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Copyright © 2018 Editora PL

Copyright © 2018 Janice Ghisleri

Capa: Denis Lenzi


Revisão: Carla Santos
Diagramação Digital: Carla Santos

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos
da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.


Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meio
eletrônico ou mecânico sem a permissão do autor e/ou editor.
Folha de Rosto
Créditos
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epílogo
Biografia
Obras
Saiba mais sobre a Editora PL
Vila de Kapri, Cork, Irlanda, 1944

Konan estava acorrentado com fortes grilhões nos punhos, tornozelos e um largo e pesado em
seu pescoço, preso à parede de pedras, em um calabouço, úmido e gelado.
Estava somente usando uma calça de sarja que estava suja e rasgada, batia os dentes de frio e
seus cabelos estavam longos, desgrenhados e havia sangue seco em seu rosto e em seu torso.
Seus pés estavam feridos e descalços no piso de pedras. Era inverno e ele pensou que se
sobrevivesse, daquela maneira, sobreviveria a quase tudo, porque ele estava quebrado, em vários
níveis, por dentro e por fora.
Empertigou-se e ouviu as correntes tilintarem e passos virem ao longe, sentiu o cheiro de
lobos se aproximando.
Oh, que maravilha! Seu alfa e seu pai vinham novamente, para que sua humilhação fosse
mais dolorosa.
Bem, talvez não sentisse nada dessa vez.
Os lobos gigantes pararam na porta da cela, enquanto outro lobo a abria, e eles entraram,
bem-vestidos, com casacos de peles e pararam na sua frente.
Sem erguer muito a cabeça, Konan os olhou, entre os fios dos cabelos sujos que cobriam seu
rosto.
O lobo MacCarthy, era o alfa, pai de Noah, velho e muito respeitado, tinha uma longa barba e
os cabelos brancos e cinza que lhe caíam sobre a gola de pele de raposa. Olhos azuis muito
claros e frios. Era um lobo marcado por lutas e batalhas.
Seu pai, bem mais novo, o olhava com um misto de raiva e decepção, mas não menos
arrogante. Não podia dizer que eram um poço de amabilidade.
Bastardos, queria lhes cravar suas garras em seus pescoços e, então, olhou Noah, que se
posicionou mais atrás.
Sentiu raiva dele. Como ousava vir ali assistir sua vergonha? Mas ele viu algo nos olhos dele,
não estava feliz de vê-lo assim, sabia, pois Noah era seu amigo. Mas ainda assim sentia raiva.
— Vim te dar uma última chance, Konan — o alfa disse friamente e Konan rosnou. — Te
liberarei de seu castigo se pedir perdão, se te arrepender dos teus atos insanos.
— Não me arrependo do que fiz!
— Konan, não seja estúpido! Diga para onde enviaste a humana e será libertado — seu pai
disse.
— Não pense que não o deixarei congelar aqui na masmorra o inverno inteiro se me
desobedeceres dessa maneira — o alfa disse zangado.
— Pois que assim seja.
O alfa bateu em seu rosto com o dorso da mão e o sangue escorreu de seu lábio cortado.
— Então, que assim seja. Vais ficar aqui e aprenderá a obedecer a seu alfa. Colocou em risco
tua vida e de toda nossa alcateia por uma humana insignificante. Não te banirei, pois sou
misericordioso e sei que é um jovem estúpido, mas não pouparei seu castigo. Servirá de exemplo
para os outros lobos.
O alfa virou e saiu e seu pai o olhou com os olhos cintilando e deu-lhe uma bofetada.
— Envergonha-me, Konan. A família de Dainne partiu, abdicando de seu compromisso de
acasalamento. Arrumei-te um bom acasalamento com uma família rica e influente e o que fez?
Envergonhou-nos por uma humana miserável.
Seu pai saiu e Noah se aproximou. Konan cuspiu sangue no chão e o olhou, tentando não
fazer seus dentes tremerem. Noah estava bem agasalhado com um enorme casaco de pele, que o
protegia do frio do inverno que estava bem rigoroso.
— Vai me esbofetear também, Noah? Vamos, não tenho medo de ti! — Konan rosnou.
— Acha mesmo que eu quero te ver aí?
— Por que não? É o filho do alfa, segue seu pai, sempre o bom filho, o respeitoso e correto.
— Não posso ir contra meu pai, Konan, mas não o condeno pelo que fez. Você foi estúpido,
mas não conheço os sentimentos que leva em seu coração. Eu te perdoo.
Konan rosnou e não sabia se era de raiva, de vergonha ou de dor.
— Se acreditas, realmente, que o que fez foi certo, então eu te perdoo, mas a única coisa que
posso fazer por ti é te dizer isso. Sobreviva e volte para nós. Ainda tem minha amizade. Um dia,
eu serei o alfa. Serei leal a ti e cobrirei suas costas, se fores leal a mim, pois, senão, eu mesmo o
matarei.
Noah se virou e foi sair, mas parou e o olhou sobre o ombro.
— Valeu a pena seu sacrifício por esta humana, Konan?
Noah saiu e a cela foi trancada e Konan sentiu vontade de chorar e gritou alto e forte, uivou
sua raiva e sua dor, mas ninguém ouviu, porque estava trancafiado no mais baixo nível da
masmorra do castelo e ali chorou pelo seu pecado, sua traição e seu coração partido.
Ele tinha salvado uma humana, a moça doce que amava, mas tinha condenado sua alma; e ela
o tinha rejeitado.
Ela o tinha chamado de monstro.
Konan chorou e penou seu castigo.
E fez uma jura, jamais se apaixonaria por uma humana outra vez.
Atenas, Grécia, dias atuais...

Konan entrou no clube Olimpo, acompanhado de Zian e Maddox, deu uma olhada em volta,
chamando a atenção dos frequentadores ao redor, principalmente das mulheres e o som e a
energia vibrante do lugar os animou.
— Isso é legal — Zian disse olhando para duas moças que passaram por eles, quase
quebrando seus pescoços e com olhares cobiçosos.
— Ouvi que tinham reaberto depois de uma reforma. Achei que seria legal conhecermos —
Konan comentou.
— Parece que ainda o estão fazendo. — Maddox mostrou uma ala ainda coberta de tapumes e
grandes panos brancos.
— Bem a cara da Grécia. Requintado. Estava entediado dos bares de periferia.
— Não esqueçam, estávamos tentando ser discretos — Konan retrucou.
Zian bufou e Maddox riu da seriedade de Konan.
— É, entendo o conceito, amigo, mas a ideia é eu poder conhecer pessoas humanas e saber
como vivem hoje em dia.
— Evite que suas asas abram na cara dos humanos.
— Acho que nossa aparência nos impedem de sermos discretos. Olá, senhorita... — Zian
sussurrou galanteador para uma moça que passou, devorando-os com o olhar.
— Sim, serei, prometo. Não que eu queira muito, pois estou bem a fim de encontrar alguém
que esquente minha cama gelada esta noite. E acho que nosso conceito de estarmos discretos e
não chamar a atenção não está funcionando muito. Talvez devêssemos ter colocado nossas lentes
de contato e você pudesse tirar estes óculos escuros — Maddox disse.
Konan rosnou e tirou os óculos e colocou pendurado no cinto.
Uma garçonete passou com sua bandeja e os encarou com os olhos arregalados.
Konan não se importou, pois já estava acostumado, e andava um tanto entediado para se
emocionar com tais olhares deslumbrados, mas Maddox sorriu, encantado.
— Aceitam... hum... uma bebida? — perguntou a garçonete vestida de branco e dourado,
estilo grego clássico, com uma saia curta e um top e braceletes dourados.
A roupa não era vulgar, na verdade, era bem feita e bonita, combinando bem ao estilo do
lugar e ela usava uma maquiagem mais pesada e uma tiara de folhas de uva com uns arabescos
dourados meio exóticos.
— Iremos ao bar, obrigado, senhorita.
— Oh, sim, claro, hum... é por ali.
Ela ficou parada olhando para eles até que Zian sorriu lindamente.
— Obrigado, moça.
Maddox riu da situação e sua risada era maravilhosa, o que só fez a mulher piscar
languidamente os cílios para ele como se estivesse hipnotizada, mas Konan somente deu um
sorriso no canto da boca, achando engraçada a diversão dos seus amigos.
Como nenhum deles se moveu do lugar, Konan colocou cada mão nos ombros dos rapazes
puxando-os e guiando-os para o bar, enquanto a garçonete continuava ali, parada como uma
tonta.
Konan poderia ser amigável e passar a impressão de calmaria para quem conversasse com ele,
mas não estava totalmente bem por dentro, pois era consumido por seus próprios pesadelos.
Achava que algo dentro de si havia sido desligado, e era sua prioridade deixar suas emoções
adormecidas, o que não levava em conta quando o negócio era proteger os seus, então era uma
fera.
O mundo e seus acontecimentos, sua evolução, sobrenaturais, ou não, o impulsionavam e
tinha prometido aproveitar tudo intensamente, então sempre estava ávido para aventurar-se ou
aprender as novas tecnologias e novidades que ele oferecia através dos anos.
Vivia intensamente, aproveitando cada instante, satisfazendo cada um de seus desejos
selvagens.
Ele gostava da vida boêmia e já havia feito uma via sacra por Atenas, desbravando bares e
clubes, dos mais sofisticados aos mais simples, somente para alimentar sua eterna ânsia interior e
buscando prazer e sexo, mas era de uma noite; no outro dia, continuava sua vida, como se a noite
anterior não tivesse existido.
E mesmo que não se desse conta, um grande vazio crescia dentro dele.
E era para isso que serviam as humanas: porque pensava que não eram boas o suficiente para
os lobos, porém, tinha adquirido um respeito enorme pelas companheiras humanas que seus
amigos tinham encontrado, principalmente Ester.
Afinal, Konan pensava que aquela coisa de companheiros de alma poderia até ser verdade,
por isso elas tinham conseguido, mas não acreditava que ele próprio tivesse uma. Que os deuses
tivessem tomado seu tempo criando uma mulher que seria perfeita para ele; que lutasse por ele;
que o amasse sem reservas; que não tivesse medo de seu lobo.
Se apaixonar estava fora, inteira e completamente fora de questão.
Por uma humana, então, muito menos.

Cassandra estava no seu escritório olhando para o espelho mágico que ficava atrás do bar. As
pessoas não podiam vê-la, mas ela podia vê-los, além de boa parte do clube.
Fazia mais de meia hora que estava ali, paralisada com os olhos cravados no homem gigante
escorado no balcão do bar, tomando tranquilamente sua cerveja e conversando com outros dois
caras quase do mesmo tamanho e incrivelmente impressionantes.
Não queria piscar para não perder a visão de três deuses gregos saídos direto do Olimpo e
caídos dentro do seu Olimpo particular.
— Santíssimo, e eu nem bebi hoje, para estar vendo coisas — sussurrou. — Não posso estar
vendo o que estou vendo.
O cara de olhos amarelos era bonito, com um sorriso deslumbrante e mesmo sendo um pouco
mais baixo que os outros e possuindo cabelos mais curtos, parecia encantado com os olhares das
mulheres sobre ele. Realmente demonstrava alegria em estar naquele lugar.
O de olhos azuis era surreal de tanta beleza. O cara tinha um chamariz quase hipnotizante,
como se tivesse uma aura diferente ao redor dele. Era de uma beleza etérea e portador de um
corpo perfeitamente forte e esculpido sem ser exagerado.
Mas o terceiro deles, que tinha a pele mais dourada, era muito forte, lindo e bruto e prendia
seu olhar.
Parecia um daqueles motoqueiros selvagens, com suas roupas de couro negras.
Ela não conseguia tirar os olhos dele.
Tudo, nos três, era divino e exótico, mas o grandalhão vestido de couro...
Depois de ficar ali, hipnotizada, literalmente com o queixo caído, Cassandra levantou-se da
cadeira giratória e saiu do seu escritório, desceu o lance de poucas escadas e entrou atrás do bar.
Konan, que estava de costas tomando sua cerveja, sentindo aquele pinicar sob a pele, que o
estava incomodando, desde que chegou ali, sentiu a sensação ficar mais forte a ponto de
incomodá-lo tremendamente.
Parou a garrafa no meio do caminho quando a levava à boca, quando o cheiro, um tanto
adocicado, tomou suas narinas.
O efeito foi como se tivesse ficado tonto com a sensação que tomou seu corpo.
E foi somente com ele, porque Zian e Maddox pareciam não estar ligando para isso.
Continuavam conversando como se nada estivesse acontecendo.
Lentamente, ele se virou e, quando o olhar fixo dela se chocou com o seu, o som do ambiente
pareceu desaparecer e um zunido invadiu seus ouvidos. Seu corpo todo reagiu a ela, de forma
estrondosa.
Cassandra, literalmente salivou ao ver seu rosto de perto e ficou sem fôlego. Bem, agora sim
que estava impressionada de verdade.
Era muito bonito. Tinha um queixo quadrado e as maçãs do rosto marcadas. Seus traços eram
fortes, e apesar do olhar ser duro, era quente como o inferno e parecia lhe queimar.
Seus olhos eram do verde mais lindo que jamais tinha visto, que pareciam como o mar
límpido da Costa Rica e ela piscou aturdida quando os olhos dele pareceram ficar iluminados e
dançar, então voltou ao normal.
Ela deveria estar delirando.
Oh, deuses! O homem era estrondoso e possuía o tipo de beleza masculina que poucas
mulheres tinham a sorte de ver em carne e osso alguma vez na vida. Talvez em alguma revista de
academias, numa passarela ou numa revista de moda, mas ela estava vendo pessoalmente. Estava
sendo premiada. Obrigada mil vezes por esta dádiva.
Seus lábios eram atraentes e sua boca estava feita para dar beijos longos e abrasadores e ela
queria beijá-los até perder a consciência.
Seus músculos poderosos estavam ornados com muitas tatuagens, que apareciam um pouco
no decote da camiseta preta colada e debaixo da manga esquerda indo até o punho; e no outro,
tinha um lobo no braço e uma corrente celta.
Seus cabelos, lisos e negros eram longos até abaixo dos ombros e a mecha larga e branca do
lado direito lhe dava um ar exótico e uma aura bruta, que exalava sensualidade sem nenhum
esforço.
Jamais tinha ficado tão impressionada com a aparência de um homem antes. Sempre tinha
preferido a mente ao corpo; e, apesar de curtir um homem sarado, gostava de cérebro.
Ela passeou o olhar por seu corpo e mil pensamentos pecaminosos passaram na sua mente e,
com este homem, estava mais que disposta a abrir uma exceção.
Pela primeira vez em sua vida, queria beijar a um completo desconhecido que parecia um
gigante, porque mesmo tendo seus 1,78m de altura, se sentiu pequena perto dele.
Eles ficaram se encarando por uma eternidade, como se estivessem hipnotizados um pelo
outro.
Konan olhou para cada pedacinho de seu rosto, perfeitamente delineado, os lábios eram
carnudos, com um provocante e quente batom vermelho que agora o brindava com um meio
sorriso no canto da boca.
Sua mandíbula era bela e delicada, mas seu olhar era forte, intenso e muito belo.
Seus olhos eram da cor do mel dourado, muito incomum, com os cílios longos e um
delineador forte. Seus cabelos eram longos e pretos, com mechas castanhas, loiras e com
algumas vermelhas, eram cheios de tranças finas e uma parte dele estava levantado num coque
meio bagunçado preso por um palito japonês.
Ele nunca tinha visto uma humana com olhos daquela cor.
Ela o olhava fixamente e seus lábios se separaram ligeiramente. Naquele momento, a imagem
o invadiu. Dela em seus joelhos, aqueles lábios vermelhos brilhantes em volta do seu membro e
Konan rosnou sentindo seu corpo agitar-se. Pigarreou tentando afastar a imagem.
Ela estava escorada no balcão com o cotovelo e a outra mão estava na cintura, que era fina e
exibia uma barriga sarada e de fora com um piercing no umbigo.
Assim que olhou para o piercing com um pingente de coração com uma pedra no centro, que
perfurava a parte de cima do umbigo, ele pensou que seria delicioso rolar sua língua nele.
Seus seios eram cheios e empinados, presos numa regata curta, justa e preta. A calça era preta
e justa com a cintura baixa e um cinto com uma fivela grande e oval.
— É o tipo predador que olha para as pessoas como se fossem suas presas e quisesse mordê-
las — ela disse tranquilamente.
Ao ouvir sua linda voz, ele ergueu seu olhar de suas coxas e olhou para ela, que continuava
na mesma posição, mas seu olhar era mais quente, o que o fez gemer baixinho.
Por todos os deuses, ela era quente. Não era apenas achar bonita ou gostosa, era mais que
isso, mais que tudo.
— Morder é bom — ele soltou sem nem ao menos conseguir segurar as palavras e ela sorriu.
— Não duvido que suas mordidas sejam algo de se desejar, eu até poderia abrir uma exceção
e permitir que me mordesse.
— Quer que te morda? — ele perguntou quase chocado.
— Algumas mordidas podem ser bem excitantes. Já deixou que alguém te mordesse?
Ele soltou um rosnado baixo enquanto seu corpo todo reagiu como se alguém tivesse jogado
gasolina nele e acendido um fósforo.
— Não devia dizer essas coisas para mim.
— Por quê? É a verdade.
Era e ele gostaria que ela o mordesse.
— Oh. Talvez você seja daqueles homens que não gostam que uma garota dona de si,
moderna, elogie um homem ou lhe dê uma cantada. Desculpe, guardarei minhas cantadas para
mim se te incomoda, apenas estava elogiando.
Konan não respondeu, continuou ali, a olhando como se ela fosse de outro mundo, então
ouviu uma risada e olhou para o lado e Maddox estava o olhando, divertido e rindo, assim como
Zian.
— O que estão olhando? — Konan rosnou.
— Acho que vou tirar uma foto da sua cara, Konan, está divertido! — Zian exclamou.
— E se eu desse um soco na sua cara, também seria divertido?
Maddox e Zian riram novamente e olharam para a moça.
— Prazer, senhorita, eu me chamo Zian, este é meu amigo Maddox e este aqui é Konan.
Ela olhou para eles e piscou aturdida. Era demais para assimilar.
— De onde vocês saíram? Por que estão usando lentes e cabelos coloridos?
— Estávamos em uma festa exótica e resolvemos tomar mais uma cerveja e conhecer o lugar.
Não deu tempo de tirarmos as lentes e as mechas falsas.
— Ah... Ok.
— Seus olhos são assim, amarelos? — Konan perguntou.
— Oh, são lentes também. Adoro lentes de contato e tenho de várias cores. Eu perguntei
sobre os seus, porque é difícil ver homens usando lentes exóticas. Onde era a festa?
— Hum... era uma festa particular.
— Oh, legal!
— Por que usa lentes, moça?
— Faz parte do clima do clube. Tudo é para ser exótico e excêntrico.
— Este lugar é legal.
— Fico contente que estejam gostando.
Konan pegou sua cerveja e a bebeu toda de uma vez e eles o olharam chocados.
— Está tudo bem, Konan? — Zian perguntou.
— Sim.
Ela sorriu o olhando fixamente e suspirou. Fazendo um esforço para sair do bar, quase gemeu
com a dor que lhe causou entre as pernas.
— Maldição, se controle, mulher, parece uma depravada — sussurrou para si mesma quando
se afastou, mas eles ouviram por causa da sua audição aguçada e riram. Konan os olhou com
uma carranca e rosnou.
— Parem com isso.
— O quê? Não estamos fazendo nada, mas a moça está caidinha por você.
Ela trouxe mais cervejas e colocou no balcão.
— Como se chama? — Konan perguntou.
— Cassandra. E você?
Cassandra era forte e combinava com ela. Ele adorou seu nome que fez rolar em sua língua.
— Konan.
— Oh, verdade, ele disse — Dã! Estava tonta. Ela respirou fundo para tentar espantar sua
luxúria. — São da cidade?
— Não, mas estamos por aqui.
— De onde são? Seu sotaque me parece conhecido.
— Somos irlandeses.
— Irlandeses? Jura? Que legal... interessante — disse aturdida.
— Por que nos olha assim? — Konan perguntou.
Ela os olhou de um a outro.
— Por... nada.
— Eu sou de fora — Maddox disse levantando a mão.
Cassandra o olhou e engoliu em seco.
— De fora onde?
— De bem longe, bem de fora.
Como poderia dizer que vinha de um mundo paralelo? Zian riu divertido e bebeu de sua
cerveja.
— Do que está rindo? — Konan perguntou.
— Adoro estas conversas — Zian disse, e Konan rosnou baixo em advertência.
— Relaxa, grandão, está divertido.
Konan respirou fundo e tentou colocar seus pensamentos em ordem, porque parecia que eram
como um trem descarrilhado dos trilhos.
Estava aturdido, tentando entender a fêmea na sua frente. Ela usava as unhas pintadas de
preto, que nervosamente estavam tamborilando no balcão; e ele olhou e sorriu ao ver que usava
um anel em cada dedo.
Um grupo de seis rapazes entrou no clube, sentaram em uma das mesas espalhadas pelo salão
e começaram a beber e mexer com as moças.
Uma garçonete gritou e derrubou a bandeja quando um deles passou a mão em seu traseiro.
— Mas que merda, estava demorando — Cassandra sussurrou com uma carranca.
Eles olharam na direção e ficaram alertas, este tipo de coisa sempre os incomodava.
Tentaram se distrair e continuar com suas paqueras e Maddox coçou o ouvido, como se
doesse, pois o som era demais para seus ouvidos, afinal, ele não estava acostumado com este tipo
de ambiente e seu nariz também o irritava.
— Quando quiserem, podem reservar a ala VIP, se é que preferem mais privacidade — ela
disse apontando para uma lateral onde havia um mezanino com mesas e havia um segurança alto
e de terno que ficava na escada, impedindo qualquer um de entrar sem as credenciais.
— Bom saber, obrigado.
Ouviram assobios e risadas altas, sobre a música e ela fez sinal para um dos seguranças e ele
foi até a mesa e falou com os rapazes que burlaram e ficaram apaziguados apenas por um
momento.
Parecia que estavam fazendo de propósito para incomodar. E, um deles, apesar de ter
tatuagens subindo pelo pescoço, parecia um cafetão, que queria mostrar que era o chefe, mas não
parecia chefe de nada.
Quando um puxou outra garçonete, para que se sentasse em seu colo, ela gritou e protestou
tentando sair.
Konan rosnou, colocou sua cerveja no balcão e se aproximou.
Colocou a mão em seu ombro com um tapa e ele gritou e o olhou. Konan pegou o braço da
moça e a tirou de seu colo, afastando-a.
— Não toque — Konan disse severo.
— Ei! Eu toco quando eu quiser.
— Se fizer isso de novo, quebrarei seus dedos.
O homem levantou e era musculoso e cheio de tatuagens.
— Sabe com quem está falando?
— Com um idiota que não sabe respeitar uma dama e nem deixar a língua dentro da boca.
— Dama? Isso aí não passa de uma prostituta, igual aquela vadia que se diz dona deste lugar.
— Não gosto de homens que tratam mal as mulheres e nem que têm boca suja. Se não se
comportarem como cavalheiros, chutarei suas bundas para fora daqui.
— Sai fora, não pode me tirar daqui. Tenho meus direitos — disse o outro que estava com um
sorriso na boca, escorado e colocou um pé sobre a mesa.
Konan deu um tapa no seu pé, tirando de cima da mesa e quase o derrubou da cadeira e todos
levantaram, ameaçando-o, mas ele nem sequer se preocupou.
— Estão avisados e não costumo avisar duas vezes.
— Saia daqui, imbecil, senão quem sairá deste clube é você e se encostar um dedo em mim de
novo te processarei e arrancarei tanto dinheiro seu que terá que lavar latrinas para sobreviver.
Konan soltou um rosnado preso na garganta e o cara o olhou um tanto aturdido, mas a música
mascarou o som, que seria razoavelmente alto e amedrontador, não que ele tenha dado seu
melhor.
Ao invés de meter um murro em sua cara debochada e irritante, deu meia volta e se afastou
deles, indo para o bar e bebeu de sua cerveja, mas ao longe ficou de olho nos imbecis, que não
pareciam nem um pouco engajados em uma missão de paz.
Cassandra se aproximou de Konan do outro lado do bar, se escorou nele e suspirou.
Quando ele se virou e a encarou nos olhos, todo o clube pareceu silenciar novamente e Konan
piscou aturdido para ela, que parecia olhá-lo do mesmo jeito.
Cassandra estava com os olhos arregalados o olhando e deslizou o olhar para seu corpo e
somente não viu abaixo da cintura porque ele estava do outro lado do balcão, mas tinha o
observado ir e voltar, e adorou ver suas longas e musculosas pernas forradas naquela calça de
couro preta.
A corrente elétrica que foi transmitida entre os dois foi tão forte que Konan gemeu e,
sinceramente, se alguém passasse entre eles poderia morrer eletrocutado.
— Obrigada por isso, mas eles só vão te irritar — ela disse.
— Não gosto de imbecis.
Ela sorriu lindamente.
— Eu também não... Uau, que homem quente... — ela sussurrou, somente não tinha certeza
se tinha pensado isso ou falado em voz alta.
Konan automaticamente ficou chocado e rosnou, porque estava sentindo seu corpo vivo e
vibrante.
O cheiro dela entrou nas suas narinas e o deixou meio tonto, e o estava deixando perturbado
desde que tinha entrado ali. Estava excitada por ele e isso o deixou tão louco que estava dolorido.
E suas calças, de repente, estavam apertadas demais.
As palavras ficaram esquecidas, e ela olhou seus braços musculosos e admirou as tatuagens.
Quando ergueu os olhos, que se fixaram nos fixos dele, sentiu seu sexo se contrair e uma dor
a deixou louca.
Konan segurou o rosnado preso na garganta.
— Konan... Seu nome combina com você.
— Não vai dizer que pareço o Conan, o bárbaro, vai?
Ela riu e foi fabuloso ouvir sua risada, ele sentiu vontade de sorrir e ela ficou deslumbrante
rindo.
Ele deslizou seu olhar pelo seu rosto, desceu pelo seu corpo e adorou suas tatuagens. Havia
rosas vermelhas sobre o ombro esquerdo e algo escrito em seu seio esquerdo, que sumia debaixo
da regata. Ela estava usando uma tribal celta em seu braço, o que o deixou espantado e havia
palavras gregas no outro braço.
Era toda exótica e ele adorou tudo.
Houve outra balbúrdia e Cassandra olhou para as mesas e suspirou.
— Acredito que será uma longa noite — ela sussurrou.
Konan olhou para o grupo que acabava de jogar um copo que estilhaçou no chão.
— Conhece os imbecis?
— Infelizmente. Aquele idiota e seu grupo de retardados insistem em vir aqui causar
confusão, sempre me dá prejuízos.
— Seus seguranças não dão conta?
— Fazem a parte deles, mas é sempre difícil evitar brigas com estes fanfarrões.
— Posso colocá-los para fora, se quiser.
— Não haveria coisa que eu gostaria mais. Mas quanto mais provocar este idiota, mais ele
fará e você é um cliente aqui, deve ficar fora de brigas.
— Quem é ele?
— Alguém que tem como missão infernizar minha vida.
Cassandra pegou uma cerveja e bebeu.
— Trabalha muito tempo aqui? — Konan perguntou.
— Dez anos.
— Uau! O dono está de parabéns, eu gostei do estilo.
— Obrigada. Eu sou a dona.
Konan estava realmente admirado.
— Belo trabalho.
Ela sorriu lindamente, feliz por ele ter a elogiado.
— O que será ali? — Konan perguntou mostrando com a cabeça um lado do salão que estava
coberto com enormes panos brancos e tapumes.
Ela olhou e voltou a olhar para ele, e se chocou com o olhar intenso novamente.
— É um palco e lá terá um aquário.
— Interessante. Terá música ao vivo?
— Bem, isso é possível também, mas o principal motivo é fazer algumas apresentações.
— Bom.
Ela foi falar mais, mas eles ouviram um grito e o barulho de copos quebrando.
Olharam na direção e viram o que o grupo de rapazes estava causando com as garçonetes, o
que fez uma delas derrubar a bandeja e quebrar os copos.
— Bastardo, idiota! — Cassandra resmungou zangada.
Konan tentou não dar atenção, mas viu um dos caras passar a mão na perna da garçonete,
querendo entrar debaixo de sua saia curta.
Aquilo o irritou e no mais ele não gostou de ver a mulher maravilhosa do outro lado do
balcão zangada.
Cassandra deu a volta no balcão e foi até eles, o que fez o instinto protetor de Konan acender
como um farol.
— Por que estes humanos imbecis gostam desse tipo de comportamento? — Maddox
perguntou, também se aprumando.
— Por isso que são imbecis.
— Acha que devemos ajudá-la?
— Se ele ousar tocá-la, sim.
Konan queria dizer que se olhasse atravessado para ela, já desejaria arrancar sua cabeça, mas
tentou ignorar o pensamento.
Cassandra chegou até a mesa e colocou as mãos na cintura e não demonstrou nenhuma
fraqueza em enfrentar aquela roda de homens grandes e de cara nada amigáveis.
— Olha aqui, idiota, pare de incomodar minhas garotas e saia daqui! — exclamou zangada.
O homem, o que parecia o cabeça da turma, apesar de parecer jovem, usava um terno que não
combinava com ele. Tinha um olhar de velho e um daqueles típicos homens asquerosos que se
tem vontade de quebrar os dentes.
Roupas caras, tatuagens no pescoço, sorriso debochado, achando que pode fazer o que quiser,
onde quiser. Resumindo: um pé no saco. E Konan soube que não era um qualquer naquela
história. Uma alma vil e asquerosa.
O homem bebeu um gole do seu uísque e se escorou no espaldar da cadeira e olhou
debochado para ela.
— Tenho todo o direito de estar aqui, entrarei aqui a hora que eu quiser, não vai ser você que
vai me impedir.
— Não vai conseguir o que quer com estas atitudes infantis. Se não sair chamarei a polícia.
— A polícia não vai te ajudar.
— Saia, e leve seus idiotas para bem longe daqui.
— Vou te mostrar quanto infantil posso ser, vagabunda!
Mesmo estando longe da mesa, Konan ouviu. E seus instintos selvagens se inflamaram e seu
lobo saltou dentro dele, querendo arrancar a cabeça do cara.
Ninguém insultava uma dama na sua frente, muito menos aquela dali em questão, mas sua
mente ainda não tinha processado o porquê de tal informação atiçar seu cérebro e seus instintos
assassinos tão veementemente.
Tomou um gole da cerveja, colocou a garrafa no balcão e foi em direção à mesa dos homens
que riam e incomodavam Cassandra com insultos.
Um dos seguranças se aproximou, ameaçando colocá-los para fora, mas não surtiu muito
efeito.
Konan chegou à mesa e Maddox e Zian o seguiram, o que realmente causou algum efeito no
grupo. Não que o homem que se achava um deus tenha baixado sua crista e escutado suas
ameaças.
— Eu avisei que se não deixasse seus dedos podres longe das garotas teria problemas comigo.
— Quer brigar? — o rapaz perguntou rindo, com o olhar zombeteiro.
— Sim, eu quero quebrar a sua cara.
Um dos homens tentou vir para cima dele para lhe dar um soco, mas Konan, sem mexer o
corpo, parou seu punho fechado dentro de sua mão e rapidamente agarrou sua garganta com a
outra.
Konan tinha o braço comprido e o homem tentou atingir seu rosto com o outro, totalmente em
vão.
Um dos homens quebrou uma garrafa e passou pelas suas costas. Konan rosnou ao sentir o
vidro quase lhe cortar, mas com seu movimento rápido conseguiu se esquivar para evitar um
dano e Maddox puxou o homem pelo braço, torceu-o e somente se ouviu um “crack” e o homem
caiu no chão gritando.
— Quebrou o braço dele! — um gritou.
— Oh, coitadinho!
Maddox cravou a mão na garganta do outro homem e o levantou do chão, e com um
movimento o jogou longe.
— Vou te matar, imbecil! — o homem disse, furioso para Konan.
— Tudo bem, vamos lá fora e você pode tentar.
Eles seguiram para fora e, quando estavam lá, os caras começaram a gritar e chamar Konan
para a briga.
Zian e Maddox se puseram atrás de Konan, mas sabiam que ele poria os seus homens
desmaiados num piscar de olhos e outros dois seguranças saíram e Cassandra os seguiu.
Cassandra olhou aturdida para Zian, que havia arrastado o homem com o braço quebrado por
uma perna e o jogou na calçada, como se não pesasse nada.
Ela piscou aturdida para ver o que fariam, estava chocada e respirava com dificuldade e
estava muito zangada com tudo.
— Parem já com isso! Tullo, vá embora daqui! — Cassandra gritou, mas foi ignorada.
— Vamos lá, grandão, acha que porque é tão alto pode me derrubar? Eu luto artes marciais,
coloco você para dormir com um golpe.
— Impressionante, vou te dar um pirulito de brinde — Konan disse. — Não entrarão mais
aqui.
— Olha aqui, idiota... Não pode me impedir de entrar e fazer o que eu quiser nesse clube.
Konan virou as costas para ele, calmamente e o ignorou, e foi em direção à porta e se virou,
tranquilo como uma lagoa num dia sem vento.
— Ah, eu posso sim. Se não se afastar te jogarei naquele latão de lixo ali.
— Este lugar é meu.
— Sério? Não sabia que proprietários têm o costume de danificar suas propriedades e causar
prejuízos. Estranho este costume dos gregos.
— Eu posso fazer o que quiser, pois este lugar pertence a mim.
— Me mostre a escritura.
— Isso não vai ficar assim.
— Não vai mesmo.
Konan calmamente agarrou o braço de Cassandra e a carregou para dentro.
— Fechem!
Os dois seguranças fecharam a porta, juntamente com o terceiro que já estava ali fora e
prostraram-se para impedir a passagem.
— Ei, volte aqui, covarde! — Tullo gritou.
O cara foi entrar, mas Maddox e Zian apareceram na sua frente como uma muralha.
— Estou louco para quebrar uns dentes e arrancar umas cabeças, Maddox, mas prefiro a
cerveja gelada e as garotas bonitas — Zian disse.
— Concordo plenamente — Maddox disse despreocupado.
— Saiam da minha frente, idiotas! — Tullo gritou.
Maddox fez seus olhos cintilarem e soltou um grasnido de sua garganta que fez os seis
homens gemerem de dor e caírem segurando suas cabeças, com as mãos nos ouvidos. E ficaram
tombados na calçada.
Ziam o olhou espantado.
— Uau, isso é novo!
— Um dos meus truques. Venha, nosso tempo é precioso para perder com imbecis, voltemos
às garotas.
Eles entraram no bar e os seguranças fecharam a porta, também aturdidos e sem entender o
que havia acontecido.
Somente os seis homens foram atingidos pelo som misterioso.
Tullo levantou gemendo e foi para a porta, mas os homens o impediram.
— Desculpe, senhor, está lotado.
Ele resmungou zangado, segurando a cabeça que ainda doía e fez sinal para os rapazes irem
embora. Eles ajudaram o rapaz que estava com o braço quebrado a levantar e se foram.
Depois do acontecido, Cassandra estava literalmente boquiaberta com os três gigantes,
principalmente Konan.
Homens adoravam se meter em brigas, tinha visto isso sua vida toda, nas boates e bares onde
a bebida sempre impulsionava seu lado de macho e exaltava a tendência a se pavonear sobre
outro homem, querendo embutir poder, que na verdade não tinham.
E ela sempre achou este comportamento de fracassados e covardes.
Mas Konan havia dado as costas para a briga e não foi por covardia, foi por inteligência. Ele
era poderoso e poderia ter quebrado muitos ossos daqueles homens, com certeza, pois somente
olhando o tamanho de sua mão em punho, tinha lhe dado medo.
Mas não, ele havia tirado o grupo todo quase sem violência, num instante, e estavam presos
do lado de fora e nenhuma mesa ou cadeira foi quebrada além da única garrafa e alguns copos.
Impressionante. Ela estava encantada.
E mesmo Maddox, que havia quebrado o braço de um deles, fez como se fosse um graveto.
Inacreditável.
Agora, ela estava ali, atrás do bar, enquanto eles tinham voltado ao seu lugar e retomado,
tranquilamente, as suas bebidas geladas e Konan estava de costas para ela.
Senhor, e ele possuía umas costas esplendorosas.
Konan podia sentir o olhar quente dela em suas costas, mas estava meio alucinado e pensava
que deveria ignorar a dama, mas era uma tarefa bem difícil.
Estava tentando focar nos poles que havia espalhado pelo clube e lindas moças estavam
dançando sobre eles, encantando os clientes.
Era lindo, e ele apreciava tal dança, mas seu cérebro e seu membro não estavam conseguindo
focar nelas e desfocar da linda humana atrás dele.
Sem resistir, ele olhou sobre seu ombro.
E o fogo dentro de si só aumentou.
— O que está olhando, senhora? — Konan perguntou com a voz calma e grave, chegando até
a ser ameaçadora, se ela pudesse sentir medo dele, mas não sentia.
Ela subiu o olhar para os dele e abaixou para seu traseiro novamente.
— Estava olhando seu traseiro.
Caramba, a mulher não tinha freio na língua. Interessante.
— Gosta do que vê?
Konan estava jogando, porque ele sabia a resposta e estava gostando do jeito que o olhava,
com desejo, mas ele gostava de ouvi-la soltar seus pensamentos pervertidos.
Ela riu maliciosamente.
— Oh, é... incrível nestas calças de couro.
Konan riu e se virou totalmente para ela e cruzou os braços.
Ela adorou quando ele fez isso, pois o deixou tão sexy e poderoso que sua mente deu uma
rodopiada quase a deixando tonta.
Konan colocou um leve sorriso no canto da boca.
Se havia uma coisa que Cassandra não tinha era vergonha e pudor de expressar seus desejos,
vontades e pensamentos. Ela era franca como um raio.
Isso a fazia parecer com uma loba, aliás, muitas coisas nela pareciam com as lobas. O que só
embaralhava a cabeça de Konan e despertava mais sua libido.
Ele olhou bem para ela e não podia acreditar que era uma humana com seu cabelo exótico e
seus olhos semelhantes aos de Erick, e a sua boca o chamava para beijá-la.
— Você tem uma boquinha bem solta, moça.
— Oh, eu não posso elogiar sua bunda? Seus bíceps e tríceps? Vocês não fazem isso
conosco? Elogiando nossa bunda e nossos peitos?
Ele sorriu lindamente e ela viu que tinha covinhas nas bochechas, e quase gemeu de tanto que
o achou lindo.
— Já te disse que adoro estas tuas tatuagens? — ela emendou.
— Realmente?
— Realmente.
— Também gosto das suas. Pergunto-me como são aí, nas partes escondidas.
— Sabe que me fiz a mesma pergunta?
Konan segurou o rosnado na garganta, porque queria saltar sobre ela, beijá-la, arrancar sua
roupa e ver por si mesmo.
Aquela conversa estava indo para um caminho depravado, e eles não negavam que estava
divertido e quente.
Apesar de Cassandra ser uma mulher adulta e bem resolvida, no auge dos seus trinta e dois
anos, bem desenvolta entre os homens, era bem difícil algum deles levá-la para a cama.
Ela gostava de homens grandes e musculosos como Konan, mas eles pecavam muito pela
boca, o que limitava muito suas aventuras amorosas. E nunca, jamais ela abaixava a cabeça para
um homem.
E o ar misterioso daquele homem exótico a estava deixando com água na boca.
— O que você faz para viver? — ela perguntou.
— Uma coisa ou outra.
— É modelo?
— Não.
— É lutador?
— Um pouco.
— É segurança?
— Em parte, sim, cuido da segurança do meu grupo.
— Grupo? Tipo o quê? Um condomínio?
Ele sorriu.
— Sim, é tipo um condomínio privado.
— Onde?
— Você faz muitas perguntas.
Para seu total assombro, ele se escorou no balcão, baixou a cabeça até pô-la muito perto de
seu rosto e aspirou sobre seu cabelo.
Cassandra se esticou espantada.
— Está me cheirando?
— Só estou admirando seu perfume... — “E o cheiro de sua excitação”, pensou, enquanto
sussurrou-lhe brandamente ao ouvido, com uma voz insinuante e um sotaque maravilhoso que
fizeram com que Cassandra se derretesse.
Tinha uma voz tão grave e provocava em seu corpo um efeito tão devastador como o de uma
tormenta. Ela soltou o ar e segurou um gemido.
Aquilo estava além de um sonho.
O homem lhe punha muito quente e seu fôlego sobre a orelha lhe arrepiava a pele e lhe
provocava calafrios, mesmo ele não estando muito perto.
— Aquele homem é dono do clube?
— Não. Ele pensa que é dono de muita coisa, mas não é dono de nada.
Konan retrocedeu um pouco e parou a poucos centímetros de seus lábios. Ele foi fazer mais
uma pergunta, mas foram interrompidos.
— Ei, chefe, temos um assunto na cozinha.
Ela suspirou desalentada e olhou para um de seus garçons que estava no canto do balcão lhe
chamando.
— O dever me chama — ela disse olhando para Konan novamente.
— Hum-hum... O vejo.
— Espero vê-lo de novo.
— Estarei por aí.
— Divirta-se.
Ela girou e sumiu no canto do bar e Konan a seguiu com os olhos e gemeu, passando a língua
nos dentes, franziu o cenho quando percebeu que suas presas haviam crescido.
— Mas que merda... — sussurrou sem entender.

Cassandra não retornou ao bar naquela noite, devia estar muito ocupada com as funções do
clube, pois, de vez em quando, a via passar rapidamente de um lugar ao outro e lhe dava uma
olhada quente e desaparecia.
E ele estava impressionado que ela tocasse um clube daquele tamanho, não que duvidasse que
mulheres pudessem fazê-lo, na verdade tudo nela o impressionou demais.
Ela sumiu atrás de uma porta negra que viu algumas pessoas entrarem, muito bem-vestidas e
requintadas. Observando as pessoas, ele diria que ali somente estavam as de classe alta, pois os
preços não eram muitos baratos e eles eram bem-vestidos, alguns usando ternos, mulheres com
roupas brilhantes e joias.
Konan gostou muito do lugar. E dela.
Olhou para um lado e viu que Maddox e Zian estavam empenhados em conquistar duas belas
mulheres e deu um sorriso.
Viu as horas no seu relógio, estava impaciente e desacorçoado, pois pensou que não a veria
mais naquela noite. Não falaria mais com ela.
Devia ter feito um convite a ela, mas não fez e a oportunidade havia passado. Acabou que não
se interessou por nenhuma outra garota para paquerar, não que várias delas não tivessem feito
sua investida sobre ele, mas nenhuma o agradou.
Ele queria mais dela.
Fazia tempo que não se interessava tanto por uma garota, que não sentia tanto tesão e ainda
estava duro.
O clube já estava quase vazio e estava se cansando de ficar ali.
Então, bebeu o ultimo gole da cerveja e foi até os rapazes.
— Ei, estou indo, vão ficar?
— Hum, bem, em breve estaremos indo — Zian disse e Maddox assentiu.
Konan acenou. Sim, eles teriam sua noite quente. Zian e Maddox haviam ido até ali com um
dos carros que ficava à disposição dos lobos na casa da marina e Konan tinha ido com sua moto.
— Até.
Konan saiu do clube e olhou ao redor e a rua estava tranquila, com alguns carros saindo do
estacionamento privado e sendo trazido pelos guardadores de carro.
Quando ele fez sinal e entregou um papel ao jovem, ele assentiu um tanto espantado com o
seu tamanho.
— Já trarei sua moto, senhor.
— Eu mesmo a pego.
— Ok, obrigado, senhor, e tenha uma boa-noite.
Ele foi para o estacionamento e subiu na sua Harley Davidson e foi dar a partida, então sua
pele se eriçou e ele olhou ao redor, estreitando os olhos e aguçando seus sentidos.
Então, ao fundo da imensa garagem, ele viu um local reservado e separado com placas de
privado e lá estava ela, procurando algo em sua bolsa sobre o capô de um carro prata.
Oh senhor, e ele que pensou que a tinha perdido, mas um sorriso lhe apareceu no canto de
seus lábios.
Os deuses estavam de bem com ele esta noite. Assim que ligou a moto e seguiu pelo enorme
estacionamento, parou atrás de seu carro e, quando ela ergueu a cabeça para ver o que estava ali,
derrubou a bolsa no chão e ficou o olhando espantada.
— Oi.
— Oi.
— Pensei que já tivesse ido — ele disse.
— Bem... Eu estive ocupada.
— Entendo.
— Espero que tenha gostado do lugar.
— Sim, gostei.
“Gostei mais de ti”, pensou.
— Hum... Obrigada pela ajuda com os patifes, foi genial.
— Não foi nada.
Ambos queriam dizer adeus e seguir seu caminho, mas a atração era impressionante e quase
impossível de evitar.
Cassandra tinha-o visto através do espelho de seu escritório, sentado à mesa, e sentiu muito
desejo de ir lá e falar com ele, mas agarrou sua bolsa e saiu apressada tentando escapar dele.
Agora que estava ali, na frente dele, o vendo sentado naquela moto poderosa, seu cérebro
tinha parado novamente.
— Algum problema com as chaves?
— Oh, sim, minha bolsa parece o Triângulo das Bermudas, pois coloco tudo aqui dentro e
para achar alguma coisa demoro meia hora, isso quando acho.
Ele sorriu e ela devolveu o sorriso.
Eles ficaram mudos se olhando e ela pigarreou e juntou a bolsa do chão.
Konan esticou o braço enfiou dois dedos no cós de sua calça e a puxou para ele. Ela arfou
quando bateu em seu peito, mas não protestou.
Ele capturou seus lábios num beijo que, definitivamente, elevou o nível de beijo arrasador
para algo desconhecido.
No minuto seguinte, a bolsa estava no chão novamente e ela estava sentada na sua frente, na
moto, completamente envolta em seus braços e corpo, sendo devorada por ele.
Ela gemeu e ele rosnou, o que a assustou e a fez se afastar e olhou aturdida para seus olhos.
Tão intensos e enigmáticos como o mais profundo mar, inexplorado, misterioso e divino.
Ambos estavam se olhando aturdidos, perdidos, com o corpo reagindo estranhamente,
formigava e a excitação estava simplesmente aberta e esmagadora.
Nenhum dos dois estava entendendo o que estava acontecendo, pois aquilo não parecia
normal.
Konan a segurou pela nuca e não tinha palavra nenhuma para dizer, então deixou seu desejo
aflorar e a beijou de novo, puxando seu corpo para o dele e esfregando-se contra ela, deslizando
sua mão em suas costas, sentindo sua pele por baixo da camiseta.
Com a outra, subiu para sua perna e encontrou o centro de seu corpo e ela gemeu alto, pois a
sensação foi muito forte e ela arfou e se afastou, o olhando aturdida.
Ela olhou ao redor, pois estava no estacionamento de seu clube e ela saltou da moto.
— Isso não é apropriado... aqui... sou a dona desse lugar e se me virem serei motivo de
fuxicos, e não desejo isso.
Konan estava louco.
— Desculpe, não quis desrespeitá-la.
— Não o fez, eu... eu quis isso, mas não aqui.
Konan estava aturdido com suas palavras. Ela o queria.
— Posso te levar à minha casa? — ele perguntou.
Não havia meios de ele perdê-la esta noite novamente, porque o encontro no estacionamento
era uma segunda chance e o inferno congelaria antes que ele perdesse a oportunidade novamente.
Sua casa?
Ela quase gemeu, somente em pensar em sua casa, com ele, nus numa cama, porque era isso
que era seu convite, não era tola.
Diga não.
— Minha casa — ela disse sem pensar.
— Vai me levar à sua casa?
— Vou.
— Onde fica?
— No Cabo Sounion.
— Não conheço o lugar.
— Se quiser, me siga.
Ela juntou a bolsa do chão, girou nos calcanhares e, na próxima piscada, Konan a viu entrar e
ligar seu carro. Ele ligou a moto e saiu de trás dela, permitindo que ela saísse e a seguiu fora do
estacionamento e pelas ruas de Atenas.
Era alta madrugada e estava tranquilo, com um ou outro carro andando pelas ruas e, quando
eles paravam no sinal vermelho, ele podia vê-la olhando pelo retrovisor, o que o deixou
encantado e mais excitado.
Ela lhe deu um sorriso maravilhoso que ele pôde vislumbrar pelo retrovisor. Estava flertando
com ele.
Era delicioso.
Não demorou muito e ela entrou num bairro requintado no litoral e parou de frente a um
enorme portão que o abriu com o controle remoto.
Era uma bela casa branca de dois andares e havia muitas árvores e folhagens que tomavam
quase toda a fachada, que estava belamente iluminada.
O terreno não era muito largo e a construção não parecia daquelas antigas que ele tinha
reparado pela cidade.
Quando entraram no hall e ela trancou a porta atrás de si, Konan a pegou pelo pulso, girou e a
tomou nos braços, encostou-a contra a parede, erguendo-a para que entrelaçasse as pernas em sua
cintura, imprensando-a e beijando seus lábios.
Beijou-a intensamente, envolvendo sua língua na sua, eroticamente esfregando seu corpo no
dela, sentindo o calor que emanava, acendendo seus sentidos e abrindo-a para o prazer que ainda
viria.
Sua boca era deliciosa e ele parecia não tomar o suficiente, pois queria beijá-la eternamente.
Ofegante, ele soltou de seus lábios e a olhou.
— Não devia trazer estranhos para sua casa — ele sussurrou enquanto deslizava os lábios em
sua mandíbula.
— É? E vai fazer o quê?
Ele sorriu.
— Eu poderia estrangulá-la.
— Chutarei suas bolas se tentar. Mas por que faria isso se te trouxe aqui para uma noite
quente e agradável?
Ele riu, o que a fez rir também.
— Sim, estou louca, sei. Nunca trago ninguém aqui, se te interessa saber, mas abri uma
exceção para ti, então não me decepcione.
— Fico feliz que me trouxe.
— Aham.
Ela o puxou para seus lábios e embrenhou a mãos em seus longos cabelos.
Oh, aquilo estava quente como o covil de Hades. Delicioso e pecaminoso. Com muita
dificuldade e com a voz entrecortada, ela soltou de seus lábios.
— Escada, acima.
Ele rosnou, segurou-a sob seu traseiro e seguiu pelas escadas.
— O que é isso que faz com sua garganta, parece um rosnado.
— É um rosnado.
— Parece feroz.
— Sou feroz.
— Vai me mostrar quão feroz é?
— Gosta de mim selvagem?
— Sim, eu gosto. Direita.
Ele rosnou novamente, entrou na porta à direita e caiu com ela sobre uma cama king size em
um quarto totalmente pintado e decorado de branco e preto.
Sua mão era quente como o fogo e ela gemeu quando ele tomou um seio em sua mão, mesmo
sobre a roupa.
O ritmo de seus dedos enviava pequenas descargas elétricas ao longo de seu corpo. Os
mamilos lhe endureceram e sentiu que o desejo a abrasava.
Konan moveu a cabeça, acariciando-a brandamente com a bochecha na sua, de tal forma que
o roçar de sua barba por fazer voltou a lhe arrepiar a pele.
Era delicioso, brando e, mesmo forte, a pressionava contra a cama com seu corpo, o carinho
na sua bochecha causou algo muito intenso nela.
Era quase contraditório e, para Konan, era o carinho de lobo. Seu lobo estava saltando dentro
dele e em completo desprendimento. Ele tinha uma fêmea abaixo dele e estava lhe fazendo o
carinho de lobo. Isso era uma grande coisa, mas Konan estava fazendo-o involuntariamente, não
percebendo seu significado ao fundo.
Ele somente queria tirar o máximo de prazer de estar com aquela mulher.
Moveu o quadril em seu centro e ela gemeu, sentindo quão duro e excitado estava, o que era
maravilhoso. Jamais havia sentido algo tão excitante como o peso desse corpo sobre ela, nem
tinha percebido um aroma tão embriagador como o daquele homem.
Ele fechou os olhos e deslizou a língua por sua mandíbula e desceu pelo seu pescoço e seus
seios e brincava com um mamilo sob sua boca enquanto ela enterrava as mãos em seu cabelo.
Ele o mordeu, fazendo-a contorcer-se debaixo dele.
Ele puxou o decote e quando seu seio estava livre, o colocou em sua boca e então as
sensações foram ao céu.
Ele tomou seu tempo, mordendo, lambendo, arranhando seus dentes e chupando com força.
Pressionou os dedos em seu sexo mesmo sobre a calça e ela já estava louca e ele mal a tinha
tocado.
Konan era feroz no que fazia, ele tocava em locais sensíveis que lhe causavam sensações
máximas e ele abriu seu cinto e suas calças deslizaram fora de suas pernas.
Ele levantou e tirou sua roupa e ela o ficou admirando, cada movimento de seus músculos,
enquanto tirou a regata e o sutiã.
Então ficaram se olhando por alguns minutos, observando o corpo um do outro e foi um
encantamento, porque ele a achou maravilhosa. Ia devorá-la.
Rosnou novamente e se ajoelhou sobre a cama e puxou a lateral de sua tanga, rasgando-a, o
que a fez ofegar e deslizou os trapos pelas pernas e jogou ao chão. Ele abriu suas pernas
lentamente e olhou seu sexo, que era depilado, e ele lambeu os lábios e olhou para ela, que
estava respirando com dificuldade.
Ele colocou a mão em seu seio e deslizou languidamente pela barriga, até seu sexo, fazendo
acender mais sensações.
— Maravilhosa — ele sussurrou encantado, com a voz rouca, carregada de desejo, o que a fez
adorá-lo.
Ele se abaixou abriu seus lábios e lambeu, forte e lentamente. Cassandra gritou, porque quase
teve um orgasmo, ela se moveu na cama, mas ele prendeu as pernas com as suas mãos fortes,
imobilizando-a.
Sim, ele era o que ela imaginou, um deus do sexo e era selvagem, a agarrava com aquelas
mãos fortes e, pelos deuses, ele sabia como mover sua língua e banquetear-se de seu corpo.
Estava claro que se ela descobrisse quem era ele, ou o que fosse, desmaiaria de terror. Um
pensamento chegou a ele e quase o fez retroceder, mas não pôde.
Uma pena, em realidade, ele pensou, porque mal tinha começado a tocá-la e pensava que
nunca mais poderia deixar seu corpo.
Mas já estava acostumado a que todo mundo o temesse e que humanas estavam fora de
qualquer relacionamento sério, então teria que dar as costas para ela no dia seguinte.
Era a maldição dos seus, era as suas regras.
Nesse instante, Konan a desejou com uma necessidade tão urgente que ficou petrificado.
Fazia muitos anos que não desejava uma mulher assim.
Ela explodiu num orgasmo feroz, gritou e Konan rosnou e fechou os olhos para deixar isso
entrar em sua alma.
Ele ergueu o rosto e olhou para ela, com o olhar semicerrado, cheio de fome, que parecia
insaciável e veio por cima dela, e sem deixar de olhá-la, beijou sua barriga, e deslizou a língua ao
redor de seu piercing em seu umbigo e rosnou, porque foi melhor do que tinha imaginado.
Como era bom realizar desejos e fantasias.
O rosto de Cassandra estava corado, ela estava gemendo e ofegante e se aferrou em seus
ombros quando ele deitou sobre ela.
Maravilhosa.
Ela abriu mais a boca, em busca de ar ao notar como sua ereção lhe pressionava o quadril e
ele direcionava seu membro em sua entrada que ainda estava fervendo, e pulsante de seu
orgasmo.
Arfou ao ver seu tamanho que era bem-dotado e piscou com medo que a machucasse, mas
não, ele entrou dentro dela, um pouco e buscou sua boca, para um beijo, olhando em seus olhos e
saiu e entrou.
Ela virou o rosto para o lado e ele elevou a mão até tocar sua mandíbula, bem debaixo da
orelha. Mais suave que o veludo, sua delicada pele esquentou os dedos e ele virou seu rosto.
— Quero que me olhe, Cassandra.
Ele a penetrou novamente e enterrou até o fundo. Antes de poder deter-se, inclinou-se e
capturou esses lábios separados com os próprios, roubando seu ar.
Konan grunhiu ante seu sabor e a sensação de estar dentro dela. Jamais tinha provado algo
mais doce que a doçura de sua boca e o calor de seu sexo, e como ela se aferrava a ele, quase
com desespero, selvagem.
Nunca tinha cheirado algo mais embriagador que sua pele com aroma de rosas.
Ele endureceu mais ao pensar que tão selvagem seria seu corpo tomado por trás.
E nesse momento, ele a desejou com uma urgência que o assombrou. Era uma necessidade
desesperada que não tinha sentido.
Os sentidos da Cassandra se alvoroçaram ao inesperado contato de seus lábios contra os dela.
Jamais tinha conhecido nada parecido ao poder e a fome de seu beijo e como entrava dentro dela.
Não era doloroso de machucá-la, era doloroso de sentir um prazer inenarrável se formar dentro
dela, havia um formigamento sob sua pele e era agoniante e precisava mais dele.
O débil aroma a sândalo grudou em sua carne, e ele tinha sabor de cerveja e a uma selvagem e
indomável masculinidade.
Bárbaro, sexy, maravilhoso.
Eram as únicas palavras para descrevê-lo.
Seus braços se flexionaram ao redor dela enquanto saqueava sua boca com maestria.
Rolando na cama, colocando-a sobre ele, seu cabelo desatou do coque e caiu sobre ele, que
gemeu.
E sim, ela começou a cavalgá-lo, ora devagar, ora selvagem, e ele queria tocar nela, em toda
parte.
Konan era letal para os sentidos de uma mulher. O coração de Cassandra batia
descompassado enquanto seu corpo inteiro ardia, desejando uma frenética prova de sua força
dentro dela. Queria dar-lhe tamanho prazer assim como ela o sentia. Queria agradá-lo.
Beijou-o desesperadamente enquanto descia e subia sobre seu sexo, sentindo-o inteiro dentro
dela.
Ele tomou seu rosto entre as mãos enquanto mordiscava os lábios com seus dentes e suas
presas, que fez retroceder para que ela não as percebesse e gemeu por estarem doloridas.
O que nunca tinha acontecido antes.
Aprofundou o beijo enquanto passava as mãos por suas costas, aproximando-a mais para que
pudesse sentir quão duro e pronto para gozar estava para ela.
Ela o sentiu completamente por todo seu ser. Cada hormônio em seu corpo chispou como
faíscas elétricas.
Desejava-o com uma ferocidade que a assustava. Quente e doloroso.
Deveria estar empurrando-o, mas em lugar disso, queria mais. Cassandra envolveu seus
braços ao redor dos ombros longos e duros como pedra e o sustentou com força e ele sentou na
cama, puxando-a mais para ele.
Mas uma vez que tivesse terminado com ela, Cassandra não o recordaria, assim esperava,
porque ele partiria e seguiria em frente, sem nenhum apego emocional. Não recordaria seu tato.
Seu beijo. Seu nome… Seu corpo só acalmaria ao dele por uns poucos minutos e depois já não
mais. Porque, assim como ele, pensava que a esqueceria, faria o mesmo.
Seu coração estaria na solidão, não haveria apego com ela, como sempre, como desejava.
Isso estava bem. Sem nenhum laço.
Ele rosnou, a girou e saiu dela; virou-a na cama, colocando-a de quatro e passou a mão em
sua garganta, puxando-a para seu peito e sussurrou em seu ouvido:
— Gosta disso, selvagem?
— Sim, eu gosto.
Ele deslizou seus lábios em seu pescoço, seus dedos, incitando-a, penetrando seu sexo e então
ele entrou nela, enquanto excitava o clitóris com os dedos. E começou seus movimentos
arrancando gemidos, ruídos e sussurros, palavras perdidas.
Konan rosnou porque, pelos deuses, tudo se moveu dentro dele, seu lobo saltava a ponto de
agonizá-lo e suas presas alongaram, dessa vez ao máximo e seus olhos cintilaram, e então ele
ficou mais feroz e bateu ferozmente arrancando um orgasmo de ambos, tão intenso que os dois
gritaram e doeu, inteiramente.
Konan ouviu que seu rosnado havia sido alto demais e ela se estremeceu e choramingou. Caiu
sobre ela, e olhou seu pescoço e a vontade que teve de mordê-la, de reivindicá-la, foi tão forte
que quase o fez sucumbir de sua vontade, ele chegou a cravar os dentes em sua pele, no ombro,
na curva de seu pescoço, mas voltou a cabeça para trás antes de perfurar a pele, rosnou e saiu
dela, tombando na cama.
E bem, a constelação inteira do céu pipocava diante de seus olhos.
Ambos estavam ofegantes, doloridos, extasiados, cansados, assustados.
O suor escorria de seus corpos e o cheiro do sexo se fundia, se misturava em suas narinas e
Konan esfregou o nariz com uma sensação estranha.
Seu corpo estava saciado de forma estranha e inusitada e ele olhou para ela, jogada na cama
de bruços com o rosto virado para o outro lado e ele queria ver seu rosto.
Carícias depois do sexo não eram seu forte, então não entendia por que estava com vontade
de fazê-lo.
Ele colocou as mãos sobre o peito para evitar tocar nela e o incomodou que ela estivesse tão
quieta, sem olhá-lo, sem dizer nada.
Milagrosamente, queria interagir com ela, então algo dentro dele foi mais forte e virou de
lado e deslizou a mão em suas costas.
Sua pele era tão macia, tão deliciosa.
— Você está bem?
— Sim.
Ela virou o rosto no travesseiro e o olhou e eles ficaram se olhando por um minuto longo
demais.
— Eu a machuquei?
— Não, foi maravilhoso.
Ele sorriu e ficou olhando-a.
E ela observou seu corpo, tomando atenção em suas tatuagens.
Tinha tatuada toda a parte esquerda do torso – por diante e por trás – e todo o braço com
estranhos símbolos celtas em cor vermelha e negra, com desenhos que ela não conhecia.
E tocou cada uma delas com a ponta dos dedos e seu tórax, e o lobo no outro braço.
— Agora descobriu o que havia debaixo — ele disse.
Ela sorriu.
— São lindas.
— Eu gostei das suas e particularmente gostei dessa.
Ele passou a mão em seu quadril e pousou mão na base de sua coluna que tinha uma tribal
com rosa vermelha e tinha um escrito embaixo em grego.
— O que diz aqui?
— É segredo, um dia eu te conto.
Ele sorriu.
— O que diz aqui? — perguntou ela mostrando um escrito em seu peito.
— Sou um lobo, dono da noite, dono de mim.
— Que língua é?
— Gaélico.
— Lindo.
Ele tinha um colar de ouro com um pingente e ela o pegou na mão e o olhou. Parecia um
pêndulo.
— O que significa?
— Um dia eu te conto.
Ela riu e se aproximou, beijou seus lábios. Segurando-a pela nuca e com a outra mão seu
quadril, puxou-a para ficar sobre seu peito.
Obviamente, desfrutava do fantástico espetáculo que tinha diante e ela ficou um pouco
encabulada com sua nudez, da maneira que a olhava, mas se sentiu desejada.
Já Konan não parecia sentir-se envergonhado por sua nudez.
Ela o olhava e lentamente deslizava a ponta dos dedos em seu peito.
Se deixasse que essas delicadas mãos o tocassem mais do que o necessário, estava perdido.
Em lugar de dizer, as levou à boca e beijou as palmas antes de voltar a prestar atenção na sua
garganta e seus seios.
O ar ao redor dela parecia sexualmente carregado. Virtualmente exalava erotismo e desejo.
Tinha acabado de fazer um sexo esplêndido e queria repeti-lo.
Konan exalava uma atração sexual desumana, como um afrodisíaco. Atraía-a de uma maneira
que nunca tinha sentido por outro homem.
Seus olhos se encontraram, e tomou posse de seus lábios com um beijo magistral que fez que
sua cabeça literalmente desse voltas. Ela soltou de seus lábios, ofegante.
— Tenho que ir — ele disse, mas as palavras não eram o que seu corpo e mente queriam
fazer.
— Mais um pouquinho deste pecado e eu o deixo ir.
Seu corpo se derreteu. Estava excitado novamente e ele pensou em ir embora e deixá-la, mas
ela deslizou sobre ele e tomou sua boca novamente num beijo e ele se perdeu na luxúria, porque
ela era deliciosa demais e ele a queria demais.
Tremendo por causa da força da paixão que o consumia, fechou os olhos saboreando a doçura
desse corpo que tanto desejava.
E ela tomou seu membro na mão acariciando e fazendo-o gemer pelo prazer e, assim, fizeram
sexo novamente.
Quando tombaram de cansaço, o entorpecimento que os tomou, foi maior que suas vontades e
ambos caíram no sono, ali, desgastados e abraçados, jogados entre os lençóis, exauridos e
saciados.
Konan não tinha tido nenhuma intenção de dormir na cama daquela mulher até o amanhecer,
mas seu corpo e sua mente o traíram, fazendo-o dormir profundamente.
Ele se espreguiçou, rolando na cama e parecia tudo maravilhoso e perfeito, pois estava numa
bruma do paraíso... até abrir os olhos.
Levou um susto tão grande de ver que não era seu quarto na Ilha dos Lobos ou o quarto que
dormia na mansão da marina que deu um salto fenomenal.
Atravessou o quarto e, aturdido, ainda tentando sair da bruma de seu sono, olhou ao redor,
pronto para uma luta, com as garras alongadas e as presas à mostra.
Ele olhou a cama, o quarto todo branco e ouviu o barulho de um chuveiro. Esfregou os olhos
e deixou toda a cena da madrugada entrar na sua cabeça e trazê-lo para sua realidade.
Konan estava no quarto de Cassandra. A humana.
Ele rosnou ao se dar conta da peripécia que havia feito, saltando como um lobo dentro do
quarto. E se a humana o tivesse visto?
Estúpido.
Voltou à sua forma humana e gemeu, porque seus dentes estavam doloridos e xingou
baixinho.
Olhou para uma varanda que estava aberta e o sol entrava clareando o quarto e as cortinas
balançavam com o vento. Ele foi até ali e espiou.
Uau! Tinha uma bela vista do mar e do lado direito tinha um morro com algumas casas
enormes cravadas nela.
Ele se virou e andou até o banheiro e espiou, e pelo boxe de vidro, viu sua silhueta nua,
banhando-se.
Pelos deuses, ele tinha entrado na cova do pecado e não sabia como sair.
Rosnou pelo prazer de ver sua imagem na penumbra da fumaça do chuveiro e vidro com
jateado e seu sexo estava mais vivo que nunca. Ficou aturdido, sem saber se entrava ou saía do
banheiro.
Devia ir logo. Se virou para partir, mas ela o interrompeu.
— Konan? É você? — perguntou ela com certo temor.
Ele odiou que ela se sentisse insegura.
— Sim, sou eu.
— Oh. Desculpe, não quis acordá-lo, estou no banho.
Pelos deuses, sua mente deu uma travada.
Devia dar meia volta e sair, mas não conseguia desprender seus olhos da sua sensual silhueta.
— Eu estou indo — ele disse com dificuldade.
— Não quer tomar uma ducha antes de ir?
Oh, panteão do inferno, ele gemeu.
— Não, obrigado, tenho que ir.
Ela abriu a porta do boxe e ele congelou. Nunca tomou banho com uma fêmea e não pretendia
começar agora.
— Venha.
Sem dizer uma palavra mais, ela estendeu a mão.
Konan viu suas vistas escurecerem quando a viu nua e molhada e o cheiro delicioso de seu
sabonete de rosas invadiu suas narinas.
Somente não saiu porque ele estendeu o braço e ela tomou sua mão e, lentamente, ele entrou
no boxe e debaixo da água. Ficaram se olhando encantados um com o outro, deixando a água
molhá-los.
— Bom dia... — ele sussurrou e ela sorriu.
— Bom dia.
Cassandra colocou xampu na mão e, para total espanto de Konan, ela lavou seu cabelo,
colocou condicionador e o enxaguou e ele continuava ali, perplexo, sem se mover, somente
sentindo aquele ato inusitado na sua vida.
— Sua mecha não sai, não é um aplique.
Konan a olhou e piscou aturdido, tinha sido pego, mas não se abalou.
— Não, é verdadeira, coisa de família.
— Oh...
Depois ela pegou o sabonete e lavou seu peito e lentamente deslizou as mãos pelo seu corpo.
A sensação foi deliciosa e Konan se sentiu cuidado e acariciado.
Eles eram completos estranhos e ele não entendia porque ela fazia isso com ele.
Acabando com seu controle, ela tomou seu membro na mão e ele gemeu ante suas carícias e
ela fechou os olhos para saborear e memorizar a sensação deliciosa que era tocá-lo. Ele adorou a
imagem dela nua na sua frente, acariciando-o e ele viu estrelas quando ela se ajoelhou e tomou
seu membro da boca, e deliciou-se com ele.
Konan se escorou na parede, porque por um minuto pensou que suas pernas não o
sustentariam e ela sabia usar sua boca para lhe dar prazer. E ele estava amando cada segundo.
Entre sugadas, lambidas e provocações, ela o deixou na borda, mas antes que ele gozasse, ele
a levantou pelos ombros, beijou-a loucamente e a virou de costas.
Cassandra se escorou com as mãos na parede e ele abraçou seu corpo, com uma mão
acariciando seu seio e com a outra a excitando em seu sexo. Gemeu quando um orgasmo se
formou dentro dela, e aquilo tudo era tão intenso e ela ficou na ponta dos pés quando ele
introduziu dentro dela.
Konan fechou os olhos para sentir e segurar seu gozo, porque podia fazê-lo somente de sentir
seu calor.
— Está bem?
— Sim, um pouco dolorida pela noite, mas bem.
— Quer que pare?
— Nem em um milhão de anos.
Segurou-a pelos cabelos da nuca e puxou sua cabeça para trás fazendo-a gemer, mas sem
machucá-la e deu-lhe um tapa em seu traseiro, fazendo soltar um arfado e contorcer-se.
— Isso é perfeito.
— Sim — ela choramingou.
Konan rosnou em seu ouvido, o que só a deixou mais louca e então ele a tomou, com força,
com poder, e ela teve uma certeza na vida: jamais esqueceria aquilo.
Quando seus gritos tomaram conta do local, seus ouvidos zumbiram e ela quase tombou ao
chão quando o orgasmo feroz a consumiu. Konan a segurou com seu braço forte e urrou pelo seu
orgasmo.
— Pelos deuses — ele gemeu, trincando os dentes.
Ele saiu dela, a virou contra seu corpo e sentou com chão com ela em seu colo, segurando-a
fortemente.
Nenhum dos dois podia respirar direito.
— Isso é que eu chamo de café da manhã — ela sussurrou esgotada e ele riu.
Konan beijou sua têmpora e ela se aninhou em seu peito e os dois ficaram ali, ainda com água
quente caindo sobre eles, e ele adorou tê-la em seu regasso, tombada em seu peito, saciada.
A sensação foi estranha, calorosa, e ela o beijou como um beijo dos anjos.
Era algo novo para ele, algo que sufocou sua garganta e era bom demais abraçá-la. Ele queria
mais disso.
Piscou confundido com seus pensamentos e olhou para o teto, tentando voltar ao seu prumo e
percebeu que sem se dar conta ele acariciava lentamente suas costas com uma mão e a outra sua
mandíbula.
Estreitou os olhos para o que ele próprio estava fazendo, era delicioso tocá-la assim tão
delicadamente, e ela parecia gostar disso.
Konan sorriu pelo bem que sentia. Gostava de acariciá-la, de agradá-la. Podia abrir uma
exceção uma vez. Estava bem um pouco de ternura com a humana, ele podia controlar a situação.
Sim, tinha total controle da situação.
— Gostaria de tomar café da manhã? — ela sussurrou e beijou seus lábios.
Café da manhã?
Konan piscou aturdido e sorriu.
— Não, obrigado, devo ir, já é tarde e tenho assuntos a tratar.
Ela sorriu e assentiu.
— Ok.
Ela levantou, terminou de lavar-se e saiu do boxe e Konan fez o mesmo e agradeceu quando
ela lhe estendeu uma toalha limpa.
Vestiu-se sem mais palavras, porque, de repente, um silêncio estranho havia caído sobre eles.
Ela o levou até a porta.
— Bem, então adeus.
— Adeus.
— Nos veremos por aí.
— Sim.
Por um momento, pensou em pedir seu telefone, mas não pediu, ele se abaixou e suavemente
beijou seus lábios e acariciou sua bochecha na sua, o que a fez suspirar e olhá-lo espantada.
Konan estava espantado consigo mesmo.
Novamente havia feito o carinho de lobo nela.
Droga!
— Foi muito bom conhecer você — ele sussurrou e ela sorriu.
— Igualmente.
— Cuide-se.
Ela assentiu e acenou um adeus.
Sem mais delongas saiu e montou sua moto e foi embora sem olhar para trás.
A noite tinha sido boa, mas acabava ali, pois já tinha aberto uma exceção com ela, que era de
dormir com quem transava... e tomar banho... beijo de despedida...
Ilha dos Lobos, Grécia

— Então, Harley, conseguiu alguma informação? Encontrou Hian?


— Não, já falei com todas as alcateias e nada dele. Ele não entrou para outra alcateia, Noah.
Se ele ainda mora nos Estados Unidos está vivendo sozinho, sem uma alcateia. Ele deve ter
mudado de nome, porque não consegui rastrear absolutamente nada dele depois de tudo. Suas
antigas contas estão vazias. E as pistas que consegui não era ele. Hian sumiu no mundo.
— Mas que merda! Deve haver um jeito de encontrá-lo.
— Sinto muito. Estados Unidos não é um país pequeno para procurar, pode estar em algum
rancho no meio do nada ou em qualquer outro lugar do mundo.
— Entendo, mas desistir de procurar parece que desisti dele e não posso fazer isso. Ele é um
dos nossos.
— Ele pode estar morto.
— Não acredito nisso.
— Vou continuar tentando, mas depois de todo este tempo, acho improvável. Se ele não
quiser ser encontrado, não será.
— Obrigado, Harley.
Noah desligou o celular e respirou fundo.
— Quem está procurando, Noah? — Ester perguntou.
— Um amigo, de muito tempo.
— Por que quer encontrá-lo? Parece preocupado.
— Estou tentando juntar os cacos.
Ester não entendeu e foi perguntar do que ele estava falando, mas Konan entrou na sala e
colocou as caixas de vinho sobre a mesa da sala e sorriu para ela.
— Aqui está sua encomenda, alfa.
— Oh, obrigada. Esse vinho é muito bom. Então, já que fez a gentileza de ir buscar em
Atenas umas caixas para mim, estas são suas.
Ester pegou duas garrafas e deu a ele.
— Não era necessário, alfa, mas obrigado, também gosto desse vinho.
— Oh, de nada. Então, Konan, como foram esses dias que esteve na costa de Atenas?
Divertiu-se?
— Um pouco, alfa.
— Hum... que bom, e por acaso você não encontrou nenhuma humana bonita e inteligente
para manter?
— Não encontrei e não quero encontrar. Quando tomar uma companheira, será uma loba e
não uma humana.
— Humanas podem ser boas companheiras, não pensa assim? O que podemos esperar dos
deuses quando planejaram sua companheira? Tenho certeza de que será linda e o fará muito feliz.
— Uma loba, pois se for uma humana, eu não a aceitarei.
— Por quê? O que você tem contra as humanas, Konan?
— Ester, deixe-o quieto, ele não gosta desse assunto — Noah disse.
Ester olhou para Noah e depois para Konan, dessa vez com o olhar diferente.
Eles sempre brincavam e faziam alguma gozação com ele porque ele sempre fazia questão de
criticar quando os lobos haviam tomado suas companheiras.
— Konan, o que aconteceu?
— Nada, alfa, somente que humanas não são para mim. São fracas e falsas.
Ester se espantou.
— Salvo raras exceções. Noah teve sorte, Erick e os outros também, mas elas não são para
mim. Eu realmente aprecio sua preocupação comigo e sei que quer me ver feliz, mas, por favor,
não fale mais sobre isso, ok?
— Ok. Desculpe, eu não sabia que isso irritava você dessa maneira.
— Eu sei, poucas pessoas sabem. Se me der licença, tenho coisas a fazer em casa.
Konan foi embora e Ester olhou para Noah que, conhecendo sua companheira, já sabia que se
meteria no assunto.
— Não pergunte — Noah disse.
— Mas eu somente quero ajudar.
— Eu sei, doçura. Eu amo seu narizinho arrebitado e enxerido, mas deixe Konan sossegado.
— Há um motivo sério pelo qual Konan não gosta de humanas?
— Sim.
— E você não vai me contar?
— Não.
— Sabe que sou boa em persuadi-lo, não sabe?
Ester andou até ele, lenta e movendo-se como uma cobra pronta para dar o bote e Noah
rosnou.
— Não vai me convencer.
Ester riu e se escorou nos braços cruzados dele.
Noah rosnou novamente sentindo a excitação tomar conta dele.
— Posso ser bastante generosa.
— Não vai me convencer.
Ela riu novamente, pegou sua mão e colocou um de seus dedos na boca e o chupou,
maliciosamente o olhando com o olhar quente.
— Tenho que ir, tenho trabalho.
Mas ele não se moveu e ela colocou o outro dedo na boca.
Noah rosnou novamente.
— Temos sorvete de pistache... — ela sussurrou.
Noah soltou uma gargalhada, rosnou e a pegou no colo.
— Você é uma companheirinha muito ardilosa.
— E você ama muito esta ardilosa.
— Com todo meu coração, mas você não vai me convencer a te contar os segredos de Konan.
Ela riu e o beijou, abraçando-o pelo pescoço.
— Isso veremos.
Ele riu novamente e, com um salto, aterrissou no alto das escadas do segundo andar e a levou
para o quarto.

Konan foi até a cozinha de sua casa, abriu uma das garrafas de vinho e colocou numa taça. Já
que havia ganhado a bebida ela viria a calhar.
Suspirou e deu uma olhada ao redor em sua casa. Era grande, bonita e agradável, mas agora
lhe pareceu um pouco seca e fria.
Gostava de sua casa, espaçosa com os móveis necessários para uma boa decoração, singela ao
seu gosto, máscula.
Olhando ao redor, ele pôde perceber que nada havia de enfeites delicados, ou algo que uma
mulher colocaria ali. Ele pensava que elas gostavam de mimos, como Jessy, quadros bonitos ou
aparadores de rendas, talvez de algum abajur menos monocromático que o seu, que era marrom
de balaústre alto ao lado do sofá marrom.
E, pela primeira vez, ele se deu conta que não havia muita cor na sua casa. Tudo era bonito,
elegante e sóbrio, como ele tinha preferido, pois era de seu gosto.
Os quadros nas paredes eram abstratos e de poucas cores, não havia vasos com flores ou
tapetes coloridos, como havia na casa da alfa ou de Erick.
Não que isso somente fosse assim por causa de uma mulher, mas ele achava que as mulheres
gostavam de enfeitar mais a casa do que um homem.
Queria ter suas antigas fotografias para olhar, mas elas haviam sido perdidas depois que sua
casa foi vendida a um humano.
Todas suas lembranças e sua vida haviam sido arrancadas dele e tudo o que tinha era a imensa
e profunda caixa preta do seu cérebro.
Ele tinha ficado tão furioso quando foi libertado dos laboratórios e soube que não poderia
voltar para casa, que suas coisas haviam sido removidas e outras pessoas haviam tomado posse
de sua propriedade e ele quase havia perdido sua mente novamente.
Queria voltar lá e matar todos e tomar sua casa de volta, mas Noah não permitiu, pois o
maldito que havia feito aquilo, havia feito muito bem feito, e teriam uma confusão para ter tudo
de volta, seus pertences pessoais haviam sumido, talvez queimado tudo.
Maldito Joan.
O que lhe restou fazer era seguir os planos de Noah, descobrir sobre os bastardos e tomar o
dinheiro de volta, pelo menos, para reconstruir uma nova vida.
Ele tinha tomado uma boa soma de dinheiro, mas as partes arrancadas de seu coração não
voltariam, nem daquela casa da Irlanda, nem dos outros lugares que estivera.
Mas havia muito tempo, muito tempo antes de ser capturado e trancafiado pelos laboratórios
humanos, que sua vida estava em pedaços e somente seguia em frente, aceitando todos os tipos
de adversidades que a vida oferecia para os lobos e estava cansado.
Queria encontrar um pouco de paz para seu coração, para sua alma.
Era um guerreiro, um lobo forte, que não choramingava pelo leite derramado, não contava
lamúrias para os outros lobos ou se vitimava. Ele era forte e estaria bem.
Prático e comprometido com suas tarefas e com sua família, sua alcateia, que era somente o
que lhe tinha restado, porque não havia sobrado ninguém de sua família de sangue, estavam
todos mortos. Sua própria família não existia e ele nem tinha tido tempo de formá-la.
Noah não tinha nenhuma queixa sobre ele, sabia que o admirava, confiava nele e podia contar
com ele em todas as horas.
Mas até mesmo os mais fortes guerreiros forjados no calor da batalha têm uma alma, um
coração e, em algum momento de sua vida, pode topar com as lembranças e isso poderia doer.
Ficou se lembrando de seu passado, tantos anos atrás, e uma dor atingiu seu coração.
Aquela nostalgia que estava o acometendo nos últimos tempos não estava lhe fazendo bem,
porque uma ferida que estava enterrada e cicatrizada parecia querer sangrar.
Ele não queria ressuscitar as lembranças mortas, mas elas surgiam na sua mente sem aviso.
Talvez fosse bom expurgar suas mágoas.
Ainda podia ouvir os tiros e bombas explodirem na sua mente. Os gritos e correria para todo
lado.
O problema não era se lembrar do dia que foram presos, o problema é que sua mente estava
embaralhando e misturando suas memórias. Uma de pouco mais de dez anos e outra há setenta e
seis anos.
Respirou fundo afastando suas memórias, tomou um enorme gole do vinho e foi até a varanda
que tinha uma bonita vista da ilha. Abriu as portas de vidros e respirou fundo para inalar o cheiro
da maresia do oceano e ouvir o som do mar.
Sua casa ficava mais afastada da praia, mas era de dois andares e a área embaixo que ele tinha
separado para fazer um jardim, continuava do mesmo jeito.
Ele olhou para o lado e viu a casa de Ronan e Naya e seu bonito jardim, suspirou e bebeu
mais um gole.
Flores, coisas de mulheres.
Mas as floreiras no jardim de baixo e dos enormes vasos de cimento sim, estavam floridos,
com flores vermelhas, amarelas e muitas plantas que ficavam belas na primavera. Isso era porque
a alfa Ester fazia questão de que houvesse muitas flores e as lobas da ilha também gostavam.
Todos os caminhos que levavam de uma casa a outra eram floridos.
Se tinha uma coisa que ele achava bonito eram os jardins das casas dos lobos sempre bem
cuidadas.
Agora, com a primavera no seu auge, a ilha estava viva novamente. O inverno tinha sido um
tanto rigoroso e a neve havia coberto a ilha e seus jardins.
Isso lhe trouxe um pouco de nostalgia e saudade de sua terra natal: a Irlanda.
Sua casa carecia de um pouco de cor, pois parecia uma cela. Era como parecia seu coração,
uma cela vazia e fria e ele entendia bem de celas, pois tinha passado muito tempo dentro delas.
Tempo demais.
Agora que pensava nisso, tinha que admitir que a vida como um lobo tinha momentos de
profunda solidão. E se sentia um pouco cansado disso e algo tinha acontecido porque nas últimas
semanas alguns sentimentos dele, que estavam enterrados, estavam vindo à tona e ele não
gostava disso. Não entendia o motivo.
Ele lembrou-se de Cassandra e seu sorriso maravilhoso, a forma que o olhava com tanta
fome, tão linda e desprendida, e fazia dois dias que a tinha tido debaixo dele, que tinha beijado
sua boca e tomado seu corpo, mas seu cheiro parecia ainda estar impregnado na sua pele e ela
não saía de sua cabeça.
Se não soubesse melhor diria que aquele sentimento que o afligia no peito quando recordava
dela seria uma saudade.
Sorriu para si mesmo lembrando-se de seu cabelo exótico, suas tatuagens, suas brincadeiras
com a lente de contato.
Tão bela e tão maravilhosa, tão parecida com uma loba.
Talvez por isso que ela chamou tanto sua atenção.
A lembrança do sorriso de seu rosto se arrastou ao seu coração de guerreiro.
Tempos atrás, tinha esperado com ilusão, retornar ao quente abraço amoroso de uma mulher,
ao consolo de um amor, de uma companheira, mas agora, isso parecia tão distante, mas ele
mesmo tinha afastado todas as conjecturas sobre o assunto.
Agora, depois de uma batalha, se necessitasse de sexo, teria que encontrar uma desconhecida
por aí enquanto outros lobos corriam para os braços de suas amantes, suas esposas.
Ele também costumava se exercitar muito na academia, praticar seu boxe. Nadar e correr
como lobo.
Tinha sua atenção redobrada na segurança da ilha. Sua ilha e sua alcateia era mais importante
que tudo.
Ele não tomaria uma companheira, não desviaria sua obrigação com sua alcateia, porque tinha
feito um juramento, mais um deles e não poderia quebrá-lo nunca.
Ele gemeu porque suas memórias o abalaram.

— É jovem e tolo! — disse seu pai. — Deixa que seu coração te governe. Se insiste em fazer
isto, então nunca poderá apagar a vergonha que me fez passar. Será visto como nada mais que o
ridículo filho de um lobo fraco. Agora retorna a esse salão e aceitará o acasalamento com
Dainne. E vai lá e vai cumprir a ordem que o alfa te deu.
— Não — Konan disse firmemente.
— Está jogando a honra de nossa casa fora por uma humana!
— Eu a amo, não posso matá-la.
— Se não fazes, Konan, o alfa vai te punir e nosso nome vai à desonra. Você quase morreu!
— Não. Ela é inocente, estava assustada, não posso matá-la por isso.
— Ela quase te matou, ela quase matou a todos nós e você não pode ir contra a ordem do
alfa, ele pode te banir, Konan.
— Se vais contra a ordem do alfa, seu castigo será terrível, não pode fazê-lo, Konan. Além do
mais, essa humana já provou que te teme — sua mãe disse, intrometendo-se na discussão.
— Sou seu pai e não irá contra minhas ordens, entendeu? Por sua culpa tenho uma grave
ferida na perna. Sua culpa. Porque não estavas onde deveria estar. Cuidando de tua alcateia.
— Seu alfa te deu a honra de matá-la, porque poderia ter mandado os executores a sua casa
para estripá-la a ela e sua família por saber de nós. Mas é tua obrigação fazê-lo.
— Tudo bem, farei o que me ordenam. Tomarei conta da humana e me acasalarei com
Dainne.
— Bom.
Sua mãe o olhou e percebeu algo em seu olhar.
Konan tinha a aparência distante, longínqua que tinha cada vez que olhava através do
mundo humano.
— Os deuses não fazem companheiras humanas, Konan. Olhe para si mesmo e saberá o que
tem que fazer. Ser um lobo requer sacrifícios. Não pode se acasalar com uma humana, muito
menos depois do que ela fez. Os deuses não permitiriam tal coisa.
— Mas há as lendas...
— Tolices, somente tolices. Lobos não se misturam com os humanos. Isso somente pode
trazer sofrimento.
Konan amaldiçoou.
— Dainne é uma boa loba e será uma grandiosa aliança para nossa alcateia. Ela gosta de
você. É filha de um poderoso beta e os alfas acordaram sua união. — O pai resmungou
amargamente. — O alfa pediu e você o fará.
— Vai assegurar a paz entre nossos povos e você deve obediência. É muita responsabilidade
— sua mãe disse.
— Já ouvi — Konan rosnou.
— Sei que pensa que a ama, mas não, filho, não conhece o amor de companheiros, isso que
tem é uma ilusão, uma paixão e ela morrerá em breve por ser humana. Uma companheira deve
ser forte e esta menina é uma criança que não nos entende e nunca poderá ser uma loba,
nenhuma humana pode. Nunca deixe que nenhum humano te conheça. Nunca lhes dê uma
oportunidade para descobrir que não envelhece como os outros, te mova pelas sombras, sempre
vigilante, sempre alerta e jamais entregue seu coração, porque assim terá uma debilidade e seus
inimigos o usarão contra ti. Será sua fraqueza e sua destruição. Um lobo não pode ser fraco.
— Sim, pai.
— Nossas batalhas são numerosas e deve escolher as batalhas que lutar e deve voltar para
casa vivo e cuidar dos seus. Lobos. Só lobos. Seu amor por esta humana não pode ser possível,
porque ela vai te levar à morte. Principalmente porque ela não aceita a fera que és. Nenhum
humano o faz.

Konan rosnou e dissipou suas memórias.


— Nunca tomarei nenhuma humana como companheira. Nunca —disse para si mesmo.
Ilha de Alamus, Creta

— Merda... — Alexander gemeu, tentando flexionar os dedos, devagar.


Pegou uma pílula de um vidro e a tomou com um pouco de água.
— Não estou familiarizada com a maioria de seus palavrões modernos.
Ele virou sua cadeira e sorriu lindamente, olhando para Yasmim.
— Faria uma reverência respeitável, como merece, se não estivesse nessa cadeira.
Yasmim se chocou com o tanto que ele tinha perdido da fala desde a última vez que o viu.
Falava muito mais devagar, se esforçando em falar, embolando a língua.
Sua cabeça estava escorada em um travesseiro e soube que já tinha dificuldade de mantê-la
ereta. Sua doença estava avançando rapidamente.
Ele era tão lindo, com seus lindos olhos azuis, seu cabelo loiro e sua pele alva, que parecia
não tomar muito sol. E estava definhando. Ela sorriu, escondendo a dor que isso lhe causava.
— Oh, bobagem, pensei que tínhamos combinado que deixaria de formalidades nas nossas
aulas de internet.
— Por que quer aprender internet se pode ver tudo numa bacia de água e com algumas
palavrinhas mágicas?
Ela riu, veio perto dele e beijou sua bochecha e acariciou sua mandíbula.
— Porque assim não teria graça. Nem tudo pode ser usado magia e fica aborrecido.
— E a que ano estamos brindando dessa vez? — disse indicando sal roupa.
— Oh, gostou? Acredito que é 1950.
Ele sorriu olhando sua roupa. Usava uma calça lápis branca, curta até acima das canelas, uma
sapatilha preta, uma blusa justa de malha, sem mangas e uma gola alta e usava um rabo de cavalo
com uma franjinha.
— Acho que se parecia com isso mesmo. Está linda.
— Obrigada.
— Sua mãe sabe que vem me visitar?
— Não é que deveria pedir permissão, não sou mais uma menina, tenho mais de dois mil
anos.
— É, sempre me esqueço desse detalhe.
— Está abatido.
— Não me sinto bem hoje.
— Quer que me vá?
— Não, sua companhia me faz bem. Se não te importa.
— Não tenha medo, Alexander, tudo ficará bem. Vai melhorar.
— Tenho tentado ser um bravo soldado. Mas como diz um ditado: “Não se pode ser bravo se
não conhece o medo e o vence”.
— O medo é um dos sentimentos mais difíceis de vencer. Você sempre os venceu.
— E você venceu os seus?
— Tenho meus próprios medos. Um deles é aprender a dançar esta música moderna.
Seu sorriso se formou totalmente. Alexander amava como ela era divertida. Uma boa
mudança de mares para ele, pois tinha feito uma amiga na festa de Clere e ela vinha sempre para
vê-lo.
E ele estava ansioso por vê-la todos os dias.
Pelos menos, ela afastava suas aflições, mas havia outras se formando no coração de
Alexander. Não poderia se apaixonar, pois não tinha um futuro para construir.
Mas ela era um sopro de vida, e ouvir sua risada era como ouvir o melhor tipo de sinfonia.
— Eu pesquisei isso antes de sair, assim eu sabia um pouco o que esperar da nossa aula de
hoje. Eu não preciso de ajuda para fazer papel de boba na sua frente, estou tentando fazer lição
de casa.
Fez uma bola com o chiclete e deu um sorriso maroto e ele riu, então isso a divertiu.
— Você também vira uma loba?
— Sim, minha mãe me transformou em uma depois que fomos para Kimera. Eu nasci
humana.
— Gosta disso?
— Eu gosto.
— Acho maravilhosa essa magia. Sami se transforma para eu ver.
— Um dia mostrarei minha loba para ti. Gostaria?
— Sim, eu gostaria. Lobos são poderosos, misteriosos e selvagens. Gosto do conceito, sem
contar que tem todo esse negócio de alcateia, eu tenho lido sobre lobos e estudado como agem
aqui em Alamus.
— Acho legal dizer que você tem um espírito de um lobo.
— Acha? — ele perguntou espantado.
— Um lobo é, acima de tudo, um guerreiro e você é um.
Ele gemeu e se recostou mais na cadeira.
— Me sinto mais um velho no momento.
— Você está com frio? — ela perguntou, virando para ele e passando as costas dos dedos
para cima e para baixo no seu braço, como se testasse a temperatura da pele e isso acalmou
Alexander instantaneamente. — Aqui, vamos te aquecer um pouco — disse ela e pegou uma
manta que estava numa cadeira e colocou sobre suas pernas.
— Gentileza sua.
— Está melhor?
— Estou muito melhor, obrigado. Por que vem aqui me ver?
— Porque somos amigos. E prometeu me ajudar a aprender internet e jogar videogames.
— É uma princesa.
— E daí?
— Garotas normais não querem ser minhas amigas e por que uma princesa, loba e sei lá mais
o que quereria?
— Porque eu gosto de você e gostaria de estar por perto. Se não tem amigos, muitos, pelo
menos, pensei que gostaria da minha amizade. Minha companhia te aborrece?
— Não... na verdade me agrada muito e estou feliz que não tenha preconceito comigo.
— Por que teria?
— Por eu ser assim, estar nessa cadeira e sei que...
— Não me importo.
Alexander a olhou aturdido e nunca tinha visto tamanha beleza e doçura. O mundo que tinha
vivido, cercado de médicos e tubos de ensaio tinha tornado sua vida vazia e fria e somente tinha
tido carinho de Sami e seu tio. Nada mais que isso.
— Você parece ser tão sábia.
— Tenho mais de dois mil anos, sou uma velha, devo ter aprendido uma coisinha ou outra.
Ele riu e seu coração bateu forte no peito.
— Parece ter minha idade.
— Mágica das fadas nos mantêm novos em Kimera.
Ele sorriu, encantado.
— Então, vai me ensinar como funciona este tal de Youtube ou terei que consultar os astros?
Ele riu e se sentiu feliz, muito feliz, como há muito não se sentia. Aproximou-se com a
cadeira de rodas computadorizada na frente do computador e houve um silêncio na sala.
— É preciso perder tudo para ganhar tudo — ela disse, de repente.
— O que quer dizer? — perguntou confuso.
— Estamos perto do Solstício e os ventos estão agitados. O mundo da magia está abrindo
suas portas. A natureza está trabalhando.
— Isso é ruim?
— Algumas coisas irão acontecer, alguns ciclos irão se fechar e outros irão abrir.
— Não é assim que a vida é?
Ela o olhou e sorriu.
— Sim, é assim que a vida é e é assim que o mundo dos lobos e bruxas se unem ou se
separam.
— Devo estar preocupado?
Ela o olhou e tomou sua mão.
— Às vezes é necessário alcançar a redenção para ser feliz. Algumas dores são necessárias,
Alex, elas vêm e vão, mas tudo no universo anda como deveria ser.
— Entendo, eu acho — disse triste.
Sim, ele deveria ser um vegetal numa cadeira, enquanto o mundo vivia, e carregar a vergonha
de ter um pai assassino nas costas.
— Um dia... você me levaria no seu mundo? Em Kimera? Gostaria de conhecer. Acho que
seria divertido.
Ela sorriu.
— Seria e o levarei, prometo e não, não sei a sua pergunta.
— Pergunta?
— Está pensando se poderia ser curado por magia.
Alex ficou estupefato.
— Você leu minha mente?
— Sim, eu li.
— Isso é... legal, não, acho que não é legal.
Ela riu.
— O curaria se eu pudesse, Alex.
Ele fechou o sorriso.
— Está tudo bem, Yasmim. Eu já não penso que me curarei.
— Não pense na morte assim, Alex.
— Ela está vindo por mim. Eu sinto. Está tudo bem. Só espero que Sami e meu tio fiquem
bem.
— Você é bom. Tem um bom coração.
— Lamento que agora que te conheci eu esteja partindo. Mas valeu a pena cada segundo.
Yasmim sentiu vontade de chorar, mas não disse nada.
Ele sorriu, mas seu sorriso não foi pleno e Yasmim lamentou por ele, respirou fundo e tentou
afastar a nostalgia.
— Bem, vamos ver estes vídeos e te ensinar uns truques de internet.
— Vamos, por favor — ela disse respirando fundo, espantando a tristeza e se mostrando
animada.
Alex se voltou para o computador, mas Yasmim o olhou sentindo sua dor. A dor de quem não
via a vida pela frente e quem tinha uma dor forte no coração, mais do que alguém poderia supor.
Ele pegou o mouse e sentiu dificuldade de clicar e ele tirou a mão.
Yasmim segurou sua mão e beijou o dorso.
— Não se preocupe, isso vai melhorar.
— Como sabe? Estou piorando a cada dia.
— Tenha um pouco de fé, humano, a vida pode te surpreender. Não se apresse, temos tempo,
a tarde toda, e gostaria de um pouco de pipoca e a tal Coca-Cola.
Ele sorriu e se sentiu vivo e revigorado e então ligou o Youtube e eles passaram a tarde entre
risadas e vídeos de músicas, pesquisas, viagens, desvendando o mundo através do computador.
Essa era a única maneira que Alexander podia desvendar o mundo. Mal sabia ele que o
mundo o surpreenderia.

Petrus entrou no seu quarto e sorriu quando viu Sami somente de calcinha e sutiã, escolhendo
uma roupa no guarda-roupa.
Ele chegou por trás dela e a abraçou, deslizando suas mãos em sua barriga e beijando seu
pescoço, roçando todo seu corpo nela.
— Hum, como é agradável encontrá-la assim, seminua. Minha companheira é tão deliciosa.
— O esperei para que tomássemos banho juntos.
Ele a girou e a encostou na porta do guarda-roupa, beijou-a como se não houvesse amanhã e
se afastou, soltou um suspiro e escorou as duas mãos entre as laterais de sua cabeça e a olhou
com um sorriso safado.
— Demorei, mas cheguei, podemos dar início ao nosso plano de uma sessão de sexo na
banheira.
Ela sorriu e foi abrindo sua camisa. Se mantendo na mesma posição, ele esperou que ela o
torturasse com seus gestos demorados para abrir os botões, então olhou para seu corpo de forma
luxuriosa e franziu o cenho quando viu um pequeno curativo em seu braço.
— O que é isso no seu braço?
— Nada.
— Se machucou?
— Não, somente tirei um pouco de sangue.
— Quem tirou seu sangue?
— Papai.
— Por quê?
— Nada de mais, somente fazendo uns testes.
— Que testes?
— Coisas de cientistas, Petrus, deixe quieto.
Ele se empertigou, se afastou e a olhou seriamente e sua mente ficou um pouco turva. A
palavra cientista lhe causava um embrulho no estômago e seu corpo ficava todo alerta.
— O que seu pai está fazendo, Sami?
— Ele está fazendo algumas experiências e eu cedi um pouco do meu sangue para isso,
algumas ampolas, nada de mais. Vamos tomar banho?
Ela foi sair, mas ele a segurou pelo braço e a trouxe de volta na sua frente.
— Seu pai está fazendo o quê?
— Testes.
— Com seu sangue?
— Bem, eu pensei em pedir para algum lobo me dar sangue, mas primeiro ele vai fazer as
experiências com o meu e se não...
Petrus não a deixou terminar de falar, rosnou tão forte que ela se assustou e deu um passo
atrás, batendo na porta do guarda-roupa.
— Petrus!
— Seu pai está fazendo experiências com sangue de lobo na minha ilha? — gritou.
— Bem, dizendo assim soa um tanto ruim, não...
— Sami! Nesta ilha não há e nunca haverá nenhum teste, experiência ou qualquer coisa
relacionada a isso com nenhum lobo e muito menos com você.
— Meu pai está querendo ajudar, precisamos...
— Não.
— Petrus...
— Eu já disse que não! Seu pai tem permissão para ficar na minha ilha, mas suas experiências
com lobos são proibidas. Onde Godbert anda com a cabeça?!
— Meu pai é um cientista, Petrus, eu sou uma cientista!
— Pois faça experiência com o que quiser, com lobos não!
— Você não entende...
— Depois de tudo que passamos por causa destas merdas de laboratórios e experiências, você
ousa querer fazer experiências e testes em lobos, na minha casa?!
— Esta casa também é minha.
Petrus espremeu os lábios e rosnou baixo em advertência.
— Não, Sami, a resposta é não, nunca, jamais! Harley nem deixou seu pai testar Pietra para
descobrir sobre sua doença, acha mesmo que eu vou deixar você ficar se picando e cortando para
fazer testes? Pense de novo.
— Bem, não pode anular o que eu sou, Petrus.
— Faça a experiência que quiser, mas nada que inclua te cortar.
— Acontece que o sangue é meu e eu vou dar a ele a quantia necessária para que consiga
fazer a porcaria do soro!
— Que soro?
— O que mantém Alexander vivo! — gritou.
Petrus piscou atordoado.
— O quê?
— O soro dele acabou, meu pai está tentando fazer mais, mas ele não tem os equipamentos
necessários, eram especiais e com o que temos não está funcionando. Ele já está começando a
perder o controle motor, seus dedos estão fracos e somente vai piorar. Dei meu sangue a ele para
suas tentativas e pensei em pedir de um lobo legítimo para ver se pode ser feito.
— Sami, Alexander foi o motivo desta merda toda que arruinou a vida de muitos lobos, sinto
muito que isso acabou para ele, mas aqui na minha ilha esta droga de soro, ou seja lá o que esteja
necessitando, não será feita. Nenhum de meus lobos será cobaia de testes, muito menos você.
Avise ao seu pai, que se quiser continuar morando aqui, pare imediatamente.
Petrus girou nos calcanhares para sair do quarto quando Sami disse com a voz embargada:
— Eu não vou parar, porque não vou deixar Alexander definhar e morrer!
Petrus parou na porta e a olhou sobre o ombro.
— Até onde está disposta a chegar, Sami? Até onde seu tio chegou? Vai começar a meter-nos
em jaulas também?
Ele saiu do quarto e ela arfou com o que ele disse e as lágrimas escorreram pela face.
Não sabia o que fazer.
O que as pessoas eram capazes de fazer para suprir suas carências e para salvar quem amava?
Ela sabia o que seu tio havia feito.
Só não sabia o que ela faria para salvar Alexander.
Konan estava andando aos fundos do clube de recreação, com um fuzil pendurado no peito, e
olhava atentamente ao redor, usava óculos escuros e seus cabelos estavam presos num rabo de
cavalo.
Aquele era um dos dias que todos estavam mobilizados. As lobas e as crianças estavam no
clube com atividades para se divertirem, e tomarem o almoço e lanche da tarde e os homens
estavam de prontidão, escondidos, ocultos, na maioria supervisionando a equipe de humanos que
estava na ilha.
A equipe de limpeza era grande, rápida e eficiente, eles entravam nas casas e com produtos e
materiais especiais e de coordenada ajuda, um ao outro, faziam a faxina.
Noah tinha demorado a confiar em contratar este serviço, mas Konan tinha o convencido que
seria bom para todos.
Durante todos os meses que tinham usado a equipe, tudo tinha saído bem. O dinheiro
astronômico que pagavam deveria lhes dar segurança que tudo seria muito sigiloso, rápido e
discreto.
Os funcionários entravam mudos e saíam calados, respeitando a uma rigorosa cláusula de
contrato e teriam contato com pouquíssimos homens, que saberiam ocultar quem eram.
Konan havia trocado de atividade, pois ele sempre ficava no encargo de conferir os humanos
no píer, mas estava zangado e irritado e não queria interagir com nenhum humano naquele dia.
Tinha ido ao clube Olimpo e passado raiva com Cassandra. Não. Ponto final com a humana,
tinha se dito, o imbecil.
Ele rosnou quando se lembrou do acontecido. Tinham paquerado toda a noite e o tesão e
luxúria entre eles haviam explodidos descontrolados.
Ela o levou para seu escritório e ele a tomou sobre a mesa. E tinham caído sobre um sofá que
havia na sala e se embolado no chão.
Então, depois de tudo, ela fez uma proposta ridícula: que fosse seu leão de chácara, seu
segurança.
Konan ficou desconcertado.
Primeiro, porque tinha jurado que não iria mais ao clube e falhou. Segundo, que transou com
ela de novo. E terceiro, tinha a ignorado e ido embora, negando seu pedido de ajuda para ser
segurança no seu clube.
Então Konan estava irritado, dolorido e rosnava o tempo todo, ele só não sabia por qual dos
motivos que estava mais zangado, pela proposta ridícula ou por ter sido fraco e ter ido atrás dela
e a fodido no escritório.
Pelos deuses, estava atordoado, mas ela não saía da sua cabeça, então tinha delegado funções
para Liam ir fazer as compras em Atenas e, hoje, no dia da faxina, Zian cuidaria do controle de
entrada e saída dos humanos, enquanto ele ficaria quieto no seu canto, na Ilha dos lobos, somente
entre os lobos.
Nada mais de humanos loucos.
Uma humana louca e deliciosa, em particular.
Ele rosnou e andou de um lado a outro, olhando ao redor como uma fera pronta a assassinar
qualquer humano que se aproximasse do clube.
— Konan?
Konan tocou no intercomunicador em seu ouvido.
— Sim?
— O barco com os humanos já deixou a ilha.
— Correu tudo bem?
— Sim. As lobas já podem voltar para suas casas.
— Obrigado, Sasha.
Konan foi até o grande salão onde guardavam seu armamento pesado, que mais parecia um
depósito do exército, e guardou seu fuzil ali.
Tirou seu colete Kevlar e sua roupa.
Apertou o intercomunicador que tinha na parede que chamava no andar de cima.
— Kirian — ele disse atendendo o interfone.
— Avise a todos no clube que estão liberados, os humanos já foram.
— Ok, Konan, obrigado. Escoltarei a alfa e Lucian até sua casa.
— Obrigado.
— Mandarei uns bifes para ti para o jantar.
— Obrigado, homem.
Konan desligou, saiu do clube e se transformou em lobo e correu para sua casa. Era do outro
lado da ilha, então aproveitaria para fazer sua corrida. Ele adorava correr, sentia-se realmente
contente ali e seguro.
E assim, já gastaria um pouco de sua energia que estava se acumulando em seu corpo.
Rosnou e correu mais rápido, porque estava pensando que estava excitado o tempo todo nos
últimos dias e estava sendo incômodo demais. Não sabia o que estava errado com ele.
Mas isso não era que estava doente ou algo, estava era com vontade de retornar a Atenas e
rever Cassandra.
Só de pensar nela o deixava louco.
Konan entrou na sua casa em forma de lobo e parou na sala e rosnou, porque havia algo
errado.
Tinha cheiro de limpeza, de humanos e...
Konan se transformou em humano e olhou ao redor com o cenho franzido.
— Mas que merda...
Não podia ser.
Então, ele rosnou e se virou, se transformou na sua forma intermediária, sem querer, e ficou
paralisado, ali a vendo, parada atrás do sofá, próxima a janela, o olhando com os olhos tão
esbugalhados que pareciam que saltariam de suas órbitas.
O choque de ambos era aterrador e paralisante e nenhum deles conseguiu dizer sequer uma
palavra ou se mover.
Cassandra soltou um grito e arfou, respirando com dificuldade e deu alguns passos para trás e
se chocou contra a porta de vidro, que saía para a varanda e ficou ali, parada como uma estátua.
Konan viu tudo vermelho e sua vida deu um giro completo, era como se estivesse dando um
looping e caído em 1944 outra vez.
— Puta que pariu! — ele disse apavorado.
Não houve mais nenhuma palavra, nenhuma pergunta, somente o pânico, o susto e a paralisia.
— Amigo, acho que você está com um problema, pois você tem uma humana na sua sala de
estar e ela está com a boca muito aberta, mas acho que nem tanto quanto a sua. Seu
intercomunicador ali está ligado e tem alguém gritando nele. Acho que é o alfa.
Konan ouviu de forma um tanto distorcida o que Zian disse, porque o zumbido estava muito
alto dentro da sua cabeça.
E seus olhos estavam ardendo, ele não sabia se era pela visão da mulher na sua frente ou era
por falta de piscar.
Mas sua mente estava muito lenta para assimilar tudo de forma coordenada, porque realmente
tinha sofrido uma espécie de blackout.
Então, ele gemeu porque estava muito excitado para sua boa sanidade mental e realmente
estava sentindo dor, e isso o tirou do atordoamento, pelo menos, um pouco.
A mulher continuava com a boca aberta e agora olhava com os olhos ainda mais escancarados
para suas partes íntimas e para suas mãos que estavam com os dedos alongados e com garras
afiadas.
Konan rosnou, juntou as mãos e tapou seu sexo.
A mulher piscou e olhou para seus olhos e ela deu mais um passo atrás e ofegou quando viu
que não podia ir mais para trás.
— Konan, você está em forma Dhálea e seus olhos estão cintilando. Você já tem um seguro
de vida? Pois o alfa vai te matar.
Konan rosnou e olhou para ele.
— Pare de tagarelar, Zian!
— Volte ao normal antes que o alfa te veja assim, pelos deuses.
Konan respirou fundo e foi se transformar, mas Noah irrompeu porta adentro como se fosse
uma jamanta demolidora e rosnou furioso o olhando e, então, sua carranca foi direcionada à
mulher.
— Se eu não estivesse vendo, não acreditaria — Noah disse.
Konan voltou a sua forma humana.
— Deve haver uma explicação para isso, alfa.
— Meu Jesus, eu não acredito no que estou vendo — Cassandra sussurrou, quase como um
sopro.
Suas pernas estavam bambas e ela não sabia como ainda estava em pé, ela olhava de um a
outro sem acreditar em seus olhos.
Konan se virou e a encarou.
— O que está fazendo aqui, Cassandra? Como entrou na ilha?
Ela piscou aturdida.
— Vocês são de verdade... você tem garras, era um lobo, eu vi você se transformar.
— Zeus, a Grécia realmente é perita em mostrar que o céu pode cair na sua cabeça — Konan
disse.
— Konan, o que você é?
Ela estava tão aturdida que veio para frente em direção de Konan e parou.
Noah rosnou furioso e ela gritou e cambaleou e se chocou no sofá e caiu sentada sobre ele.
Konan ficou entre Noah e Cassandra, com o instinto para protegê-la.
— Calma, Noah — Erick disse chegando perto deles.
— Você conhece esta humana, Konan?
Konan agora se sentiu miserável e seu peito doía.
— Sim... eu conheço.
— Então... Eu não acredito que você tenha cometido este erro novamente, pela segunda vez,
Konan. Você é meu chefe de segurança! A segurança de minha companheira, meu filhote e todos
os lobos nesta ilha e você traz uma humana para cá, se transforma na frente dela? Mostrando o
que somos?
Konan pensou que sufocaria. Era inacreditável que Noah estivesse lhe dizendo isso, mas o
pior é que era verdade. A humana estava ali por causa dele. Ele havia cometido o mesmo erro
duas vezes.
— Sinto muito, alfa.
— Não acredito que tenha cometido tamanha estupidez! — Noah gritou zangado.
— Ei! — Cassandra gritou. Levantou do sofá e foi até o lado de Konan e encarou Noah.
— Olha só, grande chefe, sei que você falando dessa maneira parece bem ruim, mas não foi
culpa do Konan, ok? Bem... talvez a parte que ele não quis me ajudar e resolveu sumir depois
de... bem, mas isso não me incomodou, sabe, sou adulta e sei lidar com machos, bem, talvez não
exatamente com machos que viram lobos, mas, enfim... hum... a culpa é minha, não dele. Ele não
fez nada de errado!
Ela engoliu em seco porque todos olharam para ela como se fosse de outro mundo. Na
verdade, naquele momento ela se sentia de outro mundo e o tal alfa parecia bem zangado e era
aterrorizante, além de lindo e grande.
Ela olhou para onde o homem gigante e furioso estava olhando.
Seu dedo esticado na sua cara.
— Você ousa colocar um dedo na minha cara?— Noah disse entredentes.
Ela gritar e chamar a atenção de Noah foi tão absurdo que o silêncio foi sepulcral. Não só
para ele como para todos.
Cassandra sentiu medo, baixou a mão, porque realmente estava tremendo, mas não quis
demonstrar.
— Ela não quis lhe ofender, alfa, não conhece nossos costumes. Não o conhece — Konan
disse.
— Bom, já que está na minha ilha, acho bom conhecer. Eu sou o alfa! — gritou.
Logo Noah rosnou alto e forte e ela gritou assustada e Konan a puxou para trás dele.
Mas Cassandra, apesar de estar assustada, saiu de trás de Konan.
— Ok... ok. Desculpe-me... alfa... Eu sei que deve estar zangado, pois ultrapassei os limites e
entrei sem convite na sua ilha e descobri seus segredos. Entendo tudo isso e me desculpo. Ok?
Desculpe, não fiz isso para prejudicar ninguém, somente queria falar com Konan, quer dizer, eu
queria que... — Ela respirou fundo e molhou os lábios que estavam secos. — Ele não fez nada de
errado. Ele é inocente, somente eu que fiz esta bagunça toda.
— Puta que pariu, ele se vinculou a ela? — Alguém disse e ela não soube dizer quem foi.
— O quê? — ela perguntou sem entender.
Konan gemeu e olhou para o teto. Deveria ser enforcado.
— Eu percebi isso, Erick, ela tem o mesmo cheiro de Konan.
— Ele fez o quê? — ela perguntou sem entender.
— Vocês estão vinculados. Ele te marcou como sua.
— Não me marcou porra nenhuma, nem sei o que isso quer dizer. Quer dizer que não temos
um relacionamento. E não sou uma vaca para ser marcada.
— Tiveram sexo! — Erick disse.
— Ei, isso não é da sua conta. Modere as palavras aí, cara. Jesus! Seus olhos são amarelos —
ela disse espantada.
— Por isso seu cheiro está tão mesclado, não cheira como uma completa humana, tem o
cheiro dele.
— Você mordeu a humana, Konan?
— Quê? — Ela se virou para Konan. — Você me mordeu?
Konan estava estupefato com a informação. Ele tinha feito, nem se lembrava de ter feito.
Impossível, ele jamais teria feito tal coisa. Ele não conseguia achar as palavras para se defender.
Então se zangou quando viu que todos o olhavam como se fosse uma aberração.
— O quê? Não, eu não a mordi, não a reivindiquei, alfa.
— Se não o fez, como que ela tem seu cheiro?
— Eu não sei.
— Percebi que havia algo de estranho em você, mas ignorei o cheiro dos humanos, porque
estava no meio deles. Tem agido estranho nas últimas semanas. É por causa dela.
— Jamais me vincularia com uma humana! — Konan disse.
— Ei! Konan, também não precisa me humilhar, cara, e se eu te chamar de animal, ficaria
feliz? Que merda foi aquela que era um lobo e virou um homem? — ela perguntou zangada.
— Não mude o assunto, quero saber por que você está com o cheiro dele — Noah disse.
— Eu tenho seu cheiro? Impossível! Eu já tomei uns dez banhos depois que o vi da última
vez. — Ela se virou para Konan novamente. — Como consegue ter as mãos daquele jeito, aquilo
era uma garra, tipo uma unha grande? Como fez desaparecer?
— Ela não tem medo de nós! — Noah disse espantado.
— Não, e parece muito encantada pra mim — Erick sussurrou.
— Como veio parar aqui? Como entrou sem que soubéssemos?
Ela respirou fundo.
— Bem, eu descobri que foi Konan quem contratou minha equipe de limpeza, mas não sabia
antes, porque tinha tratado direto com o administrador, mas, por acaso, vi o contrato e, quando
passou na agência esta semana, então resolvi vir atrás dele, porque me ignorou ao meu pedido de
ajuda.
— Eu ignorei? Perdoe-me se não quis ser seu leão de chácara — Konan disse, indignado.
— Sua equipe de limpeza? — Erick perguntou.
— Sim, eu estava junto da equipe e quando descobri que esta era a casa de Konan resolvi
deixá-los partir sem mim até que eu pudesse falar com ele.
Noah olhou para Konan e sentiu que sua cabeça doía.
— Quem estava fazendo a contagem dos humanos no barco que cometeu esta sandice de errar
a conta?
Zian fez uma careta.
— Fui eu, alfa, não sei o que houve, exatamente, mas devo ter errado minha contagem, contei
exatamente vinte e cinco pessoas que entraram no barco e partiram. Marquei na planilha,
somente depois que partiram é que vi que tinha pulado um. Como ela ficou, não sei. Meu nariz
estava tão impregnado com o cheiro de humanos que não percebi e meus olhos doíam.
— Por que doíam?
— Uma das imbecis espirrou lava vidro na minha cara e estava com os olhos ardendo. Não vi
que alguém tinha ficado atrás. Vim aqui porque vim trazer a planilha para Konan e topei com ela.
— Isso foi um erro muito grave, Zian.
— Eu sei e peço que me perdoe, alfa, fui descuidado, não ocorrerá de novo.
— Ei, uma de minhas funcionárias espirrou lava-vidro em você?
— Sim, estava ocupada me paquerando e espirrou sem querer. Quase me cegou.
— Peço encarecidamente que me perdoe, isso não voltará a acontecer, meus funcionários são
muito cuidadosos e profissionais.
— Seus funcionários?
— Sim, a empresa é minha.
— Misericórdia, meus deuses! — Konan resmungou gemendo e esfregando os olhos.
— Realmente, sua empresa? Pois sabe então que quebrou o contrato e posso te processar e
arrancar seu couro? — Erick disse, ameaçador e ela gemeu.
— Eu sinto muito, as coisas saíram do controle, não era minha intenção causar este caos e
encontrar... isso.
Erick respirou fundo.
— Bem, fizemos estes planejamentos para a equipe de limpeza entrar e sair da ilha e das
casas sem que vissem nossos lobos e ao fim um furo ocorreu e teremos que lidar com isso.
— Mas uma coisa que vejo é que a moça ainda respira e não está desmaiada. Acredito que é
um grande feito — Zian disse.
— Então veio aqui de caso pensado? — Noah perguntou.
— Sim.
— Para falar com Konan?
— Sim.
— Como sabia que esta era a minha casa? — Konan perguntou confuso.
Ela suspirou e pegou o tecido que estava no chão.
— Meu lenço, eu o reconheci no seu quarto.
Konan praguejou.
— Devo dizer, a humana é inteligente — Erick disse.
— Olhe... não estou aqui para causar problemas, realmente não imaginava algo assim, e sim,
estou chocada, mas, por favor, somente estou aqui porque necessitava da ajuda dele.
— Ajuda para quê?
Ela respirou exasperada.
— Minha equipe de segurança se retirou do clube. Acredito que tenham sido comprados por
Tullo para me prejudicar. Aquele imbecil quer causar danos esta noite.
— O que há esta noite?
— Estarei inaugurando o novo palco, terá um show e terei convidados ilustres e estou
desfalcada de seguranças. Consegui outra equipe, mas temo que não seja suficiente. Se Tullo
aparecer com seus capangas e causar uma baderna, estarei arruinada.
— E precisa de ajuda?
— Pelo amor de Deus, Konan, eu vi como você e seus amigos lidaram com os idiotas naquele
dia no clube. Você disse que trabalhava com segurança num condomínio, por isso pensei que
podia me ajudar. Talvez seja segurança dele? Que me parece o chefe?
— Não trabalho de segurança num condomínio e sim desta ilha. Esta é minha casa.
— O que é esta ilha, senhor, é algo místico de Grécia?
— Esta é uma alcateia de lobos.
— Vocês são o quê? Tipo lobisomens? Senhor, são lobisomens e eu estava certa de que
estava vendo o que estava vendo e sabia que tinha algo de diferente em você.
— Somos shifters e não lobisomens.
— O que diabos é isso?
— Somos homens que temos mágica e podemos nos transformar em lobos, animais. Mas
dominamos nosso lobo.
— Uau. Uau... uau!
— Agora me parece impressionada.
— E ainda não desmaiou.
— E está com o cheiro do Konan.
Ela olhou com os olhos arregalados e colocou a mão no ombro, lembrando de tê-lo sentido
mordê-la, mas nunca imaginou isso e ela o olhou angustiada.
“Meu Zeus, virarei uma lobisomem. Uma lobiwoman.”
Konan franziu o cenho porque ouviu seus pensamentos, mas não entendeu como pôde fazê-lo.
— Não te mordi para te transformar se é isso que está pensando. E se o fizesse você seria uma
shifter de loba e não uma “lobiwoman” — disse irritado.
— Acho que esta palavra nem existe — Erick disse divertido.
— Como sabe o que estou pensando? — ela perguntou espantada.
— Konan? — Erick o chamou.
— Sim?
— Você ouviu o pensamento da humana?
— Não sei, acho que sim.
— Pensei em “lobiwoman” — ela disse, confusa. — Podem ler mentes?
— Eu ouvi isso.
— Mas que merda... — Erick sussurrou espantado, enquanto os outros continuavam um tanto
perdidos.
— Olha, senhor, lobo chefe...
— Sou um alfa! — Noah rosnou e Konan pegou o braço de Cassandra e a trouxe para o seu
lado.
Erick somente ergueu uma sobrancelha vendo a cena.
— Desculpe. Alfa. Olhe, alfa, eu realmente sinto muito, muito mesmo, por ter invadido sua
ilha, mas não quero confusão.
— Acho que seu intento de não conseguir confusão está um pouco equivocado, Cassandra —
Konan disse.
Ela suspirou perdida e esfregou as têmporas.
Noah observou atentamente a mulher e Konan. A maneira como Konan a olhava e a puxava
para ele o tempo todo. Ele apenas lhe havia dito algumas palavras incivilizadas e, entretanto, ali
estava, perto dela, quando ninguém mais o teria feito.
Konan sabia que a situação começava a despertar estranhos sentimentos nele. Dava-lhe
vontade de protegê-la. E sentia uma enorme ternura ao mesmo tempo que queria torcer seu lindo
pescoço.
Noah rosnou novamente e fez uma carranca tão feroz que ela deu um passo atrás e Konan se
moveu para perto dela.
— Olha, grandão, vamos acabar com isso, eu preciso ir embora, então, se não vai me ajudar,
vou seguir minha vida e deixo vocês aqui, quietinhos, uivando para a lua.
Noah rosnou furioso e ela arfou.
— Ela não quis lhe ofender, alfa — Konan disse ficando entre ela e Noah.
Erick riu e então Noah rosnou, o que fez a sala toda tremer.
Cassandra respirou fundo para se acalmar, mas não abaixou sua guarda e não se intimidou por
Noah.
— Você está muito encrencado, Konan.
— Sim, alfa.
— Ei, já disse que a culpa não é do Konan!
— Seu comportamento me ofende, humana.
— Não, senhor, eu não quis ofender, somente não deixarei que o acuse sendo que não fez
nada de errado. Eu fiz e já pedi perdão.
Konan olhou aturdido para ela, como se não acreditasse no que disse. Ela o defendeu para seu
alfa e não parecia ter medo dele.
Ele olhou para Noah, que ergueu uma sobrancelha, e Erick tinha um sorriso no rosto. Achou
que tinha perdido alguma coisa, mas estava em algum tipo de piloto automático.
Ele ainda achava que tinha feito uma grande merda.
— Ora, vejam. Konan, sua humana está te defendendo para o alfa.
— Ela não é minha humana.
— Não sou humana dele.
— Bom, agora temos que tomar conta dela, porque não podemos deixá-la por aí sabendo de
nós.
— O que vão fazer, me matar?
— Essa é uma boa ideia para humanos enxeridos — Noah disse. Ela abriu a boca de espanto.
— Mas não, é nossa prisioneira até que me inteire de tudo sobre a sua vida.
— O quê?
— Ela vai ficar na sua casa, Konan, e você vai ficar de olho nela.
— Na minha casa? Ela não pode ficar na minha casa! — Konan disse aturdido.
— Então eu posso levá-la para minha casa — Zian disse.
Konan rosnou.
— Ela não vai para sua casa!
— Você não quer cuidar dela, então eu cuido.
— Não pensei que tinha tanta vontade de morrer, Zian! — Konan rosnou.
— Não tenho.
Noah ergueu uma sobrancelha.
— Vai ficar com ela, Konan?
— Eu fico com ela — Julian disse, que ainda estava quieto e com os braços cruzados no peito
perto da porta e ela o olhou e arregalou os olhos.
O homem era grande, forte como uma muralha e tinha os cabelos muito longos e seu
cavanhaque lhe deixava com uma cara aterrorizante, mas o era lindo como um Deus e cheio de
tatuagens.
Cassandra, indignada, rolou os olhos e suspirou, fingindo estar calma.
— Não vai ficar na sua casa, Julian — Konan disse.
— Ei, machões... poderiam parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui? Não vou
ficar na porcaria de casa de ninguém, eu vou para minha casa.
— Somente vai para sua casa quando eu decidir que vai e depois de eu investigar sobre a
senhorita, senhora ou o que seja! — Noah exclamou.
— Não pode me manter aqui, que espécie de gente são vocês?
— Da espécie que pode arrancar sua cabeça e seu coração sem dó e sem esforço se ousar abrir
a boca de nós por aí.
Ela abriu a boca de espanto.
— Olha, vejo que vocês são diferentes, não entendo que tipo de gente são exatamente, mas
me prender aqui é totalmente inviável, tenho compromissos, tenho que estar no meu clube hoje à
noite. Foi por isso que começou toda esta bagunça.
— Bem, não vai.
— Sou uma prisioneira? Estou sendo sequestrada?
— Está a salvo aqui, contanto que nós estejamos a salvo.
— Acham que estou aqui para fazer algo de mal a vocês? Não entendo. O que eu poderia
fazer, olha seu tamanho, pelo amor de Deus. Não me importa quem são, não podem me prender.
Tenho meus direitos.
Noah cruzou os braços no peito e ela teve que admitir que o homem era aterrorizante e lindo,
mas sentiu medo.
— Você invadiu minha ilha e acha que tem direitos para reivindicar?
— Não invadi sua ilha, somente não embarquei no barco.
— Estava espionando.
— Estava esperando para falar com ele — disse apontando Konan e Noah olhou para ele, que
parecia desalentado e, ao mesmo tempo, seu lobo estava eriçado.
— O que tem a dizer sobre isso, Konan?
— Olha, alfa, eu a conheço do clube e não imaginei que viria aqui, que estava com os
humanos e queria me ver. Mas não posso ficar com ela na minha casa.
Ficar com ela no mesmo ambiente o mataria, não mesmo.
— Por que fala humanos?
— Somos meio-humanos e meio-lobos, somos seres criados através de magia.
— Isso é realmente fascinante, mas não vou contar de vocês para ninguém, juro.
Noah suspirou cansado e esfregou a testa.
— Eu poderia ficar com ela na minha casa, mas sabe como é, não vou arriscar minha
companheira e minha princesinha Safira, já que não conheço se esta humana pode nos fazer mal
ou não. Já que Konan não quer ficar com ela, alfa, acho que ela possa ficar na casa de Julian. —
Ele olhou para ele. — Você e Logan poderiam cuidar dela, realmente.
— Sim, podemos, mas não garanto que Logan não vá arrancar sua cabeça, sabe como é, ele
está meio instável. Talvez se ela ficar trancada no quarto consiga.
— Não! — Konan rosnou e disse bravo.
— Tenho que ir para casa, se não querem me ajudar então me deixem ir. Tenho um clube para
abrir hoje, e tenho uma apresentação e não posso furar com meus clientes.
Houve um silêncio na sala e Noah e Erick pareciam estar falando mentalmente entre si.
— Ok, isso me parece o mais correto a fazer e espero que esteja certo, Erick — Noah disse.
— Bem, já que a moça não pode ficar aqui, porque entendo que tenha um negócio para tocar,
e acho meio improvável que seja adequado ficar com algum dos lobos, eu sugiro que Konan vá e
fique com ela e assim vigiará seus passos. Estará no tal clube com ela e depois ficará na sua casa.
Assim já pode ser seu segurança — Erick disse.
Konan e Cassandra abriram a boca de espanto e ficaram mudos olhando para Erick, que
mantinha um sorriso zombeteiro no rosto.
Konan rosnou e cerrou os punhos.
— Não serei a babá dela.
— Não preciso de babá!
— Konan, se quer que eu mantenha a cabeça dela sobre o pescoço, sugiro que faça isso. Ou
ela não sairá desta ilha — Noah disse ameaçador.
— Isso seria sequestro — ela disse.
— Seria cárcere, sim, querida, e uma punição no mínimo leve por ter invadido minha ilha
com segundas intenções.
Ela arfou e olhou para um e outro e todos olhavam para ela como se fosse uma formiga. E ela
se virou para Konan.
— Não ficarei aqui!
— A situação é esta. Ou ele vai ou você fica. Faço-te uma oferta bem generosa em te dar a
chance de escolher — Noah disse.
Konan rosnou novamente e Noah cruzou os braços sobre o peito e ela piscou atordoada.
Aquele lobo não parecia querer negociar e para ela até que pareceu justo, porque tinha que
consertar a tolice que tinha feito.
— O que nos diz, Konan? — Erick disse.
— Você me paga por isso, beta — disse mentalmente somente para Erick.
— Eu? Sua pequena humana cometeu um delito grave e a culpa é minha?
— Você que está querendo me comprometer!
Percebendo que talvez eles estivessem falando mentalmente, porque conhecia Erick e sabia
que ele estava provocando Konan, Noah quase riu.
— Parem com esta briga de mocinhas vocês dois — Noah disse sério. — Isso é sério e não
quero correr riscos!
— Desculpe, alfa — Konan disse resignado e exasperado, mas falou respeitosamente com seu
alfa. — Eu a levarei para sua casa e cuidarei dela.
— Ótimo, perfeito — Erick disse.
— Ela é responsabilidade sua, Konan, e saiba que se ela pisar fora da linha você deve matá-la.
Noah olhou seriamente para Konan e ele soube que Noah, apesar de parecer meio divertido
com a situação dele, não estava de brincadeira. Aquilo era uma ordem e ele deveria seguir.
— Sim, alfa.
Ela não conseguia respirar, então outro homem entrou com uma mulher na sala e Cassandra
arfou com os olhos muito arregalados. No andar da carruagem ficaria cega.
— Jesus Cristo... — Cassandra sussurrou com a boca aberta.
Liam e Ester entraram com os olhos fixos nela e ela parou ao lado de Noah e Liam atrás dela.
— Olá, me chamo Ester.
— Você... é uma deles?
— Hum... pela comoção, já sabe o que somos.
— Sim, ela já sabe.
— E como ainda respira, presumo que seja um grande feito.
— Konan vai ficar alguns dias em Atenas cuidando dela. Para se acercar que ela não fale com
humanos sobre nós.
— Você é tão linda... — Cassandra sussurrou sem prestar atenção no que eles estavam
falando e Ester sorriu lindamente, o que deixou Cassandra mais embasbacada.
— Obrigada, você também é muito linda. Como se chama?
— Cassandra.
— Prazer em conhecê-la, Cassandra.
— Não quis invadir sua casa.
— Já vejo. Mas quis invadir a casa de Konan.
Ela respirou cansada.
— Sim, eu quis.
Konan gemeu.
— Ele tem olhos brancos e cabelo branco.
— Liam é um lobo branco.
— Um o quê?
— Um lobo branco. Nossa cor de cabelo é a cor da pelagem do nosso lobo.
— Incrível... todos são tão... gigantes.
— Não te faremos mal, moça, a menos que queira nos fazer mal.
— Por que eu quereria fazer mal a vocês?
— Boa pergunta. Sou alfa desta alcateia, companheira de Noah.
Cassandra olhou para ela e para Noah e para todos eles.
— Tem mais mulheres como vocês?
Noah rosnou, mas Ester colocou a mão em seu braço.
— Sim, sim, temos e elas são tão ferozes como estes grandões aqui, e humanas que foram
transformadas em lobas.
— O quê?
— Eu era como você, era humana.
— Ester...
— Tudo bem, amor, ela é inofensiva. Não nos machucará, porque é amiga de Konan, não é?
Todos os lobos olharam para ela e Cassandra ficou muda, porque havia algo errado ali. Ela se
sentiu uma formiga no meio de todas aquelas pessoas altas e exóticas e lindas, mais do que
pensou existir, tanto que seus olhos estavam doendo pela visão sobrenatural.
Mas estava tentando focar na conversa, porque algo lhe dizia que havia informações nas
entrelinhas, só não sabia o quê.
Talvez fosse tudo um sonho e ela acordasse logo, então ela olhou para Konan que a olhava
sério, mas podia ver uma angústia no seu olhar com um misto de raiva.
Ele era real, porque tinha o beijado e o tocado, tinha tido o sexo mais alucinante de sua vida, e
ele era uma coisa mística e ela não tinha conseguido tirá-lo da sua cabeça e nem em um milhão
de anos imaginou tal coisa, porque até mesmo pensou que suas suspeitas eram fantasiosas.
Os livros não eram uma fantasia, afinal.
De repente, ela estava tonta.
— Está bem? — Konan perguntou segurando-a pelo braço.
— Sim, estou bem, obrigada, um tanto... estupefata. — Ela olhou para Ester e Noah. — Sim,
ele é meu amigo e nunca faria nada para feri-lo. Só vim aqui pedir ajuda.
— Cuide disso, Konan. Está livre de suas obrigações na ilha até que resolva sua situação com
ela.
Konan olhou Noah como se estivesse louco.
— Sim, alfa.
Noah girou nos calcanhares e saiu da sala e Erick deu um último sorrisinho para Konan.
— Aguardo seu relatório todos os dias, lobo.
— Se precisar de algo, Cassandra, pode me chamar — Ester disse e seguiu Noah.
Todos saíram da sala e Konan e Cassandra ficaram ali, estáticos.
— Merda! — Konan rosnou.
Ela se virou para ele, não sabendo direito se estava com medo, raiva ou insultada e fuzilou
Konan com o olhar.
— Bem, lobo, eu quero ir para casa.
— Eu deveria arrancar sua cabeça por me colocar nessa confusão!
— Pobre, lobinho, está com o rabo entre as pernas. Se tivesse feito o que pedi, não estaríamos
nessa confusão. Custava me fazer um favor? Acudir uma dama desesperada?
Ele rosnou.
— Não sou leão de chácara!
— Estou vendo, mora numa mansão, numa ilha particular e vira lobo. É qualquer coisa,
menos um leão de chácara.
Ele rosnou.
— Por isso consegue rosnar desse jeito, por causa do lobo.
— Posso fazer muito pior.
— Não me ameace, Konan, porque você poderia ter evitado isso.
— A culpa não é minha. Sempre sai por aí seguindo seus amantes? É o quê, uma stalker?
Ela bufou.
— Menos, não se vanglorie por tão pouco e não somos amantes.
— Fizemos sexo.
Ela arfou com a boca aberta.
— Fazer sexo uma vez não o torna meu amante.
— Duas.
— Umas cinco na verdade, ou foram mais?
— Não contei, mas tem outro nome aqui na Grécia?
— Senhor! Onde amarrei meu burro?
Ele rosnou e eles ficaram se encarando, desafiadores e ele a achou linda zangada, com as
mãos na cintura e fazendo aquele beicinho e estreitando os olhos. De repente, a sala ficou quente
demais.
Aquela atração entre eles era absurda e suas mentes estavam corrompidas demais depois de
todos os acontecimentos.
A adrenalida estava os deixando embriagados na luxúria.
Ele queria se afastar, mas estava a apenas alguns centímetros dela e seu corpo queimava.
Não cairia naquele embuste novamente.
Não.
Ela olhou para ele que estava gloriosamente nu, com seu membro ereto e todo aquele homem
maravilhoso na sua frente era demais para ela não pensar em tocá-lo.
Queria socar sua cara, mas o desejo por ele era demais para ignorar.
Ela passou a língua nos lábios, sem saber o impacto que causaria em Konan.
Ele rosnou, e sua mente explodiu, passou a mão em sua nuca e a puxou para ele e a beijou.
Ambos gemeram quando seus corpos se uniram e foi o mesmo que acender um estopim e
deixar a explosão acontecer.
Um segundo depois não havia nenhuma roupa sobre o corpo de Cassandra e estavam rolando
pelo tapete da sala e a única coisa que saiu daquilo foi um sexo selvagem, bem selvagem.

A viagem de barco, a passagem pela casa da marina e a viagem de carro até a casa de
Cassandra foi em um silêncio mórbido.
Tanto Konan quanto Cassandra estavam em choque com seus comportamentos depois de
tudo.
Konan, porque ela tinha transado com ele mesmo sabendo quem era, um lobo, e não tinha
tido medo, tinha o beijado com paixão, tinha gemido de prazer e tinha tido um orgasmo que
pensou que toda a ilha tinha ouvido. Inclusive ele deveria ter arranhões de suas unhas em suas
costas.
E agora, estava preso a ela e deveria ficar na sua casa.
Estava fodido.
Cassandra, estava aturdida porque teve coragem de fazer sexo com ele. Estava louca. Ainda
estava esperando acordar do tal sonho louco que pensava ter passado o seu dia.
Ela ficava repetindo mentalmente: “Acorda, Cassie. Acorda, Cassie.”.
E tinha conseguido a ajuda dele, mas a que preço? Era basicamente uma refém, prisioneira do
homem que virava lobo.
Aquele constrangimento era deveras incômodo e ambos estavam se sentindo mal.
Não por arrependimento do que haviam feito, de todos os modos, porque tinha sido um sexo
realmente estupendo, mas porque tudo havia mudado entre eles e estavam fadados a passar um
tempo juntos, na mesma casa e isso era mau, muito mau.
Cassandra olhou para Konan de canto de olho e ele estava mudo, enquanto dirigia um SUV.
A mão direita estendida sobre o volante e o cotovelo esquerdo escorado na janela e ficava
passando os dedos no queixo e nos lábios. Sério e distante.
Ela fez uma careta e suspirou olhando para a janela, segurando a sua blusa fechada no peito
que havia sido rasgada no calor da paixão.
E com eles era assim, sempre no calor da paixão. Tão quentes como o covil de Hades.
Sexo sempre poderia meter as pessoas em belas confusões.
Bem, ela tinha entrado em uma.
Quando entraram na casa de Cassandra, o olhou.
— Venha, vou lhe mostrar seu quarto.
Ele não disse nada e a seguiu com uma mala e o colocou no quarto de hóspedes, não muito
longe do dela.
— Pode usar o armário para guardar suas roupas e ali tem um banheiro.
Ele somente assentiu sem olhá-la.
— Desculpe, Konan.
Konan a olhou e não sabia o que dizer, então se virou e não disse uma palavra.
Cassandra suspirou e saiu do quarto, xingando-se mentalmente. Seus rompantes um dia a
meteriam em encrenca. Sua avó sempre dizia isso. Depois, ela foi para seu quarto, tomou uma
ducha rápida, colocou uma calça jeans e uma blusa preta.
Quando voltou à sala, ele estava em frente ao aparador da lareira olhando suas fotos que
estavam em porta-retratos.
E seu olhar estava fixo em um deles que mostrava ela com um homem, vestida de noiva e em
outros brincando na neve, em ruinas da Grécia, sempre sorridentes e abraçados.
— É casada? — perguntou chocado e com um tom zangado.
Ela franziu o cenho, não entendeu porque estava zangado.
Bom, depois de tudo imaginaria que estivesse o quê? Rindo as gargalhadas?
— Sou viúva.
Konan piscou aturdido olhando-a.
— Por que não me disse antes?
— Por que deveria? Você não perguntou.
— Queria ter sabido.
— Se fosse casada não teria dormido com você, né, Konan? Quem pensa que sou?
Sim, por que deveria? Konan não deveria se importar com tal informação. E ele sentiu
ciúmes, mas tentou disfarçá-lo.
Sem querer, Konan rosnou.
— Está rosnando para mim?
— Sempre rosno. Deve se acostumar.
Ela ergueu uma sobrancelha e fez uma careta.
— Sim, claro, porque estamos presos na mesma casa, para me vigiar. Talvez devesse me
revistar para ver se tenho alguma escuta escondida em meu corpo.
— Não tem uma escuta porque lambi todo o seu corpo, uma hora atrás, saberia se tivesse.
Ela fez uma carranca.
— Não seja idiota, Konan.
— Não brinque comigo sobre a segurança dos meus lobos, Cassandra, porque muitos dos
meus morreram por causa de humanos que nos temiam, e nos odiavam. Vi minha família toda
morrer, vi meus amigos serem estripados, então não esqueça que se fizer algo estúpido, eu
mesmo arrancarei sua cabeça. Aquelas pessoas na ilha são a única família que me restou nesse
mundo e tenho memórias demais preso numa jaula para querer repeti-lo. Nunca, jamais brinque
com a vida de um lobo. Não nos mostramos aos humanos, raras exceções, e você é uma delas,
portanto, pense no que faz e diz por aí!
Ela estava olhando-o com os olhos arregalados tentando absorver toda aquela informação.
Ele foi preso em jaulas?
— Quem faria tal coisa?
— Não tem nem ideia da miséria que meu povo foi submetido, então, não brinque comigo.
Isso pode ser um jogo para você, mas não é para mim.
Estava chocada demais e queria fazer mais perguntas, um interrogatório na verdade, assim
como ele, mas parecia que não estavam interessados em mais dramas naquele dia.
Ela respirou fundo.
— Não sou uma santa, Konan, mas nunca machuquei ninguém, não começaria agora.
— Bom. Porque se tentar eu te matarei.
Ela engoliu em seco e assentiu.
Houve um silêncio infernal e ela suspirou e abriu as portas de vidro do terraço coberto e saiu
para fora e Konan a seguiu.
Eles ficaram olhando para a paisagem, para os barcos e iates ancorados na encosta.
Havia muitos vasos de plantas e folhagens altas como árvores, havia sofás com almofadas
coloridas, duas cadeiras espreguiçadeiras de esteira e cortinas envoltas aos pilares, amarradas
com um cordão.
Konan ficou impressionado com a sua casa, era grande e muito bonita, parte era decorada
com estilo grego clássico e o moderno e com uma mistura de outras culturas como a indiana.
Descendo uma pequena escada de pedra dava a outro nível e ele ficou aturdido com o que viu.
Era um imenso jardim com muitas árvores, flores e plantas e ao meio havia uma piscina, mas era
diferente das piscinas que já tinha visto, havia pilares permeando-a com blocos de mármore e
estátuas gregas de mármore.
— Isso é exótico.
Ela sorriu nostálgica.
— Este é meu local favorito da casa. É inspirado nas antigas casas de banho gregas.
Ela pegou um controle que estava sobre o balaústre de pedra e clicou em um botão e uma
cascata de água começou a cair da boca de dois leões.
— Estou um pouco confuso.
— Por quê?
— Para quem tem um clube daquele porte e uma casa dessa, é meio estranho que não possa
contratar uma equipe de seguranças adequada para sua proteção, para manter a ordem no clube.
Ela respirou desanimada.
— Eu contratei, mas não está adiantando muito quando eles são subornáveis ou saem
correndo da bagunça. E tenho gastado muito dinheiro com isso. Acredite, não está sendo fácil
manter tudo quando vivo sendo sabotada e meu clube quebrado.
— Está se referindo àqueles idiotas que estavam no seu clube outro dia?
— Aqueles idiotas conseguem fazer um estrago bem grande. Mês passado jogaram uma
garrafa cheia no espelho do meu bar. Como você viu é um espelho mágico e quebraram alguns
estoques de bebidas, tem ideia de quanto isso me custou?
— Já pensou em denunciá-los?
— Acredite, eu fiz, e o que me adiantou? Nada. Posso colocar em uma pilha as vezes que fiz
reclamações daquele idiota na delegacia.
— E quem realmente é aquele idiota?
Ela respirou fundo e olhou para Konan.
— É meu enteado.
Konan franziu o cenho.
— O quê? Seu enteado?
— Sim, é filho de Nuno, um nada agradável.
— E por que está fazendo isso com você?
— Porque ele quer meu clube e minha casa.
— Mas se é seu, não entendo. Como viúva tem direitos.
— Tudo o que era de Nuno foi me deixado em sua morte, como sua esposa, mas no
testamento, deserdou Tullo. E agora ele quer tudo o que tenho.
Konan estava chocado.
— Ele deserdou o filho?
— Sim, mas Tullo não é exatamente um bom filho. E eu morrerei antes de qualquer coisa,
uma folha destas árvores sequer ir parar na mão daquele infeliz. Nunca permitirei. Nuno deixou
um legado e eu pretendo segui-lo em frente. Essa casa e o clube era meu sonho e Nuno trabalhou
ao meu lado para conseguir e não vou deixar um traficante de merda, invejoso e mau-caráter
tomar o que é meu. Trabalhei como uma escrava para conseguir chegar até aqui, não darei este
gostinho para ele.
Ela ligou as luzes ao redor da piscina e ele teve que concordar, o lugar parecia uma cena de
filme.
— Tive que lavar muito banheiro para conseguir construir isso.
— O quê?
— É... hoje sou dona da empresa de limpeza que vocês contrataram, mas há dez anos, quando
cheguei em Atenas, eu era uma das faxineiras, limpei muita casa por aí durante o dia e à noite
trabalhava na boate de Nuno. Era uma coisa bem diferente do que é hoje. Evoluímos muito.
Aquilo era tipo um inferninho.
— Isso é muito bom. Fico orgulhoso.
Ela o olhou espantada.
— Fica?
— Sim, parece gostar muito de sua casa e conseguiu por seus méritos. Isso é bom.
— É... é bom. E é meu e não vou deixar que nenhum idiota estrague minhas coisas. Posso não
ser uma flor de candura, um anjo de asinhas, mas, querido, sou uma pessoa correta. Não me meto
com drogas, nem assassinatos.
— Mas tem um cassino clandestino.
— Como sabe?
— Não sou burro e a porta misteriosa com pessoas entrando e saindo usando ternos caros e
joias não é exatamente escondido e discreto.
— É bem... isso me rende um dinheiro, mas não é contra a lei, a prefeitura está em trâmite de
legalizar os cassinos.
— Mas ainda é contra a lei.
— Vai me dar lição de moral?
— Longe de mim. Só estou frisando que se quer evitar problemas, deve evitar coisas que os
cause.
Ela bufou.
— Como percebeu, meu nome é encrenca.
Ele riu.
— Sim, já percebi.
Ela entrou em casa e ele a seguiu e foram para a cozinha, uma grande e bela cozinha, arejada
com grandes janelões que tinham vista para a praia.
— Sua casa não parece tão grande lá da frente.
— Aqui é um costão, a casa está cravada nele e tem dois níveis para baixo.
— Impressionante.
— Aqui era da mãe de Nuno e era uma pequena casa antigamente, de pescador. Por isso tive
que construir a casa assim, porque não tinha mais espaço para os lados. Somente um milionário
conseguiria comprar uma casa aqui hoje em dia. Os antigos moradores acabaram reconstruindo
casas novas sobre as antigas. Lá embaixo, perto no mar, se pode ainda ver as casas bem antigas,
bem no estilo grego.
— Legal.
Ela abriu a geladeira e pegou duas Long Neck e deu uma a ele e bebeu da sua. Pegou um prato
com sanduíches e deu um a ele e começou a comer um. Konan não discutiu, aceitou e comeu,
pois estava faminto.
— Aqueles homens do cassino gastam um bom dinheiro ali. São homens de posses,
empresários, advogados, políticos, homens com influência. Demoramos muito para conseguir
com que tomassem meu clube como seu point de lazer, que lhes ofereça segurança e requinte.
Eles pagam quinhentos euros por um champanhe, comem caviar. Então, amigo, quem tem que
sair da roda são as pessoas que querem impedir que isso aconteça, entendeu?
— Sim, entendo.
— E hoje à noite eles estarão lá, para minha inauguração, nas alas VIPS tomando seu
champanhe e gastando seus milhares de euros e não posso deixar que ninguém arruíne tudo. Nem
minha apresentação.
— Que apresentação é? Alguma banda vai tocar?
Ela sorriu lindamente.
— Será uma surpresa.
Konan rosnou.
— Não gosto de surpresas, ainda mais hoje, já tive o suficiente.
— Não vou revelar meu segredo, e tenho certeza de que vai gostar da surpresa.
— Está me provocando?
— Não sei, acho que sim. Está sendo provocado?
A atração estrondosa que sentia por Cassandra ia contra tudo o que estava nos seus planos.
Uma noite de sexo com uma humana e só era o que se permitia em questão de proximidade,
mas ela era como um ímã, e ele a desejava tanto que sua boca salivava.
Seu lobo saltava dentro dele e seu membro reagia tão violentamente que o deixava dolorido,
como estava agora. Era algo inusitado para ele e um tanto assustador.
A maneira que se olhavam agora era como sempre, uma atração difícil de resistir e acabavam
sempre se agarrando e caindo numa cama, ou sofá, ou no tapete.
Um segundo mais daquele olhar e sabiam que estariam repetindo tudo de novo.
Konan rosnou e se virou, e bebeu de sua cerveja, olhando para fora.
Cassandra respirou fundo.
— Precisamos ir, pois tenho preparativos para esta noite e preciso me aprontar.
— Ok.
— Estará lá ao meu lado, Konan?
— Sim, Cassandra, eu estarei.
— Confio em você.
Konan piscou aturdido ouvindo esta frase e ela o disse intensamente e verdadeiramente. Pôde
sentir e isso o chocou.
Ela confiava nele.
— Vou confiar em você também.
Ela suspirou e assentiu e sorriu.
— Chame-me de Cassie.
Konan sorriu lindamente mostrando suas covinhas.
— Tudo bem, Cassie.
E um laço em seus corações havia se formado, porque, por algum motivo obscuro, Konan,
mesmo depois da confusão que ela o meteu, não sentia raiva dela.
Quando todos os funcionários do Olimpo estavam reunidos e olhavam para ela, Konan teve
uma certeza. Aquelas pessoas a respeitavam e a obedeciam.
Ela era corajosa de tocar sozinha uma casa daquela magnitude. As coisas pareciam muito
mais grandes e complicadas do que da última vez que tinha ido ali.
Porque agora via as coisa de outro ângulo.
— Tudo bem por aqui? — ela perguntou.
— Tudo, chefe. A noite promete. Estamos prontos e animados que será uma noite
maravilhosa.
— Obrigado, Tito.
— A senhora está bem? Parece nervosa.
— Só algumas complicações.
— A única preocupação é que temos poucos seguranças.
Ela respirou fundo.
— Eu sei. Konan fará parte da nossa segurança agora.
Todos o olharam abismados e ele quase rosnou em ter a atenção toda para si.
— Vejam, rapazes, esse é Konan, nosso novo chefe de segurança. Se comportem e obedeçam
suas ordens que o lobo aqui, não mastigará suas gargantas. O senhor Konan entende muito de
segurança. É forte e tem o dom de evitar brigas trágicas que possam causar danos maiores.
Então, ele ditará as regras com os clientes de agora em diante.
Konan rosnou baixo por ela pensar que não podia causar um caos, sim ele podia, mas sabia se
controlar quando queria.
Ele olhou para ela, que deu um sorrisinho malandro e com um fio de hostilidade.
— O Sr. Konan está aqui para ser nosso guarda-costas e comandar a segurança do nosso
clube.
— Sim.
— Ótimo. Amanhã poderia usar um terno. Todos os seguranças usam. O senhor também deve
usar.
— Não usarei terno. Ponto.
Até os seguranças o olharam e piscaram aturdidos.
Ela suspirou e coçou o pescoço e Konan viu que não gostava de ser contrariada e que estava
pensando em uma resposta ou como ordenar que fizesse o que ela queria.
— Ok, sem terno então, mas deve usar preto.
— Sempre uso preto.
— Quando o cassino abrir, quero que fique lá embaixo.
— Não. Ficarei onde você está.
— Está aqui para fazer a segurança da casa.
— Estou aqui para fazer a sua segurança.
Ele cruzou os braços no peito e ficou intimidante e até parecia maior do que era.
Ela queria discutir, mas não o faria na frente dos outros, pois não queria perder autoridade.
Se soubesse fazer aquele som que ele fazia com sua garganta, ela mesma estaria rosnando.
— Bem... — disse entredentes. — Pessoal, se ele disser algo sobre a segurança, por favor,
sigam suas ordens e ele distribuirá a função de cada um de vocês, até que eu possa conseguir
uma nova equipe de segurança. Está quase na hora de abrir e então eu vou me arrumar, pois
tenho apresentação e quero que seja perfeita. Cada um de vocês sabe o que fazer.
Todos deram uma última olhada para Konan e saíram para suas funções. E os dois ficaram
sozinhos.
— Me responde uma pergunta? — ela perguntou.
— Faça.
— Você é um desses metidos a valentão? Que toma proveito de seu tamanho para prender
uma mulher?
— Pensei que se arriscou seu pescoço naquela tramóia que armou para me fazer ser seu
segurança, saberia que não.
— Bem, é que fiquei um tanto embaralhada já que queriam me jogar numa jaula.
— Pensei que tinha entendido quem somos e por que nosso alfa teve aquela reação. E pensei
que tinha entendido que meu alfa teve compaixão de você, ainda que merecesse ser morta... não
sei o porquê, já que eu mesmo tive vontade de matá-la.
Ela trincou os dentes.
— Entendi, Konan. Sei que estrapolei e caí onde não devia. Desculpe, não devia ter feito o
que fiz, mas sou impulsiva. Só quero que saiba que isso aqui é minha vida. Precisa levar a sério
estar aqui, mesmo que queira torcer meu pescoço por tê-lo obrigado. Peço que aja como um
segurança sério e não como uma valentão idiota.
— Estou ciente e não sou valentão. Valentões são covardes que se escondem atrás de armas,
subjugam os mais fracos e agridem para se sentirem poderosos. Valente é alguém que tem
cérebro, força e coragem e sabe quando usar cada uma delas na hora certa. Eu não bato em
fracos, nem em mulheres. Eu uso minha razão em vez da força. Mas minha força pode quebrar
todos os ossos de um humano e arrancar seu coração da caixa torácica num piscar de olhos. E se
uma mulher ferrar comigo, juro que posso arrancar sua cabeça.
— Acho que não posso duvidar disso, mas não sei se isso é certo, mas necessito.
— O problema é que você está rodeada de gente de mente deturpada e não consegue
distinguir o bom do mau. Eu não sou o mau aqui, mas os lobos têm suas próprias regras e leis.
— Hum... Eu vou dar um ponto para você, se me provar que esta noite não vai quebrar a cara
de nenhum dos meus clientes.
— Sou um lobo e não tenho muita paciência para humanos idiotas e não tenho que provar
porra nenhuma.
— Konan, é o chefe de minha equipe, eles se espelharão em ti!
— Mas que porra!
— Pode tomar isso como algo sério?
— É claro que posso tomar como algo sério, o que pensa? Que sou negligente e imbecil?
Ela respirou, cansada.
— Por Deus, não, jamais pensaria que é negligente.
— Dos trastes pode?
— Pode — disse rindo.
Konan rosnou e sabia que ela estava provocando-o.
— Querida, eu vou ficar e garantir que sua cabecinha continue sobre este lindo pescocinho.
Que ele salivava para morder.
— Ok. Depois ainda diz que não é um brutamonte — disse bufando e fazendo aquele jogo de
voz e olhar que o deixava louco.
O celular de Konan tocou e ele atendeu, já sabendo que era Noah, pois tinha o toque diferente
dos outros números.
— Sim, alfa?
— Está no tal clube?
— Sim, a moça estará se arrumando agora, pois tem a tal apresentação, show, sei lá.
— Bem, este clube tem uma área VIP, separada de todos?
Konan olhou para a área e para Cassandra, que o olhava na sua frente.
— Sim.
— Reserve para mim. Estou indo com Ester.
— Virão ao clube? — perguntou espantado.
— Minha companheira quer conhecer o clube e ver como funciona e não gostei de te deixar
aí sozinho. Pelo menos, por hoje.
Konan se comoveu.
— Obrigado, alfa. Um momento. Tem vaga na área VIP para meus alfas?
Ela arregalou os olhos.
— Eles vêm aqui? Sério?
— Sim, devem ficar lá em cima, seguros.
— Oh, sim, claro, um segundo. — Ela foi até o balcão e pegou uma planilha, sorriu e
rabiscou.
— Nome?
— Noah MacCarthy.
— Prontinho, reservado.
Konan disse o endereço e se despediu.
— Pode deixar, os tratarei como reis — ela disse sorrindo.
— Obrigado.
— Eles não rosnarão e mostrarão suas garras aqui, não é?
— Não, serão como humanos comuns, ou quase.
— Ok... — Ela suspirou e se empertigou. — Vamos lá, temos uma casa noturna para tocar.
Ei! — Ela se aproximou para cochichar para ele. — Você não vai se transformar com aquelas
garras aqui, não é, nem virar um lobo? — perguntou apreensiva.
— Não, eu não vou, somente mostrarei minhas presas para ti.
Ela o olhou espantada.
— Você tem presas?
— Tenho e são bem afiadas.
— Está brincando?
Konan fez suas presas crescerem e então levantou os lábios e ela as viu, longas e afiadas.
Ela ficou ali, com a boca aberta e ele sorriu, dono de si e com o dedo, lentamente fecheu sua
boca.
— Não se preocupe, querida, minhas presas ficarão bem quietinhas aqui. Quando voltarmos
para sua casa, talvez eu as mostre a você e te morda.
Ela piscou uma e outra vez, então ele pensou que ela sairia correndo, pois estava muito
chocada.
— Só te morderei se me pedir.
Ela sorriu, lindamente.
— Agora é tu que estás me provocando, mas não vou pedir.
Ele riu.
Ela se virou, jogando seus longos cabelos para as costas e saiu rebolando seu delicioso
quadril preso naquela calça jeans apertada. Isso o deixou tão excitado que rosnou baixo e
esfregou os olhos.
— Miséria! — resmungou.
Konan teve a certeza da sua vida: estava ferrado, ao quadrado.
Quando o movimento da casa começou a ficar maior, ele realmente se impressionou com o
ambiente. E com a decoração da parte que havia estado coberta pela reforma e agora estava
magnificamente perfeita.
E se deu conta que da última vez não tinha reparado em nada das mudanças que ela tinha
feito.
O jogo de luzes, o requinte, as garçonetes e os garçons indo e vindo com suas bandejas
cheias, as pessoas rindo e se divertindo.
Apesar de andar sempre entre os humanos achava que aquele ambiente fechado era demais
para ele, não sabia se conseguiria cumprir com as promessas que tinha feito.
O problema é que aquela humana o estava deixando louco e não sabia se conseguiria ir
embora e ignorá-la depois que aquilo passasse.
Konan esfregou o nariz que estava irritando por causa da fumaça de cigarros, o cheiro de
bebidas, o concentrado de perfumes e o som era alto demais para seus ouvidos sensíveis.
Seria um milagre se ele conseguisse manter sua calma até o fim da noite. Pelo menos, não
tiveram nenhum contratempo até àquela altura. Onde ela estaria e o que apresentaria?
Ele teve curiosidade de perguntar, mas achou que não era importante, agora achava que
deveria ir procurá-la e saber onde estava.
Mas quando foi se dirigir para trás do palco escuro onde ficavam os camarins, ele estancou e
se virou, pois sentiu cheiro de lobos e ficou chocado quando viu na porta do clube Noah, Ester,
Liam, Virna, Sasha e Zian.
Ele piscou aturdido e foi até eles.
— Pensei que só viriam os alfas.
— Assim como não gosto que saiam sozinhos, eles não gostam que eu saia sozinho. Roda dos
lobos. Kirian e Julian estão do lado de fora e ficarão lá até irmos — Noah disse dando de
ombros. — Um pequeno sacrifício pela minha companheira. Temos nossa área privada?
— Claro, alfa. Venham, vou levá-los à ala VIP.
Eles seguiram Konan, mas foi um chamariz e tanto aquele grupo de dois metros de altura que
atravessou o salão. Pelo menos, todos usavam lentes escuras para ocultar seus olhos.
Konan estava um tanto perdido nos seus conceitos, e abismado que tivessem vindo, mas eram
grandinhos e sabiam se cuidar.
Assim que tirou a corrente da área VIP, acenou para o homem muito grande e forte que ficava
na ponta da escada. E que mesmo sendo muito grande, olhou com os olhos arregalados para o
grupo exótico.
— Estão comigo, mais ninguém sobe além da garçonete.
— Sim, senhor.
Os lobos se acomodaram nas poltronas de veludo que ficava ao redor de uma mesa e logo
uma garçonete chegou e petrificou boquiaberta.
Konan estalou os dedos na frente de seus olhos para tirá-la do torpor.
— Feche sua boquinha que pode entrar alguma mosca e traga cervejas bem geladas para meus
amigos. Gostaria de um champanhe, alfa?
— Oh, eu adoraria, para Virna também. Obrigada, Konan — Ester respondeu feliz, exibindo
seu corpo esguio e perfeito em um vestido preto e suas joias caras.
— Hã?... Ah, ok, sim, um minuto — disse a garçonete.
Ela continuou os olhando, então Konan a segurou pelos ombros e a girou empurrando-a,
lentamente para que saísse.
Liam riu da moça.
— Não imaginei que fosse tão grande, Konan.
— Sim, há mais dois ambientes lá atrás.
— Teremos um show?
— Sim.
— Que tipo de show?
— Realmente, alfa, eu não sei, ela deixou como surpresa.
Eles observaram o local, espreitando qualquer suposto perigo, rota de fuga ou analisando o
comportamento das pessoas e tudo era perfeito, somente o som um pouco alto que atingiu seus
ouvidos.
Sasha com seu método de ex da Marinha olhava tudo e tudo estava sendo calculado.
O som do ambiente não era verdadeiramente alto, mas para os ouvidos dos lobos era e eles
demoraram um pouco para que o ruído fosse controlado e as narinas se acostumassem com os
cheiros fortes.
Eles olharam ao redor, como em reconhecimento do ambiente e havia bastante pessoas,
homens e mulheres tomando suas bebidas e conversando, alguns beliscando algum aperitivo em
suas mesas.
Konan olhou ao fundo uma das portas duplas grandes e viu algumas pessoas saírem e
entrarem, que era onde ficava uma pequena boate com música alta e vibrante, mais psicodélica e
as luzes eram fortes e piscavam.
Quando as portas se fechavam, o som era inaudível ali no imenso salão onde tudo era mais
requintado e tranquilo.
Enquanto que a porta mais ao fundo, mais discreta, onde ficava o cassino ainda não havia
movimento, mas sabia que lá dentro havia funcionários preparando as mesas para mais tarde.
Havia espaços separados para todos os estilos e gostos e as áreas VIPS estavam lotadas com
pessoas endinheiradas.
Cassandra foi muito inteligente nisso.
O bar era imenso e bem fornido de muitas garrafas de bebidas e Konan gostou do estilo de
tudo. Havia os bartenders que faziam drinks sofisticados com e seus estilosos malabarismos com
os copos e as garrafas coloridas e o público ria e aplaudia.
E os garçons e garçonetes, muito polidos e simpáticos, sempre com um sorriso no rosto,
trajados com suas roupas exóticas, circulavam entre as mesas redondas com suas bandejas cheias
de bebidas para os clientes.
Nas laterais, mais altos nos poles, meninas vestidas de gregas clássicas, um tanto darks,
dançavam.
Tudo era bonito.
O lugar era grande, com o pé-direito alto e era toda decorada em um estilo grego clássico.
Havia colunas brancas e estátuas de homens e mulheres nus e havia uma mágica incrível no
lugar, talvez fosse a energia de Cassandra.
Ela tinha montado seu próprio Olimpo e quem diria que um dia teriam seres mitológicos de
verdade nele. Se Harley viesse ali com sua companheira, então, literalmente, teriam uma
semideusa grega no local.
Konan quase riu da ironia, quem diria que a companheira de Harley se tornaria uma
semideusa grega. O mundo era um lugar estranho e mágico e ele ainda coçou o queixo pela
lembrança de toda a bagunça que tinha sido em Creta.
Konan, nesta noite em particular, estava apreciando mais o lugar, talvez porque agora aquele
ali era uma espécie de trabalho que requeria mais atenção e porque era dela e que deveria
proteger.
Ele queria que tudo corresse bem, que fosse perfeito sem sustos ou desagrados, somente
porque, lá no fundo, ele a quisesse feliz, sorrindo, satisfeita. Ele não gostava quando estava triste.
Seu sorriso era lindo e quando sorria algo se revolvia dentro dele. Aquecia seu coração e lhe
trazia uma espécie de paz.
Algo que fazia tempo que era desconhecido para ele.
Olhou para todos e para o grupo de lobos que conversavam e riam e sorriu, porque gostava de
vê-los felizes. Aqueles homens tinham sofrido muito em suas vidas e queria vê-los assim.
E ver Noah num clube cheio de humanos, rindo e bebendo com amigos era de girar a cabeça.
Nunca imaginou tal coisa, mas, ao seu lado, com seu sorriso deslumbrante e sua conversa fácil,
estava aquela ex-humana que o salvou. Que ria abertamente, que o tocava em público sem
ressalvas, que lutava por sua felicidade sem receios.
Konan suspirou e olhou para o palco.
Ele queria viver sem ressalvas, só não sabia como.
Bem, ele também percebeu que as mulheres estavam olhando para eles com seus olhares
cobiçosos. Também deveria saber que quatro homens de dois metros de altura, bonitos e exóticos
chamaria a atenção de mulheres.
— Uau, aquilo é legal! — Zian apontou para o aquário e Konan o olhou e sorriu.
— Sim, bem exótico.
O aquário gigante tomava quase toda uma parede, com bastante pedras e plantas aquáticas
verdes, corais e pequenos peixes coloridos que iam de um lugar a outro.
Dentro dele também havia, do lado esquerdo, um trono com uma estátua de pedra de
Poseidon sentado, segurando um tridente. Era realmente alucinante e Konan agora entendeu
porque Cassandra estava tão excitada em inaugurar o aquário para esta noite, realmente deu um
toque maravilhoso àquele lugar.
E deveria ter custado uma fortuna.
— Oh, eu adorei este lugar, a decoração é incrível, estou me sentindo dentro de um templo
antigo. Maravilhoso! — Ester disse entusiasmada.
— Wow, olhe aquelas mulheres dançando sobre estas pilastras por todo o clube, é chocante e
lindo — Zian disse.
— Aquilo chama pole.
— Sexy. Ei! Eu espero que tudo dê certo para sua garota esta noite, sem problemas — Liam
disse, dando um tapa em suas costas.
— Ela não é minha garota.
— Ah tá, ok. Mas seria um idiota se não fizesse dela sua garota.
Konan rosnou e foi responder, mas Liam tinha ido sentar nas poltronas com um belo sorriso
no rosto e beber mais um gole de sua bebida ao lado de sua companheira ruiva.
Quando as luzes do ambiente começaram a mudar e serem desligadas, todos os olhos focaram
no palco.
As meninas saíram dos seus pedestais de pole, a música do ambiente parou e as luzes
escureceram.
O coração de Konan retumbou e ele ficou em alerta, pois estava ansioso para ver o que ela
faria.
Nas laterais do palco alguns homens entraram, usando somente uma espécie de saia de couro,
com braceletes e coroas de folhas na cabeça e usando sandálias trançadas e algumas pinturas no
rosto.
Havia alguns tambores grandes nas laterais e eles, sincronizados, começaram a fazer umas
batidas ritmadas, e um gelo seco começou a sair do chão.
As luzes ficaram mais escuras com alguns focos em branco e vermelho, deixando o ambiente
sombrio.
Konan focou no palco esperando com um frio no estômago, pensando que ela entraria e
estava curioso para saber o que aconteceria, pois não tinha a mínima ideia.
Ele tragou a respiração quando ela entrou, porque foi realmente chocante.
Ela entrou quando a música começou a tocar, andando passo por passo, lentamente,
sedutoramente, balançando os ombros e os quadris de uma forma tão graciosa e imensamente
sexy que Konan soltou um gemido involuntário.
Aquilo parecia muito com a dança do ventre que ele já tinha visto odaliscas dançarem pela
televisão, mas ela parecia aquelas dançarinas do templo de Afrodite, mais sombria e misteriosa.
Havia um véu que ia enrolado na cintura e subia sobre seu peito até a cabeça.
Então, após alguns movimentos, ela foi desenrolando o véu e ele dançava no ar. Até que ela
tirou todo ele de seu corpo e o rodopiou sobre a cabeça.
A roupa era bem elaborada, bem decorada com muitos bordados, correntes e pedrarias e
placas de metal.
— Isso parece aquela dança do ventre. Uau, puta que pariu, mas não parece uma dança no
ventre!
— Desde quando entende de dança, Zian?
— Não entendo nada, mas já vi dança do ventre e isso aí parece, mas acho que não é.
— Pode ser uma coisa grega.
— Bem, é uma coisa boa grega. Pelo amor de Deus, olhem para essa mulher.
Sim, Konan estava olhando, boquiaberto. Tão hipnotizado que o som das batidas dos
tambores, misturado com o som mecânico, ficaram mais altos e intensos e era só o que ele podia
ouvir, cada batida com cada movimento dela.
Foi puxado como a um ímã, ele desceu as escadas e foi para frente do palco que tinha altura
de sua cintura e nem sequer piscava para não perder nem um movimento dela.
Cassandra se aproximou da beirada do palco e olhou direto para ele.
Ela rodopiou vigorosamente e parou, lentamente se abaixou e envolveu seu pescoço com o
véu e se aproximou dele o que quase o fez derreter, então ela soltou o véu, virou e recomeçou a
balançar os quadris e voltou para o centro do palco.
Ele pensou que o panteão de Zeus tinha caído sobre sua cabeça, porque ficou meio zonzo.
Ela trajava uma saia justa do quadril e bem baixa, deixando sua barriga descoberta com uma
pequena faixa bordada que tinha uma cascata de correntes com pedras e a saia caía até seus pés
com várias faixas transpassadas que se abriam quando movimentava as pernas, deixando uma
sensualidade indescritível.
Ela tinha uma tatuagem que ia debaixo dos seios e caía sobre o estômago, e uma nas costas,
na base da coluna, e as outras, pareciam mais lindas do que nunca, misturada naquele look todo.
Seu cabelo longo ia até a cintura e caía como uma cascata de tranças sobre seus ombros e a
parte da frente estava presa para trás, e usava uma espécie de coroa alta e brilhante e dela caíam
cascatas de correntes brilhantes.
Nos braços usava braceletes e nos punhos uma larga pulseira que iam até seus dedos.
Ela usava uma maquiagem exótica nos olhos, negra e prata, com um delineador negro e que
deixava seus olhos fascinantes, mas o que Konan arfou foi quando ele viu a cor de seus olhos,
azuis tão claros como o céu, translúcidos, brilhantes como a luz.
Como os olhos das lobas.
Ela se movia com o bater da música com fortes sons do tambor e sua barriga se movia como
uma onda.
Tudo era tão metodicamente perfeito, ao mesmo tempo em que uma curvatura do punho, o
tocar das pontas dos dedos era tão perfeito e suave, tinha uma sensualidade tão gigantesca e
fascinante que ninguém conseguia tirar os olhos dela.
Konan nem sequer respirava ou piscava e não existia nada ao seu redor, nenhum movimento,
fala, cheiro ou um terremoto que conseguiria fazê-lo tirar os olhos dela.
Completamente fascinado, inebriado, seu corpo e sua alma foi atraído para ela e ele sentiu
algo se expandir dentro dele, como se sua alma estivesse inflando.
O ambiente, com piras acesas em chamas, com o gelo seco vagando ao seu redor como uma
neblina mística dava um ar de estar em outro mundo.
Ela ondulava seus quadris de costas para o público, formando um oito deitado que significava
o infinito e ondulada com um baque alternado, acompanhando o tambor.
A música foi ficando mais rápida, assim como seus quadris e ela movimentou o corpo, todo
ondulando os braços esticados para as laterais de seu corpo.
Ela foi girando para frente e ondulava a barriga e posicionou uma mão sobre a cabeça e a
outra manteve alongada na lateral.
Tudo se tonou vibrante, rápido e as luzes coloridas saltavam sobre ela e houve uma euforia
pelos espectadores e ela dançou divinamente e Konan teve a impressão de que uma deusa do
panteão dos deuses gregos havia descido dos céus e aterrissado naquele palco para dominar sua
mente, seu corpo e sua vida.
Porque as sensações que teve foram absurdas.
Ele estava pego. Literalmente tombado aos seus pés. Sorriu, tão encantado que seus olhos
brilhavam.
Konan queria saltar sobre ela e beijá-la até morrerem sufocados.
Então a dança acabou, as piras apagaram, as luzes escureceram e ela andou até o fim do palco
e duas outras mulheres entraram para fazer sua performance.
Konan andou mais à frente do palco e ficou ali, estático, mas não estava prestando atenção
nas dançarinas que também eram sexys e arrancavam palmas e assovios, mas ele não queria
saber delas, queria que sua deusa retornasse ao palco, queria mais, precisava de mais.
Ele estava focado na cortina negra para ver se ela aparecia, pois estava se segurando para não
ir atrás aos camarins atrás dela. Tinha visto a programação e sabia que ela entraria novamente,
então o tempo pareceu transcorrer como uma lesma.
As garotas saíram arrancando muitas salvas de palmas e o palco escureceu novamente e as
batidas reiniciaram.
Tudo explodiu no palco em luz e as piras reacenderam e ela apareceu, agora vestindo outra
roupa semelhante a que usava antes, mas com o corpete diferente e agora ele era negro e foi
espantoso porque ninguém soube como ela trocou de roupa tão rápido.
Seus adornos eram muito mais pesados e exóticos e a tiara que tinha na cabeça agora era
chocante, era brilhante e alta, mas entre seu cabelo havia muitas cobras que pareciam fazer parte
de seu cabelo, que deveriam ser de plástico ou algum outro material e agora seus olhos estavam
amarelos.
Era uma dança de Medusa, deixando todos boquiabertos, mas o que arrancou arfados
espantados foi a cobra píton amarela que ela carregava no pescoço, e esta era uma cobra de
verdade.
Ela veio para frente, se movendo como se fosse ela própria uma serpente e assim iniciou outra
dança.
Todos a olhavam dançar, hipnotizados, mas Konan... ele nem estava mais respirando.
A música era modificada, mixada com mais batidas e mais sombria, parecia uma mistura de
sons.
Ela parecia uma dançarina do ventre dark.
Pelos deuses, essa mulher era quente como o covil do inferno.
Sim, ela era e sacudiu o mundo de Konan deixando tudo de cabeça para baixo, seus
pensamentos, sua libido, seu coração e seu juízo.
Se ele tinha alguma dúvida que estava ferrado, bem, naquele exato momento que ela cravou
os olhos nos dele, olhando-o sedutoramente, intensamente, teve certeza.
Ela veio dançando direto para ele, se insinuou, movendo seu corpo sedutoramente, ela soltou
a cobra sobre uma caixa que estava ao lado e rolou no chão, fazendo curvas e um engatinhar
mais erótico que jamais havia visto.
Chegou a sua frente, ficando na altura de seus olhos e se aproximou, quase tocando seus
lábios com um beijo, passou a mão em seus longos cabelos, tirando-os do rabo de cavalo que ele
mantinha.
Ela era uma serpente, quente e linda, enrolando sobre ele, em sua aura poderosa, chamando-o
como um afrodisíaco que dançava no ar, como o olhar hipnotizador de uma cobra rei.
Quando pensou que ela selaria um beijo em seus lábios, ela levantou, deu uma volta e se
afastou. E com um puxão, tirou o pano que lhe servia de saia e somente ficou com uma sunga
coberta de muitas tiras de pedrarias que caíam sobre suas pernas, seu traseiro, seus quadris
largos.
Seu corpo era maravilhoso e ele queria se enroscar nele novamente. Se afogar naquela onda
de prazer, mergulhar no mar de prazer.
Ele queria possuí-la e viajar no mundo mágico que ela sabia criar.
Konan passou a língua pelos seus lábios porque delirou que pudesse tocar sua pele, sentir seu
sabor, embrenhar-se em seu corpo pecaminoso.
E ele o faria, em breve.
Ela estaria em sua cama novamente e isso era uma promessa.
E pareceu que, por um momento, a promessa que havia feito anteriormente de nunca, jamais
de envolver com uma humana novamente, estava perdida na névoa dos seus pensamentos.
Outras duas mulheres vestidas de guerreiras entraram no palco e ficaram mais atrás e faziam
suas coreografias coordenadas junto com ela.
Usavam um corpete de couro e metais dourados com uma sunga e uma saia de couro curta,
braceletes e muitas pulseiras antigas e um colar que parecia uma gola.
E as duas com movimentos iguais, faziam malabarismos com uma vara, com uma tocha nas
pontas em chamas, e encantavam a plateia e então elas apagavam a tocha dentro da boca, o que
arrancou gritos, assobios e arfados espantados.
Então, Cassandra pegou um par de malabares em chamas e Konan arregalou os olhos. Como
que ela os manuseou ao mesmo tempo que balançava seus quadris?
A música e os tambores agora estavam frenéticos e elas dançavam rapidamente, então ela se
atirou no chão, de joelhos se curvou para trás e Konan parou de respirar, com medo que ela se
queimasse, mas era perfeita e eficiente.
Ela girou pelo chão, levantou com uma graciosidade impressionante, juntou os dois malabares
diante da boca e assoprou um líquido, causando uma enorme labareda de fogo e os tambores
pararam de bater e a plateia foi à loucura.
— Puta que pariu! — Konan rosnou.
Ele piscou aturdido, porque pareceu que o show acabou, pois ela veio para frente sorrindo,
arfando e agradeceu os assovios, os aplausos de pé, de todo o clube.
Konan olhou ao redor, para ela e seu coração se encheu de emoção.
Todos estavam a aplaudindo de pé e assobiavam e gritavam bravo.
Ela respirava ofegante, pois estava cansada, mas estava radiante de felicidade, e então saiu do
palco e o show parecia ter acabado. As luzes mudaram e a atenção do povo saiu do palco.
Mais tarde haveria mais uma apresentação, mas ela não estava.
Ele precisava ir até ela e lhe dizer os parabéns, dizer que tinha sido incrível, mas um pinicar
na sua nuca chamou sua atenção e ele olhou para a porta e lá estavam um grupo de mal-
encarados.
E na frente deles estava o próprio traste que Konan reconheceu. Estava até muito bem-vestido
com um terno, mas sua cara estava com um sorriso que Konan não gostou.
Ele estava batendo palmas então Konan pensou que ele teria visto a apresentação, pelo
menos, o final dela.
Konan rosnou e foi até eles.
— O que está fazendo aqui?
— Estou apreciando o show, é um lugar público.
— É melhor ir embora.
— Não irei e não pode me obrigar, não estou fazendo nada de mais. Não viemos para uma
briga e sim, somente tomar umas bebidas e ver a festa.
— Se causar problemas, jogarei você na sarjeta.
— Anotado. Meus rapazes se comportarão, não é, rapazes?
— Sim, chefe.
Konan olhou para eles e queria jogá-los para fora imediatamente, afinal prevenir era melhor
que remediar, mas deu um passo atrás.
— Não esqueçam, terei prazer em moer suas pernas se me irritarem.
O homem abriu um enorme sorriso, deu sinal para que os homens o seguissem e sentaram em
uma mesa.
Konan rosnou e se afastou, pois tinha que ser civilizado. Ser segurança não era para causar
uma briga e sim evitar que acontecesse.
Não sabia se ele tinha vocação para tal coisa, pois não tinha muita paciência com humanos
imbecis.
Falou com dois seguranças para ficarem de olho na mesa dos homens e foi para trás do palco,
entrou em um dos camarins onde estavam as outras moças.
— Onde está Cassandra?
— Subiu ao escritório.
Ele rosnou virou e subiu as escadas e abriu a porta num solavanco e ali estava ela, tinha
trocado de roupa, uma menos exótica, pelo menos, e mantinha a tiara e a maquiagem.
Senhor, ela estava linda.
Eles ficaram parados se olhando e, então, ela deu um sorriso.
— Então, gostou? Acha que eles gostaram?
— Sim, gostaram.
— E você?
— Nunca vi nada tão bonito.
Ela andou até ele, com um sorriso nos lábios e tocou em seu peito.
Konan não disse uma palavra, somente segurou seu rosto entre as mãos e a beijou, beijou
alucinadamente, arrancando gemidos dela.
Ele sabia beijar e Cassandra realmente amava beijá-lo, podia beijá-lo a vida toda.
Incapaz de mover-se pela força de sua fantasia sexual que pairava na sua mente, Konan a
puxou para si, aprofundando o beijo e sentindo seu corpo no seu.
Com dificuldade soltou de seus lábios e embrenhou o rosto em seu pescoço.
O aroma de mulher, fumaça, rosas e o que devia ser o gelo seco o invadiu e sentiu uma
necessidade quase desesperada para baixar a cabeça e enterrar seu rosto em sua pele e só inspirar
seu doce perfume.
Afundar as presas em seu pescoço e provar a força vital dentro dela. Reivindicá-la.
Inconscientemente, abriu seus lábios, mas impediu que suas presas aparecessem.
Sua necessidade por ela era quase irresistível e o deixava descontrolado, mas ele amava a
sensação que sentia ao tê-la tocando-o. Mas nem de perto e tão enorme como o desejo que ele
sentia de tocar seu corpo.
Ela arrastou sua mão por seu braço musculoso, para enterrá-la em seu cabelo a fim de poder
acariciar seu couro cabeludo.
— Faça amor comigo, Konan.
— Estamos no clube.
— E o que me importa? Ninguém entra aqui sem tocar a campainha na escada.
— Não toquei uma campainha.
— Porque para você eu abro uma exceção. Não posso ser uma loba, mas posso te fazer voar,
aqui e agora. Quero compartilhar meu corpo contigo, ainda se for só por pouco tempo.
Ele rosnou e a puxou com força contra ele e a beijou apaixonadamente. Ela gemeu, arqueando
suas costas enquanto a colocava sobre a mesa. Ela estapeou sem olhar para as coisas sobre a
mesa e elas voaram para o chão.
Cassandra chutou seus sapatos, logo removeu seu cinto. Tirou sua camiseta enquanto tentava
não interromper o beijo delicioso que travavam, como uma guerra desesperada.
Ele agarrou as tiras de sua calcinha e as deslizou por suas pernas, mas não se incomodou de
tirar sua saia difícil. Separando suas coxas ainda mais, tomou um momento para olhar a parte
mais privada de seu corpo.
Ela era tão bela. Adorava olhá-la.
Percorreu com seus dedos sua abertura, fazendo-a tremer ainda mais. Usando seus polegares,
separou-lhe os lábios e então baixou a cabeça para tomá-la em sua boca.
Cassandra ficou sem fôlego ao sentir a língua do Konan percorrendo-a.
Ele lambeu e provou, enquanto sua respiração lhe assombrava, entrecortada, era difícil
respirar enquanto ele fazia aquilo. Ele sabia como tocá-la.
Ele gemeu como se o sabor dela fosse paradisíaco. Lambendo os lábios, ela se esticou até
pegar seu rosto em suas mãos enquanto lhe dava prazer.
Seu coração batia descompassado e simplesmente amava como ele fazia amor com ela.
Em seus sonhos, seu toque tinha sido incrível, mas na realidade era muito mais intenso. Muito
mais satisfatório. Sonhar com ele era bom, mas tê-lo era magnífico. Perfeito.
Sua cabeça girou enquanto seu coração se acelerava tão forte que doía no peito. O êxtase
desenfreado dançou através dela e a deixou pronunciando seu nome em lânguidos sussurros,
enquanto a devorava.
E quando ela gozou, gritou, sustentando sua cabeça contra ela, enquanto seu corpo se
desintegrava em mil faíscas de prazer.
Ele continuou lambendo-a e provando-a até que choramingou de prazer. Podia jurar que mil
estrelas haviam pipocado diante de seus olhos.
Konan ergueu-se sobre ela e com um rosnado tomou sua boca num beijo alucinante e ele
simplesmente amava vê-la arfar, respirar com dificuldade, adorava ver suas bochechas rubras
pelo prazer.
Seu rosto estava excitado, seus olhos brilhantes, pedindo mais.
Ele nunca tinha tido a uma mulher com tanta vivacidade e desprendimento como ela tinha, e
achava que nunca teria, ela se entregava inteira e desfrutava do sexo como nunca.
Konan se afastou só o tempo suficiente para abrir e baixar suas calças.
Ela o alcançou enquanto estendia seu corpo sobre o dela e deixava que seu calor o
esquentasse, tocando seu sexo que estava quente e pulsante. Ela o achava divino, grande, grosso
e quente, perfeito sob sua mão. Adorava tocá-lo.
Konan grunhiu ao roçar seus dentes nos mamilos que havia desprendido de seu top, e sugá-
los com força, enquanto ela o tocava, subindo e descendo em seu membro.
Então ela o dirigiu para dentro dela e ele rosnou, sentindo a ponta de seu pênis pressionando
suas dobras escorregadias, seu sexo quente que o chamava. Como um chamado ao lar.
Ela se sentia bem debaixo dele, nesta forma, amando-a. Olhando-se nos olhos, dando prazer
um ao outro, se importando.
Suas pernas estavam envoltas ao redor de sua cintura. Suas mãos acariciando suas costas,
trazendo-o para ela.
Ele inclinou a cabeça e a beijou, explorando sua boca com a língua.
Ela arqueou as costas, esperando que a enchesse e fez mais fundo seu beijo e, com um
impulso se deslizou profundamente em seu interior, fazendo-a arfar e choramingar de prazer.
Ele vacilou alguns minutos para senti-la agarrando-o e então gemeu e começou seus
movimentos, lentos e torturadores, depois forte e ambos gemeram.
Cassandra arqueou suas costas ante a incrível percepção intensa e dura dele em seu interior.
Ele era tão grande. Tão dominante, tão delicioso.
Ela subiu e baixou suas mãos sobre seus ombros e musculosas costas, pelos seus braços, pois
queria tocá-lo em todas as partes e sentir sua pele quente que estava queimando suas mãos.
Gemendo seu nome, ele enterrou seus lábios em sua garganta, raspando sua pele com suas
presas enquanto a penetrava energicamente.
E não demorou para ambos terem um orgasmo, juntos e isso podia contar o quanto era raro e
maravilhoso. Cassandra podia desmaiar em seus braços que estava bem.
Senhor, bem demais.
— Adoro fazer amor com você — ela sussurrou mesmo sem saber que o tinha feito em voz
alta e ele fechou os olhos e saboreou essas palavras tanto como tinha saboreado seu nome.
Sua garganta se contraiu ante suas palavras. Como podia lhe negar alguma vez uma petição
tão simples? Queria estar com ele e ele queria estar com ela. Tão pouco tempo se conheciam,
mas era uma sensação de comodidade e perfeição. Algo delicioso, algo aterrador.
Porque eles não tinham tido só sexo. O que compartilharam era muito mais que isso. Era
básico, primitivo e sublime. Apaixonante, intenso.
Ela tinha feito o impossível. Ela se tinha deslizado dentro de seu morto coração, rompendo
suas barreiras. Só ela o fazia arder daquela maneira. O fazia desejar algo mais.
Em seus braços, tinha descoberto sua alma perdida.
Ela significava algo para ele e ao menos podia pretender que significava algo para ela.
Com suas outras mulheres tinha sido quente, mas não o tinham tocado, por dentro. Sempre só
fora sexo, suor e gozo, nada mais, tudo intenso e gostoso, mas frio e distante.
Ele loucamente tentou recuperar o ar e ela tirou os seus cabelos para trás que caíam em seu
rosto e beijou seus lábios.
Ele a tinha evitado, sabendo que a única razão pelo que se sentiam atraídos era que algo havia
se movido dentro de sua alma e ele não estava a fim de lidar com tal merda, mas agora, estava
fodido.
Respirou fundo, roçou sua bochecha na dela e ela gemeu enquanto ele a acariciava. Então,
parou e se afastou, saiu dela e arrumou suas roupas e não a olhou.
— Ali... — Ela indicou o banheiro e ele foi pra lá e fechou a porta.
Cassandra sorriu satisfeita e ajeitou sua roupa.
— Deus, por que demorei tanto para achar um lobo em minha vida? Desgraça de homem bom
— sussurrou, mas então seu sorriso se perdeu, porque sabia que eles estavam curtindo sexo, nada
mais e era bom.
Ela deteve os pensamentos pessimistas, pois não queria que nada estragasse este momento.
Este poderia ser o último momento que ele teria com ela.
Homens não mantinham um relacionamento. Ainda mais que ela era uma humana e ele um
lobo. Ela gemeu e fez uma careta diante de sua realidade. Era louca de ter sexo desse jeito, mas
ele era demais para ela se afastar. Era muito homem para deixar para lá. Se ele fosse embora, ela
sofreria. Sofrer era sua sina.
Ela respirou fundo, foi até o frigobar e pegou uma Long Neck gelada e a bebeu e colocou em
sua testa.
Quando Konan saiu do banheiro, ela sorriu, como se nenhum temor a afligisse e deu uma
garrafa a ele.
— Estou trabalhando.
— Que vá, sem problema, é só uma cerveja. Não é que sua chefe vai te chamar a atenção e
colocá-lo de castigo.
Ele riu.
— Pois você é minha chefe, é?
— Não sei ao certo, talvez, pelo menos, em parte — disse rindo. — Não sei o que é, Konan,
mas gosto assim mesmo, um pouco prisioneira, um pouco chefe, um pouco amante.
Diversificado e não entediante.
— Bom.
Era tão erótico vê-la com aquela roupa exótica, sua maquiagem forte e cristais colados em seu
corpo, alguns fazendo desenhos como os indianos.
— Não devia ficar descalça no piso, não quero que tenha frio — ele disse, calmamente.
Ela o olhou, aturdida, porque disse tão despretensiosamente que tocou seu coração e ela tocou
sua bochecha.
— É piso térmico, não me dá frio.
Ela lhe sorriu, emocionada por sua consideração.
— Depois do que fizemos, também me sinto bem acalorada.
Ele sorriu e bebeu de sua cerveja.
E sentindo o clima romântico demais, próximo demais, tudo demais, pigarreou e bebeu mais
um gole, colocou sobre a mesa e um tanto sem jeito foi até a porta.
— Vou voltar ao trabalho.
Ao ver seu sorriso ir embora, ele parou, voltou, puxou-a para ele e beijou seus lábios. Ele
amaldiçoou ante o pensamento de que não queria magoá-la.
Ela tomou seu rosto em suas mãos e o beijou ferozmente, reagindo ao seu beijo com
sofreguidão.
Logo ele saiu, fechando a porta, e ela suspirou.
— Não se atreva a te afastar de mim. — Ela respirou fundo e foi para o banheiro. — Merda.
Você está muito sentimental, Cassandra, te aprume na vida, nada de se apaixonar, não. Não.
Vamos abrir uma distância aqui, nada de sexo, chega.
Ela respirou fundo, foi ao toalete se recompor e voltou para o clube. E todos vinham
cumprimentá-la pelo show e ela passou nas áreas VIPS, cumprimentando seus convidados.
Konan ficou a distância, somente a seguindo com os olhos.
— Espero que tenham gostado — disse aos lobos quando foi a sua área.
— Cassandra, estou enlouquecida, mulher, como pode dançar assim? Fiquei mortinha de
inveja! — disse Ester e Cassandra riu.
— Obrigada, fico contente que gostaram.
Cassandra olhou para Noah e ele rosnou.
— Parabéns! — ele disse e isso a espantou.
— Obrigada, alfa, e devo dizer obrigada por ter Konan aqui.
— Tudo por ele.
Ela franziu o cenho diante de tal frase, pois não entendeu o significado.
Aquilo parecia uma tal lealdade que ela se dava conta, e eles não estavam agressivos ou
querendo arrancar sua cabeça.
Era estranho. O que ela estava perdendo?
— Fiquem à vontade.
Ela saiu, porque ficava nervosa diante deles.
— Jesus, como agir normal na frente deles? — sussurrou.
Quando desceu as escadas e ia se dirigir ao bar, xingou ao ver Tullo cheirando cocaína na sua
mesa. Na frente de todos, abertamente.
— Filho da mãe!
Ela foi até ele e com a mão estapeou a droga que voou por todo lado.
— Sua cadela, olhe o que fez! — gritou.
— Saia daqui com suas drogas.
— Oh, a menina pura não cheira na frente dos outros, como papai?
— Seu pai não usava drogas, seu imbecil!
— Vai pagar por isso.
— Saia!
Tullo a esbofeteou e ela virou o rosto, ele foi bater novamente, mas ela se defendeu,
empurrou seu braço e deu uma cabeçada em seu nariz. Tullo gemeu segurando o nariz e gritou de
raiva e dor, então isso o deixou mais furioso.
Ele saltou para cima dela, mas não teve tempo de chegar nela novamente, pois Konan o
agarrou pelo pescoço e o jogou longe. Tullo voou por cima de duas mesas, bateu contra a parede
e tombou no chão.
Konan se virou para o grupo, mas ficou espantado ao ver que Noah e Liam estavam ali e
agarraram dois dos homens e os tombaram no chão, batendo na mesa e a tombando junto.
Noah cravou o joelho no tórax do homem e se ele ainda tivesse costelas inteiras seria um
milagre, Liam fez o outro desmaiar com um soco somente.
O restante do grupo estava espantado e um deles tirou uma faca, mas Konan foi tão rápido
sobre ele e a faca voou longe, que o homem estava no chão.
Em seguida, foi até Cassandra que, com um golpe, derrubou um dos homens e o deixou
desmaiado. Ele ficou espantado com sua força e claramente foi um golpe de artes marciais.
— Você está bem?
— Estou bem, devia ter previsto o golpe.
Konan rosnou de raiva. Dois minutos depois, todo o grupo foi literalmente jogado para fora
do clube.
— Esta foi a última vez que pisou aqui, se vir sua cara aqui, mais uma vez, juro que arranco
sua cabeça — Konan disse.
— Acha que pode me impedir? — Tullo disse, zangado e gemendo.
— Seria muito burro se cometesse esse erro de novo, ninguém toca a Cassandra e vive. Se
ousar colocar os pés ao redor dela novamente, eu te transformarei em uma criatura estripada.
— Ela contrata assassinos agora como capangas?
— Ela não é da sua laia, mas volte a pisar aqui e te mostrarei quão assassino posso ser.
Konan não esperou o homem retrucar ou falar nada, voltou para a porta.
— O próximo imbecil que permitir que esse cara e sua gangue entre no clube outra vez está
demitido, fui claro?
O porteiro assentiu.
— Sim, senhor.
Konan voltou para dentro e os lobos estavam reunidos na frente do bar.
— Obrigado, alfa.
— Foi animado, completou a noite, sempre gosto de socar a cara de humanos imbecis.
Konan respirou fundo.
— O estrago não foi grande, somente uma mesa quebrada.
— Melhor colocar um gelo aí — Ester disse se aproximando, escoltada por Sasha.
— Sim, colocarei, obrigada — Cassandra disse.
— Bem, acho que nossa noite alucinante terminou, vamos?
— Obrigado por virem — Cassandra disse. — Desculpe pela briga.
— O prazer foi nosso — Noah disse.
— Parabéns pela dança, foi magnífico — Ester disse.
— Obrigada.
Os lobos partiram e Cassandra estava espantada e se assustou quando Konan tocou sua
bochecha.
— Desculpe — ele disse.
— Pelo quê?
— Devia ter estado mais perto e evitado que te batesse.
Isso a comoveu e viu o tormento no olhar dele.
— Você veio por mim, me defendeu dele e o colocou para fora, isso significa muito para
mim. Teria sido pior se vocês não estivessem aqui.
Konan assentiu, mas ela soube que não o abrandou.
Ele pegou em sua mão e a levou para seu escritório, abriu o frigobar e tirou uma bolsa de gelo
e colocou em seu rosto.
Estava tão espantada com seu cuidado que não conseguia acreditar e ficou o olhando aturdida.
— Obrigada — sussurrou.
— Nunca mais te tocará, nem ele, nem ninguém.
— Logo você partirá e não te importará mais.
Konan a olhou e constatou que era verdade. Ele não ficaria, mas a informação não foi bem-
vinda para nenhum dos dois e ficaram calados por um tempo, mas ficou ali, segurando o gelo em
sua face.
— Sempre me importarei.
Ela assentiu, mas parecia não acreditar muito naquilo.
— Fale-me um pouco de você — ela perguntou.
— O que quer saber?
— Como é ser um lobo? Você gosta?
— Gosto.
— Como me sente... quando me toca?
— Te sinto sempre quente.
Ela sorriu.
— É claro — ela respondeu. — Fale-me um pouco de seus sentidos de lobo, parece-me que é
mais intenso que os meus.
Ele a olhou por um minuto, se aproximou e beijou seus lábios.
— Primeiro eu desejo um beijo e planejo como farei meu ataque sobre a presa mais bela que
já conheci.
— Tipo um reconhecimento de área? Para um ataque?
Ele sorriu lindamente e assentiu.
— Sim, eu foco na minha presa e a encurralo, deixo-a presa nos meus braços. Então, eu
começo com o toque.
Ela tocou sua bochecha, sobre sua covinha e o toque era inestimável para ele, suave e uma
carícia deliciosa.
Ele deslizou os dedos em sua mandíbula e desceu pelo pescoço.
— A textura da pele, como sinto debaixo dos meus dedos define muito. É o terreno que vou
explorar, suave e quente.
Ele deslizou um dedo em seu colo.
— Alguns lugares exigem uma abordagem muito mais delicada do que os outros.
Ele delineou seus lábios lentamente.
— Eu vejo — ela disse baixinho, seu hálito quente fazendo cócegas no seu dedo. — O que
mais?
— Cheiro... — ele disse, segurando seu cabelo e inalando seu perfume, deslizando o nariz
pela pele de seu pescoço. — Um determinado cheiro pode me dizer tudo sobre o desejo. Algo
doce. Algo almiscarado... cheiro de excitação misturado com o perfume de sua pele... rosas. O
seu cheiro sempre me deixa louco e inebriado — murmurou roucamente.
Cassandra soltou um suspiro quando ele, gentilmente, mordeu o lóbulo de sua orelha.
— Meu ouvido é mais aguçado que os dos humanos e consigo escutar o som do seu coração,
seus sussurros e suspiros são uma onda quente em meus ouvidos e no meu corpo, como uma
onda de alta frequência, me dando prazer. Às vezes, os sons mais suaves, até mesmo um suspiro
pode dizer muito sobre o quão perto eu estou de atingir meu objetivo e me deixa louco.
— O que mais? — ela perguntou encantada.
— Meu paladar é mais aguçado e sinto os gostos mais fortemente e gosto de te provar, seu
sabor é divino. Eu quero provar tudo de você. Então, eu a tenho e a faço se entregar a mim e
minha presa está perdida no prazer que dou a ela.
— Se sente bem com tudo isso?
— Mais que bem. Faz parte do meu prazer, dar prazer.
— É generoso.
— Sou justo.
Ela sorriu, embrenhou a mão em seus cabelos e o trouxe para ela e o beijou. O beijo iniciou
lento e ficou selvagem e quente como um incêndio florestal. O gosto de suas línguas dançando
uma com a outra os consumiu. E ambos estavam perdidos.
Soltou dele com um arfado, abriu os olhos e se olharam profundamente, então ela sorriu,
beijou sua bochecha e soltou o gelo sobre a mesa.
— Obrigada pela aula, vou sempre me lembrar disso e prometo testá-lo mais tarde, mas agora
eu preciso ir trabalhar.
Konan respirou fundo, afastando sua luxúria, e com um sorriso a seguiu para fora da sala.
A noite foi longa, mas tudo transcorreu bem depois da briga e Cassandra passou a maioria do
tempo no cassino, seguida de perto por Konan, que parecia uma sombra.
Mas se eles pensaram que, ao chegarem em casa cada um iria para seu quarto, estavam
enganados. Quando os dois se deram conta, estavam atracados aos beijos, jogando-se na cama e
fazendo amor de novo.
Depois, extasiados e cansados, ficaram abraçados e ela adormeceu. Konan, abraçado a ela,
estava preocupado, pois ela estava tão bem ali, nos seus braços. Parecia tão perfeita e cálida,
protegida.
E se ele não pudesse protegê-la?
Isto não cheirava bem. A última coisa que desejava era estar perto de uma mulher que o tinha
seduzido tão completamente, enfiando-o numa confusão daquelas.
Mal a conhecia e se sentia enredado. Deveria recuar, imediatamente.
Uma mulher que sabia que não poderia tomar como companheira. Que seria um engano ainda
maior do que já tinha cometido. E pelos últimos anos jurou que não o faria, jamais, pois humanos
não eram confiáveis, eram perversos e tinham perseguido a sua espécie, matando-os. Tinham o
rejeitado.
E ainda assim a mulher o atraía de um modo que o rasgava.
O que ia fazer? Como podia sustentar seu código de honra que havia imposto a si mesmo e
manter-se afastado dela quando tudo o que verdadeiramente desejava fazer era tomá-la em seus
braços e saber se ela o apreciava, se queria fazer parte de seu mundo, como uma loba.
Ele sabia melhor, ela nunca seria uma loba.
O jogo de sedução era maravilhoso, mas não poderia passar disso.
Konan a beijou nos lábios e foi para seu quarto.
Ilha dos Lobos, Grécia

— Lucian! Volte aqui, Lucian!


Ester correu pela pequena estrada atrás de Lucian, que estava em forma de lobinho. Parou
bruscamente quando se deparou com Logan. Ele estava com os cabelos longos soltos, usava uma
bandana vermelha na testa, sua barba havia crescido um pouco e ele olhava seriamente para
Ester.
Ela engoliu em seco, o olhando. Ele era de dar medo, mas sabia que não a machucaria. Estava
com Lucian no colo, que se agitava alegre e soltava pequenos uivos e grunhidos como se
quisesse contar algo muito importante para o gigante carrancudo.
Logan não parecia zangado, de fato, mas somente sua carranca já fez as pernas de Ester
tremerem.
Ela não sabia como lidar com ele.
— Oh... olá, Logan, tudo bem?
Nenhuma palavra.
Lucian uivou e se transformou em seu colo e Logan olhou o lobinho que parecia muito
animado.
Ester teve a vontade de correr e pegar seu bebê, que agora estava nu e pulava no colo do
homem como se tudo fosse muito divertido.
Lucian nunca tinha medo de nada, nunca se assustava com nada. Então, Ester se surpreendeu,
porque o gigante deu um passo à frente, beijou a cabeça de Lucian e esticou os braços,
oferecendo-o para ela.
Ester o pegou e os dois ficaram se olhando.
— Obrigada. Ele fugiu na minha frente, o malandrinho. Acredito que estava querendo ir à
casa de Erick... sabe, ver Safira. Ele gosta de ficar perto dela.
Logan somente ouvia e não disse nada.
— Você... não foi à consulta que eu marquei para você, para ver como estão suas cordas
vocais. Poderia ir amanhã? Gostaria muito de examiná-lo novamente.
Ele rosnou e deu um passo atrás.
— Eu... somente quero ajudá-lo. Não vou machucar você.
Ele se virou e começou a andar.
— Logan?
Ele parou, mas não se virou.
— Todos nós estamos muito felizes que voltou para casa. Sei que precisa de mais tempo, mas
eu estarei aqui por você, sempre que precisar. E não haverá vergonha nenhuma se me pedir
ajuda. Talvez Kira possa ajudar com sua mágica ou...
Ele recomeçou a andar, deixando-a falando sozinha, mas parou, se virou e fez uma reverência
honrosa, se virou e partiu.
Ester ficou boquiaberta. Mesmo tão zangado com o mundo, com a dor ainda reverberando
sob sua pele, ele lhe fez uma reverência, demonstrando que a respeitava, mesmo não aceitando
sua ajuda.
— Eu sinto muito — Ester sussurrou quase para si mesma.
Verdadeiramente ela sofria por ele, assim como fazia Noah e sua família.
Todos tinham seu jeito de lidar com a dor e se curar. Cada um somente podia lidar consigo
mesmo para sair do poço profundo que os tinham jogado.
Ela suspirou e olhou para Lucian, que atentamente olhava Logan se afastar ao longe.
— Você... Fugindo novamente para ver Safira. Tsc... tsc... menininho levado. Mas mamãe vai
fazer sua vontade, vamos ver a pequena bruxinha do tio Erick. Mas que vergonha indo visitar
uma dama, assim, nu. Isso não é elegante, mocinho.
Lucian riu, gritou e bateu palmas, vendo que sua mãe estava o levando para a direção que ele
gostaria.
— Você está muito esperto, lobinho. Cuidado, seu pai vai morder seu traseiro se desobedecer
à mamãe. Não pode fugir assim. Já imaginou se eu sofresse do coração? Acabaria tendo um
piripaque. Já não basta seu pai me encher de sustos, agora você também? E por quê? Por um
rabinho de saia de babados rosa. Quem diria.
— Sa-Safira — ele disse todo enrolado.
— Sim, eu sei, eu sei, estamos indo.
Ele riu e Ester também.
Na casa de Kira, elas sentaram-se à mesa que ficava no deck no fundo da casa e dava na areia
de uma pequena enseada entre as rochas com um pequeno e tranquilo pedacinho do mar.
Enquanto tomavam um refresco e conversavam, Lucian e Safira brincavam na areia da praia
com seus baldinhos, pazinhas e rastelinhos.
As crianças estavam felizes, rindo. Lucian levantou com o baldinho e se afastou para pegar
um bocado de areia e, Safira, que tinha ficado atrás levantou para segui-lo, mas seus pezinhos
cambalearam na areia fofa e ela caiu sentada e chorou.
— Safira! — Kira disse e levantou para ir até ela, mas Ester a segurou pelo braço e a fez
sentar novamente.
— Olhe, Kira, apenas observe.
Kira olhou sem entender, então ela viu.
Quando Safira caiu, Lucian soltou o baldinho e correu até ela, a segurou pelos bracinhos e a
levantou do chão. Levemente deu batidinhas nela para tirar a areia e beijou sua bochecha e
passou a mão na sua cabecinha e resmungou palavras enroladas e desconexas, mas carinhosas e a
bebê parou de chorar.
Lucian segurou sua mãozinha e, devagar, eles foram andando, se equilibrando na areia para
não caírem e pegaram o baldinho e voltaram a brincar.
— Ora essa — Kira disse e olhou para Ester, que os olhava com um lindo sorriso.
— Acha que pode ver por que nossos bebês se amam tanto, não é?
— Ora se vejo, acho que era por isso que sua avó estava distribuindo baús de moedas de ouro
e joias, não acha?
— Acho que sim, mas eu não preciso ser uma bruxa para ver o amor de companheiros.
Kira os olhou e sorriu lindamente.
— Que lindo!
— Eu já disse que amo o mundo dos lobos?
— Umas mil vezes.
— Mil e uma, então.
Atenas...

Quando Cassandra levantou, vestindo uma camisola longa até as coxas e com o cabelo que
parecia uma bagunça, chegou a cozinha esfregando os olhos e bocejando, mas parou quando
encontrou Konan.
Ela olhou ao redor, confusa e voltou a olhá-lo.
— Hum... oi.
— Oi.
— Por que não me acordou?
— Parecia cansada.
— Estava.
Konan colocou um copo de suco de laranja na sua frente e ela sorriu e o bebeu.
— Está fazendo café?
— Eu estava com fome.
Ele deu uma mordida em um belo sanduíche de peito de peru.
— De onde veio esta comida?
— Da padaria ali ao lado. Realmente tinham uns pães quentes e saborosos.
— Oh, desculpe, que bela anfitriã sou, deixando meu hóspede passar fome.
— Sua geladeira precisa de um pouco de comida. O que come, vento?
— Como pouco — disse dando de ombros.
— Não devia, ficar sem comer faz mal. É por causa dessa estupidez de humanos que querem
ficar magras?
— Oh, não, realmente peço comida pronta, ou quando a cozinheira está por aqui tenho
comida, raramente cozinho só para mim, como qualquer coisa mesmo. Por que deveria preparar
a mesa com minha prataria, louça dinamarquesa e meus cristais somente para mim?
Ele a olhou e viu que estava brincando e sorriu.
— Não, coração, não faço refeições exatamente regulares e a natural se quer saber. Mas
passar fome não é meu forte. Se necessita de algo mais para comer, irei ao mercado e comprarei,
o que come? Muita carne, suponho.
Ela pegou um pedaço de presunto e queijo e comeu, depois lambeu os dedos e ele quase
rosnou com vontade de fazer o mesmo.
— Sim, como muita carne, mas não só isso, sou uma pessoa na maioria do tempo — ele disse
tentando desviar a atenção dela.
— Ok. Então não preciso comprar um potinho de ração?
Ele rosnou e ela riu.
— Desculpe, não se ofenda. Já deve ter percebido que gosto de brincar.
— Percebi. Pode-me falar sobre sua dança?
— Você gostou?
— Sim, eu gostei.
Ele a olhou com o olhar quente e ela engoliu em seco, mas feliz que a admirou, seus olhos
brilharam se satisfação. Gostava que a elogiassem por seus feitos, mas vindo dele, realmente
gostou mais.
— Dentro do repertório de dança do ventre grega, incluem-se alguns ritmos árabes como
Maqsoun, Malfouf e, claro, o grego tradicional Tsifteteli. Sou dançarina desde menina e sempre
quis aprender todas as danças gregas e, quando comecei a aprender a dança do ventre grega, vi
que podia fazer mais. No meu show queria ser mais do que uma coisa típica, então a modifiquei.
Fiz aulas com uma dançarina grega chamada Chryssanthi Sahar, muito famosa aqui, e depois fui
pesquisando por mim mesma.
— Assim se dançavam na antiguidade?
— Na Grécia, a Dança do Ventre é chamada de Tsifteteli. Embora esse termo seja moderno,
acredita-se que, na antiguidade clássica, as sacerdotisas de Afrodite já dançavam algo parecido
com o que dançamos atualmente. Uma dança sensual que perdurou até o período medieval com o
Império Bizantino e, posteriormente, o Otomano, momento em que a Grécia sofreu influências
árabes e de outras culturas do Oriente, então é muito semelhante à dança do ventre árabe.
— Interessante.
— A cultura grega possui uma rica tradição musical, uma mistura de elementos árabes,
armênios e turcos, conhecido pelo estilo musical Rembetiko que estão inclusos vários estilos de
dança, como o Zeimbekiko, Hassapiko e Tsifteteli.
— E essa outra mistura o que é? Essa coisa meio sombria? Tem um nome para isso?
— Tem, na verdade chama Dança Tribal Fusion. Uma mistura de dança indiana, grega,
cigana e incorpora também referências do Flamenco. Uma coisa meio dark.
— Não tem medo das cobras?
— A maioria delas sim, nem ousaria chegar perto. — Ela tremeu e gemeu. — Mas Kika não
faz mal a ninguém. Ela não tem dentes. E ainda é um bebê.
— Quando ficar adulta pode esmagar uma pessoa.
— É, mas não a mim. Ela impressiona no show.
— Como chama essa raça?
— Píton. Na mitologia grega, é uma serpente gigantesca, que nasceu do lodo após o grande
dilúvio. Foi mandada por Hera para perseguir Leto que estava grávida de Apolo. A serpente foi
morta a flechadas por ele e seu corpo foi dividido, então Apolo tomou o oráculo para si. Píton
vivia em Delfos, era guardião do oráculo de Têmis. O oráculo predizia o futuro baseado na água
ondulante e no sussurro das folhas das árvores. Tinham feito um templo para ela.
— Tudo na Grécia tinha um templo?
— Sim! — disse rindo. — Você é de que origem?
— Celta e viking.
— Os celtas não usavam um templo?
— Não, mas sim a natureza, porque consideravam a natureza o símbolo de poder e criação.
Toda a energia vem da natureza e alguns lugares são mais mágicos.
— Como os círculos de pedras, como Stonehenge?
— Sim, os círculos acumulam a energia do universo. Muita coisa mágica pode acontecer ali.
— Lindo.
— Você ama a mitologia grega.
— Oh, sim. Como estamos na Grécia, onde estamos rodeados de templos e deuses, eu resolvi
que teria meu próprio templo. Um templo de alegria, prazeres e sublimação. Eu não quero que
meu cliente entre em mais um clube, bar ou boate e tenha o mesmo. No meu, ele vai vivenciar o
clima e o prazer dos deuses. Eu quero que meus clientes saiam extasiados.
— Acredito que tenha conseguido, pelo que vi na noite passada.
— Então fico feliz. Sabe... antigamente os sacerdotes, tinham o dever de conduzir as pessoas
ao altar. Eu quero conduzir meus clientes a sua epifania, seu êxtase. Afinal, para que uma pessoa
sai à noite, procura um bar ou uma balada? Ele quer divertimento, quer algo, anseia a felicidade.
É só o que eu quero dar: felicidade. Quero que todos saiam dali com um sorriso no rosto, com a
certeza de que vão querer voltar.
— Meus amigos gostaram.
— Fabuloso! Os gregos e os turistas amam os templos, e sua relação com os deuses. Os
deuses gregos são sinônimo de beleza, de grandeza. Os gregos amam os seus deuses. O Panteão
é recheado de muitos mitos e lendas e eu quero que meu clube seja como um verdadeiro templo,
cheio de magia e de glória.
Ele estava a observando, como falava tão empolgada sobre tudo, como tinha se inspirado e
como aquele clube era tudo para ela.
Ela suspirou e mordeu uma bolacha de creme.
— Sabe, Konan, eu queria dizer que sinto muito por ter te colocado nessa bagunça toda. Não
queria te causar problemas, mas eu tinha que procurá-lo. Simplesmente tinha. Não quero que me
odeie ou pense que quero te prejudicar.
Ela respirou fundo.
— Não estou com raiva. Estou entendendo o que o clube significa para ti e que o quer
proteger.
— Sim, obrigada.
Houve um silêncio entre eles.
— Faria algo por mim se eu pedisse? — ela perguntou.
— Vai me explorar por que te desculpei?
Ela riu lindamente.
— Não, bobinho. Nada difícil para você, eu acho.
— O que é?
Ela o olhou meio sem jeito.
— Poderia ver seu lobo?
Konan piscou aturdido e eles ficaram se olhando por incontáveis minutos.
— Por quê?
— Porque na sua casa foi rápido demais e eu... eu realmente gostaria de vê-lo mais de perto.
— Não tem medo?
— Ele é bravo? Quer dizer, pode me machucar?
— Pode.
— Oh, que pena.
Konan a observou e de alguma maneira isso mexeu com ele. Ela queria ver seu lobo. Essa
mulher não cansava de surpreendê-lo.
— Mas não vai.
— Não vai o quê? — ela perguntou sem entender.
— Machucá-la.
— Oh, então... você pode dizer para ele aparecer e ele aparece?
— Sim, eu comando meu lobo, em forma de animal temos consciência, sei tudo o que estou
fazendo.
— Fascinante.
— Tem certeza de que quer vê-lo.
— Por favor?
Konan respirou fundo e não estava acreditando no que estava prestes a fazer, isso o recordou
de Kira, que Erick tinha pedido para se transformar em lobo para que ela perdesse o medo. Ele
tinha zombado dele e agora ele estava ali para uma humana que queria vê-lo como lobo,
conhecer sua magia.
Se Erick soubesse disso zombaria de sua cara para a eternidade. Bico calado.
Pensou que estava um pouco tonto, era informação demais para capitular. Mas não deu mais
tempo de lamuriar no seu cérebro, somente se transformou.
Cassandra gritou de susto e deu dois passos para trás e bateu na mesa de café e Konan rosnou,
depois ficou quieto, somente a olhando.
Ela estava o olhando com os olhos esbugalhados, com a respiração presa na garganta e com a
boca em forma de “O”.
— Santo Cristo — ela sussurrou.
— Não tenha medo, não vou te atacar.
— Oh, meu Deus, estou ouvindo você.
Ele suspirou.
— Sim, Cassie, está me ouvindo.
Tremendo, deu um passo à frente e esticou o braço para tocá-lo. Konan, um pouco ressabiado,
veio à frente e quando ela o tocou, afundou os dedos em sua pelagem macia, houve um choque
para os dois, porque era um prazer inenarrável.
Konan fechou os olhos para senti-la e ela sorriu, extasiada e se ajoelhou.
Seu lobo era enorme, mais do que um lobo normal deveria ser, seu pelo era preto e tinha
mechas brancas espalhadas pelo corpo e em sua cara e seus olhos pareciam ainda mais
brilhantes, de um verde esplendoroso.
Ela nunca imaginou que um lobo seria assim, tão lindo, tão magnifico e ele deu um passo à
frente e ela tragou saliva quando se aproximou, sua enorme boca de seu rosto, mas ela não se
moveu. Mesmo com uma boa dose de medo percorrendo-a.
Konan lentamente esfregou sua cara em sua bochecha e ela soltou o ar num bufo, mas não se
afastou e ele colocou o focinho em seu pescoço.
— Oh, Konan... isso é magnifico! Você tem o poder de se transformar em lobo. Como pode
tal magia existir? Todos deviam tomar conhecimento de sua existência.
— Os humanos não nos entendem. Eles nos prenderiam.
— Quem seria tão estupido de fazer tal coisa? Quem machucaria um animal tão belo, nem
sabem que é possível existir tal magia.
— Por isso não podemos nos mostrar. Tem que entender, nos prenderiam e nos matariam,
nos fariam sofrer e isso não permitirei jamais — disse enérgico e ela olhou com os olhos
arregalados.
— Nunca te machucarei, nem nenhum deles. O que fizeram quando tinham vocês presos?
— Experiências, estupros, testes dolorosos, muitos de nós morreram.
Ela estava horrorizada.
— Como podem?
— Humanos podem tudo, acham que são conhecedores de tudo, mas não são, não sabem
nada.
— Não acredita que há humanos bons?
— Humanos são maus por natureza, são animais que tem prazer em causar dor, adoram
prejudicar os outros. Há pessoas boas no mundo, mas são as exceções.
— Tem rancor dos humanos?
— Como não teria? A única coisa que têm feito a mim e aos meus é ferir-nos.
Ela quase chorou de desespero. Ele estava sério e falando tranquilamente, mas o tom em sua
voz era desolador.
Queria poder tirar isso dele.
— Nunca te machucarei ou mentirei.
— Acha que devo acreditar?
— Não acho que seja fácil para você, mas pode tentar. Mostrarei isso.
— Confiança é difícil de obter.
— Confiará em mim? Pode me ensinar o que sabe?
— Por quê?
— Porque quero aprender.
— Para contar para alguém?
— Não! Prometi que nunca contaria a ninguém e não vou. Dou-te minha palavra, Konan.
Nunca falarei nada! Juro!
Ele rosnou furioso, se transformou e ela gritou e caiu para trás e piscou aturdida ao vê-lo
sobre ela, em forma de homem, nu e maravilhosamente excitado e muito zangado.
Ela arfou e não conseguiu se mover.
— Minhas presas podem rasgar facilmente sua garganta!
Ela assentiu assustada e não disse uma palavra, então ele lentamente foi mudando sua
fisionomia, suas presas cresceram, sua mandíbula ficou alongada, seus olhos cintilavam e ela viu
que seus dedos de suas mãos, que apoiavam no piso de mármore, estavam longos e com garras
afiadas. Ela não conseguia respirar.
— Está com medo de mim agora? — perguntou com a voz grossa e animalesca.
Ela arfou e mal conseguia respirar. Santo Deus, ele era enorme e podia matá-la com um tapa,
uma mordida.
Sua vontade foi de gritar e sair correndo, chamar a Grécia toda para salvá-la, então ela se deu
conta de que era isso mesmo que ele estava tentando fazer, amedrontá-la, para que gritasse e
corresse dele.
Ele rosnou alto e furioso na sua cara e ela espremeu os olhos e gemeu, encolhendo-se, mas
não abaixou a cabeça.
Konan parou e ela abriu os olhos, com o coração batendo forte a ponto de doer.
— Vai me morder? Então me morda logo, mas pare de rosnar porque está me deixando surda.
Ele afastou um pouco a analisando e virou a cabeça para um lado.
Ela tinha dito realmente isso?
— Não tem medo?
— Se quer me assustar deve fazer melhor que isso, lobo.
— Não teme minha besta?
— É adorável.
Ele deu mais um passo atrás.
— Posso te matar.
— Pode, mas não vai.
— O que há de errado contigo?
— Comigo? Nada. Há algo de errado contigo?
— Hã?
Ele rosnou furioso e se levantou ficando normal novamente.
— Está zombando de mim?
— Não estou. O que quer que eu faça, grite histérica?
— Todas fazem.
— Não sou todas.
Konan rosnou furioso e saiu da cozinha e ela ficou ali, sentada no chão, e então pensou que
desmaiaria.
— Zeus... Poseidon, qualquer deus aí em cima ou embaixo. Juro que, se eu morrer de um
infarto, puxarei seus pés. Misericórdia.

Depois que voltaram do clube, Konan foi para seu quarto pensando em manter a distância
dela, mas algo o chamou para fora e ele andou pela casa silenciosa e com poucas luzes acesas.
Seguindo o cheiro dela, encontrou-a no terraço.
Ele a tinha observado de longe e lhe dado espaço durante todo o dia e não haviam trocado
mais do que meia dúzia de palavras no clube, somente sobre o trabalho.
Na verdade, ele estava de muito mau humor e não queria rosnar e gritar com ela novamente.
Apesar da vontade de estar na sua presença, tinha a evitado.
Parou na porta do terraço e observou Cassandra, sentada em uma poltrona, escorada sobre um
dos braços sobre o balaústre enquanto a outra mão acariciava um gato persa branco em seu colo,
e ela estava descalça, somente usando uma camisola curta de seda branca.
A lua estava cheia à sua frente, que refletia no mar, e ela olhava para o lado esquerdo, perdida
em pensamentos.
Ele chegou sem fazer barulho, pensando que se ela fosse uma loba já teria sentido sua
presença, mas era uma humana.
Ele devia deixá-la e voltar ao seu quarto, mas seu interior teimoso fez seus pés levarem até
ela.
Quando o viu, ela o olhou e voltou a olhar o mar novamente.
— É bonito aqui à noite — ele disse.
— Sim, é lindo.
— O que é aquela construção no morro?
— É o templo de Poseidon. Adoro vê-lo à noite com todas aquelas luzes amarelas. Sempre
que estou triste sento aqui e fico olhando o mar e me dá a sensação de que, em um minuto,
Poseidon surgirá do meio do oceano segurando seu tridente e subirá ao monte, para visitar seu
templo. Que nos salvará das moléstias.
Ele sorriu de sua divagação, mas notou o tom nostálgico.
— É um bom pensamento.
— É, pena que é só um pensamento.
— Gosta de gatos? Não o tinha visto.
— Ele é muito quietinho e fica o tempo todo no meu quarto ou no estúdio. Adora dormir em
minha cama, mas tem ficado no estúdio depois que você chegou.
Ele ficou a olhando, sem dizer nada e sentou na poltrona ao seu lado, encarando atentamente
ao gato, que também o encarava.
— Não vai comer meu gato, vai? — ela perguntou apreensiva.
— Hum, devem ser apetitosos, mas creio que há muito pelo e devem ficar presos nos meus
dentes.
Ela piscou aturdida então riu, vendo que estava brincando.
— Nada contra?
Ele deu de ombros.
— Contanto que não me arranhe ou deixe pelos em minhas roupas pretas está ok. Lobos não
têm nada contra gatos.
— Por que está usando óculos escuros em casa e à noite?
— Estou acostumado.
— Por quê?
— Para ocultar meus olhos, a maioria de nós usa lentes de contato, mas a mim não me agrada,
prefiro os óculos.
— Eu gosto dos seus olhos.
— Gosta?
— São lindos.
Ele ficou assombrado e se retesou quando ela se inclinou e lentamente tirou seus óculos.
— Gosto deles, não devia escondê-los.
Na sua frente, havia uma bandeja com uvas e figos maduros, ela pegou um e o partiu ao meio
e o levou à boca.
Konan salivou ao ver como ela lambia e chupava a fruta, como o suco doce banhava seus
lábios que ele morria para beijar.
Desejou ter sua boca na sua. Doce como o figo.
Então, perdido em seus pensamentos eróticos, piscou aturdido quando a viu o olhar com um
sorriso parecendo um tanto tímido, coisa que ele nunca tinha visto nela e ela segurava o figo na
frente de seus lábios.
Chocado com tal carinho que ele nunca tinha sido presenteado, tomou a fruta na boca e a
mordeu, com seus olhos fixos um no outro e que um olhar intenso que diziam mil mensagens.
E naquele momento um alimentou o outro com as frutas e Konan sentiu algo em seu interior
revirar-se.
Carinho, doce, devagar, suave como uma brisa. O simples gesto de alguém fazendo algo por
ele para agradá-lo.
Nunca imaginou que aquela humana louca e espevitada fosse capaz de tamanha doçura,
mesmo depois de ele ter sido tão brusco com ela pela manhã.
Ele quis assustá-la e afastá-la, mas parecia que tudo o que fazia somente fazia com que se
aproximasse mais.
Estava aturdido e perdido e mais ainda quando aquela mulher deliciosa deslizou para seu
colo, sentando em suas coxas e o beijou. Um beijo lento e doce.
Encaixada em seu colo.
Misericórdia, panteão grego, ela ia matá-lo! Literalmente, porque ele perdia a mente quando
ela o tocava, era como se o mundo não existisse mais.
Ele adorava como ela o tocava.
— Percebi que não comeu a comida antes de irmos ao clube — ela sussurrou.
— Não tinha fome.
— Sempre me pareceu que comia um boi inteiro e agora não tinha fome? Por quê?
Konan trincou os dentes. É que tinha ficado com o estômago embrulhado o dia todo pelos
acontecimentos da manhã. Tinha ficado tão zangado consigo mesmo e repetindo que tinha que
dar um jeito de ir embora e não vê-la mais que tinha ficado meio doente.
— Estava um pouco estressado.
— É minha culpa?
— Não.
— Não minta. É por que está preso a mim e quer ir logo embora? Aborreço-te?
Sim, queria ir embora, mas não porque ela o aborrecia, porque tinha medo dela, medo do que
estava sentindo.
Era quase tão forte que lhe doía e seu lobo, Jesus, nunca seu lobo esteve tão louco e nem tinha
lugar para correr para aliviar sua tensão.
— Não devíamos fazer isso, Cassandra.
— Não tem nada de mais no que estamos fazendo, Konan. Somos adultos e livres.
— Não é certo.
— Não é certo ou você não quer? Não me deseja?
— Pelos deuses, desejo, mas devíamos manter um relacionamento estritamente profissional.
— Não te sente atraído por mim?
— Não é isso, me atrai, muito.
— É por que somos, humana e lobo? Não quer uma humana na sua vida.
— Nunca disse isso.
— Disse, de certa forma.
Era verdade.
— Uma humana em particular machucou seu coração?
— Ninguém machucou meu coração.
— Oh, claro, é o lobo sério e poderoso que não sente, que não se apaixona.
Mas que merda!
— Somente devíamos lidar com isso pelo lado profissional, para não termos problemas.
— Ok, amanhã nós começaremos, então.
— Você é impossível.
— Sou. E você gosta disso.
Ele riu.
Sim, ele gostava até demais.
Ela virou a cabeça para o lado jogando suas complicadas tranças para trás deixando seu
pescoço descoberto.
Ele desejou morder seu pescoço e ela desejou que a mordesse, só o pensamento a fez gemer e
remexer-se em seu colo.
Mas mais sugestivo até, era pensar nele estendido no chão, excitando-a com todos esses
poderosos músculos e esse corpo esbelto até que os dois estivessem suarentos e extenuados.
Ela colocou um pedaço de figo na boca e esperou. Konan gemeu ao provar o primeiro bocado
de fruta e alcançar seus lábios ao mesmo tempo que alcançava seus lábios e aquilo parecia a pura
ambrosia dos deuses.
Imediatamente, foi consciente de todas suas curvas suaves e femininas que se apoiavam
contra sua masculinidade, do aroma a flores e sexo quente que ela exalava.
Quase podia jurar que ela era uma deusa que estava disfarçada de dançarina, de humana, linda
e perfeita e agora um demônio, ali o seduzindo.
Era isso que estava fazendo, descaradamente o convidando ao sexo.
Paixão, ele estava vivendo a pura paixão, coisa que lhe tinha sido arrebatada fazia tempos.
Nada poderia ser mais delicioso.
Havia magia no beijo de Cassandra. E uma paixão descontrolada e básica. Tinham-no beijado
antes, mas Konan sabia que ninguém lhe tinha feito sentir o que estava experimentando nesses
momentos com ela.
Com o corpo em chamas, percorreu-lhe as costas com as mãos e a apertou ainda mais contra
ele, absorvendo o beijo intenso que ela lhe dava.
Desejava-a com uma intensidade que lhe era desconhecida. Ansiava com todas suas forças
acariciá-la dos pés à cabeça e passar com suavidade as presas por seu pescoço e seus seios.
E senti-la agitar-se entre seus braços, pedindo mais.
Todos seus sentidos estavam extremamente desenvolvidos reverberando sob sua pele. O
sangue de lobo quente correndo nas veias.
Seus olhos desceram até o peito de Cassandra, observando como os mamilos dela endureciam
pela intensidade de seu olhar e pelo toque de seus dedos sobre a seda fina.
Podia sentir como seu coração se acelerava e seu sangue corria com mais rapidez por suas
veias, enquanto estava ali, remexendo seu quadril sobre seu membro excitado e ele queria
arrancar sua calça jeans que o machucava e o impedia de chegar até ela.
Precisava tê-la e senti-la.
Sua mera presença fazia com que o ar a seu redor estalasse e crepitasse.
Konan jazia perdido naquela poltrona, domado por ela e rosnou, agarrando seu cabelo,
prendendo-a fortemente e ela arfou abrindo a boca, sensualmente e o olhando e ele sorriu diante
de suas lentes coloridas. Agora ela usava uma verde muito clara com uma orla negra.
Seu contato era sublime. Porém, mais que isso, sentiu-se conectado com ela. E ele nunca
havia sentido isso antes.
Aquela eletricidade erótica era deliciosa e eles não estavam com pressa, queriam tocar um ao
outro, sentir, degustar do corpo um do outro. E cada contato, cada carícia alarmava os sentidos e
sentir a respiração sobre a pele era delicioso.
Ela retirou sua camiseta e ele sua camisola e as carícias continuaram.
Eles queriam sentir e conhecer, completamente, não estavam interessados mais na penetração,
no ato em si, mas aflorar todo o corpo e a mente.
Era como se estivessem dançando uma dança erótica que não queria que acabasse, porque
somente tocar um ao outro já era de uma intensidade maravilhosa.
Não havia pressão, querer impressionar ou competir, eram simplesmente duas pessoas dando
prazer um ao outro. Exalando arfares, pequenos gemidos, sussurros. Palavras doces, pele com
pele, sentir o gosto, beijos molhados e lânguidos.
Descobrir os lugares mais sensíveis, suscetíveis a atiçar as terminações nervosas, queriam
estimular, e provar o toque nas orelhas, o colo, a nuca e os olhares, ah... estes podiam derreter
uma muralha de gelo, quente, intenso, carregado de luxúria, tesão e adoração.
Houve uma conexão intensa, permanente, que não morreria jamais.
Não, nunca houve nada parecido antes em suas vidas. Não poderia e nunca haveria nada
depois, porque parecia que nada poderia ser melhor que aquilo que tinham, que estavam vivendo,
explorando um novo tipo de prazer. E podiam afirmar com todas as letras que aquilo era sublime.
“Ela me pertence”, soou em sua cabeça.
É minha.
Isso era um sonho? Por favor, deuses, não. Por favor, deixem que isto seja real.
Necessitava que fosse real, desesperadamente.
Interiormente, toda sua alma clamava que ela fosse dele.
E ele mal tinha conhecimento disso.
Cassandra fechou os olhos enquanto Konan acariciava seu pescoço outra vez com o nariz. Por
alguma razão sentia como se ela acabasse de domesticar uma besta selvagem, incontrolável.
Ele lambeu sua pele e raspou as presas e ela gemeu. Desabotoou sua calça e seu membro
saltou vívido entre eles e ele rosnou quando ela o acariciou. Rodeando-o com sua mão suave, ele
se moveu e o colocou todo dentro dela.
Quente e escorregadia, agarrando-o com afinco, com poder, com loucura.
— Cassandra! — gemeu. — É ainda mais doce e quente que antes — sussurrou contra seus
lábios, arfando. — Tão gostosa.
Ela não podia falar, era muito intenso. Muito mais faiscante que algo que tivesse sonhado.
Tudo o que queria fazer era atirá-lo sobre o piso e montá-lo até que os dois estivessem
transpirados e saciados.
Cada parte sua gritava que fizesse realidade sua fantasia.
E foi onde foram parar, ele sobre o tapete do terraço e ela cavalgando-o.
Konan não podia respirar enquanto a sentia selvagem sobre ele.
Desejava-a loucamente. Desesperadamente. Pior ainda, tinha-a tomado vezes suficientes em
seus sonhos para saber exatamente quão apaixonada era ela e mais ainda na realidade, como
agora.
Konan estremeceu ante a sensação, ao que estavam compartilhando. Era muito mais que sexo.
Ela tinha razão, estavam fazendo amor.
E isso o sacudiu inteiramente, até sua alma perdida.
Tomaram o tempo com cada um, acariciando, assegurando-se que ambos estavam saciados.
Até que encontraram seu êxtase em uma explosão pura de emoção.
Cassandra se curvou para trás e gemeu alto, tombando sobre seu peito, enquanto Konan
rosnava sentindo seu corpo convulsionar, sentindo perder sua mente.
Ele rosnou novamente, mas dessa vez foi por sua magia ter se soltado. Olhou estupefato sua
magia colorida dançar ao redor dele.
Sim, seu lobo saltava e queria reivindicá-la.
Ele estava fodido e sabia.
— Konan... estou vendo algo colorido. O que é isso?
— É minha magia, querida.
— É lindo.
Aquilo não era possível. Sua magia nunca tinha se liberado sozinha, nunca tinha passado por
tal situação e não sabia o que fazer.
Ele xingou entredentes e fez sua magia retroceder.
Ele levantou com ela nos braços e Cassandra riu, pois adorava quando ele mostrava a força do
seu lado de lobo.
— Que tal um banho?
— Sim, seria divino.
— Bom.
Ele a abraçou mais forte, saltou com ela pela escada do terraço e caiu dentro da piscina, e ela
estava agarrada ao seu pescoço, com seus gritos e risadas ao vento.
Quando emergiram da água, ela passou a mão no rosto, rindo e ele também.
— Gosta de me dar sustos.
— Sim.
Ela deu um tapa em seu ombro e o abraçou e ali, na água da piscina, sob a lua e os spots
amarelos, se beijaram apaixonadamente.
Konan golpeou a porta do quarto de Cassandra e logo a abriu e encontrou-a secando os olhos.
Ficou gelado ante essa imagem. Não gostava de ver mulheres chorando e ela era muito forte para
chorar à toa.
— Está chorando?
— Não — disse ela, esclarecendo-a garganta. — Tinha algo no olho, um cisco caiu.
Ele sabia que estava mentindo, mas ela era durona para admitir uma fraqueza. Era agradável
encontrar uma mulher que não usava as lágrimas para manipular aos homens e ele sabia que
muitas faziam isso. Humanas, pelo menos.
Ele entrou no quarto, indeciso, espantado com seus próprios sentimentos, pois pensar que ela
estava sofrendo a ponto de chorar lhe incomodava demais e seu peito lhe respondia a tal impacto
com uma dor aguda.
Estas constantes dores estavam lhe enchendo o saco, mas o pior ainda, sentia uma insensata
necessidade de tomá-la em seus braços e consolá-la.
Não podia. Precisava manter a distância. Tinham combinado.
Ele tentou manter a distância e permaneceu na porta.
— Necessita algo? — ele perguntou.
— Não.
— Por que está chorando?
Ela respirou fundo.
— Deve ser TPM ou algo, ando meio estressada.
— Tem tido muitos impasses ultimamente. Mas não acredito que isso te faça chorar.
Ela respirou fundo.
— A enfermeira de minha avó ligou, minha avó está doente.
— Oh, sinto muito.
— Me chamou para ir vê-la, mas não posso me ausentar agora no susto. Vou tentar me
programar para sair por uns dias.
— Isso é bom. A família é importante.
— Eu sei.
— Seus pais moram aqui?
— Meus pais já morreram, há muitos anos, só tenho minha avó.
— Sinto muito. Sua avó é idosa?
— Sim, tem 94 anos. Uma senhorinha esplêndida.
— Fico feliz que a considere tanto. Onde ela mora?
— Oh, não em Atenas, infelizmente, por isso devo ver como me ausentar para vê-la. Deseja
algo?
— Não... eu... somente estava passando no corredor e ouvi seu choro.
— Estava escutando atrás da porta?
— Não, eu estava passando, meu ouvido é muito aguçado, então eu ouvi sem querer e me
preocupei, oras.
Os dois ficaram se olhando fixamente.
— Ouvido de lobo?
— Sim.
— Preciso anotar isso.
Ela respirou fundo e secou o rosto, afastando o ar triste.
— Necessita um abraço?
Ela o olhou e foi impossível não sorrir. Ele parecia meio abalado.
— O grande lobo mau está oferecendo um abraço de consolo?
— Não sou mau, mesmo quando arranco umas cabeças.
Ela riu e levantou da cama e foi até sua frente.
— Eu gostaria de um abraço.
Ela o abraçou pela cintura e encostou seu corpo no dele, com a face em seu peito e Konan
gemeu. Senhor, o impacto dela no seu corpo sempre era chocante.
Ele também não estava acostumado a abraços, então meio sem jeito a rodeou com os braços e,
senhor, ele fechou os olhos para sentir a sensação daquele abraço.
Perfeito, suave, aconchegante, delicioso.
Ambos ficaram ali colados um no outro e nenhum parecia com nenhuma intenção de
desgrudar-se.
Ela parecia tão adequada colada no seu corpo. Em todos esses anos de vida, Konan jamais
tinha conhecido nada igual a esta sensação de calidez de um simples abraço.
O que tinha que o fazia tremer? Que o deixava excitado e ofegante?
Fechando os olhos, abraçou-a e deixou que seu aroma de rosas o acalmasse, fazendo-o
esquecer que deveriam ser inimigos.
Cassandra também fechou seus olhos, e permitiu que o calor do Konan se infiltrasse nela.
Sentia-se tão maravilhosa ao ser tocada deste modo. Não era algo sexual, era o tipo de toque
que tranquilizava. Um que os unia mais que qualquer das intimidades que já tinham
compartilhado.
Konan simplesmente se rendeu ao abraço, aquele gesto acolhedor. Ela parecia tão à vontade
em seus braços.
Como podia se sentir reconfortada por alguém que já havia dito que não agradava ao seu
povo.
E ainda assim não havia modo de negar que sim o agradava também.
Mas bom, eram raros sentimentos que vinham sentindo. Nada tinha sentido, na verdade.
Ela sorriu. Ele era tão feroz e, entretanto, tão estranhamente terno.
Uma parte dela não queria deixá-lo ir jamais; a outra exigia que o fizesse.
Sofrendo ante essa ideia, se afastou e o puxou para um beijo, e logo se afastou,
relutantemente.
Konan não queria nada mais que trazê-la de volta a seus braços. Observou-a enquanto seu
coração se acelerava e seu corpo ardia.
“Ela era humana”, disse a si mesmo, tentando se afastar.
A sua era uma relação impossível, e ainda assim tinham sido unidos por uma força divina. Ele
estava cativado pelo espírito e a paixão da Cassandra. Sua voz, seu aroma. Tudo a respeito dela
chegava ao coração.
Sua relação estava condenada desde o começo.
Cassandra mordiscou seus lábios e queixo com os dentes, sedutoramente.
— Deveria estar descansando.
— Não quero descansar. Raras vezes eu durmo direito de qualquer jeito.
Ele sabia que era certo. O único momento em que tinha adormecido mais que um par de horas
foi depois que haviam feito sexo e tomado banho na piscina e ele já tinha ouvido-a andar pela
casa quando o sol estava surgindo, dormia pouco e ele não gostava disso.
A julgar por ele não poderia reclamar dela, porque raras eram as vezes que ele tinha uma
noite longa e tranquila de sono, sua alma parecia estar sempre alerta e muitas vezes pesadelos
trazendo seu passado de volta o mantinham acordado.
Eles se afastaram e o clima ficou um tanto constrangedor. Afastou-se e para disfarçar, olhou
bem ao seu quarto e foi até a estante, e com as mãos nas costas olhava os livros contidos ali.
Franziu o cenho quando viu alguns que estavam separados dos outros e a capa lhe chamou a
atenção.
Ele pegou e olhou a capa que continha um homem de cabelos compridos. E o título era “Um
lobisomem em minha vida”. Ele pegou outro e olhou a capa: “Um amor de lobisomem”. Ele se
virou e encarou Cassandra, que estava de robe e uma toalha na cabeça.
— O que é isso?
— Romances.
— De lobisomens?
— Sim.
Ele pegou um dos livros e virou uma folha e outra franzindo o cenho e ela sorriu, somente o
observando. Seu rosto adotou uma expressão ainda mais pícara, se pudesse riria às gargalhadas
pela sua cara de espanto.
Embora os Ray-Ban lhe ocultassem os olhos, era capaz de fazer que as mulheres se
deprimissem somente o olhando. Arrogante e duro, parecia não demonstrar compaixão por
ninguém, mas ela sabia melhor, e o homem agora parecia chocado lendo um romance de lobos.
Ele era uma criatura com muitas peculiaridades e enigmas, era fabuloso e ela queria
desvendá-lo, todo.
Ela foi até ele, retirou seus óculos escuros e o pendurou na gola da sua camiseta e ele a olhou
espantado, mas não reclamou e voltou a folhear o livro, enquanto ela se divertia com suas
expressões de susto.
— “Parecia um gatinho bebendo leite”. Ei, lobos não parecem gatinhos bebendo leite! — ele
disse indignado.
Cassandra gargalhou segurando a barriga.
— É uma metáfora, Konan. Você gosta de lamber, não é?
— Sim, eu gosto, mas não como um gato.
Ela riu mais e ele rosnou indignado e ela beijou sua bochecha.
— Ok, o correto deveria ser: “Lambendo sua pele como um lobo faminto e sedento”.
Ele rosnou.
— Está zombando de mim?
— Não estou, mas é bem certo que você não gostaria de ler o romance.
— Porque tem lobo aí e quero ler. Quero saber o que andam escrevendo.
— Ok, pode ler, eu deixarei, mas isso é mais voltado para o público feminino, então sabe...
homens não são chegados em romances.
— Está dizendo que homens são insensíveis, que não têm romance?
— Noventa por cento não conhece ou pratica nenhum romance.
Ele franziu o cenho.
— E as mulheres não gostam disso?
— Mulheres gostam de romance, Konan, gostam que os homens mostrem a elas que as
amam, que se importam, que as necessitam. Não gosto desse negócio melado e infantil, mas toda
mulher, pelo menos, a maioria, curte um romance.
Konan ficou pensativo e não disse nada por um minuto.
— Posso ser romântico.
Ela sorriu lindamente e quase riu pelo jeito que ele falou.
— Hummm... pode me mostrar qualquer dia desses.
— Mas não compare um lobo com um gato.
Ela riu lindamente.
— Ok, prometo.
— Você gosta de ler isso?
— Sim, gosto.
Ela foi até ele, pegou os livros e colocou na estante.
— Estamos mesmo tendo esta conversa? — ela perguntou.
— O que há de errado nela?
Ela ficou olhando para ele.
— Lobos costumam fazer DR?
— O que é isso?
— D.R.. Discutir relação.
— Não sei, nunca tive realmente uma relação, mas os lobos se relacionam muito bem. Vejo
pelos casais que são companheiros. Eles se amam, se cuidam e as esposas do alfa e beta
discutem, mas não brigam de verdade.
— Uau! Isso realmente me parece diferente. Quer dizer que os lobos valorizam o que suas
companheiras falam?
— Claro. Companheiros não podem se machucar. Eles foram criados para ser felizes. Cuidar
do parceiro. Companheiras são sagradas e os lobos as valorizam muitíssimo.
Companheiras são sagradas?
Cassandra piscou aturdida porque essa informação era realmente impressionante.
— Em que mundo você vive?
— No mesmo que o seu, em partes, com um bocado de humanos idiotas. Mas no meu mundo,
o dos lobos, é um pouco diferente.
— Diferente como?
— Lobos são muitos sábios, mas, às vezes, eles sabem ser estúpidos, quando deixam seu lado
humano prevalecer, como Joan, Galen, ou... o alfa italiano e o pai de Petrus. Acho que estavam
um pouco dementes, porque queriam sempre guerrear e não valorizaram suas fêmeas como
deveriam, mas na minha alcateia não, todos amam suas companheiras. A alfa Ester mesmo
ajudou muito nosso alfa e, apesar de ela ser pequena e humana, eu gosto muito dela. Ele a cuida
e a ama muito, assim como Erick cuida de sua Kira, Ronan ama sua loba Naya. E Liam, nossa,
Liam morreria por sua doutora ruiva. Lobos amam e protegem suas companheiras com suas
vidas e vice-versa. Dizem que os deuses as mandaram para eles. Às vezes, são tolos — disse, um
pouco aturdido com suas emoções e tentou disfarçar e parecer frio diante dela.
Cassandra o olhava com a boca literalmente aberta.
— Então elas eram humanas como Ester disse lá na sua casa?
— Sim.
— E seu companheiro a transformou em loba.
— Sim.
— Quer dizer que vocês podem transformar um humano em lobo? Qualquer humano?
— Sim.
— Achei que Ester estava brincando.
— Não, falou a verdade, ela era humana e foi transformada. É proibido no geral deixar que
humanos saibam, mas quando são companheiras, pode. E Noah abriu uma exceção com Dada,
porque ela é uma mascote na nossa alcateia.
— Dada? Quem é Dada?
— Uma senhora que cuidou dos lobos quando fomos resgatados. Ela faz comida muito
gostosa, bajula-nos com doces e ajuda a cuidar de Luca. Todos os lobos a amam.
— Aham...
A mulher pegou o livro da estante e folheou algumas folhas.
— O que está procurando?
— O que está aqui escrito sobre transformar humanos.
— O quê?
— Oh, deve estar aqui em algum lugar, realmente, aqui, hummm, isso mesmo. “Ele a mordeu
e ela se transforma quando a lua cheia sai...”, interessante — sussurrava para ela.
— Quem mordeu quem?
— O lobisomem mordeu a moça que amava, e ela virou uma mulher lobisomem igual a ele.
Ele era feroz e horrendo, mas a tratava com delicadeza, ele a amava verdadeiramente e a
mocinha se apaixonou por ele, porque era realmente bonito na sua forma humana.
— Acho que estou tendo algum tipo de palpitação — Konan sussurrou assustado com o livro.
— Você somente se transforma na lua cheia? Agora é lua cheia que eu te vi se transformar?
— O quê? Não. Podemos nos transformar a hora que quisermos.
— Hum, interessante, aqui ela colocou sob a lua cheia. Ela não imaginou que seria de outra
maneira.
— De quem está falando?
— De Prudence e seu lobo Alfaieth. A autora somente os colocou se transformando na lua
cheia, hum... deixe-me ver se neste aqui é assim também.
Konan piscou aturdido e olhou e viu como ela folheava e lia atentamente as folhas do livro,
então ele foi até ela e tirou o livro de sua mão.
— Ei! Eu estava lendo, não seja mal-educado.
Konan não respondeu, porque estava perplexo demais para responder, estava com os olhos
arregalados lendo as letras miúdas e quando olhou a capa do livro: “Amor sob a lua cheia”.
— Quem escreveu isso?
— Hum... veja bem, é uma história, Konan, sobre lobisomens. Como vocês.
— Shifters. Somos shifters.
— Ok. Entendido. Shifters.
— Quem sabe sobre nós?
— Ninguém sabe sobre vocês. A não ser os escritores de conto de fadas e terror.
— Você escreveu isso?
— Não, não fui eu que escrevi. Não estes, está vendo? Olhe, esse é um romance e esta autora
escreveu sobre um romance de humanas com homens que se transformam em feras, lobisomens.
Ela não sabe que você é real, ela cria isso através das lendas milenares que existem sobre
lobisomens. Sabe... romantizando o amor, a fantasia, etc. Veja essa aqui, tenho vários livros dela,
Janice Ghisleri, uma autora fantástica que cria mundos com criaturas mitológicas e muito
romance de tirar o fôlego; e eu te garanto que, se ela soubesse que vocês são de verdade, iria
querer ter um lobo para si, mas ela somente os cria. Ela inventa essas histórias. Ela é uma autora,
assim como esta que você está lendo, A. R. Jordan.
— Eu sei o que é uma autora.
— Isso não quer dizer que ela sabe sobre vocês, porque aí a história é diferente, eles não se
transformam em lobos como você, seus amigos e sim em lobisomem, peludo e assustador.
Konan rosnou.
— Bem, aquela parte que me mostrou na cozinha foi um bocadinho aterrador parecido com
isso aqui.
Konan rosnou novamente.
— Ela não é um risco para você, ok? Ela é inocente, não pode mascar a garganta dela.
— Como você tem seu livro?
— Na verdade, tenho vários livros. Gosto das histórias.
— Quantos livros desses têm espalhado por aí?
— Bem, eu diria que... muitos.
— Quantos muitos?
— Milhares.
Konan rosnou novamente.
— Conhece essa tal A. R. Jordan?
— Pessoalmente, não, dizem que este é um pseudônimo e, na verdade, ninguém conhece sua
identidade. Fique tranquilo, porque quem, no mundo, acreditaria que shifters de lobo são de
verdade, que moram numa ilha na Grécia que são lindos assim, como você. As meninas apenas
sonham com eles, mas não os têm, porque sabem que não é real. É uma espécie de conto de
fadas.
Ele piscou.
— Acha que sou lindo?
Ela riu e colocou as mãos na cintura.
— Homem, você é lindo e quente como o próprio inferno em chamas.
Ela o olhou maliciosamente e ele sorriu e se sentiu um pouco encabulado e com o ego
acariciado.
Era deliciosa, sexy e ele simplesmente amava seu jeito audacioso. Ele gostava que ela o
apreciasse.
— Não se preocupe, isso aqui é inofensivo.
Ela colocou o livro na estante e o olhou, se aproximou com um passo e ele também, mas
pararam e ficaram se encarando.
— Acho bom você ficar aí, porque combinamos ontem à noite que não faríamos mais isso,
nada de sexo, nada de relacionamentos.
— Isso não é um relacionamento — ela disse. — Isso que temos, eu e você.
— Não, não é, é apenas amizade.
— Isso.
— Uma amizade meio colorida.
— Um pouco.
— Um tanto quente também.
— Bem quente.
— Estamos bem com isso?
— Sim, está ótimo para mim.
— Pra mim também.
Não estava, mas Konan chutou os pensamentos que invadiram sua mente, no momento que
ela tirou sua camiseta de dentro de sua calça jeans e suas mãos macias e quentes deslizaram pela
sua barriga, sua cintura e suas costas.
Ele gemeu pelo contato, era delicioso.
Ela o puxou e o beijou e Konan esqueceu o porquê estavam discutindo.
Konan voltou do fundo do palco onde ficavam os camarins e foi ao bar.
— Onde ela está? Não a encontrei no camarim, nem no escritório, não terá dança hoje? Disse
que iria se arrumar — Konan perguntou ao garçom.
O rapaz não disse nada, apenas indicou atrás dele. Konan se virou e não a viu então andou
entre as mesas e havia um aglomerado de gente em frente ao aquário.
Ele foi pedindo licença e se embrenhando na multidão e quando chegou ao gigantesco
aquário, viu o aglomerado de pessoas comentando, embasbacados e encantados.
O aquário era realmente fascinante e os muitos peixes coloridos desfilavam elegantemente
para lá e para cá. Mas o que chamou a atenção ao ponto de tomar toda sua respiração, de fazer
sua cabeça girar, foi uma sereia.
A sereia era ela.
Cassandra estava usando uma cauda perfeita como a de uma sereia em suas pernas até a
cintura e usava um top que somente cobria os seios, braceletes dourados nos antebraços e pulsos
e seu cabelo longo dançava na água e ela usava uma maquiagem fabulosa e brilhante e usava
lentes brancas com uma orla negra.
Ele pensou que já tinha se encantado o suficiente com ela, com sua dança, seu jeito
espevitado, mas não, agora ele acabava de ser arrebatado porque pensou que nunca tinha visto
algo tão mágico, delicado, sensual e maravilhoso.
Ela estava simplesmente como as sereias deveriam ser. Mágicas, sexys, lindas, chamando-o
como em uma canção hipnotizante. Ela olhou para ele, se aproximou no vidro e ela sorriu.
Eles ficaram ali, simplesmente se olhando e ela tocou o vidro com a mão e Konan,
instantaneamente, colocou a mão sobre o vidro, ansiando que pudesse tocá-la.
Era um magnetismo fabuloso, uma magia que ele pensou jamais existir em lugar algum.
O coração de Konan bateu tão fora do prumo, tão arrebatado de encantamento que ele jamais
pensou ser possível.
Ele estava perdido por ela. E isso assustava. Não queria, mas era forte demais para resistir.
Amava tudo o que ela criava, fazia, mesmo que em muitas vezes ele quisesse torcer seu pescoço,
por ser impetuosa, destemida e andar lado a lado com o perigo, sem ter medo dele.
Ela sorriu e se aproximou e beijou o vidro, se afastou e saiu nadando pelo aquário e subiu
para a superfície, tomou ar e desceu novamente dançando ao redor do trono de Poseidon.
Se queria impressionar naquela noite, ela havia conseguido, novamente, porque as pessoas
estavam encantadas e batiam palmas e assobiavam, a contemplavam com admiração e
encantamento.
Ela não era uma loba, mas possuía magia dentro dela. A magia que ele não conseguia resistir.
Ele a admirou mais por isso. Sorriu, encantado.

Cassandra estava contente e sorridente e agradeceu o seu drink, tomou um gole e o colocou
sobre o balcão, foi até Konan e se escorou no balcão sorrindo para ele.
— Oi.
— Oi.
— Gostei de te ver no aquário. Aquilo foi sensacional, impressionou a todos.
— Impressionou a ti?
— Sim, impressionou.
Ela sorriu lindamente.
— Então acho que podemos ir para casa agora.
— Como queira.
Ela sorriu novamente, pegou um amendoim do potinho colocou na boca e voltou, pegou sua
bebida e tomou o restante, depois falou com um e outro funcionário, dando as últimas instruções
ao gerente para que fechasse tudo e Konan não tirava os olhos dela.
Ela fazia aquilo ser tão fácil. Sabia que sempre estava atenta a tudo, aos papéis, aos clientes,
aos funcionários. Era ágil e eficiente em tudo o que fazia.
Mesmo estando longe e a música ainda rolando, escutava o que ela falava com eles e franziu
o cenho quando a viu enrolar a língua e se escorar no balcão. Ela falou novamente e arrastou
novamente como se estivesse bêbada. Tentou andar e estava torpe.
Konan rosnou e saltou sobre o balcão, e correu, mas não deu tempo de chegar a ela a tempo e
ela caiu, batendo a cabeça.
— Cassie! — Ele a juntou nos braços. — Cassandra!
Ele cheirou sua boca e somente havia o cheiro da bebida, nada de diferente. Estranhou e
franziu o cenho.
O bartender trouxe água e um guardanapo e ele tentou fazê-la beber e colocou o guardanapo
molhado na água fria na sua testa.
— Acho que ela bebeu demais, chefe, garanto que está sem comer de novo. Ela come como
um passarinho e está muito cansada.
— Acha que é isso?
— Leve-a para casa, e lhe dê uma aspirina, amanhã terá uma ressaca. Será que esta pancada
foi mal? Será que deveria levá-la ao médico?
Konan achou estranho, mas a tomou nos braços e a levou embora.
Como tinha ido com sua moto naquele dia, ele praguejou e a colocou no carro dela. Pensou
em ir para a casa dela, mas algo lhe disse para ir para a casa da marina.

Chegando lá, a colocou no quarto que ele sempre dormia, e tentou acordá-la de toda maneira,
mas nada.
Talvez fosse bom somente deixá-la dormir.
Ele observou sua testa e tinha um pequeno corte e pegou uma caixa de primeiros socorros e
fez um curativo, deitou ao seu lado, mas a preocupação não o deixou dormir. Talvez estivesse
sendo tolo por tanta preocupação, mas seu instinto protetor não permitiu se acomodar.
Ele se aproximou dela e de seus lábios, fechou os olhos e aspirou, ele franziu os olhos ao
sentir algo diferente. Ele conhecia bem seu cheiro e não parecia nada de mais, apenas um leve
odor diferente. Talvez fosse somente o álcool.
Pegou o celular e fez a chamada.
— Espero que tenha uma boa razão para me acordar — Liam resmungou sonolento.
— Desculpe, mas tenho uma situação, Cassandra está desacordada e me disseram que foi a
bebida, o cansaço e falta de comida, mas estou preocupado, ela bateu a cabeça quando caiu, não
pareceu forte, mas me preocupa. Você poderia me buscar com o helicóptero e me levar à ilha?
Pedirei que Virna dê uma olhada nela. Assim não estorvaria a alfa.
Virna pegou o telefone.
— Oi, é Virna. Ela está sangrando ou com um galo?
— Bem, deu um pequeno corte na testa e fiz um curativo. O que me preocupa é que não
acorda.
— Liam a buscará e darei uma olhada nela.
— Obrigado, Virna.
Liam pegou o telefone novamente.
— Esteja no heliporto da casa da marina, estou saindo.
— Obrigado.
Konan desligou, suspirou e a olhou. Talvez fosse demasiado cuidado, mas não queria arriscar
sua saúde.
Ele tocou seu rosto com a ponta dos dedos.
— Teremos que te alimentar melhor, sereia — sussurrou.
Dali alguns longos minutos, com sua audição, ouvia o barulho do helicóptero. Pegou-a no
colo e foi para o heliporto.
Tentou protegê-la do vento das hélices e quando pousou, Liam desceu, ajudando-o a subir e
em poucos minutos estavam na ilha.
Virna estava na clínica os esperando e Ester não demorou a entrar.
— O que houve?
— Desculpe, alfa, não queríamos acordá-la.
— Impossível não me acordar com o helicóptero passando na minha cabeça.
— Desculpe, alfa.
— Deixe para lá, me diga o que há com ela.
— Acho que ela bebeu de estômago vazio, penso que seja isso, mas somente vi beber uns
pequenos goles de um drink que sempre toma, caiu como uma pedra e bateu a cabeça. Antes
disso esteve nadando no aquário.
Todos olharam para Konan.
— Aquele aquário?
— Sim, estava vestida de sereia e ficava lá, nadando para cima e para baixo, foi... lindo.
Houve um silêncio na sala e ele rosnou, pois todos estavam estáticos o olhando.
— O que estão olhando? — perguntou zangado.
— Ok... Não fique preocupado, Konan, não foi nada, estará novinha em folha amanhã.
E assim o tempo começou a se arrastar para Konan.
A preocupação o deixou assustado, realmente.
Ele tentou bloquear suas emoções, mas não estava dando muito certo.

Cassandra acordou, mas estava com dificuldade de abrir os olhos e sua cabeça pesava muito,
mas parecia estar em um lugar macio e confortável, com um cheiro embriagante muito delicioso,
um cheio másculo. Então, a coberta estava parecendo pesada e quente demais e ela foi se mover,
mas não pôde.
Ela abriu os olhos quando percebeu algo errado.
Ela olhou para baixo e ergueu o lençol que a cobria e estava nua e havia um braço enorme e
musculoso sobre ela.
Cassandra arregalou os olhos e parou de respirar e lentamente foi olhando para trás, sobre o
ombro e então encontrou aqueles incríveis olhos verdes a olhando, intensamente.
Ela percebeu que Konan estava colado em suas costas, nu e magnificamente excitado, mas a
olhava com o olhar estranho, parecia preocupado.
Cassandra gritou e tentou desesperadamente sair da cama e arrastou o lençol com ela, mas na
tentativa frustrada, se embolou nele e caiu da cama.
Ela gemeu, se virou no chão, então depois de seu susto ela olhou espantada para ele, que veio
para a beirada e a olhava com um sorrisinho cínico.
O cara estava descarado, atrevido e, para sua desgraça, magnificamente lindo.
Ela arfou só não sabia se estava ultrajada, espantada, chocada ou irritada.
Eles tinham feito sexo, mas não se lembrava de nada.
Ambos nus na cama dela. Ela fez uma careta.
— O que está fazendo na minha cama?
— Não estou na sua cama.
Só então ela olhou ao redor e viu que não era seu quarto.
— Onde estou?
— Na minha casa.
— Como vim parar aqui?
— Eu a carreguei, você estava um tantinho desmaiada.
Ele saltou da cama e ela gemeu porque seu corpo estava dolorido e ela colocou a mão na testa
e havia um curativo ali.
— O que houve? Estou ferida?
— Bateu a cabeça quando caiu, não deu tempo de eu correr até você e segurá-la.
Ela olhou para ele nu na sua frente. O seu corpo era perfeito, torneado e forte, sua barriga era
marcada pelos músculos definidos, suas coxas eram magníficas, e sua ereção... Glorioso, Zeus. E
ela tinha aproveitado isso tudo e não se lembrava?
— Eu nunca fico bêbada. Sei muito bem beber socialmente, ainda mais a ponto de alguém ter
que me carregar por aí sem eu sequer me lembrar!
— Bem, é o que temos para hoje.
— Nós fizemos um pacto, não dormiríamos mais juntos.
— Dormimos juntos porque estava preocupado com você, não que tenha transado com você
bêbada, me aproveitado da situação. Por qual tipo de homem me toma?
— Não disse isso. É só que... está dormindo nu, agarrado comigo.
— Sempre durmo nu e não toquei em você de maneira despudorada. O dia que te tocar você
estará bem-disposta a se dar para mim. Lobos são eróticos, não depravados.
Ela ficou ali, agarrada ao lençol, boquiaberta.
— Desculpe, não quis insinuar isso, só me assustei, pois não me recordo de nada.
Ela gemeu e colocou a mão na cabeça.
— Está doendo? — ele perguntou preocupado.
— Sim.
— Sei, seja lá o que tomou te deixou muito bêbada. Estava enrolando a língua, cambaleando,
até que desmaiou.
— Isso é impossível — sussurrou.
Ele a juntou do chão e a colocou sentada na cama.
— Olhe, tome um banho que vou chamar Ester para te ver, ok? Vai se sentir melhor.
Ainda um tanto tonta, gemeu segurando a cabeça e assentiu.
— Venha, vou te ajudar, pois não me parece em condições de fazê-lo sozinha.
Ele tirou o lençol, a pegou no colo e a levou até o banheiro, a sentou dentro da banheira e
ligou a torneira.
— Esta banheira enche muito rápido, estará bem num segundo.
— Obrigada. Você estava lá?
— Sim, eu estava, não a deixei por nada.
— Como não me recordo de nada? A última coisa que me recordo foi... a hora que saí do
camarim e fui para o bar.
— Não sei, parecia estar muito bêbada, para desmaiar.
— Não bebi assim.
— Eu sei, eu não te vi beber, em todo caso, a não ser só uma taça e sua água.
— Me sinto como se tivesse sido atropelada.
— Vai passar, cuidarei de ti.
Ela o olhou e estava emocionada e ele encostou sua testa na sua.
— Vai ficar tudo bem.
Ela tragou saliva pelo seu carinho e preocupação e foi tocar seu rosto, mas Konan se afastou.
Logo ele fez a ligação e chamou Ester e voltou ao banheiro.
Pacientemente, ele a ajudou a tomar banho, a se secar e ela vestiu um roupão.
Então a pegou no colo e a levou para o quarto; e minutos depois Ester e Noah estavam ali.
— Vai ficar tudo bem, querida. Como se sente? — Ester perguntou a examinando.
— Tonta, enjoada e com dor de cabeça.
— Bem, isso é normal nesse caso. Os exames resultaram no que eu suspeitava.
— Não é uma ressaca. Não poderia estar bêbada, pois tomei somente um drink.
— Bem, isso reforça de que você foi drogada.
— Drogada? — perguntou espantada.
— Sim, com um Boa Noite, Cinderela.
— O que é isso? Quer dizer, aquela droga?
— É uma combinação de drogas obtida, habitualmente, misturando-se um tranquilizante
benzodiazepínico com bebida alcoólica. O efeito é deixar a pessoa sedada. Tem o efeito de
apagar a lembrança do que a pessoa fez. Esta amnésia, entretanto, pode ser apenas parcial ou
mesmo não ocorrer. A duração do efeito é variável, dependendo da quantidade de drogas
utilizada, da pessoa que a utiliza e do tipo de drogas utilizado. Em geral, não dura mais de
algumas horas. Porém, a combinação de álcool com benzodiazepínicos pode levar à parada
respiratória e à morte.
Konan rosnou.
— Como não percebi que tinha essa coisa na minha bebida? Sempre tomo aquele coquetel, é
meu costume, o gosto não estava diferente.
— Aí está, alguém sabia que o tomava e colocou ali e por se dissolverem facilmente e serem
incolores e inodoras não o percebeu.
— Quem faria isso comigo?
— Bem, desconfiamos que tenha sido alguém enviado por Tullo.
— Mas o que pretende com tudo isso?
— Creio que está brincando com você.
— Quando vai parar?
— Não sei — Konan rosnou zangado.
— Você não vai matá-lo, Konan — disse Noah.
— Por que, se ele está tentando matá-la?
— Está tentando assustá-la, eu acho, porque se quisesse matá-la teria lhe dado outra coisa e
não um Boa Noite, Cinderela. Ou então uma dose mais forte a qual sim, poderia tê-la levado à
óbito.
Konan rosnou.
— O cara é um idiota — Cassandra disse fazendo careta.
— Sim, é, mas ele te deixou fora do ar por quase vinte e quatro horas.
Cassandra a olhou, horrorizada.
— O quê?
— Sim, esteve apagada. Konan te trouxe para a marina e viemos te buscar de helicóptero,
esteve internada na clínica até ontem ao meio-dia. Quando seus níveis estavam voltando ao
normal então, para que Konan pudesse dormir um pouco, pois se negou a te deixar, eu permiti
que trouxesse para sua casa, e agora vim ver como estava, estou contente que tenha despertado.
Tome isso aqui, vai te ajudar a melhorar do enjoo e da dor de cabeça.
— Obrigada — disse gemendo e pegando um frasco de comprimidos.
— Tomem cuidado.
Ela assentiu e eles foram embora.
— Acha que alguém teria me levado se não estivesse comigo? É para isso que usam estas
drogas, não é?
Ele a olhou sério.
— Eu não sei, mas eu não teria permitido.
— Não pode estar comigo o tempo todo, Konan.
— Estarei contigo o tempo todo.
— E quando seu alfa me liberar de sua vigília? O que vai fazer?
Konan não respondeu, porque não sabia o que responder. Respirou fundo quando tentava
manter seu lobo sob controle. Houve poucos momentos em sua vida onde o lobo parecia assumir
a situação sob suas forças.
Primeira lição de um lobo. Tranquilidade e controle. Se um homem não controla seu lobo, ele
o controla.
Estava na ilha e não queria voltar para Atenas, mas tinha feito uma promessa e ele não
quebrava uma promessa, nunca.
Além de ter que vigiá-la por ordem do alfa, ainda tinha prometido protegê-la. A coisa só
piorava. Devia se afastar, mas como faria tal coisa?
Quando chegaram à casa de Cassandra, ela foi ao seu quarto e somente tirou a roupa e vestiu
uma camiseta longa até as coxas, se jogou na cama, sentando com as pernas cruzadas e respirou
fundo.
— Fica tranquila, isso não vai acontecer novamente — Konan disse.
— Sim, claro!
Quando ouviu o interfone, desceu as escadas e foi até a frente da casa, voltou batendo a porta
com o pé e Konan a olhou com o cenho franzido.
— Filho de uma cadela! — Cassandra disse entredentes.
— O que é isso?
— Meu advogado, filho de chocadeira.
— O que fez?
— Me deu as costas! Abandonou o caso! Aposto que Tullo o comprou assim como os outros.
Filho de um jegue!
— Quantos filhos de alguma coisa ele será?
Ela o olhou carrancuda.
— Não zombe de mim, Konan, isso é sério.
— Desculpe. O que há? Pode pegar outro.
Ela respirou fundo e o olhou.
— Sim, poderia, se já não tivesse gasto uma fortuna com esta anta e... onde vou arrumar um
advogado que me represente em tão pouco tempo?
— Quando o necessita?
— Amanhã! Tenho uma audiência amanhã! Vou fazer o que agora, representar a mim
mesma?
— Qual o motivo?
— O motivo é que Tullo está contestando o testamento de Nuno e quer tomar meu clube e
minha casa! Preciso de um advogado urgente, um que não pegue meu dinheiro e suma por ser
comprado por Tullo.
— Resolverei isso num minuto.
— O quê?
Konan pegou o celular e ligou, não sabia para quem, e começou a falar em uma língua que ela
nem sequer pôde identificar. Apesar disso, a suave linguagem era incrivelmente sexy. Era o tipo
de tom que poderia esquentar a uma mulher ainda se estivesse pedindo uma pizza. Odiava o fato
de que a afetasse de forma tão intensa.
Era de fato como se perdesse o controle de seu corpo, e desejasse que a tocasse o tempo todo.
Ela parou de divagar quando Konan rosnou e pareceu xingar a pessoa do outro lado. Ele
desligou num baque e a olhou.
— Que língua falava? — ela perguntou curiosa.
— Irlandês antigo.
— É legal — disse com um sorriso, o que aplacou a ira de Konan imediatamente. — O deixa
sexy. Poderia me ensinar?
— Por que faria isso?
— Para que eu e você possamos ter uns momentos divertidos.
— Se quiser, eu ensino.
Ela sorriu lindamente.
— Posso te ajudar com o grego, mas devo confessar, seu sotaque é lindo.
Ele respirou fundo. Ele achava que ela fazia de propósito ou era natural dela ser daquele jeito.
O jeito que o deixava louco.
— Darei um jeito de te ajudar com isso de tribunal.
— Como? Todo mundo parece que resolveu me dar as costas. O que o dinheiro não faz às
pessoas. Todo mundo tem um preço?
— É provável.
— Você tem um preço?
— Não.
Ela sorriu e foi até ele, e tocou seu peito.
— Não posso corromper você?
— Não, nenhum dinheiro no mundo pode me fazer ir contra meus princípios.
— Hum... e há alguma coisa que posso fazer que corrompa?
Ele riu. Ela estava jogando.
— Moça, já te disseram que não se deve brincar com fogo?
— Mas é tão divertido e no mais, brincar com fogo pode deixar as coisas quentes, não acha?
Ele riu novamente.
— Isso, mais um pouquinho — ela disse.
— O quê?
— Ria mais, mais. — Ela fez cócegas em sua barriga e ele riu. — Aí está.
— O que está onde?
— Covinhas, você tem covinha nas bochechas quando ri abertamente.
Konan piscou aturdido.
Ele tinha covinhas? Nem sequer um dia soube ou se deu conta.
— Isso é um problema?
— Oh não, isso é sexy.
Ele rosnou.
Ela riu, se aproximou, puxou-o para baixo pela camiseta e beijou sua bochecha.
— Devia rir mais para me brindar com esta magnífica visão, eu fico quente com covinhas.
Ele rosnou novamente e a puxou para seu corpo.
— Gosta de provocar.
— Sim, acho divertido.
Ela acariciou suas bochechas com os polegares, o brindando com um lindo sorriso e ela ficava
olhando suas bochechas como se fossem encantadas.
— Por todos os deuses — ele balbuciou sem fôlego.
Ninguém o havia tocado desse modo em muito tempo.
Todo seu corpo começou a sentir desejo. Já não havia modo de afastar-se dela.
Ele a abraçou e beijou seu pescoço e teve que empregar todo seu autocontrole para não tomar
um sorvo desse sangue quente que corria sob seus lábios. A pele sedosa e perfumada de
Cassandra se arrepiou ante o contato e ela arfou quando ele tocou seu seio com a mão e apertou o
mamilo que endureceu ainda mais sob sua mão e seus dedos.
Abandonando seu pescoço com um grunhido, assaltou seus lábios e a beijou com ânsia
enquanto deslizava a mão sob a camiseta, procurando as dobras quentes de seu sexo. Quando
sentiu seus dedos deslizarem dentro dela não pôde reprimir um gemido.
— Devia descansar.
— Estou perfeitamente bem.
— Devíamos manter distância. Não tínhamos acertado isso?
— Eu sei, mas te acho muito sexy quando fica falando essas suas línguas estrangeiras e me
mostra covinhas.
— Sou um lobo, moça, falo muitas línguas.
— Oh, verdade?
— Um dom dos lobos, aprendemos rapidamente a nos comunicar.
Konan rosnou e deu um passo atrás, se afastando da cama.
— O que foi?
— Deveria regular seus pensamentos.
Ela o olhou espantada.
— Sabe o que estou pensando?
— Sim, porque está me olhando como se fosse um bife e tem muitos pensamentos... quentes.
Ela riu deliciosamente e Konan gemeu. Deus, como que conseguiria ficar sem pôr as mãos
nessa mulher. Era depravada, quente como o inferno e queria a ele na sua cama o tempo todo.
Ela se aproximou, pegou sua mão e a guiou para que a tocasse de novo. Konan ia morrer pelo
andar da carruagem.
— Como faz isso? Ler meus pensamentos? Todos os lobos fazem isso?
— Não, somente com lobos... e... não exatamente.
Konan franziu o cenho.
Nunca tinha conseguido ler o pensamento de uma humana, nunca em sua vida e não sabia que
algum lobo tinha o feito.
Isso não soava bem. Porque soube que seria possível somente se ela fosse sua companheira e
em caso raro, pois sabia que seria com lobos somente.
— O que há, algo te preocupa?
Ele ia ficar insano em pouco tempo. É que todo mundo tinha o tirado para bode expiatório e
estavam o torturando? Seria algum tipo de teste?
Konan estava aturdido, impressionado e o desejo nublou sua mente.
— Quer me distrair.
— Um pouco.
Ele girou o dedo em seu clitóris e ela gemeu e Konan tomou à frente, sim ele gostava de tocá-
la, gostava de senti-la quente assim, derretendo em seus dedos. Rosnou e a pegou pelos braços, a
ergueu e a jogou na cama de volta e ela gritou, mas depois riu.
Konan saltou sobre ela e arrancou sua calcinha e abriu seu sexo e com a língua literalmente e
fodeu, a consumiu. Ele fez de propósito, arrancar um orgasmo dela em resposta à sua descarada
provocação.
Era mestre nisso e se ela queria um ele daria, sua língua judiou de seu clitóris e a penetrou o
mais fundo que pôde. E então ele a fez gritar.
Então ele se afastou.
Ele deixou-a ofegante e gemendo, sentindo e se recuperando de suas sensações e deitou na
cama, escorou a cabeça nas mãos cruzadas atrás da cabeça.
Cassandra o olhou e suspirou, repleta de êxtase e quando foi tocá-lo, ele sorriu e segurou sua
mão.
— Deixe-me cuidar de você.
— Não, vamos cumprir nosso trato, sem sexo.
Ela o olhou aturdida. Ele estava excitado, mas se negava a deixá-la tocá-lo.
— Você leva suas promessas muito a sério.
Ele riu.
— A palavra de um lobo deve ser séria. É sua honra.
Ela bufou e girou os olhos, pegou a camiseta caída no chão e a vestiu, voltou para a cama e
deitou em seu peito.
— O que usa nessa sua colônia, um afrodisíaco?
— Por quê?
— Estou sempre quente quando está perto de mim. Deve ter algo de errado comigo.
Ele piscou aturdido pela sua declaração. Estranho, mas gostou, se sentiu admirado e desejado
e riu de sua cara de desesperada.
Então ela respirou fundo, picaramente que o fez rir.
— Você tem algum tipo de magia que me deixa assim. Queria eu ter isso também. Quanto
problema me seria resolvido.
— O quê?
— Eu queria poder ser uma bruxa para transformar aquele animal do Tullo num sapo.
Konan riu abertamente.
— Poderia.
— Poderia? Como nos livros e filmes?
— Sim. Bruxas também existem.
Ela o olhou com os olhos arregalados.
— Ah, não brinca! Sério?
— Sim, conheço bruxas e soube que uma fada apareceu na ilha de meu amigo.
— Fadas existem?! — perguntou perplexa.
— Sim, nunca a vi, mas meus amigos sim, a viram.
— Esse amigo, mora onde?
— Não vou dizer.
— Ora, Konan, por favor, não vou colocar isso no jornal. Só tenho curiosidade.
— Não te direi.
— E bruxa? Realmente existem?
— Sim, um monte delas e uma mora na minha ilha.
— Jura, por que não me apresentou?
— Erick comeria meu rim. Esquece.
Ela suspirou, abriu a gaveta do criado-mudo e pegou um caderninho e rabiscou algo e Konan
foi até ela e tomou o caderninho de sua mão.
— Ei! Não seja grosseiro! Isso é meu.
— Está anotando coisas de mim?
— Bem... eu estou traçando um perfil como deve ser.
— Fazendo o quê?
— Hum... bem... aqui nos livros são suposições de como vocês são e é bem grotesco, na
verdade, muitas informações incorretas, então estou anotando as certas.
— Por que faz isso? Não que vá anotar isso em algum livro ou algo.
— Não vou? Bem...
— O que está aprontando, Cassandra?
— Nada. Nada que vá prejudicar os lobos. Eu juro.
— Está me ocultando algo?
— Não estou.
Ele a olhou e estreitou os olhos.
— Mas que merda, Cassandra!
— O quê?
Ele rosnou e foi até a estante e ela saltou da cama e o seguiu. Ele pegou um dos livros e
mostrou a ela.
— Você escreve estes livros?
— Ei... não.
— Não minta, porque li em sua mente.
— Quer parar de fazer isso? É deselegante e mal-educado ler os pensamentos das pessoas.
— Não posso evitar, pois projeta seus pensamentos direto para mim.
— Não o faço.
— Faz.
Ela bufou e tomou o livro de sua mão, o abraçou e sentou na cama.
— Vamos, Cassandra, me diga a verdade. Quer que confie em ti, mas me esconde coisas.
— Sim, sou eu e uso um pseudônimo! E esta autora aqui é minha avó.
— Por que escrevem sobre lobos?
— Minha avó é escritora há anos e escreve muitos livros de lobisomens, vampiros e fadas. Na
maioria, fantasia para adolescentes. É uma romancista famosa, quer dizer, um pouco. Eu estou
começando.
Ele olhou o nome A. R. Jordan e a olhou novamente.
— Sua avó é A. R. Jordan?
— Sim, ela é.
— Ela conhece alguém de minha espécie?
— Oh não, claro que não, por isso há coisas aqui nos livros que não fazem sentido e não são
reais, porque ela inventou tudo, seguindo uma premissa dessas lendas antigas de lobisomens.
— Está me estudando?
— Sim, porque estou escrevendo um livro também e quero escrever como vocês são de
verdade e não a fantasia errada que ela tem na sua cabeça.
— Não pode escrever isso.
— Konan, ninguém vai saber que o que escrevi é de verdade. Por isso chama FICÇÃO.
— Não pode escrever isso.
— Quem vai imaginar que shifter de lobo existe de verdade? — gritou. — Quem vai acreditar
que tenho um na minha casa?
Ele rosnou e deu algumas voltas em círculos.
— É que não consegue parar de se meter em encrenca. E no processo me afundar nela.
— Que encrenca falas? É apenas um livro de romance de ficção onde a mocinha encontra um
lobisomem e se apaixona por ele.
— Não somos lobisomens.
— A-há, aí é que está, estes são, mas meu livro será de um shifter.
— Não tem permissão para escrever nada sobre nós.
Ela respirou fundo e cheia de indignação.
— Não direi que vivem aqui na Grécia numa ilha milionária e andam de helicóptero e nem
direi seu endereço e número de celular, agora relaxe.
— Você é impossível.
— Isso minha avó dizia.
— Não vai escrever isso.
— Posso, pelo menos, tentar te convencer?
— Não.
— Hum, veremos. Agora tenho que ir arrumar um advogado.
— Já o tenho.
— Tem?
— Sim, arrumarei isso para você, não se preocupe.
— Ok, então posso ir para minha a aula, pois estou atrasada. Depois me dirá a quem pediu
que viesse para eu poder enviar material para minha audiência amanhã? Já que é meu guarda-
costas deve acompanhar-me.
— Primeiro eu era um leão de chácara, agora sou seu guarda-costas?
— Viu? Foi promovido.
— Esteve intoxicada, drogada na noite passada, teria que ficar sossegada aqui e descansar.
— Dormi por mais de 24 horas, estou descansada.
— Mas onde quer ir, pelos deuses, aula de quê?
— Boxe.
Ele arfou espantado.
— Faz boxe?
— Sim, e Krav Maga.
— Há algo que você não faça? — perguntou exasperado.
Ela o olhou e eles ficaram se olhando por longos minutos, então ela sorriu, lindamente.
— Eu não uivo para a lua.
Konan riu, uma gargalhada gostosa que encheu o ambiente. Então ele rosnou, a puxou para
ele, e tomou sua boca em um beijo intenso e quente, devorando sua boca.
Ela era uma peste, mas ele estava extasiado.
Ele a beijou novamente, que retribuiu com toda paixão possível. Depois a levou para a sua
aula de boxe.
Konan desceu do carro e respirou fundo parado na frente da sua porta.
Ele não sabia por que estava se metendo naquilo tudo, pois seu lado precavido e sóbrio
mandava ele se afastar dela e ir cuidar da sua vida.
Mas ele tinha um lado que, infelizmente, estava dominante, um que queria estar perto dela e
se meter em seus problemas de todos os modos.
Cassandra abriu a porta de sua casa e Konan sentiu suas vistas embaçarem.
Ela estava vestindo um terninho branco, justo e com um decote generoso, mas não exagerado,
seus scarpins vermelhos de salto agulha a deixavam mais alta, elegante e longilínea. E a calça
lápis a deixava deliciosa.
Seus cabelos estavam sem as tranças, perfeitamente lisos e eram escuros com as pontas
acinzentadas e eram cortados mais curtos atrás e longos na frente, maquiagem impecável e usava
joias de ouro e o esmalte preto deu lugar a um vermelho.
— Uau! — ele sussurrou com a voz rouca.
Seu lobo também rosnou dentro dele e seu corpo todo formigou para saltar sobre ela e beijá-
la.
— Isso foi um elogio?
— Está elegante... e linda.
— Obrigada e você também está elegante.
Ela o olhou, o admirando de cima a baixo. Usava um impecável e bem-cortado terno e com
sapatos finos e lustrosos. Usava uma camisa preta de seda, sem a gravata.
Estava com seu cabelo longo preso num rabo de cavalo e com seus óculos escuros, realmente
era uma visão incrível.
Ela sorriu, porque o achou tão lindo e perfeito.
— Pensei que deveria ir assim — disse meio sem jeito.
— Está lindo.
— Sim, acredite, ver Konan de terno é um milagre, moça, não sei o que fez com meu lobo,
mas isso aí não me parece Konan.
— Cale a boca, Erick!
Erick riu, e finalmente ela olhou para Erick e sorriu.
— Mas onde infernos você se meteu?
— Não estou atrasado.
— Sim, não está, mas não atendeu o celular e levou minha pasta de documentos. Eu estava
em pânico!
— Não fique nervosa, dará tudo certo. A propósito, este é Erick, meu beta, como já o
conheceu na ilha.
— Eu me lembro e está de lentes, pois seus olhos eram amarelos.
— Sim. Não queremos matar o juiz de susto, não é? É um prazer revê-la, senhora.
— O prazer é meu.
— Erick pegou seu caso e o alfa deu autorização para lhe arranjar o que necessite.
Ele estendeu a mão e ela o olhou estarrecida, primeiro, porque o homem era lindo; segundo,
porque ele estava ali para ajudá-la.
Ela apertou sua mão e o olhou confusa.
— Você é advogado?
— Sim.
— Um lobo advogado?
— Com todo mérito e tenho autorização para advogar aqui na Grécia, se essa é sua dúvida.
Ela respirou fundo para deixar a informação se fomar na sua cabeça.
— Olha, eu ando meio dura, ok? Portanto, não sei se poderei pagar seus honorários, porque
acredito que já que está usando um terno Armani que custa dois mil euros deve ser um pouco
acima das minhas provisões. Por Zeus, quantos órgãos eu teria que vender para poder te pagar?
Erick riu.
— Não se preocupe com meus honorários, senhora, isto é um favor ao meu amigo Konan,
portanto, não arrancarei seus olhos nem seu rim pagando meus honorários.
Ela ficou muda o olhando, olhou para Konan e depois para ele novamente.
— Tá me zoando? Ninguém faz nada de graça nessa vida, ninguém dá nada para ninguém
sem que queiram seu sangue de volta.
— Há muitas coisas que você precisa aprender sobre os lobos e viver em uma alcateia.
— Jura? O que seria? São filantropos?
— Cuidamos dos nossos e você está envolvida com os lobos até o pescoço, então, a menos
que nosso alfa resolva que sua cabeça não continua sobre seu pescoço, você é uma das nossas e
em consideração ao nosso lobo Konan. Portanto, isso inclui eu tirar seu bonito traseiro daquele
tribunal ainda dono da sua preciosa casa noturna e sua mansão.
Ela piscou aturdida, e respirou fundo.
— Ok, muito obrigada então por minha cabeça estar sobre meu pescoço e eu aprecio muito
minha casa e meu clube, o qual dei meu sangue e meu marido sua vida. Eu darei a minha se for
preciso para manter o que é meu e não vou deixar aquele bastardo ficar com o que não lhe
pertence.
— Cuidaremos disso.
— Então vamos à luta, porque você caiu do céu, pois meu advogado banana me deixou na
mão.
— Estou ciente. Vai dar tudo certo. Nós daremos um jeito em tudo, só preciso que me ponha
a par de tudo que necessito além do que Konan já me passou. Tenho o domínio dos documentos
então preciso da sua versão dos fatos.
Ficaram falando de tudo e depois Erick se afastou e fez algumas ligações e Cassandra andava
de um lado a outro e quando Erick saiu e demorou uma hora para voltar ela estava quase
histérica, porque pensou que a tinha abandonado também.
— Ele virá logo — Konan disse calmamente.
— Está atrasado. Tem certeza de que não fugiu?
— Não, Erick não fugiu e não está atrasado, está no tempo.
Konan foi até ela com um copo de água e ela bebeu.
— Acalme-se, Erick tem o dom de conseguir coisas impossíveis e se tem algo que necessite
trâmites que passam por um computador, acredite, Harley o consegue para ele.
— Não faremos nada ilegal, não é?
— Nada que possa prejudicar você, condenadamente nunca.
Ela se aproximou dele e tocou seu peito, ajeitando a lapela do seu terno e sorriu, nervosa.
— Ok, vou confiar... desculpe, estou muito nervosa, já tive dezenas destas merdas e estou
cansada.
— Entendo, querida, fique tranquila.
Ela assentiu e sorriu ajeitando a gola de sua camisa.
— Acredito que usar a gravata era sacrifício demais, não é?
— Sim.
— Isso foi uma exceção por mim?
— Sim.
— Você é durão, mas tem um coração de ouro, não é?
Konan não disse nada.
— Não precisa dizer que sim, eu sei, grandão. E admiro isso em você.
Sua fisionomia se suavizou e ela o puxou pela nuca e beijou seus lábios, docemente.
— Obrigada — sussurrou.
— Cortou o cabelo...
— Não, já era assim, as tranças e as mechas eram apliques. Só os tirei.
— Por que mudou seu visual?
— Não gostou?
— Está belíssima assim e do outro jeito também. Só quero saber por que o fez.
— Não queria que o juiz me olhasse e acreditasse nas acusações de Tullo, que sou uma
prostituta ou uma louca hippie noturna interesseira. Queria parecer uma empresária decente.
— Sempre a achei decente.
Ela sorriu lindamente.
— Obrigada, Konan.

— O senhor quem é? — a juíza perguntou.


— Sou o segurança dela — Konan disse sem se mover no canto da sala, com os braços
cruzados no peito.
— O senhor pode ficar do lado de fora.
— Sem chance, ela não fica sozinha com este verme.
— Senhor, ela está segura aqui.
— Acredite, senhora, não está. Ela é minha para cuidar, então não a deixarei sozinha. Não
depois do que este homem fez para machucá-la.
Erick olhou a juíza e esperou que ela o mandasse sair, novamente, pois não seria permitido,
mas a mulher parecia ter gostado da sua atitude protetora, ou dele em si e fez um gesto com a
mão para que ficasse e Konan ficou ao lado da porta, com os braços cruzados e Cassandra o
olhou incrédula e para Erick, que somente lhe deu um sorriso.
— O que vocês fazem? É algum tipo de lavagem cerebral ou fazem aquele negócio que
hipnotizam as pessoas? — ela cochichou para Erick, que sorriu mais.
— Lobos são bem persuasivos.
— Podemos usar isso a meu favor?
Erick riu.
— Tentarei.
Cassandra olhou para Tullo com cara de debochada, porque ele parecia muito zangado.
— Suas bolas estão apertadas, Tullo? — ela cochichou para ele enquanto a juíza lia
seriamente as pastas. E depois fechava e os olhava.
— Estamos aqui por pedido de Tullo Kamateros, pedindo a contestação do testamento de
Nuno Kamateros, novamente. Já adianto que não permitirei o desatino que foi da última vez, Sr.
Kamateros, já tenho conhecimento de toda sua petição.
— Sim, Meritíssima, estamos cientes.
— Mantenha seu cliente moderado desta vez, ou aplicarei uma multa por desacato — ela
disse ao advogado de Tullo.
— Sim, Meritíssima.
— Pois bem, Sr. Erick MacCarthy, prossiga com a defesa.
— Meritíssima, como pode averiguar, o testamento de Nuno Kamateros é legítimo, registrado
com testemunhas. Não há o que contestar. Este homem, mesmo sendo filho legítimo, foi
deserdado e era de suma importância que assim permanecesse, tirando todo e qualquer direito de
herança. Tudo o que pertencia a Nuno Kamateros, agora pertence à Cassandra Kamateros e,
como pode ver, na escritura, o Clube Olimpo está no nome dela, somente dela.
— Isso não é possível, eu vi a escritura e estava no nome dele! — Tullo disse.
— Sério? Qual escritura, aquela que você roubou?
— Não roubei nada.
— Claro que roubou, Sr. Tullo, mas lamento informá-lo que o senhor roubou uma velha
escritura. Esta aqui é a nova, devidamente registrada.
Erick entregou a escritura para a juíza, que olhou cuidadosamente.
— Isso é falso! — Tullo gritou.
— Oh, não, não é.
A juíza respirou fundo e olhou para eles.
— E a casa em Cabo Sounion estava no nome dele, mas, pelo testamento, ela pertence à Sra.
Kamateros, somente. Seu casamento era de união de bens e ele tinha total poder de deserdar o
filho, que se mostrou violento, ingrato, fora da lei e que somente quer dinheiro, nada mais sobre
a reputação do pai o importa, nem o bem-estar de sua madrasta.
— Esse casamento era uma farsa! — Tullo disse raivoso do outro lado da mesa retangular.
— Não era uma farsa, havia mais amor entre nós do que qualquer casal por aí, mais que sua
própria família tinha por ele — Cassandra disse.
— Não vai ficar com meu dinheiro, pois não era mulher dele!
— Eram legalmente casados. Ela tem direito a seus bens e, além do mais, ele deixou um
testamento — Erick disse.
— Casaram em Las Vegas. Que casamento real existe em Las Vegas?
— Para seu conhecimento, o governo grego reconhece a união do casal e são casados há oito
anos, Meritíssima. Cassandra e Nuno Kamateros tiveram um casamento real e estável por oito
anos. Não há o que contestar.
— Que não deixou nada para mim!
— Você não se importava nada com ele, somente queria dinheiro, era um péssimo filho
sempre lhe causando problemas, nunca esteve do lado dele e nunca sequer cuidou dele ou o
visitou quando esteve doente! Não tem direito nem de carregar seu nome, muito menos ter seus
bens e dinheiro que ele trabalhava muito para ganhar.
— E que uma vadia qualquer quer roubar.
— Não vou tolerar estas palavras chulas, quem ofender o outro no meu tribunal vai levar uma
multa. Controle sua língua, Sr. Kamateros, não vou avisar novamente.
— Meritíssima, o que minha cliente diz é verdade, seu filho não visitou, nem sequer ligou
para o pai durante dois anos em que esteve em tratamento de um câncer quimioterápico. Não
acha inadequado que somente agora que morreu venha à tona para reivindicar seus direitos?
Minha cliente trabalhava no clube todos os dias, cuidou dele, eram companheiros amorosos e
dedicados um ao outro, como consta nos relatos dos funcionários e vizinhos. Eles mantinham
uma união estável, cheia de amor e companheirismo. Ela lutou para continuar com seus projetos
em homenagem ao seu amado esposo, após sua morte, mesmo sendo constantemente sabotada.
Inclusive, há no clube, uma parede com um imenso quadro dele em sua homenagem.
Erick mostrou uma foto e a senhora olhou para Cassandra e depois para Tullo.
— Além do mais, tenho provas de que o Sr. Tullo é o responsável pela vandalização do clube,
causando prejuízos à minha cliente e temos aqui, Meritíssima, mais uma lista infindável de todos
os danos que o Sr. Tullo Kamateros já tem causado à minha cliente.
— Sim, já vi as imagens.
— Imagens? — o advogado de Tullo perguntou confuso.
— Minha cliente tem um sistema de câmeras internas e externas.
— Não vandalizei nada.
— É mesmo, senhor Tullo? E por que a tatuagem que aparece no seu braço estava nas
imagens das câmeras? Estas fotos me parecem bem claras e me parece ser o senhor nelas.
Ele arfou e olhou com ódio para ela.
— Não posso vandalizar o que é meu.
— O clube, senhor Tullo, não é seu, assim como a casa onde vive a Sra. Kamateros, e a
vontade de seu pai era que não fosse. O testamento é legítimo e deve ser respeitado.
— Essa mulher não era boa para ele!
— Mas não foi assim como ele julgou. Eu não estava aqui para tirar dinheiro do seu pai, para
dar o golpe nele. Construímos aquele lugar do zero. Nós ralamos muito para conseguir crescer. A
gente trabalhava como condenados. Fazíamos todos os tipos de tarefas. Eu até trabalhava como
faxineira numa empresa de limpeza, e quando consegui dinheiro eu montei minha própria
empresa de limpeza. E assim dei trabalho para muitos imigrantes que queriam tentar uma chance
de uma vida melhor. Reconstruímos o clube, que era um inferninho ao alto nível das casas
noturnas de Atenas. Construí minha casa sobre uma tapera de pescadores e sou muito grata por
isso, mas a casa é minha.
— Ela é uma fora da lei, ela tem um cassino clandestino nos fundos do clube.
Cassandra esfregou a testa, porque estava com uma terrível dor de cabeça. Estava ferrada se a
juíza considerasse que o cassino era ilegal, estava fodida.
— Isso é verdade, Sra. Kamateros?
— Sim, Meritíssima — sussurrou.
— Não disse, quem é o bandido fora da lei aqui?
— Sim, ela possui um cassino nos fundos, muito bem frequentado, diga-se de passagem.
Veja, Meritíssima, aqui tenho o prefeito, empresários, o deputado Kalagaris, senhores e senhoras
muito bem de vida na alta roda da sociedade grega. Não sei se a senhora conhece este cidadão?
Um juiz, pelo que me consta — disse colocando mais uma foto na frente da juíza, que ergueu os
óculos para olhar todas. — E... aqui... temos um alvará para o funcionamento do cassino.
Cassandra arfou com os olhos arregalados, mas tentou disfarçar seu susto.
— Sim, senhora, vê? Tudo legal.
— Isso é frio! Ela não tem alvará! — Tullo disse zangado.
— Tem sim — Erick disse com um sorriso para Tullo, que bufou de raiva. — Meritíssima,
como pode ver, tudo está certo, não tenho feito nada de errado, tudo está dentro da lei e o
testamento é totalmente legal. E não acha que um juiz, o prefeito e um deputado além de
empresários renomados andariam em um cassino clandestino, não é? — Erick disse fingindo
inocência e a mulher o olhou sobre os óculos. Sabia que estava jogando, pois ela não era tola,
mas o documento era verdadeiro.
— Tudo parece legal. E parece pertencer à senhora.
— Sim, tudo pertence à Sra. Kamateros.
— Mas eu acredito que ela nunca foi sua esposa, porque ele era gay! — Tullo gritou.
Houve um silêncio na sala.
Cassandra parou de respirar e trincou os dentes. É que pesadelos demoravam demais para
passar e ela queria acordar daquele porque o poço estava ficando cada vez mais fundo e ela não
queria entrar naquela escuridão novamente.
— Isso é verdade, Sra. Kamateros? — A juíza perguntou.
Ela olhou para a juíza e não sabia o que responder.
— Esse homem não tem coração, como pode querer pisar em seu pai desta maneira?
— Não foi esta pergunta que eu fiz. Gostaria que respondesse.
— Nuno tinha algumas... fantasias ou peculiaridades, como posso dizer... era excêntrico, mas
sempre foi um homem digno. Ele vivia na noite, na boemia e conhecia o mundo e o desejo das
pessoas como muitos não conhecem. Era um homem honrado, carinhoso e que somente levava
alegria ao mundo.
— Um velho bixa!
Cassandra olhou para Tullo com raiva.
— Ele era um bom pai, pelo menos queria ser e por sua culpa não teve a chance.
— Oh, claro, porque preferia os machos e eu não tolero esta vergonha.
— Ele era seu pai! Tentou ser bom para você, mas você nunca pensou o quanto o magoava
por ser um bandido.
— Você não era sua esposa legítima, não pode receber sua herança como sua esposa. Ele não
dormia com você e sim com um bando de machos.
Cassandra engoliu em seco e tentou segurar suas emoções.
— Está enganado. Ele está enganado, Meritíssima. Éramos um casal de verdade.
— Se olhar aqui, Meritíssima, verá o atestado do médico que mostra que Cassandra estava
grávida de Nuno Kamateros há um ano, mas ambos foram vítimas de um acidente de carro,
causado por um motorista que até hoje não foi identificado. Um acidente de carro no qual Nuno
Kamateros veio a óbito e... aqui... consta que Cassandra teve ferimentos graves, o que, inclusive
levaram a óbito, seu filho, de quatro meses, ainda em seu útero. Filho de Nuno Kamateros.
Houve um silêncio na sala e Cassandra estava em choque e olhou para Erick de olhos
arregalados e para a juíza que pegou o laudo médico e suspirou. Tullo estava com os olhos
arregalados e uma agulha poderia cair no chão e seria ouvida.
— Isso que este homem está fazendo à minha cliente é tortura. Se não afastá-lo, eu o
indiciarei e o caçarei até os últimos de seus crimes e o colocarei na cadeia. Sem contar que há
algumas noites, ela foi drogada e um dos seus funcionários confessou que foi contratado para
drogar a minha cliente. Ela somente não foi levada porque demorou demais para ir ao camarim
onde foi chamada e então seria raptada e possivelmente morta. Seu segurança, aquele homem ali
na porta, a tomou quando desmaiou e a levou ao médico e aqui... pode ver — disse entregando
um laudo à juíza. — A médica constatou que foi drogada com um Boa Noite, Cinderela. E temos
mais aqui, a confissão do funcionário, registrada na delegacia esta manhã. Posso iniciar um
processo criminal imediatamente.
— Não pode fazer isso. Não tem provas!
— Eu posso. E acho melhor não duvidar de mim, porque não sou um dos advogados que o
senhor corrompe fácil com alguns punhados de euros. E além do mais, eu posso provar todos
seus negócios ilícitos, que é um traficante, ladrão, sonegador de impostos e assassino, inclusive
de seu pai e do seu filho não nascido. Posso provar e colocá-lo na cadeia e deixá-lo apodrecer lá
até que o panteão grego volte à vida.
— Pode provar estas acusações, Sr. MacCarthy? — a juíza perguntou.
— Sim, Meritíssima, eu posso. E pretendo fazer as acusações formalmente, em breve.
— Bem, analisando todos os fatos e documentos a mim apresentados, eu dou por encerrado
esta sessão e que, como cita o testamento e por seus direitos, Cassandra Kamateros é legalmente
a herdeira e dona da mansão de Cabo Sounion, do Clube Olimpo e de todos estes bens listados
aqui no testamento. E que Tullo Kamateros não tem direito a nada e, a partir de hoje, está
proibido de se aproximar de Cassandra Kamateros e de qualquer uma de suas propriedades, com
previsão de burlar a lei e ser preso. Caso encerrado.
— Isso não vai ficar assim! — Tullo gritou.
A juíza saiu da sala e Erick pegou tudo e colocou na sua pasta e Cassandra permaneceu
sentada e Konan se aproximou ficando ao seu lado.
— Vou acabar com você, Cassandra.
— Mais uma palavra saída da sua boca e farei um tapete com sua pele, bastardo! — Konan
rosnou.
— Olha, vejam, o segurança covarde e amante da vagabunda.
Konan rosnou e foi até ele, bateu na mesa o que Erick pensou que se quebraria em suas mãos.
— Se aproxime dela que não usarei um advogado para dar cabo de você, eu mesmo abrirei
sua barriga, arrancarei suas vísceras e darei aos cães.
O homem não tinha senso comum e abriu a boca para contestar Konan, mas ele não deixou
que o fizesse. Agarrou pela garganta e o ergueu do chão.
— Ouviu-me?
— Konan... — Cassandra chamou.
Ele soltou e o homem caiu no chão.
— Está acabado, Tullo, fique longe.
Eles saíram, escoltando Cassandra que caminhava quase correndo, os seguindo, sem olhar
para trás.
No carro, o silêncio era pesado e Cassandra estava triste e distante e Konan sentia todas suas
vísceras revirarem.
Ele tinha superado que ela tivesse tido um marido, mas carregar um filho no ventre era algo
que não passou na sua cabeça ou que isso o incomodasse, mas incomodava, era ciúme que sentia.
Ela ainda amava seu marido morto?
Pensamentos irritantes e contraditórios passavam na sua cabeça e que ele pensou nela
carregando seu filhote no ventre, linda com o ventre estendido, recebendo o amor e a união
deles.
Sem querer, Konan rosnou e olhou para fora, incomodado com os próprios pensamentos que
o atingiam. Eram muito rápidos e não podia evitá-los. Estava ficando louco, nem sequer queria
tomar a humana como companheira e pensava em filhotes.
Pelos deuses, estava louco.
Quando eles desceram no pátio da casa de Cassandra, o clima ainda estava péssimo.
Ela respirou fundo e olhou para Erick.
— Muito obrigada, nem sei como conseguiu tudo aquilo.
— Querida, quando eu quero, eu consigo qualquer coisa, e tenho a ajuda de amigos.
— Obrigada, acho que isso acabou, não é?
— Sim, esse caso acabou. Qualquer coisa que Tullo faça, agora será contra a lei e posso
conseguir sua prisão.
— Mas não acha que ele vai se afastar.
— Francamente, ele não tem perfil de quem escuta alguém além de seu ego inflado. Mas
podemos arrumar para que ele seja preso por acusações como assassinato. Assim que queira que
façamos isso.
— Pode mesmo fazê-lo?
— Sim, mas acho que agora você precisa de um pouco de descanso, depois veremos isso.
Ela assentiu sem dizer nada e entrou em casa.
Konan respirou fundo e olhou para Erick.
— Sinto muito — Erick disse.
— Por quê?
— Por sua garota.
— Ela não é minha garota.
Erick negou com a cabeça e suspirou.
— Claro que não, Konan... não sei porque então está morto de ciúmes e dor por ela, já que
não significa nada para ti. Se uma humana é capaz de fazer você vestir um terno, eu acho que
deveria dar algum crédito.
Konan rosnou e queria contestar, mas Erick não deu ouvidos entrou no seu Porsche prata e foi
embora.
Konan ficou ali, no pátio, sem saber se ia para frente ou para trás, e não entendia a avalanche
de emoções que tomaram conta dele.
Naquela noite, eles não foram para a boate e Konan encontrou Cassandra no terraço, como
sempre, tarde da noite, olhando para o mar, vestida com uma camisola e um robe de seda preta,
perdida em seus pensamentos, mas, desta vez, havia uma onda de tristeza vindo dela.
— Você está bem?
— Estou.
— Está triste.
Ela respirou fundo e secou as lágrimas do rosto.
— É doloroso abrirem suas feridas e te jogarem no chão.
— Você ganhou o caso.
— É, ganhei, mas perdi muitas coisas hoje. Pontos de um corte que tento cicatrizar.
— Sinto muito por seu marido e seu bebê.
Ela assentiu.
— Éramos um casal diferente, mais amigos do que marido e mulher e amantes, mas
cuidávamos um do outro, éramos leais. Tullo... foi ele que o matou, mas eu não consegui provar.
— Um dia, Tullo vai pagar por isso.
— Obrigada por sua ajuda, valorizo muito isso.
— Este é seu lar, Cassandra, e prometi que não deixaria que ninguém o tirasse de você. Sei o
que é perder um lar, sua casa, sua vida, pessoas que amava. Ninguém mais do que eu sei o que é
a injustiça. Se tiver que lutar, então lutaremos por você.
Ela engoliu o choro que travou sua garganta, mas não conseguiu impedir que seus olhos se
banhassem num mar de lágrimas e foi até Konan.
Sem tirar seu olhar do dele, puxou seus braços, descruzando-os e lentamente o abraçou pela
cintura, com a cabeça em seu peito e soltou um suspiro, profundo, como se ele viesse do fundo
de sua alma.
— Obrigada, Konan. Você é um homem muito valoroso.
— Shhh... está tudo bem, querida, isso vai cicatrizar novamente.
Konan a abraçou, envolvendo suas costas com os seus braços fortes e foi o abraço mais
perfeito e poderoso que sentiu em muitos anos de sua vida. O abraço perfeito que só ela sabia
dar.
Um abraço de gratidão, de carinho, de respeito e dado por aquela humana pequena e
briguenta. Que o deixava sempre desconcertado e louco.
Mas ele deu de volta, dando força a ela, dando a promessa que ficaria tudo bem, acalentando
seus temores, dando proteção e carinho.
Ele odiava vê-la triste e chorando.
Konan pegou seu queixo, virando-o e fazendo-a olhá-lo. Seus olhos cor de mel, naturais eram
lindos e estavam mais brilhantes pelas lágrimas.
— Você já passou por muito — ele sussurrou.
— E você também. Acho que está na hora de recomeçar.
Ele assentiu, beijou seus lábios, suavemente, languidamente, enroscando sua língua na dela.
Depois se soltou e a olhou.
— Até quando você vai ficar? — ela perguntou.
— Você deveria ir descansar.
— Quem está falando? É meu amigo, meu amante ou meu carcereiro?
Konan franziu o cenho.
— Não sou seu carcereiro.
— Então por que ainda está aqui, Konan? Já não provei que não delatarei os lobos? — disse
triste.
Era verdade, já tinha tido tempo de averiguar tudo. Confiava nela e sabia que não os
denunciaria. Mas ele continuava ali, porque não conseguia ir embora. Não conseguia deixá-la.
Sua companheira.
Konan piscou aturdido quando esta palavra entrou dentro dele.
Não podia ser, ela não podia ser sua companheira.
Mas tudo o que sentia por ela, sua necessidade enlouquecida, seu lobo insano, sua dor
aflorada, sua magia que desatava sem querer. E desejo de tocá-la a todo momento.
Konan deu um passo atrás, se afastando dela.
— Acho melhor ir dormir, pois precisa descansar. Amanhã irei para a ilha e falarei com o
alfa, tenho certeza de que ele nos liberará.
— Claro — ela sussurrou e ele viu tristeza em seu olhar. — Se vamos nos separar amanhã,
então que passemos uma última noite juntos.
Konan tentou se afastar e ir para seu quarto, sozinho, mas, quando ela pegou sua mão e
entrelaçou seus dedos nos seus, sua mão suave e delicada dentro da dele e o foi levando para o
quarto, ele não pôde negar, não pôde se afastar, porque não queria.
Konan acordou ouvindo uma música e franziu o cenho. Olhou as horas e para a janela e viu
que mal havia amanhecido.
Resmungou indignado, porque estava cansado e queria poder dormir mais um pouco. Saltou
da cama, colocou a calça do moletom, pois estava nu e saiu do quarto seguindo a música. Espiou
no quarto e Cassandra não estava na sua cama.
— Mas que coisa, acordada a esta hora?
Ele desceu as escadas e abriu uma porta grande e branca e paralisou.
Era um estúdio, uma sala espaçosa e com espelhos e uma parte da parede era de vidro, a que
dava para o jardim e se podia ver uma parte do mar. Havia uma barra ao redor da sala cravada na
parede e um daqueles poles iguais ao que tinha no clube.
Cassandra estava usando uma roupa de dança, uma legging até o joelho, uma saia com uns
tecidos e pedrarias e correntes, como as que ela usava nas suas danças no clube e um top preto
que cobria os seios.
Ela dançava lindamente, remexendo os quadris e os braços, rodopiava de um lado a outro e
Konan ficou hipnotizado.
Assim que o viu, cravou seus olhos nos dele, mas não parou de dançar. Konan foi até um dos
cantos da sala onde tinha uma poltrona e ficava o som, uma garrafa de água e uma toalha e tinha
uma caminha fofa de tecido onde, a contemplando, estava o gato persa e peludo, quietinho, mas
com os lindos olhos azuis presos nela.
Konan foi até a poltrona e sentou, quieto, somente a observando.
Ele sempre achou bonito a dança, mas nunca havia se fixado em nenhuma delas realmente,
mas Cassandra era diferente e ele simplesmente amava vê-la dançar. Ela era graciosa, leve como
uma pluma, sensual como jamais outra poderia ser.
A maneira que mexia os quadris era maravilhosa e sua mente ficou turva.
Ela se aproximou dele, e Konan viu que estava dançando para ele. Nunca tinha passado por
nada igual, aquela mulher linda e maravilhosa agora estava na sua frente, dançando para ele,
somente para ele, não para um clube cheio, estavam somente ele ali a vendo e o sorriso dela
iluminou sua face e ele sentiu seu coração inflar.
As correntes e pedras faziam um pouco de barulho quando ela se movia e a sequência da
música o deixava inebriado.
Ela colocou as mãos em suas coxas, deslizou para ele como uma felina e roçou sua boca na
sua face.
Konan rosnou e gemeu, mas não se moveu.
Suas mãos subiram pelo seu peito desnudo e para seus ombros e passou por sua mandíbula e
ela girou e se afastou, antes que ele saltasse sobre ela e a jogasse sobre seu colo e a beijasse
loucamente.
Ele admirou cada pedacinho dela, cada movimento, a delicadeza das posições das mãos, dos
dedos, como inclinava o pé, como o virava, ficando em uma ponta perfeita, como ondulava sua
barriga.
Ele queria deslizar suas mãos por suas pernas longas e perfeitas, queria tocar cada pedacinho,
sugar aqueles seios deliciosos, beijar seus lábios cheios e convidativos.
Seu olhar era quente sobre ele, que parecia que sua pele queimava.
Konan estava excitado demais e se moveu na cadeira, pois a excitação o enchia de luxúria, de
ternura, de tudo misturado. Um sentimento forte o inundava de forma absurda.
Um sentimento novo que ele nunca tinha conhecido antes.
Sem dizer uma palavra, ela foi até o pole e Konan piscou aturdido, vê-la segurá-lo e rodar ao
seu redor, erguer as pernas e dar algumas voltas e esticar-se abrindo as pernas e dobrando uma e
abriu-a em um espacate perfeito.
Konan rosnou, porque, senhor, aquilo era sexy como o inferno. Tinha visto as meninas
dançando no clube, mas agora vê-la fazendo deixava as outras ínfimas.
Ela era a perfeição.
Ficou ali, petrificado, a olhando, esquecendo-se de um mundo perturbador lá fora. Ali eles
estavam em uma paz maravilhosa, enredados no mar da sensualidade, e jurou que nunca alguém
tinha alcançado algo tão profundo dele, tão forte e tão intenso.
Ela o enredava, de todas as maneiras e ele amava isso, mesmo que o assustasse.
Cassandra não tinha nenhuma ressalva contra ele, era aberta, exposta, como se eles se
conhecessem uma vida toda, uma eternidade.
Ela seduzia a ele e seu lobo, sem nenhum esforço.
E ele estava enredado e não entendia como ela conseguia tal feito.
Não entendia como aquela humana o aceitava tão rapidamente, tão facilmente.
Ela deu mais alguns giros e fez aberturas esplêndidas no pole que o deixou tonto, então
deslizou até o chão, com as costas na barra e olhou-o sedutoramente, com o olhar cheio de
luxúria, soltou dali e veio até ele e se escorou em suas pernas novamente e deu um leve beijo em
seus lábios.
Então, pegou suas mãos e o puxou da poltrona, lentamente, e Konan foi hipnotizado. Ela deu
um leve sorriso, se virou de costas contra seu peito e deslizou pelo seu corpo, descendo até o
chão, se abaixou para frente e levantou seu traseiro, roçando-o em sua ereção, naquela posição
quente e insinuante.
Konan rosnou, porque, senhor, o que ela estava fazendo era erótico.
Então ele deslizou suas mãos em suas costas e ela jogou os cabelos para trás e levantou, girou
e deslizou suas mãos pelo seu peito, passou ao seu redor e Konan fechou os olhos para sentir
aquilo.
Cassandra pegou suas mãos e as ergueu e girou. Konan rosnou, a girou de volta, cruzou seus
braços nas suas costas e a puxou para ele, prendendo-a contra seu peito. Ela arfou e o olhou e riu
lindamente e ele sorriu abertamente.
Recomeçou a balançar o corpo, dessa vez lentamente, levando-o com ela. Fazendo-o
acompanhar seu movimento e ele seguiu.
Konan estava dançando com ela e alguma nuvem estava sob seus pés.
Ele nunca tinha dançado com uma mulher, assim, abraçado.
Era algo mais de novo que ela trouxe para sua vida.
Inebriado, baixou a cabeça e beijou seus lábios, soltou de suas mãos e enterrou em seus
cabelos.
Beijá-la era como saborear o mais maravilhoso dos doces. Seus lábios amavam os seus.
Adorava embrenhar os dedos em seus cabelos, lisos e sedosos. Adorava senti-la toda contra
ele.
A dança não parou, continuou com o deslizar de seus corpos um no outro, de forma lânguida,
sexy e quente.
Ele tirou seu top e jogou longe, com um puxão tirou a saia que vestia, ergueu-a fazendo-a
entrelaçar as pernas na sua cintura e, segurando-a com seus braços fortes, a deitou para trás,
mordeu seu seio e raspou os dentes em seu mamilo, fazendo-a gemer.
Com sua força ele a segurava, a comandava e se movia contra ela. Ele sentou de volta na
poltrona, puxou sua cabeça para trás pelos cabelos e seguiu com beijos molhados em seus seios,
pescoço e mandíbula, devorou sua boca com beijos abrasadores.
Com alguns movimentos, as calças de ambos se foram e Konan rosnou ao tocar seu sexo
quente com os dedos, fazendo-a arfar.
Ele a penetrou, escarranchada sobre ele e seguiu com movimentos fortes, puxando-a contra si,
comandando seus quadris com suas mãos.
Cassandra estava perdida, dançando sobre ele, sobre seu corpo e membro, ele gemeu quando,
por trás dela, posicionou seus dedos em seu membro e podia sentir seu pênis molhado pela sua
excitação, sua lubrificação quente escorrendo em seus dedos e a sensação de entrar e sair dela.
Ele nunca tinha prestado tanta atenção no corpo de quem estava tomando, mas com ela ele
fazia, gostava de ver os corpos ondularem, gostava de ver o ato, parecia depravado, quente, tão
natural, parecia que tinham sido feitos para se encaixarem de maneira tão perfeita, como deveria
ser, porque ambos faziam o sexo unidos, com o corpo e sentimentos.
Estar com ela era sempre perfeito.
Cassandra tomou conta dos movimentos para cima e para baixo e ela estava selvagem e
quente como ele amava senti-la. Ambos estavam com seus corpos beirando o êxtase. Ela o
beijava com loucura, beijos longos e intensos; e quando ele rosnou em sua boca, deslizou os
dedos pela lubrificação e escorregou para trás e ela arfou quando ele sondou seu ânus com os
dedos e a penetrou.
Ele a olhou, fixando seu olhar e observando sua reação, ela gemia e arfava com a boca aberta,
o que só o deixava mais alucinado por ela.
Ela não o interrompeu, não o afastou, gostava como ele a tocava e estava aberta para ele,
aberta para descobrir o prazer junto com ele. Sondou-a, penetrou uma e outra vez enquanto batia
dentro dela.
— Ainda te quero aqui... te prepare, Cassandra, porque um dia eu vou te tomar toda. Deseja
isso?
— Desejo. Desejo tudo de ti.
Ela gemeu alto e teve seu orgasmo e ele rosnou alto, penetrou mais ferozmente, puxando-a
contra si e rosnou ferozmente quando derramou seu gozo dentro dela, quente e poderoso. Konan
xingou entredentes porque pensou que sua mente havia ido junto, esvaído na bruma do prazer
que ela lhe proporcionava.
— Porra... — Ele gemeu como se tudo nele doesse.
Ela o abraçou, aferrada em seu pescoço e ele a abraçou fortemente e parecia que era a única
coisa que conseguiam fazer.
Ficaram ali até recuperarem a respiração e as forças, ele suspirou e, sem dizer nada, levantou,
segurando-a contra ele e subiu os dois lances de escada e quando chegou em seu quarto se jogou
com ela na cama.
Caído sobre ela a beijou doce e longamente e parecia que aquela loucura não acabou, porque
fizeram amor de novo.
Só que, dessa vez, foi lento, saudoso, intenso e diferente, foi com o coração totalmente aberto,
com os sentimentos aflorados, o que somente abriu muitas lacunas para eles, abriu e expôs
sentimentos que ambos estavam querendo deixar enterrados e esquecidos.
Fizeram amor, adorando um ao outro, esperando que aquilo durasse para sempre.
Konan esgotou-a fisicamente, como se nunca pudesse saciar seu corpo e, quando ela estava
totalmente esgotada, ele beijou sua face e cobriu seu corpo nu com a coberta.
— Devia dormir agora, você dorme muito pouco, minha sereia.
— Obrigada por se preocupar — sussurrou languidamente.
— Eu devo ir, te ligarei para te dizer como estão as coisas com o alfa.
— Ok.
Ele beijou seus lábios e se foi e Cassandra respirou fundo. Quando ouviu o barulho da porta
se fechando seu coração doeu.
Ele tinha ido.
Tinha acabado e talvez não o visse de novo.
E ela se sentiu triste.
Konan bateu cada vez mais forte no saco de boxe, que arrebentou das correntes que o
mantinham suspenso pelo teto e voou pela sala, caindo sobre uma pilha de pesos, arrebentando,
e, assim, espalhando areia por todo lado.
— É o terceiro saco que arrebenta, Konan. Então, a menos que tenhamos que trocar de
empresa por outra que faça algo mais reforçado, sugiro que me conte qual é o seu problema —
Erick disse chegando a sua frente e cruzando os braços sobre o peito.
— Não há problema nenhum — Konan disse com um rosnado, arfando e com o corpo
encharcado de suor.
— Você sempre é muito calmo, mas ultimamente está nervoso. Por quê?
— O que eu ganho sendo calmo quando eu tenho vontade de quebrar a cara de alguém?
— Alguém específico?
— Não.
— Alguém o aborreceu?
— Estes malditos humanos pensam que são quem? Reis? Eu deveria mostrar um verdadeiro
rei a eles. Um que comeria suas vísceras no café da manhã.
— Sei que os humanos nunca lhe caíram muito bem, mas você é o que mais gosta de andar
entre eles.
— Não gosto de andar entre eles.
Erick levantou uma sobrancelha, inquisitivo.
— Então por que anda?
— Eles não se metem comigo, porque sou grande, e quando algum idiota tenta, na maioria
das vezes está bêbado e as mulheres gostam de mim.
— Eu sei que elas gostam, pois é um bom tipo.
— As mulheres gostam de homens fortes e grandes. Mas elas não entenderiam nosso lado
animal. Tivemos prova disso nos laboratórios e aquelas doutoras mulheres eram como os
homens: más. E... já aconteceu outra vez.
Erick olhou para ele por alguns segundos, analisando seu comportamento.
— Você ainda tem mágoa de Ilana?
— Não tenho mágoa.
— Tem sim.
— Não — disse, pondo suas mãos em punho na lateral do corpo. — Mas se não me deixar
tranquilo, vou fazer com que respire mal, beta.
Erick riu, mas depois ficou sério. Lentamente.
— Sinto muito, mas é gracioso como o inferno — disse irônico. — Isso ainda te incomoda,
não minta.
— Ela partiu meu coração, mas eu superei, portanto, ela não me importa mais.
— Se não te importa, por que as lembranças dela estão castigando você? E justo agora?
— Eu... eu não sei. Penso nela... ultimamente.
— Você arriscou sua vida por ela. Revelou-se aos soldados alemães para salvar sua vida. E
ela o temeu e o desprezou. E ainda por cima você foi punido pelo alfa por não seguir suas
ordens, foi muita coisa para superar.
— Chamou-me de besta.
Konan engoliu em seco e suas memórias o castigaram.
Ele ainda podia ouvir os tiros, os gritos, sentir o ardor das balas perfurarem sua carne.
— Por isso não aceita que tomemos companheiras humanas — Erick disse, tirando-o de suas
lembranças.
— Humanas são fracas para os lobos.
— Algumas sim, mas nossas companheiras são fortes.
— Não quero uma companheira humana.
— Posso respeitar isso, Konan. Você não é obrigado a tomar uma companheira humana. Pode
escolher uma loba para ser sua companheira.
— Não quero ser responsável por ninguém. Não quero mais nenhuma companheira. Já tive o
suficiente disso para lidar.
— Tudo bem, pode ser que não queira agora, mas um dia vai querer. Vai querer ter sua
família. Vivemos muitos anos, Konan, para passarmos sozinhos. Uma aventura de sexo quente
por aí é legal e entusiasmante, mas um dia seu coração e sua mente vão querer mais. Vai querer
um lar, um herdeiro, alguém para abraçar quando chegar em casa. Lobos não nasceram para
serem sozinhos.
— Eu sei, mas não é agora.
Erick o observou por um minuto em silêncio, lendo a fisionomia do amigo.
— Se está assim tão aflito e trazendo suas dores do passado, se martirizando é porque...
talvez... você tenha a encontrado?
— Não encontrei! — disse rapidamente, com um rosnado que quase fez Erick rir.
— Acho que você entrou em um meio de negação, sabe? Isso acontece quando não queremos
ver a realidade ou estamos nos preocupando demais que ela vá nos atingir.
— Eu não estou criando distrações para minha realidade. Conheço-a muito bem. Sempre foi
dolorosa.
— Sei que amava aquela humana há 76 anos e sei que amou Alicia. Sei que também se sente
responsável pela morte dela nos laboratórios, mas, Konan, isso não quer dizer que não tenha uma
nova oportunidade e que possa dar certo. O que houve com Ilana foi bem ruim e eu sinto muito;
e quanto à Alicia, não foi sua culpa. Nada que aconteceu nos laboratórios foi nossa culpa. Cada
um de nós sente de uma maneira diferente que poderia ter ajudado algum lobo, que poderia ter
salvo, agido diferente ou porque não tentamos o suficiente. Não pode se culpar.
— Tenho tentado me convencer disso. Mas... ela... eu acordo, às vezes, com os gritos dela nos
meus ouvidos. Pedindo que a ajudasse e eu não pude.
— Entendo, mas tem que parar de olhar para trás e pensar no que teria sido. O passado já foi e
você deve olhar para frente e encarar a realidade que está bem na sua cara. Não pode fugir para
sempre, Konan.
— Não estou fugindo, sei de minha vida e esta humana não está nela.
— Hum... esta humana? Esta humana, por acaso não seria a moça que invadiu sua casa? Que
tem vivido na casa dela? Uma bela dançarina dona do clube?
— Não é ela. Ela é somente uma amiga que estou ajudando. E... vigiando, porque bem, sabe
de nós. E o alfa ordenou e você o ajudou nesse joguinho.
— Não estamos fazendo nenhum joguinho. Eu e Noah conhecemos bem sua história, acha
que brincaríamos com sua vida?
— Não... não acho.
Konan suspirou.
— Não sente nada quando está com ela? Sua libido não mudou?
— Não.
— Eu tenho a impressão que estourar sacos de areia em seus treinos de boxe me parece meio
desregulado.
— Isso é fraco.
— Pode mentir para si mesmo, Konan, mas não pode mentir para os deuses, nem para mim,
pois não acredito em você.
— Se os deuses me conhecessem, não me fariam uma companheira humana, pois saberiam
que não a quero.
— Bem, talvez eles saibam exatamente o que pode curar seu coração ferido.
— Você fala e se intromete demais, beta.
Konan rosnou, estufando o peito e cerrando os punhos, mas isso não intimidou Erick nem um
pouco.
— Sou seu amigo e somente quero ajudar. Desejo que esteja bem, mas se estourar mais um
saco de areia, eu chutarei seu traseiro.
— Ponha na minha conta.
— Não é sobre o valor dos sacos que me importo e sim, porque os está socando. Vá transar,
Konan, e resolva seu problema com sua humana, que está tirando seus pensamentos do sério.
— Não tenho uma humana.
— Ela é linda e parece ser uma boa mulher.
— Não tenho uma humana.
Erick ergueu as sobrancelhas e ficou encarando Konan até desconcertá-lo.
— Eu gostaria de dizer que seu comportamento no dia que ela apareceu aqui e suas súbitas
mudanças de humor seria uma bobagem ou uma simples atração física, mas pode ser algo mais,
porque ela é realmente muito bonita e parece ser dona de si.
Konan teve vontade de rosnar novamente, mas não conseguiu negar contra os argumentos de
Erick.
— Sim, ela parece.
— Mesmo com todo o susto que levou ao descobrir sobre nós, ela se mostrou forte e... eu
diria... encantada.
— Ela não vai contar de nós para ninguém. Ela prometeu.
— Eu sei que ela prometeu e Noah deu uma chance a ela. Sabe que ele poderia ter mastigado
a jugular dela.
— Eu sei, ele podia.
— Noah está confiando que você vai cuidar disso.
— Eu estou cuidando. E já disse ao alfa que o caso está encerrado. Vamos deixá-la.
— Certo. Você se deu conta de que seu cheiro mudou, não notou?
— Não acasalei com ela. Não a mordi. Já disse.
— Mas teve sexo com ela... mais de uma vez.
— Já transei com muitas humanas e elas não ficam com meu cheiro de lobo. Então, ela não
pode exalar meu cheiro.
— Não, não pode, a não ser...
— A não ser o quê?
— Há muitas coisas sobre companheiras de alma que ainda desconhecemos, não é?
Konan rosnou e olhou furioso para Erick.
— Não repita isso.
— Ok, como queira. Se precisar de algo, qualquer ajuda, ou conversar, pode falar comigo.
Erick foi até a porta e saiu, então voltou e somente colocou a cabeça na porta.
— Ah... e não esqueça que eu quero ser o padrinho do casamento.
Erick saiu rapidamente pelo clube e soltou uma risada quando ouviu Konan soltar um feroz
rosnado que fez o chão tremer e ouviu mais um saco voar e explodir na parede.
Konan rosnou furioso tanto que as paredes tremeram.
O que Erick disse era ruim, mas era certo.
Sim, ele não tinha dito nenhuma mentira.
Ele a desejava como jamais tinha desejado a uma mulher. Nem sequer Alicia.
Mas como se negar àquela mulher quando ela se aproximava e o seduzia, tão naturalmente.
Ela era linda, inteligente, misteriosa, maravilhosa.
Parecia como o mais precioso sabor das especiarias que alagavam seu paladar no mesmo
instante que compartilhavam seus momentos.
O sexo entre eles era estupendo.
Fazia tanto tempo que não sentia um desejo semelhante… Não, corrigiu-se, jamais havia
sentido algo assim por uma mulher, nem sequer por Alicia ou Ilana.
Não se tratava tão somente de luxúria ou de uma paixão descontrolada. Entre eles havia um
vínculo. Eram como duas metades de um mesmo coração que se sentiam completos quando
estavam juntos.
Não podia ser certo. Mas mesmo assim…
Ela tinha feito com que voltasse a acreditar que podia ser feliz de novo. Tinha despertado
desejos esquecidos, tinha amado as suaves carícias de sua mão enredada no cabelo ao despertar,
a sensação de dormir junto ao seu corpo quente. Tê-la aferrada totalmente em seu corpo. Topar
na cozinha para o café, tomar banho juntos. Fazer tudo juntos.
Sentia-se indefeso e perturbado.
Podia sentir como Cassandra conseguia ir derrubando, pouco a pouco, cada uma das barreiras
que ele tinha construído durante anos, pondo fim ao intumescimento no que se refugiava seu
coração.
Tinha conseguido manter-se afastado de seus próprios sentimentos e, embora tenha conhecido
a muitas humanas pelos quais havia sentido certo carinho, nenhuma delas tinha conseguido afetá-
lo como Cassandra.
Por que Cassandra? E por que agora?
E se ela fosse realmente sua companheira?
Talvez Erick tivesse razão, talvez fosse hora de recomeçar.
Talvez se ele deixasse seus medos, raivas e culpas para trás poderia ter uma chance... com ela.
Seria capaz de entregar sua vida àquela humana? Ela saberia cuidar dele, ser como ele?
Ela aceitaria ser uma loba? Ela não tinha se afastado dele quando soube quem ele era, pelo
contrário. Ela não tinha medo dele.
Seu peito doía, realmente estava dolorido e a cada pensamento que ele tinha de se afastar
dela, doía mais.
Ele gostava demais de estar com ela. Tinha amado dormir e acordar e fazer tudo com ela.
Gostava até do seu clube barulhento.
Estava apaixonado por ela e isso era um fato e, então, quem sabe se desse uma chance...
Nesse momento seu celular soou. Pegou-o de cima do banco e respondeu.
— Sim, alfa?
— Konan, temos um problema, vamos a Creta e você nos levará com o helicóptero — Noah
disse.
— Ok, estou na academia, tomarei uma ducha rápida e o encontrarei no heliporto.
Konan desligou e respirou fundo, uma aflição o atingiu e teve a sensação de que não ia gostar
do que ia encontrar.
Ilha de Alamus, Grécia

Petrus entrou no quarto da clínica médica e olhou Alexander conectado a tantas máquinas que
lhe deram agonia e estava com a cânula de oxigênio no nariz.
O pai de Sami, de um lado da cama, estava preparando algum medicamento em uma seringa
que logo aplicou no cano que ia para sua veia.
Sami estava do outro lado, sentada na cadeira, escorada na cama e segurava sua mão e ele
podia ouvir sua respiração difícil, seu temor.
Olhou para o outro lado e viu a princesa Yasmim, que desapareceu bem diante dos seus
olhos. Piscou aturdido, mas foi tão rápido que pensou que não tinha visto direito. Talvez seu
cansaço estivesse lhe pregando alucinações. Afinal, o que ela estaria fazendo ali?
Perdeu o pensamento quando Alexander chamou o nome de Sami com um sussurro.
— Estou aqui, Alex, não se preocupe, vai ficar tudo bem. Vamos consertar isso.
— Acho... que não há mais nada para consertar... não tenho medo de morrer... Sami.
— Você não vai morrer, ouviu? Papai e eu estamos trabalhando nisso. Vamos conseguir fazer
o soro, eu juro.
— Não vai, sem a máquina não vai conseguir. E... está tudo bem.
Sami abriu a boca e fechou, porque era uma realidade, a máquina caríssima que Petrus havia
mandado buscar para sintetizar o soro não estava funcionando.
O pai de Sami tinha tentado por dias a fio reproduzir o soro, mas a máquina não era como a
dos laboratórios, elas eram modificadas e eles não sabiam mais a quem recorrer.
Somente o pai de Alexander poderia conseguir este feito, mas Harley não tinha obtido
sucesso na sua busca. O homem sabia como se esconder.
— Você vai ver, vamos conseguir, não desista — ela sussurrou. — Já passamos por muita
coisa juntos, vamos superar mais essa crise, você vai ver.
Sami fungou e Petrus viu que ela estava chorando, então, ela o olhou e seu coração doeu ao
ver a tristeza em seu olhar. Ela estava desistindo de lutar e ele não gostava disso.
Ela voltou seu olhar para Alexander novamente.
— Petrus... — Alexander chamou e Petrus se aproximou.
— Estou aqui.
— Cuide bem dela por mim.
— Não se despeça, garoto, você vai conseguir.
— Não tenho... tempo... por favor, chame Noah.
Petrus franziu o cenho.
— Noah? Por quê?
— O que há, Alexander? — Sami perguntou.
— Por favor... seja... rápido.
Sami olhou espantada para Petrus, que também estava espantado.
Petrus olhou para o pai de Sami, que estava triste e escorado em sua bengala, e ele somente
balançou a cabeça negativamente e o alfa soube que estavam perdendo Alexander e que não
tinham tempo.
— Aguente, eu o trarei.
Petrus saiu do quarto, pegou o celular e fez a chamada.
— Petrus! — respondeu Noah do outro lado da linha.
— Temos uma situação, que me parece irremediável.
— O que é?
— Alexander teve uma regressão muito brusca no seu tratamento, sua doença avançou
novamente e... ele está morrendo.
— Mas que merda!
— Ele pediu que quer ver você.
Noah rosnou.
— Eu? Por quê?
— Não sei. Você poderia vir? Por favor? Significa muito para Sami.
— Considere feito.
— Obrigado, amigo.
Petrus desligou, respirou fundo e amaldiçoou, esfregou o peito que parecia estar doendo e sua
cabeça estava girando.
Precisava fazer alguma coisa para ajudar Alexander, mas não sabia o quê, ele saiu da clínica
médica e entrou na mansão e foi para o terraço.
Petrus se escorou no balaústre e puxou o ar com dificuldade, seu coração doía.
Estar estremecido com Sami o deixava mal, pois seu amor por ela era imenso e somente
queria vê-la sorrindo, com aquele sorriso deslumbrante e vê-la chorar quebrava seu coração.
Mas o momento era delicado e queria entender e ajudar, na verdade achava que estava
fazendo tudo o que podia para salvar Alexander. Afinal, tinha cedido e comprou um aparelho
que custava 20.000 euros e toda a lista de parafernálias que o pai dela e ela haviam pedido e não
tinha sido pouca coisa, mas que não estava dando resultado.
Respirou fundo para afastar seus pensamentos conturbados e tentar encontrar uma saída, um
meio de ajudar a todos. Ele não queria aquele ar fúnebre em sua casa.
Então tentou se acalmar, fechou os olhos, respirou fundo uma e outra vez.
E, aos poucos, os pensamentos conturbados se acalmaram, ele foi afastando seus tormentos e
seus medos, sua raiva.
Quando conseguiu silenciar sua mente e finalmente ouviu a natureza ao seu redor, o leve
quebrar das ondas na enseada, os galhos e as folhas dançando ao vento com sua música que
parecia um suave farfalhar, ao longe uma gaivota grasnou e ele sentiu a brisa suave beijar seu
rosto.
Seu lobo se acalmou e ele pediu a sabedoria.
Então, um claro pensamento lhe veio.
E se ele transformasse Alexander em lobo?
Sua magia poderia salvá-lo? Se aquele soro que haviam feito causava um reparo no seu
sistema a ponto de devolver parte dos seus movimentos, ser um lobo poderia curá-lo?
Não transformar humanos em lobos era uma regra com poucas exceções, era uma das leis que
a maioria dos lobos respeitava.
Cada um tinha seu ciclo de vida e era o correto respeitá-la, lobos viviam uns quatrocentos
anos a mais no geral, humanos raramente passavam dos cem.
Era o natural. Era a vida.
Lobos somente tinham permissão de transformar um humano quando fossem seus
companheiros. Mas ver sua Sami sofrer, doía seu coração.
E no mais, ele tinha tomado apreço pelo garoto. Era um bom rapaz e parecia ter sofrido o
suficiente em sua curta vida.
Havia coisas que não pareciam justas.
Tantas pessoas maldosas no mundo e, na maioria, as que sofriam ou partiam precocemente
eram as que amavam a vida e eram boas, que nunca tinham feito mal nenhum a alguém.
O que Alexander tinha vivido da vida? Nunca teve uma vida normal, nunca teve amigos,
nunca tinha vivido além de suas viagens pela tela do computador e quanta dor tinha padecido.
Nunca tinha jogado bola com os meninos, corrido, se banhado no mar, ido pescar, viver sem
depender dos outros.
E, ao fim, sofria com o que seu próprio pai tinha feito. Petrus sabia que Alexander tinha
vergonha e sofria pelo que os lobos tinham sofrido. Acreditava nele.
Petrus sentiu o aroma diferente atrás dele, se virou e piscou aturdido ao ver no terraço a filha
do rei: Yasmim.
Não tinha tido uma alucinação antes. Era a mesma mulher que estava no quarto.
Ele estava tão chocado que não conseguiu fazer uma reverência prontamente, então ele
admirou sua beleza.
Ela realmente era muito parecida com a rainha e tinha uma alma etérea e era tão suave e bela
que parecia um anjo, ali parada, o olhando e suas roupas eram parecidas com que a rainha
costumava usar.
Agora usava um vestido azul longo que arrastava no chão, com um corpete sob o busto que
parecia um pequeno espartilho.
Sobre ele havia um cordão de fios de ouro e cravejado de pedras preciosas e uma corrente
grossa trançada subia entre o meio de seus seios e se juntava com um belíssimo colar pelo seu
pescoço.
Seu cabelo negro descia em ondas até sua cintura e possuía mechas loiras e prateadas.
Ela usava uma tiara que era um misto de tiara élfica com uma coroa.
A princesa era de arrancar suspiros e seus lindos olhos azuis muito claros a deixavam mais
etérea.
Ela era mais baixa que os lobos, assim como sua mãe, pois elas não tinham nascido lobas,
portanto não possuíam sua altura, mas os olhos e os cabelos com mechas eram a sua marca de
loba. Poderia ter mais de dois mil anos, mas mantinha uma aparência muito jovem, como uma
adolescente.
Petrus saiu de seu estupor e fez uma reverência respeitosa.
— Princesa...
Antes que ele perguntasse o que ela estava fazendo ali, ela falou.
— Deveria fazê-lo.
— O quê? — Petrus perguntou sem entender. — A senhora estava no quarto, pensei que tinha
visto errado.
— Sim, estava, mas me retirei para deixá-los. Minha presença ali não era importante no
momento.
— Eu estou grato, mas não entendo sua presença aqui, quer dizer, é bem-vinda, mas não
entendo. Hum... sua visita a Alexander será sempre bem-vinda, acredito que tenham feito
amizade.
— Sim. Fizemos amizade, de pronto. E eu vim para ajudar Alexander, transformá-lo em lobo.
Mas vi sua agonia aqui, pedindo por sabedoria. Sei que sua preciosa companheira ama muito ele
e a você. Então eu acho que devo deixar esta honra para você, para que sua família continue forte
e unida.
Petrus piscou, aturdido.
— Como sabe o que eu estava pensando? E como soube que ele estava doente?
— Eu tenho uma sensibilidade muito sutil para perceber os sentimentos e captar pensamentos
dos lobos, mesmo quando não estão os projetando para mim, como costuma ser com todos os
lobos. Como eu soube dele? Eu o senti.
— Oh, acredito que tem alguns dons peculiares provindos de sua mãe.
— Sim.
— Mas diz que deve ser eu a fazê-lo?
— Percebo seu sofrimento e estou te dando a oportunidade para restaurar o que pode estar
danificado entre sua companheira e salvar Alexander.
— Por que a senhora faria isso? Por que veio transformar Alexander? Não entendo.
Petrus franziu o cenho e se lembrou do baile de Clere.
A princesa estava presente e passou muito tempo conversando com Alexander. O sorriso. Ah,
o sorriso... a maneira que um olhava para o outro, as visitas que ela fazia constantemente a ele.
A constatação caiu sobre Petrus como uma bomba e ele quase abriu a boca literalmente de
espanto.
— Alexander é seu companheiro?
— Sim, ele é meu companheiro. Impressionante, não é? Eu tenho vivido por mais de dois mil
anos, sozinha no reino de Kimera. E quando eu vi o humano pela primeira vez, eu soube. Então...
— Soube que estava morrendo e veio salvá-lo?
— Pedi se minha mãe poderia fazer uma magia para salvá-lo, curá-lo. Sim, ela poderia, mas
ela soube melhor. Soube que, para tê-lo, ele deveria ser um de nós. O amor... de certa forma...
cura tudo.
Petrus estava muito chocado.
— Por que passa este ato tão significativo para mim, para curar um momento entre minha
companheira, se a senhora pode mostrar ao seu companheiro que foi aquela que ia salvar sua
vida?
— Eu terei outras oportunidades para mostrar a ele que o desejo curado e feliz, mas, agora,
quem precisa de alento e a oportunidade de fazer o certo é o senhor, meu alfa de Alamus. E no
mais, Alexander saberá de minha estima por ele e não o que eu fiz ou deixei de fazer. Não
preciso provar nada, porque nosso laço se formará por si só quando ele levantar daquela cama.
Só o que ele precisa saber é que estou aqui ao seu lado. Mas você ia fazer isso se eu estivesse
aqui ou não, porque era isso que seu coração estava te pedindo. Seu coração é bom demais e ama
muito sua companheira para deixar este pensamento morrer. Então vá lá e faça o que vai ajudar a
todos nós.
— Ele é digno de tal mágica?
— Ele é e vai te mostrar isso antes que seu coração pare.
Petrus não entendeu direito, mas não teve tempo de perguntar, pois a princesa sumiu.
Ele respirou fundo e olhou para o mar. Uau, aquilo era grande e ele quase não conseguia
acreditar em tal coisa. A princesa era companheira de Alexander? Aquilo era demais para
acreditar.
Como o mundo girava de forma que as coisas acabavam se encontrando e tomando o rumo
inesperado, quase inexplicável.
Mas o mundo dos lobos, dos deuses e das bruxas já tinha demonstrado que nada acontece por
acaso, nada é em vão e nada mais poderia surpreender.
Não que os sustos os abandonassem, como agora. Este já fazia parte do dia a dia dos lobos.
Ele olhou para a porta da mansão e pensou sobre tudo o que tinham conversado.
Bem, então assim eram as coisas. Que ironia do destino. O filho do homem que torturou e
matou tantos lobos era companheiro de uma loba de dois mil anos, filha dos reis, filha de uma
Senhora, uma princesa.
Seria quase cômico se não fosse trágico. Ou era o contrário?
— Puta merda! — sussurrou esfregando sua barba e respirando fundo. — Mas o que ela quis
dizer com isso? Ele vai me provar...
Petrus voltou à clínica e viu na sala ao lado do quarto onde Alexander estava internado, que o
pai de Sami estava no pequeno laboratório que havia montado e estava compenetrado em
observar no microscópio. Ainda tentando reproduzir o soro.
Ele seguiu adiante e entrou no quarto. Alexander estava agora com a máscara de oxigênio e
parecia dormir e Sami estava agarrada a sua mão e parecia ter adormecido com a cabeça sobre os
braços cruzados sobre a cama.
Ela estava esgotada, pois não dormia e comia direito há dias e ele suspirou cansado.
Cuidadosamente, ele a pegou no colo e a aninhou em seus braços e ela não despertou, mesmo
soltando um resmungo.
Petrus beijou sua testa e a levou para seu quarto. Ele a deitou na cama e se aconchegou ao seu
lado.
— Alexander... — ela sussurrou querendo despertar.
— Não, meu amor, durma um pouco, precisa descansar. Por favor, descanse, por mim.
— Noah?
— Ele virá, durma até ele chegar, estarei aqui com você.
Ela quis protestar, mas não conseguiu, pois ele a trouxe para seus braços e ela deixou se
aconchegar.
Sentindo o calor e proteção dos braços de seu amado, Sami conseguiu se acalmar.
— Petrus... desculpe...
— Tudo bem, querida, está tudo bem, vamos achar um jeito, só durma um pouquinho.
E assim ela fez, mas Petrus ficou olhando para o teto, pensativo.
Desde o dia da briga, eles não tinham se abraçado mais e conversado, ela tinha se enfiado no
laboratório e trabalhado incansavelmente.
Isso tinha doído para os dois, e era muito errado estarem estremecidos e, agora diante daquela
situação, uma princesa tinha vindo ao seu auxílio para ajudá-lo com aquele impasse.
E sim, era verdade. Seu coração estava pedindo que fizesse aquilo, por Sami, por Alexander.
Para que o jovem pudesse ter, pelo menos, uma chance de melhorar.
Poderia não funcionar, mas também... poderia.
Se ele deveria quebrar uma lei, então que fosse por uma boa causa. Afinal, ele não jogava
muito dentro das regras e, pelo visto, tinham aprovação dos reis.
Ora essa.
Petrus abriu os olhos de seu cochilo, ao ouvir o barulho de um helicóptero sobrevoando a
mansão.
Sabia que deveria ser Noah.
Ele olhou para Sami e ela estava profundamente adormecida em seu peito. Acariciou sua
bochecha e seus cabelos e beijou sua testa demoradamente.
— Acorde, querida, Noah está aqui.
Ela gemeu e despertou e o olhou por um momento, piscando com dificuldade e Petrus beijou
seus lábios.
— O quê?
— Noah chegou, vamos levá-lo até Alexander.
Ela assentiu e levantaram da cama, se assearam no banheiro e foram para a sala.
Logo, Noah, Ester, Erick, Kira e Konan entraram na sala e eles se cumprimentaram.
— Lamento pelo que está acontecendo ao rapaz — Noah disse.
— O tratamento não está surtindo efeito, pois o soro que tentamos reproduzir não é o mesmo
e está regredindo rapidamente e seus órgãos estão falhando.
— Estamos aqui para ajudar — Ester disse.
— Vamos à sala médica e então veremos o que podemos fazer e o que ele quer lhe dizer.
Quando entraram no quarto de Alexander, ele abriu os olhos, estava usando uma máscara
maior que cobria o nariz e a boca. Petrus não entendia porque uma hora usavam uma e outra hora
usava a outra, mas isso era irrelevante no momento.
— Alex, Noah está aqui.
Ele tentou erguer a mão para tirar a máscara e todos puderam ver sua mão torta e seus dedos
sem movimentos.
Sami rapidamente se adiantou e tirou a máscara e colocou a cânula de oxigênio em seu nariz,
permitindo que recebesse oxigênio enquanto falava.
— Pronto.
— Tudo vai ficar bem, rapaz — Noah disse se aproximando e Alexander olhou para aquele
gigante, forte e poderoso, sem conseguir balbuciar as palavras. Logo, Harley e Pietra entraram no
quarto.
Todos ficaram em silêncio esperando para que Alexander dissesse algo, e uma lágrima
escorreu de seus olhos rolando pela sua têmpora.
— Eu... sinto... muito...
Noah segurou o rosnado na garganta.
Ele não queria passar por aquela merda. Era complicado demais para ele olhar para aquele
garoto. Todas as emoções invadiam seu coração e era difícil de controlar a raiva que o atingia em
pensar que o pai daquele rapaz moribundo era um diabo.
— Não tem porque se desculpar, já falamos e eu te disse que não culpo você.
— Me perdoe... por... meu pai...
Noah soube que não devia interromper e deixá-lo falar.
— Está perdoado.
— Preciso dizer...
— O quê?
— Eu sei... onde ele está...
Todos arregalaram os olhos e não conseguiam acreditar.
Ele havia descoberto? Ele entregaria seu pai? Ninguém podia acreditar e um silêncio
sepulcral tomou conta do quarto.
— Eu estou morrendo... mas não posso morrer com isso na consciência. Precisa ir lá...
— Lá onde?
— Ele os tem.
— Tem? Eles quem?
— Eu não sabia... antes... me perdoe.
— Alex, o que está tentando falar, por favor, não estamos entendendo — Sami disse.
— Harley? — Alexander sussurrou.
Harley veio para frente.
— Estou aqui.
— Olhe... meu computador... VIESKAY.
— O que é isso?
— Liberte-os...
— Liberte quem?
— Lobos.
Noah se debruçou sobre ele, fazendo suas presas alongarem e seus olhos cintilaram e seu lobo
assumiu o lado assassino. Tudo nele entrou em alerta.
— O que disse?
— Meu pai... lobos... liberte-os.
Noah rosnou, porque não conseguia acreditar no que o rapaz dizia.
— Acalme-se, Noah — Ester disse.
— Onde?
— Computador.
Ele fechou os olhos e Noah rosnou e Erick puxou Noah para trás.
— Calma, Noah.
— Harley! Veja o que ele está dizendo, procure em seu computador! — Petrus disse.
— Num minuto.
Harley girou nos calcanhares e saiu correndo do quarto e saltou as escadas e com sua
velocidade, chegou a mansão, e entrou como um tufão na sua antiga sala de computadores, a
qual tinha deixado para Alexander e Konan o seguiu.
— O que ele estava dizendo, que seu pai tem lobos presos?
— Não sei, foi o que entendi, mas vamos descobrir.
Harley abriu seu computador e respirou fundo, digitando comandos, abrindo pastas olhando
tudo com atenção. Ele abriu alguns arquivos e estreitou os olhos para lê-los.
— Oh, merda!
— O quê?
— Estamos prestes a entrar numa área privada da Deep Weeb e...
Ele clicou em um link e abriu outra página e jogou para a tela de quarenta polegadas na sua
frente.
— Senha.
— Bem, deve ser o que ele disse. VIESKAY.
Ele digitou e deu Enter, então, várias pequenas páginas começaram a pipocar na tela, algumas
com escritos, outras fotos de laboratório, outras de jaulas.
Noah, Erick e Petrus, que haviam entrado na sala vieram mais à frente para ver tudo e Sami
os seguiu.
— Puta que pariu! — disse Noah.
— O que é isso? — Sami perguntou.
— Isso, amigos, é a nova vida de Hermann Sames Sterlin... pai do nosso jovem moribundo.
— Onde é isso? — Noah perguntou.
— Deixe-me ver... Magadan...
— Onde é isso?
— Rússia.
— Rússia? É onde este maldito está?
Ele abriu mais algumas janelas e uma casa em uma montanha coberta de neve apareceu.
— Esta é a casa que se esconde?
— Não sei, Noah, preciso investigar melhor, preciso olhar tudo com cuidado.
Noah rosnou e deu uma volta pela sala, com as mãos na cabeça.
— Encontre este bastardo, preciso colocar minhas mãos em sua garganta e arrancar seu
coração negro!
— Aqui diz sistema de segurança. Esta outra pasta... investimentos.
— São suas contas secretas, olhe... banco na Suíça — Konan disse.
— Oh, infernos! Não acredito nisso.
— Há quanto tempo o garoto sabe?
Harley digitou mais um monte de códigos, e um monte de palavras verdes começaram a
pipocar e a subir pela tela, então, muitas datas saltitaram pela tê-la.
— Pouco tempo. Ele veio pesquisando, veja as datas.
— Ei, olhe essas aqui.
— O que tem aí?
— São desde que sua doença começou a retornar, que ele começou a perder os movimentos
dos dedos. Lembra o dia que bateu com a cadeira?
— Ele começou a procurar seu pai para tentar conseguir o material para recriar seu soro?
— Ele estava tentando fazer mal a nós? Denunciar nossa localização? — Noah perguntou
zangado.
— Não, ele não estava — disse a voz feminina atrás deles e todos se viraram e ali estava
Yasmim.
— Com todo respeito, princesa, precisa parar de fazer suas entradas dessa maneira — Petrus
disse.
— Desculpe, alfa, não quis ser rude e invadir sua casa.
— Yasmim, o que está havendo? — Erick perguntou.
— Quando Sami começou a fornecer o material para recriar o soro, Alexander quis descobrir
se seria possível. Bem, ele chegou a isso. E o que descobriu ajudou a deixá-lo mais doente.
— Não entendo. Como assim?
— Ele tinha jurado que não entregaria seu pai mesmo que soubesse onde estava e realmente
ele não sabia, desde algumas semanas. Então, o que descobriu o fez desejar a própria morte, pela
vergonha.
— Continuo não entendendo.
— Querido irmão, ele sofre profundamente com as ações do pai e não quer que nenhum lobo
seja ferido, não por causa dele. Então, como eu disse ao alfa Petrus, mais cedo, ele está tentando
lhes oferecer algo. Está tentando salvar lobos.
Todos estavam aturdidos olhando-a com os olhos arregalados.
— Tentando salvar lobos? Acha que seu pai vai capturar mais lobos?
— Mas não faz sentido, ele não sabe onde Alexander está ou sabe? — Konan perguntou.
— Não, ele não sabe, e ele nunca deixaria que soubesse. Alexander está tentando se redimir
pelas ações do pai e, apesar da dor em seu coração, ele não o protegerá mais.
— Ele sabe que está morrendo e nos deu a localização de seu pai?
— Sim.
— Isso seria louvável de sua parte.
— Sim, está nos ajudando? Estamos atrás desse homem por mais de doze anos — Noah disse.
— O mais importante nisso tudo não é entregar seu pai para que vocês possam ter sua
vingança ou tentar conseguir o meio certo de produzir o soro que o mantém vivo.
— Então o que seria?
Ela ficou parada por um minuto que pareceu uma eternidade e seus olhos verdes se tornaram
brancos e olhou direto para Konan e todos ficaram aturdidos e calados.
Nunca tinham visto uma loba mudar a cor dos olhos daquela maneira, mas ela não era uma
loba comum.
— Terás três borboletas em suas mãos, uma voará e uma morrerá. Mas tu, junto à outra
borboleta, deves morrer em vida para renascer. Só uma borboleta é capaz de voar por ti. E
quando o fizeres, então você estará livre — Yasmim disse tranquilamente.
— O que ela está falando? — Konan disse confuso.
— É uma profecia — Erick sussurrou.
— O quê? O que quer dizer?
— Yasmim é um oráculo.
— Traduza, Erick!
— Está tendo uma visão do futuro, como um oráculo, ela fala em uma espécie de parábola.
Sua visão deve ser decifrada, como a um enigma.
— E isso, o que tem a ver comigo? — Konan perguntou espantado.
— Alguma encruzilhada, amigo, algo está vindo para ti e te romperá brutalmente — Erick
disse.
— Não serei rompido em nada. A única coisa que quero é romper meu punho nestes humanos
dos infernos. Ter nossa vingança!
Os olhos de Yasmim voltaram a sua cor normal.
— Mas que merda... — Noah resmungou.
— Por que não abre aquela pasta vermelha no canto da tela? — ela disse.
Todos se viraram para olhar a pasta que ela estava falando e Harley rosnou e clicou na pasta,
então várias fotos começaram a preencher a tela e todos olhavam aquilo com os olhos
arregalados.
Eram fotos de um lobo e uma loba, celas, experimentos, eles em macas, eles acorrentados,
eles lutando para se soltar, rosnando, gritando.
Então, duas fotos preencheram a tela imensa, uma do lado da outra, mostrando bem os rostos
dos dois lobos.
Do lado esquerdo estava um lobo muito parecido com Konan, mais novo e que estava com os
cabelos curtos e possuía duas mechas brancas largas no meio de seu cabelo negro e lindos olhos
verdes.
Do lado direito, estava uma loba. De cabelos loiros e mechas mais escuras que estava com o
cabelo cortado acima dos ombros e tinha os olhos azuis lindos, mas retratando uma infinita
tristeza e desilusão, pareciam perdidos olhando para a câmera.
Eles estavam chocados demais para sequer respirar e Konan sentiu suas pernas bambearem.
— Por Morrigan — Konan sussurrou quase sem conseguir.
— Puta que pariu! — Erick rosnou.
— Isso é antigo? — Petrus perguntou.
Harley mostrou os números no canto da tela e eles olharam e viram a data que foram tiradas.
— Um ano atrás...
— Puta que pariu. Puta que pariu! — Erick repetiu.
— Eles estão vivos! Esse maldito tem dois de nossos lobos vivos! — Noah gritou, rosnando
ao mesmo tempo. Ele soltou um rosnado que fez toda a sala tremer.
— Disseram que estavam mortos! Eu mesmo olhei os relatórios! — Erick disse. — Vi seus
nomes dados como mortos!
— Todos nós pensamos que estavam mortos.
Todos, então, olharam com os olhos arregalados para Konan, que continuava ali, estático,
olhando as fotos com os olhos tão esbugalhados que doíam, mas isso era ínfimo à dor de seu
coração e de sua alma.
— Konan? Respire.
Ele arfou e tentou dizer algo, mas as palavras não saíram de pronto, engoliu em seco e
conseguiu dizer:
— Preciso... buscá-los... agora.
— Veremos isso, vamos buscá-los, eu juro — Noah disse segurando-o pelos ombros.
— Estão vivos.
— Vou buscar sua companheira e seu irmão. E os trarei sãos e salvos. Eu juro e mataremos
todos aqueles bastardos.
Konan engoliu o bolo entalado na sua garganta e fechou as mãos em punho. E suas presas
feriram seus lábios, fazendo-os sangrar, porque ele não tinha percebido que elas estavam
crescidas.
E seu lobo, dentro dele, estava em fúria.
Seu desejo de sangue reverberou sob sua pele.
Seu irmão e sua companheira Alicia estavam vivos e isso mudaria sua vida.

Eles voltaram ao quarto onde estava Alexander.


— Suas caras estão horríveis, o que viram? — Ester perguntou assustada.
— Há muitas coisas no computador, mas há uma possível localização de onde ele esteja,
mas... há a possibilidade de estar com mais lobos.
— O quê? Mais lobos? Mas como é possível?
— Foi possível antes. Conformavam-nos que os lobos estavam mortos, mas não estavam,
apenas foram levados para outro lugar, não tínhamos como saber, apenas tínhamos a palavra
deles quando sumiam com algum lobo ou víamos serem mortos. Encontramos alguns relatórios
depois dos salvamentos que constava o registro de suas mortes. Mas, às vezes, não tínhamos
nada, simplesmente.
— Oh, meu Deus! — Ester disse horrorizada. — O que vão fazer agora?
— Vamos estudar tudo o que há e ver como invadir este local e resgatá-los o quanto antes.
— E quem são eles?
— O irmão de Konan e sua companheira.
— Companheira? — perguntou espantada.
Noah olhou bem para Ester, e ela podia ver a ira dele, como estava se controlando para não
sair matando tudo pela frente, seus olhos estavam cintilando e mantinha as mãos em punho.
— Konan tinha uma companheira quando fomos capturados...
— O quê?
— Foi por isso que eu e Harley fomos à sua alcateia. Para a cerimônia do seu acasalamento
— Petrus disse, triste.
— Oh, Jesus! — Ester sussurrou e olhou ao redor. — Onde ele está?
Noah suspirou, cansado.
— Não acredito que queira estar no meio de pessoas nesse momento.
Ela arfou e cobriu a boca com a mão.
Somente podia imaginar o sofrimento que Konan estava sentindo em seu coração.
Ester assentiu rapidamente, aturdida e com os olhos arregalados.
— Como ele está? — Noah perguntou indicando Alexander. — O que houve?
— Mal, bem mal, tivemos que intubá-lo e ele perdeu a consciência. Kira está tentando segurá-
lo com sua magia, mas não está reagindo.
Sami correu e foi até Alexander e olhou para seu pai que estava o examinando.
— Precisamos fazer alguma coisa! — Sami disse atordoada.
— Não há mais nada que eu possa fazer, filha — seu pai disse.
Então, o sinal do aparelho que monitorava os batimentos cardíacos começou a fazer um sinal
contínuo. Seu coração havia parado.
— Desfibrilador! 150! Afastem-se! — Ester gritou, indo para a cabeceira da cama.
Mas não houve tempo de ela nem pegar o equipamento. Petrus rosnou alto e forte assustando
a todos e saltou para a cama, pegou o pulso de Alexander e o mordeu.
Ele soltou de seu pulso, com a boca ensanguentada e as presas escancaradas e rosnou para o
teto com seu olhar de prata reluzente como uma lâmpada acesa e, então, ele sussurrou as palavras
mágicas que iniciariam a transformação e, sem esperar mais nada, o mordeu novamente e recitou
a outra parte.
Sua magia foi liberada de forma forte pela proximidade das mordidas e o vento se abateu
dentro do quarto e todos ofegaram, e bem diante de todos, a magia aconteceu.
A névoa colorida como um arco íris dançou entre eles e a energia era esmagadora e chocou-se
com o corpo de Alexander, que ainda estava inerte.
Petrus se afastou e rosnou novamente, arfando e acalmando seu lobo e então ele olhou para
Sami, que o olhava com os olhos arregalados, praticamente sem respirar, assim como todos.
O silêncio era descomunal, pois ninguém ousou dizer uma palavra. Petrus, como alfa, tinha
autonomia de tomar uma decisão como aquela, sem consultar ninguém.
Ele olhou para o canto do quarto e, ali, viu a princesa. Ela estava tentando parecer calma, mas
Petrus percebeu sua angústia através de seus olhos, seu temor por Alexander.
Pelos deuses! Ele ainda não tinha assimilado aquela coisa toda e, pelo visto, ninguém ali tinha
se dado conta de nada. Ninguém tinha levantado o porquê de Yasmim estar ali, além daquela
explicação que deu na sala de computadores.
Ele sabia melhor.
Todos olharam para o monitor que ainda apitava continuamente, mostrando que não havia
nenhum sinal de vida, nenhum batimento cardíaco, esperando que o que Petrus tivesse feito
surtisse efeito.
— Vamos, Alexander, por favor. Volte, por favor... — Yasmim dizia mentalmente segurando
suas emoções.
Então a linha no monitor deu um salto, mais um e mais um.
— Frequência de 80bpm! — Ester gritou e rapidamente foi até Alexander e o examinou.
Sami e seu pai arfaram aturdidos demais com o acontecimento e não conseguiram se mover
do lugar, reagir.
Alexander se mexeu na cama em uma espécie de agonia os aparelhos ficaram loucos por um
segundo, então estabilizaram e ele se acalmou.
— Ele está vivo! Santo Deus, Petrus, você o trouxe de volta! — Ester disse.
Sami soltou um soluço, emocionada, e não conseguia acreditar no que Petrus havia feito.
— Você o transformou... — ela sussurrou.
Petrus olhou para ela, sério, e ficaram se olhando por um minuto.
— Sim, agora ele é um lobo. Não podia deixá-lo morrer.
Sami arfou e o abraçou e chorou.
— Shhh... tudo bem, querida, vai ficar tudo bem.
— É isso, simples assim? — o pai de Sami perguntou aturdido. — Ele realmente é um lobo,
como vocês?
Petrus o olhou sério.
— Simples assim.
— Por que se negaram a contar? Por que não disseram que era assim que se transformavam?
Sami havia me contado, mas nem ela sabia dizer exatamente como funcionava e agora vi com
meus próprios olhos.
— Esse é nosso poder, nosso legado, nossa responsabilidade. Damos nossa magia quando
queremos e não quando um humano carniceiro quer roubá-la! — Petrus disse, zangado.
O senhor arregalou os olhos.
— Muito sofrimento teria sido poupado.
— Sofrimento de quem, doutor? Sua raça não estava interessada em nosso sofrimento! Por
acaso, o senhor sabia que havia mais dois lobos em posse do seu irmão?
— É claro que não sabia.
— Petrus, papai não sabia disso, nem eu, juro.
— E mesmo assim, depois de saber disso, ainda o transformou... — o doutor disse.
— Fiz isso por alguns motivos, mas com certeza não é para aliviar o seu sofrimento e nem do
pai dele. Fiz isso por Sami e por Alexander, que me provou hoje ser um garoto honrado, mais
uma vez. E pela princesa.
Todos se viraram e olharam para Yasmim, que continuava ali, calada.
— O que isso tem a ver com você, Yasmim? — Erick perguntou.
— Agora não é a hora de falarmos, ele deve descansar — ela disse.
— Isso é verdade. Vamos, xô! Todos para fora, ele precisa de espaço e aqui está abafado e
com ânimos exaltados demais.
— Que tal uma bebida? — Petrus disse.
— Misericórdia. Preciso de uma caixa de cerveja — Erick sussurrou.
Petrus respirou fundo e se acalmou.
— Vamos voltar a ter com Harley e explorar mais as informações do computador de
Alexander e pedirei as bebidas. Estou sufocando aqui.
Todos os homens saíram e o senhor ficou ali, parado.
— Vá descansar, pai, está muito abatido — Sami disse secando as lágrimas.
Ele não se moveu, estava emocionado e aparentemente muito cansado.
— Ele é um lobo agora? Realmente?
— Sim, seu sistema vai absorver a magia e irá se regenerar. Então faremos uma bateria de
exames para vermos como está reagindo — Ester disse.
— Acha que ele poderá andar?
— Isso eu não sei, Sami, seu corpo está muito debilitado, e não sei até onde a magia pode
curá-lo. Isso é novo e acredito que ninguém tem a resposta. Teremos que esperar para ver. Mas,
como sabem, os lobos morrem como todo mundo quando o corpo não tem força para reagir e sua
magia não consegue regenerá-lo.
Ester se virou e olhou para Yasmim, que estava com os olhos cravados em Alexander. Sem
piscar.
— Por que não se aproxima dele agora, querida? Creio que deseje estar mais perto.
Yasmim, com dificuldade, tirou os olhos dele e olhou para Ester e depois para Sami, que a
olhava com curiosidade.
Calmamente ela se aproximou, segurou a mão de Alexander com uma mão e com a outra
acariciou seu cabelo, trêmula.
— Estou aqui, Alex — sussurrou com a voz embargada. — Vai ficar tudo bem.
— Ora, vejam, penso que não estou vendo o que eu estou vendo — Ester sussurrou aturdida e
logo deu um sorriso. — O mundo dá umas voltas muito interessantes. Eu amo o mundo dos
lobos.
Sami respirou fundo e não disse uma palavra. Sua cabeça ainda girava e ela sentou na cadeira
porque suas pernas estavam bambas. Ela olhou para Alexander e para a máquina que mostrava
seus sinais normalizando.
Alexander agora era um lobo, como ela.
E ela não pensou por um momento que essa poderia ser uma saída para ajudar Alexander,
nunca lhe passou pela cabeça que poderiam transformá-lo em lobo.
Mas Petrus tinha feito isso, por ela e estava com a garganta embargada, porque o amor que
tinha por ele a estava sufocando. Não que fosse ruim, mas porque ele tinha provado a ela, mais
uma vez, o quanto a amava e seu coração estava transbordando de amor por ele.
Naquela noite, quando ela saiu do banheiro, somente usando o robe de seda, com os cabelos
soltos e úmidos, ela viu que Petrus estava na varanda e foi até ele. Ele estava escorado no
balaústre, somente usando uma calça de pijama.
Sami chegou por trás dele e o abraçou, escorando sua bochecha em suas costas.
— Obrigada, Petrus — sussurrou.
Petrus suspirou, se virou e a olhou, segurando seu rosto entre as mãos.
— Não queria que sofresse.
— Eu amo você, lobo. Com todo meu coração.
Ele sorriu, emocionado.
— Eu também, Sami.
Ela beijou seus lábios.
— Não posso prometer que não brigaremos mais.
— Eu sei, pois é uma cabecinha-dura, mas faz parte, acredito, contanto que façamos as pazes.
— Sempre.
— Nunca mais me esconda nada.
— Não vou. Estava desesperada. Mas eu mereci sua raiva, porque não vi seu lado, não vi o
quanto isso poderia te magoar. Somente pensei que necessitava salvar a vida dele.
— Eu sei. Sei que o ama muito.
— Sim. Mas agora eu quero te mostrar o quanto amo você.
— Estou aberto a demonstrações.
Ela sorriu lindamente e o beijou.
Konan estava ajoelhado na areia olhando o mar, sua cabeça dava voltas e pensava que havia
sofrido algum choque elétrico.
Não era possível o que tinha visto.
Seu irmão e sua companheira estavam vivos, presos em jaulas. Era quase demais para
assimilar.
Imagens pipocavam na sua cabeça, lembranças dos laboratórios.
Os gritos, os pedidos de socorro.

Alicia estava na mesma jaula que ele e Konan a mantinha em seus braços sobre o catre.
Ambos usavam roupas puídas marrons, tipo uma calça de pijama e uma camiseta e sem
calçado.
Estava frio e ele tentava aquecer Alicia com seu corpo.
Seu copo se retesou quando ouviu a porta metálica abrir e um grupo de carcereiros muito
mal-encarados apareceu, carregando os rifles de tranquilizantes.
Ela arfou de medo em seus braços e Konan rosnou, advertindo-os que se afastassem.
Eles vieram a sua cela e Konan rosnou, levantou do catre e colocou Alicia atrás dele.
Konan se transformou na sua forma intermediária e tentou agredir os guardas pela cela.
Vários dardos de tranquilizantes foram atirados contra eles.
Konan e Alicia gritavam e rosnavam de raiva e pela dor, tentando se defender e tiravam os
dardos de seus corpos, mas eram muitos e fortes demais e as suas forças foram se perdendo.
A cela se abriu e, Konan, mesmo tonto e com dificuldade, tentou ficar em pé e agarrou um
dos guardas, rasgando seu peito e jogou-o contra as grades, um deles disparou a arma de
choque e Konan gritou, tremeu e caiu. Mesmo sentindo as piores dores em seu corpo, ele tentou
impedir que alcançassem Alicia.
— Konan! Konan! — ela gritava sendo arrastada por eles.
— Solte-a, vou matar vocês se a machucarem. Alicia!
Konan saltou sobre um dos guardas, mas levou outra descarga elétrica e dessa vez suas
forças se esvaíram.
Ele caiu no chão, trêmulo e dolorido, com sangue saindo de sua boca e seu mundo girava.
Somente podia se lembrar da imagem dela sendo arrastada e gritando pedindo socorro.
Konan foi arrastado e preso à parede com grossos grilhões e correntes e ele rosnou e as
puxava, tentando se libertar.

Konan gemeu e rosnou, afastando as lembranças, expirando com dificuldade. Sua tortura
somente tinha começado e tinha sido muito pior do que estar preso no calabouço do castelo do
alfa tanto tempo atrás.
Aquela foi a última vez que viu Alicia e seu irmão menor, bem, ele o tinha visto sobre uma
mesa de laboratório, branco e inerte, nu e cheio de cortes.
Minutos antes de ele mesmo ter sido submetido a uma vivissecção, onde abriam sua barriga e
mexiam dentro dele com ele acordado, somente paralisado por drogas. Konan nunca tinha
sentido tanta dor na vida.
E seu conceito sobre humanos havia mudado drasticamente depois disso tudo.
Morto, eles disseram. Era o que eles acreditavam.
Konan chacoalhou a cabeça afastando as memórias de uma vez e percebeu que suas vistas
estavam nubladas.
Seus ouvidos zuniam e suas memórias confundiam-se, se cruzavam, e a dor em seu coração
era forte demais.
Ele gemeu e espremeu os punhos na cabeça. Tentando afastar tudo, rosnou alto e forte, sua
raiva e sua dor.
Ele os mataria. Mataria a todos.
Nathan entrou na sala de armas, carregando uma bolsa grande e colocou sobre a mesa, ele
estava usando uma roupa preta com pesada botas militares.
— Que bom que veio, Nathan. Nem pensei que chegaria tão rápido.
— É um prazer, Noah. Estava em alguns assuntos na Inglaterra e os adiei, pois os lobos são
minha prioridade, então, vim logo que pude.
— Obrigado, homem, e quanto aos outros?
— Charles e Smith irão direto para a Rússia e nos encontraremos lá. Os outros, infelizmente,
estão em missão e não poderão vir, como não podemos esperar, é o que temos.
— Merda! — Noah disse. — Não posso levar todos os lobos, não posso deixar a ilha
desprovida de machos para a segurança das nossas fêmeas e crianças.
— Não se preocupe, Noah, daremos conta e teremos ajuda — Sasha disse.
— Trouxe um presentinho.
— Adoro suas novidades. O que é?
— Um Fuzil de assalto XM-25, guiado a laser, com munição de 25 mm airburt. Pode ser
programado para detonar sobre um alvo ou atrás de um alvo.
— Parece bom.
Ele foi até a janela, atirou e disparou algumas balas e até então parecia normal, mas um
segundo depois a árvore explodiu com a potência de três granadas.
— Uau, isso foi legal!
— Se é para explodir coisas, então que seja com categoria.
— Falou e disse.
— Falou com o alfa Dimitri, Erick?
— Sim, Noah, ele ficou furioso com o que contei e está nos esperando, vai ajudar no resgate.
Já que não dispomos de muitos homens, ele e seus lobos nos darão cobertura. Ele fornecerá
armas e mais alguns brinquedinhos.
— Que brinquedinhos?
— Não disse, mas vindo de um russo não me espantaria que não fosse um tanque de guerra.
Sasha riu.
— Seria divertido, gostaria de pilotar um e passar por cima destes miseráveis.
— Liam levará um helicóptero e Konan levará outro que alugamos. Kira me levará com sua
mágica e as armas. A alcateia de Dimitri fica em Yakutsk, não muito longe, mas a casa de
Hermann fica um pouco isolada em Magadan. Dimitri tem uma casa de caça nas montanhas onde
devemos nos encontrar, e seguiremos direto para ali com nossos lobos.
— Assim que chegarmos faremos um reconhecimento preciso do local e como devemos agir
— Noah disse.
Harley e Petrus chegaram, os cumprimentaram e Harley colocou uma bolsa sobre a mesa.
— Aqui tem meus equipamentos eletrônicos que precisaremos para me infiltrar e analisar seu
sistema de segurança, o que acho que não seria qualquer coisinha. Pelo que pude analisar através
do que tinha no computador rastreado por Alexander. Mas não é nada de anormal ou muito
diferente do sistema que usavam nos laboratórios.
— Você chamou seu pai, Erick?
— Sim, falei sobre isso e ele irá direto para lá, usando a magia e levará alguns lobos. Sabe
como é, se o deixasse de fora, morderia minha bunda. Kayli é um guerreiro e lutar está em suas
veias, nunca dispensa uma boa briga, ainda mais para libertar lobos de humanos.
— Seria fácil pedir à rainha que os tirasse de lá sem um tiro sequer.
— Mas onde estaria a graça? O legal é podermos chutar as bundas destes miseráveis. Quero o
prazer de ter seu sangue em minhas mãos! — Konan disse zangado.
— Isso mesmo, não abro mão de uma boa briga — Noah disse.
— E eu uns bons tiros — disse Sasha.
— Somos lobos e não florzinhas.
Todos riram e concordaram.
— Como está o garoto? — Noah perguntou.
— Vivo e melhorando — Petrus respondeu.
Noah respirou fundo.
— Ele sabe que estamos indo caçar seu pai?
— Não que tenha falado diretamente, mas sim, ele sabe.
— Não deve ter sido fácil a decisão que tomou.
— Acredito que não, mas ele terá meu total apoio e segurança. Ele é um de nós agora e,
queira ou não, é um alvo assim como todos nós e terá que lutar contra seu pai ou qualquer
humano que queira nos pegar — Petrus disse.
— Isso é verdade, sua cabeça está a prêmio e seu pai, agora, é seu inimigo, tanto quanto é
nosso.
— Eu e Harley já estivemos numa situação assim, e garanto, não é fácil tomar certas decisões.
Mas, apesar de ser nosso sangue, não podemos ser coniventes com sandices, senão seremos
cúmplices.
— Verdade.
— E sobre sua irmã, Erick? Qual é a dela com Alexander? Aquilo me pareceu muito íntimo
para ela.
— Ali tem coisa e grande.
Erick rosnou.
— Kira disse que são companheiros! — Erick disse.
— Oh, verdade? — Noah perguntou espantado.
— Puta que pariu, isso sim é uma coisa grande! — Kirian exclamou.
— Oh, não acredito, é uma ironia e tanto — Harley disse.
— Caramba! — Konan rosnou.
— Eu estou me inteirando do assunto, preciso falar com Yasmim seriamente depois — Erick
disse.
Alguns lobos riram com a cara que Erick fez.
— Isso que vi foi ciúmes, Erick?
— Yasmim é minha irmã, preciso saber direito o que acontece.
— Ela tem dois mil anos, tenho certeza de que pode se cuidar sozinha.
— Se isso é ciúme por sua irmã ter arrumado um companheiro, imagino como será quando
sua filha crescer.
Erick rosnou.
— Já está afiando suas garras?
— Cuidado, hein? Já tem um lobinho de olho nela, um tal filho do alfa.
— Calem a boca, idiotas!
Todos caíram na gargalhada e Erick bufou.
— Chega de conversa mole e vamos caçar humanos — Noah disse e todos rosnaram e
uivaram como um grande grito de guerra.
Magadan, Rússia

Quando os dois helicópteros de Noah desceram no imenso espaço entre as árvores que
rodeava uma cabana grande de caça, feita de madeira, todos os lobos saltaram e um homem
muito alto de cabelos loiros e olhos azuis claros quase translúcidos se aproximou, acompanhado
de um grupo de lobos.
— Você deve ser Dimitri. Sou Noah MacCarthy, alfa da Ilha dos Lobos.
— Sim, sou eu mesmo. É um prazer conhecê-lo, alfa Noah. Este é meu beta Yuri e estes são
uma parte de meus lobos. Estamos aqui para ajudar — disse oferecendo a mão e falando inglês
com um carregado sotaque.
— Este é meu beta Erick.
— Sim, prazer, beta. Lamento muitíssimo o que houve com sua alcateia.
Noah rosnou raivoso.
— Sim, este homem causou o impensável à minha alcateia e ele não deve sair dessa
montanha a não ser comigo, dentro de uma jaula. O quero vivo.
— Oh, sim, podemos conseguir isso.
— Quero fazê-lo sofrer antes de matá-lo.
— Compreensível.
— Sasha e uma pequena equipe farão um reconhecimento da área.
— Ok, Yuri os acompanhará, com o carro, estas montanhas necessitam carros especiais e
helicópteros.
— Caramba, esta é sua primavera? — Petrus disse e Dimitri riu.
— Boa, não é? Um gelinho normal. Você deve ser o alfa Petrus.
— Sim, prazer em conhecê-lo, este é meu irmão e beta, Harley.
Ele apertou a mãos de todos.
— Precisam de mais roupa?
— Não precisa, nosso sangue está bem quente... de raiva.
— Imagino.
— A propriedade do bastardo fica próxima à cidade? — Noah perguntou.
— Fica distante, do outro lado das montanhas, está isolada. Não precisaremos nos preocupar
com os civis. Entraremos e sairemos limpos.
— Vamos entrar e lhes mostrarei as armas e tomaremos uma vodca.
— Uh... isso é bom. Nada melhor que tomar uma vodca no berço.
— Ah, a propósito, seus humanos chegaram.
— E não os matou? — Erick disse zombeteiro.
— Não, confiei na sua palavra que são confiáveis, mas um vacilo e arranco suas cabeças.
Eles entraram na cabana e os dois soldados estavam amarrados nas cadeiras.
— Oi, chefe. Ainda bem que chegaram — Smith disse.
Um lobo foi até eles e os desamarrou.
— Estes humanos são amigos e estão comigo desde o primeiro resgate, então, sim, confio
neles. Não estariam respirando se não fosse — Sasha disse.
— Isso eu garanto — Noah confirmou disse.
— Bom — Dimitri assentiu.
— Sasha! Sua vez — Noah disse.
— Sim, alfa. Vamos, rapazes!
Eles saíram acompanhados de Konan e entraram em um carro de tração e partiram para sua
missão.
— Então, rapazes, estas são as armas.
— Caramba, isso é aquela arma de precisão que falavam os jornais? — Erick perguntou
espantado.
Dimitri deu um lento e maravilhoso sorriso, cheio de satisfação e pegou uma delas.
— Não é uma beleza? É uma das armas da fábrica de Lobaev, sim, uma SumrakSVLK-14S.
A arma foi projetada com dois tipos de freno de boca, o que reduz o recuo. O Sumrak é
minimalista, tem apenas o que é necessário para aumentar o alcance e a precisão. Embora você
não possa correr ao redor da floresta com este rifle, pode atingir um alvo a 4.200 metros de
distância e estas são as Tsar Pushka, especialmente usadas pela guarda particular de Putin.
— Uau, isso que eu chamo de brinquedinhos.
Ele riu ironicamente.
— O melhor ainda pode vir. Afinal, um russo adora armas.
— Acredito, então teremos uma boa festinha com fogos de artifícios.
— A melhor, amigo.
Horas depois, Nathan, Sasha e Konan, juntamente com Yuri, um lobo marrom mesclado de
tons pérola, chegaram do seu reconhecimento da área e espalhou as fotos sobre a mesa.
Sasha mascava um palito no canto da boca, usando sua roupa preta de mercenário e um colete
Kevlar.
Konan rosnou e se empertigou, tomando um copo de vodca que Dimitri lhe ofereceu.
— Calma, Konan, tudo a seu tempo — Noah disse batendo em seu ombro, entendendo seu
nervosismo.
— Eu sei, quis entrar e tirá-los de lá, logo, mas o lugar parece mais uma reserva militar.
— Sim — Sasha confirmou. — O lugar é muito bem vigiado, contei doze homens somente na
parte da frente, cinco atrás e há duas guaritas, uma aqui e a outra aqui com dois homens cada.
Eles têm visão do vale deste lado e é por onde temos que entrar.
— Harley se infiltrará no seu sistema de segurança e o desativará e tomamos controle do
circuito de tevê e as câmeras de vigilância.
— Então entramos podemos nos infiltrar ao redor da propriedade e entrar.
— Não temos uma planta oficial do local, então teremos que ir entrando e derrubando o que
encontrarmos pela frente, contando com o risco de surpresas.
— Eles estariam onde? No subterrâneo?
— Temos dois locais possíveis, o subterrâneo onde podemos entrar e resgatá-los. Ou... esta
área aqui que possui um diferente design da casa, há a possibilidade de estarem aqui.
— Com certeza é um lugar com muita segurança para conseguir prender dois lobos por tanto
tempo sem que conseguissem fugir.
— As portas são fechadas com um dispositivo eletrônico, se estiverem ligadas a um sistema
único será mole — Konan disse.
— Sim, posso abri-las — Harley disse. — Posso desativar sua segurança e bloqueá-la por
alguns minutos, se tiver o mesmo sistema dos laboratórios precisaríamos das impressões digitais
para abri-las, mas nossa prioridade é pegar Karl e Alicia, se não tivermos a mão das digitais,
usarei meus dispositivos para abrir as trancas.
— Pode fazer isso de longe?
— Sem a planta e saber como é seu dispositivo, não, tenho que entrar e me conectar. Posso
conseguir uma visão infravermelha para as entradas, o que posso fazer de longe.
— Ok, teremos uma equipe guardando suas costas, uma entra pela frente e a outra por esta
entrada aqui.
— Temos que abater todos os de fora, para que não haja tempo de alertá-los dentro.
— Não vejo a hora de meter as mãos nesse diabo.
— Daremos-lhe um bocado do que nos deu.
— Então, seremos quietos ou barulhentos?
— Quanto mais barulho melhor.
Todos rosnaram.
— Silenciosos até entrarmos, então derrubem e abatam tudo que vier pela frente, sem dó nem
piedade.
Houve outro rosnado.
Os carros e os helicópteros pararam a uma distância considerável da propriedade e seguiram a
pé munidos de suas armas.
Ao se aproximarem, os lobos correram entre a mata quase sem fazer ruídos e se espalharam
ao redor da propriedade. Alguns iam já na sua forma intermediária, outros em forma de lobos e
alguns estavam armados.
Os atiradores munidos com suas Sumraks miravam nos guardas ao redor e Sasha os
comandava pelo intercomunicador auricular.
Harley e um grupo, após abaterem os guardas, se aproximaram da porta lateral e ele colocou
um aparelho para transmitir o sinal. Ele ligou o seu e começou a trabalhar, lendo o sistema e
digitando comandos.
Um a um dos guardas foram atingidos e caíram mortos. Quando os da frente haviam sido
exterminados, três saíram da porta e olharam ao redor, mas não viram nada porque os corpos
foram arrastados para a mata e alguém uivou, o que os assustou.
Os guardas ouviram um barulho, que vinha de um lado, outro de outro, pois os lobos estavam
brincando com eles, então dois lobos tombaram um dos carros e eles com suas armas miraram
sem atirar, esperando visualizar o alvo, mas nada apareceu.
Os três foram se aproximando, com seus rifles apontados para o veículo, então Nathan pegou
sua arma especial e disparou no carro, e logo ele explodiu derrubando os três homens.
Harley abriu as portas e eles entraram com dois homens armados na frente preparados para
abater qualquer um que aparecesse, e dois estavam em suas costas para sua cobertura.
Junto com eles estavam Noah, Konan, Erick e Liam que, se esgueirando pelos corredores, iam
procurando as passagens para o andar de baixo, foram adentrando na casa.
E quando estavam dentro, eles uivaram e rosnaram avisando que estavam ali e então, o
inferno desatou com um ataque em massa.
Houve várias explosões e tiros e ouviam-se gritos e rosnados para todos os lados.
A casa era bem decorada, requintada e muito grande; e apesar de ser sofisticada, havia muitos
homens armados dentro, ao estilo militares, com suas roupas, coletes e pesadas armas e todos
usavam boinas pretas.
Os lobos avançaram em fúria e foram agredindo e matando um a um dos capangas de
Hermann, jogando-os de um lado a outro, destruindo móveis.
Harley ia abrindo portas que tinham comandos eletrônicos e dois lobos que faziam sua
cobertura usavam uma máscara com visão de calor, o qual poderiam ver onde havia pessoas em
suas proximidades.
Um dos guardas deu um tiro que atingiu Konan no braço, ele rosnou pela dor e cambaleou,
mas não fez caso, rosnou furioso e saltou sobre o homem antes mesmo que pudesse apertar o
gatilho de sua arma novamente, ele tirou a arma de sua mão jogando-a longe, agarrou os dois
punhos do homem e com o pé chutou seu peito. O homem caiu gritando e Konan rosnou ao ficar
segurando seus dois braços arrancados.
Ele jogou os braços sobre ele e, com o pé, pisou em sua garganta, matando-o.
— É isso, garotos, matem primeiro e perguntem depois!
Konan rosnou alto e forte e uivou tentando ver se poderia alcançar seu irmão e Alicia. Rosnou
novamente e as paredes da casa tremeram.
Noah deu o uivo como alfa, chamando-os para a batalha. Konan uivou em resposta, sedento
de sangue, cego pela vingança. Ele tomaria muitas almas esta noite e estava ansioso por isso.
Nenhum humano sobreviveria, nenhum humano teria sua misericórdia, porque ele queria
vingança, porque era um lobo e odiava os humanos que os machucaram, que machucaram sua
companheira, sua família.
Naquele momento, era só no que conseguia pensar. Nenhum humano sairia vivo dali e, isso,
era uma promessa.
— Por aqui! — Harley gritou.
Konan entrava na frente como um demolidor, arrombando portas de madeira, mas as de metal
ele não podia ultrapassar, então, bufando esperava que Harley as abrisse.
Sua raiva estava aflorava e não haveria nada que o parasse.
Enquanto isso, havia do lado de fora, os lobos espalhados ao redor da propriedade, ocultos
entre as árvores que atiravam à distância, usando suas armas de precisão, abatendo qualquer
humano que aparecesse no seu campo de visão, enquanto lobos saltavam e lutavam com suas
próprias mãos e em forma de lobo rasgavam suas gargantas e, uma coisa era certa, eles
pipocavam de todos os lados.
Um dos lobos atirou contra uma das guaritas que havia dois humanos atirando às cegas, com
uma Antitanque de Foguete, lançador de granadas e a pequena e alta construção de tijolos
explodiu.
Dentro, Konan Harley e os outros lobos alcançaram as escadas e começaram a descer.
À medida que iam adentrando na casa, iam colocando na parede os dispositivos explosivos
com C-4 que seriam detonados depois.
Eles arrombaram umas portas duplas e deram em uma de metal lacrada com dispositivos
eletrônicos. Mataram os humanos que haviam ali e mais dois que surgiram atirando pelo
corredor, enquanto uns lutavam, outros rodeavam Harley para que, com seus aparelhos, a abrisse.
— Deve ser aqui, esta trava é mais complicada.
— Sim, sinto cheiro de drogas e de lobos — Noah rosnou.
Konan bateu contra as portas e uivou e então ele ouviu o uivo do outro lado. Era Karl.
Konan rosnou furioso e enquanto Harley digitava seus comandos ele batia na porta, o que
somente fazia-a entortar um pouco.
— Calma! Estamos indo.
— Merda...
— Mais rápido, Harley!
— Eu estou tentando...
— Eu já disse que esta era uma péssima ideia?
— Tenho uma leve lembrança de uns choramingos.
— Vai se ferrar! — Petrus disse.
— Bem, acho que estamos ferrados juntos.
Harley riu e eles se encolheram com o som de uma explosão que fez tudo tremer. Digitou
mais comandos no seu aparelho e as portas deram um sinal e destravaram.
Konan abriu as portas com um chute e correu para dentro, enquanto Sasha olhava ao redor
procurando alvos.
— Olhe esta merda! Isso é um laboratório formado para nós, ele não tinha intenção de parar,
ele queria mais de nós para suas experiências!
— É o que parece. Mas sua alegria acaba hoje.
Konan rosnou quando viu as jaulas com Karl numa e Alicia na outra.
Um homem e uma mulher usando jalecos gritaram e tentaram correr, mas foi em vão.
Konan cravou o homem no chão e socou com os dois punhos fechados em seu tórax,
quebrando sua caixa torácica, abrindo todo o peito, rosnou de raiva.
Noah agarrou a mulher pelo braço, que gritava histérica, e puxou para si e ela o olhou
horrorizada com os olhos esbugalhados.
— Ah, está com medo agora não é, vadia? Mas para nos prender e nos cravar com estes
bisturis não tinha nenhuma piedade! Não terei de ti.
Noah rosnou na sua cara a ergueu do chão e a jogou pela sala, que caiu sobre uma mesa, com
diversos tubos e vidros derrubando tudo, morta.
Eles rosnaram ao vê-los agarrados às grades apavorados e ao mesmo tempo esperançosos.
— Karl!
— Konan! — gritou sem acreditar no que via.
Konan rosnou e foi até a cela e eles se abraçaram entre as grades.
— Você está bem? — perguntou emocionado.
— Estou bem, nos tire daqui!
— Estamos indo para casa, fique tranquilo. Harley!
— Sim, estou indo.
Harley correu e colocou um dispositivo quadrado pequeno na fechadura e começou a digitar
para conseguir destravar. Konan foi até a outra cela e Alicia estava ali agarrada às barras com o
rosto banhado em lágrimas.
— Konan!
— Alicia!
Ele rosnou quando a abraçou.
— Calma, vou te tirar daqui. Você está bem?
Ela assentiu, desesperada.
— Não acredito que você está aqui, sabia que viria, sabia!
A cela de Karl abriu e ele rosnou alto e forte pela sua liberdade e correu para a cela de Alicia
e abraçou Konan.
— Calma, já te tirarão daí.
— Precisamos sair daqui, rápido!
Harley abriu a cela de Alicia e ela abraçou Konan e depois abraçou Karl.
— Vamos sair daqui! Corram!
— Meu bebê, onde está meu bebê? — Alicia gritou desesperada.
Konan congelou.
— Seu o quê?
Karl ficou na frente de Alicia, preocupado com sua reação, protegendo-a de Konan.
— Nossa filha, ele a levou mais cedo, deve estar em algum lugar deste maldito lugar.
Os lobos ficaram olhando a cena com os olhos arregalados. Konan nem sequer piscava.
Noah se aproximou e colocou a mão no ombro de Konan, trazendo-o de seu choque.
— Não temos tempo para contar histórias agora, vamos encontrar seu filhote, Karl, encontrar
o maldito e sair daqui. Há mais algum lobo aqui?
— Não, só nós dois e nossa filha.
— Tem certeza?
— Sim.
— Peguem os materiais de pesquisa, estas porcarias de tubos de ensaio computadores,
arquivos, qualquer coisa sobre nós. Vamos, rápido! — Noah gritou.
— Vamos, Konan — Harley disse, batendo no ombro dele, mas ele o segurou pelo colete
Kevlar que usava, trazendo-o de volta.
— Você sabia disso? — Konan rosnou.
— Sim, irmão, eu sabia.
— Por que não me disse?
— Desculpe, quis te poupar, na verdade, não sabia como dizer. Pensei que o alfa tinha te dito.
Aturdido, Konan soltou um palavrão, se virou e saiu do pavilhão, e eles foram entrando em
todas as salas que existia naquele andar, mas não havia nenhum sinal da criança.
Voltaram para o andar de cima e havia uma balbúrdia generalizada, rosnados, gritos, tiros,
havia fumaça, incêndios, destroços como se uma guerra literalmente estivesse instalada ali.
Houve uma explosão e eles se encolheram, olharam para fora e viram um helicóptero
sobrevoar a mansão.
— Nathan está de posse do helicóptero do bastardo. Vão, entrem nele e saiam daqui, agora.
Nisso outro lobo sobrevoou com o outro helicóptero, enquanto um lobo atirava de cima e ele
pousou. Para pegar os lobos e bater em retirada.
— Não vou sair sem minha filha!
Noah rosnou aturdido.
— Mas que merda, a encontraremos, mas, Karl, leve-a até o helicóptero e a mantenha ali.
Qualquer perigo, Nathan sobe e os tira daqui.
— Alfa, deixe-me procurar — Karl disse.
— Leve-a, Liam. Karl, então nos ajude a encontrá-la. Todos alertas, todos viram a cara do
bastardo nas fotos, encontre-o, agora!
Karl olhou para Alicia e segurou seu rosto entre as mãos.
— Vá, vou achá-la, mas te quero segura, corre, agora.
Chorosa, fez o que mandavam, Liam a pegou pelo braço e correram para fora e a colocou
dentro do helicóptero.
Nisso, atordoados, viram um tanque de guerra vindo em direção à casa e eles riram pela
diversão que Dimitri exalava através do intercomunicador.
— Saiam daí, lobos, está na hora de aumentar a brincadeira.
— Entendido, mas temos o bastardo para pegar primeiro.
— Ok, estou indo para o ala oeste, façam sua jogada.
E com isso eles sentiram tudo tremer e ser derrubado quando o tanque se jogou em um lado
da casa derrubando tudo e transformando em pilhas de concreto e vidro.
— Vamos, não temos tempo!
— Humanos no andar de cima, alfa! — Sasha gritou no intercomunicador.
— Karl, localize-a, agora!
Karl se virou, fechou os olhos e inalou fortemente, abriu os olhos que cintilaram e suas presas
cresceram. Ele rosnou furioso e saiu correndo e eles o seguiram.
Subiram por uma larga escada e chegaram ao andar de cima, cautelosos, atirando e matando
qualquer humano que apareceria na frente, ou com seus próprios punhos.
Havia um corredor largo com muitas portas que estavam todas fechadas. Karl ia à frente
seguindo o cheiro de sua filha e rosnou diante de uma das imensas portas duplas.
Konan se jogou contra a porta que arrebentou e soltou dos trincos e entraram na sala que
parecia uma espécie de escritório.
E ali estava ele, o homem que havia destruído sua alcateia.
Os lobos pararam furiosos, raivosos e cautelosos, pois olharam o homem que segurava o bebê
no colo e apontava uma arma para sua cabeça que, assustada, chorava.
Na lateral do escritório havia outra porta dupla e ali apareceu dois homens armados, que
apontaram suas armas para eles, mas um levou um tiro de Erick e o outro foi alcançado por
Petrus, que quebrou seu pescoço com um giro brusco.
— Mas que merda, estas criaturas bandidas se reproduzem? Saem de todos os lados! — Noah
rosnou.
— Este era o elemento surpresa.
Um terceiro apareceu atrás das portas duplas de vidro que dava para um terraço, mas arfou
quando recebeu uma flecha na garganta e tombou.
Eles olharam para trás assustados e viram Kane, com seu arco e flecha, vestido com suas
roupas antigas, como um guerreiro.
— E ainda bem que também temos o nosso elemento surpresa.
— Oi, irmão, precisavam de uma ajudinha? — Kane disse para Erick, com um sorriso no
rosto.
— Já era hora.
Um rosnado, alto como nunca, seguido de um uivo soou pela casa e eles se olharam,
aturdidos.
— A cavalaria chegou — Erick disse.
— Yeap! Papai chegou — Kane disse rindo e saiu correndo.
— Qual é o problema de vocês, não conseguem matar uns malditos cães? — Hermann gritou
a um de seus homens que arfava no chão, mas Petrus agarrou-o pela cabeça e jogou-o contra a
parede e caiu morto.
Sasha saltou pela varanda, deu um chute nas portas de vidro e atirou dentro da sala atingindo
dois homens que apareceram na porta lateral.
Um dos lobos de Dimitri entrou com o caminhão a toda velocidade derrubando uma das
portas no andar de baixo, fazendo a casa tremer.
Noah rosnou e socou o peito de um dos homens que tinha caído no chão pelos tiros de Sasha,
mas ainda estava vivo.
— Me entregue minha filha, bastardo! — Karl rosnou.
— Se afastem ou eu a mato. Vou sair daqui no meu helicóptero e ela vem comigo.
— Pense de novo, infeliz, não sairá daqui. Primeiro, porque seu helicóptero foi confiscado;
segundo, que está cercado.
— Mas eu tenho esta loba, ela é minha e se não quiserem que eu meta uma bala nela, me
deixarão ir.
— E eu tenho o seu filho e ele é meu! — Noah rosnou.
— Não só temos seu filho, Alexander, como temos sua sobrinha, Samantha e seu irmão.
O homem olhou aturdido para Noah e depois para Petrus, que tirou o celular do bolso.
— Mentira! — Hermann gritou.
Petrus se aproximou um pouco e mostrou algumas das fotos que ele tinha no celular.
Hermann olhou com os olhos arregalados.
— O que fizeram com meu filho?!
— O mesmo que fez com os nossos filhos. Venha conosco e eu prometo que liberto seu filho.
Ele está desesperado, somente chama seu nome, implora que não o matemos. Como pode ver, ele
está moribundo e lhe demos alguns talhos bem comprometedores. Também nos divertimos muito
torturando seu irmão e sua sobrinha, Samantha.
— Vocês são monstros!
Erick bufou indignado com a falta de senso do homem, estava louco.
— Sim, somos monstros. E fatiarei cada um deles se não me der este bebê.
— Principalmente seu filho, arrancarei cada membro dele, dedo por dedo, um braço, depois
uma perna, posso intercalar mordidas e arranhões no processo, até arrancar suas vísceras e depois
quebrar sua caixa torácica e arrancar seu coração e comê-lo.
O homem estava muito abalado olhando para Noah com os olhos muito arregalados. Petrus
olhou para Noah, aturdido, porque sua mentira tinha surtido efeito. Quem diria!
— Minha vida pela deles.
— Nunca pensei que se importasse com a vida de alguém, doutor.
— Ele é meu filho. Fiz tudo isso por ele!
— Sim, e ele é muito grato, então porque não faz algo bom por ele, se entrega e me dá este
bebê em segurança, então poupo seu filho, senão, eu o torturarei na sua frente. Vai gostar disso,
acaso não era isso que seus cientistas e guardas assassinos faziam com meu povo?
— Se me entregar promete libertá-los?
— Dou minha palavra. E a palavra de um lobo é sua honra.
O homem olhou a criança que agora chorava aos gritos, assustada com o barulho de tiros e
explosões.
— Não serei prisioneiro de um lobo.
Konan saltou sobre ele tão rápido que Hermann não teve tempo de se afastar, de se proteger
ou apertar o gatilho da arma que apertava contra a cabeça do bebê.
A pistola foi arrancada de sua mão com um golpe, e o jogou para trás. Nisso, ele perdeu o
equilíbrio e soltou a criança. Karl saltou e se jogou no chão, segurando o bebê antes que batesse
nele e se machucasse.
Noah soltou umas imprecações.
Hermann agora gritava pela dor, porque Konan havia quebrado seu braço.
— Santo Cristo, não podem seguir um plano?
— Isso era um plano, um de última hora.
— Meio furado, mas convincente — Petrus disse e Konan riu e se virou e rosnou alto e forte
na cara de Hermann, que ainda gritava com uma histeria covarde.
— Tá doendo, seu covarde? Que tal eu lhe quebrar mais alguns ossos?
— Não se atreveria.
— Tente-me, seria um prazer fazê-lo.
Konan lhe deu um soco no rosto e ele desmaiou.
— Calma, Konan, queremos ele vivo.
— Shhh... Calma, querida, está tudo bem, papai te tem, shhh... — Kark dizia docemente, para
acalmar o bebê, embalando-a em seus braços.
Todos olharam para Karl com os olhos arregalados e Konan não sabia desatar o nó dentro
dele.
Houve outra explosão e cascalhos voaram por cima deles.
— Estes russos não conseguem fazer menos barulho?
— Eles gostam de explodir coisas.
— Já percebi.
Houve outra explosão.
— Hora de nos retirarmos! — Noah gritou. — Vamos, saiam!
Konan deu espaço para todos saírem e ele ficou para trás para proteger sua retaguarda,
enquanto Noah arrastava o homem desacordado.
Antes de sair, ele olhou ao redor do escritório e viu um notebook sobre a mesa e rosnou,
saltou até ele, arrancou os cabos e foi correr para a porta, mas dois guardas surgiram e atiraram e
o atingiu com vários tiros. Ele rosnou e se escondeu atrás da mesa, tombou-a, a ergueu,
rosnando, e correu e se jogou contra os dois que foram esmagados contra a parede.
Konan rosnou pela dor dos ferimentos, pegou o notebook e saiu.
— Erick! — gritou.
Ele olhou para trás e somente teve tempo de saltar e agarrar o computador no ar.
Konan arfou e olhou suas pernas que tinham três tiros e sabia que tinha mais locais feridos,
onde pegou fora do colete. Os que o colete protegeu não atingiu sua pele, mas teria um
hematoma porque doía demais.
— Merda...
Ele encontrou um dos capangas e rosnou, lutando contra ele, que atirou um dardo de
tranquilizante, Konan rosnou pela dor e saltou sobre ele, rasgando seu tórax e sua garganta.
Ele pegou uma das granadas e atirou fazendo a sala explodir e correu, até dar de cara com
dois homens que atiraram nele pelas costas quando, mesmo ferido, ele lutou com os dois e a
porta explodiu, fazendo a madeira desabar e ele ficou preso do outro lado.
Erick e Petrus voltaram para ajudá-lo, mas foram impedidos pelo desmoronamento.
— Konan!
— Erick! Não posso sair por aqui.
Houve outra explosão e ele se encolheu e gemeu, o sangue escorria de seu corpo e suas vistas
estavam embaçadas.
— Konan, corra para o terraço, no heliporto, corra para o terraço, agora! Nós o pegaremos ali
com o helicóptero!
Konan rosnou e caiu, sentindo a dor forte demais para suportar. Ele se transformou em lobo e
uivou e ouviu as explosões mais alta e a casa toda tremer fazendo escombros. Dali a pouco,
ouviu o helicóptero que pairava sobre a casa.
Juntando todas suas forças ele correu, saltou através da janela, quebrando os vidros e assim
causando cortes em seu corpo, saltou no terraço que era imenso e correu.
Houve outra explosão enorme e o helicóptero se afastou da casa, que começava a explodir
totalmente.
— Todos estão fora? Atenção, confirmem, todos estão fora? — Erick gritou.
— Todos fora! — ouviram o outro confirmando.
— Konan! — Noah gritou na porta do helicóptero.
Houve uma explosão e parte da casa desmoronou. O helicóptero deu a volta.
— Não posso me aproximar mais! — Liam gritou.
Konan apareceu no heliporto correndo em forma de lobo.
— Vamos, Konan, corre!
— Precisa saltar, precisa saltar agora.
Konan rosnou impulsionou na beirada do prédio o mais que pôde e saltou.
— Merda! Agarre a corda, Konan!
Liam deu uma guinada no helicóptero e Konan se transformou em humano no meio do salto e
em um salto impressionante que nenhum deles pensou que ele conseguiria, agarrou a corda.
Konan rosnou novamente pela terrível dor em seu corpo e suas mãos estavam um tanto
dormentes pelo tranquilizante e tinha dificuldade de se segurar na corda. Liam puxou o manche
com força e rosnou, o helicóptero deu outra guinada para cima, subiu e ele conseguiu se afastar
da fumaça e das explosões.
— Konan! — Noah gritou e todos olharam apreensivos para baixo, até que a corda balançou
para frente e eles viram que ainda estava pendurado.
— Ele conseguiu, filho da mãe.
— Puxem a corda, rápido!
Eles acionaram a alavanca e a roldana começou puxá-lo até que o alcançaram e o colocaram
para dentro.
Ele caiu no chão do aparelho e rosnou, arfando com dor e sangrava por toda parte.
Konan não conseguiu segurar sua magia e ela desatou e ele se transformou da forma de
homem a lobo algumas vezes, como se estivesse em uma espécie de curto-circuito.
— Calma, Konan, fique tranquilo, vai conseguir, respire e segure sua magia.
— Ele está em choque!
Ele arfava freneticamente como se não conseguisse buscar ar suficiente, até que Erick surgiu
com uma caixa de primeiros socorros e aplicou uma injeção nele.
— Calma, rapaz, respire, calma — Noah ia dizendo e, aos poucos, Konan foi se acalmando.
— Meu Deus, você atualizou o conceito de peneira, Konan.
— O... brigado. Pode me dar uma vodca agora... por... favor.
— Te darei o litro todo, amigo, aguente que te consertaremos.
Konan gemeu e ele não sabia qual parte doía mais: sua cabeça, seu corpo cravejado de balas e
cortes; ou seu coração, pela confusão que estava sua vida. Se já não tinha problemas suficientes,
mais um tinha chegado para atordoá-lo.
Ele recuperou sua companheira e seu irmão... e eles tinham uma filha.
Que merda!
Todos os helicópteros começaram a se afastar da propriedade e os carros recolhiam todos seus
lobos e, então, os C-4 foram acionados e as grandes explosões começaram a destruir a casa por
completo.
Não sobraria nada.
Quando todos voltaram para a cabana de Dimitri, tinham um casal apavorado, um bebê que
não parava de chorar e muitos feridos, mas, felizmente, nenhuma baixa.
Kayli, Kane e Aaron entraram na cabana e houve um silêncio. Os lobos de Dimitri ficaram
apreensivos e espantados, assim como o próprio, que não conseguiam acreditar no que estava
vendo.
Eles estavam vestidos a caráter de seu tempo, como guerreiros antigos e foi um choque para
eles, sem contar que exalavam poder de uma forma que nenhum outro lobo fazia.
— Dimitri, este é meu pai, o rei Kayli. E estes são meu irmão Kane e meu tio Aaron. Sei que
já deve ter ouvido falar deles — Erick disse.
Dimitri piscou aturdido e se aproximou.
— Ouvi as histórias, mas agora, os vendo, é meio surreal de acreditar.
— É um prazer conhecê-los, alfa Dimitri, lamento que tenha sido nestas circunstâncias, mas
valeu a pena nossa pequena incursão.
— É... é uma honra conhecê-lo.
— Igualmente.
— Está ferido — Dimitri disse apontando para Aaron.
— Foi só um arranhão, estou bem.
— Espero que em outra ocasião possamos nos reunir e eu possa trazer minha senhora —
Kayli disse.
— A bruxa? — Dimitri perguntou aturdido.
Houve um silêncio e todos olharam para o rei, que pareceu não se abalar, mas seu olhar foi
sério.
— Sim, a bruxa, a rainha, a minha companheira, sua alfa — disse em advertência.
Todos ficaram apreensivos aguardando a resposta de Dimitri.
— Seria uma honra. Gostaria muito de ouvir sobre esse mundo paralelo que vivem.
— É um lugar fascinante que nos mantém vivos. Mas estamos apreciando muitíssimo
interagir com nossos lobos aqui na terra. Uma nova era começa para nós.
Dimitri soltou uma gargalhada.
— Isso é fabuloso, então, senhores, vamos à vodca. Foi uma honra lutar com vocês, pois
nossa vida estava meio entediada.
— Lobos gostam de ação.
— Ação é o que não falta na nossa alcateia — Noah disse rosnando e limpando o braço que
sagrava.
— E brindaremos a isso.
Um dos lobos de Dimitri, que era médico, foi atendê-lo, mas Noah negou e apontou para
Konan, que rosnava o tempo todo em uma espécie de choque e raiva.
— Acalme-se, lobo, vamos tirar estas balas e te remendar.
O homem retirou uma bala e Konan rosnou, com as presas estendidas e os olhos cintilando.
— Calma, Konan, tudo vai ficar bem.
— Quero ir... pra casa.
— Estamos indo, num minuto, somente deixe o homem terminar de tirar essas porcarias de
você, ok?
— Ok... Não...
— Te sentiria melhor se Ester cuidasse de você? Sei que não gosta de nenhum médico
metendo agulhas e pinças em você, mas confia nela, não é?
— Sim... — gemeu.
— Providenciaremos isso. Sua alfa vai te consertar, ok?
— Por favor. Eles estão bem?
— Sim, eles estão bem, se preocupe com você agora, somente com você, eu cuidarei deles.
Konan rosnou e não disse nada, somente assentiu e trincou os dentes.
— Erick, pode fazer com que levem os três para Ester, o resto de nós voltará de helicóptero.
Você os acompanha e cuida para que tudo saia bem.
— Sim, falarei com Kira num minuto.
— Ok.
Noah se afastou e pegou o celular.
— Oi, Ester.
— Noah! Está bem? Está ferido?
— Estou bem, somente tenho alguns arranhões, nada que tenha que se preocupar. Preciso que
se prepare, pois Konan está chegando e precisa de muitos cuidados, está muito ferido, e Karl,
Alicia e o bebê precisam ser tratados, ok? Erick irá para domar a situação, caso fiquem um pouco
estressados. Permaneça com Jessy perto, eles a conhecem e confiarão nela. Sabe como é, lobos
recém-libertos sempre são agressivos.
— Tudo bem, amor, dou conta deles, pode mandá-los, estamos aqui a postos. Liam está bem?
Erick? Sasha? As meninas estão aqui preocupadas.
— Sim, estão bem, apenas alguns arranhões, Konan é que está grave, os outros serão tratados
aqui. Eles devem ligar para suas companheiras, não se preocupe.
— Pegaram o pai de Alexander?
— Sim, o temos.
Ela respirou fundo.
— Pode voltar logo para casa?
— Chegarei o mais rápido que puder.
— Ok, beijos, te amo.
— Eu também.

Quando Konan abriu os olhos se sentia em um barco à deriva, via o teto branco e estava
desfocado.
— Cassandra... — sussurrou atordoado.
— Oi, grandão, aqui não é a Cassandra, sou eu, Ester... Como se sente?
— Acho que... algo me atropelou.
— Hum, entendo, será que foi aquele tanque de guerra dos russos?
— Acho que sim.
— Você gostaria que eu chamasse Cassandra?
— Sim... Não...
— Hum, talvez você precise de um tempinho para se recuperar melhor então ir vê-la, não é?
Tem alguém aqui que quer te ver. Esteve esperando você acordar.
— Quem?
— Karl.
— Alicia...?
— Alicia está bem, está se recuperando e fiz vários exames e está bem e sua bebê está um
pouco desnutrida e estou cuidando delas, não se preocupe. Vou deixá-los, se precisar, me chame,
ok? Estarei aqui do lado. Coloquei mais uma dose aqui para a dor e acredito que ficará bem, está
se curando bem.
Ester saiu e Karl se aproximou e Konan se emocionou olhando para ele, seu irmão menor, tão
parecido com ele, que pensava estar morto. Tinha um corte na bochecha que estava se curando.
Konan sentiu seu coração apertar ao vê-lo, parecia que estava flutuando em outro mundo.
— Ei, irmão, fico feliz que acordou, estava preocupado. Está dormindo há três dias.
— Três?
— Sim, a alfa disse que seria melhor. Estava muito agitado e poderia prejudicar sua
recuperação.
— Não me recordo.
— Sim, estava.
— Hum...
— Konan... eu não sei o que te dizer... exatamente, mas quero que saiba que não tive culpa e
nem ela, fomos forçados, entende?
Konan fechou os olhos.
— Fizemos o que foi preciso para sobreviver, mesmo que muitas vezes desejássemos morrer.
Foi... muito tempo. Éramos somente eu e ela e queria protegê-la.
— Como elas estão?
— Bem. Vão melhorar.
— Hermann queria que tivessem filhotes?
— Ele queria que produzíssemos muitos lobos. Foi... terrível, por muito tempo, então nos
apegamos um ao outro. Estou feliz de estar em casa, pelo menos nesta nova casa, mas Alicia não
pode enfrentá-lo, entende? Ela está sofrendo. Não quer que a odeie. Mas ela mesma odeia um
bocado o mundo agora. Foi muita injustiça para superar, muita dor.
Sim, Konan entendia de dor e sabia o que acontecia nos laboratórios. Como poderia culpá-
los?
Não conseguiu responder, porque estava com um bolo na garganta que a fazia arder, e mal
respirar, se falasse choraria e ele não queria chorar.
— Eu sinto muito. Estou feliz que nos resgatou, o alfa falou comigo, o que houve depois,
todos esses anos.
Konan não disse nada e Karl não sabia mais o que falar.
— Só queria que soubesse, que não queremos teu mal, eu sinto muito, que o amamos, mas ela
é minha companheira agora. E... eu espero que um dia nos perdoe.
— Onde vão ficar?
— Estamos na casa de Jessy. Alicia se recusou a ficar na sua casa. Não achou certo. O alfa
disse que construirá uma casa para nós, mas, por enquanto, ficaremos com Jessy.
Houve um silêncio infernal com Karl, já sem saber o que dizer e Konan não pareceu muito
animado a conversar.
— Espero que se recupere logo.
Karl saiu do quarto, porque não havia palavras para dizer.
Konan respirou fundo e piscou os olhos rapidamente evitando que as lágrimas caíssem.
Ele pensou que os laboratórios não seriam mais capazes de causar mais mal que já tinham
causado, estava enganado.
Erick tinha razão, algo tinha chegado para derrubá-lo e estava conseguindo, mas o pior, é que
algo lhe disse que a roda de sua queda estava só começando a girar.
Ele queria gritar, porque sua vida estava entalada na sua garganta e ele tinha que resolver sua
vida com Cassandra.
O melhor a fazer, seria afastá-la dele e daquela vida bagunçada, estar com ela era a
necessidade que o queimava, mas não era justo trazê-la para sua vida desse jeito. Ele não queria
que sofresse ou se tornasse um alvo, como eles eram.
Mas agora ele queria tanto vê-la, queria ganhar um daqueles abraços maravilhosos que ela lhe
dava, sentir seu cheiro.
Sentia saudade. Necessitava-a.
Ele gemeu, porque seu corpo todo tremeu e seus olhos cintilaram.
— Merda...

Ali estava ele novamente, olhando para o mar, na sacada de sua casa, contemplando o sol
despontar no horizonte e, mais uma vez, tinha passado a noite em claro. Assim que o sol surgiu
tentou fortemente ter a esperança de que seria um bom dia, melhor, e que tudo se resolveria,
afinal, tinha a seu irmão e sua companheira seguros em casa.
Uma companheira que não era mais sua companheira.
Sua mente estava muito confusa, pois algo estava gritando na sua mente que estava tudo bem
e o nome Cassandra martelava na sua mente. Quando chegou em casa, após ter alta, ele tinha
pegado seu celular e viu as chamadas perdidas, chamadas de Cassandra. Dias tinham se passado
e ele não retornou suas ligações.
Já havia cumprido a missão dada pelo alfa de vigiá-la e poderia deixá-la seguir sua vida, sem
ele.
Mas seus feitos mostravam que não estava tudo bem, não havia paz no seu coração.
Deveria ter de volta Alicia, deixar Cassandra para trás e tudo estava bem. Era a ordem certa
do que tinha que ser, mas a realidade tinha o levado para outro rumo.
Ele nem sequer conseguia chegar perto de sua companheira, porque ele não considerava como
tal, seu lobo rosnava dentro dele ao se aproximar, ainda mais perante as circunstâncias atuais,
seria um inferno se ele quisesse.
Mas ele não queria.
Seus pensamentos se negavam a deixar Cassandra e os dias maravilhosos que passou ao lado
dela. Queria mais, muito mais. Ela tinha parado de ligar e ele estava se sentindo mal. Sua cabeça
estava uma bagunça. Queria falar com ela, mas não sabia o que dizer.
Konan estava buscando o sentido de sua vida, estava tentando expurgar suas dores, pois não
as queria mais dentro de si.
Não havia nada que pudesse fazer para remediar o passado, ele havia acontecido e pronto.
Realmente se sentia cansado de sentir remorso, culpa e raiva.
Queria rir, se sentir seguro, ser amado verdadeiramente. Queria um pouco de paz para sua
alma cansada. Queria se sentir leve.
Estava cansado de parecer calmo e tranquilo, de fingir, ele queria sentir essa sensação, pelo
menos uma vez na vida.
Queria que alguém cuidasse dele para variar, nem que fosse um pouquinho.
E somente ela tinha conseguido alcançar alguns destes feitos, porque era leve, alegria e
energia boa. Ela lhe dava calmaria, mesmo quando o deixava louco com suas maluquices.
Ela era vida.
Queria se sentir traído, revoltado e com raiva de Alicia e seu irmão, mas não sentia, sentiu um
grande vazio e um choque com tudo, ao saber, mas a raiva e tristeza, querer mudar a situação,
essa não veio.
A raiva e dor eram de terem roubado sua vida e causado tanto sofrimento a tantas pessoas,
destruído suas vidas, seus sonhos e sua paz.
Ele respirou fundo tentando entender seus sentimentos.
Seu celular deu sinal e ele abriu as mensagens e viu que era de Harley.
— Ei amigo, como está? Espero que tenha se recuperado dos ferimentos. Sinto pelos vídeos,
mas eu achei que gostaria de ver, ou não. Há muitos outros, mas separei estes. Alerto que é forte
e vai te causar algo mal, mas pensei que poderia ajudar a ver como as coisas foram. Então,
decida se quer ver ou não. Abraço e força, irmão. Estarei aqui se precisar.
Konan engoliu em seco e ficou ali com o dedo sobre o play. Não sabia se estava preparado ou
se queria ver.
Ele clicou no vídeo um e travou a respiração.

Vários guardas entraram na sala, abriram a cela de Alicia e a juntaram do catre. Ela estava
tonta e parecia mal. Tentou lutar e se soltar deles, mas não tinha forças.
— Não! Karl! Karl! — ela começou a gritar e chorar.
Karl, que estava na outra jaula, batia nas grades e tentava entortá-las para passar, esticava
os braços entre as barras para tentar alcançá-los, rosnava e gritava furioso.
— Deixe-a em paz! Deixe-a em paz! Se machucar a ela e minha filha, matarei a todos. Não
toque nela e na minha filha, bastardos, malditos. Alicia! Alicia!
Karl gritava desesperado, até sua garganta doer e ficar rouco.
— Malditos, vou matar vocês, vou matar vocês! Alicia!

Konan fechou os olhos fortemente e não conseguia respirar.


Sua garganta embargou e seus olhos se encheram de lágrimas e pensou que a raiva o mataria
sufocado.
No vídeo dois, a mão de Konan tremia, mas ele seguiu e clicou no play.

Alicia, com a barriga abaloada, foi colocada dentro da jaula com Karl.
Ele a levou no catre e a tomou em seu colo e a abraçou forte e a balançava para frente e
para trás e ela estava aferrada a ele com tanta força e soluçava.
— Está tudo bem, amor, estou, aqui, vamos ficar bem, eu prometo. Vamos sair daqui, e vou
levá-la para um lugar seguro, longe deles, está tudo bem, shhh, não chore, não chore.
Konan trincou os dentes e gemeu em dor. Forçava-se a segurar para não chorar, mas era quase
impossível.
Karl olhou com raiva para o homem do outro lado das grades, a certa distância, usava uma
camisa branca engomada uma gravata e terno e sobre eles usava um jaleco. Era Hermann.
— Permitirei que fiquem na mesma cela, veja como sou bom, Karl. Se só me dissesse onde
vivem os lobos, poderia te dar a chance de te libertar e viver com sua loba em paz, em algum
lugar isolado e com mata verde. É só me dizer onde estão as alcateias.
Karl rosnou, mas não disse nada.
— Sua liberdade pela deles. É simples. Não quer viver com sua fêmea em paz? Os lobos os
abandonaram, não se importam com vocês. Por que se importaria com a vida deles? Eles
fugiram e não vieram ao seu resgate.
— Você pode ser um traidor, um verme, mas eu não sou.
— Como deseja, já adianto que sua filha me pertence, é minha para fazer o que quiser. Já
que não me dá mais lobos, eu farei minha própria criação. Isso é culpa dos seus amigos, se eles
não tivessem tirado os lobos de mim, estaria tudo bem. Vocês vão pagar pelo que me tiraram,
meus lobos e meu filho. Agora terei a sua filha no lugar do meu.
Karl rosnou e seus olhos verdes cintilaram e suas presas alongaram.
— Você vai pagar por isso, vai pagar por isso!
— Eu já paguei o que tinha que pagar. Eu perdi meu filho! Aproveitem seus momentos juntos
e seria bom se a emprenhasse de novo, afinal quero montar minha própria alcateia.
O homem se virou e saiu e Karl abraçou Alicia mais fortemente.

Konan desligou o vídeo. E rosnou alto e forte retumbando pela ilha.


Ele podia jurar que foi ouvido até Atenas, mas não se importou, sua dor era demais para
segurar dentro do peito.
No terceiro vídeo, Konan pensou em não clicar, mas respirou fundo e deu o play.

Alicia dava de mamar ao bebê, ambas estavam nuas em uma sala, sozinhas. Ela estava sobre
uma cama branca e tudo era bem iluminado e ela puxou o cobertor para cobri-las, encolhida no
canto, o mais que podia.
Ela cantava uma música para o bebê, que a olhava enquanto sugava o leite, e ela acariciava
seus finos cabelinhos.
— Tudo via ficar bem, meu amor, um dia seu titio Konan virá nos tirar daqui. O homem mau
disse que ele não se importa conosco, por isso não nos busca, mas eu acredito que não. Se ele
soubesse onde estamos, ele viria. Konan é um lobo muito honrado e a única coisa que eu
lamento de quando ele nos achar, é que eu não serei mais sua companheira, agora eu tenho o
seu papai. Mas tenho certeza de que nos perdoará. E ele vai te proteger, a nós duas. Mamãe vai
cuidar de você e, um dia, você vai poder correr livre no bosque, eu prometo. Titio Konan vai nos
encontrar. Eu sei. Um dia ele virá.
Ela começou a cantarolar novamente e o vídeo encerrou.

Konan se ajoelhou no terraço e gemeu, apertando os olhos com os punhos. Respirou


fortemente e profundamente para se acalmar. Ele conseguiria, sobreviveria mais a esta provação.
Seu celular tocou e, desolado, olhou no visor e era Cassandra.
Ele rosnou, indignado consigo mesmo.
— Merda...
Ele não atendeu a ligação, foi para fora, se transformou em lobo e correu como um louco até
suas patas não aguentarem mais, até a dor dos seus ferimentos que ainda não estavam bem
curados sangrarem.
Então, respirou fundo e se acalmou, tombado na areia.
Tudo acontecia por um motivo. Ele sabia. Tinha que ver o lado bom, ele não tinha mais sua
companheira, ela tinha sua família agora. E ele tinha que guardar todos aqueles sentimentos nos
lugares certos.
Tinha que resolver sua vida com Cassandra.
Com ela, tudo era muito delicioso, e ele sentia muito sua falta, queria poder abraçá-la, queria
que pudesse acalentar seu desespero.
Ele não estava preparado para Cassandra e depois que ela apareceu, sua vida metódica estava
caindo, desmoronando.
Talvez tudo tivesse que tombar para poder reconstruir, do zero.
Pelos deuses, que bela catástrofe estava sua vida.
Talvez se ele pudesse deixar o passado para trás poderia ter uma boa vida pela frente.
Konan voltou para casa e tomou um banho.
Seu celular tocou novamente e ele rosnou. Não podiam deixá-lo em paz, pelo menos um dia?
— Merda!
Ele atendeu sem ao menos ver quem era.
— O que é, inferno?! — gritou.
— Vou pensar que não olhou o visor antes que realmente quisesse me responder desse jeito.
Konan respirou fundo e esfregou os olhos.
— Perdoe-me, alfa, realmente não vi o visor.
— Hum. Está se sentindo bem?
— Sim, estou ótimo.
— Poderia fazer o favor de levar o helicóptero à Atenas e abastecê-lo? Pode pilotar?
— Sim, alfa, o farei.
— Obrigado. Já falou com a humana?
— Vou ver Cassandra e lhe falar que o senhor a liberou e segue respirando. Não há nada que
a incrimine. Li todos seus e-mails, segui seus passos, ouvi suas ligações, nada suspeito, ela é
pura.
Noah riu.
— Ok, talvez te faça bem vê-la, de todos os modos.
— O que quer dizer?
— Se não consegue interpretar esta pequena frase, Konan, realmente sua cabeça está fodida.
Vá ver a humana e relaxe um pouco. Talvez consiga ver as coisas mais claramente.
— Sim, alfa. Bastardo, se não fosse meu alfa quebraria seus dentes.
Noah riu.
— Coitado, pensa que pode. Vá logo.
Noah desligou e Konan rosnou.
Cassandra abriu a porta e ficou o encarando com a mão na cintura e uma cara lívida e
despreocupada.
— Oi — ele disse.
— Oi, eis que os mortos ressurgem.
— Eu... acho que isso até faz sentido.
Ela respirou fundo e deu espaço para ele entrar e o observou andar e viu que estava
mancando.
— Está ferido?!
— Tive uma situação...
— Está doendo?
— Um pouco, estou bem.
Ela se mostrou assustada, então tentou se recompor e ficou séria. Konan percebeu isso e ficou
comovido.
— E esta situação incluía em não falar comigo?
— Eu pensei em ligar, mas preferi vir e falar pessoalmente.
— Bem, consideração sua, mas você não apareceu mais e não atendeu minhas ligações. Então
eu considerei que nosso problema tinha acabado.
— Não... eu só não pude atender.
— Quer dizer que ainda sou uma pessoa perigosa para vocês?
— Não, mas o que é esta mala?
— Estou indo viajar, Konan.
— Viajar para onde?
— Preciso ir ver minha avó. Ela está no hospital.
— Eu a levo.
— Sou sua prisioneira de novo?
— Não é minha prisioneira. Nunca foi.
— Ok, talvez seja outra palavra, suspeita, ou sei lá o que me consideravam.
— Não é assim, Cassandra.
— Olha, sei que vocês têm o seu mundo de lobo e têm suas regras e eu admito que fiz umas
bobagens, e violei algumas delas, mas isso não é legal. Entrar e sair assim da vida das pessoas
não é legal.
— Sinto muito, eu devia ter ligado. Só estava com alguns problemas sérios para resolver.
— Coisa de lobo?
— Coisa de lobo.
— Hum... Sei. Não precisa me dar explicação de nada.
— Está fria comigo. Está zangada.
Cassandra respirou fundo e o olhou seriamente.
— Não, Konan, não estou zangada. Você saiu daqui e disse que resolveria nossa questão, que
me ligaria, então some por uma semana. Bem, por que eu estaria zangada? Contratei mais
seguranças para o clube, estou seguindo minha vida e a carruagem anda. Está tudo bem debaixo
do sol. Afinal, eu e você não temos nada, nenhum relacionamento, mas na minha vida, no geral,
eu mereço explicações, como quem entra e sai da minha casa ou do meu clube.
— Acha que o que tivemos foi nada?
— Porra, Konan, me diga você! Mas seja rápido, porque preciso ter certeza se ainda sou
vigiada ou estou livre, porque preciso me arrumar para ir ver minha avó.
— Eu vou com você.
— Pra quê?
— Eu vou com você e ponto.
Ela girou os olhos e contou até dez.
— Não é aqui, Konan, minha avó está em outro país, então me fala se tem que me vigiar
ainda, se sou a monstra que pode assassinar lobos e preciso de permissão para sair de casa.
— Não estou com minha cabeça muito boa para este tipo de brincadeira, ok?
— Oh, não? Por quê?
— Encontramos o homem que mandou nos aprisionar, ele mantinha mais dois lobos presos.
Da minha família.
— O quê?
— Estavam em jaulas, como animais sem valor, presos há mais de dez anos.
Ela arregalou os olhos, chocada.
— Isso é... isso é horrível, eu... eu sinto muito. Onde estavam?
— Na Rússia.
— Você foi à Rússia?
— Sim, destruímos sua casa e tomamos o que nos pertencia.
— Por isso está ferido, te machucaram?
— Nós lutamos e matamos todos.
— Mataram?
— Sim, estripei o maior número de humanos que pude, tentei vingar os meus, minha família.
Queria arrancar a cabeça do maldito que nos prendeu, mas o alfa o quis vivo, por um tempo.
Preciso ficar um pouco longe dele, senão não me segurarei e o matarei.
— Meu Deus...
— Está assustada, Cassandra?
Ela ficou o olhando, séria e boquiaberta, então respirou fundo como se estivesse colocando os
pensamentos em ordem.
— Foi necessário?
— Foi.
— Estavam lutando para libertar os seus.
— Sim.
— Bom, então está tudo bem.
— Você não está com medo de mim? Não me acha uma aberração? Uma besta selvagem?
Um monstro da floresta?
— Não, porque se eles machucaram sua família, então você fez justiça.
— Não te importa?
— Isso parece bem assustador, mas isso foi a justiça, não é? Você salvou os lobos que
estavam presos?
— Sim, eu fiz.
— Então é uma coisa boa, está tudo bem, porque não acredito que uma polícia humana possa
ajudar vocês em algo desse tipo, então têm que lutar por vocês mesmos.
Konan estava sério a olhando com os braços cruzados no peito e não conseguia acreditar no
que ela estava falando.
Estava chocado de como ela aceitava aquilo, como se fosse tudo bem. Estava mais zangada
de não ter lhe dado satisfação por ter sumido do que ter matado e explodido humanos.
— Olha... eu gostaria de ficar e que me contasse tudo com mais detalhes, mas eu tenho que ir.
Preciso ir ao aeroporto comprar uma passagem.
Konan sentiu algo dentro dele. Um sino de alerta tocar na sua cabeça. Havia uma urgência
que ele não entendeu.
— Ok, eu te levo.
— Não é ali na esquina para você simplesmente me levar, como eu disse, é outro país.
— Entendi. Que país ela está?
— Irlanda.
Konan piscou aturdido.
— O quê?
— Ela mora aqui na Grécia, em Peloponeso, não muito longe daqui, mas está há dois meses
na Irlanda.
— Que cidade?
— Está no hospital de Riverstick.
Konan rosnou e pareceu mais incômodo.
— Konan, você está bem?
— Sim... é que... é perto de onde eu morava.
— Oh, sério? Legal... eu acho.
— Posso ir com o helicóptero. Pedirei ao alfa.
Cassandra estava muito chocada e não sabia se estava ainda zangada ou espantada.
Ela esfregou as têmporas e respirou fundo.
— Ok. Eu ficaria muito contente de você ir comigo.
Ele assentiu.
Konan sabia que estava entrando numa fria, seus instintos estavam lhe dizendo isso, mas
precisava ir e não sabia o porquê. Pegou o celular e ligou.
— Konan — Noah respondeu, vendo o nome dele na tela do celular.
— Alfa, eu preciso fazer algo importante. Poderia usar o helicóptero?
— Que coisa importante?
— Acho que o passado está caindo na minha cabeça e preciso descobrir algumas coisas. E...
preciso levar Cassandra para ver sua avó.
— Pensei que tinha me dito que ela não precisava mais ser vigiada, que não faria nada
contra nós.
— Não fará, sei, mas... ainda preciso ir com ela.
— Onde?
— Em... Riverstick.
— Onde?
— Irlanda.
— Merda... Konan... Sei que não está sendo fácil para você, mas não acho que ir para a
Irlanda será bom, ainda mais com esta humana. Eu disse para ir vê-la para se desestressar e
não para arrumar mais um problema.
— Eu preciso ir.
Noah rosnou.
— Pode dizer a Alicia e Karl que voltarei logo?
— Por que penso que será uma merda?
— Sou bem grandinho para me cuidar.
— Eu sei, idiota, só não quero juntar seus restos mortais virados em geleia. Mas se acha que
necessita disso, pode ir com o helicóptero, será mais rápido e seguro.
— Sim, obrigado.
— Deixe-me saber o que está fazendo.
— Sim, alfa.
Konan desligou e a olhou.
— Está acertado, só vou passar na casa da marina pegar minhas coisas e documentos e
podemos ir. O helicóptero está ali e abastecido.
Ele piscou a olhando, que a olhava séria e preocupada.
— Precisa de algo para a dor?
— Não.
— Como machucou a perna?
— Na verdade, não machuquei... levei seis tiros.
Cassandra arregalou os olhos e foi até ele.
— O quê? Seis tiros? Como... como está em pé? Deveria estar no hospital, deve descansar. O
que precisa?
Konan piscou aturdido, olhando-a, e viu o susto em seus olhos e a preocupação. Era genuíno
e seu coração deu um baque.
Ela se importava com ele.
Lentamente ele acariciou seu rosto.
— Estou bem. Os lobos podem se curar, na maioria das vezes.
— Podem?
— Dependendo do ferimento podem. Esse foi um dos motivos que nos prenderam, queriam
descobrir como nos curamos rápido. Não somos imortais, mas... Estou bem e quero ir com você.
— Consegue pilotar bem assim, ferido?
— Sim, eu posso.
— Ok... Se estiver com dor ou algo não vá bem, promete me dizer?
— Prometo. Pensei que estava zangada comigo.
— Estou zangada contigo, mas me preocupo. Não é que tenho vontade de bater com uma
panela na sua cabeça que deixo de gostar de você e me preocupar.
Konan engoliu em seco e queria dizer mil coisas, seu interior estava em uma espécie de
ebulição. Estava no olho de uma tormenta e não sabia como sair dela.
— Konan?
— Hum? — disse meio perdido.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Pode.
— Seu coração está partido?
Ele não esperava tal pergunta, mas era como se sentia, partido em milhões de pedaços. E ali
estava ele de novo, com ela.
Talvez porque perto dela ele sentisse coisas diferentes e aquele brilho de vida, aquela lufada
de ar fresco, perfumado de rosas lhe trouxesse conforto.
— Eu sobrevivo.
Ela respirou fundo e tocou seu rosto.
— Que tal viver em vez de sobreviver?
— Há coisas que te impedem de sorrir e ser leve, conhecer a felicidade.
— Eu sei. Também tenho vontade de chutar umas bundas e de desistir, mas aí eu penso que
amanhã será outro dia e vai chegar uma coisa muito boa na minha vida, que vai me fazer viver
em vez de sobreviver.
— Acredita nisso?
— Acredito, porque você veio e eu me sinto feliz por isso.
Então, ela o abraçou.
Konan sentiu seu mundo girar e a abraçou de volta. Senhor, aquela humana o deixava fora de
si, com aqueles rompantes amorosos que tinha com ele, que não era acostumando.
Mas fazia sentir-se bem. Necessitava-a.
Ele rosnou e se afastou dela.
— Konan? O que há? Está tremendo.
— Eu acho... eu ainda estou no frenesi.
— O que é isso? Seus olhos estão brilhando.
Konan rosnou e se empertigou.
— Os lobos têm a adrenalina muito alta depois de uma batalha, os lobos acasalados têm mais
forte.
— Ok... — disse cautelosa, tentando entender. — Você esteve lutando, então está tendo isso?
— Sim. A alfa me fez dormir, por três dias, e tinha acalmado, mas agora que estou aqui
contigo está retornando, está forte. Não entendo.
— Você... então é acasalado?
— Não, Erick disse que sim, mas eu não te mordi.
Ela piscou aturdida.
— O que isso quer dizer, que ele acha que eu e você estamos acasalados?
— Sim.
— Isso é meio grosseiro. Acasalado, parece uma coisa de cachorro.
Konan riu.
— É como os lobos falam.
— E significa?
— Que eu e você estamos vinculados, nossas energias estão misturadas. Como se eu tivesse
te reivindicado como minha companheira.
Ela piscou aturdida.
— E você não fez.
— Não.
— Se não fez, como podemos estar vinculados?
— Eu não sei.
— Isso seria porque estivemos juntos, na cama... bem, fazendo sexo muitas vezes?
— Sim, pode ser, não deveria, mas pode.
Se fossem companheiros de alma.
— Mas você não quer estar vinculado a mim, por isso quis ir embora e não voltar.
— Não foi assim.
— O que foi então?
— Eu queria estar com você, mas não é certo.
— Por quê?
— Não sei como explicar.
— Por que sou humana.
— Também.
Konan se aproximou e segurou seu rosto entre as mãos e rosnou pela onda de desejo que o
atravessou.
Cassandra passou a língua nos lábios, porque ela estava o desejando. O desejava o tempo
todo, tinha esperado que ele voltasse. E era quase demais para resistir.
Konan deveria ir e deixá-la, mas a sua vontade não fazia seu corpo se mover. Tinha relutado
tanto em ir até ela e agora que estava ali não queria deixá-la.
— Não sei o que fazer com você, Cassandra.
— Não sei se me ofendo com isso ou fico lisonjeada.
Ele riu e ela também, ambos sem jeito.
Ela segurou seus pulsos e sentiu como suas mãos tremiam.
— Acha que se você se afastar de mim, o frenesi vai passar?
— Não quero me afastar. Quer que eu me afaste?
— Não quero. Quero te curar.
Konan rosnou novamente. Devia ir embora e não voltar, mas o que sentia não era isso, queria
ela.
Sua mente e coração ficaram brigando e a mente se perdeu, porque ela estava na sua frente,
linda e em vez de mandá-lo embora, ela tirou sua blusa, ficando de sutiã.
Mesmo indo contra tudo que era o que deviam fazer, eles seguiam o lado contrário, puxando
um para o outro.
O cheiro da excitação atingiu seu nariz. Ela estava excitada por ele. Ela o queria e Konan não
conseguiu resistir, pois o frenesi que assolava seu corpo foi mais rápido e mais forte que seu
juízo e isso que a pior parte já havia passado.
Ela abriu o zíper da saia e deslizou para o chão.
Misericórdia, ela estava linda com uma lingerie preta de renda.
Sua vida tinha sido tão injusta se privando de algo tão belo, somente cheio de coisas ruins e
ela era a coisa boa de sua vida.
Cassandra arrastou sua mão por seu braço musculoso, para enterrá-la em seu cabelo a fim de
poder acariciar seu couro cabeludo.
— Faça amor comigo, Konan. Não posso tirar seu passado, mas posso abraçá-lo agora e te
dar um pouco de mim, fazer um bom momento de nosso presente.
Como que ele poderia ser um homem sensato com um convite deste? Pelos deuses, não podia.
Konan jogou tudo para o alto e a beijou, enlouquecido, e Cassandra se aferrou a ele com
loucura.
O beijo que deveria ter começado lento começou como um incêndio que se alastrava rápido,
quente e devastador. O gosto de sua língua o consumiu e estava completamente perdido. Suas
mãos estavam em seus cabelos e sua boca estava devorando a dela.
Ele não podia pensar no passado ou na confusão de sua vida, pois sua vontade de estar dentro
dela era maior que tudo, porque se tinha uma coisa que ele sentia era aquela atração brutal por
ela. Aquela ânsia e desejo que o consumia.
Era bom demais para querer jogar fora o momento.
Konan a ergueu do chão e ela entrelaçou suas pernas em sua cintura e ele a segurou pelo
traseiro, apertando-o e a fez gemer. Deitou com ela no sofá, que foi tirando sua camiseta e
abrindo sua calça.
Era excitação demais, era tudo demais.
Incapaz de mover-se pela força de sua fantasia quente, só pensava em tirar tudo dela e dar
tudo a ela.
Konan ficou quieto por um momento enquanto ela colocava sua mão em seu ombro para
sentir o calor de sua pele. O aroma de mulher e rosas o invadiu e sentiu uma necessidade
desesperada para baixar a cabeça e enterrar seu rosto em seu pescoço, afundar as presas e provar
a força vital dentro dela, marcando-a como sua, reivindicando-a.
Ele começou a beijá-la, milhares deles distribuídos pela boca, pela mandíbula, pescoço e colo.
As mãos dele acariciavam seus braços, iam até a sua cintura e seios enquanto ele espalhava
aqueles beijos insanos e ardentes pelo seu pescoço e ombros, traçando um caminho inflamável
até o bico dos seus seios.
Seus mamilos latejavam, estavam tão inchados que doíam de vontade de serem tocados.
Então os lábios dele os cobriram, sorvendo-os para o calor de sua boca e os comprimindo,
fazendo-a arfar e gemer e mover-se debaixo dele. E se sobre a renda já era delicioso, ao afastá-la
era magnífico.
O raspar da língua dele era demais para suportar, brutal e arrebatador. Conforme lambia o
bico, passando também os dentes enquanto ela enterrava as unhas na pele nua dos ombros dele.
Cada toque, cada lambida e carícia eram como um fragmento de sensação correndo pelo seu
corpo, choques elétricos que chegavam ao seu útero fazendo-a gemer alto.
E ela não tinha ideia de como controlar aquilo, não sabia como controlar tanto fogo dentro
dela.
Não podia lutar contra a fome que lhe assolava pelo gosto, pelo toque daquele homem. Ela
não tinha ideia de como processar cada sensação ou de como sobreviver aos resultados
destrutivos que estava sendo assolada.
— Deuses! Cassandra.
A mão dele acariciou o seu quadril e abriu mais as suas coxas.
Sua mão era poderosa e hábil, pegando-a com força e aumentavam a sua excitação, a palma
dele acariciou a parte interna da sua coxa, as pontas dos dedos encontrando a carne quente ainda
protegida pela calcinha.
Konan afastou sua calcinha sem retirá-la, a penetrou com os dedos e gemeu. Ela estava
quente e escorregadia, encharcada de sua excitação e gemeu em sua boca, perdido em um beijo
profundo.
Depravadamente, ela lambeu seus lábios, provocando-o, sugando-os.
— Você gosta disso — ele sussurrou.
— Eu gosto.
— Gosta de estar comigo?
— Eu gosto, você é delicioso e me deixa louca.
— E fico louco por você.
Eles só conseguiam se deleitar com as maravilhosas sensações que aquele fato natural lhe
permitia experimentar quando ele tocava seu sexo.
Levantando o quadril para ele, seus dedos apertando seus ombros, ela lutou para respirar
quando os beijos dele foram dos seus seios à barriga. Cada lambida, cada beijo em sua pele,
aumentava ainda mais o prazer.
Ela precisava de mais.
— Por favor, Konan — gemeu se arqueando para ele.
Konan rosnou e tirou sua calcinha, abaixou suas calças, chutando-a fora de suas pernas e seu
membro estava dolorido demais e ele rosnou novamente quando o tocou. Sem delongas, ele
entrou nela de uma vez e ela gritou alto e arfou.
Preenchida totalmente, era dolorido e maravilhoso.
Não houve mais preliminares ou conversa ou qualquer coisa, Konan se enterrou dentro dela e
estava selvagem e estocou com fúria, com o desejo desregrado e poderoso.
A cada movimento para dentro, sua língua acompanhava em sua boca, roubando o ar e sua
sanidade.
Ele deslizou para o chão e a trouxe com ele e saiu dela, a virou colocando-a de joelhos no
tapete e a debruçou sobre o sofá.
Olhou-a e a achou perfeita o esperando, com os olhos fechados, presa no seu prazer. Ele
rosnou, passou os dedos em seu sexo, encharcando seus dedos e subiu para seu ânus e ao mesmo
tempo que a penetrou com cuidado com os dedos, a preencheu com seu membro em seu sexo.
Cassandra gemeu alto e se aferrou ao sofá e Konan deitou sobre ela sussurrando em seu
ouvido, palavras em outra língua que ela não entendeu, segurando seu cabelo fora do pescoço,
segurando-a forte, dominando-a.
Ela adorou ouvi-lo tão quente em seu ouvido, mesmo sem entender o que dizia.
Suas presas cresceram e seus olhos cintilaram, Konan reiniciou seus movimentos tomando-a
profundamente fazendo-a gemer e arfar e mergulhou seu dedo profundamente.
Ele retirou e entrou, aumentou seus movimentos, tomando-a mais forte.
— Posso tomá-la aqui, Cassie?
Cassandra gemeu, pois a voz dele era animalesca agora, grossa e profunda. Um arrepio de
medo a atravessou, mas seu corpo estava tão carregado de luxúria, tão perdida por ele, que faria
qualquer coisa, para ter o maior prazer possível.
— Responda-me. — Ele deu um tapa em seu traseiro e o segurou firme e ela gemeu. — Eu a
quero tomar aqui, vai me deixar? Vai dar tudo de ti pra mim?
Ela gemeu e ele lhe deu outro tapa, sem machucá-la, mas dando a picada que aumentava seu
prazer e mordeu eroticamente seu pescoço.
— Você quer? Então me diga.
— Sim, eu quero.
— Confia em mim para se entregar?
— Sim, confio.
Konan rosnou, com o prazer o enchendo.
Então ele saiu dela, arrastando toda sua lubrificação e sondou-a, forçando-o dentro dela, aos
poucos, fazendo-a se acostumar a ele, ela gemeu alto quando ele entrou mais, lentamente,
cuidando para não machucá-la.
— Se entregue para mim, Cassie, se abra para mim.
E ela fez e ele a tomou e mesmo com a dor era um prazer que ela jamais tinha conhecido, e a
tomou inteira, porque era ele, o lobo selvagem que estava entrando em seu corpo e em seu
coração.
— Quer que pare? — sussurrou em seu ouvido.
— Não.
Ele virou seu rosto e a beijou, tomando seu ar, tomando seus gemidos na sua boca o que só
aumentou mais seu prazer.
Era um prazer agonizante, a dor mais doce que podia imaginar. A cada investida superficial
do quadril dele, cada deslizar para fora e dentro da grossa ereção, as sensações só cresciam.
Ele se afastou e Cassandra não conseguia quase respirar. Do mesmo modo que ele olhava a
penetração do seu corpo.
— Porra. Tão gostosa. Você é a mulher mais maravilhosa que poderia existir. E é toda minha.
Só minha. Nunca haverá mais ninguém.
Ele rosnou com a respiração pesada com o suor deslizando pelas suas têmporas.
— Vem pra mim, Cassandra.
Ele se enterrou inteiro e começou a mover-se lentamente do começo e mais rápido e ela gritou
seu prazer, quando ele tocou seu clitóris, era doloroso e ela gritou sem se importar se era alto ou
não e Konan rosnou gozando dentro dela, fazendo-a fazer o mesmo.
Sem querer, Konan libertou sua magia que rodopiou entre eles.
— Merda — disse entredentes.
Ele saiu dela e a abraçou contra seu peito, respirando com tanta dificuldade que doía tudo.
Konan tombou sobre o tapete e ela ficou ali debruçada no sofá e ele soltou todas as
imprecações que conhecia.
Olhou o teto e xingou novamente.
Ele estava louco, louco de pedra, e a estava arrastando junto.
Konan rosnou e a tomou nos braços, puxou-a para seu colo e a abraçou.
Isto era o que ele queria. A ela, selvagem e molhada debaixo dele. Sentir sua cremosidade
cobrindo-o até ficar cego de êxtase. Queria lhe ver o rosto enquanto a penetrava. Queria ouvir
seus gemidos de prazer. Queria sentir sua pele na dele, ouvir sua voz.
Tinha sentido uma saudade absurda que tinha machucado. Queria isso para o resto de sua
vida. Queria ela para o resto de sua vida.
Sua tentativa de se passar por indiferente e ficar sem falar com ela, tinha sido uma tentativa
falha e estúpida que somente tinha ferido a ambos.
Sua cabeça ainda girava ante o prazer que lhe produziu. Pelo prazer dela.
Mas não havia desprezo, nem arrependimento.
Seus olhos estavam acesos pela paixão e com outras emoções ternas que ainda não podia
começar a compreender.
Sorriu apesar de tudo, deleitando-se no milagre desta mulher e o que lhe tinha dado. Enquanto
retirava seu cabelo despenteado e molhado de suor de seu rosto, ele docemente beijou sua
bochecha, seus olhos e os lábios.
Cassandra não podia respirar enquanto o sentia abraçando-a, com seu coração palpitando
furiosamente dentro dela. Tinha tratado de imaginar como seria ter um homem em seu interior
incontáveis vezes, mas nada a tinha preparado para esta realidade.
Nada a tinha preparado para Konan.
Konan encostou sua testa na dela e tocou seu rosto e percebeu que sua face estava molhada, a
olhou aterrorizado.
— Eu a machuquei!
Ela negou.
— Está chorando? É por minha causa?
— Não estou chorando, não é nada. Só foi demasiado para minhas emoções, estou suada, é
só.
Ele a olhou estarrecido.
— Desculpe.
Ela riu e secou o rosto.
— Não é nada, bobeira minha.
— Por que não disse para parar se não gostava?
— Não é isso, estou bem, e foi maravilhoso.
Ele pareceu não acreditar e ela segurou seu rosto.
— Foi maravilhoso. Só que foram sensações novas e intensas. Ok?
— Ok. Foi intenso pra mim também. Você é maravilhosa.
Ela sorriu e o beijou.
— Então está tudo bem.
Ela beijou seus lábios e eles ficaram novamente com as testas encostadas, ainda respirando,
cansados.
Não estava tudo bem, estava mentindo, ela se deu conta que o amava e estava fodida,
literalmente.
Pensava que ele estava preso pelo sexo, somente saber disso doía, porque ela tinha
sentimentos em seu coração e não sabia como fazê-lo ficar. Não sabia como fazer aquele amor
parar.
Era uma linha tênue para deixá-la, ela sabia. Ele se esforçava demais para ficar ou ir.
Mas havia dito aquelas coisas que era dele, que pertencia a ele, mas foi no calor do sexo.
Homens eram assim, ela sabia sempre, era difícil um homem como ele se apegar em uma vida
a dois. Isso nunca funcionaria. Ela tinha sua vida com seu clube e ele era um lobo e vivia em
uma alcateia.
Eram muito diferentes, de mundos diferentes. E ele era um lobo e a tinha possuído, como eles
mais adoravam.
E ela estava se sentindo desnuda, despida de corpo e de alma.
Konan a abraçou mais forte.
— Não quero magoar você, Cassie.
Ela respirou fundo e deixou esta frase acalmar sua aflição.
— Não me magoa. Sou durona.
— Sei que é valente.
— Eu vi uma nuvem colorida novamente.
Ele a olhou franzindo o cenho.
— Não soube que humanos podiam vê-la.
— É que tudo entre mim e você é diferente?
Ele acariciou seu rosto.
— Parece.
Ela era sua companheira. E isso era uma merda.
Konan engoliu em seco.
— O que é, Konan, o que está me escondendo?
— Nada, Cassie. Estamos uma bagunça, acho melhor tomarmos um banho e fazer o que
temos que fazer.
Ela ficou o olhando e havia uma sombra em seu olhar. Ele era tão lindo, um homem feroz e
brutal, que se entregava a ela e sua luxúria tão prontamente, mas o seu coração não ficava na
borda. Quando pensava que poderia alcançá-lo, ele se afastava. E ficava distante, como agora.
Ela se entregou a ele como jamais havia feito e a dor em seu corpo depois daquele sexo
selvagem estava ainda ali, mostrando-lhe o que havia feito e mesmo assim ela não o tinha.
Ela colocou o dedo em seu lábio e ele abriu a boca e ela passou o dedo em sua presa.
— Ela cresce para me reivindicar, não é? Seu lobo.
Konan piscou aturdido.
— Sim.
— Mas nunca me mordeu.
— Não.
— Porque não quer me morder, porque se o fizer eu seria sua companheira. Tipo
reinvindicação de lobos.
— Sim.
— Mas você não quer, não é? Mesmo com esse negócio que disse que estamos vinculados,
não me quer como sua companheira.
— Cassie...
— Tudo bem, não precisa dizer nada. Já entendi. A humana aqui serve para o sexo, mas não
serve para ser sua companheira.
— Nunca disse isso.
— Mas pensa.
Sim, ele pensava. Mas o que ela não sabia é que ela não era só sexo para ele.
E mesmo assim, Konan deixava somente isso para ela saber dele. Não era capaz de dizer o
quanto ela significava para ele ou entender seus próprios sentimentos.
Ela levantou de seu colo e pegou suas roupas.
— Bom, para que saiba, o acordo de fizemos antes ainda está valendo, não temos
compromisso nenhum, é só sexo e está tudo bem. Tem toalha no seu banheiro, vou tomar banho
no meu.
Ela saiu da sala e Konan rosnou.
— Merda.
Cassandra entrou debaixo do chuveiro e chorou. Porque estava apaixonada por ele e o
deixava tomá-la como queria, sempre que se aproximava e ela o queria, sempre.
Ela não soube guardar seu coração num lugar seguro, ela não soube se proteger dele.
Necessitava-o. Era como se ele tocasse muito mais que seu corpo. Ele tocava seu coração e
sua alma. E queria que ele sentisse o mesmo.
Tinha amado Nuno, mas eles tinham uma independência incomum, seu casamento era mais
companheirismo do que paixão, eram mais amigos que amantes, não havia ciúmes, não havia
desacordos, não havia nada de ruim, além de Tullo.
Era muito diferente. Não havia nada que ela pudesse comparar a Konan. Ele era tudo, era
fogo e era a coisa mais linda que passou na sua vida e não queria que ele fosse embora. Porque
pensou que se ele se fosse não suportaria a dor que deixaria.
Konan era uma avalanche de emoções, era intenso e forte, arrebatador e ela não tinha
conseguido ficar longe.
Sentiu-se segura quando ele esteve perto, mas quando se foi ela sentiu um medo absurdo.
Sentiu-se desalentada. Tinha ficado com medo de que não voltasse mais. Seu coração doía de
saber que ele não a queria, que havia só sexo.
Sexo era maravilhoso e ela era grata pelas horas alucinantes que passava com ele, adorava
aquele fogo que a fazia arder.
Cassandra jamais tinha feito amor com um homem deste modo. Era a coisa mais íntima que
tinha experimentado. Mas isso não a assustou, seus sentimentos sim a afligiam, como uma
intensa martelada no peito.
Inclinou a cabeça para trás para deixar a água cair no rosto.
Ela lavou seu corpo dolorido pelo sexo, lavou suas lágrimas e lavou sua alma. Não queria
mais sexo, queria fazer amor. Queria o amor dele. Que tola era! Respirou fundo e prometeu que
não choraria mais, não sofreria.
A teoria era fácil de traçar, mas fazer era outra coisa. Mas ela era forte, sempre fora e chorar
por homem era algo que não tinha em sua vida. Mas mesmo que sucumbisse sempre com Konan,
ela seria melhor.
Quando Cassandra voltou à sala, Konan já estava ali e ela viu que seus cabelos estavam
molhados e ele a olhou, sério. E por algum milagre muitos dos seus temores evaporaram, mas o
sábio seria tomar o controle de suas emoções e de seus sentimentos.
Ele estava ali e ela o amava. Talvez encontrassem um jeito.
Ela respirou fundo.
— Então... ainda vai comigo para a Irlanda? — ela perguntou.
— Eu disse que iria.
— Que bom, podemos ir? Não quero perder mais tempo.
Konan a pegou pelo braço.
— Está zangada de novo?
— Não estou.
— Você não sabe mentir.
— Pois você sabe, não é?
— Não estou mentindo.
— Não?
— Sempre fui honesto com você.
— Sei.
Ela pegou sua mala e saiu.
Konan não podia respirar, sua garganta ardia.
E mesmo não parecendo ser certo, ele sabia que era certo com Cassandra. Não sabia como
falar de Alicia para ela e não sabia o que devia fazer.
No momento, a única coisa que sabia, é que precisava ir para a Irlanda com ela.
E que os deuses o ajudassem, porque se ele estava enterrado na merda, se afundar mais um
pouco era só uma questão de tempo.
E as palavras da princesa Yasmim martelavam na sua cabeça e começavam a fazer sentido.
Ele tinha três borboletas. Uma era Alicia e a outra Cassandra, mas ainda não tinha entendido
o resto.
E lhe deu medo saber.
A parada na casa da marina foi rápida e a viagem até o heliporto de Riverstick foi silenciosa e
Konan conhecia as burocracias dos heliportos e enchia o saco.
A viagem durou cerca de seis horas e tanto ele quanto Cassandra estavam cansados e
famintos quando chegaram.
Ele alugou um carro para que pudessem ter mobilidade e não depender dos humanos com
táxis e estas coisas.
Antes de procurarem um hotel, Konan se dirigiu ao hospital para que Cassandra visse sua
avó.
Não quis entrar no quarto e ficou no corredor, impaciente e com alguma coisa o
incomodando. Era um pinicar na nuca que o estava irritando desde que tinha entrado ali, mas não
tinha nem ideia do que era.
Konan já estava andando de um lado a outro, segurando seu rosnado de impaciência com
quem passava por ele e o olhava como se fosse alguém de outro mundo, não que basicamente ele
não fosse um. Ficou ali por uma hora quando Cassandra saiu do quarto.
— Por Manannán Mac Li, pensei que não sairia nunca — ele disse impaciente.
— Por quê? O que disse? — perguntou sem entender a língua que falou.
— Ah, Manannán Mac Li é um deus celta, dos mortos.
— Ah. Desculpe, mas tinha muito que falar com ela, a enfermeira que pago para cuidar dela e
com o médico. Precisava me inteirar de tudo, lamento tê-lo feito esperar, deveria ter ido ao hotel
descansar.
— Eu quis estar aqui contigo, só que estou querendo comer algo e estava impaciente.
Preocupa-me que ainda não se alimentou.
Ela piscou aturdida e suspirou.
— Obrigada por sua preocupação.
— Como ela está?
— Nada bem.
— Sinto muito.
Ela assentiu, mas ficou olhando para Konan de forma diferente.
— O que foi que está me olhando desse jeito?
— Você gostaria de conhecê-la?
Konan rosnou e ficou nervoso.
— Por quê?
— Por nada, por ser alguém próximo a mim. Vai cair um pedaço?
— Não. Amanhã a verei.
— Não se sinta obrigado a nada. Foi apenas uma pergunta.
— Não estou, não haveria nada no mundo que me obrigaria a entrar ali se eu não quisesse.
— Sei.
— Vamos arrumar um hotel para que descanse e teremos um pouco de comida.
— Sim, obrigada, estou faminta. Por que hospitais te deixam nervoso?
— Porque estas pessoas parecem sempre me olhar diferente e tenho vontade de morder suas
gargantas. Estes jalecos e este cheiro de drogas me trazem memórias ruins.
— Não são drogas, são remédios.
— Remédios são drogas e tive muitas delas dentro de mim, me causam agonia.
— Então vamos te tirar daqui, porque não quero que te lembre destes laboratórios, ok?
Konan piscou por suas palavras. Agradou-lhe muito sua consideração para que não sofresse.
Eles caíram em um silêncio no caminho para o hotel. Ele não podia pensar na situação que
estava passando e no turbilhão de emoções e, lentamente, pegou a mão dela e beijou o dorso e a
pousou sobre sua coxa e ficou a segurando, sentindo a sensação que seu polegar acariciando
automaticamente o dorso da sua mão causava.
Sabia que não deveriam estar segurando as mãos como se eles estivessem em um encontro,
tivessem um compromisso, mas o fato é que não conseguia pensar em puxar os dedos e soltar de
sua mão pequena dentro da sua e queria confortá-la, pois estava nervosa por causa de sua avó.
Quanto a ele e seus sentimentos, era como se perder o contato com ela causasse algo
desastroso e sua semana já tinha sido o inferno. Konan não estava preparado para as reações que
segurá-la causava nele, mas estava ainda menos preparado para a sensação de perdê-la.
Cassandra o olhou abismada e seu coração se emocionou.
— Obrigada por ter vindo comigo — sussurrou.
— Estou contente de ter vindo.
Ela sorriu e acariciou sua coxa, o que atingiu Konan em cheio. Ele olhou suas mãos unidas
sobre sua coxa e aquilo era diferente de tudo que já tinha vivido.
Ele se deu conta que havia muitas coisas na sua vida que não tinha vivido, vivenciado e
sentido.
Os humanos passavam por isso o tempo todo, pulando de um parceiro para outro, fácil e
rápido. Diziam que tinham compromisso num dia e no outro não tinham mais e pegavam outro
parceiro.
Com os lobos não era assim. Tinham sexo fácil, mas era banal e somente para o prazer, mas
quando tomavam um companheiro era para sempre.
E se tinham um companheiro de alma então...
Ele tinha quase duzentos anos e nunca tinha dirigido um carro com alguém com a mão em sua
coxa, com as mãos dadas.
Era algo tão simples que nunca tinha vivenciado e tão significativo. Um contato que passava
carinho, segurança, respeito, companheirismo.
Ele engoliu em seco e a olhou de canto de olho. Ela olhava para frente, muda e sabia que mil
coisas passavam na sua cabeça.
Como estava ferrado.
Era tarde da noite e Konan pagou somente um quarto, pediu comida, tomaram um banho
quente e sentaram para comer.
Cassandra comia calada, mas arrastava a comida no prato pelo cansaço. Konan não gostava
daquela distância que tinham criado.
Ele não entendia. Depois do que fizeram e tinham vivido juntos deveriam estar mais unidos,
mais conectados, mas ela estava cautelosa com ele, havia se afastado.
Isso era culpa dele.
Sem dizer nada, ele pegou sua mão e a trouxe para seu colo. Pegou o garfo e colocou comida
na frente de sua boca.
— O que está fazendo? — ela perguntou confusa.
— Estou te dando comida, para que coma direito.
— Não sou criança.
— Sei que não, é uma mulher madura, sei bem disso, e no momento quero te dar, porque está
muito cansada, mas precisa comer, então coma, por favor.
Ela piscou aturdida e ficou o olhando.
— Um lobo gosta de alimentar sua fêmea. É um carinho dos lobos. Gostaria de te cuidar,
então, abra a boca, por favor.
Sua fêmea?
Automaticamente, ela abriu e ele, com cuidado, lhe deu a comida, e assim foi mais uma
garfada e mais outra.
Ela estava encantada e comovida com sua atitude.
— Você... eu estava pensando... — ele disse meio reticente.
— O quê?
— De ir à minha antiga vila e dar uma olhada.
— Oh, isso seria legal! Eu gostaria de conhecer.
Ele assentiu.
— Podemos ir de manhã antes de irmos ao hospital ver sua avó.
— Ok.
Eles terminaram de comer e Cassandra ficou escorada contra seu peito e ela usava somente o
robe de seda e uma toalha na cabeça e não usava nenhuma maquiagem.
Estava fresca, natural e linda, apesar de exalar cansaço.
Konan retirou cuidadosamente a toalha de sua cabeça, pegou-a no colo e foi para a cama,
ajeitou-a nos travesseiros e deitou ao seu lado.
Quando ele a puxou para seus braços, ela não rejeitou e eles suspiraram profundamente,
sentindo os braços um do outro.
Ele gemeu ao se acomodar e ela acariciou seu peito, passando sobre uma das marcas de bala
que tinha.
— As marcas... está doendo?
— Um pouco.
— Tem feito coisas demais para quem deveria estar descansando e se recuperando, ainda nem
sei como está vivo por isso.
— Sou um lobo, eu aguento um pouco de dor.
— Ninguém deveria sentir dor.
Oh, se ela soubesse o nível de dor que tinha sentido. Todas as torturas que tinha passado na
sua vida. Ela não tinha ideia.
— Valeu a pena, trouxe-os de volta.
— Seu irmão.
— Sim.
— E o outro lobo, era quem?
Konan respirou fundo.
— Minha companheira.
Cassandra piscou aturdida e o olhou.
— O quê?
— Alicia era minha prometida, nós fizemos a cerimônia dos nossos laços de companheiros no
dia que fomos capturados.
Cassandra não conseguia respirar.
— Você tem uma companheira? Tipo... uma esposa?
— Tecnicamente sim.
— Como assim? — disse espantada.
Ela foi se afastar dele, mas ele a segurou pelo braço.
— Calma, deixe-me explicar.
— Isso tem uma explicação?
— Tem. Vai me deixar falar ou vai tirar conclusões sem saber os fatos?
Ela pensou se ia ou não, mas ponderou os fatos.
— Ok, pode falar.
— Era uma festa da nossa união, alguns lobos em forma de animal foram caçar comigo no
bosque, era algo simbólico para trazer prosperidade e fartura. Naquela noite haveria mais festa e,
então, eu a reivindicaria como minha companheira, marcá-la-ia como minha.
— A morderia.
— Sim. Mas então os humanos vieram e nos levaram. Alguns lobos se feriram e foram
mortos e os outros eram tombados com tranquilizantes e foram colocados em jaulas. Fomos
caçados como animais sem sentimentos, mesmo estando em forma humana. Jogaram-nos em
jaulas e fomos separados.
— Que horror!
— Eu pensei que ela havia sido morta nos laboratórios, as fichas nos computadores davam
como se ela estivesse em baixa, assim como aconteceu com Karl, meu irmão. Mas não, o diabo
havia a levado junto a meu irmão e mantinha-os prisioneiros. Nunca imaginamos que estariam
vivos.
— Você tem uma companheira e está aqui comigo? Fez sexo comigo na minha casa e...
Ela parou, não tinham um compromisso, não lhe devia explicações.
— Falando assim parece errado.
— Parece.
— Não é mais o mesmo, Cassandra. Quando estive contigo antes, não existia mais Alicia,
somente sua lembrança, porque pensei que estava morta, mas agora mudou também, mesmo que
tenha voltado, não há eu e ela. Não há mais nosso laço, ele se foi.
— Mas eu não entendo.
— Tínhamos a obrigação de ficarmos juntos, mas meu coração não o sente assim mais e ela
criou outros vínculos, tem sua família e eu nem consigo sentir raiva deles.
Cassandra não conseguia respirar, tentando entender.
— Não sei o que fazer, na verdade.
— Por isso se afastou de mim?
Ele respirou fundo.
— Sim, mas... aqui estou, de novo.
Ela fechou os olhos e tentou raciocinar, o que estava bem difícil.
— Como ela o recebeu?
— Está muito perturbada, fisicamente bem, apesar de estar muito fraca, mas mentalmente vai
demorar um pouco para se ajustar, mas ela não me deixou chegar perto. Rechaçou-me.
— Isso é horrível.
— É. Cada um que é libertado tem seus problemas e traumas para curar, uns demoram um
tempo; outros, não se curam nunca. E como a situação mudou, é muita coisa para ajustar, entre
eles e eu. Minha cabeça está confusa também. É difícil ter sua vida roubada e depois ela cair na
sua cabeça.
Cassandra se compadeceu dele, pois disse aquilo com tanta tristeza.
— Gostaria de matar o demônio que fez isso com vocês.
— Eu também queria, mas ele não é meu para matar.
— De quem então?
— Isso é de meu alfa, assim como foi com Joan.
— Não sei como agir sobre isso.
— Eu entendo. Eu também não. Quero fazer a coisa certa, mas, sinceramente, não sei qual é a
coisa certa.
Ela pensou em discutir, fazer um discurso, mas estava chocada e deitou sua cabeça em seu
peito e ele a abraçou.
Ali parecia o certo, um nos braços do outro.
— Quando souber, vai me dizer? — ela sussurrou.
— Sim.
— Por que me contou?
— Disse que eu estava mentindo para você. Não minto, e não queria esconder isso. Só não
sabia como falar. Não sou muito de falar sobre minha vida. Quero que continue confiando em
mim.
O que ele estava passando não era fácil e ela pensou que estava sendo um pouco egoísta,
então seu humor se abrandou. Se não pudesse compreendê-lo, como poderia fazê-lo crer que
estaria à vontade com ela?
Como poderiam ter uma chance de estarem juntos, de verdade, se não compreendiam um ao
outro?
— Obrigada... por me contar. Eu sinto muito.
— Obrigado.
— Você a ama?
— Não.
— Como ela tem outra família?
— Ela se acasalou com meu irmão e eles tiveram uma filha.
Cassandra estava chocada, mas não disse nada, porque não sabia o que dizer. E nem sabia
como julgar, porque nunca poderia imaginar que alguém pudesse fazer aquelas coisas horríveis
contra eles. O sofrimento que haviam passado. Seu coração doeu não só por ele, mas por todos.
— Acho que agora é você que precisa de um abraço.
Ela suspirou e o abraçou forte. Konan estava chocado, pensou que ela gritaria, espernearia,
mas não. Cassandra era realmente um enigma para ele, mas soube que ela ficou triste em saber
de outra mulher.
Será que ela tinha sentimentos por ele? Que se incomodava se tinha outra mulher que poderia
reivindicá-lo?
Ele não queria que outra mulher o reivindicasse, nem mesmo Alicia. Não que ela o faria, pois
tinha Karl...
Konan estava sentindo-se com remorso de estar ali com ela, mas nem sabia se era culpado de
tal delito ou não.
Afinal, se não havia mais laço entre Alicia e ele, não estava traindo ninguém.
Mas estava cansado para raciocinar, apenas queria ter uma noite em paz com ela.
Ele somente abraçou Cassandra e não queria soltá-la. Não podia.
Havia algo ali, forte entre eles, Cassandra sentiu somente na maneira que ele a abraçou, era
diferente do que já tinham feito.
Ele ergueu seu queixo para fazê-la olhá-lo, então baixou a cabeça e a beijou, longamente,
profundamente.
Havia uma urgência, as palavras não ditas, os pensamentos confusos.
Ele soltou dos seus lábios e ficaram se olhando por alguns minutos então ele beijou sua testa.
— Durma, querida, só o que precisamos esta noite é um pouco de silêncio, paz e descanso e
sinto que posso fazer agora que está aqui comigo.
— Há quantos dias não dorme direito?
— Desde que te deixei da última vez.
— Eu também.
— Então busquemos um pouco de sono, juntos.
Cassandra se aconchegou em seu peito e eles dormiram, abraçados como se fossem um só.
E, diferente das outras vezes, Konan quis dormir e amanhecer com ela em seus braços, não
queria se afastar novamente.
Konan parou na beira da estrada do morro onde, ao fundo, ele podia visualizar a antiga vila
que fora sua casa. Parecia tranquila e uma onda de sentimentos conflitantes tomou seu coração.
Ele desceu do carro e Cassandra o seguiu. Mais ao fundo havia um castelo de pedras e várias
casas, algumas com arquiteturas mais antigas, outras mais modernas.
Tudo era o suficiente para fazer seu coração doer.
— Está vendo o castelo? — Ele apontou e ela o olhou.
Não era um castelo muito grande, mas era de pedras grandes e quadradas e tinha um formato
quadrado e com duas torres redondas de cada lado, as janelas eram muitas, uma do lado da outra
bem altas e estreitas. Parecia um castelo medieval com janelas vitorianas. Ao redor dele havia
uma grama verde com a passagem de pedra para as pessoas.
— Sim, é lindo.
— Era a casa de Noah. Erick morava naquela mansão ao lado direito. Minha casa é aquela
onde começa aquele bosque, daqui dá somente para ver uma parte do telhado.
— Parece nostálgico, Konan.
— Não fomos embora porque quisemos, fui expulso daqui, arrancado como uma erva
daninha. Acho que parte da alma de cada lobo que restou de nossa alcateia ainda sucumbe aqui.
— Por quê? Quando foram libertados por que não voltaram?
— Joan e os humanos venderam e sumiram com nossas coisas, quando voltamos aqui havia
humanos em nossos lares, tocando nosso comércio. Foi um feito realmente impressionante que
os malditos conseguiram. Teríamos um belo problema para ter tudo de volta e era perigoso, pois
nos achariam fácil. Então nos mudamos para a Grécia, depois de alguns longos anos na
Alemanha.
Ela suspirou.
— Sinto muito.
Konan sentiu seu coração tombar e suas memórias pareciam muito vivas dentro dele.
Muitas vezes ele desejava que tivesse um botão para poder desligá-las. Pena que não havia.
— Você quer se aproximar mais? — ela perguntou.
— Não. Já vi o suficiente. Reviver o passado é muito ruim.
E ele desconfiava que a sua viagem de volta ao passado estava somente começando e era
assustador.
Como era estranho olhar para aquele vale e saber que humanos habitavam suas casas, seus
comércios.
Konan sabia que vez ou outra, eles mudavam de nome, mudavam de lugar tudo em função de
se proteger, ocultar suas origens e como não envelheciam.
A verdade é que agora, na era atual, as pessoas já não estavam ligadas umas às outras. Cada
um era egoísta e cuidava da sua vida, eram focados muito na tecnologia e deixaram de perceber o
quão mágico eles eram. Mesmo quando humanos circulavam perto deles.
E sua vila era isolada da cidade, era propriedade fechada, como um grande condomínio,
muitos turistas frequentavam o comércio localizado às beiras, mas no circular dos lares eles não
tinham acesso, pelo menos em sua época ali. Agora não haveria nenhum problema de eles
andarem entre suas casas.
Olhando para a montanha atrás do castelo ele pôde se lembrar de ter visto o horror do ataque.
Seus amigos e irmãos correndo, fugindo dos dardos de tranquilizantes, lutando para proteger
suas fêmeas e seus filhotes, tanta desgraça que estava somente começando.
Ele olhou para o outro lado, onde havia um bosque fechado, onde eles corriam como lobos e
havia sua mágica impregnada ali. Um dos pontos mágicos e místicos da Irlanda.
Uma magia viva e forte que dava energia e vitalidade aos lobos que se conectavam a
natureza, pura e crua.
Ele não sabia se os humanos que agora habitavam ali tinham a sutileza de alma, a
sensibilidade de poder sentir.
Konan respirou fundo tentando baixar as emoções, as memórias. Ele não tinha tido a
oportunidade de voltar ali e dizer adeus, pois quando voltou com Noah e Erick o choque de não
poder ir para suas casas foi quase demais para suportar.
Noah não tinha acreditado no que tinham dito nos laboratórios que todas as suas casas e
pertences pertenciam a outras pessoas.
A vontade de arrancar aquelas pessoas dali e matar todos foram quase demais para poder
evitar.
Mas, agora, estava na hora de fechar aquela porta e olhar para seu futuro.
O passado finalmente deveria ser deixado para trás.
Ele sabia que aquela viagem seria sua redenção ou sua queda.
Mas tinha que fazê-lo, pois precisava dar um passo adiante, um passo para tomar sua
companheira.
Ela respirou fundo e acariciou seu braço e beijou seus bíceps.
Konan a olhou profundamente e lentamente trouxe para seus braços e a beijou suavemente.
Seu coração estava tão abarrotado dela que a vontade de se livrar de sua humana perdia força.
Ele se sentia bem e forte quando a abraçava, e mesmo que sua cabeça estivesse confusa,
mesmo que o medo de sucumbir à paixão o assustasse, sabia que estar com ela era a melhor coisa
que já tinha acontecido na sua vida.
Era igual tomar um remédio para aliviar uma dor.
Era como se o mesmo ar ao redor dela estivesse repleto de energia e força, e ele desejava
poder capturar isso e manter.
Ninguém poderia duplicar ou criar uma aura tão intensa. Era algo que só podia ser
experimentada em carne e osso ao tocá-la. Cassandra era vida, pura energia que o enchia.
E finalmente, o pensamento de querer ficar com ela estava tomando forma dentro dele.
— Venha, podemos ir ao bosque, vou te mostrar nosso lugar especial.
— Hum, legal.
Eles entraram no carro e desceram o morro e, ao invés de pegar a estrada para a vila, ele foi
para o outro lado e parou.
Desceram do carro e de mãos dadas, foram entrando no bosque e o ar era puro, fresco e o
cheiro do verde, tanto da grama como os arbustos e árvores e algumas flores eram de uma
vivacidade impressionante.
Era como se fosse intocado e mágico.
Eles pararam por um momento avistando uma roda de pedras em meio ao bosque. Konan se
afastou enquanto ela ficou parada boquiaberta olhando.
Ela o olhou entre as rochas e sua cabeça girava. Seu coração pulsava mais forte. O homem era
intensamente masculino.
E ali, ao meio do bosque sentia sua magia, forte pulsante. Sua intensidade, seu cru
magnetismo animal... desatava fogo a seu sangue.
Tinha sido bonito ontem à noite em sua cama, tranquilo adormecido, mas parado no meio
daquele bosque mágico, era completamente devastador.
Parecia que a aura dele mudou, parecia que sua magia se intensificou e o deixou mais lindo e
mais perfeito.
Como poderia mantê-lo?
Cassandra respirou fundo e olhou as rochas.
Konan foi até elas e colocou as duas mãos ali, como se estivesse necessitando pegar um
pouco de magia e força através dela. Cassandra fez o mesmo.
— Oh, isso é incrível! Isso me lembra do Stonehenge.
— É bem menor e diferente do Stonehenge, mas, quando éramos garotos, adorávamos brincar
aqui, corríamos por estes bosques, tão conectados com a natureza que podíamos sentir a mágica
do universo. Estar no meio deste círculo nos revigorava.
— Imagino que sim, é tão lindo e a energia aqui é tão maravilhosa, parece que dança sobre
minha pele.
— Uma vida inteira aqui, muitas lembranças.
— Guarde estas lembranças boas em seu coração. O que te faz mal, aproveite que está aqui e
jogue para o vento, para o universo.
Ele assentiu. Sim, ele precisava jogar tudo para o esquecimento.
— Erick foi encontrado aqui. Noah o encontrou. Estava chorando e ouviu seu choro. Estava
sozinho, ali, envolto em uma manta.
— Alguém o abandonou?
— Erick é um príncipe, filho dos nossos reis, ele foi roubado e largado aqui, Noah o levou
para nossa alcateia. Foi criado como um dos nossos.
— Oh, um príncipe de verdade?
— Sim.
— Uau! Acho que isso é chique.
Konan riu e a olhou.
— Fico feliz de terem salvado sua vida. Erick é um lobo valoroso, um bom amigo.
— Acredito. É o de olhos amarelos, que foi meu advogado, não é?
— Sim. Ele é o nosso beta.
— E é um príncipe? Príncipe, tipo... um príncipe? — perguntou aturdida.
— Sim, seus pais são reis, como nos filmes.
— Uau, isso é impressionante, tive um príncipe como meu advogado. Isso é realmente VIP.
Konan riu.
— Sério que havia aquelas mulheres nuas, dançando aqui na lua cheia? Cantando e
dançando?
Konan riu novamente.
— Oh sim, antigamente isso acontecia. E era um ato muito respeitado, pelo menos entre
nosso povo.
— Mas diziam que era bruxaria.
— É apenas mágica. Não há magia nesse mundo que faça alguém ser ruim. O que pode
acontecer é uma pessoa ruim usar de magia para fazer mal aos outros. A magia é somente
transformação de energia em sua essência.
— Você seria queimado numa fogueira por dizer isso.
Ele riu.
— Seria. Muitos de meu povo foram. Muitos lobos foram caçados através dos tempos, a
igreja matava hereges e adoradores do demônio, bruxas e tudo o que não adorava seu deus.
— É uma pena que as pessoas não possam conhecer os lobos. Sou abençoada por ter esta
oportunidade.
Konan a olhou calado por um longo momento.
A maneira como o olhava, com admiração e estava perdida em seus devaneios.
Cassandra olhava a tudo atentamente e Konan a observou e soube que sua cabeça parecia um
gravador gravando tudo.
Ela sacudiu a cabeça. Ela queria lembrar-se de tudo para seu livro e ele achou bonito, porque
gostou que quisesse aprender sobre eles, e soube, em seu coração, que ela nunca escreveria nada
que os comprometesse, pois realmente quem acreditaria num livro de romance?
Konan sentiu o ar frio vir sobre ele e algo o incomodou e olhou ao redor.
— Tudo bem? — ela perguntou apreensiva.
— Sim, é... apenas uma sensação estranha.
— Sensação de quê?
— Nada, bobagem.
Não era bobagem, mas ele não quis assustá-la. Ele inalou profundamente tentando captar
algum cheiro.
— Posso te pedir uma coisa? — ela perguntou.
— O quê?
— Eu adoraria vê-lo em forma de lobo aqui.
Konan ficou chocado.
— Quer?
— Sim, imagina que coisa mais linda, você em forma de lobo correndo aqui neste mini
Stonehenge, nesse lugar mágico, só faltaria saltar uns elfos e fadinhas das árvores.
Ele riu.
— Você gosta disso?
— Se gosto? É fascinante, Konan, quem poderia viver tal coisa, ver o que posso ver? Ver
você.
Konan ficou sem ar.
Por Morrigan, era demais para ele capitular, mas realmente amou que ela estivesse ali,
querendo vê-lo, seu lobo. Era mágico.
Ele se aproximou, beijou seus lábios e se transformou. Ela arfou, saltou para trás e ficou
paralisada, de boca aberta, o olhando. O enorme e negro lobo com mechas brancas estava na sua
frente.
— Oh, meu Deus! Isso é um sonho.
Ele veio até ela e lambeu sua mão e ela riu e acariciou sua cabeça.
Cassandra não tinha nenhum medo, era pura fascinação quando ele olhou seus olhos e
brilhavam como uma criança vendo a coisa mais bela do mundo.
Konan fechou os olhos para senti-la acariciar seu pelo, então ele se afastou e correu de um
lado a outro, saltava um arbusto sumia entre as árvores e corria até ela novamente e Cassandra,
encantada, ria dele e o chamava e corria com ele entre as pedras, brincando.
Foi um mágico, divertido e maravilhoso momento que ambos viveram.
Konan se sentiu vivo e feliz, porque estava brincando como lobo com ela, naquele bosque
mágico, e ele amou com uma intensidade absurda.
Então, parou e rosnou para as árvores e ela parou de sorrir.
— O que foi?
Konan se empertigou, rosnou, e parecia que algo estava errado. Cassandra olhou ao redor e
não via nada.
Konan veio na sua frente e encarava ao mato, como se ali atrás das árvores tivesse um perigo.
— Konan, o que há, por que está assim, zangado?
— Há lobos aqui — ele disse mentalmente.
— Lobos? Mas pensei que não haveria nenhum lobo aqui.
Konan rosnou novamente e ela sentiu medo. Ele foi para frente dela, como se quisesse
protegê-la, estar entre ela e o perigo, sem parar de rosnar, agora com os dentes arreganhados, e
então ela viu, dois lobos saírem detrás das árvores.
— Oh, merda... — Cassandra sussurrou aturdida.
Konan rosnou zangado e tentou afugentar os lobos, e pareciam que agora estavam falando
entre si ou se ameaçando.
Um dos lobos, o menor, se afastou e quando foi perguntar quem era, o lobo preto de mechas
brancas e algumas marrons e olhos azuis, que parecia muito zangado e não parava de rosnar,
arreganhou suas presas afiadas e saltou sobre Konan, que revidou e eles rolaram pelo chão.
Cassandra, apavorada, gritou e cambaleou para trás e tentou correr para o lado, mas o outro
lobo se aproximou e impediu sua passagem.
O lobo menor não a atacou, mas não a deixou passar. E Cassandra ficou assistindo,
aterrorizada, os outros dois lobos rosnarem, morderem e darem patadas um no outro com uma
força que ela não imaginou ser possível.
— Konan! Konan! — ela gritou assustada.
Então os lobos se separaram e Konan se transformou em sua forma humana, e ficou ofegante,
nu, olhando para o lobo e tinha vários cortes e arranhões e mordidas pelo corpo, mas ela não
podia ir até ele.
— Hian! Pelos deuses! O que está fazendo? Sou eu, Konan! Não me reconhece?
O lobo se transformou e ela arfou olhando o homem nu na frente de Konan, também ferido e
zangado, arfando e cuspiu sangue no chão. Ele parecia ser mais velho que Konan, com os
cabelos mais curtos um pouco acima dos ombros e belos olhos azuis que cintilavam, mas
mantinha seus dentes arreganhados e arfava.
— Você, maldito! Roubaram tudo de mim! Onde está Noah, que quero arrancar sua cabeça?!
— o homem rosnou.
— Estivemos procurando por você por todo lado. Onde infernos se meteu?!
— Onde acha que me meteria depois de perder tudo o que tinha? Roubaram minha casa, meu
gado. Esvaziaram até minha maldita conta bancária. Acha que, depois de uma traição dessas, eu
estaria por aqui, saltitante e feliz? Ou querendo conviver com outra alcateia?
— Não o roubamos, maldito seja!
O homem saltou sobre Konan e o empurrou, jogando-o contra a árvores e quase caiu, mas
Konan saltou e saiu de seu agarre.
— Pare, Hian! Não te roubamos!
— Tem um casal de humanos morando na minha casa! — gritou furioso.
— Vivem na minha também. Todos nós fomos roubados. Fomos presos, caralho!
O homem rosnou e pareceu não acreditar.
— O quê?
— Fomos presos pelos humanos. Hian, ninguém o abandonou ou virou as costas para você.
Nós fomos presos, em jaulas, e metade de nossa alcateia foi morta!
O homem arfou e piscou aturdido.
— O quê?
— Isso mesmo, Hian. Noah não te deu as costas, nenhum de nós o fez. Se acalme agora, ok?
— Isso não é possível!
— Te acalme e te contarei tudo. Pelos deuses, amigo, ainda sou seu amigo.
— Quem é a humana contigo?
— Deixe a humana em paz, ela está comigo.
— Tomou uma companheira humana e se transformou na frente dela, mas ela não é loba
ainda?
— E o que deveria dizer da sua loba, que também era uma humana?
— Esta é Grace.
— Esta é Cassandra. Cassie, este é Hian.
— Velhos amigos, eu suponho — ela disse ainda amedrontada e com os olhos arregalados.
— Meu nome não é mais Hian. Agora me chamo Ethan!
Houve um silêncio e cada um olhava um para o outro e um vento soprou entre eles e Konan
olhou ao redor.
— Ethan?! E como pensa que o encontraríamos com seu novo nome? Acha que somos
videntes? O procuramos todo este tempo como Hian. Acredite, o procuramos, muito.
Ethan rosnou ainda furioso e confuso.
— Santo Cristo, se eu fosse fraca do coração poderia desmaiar agora — Cassandra disse.
Konan olhou ao redor, eles estavam bem no meio do círculo de pedras e Ethan também sentiu
e olhou.
— O que está havendo?
— A natureza está sussurrando.
Cassandra gritou quando o lobo na sua frente se transformou e uma bonita mulher nua surgiu
na sua frente.
— Acho que podemos nos acalmar agora, não é, amor? — a moça disse docemente, mas um
pouco tensa.
— Venha, aqui, Grace.
Ela olhou ao redor e estava apreensiva e foi até Ethan e ficou atrás dele, como se estivesse
envergonhada de estar nua diante deles.
Konan ainda estava muito chocado e ficou os olhando com o cenho franzido.
— Konan, o que está havendo? — Cassandra.
— Hoje é o Solstício, a natureza está conversando, a magia da natureza está viva.
— Não ouço.
Konan estendeu o braço e Cassandra correu e tomou sua mão e ficou atrás dele. Ele sentiu um
frio atravessar a espinha.
— O que acha que os deuses fazem por aqui, Hian?
— Ethan.
— Pois bem, Ethan. O que está havendo?
— Uma merda se eu sei!
— O que te trouxe aqui?
— Vim em busca de pistas para encontrar vocês. E você?
— Bem, eu vim porque a avó de Cassandra está no hospital e quis vir dar uma olhada na
nossa antiga vila.
— Uma coincidência e tanto.
— Eu acho que um Solstício é propício para abrimos as portas do desconhecido. Talvez...
tudo já estivesse previsto... a profecia...
Konan estava perdido, tentando entender o que estava acontecendo, lembrando-se das
palavras de Yasmim.
— Onde vivem?
— Numa ilha na Grécia.
— Mas que merda! — Ethan rosnou e xingou. — Esta é minha companheira, Grace.
— Muito prazer, Grace. Esta é Cassandra.
— Olá, Cassandra, desculpe se a assustei.
— Ok, sem problemas — ela disse, mas ainda tremia.
Era sempre um choque ver aquelas pessoas com os olhos e cabelos exóticos e descaradamente
nus na sua frente, assim como Konan. De repente, suas bochechas estavam vermelhas.
— Vamos sair daqui, encontrar um local para conversarmos e te contarei tudo — Konan disse
e Ethan rosnou.
— Não vai fugir de mim de novo, Konan.
— Não vou, mas acho melhor sairmos daqui antes que humanos nos encontrem desse jeito,
seríamos presos por atentado ao pudor. Agora.
Konan foi até suas roupas e começou a se vestir.
— Konan, deveriam ir ao hospital, estão com uns belos rasgos aí. Está sangrando —
Cassandra disse preocupada.
— Estou bem.
— Sempre quando lobos se encontram, batem este papo amigável?
— Vez ou outra — Konan disse.
Cassandra respirou fundo e olhou para Grace.
— Já se acostumou com isso?
— Para falar a verdade, são os primeiros lobos que eu encontro além dele.
— Legal, assim não me sinto tão louca, mas não sou loba.
— Mas cheira como um, na verdade cheira como ele.
Cassandra respirou fundo, confusa.
— Sim, já ouvi isso.
— Meu carro está ali, siga-me, vamos ao meu hotel, cuidaremos dos talhos e ali falaremos,
seguros no quarto.
Ethan, ainda cauteloso, assentiu, e olhou para Grace, que estava preocupada.
— Tudo bem, carinho, não tenha medo — Ethan disse acariciando a bochecha de Grace.
— Dele ou de você?
Ethan riu e beijou sua testa.
— Bem-vinda ao mundo dos lobos. Vamos.
Cassandra estava sentada numa poltrona e Grace na outra e Konan e Ethan estavam nas outras
duas, somente contando tudo um ao outro, o que havia acontecido ao longo destes anos.
As duas mulheres estavam caladas, ouvindo as versões dos fatos dos dois lados e Cassandra
realmente sentia seu coração sangrar, assim como Grace e não conseguiu conter as lágrimas ao
ouvir tanta desgraça.
— Essa história está pior do que pensei — Cassandra disse.
— Nem me diga, Ethan nunca imaginou tal coisa. Sentia tanta dor e raiva, pensando que foi
rechaçado por sua alcateia. E pensar que poderia nem estar vivo agora.
— Pobre, Konan!
Konan olhava incrédulo para Ethan, que fazia o mesmo.
— Eu... eu não podia imaginar — Ethan disse.
— Acha que nós te daríamos as costas sem um motivo? Sem você ter feito nada?
— O que queria que pensasse? Nunca passei por nada semelhante. Simplesmente me vi
sozinho e sem nada, somente pude voltar aos Estados Unidos e tentar viver por mim mesmo.
— Nunca te abandonaríamos, irmão, nunca.
— Eu... eu sinto muito pelo que passaram nestes laboratórios, Konan.
— Te sentir sozinho, seria uma bênção perto do que tivemos que aguentar, ver e sentir. Mas
agora que te achamos, te levarei para casa.
Ethan piscou aturdido e Konan o puxou para um abraço e Cassandra e Grace choraram
emocionadas ao ver os dois gigantes emocionados e abraçados.
— Bem-vindo a casa — Konan disse.
Cassandra pensou que jamais tinha visto tal coisa, ou sequer sonhado. Estava com a garganta
embargada, e se sentiu assustada com tanta história que aquelas pessoas místicas tinham vivido,
quanta dor, quanta desesperança e sofrimento.
E agora, tinham se reencontrado da maneira mais improvável e absurda, no seu antigo lar, em
um círculo de pedra na Irlanda.
O mundo tinha uma magia que Cassandra não poderia sonhar jamais. Estava encantada e
amedrontada. Se ela fosse como eles teria que saber tudo, aprender a conviver e lidar com tais
coisas, pois agora mesmo, apesar de estar feliz por Konan e por Ethan, estava assustada com
tamanha tramoia que o destino tinha enviado para eles. Os enredados.
Graças a uma mágica divina.
Cassandra olhou suas mãos e estavam sujas de sangue, pois tinha feito os curativos em
Konan, e Grace em Ethan. Ela respirou fundo e os olhou novamente.
Konan se soltou de Ethan e podia ver a alegria, misturada com susto e a incredulidade de
estarem juntos de novo, depois de mais de doze anos sem saber da verdade.
— Konan?
Ele a olhou.
— Sim, querida?
— Eu preciso ir ver minha avó.
— Oh, sim... hum... Ethan, eu tenho que ir ao hospital, Cassandra tem uma visita para fazer.
— Claro, entendo. Nós vamos para nosso hotel.
— Prepare-se, quando terminarmos nossas questões aqui você partirá conosco e eu te levarei
ao nosso novo lar.
— Na Ilha dos Lobos.
— Sim, na sua alcateia.
Ethan respirou fundo e olhou para Grace. Ela foi até ele e o abraçou.
Ethan então, riu, nervoso no começo e então soltou uma gargalhada, emocionada, porque se
livrava de um peso que pairava em suas costas e em seu coração e agora havia uma luz.
Ele não era um rejeitado, um pária, e olhou para Konan, que riu também, pois estava feliz de
ter, de certa forma, resgatado mais um lobo de um triste destino, viver só e com a dor no coração.
Erick estava certo. Lobos não nasceram para serem sozinhos no mundo.
— Continua um idiota.
— E você também.
Konan abraçou aos dois e Cassandra se sentiu de fora, olhando os três, mas ele a olhou e
esticou o braço, chamando-a, e ela riu e os abraçou. E foi o abraço coletivo mais maravilhoso
que alguma vez sentiu na vida e então riu também, emocionada.
Ela, de alguma forma, fazia parte deles, em seu coração sentia que gostava dali e queria
compartilhar.
A verdade era bem clara, para Konan e Cassandra, estava bom ficar juntos, não tinham
vontade de se separar, mesmo que os alarmes vermelhos soassem dizendo para ir devagar, para
recuar, para saltar fora que poderia ser perigoso e o coração poderia sair ferido.
Era bom demais a companhia um do outro e os beijos e toda a montanha de restos que eram
magníficos. Era uma experiência nova, tudo era diferente, tudo agradava.
E, mesmo que a irritação aparecesse, bastava aqueles olhares com o piscar, a carranca, os
braços cruzados e o estreitar de olhos, parecia que um bálsamo era derramado sobre eles. A raiva
passava, o coração se abrandava e a harmonia retornava.
Nenhum dos dois tinha provado tal doce na vida, mas estavam gostando de saborear, de
compartilhar momentos, situações e sentimentos, mas o que eles não estavam percebendo, é que
além da imagem e de somente se divertir e curtir o momento, suas vidas estavam se
entrelaçando, seus corações estavam se aquecendo um pelo outro. Suas almas estavam se
acariciando. E estes laços que estavam se formando poderia ser bem difícil de soltar mais tarde.
Na verdade, não poderiam ser quebrados.
Como companheiros de alma que eram... seria impossível.
Mas havia um tempo certo onde tudo deveria acontecer, e tudo deveria se ajeitar. E uma hora
eles tomariam conta de sua realidade e visualizariam o quadro todo.
Então, o que fariam de suas vidas, somente estaria em suas mãos. Se eles tomariam a
felicidade de uma vez ou continuariam procrastinando, como dois tolos.
Mas Konan ainda estava preso aos velhos conceitos, ainda estava confuso e velhas feridas
eram difíceis de curar.
E se com o que encontraram na sua antiga vila os deixou tontos e emocionados, é porque eles
ainda não sabiam o que estava por vir.
Os deuses estavam agindo e tentavam colocar as coisas no lugar.
O que podia ser doloroso.
Quando Konan e Cassandra chegaram ao hospital, ele travou na frente da porta do quarto.
— Konan? Algo errado?
Ele a olhou e piscou aturdido.
— Desculpe.
— Está tudo bem, se não quiser entrar, foi apenas um convite, não tem obrigação nenhuma.
Ele respirou fundo.
— Está tudo bem, eu irei.
Cassandra segurou sua mão e abriu a porta e quando eles entraram viram a senhora de cabelos
brancos ligadas aos diversos aparelhos e com uma cânula de oxigênio no nariz.
Ele odiava ver aquele tipo de coisa, pois o remetia aos laboratórios, mas nada o preparou para
tal choque.
Quando se aproximou da cama parou de respirar, porque a reconheceu.
Os lindos olhos azuis se viraram e o encararam e o mundo todo deu um giro completo e ele
sentiu as pernas bambearem.
— Konan, esta é minha avó, Ilana. Oi, vovó, como se sente hoje? Este é meu amigo, Konan,
que eu falei para a senhora — disse docemente pegando sua mão.
A senhora começou a arregalar os olhos e arfar, apertou sua mão fortemente, ficou com falta
de ar e os aparelhos que monitoravam sua respiração e seus batimentos cardíacos começaram a
apitar descontrolados e ela se debateu na cama.
Konan e Cassandra se assustaram, não pelos mesmos motivos.
Logo duas enfermeiras entraram correndo, jogando-os para trás, e uma aplicou na sua
endovenosa uma seringa contendo um líquido branco e a senhora, aos poucos, foi retornando aos
batimentos normais e a respirar direito.
Regulavam uma coisa ali, examinaram ela ali, e pareceu que o mundo correu muito devagar,
longos e longos minutos se arrastando, deixando a mente de Konan lenta.
Depois de um tempo, que Konan não soube dizer quanto foi, as enfermeiras olharam
aturdidas para ele e saíram.
Cassandra se aproximou e tomou a mão da senhora, apavorada, enquanto Konan estava
escorado na parede, olhando-a com os olhos arregalados.
— Está tudo bem, a senhora vai ficar bem, vovó — disse com a voz embargada.
Konan tentou colocar sua vida no prumo.
Ilana... era ela, ali, velha, deitada na cama e ela era avó de Cassandra.
Konan pensou que cairia no chão e que logo ele mesmo precisaria de uma endovenosa
daquelas, porque seu coração batia forte no peito.
Ele não soube quanto tempo ficou ali, mas o quarto sumiu e somente podia ver a antiga
Irlanda, a vila de Mathan, em Cork, em 1944.

A fumaça das explosões causadas pelas granadas Modelo 24 Stielhandgranate, chamadas de


granada de vara, e do estopim dos fuzis, era sufocante e maltratava suas sensíveis narinas de
lobo.
Os olhos ardiam pelo pó de concreto do prédio destruído, o que só fazia seu lobo explodir de
ira.
Ele estava encurralado, no que sobrara da velha marina, mas sua única missão naquele
momento era tirar a pequena humana dali e salvar sua vida, salvar seu amor.
Ele sabia que não conseguiria fácil, mas tinha mandado o sinal para seus amigos lobos
fugirem e pedirem reforço para Noah e os alertasse de uma invasão iminente.
Os alemães tinham invadido Mathan pela encosta, que era uma pequena vila ao sul de Cork,
um pouco distante de sua vila, Kapri, onde viviam seus lobos, mas eles não chegariam jamais à
sua vila.
Isso os lobos não permitiriam.
Mas era tarde demais para ele.
Konan saltou com Ilana nos braços e a soltou no chão.
— Como saltou assim? — ela disse apavorada o olhando, e os olhos de Konan estavam
cintilando.
Outra rajada de balas explodiu por trás do muro que se esconderam e ele a protegeu com seu
corpo.
— Há algo sobre mim que precisa saber, Ilana — ele disse espiando de onde vinham os
soldados. — Malditos! O que estas bestas estão fazendo aqui?
— Quem são eles?
— Nazistas.
— Pensei que não estávamos na guerra.
— Ouvi pelo rádio que bombardearam Londres, devem ter planejado vir aqui também, pois
parece que eles não desejam paz.
— O que... o que há de errado com seus olhos, Konan? — disse apavorada.
— Shhh... Eles são assim e mudam um pouco, mas eu preciso chegar até meu povo e te tirar
daqui, porque eles são muitos, não posso lutar contra eles sozinho. Precisamos sair daqui e ir
para um lugar seguro.
Outra rajada de balas saltou sobre eles e ele a agarrou, saltou as pedras e correu pelo
campo e entrou em um prédio abandonado pela janela e ele a soltou, rosnou pela dor em suas
costas.
Havia sido atingido.
Ela olhou para suas mãos e arregalou mais os olhos, vendo suas longas garras e então viu
suas presas alongadas.
Ilana gritou alto pelo susto e escorregou para longe dele, se arrastando pelo chão,
apavorada.
— Você é um monstro!
— Shhh, por favor, Ilana, vai nos delatar assim, precisa ficar quieta!
— O que você é?
— Sou um lobo e não vou machucar você, eu amo você. Só sou diferente.
Ele foi para agarrá-la para que não caísse na cratera que havia no chão, mas ela tentou se
esquivar dele e ele arranhou seu braço, o que a fez ficar mais apavorada ainda e gritar.
— Você é uma besta, um monstro!
— Ilana, pare, por favor.
Logo, vários soldados alemães irromperam no prédio e atiraram nele.
Ele tentou acalmá-la dizendo que estava tudo bem, que não iria machucá-la, mas estava
assustada demais. Não podia entender.
A saraivada de balas bateu contra seu corpo, fazendo sua carne queimar como fogo e, além
do barulho ensurdecedor dos estalares das armas, ainda ouvia os gritos dela pelo ar.
Seus ouvidos zuniam eternamente com as palavras proferidas, com os gritos e suas memórias
nunca esqueceriam, pois o que mais lhe doía naquilo tudo, não eram as balas dos fuzis dos
soldados alemães perfurando seu corpo, ou a proximidade da morte que vislumbrava diante de
si, ou os gritos horrendos dos soldados que gritavam: “Monstro!”, “Atirem”. “Matem!”
O que mais doía era o seu coração quebrado pelos gritos de horror dela.
Para protegê-la, Konan se jogou na frente dela, empurrou-a e a jogou pelo buraco, levantou
e rosnou alto para os nazistas que o olharam, assombrados.
Uns atiraram e outros ficaram paralisados.
Konan saltou sobre eles, rasgando suas gargantas, arrancando seus membros e rosnando
como uma fera selvagem. Estava fora de si em sua fúria.
Os dois últimos vivos foram apunhalados e agarrados e Konan se jogou com eles pela janela
e caíram do segundo andar, no jardim de baixo, pois precisava afastá-los do prédio.
Ele os matou em seguida, arrancando a cabeça de um e rasgando o peito do outro com suas
garras afiadas.
Konan estava ferido e outro grupo de soldados apareceu, atirando sem piedade.
Ele viu a morte naquele momento, pois não conseguiria lutar com todos eles sozinho e as
balas em seu corpo já estavam o deixando fraco demais para lutar e a dor era excruciante.
Rosnou alto, expondo suas presas e suas garras aos soldados, com uma fúria descontrolada.
Ele poderia morrer, mas mataria todos. Tinha exposto aos humanos e fora um erro, mas
estava alucinado demais para tentar salvar a mulher que amava.
Então ele ouviu um uivo. Noah! E uma esperança surgiu, pois sua alcateia tinha vindo por
ele.
Lobos saltaram de todas as partes rosnando, mordendo e atacando todos os soldados e, ao
fim, somente tinham sobrado corpos rasgados e ensanguentados por todos os lados.
Konan caiu sem quase conseguir respirar e Noah se transformou na frente dele, para sua
forma humana, e o agarrou do chão.
— O deixamos sozinho um momento e quer entrar na Segunda Guerra. O que os nazistas
faziam aqui?
— Acredito... que foi uma pequena milícia, para... incitar a guerra entre nós.
— Bem, mas os bastardos não podiam ter entrado no lugar mais errado, não é?
— Noah, a segunda tropa está mais ao sul, temos que correr, impedir que cheguem à Kapri,
se não corrermos será tarde demais! — Erick gritou.
— Merda! Agora apagaremos seus rastros e jogaremos os corpos no mar, temos que ir
rápido, pois há outra tropa ao sul, indo em direção à nossa alcateia e precisamos impedir. O
que estava fazendo aqui, Konan?
— Minha garota...
— O que fez, seu tolo?
— Pegue-a, precisa salvá-la... está no buraco... ali...
— Sim, já a teremos. Agora precisa ficar comigo, Konan. Vamos, fique comigo, amigo.
Mas ele não ouviu mais nada, apenas sentiu a escuridão tomá-lo.
Dias depois, ainda sentindo os ferimentos graves em seu corpo, foi até a cabana onde haviam
levado Ilana, esperançoso que ela não tivesse contado dele para ninguém e estivesse mais
recuperada de seus ferimentos.
Chegando ao quarto onde estava se recuperando, ele sentou na cadeira ao seu lado da cama
e ela o olhou e se afastou na cama, com os olhos arregalados, pronta para gritar.
Konan rapidamente tapou sua boca.
— Shhh, está tudo bem, Ilana. Sou eu, Konan.
Mas o que viu nos olhos dela fez a alma dele gelar.
— Vim ver como estava. O médico disse que vai se recuperar, mas tenho que te tirar daqui,
eles virão atrás de você.
— Pensei... que você tinha morrido.
— Vivi por ti.
— Isso não pode ser. Vi você levar vários tiros.
— Nós aguentamos certos ferimentos e nos curamos rápido, mas tive sorte.
— O que você é? Um animal?
— Sou um humano que pode se transformar em um animal.
— Não pode ser.
— Pode me aceitar, Ilana, como sou, se gosta de mim. Disse que me amava, que queria se
casar comigo.
— Isso foi antes de saber que era um monstro.
— Não sou um monstro, e ia contar a verdade, mas isso aconteceu e eu tinha que cuidar da
proteção de nosso povo e sua. Cometi um erro em me mostrar assim, mas estava tentando
protegê-la.
— Isso de... Agora eu não posso mais. Não posso me casar com você. Quero que vá embora
— disse apavorada.
— Não faça isso, nunca a machucaria.
— Ache uma de sua raça para casar, sou uma humana e isso entre nós não pode ser. Não...
eu não contarei nada a ninguém sobre você, mas devo partir, pois nunca mais quero vê-lo.
— Ilana, por favor, não me olhe assim, não sou um monstro. E sim, nós podemos conviver.
Ele foi pegar na sua mão, mas ela a puxou rápido, evitando o contato e Konan sentiu seu
coração quebrar em mais pedaços do que já estava.
— E como seriam meus filhos, hein? Seriam aberrações como você!
— Com o tempo pode entender.
— Não, vá embora, antes que eu grite.
Konan sentiu seu coração quebrar de vez e ele, pela primeira vez em sua vida, sentiu vontade
de chorar.
— Pode, pelo menos, me jurar que nunca falará de mim para ninguém?
— Juro. Dou minha palavra, somente fique longe de mim. Nunca mais quero vê-lo e seu
segredo morrerá aqui neste quarto, assim como meu amor por ti.
— Deve pegar o barco ao amanhecer e ir para longe, aqui tem dinheiro e roupas. Nunca
deve voltar.
— Não voltarei, nunca mais.
Konan assentiu e engoliu sua tristeza, não disse mais nenhuma palavra, somente foi embora,
carregando os cacos de seu coração.
Seu corpo se curaria dos ferimentos das balas e a dor passaria, mas aquela dor, no seu
coração e na sua alma, ele nunca mais esqueceria e nunca passaria.
Então, ele jurou que nunca mais amaria uma humana, que sua companheira seria uma loba,
pois os humanos eram muito fracos para aceitar amar um lobo.
Escondido no cais, Konan viu o navio sumir e assim a única visão que ficaria era o desprezo
dela.
Mas sua dor somente estava começando, porque, quando voltou à sua alcateia, outro inferno
desataria sobre ele.

— Konan! Konan, está bem? — Cassandra o chamou, tirando-o de suas memórias.


Ao inferno se estava bem, estava enxergando tudo nublado e não conseguia respirar.
— Konan?!
Ele olhou para a cama e viu os olhos azuis o olhando e era a senhora que o chamava agora.
— Por favor... se aproxime.
Konan, em um tipo de piloto automático, deu um passo de cada vez e se aproximou e olhou
para o rosto enrugado e seus olhos se encheram de lágrimas assim como os da senhora.
— Eu não posso acreditar que é você. Ainda tem a mesma aparência... não envelheceu nada
— a senhora disse, com a voz difícil e embargada.
— Os... os anos pesaram sobre minhas costas — ele disse baixinho.
— Eu sabia, sabia que algo estava vindo e olhe pra você.
A senhora olhou para Cassandra, que agora estava em choque, olhando-os com os olhos
arregalados.
— Konan, não tenho muito tempo e Deus ouviu minhas preces, porque pedi muito que ele me
permitisse te encontrar de novo. Por isso vim à Irlanda e o procurei, mas não achei nada.
— Por quê?
— Para te pedir perdão.
— O quê?
— Pelo que te fiz, pelas coisas horríveis que te disse. Eu fugi naquele navio e fomos para a
Inglaterra e depois eu fui para a Grécia, onde casei e tive minha família. Mas eu nunca o esqueci.
Nunca!
Konan engoliu em seco e sentiu sua garganta fechar e não conseguiu pronunciar uma palavra.
— Vovó, do que está falando? — Cassandra perguntou aturdida.
— Este é o homem que eu queria pedir perdão, Cassie. O homem que eu parti seu coração.
Cassandra não podia acreditar, tinha ouvido suas histórias, mas nunca pensou que seria
Konan, ou que seria um lobo.
— Eu recordo das suas histórias, vovó, mas... mas pensei que ele fosse diferente, mas nunca
pensei que seria alguém que podia mudar de forma e viver tantos anos.
— Vejo que conhece seu segredo, Cassie.
— Sim... pelo menos em parte.
— E não o teme...
— Não...
Cassandra olhou assombrada para Konan e podia ver claramente o choque no rosto dele.
— Eu o amava, mas meu amor não era forte para sobreviver a tal coisa. Eu era uma criança
muito tola e ingênua e morri de medo quando vi seu outro lado.
— Ela gritou e gritou, me chamou de monstro e atraiu os soldados alemães para dentro do
prédio. Eles atiraram em mim.
Cassandra ofegou, olhando-os.
Konan esteve na Segunda Guerra Mundial? Tinha a mesma aparência de agora? Sua cabeça
começou a girar.
— Eu estava tão apavorada, com você e aqueles tiros para todo lado... pessoas morrendo.
— Quase me matou e me rechaçou. Por fim, achei que os deuses se esqueceram de mim.
— Não esqueceram, eles nunca poderiam fazer isso, porque você é inesquecível, é
maravilhoso e eu lamento por não ter sido forte por você, mas eu acredito que há alguém lá fora
que foi feita para você, que vai te amar como merece e te fazer feliz.
— Ela descobriu quem você é? — Cassandra perguntou.
— Sim, e ficou louca gritando sem parar.
— Eu estava assustada e com medo. Não desista, talvez ela esteja bem aqui, diante de ti e por
minha culpa não a vê. Se ela for certa para você, então ela irá te aceitar e irá lutar por você. O
amará tanto quanto você a ela. Não fugirá como eu fugi. Será forte e valente.
— Não sabe o que está falando — Konan disse até com uma ponta de zanga.
— Eu sei o que estou falando e teria mudado se pudesse, mas não pude. E sinto muito porque
não fui tão forte para mudar por você.
— Parece que você se... conseguiu o que queria.
— Sim. Casei e tive uma família normal. Eu... somente queria uma vida tranquila, Konan. Eu
não estava preparada para você.
— Eu entendo agora...
— Você vai encontrar a garota certa, a sua garota, uma que vai merecê-lo e vai amar como
você é, sem medo.
A senhora gemeu de dor e Konan segurou sua mão.
— Posso... fazer algo por você?
— Não, minha hora chegou.
— Sinto muito.
— Não sinta, estou feliz.
— Por quê?
— Porque você voltou e aqui, no meu leito de morte, me deu a oportunidade de te ver lindo
como sempre, de te pedir perdão por ter feito você sofrer. Eu não queria, mas estava muito
assustada. Mas foi bom, porque eu não era a certa para você. Há, eu credito. Quando encontrar
uma mulher que não o tema, se a ama de verdade, não desista dela, mostre seu amor, que ela vai
retribuir, Konan.
Ela gemeu e fez careta.
— Quer que chame o médico?
— Não.
— Ilana...
— Obrigada por me mostrar seu mundo mágico, e obrigada por estar aqui. Seja feliz, Konan,
lute por sua felicidade. Eu tentei encontrar minha redenção, mas acredito que você também
precise dela. Estar livre para viver seu grande amor.
— Não preciso de redenção.
— Ter redenção não é somente quando se sente culpado de algo, e se redime, mas é quando
seu coração está preso ali e não consegue sair. Ter redenção é ser salvo, ser liberto, ser resgatado.
E eu sei, em meu coração, que eu lhe causei uma grande dor; e, ao mesmo tempo que eu não
fiquei em paz depois do que aconteceu, você também não.
Sim, ele tinha sofrido e se atormentado com aquilo, e a cicatriz nunca tinha sarado.
— Eu te peço perdão pelo que eu te fiz, tentei pela minha vida pensar no que tinha feito, e
escrever os livros foi um meio de ver sua beleza, contar, mesmo que, oculta atrás de uma
fantasia, o que eu não deixei que me mostrasse e eu sinto muito. E peço que me perdoe, para eu
morrer em paz.
Konan sentiu sua garganta embargar e seu mundo ficou um tanto turvo.
Ele beijou sua mão, fazendo um esforço sobrenatural para não chorar.
— Está tudo bem, Ilana, eu perdoo você, vá em paz.
Ela deu um longo suspiro, como se tivesse jogado todo o peso para fora.
— Obrigada... Konan... e eu espero que você seja livre agora e encontre a mulher que te
aceitará sem ressalvas e que te amará de todo coração, como você merece...
Konan, tremendo, se aproximou, e uma lágrima solitária rolou pela sua face, beijou sua testa
suavemente e sussurrou:
— Eu te perdoo, descanse em paz.
— Obri... gada...
Cassandra estava engasgada, e com a face cheia de lágrimas e segurou a mão de sua avó.
A senhora olhou para Cassandra, por um minuto, juntou suas mãos e sorriu.
— Nada é por acaso, minha pequena Cassie, ele não entrou no seu destino por acaso e você
não o teme... Nunca desista, Cassie... de nada na sua vida... lute e seja feliz... — sussurrou. — E
agora estou... feliz... tudo está bem...
A senhora fechou os olhos e o aparelho apitou um som agudo e contínuo e a linha do sinal
ficou reta.
— Vovó!... — Cassandra clamou.
Konan piscou aturdido olhando para aquelas mãos juntas e estava chocado, sem reação, sem
fôlego, com sua mente transtornada e mais uma lágrima solitária rolou pela sua face.
Cassandra se debruçou sobre Ilana e chorou.
Konan tirou suas mãos das delas e ficou ali, paralisado. Suas emoções saltando dentro dele,
desgovernadas.
E ele sentiu suas vistas escurecerem, mas antes que tombasse, ele saiu do quarto e foi até o
jardim, o mais longe que pôde, onde não havia pessoas e ficou escorado numa árvore.
Ele puxava a respiração com força e passava cortando seus pulmões e não se importou com o
barulho que fazia, mas rosnou e rosnou forte, expurgando tudo que o sufocava.
Se havia uma linha entre a besta extrapolar seu lado humano, Konan tinha certeza de que
estava ali, na borda, porque jamais em sua vida pensou tal coisa. Mas quando parou e estava
cansado, ele respirou fundo, uma e outra vez, e uma brisa pousou sobre ele e sentiu como se um
beijo tivesse tocado sua bochecha.
— Seja feliz, Konan! — Ouviu em sua cabeça. — É só o que importa agora, se liberte e seja
feliz com Cassie. Cuide de minha menina, porque ela é preciosa. Ela é sua companheira, a
verdadeira.
Ele abriu os olhos e olhou ao redor e podia jurar que Ilana o havia beijado e falado com ele.
E, de alguma maneira seu coração se abrandou, como se tivesse sido anestesiado, como se um
grande peso em seu coração houvesse sumido.
Redenção não é só se arrepender e se redimir, redenção é ser liberto.
Konan respirou uma e outra vez, profundamente, e olhou ao fundo o hospital.
Ele teria que voltar, porque agora teria que enfrentar Cassandra, que havia perdido sua avó, a
mulher que ele tinha amado no passado e transformado sua vida num inferno.
Redenção... ele precisava de redenção.
Respirar...
Ser livre.
Algo gigantesco dentro dele se moveu.
Uma borboleta tinha morrido.
Cassandra estava atordoada e não sabia como olhar para Konan, que, mesmo abalado, ajudou-
a com as burocracias para o enterro.
Encontrou uma empresa que fizesse a cremação, já que sua avó tinha este desejo. Então,
Cassandra levaria suas cinzas para serem colocadas no jazigo da família.
Konan esteve ao lado dela em todos os momentos, abraçando-a, tomando conta dela, secando
suas lágrimas. O assunto não foi levantado e respeitou isso, sendo que ele mesmo não sabia o
que dizer a respeito.
Uma coisa de cada vez.
O luto podia machucar e muito.
E seu luto, estava além do compreensível. Konan estava silencioso, com o pensamento
distante e com sua mente embaralhada.

Com a urna das cinzas dentro da bolsa, era hora de voltar à Grécia. E então retomar a vida,
seria uma grande coisa então, pois Konan não havia contado sobre Ethan ao seu alfa e acreditava
que seria um choque.
E Konan realmente entendia sobre choques, porque estava se sentindo meio anestesiado.
A viagem à Irlanda realmente tinha causado um efeito e tanto nele.
Quando estavam sobrevoando a Grécia, Cassandra pensou que sufocaria. Estava enjoada e
tonta, seu estômago estava embrulhado.
— Por favor, pode descer em Atenas, na casa da marina, meu carro está ali e necessito ir para
casa — perguntou.
— Por quê? — Konan perguntou.
— Porque necessito.
— Não está bem? Logo chegaremos à Ilha dos Lobos, você pode ir a clínica.
— Estou enjoada, sim, mas não, por favor, desça em Atenas.
Konan a olhou aturdido e trincou os dentes, mas não falou nada. Não queria discutir na frente
de Ethan e Grace.
Quando ele chegou a Atenas e desceu no heliporto da casa da marina, ela saiu do helicóptero
com sua mala e se afastou e ele foi atrás.
— Você está bem?
— Não, não estou bem, Konan.
— Acho que foram uns dias muito puxados.
— Sim.
— Vamos, vou levar Ethan para a ilha, então poderemos descansar.
— Eu... Não.
— Não o quê?
— Não vou para a ilha com você. Isso é um momento importante e não quero atrapalhar.
— Não vai atrapalhar.
— Konan, não posso agora, ok?
— Por quê?
— Não posso lidar com isso.
Konan piscou e a olhou, aturdido.
— O que... isso?
— Isso! Você. Você estava diante de uma ex-namorada, que estava no leito de morte, velha!
Minha avó... Minha cabeça está confusa, acho que foi muita coisa para digerir.
— Sim, foi muita coisa.
— Se ficarmos juntos, você vai me ver morrer também?
Ele fez uma careta.
— Assim é.
— Quantos anos você tem, Konan?
Ele respirou fundo.
— Cento e oitenta e um anos.
Ela abriu a boca de susto e não achou as palavras.
— Quanto... quanto ainda vai viver?
— Uns duzentos e pouco, trezentos, eu acredito, mais ou menos.
Cassandra arfou aturdida demais e estava em choque.
— Não pode ser.
— Assim é, Cassandra, assim sou eu.
— Você acredita que sou sua companheira, Konan?
— Depois de tudo, acredito que sim.
— Mas morrerei.
— Você teria que ser como eu. Precisaria te transformar em loba para que envelheça no meu
tempo.
Ela estava chocada.
— Eu tenho que virar uma loba?
— Se não se transformar... morrerá, como ela, antes que eu esteja velho.
Ela não conseguia respirar e seus olhos encheram de lágrimas e estava sufocada.
— Não sei se posso fazer isso. É muita informação pra minha cabeça. Quer... você era
apaixonado pela minha avó. Quão insano isso é?
— Sei que é difícil para você, também é difícil para mim.
Ela deu um passo atrás.
— Talvez precisemos de um tempo, separados, eu... não sei como lidar com isso agora.
Nunca vou contar sobre vocês, pode me deixar aqui que vou ficar calada. E você tem sua
prometida, companheira ou sei lá o que é, a tal Alicia.
Ele sentiu uma facada em seu coração.
— Está... me negando?
— Não sei o que estou fazendo... Não posso lidar com isso agora, Konan, preciso que me
deixe pensar, estou cansada... e... preciso pensar em quem você é, este ser de conto de fadas...
Ela o olhou com os olhos marejados.
— Para você isso é ruim? Pensei que as humanas gostavam de conto de fadas. Não é por isso
que escrevem estes livros?
— Com príncipes valentes e que lutam por ela, isso eu sei, não sei se a Chapeuzinho se
apaixonaria pelo lobo da floresta.
Konan quase rosnou de frustração.
— Então me vê como a besta dos contos de fadas. Aquele que a mocinha não pode ficar?
— Droga, Konan, eu não sei, estou em choque e não sei o que fazer com o que estou sentindo
e com o que temos, nem sei o que temos, não sei o que fazer com você!
— Não precisa fazer nada, Cassandra, eu já vi que não vai me aceitar, e me desculpe se não
posso ser um príncipe ao invés da besta da floresta. Eu sabia... sabia que faria isso. Lutei tanto
contra isso para não passar por esta merda de novo, mas olha pra mim, cá estou eu novamente na
mesma merda.
— O quê?
— Você tem esta força, esse jeito e disse que me aceitou. Pensei que me amava, que me
queria.
— Konan... pensei que você que não me queria. Afinal, que diferença faz, nunca quis me
morder, nunca me quis como sua companheira. E agora eu vi o porquê.
— Pois eu já nem sei mais porra nenhuma! Mas venho mudando minha cabeça, por você.
— Oh Deus, minha cabeça está confusa também, preciso pensar!
— Pois eu não preciso pensar. Volte para sua vida e viva a fantasia nos seus livros. Se não
tem coragem de me aceitar, então não faz sentido perdermos nosso tempo. Você é igual a sua
avó. Uma fraca. Aliás, está livre de nós, seu carcereiro está se retirando de uma vez.
Ela estava chocada demais para dizer mais alguma coisa e Konan não permitiu que dissesse
mais alguma coisa.
Ele girou nos calcanhares e saiu e ela continuou ali, como uma estátua, e as palavras não
faziam nenhum sentido na sua cabeça.
Ela segurou a cabeça com as mãos e seu coração doía, sua garganta ardia e não sabia o que
fazer. O que dizer, se defender. Ela o amava e o quê?
Ela o amava, simples assim. Um amor forte maior que o mundo e não sabia o que fazer com
isso.
A imagem dele com sua avó, naquele hospital, pulsava na sua mente.
Ela teria que ser uma loba, viver tantos anos.
Mas quando ela viu o helicóptero levantar voo e se afastar, quase a derrubando pelo vento
forte das hélices, seu coração quebrou em mil pedaços.
Devia ser como ele. Ela podia fazer isso?
Como podia amar o homem que amou sua avó?
Era estranho, fora do comum, mas ele não era comum, era um lobo e ela deveria se tornar
uma deles para estarem juntos.
Mas ele sempre disse que não queria uma humana, mas agora parecia aborrecido, zangado por
que ela recuou, isso seria que ele a amava?
Teve coragem toda sua vida e não sabia se tinha coragem para fazer tal coisa.
Mas a dor de pensar que não o veria mais doía, doía como nada tinha doído antes. Essa, nem
a deixava respirar.
As lágrimas escorreram e ela não conseguia atinar os pensamentos.
Tudo estava acabado.
Seu conto de fadas havia acabado e ela ficou para trás e seu lobo da floresta partiu.
Konan desceu no heliporto com Ethan e Grace e eles desceram as escadas que dava acesso à
casa de Noah.
Liam os encontrou no caminho e ficou chocado ao ver Ethan.
— Mas que merda!
— Liam!
— Hian!
Eles se abraçaram fortemente.
— Pensei que estivesse perdido no mundo. O procuramos por toda a parte!
Ethan piscou aturdido. Liam somente confirmava o que Konan havia dito. Tinham o
procurado. Isso foi outro baque.
— Pensei que estava.
Eles se abraçaram e Grace foi apresentada a ele, que estava chocada. Afinal, Liam era um
caso de espanto e ela não conhecia outros shifters além de Ethan e depois Konan. Ele tinha
contado sobre eles, cada um deles e então ela sabia de suas aparências, e reconhecia pelo nome,
mas ouvir era uma coisa, ver era outra bem diferente.
— Vou avisar a todos que está aqui. Será maravilhoso.
Liam se afastou e logo um uivo alto retumbou pela ilha.
Noah que estava em sua casa com Ester e Lucian levantou do sofá.
— O que é isso, Noah?
— Mas que merda... é Liam. Konan chegou e traz... puta merda.
— O quê? Está me assustando, Noah, e pare de xingar na frente de seu filho e me fale, não
entendi o que Liam disse!
Ethan estava nervoso, com o estômago embrulhado e suas emoções estavam afloradas. Estaria
de frente com seu alfa, o que sentiu tanta raiva e desejou quebrar seu pescoço por anos.
E agora que estava ali, quase sem saber como agir, era como se um lar estivesse sendo
devolvido a ele, uma esperança, uma alegria, e uma dor no peito o consumia.
Ethan era um lobo que já vivia há muitos anos, mas agora estava atordoado como uma criança
assustada.
Ele olhou para Grace, que estava apreensiva, mas sorriu e acariciou sua bochecha.
— Vai ficar tudo bem, meu amor, estou aqui contigo — ela disse mentalmente.
Ele assentiu e beijou seus lábios.
— Obrigado por estar aqui comigo — respondeu mentalmente.
Ele tentou disfarçar seu nervosismo, engoliu o nó preso na garganta, entrou na sala e parou,
olhando para Noah.
Noah rosnou e levantou do sofá e, então, todos ficaram paralisados se olhando.
— Hian!
— Alfa...
— Como... como está aqui? Pelo inferno! Eu te procurei por anos por todo os Estados
Unidos!
Ethan respirou fundo, já um tanto cansado, mas com o coração abrandado.
— Estava perdido em um lugar no meio do nada.
Noah entregou Lucian para Ester e foi até Ethan e o abraçou e riu, emocionado.
E Ethan soube, de imediato, que Noah estava verdadeiramente feliz por vê-lo, porque ele não
era chegado à rompantes amorosos, muito menos em público e não sobrou nenhuma raiva,
porque soube que aquele homem não o roubou e não o deixou para trás.
Todos tinham sido vítimas do próprio demônio, cada um de um jeito.
— Eu o encontrei na Irlanda, alfa — Konan disse.
— Por que não me contou no telefone?
— Queria fazer uma surpresa.
Noah riu alto.
— Uma fodida de uma surpresa. Bem-vindo ao lar, homem, e que os deuses nos abençoem,
porque estou muito feliz.
— Konan me contou o que houve... eu sinto muito, se eu soubesse...
— Sei... sei, mas não tinha como saber e está tudo bem, vamos fazer uma festa, uma fogueira
bem grande na praia e muita carne e cerveja gelada, vamos comemorar, porque mais um dos
nossos está de volta a casa!
Ethan riu, emocionado, rosnou e tentou se recompor e olhou para sua companheira, que
estava com os olhos marejados e, ao mesmo tempo, assustada e nervosa.
— Esta é Grace, minha companheira.
Noah riu e segurou sua mão.
— Ah, uma bela companheira, seja bem-vinda, esta é minha companheira Ester e este é meu
filhote, Lucian.
Ethan olhou para Ester e Lucian e piscou aturdido. Houve um silêncio na sala.
— Sua companheira? Mas...
Konan havia dito que Noah tinha perdido Laila, mas não tinha falado de Ester, pois era muita
coisa para falar.
— Está tudo bem, Hian... Laila se foi há muito tempo, ela morreu no dia que fomos
capturados. Ester é nossa alfa agora, uma humana que se tornou uma de nós, uma alfa
maravilhosa e muito amada por todos.
Ethan a olhou novamente e de um a outro, um tanto perdido, mas quando todas as
informações tomaram assento, ele respirou fundo e sorriu para ela e para o pequeno.
— Vejo que tenho muitas coisas a reconsiderar e ver por aqui.
— De fato, tivemos mudanças drásticas.
— Parabéns, então, e seu filhote é lindo.
— Sim! Um belo lobo, e de uma cor só! — Noah disse entusiasmado e cheio de orgulho.
— Maravilhoso!
— Prazer em conhecê-lo, Hian — Ester disse emocionada.
— O prazer é meu, alfa.
— Ah! Vamos celebrar! Konan... — Noah segurou seu rosto beijou sua face, depois a outra, o
que espantou a todos. — Quando me disse que ia para a Irlanda queria te impedir, pois não
queria que sofresse, mas agora eu te agradeço, e sei que está muito feliz.
— Sim, alfa, eu estou.
Não estava, pois seu coração sangrava, mas isso eles não precisavam saber.
— Ah, a propósito, agora me chamo Ethan.
— Bem, filho da puta, por isso não te achávamos.
— Me ensinaram bem a desaparecer.
— É, mas te achamos, finalmente e é bem-vindo em nossa Ilha dos Lobos.
Eles riram e todos se abraçaram e Erick chegou com Kira e Safira, abraçando Ethan e rindo, e
logo um a um dos lobos começaram a chegar e sim, ali tinha uma verdadeira recepção, para não
deixar nenhuma falsa impressão de que Ethan não era bem-vindo na sua alcateia.
E, pela primeira vez, em mais de doze anos, desde que se tornou um lobo solitário, ele se
sentiu em casa e entre os seus.
Sentiu-se querido e acolhido.
E quando seus olhos marejaram, ao ponto de não conseguir se segurar, ele não teve vergonha
de chorar.
Porque só um pária sabia como era a dor e a vergonha de ser rejeitado por sua alcateia e, ao
fim, ele não era e todos seus amigos demonstraram isso.
Konan deixou-os com sua festa e foi para casa, porque, apesar da felicidade da alcateia, o que
prezava muito, de poder trazer mais um lobo perdido, salvo mais um lobo do sofrimento, ele se
sentiu sozinho, triste e só.
Entrou em casa e abriu as portas da varanda, deixando o sol entrar, olhou para o mar e sentiu
que estava sozinho. Porque estava sem Cassandra.
E de que adiantava tudo aquilo se, ao fim, não a tinha?
Se ao fim, ela não lutaria por ele também. Como ninguém o fazia, todos o abandonavam,
rápido e fácil, sem remorsos, como se ele não valesse nada, como se não fosse importante.
Ilana tinha lhe perdido perdão, tinha sido um alívio, e agora estava morta e o que tinha
adiantado, ao mesmo tempo que lhe trouxe alívio causou o afastamento de Cassandra dele.
A dor se sobressaía agora e o engolia como um grande buraco negro.
Ele queria rosnar e gritar, xingar e bater, mas não fez nada, apenas olhou desolado, para o mar
e sentiu a solidão como nunca tinha sentido; e chorou em silêncio, ali, isolado na sua casa, fria e
vazia.

A ilha estava em festa há dois dias e estavam festejando não somente a volta de Ethan, mas a
de Karl, Alicia e sua filha.
Konan estava feliz por eles, por estarem de volta à alcateia e estarem seguros, mas seu
coração não estava feliz por si mesmo, estava negro, pesado, estava sofrendo.
A saudade dela o machucava, verdadeiramente. Tinha tentado se manter sorrindo e feliz,
animando todos, sendo o bom camarada de sempre, mas suas forças estavam indo, estava
cansado de fingir estar bem e feliz, ele queria ser ele mesmo, pelo menos uma vez depois de
tanto tempo.
Ele amava Cassandra.
Ela era bela, maravilhosa, a sua estrela. Como nenhuma em todo o universo. Mas ela não o
queria.
Pensou que poderia deixá-la ir, mas seu coração não queria.
Konan deixou escapar uma respiração entrecortada e cruzou os braços no peito e ficou ali,
paralisado olhando o mar.
O cheiro do mar não podia apagar seu cheiro de rosas impregnado em seu nariz, em seu
coração.
Necessitava-a.
Oh, deuses, amava-a! Ele a queria mais do que alguma vez tinha imaginado possível. Ele
recordava cada toque que lhe tinha dado. Cada risada que ela tinha tido a seu redor.
A forma como ela o tocava, com tanto desejo, com tanta paixão.
E ele não queria viver sem ela. Nem por um momento.
Suas palavras ainda doíam, mas depois de tudo quem podia culpá-la de querer fugir dele?
Konan quase tombou em seus joelhos, incapaz de suportar o pensamento de nunca voltar a
vê-la.
Então ele se perguntou e lembrou-se de sua reação.
Ela estava confusa e ele também, mas o que tinha de errado naquilo?
O errado é que ele mesmo tinha pensado em se afastar porque não podia lidar com seus
sentimentos, o fato é que aproveitou que ela recuou para recuar também. Assim a culpa seria dela
e não dele.
Ele teria alguém para culpar por sua infelicidade.
Semicerrou os olhos e pensou nisso. Ele não lutou e não insistiu, não tentou convencê-la de
que estava errada. Simplesmente tomou a decisão e virou as costas.
E se tudo o que tinha vivido, o passado retornando servisse de algo? Dar-lhe força para lutar.
Lutar pelo que desejava.
Ilana tinha o ferido, mas tinha se arrependido e o destino tinha a trazido no último suspiro
para lhe pedir perdão.
Onde no mundo isso poderia acontecer?
Alicia tinha voltado, mas ele não a amava e depois de tudo ela tinha se tornado a companheira
de seu irmão. E aquilo não tinha sido culpa dela.
E se fosse a hora de parar de se punir e ver tudo por outros olhos?
Ele respirou fundo, e xingou a si mesmo. Havia sonhado, havia almejado e acreditado que
seria possível que aquela humana o amasse, o aceitasse, tudo parecia ir bem e ele tinha baixado
seus muros, brigado contra seus próprios sentimentos. Disse que queria viver em vez de
sobreviver como ela tinha sugerido. E se ela o amava e fosse a companheira que os deuses
tinham feito para ele?
Nada em tudo o que passou equiparava com a sensação de vazio que seu coração foi tomado,
o arrependimento de ter acreditado novamente, deitado naquela cama na Irlanda, com ela
dormindo em seu peito, tinha dito a si mesmo que daria a chance que necessitavam e tudo havia
acabado. Ela não lutaria por ele, como as companheiras deveriam fazer?
Nunca esqueceria os olhos perdidos e chocados como ela o olhou.
Parecia tão perdida, ele podia entender isso, mas dizer que não podia com aquilo tudo, pelo
menos tinha sonhado que ela era diferente.
Konan queria chegar em casa e ter alguém para abraçá-lo, para perguntar como foi seu dia,
que se preocupasse com ele para variar.
Erick tinha razão, um dia este desejo chegaria e se sentiria só no mundo. Ele não queria estar
só, queria a ela, queria ter uma família com ela.
Não pensava nela somente nos momentos de cama, ela não era apenas diversão, ele sentia
falta do seu toque e de seu cheiro, de sua voz, então não era só diversão, era algo mais, algo que
já passou do controle, do divertimento. Era grande que não cabia mais nele: era amor.
Um amor que batia em seu peito e era verdadeiro, tão intenso e bonito que tinha certeza de
que levaria aquele amor ao seu túmulo e mais além.
Podia simplesmente dar as costas e deixar para lá ou era hora de lutar? Hora de deixar seu
passado para trás. Hora de ir lá e falar com ela e colocar tudo a limpo. Dizer que a queria como
sua companheira.
— Konan?
Konan arfou e se virou, aturdido ao ver Noah e Ester atrás dele.
— Alfas!
— Você está bem? — Ester perguntou.
— Sim... sim, estou bem.
— Por que não trouxe sua amiga para nossa celebração?
— Eu a deixei partir.
— Oh, você deixou?
— Ela não vai falar nada, alfa. Ela é boa.
— E vocês dois?
— Não há nós dois. Terminamos.
Ester respirou fundo e chacoalhou a cabeça, como se as palavras lhe tivessem aturdido.
— Não pensei que você fosse tão tolo de fazer tal coisa.
— Como? — ele perguntou sem entender.
— Você cometeu um erro e foi punido, no passado, e salvou a humana. Você pagou o preço,
mas foi perdoado. Sei que se culpa pelo que aconteceu com Alicia naqueles laboratórios, mas
não foi sua culpa e sei que poderia estar com seu orgulho ferido por causa de Karl, mas não
acredito que quisesse voltar com ela, de qualquer maneira — Noah disse.
Konan piscou aturdido.
— Sei que essa humana significa o mundo para você, porque eu vi nos seus olhos como olha
para ela. Então, você não é culpado pelo que os outros fizeram ou que já se foi. O que importa é
agora e é sua responsabilidade o que vai fazer com sua vida, com sua felicidade — Noah disse.
— Por que está me dizendo isso?
— Estou te dando minha bênção e minha aprovação para transformar sua humana em loba.
Konan o olhou aturdido, quase com os olhos arregalados.
— Quem disse que quero isso?
Noah respirou fundo.
— Eu não sou meu pai, Konan. Já devia saber disso. Meu pai não aprovava humanas, assim
como os seus, mas eu não tenho problema com isso. Eu vi que aquela humana e você eram
companheiros quando a vi nesta ilha, invadindo sua casa, defendendo você de mim. Erick
afirmou que era o certo a fazer. Como sabe, Erick tem uma visão bem avançada das coisas.
— Sim, que humana descobre vocês e mete o dedo na cara de um grandalhão como Noah,
rosnando e bufando, para defender... você? — Ester disse com um sorriso.
Konan suspirou.
— Ela é valente.
— Aquela mulher não tem vergonha de você, ela te defende, ela te admira, ela gostaria de sair
por aí e dizer: “olha, eu tenho o homem lobo mais maravilhoso do mundo ao meu lado”. Ela
lutaria por você em qualquer situação. Ela brilhará com você, Konan. E eu não acredito que você
queira ou possa abrir mão disso, sabe por quê? Porque você sente o mesmo. Assim, simples e
fácil. Você só está com dúvidas porque está com medo de abraçar a felicidade. Não tema. Agarre
e seja feliz. Viva sua vida plenamente. Porque se tem uma coisa que eu aprendi no mundo dos
lobos é que, em relação a companheiros, os deuses nunca se enganam, nunca decepcionam. Eles
dão aos lobos exatamente o que eles precisam — Ester disse.
— Ela é digna de você. Tudo o que fizer agora, Konan, a responsabilidade é sua, porque eu
neguei minha companheira quando a descobri e sofri e quase perdi minha mente tomado pela
raiva e remorso. Agora eu não abriria mão dela. Então, se você quer esta humana, vire as costas
para seu passado e olhe para o futuro. Aquela mulher vale a pena? Só você sabe se aquela fêmea
é uma mulher de valor e se vale a pena que ela esteja em nosso mundo. Se for, então a tome. Eu
sei que o que sente é o certo, sempre foi, pois sempre confiei no seu julgamento e foi por isso
que eu não contei ao meu pai para onde você enviou Ilana, porque eu sabia que, de certa forma,
ela precisava viver.
Konan olhou para Noah com os olhos arregalados.
— O quê? Você sabia do navio que eu a mandei embora?
— Sim eu sabia, eu vi com meus olhos, no cais.
— E omitiu isso de seu pai?!
— Eu fiz, me calei, porque achei que se você não queria contar, se estava disposto a sofrer
aquela punição, era por um grande motivo e eu te prometi que protegeria sua humana. Então,
Konan, o que aconteceu serviu somente para fazer você odiar as humanas e deixar sua
companheira de alma solta no mundo? Sem você? Ou pode usar isso para te dar forças para
lutar?
Noah bateu em seu ombro e saiu.
Konan nunca pensou que Noah viria a ele assim lhe dizer tais coisas, que tinha se arriscado a
ser punido e guardado seu segredo.
Mas não pôde deixar de admirar seu alfa, de acreditar que era o melhor alfa que teve a
oportunidade de conhecer. Noah se importava com seus lobos e tinha mudado muito depois de
assumir Ester.
Konan olhou para Ester, que continuava ali, parada, o olhando.
— A culpa destrói, eu sei, mas agora ninguém vai te punir por isso. Tome a sua felicidade na
sua mão, tome e segure.
— Como sabe de minhas culpas?
— Eu procuro saber o máximo de meus lobos, para poder cuidar deles. E você é um dos
meus, então eu me preocupo com você.
Konan a olhou e ela lhe deu aquele sorriso lindo e confiante. Sua alfa se importava realmente
com ele. Isso tocou seu coração, profundamente.
— Só porque não deseja o sentimento que habita seu coração, não quer dizer que ele o
deixará em paz. Talvez seja hora de mudar seus conceitos. Está na hora de se perguntar o que vai
te fazer feliz, Konan. Não é porque um deus disse que ela é sua companheira que você tem que
seguir, somente você sabe o tamanho do sentimento que carrega no peito. Mas se você a ama,
então é o bem que veio na sua vida. Amor é dado e recebido livremente, não adianta ninguém
impor. Mas o que sente aqui no seu coração é a sua verdade. Então viva ou deixe ir embora. Mas
o fato é que a ama e sabe que sua vida será miserável longe dela.
Konan olhou para Ester e ergueu a sobrancelha.
— O quê? Ainda não conhece minha sagrada sinceridade? Eu sempre achei você um lobo
muito sensato, inteligente, não me decepcione agora. Se deixá-la, cometerá o maior erro de sua
vida, e você tem tudo aí para provar, sua agonia, seus sentimentos, o tormento de quebrar as
regras que se impôs. Quem liga para regras, Konan?
— Achei que sim, mas agora... Eu não acredito que ela vá me querer depois de tudo. Nunca vi
aquela mulher recuar sobre nada, mas dessa vez eu vi.
— Não fique nas suposições, tenha certeza. Você está aqui, nessa festa, mas sua mente e seu
coração estão lá, depois desse mar. Então pare de se martirizar e descubra a verdade. Lute por
ela. O passado está morto, Konan. Amanhã se converterá em qualquer decisão que faça hoje.
Construa um futuro que te faça feliz. Você disse a ela que a ama?
Konan a olhou e franziu o cenho.
— Ela sabe.
— Sabe? Você disse?
— Não com palavras.
— Querido, mulheres humanas são muito sonoras e apreciam muito as palavras, elas
precisam ouvir. Precisa dizer a ela que a ama, que a necessita, então te garanto que se jogará em
seu pescoço e te retribuirá.
Konan respirou fundo e não disse nada.
— Se Noah não tivesse dado as costas para seu passado e suas culpas, lutado por sua
felicidade, hoje, eu e Lucian não estaríamos aqui.
O olhar de Ester o queimou e ele ficou sufocado.
Ester se afastou e Konan esfregou os olhos e passou a mão nos cabelos e quando se virou,
ficou paralisado olhando para Alicia, que estava um pouco distante, o olhando.
Seu coração deu um baque, porque ele soube que ela estava ouvindo. Seu olhar atormentado
dizia tudo.
— Alicia... eu...
— Não diga nada, Konan.
Ela se aproximou e parou na sua frente. Respirou fundo e o olhou com um leve sorriso.
— Eu ouvi a conversa e sei que agora tem uma humana na qual está apaixonado, que é sua
companheira de alma. — Ela riu. — Estou espantada com muitas histórias que ouvi, do que
aconteceu nestes anos todos que estive ausente. Fiquei espantada com Noah ter tomado uma
humana como companheira. Com Erick e sua Kira, Jessy...
— Isso...
— Não precisa mentir para tentar me poupar, Konan, eu não estou zangada porque ama a esta
mulher ou porque estive presa todos estes anos. Não foi sua culpa, nada disso foi sua ou minha
culpa, nem de Karl. Eu queria te dizer que não poderia continuar ignorando-o, sem enfrentá-lo.
Sei que o que houve comigo te machucou, mas você sabe que nossos laços se foram, você
mesmo não os sente. E queria te pedir perdão e que não nos desejasse mal, pois te amamos. Karl
te ama e te necessita.
Konan engoliu o nó na garganta.
Pelos deuses é que queriam matá-lo.
— Não lhes desejo mal, quero que sejam felizes.
Ela respirou fundo e sorriu, um tanto imperceptível.
— Vim aqui te dizer isso, mas então vi os alfas falando e não consegui me afastar e ouvi.
Você a ama?
Ele sentiu a palavra rolar de seu coração até sua língua e ele não sabia se podia dizer a
palavra.
Ele suspirou.
— Amo.
E o mundo de Konan deu mais um giro, porque ele conseguiu dizer isso em voz alta. A sua
realidade. A sua verdade.
— Aí está.
— Sinto muito.
— Sei que sente e não é sua culpa o que houve comigo ou que tenha se apaixonado por essa
moça. Tenho certeza de que se você a ama é porque ela é merecedora de seu amor.
— Mas nós tínhamos um compromisso.
— Eu sei e você tentar honrar isso realmente mostra quão bom é, mas eu não posso.
— Eu entendo.
Konan mudou o peso das pernas e cruzou os braços.
— Então, vá atrás de sua humana, de sua felicidade.
— Não quero que fique triste comigo.
— Eu não estou triste. Eu só preciso recomeçar, mas não posso fazer isso pensando que eu e
Karl, mesmo sem querer, te machucamos e que isso, de alguma maneira, te impeça de lutar por
sua felicidade, que desacredite.
— Você é preciosa.
— Espero que um dia eu consiga colar os cacos de minha vida também e encontrar a paz que
necessitamos para criar bem nossa filha e que ela possa conviver com o tio.
Ele respirou fundo e a puxou para um abraço.
— Você vai. Estarei aqui para ajudar.
— Eu sei, mas agora precisa ajudar a si mesmo.
Ela fungou, secou as lágrimas e sorriu.
Konan levantou o olhar e viu Karl segurando o bebê que dormia em seus braços. Respirou
fundo e foi ao encontro de seu irmão.
— Se houver algum meio que possa fazer e me perdoar... — Karl começou a falar.
— Não há nada a perdoar, Karl, quero agradecer por ter cuidado dela. Delas. Saber que estava
lá me reconforta... um pouco.
— Desejo sua felicidade.
— E eu desejo a sua.
Konan beijou a testa de Karl e da bebê e sorriu.
— Ela é linda. Tem minha bênção e estarei aqui para qualquer coisa que necessite.
Emocionado, Karl assentiu e Alicia se juntou a eles.
— Vá, vá logo, Konan, não adie mais nada. Vá atrás de sua humana e seja feliz.
Konan sorriu, virou as costas e correu. Correu o mais rápido que pôde até o trapiche onde
ficavam as lanchas ancoradas e saltou para dentro de uma delas e, quando ia ligar o motor, seu
celular tocou. Ele pensou em não atender, mas rosnou e o colocou no ouvido sem olhar o visor.
— O quê?! — rosnou zangado.
— Oi... oi... sou eu.
Konan piscou aturdido, olhou o telefone e o colocou no ouvido novamente e agora suavizou a
voz, ainda confuso.
— Cassandra?
— Sim.
— Oh, oi. Desculpe, não vi que era você.
— Hum... desculpe, não queria te interromper, acho melhor desligar.
— Não, pode falar!
— Está muito zangado comigo?
— Não. Fiquei, mas não estou mais.
— Desculpe.
— Pelo quê?
— Não queria dar a entender que não te queria. Estava assustada, só. Foi muito para
digerir.
— Eu sei que estava, isso tudo que passamos foi bem... intenso.
— Você... vai ficar com sua loba?
Konan praguejou e respirou fundo.
— Não, Cassandra, nós conversamos e não vamos ficar juntos. Nosso mundo não anda mais
junto, ela tem outra pessoa que cuidará dela. Não há mais nada entre nós.
E eu amo você. Quis dizer, mas as palavras não saíram.
Houve um silêncio do outro lado e Konan se preocupou.
— Está aí?
— Sim.
— Por que está ligando?
— Estou ligando porque precisava te dizer... depois que partiu me senti muito mal.
— Eu também.
— Porque eu fiquei em choque quando descobri que o homem que minha avó amou na
adolescência era você. O homem dos seus contos de fadas.
— Foi algo inesperado. Também fiquei muito chocado.
— Eu sei, deve ter sido um choque para você assim como foi pra mim. E eu não quero estar
em um quarto de hospital daquele jeito, sei lá daqui a quanto tempo. Eu não quero sentir o que
ela sentiu antes.
— O que ela sentiu?
— Teve uma vez em seu aniversário que eu perguntei o que ela queria de presente e ela me
respondeu que queria poder voltar no tempo para corrigir seus erros, e ela me disse que o pior
dos sentimentos era o remorso de seus erros. Não poder consertá-los. Ela o amava e foi covarde
e eu não quero cometer este mesmo erro, porque daqui a alguns anos, quando eu estiver
velhinha, eu sei que eu estaria lamentando por ter deixado você ir. Porque o amor que tenho no
meu coração é forte o suficiente e muito maior do que sequer possa imaginar e ele pode superar
estes medos.
Konan não podia respirar ouvindo tudo aquilo.
Ela o amava?
— Sabe o que está falando?
— Sim. Você faz eu me sentir a mais bela, a mais perfeita, a mais amada. Eu gosto da forma
como me olha, como me toca. Nunca me senti tão segura, mesmo correndo perigos. Eu sabia que
estaria lá por mim.
— Você é a mais linda para mim.
— E você é o ser mais precioso que entrou na minha vida.
— Mas não quis ser minha loba.
— Nunca fui uma pessoa medrosa e, agora, o único medo que sinto é de não estar com você
daqui a 300 anos. Eu nunca encontrei um homem que fosse tudo isso que você é, que me
valorizasse como eu queria ser valorizada.
— Mas não sou um homem somente.
— Não. É meio-lobo e eu preciso te dizer que eu amo seu lobo.
— Ama?
— Sim, amo cada pedacinho, cada lado seu. Eu quero estar com você daqui a trezentos anos,
quinhentos ou seiscentos, para a eternidade. Eu nunca senti medo de sua raça, de seu lobo ou de
seus amigos, de você. Uau, isso é realmente fascinante e lindo e eu amo isso tudo, mas fiquei
chocada com minha avó e saber que vive tantos anos e que somente poderia estar contigo se
fosse uma loba me assustou. Mas agora eu sei que posso fazer isso, eu quero fazer isso. Que
aquele medo é superficial comparado ao medo de ficar sem você. Então, eu pensei que não
sentia nada por mim, que era somente sexo, mas depois eu acho que estava errada. Você me
ama, mesmo que não saiba ainda e se me quiser como sua companheira, aqui estou, e que me
morda e me transforme em sua loba para toda a vida. Agora sei que não me queria porque sou
humana, mas posso ser forte pra ser sua loba. Se não me quiser, então, vou entender. Mas antes
te chutarei o traseiro para que caia na real e entre na sua cabeça-dura que eu o amo, com todo
meu coração e que sou forte e digna de você.
Konan fechou os olhos e deixou todas aquelas palavras, a declaração dela entrar no seu
coração e sua alma.
Ela o queria. Ela o aceitava. O amava.
Ele riu, porque sim, era hora de ser feliz e viver. Ao inferno com seus traumas, era hora de
recomeçar. Queria a ela e a teria.
Sua companheira de alma.
— Onde você está?
— No clube.
— Estou indo aí. Não saia daí.
Ela riu e fungou e ele soube que ela estava chorando.
— Estou esperando.
Quando Konan chegou com o carro na frente do clube havia uma gritaria e correria para todo
lado. Ouvia tiros e coisas quebrando.
— Mas que merda!
Ele saiu correndo do carro e rosnou, entrando no clube, e tudo era um caos.
— Cassandra! — gritou.
Havia briga para todos os lados, tiros e barulho de garrafas e copos sendo quebrados e mesas
e cadeiras.
— Cassandra! — gritou andando e empurrando um e outro e as pessoas iam saindo porta
afora, correndo e se empurrando.
Ele avistou Cassandra e ela estava na frente do palco e brigava com um homem enorme, e
musculoso.
Mas ela não estava intimidada, soltava gritos e golpes, atingindo-o com toda força, ora com
os punhos ora com os pés. Konan rosnou quando viu o homem derrubá-la.
Ele correu pelo clube e, quando o homem ia bater nela com um soco, ele sentiu o baque de
Konan, que o atingiu no peito, e o homem voou batendo num dos pilares e caindo, fazendo
cascalhos de gesso voarem.
— Konan!
— O que é isso?
— Tullo! Estão quebrando tudo — ela disse desesperada.
— Vamos, saiam daqui! — Konan gritou para as pessoas correrem e assim foi. — Vamos,
vou te tirar daqui.
— Não vou sair, não posso deixá-lo destruir tudo!
— Merda!
Cassandra gritou raivosa, correu e saltou com uma velocidade impressionante e bateu o pé no
rosto de um dos homens de Tullo, que puxava as toalhas das mesas derrubando tudo que havia
em cima; e, quando ele caiu, ela bateu em sua cara, deixando-o desacordado.
Konan foi atrás dela e ambos começaram a lutar contra eles.
Então Konan avistou tudo como se seu mundo tivesse perdido a velocidade e andasse em
câmera lenta, porque jamais esqueceria a cena na sua vida.
Tullo apareceu entre os pilares, apontou uma arma e disparou.
Konan girou o corpo para proteger Cassandra, mas não deu tempo, ela gritou e saltou.
— Não!
Ele rosnou com aquilo, e o terror tomou conta de seu ser. Cassandra foi atingida no peito. O
impacto foi tão grande que ela voou para trás, bateu em Konan, que se chocou com o vidro do
aquário, que rachou.
A pressão da água causou uma explosão e o vidro se partiu, toda a água desceu, trazendo as
plantas e os peixes sobre eles e derrubou quem estivesse na frente.
Konan agarrou Cassandra e a tirou da água e puxou-a para o canto. Ele rosnou e olhou na
direção onde Tullo deveria estar, mas não estava mais.
Tiros e coisas quebrando ainda eclodiram no lugar, e havia uma parte em chamas, mas Konan
não via mais nada, somente a mulher amada ferida em seus braços.
Suas costas estavam cortadas e sangrava, mas a dor dele não era importante agora, ela era.
Ele a deitou no chão e tentou ver o ferimento em seu peito: estava negro e parecia quente e
brilhante como fogo aceso e sangrava.
— Cassandra!
— Konan... eu não quero morrer... — arfava gemendo e seus olhos se encheram de lágrimas.
— Você não vai morrer. Shhh, vou dar um jeito nisso, prometo.
Ele a pegou no colo, correu pelo salão e entrou no corredor que saía atrás do bar e fechou a
porta, a colocou no chão, rosnando por sua dor nas costas, mas não importava.
— Calma, vou conseguir ajuda.
— Konan... Eu amo você...
Konan piscou aturdido, não sabia se era pelo choque de vê-la naquele estado, agonizando à
beira da morte ou por ouvir que ela o amava, como se fossem sua despedida.
Foi como se uma salva de tiros tivesse atingido seu peito.
— Cassandra! Por favor, você não pode morrer, entendeu? Cassandra!
Sua mente sofreu um baque e seu coração também. Cassandra estava morrendo nos seus
braços, e quando ela parou de arfar e ficou estática, com os olhos olhando o vazio, então ele fez a
única coisa que talvez pudesse salvá-la.
Passou a mão atrás de sua nuca e a ergueu, fez suas presas alongarem e, sem perder mais
tempo, ele a mordeu no ombro.
Quando ele sentiu o gosto metálico do sangue em sua boca, ele rosnou e soltou de seu ombro
e rosnou alto, então não conseguia se lembrar das palavras. Ele não sabia.
— Maldição.
Ficou desesperado, porque não se lembrava das palavras do ritual no qual deveria dizer para
completar o ciclo.
Ele pegou o celular e discou o primeiro número que apareceu na sua agenda.
Quando ouviu uma voz masculina do outro lado mal conseguia respirar.
— Diga-me quais são as palavras.
— Que palavras? Konan? O que há?
— Por favor, me diga as palavras para passar a magia do lobo, por favor, diga rápido, ela está
morrendo. Eu não consigo me lembrar.
Houve um silêncio.
— Fala, porra, antes que ela morra, Erick! — gritou junto a um rosnado.
— Thas mi a 'roinn mo aname agus mo dheraoidheachd. E a segunda parte é Thoire do
Madadh-allaidh.
Konan soltou o celular sem desligá-lo, abraçou-a contra seu peito e começou a sussurrar uma
e outra vez a frase do ritual, mordeu-a novamente e recitou a outra parte, embalando-a para
frente e para trás, com o coração desesperado e com as lágrimas soltas.
Ele não suportaria se ela o deixasse. Era a verdade de sua vida. Ela era sua companheira e ele
a amava. E tinha sido tolo de não querer aquilo.
Agora se ela o deixasse, ele não suportaria. O mundo sombrio o engoliria e, dessa vez, não
haveria nada que pudesse salvá-lo.
Porque ela o tinha salvado, tinha o amado e feito rir, ter alegria, ter sonhos.
Ele precisava dela.
Quando ele ouviu um grito que veio do celular, não queria ouvir porque não queria falar e
perder sua atenção dela, mas respirou fundo e se afastou do pescoço dela no qual estava
embrenhado e abriu os olhos.
Ele viu a sua magia liberta, estava ao redor deles, movendo-se como um redemoinho colorido
e olhou para ela, que mantinha os olhos fechados. Ele colocou o ouvido em seu peito, sem se
importar pelo sangue e ouviu um leve bater de seu coração, tão fraco, que pensava que o barulho
era o seu batendo e não o dela.
Ele gemeu e beijou seus lábios.
— Por favor, fica comigo, fica comigo, não me deixe, Cassandra!
Ao longe ouvia alguém chamar seu nome e com as mãos trêmulas e cheias de sangue pegou o
celular.
— Konan!
— Preciso de Ester! — Konan gritou desesperado. — Cassandra está muito ferida.
— Onde você está?
— No clube.
— Estamos indo, aguente aí.
— Não, ouço sirenes, acho que a polícia está vindo.
— Pode sair?
— Tenho um carro.
— Saia daí e vá para a casa da marina, agora! Esteja no heliporto que o pegaremos ali com
o helicóptero em alguns minutos.
— Ok.
Ele olhou ao redor e não havia ninguém por perto deles, mas ouviu o som do caos, mas isso
não importava agora. Pelos deuses, ele nem sequer tinha pensado que alguém poderia tê-lo visto.
Ao inferno, ele não se importava. Somente ela importava.
Ele a pegou nos braços, levantou e gemeu pela dor que sentiu com o movimento. Havia
algum problema em suas costas, mas o impacto maior foi pela quantidade de sangue no peito
dela.
Ela estava tão mal que não sabia se resistiria, talvez sua magia não fosse forte o suficiente
para mantê-la viva.
— Aguente, Cassie, estamos indo, você é forte, vai conseguir, só precisa ficar comigo.
Konan rosnou e saltou de onde estava com ela nos braços e atravessou o corredor saindo na
saída emergência. Com o pé, bateu nas portas duplas e saiu na rua de trás do clube.
Foi o mais afastado que pôde ir e não havia movimento, mas não parou para ver quem era que
poderia estar ao redor, apenas deslizou pelas sombras até chegar a seu carro.
Colocou-a no banco, deu a volta, entrou e meteu o pé no acelerador saindo pelas ruas
cantando os pneus. Felizmente, tarde da noite como era, não havia movimento nas ruas, o que
não lhe importou de desviar de carros, passar sinais vermelhos e andar acima da velocidade.
Só o que precisava era salvar a vida dela.
Ela estava respirando com dificuldade e fazia um chiado cada vez que puxava o fôlego, o que
era bem ruim.
— Tudo bem, querida, aguente mais um pouquinho, pois já estamos chegando e Ester vai te
ajudar.
Ao mesmo tempo que ele chegou ao heliporto, o helicóptero desceu e ele entrou com ela,
colocando-a sobre os bancos traseiros.
Virna, que veio junto no helicóptero, começou os cuidados preliminares.
— Mas que merda, o que é isso que a atingiu?
— E eu que sei? Parecia uma arma comum, mas isso cheira a queimado.
— Sim, parece queimado, este ferimento não está normal.
— Tudo bem, querida, eu estou aqui, vai ficar tudo bem.
Quando o helicóptero desceu no heliporto da ilha, Konan a pegou no colo e correu o mais
rápido que pôde até a clínica, ele a colocou na mesa de operações onde Ester já os aguardava e
foi puxado para longe, mas Konan rosnou, pois não queria se afastar.
— Konan... preciso que saia, vou tratar dela, mas você fica lá fora! — Ester gritou.
Konan rosnou e não se moveu.
— Noah, leve-o para lá e veja se tem ferimentos graves que precisam ser tratados
imediatamente, vejo muito sangue aí, precisamos saber o que é dele.
Noah o levou para fora e o fez sentar numa cadeira, mas teve que usar a força, pois Konan
estava no seu instinto protetor de lobo e não queria se afastar de sua companheira.
— O que houve, Konan? Conte-me para que o ajude a limpar esta bagunça.
Konan, respirando com dificuldade, tirou os olhos da porta e olhou para Noah, na sua frente.
— Foi um ataque... estavam destruindo tudo no clube e atiraram nela.
— Tem rastro de lobo no clube?
— Não.
— Alguém te viu transformado?
— Não.
— Ok, fale-me quem os atacou.
— Quando cheguei havia uma gritaria, humanos estavam correndo para fugir. Como já era
tarde, não estava lotado. Entrei e havia vários corpos no chão, da gangue de Tullo, humanos
baleados. Eles tinham invadido o clube atiraram por todo lado, ela estava lutando bravamente,
precisava ter visto. Derrubou muitos deles, brigando como uma guerreira. Teria tido orgulho
dela, alfa.
— Tenho certeza que sim.
— Lutou, sozinha, com todos eles e acredito que somente tenha sido derrotada porque foi
covardemente atingida por uma arma. O tiro a atingiu e caímos para trás e bati no aquário, houve
um estouro e não sei, talvez algum tiro atingiu o vidro, ou eu, não sei, e se quebrou. Ela foi
atingida.
— Ela é muito valente.
— Sim, ela é.
— Sempre achei sua companheira valente, destemida e a achei digna de um lobo,
principalmente digna de ti, Konan.
— O tiro era para mim.
— O quê?
— Ela se jogou na minha frente e o tiro a atingiu, no meu lugar. Ela fez isso para me salvar...
— Hum... entendo... Eu estava certo desde o dia que ela invadiu minha ilha e empinou seu
bonito nariz para te defender de mim. Ali eu soube que ela derrubaria muitos pilares na Grécia e
ainda estaria em pé para te acompanhar na sua longa jornada. Ela vai sobreviver.
Sim, ela era sua companheira, não porque era uma loba agora, mas ela era tudo para ele,
antes, antes de tudo, na primeira vez que a viu ele estava rendido, somente foi muito teimoso
para aceitar.
Mas agora, ele estava aberto, exposto, temeroso e apavorado. Se a perdesse, então se perderia,
porque não haveria dor maior nesse mundo que perdê-la. Não, não podia. Ele a amava e
precisava dizer isso a ela.
— Ela não pode morrer.
— Ela não vai morrer, suas costas estão sangrando, deixe-me ver isso.
— Preciso dizer a ela o quanto é preciosa, que a amo.
Noah respirou fundo, Konan estava em choque.
— Poderá dizer isso logo, amigo, aguente firme que tudo se resolverá.
Konan não se mexeu, mas Noah rasgou sua camiseta e xingou. Havia muitos cortes em suas
costas e ele arrancou um pedaço de vidro.
— Bom, você tem bons talhos aqui, acho que será o próximo a ser costurado.
Jessy chegou com uma bacia com bandagens e panos e olhou suas costas.
— Não se preocupe, Konan, vou cuidar de suas costas enquanto a alfa e Virna cuidam de sua
companheira. Fique tranquilo, tudo ficará bem.
Konan assentiu, sem dizer nada e mantinha os olhos cravados na porta.
Ele ficou ali por um longo tempo, que parecia uma eternidade, mas não viu quando Ester saiu
da sala de cirurgia, porque ele tinha caído antes.
Noah colocou-o numa maca, de bruços e ele mesmo tinha começado a suturá-lo, ajudando
Jessy e depois Ester veio ajudá-lo.
— Que bagunça — Ester sussurrou, cansada.
— Sim, mandei alguns lobos cuidarem do clube e saber mais, mas a polícia está por toda
parte. Erick vai cuidar da burocracia e enganar os policiais.
— Por que os lobos não podem arrumar uma companheira assim, pacificamente? Tem que
ficar sendo estripados e caminhar no vale das sombras da morte o tempo todo? Mal acabei de
tirar seis balas desse cara e olha como está novamente. Jesus!
Noah riu de seus xingamentos.
— Parece que não, doçura.
— Vou precisar de umas férias.
— E você que achou que morar nessa ilha seria aborrecido.
Ester riu.
— Se isso for aborrecido, eu sou Madre Tereza.
— Como ela está?
Ester respirou fundo e perdeu o sorriso, limpando um dos cortes.
— Olha, não quero desanimar, retirei a bala, mas há uma queimadura ao redor. Não sei o que
tinha, mas me parece muito estranho, vou acompanhar sua cura, como uma loba agora, espero
que se cure e aquilo deve sumir, mas nunca vi algo daquele tipo. Seus sinais vitais estão muito
fracos, não está reagindo. Não sei se vai sobreviver, Noah — sussurrou triste, na sua mente, para
não correr o risco de Konan ouvi-la.
Noah olhou para Ester com o cenho franzido, estranhando tudo aquilo, preocupado, e olhou
para Konan, que com os olhos fechados sussurrou algo, inaudível:
— Eu a amo... Não me deixe.
Ester e Noah se olharam e suspiraram prevendo o pior.
Cassandra abriu os olhos e lutou contra a inconsciência, virou a cabeça para o lado e seu olhar
encontrou o de Konan, que a olhava apreensivo, piscou cansada e gemeu pela dor.
— Oi, querida.
— Oi... — sussurrou, fraca, recebendo oxigênio pela cânula no nariz.
Konan acariciou seus cabelos e sua testa, retirando um fio de cabelo que caía no rosto e
sorriu.
— Onde estou?
— Na minha ilha. Está na clínica. Ester está cuidando de ti.
— Ester... a loba... alfa?
— Sim, ela é médica e tem a Virna, que também é, e Jessy, que é a enfermeira. Tem bastante
gente cuidando de ti e eu estou aqui, não saí.
— Está ferido?
Ele ficou comovido com sua preocupação.
— Não, eu estou muito bem.
Ela respirou fundo e fez uma careta.
— Não se preocupe, querida, você vai melhorar e logo sairá dessa cama e, então, vou poder te
mostrar como se transformar em loba.
Ela sorriu fracamente.
— Sou uma loba? Mordeu-me.
— Sim, você é, e acredito que será a loba mais linda do mundo, seus cabelos estão mudando,
já cresceram um bocado, está lindo e seus olhos...
— O que tem meus olhos?
— Ficaram âmbares, lindos.
— Tem algo errado com eles?
— Não, querida, estão lindos — mentiu.
— Parece estar mentindo... o que há com eles?
— Nada, quando melhorar poderá vê-los por si mesma, eu os amo. Durma, meu anjo, eu
ficarei aqui do seu lado, prometo.
— Dói.
— Eu sei. Sei que dói, mas vamos achar um jeito de fazer melhorar, ok?
Ela piscou novamente de forma mais lenta e pesada.
— Eu... Eu amo você, Cassandra. Tem que ficar comigo, entende?
Ela piscou novamente e suspirou, apertando sua mão.
Konan soube que isso a emocionou, pois uma lágrima escorreu de seu olho, caindo pela sua
têmpora e ele secou antes que se embrenhasse em seus cabelos. Engoliu o nó que estava em sua
garganta e seus olhos se encheram de lágrimas.
— Não precisa me dizer isso... porque estou aqui... morrendo.
— Não estou dizendo isso por nada disso e não está morrendo, eu sinto isso e... preciso que
me ouça. Ouça atentamente, ok?
Ela piscou.
— Você é minha companheira, minha companheira de alma, a que os deuses me mandaram e
eu fui um idiota tentando não querer, brigando com o que eu sentia. Mas como não amar esta
pessoa que encantou meu coração? Você me deu muita alegria e esperança. Perdoe-me se te
magoei e... precisa ficar comigo, entendeu? Porque te necessito, temos uma longa vida pela
frente. Se me deixar não viverei, porque minha alma terá morrido junto. Precisa ficar comigo.
— Ficarei — sussurrou emocionada e mais uma lágrima rolou dos seus olhos.
— Perdoe-me por não estar lá para te proteger melhor.
— Está demitido.
Ele piscou aturdido e olhou com o cenho franzido.
Então, ela deu um sorriso fraco e ele riu, porque viu que estava brincando.
E ele a amou mais, porque estava sempre brincando, mesmo ali, sentindo dor.
— Amo você, Konan...
Ele engoliu em seco e as lágrimas escorreram. Seu peito doía, e não conseguia esconder sua
dor e preocupação, a avalanche de emoções que o atingia, seu medo de perdê-la.
De todos seus desesperos sofridos na sua vida, de todos os acontecimentos que atravessou nas
últimas semanas, agora ele sentia que havia se rompido de vez. Cassandra era seu ponto fraco,
ele soube e se a perdesse, estaria perdido, não haveria nada que o consolasse, o segurasse. Não
haveria força no mundo que o faria se recuperar.
— Amo você, Cassandra.
Ela suspirou e finalmente se rendeu ao medicamento que a fez dormir e Konan chorou
baixinho.
Ele ficou ali, acariciando seu cabelo e beijou sua mão.
Quando Ester entrou no quarto ele levantou, pigarreou e se virou secando as lágrimas e tentou
disfarçar. Não queria que o vissem chorando.
Ester viu, mas fez de conta que não. Não queria ferir o orgulho de Konan.
— Ela dormiu — ele disse.
— Sim, o remédio fez efeito, assim não ficará com dor.
— Por que ela não se cura? O que há de errado?
— Não entendo o que acontece, ela foi transformada em loba há três dias, deveria estar
curando e, no entanto, está piorando, eu nunca vi algo assim, isso não é de uma arma comum, eu
não sei o que fazer.
— Aquela coisa que a atingiu poderia estar envenenada?
— Pode ser algum tipo de veneno, sim, fiz alguns testes, mas não descobri algo que
queimasse a carne dessa maneira, não sei qual produto era que envolvia a bala.
— Sua pele está ficando cinza, suas veias estão negras e olhe seus olhos! Estão um de cada
cor e o branco dos olhos está enegrecendo!
— Estou vendo e não sei o que poderia causar isso. Já usei todos os recursos que conheço e
temos que apelar para algo sobrenatural. Se isso for algo do além, então teremos quer encontrar
algo que a cure.
Ester foi até ela e abriu sua pálpebra e ao ver seus olhos se afastou assustada e xingou.
— Merda, isso está ruim!
— O que podemos usar? — Konan perguntou apavorado.
— Bem, chamarei Kira, ela é uma bruxa, talvez possa descobrir o que ela tem, mas temos que
encontrar algo rápido, pois esse negócio que está tomando conta dela está piorando.
Ele rosnou, agitado e seus olhos cintilavam.
— Konan, não se preocupe, nós daremos um jeito de curar sua companheira.
— Não posso perdê-la.
— Não irá, é um juramento, moverei céus e terra. Kira salvou Liam uma vez, curando suas
feridas, ajudou Annelise, tenho certeza de que poderá nos ajudar... eu acho. E se ela não puder,
acharemos outra pessoa.
Ester pegou o celular e ligou para Kira.
— Oi, querida, será que podes vir à clínica, temos um problema... Sim, com Cassandra.
Alguns minutos depois, Kira e Erick estavam no quarto.
— O que há?
— Obrigada por terem vindo, queridos. Temos uma situação sobrenatural aqui, pois não sei
tratar disso. O que a atingiu não foi uma arma humana ou continha algo nela que a envenenou.
— Pensei que era uma bala de uma pistola normal — Erick disse confuso.
— Parecia. Quer dizer, a bala parecia normal, mas devia ter alguma coisa nela que a está
transformando, o ferimento contém uma queimadura enegrecida ao redor, e há algo a infectando
que parece estar entrando em suas veias, seus olhos também estão mudando. Fiz tudo que podia,
agora temos que apelar, se não consertarmos ela logo, morrerá, pois está ficando fraca. Talvez
você consiga descobrir o que é.
Kira puxou o lençol e arfou horrorizada.
— Por Zeus, isso está feio!
— De ontem para cá está piorando rapidamente, ao invés de se curar está corroendo-a. Olhe
isso, nunca vi isso na minha vida.
— Não faço ideia do que seja, mas tentarei curá-la, parece que realmente tinha algum veneno
na bala e está se espalhando.
— Pensei em mandar a bala para Sami analisar, mas acho que com sua magia, o negócio pode
andar mais rápido.
— Ok, tentarei.
Kira fechou os olhos, estendeu as mãos sobre ela e, sussurrando, ia recitando um
encantamento de cura.
O ferimento de seu peito começou a perder o tom negro e foi diminuindo, até que o buraco da
bala que parecia uma queimadura bem feia começou a se fechar.
Todos olhavam atentos e pareceram se acalmar ao ver a cura acontecer, inclusive Konan que
estava ao lado dela, segurando sua mão, nervoso, esperançoso que isso ajudaria Cassandra, então
a cura estagnou, mesmo Kira continuando a recitar o encantamento e posicionar suas mãos sobre
seu peito.
Cassandra abriu os olhos, começou a arfar e parecia que estava com dor e a se debater
fortemente na cama, soltando rosnados e gritos estranhos.
— Calma, querida, ela só quer ajudar — Konan disse, segurando-a.
Cassandra se debateu mais forte e seus olhos mudaram e ficaram completamente negros.
— Kira, pare! — Ester gritou.
Kira parou e Erick chegou ao seu lado.
Cassandra arfava como se estivesse engasgada e Konan a segurava contra a cama.
— Mas que inferno! O que é isso?
— Ela não aceita minha cura, pelo menos não com este encantamento simples, creio que seja
algo mais complicado e específico. Erick, não me recordo de ver nada disso no Grimório que sua
mãe me deu e não conheço outro encantamento de cura. Mas, pelo que sinto, não é humano.
— O quê? — Konan perguntou espantado.
— Isso não me parece algum veneno que tenhamos conhecimento no nosso mundo. Se fosse
eu poderia curá-la, mas minha magia somente a faz piorar, a partir de agora, não consigo
remover o que está em suas veias.
— Tudo bem, querida, não se culpe, ainda está aprendendo e é muita coisa para aprender,
talvez necessite de alguma magia específica.
— Sim, talvez, mas para saber qual feitiço usar, necessito descobrir o que é. Não poderei
curá-la sem saber o que preciso curar, já que é algo sobrenatural. Preciso de outro Grimório, no
meu não há nada sobre isso. Talvez possamos pedir para sua mãe, ela deve conhecer.
Erick acariciou sua bochecha vendo sua frustração e olhar preocupado.
Kira se virou e olhou para Cassandra e tocou sua testa.
— Sinto muito, Cassandra, pesquisarei e encontrarei um feitiço para isso, prometo.
Cassandra soltou um grito estridente, mas que parecia estranho ao som de um humano ou um
lobo, saltou da cama arrancando as endovenosas e os plugues dos monitores.
Num salto extraordinário, agarrou Kira pelo pescoço e voou com ela pelo quarto e imprensou-
a na parede e soltou outro chiado que quase deixou todos surdos.
— Mas que merda! — Konan rosnou.
Erick saltou sobre Cassandra, puxou-a e a jogou longe e se prostrou diante de Kira para
protegê-la. Rosnou, cintilando os olhos e alongando suas garras.
Cassandra girou no ar e, antes que batesse na parede se virou, agachou e pousou no chão,
gritando novamente e suas garras agora estavam alongadas e suas presas descobertas. As veias
que subiam do peito para o rosto estavam bem negras, salientes em contraste com o cinza de sua
pele. Era uma visão aterradora, o que deixou todos espantados e assustados.
Konan, mesmo sem entender o que estava acontecendo, se colocou na frente de Cassandra,
que estava agachada no chão e chiava como um animal, que não era um lobo.
— Não se aproxime, Erick! — ele gritou.
— Ela atacou minha companheira!
— Eu vi, mas ela está assustada e fora de si, não quis machucar sua companheira!
Konan olhou para trás e Cassandra saltou sobre ele derrubando-o no chão, com uma força
descomunal.
Ester e Erick saltaram sobre eles, seguraram Cassandra, tentando tirá-la de cima de Konan.
Cassandra jogou Ester longe, que bateu na mesa de instrumentos cirúrgicos, derrubando tudo
e tombou no chão. Konan e Erick, usando toda sua força, agarraram-na e a derrubaram contra a
cama e ela gritou, esperneando e tentando se soltar.
— Ajudem-me a segurá-la!
— Jesus, de onde saiu essa força?
— O que há com ela? — Konan perguntou assustado.
— Deve ser essa coisa que está dentro dela, não nos reconhece e a está deixando agressiva e
descontrolada.
— Vou chamar minha mãe, quem sabe ela pode descobrir o que é e ajudar.
Kira movimentou as mãos e lançou um raio sobre Cassandra que se transformou em uma
espécie de manta, que a prendeu na cama, e eles a soltaram, apreensivos.
Ela soltou outro grito e eles gemeram pela dor nos ouvidos.
Kira movimentou a mão novamente e uma fita apareceu em sua boca.
Konan olhava aquilo com os olhos arregalados, sem entender e sofrendo por ela.
— O que está fazendo? — ele perguntou.
— Assim ficará presa até que possamos tirar isso dela, mesmo com sua força não poderá se
livrar do feitiço — Kira disse ofegante.
— Ok. Mas não a machuque.
— Ok, prometo que não o farei. Desculpe, Konan.
— Não precisa se desculpar, mas pode chamar sua mãe, Erick? Olhe seus olhos, isso não
parece o olho de uma loba, ela mudou. Isso não é normal.
— Tranquilo, Konan, daremos um jeito de descobrir. Mãe, pode me ouvir? Necessito sua
ajuda, agora! — Erick disse olhando para o teto.
Dali alguns segundos Vanora apareceu na sala assustando a todos.
— Olá, necessitam de mim? Oi, filho.
— Oi, mãe. A companheira de Konan foi atingida no peito por uma arma humana, mas parece
que continha algo mais e Kira não está conseguindo curá-la. Pode ver o que é? Seu
comportamento está agressivo.
— Claro.
Vanora se aproximou da cama e ao olhar para Cassandra, arregalou os olhos.
— Por Morrigan!
— O que é?
Vanora olhou para Konan e para Cassandra, que respirava fazendo um chiado no peito,
tentando se soltar.
— Isso é sangue de um Unseelie.
— Sangue de quê?
— Uma criatura do mundo Fae. Seu sangue é venenoso aos humanos. Por isso suas veias
estão negras e seus olhos estão como as de um elfo, mas o branco agora está sendo infectado
pelo sangue negro. Quando foi atingida?
— Três dias.
— Hum... Ela ainda vive porque é uma loba, a magia do lobo é forte e a está segurando, mas
não resistirá muito tempo, pois a porção que a atingiu era alta. Se fosse humana já teria morrido.
— Mas era uma bala pequena, e seria uma quantidade mínima.
— Uma gota é capaz de matar um humano em poucas horas. Ele fica sob o domínio do
Unseelie ou quem o domina e se não for retirado o sangue de seu corpo num determinado
período de tempo, o corpo morre.
— Como ela teria sangue desse tal Unseelie?
— Unseelies são criaturas malignas, algumas têm o alto poder, e dominam criaturas do
submundo de sua espécie. Não fazem mal aos outros reinos porque se bastam dentro de seus
mundos. Antigamente poderiam ser travessos e atravessar o reino humano e lhes causar dano,
hoje, isso seria inviável e impossível, a não ser...
— A não ser...?
— Que tenha sido convocado por uma... bruxa.
— Que bruxa faria tal coisa? E por quê?
— Uma que queira fazer maldades, que tenha grande poder. Poucas teriam tal poder.
— Do que está falando, mãe?
— De alguém que pensei estar morta — disse pensativa.
— Quem é?
— Ítaca.
— Quem é Ítaca?
— Uma bruxa da antiga casta. Minha tia.
Erick se empertigou.
— A que me sequestrou?
Vanora olhou para Erick.
— Sim.
— Por que ela faria tal coisa? Convocar um Unseelie, atacar Cassandra?
— Ela devia estar à espreita, vasculhando, bisbilhotando. Quando nosso mundo se abriu, ela
deve ter sabido, porque foi ela quem fechou. Ela seguiu os rastros. Cassandra e Konan estiveram
no círculo de pedra onde Erick foi deixado, não? E os trouxe até aqui como sementinhas
deixadas no caminho para que os seguisse. Até que soubéssemos que ela está por perto.
— Mas foi Tullo que a atingiu, um humano.
— Esse tal Tullo pode ter sido somente um peão, um meio de atingir Cassandra, uma
travessura, apenas.
— A bala era para mim, pelo menos eu o vi mirando em mim, Cassandra se colocou na minha
frente, por isso foi atingida.
— Hum, eis que realmente estivesse querendo armar uma boa bagunça e Tullo tinhas bons
motivos para destruir Cassandra. De uma maneira ou outra, os dois foram atingidos.
— Acha que ele fez um acordo com essa tal Ítaca? Acha que foi envenenado com sangue de
Unseelie e com isso pode comandá-lo.
— Um humano morre em horas pelo sangue, ele a esta hora estaria morto, ou ela retirou antes
que morresse, se o quisesse mantê-lo vivo. Ou a tal bruxa lhe fez um feitiço para comandá-lo,
não precisaria de muito para fazê-lo destruir Cassandra, já que ele a odeia. É fácil para uma
bruxa tomar a mente de um humano. Transformá-lo em mero servo de suas maldades e
travessuras.
— Por que ela faria isso?
— Ela está mandando um “olá” para mim.
— Temos que nos preocupar com isso?
— Não, crianças, não precisam se preocupar, cuidarei disso mais tarde. Ítaca é problema meu.
Se ela quiser nos encontrar, ela o fará. Agora precisamos curar a companheira de Konan.
— Pode curar isso? — Konan perguntou preocupado.
— Posso curar sim, mas em doses pequenas, demoraria já que está bem avançada, pois
recebeu uma dose alta e seria um pouco doloroso por alguns dias e está muito fraca.
Konan rosnou.
— Não quero que sinta dor. Tire isso dela sem dor!
— Entendo sua preocupação, meu caro Konan. Um lobo jamais suporta que sua fêmea sofra.
Para fazê-lo sem dor e de forma rápida, precisamos de um Fae.
— Isso seria uma fada. Precisamos fazer aquele ritual todo que fizemos quando convocou
Cristal para salvar Pietra?
— Felizmente agora não, pois o portal dos Fae está visível a mim, porque Cristal está no
reino humano.
— Ainda? Por que estaria? — Erick perguntou.
— Creio que está de visita a um tal Berserker ao Norte.
— Pode chamá-la, mãe?
— Sim, agora é simples, já que está por perto.
Vanora respirou fundo, virou as palmas das mãos para cima e sussurrou algumas palavras em
celta e duas chamas azuis apareceram nas suas palmas e subiram ao teto. Logo um vento soprou
no quarto e purpurina flutuou no ar.
— O que é isso? — Konan perguntou.
Antes que Vanora respondesse, Cristal apareceu dentro de um círculo de luz, juntamente com
Soren.
Todos arfaram e deram um passo atrás, porque suas presenças realmente causavam um
choque.
— Jesus Cristo! — Ester disse com os olhos arregalados.
— Oh, amiga Vanora! A que devo a honra de estarmos na sua presença novamente e destes
adoráveis lobos?
Cristal chiou e se virou bruscamente para a cama e Soren rosnou, que a sala tremeu e um grito
tão agudo saiu da boca da fada fazendo todos gemerem e se encolherem, cobrindo os ouvidos e
Cassandra gritou mesmo com a fita na sua boca e se debateu na cama. Konan foi até ela e a
segurou.
Konan rosnou e se pôs entre eles e Cassandra.
— Não a machuque! — Konan rosnou ameaçadoramente.
— O que um Unseelie faz aqui? — Cristal perguntou aturdida e zangada.
— Ela não é isso, é minha loba e companheira! — Konan rosnou.
— O quê?
— Cristal, por favor, se acalme — Vanora disse calmamente indo à sua frente. — A
companheira de Konan foi envenenada por sangue de um Unseelie. Creio que, para pouparmos
seu sofrimento, a chamei, pois, pelo que sei, somente uma fada pode retirar o veneno de outra
fada do corpo de um humano sem que haja sofrimento. Assim como de um lobo, já que ela foi
transformada.
— Oh. Isso é certo. Como isso aconteceu? Unseelies não vêm ao mundo humano.
— Não sabemos, talvez fosse apenas uma travessura de alguém.
— Quem seria tão atrevida?
— Talvez alguém da família.
Cristal olhou para Vanora e levantou uma sobrancelha, bufou e estapeou o ar de forma
graciosa.
— Bela família a sua, querida. Como diria os humanos, uma foda família.
— Fodida, querida, uma fodida família — Soren a corrigiu docemente e riu.
Ela riu docemente e todos a olhavam hipnotizados, menos Konan, que estava pronto para
arrancar a garganta de alguém, com as conversas que não lhe interessavam e sua companheira
gemia na cama.
— Por favor, pode tirar isso dela? — Konan disse impaciente.
Cristal respirou fundo como se estivesse aborrecida, se aproximou e a olhou.
— Está se transformando.
— Transformando em quê?
— Em um unseelie inferior, uma escrava dos Seelies.
— Pode tirar?
— Oui, je peux.
— Por que está falando francês?
— Ela sempre faz isso, mistura os idiomas. É seu charme — Soren disse, rindo.
— E o que ela disse?
— Que ela pode tirar — Soren disse.
— Com licença, querido, vou ajudar sua fêmea, não se preocupe, eu não vou machucá-la —
ela disse para Konan, agitando a mão para que ele saísse da frente.
Konan rosnou e estava indeciso se saía da frente ou não.
— Vamos, Konan, um minuto — Ester disse.
Konan saiu e Cristal respirou fundo, disse uma palavra desconhecida na sua língua feérica e
posicionou as mãos sobre Cassandra e uma bola de luz se formou.
Ela abriu as mãos e a bola de luz se transformou em uma manta de água azul com rajados de
prata. Cristal gritou outra palavra, fez um movimento brusco e a manta caiu sobre Cassandra,
inundando-a.
Ela arfou e gritou como se doesse muito e a água passou através dela e pairou, negra, abaixo
da cama, como uma nuvem de água, então, Cristal fez um movimento com a mão e ela
desapareceu.
Com outro movimento a manta que a prendia na cama desapareceu assim como a fita de sua
boca. Cassandra, de repente estava seca novamente, puxou o ar fortemente, como se tivesse
ficado sufocada por muito tempo.
Ela abriu os olhos e estavam âmbares, como deviam ser de uma loba. A sua pele tinha voltado
à cor normal, apesar de estar ainda pálida, suas veias enegrecidas não estavam mais negras e
salientes sob a pele.
A queimadura grotesca ao redor no ferimento da bala havia sumido, apesar da ferida
avermelhada causada pela bala ainda permanecer aparente.
— Pronto, agora se recuperará normalmente, a cicatriz do ferimento em breve deverá sumir.
Cassandra se mexeu na cama, gemendo, como se tivesse acordado de um pesadelo. Konan foi
até ela e a abraçou.
— Cassandra, estou aqui. Estou aqui.
Ela o abraçou, assustada.
— Konan... o que está havendo?
— Calma, querida, está tudo bem.
— Está feito. Somente precisa descansar, sua loba está sã novamente.
Konan a olhou, espantado, sem acreditar no que tinha visto.
— Obrigado.
— Foi um prazer.
Cristal se virou para Vanora e suspirou.
— Amiga, Senhora, nós podemos tomar chá? Ou aquela coisa deliciosa chamada café?
— Claro. E talvez falarmos sobre as travessuras de suas fadinhas por aí.
— Oh, sempre tem alguém para nos aborrecer, inclusive alguém que possa ser sua família.
— Assim é, querida.
— Vamos, moncherre, talvez você goste de visitar Kimera comigo? — disse olhando para
Soren.
— Será uma honra. Seria bom ver seu mundo novamente, Senhora, apenas vagamente me
recordo — disse olhando para Vanora.
— Será bem-vindo e acredito que você e Kayli terão muitos assuntos dos tempos antigos para
falar — Vanora disse.
— Sim, fantástico.
— Adeuzinho — Cristal disse para todos.
Houve uma explosão de luz dentro do quarto e Cristal, Soren e Vanora desapareceram,
deixando somente uma nuvem de purpurina dançando no ar.
— Ela sempre tem este costume de chegar e sair assim, abruptamente, quase causando infarto
nas pessoas? — Ester perguntou espantada.
— Parece que sim — Erick disse rindo. — Não se preocupem, minha mãe resolverá esta
questão de bruxas, pois me parece que alguém está querendo lhe causar aborrecimentos. Agora,
acho que as coisas se acalmarão e devemos deixar Cassandra descansar para que se recupere.
— Obrigado, Erick e Kira pela ajuda — Konan disse.
— Sempre estaremos aqui por ti e sua companheira, irmão.
— Espero que não tenham ficado chateados com ela pela agressão, não era Cassandra. Ela é
gentil.
— Sim, entendemos perfeitamente, Konan, não se preocupe com isso — Kira disse e Erick
assentiu.
Todos saíram da sala e Konan e Ester ficaram e ela foi examiná-la e conectou novamente seus
plugues dos sinais vitais aos aparelhos.
— Como ela está? — ele perguntou preocupado.
— Seus sinais vitais que estavam descontrolados estão estabilizando, a cor dos olhos voltou
ao normal, suas veias estão normais e o ferimento do peito está fechado, a queimadura se foi.
Acho que está tudo bem, Konan, somente está cansada e necessita descansar para curar o resto
do ferimento que ainda ficou.
— Ficarei com ela.
— Claro que ficará. Cassandra, sente alguma dor? — Ester perguntou.
— Não, somente me sinto enjoada... e tonta.
— Acho que isso faz parte da cura pelo qual passou. Agora só precisa descansar para se
recuperar. Se precisar me chame, estarei bem aqui do lado.
Ester saiu e Konan olhou para Cassandra, acariciou sua testa e beijou sua testa.
— Tudo bem, querida. Fico contente que não sinta dor, não gosto que sinta dor.
Ela sorriu e parecia muito cansada.
— Ela era uma fada, não é?
— Sim.
— Queria poder conhecê-la melhor. Minha avó teria ficado tão feliz se pudesse ter conhecido
uma fada. Ela escreveu um livro sobre fadas.
— Tenho certeza que sim, quem sabe em outra ocasião possamos ter um encontro mais
amistoso.
— Sim... Seu mundo de lobo é sempre assim, agitado?
— Pensei que o mundo no seu clube era bem agitado.
Ela riu.
— Descanse, querida, estarei aqui.
Ele beijou seus lábios e respirou fundo.
— Como estão meus olhos?
Ele a olhou e sorriu.
— Seus olhos estão mais vívidos do que quando usava aquela lente amarela. Estão normais e
lindos agora.
— Eu gostava muito daquelas lentes.
— Agora não precisa mais usá-las. Está linda. Eu estou ansioso para ver sua loba.
Ela sorriu e suspirou.
— Acha que será bonita?
— Oh, será a mais linda de todas as lobas. Durma um pouquinho agora.
Ela assentiu e fechou os olhos e Konan ficou ali, aturdido e atencioso. Estava cansado, cada
parte de seu corpo doía, mas nada o faria se afastar dela.
As surpresas nunca paravam.
Konan não suportava clínica médica, tinha horror de maca ou cama metálica, agulhas e o odor
de medicamentos. Mas por ela, ele ficaria o tempo necessário, até poder levá-la para casa.
Alisava seus cabelos lentamente com uma mão e acariciava sua mão com a outra.
Ester terminou de retirar todos os aparelhos conectados à Cassandra e a examinou novamente.
Ela sorriu e olhou para Konan que estava com os olhos cansados, pesarosos e sofridos.
— Konan?
— Sim?
— Acredito que não terá nenhuma recaída agora, ela vai ficar bem. Tudo está normal com sua
loba.
— Acredita?
— Sim, acredito. Olhe seu ferimento, já está somente uma pequena marca, tudo está normal.
Pode ir para casa descansar agora, ela dormirá a noite toda e amanhã lhe darei alta. Você não
dorme há dias e ontem nem comeu. Sei que ontem toda aquela agitação foi forte para você, mas
ela está bem e segura agora.
— Não, não sairei daqui.
— Ok... se eu permitir que a leve para casa, seguindo minhas recomendações, promete
descansar?
Konan a olhou e piscou aturdido.
— Posso levá-la?
— Pode. Estará confortável em sua cama, mas necessita que você descanse também, pois
precisa estar forte para cuidar dela. Os dois precisam descansar e, qualquer coisa, mínima que
seja, você me chama e irei ali.
Ele respirou fundo e assentiu.
— A levarei e cuidarei dela.
— Ótimo. Leve-a com cuidado.
— Terei cuidado.
— Vou providenciar uma boa refeição e alguém entregará na sua casa mais tarde.
— Obrigado, alfa.
— Disponha.
Konan levantou da cadeira e, lentamente, com muito cuidado, passou um braço debaixo de
suas costas e o outro em seus joelhos e a juntou. Ester arrumou o lençol para que ficasse sobre
ela e Cassandra se aconchegou em seu peito, ainda adormecida.
Konan saiu da clínica carregando Cassandra e Ester ficou na porta olhando ele se afastar.
Aquele gigante carregando sua companheira ferida, envolta em um lençol branco por uma
trilha da ilha, era uma visão que partiu seu coração e ao mesmo tempo lhe trouxe alegria.
Ela suspirou quando um suave toque chegou à sua bochecha, secando uma lágrima que
escorria.
— Por que está chorando, doçura? Ela vai ficar bem — Noah disse.
— É que estou contente.
— Contente?
— Ali, está indo um lobo que encontrou sua redenção.
Noah olhou para Konan, que logo sumiu na estrada, e ele respirou fundo.
— Sim, e foi muito penosa.
— Mas ficará bem.
— Ficará e, agora, minha companheira é que terá que encontrar descanso.
— Estou bem.
— Não está, mas eu vou cuidar de ti.
Ele a pegou no colo e a levou para sua casa.

Quando Konan chegou à sua casa, sentou no sofá, pois pensou que não conseguiria se afastar
dela e colocá-la na cama. Não queria nenhuma distância, nem um centímetro. Aninhou-a,
arrumando o lençol sobre ela.
Ela estava com os olhos fechados e respirou fundo, lentamente, necessitando força. Como se
aquele colo fosse o mais perfeito do mundo.
Konan ergueu os olhos e olhou sua sala de estar. E pensou que ela ficava perfeita ali. Que
aquela sala a acolheria agora.
Eles teriam que decidir onde viveriam, um pouco ali, um pouco em Atenas talvez. Não
importava, o importante era estarem juntos e ele gostava das duas casas.
Ela levantou a mão e tocou seu peito e ele a olhou e cobriu sua mão com a sua.
— Você está bem? — perguntou emocionado e preocupado.
— Estou bem...
— Vou colocá-la na cama para ficar mais confortável.
— Depois, está tão bom assim — sussurrou.
— Está bom?
— Seu colo é bom...
Konan se emocionou.
Ele a abraçou e ficou segurando-a gentilmente, sentada em seu colo, escorada em seu peito.
Estava tão perfeita ali. Ele não disse nada, somente queria sentir.
Somente queria digerir a sensação de desespero que tinha tomado conta dele. E a sensação de
tê-la viva e fora de perigo, segura em seus braços, era um bálsamo.
— Não tenha medo, querida, agora está tudo bem. Tudo acabou.
— Só tenho medo de uma coisa...
— Do quê?
— Que me abandone. Que fique com uma humana que virou loba só para não me deixar
morrer. — Konan sentiu a garganta embargar tanto que se sentia sufocado. — Não sou fraca,
Konan.
— Oh, isso não é mesmo, é a humana mais corajosa e guerreira que conheço. E não tenho
outra loba que não seja você, é a única pra mim, a única no meu coração, hoje e sempre.
Ela suspirou.
— Seu colo me dá força, me sinto segura.
— Acha que está segura comigo? Um lobo selvagem?
Ela afastou-se de seu ombro e o olhou e ele viu tanta serenidade na maneira que o olhou.
— É o único que pode me proteger, me amar e é o único que vou amar na minha vida. Você é
a criatura mais divina que tive a oportunidade de conhecer. Eu queria ser sua loba, sua
companheira.
Konan acariciou seu rosto docemente com a ponta dos dedos.
— Eu quis te afastar, porque fiz uma promessa que não teria uma companheira humana, pois
pensava que ela não seria digna de aceitar um lobo, mas meu coração te queria, desde o começo,
desde o primeiro dia que te vi, escorada naquele balcão, e dançando naquele palco. Eu soube,
apenas fui muito tolo para aceitar, mas você estava em todos os meus pensamentos, todos os
momentos do meu dia.
— Me transformou para eu não morrer, mas não precisa se sentir obrigado a ficar comigo,
não precisa.
Konan tentou segurar as lágrimas, mas estava cansado demais para isso e a felicidade de ter
sua companheira ali no seu colo era demais.
Não fugiria de mais nada, nunca mais.
— Quando eu te conheci, muitas coisas me chamaram a atenção em você e uma delas, que eu
pensei que era o que me prendia a você, é que parecia uma loba. Seus olhos coloridos com suas
lentes, seus cabelos, suas mechas postiças, sua curiosidade sobre os lobos. A forma como
comandava tudo naquele clube. Qualquer um poderia dizer que era uma loba. Eu tentei me
enganar dizendo que era por isso que eu tinha me apaixonado. Mas não era... Eu me apaixonei
pela humana cheia de vida, forte e que tinha o espírito de uma loba. Que ousou enfrentar o alfa
para eu não levar a culpa por ela.
Ela suspirou e tocou sua mandíbula.
— Eu quero ficar com você.
— Eu também, querida, eu também.
— Então estamos bem agora, não é?
— Sim, estamos. Nada vai nos separar.
Ela o olhou e secou uma de suas lágrimas e uma rolou de seus olhos.
— Pensei que lobos não choravam.
— Eles fazem, quando arrancam seu coração ou quando estão tão felizes que sua alma não
consegue segurar.
Ela acariciou seu rosto.
— Eu amo você, Konan.
Konan fechou os olhos porque aquela informação era pesada demais, mas fez seu coração
voar. E agora não era no calor do momento ou a beira da morte, agora era na serenidade, um
enfrentando o outro, simplesmente.
Ela o amava.
Aquela humana linda e forte o amava, o aceitava. O queria.
Seu coração estava doendo, mas a dor que estava ali era diferente das outras que havia
sentido, a dor era porque ele estava expandido, inflado de emoção, de amor. Sim era, um puro e
forte amor que seu coração carregava.
— Amo você também, Cassandra, do fundo de meu coração — conseguiu dizer, com a voz
embargada, quase saindo em um sussurro.
— Você me aceita?
— Sim, porque a amo e a amei antes de saber que eu podia amá-la. Antes de aceitá-la, antes
de minha mente torpe entender o que sentia. A amo para a eternidade.
Ela riu e o beijou e foi como se um grande muro tivesse tombado e desaparecido de Konan.
Evaporado, como a cinza no vento.
Olhou-a nos olhos, sem nenhuma lente, sem nenhuma maquiagem, somente ela ali pura e
entregue nos seus braços, salva. Ele respirou fundo.
Tinha sua companheira nos seus braços e sua alma girou deixando-o tonto, seu coração se
encheu de amor e agora não machucava, não havia dúvida, havia a certeza e a paz.
A paz de ter sua companheira.
— Eu tenho minha companheira.
Ela sorriu.
— Você tem.
— E eu estou muito feliz.
Ele riu e a beijou novamente.
Eles só ficaram ali, abraçados, dando amor um ao outro, dando aceitação, dando aconchego.
E isso era algo muito caro para Konan. Muito precioso. Algo que nunca tinha lhe ocorrido que
aconteceria. Ele mesmo tinha criado seus muros para se proteger e quase a tinha perdido.
Nunca cometeria este erro novamente.
— E meus peixes? Como ficou meu clube?
— Não sei, querida, estavam espalhados por todo lado. O clube está fechado. Erick está
cuidando de tudo, não se preocupe.
Ela respirou triste e ficaram calados por um longo momento.
— Eu quero a cabeça de Tullo.
— E eu te darei. Vamos para a cama, neném, vamos ter nosso descanso merecido.
Ele levantou do sofá e foi para o quarto, ajeitou-a na cama e deitou ao seu lado, a puxou para
seus braços para que estivesse segura perto dele.
Pegou o edredom dobrado no pé da cama, os cobriu e se aconchegaram novamente.
E depois de dias sofridos, tiveram um sono profundo, um sono merecido, de descanso e agora
estavam bem, um nos braços do outro.
Ilha dos Lobos, Grécia

— Tem certeza de que quer fazer isso? — Yasmim sussurrou.


— Não, mas preciso. Não sou mais uma criança, preciso ser forte e enfrentar minha realidade,
por mais dura que ela seja.
Alexander olhou para Sami, que parecia fria como um cubo de gelo. E Petrus estava o
olhando como se quisesse matar alguém. Não podia recriminá-lo por isso.
Mas para ele, era uma ebulição de sentimentos e a dor latejava em seu coração. Não estava
sendo fácil encarar aquele homem dentro daquela sala.
— Ele está na jaula? — Alexander perguntou.
— Sim, um bocado do que nos presenteou, sabe que eu não poderia deixar de ser generoso e
lhe agradar com minha maior hospitalidade. Só aviso, se não tem estômago para ver seu pai
numa jaula e sangrando, é melhor recuar — Noah advertiu.
Alexander pensou um pouco e respirou fundo.
— Há alguma forma de ele ser absolvido?
— Nem em um milhão de anos. Quando você sair daqui, ele será morto. Se quiser assistir é
escolha sua — Noah disse dando de ombros.
Alexander olhou para Yasmim e assentiu.
— Vamos, não temos muito tempo, Alex, em breve o efeito da magia de Kimera pode passar
e não conseguirá mais ficar em pé.
— Sim, e eu voltarei para a cadeira.
— Tenha paciência, meu querido, com o tempo a magia irá te fortalecer e será permanente. É
uma doença muito forte para combater, mas temos feito muito progresso. Mantenha-se firme.
Ele sorriu e beijou o dorso de sua mão.
— Estou grato, meu amor. Muito grato.
Sami e ela o ajudaram a sair da cadeira, deixando-o em pé.
Quando elas o soltaram, ele ficou um pouco desequilibrado, mas riu emocionado e Sami riu e
chorou o vendo em pé.
— Oh, meu Deus! — exclamou espantada e seu pai também.
— Não acredito no que meus olhos estão vendo — o senhor disse.
— Ei, tio, pode acreditar? Veja, consigo falar sem enrolar a língua. Estou em pé!
Eles riram e Sami secou as lágrimas e o abraçou.
— Pode acreditar nisso, Sami? Estou em pé!
— Não, mas estou muito feliz. Se não estivesse vendo, não acreditaria, mas é um lobo agora.
— Sim, sou um lobo agora.
Todos riram porque compartilharam a felicidade dele, até Petrus e Noah estavam contentes.
Noah bateu no ombro de Petrus e assentiu e Petrus se sentiu feliz e vivo vendo a felicidade de
sua Sami e de Alexander. Sim, tudo estava maravilhoso.
— Pena que não é um dia realmente feliz — Alexander disse com um suspiro.
— Eu lamento, mas ele buscou isso e não podemos fazer nada.
— Eu sei.
Alexander respirou fundo e Yasmim foi à sua frente e sorriu, emocionada.
Alexander a beijou nos lábios, docemente.
— Obrigado.
— Estarei aqui se precisar, estarei bem aqui.
Ele assentiu.
— Agora se concentre e pense que você quer se transformar no lobo.
— Tem certeza que é só isso?
— Sim, esqueça o mundo ao redor e se foque no seu lobo, somente peça e o terá.
Alexander fechou os olhos e passou a língua nos lábios, respirou fundo tomando coragem e,
então, ele se transformou.
Todos arfaram com os olhos arregalados e ali estava Alexander, em forma de lobo, um lobo
marrom com pelos dourados e grandes mechas amareladas, o peito branco e os lindos olhos
azuis-claros como o céu em dia de sol.
Ele se moveu e suas pernas cambalearam e ele caiu, mas logo tentou ficar de pé. Yasmim se
ajoelhou, arfou e o abraçou, ajudando-o a ficar de pé.
— Você é lindo!
— Eu sou um lobo!
— Sim, você é um lobo. Meu lobo.
— Obrigado pelo que está fazendo por mim — disse emocionado.
— Te amamos, por isso faremos tudo por ti.
— Jesus, sou um lobo e é maravilhoso como me sinto, forte, cheio de vida.
Sami riu e tapou a boca com a mão e chorou rindo ao mesmo tempo e se ajoelhou e abraçou
Alexander, que chorou emocionado, e lambeu Sami, fazendo-a rir mais.
Eles não podiam acreditar em sua magia.
Mas ali estava.
Depois de ter sido levado para Kimera e a rainha ter tratado dele, suas forças tinham
restabelecido, os inúmeros banhos em uma banheira com água medicinal daquele mundo
encantado construído pela magia das bruxas e das fadas, o estava deixando forte, a ponto de
conseguir estes feitos. Ser o que ele tinha sido transformado, um lobo.
O pai de Sami se aproximou e com a mão trêmula tocou em Alexander, sentindo seu pelo
macio.
O lobo o olhou e lambeu sua mão.
— Meu menino, olhe para você, é um lobo! É um belo lobo e está forte — disse emocionado.
— Estou feliz, muito feliz.
— Ele disse que está feliz, pai — Sami disse, pois ele não podia ouvir Alexander.
— Eu também, eu também — sussurrou emocionado.
— O senhor vai entrar, papai? — Sami perguntou preocupada.
— É o que devemos fazer, enfrentar a Hermann. Dói meu coração ver isso, mas o farei.
Ela assentiu.
— Ele merece o que virá.
— Que seja.
Sami se transformou em loba e seu pai, emocionado, também com os olhos embaçados, se
aproximou sem acreditar no que estava vendo. Ainda não tinha se acostumado em vê-la em
forma de lobo.
Então, lado a lado, eles entraram na sala, acompanhados de Noah e Petrus, que se mantinham
em sua forma humana.
Hermann estava preso dentro de uma jaula e estava com a roupa rasgada e com machucados
que sangravam.
Quando pararam na frente da jaula, Alexander se arrependeu de ter feito isso, doeu realmente
seu coração em ver seu pai naquele estado e ele sentiu seu coração partir.
— Vamos lá, seus animais, trouxeram estes dois lobos para me assustar? Não tenho medo de
vocês, eu espero que sejam presos novamente, pois aqui é o lugar de vocês. Sendo nossas
cobaias, sendo estudados. Não percebem o quanto poderiam ajudar a humanidade, seus seres
egoístas?! Meu irmão Godbert está aqui? Pensei que estava morto, mas não, estava ocupado
virando a casaca para o lado dos lobos, me traindo! Onde está meu filho, Godbert?
— Ele passou pelo inferno, Hermann, todos nós.
— Era sua missão cuidar dele, nem pra isso você serve. Traidor!
Noah rosnou. Era inacreditável.
Alexander piscou aturdido, pois não conhecia este lado de seu pai e sua dor somente
aumentou mais, mas não disse nada, somente observou.
— Quer dizer que sua prisão e ter perdido tudo o que construiu na sua vida não lhe serviu de
lição? Continuaria a nos caçar, a nos prender? Matar-nos nas suas mesas de laboratório, Dr.
Hermann? — Noah perguntou.
— Vocês não são naturais, não podem andar soltos por aí. Se foram criados é para um bem
maior, para que nós possamos usufruir de sua química, de sua longevidade. Curar pessoas
doentes.
— Já vejo, nos matando, nos torturando. Agora me diga, doutor, o que ajuda na sua dita
pesquisa para a cura aos doentes estuprar nossas mulheres? Forçar filhotes em seus ventres?
O homem piscou aturdido.
— Faz parte da experiência, do conhecimento, saber como agem, como reproduzem, como
são gerados. A ciência precisa ver todos os ângulos.
— Então, o senhor sabia o que acontecia nos laboratórios espalhados, sabia o tipo de
comportamento que seus subordinados tinham com as lobas?
— Sim, e daí? Isso não me importa. Era por um bem maior.
Noah rosnou com raiva, bateu nas grades e o homem se jogou para trás.
— Você merece morrer dolorosamente, miserável!
— Agora quero ver Alexander. Prometeu me deixar vê-lo. Quero ver meu filho!
— Tem certeza de que quer ver seu filho, doutor?
— Prometeu-me isso, vai libertar Alexander, deixar que vá.
— Pois bem, eu lhe dou Alexander, ele é livre para partir, se deseja. Não é, Alexander? —
Noah perguntou e o homem olhou ao redor para ver se o via.
— Onde ele está?
Então Sami se transformou em humana e Hermann arfou, aturdido, foi para trás com os olhos
arregalados e logo Alexander se transformou. Ele cambaleou, mas Sami o pegou pelo braço,
ajudando-o a ficar em pé.
Hermann arregalou tanto os olhos que doeram, parou de respirar e não conseguiu balbuciar
uma palavra.
— Então, doutor, o que acha de colocar seu filho numa jaula e lhe abrir a barriga, revirar suas
tripas para ver se acha uma cura para sua insanidade?
— Pensei que tinha um tanto de humanidade, meu pai. Parte meu coração ouvir de sua boca o
quão mau é, quão perverso é. Como pode deixar que criaturas como estas sejam friamente
torturadas e assassinadas, em meu nome?
— Alexander...
— Nunca te pedi assassinato e tortura em meu nome. Tanta frieza, tanta maldade. O que faria
comigo agora, meu pai, que eu sou um deles?
— Como... não é possível, como fez isso? Era um cachorro há uns segundos atrás.
— Não sou um cachorro. Sou um lobo! Eu estava no leito de morte há alguns dias, eles me
transformaram em um deles para me salvar da morte. Eles me cuidam, me ajudam e me amam.
Diferente de ti.
O homem se agarrou nas grades.
— Eu amo você, fiz tudo por você, dediquei minha vida e milhões de euros para a pesquisa,
para curá-lo.
— O senhor não me curou, o senhor me matou por dentro, quebrou meu coração. E eu
lamento dizer que não posso salvá-lo de seu castigo.
As lágrimas escorreram pela face de Alexander e sua garganta estava embargada.
— Podia ter pedido, pai, podia ter sido amigo deles, ter os respeitado. Eles não são monstros,
são pessoas com mágica e é maravilhoso e olhe o que fizeram a mim. Estão me curando...
podiam me matar, matar Sami e ao meu tio, como vingança pelo que o senhor fez, mas não, nos
amam. Só podia ter pedido, pai. E eu tenho muita vergonha do senhor. Eu espero que seja
homem pelo menos uma vez na vida e aceite seu destino com honra, pelo menos tenha honra no
morrer, porque na sua vida não conheceu esta palavra. Saiba que vivo entre eles e os amo e
respeito e estou muito feliz de ser um lobo. E saiba também que, de agora em diante, eu mesmo
matarei a qualquer humano que queira nos prender e nos fazer mal. Porque agora eu não sou
mais seu filho, eu sou um lobo.
Alexander se virou e Yasmim estava atrás dele, com os olhos marejados e ela segurou seu
rosto entre as mãos e beijou seus lábios.
— Amo você.
— E eu amo você.
Alexander se virou escorando-se nela e olhou a seu pai.
— Pai, esta é minha companheira Yasmim. Não é linda? Ela é uma princesa, uma de verdade,
filha de reis, uma loba e uma bruxa. Ela tem mais de dois mil anos de idade e vive em um reino
encantado em outra dimensão. Ela me amou como um aleijado e está me cuidando e me curando,
assim como este lobo aqui, o alfa que me transformou. Como pode ver, pai, o senhor perdeu uma
grande oportunidade de ver a vida de um jeito que nunca imaginou. Pode morrer com seu ódio e
sua cegueira, mas eu vou viver agora, da forma que sempre sonhei, rodeado de amigos
verdadeiros, de amor e de magia, assim como Sami, que é companheira de Petrus. O deixarei
aqui, com meu coração partido, mas sem nenhum remorso, porque o monstro aqui é o senhor.
Adeus, pai.
Alexander foi andando com um passo e mais um passo, com Yasmim de um lado e Sami do
outro, o ajudando a se escorar e saiu da sala.
Hermann estava tão chocado que não conseguia dizer nada.
Petrus e Noah se prostraram diante dele, tapando sua visão e com um sorriso maravilhoso nos
lábios.
— Como é doce a vingança, estou me sentindo muito bem hoje, amigo Petrus, não concorda?
— Noah disse zombeteiro.
— Concordo e eu teria transformado Alexander novamente só para ver sua cara de paspalho.
O homem agarrou as grades, gritou e as sacudiu.
Petrus jogou um dardo elétrico em Hermann, que se sacudiu pelo choque e tombou para trás,
beirando a inconsciência e gemendo pela dor terrível.
— Ops, acho que coloquei a carga mínima, será que o teria matado se colocasse a mais forte,
Noah? — Petrus brincou.
— Acho que sim, teria fritado seus miolos. Mas foi divertido ver ele se estrebuchando no
chão. Seus guardas adoravam jogar isso em mim e nos meus lobos. Da próxima vez coloque a
outra carga, Petrus, talvez sentiremos o cheiro de queimado.
— Com o maior prazer.
— Aproveite seus últimos momentos de vida e sua desgraça, humano.
— É, vou agora ali tomar uma cerveja com meu amigo Alexander, opa, meu lobo e minha
companheira Samantha e seu pai, meu sogro. Não é legal? Toda sua família me pertence,
Hermann — Petrus disse, rindo.
Konan entrou na sala e parecia realmente zangado, pois seus olhos cintilavam, e parecia uma
jamanta feita de músculos.
— Ei, Konan, como está sua companheira?
— Está melhor.
— Fico feliz em saber. Tome seu tempo com o bastardo, mas lembre-se: não o mate — Noah
disse.
Konan rosnou fechando suas mãos em punhos.
— Não o matarei, com muito custo, somente quero fazê-lo sentir dor, pelo que me fez.
— É justo. Deixe-me saber se você e sua companheira necessitam de algo.
— Sim, alfa, obrigado.
— Bom proveito. Adeusinho, Hermann, a próxima vez que o vir, arrancarei seu coração
negro.
Eles saíram e Hermann ficou para trás, gritando.
— Esperem, Noah! Petrus! Tragam-me Alexander! Alexander! Voltem aqui, seus lobos
miseráveis, devolvam meu filho, devolvam meu filho! Alexander! Godbert, seu traidor
miserável! Alexander!
Konan rosnou e bateu na grade e Hermann caiu para trás, com os olhos arregalados.
— Vou fazer você sofrer e te mostrar quão animal posso ser, bastardo.
— Alexander!
— Pode gritar à vontade, pois seus gritos são música para meus ouvidos, entretanto nem o
diabo vai aparecer para te ajudar.

— Esse feitiço vai funcionar? — Noah perguntou.


— Sim, alfa, vai funcionar. Todos seus sentimentos e sensações serão emanados para todos os
lobos que estiverem ao redor, como deseja.
Ele rosnou e assentiu.
— Então, é tempo de colocarmos um fim nisso, de uma vez por todas.
Noah, Ester, Kira e Erick seguiram para a praia e todos os lobos estavam em um círculo e, no
meio, ajoelhado, preso à uma estaca de madeira, estava Hermann.
Ele estava muito machucado, com muitos cortes, hematomas e ossos quebrados e havia
sangue por todo seu corpo. Noah olhou para ele com desprezo e respirou fundo.
— Sabe que, apesar do prazer que vou sentir ao te matar, eu acho muito sem graça, porque
você não é nem capaz de lutar comigo, bastardo!
— Mate-me logo e acabe com isso.
— Uhhh, pensa que manda, homem? Foi-se o dia que o fazia. Isso está doendo?
Noah apertou seu ombro deslocado e Hermann gritou.
— Podia te torturar por todo o resto de minha vida, só para ouvir seus gritos. Bem, tenho mais
o que fazer da minha preciosa vida do que olhar para sua cara desprezível. Sabe, não tenho
certeza de que no inferno, lugar onde você irá, o diabo vai te aceitar, porque acho que você
extrapolou a maldade, mas hum... boa viagem. Em nome de todos os meus lobos, libertados e os
mortos, eu tomo sua vida em minhas mãos, derramo seu sangue e amaldiçoo sua alma para a
eternidade. Que os deuses tenham misericórdia de sua alma, porque nós não temos nenhuma. Vá
para o inferno, Hermann Sames Sterlin...
Todos os lobos uivaram e rosnaram, fazendo a maior agitação na praia.
Noah, lentamente, fez suas garras alongarem, suas presas aparecerem e seus olhos cintilaram
com toda sua ira.
Todos esperaram que ele desse o golpe com brutalidade, que arrancasse seu coração logo,
mas não.
Aproximou a mão, lentamente, meticulosamente, olhando para os olhos arregalados do
homem, foi entrando em seu tórax, fazendo os cortes e Hermann foi gritando, arqueando-se,
preso naquele tronco, fincado na areia.
Noah enfiou a mão em seu peito quebrando seus ossos um a um e alcançou o coração,
rodeou-o em sua mão, e rosnando alto e com fúria, o puxou de seu peito, devagar.
Hermann não gritava mais, apenas tremia enquanto o sangue escorria de seu peito aberto e
sua boca.
Quando Noah arrancou seu coração, gritou, rosnou e uivou com toda sua raiva, esmagou seu
coração diante dos olhos dele.
Noah fechou os olhos, respirando fundo e a mágica de Kira fez seu efeito, uma energia de
seus sentimentos eclodiu dele, como se fosse uma onda e atingiu todos os lobos da praia.
Todos os lobos arfaram e fecharam os olhos sentindo todos os sentimentos controversos e
fortes que Noah sentia naquele momento.
Era uma espécie de êxtase, de sentimento de vingança, era raiva, o ódio, o prazer de poder
matar aquele maldito.
Todos os lobos sentiram o prazer de fazer o que todos queriam: matar Hermann. Todos os
lobos rosnaram e uivaram quando ele caiu morto.
Estava feito e Noah sentiu vontade de chorar, porque os sentimentos que o invadiram eram
demais para suportar e assim foi com todos.
Noah piscou em meio às lágrimas e sua garganta queimava de segurar o choro, de segurar
suas emoções, então rosnou o mais alto que pôde, jogando tudo para fora.
— Morra, maldito! Tudo acaba aqui. Finalmente tivemos nossa vingança. — Noah se virou
para seu povo. — Acabamos, amigos, joguemos fora o máximo de dor que temos no peito.
Joguemos fora esta raiva que machuca e peçamos aos deuses que nos deem força para deixar as
memórias enterradas bem no fundo. Tomamos nossas vidas em nossas mãos novamente.
Estamos livres e seremos sempre livres. E seremos felizes, porque nos curaremos, lutaremos,
porque somos lobos e lobos nunca desistem. Nós somos mais fortes.
Todos gritaram e Noah olhou o homem e cuspiu no chão e saiu da praia.
Erick respirou fundo, porque estava embargado também. Eles eram responsáveis pela
proteção e bem-estar de sua alcateia e sobre suas costas pesava um forte remorso por tudo, mas
era tempo de deixar tudo para trás, não havia mais lobos presos, não havia mais Joan e não havia
mais Hermann.
Respirou fundo e olhou ao céu.
Nunca mais estariam presos novamente.
Era uma promessa.
Então, ele sorriu e se juntou aos amigos para comemorar e houve uma grande festa.
Dias depois...

Cassandra estava sentada numa banqueta estofada e se olhava no espelho enquanto Konan,
atrás dela, deslizava, gentilmente, a escova em seus cabelos molhados, sem pressa,
desembaraçando os fios, delicadamente.
Ela estava o olhando pelo espelho e estava se sentindo encantada, acariciada e seu peito
estava cheio de amor.
O cuidado e carinho, atenção que ele dava a ela nos dias que estava se recuperando,
preencheu seu coração de forma absurda, ele estava aberto para ela, sem ressalvas, sem medo,
sem nenhum muro os separando, naturalmente como se já estivessem juntos há anos.
Ela baixou os olhos e se admirou no espelho.
Seus olhos estavam âmbares brilhantes, realmente magníficos, e eram de verdade, sem
nenhuma lente, assim como seu cabelo agora estava comprido até sua cintura, perfeitamente liso,
marrom escuro com várias mechas mais claras. Quatro tons diferentes.
Parecia outra pessoa, mas era ela, ali, transformada, sem lentes sem apliques. Uma loba. Ela
tocou seu peito e não havia mais nenhuma marca do tiro, da queimadura, nada.
Devia estar morta, mas estava ali, viva e cheia de amor e energia rodopiando dentro dela,
preenchendo suas veias.
E seu Konan estava cuidando dela com todo amor que não sabia que ele guardava em seu
coração.
Um homem enorme, cheio de músculos e tatuagens, um guerreiro forte e poderoso, um lobo,
e a cuidava com delicadeza e gentileza, com veneração.
Ela engoliu o nó em sua garganta e uma lágrima solitária escorreu pela sua face e piscou
aturdida quando Konan se ajoelhou na sua frente.
— Está te doendo algo? — ele perguntou preocupado.
— Não.
— Te puxei o cabelo?
— Não, não fez nada.
Ela tocou sua face recém-barbeada e sorriu e somente teve mais vontade de chorar.
— Por que está chorando?
— Porque te amo.
— Isso te deixa triste?
— Não, Konan, me deixa feliz, pois nunca pensei existir algo tão grande e bonito.
Ele sorriu e beijou seus lábios.
— Eu também te amo, minha companheira.
— Realmente me considera sua companheira?
— Sim, querida, eu considero e lamento muito te dizer isso, mas vai ter que me aturar por uns
trezentos anos.
Ela riu e o beijou.
— Isso me deixa mais feliz.
Eles encostaram suas testas uma na outra e suspiraram, somente sentindo aquele momento.
— Konan?
— Hum?
— Com faço para ver minha loba?
Ele se afastou e sorriu.
— Hum, quer fazer uma pesquisa para seu livro?
Ela riu abertamente.
— Acho que terei que mudar tudo nesse livro, agora tenho outra visão das coisas.
— Acredito que sim.
— Posso escrevê-lo?
— Pode, contanto que não deixe que ninguém descubra quem você é de verdade e nem nossa
casa.
— Nunca, nunca colocaria minha família preciosa em risco. Tomarei todo cuidado, prometo.
Ele assentiu.
— Você pode ser meu beta.
Ele riu.
— Eu acho que ser seu beta não é o mesmo que ser como o Erick.
Ela riu.
— Não, na verdade, é que você teria que ler meu livro para ver se está boa a história, se não
estou escrevendo sandices.
— Hum, não sei se gostarei de ler romance.
Ela riu e beijou seus lábios.
— Talvez a Ester queira este papel.
— Ah, acredito que sim.
Eles riram e se abraçaram.
— Quer ver sua loba?
— Sim, por favor.
— Ok. Pense na sua loba e a chame. Deseje ser a loba. É um simples comando e se
transformará. — Konan sorriu e beijou docemente seus lábios. — Vamos, seja corajosa.
Ela sorriu lindamente e respirou fundo e fechou os olhos por um minuto.
Logo ela se transformou e gritou e Konan riu.
Então eles ficaram estáticos se olhando. Ela estava assustada, com o coração acelerado,
tentando governar e observar sua nova condição e Konan estava embevecido a olhando, a
admirando.
Ele tinha uma loba para ele, seu amor que era somente dele. Ele a amou tanto ali, em forma
de loba, aceitando tudo que vinha dele que seu coração inflou e ele a tocou embrenhando os
dedos em seu pelo.
Ela era marrom com mechas caramelo, dourado e branco.
— Pelos deuses, como é linda — sussurrou inebriado.
— Eu sou uma loba, meu Deus!
Ele riu e beijou sua cara.
— Sim, é uma loba, veja.
Ela foi para o lado e se olhou no espelho e ficou ali, se olhando, estática com os olhos
arregalados.
— Oh, Konan, isso é tão... incrível!
Konan se transformou em lobo e ficaram os dois se olhando.
— Bem-vinda, companheira.
— Obrigada, companheiro, me sinto bem-vinda.
— O que acha de correr um pouco lá fora, comigo?
— Adoraria.
Ele uivou alto e cheio de alegria e ela riu. Saíram correndo da casa e se embrenharam pelo
bosque, saíram em uma praia, jogavam areia para todo lado com suas freadas bruscas, entravam
na água e corriam, brincavam querendo pegar um ao outro, até cansarem.
Então, caíram exaustos na areia e se transformaram e ela ria às gargalhadas assim como ele.
Konan nunca tinha se sentido tão feliz na vida, rido tão abertamente, sentido algo tão
maravilhoso ao correr no bosque, com sua loba ao lado dele. Era uma aventura totalmente nova e
que causava algo diferente, um êxtase maravilhoso em seu coração. Seu lobo estava em júbilo.
— Cansou? Está muito fraquinha.
— Ah, está debochando de mim, corri muito.
— Sim, é maravilhosa.
— Estou tão feliz!
— Eu estou feliz que está aqui comigo. Não está sentindo mais nada?
— Não, eu estou perfeitamente bem. Aliás, eu deveria estar lá no clube ajudando a arrumar
tudo.
— Não, cansou demais ontem, pois ainda está em recuperação por tudo que te aconteceu,
prometeu-me que hoje ficaria aqui, tranquila. Não se preocupe, toda a equipe está cuidando
muito bem da reforma.
Ela suspirou e assentiu.
— Ok, eu sei que prometi e cumprirei.
Eles se beijaram apaixonadamente rolando pela areia e faziam a maior sujeira, mas não
estavam se preocupando.
Konan ficou sobre ela, olhando-a por longos minutos e ela sorriu acariciando seu rosto.
— Por que me olha assim?
— Sabe o que quero fazer agora?
— O quê?
— Tirar esta areia, te jogar na minha cama e te fazer minha loba.
— Mas já sou sua loba, me mordeu.
— Sim, eu fiz, mas agora será diferente, quero estar te dando prazer quando te morder,
somente isso, quero te mostrar que não estou aqui por obrigação e que te mordi para salvar sua
vida, num momento crítico. Eu ia fazê-lo antes disso acontecer.
— Você ia? Quando? — perguntou espantada e emocionada.
— Quando me ligou. Eu estava no barco, estava indo atrás de você, para te dizer que te
amava e que você tinha que ser minha, porque não haveria nada no mundo que me fizesse deixar
de ser seu. Eu estava correndo para ti, para te dar tudo de mim, meu coração.
Ela arfou e se emocionou imensamente.
— Verdade?
— Sim, verdade. Fomos atropelados pelos acontecimentos, mas isso passou e quero te amar
livremente, quero fazer a cerimônia, que ambos nos reivindiquemos de alma plena, de coração.
Para nunca haver dúvida que te amo e te quero como minha companheira. Nunca quero que
duvide de mim, que pense que o que estamos construindo não é de verdade.
Ela riu e o beijou apaixonadamente, abraçando-o forte.
— Sim, sou sua, de todas as formas que necessitamos. Porque te aceito e me dou a ti para
sempre.
Eles ficaram se olhando e acariciando seus rostos, emocionados.
— Há muitos anos, depois que eu salvei sua avó... eu fiquei zangado comigo mesmo, não
sabia mais se foi certo ou errado o que fiz, mas hoje eu sei que foi certo.
— Por quê?
— Primeiro, porque fui fiel aos meus princípios; e segundo, porque ela me trouxe você. Eu a
salvei para que ela me trouxesse você, então, tudo o que eu passei valeu a pena.
Ela chorou, beijou seus lábios e o abraçou.
— Amo você, Konan, muito.
— Eu também.
Konan respirou fundo, com os olhos fechados, recebendo aquele abraço intenso. Sabendo que
as coisas estariam em seus devidos lugares, que tudo ficaria bem.
— E... tenho uma surpresa para ti. Duas, na verdade.
— O que é?
— Bem, a primeira... é que a polícia não encontrou Tullo.
— E isso é uma notícia boa? — perguntou indignada.
— Não, a boa é que eu o encontrei, sei onde Tullo está se escondendo.
— Oh, quero pegá-lo! — disse zangada.
— Calma, nós o teremos, na sua hora. Tenha paciência.
Ela respirou fundo.
— Paciência? Essa palavra é difícil.
Ele riu.
— Eu sei, conheço o sentimento de querer vingança, mas o pegaremos, prometo.
— Okay. E a segunda?
— A reinauguração do nosso clube será daqui duas semanas e, então, estaremos celebrando a
reabertura dele, com toda a categoria e com o luxo que Atenas jamais viu. E o palco estará
pronto, te esperando para que você possa encantar a todos com sua dança e sua magia.
— Oh, meu Deus! Meu novo aquário ficará pronto também?
— Sim.
Ela arfou e riu, emocionada, e o beijou diversas vezes.
— Obrigada por isso. Ser meu sócio, me ajudando a reconstruir.
— Estou investindo em você e o que é meu é seu. Então é justo que seu clube tenha minha
dedicação.
— Nosso clube.
— Nosso clube.
— Dançarei como jamais dancei antes e será especialmente para ti!
Konan rosnou, e a beijou.
— Temos duas casas agora, ficaremos em Atenas e algumas vezes aqui.
— Sim, eu entendo, aqui também é nossa casa, com sua família, eu estou adorando esta ilha e
ficaria feliz de passar dias aqui. Conciliaremos as duas coisas. Será maravilhoso. Com o tempo
eu aprenderei tudo sobre a alcateia.
Konan sorriu pelas suas palavras, por ela entender que a alcateia era como uma forte família
que ela fazia parte e ele gostou que estava se sentindo incluída e que estava bem em estar com
sua alcateia. Ele a pegou no colo e correu para sua casa.
Eles entraram no boxe para tirar toda areia e sujeira e ali mesmo no chuveiro começaram os
beijos quentes, devorando um ao outro, acariciando o corpo um do outro com todo amor, com
toda a paixão, como se não pudessem mais perder tempo para se reivindicarem como deveriam
fazer.
Konan e Cassandra estavam famintos um do outro, como sempre, e toda tortura dos últimos
dias se transformaria em fome, em sexo quente, em toques que queimavam como o fogo.
Konan a ergueu e a escorou na parede do boxe, penetrando-a enquanto a beijava loucamente.
Devorando seus lábios e seus sussurros e gemidos e Deus, ele amava ouvi-la gemer de prazer.
Amava como se aferrava a ele, com tanta força e paixão, como o queria, sempre. Sempre era
assim entre eles, aquele amor urgente cheio de fome.
Então, ele rosnou e sem soltá-la ele saiu do boxe, chegou ao quarto e caiu na cama, sobre ela
e recomeçou seus movimentos, mesmo sem se importar se estariam molhando os lençóis
molhando o quarto, nada disso importava, somente os dois e o prazer que davam naquele ato de
companheiros.
Ele se virou na cama, trazendo-a sobre ele e deixou-a cavalgá-lo como queria, e ela era
maravilhosa, quente e linda sobre ele. Adorava quando ela tomava o controle, e se mostrava
selvagem e maravilhosa, cheia de tesão por ele, demonstrando o quanto o amava.
Ele rosnou, sentou na cama e com ela escarranchada em seu quadril, sentindo-o totalmente
dentro dele, ficaram sentados de frente um para o outro e eles se olharam nos olhos e ambos
fizeram suas presas alongarem, e seus olhos cintilaram de puro prazer.
— Eu te reivindico como minha loba, minha companheira e eu te amarei e cuidarei com toda
minha vida, para a eternidade.
— Eu te reivindico, Konan, como meu companheiro, com todo meu coração e te amarei para
a eternidade.
Eles de beijaram e, juntos, morderam o ombro um do outro e a magia dos dois se liberou
fazendo-os ter um orgasmo fenomenal, aferrando-se um ao outro.
O sangue em sua boca avivou todas as sensações, todos seus sentidos, tudo ao redor deles
desatou numa energia colorida, forte, mística e embriagante, deixando-os tontos.
E eles se olharam nos olhos, encantados e aquilo tudo era amor verdadeiro, um forte que tinha
deixado todos os medos para trás. Nada mais os separaria, porque tinham tido as provações que
necessitavam para poder zerar o passado, expurgar suas angústias.
Agora recomeçariam do zero, teriam uma nova vida, juntos e com a certeza de que estavam
de coração aberto e cheios de amor.
Amor de companheiros de alma, que pode vencer qualquer coisa.
Finalmente eles estavam onde deviam estar, um nos braços do outro. Como companheiros.
E houve uma coisa que eles souberam.
O amor de companheiros era forte, brando e paciente, aguardando ser aceito. Era só uma
questão de tempo.
Eles se amariam e se protegeriam, mimariam um ao outro, trazendo felicidade.
Era assim que estava escrito e era assim que era.
Eles deitaram, e Konan a puxou para seus braços, acariciou com o nariz sua face, roçando-a
com a sua em um carinho suave que ela amou, e que ele agora fazia consciente do carinho de
lobo, deixando que a essência de seu corpo o marcasse, entrasse em sua alma.
Recostou a cabeça no travesseiro e desfrutou da sensação das mãos dela em seu cabelo,
acariciando os fios sedosos que caíam em seu ombro.
Era tão delicada com ele. Tão doce. Jamais pensaria em tocar outra mulher desta forma.
Permitir que o tocasse.
Ela suspirou e beijou seu peito, então se acalentou. Konan respirou fundo e fez a promessa de
nunca mais dormir sem ela e isso o fez sorrir. Estava mais que bem.
As coisas seriam diferentes a partir de agora. Konan tomaria as rédeas da situação e jamais
deixaria que seu passado intervisse na sua vida novamente.
Ele cuidaria de Cassandra como uma companheira deveria ser cuidada, daria tudo a ela:
felicidade, paixão, segurança. Eles teriam seu lar, uma vida juntos e encontrariam a paz e a
felicidade que ambos mereciam.
Com os olhos fechados, ele sorriu e acariciou suas costas.
A profecia de Yasmim estava correta.
Ele tinha três borboletas.
A borboleta que era Alicia voou para outro jardim.
A borboleta que era Ilana partiu.
A borboleta que era Cassandra morreu, reviveu e se transformou.
E ele, tinha morrido em vida, tocado o mais intenso inferno, revivido todos seus pesadelos,
para encontrar sua redenção. Então, ele ressurgiu como um novo lobo ao lado dela.
E pela primeira vez, depois de tudo, ele encontrou seu centro, sua paz. E ele começaria a
viver e não mais sobreviver.
Ele tinha sua companheira e deu graças por isso.
E agora estaria livre e abençoado, pronto para conhecer a verdadeira felicidade que tanto
merecia.
Atenas, Grécia, dias depois...

Konan não se moveu até que Tullo se aproximou e se deteve, o vendo escorado em uma moto
Harley Davidson. Estava sentado de lado sobre seu assento com suas pernas esticadas frente a
ele, seus tornozelos cruzados um sobre o outro. Seus braços cruzados sobre seu peito.
Tullo o olhou como se não pudesse acreditar no que via, então olhou ao redor e não viu
ninguém.
— Realmente está aqui? Como entrou no meu galpão? Meus homens não permitiriam que
entrasse sem anunciá-lo.
Konan inclinou sua cabeça e lhe ofereceu um sorriso afetado, frio, sinistro, exalando perigo.
— Aquelas baratas fedorentas? Coitadas, devem estar debaixo de minhas botas, sangrando. É
sério que não escutou os gritos? Deve lavar os ouvidos, sua mãe não te ensinou isso? Seu pai?
Oh, aquele que você matou?
Tullo entrecerrou seus olhos.
— É um bastardo arrogante! Quem te mandou aqui? Pensei que não trabalhava mais naquele
lugar, com aquela vadia. Ouvi que está morta, o cachorrinho de estimação, veio choramingar?
Oh, coitadinho fecharam aquele antro? Vai ter que pedir esmola na rua para sobreviver? Posso
arrumar um lugar aqui para trabalhar, limpando meu urinol.
Konan balançou a cabeça como se não acreditasse no homem. Riu amargamente enquanto se
separava de sua moto.
— Não, não sou um bastardo arrogante. Não sou nada mais que um lobo que rosna e muito.
Urinol? Quem é você? Um velho caquético que precisa de urinol? Que vergonha! Diga-me, foi
para isso que invadiu o clube? Para se esconder nesse chiqueiro?
— Ah, mas acredito que agora que a vadia está morta, que o que é dela virá para mim.
Konan suspirou picaramente e riu.
— Como eu adoro quebrar as esperanças de pessoas idiotas.
— Vá embora daqui, antes que o mate.
— Uhh... estou morrendo de medo. Mas agora, eu sou o filho da puta que vai arrancar suas
tripas.
Tullo puxou uma arma e começou a disparar contra Konan, que deu um salto fenomenal, e
continuou saltando rápido desviando de todas as balas, então saltou sobre o bastardo e o
empurrou contra a parede.
Tullo gemeu, depois riu, puxou uma arma escondida nas costas e atirou.
Mesmo vendo seu movimento Konan permitiu que o fizesse, mas desviou rapidamente e tirou
a arma de sua mão com um golpe que Tullo gemeu ouvindo seu osso quebrar.
— Não pode me matar com uma pistola, meu corpo já recebeu tantos cortes, choques e balas
que isso não me atinge assim fácil.
— Sei, mas é divertido como o inferno só disparar e com um pouco de sorte, poderia te
debilitar o suficientemente para depois te matar.
Konan riu, debochado, se transformou na sua forma intermediária e rosnou ferozmente na
cara dele, que gritou histérico.
Então Konan riu, porque adorou ver o bastardo gritar assustado daquele jeito.
— Cara, você é um covarde, quando não tem uma arma, não passa de uma menininha
assustada, vai urinar nas calças?
— O que você é?
— Eu sou um lobo e te avisei que se você tocasse em Cassandra de novo eu arrancaria sua
cabeça.
— Eu não toquei nela, juro.
— Não tocou? Somente quebrou o clube e atirou nela, com uma arma envenenada com
sangue Unseelie. Vai me dizer onde conseguiu?
— O quê? Nem sei do que está falando, não fiz nada disso.
— Ah fez sim, eu te vi, atirou nela. Na verdade atirou em mim, mas ela se jogou na minha
frente. O que não muda o fato que vou te matar.
— Não fiz, eu juro.
— Hum, é uma pena que não acredito em você. Mas eu não vou te matar, eu acho.
— Isso é bom.
Konan o soltou e ele tentou correr, mas Konan o agarrou e o jogou contra a parede
novamente.
— Vou deixar que outra pessoa o faça.
Konan riu e fez seus olhos cintilarem, então saltou sobre ele tão rápido que Tullo não
conseguiu reagir, recebendo um soco no rosto. Tullo gemeu ao ser jogado contra a parede
novamente e cuspiu sangue.
— Eu tenho dinheiro, muito dinheiro! — gritou.
— Meu Deus, como faz seus homens obedecerem você? Parece um bebê chorão — Erick
disse, o olhando um pouco mais afastado que Konan, que o mantinha preso contra a parede.
— Bem, dinheiro não compra coragem — Konan disse.
Tullo olhou apavorado para Erick e piscou aturdido para a loira deslumbrante que apareceu ao
seu lado.
— Então, Kira, o traste tem as veias negras como Cassandra?
— Não, Erick, ele não tem, mas sim, foi um dos peões dessa bruxa, para fazê-lo obedecê-la. É
um dos seus joguetes.
— Bem, camarada, quem é a bruxa com quem se aliou para suas maldades, hã?
— Não conheço nenhuma bruxa!
— Não minta, odeio rodeios, fale logo!
Konan apertou os dedos em seu ombro, fazendo-o gritar e se encolher pela dor.
— Ela apagou sua memória, não deixou nada para rastrear — Kira disse.
— Acha que é Ítaca? — Erick perguntou.
— Pode ser, como pode ser esse Unseelie que resolveu agir por conta própria e fazer suas
peraltices por aqui. Se for, se escondeu novamente.
— Somente ela poderia limpar todos os rastros assim sem que você ou minha mãe
conseguissem sentir sua presença.
— Sim, é o que sabemos, ou talvez haja alguém com poder suficiente para fazer o
encantamento de se ocultar. Lamento, querido.
— Sem problema, se um dia ela resolver dar as caras deixará algum rastro — Erick disse.
Konan rosnou, soltou Tullo e ele caiu no chão.
Eles se encolheram quando uma saraivada de balas jorrou sobre eles. Algo voou sobre eles,
fazendo que o vento os atingisse e, logo, o humano atravessou todo o enorme galpão abandonado
e bateu na parede e caiu no chão, em uma posição que dizia que tinha muitos ossos quebrados.
Então, pedaços da arma caíram no chão, estilhaçadas.
Maddox bateu suas enormes e alvas asas e aterrissou perto deles.
— Humanos, sempre estúpidos! — Maddox resmungou.
Erick riu e Konan também.
— Você... senhor... ele é... é um anjo? — Tullo perguntou aturdido demais.
Maddox riu.
— Por que sempre acham que sou um anjo, esse povo não conhece o conceito de shifters?
— Não, esse aqui é muito burro para isso.
— É que você se aparece muito com um, Maddox.
— Sim, eu sei... ossos do ofício — disse suspirando picaramente.
— Não é um anjo, seu imbecil, você verá é o capeta e não um anjo — Konan disse para
Tullo.
Tullo, gemendo pelos seus próprios ferimentos, olhou de um a outro.
— Isso é de mentira, não são asas de verdade.
— Se ele soubesse...
— Ah, mas o melhor para você não é o moço de asas e sim essa preciosa aqui.
Tullo olhou o lobo que veio lentamente se aproximando e rosnou para ele.
— O quê? Vão me fazer ter medo de um cachorro? — Tullo disse.
— Pensei que fosse mais inteligente, Tullo, mas somente demonstra quão tolo e burro é.
Respeite minha companheira. Ela é uma loba e não um cachorro.
A loba deu um passo adiante e rosnou, mostrando suas presas enormes.
O homem gemeu e tentou se arrastar.
Kirian e Noah chegaram e ficaram ao lado deles. Pelos respingos de sangue em suas roupas
podia-se saber que tinham feito uma carnificina.
— Kirian, amigo, pode informar a este senhor como se encontram seus capangas?
— Todos mortos e amontoados para uma cova coletiva, prontos para irem ao inferno —
Kirian disse e Noah somente rosnou em apreciação.
— Ele é todo seu, coração — Konan disse.
Cassandra rosnou mais e saltou sobre o homem e mordeu-o, rasgou seu braço e as coxas e ele
gritava alto e histericamente, sem forças para lutar.
Ela, então, se transformou em mulher e ele a olhou com os olhos arregalados.
— Ah... O quê?... Cassandra. Pensei... pensei que estivesse morta!
— Sim, sou eu, bastardo. Sinto desapontá-lo.
— Não é possível... o que...
— E você vai pagar por tudo o que me fez e vai pagar todos os prejuízos que me deu.
— Não pode me matar.
— Ah, eu acho que eu posso te matar, pois se você sangra, então você pode morrer.
— Seria uma assassina, sempre disse que não cometia crimes.
— As coisas mudaram um pouco, Tullo. Eu estou me vingando. Tenho o direito de fazer
justiça. Estou recuperando minha liberdade, me livrando de um lixo humano. Estou vingando a
morte do seu pai, a destruição de meu clube e tantas coisas, inclusive minha morte. Isso, acho
que é bastante coisa.
— Você... morreu, soube que morreu. Eu atirei em você... como faz isso de se transformar?
Era um cachorro...
— É uma longa história que você não merece ouvir. A única coisa que irá ouvir são seus
ossos quebrando. E eu sou uma loba, sua anta!
Ela rosnou e seus olhos cintilaram e ela o agarrou pela roupa e o ergueu e o jogou longe,
fazendo-o bater em um carro velho. Ele rolou sobre ele e tombou no chão.
Caminhando, majestosa, como uma predadora, foi até ele e o levantou do chão.
Tullo meio tonto se firmou e ela começou a bater nele no rosto e estômago. Golpeou uma e
outra vez, golpes rápidos, fortes e que não permitiam que o homem se defendesse e ele tentou
uma vez, mas foi inútil.
Ela era rápida, usando suas técnicas de luta do Krav Maga, misturado com seus socos de
boxe, unidos com sua força de loba. Era maravilhosa e Konan amou vê-la bater no miserável.
Dona da situação, de si e da porra toda.
— Quebrou meu aquário! — ela gritou jogando-o para outro lado e ele rolou pelo chão.
Ela correu e o agarrou novamente e o jogou longe e ele bateu em um dos pilares e caiu no
chão, já com vários ossos quebrados e sangue escorrendo de suas feridas.
— Matou meu marido! Matou meu filho! — gritou com ódio e o jogou longe novamente.
O homem mal respirava e ela o juntou novamente e cruzou com um golpe e suas garras
afiadas em seu peito e o sangue jorrou.
— Tentou matar Konan! — ela gritou, saltou e escarranchou sobre ele e socou seu peito,
quebrando sua caixa torácica. — E me matou!
Tullo arfou, arregalou os olhos e emudeceu.
Todos arfaram, porque não imaginavam tamanha violência e raiva que Cassandra possuía
dentro de si, pois estava sempre alegre e sorridente, mas assim era.
Konan respirou fundo tomando sentido de sua fêmea. Ela era uma guerreira, havia uma
profundeza em seu coração onde jogava suas dores e estava expurgando todas. Ele conhecia o
sentimento, todos eles conheciam.
Ela levantou, respirou fundo e fechou os olhos por um minuto.
— Essa é a última vez que vou pensar em você. Que arda no inferno, Tullo. Eu ficarei aqui,
em pé e terei minha nova vida maravilhosa. Reconstruirei meu clube, minha vida e nunca mais
me lembrarei de ti — gritou como humana e arfou deixando que seus olhos se enchessem de
lágrimas, então rosnou alto e feroz. Uivou e Konan riu e uivou atrás e todos fizeram o mesmo,
para honrá-la naquele momento.
Konan inflou o peito e olhou para trás, para todos os lobos que estavam presentes e todos o
olharam, assentindo, dizendo silenciosamente que tudo estava bem e assim era.
Sim, ele tinha uma humana guerreira, forte como ninguém e agora uma loba implacável.
Konan estava inflado de orgulho dela e cheio de amor.
— Está pronta para ir para casa, minha loba? — ele perguntou.
Ela o olhou e a todos os lobos.
— Sim, estou pronta para ir para nossa casa e estou mais que pronta para reinaugurar meu
clube. E vamos antes que minha mente caia na real de que estou nua na frente de um monte de
pessoas.
Todos riram às gargalhadas e Konan a beijou e tirou sua camiseta e deu para que ela a
vestisse.
Konan riu e beijou seus lábios e depois, ele a levou para casa.
Os lobos sumiram com todos os corpos e qualquer sinal de lobos. Tullo e seus capangas
sumiram no mundo, assim como suas contas bancárias, carros, armas, propriedades, tudo.
Cassandra aprendeu mais uma valiosa lição sobre os lobos.
Eles faziam a justiça pelas próprias mãos, eles tinham suas próprias leis, que muitas vezes
divergiam com as leis humanas.
Mas uma lição que se sobressaía a qualquer coisa, era que eles cuidavam um do outro dentro
da alcateia.
E ela amou isso.
Seria cuidada, assim como cuidaria deles.
E estava tudo bem.

O Clube Olimpo estava mais bonito e refinado do que antes da tragédia que o destruiu.
A casa estava lotada com a alta roda da sociedade ateniense. O cassino estava cheio com seus
jogadores nas mesas de roleta, de blackjack e pôquer, fazendo circular altas quantias de dinheiro.
A boate com os jovens estava alucinante com sua música tecno e suas luzes piscando
frenéticas. O salão principal, tinha suas mesas lotadas de clientes que conversavam e riam
animados.
As garçonetes e garçons iam e vinham com suas bandejas cheias de bebidas e petiscos,
trajados com suas luxuosas roupas gregas com toque dark.
Konan, Sasha e Harley tinham instalado um rigoroso sistema de segurança, monitorando com
câmeras por todos os lados, detectores de metais na entrada, onde não seria permitido passar com
qualquer arma de fogo ou branca.
A equipe de segurança era forte, bem treinada e com muitos lobos nela, inclusive alguns de
Kimera.
Konan comandava tudo e se sentia bem ali, tocando um negócio, que agora também era seu.
Ele sorriu quando passou na frente do aquário gigante e viu os novos peixes coloridos
dançando para lá e para cá, assistidos cuidadosamente pela magnífica estátua de Poseidon.
Esperava ansiosamente o dia que sua sereia particular fosse nadar ali, encantando a todos,
pincipalmente ele.
O bar estava estupendo, com os bartenders fazendo seus drinques exóticos e seus
malabarismos, arrancando palmas dos clientes.
E todos os funcionários, sem exceções, usavam lentes de contato coloridas, cabelos longos e
com mechas, maquiagens exóticas.
Era uma boa maneira de camuflar que Cassandra estava no mesmo visual, só que ela, agora
era de verdade. Inclusive, alguns clientes adotaram a ideia e foram com lentes coloridas.
Konan olhou para cima, na área VIP e sorriu, porque ali, estava parte de sua alcateia que
tinham ido prestigiá-los.
Eles usavam um pequeno recurso da bruxinha de Erick, que colocou um feitiço no local, no
qual aquela área era invisível aos humanos, permitindo que eles se divertissem e ficassem à
vontade sem se preocupar com os humanos os vissem, mas isso não impediu que, no pé da
escada, houvesse uma muralha de lobos impedindo que qualquer um quisesse subir ali.
Estavam Noah e Ester, Erick e Kira, Liam e Virna, Kirian e Annelise, Sasha e, por incrível
que parecesse, Jessy.
E claro, seus amigos Petrus e Harley com suas companheiras estavam ali, e ele riu quando
Pietra fez a brincadeira de eles terem uma verdadeira semideusa do Olimpo, no Olimpo.
Ficou contente ao ver Alexander com sua companheira Yasmim juntos no grupo e o rapaz
estava feliz, com um belo sorriso no rosto, andando de muletas. Aquilo era incrível.
Mesmo com o efeito temporário que Kimera causava na reabilitação de Alexander, ele se
sentia vivo, pela primeira vez na vida e juntos, ele e sua companheira, estavam descobrindo o
mundo.
Ele admirou isso no rapaz, sua coragem e a chance de ter uma vida nova, aos lobos que o
acolheram e não o rechaçaram por ele ser filho do homem mais odiado por eles e por ser
deficiente.
O grupo todo estava feliz e riam de algo que Ethan e sua companheira Grace contavam. Era
bom tê-lo em casa por um tempo, ainda não sabia se ele ficaria ou voltaria para sua fazenda nos
Estados Unidos, mas o que importava é que ele era da família novamente.
Zian e Maddox, mais extrovertidos, circulavam pelos humanos fazendo sua ronda como
seguranças, mas Konan ria deles, porque, na verdade, estavam mais interessados em paquerar as
moças bonitas. Mas gostava deles por ali, para que seu novo mundo estivesse com uma boa
retaguarda.
Konan viu as cores dos holofotes mudarem, o palco acender com as luzes amarelas e
vermelhas e as piras serem acesas com o fogo. Ele foi à frente do palco, esperando ansioso que
ela fizesse sua entrada triunfal.
Uma fileira de seis homens, vestidos de guerreiros gregos, três em cada lateral do palco,
começou a bater os enormes tambores que eclodia em um som fantástico no ambiente, fazendo o
coração bater mais forte.
Olhou boquiaberto para a mulher que entrou no palco, dançando de forma maravilhosa, com
uma roupa preta cheia de pedrarias brilhantes.
Seus olhos âmbares mais brilhantes que nunca, estavam rodeados de uma maquiagem negra
com prata e strass, usava muitos braceletes, anéis e correntes que faziam barulho ao se mover.
Sua tiara era elaborada, alta e brilhante, e ornava com seus longos e lisos cabelos mesclados,
que dançavam com ela e eram jogados de um alado a outro.
Suas tatuagens pareciam fazer parte da roupa, ter seus significados. Ela movia o seu corpo
com tanta graça que ele ficou hipnotizado.
Cassandra dominava o palco como ninguém, dançava como uma serpente hipnotizando a
todos, causando maravilhosas sensações em seu público, e Konan, que a sentia em seu corpo e
sua mente de uma forma tão arrebatadora, que ele não conseguia respirar direito.
Ela estava usando uma saia de tecido transparente com enormes fendas, mostrando suas
pernas nuas, presa a um largo cinto de couro trabalhado de pedras.
Usava um corpete curto preto, todo trabalhado em fios de ouro e pedras que emolduravam
seus seios.
No pescoço, usava um elaborado colar que vinha como uma coleira e se abria sobre seu colo.
Seus olhos bem delineados o olhavam de uma forma tão sensual, tão intensa, que ele pensava
que sua pele estava queimando, somente pelo seu olhar. Se ela o tocasse, ele tinha a sensação de
que sua pele pegaria fogo.
Aliás, ele sentia que o fogo já estava dentro dele, que queimava intensamente e de forma
permanente.
Cassandra era poderosa e marcava o local onde entrava, não havia olhos que pudessem se
afastar dela. Ela tinha uma alma forte que puxava para ela como um ímã, um poder de mulher
sensual e dona de si.
Uma mulher que homens brigariam para ter.
Mas que pertencia a ele, só a ele. Sua companheira.
Quando ela veio para frente do palco e lhe sorriu, dançando na sua frente, ele pensou que
assim sempre seria, que ela sempre o encantaria com sua beleza e sua dança.
E ela o fez como prometeu, dançou para ele. E uma e mais outra apresentação com diferentes
roupas e outras dançarinas se sucederam no espetáculo e ao fim, quando ela fez sua última
apresentação, se jogou no chão em um final magistral, o clube em peso explodiu em uma salva
de palmas e assovios.
O coração de Konan se encheu de orgulho e ele sorriu abertamente a vendo receber aquele
agrado e, além de tudo, viu rosas sendo jogadas no palco.
Ela catou as rosas fazendo um ramalhete e olhou seu público e sorriu lindamente, mandando
beijos.
Ela olhou para Konan e sussurrou “eu te amo” e ele retribuiu.
Quando a comoção acabou e todos saíram do palco, ela largou as flores, saltou do palco e
Konan a segurou em seus braços, abraçando-a fortemente e beijando-a, rodando-a às
gargalhadas, e os assovios, gritos e palmas ainda vinham da ala VIP, onde seu povo emanava
seus sentimentos para eles, suas felicitações e ele nem se importava mais com as piadinhas.
Ele tinha comparado Cassandra a uma loba, uma deusa, uma sereia, a uma guerreira, mas ela
era apenas uma humana, que conseguia ser todas elas ao mesmo tempo.
Foi a maior lição que ele levou na vida.
Konan nunca pensou que a felicidade fosse algo tão fenomenal, tão arrebatador.
Era verdade, os deuses sabiam como acalentar a alma de um lobo e lhes dar a companheira
verdadeira que curaria seus corações feridos e seriam perfeitas para eles, cada um a seu jeito.
E era maravilhoso.
Konan não havia deletado tudo em sua cabeça e de seu coração, havia cicatrizes, mas ele era
um guerreiro e sabia que um guerreiro vivia delas e se tornava mais forte ao cicatrizá-las.
Ele tinha sobrevivido às suas provações, então estava bem, porque se sentia curado e
preparado para seguir sua jornada, ao lado de sua vibrante companheira.
Com o coração cheio de um sentimento que até então desconhecia.
Amor de companheiros de alma.
JANICE GHISLERI é catarinense, estilista e pós-graduada em Comunicação e Artes Visuais.
Sempre foi apaixonada por livros de romance e filmes. Por isso, a linha literária dos seus livros
são os romances de época e fantasia. Além da série Os Lobos de Ester, publicada pela Editora
Planeta Literário, seus outros livros publicados são Entre o Amor e a Fé: A Profecia, e a saga
Paixões no Oeste, com quatro livros. Três de seus livros foram finalistas no 4º Concurso
Literário do Clube de Autores. Seu conto A Noite Sombria foi selecionado para o livro O Corvo,
da Editora Empíreo. E conta com mais contos como: Sweet Alabama, 1 e 2, O Pecado em
Veneza, A Sombra de um Amor, Meu Anjo na Terra.
Aventurando-se pelo cinema, desenvolveu dois roteiros para a produtora Stairs, O Vale dos
Dinossauros e O Mistério da Ilha Del Rei, Juvenal e o Dragão, além de outros projetos de
romances em andamento.
Site:
janiceghisleri.wordpress.com/

Fanpage:
Janice Ghisleri Autora

Grupo da Série:
Os Lobos de Ester – Janice Ghisleri
Acesse o site da Editora Ponto Literário para saber mais informações sobre esse e outros
livros:

www.editorapl.com

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