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Copyright © 2023 by Lorena Rodrigues

A FILHA PROIBIDA DO MEU CHEFE

Todos os direitos reservados. Este livro ou qualquer parte dele não


pode ser reproduzido ou usado de forma alguma sem autorização
expressa, por escrito da autora, exceto pelo uso de citações breves
em uma resenha do livro.

Design de capa: Kaylane Guedes


Leitura beta: Débora Silva e Fernanda Thomaz
Revisão ortográfica: Fernanda Thomaz
Diagramação: Amanda Gomes

Esta é uma obra de ficção imaginada, escrita e criada por esta


autora. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, lugares, fatos
ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
Índice
Dedicatória
Nota da Autora
Playlist
Epígrafe
Prólogo
1 – Cidade do Pecado
2 – Já que está no inferno...
3 – Caos de estimação
4 – Brincando com fogo
5 – Armadura
6 – Apostando a carreira
7 – A vida não é só trabalho
8 – Querer é poder
9 – Aquilo que faz vibrar
10 – Adrenalina no Petco Park
11 – Loucura, adrenalina e tesão
12 – Aventura de viver
13 – Ainda proibida
14 – Cair numa cilada
15 – O Julgamento
16 – Día de los Muertos
17 – O prazer de perder
18 – Sentença ditada
Epílogo
Sobre a Autora
Outras obras da autora
Para Amanda que, ao apostar no nosso amor, me ensinou

que não existem limites para sonhar e para amar.


Para todos aqueles aos quais a palavra proibido não é capaz
de limitar.
Nota da Autora
A literatura é capaz de produzir uma magia capaz de nos
transportar para infinitos cenários que podem, ou não, existir na
realidade. E esse é um percurso que é muito mágico de se fazer
tanto como leitora quanto como escritora.
Digo isso para reiterar que A Filha Proibida do meu Chefe é
uma história que se passa em uma cidade real e até transita por um
ou outro lugar que realmente existem. Entretanto, as personagens e
situações descritas no livro são fictícias. Qualquer semelhança com
a realidade terá sido mera coincidência.
Foram realizadas várias pesquisas sobre todos os assuntos
abordados aqui. Sejam jogos de cassino, seja a prática do
Motocross, seja o universo do Direito e da justiça estadunidense.
Contudo, o livro segue sendo uma obra de ficção, focada em contar
um romance com tons eróticos. Assim sendo, a história não segue à
risca os trâmites judiciais, nem as regras de jogos de cassino e,
tampouco, o desenrolar dos campeonatos de Motocross.
Outro detalhe que faço questão de reforçar, é que A Filha
Proibida do meu Chefe narra um romance entre duas mulheres
adultas. Além disso, o livro tem uma pegada bastante erótica, sendo
impróprio para menores de 18 e pessoas que se sintam
desconfortáveis grafia desse tipo de cenas.
No mais, desfrutem da leitura. Minhas redes sociais estão
abertas para quem queira falar de qualquer um dos meus livros.

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Embarquem na garupa da moto da Nick e vamos passear


pela Califórnia. Boa leitura!
Playlist
Para ouvir a Playlist de A Filha Proibida do meu Chefe, abra o
app Spotify no seu celular, selecione “buscar”, clique no ícone da
câmera e posicione sobre o code abaixo. Ou clique aqui.
Mas se você achar

Que eu ‘to’ derrotado


Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não para
O Tempo Não Para - Cazuza
Prólogo
Porque hoje à noite estou fazendo acordos com o diabo
E sei que vai me causar problemas
Contanto que você saiba que me tem
Side To Side - Ariana Grande feat. Nicki Minaj

NICK
Las Vegas – Nevada
8 de setembro – Quinta-feira

Ao levantar meus olhos, depois de um encaixe desastroso,


parecia que eu estava caída diante de um examinador da prova
prática de direção e não na belíssima pista do circuito Monster
Energy de Las Vegas. E, ao estar no chão e ver a Megan naquele
estado, pouco importava, a mim e ao público, se eu havia feito um
backflip na volta anterior ou me classificado com uma excelente nota
para a etapa de Motocross de Daytona na Flórida.
Saltei de impulso para correr até a Megan, mas dois
paramédicos me bloquearam, insistindo que eu subisse em uma
maca.
Eu tinha certeza de que não tinha me machucado, mas a
Megan... Ela não teve nenhuma sorte.
— Eu estou bem, não preciso de médico! — Me opus
veementemente.
Os médicos de Megan, por sua vez, só estavam chegando
agora para examiná-la. E também pareciam muito mais
preocupados comigo do que com ela.
— Nick, você sabe que não deve se mexer depois de uma
queda. É o protocolo.
— Que se foda o protocolo, vocês não estão vendo o estado
da Megan? — Apontei para ela devastada no chão.
— É a você que nós temos que manter inteira, Nick, não a
uma moto.
Uma moto. Como eles ousavam falar assim da Megan? Ela
era muito mais do que isso. E, além do mais, havia aquela maldita
cláusula no contrato que eu sabia que ia acabar me fodendo em
algum momento. E, em um péssimo sentido.
Depois de não poder mais me esquivar e passar por um
exame físico completo, finalmente fiquei sozinha na tenda com
Logan. Ele, expulsou todo mundo porque sabia que eu podia surtar.
Só não contava que eu estivesse chateada demais para ter
forças para me descontrolar.
— Os 500 mil dólares de Vegas já eram para você.
— Tô ligada. — Reconheci enquanto acabava com uma
latinha de água a goladas.
— Mas, você está classificada para a etapa de Daytona na
Flórida. O prêmio lá é de 1 milhão de dólares. — Recordou com um
sorriso muito mais amarelo do que empolgado.
Ele sabia que não me enganava.
— Eu vi o estado da Megan, Logan. Não tem etapa de
Daytona sem moto. Quando me deram a Megan, avisaram que se
responsabilizavam pela manutenção, não por uma demolição.
— Nenhum patrocinador quer arcar com o custo de motos
para você, Nick. Eles sabem que seu jeito ousado é excelente para
levantar o público, mas há quem diga que você desmoraliza o
Motocross ao se arriscar mais do que o necessário em todos as
corridas de que participa.
— Aquele filho da mãe do Josh Rider! — Praguejei chegando
no limite da tenda.
Depois de que esse jornalista especializado em esportes
radicais publicou uma matéria dizendo que esportistas como eu
eram um mau exemplo para os jovens, ninguém mais quis me
patrocinar. Mesmo com meus ótimos resultados no circuito.
Como se não bastassem os fiscais de sexualidade que eu
tive que enfrentar ao longo da vida, agora também tinha que lidar
com os fiscais de moralidade no esporte radical. Só o que faltava
era que inventassem limites para o quão radical um esporte podia
ser.
A verdade é que esses limites já existiam, eu é que preferia
não os respeitar.
Eu tinha tanta necessidade de mostrar ao mundo – ou talvez
só a meu pai – que ser esportista era uma profissão de verdade
que, às vezes acabava exagerando. E ninguém vai me ouvir
admitindo isso por aí.
— Nick, hoje o representante da Whitelock voltou a falar
comigo. Eles ainda querem fechar com você.
— Não, Logan! Eu não quero correr por equipe nenhuma. Se
até uma matéria numa revista esportiva pode me limitar, imagina se
eu me vender para uma equipe? Ainda mais uma como a
Whitelock.
Ele deu uma risadinha apoiado na viga que sustentava a
tenda ao meu lado.
— Tá pra nascer alguém pra te colocar freios, hein? Livre
como uma águia.
— Nada contra as águias, mas... eu prefiro as motos. —
Arranquei um sorriso do meu assistente que já estava praticamente
se vendo desempregado.
— Nick, seu pai não é milionário? — Ele me olhou de relance,
desviando o olhar em seguida. Sabia que eu já estava pensando
nisso, mas não tinha tido a coragem de mencionar.
— É. — Respondi tensa. — Mas, ele nunca me daria ou... me
emprestaria dinheiro para o Motocross.
E, talvez fosse melhor aceitar me vender para a Whitelock do
que para Sidney Wale. Ele nunca tinha me dado nada de graça. Por
mais que tenha conquistado um império, não me perdoava por ter
escolhido outra profissão que não fosse ampliar a empresa que
carregava seu nome.
— Pena. — Ele baixou a cabeça. — Bom, já que você tem
até segunda no London Eye Hotel, aproveite Las Vegas. Eu vou
orientar o pessoal a terminar de recolher tudo e me preparar para
levantar acampamento.
— Fica a postos, tá? Eu vou te ligar! — Exclamei com muito
mais certeza do que ele conseguiu ver.
Quando voltei para o hotel que tinha aceitado patrocinar
minha estadia na cidade precisei me servir de duas doses de whisky
antes de, finalmente ter a coragem de ligar para o meu pai. Não
tinha jeito. 1 milhão de dólares estava em jogo e eu tinha muita
possibilidade de vencer.
— Quem é viva sempre aparece. — Ele atendeu com uma
piadinha infame. — E, no seu caso, o dito é literal.
— Oi, pai. — Cumprimentei decepcionada.
Ligar para o meu pai pedindo dinheiro era uma grande
frustração para mim, não tinha outro nome. Mas, talvez essa fosse
justamente a oportunidade que eu precisava de provar que eu podia
proporcionar lucro efetivo através do meu trabalho, ao que ele tanto
desprezava.
— Você está bem? Não se acidentou outra vez, não é? — Ele
se preocupava muito de que eu um dia, acabasse não saindo inteira
das minhas apresentações.
Não posso condená-lo por isso.
— Estou sim. Quem não está é a Megan.
— Quem é Megan? Nova namorada?
Meu pai sabia respeitar muito bem meu gosto por mulheres.
Já minha paixão pelas motos, essa era bem mais difícil de que ele
naturalizasse.
— Minha moto. — Suspirei.
— Então você está em apuros? — Eu sei que tinha uma
pontinha de satisfação em sua voz.
— Sim. — Admiti. — Estou classificada para a etapa de
Daytona em dezembro, mas preciso de um patrocinador para me
comprar uma moto e pagar minha equipe.
— E você espera que eu seja esse patrocinador?
— Eu sei que o Wale Associados patrocinou alguns
esportistas. Você poderia...
— Sim! — Ele exclamou com uma rapidez que não era
habitual em suas respostas.
Principalmente se fossem positivas.
— Sim? — Me aproximei da janela abrindo as cortinas com ar
desconfiado.
— Sim! Eu aceito patrocinar você.
— Obrigada. — Agradeci ainda sem acreditar. — Eu posso
inclusive te devolver parte do dinheiro, se vencer a etapa de
Daytona.
— Só que tem uma condição. — Aquela raposa velha jamais
dava um ponto sem nó. Eu devia ter imaginado que havia alguma
pegadinha.
— Qual? — Pensei em Logan e todos os que contavam com
minha ida para Daytona em dezembro.
— Eu dou o dinheiro para você comprar sua moto e correr a
etapa de Daytona. Em troca você trabalha no Wale Associados por
30 dias. De 19 de setembro a 19 de outubro.
— Pai, você sabe que eu odeio o Direito! — Recordei o que
havia passado a vida toda repetindo.
— E você sabe que eu odeio o Motocross. Mas, estou
aceitando fazer um sacrifício por você. Se eu vou te dar dinheiro
para que você se arrisque em pistas cheias de terra e barro, vou
querer que você faça um estágio de 30 dias no Wale Associados. É
pegar, ou largar.
Peguei! Talvez aquela fosse a última vez que eu precisasse
recorrer a ele, afinal. Era um compromisso. Não com ele, mas
comigo mesma. Porque, definitivamente, eu não aguentava mais ter
que fechar acordos com o diabo.
Se eu ganhei, qual é o meu prêmio?
Eu também só quero me divertir com você
Se eles julgarem
Foda-se, eu dou um jeito
Eu só quero me divertir um pouco com você
Cool For The Summer - Demi Lovato

ALYSSA
San Diego – Califórnia
16 De Setembro – Sexta-Feira
— Entenda Alyssa, quem se diverte não triunfa! — Com essa
exclamação minha mãe deu por certo que ela não iria. Como já era
esperado. — Eu preciso terminar os últimos ajustes no caso da
promotoria, filha. Você sabe que há coisas que só eu posso fazer.
O júri para o qual ela estava tão ansiosa só aconteceria na
segunda-feira, mas finais de semana nunca existiam para ela.
Desde que meu pai a deixou e eu me tornei adulta – e advogada,
ela parou de fingir peso na consciência por estar sempre ausente.
Depois que eu fui trabalhar no Wale Associados, nossa
relação de mãe e filha passou a se resumir quase que
exclusivamente aos nossos almoços de quinta-feira. E eles eram
sempre para falar sobre trabalho e maneiras para que eu me
tornasse uma advogada cada vez mais prestigiada.
Ela, por sua vez, entregou seu coração a quem sempre o
havia tido – o Direito. E era muito mais feliz como promotora do que
jamais foi como esposa e mãe.
Quanto à sua negativa, não adiantava eu reforçar o carinho
que Skyler sentia por ela e, nem mesmo que eu ficaria mais feliz
com sua companhia. O Tribunal era a vida de minha mãe. Porque
ela era mais do que só minha mãe. Ela era Erin Burke, a mais
temida promotora de San Diego.
— Tudo bem. — Aceitei impotente. — Eu já vou. Skyler me
mata se eu me atrasar.
Peguei minha bolsa e me aproximei para dar um beijo nela,
ao que ela aceitou de queixo erguido, sem nenhum indício da
mulher carinhosa que, definitivamente, ela não era. Mas, com a mão
no meu ombro, me fitou intensamente e fez questão de me dar um
recado:
— Você também devia ficar em casa. Estudar, se preparar
para 30 de outubro, Alyssa. — Não pude evitar revirar os olhos e me
afastar dela.
— Mãe! — Exclamei enfática. — Eu estou estudando e me
preparando muito. Mas, hoje é sexta-feira e a Skyler é minha melhor
amiga. Como você pode pensar que eu não vou ao seu...?
— Vocês não foram a Vegas na semana passada? — Ela
caminhou ao meu lado, calmamente, na direção da porta de sua
casa. — Ela devia entender.
Longe de lembrar uma casa onde uma família havia vivido
um dia, sua sala parecia mais um escritório. Havia pastas
espalhadas por todos os lados além de livros, papéis e uma
infinidade de coisas relacionadas ao caso no que ela seria
responsável pela acusação.
E aos seus outros casos também. Ela queria se antecipar à
cada movimento da defesa. E, no geral, sempre conseguia.
— Não, mãe, ela não vai entender. Como não vai entender
que você não vai estar lá. Você não pode ir, tudo bem. Mas Skyler
conta comigo, tanto quanto conta com a Chelsea e com a família
dela.
Ela pegou meu blazer no suporte ao lado da porta e o
acomodou sobre meus ombros. Lembrei de ela me dizendo que eu
nunca devia sair sem um blazer; que uma mulher que quer triunfar
no mundo das Leis, deve fazer com que os outros se esqueçam que
ela é uma mulher. Só assim, eu conseguiria ser respeitada.
Só sendo como ela...
— Ah, Alyssa, e sobre Vegas... — Gelei quando ela voltou a
mencionar a viagem. Como se eu já soubesse o que ela queria. —
Nada aconteceu lá, não é verdade? Você não saiu com ninguém?
— Eu já te disse que não no nosso almoço de ontem, mãe. —
Enfatizei apressada.
— Você segue cumprindo sua palavra? Posso confiar que
você vai vencer esse desafio?
— É claro. — Tentei impostar o máximo de confiança que eu
conseguia na voz.
Não era fácil mentir para Erin Burke. Mas, era mais fácil do
que dizer a verdade.
— Fico feliz! — Ela sorriu com orgulho acariciando meu rosto.
— Agora Só faltam 43 dias para que Sidney anuncie quem vai ser
promovido ao cargo de principal advogado especialista em Direito
de Família e Sucessões do Wale Associados.
— Eu sei. — Engoli em seco morrendo de medo de ser
descoberta por ela.
Se ela soubesse o que eu fiz em Las Vegas...
— Lá na frente você vai ficar feliz por cada um desses 100
dias nos quais você escolheu se dedicar somente para conseguir
essa promoção. E eu vou ficar muito orgulhosa de você quando
esse cargo for seu, Alyssa. — Os olhos dela vibravam como quem
visualizava o meu futuro numa tela 4k à sua frente.
— Pensei que você já sentisse orgulho de mim. — Fiz uma
acusação velada.
— Eu sinto! — Quase me interrompeu com a rapidez com
que respondeu. — Mas por que se limitar a ser uma grande
advogada se você pode chegar ainda mais longe, querida? Você é a
melhor do Wale Associados. E se sua vida sentimental não voltar a
te distrair, vai ser a melhor de San Diego, a melhor da América!
Depois que sua exclamação megalomaníaca às custas do
meu celibato aos vinte nove anos me incomodou, eu me despedi de
uma vez. E por me incomodar com o que ela disse, consegui
aplacar um pouco minha consciência por estar mentindo para ela.
Ela não sabia que eu havia quebrado nosso pacto.
O problema é que eu sabia. Eu sabia que, ao contrário do
que Erin Burke pensava, eu não estava há 57 dias sem transar.
Minha última transa havia sido há 6 dias, no sábado, em Las Vegas.
Com a Nick.
Minha mãe havia renunciado a ter amigos, vida social e,
principalmente, vida sexual em prol do triunfo como promotora. Eu
havia tentado fazer o mesmo. Havia prometido a ela que faria o
mesmo. E eu podia enganá-la jurando que seguia sendo tão
celibatária quanto ela, com foco unicamente na promoção no meu
trabalho. Para ela, eu conseguia mentir.
No entanto, aquele final de semana em Vegas demonstrou
que eu era uma fraude para a única pessoa para a qual não era tão
fácil mentir: eu mesma.
Tentei fugir dos flertes de Nick e acabei na cama com ela. E,
o pior de tudo, é que aquele sábado não seria a última vez que eu a
veria. Eu ainda não sabia, mas em dois dias eu me reencontraria
com a mulher com quem eu transei em Vegas.
Uma mulher apaixonada pelo perigo e que fazia com que o
proibido tivesse gosto de sedução.
Ficar com Nick podia até ter sido uma transgressão. Algo
proibido. Mas, a viagem a Vegas havia me feito recordar que o
proibido é sempre mais gostoso.
1 – Cidade do Pecado
Apenas uma dose de você e eu soube
que eu nunca seria a mesma
Never Be The Same - Camila Cabello

ALYSSA
Las Vegas – Nevada
10 de setembro – Sábado anterior

— Las Vegas eu te amo! — Skyler gritou extremamente


entusiasmada, com metade do corpo para fora da limusine. —
Venham, meninas, olhem as luzes dessa cidade, amanhã é nosso
último dia aqui. Animem-se!
Chelsea e eu estávamos animadas. Mas, Skyler... Skyler
estava eufórica. E não havia sequer começado a beber. Para nossa
última noite em Las Vegas, ela havia exigido que fôssemos para a
balada em um daqueles carros pretos gigantes comuns na Cidade
do Pecado.
Skyler sempre foi fascinada por aquele lugar, mas Tony
precisou cancelar a viagem de lua de mel dos dois para lá por causa
de um inoportuno compromisso de trabalho. Eles haviam comprado
uma casa. Precisavam de todo o dinheiro que pudessem ganhar
para pagar a hipoteca.
Skyler estava muito empolgada para ir a Las Vegas. Então
ela e Tony concordaram que ela passaria último fim de semana
antes do casamento ali. Mas, não sozinha, comigo e com Chelsea.
Seria sua despedida de solteira.
— Você tem razão, a vista daqui de cima é maravilhosa. —
Eu concordei logo que Chelsea e eu nos juntamos a ela na abertura
da limusine.
— Vegas eu vou deixar minha marca! — Chelsea fez questão
de registrar seus próprios gritos de empolgação por aquelas ruas. —
Eu não quero ir embora. — Completou.
A euforia de Skyler nos contagiou e logo estávamos as três
na mesma vibração. A protagonista da viagem celebrou com
champanhe.
O carro cruzava as ruas da metrópole dando ainda mais vida
às suas inúmeras luzes coloridas. Elas cintilavam e destacavam
aquela infinidade de prédios que magnetizavam os olhos de turistas
fascinados como nós.
Antes mesmo de chegar ao nosso destino, ainda dentro do
carro, eu bebi minha primeira dose de martini que me faria
corroborar o principal apelido de Las Vegas: Sin City – Cidade do
Pecado.
A balada para a qual Skyler nos levou ficava no subsolo do
London Eye Hotel & Casino. Com uma decoração toda inspirada em
um dos grandes pontos turísticos da capital inglesa, o local fazia
uma releitura com grandes cabines de vidro que projetavam, de
maneira extremamente realista, uma vista quase completa da
cidade de Londres.
Além da balada no subsolo, o prédio possuía também um
cassino nos dois pisos superiores àquele, e acomodações que
justificavam o nome do lugar nas dezenas de pisos seguintes. Mais
do que a balada, estávamos ali para curtir a cidade e a viagem até o
último segundo dela.
Por isso, também passaríamos a noite em uma das suítes do
London Eye. Tudo organizado por Skyler. Mas, os custos da viagem,
eram por minha conta e de Chelsea. Um presente que nossa
mascotinha super merecia.
No meio da pista as três dançávamos extremamente festivas,
quando Chelsea chamou minha atenção, direcionando o olhar por
cima do meu ombro.
— Amiga, que a Erin nunca saiba que eu te mostrei isso, mas
você tem uma fã. — Falou no meu ouvido. — Ela não para de olhar
para você.
— Cuidado que a Erin passa por aquela porta e aparece bem
aqui, hein! — Skyler tripudiou do meu desafio e do medo de
Chelsea.
A última coisa que eu queria era ouvir menções à minha mãe.
E, muito menos diante da possibilidade de um flerte. Eu manteria o
celibato se eu apenas me divertisse um pouquinho e, jamais,
trocasse telefones ou qualquer informação da vida real.
Flertar não fazia parte do acordo. Mas, eu preferia não
produzir tentações para mim mesma.
Eu não tinha virado freira, só queria me tornar a principal
advogada especialista em Direito de Família e Sucessões do Wale
Associados. Eu tinha nascido para lidar com os divórcios e as
heranças dos milionários. E, minha conta bancária também.
Mas, era difícil me permitir qualquer diversão com a Chelsea
tratando de materializar a promotora Erin Burke ali no meio daquela
pista de dança.
Disfarçadamente, eu me virei e, pela primeira vez, a vi.
Com as costas apoiadas no balcão e os peitos empinados
para a frente, estava uma mulher que fazia zero questão de
disfarçar que me comia com os olhos. Depois de 51 dias de seca
como era bom me sentir desejada daquele modo outra vez. Por
mais que eu não devesse.
A ideia inicial era que eu desse apenas uma olhadela, mas eu
não podia impedir que meus olhos cor de mel se detivessem a
analisar alguém como a minha fã, à que Chelsea sinalizou. E
quando ela percebeu que tinha minha atenção, levantou o copo de
whisky que segurava na mão direita e sorriu sensualmente para
mim. Depois tragou um gole.
Ao seu sorriso eu traduzi como um convite.
Nem parecia mais que havia dezenas ou centenas de
pessoas espalhadas por todos os lados, movendo-se no ritmo da
música eletrônica. Depois de botar meu olho naquela mulher, eu a
encontraria mesmo no meio de uma grande multidão.
Não tenho certeza de que o seu sorriso foi intencionalmente
sensual porque ela era sensual só por respirar, só por existir. Sua
pele, de um tom marrom dourado, que faria um belo contraste com a
minha de um rosado amorenado, circundava um rosto e um corpo
que davam a ela um ar poderoso e altivo.
Além disso, ela estava discretamente maquiada entre
delineados pretos, tons de cobre nas pálpebras e, mais leves, nas
maçãs do rosto.
Os cachos castanhos escuros, iluminados em acaju haviam
sido partidos de lado e repousavam em seus ombros; pareciam
afeitos em enlaçar seus antebraços. Ela usava uma blusa tomara
que caia molinha, numa estampa que dava a impressão de pele de
cobra e um colar estilo coleira no mesmo tom. Essa combinação
valorizava seu pescoço e queixo, ambos longos.
Por mais que usasse um batom preto, como seus olhos,
definitivamente, aqueles lábios carnudos em forma de arco não
precisavam de nada para serem realçados. A calça e a bota preta
de couro prenunciavam que ela sabia muito bem qual seria sua
missão naquela noite – ser a própria enviada do diabo para me fazer
cair em tentação.
Que bunda! Que pernas! Eu senti imediatamente minha
vagina piscar de tesão.
— Uau! — Me virei de costas para ela e de frente para
minhas amigas. — Que gata. — Nem tinha como deixar de externar;
minha boca aberta deixava explícita qual havia sido minha
impressão sobre a garota que Chelsea me mostrou.
— Ela é bonita mesmo. — Skyler confirmou meu elogio.
— Eu pegaria se fosse a mim que ela estivesse olhando. —
Comentou Chelsea maliciosa.
E eu sei que era verdade. Chelsea era uma pessoa tão livre
como eu jamais havia conseguido ser completamente. E, não só
sexualmente falando. Gostava de sair com homens e mulheres e,
raramente, se apegava, mas era muito feliz assim.
— Alyssa, por que você não...? — Sky envolvida pela energia
do seu próprio casamento que se aproximava, agora queria ser meu
cupido.
— Skyler, eu já te falei meus motivos para ter aceitado o
desafio da minha mãe. E hoje eu não quero falar disso.
Eu a cortei porque sempre que falávamos daquele assunto,
discordávamos. Elas acharam uma loucura eu ter que passar por
uma espécie de preceito para conseguir uma promoção.
Não tinha problema, por mais que elas fossem minhas
amigas, não eram advogadas, portanto, não poderiam entender os
sacrifícios que o sucesso no Wale Associados exigia.
Bem como o quanto exigia ser filha de alguém tão bem-
sucedida como você que tem a mesma profissão.
— Um desafio idiota e super maluco. Até parece que alguém
é uma máquina para só viver de trabalho. — Chelsea fez coro à
Skyler direta e sincera como sempre.
— E outra coisa. — Skyler voltou a me interpelar. — Hoje
você não quer falar disso porque está alegre por causa do martini,
mas amanhã nenhuma de nós duas vamos aguentar sua ressaca
moral, se você se esquecer do tal acordo.
— Amanhã? — Chelsea riu. — Sky, você sempre tão
otimista. Se ela esquecer esse bendito acordo hoje, vamos ter o
retorno da Alyrin até no dia do seu casamento, duvida?
Minha amiga ruiva havia criado um nome que era uma junção
entre o meu e o da minha mãe. Como as pessoas fazem quando
shippam personagens fictícios ou personalidades públicas. Mas,
naquele caso, o sentido era extremamente negativo.
Segundo Chelsea, eu era uma pessoa incrível, mas quando
me esforçava para ser tão bem-sucedida como minha mãe, acabava
ficando desagradavelmente parecida com ela.
— Chelsea! — Gritei, repreendendo-a.
Ela sabia que eu odiava que ela me comparasse a Erin
Burke. Mesmo que ela fosse minha mãe e eu a admirasse. Eu
amava Chelsea e ela, definitivamente, não admirava minha mãe.
Apesar disso, muitas vezes, eu acabava inconscientemente agindo
exatamente igual a ela.
— Vocês duas estão muito chatas. Qual é? Vão curtir a última
noite de vocês em Las Vegas estragando a minha? — Reclamei.
— Não, Alyssa. — Skyler quis me acalmar. Ela não gostava
de me ver brava. — Só não queremos que você faça algo de que vai
se arrepender.
— Eu não vou fazer nada. — Encerrei o assunto
embaraçoso. — Só quero dançar.
Logo que falei isso, fui para a pista que ficava do outro lado
do balcão. Elas sabiam que era melhor não se aproximar. Aquele
não era um tema que me deixava nada serena. E, muito menos,
sabendo que alguém que me interessava estava flertando comigo e
eu não poderia ceder ao seu charme.
As duas logo voltaram a dançar. Com algum esforço,
poderiam me ver de longe e já haviam passado o recado que
interessava. O problema é que, talvez, eu não quisesse ouvir e,
então, todas as profecias delas se cumpririam.

Quando passei pelo balcão onde eu a havia visto bebendo


whisky, ao meu demônio da tentação, só vi o garçom recolhendo o
copo. Estranhei porque não havia me dado conta de, em que
momento minha fã desapareceu, mas aproveitei para voltar a
colocar meus pensamentos no lugar.
Eu não ia ficar com ela mesmo, então, o melhor seria não
voltar a vê-la.
Não tive muito tempo para colocar pensamento nenhum no
lugar, porque senti alguém esbarrando nas minhas costas. Quando
me virei, ela deu uma gargalhada que entregou que o esbarrão não
foi acidental.
— Desculpe. — Disse cinicamente.
Fiz uma nota mental de que aquela não era mesmo uma
mulher com quem eu devia me relacionar. Era a primeira vez que eu
ouvia a voz dela e era para falar com sarcasmo. E não há nada que
eu odeie mais no mundo do que pessoas sarcásticas.
Bom, não a todas...
— Tudo bem. — Respondi muito mais impressionada pela
beleza dela do que por seu jeito irônico.
De perto ela era mil vezes mais bonita. E era muito difícil que
não fosse esse o meu foco.
— Eu sou a Nicole. — Estendeu a mão. — Mas você me
chama de Nick!
Quanta confiança. Uma confiança que, putz... como era sexy.
— Alyssa. — Apertei a mão dela.
Quente, firme, agradável. Enquanto eu falava meu nome,
prometi a mim mesma que aquela seria a única informação pessoal
que eu daria a ela.
— Alyssa. — Repetiu como se tivesse passado um bom
tempo tentando adivinhar como eu poderia me chamar antes de
ouvir de mim. — Lindo nome.
— Obrigada. — Agradeci tentando me desvencilhar dela e
voltar a dançar.
Ao me virar, porém, senti uma mão tocando meu braço e
gelei. Já não era mais um flerte à distância. Agora era corpo a
corpo. Perto demais para alguém que precisou dar uma pausa na
arte da conquista à contragosto.
— Alyssa, por que a gente não continua essa conversa
dançando... juntas? — Ela fez um movimento com o corpo
salientando toda sua desenvoltura.
Ela era direta e extrovertida. Possivelmente, também era
divertida. E ainda era extremamente linda. Qual o motivo para que
uma única pessoa estranha tivesse tantas qualidades?
— Não. — Sei que não fui nada convincente.
A culpa era dos martinis que eu já não conseguia contar. E da
beleza dela que me distraía do que eu queria realmente dizer. Eu
não beijava ninguém há 51 dias e aquela mulher me dava água na
boca!
— Por que não? — Ela não aceitava facilmente às minhas
negativas.
Tentei pensar rápido, mas não estava nas melhores
condições para isso. Na nossa esquerda havia a porta de uma
cabine telefônica vermelha que funcionava como elevador. Eles
eram bons mesmo em transportar a gente para Londres.
E a mim na direção de cada vez mais confusão.
— Eu tenho outros planos. — Comecei a caminhar rumo à
cabine.
Nick, porém, longe de se dar por vencida, foi atrás de mim se
antecipando à desculpa que eu ia dar.
— Ah, você vai para o cassino! — Exclamou e eu assenti. —
É uma ideia quase tão boa quanto dançar.
Dentro do elevador, que só comportaria quatro pessoas além
de nós duas se não estivéssemos sozinhas, eu tive uma leve
vertigem quando ele saiu do lugar. Nick, rapidamente me amparou.
Foi gentil da parte dela, mas suas intenções estavam estampadas
em sua cara.
Enquanto ela me apoiava, eu percebi que ela mordeu
involuntariamente os lábios ao encarar os meus. Ela me beijaria ali
mesmo naquele elevador se eu lhe desse qualquer sinal.
E, se eu quisesse, eu poderia fazer isso. Que mal poderia
haver? Quem iria saber?
Eu.
Se eu não gostava de falhar aos acordos que fazia com a
minha mãe, muito menos aos que fazia comigo mesma. Eu ia saber
e isso era tudo o que importava.
Percebi que pretextos não iam funcionar. Era melhor eu ser
direta.
— Obrigada, Nick. Você é muito gentil. Eu não tenho o
costume de beber.
— Deu pra notar. — Ela riu. — Você está bem?
— Sim. — Ela me conduziu para um balcão que ficava atrás
das mesas de Craps - O jogo de dados, um dos mais famosos de
Las Vegas. — Só bebi mais do que devia.
— Podemos continuar... — Ela tentou mais uma vez me
seduzir.
Sei que eu não estava conseguindo disfarçar a atração que
senti por ela. Por isso ela não retrocedia. Ela era totalmente meu
número. O tipo de mulher que eu jamais deixaria passar.
— Nick, eu vou ser muito sincera com você. — Falei de olho
na mesa de Craps do nosso lado.
A euforia das pessoas que rodeavam a longa mesa com
bordas altas se deu pela derrota da lançadora daquela rodada que
favoreceu a alguns deles. Provavelmente, a última para ela. Eu
sabia, pois daquele jogo, eu entendia bem. A nenhum outro eu
ousaria jogar porque a vantagem seria toda da banca.
E, se uma coisa Erin Burke havia me ensinado, era a jamais
entrar em uma disputa da que eu não tivesse como certo que iria
vencer.
Quando eu era criança meu pai me presenteou com uma
caixa de Kit Cassino e me ensinou a jogar Craps. E, antes de se
separar da minha mãe e se mudar para Nova York, havia me levado
algumas vezes a um bar em San Diego cuja principal atração eram
mesas como aquela ao nosso lado. Eu ainda frequentava aquele bar
e me dava muito bem em uma das coisas que meu pai e eu
adorávamos fazer juntos.
A lançadora se retirou da mesa sem fichas e com cara de
ódio, acompanhada de um homem.
— Por favor, eu adoro sinceridade. — Nick pediu uma latinha
de água para mim e me entregou, pela qual eu fiquei extremamente
grata.
— Você é linda. — Como advogada, eu sabia muito bem
começar pela melhor parte.
— Você também! — Respondeu ela, colocando-se à postos.
Nick jamais baixava as armas. E, quem não gosta de ser
paquerada desse jeito por alguém por quem está atraída? Não sei
quanto aos outros, mas eu gosto.
— Pois então... — Prossegui, afastando-a com bastante
pesar. — Você é muito gata e eu super ficaria com você em
qualquer outro momento, mas...
— Já entendi. Tem outra pessoa. — Falou pela primeira vez
com ar de quem ia desistir.
Eu devia deixá-la pensar isso, seria o melhor para mim. Mas,
eu havia prometido ser sincera. Começar a mentir no meio do
processo não era legal. Além disso, no fundo no fundo, eu não
queria que ela parasse de me xavecar.
— Não é isso. Eu sou advogada. Alguém no meu escritório
vai ser promovido no fim de outubro. Então, eu fiz um acordo com a
minha mãe, que quer muito que eu consiga o cargo, de que não vou
ficar com ninguém até o dia da promoção.
Os olhos de Nick brilharam no exato momento em que eu
expliquei a situação a ela. Longe de desencorajá-la, minha
informação pareceu atiçá-la. Eu conhecia muito bem o brilho nos
olhos daquela mulher. Nick era como eu. Ela adorava um bom
desafio.
— É sério? — Ela riu vaidosa de constatar a reciprocidade do
meu interesse. — Um acordo? E isso lá é acordo que se faça,
Alyssa?
Encolhi os ombros e sorri do modo como ela tomou aquela
informação. Era fácil rir perto de Nick. Era tão fácil se sentir íntima
dela.
— Eu não imaginava que ia conhecer você no dia 51 de 100.
— E... — Ela pulou uma cadeira que estava entre nós e se
aproximou. — Eu não valho que você quebre esse acordo?
Ela me mirou com um olhar que... Eu não era capaz de
responder por mim se ele durasse dez segundos mais.
— Você sabe jogar Craps? — Perguntei me levantando.
A água tinha ajudado e a vertigem tinha passado de vez. Eu
já queria voltar a aproveitar minha última noite na cidade me
divertindo num Cassino. Já que para outros tipos de diversão, eu
estava fora de combate.
— Sim, sei. — Ela falou com um olhar tão decidido que eu
quase me arrependi de não ter mentido que tinha outra pessoa para
ela.
— Então, vamos esquecer esse papo e jogar. Estamos em
Vegas, não é mesmo?
— Ok. — Ela concordou com um sorriso muito malicioso. —
Só tem um problema.
— Qual?
— Minhas fichas não valem dinheiro. — Ela foi assumindo um
ar enigmático ainda mais sedutor.
E que me despertava coisas como curiosidade e até mais.
— Como assim?
— Eu não vejo graça em jogar à dinheiro, Alyssa. Então, se
nós duas estivermos na mesma mesa e eu te depenar como deve
acontecer...
— Até parece! — Ri gostoso da soberba dela. — Eu nunca
perdi no Craps.
— Quanta confiança. Isso é muito bom. — Ela mordeu os
lábios sorrindo. Dava para ver como ela vibrava com aquela
conversa. — Mas não é a única estratégia e habilidade que vale no
Craps. Se estivermos jogando na mesma mesa e eu vencer, devolvo
o seu dinheiro, mas quero outra coisa como pagamento.
— Que coisa?
— Algo que podemos apostar antes. — Ela estava super
empolgada, dava para ver em sua entonação. — Se você quiser.
Titubeei. Pensei um pouco. Era verdade. Eu nunca tinha
perdido no Craps. E Nick tinha razão quanto ao fato de que uma
aposta diferente, por fora da mesa, deixava tudo mais eletrizante e,
portanto, divertido. Essa era a adrenalina que a gente vai buscar em
Vegas. E eu não iria perder, afinal.
— Quero. — Era melhor que ela se empolgasse por jogar e
parasse de me paquerar de uma vez.
Eu não fazia ideia do que ela ia me dizer.
— Se você vencer, eu saio do seu pé, e só volto a te
procurar daqui a 49 dias quando acaba esse seu acordo maluco de
não transar.
— Gostei. — Concordei convencida pelo fato de que, assim,
eu não sairia no prejuízo total daquela viagem.
Ao menos garantiria um contatinho. Prendi o lábio sentindo
de novo uma pulsação lá embaixo. Será que minha libido não podia
dar um tempo e esperar os 100 dias? Óbvio que não. O proibido
sempre vai seduzir.
— Ok, Nick, apostado! — Dessa vez, eu estendi a mão para
ela. — Mas, e se você vencer?
— Se eu vencer, Alyssa... — Ao invés de apertar minha mão,
ela deslizou os dedos pelo meu braço nu e parou bem no limite do
tecido da alça do vestido que trespassava sobre meu busto. — Se
eu vencer você esquece seu acordo e passa a noite comigo. Se eu
vencer, você vai ser todinha minha.
2 – Já que está no inferno...
Vou bater na sua porta de noite
Completamente nua
Quem sabe, então assim
Você repara em mim
Nua - Ana Carolina

ALYSSA

Se me pedissem para narrar cada rodada do jogo e o total


que o dealer declarou ao fim daquela, eu não conseguiria. E nem
posso culpar os martinis como vim fazendo até aqui. Era a
adrenalina de me ver envolvida na partida, o fato de eu gostar tanto
do Jogo de Craps e a sorte absurda de Nick.
Tá, eu não acho que era sorte. Ela era realmente boa. Mas,
tinha que fingir para mim mesma que eu tinha chance de vencer.
Eu também não faço ideia de quando foi que Chelsea e
Skyler chegaram ali e surtaram querendo saber quanto dinheiro eu
havia comprado em fichas. Eu só não podia acreditar que aquilo
estava acontecendo.
— Seis e oito! Ponto! Lançadora segue na borda! — Gritou o
dealer puxando as fichas com o bastão e empilhando boa parte
delas na frente de Nick, como se ela já não tivesse tantas.
As outras foram distribuídas entre a mesa e os jogadores que
apostaram que Nick acertaria o 6 e o 8 de novo. Inclusive minhas
amigas traidoras. Eu era a única que seguia apostando contra ela.
Depois de 7 e 11, 6 e 8 eram os pontos mais difíceis de
conseguir no Craps. E Nick parecia que não lançava os dados, e
sim os encaixava onde queria. Aquilo era muito fácil para ela. Além
da sequência de três 7 e 11, como era possível que ela já houvesse
feito quase 50 pontos apostando no 6 e no 8?
A banca devia estar desesperada para que ela parasse. Por
que perder... Disso ela estava bem distante.
Ela dominava a mesa. Mas, se ela era tão boa como estava
demonstrando, nem precisava daqueles pontos. Podia apostar no 7
e 11 e vencer a última jogadora que seguia na mesa com fichas
para desafiá-la: eu.
Mas, não. Ela queria tripudiar, provar que era boa naquilo,
acabar comigo e com meu acordo dos 100 dias.
— Viu como eu consigo tudo o que quero, Alyssa? — Ela
cochichou no meu ouvido, sorrindo. — Especialmente se for uma
mulher.
— Chega, Alyssa! Você tem que parar de apostar. — Skyler
quase implorou confusa com o andamento do jogo.
— Eu só tenho mais essas fichas. — Mostrei as últimas seis
que me restavam. — Meu combinado com... ela era só até alguma
de nós duas perder todas as fichas.
— Então a próxima rodada será sua última. — Debochou
Chelsea.
Eu pude ver um sorrisinho de vitória no rosto de Nick. Ah,
como eu faria tudo para acabar com aquele ar de triunfo na cara
dela.
— Nos sonhos dela! — Mirei Nick com sangue nos olhos. —
Eu não posso perder, gente. Vocês sabem o que está em jogo e não
é dinheiro. — Voltei o olhar para minhas amigas.
As duas encolheram os ombros como se dissessem que a
culpa era minha por estar naquela situação. E erradas não estavam.
Nick, ao contrário de mim, reinava soberana na borda que ela
tinha conquistado desde o início do jogo, como um território
ambicionado por um gigante imperialista, e ostentava sua pilha de
fichas até difíceis de contar. Ela estava realmente me depenando
como tinha prometido fazer.
Mas, se ela pensava que eu estava derrotada, que ela
soubesse que os dados ainda estavam rolando.
Acho que eu precisava acreditar nisso mais do que ela.
— Linha de passe, lançadora 5! — Chamou o dealer.
Era meu número.
Empilhei três das minhas fichas no 7 e as outras três, no 11.
Era minha última chance. Mas também era o começo do fim de
Nick.
Os outros jogadores que já haviam sido derrotados na Linha
de Passe, também fizeram suas apostas. A confiança em mim era
quase nula. A maioria das apostas eram pela minha derrota.
E não é que eu era ruim. É que ela... Nick era uma bruxa
naquele jogo.
Até minhas amigas acreditavam mais nela. Não posso dizer
que Chelsea e Skyler tenham desistido de apostar em mim. Isso
elas fizeram sempre que eu era a lançadora. Mas, quanto a apostar
contra Nick... nisso elas eram umas belas de umas traidoras.
Todas as vezes que a mesa girava e Nick era a lançadora,
Chelsea e Skyler apostavam no ponto dela. Chelsea juntou as fichas
equivalentes aos 22 dólares que ela ganhava pela terceira vez
consecutiva por Nick ter acertado com muita satisfação.
E até parece que colocou metade delas na aposta que fez em
mim. Onde estava toda a nossa amizade? Parecia até que estava
gostando de me ver perder. E, na verdade, por como ela tratava
aquelas fichas, realmente estava.
— Belas amigas vocês são! — Reclamei vendo Chelsea
apostando pouquíssimas fichas no 5 e no 9.
— Se não fôssemos suas amigas, eu estaria apostando no 2,
3 ou 12. — Chelsea deu de ombros me lembrando os números da
derrota no Craps.
— É, amiga, não podemos apostar no 7 e no 11. — Skyler fez
coro a ela como se fosse natural que elas não torcessem por mim.
Preferi ignorá-las. Juntei os olhos. Imaginei aqueles dados
vermelhos parando exatamente no 7 e no 11. Eu adorava dados
vermelhos. Me davam sorte. Até aquele dia.
Imaginei a expressão de vitória de Nick indo lentamente
desaparecendo, Skyler e Chelsea arrependidas de terem apostado
a favor dela...
Mirei.
Dobrei o braço do jeitinho que meu pai me ensinou.
Joguei os dados.
2 e 12.
Não, você não entendeu errado. 2 e 12.
Perdi.
O dealer recolheu os dados e as fichas com o bastão,
entregou as que correspondia à Nick e encerrou aquela rodada. A
mulher de calça de couro e blusa com estampa que lembrava pele
de cobra, abriu mão de seguir apostando. Afinal de contas, o que
ela queria ali naquela mesa, ela já havia ganhado.

Mal saímos da mesa e Nick entregou as fichas para Skyler e


perguntou se ela podia trocar pelo meu dinheiro. E pelo dela
também. Tinha pressa.
— Cla-Claro. — Sky respondeu intimidada pelo quão decidida
Nick parecia.
— Amanhã você nos entrega, pode ser? — Voltou a fazer
uma pergunta para a qual tinha a certeza de que receberia um sim
como resposta.
Sky só sinalizou com a cabeça, precisando da ajuda de
Chelsea para segurar todas as fichas.
Nick sorriu demoradamente, estendendo a mão para que eu
a tomasse. Eu segurei. Sou Alyssa Burke e, para mim, palavra
dada, é palavra cumprida.
Ela me conduziu até o elevador com a porta em forma de
cabine telefônica vermelha de Londres; apertou o botou e passou a
mão pela minha cintura como se eu fosse dela, antes de se virar
para o balcão do bar, bem perto do elevador, onde Chelsea e Skyler
seguiam paradas.
Tão incrédulas quanto eu.
— 2304. — Falou radiante. Tanto que seu tom de voz saiu
mais alto do que deveria. — Pelo resto dessa noite, a Alyssa vai
estar no 2304. Esse é o meu quarto.
Sei que ela quis dar uma satisfação às minhas amigas que
certamente se preocupariam comigo. Não que eu sentisse que
realmente precisava, mas Nick era do tipo que só fazia o que queria.
Ainda assim, não gostei de seu jeito tão tirano e selvagem.
Por mais que esse mesmo jeito dela me estremecesse.
No sexo e na vida, eu estava acostumada a conduzir, não a
ser conduzida. Mas, não posso negar que sentir sua mão em minha
cintura me fez queimar por dentro. E por fora também.
A porta do elevador se abriu diante de nós e eu a questionei
enquanto entrávamos:
— Não quer um megafone, não?
— Oi? — Ela fez uma careta interrogativa.
Lá dentro, apertou o 23 e nossa viagem para o alto do edifício
começou. Eu podia imaginar tudo o que me esperava naquela suíte
e estava louca para tirar tudo isso do campo da imaginação. Mas,
precisava devolver a provocação.
Chelsea costumava dizer uma frase que combinava
perfeitamente com aquele momento:
Já que está no inferno, abraça o Capeta.
Nick me atraía, era inegável. Mas, ela tinha me vencido no
Craps, ia me fazer quebrar um acordo e, ainda por cima, me
provocava o tempo todo.
No bom e no mal sentido.
— Assim fica mais fácil anunciar para todo o London Eye
Hotel & Casino que eu vou passar a noite com você porque perdi
uma aposta. — Expliquei.
— Alyssa, Alyssa... — Girou o pescoço para a direita e mirou
fixamente para a câmera posicionada na quina do alto do ascensor.
Focada em nós duas no ângulo oposto. — Se eu quisesse anunciar
algo como isso, eu faria uma coisa muito mais escandalosa do que
falar num megafone.
— Você não está pensando em...? — Minhas pupilas
circundadas por íris cor de mel refletiam fascínio e incredulidade
pela ousadia do que ela insinuava.
Porém, eu não devia ter ficado incrédula. Seus olhos
percorreram meu corpo com tanto tesão, que pareceram deixar
sobre minha pele um trajeto de brasas flamejantes por cada
espacinho pelo que passou.
Minhas pernas quase bambearam.
Mas não foi seu olhar o que mais me queimou.
Foi sua atitude.
Com a mão direita, Nick agarrou minha coxa, à que ela
acessou pela fenda do vestido, fitando profundamente meus olhos.
A mão esquerda subiu para minha nuca, emaranhando seus dedos
por entre os fios lisos do meu cabelo longo, antes de segurá-los
bem firme. No instante seguinte, ela apertou bem forte minha coxa,
a levantou e encaixou minha perna na cintura dela, enquanto me
imprensou na quina do elevador.
Eu só tive tempo de colocar minha mão na sua face quando
senti o doce sabor da perdição de sua boca. Como qualquer droga,
eu jamais devia ter caído na tentação da primeira dose. Porque era
só do que eu precisava para me viciar completamente.
Quente. Nick era muito quente.
Ao sentir a língua dela na minha, sua pegada segurando meu
cabelo com uma mão e minha coxa com a outra, as carnes, nervos
e músculos que envolviam a fenda do meio das minhas pernas,
voltaram a fazê-la piscar. Não, piscar é pouco. Depois de 51 dias
sem ficar com ninguém, o que eu senti lá com o beijo da Nick não se
descreve com justiça com a palavra piscar, não.
Era mais do que isso. Enquanto nossas bocas se deliciavam
num beijo cheio de vontade, entre minhas pernas, uma sirene
tocava para anunciar que que eu ia finalmente sair da seca. E em
grande estilo.

O beijo no elevador com ar de provocação para as câmeras


do London Eye Hotel & Casino me deixaram muito excitada. E eu
sei que à Nick também. Além disso, o tempo que eu passei na
vontade temperou aquele momento com muito mais picância.
Entramos no quarto nos beijando ensandecidas. Derrubamos
uma garrafa que estava em um móvel perto da porta e não fizemos
nenhuma menção de parar. Os únicos movimentos que
interrompiam o rastilho de pólvora que íamos deixando pelo
caminho, eram os de pressa para nos desfazermos das roupas.
Eu estava louca para vê-la completamente nua.
Ela beijou e chupou demoradamente meu pescoço e, como
uma vampira faminta, mordeu meu ombro comunicando seu tesão
de todas as formas possíveis. E atiçando o meu. Joguei a cabeça
para trás captando no ar o perfume dela.
Bleu de Chanel com sua fragrância com notas âmbar e
almiscaradas que eu achava tão sexy. Era só isso que faltava.
Agora eu nunca mais ia esquecer o cheiro da Nick.
— Que delícia... — Confessei sentindo o pulsar da minha
circulação satisfeita por liberar suas feras.
Enquanto tirávamos os sapatos, ao lado da cama, seguimos
nos arranhando, nos mordendo, puxando o cabelo e chupando. Eu
ardia por aquela combustão. Inicialmente as chupadas foram só nos
lábios que latejavam pelo ebulir do êxtase do desejo. Mas logo se
expandiriam por diferentes texturas de pele de dois corpos
desvairados de tesão.
— Até parece que eu ia deixar uma mulher tão quente me
escapar em Vegas. — Ela se gabou orgulhosa.
— Como se não fosse você que estivesse me deixando em
chamas.
— Eu ainda tenho muito o que te esquentar. — Falou
segurando meu cabelo e me olhando com cara de má.
Ela gostava dessa ação com toda representação de
dominação que carregava. Estava cumprindo o que prometeu
quando apostamos e me fazendo sentir todinha dela. E eu... Eu
estava adorando.
— Me fode, Nick! — Pedi molinha. — Me fode agora.
Meu clitóris, escandaloso, além de disparar uma sirene por
sua vontade indecente de se sentir preenchido, tocado e
massageado de maneira erótica, por ela, ainda ficou todo melado
com as carícias de Nick; tanto que me fez requisitar sua arte de
modo até mais imperativo do que eu fazia nos tribunais.
Livres do meu sapato e de suas botas, eu abri o zíper da
calça dela e a deslizei por suas pernas irresistíveis. Ela usava uma
calcinha fio dental preta minúscula que me deixou de boca aberta.
De joelhos eu estava, de joelhos eu fiquei. Não conseguia parar de
observar aquela região que era ao mesmo tempo paraíso e inferno.
Porque na mesma medida que me deixava em êxtase,
também me queimava.
Por cima da minha cabeça, ela arrancou meu vestido e me
conduziu para a cama.
— Pode deixar, Alyssa. — Consentiu se colocando por cima
de mim com a perna esquerda e encaixando a direita no melhor
lugar possível. —Eu vou te foder todinha até você me pedir para
parar.
Eu ia dizer que isso não ia acontecer – eu pedir que ela
parasse –, mas ela me beijou e me estimulou com o bailar da sua
língua com a minha, enquanto esfregava sua perna na minha boceta
encharcada de tesão. Se eu ia quebrar o acordo, queria foder até
não conseguir aguentar.
Com tudo o que tinha direito.
Tiramos as calcinhas em seguida. Sutiã, nenhuma das duas
estava usando. E, com aquela delícia de mulher em cima de mim
enquanto eu estava lambuzada de excitação, estava rompido o
acordo dos 100 dias.
Arranhei as costas dela com minhas unhas enquanto ela
sugava meus mamilos com clara sede de mim. Revirei os olhos
projetando o ventre para a frente. Descontrolada.
E, quando ela se sentou me enganchando com suas pernas,
me deliciei com seus seios apetitosos que me fizeram salivar de
curiosidade por eles. Chupei com vontade. Mas com muita vontade
mesmo. Aqueles mamilos aveludados eram gostosos demais.
O sabor mais viciante que eu já havia sentido na vida.
— Eu gosto, Alyssa! — Falou com dificuldade entre gemidos.
— Da força com que você aperta minhas costas enquanto chupa
meu peito.
Intensifiquei ainda mais a força dos meus dedos nas costas
dela. E até na bunda. Não porque ela pediu, mas porque minha
vulva se contraiu ao ouvir sua voz rouca gemendo no meu ouvido.
Sem aviso, ela se pôs de quatro e caiu de boca para dentro
do acesso ao meu desejo. Amoleci toda na hora, mas nem fodendo
que eu ia perder a chance de fazer um meia nove. Dei um jeito de
me enfiar embaixo dela, tremendo de prazer pelo orbicular de sua
língua por ali e me segurei naquelas pernas de pecado.
Depois, com a técnica de anos de prática, atraí os grandes
lábios dela diretinho para minha boca. Para, logo em seguida,
explorar aquela pérola cuja concha eu tinha desbravado com a
minha língua. Eu era quase tão boa em chupar quanto em
comandar meus casos no tribunal. Todas as minhas ex ficavam
malucas quando eu lhes brindava com meu talento.
Só que meia nove... Meia nove era meu ponto fraco. Tanto
quanto era meu ponto forte. Chupar enquanto eu era chupada era
mais do que uma fantasia para mim, era a coroação de uma transa
bem aproveitada. Me lambuzei, degustando com fome a melhor
parte da Nick.
Porque ela era toda boa. Toda. Mas, quando experimentei
seu gosto, aí foi o apogeu dos deuses. Como se uma sinfonia
violinos tocasse naquele quarto para me recordar que aquilo era a
verdadeira glória.
Nessa hora eu vi estrelas. Subi e desci meu quadril na boca
dela e a vi cadenciar o dela na minha com a disposição de uma
bailarina. Eu estava insana. Ela, por vezes, enfiava a língua bem
fundo e, nessas horas, eu contraía a vagina como se praticasse
pompoarismo.
Porque queria segurar aquela língua feita para o prazer
dentro da minha vulva para sempre.
Ela não falava muito. Sua boca estava ocupada.
Mas, eu sei que eu também tinha um bom desempenho. Ela
gemia entre meus grandes lábios enquanto eu me esbaldava na
entrada do céu. Porque o prazer que eu senti ao chupar a relíquia
que era o lugar que percebi ser o ponto de seu clitóris ao que ela
mais reagia, eu não posso explicar.
Não demoramos a gozar. Foi forte. Para mim e para ela
também. Veio numa intensidade que germinava em ondas
inexoráveis de luxúria até explodir em gritos descontrolados,
agarrões selvagens e suor minando nos poros latejantes.
Essa não foi nossa única transa da noite. Repetimos. Nos
deliciamos. Até amanhecer, como Nick havia exigido.
Perdi a aposta e tive que ir para a cama como prêmio da
vencedora. Mas, eu não podia negar aquela noite, minha última em
Las Vegas, foi a glória e demonstrou que, definitivamente, eu tinha
fogo demais para me comprometer com o celibato.
Se tinha um lado bom naquilo tudo, é que, ao menos serviria
para sossegar o meu facho por mais 49 dias. Se eu tinha aguentado
51, nada poderia me distrair como aquela noite em Las Vegas. Nick
estava fora da minha vida e eu trataria de ficar longe da Cidade do
Pecado. E, certamente, Nick era a única maluca que era tão boa no
Craps quanto em proporcionar orgasmos insanos.
3 – Caos de estimação
Você está preso em um mundo que você odeia?
Você está cansado de todos a volta?
Com grandes falsos sorrisos e mentiras estúpidas
Enquanto lá dentro você está sangrando
Welcome to my life - Simple Plan

ALYSSA
San Diego – Califórnia
16 de setembro – Casamento da Skyler

— Quem se diverte não triunfa. — Repeti as insensíveis


palavras ditas pela minha mãe pouco tempo antes. — Ela acha
mesmo que uma transa de uma noite vai impedir o meu triunfo? E
ela fala isso sem nem saber a verdade, se soubesse, mudaria meu
nome no contato para “Filha fracassada de Erin Burke”.
Nem Chelsea e, muito menos Skyler tinham me perguntado
nada e nem perguntariam. Eu estava extremamente monotemática
desde aquela fatídica viagem. Como elas profetizaram que ia
acontecer. Além disso, elas sempre discordaram das críticas que
minha mãe me fazia e eu aceitava.
— Alyssa Burke, pelo amor de Deus! — Bufou Chelsea
sempre impaciente. — Olhe para sua esquerda. — Ordenou. — O
que você vê?
— Nossa, que engraçada… — Fiz careta mesmo sabendo
que ela tinha certa razão. — Vejo a Skyler vestida de noiva, o que
mais?
— Exatamente, Aly. — Ela falou como se fosse óbvio. — A
Skyler, nossa mascotinha, nossa melhor amiga vai se casar hoje. —
Enfatizou. — Você acha mesmo que esse é o momento para voltar
com esse assunto?
Suspirei. Encarei Skyler, branca como um papel. Era esse o
principal sinal de seu nervosismo e não era para menos. Ela ia se
casar. Ela havia dito para a mãe que só queria nós duas ali com ela,
pois nós a acalmávamos e olha só o que eu estava fazendo.
— Sinto muito, Skyler. — Me desculpei. — Hoje é o seu dia.
O Tony está te esperando lá no altar. — Ela sorriu começando a
respirar mais calmamente. — E nada pode dar errado. Afinal, você
não fez nenhuma idiotice em Vegas.
— Aly! — Chelsea gritou. — Se você não focar na Sky e não
fechar essa boca imediatamente, eu vou te expulsar daqui.
— E pare de dizer que você fez uma grande besteira em
Vegas. — Skyler apertou forte meu pulso. — Você só estava
vivendo sua vida, Alyssa. Não tem nada demais nisso e se a Erin
pensa o contrário, ela está errada.
Depois de um sorriso de ternura, cobri minha boca com as
duas mãos como prova de boa vontade. Era o máximo que eu podia
fazer naquele momento. Porque parar de pensar na promoção que
minha mãe esperava mais do que eu e no acordo quebrado em
Vegas, isso eu não conseguia fazer.
Pelo menos serviu para fazer Skyler rir da Chelsea tentando
controlar minha interminável crise de consciência. E, quase no
mesmo segundo, ela voltou a se ocupar de seu cabelo, vestido e
maquiagem. Chelsea e eu éramos suas madrinhas, portanto, eu
devia fazer o mesmo.
E fiz.
Não se pode dizer que eu acompanhei a cerimônia do
casamento de Skyler com muita empolgação e a cara de felicidade
incontestável que uma madrinha/melhor amiga deve ter. Mas, ela
sabia que eu a amava e queria toda a felicidade do mundo para
Tony e para ela.
Fiz o melhor que consegui. Skyler merecia. E, do sermão do
reverendo, à chuva de arroz, passando pela leitura dos votos pelos
noivos, eu estive ali. Com Chelsea, as famílias e os amigos dos dois
e Skyler.
Só que antes mesmo que Sky jogasse o buquê, minha
cabeça voltou à minha mãe e à burrada que eu fiz em Las Vegas.
Eu precisava esquecer isso de uma vez. E meu jeito de esquecer
era desabafando 896 vezes.
Só que Chelsea não queria me ouvir. Além disso, tudo o que
me diria seria que minha mãe estava louca com aquele acordo – e
eu por aceitar e me preocupar com ele. Skyler, mais delicada que
Chelsea, não podia me dar atenção e pensava igual à outra
madrinha.
Eu estava perdida. Sabia que devia parar de encher minhas
amigas como se elas tivessem alguma responsabilidade no meu
novo caos de estimação. Mas, o que fazer comigo mesma, se ele
não saía da minha cabeça?
— Aly? — Os olhinhos castanhos de Oliver me encararam
com toda a seriedade do mundo.
— Oi, meu amor.
— Por que você disse para a Sky que fez uma... como era?
Ah, lembrei, besteira homérica em Las Vegas?
Alguém parecia querer me ouvir. E eu tinha que aproveitar
que era uma pessoa que não me julgaria. Mesmo que ele só tivesse
oito anos. Ele era o irmãozinho mais novo de Skyler e, com a
iminência do casamento dela, passou a semana toda nos cercando
e me escutou algumas vezes lamentar pelo que fiz na viagem.
Talvez tenha até escutado durante o casamento também.
— O que você acha que eu fiz? — Como se um garotinho
realmente fosse saber me responder.
Ele se levantou do lugar dele com um copo de refrigerante,
sentou-se ao meu lado e, segurou minha mão.
— Você deve ter entrado naqueles carros pretos grandões,
ido numa capela e casado com alguém. Mas quem fez o casamento
não foi um reverendo como o que fez o casamento o da Sky.
— Ah não? — Segurei o riso dando asas à imaginação do
pequeno. — E quem foi?
— Foi aquele homem de terno branco por cima de uma
camisa cheia de brilhos. Ah, ele usava óculos escuros, cantava e
tinha cabelo preto... de moicano assim.
As mãozinhas em volta da cabeça sinalizavam a altura do
cabelo que os intérpretes só podiam conseguir com muito laquê. Ou
uma peruca personalizada, como era mais comum.
— O Elvis? — Caí na gargalhada. — Só você, Oliver. Não,
não foi isso que eu fiz.
— Ah, já sei. — Ele queria mesmo decifrar a tragédia que
tinha me acontecido em Las Vegas.
E a sugestão seguinte foi, de fato, uma tragédia.
— Você foi tirar uma selfie e caiu lá de cima do Grand
Canyon! — Vi em seu rosto que ele acreditava realmente no que
estava dizendo. Até arregalou os olhos preocupado.
— Se fosse isso, como eu estaria aqui? — Perguntei
sorrindo, super interessada nas teorias do Oliver para o drama que
eu vinha fazendo.
Mas, eu devia ficar brava por ele achar que eu faria algo
como cair do Grand Canyon por uma selfie. Eu não sou tão burra
assim. Quer dizer, depois de ter apostado e perdido para a Nick em
algo que era importante para mim, já nem posso sair por aí
ostentando minha inteligência acima da média.
E acredite em mim. Eu costumo fazer isso. A única filha de
Erin Burke só podia ser perfeitamente ensinada a sempre exibir toda
a empáfia com muito orgulho. Como se fosse natural.
— Então você perdeu todo seu dinheiro nos caça níqueis? —
Ele insistiu. — Agora você é pobre?
— Quase isso. — Respondi. — O que eu fiz tem sim a ver
com apostas, Olie. Mas, eu não perdi todo meu dinheiro nas
máquinas. O que eu perdi, ainda dá para recuperar.
Pelo menos eu achava.
Logo, até Oliver se cansou do meu único tema e foi brincar
com seus amigos na festa que não demorou a acabar. Eu tinha o fim
de semana inteiro para esquecer Las Vegas e voltar toda minha
concentração para o Wale Associados na segunda-feira de manhã.
Focar em executar bem meu trabalho e esperar ser promovida em
30 de outubro.
O problema não era esquecer Las Vegas. O problema era
aquela noite. Aquela noite... e a transa com Nick. Depois uma noite
com ela, entendi por que ela fez aquela aposta com tanta
segurança. Uma noite era tudo o que ela precisava para se fazer
inesquecível. Uma noite e nada mais.

San Diego – Califórnia


19 de setembro – Segunda-feira
Wale Associados

Quando Madie, minha assistente, me avisou que Sidney Wale


nos esperava para a habitual reunião das segundas um pouco mais
cedo, eu estava terminando de enviar um requerimento. Ainda tinha
tempo antes da data limite determinada pelo juiz, mas eu sempre
fazia essas atividades com toda a antecedência possível. Ainda
mais com uma disputa por uma promoção em aberto; eu sabia que
tinha adversários capazes de tudo por aquele cargo, assim como
eu.
Lamentei por ter que deixar o caso de Charlie Foster, que
verdadeiramente me empolgava, um pouco de lado para atender ao
meu chefe, mas ele não podia esperar. Ao menos, eu havia
conseguido revisar e protocolar o requerimento antes da reunião e
tinha um crédito a mais que juntar ao meu currículo para a disputa
pela vaga de advogada responsável pelo departamento de Direito
de Família e Sucessões do Wale Associados.
E, esse currículo, nada mais era do que continuar fazendo
meu trabalho com excelência.
Entrei na sala de reuniões confiante. Eu sempre me sentia
assim nas reuniões de segunda porque além de ser sempre
bastante elogiada, costumava manter meu trabalho rigorosamente
em dia. Erin Burke – e Sidney Wale – pensavam que eu devia
dedicar meus finais de semana para o trabalho e, com exceção do
anterior, eu vinha fazendo isso há quase dois meses.
Só que eu nunca precisei trabalhar nos fins de semana para
me destacar naquele escritório e nos tribunais. E, às vezes, pelos
questionamentos de Skyler e Chelsea, me perguntava por que havia
deixado minha mãe me convencer de que precisava fazer isso.
Wale ainda não havia chegado, mas com certeza não se
atrasaria, ou não teria nos convocado para a sala de reuniões. Ele
era rigorosíssimo com tudo. Ao passar os olhos pelo ambiente, notei
que Jimmy Russell, parecia nervoso.
— Você vai se sentar aqui, como sempre, Alyssa? — Madie
sugeriu a borda da mesa próxima à porta de saída que eu sempre
ocupava depois de empilhar meu relatório no suporte de onde
Sidney Wale os recolhia.
O local me lembrava um pouco aquela borda da mesa de
Craps que Nick conquistou em Las Vegas e que abriu caminho para
que ela me levasse para a cama na mesma noite. Ajeitei a postura
retomando o foco no trabalho e abandonando a memória daquele
pequeno desvio de rota.
— Não. Eu quero me sentar lá. — Sinalizei com os olhos. —
Do lado do Jimmy.
Confesso que senti uma satisfaçãozinha ao vê-lo apurado
pela antecipação da reunião e não poderia perder a oportunidade de
mostrar a ele que eu era uma adversária a quem ele deveria temer.
Jimmy Russell era meu principal oponente na disputa pelo cargo e,
certamente, a quebra de protocolo de Wale, havia feito com que ele
se desestabilizasse. Ao menos por um momento.
— Você está bem, Jimmy? — Indaguei ativando
espontaneamente o porte mais poderoso que eu havia aprendido
com Erin Burke.
Só um orgasmo me dava mais satisfação do que interrogar
uma testemunha suspeita. E, às vezes, era divertido projetar essas
testemunhas no Jimmy. Ele era tão irritante quanto elas.
— É claro. — Ele falou assustado. — Por quê? Eu não
pareço bem?
— Desse jeito acelerado, protocolando requerimentos na sala
de reuniões a instantes da chegada de Wale? O que você acha?
Ele normalmente me daria uma resposta ácida. Mas, era um
advogado esperto. Só fazia isso quando tinha a certeza de que
estava em vantagem. Então, partiu para uma outra estratégia típica
dele. Mesmo sabendo que não me comovia.
— Esse era o meu fim de semana com o Evan. — Falar do
bebê era sempre sua maneira de fugir da responsabilidade no
trabalho. Quase revirei os olhos. — Ele teve febre, a creche não
quis pegá-lo, Ashley se recusou buscá-lo e eu levei um tempo para
conseguir uma babá. Me atrasei um pouquinho. Mas vou fazer
horas-extras hoje e amanhã para compensar.
Só o olhei com desprezo. Imaginei o que aconteceria se
fosse uma mulher que usasse um pretexto como aquele para
atrasar um compromisso laboral. Seria imperdoável. E, por mais
divertido que fosse, eu não tive tempo de seguir provocando-o
porque Wale abriu a porta.
— Bom dia! — Exclamou abotoando o terno. — Todos os
relatórios já estão aqui?
Apontou para o suporte vertical na esquerda da mesa onde
Madie tinha colocado o meu, bem como os de todos os outros
assistentes. Todos, exceto um.
— Em alguns instantes, Senhor Wale. — Jimmy era o único
atrasado. — Eu estou terminando de protocolar...
— Apure-se! — Interrompeu-o impaciente. — Além dos
relatórios, hoje eu tenho outro assunto que tratar com vocês.
Wale fazia questão de receber um reporte semanal detalhado
de todos os casos do escritório. Tínhamos que deixá-lo a par de
possíveis caminhos, estudo das manobras dos advogados das
partes contrárias ou da promotoria e até de eventuais complicações.
Uma parte do prestígio de seu escritório estava baseado na
antecipação que ele considerava o segredo para o sucesso nos
tribunais.
E era exatamente por esse predicado promissor que a
maioria dos promotores temiam enfrentar advogados do Wale
Associados. Sabiam que Sidney Wale era uma raposa ferina e todos
os advogados selecionados por ele também.
E, modéstia à parte, de todos eu era a mais temida tanto por
meu sobrenome, quanto por minha própria coleção de vitórias
admiráveis pela minha idade e tempo de carreira.
Quase me arrependi de me sentar ao lado de Jimmy quando
sua agitação começou a invadir meu espaço. Ele estava derretendo
de suor, aflito, por não ter terminado o relatório a tempo. Isso me
distraiu um pouco do sinal que Wale fez para a porta.
Quando ela a abriu, contudo, eu não consegui mais ver
Jimmy ou nenhum outro advogado naquela sala. Só podia ser uma
alucinação. Eu repetia para mim mesma que não era real.
Minha alucinação, porém, deu cinco passos e parou ao lado
de Sidney Wale. Ele colocou a mão direita nas costas dela com um
sorriso de orgulho ao que eu identifiquei por milagre. Era ela. Nick.
A mesma Nick que me desestabilizou em Las Vegas
materializada ali na minha frente. A boca dela se abriu ao me ver e,
assim como eu, acho que ela pouco ouviu do texto de introdução de
Sidney Wale para sua presença ali.
Entretanto, de dentro de mim, algo gritou que aquele não era
lugar para devaneios relacionados ou não a um fim de semana
inesquecível. Aquele era meu trabalho e eu precisava me recompor
para entender o que estava acontecendo ali.
— Dito isso, lhes apresento Nicole Wale. — Prosseguiu meu
chefe. — Minha filha. Ela vai fazer um estágio de 30 dias no Wale
Associados. Está muito interessada em conhecer a profissão e não
há lugar melhor para que ela se familiarize com ela do que este
escritório.
— Ela é advogada, Senhor Wale? — Kurts indagou.
— Não! — Ela mesma respondeu antecipando-se. — Mas eu
vou trabalhar aqui de maneira responsável e dedicada pelo tempo
que meu pai, o Senhor Wale, referiu.
Falava olhando para mim, tão enigmática – e sexy – como
naquela mesa de Craps.
Eu não sabia o que pensar. Estava extremamente confusa.
Será que era possível que tudo aquilo fosse apenas uma absurda
coincidência, ou seria uma armação de Nick?
Talvez fosse até pior.
Talvez ela estivesse em Las Vegas a serviço do próprio pai
para me testar...
— Todos podem se retirar. — Sidney nos dispensou depois
da apresentação.
E isso era mais uma coisa que demonstrava quão atípica era
aquela situação. As reuniões de segunda costumavam durar, pelo
menos, uma hora. O Senhor Wale perguntava até o último detalhe
que imaginasse ser pertinente dos casos defendidos pelo staff do
Wale Associados.
Naquele dia, ele simplesmente nos apresentou Nick e se
contentou com os relatórios.
Muito empenhada em controlar o meu nervosismo e, pelo
lugar que eu havia me sentado, precisei esperar a maioria dos
advogados saírem da sala, antes de fugir dali. E, ainda por cima,
teria de passar por Nick e por Sidney, de pé, próximos da entrada.
Mas, isso estava longe de ser o pior que ia me acontecer ali,
naquela sala.
Quando eu estava a poucos passos de ficar sozinha e ter
tempo para decifrar aquele confuso quebra-cabeças, ouvi a voz de
Sidney Wale:
— Senhorita Burke, espere! — O inesperado chamado me
deteve. — Ainda tenho algo a tratar com a senhorita.
— Comigo? — Minha boca estava tão seca que não sei como
a voz não falhou.
Eu não me lembrava de nenhum assunto pendente com meu
chefe e, esse chamado no exato momento em que ele apresentava
minha ficante de Las Vegas como sua filha, me fez perder a
naturalidade. Na minha mente, meu sobressalto era evidente. E era.
Para ela, pelo menos.
A sensação que eu tive é que Nick percebeu meu estado e
fez uma expressão de provocação. Parecia que, assim como eu
gostava de provocar Jimmy, ela gostava de fazer o mesmo comigo.
E pensar que agora eu teria que aguentá-la por 30 dias no Wale
Associados.
— Sim. Quero falar com a senhorita sobre Nicole Wale,
minha filha.
Tudo que eu pensei foi que, talvez, aquele fosse um bom
momento para usar a indigna estratégia de Jimmy de se fazer de
vítima diante de uma situação difícil de contornar. Aquele seria um
ótimo momento para fingir um desmaio.
4 – Brincando com fogo
Nós, garotas, somos tão mágicas
Pele macia, lábios vermelhos, tão boas de beijar
Difíceis de resistir, tão gostosas de tocar
Boas demais para sermos negadas
Não é grande coisa, é inocente
I Kissed A Girl - Katy Perry

NICK
San Diego – Califórnia
19 de setembro
Sede do Wale Associados

Só de estar em San Diego eu já sentia urticária. Todas as


vezes em que eu ia para minha querida cidade natal, meu pai
passava todo o tempo em que estava comigo tentando me
convencer a estudar Direito. E, agora eu estava na saleta anexa à
sala de reuniões, esperando o “Ok” de algum de seus muitos puxa-
sacos para ser apresentada ao quadro de funcionários.
Eu nunca tinha pagado tão caro por uma moto. E a todas às
que tinha tido, eu tinha conquistado. Fosse por meu desempenho
junto à patrocinadores, fosse por prêmios que eu ganhava nos
circuitos. Nem mesmo aquelas nas que eu me apeguei mais do que
às mulheres pelas quais me apaixonei, haviam me custado tanto.
Trinta dias naquela empresa seriam os mais entediantes da
minha vida. Ainda mais porque esse era também o prazo que eu
havia estabelecido comigo mesma para convencer meu pai a aceitar
o Motocross como minha profissão. E esse era um desafio quase
impossível.
O que estava bem longe de me intimidar.
Já estava quase saindo correndo dali, consumida pelo
sentimento de claustrofobia que aquelas paredes me provocavam
quando, finalmente, Vincent, a sombra, digo, o assistente do meu
pai, me chamou para entrar.
Tinha um lado positivo em todo aquele ritual, eu seria
apresentada a todos os advogados do Wale Associados de uma
única vez, evitando ter que socializar por partes com vários
grupinhos de gente chata. O lado negativo seria ter que aguentar os
puxa-sacos que, certamente viriam me rodear pelo meu sobrenome
diariamente. Mas, disso não dava para fugir.
Entretanto, encontrar a Alyssa ali? Para isso, definitivamente,
eu não estava preparada. Quando levantei meus olhos ao passar
pela porta, a vi lindíssima, e chocada, ao lado de um engomadinho
inquieto do outro lado da mesa.
A primeira vez que eu a vi na pista de dança em Las Vegas
voltou à minha mente na hora. Lembrei de quando decidi que ia ficar
com ela naquela noite e do quanto ela estava bonita. Que ela
roubou minha atenção pelo resto da noite e que eu jamais me
arrependi de um único segundo que investir em levá-la para minha
cama.
E, por mais de uma semana, ela ficou na minha cabeça com
aquele vestido vermelho com uma fenda que começava logo
embaixo da bunda e descia pela extensão de suas pernas
irresistíveis.
Agora ela estava na minha frente de novo com um elegante
blazer branco de executiva que – não devia, eu sei – até atiçava
meus fetiches mais silenciosos. Aquele rosto num tom único de
marfim com uma maquiagem quase imperceptível me magnetizava.
Mesmo que eu sentisse um pouco de pena do choque que eu via
estampado em sua expressão.
Quero dizer, será mesmo que era pena? Acho que não era
não. Era tesão; era atração. Ela havia sido uma das melhores
transas da minha vida.
Meu pai seguia com aquele texto sem sentido, até que um
paspalho qualquer perguntou se eu era advogada.
— Não! — Exclamei de supetão. — Mas eu vou trabalhar
aqui de maneira responsável e dedicada pelo tempo que meu pai, o
Senhor Wale, referiu. — Usei um tom irônico que certamente
orgulharia Sidney Wale.
Nem mesmo enquanto eu falava, consegui tirar os olhos de
Alyssa que, com aquele blazer branco parecia ter seus olhos cor de
mel ainda mais iluminados, revelando o vigor tórrido por trás deles.
Até parece que eu me lembrava que estávamos no Wale
Associados. Do que eu me lembrava era daquela mulher deliciosa
pegando fogo na minha cama.
Meu pai mandou todo mundo sair e Alyssa demorou um
tempo para começar a se mover. Havia muita gente na frente dela
na direção da porta e, além do mais, ela seguia perplexa.
— Senhorita Burke, espere! — Ordenou o poderoso Sidney
Wale.
Acho que ele pensava que eu sentia admiração ao vê-lo
naquela posição de Big Boss da que ele tanto se orgulhava. Mal
sabia ele que isso costumava me revirar o estômago. Exceto,
quando era, e naquele caso era, para manter Alyssa um pouco mais
de tempo perto de mim.
— Ainda tenho algo a tratar com a senhorita.
— Comigo? — Ela questionou sendo obrigada a desviar o
olhar para meu pai.
Não pude evitar morder meu lábio em provocação. Se antes
de conhecê-la, Alyssa já me alucinou, depois daquela noite então...
Eu precisava repetir. E precisava fazê-la saber que eu queria isso.
Nem lembrei que ela tinha um acordo idiota com a mãe de não
transar até sei lá quando.
Ela já o tinha quebrado mesmo, que diferença fazia se
acontecesse outra vez?
E, no que dependesse de mim, não existia o “se” ela
quebraria o desafio, mas quando.
— Sim. Quero falar com a senhorita sobre Nicole Wale,
minha filha. — Meu pai respondeu a frase que não fez nenhum
sentido apontando para mim.
E aí, ele conseguiu minha atenção.
Acho que foi só nessa hora que eu me dei conta de que se
Sidney Wale já era extremamente prepotente como pai, imagina
quão dominador ele não devia ser como chefe. Alyssa inspirou
profundo, como se estivesse se segurando para conseguir se
manter em pé.
Mas, ela tinha autocontrole. E uma boca extremamente
apetitosa...
— Claro! — Ela concordou visivelmente com aquela boca
seca.
— Alyssa, você é a melhor advogada do Wale Associados. —
Ele a elogiou num tom que me fez perceber que ele queria que eu
soubesse que a advogada era, certamente, a filha que ele sempre
quis ter.
— Obrigada, Senhor Wale.
— Nicole odeia o Direito. — Ele nem disfarçou seu
desapontamento por mais que eu estivesse do seu lado.
— É? — Alyssa inclinou suavemente o pescoço. — E, por
que ela está aqui?
— Para mudar de ideia.
— Não, pai, eu não... — Nem sequer tive a chance de
contestá-lo.
— É isso sim! — Exclamou como se fosse suficiente para me
calar.
Não era. Eu me calei porque, com Alyssa, com certeza eu me
entenderia muito melhor longe dele.
— Nick vai passar 30 dias trabalhando no Wale Associados.
— Continuou. — Eu quero que ela acompanhe a maioria dos
processos possíveis, mas que preferencialmente ela auxilie a você
no seu trabalho.
Comecei a entender suas intenções porque conhecia muito
bem o meu pai. Infelizmente – para ele, óbvio – sua ânsia por
projetar suas expectativas em mim não permitia que ele me
enxergasse tão bem como eu a ele.
Minha mente repassou as palavras do meu pai.
Preferencialmente ao lado de Alyssa. Essa era a proposta de Sidney
Wale. De repente, esse um mês trabalhando no Wale Associados
deixou de parecer tão entediante.
— Como quiser! — Exclamou ela mordendo o lábio e me
encarando. Estava bufando de ódio. — E, o que eu devo ensinar à
Senhorita Burke?
— Nick! — Afirmei. — Por favor, Alyssa, você me chama de
Nick. — Observei meu pai e me preocupei de que ele notasse que
eu estava flertando com sua melhor advogada. Não queria
prejudicá-la, só levá-la ao orgasmo. — Se vamos trabalhar juntas
durante todo o mês, isso com certeza é o mais adequado. —
Contemporizei o flerte.
— Claro. Nick. — Eu vibrava com o quão bonita ela ficava
quando estava brava.
Tudo bem que ela devia estar querendo me matar, mas assim
como em Las Vegas, eu daria um jeito de dobrar a resistência de
Alyssa. Ou não me chamava Nicole Wale. E, para Alyssa, sempre
seria só Nick.
— Não é questão de ensinar, Senhorita Burke. Para isso,
temos excelentes universidades neste país e Nick rejeitou a todas.
— Revirei os olhos com o despotismo dele.
Eu já era independente, só pedi a ele um patrocínio que não
faria nem cosquinha em suas robustas finanças! Além do mais, não
gostava da ideia de ele me desmerecendo perto de Alyssa. Afinal de
contas, ela praticamente não me conhecia e seria péssimo que
formasse sua opinião sobre mim com base na frustração do meu pai
com a carreira que eu tinha escolhido.
— Entendo. — Ela respondeu mais calma. Acho que havia
imaginado aquela situação de um jeito muito mais tenso do que
estava sendo.
Não que estivesse sendo tranquilo, mas ela pode ter pensado
outra coisa quando meu pai disse que queria falar sobre mim.
— Sua missão com a Nick, Senhorita Burke é fazê-la se
apaixonar pelo trabalho como advogada. Você tem 30 dias para
fazer com que a Nick decida dar ao direito uma chance que ela
nunca deu.
— Como quiser, Senhor Wale. É só que estou muito dedicada
ao caso de Charlie Foster e como é um caso de divórcio, Nick pode
não achá-lo tão empolgante...
— Senhorita Burke, — meu pai colocou a mão no ombro dela
e deu dois passinhos, mas eu continuava conseguindo ouvir o que
ele falava —, você sabe qual é meu lema aqui no Wale Associados.
— Sim... Que todo caso é tão importante quanto qualquer
outro. — Ela respondeu.
— Nick é como um caso. Sua função continua a mesma: se
destacar ganhando tudo para nós. Esses ganhos entram em seu
currículo. Mas, caso você consiga o que estou lhe pedindo, terei que
me contradizer. Porque esse é sim um caso mais importante que os
outros para mim.
— Já entendi. — Alyssa se virou para mim. — Farei o meu
melhor.
— Como sempre! — Ele voltou a elogiá-la. — Eu confio em
você, Senhorita Burke. Se alguém pode fazer a Nick se apaixonar
pelo Direito, esse alguém é você.
Vincent chamou meu pai na porta e ele fez um sinal com a
mão de que logo estaria lá. Depois se voltou para nós duas.
— Se não for um problema para você, oriente a Nick pelo
resto do dia e faça-a querer voltar ao Wale Associados amanhã.
— Pode deixar. Me acompanha, Senhorita Wale?
Assenti com os olhos vendo meu pai se afastar. Quando ele
sumiu pelo corredor atrás de Vincent, Alyssa e eu começamos a
caminhar na direção de onde ela teria que me levar.
Para sua sala, eu supus.
Segurei o pulso dela, sentindo uma gostosa vibração por
tocá-la outra vez, pois as memórias de Las Vegas estavam muito
vivas. Ela me olhou encolerizada e conferiu se meu pai estava
realmente fora do nosso campo de visão. E nós do dele.
Mas, quem quebrou o silêncio, fui eu:
— Alyssa, eu já te disse duas vezes que você... Você me
chama de Nick!

— Alyssa, eu terminei de preparar os documentos do


inventário de James Heigl como você me pediu, mas tem uma
discrepância nos valores da propriedade de Tijuana. — A assistente
olhava aflita para a tela e para Alyssa sem entender a agitação
visível dela.
Desde que chegamos à sala dela, a garota tinha quase
chegado a dar piruetas para chamar a atenção da advogada à quem
ela assessorava, mas não conseguia. Ela continuava me fulminando
com os olhos.
Acho que me culpava por, ao menos uma parte, daquela
confusão toda.
— O filho do senhor Heigl já havia me alertado. — A mulher
de roupa social branca falou segurando uma caneta prateada com
uma postura soberana atrás da mesa.
— Eu posso consultar o registro digital de imóveis e imprimir
uma cópia da escritura. — A garota sugeriu.
— Não, Madie, não adianta. Se as informações estão
discrepantes, você deve resolver o que tiver que resolver na fonte e
não tentar facilitar as coisas, pois lá na frente um problema que
agora seria de fácil solução, pode nos custar o caso. — Disse com
muita competência.
— Ou seja... — Madie começou a juntar suas coisas que
estava na escrivaninha da esquerda.
— Vá ao Registro de Imóveis de Tijuana e levante toda a
informação sobre essa propriedade. Cada dono que teve, os
registros de compra e venda, as plantas aprovadas pela prefeitura,
se houve reformas, tudo.
— Está certo. — A garota terminou de se ajeitar e parou na
frente dela. Ao lado da cadeira na qual eu estava sentada. — Se
precisar de mim, pode ligar. Em todo caso, se eu vou ao Registro de
Imóveis de Tijuana, não devo conseguir voltar ao escritório hoje.
— Não se preocupe, Madie. — Falei com um sorrisinho
irônico. — Eu te cubro, por aqui. Enquanto você estiver fora, eu faço
as vezes de assistente da Alyssa.
Quando a porta se fechou atrás de Madie, eu fui apresentada
ao espírito animal de Alyssa. Ela parecia minha mãe quando eu
fazia alguma coisa errada, me intimidando com um olhar que eu
queria dizer que não me amedrontava, mas seria uma grande
mentira.
Ela caminhou até a porta e a abriu, conferindo se tinha
alguém ali em volta pelos corredores. Depois fechou, passou a
chave, cruzou os braços e ficou parada me encarando. E eu só
conseguia pensar que ela parecia uma modelo naquela pose.
Mas, não aquelas modelos sem graça, que parecem ter todas
o mesmo rosto. Ela era uma deusa. Se tivesse uns 10cm a mais de
altura, seria aceita em qualquer passarela do mundo e, sem
dúvidas, ofuscaria a qualquer outra mulher.
— Eu estou esperando você me explicar tudo isso! —
Exclamou quando percebeu que eu não tinha começado a falar.
Mas, o que diabos ela queria que eu explicasse?
— Explicar o quê? — Levantei e caminhei até ela para que
pudéssemos conversar de frente. — Essa situação me surpreendeu
tanto quanto a você.
— É mesmo? — Ela indagou com convicção. — Então por
que eu sou a única que parece surpresa?
Era óbvio que eu estava tendo uma atitude mais
despreocupada do que a dela. Não tinha como ser diferente, pois
aquele era seu trabalho, ao que ela parecia amar, enquanto eu
odiava aquilo tudo ali. Além do mais, reconheço que meu jeito
burlesco podia ter passado a impressão de deboche e desinteresse.
Às vezes meu sarcasmo passava do tom.
E sim, o Wale Associados me provocava desinteresse, mas a
Alyssa não.
— Pois eu estou tão surpresa quanto você. — Reiterei firme.
— Isso não é possível. — Ela meneava a cabeça em
negativa. — Como eu fui cruzar com a filha do meu chefe lá em Las
Vegas? É muito azar!
Aí eu já não podia admitir. Nosso encontro foi tudo, menos
azar.
— Azar? Para você foi azar, Alyssa?
Fui me aproximando inadequadamente pelo local em que
estávamos. Ela deu um, dois, três passos para trás até que suas
costas se chocaram com a porta cinza chumbo que ela havia
trancado.
— Para você tudo isso é uma brincadeira, não é? —
Perguntou prendendo os lábios ao olhar para minha boca. Isso
mesmo. Ela não olhou para meus olhos, olhou para minha boca. —
Isso aqui é meu trabalho, é tudo para mim. O que você veio fazer
aqui? Estragar tudo?
— Você não respondeu a minha pergunta! — Insisti sem
tocá-la, eu queria respeitar o quanto ela amava aquele trabalho,
mas também queria que ela soubesse o quanto ela mexia comigo.
Perto, bem perto.
— Eu perdi.
Falou essas duas palavras piscando demoradamente e
voltando a fitar minha boca antes de continuar. Estava com tesão.
Era evidente que eu a atraía. E eu adorei voltar a constatar isso.
— Então é lógico que foi azar. Além disso... — Me empurrou
bruscamente para sair de perto de mim. Pela cara que ela fez, acho
que sentiu meu perfume. — Agora você está aqui para dificultar
ainda mais as minhas possibilidades de ganhar minha promoção.
Então, perdi duas vezes.
Ela deu a volta na mesa e voltou a se sentar naquela cadeira
extremamente elegante. Pegou de novo a caneta prateada tentando
aparentar autocontrole. Me encarou como quem suplicava para que
eu não seguisse colocando meu interesse na mesa.
Não dava. Eu gostava de agradar Alyssa, mas naquilo eu não
podia.
— Pois para mim é diferente.
Caminhei até a frente da mesa, mas não me sentei. Parei
diante dela de pé e fitei seus olhos. Eu sabia ter atitude. Ainda mais
no que se tratava de uma mulher como Alyssa. Ela moveu os
ombros como se desdenhasse, mas estava claro que ela ficava
alterada perto de mim.
— Nós não trocamos telefones. — Recordei. — Nos
encontramos em uma cidade diferente da que moramos, tivemos
uma noite extraordinária e depois de nove dias descobrimos que
vamos ter que trabalhar juntas? Não foi azar, foi um raro golpe de
sorte.
— Não faz diferença. Ainda faltam 40 dias para o desafio de
que te falei. Então, seu mês em San Diego vai ter que passar em
branco.
Se ela soubesse que falar daquele desafio maluco dela só
me seduzia ainda mais, ela não o usaria para me desencorajar a dar
em cima dela. Ou talvez ela soubesse. Talvez ela soubesse e
gostasse de me atiçar.
Coloquei as duas mãos sobre a mesa e me inclinei baixando
o corpo até que nossos olhares estivessem na mesma altura.
Ela tentou manter os olhos nos meus, mas desviou para meu
decote. Foi rápido. Coisa de dois segundos. Mas, eu notei.
— Esquece, Alyssa, esse seu desafio não me intimida. Eu
não tiro você da cabeça desde a noite da aposta e você já devia
saber: se eu quero, eu consigo.
— Pois arranje outro hobby, não sou seu brinquedinho, Nick.
Eu não posso sair com ninguém e vou cumprir a minha palavra.
— Alyssa... Alyssa... — Segui ali depois de perceber a
inquietação dela. O quanto ela parecia se segurar para não mirar
meu decote. — Outro hobby? Não! Nesse momento eu não consigo
pensar em nada que eu queira mais do que voltar a transar com
você.
— Sinto muito. Eu não estou interessada. — Ela disse com
pouquíssima convicção.
Se ela falasse daquele jeito com um juiz, não o convenceria
de nada.
— Pois eu não dou uma semana para que você diga
exatamente o contrário. Escuta o que eu estou te dizendo, Alyssa.
Você vai pedir. Pedir não, em menos de uma semana você vai
implorar que eu te foda como eu fiz naquele sábado em Las Vegas.
E eu... Eu sempre consigo o que quero.
5 – Armadura
Eu coloco minha armadura, vou te mostrar que sou
Sou incontrolável, sou um Porsche sem freios
Sou invencível, sim, eu ganho todos os jogos
Sou tão poderosa, não preciso de baterias para jogar
Unstoppable – Sia

NICK
San Diego – Califórnia
21 de setembro – Quarta-feira
Sede do Wale Associados

Quando o celular despertou naquela manhã, eu pulei da


cama extremamente animada para ir ao Wale Associados. Se meu
pai soubesse que sugerir que trabalhar com uma advogada como
Alyssa Burke produziria esse efeito em mim, ele certamente já teria
feito isso muito antes.
Para o meu bem, era melhor que ele nunca soubesse o
quanto Alyssa me deixava louca.
Ele havia alugado um pequeno apartamento bem perto do
escritório para minha temporada em San Diego. Até sugeriu um
contrato de seis meses para o imóvel, mas eu recusei. Ele sabia que
seria demais querer que eu passasse aquele tempo na casa dele,
se íamos nos ver todos os dias.
Não demorei nem meia hora para estar a postos para o
trabalho, porém Alyssa não estava no Wale Associados. Retomei a
leitura do processo que estava revisando no dia anterior, sem
nenhum entusiasmo. Mas, era um processo defendido por Alyssa e
eu sabia que para demonstrar interesse por uma advogada tão
apaixonada como ela, eu devia me interessar pelo seu trabalho.
— Madie, a Alyssa demora? — Indaguei impaciente.
— Acho que sim. Ela tinha um compromisso com uma
testemunha-chave do caso Foster e que está titubeando um pouco
em ir ao Tribunal. Com essa testemunha, ela tem certeza de que
pode vencer. Sem ela... nem tanto.
— Interessante. — Divaguei. — Ela faz muito isso, não é?
Vencer casos?
— No Wale Associados, ninguém tem mais vitórias do que
ela. A última e mais expressiva foi a que ela teve no processo de
Eileen Duffy contra seu tio, Frederic Ogawa.
— Por que essa foi a “mais expressiva”? — Me voltei
totalmente para Madie fechando a pasta que segurava até então.
Se meu pai me visse naquele momento, acharia que estava
começando a me apaixonar pelo Direito. Mal sabia ele que minha
paixão naquele escritório... era outra.
— O Senhor Ogawa havia dado um golpe na sobrinha. —
Explicou Madie. — Ele tomou posse indevidamente de um montante
de 4 milhões de dólares. Alyssa conseguiu que o juiz ordenasse a
devolução do que ele desfalcou do espólio e ainda conseguiu uma
indenização para a Senhorita Duffy.
— Uau! — Exclamei com admiração.
— E com a cliente conseguindo uma vitória de 5 milhões de
dólares no Tribunal, o Wale Associados ganhou muito destaque
entre os interessados em advogados para casos de Sucessões e
Divórcios. Pessoas ricas gastam muito dinheiro para receber ou
recuperar uma herança e levar vantagem numa separação judicial.
Uma secretária apareceu para falar com Madie e me deu
uma olhada de cima abaixo. Só então, parei para observar o modo
de se vestir das outras mulheres do escritório. Era fato que meu
estilo motoqueira não estava adequado para aquele ambiente.
Alyssa ia demorar um pouco, então deixei um aviso para ela de que
tinha algo a resolver, e fui comprar roupas como as que a deixavam
tão sexy.
Acho que só ela ficava linda com aquele estilo formal de se
vestir.
Quando estava voltando, recebi uma mensagem de Logan
me convidando para ir a um lugar chamado Dice Bar naquela noite.
Ele estava em San Diego e queria me ver. Não estaria nada mal ver
um rosto conhecido e que compreendia minha paixão pelo
Motocross depois de longos dois dias no Wale Associados.
Quer dizer, estar ao lado de Alyssa, por mais que fosse
analisando aqueles processos chatíssimos, não me deixava com
sono. Me provocava outra coisa bem diferente de vontade de
dormir.
— Senhorita Wale, todos a esperam na sala de reuniões. —
Madie me avisou assim que eu entrei.
— Mas as reuniões não são só às segundas?
Que coisa confusa era a rotina de um escritório de advocacia.
E olha que eu estava acostumada a corridas de Motocross.
— Também temos algumas reuniões extraordinárias,
dependendo da situação. E hoje é um desses dias. — Ela girou o
pescoço na direção da sala como se me apressasse.
— Obrigada. — Agradeci guardando minhas sacolas no
pequeno espaço que estava destinado a mim, mas onde havia
ficado pouco tempo.
Do que eu gostava mesmo era de trabalhar ao lado de
Alyssa.
Com as roupas que eu usava agora, pelo menos não me
destacaria tanto, entre todos. O meu sobrenome eu não poderia
disfarçar com roupas novas, mas ao menos poderia deixar de
parecer que estava só de passagem por ali, em direção à uma pista
de Motocross.
Tentei entrar na sala o mais discretamente possível, dei a
volta na mesa e parei ao lado de Alyssa. E, de cara eu percebi que
ela estava incomodada com algo.
Jimmy Russell, aquele engomadinho inquieto da segunda,
segurava radiante uma taça de champanhe ao lado do meu pai.
Assim como segurava um sorriso que ia de uma orelha a outra.
— 2 milhões de dólares! — Meu pai exclamou feliz, mas
como quem fala o preço do leite. — Jimmy venceu o processo e
arrematou uma indenização de 2 milhões de dólares no processo
que Michael Hayward moveu contra Anthony Hayward. Uma vitória
incontestável do Wale Associados.
Todos brindaram e eu rapidamente compreendi a animação
do meu pai e o incômodo de Alyssa. Ela não havia me dito nada,
mas eu entendi que todos os advogados eram seus adversários
pela tal promoção e uma vitória como aquela, colocava em
vantagem o engomadinho.
Especialmente com meu pai celebrando sua vitória com um
brinde com champanhe.
O que eu não entendia era porque o Big Boss Sidney Wale, a
colocava naquela situação de disputa com os outros advogados. Por
que ele não a promovia de uma vez? Ele mesmo já havia me dito –
e a ela – que a considerava a melhor do Wale Associados.
Por isso sugeriu que eu passasse o máximo de tempo
acompanhando o trabalho dela, mais do que de qualquer outro
profissional.
Além disso, em dois dias trabalhando ali, eu já havia
entendido muito bem que Alyssa era a melhor. E não era só porque
eu estava muito a fim dela, mas porque isso saltava a vista.
— Parabéns, Jimmy! — Alyssa o felicitou sem ter bebido o
champanhe. — Anthony Hayward era defendido por Conrad Collins
do escritório Don Renoir. Tenho certeza de que eles esperavam
vencer o processo movido pelo irmão, Michael Hayward.
Dava para ver que ela agia com profissionalismo, mesmo
com a consciência que a vitória dele no meio da corrida pela
promoção a prejudicava.
— Obrigada, Alyssa. — Ele falou com ar arrogante,
colocando completamente a atenção nela. — Eu te disse que ia
compensar meu atraso de segunda-feira.
Fez o movimento de brinde com uma afronta disfarçada e eu
a vi bufar de ódio. Eu não podia aguentar aquilo quieta. Peguei uma
taça de champanhe e dei dois passos tomando a posição de Alyssa
de frente para ele.
Ela me observou desconcertada.
— Parabéns, Jimmy. — Falei de maneira dócil. Bem diferente
do meu natural jeito de ser.
Se Jimmy sabia ser irônico, ele ia agora ter que lidar com
uma especialista nessa arte.
— Obrigado, Nick. — Ele deu uma risadinha descarada.
A euforia da vitória no processo, o deixou mais confiante a
ponto de que ele tenha tido a ousadia de se pavonear para mim.
Como se tivesse alguma chance comigo. Era bom. Assim meu golpe
doeria mais.
— Senhorita Wale. Eu prefiro que você me chame de
Senhorita Wale, Jimmy.
— Claro. — O sorriso se dissolveu imediatamente. — Claro,
Senhorita Wale.
— Parabéns pela vitória! — Continuei rumo ao golpe final. —
Agora você só precisa vencer mais um caso de 3 milhões de dólares
para alcançar os 5 milhões que a Alyssa conseguiu com um único
processo. O que Eileen Duffy moveu contra seu tio, Frederic Ogawa
e que Alyssa venceu no mês passado.
Ele mirou Alyssa com uma raiva que estava mais para
intimidação. Olhei para o lado e vibrei ao ver que ela não conseguia
segurar o riso. Sorri de volta, cúmplice.
Quando eu entrei naquela sala, Jimmy Russell sorria de
maneira exagerada e Alyssa quase se encolhia de incômodo. Fiquei
feliz de consertar as coisas. Se alguém tinha que estar alegre ali,
era Alyssa, não aquele advogado imbecil cuja competência não
chegava nem aos pés da dela.

Depois daquela comemoração idiota, todos se dispersaram


para seus postos de trabalho. Meu pai pediu que trabalhasse com o
assistente de Jimmy lendo todas as páginas do processo e entender
o que o levou à vitória.
Será que essa era mesmo sua ideia de algo empolgante?
O caminho que ele sinalizou na segunda-feira, trabalhar ao
lado de Alyssa, seria muito mais efetivo do que ler todas aquelas
informações técnicas que não faziam nenhum sentido para mim.
Extremamente cansada, reparei que já era quase hora do
almoço quando eu decidi tentar a sorte e chamar Alyssa para comer
comigo. Alguma emoção eu precisava depois de uma manhã tão
entediante. Além disso, eu sabia que ela provavelmente estaria
chateada pela situação com Jimmy Russell e queria tentar animá-la.
Com interesses próprios também, é claro.
Alyssa precisava saber que a vida não é só trabalho.
Peguei minhas coisas e fui até a sala dela fazer o convite
quando, a porta entreaberta, me apresentou uma pessoa da que de
quem ela já tinha me falado superficialmente: Erin Burke.
Finalmente entendi por que uma mãe tinha proposto um
desafio tão maluco para a própria filha. Bom, eu já devia ter
entendido isso antes, com o pai que eu tinha.
Não me fiz de rogada e me ajeitei de modo a ver mais
claramente o que acontecia lá dentro. O tom de voz da promotora
era firme, autoritário, fácil de ser ouvido da minha posição. E, à
princípio, a minha ideia era que nenhuma das duas me visse.
— Não se fala em outra coisa, no Fórum. E eles nem
disfarçam, ficam elogiando Jimmy Russell na minha frente. — De pé
a mulher elegante demandava a filha.
— E por que deveriam disfarçar na sua frente, mãe? Jimmy
venceu o caso dos Hayward, um caso badaladíssimo. Não se fala
em outra coisa em toda a cidade. Todos os escritórios de Direito
estão comentando sobre isso. Qual seria a lógica de te pouparem
dos elogios a ele? — Ela segurava a caneta prateada que
costumava pegar quando estava nervosa e girava vagarosamente
na cadeira.
— Você não entende? — Alterou-se a rígida mulher. — Não
sabe qual é a lógica?
— Não, não sei.
— Estão elogiando a atuação dele, Alyssa! Elogiando muito.
Estão dando como certa a promoção de Russell aqui no Wale
Associados no fim de outubro.
— E o que você espera que eu faça? — Alyssa se levantou
irritada. — Que eu sabote o caso dos meus colegas para que o
Senhor Wale me escolha como a responsável pelo Departamento de
Direito de Família e Sucessões do Wale Associados?
— É claro que não! — Exclamou caminhando em direção à
porta fazendo com que eu tivesse que me esquivar. — Eu só espero
que você se dedique mais! Que você entregue mais que Jimmy
Russell ou qualquer outro advogado desse escritório, Alyssa.
Fez uma pausa e a encarou implacável. Ela estava de costas
para mim, mas era possível ler essa atitude nela somente por sua
postura.
— O que eu realmente espero, Alyssa, é que você honre seu
sobrenome.
— Meu sobrenome... — Ela repetiu claramente magoada. —
Pode deixar, mamãe. — Pegou a bolsa demonstrando que ia sair. —
Eu vou fazer tudo para conseguir a promoção para que meu
sobrenome seja mais respeitado do que o trabalho que eu venho
executando nesse escritório há cinco anos.
Ela veio em minha direção e a promotora pareceu
desconcertada.
— Alyssa! — Falou firme tentando deter à filha, sem acreditar
que ela a deixaria falando sozinha.
Não adiantou. Alyssa fez uma pequena parada de uns cinco
segundos quando passou por mim e me fuzilou com os olhos. Acho
que se lembrou da quebra do tal desafio dos 100 dias com a mãe
em Las Vegas. E que eu a havia conduzido a isso.
Depois desapareceu rapidamente pelo corredor a passos
firmes.
— Acho que o convite para o almoço não vai mais ser uma
boa ideia. — Me queixei chateada.
Erin Burke passou por mim em seguida, com a cabeça
erguida após uma discreta saudação educada.
Agora, mais do que nunca, eu queria voltar a transar com
Alyssa. Não para fazê-la quebrar o acordo idiota com sua mãe, mas
por que nem Erin Burke e nem Sidney Wale mereciam que ela
sacrificasse o prazer e a diversão de sua vida por aquele cargo no
Wale Associados.
Ela merecia mais do que atender às exigências deles. Alyssa
definitivamente não precisava estar constantemente tendo que
provar sua inquestionável competência para aquele trabalho.
Alyssa passou toda aquela tarde me dispensando. Todas as
vezes que eu me aproximava, ela tinha uma ideia de algo que eu
poderia fazer longe dela. Entendi que ela precisava de espaço, mas
não posso negar que me gerou muita frustração. Eu tinha dito a ela
que em menos de uma semana, eu ficaria de novo com ela, mas...
que mulher difícil.
No fim do dia, em casa, mesmo sem muita energia, me
arrumei com as roupas da velha Nick para encontrar Logan no tal
Dice Bar. Uma noite para beber e jogar conversa fora era tudo de
que eu precisava enquanto pagava pela minha nova Megan e
tentava repetir a dose com Alyssa.
Torci para que esse bar tivesse pista de dança porque eu
tinha muito o que liberar.
Quando eu cheguei lá, o sol se punha e eu precisei parar e
mirar as paredes de vidro que ladeavam toda aquela construção.
Elas davam para a hipnótica baía de San Diego com dezenas de
veleiros navegando e aportados ao redor do lugar. Além disso... era
um bar com jogos de cassino.
Que ironia.
— Admirando a bela vista da sua cidade natal? — Logan me
assustou, me agarrando por trás.
— Você sabe que San Diego não é minha praia. — Ele riu do
trocadilho enquanto nos encaminhávamos para o balcão no bar,
onde nos sentaríamos. — Mas, a Ponte Coronado iluminada à noite
sempre foi minha vista preferida dessa cidade.
— Conseguiu o patrocínio? — Ele perguntou enquanto nos
serviam duas doses de whisky.
— Praticamente! — Exclamei satisfeita. — Mas, estou tendo
que vender minha alma para o diabo.
— Seu pai.
— Estou trabalhando para ele. — Contei.
— Mas, você não parece tão infeliz quanto eu pensei que
estaria fazendo isso.
— E não estou. — Sorri. — Lembra daquela garota de
Vegas?
— A que te deixou rendida e que não quis te dar o telefone
dela? — Ele lembrou da nossa última conversa.
— Ela é advogada no escritório do meu pai. E... — Bebi o
whisky todo de uma vez. — Eu quero muito aquela mulher.
— E se eu te conheço bem... vai ter.
— Se as coincidências estão a meu favor, o que eu posso
fazer?
Brindamos ao excelente prognóstico de Logan. Ele não
demorou muito a ir embora. Precisava pegar a estrada e só queria
se despedir de mim, antes de deixar San Diego. Eu quis ficar mais
um pouco ali, admirando aquela vista que me recordava tanto a
minha mãe.
Estar em San Diego não era difícil só pelas projeções do meu
pai, mas também, principalmente pelas lembranças dela. Ela amava
aquela cidade e dizia que a amava principalmente porque foi ali que
eu nasci.
Quando vi aquela aura de melancolia e saudade me
envolvendo, senti uma enorme necessidade de dissipá-la. Eu odiava
me sentir nostálgica ou triste. Sempre que me sentia assim, dava
um jeito de recuperar o alto-astral o mais rápido possível. E, não
havia melhor maneira de fazer isso, do que dançando.
O Dice Bar tinha uma pequena pista de dança, pois aquela
não era a principal proposta do lugar. Ficava ao lado da entrada do
banheiro feminino e estava vazia. Só eu parecia interessada em
dançar, naquele lugar. Aliás, todo o lugar estava vazio, as mesas de
jogos às moscas.
Esse era um dos motivos de eu não gostar de San Diego, o
lugar se desertificava no outono.
Tentando ficar totalmente envolta pela energia da música
Unstoppable de Sia que tocava no alto falante, eu girei de olhos
fechados no meio da pista vazia e só abri os olhos quando o
impacto em uma superfície inesperada interrompeu meu giro.
— Sua louca, você não olha por onde...? — Eu nunca a tinha
visto gritar, mas reconheci sua voz de imediato.
— Alyssa? Olha só que coincidência!
Só então eu percebi que meu giro estava completamente
desgovernado e que eu estava praticamente na porta do banheiro,
fora da pista. Mas, se havia voltado a me esbarrar em Alyssa, era o
lugar certo.
— Não é possível! — Ela afirmou atordoada. — Era só o que
faltava, você está me seguindo, Nick?
— Não. — Respondi com tanta alegria que acho que ela
confundiu com deboche.
— Eu não acredito. — Como ficava linda turrona daquele
jeito.
— Pois, eu não teria nenhum problema em negar, se fosse
verdade. Você sabe que eu estou sim, atrás de você. Mas... não te
segui.
— Tá certo. — Parecia querer finalizar a conversa,
impaciente. — Já nos encontramos, agora cada uma para o seu
lado. Nos vemos amanhã no Wale Associados.
Girou volteando-se para a direção do banheiro, no mesmo
que eu a havia impedido de entrar, mas eu a segurei pelo braço.
Firme.
— Negativo! — Girei a cabeça com um sorriso malicioso no
rosto. — Esse lugar é um bar estilo cassino, como o primeiro lugar
no qual nos vimos, cheio de mesas de Craps e que estão vazias.
— E o que você quer dizer com isso? — Ela me olhou
demonstrando estar levemente interessada pela proposta que sentiu
que eu ia lhe fazer.
Eu sentia que tinha esse poder de atrair a atenção de Alyssa
e adorava isso. Além do mais, ela era infinitamente mais acessível
fora do escritório do que lá. Eu não podia desperdiçar aquela
oportunidade.
— Aposta de novo comigo, Alyssa?
— O quê? — Ela perguntou assombrada.
— Quero que você e eu voltemos a apostar como na primeira
noite em Las Vegas. Assim, você tem direito à sua revanche e eu...
— E você o quê?
— E eu posso aumentar em dez... Dez não, trinta vezes o
valor do meu prêmio.
— Até parece... — Ela riu descrente.
— Depois do modo como sua mãe falou com você hoje, o
que é que você pode ter a perder em jogar Craps comigo e, caso
perca, passar as próximas 30 noites transando comigo? — Apostei
alto, eu sei.
Mas Alyssa valia essa e qualquer aposta.
Ela me encarou com aqueles lindíssimos olhos cor de mel
brilhando divididos. Eu podia ver no fundo, bem no fundo deles que
ela estava louca não só para apostar no Craps comigo, como para
perder. Porque o que ela queria, o que ela precisava, era permitir
que eu a incendiasse de prazer.
6 – Apostando a carreira
Ela ama estar no controle, ela quer do jeito dela
E não tem jeito de fazê-la ficar
A não ser que você desista
Ela ama estar no controle, ela quer do jeito dela
E tudo o que você precisa é experimentar
Você vai querer desistir
She loves control – Camila Cabello

NICK
San Diego – Califórnia
21 de setembro – Quarta-feira
Dice Bar

Alyssa gargalhou gostoso. Só então eu me dei conta de que


nunca tinha visto ela sorrindo daquele jeito tão espontâneo. Por
mais que fosse para fugir da minha proposta, eu percebi que
gostava muito de ver seu sorriso.
Só não gostava mais do que de ver sua cara quando a paixão
tomava conta dela.
— Uma coisa não se pode negar. A sua confiança.
— Em quê? — Instiguei-a. — Em que eu posso sim voltar a
te levar para a cama ou em que eu vou voltar a te vencer no Craps?
— Nas duas coisas. — O sorriso espontâneo foi sumindo
como se ela tivesse experimentado uma pequena fuga da realidade,
para logo em seguida ter que dar de cara com ela de novo.
— Você está bem? — Sinalizei o bar ao nosso lado.
— Estou. — Ela respondeu se sentando. — Mas da última
vez que eu me sentei em um bar com você ao lado de uma mesa de
Craps, eu não terminei nada bem.
— Ah, eu pensei que você tinha terminado ótima. —
Provoquei-a. — Quantas vezes você gozou naquela noite? Três?
Quatro? Porque eu perdi a conta e não acho que só eu tenha curtido
tanto nosso lance.
— O que me deixa mal não é o sexo com você, Nick. —
Explicou perigosamente sensível. Eu sabia que era culpa daquela
desagradável visita da tarde. — É o que significa transar com
alguém.
— Você fala pela sua mãe? — Olhei para ela empática.
Ela podia não saber, mas sofríamos pressões parecidas dos
nossos pais. E, apesar de Erin terminar sempre me jogando nos
braços de Alyssa, eu não gostava que ela se sentisse daquele
modo. Odiava vê-la se depreciando porque não era justo.
— Por ela, pelo Jimmy... — Ela ficava verdadeiramente mais
acessível fora do escritório, embora eu continuasse achando-a
bastante sexy enquanto trabalhava com tanta competência. — Aliás,
não cheguei a te agradecer pelo que você fez hoje mais cedo.
— Não precisa me agradecer. Eu adorei apagar o sorriso da
cara daquele idiota. — Respondi sincera. — E nem ele e nem
ninguém ali chegam aos seus pés.
— Preciso sim. — Ela insistiu. — Você se arriscou a se
indispor com seu pai por mim. Eu sei que foi por mim. Obrigada.
Alyssa era uma advogada arrojada. Ela mostrava isso no seu
jeito de se vestir, em sua postura, na rigidez com a qual empostava
a voz quando não tinha bebido. Eu não gostava de advogadas.
Exceto dela. Mas, naquela noite, ela estava privilegiando seu lado
naturalmente doce ao que ela, normalmente, fazia tudo para
esconder.
— Se quer mesmo me agradecer, jogue Craps comigo. —
Deslizei meu dedo pela parte de cima da mão dela. — Aposta de
novo.
— Eu não posso apostar minha carreira, Nick.
O fato de que ela tenha parecido hesitante ao negar, me
encorajou a continuar batalhando por meu objetivo. A partir para
cima. Alyssa era coisa fina. Não havia muitas dela espalhadas pelo
país. E olha que eu costumava percorrê-lo com bastante frequência.
— Jogar Craps comigo não vai custar sua carreira, Alyssa. —
Me levantei, dei um passo e me posicionei entre as pernas dela.
Movi meu braço direcionando a mão até o rosto dela e
apreciei sua feição, deixando evidente meu interesse. Usei meu
dedo médio para ajeitar uma mecha de seus cabelos longos
levemente esbraseados atrás de sua orelha, fitando-a de maneira
não tão enigmática quanto eu queria parecer. Porque o que eu
queria estava óbvio.
Eu estava ávida por beijá-la.
— Talvez jogar não, mas perder, sim. Você viu minha mãe
hoje. Se eu me distrair e não for promovida...
— Se meu pai não te promover, o problema não estará em
você ou no fato de você fazer sexo. O problema está nele, na sua
mãe, no que eles esperam de nós.
Ela se mexeu de modo a sair da minha rede, mas não seria
por muito tempo. Eu estava sentindo no ar. Desviei meu olhar para a
janela permitindo que as luzes da Baía de Coronado me
surpreendessem por um instante.
— Não funciona desse jeito. — Ela atraiu novamente minha
atenção. — Eu não sei se posso vencer o caso Foster. Nem sempre
é possível ganhar. E, desde o início, eu sabia que esse seria um
caso no qual eu atuaria de modo a diminuir o impacto da derrota
sobre o meu cliente. A vitória de Jimmy hoje era improvável. O
Senhor Wale vai analisar todas essas questões. Por isso minha mãe
está preocupada.
— Mas e daí? Ela devia se preocupar com você, não em te
fazer achar que é natural vencer casos impossíveis. Você ganhou
outros muitos casos. E, pelo que me disseram, muito mais
expressivos do que os de Jimmy.
— Jimmy não joga completamente limpo. Estou farejando.
— Ele que se atreva! — Ameacei fazendo a sorrir recordando
do episódio da manhã.
Pedi dois martinis sinalizando ao barman. Eu sabia que
Alyssa gostava da bebida.
Os martinis chegaram bem rápido, mas ela se recusou a
ingerir álcool. Esse era outro sinal de que eu a desestabilizava.
— Eu não vou beber. Vim aqui só para pensar.
— E, por que aqui?
— Meu pai foi embora há seis anos. Ele mora em Nova
Iorque. Aguentou até que ficou difícil demais ser marido de Erin
Burke. Na verdade, foi difícil até ser ex-marido de Erin Burke na
mesma cidade. — Explicou. — Sinto a falta dele.
Fiz de tudo para fugir de externar minha própria sensibilidade.
Não queria dividir com ela que sentia falta da minha mãe também,
pois essa não era a Nick que eu queria mostrar à Alyssa naquela
noite.
— O seu pai, ele gostava daqui?
— Desde que eu me mudei, sempre nos encontrávamos aqui.
Ele adorava jogos de cassino. Craps principalmente. — Me encarou
com picardia. — E era muito bom sair com meu pai porque,
diferente da minha mãe, não era só Direito, tribunal, trabalho, casos
vencidos ou perdidos, carreiras que precisam sempre ser
confirmadas.
Ela se moveu mostrando toda sua rejeição à monotonia à que
Erin Burke reduzia a vida.
— Ele gostava de se divertir com você. — Deduzi.
— E ele é advogado como minha mãe, Nick. — Falou
soltando-se de vez. — Tão bem-sucedido quanto. Mas, sabe
separar trabalho da vida pessoal. Por que ela precisa me cobrar que
eu me destaque todas as vezes em que nos encontramos? Eu só
existo como advogada, para minha mãe. Para Erin Burke, se eu não
for uma advogada de sucesso, não serei ninguém.
Tentei puxá-la pelas mãos para a pista de dança, mas ela
seguiu parada. Firme. Ela sabia que terminaria cedendo a mim se
me desse uma chance. Mas, se ela não estava disposta a me dar
essa chance, eu não me faria de rogada em pleiteá-la. Com tanto
empenho quanto o que ela tinha para lutar por aquela promoção no
escritório do meu pai.
— Então não vamos falar de trabalho hoje. E nem da sua
mãe. Como quando você vinha aqui com seu pai.
Ela se suavizou, me encarou mais relaxada e sorriu ao
responder:
— Mesmo que seja você quem a esteja me fazendo, me
parece uma boa proposta.
— Vamos jogar Craps. Sem compromisso. Só para que você
se divirta.
— Ok. — Concordou por fim. — Eu topo. Mas, lembre-se de
que é só isso. Jura para mim que não vai insistir em apostas com
prêmios sexuais. — Baixou o tom ao proferir a última palavra.
Também levantou os olhos como se estivesse encabulada,
mas eu sabia que não era isso. O que fez com que ela alterasse
rapidamente sua expressão foi sentir uma centelha de tesão. O
Craps a excitava e, em relação a seduzir Alyssa, esse era o único
trunfo que eu tinha ao meu favor.
E era óbvio que eu iria usar.
— Vamos para a mesa. Lá é o lugar da aposta. Não aqui. —
Respondi arrastando-a pela mão.

Aquela partida estava muito mais equilibrada do que a


primeira. Antes de começarmos, Alyssa me disse que acreditava ter
perdido tão feio em Las Vegas por ter bebido um pouco demais. Eu
não podia duvidar dela, pois ela realmente estava levemente alta e
até teve uma vertigem.
Contudo, eu não posso negar que minha vaidade leonina me
fazia suspeitar que uma pequena parte dela quis perder no Craps
para mim na Cidade do Pecado. Ela queria ir para a cama comigo
naquela noite e, na hora do pagamento, eu pude confirmar.
E eu só precisava de uma oportunidade para acessar de
novo aquela pequena parte dela ali, no Dice Bar, em San Diego.
É claro que a aposta que eu faria a abalaria. Mas também a
seduziria. Eu sabia. Só que eu precisaria fazê-la no momento
correto.
— Onze sempre foi meu número! — Me olhou com ar
intimidador.
Mas uma intimidação divertida, da que eu a convidei para
sentir naquela noite. Ela estava sorrindo enquanto juntava as fichas
que havia arrematado pela segunda vez consecutiva.
— Parece que hoje é seu dia de sorte. — Eu falei
chacoalhando minha cabeça de um lado a outro.
Tentei demonstrar que estava chateada por ela estar me
vencendo.
Mas, eu não estava. Era um blefe.
E, às vezes, blefar é tão necessário em um cassino, quanto
num tribunal.
As mesas ao redor de nós agora recebiam uns poucos
jogadores que também preferiam apenas se distrair com as pessoas
com quem eles haviam ido ao Dice Bar e não com estranhos.
— Eu estou feliz por ter a minha revanche. — Ela falou
animada.
Seu nível de adrenalina, porém, nem se comparava ao que
ela havia demonstrado em Las Vegas. Lá ela havia atingido a
euforia. E era a isso que eu queria levá-la. A se sentir tão seduzida
pela emoção da mesa e de seus dados, ao ponto de se deixar
convencer a fazer outra aposta maliciosa comigo.
É excitante ganhar dinheiro no Craps, eu não posso negar. A
endorfina de que tanto Alyssa quanto eu estávamos precisando
naquela noite, dispara pelas veias e gera um prazer
verdadeiramente agradável. Mas, quando a aposta é incrementada
por um ingrediente picante, a coisa chega a outro nível.
— Eu não acho que essa seja uma verdadeira revanche com
uma aposta tão baixa... — Incitei-a com ironia.
Era uma forma de desafio. E uma forma de desafio na que eu
era boa em provocar.
— Você diz isso porque está perdendo. — Vangloriou-se ela
da ampla vantagem que tinha sobre mim.
— Não. — Me aproximei dela para tomar a borda da mesa e
fazer a minha jogada. — Eu digo isso porque não faz diferença para
mim, perder esses cinquenta dólares em fichas para você. Mas fazia
diferença para você perder a possibilidade de manter seu acordo
com... Enfim, em Vegas.
A última frase eu falei na nuca dela, ao lado do ouvido. A
dealer nos encarou percebendo tudo. Estava claro que nós
flertávamos e eu não me importava em disfarçar isso. Ou melhor,
estava claro que eu estava flertando com Alyssa e a presença dela
não me constrangia nem um pouco.
— E quantas fichas você vai apostar? — Ela me encarou com
os olhos brilhando, como se desse o mundo para me ver sem nada.
Só me restavam duas fichas verdes e uma azul. Vinte e cinco
dólares dos cinquenta que havíamos comprado em fichas quando
iniciamos a partida.
— Uma azul e uma verde. — Respondi colocando sobre a
marcação.
Se eu perdesse aqueles quinze dólares em fichas, só me
restariam dez dólares, enquanto Alyssa já acumulava quase cem
entre todas as fichas que ela havia ganhado.
Ela estava indo muito bem. Tirando dinheiro de mim e da
mesa.
— 8 e 6. — Cantei minha aposta na cara dela.
Ela deu de ombros. Fingi mirar, mas não o fiz. Quis jogar nas
mãos do destino. Talvez eu não devesse fazer tanto para ficar com
ela. Se fosse para ser, seria.
Ela fez um sinal para que eu esperasse. Fez uma aposta de
odds em sua Linha de Passe. Ela não queria só me vencer, queria
me aniquilar.
— Lançadora... 12. — A dealer revelou após meu
lançamento. A lógica seria que ela comemorasse as fichas que eu
perdi.
— Até parece que você ia errar desse jeito. Se os dados
estão quentes para mim, também estão para você. Cadê aquela
jogadora imbatível lá do London Eye? — Eu sabia que ela estava
atrás daquela emoção.
— Lá eu tinha uma motivação que não tenho aqui. — Olhei
para a última ficha verde na minha mão.
As outras, foram todas para as mãos de Alyssa.
— Então você está jogando mal de propósito só porque eu
não quis apostar com você? — Indagou indignada.
— Não. — Comuniquei uma meia verdade. — Eu realmente
estou sem sorte hoje. Mas, não posso negar que se fizéssemos uma
aposta, eu ficaria mais empolgada para esse jogo. Eu... gosto de
correr riscos.
Ela me mirou compreendendo a ambiguidade do que eu
disse. E eu sei que não compreendeu só no cérebro. Recebeu uma
onda de adrenalina que culminou naquele cofre que ela fazia tanta
questão de manter fechado. A mesma questão que eu fazia de ter
acesso a ele.
Eu sei disso porque aconteceu comigo. E eu tinha que ter
confiança de que Alyssa estava na mesma vibe para seguir
investindo nela. Eu precisava.
— Tá bom. — Concordou ressabiada. — E o que você quer
apostar? A mesma coisa da outra vez?
Fiz um sinal de indiferença com o corpo, refletindo. Não era
uma ideia ruim. Pensando no prognóstico do início da noite, era uma
ideia excelente. Mas, por que não trazer um pouco mais de emoção
para aquela noite em San Diego?
— Isso é legal, mas tenho uma ideia melhor. Essa COM
CERTEZA me deixaria muito motivada. — Falei com um sorriso
insinuante.
— O que você vai inventar? — Me encarou desconfiada.
Outra vez.
— A vantagem é toda sua. É praticamente impossível que eu
vença esse jogo.
— Isso é uma deliciosa verdade. — Gabou-se. — E nem
adianta tentar me fazer ter pena de você porque você não teve de
mim quando venceu.
— Eu não vou. O que eu quero te propor é o seguinte: — Eu
parecia confiante, mas por dentro me tremia de medo. — Se eu
perder, prometo passar os 27 dias que nos restam sem fazer uma
única proposta indecente para você.
Ondeei uma mecha de seu cabelo com o dedo demonstrando
o sacrifício que seria para mim arcar com o pagamento da aposta.
— Isso é bem tentador. — Ela meneou a cabeça em sinal de
positivo pressionando o lábio inferior com o superior.
Pretendia deixar evidente que queria que eu saísse do seu
pé. Mas, isso não era o que ela queria verdadeiramente. Disso eu
não tinha dúvidas. Eu sabia que se não fosse aquele acordo idiota
com Erin Burke, ela já teria cedido às minhas investidas e já
poderíamos até estar perto da fase “amigas com benefícios”.
— Então aceita. — Instiguei-a de novo.
— Sem saber o que você vai querer caso ganhe?
— Acho que você pode, pelo menos, desconfiar do que eu
quero. — Volteei seu corpo mais uma vez. — Não é uma aposta
completamente às escuras.
Eu podia sentir a energia sensual que ela liberava perto de
mim. Porque era a mesma que eu liberava perto dela.
— Então essa seria a aposta: Se eu vencer, você não vai
mais dar em cima de mim.
— Isso.
— E, se eu perder...
— Se você perder, Doutora Alyssa Burke... Se você perder eu
te conto ao final da partida o que quero. Você só precisa me dar sua
palavra agora de que vai me dar o que eu quiser. Qualquer coisa.
Ela hesitou, um pouco, mas eu sabia que já a havia fisgado.
Se eu vencesse aquela partida de Craps, eu teria Alyssa Burke
completamente ao meu dispor.
E foi só quando ela apertou minha mão selando a aposta,
que eu confirmei o quanto ela estava nervosa. O suor minava não
só entre os dedos, mas na palma da mão. Entretanto, seu rosto e
sua expressão seguiam projetando aquela plenitude de modelo que
ela tinha.
Era isso que eu gostava em Alyssa – ela era corajosa. Sentia
medo de perder o controle como qualquer pessoa, mas por fim,
sempre se arriscava. Eu não sei se todos conseguiam enxergá-la
assim, mas eu conseguia.
Se eu não fui capaz de virar o jogo de primeira, logo eu pude
ao menos equilibrá-lo. Devo confessar que a partida era realmente
mais difícil do que a disputada no London Eye, mas me esforcei o
suficiente para tirar do Dice Bar o mesmo ar entediante dos
processos do Wale Associados.
Eu queria bem mais que isso, na verdade.
Depois de algum tempo, aquela única ficha verde na minha
mão ganhou algumas companhias. Alyssa e eu começamos a
batalhar por cada uma delas naquela mesa de Craps. O bastão da
dealer passou a deslizar tanto para o meu lado quanto para o dela,
dependendo da rodada. Aumentando minha pilha de fichas e
diminuindo a de Alyssa.
Nossa aposta, às cegas para aquela deliciosa advogada,
tornou o jogo excitante.
— Ahhhhh! — Vibrei com meu ponto da virada. Minha
primeira chance real de vitória. — Dados vermelhos e mesa preta,
minha combinação preferida no Craps.
— Achei que apostas apimentadas também fizessem parte
de sua combinação ideal de um Jogo de Craps.
Afastei seu cabelo e falei em seu ouvido:
— Só quando eu ganho e o prêmio é você.
— Isso não vai acontecer hoje! — Ela se desviou da tentação
que eu sabia que significava para ela.
Eu fazia com que Alyssa tivesse vontade de perder no Craps.
E, como era bom ler isso naqueles lindíssimos olhos cor de mel.
— Se você acha isso, por que não dobra essa aposta? —
Encorajei-a a, talvez, acelerar minha vitória.
Tinha oito fichas em sua frente. Guardadas para as próximas
rodadas. Eu estava vencendo por pouco. Ela não gostou de que eu
tenha insinuado de que as cinco fichas que ela tinha apostado
denotavam covardia. Até porque, não denotava.
A quantidade de fichas apostadas combinava confiança com
a cautela que uma jogadora que já a havia derrotado merecia. Só
que essa jogadora era eu. Eu não ganhava só na mesa. Ganhava
na estratégia fora dela também, mexia com a confiança da minha
oponente, a desafiava a se arriscar.
Encarei-a, insinuante.
— Eu... — Tudo o que ela não queria era não me fazer saber
que ela sentia dúvidas. Mas, eu sei que eu a intimidava.
— Eu vou dobrar a minha... contra você! — Coloquei todas as
minhas fichas na mesa. — Mais do que isso, é tudo ou nada.
Ela mirou minhas fichas assombrada. Todas. Se ela
acertasse, eu perderia tudo e estaria acabado. Só que eu não
pensei nisso na hora. Tudo o que eu queria era que ela fizesse o
mesmo.
— Eu não vou apostar todas as minhas fichas! — Exclamou
sensata.
— Eu imaginei. — Falei com desdém. — Você não confia
tanto em você e na sua sorte.
Ela levou um tempo me encarando, decidindo. Mas, não
queria me deixar parecer mais confiante do que ela.
— Pois eu também vou apostar todas as minhas fichas! 7 e
11. — Cantou enquanto as empilhava frente à dealer que achou nós
duas bem loucas.
Talvez não tenha achado. Essa era a função dos jogos de
cassino, afinal, levar as pessoas a fazerem loucuras.
Depois de apostar, Alyssa tomou um tempo se concentrando.
Mas, não demorou tanto a jogar. Tinha ficado mordida porque eu a
acusei de não confiar em si mesma.
O que aconteceu em seguida me fez gritar outra vez. Alyssa
perdeu. Como em Vegas, seus dados foram conduzidos diretamente
para o 2 e o 12 depois de bater na parede oposta à que ela lançou.
— Não é possível. — Ela falou baixinho, em choque.
— Você perdeu! — Respondi radiante. — Eu venci outra vez,
Alyssa Burke e agora... Agora você está completamente nas minhas
mãos.
Ela levantou os olhos e me encarou paralisada. A reação viria
depois. Mas, eu era forte. Estava disposta a encarar uma reação de
Alyssa em troca de dormir outra vez com ela.
7 – A vida não é só trabalho
A vida não é só trabalho
Ser feliz pode sair bem barato
Que delícia é não sair da cama
Tomar banho pelada na praia
Não entre na água com roupa apertada
Faça um pouco o que tiver vontade
Quítatelo – Alejandra Guzmán

ALYSSA
San Diego – Califórnia
Madrugada de 22 de setembro – Quinta-feira
Apartamento de Chelsea

— Ainda bem que você está acordada, eu precisava falar


com alguém. — Passei como um trem pela porta sendo encarada
por uma Chelsea indignada.
Sonolenta também, mas naquele momento, o ‘indignada’
superava o sonolenta, então só mencionei o mais evidente.
— Duas da manhã, Aly! — Ela me censurou. — Se eu estou
acordada é porque você ficou tocando sem parar.
— Você não atendeu o telefone, amiga. — Me justifiquei.
— Porque eu estava dormindo! — Voltou a me criticar. —
Mas, vem. Vou fazer um chá para nós duas que, se você está aqui a
essa hora, é porque é algo sério. E também eu não vou conseguir
me livrar de você.
Finalmente soltei o ar com um pouco mais de controle e me
encaminhei para a ilha da cozinha que ficava na mesma posição da
minha. Por muito tempo eu não gostei de que ela morasse no
mesmo edifício que eu, mas depois eu percebi que é sempre bom
ter um amigo por perto.
Eu sei que nos últimos tempos era ela quem não gostava de
me ter como vizinha, mas eu me sentia tranquila por pensar que
depois ela mudaria de ideia. Como aconteceu comigo.
Sem nenhuma clareza, expliquei a situação a ela. E, falta de
clareza não costumava ser um problema que eu tinha, por isso tinha
chegado tão longe como advogada. Devo reconhecer que Chelsea
fez um grande esforço em permanecer acordada até o final do meu
relato e dos meus lamentos.
— E eu não sei o que fazer. — Finalizei, encarando-a como
se pedisse socorro.
— Não sabe o que fazer? — Ela pareceu acordar
repentinamente. — O que você realmente quer não é uma boa
opção? A vida não é só trabalho, Alyssa. Se você continuar indo
pelas ideias de Erin, vai terminar enlouquecendo. Ou
enlouquecendo suas amigas, o que é tão ruim quanto isso!
— Eu sei que... se eu ficar com a Nick, não vou ser
promovida. Meu feeling está me dizendo isso. Eu já sabia que ela
era encrenca desde Las Vegas, mas depois que descobri que ela é
filha de Sidney Wale... tive certeza disso.
— Você volta o foco para a Nick, mas o problema é a Erin. —
Ela falou ajeitando o nó da bata sobre a camisola. — É ela que...
não sei como, entra na sua cabeça e te faz achar que precisa provar
alguma coisa a ela.
— E, para você, tudo bem eu sair com a filha da pessoa de
quem eu espero uma promoção? — Inquiri como se não fosse eu a
pessoa que estava na berlinda. — Apesar do que o Senhor Wale
disse naquela reunião, eu ainda não tenho certeza de que Nick não
sabia quem eu era quando nos conhecemos no London Eye.
— O fato de Nick ser filha de Sidney Wale não significa nada,
Alyssa. Você esconde 90% do que acontece em sua vida de Erin. E,
acredite em mim, eu não estou criticando que você faça isso, eu
também escondo da minha mãe. Só estou dizendo que Nick deve
fazer a mesma coisa com o pai.
— Até faz sentido... — Baixei os olhos pensando que eu
jamais havia me esforçado minimamente para conhecer Nick.
— E... — Chelsea sorriu travessa. — Faça valer o fato de que
você tenha me acordado. Me conta os detalhes picantes. Por que
vocês não transaram hoje, se era esse o prêmio da aposta?
Me sentei no sofá maior que Chelsea havia ocupado de
frente para ela e agarrei uma almofada em formato de fogo. Antes
eu tivesse ido para lá desde o início da noite lamentar a frustração
pela vitória de Jimmy que culminou na minha mãe deixando claro
que, para ela, eu só valia o que conquistasse como advogada.
— O problema é que eu não sei o que ela vai pedir. — Contei
intrigada.
— Você fez uma aposta às cegas? — Gritou daquele seu
jeito expansivo. — Fez uma aposta às cegas e agora está na minha
sala às duas da manhã lamentando? O que eu fiz para merecer uma
amiga como você, Alyssa?
— Me defendeu de uma briga na entrada do condomínio,
lembra? — Falei sorrindo. — Naquele momento eu soube que
seríamos amigas para sempre.
— E faria de novo. — Deu de ombros. — Até hoje aquela
mulher não me olha na cara. — Gargalhou.
— Eu estava vencendo por muito quando apostei com a Nick.
Queria minha revanche por Vegas. E, se eu vencesse, ela me daria
uma coisa que eu quero e ela vem se recusando.
— O quê?
— Ela disse que, se eu vencesse, ela não daria mais em
cima de mim até o fim do mês de trabalho dela no Wale Associados.
Eu pensei que...
Chelsea me olhou com ar muito condenatório. Ela não
acreditava em mim. Talvez nem eu mesma acreditasse, mas estava
disposta até a enganar a mim mesma por aquela promoção.
Ou talvez nem fosse pela promoção e sim para demonstrar
que era capaz pela minha mãe.
— Para cima de mim, Aly? — Ela me confrontou. — Você
está adorando se sentir desejada por ela. Quem não gostaria? Você
amou aquela noite em Vegas e quer mais! Eu te conheço muito
bem.
— Não! — Neguei com muita ênfase. — Eu não faço essas
coisas. — Suspirei bem fundo, sentindo uma pressão estranha no
peito. — Eu tenho que ir. Amanhã tanto eu quanto você vamos
trabalhar bem cedo.
— Eu vou fingir que não sei por que de repente você sentiu
essa urgência para ir embora, porque estou com muito sono. Mas,
Alyssa... — Segurou minha mão e me olhou com uma rara ternura.
— Se cuida, amiga. A vida é para ser feliz. Por mais que para Erin o
trabalho seja satisfação suficiente, você não é e nem precisa ser
como ela.
De volta ao meu apartamento, rolei na cama pelo que restava
da noite. E eu poderia dizer que simplesmente fiquei tensa por
pensar que Nick agora tinha um poder capaz de atrapalhar
completamente a minha concentração no trabalho. Eu poderia dizer
isso. Até porque era isso também.
Mas, não era só isso.
O motivo que me fez rolar na cama toda a noite foi o calor
que eu senti partindo de dentro de mim e crescendo
incontrolavelmente. Eu passei a noite inteira pensando que eu
queria, eu precisava voltar a transar com a Nick e não, não era só
pela aposta.
Eu queria transar com a Nick porque sentia muito desejo por
ela.

Na manhã seguinte...
Não foi uma manhã fácil. Eu já havia quebrado a cabeça para
tentar resolver o problema gerado pelo terrível contrato pré-nupcial
que Charlie Foster havia assinado. Pensei em quão apaixonado
uma pessoa precisava estar para assinar algo que comprometia a
sua única fonte de renda: a empresa de fabricação de papel de sua
família.
E contra um contrato comprovadamente assinado pelo meu
cliente, eu não tinha muitas possibilidades de vitória. Quase
nenhuma, para ser realista.
Sheron Griffin, sobrenome que ela havia arrematado de outro
ex-marido desavisado, parecia haver se casado já pensando no
divórcio. Isso pelo momento inusitado que ela havia escolhido para
fazer meu cliente, Charlie Foster, assinar o contrato pré-nupcial com
cláusulas inquestionavelmente prejudiciais a ele.
Charlie havia firmado o documento numa casa de swing
durante um show de strip-tease. As duas dançarinas haviam sido
contatadas e contratadas por Sheron antes da visita. O contrato foi
assinado no meio da performance. Ela disse que era um presente
de noivado e depois de não sei quantas bebidas, Foster achou que
era uma boa ideia dar esse agradinho para a noiva.
Teresa Diaz, uma das dançarinas, era minha testemunha-
chave. Ela confirmou que Sheron havia lhes dito claramente que o
show era para enganar um bobo. E que elas não estranhassem
quando ela aparecesse com o contrato. Que precisava que ele
estivesse bastante distraído para conseguir o que queria.
O problema é que Teresa era latina. Imigrante colombiana,
havia conseguido sua cidadania há poucos meses. Ir ao Tribunal
afrontar uma cidadã norte-americana e que, ainda por cima, não
costumava jogar muito limpo, a assustava. E eu conseguia entendê-
la. Mas, não poderia vencer o caso sem ela.
Naquela manhã, Teresa me mandou um recado. Disse que
gostava muito de mim e que, por isso, pedia um encontro no dia
seguinte. Eu adivinhei o que ela ia me dizer. Que lamentava, mas
não podia depor. E, ainda por cima, era quinta-feira, dia de almoçar
com Erin Burke.
Certamente, ela me perguntaria sobre o caso Foster no qual
vinha acompanhando “meu desempenho”. O pior é que esse era um
poder que eu acabava dando a ela por reportar cada passo que eu
dava como se ela precisasse me aprovar. E toda minha insegurança
frente a ela fazia com que ela sentisse que tinha o direito de me
criticar.
Além de tudo, a discussão da véspera me desencorajava
completamente do meu compromisso semanal. Sem contar na
segunda aposta perdida para Nick. Comecei a pensar em inúmeras
justificativas para dizer a minha mãe que não poderia ir ao almoço.
Não era tão difícil. Era só inventar algo relacionado ao
trabalho. Ela compreenderia perfeitamente.
Só então meu maior problema entrou na sala com um olhar
que faria qualquer um perder uma cabeça.
Qualquer um. Até mesmo eu.
— Pronta para saber qual é meu pagamento? — Colocou as
duas mãos sobre a mesa e revelou um par de seios que nunca
passariam desapercebidos.
Não quando ela fazia o que estava fazendo.
Ela usava uma camisa chumbo social, de um tecido fino, com
botões até o pescoço. Obviamente, antes de entrar em minha sala,
ela havia desabotoado os dois primeiros. E, naquela posição em
que se inclinou sobre minha mesa, mesmo com a lingerie com sutiã
meia-taça branco, eles quase saltavam em minha direção. Como
era, obviamente a intenção de Nick.
— Em horário de trabalho? — Indaguei tratando de desviar
imediatamente meu olhar daquela delícia. — Você não vai jogar tão
baixo.
— 11:31. — Ela apontou o relógio no rodapé do meu
computador. — Segundo Madie, seu horário de almoço começou há
1 minuto. E eu estou sendo boazinha, pois em nosso contrato, não
constava nenhuma cláusula de que você poderia determinar o
horário do pagamento das parcelas.
Girou seu corpo acompanhando minha caminhada pela sala
ampla, mas que ironicamente, me levou para a frente dela. Apoiou o
traseiro na mesa e me encarou como uma caçadora.
Deus do céu, ela estava intencionalmente sexy e era difícil
fingir que seus joguinhos não me enfeitiçavam. Era uma tortura
nadar contra a maré e fingir querer o oposto do que eu realmente
desejava.
— Ok. — Suspirei. — Espero que você não queira mesmo
nada que atrapalhe meu trabalho. Se eu dei minha palavra, vou
cumprir. Só não entendi isso de... parcelas. Eu não vou pagar de
uma vez?
Ela foi chegando perto, agitando minha respiração, colocando
aquela boca deliciosa a uma distância completamente irresistível.
— Se eu perdesse, eu não teria que abrir mão de uma coisa
por quase um mês completo?
— Sim. — Recordei com medo por saber que o controle
estava nas mãos dela.
— E Alyssa, era uma coisa que eu queria muuuito.
— Eu sei. — Falei ofegante, capturada pelo movimento que
sua boca fazia.
Por que ela não me beijava logo? Será que era isso que ela
ia pedir? Que fosse eu quem desse à minha boca o sabor do que a
estava enchendo de água?
— Pois então. — Piscou e passou o dedo no meu queixo. —
O que você vai me dar, também vai durar todos os 27 dias que
restam desse meu trabalho aqui no Wale Associados.
— Nick... — Quis negar, mas putz... ela me deixava com
tanto tesão.
— A primeira parcela, eu quero agora! No nosso horário de
almoço. Depois, tenho certeza de que teremos uma produtivíssima
tarde de trabalho. Revigoradas.
— Agora? Mas... eu só tenho uma hora de almoço. Não
temos tempo de ir à...
— Acontece que não vamos sair, advogada. O lugar... o lugar
onde você vai me pagar a primeira parcela é esse aqui.
— Aqui... no Wale Associados? — Era estarrecedor, mas
aquela adrenalina me fazia sentir tão viva. — Não, Nick, não me
pede isso.
— Aqui! No seu escritório.
— Você só pode estar louca.
— Então você se recusa? Se recusa a trancar aquela porta e
me deixar te foder com força aqui em cima desta mesma mesa onde
você trabalha com tanta competência que faz até o Direito ser...
animado?
Mordi o lábio. Quase me esqueci de que até cinco minutos
antes eu estava procurando um bom pretexto para fugir do meu
almoço de quinta-feira com Erin Burke. O pretexto estava ali.
E minha mãe, provavelmente não receberia nem uma
mensagem cancelando o compromisso.
Era arriscado? Era! Mas agitava minha libido de uma maneira
irresistível. Até que eu cedesse a ela como achava que não queria
fazer.
Por isso Nick me incomodava. Porque estar perto dela me
levava a entregar o controle do meu tão seguro trem da rotina na
imprevisível direção de um inevitável descarrilhar. Na direção do
acaso, dos instintos.
Como se eu tivesse recebido uma ordem à que não podia
ignorar, fui até a porta e a tranquei. A parede ao lado da porta, era
de vidro temperado da metade para cima. Supostamente não se
podia ver nada de dentro para fora, só o contrário.
Ainda assim, preferi não arriscar. Baixei as persianas, diminuí
a luz e fui até ela.
Vitória de Nick. Se era minha iniciativa que ela queria, ela a
havia conseguido. Na medida da fome que eu sentia dela.
Deferi sua petição e a beijei com toda a intensidade que
negar os próprios desejos provoca. Acessei na minha memória as
sensações da nossa primeira vez na Cidade do Pecado e agora já
não podia retroceder.
Não era verdade que Nick me levava a fazer coisas que eu
não queria, era o contrário. O que Nick me levava a fazer era o que
eu tinha realmente vontade. Ao que ela me levava era a parar de
negá-las.
A verdade é que eu queria aquele calor outra vez porque,
àquela altura, já estava completamente escaldada de tesão por
Nicole Wale, a filha proibida do meu chefe.
8 – Querer é poder
Eu quero ver tu esquecer depois do chá que eu te dei
Ai papai, macеtei
Foi um tal de vuco vuco, tá maluco, quer replay
Ai papai, macеtei
Ai Papai – MC Danny (part. Anitta e HITMAKER)

NICK
San Diego – Califórnia
22 de setembro – Quinta-feira
Sede do Wale Associados

Quatro dias. Quatro dias era o tempo que eu havia levado


para fazer com que Alyssa quisesse transar comigo outra vez.
Porque é claro que tinha a aposta, mas ela queria e isso era o que
tornava tudo ainda melhor. Eu sei que não devia estar pensando no
desafio que fiz a ela no primeiro dia enquanto meu corpo vibrava
com seus beijos e carícias, mas foi inevitável.
É que Alyssa era uma mulher tão deliciosa quanto difícil. E
justamente por querê-la tanto é que eu não via sentido em que ela
renunciasse aos prazeres da vida para agradar às expectativas de
outras pessoas. Porque ela não precisava disso, se já era
extremamente exitosa por seus próprios méritos.
A força com a qual ela arrancou minha camisa pelos braços
me fez soltar um murmúrio de tesão. Porque eu amava a sensação
de suas mãos, dedos e unhas apertando e arranhando minha pele.
Só que eu sabia que para atender ao fetiche que eu sentia de fodê-
la ali, no Wale Associados, na sala dela, o prazer deveria ser
silencioso.
A ideia de que nos agarrávamos com a remota, porém
concreta, possibilidade de sermos pegas era muito excitante. Isso
fazia com que não gritar ao sentir toda aquela deliciosa luxúria fosse
ainda mais difícil.
— Não faz barulho! — A advogada perseguindo uma
promoção me pediu como se lesse meus pensamentos. —
Contenha sua indecência. — Sorriu.
Ao mesmo tempo em que lambia meu pescoço e me
arrepiava de cima abaixo.
— Pode deixar. — Falei desabotoando a roupa dela
lentamente. Tanto a blusa quanto o sutiã. Desfrutando do processo.
Dos processos que verdadeiramente me apaixonavam. — Não se
preocupe. Todo mundo já foi almoçar e, eu investiguei. Aqui desse
lado do escritório, em volta da sua sala, todo mundo sai da empresa
na hora do almoço. — Sussurrei no seu ouvido. — Só tem gente lá
na recepção.
Enquanto eu apreciava o quão sexy ela ficava parcialmente
vestida, pegando fogo por mim, ela encarou meus seios dentro
daquela lingerie que eu escolhi especialmente pensando naquele
momento e mordeu o lábio. Alyssa até tentava me fazer acreditar
que eu lhe era indiferente, mas sua expressão sempre demonstrava
que ela me achava tão atraente quanto eu a ela.
— Só você para me levar a fazer essas loucuras. — Ela me
censurou com os olhos brumados, suspirando enquanto abria o
fecho da minha lingerie.
Mas ela não fez tão lentamente como eu. Tinha pressa. Tanto
de que acabasse logo, quanto de que a paixão se consumasse.
Quando ela abriu o último fecho de metal, na altura do
umbigo, meu espartilho corset caiu no chão. Ela, então, direcionou
aquela língua lépida para meu mamilo direito e eu joguei minha
cabeça para trás. Meus cabelos que estavam presos em um coque,
se soltaram e roçaram nas minhas costas, ao mesmo tempo em que
ela cravava as unhas em volta do meu traseiro, enquanto sugava
minha aréola enrijecida.
De cabeça para baixo, vi a janela do edifício e pensei no
quanto aquela situação mexia com cada um dos meus sentidos.
Aquela advogada irresistível, abriu o zíper da minha calça e a
abaixou, com calcinha e tudo até embaixo do joelho, agarrando a
minha bunda enquanto me fazia duvidar da minha capacidade de
manter o equilíbrio ali no meio daquela sala. Me apoiei na mesa com
uma mão, segurei o ombro dela com a outra e ofeguei no ritmo
crescente do pulsar luxurioso que eu sentia no meu baixo ventre.
Ela parou de chupar rapidamente, quando depois de tirar
minha calça, arrancou minha calcinha pela sandália. Sua atitude me
fez arreganhar as pernas, já bem ansiosa para que ela metesse a
língua no meu clitóris.
— Oh, Alyssa, que delícia. — Cochichei.
Desde aquele sábado em Las Vegas, eu não me esquecia
como ela encontrou rapidamente o meu ponto G e como me fez
sentir a adrenalina de saltar de paraquedas com sua pegada nada
delicada. Nem toda mulher era boa em chupar, mas Alyssa... Alyssa
era fenomenal.
Eu não me lembrava de um único momento da nossa transa
que não tenha sido bom. Não tinha como não fazer tudo para
repetir.
E aquela já tinha começado tão boa como a primeira. O ar
clandestino faria com que fosse ainda melhor.
Quando já estávamos nuas, eu completa e ela parcialmente,
Alyssa segurou minha cintura com as duas mãos e encarou meus
olhos. Aquele olhar castanho claro de uma autoridade prepotente já
seria suficiente para me roubar o equilíbrio, mas aí ela me deu uma
ordem:
— Senta!
Cada um dos meus sentidos vibrou enquanto ela me ajudou a
subir na mesa e, com o braço, afastou algumas coisas que estavam
na minha direção.
— Eu vou te dar o que você quer, Nick — falou como não
fosse uma parte totalmente envolvida naquela ação —, mas você
vai me prometer que vai gozar em silêncio.
— Sim. — Murmurei. — Pode deixar.
— Eu estou te dizendo isso — se aproximou do meu ouvido
passando a língua pelo lóbulo da minha orelha; estava excitada e
isso me deixava descontrolada — porque eu vou começar a te
chupar agora, nessa mesa, como você pediu e só vou parar quando
você chegar ao orgasmo.
Ela rumorejava baixinho – e sexy, mas eu a ouviria mesmo se
ela só movesse os lábios e não emitisse nenhum som. Se Alyssa já
era naturalmente atraente no dia a dia, excitada ela se tornava
magnética.
Ela se ajoelhou no chão, com seus seios esféricos e
apetitosos roçando no tecido da blusa quase totalmente aberta e
segurou minhas coxas com força, com muita força.
Arfei quando ela encaixou a língua abaixo no meu monte de
Vênus, entre meus grandes lábios, na posição exata onde se
localizava em meu corpo o comando de ativação do total
descontrole. Aquele ponto, no alto do meu clitóris, incidindo
levemente para a esquerda foi tocado pela língua dela, eu precisei
colar minha mão com força na mesa para não cair.
Porque depois da primeira lambida, o vai-e-vem da língua
dela, combinado com um voltear em ângulos que eu era criticada
por fazer nas pistas de Motocross detonou, em meu corpo, repetidas
explosões cósmicas; que dificultava que eu seguisse cumprindo a
promessa do silêncio.
— Huumm. — Gemi para dentro, apertando meus lábios,
oscilando entre apoiar a palma da minha mão naquela mesa ou
segurar a cabeça indomável de Alyssa em busca de cumprir a
própria promessa.
— Shiiiuuu. — Ela falou agarrando minha perna bem forte.
Eu assenti rapidamente à sua ordem, tanto para que ela não
se chateasse comigo por prejudicar seu trabalho, quanto para que
ela voltasse a se encarregar do meu clitóris.
— Continua. — Pedi nada delicada, pois sentia muito desejo.
Ela não se importou com a minha falta de delicadeza. Até
porque, não adiantaria procurar isso em mim. Fez o que eu pedi e
voltou a se deleitar com o melhor tipo de parque de diversões. E eu
até achei que aguentaria mais, porque estava muito delicioso, mas
quase joguei meu corpo em cima dela segundos depois, gozando
por completo.
Ela sorriu por eu ter conseguido fazer isso sem gemer alto e
se levantou, me beijando com meu gosto na boca.
— Está pago! — Falou entre meus lábios.
— De jeito nenhum. — Respondi com a voz débil, mas com a
convicção característica de Nicole Wale. — Você não sai daqui
enquanto não gozar também. — Cochichei.
Encarei um pequeno sofá que ficava do lado direito da sala
dela, o mesmo onde eu havia ficado no primeiro dia acompanhando
o trabalho dela e de Madie. Pulei da mesa, abri o zíper da saia dela
e a fiz deslizar para cima quando eu enfiei meu dedo por dentro da
sua calcinha.
— Agora sou eu quem dou as ordens.
Ela não se rebelou. Não mais. Se deixou conduzir até o sofá
e me beijou gostoso. Enquanto isso, eu acariciava o corpo todo
dela, como se fosse uma escultura de argila que solicitava minha
mão para que se tornasse uma peça perfeita graças à minha
massagem.
Com a cabeça dela apoiada no braço do sofá, eu agarrei
seus cabelos um pouco acima da nuca e a olhei com toda a
obstinação de quem sempre consegue o que quer.
— Me pede, Alyssa. Me pede para que eu te foda. — Falei
beijando e mordiscando seu ombro, achando muito sexy como ela
estava com as roupas dançando.
Era até melhor do que se estivesse completamente livre
delas. O modo como ela não se despiu, nos recordava de onde
estávamos e do quanto aquilo era proibido.
— Me fode, Nick. Eu quero que você me foda. — Falou com
a voz falhada, ela era toda tesão.
— Seu pedido é uma ordem! — Sorri.
Beijei a boca dela daquele jeito que faria com que ela
sentisse com certeza o lábio latejar, ao mesmo tempo em que
afastei a calcinha e alisei sua entrada com meu dedo médio. Junto
com o anelar. Eu sei que ela os queria dentro dela e eu... eu queria
muito atochar os dois bem fundo em Alyssa e fazê-la ver estrelas.
E, no que se tratava disso, para mim, querer é poder.
Alyssa cravou as unhas nos meus ombros quando eu enfiei
meus dedos na vulva dela e me beijou com aquela impetuosidade
gostosa de quem quer gemer e não pode. Beijar não só aumentava
nossa excitação, mas abafava os gemidos que tanto prazer
propiciava.
Ela rebolava em meus dedos e me levava ao paraíso, ainda
mais que eu ainda sentia aquelas partículas de orgasmos dando
leves solavancos dentro de mim. Não tão leves quanto o do quadril
de Alyssa na direção dos meus dedos estocando na entrada dela
encharcada de desejo.
— Ah, Nick, você é muito gostosa.
Seu elogio me fez sentir extremamente lisonjeada e
compassar minha percussão na mesma frequência de que eu me
lembrava que ela demonstrou gostar no London Eye. Ela
enlouqueceu. Seus dedos se arrocharam tão fortes em meus
ombros, que eu senti até uma dor tão explícita como certamente
ficaria a marca deles por ali. Eu adorava vê-la assim.
Completamente livre da compostura rígida que ela acreditava
precisar assumir para demonstrar sua eficiência.
Enfiei a língua em sua boca num beijo voraz de luxúria,
sentindo o calor abafado da dela, o esforço que Alyssa fazia por me
corresponder com a assimetria que era impossível conseguir em um
beijo no meio de uma transa. Mas, era Alyssa Burke e é claro que
ela tentaria.
Na pressão de nossos corpos friccionando-se e meus dedos
dentro dela, eu vi como ela foi no pico de uma agitação crescente
até começar a abrandar-se lentamente. Era o sinal de que tinha
gozado. E eu sabia que tinha sido um orgasmo intenso. Tão intenso
como o que ela me deu.
— Agora está pago. — Ela declarou com o suor minando e a
respiração arfante combinando com a expressão de satisfação no
rosto dela.
— A primeira parcela, sim! — Exclamei beijando-a com tanto,
mas tanto gosto de quero mais.
E se eu tinha crédito, por que não me lambuzar?
O banheiro do Wale Associados tinha uma pequena ducha da
que tanto Alyssa como eu fizemos uso depois daqueles quarenta
minutos para lá de satisfatórios. Só foi uma pena de que ela não
aceitou que usássemos a ducha juntas, pois seria bastante
divertido.
Eu sabia esperar. Tinha 27 dias para curtir aquela mulher.
Contudo, por mais satisfação que sentíssemos pelo que
fizemos na sala dela, eu sabia que ainda tínhamos fome. E fome de
comida. Decidi então, nos poucos minutos que restavam, descer e
comprar um sanduíche para mim e subir com outro para Alyssa.
Ela voltou à sua sala com uma roupa diferente da que usava
quando eu requisitei meu pagamento. Colocou um vestido social e
ficou ainda mais sexy do que antes de transar. Porque agora ela
exalava a serotonina de quem teve um orgasmo. Avisei a ela que
sairia por alguns minutos e ainda pude ver sua expressão de
desaprovação pelos meus gestos indecentes antes de fechar a
porta.
Só ao me afastar, com um sorriso bobo no rosto, pensei nos
riscos que aquela brincadeira significava. Não era difícil se
apaixonar por alguém como Alyssa. Bonita, inteligente e boa de
cama como poucas. Mas, não era por acaso que eu era piloto de
Motocross.
Eu adorava correr riscos. E não havia coletes, cintas
abdominais, cotoveleiras, joelheiras, botas, luvas, protetor de
pescoço ou capacetes seguros o suficiente para proteger
completamente de uma queda ao correr de moto.
Se envolver era mais ou menos assim. Por mais cuidados
que eu tomasse, era difícil sair com o coração intacto de uma paixão
avassaladora como a que eu precisava admitir que estava vivendo
com Alyssa.
Me apaixonar não estava nos meus planos naquele
momento. Ou eu também não conseguiria me concentrar em ganhar
a etapa MB1 de Daytona. Assim como Alyssa precisava de sua
promoção e eu sabia que ela ia conseguir, eu precisava do prêmio
de 1 milhão de dólares do MB1 para me tornar finalmente
independente do meu pai.
Mas, como ficar casualmente com alguém sem meter no
meio o coração?
Na entrada do edifício, ouvi meu pai chamando meu nome.
Até estranhei que ele estivesse lá embaixo, mas entendi que,
provavelmente, ele havia almoçado e estava voltando ao trabalho.
Caxias como se não fosse quase um bilionário.
Praticamente só eu e Alyssa tínhamos permanecido no 16º
andar.
Só então me dei conta de que Sidney Wale, estava
acompanhado.
— Eu já conheço muito bem à sua filha, Erin. Agora, deixe-
me te apresentar a minha. — Ele me apontou com a mão com um
orgulho que jamais havia sentido antes em me apresentar. Afinal ele
nunca antes havia conseguido me arrastar para aquele ambiente. —
Nicole Wale, Erin Burke.
— A mãe da Alyssa? — Falei pressionando os lábios.
Alyssa não merecia que aquela mulher estragasse seu dia
depois de... Depois do que havíamos feito. Certamente ela se
sentiria culpada, caso se encontrasse com ela.
— Sim, a mãe da Senhorita Burke, nossa melhor advogada.
— Muito prazer, Nicole. — A promotora estendeu a mão. —
Você se formou recentemente? Não me lembro de já tê-la visto.
Que mulher cínica, ela tinha passado por mim no dia anterior
depois de arrasar com a autoconfiança da filha!
— Nós já nos vimos ontem, na porta da sala da... Senhorita
Burke. — Falei apertando tão forte a mão dela que ela sentiu
extrema urgência em tirá-la.
— Oh, sim. — Ruborizou imediatamente.
Era incrível que ao saber que eu era filha de Sidney Wale, o
desprezo com o qual ela tinha me olhado na véspera, desapareceu
completamente. E isso era das coisas que eu mais odiava no mundo
do meu pai – o quanto um sobrenome valia mais do que a pessoa
que o carregava.
— E não, Senhora Burke. — Respondi à pergunta que ela fez
logo que soube de quem eu era filha. — Eu não quero ser advogada
e não sou estudante de Direito, só estou aqui por um acordo que fiz
com meu pai. — Mirei o Big Boss que parecia, agora, querer fugir do
constrangimento que eu poderia lhe provocar com aquele diálogo.
— É mesmo? Que tipo de acordo? — A harpia traiçoeira já
queria arrancar alguma informação de mim para usar em seu favor.
E, certamente, em desfavor de Alyssa.
— Não é nada que deva ser discutido em um tribunal. —
Papai tentou ser engraçado. — Eu só queria que ela se
familiarizasse com o Direito, Erin. Eu não tive a sorte que você teve
de transmitir o amor pelas leis à sua filha através dos genes.
Como se ela se alegrasse por isso. E, provavelmente, se meu
pai conseguisse o mesmo, também ia querer mais.
— O que você acha disso, Erin? — Questionei abandonando
as formalidades com as quais eu não me sentia confortável.
Se para meu pai e a promotora acontecia o mesmo com o
trato informal, eu só podia lamentar.
— De quê? — Ela me mirou intrigada.
— De pais que propõem desafios aos filhos para forçá-los a
seguir seus passos. — Mirei-a com uma expressão de austeridade à
que ela, certamente, estava acostumada.
Ela tossiu com evidente incômodo. Eu tenho certeza de que
se perguntava se eu podia ou não saber. Ainda mais sendo
recordada de nosso encontro na quarta-feira na porta da sala de
Alyssa.
— Ora, Nick. Falando assim, a promotora Erin Burke vai
terminar oferecendo uma denúncia contra mim por fraude contra
minha própria filha. Até parece que você está sendo coagida para
trabalhar para mim. — Ele riu entre a piada e um pedido de socorro.
— Não se preocupe, Sidney. — A raposa velha se
recuperava bem rápido. — Eu conheço o humor dos jovens e sei
que... Nick, não é? — Assenti. — Nick só está querendo manter
uma conversa descontraída. Não é?
— É claro! — Exclamei com um sorriso amarelo.
Dei um jeito de me livrar dos dois rapidamente porque aquele
joguinho de dissimulação não era para mim. Mas, não sem antes
fazer um pequeno favor à Alyssa. Quer dizer, não era tão pequeno
assim. Erin Burke não ficou com uma boa impressão de mim, é
óbvio. Mas, isso não me importava nem um pouco. E, com o meu
pai, eu me entenderia à minha maneira.
No Subway, enquanto eu esperava que meu sanduíche e o
da advogada que eu havia deixado com fome ficar pronto, um
pensamento me veio à mente. Percebi que era a segunda vez que
eu tinha o impulso de defender Alyssa e nós só nos conhecíamos há
duas semanas.
E o problema não era defendê-la de Jimmy ou de Erin, até
porque, ela não merecia ser subestimada. O problema foi que eu
tinha uma vaga ideia do que aquele impulso significava e essa
compreensão me provocou um raro frio na barriga.
9 – Aquilo que faz vibrar
Aquilo reage em cadeia
Incendeia o corpo inteiro
Faísca, risca, trisca, arrodeia
Dispara o rito certeiro

Avassalador
Chega sem avisar
Toma de assalto, atropela
Vela de incendiar
Aquilo Que Dá No Coração – Lenine

ALYSSA
San Diego – Califórnia
24 de setembro – Sexta-feira
Apartamento de Chelsea

— Um brinde com margaritas pela primeira semana de


casamento de Skyler! — Levantei a taça celebrando as núpcias da
minha amiga.
— E tem que ser um brinde rápido, porque agora sou uma
senhora casada e preciso estar em casa para recepcionar o meu
marido. — Ela fez pose de importante arrancando gargalhadas
minhas e de Chelsea.
Depois de bridar, nos sentamos e começamos a beliscar os
petiscos enquanto bebíamos. Tony chegaria tarde naquela sexta-
feira, mas prometeu à Skyler que estaria em casa a tempo de
comemorarem.
— Tenho certeza de que a comemoração da primeira semana
de casamento vai avançar madrugada adentro, Sky. — Recordou
Chelsea com ar malicioso. — Então não há motivos para se
apressar agora. Se você se atrasar, compensa com o engomadinho
até amanhecer.
— Uma coisa é certa. — Skyler voltou a atenção das duas
para mim. — Eu não saio daqui até que você me conte tudo o que
está rolando com a garota de Vegas.
Desviei o olhar. Eu não podia ver, mas não tenho dúvidas de
que fiquei vermelha. Era uma reação natural quando eu pensava em
tudo o que estava acontecendo entre Nick e eu.
— Agora ela tem um apelido melhor, Sky. É a filha proibida do
chefe. — Chelsea assumiu seu ar zombeteiro de sempre.
— Faz sentido. — Skyler entrou na onda de Chelsea como
acabava fazendo todas as vezes em que o assunto era me
envergonhar. — Só que ela, com certeza, já se satisfez com esse
fruto proibido.
— Ah, mas duvido que ela não queira repetir e repetir e
repetir a dose. — Minha amiga e vizinha seguiu me atormentando.
Fiquei em silêncio ao ponto de que elas tenham sentido que
meu incômodo era por causa das brincadeiras delas, mas a verdade
é que não era. Recordar Nick e o fracasso do meu acordo com
minha mãe me trazia à tona sensações que eu preferia seguir
ignorando. Por mais que não conseguisse fazer isso
verdadeiramente.
— É claro que eu quero repetir. — Confessei colocando o
copo na mesinha de centro à nossa frente. — Mas, não dá para
esquecer de que isso é a prova de que eu sou um fracasso.
— Amiga, para com isso. — Skyler salientou com seu jeito
meigo. — Que mal pode haver no fato de que você esteja saindo
com alguém?
— Não há mal nenhum, Sky. O mal se chama Erin Burke. E
nossa amiga Alyssa se recusa a ver que essa mulher só quer comer
o cérebro dela. — Chelsea e sua impaciência eram o oposto de
Skyler e sua meiguice.
— Chelsea! — Censurei-a.
Como se no fundo eu não concordasse com o que ela falou.
Minha mãe estava me deixando louca. E no sentido literal.
— Mas amiga, daqui a pouco eu tenho que ir. Me conta que
história foi essa de que vocês tenham transado no seu trabalho. —
Os olhos de Skyler brilhavam.
E ao notar esse brilho nos olhos dela, na minha mente, a
insanidade que eu havia feito ficou ainda mais evidente. Como eu
podia ter concordado com isso?
— Sim, nós transamos. A Nick ganhou de novo e era uma
aposta às cegas. Então, quando ela foi me cobrar o pagamento, eu
fiquei sem jeito de negar.
— Alyssa, para de mentir pra gente! — Chelsea exigiu. — Tá
estampado na sua cara que não foi só por causa do pagamento.
Eram Chelsea e Skyler e era fato que, para elas, eu não
conseguia mentir. Mesmo que por muitas vezes conseguisse mentir
para mim mesma.
— Não, não foi. — Admiti. — Eu realmente estou muito
atraída pela Nick. Ela tem um ar maléfico combinado com uma
língua ferina e parece que tudo o que faz tem uma pitada de malícia.
Além do mais, o sexo com ela é... — precisei fazer uma pausa —
sem precedentes.
A metáfora com uma expressão comum no universo das leis
surpreendeu as garotas.
— Sem precedentes? — Sky se animou.
— É. — Tentei racionalizar algo que nem mesmo eu entendia.
— Eu realmente não sei explicar, mas meninas, é muito diferente de
qualquer experiência que eu tenha tido antes. Ela mexe demais
comigo. Mais do que me seduzir, ela me persuade a dar asas aos
meus instintos mais irracionais.
— Irracionais ou sexuais? — Skyler quis me instigar.
— E não são a mesma coisa? — Respondi levemente
encabulada.
— Melhor não fazer tanta propaganda... — Chelsea brincou.
Eu sabia que era brincadeira porque ela jamais olharia para
uma garota com quem eu estivesse saindo, ainda que fosse uma
relação casual. Mas, seu humor... A esse era mais difícil controlar.
— Para com isso, Chelsea! — Skyler a repreendeu. — E
como foi depois, amiga?
— Depois ela... — Suspirei. — Ela me comprou um
sanduíche e, lá na recepção impediu que minha mãe me chateasse
porque eu faltei ao nosso almoço. — Não pude evitar sorrir ao
recordar.
Nick havia me contado que disse à minha mãe que eu havia
ido resolver algo importante para um caso longe do Wale
Associados e, assim, evitado de que ela subisse até minha sala. Eu
havia ficado grata pelo sanduíche, mas se livrar da minha mãe...
Esse era um favor que não tinha preço.
Ao menos por uma semana eu estaria livre daquele
desagradável compromisso de quinta-feira. Ainda mais com o peso
de estar mentindo para ela em relação ao desafio dos 100 dias.
— Meu Deus, Alyssa, essa mulher é perfeita! — Chelsea
voltou a elogiá-la. — Você não pode só namorar com ela, precisa se
casar com ela.
Segurou meu braço e ficou me sacolejando de um jeito
cômico. Eu só conseguia pensar em como o humor dela era
diferente quando não era acordada no meio da madrugada. Mas,
até que fazia sentido que fosse assim.
— Eu preciso mesmo é me livrar dela. Talvez jogar Craps
outra vez e ganhar uma aposta na qual ela se comprometa a ficar
bem longe de mim.
— Apesar de você já ter perdido dela duas vezes, Aly...
— E da segunda vez de forma vergonhosa. — Ponderou
Chelsea, interrompendo Skyler.
— Pois é. — A delicada recém-casada precisou concordar
com Chelsea. — Mesmo que você tenha perdido de Nick duas
vezes no Craps, você até pode conseguir vencê-la como falou.
Mas...
Me olhou medindo as palavras. Uma habilidade que minha
vizinha ruiva não tinha.
— O que Sky quer dizer, mas fica escolhendo as palavras,
Aly, é que no fundo no fundo, você não quer se livrar de Nick, pelo
contrário.
— É. É isso mesmo. — Skyler concordou. — E, sendo assim,
ao invés de ficar pensando em como se livrar dela, por que vocês
não param com os joguinhos, não param de se esconder e
começam a ficar de um jeito menos clandestino? Vocês estão super
a fim uma da outra e é nítido.
— Acho que não é só a Nick que é louca não. — Engoli mais
uma margarita de uma vez. Com minhas amigas eu tinha segurança
para beber, pelo menos. — Vocês também estão malucas.
Skyler se despediu porque queria chegar antes de Tony em
casa e eu fiz o mesmo. Tinha combinado de encontrar Nick no Dice
Bar e não fazia ideia dos planos que ela pudesse ter para nosso fim
de semana. O que eu sabia muito bem é que seria recheado de
emoção.
Eu não queria me desconectar do Wale Associados e dos
meus casos. Até porque alguns deles vinham se complicando, mas
ao mesmo tempo tudo de que eu precisava era respirar. O
trabalho... O trabalho eu deixaria para segunda-feira.

27 de setembro – Segunda-feira
Sede do Wale Associados

Quando passei pela porta de entrada do escritório, já vi um


burburinho muito grande. Imaginei que aquilo acontecia pelo fato de
que um dos casos de Jimmy seria julgado naquele dia – o processo
que a Farmacêutica Relly movia contra sua maior concorrente, a
KWG.
Nossa cliente reivindicava a patente – e uma indenização
pelo uso de uma fórmula desenvolvida por eles e que havia sido
entregue à KWG por um antigo funcionário.
Por ser um caso grande, além de Jimmy, seu assessor e os
jovens advogados que trabalhavam na empresa, Sidney Wale havia
sugerido, ou melhor, exigido, que todos os advogados colaborassem
com o advogado responsável.
Acontece que isso não era uma tarefa fácil. Justamente por
ser um caso tão visado e ocorrer no meio da disputa pelo
Departamento de Direito de Família e Sucessões do Wale
Associados, Jimmy era resistente a qualquer interferência de outro
advogado.
Principalmente a interferências minhas.
Mas, isso não significava que eu negligenciaria a uma
orientação de Sidney Wale. Apesar de eu estar me comportando de
maneira imprudente nos últimos tempos, eu ainda era uma pessoa
comprometida com meu trabalho.
E, logo que eu observei uma inconsistência em uma das
provas que seria apresentada por Jimmy, eu o alertei. Chegado o
dia do julgamento, com todo aquele burburinho na empresa, pensei
que devia reiterar minha sugestão. Ainda mais conhecendo a
irracionalidade de Jimmy.
Mitchel levou algum tempo para aparecer em minha sala,
depois que eu pedi que ele fosse chamado.
— Eu sinto muito não poder atendê-la, Senhorita Burke. Mas
estou cuidando de alguns encargos do Senhor Russell para o caso
da Farmacêutica Relly, está quase na hora do julgamento.
— Mas, eu quero falar justamente do caso Relly, Mitchel.
Ele parou e me encarou, como se tivesse que esconder
informações. Se eu bem conhecia meu concorrente, ele estava se
lembrando de qualquer orientação de Jimmy Russell sobre como
não devia dividir nada comigo e nem mesmo me escutar.
— Pois não.
— Você se lembra que eu sugeri correções no documento de
patente que seria arrolado como prova, não se lembra?
— Cla... Claro. — Confirmou engolindo em seco.
Ele se lembrava, mas em se tratando de ações, a coisa era
bem diferente.
— E o Jimmy corrigiu as inconsistências? — Me levantei,
aproximando-se dele.
— Com toda certeza, advogada. — Ele foi se afastando com
ar apressado. — Eu tenho que ir.
— O juiz não vai aceitar o documento sem as correções,
Mitchel. É importante para proteger o cliente e o nosso caso.
Eu parei na porta para orientar o rapaz que se afastava,
quando dei de cara com Jimmy.
— Então você está atrasando meu assistente no dia de um
julgamento importante para mim, advogada Burke? — Questionou
com aquele ar cínico.
— Um julgamento importante para o Wale Associados, você
quer dizer, Senhor Russell? — Tratei-o formalmente de maneira
irônica.
Ele sinalizou para Mitchel que se dirigiu à sala do advogado,
muito nervoso. Jimmy não tinha feito e nem ia fazer as correções,
eu sabia. E o pior é que ele tinha muita chance de perder um caso
relativamente fácil se não o fizesse.
— Senhorita Burke, não adianta tentar me sabotar, o
Departamento de Direito de Família e Sucessões é meu! — Se
aproximou de mim de maneira intimidante.
Eu não me acovardei. Encarei-o de volta, demonstrando que
ele não me assustava nem um pouco. Além disso, como ele ousava
me acusar de tentar jogar baixo, sendo ele quem era?
— Eu não preciso te sabotar e, muito menos, aos casos do
Wale Associados, Russell. — Segui fitando-o com firmeza. — Eu
confio muito no meu trabalho.
— O que está acontecendo aqui? — Sidney Wale,
acompanhado de Nick, nos encarou ao fim do corredor.
Jimmy se afastou de mim e foi em direção do Senhor Wale.
Era só ele aparecer que o advogado assumia sua personalidade
puxa-saco.
— Nada, Senhor Wale. — Parou ao lado dele. — Senhorita
Wale. — Fez uma reverência à Nick e ela revirou os olhos sem abrir
mão de sua transparência. — Eu só estava cumprimentando à
advogada Burke. Não é verdade, Alyssa?
— É claro! — Exclamei incomodada com aquela situação. —
Eu estava desejando boa sorte à Jimmy no julgamento da
Farmacêutica Relly. — Mirei-o com olhar desafiador.
— Ah, esse julgamento é muito importante para nós! — Ele
colocou a mão no ombro de Jimmy. — Além do dinheiro, pode trazer
muitos contratos para o Wale Associados.
— E vai ser assim, Senhor Wale. Vamos? — Apontou o fim
do corredor e começou a caminhar ao lado do nosso chefe.
Nick me encarou cúmplice. Ela também não tinha ido nem um
pouco com a cara de Jimmy. Entramos na minha sala e Nick tentou
me roubar um beijo, mas eu recuei.
Uma dinâmica que já havia se tornado normal entre nós.
— Não, Nick. — Afastei-a me dirigindo à mesa. — Preciso
fazer alguma coisa, ou Jimmy vai perder o caso da Farmacêutica
Relly.
Ela se sentou na cadeira à minha frente.
— Mas, isso não seria bom para você? — Me observou
abrindo o arquivo do caso no computador à sua frente.
— Pode ser... — Pausei o que estava fazendo e coloquei um
pouco de atenção nela e só então percebi o quanto ela estava
bonita. Como sempre. — Mas, como eu lidaria com a minha
consciência, sabendo que eu poderia ter impedido que esse caso
fosse um fiasco e nada fiz só para prejudicar o Jimmy? Eu não sou
assim.
— Pois eu faria com zero culpa. Aquele idiota merece se dar
muito mal. — Ela encolheu os ombros.
— Nosso principal compromisso como advogados, Nick, é
defender nossos clientes. Eu me comprometi com o presidente da
Farmacêutica Relly, com o Senhor Wale e com o escritório.
Não levei muito tempo para retificar o documento e
encaminhar para o tribunal. E, então, percebi que Nick me olhava de
um jeito diferente. Fiquei até com medo de uma nova proposta
inconsequente, mas era, de fato, um outro tipo de olhar.
— Você! — Exclamou com um sorriso ao final. — Você,
Alyssa Burke é uma advogada incrível. E não deixe nunca que
ninguém te faça duvidar disso.
Sorri de volta, alegre com o elogio. Ela era inconsequente,
irracional e, até mesmo irresponsável. Mas, perto dela... Perto dela
eu me sentia vibrar. E nem mesmo o meu trabalho pelo qual eu era
tão apaixonada era capaz de me dar essa sensação.

Da empresa eu, ao lado de Madie, Nick e parte da equipe,


acompanhei o desfecho do processo liderado por Jimmy. O juiz
julgou procedente a ação e a Farmacêutica Relly receberia tudo o
que lhe era de direito pela patente do medicamento. Além disso,
também receberia uma felpuda indenização pelo tempo em que foi
lesada com a violação desse direito pela KWG.
E o Wale Associados uma boa porcentagem dessa
indenização.
Mesmo antes de que Jimmy tenha voltado à empresa, no
final do dia, todos estavam eufóricos no escritório. Todos mesmo!
Fizemos até uma pequena comemoração no refeitório no
horário do lanche. Era um caso no qual toda a empresa havia se
envolvido, mesmo os que não eram advogados e todos sentiam a
vitória um pouco sua. Era um reconhecimento que, certamente,
Jimmy não se dignaria a dar aos colaboradores do escritório, mas
que eles mereciam.
Depois da celebração, todos foram se dispersando para seus
afazeres e acabamos, Nick e eu sozinhas naquele ambiente. A
herdeira da empresa para a qual não dava a mínima me encarou
com aquele irresistível olhar perverso quando se deu conta disso.
— Você não faz ideia de como fica sexy quando está feliz,
Alyssa Burke! — Mordeu o lábio e sorriu com aquele brilho de
luxúria nos seus olhos negros.
— Nem pense em se mover daí. — Fiz sinal para a porta do
refeitório. — Você vai nos criar um problema bem grande se fizer
isso.
Eu não podia negar que, tinha uma pontinha de decepção
pelo fato de que o fluxo de pessoas por ali fosse tão grande, pois eu
estava me sentindo tão feliz, que queria beijá-la.
E por mais que o lugar estivesse vazio, era questão de tempo
até alguém aparecer. O risco de sermos pegas era imenso.
Nick, pacientemente varreu cada espacinho em volta com o
olhar e percebeu que, logo ao lado da porta de entrada, larga e de
correr, havia uma pequena porta que dava para o estoque. E eu sei
disso porque, ao contrário do que eu lhe pedi, ela se levantou,
agarrou minha mão e me puxou lá para dentro.
Depois fechou a porta, puxando, em seguida, a cordinha que
acendia a luz.
O lugar era apertado, mas justamente por isso, me senti
inteira vibrar de tesão. Ela tinha o poder de me despertar isso, de
fazer com que eu me esquecesse da razão e desse asas à loucura.
— Nick, pelo amor de Deus! — Censurei-a temendo que
meus olhos expelissem faíscas de desejo capazes de atear fogo no
vulcão que ela era. — Vamos voltar à minha sala e terminar de
preparar a defesa de Charlie Foster.
— Podemos fazer isso. Mas, quero te fazer um convite antes.
— E você não pode fazer esse convite na minha sala? De um
jeito normal?
— Não! — Falou muito direta. — Assim não tem graça.
— E que convite é esse? — Tentei me afastar da alucinação
que sentia perto dela, mas não tinha espaço.
De um lado, três prateleiras com quase nenhum mantimento.
Do outro, a porta de saída. Atrás de nós, finas paredes de madeira.
E nós.
— Quero que você saia comigo essa noite. Depois do
trabalho.
— Nós já saímos no fim de semana, Nick. Eu não gosto de
me distrair no meio da semana porque sempre acaba mal. Como na
quarta, que nos encontramos no Dice Bar.
— Pois eu duvido que isso tenha sido acabar mal. Você vem?
Ou vou ter que te lembrar que você ainda está em dívida comigo,
advogada Alyssa Burke?
Ela se afastou como se me ameaçasse, mas sua expressão
deixava claro à que tipo de ameaça ela se referia.
— Vou precisar ir à Justiça reivindicar minha liberdade. —
Brinquei. — Tudo bem. Agora vamos voltar...
— Vamos! — Concordou. — Mas, por que não ter um
estímulo antes?
Eu teria uma lista enorme de porquês não. Mas, não listei
nenhum. Nick me beijou e eu fui apreciando do processo pelo qual
cada partícula do meu corpo ia se derretendo nos braços dela. Ela
agarrou minha bunda com uma mão e segurou meu cabelo com a
outra, de um jeito que eu sabia que não diria ‘não’ à nenhuma
proposta que ela me fizesse.
E isso era perigoso demais.
Gemi, quando meu corpo e o dela começaram a roçar
selvagemente conforme a língua dela valsava na minha boca. Logo
antes de que a minha dançasse na dela. Ela segurou minha perna
esquerda daquele jeito bárbaro com o qual ela me dominava e
encaixou o quadril no meu, porque sabia que, assim, me provocava
uma inexorável combustão de calor. Minhas costas bateram na
parede atrás de mim.
Ela fez menção de desabotoar meu blazer e eu sei que
permitiria, se o refeitório, do outro lado da porta na qual nos
agarrávamos, não revelasse um ameaçador movimento de novos
visitantes.
— Shi! — Pedi baixinho colocando meu dedo indicador sobre
a boca dela.
E, putz, ela ficou muito sexy com meu dedo lá. Sorriu pela
adrenalina do risco que havíamos corrido, despreocupada. Porque
estava claro que o que estava em jogo, só era significativo para
mim. A voz de Jimmy chamou minha atenção.
— Imagina, Senhor Wale, eu estava apenas fazendo meu
trabalho. — Gabou-se de um jeito pedante.
— Nada disso, Jimmy. O Juiz Pielmeier elogiou muito a
declaração de patente. Foi você mesmo quem a redigiu? — Sidney
Wale questionou.
— Com certeza! — Exclamou sem demora, aquele
peçonhento. — E olha que esse caso passou pela mão de todos os
advogados do Wale Associados, mas ninguém percebeu a
importância de redigir o documento de patente de maneira correta.
Nick me encarou, indignada com a mentira que ele contava.
Os sons foram se afastando e logo não se ouvia a voz de Sidney
Wale, mas Jimmy parecia seguir ali.
— Mitchel, você editou o documento? — A voz tinha um ar
preocupado.
— Não, Jimmy, claro que não. — Falou com o mesmo tom
nervoso com o qual havia me encarado na minha sala antes da
Audiência. — Você disse que não era para seguir a recomendação
da Senhorita Burke...
Nos sobressaltamos com um som e um impacto simultâneos
sobre a porta que nos resguardava e, ao mesmo tempo, revelava a
deslealdade do meu rival sem nenhum filtro.
— Pois, a partir de agora, você fez! E você fez por ordem
minha. — Era possível sentir a apreensão do rapaz enquanto Nick e
eu prendíamos a respiração para que não fôssemos ouvidas. —
Além disso, a conversa com a Senhorita Burke essa manhã, ou em
qualquer momento jamais aconteceu. Fui claro?
Mitchel assentiu e Nick e eu seguimos nos encarando
perplexas com o tamanho da bomba que acabava de explodir em
nossa mão.
10 – Adrenalina no Petco Park
Não espero que você me perdoe
Por ter perdido a calma
Por ter vendido a alma ao diabo

Um dia desses
Num desses encontros casuais
Talvez a gente se encontre
Talvez a gente encontre explicação
Pra Ser Sincero – Engenheiros do Hawaii

NICK
San Diego – Califórnia
27 de setembro – Segunda-feira
Sede do Wale Associados

— Por que estamos aqui, Alyssa? Eu vou agora mesmo à


sala do meu pai contar que esse Jimmy Russell é um trapaceiro
incompetente!
Só então percebi que Madie nos olhava atônita. Alyssa havia
me arrastado pelo braço para a sala dela, logo que Jimmy e Mitchel
saíram do refeitório. Completamente contra a minha vontade. Eu
não podia aceitar ver uma injustiça daquelas sendo feita! Meu pai
precisava saber.
— Quer um copo d’água, Senhorita Wale? — Minha veia do
pescoço devia estar saltando pelo tom de preocupação que havia na
voz da assistente de Alyssa.
— Não precisa, Madie. — A advogada Alyssa Burke assumiu
aquele ar sensato que, pela primeira vez, me incomodava mais do
que me seduzia. — Eu pego para ela aqui no frigobar. Nos deixe
sozinhas, por favor. Quero ter uma conversa importante com Nick.
— Claro.
Ela começou a fechar seus cadernos e guardar suas coisas
antes de deixar a luxuosa sala que Alyssa ocupava. Mas, que
definitivamente era pouco para o que ela merecia e para o que ela
aguentava naquela empresa.
— E, Madie... — Alyssa a chamou com um tom pacificador.
— Peça para que não nos interrompam e não comente com nin...
— Por favor, Alyssa, não precisa nem pedir. — Em seguida
se voltou para mim com um olhar amigável. — Pode ficar tranquila
também, Senhorita Wale.
— Obrigada, Madie. — Sorri enquanto ela fechava a porta.
Suspirei fundo e fui novamente conduzida por Alyssa. Dessa
vez para aquele sofá que era usado para reuniões com clientes
importantes e onde eu havia lhe dado um orgasmo também.
Ela se sentou de frente para mim e eu observei que seus
olhos cor de mel não pareciam me recriminar, como haviam feito
após quase todas as minhas atitudes desde que nos conhecemos.
Mas, talvez eu preferisse aquele olhar, ao comedimento que eu
observei em sua expressão naquele momento.
Aquilo lá era hora de ser prudente? Eu nem sabia o
significado dessa palavra, muito menos tinha experimentado aquela
sensação.
— Alyssa, precisamos contar ao meu pai, não é justo...
— Aqui é o mundo do Direito, Nick. Não funciona assim.
Seria a minha palavra contra a dele.
— Mas, eu também testemunhei tudo! — Me alterei. — Não é
só a sua palavra.
Ela segurou minha mão numa tentativa de que eu a
mantivesse junto do corpo e não gesticulando para expressar minha
raiva.
— Ainda serão só palavras, Nick. Para revelar algo como isso
ao Senhor Wale sem parecer que eu estou tentando sabotar o meu
concorrente, eu teria que mostrar alguma prova concreta. Não é só
dizer que você e eu ouvimos uma conversa de Jimmy e Mitchel ou
que eu enviei o documento retificado.
— Mas você não fez isso por e-mail? Não há registro no seu
computador?
— É uma conta coorporativa, Nick. Todos os advogados
envolvidos no caso têm acesso a ela. Pode ter saído de qualquer
computador do Wale Associados. Meu, do Jimmy ou até dos
advogados júniores que estão auxiliando no caso.
— Não é possível! — Soltei minha mão da dela e soquei o
sofá. — Alyssa, se ele conseguir essa promoção e não você...
— É uma possibilidade. — Disse quase resignada. — Se o
Senhor Wale abriu uma concorrência, é porque qualquer um poderia
conseguir. Se ele quisesse, poderia simplesmente nomear alguém,
mas ele achou que essa disputa seria estimulante e benéfica para o
escritório. Talvez, no fundo no fundo, ele queira um advogado capaz
de coisas como a que Jimmy faz para o Departamento de Direito de
Família e Sucessões.
— Por que você acha isso? — Observei-a tentando controlar
a sensação de sufocamento que a raiva provocava e que ainda não
havia passado.
— Porque... — Ela levantou os olhos como se
envergonhasse. Mas, que motivos ela teria para se envergonhar, se
destoava tanto daquele universo? — A lei possui limites que as
pessoas parecem estar dispostas a ultrapassar quando as relações
terminam, Nick. O limite para a honestidade de muitas pessoas é o
dinheiro que está em jogo em um processo.
Caminhei pelo escritório tentando dar vasão à toda
indignação que eu sentia. Mas minhas pernas não seriam
suficientes para isso, eu precisava de algo mais veloz. Tudo o que
ela dizia fazia muito sentido. Tanto que me recordava do porquê eu
havia me afastado daquele universo desde muito cedo.
Além disso, meu pai já sabia que ela era a melhor do Wale
Associados e, mesmo assim, quis submetê-la a uma disputa com
uma pessoa tão medíocre e desonesta como Jimmy Russell.
— Alyssa, pelo amor de Deus! Acorda! Que porcaria de
Justiça é essa que meu pai e sua mãe tanto defendem? Qual é o
sentido de você se dedicar tanto a esse trabalho?
— É que do jeito que você está colocando, parece que no
mundo das leis só existem injustiças e trapaças. Nem todo mundo é
como Jimmy.
— Não, Alyssa! Todos nessa porra de mundo é como o
Jimmy. Nem todo mundo é como você!
Fui eu mesma até o frigobar pegar a água que ela havia me
prometido. Abri a latinha e nem coloquei no copo antes de beber
tudo a goladas. Embora aquilo fosse completamente insuficiente
para aplacar o gosto amargo daquela situação.
— Nick, não é assim. — Ela insistiu.
— É sim! — Repliquei convicta. — Eu nunca conheci nenhum
advogado como você, mesmo tendo crescido rodeada por muitos
deles. Todos os advogados que eu conheci eram como Sidney
Wale, Erin Burke e Jimmy Russell.
Ela pareceu refletir, talvez tentando buscar na memória algum
advogado que ela admirasse e que, portanto, refutaria meu
argumento. E, talvez até existissem alguns. Mas, eles eram tão
raros quanto ela e isso fazia com que ela precisasse de tempo e de
calma para pensar em alguém.
Mas, eu não conseguia lidar com aquilo com calma e muito
menos, sentia que era justo com ela ter que gastar um tempão
pensando em alguém honesto, enquanto tinha que viver rodeada
por aquelas cobras peçonhentas.
— Alyssa, sua mãe não merece você, meu pai não merece
você e o Wale Associados não merece você!
Depois daquela explosão um silêncio se instalou no
escritório. Aquela situação havia levado ambas ao limite, a diferença
estava no modo como nós duas administrávamos sentimentos como
aquele.
— Sabe, Nick... — Ela se levantou e foi caminhando até mim
com uma postura branda, mas não tão prudente e sensata como
antes. — Chelsea, uma das minhas melhores amigas, uma vez me
defendeu na entrada do condomínio de uma moradora que cismou
que eu havia chegado bêbada e estacionado na vaga dela.
— Eu lembro da Chelsea e já gostei bastante dela. — Sorri.
— Eu sou uma boa advogada. Sou boa em defender as
pessoas e isso me dá uma taxa muito alta de vitórias, mas quando o
assunto é defender a mim mesma, eu travo.
Ela estava fragilizada. Era óbvio que a artimanha de Jimmy a
havia impactado, ela não estava esperando. Não era como numa
mesa de Craps em que as apostas e os dados estão sobre a mesa.
Naquele universo, a regra eram as cartas na manga, não as jogadas
às claras.
E sempre que eu via Alyssa fragilizada, meu impulso era
protegê-la de tudo e de todos.
— É cansativo viver defendendo os interesses das pessoas,
sabendo que alguém sempre pode te dar uma bola nas costas e
que, quando isso acontecer, ninguém vai te defender. Mas, você...
— Ela levantou os olhos e me encarou.
Eu senti muita ternura nas suas palavras, na sua sinceridade.
Uma ternura que ia além do limite que eu havia estabelecido para
aquela relação. O limite aceitável para que aquilo não terminasse
mal. Porque havia muito poucas possibilidades de que não fosse
terminar.
Ajeitei seus cabelos atrás da orelha, sem saber o que dizer.
Eu tinha medo de falar qualquer coisa e perder o controle depois
disso. Porque, do meu jeito, eu também gostava de ter sempre o
controle nas mãos.
— Quando Chelsea me defendeu, eu senti um alívio. Foi bom
sentir o que significava ser defendida como eu faço todos os dias
pelos clientes do Wale Associados.
— Você merece muito ser defendida, porque é preciosa
demais para esse universo, Alyssa. — Minha voz não me obedeceu
e exibiu aquela Nick que eu não gostava muito de mostrar.
— É. Só que até hoje, só Chelsea havia me defendido. Nem
mesmo com a minha mãe e meu pai sendo advogados, ninguém
nunca... Nick, ninguém nunca me defendeu como você me defende.
Ela permaneceu parada diante de mim, enquanto os olhos
dela faiscavam emoção. E eu não faço ideia de como eu a olhava,
porque estava inundada de uma profusão tão grande de sensações
que só conseguia antever nossas bocas coladas de um jeito que
ainda não tinha acontecido.
Mas, eu não era uma pessoa de antever. Voltei a ajeitar uma
mecha do seu cabelo atrás da orelha e a beijei com uma suavidade
brutal que só mesmo eu poderia fazer convergir. E, quando eu
beijava Alyssa, eu sentia o pavio que ocasionava uma labareda
incontrolável ser aceso.
E aquilo aconteceu também.
Mas, aquele beijo, aquele beijo provocou um outro tipo de
calor dentro de mim. Era um calor que eu dificilmente experienciava
e que Alyssa e aquele tipo de contato pareciam ser a chave para tal.
O beijo da advogada Alyssa Burke provocou em mim uma brasa de
brandura que fazia o caminho oposto ao inflamar da paixão. É que
aquele não era um beijo que queimava, mas sim que aquecia o
coração.

Naquele dia não foi difícil convencer a advogada Alyssa


Burke a sair comigo, sem saber para onde eu a levaria. Depois
daquela tempestade nefasta no Wale Associados, acho que ela até
gostou de desaparecer comigo depois do expediente.
No fim de semana seguinte aconteceria o Supercross no
Petco Park e alguns amigos meus iam participar do evento. Hailey,
uma ex-namorada que, como seu nome lembrava um cometa nas
pistas, foi a única que concordou em me emprestar a moto.
Minha fama de irresponsável tinha acabado com minha
reputação.
Ainda assim, eu queria apresentar Alyssa a uma nova
emoção.
Provavelmente ela não se sentiria tão confortável se
soubesse que Hailey e eu tínhamos um passado, mas ela era, de
fato, alguém do passado. Além disso, à princípio, eu tenho certeza
de que aquela situação jamais seria totalmente confortável para ela.
E em cima da moto, conforto não é bem o tipo de sensação que a
gente busca.
— É mesmo seguro levar alguém na garupa, Nick? — Ela me
perguntou amedrontada depois de vestir todos os equipamentos de
segurança.
— Comigo é. — Respondi calmamente.
— Eu não sei... Acho que não quero ir. — Hesitou pela
milésima vez.
— Você vai curtir, Alyssa, eu sei. E andar de moto numa pista
de Motocross vai ser uma sensação que você nunca vai esquecer!
— Espero que não seja porque vou me arrebentar inteira. —
Ela tentou quebrar o nervosismo com uma brincadeira.
Eu ri porque achei engraçado, mas não muito para que ela
não sentisse que eu estava zombando dela. Nem todas as pessoas
podiam entender de primeira o que era o Motocross e Alyssa era
uma dessas pessoas. Quando chegamos lá, ela havia me
confessado que só havia andado de moto uma vez na vida.
— Pode confiar na Nick, Alyssa. — Hailey que estava
apoiada na porta do vestiário entrou e parou diante dela. — Ela tem
essa fama de louca das pistas, mas é porque as pessoas não
gostam de reconhecer só é possível ser tão corajosa com muito
treino e completamente consciente das regras de segurança.
Alyssa agradeceu e permaneceu encarando Hailey
desconfiada. Acho que ela percebeu que entre nós duas havia um
passado, mas assim como eu, parecia não saber se tinha direito a
me questionar. Eu ia esclarecer tudo, é claro. Mas, depois de dar
uma volta naquele circuito com ela.
Quando ela agarrou minha cintura, mesmo que ela estivesse
de luvas e eu usasse o colete de proteção, sua tensão era palpável.
Porque, em cima de uma moto se respirava adrenalina. O Petco
Park valia cada um dos milhões que haviam sido gastos para
construí-lo.
Obviamente, a principal destinação do estádio eram as
monótonas partidas de baseball. Mas, uma vez por ano se tornava a
sede de uma das etapas nacionais de Supercross. E essa era
praticamente a única vez que eu ia a San Diego no ano. Minha
especialidade era o Motocross, mas eu amava totalmente aquele
esporte em toda a sua plenitude.
E dar uma volta naquela pista com uma mulher que me
provocava a adrenalina que Alyssa me provocava era praticamente
uma obrigação. Quando eu acelerei a moto pela primeira vez
sinalizando que ia partir, ela colou o corpo dela mais forte junto do
meu.
— Eu acho que eu quero descer! — Gritou no meu ouvido
bem forte.
— Tem certeza? — Girei meu pescoço para a esquerda tanto
quanto o protetor permitia. — Um dia você pode se arrepender de
não ter vivido essa experiência.
— Tá. — Concordou travando os óculos. — Vai de uma vez!
Eu não esperei que ela voltasse a hesitar. Acelerei a moto a
toda velocidade de modo que Alyssa tentou travar as pernas no meu
quadril. No primeiro step down que eu passei, era como se a vida
estivesse voltando a mim, depois de tanto tempo trancada naquele
escritório tóxico.
Me preocupei de que Alyssa pudesse estar sentindo muito
medo e não curtindo como eu queria que acontecesse. Entretanto,
quando eu saí de uma mesa de terra para uma parede em curva, eu
a ouvi dar um grito que em nada lembrava medo pura e
simplesmente:
— Ihuuuuul! — Vibrou em verdadeiro êxtase.
Isso fez com que eu concluísse a volta com muito mais
confiança. Não em mim, porque essa eu já tinha, mas confiança de
que eu havia conseguido fazer com que Alyssa se divertisse.
Ninguém mais do que ela merecia, pois ela precisava viver tendo
que se esquivar do que havia de pior no mundo do meu pai que,
infelizmente, também era o da mãe dela.

— Uau, Nick, foi bom demais! — Alyssa seguia eufórica


depois de mais de quase meia hora que havíamos saído do Petco
Park.
Já estávamos quase chegando ao segundo lugar onde eu
pretendia levá-la naquela noite de segunda-feira. Ela aceitou
tranquilamente permitir que eu dirigisse o carro dela para um destino
que ela sequer imaginava.
— Podemos repetir assim que possível. Além disso, quando
eu recuperar minha Megan, podemos fazer trilhas de Motocross na
floresta.
— Megan? — Ela me olhou interrogativa.
— Ah... — Ri da confusão dela. — Eu costumo batizar
minhas motos com nomes de mulheres. A última se chamava
Megan. Como foi a que eu mais gostei, acho que vou chamar minha
próxima moto assim.
— E... O que aconteceu com a Megan? — Era a primeira vez
que eu via Alyssa genuinamente interessada em mim, sem armas
ou sem estar na defensiva.
— Ela se arrebentou na etapa de Las Vegas.
— Sinto muito. — Ela falou segurando minha mão enquanto
eu dirigia.
— Obrigada. Mas, vamos pensar pelo lado bom. Eu saí
inteira e foi por causa disso que estava no London Eye Hotel &
Casino na noite em que nos conhecemos.
— Pensando assim. — Ela parecia se esforçar para parecer
serena, mas em seu olhar, dava para ver como a adrenalina ainda
valsava por suas veias. — Nick, é por isso que você está
trabalhando esse mês no Wale Associados? A Hailey falou que você
tem fama de louca das pistas, eu vi uns boatos sobre você na
internet de que você não tem conseguido patrocínios.
— Sim, Alyssa. Assim como você, eu também fiz um desafio
com o meu pai. Ele não ousou me propor 100 dias como sua mãe,
mas 30 dias de uma intragável tortura.
— É... Ele falou que parte da minha incumbência no Wale
Associados era fazer com que você se apaixonasse pelo Direito
durante esse mês. — Recordou.
— E o que você pretende fazer?
— Essa pergunta até me ofende, Nick! — Reclamou
contrafeita.
— Eu sei que o meu pai, de alguma maneira, condicionou a
sua promoção a que eu demonstrasse interesse pelo Direito ao final
desse mês. E eu sei que você quer muito essa promoção, mas têm
limites morais muito bem delimitados.
— Então por que está me perguntando isso? — Ela estava
realmente afetada pela minha pergunta.
— Porque está claro que ao final desses 30 dias eu vou odiar
o direito tanto quanto no primeiro dia e com as tramoias de Jimmy,
vai ser muito difícil que meu pai te promova se ele considerar que
você falhou comigo.
— Eu continuo sem te entender. — Ela modificou sua
expressão e fixou seu olhar na frente, mesmo que o sinal estivesse
fechado e o carro parado.
— Eu sei que você ama o direito, Alyssa Burke. Mas, aquele
escritório... a coisa toda no Wale Associados está completamente
desandada. Você realmente quer tanto essa promoção ao ponto de
arriscar o que está acontecendo entre a gente? O que você quer
mais? A promoção no Wale Associados ou fazer com que entre nós
duas as coisas possam dar certo?
Eu queria encará-la para tentar decifrar o que se passava em
sua mente enquanto ela me respondia, mas não consegui. O sinal
abriu e eu precisei seguir na direção do nosso destino. E, só ao
colocar aquele carro em movimento é que eu me dei conta de que
eu estava praticamente dizendo a Alyssa que queria dar um passo a
mais na nossa relação.
11 – Loucura, adrenalina e tesão
Não importa o que fazemos
Ainda somos feitos de ganância
Este é o meu destino
Este é o meu destino
Demons - Imagine Dragons

ALYSSA
San Diego – Califórnia
27 de setembro – Segunda-feira
Turret32 Hotel

Abri meus olhos e joguei minha cabeça para trás. Senti as


chamas da fogueira abrasarem meu corpo nu e seu calor se
misturar aos estímulos provocados por Nick. Eu já tinha feito vários
69s na minha vida, mas aquele era meu primeiro sob luz da lua, ao
lado de uma fogueira, numa varanda descoberta, com o mar da
Califórnia atrás de mim.
E com uma mulher como a Nick.
Um enorme sofá com almofadas confortáveis, comuns em um
hotel como aquele, acomodavam a filha do meu chefe e eu, cheias
de fogo e da adrenalina de uma volta na pista de Motocross.
Nuas e insanas.
Tanto quanto a experiência na moto, as palavras ditas por
Nick antes de que entrássemos no hotel, de alguma maneira
inflamavam ainda mais o desejo que eu sentia por ela. Porque beijá-
la, acariciá-la, saboreá-la despertava em mim tanta paixão quanto o
fato de que ela me defendesse, me levasse para andar de moto ou
insinuasse que queria dar um passo a mais no nosso lance.
Transar com Nick era transcender.
Abandonei a vista do Oceano Pacífico que decorava e
sonorizava aquele espaço através do parapeito de vidro e voltei
minha atenção ao clitóris de Nick. Porque depois que eu começava
uma transa naquela posição, não importava quanto tempo levasse,
eu só parava depois de levar minha parceira ao orgasmo.
Eu precisava admitir que Nick tornava essa uma tarefa mais
difícil do que qualquer outra. A língua dela ondeava na minha vulva
e ela parecia saber exatamente onde tocar para fazer com que
minha região genital se eletrizasse e distribuísse descargas
magnéticas por cada partícula do meu corpo.
E eu que me gabava de conhecer bem o ponto mais
vulcânico do corpo dela. Naquele momento, revirando meus olhos e
gemendo, eu percebi que ela fazia exatamente a mesma coisa.
Além disso, enfiar minha língua entre os grandes lábios de
Nick, envolvê-los com os meus lábios e chupá-la com gosto me
fazia submergir num intenso mar de prazer. E que eu só quisesse
subir à superfície para tomar ar quando isso fosse extremamente
necessário.
— Como você é gostosa, Alyssa. — Falou entre o ofegar e
sussurrar antes de uma lambida cheia de avidez.
Os peitos dela, pressionados contra a dobra da minha perna,
me faziam sentir totalmente estimulada pela mulher mais deliciosa
de San Diego. E era ela quem me chamava de gostosa.
— Ahhh.... — Devaneei. — Eu é que estou experimentando o
sabor do paraíso.
Ela precipitou o corpo para a frente quando eu deslizei
minhas unhas pela pele dela em um claro espasmo de tesão. E olha
que foi um arranhar delicado. Foi minha deixa para aprofundar
minha dedicação para as próximas sugadas. Eu estava embevecida
de prazer, mas ia fazer a Nick gozar.
Minha vontade era me tornar inesquecível para ela.
Naquela noite, aquilo era muito importante.
Meti a boca direcionando minha língua para aquele ponto
específico que eu sabia que a enlouquecia, mas dessa vez, queria
surpreendê-la. O problema do 69 é que você estimula enquanto é
estimulada.
Eu disse problema?
Pois isso está bem longe de ser um problema.
Essa é a melhor parte.
Senti Nick enfiar a língua tão fundo que minha vulva se
contraiu descontroladamente. Eu estava muito, muito perto de
gozar. Comecei então a chupar com força, apertando a bunda dela
com meus dedos, vibrando com o modo como ela rebolava na
minha boca.
Ela me chupava e gemia enquanto rebolava e isso me fez
perder completamente o controle. Do jeito que eu mais gostava de
me descontrolar. O vai-e-vem do meu quadril para cima e para
baixo, entre o serpentear da língua de Nick e suas sugadas
esfomeadas já não me obedecia.
— Ah... Ah... Ah... Nick eu vou goz...aaaaaaar. — Gritei
estalando na boca dela.
Mesmo sentindo meu clitóris pulsar inchado, ela não parou de
chupar e eu... eu não tinha cumprido minha missão. Ainda.
Mole, segui me deliciando, pressionando mais fortemente a
ponta da minha língua contra a dobrinha do clitóris dela, onde eu
havia identificado que ficava seu ‘ponto G’.
Ela gostou. Eu senti que ela gostou.
Agarrei mais forte aquela bunda e beijei, como fazia quando
me deliciava com a boca dela. Ela projetou com tudo o quadril para
dentro da minha boca vociferando seu prazer entre minhas pernas,
fazendo meu clitóris brandir simultaneamente ao momento do seu
ápice.
Sorri com a deliciosa sensação de dever cumprido.
Depois de algum tempo, admirei a figura de Nick, vestida
apenas com um roupão, bebendo champanhe no sofá acolchoado
mais próximo do parapeito. O vento abraçava seus cabelos
enquanto sua expressão denunciava que ela era uma mulher,
naquele momento, sexualmente satisfeita.
— No que você está pensando?
Depois de perguntar, me sentei ao lado dela, vestida também
só com aquele roupão, oscilando meu olhar entre o rosto dela e o
mar iluminado por algumas embarcações ao redor da Ponte
Coronado.
— No que você não me respondeu.
Aquela não era a primeira vez que Nick era direta comigo.
Pelo contrário. Ela havia sido direta, comigo e com todos, desde a
primeira abordagem em Las Vegas. E essa era uma de suas
características que mais me seduziam.
O fato de que ela não usava máscaras, que ela dizia o que
pensava com sinceridade, que ela não agia com dissimulação ou
falsidade.
— Você sabe que, entre nós duas, a coisa é complicada, né?
Uma relação que começou com uma aposta... tem como dar certo?
— E, por que não daria? — Ela me encarou evidenciando
que certamente acreditava no que dizia.
— É que não é só isso, Nick. — Me levantei apoiando minhas
costas no parapeito e encarando-a. — Você também é a filha do
meu chefe e...
Ela se levantou e foi até mim. Ajeitou meu cabelo atrás da
orelha e me olhou de um modo que... Eu não sabia se era
necessariamente verdade, mas parecia que Nick me achava uma
deusa. Como fugir de uma mulher que me olhava daquele jeito?
Ela me fazia sentir completamente especial.
— Alyssa, você é uma mulher lindíssima. Desde que eu te vi
lá em Vegas, eu fiquei caidinha por você. E eu sei que a gente não
se conhece muito bem, mas putz... Eu quero muito transar com você
todos os dias até 19 de outubro, mas...
— Você já não tem esse direito? — Falei afetada, sentindo
meu coração acelerado.
E aquela sensação que ficava entre a boca do estômago e o
meio do peito, nem mesmo a derrota para Nick havia me provocado.
Era diferente, havia algo diferente.
Lembrava borboletas no estômago e eu sabia o que vinha
depois que elas começavam a voar.
— É. Mas, eu quero mais, Alyssa. Eu quero poder transar
com você não porque é meu prêmio pela aposta, mas porque você
faz essa escolha todas as vezes, porque eu...
— Você? — Arregalei os olhos cheia de expectativa.
— Eu te quero para mim, Alyssa Burke! — Exclamou me
incendiando, dessa vez, de dentro para fora. — Só para mim.
Ela merecia uma resposta. Uma resposta que eu sabia que
estava estampada no meu rosto. Mas, antes da resposta, eu
precisava dar a ela outra coisa. A tomei em um beijo apaixonado e
correspondido. Era bom beijar depois de transar.
Não havia nada melhor. Mas, beijar depois de uma conversa
como aquela era especial em um outro nível. Aquela varanda,
perigosamente romântica, de frente para o oceano foi o cenário da
mudança de status naquela relação.
As coisas entre Nick e eu continuariam secretas. Era até
gostoso que fosse assim. Mas, a partir daquele momento, mesmo
sem dizer efetivamente, estava muito claro que Nick e eu estávamos
oficialmente em uma relação.
E eu precisava admitir. Eu gostava bastante disso. Apesar de
sentir, bem no fundo do meu peito que tinha absolutamente tudo
para dar errado porque nenhuma de nós sabia o que ia acontecer
depois de outubro.

San Diego – Califórnia


19 de outubro – Quinta-feira
Sede do Wale Associados

Nick estava fechada na majestosa sala de Sidney Wale, com


ele, há mais de quarenta minutos. Por mais que eu tenha insistido
para que ela me dissesse o que pretendia dizer a ele ao fim do seu
desafio com o pai, ela se recusou. Então eu exigi que ela me fizesse
uma promessa.
Ela não tocaria no assunto da promoção para o
Departamento de Direito de Família e Sucessões.
Eu não suportaria a ideia de que ela interferisse nisso,
especialmente depois dos últimos acontecimentos. Minha
autoestima não era necessariamente mordaz, mas seria demais
para mim conseguir um cargo através de minha namorada que
odiava o Direito.
É claro que ela tentou me envolver com beijos, carícias e
palavras de persuasão. Não era da natureza dela não se envolver.
Nick parecia ser adepta de me defender e tentar me proteger. Mas,
naquele departamento, eu não podia aceitar sua interferência. Seria
humilhante demais.
E foi por isso que eu precisei daquela promessa.
Entretanto, cada segundo que ela passou na sala do Senhor
Wale me fez questionar se ela a cumpriria. Porque, nas últimas
semanas, eu já havia quebrado a tantas promessas feitas a mim
mesma, não podia exigir que ela fizesse o que nem eu mesma fazia.
Ela entrou na minha sala com um sorriso de nervosismo.
Depois de todo aquele tempo juntas, eu havia aprendido a conhecê-
la ao menos um pouquinho.
Na verdade, acho que bem mais que um pouquinho.
— Como foi? — Indaguei com os olhos arregalados.
— Ele concordou em patrocinar minha participação na etapa
de Daytona de Motocross.
— Isso era o mínimo, né? — Revirei os olhos porque ela ter
iniciado a explicação por uma coisa óbvia.
— Calma, Alyssa, vem comigo. — Ela segurou minha mão e
me conduziu até o sofá.
Ah, se aquele sofá falasse ele contaria umas histórias nada
profissionais dos últimos 22 dias...
— Nick, não dá. Fala logo, como foi essa conversa!
— Eu disse a ele que nunca me apaixonaria pelo Direito
como ele quer. Embora minha língua tenha coçado para dizer que
uma certa advogada sim soube despertar todo o tipo de paixões em
mim.
— Se fossem todos os tipos, hoje você amaria o Direito. —
Contestei-a.
— E trair o Motocross com um monte de gente mentindo em
tribunais para levar vantagem sobre pessoas que um dia amaram e
respeitaram? Sinto muito, minha gata, mas isso não vai rolar.
— Eu sei. — Dei um risinho pensando que ela tinha razão na
análise que fazia do mundo do Direito. — Mas Nick, já combinamos
que você não vai contar a ele sobre nós, antes do dia 30. —
Recordei.
— Não. Nós não combinamos isso, Aly, você exigiu que fosse
assim e eu nada pude fazer, senão aceitar.
— É bom que esteja claro. — Enfatizei.
Ela sorriu deslizando os dedos pelo meu rosto com aquele
olhar de convite que sempre encontrava uma maneira de repetir nos
últimos dias. Depois de um olhar como aquele, o script era
geralmente muito parecido.
Primeiro vinha um beijo cheio de urgência e necessidade com
mãos se perdendo por dentro das peças de roupas e eu a
empurrando e implorando sensatez. E, normalmente, ela costumava
aceitar a prudência, desde que eu concordasse com o ato seguinte.
O segundo passo era um encontro em algum lugar secreto no
Wale Associados no horário do almoço, do lanche ou até mesmo
depois do expediente quando a urgência era muito grande. O
almoxarifado, o cantinho da escada lá em cima, perto da laje do
prédio que, raramente era visitado por qualquer funcionário do
edifício ou o sofá da minha sala.
Embora Nick sempre preferisse explorar o edifício. Segundo
ela, isso deixava nossos encontros mais ardentes.
E esses encontros sempre terminavam da mesma maneira.
Nossos corpos queimando pela paixão tórrida à que dávamos asas.
Loucura, adrenalina e tesão misturados. Um desejo que fervia e nos
inflamava.
Por fim, vinha o ato final. Eu me sentindo mal por fazer sexo
com ela no meu local de trabalho, mesmo que nunca tivesse
acontecido em horário comercial, e ela encantada pela ideia desses
encontros furtivos no meio do dia.
Por mais que ela quisesse muito tornar nossa relação clara e
transparente. Mas isso era eu quem sempre negava.
— Nada disso! — Exclamei afastando sua mão de ajeitar
meu cabelo atrás da orelha. Não era momento para aquela saga.
— Eu não fiz nada. — Ela se defendeu levantando as duas
mãos como uma criminosa que se rende. — Só queria te contar que
vou continuar aqui até o fim de outubro. Foi isso que conversei com
meu pai.
— Todo esse tempo? — Tentei segui-la, mas ela se sentou na
cadeira à frente da minha mesa evidenciando que partiria para o
lado sério daquela conversa.
A parte na qual ela sempre recusava meu apoio.
— Claro que não. Ele fez questão de deixar claro que eu o
decepcionava por insistir nessa idiotice de Motocross.
Me doeu perceber que a perspicácia egoísta do Senhor Wale
quase a convencia de que aquilo era verdade. De que algo que ela
amava, era inferior. Por não ser uma escolha dele para ela.
— Não é uma idiotice! — Me abaixei na altura do rosto dela e
segurei sua mão entre as minhas. — Ele devia apoiar os seus
sonhos. Até porque, você é uma excelente piloto.
— Mas não vai! — Tirou delicadamente a mão e tentou virar o
rosto para o lado. — E eu não vou mais perder tempo lamentando
isso, Aly. Eu preciso me dedicar aos treinos para dezembro, mas eu
quero estar aqui, quando ele anunciar quem vai ficar com o
Departamento.
Agora fui eu quem me levantei e me afastei. Parei em frente à
janela, observando quase toda a cidade de San Diego ao meu redor.
A metrópole tinha muito poucos edifícios tão altos como o The
Collins, onde se localizava o escritório do Wale Associados, e
aquela janela sempre me deu a sensação de que eu era uma
advogada poderosa.
Que eu havia chegado longe.
— Talvez você não devesse fazer isso. — Falei quando a
senti chegar por trás de mim, acariciando os meus braços. — Talvez
fosse melhor você dedicar seus dias aos treinos para a etapa de
Daytona na Flórida.
— Eu vou treinar! — Exclamou fazendo com que eu me
virasse. — Mas, depois do que aconteceu no caso da Farmacêutica
e de que você perdeu o caso de Charlie Foster... Você acha mesmo
que eu vou te deixar sozinha aqui com todos esses lobos?
Soltei um pequeno riso de alívio. Nos abraçamos. Ela não me
deixaria sozinha, eu sei. Mas, ao mesmo tempo, também não me
permitia acolhê-la com relação à decepção que ela sentia com
Sidney Wale.
Eu só esperava ter tempo para fazer isso por ela.
San Diego – Califórnia
30 de outubro – Segunda-feira
Sede do Wale Associados

Onze dias depois do fim do desafio de Nick, se encerrava


também o meu desafio. No saldo, a filha do meu chefe havia sido
mais eficaz em cumprir o dela, do que eu o meu. Ela havia
trabalhado durante 30 dias no Wale Associados, enquanto eu...
Ao contrário do que minha mãe pensava, eu havia feito mais
sexo nos 49 dias finais do desafio do que no ano anterior. Ao ponto
de estar completamente apaixonada por Nick menos de dois meses
depois de conhecê-la.
E, àquela altura, é claro que eu desejava a promoção, mas as
probabilidades de que ela fosse ocorrer eram tão pequenas, que eu
já preferia ser realista. Eu só precisava me preparar para o que viria
depois.
Jimmy Russell, meu principal concorrente, havia vencido a
três casos significativos nos cem dias que antecederam ao anúncio
da promoção. Ele havia tido apenas uma derrota. Eu havia tido duas
derrotas nos tribunais. E eu sabia que o caso Foster era importante
para aquela disputa.
E, apesar de ter vencido um caso milionário, que inclusive
rendeu mais dinheiro para o escritório do que o caso de Jimmy, algo
me dizia que não era aquilo que estava em jogo.
Além disso, o Senhor Wale havia pessoalmente me
encarregado de convencer Nick a migrar para o universo do Direito.
E eu jamais faria isso. Não só por causa da nossa relação, mas
porque eu amava ser advogada. E trabalhar com o que se ama era
algo de que eu jamais abriria mão.
— O Wale Associados é um escritório que cresce não só em
números, mas no respeito que vem ganhando por toda a Califórnia.
— Sidney Wale discursava para um pequeno número de advogados
na sala dele.
Somente os mais conceituados foram convidados para
receber o anúncio. A formalidade seguinte seria inaugurar uma sala
que ele havia mandado decorar para acomodar o novo
departamento.
— E é com muito orgulho que eu anuncio Jimmy Russell
como o chefe do novo Departamento de Direito de Família e
Sucessões deste escritório.
Aplausos se iniciaram e foram interrompidos pela
continuidade do discurso.
— As vitórias do advogado Russell, bem como sua
sagacidade para lidar com casos complexos como o da
Farmacêutica Relly demonstram que esse departamento não
poderia estar em melhores mãos.
Nesse momento, ele direcionou seu olhar para mim. E o que
ele disse, não poderia me soar mais injusto:
— Mas, o fato de que o departamento seja liderado por
Russell, não significa que todos vocês não sejam tão ou mais
importantes do que ele para o Wale Associados. Nós somos uma
equipe e juntos alçaremos o escritório para posições de cada vez
mais destaque no cenário da Justiça nacional.
O sorriso de orelha a orelha de Jimmy reluziu contrastando
com sua mesquinhez. Pela primeira vez, sua incompetência no caso
da Farmacêutica me atingiu. Porque as palavras e o olhar do
Senhor Wale me deram a certeza de que ele sabia.
Ele sabia que Jimmy não era responsável por nossa vitória
no caso Relly e, mesmo assim, o nomeou presidente do
departamento que eu ambicionava liderar. Ao invés de me premiar
por minha competência, ele me rebaixou e eu sabia bem o porquê.
Ele fez isso porque sabia que os princípios morais de Jimmy
Russell eram maleáveis. Jimmy dançava conforme a música,
enquanto eu... Eu seguia as regras da Justiça.
12 – Aventura de viver
Perco o controle com cada movimento seu
Você me deixa flutuando
Eu me perco em você, é

Quando estivermos a sós, é tudo o que quero


Quando estiver sozinha com você
Venha me levar
Para a viagem da minha vida
Alone With You - Ashlee

NICK
San Diego – Califórnia
30 de outubro – Segunda-feira
Edifício The Collins

Não foi nada fácil convencer Alyssa a fazer uma pausa um


pouco antes da hora do almoço e me acompanhar até o topo do The
Collins. Eu havia descoberto um lugar ótimo para um encontro
furtivo. O prédio possuía um heliponto raramente usado e esse
heliponto tinha uma pequena salinha onde controladores e pilotos
trabalhavam em planos de voo e até descansavam às vezes.
Porém, segundo as informações que eu levantei, na maior
parte do tempo, a salinha ficava desocupada.
Era um local perfeito para um encontro romântico. Do tipo
que eu havia planejado ter com Alyssa lá em cima. No topo de San
Diego. Para recordar nosso momento no Turret32 Hotel que não me
saía da cabeça.
Eu gostava muito de fazer essas coisas com Alyssa. Ela me
despertava sensações que nenhuma outra mulher havia provocado.
E das que eu gostava mais do que eu sequer cogitei em qualquer
momento da minha vida.
Consegui as chaves com o zelador do prédio dizendo que
precisava de um lugar para descansar longe dos olhos do meu pai.
Como às vezes conversávamos, ele confiava em mim e aceitou,
sem problemas. Bem como aceitou manter o segredo.
Um segredo do qual eu já estava de saco cheio.
Alyssa estava muito calada. Se acomodou e se fechou ao
lado de uma das paredes que só cobriam a visão em volta do
ambiente até a metade. Todo o espaço ao redor da sala era ladeado
por paredes cuja metade superior eram feitas de vidro, para facilitar
a visão quando os helicópteros se aproximavam.
— Eu pedi uma comida para a gente. — Ela nem havia se
dado conta da mesa que eu havia preparado à sua esquerda.
Eram só sanduíches e suco. Mas também tinha um
chocolatinho para acalentá-la naquele momento difícil. E eu queria
tanto, mas tanto fazer mais do que isso.
— Obrigada, Nick. É que... eu não estou com fome.
— Mas, Aly...
— Quando descermos, eu guardo para comer mais tarde,
pode ser?
— Pode. — Aceitei não muito disposta.
— Mas, muito obrigada por ter se preocupado comigo. Eu já
sabia que não seria promovida, mas não esperava ficar assim.
— Você está se sentindo assim porque não é justo. Eu devia
falar com meu pai...
— Claro que não, Nick! — Ela recusou, mostrando pela
primeira vez na reação que estava ali, presente. — Você tem seus
próprios problemas com o seu pai, problemas nos quais eu estou
longe de poder te ajudar. Então não faz sentido que você se meta
nessa questão.
Encarei-a tomando cuidado para que ela não confundisse
meu olhar com pena. Porque esse era um sentimento que Alyssa
não me provocava. Só que da mesma maneira eu lamentava.
Lamentava que ela não pudesse ver a mulher incrível que eu
enxergava nela.
Tanto como mulher, como profissional.
Ela era tão incrível que me fez admirar até uma advogada,
mesmo com todas as reservas que eu possuía em relação ao
direito.
O pior é que essa falta de consciência do próprio valor era
muito menos coisa de momento do que seria justo. E tampouco era
culpa dela
— E o que você pretende fazer agora? — Observei-a
contendo a minha imensa vontade de abraçá-la para não deixá-la
pior com a suspeita de piedade.
— Como assim?
— Eu... Bom, hoje é o meu último dia aqui no Wale
Associados. Eu preciso treinar para a etapa de Daytona e pensei em
conversar com você sobre...
— Sobre o que, Nick? — Do modo como ela me espiou,
suspeito que eu havia conseguido, por fim, capturar completamente
sua atenção.
— Sobre a gente, Aly. — Falei com uma seriedade nada
comum em mim.
— Estou te escutando.
Apesar de parecer indiferente, eu sabia que ela não estava. E
ela fez questão de me demonstrar isso também. Segurou a minha
mão e me puxou para mais perto dela.
Sorri com o gesto tão significativo, ainda mais com a barra
que ela estava segurando naquele momento.
— Eu preciso estar em Daytona no início de dezembro. E,
além do mais, preciso treinar para a apresentação. — Expliquei. —
Antes de nós duas, eu tinha pensado em atravessar o país de moto,
parando alguns dias aqui e ali, encontrando percursos para treinar e
aproveitando os circuitos que possam estar montados pelo caminho.
— E é claro que você vai fazer! — Ela exclamou apertando
minhas mãos entre as dela. — Uma de nós ainda pode ser vitoriosa
e esse alguém é você.
Revirei os olhos com a insinuação que nascia de sua
autoestima ferida, mas tentei relevar compreendendo que, em um
momento como aquele, era natural que qualquer pessoa estivesse
mais amargurada.
Só que não era nada fácil. Eu conseguia compreender
Alyssa. Seus medos, suas inseguranças, suas frustrações. Contudo,
não fazia sentido que o mundo à volta de Alyssa a levasse a
insinuar que ela era uma derrotada.
— Eu discordo! — Dei um sorrisinho que, ao se mesclar com
outras expressões do meu rosto, revelou mais uma careta do que a
mensagem que eu queria transmitir. — Eu acredito que esse
escritório não merece você, Alyssa. Você é maior que o Wale
Associados. E é por isso que eu queria te convidar para vir comigo.
Ela me encarou assombrada. Mais do que nas duas vezes
que eu a derrotei no Craps. Era como se eu estivesse confessando
um crime. E faria sentido, sendo ela advogada. Mas não, não era o
caso.
— Ir com você, para onde?
— Para a Flórida. A gente reúne o que for possível carregar
em duas mochilas e vai para Daytona de moto. A minha equipe vai
levar as outras coisas numa van, que eu posso programar para que
nos acompanhe. Não vai ser totalmente sincronizado, mas dá para
curtir bastante o caminho. Eu já fiz isso uma vez, só que ao
contrário.
A cada palavra que eu dizia, o assombro no olhar dela
crescia. Ao ponto de que eu tenha até cogitado recuar. Mas, algo
dentro de mim gritava que eu precisava tirar Alyssa daquele lugar,
daquela cidade.
Alyssa precisava ver o mundo e recordar a aventura que é a
vida. Porque ela possuía aquele fogo dentro dos olhos dela, eu
podia ver. E, além do fogo de aventura nos olhos, dentro dela
também existia uma mulher selvagem, que se encontraria
explorando o mundo, sendo livre.
— Você só pode estar louca. — Ela se levantou e se afastou.
— Só porque eu não fui promovida, não significa que eu vou me
demitir do Wale Associados e sair sem destino pelo país. Isso seria
covardia e eu não sou uma covarde.
— Covardia? Covardia, Alyssa? — Questionei bem perto
dela.
— Sim! Covardia. — Insistiu.
— Covardia é o que meu pai fez com você. Covardia é o fato
de que todos os advogados deste e de outros escritórios tenham a
consciência de que você é a melhor e, ainda assim, escolham te
rebaixar só porque seu concorrente é mais passível de se
corromper. Covardia é você, sendo tão talentosa, permitir que
pessoas como Sidney Wale e Erin Burke te façam acreditar no
contrário.
Ela respirou fundo e me olhou balançada. Mesmo que não
tenha dito isso, estava claro que ela achava que eu tinha razão. Ela
estava tentada pelo meu convite, eu podia sentir. Eu estava a um
passo de convencer Alyssa a se demitir do Wale Associados e
atravessar os Estados Unidos comigo.
E só de pensar nessa viagem, eu estremecia.
— Nick, não dá...
— Não me responda agora! — Interrompi-a. — Pense um
pouco. Talvez seja o momento de você alçar novos voos, Alyssa.
— Eu tenho que ir. — Ela respondeu acariciando meu rosto.
Era sua maneira de dizer obrigada. — Minha mãe pediu para
adiantar nosso almoço de quinta-feira para hoje e eu preciso dar a
notícia a ela. Mas, sobre essa história da viagem...
— Shiu! — Coloquei meu dedo na boca dela. — Depois.
— Mas, eu realmente preciso descer... — Ela pegou o celular.
— De jeito nenhum! — Exclamei com firmeza tomando o
celular da mão dela e colocando sobre a mesa. — Hoje você não vai
ver a promotora. Hoje você é todinha minha. O dia e a noite toda.
Acho que ela até sentiu que devia insistir. Tinha sido
programada para agradar à Erin. Mas para minha sorte, não foi o
que ela fez. Ao invés disso, sorriu. E aquele sorriso com uma
pequena pitada de leveza que aparecia pela primeira vez naquele
dia, foi a minha deixa para beijá-la. E ela... Ela não recusou.
Talvez Alyssa tenha até cogitado sair daquele edifício, ir a um
restaurante se sentar em uma mesa com Erin Burke e escutar suas
infundadas acusações. Eu não duvido disso. A promotora tinha
muito mais poder sobre ela do que devia ter.
Por sorte, eu era bem convincente quando se tratava de
manter Alyssa perto de mim. Uma aposta no Craps, uma bebida,
uma proposta indecente em qualquer pausa possível do expediente.
Essas eram algumas das armas que eu utilizava para conseguir
minha advogada por mais tempo.
Entretanto, nenhuma arma superava um beijo assinalando
um convite. Mesmo depois de um dia tão difícil. Alyssa se deixou
conduzir. E esse não era seu modo de se portar nesse
departamento.
Ela era impetuosa, decidida e intensa. Mas, naquele dia, era
minha vez de conduzir Alyssa por um caminho de beijos de
acalento. Que, do mesmo modo, poderiam se transformar em beijos
de paixão.
Na mesa cilíndrica que os operadores utilizavam em seu
trabalho, o celular de Alyssa vibrava insistentemente. Nós duas
sabíamos quem era. E não, a temida jurista não ia arruinar o
enorme trabalho que eu havia tido para conseguir produzir um
pequeno conforto na filha dela.
— É melhor eu atender. — Ela falou entre meus beijos com
um propósito delimitado. — Ela não vai parar de ligar até saber o
resultado da promoção.
— E daí? — Parei de beijá-la e a encarei com muita
determinação. — Se ela quer tanto uma informação, ela que a
consiga de outra maneira. Aqui, com certeza ela não vai nos
procurar.
Ri fazendo sinal de despreocupação com a boca e com os
ombros. Isso arrancou um risinho malicioso dela que não tinha
preço. Me levantei, fui até a mesa e peguei seu celular para logo
enfiá-lo na minha bolsa.
— Ei, o que você vai fazer com meu celular? — Ela
questionou fingindo estar brava.
— Dar a ele uma folga de você. — Caminhei até ela e a puxei
para junto do meu corpo sentindo que eu toda estremecia com o
choque. — E te fazer esquecer de qualquer coisa que esteja fora
dessa sala.
A proximidade da pele dela provocou uma imediata sequidão
na minha boca.
— Nick... — Sua voz tinha uma mescla de vontade de refutar
com hesitação.
Entretanto, também tinha anelo. E era ele que me
impulsionava.
Se, nem mesmo a falta de certeza de que ela vibrava na
mesma frequência que eu me fazia recuar, quando eu percebia que
Alyssa me desejava também, eu seria capaz de fazer o mundo parar
só para me conectar com ela.
— Você não quer? — Cochichei bem perto do seu ouvido. —
Eu só paro se você me disser que não quer.
Fiquei de frente para ela, olhando-a de um modo que cintilava
excitação. Eu sabia fazer aquele olhar. E o que ela me devolveu
foram aqueles olhos cor de mel afogueados, impetuosos fixos na
minha boca. Eu sei que ela se segurou, mas foi coisa de 10, 15
segundos. Logo, ela mordeu o lábio e silenciosamente, me
respondeu.
Normalmente eu me contentava com suas respostas
silenciosas. Mas, naquele dia, eu precisava que ela verbalizasse.
Naquele dia eu queria uma resposta oral.
— Você não vai me beijar? — Ela sussurrou fitando minha
boca de maneira ávida.
— Só quando você pedir! — Judiei, eu sei. Mas é que a cada
sinal de consentimento de Alyssa, minha excitação crescia.
Ela segurou minha cintura de maneira firme. Acho que
conseguiu redirecionar seu foco que estava na frustração do
trabalho. E, para minha sorte, seu novo foco era eu.
— Pois eu não vou pedir que você me beije. — Ela falou se
contendo. Eu podia sentir o tesão vibrando entre nós. — Eu vou
exigir que você me foda, Nick. Me fode até eu esquecer.
— Pode deixar. Depois que eu te foder hoje, você vai
esquecer até mesmo do seu nome, advogada.
Agarrei-a, pelas pernas e a fiz se sentar na mesa frontal, com
as pernas abertas em volta de mim. Como eu a queria inteira.
Depois, mirei cada pedacinho do rosto dela entreabrindo minha
boca enxarcada de excitação. Segurei seus cabelos por trás, na
altura da nuca e, só aí dei o que ela pediu.
Aquele beijo, que casava como nenhum outro, de sua boca
gelada, com gosto de tentação se encaixando na umidade cálida da
minha, detonou o fogo que urgia por queimar. Nossas línguas se
entrelaçaram naquele inconfundível ritmo intenso.
Com as mãos dela deslizando por minhas costas, eu invadia
seu beijo com a minha língua firme até o céu da sua boca, enquanto
ela retribuía contorcendo-se quando eu apertava seus seios por
cima da blusa de cetim azul marinho. Eu conseguia até sentir a
textura da renda do seu sutiã branco e o biquinho duro do peito dela
gritando por mim.
— Você não acha que ninguém pode ver a gente aqui? — Ela
perguntou manhosa e eu sabia o porquê.
— Tenho quase certeza de que não, mas sinceramente, não
estou nem aí se puder. Eu... tenho uma missão.
— Huum! — Ela gemeu quando eu a deitei no sofá que ficava
no fundo da sala.
— Pode deixar que eu cubro seu corpo todinho... com o meu.
A parede parcialmente de vidro iluminada pelo sol de San
Diego com a vista de 34 andares acima do chão merecia uma foda
de respeito e eu estava pronta para isso.
E ela também.
Nem terminamos de arrancar todas as peças de roupa para
iniciarmos a ação completa. As pernas de Alyssa me envolveram e
eu senti sua boceta queimando muito perto da minha. As unhas dela
torturavam minhas costas na sincronia dos seus gemidos de tesão
no meu ouvido.
Depois de beijar e mordiscar seu pescoço, seu colo, seu
queixo e beijá-la intensamente, com pressa, eu afastei a alça do seu
sutiã e comecei a chupar seu peito. E era uma delícia fazer isso
estimulada pelas carícias daqueles dedos que me faziam sonhar
com tudo o que eles já tinham me feito.
E que ainda iam fazer.
Ela ia se amolecendo de um jeito fascinante no sofá e parecia
lutar uma batalha entre jogar a cabeça para trás nos impulsos da
excitação e pressionar o corpo contra o meu, em mais uma das
formas silenciosas com as quais ela me comunicava seu desejo.
Desejo que eu queria – e ia – transformar em prazer.
Meu sexo latejava enquanto eu me deliciava nos mamilos
dela de um jeito tão feroz que eu tinha até medo de machucá-la.
Entretanto, suas reações... suas reações não pareciam ser de dor, e
sim do deflagrar do frenesi que funcionava como prelúdio do transe
da paixão.
— Oh, Nick! Eu quero tanto você em mim. — Ela pediu.
E esse tipo de pedido me impulsava sem direito a retorno. Eu
seguia cobrindo o corpo dela todo de beijos muito esfomeados, mas
com verdadeira vontade de me conter. Eu queria que fosse uma
transa mansa, mas não dava. O corpo de Alyssa despertava uma
brusquidão rude em mim que, mesmo que eu quisesse, eu não
podia amansar.
— Não, Alyssa, você não quer mais que eu. — Sussurrei
ofegante.
E foi esse momento que ela aproveitou para agarrar meu
mamilo e me recordar o paraíso que era a língua dela em contato
com eles. Ela os chupava e lambia em movimentos circulares que
me faziam escorrer de desejo. E eu que havia comemorado o
amolecer de Alyssa nos meus braços instantes antes, derretia nas
lambidas dela.
Ela, ao contrário de mim, parecia saber controlar bem isso.
Tinha um toque forte, mas ao mesmo tempo, delicado. E aquele jeito
que ela tinha de chupar meu peito ao mesmo tempo em que
acariciava e apertava minhas costas e minha bunda... Antes mesmo
de que começassem os estímulos na minha principal zona sexual,
eu já me sentia estralar de prazer.
E em chamas, iniciamos os estímulos simultâneos em nossas
intimidades. Meio desajeitadas pelo espaço inglório e pelo tesão
agitando nossos corpos de fora para dentro, mas ávidas por um
ápice tão necessário quanto ansiado.
Os dedos de Alyssa alisando e estocando em minha entrada
me faziam devanear ao menor movimento. E ela, deitada naquele
sofá, arreganhada para mim, me levava a me deleitar com a visão
de seu corpo explicitamente contentado.
E se não estava completamente, logo ia estar.
— Annn! — Grunhiu ela enquanto meus dedos iam e vinham
entre suas pernas. — Só você, Nick. — Miava entre gemidos. — Só
você para me levar a fazer essas loucuras.
— Ohhh... — Não consegui evitar gemer quando tentei
responder. — A verdadeira loucura vem agora, sua gostosa.
Ela mordeu forte o lábio antes de que eu o tomasse em um
beijo rude e selvagem, ao mesmo tempo em que intensifiquei
minhas estocadas para dentro da vulva dela. Minha língua
procurava a dela desorientada, entrelaçando-se e valsando
deliciosamente com a dela.
A advogada se contraiu e gemeu ainda mais forte,
transferindo aquelas mordidas dos lábios dela, para os meus.
Eu sabia que ela estava perto de gozar.
E isso me fez ir com tudo, cuidar dos pequenos lábios dela
como ela estava cuidando dos meus. Entre gemidos desesperados,
unhas rasgando minhas costas, eu me segurando forte no sofá ao
lado dos cabelos desgrenhados dela, o orgasmo veio.
Primeiro para mim e logo para ela. O coração acelerado, a
pele minando suor, as veias latejando em adrenalina, todas essas
sensações estavam ali. Assim como também estava a respiração
ofegante, os olhos retumbando faíscas de satisfação e o corpo
formigando.
Agora sim, Alyssa conseguiria trabalhar o resto do dia
naquele inferno. Porque eu era o tipo de demônio que Alyssa
merecia. Eu e o fogo que eu podia dar a ela. E que ela também
dava para mim.

Ao fim do expediente que pareceu eterno, eu convenci Alyssa


a acompanhá-la até a casa dela. Ela me disse que não precisava,
que as amigas dela iriam para lá naquela noite, mas eu insisti.
Prometi a ela que ficaria só até Chelsea e Skyler chegarem.
Ela desconfiou das minhas intenções e eu nem fiz questão de
convencê-la de que eram boas. Porque ela sabia bem o tipo de
companhia que eu queria fazer para ela até as meninas chegarem.
— Você recebeu o cartão que eu mandei fazer do dia em que
fomos no Petco Park? — Indaguei inocentemente quando saímos
do elevador.
— Não. — Ela me olhou confusa.
— Putz, que empresa demorada, já tem mais de um mês que
eu solicitei. — Reclamei.
— Eu estou louca para ver esse cartão. Tem nossa foto é?
— Sim, aquela que eu pedi pra Hailey tirar da gente logo
depois que saímos da pista. — Expliquei. — Você estava com cara
de quem foi iniciada no Motocross.
— Hum, Hailey... — Repetiu revirando os olhos.
Ela não era ciumenta, mas não gostava quando Hailey era
mencionada. Achei engraçada a carinha dela e quando chegamos
na porta de seu apartamento, ela começou a procurar a chave
dentro da bolsa. Não aguentei a tentação de vê-la distraída depois
do pequeno sinal de ciúmes e a pressionei contra a porta beijando-a
vigorosamente.
Ela correspondeu encaixando a mão direita no meu pescoço,
bem perto da minha nuca, me fazendo arrepiar com a lembrança de
tudo o que havíamos feito naquele dia. E com o contato com a
língua dela que me levava ao paraíso.
— Não pense você que nós vamos entrar e vamos profanar
cada espaço da minha casa como já fizemos no Wale Associados,
ok?
Ela me advertiu de maneira divertida, enquanto tentava
destrancar a porta. Continuei beijando-a, decidida a fazer o exato
oposto do que ela havia me pedido com palavras.
Porque os beijos dela diziam outra coisa.
— Pode deixar, na sua casa podemos ter um só lugar
sagrado. — Me aproximei do seu ouvido para sussurrar. — A sua
cama!
Eu percebi que ela se arrepiou e, internamente, comemorei.
Fui eu quem girou a maçaneta que ela parecia ter dificuldade em
manusear, era como se não estivesse trancada.
Entrar no apartamento dela havia se tornado urgente, nem
parecia que há apenas dez horas havíamos tido uma transa tão
quente no alto do The Collins.
Quando finalmente a porta se abriu, entramos nos beijando
com evidente sede uma da outra, e eu já estava começando a
desabotoar sua blusa, quando fomos interrompidas por ela.
— Boa noite, senhoritas.
Nos afastamos sobressaltadas e encaramos a promotora Erin
Burke sentada no sofá da sala de Alyssa com aparente calma,
segurando um cartão em sua mão.
13 – Ainda proibida
Não pense sobre apagar as luzes
Eu quero que eles vejam isso
E eu digo foda-se as regras, deixe-os descobrir
Mas é apenas como estou me sentindo
Tidal Wave - Chase Atlantic

ALYSSA
San Diego – Califórnia
30 de outubro – Segunda-feira
Apartamento de Alyssa

Quando Nick insistiu para ir à minha casa, eu devia ter


desconfiado que em coisa boa não podia dar. E eu tentei dissuadi-
la. Mas não há como negar que o instinto protetor de Nick, em um
dia como 30 de outubro, me agradava.
Eu a queria por perto e ignorei a todos os problemas mais do
que previsíveis que isso significava e sempre significaria.
O que nunca, em hipótese alguma, eu poderia imaginar era
topar com minha mãe dentro do meu apartamento, no meio da
minha sala, sentada no meu sofá e, ainda por cima, segurando...
— Lembrança do dia em que, na minha garupa, no Petco
Park, você, Alyssa Burke, experimentou a adrenalina do Motocross
pela primeira vez. A primeira de muitas aventuras que vai viver
comigo. Da sua... Nick. — Ela leu com desprezo a mensagem
escrita atrás do postal com nossa foto na frente de uma moto. —
San Diego, Califórnia, 27 de setembro.
— Ei, isso é pessoal! — Nick reclamou.
— Invasão de domicílio e violação de correspondência. —
Afirmei tomando o cartão da mão dela. — Dois delitos numa noite
só. Quem te viu, quem te vê, promotora Erin Burke.
— E aqui, diante de mim, eu não tenho uma advogada que
está há 100 dias mentindo? — Não seria ela se não tentasse virar o
jogo.
— E desde quando você é juíza e eu fiz um juramento de
dizer a verdade, nada mais que a verdade, somente a verdade?
Agora, mentir para a mãe é perjúrio? — O deboche foi inevitável.
— Ora, sua insolente! — Me atacou muito perto de perder o
controle.
E isso fez com que ela redirecionasse seu olhar para Nick.
Respirou bem fundo e, em questão de segundos, se recompôs.
— Senhorita Wale, receio ter de ser indelicada, mas gostaria
de te pedir para ter um instante a sós com minha filha, se você não
se incomodar.
— Pois eu me incomodo sim! — Nick se antepôs antes de
que eu reagisse. — Afinal, se eu estou nesse apartamento foi por
que fui convidada, você não acha?
Minha mãe se levantou muito incomodada por ter sido
exposta por Nick. A mirou de cima abaixo e eu não faço ideia do que
ela falaria se minha namorada não tivesse o sobrenome Wale. E
recordar isso me fez pensar que Nick não merecia ver aquilo.
— Eu entendo, mas... — Forçou a amabilidade até o seu
próprio limite.
— Nick, vem comigo um pouquinho. — Segurei a mão dela
como uma estratégia para desarmá-la.
Ela baixou minimamente a guarda quando me olhou. Nos
afastamos alguns metros para a cozinha. Minha mãe manteve a
postura altiva de quem claramente não retrocederia. Porém, se
sentou na poltrona mais afastada, que ficava próxima do corredor
que dava para os quartos, tentando nos dar um mínimo de
privacidade.
Em se tratando dela, isso era bastante.
— Aly, pede para ela ir embora. Ela só quer te criticar e não
tem nenhum direito disso. — Nick me disse pertinho, olhando nos
meus olhos.
De soslaio, observei minha mãe em paralelo com a ilha da
cozinha.
— Eu não sei ser assim, Nick. Acho que devo uma explicação
a ela. Olha só como ela descobriu nosso namoro. Apesar de tudo,
ela é minha mãe.
— Você não deve nada a ela, Aly. Você deve a você mesma
e a quem está com você.
Me senti envergonhada ao ouvi-la falar assim. Eu era uma
mulher de quase 30 anos com uma carreira consolidada que
permitia que a mãe se sentisse no direito de dirigir minha vida.
A questão é que não era só minha mãe. De encontro a mim
fluíam indefectíveis as inúmeras frustrações que eu vinha
acumulando nos últimos tempos. O relacionamento com Nick estava
me provocando sensações inquestionáveis de felicidade. Mas,
quando eu olhava para minha vida profissional, aquele era o pior
momento. E minha mãe estava lá para me lembrar que eu não podia
ter tudo.
— Você tem razão. Mas, de qualquer forma, eu preciso
conversar com ela, sim? — Pedi com um olhar súplice.
— Tá. — Aceitou extremamente contrafeita. Estava evidente
que ela só queria me agradar. — Eu te ligo daqui a uma hora, ok?
— Tá bom. Obrigada.
Acompanhei Nick até a porta e percebi como a expressão da
minha mãe refletiu uma grande indignação quando a filha do meu
chefe se despediu de mim com um selinho. E ela, a pessoa mais fiel
a si mesma que eu conhecia, não fez nenhuma questão de ser
educada com minha mãe.
Um sinal de cabeça foi tudo o que ela dedicou a ela antes de
sair. E eu não posso negar que admirei Nick ainda mais ao constatar
um detalhe evidente, mas apaixonante. Ela e minha mãe eram
completamente diferentes ao ponto de que, perto de Nick, se
tornasse quase impossível lembrar que Erin Burke existia.
— Então você nunca cumpriu sua parte no acordo que
fizemos. — Minha mãe voltou a me observar consciente de que me
feria com seu desprezo. Mas, estava na cara que me ferir era
exatamente sua intenção.
Eu não tinha diante de mim minha mãe, mas a promotora
Erin Burke. E, infelizmente, a mulher e a jurista se mesclavam com
um desequilíbrio gritante entre o que ela tinha de uma e de outra.
Sua humanidade havia sido quase completamente consumida por
tantos anos de dedicação plena ao direito.
— Acordo? — Questionei me sentando de frente para ela,
impaciente. — Um acordo implica que as condições de duas partes
na solução de um litígio sejam minimamente contempladas. Sou
advogada também, mamãe.
— Uma advogada na qual não se pode confiar na palavra.
— Me cite algum cuja palavra valha alguma coisa. —
Desafiei-a. — Pois, que eu saiba, nada é mais apreciado em um
advogado do que a habilidade de mentir.
— Você é minha filha.
— E é só agora que você se lembra disso? Depois de me
cobrar por um acordo que não me contemplava em nada. Em um
acordo, as duas partes devem estar dispostas a ceder em algo. No
que você cedeu?
— Um acordo implica renúncia e compromisso, em prol de
um objetivo, Alyssa. Renúncia e compromisso que você não quis
fazer e que, portanto, te custou seu objetivo.
— Eu sinto muito se te decepciona que eu não tenha sido
promovida. Pode ter certeza de que não te decepciona mais do que
a mim.
— Não. Eu não tenho essa certeza. — Ela falou caminhando
pela sala.
Uma vez eu assisti um julgamento no qual minha mãe atuou
como principal promotora. Ela caminhava pela sala como seu fosse
a ré de um caso no qual ela tivesse que apresentar as provas e
acusações do delito ao juiz.
Eu estava na faculdade ainda quando vi a atuação da minha
mãe no Tribunal. E, naquela ocasião, eu admirei a frieza com a qual
ela conduzia o caso para a completa vitória da promotoria e do
Ministério Público.
Agora, sua atitude era a mesma. Mas, era impossível admirá-
la. Era impossível porque pouco lhe importava que ela estivesse em
minha casa e, principalmente, que eu fosse a filha dela.
Ela me acuava numa poltrona que eu havia comprado com
meu dinheiro como a uma criminosa a quem ela, se pudesse,
negaria o direito à defesa.
— E, por que não?
— Você não parece triste, Alyssa. Entrou nesse apartamento
aos beijos e sorrisinhos com a Senhorita Wale. Onde está essa
decepção que você insinua por ter perdido o cargo para Jimmy
Russell? E esse postal...
Sinalizou minha correspondência violada sobre a mesa à
minha frente. A raiva voltou a me acometer pelo fato de que ela
tenha aberto o envelope com o presente de Nick antes de mim.
— Esse postal com o qual você passou completamente dos
limites, você quer dizer.
— Eu estava pressentindo, Alyssa! Quando o porteiro me
entregou a correspondência, eu vi que era assinada por Nicole
Wale. Eu sabia que, se você perdeu a tantos casos ultimamente e
não conseguiu superar o Russell, você provavelmente tinha
alguma... relação.
— Isso não é da sua conta.
— É claro que é. Você carrega meu sobrenome. As pessoas
me associam a você. Além do mais, você me fez acreditar que
desejava essa promoção mais do que qualquer coisa. Você me
prometeu, Alyssa!
— Você me forçou a isso, mãe. Eu não planejei conhecer e
me apaixonar pela Nick, mas...
— Esse postal data de um mês atrás, filha! Um mês que você
perdeu se dedicando a um relacionamento e é por isso que hoje
Jimmy Russell é o chefe do Departamento de Divórcios e
Sucessões do Wale Associados e não você.
— Eu perderia de qualquer forma! — Exclamei me sentando
diante dela.
— Aí é que você se engana. — Juntou as mãos com a
intenção de me acusar didaticamente. — O que te fez perder foi o
fato de que você tenha se distraído. Quando você conheceu a
Senhorita Wale? Há 40 dias no escritório?
— Há 49, em Las Vegas. — Ela já sabia, então não faria
nenhum sentido que eu negasse.
— Em Las Vegas? — Indagou retoricamente com uma careta
de julgamento.
Assenti.
— Quantos casos você perdeu nesse período, Alyssa?
— Três.
Eu não entendia por que eu não conseguia parar de
respondê-la. Não entendia por que eu simplesmente não a mandava
embora.
Acredito que a razão estava no fato de que, no fundo, no
fundo, eu achava que ela tinha pelo menos alguma razão.
— E quantos casos você perdeu nos 49 dias anteriores ao
dia em que você a conheceu?
Mirei o teto refletindo. Eu tinha uma boa memória, mas as
lembranças recentes ocupavam minha mente com muito mais
intensidade, como era natural. Nisso eu não podia contestar minha
mãe.
Não dava para ser uma profissional irretocável e fazer do
trabalho meu maior e mais importante foco, envolvida
sentimentalmente – e sexualmente – com alguém. Como viver para
o trabalho, se eu tinha meus encontros tórridos com Nick para
pensar quando o estresse daquele escritório me sufocava?
Mas acho que o escritório nunca me sufocou tanto quanto
Erin Burke.
— Eu... Eu não me lembro. — Confessei por fim.
— Você não se lembra porque você não perdeu, Alyssa. A
nenhum caso. Mas, eu me lembro. Eu me lembro como esses 50
dias sem distrações foram positivos para você. E aí,
coincidentemente, depois do início dessa relação, você perde três
em cinco casos?
— Mas, os dois que eu ganhei foram muito significativos. —
Me defendi timidamente.
— E daí? Seu chefe, seus clientes, os juízes... Nenhum deles
vai esperar você estar menos distraída com seus relacionamentos
para estar pronta para o sucesso como advogada.
Não respondi. Meu silêncio era a vitória dela. Finalmente ela
recolheu a bolsa que estava sobre a mesa e parou diante de mim
sinalizando que ia me deixar em paz.
Internamente sorri da minha infeliz escolha de palavras para
narrar esse momento. Em paz era tudo o que eu não ficaria depois
que ela fosse embora.
Antes de que ela chegasse à porta, eu a detive, porém:
— Mãe!
— O que foi, Alyssa? — Indagou após um sussurro que
parecia mais um bufar.
— Quando é que você foi mais feliz? Quando tinha o meu pai
ao seu lado, ou quando tinha todo o tempo do mundo para se
dedicar à sua carreira?
Ela desarmou a postura intimidante voltada para a porta e,
por um instante, relaxou o corpo. Acho que foi uma reação
involuntária. Desde que ele foi morar em Nova Iorque, ela nunca
falava do meu pai. Era nítido que ela não gostava. Então, eu não
perguntava.
— Se... Se eu tivesse sido feliz com seu pai, eu não seria
uma mulher realizada, Alyssa. Em nenhum departamento.
— É possível conciliar as duas coisas. — Refutei.
— E você não acha que eu tentei? — Ela se sentou bem na
minha frente. Percebi que estava sendo extremamente sincera. —
Acontece que, para ser feliz no amor, é preciso se dedicar muito a
fazer o outro feliz e isso demanda tempo.
— Você não acredita em relacionamentos felizes? Não
acredita no amor?
— O amor é uma ilusão tão grande, que todos os
casamentos imensamente felizes, terminam em departamentos
como os que Jimmy Russell vai liderar ou sob a responsabilidade da
promotoria depois de um crime bárbaro. Já perdi a conta de quantos
amores eternos terminaram em crimes e quantos felizes para
sempre terminaram em batalhas judiciais pela partilha de bens.
Girei a cabeça como quem não concordava. Na semana
seguinte eu completaria 30 anos. Eu acreditava que era cedo
demais para tanta amargura.
— Pode não parecer, mas que meu relacionamento com seu
pai não tenha terminado em um litígio implacável foi a maior prova
de amor que eu pude dar. Ao seu pai e a você.
— Por que você diz isso? — Questionei incrédula de que ela
me desse mais informações naquela conversa do que em todas as
outras da nossa vida.
— Porque... Eu descobri que o seu pai, aquele que
reclamava mais cuidado e atenção da minha parte... O seu pai,
George Burke, tem uma filha da sua idade em Nova Iorque.
— O quê?
— Investigue! — Ela se levantou voltando a agarrar a bolsa.
— O nome dela é Sarah Adams. Para o seu pai sempre foi mais
conveniente que você achasse que eu sou a responsável pelo
fracasso do nosso casamento. Mas, se você vai cometer o mesmo
erro que eu e cogitar sacrificar sua carreira por alguém, entenda que
todos podem mentir para você.
Minha cabeça parecia pesar 300 toneladas com a quantidade
de informação que minha mãe despejava sobre mim. Se aquilo
fosse verdade, por que meu pai nunca me contou?
— Você é uma advogada brilhante, Alyssa. Isso é uma coisa
concreta. Agora o amor... O amor é a maior cilada na qual uma
mulher com uma carreira promissora pode cair.

— Oh, amiga, vem aqui. — Skyler me acomodou no peito


dela e me abraçou.
Acho que eu nunca precisei tanto da ternura e meiguice de
Skyler como naquela noite. Chelsea me olhava com uma mescla de
compaixão e raiva. Mas, me consolava que sua raiva não era,
necessariamente, de mim.
Eu só não sabia até quando.
— Eu nem consegui atender aos telefonemas da Nick, sabe?
— Expliquei desabando no choro no abraço da minha amiga.
— Pois deveria. — Num tom muito mais ameno do que ela
naturalmente costumava usar, Chelsea acariciou meu braço e me
censurou.
— Amanhã eu falo com ela.
— Não, Aly, você devia estar falando com ela agora. Amanhã
esse monte de merda que a Erin falou já vai ter tomado conta da
sua cabeça e você vai tomar a pior decisão possível.
— A Chelsea tem razão, amiga. — Skyler corroborou seu
argumento. — Você não deve agir de acordo com o que sua mãe
acha, mas de acordo com o seu coração.
— Ela não me disse o que fazer.
— Ah, por favor! — Chelsea se levantou enfurecida. — Ela
teve a vida inteira para te falar dessa história de irmã e decide falar
no dia em que você perdeu a promoção? No dia que ela descobriu
que você estava namorando? Você é inteligente, Alyssa. Não é
possível que não perceba que ela está te manipulando.
Me afastei de Skyler e mirei as duas, tomada por uma intensa
confusão. Eu sabia que minha mãe queria que eu decidisse terminar
com Nick e me dedicasse completamente ao trabalho. Só que, do
que eu não tinha certeza era de que ela estava completamente
errada nas coisas que me disse.
— A questão é que não é só eu, meninas. A Nick tem uma
corrida muito importante no meio de dezembro e até agora não
começou a se preparar para isso, distraída com nosso lance.
— Se esse fosse um problema para ela, ela mesma
terminaria com você. — Skyler, que me conhecia muito bem,
deduziu o que se passava por minha cabeça.
— Já era. — Chelsea falou enquanto preparava um drink
atrás da ilha. — A megera já comeu o cérebro dela, Sky. Só que...
— Voltou-se para mim. — Você vai se arrepender, Aly.

San Diego – Califórnia


31 de outubro – Terça-feira

Quando despertei de um cochilo discreto, eu mirei a claridade


entrando pelas frestas das cortinas do meu apartamento. Chelsea
dormia pesado do meu lado, pois havia se recusado a descer depois
de observar meu estado.
Era muito cedo e, provavelmente, o escritório estaria vazio
quando eu chegasse lá. Ainda assim, eu precisava sair dali. Tomei
um banho, vesti a primeira roupa que encontrei, deixei um bilhete de
agradecimento e saí do meu apartamento, decidida a mergulhar no
trabalho.
Só assim, eu conseguiria raciocinar um pouco.
Entrei no carro, coloquei minha bolsa no banco do
passageiro, e ajeitei o sobretudo bege que eu havia vestido para
disfarçar a minha pouca preocupação em me arrumar.
Quando subi a rampa do estacionamento, rumo à saída do
condomínio, eu a vi parada do outro lado do portão. Nick parecia
mais aflita do que eu jamais a havia visto.
Apoiada na moto, com uma calça preta de couro e uma
jaqueta vermelha cobrindo a regata branca, ela se mexeu ansiosa
quando viu meu carro ao longe.
Parei ao lado dela e a observei sem conseguir me distrair do
quanto ela estava linda. Essa parecia ser a principal habilidade de
Nick – me distrair.
— O que você faz aqui tão cedo? — Indaguei depois de
baixar o vidro rente a ela.
— Eu sinto muito, Aly. Não consegui esperar. Preciso
conversar com você.
— Tudo bem. A gente tem tempo. Tem uma cafeteria do outro
lado da rua. Vamos conversar.
14 – Cair numa cilada
Porque você é quente e logo esfria
Você quer e depois não quer
Você tá dentro e depois tá fora
Você está feliz e depois está triste
Você está errado quando está certo

É preto e é branco
Nós brigamos, nós terminamos
Nós nos beijamos e voltamos
Hot N' Cold - Katy Perry

NICK
San Diego – Califórnia
31 de outubro – Terça-feira

Coloquei minha moto no estacionamento da cafeteria,


enquanto Alyssa estacionava a Duster chocolate super estilosa no
lado oposto ao que estava a Megan, perto da saída. Aquilo já me
acendeu um alerta.
O pior é que eu sabia que Alyssa era muito diferente de mim.
Ela também era uma pessoa transparente, mas costumava dar
algumas voltas para chegar ao que realmente queria dizer. Ela tinha
verdadeiro pavor de magoar alguém com suas atitudes.
E a sensação de que era isso que ela ia fazer me congelava
os ossos mais do que aquela noite inteira sem dormir.
Por mais que em San Diego, mesmo no início do inverno, a
temperatura fosse sempre amena.
— Um expresso! — Alyssa ordenou sem firulas.
E eu sabia que ela raramente bebia café expresso.
— Sem açúcar. — Completou.
— Um Frappuccino com chocolate amargo, por favor. —
Entreguei o cardápio à garçonete que se afastou.
A falta de doçura nos cafés que pedimos refletia nosso
espírito naquele momento. Da não-promoção de Alyssa até a
surpresa de Erin.
Quando voltei meu olhar novamente para minha namorada,
ela desviou o dela. Intuição não era bem o meu forte, mas ela me
fazia sentir aquela fragilidade característica do... amor.
Eu ainda não tinha dito. Ela também não. Mas as duas
sentíamos que ele que estava lá.
E eu sabia que era assim. Que era sempre assim. Mas, eu
jamais deixaria de fazer alguma coisa por medo. Muito menos me
apaixonar. Só que desde que eu vi Alyssa pela primeira vez no
London Eye Hotel & Casino, eu sabia que com ela ia ser diferente.
E agora, com a forte iminência de algo que eu não ousava
sequer racionalizar ali, diante de mim, eu experimentei um lado do
medo de que eu não gostava.
— Me desculpe não ter atendido suas ligações. As meninas
chegaram e depois... — Ela pausou suspirando.
— Depois você não teve cabeça para nada além de pensar
nas críticas infinitas que sua mãe te fez. — Poupei o trabalho que
ela teria em inventar uma mentira para mim.
— É. — Aceitou envergonhada.
— Aly...
— Não, Nick! — Levantou os olhos transfigurando-se. — Eu
não quero que você me olhe assim, eu não quero mais que você me
console. Eu não quero que você sinta pena de mim.
— Eu não sinto pena de você, Alyssa! E... o modo como eu te
consolo, não necessariamente é uma demonstração de compaixão,
e você já devia saber.
Encarei-a com aquele olhar que eu sempre fazia quando a
queria com desejo e luxúria. E, normalmente, mesmo quando ela
tentava fugir, eu podia ver que ela queria tanto quanto eu. Sempre
acabava com o sinal positivo de Alyssa, pouco antes de que eu a
levasse à loucura.
E que ela me enlouquecesse também.
Ela não me respondeu como me respondia comumente
naquele dia.
— Nick, você já parou para pensar em quanto tempo você
gasta se ocupando de mim, desde que me conheceu? —
Questionou.
— Ah... Não, Alyssa, nós estamos juntas, você é minha
namorada. É natural que você me importe.
— Que eu te importe? — Ela olhou em volta para a cafeteria
quase vazia pelo horário. — Nick você modifica seus planos e
compromete seu trabalho por causa das minhas coisas e isso não
está certo. A etapa de Daytona na Flórida é muito importante para
você, e onde você está agora?
— Já entendi! — Me levantei irritada. — Você está
procurando uma desculpa para terminar comigo.
— Não é isso... — Ela se defendeu.
— Qual é, Alyssa? Eu não sou otária. Qual vai ser sua
próxima frase? O problema não é você, sou eu?
— Nick!
— Ou melhor, minha vida é muito complicada, eu não posso
te arrastar para essa bagunça? — Sinalizei com as mãos sem
deixar nenhuma dúvida da minha insatisfação.
— E não é verdade? — Ela admitiu o que estava
completamente evidente. — Você veio trabalhar no Wale
Associados para conseguir um patrocínio, não para cair na cilada
que sou eu.
— Você só se esqueceu de uma coisa... — me interrompi
porque a garçonete chegou com nossos cafés.
Precisei respirar bem fundo. Eu não podia acreditar que
Alyssa estava me dispensando por causa daquela promotora
egoísta a quem ela chamava de mãe. A mulher que nos serviu se
afastou e eu esperei que ela me contestasse, mas ela não ia fazer
isso.
— Alyssa, se nós estamos juntas é porque eu quis. E você
sabe bem que eu quis bastante. Que eu fiz muito para te conquistar.
Apostei e ganhei no Craps e os momentos que tivemos no
escritório... por todos eu batalhei bastante.
— Você encara tudo isso como uma brincadeira.
— Não! Você não é uma brincadeira para mim. Mas, estar
com você é divertido e, que mal há nisso?
Me doía ver o esforço que ela fazia para contra-argumentar
em oposição ao nosso relacionamento. Ela estava confirmando algo
que já havia me dito. Que não era tão boa em se defender quanto
em defender outras pessoas.
O problema é que eu não fazia ideia de até quando eu
conseguiria defender sozinha à nossa relação. Porque não fazia
sentido que eu tivesse que nos defender dela própria.
— Quanto tempo você treinou para sua última apresentação
de Motocross? — Ela fixou o olhar em mim.
— Três meses. — Respondi por entre os dentes.
— Falta um mês e meio para a próxima etapa e você ainda
está aqui, em San Diego, gastando seu tempo comigo.
— E... por que ao invés de me dispensar, você não vem
comigo? — Coloquei mais uma vez aquela carta na mesa. Segurei a
mão dela, fazendo com que ela levantasse o olhar e me encarasse
nos olhos. — Se você quer fazer algo por mim, por que não viaja
comigo para a Flórida? Por que não deixa tudo isso para trás?
Ela entreabriu os lábios e logo os fechou. Mas, infelizmente
aquele não foi um movimento de prazer. Como eu havia visto tantas
vezes aquela boca se abrir. Depois ela prendeu os lábios e eu
percebi que era para segurar o choro.
E eu também compreendi o completo significado daquela
sequência de ações. Alyssa estava pronta para terminar comigo.
Mesmo que eu estivesse engolindo até a última gota da minha
dignidade para pedir a ela que não fizesse isso.
— Nick, foi muito bom estar com você. Muito obrigada por ter
me levado para andar de moto e por ter transformado os dias no
Wale Associados de uma maneira única, mas...
— Alyssa, não faz isso! — Ultrapassei todos os limites da
falta de dignidade naquele momento. Porque eu tinha certeza de
que não era o que ela queria. — Vem comigo para Daytona, a gente
pode ficar em Miami um tempo e você vai adorar viajar de moto, é
uma experiência sem limites...
— Eu sinto muito. — Ela seguiu inflexível. — Vou torcer para
que você seja a campeã em Daytona. Eu sei que o Motocross é a
sua vida. Você merece essa vitória mais do que qualquer coisa.
As lágrimas escorreram pesadas no rosto dela, mas eu não
conseguia pensar em consolá-la. Não daquela vez. Daquela vez a
dor de Alyssa me feria também, nos feria. E eu... Eu estava perdida
sem ela.

Eu terminei todo o copo de Frappuccino depois que Alyssa foi


embora da cafeteria. E eu tomaria três outros mais para não ter que
digerir aquele fora.
Nunca era fácil ser dispensada por alguém, mas Alyssa,
Alyssa era uma mulher em quem eu seria capaz de investir tudo.
Não consegui me mover daquela mesa por várias horas.
Lembrei da noite toda que eu passei em claro e de como eu
mal tinha esperado o dia amanhecer para acampar na frente do
prédio de Alyssa, até o momento que ela saísse de lá. De como eu
precisava falar com ela antes de enfrentar meu último dia em San
Diego.
Desde que eu topei com aquele olhar maligno de Erin na sala
da casa dela, eu tinha certeza de que se armaria uma tempestade
sobre nós.
Eu não era de chorar, mas eu estava muito arreada por
aquela mulher. Se eu tivesse mais tempo, usaria para tentar
convencê-la de que estar comigo era o melhor. Entretanto, quando a
gente tem o coração partido, a vida não para enquanto a gente curte
a fossa. A vida não para enquanto a gente reúne os pedacinhos do
coração para consertá-lo.
Logan me ligou confirmando alguns detalhes da van que
levaria a moto e os equipamentos para Daytona. A moto da viagem
não era a mesma da apresentação no circuito, essa eu só usaria
nos treinos na pista.
Depois dessa ligação, eu percebi que precisava resolver um
último detalhe e sumir de San Diego. Como sempre, aquela cidade
era responsável por me produzir as piores memórias.
E aquela estava à mesma altura de algumas bem pesadas
que eu havia vivido ali.
Destravei o celular e, nos meus contatos, desci até o nome
do meu pai. Era muito fácil manusear uma tela touch, mas aquele
clique foi muito, muito difícil de dar.
Eu estava completamente esgotada. Sem energia.
Depois de chamar duas vezes, finalmente ele atendeu:
— Oi, filha.
— Eu já comprei uma moto de transporte e a moto para a
competição, mas a concessionária pediu...
— É, eu sei, eles me ligaram. Eu pedi a um dos advogados
para preparar um contrato e preciso que você venha aqui para
assinar.
— Aí? — Cocei a cabeça.
— Sim, Nick, aqui. No lugar onde seu pai se dedica ao
trabalho que representou seu sustento toda a vida.
Abri a boca para contestar o fato de que eu já me sustentava
há bastante tempo, mas eu sequer tinha forças. Aquilo me recordou
porque eu detestava pedir qualquer coisa a meu pai. Porque não
importava quanto valor tivesse o que eu fazia em troca, ele sempre
jogaria o dinheiro dele na minha cara.
— Ok. — Engoli minha dignidade pela segunda vez naquele
dia. — Daqui a pouco eu estarei aí.
— Daqui a pouco, não. Às 16:30 em ponto! Eu já agendei a
reunião. — Respondeu inflexível.
— Tá certo, eu não vou me atrasar.
Peguei a Megan e parti pela cidade sentindo o vento abraçar
meu rosto e meu corpo. Essa seria a única coisa capaz de me dar
um pouco de conforto em um dia que havia desafiado tanto meus
limites.
Pouco depois do almoço, numa trilha nos arredores da
cidade, em um point de apaixonados por motos, dei de cara com
Hailey. Ela me convidou para tomar uma água de coco em um
quiosque no fim da trilha, bem perto da praia.
— Não posso demorar, tenho um... encontro com meu pai
daqui a pouco.
— E é por isso que você está assim? Aquele declive da
trilha... você sempre tirou de letra obstáculos como aquele, e hoje
ele quase te pegou de jeito! — Ela riu tentando me envolver com
uma piada sem deixar de se preocupar comigo.
Essa era uma das habilidades de Hailey. Uma que eu sempre
havia gostado.
— Não é bem por isso. Mas, você tem razão. Eu tenho que
voltar minha cabeça para o Motocross e esquecer tudo o que está
tirando o meu foco.
— Então a questão é a advogada? — Ela concluiu como se
pisasse em ovos.
Meu lance com Hailey sempre havia sido extremamente
descompromissado. Ela era uma garota legal que confiava as motos
dela a mim e com quem eu tinha inúmeras afinidades. Os encontros
e reencontros de nossa amizade colorida sempre acabavam em
sexo.
Sempre que nós não estávamos namorando.
— Isso foi o que ela me disse hoje na verdade. A gente...
— Ela te dispensou? — Ela deu um risinho malicioso.
— Acho que sim. — Eu tinha certeza, mas era natural querer
fingir um mínimo de amor-próprio com alguém como ela.
E, na verdade, eu não me importava de que ela notasse de
que Alyssa ainda mexia comigo, porque essa era uma realidade que
eu nunca quis esconder.
— Você está claramente muito tensa. Vamos para minha
casa, eu ainda moro aqui pertinho, a gente pode beber um pouco,
curtir juntas, como a gente fazia.
— Não dá. — Cortei de uma vez.
— Qual é, Nick? Eu só quero te ajudar a relaxar.
— Alyssa tem razão numa coisa, Hailey. Eu não posso
relaxar. Eu preciso me dedicar aos treinos e ao Motocross, isso sim
merece o meu foco. E é por isso que eu estou indo falar com o meu
pai.
Peguei minha chave e o capacete sobre a mesa e me
despedi dela.
— Nick! — Ela gritou enquanto eu me afastava.
Me virei e a encarei.
— Me liga se quiser tirar a advogada da cabeça. — Piscou
bebendo sensualmente o drink que ela havia pedido com água de
coco.
Fiz apenas um sinal com a cabeça, joguei meus cabelos
cheios para trás, ajeitei o capacete e montei na moto.
Meus olhos foram se marejando no caminho e o coração
ficando pequeno ao me aproximar do Wale Associados. Eu faria
qualquer coisa por não ver Alyssa de novo, ainda mais naquele
mesmo dia.
Sorri da ironia da vida. Eu havia dado o fora em Hailey
usando o mesmo pretexto que Alyssa havia usado para me
dispensar. E me doeu pensar que eu só havia usado esse pretexto
porque não tinha nenhuma vontade de ficar com ninguém que não
fosse ela.
Alyssa obviamente tinha os motivos dela para não querer
ficar comigo, mas de qualquer forma, a realidade nua e crua era
essa: Alyssa não queria ficar comigo e havia me dispensado. E eu
tinha que lidar com aquilo indo a um lugar onde quase todos os
espaços e ambientes me lembravam ela.
Que bela merda de dia eu estava tendo.

San Diego – Califórnia


31 de outubro – Terça-feira
Edifício The Collins – 16:50

— Eu já posso ir?
Bufei depois de destravar a tela do meu celular e conferir a
hora. Eu quase estava cometendo o maior pecado que a filha de um
advogado como Sidney Wale poderia cometer. Para me livrar
daquelas formalidades incômodas, quase havia deixado de ler
algumas partes dos documentos que meu pai e um advogado
estavam empurrando para cima de mim.
— A demora é porque a retificação que você pediu no
documento, está terminando, filhinha. — O deboche era a maneira
do meu pai demonstrar que estava irritado comigo.
E, não. Eu não assinaria sem ler documentos oferecidos por
meu pai, com a presença de testemunhas e um tabelião do cartório
que funcionava no primeiro andar do The Collins. Por isso aquela
tortura estava durando mais tempo do que eu podia controlar.
Quando eu cheguei ali, respirei aliviada pelo fato de a reunião
acontecer numa sala privativa do cartório. As possibilidades de que
eu visse Alyssa eram menores e, infelizmente, naquele ambiente
nós não tínhamos produzido memórias quentes.
Coisa que, agora, eu não lamentava.
— Ainda assim. Era só uma página. — Reclamei.
— Aqui está. — O tabelião colocou a folha diante de mim. —
Com a correção que a Senhorita Wale sugeriu.
Suspirei, li rapidamente o texto e assinei a última página do
contrato.
— Tudo certo? — Questionei aflita.
— Tudo, minha filha. Com esse documento, a empresa Wale
Associados está oficializada como sua patrocinadora nos circuitos
de Motocross para esse ano.
Ele estendeu a mão. Apertei a mão dele e observei em volta.
As pessoas começaram a sair da sala e eu entendi que isso
acontecia por alguma ordem preliminar dele.
— Eu preciso ir. Saio de viagem amanhã à tarde.
— Então eu não te vejo mais antes do Natal?
— Se você quiser, pode ir à Flórida em 15 de dezembro. A
etapa de MB1 Daytona vale 1 milhão de dólares e sua filha é a uma
das mais cotadas para vencer.
Ele tinha o olhar mais suave. Eu sabia que ele lamentava
minha partida. Como em todas as inúmeras vezes que eu havia me
afastado de San Diego para ir atrás dos meus sonhos. Sonhos nos
quais, eu agora sabia, meu pai nunca conseguiria me apoiar.
Quando eu soltei minha mão e me afastei, já estávamos
sozinhos na sala. Ele me encarou brando e, antes que eu pudesse
reagir, me abraçou.
Não foi um abraço extremamente caloroso. Não era do feitio
de Sidney Wale ser caloroso e a essa lição eu também havia
aprendido desde muito cedo. Contudo, eu sabia bem que morno era
melhor do que frio.
Retribuí ao abraço que durou menos de 30 segundos e,
finalmente saí dali. Não sem antes escutar um pedido do meu pai
para que eu me cuidasse.
Na porta do edifício, subi na minha Megan e observei o The
Collins com a sensação de que aquele mês havia valido a pena.
Entretanto, faltava alguma coisa e, talvez, fosse faltar por muito
tempo.
Porque morno era melhor que frio.
Essa frase ecoava na minha mente por mais que eu
procurasse não pensar.
E foi então que eu a vi. Ao contrário do que eu havia me
preparado, Alyssa não saiu do edifício pelo estacionamento. Saiu
pela porta da frente, acompanhada de uma garota ruiva falante, sua
amiga Chelsea.
Eu já estava de capacete, mas ela não me viu. As duas
saíram caminhando para a direita, o lado oposto ao que eu estava,
quando algo me ocorreu. E, antes de pensar, eu fiz.
Acelerei a moto na direção delas e, depois de uma entortada,
freei fechando as duas que estavam a pé. É claro que elas se
assustaram, mas eu não perdi tempo. Travei a moto, acionei o
descanso, desci, tirei meu capacete, balancei a cabeça para ajeitar
meus cabelos e caminhei na direção dela sob seu olhar atônito em
uníssono ao de Chelsea.
— Nick, você está louca? — Ela gritou ofegante.
Não respondi. Não com palavras. Não antes de fazer uma
coisa. Agarrei os ombros dela de maneira drástica, a puxei para
junto de mim e levei dois, três segundos em câmera lenta
analisando sua boca entreaberta.
Do jeito que eu gostava que ela deixasse evidente que
requisitava incisivamente um beijo meu. E foi o que eu dei à sua
boca. Foi o que eu dei a ela. A última coisa que eu consegui
apreender ao nosso redor, foi o modo como Chelsea levou as duas
mãos à boca em um claro choque misturado à empolgação.
Porque depois disso, todo o resto desapareceu.
Mais uma vez eu pude sentir o corpo de Alyssa se
desmanchando em meus braços, enquanto nossas bocas valsavam
como duas motos numa pista, dando show de manobras
sincronizadas que haviam sido ensaiadas exaustivamente. E depois
vinha aquela explosão de adrenalina que acompanhava o perfeito
encaixe de nossos corpos, mãos, cabelos, pescoço e dedos
seguindo a coreografia do beijo.
E tudo isso aconteceu.
Alyssa foi relaxando nos meus braços no mesmo ritmo em
que o beijo foi amansando, sossegando, até que nós nos
afastássemos quase em transe.
— Por que você fez isso? — Ela indagou fixando o olhar em
mim.
E eu não sei que intenção ela queria transmitir, mas aqueles
olhos poderiam ter tudo, menos reprovação.
— Você terminou comigo e amanhã eu começo minha
viagem para a Flórida.
— E isso lá é motivo? — Questionou ofegante. Olhando para
Chelsea constrangida.
Um constrangimento que eu não compartilhava com ela.
— Se nós estamos terminando, depois de vários encontros
tão quentes, nossa última lembrança deve ser ao menos morna, e
não gélida, como aquela conversa dessa manhã.
— Nick... — Ela falou com um tom de condolência...
— Não precisa dizer nada, Alyssa. Você já disse tudo, mas
eu... Eu tinha terminado nossa conversa com algo entalado na
garganta. E agora não está mais.
Ela teve dois ou três impulsos de dizer uma ou outra coisa,
mas não fez. E então eu parti.
Subi na moto e fui embora do The Collins levando na boca o
gosto do beijo de Alyssa. Não era um beijo quente. Não. Mas, pelo
menos não era gélido como ficaria meu coração quando finalmente
se convencesse de que eu a havia perdido para sempre.
15 – O Julgamento
​ ivo em tela viva
V
Tela de cara e coragem
Solta esse seu muro
E põe os pés nessa viagem

Eu já deitei no seu sorriso


Só você não sabe
Te chamei pro risco
Então fica à vontade
Por Supuesto – Marina Sena

ALYSSA
San Diego – Califórnia
1 de novembro – Quarta-feira

Eu não fazia ideia de que horas eram, mas quando o cliente


saiu da minha sala, eu percebi que não havia comido nada o dia
todo. Meu estômago doía enquanto meu coração retumbava. E por
mais mentiras que eu quisesse dizer para mim mesma, a partida de
Nick não saía da minha cabeça.
E daquele coração inquieto também.
— Um beijo! — Bufei. — Quem diabos encerra uma relação
com um beijo?
Suspirei mirando àquele sofá, a mesa à minha frente, minha
sala toda impregnada dela, do seu perfume, da sua alegria e de sua
luxúria viciante. Mas, no fundo no fundo, eu sempre tinha sabido
que ia ser passageiro.
— Um namoro que começa com uma aposta e termina com
um beijo. — Girei na cadeira tentando fugir das lembranças. —
Quais as chances de dar errado? Todas!
O pior é que eu não tinha sequer o conforto de mergulhar no
trabalho para me livrar dela. Além de ela ter impregnado sua
presença, sua risada, sua constante excitação por todos os espaços
do edifício The Collins – e da minha mente –, minha frustração com
a minha carreira me nocauteava momento a momento em que eu
passava ali.
Isso para não falar daquela traumática conversa com minha
mãe.
E das minhas amigas batendo sem parar na tecla de que eu
devia ir com Nick.
Até parece que eu, Alyssa Burke, faria uma loucura como
abandonar meu emprego depois de perder uma promoção. Eu tinha
que seguir ali e provar meu valor. Por mais que...
Aquela era uma péssima semana para se estar no Wale
Associados. Nick havia ido embora do escritório e da minha vida e
eu tinha que lidar com o pai dela e com Jimmy Russell.
Depois de ter me superado na liderança do Departamento de
Divórcios e Sucessos, Jimmy havia perdido completamente o receio
de demonstrar sua mediocridade. E, sem nem mesmo haver
passado uma semana de sua promoção, passou a delegar a mim
toda a parte burocrática dos casos, para se gabar do que conseguia
nos tribunais sob essa base.
E em algum cantinho escondido da minha mente, eu ouvia a
voz de Nick dizendo que aquele escritório não me merecia.
Encarei aquele nome anotado em um papel sobre minha
mesa. Juntamente com algumas informações de contato.
Sarah Adams.
Apesar de eu haver feito uma leitura silenciosa, aquele nome
ecoou por todo o ambiente tão forte quanto ele soava. Ele e tudo o
que significava.
Madie havia conseguido os telefones e o e-mail dessa mulher
que, segundo minha mãe, era minha irmã.
Eu não havia tido coragem de perguntar ao meu pai. Seria
extremamente decepcionante escutar a verdade da boca dele. Tanto
quanto seria escutar uma mentira. Mas, eu havia chegado num
ponto em que era melhor transformar aquilo numa verdade
concreta, do que mantê-la como uma especulação despeitada da
minha mãe.
Liguei para o ateliê no qual ela expunha suas obras. Madie
havia descoberto que ela era pintora. A secretária atendeu.
— Gostaria de falar com a Senhorita Adams. Sarah Adams.
— Respondi depois do alô.
— Quem gostaria?
— Diga a ela que eu quero confirmar algumas informações
com relação a George Burke.
— Um momento.
Depois de algum tempo ela voltou dizendo que ia passar a
ligação. Sarah atendeu aflita, ansiosa, quase me dando a
confirmação que eu havia ido buscar com ela. Mas, eu já não me
contentaria com especulações. Era o momento da verdade.
— Sou Sarah Adams, quem é que está falando?
— É sobre George Burke. — Repeti. — A senhorita o
conhece?
— Claro que sim, ele é meu pai. — Afirmou aflita. — Quem é
que está falando?
— Eu... — Titubeei.
— Quem fala? — Ela insistiu me fazendo sentir um pouco de
culpa por provocar nela toda aquela aflição.
— Meu nome é Alyssa Burke. Eu sou a sua irmã.
— Ah. — Ela respirou mais calma por fim.
Eu não podia vê-la. Ela também não podia me ver. Éramos
duas estranhas que compartilhavam o DNA e que a omissão da
verdade por parte do meu pai havia impedido de que
construíssemos laços de afeto. Mas, ainda assim, éramos irmãs.
Tínhamos muito o que falar e que ouvir. Mas não em 1º de
novembro.
Depois de uma conversa de quinze minutos, trocamos
contatos e eu desliguei.
Precisava de um tempo para digerir tudo aquilo.
Uma coisa mais.
Um turbilhão. A vida estava vindo para cima de mim como um
trator que preparava as pistas para as apresentações e competições
de Motocross das quais Nick participava. O mundo à minha volta
estava desmoronando e eu já não sabia onde me segurar.
Era verdade. Meu pai sempre havia levado uma vida dupla
enquanto viveu com minha mãe.
E isso explicava por que ela tinha tanta aversão ao amor. E
porque também queria que eu tivesse.
Mas seria isso justo?
Seria. Sobretudo para Nick. Para o bem de Nick, ela devia se
manter bem longe de mim.
Que ironia. Minha mãe havia ido até mim para me convencer
de que Nick era uma cilada para mim. E tudo o que ela havia
conseguido era me demonstrar que eu era a cilada dela.
Para a sorte de Erin Burke, independente da minha
conclusão, o resultado era o mesmo. Eu agora era apenas a
advogada Alyssa Burke e, finalmente, havia entendido que
precisava enterrar qualquer ilusão que fosse com o amor e até com
o sexo.
Porque era só isso o que me restava. O meu trabalho.

— Nós estamos aqui embaixo, podemos subir? — Chelsea


tomou celular da mão de Skyler e falou de maneira mais incisiva.
E eu sabia que ela havia tomado o celular da mão dela, pelo
cleck que eu ouvi ao fundo junto com uma reclamação de Skyler.
— Desculpa, Chelsea, eu já falei pra Sky e repito para você.
Hoje eu vou fazer hora-extra porque Jimmy me solicitou alguns
requerimentos urgentes e eu não posso deixar de entregar.
Até eu me envergonhava de me escutar. Jimmy me solicitou
e o que eu ia fazer?
Atender. Inclusive fora do meu horário de trabalho.
E isso para que depois ele recebesse tapinhas nas costas de
executivos e advogados que tinham plena consciência de que eu
era mais competente do que ele, mas para os quais eu era honesta
demais para liderar o departamento.
O escritório já estava todo vazio, mas ainda assim, eu não
achava apropriado receber minhas amigas ali. É claro que elas não
estariam lá na entrada do The Collins se eu tivesse aparecido na
casa de Skyler como combinamos.
Tony havia viajado e nós havíamos ficado de fazer uma noite
de pipoca e Netflix. Elas queriam fazer isso muito mais por mim do
que qualquer coisa, só que eu acabei ficando presa no trabalho.
Ou havia escolhido fugir delas também...
— Já passou muito do fim do seu expediente e nós temos
uma coisa importante a te dizer. Libera nossa entrada, ou nós não
vamos embora daqui. — Chelsea ultimou.
— Está bem.
Avisei ao porteiro que podia deixá-las subir. Elas realmente
não iriam embora e seria mais fácil dispensá-las pessoalmente. Isso
era o que eu pensava.
Tive uma grande surpresa quando chegaram à minha sala
com muitas sacolas e acompanhadas de Olie que parecia muito
preocupado com alguma coisa.
— Eu só deixei vocês subirem para dizer que precisam ir
para casa. Assim que eu me desocupar, eu encontro vocês na casa
de Sky. Isso daqui precisa estar pronto para amanhã. — Apontei
aflita ao computador sobre minha mesa.
— Tia Aly, você está pensando em se jogar do prédio? —
Oliver mirou primeiro a janela e depois a mim enquanto fazia essa
pergunta de maneira inocente.
— É claro que não, Olie! — Encarei Chelsea enfurecida. —
Por que você disse uma coisa dessas para ele?
— E por que você acha que sou eu? Poderia ser a Sky.
Como se algo como isso realmente pudesse sair da boca de
Skyler e na frente do irmão dela.
— Foi você que disse, Chelsea. Você falou: “Vamos para o
trabalho da Aly, antes que ela acabe se jogando do prédio porque a
Nick viajou”.
— Eu não sabia que ele estava escutando... — Ela se
defendeu com um sorriso travesso que explicitava tudo, menos
arrependimento.
— Minha mãe vai me matar, quando o Olie voltar para casa
repetindo as loucuras que você fala, Chelsea. — Sky puxou o
pequeno na direção dela.
Ele seguia mirando fixamente a mim, como se precisasse que
eu desse uma outra resposta, por mais que eu já tivesse negado.
— Isso é confusão da tia Chelsea, Olie. — Tentei acalmá-lo.
— Eu só estou passando por um momento difícil, mas prometo não
me jogar de prédio nenhum.
— A Chelsea disse que se a gente fizer a operação Nissa,
você fica melhor. Por isso, eu pedi para vir. Eu já fiz uma coisa
assim na escola e tirei A. — Gabou-se.
— Operação Nissa? — Cocei a cabeça de maneira
interrogativa.
— É o seu shipper com a Nick. Ni de Nick e ssa de Alyssa =
Nissa. — Skyler explicou sorrindo, já mais relaxada. — E Olie tem
razão. Pelo que vi, esse escritório está vazio, não é? Precisamos de
um espaço amplo para realizar a Operação Nissa. — Observou o
ambiente em volta como se medisse tudo para idealizar um de seus
projetos arquitetônicos.
— Até parece que eu vou dar carta branca para vocês
fazerem essa coisa aí no meu trabalho. Sim, o espaço está vazio,
mas eu estou aqui porque preciso trabalhar.
— Não! Você está aqui porque não quer admitir que devia
estar com a Nick, vivendo uma aventura tórrida pelas estradas dos
Estados Unidos. — Chelsea soltou sem filtro.
— Sky, o que é tórrida?
— Chelsea! — Skyler voltou a censurá-la colocando as mãos
sobre os ouvidos de Oliver. — Meça as palavras antes que minha
mãe me proíba de pegar o Oliver por eu andar com você que é uma
péssima influência e não é só para as crianças.
— Vamos preparar tudo para convencer a Alyssa a embarcar
na aventura com T. Ali, no fim do corredor tem uma porta escrita
“Auditório”. A gente pode fazer a... operação lá. — Chelsea deu de
ombros para a censura recorrente de Skyler.
— Gente, eu não concordei com isso. — Insisti em resistir. —
Alguém pode voltar ao escritório e eu vou ficar em maus lençóis...
— A gente vai se vestir e em dez minutos você entra lá no
auditório, ok? — Até Skyler me ignorou.
E, assim, aproveitando-se da minha fragilidade temporária,
elas entraram no espaço que escolheram seguidas por Oliver. Só
então eu parei para pensar no que elas poderiam estar armando. Eu
poderia ir atrás delas e pedir de maneira incisiva que elas fossem
embora.
Era algo que, eu conseguiria fazer.
Entretanto, por mais que nem sempre elas concordassem
com minhas atitudes, minhas amigas eram tudo o que me restavam.
No fim do dia, eu só teria o ombro delas para chorar. E algo me dizia
que eu ia precisar muito daqueles ombros com a partida de Nick.
Depois de dez minutos, forcei a porta para entrar, mas
percebi que, apesar de não estar trancada, alguém a segurava por
dentro.
— Espera, Aly! — Olie falou como se fizesse um grande
esforço. Aquelas desmioladas haviam designado um garoto de oito
anos para me impedir de entrar. — Ainda não está na hora.
Me resignei uma vez mais, até que ouvi o trinco da porta
girar. Antes de que eu entrasse, observei Oliver com o cabelo
penteado de lado, os ombros eretos e vestido com um terno preto.
Isso me deixou ainda mais confusa. Mas, antes de que eu
questionasse tudo aquilo, ele se apressou a me explicar.
— Eu sei que temos uma amizade fora daqui Senhorita
Burke, mas aqui eu sou o advogado Woods, está bem? — Juntei os
olhos sem acreditar no que minhas amigas haviam feito. — A
professora disse que a formalidade em um tribunal é fundamental.
— Ele concluiu.
— A ré pode se aproximar! — Falou Skyler com dificuldade
em se manter séria.
Ela vestia uma toga preta com detalhes em vermelho que
cobria todo o seu corpo. Além disso, portava uma réplica de uma
joia típica dos juízes. Estava sentada numa cadeira posicionada na
elevação da sala de reuniões e me chamava de...
— Ré? — Perguntei incrédula. — Que brincadeira é essa?
— Esse é um tribunal, Senhorita Burke. Aqui não fazemos
brincadeiras. Estamos aqui para julgar o caso de Burke versus
Burke.
— Vocês não podem julgar minha mãe, sem que ela esteja
presente. — Obstei.
Sem resistir, fui conduzida por Oliver para a primeira cadeira
do auditório. À frente estava posicionada uma mesa, bem como à
minha esquerda, onde Chelsea estava de pé, séria como ela nunca
costumava ser. Ela usava uma roupa social, com uma faixa
vermelha e um torçal com um pingente representando a Justiça.
Nessa hora fui eu quem não conseguiu segurar o riso.
— A Burke que é ré nesse caso é você mesma, que insiste
em destruir sua própria vida. — Explicou Chelsea implacável. — E
eu vou provar que você merece ser condenada por isso!
— A Chelsea é a promotora? E meu advogado de defesa tem
8 anos?
— Mas eu tenho experiência, Senhorita Burke. — Olie
explicou calmamente. — Já participei de um Júri Simulado na
escola. Adolf Hitler foi julgado e eu fui seu advogado de defesa.
— A experiência do meu advogado é em defender um réu
como Hitler? — Arregalei os olhos assombrada.
— Não reclame, eu seria a juíza, mas preferi ser a promotora.
Eu gostei mais de acusar do que de julgar. — Chelsea explicou sem
nenhum peso na consciência.
— E Hitler foi condenado, pois seus crimes eram muito
graves. Só que minha atuação foi elogiada. Eu já disse que tirei A,
Aly. — Oliver pareceu ofendido com minha atitude de desdém para
com ele. — Além disso, quase todos os alunos da classe foram só
jurados, eu ganhei o direito de ser advogado.
— Já chega! — Exclamou Skyler bem à vontade como juíza.
— Sentem-se todos. Eu declaro aberta a sessão.
Ela bateu o malhete três vezes sobre a mesa,
empolgadíssima.
Eu explicaria que não se bate o malhete três vezes para
iniciar a sessão, mas seria em vão.
— Senhora juíza, eu chamo para depor a ré, Alyssa Burke. —
Disse Chelsea com a cabeça erguida e a postura altiva.
Definitivamente, ela seria uma boa promotora. E eu sei que
ela se dava muito bem como maquiadora, mas ela parecia ter toda a
imponência necessária para a promotoria. O único problema
daquela história toda era que a intenção dela era me acusar.
Skyler sinalizou a cadeira ao lado dela para que eu a
ocupasse. E, por mais que eu achasse tudo aquilo uma loucura, eu
me sentei lá. Porque se tinha uma coisa na qual eu tinha
experiência, era em ouvir acusações direcionadas a mim sem me
defender de maneira eficiente.
— Alyssa Burke, você jura dizer a verdade, nada mais que a
verdade, somente a verdade?
— Eu juro.
— Tem que levantar a mão direita. — Olie sussurrou à minha
frente.
— Eu juro. — Repeti levantando a mão.
— Senhorita Burke... — Chelsea se levantou e começou a
caminhar diante de mim. — A senhorita confirma que terminou com
sua namorada ontem?
— Isso é uma palhaçada...! — Reclamei.
— Responda à pergunta da promotoria, senhorita Burke. —
Skyler bateu o malhete desnecessariamente sobre a mesa. Depois
sorriu e completou. — Eu estou adorando isso.
— Sim. — Respondi.
Talvez se eu não resistisse muito, aquela loucura acabasse
mais rápido.
— E como você está se sentindo quanto a isso? — Chelsea
seguiu.
— Como qualquer pessoa se sente quando termina um
namoro. — Alguém como eu sempre teria uma ou outra estratégia
de fuga.
— E, você teria terminado com ela, se não tivesse dado
ouvidos às manipulações de sua mãe? — Chelsea perguntou bem
de frente para mim, me intimidando de fato.
— Objeção meritíssima! — Meu advogado finalmente se
manifestou. — Isso é especulação da promotora.
Como alguém como Oliver conhecia todas aquelas palavras?
— Negado! — Skyler voltou a bater o malhete. — Responda
à pergunta da promotoria, Senhorita Burke.
— Provavelmente não. — Confessei.
— Então a Senhorita Burke admite que só terminou com a
namorada porque sua mãe te levou a fazer isso? — Ela se manteve
me encarando fixamente.
— Sim. — Suspirei. — Eu só terminei com a Nick porque
minha mãe me fez pensar que namorar comigo é uma puta cilada
para ela.
— Eu peço que a ré contenha suas palavras nesse tribunal!
— Skyler voltou a mostrar a tirana que vivia dentro dela.
— Não, senhora juíza... — Chelsea se voltou para ela,
queixando-se.
— É meritíssima, Chel... Digo, promotora. — Olie a corrigiu.
— Isso. Meritíssima. Deixe que ela se expresse. — Voltou a
me encarar. — Você admite que as críticas da sua mãe estão te
impedindo de lutar pela sua felicidade, Senhorita Burke?
— Como assim? — Devolvi o olhar de enfrentamento. —
Felicidade?
— É isso que nós estamos defendendo aqui, Senhorita
Burke. — Explicou Skyler. — Sua felicidade.
— Quando você sentiu mais felicidade? Quando conseguiu
esse emprego, que era o emprego dos sonhos da sua mãe, ou
enquanto namorou Nicole Wale? — Chelsea seguiu firme.
Não consegui respondê-la. Parei e refleti. O que me dava
mais felicidade? Aquele trabalho, ou Nick? Não havia nem sequer
ponto de comparação. Os olhinhos castanhos de Olie brilhavam na
minha frente. Skyler vibrava como juíza à minha direita e Chelsea
me fuzilava como quem me mataria se eu não desse a resposta
correta.
— Lembre-se que está sob juramento! — Recordou Skyler.
— Eu... — Ainda hesitei, mas dessa vez era por medo a
admitir a verdade para mim mesma. — Eu nunca fui tão feliz quanto
fui enquanto estive com Nick. Nunca!
— Caso encerrado! — Skyler bateu o malhete outras três
vezes. Aposto que ia sair dali e continuar batendo aquele troço. —
Você vai ligar para a Nick e conversar com ela.
— Isso aí! — Olie aplaudiu.
— De jeito nenhum que você vai deixar sua felicidade
escapar desse jeito, Aly. Manda a Erin ao demônio e vai ser feliz!
— Chelsea! O Olie. — Sky voltou a recordá-la.
Todos correram até mim e me abraçaram comemorando o
resultado do julgamento. Ou operação Nissa. Eu ainda sentia muitas
dúvidas pairando sobre meu coração, mas minhas amigas haviam
conseguido me fazer ver que Nick era minha felicidade. E, de um
jeito ou de outro, eu precisava lutar por ela.
Mesmo que não fosse como elas sugeriam.
— Viva a Alyssa!!!! — Olie gritou bem alto.
Seu grito foi seguido de inúmeros vivas, quando a porta do
auditório se abriu, interrompendo-nos. Todos olharam assustados,
enquanto o Senhor Wale veio caminhando lentamente, mas com ar
nitidamente perplexo, na nossa direção.
Ele parou diante de mim e me encarou com um olhar de
evidente insatisfação.
— Senhorita Burke... Quem são essas pessoas?
— Minhas amigas. — Respondi intimidada. — E o Oliver. Eu
tinha um compromisso com eles e como acabei ficando presa aqui
terminando uns requerimentos, eles vieram até aqui para...
— Para? — Ele observou em volta censurando o cenário
montado e os trajes das meninas.
— Elas tinham algo que me mostrar. E esse ambiente
pareceu o mais adequado.
— Esse ambiente? Um ambiente profissional? Que pouco
respeito a senhorita demonstra por seu ambiente de trabalho,
Senhorita Burke. Sinto muito, mas serei obrigado a lhe dar uma
advertência. Isso é inadmissível.
Suspirei bem fundo. Contei até três. Olhei em volta e analisei
os olhares de Chelsea e Skyler. E até mesmo o de Olie. Pensei no
esforço que eles tinham sido capazes de fazer para lutar pela minha
felicidade.
Que pessoa eu seria, se não fosse capaz de fazer o mesmo?
— Isso não vai ser necessário, Senhor Wale. Meu tempo no
Wale Associados, já acabou. Eu... me demito!
16 – Día de los Muertos
Esta noite é pra beber
Pra sair e não voltar
Hoje eu não volto pra casa
A gente organiza algo na praça

Me serve mais uma bebidinha


Uma pra mim e outro pra
Quem às vezes se esquece
Que só existe uma vida
La Triple T - TINI

ALYSSA
San Diego – Califórnia
1 de novembro – Quarta-feira

— Demissão? — Ele pareceu, agora sim, me lançar um olhar


de assombro. — Quem falou em demissão, Senhorita Burke? Você
ainda tem muito o que crescer aqui. No futuro, pode se candidatar à
promotoria como sua mãe e ter uma carreira brilhante.
— Acontece, Senhor Wale, que eu já considero minha
carreira brilhante. E, no momento, não tenho nenhuma aspiração a
me candidatar à promotoria, mas se um dia eu quiser fazer isso,
tenho certeza de que vou conseguir.
— Como você pode ter essa certeza? — Ele fez um ar
ofendido, enquanto minhas amigas terminavam de guardar as
coisas delas nas bolsas.
— É que na promotoria, ao contrário desse escritório, o que
vale é a competência do advogado, e não a propensão que ele
possui para ser desonesto!
— O que você quer dizer com isso? — Ele se enfureceu, pois
diferente do que oralizava, compreendeu perfeitamente o significado
das minhas palavras.
— Que o senhor vai se arrepender de ter escolhido Jimmy
Russell para promover. E vai se arrepender da pior maneira possível
que é quando outro advogado mais competente do que ele – e mais
honesto – derrotá-lo seguidamente nos tribunais. Afinal, ele já não
vai ter alguém como eu para apagar os rastros de incompetência
que ele deixa por onde passa.
Levei um pequeno susto ao ouvir aplausos das minhas
amigas e do Oliver. Sorri. Fiz sinal para elas e saímos dali. Levamos
apenas o tempo de eu pegar algumas coisas pessoais no meu
escritório. Eu já não queria voltar ali para nada que não fosse
concluir a demissão.
Sidney Wale me observava ainda sem se recuperar da
perplexidade na porta da sala da presidência. Acho que ele,
certamente esperava que eu demonstrasse que aquilo era só um
acesso de raiva pela perda da promoção e a bronca daquela noite.
Mas, no fundo no fundo, ele sabia que não era.
— Eu entro em contato com o RH para formalizar minha
demissão. — Falei calmamente, sentindo o peito estufar de triunfo.
Algo me dizia que aquela sensação era melhor do que a de
ser promovida naquele escritório. Não. Com certeza, era melhor.
Porque era minha, só minha.
Finalmente, eu estava livre do Wale Associados.

Chelsea estava me ajudando a fazer as malas, enquanto


Skyler levou Oliver para casa, pois já passava muito da hora de ele
dormir. Meu corpo todo vibrava como se tivesse sido bastante
estimulado, mas eu tinha medo de como eu me sentiria quando a
adrenalina daquela loucura passasse.
— Eu... não sei se estou fazendo a coisa certa... — Sentei-
me na cama, evidenciando minha característica insegurança.
Chelsea me encarou como quem me conhecia muito bem.
Ela sabia que tinha chance de eu dar para trás. Não em relação ao
meu emprego, mas, principalmente, em relação à Nick.
— Alyssa, você só está um pouquinho atrasada, mas isso é a
coisa mais certa que você poderia fazer.
— É que... E se a Nick já tiver virado a página? Eu não dei
esperança nenhuma a ela. Pode ser que eu nem sequer a encontre.
Ela deu um risinho malicioso de quem já havia se preparado
para aquela minha crise de insegurança nada inesperada.
— Então, antes de ir para o escritório, Skyler e eu fizemos
uma coisinha... — Ela falou de um jeito travesso.
— Que coisinha, Chelsea? — Indaguei preocupada.
— Nada demais, só uma pesquisa na internet. Eu devia ficar
brava com você por sempre pensar o pior de mim.
Eu sabia que ela não falava sério, mas ainda assim, achei
engraçado a suposta inocência no seu tom de voz.
— Como assim? Pesquisar na internet? O quê?
— Essa coisa de Motocross, tem muitos fãs e é um esporte
muito organizado. — Ela explicou como se eu não soubesse.
— E o que tem isso?
— Além dos campeonatos e das corridas, tem algumas
apresentações chamadas Freestyle. Elas não dão prêmios tão altos
como aquele que a Nick vai defender em Daytona, mas eu li que os
pilotos usam para treinar para as etapas mais importantes do
circuito nacional.
— Eu ainda não entendi.
— Amanhã à noite, tem um evento internacional dessa coisa
Freestyle de Motocross em Mexicali e o nome da Nick está entre os
pilotos que vão se apresentar.
— Em Mexicali? — Pulei da cama super interessada. —
Amanhã?
— Sim, amanhã. — Ela disse sorrindo.
— Mas, Chelsea, Mexicali fica no México? Pode ser
complicado passar a fronteira e...
— Alyssa, o fato de que o México seja outro país não muda
que é muito perto de San Diego.
— É que...
— Mexicali fica a 125 milhas daqui. — Ela colocou as mãos
na cintura prevendo que eu inventaria uma dificuldade qualquer para
fugir de ir atrás da minha namorada. — Além disso, é só ligar para a
Nick. Diz a ela que você vai se encontrar com ela.
— Não! — Eu caminhei até a mala apressada para ajeitá-la.
— Eu quero fazer uma surpresa.
— Isso aí, gostei! — Ela sorriu me ajudando a selecionar o
que era importante levar na viagem e o que devia ficar para trás.
O frio na barriga devia se chamar fogo na barriga, pois meu
ventre queimava como se eu estivesse prestes a cometer uma
loucura ainda maior do que me demitir do meu emprego de mais de
cinco anos. E eu sabia que era.
Como advogada, pedir demissão de um escritório como o
Wale Associados demandava coragem. Mas nada... nada se
comparava a me jogar em uma relação sem nenhum equipamento
de proteção como eu estava prestes a fazer.
Enquanto Chelsea me explicava detalhes de como ela já
havia pensado em tudo para minha viagem para o México, parei
para pensar em quantas vezes Nick havia lutado por mim. Ela havia
feito isso muitas vezes.
Eu, finalmente teria a chance de mostrar para ela que investir
em mim não era uma cilada. Que eu era uma aposta pela qual valia
a pena que ela se arriscasse.
NICK
Mexicali – Baixa Califórnia – México
2 de novembro – Quinta-feira

O hotel estava agitadíssimo naquela tarde. O Día de los


Muertos é a comemoração mais popular do México e mobilizava
todo o país. A apresentação de Freestyle do X Pilots daquela noite
estava ofuscada pela comemoração tradicional.
Eu era uma pessoa que ignorava até mesmo o Dia das
Bruxas, uma das datas mais tradicionais dos Estados Unidos
celebrada dois dias antes, imagina se ia me permitir me distrair por
aquela alegria em celebrar a morte que os mexicanos emanavam?
Ainda assim, era difícil fugir das calaveras dulces – doces
moldados em forma de caveira e dos esqueletos espalhados por
todos os lados, desde casas até ruas. Para piorar, eles costumavam
estar vestidos com roupas, chapéus e adereços, como brincos e
echarpes.
— Já cumprimentou um esqueleto hoje, Nick? — Logan me
surpreendeu observando uma infinidade deles posicionados na
entrada do meu hotel.
— Idiota! — Reclamei do modo como ele tentou me assustar,
chegando por trás. — Eu só estava olhando.
— Dizem que são eles que recepcionam as almas que vêm
visitar seus entes queridos no Dia dos Mortos.
— Confesso que achei de péssimo gosto o X Pilots acontecer
nesse feriado. — Expliquei aflita. — Esse monte de referência à
morte ao redor de algo tão arriscado como uma apresentação de
Motocross.
— Eu estou ouvindo bem? A destemida Nicole Wale está com
medo de subir em uma moto e encarar um circuito só porque ele
acontece no México em 2 de novembro? — Ele me zoou.
E fazia sentido que ele fizesse isso. Eu sempre havia rido na
cara do perigo. Para mim, quanto mais arriscado um circuito fosse,
mais ele me atraía, mas naquela noite, dois dias depois de me
despedir de Alyssa, tudo parecia mais pesado.
— Claro que não. — Dei um tapa nele afastando aquele
assunto. — Inclusive eu estava indo para o Plaza de Toros Calafia.
Eu vou enfrentar obstáculos na pista, não caveiras e esqueletos.
Fiz sinal para ele. Ele sorriu e me acompanhou. Ainda
faltavam algumas horas para a apresentação, mas eu não havia me
inscrito nela por acaso. Estava há bastante tempo sem treinar e
precisava saber quão enferrujada eu estava.
Eu sabia que o primeiro lugar era quase impossível, mas do
que eu realmente precisava era estar nas pistas, sentir de novo que
minha motivação vinha do Motocross, da Megan e não dela.
Ela havia feito uma escolha e só me restava aceitar.
O tempo foi passando, o circuito foi enchendo e, entre
pessoas vestidas com roupas que lembravam a data, eu não sei
porque, meu rosto passou a buscar um par de olhos cor de mel
insistentemente. Meu coração batia forte, mas não por me sentir
nervosa pela apresentação e sim, por sentir que ela estava perto.
Só podia ser uma grande loucura.
Entretanto, nem mesmo com o início das apresentações, eu
parei de buscar Alyssa. De novo aquela coisa parecida com
pressentimento pulsava dentro de mim.
— Você é a próxima! — Hailey parou perto de mim
empolgada depois da própria volta.
Eu encarava a pista numa tentativa de concentração nela,
não no público. A pausa de meia hora entre a volta de Hailey e a
minha se fez necessária por causa do esfarelar de dois obstáculos
que foram extremamente explorados por ela e por outros
motociclistas.
— Você podia ter deixado a pista inteira para mim. —
Brinquei.
— Foi mal. Adoro você, mas gosto mais de te derrotar. Ainda
mais no Freestyle.
— Você sabe que eu não tenho chance. — Falei resignada.
— E a sua volta foi excepcional. Parabéns!
Ela me olhou empolgada e foi se aproximando. Hailey não
costumava ser inconveniente, mas não estava nem um pouco
acostumada a escutar meus nãos. Normalmente, se eu não
estivesse namorando, eu estava disponível.
— Eu prefiro um outro tipo de parabéns que você costumava
me dar. — Recordou a centímetros da minha boca. — Eu não
mereço, Nick?
Coloquei a mão no ombro dela, detendo-a. Eu não precisava
que ela entendesse, mas eu sabia que não queria beijar ninguém.
Não estava pronta e sabe-se lá quando eu estaria.
— Não vai rolar, Hailey, eu já te disse. Além disso, eu preciso
me concentrar para entrar na pista.
Dei dois passos para trás, mas ela segurou meu braço
encorajada, provavelmente, pela excelente apresentação, que havia
feito. Ao longe, havia um palco no qual subiu um apresentador. Ele
anunciou um número de dança que não estava previsto e isso
demonstrava que, talvez, a pausa pudesse ser maior do que foi
anunciada à princípio.
— Qual é, Nick? A gente sempre se entendeu tão bem... Não
me faz implorar...
Ela foi se aproximando da minha boca, quando eu fitei meus
olhos em uma das meninas que, pelo corredor logo à nossa frente,
eram conduzidas para o palco como dançarina. Ela estava agitada,
numa roupa preta com branca, cheia de fitas soltas e só com um
biquini por baixo. Parecia querer fugir do homem que a direcionava
ao palco.
Eu devia estar realmente muito louca, porque eu tinha
certeza que por baixo da maquiagem aquela era... Alyssa. Empurrei
levemente Hailey e fui me aproximando da fila de dançarinas para
ter certeza de que aquela loucura não era coisa da minha cabeça.
Até porque, só podia ser isso. Não tinha como ser outra
coisa.
Hailey veio atrás de mim e, ao invés de insistir em me beijar,
fechou a cara ao encará-la. E essa foi a última vez que eu tive
consciência da presença da garota com nome de cometa.
A garota que era igualzinha a Alyssa nos viu e, finalmente,
conseguiu se desvencilhar da fila de garotas e correr até mim:
— Nick! — Ela falou com os olhos brilhando, ofegante. — Eu
nem acredito que eu te achei antes da sua apresentação.
— A... lyssa? — Questionei impactada por sua presença.
— Oye chica, tienes que subirte al escenario, debes bailar! —
Provavelmente o diretor veio atrás de Alyssa.
— Não... — Ela tentou explicar, mas seu espanhol era
péssimo. — Es um engano...
— Ella no es una bailarina, Jaime. Es... de mi equipo. — Falei
rindo salvando-a por fim.
— Entonces, ¿por qué te vistes así? — Ele questionou
furioso afastando-se e acompanhando as outras meninas.
A apresentação de dança finalmente começou e Alyssa
respirou aliviada de não estar no palco. Confesso que ri, ao imaginá-
la tentando reproduzir a coreografia de reggaeton, mas acho que ela
acabaria sendo expulsa ou tendo uma crise de vergonha.
— Ele tem razão. — Falei ainda impactada pela presença
dela por ali. — Por que você está vestida assim? E o que você está
fazendo aqui?
— Bom, eu tentei entrar de todo jeito aqui, no Plaza de Toros
Calafia, mas não tinha mais ingressos. Aí eu tive a brilhante ideia de
entrar pela entrada de serviço. Me disseram que só podia entrar o
pessoal de serviço do Motocross, ou da equipe artística. Aí fiquei
nervosa e uma dançarina americana veio falar comigo.
— A roupa de dançarina ficou ótima. — Caí na risada.
— Foi mais fácil conseguir a roupa de dançarina do que uma
moto para fingir ser uma piloto. Além disso... eu não saberia pilotar,
então... — Ela riu levemente relaxada.
— Isso eu nunca imaginei. A advogada Alyssa Burke, em
Mexicali, vestida de bailarina com maquiagem de caveira só para
ver eu me apresentar.
— Eu queria muito falar com você antes da sua
apresentação. — Ela falou suspirando diante de mim. — Mas Nick,
você e a Hailey...? Ela ia te beijar quando eu cheguei, eu vi.
— Ela não ia me beijar porque eu não queria, Alyssa. Eu
estou completamente na sua. E, só de imaginar que você veio atrás
de mim aqui em Mexicali... Eu não posso nem acreditar.
Eu não podia ver, mas sei que meus olhos brilharam. Eu
ficava como boba quando me apaixonava. E era muito, muito mais
raro do que eu gostaria.
Eu amava a sensação de sentir uma conexão com alguém,
mas era como se todas as pessoas vibrassem em frequências
distintas. Exceto uma. Exceto ela.
— É que, o fato de ela e você serem pilotos... Eu e você
somos muito diferentes, Nick. E ela... Se nota que ela está muito a
fim de você.
— Você veio até Mexicali para falar comigo da Hailey? —
Questionei impaciente.
Eu podia entender o incômodo dela. Mas, eu não podia
entender como Alyssa não podia ver o quanto eu estava
completamente louca por ela. Que depois que eu a conheci, já não
existia nenhuma outra mulher para mim.
— Não. — Ela pareceu confiar na minha palavra. — Eu vim
mais do que falar com você, Nick. Eu vim fazer uma coisa que eu
precisava fazer antes de que você entrasse na pista.
— Em poucos instantes, com vocês, a grande Nick Leo! — O
locutor anunciou ao longe.
Logan foi se aproximando, mas eu percebi como ele se
deteve, quando viu que eu estava com Alyssa.
— Por quê? É só uma coisa como cumprir tabela, eu não vou
vencer. — Falei nervosa, ansiosa.
Era como se eu tivesse recuperado aquela adrenalina
gostosa que eu senti enquanto estivemos juntas. E isso porque ela
não tinha ainda nem sequer me tocado.
— Ok. Então vou te dar uma motivação a mais. — Ela falou
sorrindo. — Isso é uma pequena mostra do que eu vim te dizer aqui
em Mexicali, Nick.
Ela agarrou minha jaqueta, me puxou para junto do corpo
dela, e, depois de um sorriso cheio de malícia e sedução, me deu
um beijo cinematográfico. E o melhor é que aconteceu
simultaneamente ao momento em que um show de fogos de artifício
encerrou o show das bailarinas sobre o palco.
Ela nem precisava estar vestida daquele modo para que eu
sentisse que a sensualidade dela me cativava e me mantinha em
seus braços como se ela possuísse tentáculos de sedução. Minhas
terminações nervosas pareceram se ligar imediatamente, me tirando
de um estado letárgico que a curta separação de Alyssa havia me
provocado.
A conexão de nossos lábios e línguas comunicava muito
melhor do que qualquer palavra, dita em qualquer idioma. Eu não
sabia o que ela ia me dizer. Não sabia se ela estava ali só de
passagem, mas sentia que precisava dela, mais do que de ar para
respirar.
Ela havia viajado 125 milhas para me beijar. Era justo, depois
de que eu havia me despedido dela com um beijo. A diferença é
que, eu não sabia quais eram os planos de Alyssa, mas estava
disposta a tudo para que ela não saísse mais de perto de mim.
— Nick, você precisa ir! — Logan nos interrompeu.
— Nick... — Falei segurando a mão dela. — Que tal uma
aposta?
— Claro! — Concordei sem pestanejar.
— Se você vencer... Se você vencer eu prometo te
surpreender essa noite. Tanto quanto em Vegas. Aceita? —
Perguntou, estendendo a mão.
— Como dizemos por aqui... Trato hecho. — Apertei a mão
dela, sorrindo empolgada.
Subi na minha moto, enquanto o telão sinalizava meu nome.
E era extremamente irônico que, enquanto o México celebrava o Día
de los Muertos, eu finalmente voltava a me sentir viva porque Alyssa
estava ali. Agora eu já não me resignava com o 2º ou o 3º lugar. Eu
ia vencer a etapa de Freestyle de Mexicali. Eu ia vencer por Alyssa.
17 – O prazer de perder
Estou voando
Estou voando alto como um pássaro
Mas minhas asas agitadas
Não podem evitar que você me ponha para baixo
Love Is A Bitch - Two Feet

ALYSSA
Mexicali – Baixa Califórnia – México
2 de novembro – Quinta-feira

Depois da apresentação, Nick me intimou a passar aquela


noite no quarto dela e, logicamente, eu aceitei. Além do mais, eu
tinha uma aposta a cobrar. Tanto quanto, outras a fazer. Mas antes,
os amigos dela a convidaram para ir a uma festa do Día de los
Muertos para celebrar a sua inesperada vitória no Freestyle do X
Pilots.
Eles deixariam Mexicali no dia seguinte e só tinham aquele
momento para celebrar. Até dezembro, o tempo correria frenético.
Ela não queria ir, tinha pressa para que finalmente
esclarecêssemos tudo, mas eu pedi a ela que desse ao menos uma
passadinha na festa.
E o fato é que as duas sabíamos que precisávamos – por
necessidade mesmo – de mais do que conversar.
— Vem com a gente então, Aly. — Falou com um irresistível
rostinho pidão.
— Eu não posso. Estou vestida de bailarina, não faço ideia
de onde foram parar minhas roupas, preciso ir ao hotel pegar minha
mala, levar para seu quarto e tomar um banho para tirar essa
maquiagem toda.
— Você é a mais linda bailarina Catrina. — Brincou.
— Eu nem acredito que acabei assim.
— Pois, que bom que acabou. — Ela se divertiu. — E, se
você vai voltar ao hotel, eu vou com você.
— Claro que não. A festa é pela sua vitória, não faça desfeita
aos seus amigos. Eu vou te esperar no seu quarto. — Levantei o
cartão na mão. — Já estou com a chave.
Ela deu um passinho colando o corpo dela ao meu. Deslizou
o rosto dela pela minha bochecha e deteve-se bem do lado da
minha orelha, me arrepiando de imediato.
— É que nada é mais importante para mim do que estar com
você. — Sussurrou me queimando com o fascínio que seu hálito
quente exercia sobre mim.
— Eu também. E é por isso mesmo que, quando você
chegar, vou estar lá, te esperando, para deixar claro que é sempre
um prazer, perder uma aposta para você.
— Mas, nós não apostamos nada. — Sorriu com carinha de
confusa, me roubando um selinho.
— Apostamos meu coração. E ele... já é todo seu. — Não sei
como meus olhos a encararam porque eu senti que eles se
umedeciam enquanto minhas pupilas se dilatavam.
Era muito gostoso sentir a ação da paixão sobre mim. E com
Nick ela também tinha tempero de aventura e adrenalina.
Ela me beijou com toda a intensidade que eu sempre sabia
que poderia encontrar nela. Uma intensidade e entrega que, até me
envolver com aquela motociclista, eu ainda não conhecia. Meu
corpo todo reagiu ao beijo e, dessa vez, fui eu quem se dissolveu
nos braços dela.
Eu não precisaria de muito mais daquilo para pedir a ela que
ficasse, que mandasse a tal festa ao demônio. E quanto mais eu
sentia seus lábios, não ficavam dúvidas de que a boca de Nick tinha
sido feita só para me beijar. Somente para me dar prazer.
— Eu vou ficar só uma meia horinha e volto. E só vou porque
você está insistindo muito. — Ela falou depois de diminuir
suavemente o ritmo do beijo.
O ritmo, não a intensidade. Porque esta, sempre estaria lá.
Eu demorei menos de 10 minutos para estar no quarto de
Nick. Não por coincidência, eu havia me hospedado num hotel que
se localizava ao lado do que ela e toda a equipe de motociclistas
que participariam do X Pilots estavam desde a noite anterior.
Chelsea havia descoberto que hotel eles ocupariam, mas o
fato de que minha viagem tenha sido completamente intempestiva,
dificultou que tudo saísse minuciosamente ajustado. Como eu
gostava. Ou como eu achava que gostava.
O problema é que aquele hotel não tinha mais vagas, porém
eu consegui um quarto no hotel ao lado. O atraso do meu voo fez
com que eu não encontrasse Nick por ali e, então, eu precisei
realizar toda uma aventura para conseguir falar com ela antes da
apresentação.
Logo eu, Alyssa Burke, a rainha da rotina e da segurança,
jogando tudo ao alto por ela.
Durante o banho, sentindo a minha pele rosada sendo
confortada pela delicadeza do sabonete líquido que eu tanto amava,
sorri ao me dar conta de como estar com Nick era assim – uma
aventura.
De repente, enquanto eu espalhava a espuma por cima do
meu umbigo, eu pensei na presença inconveniente de Hailey na
festa. E não posso negar que o ciúme me beliscou. Mas, eu sabia
que aquele era o universo de Nick e eu precisaria lidar com a
presença de ex-namoradas e assédios de mulheres seduzidas por
seu talento de piloto de Motocross.
Eu precisava confiar no que ela e seus olhos me diziam.
Terminei o banho e fui até a janela, e a abri. Naquela época
do ano à noite, o frio do clima desértico de Mexicali era
razoavelmente suportável. Mas, um grande umidificador de ar no
quarto era um item de necessidade, não de luxo.
O céu estrelado me confirmava que eu havia deixado San
Diego, que eu havia deixado a velha Alyssa para trás e que, agora,
minha realidade seria outra. Uma nova realidade da qual eu
gostava. E, mesmo que Nick ainda não estivesse ali, que eu não
possuísse nenhuma definição do meu futuro profissional, eu senti
uma incomum tranquilidade.
A tranquilidade de estar em paz comigo mesma.
NICK
Me senti mal por como Hailey pareceu ficar triste lá na festa.
E não foi por ter ficado em segundo lugar, depois que a nota das
minhas manobras ultrapassou a excelente pontuação dela. Não foi
por isso. Foi pela chegada de Alyssa.
Ela me contou que imaginava que, quando eu deixasse San
Diego, as coisas seriam como antes. Precisei dizer a ela a verdade:
Eu estava apaixonada por Alyssa e não estava nem um pouco
disposta a estragar isso.
Ela prometeu ficar na dela. E, por mais que provocar aquela
tristeza em uma pessoa que sempre tinha me feito bem fosse algo
desagradável, não tinha outra coisa a ser feita. Eu sempre seria
sincera de qualquer forma, porque eu sabia o que significava que
Alyssa estivesse em Mexicali.
E, mesmo que eu não soubesse de tudo, só o fato de ela ter
ido atrás de mim já significava muito.
Essa era a maior prova que eu estava realmente apaixonada.
Quando passei o cartão destravando a porta, por um
segundo, tive a sensação de que o quarto de hotel ainda estava
vazio. O silêncio preenchia o ambiente ao mesmo tempo em que a
brisa da noite murmurava alguma coisa no ar.
E foi por seguir a brisa que eu percebi a presença de Alyssa
de costas, apoiada na vidraça que dava para a varanda, sendo
abraçada pelo vento que ondeava seus cabelos cacheados no ar.
Ela parecia não ter me ouvido e isso me ajudou a surpreendê-la.
Fui me aproximando silenciosamente e, quando cheguei até
ela, a agarrei por trás sentindo o brandir de seu corpo pelo
sobressalto que eu havia provocado. Mas, aquele brandir, estava
muito longe do que eu realmente queria produzir no corpo dela.
— Que susto! — Falou enquanto eu observava seus pelinhos
se arrepiarem a cada beijo meu na delicadeza daquela pele. —
Pensei que fosse um ladrão. Ou uma ladra.
Sua expressão se modificou, me seduzindo. Voluntária ou
involuntariamente. Girei o corpo dela, e fui empurrando-a
lentamente, até que ela colidisse com o vidro da porta da varanda.
— Posso não ser uma ladra. Mas, o que eu quero nesse
quarto, eu vou pegar! — Afirmei decidida, fixando meus olhos nos
dela.
Ela me encarou de volta com um longo suspiro que expelia
fagulhas de desejo no ar. E a intensidade daquele olhar, só do olhar,
já fez com que minha boca se enchesse d’água. De um modo que
tudo o que me restava era matar a sede que eu sentia de Alyssa.
Apoderei-me dos lábios dela, com a mesma pressa com a
qual desfiz o nó do roupão dela, para logo em seguida, deslizá-lo
por seus braços e fazê-lo cair no chão. Ao mesmo tempo, ela
devolvia o beijo com aquela impetuosidade que ela manifestava
quando estava excitada, puxando forte minha jaqueta pelos braços.
E ela ficou caída lá no chão, rente ao roupão de Alyssa. E,
sobre aquela jaqueta – e ao redor dela – minhas outras peças de
roupas foram sendo empilhadas, até que só restasse minha
calcinha.
— Você não vai precisar roubar nada aqui, Nick. Porque eu
sou toda sua. — Ela já ofegava recendendo tesão.
— E se eu roubar... — Interrompi a frase para deixar uma
lambida em seu pescoço encerrada com uma mordida voraz, na
medida da fome que eu sentia dela. — Eu sempre poderei ter a
melhor advogada do mundo para me defender.
Aprisionei-a de maneira mais intensa no vidro da porta de
correr que dava para o deck e fui demarcando meu desejo por toda
a pele dela. Me detive por um tempo me deliciando com seus
mamilos, me divertindo com o modo como ela jogava a cabeça para
trás, cerrava os dentes e agarrava meus cabelos.
Além disso, vez ou outra, ela deslizava aquelas unhas
pintadas de vermelho por minhas costas me levando para muito
perto do delírio.
Por fim, me ajoelhei diante daquela beldade e olhei para cima
com muita avidez.
— Você não acha melhor a gente ir para a cama, não? —
Sua perna, porém, a contradizia, levantando-se até antes do
primeiro toque.
— De jeito nenhum! — Exclamei ajeitando a coxa direita dela
sobre meu ombro esquerdo. — Eu quero muito ficar ajoelhada para
te dar prazer.
— Mas... Ohhh — Ela se surpreendeu quando eu dei uma
lambidinha de leve sobre seus grandes lábios totalmente depilados.
— Eu não abro mão de um 69.
— Podemos apostar... Outra vez, eu quero dizer. — Falei
enquanto deslizava minha língua ao redor daquele clitóris sentindo
minha vagina se enxarcar de tesão. — Dizem que uma mulher leva
em média de 7 a 13 minutos para gozar.
Ela tentou prestar atenção, mas eu segui movimentando meu
dedo indicador vagarosamente naquela pista que eu dominava
como ninguém. Mordeu o lábio antes de que eu continuasse falando
e contraiu a pélvis completamente entregue.
— E daí? — Agarrou meu cabelo com a mão esquerda e
apoiou a direita na porta de vidro atrás dela.
A cortina oscilava pela brisa do início do inverno em Mexicali,
mas ali dentro, as coisas esquentavam cada vez mais.
— Se eu te fizer gozar em mais de 7 minutos, fazemos um
69. Na posição que você escolher. Você por cima, ou por baixo.
— Ohhhhh... — Gemeu estimulada pelo desafio. — Mais uma
aposta covardeeeee...
Ela se perdeu da conclusão da palavra porque eu aproveitei
sua acusação para passar minha língua por aquela fenda de
maneira mais incisiva.
— Você não disse que é um prazer perder para mim? —
Repliquei.
— E... Se eu levar menos de 7 minutos para gozar?
— Você me chupa de joelhos. Assim como eu vou fazer
agora com você.
— Depois de gozar? — Ela riu. — Isso seria impossível.
Minhas pernas jamais aguentariam.
— E, então? — Pisquei para ela em provocação. Eu sabia
que eu ia vencer, ela estava lânguida, muito excitada, enxarcada de
desejo.
— Feito. — Ela disse se ajeitando. — Leve mais do que 7
minutos. Eu quero meu 69. — Ofegou arqueando-se levemente.
— Eu... vou te dar o prazer de perder para mim.
Peguei o celular dela que estava na mesinha ao lado da
janela e ajustei o cronômetro. A partir daquele momento, abocanhei
seu clitóris de maneira estratégica, deixando Alyssa insana. Ela
gemia, se contorcia, subia e descia com o sexo na minha boca
pulsando inteira em um tesão incontrolável.
Inicialmente, eu acompanhei o modo como o cronômetro foi
de dois para três minutos, mas depois, tudo no que eu pensava era
nas minhas mãos encaixadas naquele quadril, nas mãos delas
apoiadas na minha cabeça, na delícia que era voltear minha língua
por aquele completo playground.
Me distraí do tempo e me concentrei nela.
Alyssa contraía os joelhos no ritmo de gemidos intensos de
modo que eu pensava que ela não fosse se aguentar em pé. Olhei
para cima e vibrei quando eu vi que ela segurava os dois seios com
as mãos expressando prazer por cada poro do seu corpo.
Me sentei parcialmente sobre meus pés, para alcançar a
vulva dela e estimulá-la no limite do que ela pudesse aguentar.
— Hummm, pelo amor de Deus, Nick, eu vou cair... — Disse
com dificuldade.
Não respondi. Minha resposta era nas terminações nervosas
de sua principal zona erógena. Eu tinha uma missão. Fazer Alyssa
gozar em sete minutos. E nada ia me impedir. O ar faltou, mas eu
podia ver que ela estava muito perto, então insisti.
Chupei o clitóris de um modo que ela sempre acabava
gozando e a vi se desmanchando antes de intensos gritos que
culminaram com ela caindo de joelhos bem na minha frente. Ela se
apoiou em mim e eu a beijei com seu gosto na boca, serenando-a
após o orgasmo.
Ela deteve o beijo, pegando rapidamente o celular. Sorrindo,
virou-o para mim e me mostrou vitoriosa o tempo estampado na
tela:
9 minutos e 45 segundos
— Descontando o tempo em que nos beijamos... — Ela
estava ofegante, mas em êxtase. Tanto pelo orgasmo, quanto por
sua vitória naquela aposta. — Acredito que você levou de 8:45 a 9
minutos para me fazer gozar. Eu venci! — Comemorou.
A mim, só me restava a resignação. Naquela noite eu não
teria Alyssa me fodendo de joelhos. Ainda assim, eu não podia
lamentar. Se minha punição era um 69, eu teria que concordar com
Alyssa – perder para ela, era um enorme prazer.

O dia estava perto de amanhecer quando, por fim, nos


cansamos de tanto transar. Eu ainda não sabia quanto tempo ela ia
ficar comigo, então queria aproveitar cada segundo. E não só com
sexo, mas também com sexo.
Ela estava aconchegada em mim, de conchinha. Eu beijei de
levinho o pescoço e as costas dela e notei que ela cochilava.
— Alyssa. — Chamei num murmúrio.
— Hum...
— Eu quero que você saiba de uma coisa. Uma coisa muito
importante.
— Pode falar. — Respondeu com a voz molinha.
— Eu te amo, Alyssa Burke! — Soltei a frase que precisava
ser dita antes de que ela me sufocasse.
Ela despertou daquele estado letárgico e se virou brilhando.
Não só nos olhos castanhos, mas toda ela. Era como se ela fosse
outra mulher. Mais confiante, mais decidida e, portanto, mais bonita.
Mas, isso era fisicamente impossível.
Alyssa era a mulher mais bonita do mundo.
— Nick...
Ao dizer meu nome, ela pareceu se emocionar. Meu coração
parou por alguns segundos temendo não receber a resposta
equivalente, por mais que seus olhos praticamente gritassem o
mesmo. A advogada acariciou meu rosto com as pontas dos dedos
e, sem desviar o olhar, falou com absoluta certeza:
— Nicole Wale, você é a mulher da minha vida. Eu quero
viajar pelo país e pelo mundo com você porque eu amo você! Só
você!
Voltei a beijá-la como tantas vezes naquela noite. Mas
também era um beijo diferente. Era um beijo com o delicioso sabor
da consciência de não estar mais sozinha. Era um beijo com sabor
de estar apaixonada e ser correspondida. Era um beijo de entrega.
Porque a partir daquele instante, Alyssa era completamente minha.
Assim como eu era dela.

Daytona – Flórida
15 de dezembro – Sexta-feira

— Aqui temos a campeã do MB1 da Flórida e que, além do


mais somou 1 milhão de dólares mais na conta bancária hein, sua
diaba! — Logan exclamou com o copo na mão. — Não vá se
esquecer dos pobres agora que você é uma mulher milionária.
— Você sabe que ainda temos que deduzir alguns gastos.
— Você já abateu a todos com o dinheiro que conseguiu nas
etapas menores onde você foi para treinar e varreu todos os
prêmios possíveis. Aliás, a equipe toda está muito feliz pelo bônus
de Natal.
— Foi realmente um ano mágico. — Eu reconheci feliz. Feliz
era pouco, na verdade, eu estava radiante.
— É que o amor inspira. — Ele brincou suspirando. —
Falando nisso, onde está a Alyssa?
Olhei em volta e percebi que ela não estava mais na festa.
Era muito raro que ela tivesse sumido sem se despedir. Até porque,
depois da minha vitória, ela era a mais empolgada para comemorar.
Eu, finalmente poderia tirar umas férias e me preparar
exclusivamente para o campeonato nacional do ano seguinte. E
paras os internacionais também.
Além disso, depois do Natal, nos dedicaríamos a organizar a
carreira dela dali em diante.
— Deve ter ido tomar um ar.
Ele logo se juntou a meus outros amigos que bebiam,
vibravam e cantavam pela minha vitória. Mas, logo que eu percebi a
ausência de Alyssa, senti um frio na espinha de preocupação por
ela.
A viagem de moto pelo país havia sido maravilhosa. Contar
com a companhia dela fez toda a diferença para que eu pudesse me
concentrar e vencer o MB1 da Flórida.
E a cada aventura, a cada nova memória produzida, a cada
lugar novo que tínhamos para adicionar ao nosso amor, eu tinha
mais certeza de que tinha feito a coisa certa investindo em Alyssa e
pedindo que ela me apoiasse naquele momento da minha carreira.
Ela fez isso, mas sem começar a se preparar para voltar a se
dedicar à dela.
Tudo seguia muito bem. Até meu pai havia me ligado para me
parabenizar depois da corrida. Ele disse que eu não precisava
devolver o dinheiro do patrocínio e que estava orgulhoso de mim. E,
ao pensar nisso, eu me dei conta de que essa era, provavelmente, a
razão do sumiço de Alyssa.
Porque ela queria ter o mesmo da mãe dela e sabia que isso
era uma missão quase impossível. Abandonei a festa num bar à
beira mar e, segui pela belíssima costa de Daytona Beach, até o
nosso hotel.
Contudo, não precisei chegar lá para encontrá-la. Ela estava
sentada em um quiosque, tomando uma água de coco, encarando o
mar pensativa.
— Amor, você está aqui! — Exclamei beijando o rosto dela.
Ela me encarou com um sorriso amarelo.
— Desculpa não ter te avisado. Eu ia te mandar uma
mensagem, mas eu não queria pegar meu celular. Acabei aqui,
pensando em nada. — Ela explicou calmamente.
— A promotora ligou de novo? — Concluí, me sentando ao
lado dela. — Aly, você devia bloquear essa mulher. Olha como você
fica toda vez que fala com ela.
— Devia. — Falou suscinta.
— O que ela queria dessa vez?
— Eu não queria atrapalhar sua festa, amor. — Ela se
esquivou.
— Minha festa é com você. Onde você estiver. O que sua
mãe queria?
— O mesmo de sempre. Tentar me desestabilizar e
questionar as escolhas que eu estou fazendo para minha carreira.
Você sabe que ela não concorda que eu abra meu próprio escritório
de advocacia, não é?
— E daí? — Acariciei a mão dela. — Já não está quase tudo
preparado? Você já não tem até alguns clientes quando voltar para
San Diego e Chelsea não separou três salas para você visitar e
escolher a que quer abrir seu escritório físico? Uma ligação da sua
mãe não pode destruir tudo isso.
— Ah, Nick. Você não sabe do que ela é capaz! Você não
sabe o que ela fez.
— Mas, você não pode ficar assim por ela...
— É que você não conhece minha mãe! — Ela se levantou
cheia de indignação.
Era assim que ela ficava a cada ligação de Erin. Cada tijolo
de confiança em si mesma levantado com sacrifício, era derrubado
pelas críticas nada sutis da minha querida sogra. Para ela, Alyssa
havia enterrado sua carreira ao se demitir de um grande escritório.
— Eu sei. — Acariciei seus braços por trás. — Me conta. O
que ela fez?
— Ela me disse que tirou uma licença da promotoria. Ela
soube que Janet Weinberg me procurou para defendê-la no
processo de divórcio contra Andrew Molloy e foi contatada pelo
advogado do crápula do ex-marido da minha cliente. Na verdade, eu
não duvido que tenha sido ela quem os contatou.
— E por quê? — Eu estranhei.
— Andrew Molloy contratou minha mãe como consultora de
seu advogado no processo de divórcio contra a Senhora Weinberg.
Ele quer deixá-la sem a casa, sem pensão e sem nenhum centavo
de todos os bens que eles adquiriram durante os 15 anos de
casamento.
— E Erin aceitou isso? — Indaguei escandalizada. — Ela não
tem ética?
— Ética? — Alyssa repetiu rindo sarcasticamente. — Ela só
quer me atingir. Ela quer provar que eu estou errada, Nick. E, para
isso, é capaz até de ajudar a um ex-marido sem escrúpulos em um
processo injusto e desproporcional.
— Amanhã mesmo a gente volta a San Diego, Alyssa. —
Falei decidida. — Você precisa deter a sua mãe. Você precisa
ajudar essa mulher através das vias legais.
Ela levantou os olhos e me encarou. Não disse nada, mas eu
sabia. Alyssa não era capaz de arriscar o futuro de sua cliente só
por um capricho da mãe.
— Ela me propôs um acordo. — Estremeci.
Os acordos de Erin Burke sempre deixavam Alyssa
definhando. Atingiam sua autoestima e até a confiança que ela
sentia no nosso amor e no nosso futuro.
— Que tipo de acordo?
— Ela disse que já conversou com o seu pai e que ele me
aceitaria de volta. O acordo seria: Eu volto a trabalhar no Wale
Associados e ela consegue um acerto de divórcio favorável para
Janet Weinberg. Do contrário ela jurou acabar com ela no tribunal.
Com ela e... comigo.
18 – Sentença ditada
É a minha vida, é agora ou nunca
Eu não vou viver para sempre
Eu só quero viver enquanto eu estou vivo
(É a minha vida)
Meu coração é como uma rodovia aberta
It's My Life - Bon Jovi

ALYSSA
Cidade de Nova Iorque – Nova Iorque
23 de dezembro – Sábado

Meus olhos ainda brilhavam, divididos entre a empolgação de


Nick patinando na pista do Rockefeller Center e a beleza fascinante
daquela árvore de Natal gigante montada em frente ao prédio. Uma
senhora de uns 65 anos estava ao meu lado e era uma turista super
empolgada e comunicativa.
— Você sabia, minha filha, que essa é uma das árvores de
Natal mais altas do mundo?
— É mesmo? — Por educação, tratei de dar um pouquinho
de atenção a ela.
— Sim! — Exclamou animada. — Ela tem mais de 25 metros
de altura e é iluminada com pelo menos 30.000 luzes LED.
Eu não podia dizer que era completamente indiferente à
beleza do Natal em Manhattan, bem como em toda Nova Iorque,
mas o meu foco era outro. Tinha um encontro com meu pai e minha
irmã no Rockefeller Center e não conseguia desviar meu
pensamento daquilo por mais de 30 segundos.
A turista percebeu que eu já não parecia interessada em
conversar com ela e se afastou, ao passo que Nick, se aproximou.
Depois de uma manobra com seus patins, ela deu uma volta e
parou na minha frente. Apoiou-se sobre o parapeito de proteção e
sorriu.
— Você fica linda vestida para o inverno de Nova Iorque. —
Depois de falar isso, me roubou um selinho, que conseguiu me
arrancar um sorriso com a surpresa.
— E eu não sabia que além de piloto de Motocross, você
também era uma patinadora tão boa.
Trocamos alguns deliciosos beijos gelados nos quais eu
sabia que transmitia mais minha ansiedade do que qualquer outra
coisa. Nick parecia fazer de tudo para que eu conseguisse me
distrair um pouco daquele encontro, mas pareceu se resignar ao me
ver tão aflita.
— Eles estão atrasados?
— Não estão. — Respondi. — Mas, confesso que estou
muito nervosa.
Meu pai havia pedido que Nick e eu nos hospedássemos na
casa dele, mas eu recusei. Sarah havia feito a mesma oferta, mas o
desconforto seria ainda maior. Contudo, eu havia aceitado passar o
Natal em Nova Iorque e, por fim, selar as pazes com meu pai.
Era difícil perdoá-lo por sua mentira, mas eu sabia que não
devia tomar como meus, problemas entre ele e minha mãe. Cada
um tinha queixas válidas um do outro e a única coisa que eu podia
reclamar ao meu pai, era não ter me contado que eu tinha uma irmã.
Eles logo apareceram entre a multidão, Nick e eu estávamos
no ponto em que tínhamos combinado estar e, simpático, meu pai
logo abriu os braços e um grande sorriso quando me viu.
— Que saudade da minha princesinha. — Ele falou enquanto
me abraçava.
— Também senti saudades, papai.
— Essa é a Sarah. — Ele apontou para a bela mulher ao lado
dele.
Ela era muito parecida com meu pai. Como eu, tinha cabelos
castanhos encaracolados e olhos cor de mel que se emocionaram
ao me ver. Nos abraçamos fraternalmente, apesar de ainda resistir
um pouco de constrangimento.
— É muito bom conhecer você, Alyssa.
Nick, que estava ajeitando os sapatos para sair da pista, veio
se aproximando lentamente. Tinha um jeito tão acanhado que, quem
não a conhecesse, poderia jurar que ela era tímida.
— Essa que é a sua namorada motoqueira? — Questionou
meu pai abrindo os braços para ela também.
— Sim. Eu sou a Nick. Muito prazer, senhor George.
— Senhor não, pelo amor de Deus. — Falou enquanto a
abraçava. — Eu acho que ainda não sou tão velho assim.
Sarah também apertou a mão de Nick e logo nós fomos para
um restaurante. Papai tinha feito uma reserva e, com isso, não
tivemos dificuldade em conseguir jantar ali mesmo, nas
proximidades do Rockefeller Center.
— Filha, muito obrigada por terem vindo passar o Natal com
a gente. — Meu pai segurou minha mão bastante empolgado.
— Eu queria muito te ver e... conhecer a Sarah. — Expliquei.
— Vocês também devem ir para San Diego. — Nick
expressou um convite que havíamos conversado sobre ser feito. —
Sei que vão gostar do calor da Califórnia.
— Vamos marcar uma data para uma visita sim. — Sarah
sinalizou. — Mas, por que vocês não ficam mais tempo?
— Não dá. — Eu falei temerosa. — Tenho que estar em San
Diego antes do Ano Novo. Tenho um caso muito importante logo no
início do ano e preciso de tempo para me preparar.
— O caso de Janet Weinberg e Andrew Molloy? — Meu pai
recordou.
Eu havia conversado um pouco com ele sobre o caso para
pedir alguns aconselhamentos. Meu pai era o melhor advogado de
divórcios e sucessões que eu conhecia. Apesar de sempre ter
ouvido inúmeras críticas ao seu modo de trabalhar por parte da
minha mãe toda a vida, era ele, e não ela, quem havia me inspirado
a querer ser advogada.
— Esse mesmo. — Suspirei. — Às vezes eu acho que era
melhor eu deixar o caso. Não colocar o futuro de Janet em risco.
— Alyssa... — Meu pai segurou firme a minha mão. — Eu sei
que sua mãe te faz duvidar disso com toda sua megalomania e
síndrome de Deus, mas escute uma coisa. Você é uma excelente
advogada e eu não tenho dúvidas de que a senhora Weinberg não
poderia estar em melhores mãos.
— Seu pai tem razão, meu amor. — Nick completou. — Ela já
falou muitas vezes em largar o caso, mas... isso não seria suficiente
para defender Janet Weinberg.
— Eu sei que sua mãe quer que você volte a trabalhar no
Wale Associados ou em outro grande escritório, Aly. — Meu pai
adivinhou a chantagem que eu não tinha revelado por inteiro. —
Mas, sua mãe só entende uma linguagem – a dos juízes ditando
sentenças.
— Ela vai... advogar contra você? — Assombrou-se Sarah.
— Vai. — Confirmei. — Ela quer medir força comigo através
desse caso. Só que, se eu perder, minha cliente pode ficar em uma
situação muito ruim.
— Isso não vai acontecer, filha. Na pior das hipóteses, você
vai conseguir um acordo com um mínimo de dignidade para Janet
Weinberg. Nunca deixe de confiar em você.
Nick sorriu fazendo coro ao meu pai. O jantar seguiu em um
clima agradável que eu estava até desacostumada de vivenciar em
família. E, quando se tratava da minha família, Nick também. Ela
nos observava de um modo que explicitava sua felicidade por ver
aquela harmonia.
Minha relação com meu pai não era perfeita. Minha irmã e eu
ainda precisávamos construir uma relação, era verdade. Mas, nada
se comparava ao que era e o que estava se tornando, minha
relação com a minha mãe.
Tanto Nick quanto meu pai tinham razão. Eu precisava deter
Erin Burke em sua sanha de controlar e manipular minha vida.
Precisava fazer isso antes que fosse tarde demais.
San Diego – Califórnia
22 de janeiro – Segunda-feira
Hall of Justice da Califórnia

Aquele estava previsto para ser o último dia do julgamento. O


dia das considerações finais e da definição da sentença e eu sabia
que ainda não podia relaxar. Que o lado contrário ainda poderia nos
surpreender com qualquer armadilha.
Eu havia abandonado os papéis do caso há pouco tempo e
estava na janela, observando a bela San Diego do 12º andar,
quando minha cliente se aproximou. A sala reservada à parte
reclamante era confortável, mas aquela situação fazia com que
estar ali nos levasse ao limite do estresse.
— Alyssa, é normal demorar tanto? — Janet Weinberg me
questionou esfregando as mãos.
As duas advogadas júnior que eu havia contratado para me
dar assistência naquele caso seguiam trabalhando intensamente no
computador e consultando os autos do processo.
Tínhamos o compromisso de não deixar uma única ponta
solta para garantir que Janet conseguisse a posse da casa e uma
boa soma em dinheiro à que ela tinha direito depois do divórcio.
Por tudo o que ela havia contribuído durante aquele tempo de
casamento e até mesmo como uma forma de indenização por tantas
traições e humilhações, algumas até mesmo públicas.
Tudo parecia ir bem, mas apesar de aquele não ser o
primeiro caso que eu conduzia desde que saí do Wale Associados,
eu sentia um frio na barriga que estava mais para um congelar de
ossos.
Porque além de tudo o que caracterizava um processo,
também tinha o obsceno envolvimento da minha mãe.
— Na verdade, Janet, casos como o seu sequer costumam
chegar aos tribunais. Normalmente são solucionados antes, com a
proposta de um acordo pela parte reclamada.
— Eu sei. Você já me explicou. E eu sei que Andrew ainda
pode tentar destruir minha imagem de todas as maneiras. E também
que desde o primeiro dia do julgamento, nós já enfrentamos todos
os piores cenários, com calúnias, mentiras e difamações que você
conseguiu desmentir a todas.
— Honestamente... Eu não duvido de que essa demora se
deva a uma pressão oriunda de um grande jogo de poder. Mas, a
presença da imprensa deve inibir o juiz de “pagar qualquer favor” ao
seu ex-marido às suas custas.
— Até porque, o que eu estou pedindo é mínimo perto de
tudo o que ele tem. — Reverberou com raiva.
— Inclusive eu acho que devia pedir muito mais. Mas
pedimos o justo no que diz respeito a um caso comum de divórcio,
por mais que você não estivesse de acordo. — Reforcei. — Janet,
eu quero te perguntar uma coisa.
— Estou te ouvindo.
— Você não acha que estaria mais bem assessorada por um
advogado do escritório, Wale Associados, onde você me conheceu?
— Juntei os olhos.
Eu poderia dizer que aquela pergunta não era fruto da minha
insegurança. Mas era. Minha mãe havia deixado em frangalhos
minha confiança em mim mesma e, por vezes, eu precisava de
muito reforço positivo para voltar a acreditar na minha capacidade.
E olha que, naquele julgamento e em outros casos, minha
performance não vinha deixando nada a desejar. Eu sabia que logo
meu escritório cresceria e seguindo a princípios nos quais eu
verdadeiramente acreditava.
— Eu já te disse isso um milhão de vezes, Alyssa. — Ela
pareceu relaxar e emitiu um sorriso de tranquilidade. — Nenhum
daqueles corruptos que sempre se prestaram para as sujeiras de
Andrew e dos seus amigos servia para mim. Eu nunca me esqueci
de quando você abandonou um caso dele depois de descobrir suas
falcatruas.
Sorri. Suas palavras, serviam. Ao menos momentaneamente.
Foi anunciado que a sessão atrasaria um pouco mais e eu
decidi ir ao banheiro retocar minha maquiagem para aparecer
confiante na frente do juiz. Desde o início do meu relacionamento
com Nick, isso vinha lentamente melhorando.
É claro que minha terapeuta atiraria em mim se não fosse
mencionada, mas a verdade é que não é fácil se sentir forte quando
quem deveria te incentivar, te joga para baixo. E, no início do
corredor que dava para o banheiro, diante do bebedouro, foi a ela
que eu encontrei – Erin Burke, minha mãe.
— Você não quer repensar sua intransigência, Alyssa? Eu
ainda posso convencer os advogados de Andrew Molloy a
melhorarem a situação da sua cliente. — Ela falou altiva, confiante.
Uma confiança que vinha muito mais do ego dela do que da
realidade de como o caso foi conduzido.
— Sabe o que eu não entendo, mamãe? — Indaguei vendo o
rosto dela se flexionar para uma expressão intrigada. — Não foi
você quem me ensinou que excesso de confiança na vitória no
caso, sem embasamento prático, é uma burrice?
— Você realmente acha que vai vencer esse caso? —
Indagou.
— Eu não tenho essa certeza. Mas, o que sim eu posso
praticamente garantir é que o juiz não vai deixar minha cliente sem
nada. Porque isso não seria Justiça.
— Você sabe que a Justiça é relativa.
— Pode ser. — Confirmei movendo a cabeça de um lado ao
outro por duas vezes. — Mas com todas as provas que foram
apresentadas nesse caso, com todos os autos juntados e com
minha atuação nas sessões também, mamãe, se o juiz der ganho
de causa a Andrew Molloy, ele sabe que há grandes chances de
que o julgamento seja anulado.
— Intransigente... — Me criticou mais uma vez abertamente.
— Você sabe que eu estou certa. Sabe tanto que mesmo
aqui, a alguns instantes do fim do julgamento, ainda insiste para que
eu aceite um acordo que já não faz sentido.
— Isso é o que nós veremos. Você ainda vai me procurar
para dizer que se arrepende dessa decisão insana de se demitir do
Wale Associados! — Retomou sua versão monotemática.
— Não vou. — Neguei. — Não vou por que... sabe, mamãe?
— Enfatizei ironicamente. — Mesmo com a iminência de perder um
caso ou outro, eu nunca fui tão feliz do que agora defendendo ao
que eu realmente acredito e não à hipocrisia de uma elite suja.
Segui meu caminho para o banheiro com o coração
acelerado. Ao dar as costas para ela, eu sorri vitoriosa. Eu havia
conseguido. Era a primeira vez que eu falava com minha mãe sem
fraquejar. E eu sabia que não seria a última.
Eu nem tive tempo para entrar em uma das portas do
banheiro do Fórum. Uma mão ágil e impetuosa me puxou para
dentro e eu só consegui dar um gritinho que foi calado com um
inesperado e faminto beijo.
Nick me imprensou contra a porta do banheiro e destruiu o
que ainda pudesse restar da minha maquiagem. Seu beijo selvagem
e proibido fazia com que ele tivesse um irresistível sabor agridoce.
Ainda mais depois daquele embate com minha mãe.
— Por que você demorou tanto? — Indagou?
— Como assim? — Arregalei os olhos ofegante.
— Eu estava inquieta com a demora para começar esse
julgamento, quando te vi passar no corredor do outro lado. Imaginei
que você vinha para o banheiro e decidi te surpreender. Para te
desejar boa sorte.
— Como se você já não tivesse feito isso... — Censurei-a,
mas não falando sério.
— Eu fiz. Mas, não à nossa maneira. Lembra? Dos nossos
encontros às escondidas no Wale Associados? — Indagou com
aquele olhar travesso ao que eu raramente conseguia resistir.
— Lembro. — Voltei a respirar bem fundo. — Lembro de
como você me fez cometer as maiores loucuras que eu jamais
imaginei na minha vida.
— Fala a verdade, era bom, não era? — Ela perguntou com
um sorriso de quem espera uma confirmação.
— Você sabe que sim. — Me desarmei. — Mas, eu tenho que
ir. Minha maquiagem está detonada e o julgamento deve começar a
qualquer instante.
— Mas, me fala. Por que você demorou?
— Dei de cara com a minha mãe no bebedouro, acredita? Ela
insiste naquele acordo obsceno.
— Gente, aquela bruxa não vai te deixar em paz? — Ela
revirou os olhos de um jeito que quase me arrancou uma risada, se
eu não tivesse tão tensa.
— Ela vai. — Respondi tranquila. — Ainda mais depois de
hoje.
— Então você não arregou para ela, de novo, não? — Seus
olhos brilhavam de orgulho.
— Não. Falei que hoje ela tem muito mais chance de perder
do que eu e que eu estou muito mais feliz agora do que quando
trabalhava no Wale Associados.
— Isso não deixa de ser verdade. Mas, confessa que teve um
lado muito bom em trabalhar no escritório do meu pai. — Insistiu.
— Sim. — Sorri. — A filha proibida do meu chefe foi um lado
mais do que bom, foi um lado excelente. — Brinquei.
Apesar de saber que eu devia me apressar, voltamos a nos
beijar. Depois daquela conversa com a minha mãe, era como se
uma nuvem se retirasse sobre nós. E é claro que ela podia voltar a
nos ameaçar com seu inquestionável talento para provocar
tempestades, mas quando se trata de alguém como a minha mãe, o
que mais importa é saber se defender.
E essa lição, eu estava aprendendo.

— E é essa mulher? Essa mulher que fez tudo para sabotar o


crescimento do meu cliente. Essa mulher que arrastou a honra de
Andrew Molloy na lama. É essa mulher quem reclama parte do
patrimônio que com tanto sacrifício, e sozinho, meu cliente
construiu?
O advogado do ex-marido de Janet finalizava seu discurso
contra minha cliente cheio de convicção em acusações às que ele
não havia conseguido provar durante o julgamento.
— Senhores do júri... — Ele prosseguiu parando diante dos
jurados. — Não permita que essa injustiça seja feita. Façam justiça
para Andrew. Janet Weinberg não trabalhou durante esses quinze
anos e ainda dificultou a vida de Andrew. Ela não merece um
centavo do dinheiro desse homem.
— Advogada da parte reclamante. — O juiz se dirigiu a mim.
— É a sua vez.
Caminhei pelo plenário e parei no centro dele. Na plateia
estavam duas mulheres que tiveram grande impacto na minha vida.
Erin Burke e Nicole Wale. Ao meu redor, inúmeros homens que, por
mais que não admitissem, temiam minha competência e o prestígio
que eu vinha construindo através dela.
Senti um incontestável orgulho de mim.
— Meritíssimo, senhores do júri, hoje estamos realizando um
julgamento que não era nem para estar acontecendo. Minha cliente,
a Senhora Janet Weinberg que fez questão de recuperar seu
sobrenome de solteira, saiu desse casamento ultrajada.
Todos direcionaram seu olhar para ela e, em seguida, para
Andrew.
— Mentiras, traições, humilhações, escândalos. Essas são as
palavras que Janet Weinberg utiliza ao relatar como foi sua vida ao
lado de Andrew Molloy. E, tudo isso, tendo que comparecer a
eventos, sorrir e dissimular uma verdade que ele não queria expor.
O homem se remexia na cadeira. Eu podia ver que ele estava
possesso. Seu advogado já devia tê-lo advertido que ele teria muito
poucas chances de vencer. Ainda assim, eu sei que ele conservava
uma pequena esperança.
— Esse relacionamento chegou ao fim como tantos
relacionamentos chegam ao fim. Assim como uma sociedade, um
emprego, — encarei minha mãe nesse momento — um estágio da
vida. Seria justo alguém sair de um trabalho tão ingrato como esse
casamento que exigia o cumprimento de inúmeras obrigações, a
presença em inúmeros eventos sem ter nem sequer uma casa para
morar?
— Isso é um absurdo. — Uma vez mais ele me interrompeu
durante o julgamento.
— Advogado, contenha o seu cliente. — O juiz o advertiu.
— Sim, senhor juiz.
— Janet nunca trabalhou, é verdade. Mas, não porque ela
não quisesse. Ela não podia, isso era uma proibição do Senhor
Molloy e isso foi comprovado nesse tribunal. A Senhora Weinberg
só pede o fim desse contrato com um mínimo de dignidade. Não
neguem isso a ela. — Encerrei.
A sessão foi interrompida para deliberação, mas minha
adrenalina me dizia que eu venceria. Assim como Nick quando
corria pelas pistas de Motocross, o tribunal era minha serotonina, e
a confiança que eu sentia em mim naquele ambiente era
equivalente a uma manobra extremamente radical.
A plateia aplaudiu quando o juiz anunciou a vitória da minha
cliente em tudo o que era reclamado. Eu recebi vários apertos de
mãos. 8 milhões de dólares era o valor que Andrew Molloy teria que
pagar à Janet após o divórcio. Isso claro, sem levar em conta a casa
dos dois que valia pelo menos 3 milhões.
Chelsea e Nick organizaram uma festa em minha casa para
celebrar minha vitória. Eu tive uma grande surpresa quando dei de
cara com Hailey e Chelsea aos beijos na minha cozinha. E eu não
podia negar que aquilo me deixava feliz por inúmeros motivos.
Depois da festa, a casa foi se esvaziando e eu encerrei a
chamada de vídeo na qual meu pai e Sarah me felicitavam, louca
para ir para a cama, comemorar com a minha Nick. Observei a sala
da minha casa completamente desarranjada e emiti um suspiro de
felicidade antes de provocar um terremoto com Nick naquele quarto.
Aquele caso seria uma virada de chave na minha carreira. A
partir daquele momento, eu era conhecida não como a advogada
Alyssa Burke, filha de Erin Burke, mas como Alyssa Burke, a
advogada que vencia casos milionários.
Se eu tinha algum problema com isso? Acredite, nenhum!
Muito pelo contrário.
E Nick também tinha deixado de ser a filha proibida do meu
chefe. Afinal, ela era uma campeã reconhecida nacional e
internacionalmente. Ela era tudo isso. Mas, o mais importante é que
Nick era... minha!
Epílogo
Agora eu posso ser seu anjo
Seus desejos sei de cor
Pro bem e pro mal
Você me tem
Não vai se sentir só
Meu amor!
Se Quiser – Tânia Mara

NICK
San Diego – Califórnia
13 de fevereiro – Terça-feira
Hall of Justice da Califórnia

Acho que Alyssa já tinha entendido que a paciência não era


minha qualidade mais forte. Ainda assim, eu estava parada há
quase meia hora no estacionamento do tribunal, esperando que ela
saísse.
Eu poderia pensar em várias coisas que ela pudesse estar
fazendo lá dentro. Menos o que realmente estava acontecendo. E
que, obviamente, eu iria até lá descobrir.
Impaciente, atravessei três ou quatro corredores do fórum
que, depois daqueles meses de namoro eu já conhecia muito bem,
quando me surpreendi ao avistar um par de advogados
conversando.
Eu não costumava ser uma pessoa curiosa. Mas, quando
algo me intrigava e capturava minha atenção, eu não me fazia de
rogada em elucidar o enigma. Atraída pelo diálogo do par
improvável, fui me aproximando lentamente.
O fato de que Alyssa não tenha me avisado que aquela
conversa estava ocorrendo, me intrigava ainda mais.
— Quando é que você vai me visitar? Como minha nora, eu
digo. — Meu pai falava calmamente com Alyssa.
Até estranhei o tom tranquilo. Alyssa tinha evitado esse tipo
de contato pelo modo hostil como o vínculo empregatício havia sido
rompido. Mas, até mesmo pelo modo como meu pai e eu vínhamos
nos aproximando nos últimos tempos, eu tinha feito questão de
contar a ele que estávamos juntas. E que era um relacionamento
sério.
— É que... — Alyssa tentou responder sem graça, mas não
conseguiu concluir.
— Eu sei que pode ficar um clima chato, depois de tudo. Mas,
somos advogados. Somos adultos. Eu quero muito a felicidade da
minha filha e, posso garantir, que eu não poderia ter pensado em
uma nora mais perfeita.
É claro. Desde que eu havia contado a ele sobre esse
namoro, ele quase havia soltado fogos de artifícios por eu estar em
um relacionamento sério com uma advogada. Acho que ele pensava
que, assim, eu poderia finalmente me voltar para o Direito.
Era divertido como ele gostava de se iludir.
— Veja bem, senhor Wale. É até bom que o senhor tenha me
procurado para essa conversa, pois eu quero esclarecer uma coisa.
Meu relacionamento com a Nick não tem a ver com o trabalho no
Wale Associados.
— Eu sei, Senhorita Burke. Sou testemunha da firmeza dos
seus valores éticos. Tanto quanto de sua competência como
advogada.
— É mesmo? — Ela questionou com dúvidas.
— É sim. — Confirmou sem se incomodar com as
indagações duvidosas de Alyssa. — Até porque, eu tenho
acompanhado seu desempenho, desde que você saiu do Wale
Associados. E... Alyssa, o que você pensaria de uma proposta para
assumir o Departamentos de Divórcios e Sucessões?
Alyssa deu dois passos para trás e o olhou incrédula. E eu,
eu quase me revelei naquele momento, embora sentisse que esse
era um momento dela.
— Senhor Wale, tem só três meses que eu me demiti logo
após não ter sido escolhida para esse cargo. E, antes disso, eu
havia trabalhado na sua empresa por 5 anos. Só agora, que eu não
estou atuando pelo seu escritório, é que o senhor viu meu valor?
— Você tem razão em se sentir chateada. Essa proposta, não
tem a ver com o fato de que ainda espero uma visita sua como
minha nora. Mas, quanto à liderança do departamento, pense um
pouco.
— Eu não quero iludir ao senhor. Eu não vou voltar ao Wale
Associados e não pelo escritório, mas por mim. Eu visualizo meu
futuro profissional de outra maneira.
Entendi que, nesse momento, era a deixa perfeita para que
eu entrasse naquele diálogo.
— Amor, você demorou, vim te pegar aqui dentro. Oi, papai!
— Cumprimentei.
Ele me puxou para junto dele e me deu um beijo no rosto.
— Eu estava justamente perguntando à Alyssa quando vocês
vão me visitar.
— Vamos marcar um jantar num restaurante, sim? — Pedi. —
Você sabe que visitar e ser visitada não é minha atividade preferida.
— Sim, na sua lista de preferências só perde para o Direito.
— Ele recordou.
— Você me conhece tão bem. — O abracei me despedindo.
Alyssa se despediu de maneira mais formal, mas isso não
durou muito. Lá fora, soltou os cabelos presos num coque austero,
pegou o capacete que eu levava sempre para ela, e se acomodou
na minha garupa.
— Quer falar sobre essa conversa com meu pai? —
Perguntei antes de acelerar.
— De jeito nenhum. Quero que você me leve para um ponto
bem alto de San Diego para que a gente se despeça dessa cidade
antes da nossa viagem.
Atendi prontamente. As ruas de San Diego assistiram nosso
passeio de moto por aquelas vias tão convidativas. O vento no rosto
significava liberdade, mas ao lado de Alyssa, significava também
plenitude.
De moto, exploramos as colinas de San Diego até chegar lá
em cima, no ponto mais alto da cidade. Era fim do dia e a vista era
de tirar o fôlego. De um lado a cidade, do outro o mar, ao fundo os
dois se fundiam.
Mas, nada se comparava ao fato de que, juntas poderíamos
observar o pôr do sol. Se lá de baixo, o pôr do sol em San Diego já
impressionava, lá de cima, nos deixava sem palavras.
O melhor de tudo mesmo, era o céu da Califórnia que possui
tons diferentes e impressionantes e em degradê. Além disso, o rosto
de Alyssa ficava ainda mais lindo abraçado por aquele calorzinho
gostoso, enquanto o vento cantava fazendo seus cabelos dançarem.
Ela se afastou do meu abraço e me beijou demoradamente,
acendendo cada zona do meu corpo que adormecia longe dela,
para se agitar numa alegria inquestionável, quando estávamos
juntas. O cenário pedia uma conexão que ia além do sexo. Rara,
única e inquestionável.
— Eu te amo, Alyssa Burke. — Me declarei sem conseguir
resistir à toda docilidade que ela me despertava.
— Eu te amo muito, Nicole Wale. — Ela se declarou. — Aqui
nessa colina, perto do céu da Califórnia, eu me sinto a mulher mais
sortuda do mundo por você me amar.
— Pronta para cruzar o país mais uma vez? — Indaguei
emocionada.
— Depende... — Ela falou com um sorriso. — Aposto que
você não aguenta me acompanhar nas análises de processos cíveis
e criminais por... quanto tempo seja necessário para se preparar
para essa viagem.
Duas covinhas que exalavam ternura apareceram no seu
rosto naquele momento.
— Tem certeza? Tem certeza de que quer fazer uma aposta
comigo?
— É claro? Por que eu não ia querer? — Tinha aquela
firmeza que a deixava extremamente sexy, mas que eu sabia que
estava mais para um blefe do que para qualquer outra coisa.
— Porque você, Alyssa Burke, é muito boa em ganhar todos
os processos que assume no tribunal. Mas, quanto a apostar
comigo... Você sabe que sempre perde as apostas para mim. —
Tripudiei vendo o lado competitivo dela aparecer em sua expressão.
— Sempre, não! — Exclamou convicta. — Eu já ganhei uma
aposta de você... Esqueceu do Día de los Muertos em Mexicali?
Sua expressão mudou para a satisfação de um argumento
duplamente válido. Primeiro porque ela, de fato, havia me vencido
naquela aposta. E segundo porque tinha um sentido completamente
sexual.
— Eu já disse. Foi um prazer perder aquela aposta para
você. — Dei um selinho de leve nela. — Mas, te acompanhar
enquanto nos preparamos para a viagem, pode apostar que sim, eu
consigo.
— Então se prepare para o fato de que, com você, eu vou
para qualquer lugar.
— Até para o Wale Associados? — Brinquei.
— Idiota! — Ela sorriu ao me descobrir. — Mas, sim. — Ela
afirmou com toda segurança. — Por você eu encararia até mesmo
voltar ao Wale Associados, Nick. Mas, espero realmente que isso
não seja necessário.
— É claro que não, amor, eu só queria te zoar. — Roubei um
selinho da boca dela. — E saber se você realmente seria capaz de
tudo por mim.
Ela voltou a me beijar com aquele jeito único de confirmar as
coisas sem precisar de palavras. Por mais que aquilo não fosse
necessário, era bom saber que ela seria capaz de encarar até
mesmo um outro pacto com o diabo por mim.
Porque a gente nunca sabe do futuro.
O presente era claro como água. Alyssa nas colinas de San
Diego, me beijando apaixonadamente de um modo que eu,
certamente, não resistiria até convencê-la a transar comigo ali
mesmo. Naquele momento, não existia futuro nenhum para nós
duas.
Só ela, vestida com roupas sociais depois de uma audiência
no fórum, vivendo um momento para lá de romântico com uma
motoqueira aventureira e inconsequente. Ela podia até dizer que era
sortuda pelo fato de que eu a amava, mas a sortuda mesmo era eu.
Alyssa Burke, uma advogada cheia de princípios e
extremamente bem-sucedida ia fazer amor comigo no pico da
Califórnia. Eu não conseguiria pensar em nada que fosse capaz de
superar a sorte que eu tinha naquele momento.

Fim
Sobre a Autora
Lorena Rodrigues é historiadora e professora de História,
formada pela Universidade Federal de Goiás. Nasceu e ainda mora
em Goiânia. A escrita entrou em sua vida quase juntamente com a
alfabetização e nunca mais saiu.
As viagens preferidas são as dos livros, pois elas levam a
visitar qualquer história ou lugar sem tirar um único pé do chão.
Esse é seu sétimo romance sáfico publicado na Amazon.
Casada há sete anos com Amanda Gomes, pretende que a
conexão entre suas próprias experiências e as histórias de amor
entre mulheres tornem o processo de produção do gênero
apaixonado e visceral.
Outras obras da autora
Furacão Alice – Conto lésbico
Sinopse: Quando uma pessoa tão certinha como Lívia se
apaixona por sua melhor amiga, não há metáfora melhor para explicar
os efeitos desse amor em seu mundo do que um furacão.
E não é só sua família evangélica, liderada por sua mãe
extremamente controladora, que se verá revirada após a chegada de
Alice em suas vidas, mas todas as certezas e convicções de Lívia.
Entretanto, nada será mais efetivamente posto à prova do que a
força de seu caráter e sua capacidade de escolher entre viver ou não
esse amor para se tornar, de fato, senhora da própria vida.
Livremente inspirado em fatos autobiográficos.
Marcadas pelo Pecado – Série Marcadas | Livro I
Sinopse: E se a lady não se encantasse pelo marquês e sim por
uma bela plebeia de cabelos loiros e olhos azuis que vai desordenar sua
vida?
Inglaterra, 1872. No auge da Era Vitoriana, vários países da
Europa mantém casas de trabalho não remunerado para jovens órfãs ou
abandonadas por suas famílias - os campos das madalenas. Nesses
lugares, muitas mulheres eram privadas da liberdade em nome da
redenção pela dedicação ao trabalho forçado e à religião, e viviam sob a
vigilância constante de freiras anglicanas. No campo Candlestick, no
coração de Londres, Juliet Dawson, filha bastarda de um duque, conhece
Katherine Sallow, uma intrépida e corajosa plebeia que vai chacoalhar
sua vida por todos os lados. Caprichosa e obstinada, Katherine não tem
medo de afrontar as religiosas encarregadas de vigiá-las e, até mesmo,
puni-las duramente.
Desafiando às normas dos homens, de Deus e até as rígidas
regras de seus próprios corações, um sentimento floresce de maneira
inesperada, compelindo-as a enfrentarem preconceitos e leis que vão
muito além da Justiça. Num desafio de paixão e coragem, será seu amor
forte o suficiente para não sucumbir às muralhas da intolerância ao
desconhecido?
Nada pode aprisionar o coração.
Marcadas por um Segredo – Série Marcadas | Livro II
Inglaterra, 1875. É fim do outono perto do Oceano, entre os
rios Lee e o Tâmisa em Londres, quando uma festa de casamento
coloca frente a frente duas mulheres completamente diferentes.
Hannah é romântica, passiva e obediente. Florence é uma mulher à
frente de seu tempo, cosmopolita e visionária; não se encaixa no
mundo como ele é.
Apesar do desprezo que sente pelo caráter impassível de
Hannah logo que a conhece, Florence decide livrá-la de uma trama
sórdida de seu irmão, o Conde William. Contudo, seu ato de
heroísmo não é bem recebido por Hannah e o desdém logo se
transforma em uma forte hostilidade.
Entretanto, todos sabem que o ódio e o amor caminham lado
a lado e, a cada implicância, mais perto elas ficam de tomarem
consciência que estão ebulindo de paixão. Suas personalidades
opostas são apenas a superfície de dois corações que, juntos, vão
descobrir não só surpreendentes segredos, mas a intensa
profundidade de um grande amor.
Fortaleza de Cristal: Box Completo
Sinopse: Vitória e Cecília são mulheres cheias de personalidade que
cresceram em fazendas vizinhas. Entre muitas brigas e implicâncias,
demoraram para se renderem a seus corações. Um grande amor foi a
base para a construção de uma família cheia de companheirismo e
confiança.
Depois de muitos anos de casamento, Paula, a ex-namorada de
Vitória é uma presença capaz de abalar as bases do fabuloso castelo de
cristal que o casal construiu. Inconformada com a felicidade delas, Paula
pretende, através de misteriosas habilidades, fazer com que as sombras
aprisionem um amor que parecia inabalável.
Na parte II do livro, a lenda do desaparecimento de uma grande
cidade maia por causa do despeito da Rainha Vermelha paira sobre
Chemax. Paula conseguiu recriar sua magia fazendo com que Cecília,
Vitória e todos a quem elas amam acreditem numa versão distorcida da
realidade. Assim, a fotógrafa Cecília García chega à cidade, onde
conhece a empresária Vitória Torres. A tensão sexual é imediata, mas
estranhos acontecimentos provocam uma inexplicável antipatia mútua
entre as duas.
Entretanto, a sensação de déjà-vu paira sobre Cecília e Vitória,
confundindo seus corações e ameaçando destruir a miragem que Paula
magicamente delineou. A vilã também precisa lidar com seus próprios
fantasmas ao se ver dividida entre as trevas da vingança e a magia de se
reencontrar com seu primeiro amor. Um livro que desvenda mistérios
milenares e segredos perigosos como plano de fundo de um grande amor
que se recusa a morrer.
Natal no décimo andar: Conto lésbico
Sinopse: Depois de um término há pessoas que rapidamente se
abrem para a vida, para os recomeços, para o acaso. Zoe,
definitivamente, não é esse tipo de pessoa. Meses depois do fim do
namoro, ela está longe de superar a dançarina Marina.
Apostando tudo em uma véspera de Natal super-romântica com
a ex, ela vai ter que encarar um difícil choque de realidade. Mas, antes
que a data festiva chegue ao fim, o Papai Noel pode surpreender Zoe
com Luana, uma gata bronzeada e cheia de amor pra dar.
Será que ela vai aceitar o presente com suas marquinhas de
biquini super sexys ou vai seguir com seu plano bem mais chato e não
tão quente assim?
Um conto natalino lésbico, super fofo que vai te fazer suspirar
além de aumentar bastante a temperatura do Natal.
Obedecendo à estagiária
Sinopse: Temida e respeitada por seus funcionários, a engenheira
Elisa Sartori está acostumada a ser servida e obedecida sem hesitação.
Mas, quando se trata de sexo, ela gosta mesmo é de se submeter a uma
dominadora tão eficiente que a faça esquecer que, em horário comercial,
ela é a Doutora Elisa.
Sob uma máscara de Carnaval, entre as sombras da noite, a
estagiária Bruna Ribeiro dá de cara com sua chefe em um lugar
improvável. Mordida porque a Doutora Elisa desdenhou do seu trabalho
horas antes, Bruna decide dar uma lição nela. Afinal, no sexo, ela tem
muito mais habilidade em mandar do que em obedecer.
Será que ela vai conseguir comandar esse jogo, sem colocar em
risco seu emprego e seu coração? E a Doutora Elisa? Como vai reagir
quando se der conta que a dominadora a quem ela está adorando
obedecer é também sua estagiária?

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