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DIRTY #1

CALLIE HART
Tradução: Line

Revisão Inicial: Aline

Revisão Final: Raziel

Leitura Final: Barratthiel

Formatação: Ariella

DIRTY #1
CALLIE HART
AVISO
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CALLIE HART
Rosto de um anjo.
Corpo de um deus.
E uma boca tão suja que ele poderia fazer o diabo corar...
O tempo de Fix Marcosa pode ser comprado com dinheiro, mas
ele não está vendendo sexo. Assassinos, estupradores, criminosos: se
você está do lado errado do código moral de Fix, está com problemas. O
tipo de problema que acaba matando você. Como assassino de aluguel,
Fix está familiarizado à violência. Ele é impiedoso. Implacável. Um
verdadeiro selvagem, até as raízes de sua própria alma. Você pode
implorar. Você pode suplicar. Você pode orar, mas não fará nenhum
bem. Quando o estrangeiro alto e escuro chega à sua porta, já é tarde
demais para se arrepender.
Sera Lafferty está acostumada a ter o coração partido. Com um
pai abusivo e uma irmã dependente, sua vida tem sido de sacrifício e
compromisso. Assim que ela põe os olhos em Felix 'Fix' Marcosa, ela
reconhece a escuridão nele e faz um voto: ela não se envolverá. Mas
presa dentro de um quarto de motel com o homem mais sexy que já
andou na terra? Jogue um pouco de tequila e a tempestade para acabar
com todas as tempestades, e Sera se encontrará adorando no altar de
Marcosa.
Ela sabe que cometeu um erro.
Ela sabe que precisa correr.
Mas quando ela testemunha o assassino trabalhando em primeira
mão, ela sabe que é tarde demais. Jogada na traseira de seu elegante
carro preto, Sera se vê presa e de mais de uma maneira. Fix é mortal.
Ele é exigente, é sujo e está determinado a reivindicá-la.

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CALLIE HART
UM
LIBERTY FILDS

SERA

─ Senhora, eu não dou a mínima para o que o seu GPS está dizendo
para você fazer. A estrada está fechada. Temos linhas de energia por todo
o maldito lugar e água até nossos pescoços. Agora vire-se e volte pelo
caminho que veio antes que eu reboque seu carro.
O homem vestindo o colete de alta visibilidade, inclinando-se pela
janela do meu carro alugado, parecia que estava prestes a estourar uma
veia. O nome dele era Oficial Grunstadt e ele comeu curry no jantar; Eu
sabia disso porque ele estava me atirando seu hálito picante enquanto eu
discutia com ele sobre o estado da estrada à frente nos últimos dez
minutos. A contração no olho esquerdo foi uma demonstração recente de
sua frustração. A chuva embaçava seus óculos e grandes gotas de água
escorriam por seu rosto quando ele, mais uma vez, apontou para a
direção em que eu acabei de vir. ─ Liberty Fields fica a apenas 50
quilômetros de distância. Existem dois hotéis lá e uma pousada, embora
eu ache que a pousada já esteja lotada, na última vez que eu soube. Você
pode descobrir o que quer fazer amanhã, depois que a tempestade
acabar.
─ Não posso voltar para Liberty Fields. Eu tenho que chegar a
Fairhope, Alabama, em dois dias, ou vou perder o casamento da minha
irmã.
─ Eu não sei o que te dizer, querida. Pegue um voo.
─ Todo voo de Rawlins e Laramie está cancelado até novo aviso. Eu
preciso continuar dirigindo, oficial. Você tem que entender, eu...

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─ Eu entendo, senhorita. Entendo perfeitamente bem. Você é uma
jovem da geração Y1 com um caso grave de 'sempre consigo o que quero'.
Você não está acostumada a receber uma resposta negativa e quer que
eu quebre as regras. Infelizmente, tenho uma filha de 21 anos e estou
acostumado a toda essa... ─ Ele estende a mão, gesticulando para o meu
rosto, ─… bobagem, ─ ele termina.
Idiota. Rude, imbecil cretino de cidade pequena. ─ Em primeiro
lugar, senhor, por favor, não gesticule na minha direção dessa forma,
como se eu fosse um pedaço de lixo que você encontrou ao lado da
estrada. Em segundo lugar, não sou da geração Y. Eu tenho 28 anos. Sou
uma empresária de sucesso. A razão pela qual eu sou bem-sucedida é
porque eu trabalhei duro, não porque eu fiz beicinho, amuado ou
convenci alguém a quebrar as regras para mim. Sei que a tempestade
está ruim, mas os ventos estão se acalmando e o Waze diz que a estrada
está aberta e limpa de um quilômetro adiante. Você não tem ideia do
estresse com o qual estou lidando ou das consequências que terei que
enfrentar se não chegar a esse casamento a tempo. Então me deixe passar
pelo maldito bloqueio.
O policial Grunstadt me deu um sorriso de boca fechada e apontou
através do meu carro, pela janela do passageiro, para o outro lado da
estrada, onde um cara com excesso de peso em uma capa de chuva
amarela de plástico estava comendo um Subway enorme. ─ Vê o Jo ali?
Jo recebe quatrocentos dólares do estado para rebocar carros. É por isso
que ele vem e fica aqui em noites como esta, venha o inferno ou a maré
alta. Se eu acenar, chamando Jo aqui, vai custar um valor extra de
duzentos e cinquenta além desses quatrocentos para tirar o carro do
estacionamento dele, e depois das 24 horas de espera terminarem. Então,
senhorita...?
─ Lafferty, ─ eu disse, suspirando profundamente.

1Também conhecida como geração do milênio, geração da internet, ou milenicos é um


conceito em Sociologia que se refere à corte dos nascidos após o inicio da década de
1980 e até 1995, segundo alguns autores ela pode se estender até os primeiros cinco
anos dos anos 2000, sendo sucedida pela geração Z.
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─ Então, senhorita Lafferty. Estar sentada aqui, discutindo comigo,
vale seiscentos e cinquenta dólares para você? Ou você prefere apenas
voltar, se secar, ter uma boa noite de sono e torcer para que as linhas de
energia caídas tenham sido resolvidas quando você acordar?
Deus, esse cara era um verdadeiro pé no saco. Eu forjei um sorriso,
cavando minhas unhas no volante do carro, implorando a mim mesma
para não dizer nada que me causasse problemas. Isso já tinha acontecido
antes. ─ Você está certo, oficial Grunstadt. Uma noite em um motel de
merda parece perfeito agora. Muito obrigado por sua ajuda.
A estrada de volta para Liberty Fields era estreita e sinuosa,
interligando-se antes de eu ver outro carro. O mundo inteiro parecia
deserto. Eu tentei convencer Grunstadt de que o vento estava diminuindo
um pouco, mas a verdade era que ele batia forte e balançava o carro como
um louco enquanto eu dirigia pela chuva forte; Eu tive que me concentrar
para evitar que o carro se afastasse da estrada e entrasse na linha escura
de árvores que ladeavam os dois lados da estrada de pista única.
─ Nunca deveria ter deixado Seattle, ─ eu murmurei para mim
mesma. ─ Deveria ter ficado em casa e assistido Shark Tank, pelo amor
de Deus. Wyoming é um saco.
Minha irmã e eu sempre quisemos viajar por todo o país. Sixsmith,
meu pai nos proibiu de fazê-lo, o que fazia sentido. Sixsmith não queria
que partíssemos, porque sabia muito bem que nunca mais voltaríamos.
Ele não teria ninguém para torturar e manipular. Ele não teria ninguém
para cozinhar suas refeições e limpar sua casa. Ele não teria ninguém
para bater quando chegasse em casa bêbado e entediado.
Então eu esperei. Esperei até Amy ter dezoito anos, ser uma adulta
legalmente, antes de arrumar nossas malas, roubar o Chevrolet Beretta
vermelho do Sixsmith e nos tirar de Montmorenci, Carolina do Sul, para
sempre. Trabalhamos em bares e como temporárias em escritórios,
juntando dinheiro suficiente para ingressar na faculdade comunitária.
Amy estudou idiomas e eu estudei administração de negócios. Uma vez
que concluímos nossos estudos, inacreditavelmente, Amy havia se
mudado para a Carolina do Sul com seu namorado, Ben, e eu me mudei

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para Seattle com sonhos de criar minha própria empresa de consultoria.
Não foi fácil. Houve muitos meses em que não consegui fazer nada para
pagar o aluguel, e muitos meses em que pensei em desistir de tudo, me
tornar garçonete e viver de pagamento em pagamento. Eu pensei muito
sobre isso, mas continuei me movendo. Minha persistência finalmente
valeu a pena seis anos atrás, quando eu consegui uma enorme conta
corporativa com um credor privado. Depois disso, tive mais clientes do
que conseguia lidar. Eu tive que contratar três novos membros para a
equipe apenas para cobrir a carga de trabalho.
Meu departamento de RH - ou seja, uma mulher maltratada pela
idade, nos seus quarenta e poucos anos, chamada Sandra - insistiu que
eu tirasse um tempo para ir ao casamento de Amy. Se eu pudesse
envolver minhas mãos no pescoço de Sandra agora, eu a estrangularia.
Levaria seis horas para voar até o Alabama. Talvez duas horas em um
carro além disso, para chegar a Fairhope. Mas agora, aqui estava eu,
depois de três dias na estrada, presa no meio da maior enchente que o
estado do Wyoming já testemunhara, em vez de ficar escondida,
confortável e quente em um hotel chique.
Droga.
Ao estacionar do lado de fora da Liberty Fields Guest House e da
Artisan Art Gallery, lamentava o fato de o lugar certamente não parecer
um hotel chique. Muito bem, meus pontos no Hilton Rewards pagariam
minha estadia aqui. A Guesthouse parecia abandonada, uma casa
abandonada, empoleirada no lado do barranco da estrada quando eu
entrei no estacionamento lotado. Apertei meus dentes, enquanto eu
passava por uma série de buracos gigantes, invisíveis na escuridão quase
perfeita, e jurei sob minha respiração. Eu não queria estar aqui. Eu não
queria lidar com nada disso. Mas não parecia importar o que eu queria.
O carro balançou de um lado para o outro, enquanto eu deslizava meus
braços na minha jaqueta grossa de inverno, me preparando para
enfrentar o clima. Pelo para-brisa, as árvores do outro lado do
estacionamento estavam inclinadas, seus galhos balançando como
braços estendidos, buscando ajuda. Deus, parecia horrível lá fora.

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Abrindo a porta do carro, levantei as pernas e meus pés
desapareceram até os tornozelos na água gelada e negra. — Poooo... ─
Eu me impedi de xingar. Esta noite simplesmente não tinha como
melhorar. Sério.
Havia tantos carros estacionados a esmo no estacionamento que
eu tive que andar uns trinta e cinco metros para chegar à entrada mal
iluminada da Guesthouse. A chuva parecia cair mais forte enquanto eu
corria em direção ao prédio, meus dentes rangendo juntos. Eu não tinha
ideia de que a chuva poderia realmente ser tão fria. Merda, eu precisava
entrar. Eu precisava entrar. A maçaneta manchada de ferrugem na porta
da frente do motel ameaçou cair na minha mão quando eu a puxei. Uma
explosão de calor me atingiu no rosto enquanto eu corria pela porta de
entrada, e os acordes de 'I Walk The Line' de Jonny Cash inundaram
meus ouvidos. O lado esquerdo da parede do saguão, estava equipado
com um estande - o mesmo tipo de estande encontrado em qualquer hotel
normal, onde empresas e atrações turísticas se anunciam -, mas os slots
desse estande estavam notavelmente vazios e deprimente. Liberty Fields
era um buraco negro no centro do estado de Wyoming, código postal:
nenhum lugar.
O saguão do motel cheirava a umidade e mofo. Uma poça do
tamanho do lago Michigan havia se acumulado em frente à recepção
frágil, era impossível evitar a vasta poça de água enquanto eu me dirigia
ao balcão para tocar a campainha. Não que isso importasse, é claro. Meus
pés já estavam encharcados, junto com o resto de mim. Eu bati no topo
da campainha para o serviço, e nada aconteceu. Sem som. Nada alegre,
convidativo, eu preciso de ajuda. Nada.
"Pelo amor de Deus." Olhei em volta, procurando pelo gerente
noturno, mas ninguém estava à vista. Debrucei-me sobre o balcão,
caçando, esperando e rezando para que um salvador aparecesse e me
dissesse que eles tinham um retiro secreto e exclusivo nos fundos que eu
não havia notado no caminho, mas tudo que encontrei foram pilhas de
jornais podres, tigela de cachorro de metal com comida incrustada na

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borda e uma armadilha de rato contra a parede. Muito encorajador
mesmo.
Do outro lado do saguão, vi um telefone público. Puxando um
punhado de moedas do bolso da calça jeans, aproveitei a oportunidade e
liguei para Amy.
─ Deus, Sera. São quase duas da manhã ─ ela gemeu quando
atendeu.
─ Eu sei, eu sinto muito. Eu só - porra - ainda estou presa no meio
do nada. Eu tenho mais 24 horas para dirigir e parece que amanhã será
uma aguaceira completa. Não sei se vou conseguir. ─ Na minha
experiência, era melhor arrancar o Band-Aid o mais rápido possível,
especialmente com Amy. Ela dificilmente era uma mulher sem sentido,
mas se você discutisse com ela, ela tendia a ficar um pouco histérica.
─ Como assim, você não sabe se vai conseguir? ─ Sua voz estava
um pouco grogue quando ela atendeu um segundo atrás, mas agora
estava aguda com acusação e preocupação.
─ Há uma tempestade enorme, Amy. As estradas estão todas
fechadas. Estou presa em Liberty Fields.
─ Liberty Fields? Onde diabos fica Liberty Fields?
─ Eu - deus, eu não sei. É uma merda, no entanto. Eu posso te
dizer isso.
Atrás de mim, a porta da pensão bateu e um gemido alto abafou
Johnny Cash por um segundo. Olhei por cima do ombro, esperando que
fosse o gerente noturno entrando no prédio, mas quando vi o cara que
atravessou a porta para entrar no local, imediatamente soube que ele não
trabalhava aqui.
Uma criatura como essa simplesmente não existia em um lugar
como esse. Alto. Maxilar quadrado, uma barba rala alinhada. Olhos
brilhantes e inteligentes - tão pálidos como um mercúrio - passaram por
mim quando o recém-chegado entrou no saguão. A mala preta em sua
mão parecia ser de designer. Definitivamente, não era algo que um
gerente noturno estaria carregando com ele. Ele parecia um personagem

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de Reservoir Dogs2. Nossos olhos se encontraram e não havia
absolutamente nada. Nenhum sorriso de saudação de um viajante
cansado e companheiro. Não há alívio em encontrar alguém esperando
no saguão. Absolutamente nenhuma centelha de emoção.
─ Sera. Você sabe o que vai acontecer com você, se você não estiver
aqui no sábado, certo? Vou renegá-la e nunca mais falar com você. ─ A
voz de Amy soou no telefone. Eu me virei, pressionando o receptor mais
forte contra a minha orelha.
─ Sim. Sim. Renegada. Silêncio eterno. Eu farei tudo ao meu
alcance para estar ai, eu prometo.
─ Não me prometa que vai tentar! Prometa-me que você estará aqui!
─ Okay! Eu prometo. Se eu tiver que me levantar em duas horas e
romper os cordões da estrada, me certificarei de estar ai. Como está o
Ben?
─ Eu não sei. Bêbado? ─ Amy disse pateticamente. ─ Quem tem
sua despedida de solteiro duas noites antes do casamento?
─ Hmm. Tenho certeza que ele está bem ─ respondi. Eu realmente
não estava prestando atenção, no entanto. O cara que acabou de entrar
na pousada estava em pé na recepção e estava prestes a tocar a
campainha.
─ Não funciona, ─ eu disse a ele.
Ele estava de costas para mim; ele não se virou.
─ Sera, podemos adiar a cerimônia para o final da tarde, mas é
isso. O clima não vai aguentar a noite. Temos que ter certeza de que
chegará às cinco horas.
─ Eu sei. ─ Apertei minhas sobrancelhas, tentando não gemer. ─
Tudo será perfeito. Por favor, não se estresse.
Eu reconheci o tom maníaco da voz da minha irmã. A veia em sua
têmpora estaria visivelmente pulsando agora. ─ Ah, tudo bem. Minha
dama de honra está me dizendo que ela pode não chegar ao meu
casamento, mas não devo me estressar. Vou começar a me encher

2Filme de crime/ficção policial lançado em 1993 dirigido por Quentin Tarantino e


ganhador de vários prêmios da área.
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daqueles Valiums do pai do Ben antes... ─ A linha estalou, e eu não
conseguia mais ouvir Amy. A estática inundou a linha.
─ Amy? Ei, Amy? ─ Nada. A estática ficou mais alta, rugindo,
abafando a chuva estrondosa que batia contra as janelas do saguão. Eu
pressionei minha testa contra o lado do telefone público, fechando meus
olhos lentamente. Perfeito. A linha caiu. Nenhuma surpresa, com o tempo
estando dessa forma. Devo ter visto quatro ou cinco postes telefônicos
caídos no caminho para Liberty Fields. Era um milagre que eu até
consegui fazer a ligação em primeiro lugar. Deus…
Ela estava surtando tanto.
Eu me afastei do telefone público, descansando minhas costas
contra a parede. O cara com a mala se afastou da recepção e estava
atacando seu celular como se estivesse tentando forçá-lo a cooperar
apenas com a força da vontade. ─ Boa sorte, ─ murmurei baixinho. ─ Eu
tinha serviço até virar na estrada, então... puf! Sumiu.
O cara olhou para mim de lado, e mais uma vez fiquei surpresa
com a intensidade de seus olhos azul-claros, meio prateados. Sua boca
se levantou no canto em meio sorriso cáustico. ─ Não diga? ─ Sua voz era
como um rosnado de uma serra elétrica: estridente, baixa e crua. Ele
provavelmente fumava um maço de cigarro por dia durante quinze anos
para ter uma voz assim.
Se eu já não estivesse congelada, teria derretido com a onda de
calor que explodiu em minhas bochechas. O Sr. Black (como eu o nomeei
na minha cabeça) não foi tão amigável. Ele enfiou o telefone no bolso,
endireitou a coluna, deixou a cabeça recuar e depois estalou o pescoço.
Parecia que ele estava prestes a dizer outra coisa, então
aparentemente pensou melhor. Ele passou a mão pelos cabelos escuros
e molhados, lançando uma chuva de gotas de água no ar. Ele estava
vestido da cabeça aos pés de preto, nada demais ou ostensivo, mas estava
claro que a camisa lisa e a calça lisa eram de marca. Sua camisa estava
encharcada nos ombros e seus sapatos de couro estavam salpicados de
lama, mas fora isso, ele estava muito bem vestido. A barba não estava
assim por negligencia. Era o comprimento perfeito - nem muito longa nem

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muito curta. O pescoço e a garganta também estavam bem aparados,
mostrando que ele obviamente cuidava da barba diariamente.
Os homens da minha linha de negócios eram um pouco mais
vistosos com suas riquezas, roupas e higiene pessoal. Alguns dos caras
do escritório de advocacia em frente ao meu escritório começaram a usar
maquiagem, acredite ou não. Eu certamente não acreditei, quando
Sandra me disse que havia encontrado um cara retocando o rímel no
espelho do elevador uma manhã. Foi preciso, ver exatamente o mesmo
cara, fazendo exatamente a mesma coisa, algumas semanas depois, para
que a ideia realmente se enraizasse em minha mente.
O Sr. Black definitivamente não estava usando rímel. Seus cílios já
estavam escuros o suficiente, como tinta contra a palidez de sua pele.
Perfeito mesmo. O tipo de cílios para a qual uma mulher linchava um
representante de vendas da Sephora. Eu rapidamente desviei o olhar
quando ele se virou para mim. Ele tinha me notado olhando? Porra, eu
esperava que não. Essa seria realmente a maneira perfeita de terminar
um dia já de merda: presa verificando um personagem particularmente
frio e gelado no saguão de um motel de baixa qualidade.
─ Você está na casinha, então, ─ disse o cara. Mais uma vez, sua
voz única e devastadoramente profunda provocou um choque elétrico
percorrer toda a minha espinha, iluminando minhas terminações
nervosas.
─ Como é que é?
Ele apontou um dedo acusador para o telefone público.
─ Oh. Oh, certo. Sim. Minha irmã. Amanhã é seu grande dia.
─ E você está presa no meio do nada, no meio de uma tempestade
gigante.
─ Sim. Azar, eu sei.
Ele deu de ombros, coçando a mandíbula. ─ Ou mau planejamento.
Disseram-me no passado que meu olhar mortal poderia
literalmente eviscerar um homem a vinte metros. O Sr. Black não
murchou e nem morreu sob o peso do meu olhar frio. Na verdade, ele
parecia estar gostando da atenção. Apertei meus lábios, optando por

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ignorar sua farpa. Sim, claro, eu poderia ter me organizado melhor. Eu
poderia ter verificado o tempo antes. Eu poderia ter usado o bom senso e
pego um maldito avião, e blá, blá, blá. Só porque ele estava certo e eu me
meti nessa situação em particular por minha própria falta de previsão,
não significava que ele pudesse me repreender, como se eu fosse uma
idiota completa. Mas eu poderia pegar a estrada principal. Eu poderia ser
uma pessoa adulta e não me afundar em uma discussão com um
estranho.
─ Você está chateada, ─ ele ofereceu.
Abri minhas narinas, expirando lentamente pelo nariz. ─ Estou
bem. Eu só quero conseguir um quarto, dormir um pouco e sair desse
buraco de merda. Assim como você, tenho certeza.
O Sr. Black riu silenciosamente, apoiando sua mala preta no sofá
esfarrapado e fortemente manchado, que havia sido posicionado sob as
grandes janelas panorâmicas da porta da frente.
─ De modo nenhum. Eu planejo as coisas muito bem, ─ ele me
informou. ─ Estou exatamente onde preciso estar.
─ Você veio aqui de propósito?
Recebi de resposta somente um silêncio duro e um olhar
indecifrável e plano. ─ Liberty Fields é um marco histórico. Por que não?
Eu tinha parado com o hábito de revirar os olhos por mais de uma
década, mas me senti obrigada a dar uma olhada nos ladrilhos do teto
mais uma vez. Esse cara era outra coisa. Ele estava me provocando,
sendo difícil de propósito, e não parecia que ele iria desistir tão cedo. ─
Tudo bem, amigo. Bem, espero que você tenha umas férias maravilhosas
em Hicksville.
─ Estou aqui para trabalhar, na verdade.
Se essa conversa tivesse sido uma mensagem de texto, eu já teria
enviado a ele um grande joinha. Ser agressivo passivo era uma arte
diferenciada e muito mais fácil via emoji, especialmente quando você
realmente não queria começar uma briga com alguém. Black não parecia
se importar com o fato de estar sendo meio hostil, então por que diabos
eu deveria? ─ Deixe-me adivinhar. Tocando em uma banda cover dos

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anos 80? Reunião de clã de vampiros? Convenção de cosplay de
Tarantino?
O sorriso do Sr. Black era frio e tranquilo, embora ele parecesse
cuspir faíscas de gelo pelos olhos. Suas íris eram da cor do inverno. A cor
do céu de uma manhã em fevereiro. Eles me lembraram de ser muito,
muito pequena. Vendo minha respiração sair dos meus lábios, dedos
rígidos e sem resposta. Batendo minhas grossas botas de sola de
borracha contra a neve pesada, tentando recuperar a sensação nos dedos
dos pés.
Era incrível como os estímulos visuais ou auditivas me afetavam
às vezes. Eu poderia estar esperando na fila para comprar pipoca no
cinema e, no segundo seguinte, eu estaria sendo arrastada para o
passado, para quinze anos antes, quando meu primeiro namorado tentou
me fazer tocar seu pau na parte de trás de sua caminhonete.
Toda vez que via o oceano pessoalmente ou mesmo na TV, sentia
imediatamente o cheiro leve e perfumado de pêssego do perfume de
minha mãe, em vez da água salgada. Minha mente brincava comigo o
tempo todo.
─ Eu sou um assassino de aluguel. Eu arrumei um emprego aqui
na cidade ─ disse Black, indiferente. Ele se abaixou, abrindo o zíper da
mala e pegou um iPad, ligando-o. O clarão branco da tela quando ligou
brevemente iluminou seu rosto antes que escurecesse. Eu enfiei minha
unha no cabo emborrachado que havia ao lado do telefone público,
considerando sua última declaração.
─ Ouvi que paga bem. Ser um assassino de aluguel.
─ Sim. ─ Ele estava distraído, sem prestar muita atenção.
─ Então, você só aparece em uma noite escura e tempestuosa.
Assegura uma base para si mesmo. Então você se esgueira pela cidade
enquanto o lugar está em caos, e você... ─ Eu fiz uma arma com a minha
mão, fingindo mirar, ─... aperta o gatilho.
─ Tipo isso. Algo parecido. No entanto, vou esperar até de manhã.
As estradas não estão seguras no momento. Não gostaria de acabar sendo
responsável por um acidente ou algo assim.

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Isso me fez bufar. ─ Então você vai matar alguém, mas Deus me
livre de causar um acidente enquanto você estiver nisso.
─ Se eu vou matar alguém, é porque estou sendo pago para fazer
isso. Não porque as estradas são traiçoeiras e não posso controlar meu
veículo.
Uau. Esse cara era bom. Ele nem se encolheu ao falar em
assassinato. A maioria das pessoas não seria capaz de manter o
fingimento. Eles teriam rido, piscado ou feito uma careta, mas não esse
cara. Ele mentia como se estivesse falando a verdade. Parecia que ele
acreditava cem por cento.
A entrada do saguão se abriu e uma rajada de vento uivou através
da porta, atingindo o sofá e a pequena mesa de café descascada com água
da chuva. Um homem baixo, gordinho, azedo, vestindo um poncho barato
de plástico à prova d'água, entrou apressado, balançando um pouco
enquanto lutava para fechar a porta atrás de si. O Sr. Black não o ajudou,
mas eu também não. Nós dois apenas observamos o estranho, de forma
curiosa empurrar a parte de baixo da porta com o pé, batendo as palmas
das mãos no batente da porta, como se estivesse tentando remodelar a
madeira com as próprias mãos.
─ Estúpido... porra... filho da puta ...
A porta se fechou e o homem parou de xingar. Ele se virou,
ofegante, seu corpo largo estremecendo quando olhou de mim para o Sr.
Black e de volta para mim. Seus olhos eram de um azul aquoso -
inconsistente e fraco - e suas bochechas estavam marcadas com uma teia
de aranha de vasos sanguíneos rompidos e linhas de veias. ─ Vocês estão
sem sorte, ─ disse ele, balançando um pouco. Afastando-se da porta de
entrada, ele se empurrou para frente em direção à recepção, como se
precisasse de impulso para ajudar a chegar lá. ─ Não há mais quartos! ─
ele exclamou. Em vez de levantar a escotilha no balcão, atravessá-la e
abaixá-la atrás de si novamente, ele se abaixou e correu por baixo dela,
rosnando infeliz enquanto lutava para se erguer do outro lado. Atravessei
o saguão e encostei-me na mesa, tomando muito cuidado para não
levantar a voz.

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─ Eu sinto muito. Existem quartos disponíveis. Sua placa de vaga
está acesa no estacionamento.
─ E daí? As placas estão sempre acesas, não importa o quê. ─ O
homem, com quase 50 anos e cheirando como um trapo velho de bar, me
deu um sorriso amarelo podre o suficiente para revirar o estômago. ─
Além disso, não tive tempo de desligar a maldita coisa. Estive
sobrecarregado, checando vocês por todo o lado. Não sei se vocês estão
indo ou vindo, nenhum de vocês.
O Sr. Black apareceu ao meu lado e se inclinou sobre o balcão,
pegando algo da mão do gerente noturno: um longo e desgastado chaveiro
de bronze preso a uma chave. No chaveiro de bronze: o número vinte e
sete. ─ Então você tem um quarto, ─ disse Black, segurando a chave.
O gerente noturno tirou o poncho de plástico barato por cima da
cabeça, expondo uma grande parte da gordura da barriga com covinhas
quando sua camisa se levantou; ele rosnou baixinho enquanto pegava a
roupa a prova d'água e a jogava na lata de lixo transbordando atrás dele.
Acima do bolso esquerdo da camisa, o nome 'Harold' tinha sido costurado
em fio preto.
Harold cambaleou um pouco quando se virou para encarar o Sr.
Black. ─ Não liberei essa chave novamente no sistema. Então não. Não
está livre. ─ Ele pulou para pegar a chave de volta, mas bêbado como
estava, acabou agarrando o ar e quase batendo no balcão de frente. O Sr.
Black pigarreou, virando a chave na mão.
─ Quanto para acelerar o processo de garantir este quarto, Harold?
─ Ei! Eu cheguei aqui primeiro. Se alguém vai suborná-lo pelo
quarto, serei eu. ─ Tive muito mais sucesso ao arrancar a chave da mão
do Sr. Black. O belo estranho ao meu lado não me viu chegando, ou talvez
ele não esperasse que eu me atirasse nele. De qualquer maneira, eu puxei
a chave do seu aperto e a enfiei no meu bolso, lançando um olhar cruel
para ele, apenas no caso de ele estar pensando em tentar recuperá-la.
Com a expressão mais estranha possível em seu rosto, ele
sussurrou uma palavra que fez meu sangue correr quente e frio ao
mesmo tempo. ─ Malvada. ─ Seu corpo inteiro girou para um lado, para

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longe de mim, enquanto ele curvava um dedo, fazendo sinal para Harold
se inclinar e falar com ele. ─ Eu provavelmente tenho muito mais dinheiro
que ela. Como vai ser, cowboy?
Harold, claramente um pouco desconcertado, apenas franziu a
testa. ─ O quarto é quarenta e nove e noventa e nove para a noite.
Sr. Black sorriu. ─ Sim. Mas se você me der, pagarei duzentos.
Deus, que desgraçado. ─ Vou dar-lhe trezentos, Harold.
O Sr. Black bufou pelo nariz, seu sorriso agora um sorriso
completo. ─ Quinhentos, Harold. E uma caixa de charutos cubanos. O
tipo bom, não a merda barata que você pode comprar na alfândega.
Os olhos de Harold estavam vidrados há um tempo. Ele não parecia
estar entendendo nada disso. Eu agarrei o Sr. Black pelo braço e o puxei
com força para longe da mesa de check-in. ─ Veja. Você me ouviu no
telefone agora. Eu tenho que ir ao casamento da minha irmã em Fairhope
no sábado. Se eu a decepcionar, partirei seu maldito coração. Sou o único
membro da família que ela terá nessa porra de cerimônia estúpida. Agora,
por favor... Preciso sair dessa lixeira de manhã e, para fazer isso, preciso
dormir. Por favor! Apenas me deixe ficar com a porra do quarto!
─ Você sabia que fala muito porra? ─ ele sussurrou, inclinando-se
para mim, como se estivesse dando uma informação que eu ainda não
deveria estar ciente. Seus olhos de tempestade de neve brilharam para
mim, cheios de diversão.
─ Senhora, qual é o seu nome? ─ À minha esquerda, Harold coçou
a têmpora com a ponta mastigada de uma caneta esferográfica. Oh!
Graças a deus. O cara viu o motivo. Eu tinha sido a primeira pessoa
esperando por um quarto, portanto, eu o ganhei. Justo era justo. Soltei
um suspiro de alívio, liberando meu aperto no braço do Sr. Black.
─ É Sera. Sera Lafferty.
Harold esticou a língua, a testa franzida enquanto a mão tecia em
direção ao que parecia um livro de visitas. Arrisquei um sorriso vitorioso
de lado para o Sr. Black, mas não fui recompensada por um olhar de
consternação estampado em seu rosto. O bastardo ainda estava sorrindo.
─ E você. Qual…? ─ Harold soluçou. ─ Qual o seu nome?

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CALLIE HART
─ Felix Marcosa.
Claro que o nome dele era Felix Marcosa. Combinava
perfeitamente. Que idiota. Harold obviamente concordou comigo. Ele
gemeu, balançou a cabeça e depois rabiscou algo de lado no livro. ─ Eu
entrei em nosso banco de dados de última geração como Sr. e Sra. ... ─
Soluço, ─ ... Jones. O quarto 27 tem duas camas. Se entendam. Agora...
─ ele olhou para mim e depois para Felix, estreitando os olhos. ─ O que
nós acertamos? Trezentos de você ─ ele disse, apontando para mim. ─ E
quinhentos de você. Além disso... uma caixa de charutos cubanos.
Felix Marcosa não estava mais sorrindo.
Mas, novamente, eu também não.

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DOIS
QUE ENTEDIANTE

FIX

As mãos de uma pessoa contam a maioria de suas histórias. Você


pode aprender muito sobre alguém simplesmente estudando o desgaste
das mãos. Enquanto Sera Lafferty carregava sua bolsa pelo corredor
inundado em direção ao quarto número vinte e sete, suas juntas estavam
esbranquiçadas. Notei as duas cicatrizes profundas e perpendiculares
que atravessavam as costas de sua mão direita, prateadas e suaves sob
as brilhantes luzes brancas de segurança. As cicatrizes eram feridas
defensivas. Teria sangrado muito. Havia todas as chances de seus
tendões terem sido cortados devido à colocação das cicatrizes, o que
significaria meses de fisioterapia dolorosa e demorada. Ela teve sorte de
não ter perdido completamente o uso da mão.
O que as cicatrizes de Sera me disseram sobre ela, além do fato de
ela ter sido agredida em algum momento? Elas me disseram que ela era
uma lutadora. Elas me disseram que ela era feroz. Fiz várias deduções
enquanto seguia logo atrás dela em direção ao quarto, meus ombros
encolhidos em volta das orelhas contra a chuva.
Um: o atacante de Sera Lafferty era alguém muito próximo dela.
Alguém que ela conhecia muito, muito bem.
Dois: desde que foi atacada, ela ficou fora de controle, permitindo-
se tropeçar às cegas de uma situação perigosa para outra.
Três: Se eu quisesse, eu poderia transar com ela e cortar sua
garganta hoje à noite, e ela provavelmente nem se importaria.
Não que eu faria isso, no entanto. Eu não estuprava mulheres.
Quando chegamos à porta pintada de verde com os números dois
e sete de ouro gravados, Sera deslizou a chave na fechadura e lançou um
olhar irritado para mim por cima do ombro. ─ Acho que você não é tão

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bom em planejar quanto pensava, ─ ela retrucou. ─ Você reservaria um
quarto com antecedência, se fosse.
─ Estou exatamente onde deveria estar, ─ eu disse, ecoando
minhas palavras de antes, de volta no lobby. Se ela soubesse...
Sera não percebeu minha repetição. Ou, se sim, não disse nada
sobre isso. A maioria das mulheres em sua posição teria gritado e
suplicado a Harold na recepção, implorando para ser alocada por conta
própria. Se isso não tivesse funcionado, outras mulheres teriam me
amaldiçoado, jogado as mãos para cima e ido dormir no carro durante a
noite. Um carro era uma caixa de metal segura, cheia de cadeados. Um
carro era facilmente defensável. Tinha um alarme alto e luzes piscando.
Mas Sera simplesmente fez uma careta para mim, deu de ombros,
entregou trezentos dólares a Harold, depois correu para o carro para
pegar suas malas.
O interior do quarto 27 era bastante miserável. Havia duas camas,
exatamente como Harold alegara, mas elas tinham claramente cerca de
trinta anos de idade e pesadamente afundadas no meio. As duas eram
péssimas. As paredes costumavam ser brancas em algum momento. Ou
talvez ... pêssego? Agora eles eram de um amarelo manchado de nicotina
e o ar zumbia com o cheiro de cigarros velhos. No canto, uma televisão
antiga com um mostrador para mudar de canal estava em cima de uma
cômoda velha e arranhada, cujo uma gaveta estava faltando.
Sera não pareceu notar nada disso. ─ Vou ficar com a cama mais
perto da porta, ─ anunciou ela. ─ Se você não gostar, pode pedir seu
dinheiro de volta e dormir no sofá do lobby.
─ A outra cama está bom. ─ Levantei minha mala e joguei-a no
colchão, surpreso quando a cama inteira não desabou sob o peso da
bolsa.
─ Jesus, o que você tem aí? ─ Sera murmurou. ─ Tijolos?
─ Armas, ─ eu corrigi. ─ Muitas e muitas armas. ─ Ser honesto era
um dos meus jogos favoritos. Era muito mais divertido contar a verdade
a alguém e deixá-lo fazer o que quisesse, do que fabricar uma vida chata

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e falsa. Sera, como a maioria das pessoas que eu disse a verdade, pensou
que estava sendo ridículo e decidiu zombar de mim por isso.
─ Ah, certo. Porque você é um assassino e precisa matar alguém
na cidade amanhã. Eu tola. Como eu pude esquecer?
Ela era bonita. Bonita de uma maneira não convencional que não
atendia a nenhum dos meus requisitos habituais. Para eu encontrar uma
mulher atraente, ela geralmente tinha que ser baixa e delicada. Ela
precisava ter cabelos compridos, vermelhos ou loiros, e olhos azuis. Ela
tinha que ser submissa e bem quieta também, a menos que estivéssemos
na cama. Nesse caso, ela poderia ser tão barulhenta quanto quisesse.
Sera era uma morena, seu cabelo cortado em um estilo ousado, na
altura dos ombros, que era mais comprido na frente do que atrás. Seus
olhos eram escuros, castanhos escuros, cheios de inteligência e suspeita.
Ela tinha quase 1,79 de altura, embora em suas botas de couro de salto
alto quase tivesse a mesma altura que eu, 1,85m, e quanto a questão
submissa... eu já podia dizer que não havia esperança de que isso
acontecesse. Ela foi forjada no fogo. Não haveria como esfriá-la ou
acalmá-la. Se ela fosse um dos cavalos do meu avô na fazenda dele, ele a
teria olhado por um segundo ou dois, andado ao seu redor, olhando-a de
cima a baixo e depois declarado que precisava ser solto. Ele nem se
incomodaria em desperdiçar seu tempo tentando domá-la.
─ Eu apreciaria se você não ligasse a televisão, ─ disse ela, abrindo
o zíper de sua própria bolsa. ─ Eu tenho sono leve.
─ Naturalmente. E eu agradeceria se você não tivesse maquiagem
em todas as toalhas do banheiro. Sou alérgico a toda essa porcaria
estranha que eles colocam nessas coisas.
Sera bufou quando puxou um secador de cabelos da bolsa,
enrolando o cabo em volta da alça. ─ Justo. Mas não há porcaria estranha
em maquiagem. Você não precisa ser idiota só porque eu pedi para você
não fazer algo.
─ Merda de pássaro.
─ O que você acabou de dizer?

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Afastei os lençóis da minha cama, inspecionando-os quanto a
manchas suspeitas. Até agora, tudo estava limpo. ─ Merda de pássaro.
Eles colocaram isso em algumas maquiagens e hidratantes. Bem como
secreções de caracóis. E prepúcios de bebê.
Sera deixou cair o secador no travesseiro, se virando para mim, as
mãos nos quadris. ─ Que merda você está falando?
─ Procure. Todos aqueles cremes mágicos, pós e poções que você
espalha sobre a pele todos os dias? Eles são nojentos. Mas quem se
importa, desde que esconda as rugas, certo?
Seu rosto escureceu a ponto de eu quase ver a nuvem de trovoada
pairando sobre sua cabeça. ─ Não tenho ‘rugas’. Além disso, eles não
colocam prepúcios de bebê em maquiagem.
─ Tá bom. Se você diz. ─ Tirei uma camisa da minha bolsa, tirei os
sapatos e comecei a mexer na lama que estava em torno da sola. Quanto
tempo levaria para ela reagir? Três minutos? Cinco? 'Tá bom. Se você diz,'
era provavelmente a coisa mais incendiária que um homem poderia dizer
a uma mulher. Elas não aguentavam. Com seu temperamento ardente,
não demoraria muito para Sera tirar os próprios sapatos e jogá-los em
mim.
Em vez disso, como se ela soubesse o que eu esperava que ela
fizesse e estivesse determinada a provar que eu estava errado, ela se
sentou lentamente em uma cadeira e começou a cantarolar baixinho.
Peguei minha bolsa de nécessaire, um conjunto de roupas limpas
e secas e fui para o banheiro.
─ O que você está fazendo?
Eu olhei para ela por cima do ombro. ─ Indo tomar banho. ─ Eu
sorri meu sorriso mais convidativo. O que costumava coagir as mulheres
para a minha cama. Aquele que nunca deixou de funcionar. ─ Quer se
juntar a mim?
Sera fez uma careta de nojo, aparentemente imune ao sorriso,
junto com o brilho de má reputação em meus olhos. ─ Não estou no
negócio de tomar banho com estranhos perfeitos.

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─ Este lugar provavelmente está funcionando com um gerador.
Quem sabe quando a água quente vai acabar ─ eu rebati.
─ Eu vou me arriscar.
─ Como queira ─ Fechei a porta do banheiro e tranquei atrás de
mim. Claro que ela não ia tomar banho comigo. Era divertido foder com
uma pessoa tão tensa, no entanto. Sera se comportou com confiança. Ela
sabia que era atraente, e não havia nada de errado nisso. Os primeiros
encontros com mulheres como ela, sexuais ou não, sempre foram uma
luta pelo poder. Ela queria afirmar seu domínio sobre mim, e eu estaria
condenado se a deixasse. No momento em que cedesse e me inclinasse
para ela, adorando-a pela deusa que ela era, ela não me respeitaria mais.
Ou a ideia de mim. Sempre que um homem e uma mulher se
encontravam pela primeira vez, era da natureza humana para os dois
imaginar alguma realidade em que estavam transando,
independentemente de seu estado civil, desejos ou inclinações. Se você
me mostrasse uma pessoa que afirmava o contrário, eu lhe mostraria a
mentira. Eu não estava imaginando que ela poderia me dominar no
quarto. Provocá-la, recusando-se a ser o cavalheiro fraco a que
provavelmente está habituada, era a mesma coisa.
Liguei o chuveiro, tirando a roupa molhada, e então nu, estudei
meu rosto no espelho, esfregando a mão na mandíbula para ver se eu
ainda precisava me barbear. Eu geralmente evitava espelhos a todo custo;
eu tinha os olhos do meu pai - difíceis de perder - e o nariz da minha
mãe. Minha boca também era do meu pai. O que os dois pensariam de
mim agora? A vida que eu escolhi para mim. O caminho íngreme,
escorregadio como a porra do caminho, comecei a descer direto para o
inferno.
Felizmente, nunca saberia a opinião superficial deles sobre mim. O
padre e sua obediente esposa dona de casa já haviam desaparecido há
muito tempo. São Pedro deve ter alertado a mídia no momento em que
meus pais chegaram aos portões perolados, logo depois de entrar na
traseira de um caminhão articulado em uma noite gelada e escura de
outubro no norte do estado de Nova York. Se alguém tinha garantida a

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entrada VIP no céu, eram esses dois. Eles foram crianças-propaganda da
fé católica a vida inteira. E eu fui a maior decepção deles.
Eu fiz uma careta para os pedaços de Eric e Louisa Marcosa
olhando para mim no espelho, desafiando-os da única maneira que eu
ainda tinha deixado disponível para mim. Minha imagem desapareceu
lentamente, devorada pelo vapor do chuveiro quente que gradualmente
embaçava o vidro, e os fantasmas fugiram do banheiro, deixando-me em
pé nu e muito sozinho.
Tomei banho, pensando bastante. Eu tinha dois trabalhos a serem
feitos e nenhum deles seria bonito. O trabalho de amanhã seria realmente
uma merda. Já aceitei o pagamento, por isso não conseguiria voltar atrás,
mas quanto mais pensava nisso, menos e menos queria sujar minhas
mãos com o trabalho.
O cara, Franz Halford, era dono de uma oficina mecânica no outro
lado de Liberty Fields – herdara do avô cerca de vinte anos atrás.
Nenhuma esposa. Sem filhos. Apenas uma pilha de dívidas incobráveis e
um temperamento racista que se via de longe. Sempre fiz questão de
investigar por que meus clientes queriam que seus alvos fossem mortos
- as diligencias adequadas eram importantes. Crucial na minha linha de
trabalho - e esse caso não era exceção. Quando eu revi o arquivo de Franz
Halford, examinando a papelada que me fora fornecida, explicando por
que o mundo seria um lugar melhor sem ele, era um caso bastante claro,
até onde pude ver. Franz havia estuprado uma jovem. Uma estudante de
vinte anos chamada Holly Shoji. E ele não a estuprou porque achava que
ela era atraente (embora ela fosse), ou porque ela o dispensou em um bar
uma noite em que ele estava bêbado e se fazendo de bobo. Ele fez isso
porque ela era japonesa e Franz Halford não gostava de japoneses. Ele
não gostava de ninguém, a menos que fosse branco.
Minha própria pele era muito branca, mas eu tinha herança
espanhola. Meus bisavós paternos, eram de Altea, uma pequena cidade
costeira no sul da Espanha, mas eles vieram para a América pouco antes
do início da Segunda Guerra Mundial em busca de uma nova vida.
Ridiculamente, tive problemas com pessoas no passado. Quando ouviam

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o nome da minha família - geralmente a única pista de que eu não era
puro como a neve - eles lançavam um olhar irônico sobre mim,
procurando o sinal: o conjunto dos meus traços, minha altura ou
sotaque. isso me diferenciaria deles, marcando-me como diferente. Eu
desprezava os filhos da puta que me olhavam assim. Eu geralmente
queria separar a cabeça deles da base do pescoço, e foi por isso que
aceitar um racista de marca era uma ideia horrível. Eu estive muito
envolvido nessa linha de trabalho nos últimos cinco anos. A única vez em
que cheguei perto de ser pego pelas autoridades, foi em uma situação
muito semelhante a esta; uma jovem garota foi sequestrada por um grupo
de membros de um clã, no meio da merda em lugar nenhum, Tennessee.
Deixei o lugar destruído, levando meu tempo torturando cada um desses
pedaços de merda pelos atos brutais que cometeram com o corpo daquela
menina de quinze anos. Eu quebrei minhas próprias regras e fiquei
naquele armazém sujo e infestado de ratos por muito tempo, e quando
eu fugi de lá num dos carros roubados deles, quase não tinha reparado
na frota de carros da polícia que apareceram no local momentos depois.
Só Deus sabe o que eles fizeram do caos e da destruição que
encontraram quando abriram as portas de aço e viram o que havia
dentro. Eles provavelmente ainda tinham pesadelos sobre isso.
A água do chuveiro estava escaldante, mas isso não parecia ter
ajudado a temperatura dentro do banheiro quando saí do cubículo de
azulejos. O ar estava gelado, mordendo minha pele, e corri para me secar
o mais rápido possível. Enquanto o resto do meu corpo estava sofrendo
de hipotermia limítrofe, meu pau não parecia ter notado o frio. Estava
com um tesão furioso que estava se tornando difícil de ignorar. Olhei para
ele, pensando em acariciá-lo por apenas um segundo, mas então eu
decidi que era melhor não. Não havia tal coisa, como apenas um segundo,
quando se tratava de masturbação – ou eu concluía a tarefa em mãos, ou
eu não iniciava em primeiro lugar, e eu não tinha tempo para ficar
tocando meu pau. Não com Sera sentada do outro lado da porta do
banheiro. Ela era a razão pela qual eu tinha uma ereção, em primeiro

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lugar. Ela parecia inteligente e bonita, e não demoraria muito para ela
descobrir o que diabos eu estava fazendo aqui se não saísse tão cedo.
Uma vez vestido, saí do banheiro, esfregando meus cabelos úmidos
com uma toalha. Sera apertou os lábios enquanto olhava para mim por
cima de um livro. Ela se moveu da cadeira e agora estava deitada em sua
cama, apoiada contra uma pilha de travesseiros de aparência irregular.
─ Seu celular está explodindo, ─ disse ela, curvando uma sobrancelha
escura para mim. ─ Quem ou o que é, o 'Fix'?
Bem, bem, bem. Ela olhou o meu telefone? Eu arqueei uma
sobrancelha de volta para ela. ─ Garota safada. Você tem o hábito de
invadir a privacidade de estranhos?
─ Eu não fiz isso. Harold, da recepção, ligou para o quarto
enquanto você estava se preparando e se arrumando lá dentro. Ele me
pediu para lhe dar uma mensagem. Ele disse que uma mulher chamada
Monica ligou e disse... Sera pigarreou, fechando o livro e colocando-o em
cima do peito. ─ Porra, Fix. Você já está atrasado. Se você não voltar para
casa em breve, eu vou encontrá-lo.
Urgh. Monica. O que diabos ela estava fazendo, ligando para o
motel? Eu só disse a ela onde estava, para que ela parasse de me ligar a
cada cinco segundos. Agora ela tinha o nome do lugar em que eu estava
hospedado, eu simplesmente dei a ela outra via pela qual me assediar,
aparentemente. E Harold não deveria ter dado uma mensagem destinada
a mim para outro hóspede, mas, novamente, Harold era inútil e não sabe
a diferença da sua bunda e do cotovelo, então...
Peguei meu celular da mesa de cabeceira ao lado da minha cama
e, com certeza, tinha seis ligações perdidas de Monica, ao lado de uma
coleção de mensagens de texto que faria um marinheiro corar.
─ Você ainda não respondeu à minha pergunta, ─ disse Sera,
sublime.
─ Hmm?
─ Fix?
Eu ri, deslizando meu telefone no bolso de trás. ─ Felix. Fix. Eu sou
Fix. É assim que algumas pessoas me chamam. ─ Se eles soubessem que

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eu matava pessoas para viver, era assim que eles me chamariam, de
qualquer forma. Cinco anos atrás, eu tomei uma decisão. Estava em um
hospital, coberto de sangue, mãos grudentas, e decidi que não havia
justiça no mundo. Eu decidi corrigir a situação. Eu coloquei Felix de lado
e me tornei Fix.
Desde aquela noite, passo todo momento acordado procurando o
bastardo que machucou a mulher sob meus cuidados. Ainda não o
encontrei, mas tinha uma longa memória de merda. Eu não ia desistir
tão cedo.
─ Um verbo como apelido. Que entediante ─ disse Sera, levando
um copo aos lábios. Seu tom era um pouco zombador, mas pude ver que
ela estava intrigada. Ela provavelmente queria saber quem era Monica.
Ela provavelmente queria saber para que eu estava oito dias atrasado.
Pena que eu não ia contar a ela. O líquido âmbar em seu copo captou a
luz quando Sera inclinou-o para trás, dando um gole saudável.
─ Isso é saudável. Você planeja dirigir de ressaca amanhã? ─ Eu
disse.
Ela riu baixinho, balançando a cabeça. O copo estava vazio agora.
─ Aprendi a beber tequila aos quatorze anos de idade. Eu posso beber
mais do que a maioria das pessoas. Não tenho ressaca há anos.
Deus. Se eu fosse qualquer idiota, esse seria o momento em que
me ofereceria para testar essa teoria. Eu não estava prestes a cumprir as
expectativas que ela claramente formou sobre mim. Sera e eu ainda
estávamos jogando nosso joguinho de quem está no controle aqui? E eu
não vou perder esse jogo de merda. Nunca.
─ Posso sair do quarto se precisar retornar todas essas ligações, ─
disse Sera. A voz dela era interessante - um pouco mais rouca que a
maioria das mulheres, o que era uma boa mudança. Já tive o suficiente
de garotas nasais, agudas e chorosas para me durar a vida inteira. A
tequila provavelmente definiu um tom áspero em seu tom, mas eu não
estava reclamando; era sexy pra caralho.
─ Obrigado. Eu estou bem.

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─ Ah. Então você é um jogador. Você vai deixar a pequena srta.
Monica esperando.
Ha! Mantendo Monica esperando? Isso era muito engraçado. Eu
sorri, deitando na minha cama. ─ Você quer saber se eu estou transando
com ela.
Um olhar escandalizado passou pelo rosto de Sera. Ela tinha uma
leve cicatriz ao longo de sua mandíbula que eu não tinha notado antes.
A linha prateada de tecido curado era estreita, não mais larga que a
lâmina de uma faca, e devia ter sido costurada com habilidade, porque
era pouco visível. Eu provavelmente não teria notado se ela não tivesse
reagido dramaticamente à minha declaração.
─ Não quero saber disso. Não quero saber de nada. Estou apenas
fazendo uma observação.
Avaliei sua cicatriz sorrateiramente, apenas permitindo que meus
olhos passassem por ela mais uma vez antes de levantar meu olhar para
ela. Você não conseguia uma cicatriz assim acidentalmente. Era muito
longa, reta e perfeita para ter sido causada por outra coisa que não uma
arma. Então Sera era interessante, afinal. Ela não era apenas uma
princesa arrogante com uma atitude ruim. Ela tinha histórias próprias
para contar. Não que eu fosse pedir para ela contar. Isso complicaria as
coisas. Isso seria um ponto para Sera, e eu ainda estava de olho no
quadro de líderes. ─ Você está me julgando, ─ eu disse. ─ Você está
tentando descobrir quem eu sou.
Uma longa pausa seguiu, uma pequena linha rasa se formando
entre as sobrancelhas perfeitamente cuidadas de Sera. ─ E? ─ Ela parecia
frustrada. ─ É o que as pessoas fazem quando conhecem outras pessoas.
Eles formam opiniões sobre elas. Eles tentam decidir se gostam ou não
da outra pessoa.
─ O que importa se você gosta de mim ou não? Por que importaria
se eu fosse o maior imbecil da face do planeta? Estamos aqui por uma
noite. Quando amanhã de manhã chegar, você seguirá o seu caminho e
eu o meu. Você nunca mais me verá e terá perdido todo esse tempo
precioso tomando decisões sobre mim.

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Eu poderia jogar esse jogo para sempre. Sera olhou para mim por
um segundo prolongado. Durante toda a minha vida, me disseram
repetidas vezes como meus olhos estavam se confrontando. Azul demais.
Muito frio. Muito paralisante. Muito penetrante. Quando Sera virou seus
olhos quentes de chocolate para mim, finalmente comecei a entender do
que as pessoas estavam falando. Não era que eles fossem fora do comum,
ou até mesmo notáveis, mas a inteligência que existia em seus olhos,
brilhando em suas íris intrincadamente pintadas, era suficiente para me
prender ao colchão. Olhar diretamente para ela era como olhar
diretamente nos olhos de um tigre. Havia tanta coisa acontecendo por
trás do olhar, tanta coisa acontecendo dentro de sua cabeça, e ainda
assim ela conseguiu esconder tudo tão bem. Ainda assim, eu sabia que
ela estava me avaliando. Tentando decidir se ela poderia me aceitar, de
um jeito ou de outro.
Inspirando bruscamente, ela sentou-se, interrompendo nosso
estranho concurso de encarar. ─ Você está certo, ─ disse ela, pegando
sua bolsa. ─ Não vou perder meu tempo tomando mais decisões. ─ De
sua bolsa, veio uma garrafa de tequila Clase Azul Reposado, que ela
colocou em cima do edredom, apoiando-a na perna para poder abrir a
tampa. Outra quantidade considerável do líquido dourado foi despejado
em seu copo. Ela não perguntou se eu queria uma bebida. Ela apenas
pegou o outro copo na mesinha de cabeceira e serviu. ─ Aqui. Pegue.
Realmente não é importante se eu gosto de você, mas precisamos passar
as próximas horas escondidos neste quarto juntos. Podemos tentar
torná-las o mais suportável possível.
Uma série de resultados em potencial surgiu diante dos meus olhos
quando estendi a mão e aceitei o copo de tequila: beber com ela, fico
bêbado e acordo em um quarto de motel vazio, com todo o meu hardware
roubado; Bebo com ela, fico bêbado, acordo me sentindo um merda, e
permito que Franz Halford me desse um pulo quando lhe fizesse uma
visita a sua mecânica de automóveis amanhã; e, meu favorito
pessoalmente, beber com ela, fico bêbado e acabo fodendo com Sera.

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Essa viagem era um trabalho, lembrei a mim mesmo. Eu estava
aqui para cuidar dos negócios. Mas quanto tempo fazia desde que eu
tinha fodido alguém? Pelo menos três meses. Eu era um cara atraente.
Não, porra, eu era gostoso. As meninas paravam as conversas quando eu
as passava na rua. Era seguido por longas respirações e olhares abertos
aonde quer que eu fosse. Eu era uma péssima decisão. Eu era perigoso.
Eu era um risco que nunca deveria ser tomado. Eu era o diabo e nem
estava disfarçado, mas isso não impedia as mulheres de quererem se
arriscar. Eu era seletivo, no entanto. Eu não enfiava simplesmente meu
pau na primeira boceta molhada disponível e disposta, só porque eu
podia.
Tomei um gole de tequila, saboreando a queimação que se
espalhava pela minha garganta e no meu peito, me aquecendo por dentro.
─ Isso é bom. Caro. ─ Sera pode ter aprendido a beber cedo, mas eu
também tive minha parte justa de tequila. Isso não era barato e
desagradável; era licor de prateleira superior.
─ Era um presente para minha irmã, ─ disse Sera, considerando o
conteúdo de seu próprio copo. ─ Deveríamos tomá-lo amanhã à noite
quando chegasse, para celebrar o casamento dela. Mas como parece que
vou perder a cerimônia completamente, pensei: foda-se. Seria uma pena
não aproveitar.
─ Parece que vocês duas são próximas.
Ela encolheu os ombros. Ela era alta, seu corpo forte, mas o ato de
encolher os ombros a fazia parecer pequena e frágil. ─ Às vezes você
acaba próximo de alguém porque não tem outra escolha. Eu costumava
cuidar dela.
Será que ela quis deixar escapar esses pequenos trechos de
informações? Eu estava aprendendo muito sobre ela apenas sentado
aqui, observando-a, mas suas palavras me disseram ainda mais sobre
seu passado. A cicatriz em sua mandíbula foi um ato de violência. Sua
atitude defensiva disse que ela estava acostumada a se proteger. E agora
ela estava me dizendo, talvez inadvertidamente, que a infância que
compartilhou com a irmã estava cheia de discórdia. Tomei outro gole de

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tequila e meu telefone tocou no meu bolso novamente. Droga, Monica
estava em uma missão hoje à noite. Eu teria que ligar para ela amanhã
ou ela realmente iria me rastrear. Isso não terminaria bem, para mim ou
para ela.
A boca de Sera se levantou nos cantos, formando um sorriso meio
divertido. ─ Você pensa demais para um rapaz bonito.
─ Rapaz bonito? ─ Acabei de conhecê-la. A maioria das meninas
não se sentia à vontade brincando com minha aparência, até pelo menos
o quarto ou quinto drinque. Por outro lado, eu normalmente não me via
trancado em um quarto de motel decadente com muitas mulheres até
muito tempo depois e olha só para onde nos encontramos agora. ─ Eu
não tenho permissão para pensar?
─ Pela minha experiência a boa aparência nem sempre vem junto
com o intelecto, ─ disse ela.
─ Ótimo. Estamos fazendo generalizações abrangentes. Eu amo
isso, porra. Acho que você tem um QI de cinquenta e três, então. E você
é uma mulher, então provavelmente é horrível montar móveis de
embalagem plana. E você é uma péssima motorista. E você gosta de fazer
compras e desperdiçar todo o seu dinheiro em manicures e coisas frívolas
e brilhantes. Você provavelmente tem um guarda-roupa cheio de bolsas
e sapatos e leva quatro horas pela manhã para aplicar a maquiagem e
arrumar o cabelo.
Ela fez uma careta. Bebeu. Um pouco mais carrancuda. ─ Você
sabe que nada disso é verdade. Você não teria dito se não soubesse.
─ Talvez.
─ Você é quem tem a mala de grife, não eu.
─ Eu roubei isso de um homem morto.
Sua expressão contundente disse que ela não acreditou em mim
nem por um segundo. ─ Qual é. Você provavelmente é algum tipo de
banqueiro de investimentos ou algo assim. Ou um pirralho militar.
Embora seu corte de cabelo seja muito chique para isso.
─ Obrigado. Já o seu cabelo, parece que ratos fizeram um ninho
nele. ─ Nunca me disseram que eu parecia um banqueiro de

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investimentos antes. Alguém afirmou que eu parecia um agente funerário
uma vez, e até isso foi menos ofensivo do que o banqueiro de
investimentos. Eu vim para Liberty Fields diretamente de outro trabalho,
onde eu tinha que procurar a vítima, então eu podia entender Sera
fazendo algumas suposições. O velho ditado, ‘nunca julgue um livro pela
capa’, era tão inútil. As pessoas sempre julgavam um livro pela capa, e a
capa que Sera viu quando entrei naquele saguão hoje à noite era uma
capa polida, bem elaborada e muito estilosa. Se ela tivesse me conhecido
na semana passada, quando eu usava barba cheia e coberta de sujeira,
da cabeça aos pés em roupas camufladas, ela teria formado uma opinião
muito diferente de mim. Ela provavelmente pensaria que eu era um
maluco sobrevivente com um bunker nuclear cheio de suprimentos
debaixo da minha casa. Ela nunca teria concordado em compartilhar este
quarto comigo, isso era uma certeza.
Sera inclinou a cabeça para um lado, estreitando os olhos em
fendas. Ela provavelmente queria parecer avassaladora e severa, mas
esse não foi o resultado que ela alcançou. Em vez disso, ela parecia uma
garotinha que não conseguia se decidir. ─ Eu vou dormir em breve. Nem
pense em tentar subir na cama comigo. É uma maneira segura de se
castrar.
─ Por favor. Você sabe que quer dormir comigo, Sera Lafferty. Você
queria dormir comigo no momento em que pôs os olhos em mim.
Um sorriso lento e francamente irritante se espalhou por seu rosto.
Ela estava começando a parecer uma mulher que realmente rasgava o
pau de um cara por subir na cama com ela. ─ Você realmente se acha
né, Fix.
Eu sorri de volta para ela, mostrando-lhe os dentes. ─ Claro que
sim. Eu sou realmente incrível.

DIRTY #1
CALLIE HART
TRÊS
ANJO MAL

SERA

─ Apenas admita isso. Admita para si mesma. Que mal isso


causará? Você me viu, pensou que eu era gostoso e queria me foder.
De onde esse cara saiu? Como ele podia ser tão arrogante e
impetuoso, sem sequer um vislumbre de humildade? Ele provavelmente
era o cara mais gostoso com quem eu já cruzei o caminho, mais quente
que meu ex, Gareth, de longe, mas com boa aparência veio uma grande
responsabilidade. Ele deveria ter sido humilde sobre sua aparência, mas
parecia que ele nunca tinha ouvido falar do termo.
─ Ah, qual é. Não fique tão irritada. Eu sou direto ─ ele disse,
sorrindo. ─ Não há nada errado em pegar o que você quer de vez em
quando.
─ Quero tequila, ─ eu disse a ele, erguendo a garrafa meio vazia no
ar. ─ Quero que essa tempestade estúpida termine para que eu possa
sair daqui. Eu não quero te foder. ─ Eu me perguntei se aquele pequeno
discurso iria convencê-lo. Eu estava me batendo por dentro, porque para
meus próprios ouvidos parecia que eu estava falando sério. Para todos os
efeitos, era verdade. É justo, eu não conseguia tirar os olhos de Fix. Era
tudo divertido e brincadeiras, imaginando como seriam as mãos dele em
todo o meu corpo, mas eu não era burra o suficiente para agir com base
nesses pensamentos. Fix grunhiu. Ajoelhado no chão ao pé da minha
cama, os cotovelos apoiados na beira do meu colchão, ele parecia estar
prestes a subir na maldita coisa e se espreitar em minha direção como
uma pantera perseguidora.
─ De onde você é? ─ ele perguntou. A pergunta foi inesperada.
─ Carolina do Sul. Um lugar minúsculo chamado Montmorenci. ─
Tomei um gole diretamente da garrafa de tequila.

DIRTY #1
CALLIE HART
─ Você odeia lá? ─ ele sondou.
─ Sim.
─ Por quê?
Eu bebi da garrafa novamente, então ofereci a ele. ─ O que isso
importa? Eu nasci lá. Eu saí de lá. Agora eu moro em Seattle. De onde
você é?
─ Norte do estado de Nova York. Eu moro no Brooklyn agora.
Por alguma razão estranha e desconhecida, era um alívio saber que
Fix morava o mais longe possível de mim. Ele bebeu, e eu observei os
músculos de sua garganta trabalharem enquanto ele engolia. Porra, isso
estava se desviando. Eu não tinha nada a ver com uma ação tão simples.
Quando ele abaixou a garrafa dos lábios, perguntou: ─ O que seus
pais fazem?
─ Não falo com meu pai há quase dez anos. Minha mãe está morta.
Ela trabalhava para uma pequena companhia de seguros. Uma pequena
empresa familiar. Tratava principalmente de seguro de vida e
responsabilidade agrícola.
─ Parece uma emoção por segundo.
A melancolia tomou conta de mim. Eu não pensava na mamãe com
muita frequência. Ela morreu quando eu tinha oito anos, então parecia
que as poucas lembranças que eu tinha dela desapareciam cada vez mais
à medida que crescia. Pareceu-me que um dia eu acordaria e não me
lembraria de como era o rosto dela. Essa eventualidade era a coisa mais
triste do mundo para mim.
Fix não pareceu perturbado pela minha sombria admissão. ─ Como
ela morreu?
─ Deus, você faz muitas perguntas pessoais. E seus pais? O que
eles fazem?
─ Ambos mortos, ─ ele respondeu. ─ Acidente de carro há sete
anos. Aconteceu um dia antes do meu trigésimo aniversário. ─ Nem um
brilho de emoção. Era estranho, como se ele estivesse completamente
afastado do que deve ter sido um evento muito traumático. Ou isso, ou
ele simplesmente não se importava.

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CALLIE HART
─ Justo. ─ Suspirei. ─ Dois pais mortos superam um pai morto.
Minha mãe teve um aneurisma. Ela estava bem em um minuto, regando
o jardim. Gritando comigo e minha irmã nos chamando para jantar. A
próxima coisa que sei é que ela tombou na grama, morta. Quando eles
completaram a autópsia, os médicos disseram, que o dela era o maior
aneurisma que já haviam visto, do tamanho do Texas. Completamente
inoperante. Eles disseram que ela provavelmente tinha há anos e nunca
soube. Andando por aí todos os dias, inconsciente, com uma enorme
bomba esperando para explodir em sua cabeça.
─ Melhor assim. ─ Fix disse isso como se fosse uma questão de
fato. ─ Ela viveu sua vida sem se preocupar toda vez que precisava
espirrar.
Passei muito tempo me perguntando se era melhor que ela não
soubesse. Mamãe teria feito as coisas de maneira um pouco diferente se
soubesse que seu tempo era limitado? Ela poderia ter nos tirado da
escola, nós teríamos tirado férias, passado o maior tempo possível comigo
e com Amy. Ela poderia ter nos enviado para morar com sua amiga
Natalie em Utah. Ela costumava conversar com Natalie no telefone todos
os dias. Sixsmith gostava de culpar a morte de minha mãe por seu
alcoolismo violento, mas a realidade era que ele começou a beber um
pouco mais do que deveria alguns anos antes de mamãe morrer. Eu
gostava de pensar que mamãe nos afastaria dele se soubesse a verdade
do que estava acontecendo dentro de seu cérebro.
─ Hmm. Bem, está tudo dito e feito agora. Isso foi há muito tempo
atrás. ─ Eu não queria pensar na mamãe. Eu com certeza não queria
pensar no Sixsmith.
Tomei outro gole da garrafa e minha cabeça começou a zumbir. Eu
precisava ter cuidado. Eu podia beber bastante, mas não estava imune à
ressaca. As ressacas de tequila eram as piores.
Fix não disse nada quando se levantou, tirou os sapatos e se jogou
ao meu lado na minha cama. Eu arqueei uma sobrancelha para ele. ─
Uh... o que você pensa que está fazendo?

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CALLIE HART
─ Tenho certeza que gosta dos teus homens servos e mansos, Sera,
mas não vou me ajoelhar no chão para sempre.
─ Então vá e deite na sua cama.
Ele se apoiou no cotovelo e se inclinou sobre o meu corpo, pegando
a garrafa de tequila - um movimento bastante ousado para um cara que
estava mais do que um pouco gelado comigo no saguão há pouco tempo.
─ Como devemos passar para lá e para cá se eu estiver lá? ─ ele disse.
Seu sorriso selvagem o fez parecer particularmente voraz. Tão perto, eu
pude ver os detalhes do rosto dele... e eles realmente estavam bem. Linha
forte da mandíbula; maçãs do rosto altas; cílios longos e curvados. Ele
era o epítome de alto, moreno e bonito, e cheirava maravilhosamente
bem. Eu devastei meu cérebro, tentando fixar o perfume em uma única
origem, mas não consegui. Ele cheirava a manhãs de inverno, grama
molhada depois da chuva e lençóis limpos secando. Seu hálito cheirava
um pouco à tequila que estávamos bebendo, mas havia uma pitada
subjacente de hortelã. Ele provavelmente escovou os dentes depois do
banho.
─ Você está me encarando, ─ Fix murmurou.
─ Eu não tenho muita escolha. Você está pairando sobre mim tão
perto que está preenchendo todo o meu campo de visão.
─ Ponto justo. Posso te beijar agora?
─ O QUE? ─ Se ele tentasse me beijar sem aviso, eu o teria acertado
um tapa nas bolas com tanta força que ele nunca seria capaz de ter filhos.
Desde que ele perguntou, no entanto, resolvi enviar a ele um olhar tão
assustador que foi um milagre ele não fugir do quarto de motel e dormir
no sofá no lobby, afinal. ─ Por que diabos eu deixaria você me beijar?
Desde o momento em que nos conhecemos, você tem sido um idiota.
Somos completamente estranhos. Nós não temos nada em comum. Você
está apenas entediado e procurando uma maneira de passar o tempo. Eu
não vou ser seu entretenimento, ok? Caras como você são inacreditáveis.
─ Você nunca conheceu um cara como eu antes, ─ disse Fix,
inclinando a cabeça uma fração para a esquerda. ─ Eu sou único. E quem

DIRTY #1
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disse alguma coisa sobre eu usá-la para o meu entretenimento? Prefiro
que você me use para o seu entretenimento.
Sinceramente, esse cara. Ele era impressionante, não havia como
negar isso, mas sua arrogância não tinha limites. Único? Seus olhos o
tornavam único, mas o fato de ele pensar que poderia me fazer desmaiar
porque se aproximou de mim e tornou-o igual a todos os outros tipos que
conheci. ─ Apenas... esqueça, Felix Marcosa. Vou beber com você. Vou
compartilhar este quarto com você. Mas é isso.
Fix afundou de volta no colchão, suspirando. ─ Meu pau é
fenomenal. Você deveria ver. As mulheres adultas choram quando o
contemplam. ─ Ele deu um gole, longo e profundo, o que foi uma bênção.
Me deu um segundo para me recuperar depois daquele comentário de
pau. Supunha que uma parte de mim estava curiosa. Ele era um gigante.
Suas mãos eram como pás - fortes, poderosas e calejadas. Mãos que
foram usadas para construir, criar e destruir. Como elas me fariam
sentir, pelo meu corpo? Sua aspereza seria demais para a minha pele ou
faria minhas terminações nervosas cantarem com prazer.
A última pessoa com quem dormi foi meu ex, Gareth, quase seis
meses atrás agora. As mãos de Gareth não se pareciam com as de Fix.
Elas eram macias e bem cuidadas - nas mãos de um garoto rico e mimado
que nunca teve um dia de trabalho duro em sua vida. Ele não sabia como
me tocar. Eu fingi um orgasmo quase toda vez que estávamos na cama
juntos. As vezes em que eu não fingi um orgasmo eram as noites em que
simplesmente estava cansada demais para sequer fingir.
─ Tenho certeza que seu pau é magnífico, ─ eu disse, gemendo
baixinho. ─ Tenho certeza de que mulheres de todo o país esculpiram
réplicas de madeira, que adoram diariamente. É provavelmente o pau
mais impressionante que já teve uma ereção. Mas vou passar desta vez.
Fix estralou o pescoço; a ação destacou os músculos da garganta e
do ombro esquerdo. Sua camisa estava apertada o suficiente para que os
músculos do peito também estivessem pressionando o material. O cara
tinha músculos por toda parte, porra. Talvez ele fosse um atleta
profissional ou algo assim. Um jogador de futebol ou hóquei. Isso

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CALLIE HART
explicaria a atitude, se ele tivesse hordas de fãs adoráveis perseguindo-o
pela rua vinte e quatro horas por dia.
Ele não parecia perturbado pelo fato de eu ter recusado seu pau.
Recostando-se ao meu lado, ele pressionou a borda da garrafa de tequila
nos seus lábios tão perfeitos, levantou-a e bebeu. ─ Acho que devemos
tomar doses do resto disso e acabar de vez com a garrafa. Já estamos na
metade.
Esse era um comportamento realmente irresponsável. Estava
flertando com o desastre da pior maneira. ─ Está bem. ─ Peguei a garrafa
e bebi.
A hora seguinte passou em um borrão. Em algum momento,
comecei a me sentir bem. Muito bem. E então eu comecei a me sentir
bêbada e perdi a parte boa de me sentir bem.
Minha consciência continuava sussurrando em meu ouvido que eu
deveria dormir um pouco, que amanhã seria um dia longo, mas no final,
até ela começou a xingar suas palavras e dizer que diabos. Eu nunca
mais tinha me soltado. Eu era a pequena Srta. Sensata, conseguia dormir
em um horário razoável, trabalhando depois do expediente em meus
projetos, preparando minhas próprias refeições e ansiosa pelos
domingos, para poder limpar e dobrar toda a minha roupa.
Para onde Sera, amante de diversão, foi? Ela saía nos fins de
semana com Sadie e ficava bêbada, tecendo de braços dados com sua
amiga pelas ruas de Seattle, cantando canções obscenas no topo de seus
pulmões. Ela partiu em aventuras pelo inferno. Ela fez kite surf. Ela viu
um cara de quem gostava em um bar e deu o primeiro passo, porque era
confiante e sexy, e ela podia ser quem ela quisesse e fazer o que quisesse.
Agora eu me revistava, caçando de alto a baixo, e não encontrei
nenhum vestígio daquela Sera que foi deixada para trás. Ela desapareceu
e ninguém se preocupou em colocar cartazes de procura-se ou tentou
caçá-la, muito menos eu. ─ Quantos anos você tem? ─ Eu perguntei a
Fix, olhando para ele por cima do travesseiro que agora estava abraçando
no meu peito.

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─ Trinta e sete, ─ respondeu ele. ─ Você tem... ─ Ele entreabriu um
olho, me estudando. ─ Você tem 28 anos.
─ Sim. Uau. Eu tenho. A maioria dos homens adivinha quatro ou
cinco anos mais jovem do que realmente pensa que uma mulher tem,
apenas para acariciar seu ego. Isso significa que você acha que eu tenho
trinta e três anos?
─ Não. Você aparenta ter vinte e oito. Eu não jogo jogos idiotas.
─ Pffftttt. Okay, certo.
─ Eu não jogo.
─ O que foi essa merda toda de ‘quer ver meu pau’, então? Isso foi
um jogo, se eu já vi um.
─ Eu peço desculpa, mas não concordo.
─ Você estava tentando me perturbar. Me deixar envergonhada e
tímida ou alguma merda. Os homens acham que as mulheres desmaiam
sempre que mencionam seus paus. Isto é hilário.
─ Eu disse porque quis dizer isso. Felizmente vou provar isso.
Eu levantei a garrafa de tequila quase vazia, inclinando-a na
direção dele. ─ Seja meu convidado. ─ Ele não iria sacudir o seu pau aqui
e agora. Mesmo um falador suave, de fala mansa e grande como ele, não
tirava as calças e simplesmente colocava o pau para fora. Ele não tirou
aqueles olhos pálidos de mim enquanto desabotoava o cinto. Continuou
a me encarar quando ele abriu o zíper. E ele manteve contato visual a
cada segundo enquanto empurrava a cueca para baixo sobre os quadris,
e seu pênis saltou livre.
Oh... meu... Deus.
Eu pedi essa.
Eu não estava olhando. Não ousei olhar para baixo para ver o que
estava fazendo com as mãos e o pau. Eu apenas segurei o olhar
intimidador de Fix, fazendo o possível para não reagir como uma
menininha pudica. ─ Você é um idiota, ─ eu o informei. ─ Você pode
guardar isso agora.
─ Mas você nem olhou. Ficarei ofendido se você nem der uma
olhada rápida. ─ Seu sorriso era diabólico, para dizer o mínimo.

DIRTY #1
CALLIE HART
─ Tanto faz. ─ Agarrei a garrafa de tequila com tanta força que
suspeitei que não estava longe de quebrar o pescoço de vidro. Olhei para
baixo, tentando agir com indiferença, mas senti minhas bochechas
corarem no momento em que vi o que Fix estava fazendo. Não apenas ele
era grande, mas as duas mãos estavam em volta do pênis, e ele as estava
trabalhando lentamente para cima e para baixo. Seu pau realmente era
impressionante. Eu tinha certeza de que muitas mulheres desmaiaram
ao vê-lo, porque estava me sentindo bastante impressionada e
normalmente não me importava com a aparência do pau de um homem,
desde que ele soubesse usá-lo.
Pelo brilho sexual e escuro nos olhos de Fix, eu poderia dizer que
ele sabia exatamente como usar essa coisa.
─ Você realmente não tem vergonha, não é? ─ Eu disse, bebendo
para esconder o rubor que manchava minhas bochechas.
Fix olhou para si mesmo; ele chupou o lábio inferior na boca e o
mordeu, puxando-o entre os dentes, gemendo um pouco. Ele apertou o
pau nas mãos, depois deixou a cabeça cair sobre os travesseiros. ─
Vergonha? ─ Ele riu. ─ Eu sei tudo sobre vergonha. Eu costumava lutar
com essa merda a cada hora do dia em que estava acordado. Agora não
tenho tempo.
─ Se masturbando demais?
Fix soltou um suspiro de risada divertida. ─ A vida é curta demais
para esse tipo de besteira. Eu gosto quando é real. Eu gosto de ser
honesto, tanto quanto eu posso ser, especialmente comigo mesmo. Você
é honesta consigo mesma, Sera?
─ Sim.
─ Então me diga... ver eu me tocar está te excitando?
Hesitei com a pergunta. Ele realmente não tinha o direito de me
perguntar coisas pessoais assim, mas, novamente, ele não tinha
exatamente o direito de acariciar seu pau na minha frente também. Eu
praticamente o convidei para fazer isso. Olhei para baixo, meu coração
parando por algumas batidas enquanto eu observava Fix provocar o fim
de seu pau. Ele estava tão duro. Ele deve ter ficado duro antes mesmo de

DIRTY #1
CALLIE HART
desabotoar as calças e tirar o pau. Ele se contorceu um pouco quando
ele apertou a mão para cima e para baixo, e uma parede de calor bateu
em mim, roubando minha respiração. Ele estava me excitando.
Observá-lo fazer isso parecia... errado. Sujo. Imoral. Mas não
consegui desviar os olhos dele. Eu apertei minha mandíbula, canalizando
uma faixa desafiadora poderosa, como eu disse o mais uniformemente
que pude, ─ Sim. Está me excitando. Você sabe que está.
Fix emitiu um gemido apreciativo, baixo e áspero, como se tivesse
origem em suas bolas. Ele parecia muito satisfeito com a minha resposta.
─ Você está molhada agora?
Tomei outro gole de tequila, fazendo uma careta quando o sabor
amargo mordeu em cada lado da minha língua, queimando um caminho
ardente no fundo da minha garganta. ─ Sim. Estou molhada. Porém, não
muda nada. As coisas me excitam o tempo todo. Não cedi a todos os
desejos e caprichos que se apresentam para mim.
─ Deslize sua mão pelas calças, Sera. Toque-se. Mostre-me como
você está molhada.
Ele estava sendo sério? Quero dizer, não havia como eu fazer isso.
Eu nunca tinha me tocado na frente de ninguém antes. Nunca. ─ Você
pode esquecer isso, Fix.
─ Por quê? ─ Eu não teria pensado que isso fosse possível, mas a
luxúria havia tornado o timbre de sua voz ainda mais profundo. Ele tinha
a voz mais sexy, quando falava normalmente. Agora, visivelmente
excitado e sem fôlego, o registro da sua voz profunda fez minha cabeça
inclinar e girar. Se não tomasse cuidado, cairia da cama.
─ Somos estranhos, ─ eu disse, limpando a garganta. ─ Não sou
uma exibicionista escandalosa. Eu não começo a me masturbar na frente
de um cara que conheci apenas algumas horas atrás.
─ Você deveria tentar. É divertido ─ Fix rosnou. ─ Não vou tocar
em você, Sera. Não se você não quiser. Mas isso não significa que você
não deve fazer isso sozinha. Você deveria se divertir. Você deve fazer o
que diabos você quer fazer.

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CALLIE HART
─ Ah, e você não ganha absolutamente nada de mim deitada ao seu
lado, me tocando? ─ Eu zombei. Merda, mesmo dizendo isso em voz alta
fez uma piscina de calor entre as minhas pernas. Estava começando a
doer, de uma maneira que não doía há muito tempo. Era inapropriado.
Não estava certo que meu corpo estivesse respondendo a ele do jeito que
estava, mas eu não conseguia controlar.
─ Eu tiraria muito proveito disso, ─ ele admitiu. ─ Eu me
beneficiaria imensamente vendo você deslizar os dedos sobre sua boceta
molhada. Isso me deixaria louco. Especialmente se você levantar a
camisa e puxar o sutiã para que seus peitos ficassem expostos.
─ Haha! Você está ficando ganancioso. ─ Eu ri, mas estava ficando
cada vez mais excitada a cada segundo. Fix estava apenas usando a mão
direita em si mesmo agora, e eu estava perdendo minha batalha contra a
impropriedade, lutando e deixando de desviar o olhar. Porra, ele
realmente era algo para se ver. Seu pênis tinha mais de vinte centímetros,
mas ele também era grosso. O dedo médio e o polegar de Fix não se
encontravam na circunferência do seu pau duro enquanto ele apertava o
punho e aumentava a velocidade com a qual ele movia a mão para cima
e para baixo.
Gareth nunca quis fazer sexo com as luzes acesas, o que era
estranho, dado o tempo que ele passava flexionando e posando em frente
aos espelhos de corpo inteiro no meu quarto. Fix não se deixou abalar e
não foi afetado pelo que ele estava fazendo, o que de alguma forma deixou
tudo ainda mais quente.
─ Sera. Ser ganancioso é ótimo. Seja gananciosa. Seja exigente.
Tenha muita fome. Pegue o que quiser. Se você quer tocar sua boceta e
se sentir bem, faça-o. Se você quer me tocar, se você quer acariciar meu
pau e me deixar tão duro que não vou conseguir parar de foder sua mão,
então faça. Se você quer que eu te segure e enterre minha língua entre
suas pernas, para lamber e provocar você até que você esteja me
implorando para deixá-la gozar, então vamos fazer isso acontecer. Se
tudo o que você quer, é que eu pare de ser tão idiota e pare de me
masturbar bem ao seu lado, diga-me e eu pararei imediatamente. O que

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você quiser, apenas reivindique. Solte-se. Ou mande eu me foder. Mas
seja honesta.
─ Eu... ─ Meu primeiro instinto foi dizer a ele para guardar o pau
e ir dormir, mas eu me parei. Talvez... porra, talvez ele estivesse certo. Eu
não tive uma única experiência sexual de que desfrutei, em muito tempo.
Onde estava o problema em fazer algo se eu ia gostar? E... talvez o fato
de Fix e eu sermos estranhos fosse uma coisa boa. Ele morava em Nova
York. Eu morava em Seattle. Não era como se eu tivesse que lidar com
ele andando pela minha cidade todas as noites da semana. Ele seguiria
o seu caminho e amanhã, assim que as estradas estivessem limpas, eu
estaria acelerando em direção ao casamento de Amy. Meus ouvidos
estavam zumbindo quando larguei a garrafa de tequila, exalando uma
respiração profunda e lenta.
Eu ia me arrepender disso. Eu sabia que ia. Mas amanhã, era o
futuro problema de Sera e, no momento, eu estava bêbada, frustrada e,
graças ao fato de Fix ter o pau na mão e acaricia-lo para cima e para
baixo com intenção, eu estava ficando cada vez mais excitada.
Não disse nada. Em vez disso, desabotoei minha calça jeans e
deslizei-a pelas minhas pernas, me fortalecendo, implorando para que
minhas mãos não tremessem enquanto as corria pelo interior das minhas
coxas.
Eu normalmente me tocava todos os dias. Era apenas parte da
minha rotina de banho. Ser observada tornou o processo muito mais
intenso, no entanto. O peito de Fix começou a subir e a cair um pouco
mais rápido, as pálpebras abaixando, o desejo escorrendo dele enquanto
ele me observava puxar minha calcinha para o lado e tentar esfregar-me.
─ Porra, Sera. Sua boceta é incrível. Você está encharcada. ─ Ele
soltou um som que parecia um rosnado selvagem, e arrepios irromperam
por toda a minha pele. Isso era tão esquisito. Era estranho, e estava
quente, e isso me faria desejar nunca ter nascido amanhã, mas o olhar
no rosto de Fix me fez querer continuar. Ele estava me observando como
se eu fosse a coisa mais quente que ele já viu, e isso me fez sentir como
se estivesse brilhando.

DIRTY #1
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─ Mostre-me, Será, ─ ele sussurrou. ─ Deixe-me olhar para você.
─ Ele ficou de joelhos, posicionando-se no final da cama, e um breve
momento de pânico tomou conta de mim. Eu não conhecia esse cara. Ele
poderia ser capaz de qualquer coisa, e eu fiquei presa em um quarto com
ele, e havia uma tempestade feroz lá fora. Ninguém me ouviria se eu
pedisse ajuda. Sobre o vento uivante e a chuva, minha voz seria abafada
e perdida. Eu achava que ele ia me machucar? Eu olhei para Fix, onde
ele agora estava ajoelhado entre as minhas pernas, e só vi desejo em seu
rosto. Seu pênis estava orgulhosamente em pé, e eu o queria. Eu
finalmente admiti para mim mesma. Eu queria senti-lo em minhas mãos.
Eu o queria na minha boca. E sim, eu também o queria dentro de mim.
Só não sabia se seria corajosa o suficiente...
Respirei fundo e fechei os olhos, as pontas dos dedos trabalhando
em pequenos círculos sobre o meu clitóris.
─ Merda, Sera. Você é linda pra caralho.
─ O que... o que você quer que eu faça? ─ Eu perguntei, engolindo
o caroço que subiu para minha garganta.
─ Isso não é sobre mim, ─ respondeu Fix. ─ É sobre o que você
quer. Se você quer que eu te observe, se você quer que eu te foda, se você
quer que eu te deixe em paz. Apenas diga a palavra.
Toda vez que eu olhava para ele, eu era pega de surpresa
novamente. Ele não era apenas bonito. Havia algo nele que me fazia sentir
muito pequena. Ele era um poder bruto, inexplorado, uma tempestade
presa dentro de uma garrafa, e tive a sensação de que ele se enfurecia
dia e noite, não importa o quê. Não parecia ser seguro estar tão perto
dele, como se eu estivesse sendo atraída cada vez mais contra a minha
vontade, e não importava o quanto tentasse resistir a ele, simplesmente
não conseguia. Movendo-me devagar, tirei o sutiã na frente, debaixo da
camisa, e depois deslizei o restante das roupas por cima da cabeça,
jogando-as no chão ao meu lado.
─ Porra, ─ Fix rosnou. ─ Seus seios são apenas... ─ Ele levantou a
mão e imediatamente a retirou. ─ Eles são fenomenais, Sera.
─ Você quer tocá-los, ─ eu disse calmamente.

DIRTY #1
CALLIE HART
Ele nem sequer piscou. ─ Sim. Mas eu não vou. Não até você me
dizer que quer que eu faça.
─ Eu quero... Quero que você os toque. Quero que você chupe e
morda meus mamilos. ─ Eu não sabia de onde isso veio, mas no momento
em que as palavras saíram da minha boca, percebi que eram verdadeiras.
Meus seios estavam inchados e cheios, meus mamilos latejavam junto
com a louca pressão do meu batimento cardíaco. Fix permaneceu
absolutamente imóvel por um momento, como se estivesse esperando que
eu mudasse de ideia. Quando arqueei minhas costas para longe da cama,
permitindo que meus olhos se fechassem, ele xingou violentamente e se
moveu. Ele segurou meus dois seios, testando o peso e a plenitude deles,
e então ele apertou e amassou minha carne, um gemido de dor escapando
de sua boca.
─ Você iria ficar muito gostosa com o meu gozo. ─ Suas palavras
soaram como metal moendo metal. ─ Seu corpo é impecável pra caralho.
Eu sabia que isso não era verdade. Eu tinha muitas cicatrizes e
marcas pelo tempo com as atenções de Sixsmith, então estava longe de
ser perfeita. Nada disso importava quando Fix me acalmava, passando
as mãos sobre a minha pele, no entanto. Foi libertador deixar alguém me
tocar e me apreciar do jeito que ele estava fazendo. Ele se abaixou e eu
engasguei quando ele levou meu mamilo esquerdo em sua boca, roçando-
o levemente com os dentes antes de chupar.
─ Eu quero... ─ gaguejei sobre as palavras, sem saber como cuspi-
las. ─ Quero me afundar em você. ─ Eu imediatamente me arrependi de
ter dito isso, mas era tarde demais para voltar agora. Fix se inclinou para
trás, passando os dedos pela minha bochecha, pela minha mandíbula e
pelo comprimento do meu pescoço, seus dedos parando na minha
clavícula.
─ Você não parece tão certa disso.
─ Eu estou.
─ Você quer que eu deslize meu pau pelos seus lábios,
profundamente em sua garganta, Sera?
─ Sim.

DIRTY #1
CALLIE HART
─ Você quer me sentir cada vez mais duro enquanto me chupa?
Você quer me provar?
─ Sim! ─ Me fode agora. Ele era bom com palavras. Bom em me
fazer querer ele mais do que nunca, mesmo estando bêbada e nervosa.
Fix se inclinou, de modo que sua boca estava pairando a meros
centímetros de distância da minha. Ele abaixou a voz, e eu não pude
deixar de tremer quando ele disse: ─ Você quer me receber, Sera? Você
quer isso na sua boca? Você quer me engolir?
─ Porra... sim!
─ Bom. Boa menina.
Abri os olhos quando Fix mudou meu corpo, ajoelhando-se em
ambos os lados da minha cabeça. Seu pênis encheu minha visão, o que
fez eu me contradizer por um momento. Ele era enorme. Eu ia me
engasgar com isso, e Fix iria adorar. Ainda assim, minha boceta estava
louca e molhada quando abri meus lábios e Fix se empurrou em minha
boca. Eu estava certa: eu mal conseguia encaixar metade do
comprimento dele dentro da minha boca.
Fix se moveu lentamente, balançando-se suavemente dentro e fora,
produzindo sons tensos e frustrados enquanto eu chupava e lambia seu
pau. Ele tinha um sabor meio doce - um sabor completamente inesperado
e vagamente agradável que não era nem de longe tão salgado quanto eu
imaginava que seria. Inclinando o corpo para a frente, Fix plantou as
mãos contra as paredes, apoiando-se e começou a empurrar com mais
força. Eu não conseguia nem engolir minha própria saliva ao redor dele,
mas Fix não parecia se importar. Ofeguei pelo nariz, ficando cada vez
mais corajosa toda vez que ele se empurrava para dentro da minha boca
e percebi o quanto ele estava ficando duro. Ele estava tão excitado.
─ Seus lábios são incríveis enrolados no meu pau, ─ ele rosnou. ─
Vou ter sonhos molhados sobre isso por anos, porra.
Também não esquecerei isso tão cedo. Agarrei a base de seu pênis,
aplicando pressão lá, esfregando minha mão para cima e para baixo
enquanto chupava, e o corpo inteiro de Fix estremeceu. ─ Se você
continuar fazendo isso, vai me fazer gozar, Sera.

DIRTY #1
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Era um aviso de várias maneiras: ele estava me avisando para
esperar pelo seu gozo se eu continuasse nesse caminho, mas também
que ele não seria capaz de fazer mais nada se terminasse. Eu queria que
ele me fodesse? Eu realmente, realmente o queria dentro de mim? A
resposta, apesar do resto de senso comum que eu ainda possuía após
meia garrafa de tequila, era sim, eu queria. Empurrando-o para trás,
ofeguei, ainda correndo minha mão para cima e para baixo no pau de Fix.
─ Eu quero você dentro de mim, ─ eu disse a ele. ─ Quero que você
me foda. Quero que você me faça gozar.
Fix moeu os dentes, apalpou meu peito, apertando meu mamilo
com tanta força que gritei. ─ Como você quer que eu te foda? Seja
específica.
─ Por trás. Quero que você me foda o mais forte que puder ─ falei.
─ Quero que você me faça ver estrelas.
─ Oh, ... eu posso fazer isso. ─ Demorou menos de um segundo
para ele tirar a camisa pela cabeça, e então ele estava nu. Seu peito e
estômago eram... eu literalmente não tinha nada nem perto para
compará-los. Ele era tão incrivelmente perfeito; ele parecia ter sido
evocado pelo sonho de alguém, não nascido da realidade. Sua pele era de
uma cor dourada clara, um bronzeado pelo sol que provavelmente veio
de semanas passadas ao sol. Eu queria passar minhas mãos sobre ele,
explorar e apreciar todas as curvas e linhas definidas de músculos, mas
Fix tinha outras ideias.
─ Fique de bruços e coloque essa bunda no ar, ─ ele ordenou
bruscamente. ─ Quero ter certeza de que você está bem aberta pra mim.
Graças a Deus meu sangue era principalmente álcool no momento.
Eu morreria de vergonha se alguém falasse comigo assim enquanto eu
estivesse sóbria. Eu rolei na minha frente e o obedeci, porém, levantando
minha bunda no ar para ele inspecionar.
Ele mostrou sua apreciação batendo na minha bunda, não forte o
suficiente para machucar, mas forte o suficiente para deixar uma marca
de mão ardente.
─ Ahhh! Merda!

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CALLIE HART
─ Você queria que fosse bruto, ─ Fix me lembrou. ─ Diga-me se
você mudar de ideia. ─ O som que ele fez quando esfregou a ponta do seu
pau na minha boceta e minha bunda enviou arrepios por toda a minha
pele. Ele parecia tão excitado quanto eu, se não mais. Quando ele se
empurrou dentro de mim, eu sufoquei um gemido nos travesseiros.
─ Porra. Oh, porra. Isso... é demais!
Fix curvou seu corpo sobre mim, seu peito nas minhas costas, e
seu hálito quente dançou sobre minha pele quando ele sussurrou em
meu ouvido. ─ Respire. Seu corpo vai resolver isso. Apenas dê um
segundo.
Então eu respirei. Três respirações longas e profundas, depois
outra e depois outra. Pouco a pouco, percebi que Fix estava certo. Eu
estava relaxando, me alongando para acomodá-lo dentro de mim, e
estava começando a me sentir bem. Eu choraminguei quando Fix
começou a empurrar-se dentro de mim, balançando-se para a frente, me
segurando pelos quadris enquanto ele gentilmente empurrava mais
fundo. Deus, era incrível como eu estava molhada. Quando Fix realmente
começou a me foder, eu estava pronta para ele e implorando a ele
silenciosamente que me fizesse gozar.
Meu orgulho não me permitia implorar em voz alta, mas no final
eu não precisava. Fix estava em sintonia comigo, lendo meu corpo e
respondendo de acordo. Eu nunca fui uma daquelas mulheres que
gritavam durante o sexo, mas eu não conseguia parar de gemer e gritar
toda vez que o pau de Fix batia na minha boceta. Parecia... merda,
parecia tão incrível. Especialmente quando Fix alcançou meu corpo e
começou a esfregar meu clitóris ao mesmo tempo. Ele era talentoso com
os dedos e definitivamente era talentoso com seu pau.
─ Jesus. Você... isso vai me fazer gozar ─ ofeguei.
Ele não respondeu. Ele pegou um punhado do meu cabelo e o
puxou para trás enquanto me fodia mais rápido, sibilando entre os
dentes.
─ Porra. Eu - Eu vou - Não consigo parar. Eu... ─ Fiquei sem
palavras e oxigênio ao mesmo tempo, enquanto Fix metia em mim, seus

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dedos cavando minha pele. Meu clímax era mil fogos de artifício
acendendo dentro da minha cabeça, e eu não conseguia ver, me mover
ou sentir o caminho. Eu só poderia ir com isso, permitindo que os picos
e ondas de prazer passassem por mim enquanto eu gozava. Foi
espetacular pra caralho.
─ Minha vez agora, ─ Fix retumbou em meu ouvido. ─ Você quer
que eu goze?
─ Sim. ─ Eu exalei a palavra em uma respiração exausta.
─ Onde você quer que eu goze?
─ Dentro de mim, ─ eu disse a ele. ─ Estou no controle da
natalidade. ─ A perspectiva de ele gozar dentro de mim me excitou mais
do que qualquer coisa antes. Eu nunca deixei Gareth gozar dentro de
mim, mesmo que eu recebesse a injeção contraceptiva a cada três meses.
Eu nunca quis ser tão íntima com ele. Mas com Fix, um homem que eu
nem conhecia, e nunca conheceria, eu queria tanto que não conseguia
pensar em mais nada.
─ Ta bom. Vou me deixar ir ─ Fix falou no meu ouvido. ─ Eu não
vou me segurar. Você ainda quer isso?
─ Sim! Porra sim, Fix. Faça-me gozar de novo.
Por trás, Fix passou a mão em volta do meu corpo, seus dedos se
fechando levemente em volta da minha garganta. Seus lábios roçaram
meu ouvido enquanto ele falava. ─ Oh, eu pretendo fazer isso. Prepare-
se, Anjo.
E ele me fodeu. Ele balançou contra mim, enfiando-se em casa, me
fazendo gritar cada vez que se empurrava dentro de mim o mais fundo
que podia. Era tão bom. Mais que bom. Parecia incrível.
Quando ele gozou dentro de mim, eu gritei, meu próprio orgasmo
rasgando através de mim ao mesmo tempo, e Fix se agarrou ao meu
corpo, me segurando forte, me trancando no lugar enquanto ele me
bombeava cheia com sua porra. Eu estava cansada e esgotada quando
ele me virou e me deitou no colchão.
─ Viu? Ser ganancioso é incrível pra caralho ─ ele disse
calmamente. Sua mão deslizou para baixo, entre as minhas pernas, e

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meus olhos reviraram na minha cabeça quando ele mergulhou os dedos
na minha boceta. Eles estavam pegajosos e cobertos por ele quando ele
os segurou um segundo depois. Eu estava cansada demais para
perguntar o que ele estava fazendo, enquanto ele usava as pontas dos
dedos para pintar em volta das minhas aréolas e os botões apertados dos
meus mamilos. Ele pintou uma linha na minha barriga e depois passou
a esfregar seu sêmen por todo o interior das minhas coxas e quadris. Ele
sorriu como o próprio diabo quando esfregou os dedos nos meus lábios,
e eu usei a ponta da minha língua para prová-lo.
─ Anjo mau, ─ ele sussurrou, sorrindo como se para si mesmo. ─
Feche seus olhos agora. Está na hora de descansar um pouco.

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QUATRO
DÍVIDA

SERA

Como ainda poderia estar chovendo? Gotas de água caíam nas


janelas, o som de dedos batendo insistentemente contra o tampo de uma
mesa e a fraca luz cinzenta da manhã atravessava as cortinas
amareladas, penduradas em um pedaço barato de arame revestido de
plástico, suspenso ao acaso por ganchos aparafusados diretamente no
teto. Fechei os olhos, gemendo internamente. Que horas eram? Eu tinha
acordado cedo a vida toda - meu relógio biológico normalmente me
acordava por volta das seis da manhã. A julgar pela tentativa anêmica do
sol ao amanhecer, hoje não foi diferente. Estendi a mão para o meu
telefone, batendo minha mão contra a superfície da mesa de cabeceira
antes de localizar o dispositivo e arrastá-lo para baixo das cobertas
comigo. Abrindo apenas um olho, inspecionei a tela, já preparada para
ficar com raiva do que quer que fosse exibido lá. O relógio marcava seis e
meia. Ótimo. Havia duas mensagens de texto de Amy, pedindo que eu
ligasse e que ela soubesse o que estava acontecendo o mais rápido
possível, e três ligações perdidas de Ben, que provavelmente já estava
tendo um ataque. Nenhuma mensagem do escritório, no entanto.
Nenhuma de Colby, minha babá de cachorro, e nenhum de Sadie.
Joguei as cobertas para trás, resistindo à vontade de cuidar do meu
crânio. Era minha culpa que minha cabeça estava latejando. Era o que
acontecia quando você acabava com uma garrafa inteira de tequila. Só
que…
Ah merda.
Eu não terminei a garrafa sozinha. Eu compartilhei com um ingrato
de boca suja chamado Fix e... oh meu Deus. Eu fodi o bastardo.

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Fiquei o mais imóvel possível por um segundo, descobrindo minhas
opções. O colchão ao meu lado estava frio, o que significava que ele não
dormia ao meu lado. Isso foi um alívio. Mas era cedo - ele provavelmente
ainda estava caído na outra cama. Porra.
Isso era tão, tão típico. Eu era minha pior inimiga; sem falhar, fui
abençoada com a estranha capacidade de enfrentar uma situação ruim e
torná-la ainda pior. Hora de colocar toda a minha porcaria de volta no
carro alugado e dar o fora daqui. E antes que meu colega de quarto acorde
também. Só que, quando me virei, pronta para entrar no banheiro para
escovar os dentes rapidamente antes de sair, Fix não estava em lugar
algum. Sua cama estava intocada, seus lençóis apenas um pouco
amarrotados de onde ele colocou sua bolsa na noite passada. A bolsa que
agora se fora. Ao me virar, vi o recuo no travesseiro ao meu lado, o
edredom jogado de volta para o outro lado da cama e rosnei para mim
mesma. Ele dormiu na cama comigo. Ele acabou de se levantar e
desapareceu. Eu não sabia o porquê, mas me irritou que ele conseguisse
sair antes de mim. Teria sido muito mais gratificante ter sido eu a
esgueirar-se sobre ele, e não o contrário.
Vesti-me, tomei um banho de dois minutos e corri para o carro,
xingando alto o fato de que eu estava novamente encharcada pela chuva.
Demorou trinta segundos para jogar minhas malas no porta-malas do
carro. Eu não tinha comido ontem à noite e meu estômago estava
roncando alto. O letreiro da Liberty Fields Guest House do lado de fora
do prédio alegava que o motel oferecia um café da manhã continental
entre as sete e as nove, mas eu não ia dar uma volta para verificar se
havia alguma oferta insignificante no saguão. De jeito nenhum. Eu
pegava alguma coisa na estrada, uma vez que deixava Liberty Fields para
trás, e o lugar de pesadelo desapareceu completamente do meu espelho
retrovisor.
Vinte e duas horas e dezessete minutos: a quantidade de tempo
que levaria para chegar a Fairhope, quando coloquei a localização da
igreja no aplicativo de navegação do meu telefone. A cerimônia estava
atrasada - duas da tarde - e ontem à noite Aims disse que poderia adiar

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um pouco a cerimônia para acomodar meu atraso, se ela precisasse.
Então havia tempo. Contra todas as probabilidades, eu conseguiria.
Obrigado, porra, por isso.
Liguei o motor, girei o volante, pisei no acelerador e um barulho
alto e ofensivo assaltou meus ouvidos. Que raio foi aquilo? O carro
avançou, mas parecia irregular. Errado. Ah não. Ah não. Isso não estava
acontecendo. Não. Estava. Acontecendo.
Fiquei muito quieta por um momento, olhando para a frente do
carro, minhas mãos segurando o volante, enquanto minha mente
recuava. Eu não sabia nada sobre carros. Eu não fazia ideia do que havia
de errado com o veículo, mas não parecia bom. Certamente não parecia
algo que iria desaparecer por conta própria. O mundo lá fora era um
borrão de cinza, azul e marrom como as folhas com a água escorrendo
pelo para-brisas. Eu tinha o Triplo A. Eu poderia ligar para eles e alguém
viria resolver o problema para mim de graça, mas quanto tempo eles
levariam para chegar? Nesse clima, com tantas pessoas lutando para ir
de A a B, levaria horas e eu não tinha horas.
Uma batida na minha janela me assustou, perturbando minha
descida em desespero. Eu quase gritei de frustração com a figura escura
e distorcida ao lado do meu carro, mas em vez disso rosnei baixinho,
batendo a palma da mão contra o console central do carro. Uma rajada
de vento soprou no carro quando eu desci a janela, e a rajada de água da
chuva gelada me atingiu bem na cara. Era Fix. Claro que era Fix. Ele
estava vestindo uma camiseta preta e bermuda, e as duas peças de roupa
estavam molhadas e coladas ao corpo. Ele estava coberto de lama, seus
tênis tão grudados nas coisas que eu nem conseguia ver de que cor eram,
e suas panturrilhas nuas pareciam ter sido pulverizadas com sujeira. Seu
rosto estava vazio quando ele se abaixou, descansando os antebraços
contra a porta do lado do motorista.
─ O que você estava fazendo? ─ Eu assobiei para ele.
─ Com o que se parece? Eu fui correr. ─ Seu cabelo estava espetado
pela água, os fios mais longos em cima de sua cabeça escorregavam para
fora do rosto. Era ridiculamente injusto: ele estava sexy demais para

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resistir na noite passada e agora, parecendo ter acabado de completar
um curso de agressão, ensopado, ele era ainda mais sexy. Obscuro,
pensativo e delicioso. Eu bati contra a maneira como meu coração batia
forte na caixa torácica, deixando-me saber exatamente o que pensava
sobre Felix Marcosa, pós-corrida. Estava fazendo o meu melhor para
dominar minhas feições em uma expressão sem emoção, mas eu não
estava conseguindo, eu poderia dizer.
─ Quem dá uma corrida nesse tipo de... ugh, deixa pra lá. ─ Eu
balancei minha cabeça, batendo a palma da mão no volante. ─ Meu carro
está quebrado.
─ Não é seu carro. Seus pneus. Você tem um pneu furado.
─ Oh. É isso? ─ Isso era um alívio. Um pneu furado era fácil. Um
pneu furado era na verdade algo que eu poderia cuidar eu mesma. ─ Eu
tenho um sobressalente no porta-malas.
─ Um não vai servir, ─ Fix disse casualmente, batendo a unha
contra a borda da janela. ─ Você tem três pneus furados.
─ O que? Três? Como você sabe?
Fix olhou para baixo, um sorriso fantasma erguendo os cantos de
sua miserável, perfeita e talentosa boca. Senhor, o homem era divino. ─
Bem. Você está sentada nos aros. Mas foram os enormes cortes de 15 cm
na borracha que realmente o revelaram.
─ Isso não é possível. ─ Soltei o cinto de segurança e saí do carro,
ofegando quando vi o estado dos meus pneus. Eles estavam
completamente desinflados desse lado e, como Fix havia dito, havia
enormes e profundos rasgos na borracha. ─ Como? ─ Agachei-me,
enfiando o dedo diretamente no pneu, através do buraco. ─ Não há como
uma pedra fazer isso.
Fix encostou a bunda no capô do veículo, cruzando os braços sobre
o peito. ─ Sim. Você pode descartar com segurança este acidente.
─ Você quer dizer que alguém fez isso de propósito? ─ Assim que as
palavras saíram dos meus lábios, eu me levantei, minha boca aberta
como uma armadilha de Vênus, esperando para pegar o jantar. ─ Você!

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─ Eu o cutuquei no peito com o dedo indicador, a raiva saindo de mim.
─ Você fez isso!
Fix soltou uma gargalhada, sua cabeça inclinando-se para trás
enquanto ele rugia. ─ Por que diabos eu faria isso? Eu gosto das minhas
bolas penduradas bem aqui entre as minhas pernas, Anjo.
─ Nojento. Não fale sobre suas bolas.
─ Por que não? ─ Ele praticamente ronronou as palavras. ─ Você
parecia apreciá-las bastante ontem à noite, quando elas estavam batendo
na sua boceta enquanto eu te fodia por trás.
─ Santo... ─ Ele era um porco. Eu balancei minha cabeça, depois a
inclinei para um lado. ─ O que diabos há de errado com você?
Simplesmente... pare. Não fale da noite passada de novo. Não há
necessidade de refazer minha estupidez bêbada.
─ Mas eu adoraria refazê-la. ─ Ele era um felino. Um predador
consumado. Eu não tive chance contra ele - não com suas roupas
ensopadas exibindo todas as curvas e linhas ultrajantes de seu peito
musculoso.
─ Apenas desista. Você é a única pessoa aqui que cortaria meus
pneus! ─ Eu chorei. Tinha que ser ele. Tinha que ser.
─ A noite passada foi fenomenal pra caralho, Sera. Apreciei muito
seu corpo incrível, sem mencionar sua boca talentosa. A partir de agora,
eu diria que sou provavelmente a única pessoa em Liberty Fields que não
gostaria de cortar seus pneus.
Eu apertei minha mandíbula, olhando para ele com a força de mil
sóis voláteis. ─ Pensei que tivéssemos concordado em não falar sobre a
noite passada.
Gotas de água escorreram pelo rosto de Fix. Ele lambeu os lábios
molhados, e minha mente me transportou de volta para sua forma nua
na noite passada, e a maneira como ele passou a mão para cima e para
baixo em seu pau duro, parecendo que ele queria cravar os dentes em
mim. Oh, pelo amor de Deus…

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Ele sorriu, como se soubesse exatamente o que eu estava
pensando. ─ Talvez você deva ser menos rude com as pessoas que
conhece no meio de uma tempestade.
─ Isso não é engraçado, Fix! Minha irmã vai me matar. Eu jurei que
não a decepcionaria e agora vou fazer exatamente isso. Sou a única
pessoa em quem ela pode confiar. Sou a única pessoa em toda a sua vida
que não deixa cair a bola continuamente. E agora vou quebrar uma
promessa que fiz a ela, e é tudo culpa sua.
Fix ergueu as mãos no ar, afastando-se do carro. ─ Isso não tem
nada a ver comigo. Eu juro. Não toquei no seu carro.
A pior parte era que ele realmente parecia estar dizendo a verdade.
Teria sido muito mais conveniente para mim culpá-lo, porque ele estava
parado na minha frente. Eu poderia ter atirado minha raiva e frustração
dele, e eu poderia ter me sentido um pouco melhor, pelo menos. Mas com
ele aparentemente sendo inocente do crime... Eu arrastei minhas mãos
pelos cabelos, lutando contra as lágrimas. Quantas outras coisas
poderiam dar errado nessa viagem? Nem quero pensar nisso.
─ Ta bom. ─ Examinei seu rosto estúpido e bonito pelo canto do
olho. ─ Se você é tão bom em consertar as coisas, Felix, conserte isso. ─
Minha voz era baixa e suplicante. ─ Por favor. Eu realmente preciso de
ajuda agora, ou vou perder a cabeça.
O sorriso no rosto de Fix deslizou um pouco. Seus ombros caíram
pelo menos três polegadas, e um olhar estranho se formou em seu rosto.
Um olhar que lembrava surpresa silenciosa. ─ Eu tenho um compromisso
esta manhã, ─ ele disse lentamente. ─ Um compromisso que não posso
perder.
─ Então vá! Cuide do seu compromisso e eu o encontro em Liberty
Fields. Eu só preciso de uma carona até a próxima cidade. O próximo
lugar que eu posso alugar outro carro. Qualquer lugar. Por favor! Apenas
me leve de volta à civilização. Eu sempre estarei em dívida com você.
Fix parecia pensar sobre isso. Por um segundo, tive certeza de que
ele iria dizer não, e meus olhos começaram a arder como as miseráveis
lagrimas traidoras. Por fim, ele disse: ─ Eu te dei a melhor merda da sua

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vida ontem à noite, Sera Lafferty. Você já está em dívida. Mas vou lhe dar
uma carona ─ ele disse, travessuras e arrogância brilhando em seus
olhos. ─ E você me deve um favor para ser reembolsado posteriormente.
Nós temos um acordo?
─ Você parece um pirata, ─ eu resmunguei.
─ Sera...
─ Sim, sim, tudo bem. Te devo um favor. Não vejo como você vai
lucrar quando morarmos em lados opostos do país, mas tanto faz. Você
tem um acordo.

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CINCO
CODIFICADOR AUTOMATICO

FIX

Se ela não estivesse tão obviamente angustiada e com pena de si


mesma no estacionamento, eu não teria concordado em levá-la a lugar
nenhum. Mas quando Sera olhou para mim como se eu fosse sua única
esperança, e ela me pediu ajuda, eu cedi. Sem esperança. Eu ainda não
deveria estar andando em Liberty Fields. Foi um milagre que dois
trabalhos convergissem, milagrosamente bem um em cima do outro. Eu
já deveria ter completado os dois e já estar voltando para Nova York,
mas…
Eu estava distraído.
Sera tinha me distraído completamente, e eu não estava pronto
para desistir dela ainda. Isso me fez cruel, perverso e mau, e milhares de
outras coisas, incluindo estúpido, mas eu nunca vacilei antes. Eu nunca
deixei a bola cair. Eu não estaria deixando agora. Eu tinha direito a um
pouco de diversão, no entanto.
Foi o que eu disse a mim mesmo.
Há muito tempo, as pessoas costumavam me pedir ajuda o dia
inteiro. Tinha sido meu trabalho ajudar as pessoas, e eu gostava de fazer
isso. Muita coisa mudou desde então. Eu me perdi, para não mencionar
minha alma, na estrada cerca de 16 mil quilômetros atrás, e nunca mais
voltei para encontrar. Eu deveria ter entrado na minha caminhonete e me
afastado de Sera e seu carro destruído agora, mas... eu simplesmente não
podia. Eu gostei da maneira como meu nome soou em seus lábios. Foi
mais quente do que ouvi-la ofegando repetidamente no meu ouvido na
noite passada. E daí se eu quisesse ouvi-la dizer mais algumas vezes
antes de terminar isso? Ela era diferente. Eu tive a suspeita furtiva de
que ela estava mais do que um pouco quebrada por dentro. Ela
obviamente esteve no inferno em algum momento, mas as chamas a
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forjaram, não a queimaram em cinzas. De várias maneiras, ela me
lembrou Monica.
Eu não tinha cortado os pneus dela. Eu não tinha ideia de quem
diabos tinha feito isso, mas eu queria dar um tapinha nas costas e
também enfiar uma escova de dentes em cada globo ocular por criar essa
situação, que já era complicada o suficiente.
Troquei minha roupa de corrida molhada e vesti algo um pouco
mais apropriado para um assassinato - calça preta, camisa preta, luvas
de couro pretas e boné - antes de sair para a oficina mecânica de Franz
Halford. Enquanto eu caminhava através de estradas que se
assemelhavam mais a pântanos do que rodovias, meio que desfrutando
do enorme spray que subia dos dois pneus dianteiros sempre que
passava por um trecho particularmente profundo de água parada, contei
nada menos que três veículos capotados, virados com as rodas pra cima,
esperando para serem puxados para fora das valas e longe do
acostamento.
No desvio que eu precisava tomar para chegar à oficina, uma fileira
de linhas de energia entrou em colapso e uma confusão de cabos,
emaranhados e com faíscas, estava causando estragos aos motoristas
que passavam, que não conseguiam descobrir como passar por eles sem
se eletrocutar e morrer horrivelmente. Uma mulher grande, com um gato
tigrado debaixo do braço, vestindo uma jaqueta amarela brilhante à prova
d'água, parecia estar tentando direcionar o tráfego, mas ela também não
sabia o que estava fazendo, então eu passei por ela e da linha de carros
crescente e fiz a curva sem me importar.
Idiotas.
Eu deixei meu telefone descarregar ontem à noite - não havia nada
mais perturbador do que uma mulher irada enviando mil mensagens de
texto quando você estava tentando gozar - mas eu o coloquei para
carregar quando entrei na caminhonete. A tela finalmente se iluminou
quando eu virei à esquerda e entrei no estacionamento desarrumado do
Family Auto e Lube de Halford, e me preparei para uma chuva de
mensagens de Monica. Nada aconteceu, no entanto. Nada mesmo. Isso

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era estranho pra caralho. Ela disse que precisava que eu ligasse
imediatamente, e quando Monica dizia imediatamente, ela queria dizer
ontem. A paciência dela estava acabando comigo, eu sabia disso, mas
foda-se se ela não tornava minha vida mais difícil. Estava acostumado a
tê-la por perto agora. Estava acostumado a suas explosões de pânico, e
sua necessidade de me checar todos os dias. Eu provavelmente já deveria
ter me livrado dela, mas não era tão fácil. Eu realmente não tinha o direito
de fazer isso com ela, também.
As persianas enferrujadas, pintadas com spray, que davam para a
Family Auto & Lube de Halford ainda estavam firmemente fechadas e
trancadas, e um cadeado enorme, gordo e manchado brilhava sob a fraca
luz da manhã. Não parecia que Franz acordava cedo. Não parecia que
havia alguém na loja, embora fosse realmente difícil dizer com todos os
veículos decrépitos que estavam parados no estacionamento. Dada toda
a sujeira, corrosão, vidros quebrados e pneus carecas, era difícil imaginar
que algum carro estivesse funcionando, mas quem sabia...
Do outro lado da rua, o sinal de néon 'aberto' de um café sombrio
tremulou, causando um reflexo vermelho na superfície da piscina de
tamanho familiar que se formara no estacionamento do café. Rosquinhas
quentes! Café fresco! Café da manhã de todo americano! Eu li a placa na
janela, sem prestar muita atenção. A comida deveria ser uma merda. O
café deveria ser uma merda. Seus donuts provavelmente estavam
acumulando poeira e pó de rato por dias, mas eu ainda assim saí da
caminhonete, subi a gola da minha jaqueta, enfiei as mãos nos bolsos e
corri pela estrada agora vazia. Minhas meias estavam encharcadas em
menos de um segundo.
De dentro da lanchonete, eu tinha uma visão perfeita da oficina;
não haveria chance de eu perder as idas e vindas de um Franz Halford
do estande que escolhi na janela, então sentei minha bunda no assento
de couro falso rachado e descascado e fingi ler o menu laminado pegajoso
que estava apoiado entre os saleiros e pimenteiros em cima da mesa na
minha frente. As fotos extravagantes, muito mal tiradas e desagradáveis
de torradas moles e ovos de borracha não fizeram nada para inspirar

DIRTY #1
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fome em mim. Cometer homicídio era geralmente algo que eu gostava de
fazer com o estômago vazio - as coisas tinham uma maneira de ficar
realmente confuso, afinal. As pessoas se cagam. Eles vomitavam. Eles
sangravam por todo o maldito lugar. Eu aprendi minha lição no passado:
comida nunca era uma boa ideia, quando havia potencial de fluidos
corporais tão alto. Pedi um café preto a um garçom com espinha na cara
quando ele finalmente decidiu vir me checar, e foi isso. O pobre bastardo
parecia decepcionado.
Uma hora se passou e a cafeína em minhas veias começou a me
deixar impaciente. Normalmente, a paciência era um dos meus pontos
fortes. Quero dizer, o último trabalho que fiz, exigiu que eu me agachasse
por cinco horas em uma floresta, entre as folhas e os galhos das árvores
mortas para minha presa aparecer, e isso não me perturbou nem um
pouco. Esperar Franz Halford esta manhã era um inferno na terra, e eu
sabia o porquê. A culpa era dela. Sera. Deus, sua boca realmente era tão
perfeita, fazendo beicinho, envolvida em torno do meu pau duro. E
quando ela se virou e inclinou sua bunda para mim, eu sabia que estava
com problemas. Meu trabalho agora era quase impossível, porque eu fui
estúpido o suficiente para pensar com meu pau. Sera escorria apelo
sexual de todos os poros de seu corpo maravilhosamente trabalhado e
deslumbrante. Ela dava boas-vindas a uma boa foda com todos os
olhares de lado que lhe enviava, mas o fazia sem intenções, sem
expectativa ou nenhum conhecimento verdadeiro de que ela estava
fazendo isso. Basicamente, ela era a personificação viva de tudo que me
excitava. E eu ainda estava excitado. Meu pau não parou de ficar duro
desde a noite passada - ainda estava duro o suficiente para quebrar o
concreto esta manhã quando acordei. Eu tive que correr na chuva apenas
para me impedir de deslizar meus dedos dentro dela enquanto ela
dormia. Mesmo agora, sentado na cabine, tendo meu café morno e
nojento entregue em uma xícara muito suja, por um adolescente, que
mais parecia que ele não seria tão limpo assim, meu pau estava latejando
como um farol pulsante.
O jeito que ela hesitantemente passou a mão em volta de mim...

DIRTY #1
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A maneira como seus olhos brilharam quando ela me apertou e
sentiu o quão grosso e pronto eu estava...
O jeito que ela inadvertidamente molhou o lábio inferior com a
ponta rosa da delicada língua dela...
Merda. Eu precisava me masturbar no banheiro. Esse tipo de
pensamento não faria nada, além de arranhar minha mente, exigindo
minha atenção, me distraindo da tarefa em questão, e essa não era uma
linha de trabalho pela qual você poderia abrir caminho. Eu precisava
estar em alerta. Focado. Determinado. Enquanto a linda boceta rosa de
Sera Lafferty embaçava meu cérebro, eu não conseguiria fazer nada.
Levantando-me, ajeitei meu pau nas calças para evitar qualquer
constrangimento, e depois caminhei para o banheiro. Eles estavam
limpos, pelo menos, e cheiravam levemente a limão. Muitas toalhas de
papel. Peguei um par e me tranquei em um reservado, deixando cair
minhas calças e pressionando a mão contra a parede dos fundos. Eu
conseguiria gozar em menos de um minuto, se quisesse. A lembrança da
noite passada, de Sera parecendo tão perfeita e francamente comestível,
merecia mais respeito do que isso. Eu trabalhei minha mão para cima e
para baixo no eixo do meu pau lentamente no início, saboreando a
pressão e o zumbido de prazer que começaram a formigar na base do
meu pau. Porra, isso era bom. Não tão bom quanto a boca de Sera, mas
ainda assim...
Acariciei mais rápido, respirando fundo e segurando-a dentro do
meu peito. Ela parecia tão gostosa esta manhã, seus cabelos úmidos e
ondulados nas pontas, seus olhos escuros brilhando de raiva quando ela
percebeu o que alguém tinha feito com seu carro. A blusa dela estava
apertada e um pouco molhada da chuva; a primeira coisa que notei
quando ela abaixou a janela para fazer uma careta para mim, foram seus
mamilos entumecidos, cutucando o material para mim. Levei-os para a
boca ontem à noite. Eu lambi e chupei. Eu os belisquei e rolei-os na
minha língua, sabendo muito bem que Sera iria desfrutar do frisson de
dor que corria entre seus seios e sua boceta.

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CALLIE HART
Deus, ela se abriu tão bem para mim. Ela cheirava tão bem. Sua
excitação, que escorria pela sua boceta, cobriu mais do que apenas meu
pau;3 Eu me diverti com a sensação sedosa de sua excitação entre a ponta
do meu polegar e meu dedo indicador. Na próxima vez, eu a lamberia
como um cachorro faminto e eu estaria de volta em alguns segundos.
Enchi meu pulmão de oxigênio, segurando esse também no meu
peito. Minha mente me transportou de volta ao momento em que eu
estava prestes a entrar em Sera pela primeira vez, e minhas bolas se
apertaram, meu pau pulsando na minha mão. A ponta brilhava com pré-
sêmen, e eu não pude evitar. Eu a imaginei de joelhos, as mãos em volta
do meu eixo, a ponta da língua disparando entre os lábios enquanto ela
gentilmente lambia o líquido claro de mim, e minhas pernas ameaçavam
me trair.
Porra, era errado da minha parte, mas eu a queria novamente. A
noite passada nunca deveria ter acontecido, mas aconteceu e agora?
Urgh. Eu nunca iria parar de querer ela. Eu deveria concluir meu
trabalho e partir. Eu deveria apenas fazer o que vim fazer aqui e dar o
fora daqui, mas isso era o que deveria fazer. As pessoas raramente
prestavam atenção a algo que deveriam fazer. Deveria ser o conhecimento
do espelho retrovisor, uma curva à direita que ainda era possível ver por
cima do ombro se você se virasse o suficiente para capturá-la pelo canto
do olho. A curva ainda estaria lá. Você ainda poderia conseguir, se
realizasse uma manobra de emergência, cento e oitenta graus e voltasse
na direção oposta. Mas, de alguma forma, seu pé sempre ficava no
acelerador, pressionando você em direção ao desastre, e não havia nada
que você pudesse fazer sobre isso.
Eu não deixaria Sera aqui em Liberty Fields hoje. Ia buscá-la no
motel assim que meu trabalho terminasse, e então seria inevitável. Eu ia
transar com ela novamente. Eu estava indo para encantar a merda
sempre amorosa dela, e ela estaria deitada no banco de trás da

3 Ah tradução original da frase seria: O suco da sua boceta cobriu mais do que apenas
o meu pau. Achei que essa frase ficou melhor, do que suco de boceta, rsrsrs..
DIRTY #1
CALLIE HART
caminhonete, ofegando, enfiando as unhas nas minhas costas
novamente. E eu ia amar cada segundo disso.
Deus, isso era tão errado...
Fechei os olhos, prendendo o fôlego novamente, mordendo o
interior da minha bochecha enquanto me sentia escorregando e
deslizando em direção ao esquecimento. Minha mão estava coberta com
pré-sêmen agora, escorregadia com o fluido viscoso, o que tornava a
execução de minha mão para cima e para baixo ainda mais agradável.
Era fácil fingir que eu estava transando com ela. Era fácil imaginar que
eu estava entrando em sua boceta quente, molhada e lisa. Muito fácil.
Inclinei minha cabeça para trás, esforçando-me enquanto oscilava à beira
de gozar, segurando-a pelo maior tempo que pude.
Os olhos dela, no entanto...
A boca dela.
As mãos dela.
Seus seios.
Suas coxas abertas e o frágil, rosa pálido entre as pernas, mais
vermelho e mais escuro onde eu me deslizei dentro dela...
Porra…
Oh, porra...
De jeito nenhum eu seria capaz de segurar isso. Abri a boca e soprei
o ar dentro dos meus pulmões, certificando-me de que o rugido que me
escapava era silencioso e sem palavras. Meu pau palpitou uma vez, duas,
três vezes quando gozei, enviando jatos de ejaculação quente e branca
que atingiram a parede atrás do vaso. Minha visão dançou. Gozei duro
ontem à noite, eu esperava por aquilo, mas agora, me masturbando? Não
deveria ter sido tão bom assim. Não deveria ter sido tão porra incrível,
que eu perdi o controle e explodi minha carga por toda a parede de um
maldito reservado. Que porra foi essa?
Eu me senti um pouco instável quando me limpei e guardava meu
pau. Minhas pernas estavam gelatinosas e a parte de trás do meu pescoço
estava queimando, mais quente do que o normal, as pontas das minhas
orelhas formigando. Por um segundo, considerei deixar minha porra

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escorrendo pela parede, mas depois pensei melhor. Deixar depósitos
consideráveis de DNA por aí era uma coisa, mas quando você estava
prestes a cometer um crime do outro lado da rua? Sim, essa não seria a
jogada mais inteligente da minha parte. Levei um minuto para acabar
com minha bagunça, e outros trinta segundos para lavar as mãos,
arrumar meu cabelo e minha jaqueta, e então saí do banheiro e fui
localizar meu café.
Sentado em frente ao meu estande, outro cliente havia entrado
enquanto eu estava ocupado na parte de trás limpando meu pau. Eu o
reconheci no momento em que pus os olhos nele, mas minha expressão
e minha linguagem corporal não mudaram. O mundo havia mudado, mas
para o atendente cheio de acne e o cara careca e acima do peso sentado
no bar, apertando os olhos para um menu, tudo parecia completamente
normal.
─ Eu vou pegar as panquecas, Jason. E certifique-se de que Herb
não economize na calda desta vez. A última vez que as pedi, elas saíram
mais secas do que a vagina da minha avó.
Jason empalideceu um pouco - provavelmente era um bom garoto
que frequenta a igreja. Provavelmente só ouviu palavras como ‘vagina’ e
referências a elas estarem secas quando ele estava aqui, trabalhando
nesse buraco de merda. Franz Halford não parecia perceber que ele
deixara o garoto desconfortável. Ele largou o cardápio no balcão e puxou
uma lata de tabaco, abrindo a tampa e passando uma pequena
quantidade de seu conteúdo sob o lábio superior. Por que não fiquei
surpreso com o cara? Um hábito tão nojento e desagradável. Gostava
mais de um cigarro do que deveria, mas enfiar essa merda diretamente
na sua boca me fez querer vomitar.
Tomei cuidado para não fazer contato visual com Franz quando me
sentei e me acomodei de volta no estande, pegando minha caneca de café
e tomando um gole. Eu era um maldito profissional, pelo amor de Deus.
Eu não tinha dado a ele absolutamente nenhuma razão para conversar
comigo, mas quando Jason, o garçom, virou-se e foi entregar o pedido de
Franz à cozinha, o maldito desgraçado virou-se em seu banquinho e

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sorriu para mim, um flash de líquido marrom escorrendo sobre os dentes
ao fazê-lo.
─ O que está achando do clima daqui? ─ ele perguntou. Então ele
fez algo que eu simplesmente não conseguia entender. Ele virou a cabeça
e cuspiu no chão. Eu estava arremessando minha porra no banheiro
como um macaco louco que não parava de tocar em seu próprio pau, mas
isso era muito, muito pior. Isso era imperdoável.
Eu escondi meu desdém. Escondi minha violência - a violência que
vivia sob minha pele o tempo todo, implorando para ser desencadeada.
Eu escondi o fato de que eu queria puxar a arma que eu tinha
descansando em um coldre nas costas, no mesmo momento em que
estávamos sentados lá. Eu soltei um sorriso largo no meu rosto que dizia:
Ei! Estou totalmente encantado pelo seu autêntico charme do sul e estou
extremamente emocionado por você ter decidido falar comigo, gentil
senhor. ─ Certamente não chove assim de onde eu sou, ─ anunciei. Para
um ouvido treinado, o riso que forcei para fora a seguir pode ter soado
um pouco maníaco e desequilibrado, mas Franz não bateu as pálpebras.
Ele apontou para o banco à minha frente no estande, balançando as
sobrancelhas espessas para cima e para baixo.
─ Você quer alguma companhia enquanto está passando a manhã
no Joe, ou quer ficar sozinho? Eu não me importo de qualquer maneira.
Eu apenas pensei que você gostaria de apreciar um pouco da cor local,
vendo que você não é daqui e tal.
Fiz um gesto para o assento do lado oposto e dei de ombros,
balançando a cabeça. ─ Por favor. Seja meu convidado.
Halford deslizou de seu banco, levantando seus jeans largos e
manchados, embora a ação fosse inútil. Sua barriga estava saindo por
baixo da bainha da camiseta da Budweiser e pendurada na cintura ao
mesmo tempo - não importa quantas vezes ele puxasse as calças, não
havia como sua considerável barriga permitir que elas ficassem no lugar
certo. O homem grunhiu como uma morsa quando se sentou no assento,
depois tirou o boné de beisebol com aro de suor e limpou a testa com as
costas da mão, antes de devolver o boné ao alto da cabeça.

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─ Devo dizer que as pessoas me dizem que sou muito bom em
descobrir de onde as pessoas são, senhor. Consigo identificar um sotaque
do outro lado de uma sala lotada e tenho certeza de que consigo com o
senhor. Eu gostaria de apostar que você é de Minnesota ou algo parecido.
─ As sobrancelhas de Franz eram mais do que espessas. Elas eram como
lagartas peludas que rastejavam sobre sua testa e tiveram a infelicidade
de ficar presas ali. Eu não conseguia parar de encará-las - principalmente
cinza, com uma faixa ruiva no centro de cada uma. Esquisito.
─ Eu sou de Minnesota! Isso é realmente impressionante ─ falei,
tomando outro gole de café. Vai saber quem disse que ele era bom com
sotaques, mas eles estavam completamente errados. O sotaque de
Minnesota não tinha absolutamente nenhuma semelhança com o forte
sotaque de Chicago que eu estava usando apenas para ele. Dane-se.
Deixe-o acreditar no que ele quiser. Das poderosas ondas de Jack Daniels
que flutuavam sobre a mesa e o sorriso solto e aguado no rosto de Franz,
havia uma alta probabilidade de que o cara ainda estivesse bêbado da
noite passada. Era melhor não antagonizar as pessoas meio bêbadas
discordando delas.
─ Você esteve no exército, não esteve? ─ Franz diz, seus olhos
brilhando um pouco. ─ Você tem essa aparência.
─ E que aparência seria essa? ─ Eu digo, sorrindo facilmente: uma
mentira, um truque, uma armadilha. Uma aranha tecendo sua teia com
prática e facilidade.
─ As costas são retas demais para um civil. E seus olhos são
rápidos ─ ele me disse, coçando a barba vermelha no queixo. ─ Você está
observando tudo aqui, descobrindo tudo.
Baixei a cabeça - uma demonstração de deferência - rindo um
pouco baixinho. ─ É triste dizer que nunca servi. Gostaria de ter, no
entanto. Eu provavelmente teria me beneficiado muito quando era mais
jovem.
Franz assentiu com entusiasmo, depois cuspiu no chão
novamente. Urgh. Desgraçado. ─ Eu estive no exército por quinze anos,
─ disse ele. ─ Melhores anos da minha vida também. Protegi a liberdade

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dos meus amigos cidadãos americanos. Precisava ver o mundo. E tive
meu pau sendo chupado mais vezes do que posso contar! ─ Ele bateu na
mesa, os olhos desaparecendo em fendas quando ele começou a rir, sua
barriga derramando sobre a mesa.
Isso estava ficando cada vez pior, a cada segundo. As coisas seriam
muito mais simples se eu encontrasse Franz na oficina; agora o pedaço
de merda estava pedindo café da manhã, e eu teria que sentar aqui com
ele até que ele terminasse.
Não.
Apenas não.
Ignorando completamente sua última declaração, eu apunhalei um
dedo pela janela na loja do outro lado da rua, franzindo a testa levemente.
─ Ei, amigo? Suponho que você não saiba se a oficina de automóvel abrirá
hoje. Minha caminhonete está fazendo um barulho estridente. Estou um
pouco preocupado em conduzi-la nesse clima sem fazer uma checagem
primeiro.
Franz recostou-se na cadeira, estufando o peito com uma
quantidade irracional de orgulho. ─ Esse lugar definitivamente vai abrir
hoje. Eu sou Franz Halford. Eu sou o dono do lugar. ─ Ele estendeu a
mão em minha direção, esperando eu apertá-la, o rosto aberto com um
sorriso, como se ele tivesse me surpreendido com o maior segredo
conhecido pelo homem ou algo assim. Eu tremi, descontente com o
contato, fingindo diversão para rivalizar com o de Franz.
─ Tudo bem, então. Tenho sorte de ter encontrado você. Todos os
outros lugares da cidade estão fechados.
Franz fez uma careta, acenando para mim com um movimento
instável do pulso. ─ Esses filhos da puta do Dimson são criminosos, cara.
Malditos imigrantes. Não falam uma palavra em inglês entre eles. Eles
nunca abrem antes do meio-dia, e quando você os encontra abertos, eles
fazem você gastar algumas centenas de dólares a cada hora. Não é cristão
o que eles fazem.
Um calafrio de aborrecimento percorreu minha espinha, mas mais
uma vez consegui esconder minha reação ao grotesco ser humano na

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minha frente. ─ Então eu realmente me considero sortudo. Escute... ─ eu
disse, olhando para o relógio. ─ Eu ouvi você pedir o café da manhã e
tudo, mas estava pensando... estou com muita pressa. Se eu pagasse sua
conta aqui e lhe desse cem dólares extras por me receber, você pegaria
sua comida para viagem e passaria um olho no meu motor por um
segundo? Provavelmente não é nada, provavelmente estou sendo muito
cauteloso, mas só quero ter certeza...
Franz estreitou os olhos para mim, me olhando de cima a baixo. ─
Cem dólares e você paga pelo meu café da manhã, além da taxa de
avaliação por olhar o seu veículo? ─ Ele pronunciou o acento no veículo
- uma das minhas irritações. Eu assenti, continuando a sorrir.
─ Sim senhor.
─ Bem, tudo bem então. Eu não vou discutir com você, senhor.
Qual é o seu nome mesmo?
─ Ray. Ray Sheraton.
─ Ohh, como daqueles hotéis? Você possui alguma dessas coisas?
Jason! Coloque minhas malditas panquecas em uma caixa! Estamos indo
embora! ─ Ele perdeu metade do tabaco encharcado da boca quando
girou em direção ao balcão, gritando repentinamente para o garçom, que
eu decidi que agora sentia pena. Jason não sabia para onde ir primeiro,
apressando-se de um lado para o outro da lanchonete, coletando primeiro
a comida de Franz na escotilha de serviço e depois subindo e descendo
enquanto ele claramente tentava localizar uma caixa de comida.
Paguei ao garoto, Franz pegou suas panquecas e uma garrafa de
coca cola de dois litros e fomos para a loja de carros. Vi mais do que
alguns centímetros da bunda de Franz quando ele se abaixou para
destrancar a porta de aço. Assim que entramos e Franz abriu a porta
lateral da loja, ele subiu as calças novamente, tentando pigarrear, e
apontou para o estacionamento, na direção da minha caminhonete. ─
Vamos dar uma olhada nisso, então?
─ Na verdade, eu queria fazer uma pergunta primeiro, se está tudo
bem?
─ Claro, Ray. Pergunta à vontade.

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─ O nome Holly Shoji significa alguma coisa para você? ─ Eu assisti
enquanto a expressão de Franz se transformava em algo cauteloso no
começo, e depois em algo duro e insensível.
─ Sinto muito, chefe. Não consigo lembrar. ─ A mentira era tão
óbvia quanto os capilares quebrados no final do nariz. Ele nem estava
tentando me convencer de que não sabia o nome de Holly. Havia nojo em
seus olhos quando ele começou a me arrastar para fora da garagem. ─
Eu tenho uma manhã ocupada também. Se você quer que eu olhe a sua
caminhonete, vamos em frente. Caso contrário, receio que tenhamos de
salvar o bate-papo para outro dia.
Contornando, bloqueei seu caminho, impedindo-o de sair. Levou
um segundo para se encostar na parede e apertar o interruptor na parede
- o interruptor que abaixou as portas novamente. Franz me estudou com
gelo nos olhos, me avaliando da cabeça aos pés.
─ Você tem certeza de que não esteve no exército? ─ ele perguntou,
dando um passo para trás.
─ Não. Eu nunca entrei. Eu pensei sobre isso, como eu disse, mas
meu pai tinha outras ideias. Ele queria que eu seguisse seus passos.
─ E o que ele fez? ─ Franz murmurou em um tom arejado. Era
engraçado quantas vezes as pessoas faziam isso - agiam como se nada
de ruim estivesse acontecendo, quando algo claramente estava
acontecendo. Como se, se ele mantivesse sua voz livre de agressividade,
hostilidade ou pânico, eu ficaria afastado, sem saber que uma situação
estava se desenvolvendo, e ele de alguma forma seria capaz de me distrair
enquanto escapasse. Não haveria como me distrair. Também não há
escapatória. Eu assisti calmamente enquanto Franz mexia com a mão
esquerda, estendendo a mão para um ferro de pneu que estava em cima
de uma bancada bagunçada.
─ Ele era um padre, ─ eu disse, olhando preguiçosamente para
inspecionar minhas unhas.
Franz quase tropeçou nos próprios pés enquanto tentava se afastar
de mim. ─ Então você é católico. Como eu.

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─ Oh, nós não somos nada parecidos, Franz. Nós nem somos da
mesma espécie. Veja, eu segui os passos de meu pai. Eu estudei. Tornei-
me padre, assim como meu pai queria, e eu aprendi muitas coisas.
Aprendi que a Igreja Católica não acredita em estuprar brutalmente as
pessoas só porque elas não compartilham sua cor de pele ou suas
crenças.
Os olhos de Franz estavam arregalados agora. Seu medo era
evidente, mas também havia algo mais: ódio. Tanta raiva e ódio. Ele não
concordou com o que eu estava dizendo. Não ligou nem um pouco.
─ Se você é padre, o que está fazendo aqui, Ray? Você não deveria
cuidar do seu rebanho?
Eu sorri, alcançando não a arma no coldre nas minhas costas, mas
algo mais divertido. Algo um pouco mais afiado. Algo um pouco mais...
perverso.
─ Eu era padre, ─ eu disse, virando a pesada faca de combate
serrilhada que agora estava segurando. ─ Eu fui padre por um bom
tempo. E então eu percebi uma coisa. Quer saber o que eu percebi?
Franz balançou a cabeça, suas bochechas tremendo por todo o
lugar. ─ Não, cara. Não. Apenas vá. Dá o fora da minha loja. Aquela
putinha imunda merecia tudo o que recebeu. Ela não pertencia aqui. Ela
estava recebendo dinheiro do governo para estudar. E quando ela
terminasse o curso, o que então? Ela ia aceitar um emprego que pertencia
a um americano, porra! Nós apenas estamos deixando-os entrar aqui e
pegar tudo de nós. Eu mostrei àquela cadela que não íamos ficar de
braços cruzados. Que ela teria que nos pagar de alguma forma, se...
Inclinei a lâmina da esquerda para a direita na minha mão,
espiando a superfície altamente reflexiva da arma como se estivesse
hipnotizado por sua beleza. ─ Percebi que realmente, não estava
ajudando ninguém, borrifando água benta e colocando pão na boca das
pessoas todos os domingos. Eu percebi... que eu não acreditava mais.
Percebi que havia maneiras melhores de ajudar a salvar as pessoas, então
peguei essa faca e decidi resolver o assunto com minhas próprias mãos.
Assim como estou prestes a fazer agora.

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SEIS
ME CONVENÇA

SERA

Eu não saberia que era a caminhonete de Fix se não o tivesse visto


entrar e sair mais cedo. Depois de ficar sentada no saguão do hotel por
horas, esperando que ele voltasse, fiquei ansiosa e implorei uma carona
até Liberty Fields para outra mulher que estava fazendo o check out do
quarto e saindo. Eu esperava encontrar uma loja de presentes onde
pudesse pegar outro presente de casamento para Amy, já que acabei com
a tequila na noite passada. Em vez disso, localizei o caminhão de Fix e
pedi para ser deixada no estacionamento de uma oficina de carros muito
degradada e superficial.
As portas dianteiras estavam fechadas, mas a porta lateral do
prédio estava aberta. Dentro: Escuridão. O cheiro de óleo, graxa e homem
sem banho. Eu pairava do lado de dentro da porta, tentando decidir se
eu deveria entrar ou não. Sixsmith costumava me levar muito junto
quando eu era muito pequena. Ele costumava me levar a lugares
sombrios, estranhos e desconhecidos como esse, e sempre havia
problemas. Alguém estaria bebendo. Alguém estaria cozinhando
metanfetamina. Alguém estaria porra drogado lá atrás. Haveria coisas
que os olhos jovens não deveriam ver. E, quando saíamos, geralmente
havia sangue.
Eu poderia esperar lá fora pelo Fix. Não havia razão para entrar na
loja e começar a gritar com ele por demorar muito, quando ele me
prometeu que só demoraria uma hora, mais ou menos. Eu poderia fazer
isso no carro, uma vez que o bastardo de cabelos escuros emergisse e me
visse encostada no seu carro de assassino, esperando por ele.
Fui até a caminhonete e tentei a maçaneta do banco do passageiro,
mas estava trancada. Chequei meu telefone - outra ligação perdida de

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Ben, mas nada de Amy - e deslizei de volta no bolso, tentando não fazer
careta. As coisas eram muito mais simples antes dos celulares. Se você
não queria ser assediada por ninguém, tudo o que você precisava fazer
era sair de casa, ir embora e não olhar para trás. Consegui meu primeiro
telefone aos dezesseis anos, comprei e paguei com o dinheiro que ganhei
servindo mesas em uma lanchonete e fiquei muito empolgada; todo
mundo na escola tinha um há alguns anos, e eu finalmente consegui me
atualizar. Agora, havia dias em que eu desejava poder jogar todos os
meus dispositivos no lixo e nunca mais comprar outro.
A chuva havia diminuído um pouco desde que eu saí do hotel, mas
estava voltando a engrossar. Gotas pesadas e gordas de água batiam no
capô da caminhonete de Fix, caindo dos galhos de um enorme carvalho
vivo que pairava sobre o estacionamento como uma sentinela sombria. A
árvore não tinha folhas e seus galhos consideráveis e tortos se erguiam
em direção ao céu nublado como os dedos de uma mão torcida e
agarrada.
Eu levantei o capuz da minha jaqueta, tremendo quando o tecido
já úmido roçou na parte de trás do meu pescoço. Eu mal podia esperar
para sair dessa cidade. Era triste, fria e muito úmida. Seattle era
mundialmente conhecida por seu clima miserável e céu cinzento, mas
pelo menos tinha vida. Muita vida. Música. Ótima comida. Arte. Cultura.
Negócios e indústria.
Liberty Fields era uma cidade que não estava marcada no mapa,
onde ninguém visitava de propósito, e ninguém realmente se importava,
além das trezentas pessoas exaustas que moravam aqui.
Esperei Fix, cutucando minhas unhas dentro dos bolsos,
respirando profundamente. Ele viria logo e me levaria a algum lugar onde
eu poderia pegar outro carro, e então tudo ficaria bem. Eu tentei não
deixar minha mente vagar. Quando eu fiz, acabei repetindo os eventos da
noite passada e me deixando um pouco louca. Fix deve ter pensado que
eu estava acostumada a dormir com estranhos aleatórios horas depois
de conhecê-los. Ele tinha que acreditar nisso, já que foi exatamente o que
eu fiz com ele. A verdade é que estava mais do que um pouco intimidada

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por ele ontem à noite. Sua aparência era suficiente para fazer minhas
bochechas corarem sempre que ele voltava sua atenção para mim - pele
dourada, como se ele passasse uma boa quantidade de tempo ao sol. Seu
rosto era todo angular, afiado o suficiente para cortar. Seus olhos eram
ao mesmo tempo requintados e assustadores. Não foi apenas a cor deles
que me congelou até o fundo. Sempre que ele olhava para mim, um
calafrio muito real deslizava sobre meu corpo, como se suas expressões
frias produzissem sua própria brisa invernal que mordia minha pele. Ele
era um enigma - fechado e secreto. Ele não queria compartilhar comigo
o que ele fazia da vida, e tudo bem. Irritante, mas compreensível. Às
vezes, as pessoas queriam manter as coisas em sigilo ou simplesmente
não percebiam que estavam sendo rudes. Houve muitas vezes que eu
esqueci as nuances sutis da etiqueta social - etiqueta que tive que
aprender estudando outras pessoas desde tenra idade, já que meu pai
não se preocupara muito em me ensinar nada - e eu estava com frio a
ponto de ser grosseria. Meus pneus rasgados provaram isso bem o
suficiente. Aquele policial de trânsito provavelmente tinha visto meu
carro estacionado lá ontem à noite e decidiu me ensinar uma lição sobre
as maneiras do sul.
Uma súbita rajada de vento me atingiu, atirando água fria da chuva
no meu rosto, e eu contive a vontade de gritar. Ok, isso não estava
funcionando. Se eu tivesse que trocar de roupa mais uma vez, eu
realmente gritaria, e qualquer educação que ainda me restava estava
saindo pela janela. Enrolando minha jaqueta mais apertada em volta do
meu corpo, corri de volta pelo estacionamento e entrei na oficina de
automóveis pela porta lateral, rangendo os dentes. Um frio tão
assustador... eu não conseguia me lembrar de ter sentido tanto frio em
toda a minha vida. Meus olhos levaram um segundo para se ajustar à
escuridão dentro do edifício. Mais um segundo para ver as pilhas de
jornais moldados empilhados contra as paredes e as inúmeras
ferramentas enferrujadas que foram descartadas por todo o lugar. À
minha esquerda, um escritório minúsculo, com nada além de uma
pequena mesa e uma cadeira fortemente manchada por dentro, estava

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abandonada. O ar estava velho e cheirava a fumaça de cigarro velho,
juntamente com o cheiro azedo de comida apodrecida - provavelmente
emanando da grande lata de lixo de metal amassada que estava repleta
de velhos pacotes de comida no canto da sala. Eu estava prestes a ir mais
longe na escuridão, quando o timbre baixo e áspero da voz de Fix chegou
aos meus ouvidos.
“ ─ então peguei esta faca e decidi resolver o assunto com minhas
próprias mãos. Assim como estou prestes a fazer agora. "
Hã. Ele estava conversando com alguém... e não parecia uma
conversa particularmente agradável. Através do corredor, no que eu
presumi ser o andar principal da oficina, outra voz cortou o ar, alta e
afiada com algo parecido com raiva.
─ Você pode ir em frente e largar isso agora, filho da puta. Você
acha que eu não fui ameaçado antes? Você acha que é a primeira vez que
alguém entra aqui e tenta agir duro comigo? Não sou um idiota que não
sabe como se proteger. Eu já matei homens antes. Duvido que você já
tenha tido a porra da coragem.
Houve um momento de um silencio mortal, e algo mudou à medida
que o silêncio se espessava - parecia que uma escuridão tensa se
desenvolvia, que se espalhava de um lado do prédio para o outro,
envenenando o ar de canto a canto.
─ Tudo bem, ─ a outra voz disse calmamente. ─ Talvez você já tenha
matado antes. Então, o que te faz diferente para mim, Ray? O que lhe dá
o direito de me julgar, quando você cometeu os mesmos pecados?
─ Eu nunca estuprei ninguém, ─ Fix rosnou. ─ E nunca matei
ninguém que não merecia. Sou muito seletivo quanto aos trabalhos que
assumo. Um conjunto de critérios deve ser atendido antes que eu
considere tirar a vida de outra pessoa.
─ Critério? ─ Há um som alto de falcão e, em seguida, o respingo
molhado de algo batendo no chão. ─ Parece desculpa para mim. Que
critério me amaldiçoou a morrer?
─ Você é corrupto. Você é irrecuperável. Você não sente remorso
pela dor e sofrimento que infligiu àquela pobre garota. Você não se

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arrepende de suas ações e provavelmente repetirá essas ações novamente
no futuro.
─ Foda-se, cara. Você não pode me dizer o que eu sinto ou deixo de
sentir. Você não pode me dizer o que farei ou não farei no futuro.
─ Você está dizendo que nunca mais machucará ninguém?
─ Sim, e se eu estiver dizendo isso? Isso te fará mudar de ideia? ─
A voz do outro homem era dura e agressiva, cheia de desafio. Ele não
parecia nem um pouco sincero.
Meu coração batia forte como um trem de carga no peito. Eu não
tinha ideia do que estava ouvindo, realmente não conseguia entender
nada disso, mas meu sangue se transformou em gelo em minhas veias
da mesma forma. Fix me disse no motel que ele era um assassino. Ele
me disse que matava pessoas por dinheiro, mas eu ignorei isso, achando
um absurdo. Agora, ouvindo a troca tensa que estava ocorrendo entre ele
e esse outro homem, parecia que ele realmente estava dizendo a verdade.
Mas não havia como. Simplesmente não poderia ser verdade.
─ Mudar de ideia não é fácil, ─ Fix roncou. Sua voz estava cheia de
cascalho, o suficiente para colocar meus dentes no limite. Eu nunca tinha
ouvido a promessa de tal violência nas palavras de ninguém antes; isso
me fez querer recuar, bater as mãos nos ouvidos, sair silenciosamente na
ponta dos pés e voltar para a minha maldita vida. Eu não consegui, no
entanto. Eu não conseguia fazer nenhum dos meus músculos se
moverem, enquanto eu estava lá, ouvindo os homens falarem.
─ Convença-me de que você nunca atacará outro ser humano, por
causa de suas diferenças. Convença-me de que nunca levantará a mão
com raiva ou tirará algo de alguém mais fraco e mais vulnerável do que
você, simplesmente porque eles não são brancos. Se você puder fazer
isso, eu deixarei você viver.
─ Tudo bem então. Você tem a minha palavra como um bom
católico. Eu nunca mais vou fazer essa merda.
Eu tinha ouvido o mesmo tom altivo e arrogante de antes, na noite
em que segurei uma faca na garganta do meu pai. Ele jurou que nunca
mais me tocaria. Ele jurou que nunca mais tocaria em Amy, e eu sabia

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que ele estava me dizendo o que eu queria ouvir. Eu ouvi a mentira em
sua voz. Eu testemunhei nos olhos dele, que tinham sido coniventes e
cintilantes com a vingança que ele já estava planejando contra mim. Eu
tinha certeza de que o mesmo olhar de desprezo e nojo estaria no rosto
do homem com quem Fix estava falando, e isso fez meu coração parar de
bater por completo.
Deus, ele ia machucar esse cara. Fix ia mesmo machucá-lo. Eu não
conseguia entender o porquê, mas me vi impelida para a frente, em
direção ao som de suas vozes. Eu não queria ver... não queria ver o que
aconteceria a seguir, mas uma parte de mim se sentiu obrigada a pará-
lo, para impedir o que estava prestes a acontecer. Eu não sabia como
conseguiria isso, mas...
Meu corpo estava entorpecido enquanto me movia. Eu não senti
nada. Meus pulmões pararam de funcionar quando me vi em uma porta.
Fix estava de costas para mim e na mão...
Na mão: a faca mais cruel e afiada que já vi.
O homem à sua frente era mais baixo que Fix, gordura ao redor de
sua barriga, seu rosto amassado em uma máscara de ódio e fúria. Apesar
da fraca iluminação, pude distinguir os respingos escuros nos ombros de
sua jaqueta cansada e desgastada que a chuva devia ter criado quando
estavam do lado de fora. Seus jeans estavam manchados de graxa e
desgastados pelas bainhas. O boné de beisebol que ele usava estava tão
gasto que o material havia se partido pela aba. Estranho que eu notasse
detalhes tão finos, quando deveria estar avançando, gritando, exigindo
que Fix deixasse o cara em paz.
─ Você não vai mudar, ─ disse Fix suavemente. ─ O jeito que você
machucou aquela garota... você amarrou as mãos dela e a prendeu. Você
a manteve em seu porão por dias. Você se forçou a entrar nela uma e
outra vez, e riu quando ela implorou e implorou por sua vida...
─ Eu não a matei, ─ protestou o outro homem. Foi então que vi o
ferro de pneu que ele segurava na mão. ─ Eu não tirei a vida dela.
─ Você poderia ter feito, ─ Fix respondeu. ─ Com que tipo de
existência você acha que a deixou? Você acha que ela conseguirá dormir

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de novo? Você acha que ela será capaz de voltar à sua rotina diária e
esquecer tudo o que você fez com ela? Normal, não existe mais para Holly.
Ela nunca será capaz de ter a vida normal que merecia. Ela nunca será
capaz de estabelecer uma conexão com um homem. Ela não será capaz
de se apaixonar, se casar e ter filhos. Toda vez que um cara olhar para
ela na rua, toda vez que alguém sorrir para ela e a admira-la, ela nunca
será capaz de sorrir de volta. Ela te verá. Seu rosto hediondo pairando
sobre ela. Você, apalpando seu pau nojento enquanto se prepara para
empurrá-lo dentro dela mais uma vez. Ela se lembrará de cada coisa
terrível que você fez com ela e morrerá um pouco mais por dentro. Você
a roubou de tudo de bom.
A carranca do outro homem se aprofundou num piscar de olhos;
ele ouviu a finalidade no tom de Fix, da mesma maneira que eu ouvi, e
ele sabia que nunca seria capaz de enganar Fix a acreditar nele. ─ Aquela
putinha de merda não merecia nada. Ela mereceu exatamente o que eu
dei a ela. Eu deveria ter cortado a porra da sua garganta. Você está certo.
Eu não parei de machucá-la quando ela implorou. Isso deixou meu pau
duro. Eu adorava foder com ela. Eu adorava machucá-la. Eu faria tudo
de novo se tivesse chance. ─ Quando ele se lançou para a frente, eu não
vi isso acontecer. Ele era lento e desleixado, erguendo o ferro de pneus
sobre a cabeça, fazendo-o girar em um arco selvagem voltado diretamente
para a cabeça de Fix. Fix desviou do caminho com aparente facilidade;
ele nem levantou a mão para se defender. Ele simplesmente saiu do
caminho, resmungando baixinho. O outro homem tropeçou, levado por
seu próprio momento, e foi quando Fix reagiu. Ele virou a faca na mão e
dobrou o pulso, lançando-o para a direita - um movimento casual e fluido
que parecia não lhe custar nada. A ponta da faca mergulhou na lateral
do outro cara, e o tempo parou. O outro homem olhou para Fix, os olhos
arregalados de surpresa e um suspiro longo e úmido sibilou pela boca.
─ Seu... filho da puta, ─ ele ofegou. ─ Seu pedaço de merda... ─ O
ferro de pneu se moveu novamente, voando em direção ao ombro de Fix,
mas Fix estendeu a mão e segurou o homem pelo pulso, interrompendo
seu ataque no ar. Ele estava tão tranquilo. Tão calmo. De costas para

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mim, eu não conseguia ver o rosto dele, mas havia uma serenidade que
derramava dele, afrouxando seus ombros. Acabou rapidamente, mas a
cena continuaria em minha mente até o dia da minha morte: Fix devagar,
removeu cuidadosamente a faca da lateral do homem e ele a levou à
garganta.
─ Eu não vou deixar você machucar mais ninguém, ─ ele
sussurrou. ─ Você terminou, Franz. Acabou. Eu vou fazer isso rápido.
Houve uma resignação nos olhos de Franz. Ele sabia que Fix estava
dizendo a verdade, e uma parte dele parecia ter aceitado. Ele estava
jorrando, lágrimas ameaçando derramar em seu rosto quando Fix se
aproximou dele, segurando-o firmemente pelo braço. Franz engoliu em
seco, um lampejo de dor passando por seu rosto. ─ Você... você é um
padre, ─ ele ofegou. Seu rosto ficou branco,manchas de sangue
salpicaram seus lábios e seu queixo. ─ Me absolva. Liberte-me dos meus
pecados.
Fix girou seu corpo, o som de suas botas rangendo contra o
concreto sob os pés enchendo o ar. ─ Eu costumava ser padre. Eu não
posso te ajudar. E mesmo se eu pudesse, não faria. Você precisa se
arrepender para ser absolvido. E não aceito mais confissões. ─ Em um
rápido movimento predatório, Fix fez um movimento com o braço e a faca
cantou no ar. Eu assisti, horrorizada, a ponta perversa de sua lâmina
serrilhada atravessar a garganta de Franz. Então o sangue veio. Um
esguicho vermelho que pulverizou Fix inteiro, e por cima de sua cabeça,
atingindo a parede ao meu lado.
Franz engasgou e sufocou quando morreu. Ele não conseguiu
gritar, o que poderia ter sido uma bênção se ele não estivesse se
esforçando muito para fazer exatamente isso. Outro jato de sangue jorrou
irregular em seu pescoço, e ele agarrou Fix, as mãos arranhando-o
enquanto tentava permanecer em pé. Era inútil, no entanto.
Completamente fútil. A luz desapareceu de seus olhos em questão de
segundos, e então ele estava escorregando, deslizando, as mãos liberando
Fix quando ele caiu no chão.

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Eu ainda não consegui me mexer. Minhas terminações nervosas
não estavam respondendo, mesmo que eu estivesse gritando para elas
obedecerem. Eu poderia ter escapado e me escondido antes de ser
descoberta, mas o choque do que acabei de ver me deixou enraizada
permanentemente no local. Quando Fix se virou lentamente, eu sabia
com cada fibra do meu ser que estava prestes a morrer. Eu vi o que ele
fez. Eu testemunhei a coisa toda. Não havia como viver para contar a
história. O gosto acobreado de metal e medo inundou minha boca, tão
espesso e avassalador que eu quase me engasguei.
Fix me viu imediatamente. Ele era uma visão de terror - rosto e
mãos cobertas de sangue, jaqueta encharcada de sangue. Ele parecia um
pesadelo, e eu estava presa em seu olhar, incapaz de correr. Ele não
parecia chocado ao me ver parada na porta. Ele não parecia surpreso.
Havia uma escuridão o envolvendo quando ele deu um passo em minha
direção, limpando o rosto com as costas da mão, manchando o sangue
como se fosse tinta de guerra.
─ Eu não achei que você ficaria assistindo, Sera. Não achei que
você tivesse estômago para isso.

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SETE
JUSTIÇA

FIX

Eu soube o momento em que ela entrou na oficina. O perfume dela


a denunciara - doce, suave, floral e delicioso, o mesmo cheiro que
assombrava meus sentidos desde que eu a havia fodido na noite passada
- e eu esperei, descobrindo como eu iria lidar com a situação. Ela iria me
impedir. Ela viria correndo e salvaria Franz. Ela ligaria para a polícia. Ela
me prenderia se eu colocasse um dedo no cara. Essas eram as coisas que
eu esperava que ela dissesse e fizesse, só que ela não fez.
Ela permaneceu escondida nas sombras, observando
silenciosamente, e eu percebi exatamente como estava fodido. Se eu
deixasse Franz ir, ele tentaria me seguir. Isso não seria bom para ele,
naturalmente, mas era inconveniente. E depois o que? Se ele se irritasse
ao ser confrontado com outra garota inocente? Se ele estuprasse alguém?
Não havia como...
Eu me movimentei com cuidado, certificando-me de que Sera
pudesse me ver claramente quando me aproximei dela. Sem movimentos
bruscos. Não há surpresas que possam fazê-la gritar. Ela parecia um
cervo assustado, presa nos faróis de um veículo que ela podia ver
claramente, mas não fazia absolutamente nada para evitar.
─ Você o matou, ─ ela respirou, seus olhos deslizando para o
cadáver no chão atrás de mim. ─ Você... você pegou a faca e o matou.
─ Eu matei.
Ela olhou para mim como se eu tivesse negado minhas ações, em
vez de admiti-las. ─ Você o matou.
─ Eu sei.
─ Po... ─ Ela balançou a cabeça, agarrando a parede, tentando se
equilibrar enquanto balançava. ─ Por quê? O que…

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─ Ele machucou uma garota. Fui contratado para corrigir a
situação ─ falei, mantendo a voz calma. Nos anos em que eu fiz esse tipo
de trabalho, ninguém jamais tropeçara em mim no ato. Eu nunca fui tão
obviamente pego em flagrante. Minha mente estava cambaleando. Eu
queria pegar Sera, jogá-la por cima do meu ombro e dar o fora daqui, mas
isso seria arriscado. Se eu não lidasse com essa situação direito, e ela
estivesse gritando e chorando enquanto eu a arrastava pelo
estacionamento, alguém com certeza iria nos ver. No momento em que
Franz fosse encontrado morto, seria suficientemente fácil para alguém
relatar o que havia visto e os policiais estariam atrás de mim em pouco
tempo. Já era ruim o suficiente o garçom da lanchonete me ver com
Franz, mas o garoto mal olhou duas vezes na minha direção. Não havia
câmeras na lanchonete, o local era muito pequeno para alugar qualquer
tipo de medida de segurança, então a polícia teria uma descrição muito
vaga. Mas se Sera perdesse a cabeça e estivesse histérica quando eu a
colocasse na traseira da caminhonete, isso complicaria imensamente as
coisas.
─ Ele... como isso é resolver a situação? ─ Sera perdeu toda a cor
do rosto e continuou engolindo. Seu reflexo de vômito provavelmente
estava trabalhando horas extras. Lembrei-me da primeira vez em que vi
alguém assassinado e, embora não tivesse falhado do jeito que
suspeitava, eu definitivamente me separei do almoço quando me vi
sozinho no banheiro.
─ Os policiais por aqui nunca teriam apresentado queixa contra
ele, ─ eu disse, limpando cuidadosamente as palmas das mãos contra as
calças. ─ E mesmo se o fizessem, a menina estava com muito medo de
apresentar queixa. Então eu aceitei o trabalho. Se eu pensasse que o
sistema de justiça teria resolvido isso, eu teria deixado a coisa toda em
paz.
Sera fungou, depois cobriu a boca com a mão, encolhendo-se. ─
Deus, o cheiro...
O problema das pessoas mortas era que, quando estavam
morrendo, muitas vezes perdiam o controle sobre os intestinos. Era mais

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comum do que eu gostaria. Combinado com o cheiro espesso de sangue
no ar, o odor da morte já estava se desenvolvendo de fraco a pungente.
─ Porra. Acho que vou vomitar. ─ Sera cambaleou para trás,
curvando-se na cintura, mas corri para frente e a segurei, prendendo-a
em meus braços.
─ Não vomite aqui. Se você vai vomitar, faça lá fora. De preferência
a dez quilômetros daqui.
Ela gemeu, um olhar de pânico se formando quando ela pegou o
jeito que eu a estava segurando. Ela ia perder a cabeça. A qualquer
segundo agora, ela ia ter um colapso, e eu teria que tomar medidas para
acalmá-la. Eu não queria ter que nocauteá-la, mas faria se tivesse que
fazê-lo. Seu corpo tremia, um estremecimento violento, e ela tentou
levantar a mão contra o rosto novamente, mas notou o sangue na jaqueta
e na pele - o sangue em que ela acabara de colocar a mão quando tentou
se firmar contra a parede. - e foi isso.
Os olhos dela reviraram a cabeça e ela desmaiou.

******

Etapa um: Colocar Sera na caminhonete.


Etapa dois: Dirigir calmamente de volta ao motel.
Etapa três: Tirar as roupas ensopadas de sangue e trocar de carro.
Etapa quatro: Pegar as malas de Sera no lobby.
Etapa cinco: Dar o fora daqui.
Concluí as etapas de um a cinco mecanicamente, sem realmente
pensar em nada. Haveria tempo para pensar mais tarde. Agora era a hora
de agir, e eu já havia passado por situações como essa várias vezes na
minha cabeça, que sabia exatamente o que tinha que fazer. Tudo bem,
talvez não cenários exatamente como este, mas parecidos o suficiente.
Por alguma razão, nunca pensei que poderia haver um momento em que
eu teria que deitar uma mulher inconsciente no banco de trás do meu

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carro e afastá-la de uma cena de assassinato. A menor possibilidade de
que algo assim pudesse acontecer simplesmente nunca me ocorreu.
Tão estúpido.
Estávamos de volta à estrada antes de Sera acordar, o que era
preocupante, pois, até onde eu sabia, as pessoas que desmaiavam
geralmente acordavam rapidamente, mas ela obviamente sofreu um
choque. Seu corpo, sua mente, deve ter precisado de um pouco de tempo
para se recompor. Eu a ouvi se mexer e, em um segundo, ela estava
mexendo na maçaneta da porta, tentando abrir a porra da porta.
Felizmente, tomei precauções para trancá-las antes de começar a dirigir
novamente.
─ Estamos à 180 km\h. Não recomendaria abrir e rolar agora.
─ Deixe-me sair do carro, Fix. Pare o carro agora e me solte. ─ Ela
estava assustada, e eu realmente não podia culpá-la por isso. A última
coisa que precisávamos era que ela perdesse a cabeça enquanto
estávamos nos movendo. Parei na beira da estrada, enfrentando os
perigos e peguei a pasta marrom que coloquei no banco do passageiro,
pronto para esse momento. Abrindo, peguei a primeira foto de dentro do
arquivo e a empurrei por cima do ombro, rosnando baixinho. Era Holly,
a garota que Franz havia agredido brutalmente, coberta de hematomas,
com a boca machucada em tantos lugares que seus lábios pareciam
carne mutilada de um balcão de lanchonete. Ela estava nua na foto, e as
marcas de mordida e queimaduras por toda a pele, seios, coxas e
estômago estavam lívidas e roxas. Horrível de se ver.
─ Foi isso que ele fez, ─ eu bati. ─ Foi assim que ele a deixou,
quando ele finalmente a soltou. Setenta e duas horas, foi o tempo em que
ele a manteve naquele porão, Sera. Setenta e duas horas, onde ele a
torturou, a estuprou e afundou os dentes em sua pele. Ele lhe passou
hepatite, pelo amor de Deus.
Sera não pegou a foto de mim. Ela olhou, tremendo, os olhos se
enchendo de lágrimas. Um carro passou por nós na estrada, muito mais
rápido que o limite de velocidade, e a caminhonete balançou de um lado
para o outro em seu rastro. Sera apenas ficou sentada, olhando fixamente

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para a foto de Holly, imóvel. Joguei a foto no colo dela e peguei outra do
arquivo: uma imagem das nádegas de Holly, que estavam esfoladas e
cobertas de sangue. Joguei também no colo de Sera, depois segui com
outra, e depois outra, cada uma pior que a anterior. ─ Se você tentar me
dizer que o desgraçado doente não teve o que merecia, terá um tempo
muito difícil.
Silenciosamente, Sera começou a chorar. ─ Eu não... eu não sei o
que pensar. Eu só... por favor. Por favor, não me mate.
Eu já imaginei que ela pensaria isso - que eu ia matá-la. Seu pedido
desesperado ainda me fez sentir mal do estômago, no entanto. ─ Eu não
vou te matar, Sera. Por que diabos eu te mataria? Você não fez nada
errado. ─ Meu estômago se amarrou em um nó.
Ela parou de chorar, seu corpo ficou parado. Ela levantou a cabeça,
me olhando nos olhos pela primeira vez desde que acordara. ─ Então... o
que você vai fazer comigo. Por que você não me deixa ir?
─ Eu preciso saber que você não vai ligar para a polícia. Eu preciso
saber, que no momento em que eu deixar você ir, você não vai enviar as
autoridades atrás de mim.
Com as mãos trêmulas, Sera juntou as fotos do corpo agredido e
quebrado de Holly e jogou-as para mim, fazendo-as cair bem no pé. ─
Você acha que eu sou estúpida? Eu não diria uma palavra disso a
ninguém, Fix. Lutei muito e muito pela vida que tenho agora. Eu não me
arriscaria denunciando um homem claramente demente e perigoso.
Ai. A parte perigosa eu poderia lidar. Demente, porém? Isso foi
desnecessário. Eu me virei, segurando o volante, respirando fundo pelo
nariz. ─ Sinto muito se não acredito em você no momento, mas pela
minha experiência, as pessoas lhe dirão qualquer coisa quando temerem
por suas vidas. Você ouviu Franz, certo?
Silêncio.
Eu respirei fundo, bufando. Isso não estava indo bem. Nada disso.
Eu formulei um plano em minha mente. Era loucura, completamente
contra o que eu deveria fazer. Eu já sabia que Sera iria recusar, mas foda-
se. Eu não consegui lidar com a alternativa. Se ela não gostasse...

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─ Apenas me deixe ir, Fix. Por favor. Eu não preciso disso, e você
também não. Tudo que eu queria fazer era chegar ao casamento da minha
irmã. Depois disso, eu queria voltar para Seattle e voltar ao trabalho. Isso
não muda nada disso.
Ela parecia sincera, e honestamente, eu estava inclinado a
acreditar nela. ─ Vou levá-la ao casamento de sua irmã, ─ eu disse
uniformemente, reiniciando o motor do caminhão. ─ Então eu irei com
você de volta a Seattle e tudo voltará ao normal. Enquanto você ficar de
boca fechada e não falar nada do que viu hoje de manhã, tudo ficará bem.
Você entende?
Afastei-me na estrada, esperando para ver o que ela diria. Não tive
que esperar muito tempo.
─ Você está me mantendo refém? ─ ela perguntou baixinho.
─ Não. Eu não estou te mantendo refém. Vou monitorar a situação,
até ter certeza de que você não derrubará o céu em minha cabeça. Isso é
diferente.
─ Você é insano. ─ Eu podia ouvir o pânico na voz dela, mas não
estava tão ruim quanto antes. Ela estava gradualmente recuperando o
controle sobre si mesma, acreditando que eu não estava planejando
assassiná-la para arrumar minhas pontas soltas, e isso era um
progresso. ─ Você vai me levar para o Alabama e depois? Você vai me
vigiar como um falcão? Fingir ser garçom no maldito casamento da minha
irmã? Ficar de olho em mim e me levar para fora se parecer que estou
perdendo a calma?
─ Por que diabos eu fingiria ser garçom, Sera? Jesus. É um
casamento. Você pode levar um acompanhante, certo? ─ Olhei no espelho
retrovisor para olhá-la, e a expressão em seu rosto era mais do que um
pouco incrédula.
─ Acompanhante? Você quer ser meu acompanhante? Você acabou
de matar um estuprador, cortou sua garganta de orelha a orelha, e agora
você quer ser o meu encontro em uma porra de casamento? Não posso...
simplesmente não consigo entender o que está acontecendo agora. Sinto

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que estou tendo uma viagem ruim ou algo assim. A pior viagem da
história do abuso de drogas.
─ Não seja tão melodramática.
─ Melodramática? Você acha que isso é melodrama? Você mata
pessoas por dinheiro, Fix. Você os esfaqueia e atira neles, e você... você
faz sabe-se lá Deus o que mais. Vi você fazer isso com meus próprios
olhos e estou sendo melodramática quando não quero passar um tempo
com você no casamento da minha irmã. Você só pode estar brincando!
─ Alguns dias. Tudo o que você precisa fazer é me fazer acreditar
que não vou me encontrar algemado e deixarei você ir. É fácil. Se você
não tivesse vindo investigar como Miss Marple4, não estaríamos nesta
posição em primeiro lugar.
Ela soltou uma risada fria, dura e irônica. ─ Se você não tivesse
matado Franz, não estaríamos nessa posição. Acho que isso supera o fato
de eu ter entrado em um prédio procurando por você.
─ Não é melhor você ir mandando mensagens para sua irmã agora,
em vez de gritar comigo? Ela vai querer saber que você precisa de alguém
adicionado ao seu lado no plano de assentos dela.
─ Foda-se, Fix! Você é tão ruim quanto Franz se acha que não há
problema em me manter com você contra minha vontade.
Enviei-lhe um olhar afiado e um olhar de olhos estreitos para atrás
de mim, tentando conter o meu temperamento crescente. Ela era louca
se comparasse isso com o que Franz fizera com Holly. Vi, no retrovisor, o
momento em que ela percebeu o quanto sua afirmação estava errada. Ela
não retirou o que disse, no entanto. Ela apertou a mandíbula, erguendo
o queixo em desafio e recostou-se na cadeira.
─ Tudo certo. Bem. Você pode vir comigo para o estupido
casamento. Você pode me escoltar de volta a Seattle como a garotinha
travessa que eu sou. Mas no segundo em que eu sentir que você vai me

4 Jane Marple, normalmente conhecida como Miss Marple, é uma personagem de


ficção presente em doze romances e em vinte contos policiais de Agatha Christie. Miss
Marple é uma senhora solteirona que vive no vilarejo fictício de St. Mary Mead e atua
como detetive amadora.

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machucar ou fazer algo que eu não gostaria, então vou começar a gritar.
E confie em mim... eu posso gritar muito alto.
Dei um suspiro de alívio. Acabei de comprar algum tempo para nós
dois.

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OITO
PIRULITO

SERA

Amy: Quem é ele? E por que você está me contando sobre ele
só agora? Te perguntei meses atrás se você estava vendo alguém, e
você disse que não.

Eu: Desculpe. Estou falando sobre ele agora, no entanto. Não


é nada sério. Não achei que ele estaria disponível na data, então
não mencionei nada. Ele ligou esta manhã e me disse que viria me
buscar, aqui estamos nós. Olha, se é um problema e você prefere
que ele não esteja lá, entendo. Apenas me avise.

Provavelmente, foi uma má ideia dizer a Amy que ela poderia vetar
a presença inesperada de Fix em seu casamento. Ela era muito mais
educada do que eu, no entanto, e mal discutiu comigo sobre o assunto.

Amy: Se você estiver aqui a tempo e tudo correr conforme o


planejado, não me importo com quem você irá trazer. Contanto que
ele não estrague meu grande dia.

Contanto que ele não estragasse seu grande dia? Deus, isso seria
uma confusão. Havia mil e uma maneiras pelas quais Fix poderia
estragar o grande dia de Amy, que incluía, mas não se limitava a, matar
um dos convidados. As amigas da minha irmã eram idiotas no que me
dizia respeito, mas Amy gostava delas por algum motivo, então ela
provavelmente não aceitaria muito bem o fato de ter uma delas morta.
Meu ex-namorado, Gareth, estaria lá. As coisas entre nós não foram
muito sérias, mas quando ele me traiu e destruiu meu carro, jurei que
iria remover as bolas dele se visse seu rosto infeliz novamente. Amy havia
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me avisado que ele iria comparecer - como amigo mais antigo de Ben, a
ele foram atribuídos deveres de padrinho - e ela me implorou para não
causar uma cena. Eu estava com medo de colocar os olhos em Gareth
novamente, mas agora ele era a menor das minhas preocupações. Fix ia
chamar as atenções. Haveria perguntas. Muitas delas. E quando alguém
perguntasse ao meu acompanhante o que ele fazia da vida, que porra ele
ia dizer? ─ Ah, eu mato pessoas por dinheiro? ─ Ele nem piscou quando
me disse isso no saguão do motel ontem à noite. O comentário dele tomou
conta de mim, mas se ele dissesse isso a Amy? Deus, haveria fogos de
artifício. Fogos de artifício de quatro de julho. O tipo de fogos de artifício
que poderiam ser vistos por três condados e queimaria permanentemente
as retinas de qualquer um que tivesse a infelicidade de avistá-los.
─ Você está rangendo os dentes. ─ Fix não falara muito nas últimas
horas, nem eu. Eu estava olhando para trás do pescoço dele no banco de
trás, imaginando como seria fácil sufocá-lo e escapar sem ele bater o
carro durante o meu ataque. Eu tinha decidido que as chances de ele
entrar de frente em uma barreira, ou sair completamente da estrada,
eram muito altas, e arquivei a ideia, mas isso não me impediu de
imaginar como seria satisfatória. enrolar minhas mãos em seu pescoço e
apertar o mais forte que pudesse.
─ Costumo fazer isso quando estou estressada, ─ respondi. ─ E,
como você provavelmente pode perceber, estou realmente estressada
agora.
─ Não é exatamente assim que eu planejei passar minha semana,
Anjo.
─ Oh? E como exatamente você planejou passar a semana? ─ Isso
seria bom. Ele provavelmente tinha uns quatro ou cinco assassinatos
programados ou algo assim. Eu não tinha ideia de qual era sua cota, mas
ele parecia um cara trabalhador. Não parecia do tipo que tirava um tempo
para beber uísque na frente de uma lareira enquanto lia um bom livro.
Seus olhos dispararam para o espelho retrovisor. Eu fingi não
perceber seu olhar em mim. ─ Eu tinha responsabilidades em Nova York
que vão ter que esperar agora. Acredite, isso é altamente inconveniente.

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─ Responsabilidades? ─ Várias possibilidades me ocorreram: e se
ele tivesse uma esposa e uma família em casa esperando o seu retorno?
Ele me fodeu ontem à noite, mas e daí? Um cara que acabava com a vida
das pessoas regularmente, dificilmente hesitaria em trair. E se ele tivesse
uma avó doente em uma casa de repouso com a qual costumava tomar
café toda quarta-feira? Ela saberia tudo sobre as atividades
extracurriculares dele? Foi então que me lembrei da mulher que tentava
falar com ele tão desesperadamente. ─ Suas responsabilidades envolvem
Monica? Ela sabe quem você é, Fix? Ela sabe o que você faz sempre que
sai do estado?
Uma sombra de sorriso se contorceu nos cantos de sua boca, antes
que desaparecesse. ─ Monica não é minha responsabilidade. Mas sim,
ela sabe quem eu sou. Ela é provavelmente a única pessoa no mundo que
me conhece. E sim, ela sabe exatamente o que faço sempre que deixo o
estado. ─ O tom em sua voz escondeu uma sombra de diversão. Havia
uma história por trás de seu relacionamento com essa mulher, Monica,
mas ele não parecia compartilhar isso. Eu com certeza, não ia perguntar
a ele sobre isso.
Eu me virei para olhar pela janela, encostando a testa no vidro frio.
Wyoming passou em flashes de verde, azul, cinza, marrom e branco.
Colunas de fumaça saíam das chaminés das casas afastadas da estrada.
Havia pessoas dentro daquelas casas, preparando o almoço para suas
famílias. Planejando o resto do dia. Limpeza e cozimento. Pagando suas
contas. Assistindo televisão. Como a vida poderia continuar tão
normalmente, tão cegamente, para algumas pessoas, quando todo o meu
mundo virou de cabeça para baixo no espaço de algumas horas? Fechei
os olhos e tudo o que vi foi a poça de sangue no chão daquela oficina. O
corpo daquele estuprador deitado no concreto congelado, esfriando
rapidamente, os olhos abertos, olhando para mim, assustado, como se
estivesse implorando para eu ajudá-lo, mesmo na morte. ─ Quantas
pessoas você já matou, Fix? ─ Eu perguntei baixinho.
O silêncio encheu a caminhonete, e comecei a pensar que ele não
iria responder. Então ele pigarreou e falou. ─ Isso importa? A morte de

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uma pessoa em minhas mãos, já não me leva ao inferno de qualquer
maneira?
─ Eu não acredito no inferno.
Mais uma vez, outro olhar rápido, embora um pouco intrigado, de
Fix no espelho. ─ Então você é ateia.
─ Sou alguém que acredita que você não deve matar pessoas,
mesmo que não haja poder superior monitorando nosso comportamento
nas nuvens, marcando pontos a favor ou contra nós.
Ele sorriu. O carro estava cheio do cheiro de ar fresco e frio e
agulhas de pinheiro. Seria este, um cheiro que me lembraria para sempre
desse momento. Se eu estava destinada a ter mais momentos, seria isso.
Os olhos azuis de Fix voltaram para a estrada, examinando o horizonte,
e eu me peguei olhando para a linha de sua mandíbula; seus pelos faciais
haviam crescido notavelmente da noite para o dia e agora ele estava
usando uma barba rala. Eu me odiava por isso, mas mais uma vez me
surpreendi com o quão absolutamente, ridiculamente atraente ele era.
Ele estava além do perigoso, e eu era estúpida demais por pensar essas
coisas sobre ele em um momento como este, mas eu sabia disso há muito
tempo: havia algo fundamentalmente fodido dentro de mim. Já estive em
muitas situações confusas para reagir da mesma maneira que qualquer
pessoa sã poderia, quando trancada na traseira de uma caminhonete em
movimento com um possível assassino em massa. E ele realmente era
bonito.
─ Está com fome? ─ ele perguntou. Sua voz era profunda e
penetrante - o som de um trovão estrondoso. Apertei minha mão em torno
do meu telefone celular, segurando-o por uma vida preciosa; era um
milagre ele me deixar ficar com isso, realmente. Fix era um homem
inteligente, isso era desesperadamente óbvio. Portanto, tinha que haver
uma razão para ele não ter confiscado meu único meio atual de contato
com o mundo exterior. Do banco de trás, eu poderia facilmente enviar um
texto, pedindo ajuda, e Fix sabia disso.
─ Não. Eu estou bem ─ respondi.

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─ Ok, ─ ele respondeu categoricamente. Mas mais oito quilômetros
a frente, o vi saindo de nosso curso e entrando no pátio de um posto de
gasolina.
─ Eu disse que não estava com fome.
─ E eu disse ok. Mas, com todas as queixas e reclamações saindo
do seu estômago durante a última hora, eu sabia que você estava
mentindo. Além disso, esta caminhonete não funciona a ar. Se formos
para o Alabama, teremos que parar de vez em quando para abastecer. ─
Ele parou enquanto desligava o motor, depois se sentou e fez uma careta
que devia corresponder à minha. ─ Eu sei. As leis da energia potencial e
da física em geral são estúpidas, certo?
A facilidade do seu sorriso me pareceu estranha. Mas então Fix teve
muito tempo para aceitar o fato de que ele era um assassino. Era uma
notícia antiga para ele. Eu tive menos de algumas horas para envolver
minha cabeça em toda a sua existência, e levei um pouco mais de um
minuto para descobrir o que diabos estava acontecendo. ─ Vou querer
uma garrafa de água e um saco de batatas fritas, ─ eu disse. ─ Normal.
Nenhuma merda de queijo.
De acordo com Amy, eu tinha um olhar que murchava as bolas dos
homens e os fazia retrair dentro de seus corpos, para nunca mais serem
vistos. Eu estava dando a Felix esse olhar agora, mas ele parecia
totalmente imune a isso. Nem sequer pestanejou. Na verdade, ele riu
baixinho quando abriu a porta do motorista e pulou para fora do carro,
movendo-se com a facilidade de alguém muito confortável dentro de sua
própria pele. Eu assobiei baixinho quando, em vez de encher tanque do
carro e ir para a conveniência, Fix abriu a porta do passageiro traseira -
minha porta - e gesticulou bastante abruptamente para eu sair.
─ Vou para dentro desse prédio e saio para descobrir que minha
caminhonete sumiu, ─ disse ele, sorrindo de orelha a orelha. ─ Você acha
que eu sou burro?
─ Eu não ia roubar seu carro, Fix. Você levou as chaves com você,
pelo amor de Deus.

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─ Você parece uma garota que sabe manipular um fio. Agora vamos
lá. E seja legal. Os caras nessas paradas de descanso rurais geralmente
têm cerca de quinze armas presas ao corpo, estão entediados e têm
coceira no dedo. Um olhar inocente, do tipo, por favor, ajude-me senhor,
e eles estarão me enchendo de tiros.
Eu me senti um pouco instável quando deslizei para fora da
caminhonete, direto para os braços de Fix. Seus dedos se curvaram ao
meu lado, pressionando levemente minhas costelas, e eu podia sentir o
calor do seu corpo irradiando através da minha jaqueta. ─ Eu não preciso
de ajuda, obrigada, ─ eu assobiei, tentando me livrar do seu alcance. Ele
me empurrou, dando um passo à frente ao mesmo tempo, de modo que
minhas costas estavam contra a lateral da caminhonete e seu peito
estava contra o meu, meu corpo preso entre o veículo e sua forma sólida,
forte e cheia de músculos. Eu ofeguei, tentando recuperar o fôlego.
Tentando descobrir o que era mais forte - Felix Marcosa, ou o Ford contra
o qual eu estava encostada.
─ Você está ouvindo? ─ ele rosnou, inclinando-se para que nossos
rostos estivessem a meros centímetros de distância.
─ E por que eu me importaria se você ficar cheio de tiros?
─ Porque sim. Você não me odeia. Você está tentando evitar
completamente o pensamento, mas na verdade gosta bastante de mim,
Sera. E você não sente muito pelo cara que deixei no chão, lá em Liberty
Fields. Você sabe que não. Ele era um estuprador e provavelmente um
assassino também. Ele era um homem violento, que se deleitava com a
miséria e o sofrimento dos outros, e posso dizer... você viu seu quinhão
de pessoas como ele. ─ Ele estendeu a mão e lentamente passou os dedos
ao longo da borda da minha mandíbula, ao longo da linha ligeiramente
enrugada da minha cicatriz, e um choque de gelo correu pelas minhas
veias. Virei minha cabeça para o lado, me afastando de seu toque,
estremecendo com a própria ideia de que alguém, qualquer um, tivesse
ousado tocar uma parte tão secreta, escondida e vulnerável de mim com
as pontas dos dedos e suas palavras.

DIRTY #1
CALLIE HART
─ Você não tem ideia do que está falando, ─ eu falei, batendo
minhas palmas contra o peito dele, empurrando-o com firmeza o
suficiente para que ele tivesse que dar um passo para trás. ─ Você não
me conhece. Você não sabe nada sobre mim, meu passado, o que estou
pensando ou o que gosto. Você está tentando entender, tentando se
convencer de que estou segura. Que não vou contar a ninguém o que
você fez. E se é isso que precisa acontecer para você me deixar ir, eu sou
a favor. Mas por favor... por favor, não tente me convencer de nada. Não
sou tão simples assim, Fix. Você nunca verá dentro de mim. Você nunca
juntará os pedaços fraturados novamente por tempo suficiente para fazer
uma imagem completa, por isso nem tente.
Meu coração estava acelerado quando eu deslizei ao redor dele e
caminhei através do pátio. Eu não olhei para trás. Sob os pés, o chão
estava torcido e quebrado, enormes rupturas no concreto, criando uma
teia de aranha gigante de rachaduras. As ervas daninhas brotaram da
terra, na altura do tornozelo, em alguns lugares na altura do joelho, e eu
não pude deixar de pensar nisso: Amy e eu éramos tão parecidas com
essas ervas daninhas. Nascemos sob uma pilha de merda tão alta que
parecia impossível fazer alguma coisa de nós mesmas, mas de alguma
forma, entre as rachaduras, conseguimos avançar, lutando e
sobrevivemos. Ainda éramos ervas daninhas. Nunca seríamos mais nada.
─ Posso ajudá-la, senhorita? ─ O cara atrás do balcão, armado até
os dentes como Fix previa, era na verdade uma mulher idosa. Sua arma
de escolha era um par de agulhas de tricô. Ela provavelmente era a avó
de alguém e cheirava a talco e a um cheiro suave e doentio de alguém
que poderia morrer a qualquer momento. O cardigã era três tamanhos
maiores que ela. Eu podia ver o maço enrolado de tecido enfiado na
manga direita, a uma boa distância. Por que os idosos sempre insistiam
em manter o tecido sempre à mão? E por que um bolso ou uma bolsa não
era bom o suficiente? Por que tinha que estar na manga?
─ Eu só vou olhar em volta por um segundo, se estiver tudo bem?
─ Eu disse suavemente. Meu temperamento ainda estava voando alto,
mas não havia sentido atacar a pobre senhora atrás do balcão, tricotando

DIRTY #1
CALLIE HART
o que parecia ser roupas de bebê. Andei pelos corredores, os olhos
examinando os produtos empilhados nas prateleiras, mas sem realmente
ver nada. A luz do teto zumbia e cuspia, a própria luz queimando e
diminuindo, tremeluzindo epiléptica - o primeiro sinal em qualquer filme
de terror ruim de que as coisas estavam prestes a ficarem fodidas. Peguei
uma lata de Pringles, me perguntando como eu usaria o tubo de batatas
fritas como um meio de autodefesa, e foi quando a porta se abriu e Fix
entrou, jogando o cabelo para trás do rosto como uma espécie de maldito
semideus. A velha atrás do balcão parou, suas agulhas cessando seu
barulho rápido, clack, clack, e ela apenas o encarou como se não pudesse
acreditar em seus olhos. Na verdade, senti pena dela. O sotaque dela era
grosso e local. Ela provavelmente nunca deixou essa merda, maçante, fim
de mundo, e quase certamente nunca viu um homem como Fix antes.
Não em carne, pelo menos. Os homens por aqui estavam cheios de
cerveja, acima do peso e hostis, sem dúvida - da opinião de que escovar
os cabelos ou os dentes os tornaria um "frutinha" e meio homem aos
olhos de seus companheiros. Nojento.
Fix, por outro lado, parecia que ele tinha acabado de sair da tela
da TV e acidentalmente tropeçou dentro do posto de gasolina enquanto
tentava encontrar o caminho de volta ao Oscar. ─ Boa... boa noite? ─ a
velha disse. Ela parecia confusa, como se não soubesse mais que horas
eram ou se a noite estava boa.
Fix lançou um sorriso que poderia facilmente ter parado o coração
da velha; milagrosamente, ela sobreviveu à experiência. ─ Gostaria de
pagar pela bomba número quatro, por favor, ─ ele ronronou. ─ E o que
quer que minha amiga tenha decidido que gostaria.
Peguei lata de Pringles e uma garrafa de água no balcão, arqueando
uma sobrancelha para Fix. ─ Amiga?
Ele me deu um sorriso triste, depois encolheu o ombro direito antes
de envolver o braço em volta de mim. ─ Você está certa. Desculpe Anjo.
─ Ele deu à velha um lampejo conspiratório de seus dentes, os olhos
enrugando levemente nos cantos. ─ Ela é minha namorada. Nós estamos

DIRTY #1
CALLIE HART
indo para um casamento, você sabe. Vou conhecer a família pela primeira
vez.
─ Oh, bem, não fique nervoso, ─ disse ela, balançando o dedo para
ele. ─ Boas maneiras. É tudo o que você precisa para causar uma boa
impressão. Você parece um jovem charmoso e você, minha querida,
parece uma jovem adorável também. Tenho certeza de que sua família
ficará emocionada por conhecer seu novo namorado. ─ Ela cutucou a
língua de uma maneira realmente estranha e desagradável, piscando
para mim, e eu não pude conter a ponta que formava em minha
sobrancelha. Se ela viu minha expressão, ela não reagiu. Ela aceitou o
dinheiro de Fix, rindo como uma garotinha quando ele mudou de ideia
no último minuto e decidiu comprar um pirulito. Ele arrancou a
embalagem do doce e colocou na boca e depois se recostou no balcão.
Dois pontos cor-de-rosa idênticos de vergonha floresceram alto nas
bochechas da velha, e um sorriso diabólico apareceu no rosto de Fix.
Parecia haver vida na senhora ainda. Fix sabia que a visão dele chupando
aquela coisa estava afetando a caixa, e ele estava encantado com a
atenção. Quero dizer, eu não podia negar - havia algo malditamente
perturbador em um homem adulto chupando um pirulito. A boca de Fix
era pura perfeição. Seus lábios estavam cheios e, puta que pariu, se eles
não eram perfeitamente mordíveis. Eu aprendi isso ontem à noite,
quando caí na cama com ele sem nem saber quem ele realmente era. Foi
bom que ele não me lançou um olhar de soslaio; ele sem dúvida teria
encontrado bochechas vermelhas idênticas em mim também.
Agarrando a sacola em que a velha havia colocado meus itens, saí
da conveniência, me chutando por reagir. Tomei uma série de decisões
notavelmente estúpidas em minha vida, mas permitir que Felix Marcosa
rastejasse sob minha pele não seria uma delas.
De volta ao carro, subi no banco da frente do carro, e não na
traseira. Sentar ao lado de Fix não estava no topo da minha lista de
prioridades, mas pelo menos eu podia vê-lo adequadamente do banco do
passageiro. E se ele tentasse alguma coisa, eu teria uma chance melhor
de ver isso acontecer.

DIRTY #1
CALLIE HART
Fix ligou o motor e, em seguida, emitiu um zumbido suave,
empurrando o pirulito para o lado da bochecha. ─ Você terá que parar de
fazer cara feia em algum momento, Sera.
─ Vou parar de fazer careta quando você entrar nesta caminhonete
e partir sem mim.
Ele riu, como se isso o divertisse muito. ─ Então você vai
desenvolver algumas linhas profundas nessa sua testa bonita, Anjo.
Ele saiu do estacionamento como se os policiais já estivessem atrás
de nós.

DIRTY #1
CALLIE HART
NOVE
SIXSMITH
SERA

─ Este lugar é um buraco de merda, garota. O que você tem feito o


dia todo?
Eu tentei não tremer. Sixsmith não gostava quando demonstramos
medo. Ele também não gostava quando demonstramos qualquer forma de
confiança, arrogância ou desafio, então treinei meu rosto na expressão
mais vazia que pude e me levantei da cadeira onde estava sentada à mesa
de jantar arranhada.
A cozinha não estava uma bagunça. Passei três horas limpando-a,
até que as bancadas, independentemente dos ladrilhos rachados e
lascados, estivessem brilhando. O chão não tinha uma marca. O lixo
estava vazio. Não havia um copo, prato ou tigela sujas à vista e, no entanto,
eu sabia que isso não importaria para meu pai. Ele sempre fazia isso -
chegava em casa bêbado no meio da noite, quando Cressida, a atendente
do bar que meu pai frequentava todas as noites, finalmente o interrompeu
e se recusou a servi-lo mais. Ele ficava chateado por não ter conseguido a
cerveja final pela qual lamentou e implorou, e voltava para casa e
descontava em minha irmã e eu. Hoje à noite, eu ajudei Amy com a lição
de casa e certifiquei-me de que ela fosse para a cama cedo. Alguém tinha
que esperar para servir Sixsmith no jantar. Esse alguém suportaria todo o
peso de sua ira, e não tinha porque a raiva de Sixsmith cair sobre os
ombros de Amy, quando o meu era amplo o suficiente para aguentar, e já
o fizera tantas vezes antes.
Meu pai andava pela cozinha, com os cabelos na altura dos ombros
cheios de suor, os olhos vermelhos e errantes; ele estava procurando por
algo. Algo para me punir. Abrindo a porta da geladeira, ele se inclinou,
inspecionando o conteúdo lá dentro.

DIRTY #1
CALLIE HART
─ Não há cerveja aqui, ─ ele rosnou, endireitando-se e depois
batendo a porta. ─ Eu pensei que tinha dito para você ter certeza de que
essa coisa estava totalmente abastecida quando voltasse? ─ Sua boca
estava torcida em um sorriso feio quando ele se virou para olhar para mim.
─ Eu comprei mantimentos. Eu comprei tudo o que pude. Tentei
comprar a cerveja, mas o cara da loja me pediu identificação. Ele disse que
sabia que eu tinha apenas treze anos.
O nojo que arrepiou meu pai era uma coisa tangível e fez os cabelos
da parte de trás do meu pescoço ficarem em pé. ─ Não me chateie, sua
putinha. Você deveria ter convencido ele de que tinha idade suficiente.
Eu fiz o meu melhor para convencer o funcionário da loja de que ele
estava enganado, que eu já havia acabado o colegial e quase terminara a
faculdade agora, mas ele não acreditou em mim nem por um segundo.
Ainda assim, eu tentei várias vezes, até que o cara retorcido por trás do
caixa eletrônico ameaçou chamar a polícia se eu não fugisse. ─ A filha dele
está na minha sala, ─ eu disse calmamente. ─ Ele disse que me viu na
escola e sabia que eu estava mentindo. Não havia nada que eu pudesse
fazer.
─ Besteira! ─ Meu pai cuspiu a palavra e partículas de saliva voaram
de sua boca. Tentei não olhar para a fina corda de saliva pendurada no
canto da boca dele. ─ Você é uma putinha idiota, Sera. Você sabe
exatamente como fazer um homem fazer o que você quer. Eu vi o jeito que
você olha para aquele garoto na rua. Você empurra seus peitos para tentar
chamar a atenção dele. Você poderia ter apenas sorrido para aquele idiota
e o deixado mais duro que concreto. Ele te daria tudo o que você quisesse.
Isso não estava indo bem. Cressida deve ter servido um pouco mais
do que o habitual, ou talvez Sixsmith tivesse juntado algum dinheiro e
conseguido encher seu frasco de quadril com uísque barato a caminho do
bar. De qualquer maneira, ele estava muito mais bêbado do que o habitual,
e estava zumbindo com um novo tipo de raiva, ainda mais volátil e
imprevisível do que o habitual. Suas mãos estavam em punhos quando ele
se aproximou de mim, e um raio de medo gelado percorreu minha espinha.
A porta da sala estava atrás de Sixsmith, e não havia como eu conseguir

DIRTY #1
CALLIE HART
chegar à porta à minha direita, a porta dos fundos que dava para o jardim,
sem que ele me segurasse primeiro. Engoli em seco, forçando meu corpo a
permanecer absolutamente imóvel.
─ Eu não sei como flertar com homens, ─ eu disse uniformemente. ─
Eu não posso fazer...
Incrivelmente rápido, Sixsmith se lançou na minha direção e agarrou
a primeira coisa que pôde: meu cabelo. A dor rasgou meu couro cabeludo -
parecia que ele estava arrancando todos os fios pela raiz - mas eu não
gritei. Gritar fazia algo ao Sixsmith que eu não conseguia entender. Isso
deixava sua respiração acelerada e acendia um fogo selvagem em seus
olhos que me aterrorizava por inteira. ─ Não minta para mim, ─ ele
assobiou. ─ Você tem sorte de não te colocar nos meus joelhos e bater no
seu traseiro. Eu sei que você já deu para metade dos garotos da cidade.
Você é uma prostituta. Você é pior que uma prostituta. Pelo menos
prostitutas são pagas para abrir as pernas. Você tem deixado as pessoas
te comerem por diversão.
Eu não deixei ninguém me comer por diversão. Eu não deixei
ninguém me comer. Brody, um atleta um ano mais velho que eu, tentou
segurar minha mão no semestre passado, mas quando tentei arrancar os
olhos da cabeça dele, gritando no topo dos meus pulmões, histérica e
incontrolável, ele empurrou-me com tanta força que eu caí de bunda na
frente de toda a cantina. Depois disso, fui marcada como frígida. Louca.
Retardada. Nem um único garoto olhou para mim desde então. Eu, com
certeza não estava empurrando meus seios para chamar a atenção de
ninguém. Eu os estava amarrando há mais ou menos um ano, tentando
desesperadamente disfarçar o fato de que estava desenvolvendo o corpo
de uma mulher, mas eventualmente tive que desistir. Era impossível me
esconder mais.
Sixsmith sacudiu a cabeça e mordi o interior da minha bochecha; eu
queria revidar. Eu queria me defender, mas já tinha estado aqui antes.
Quando o temperamento de meu pai chegava a esse estágio, não havia
mais nada a ser feito. Se eu o atacasse, o empurrasse ou tentasse escapar,
as coisas seriam muito piores para mim. Criei a forma de uma arma dentro

DIRTY #1
CALLIE HART
da minha cabeça e imaginei como seria segurá-la pelo cabo de metal frio,
deslizando o dedo contra o gatilho. Apontar a arma para o meu pai e
puxar…
─ Agora que penso nisso, talvez eu esteja vendo tudo errado, ─ disse
Sixsmith, limpando a boca com as costas da mão tatuada. ─ Talvez você
queira vender sua bunda por dinheiro. Tenho certeza de que você seria boa
nisso.
Meus olhos estavam ardendo, enchendo-se de lágrimas, mas eu não
disse nada. Discutir era uma má ideia. Mover-se era uma má ideia. Até
respirar era uma má ideia. Sixsmith soltou meu cabelo e deslizou a mão
pelo meu rosto, pela minha bochecha, pegando meu queixo e colocando
minha cabeça para cima, forçando-me a ficar ereta e olhá-lo. Ele era como
um cachorro maluco. Olhá-lo nos olhos nunca era uma opção, muito
perigosa, então me concentrei na ponta do nariz, rezando para que isso
acabasse rapidamente. Às vezes terminava rapidamente. Havia noites em
que ele chegava em casa e estava tão desequilibrado com o álcool em seu
sistema que só me batia uma ou duas vezes e depois cambaleava para a
sala de estar e caia na poltrona, roncando quase imediatamente. Era uma
esperança fútil, no entanto. Esta noite, Sixsmith foi demitido. Ele
provavelmente iria arrastar isso o máximo que pudesse. Ele provavelmente
faria isso doer.
Inclinando-se mais perto, ele sussurrou para mim: ─ Você acha que
é muito melhor que eu, não é? ─ O hálito dele cheirava a dentes podres e
bebida rançosa, um cheiro com o qual eu havia me acostumado a ponto de
nem sequer me encolher. ─ Responda-me, cadela!
Há alguns anos, Sixsmith não pagou o aluguel do apartamento
minúsculo e sujo em que morávamos e fomos expulsos. Nós três, Sixsmith,
Amy e eu, fomos morar na casa de meu avô por um tempo, até que Sixsmith
'se levantou'. Demorou muito tempo para o Sixsmith reunir dinheiro para
um novo local, e houve um período em que as coisas melhoraram. Sixsmith
odiava o pai, mas nunca ergueu a voz ou os punhos para nós quando
estávamos sob o teto do velho. Meu avô era um ex-militar, um cara durão
que nunca sorria, raramente falava e olhava furioso para Amy e para mim

DIRTY #1
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sempre que estávamos na sala. Ele nunca teria tolerado Sixsmith nos
tratar mal, no entanto. Ele tinha uma coisa para ele.
Eu me vi desejando que estivéssemos lá, naquele mausoléu abafado
e silencioso de uma casa, sob o olhar atento do general, enquanto o ódio
que brilhava no rosto de meu pai tremeluzia, mudando para algo
completamente diferente. O desdém desapareceu, substituído por um
sorriso vago e solto. ─ Aposto que Jacob me daria dinheiro por você, ─ disse
ele. ─ Esse bastardo pervertido está te olhando há alguns anos.
Oh Deus. Minha frequência cardíaca disparou através do teto, e eu
não aguentava mais. Eu não podia mais viver dentro da Sera calma, plena
e sem vida. Me tornei a Sera assustada, zangada, em pânico, explodindo
em ação, tentando me libertar das garras de Sixsmith. Ele tinha me
segurado pela garganta agora, no entanto. E ele não estava me deixando
ir. ─ Sixsmith, por favor... ─ Eu resmunguei, enquanto seu aperto em meu
pescoço se apertava, esmagando, impedindo-me de respirar. Havia uma
maneira de sair dessa situação agora? Eu não conseguia pensar. Não era
possível decidir o que fazer. Não conseguia imaginar uma maneira de fazê-
lo me soltar para que eu pudesse fugir para a liberdade. Um segundo longo
e torturante se passou e eu vi uma centelha de excitação irromper dentro
de Sixsmith.
─ Aposto que Sam Harrodan pagaria todo o dinheiro que lhe devo se
deixasse que ele afundasse o pau dentro dessa sua boquinha linda
também. As garotas que ele tem na casa dele são sempre jovens. O filho
da puta é sempre tão presunçoso, mas eu sei. Eu sei que merda ele é.
─ Sixsmith, por favor! Eu sinto muito. Eu vou pegar a cerveja da
próxima vez, prometo. ─ Eu não conseguia pensar em mais nada para
dizer. O interior da cabeça de Sixsmith era um labirinto de caminhos
bizarros e confusos que não faziam sentido para mim. Tentando descobrir
exatamente o que dizer a ele e quando sempre me escapou completamente,
e agora, com a sua mão bloqueando o oxigênio, passando fome, não fazia
ideia de como acalma-lo. Ele era frio, e ele era mau, e sempre que tinha
uma ideia que pensava que poderia beneficiá-lo, ele a segurava com as
duas mãos. Havia uma chance de ele estar bêbado o suficiente para não

DIRTY #1
CALLIE HART
se lembrar disso pela manhã, mas a perspectiva de que ele se lembraria
disso, de que ele estaria chamando seus amigos para ver se eles queriam
usar e abusar do meu corpo como forma de pagamento de suas dívidas,
fez todo o meu ser cantar aterrorizado.
Meu pai sorriu, mostrando-me dentes quebrados e tortos,
descoloridos dos cigarros que ele fumava um atrás do outro a cada hora
do dia. ─ Sim, Sera. Esse tom suplicante... Eles provavelmente gostariam
disso. Eles provavelmente vão gostar se você lutar um pouco.
Instinto puro tomou conta de mim, exigindo que eu reagisse. Eu tinha
que sair da cozinha. Eu tinha que sair de casa completamente. Mas como?
Sixsmith não era um cara grande. Ele costumava estar em boa forma,
quando mamãe ainda estava viva, mas ao longo dos anos desde que ele
se deixou perder. Sua barriga estava inchada e esticada contra sua
camiseta, e seus braços eram rijos, não tão fortes quanto antes. Nada disso
mudava o fato de que ele era quase meio metro mais alto que eu e um
homem, enquanto eu era uma garota esbelta de treze anos de idade. Eu
não podia dominá-lo, não havia chance disso, então fiz a única coisa em
que consegui pensar para me libertar. Eu me esforcei, tentando me
equilibrar, e então puxei minha perna para trás e balancei...
Meu joelho encontrou seu lugar um segundo depois, e os olhos de
Sixsmith se arregalaram. Houve um momento em que pensei que o golpe
que eu lhe dera nas bolas não teve nenhum efeito, e então a mão de
Sixsmith caiu da minha garganta. Ele caiu para a frente, gemendo, uma
expiração dolorosa escapando de seus pulmões enquanto ele apertava seu
estômago e entre as pernas.
─ Sua... puta... idiota, ─ ele ofegou. ─ Sua maldita puta idiota. Você
não deveria ter feito isso.
Um segundo depois, eu estava correndo. Eu bati meu quadril contra
o canto da mesa na minha pressa para alcançar a porta dos fundos, e
respirei fundo, forçando a dor a afastar-me quando peguei a maçaneta da
porta e torci. A porta se abriu e uma onda de alívio tomou conta de mim.
Sixsmith ainda estava dobrado, tentando se recuperar. Ele não estava me

DIRTY #1
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seguindo. Eu era rápida quando precisava, poderia colocar uma distância
considerável entre nós se me esforçasse o máximo possível.
Amy.
Meus pensamentos malucos pararam. Oh meu Deus. Minha irmã.
Ela era dois anos mais nova que eu, mas em sua cabeça ainda era muito
mais nova. Seu corpo ainda era o de uma criança. Se eu corresse agora,
se deixasse esta casa fétida e miserável, cheia de tantas lembranças
terríveis e amargas, eu estaria deixando Amy para trás. E Sixsmith... não
havia como dizer o que Sixsmith faria com ela. Se eu fosse embora, ele
poderia usá-la em meu lugar. Ela poderia ser a pessoa que ele tentaria
trocar para liquidar suas dívidas e ganhar algum dinheiro extra.
Minha mão parou na maçaneta da porta. Meus pés ainda estavam
tentando avançar e me levar para longe deste lugar horrível, mas era como
se um peso sólido e esmagador estivesse subitamente me fixando no local.
Eu não consegui. Eu não poderia ir e deixá-la para trás. Eu nunca seria
capaz de me perdoar.
Meus ossos eram de aço. Minha pele era pavor. Meu coração era
medo. Minha alma era... nada. Eu me virei e encarei meu pai.
Sixsmith rugiu quando pegou a faca de cozinha que eu havia deixado
para secar mais cedo. Eu vi o lampejo da lâmina quando ele se lançou em
minha direção e senti meu medo me deixar. Ele ia me matar. Depois de
tudo isso. Depois dos espancamentos, dos abusos e dos gritos, e
constantemente pisando em cascas de ovos todos os dias pelo tempo que
eu conseguia me lembrar, ele finalmente ia me matar. Eu me neguei a
liberdade que sair me daria agora, mas essa era uma fuga fora do meu
controle. Eu não seria capaz de detê-lo.
─ Eu vou fazer você implorar pela porra da sua vida, ─ rosnou
Sixsmith. Avançando, ele segurou a faca no alto e meu coração parou. A
lâmina pareceu levar uma eternidade para me alcançar. Eu pensei que ele
mergulharia direto no meu peito, mas ele não fez. Ele segurou no meu
pescoço, descobrindo os dentes. ─ Implore, Sera. Me implore para não te
matar, porra.

DIRTY #1
CALLIE HART
Eu queria. Implorar era vergonha para mim. Se isso salvasse minha
vida, e também salvasse Amy da miséria futura, eu o faria. Era um preço
pequeno a pagar. Mas quando tentei tirar as palavras da minha boca, elas
não vieram. Minha voz me fugiu. Tudo tinha me fugido. Suspirei, deixando
escapar o ar que estava segurando e me senti estranhamente leve. Como
se tivesse me livrado de um fardo que carregava comigo há tanto tempo
que esqueci tudo até agora.
Sixsmith pressionou a lâmina com mais força contra a minha pele e
não me mexi. Eu não pisquei. Os olhos do meu pai estavam vazios, pretos
e sem fundo, sem piedade e cruéis. ─ Implore, ─ ele assobiou.
Quando eu não fiz nada, o rosto de Sixsmith se contorceu em uma
careta de pura fúria desinibida. Eu esperei pela agonia ardente e
penetrante que acompanharia, o fato de ter minha garganta cortada de
orelha a orelha, mas nunca veio. Em vez disso, a dor aumentou ao longo
da minha mandíbula, enquanto Sixsmith cortava meu lado direito com a
lâmina. Um momento de choque me tomou; ele cortou meu rosto?
A faca caiu no chão e as mãos de Sixsmith estavam me agarrando,
rasgando minhas roupas. A camiseta da NASA que eu estava vestindo
rasgou, o som encheu a cozinha, e então ele estava puxando meu sutiã.
Eu pensei que já conhecia o medo antes. Houve incontáveis
momentos na minha vida em que fiquei tomada pelo meu próprio medo,
que pensei que nunca mais seria capaz de emergir dele novamente. Pelo
menos não inteira. Mas agora, com Sixsmith olhando avidamente para o
meu corpo exposto, senti um nível de medo que eu nem sabia que existia.
O cheiro de cobre inundou meu nariz. Algo úmido e quente estava
fluindo pelo meu pescoço, mas não me atentei ao que era até que eu vi as
gotas vermelhas e brilhantes atingindo meus seios nus, e percebi que
estava sangrando bastante. Sixsmith levantou a mão direita e estava
tremendo. Eu nunca iria esquecer, o quão terrivelmente sua mão tremia
quando ele estendeu a mão e tentou segurar meu peito. Eu era mármore,
sólida e imóvel. O que ele estava fazendo? O que... como ele poderia... por
quê? Minha pele estava arrepiada, mil insetos se enterrando nos meus
poros, enquanto Sixsmith chupava o lábio inferior na boca. Ele não estava

DIRTY #1
CALLIE HART
mais gritando. Sua raiva evaporou, deixando para trás um silêncio
estranho e apodrecido que me cobriu como graxa. Sixsmith ficou olhando.
Não na minha cara, mas no meu peito. Eu precisava me esconder, me
esconder dele. Ele não deveria estar olhando para mim daquele jeito. Não
estava certo. Não estava certo de forma alguma.
Meu pai não estava mais em pé na cozinha comigo. Ele foi para
algum lugar distante, se retirou para si mesmo, e tudo o que parecia
registrar agora era o fato de que ele estava segurando meu peito na mão
em concha. Lentamente, ele moveu os dedos e rolou meu mamilo entre eles.
Minha mente estava frágil. Iria quebrar em duas. Eu não conseguia...
nem conseguia...
─ Papai?
Amy estava na porta da sala de estar. O fundo do pijama estava
torcido ao redor do corpo, como se ela estivesse se mexendo e se revirando
no sono novamente. Ela nunca dormiu muito bem. Os olhos dela estavam
arregalados, o rosto pálido, sem a cor habitual. Lágrimas escorriam por
suas bochechas - fitas prateadas de tristeza miserável e horror.
─ Papai, o que você está fazendo? ─ ela sussurrou.
Sixsmith recuou como se tivesse sido picado, sua mão se afastando
da minha pele. A raiva voltou rapidamente, contorcendo seu rosto mais
uma vez. Soluço - a reação mais estranha ao que acabara de acontecer -
então eu estava lutando com o material rasgado da minha camisa,
tentando me cobrir, mãos frenéticas e trêmulas.
─ Que porra você está fazendo? ─ Sixsmith cuspiu entre os dentes
cerrados. ─ Você deveria estar dormindo. ─ Rodando em mim, ele levantou
a mão e a sacudiu, atingindo-me com tanta força no rosto que tropecei,
minhas pernas cederam debaixo de mim. ─ Leve-a para a cama. E limpe
essa bagunça. Você é uma vergonha do caralho.
A bagunça, é claro, era meu próprio sangue. Manchas grandes,
redondas e gordas de vermelho manchavam o chão, e uma boa quantidade
tinha percorrido toda a extensão do meu corpo e se acumulava aos meus
pés descalços, formando uma poça entre os dedos dos pés. Soluço

DIRTY #1
CALLIE HART
novamente, pressionando a palma da mão na minha bochecha
machucada, mordendo o desejo de explodir em lágrimas.
A porta dos fundos se abriu.
A porta dos fundos se fechou.
Sixsmith se foi.

DIRTY #1
CALLIE HART
DEZ
VIAGEM

FIX

Sera dormiu. Está sonhando. Tremendo em seu assento enquanto


eu dirigia. Ela claramente não pretendia adormecer, mas a cerca de 160
quilômetros de Wichita, sua exaustão a reivindicou e suas pálpebras
fecharam. Eu pensei em ligar o rádio, mas depois decidi que melhor não.
Eu não estava pensando em parar até chegarmos ao nosso destino, então
esse provavelmente seria o único descanso que ela teria. Perturbá-la,
além de assustá-la, sequestrá-la e forçá-la a ser minha co-piloto
relutante, parecia um pouco injusto.
Eu permaneci no limite de velocidade e observei as regras da
estrada enquanto viajávamos por horas, o céu passando de nublado e
cinza, para azul claro, para alaranjado, depois vermelho e depois
mergulhando na escuridão. As estradas estavam silenciosas. Pouco mais
de um punhado de veículos passou por nós enquanto eu ia para o leste.
Eventualmente, chegamos em Memphis, e assim por diante eu
continuava dirigindo.
Por volta de uma da manhã, meu celular, preso no suporte do
painel, acendeu, sinalizando uma ligação. Até o piscar rápido e brilhante
do nome de Monica na tela parecia irritado. Ótimo. Eu não deveria
atender. Ela iria gritar comigo, e mesmo do outro lado da linha telefônica,
ela conseguiria gritar alto o suficiente para acordar Sera. Monica tinha
um pulmão que poderia rivalizar com um locutor do UFC. Quanto tempo
eu poderia continuar evitando a mulher? O tempo estava acabando. Ela
jurou que viria me encontrar se precisasse, e eu não ia esquecer isso. Ela
fez coisas muito loucas no passado.
Com uma mão, conectei os fones de ouvido ao celular, enfiei-os nos
ouvidos e apertei o botão verde para atender.
─ Sim?
DIRTY #1
CALLIE HART
Houve um silêncio por um segundo, depois Monica respondeu. ─
Sim? Sim? É assim que você atende seu telefone comigo?
Oh cara. ─ Estou dirigindo, Monica. Isso é importante ou pode
esperar?
─ Não, não pode esperar. Meu Deus, o que diabos aconteceu com
você, Fix? Estamos trabalhando em um prazo aqui, e você apenas... nem
sei o que está fazendo. Você ficou louco!
─ Como diabos eu fiquei louco?
─ Olha a língua, ─ ela repreendeu, soltando um suspiro. ─ Se você
escutasse minhas mensagens de voz ou realmente atendesse seu telefone
de vez em quando, saberia que isso é importante. Você lidou com a
questão de Halford, correto?
─ Sim. ─ Eu não estava disposto a explicar a ela o que aconteceu
logo depois que Franz caiu morto, ou para onde eu estava indo agora.
Isso seria apenas um convite para falar um monte na minha orelha.
─ Nosso outro cliente quer saber se concluímos o trabalho e
estamos prontos para aceitar o restante de nosso pagamento.
─ Apenas diga a ele que precisamos de um pouco mais de tempo.
─ Quarenta mil, Fix. Já pegamos a metade. Ele está ficando
impaciente. Fazendo barulhos sobre conseguir um reembolso e levar o
dinheiro dele para outro lugar.
Eu assobiei silenciosamente entre os dentes. ─ Não funciona assim.
Nós não somos a porra do J.C. Penny. Ele não pode simplesmente obter
um reembolso.
─ Então é melhor você fazer o trabalho, Fix! ─ A frustração de
Monica viajou pelo telefone muito claramente.
Monica e eu nunca discutimos o fato de que não deveríamos falar
em aceitar dinheiro por matar pessoas por telefone; era apenas senso
comum. As taxas de nossos clientes foram adaptadas para corresponder
ao nível de perigo e risco que o trabalho implicava. Cinquenta mil por um
trabalho de baixo risco. Setenta por bandidos e criminosos de baixo nível.
Noventa para indivíduos bem protegidos, violentos e perigosos. Monica
avaliou cada marca cuidadosamente e citou um preço com base nas

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informações que ela coletou, então para ela ter atribuído um preço de 40
mil dólares para o meu excelente trabalho, indicou claramente o quão
rápido ela pretendia que eu cuidasse dele. Eu tinha o outro envelope
pardo no porta-luvas, esperando para ser avaliado. Eu não podia fazer
isso agora, no entanto. Eu simplesmente não podia.
─ Estarei na estrada pelos próximos dias, ─ eu disse calmamente,
estralando os dedos. ─ Eu posso chegar lá em uma semana. Talvez dez
dias.
─ Não dá, Fix. O assunto é delicado para o cliente.
─ Tenho certeza que você cuidará dele por mim, Monica. Você
sempre faz. Ligo novamente em vinte e quatro horas.
─ Fix! Vinte e quatro horas é...
─ Vinte e quatro horas é o melhor que posso fazer, ─ bati, moendo
as palavras. Monica conhecia meu humor. Ela testemunhou em primeira
mão a rapidez com que eu poderia quebrar se empurrado demais. Até eu
sabia que era assustador estar por perto quando a escuridão se
apoderava de mim. Eu geralmente fazia o que podia para evitar afundar
naquele poço de raiva e turbulência, mas o último dia e meio havia
tentado minha paciência além da medida. ─ Tenha cuidado, ─ eu avisei.
─ Me dê um dia. Além disso, me dê uma merda de folga. Não envie
mensagens de texto ou ligue para mim novamente. Eu preciso de tempo
para resolver isso. Entrarei em contato.
─ Fix...
Desliguei o telefone, apunhalando a tela do celular com tanta força
que quase derrubei a maldita coisa do seu encaixe no painel. Filha da
puta. Trabalhar sozinho teria sido muito, muito mais fácil do que ter que
lidar com Monica. Ela era hiper emotiva, teimosa como um boi e exigente
pra caralho. Deus, teria sido ótimo nunca ter que discutir com ela
novamente, ou responder a seus questionamentos constantes e
indiscretos. Mas, novamente, era melhor manter o administrador e o
músculo separados. As pessoas estavam tremendo ao meu redor. Não
tinha nada a ver com quem eu era como pessoa, como eu era, como eu
agia ou me comportava na frente deles. A maioria das pessoas tinha uma

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crise de consciência quando olhava para o homem que havia pedido para
matar alguém nos olhos. Eles esperavam julgamento de mim. A própria
culpa deles os convencia de que viam tudo escrito em mim e que não
podiam lidar. Quando eles se encontravam com Monica, eles eram
confrontados com uma intermediária simpática, compreensiva e gentil.
Havia um código seguro e tranquilizador durante todas as conversas.
Geralmente, havia um lugar seguro e amigável para se encontrar.
Geralmente havia um ou dois copos de uísque para acalmar os nervos.
Monica era uma desconexão entre ação e consequência, e isso servia à
maioria das pessoas. Normalmente, eles não queriam ter ideia de quem
estaria cometendo o ato. Eles só queriam fazer isso e seguir em frente
com suas vidas, enquanto outra pessoa, em algum outro lugar, perdia o
privilégio de viver a deles. Então Monica era um mal necessário e
irritante. Eu estava preso a ela.
Ao meu lado, as pernas de Sera ficaram tensas, travando na frente
dela. Seu corpo ficou rígido, suas costas se curvaram para longe do
assento embaixo dela e seus dedos se contraíram violentamente. Porra.
Ela ouviu a conversa por telefone? Não. Não, quando ela choramingou,
eu sabia que ela ainda estava sonhando. Pior. Pela aparência das coisas,
ela estava se afogando nas profundezas de um pesadelo.
Uma coisa era permitir que ela dormisse, descansasse e se
recuperasse, mas permitir que ela sofresse com algo severo o suficiente
para fazer seu corpo se contorcer enquanto ela estava inconsciente era
algo completamente diferente. Eu não deveria ter me importado. Eu não
deveria ter dado a mínima, mas...
Liguei o rádio, ajustando rapidamente o controle de volume para
que o som de uma música moderna e animada enchesse a cabine da
caminhonete. Foi o suficiente para tirá-la do sono. Seu corpo curvou-se,
flexionando-se, antes que ela piscasse turvamente, virando a cabeça
enquanto observava o ambiente, sem dúvida lembrando onde estava. Sua
expressão era dura como pedra quando ela se levantou no banco,
soltando um longo e instável suspiro pelo nariz.

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─ Onde estamos? ─ Sua voz estava suavizada pelo sono, mas havia
uma ponta em suas palavras que dizia que ela ainda estava muito infeliz
por estar trancada em um veículo em movimento comigo.
─ Acabei de passar o Meridian.
─ Quanto tempo até chegarmos a Fairhope?
─ Mais algumas horas. Nós chegaremos lá logo após o amanhecer.
Você provavelmente terá tempo suficiente para desmaiar por algumas
horas antes de sua irmã precisar de você.
O alívio de Sera foi óbvio. Seu cabelo caiu em ondas suaves ao redor
do rosto, emoldurando-o perfeitamente. Eu já estive com muitas
mulheres atraentes antes, mas havia algo diferente nela. Algo que fez meu
peito parecer apertado. Seus traços eram finos e delicados, e à primeira
vista lhe davam a aparência de alguém que precisava proteger do mundo.
Mas a maneira afiada, inteligente e penetrante que ela olhou para mim
alterou tudo isso. Ela não precisava de proteção. Ela era capaz de cuidar
de si mesma e estava pronta e capaz de fazê-lo a qualquer momento.
Talvez seja por isso que me senti tão atraído por ela; ela era incontrolável,
crua e ousada, e não tinha nenhum medo de mim. Garota boba. Se ela
tivesse alguma ideia do que era bom para ela, ficaria aterrorizada.
─ Não me olhe assim, ─ ela murmurou, afastando seu corpo de
mim.
─ Assim como?
─ Não faça joguinhos, Fix.
─ Não estou jogando nada.
Ela fez um gesto, balançando a cabeça. ─ Você estava olhando para
mim da mesma maneira que olhou para mim na outra noite.
─ Você quer dizer, logo antes de eu afundar meu pau dentro de
você?
A maioria das meninas ficaria envergonhada ou irritada com a
minha franqueza. Elas evitariam a mera menção do que aconteceu entre
nós. Eu estava meio ansioso por uma reação tímida de Sera, mas estava
sem sorte. Ela me olhou ferozmente, apertando sua mandíbula, seu olhar
inabalável. ─ Sim. Logo antes de você afundar seu pau dentro de mim ─

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ela confirmou. ─ Logo antes de me foder sem sentido, me fazer gozar mais
do que nunca na minha vida e virar meu mundo inteiro de cabeça para
baixo.
Ha. Tanto por eu ser direto. Parecia que Sera era a rainha em ser
direta. ─ Não posso evitar, ─ disse a ela, alternando minha atenção entre
ela e a estrada. ─ Fiquei fascinado por você. Eu ainda estou.
─ Bem, não fique. Você perdeu o direito de olhar para mim no
momento em que entrei naquele prédio e vi você matar aquele cara.
─ O que você viu não muda nada, Anjo. Você se sentiu atraída por
mim naquele quarto de motel. Eu vi no seu rosto. Eu cheirei no seu corpo.
Eu senti quando deslizei minha mão pela frente da sua calcinha e
descobri o quão molhada sua linda boceta estava. Uma atração como
essa não desaparece.
Seus lábios se abriram em um meio rosnado. ─ Você não pode estar
falando sério. Claro que sim! Eu não sou louca. No momento em que vi o
que você fez, toda e qualquer atração que senti por você se transformou
em fumaça.
─ Mentira. Você ainda não para de me olhar, pensando no que
aconteceu entre nós, e se odeia por isso. Você não quer me querer. Você
não quer saber que eu estive dentro de você e que, quando você fecha os
olhos, ainda pode me sentir dentro de você, mas é a verdade. Negue tudo
o que quiser. Eu sei que é verdade. Você me odeia, odeia quem eu sou,
mas há uma grande parte de você, que quer que eu te foda de novo, Sera.
Meu pau é o melhor que você já teve.
Seus olhos eram do tamanho de dólares de prata enquanto ela
olhava para mim, seu rosto ficando cada vez mais pálido a cada segundo.
─ Você realmente acha que é intocável, não é? Você acha que ninguém
pode resistir a você, independentemente do fato de você ser um monstro.
─ Não. Eu não acho isso. Acho que a maioria das mulheres já teria
se matado tentando se afastar de mim, não importa o quão bom fosse o
sexo. Você não tentou fugir, Sera. Você pensou sobre isso. Eu vi o seu
rosto. Eu deixo você manter o telefone no bolso apenas para ver o que
você faria e você não tentou pedir ajuda a ninguém. A verdade é que você

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não está horrorizada com o que eu fiz. Você não se importa que eu esteja
punindo os bandidos, mesmo sabendo que deveria. E você não pode
reprimir a necessidade que sente, toda vez que olha para mim, porque eu
posso ler isso em todo o seu corpo. Olhe suas mãos agora, pressionadas
contra suas coxas. As palmas das mãos estão suando, e tudo o que
estamos fazendo é falar sobre sexo.
─ Bem... eu não quero mais falar sobre sexo.
─ Por que não?
─ Porque não! Porque é inútil pra caralho! ─ Ela estava confusa.
Suas bochechas estavam vermelhas e seus olhos brilhavam um pouco
demais.
─ Está bem, está bem. Sem sexo. Sobre o que você quer falar? ─
Eu perguntei a ela, tentando conter um sorriso. Isso era mais divertido
do que deveria ser, mas a culpa era dela. Ela se apresentou sob uma luz
tão dura. Sera inquebrável. Se ela não estivesse tão determinada a
manter a calma, seria muito menos divertido vê-la se perder.
─ Eu não ligo. Qualquer coisa ─ ela disse, cruzando os braços sobre
o peito.
─ Tudo bem. Diga-me o que você estava sonhando agora.
Silêncio.
Eu sabia que tinha perguntado a coisa errada no momento em que
as palavras saíram dos meus lábios, mas era tarde demais para retirar o
que disse. A caminhonete já estava inundada de tensão. Sera olhou para
a frente, diretamente para o para-brisa, e por um longo, longo tempo ela
segurou a língua. O que quer que ela estivesse sonhando, deve ter sido
terrível para ela desligar tão abruptamente. Já havia acabado, no
entanto. Não havia como voltar atrás. Eu praticamente podia ouvi-la
rangendo os dentes novamente.
─ Que tal não falarmos nada? ─ ela murmurou.
E foi isso. O restante da jornada para Fairhope ocorreu em silêncio.

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ONZE
NÃO TENHA IDEIAS.

SERA

A capela era icônica. Branca. Muito pequena. Bonita pra caralho.


O tipo de capela que ficava no topo de um bolo de casamento. Era visível
do fundo da longa e sinuosa estrada que levava a Easterleigh Estates, o
local onde os pais de Ben haviam pago quinze mil dólares para garantir
o grande dia. Loucura.
Fix emitiu um som cortante e estalando enquanto seguimos em
frente na direção do hotel principal, onde a festa nupcial estava, sem
dúvida, ainda adormecida. ─ Este lugar parece um inferno na terra, ─ ele
murmurou baixinho. Foram as primeiras palavras que ele disse desde
que me perguntou sobre o meu pesadelo - o mesmo pesadelo recorrente
que me atormentava com tanta frequência - e eram um espelho para
meus próprios pensamentos.
─ Minha irmã gosta de coisas bonitas, ─ foi tudo o que ofereci em
resposta.
─ E você? Você não gosta de tudo isso... coisas pomposas e
cerimônia? ─ Ele torceu o nariz. ─ Você não teria todos os sinos e assobios
caso se casasse?
─ Eu nunca me casaria.
Ele resmungou. ─ Você sabe que teremos que dividir um quarto
novamente, certo?
Minhas narinas se alargaram, um dedo frio acariciando minhas
costas. Eu já percebi que teríamos que dividir a cama novamente. O hotel
estava lotado, cheio de outros inúmeros convidados de Amy e, além disso,
minha irmã teria dúvidas se o homem que eu trouxe como meu
acompanhante para o casamento dela estivesse dormindo em outro
quarto. O fato de eu ter percebido isso não tornou mais confortável a ideia

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de compartilhar um quarto com ele. Fix parou do lado de fora do grande
edifício colonial, iluminado por colunas brilhantes, e lutei para engolir o
caroço que havia subido na minha garganta.
─ Você pode dormir no sofá. ─ Saí da caminhonete assim que o
motor desligou, e Fix estava nos meus calcanhares. Ele recolheu nossas
malas e fui atingida pela sensação mais estranha: como tudo isso poderia
ter sido normal. Eu, trazendo um acompanhante para o casamento. Ele
sendo um cavalheiro e coletando nossas coisas, antes de entrarmos
juntos.
─ É justo, ─ disse ele, alegremente. ─ Eu dormi em lugares piores.
Ele provavelmente dormiu dentro de um animal morto ou algo
assim, preso no deserto enquanto perseguia uma de suas presas. Eu
podia vê-lo fazendo isso tão claramente em minha mente que um tremor
percorreu toda a extensão do meu corpo, estabelecendo-se na base do
meu crânio. ─ Minha irmã vai ver através dessa besteira. Você sabe disso,
certo? ─ Eu disse, subindo as escadas que levavam para dentro do hotel.
Fix continuou andando ao meu lado, dando três passos de cada vez.
─ Ela não vai investigar a veracidade do nosso relacionamento. Ela
vai se casar. Ela vai se concentrar em seu vestido com a aparência certa
e em suas flores chegando a tempo.
─ Você não conhece minha irmã. ─ Amy poderia ter mexido e se
enfeitado com rendas e seda, prata e ouro, sempre a tagarela, mas sua
mente nem sempre estava fixa no trivial. Ela via coisas, notava os subtons
e subtextos sutis da fala das pessoas e seu comportamento. Fix estava
certo em que ela ficaria preocupada com tudo o que está ocorrendo mais
tarde hoje, mas não havia dúvida de que ela sentiria que algo estava
acontecendo.
O interior do hotel era luxuoso e decadente: tapete macio, grosso e
creme sob os pés; luz quente pingando de arandelas nas paredes e
grandes lustres suspensos no teto alto; cortinas pesadas e bordadas
penduradas nas janelas de três metros de altura; um balcão de mármore
branco, atravessado com veias cinzas e douradas, percorrendo o
comprimento da parede direita. Em suma, era absolutamente

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deslumbrante. Ben tinha uma herança, eu sabia disso há muito tempo,
mas essa era a primeira vez que vi o luxo e o conforto que a herança dele
podia comprar. Era a vida que ele podia dar a Amy e, por um breve
momento, esqueci tudo o que havia acontecido nas últimas trinta e seis
horas. Fiquei feliz, em vez disso. Aliviada, de certa forma. Eu cuido da
minha irmã há tanto tempo, que parecia que eu sempre faria isso. Eu
nunca me ressenti do fato de que ela precisava de cuidados, mas agora,
com Ben em sua vida, alguém havia tirado esse fardo de mim e me
dispensado da responsabilidade esmagadora de uma vez por todas.
Fix lidou com o concierge, explicando quem éramos: a irmã devota
de Amy, Sera, e seu namorado amoroso, Felix. Ele pegou as chaves e
agradeceu ao sujeito atrás do balcão, e quando subimos a escadaria até
o primeiro andar onde nosso quarto estava localizado, notei que o céu
estava iluminando no leste, o dia prestes a romper a copa das árvores se
estendendo para longe até onde os olhos podiam ver.
Não irá demorar muito agora. Não demoraria muito até a agitação
que chegaria com a manhã. Haveria maquiagem e cabelo, e apertando o
ridículo vestido de madrinha da noiva que minha irmã havia escolhido
para mim - o vestido que eu ainda não tinha visto. E haveria conversas
delicadamente educadas e gentis, além de conhecer os membros da
família de Ben que viajaram de todo o país para estar lá para o casamento
dele. Eu faria o que era esperado de mim, sorrindo e abraçando e
apertando as mãos. Seria uma droga de dia, mas eu conseguiria. E o
tempo todo, eu tentava não pensar no homem parado ao meu lado e no
que ele havia feito. Mais importante, eu tentaria não pensar nas mãos
dele no meu corpo ou na boca dele na minha. Esses pensamentos eram
perigosos demais para serem compreendidos.
Quando entramos no quarto, basta dizer que não havia sofá. Isso
era perfeito pra caralho. Eu me assegurei de que minha voz estivesse
firme quando eu contornei Fix, braços cruzados sobre o peito. ─ Eu não
quero saber. Você não vai dormir na cama.
─ Qual é. Essa coisa é grande o suficiente para quatro pessoas.
─ Não tenha ideias.

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A cabeça de Fix abaixou, seu queixo quase encontrando seu peito
enquanto ele rondava em minha direção. Seus lábios se curvaram no lado
direito - a sugestão mais lasciva de um sorriso. ─ O que? Você não
gostaria de dividir a cama com quatro pessoas? ─ ele meditou. ─ Você
não gostaria de três pares de mãos em você, tocando em você, acariciando
e beijando seu corpo?
─ Não! Deus! Jesus!
─ Maria? Está faltando alguns membros da família.
─ Tenho certeza que você amaria três mulheres em uma cama com
você, ─ eu bati, pegando minha bolsa da mão dele. ─ Tenho certeza de
que você teve muitas experiências loucas e ridículas com várias
mulheres. Mas nem todo mundo é tão depravado quanto você.
Sua boca se curvou ainda mais alto e sua sobrancelha esquerda
subiu até a linha do cabelo. ─ Sim. Eu tenho. Mas quem disse algo sobre
as mulheres se juntarem a nós? Você não acha que seria capaz de lidar
com três homens ao mesmo tempo, Sera? Três caras, todos acariciando...
─ Ele deu um passo à frente, seus ombros rolando da maneira mais
sensual enquanto seus músculos se moviam sob a camisa preta de botão.
─ Lambendo... Beijando... Mordendo... Chupando... ─ Com cada palavra,
ele dava outro passo, fechando o espaço entre nós até que ele estava
parado na minha frente. ─ Três paus, Sera? Um na sua boca. Um na sua
boceta. Um na sua bunda. Imagine como seria isso.
Puta merda. Ele estava desequilibrado. Absolutamente insano.
Como ele tinha coragem de dizer essas merdas para mim assim? Se ele
esperava que eu risse de suas palavras, para ignorá-las, ou pior, para
realmente considerá-las, então ele era maluco. Eu me movi o mais rápido,
plantando minhas mãos contra seu peito e empurrando-o o mais forte
que pude. Eu usei toda a minha força, mas o bastardo mal se moveu três
centímetros.
─ Você é um porco, Felix, ─ eu rosnei.
─ Ohhh. Felix. Tratamento com nome completo. Eu devo ter sido
um menino muito ruim.

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─ Como se você fodesse uma garota com dois outros caras, de
qualquer maneira. Os homens estão sempre muito preocupados com
quem tem o pau maior.
Fix inalou, revirando os olhos lentamente até o teto, a cabeça
lentamente inclinando para trás. Ele não se barbeava há dois dias, e a
visão da sua garganta exposta, marcada com uma barba grossa, fez algo
estranho para mim. Poluindo minha mente pensamentos e sentimentos
que eu não queria possuir. ─ Sera. Você me viu nu. Você viu meu pau.
Você segurou. Você acariciou. Você tomou na sua boca e sua boceta. Você
realmente acha que eu teria algo com que me preocupar nesse quesito?
Você realmente acha que eu me importo com o que outro cara tem dentro
das calças? E, no improvável evento de o pau de outro cara ser maior que
o meu, isso não importaria e você sabe disso. Eu já explorei seu corpo.
Eu já fiz você tremer e arrepiar. Eu já pintei a sua pele com a minha porra
e você amou cada segundo disso. ─ Ele estendeu a mão, lentamente
subindo para o meu rosto, seus dedos desenrolando até as pontas deles
roçarem meu lábio inferior.
Parei de respirar há trinta segundos atrás e minha cabeça estava
começando a girar um pouco. Deus, ele era tão gostoso. Eu o odiava por
isso. Eu me odiava por perceber, uma e outra vez e outra vez. Isso não
deveria estar acontecendo. Ele não deveria me afetar dessa maneira, e
meu coração trovejava embaixo da caixa torácica. Meu corpo, minha
mente e meu coração deveriam estar todos na mesma página - a página
Felix Marcosa é perigoso demais para ser sexy, - mas nenhum deles
estava alinhado. Minha cabeça sabia o que estava acontecendo, pelo
menos, mas meu corpo estava superaquecendo como um louco, e meu
coração simplesmente disparou.
─ Eu sei como te foder. Eu sei como fazer você gozar. Sei o que faz
seus olhos revirarem em sua cabeça e sei como derrubá-la. Eu não daria
a mínima para outros caras dividirem uma cama conosco, porque eu
saberia que nenhum deles faria você se sentir tão bem quanto eu.
Não havia palavras para descrever sua arrogância. E mesmo que
houvesse, eu não teria sido capaz de formar agora, porque minha boca

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parecia revestida com uma lixa. Fix se inclinou para mais perto, tão perto
que eu pude ver as finas e delicadas barras de prata que passavam
através de sua íris. Seus olhos eram verdadeiramente lindos. Tão
inacreditavelmente único. Eu nunca vi olhos como os dele antes e sabia
que era improvável que parecesse semelhante novamente. Eles brilharam
com uma intensa diversão quando ele inclinou a cabeça para o lado e
abaixou a boca – agora, a apenas um centímetro da minha.
─ Você mesma disse Sera. Você é ateia. Você acredita que só tem
uma vida... então por que não a vive? ─ Tão devagar, os lábios de Fix se
separaram e eu vi a ponta da língua dele passar por seus dentes. Ele me
alcançou, lambendo rapidamente meu lábio superior, e eu engasguei,
afastando-me do seu alcance. Idiota. Completo, irremediável e inegável.
Limpando a boca com as costas da mão, tentei controlar a resposta
selvagem que a ação dele havia criado em mim, mas era mais difícil do
que eu esperava. Minha boca estava queimando, meus lábios latejando.
Minha garganta estava pegando fogo.
─ Não faça isso de novo. Não me toque sem minha permissão. Você
vai se arrepender.
Fix não parecia tão certo. ─ Eu iria? Como você faria eu me
arrepender? Você chutaria e gritaria? Você usaria seus dentes em mim?
Você me machucaria? Você quer me machucar, Sera?
─ Você está certo, eu sei! Você é... você é impossível! Você age como
se fosse apenas um cara que está interessado em me divertir. Você
esqueceu o que aconteceu? Eu vi você matar alguém. Eu testemunhei
você matar alguém. Eu deveria apenas apagar essa memória da minha
mente? Fingir que não aconteceu? Fingir que suas ações não me
assustaram? E enquanto estamos nisso, devo ignorar o fato de que você
me empurrou na parte de trás do seu carro e saiu comigo sem o meu
consentimento? Eu não sou uma idiota cabeça de vento que vai se
apaixonar por você, só porque você tem um rosto bonito, você sabe.
Linhas foram cruzadas. Linhas maciças e irrevogáveis. Quando o
casamento terminar, voltarei para Seattle e me forçarei a erradicar você
da minha mente. Vou seguir em frente e desmaiar esta semana inteira. É

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a única maneira de não ficar permanentemente traumatizada pelo que
você me fez passar.
Fix encolheu os ombros. Foi uma resposta calma e despreocupada
ao meu discurso quente - um encolher de ombros que me disse que ele
estava frio e morto por dentro. Ele não se importava comigo ou com o que
eu vi. Ele seguiria com essa farsa ridícula de um plano e não daria duas
merdas se desse certo ou não. Ele não se importava com as
consequências se essa charada falhasse. Tudo o que ele se importava era
ter certeza de que eu mantinha minha boca fechada. E se ele não tivesse
certeza de que eu iria guardar seus segredos, então... não duvidei que ele
tomaria medidas para garantir que eu mantivesse minha boca fechada
para sempre.
─ Faça do seu jeito, Anjo. Engane-se, se quiser. Diga a si mesma
tudo o que você precisa para passar por isso. Eu posso entrar nisso. Eu
vou fazer minha parte. Apenas certifique-se de fazer a sua.

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DOZE
PRAZER EM CONHECÊ-LA.

FIX

─ Abençoe-me pai, porque pequei. Eu... me toquei três vezes nesta


semana. Entre... entre as minhas pernas. Eu não pude evitar. Eu sabia
que estava errado, mas...
A voz suave e feminina do outro lado do confessionário parou, e eu
podia ouvir a mulher sentada no espaço escuro e apertado, respirando
pesadamente. Em dias como esse, eu tinha certeza de que ninguém da
minha congregação estava transando. Eu conhecia a voz da mulher - era
Yvonne Prescott, uma mulher jovem e bonita, com quase 20 anos, que se
casou com um cara chamado Gus no inverno passado. Gus era um
daqueles filhos da puta formais que fingia que nunca fez nada de errado,
como se ele fosse um dos poucos santos que nunca erraram. Trabalhou
na comunidade, era o primeiro a levantar a mão quando havia um
trabalho voluntário que precisava ser feito na igreja ou na comunidade.
Ele esteve aqui duas vezes nesta semana, chorando pelo fato de ter se
masturbado com pornografia em seu computador repetidamente na
semana passada. Ele não gostava de assistir pornô. Ele tinha um vício, e
não era a baunilha, merda todos os dias que ele estava assistindo. Ele
gostava de assistir pornô de gang bang - garotas tchecas magras deitadas
de costas, enquanto uma fila de mais de trinta caras de máscara esperava
sua vez de enfiar seus paus dentro delas. Ele gostava de assistir grupos
de rapazes enfiarem seus paus na boca e na bunda de uma garota
vulnerável, para usá-la e abusá-la como se ela fosse um brinquedo. Era
mais normal do que as pessoas imaginavam: caras reprimidos gostavam
de ver uma mulher contaminada da pior maneira possível.
Esfreguei minha têmpora, tentando aliviar a dor de cabeça que se
escondia atrás dos meus olhos, ameaçando aparecer. ─ Você falou com

DIRTY #1
CALLIE HART
seu marido sobre seus desejos, criança? ─ Eu perguntei. Se Yvonne fosse
honesta com Gus e se revelasse uma criatura sexual com os mesmos
desejos, vontades e necessidades que a maioria das mulheres tinha,
talvez Gus pudesse parar de se masturbar e realmente satisfazer sua
esposa pela primeira vez. Eu já sabia o que ela ia dizer, no entanto.
─ Eu... eu não posso, ─ ela sussurrou. ─ Ele é devoto, pai. Ele tenta
levar uma vida santa. Se ele soubesse os sentimentos que me superam
às vezes... ─ Ela começou a chorar. ─ Ele merece uma esposa santa. Eu
quero ser pura por ele. Limpa. E se ele descobrisse que eu fui levada a
tais atos impuros... ele não... ele não poderá mais me amar.
Pelo amor de Deus. Essas pessoas não conversavam entre si? Eles
estavam tão fechados e desligados que realmente não perceberam que
estavam todos tão excitados e fodidos quanto o resto da raça humana? ─
Não chore, criança. No grande esquema das coisas, a masturbação não é
o fim do mundo. Reze três Ave Maria e volte a assar esses cupcakes.
─ Cupcakes? ─ Algo bateu no chão. Parecia que ela acabou de
largar a Bíblia. ─ Você... você sabe quem eu sou, não é?
Eu suspirei, beliscando a ponte do meu nariz. ─ Claro que sim,
Yvonne. Apenas vinte e seis pessoas vêm a esta igreja.
Ela choramingou. ─ Oh. Certo. Você não deveria me dizer para não
fazer isso de novo?
Porra. Sério? ─ Sim. Você deveria parar de se tocar, Yvonne. Isso
leva a um caminho sombrio e assustador. Agora, se terminarmos aqui...
─ Acho que você não está levando isso a sério, padre Marcosa. Seu
pai teria me dado um sermão adequado sobre os perigos de... ─ Ela
começou a falar sobre o padre Marcosa que havia me precedido, e eu
parei de ouvir. Fazia sentido que as pessoas me comparassem com meu
pai. Nós compartilhamos o mesmo nome, pelo amor de Deus. E eu
parecia o homem, não havia como negar isso. Ele está morto há mais de
dois anos, e eu estava doente de morte por pessoas me segurando na luz,
comparando nós dois. Eu não era nada como meu velho. Eu nunca seria
algo parecido com aquele pedaço de merda severo, miserável e tirano.

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─ Tudo bem, tudo bem, Yvonne. Você quer se sentir absolvida dos
seus pecados. Compreendo. Para sua penitência, digamos vinte Ave-
Maria, três Glória Ao Pai e três Pai Nosso. Espero que isso faça você se
sentir melhor. Agora, eu realmente tenho que preparar a homilia para o
domingo. Se você não tem mais nada que gostaria de discutir, então...
Yvonne calou a boca quando eu a interrompi. Ela ficou quieta por
um momento, antes de dizer: ─ Vinte Ave Maria, pai? Isso parece... um
pouco...
─ Vinte Ave Maria, ─ eu disse com firmeza. Os três que eu prescrevi
um momento atrás eram obviamente muito baixos para fazê-la sentir que
sua ardósia estava sendo limpa. Agora, vinte a faziam sentir como se
estivesse sendo irracionalmente punida. Bem, adivinha, Yvonne? Você
não pode ter os dois lados. ─ Vejo você na missa, ─ eu disse, levantando-
me. Eu deveria esperar até Yvonne desocupar o confessionário e ter a
chance de escapar do inferno, mas minha paciência era inexistente e eu
realmente tinha que escrever a maldita homilia. Minha mão repousava
na borda da cortina preta e grossa que cobria a entrada do
confessionário; Eu estava prestes a puxá-la para o lado, quando um
gemido estridente de terror cortou o ar. Era a voz de uma mulher, e não
era apenas um grito de dor. Foi também um grito de terror abjeto.
─ Senhor! ─ Yvonne sibilou. ─ O que é que foi isso?
─ Fique aqui, Yvonne. Não saia até que eu diga que é seguro. ─
Com cuidado, rapidamente deslizei a cortina para o lado, procurando por
toda a igreja, procurando a fonte do grito. No outro extremo do prédio, a
porta da reitoria estava aberta; estranho, já que geralmente era mantida
trancada. Somente duas pessoas tinham uma chave para abrir a porta:
eu e a irmã no turno, encarregadas de dar as boas-vindas aos membros
da congregação, manter a igreja e manter tudo limpo e arrumado durante
o dia. Eu estalei meu cérebro, tentando lembrar quem era a irmã de
plantão hoje, mas não consegui me lembrar. Eu fiquei preso no meu
escritório a manhã toda; Eu não tinha visto ou falado com ninguém antes
de entrar no confessionário. As irmãs geralmente nunca precisavam

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CALLIE HART
entrar na reitoria. E certamente não havia razão para que a porta também
estivesse aberta assim.
Meu cossaco ondulava ao meu redor enquanto eu corria pelo
corredor, verificando os bancos enquanto andava, certificando-me de que
não havia outras pessoas sentadas lá que poderiam ter vindo para orar.
O lugar estava vazio. Correndo pela abóbada, meus passos ecoaram nos
altos muros de pedra, ecoando pela igreja, enfatizando o quão
abandonado o lugar realmente estava. Quando naveguei pelo púlpito,
alcançando a maçaneta da porta da reitoria, segundos depois de abri-la
completamente, foi quando notei a nota de cinco dólares amassada no
chão.
Estava coberta de sangue.
Merda. Que diabos estava acontecendo aqui? Uma vez, aos treze
anos, um cara bêbado e sem-teto entrou na igreja uma noite e exigiu que
meu pai entregasse todo o dinheiro da doação do culto daquela noite. Eu
estava arrumando os hinários e assisti horrorizado o homem cambalear
em direção ao meu pai, uma faca enfiada na frente dele. Eu esperava que
meu pai fosse brigar com o homem, tirar a arma de suas mãos, bater nele
por tentar roubar as doações de caridade da igreja. Quando meu pai
entregou o dinheiro sem pensar duas vezes, fiquei envergonhado. Meu
pai tinha sido um covarde. Ele entregou o dinheiro em vez de defendê-lo.
O homem tinha saído, cheirando a álcool e roupas sujas, e eu chamei
meu pai, advertindo-o por não enfrentar o homem.
As palavras que ele me disse então ainda estavam comigo hoje. ─
Felix, para que usamos esse dinheiro?
─ Para ajudar as pessoas. Para vestir e alimentar os pobres, ─ eu
disse.
─ OK. Bem então. Esse dinheiro foi exatamente para onde deveria
ir.
Enquanto olhava para a nota manchada de sangue aos meus pés,
percebi, mais uma vez, que meu pai era um homem melhor do que eu.
Porque eu não ia deixar alguém entrar da rua e roubar a porra da minha

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igreja. Era errado da minha parte, eu sabia que era, mas eu ia encontrar
quem havia invadido aqui, e eu ia bater na porra dos dentes deles.
Entrei na reitoria e…
…o mundo….
…Oh Deus…
Estendi a mão, me apoiando contra a parede, tentando não cair.
Sangue.
Havia muito sangue.
Ele estava borrifado nas paredes, havia encharcado as cortinas da
janela e havia formado uma piscina vermelha rubi no chão, que se
infiltrara no material de lona encerada da mochila que eu deixara no chão
mais cedo quando voltei de minha corrida matinal. O ar cheirava azedo,
contaminado, com uma ponta química que fazia minhas narinas
queimarem.
Eu a encontrei no corredor, esparramada nas tábuas de madeira
polida. Sua covinha havia sumido, a cabeça totalmente descoberta e seus
cabelos loiros brilhantes, quase brancos, espalhados ao redor da cabeça
como leite derramado. Ela estava de bruços, um braço estendido, como
se estivesse tentando pegar alguma coisa. Havia sangue por todas as
mãos, junto com a camisa branca simples que ela estava vestindo. A saia
preta não estava onde deveria estar. Estava presa em volta da cintura e
as nádegas nuas estavam expostas... também cobertas de sangue.
Ela não estava se mexendo.
Uma raiva tomou conta de mim, e por um segundo eu não pude
fazer nada com isso. Não pude reivindicar. Não pude afastar. Eu fiquei
lá, odiando a cena diante de mim, incapaz de desviar o olhar, meu sangue
fervendo nas minhas veias.
Um dos sapatos da irmã estava faltando. Um sapato preto sensível
com um salto muito pequeno, quase nenhum salto. Se foi. Suas meias
estavam rasgadas e torcidas, enroladas ao redor dos tornozelos. Onde…?
Olhei em volta da entrada dos meus aposentos, franzindo a testa,
sem respirar, sem entender.
Para onde foi o outro sapato?

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─ Oh meu Deus!
Eu não me virei. Eu queria, não, precisava processar o que havia
acontecido aqui e precisava fazer sentido. Yvonne obviamente não me
ouviu e me seguiu até aqui. Ela estava atrás de mim, choramingando
baixinho, baixo e quieto. Ela parecia ofegante e entorpecida. Em breve, o
choque que ela estava enfrentando desapareceria e ela se tornaria
histérica, sem dúvida. Eu tinha que arrumar minhas coisas antes que
isso acontecesse.
─ Essa... é a irmã Rayburn? ─ Yvonne chorou.
─ Rayburn? ─ Minha voz era plana. Sem emoção. Eu não sabia o
nome
─ Ela acabou de se mudar para cá do Canadá. Ela veio como parte
do programa Jovem Missionário. Ela é... Deus, ela tem apenas 22 anos.
Oh. Porra. Todas as igrejas de nossa arquidiocese estavam
matriculadas no programa - me disseram para esperar alguém esta
semana, mas não percebi que ela já estava aqui. Eu não tinha a menor
ideia de que ela estava cumprindo suas obrigações debaixo do meu nariz.
─ Precisamos... precisamos chamar a polícia, ─ gaguejou Yvonne.
Eu deveria ter respondido. Eu deveria ter feito o que ela sugeriu e
chamado a polícia. Eu deveria ter feito alguma coisa. Qualquer coisa. Mas
eu ainda estava enraizado no local, olhando para o corpo ensanguentado
e mutilado que havia sido deixado de uma maneira tão indigna e
degradante, como tanto lixo, descartado na beira da estrada.
Eu não fiz nada.
Eu não fiz nada até...
Uma contração.
Yvonne gritou, agarrando meu braço, cravando as unhas na minha
pele através do cossaco. ─ Oh meu Deus! Oh meu Deus, o pé dela se
mexeu. Você viu aquilo? ─ Yvonne lamentou. ─ Deus, ela ainda está viva!
Então eu estava correndo, correndo em direção ao corpo quebrado
no chão, escorregando e deslizando no sangue enquanto tentava me
parar ao lado dela. Perdi o equilíbrio, tombando na bunda, mas isso não
importava. Não senti a dor subindo pela espinha ou me encolhi de horror

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ao colocar minha mão em uma poça de sangue frio. Minha única
preocupação era a garota. Ela estava viva, e eu estava determinado a
garantir que ela continuasse assim até a ajuda chegar.
─ Chame uma ambulância, ─ gritei. Cautelosamente, deslizei
minha mão por baixo do corpo da mulher, aplicando o mínimo de pressão
que pude, virando-a. Além da quantidade preocupante de sangue que
marcou suas nádegas, não havia nenhum sinal visível de lesão quando
ela estava deitada de bruços. Mas agora era outra história: cinco feridas
profundas e cruéis, todas no estômago, haviam aberto o material da
camisa da mulher, e o sangue corria livremente dos cortes em sua pele,
onde a faca obviamente entrara.
─ Porra. ─ Eu segurei as costas da minha mão na boca, engolindo
em seco, tentando pensar. Pressão. Eu preciso aplicar pressão, para
conter o sangramento.
─ Por favor me ajude. Eu não…
Choque me dominou mais uma vez. Eu propositadamente evitei
olhar para o rosto da mulher, ainda não achava que conseguiria lidar
com isso, mas quando ela falou comigo, não tive escolha a não ser olhá-
la nos olhos. Ela era muito jovem - pouco mais que uma criança. Se ela
tivesse vinte e dois anos, eu ficaria surpreso. Seus olhos castanhos
amarrados estavam presos em mim, queimando com uma febre tão
intensa que trouxe lágrimas aos meus próprios olhos.
─ Eu não... quero... morrer. Ainda não ─ ela ofegou. Sua respiração
parecia molhada, chocalhando, como se houvesse líquido em seus
pulmões.
Peguei suas saias e as puxei para baixo, cobrindo seu corpo, então
a peguei em meus braços, puxando-a para mim. Mudá-la provavelmente
foi uma má ideia - eu já vi filmes suficientes para saber que você nunca
deveria mover a pessoa ferida - mas, honestamente? Parecia que estava
ficando sem tempo. E ninguém, absolutamente ninguém, merecia morrer
sozinha e assustada. Apesar de parecer inútil, pressionei minhas mãos
sobre o estômago da mulher, mantendo a pressão. Ela piscou para mim,

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manchas de sangue por todo o rosto, cobrindo a pele como sardas
vermelhas.
─ Os paramédicos estão a caminho, ─ disse Yvonne. Ela estava
segurando o celular nas mãos com tanta força que os nós dos dedos
ficaram brancos. ─ Acho que vou vomitar. ─ Ela gemeu, dobrando a
cintura, depois se apoiando no parapeito da janela.
─ Vá lá fora, ─ ordenei, ─ Aguarde a ambulância. Quando os
paramédicos chegarem, traga-os diretamente para cá.
Alívio brilhou no rosto de Yvonne; ela realmente não queria ficar
por aqui e testemunhar isso. Entendi o quanto ela provavelmente estava
abalada, mas também me fez odiá-la um pouco. Onde estava a porra de
sua compaixão?
Nos meus braços, a mulher se mexeu, a cabeça inclinada para trás,
os lábios com um tom mortal de roxo. Pela aparência dos meus
aposentos, ela perdeu muito sangue. Ela gemeu, franzindo a testa
enquanto claramente tentava focar os olhos. ─ Eu deveria causar... uma
boa impressão, ─ ela sussurrou. ─ Como fui no meu primeiro dia?
Eu forjei um sorriso morto; era tudo que eu conseguia. ─ Eu
certamente não esquecerei isso tão cedo. Quem fez isto para você?
As pálpebras dela tremeram. ─ Um homem. Um homem com um
rosto cicatrizado... ─ ela ofegou. ─ Ele tinha tinta nas mãos. Ele estava...
ele estava tão... bravo.
─ Ele queria dinheiro?
─ N-não.
─ Então o que?
A vergonha coloriu suas bochechas, apesar de a maior parte do
sangue ter deixado seu corpo. Ela fechou os olhos, sua garganta
latejando, e de repente eu percebi o que ela estava tendo dificuldade em
me dizer. Por que suas nádegas estavam cobertas de sangue.
Ah não. Deus não. Por favor.
─ Shhh. Shhh, está tudo bem ─ eu disse suavemente, embalando-
a em meus braços.

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─ Eles me disseram que você era bonito, ─ ela ofegou. ─ Todas as...
garotas estavam… fofocando sobre você. Elas estavam... todas... com
ciúmes... quando fui... enviada para cá.
─ Shhh, está tudo bem, irmã. Você não precisa falar. A ajuda estará
aqui em breve. Apenas relaxe, ok?
Ela estendeu a mão trêmula e seus dedos fracos se enrolaram no
meu pulso. Um suspiro trêmulo escapou dela. ─ Por favor... me chame
pelo meu nome. Se eu vou morrer... quero sentir que pelo menos uma
pessoa... sabia quem eu... que eu estava aqui.
Meus olhos estavam se enchendo de lágrimas, mas eu estava
amaldiçoado se iria chorar na frente dela. Eu precisava ficar forte. Eu
precisava que ela ficasse forte, apenas o tempo suficiente para a
ambulância chegar. ─ Certo. Meu nome é Felix ─ falei, abraçando-a para
mim.
Ela me deu um sorriso desigual, sua respiração ficando mais rasa
a cada segundo. ─ Ótimo... Felix. Meu nome é Monica. É um prazer te
conhecer.

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TREZE
ARIANNA

SERA

Depois da minha falha no carro, eu disse a mim mesma que não


havia como desmaiar na cama. Eu precisava manter a guarda, para
garantir que Fix não tentasse me sufocar com um travesseiro enquanto
eu estava inconsciente. Mas quando ele se deitou no cobertor e na
almofada, que ele providenciou para si mesmo, prontamente desmaiando
como se tivesse sido atingido na cabeça com um martelo, eu não pude
evitar. Minhas pálpebras eram como pesos de chumbo. Ocorreu-me,
quando me vi abandonando o controle sobre meu corpo, que agora era
uma excelente oportunidade para escapar de Fix de uma vez por todas.
Teria sido tão simples quanto se levantar, andar na ponta dos pés
silenciosamente pelo quarto, abrir a porta, correr pelo corredor o mais
rápido que pudesse e depois exigir que o porteiro chamasse a polícia.
Se os policiais aparecessem, sirenes berrando, pneus girando, no
dia do casamento de Amy, no entanto... ela nunca me perdoaria. Ela
ficaria horrorizada por eu ter passado por uma experiência tão
traumática, com certeza. Ela provavelmente me abraçaria como se minha
vida dependesse disso, chorando e agradecendo a Deus que eu estava
bem. Mas por dentro, ela estaria fervendo. Eu a conhecia. Ela passou
quase um ano desenhando os arranjos florais para este evento. Se seus
cabelos magnificamente penteados, os deliciosos folheados e seu vestido
de princesa perfeito não fossem as primeiras coisas que as pessoas
pensavam quando se lembrassem do casamento de Amy Lafferty e Ben
Stewart, ela carregaria esse núcleo secreto de ódio com ela pelo resto de
seus dias. Ela era horrível em esconder coisas assim.
Foi a coisa mais idiota que já fiz, mas não saí do quarto e a segui
até o saguão. Virei-me de lado, segurando firmemente a caneta do hotel
na minha mão, com a ponta da esferográfica voltada para baixo, para o
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caso de eu precisar apunhalá-lo no pescoço, e sucumbi a um sono
exausto.

******
─ Acho que se você enrolar o outro... sim, é isso. Eu sei, é estranho,
certo? Mas... acho que alguém me disse que se você segurasse o
modelador de cachos de cabeça para baixo e o mantivesse realmente solto
na mão, selaria a cutícula e deixaria seu cabelo muito brilhante.
─ Uau! Você está certa! Essa é uma ótima dica!
Eu reconheci o som da voz de Arianna com uma sensação de pavor
e irritação. Apenas ousando abrir um olho, examinei a sala desconhecida,
processando e lembrando tudo com um sentimento de descrença. É isso
mesmo: eu tinha visto um homem ser assassinado, tinha sido
sequestrada por um cara com quem tive o sexo mais incrível da minha
vida, e agora ele estava em nosso quarto de hotel, dando conselhos sobre
penteados para as melhores amigas da minha irmã. De cueca.
Eu me sentei. Eu levantei-me. Arrumei minha camisa, achatando
meu cabelo despenteado com uma mão.
Hmm. Bem, não foi um desenvolvimento interessante.
Decidi rapidamente não avisar Arianna para ficar longe de Fix; ela
parecia que estava prestes a cair de joelhos e começar a lamber os
abdominais, mas a bruxa ruiva tinha fodido Gareth no momento em que
descobriu que não estávamos mais juntos, e como resultado, eu estava
me sentindo um pouco desapegada de cuidado com o seu bem-estar. Se
ela quisesse rir e flertar com um cara que pudesse fazer alguém sangrar
sem sequer um lampejo de remorso, então ela que ficasse a vontade.
─ Arianna. Que surpresa. Não pensei em vê-la até sermos
chamadas para nos vestir. ─ Eu não deveria estar tão feliz com o fato de
ela ter ganhado um pouco de peso, mas vamos ser honestas. Eu estava
sorrindo sob a cordial e amigável máscara que acabei de usar.
Arianna piscou, como se tivesse esquecido completamente que
tinha entrado no meu quarto de hotel com meu suposto namorado
enquanto eu ainda estava dormindo na cama. ─ Oh, ei, Sera! É tão bom

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ver você! ─ Ela largou meu modelador de cachos e correu pela sala,
passando os braços em volta do meu pescoço. Eu não queria abraçá-la.
Eu não queria estar perto dela. Eu não queria nada com a garota. Seu
perfume era absolutamente insuportável - o que quer que ela estivesse
usando, era muito acentuado, quimicamente demais, e ela se banhava
nele sem nenhuma ideia de que isso a fazia cheirar como se limpasse
banheiros para viver. ─ Sinto muito, o modelador do estilista continua
queimando o fusível do estúdio de maquiagem no andar de baixo. Amy
me enviou para pedir emprestado o seu. Quando Felix abriu a porta,
pensei que tinha chegado ao lugar errado. ─ O jeito que ela riu
nervosamente, suas bochechas coradas, praticamente brilhando, me
disse o suficiente: Arianna tinha uma queda por mais um dos meus
namorados. Não importava que Fix fosse um namorado falso. Não
importava que eu não tivesse absolutamente nenhuma reivindicação
sobre ele. Era porra típico que essa pequena víbora estivesse tentando
entrar no short Georgio Armani de Fix bem debaixo do meu nariz.
─ Claro. Pegue o modelador ─ eu disse, pressionando meus lábios
em um sorriso fino. ─ Que horas são?
─ Onze e meia, ─ disse-me Arianna. ─ Nós vamos nos vestir em
uma hora. Seu cabelo e maquiagem estão marcados para a uma hora.
Você é a última. Amy sabia que você estaria cansada. Você provavelmente
poderia descansar por mais uma hora, se quisesse. Você tem os círculos
mais terríveis sob seus olhos. ─ Ela fingiu preocupação, fazendo beicinho
e franzindo a testa enquanto passava a ponta do dedo indicador sob o
meu olho esquerdo, como se pudesse afastar os ditos círculos com o
menor toque da mão. Pensei em agarrá-la pelo pulso, puxando seu braço
atrás das costas, imobilizando-a e depois quebrando cada um de seus
dedos, mas me contive. Foi um maldito milagre de Natal.
─ Eu sei. Este aqui está me mantendo acordada a noite toda ─ falei,
sacudindo a cabeça na direção de Fix. Eu sorri conspiratoriamente, como
se estivesse compartilhando um segredo com um namorado. ─ Ele é
muito habilidoso com as mãos. E a língua dele. No entanto, nenhum
conceito de tempo.

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Fix recostou-se no armário, cruzando os braços sobre o peito, com
um sorriso torto no rosto. Seus braços eram ridículos. O seu estômago
também. Ele deve ter passado anos na academia aperfeiçoando um corpo
assim. Eu já o vi nu antes, então tive a chance de aceitar o quão sexy ele
era. Arianna, por outro lado...
Suas bochechas estavam coradas, seu comportamento geral era o
de uma estudante atordoada do ensino médio que conhece seu crush da
boy band na vida real. Ela não conseguia se concentrar em nada além
dos abdominais de Fix. Estava ficando um pouco embaraçoso. Guiando-
a até a porta, empurrei meu modelador para ela e sorri entre dentes. ─
Chegarei a tempo da minha vez com o estilista. Duvido que ele me deixe
voltar a dormir agora, mas vou tentar fazer algo sobre os círculos sob
meus olhos.
Fechei a porta, empurrando-a com as pontas dos dedos até ouvir
um clique. Eu queria bater a porta com tanta força que faria as bases do
hotel tremerem, mas, em vez disso, segui o caminho, sendo incrivelmente
gentil quando a tranquei para fora do quarto.
─ Bom com a minha língua, hein?
Meu corpo trancou quando senti as mãos em mim - as mãos de
Fix, patinando sobre meus quadris, deslizando sobre a camiseta enorme
que eu tinha usado para dormir na noite passada. A parte de trás do meu
pescoço formigou em resposta ao seu hálito quente acariciando minha
pele.
Merda.
Merda, merda, merda.
Seu peito pressionou contra as minhas costas, e... outra coisa...
roçando na minha bunda. Deus, ele teve uma ereção. Ele estava duro
como o inferno, e não estava fazendo nenhum esforço para esconder o
fato enquanto abaixava a boca na dobra do meu pescoço, roçando minha
pele com os lábios.
Eu congelo.
Jesus…

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Como as meninas boas deveriam permanecer boas quando
meninos maus como Fix tornavam tão fácil pecar? Como diabos as
garotas inteligentes deveriam manter sua sanidade, sem mencionar suas
cabeças, quando tinham as mãos de Felix Marcosa vagando por todo o
corpo? Apenas... não era possível. Não era justo. A voz de Fix enviou um
calafrio percorrendo minhas veias, me balançando até o centro.
─ Pensei que você tivesse dito que não gostava de jogar, ─ ele
sussurrou.
─ Eu não gosto.
─ Então por que você jogou desse jeito com aquela garota, que ela
não sabia nem que dia da semana estamos?
A cada palavra, seus lábios roçavam meu pescoço, e uma descarga
de antecipação, misturada com medo queimava sobre minha pele. ─ Ela
não é tão alheia quanto parece. Ela interpreta a idiota, mas sabe
exatamente o que está fazendo. Não existe flerte inocente com Arianna
Foster. E daí se eu a ferrasse um pouco?
─ Mmmm... ─ Mãos fixas subiram pelo meu corpo, acariciando meu
estômago e depois descendo minhas coxas novamente. Uma onda
inebriante de prazer fluiu através de mim, e meus olhos reviraram na
minha cabeça. Graças a Deus ele não podia ver. Se ele soubesse o efeito
que estava tendo em mim...
─ Eu sei que sou bom com a minha língua, a propósito. Eu sei que
sou bom com minhas mãos. É bom ouvir você admitir isso em voz alta,
Anjo. Eu sempre posso te dar um segundo round, se você quiser? Eu
poderia lamber, chupar e provocar seu clitóris. Eu poderia adora-lo até
você gozar, e então eu poderia te lamber um pouco mais. Eu poderia
deslizar meus dedos dentro de sua boceta e provocar aquele pequeno
local que você gosta. Aquele que está contra você, gritando a porra do
meu nome. E quando você terminar de gozar, quando estiver mole e meio
perdida com os orgasmos que eu lhe darei, eu poderia lambê-la.
Ah... Merda…
─ Quanto à maneira como você lidou com a ruiva. Gostei do show,
Sera ─ ele murmurou. ─ Você é bem feroz quando defende o que é seu.

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Foi isso. Isso foi o suficiente para me tirar do meu momento de
estupidez. Saí de seus braços, sacudindo o desejo que, por um segundo,
me fez esquecer quem era realmente Fix Marcosa. Meu rosto foi treinado
em um vazio inexpressivo quando me virei e troquei um olhar com ele. ─
Você não é meu, Fix. Nós não somos... isso não é uma coisa. Você é uma
pessoa má. Você sabe disso, não é?
O sorriso encantador e diabólico que estava estampado em todo o
rosto de Fix não deslizou, mas houve um lampejo de algo semelhante a
dor que brilhou em seus estranhos olhos azuis pálidos. Ficou lá apenas
por uma fração de segundo, mas eu vi. Eu vi o quanto o machuquei.
─ Sim. Você me pegou de jeito, Lafferty. ─ Inalando, ele olhou ao
redor do quarto, esticando seu corpo de tirar o fôlego como um gato
descansando ao sol. ─ Como você está acordada agora e não há mais
damas de honra para arrulhar sobre mim, acho melhor ir e me achar um
terno.
Urgh. Claro que ele não tinha terno. ─ Como diabos você vai
encontrar um terno em um hotel no meio do nada?
Meu estômago fez algo estranho quando Fix deslizou seus braços
em uma camiseta e jogou o fino material preto sobre sua cabeça. Ele
parecia tão bem de camiseta. Merda, o homem parecia bem em
absolutamente qualquer coisa que ele colocava em seu corpo. Ele seria
capaz de fazer um saco de lixo parecer incrível, pelo amor de Deus. Eu
me virei, recusando-me a observá-lo enquanto ele enfiava os pés em um
par de jeans cinza escuro, rasgado nos joelhos.
─ Vou encontrar uma maneira, Lafferty, ─ disse ele, sua voz cheia
de diversão. ─ Eu sempre faço. Eu sou um cara muito engenhoso.

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QUATORZE
MÁ PESSOA

FIX

Meu pau estava tão duro quanto um poste de concreto, e não havia
nada que eu pudesse fazer sobre isso. Eu poderia ter entrado no banheiro
e me masturbado, mas onde estava a diversão nisso? Isso faria o
trabalho, aliviando um pouco da pressão que estava se acumulando nas
minhas calças, mas porra...
Eu não queria minhas próprias mãos no meu pau. Eu nem queria
as mãos daquela ruiva no meu pau, mesmo que ela fosse bonita e sua
boca parecesse estar acostumada a ser enrolada em um tesão. Queria as
mãos de Sera em mim e, se não pudesse tê-la, não queria mais ninguém.
Como diabos isso aconteceu? Como eu tinha decidido em algum
lugar ao longo do caminho que a queria? Tipo, realmente a queria? Não
apenas por uma noite, mas por mais tempo. Ela era literalmente a pior
pessoa para perseguir, e eu me conhecia. Essa foi provavelmente a razão
exata pela qual eu formava uma atração obsessiva por ela nos últimos
dias. Era como se meu pau gostasse de me preparar para o fracasso e a
catástrofe. Eu precisava lembrar que estávamos no mesmo time, mas não
parecia estar ouvindo. Desgraçado.
OK. Um terno. Eu precisava encontrar um terno.
O concierge provavelmente teria um. As pessoas deixavam roupas
nos hotéis o tempo todo. Eles os penduravam no armário e esquecem. Eu
não queria que alguém estivesse no lugar errado. Só porque eu estava
caindo neste casamento não significava que eu não podia parecer bem.
Havia pessoas andando pelo saguão, bebendo mimosas, vestindo
roupões ou pijamas, conversando educadamente umas com as outras.
Obviamente eles ainda não estavam vestidos ou prontos para a
cerimônia, mas a atração por álcool no saguão havia sido demais para

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eles. Bêbados. Meus favoritos. Há um milhão de anos, uma vida diferente,
costumava alertar as pessoas sobre os perigos de absorver muito álcool
de um púlpito. Então, depois que todos saíram, sua fé e suas boas
intenções se revigoraram após o meu discurso emocionante, eu fiquei tão
fodido que não consegui andar direito.
As pessoas provavelmente supuseram que eu bebia o vinho da
comunhão. Foda-se isso, no entanto. O vinho da comunhão não era nada
melhor do que mijo aguado. O cavalheiro Jack tinha sido minha bebida
favorita. Ainda era, quando eu não precisava de uma cabeça limpa para
fazer as coisas. Senti Jack me chamando enquanto examinava a multidão
que serpenteava pelo saguão - seria fácil pedir uma bebida no pequeno
bar que havia sido instalado na esquina da luxuosa entrada do hotel -
mas agora não era a hora. Eu precisava estar de olhos brilhantes e
entusiasmado, apenas no caso de Sera decidir fazer algo estúpido. Além
disso, se eu estivesse sendo sincero, queria causar uma boa impressão
hoje. Eu não era cego para o trauma que Sera estava lidando. Eu sabia
que ela estava mais abalada do que estava deixando transparecer.
Você é uma pessoa má. Você sabe disso, certo?
Ela atacou suas palavras sem nem pensar, o que tornou sua
declaração ainda mais cáustica. Ela quis dizer isso. Ela realmente quis
dizer isso, e eu já vi isso em seu rosto. Eu era um assassino. Acabava
com a vida das pessoas por dinheiro. Eu entendia isso. Mas em algum
canto distorcido da minha cabeça, eu ainda me considerava um cara
legal. Hilário. Fazia anos desde que eu tinha feito algo realmente bom.
Levando Monica para fora da igreja, guardando-a nas costas da
ambulância, sentado com ela por dias, ouvindo sua confissão repetidas
vezes, lendo seus últimos ritos em mais de uma ocasião aterrorizante e
arrepiante...
Essa foi a última coisa boa que fiz.
Vê-la assim tinha feito algo comigo. Eu perdi toda a esperança.
Perdi a pouca fé que tinha. E perdi o desejo de continuar representando
a farsa que só empreendi em primeiro lugar para manter meus pais
felizes. Eles estavam mortos, e isso não importava mais. Havia pessoas

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lá fora, com os corações mais negros, capazes de estuprar, torturar e
mutilar pessoas mais vulneráveis e frágeis do que eram. Eles não
acreditavam em nenhum Deus. Não havia uma bússola moral que os
guiasse, afastando-os da escuridão. Então, afastei Deus, afastei minha
bússola e entrei no escuro com um único e definido propósito: encontrar
e punir o homem que machucou Monica. Para machucá-lo, do jeito que
ele a machucou.
Eu não sabia se haveria justiça na vida após a morte para homens
como o cara que atacou Monica, e eu não poderia suportar. Não podia
deixar pra lá. Se houvesse prestação de contas após a morte, ótimo. Ele
pagaria eternamente pela dor e sofrimento que causou. Mas, caso não
houvesse prestação de contas, eu o faria, e outros homens como ele
também sangrariam nessa vida.
─ Posso te ajudar senhor?
Um homem baixo e de meia-idade, de terno, estava ao meu lado,
segurando uma bandeja de prata polida carregada de sanduíches de
pepino. As crostas foram cortadas, e eu fiz uma careta para a comida. ─
Existe algum homem do meu tamanho hospedado no hotel? ─ Eu
perguntei.
Ele parecia confuso, mas, sempre o profissional consumado, não
me questionou. Me olhando de cima a baixo, ele arqueou uma
sobrancelha. ─ Ah, acho que não, senhor. Você é alto e muito amplo. O
único convidado que poderia estar perto de você em estatura seria o
Mestre Gareth, lá. Posso perguntar por que, senhor?
Olhei na direção em que ele apontou, observando o cara parado do
lado oposto do saguão - cabelos loiros para trás, olhos azuis brilhantes.
Ao contrário de todos os outros bebendo suas taças de champanhe e
mordiscando delicadamente os sanduíches sem crosta, ele fez um esforço
para se vestir antes de descer. Calças de sarja bege estavam tão justas
que havia um vinco na frente delas, e sua camisa escura de botão rosa
parecia ter saído direto da embalagem. Ele usava um maldito suéter de
malha Aran sobre os ombros, cujos braços estavam amarrados
frouxamente ao pescoço. Eu imediatamente odiei o babaca. Ele era um

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espelho de tantos caras com quem eu fui para a faculdade; ele tinha
dinheiro, isso era claro o suficiente. E pela maneira como ele inclinou a
cabeça para trás e riu alto, buscando atenção, ele estava acostumado
com as pessoas que o bajulavam em público.
─ Não importa, ─ eu disse, ainda olhando para o estranho. ─ Você
está certo. Não acho que ele seja amplo o suficiente. Nem de longe. ─
Meus pais tinham dinheiro. Muito. Eles me proporcionaram a melhor
educação que o dinheiro podia comprar e, quando eu concordei em fazer
meu treinamento no seminário, eles insistiram em me colocar em um
hotel exorbitantemente caro, em vez de me permitir ficar com outro aluno
na escola nas instalações da igreja. A riqueza deles me diferenciara da
multidão. Eu não era como esse Gareth idiota. Eu nunca ostentava o
estado saudável da minha conta bancária vestindo roupas caras ou
ostentando cortes de cabelo de trezentos dólares. Eu usava a merda mais
barata que podia encontrar, abastecendo meu guarda-roupa fazendo
compras em brechós. E quando chegou a hora, quando meus pais
morreram, eu guardei cada centavo que eles me deixaram em fundos e
títulos, certificando-me de que eu não podia nem ver a quantidade
nojenta de dinheiro que caíra no meu colo mais.
Ao lado de Gareth, um flash vermelho chamou minha atenção, e
eu percebi que a pessoa com quem Gareth estava rindo tão violentamente
era Arianna, a mulher que estava flertando comigo no quarto, apenas
quinze minutos atrás. Sua mão estava repousando levemente,
possessivamente, no braço de Gareth - um sinal claro para as outras
mulheres que riam ao redor dele, que ele já havia sido levado. Então...
Arianna era do tipo ciumenta. Mas também o tipo de agitar os cílios para
outros homens sempre que diabos ela sentia vontade. Parecia certo.
Eu estava prestes a descer as escadas restantes e sair do saguão
quando Arianna olhou para cima, seu olhar se fixando em mim. Gareth
ergueu os olhos ao mesmo tempo, franziu o cenho e depois sussurrou
algo no ouvido de Arianna. Suas bochechas estavam manchadas de
vermelho quando ela respondeu, assentiu e depois acenou para mim.

DIRTY #1
CALLIE HART
Sob nenhuma circunstância eu queria me juntar a eles. Eu já havia
passado por uma cirurgia no canal radicular sem anestesia, e até isso
parecia mais agradável do que ser apresentado a esse buraco de merda.
Ainda assim... este era o casamento da irmã de Sera. Eu tinha que ficar
me lembrando disso. Sera pensou que eu era o ser humano mais cagado
que já respirou, mas eu podia pelo menos provar que ela estava errada
nisso. Eu poderia pelo menos garantir que hoje não passasse de uma
noite tranquila.
─ Viu só, querido, ─ disse Arianna alegremente, quando cheguei ao
grupo deles. ─ Eu te disse que ele fazia parte da festa de casamento. Felix
Marcosa, conheça meu namorado, Gareth Douvillier. Gareth estava
apenas dizendo que parecia que você estava prestes a se apresentar em
um show de rock, não comparecer a um casamento.
─ Na verdade, eu não disse, ─ disse Gareth firmemente. Seus olhos
eram sem graça e desinteressantes. Não confiável. ─ Eu disse que ele
parecia um roadie mal pago, que deveria carregar equipamentos de DJ
pela entrada de serviço na parte traseira do hotel, sem espreitar no
saguão durante um evento.
Bem, bem, bem. Gareth tinha uma língua afiada na cabeça. Ele
queria olhar para mim, eu percebi. O problema era que eu tinha cerca de
quinze centímetros a mais que ele e não usava saltos nos meus sapatos
como ele. Arianna riu, estridente e nervosa, batendo de brincadeira no
braço de Gareth. ─ Sinto muito, Felix. Gareth está sempre um pouco
irritado com essas coisas. As pessoas fazem muitas perguntas, sabe? Ele
é muito bem-sucedido no que faz e todos querem conhecer seus segredos.
─ Oh. Isso é ótimo. Eu também sou bem-sucedido no que faço.
A boca de Arianna se abriu no momento em que eu falei. Gareth
não parecia se importar, no entanto. ─ Ah? E o que poderia ser isso? ─
ele falou demoradamente.
─ Quem sabe? ─ Eu dei um tapa no ombro dele. Forte. ─ Talvez um
dia você descubra em primeira mão.
Ele mostrou os dentes para mim. Era para ser um sorriso, mas o
bom e velho Gareth era transparente pra caralho. Ele não gostava de mim

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e não estava fazendo um bom trabalho de esconder suas emoções. ─ Tudo
o que ela lhe disse, não é verdade, você sabe, ─ disse ele. ─ Nada disso.
Ela é uma mentirosa.
─ Eu sinto muito? Eu não entendi.
─ Sera. Eu nunca a traí com Arianna. Nós já havíamos terminado
quando comecei com ela.
Eu reprimi uma risada. ─ Sera? Sera esteve com você?
Gareth foi a indignação personificada. ─ Não me dê essa merda.
Não tem como ela não te contar sobre mim. Ela perdeu a cabeça quando
nos separamos.
Deus. Então, eu não estava apenas travando um casamento. Eu
também estava no pescoço do ex-drama. Isso era perfeito pra caralho.
Cruzei os braços sobre o peito, certificando-me de flexionar um pouco os
músculos. ─ Eu não sei o que te dizer, cara. Ela nunca mencionou seu
nome antes. Ela pode não ter ficado tão perturbada. Bom para você, no
entanto. Sera é uma pegadinha. Você é um homem de sorte por ter
passado algum tempo com ela. ─ Foi o meu sorriso. E se foi o brilho
arrogante nos olhos de Gareth.
─ Ela é um caso sério de cabeça, cara. Você tem as mãos cheias
com toda a bagagem que a cadela carrega com ela. Quero dizer, por que
diabos você quer se envolver com mercadorias danificadas assim? O
próprio pai fodeu com ela.
Eu estava pensando em me afastar dessa conversa sem ser um
idiota. Havia momentos em que era apropriado esmagar seu punho na
mandíbula de alguém no meio de uma sala lotada, e havia momentos em
que era mais inteligente enviar um tiro de despedida pelo arco e ir
embora. Gareth era um pedaço de merda carente que não gostou da ideia
de que havia pessoas lá fora no mundo que testemunharam seu lado feio.
Eu lidei com vários caras como ele e aprendi como reduzi-los e seguir em
frente sem suar a camisa. Mas chamá-la de puta? Para falar abertamente
com alguém que você não conhece sobre ela ter sido agredida
sexualmente? Eu teria que desempacotar esse maldito e lidar com isso
mais tarde, mas por enquanto...

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Não. De jeito nenhum.
Eu estava ansioso para expor o bastardo. Justo, eu sabia muito
pouco sobre Sera, não tinha o direito de me sentir protetor por ela, mas
nada disso importava. Falar merda da sua ex para o homem que agora
estava namorando com ela (tanto quanto ele sabia) era um ato sem
classe, mas recorrer a xingamentos era apenas merda. Eu brinquei com
a ideia de como seria nocautear o filho da puta aqui e agora. O estalo
brilhante de dor quando meus dedos se conectavam com sua mandíbula.
O vermelho vívido e brilhante do sangue que ele derramaria. O baque
satisfatório que seu crânio daria ao ricochetear no chão. Tudo estava indo
tão bem na minha cabeça, até que imaginei o olhar de horror no rosto de
todos os outros, e a merda que Sera teria que usar como resultado de
minhas ações precipitadas.
Porra.
A sensação de gratidão que estava surgindo dentro de mim
desapareceu. Eu não poderia fazer isso com ela. ─ Você não precisa se
preocupar comigo, ─ eu disse. A veia na minha têmpora batia como um
tambor demente. ─ A bagagem de Sera não é nada comparada à minha.
E além disso. Eu me exercito. Sou perfeitamente capaz de suportar
qualquer dor e desgosto que ela tenha passado sozinha. Não que eu
precise, é claro. Sera é um incêndio. Muitos homens não são capazes de
cuidar de uma mulher que tem sido corajosa o suficiente para abrir
caminho nos tempos sombrios. Não se preocupe. Eu sei. A força dela pode
ser intimidadora.
A boca de Gareth estava aberta, a momentos de cuspir ainda mais
besteira. Um gancho de direita teria sido cronometrado impecavelmente
agora, mas em vez disso me virei e me afastei. Eu sabia exatamente o que
estava fazendo; homens como Gareth estavam acostumados a serem
ouvidos. Eles acreditavam que tudo o que dissessem e fizessem era de
grande importância para os outros. Para alguém menosprezá-los, cortá-
los, dar-lhes as costas e ir embora? Isso era esmagador para um
presunçoso, egoísta degenerado como ele.

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Enquanto eu passeava casualmente para fora do saguão, agarrei
um mensageiro pelo braço, empurrando minha cabeça por cima do
ombro na direção de Gareth. ─ Ei, aquele loiro ali com a ruiva? O que ele
está dirigindo? Diga-me e este é seu. Mostrei a ele a nota de cem dólares
que tirei do meu bolso.
O mensageiro apertou os olhos para Gareth, depois voltou para a
nota de cem dólares. ─ O Lamborghini vermelho lá atrás. O novinho em
folha com o interior em couro preto.
─ Eu lhe darei outras cem se você me emprestar as chaves por dez
minutos.
─ Por quê? Você não fará nada de ruim, não é?
─ Oh, Deus não. Eu nunca danificaria o carro de alguém. Eu só
tenho um presente para ele, é tudo.
Quando terminei de mijar no banco da frente do veículo
estupidamente ostensivo de Gareth, as batidas nas minhas têmporas
haviam diminuído. Eu não terminei com aquele filho da puta, no entanto.
Nem perto de terminar. Minhas botas morderam o cascalho no caminho
de volta pelo estacionamento. Foda-se. Eu não me incomodaria em
encontrar uma roupa para esse evento ridículo. Eu pulava a cerimônia e
depois saía na recepção quando as fotos ficavam fora do caminho. E uma
vez que a noite caísse e sempre...
─ padre? padre Marcosa?
Minhas botas pararam. Meu coração parou. O mundo parou.
Quem?
Quem saberia me chamar assim aqui, no meio do nada? As
chances eram inexistentes. Minha mente ficou em branco quando me
virei... e olhei para o rosto de um homem que nunca pensei que veria
novamente.

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QUINZE
INTERVENÇÃO

SERA

Amy estava chorando, maquiagem escorrendo pelo rosto quando


entrei na sala da recepção lindamente iluminada e luxuosa, onde eu
deveria estar fazendo minha maquiagem e cabelo. Ela olhou para cima,
piscando como louca por entre as lágrimas, e soltou um soluço alto e de
cortar o coração quando me reconheceu.
─ Sera, oh Deus...
─ O que é isso? O que há de errado? ─ Eu estava acostumada com
os ataques histéricos de Amy, mas suas birras eram tipicamente
acompanhadas de gritos e objetos quebráveis sendo jogados. Hoje, ela
estava abraçando a si mesma, ombros cercados pelo robe nude que ela
usava e caindo pelo ombro direito. Ela parecia uma garotinha quebrada,
como se estivesse fisicamente machucada de alguma forma, e meu
coração subiu na minha garganta. Ela soluçou enquanto enterrava o
rosto nas mãos, escondendo-se.
─ Deus, eu não sabia, eu juro, ─ ela gemeu.
Agachei-me na frente dela, tentando afastar gentilmente as mãos
do rosto. ─ Não sabia o quê?
─ Isso... isso é uma... bagunça, ─ ela sussurrou. ─ Eu não quero
fazer isso agora. Eu só quero ir para casa.
─ Você não quer se casar? ─ Se ela realmente não quisesse dar o
nó hoje, eu a ajudaria a planejar um plano de fuga para fora do hotel sem
pensar duas vezes, mas Jesus... Depois de tudo o que eu passara para
chegar aqui, eu tinha para combater a vontade de dar um tapa nela.
─ Não, é claro que eu quero me casar. Eu amo o Ben. Mas…
─ Mas?

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Consegui afastar uma das mãos dela. Ela permitiu que a outra
caísse, revelando olhos vermelhos e batom manchado. Ela estava uma
bagunça, mas eu fiz tudo o que pude para impedir que meu desespero
aparecesse. Isso não ajudaria em nada. Respirando fundo, ela pegou um
fio solto na barra do robe, os dedos puxando-o nervosamente.
─ Eles pensaram que estavam fazendo a coisa certa, Sera. Eu juro.
Eles nunca o convidariam se soubessem...
─ Amy, respire fundo. Eu mal consigo entender uma palavra que
você está dizendo. Comece do começo. Quem pensou que eles estavam
fazendo a coisa certa? Quem eles convidaram?
No segundo em que Amy exalou, tremendo de frio, e depois olhou
para mim, um peso terrível e afundado puxado para o meu interior. Não...
não, Deus, ninguém o convidaria para cá. Eles não seriam tão cruéis.
Amy não estava tremendo de frio; ela estava tremendo de medo. Minhas
mãos caíram para os meus lados. Estranhamente, eu não conseguia mais
sentir meu corpo. Eu estava entorpecida da linha do cabelo para baixo.
A única maneira que eu sabia que meu coração estava batendo fora de
controle era por causa da tontura que tomou conta de mim.
─ Quem o convidou? ─ Eu perguntei sem fôlego.
Amy soluçou novamente, limpando o nariz nas costas da mão. ─
Os pais de Ben. Eu disse a eles que ele costumava ser abusivo. Eu disse
a eles sobre o álcool e as drogas. Expliquei como não tínhamos contato
por muitos anos. Eu simplesmente... não podia... contar a eles sobre...
Ela parou quando uma nova onda de lágrimas tomou conta dela.
Eu mantive meu rosto treinado em uma máscara vazia e sem expressão.
Se eu me permitisse reagir, eu iria desmoronar. Não havia como eu
conseguir me segurar e, como sempre, Amy precisava que eu fosse forte
por ela. Então eu fiz o meu melhor.
─ Você não entende pessoas como os pais de Bem, ─ disse Amy,
fungando. ─ A família é muito importante para eles. Eles não suportavam
o pensamento de eu me casar sem meu pai presente, então eles
procuraram por ele. Eles... Deus, eles foram vê-lo, Sera. Eles disseram
que ele se virou, estava se saindo muito bem e que ele... ele chorou

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quando lhe contou sobre eu me casar com Ben. Eles pediram para ele
vir. Era para ser uma surpresa, mas Ben deixou escapar essa manhã.
Disse que ele não queria que eu fosse pega de surpresa quando o visse
sentado na primeira fila.
Pega de surpresa. Esse era um termo tão apropriado. Quem diabos
ia e convidava o pai de alguém para o casamento sem o consentimento
deles? Amy havia planejado tudo isso até a última carta. Sua atenção aos
detalhes foi meticulosa. Sua falta em convidar Sixsmith para o casamento
não fora um descuido. Havia uma maldita boa razão pela qual ela o
deixou fora da lista de convidados, então por que, em nome da merda, os
pais de Ben teriam bisbilhotado e interferido tanto?
Não fiquei surpresa que Sixsmith os tenha convencido de que ele
era uma pessoa reformada. Quando a maioria das pessoas pensava em
um alcoólatra, imaginava uma pessoa vivendo na miséria, suja e
desleixada, sem dinheiro e sem emprego. O vício de nosso pai não era
uma coisa óbvia. Ele era obsessivamente limpo, conseguia ir e vir do
trabalho todos os dias, vestia-se bem a maior parte do tempo e sempre
se certificava de ter alguns dólares no bolso.
Quando ele não estava bebendo, ele era o epítome do charme. A
única vez que eu soltei uma palavra sobre o que estava acontecendo em
casa com um adulto, mostrei à minha professora da sexta série as
contusões que cobriam meus braços, coxas, estômago e nádegas, e ela
invadiu a minha casa para enfrentar Sixsmith. Quando ela partiu, uma
hora depois, Sixsmith havia conseguido convencê-la de que eu menti, que
eu estava fazendo aquilo por ciúmes, disputando atenção porque Amy
estava doente e ocupando o tempo de todo mundo, e que ele estava tão
chateado pelo tempo que minha professora havia perdido. Ouvi a
conversa deles do último degrau da escada, abraçando meus joelhos no
peito, os olhos bem fechados, e lembrei-me de ter tanta certeza de que a
senhorita Harriet veria através da estratégia de Sixsmith. Estava tão claro
para mim. Tão fácil de detectar o tom sutil em sua voz que revelava o
quão bravo ele estava por ter sido descoberto. Mas era como se Sixsmith
fosse um ponto cego para a maioria das pessoas. Eles tentam e deixam

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de ver uma imagem inteira dele. A senhorita Harriet acreditou nele e,
quando voltei para a escola na segunda-feira seguinte, depois de um fim
de semana de fortes pancadas, sendo trancada no quarto de Sixsmith e
forçada a dormir nua debaixo da cama, ela me disse para cobrir minhas
contusões, e se eu mostrasse para mais alguém, seria enviada ao
escritório do diretor.
─ Por favor, Sera. Não... não cause uma cena. Eu só... não sei o
que fazer. ─ Amy estava balançando para frente e para trás; ela agarrou
minhas mãos nas suas próprias, alternando entre apertar demais e
tremer como uma folha. ─ Eu nem disse a Bem, ─ disse ela com tristeza.
─ O homem que eu amo. O homem com quem eu vou me casar em menos
de três horas. Eu não conseguia encarar a verdade, e contar a Ben sobre
Sixsmith apenas... apenas fez tudo parecer tão real. Se eu não fosse tão
covarde, ele saberia que trazê-lo aqui era uma péssima ideia. Ele poderia
ter impedido que seus pais o vissem.
─ Ele já chegou? ─ Eu perguntei rigidamente.
Amy balançou a cabeça, novas ondas caindo em seu rosto. ─ Eu
não sei. Acho que não.
─ Tudo certo. Está bem. Eu vou lidar com isso.
Amy parou de tremer. Um momento depois, ela parou de chorar. ─
Como?
─ Eu vou encontrá-lo. Vou garantir que ele não fique. Não se
preocupe. Basta entrar no seu vestido e pedir para que conserte sua
maquiagem. Tudo vai ficar bem. Eu prometo.

******

Tudo não estava bem. Eu não achava que iria conseguir chegar ao
banheiro antes de vomitar, mas me provei errada. Fechei a porta, caí de
joelhos e me inclinei para a frente a tempo de colocar a maior parte do
meu vômito no vaso sanitário.
Minha mente estava girando quando eu caí contra a porta, as
pernas emaranhadas embaixo de mim, minha garganta queimando. Os

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pais de Ben estavam se intrometendo. Quando eu descobrisse como eles
eram e os localizasse, eles gostariam de nunca enfiar o nariz nos negócios
dos Lafferty.
Meu pai.
Meu pai, aqui, no mesmo lugar que Amy e eu.
Depois de oito anos...
Inclinei-me sobre o vaso e vomitei novamente, com tanta força e
tanta violência que parecia que eu estava rasgando meus músculos. Sofri
com todos esses pesadelos, ano após ano. Eu disse a mim mesma que
eles não eram nada, apenas pesadelos, e eu poderia lidar com eles,
porque nunca mais teria que ver o Sixsmith novamente. A versão dele
que vivia dentro do meu subconsciente poderia me provocar e me
assediar até o fim dos tempos, porque eu nunca teria que ficar na frente
dele e permitir que ele me machucasse na vida real novamente. Exceto
agora, aqui estávamos...
Eu poderia fazer isto. Quando Amy e eu finalmente escapamos de
Montmorenci, eu disse ao Sixsmith que o estriparia como um peixe se eu
o visse ou tivesse notícias dele novamente. Pelos meus problemas, ele me
deu um soco com tanta força que pensei que meu olho estivesse
esmagado, mas ainda assim nos levantamos e saímos daquele lugar. Se
eu fui capaz de fazer isso naquela época, eu poderia dizer ao pedaço de
merda, para sumir de nossas vidas uma segunda vez. Ele não podia
arruinar isso para Amy. Ben era tão envolvente quanto um saco de papel
molhado e, no que diz respeito ao seu físico, ele tinha quase a mesma
chance de sair de um, mas ele fazia minha irmã sorrir. Ele a fez esquecer
seu passado, e isso era a coisa mais importante do mundo. Eu não
deixaria aquela porra doentia voltar para sua vida e estragar tudo para
ela. Isso simplesmente não iria acontecer. Eu faria qualquer coisa ao meu
alcance para impedir isso. Não importava, que ver o Sixsmith fosse
traumático para mim. Eu poderia reforçar os Band-Aids que atualmente
me mantinha colada mais tarde, quando tudo estivesse dito e feito. Mas,
de vez em quando, eu tinha que encarar o homem, o demônio que
perseguia meu sono, e tinha que ser corajosa pra caralho.

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******

Encontrei Fix, ainda de camiseta e calça jeans rasgada,


conversando com um velho do lado de fora de uma porta com a etiqueta
‘Sala de Leitura’. Em ambos os lados da cabeça do velho, empoleirado
logo acima das orelhas, havia dois tufos de cabelo branco fino, como
pequenas nuvens inchadas de fumaça. Seu rosto era uma profusão de
rugas, um roteiro de anos que parecia ter causado um duro impacto nele.
Seus olhos estavam alertas, nítidos e brilhantes, no entanto. Quando ele
me viu por cima do ombro de Fix, ele abriu um sorriso.
─ Bem, então não há como confundir você, ─ disse ele. ─ Você é
Sera, irmã de Amy. Eu reconheceria esse queixo em qualquer lugar.
─ Haha, sim. O velho queixo dos Lafferty. É um prazer conhecê-lo.
─ Eu não tinha ideia de quem eu estava conhecendo, já que o velho não
conseguiu me fornecer seu nome. Fix balançou desconfortavelmente em
seus calcanhares, as mãos enfiadas profundamente nos bolsos. Mesmo
com tudo o que estava acontecendo, meu interior revirava sempre que eu
olhava para ele. Ele era tão... Fix. Uma criatura feita de sombras e luz.
Um sonho e um pesadelo reunidos em um. Ele era os dois lados de um
sorteio, consequência e recompensa. Eu queria tanto beijá-lo naquele
momento que meus lábios doíam. Eu queria fugir dele, gritando, tanto
quanto. Era meu dever avisar a todos que um lobo havia se escondido
entre o rebanho de ovelhas e provavelmente começaria a se alimentar a
qualquer segundo, mas eu me encontrei ali, fingindo que nada estava
errado.
─ Eu queria saber se eu poderia falar com você por um segundo?
─ Eu disse. Depois, para o velho: ─ Sinto muito. Não pretendo
interromper sua conversa. Isso levará apenas um segundo.
─ Oh, está tudo bem. Felix e eu estávamos relembrando os bons
velhos tempos em que eu o ensinei no seminário. Podemos retomar de
onde paramos mais tarde. Isto é, se eu não tiver caído morto até lá,
naturalmente. Quando você chega à minha idade, cada minuto que passa

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é uma surpresa, para ser sincero. ─ Sua risada foi estridente; ele deveria
estar lá pelos seus oitenta anos, mas sua constituição parecia forte. Eu
não estava prestando muita atenção à alegria do velho, no entanto. Eu
peguei e prendi uma palavra que ele acabou de dizer: seminário.
Seminário?
Atualmente, não era uma palavra que você ouvia, mas eu sabia o
que era. Fix esteve no seminário? Essa imagem simplesmente não
encaixava. Eu fiz uma careta para ele quando ele colocou a mão nas
minhas costas e me guiou para longe do velho.
─ Quem era aquele? ─ Eu assobiei.
─ padre Gregory Richards. Ele está oficiando o casamento de sua
irmã.
─ E você o conhece?
─ Um pouco. ─ Fix encolheu os ombros, passando pela saída do
prédio, me empurrando na frente dele. Assim que saímos, afundei meus
calcanhares no cascalho, recusando-me a dar outro passo.
─ Você foi ao seminário, Fix? Que porra você estava fazendo na
escola de Padrees?
─ Aprendendo, principalmente. Obtendo uma educação.
─ Uma educação católica? Para se tornar Padre?
─ Eu pensei que você sabia, ─ disse ele calmamente. ─ Você ouviu
a conversa que tive com Franz na loja de carros antes...
─ Antes de você matá-lo? Sim, ouvi o que vocês dois disseram. Eu
pensei que era código ou algo assim. Eu não achei que ele quis dizer... eu
não achei que você quis dizer... Oh, merda. Então... Ótimo. Você é um
sequestrador. Você é um assassino. E agora você é um maldito Padre.
─ Eu não sou mais Padre. ─ Geralmente pálidos como gelo, seus
olhos tinham escurecido e assumiram uma borda tempestuosa e
malévola.
─ Por que você não me contou?
─ Você não perguntou.
─ Fix!

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─ Eu sinto muito. Simplesmente não parecia uma informação
pertinente.
─ Eu não... ─ Eu balancei minha cabeça. ─ Deus, eu simplesmente
não te entendo!
─ Você deveria? Me entender vai facilitar isso?
Ele era irritante pra caralho. Ele tinha razão, no entanto. Conhecer
uma história detalhada de sua vida não mudaria nada. Era só que...
realmente? Ele foi para o seminário? ─ Há quanto tempo você foi Padre?
Você teve uma paróquia? Você sempre foi assim...
─ Fodido? ─ O sol se lançou através das árvores, atingindo-o por
trás, e houve um momento em que seus cabelos escuros se
transformaram em cobre polido. Seus ombros largos estavam tensos;
todo o seu corpo parecia estar tenso, na verdade, embora eu não
conseguisse entender o porquê.
─ Sim, ─ eu bati. ─ Você sempre esteve tão fodido? Como você
acabou fazendo a transição de bolos semanais e campanhas de caridade
para matar pessoas, pelo amor de Deus? Quero dizer, não faz nenhum
sentido. Você é uma dicotomia ambulante.
─ Eu nunca fui um Padre muito bom, ─ ele disse suavemente. ─
Eu queria ser bom nisso por um tempo lá. Ajudar as pessoas me deu um
propósito e uma direção que eu nunca tinha experimentado antes. Mas
no final, esse colar que eu usava no pescoço todos os dias, acabou
estrangulando a vida em mim. Algo aconteceu e eu saí. No final, não teria
importado. Eu teria ido eventualmente. Só não era quem eu era.
Era tão estranho ouvi-lo falar desse jeito. Eu me acostumei com a
ideia de que ele era um psicopata malvado, sem mente, mas a imagem
mental dele que acabara de se conjurar dentro da minha cabeça
conflitava com tudo isso.
─ Não, ─ Fix rosnou baixinho. ─ Seus pensamentos estão escritos
em todo o seu rosto. Você está se perguntando se tudo isso é uma fase.
Se eu vou acordar um dia e querer ser o santo, justo e piedoso Padre
Marcosa novamente. Eu sei que você está se perguntando isso. Não perca
seu tempo. Eu nunca vou voltar, Sera. Este é quem eu sou agora. Quem

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eu sempre vou ser. Eu não vou mudar por você. Eu não serei resgatado.
Nada nesta terra me faria dobrar o rabo entre as pernas e correr de volta
para ser perdoado. Eu não quero isso. E vamos encarar a verdade. No
final do dia, eu não mereço isso.
Eu olhei para ele, tentando lê-lo. Era impossível. Ele era um
especialista em proteger suas emoções, afasta-las e escondê-las do
mundo exterior. Eu sabia muito pouco sobre ele, realmente, mas sabia
disso com certeza: seria necessário um pé de cabra e uma vida inteira de
esforço para fazer esse homem se abrir. As coisas ficaram tão confusas.
Eu ainda não sabia se deveria ter medo pela minha vida ou não, e lá
estava eu, tentando decidir se queria admitir os sentimentos
desconcertantes que eu estava desenvolvendo rapidamente por esse
homem.
─ Não me importo se você mudar de ideia sobre o seu caminho ou
se não, Fix. Eu só preciso saber uma coisa. ─ Prendi a respiração,
esperando que ele respondesse.
Fix deu um passo à frente, inclinando a cabeça para que ele não se
elevasse tanto sobre mim. ─ Como eu disse. Pergunte à vontade.
Aqui não foi nada.
─ Onde você guarda suas armas?

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DEZESSEIS
CACHIMBO DE CRACK

FIX

Eu não a ouvi direito. Eu não poderia ter ouvido. Ela não estava
pedindo emprestada uma arma, porque isso seria uma loucura absoluta.
Sera se manteve firme, o olhar firme, fixo em mim, inabalável. Para
alguém que estava brincando, ela com certeza estava começando a
parecer muito séria.
─ Não precisa estar carregada, ─ explicou ela. ─ Eu só preciso
assustar alguém.
─ Você sabe que apontar uma arma para alguém ainda é uma
ofensa criminal, mesmo que ela não esteja carregada?
─ Como você se importa com a lei! ─ Ela riu, gargalhadas, cheias
de ansiedade e preocupação, desprovidas de qualquer humor. ─ Apenas
me dê uma arma, Fix. Eu devolverei em algumas horas, eu juro.
─ Não quero que uma arma seja devolvida depois que ela foi usada
para cometer um crime. Prefiro que você jogue em um lago ou pedreira,
como qualquer outro assassino estúpido neste país.
─ Tanto faz! Eu não vou devolver, então. Eu vou me livrar disso.
Apenas... me dê a maldita arma, Fix!
─ Você sabe segurar uma arma?
Ela revirou os olhos. ─ Ela tem um cabo e um gatilho. Acho que
vou descobrir.
─ Por que você não me diz o que está acontecendo? Talvez eu possa
ajudar.
─ Se, por ajuda, você quer dizer colocar uma bala na nuca de
alguém por mim, então sim. Talvez você possa ajudar. ─ Ela disse isso
de maneira irreverente - uma observação que não significou nada para
ela. Ela não estava falando sério. Se ao menos ela soubesse ...

DIRTY #1
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Os olhos de Sera de repente estão sem foco, seu corpo travando
quando ela olha pela janela por cima do meu ombro. Eu segui o olhar
dela; um velho Chevy vermelho estacionava na entrada da garagem,
marcas de ferrugem na pintura e um entalhe considerável no painel da
porta do motorista. O carro já vira dias melhores e o motorista também.
Um cara de cinquenta e poucos anos estava sentado atrás do volante,
com os cabelos escuros penteados para trás, mal cobrindo o topo de sua
cabeça brilhante que continuou facilmente visível. Quando ele saiu do
carro, entregando as chaves para o paquete do manobrista com um
floreio, como se seu carro fosse um Tesla novinho em folha, fiz uma
avaliação rápida dele. Sapatos de couro marrom arranhados. Camisa
amarelada debaixo de um terno azul desbotado que parecia ter visto a
última luz do dia nos anos setenta. O homem, é claro, era Sixsmith
Lafferty, o pai de Sera. Eu sabia disso, mas mantive minha boca fechada.
Sera tinha ficado de um branco mortalmente pálido, com o rosto
pálido de todas as cores. ─ Merda. ─ Ela deu um passo para trás,
afastando-se da janela e quase derrubou uma mesinha de nogueira cheia
de flores e uma tigela grande, contendo chocolates embrulhados em papel
alumínio. Agarrei-a pelo braço, firmando-a.
─ Hora de me dizer o que diabos está acontecendo, ─ eu disse. ─
Esse homem significa algo para você? Ele é o motivo de você querer uma
arma?
Sera parecia ter encolhido para cerca da metade do seu tamanho
normal. Havia tanta luta e fogo nela quando ela estava me confrontando,
mas agora, ela parecia que queria que o chão se abrisse e a engolisse.
Gareth disse que o pai de Sera a tocou. O aperto em sua mandíbula não
era uma confirmação disso, mas era quase certamente uma confirmação
de que ele havia sido violento com ela. Eu tive que me transformar em
pedra quando Sera soltou um suspiro irregular, examinando o corredor
da esquerda para a direita; parecia que ela estava procurando uma rota
de fuga.
─ Esse é o Sixsmith, ─ disse ela, sua voz três oitavas acima do
normal. ─ Ele é meu pai. Nós não... não nos vemos.

DIRTY #1
CALLIE HART
Pelo o que eu sei sobre Sixsmith Lafferty, ele não estava de acordo
com muitas pessoas. Ele era o mais baixo dos baixos. Escória da terra.
Um pedaço de lixo inútil, violento e nojento que precisava ser descartado.
─ Você está suando, Sera. ─ Estendi a mão e toquei sua testa,
contemplando as pontas molhadas dos meus dedos antes de deslizá-las
cuidadosamente em minha boca.
─ Deus, agora realmente não é a hora, Fix, ─ Sera ofegou.
Inclinei minha cabeça para um lado, estudando-a. ─ Eu provei seu
êxtase. Eu provei sua raiva. Eu queria saber como é o seu medo.
─ Eu não estou com medo.
─ Então por que você está tremendo?
Sera abriu a boca. Ela tinha algo a dizer, mas... nada saiu. Eu
queria pegá-la em meus braços e pressioná-la em mim. Eu queria abraçá-
la com força, ela não precisava mais respirar. Eu queria protegê-la,
mesmo quando protegê-la só causaria mais mágoa e angústia. ─ Se você
realmente quer uma arma, eu lhe darei uma, ─ sussurrei. ─ Mas você o
ameaçar... você realmente acha que poderia fazer isso?
A expressão de Sera endureceu, transformando-se em aço fundido.
─ Você não sabe do que eu sou capaz.
─ Eu posso adivinhar. Mas, quando você enfrenta esse tipo de
violência... isso afeta você. Transforma você. Você acha que apontará
uma arma para ele e ele vai embora? Não é assim que homens como ele
trabalham. Eles amam confrontos. Eles adoram ver o terror nos olhos de
suas vítimas. Eles se animam com isso. Violência gera violência, Sera. Se
você não estiver realmente disposta a seguir e puxar o gatilho, para fazê-
lo ir embora de verdade, ele saberá. Ele verá nos seus olhos.
─ Então... urgh! O que eu deveria fazer ? ─ Suas palavras se
encontraram, frustração e pânico elevando suas cabeças feias. Seu peito
estava subindo e descendo rápido demais; ela estava à beira de um
ataque de ansiedade e estava ao meu alcance para detê-lo. Eu não
precisava entregar uma arma para ela e permitir que ela enfrentasse seu
Sixsmith sozinha. Eu poderia cuidar dele com ela com bastante
facilidade, mas não haveria fechamento para Sera. A coisa toda era

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complicada, e cada vez mais complicada a cada dia. Se eu fosse esperto,
levaria o bastardo para o pequeno bosque de árvores nos fundos do hotel
e enfiaria meus polegares nas órbitas oculares até que ele estivesse
morto. Não haveria tiros barulhentos para alertar os clientes do hotel
sobre algo desagradável. Nenhuma bagunça real. Haveria um pouco de
sangue, mas não tanto quanto houve com Franz em Liberty Fields. Matar
Sixsmith com minhas próprias mãos pareceria justiça. Seria uma morte
brutal, e ainda assim seria muito mais gentil do que aquele filho da puta
doente e depravado merecia.
─ Apenas... deixe-me cuidar dele, Sera. Você não o quer aqui? Bem.
Vou fazê-lo sair. Você deveria ir e se arrumar. A cerimônia começará em
breve, certo?
Sera inalou bruscamente, as sobrancelhas erguendo-se na testa.
Ela não esperava que eu fizesse uma oferta assim. Fazer uma piada de
mim matando o pai dela era uma coisa, mas aparentemente o conceito
de que eu poderia lidar com a situação de outra maneira não lhe ocorrera.
─ Você não pode, ─ ela sussurrou. ─ Eu não poderia pedir para
você fazer isso.
─ Por que não? ─ Eu sorri. ─ Não tornei sua vida infeliz desde que
nos conhecemos? Não te devo um favor ou dois?
A suspeita brilhou nos olhos de Sera, mas a tensão que a irradiava
dissipou-se um pouco. ─ Você acha que dizer ao meu pai para sair de
uma festa o absolverá da sua culpa, então tudo bem... vá em frente. Faça
ele sair. Mas…
─ Mas eu ainda sou uma merda, e você nunca vai confiar ou me
perdoar. Não se preocupe. Deixa comigo.
O sorriso dela estava trêmulo quando eu a deixei ali perto da janela.
Lafferty provavelmente já havia entrado no prédio a essa altura. O
manobrista imediatamente tirou o carro da parte de fora do hotel,
provavelmente para que ninguém visse o batedor quebrado, para que ele
estivesse livre para entrar e se sentir confortável. Só que, quando dei uma
volta no saguão, espremendo-me na multidão, entregando sorrisos de

DIRTY #1
CALLIE HART
lábios apertados para todos que tentavam dizer olá ou me parar, não
conseguia encontrar o pai de Sera em nenhum lugar.
Saí pela frente, procurando por ele, mas ele não estava em lugar
algum para ver.
Espere.
Lá.
À minha direita, camuflado nos arbustos ao lado da ampla entrada
de automóveis que levava ao hotel, vi os sapatos de couro marrons
arranhados do Lafferty. O cara quase se cagou, quando eu puxei um
galho grosso de folhagem, expondo-o. ─ Mas que porra, cara! Um cara
não pode dar uma mijada em paz por aqui?
Não havia nada da Sera nele. Pelo contrário, não havia nada dele
em Sera. Ela deve ter os olhos de sua mãe, o queixo de sua mãe e as
maçãs do rosto de sua mãe. O rosto de Sixsmith Lafferty era pouco mais
do que pele fina como papel envolvida em torno de um crânio esquelético.
Seus olhos eram castanhos, sem brilho e cruéis. As rugas profundas que
cobriam sua boca não tinham nada a ver com risos. Elas foram o
resultado de uma zombaria permanente que o homem parecia ter
aperfeiçoado e estava enviando em minha direção neste exato segundo.
─ Engraçado. Eu não sabia que você conseguia mijar e fumar um
cachimbo de crack ao mesmo tempo. Você é um homem de multitalentos
─ respondi.
Sixsmith deixou cair as mãos quando eu puxei o galho, mas não
rápido o suficiente. Eu tinha visto o cachimbo de vidro erguido em seus
lábios, e a onda de fumaça acre escapando por suas narinas agora era
bastante condenatória.
O escárnio de Sixsmith se aprofundou. ─ Você é policial?
─ Não.
─ Então isso não é da sua conta, não é? ─ Ele virou as costas para
mim, que foi seu primeiro erro. Havia uma vasta raiva dentro de mim.
Um lago disso. Não, mais que um lago. Havia um mar de raiva dentro de
mim, e a única coisa que o segurava era o alto muro da represa que eu
construí em minha mente. A represa era alta, era espessa e retinha

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minha raiva por anos. A barragem estava enfraquecendo a cada segundo
que eu passava na presença de Sixsmith Lafferty. Rachaduras estavam
se formando, profundas e irregulares, e eu não tinha ideia de quanto
tempo a parede iria ficar. Sixsmith colocou o cachimbo de vidro na boca,
segurando um isqueiro na ponta e depois puxou uma corrente de fumaça
branca e pura.
Ele não ouviu eu me aproximando. E ele não deu uma espiada
quando abri meu punho e o bati na base do crânio o mais forte que pude.
O pescoço de Sixsmith emitiu um som repugnante, e o cara amassou-se
nas folhas caídas como se suas pernas tivessem acabado de ser
arrancadas debaixo dele. Isso mesmo, idiota. Nocauteado.
Ele não estava morto. Eu poderia facilmente matá-lo com um soco
como esse se realmente quisesse. Tudo o que seria necessário era um
pouco mais de força e um pouco de determinação. Eu não queria o
Sixsmith morto, no entanto. Ainda não, pelo menos. Ele nem ficaria
paralisado quando acordasse de sua soneca momentânea. Ele teria uma
forte dor de cabeça, mas fora isso, ficaria bem.
Eu não tinha muito tempo. Havia pessoas em todas as janelas,
agora vestidas para o casamento com seus melhores ternos e vestidos.
Eu seria notado se eu arrastasse o corpo sem vida de Sixsmith através
do círculo de cascalho que se espalhava em frente à entrada do hotel. Eu
teria que arrastá-lo através das árvores, ao redor da lateral do prédio e
depois pelo monte de carros que estavam estacionados o mais próximo
possível do prédio. A partir daí, eu deveria estar seguro para me sentar
com Sixsmith e conversar um pouco com ele. Não demoraria muito.
Arrastar o corpo mole e sem resposta de Sixsmith até o carro,
estacionado no ponto mais distante possível do hotel, não foi nada
divertido. Sixsmith parecia não pesar nada, mas seus ossos deveriam ter
sido feitos de aço cirúrgico ou algo assim. Ele era um peso morto. Não fui
exatamente cuidadoso com ele enquanto o carregava em direção ao meu
destino; ele ficaria preto e azul em alguns dias e levaria uma semana
sólida para que a dor de cabeça desaparecesse.

DIRTY #1
CALLIE HART
Sixsmith não acordou quando eu o larguei ao lado de seu Chevy.
Ele também não acordou quando eu o chutei com a ponta da minha bota.
Foi preciso um golpe firme no rosto para despertá-lo, e quando ele
acordou, ele olhou para mim, as sobrancelhas arqueadas, a confusão
inundando-o.
─ Que porra é essa? Você me bateu?
─ Sim, eu bati em você. E se você não mantiver a língua na cabeça,
farei de novo, vadia.
Sixsmith fechou os olhos lentamente, um riso maníaco
borbulhando, ficando cada vez mais alto. ─ Você é um homem morto, ─
ele ofegou. ─ Eu vou te matar, porra. Este é o casamento da minha filha.
Sou um convidado aqui, seu merdinha.
─ Amy não convidou você. Amy não quer você aqui. Sera também
não.
Sixsmith parou de rir com a menção do nome de Sera. Ele adotou
um olhar vazio, atado com... desejo? Um calafrio percorreu minha
espinha. Era desejo. Não é um tipo de atração sexual, mas de domínio. ─
Sera está aqui também? ─ ele murmurou.
─ Você não vai ver nenhuma delas. Você vai entrar no seu carro e
ir embora. Agora mesmo.
─ Nem a pau que eu vou. Eu dirigi cinco horas para estar aqui para
essa coisa. Eu tenho todo o direito de ver minhas filhas. Quem é você
para me dizer para se foder, hein?
─ Sou o acompanhante de Sera.
─ Ha. O acompanhante dela? Não é o tipo habitual dela, eu tenho
que dizer. Ela normalmente gosta dos homens um pouco... mais velhos.
Eu me agachei na frente dele, apoiando os cotovelos nos joelhos,
entrelaçando os dedos. ─ Posso te perguntar uma coisa? ─ Eu disse
suavemente. Sixsmith apenas franziu a testa. Ele deve ter ficado abalado
pela mudança no meu tom de voz. ─ Você quer morrer? Porque estou
sentindo que você não se importa muito com sua vida.
─ Do que diabos você está falando? ─ Sixsmith estalou.

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CALLIE HART
─ Se você valoriza sua vida, ─ continuei, ─ então de uma boa olhada
para o meu rosto e pense bem antes de pronunciar o nome de Sera
novamente. Você nem pense nela. Você com certeza não fará outro
comentário depreciativo sobre a escolha dela em parceiros sexuais,
porque posso garantir que isso o levará a um lugar muito ruim. Você me
entende, idiota?
Deus, quanto eu adoraria esmagar seu rosto no concreto, até que
não restasse nada além de carne destroçada e pedaços de osso? A represa
dentro da minha cabeça havia desmoronado um pouco mais e minha ira
estava derramando adiante. Não havia nada que eu pudesse fazer sobre
isso agora. Era tarde demais para tentar ignorá-lo. Eu tinha que ser forte,
no entanto. Eu não tinha outra escolha. Se eu me perdesse e matasse
Sixsmith aqui, não haveria como escapar das consequências. Meu nome
estava no registro de hóspedes do hotel. Eu dei a eles uma cópia da minha
carteira de motorista para os registros deles. O lugar estava imerso no
charme do sul, e a hospitalidade passada ainda era uma preocupação
muito real aqui, mas eles não estavam operando na idade das trevas. Eu
notei pelo menos três câmeras no saguão, para não mencionar as duas
que eu espiei no corredor hoje de manhã a caminho do quarto.
Então eles tinham minha identificação. Eles me têm na câmera.
Eles sabiam como eu era e tinham muitas imagens para provar que eu
estive aqui hoje. Portanto, hoje não poderia ser o último dia em que
alguém viu o Sixsmith Lafferty.
─ Diga a elas para virem aqui e me fazer ir embora, ─ disse Sixsmith
sem fôlego. ─ Diga a elas... se elas vierem aqui e me disserem que não me
querem aqui, eu irei.
─ Isso não é uma negociação. Não estamos conversando aqui.
Estou lhe dizendo que você precisa sair. Você vai me ouvir e me fazer esse
favor, ou vai acabar sofrendo muito. Você que escolhe.
Os lábios de Sixsmith se abriram. Seus dentes estavam uma
bagunça. Ele cuspiu no chão ao lado dele, estremecendo quando se virou
lentamente e se ajoelhou, depois se levantou. ─ Qual o seu nome? ─ ele

DIRTY #1
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perguntou baixinho, atirando punhais em mim pelo canto do olho. ─ Se
você é tão fodão, não se importará de me dizer.
Merda. Eu sabia por que ele queria a informação. ─ Meu nome é
Fix. Mas você não encontrará nenhuma informação sobre mim quando
bisbilhotar na minha merda, velho.
Olhos estreitados. Humilhação e fúria fervendo em suas veias. ─ E
por que isso, Fix?
─ Porque sou inteligente. Não deixo migalhas de biscoito
espalhadas para idiotas como você. E vamos admitir. Você é um burro do
caralho. Esqueça a agulha. Você não consegue encontrar um pedaço de
feno no palheiro. ─ Sixsmith rosnou baixinho. Ele afastou o paletó azul
gasto e fez questão de me mostrar a faca de aparência perversa que ele
prendera ao cinto. Eu apenas dei de ombros. ─ Continue. Puxe para mim.
Veja o que acontece.
Ele não puxou. Ele inclinou a cabeça para trás, apertando sua
mandíbula, postulando, enquanto caminhava até o Chevy e entrava. Eu
recuei e o observei com os braços cruzados sobre o peito. Sixsmith estava
no carro e o motor estava ligado quando me lembrei de algo que deveria
fazer. Merda. Agarrei meu telefone celular, puxando-o do bolso, passando
a barra de ferramentas inferior e pressionando o ícone da câmera.
─ Ei, Sixsmith. Diga ‘Os mais procurados da América’.
Sixsmith se virou para mim, narinas dilatadas, bochechas
manchadas de vermelho, a testa marcada por suor. Tirei a foto dele e vi
como uma calma fria, mortal e plana o dominava. ─ Da próxima vez que
eu te ver, retornarei o favor, ─ disse ele. ─ Eu serei o único com a câmera
na minha mão. E você será o único deitado no chão, morto, com seu
próprio pau cortado na garganta.
─ Ai. Bastante visual. Duvido que eu pudesse levar meu próprio
pau na minha boca, no entanto. Eu sou um garoto grande. ─ Eu me
dobrei, apoiando, as mãos apoiadas nos joelhos, ao nível dos olhos com
ele agora. ─ Talvez você possa me dar algumas dicas. Aposto que você
ficou bom em engolir pênis quando estava trancado naquela unidade de
controle em Eddyville.

DIRTY #1
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─ Sera disse que eu estive preso em Kentucky? ─ ele perguntou,
ignorando minha farpa.
Eu apenas sorri para ele. Nós dois sabíamos que Sera não poderia
ter me dito que seu pai acabara de ser solto, depois de completar uma
sentença de quatro anos em Eddyville. Eles não tinham se comunicado
nos últimos nove anos e meio, então como ela poderia saber disso? Bati
a palma da mão no teto do carro de merda dele, depois dei-lhe um aceno
agressivo passivo. ─ Boa viagem de volta ao inferno, Sixsmith. Em breve,
visitarei você.

DIRTY #1
CALLIE HART
DEZESSETE
TOXICO

SERA

A cerimônia foi meio fodida. Amy caminhou pelo corredor até uma
música de David Bowie - Starman - que não tinha absolutamente nada a
ver com amor, compromisso ou a beleza de uma companhia eterna. Deve
ter sido algum tipo de piada particular entre ela e Ben, que foi atingida
por uma risada nervosa no momento em que o Padre Richards começou
o serviço. Uma das meninas da flor vomitou enquanto os noivos faziam
seus votos, e o avô de Ben, Jerry, que aparentemente escapara dos
nazistas em um carrinho de sujeira na França ocupada, no final da
Segunda Guerra Mundial, teve um enfarto, e todo mundo pensou que ele
estava prestes a morrer. Eu não estava contando a lista crescente de
desastres individuais que estavam manchando o dia de Amy, porque
nada disso importava. Sixsmith não estava aqui. E se o Sixsmith não
estivesse aqui, todo o resto seria perfeito, não importa o quê.
Como dama de honra, levantei-me com o horrível vestido pêssego
que Amy havia escolhido para mim e segurei o buquê de Amy para ela
quando Ben deslizou a aliança no seu dedo. O Padre Richards falou muito
sobre a santidade do casamento, a lealdade e a obediência por um longo
tempo, durante o qual examinei as pessoas sentadas nos bancos,
procurando Fix. Ele não estava lá.
Uma variedade de emoções passou a me confundir, quando o Padre
Richards disse a Ben que agora podia beijar a noiva. A preocupação veio
primeiro. Tudo correu bem com o Sixsmith? Meu pai atacou Fix ou algo
assim? Sixsmith era imprevisível e louco, totalmente capaz de se lançar
contra um cara com o dobro da altura e tamanho dele, se quisesse.
O aborrecimento veio a seguir. Fix insistiu em vir comigo para
Fairhope. Ele jurou de cima a baixo que não ia me deixar sair da vista
dele, e então... o que? Ele simplesmente desapareceu? Ótimo.
DIRTY #1
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A última emoção que me atingiu, quando finalmente vi o homem
em questão pela janela à minha direita, foi o desejo - a emoção mais
confusa de todas. Fix estava do lado de fora, encostado na parede do que
parecia uma pequena cabana de hóspedes, uma perna dobrada, a sola
da bota apoiada na parede e havia um cigarro na mão. Gavinhas de
fumaça serpenteavam de suas narinas, subindo ao redor de seu rosto, e
meu estômago se revirou.
O homem de preto. Eu só o vi usar preto. Isso tinha algo a ver com
os dias passados como Padre, afogando-se no cossaco, ou era apenas um
reflexo de quem ele era, desprovido de luz? Eu não queria saber sobre
ele. Foi tolice deixar minha mente vagar por um terreno tão traiçoeiro,
mas... eu não pude evitar. Fix havia feito algo que eu não conseguia
entender ou superar. Mas, novamente, ele manteve sua palavra e não me
machucou. Muito pelo contrário, realmente. Ele impediu que Sixsmith
destruísse o que deveria ser o dia mais feliz da vida de minha irmã.
Algumas pessoas na capela notaram Fix esperando do lado de fora
também. Eles murmuraram baixinho, sussurrando por trás das mãos
um para o outro, lançando olhares ameaçadores em sua direção. O que
eles viram quando o olharam? Um cara fumando um cigarro, vestido de
preto, vestindo jeans rasgados. Era óbvio; eles viram alguém que não
fazia parte da multidão. Ele não era banqueiro, nem advogado, nem
médico. O rosto dele não estava barbeado e o cabelo era um pouco longo
para satisfazer o gosto deles.
Eu também não era membro do grupinho deles. Eu vinha de uma
família de base, da classe trabalhadora, e a Amy também. Eles
negligenciaram nossa criação fraca porque éramos jovens, e éramos
bonitas o suficiente, e fizemos o possível para nos libertar da pobreza em
que nascemos. Isso nunca me pareceu certo, a forma que Ben tentara
mudar Amy. Tinha jogado fora o guarda-roupa velho e dito como ela era
bonita com as roupas que ele havia comprado para ela. Eu nunca
imaginei Amy usando um colar de pérolas quando fugimos de
Montmorenci e nos mudamos para Seattle. Ela gostava de ouvir os
Ramones e pintar o cabelo de preto. Ela gostava de andar em uma linha

DIRTY #1
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tênue entre loucura e sanidade - depois de escapar de Sixsmith, acho que
nós duas nos sentimos assim, - mas nos dias de hoje tudo o que
importava era melhorar sua classificação de crédito e garantir que
chegasse à cama às oito e meia .
Essas pessoas eram tóxicas.
Quando olhei para Fix através daquelas janelas, não sabia o que
via. Ele era um enigma. Quando me escondi naquela loja de carros e vi o
que ele havia feito, fiquei com medo. Eu queria fugir dele e nunca olhar
para trás. Mas... as coisas não estavam mais tão claras. Eu nunca seria
capaz de dizer que concordo com o que ele faz da vida, mas as fotos que
ele me mostrou da pobre garota que Franz torturou e abusou...
Eu ainda via essas imagens toda vez que fechava os olhos. Elas
ficariam queimadas em minhas retinas pelo resto da minha vida. E... e
quantas vezes, quando eu era mais jovem, eu desejava que alguém como
Fix aparecesse e acabasse com o Sixsmith de uma vez por todas? Se eu
tivesse o dinheiro naquela época, não contrataria alguém como Fix para
me proteger?
Fix jogou seu cigarro, e a bituca voou em um arco antes de atingir
o chão, soltando faíscas das cinzas. Eu não tinha notado que Amy e Ben
já tinham andado pelo corredor e estavam quase lá fora. Todo mundo
estava de pé, de costas para mim, saindo dos bancos, tentando se unir
em seus esforços para sair correndo primeiro. O padre Richards
pigarreou, acenando pela janela. ─ O pai de Felix também era padre,
sabia? ─ ele disse.
─ Realmente? Não achei que os padres pudessem se casar e ter
famílias? ─ O pai de Fix, obviamente, deve ter feito.
O padre Richards suspirou. ─ Bem. As coisas estão um pouco
relaxadas agora. Mas naquela época, no final dos anos 70, quando o pai
de Felix decidiu seguir seu chamado, ele já era casado com Louisa, e Felix
tinha... hmm. Dois anos, eu acho? Se você já era casado e queria se tornar
padre, muitas vezes eram feitas exceções. Se você era solteiro antes de
ser ordenado, no entanto, poderia esperar ser celibatário pelo resto da
vida.

DIRTY #1
CALLIE HART
─ Parece miserável.
─ Na verdade, eu diria que apreciei meu status de solteiro. Tem
sido bastante... pacífico. ─ O padre Richards sorriu tristemente, seus
olhos assumindo um olhar distante. ─ Eu ouvi sobre o que aconteceu na
igreja de Felix, ─ disse ele calmamente. ─ Foi uma coisa horrível. Quando
tais atrocidades terríveis são cometidas em nossas comunidades, nos
sentimos responsáveis. Somos protetores e padres e, quando um, do
nosso rebanho é ferido, sentimos a dor profundamente.
─ Eu não achava que Felix nos deixaria para sempre. Ele sempre
foi uma criança selvagem, mas... eu não sei. Talvez eu esteja errado.
Talvez eu esteja sendo egoísta. A igreja está cheia de velhos empoeirados
e rabugentos, tão cegos pelos anos de rotina e regulamentação que não
conseguem mais encontrar sua própria alegria. Suponho que esperava
que Felix voltasse para nós, porque... bem, ele era o que precisávamos.
Mais rebeldes para abalar nossas fundações.
O padre Richards me deixou ali parada, olhando pela janela,
imaginando do que diabos ele estava falando. Fix olhou de volta para
mim, as mãos nos bolsos, o rosto inundado de dor, como se soubesse o
que o padre Richards acabara de me dizer, e ele realmente ainda estava
debilitado por alguma dor desconhecida. Eu não conseguia desviar o
olhar. Fix foi quebrado e em ruinas. Ele era luz e ele era trevas. E, apesar
de todos os avisos em minha mente que diziam o contrário, eu não
conseguia abalar a sensação de que, embora soubesse que ele era o
perigo personificado... ele também poderia ser minha segurança também.

DIRTY #1
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DEZOITO
ESCÂNDALO

SERA

─ Você parece... ─ Fix deu um passo atrás, me examinando da


cabeça aos pés. Ele fez uma careta. ─ Eu não gosto da cor. Eu não gosto
do vestido. Porra. Eu não gosto disso. A única coisa de que gosto, é o fato
de parecer tão puro.
─ Por que isso é atraente? Você não pode ver através disso. ─ Ainda
assim, eu dobrei meus ombros, contornando-os, apenas no caso de eu
estar errada e meus seios estarem atualmente em exibição para todo
mundo ver.
─ Gosto do fato de ser tão fino, porque sei que você não está usando
calcinha. Haveria... linhas ou algo assim. Conseguiria ver sua calcinha e
não vejo calcinha. O que significa que sua boceta está completamente
nua sob essa coisa agora e está me deixando duro pra caralho.
Meu Senhor. Pelo menos ele era consistente. Ele não desistiu desde
que nos conhecemos, usando todas as oportunidades que pôde para
inserir uma insinuação ou um trocadilho sexual em nossas conversas.
Mas isso... isso foi um pouco mais direto. ─ Minha boceta não é da sua
conta, Fix. Não fale sobre isso. Nem pense nisso.
Ele me encontrou em nosso quarto de hotel, onde voltei brevemente
para conectar meu telefone celular. Fix era mais enxuto. Certeza,
qualquer coisa que ele pudesse usar para se encostar, seria usado. Agora,
ele estava encostado no armário da TV, com as mãos nos bolsos, me
observando enquanto eu vasculhava minha bolsa, procurando um
carregador.
─ Você não vai me perguntar? ─ ele disse.
─ Perguntar o que?
─ Como foi com seu pai.

DIRTY #1
CALLIE HART
Minhas mãos pararam dentro da minha bolsa. Eu sabia ao que ele
estava se referindo, mas mesmo a menção da existência do homem, me
causou palpitações no peito. ─ Ele foi embora? ─ Eu perguntei.
─ Sim.
─ Ele te machucou?
Fix bufou. ─ Por favor.
─ Você o machucou?
─ Uhhhh...
─ É tudo o que preciso saber. ─ Puxei o cabo da minha bolsa e o
pluguei na parede. ─ Deveríamos descer. Amy me quer nas fotos.
─ Eu vou me trocar. Eu tenho uma camisa que posso usar...
─ Não. Você não precisa se trocar.
Um pequeno sorriso divertido. ─ Você realmente não me quer
nessas fotos, hein?
─ Você sairá da minha vida em alguns dias, Fix. Por que eu iria
querer você nas fotos do casamento da minha irmã? Elas ficarão
penduradas na lareira chamativa dela, pelo resto da vida. Mas essa não
é a razão pela qual eu não quero que você se troque. Eu não quero que
você se troque, porque essas pessoas são todas idiotas, e eu não dou a
mínima para o que elas pensam. Amy não vai se importar com o que você
está vestindo. São apenas Ben e seus parentes esnobes, que podem
francamente se foder. Dane-se. ─ Eu estava fervendo desde a capela,
ficando cada vez mais furiosa com a interferência dos pais de Ben, quase
arruinando o dia de Amy convidando Sixsmith aqui. Eles eram esnobes,
miseráveis, depreciativos, filhos da mãe, e eu não ia me curvar para
causar uma boa impressão a eles. Eu amo Amy de todo o meu coração,
mas não mudaria por ela ou por mais ninguém.
Fix estava certo. O vestido que eu estava usando era horrível; Eu
parecia um maldito macaroon. Pegando algumas roupas limpas, fui para
o banheiro.
─ Não se tranque lá por minha causa, ─ Fix me chamou. ─ Eu juro
que não vou espiar.

DIRTY #1
CALLIE HART
─ Sim. Certo. De forma alguma eu vou me trocar na sua frente ─
respondi. ─ Além do mais, eu não estou usando calcinha. ─ Eu realmente
não estava. Ele estava completamente certo em sua suposição, e o
conhecimento de que ele se excitou com a ideia de mim, em nada mais
que essa monstruosidade de vestido, me afetou mais do que eu pensava.
Bati a porta do banheiro, arrancando o vestido por cima da cabeça e
tentei não ofegar de horror quando percebi o quão molhada eu estava
entre minhas pernas. Droga. Eu não estava pronta para me envolver em
uma atração com outro ser humano. Um ser humano normal, que tinha
um emprego estável, hobbies, era bom para sua família e amigos. Como
diabos eu me encontrei nessa situação, me tornando cada vez mais
atraída por um cara que nunca iria significar nada além de problemas
para mim? Fix pode não ser mais um padre, mas ele ainda estava de
posse da santa trindade: um sorriso matador; uma bunda que você
poderia fazer uma moeda quicar; e um conjunto de abdominais tão
perfeitamente definido que contemplá-los, faz você querer chorar.
Ele não era apenas um homem. Ele nem era deste planeta, no que
me dizia respeito. Ou ele era um alienígena, que caiu aqui de alguma
galáxia distante, onde todos eram incrivelmente atraentes, ou ele
realmente era um anjo que, tendo caído da graça e tombado do céu, agora
vivia entre nós, como um mero mortal, confundindo todos nós com sua
beleza surreal, hiper masculinidade, sobrenatural, e geralmente
causando caos e perturbação onde quer que ele fosse.
Se eu valorizasse minha sanidade, passaria por isso nos próximos
dias e ficaria longe dele. Não havia futuro para nós. Eu tinha que voltar
ao trabalho em Seattle, e Fix estava constantemente na estrada, pegando
trabalhos, fazendo coisas que faziam meu cabelo arrepiar. Eu percebi
uma coisa, quando o padre Richards estava falando comigo agora. Não
fiquei mais horrorizada com o que vi naquela loja de carros. Sim, eu
poderia ter ficado sem as imagens dentro da minha cabeça, mas... Franz
não estava doente. Ele não agiu devido a algum problema de saúde
mental que o levou a se comportar de maneira depravada e cruel. Ele era
apenas um pedaço de merda fodido que gostava de machucar pessoas.

DIRTY #1
CALLIE HART
Esse foi o fim disso. Franz nunca teria parado. Ele não teria mudado ou,
de repente, não iria mais querer estuprar e torturar garotas. Eu nunca
iria concordar com o que Fix havia feito, mas...
Ele estava certo.
Eu não tinha medo dele.
Não mais.
Coloquei meu próprio jeans rasgado, enfiei os pés dentro das botas
de cano curto, deslizei minha blusinha de alcinha preta de seda por cima
da cabeça e baguncei o cabelo, me livrando de todos os alfinetes e clipes
que a estilista havia enfiado lá. Olhando no espelho, me senti muito
melhor. Eu era eu de novo. Estranhamente, percebi que realmente
aprendi algo com o Fix. Ele estava longe de ser perfeito – tipo uma galáxia
longe de ser perfeito - mas era dono de si mesmo. Ele possuía suas ações.
Ele não se escondia. Estou me escondendo há tanto tempo, tentando ser
algo que não era, que mal me reconhecia mais.
Quanto tempo fazia desde que eu fui feliz? Quanto tempo se passou
desde que me senti confortável em minha própria pele?
Eu pisquei para a mulher olhando para mim no espelho do
banheiro e senti um pouco de pena dela. Ela foi enganada. Prometeram-
lhe, que ganhar muito dinheiro e conquistar clientes de alto nível,
enriqueceriam sua vida. Ela vendeu uma ideia - a ideia de felicidade - e
essa ideia não era algo que pudesse ser comprado ou falsificado até que
se concretizasse.
A felicidade era um subproduto para abraçar suas próprias falhas,
suas inseguranças e seus desejos. Eu não tinha certeza de como fazer
isso, mas parecia, contra todas as probabilidades, que Fix tinha.

******

Amy não disse uma palavra sobre minha mudança de roupa. Ela
provavelmente ficou tão aliviada que eu cuidei dos negócios do Sixsmith
que poderia ter ido à recepção do casamento usando um saco de batata
e ela não daria a mínima. Os outros membros da festa do casamento

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trocaram alguns olhares pontudos e sobrancelhas levantadas, no
entanto. Fiquei desconfortável por todos os três segundos, pensando em
subir as escadas e me vestir de novo, mas então vi Fix pegar uma taça de
champanhe de uma garçonete que passava e descer o líquido dourado
que borbulhava, e perdi meus nervos. Não importava o que mais alguém
pensava de mim. Com certeza, não importava o que mais alguém pensava
sobre Fix. Peguei minha própria taça de champanhe, bebi e dei um
sorriso para Fix.
─ Se temos que fazer isso, é melhor ficarmos bêbados, certo?
Ele não me deu seu sorriso lupino de sempre, mas pude ver o
deleite perverso por trás daqueles olhos azuis prateados dele. ─ Eu sabia
que você era quente pra caralho. Eu não sabia que você era divertida,
Sera.
─ Não se empolgue. ─ Peguei outro copo de um garçom baixo e
careca, que grunhiu para mim em desaprovação quando agradeci. ─ Eu
apenas uso álcool como muleta quando estou estressada ou nervosa.
─ Posso conseguir um Jack com gelo, por favor? Duplo? ─ Fix nem
olhou para o garçom. Ele permaneceu focado em mim, a ponta da língua
correndo ao longo de sua linha superior de dentes – ação de um homem
faminto. Porra, ele parecia estar morrendo de fome, e eu sabia que ele
não estava interessado nos aperitivos que flutuavam em bandejas. Ele
estava com fome de mim.
─ Por que você está se incomodando com isso? ─ Eu murmurei.
─ O que você quer dizer?
─ Por que você está se incomodando com isso? Você acreditou em
mim quando disse que manteria minha boca fechada sobre Franz. Você
acreditou. Então, por que se preocupar em me trazer até aqui? E por
que... por que se preocupar com o constante flerte? Você é atraente e
sabe disso. Você poderia ter qualquer mulher que chamar sua atenção.
Então, por que continuar tentando vencer minha resistência?
─ Você não acha que merece minha atenção? ─ Um músculo saltou
em sua mandíbula, e eu não conseguia parar de encará-lo. Eu tentei
evitar olhar para ele por muito tempo até recentemente. Se o fazia, me

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via paralisada por alguns pequenos detalhes dele - as três sardas fracas
sob sua mandíbula; os calos grandes e macios nas palmas das mãos, na
base de cada um dos dedos; o cabelo escuro e curto que se enrolava em
uma pequena espiral na base do pescoço dele - e eu não conseguia
desviar o olhar.
─ Não é sobre o que eu acho. É sobre o que você está pensando,
Fix. O que está motivando você neste momento? Porque eu tentei e não
consigo decifrar você. Nem um pouco.
Fix aceitou o copo que lhe foi oferecido pelo garçom, bebeu um
pouco do líquido âmbar escuro no fundo do copo, deu um passo em
minha direção e abaixou a cabeça. ─ Você está certa. Eu sei da minha
aparência. Eu usei minha aparência para tirar o que quisesse, sempre
que quisesse, por um longo tempo. Mas você está se desvalorizando, Anjo.
Você é linda pra caralho. Seu corpo é tão perturbador que eu não consigo
olhar para você sem me forçar a não olhar para seus seios. Eles são
perfeitos. Seus mamilos são... ─ seus olhos reviraram em sua cabeça. ─
Deus, eles são incríveis. Não consigo parar de pensar em lambê-los.
Provocando-os entre os dentes. Sua bunda é um maldito presente do céu.
Não importa o que você está vestindo. Jeans, uma saia, moletom... tanto
faz. Eu estou constantemente imaginando que estou atrás de você, entre
suas pernas, segurando você pelos quadris enquanto eu te pego por trás.
Ver sua bunda balançar enquanto eu estava transando com você foi uma
das coisas mais incríveis, eróticas e mais sexy que eu já vi.
─ Seus olhos estão cheios de fogo, ─ continuou ele. ─ Eles são
claros e comandantes. Toda vez que você vira essas coisas na minha
direção, parece que estou sendo arremessado ao chão. Pessoas normais
olham para mim. Eles veem a minha superfície, a atraente casca externa.
Eles nunca se aprofundam mais. Mas você... seus olhos sondam e eles
procuram. Parece real quando você olha para mim. Depois de trinta e
sete anos sendo admirado e cobiçado por causa da maneira como minha
genética pré-determinou como seriam meus traços, é refrescante ser
visto, Sera.

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─ Eu não sou idiota. Eu conheço você. Você não é superficial o
suficiente para ser conquistada por um cara bonito, com olhos esquisitos.
Estou atraído por você, porque você é corajosa. Sua coragem e espírito
queimam através de você, mesmo quando você está com medo. Você não
recua. Você estava com medo de ver seu pai hoje, mas não respondeu
correndo e se escondendo. Você me pediu uma arma, para poder ameaçar
aquele filho da puta. Não é assim que as pessoas normais reagem. Você
quer saber por que eu continuo dando em cima de você, mesmo sabendo
que você é inteligente demais para se apaixonar por mim? É porque acho
que você é corajosa e única em todo o mundo. Isso vale mais do que tudo
para mim. Acho você notável, Sera.
Meu corpo se virou contra mim e minhas mãos começaram a suar.
Eu esperava que ele... merda, não sabia o que esperava que ele dissesse.
Talvez me mostrasse uma frase depreciativa sobre como ele não era tão
bonito ou que ele nunca faria algo tão moralmente corrupto quanto usar
sua aparência para sua própria vantagem. Mas ele não fez isso. Nem
mesmo perto. Ele disse a verdade e disse várias coisas sobre minha
anatomia que fizeram minhas bochechas queimarem de vergonha. Ele
poderia realmente estar tão encantado com minha pura teimosia e com
a minha recusa em deixar meus medos me ultrapassarem? Eu poderia
realmente envolver minha cabeça nisso?
Fix deu outro passo em minha direção, curvando-se sobre mim,
curvando-se para que ele não se elevasse tanto sobre mim. ─ Há algo
mais... ─ ele sussurrou. ─ Mais uma razão pela qual sou tão viciado em
você, Sera Lafferty.
Ele poderia ter usado seus olhos para hipnotizar as pessoas. ─ O
que? ─ Eu disse sem fôlego.
─ Sua boceta, Sera. Sua boceta é magnífica pra caralho.
A um metro de distância, uma velha deixou cair o prato lateral que
estava segurando no chão, enviando uma porção de coquetel de camarão
voando em todas as direções. Ela ofegou, a mão pressionada contra o
peito com horror, a boca escancarada tão larga que seu queixo estava
quase descansando em seu peito voluptuoso. Ela ouviu o que Fix havia

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dito. É claro que sim, porque ele não abaixou a voz quando me contou o
quanto ele achava que minha boceta era magnífica. Ele levantou a voz,
de fato, a ponto de alguém dentro de um raio de três metros ouvir nossas
palavras com perfeita clareza.
Ele estava positivamente radiante de alegria enquanto continuava.
─ Sua boceta é a coisa mais bonita que eu já vi. Eu amo como você prova
quando está molhada. Eu amo enterrar meu rosto entre suas pernas e te
devorar. Eu amo como você é rosa e deliciosa pra caralho. Mal posso
esperar para deslizar minha língua dentro de você mais tarde. Eu vou te
foder com a minha língua até que eu quebre você. Você vai implorar pelo
meu pau quando eu terminar com você.
Todo mundo parou de falar. Todos. O silêncio reinou supremo
enquanto eu permanecia imóvel, atordoada, tentando compreender o que
acabara de acontecer. Ele estava…? Ele realmente acabou de...? Oh...
Meu... Deus.
─ Nunca ouvi nada tão vergonhoso em toda a minha vida, ─
murmurou a mulher que largou o prato. Ela fez exatamente como Fix fez,
levantando a voz, garantindo que ela pudesse ser ouvida.
Minha resposta imediata foi inclinar a cabeça e esconder minha
vergonha. Isso é o que eu teria feito há um mês. Porra, era o que eu teria
feito uma semana atrás. Mas quando vi o desafio nos olhos de Fix, eu
sabia muito bem que ele estava brincando comigo. Me emitindo um
desafio. Me desafiando a ser tão corajosa quanto ele acreditava que eu
era.
Ninguém se mexeu. Todo mundo ainda estava olhando. Ainda
horrorizado. Eu esperava que pelo menos uma pessoa tivesse começado
a rir, ignorando isso como uma piada, mas parecia que eu estava sem
sorte. Os bastardos julgadores estavam zombando de nós, desaprovando
e enojados.
Foda-se eles.
Joguei de volta o restante do meu champanhe e coloquei o copo na
mesa ao meu lado. ─ Obrigada Felix. Isso é incrivelmente doce. Eu sou
uma garota muito sortuda. O jeito que você come minha boceta me faz

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perder a cabeça. É um milagre que sou capaz de falar. Mas,
honestamente, tudo que quero fazer é amarrá-lo na cama e te foder com
meus peitos. Eu amo lubrificá-los e deslizar seu pau entre eles até você
gozar. É tão quente.
Uma garçonete entrou na sala, carregando mais uma bandeja cheia
de comida. Ela parou quando viu os olhares atordoados no rosto de todos.
Estendi a mão e peguei um mini kabob5, dando uma mordida nele.
Mastiguei algumas vezes e engoli. ─ Você não tem ideia de como isso me
deixa louca, usando as duas mãos no seu pau enorme, Felix. Você fica
tão duro. E quando eu mergulho e provoco a ponta com a língua...
Estendi o kabob para Felix, dando-lhe um sorriso triunfante. Eu
venci. Aceitei o desafio e venci-o. ─ Quer um pouco? ─ Eu perguntei.
Ele balançou a cabeça lentamente, uma energia sexual alta e
escura vibrando em seu corpo. Ele não precisava falar; Eu sabia que o
agradava jogando junto com o jogo dele. ─ Não, obrigado, Sera, ─ ele disse
calmamente. ─ A única comida com as mãos que eu quero comer hoje à
noite será sugada por isso ─ ele levantou a mão direita, balançando os
dedos ─ depois que eu fizer você gozar com eles.
─ Meu Deus! O que vocês acham que estão fazendo? ─ Um homem
alto, com óculos pequenos e redondos, empoleirado na ponta do nariz,
empurrou a multidão, jogando o guardanapo no carrinho da bebida.
Estranhamente, ele me lembrou Larry David. ─ Vocês dois estão doentes
ou algo assim? Este é um casamento católico, não uma... uma... noite de
pecado debochada em algum tipo de... um... clube de sexo!
Caí na gargalhada. Ele colocou uma inflexão tão estranha nas
palavras ‘clube de sexo'. Seu rosto ficou roxo e suas bochechas tremiam
com cada palavra que ele cuspia. Lembrei-me de quem ele era - o antigo
professor da faculdade de Ben - e o ridículo de toda a situação de repente

5 Kabob, são os nossos famosos espetinhos. Tem de frango, carne,


camarão, etc. Usam muito vegetais junto com as carnes.
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me pareceu histérico. Vários assobios escandalizados viajaram pela festa
de recepção, mas eu não me preocupei em procurar suas expressões de
indignação. Eu estava presa, rindo tanto que meu estômago estava
doendo, e não havia nada que eu pudesse fazer para me conter. Eu nunca
iria parar de rir.
Pelo menos, eu pensei que era o caso até...
─ QUEM FOI O FILHO DA PUTA QUE MIJOU NO MEU
LAMBOGHINI?!
Parei de rir, girando minha cabeça em direção à entrada do salão
de festas e, ali, mãos cerradas em punhos ao lado do corpo, cardigã
escorregando dos ombros, cabelos desarrumados e espetados em cinco
direções diferentes, estava Gareth Douvillier. Eu não o procurei durante
a cerimônia. Eu nem tinha pensado nele. Eu temi vê-lo aqui por semanas
e semanas e, ironicamente, esqueci tudo sobre ele. Ele estava fumegando,
seu corpo inteiro tremendo visivelmente, as pontas dos ouvidos brilhando
em vermelho. Arianna cambaleou até ele com saltos de dez centímetros,
murmurando, tentando acalmá-lo, mas Gareth a empurrou para longe,
rangendo os dentes. ─ Eu sei que foi você, seu idiota. Marcosa! Onde
diabos você está?!
Marcosa? Gareth estava acusando Fix de mijar em seu carro?
Gareth conheceu Fix? Eu não tinha ideia de quando isso aconteceu - Fix
não tinha falado nada sobre isso - mas claramente ele causou uma
impressão duradoura.
─ Você mijou no carro de Gareth? ─ Eu sussurrei, olhando Fix pelo
canto do olho.
─ Sim, ─ ele sussurrou de volta. ─ Eu meio que fiz. Talvez
devêssemos sair daqui.

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DEZENOVE
PROVOCAÇÃO

FIX

Meu telefone estava tocando. Eu estava correndo, então não tive


tempo de atender. Eu segurei a mão de Sera enquanto atravessávamos o
jardim atrás do hotel, respirando com dificuldade entre risadas e
tentando gritar um para o outro. ─ Você é louco, porra! ─ Sera gritou. ─
Porque você fez isso? Gareth é mais rico que Deus. Ele vai apresentar
queixa se você não se desculpar.
─ Eu não vou me desculpar para esse idiota. Ele merecia muito
pior, acredite em mim.
─ Por quê? O que ele fez?
Ah, merda. Eu decidi que não iria contar a ela o que Gareth havia
dito hoje de manhã. Eu ia guardar a coisa toda para mim. ─ Ele não foi
muito legal. Isso é tudo.
─ Fix. ─ Sera parou de correr e puxou a mão da minha. ─ O que
ele disse?
─ Ele disse algo sobre não te trair com Arianna. E que você tinha
muita bagagem.
─ E o que mais? Eu o conheço. Ele não teria parado por aí.
─ Ele disse que seu pai se meteu com você quando você era criança.
─ Uau. ─ As sobrancelhas de Sera se levantaram em uníssono. ─
Não cubra com açúcar, sim?
─ De que outra forma eu deveria dizer isso? ─ Eu encolhi os
ombros. ─ Você preferiria se eu abraçasse você? Acariciasse seu cabelo e
dançasse em torno disso, sussurrasse em seu ouvido até que eu
finalmente falasse? Sera, eu sinto muito... Ele disse que você e seu pai...
Bem... e eu não quero ofendê-la, mas... Está tudo bem, eu prometo... Este
é um espaço seguro, mas... Gareth disse que seu pai poderia... ─ Peguei

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meu maço de cigarros e acendi um. ─ Qual versão é melhor? ─ Eu
perguntei, segurando o cigarro entre os dentes enquanto deslizava o
maço no bolso de trás.
Sera estendeu a mão. ─ Me dê um desses.
─ Por quê? Você fuma de repente?
─ Apenas me dê um, idiota.
Dei a ela o cigarro que já acendi. Havia algo tão sexy em vê-la
colocar os lábios em volta do filtro. Altamente sexual. Sera exalou uma
nuvem de fumaça, fazendo uma careta para mim. ─ Justo. Você está
certo. Eu odiaria se você tentasse me mimar. Acho que não estou
acostumada a pessoas falando isso assim.
Eu não fiz a pergunta que estava queimando no fundo da minha
mente: o pai dela realmente fez isso? Se ela quisesse me dizer, ela me
contaria em seu próprio tempo. Sera realmente não ofereceu muito para
mim, e eu não era o único a esconder informações das pessoas, a menos
que elas estivessem dispostas a dar. Eu poderia culpar as horas gastas
sentadas em uma cabine confessional por isso. ─ Sou direto, lembre-se,
─ eu disse, estendendo meus dedos, gesticulando que queria o cigarro de
volta. Ela devolveu.
─ Sim. Eu nunca deveria me surpreender com nada que saia da
sua boca, deveria? Nada está fora dos limites. Nada é sagrado.
─ Isso não é verdade. Muitas coisas são sagradas.
─ Como minha boceta? ─ Ela arqueou uma sobrancelha e eu não
consegui me conter; Eu ri, soprando fumaça pelo meu nariz.
─ Sim. Sua boceta é muito sagrada para mim. Se você me deixasse
adorá-la um pouco mais, me faria um homem muito feliz.
─ Besteira. Você disse tudo isso só para o show lá atrás.
Agarrei sua mão e a guiei através de uma abertura em uma cerca
que parecia marcar o perímetro dos jardins do hotel. O sol ainda pairava
sobre o horizonte, a cerca de meia hora do pôr-do-sol, e lançava longos
dedos de luz dourada ardente sobre as ervas altas que se espalhavam
como um tapete grosso diante de nós. Um enorme carvalho vivo à nossa
direita era a única árvore por cerca de um quilometro; ao longe, a floresta

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que circundava o hotel avançava em direção ao céu - um tear de mil tipos
diferentes de folhas, variando de verdejante e brilhante jade de
primavera, a ricos flashes de esmeralda irlandesa profunda. Foi a
primeira vez que parei para admirar a beleza da natureza há muito, muito
tempo. O tipo de pessoa com quem eu lidava regularmente fazia o mundo
parecer um lugar escuro, corrupto e de merda. Eu não queria acreditar
em beleza, não queria vê-la por um longo tempo, porque fazia todas as
coisas desprezíveis e horríveis que aconteciam por aí a portas fechadas,
por ruas laterais mal iluminadas e sob a estrada de ferro, tornar tudo
ainda mais feio. Mas com Sera de pé ao meu lado, naquele momento, não
pude negar como a vista era de tirar o fôlego.
─ Eu não disse nada para um show, ─ eu disse a ela em voz baixa.
─ Tudo era verdade. Agora vou levá-la até aquela árvore, Sera, e vou fazer
você cavalgar na minha cara até você gozar na minha boca. Alguma
objeção?
─ Jesus. ─ Ela sacudiu o cigarro, deixando-o cair no chão, moendo
a ponta sob os calcanhares. ─ Você nunca vai parar, vai?
─ Não. Nunca. Você estava certa. Eu acreditei em você quando
disse que guardaria meus segredos. Eu sabia que estava condenado, que
não havia chance de irmos a lugar algum, mas estava curioso sobre você,
Sera Lafferty. Eu queria mais tempo com você. Foi uma merda e egoísta,
eu sei disso. Mas eu sou um cara egoísta e fodido. Você provavelmente já
descobriu isso. Então, não vou mais mantê-la refém. Você pode me deixar
te levar de volta para Seattle, e você pode deixar tudo isso aprofundar um
pouco. Ou você pode me dizer para me foder e eu vou embora agora. Esta
noite. Você nunca mais me verá. Tudo depende de você, Sera. Eu
cumprirei seus desejos. Mas... ─ Eu me virei, colocando seu queixo na
minha mão, levantando a cabeça para que ela estivesse olhando para
mim. Seu olhar era intenso, me despindo. ─ Eu ainda quero que você
monte na minha cara do caralho, ─ eu rosnei. ─ Preciso fazer você gozar
mais uma vez. Sei que você me quer tanto quanto eu quero você. Está te
comendo viva por dentro. Está consumindo você peça por peça. Sou seu
vício, assim como você é o meu. Eu sou tóxico para você. Eu sei disso. Se

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fosse um homem melhor, deixaria você ir. Mas não sou. Eu caí, me perdi,
conduzido por vingança e ódio. Farei o que puder para mantê-la comigo,
e isso inclui foder você até você não pensar direito.
Eu a esperei responder. Se ela desviasse o olhar de mim, saberia.
No momento em que ela suspirasse, cruzasse os braços ou se afastasse
de mim, ela já teria me dito o que queria. Mas ela não fez nada disso. Os
olhos dela estavam brilhantes e conflitantes. Se ela fosse outra pessoa,
eu a pegaria, e a levaria em meus braços e a carregaria até aquela árvore
e a foderia. Mas ela não era outra pessoa, no entanto. Ela era a mulher
com as feridas defensivas nas mãos. A linha recortada e profunda de
tecido cicatricial roxo ao longo de sua mandíbula. Ela era a mulher
guerreira com os dentes na armadura, suas batalhas ainda violentas, a
dor nos olhos, e eu não faria suposições com ela. Eu esperaria. Eu me
ajoelharia aos pés dela até que ela me dissesse que me queria e não me
mexeria nem um centímetro até lá, independentemente do quanto
quisesse reivindicá-la.
─ Você acabou de me dizer que nunca iria me mimar, ─ ela disse
suavemente. ─ Eu posso ver o que você está pensando. Eu não estou
quebrada. Eu não sou um pássaro com uma asa machucada. Eu tenho
um passado, e é complicado, e muitas vezes me visita nos meus sonhos,
mas ainda estou lutando, Fix. Então... se você me quer, tente me levar.
Vou chutar sua bunda se não quiser suas mãos em mim.
─ Seria muito mais fácil se você dissesse sim, ─ eu murmurei.
Ela inclinou a cabeça para um lado, seus lábios carnudos
curvando-se em um sorriso largo. ─ Descobrir por si mesmo não valeria
um chute em potencial para as bolas? ─ Ela era tão doce quando dizia
isso, mas eu podia ver nos olhos dela - ela me daria uma ajoelhada nas
bolas com certeza e não pensaria duas vezes sobre isso.
Minha resposta para sua pergunta foi derrubar minha boca na
dela. Eu não aguentava mais. O que quer que tenha acontecido, eu
precisava prová-la. Eu preciso sentir seus seios esmagados contra o meu
peito. Eu precisava da língua dela na minha boca e precisava que ela
emitisse esses gemidos desesperados quando deslizo minha mão dentro

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de seu jeans e esfrego meus dedos sobre seu clitóris em pequenos círculos
apertados.
Reunindo seus cabelos soltos e ondulados em minhas mãos, eu
enterrei meus dedos neles, gemendo. Sera congelou por um momento. O
tempo se estendeu, levando-me à loucura enquanto esperava para ver o
que ela faria. No momento em que ela tentasse me afastar, eu me
afastaria dela. Amarraria minhas próprias mãos nas costas apenas com
força de vontade e não tocaria mais nela. Eu estava pronto, disposto e
preparado para fazer isso. Mergulhando minha língua em sua boca, os
lábios de Sera se separaram um pouco mais e então...
Porra…
E então ela estava passando os braços em volta de mim, suas mãos
deslizando pelas minhas costas, unhas cavando minhas omoplatas
através da minha camiseta. Ela me beijou de volta, sua boca
pressionando contra a minha, o doce sabor dela enchendo meus
sentidos, e um fogo irrompeu dentro de mim, ardendo em minhas veias.
Eu fiz coisas estúpidas e bagunçadas quando adolescente. Eu fiz coisas
igualmente estúpidas e imprudentes depois que joguei minha gola de
padre e saí de St. Lucas, mas nada na minha vida me deixou tão alto
quanto Sera Lafferty. Ela era a luz que fluía em minhas veias. Ela era o
oxigênio nos meus pulmões. Ela era o combustível que disparava no meu
coração.
Eu só estava na presença dela por quarenta e oito horas, mas eu
sabia, desde a primeira vez que a vi...
Porra.
Era muito cedo para dizer a ela o quão vivo ela me fazia sentir,
então eu guardei as palavras que eu poderia ter dito a ela no meu peito,
abrigando-as lá, mantendo-as seguras. Chegaria um momento em que
eu poderia me separar delas, mas por enquanto eu a tiraria de si mesma.
Eu usava todas as partes de mim para fazê-la ganhar vida, e quando ela
terminasse de gritar a porra do meu nome, eu colocaria meu pau nela e
a faria fazer tudo de novo. Eu não ia me segurar agora. Eu não iria lidar
com ela com panos quentes.

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Foi mais difícil do que deveria ter sido tirar minha boca da dela e
apressá-la para o carvalho. O tronco da árvore era largo e grosso, largo
demais para três pessoas unirem as mãos e envolverem seus braços em
um círculo. Guiei Sera para que ela ficasse contra a árvore e depois
deslizei por seu corpo. Ela não se mexeu quando eu desabotoei o jeans e
o desci pelas suas pernas.
─ Deus, Fix! Alguém vai nos ver!
Eu olhei para o corpo dela, uma profunda necessidade animal me
queimando por dentro. ─ Você realmente se importa? ─ Eu perguntei. ─
Se esses bastardos nos virem, provavelmente será a coisa mais
emocionante que aconteceu com qualquer um deles em décadas.
─ Amy vai me matar, ─ ela gemeu, permitindo que sua cabeça se
encostasse também contra a árvore. Tirei as botas dela e joguei-as sobre
meus ombros na grama, uma de cada vez, depois tirei completamente o
jeans. Sua calcinha era de seda preta, elegante e sexy. De cada lado, pelos
quadris dela, prendi meus dedos sob o material puro e elegante, e
lentamente os deslizei por suas pernas longas, tonificadas e bonitas.
─ Porra. Sera... se eu tivesse te conhecido há cinco anos... merda.
─ Você era... ainda um padre, ─ ela ofegou.
─ Eu era. E eu teria quebrado todos os votos que fiz por você. Eu
teria deixado de lado todas as crenças que tinha. Eu teria abandonado
meu chamado e corrido com você o máximo que podia, e nunca teria
olhado para trás. Nem uma vez. Você seria o divisor de águas.
Sera separou as pernas. Ela não era mais uma gatinha tímida. Ela
cresceu corajosa; ela era uma leoa agora, dando exigências, e eu adorava
isso. Sua vagina era lisa, uma tira fina de pelos. Eu também amei isso.
Uma boceta raspada era uma das minhas maiores excitações, mas não
completamente sem pelos. Isso parecia errado, como se eu estivesse
dormindo com uma criança pré-adolescente e que eu ia ser preso por
estupro. Sera era toda mulher, no entanto. Ela não era perfeita. Sua pele
tinha cicatrizes. Muitas delas. Algumas eram profundas e outras
superficiais - meras sugestões para uma história que me intrigou e
entristeceu. Em seu estado falho, ela era perfeita, no entanto. Eu não

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queria uma princesa que passava duas horas todos os dias enrolando o
cabelo e tinha medo de um pouco de sujeira sob as unhas. Eu queria
uma mulher que não tivesse medo de lutar pelo que queria. Eu queria
uma mulher grosseira, que não congelasse caso se sentisse ameaçada.
Eu queria força, e queria fogo, e paixão, e Sera possuía todos os três de
sobra.
Mergulhando minha cabeça, passei minha língua sobre sua boceta
nua, e Sera estremeceu. Sua respiração estava acelerada a cada segundo.
Ela era doce e lisa, e no momento em que a provei, quis desabotoar minha
própria calça e começar a apalpar meu pau, mas minhas calças
continuaram abotoadas. Não impedi meu pau de se esforçar contra o
jeans, exigindo uma saída. Queria ser espremido e sugado. Ele queria ser
empurrado pela garganta de Sera, e me segurar me custaria. Puta merda,
calma garoto. Eu reprimi um gemido frustrado, trabalhando minha
mágica no clitóris de Sera, saboreando como ela estava molhada e como
ela estremecia toda vez que eu a sacudia com a ponta da minha língua.
Sua respiração era rápida e irregular. Música para os meus
ouvidos. Significava que eu estava fazendo o meu trabalho direito, e ela
estava começando a relaxar. Seus quadris balançaram para a frente, as
pernas se abrindo ainda mais, me dando maior acesso a ela, e eu perdi
minha cabeça.
Envolvendo meus braços em volta dela, agarrei sua bunda por trás
e a puxei para mim. Sua vagina era minha. Cada centímetro dela era
minha. Eu queria inalar e consumir todas as partes dela, até que ela não
entendesse o que era real e o que não era mais.
Sera ofegou, enrolando os dedos nos meus cabelos.
Sim.
Porra, sim.
Tão. Gostosa. Pra Caralho.
Quando ela começou a puxar e puxar meu cabelo, eu quase a
levantei e a joguei na grama, para que então eu pudesse me empurrar
dentro dela.

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Garotas inocentes eram todas muito boas. Às vezes, dominar uma
mulher na cama era ótimo, e era a única maneira que eu podia gozar,
mas não com Sera. Eu não queria dominá-la. Eu queria ser igual a ela.
Eu queria que ela me dissesse o que ela queria. Quando ela apertou mais
meu cabelo, balançando os quadris contra a minha boca, eu peguei a
dica: ela queria mais.
Então, eu dei mais a ela.
Eu dei a ela minha língua dentro de sua vagina. Lambi e lavei-a
habilmente, e não parei quando ela começou a tremer com o início de um
orgasmo. Eu dei a ela meus dedos, bombeando-os dentro dela,
provocando seu ponto G enquanto chupava gentilmente seu clitóris, e
quando seus joelhos dobraram por baixo dela e ela não podia mais ficar
de pé, dei três segundos para se recuperar, antes de deitá-la e começar
tudo de novo.
─ Jesus, Fix! Oh meu Deus! ─ As pálpebras dela tremeram como
loucas quando ela se balançou contra o meu rosto. ─ Você... você vai me
fazer gozar, ─ ela ofegou.
Eu estava pronto para ela gozar? Não. De jeito nenhum. No
momento em que ela estava quase chegando lá, seus dedos arranhando
minhas costas, arranhando o material da minha camiseta, eu parei.
─ Oh meu Deus, ─ Sera assobiou. Suas costas estavam arqueadas,
a cabeça inclinada para trás, seus seios contra a camisa do ACDC que
ela estava vestindo - facilmente a coisa mais excitante que eu já vi. Eu
rondava o comprimento do corpo dela lentamente, apreciando a vista
enquanto ela se contorcia debaixo de mim. Meu pau estava latejando nas
minhas calças, quase doloroso agora. Estava tão duro, porra. Sera não
saberia o que diabos a atingiu quando eu finalmente me liberasse nela.
─ Abra seus olhos, ─ eu ordenei. Usando minha mão direita, eu a
segurei levemente na base da garganta - eu não cortaria o suprimento de
ar. Isso seria estúpido, considerando que ela provavelmente foi vítima de
abuso, então eu apenas coloquei minha mão lá, esperando que ela
respondesse. Ela obedeceu ao meu comando, suas pálpebras se abriram

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para revelar aqueles olhos quentes e profundos com os quais me tornei
tão apaixonado.
─ Provocador, ─ ela sussurrou. Seus lábios estavam carnudos e
inchados, um vermelho mais escuro e mais sensual que o normal. Peguei
seu lábio inferior entre os dentes e puxei, puxando-o apenas o suficiente
para que a pressão doesse um pouco.
─ Eu nem lhe mostrei o significado da palavra. Eu irei, porém, Sera.
Você não precisa se preocupar com isso. Vou levá-la à loucura. Primeiro,
preciso de você nua. Eu preciso da sua pele na minha pele, e preciso
disso agora. ─ Peguei a barra da blusa dela, puxando-a por cima da
cabeça dela. O sutiã dela - bonito, com renda e também preto - foi o
próximo.
No momento em que seus seios nus foram expostos, saltando
quando eu tirei suas roupas, todo o senso comum desapareceu. Meus
ouvidos começaram a zumbir, estridente como tinidos. ─ Jesus... porra...
Sera.
Mesmo deitada de costas, seus seios estavam arrojados e cheios, a
pele pálida e cremosa, como porcelana fina. Minhas mãos doíam,
literalmente - a perspectiva de não os tocar era tão traumática que minha
pele zumbia com antecipação. Colocando-os nas duas mãos, tive que
respirar profundamente por um segundo. Controle. Eu precisava de
controle. Porra, nenhuma quantidade de força de vontade no mundo iria
me segurar agora.
─ Eu vou ficar nu agora, Sera, ─ eu cerrei os dentes. ─ Farei todas
as coisas que tenho fantasiado em fazer com você, e juro por tudo que é
mais sagrado, que você vai gostar. Você vai gozar por todo o meu pau.
Você vai tremer e gemer, e sua cabeça vai girar, e eu vou adorá-la. Você
está pronta?
Ela tremia, como se seu mundo inteiro já estivesse tremendo, sendo
virada de cabeça para baixo, mas seus olhos estavam claros quando ela
encontrou meu olhar e disse: ─ Sim, Fix. Estou pronta para você.

*****

DIRTY #1
CALLIE HART
SERA

Eu nunca estive tão molhada em toda a minha vida. Em todo lugar


que Fix me tocava, seus dedos e sua boca deixavam um rastro de fogo.
Desisti de me lembrar de como isso era estúpido e sucumbi à
inevitabilidade. Foi o que aconteceu, desde o início: inevitável. A atração
entre Fix e eu era selvagem e confusa. Eu nunca iria entender por que eu
não conseguia me livrar dessa necessidade por ele, então... qual era o
sentido de tentar? Eu sabia há algum tempo que ia voltar aqui com ele,
entrelaçada com ele, me perdendo nele novamente, e parecia divino. Eu
me rendi a ele, e o alívio que senti quando o fiz foi monumental.
─ Sim, Fix. Estou pronta para você. ─ Eu respirei as palavras, e
percebi que eu não quis dizer apenas agora, aqui, nua neste campo. Eu
quis dizer que estava pronta para ele. Todo ele. Sua língua perversa. Seus
olhos da cor de mercúrio. O seu passado sombrio. Ele era a caixa de
Pandora, e eu sabia que abri-la era uma má ideia. Eu queria saber seus
segredos, no entanto. Eu queria aprender tudo sobre ele. Eu estava
disposta a aceitar o risco, de que conhecê-lo adequadamente, seria
implacável.
Que tipo de pessoa fazia um balanço sobre uma pessoa como Fix,
e decidia que a queria em sua vida? Quem eu estava me tornando? Eu
não sabia mais, e isso me assustou. Tudo que eu sabia era que Fix
despertou desejos tão poderosos e exigentes dentro de mim, e eu estava
impotente para combatê-los. Éramos uma catástrofe prestes a acontecer,
e eu estava entrando nela com os olhos abertos. Para o inferno com as
consequências.
Fix estava pairando sobre mim, me separando com uma perita
intensidade. Os músculos de seus ombros e braços se tensionaram
quando ele se balançou para trás, sentando-se primeiro nos calcanhares
e depois se levantando. ─ Olhe para mim, ─ ele ordenou. ─ Olhe para o
meu corpo. Olha o quanto eu quero você, Sera. ─ Sua camiseta saiu
primeiro, seguida rapidamente por seus sapatos, meias e jeans. Ele não
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precisou remover a cueca, porque não estava usando nenhuma. Seu
pênis saltou livre, e eu fiz como me foi dito - eu testemunhei o quanto Fix
queria estar dentro de mim. Ele era sólido e inchado. Malditamente
magnífico. Merda.
Merda, merda, merda!
Eu realmente devo ter bebido muito na outra noite no motel; a
tequila ao redor do meu sistema deve ter entorpecido minha reação
quando vi o pau de Fix pela primeira vez, mas agora eu estava com a
cabeça clara e minha resposta imediata foi fechar as pernas. Ele era
enorme demais. Não apenas no comprimento, mas também no perímetro.
Os pênis não eram atraentes para mim de uma maneira estética, mas Fix
era meio surpreendente. Se ele colocar essa coisa dentro de mim...
Se ele fosse duro comigo, ele me dividiria em duas.
─ Não pareça tão assustada, ─ Fix murmurou. Ele pegou seu pau
na mão, apertando a base, mas não moveu o punho para cima e para
baixo no comprimento. ─ Eu sei o que estou fazendo. Fiz você se sentir
incrível da última vez, não foi?
Engolindo, assenti. ─ Sim. Mas... porra, Fix...
Um sorriso ruinoso e miserável transformou seu rosto. Deus, ele
era tão sexy quando obviamente tinha pensamentos sórdidos. ─ Porra, é
certo, ─ disse ele. ─ Não se mexa. Não respire. Apenas ajoelhe-se e abra
sua maldita boca.
Minha boceta apertou, uma onda inacreditável de prazer, leve como
uma pluma, patinando pela minha espinha. Eu nem sabia que meu corpo
poderia reagir assim a meras palavras. Parecia que a boca suja de Fix
tinha um jeito de persuadir a escuridão em mim. Fiquei de joelhos, meu
coração pulando por todo o lugar como uma agulha saltando sobre um
disco quebrado. Seu pênis iria entrar na minha boca. Ele me levou à beira
da distração com a língua e agora era minha vez de retribuir o favor. Mais
do que tudo, eu queria fazê-lo se sentir bem. Eu queria fazê-lo tremer e
se arrepiar, e fazê-lo cair de joelhos.
Eu faria isso. Eu o faria suar.

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Abri minha boca e Fix juntou meu cabelo, passando-o por cima do
ombro. Ele segurou meu rosto na mão, acariciando a ponta do polegar
sobre a linha da minha bochecha. ─ Você é minha, porra, ─ ele gemeu. ─
Você não precisa mais se preocupar. Você está segura. Não deixarei
ninguém te machucar. Porra, vou arrancar a pele de quem tentar colocar
um dedo em você.
Não fazia sentido, mas suas palavras me fizeram sentir segura.
Protegida. Aliviada. Porra, quanto tempo eu senti que ainda estava
fugindo de alguma coisa? Deixei o Sixsmith pela minha visão traseira há
quase uma década, mas sempre havia uma nuvem negra ameaçadora
pairando sobre mim. Fix soprou aquela nuvem diretamente do céu.
Ele apertou seu pau, sua mão deslizando para a base do meu
pescoço, guiando minha cabeça para frente. Fechei minha boca ao redor
do final de seu pênis, soprando profundamente pelo nariz e deslizei-o
para dentro...
─ Puta merda!
Olhando para cima, vi a cabeça de Fix recuar, cada músculo em
seu peito, estômago, braços e pescoço tensos. Ele era indescritível. Eu
só... eu não conseguia encontrar as palavras para fazer justiça a ele. Seu
corpo era musculoso, não havia um pedaço de gordura nele. Eu não
conseguia tirar os olhos dele.
Eu provoquei minha língua ao redor da cabeça de seu pau,
chupando, deslizando-o cada vez mais na minha boca, e Fix soltou um
profundo, agonizado, ruído. ─ Sera... Sera, merda! Sua boca... Porra!
Eu tive a minha cota de me contorcer e xingar sob os comandos de
Fix, então ouvi-lo fazer o mesmo era gratificante. Ele se abaixou,
apalpando um dos meus seios, rolando meu mamilo, apertando-o com
força suficiente para me fazer choramingar, e minha reação pareceu
mandá-lo para os portões da loucura.
─ Porra! Abra sua boca, Sera. Pegue tudo isso. Leve-me fundo.
Quero sentir o fundo da sua garganta enquanto fodo sua boca.
Eu mal podia respirar quando ele deslizou mais além dos meus
lábios. Suas mãos estavam nos meus cabelos, puxando, não com força

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suficiente para causar dor, mas com força suficiente para me deixar saber
que ele estava no comando agora. Fechei meus olhos, envolvendo minha
mão em torno dele, aplicando pressão na base de seu pênis, também, e
Fix rugiu. O som ecoou pelo campo, assustando pássaros de suas árvores
na floresta distante.
─ Fique de costas, ─ ordenou Fix. ─ Abra suas pernas para mim.
Mostre-me sua boceta. Mostre-me sua bunda. Eu quero ver tudo. Ele
retirou seu pênis da minha boca e, quando olhei para cima, vi que o
mercúrio derretido de seus olhos tinha endurecido em aço com arestas
afiadas. Ele já estava imaginando como seria me foder. Não havia dúvida
nele, ou o quanto ele precisava de mim, mas quando eu afundei de volta
na grama, abrindo minhas pernas para ele exatamente como ele havia
me dito, ele não caiu em cima de mim e me penetrou imediatamente. Ele
sentou-se, as mãos ao lado do corpo, o peito arfando, seu pênis ainda
molhado e brilhando com a minha saliva, olhando para mim com um
nível de apreciação que me fez querer correr e me esconder.
─ Você não é real, ─ ele sussurrou. ─ Você não pode ser.
─ Eu sou tão real quanto você, ─ respondi sem fôlego.
Fix engoliu a saliva. Cuidadosamente, ele estendeu a mão,
acariciando seus dedos sobre minha boceta, deslizando seu indicador e
seu dedo médio dentro de mim. ─ Se for esse o caso, tudo bem. Nenhum
de nós é real. Vamos fazer de conta juntos.
Ele colocou os dedos dentro de mim, lentamente a princípio,
enquanto se posicionava sobre mim, apoiando-se em apenas uma mão.
Sua boca estava na minha, seus cabelos escuros caindo no meu rosto
quando ele me beijou, me reivindicando com sua língua, sondando e
explorando. Ele acelerou o passo, então, trabalhando os dedos mais
rapidamente, grunhindo quando eu resisti e arqueei contra ele.
─ Você vai gozar nos meus dedos, Sera? ─ ele rosnou nos meus
ouvidos.
─ Ahh! Merda! Sim! Sim, eu vou!
Minha visão ficou branca. Completamente e totalmente branca, o
que era estranho desde que eu tinha meus olhos fechados. Os músculos

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das minhas panturrilhas se contraíram quando meu clímax me
atravessou como um trem de carga descontrolado.
─ Sim. Sim, é isso. ─ Fix me segurou, beijando meu pescoço, minha
clavícula, meu ombro... Ele me beijou em todos os lugares quando eu
gozei, ainda empurrando seus dedos dentro de mim, até que finalmente
caí no chão.
Eu estava mole quando Fix se sentou, passando um dedo pelo meu
corpo, entre os meus seios, entre as minhas pernas, fazendo minha pele
se arrepiar.
─ Eu quis dizer isso, Anjo, ─ disse ele lentamente, sua voz grossa
de luxúria. ─ A única comida com a mão que eu queria hoje... ─ Oh,
Deus. Eu ofereci a ele um pedaço daquele espetinho estúpido de volta ao
salão de baile, e ele fez um comentário sobre lamber os dedos depois que
eu gozasse. Eu não consegui encontrar minha voz rápido o suficiente
para objetar quando Fix deslizou os dedos em sua boca, chupando-os.
Oh... Meu... Deus…
Ele era tão gostoso que eu não aguentava mais. ─ Por favor... Fix,
por favor. Preciso que você me foda. Quero sentir você dentro de mim. Eu
quero seu pau. ─ Eu nunca pedi a ninguém antes. Com certeza não
implorei a ninguém por seu pau, mas Fix teve um efeito estranho,
profundo e irrefutável em mim; eu fiz isso sem pensar.
Uma risada impiedosa e consciente brincou no meu ouvido; Fix
afastou minhas pernas novamente, afundando entre elas. ─ Segure-se
em mim, então, ─ ele sussurrou. ─ Não me solte. Estou prestes a dar o
que você precisa.
E ele fez. Ofeguei quando ele meteu em mim, cavando meus dedos
em suas costas. Eu não conseguia gritar. Eu nem conseguia respirar. Por
um segundo, tudo que pude fazer foi ficar absolutamente imóvel,
enquanto Felix Marcosa empurrava seu pênis dentro de mim. Estava tão
cheia. Seu corpo, muito maior que o meu, me envolveu e eu estava
perdida. Com os braços em volta de mim, sua boca pressionando a
minha, minha respiração se misturando à dele, quente e insistente, eu
deixei de existir. Eu me quebrei, até o que parecia um nível molecular,

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pronta para ficar à deriva, com a leve brisa que acariciava nossos corpos
nus.
Isso era tão diferente do quarto de motel em Liberty Fields. Era
muito mais. Ainda havia muito para aprendermos um com o outro, mas
isso parecia honesto. Cru. Perfeito. Eu me agarrei a Fix enquanto ele me
fodia, e eu derreti nele. Seu pênis ficou cada vez mais duro cada vez que
ele balançava seus quadris, se afundando profundamente dentro de mim,
e logo eu estava me afogando nele, meus sentidos sobrecarregados, meu
coração disparando para longe de mim, minha cabeça girando em seu
eixo.
─ Fix, eu vou... Oh Deus…
─ Faça, ─ ele rosnou. ─ Eu quero sentir isso percorrendo seu corpo.
Eu quero sentir sua boceta apertar em volta do meu pau, enquanto isso
leva você. Goza pra mim, Sera. Goza agora.
Eu não precisava de um segundo convite. O orgasmo foi uma
explosão; saiu dentro da minha cabeça e entre as pernas ao mesmo
tempo. Eu agarrei os ombros de Fix, desesperada para me aproximar dele
quando uma onda incompreensível de puro êxtase varreu todas as
células do meu corpo. ─ Porra! Oh, porra!
Fix enterrou o rosto na dobra do meu pescoço, gemendo
profundamente, lutando com a respiração enquanto ele se batia em mim,
uma e outra vez. Ele gozou tão duro quanto eu.
E quando ele gozou, o som de seu grito selvagem ecoou tão alto que
até as estrelas, pequenos pontinhos de luz tremeluzentes, que
começaram a aparecer no céu escuro acima, pareciam tremer.

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VINTE
ATO CRIMINOSO EM TERCEIRO GRAU

SERA

Era inexplicável, realmente. Eu tenho medo deste casamento há


meses e, no entanto, através de uma série de eventos estranhos, fodidos
e muito perturbadores, acabei realmente gostando de alguns deles.
Gareth ainda estava rondando pelo saguão, procurando por Fix,
quando voltamos ao hotel. Entramos por uma porta lateral aberta, na
esperança de evitar a recepção, que ainda estava em pleno andamento,
se é que você podia chamar uma conversa maçante e uma música
clássica silenciosa como pleno andamento. Gareth nos viu, apontando
diretamente para nós, o dedo indicador já estendido de maneira muito
acusatória, a boca puxada para os cantos em uma careta furiosa.
Andamos rapidamente na direção da escada, mas ele nos
interceptou, cortando-nos na passagem. ─ Você tem alguma ideia de que
tipo de penalidade a destruição intencional de propriedades acarreta
neste estado, imbecil? ─ ele retrucou a Fix.
Fix sorriu para ele. ─ Não. Não ligo.
─ É classificado como ato criminal em terceiro grau, seu filho da
puta.
─ Parece assustador.
─ Você vai para a prisão por pelo menos seis meses! ─ Gareth
cuspiu as palavras, uma veia gigante latejando em seu pescoço, seu rosto
um tom assustador de vermelho, e eu não pude conter a onda de riso que
explodiu em minha boca.
─ Você tem alguma prova de que Fix mijou no seu carro, Gareth?
─ Eu não preciso de provas. O bastardo não negou!
Eu me virei para Fix. ─ Felix, você urinou no veículo deste belo
cavalheiro?
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─ Eu? Senhor, não. Eu nunca faria uma coisa dessas.
De alguma forma, nós dois adotamos sotaques britânicos, o que
não fazia absolutamente nenhum sentido e só tornava mais difícil manter
a cara séria.
─ Você acha isso engraçado? Você vai se arrepender de foder
comigo, Marcosa. Eu prometo a você isso. E você! ─ Gareth enfiou o dedo
indicador no meu ombro. ─ Você é louca, porra. Não deveria me
surpreender que você traga um cara como esse para o casamento de Amy.
Você está bem danificada. Eu me esquivei de uma bala de merda quando
eu... ─ Ele estava se movendo para me cutucar com o dedo novamente,
mas Fix se moveu como um raio, agarrando seu dedo, pisando entre nós.
─ Devo deixá-lo pedir desculpas? ─ Fix disse. Sua voz estava
mergulhada em raiva, tão profunda que fez meu coração gaguejar.
─ Gareth nunca foi muito bom em desculpas, — eu disse
suavemente. Era a verdade. Mesmo depois que eu entrei e peguei ele
transando com aquela loira em seu escritório, ele nunca disse que estava
arrependido. Ele me culpou por não prender sua atenção. Ele disse que
era minha culpa por não fazer um esforço para ser mais interessante.
─ Entendi. ─ A mão de Fix estalou de volta num piscar de olhos, e
outra coisa estalou junto com ela...
O dedo de Gareth.
Seu uivo atravessou o saguão do hotel, mas ninguém veio correndo
para descobrir o que estava errado. Nem mesmo Arianna. ─ Se você a
tocar novamente, eu não vou apenas quebrar seus dedos restantes. Vou
quebrar a porra do seu pau em dois e vou dar para os cachorros. Agora
desapareça.
A raiva de Gareth brilhou em seus olhos como raios duplos de puro
ódio. ─ Você vai...
Fix deu outro passo à frente e Gareth calou a boca. Ele segurou a
mão no peito, segurando-o, recuando. Ele se virou e voltou para a
recepção do casamento, gritando por Arianna no topo de seus pulmões,
e eu o observei ir sem o menor lampejo de remorso. Fix não teria feito
nada se eu pedisse para ele se afastar, mas a humilhação e o embaraço

DIRTY #1
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que Gareth me deixou passar no ano passado, sem mencionar a dor no
coração...
Eu pensei que o amava. Eu pensei que ele e eu ficaríamos juntos
para sempre. Estremeci com esse pensamento, agradecendo às minhas
estrelas da sorte. O que quer que Gareth tenha dito, fui eu quem
realmente me esquivou da bala. ─ É melhor darmos o fora daqui, ─ eu
disse. ─ Amy provavelmente está bêbada agora. Mas não quero que ela
tente me matar da próxima vez que a vir.
─ Eu ainda nem a conheci ─ pensou Fix.
─ Você pode ir ao segundo casamento dela em alguns anos, ─ eu
disse a ele. ─ Este está fadado ao fracasso. ─ Eu tentei subir as escadas,
mas Fix me segurou pelo pulso. Ele pressionou algo na minha mão: um
bilhete de estacionamento amarelo amassado.
─ Por que você não entrega isso ao manobrista e pede que ele pegue
a caminhonete? Eu posso pegar nossas malas e estar aqui em alguns
minutos.
─ Certo. ─ Eu já tinha arrumado minhas coisas na minha mala
hoje de manhã, então não havia nada que ele tivesse que arrumar para
mim. Fix subiu as escadas três degraus de cada vez, desaparecendo ao
redor da escadaria. Momentos depois, eu estava sentada no banco do
passageiro da caminhonete de Fix, lutando com minha consciência. Eu
não poderia sair sem dizer nada para Amy. Ela ficaria magoada. Pior, ela
ficaria com raiva, o que era compreensível, pois Fix e eu tínhamos afligido
vários convidados de seu casamento com nossa conversa profana, Fix
tinha potencialmente arruinado algum interior de carro de couro,
havíamos desaparecido para foder em um campo, e então Fix quebrou o
dedo de alguém.
Quando pensei nisso, Amy ficaria furiosa, não importa o quê. Mas
se eu nem deixasse um bilhete ou algo assim antes de sair? Deus, ela me
esfolaria viva. Eu precisava de caneta e papel. Eu poderia voltar para o
saguão, mas então arriscava ver Gareth novamente, e não era com isso
que eu queria lidar. Fix provavelmente tinha algo em que eu pudesse
escrever. Havia algum papel aqui em algum lugar. Tentei o porta-luvas,

DIRTY #1
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esperando que estivesse trancado, mas a gaveta caiu e fui recompensada
com uma infinidade de papéis e recibos enfiados dentro. Perfeito. Melhor
usar um envelope vazio. Essas coisas sempre acabavam flutuando nos
carros das pessoas por séculos antes de serem jogadas fora. Agarrando o
primeiro envelope em que coloquei minha mão, procurei uma caneta, mas
não consegui...
Espere.
Eu levantei minha cabeça, olhando para o envelope marrom que
agora estava descansando no meu colo. Ele foi dobrado em dois para
caber dentro do porta-luvas, mas se abriu depois que eu o removi. Ali, na
frente do envelope, escrito em uma caneta preta e grossa, havia um nome.
O meu nome.
Sera Lafferty.
Por que meu nome estava escrito no envelope? O que... por qual
possível motivo Fix poderia ter para manter um envelope com meu nome
em seu porta-luvas? Mil pensamentos frenéticos colidiram na minha
cabeça ao mesmo tempo.
Ah...
Ah, merda.
Esses foram os planos de contingência que ele fez depois que eu o
vi matar Franz? Era a única coisa que fazia sentido. Ele criou um dossiê
para mim, caso achasse que eu havia mudado de ideia e eu fosse à
polícia. Meu sangue era como gelo, bombeando lentamente pelo meu
coração, gradualmente me congelando pouco a pouco. Com mãos
trêmulas e instáveis, soltei a aba do envelope e peguei os papéis dentro.
Meu cérebro parou de funcionar.
O que eu estava olhando? Não fazia sentido. Esses não eram planos
de contingência. Pelo menos, não planos de contingência feitos por causa
do que eu vi na loja de carros. Havia fotos minhas, pelo menos oito delas,
nenhuma delas realmente recente. Fotos espontâneas de mim entrando
no meu carro, saindo do escritório. Eu, correndo pelo parque a três
quadras do meu apartamento. Eu, almoçando com minha Sadie. Mais e
mais delas, todas tiradas sem o meu conhecimento. O que isso

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significava? Por que diabos Fix tinha fotos de mim assim em seu carro?
Meus níveis de pânico aumentaram drasticamente quando eu deixei as
fotos de lado e peguei uma pilha de papel. Nelas, uma análise completa
da minha rotina diária em Seattle. A folha a seguir era uma cópia do
itinerário detalhado que eu criei para minha viagem até o casamento - o
que eu enviei por e-mail para Amy, informando exatamente quanto tempo
eu ficaria na estrada, onde eu estaria parando e por quanto tempo.
A última folha de papel era uma fotocópia de um documento
amarelado marcado com um anel de café. Minha certidão de nascimento,
com o nome completo: Seraphim Alicia Rose Lafferty. Uma onda de
choque detonou na minha cabeça enquanto eu olhava o documento;
desde que eu encontrei o Fix, ele usou um apelido comigo. Ele me
chamava de anjo, uma e outra vez, e parecia uma coincidência. Que coisa
esquisita. Minha mãe não era religiosa, mas gostava da ideia de anjos da
guarda, vigiando-nos, mantendo-nos todas seguras. Ela me chamou de
Serafim porque achava bonito, mas eu odiava. Reduzi-o assim que pude
legalmente preencher a papelada, e toda a minha identificação, meus
cartões de crédito, tudo... tudo foi alterado para Sera.
Estava tudo tão claro agora. O apelido dele para mim não era uma
coincidência. Foi por isso que Fix começou a me chamar de anjo. Porque
ele fez sua pesquisa sobre mim, assim como ele fez sua pesquisa sobre
Franz Halford. As fotos que Fix me mostrara da vítima de Franz haviam
saído direto de um envelope marrom, idêntico ao que eu estava
segurando nas mãos.
Deus.
Oh... meu deus.
Meu pulso era uma batida furiosa, demente, estrondosa. Minha
visão havia se inclinado e eu não conseguia mais ver direito. Eu sabia o
que isso significava agora. Eu sabia e fiquei surpresa demais para correr.
Fiquei surpresa demais para fazer qualquer coisa, mas fiquei sentada
com as evidências por todo o meu colo enquanto tentava não desmaiar.
Eu sabia que a porta do lado do motorista se abriu e sabia que Fix entrou

DIRTY #1
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no carro, mas estava insensível demais para processar as informações.
Eu só... o que? Que merda aconteceu?
Eu me virei, girando toda a metade superior do meu corpo para
ficar de frente para Fix. Segurei uma das fotos - uma foto particularmente
boa de mim rindo, andando com Sadie por uma rua movimentada - e o
sorriso escapou do rosto de Fix. Todo o seu comportamento mudou num
piscar de olhos. Foi a primeira vez.
─ Quem? ─ Eu exigi. ─ Você me deve isso pelo menos. ─ Minha voz
estava áspera, quebrada, despedaçada... e meu mundo inteiro junto com
isso.
Eu poderia dizer pela expressão em seu rosto.
Isso era real.
Era verdade.
Era mais do que podia suportar.
─ Quem diabos te contratou para me matar, Fix?!

CONTINUA...

DIRTY #1
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