados, desejosos de saliência.
− Vire-se! – pedi.
Ela se virou lentamente, eu captei seu movimento enquanto seu corpo
mostrava as costas de pele delicada e muito clara. Os cabelos caiam
naturalmente, fio a fio, sobre a clavícula. Olhei para as pontas claras que se
encostavam suavemente no quadril dela. As nádegas eram maviosas
compostas por dois montes alvos de formato quase infantis. Salivei…
Desejando marcá-las, comprimi-las… Mordê-las.
Entreguei a ela o vestido e pedi que o colocasse em minha frente. Estranhei
que não se envergonhou. Geralmente as mulheres possuem uma vaidade
secreta, e apreciam estar sozinhas nesse momento, e terem a liberdade de se
olharem no espelho. Mas comigo ela não agiu assim. Faço questão de
conhecer todo seu corpo, gestos e manias.
Ajudei-a com o zíper das costas, sentindo o cheiro da pele dela que entrava
pelas minhas narinas e percorria meu corpo num misto de tesão e gana.
− Gosto dos cabelos presos. – eu disse, e ela fez uma expressão no rosto,
como se tivesse se lembrado de algo, mas nada disse.
Delicadamente, foi até o espelho e prendeu os cabelos. Os dedos tocavam
os fios com a leveza de uma pluma enquanto levemente se abaixava para
reparar se estava tudo no lugar. Sua nuca era sexy. Queria dormir, mordendo-
a.
− Eu não coloquei a calcinha. – disse numa voz bem baixa.
− Comigo não usará, apenas se eu desejar.
− Posso saber para onde vamos. – finalmente ela parecia ser a Charlote de
antes, questionadora e insolente. Esta noite prometia.
− Não.
− Tudo bem. – ela disse numa cara de descontentamento com a minha
resposta, o que me ouriçou.
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
algo contagioso, e… Eu não vivo sem me contagiar com nada a minha volta.
Percebi que ela tomou mais do que o normal, do vinho, ao ouvir minhas
palavras.
− Isso quer dizer, que… – eu a interrompi novamente.
− Eu jamais quero dizer algo. Se, tiver algo a falar, eu falarei, sem que
precise me perguntar o que seja. Um dominador necessita expressar suas
emoções e dizê-las. Se ele é não for capaz, não conseguirá suportar o seu lado
emocional. Se ele não pode controlar seu temperamento, não terá o equilíbrio
e psicológico necessários para respeitar seus limites. Todos têm limites.
− Estou tentando me aproximar do… Senhor… – ela disse um tanto
inadequada.
− Aproxima-se com gestos… Jamais com perguntas.
Ela olhava para a localização da mesa, sem entender muito, pois estava
num ambiente fechado por uma porta. Só estávamos nós dois naquele espaço
reservado. Os demais clientes se encontravam no local de atendimento geral.
− Está com fome?
− Sim Senhor. – ela respondeu.
Olhei para o garçom e fiz um gesto positivo com a cabeça, e ele trouxe o
jantar que já havia encomendado, em uma mesinha com os demais pratos e
talheres. Em seguida, entrou os violinistas e três mucamas. A porta do
ambiente reservado se fechou novamente. O que causou surpresa a minha
menina.
Assim que os violinistas passaram a tocar a música, as mucamas se
aproximaram da mesa. Uma delas me chamou a atenção pelo modo como
abaixava a cabeça. Causou-me certa intriga a forma como andou
vagarosamente até mim, como se estivesse escondendo algo. Tentei desfocar,
pois meu alvo naquele momento é dar continuidade à iniciação de Charlote.
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
uma das cordas e amarrei seus braços para trás enquanto mordia meu próprio
lábio, sentia gana dela. Com uma segunda corda, amarrei seu pescoço e
passei a ponta pelo suporte da cortina, o que a suspendeu um pouco,
obrigando-a a ficar na ponta dos pés para não se sufocar.
− Abra as pernas, cadela. – pedi sem paciência.
Peguei a palmatória e passei a bater em sua vulva, vinte batidas seguidas, e
um intervalo de chupadas em seu clitóris. Fiz quatro séries.
Desamarrei a corda do suporte da cortina, mas não a retirei do seu pescoço.
Puxei-a até o banheiro.
− A quem pertence?
− Ao Sir AT – respondeu com a voz presa por causa da mordaça na boca.
− Boa menina.
Peguei os prendedores que estavam em cima da pia, e coloquei um em
cada seio, o que a fez soltar um gemido de dor. Comprazendo-me de seu
sofrimento, apertei um pouco mais, e mordi levemente no o mamilo que ficou
saliente.
− Não queria que a fizesse se sentir minha… Pois é… É assim que eu
gosto que seja.
Enchi a banheira e esperei que alcançasse a borda. Puxei-a pela corda,
apertando seu pescoço, o que a fez tossir.
Tirei a corda do pescoço e amarrei seus braços para trás. Com outro fio,
amarrei seus pés, juntos, até alcançar os joelhos. Assim que a banheira
encheu, eu olhei para ela.
− Confia em mim?
Ela balançou a cabeça.
Então a empurrei de bruços na água. Contei até dez e a puxei pelos
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
Para mim não havia momento ou local apropriado para submeter minhas
slaves. Desci do táxi com cada uma algemada de um lado de meus pulsos.
Andavam orgulhosas ao meu lado. Isso me agradava. Soltei-as para fazermos
o check in no balcão da companhia aérea do aeroporto. Olhos curiosos
sentiam-se intrigados com nossa presença, a maioria, de mulheres.
Ao chegarmos a minha casa, coloquei antes uma venda em seus olhos. A
minha masmorra estaria pronta, e esse foi o motivo de tirá-la dali por alguns
dias. Queria surpreendê-la.
Antonele estava conosco, senti que se encontrava um pouco estranha por
causa da atenção direcionada a Charlote. Ela precisava se acostumar àquela
realidade.
Ao entrarmos na masmorra forrada de preto do teto ao piso, com todos os
brinquedos e mobiliários presentes, sentime excitado prontamente. Minha
intenção era continuar a sessão com Charlote, mas a presença de Antonele me
inspirou delírios como algo que comia minhas células e me fazia ansiar como
um lobo quase no momento de arrebatar sua presa. Era muito mais forte que
eu.
Olhei para elas, então sabiam o que eu desejava…
Capítulo 5
Confidências de AT…
− As duas sem roupas. Agora! – ele pediu, e me senti um pouco
intimidada. Nunca havia estado com Antonele intimamente, confesso que não
sei se gostei da ideia.
Ela foi a primeira a se despir, em seguida se ajoelhou, sentada sobre as
pernas, com as mãos pousadas em cima das coxas, e a cabeça baixa. Fiz o
mesmo, e fiquei esperando as ordens, torcendo para que não fosse nada
sinistro.
Aqui estou, nua diante dele. Minhas mãos apertadas firmemente atrás das
minhas costas, e meus olhos voltados para o chão, onde são treinados para
estarem. Estou tremendo um pouco, mas não tenho certeza se é a pela
ansiedade ou a frieza do ar.
As cordas lentamente amarradas ao meu redor são reconfortantes,
catárticas, e minha mente se rende a ele completamente, nem era preciso me
tocar… Saber que ele existe já me coloca aos seus pés. À medida que os nós
me apertavam, minha respiração mudava, e ele reconhece a habilidade com
que silenciosamente trabalha as cordas pelo meu corpo todo, me deixando
ainda mais segura. Minha necessidade torna-se quase um frenesi… Mas não
reagi, resisti às amaras que ele tece ao redor de mim.
Ele aperta firmemente os nós, e me olha; eu sei que está me desejando
intensamente… Que cada ato seu é a vontade de me virar do avesso. Nem
preciso responder… Ele sabe, ajustando lentamente a corda, que é
exatamente onde quero estar.
O Senhor se aproximou de nós duas, roçou as mãos em nossos cabelos, e
colocou uma mordaça em cada uma. Em seguida, nos amarrou deixando-nos
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
com a bunda para cima, e as mãos amarradas para trás. Passou a corda em
nossos pescoços, deixando-nos com a cabeça erguida, a ponto de nos sufocar.
Vi quando veio em nossa direção com a cane de bambu nas mãos, e se
colocou atrás de nós. De lá para cá, eu só ouvia o barulho do instrumento em
contato com a nossa pele, e os gemidos e gritos abafados.
Virou-nos, uma de frente para a outra, barriga para o alto, mãos amarradas
junto da cabeça. Uniu nossos pés um no outro, amarrou para cima,
pendurando nossas pernas para que ficassem suspensas. Eu sentia a sola do
pé de Antonele, e sabia que ela estaria ali, sentindo o mesmo que eu, o que
me deixava mais tranquila, embora não tivesse gostado, a princípio, de sua
companhia.
Ele se pôs entre nossas pernas, colocou os prendedores nos mamilos de
cada uma, e passou a chicotear nossos seios e barriga, pernas e pés. Depois da
quinquagésima chibatada, o Senhor se apossou de um vibrador de dois
gumes, feito por um longo cabo de madeira, e penetrou-nos, uma em cada
ponta enquanto pingava as dez velas coloridas em nossas pernas, clitóris,
seios e pés. O ardor me fazia sentir a sensibilidade de minha própria pele,
como algo independente do restante do meu corpo.
Não houve sexo, mas fiquei o tempo todo tensa, esperando por este
momento. Não sei se ficaria à vontade ao transar com uma menina pela qual
não me simpatizei muito desde o primeiro momento que a vi. Não tinha nada
contra ela, mas algo em sua complexidade me dizia que era melhor me
manter afastada.
Quando a sessão acabou, somente neste momento consegui relaxar. Fui
para o quarto do Senhor, e Antonele para um dos cômodos da casa. Após
tomar um longo banho, e nos amarmos loucamente, adormeci em seus
braços, sentindo-me dele, o que não significava apenas que devo lamber suas
botas ou abanar meu rabo, para que os olhos do meu Dono estejam voltados
para mim… Significava que sei quem sou, e reconheço meu valor nisso -
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
Capítulo 6
Confidências de Antonele
Assim que ele saiu pela porta, me mantive parada no mesmo lugar,
olhando para minha nova irmã deitada na cama onde caberia somente a mim
e ao meu Dono. Mas ela estava ali, e sua presença era irritante para meus
olhos, ouvidos, paladar, sono, fome, sede… Eu sei que não serei perdoada,
mas o que irei fazer será pensando em minha D⁄s. Ele nunca esteve tão
envolvido antes. Ela não poderá estar entre nós, eu irei perder sua atenção. Já
se passavam duas noites que o Senhor não me encostava… Prefiro perdê-lo
para sempre a viver neste inferno. Não sei qual será o preço que irei pagar,
mas preciso proteger meu relacionamento. Seria melhor, se ele tivesse trazido
mil meninas para o canil, mas que nenhuma fosse como esta… Eu não sei o
que ela tem, sei apenas que ele trocaria qualquer uma das mil por ela. Eu sou
a alfa! E minha doce irmãzinha de coleira há de entender isso… Chegou por
último… Entre na fila e espere sua vez.
Peguei o celular de Charlote e sua carteira, saí do quarto antes de acordá-la
para a execução de meu plano, fui para o aposento que meu Dono me
instalou. Troquei de roupa e olhei para dentro da minha bolsa. Estava tudo
pronto e arquitetado. Eu sabia desde ontem que hoje o dia dele seria cheio, e
teria oportunidade de dar um rumo na vida de Charlote de uma vez por todas.
Preparei tudo ontem… Foi um custo convencer Ashila de recebê-la no Clube
Libertine de Fortaleza. Mas graças aos tantos favores que lhe prestei,
inclusive, de apresentá-la ao seu Dono e ela hoje ser muito feliz em sua D⁄s
como submissa exclusiva, acabou por topar me ajudar. Ainda tem a questão
sobre o Dom Arkadius, pelo o que sei, ele a procura, então, estamos todos
bem arranjados. Sei que dará um pano grande para a manga, mas não vi outra
solução. Meu Senhor não descobrirá tão cedo o paradeiro dessa menina
pálida. E quando descobrir, ela estará com outro… Agora preciso acordá-la,
seu voo sairá daqui duas horas, ela precisa seguir para o aeroporto.
***
Confidências de Charlote…
Fui despertada pelos raios de uma manhã ensolarada que parecia entrar
inteira dentro do quarto. Antes mesmo de me localizar, eu vi a imagem
morena de Antonele segurando a cortina a fim de me despertar. Assustada,
sentei-me na cama tentando manter o equilíbrio emocionalmente matutino.
Odeio ser acordada dessa forma. Deveria haver um bom motivo para tanto.
Quase não tivemos contato, e me pareceu que ela não se importou muito com
isso.
− Já são dez horas. O Dono de mim pediu para lhe acordar. – disse ela,
rispidamente. Seu tom de voz poderia me fazer soltar uma resposta afiada.
− Onde está o Senhor? – perguntei ainda sonolenta, tentando me levantar
da cama e esconder meu corpo nu no lençol.
− Ele precisou sair. Deixou alguns recados para você. Precisa ser rápida.
Levanta-se e se troque. Ele irá te encontrar em Fortaleza. Sua passagem já
está comprada.
− Não posso sair assim, sem telefonar antes para ele. Mesmo por que,
acabamos de chegar de viagem… Ele não me disse nada sobre viajar
novamente… – eu disse, já olhando ao meu redor à procura de meu celular,
porém, não estava em lugar algum.
− Impossível, querida. O Senhor foi para um local ermo, que não tem sinal
telefônico. Além do mais, levou seu celular, pois hoje é dia de vistoria. Ele
não te disse sobre essa questão?
− Não estou sabendo de nada… Droga! Meu celular! – disse eu,
esbravejando. Não sabia dessa tal vistoria, e nem qual era sua finalidade.
maravilhoso ontem, mas será que toda vez que o dia amanhecesse, eu teria
uma surpresa?
− Vamos logo, irmãzinha, você já está atrasada. Precisa chegar com
antecedência ao aeroporto.
Ela fala como seu eu não conhecesse o procedimento. Quem dirá a ela para
parar de me tratar como se eu fosse sua irmã mais nova? Somos,
aparentemente, quase da mesma idade.
Ela me acompanhou até o aeroporto, quase não conversamos. Só quando
chegamos, que me passou o envelope com a passagem, minha RG e a
anotação de um endereço. Meu coração estava apertado. Algo me dizia que
estava prestes a passar por provações.
− Você deverá chegar neste endereço de táxi, e lá, procurar por Ashila, que
irá te receber, e te fazer companhia até o Senhor chegar. No mais, está tudo
certo, não tem o que temer.
Peguei o envelope e saí sem olhar para trás. Quase pude ouvir sua risada,
só não sei o motivo.
Ao chegar a Fortaleza, o calor da cidade tomou conta dos meus sentidos.
Suar, fez com que minha ansiedade diminuísse, mas meu coração ainda
estava apertado.
O táxi parou em frente ao Clube Libertine, parecia uma pousada, o que me
deixou em dúvida quanto ao que seria aquele estabelecimento. Não sei ao
certo se funcionava como o Clube do meu Senhor, porém o aspecto lembrava
uma casa antiga.
Logo surgiu a minha frente, uma mulher vestida como dançarina do ventre.
Ela se aproximou e se apresentou como Ashila. O vento batia no corpo dela e
trazia um cheiro de âmbar.
− Seja bem-vinda, Charlote.
esta, que Arkadius me pegou no seu colo, e meu levou de volta ao quarto.
− O que está acontecendo, Senhor Arkadius, por que AT fez isso comigo?
− Menina… Não somos deste mundo… Você não é deste mundo.
Aragorne Tirel não é deste mundo… – ele disse numa voz calma, que me fez
sentir arrepios.
− Aragorne Tirel? – minha cabeça girou ao ouvir este nome, que não me
parecia estranho. − Mentira! Acha que sou idiota para acreditar numa história
dessas? Está querendo me enrolar para não me explicar a verdade!
− Esta é a verdade. Estamos disputando um trono em Siv, e eu serei o novo
rei.
− Que absurdo, um homem do seu tamanho inventar uma história ridícula
dessas, pensando que irá me fazer acreditar nesta palhaçada.
− Você… Não se lembra de seu passado, não é?
− Como sabe disso? – sentia-me incrédula. – Ele lhe contou?
− Não. Vocês não se lembram, pois faz parte do plano para a conquista do
trono.
− Olha, eu não sei do que você está falando. Não sei quem é Aragorne
Tirel, nem Siv, e muito menos, trono.
− As coisas agora dificultaram para ele, pois a missão é minha… E você
será minha… Eu a conquistarei.
− O que quer dizer? – gritei.
− Durma, minha criança… Durma… – disse ele colocando uma das mãos
sobre minha testa, fazendo-me adormecer instantaneamente.
***
Confidências de AT…
Vim pensando nela durante o trajeto, meu corpo todo sentia sua falta. Mas
o cheiro… O cheiro de sua nuca estava infiltrado em minhas células como se
fossem incapazes de aceitarem a separação de nossos corpos.
O trânsito estava lento por causa da chuva fina que agora batia em meu
parabrisa, a angústia me consumia. O desejo de subjugá-la era algo que
atravessava o peito e subia pela garganta, libertando a ânsia que agora tomava
conta de mim. O mundo havia parado. Todas as mulheres do mundo haviam
perdido a graça. Eu só via minha menina em minha frente, diante dos meus
olhos. Onde ela estivesse, ainda assim era minha.
Ultrapassei o carro a minha frente. Furei o sinal, certamente ganharia uma
multa. Estava impaciente, precisa vê-la, senti-la, penetrá-la, bater em sua
cara, puxar seu cabelo… Morder… Ah, como desejava mordê-la, amarrada,
amordaçada, entregue aos meus desejos… Ouvindo aquela voz doce.
Caralho! Estou apaixonado. Não era para ser assim.
Entrei em minha propriedade sentindo algo estranho no ar. Abri a porta do
quarto, e para minha surpresa, não a vi. Antonele estava sentada na cama,
assistindo televisão. Minha frustração foi grande. Um misto de raiva e
preocupação invadiu meu campo vibratório.
− Onde está Charlote?
Ela saiu da cama e correu para os meus pés, beijando meus sapatos.
− Que bom revê-lo, Sir. Bem… A irmã saiu de manhã, assim que o Senhor
nos deixou, e não retornou ainda.
Peguei-a, desesperado, pelos ombros, e a trouxe para perto dos meus olhos.
− Olha, menina, não é hora para brincadeira. Vou lhe perguntar
novamente… Espero obter uma resposta plausível. Onde está Charlote?
− Eu não sei, Senhor. Eu a vi saindo pela manhã, ainda tentei impedi-la,
mas ela saiu assim mesmo.
Joguei o corpo frágil de Antonele sobre a cama. Passei a mão entre meus
cabelos, e um grito estava engasgado em minha garganta. Sem saber o que
fazer, num pranto contido peguei meu celular e passei a digitar o número
dela. Em vão. Caiu na caixa de mensagem. Dei alguns passos para frente,
rumo à janela e dei dois murros fortes na parede. Só então soltei um urro de
desespero. Olhei na direção do armário, as roupas já não estavam mais lá…
Suas coisas haviam desaparecido.
Peguei a chave do carro e passei a andar pela cidade em busca de minha
menina. Não poderia perdê-la. Não poderia aceitar essa perda. Andei por
mais de duas horas, sem rumo. Então deixei ocultamente as lágrimas caírem
pela face. Ela fugiu. Ela é minha… Como aceitar? Não era um objeto que eu
havia perdido, era minha posse, a menina por quem me apaixonei pela
primeira vez na vida. Coloquei a cabeça para fora da janela e gritei seu nome
por duas vezes.
Volte para mim, menina… Volte…
***
Confidências de Antonele…
Pelo jeito que ele saiu daqui, certamente havia realmente se apaixonado
pela tal imbecil, que graças a Deus já chegou a Fortaleza e está sob os
cuidados de Arkadius. Que sejam felizes para sempre, bem longe de nós. Mas
como farei para ele olhar para mim, se a única que vê em sua frente é aquela
idiota pálida?
Ao vê-lo retornar para o quarto, tentei me aproximar, mas fui impedida.
− Saia daqui! – gritou.
− Mas, Sir, entenda… Eu não tenho culpa do que aconteceu. Estou
tentando acalmá-lo.
− Irá fazer isso se for agora para seu quarto, e ficar lá até eu mandar você
sair.
− Sim Senhor.
Saí com o rabo entre as pernas. Eu não era o suficiente para ele neste
momento. Não sentia remorso por ter feito o que fiz. Logo ele a esquecerá,
então chegará a oportunidade de eu me aproximar, e tomar seu amor e sua
atenção somente para mim. Por hora, aceitarei tudo que ele me impor. Sei que
arrumará alguma menina para colocar no lugar daquela insuportável, mas me
farei de demente. Ficarei de olhos atentos, porém, aceitarei como se fosse de
bom grado. Será no final, apenas eu e meu Dono. Com cautela, retirarei todas
de seu caminho, e ainda levarei o título de submissa de alma.
***
Confidências de AT…
Só queria saber onde errei? Por que ela se foi?
Um flash de repente se fez em minha mente. Vi Charlote ensanguentada
em meus braços. Pisquei os olhos várias vezes, mas a imagem não saía. Eu
não entendia…
Fui até meu barzinho e fiz um copo duplo de uísque. Tomei em poucos
goles. Precisava me anestesiar com algo forte o suficiente, que retirasse de
mim aquele urro parado em minha garganta.
Chamei Antonele e fiz novamente as mesmas perguntas para averiguar se
não havia contradição, e as respostas foram as mesmas. Eu precisava
encontrá-la em algum lugar. Nunca senti tamanho vazio. Estava arruinado,
sentia febre sem estar febril. Chorava sem derramar lágrimas. Morria aos
poucos, com o coração acelerado. Sentia que ela não saiu apenas para dar
uma volta. Não faria isso sem pedir o consentimento. Ela fugiu. Foi
traiçoeira. Esperou-me sair de casa.
− Eu preciso encontrá-la! – disse quase gritando.
− Mas, Sir, ela pode ter voltado para sua casa, não sei… É melhor se
acalmar. Não vale a pena ficar assim por uma menina ingrata, que não teve o
cuidado de ao menos lhe avisar que iria desaparecer de sua vida. Ela não
merece seus cuidados.
− Alguém está pedindo seus conselhos?
− Não Senhor.
− Então cale sua boca.
− Estou apenas lembrando-o do quão preciso é seu domínio, Sir. E o
quanto se empenha, para tornar o mundo de suas meninas melhor.
− Eu tenho certeza que ela não faria isso por fazer. Deve haver algum
motivo… Eu vou descobrir.
− Sir… Ela me disse sobre insatisfação, que possui um abismo dentro de
si, e que não conseguia permanecer muito tempo no mesmo lugar. Mas
jamais achei que poderia fugir…
− Quando ela disse isso?
− Assim que acordou, na mesma manhã que fugiu.
− Mas isso não me parece ser de Charlote…
− O Sir não a conhece há tanto tempo assim… Pode ser alguma pessoa
desequilibrada… Nunca se sabe…
− Cale-se! – eu pedi. Não queria que minha angustia progredisse.
Nenhuma dor que já senti poderia se comparar ao que estou sentindo.
Charlote feriu meu ego e sentimentos. Meu domínio nunca mais será o
mesmo. Ela foi o pior e o melhor que aconteceu em minha vida. Por um
instante acreditei que fosse capaz de me tirar da solidão, do abismo negro o
qual me encontro, mas me enganei… Enganei-me em todas as minhas
convicções como homem, dominador e dono de uma estrela perdida.
Capítulo 7
Confidências de Charlote…
Acordei como quem acordava num mundo frio e sem sentido. Logo que
abri os olhos, ele estava lá, ao lado de minha cama, segurando em minha
mão.
− Eu quero ir embora. – disse numa voz chorosa.
− Não pode sair agora. – Arkadius respondeu, ainda com minha mão entre
as dele.
− Não posso ficar aqui, não é meu lugar. – já não segurava as lágrimas.
− É uma questão de tempo. Logo se acostumará.
− Não posso! Não quero! Ninguém me obrigará a ficar! – disse aos berros,
retirando minha mão das dele, e sentando na cama, sem me importar com
quem pudesse ouvir.
− É melhor ser boa menina, não quero machucá-la. – disse ele fleumático.
− Machuque-me! Acredita mesmo que estou me importando com isso? –
respondi, levantando da cama e correndo para a porta. Eu sairia dali de
qualquer jeito. Ele não me impediu que eu abrisse a porta e seguisse correndo
pelo corredor daquele lugar obscuro, e alcançasse a porta da rua. Então senti
suas mãos me tomando para si, agarrando-me pela barriga, trazendo-me ao
encontro de seu rosto.
− Não sairá daqui, nem que para isso eu tenha que…
− Me surrar? Acredita mesmo que pode? – desafiei.
− Ninguém me diz o que devo ou não fazer. – ele aceitou o desafio.
− Bata-me, covarde! – desafiei ainda mais.
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
Assim que ele tirou, eu passei a gritar. Ele me deu um tapa no rosto.
− Eu disse para se comportar! Não está acreditando que paciência tem
limites.
− Você não é meu Dono. Não é nada meu! Não tem o direito de encostar a
mão em mim!
− Sabe, pequena, sua tarefa é tão fácil, basta apenas cuidar de seu bem-
estar.
− Meu bem-estar não está sob seu controle.
− Me chame de Senhor. – ele disse, segurando meu queixo, forçando-me a
olhar para ele.
− Jamais.
− Vamos lá, seja razoável consigo mesma.
− Meu Senhor se chama AT, e é somente a ele que devo chamar de Senhor.
− Tudo bem, não vai fazer? Eu ia levá-la para a sala. Estava preocupado
em te deixar aqui no escuro, mas pelo que vejo, me precipitei em me
preocupar. Você é a primeira a não se importar consigo mesma.
Ele se levantou com a lamparina em mãos, saiu do quarto, e voltou
instantes depois com uma maleta. Desamarrou-me e me pôs em pé, de frente
ao seu corpo. Forçou-me a me ajoelhar, sentada sobre as pernas, e assim me
amarrou, juntando minhas canelas às coxas, com as mãos para trás. Tirou da
maleta, um saquinho de sal grosso e feijão. Arrumou fileiras grossas e fartas
no chão, e levantou meu corpo completamente atado, colocando-me sobre
seu preparo.
− Isso é para aprender a respeitar a hierarquia. Aprender a ser grata a quem
se dispõe a te cuidar e tratar bem.
Quando ia responder, ele atou novamente minha boca.
vez, a água do recipiente. Como não havia ido ao banheiro desde que
cheguei, e já estava quase vazando por baixo, acabei urinando, mas não
porque ele desejava, e sim, por não suportar mais segurar.
Então nos momentos seguintes, uma dor invadiu meu ser e passei a chorar
desesperadamente. Os fios de meus cabelos que caíram no meu rosto ficaram
molhados. Sem perceber, no meio do meu tormento existencial, acabei me
sentando em cima do xixi, sobre a areia molhada. Deixando que minhas
pernas caíssem do lado, soltas, moles, eu não queria mais viver. Estava
decidida.
Ao ver minha situação, ele me pegou no colo.
− Não pode se sentar na areia, pequena. Não pode. – disse ele me levando
para a banheira, que já estava preparada e cheirosa. Ensaboava meu corpo
com uma bucha enquanto eu chorava feito uma criança que havia perdido sua
mãe no supermercado.
− Não chore mais… Não precisa chorar, se obedecer. – dizia ele, beijando
minha cabeça.
Quem ele pensa que é?
− Eu quero ir embora… Quero meu Dono… – eu insistia. – Por favor,
Senhor, deixe-me ir embora… Por favor, eu te imploro…
− Você poderia pedir tudo, menos isso. Infelizmente não posso atendê-la.
− Por que não? Existem tantas meninas aqui, poderia arrumar alguma para
te servir, e me deixar ser feliz com meu Senhor.
Ele parou por um instante com o banho, enxugou sua testa e tocou em meu
queixo.
− Porque desde sempre fora o motivo da guerra entre nós dois. Desde antes
de seus pais, avós, tataravós. Antes de sua geração presente, você veio a Siv
como uma bela senhorita, e nesta época duelamos por sua causa. Desde
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
então, vida após vida de AT, você fora disputada, assim como no incêndio
que houve… No castelo… – percebi seus olhos perdidos. Certa tristeza
pairou sobre seu olhar, que parecia não mais lhe pertencer.
Então ele saiu, e eu fiquei sem entender uma só palavra. Deixou-me solta,
livre, eu poderia correr agora dali, pelada, do jeito que estivesse. Mas algo
acabara de me intrigar, e ele teria de contar essa história até o fim. Ele sabe
de algo que eu não sei, o motivo talvez de eu ter perdido a memória e viver
nessa neurose por tanto tempo.
Levantei da banheira e me enxuguei. Do jeito que estava enrolada na
toalha, saí ao seu encalce. Dobrava as curvas daquele corredor, e alguns dos
que viviam ali, me olhavam abismados com minha insensatez. Encontrei-o
num quarto de instrumentos de prática SM, curtindo o couro de um chicote.
− Vá se vestir! – ele ordenou.
− Não antes de me contar o que não sei.
− Já disse o suficiente. Agora dê meia volta e vá se trocar.
Como viu que eu não sairia dali sem uma resposta, ele se aproximou e me
jogou em suas costas, seguindo comigo dessa forma, corredor afora, o que fez
com que todos, inclusive Ashila, nos olhassem horrorizados.
Entramos no quarto, o demônio arcaico me depositou grosseiramente no
chão, e apertou meu pescoço.
− Daqui para frente será do meu jeito, queira sim, queira não. E não me
desmoralize na frente dos meus amigos. Para cada desmoralização serão 180
chibatadas, com direito a dormir na masmorra, pendurada numa corda. Só
aviso que meu chicote não é de moça, como o do seu ex-dono, vai sofrer em
minha mão, caso queira pagar para ver e conhecer minha arte, pois sou eu
mesmo quem faço meus brinquedos.
Olhei-o com espanto. Só então pude notar que estava com a camisa suada,
grudada em seu corpo. Os cabelos estavam soltos, eram lindos. Ele prendeu
assim que percebeu meus olhos sobre eles.
Pegou um caderno e uma caneta e disse num tom ríspido:
− Quero trinta páginas escritas, frente e verso, a seguinte frase - Senhor
Arkadius, não devo desobedecê-lo. Você tem até o horário do almoço para
me entregar a tarefa cumprida, caso contrário, calabouço.
− Não pode fazer isso com a posse alheia.
− Quem disse que você é dele?
− Eu estou dizendo.
− Você não sabe de nada, menina… Quando souber vai me entender
perfeitamente. Agora, faça o que mandei.
Antes de retrucá-lo, ele fechou a janela com o cadeado e saiu porta afora,
fechando-a com chave. Sentei-me na cama e fiz aquilo que mais sei fazer,
chorar.
O sentimento é algo conectado com aquilo que está acima de nossa
compreensão. Eu não sei quando aconteceu tanta coisa que hoje estranho, e
me pergunto sempre a mesma coisa, o motivo… Ainda sem entender, sei
apenas que devo obedecer, algo me diz que é assim que deve ser. Então
começo a cumprir a tarefa.
Quando é chegado o momento marcado por ele, a porta se abriu, e eu já
havia terminado a tarefa. Ele entrou e fechou a porta atrás de si.
− Muito bem! Boa menina. – disse sorrindo.
Tirou do bolso, algo que não dei atenção, e só percebi quando ele colocou
em meu pescoço.
− Isso serve para eu manter o controle sobre você e seus passos pela casa.
– pôs uma coleira em meu pescoço. Pela guia, fui conduzida até a sala de
estimulo ou algo que fora despertado por dentro. Todos esses acontecimentos
são de certa forma, inexplicáveis.
Existia naquele Dom uma força de vontade que sobressaltava aos íntimos
segredos de seu coração. Levantando um pouco a cabeça, olhando através da
janela, eu via o jardim. Este se estendia em comprimento, fechado ao lado do
mar, por uma balaustrada de pedra gretada, em parte coberto por roseiras
pequeninas vermelho-púrpura e amarelo desmaiado.
Eu prefiro ainda acreditar na confiança, e não me lembrar dela apenas
quando algo se quebra, e você precisa aprender a sobreviver mediante a
sensação de ter fracassado em algum ponto de sua vida. Eu prefiro me
lembrar da confiança que nasce de algum ponto, justamente quando sua
esperança se vai ao leu. A confiança abstrata e invisível, que desperta de onde
morreu uma flor, ou no momento em que se perdeu uma asa… A confiança
que tudo dará certo, porque o propósito está intimamente ligado ao acaso,
mas o acaso jamais está ligado ao nada.
Capítulo 8
Confidências de Arkadius
Ela dormia como um anjo loiro. Sempre fora assim, inteiramente alva, em
todas as vidas que teve. Os sivianos se esquecem de suas vidas anteriores,
todas as vezes que saem da Terra dos Mortos e voltam para as missões. Eu
jamais me esqueci, apesar de ser um siviano, sou um bárbaro. Não tenho
missões, só lembranças. Nunca morri e não envelheço. Sempre conservei a
mesma identidade. Era para ter ido para a Terra dos Mortos, porém, nunca
consegui morrer para zerar e começar de novo alguma existência numa quase
eternidade cíclica, como qualquer outro siviano.
Ela sempre fora morta brutalmente por conta de nossa disputa por sua
posse. Vendo-a assim, como um passarinho dormindo, sinto certo remorso
por tudo que já a fiz passar no meio de nós dois.
Siv decretou que na existência anterior, ela fosse morar na casa de pais
humanos, a fim de se proteger de nossas intenções, mas ele a encontrou.
Procurava a menina que tinha o sinal que havia em suas costas, mas ela não
sabe que este sinal que tem igual ao dele, é porque fora marcada pelas mãos
sujas de AT na vida antes de chegar ao Castelo. Não existe alma gêmea,
como ele pensa ser. Existe uma vida de poder, ele por ser nobre, eu, um
bárbaro que vive como andarilho com seu povo sem regras, mas possuo o
mesmo anseio de dominador correndo pelas veias.
Sim, eu quero o trono. Lutarei por ele. Preciso dar honra a meu povo.
Preciso dar dignidade a Charlote, para que ela se sinta bem ao meu lado.
Sempre a perdi para ele, devido ao seu poder como herdeiro do trono de Siv.
Não a matei porque quis… Eu o fiz da última vez, naquele Castelo, por não
suportar vê-la novamente nos braços dele. A certeza de que essa dor doeu
mais em mim, fora a mesma que tive quando a perdi para esse canalha na
última vez que ela me fora tomada. Ele não se lembra ainda… Mas irá se
lembrar, assim que a missão acabar.
Os sentimentos escapuliram por alguma pequena fresta do engano.
Eu sabia que você te encontraria novamente. Eu quase poderia sentir suas
mãos em mim ao ver a imagem congelada de seu corpo numa tela fria da
imaginação. Eu ouvia a sua voz e desejava imensamente entrar pelo orifício
imaginário por onde emitia meus sons de anseios e volúpias que preenchiam
minhas noites pobres e vazias. Eu ria apenas para escutar meu riso. Eu me
sentia feliz e não sabia dizer se era uma cópia fiel do que esperava de mim
um dia, numa morna expectativa de ouvir passos chegando, tocando em meu
ombro, num abraço meu, possessivo, quase sufocante, apenas para te sentir
um pouco minha.
Sua voz me induzia ao que eu não poderia duvidar. As palavras
cuidadosas. A procura momentânea, que mesmo superficialmente, havia se
tornado o prato do dia. Eu tinha no meu corpo as sensações de uma droga
poderosa que se diluía no sangue, correndo para os vasos cerebrais a ponto de
não me deixar comer ou dormir, eu queria apenas a minha menina.
No desespero de ter o que não podia tocar, inventava situações que me
dessem a sensação de acorrentar suas pernas. Assim ficava horas e horas
ancorado à deriva do que era ter seu amor. Seu amor que não vinha, enquanto
eu precisava moldar o que ninguém conseguia entender em mim, e você
corria com medo de ser colocada num calabouço obscuro onde somente as
piores almas existentes em minha vida foram acorrentadas. Talvez eu não
soubesse amar ao ponto de me permitir a ser alguém mais simples. A minha
complexidade e fúria ávida por querer sentir e tocar tudo que lhe pertencia, o
mesmo dédalo que me tirava o sono e a fome era o motivo do fato evitado.
Os sonhos quase infantis, as ânsias que não foram contidas na absoluta
disciplina que transforma seres humanos em meros soldados de um amor não
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
− Não podemos ter filhos. Essa é a única regra depois que perdemos a
última guerra. Com isso, a civilização foi diminuindo à medida que foram
morrendo as mulheres. Eu tive a sorte de me manter intacto até hoje, sem
morrer. Por isso lembro-me de tudo.
− É muito estranha a forma como diz sobre as coisas. Eu não acredito
nisso, parece mitologia.
− Com o tempo você irá se lembrar de tudo. Eu a ajudarei.
− Gostaria de não me vestir do mesmo modo como se vestem essas
mulheres. – disse ela, tentando se esquivar de minha ordem.
− Não perguntei o que deseja. Você não deseja nada, aqui quem deseja sou
eu. Você apenas obedece.
Ele abriu um dos armários antigos e expos aos meus olhos, a coleção de
roupas esquisitas que ali estavam.
− Eu gosto da vermelha.
Peguei a roupa indicada e passei a tirar a que ela estava, o que a fez se
intimidar, e eu insistir, retirando suas mãos que me impediam de fazer o que
eu quisesse com o que pertencia a mim.
− Uma submissa não pode ter dois donos. – ela disse tentando me
convencer de algo.
− Uma escrava tem somente um dono, e este sou eu. Você não é apenas
submissa, nunca fora, sempre me serviu, porém fora impedida de concluir o
que iniciou. Dessa vez, iremos até o final.
Sei que ela não entendia, mas obedecia aos poucos, como uma porta que ia
se abrindo sutilmente.
Após colocar nela, a roupa escolhida, peguei um dos colares mais valiosos
de minha coleção, e coloquei em seu pescoço.
− Não é somente minha história. Você faz parte dela, como peça principal.
− Desculpe… Eu não consigo me lembrar nem mesmo dos fatos desta
vida, muito menos dos de vidas anteriores… Aliás, nem sei se este fenômeno
realmente existe.
− Nos casamos um dia… Nas tradições do meu povo, mas ele a levou de
mim… E por este motivo, eu o matei na primeira, segunda, terceira, décima
vez…
Mostrei a ela, que pegou o retrato pintado de sua imagem vestida
lindamente de noiva. As mãos dela estavam trêmulas, assim como os lábios.
Percebi que ficou confusa. Tossiu, e se virou para outro lado, fugindo do meu
olhar. Creio que era momento de parar de falar. Levantei-me e coloquei em
sua coleira, a guia que continha mais de 100 metros de corrente.
− Eu volto mais tarde.
Ela não olhou para mim, continuou perplexa, olhando para o mar através
da janela. Com esforço, virou seu dorso e encontrou meus olhos, tive a
impressão que a moça iria revoltar-se contra tudo que ouvira. Compreendi
que ela se calava a mercê de um violento esforço, o qual momentaneamente
lhe transmudara a fisionomia. Sem uma palavra, voltou-se à janela. De perfil
ainda pude ver seu olhar perdido, e para todas as perguntas que gostaria de
fazer ao Universo, eu não tinha as respostas. Todas que poderia lhe dar, não
serviam.
***
Confidências de Charlote…
Todas as palavras de Dom Arkadius mexeram comigo como algo que se
revirava por dentro, mas em cada uma delas… Haviam os olhos de AT, que
me olhavam pelos cantos do quarto, no espaçamento entre uma frase ou
outra… No bombear do sangue em minhas veias, e no ar que continha em
meus pulmões. Precisava apenas saber como ele estava, e se me procurava…
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
comigo?
− Onde é esse lugar, menina? – minha voz estava embargada, quase
falhando. Gostaria de acreditar que tudo não passava de uma farsa. Não iria
sucumbir na frente de minhas submissas, mas meu coração me entregava. A
respiração falhava. O ódio fulminante tomou-me de assalto.
− Fortaleza Senhor, mas creio que não iria adiantar o Sir ir até lá, não vale
à pena. Ela está com outro Dono… – senti prazer na voz de Antonele, mas
nada naquele momento me causava mais repúdio do que a imagem à frente
dos meus olhos.
− Cale-se! Não fiz pergunta alguma a você, além do lugar de onde foi
tirada essa foto. – não queria descontar nela, mas minha ira estava crescente.
− Sim Senhor.
− Impossível acreditar que ela fez isso comigo…
Olhei com mais calma, o texto da postagem:
“Temos a honra de convidar a todos, para o encoleiramento da submissa
Charlote ao domínio e cuidados do Senhor Arkadius. A cerimônia se
realizará no Clube Libertine, em Fortaleza, no sábado, às vinte e uma horas.”
Não tinha como não acreditar, era aparente a tranquilidade no rosto dela.
Entregou-se a outro sem ao menos romper comigo; usando minha coleira.
Nas mãos dela, um copo de vinho, celebrava o evento, divertia-se ao lado do
traidor da classe dominante, ladrão de propriedade. O braço dele corria ao
longo da cintura de minha menina, e o meu sangue fervia como veneno nas
veias. Meu desejo era de matá-los. Torturá-los até à morte. A foto seguinte,
um beijo. Os olhos dela, fechados.
Toquei minha fonte e respirei profundamente tentando manter meu
equilíbrio, mas tudo se tornou muito difícil naquele momento. Dei um murro
na escrivaninha. Desejava gritar, espantar os demônios que havia em mim.
***
Confidências de Charlote…
Acordei cedo, ele estava na janela olhando para o mar. Sentei-me na cama,
e minha cabeça ficou zonza. Estava de ressaca. Mal conseguia me lembrar do
que havia acontecido na noite anterior, mas minha intuição me dizia que algo
estava acontecendo sem que eu soubesse.
− Quero que relaxe, hoje. Logo mais à noite, teremos uma cerimônia a
participar.
− Não estou muito bem, creio que bebi ontem, demasiadamente… Pouco
consigo me lembrar do que ocorrera.
− Tudo bem. Descanse… Trarei seu almoço no quarto.
A tarde passou com ares de tristeza. Não sei dizer, mas havia um anjo triste
ancorado em mim. Ao anoitecer, Arkadius voltou ao quarto com um vestido
em mãos.
− Precisa de ajuda para se arrumar? – quis saber enquanto ainda segurava a
roupa em suas mãos e uma coroa de flores de colocar na cabeça.
− Sir, perdão… Eu prefiro não ir…
− Não poderá faltar a sua cerimônia de encoleiramento.
Dos meus olhos desceram apenas duas lágrimas grossas e quentes. Fiquei
parada tentando imaginar se demoraria muito tempo para eu morrer.
Ele deixou a roupa em cima da cama e me olhou sem ter muito o que dizer.
− Não se atrase. Volto faltando trinta minutos para às vinte e uma horas. –
dito isso, saiu, deixando-me prostrada no chão. Deixei que meu corpo caísse
e busquei um retiro alto onde pudesse me abrigar.
Às vinte horas entro no salão cerimonial do Clube, vestida de um longo
caramelo quase dourado, todo bordado à mão por pérolas, com lágrimas
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
seus olhos.
− Antes, preciso dizer algumas palavras… Foi por amor a esta criança!
Esta criança, que eu imaginava tão doce, tão submissa… Dei tudo quanto fui,
o mais belo de minha vida… Mas este tempo que perdi há de me servir para
alguma coisa…
Senti desejo de gritar. Desejo de correr até seus braços e dizer que não tive
culpa. Mas não houve tempo, suas costas se viraram e novamente o silêncio
se deu, trevas também.
Arkadius se posicionou no centro do salão, e num tom de desalento,
proferiu:
− Está encerrada a cerimônia. Não haverá encoleiramento.
De sorte que ali se achava a verdadeira Charlote, que caminhava toda
fremente, resoluta e ardente, pronta para a luta. Estava finda a obediência
passiva, findo o cativeiro de sua alma. Fui para meu quarto, sem esperar por
mais nada de qualquer outra situação que viesse a seguir. Arkadius
aproximou-se olhando insistentemente para meus olhos. Juro que senti medo.
− Você está tão bonita… – cheirou meu cabelo. – Que cheiro gostoso vem
dos seus cabelos… Eu pensei sobre o que ocorreu… – disse ele numa voz
embaraçada. Quer tanto dar-lhe um pouco de felicidade, fazê-la sabr o que
possa ser uma afeição forte, vigilante e terna, tal como fora um dia.
As macilentas faces, demasiado brancas, ligeiramente se tingiram. Não
conseguia me lembrar direito do que ocorrera para chegar a alguma
conclusão do que ele dizia.
− Poderia ser mais claro, Senhor. – pedi.
− Escute, Charlote, essa decisão foi muito difícil de ser tomada, mas não
posso transformar seus sentimentos por mim. Você não se sente minha…
Certamente sempre fora assim… Não há como modificar, eu já tentei… Sem
me sentir seu Dono, não existirá nunca sua entrega, e foi por este motivo
sempre a perdi para Tirel. Você está certa… Uma submissa pertence àquele a
quem se entregou. A quem deixou que sua alma fosse levada, sem jamais ser
devolvida.
Percebi o quanto estava difícil de ele continuar aquela conversa, e mais do
que isso, admitir para si, como dominador, que não conseguiu a minha
entrega.
− Irei levá-la de volta para Aragorne, mas farei uma proposta. Sua
devolução depende apenas e unicamente da resposta dele quanto à minha
reinvindicação. Caso, não aceite, não poderei fazer nada, trarei você de volta,
e terá de aprender a me ter como seu Dono.
O que ouvi me deixou angustiada. O resultado poderia ser minha redenção
ou desgraça eterna. Sem dizer que não sei o motivo pelo qual, meu Senhor
não veio ao meu encontro e me condenava de ser a culpada de tudo de estar
ali. A frustração agora se tornou o receio de encarar a realidade frente a
frente.
Arkadius retirou a coleira de meu pescoço e saiu do quarto. Deixou-me
com meus pensamentos. O gelado envoltório que me cobria a alma, pouco a
pouco se dissipou. Começou a surgir um sol claro que lentamente aqueceu
aquela pobre alma transida, semimorta que se encontrava em meu ser.
Tenho sentido que fracassei. Fracassei em ser dele. Não reconheço meu
lugar de submissa quando me vejo gritando por sua falta. Não reconheço meu
lugar de posse quando venho chorando sua ausência. Sinto-me fracassar a
cada dia que tenho a sensação de sufoco. Tenho suportado minuto por
minuto, quando uma hora é muito tempo. Um dia, nem se fala… Só por hoje
resisti…
Tenho me cobrado ser para ele o que ele deseja, mesmo não estando aqui.
Não me prometeu nada, o meu lugar sou eu quem deve reconhecer. Escuro é
mim.
Toquei sem querer em uma de suas mãos, ela me olhou pela primeira vez
sem raiva.
− Jamais a esquecerei. – eu disse. Ela balançou a cabeça aceitando minhas
palavras. Em seguida, me abraçou ternamente. – Eu poderia morrer por você,
se me pedisse para salvar sua vida. – eu disse como se meu coração estivesse
ajoelhado. Eram minhas últimas confissões a ela, neste momento não me
importava mais minha posição dominante, aquele que não podia sucumbir à
dor, porque existem dores que também sentiria mesmo se fosse o mais cruel
dos sádicos.
− Vai passar, Sir, encontrará uma submissa digna de seu respeito e
dedicação.
Balancei a cabeça em negação… Ela não conseguia entender que eu jamais
submeteria alguém por simples e tão puro prazer de domar. Nasci dominador
para ela.
− Não… Charlote… Eu acreditei na promessa que lhe fiz, em nossa
primeira cerimônia de encoleiramento, que jamais teria outra slave, e para
você, meu coração estava era entregue para toda a eternidade. Lembro-me de
seus olhos brilhantes, sempre foram azuis… A mesma feição… – toquei seu
rosto, que ficou rubro no mesmo instante. – Lembro-me de nosso pacto de
sangue na cerimônia das rosas… Vestia algo parecido com vestido de noivas.
Estava radiante e feliz… Mas em seguida… Semanas depois, durante um
passeio, vocês se conheceram. Depois se encontraram algumas vezes, por
ironia do destino, creio eu. Em seguida, ele veio ao seu encalço, como se
fosse lícito levá-la, apenas por ser eu um bárbaro, em seu julgamento,
desmerecedor de tamanha joia. A partir daí, fora raptada e levada para o
castelo de Siv. Em todas as vidas seguintes, disputávamos sua coleira.
Ela ficou me olhando como se pudesse lembrar-se de algo, mas não
Seren era muito nova, tão meiga, mas com um jeito saliente, parecia saber
exatamente como eu gostaria que agisse.
Com a corda em minhas mãos, comecei o bondage. Amarrei seus braços
juntos em suas costas, sentei-a num sofá, ergui e coloquei suas pernas para
trás com um separador de joelhos feito por mim, de modo que suas coxas
ficassem bem abertas. Logo passei a massagear seu clitóris, ela se contorcia e
revirava os lindos olhos, mas não era o bastante, então peguei o vibrador e o
ajustei na velocidade máxima. Comecei a forçar seu orgasmo, e em poucos
minutos vi a explosão do gozo que de suas entranhas jorrava. Em cada
momento do apogeu, ela chorava de prazer. Forcei o prazer por mais seis
vezes, e mesmo ofegante, ela agradecia por cada vez que chegava ao topo do
regalo.
Peguei meu flogger e dei cinquenta chibatas em sua vulva, para que
cessasse seu prazer, parei por alguns instantes até sua respiração voltar ao
normal.
Chamei Antonelli, que veio rápido ao encontro das mãos de seu Dono.
− Aproxima-se, minha first slave.
Ela sorriu, eu gostava de expressar meu sadismo fazendo todo o tipo de
tortura psicológica e física. Com Antonele não havia tanto mimo, apesar de
amá-la simplesmente pelo prazer que as torturas a ela aplicadas me
proporcionavam. Agarrei-a pelo pescoço e logo pus a mão entre suas pernas,
já estava completamente molhada. Coloquei uma, duas, três e depois os
quatro dedos dentro dela, em movimentos rápidos e com força, mas não lhe
fora dada a ordem para gozar. Retirei os dedos e os coloquei no céu de sua
boca, ela chupou bem devagar sentindo o gosto de seu sexo que ainda
latejava.
Peguei as cordas, amarrei suas mãos e lacei na viga de madeira no teto do
quarto. Com meu chicote de couro cru, comecei a esquentar sua pele com
leves chibatas, ela não sentia quase nada, e então fui aumentando a força no
braço gradativamente, e as marcas logo foram aparecendo em seu corpo. A
cada chibata, um número ela contava, que no total foram cento e cinquenta,
distribuídos nas nádegas, costas, pernas, barriga e seios. Ela era uma boa
masoquista e nunca me desapontou na prática, sempre supria meus desejos
mais sádicos e tinha prazer em cada marca feita em seu corpo.
Conduzi Seren até o quarto e a deitei em uma mesa grande de madeira.
Coloquei a menina em forma de X com algemas nos braços e nas pernas bem
abertas, e me preparei para começar uma sessão com velas (waxplay). Passei
óleo em sua pele antes de principiar. Sempre usei velas de cera de abelha, por
ser muito quente, mesmo se pingadas de longe, mas a menina aguentava
fortemente, apesar dos olhos lacrimejantes. Lentamente eu pingava a cera,
vendo cada expressão do seu rosto. Ela parecia saber que eu adorava vê-la
assim, com o corpo todo coberto por desejos que somente o sadismo poderia
decifrá-los. E em toda parte, o rosto de Charlote me perseguia, já não sabia
mais se era paixão ou loucura, sua imagem me acossava, até quando tentava
esquecê-la.
Fiz questão de pingar cera quente em sua vulva e nos mamilos. Mandei-a
se virar, e fiz o mesmo processo em suas costas e no ânus. Depois ordenei
que ficasse de pé, olhando para cima com a vela na boca até que eu a tirasse
daquela posição.
Novamente voltei para Antonelli, abri uma gaveta e peguei álcool e
agulhas. Aprecio uma sessão com tais práticas (needle play) – agulhas e um
pouco de sangue - união perfeita em dias como este, em que a alma de um
dominador sádico, grita e ecoa pelos cantos do mundo. Eu precisava escoar
em algum lugar.
Comecei pelos seios lindos e grandes, primeiro amarrei e coloquei agulhas
ao redor e fiz uma cruz, perfurando o mamilo. Depois, uma linha em espiral
em suas costas, com ajuda de uma fita, fiz um desenho que logo se desfez,
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS
quando puxei a fita arrancando todas as agulhas de seu corpo, gesto este que
minou pequenas gotas de sangue. Ela agradeceu pelo prazer que estava
sentindo, dizendo:
− Obrigada, meu Senhor, eu amo lhe servir. - sua voz estava trépida, vi seu
corpo tremelicar, e notei que estava tendo um orgasmo. Para terminar,
apliquei spray de pimenta nos pequenos furos onde estava saindo sangue, e
pressionei com as mãos, era linda a expressão de choro que ela fazia, me
dava ainda mais tesão em dias como este. Não sabia a dimensão de sua dor,
mas a minha era latente.
Já se passavam quase três horas, então coloquei as duas meninas lado a
lado, ambas amarradas com as mãos para o alto. Uma sequência de
chibatadas era dividida entre as duas, aproveitei para testar meu novo
brinquedo, um chicote feito de fios de aço de cinco mm, o resultado foi muito
satisfatório, marcas lindas, bem definidas e com nível médio de dor.
Agora com os corpos quentes e suados, decidi estreitar mais os laços entre
elas, ordenei que ficassem em posição 69, uma sobre a outra. Feito isso,
peguei o vibrador e coloquei na vulva de Seren enquanto ela tocava Antonele
com os lábios, vigorosamente, porém não permiti que minha first slave
gozasse. Era difícil para ela ver Seren explodindo de tesão enquanto não tinha
permissão para gozar, mas cumpria minha ordem, se não o fizesse, iria ter de
suportar severas torturas nos seios para pagar pela desobediência, ou até
mesmo, ficar sem falar comigo por um tempo determinado, o que para
qualquer slave é um castigo muito doloroso.
Sentei-me diante das duas, fiquei olhando Antonela se deliciar com o gozo
de Seren, ela também tinha atração por meninas, adorava quando eu a
mandava fazer sexo oral em outra submissa enquanto olhava para mim, com
cara de puta. Dizia-se a menina mais feliz do mundo.
Logo escutei:
O Reencontro Decisivo
Epílogo
Já era madrugada...
As luzes da mansão de AT estavam acesas. Ele parecia prever que algo
poderia ocorrer de forma tão marcante, que mal conseguiu pregar os olhos.
Desejou dar uma volta de antes dos primeiros raios do sol, não queria
esperar pelos minutos que arrebatavam sua alma como um açoite que o fazia
lembrar-se do motivo… Entrou em seu carro, e em alta velocidade, buscou
abrigo em algum subterfúgio capaz de tirá-la de sua cabeça. Iria rasgar a
cidade até o sono lhe arrebatar.
Ao chegarem em Vitória, mesmo sem saber se o encontraria, seguiram
para a casa de AT na intenção de resolver logo a situação. Para a surpresa de
ambos, ele não estava lá. Charlote observou por todos os lados a fim de
encontrar seu carro, mas não o viu. Uma ponta de tristeza lhe acometera ao
imaginar que poderia ter dormido fora, nos braços de alguma outra menina.
− Vou procurar algo para comer enquanto você toma seu banho. Assim que
eu retornar, esperá-la-ei aqui fora. – disse Arkadius.
− Não precisa… Eu sei o que devo fazer daqui em diante.
− Jamais. Eu a trouxe e a entregarei nas mãos de Tirel. Esteja aqui no
portão em uma hora. – disse num tom de ordem.
Ela acatou e seguiu portão adentro.
Fora recebida por Antonele, que a olhava dos pés a cabeça numa expressão
de receio e repúdio.
− O que quer? – perguntou a Charlote, mesmo sabendo que tudo que
estava acontecendo vinha de sua genuína maldade.
− Que pessoa?
Ela temeu em dizer o nome, mas prosseguiu.
− Senhor Arkadius.
O rosto de AT se fechou num semblante pesado e sua pele esquentou,
avermelhando-se. Ela jamais poderia imaginar o que ele estava sentindo
naquele exato instante, onde o orgulho ferido tomou conta de todo o seu ser.
− Traga este verme aqui! – disse quase rosnando, apertando os punhos.
Aos passos lentos ela seguiu, temendo pelo o que poderia acontecer.
Quando voltou, AT estava na mesma posição de antes.
− Com sua licença, nobre. – disse Arkadius de cabeça erguida, sem receios
algum.
AT ouviu aquela voz, tentando se controlar. Não tinham mais a nada a
tratar. A menina é dele agora, e podia ser levada dali. Não os queria a sua
frente, mas a curiosidade em saber o que queriam, era maior. Seu corpo ficou
gélido e inquieto entre suas células, embora não movesse um só músculo.
Lentamente virou seu corpo, o sangue fervia como tocha olímpica em
plena arena. Ao estar de frente ao seu adversário, a cena de Charlote morta
em seus braços em um Castelo, tomou-o de assalto. Ele se lembrou
detalhadamente de algo que jamais ocorrera antes. Viu Arkadius mirando a
lança em direção a ele, que se esquivou, e esta acertou de cheio a menina. Um
desejo repentino de gritar explodiu em si, quando mais outras cenas vieram
repetidamente de forma grotesca e inédita. Lembrou-se de cada detalhe de
vidas passadas, ambos lutando pela posse de Charlote, e todas as vezes que
sua vida fora ceifada pela força bruta de alguém que não aceitara a perda.
Lembrou-se das guerras iniciadas em todo o reino por conta de tais
eventos, e que muitos sivianos tentavam esconder, inventando outras histórias
que tapassem a verdade dos fatos. Todas as guerras de Siv foram iniciadas
por conta das vezes que ele mesmo a tirara dos braços de Arkadius,
revoltando o povo bárbaro, que invadia o Castelo atrás de vingança, tentando
saquear seus bens e levarem as slaves. Tudo estava tão claro e evidente, que
era impossível se negar às evidências… Mesmo sem conhecer a ligação que
todas aquelas lembranças tinham com o presente. Enfim, ele lembrava agora
de onde os conhecia… Não havia conexão com aquela realidade, mas era
impossível não acreditar em cenas tão verossímeis.
Charlote recebeu uma descarga elétrica em todo seu corpo, reconheceu a
verdade de sua ida até ali, sendo novamente o pivô de um confronto que a
magoara tanta durante muitas existências. Não pode conter as lágrimas,
ajoelhou-se em seguida com intenção de diminuir o peso de sua alma, em
vão…
Da escada, desce Antonele seguida por Seren, que sorri discretamente ao
reencontrar Charlote, que por sua vez, retribui o carinho, não em um sorriso,
mas num olhar carregado de afeto. Lembrou-se da irmã da coleira, para quem
entregou a oportunidade de estar em seu lugar quando seguiu de Siv para a
Terra dos Mortos.
− Eu quero a verdade. – disse Aragorne, já que não estavam mais usando a
máscara do esquecimento. Sentia-se tão confuso quanto Charlote.
Arkadius deu passos para frente, destemido.
− Eu a trouxe para acabarmos nossa missão de forma pacífica. Não
realizamos a cerimônia de encoleiramento. Ela se findou, assim que o nobre
deixou o salão. Sempre soube que a alma dela pertencia a você, mas era
difícil reconhecer tal verdade diante do orgulho, do sentimento que tenho por
ela, e da miséria do meu povo, que jamais teve a mesma oportunidade em
partes iguais, tudo isso devido a este caso que parece não ter fim. Precisamos
finalizá-lo.
− Você ceifou minha vida todas as vezes que se sentia ameaçado. E por
último, ceifou a dela, o que esperava? Que os deuses lhe agraciassem com
honraria pelo gesto cometido contra ao que não lhe pertencia?
− Charlote sempre me pertenceu, porém se apaixonou por você, que a tirou
de mim. E somente pelo sentimento que a movia, era sua. De direito e por
honra sempre fora minha. – disse ele firmemente.
− Fizemos tudo do melhor modo, não escondemos nunca os nossos
sentimentos acometidos de forma inesperada. Não fomos desleais.
− Um Dominador do bem jamais olharia para os olhos de uma posse que
não fosse a sua. – disse Arkadius com fúria no olhar.
− Um Dominador, antes de tudo, é um ser dotado de sentimentos. Jamais
deixei que no lugar do meu coração houvesse um chicote. – respondeu Tirel
na mesma ânsia congestionante.
− Apenas com Charlote não havia um chicote, caro amigo? Por que não
adotara a mesma teoria para as meninas que realmente eram suas, ao invés da
posse alheia? – Arkadius se lembrou das muitas slaves que passaram pelas
mãos de Tirel sem serem amadas.
− Eu fiz o meu melhor… – Tirel justificou.
− Sem conseguir. – Arkadius olhou para Antonele, que abaixou seus olhos.
Ele sabia que o amor dela não era correspondido. – Por isso ainda luta pela
Coroa.
Os poderes sivianos de Aragorne voltaram aflorados. Podia sentir no ar, a
energia de Antonele, e sabia que ela estava perturbada.
− Diga logo, menina, o que você fez! – ordenou, direcionando a voz para a
direção de Antonele.
− Eu… – ela não conseguiu pronunciar.
− Diga! – gritou. Sua voz retumbou pela casa.
instante em que entregou seu corpo e alma ao seu Senhor, pela última vez,
trocando sua vida pela a dele.
O enterro, honrarias, luto de sete dias… Momentos que se passaram em
comoção por todo o reino. Tirel recebera de seus aliados o respeito e lealdade
durante este momento de grande pesar.
Oitavo dia após a morte de Seren. É chegado o momento da coroação.
Vários participantes da cerimônia estavam vestidos de trajes especiais,
uniformes ou roupas. As vestes dos sivianos presentes compreendem um
longo casaco de veludo carmesim e uma capa de arminho. Linhas de manchas
na capa designam a classificação de cada castra; duques utilizam quatro
linhas, marqueses três e meio, condes três, viscondes dois e meio, e os barões
e senhores do Parlamento, dois. Os duques Reais usam seis fileiras de
arminho. Os nobres usam coroas ou diademas, assim como fazem a maioria
dos membros da corte real; tais coroas mostram emblemas com base na
posição ou na associação do nobre para com o rei. O herdeiro aparente da
Coroa exibe quatro cruzes-Pattee alternadas com quatro flores-de-lis
encimados por um arco. O mesmo estilo, sem o arco, é usado pelas slaves de
Tirel. As demais escravas da nobreza usam o mesmo desenho, só que em
versões menores.
Juntamente com pessoas da nobreza, as cerimônias de coroação também
são assistidas por uma ampla gama de figuras políticas, incluindo o primeiro-
ministro de Siv e Old, e todos os membros do Gabinete Oficial,
Governadores-Gerais e primeiros-ministros de ambas as civilizações.
O Mestre de Siv colocou o ornamento da Coroa da serpente na cabeça do
rei e realizou todos os ritos habituais nas salas consagradas da cerimônia do
Castelo.
Com uma voz contida de emoção e contentamento, o Mestre disse aos
presentes:
Sentiu-se feliz em saber que ela voltara, mas gostaria de lhe dar o abraço que
não pôde ser dado na despedida.
Diante de uma saudosa angustia, de longe, na capela ao lado do Castelo,
vira algo que fizera seu coração palpitar em desalinho. Suspirou
profundamente, afrouxando o lenço de seda que ornava a volta do colarinho.
Não acreditava no que via… Bem ali, naquele lugar que mal frequentara além
das pouquíssimas vezes que passara para refletir sobre sua vida, após as
práticas de equitação.
Lá, além da miragem angelical notada, encontravam-se apenas dois dos
jardineiros do Castelo, com as flores necessárias para a ornamentação do
santuário, que cujo trabalho era feito com esmero. Era o único luxo do local.
Belas eram essas flores, delicadamente brancas, perfumadas, velando a
decrepitude das paredes, cobrindo o altar, festonando o coro e descendo em
redolentes guirlandas até o genuflexório, onde se ajoelhava a jovem.
Ele parou por um instante… Passou a mãos pelos cabelos, sorrindo. Ao se
voltar para o Mestre, ele já não estava mais lá, partira com as meninas sem se
despedir, desaparecendo nas nuvens que repentinamente se tornaram
carregadas.
Abriu os braços ao perceber que os olhos dela estavam olhando para os
seus. Com a graça de uma pomba branca, Charlote se levanta e caminha rumo
ao seu Dono, com as mãos esticadas para frente, sobre elas, o cordão sagrado
de Tirel. O que o fez sorrir.
Ao se aproximar, curvou-se para cumprimentá-lo, retirando seus olhos em
silêncio, dos dele. Dobrou os joelhos sobre o gramado verde e cheio de vida,
alcançando as mãos do Senhor, beijando-as.
− Saudações, meu Senhor, Dono adorado de mim.
Sem palavras, Aragorne acariciou os cabelos dela, para ter certeza de que a
cena era real.
ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI
PERIGOSAS