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~1~

Jessica Gadziala
#2 Ryan

Série Mallick Brothers

Tradução Mecânica: Bia Z.

Revisão Inicial: Annik, Criz

Revisão Final: Clau

Leitura: Sil

Data: 04/2018

Ryan Copyright © 2017 Jessica Gadziala

~2~
SINOPSE

Ryan

Ela era perfeita:


Doce, inteligente, estranhamente adorável e bonita pra caramba.
O único problema era:
Ela tinha terror de deixar seu apartamento.
E, aparentemente, ela de alguma forma se envolveu com alguns
caras muito maus antes.

Dusty

Ele era perfeito:


Ele era uma estátua viva, respirando, andando e falando.
Mas quando um homem assim gostaria de estar com uma
mulher ansiosa demais para andar com ele pelo corredor? Estar
sozinha com ele em um encontro. Ou conhecer a família com quem ele
era tão próximo.
Dito isso, ele parecia interessado por algum motivo.
Então, obviamente, ele era tão louco quanto eu.
No topo dessa situação de total confusão, estava acontecendo
algo com meus parceiros de negócios. E as coisas estavam prestes a ir
direto ao inferno...

~3~
A SÉRIE

Série Mallick Brothers

Jessica Gadziala

~4~
Um
RYAN

Foi um fodido longo dia.

Para ser justo, a maioria deles era.

Você não entrava em um negócio de agiotagem e esperava


rosquinhas na sala de reunião e conversas fiadas sobre algum
programa de TV pelo qual todos estavam obcecados. Era sempre tenso
e problemático e prejudicava continuamente sua visão sobre a
população em geral.

Suspirei, levantando meu braço para checar meu relógio e vi


uma mancha de sangue na manga do meu terno branco. Por sorte, a
minha lavanderia de costume parou de fazer perguntas há muito
tempo.

Para ser perfeitamente honesto, geralmente eu não era aquele


que derramava sangue. Cuidava mais do negócio final. Tratava da
maldita papelada e cuidava da contabilidade, fazia uma primeira visita
àquele que nos devia, você pagava ou recebia outra visita. Já nessa, eu
enviaria Mark. Se Mark não fosse eficaz, então Shane entraria em
cena. E se depois de Shane ter terminado com você, se você ainda não
tiver o dinheiro para pagar suas dívidas, então nós mandaríamos Eli
chutar sua bunda miserável.

Mas, o que posso dizer, estava de mau humor, o cliente resolveu


falar demais e as coisas saíram do controle. Eu não gostava de
derramar sangue logo de cara. Evitava a todo custo, querendo manter
as coisas amigáveis desde que o cliente também quisesse.

Dito isso, o desrespeito nunca seria tolerado.

Saí do elevador e peguei a chave do meu apartamento, olhando


para a porta do outro lado do corredor. Nossos apartamentos eram os
dois únicos no andar e vi algo que não costumava ver lá, mas toda vez
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que via, ficava com os cabelos da nuca arrepiados. Vi homens de pé na
porta dela.

Veja, o negócio é que, eu só sabia que era uma mulher morando


ali porque vi um cabelo loiro uma vez quando ela estava pegando um
dos montes de pacotes que manda entregar em sua porta todas as
semanas. Como conseguia que o carteiro deixasse os pacotes na porta
dela, em vez de deixá-los na caixa de correio no saguão eu não sabia,
mas o maldito cara fazia isso todas as vezes por ela.

Minha vizinha, bem, era do tipo reclusa.

Ela não saia para o trabalho. Não saia à noite. Nem sequer dava
recados.

E muito raramente tinha qualquer tipo de companhia.

Quando tinha, porém, eram os caras com toda a aparência de


ser maus elementos.

Eu era um criminoso. Passei minha vida em torno de


criminosos. Podia detectar um quando via um.

Os dois caras em casacos de couro, suas juntas com cicatrizes e


suas posições tensas, sim, eram fodidos criminosos.

Ouvindo as portas do elevador fechando, as cabeças deles


viraram na minha direção, me olhando.

Eles me conheciam.

Eu não estava sendo arrogante, mas o fato era que todo mundo
que era alguém no submundo criminoso da cidade de Navesink Bank
conhecia Charlie Mallick. E se você conhecia meu pai, conhecia seus
filhos. Nós todos parecemos exatamente como ele. Além disso, se você
conhece Charlie Mallick, sabe da nossa reputação e de que merecemos
algum respeito. Foi por isso que um dos caras inclinou o queixo para
mim e o outro assentiu e disse “Mallick” enquanto eu caminhava até
minha porta e deslizava a chave.

— Dusty, vem logo, porra, — o que inclinou o queixo para mim


grunhiu para a porta fechada.

Congelei a meio caminho da minha porta, girando de volta,


levantando as sobrancelhas.

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Eu aguentaria muita merda de muitas organizações, mas
ameaçar mulheres nunca colaria comigo. Não me importaria quem
fosse.

— Estou indo, Bry! — Uma voz suave, doce veio de dentro do


apartamento no momento em que algo bateu e caiu, e um miado alto
pode ser ouvido. — Preciso colocar Rocky pra fora! — Ela acrescentou,
seguido por um ruído alto de gato e um silvo dela, como se,
presumivelmente, ele a tivesse arranhado.

— Estúpido, gato fodido, — o cara que assumi ser Bry disse,


balançando a cabeça.

— Tudo bem, tudo bem, — disse a doce voz de Dusty e consegui


ouvir as fechaduras deslizando antes de finalmente abrir e eu ter meu
primeiro olhar para a minha vizinha que compartilhava um andar
comigo há mais de um ano.

Inferno, eu perdi algo.

Geralmente, quando você pensa “pessoa reclusa”, imagina uma


pessoa mais velha, meio demente, talvez cabelo desgrenhado e olhos
selvagens.

Não havia nada disso em Dusty Rose McRae, cujo nome eu sabia
por causa dos pacotes intermináveis que mencionei.

Não.

Dusty era fantástica pra caralho.

Ela tinha uma altura média para uma mulher e tendia à


magreza, todas as curvas dela um pouco sutis, mas bem presentes no
seu jeans azul e blusa rosa claro. Seu cabelo loiro era longo e
ondulado em torno de seu rosto oval com o seu nariz perfeito, seu
lábio inferior levemente avantajado, e seus grandes olhos verdes
envoltos por volumosos cílios que, se eu colocasse meu dinheiro,
apostaria que eram dela e não falsos.

Perfeita.

Era tão perfeita quanto jamais vi.

Ela deu aos caras na porta um sorriso um pouco incômodo


enquanto segurava uma toalha de papel no antebraço, listras
brilhantes de sangue vermelho já manchando o papel.
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— Desculpe, não sabia que vocês vinham ou já o teria botado
para fora, — ela disse, se afastando do caminho e os homens
entraram.

— Apenas se livre da maldita coisa, — disse Bry, sua voz mais


suave, colocando a mão no ombro dela para afastá-la da porta. E eu
não estava imaginando isso quando todo o seu maldito corpo
endureceu ao toque, como se cada extremidade nervosa recuasse ao
contato, mas ela sabia que não podia se mexer, então suportou.

Como se percebendo minha inspeção, seu olhar se dirigiu até o


meu, seus lábios se separando levemente, seus olhos mostrando cada
desconforto e incerteza que ela sentiu naquele segundo, me dando um
desejo quase irresistível de atravessar o corredor, pegar os caras pelas
costas de suas jaquetas, e jogá-los pela escada.

Mas isso era loucura.

Antes que o pensamento estivesse completamente formado, Bry


a afastou do caminho e fechou a porta do apartamento num baque.

Fiquei parado por um longo momento, tentando me convencer


de esquecer o que aconteceu, deixar para lá, que não era da minha
conta o que estava acontecendo atrás daquela porta.

Por fim, essa voz ganhou, entrei no meu apartamento e fechei a


porta. Acendi as luzes, mas me recusei a ligar a música como
costumava fazer.

Tentei dizer a mim mesmo que era porque só queria silêncio


depois de um longo dia barulhento. Mas essa era uma mentira tão
ridícula, que imediatamente aceitei que a verdadeira razão era porque
queria ter certeza de que não havia brigas ou gritos, ou qualquer coisa
do outro lado do corredor.

Você sabe, apenas sendo um bom vizinho.

Revirei meus ombros enquanto tirava meu paletó e colocava no


armário dentro da porta da frente onde eu guardava minhas roupas
secas para minha empregada ou assistente ou qualquer porra que ela
fosse chamada, pegar e cuidar como ela costumava fazer.

Meu apartamento era imenso e, se acreditarmos em minha


cunhada Fee, gritava “solteirão”.

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Suas bolas vão cair ou algo assim se você colocar uma cor aqui
que não seja marrom ou preta?

Foi o que ela perguntou na primeira vez em que entrou no


apartamento.

Ela não estava errada. Definitivamente, escolhi uma paleta de


cores escuras. Todas as paredes do espaço principal eram de um
marrom café profundo. Diretamente dentro e a frente, com uma janela
com vista para a rua, ficava a sala de estar com um sofá preto em L de
frente para um suporte de TV preto e uma grande tela plana. Havia
um quadro pendurado perto da extremidade do sofá, uma tela abstrata
marrom e preta intitulada Aspen, que encontrei à venda na parede de
uma cafeteria na cidade. Ela se encaixava na aparência geral da sala e
por um pouco menos de quinhentos dólares, era realmente um roubo
pelo seu grande tamanho.

Entrando pela porta da frente e virando à esquerda, entre o


armário de roupas limpas e o espaço principal, havia um pequeno
canto que tinha três prateleiras pretas e um armário preto para as
bebidas. Em cima ficava minha habitual garrafa de uísque escocês,
embora eu tivesse toda uma série de outras bebidas guardadas lá.
Meu som ficava em uma das prateleiras ao lado de uma moldura (Fee
a enviou para mim em uma fodida moldura rosa que fiz Anita, a
empregada, substituir por outras pretas) com fotos das minhas três
sobrinhas.

À direita ficava minha cozinha com armários pretos e bancadas


em mármore preto e branco.

O corredor começava da cozinha, levando ao dois quartos e ao


banheiro. Para o desgosto de Fee, o banheiro tinha o mesmo mármore
preto e branco que a cozinha, e o meu quarto talvez fosse o espaço
mais escuro e mais negro do apartamento.

Achava cores claras alarmantes para os olhos.

E depois de um longo dia no tipo de trabalho que faço, eu


precisava de um lugar para relaxar. Mesmo que gritasse solteirão.

Senti o cheiro de filé quando passei pela cozinha.

Minha mãe me ensinou a cozinhar. Aliás, ela ensinou todos nós


a cozinhar.

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Não terei nenhum filho meu exigindo que uma mulher cozinhe
toda a porra do tempo. Vocês vão aprender a cuidar de vocês.

Essa era Helen Mallick. Não importa que ela tenha cozinhado
para nós a maior parte do tempo enquanto crescíamos. Ela afirmava
que a questão não era essa. A questão era que nunca deveríamos
esperar que isso fosse feito para nós simplesmente porque éramos os
homens e elas eram as mulheres.

Dito isso, quase nunca cozinhava. Parecia um esforço tedioso e


inútil de fazer só pra mim. Especialmente quando Anita estava feliz em
cozinhar para mim. Então quase sempre quando eu chegava a casa já
havia uma refeição pronta e guardada dentro do forno. Exceto nos
sábados e domingos, quando ela não trabalhava.

Abri o forno e encontrei um pedaço de carne, batatas assadas e


uma pilha quase interminável de ervilhas. Anita, sendo uma mãe de
quatro filhos adultos, parecia gostar de me considerar um deles e
insistia que eu precisava comer meus vegetais. Eu sempre comia
porque minha própria mãe me criou com a mesma ideia.

Coloquei a comida no balcão e me servi de um uísque escocês,


me sentei no balcão, comendo, fingindo que não estava procurando
por sons do outro lado do corredor como um maldito stalker.

Mas eu estava.

E meu estômago não sossegou até eu ouvir a porta abrir, vozes


casuais abafadas, passos e o clique da porta e o deslizamento das
fechaduras do apartamento de Dusty.

Talvez eu tenha passado muito tempo me perguntando no que


diabos ela se envolveu com aqueles caras. Ficar trancada dentro de
casa não deixava muitas opções para trabalho, a menos que ela
escrevesse, fosse blogueira, trabalhasse com telemarketing ou fosse
uma artista ou alguma merda assim. Então, as chances eram de que
seu envolvimento com esses caras fosse uma fonte de renda para ela.

E, bem, não havia muitas opções para ela fazer.

Guardar dinheiro.

Guardar drogas.

Ou se prostituindo.

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Julgando pelo jeito que ela endureceu quando o cara Bry a
tocou, duvidava que fosse a última opção.

O que deixava as outras duas escolhas desagradáveis. Ambas


vinham com um nível de perigo para uma mulher vivendo sozinha sem
um maldito sistema de segurança ou mesmo um cão de guarda para
protegê-la. E se ela não tinha um sistema de segurança ou um cão de
guarda, duvidava que tivesse uma arma.

Risco estúpido.

Mas não era problema meu, lembrei-me, enquanto raspava o


restante do meu jantar no lixo, colocava a louça na pia e ia em direção
ao meu quarto para me trocar.

Mesmo assim, me certifiquei de chegar a casa naquela mesma


hora na quinta-feira seguinte e na seguinte e na outra depois, para
garantir que Bry e seu capanga não causassem nenhum problema com
a minha pequena vizinha agorafóbica.

Duas das vezes, eu os peguei entrando. Na última vez, eu os


peguei saindo do apartamento dela e consegui dar uma pequena
olhada em Dusty enquanto ela fechava a porta, percebendo que
parecia muito menos tensa vendo-os irem do que quando chegavam.

Podia sentir que ela me observava enquanto eu me movia para


colocar minha chave na fechadura e a vontade de me virar para ela era
quase irresistível.

Então, eu me virei.

— Hei, — falei, minha cabeça virando de lado um pouco para


encontrá-la ainda olhando para mim, seu lábio inferior preso nos
dentes por um momento até que ela me ouviu.

Então ela pulou para trás como se não esperasse que eu fosse
sequer capaz de falar.

— Ah, oi, — ela disse, deslizando para trás no piso de madeira


em suas suaves meias de gatinhos e batendo a porta.

Por que essa merda me fez sorrir como uma criança na manhã
de Natal, sim, eu não ia analisar isso.

Mas foi exatamente o que aconteceu.

~ 11 ~
Dois
DUSTY

Eu o observava.

Ok, isso parecia realmente assustador.

Eu nunca o observava.

Bem.

Às vezes sim.

Eu não era nenhum tipo de louca perseguidora ou algo assim.


Mas quando você mora em uma gaiola, morrendo de medo de pisar
fora dela, acabava observando a todos os outros se movendo, vivendo a
vida que você desejava que também pudesse viver. Não era como se ele
fosse a única pessoa que eu observava.

Também observava a senhora que vivia dois andares abaixo. Ela


era uma bela e jovem mãe solteira de uma filha ruiva com o rosto
sardento que estava sempre sorrindo para sua mãe. A janela do meu
apartamento espreitava parte do estacionamento e da pequena área
comum do prédio que se vangloriava de ter duas mesas de piquenique
que eram pintadas no dia 3 de abril de cada ano, um conjunto de
balanços e uma pequena área de ginástica.

Então eu assistia enquanto a mãe saia do seu carro, cansada de


um longo turno em algum lugar que exigia que ela usasse uniforme
lilás e sapatos brancos antiderrapantes, seus cabelos vermelhos
escapando de seu coque alto e bagunçado, parecendo tão
desarrumada como poderia. Mas, então, tirava a filha do banco de trás
e ela pulava para cima e para baixo, parecendo que estava implorando
para ir até a área dos balanços. Sua mãe concordava e ela saia
correndo para brincar e a mãe a seguia, cada minuto que ela
observava ou corria atrás da sua garotinha parecia tirar horas de
estresse dos seus ombros.
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Veja, eu a observava porque ela tinha algo que eu queria e não
poderia ter. Ela tinha uma criança pequena que a amava, que achava
que sua mãe pendurava no céu a lua e as estrelas, que poderia tirar
todas as preocupações com uma simples gargalhada ou sorriso.

E eu o observava porque ele era outra coisa que queria e não


podia ter.

Um homem.

Amor.

Afeição.

Companheirismo.

Sexo.

Um relacionamento.

Claro, também havia o fato de que ele era imensamente bom de


olhar, sendo a versão viva que respira e anda de uma estátua que veio
a vida.

Ele era lindo.

Maravilhoso.

Perfeito, na verdade.

Tinha características fortes e masculinas com seu maxilar


talhado, sobrancelhas grossas e fortes, um nariz não tão grande. Seu
cabelo era preto e perfeitamente cortado sempre que eu o via parecia
que ele nunca faltava um compromisso com seu barbeiro. Seu rosto
estava bem barbeado a maior parte do tempo, embora ocasionalmente
o visse um pouco desalinhado, o que particularmente achava atraente
em seu rosto sério.

Então, oh sim, havia os olhos. Ele tinha esses olhos azuis claros,
penetrantes, impossivelmente maravilhosos.

E sempre estava vestindo um terno.

Bem, nem sempre.

Três manhãs por semana, ele saia cedo, tão cedo que o sol mal
havia nascido, em calções de basquete preto e uma camiseta apertada,
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seu iPod em um suporte em seu braço e voltava todo suado de sua
corrida. E às quartas-feiras, ele voltava para casa à noite com roupas
de ginástica.

Mas, literalmente, qualquer outra vez que o via, ele estava em


um terno. E ele os enchia muito bem.

Então eu o observava ir e vir.

Ele tinha um carro bom. Um carro realmente bom para


combinar com seus ternos realmente bons e seus realmente bons
relógios que ele ainda usava para checar as horas em vez de olhar no
celular. Era um pequeno detalhe que achei imensamente atraente por
algum motivo. O carro era novo, elegante e preto, e mesmo que não
pudesse ouvi-lo porque as janelas da minha sala de estar não abriam,
só sabia que ele não rugia, ele ronronava.

Falando em ronronar, Rocky acabara de pular na minha mesa


branca de correio bem do lado da porta e, com isso, derrubando uma
pilha de contas cuidadosamente organizadas e esfregando a cabeça no
meu braço.

— Ei, Sr. Rochester, — disse, exalando tão forte que eu juraria


que era um suspiro enquanto me esticava para acariciar seu pequeno
rosto alaranjado. Por ser um Persa, ele sempre parecia mal-humorado.
Combinava com seu personagem e seu nome o fato de ele estar sempre
de mau humor. — Você está com fome? — perguntei, levando a cabeça
para trás como um sim enquanto eu me afastava da minha porta.

No dia anterior, ele falou “hei” para mim.

E eu tive um ataque.

Veja, eu não era uma aberração. Até cerca de dois anos atrás,
era uma pessoa bastante normal que tinha interações normais com
pessoas (homens inclusive). Até namorei e tive relacionamentos. Mas
então, sempre ficava um pouco ansiosa e tímida em situações sociais e
especialmente na presença do sexo oposto, porém eu interagia com
eles diariamente, eu posso dizer.

Mas desde dois anos atrás, os únicos homens com quem falei
foram meu tio, Bry e seu parceiro Carl. Era isso.

Então, minha reação foi, bem, apenas surpresa, acho.

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Ele falou comigo, com aquela voz perfeita, profunda, suave e
hesitante.

E fiz papel de boba.

Porque esse era o curso da minha vida.

Não deveria ter importado. Não era como se fosse acontecer de


novo. Ele se mudou um ano atrás e essa foi a primeira vez que tentou
conversar. As chances de tentar novamente, especialmente após
minha resposta tão idiota, eram de quase nenhuma para zero.

Mas mesmo assim importava.

Era apenas mais uma coisa para eu me sentir mais como uma
merda. Eu era boa nisso. O excesso de pensamento, o excesso de
análise, o excesso de tudo.

Essa era a minha especialidade.

Bem, isso e aprender a fazer literalmente tudo o que precisava


fazer no conforto da minha prisão. Quero dizer, do meu apartamento.
Apartamento.

Era um bom apartamento também. Passei muito tempo tentando


conseguir o nível de conforto perfeito para mim. Isso significava que
geralmente era muito brilhante e arejado. As paredes eram de um
verde claro e não havia nada nas janelas, exceto cortinas leves
brancas, para que a luz do sol pudesse fluir para dentro de qualquer
lugar. Toda a madeira no espaço era branca, desde os armários da
cozinha até a minha mesa de café e suporte de TV. Meu sofá era estilo
remendado, com vários padrões diferentes, mas todas as cores um
pouco claras, nada muito gritante, muito esmagador.

Eu gosto de ousar.

Meu antigo apartamento era uma incompatibilidade de cores e


estilos diferentes, obras de arte e loucuras. Portas decoradas aqui,
paredes vermelhas brilhantes ali, enormes quadros de arte em todos
os lugares. Nada combinava, mas de alguma forma sempre
funcionava. Minhas roupas sempre estavam espalhadas e a minha
louça perpetuamente suja.

Era um caos.

Há muito tempo eu superei isso.


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Agora, nada me assustava mais.

Então minha casa estava quase arrumada por TOC. Tudo tinha
um lugar e estava nele. Meus pratos eram limpos assim que terminava
uma refeição. Tudo funcionava em questão de estilo. Minhas roupas
ficavam no armário ou no carrinho ou na máquina de lavar que eu
tinha instalado no meu armário de casacos depois de implorar e
implorar (por e-mail) para o dono me permitir fazer isso.

Abri o armário e peguei uma lata de comida para Rocky,


colocando-a na tigela, enxaguando a lata e colocando-a no meu lixo de
reciclagem antes de ir para o corredor que levava ao meu quarto.

As paredes eram de um verde um pouco mais claro e minha


roupa de cama era branca. As mesas de cabeceira de cada lado da
cama e as lâmpadas nelas também eram brancas.

Organização.

Sempre.

Fui até o meu armário, peguei um robe e fui para o banheiro,


que era todo branco quando me mudei. A única diferença desde então
até agora foi que instalei uma banheira enorme, muito moderna, muito
sofisticada. Economizei para isso por seis meses antes de me permitir
esse luxo.

Também não foi um desperdício.

Muitas pessoas nunca usavam suas banheiras.

Sendo a pessoa nervosa que sou perpetuamente, costumo tomar


banhos relaxantes praticamente todos os dias. Às vezes, duas vezes
por dia.

Eu me estiquei para fechar a torneira e colocar a água quente,


deixando cair dois tabletes de sais banho dentro dela quando estava
quase cheia.

Deitei-me, respirando profundamente, colocando uma mão na


minha barriga para me certificar de que ela subia e descia com cada
respiração. Minha terapeuta sempre me dizia que eu estava tão
ansiosa o tempo todo porque não estava respirando corretamente e
que a técnica da mão na barriga faria com que eu respirasse
profundamente.

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Ajudava.

Mas não era a cura mágica.

Nada era.

Nem mesmo a medicação que ela continuava me prescrevendo e


que parei de tomar meses atrás.

Os remédios não ajudaram e eles me deixavam cansada o tempo


todo.

A ansiedade e a agorafobia eram bastante ruins. Dormir o tempo


todo começou a me deixar deprimida. E, bem, essa era absolutamente
a última coisa que eu precisava em cima de todo o resto.

Mas a técnica da mão na barriga, sim, não consertou nada.


Minha garganta não parecia como se estivesse seca, mas meu coração
ainda batia forte e meu peito parecia muito pesado e minha mente
corria de um lado para o outro e em todos os cantos pelo meio.

Começou, como costumava fazer, com Bry e Carl e suas visitas


semanais. Eu passava os outros seis dias da semana me preparando
para eles. Conhecia Bry há muito tempo, na verdade, fui à escola com
ele e ele foi meu único amigo durante toda minha infância,
adolescência e idade adulta. Ele mudou um pouco ao longo dos anos.
Ficou mais encorpado. Ficou um pouco mais bruto. Mas ainda era o
menino que costumava desenhar monstros comigo na hora do almoço
ou fazer as listas de Natal perfeitas para o Papai Noel durante as férias
de inverno.

Mas Bry se tornou um homem que faz coisas ilegais.

Bry também era a única razão pela qual consegui ficar no meu
apartamento e me cuidar razoavelmente bem. Se não fosse por ele, não
sei como teria sido. Talvez estivesse do mesmo jeito, só que morando
no porão do meu tio, me sentindo como um fardo completo e me
odiando mais a cada dia por causa disso.

Se havia algo pior do que não poder viver minha própria vida,
era estar arrastando alguém para meu pequeno mundo comigo.

E tio Danny, sim, ele felizmente faria isso por mim.

Mas eu não podia deixar isso acontecer.

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Ele já fez muito por mim.

Inferno, ele me criou durante grande parte da minha vida.

Devo a ele mais do que ser um fardo e uma preocupação.

Como tal, havia talvez algumas mentiras ditas a ele. Ele sabia
que eu não podia sair do meu apartamento e sabia que eu me
sustentava. O que ele não sabia era que Bry estava no meio. Ele
pensava que eu ganhava dinheiro com a minha escrita.

Eu ganhava.

Mas não era o bastante para me manter. Nem mesmo se me


mudasse para um apartamento menor.

Às vezes, você precisava mentir para as pessoas que amava para


protegê-las.

Ou, pelo menos, era o que escolhi acreditar.

Gostaria de dizer que fiz progressos na terapia que eu fazia por


chamada de vídeos três vezes por semana. Mas isso seria uma
mentira. Porque qualquer um saberia que não havia cura para
ansiedade e agorafobia. Havia altos e baixos. Havia bons e maus
momentos, mas isso sempre seria parte de você. E não havia muito
para a minha terapeuta fazer quando os medicamentos não ajudavam
e eu não conseguiria me forçar a fazer a única coisa para superar
meus problemas, a terapia de exposição.

Eu tentei.

Todas as manhãs eu me levantava, me vestia (sapatos e tudo) e


ia até minha porta da frente e tentava sair.

Alguns dias até chegava ao corredor.

Mas na maioria dos dias, ficava lá parada, completamente


paralisada com o turbilhão de ansiedade. Com a sensação de garganta
apertada, tontura, enjoo de estômago, o ruído alarmante do meu
coração no meu peito, os arrepios enquanto eu estava me banhando
em suor, a sensação de tremor tomando conta de todo o meu corpo até
ficar tão ruim que estava tremendo, ali de pé com a mão na minha
maçaneta parecendo como se estivesse tendo uma convulsão.

Era estúpido.
~ 18 ~
Irracional.

Estava baseado em uma realidade falsa.

Mas era real.

Era real, doentio, assustador e muito difícil de superar. Não


importava o quanto eu tentasse.

E então, todas as manhãs, tirava os meus sapatos, tirava


minhas roupas e deslizava em uma banheira de água quente,
limpando as lágrimas inúteis e tentando me convencer de que no dia
seguinte seria diferente.

Embora o dia seguinte nunca fosse diferente.

Eu tinha que acreditar que poderia ser.

Sem esperança, bem, não havia nada.

Eu tinha que acreditar que algum dia, um dia, voltaria a sair.


Tomaria café em uma cafeteria sem sentir que precisava correr
gritando. Teria um encontro sem ter medo de que cada palavra que
dissesse me fizesse parecer uma aberração neurótica. Veria velhos
amigos que desistiram de mim. Veria meu tio nos feriados.
Conseguiria um emprego normal, legal e iria começar a viver
novamente.

Porque o que eu estava fazendo há dois anos, bem, não era viver.
Era sobreviver. Era uma imitação triste e patética da vida.

E eu estava chegando no limite de minha paciência sobre isso.

Embora a frustração com a minha própria falta de esforço só


tenha piorado as coisas, infelizmente.

Rocky saltou na tampa fechada da privada, soltando um miado


alto e andando em círculo por um segundo antes de se sentar.

— Eu sei. Nós realmente fizemos uma bagunça naquela


apresentação, hein? — perguntei, pegando uma pétala de flor
flutuando na água e esfregando sua suavidade entre meus dedos.
Rocky soltou um espirro quando ele ergueu a pata para se lamber. —
Tudo bem, — suspirei. — Eu fiz uma bagunça. Você estava do seu jeito
charmoso habitual... e estou falando com meu gato de novo, — bufei,

~ 19 ~
tirando o tampo do dreno com o meu pé e me levantando para
alcançar a toalha.

Enxuguei-me, enrolei a toalha em volta do meu corpo e caminhei


em direção ao meu espelho, olhando nos meus olhos e respirando
fundo.

— Na próxima vez, quando vê-lo, não vou me comportar como


uma boba, — prometi.

No momento, não tinha nem ideia de como seria boba com ele no
próximo fim de semana.

~ 20 ~
Três
RYAN

— Terra para Ryan, — disse Mark, estalando os dedos perto da


minha orelha, me fazendo agitar minha cabeça e me inclinar para trás
na minha cadeira, percebendo que minha mente tinha divagado no
meio de uma maldita reunião.

Isso não era típico eu me dispersar assim, nem um pouco.

— Desculpe, — falei, balançando a cabeça para o meu irmão


que, a julgar pelo sorriso malandro e pelos olhos divertidos, estava
gostando de me ver distraído. — O que foi isso?

— Nada importante, — ele respondeu, encolhendo os ombros. —


Orçamentos sobre o abrigo de mulheres. Está tudo na papelada. O que
é importante é que você estava sonhando acordado no meio de uma
reunião de trabalho. Sonhando. Tenho certeza que você nem sequer
sonha no seu maldito sono, mano, — ele acrescentou, sentado na
cadeira, braços atrás do pescoço. — Então, como ela se chama?

— O quê? — lancei, muito rápido, muito defensivamente. Ele me


conhecia bem o suficiente para chamar isso do que era, uma tática de
bloqueio. Então segui adiante e quis falar logo antes que ele pudesse
conseguir mais sobre isso. — Não é o que você está pensando, Mark.
Minha vizinha se envolveu com algumas pessoas ruins. Isso está me
incomodando.

Isso era metade da verdade e parecia ser sincero para ele. Se


fosse Eli com quem estivesse falando, ele nunca se contentaria com
isso. Mas Mark, Shane e Hunt geralmente aceitavam de primeira. Não
era fácil chegar a me “conhecer” e eles geralmente acreditavam que eu
era aquilo que eu deixava todo mundo ver.

~ 21 ~
— Então, essa vizinha, — ele disse, sua cabeça ligeiramente
inclinando para o lado. — Ela é do tipo velha e caseira ou do tipo
jovem e gostosa?

— Ela é uma enclausurada, Mark, — disse. — Ou seja, não sai


de casa. Você não vai levá-la para sair tão cedo.

Como se eu tivesse algo a dizer sobre isso.

O que eu não deveria ter, mas aparentemente tinha.

— Mas eu não preciso levá-la para sair para ter alguma diversão,
certo? — ele perguntou, sorrindo mais alto. — Isso respondeu minha
pergunta também. Ela é quente.

— Fique longe dela, — gaguejei antes que eu parecesse me


conter.

Eu não estava perdendo isso por nada.

— Oh, porra, — ele falou, sentando-se para frente novamente,


rindo ligeiramente. — Você tem uma coisa pela sua vizinha. Já era
sem tempo. Você esteve em um período de seca, há tanto tempo...

— Estou bem, obrigado, — disse, balançando a cabeça.

Enquanto Mark e Shane (antes de encontrar Lea) eram


mulherengos, sempre estive um muito ocupado para ficar pulando de
cama em cama. Tenho minha cota, mas eu não estava com uma garota
diferente todas as noites ou em um romance de fim de semana.

— Estar bem não é fantástico, irmão. Estar ótimo é fantástico.


Você foder sua vizinha gostosa até acordar o edifício inteiro é
fantástico.

— Podemos voltar ao orçamento e deixar minha vida pessoal de


lado?

— Não, não acho que podemos fazer isso, — disse a voz de


Shane do lado e virei-me para encontrá-lo de pé na porta do escritório,
seu corpo desmedido quase ocupando todo o espaço. — Que vida
pessoal? Desde quando você tem alguma coisa que se assemelha a
uma vida pessoal?

Então eu era um viciado em trabalho.

~ 22 ~
Isso não era um segredo.

Havia muita coisa para ser feita no negócio da família. E


agiotagem era apenas uma parte do negócio. Havia também o bar e
dúzias de outras empresas. E nosso dinheiro sujo era lavado através
desses negócios legítimos, então eu fazia a contabilidade para tudo,
embora tecnicamente não estivesse envolvido na academia de Shane
ou na empresa de paisagismo ou na loja de bebidas ou em qualquer
outra coisa que meus irmãos realmente possuíam.

E além desse tipo de contas, havia os meus próprios negócios. E


tinha que trabalhar e fazer pedidos e fazer melhorias e resolver
disputas. Além disso, me encarreguei do abrigo para mulheres. Eles
ficaram sem dinheiro e perderiam seus negócios e, já que a minha
família estava tão envolvida, decidimos intervir. E por acaso eu era o
único com dinheiro disponível suficiente para assumir isso. E veio com
suas próprias dores de cabeça, embora eu forçasse Mark a trabalhar
um monte no lugar para me livrar de um pouco de aborrecimento.

Eu era muito ocupado.

Desde o momento em que acordava até a hora de dormir, estava


malditamente ocupado.

Eles estavam certos. Eu quase não tinha vida pessoal.

E talvez eles estivessem certos. Talvez estivesse me afetando.


Talvez precisasse sair um pouco, ficar deitado, relaxar. Isso explicaria
por que estava dormindo acordado durante uma maldita reunião de
negócios.

— Ry tem tesão por sua vizinha enclausurada, — Mark explicou,


fazendo-me pegar uma caneta para jogá-la nele.

Irmãos, eles eram tão intrometidos quanto irmãs, não importa o


que alguém dissesse. Ou talvez só fosse verdade em famílias tão
unidas quanto a nossa.

— Enclausurada, hein? — perguntou Shane, sorrindo diabólico.


— Então isso meio que funciona, não é? Não ter que correr atrás dela.
Não a levar para um jantar elegante. É só aparecer e foder ela.

— Não estou dormindo com minha vizinha, — falei


imediatamente. Mesmo que estivesse pensando nisso.

~ 23 ~
Frequentemente. Geralmente no chuveiro. Como a porra de um
adolescente.

— Mas ele quer. E aparentemente ela tem algum tipo de


problema com alguns canalhas, — acrescentou Mark.

Não existia tal coisa como privacidade na família Mallick. Se


Mark soubesse, Shane também sabia. Então, a partir daí, Lea, Fee,
Hunter, Eli e nossos pais.

Meu maldito celular tocaria e tocaria a noite toda.

Ótimo.

— Você vai cavalgar com sua armadura brilhante? — perguntou


Shane, encostado na parede, cruzando os braços. — Não é uma jogada
ruim. Quero dizer, não é o atalho mais curto para bucetas. Mas uma
hora isso funcionará.

— Jesus Cristo, — suspirei, passando a mão pelo meu rosto,


minhas palmas chegando ao pescoço que devo ter esquecido de raspar
de alguma forma. — Basta. Não estou dormindo com ela. Não planejo
dormir com ela. Essa conversa terminou.

— Uh-huh, — Mark disse, balançando a cabeça, sorrindo ainda


no lugar. — Claro, cara. Então, Shane, — ele disse enquanto eu me
sentava em um suspiro, sabendo o que deveria seguir. — Tenho meu
dinheiro em... uma semana, — ele disse apostando como se eu não
estivesse lá.

Shane olhou para mim. — Não, cara. Ele é praticamente um


monge e ela está fechada. Eu diria em três semanas.

Hunt vai fazer a coisa inteligente e levar a aposta no meio,


pensou Mark. E, pelo jeito, a grana...

— Tudo bem, tenho lugares melhores para estar, — disse, de pé,


abotoando meu paletó. — Como literalmente fodendo em qualquer
lugar, menos aqui, — acrescentei, pegando meu celular e dirigindo-me
para a porta. — Tranque ao sair, — terminei, fechando a porta atrás
de mim.

Eu estava com um humor azedo pra caralho.

~ 24 ~
Não poderia estar com raiva deles. Se eu estivesse em seus
lugares, teria sido o primeiro a arrumar dinheiro para apostar. Mas ser
a pessoa em quem eles estavam apostando, sim, não era tão divertido.

O único jeito de tornar isso melhor era provar que eles estavam
errados.

Eu não ia dormir com Dusty.

Aliás, desde que eu disse olá para ela e ela desajeitadamente (e


adorável pra caralho) murmurou o olá de volta e desapareceu, não a vi
mais.

E pelo jeito não voltaria a ver por meses e, até lá, a aposta
acabaria de qualquer maneira.

Exceto que, um dia destes tarde da noite, depois de cochilar


quatro vezes no meio de um e-mail de trabalho que estava digitando
no meu celular às duas da manhã e, finalmente, decidindo desligar e
lidar com isso depois de dormir um pouco, fiquei assustado ao acordar
com um grito alto, insistente e penetrante de um alarme.

Eu me levantei da cama, o coração disparado enquanto


alcançava meu celular, notei imediatamente não era meu alarme
pessoal nem nada no meu apartamento, mas estava vindo do corredor.
Coloquei meus pés em um par de mocassim, vesti um moletom e
dirigi-me para a porta, saindo para o corredor para ver o alarme de
carbono piscando uma luz vermelha de advertência.

Monóxido de carbono.

Porra, grande final para um dia de merda.

Entrei para pegar minha chave e fechar a porta, movendo-me


para virar e congelar.

Porque ali, de pé na porta, com uma gaiola de gatos em uma


mão, arranhões nas mãos e completamente congelada no lugar, estava
Dusty. A mão que não estava segurando a gaiola estava fechada ao
redor de sua garganta, como se ela estivesse tentando aliviar a pressão
lá. Seus olhos verdes estavam arregalados e... aterrorizados pra
caralho.

Travada que nem conseguia sair do apartamento para uma


emergência.

~ 25 ~
— Querida, nós temos que ir, — pedi, guardando minhas chaves
enquanto eu andava para o meio do corredor.

— Eu, ah, — ela começou balançando a cabeça, olhando para o


alarme que estava piscando em vinte, onde sempre era zero. — Eu,
hum, não posso. Apenas... você pode levar Rocky com você? — ela
perguntou, empurrando a gaiola no corredor.

Sem pensar, cheguei a ele.

Foi instintivo.

Uma bela mulher implora que você leve algo, você simplesmente
aceita.

Assim, soube que ela não estava planejando sair. Estava com
seus olhos cheios de terror, sua respiração superficial, seu corpo
tremendo. Ela queria que eu salvasse seu gato e a deixasse lá para
morrer.

Sim, essa merda não ia rolar, isso era certo.

Coloquei a gaiola no chão e antes que ela pudesse adivinhar


minha intenção e reagir. Caminhei pelo corredor, me abaixei e joguei
seu corpo sobre meu ombro. Meu braço apertou-se ao redor dela
enquanto ela congelou por um curto segundo, então começou a lutar,
implorando-me para colocá-la no chão e deixá-la lá, sua voz ficando a
cada segundo mais frenética. Enquanto agarrei a gaiola na minha mão
livre e corri para a escada, você podia ouvir pelo seu tom que ela
estava chorando.

Meu coração teve uma sensação de palpitação diferente


enquanto eu voava pelas escadas, entendendo que ela estava tendo
uma fodida crise, mas sabendo que não havia maneira alguma de
deixa-la para trás também.

Bati a porta para a saída de emergência e pisei fora, o ar de


dezembro me atacou da cabeça aos pés, apesar de estar de mangas e
calças compridas.

E foi quando vi a multidão de pessoas reunidas na frente do


prédio, grupos pequenos se amontoaram para evitar o frio.

Como se estivesse ouvindo ou sentisse o grupo também, Dusty


começou a lutar de novo, fazendo eu me afastar da frente do prédio e ir

~ 26 ~
para a parte de trás onde estava o estacionamento. Encontrei meu
carro e coloquei a gaiola sobre o porta-malas, então pude destravar as
portas, em seguida, fui para o lado do passageiro e abrindo a porta,
joguei Dusty para baixo e coloquei-a no banco da frente.

Inclinei-me para dentro, sobre ela para girar a chave e ligar o


aquecedor antes de ir buscar o gato e colocá-lo no banco traseiro.

Voltei, agachando-me ao lado de sua porta ainda aberta, como


se ela não pudesse se concentrar além do pânico para fazer qualquer
coisa tão básica quanto alcançá-la e fechá-la.

— Respire, querida, — pedi porque o tempo que levou para eu


vir para o lado do carro e agachar-me, seu peito não tinha levantado.

Seus olhos se aproximaram, seus lábios se separaram


ligeiramente, enquanto a mão dela foi até a barriga e ela respirou
devagar e devagar. Então outra vez.

— Vou ver se o síndico ou corpo de bombeiros tem algo a dizer.


Você simplesmente senta e respira, eu volto, ok?

Sua cabeça assentiu com tanta força quando sai para ficar de
pé. — Tudo bem, — ela acrescentou e dei um pequeno sorriso e fechei
a porta.

Voltei ao redor do prédio, encostei-me para evitar o frio,


perguntando-me como diabos ela conseguia sair da cama de manhã
quando o mundo inteiro a enchia de medo assim, com o terror
absoluto em seu rosto, fazendo com que se esquecesse de como
respirar.

Eu não sentia ansiedade. Isso não fazia parte da minha vida. As


coisas eram muito loucas, muito agitadas de momento em momento.
Fui criado com constantes ameaças, estresse e incerteza. Ensinaram-
me a tomar tudo com cautela, para nunca deixar que nada tire o
melhor de mim, tanto literal como figurativamente.

Então, não conseguia identificar o que fosse que ela sentia, mas
um olhar em seus olhos me dizia que era uma maneira terrível de
viver.

— Ryan, — disse o síndico, batendo-me nas costas quando os


bombeiros começaram a entrar no edifício. — Desculpe pelo
inconveniente. Sei que você é um homem ocupado.
~ 27 ~
Eu era um homem ocupado que empregava sua esposa, duas de
suas filhas e um de seus filhos.

Ele beijava a minha bunda.

— Não é algo que você controla, Andrew, — disse, encolhendo os


ombros.

— Não esquenta, — ele continuou, olhando para o prédio. —


Também disse aos bombeiros sobre a sua vizinha. Eles vão pegar uma
máscara e tirá-la de lá.

— Eu a tirei de lá, — falei, percebendo sua cabeça em minha


direção, suas sobrancelhas juntando.

— Você a tirou de lá?

— Não a deixaria lá para morrer de intoxicação por monóxido de


carbono, Andrew, — bufei.

— Bem, não, não. Claro que não. Estou surpreso que ela tenha
deixado você fazer isso. Uma vez precisei entrar para substituir seu
fogão, a menina ficou com as costas em um canto, sua mão em sua
garganta o tempo todo. É uma jovem muito bonita. Lembra a minha
Mandy.

Sua Mandy era uma pequena pirralha malcriada, com uma


atitude terrível e uma voz aguda. Felizmente para ele e para ela, ela
era boa com os números, ou então estaria longe há muito tempo
porque eu simplesmente não podia suportá-la.

Ela não era nada como Dusty.

Fiquei quase ofendido que ele sequer sugerisse isso.

Mas isso era louco.

Ficamos parados por vinte minutos, todos os momentos me


perguntando o que ela estaria fazendo no meu carro, se ainda estava
enlouquecendo, se estava me odiando por arrastá-la para fora de sua
zona de conforto.

Os bombeiros voltaram finalmente e informaram a Andrew e ao


resto de nós que o idiota do 2A, de 20 anos de idade, deixou seu fogão
com a chama acesa e abriu todas as janelas nos corredores, e que
deveria ser seguro retornar em cerca de uma hora.
~ 28 ~
Andrew caminhou em direção ao 2A para checar e finalmente
consegui caminhar em volta do prédio em direção ao meu carro. Fui ao
lado do motorista e abri a porta, fazendo com que Dusty se afastasse
de onde ela estava sentada, com a mão ainda na barriga, mas o corpo
muito menos tenso do que estava quando a deixei.

Sentei-me no banco, demorando um segundo para deixar o calor


me descongelar antes de voltar para ela.

— O cara do 2A deixou o fogão ligado, — informei, girando


ligeiramente para encontrá-la olhando-me atentamente.

— O maconheiro, — ela disse, o sorriso arqueando ligeiramente.

— Esse mesmo, — concordei, balançando a cabeça. — Você está


bem? — perguntei quando um silêncio caiu entre nós.

— Melhor do que pensava que estaria, — ela disse com uma


honestidade que me surpreendeu. — Embora acho que Rocky vai se
vingar por isso.

— Parece que ele já fez isso, — observei, estendendo a mão,


apesar de saber por sua interação com o canalha do Bry, que ela não
parecia gostar de toque, e corri meu dedo pela lateral de sua mão,
onde os arranhões vermelhos irritados tinham sangue seco na
superfície.

Se eu fosse um pouco menos concentrado, um pouco menos


observador, poderia ter perdido a maneira como seu ar saltou entre
seus lábios, a maneira como seus dedos se contraíram, mas ela não se
afastou.

Eu poderia ter perdido isso.

Mas não perdi.

Então não era que ela não gostasse de ser tocada. Ela
simplesmente não gostava de ser tocada por gente como Bry.

— Isso, — ela disse, sua voz um pouco arejada, — isso não é


nada. Ele realmente odeia sua caixa. Ou, lhe dizer o que fazer. Você
sabe, sendo um gato dominante e tudo.

Eu me encontrei rindo com isso, inesperadamente encantado


quando me inclinei para o porta-luvas e abri, retirando o que era um
kit de primeiros socorros bastante completo. Chame isso como uma
~ 29 ~
vantagem do trabalho em que muitas vezes me encontrei, nunca
estava sem antisséptico, antibióticos triplos, ataduras ou supercola
para costura improvisada.

Deslizei o topo do pequeno frasco de esguicho.

— Isso vai queimar, — avisei.

~ 30 ~
Quatro
DUSTY

Sua mão deslizou sob a minha, segurando meus dedos enquanto


esguichava peróxido de um frasco de viagem sobre a minha mão. Era a
coisa mais próxima de segurar a mão de um homem que tive em cerca
de três anos.

Três anos.

Então, essa coisa de advertência ardente, sim, isso era inútil.


Porque eu não senti nada além da maneira como seus dedos fortes se
deslizavam pelo meu. Do jeito que sua palma era calosa, o que era
completamente dissonante com a aparência impecável e seu terno
usual. Seus dedos e o topo de sua mão estavam todos arruinados com
muitas cicatrizes para contar, da maneira como elas cruzavam uma a
outra em diferentes estágios de vermelhidão, rosa e branca prateada,
tornando impossível tentar.

Não eram as mãos de um homem de terno. Pelo menos não da


maneira que eu compreendia homens em ternos. Os homens que
tinham mãos rudes e cicatrizadas como ele deveriam ser trabalhadores
da construção ou mecânicos ou, eu não sei, lutadores.

Não homens de negócios.

Então, talvez ele não fosse um homem de negócios, afinal.

E isso, bem, quebrava a pequena história que criei para ele


depois de tanto tempo de vê-lo ir e vir.

De certa forma, fiquei feliz pela nova história.

Talvez porque eu estava começando a experimentá-la um pouco


em primeira mão, não pensando bobagens na minha cabeça, uma
mente hiperativa presa em um corpo estacionário.

~ 31 ~
Se você me dissesse uma hora antes que eu seria jogada sobre o
ombro de um homem com quem tive talvez mais do que algumas
fantasias sexuais durante o ano passado, seu braço forte cruzando as
costas das minhas coxas para me manter no lugar, sendo carregada
para fora do prédio por um maldito herói de livro de romance, você
sabe quando os caras fazem uma merda heroica assim, e depois me
colocar em seu carro e cuidar de que meus pequenos arranhões como
se fosse de extrema importância, bem, eu teria dado uma gargalhada
enorme sobre isso.

Mas foi exatamente onde me encontrei.

Não vou mentir.

No momento, quando me foi tirada a escolha, quando fui forçada


a sair de um lugar do qual não tinha saído em anos, não parecia
heroico, nem doce nem romântico.

Naquele momento, eu estava tão desesperada para ficar


trancada dentro da minha pequena prisão que bati meus punhos nas
costas dele. Tentei chutar os joelhos nele. Gritei e implorei e, Deus,
chorei.

Porque meu coração tinha residido em minha garganta, batendo


mais selvagem do que antes, deixando-me sem ar, impossível fazê-lo
entrar, fazendo com que eu ficasse atordoada enquanto explodia em
suor e sentia a bile se mexer ameaçadoramente na minha barriga.

Novamente, sabia que era irracional.

Claro que sim.

Mas isso não mudava nada.

A ansiedade não era racional.

Simplesmente entendi isso e era impossível explicar aos outros.

Eu tinha ouvido isso ao longo dos anos.

Você está tão obcecada com sua doença mental.

Talvez porque afete todas as partes da minha vida.

Está tudo na sua cabeça.

~ 32 ~
Eu sei, certo? É como se fosse uma doença mental.

Por que você deixa que isso te impeça de fazer coisas normais?

Hmm, talvez porque uma doença mental é uma doença real.

Depois de um tempo, você para de se defender, para de falar


sobre isso, desliga tudo como um todo, deixando sua psicóloga um
pouco mais louca todos os dias.

Até que um dia era tudo o que restava, a loucura, a


instabilidade, a onda imparável de adrenalina que você nem conseguia
lutar. Porque não é apenas mental. A ansiedade causa uma reação
física que causa sintomas físicos intermináveis no corpo, que você
literalmente não pode controlar.

Li em um dos meus muitos livros de autoajuda que a adrenalina


liberada durante um ataque de pânico estava ligada a um instinto
biológico de luta ou fuga e que aqueles que estavam mais inclinados a
ataques de ansiedade vieram de uma linhagem forte de pessoas que
confiavam nesses instintos e agiam em conformidade.

Eu tinha antepassados que escaparam de seus problemas.

E isso me deixou com a necessidade de suportar e lutar contra


meus invisíveis.

É uma lástima que eu fosse uma maldita lutadora.

Mas uma vez que ele me colocou no banco, ligou o carro e me


lembrou de respirar, a tontura começou a recuar ligeiramente. Então,
quando ele me deixou para checar as coisas, consegui me controlar e
me segurar. O carro não era tão ruim. Estava morno. O banco até
aqueceu por trás e por baixo de mim. Tinha uma vibração um tanto
calmante enquanto estava ociosa, lembrando-me da minha vida antes,
quando eu amava infinitas viagens rápidas e perigosas, e inúteis
quando eu tinha um longo dia e precisava relaxar.

No banco de trás, Rocky aceitou sua prisão e parou de miar e


bater.

E isso ajudou a diminuir a ansiedade também.

No momento em que ele voltou, senti quase tudo de novamente.


Fiquei um pouco cansada. Minha pele pereceu corar e meu coração

~ 33 ~
ainda estava batendo um pouco acelerado, e eu estava esgotada após o
aumento da adrenalina, mas não estava pirando. Não muito.

— Você está bem? — perguntou, a voz inesperada. Fazia tanto


tempo que havia outra voz ao meu redor, exceto as visitas do meu tio e
os compromissos agendados com Bry, que foi surpreendente ouvir.

Apertei um pouco, meus dedos involuntariamente apertando os


dele, enquanto meu olhar voava até o rosto. — O quê? — perguntei,
piscando duas vezes enquanto seus penetrantes olhos azuis fixavam
os meus.

— O peróxido, — ele explicou, fazendo meu olhar voar para


baixo para onde minha mão estava de alguma forma pingando, embora
eu não tivesse quase sentido o spray.

— Oh, ah, sim, — disse, olhando para trás, dando-lhe um


sorriso um pouco torto. — Não senti nada, — expliquei.

E foi exatamente aí que percebi que meus dedos haviam


relaxado nos dele com seus pequenos espasmos involuntários, mas ele
estava segurando os meus também.

Meu coração, sim, ele parou de bater por um segundo, que


poderia dar uma estranha e deliciosa cambalhota fazendo um
desconhecido calor se espalhar por todo o meu peito.

Contato humano. Eu tinha esquecido como era.

Senti o vidro de peróxido deslizar para baixo no banco ao longo


da minha coxa, descansando perto da minha bunda, enquanto um
som enrugando fazia minhas sobrancelhas se juntar por um segundo
antes de ele levantar um pequeno rolo de gaze em volta da boca e
beliscar o lado, rasgando-o.

Assim ele não precisou soltar minha mão para usá-la para abrir.

— Eu, hum, não acho que a gaze é necessária, — forcei-me a


dizer, embora a maior parte de mim realmente, realmente queria que
ele envolvesse a minha mão por razões que eu estava escolhendo não
analisar.

Você tem que fazer um esforço ativo para parar os pensamentos


girando, Dusty.

Essa seria a minha terapeuta, Amy, conversando.


~ 34 ~
Ela insistiu em chamá-la assim — Amy. Não de Dra. Robertson.
Acho que era uma técnica que eles aprenderam na faculdade ou algo
para ajudar os pacientes a se sentirem mais à vontade. Como ela
também não nos chamava de “pacientes”, mas “clientes”. Por que, não
tinha certeza. Eu estava definitivamente doente. Era absolutamente
paciente. Era um termo completamente apropriado. Mas talvez fosse
mais fácil para as pessoas terrivelmente estacionadas na negação se
aceitarem como um cliente em vez de um paciente.

Então, eu tentava seguir seu conselho. E não pensaria no que


acontecia no carro dele.

Você sabe, pelo menos até que eu esteja novamente em meu


apartamento.

Então, oh, sim, ia analisá-lo nos mínimos detalhes.

— É mais seguro, — ele disse, encolhendo os ombros, dando aos


meus dedos um último aperto pequeno antes de soltá-los para que ele
pudesse usar as duas mãos para me embrulhar. Meu olhar caiu, não
querendo ser indiscreta continuando a olharem seu rosto, e observava
como ele rapidamente, mas super cuidadosamente envolveu-me. —
Ryan, — ele disse um momento depois quando pegou o pequeno
esparadrapo para prender a gases.

— Desculpe? — perguntei, olhando para encontrá-lo me


olhando.

— Ryan Mallick, meu nome, — ele disse com um pequeno aceno


de cabeça.

Certo.

Eu sabia.

Porque, como eu disse, ocasionalmente o observava. E isso


significava que também via seus irmãos às vezes chamando-o de Ry e
Ryan, e também uma vez recebi uma carta dele por engano. Então
corri no corredor e joguei debaixo da sua porta porque não conseguia
entregar a ele.

— E você é Dusty, — ele disse, meu nome em sua voz suave,


enviando um estranho arrepio em minha pele. — Nome interessante.

~ 35 ~
— Minha mãe era, ah... — como era uma boa maneira de dizer
isso? — Um pouco hippie. Então fui chamada de Dusty Rose Sunshine
McRae.

— Sunshine, hein? — ele perguntou, o sorriso brincando de um


jeito que fez seu semblante severo parecer acolhedor e convidativo. —
Acho que posso ver isso. — Então, antes que pudesse me apaixonar
por ele logo depois, ele se moveu para trás, colocando minha mão na
minha própria coxa e cortando completamente todo o contato.

Fiquei irracionalmente triste com a falta disso, então estendi a


mão para o frasco de peróxido e encontrei a tampa apenas para ter
algo para fazer.

— Desculpe, por ter tirado você de lá, — ele disse um pouco


depois quando reorganizei completamente o conteúdo do kit de
primeiros socorros que ele tinha bagunçado, peguei a embalagem
usada para a gaze e coloquei em meu bolso e depois guardei o kit de
volta no porta-luvas.

— Sim, como você ousa não me deixar morrer, — eu disse,


atirando-lhe um sorriso sobre meu ombro enquanto fechava o porta-
luvas.

— Não sinto muito por te salvado, querida. Desculpe-me, ah, se


a deixei tão desconfortável.

Desconfortável.

Essa era uma maneira delicada de falar.

— Não é culpa sua, — ofereci, porque era verdade. — Além


disso, estou bem agora.

E, surpreendentemente, eu estava.

Estava acostumada a trivialidade com as pessoas, especialmente


meu tio e a terapeuta. Sempre estava bem. Mesmo quando eu não
estava.

Mas sentada aqui, em um carro onde nunca estive antes, com


um homem a quem observei do meu apartamento por um ano e
estávamos juntos pela primeira vez em cerca de dois anos, sim, achei
que não estava mentindo quando disse que estava bem.

Eu estava.
~ 36 ~
Não muito bem, mas isso era pedir demais.

Mas tudo bem.

— Há quanto tempo?

Meus olhos cruzaram o rosto dele, vendo-o me observando de


novo e tive a forte impressão de que ele estava vendo mais do que eu
pensava que estava dando a ele. Ele tinha esse tipo de olhos, os que
liam você.

— Dois anos, — admiti.

— Posso lhe perguntar uma coisa que queria saber desde que,
porra, não sei... desde que me mudei?

— Claro, — eu disse, a barriga apertando um pouco ao saber


que apenas concordei em responder algo que ele poderia perguntar.
Coisas que eram completamente irrespondíveis como: por que você é
uma agorafóbica de qualquer maneira?

— Como diabos você consegue que o carteiro leve suas caixas


até sua porta? Se a minha caixa ficar muito cheia, ele começa a me
deixar recados, “Desculpe-me, nós não encontramos você”, e me faz
levar minha bunda até o escritório de correios para pegá-las.

Sorri com isso não só porque era um visual engraçado, mas


porque era muito parecido com ele. Não Ryan, tio Danny. — Meu tio é
nosso carteiro, — informei com uma risada. — Ele, bem, na maior
parte ele me criou, então somos próximos, e ele, tipo, entende meus
problemas, então me ajuda colocando meus pacotes na minha porta.

A minha terapeuta arquearia as sobrancelhas em reprovação na


palavra “ajuda”, escolhendo em vez disso dizer “incapacita”. Mas foda-
se.

— Isso explica. Como na maior parte do tempo ele criou você? —


Ele continuou, e onde normalmente parecia ficar invasivo quando um
conhecido me perguntava isso, era tão agradável falar com alguém que
não estava tomando notas, que nem me importei.

— Como eu disse, minha mãe era um pouco hippie. Ela vagava.


Nunca se aquietou e quando o fazia, costumava ser com um homem.
Às vezes, esses homens não queriam uma garota pendurada ao redor,
então eu era deixada em Navesink Bank e ela saia... por algum tempo.

~ 37 ~
No fim das contas, ela o colocaria na rua ou, mais frequentemente, ele
a deixaria e ela se sentiria culpada e voltaria para mim. Nós não
somos, hum, muito próximas.

— Compreensível, — ele disse com um aceno de cabeça que dizia


que ele não me julgou por afastá-la da minha vida. Inferno, eu ainda
me julgava por isso.

— Você é próximo de sua família? — perguntei, já sabendo a


resposta, desde que tinha visto sua família visitá-lo muitas vezes, mas
querendo continuar com essa conversa.

Ele sorriu um pouco sobre isso, uma sobrancelha subindo. —


Talvez próxima demais, às vezes, — ele disse de uma maneira que
sugeriu que havia um significado mais profundo que ele não iria me
deixar saber. — Tenho quatro irmãos, — ele continuou, sem parecer
querer silêncio também. — Somos todos próximos porque, bem, a
nossa mãe nunca nos permitiria não ser. Ela é um pouco durona.

— Bem, ela teria que ser para criar cinco filhos, não é? — Parei,
perguntando-me como seria ter irmãos, achando que talvez me sentiria
menos sozinha no mundo enquanto crescia. — Deve ser bom ter
muitas pessoas preocupadas com você, — eu disse, não queria dizer
por que implicava que muitas pessoas não se importaram comigo. E
enquanto isso era verdade, me fez parecer um pouco patética.

— Oh, eles certamente se importam. Sobre o que visto, como ajo,


o que dirijo, quem encontro, minha falta de vida social.

— Bem, dificilmente posso julgá-lo sobre isso, — eu ri.

— Você foi sempre... — ele começou a perguntar, mas o


interrompi antes que ele pudesse dizer.

— Não. Isso veio... gradualmente no início e depois tudo de uma


vez. A maior parte da minha vida, eu era, você sabe... normal. Eu
tinha amigos e saia, e tinha um emprego em que eu ia todos os dias.

— Onde você trabalhou?

— Lecionei no jardim de infância, — informei, sentindo uma


pequena ponta familiar por mencionar isso. Foram os melhores
momentos.

~ 38 ~
— Você gosta de crianças, hein? — Ele perguntou, ainda me
dando esse sorriso suave que achei realmente desconcertante. —
Tenho três sobrinhas que são adoráveis bestas do inferno.

Surpreendida, uma risada sufocada escapou de mim, fazendo


um barulho baixo e sexy vir dele também.

— Adoráveis bestas do inferno é uma maneira interessante de


colocar.

— Acho que você teria que encontrar Hunt e Fee para entender
isso. Fee, é um pouco, ah, digamos forte e opinativa. Essa seria uma
maneira dócil de colocar. Ela possui um negócio de sexo por telefone
na cidade.

— Compreendo, — sorri, achando que definitivamente seria uma


mulher forte, opinativa e confiante para fazer esse trabalho. —
Qualquer outro sobrinha ou sobrinho? Com todos aqueles irmãos,
quero dizer...

— Bem, alguns de nós estivemos muito ocupados com o trabalho


e os outros estiveram muito ocupados perseguindo saias para se
acalmar. Mas meu irmão mais novo, Shane, acabou de se arrumar
com uma mulher chamada Lea e espero que eles comecem a fazê-los o
quanto antes.

— Grande família, — sorri, não encontrando nem um pedacinho


de nostalgia por dentro.

Adorava meu tio.

Ele sempre foi minha rocha, minha âncora, meu lugar seguro
para pousar. Sua porta estava sempre aberta para mim quando
criança, não importava a que horas da noite minha mãe aparecia, não
importava o quanto ele tivesse que reorganizar sua vida para cuidar de
mim. Ele era, para um homem muito reservado e, portanto, não
excessivamente carinhoso, a pessoa mais generosa e desinteressada
que já conheci. E, enquanto a minha infância não envolveu abraços
calorosos quando meu coração estava quebrado ou trança no cabelo,
ou maratonas de comédias românticas, ele era alguém que sempre se
lembrava das minhas comidas favoritas e as mantinha abastecidas,
que sempre me disse que eu poderia fazer o que colocasse na minha
cabeça e que nunca me julgou pelas minhas deficiências.

~ 39 ~
Dessa forma, não houve jantares loucos de Ação de Graças ou
grandes sessões de desembrulhar presentes na manhã de Natal. Não
houve brincadeiras tão barulhentas para que você não pudesse se
pegar pensando sobre isso.

Sempre quis o tipo de feriados que vi nos filmes.

Ryan tinha isso.

Eu invejo isso.

Mesmo que isso significasse que eles me julgassem sobre o que


usava e como eu agia e com quem namorava e como passava meu
tempo livre.

— Seu tio vem passar o Natal com você? — Ele perguntou


quando o silêncio se estendeu o suficiente para ficar desconfortável.

O Natal era em pouco mais de uma semana.

— Ele geralmente passa algumas horas aqui, sim.

— Você cozinha?

— Mhmm, — eu disse, encolhendo os ombros. — Você tipo


entende a minha situação. Sua família faz grandes coisas?

— Tarde de Natal, — ele concordou, balançando a cabeça. —


Costumava ser de manhã até que Fee teve as meninas. Agora elas têm
que ter sua manhã de Natal em casa, então mudou para mais tarde.

— É louco? — perguntei, ouvindo a necessidade em minha


própria voz.

— Louco pra caralho, — ele disse, disposto a me dar o que


claramente eu precisava. — Todo mundo tem que comprar presente
pra todo mundo, assim ocupa toda a sala de estar. Desembrulhar
demora horas e depois temos um enorme jantar que, até então, todos
já beberam uma bebida ou cinco, e por isso estão excessivamente
altos. Isso é...

— Natal, — disse sorrindo um pouco triste.

— Sim, — ele concordou, pegando a melancolia porque seu


sorriso foi quase simpático. Observei então, quase em câmera lenta,
quando sua mão começou a subir, vindo em minha direção.
~ 40 ~
Somente para descer quando houve uma batida forte na janela
lateral do motorista que nos fez saltar.

— Merda, — ele murmurou, parecendo irritado por ser


interrompido quando se virou para encontrar nosso síndico, Andrew,
parado ali. Ryan baixou a janela e soltou um impaciente, — O quê?

— Tudo está limpo. Vocês dois podem voltar para seus


apartamentos agora, — ele disse, essa pequena declaração quebrando
meu pequeno e fantasioso mundo onde eu poderia sentar em um carro
com um homem e compartilhar histórias e ser normal por um tempo.

Mas não era normal.

E eu provavelmente nunca mais teria a chance de ter essa


pequena fantasia novamente.

Como se sentisse o mesmo, a cabeça de Ryan virou-se para mim,


a boca em uma linha severa, os olhos protegidos. — Obrigado, Andrew,
— ele disse, sem parecer grato. Então ele subiu a janela e alcançou a
chave, sabendo tanto quanto eu que o momento havia terminado e era
hora de voltar para nossas vidas reais.

Onde ele era um empresário super sexy com algum tipo de lado
escuro e uma família selvagem e amorosa.

E eu era uma aberração neurótica e caseira com um tio que me


amava e um gato que me arranhava e, bem, nada mais acontecendo.

Praticamente voei fora do carro nesse pensamento, entrando na


traseira para pegar a gaiola de Rocky.

O que eu estava pensando ao me divertir com uma conversa com


ele, conhecendo alguém de quem queria saber mais, queria conhecer
tudo, quando sabia que era algo que não poderia ter?

Sempre me preparando para a decepção.

A caminhada de volta pelas escadas e no corredor foi


ensurdecedoramente silenciosa.

— Obrigada, — ofereci, dando-lhe um pequeno sorriso na minha


porta que ainda estava aberta porque nenhum de nós havia se
incomodado em fechá-la.

~ 41 ~
— A qualquer momento, querida, — ele disse enquanto se
afastava.

Eu conhecia trivialidade quando ouvia.

Estava habilmente versada nelas.

Ele não quis dizer a qualquer momento e eu não ia me deixar


esperar nada mais do que isso.

Só que uma vez na vida alguém me tirou de minha zona de


conforto e eu não senti que estava morrendo.

Então, entrei no meu apartamento, deixei Rocky sair e subi na


minha banheira e continuei a ficar um pouco mais louca enquanto
jogava, rebobinava, repetia, avançava rapidamente, rebobinava e
jogava a noite mais e mais novamente na minha mente.

Amy teria tido muito a dizer sobre isso também.

Sabe, se eu lhe contasse.

De alguma forma naquela noite, a primeira noite de progresso


em anos, eu tinha também conseguido desistir em melhorar.

Na manhã seguinte, foi a primeira manhã em anos em que não


me levantei e me vesti indo até a minha porta tentando me convencer
a sair.

Porque eu tinha saído.

E não fez nada melhor.

Aliás, eu realmente me sentia muito pior.

~ 42 ~
Cinco
RYAN

— Cadê ela? — Minha mãe perguntou, puxando a cabeça para


trás enquanto eu estava na entrada da porta.

Sem Feliz Natal.

— Cadê quem? — perguntei, lutando para segurar as quatro


sacolas e duas caixas gigantes com as quais fazia malabarismos.

— Cadê quem? — ela zombou, pegando uma das caixas que


estava começando a cair e indo para dentro para que eu pudesse
passar. — Ouvi tudo sobre essa mulher, sua vizinha.

Jesus Cristo.

As fofocas na minha família deixam a fábrica de boatos


envergonhada.

— Desculpe, você perdeu seus vinte dólares, Mãe, — falei,


balançando minha cabeça quando ela entrou na sala vazia de pessoas,
mas cheia de presentes, e colocando minhas coisas debaixo da árvore.
Ou, em vez disso, no meio da sala, já que a pilha se espalhou por
baixo da árvore até quase o centro da sala.

— Cinquenta na verdade, — ela disse, me dando um sorriso


malicioso enquanto me ajudava a organizar as coisas. — A essa altura
você deveria saber que não se aposta nos seus filhos que já
sossegaram.

— Querido, Shane está em um relacionamento sério. Ainda há


esperança para o resto de vocês. — Ela ficou de pé, pegando as sacolas
de presente que eu trouxe e indo em direção à cozinha. Eu sabia por
conhecê-la por toda a vida que deveria segui-la. E me deparar com um
prato de biscoitos de Natal frescos não era uma maneira ruim de lidar

~ 43 ~
com o inesperado interrogatório que seguiria. — Então, o que
aconteceu?

— O que aconteceu com o quê? Ela é minha vizinha, Mãe. É


isso.

— Oh, por favor, — ela disse, acenando com uma luva de forno
desproporcional que eu sabia que Fee ajudara Becca a fazer em seu
último aniversário. — Ouvi que ela é linda.

— Ela é, — concordei. Era um fato simples. Ela era talvez a


mulher mais bonita que já tive o prazer de olhar. Mas isso não
significava nada.

— E ouvi dizer que você a jogou sobre seu ombro todo estilo
bombeiro e salvou sua vida e de seu gato.

Deus.

— Sim, — concordei, pegando outro biscoito, desejando de


repente que ela os misturasse com rum como fazia com os bolos de
café que nós teríamos mais tarde.

— E você ainda não conseguiu chegar junto? — ela perguntou,


me dando o que eu só poderia chamar de sorriso desapontado.

— Chegar junto? — repeti, levantando a testa.

— Chegar junto. Selar o negócio. Foder...

— Tudo bem, então, — eu a cortei com uma risada


desconfortável. Não importava que eu fosse um homem adulto e ela
era uma mulher adulta. Nunca seria confortável ouvir sua mãe falar
sobre você “selar o negócio” com alguém. Nem na minha fodida família
tão louca. — Ela é apenas minha vizinha, Mãe. Ela estava
malditamente congelada de medo e eu a arrastei para fora e fiz alguns
curativos na mão e...

— Curativos na mão, hein? — ela perguntou, os lábios se


contorcendo e eu a conhecia tão bem que sabia que haveria algo sobre
“dar uma de médico” saindo de seus lábios a seguir.

— E é isso, — acrescentei para encerrar o assunto. — Ela é


agorafóbica, Mãe. Não é porque eu a salvei de se intoxicar por
monóxido de carbono que de alguma forma ela se curaria.

~ 44 ~
Na verdade, não havia cura para isso.

Sabia disso porque, como eu era um fodido estúpido, fui


pesquisar na internet.

Descobri muito. Entendi melhor, apesar de ter certeza de que


não havia nenhuma maneira de saber verdadeiramente, a menos que
você passasse por isso, como qualquer doença mental.

Mas porque pesquisei, sabia que a recuperação era cheia de


passos para frente e para trás, frustração e desapontamento.

E como não a tinha visto fora do apartamento desde aquela noite


no meu carro, achei que ela não estava fazendo nenhum tipo de
progresso.

— Além disso, — continuei, passando por ela para onde alguns


decantadores estavam no balcão e me servi uma bebida, — ela é uma
boa menina.

— E? — ela perguntou, as sobrancelhas juntas.

— E, a última vez que eu trouxe uma menina agradável para


casa, você a assustou, dizendo-lhe que eu era a porra de um executor
depois de... devo acrescentar, exigir que eu a trouxesse um encontro
em primeiro lugar.

Ela revirou os olhos nisso. — Isso não significa que não gosto de
garotas agradáveis. Isso significava que alguém era chata e não
conseguia lidar com a verdade.

— Dusty costumava ser uma professora de jardim de infância.


Não uma motoqueira como Lea ou uma operadora de sexo por telefone
como Fee.

— Professora de jardim de infância, hein? Ela deve querer filhos.


Seu pai vai adorar ouvir isso.

— Jesus Cristo, não comece a planejar nosso casamento, —


resmunguei, balançando a cabeça.

— Olha, ela é agorafóbica e, pelo que ouvi, envolvida com alguns


caras desagradáveis. Isso é bastante interessante para mim.

~ 45 ~
— Bem, para sua informação, isso aquece a porra do meu
coração que você aprove uma mulher com quem não estou atualmente
e com quem não irei namorar.

— Quem não está namorando? — a voz de Lea perguntou de


repente, me fazendo de idiota e olhando para a entrada, onde a
encontrei de pé com jeans justo e um suéter branco, seu longo cabelo
escuro afastado de seu rosto impressionante.

Meu irmão tinha feito bem para si mesmo. Melhor do que ele
merecia. Por sorte, o merda sabia disso e a tratava adequadamente.

— A menina vizinha bastante tímida, — minha mãe informou,


piscando para ela.

— Oh ela. Perdi cinquenta dólares por causa disso. Obrigada por


não chegar nela. — disse Lea, me dando um sorriso perverso.

— Primeiro, ela não é tímida. Ela é agorafóbica. Em segundo


lugar, parem de foder apostando na minha vida romântica e vocês não
perderão dinheiro.

— Fee ainda está dentro, — disse Shane, caminhando atrás de


Lea e envolvendo seus braços ao redor de sua cintura, inclinando-se
para baixo, de modo que seu queixo descansasse em sua cabeça. —
Aparentemente, enquanto ela me falou durante uma hora, quando eu
falei sobre a aposta, todos nós fomos idiotas por apostar tão cedo.
Acho que por causa de seus antigos problemas, ela entende melhor
esse negócio da menina Dusty do que nós.

A esposa de meu irmão Hunter (o único de nós que não era


executor), Fiona, teve uma infância verdadeiramente fodida que a
deixou incapaz de ficar sozinha no apartamento dela à noite, quando
Hunt a conheceu pela primeira vez. Como tal, ela saia e bebia se
machucava. Ela lentamente se recuperou e fez Hunt tatuar sobre
todas as suas velhas cicatrizes de automutilação, querendo apagá-las,
seguir em frente. Eu definitivamente poderia ver como ela poderia
entender Dusty melhor do que o resto de nós.

— No entanto, ela ainda apostou nisso, — eu disse, irritado sem


uma boa razão. Todos entraram na fodida aposta.

— Talvez ela tenha pensado que dois enclausurados como você e


ela iria funcionar bem pra caralho, — Shane riu.

~ 46 ~
— Jesus Cristo. Vou precisar de outro desses para lidar com
vocês todos esta noite, — eu disse, voltando para os decantadores e me
servindo outra dose. Precisaria de pelo menos cinco delas para lidar,
para ser honesto.

Minha família, enquanto se amavam, realmente, realmente


gostavam de se torturar mutuamente quando havia algum tipo de
sujeira sobre eles.

Eu era o único com a sujeira nesse mês. Estava rezando pra


caralho que Mark fosse flagrado em seu carro com uma garota ou Eli
ficasse louco novamente, assim eles me deixariam em paz.

Até lá, eu tinha que sorrir e aguentar.

Essa tarefa ficou infinitamente melhor quando Fee e Hunt


entraram com as três meninas em êxtase querendo saber o que Papai
Noel trouxe para a casa da vovó e do vovô.

Isso durou até depois do jantar, quando as crianças fugiram


para brincar com seus brinquedos novos, deixando todos nós adultos
um pouco bêbados ao redor da mesa tomando café.

Então voltei a ser o alvo principal.

— Sério, você salva a vida dela e ainda não chegou a lugar


algum? — perguntou Mark, sorrindo.

— Não estava salvando sua vida para entrar em suas calças,


cara, — eu disse, pegando meu café e tomando um longo gole.

— Não, mas poderia ter sido um bom movimento nessa direção,


— ele acrescentou com uma risada.

— Qual é o problema, Mark, você não está pegando rabos o


suficiente, então tem que viver indiretamente através de mim?

— O rabo que estou pegando não está em discussão agora.


Estamos falando da sua falta de rabo. Francamente, estamos... — ele
começou tentando dizer com um rosto sério e falhando epicamente, —
Estamos preocupados com você, irmão.

Eu ri sem achar um pingo de graça nisso.

— Apenas aceitem perder seus cinquenta dólares e sigam em


frente.
~ 47 ~
Com isso, o assunto pelo menos encerrou.

Todos voltaram sua atenção para perguntar a Shane e a Lea


sobre bebês, sobrinhas e sobrinhos, me salvando um pouco de
sanidade até às dez daquela noite, quando todos finalmente saímos da
sala e voltamos para casa.

Enquanto eu caminhava pelo meu corredor em direção ao meu


apartamento, meu foco era principalmente na porta de Dusty,
pensando na maneira triste e invejosa como ela me olhou quando
contei sobre o meu Natal com minha família. Era algo com o qual
estava tão acostumado que nem pensei duas vezes. Todos os
encontros familiares eram estridentes, selvagens, agitados,
esmagadores.

Eu realmente não conseguia imaginar uma noite tranquila com


apenas outra pessoa.

Assim que cheguei à minha porta, meu olhar finalmente se


afastou de seu apartamento tranquilo e olhei para o meu. Bom, porque
caso o contrário eu poderia ter pisado em um grande pacote retangular
na minha porta. Eu o peguei, quase dando meia-volta em direção à
porta de Dusty, certo de que era um dos pacotes dela, embrulhado em
um papel bobo com Papai Noel, quando percebi a pequena etiqueta e
vi meu próprio nome impresso lá em uma escrita delicada e feminina.
Minhas sobrancelhas se juntaram enquanto eu olhava para o “De”, já
sabendo, mas encontrando a mesma fonte delicada com o nome de
Dusty. Meus olhos voltaram à sua porta por um momento antes de
destrancar a minha e entrar.

Acendi a luz e soltei minha sacola de presentes da minha família


ao lado da porta, indo para a ilha da cozinha e colocando o presente de
Dusty.

Peguei novamente a etiqueta e a abri.

Obrigada por não me deixar morrer. Além disso, Feliz Natal!


Dusty.

Nem percebi que estava sorrindo até que minhas bochechas


começaram a doer.

Puxei a etiqueta e a coloquei de lado antes de alcançar o canto


do papel e puxar, achando que o rolo deve ter sido de estampa dupla
face porque dentro, olhando para mim, havia mais Papai Noel, apenas
~ 48 ~
maior. E quando retirei o papel, encontrei papel de seda vermelho
cuidadosamente colado no centro. Aparentemente, Dusty era do tipo
perfeccionista. O que, de alguma forma, achei charmoso.

Rasguei a fita e puxei o papel para revelar, entre todas as coisas,


uma pintura em tela.

Era abstrata, como a maioria da minha arte, e, como a maioria


da minha arte, era também um esquema de cores neutras. Havia
ondas de tons diferentes de bronzeado e marrom com a série ocasional
muito brilhante, quase azul água.

Mesmo que não fosse algo que eu tivesse escolhido, sem dúvida
gostei disso. E não tinha nada a ver com o fato de que era um presente
de alguém com quem eu, apesar de ser estúpido e fantasioso, em uma
fase tão precoce, me importava muito

Sem nem pensar, tirei o meu paletó, andei até o meu armário de
vinhos acima da minha pia, peguei uma boa garrafa de tinto, um saca-
rolha e duas taças no caso de não haver nenhuma, e caminhei até o
outro lado do corredor, batendo na porta da maneira mais silenciosa
possível para não a assustar.

Houve uma longa e longa pausa, seguida de alguma luta, miado


de gato e passos que pararam logo na frente da porta. O olho mágico
escureceu quando ela, imaginei, olhou para fora, então ouvi o
deslizamento das fechaduras e a porta se abriu timidamente.

E lá estava Dusty... em malditos pijamas com estampas de


renas. As calças tinham uma pequena rena em todas as partes e a
camiseta de manga comprida tinha uma rena gigante na frente e no
centro o nariz vermelho.

— Bonito pijama, — eu disse, sorrindo porque não podia evitar.

— Eu, ah, obrigada. O que você está fazendo aqui? — Ela deixou
escapar, quase no mesmo instante, as palavras tropeçando umas nas
outras.

— De nada, e obrigado, — eu disse, dando-lhe o que esperava


ser um sorriso encorajador. — E preciso de um copo de vinho mas não
quero beber sozinho, — ofereci, mentindo descaradamente, pois eu
tinha bebido muito mais cedo e me sentia lúcido e sóbrio de novo, mas
querendo qualquer desculpa para talvez entrar.

~ 49 ~
— Oh, — foi sua única resposta no começo, seus olhos indo à
minha mão.

— Você bebe vinho? — perguntei, pensando se deveria ter


trazido os biscoitos que Anita deixou em vez disso. E se ela estivesse
com medicação ou alguma merda assim?

— Se for bom, — ela disse com o que eu poderia chamar de um


sorriso descarado enquanto ela tentava um passo atrás. Não me
deixou completamente na sala, mas foi um passo na direção certa.

— Eles não me cobrariam setenta dólares por garrafa se fosse


ruim, — acrescentei, segurando a garrafa.

Ela acenou um pouco com isso e se moveu de novo, antes de me


bloquear novamente. — Espere. Eu, eu preciso pegar Rocky.

— Por quê?

— Ele não gosta de homens.

— Bem, eu não gosto de gatos, então estamos quites, — eu


disse, entrando antes que ela encontrasse uma desculpa para me
deixar fora.

— Acho que isso é justo, — ela disse, deixando-me entrar antes


de fechar a porta atrás de mim, trancando-a, encostando-se contra
ela, me observando com ansiedade enquanto olhava em volta do
apartamento dela.

Era tudo branco e verde oliva, não meu estilo, mas era bem
equilibrado e acolhedor. Acho que se tudo fosse escuro, seria mais
como uma prisão para ela.

— Lugar agradável, — disse, passando para o espaço da cozinha,


que era uma réplica exata da minha e colocando os copos no balcão.
Fiz um rápido trabalho com a rolha e coloquei a garrafa para respirar
antes de olhar para ela novamente, encontrando-a alguns metros
dentro da porta, mas ainda no meio do apartamento. — Gostei
bastante da pintura, — falei com sinceridade.

Ela então me sorriu, aliviada. — Vi aquela outra que você


entregou e vi essa e pensei que era um estilo similar.

— Aspen.

~ 50 ~
— Como?

— A pintura que tenho. É assim que se chama.

Ela assentiu com a cabeça. — Moody Blue, — ela disse, andou


para ficar no outro lado da ilha. — É como chama essa que te dei.

Acenei com a cabeça, olhando para a pequena árvore de Natal no


canto do apartamento, coberta de enfeites dourados e brancos
cuidadosamente escolhidos. — Como foi seu Natal?

— Tranquilo. Calmo. O habitual. O seu?

— Selvagem. Barulhento. O habitual, — ofereci, deixando de fora


que ela foi o assunto do dia. — Então, tem algum biscoito para
acompanhar isso? — perguntei e ela sorriu enquanto se movia para a
cozinha, apertando-me sem hesitação para tirá-los de um recipiente de
plástico que ela tinha no balcão.

— Aveia, pedaços de chocolate, flocos de chocolate, manteiga de


amendoim, coco e chruscikis.

— O que diabos é um chrusciki? — perguntei e ela abaixou o


recipiente e tirou de dentro uma pequena coisa parecendo gravata
borboleta coberta de açúcar em pó.

— Bolinhos poloneses. Fritados e horríveis para você, mas a


melhor coisa da minha vida.

— Você falou horrível para mim, — eu disse, decidindo não


pegar um no recipiente, mas sim aquele de sua mão, meus dedos
roçando os dela. Observei seu rosto, vendo a maneira como seus lábios
se separaram infinitamente enquanto eu colocava o biscoito na minha
boca.

— Bom? — Ela perguntou quando comecei a assentir.

— Porra, sim. Preciso dar à minha empregada essa receita. Ou à


minha mãe. Quem quer que as faça para mim com mais frequência.

— Sempre que os fizer, vou deixar alguns em sua porta, — ela


sugeriu, as bochechas um pouco cor-de-rosa e foi então que percebi
que não foi seu tio quem deixou o presente para mim como eu tinha
pensado. Ela fez isso sozinha. Ela tinha voluntariamente saído de seu
apartamento. Apenas para me dar um presente de Natal.

~ 51 ~
Isso pareceu um grande avanço, como um progresso para mim.

— Sabe, pode esperar até que saiba que estou em casa para
deixar lá.

— Não quero... ah, interromper qualquer coisa.

— Como minha noite ocupada no sofá respondendo e-mails de


trabalho? — perguntei com um sorriso malicioso.

— Não, queria dizer caso talvez você tivesse... companhia.

Mulheres.

Ela não queria interromper se eu tivesse companhia feminina.

E juro que estava a poucos segundos de alegar que isso nunca


aconteceria só para seu rosto bonito vir até a minha porta. Mas a
questão era que, não importa seus pequenos passos, não conseguia
vê-la sendo de repente uma pessoa plenamente funcional, pronta para
um relacionamento em breve. Embora eu seja paciente e não seja
governado pelo meu maldito desejo sexual, não via nada acontecendo
conosco dessa forma.

Mas poderia esperar pelo menos uma amizade.

Então não consegui fazer promessas sobre nunca namorar.


Porque enquanto meus irmãos estavam certos e eu estava com um
período de seca, sabia que a qualquer momento acharia uma mulher
nas minhas viagens e a levaria para a cama novamente.

— A porta está sempre aberta, querida, — eu disse, em vez


disso, sabendo que era o melhor que poderia dar a ela.

— Tudo bem, — ela disse, me dando um sorriso falso e fazendo


um gesto para a sala de estar. — Você quer sentar? Está passando
Uma História de Natal. Você sabe... reprisando o resto da noite porque
Uma História de Natal nunca é demais.

— Claro, — eu disse, agarrando as taças e as garrafas e indo até


a sala onde havia apenas um lugar para se sentar.

E era um pequeno sofá.

E ela iria ficar grudada em mim.

~ 52 ~
Oh, sim, atravessar o corredor foi a melhor ideia que tive em um
longo e maldito tempo.

~ 53 ~
Seis
DUSTY

Então... ele estava no meu apartamento.

Nenhuma razão para perder completamente minha calma.

Só que ele estava em meu apartamento em seu terno cinza e


gravata vermelha e relógio bacana e um cabelo perfeitamente
despenteado e o rosto e olhos lindos e seu sorriso doce e sua garrafa
de vinho.

Isso parecia um motivo bastante legítimo para fantasiar, não é?

Desde a noite do alarme, eu estava instável. Num dia, na


fronteira da depressão, no outro, um pouco esperançosa. Era um
padrão incomum para mim que minha terapeuta notou facilmente e
ela me cutucou e me irritou até que finalmente obteve respostas para
isso.

E lhe contei tudo.

O fato de que eu observava Ryan, um dia disse oi, ele salvou a


mim e ao Rocky, cada pequeno detalhe que me manteve acordada à
noite e que passou pela minha cabeça todo o dia também.

Ela parou por um longo momento depois, observando-me


através da chamada de vídeo com olhos escuros que eu não conseguia
ler.

Então ela me disse que era apropriado lhe dar um presente em


agradecimento.

Na época, pensei que ela estava apenas me lembrando das


normas sociais básicas. Mas depois que o pacote chegou e eu estava
sentada no chão embrulhando-o que percebi que havia segundas
intenções.

~ 54 ~
Ela queria que eu fizesse a entrega.

Ela sabia que eu nunca pediria ao meu tio para fazê-lo, porque
ele iria perguntar e tirar conclusões precipitadas, colocar aquele olhar
esperançoso em seus olhos e ficaria frustrado quando eu não
melhoraria magicamente, me tornando uma garota sociável com um
namorado fixo e uma vida novamente.

Ela sabia que eu teria que fazer isso sozinha.

Eu tinha que reconhecer, foi uma boa jogada.

E, depois de ficar falando comigo mesma sobre isso por toda a


manhã, depois de ouvi-lo saindo, foi bem-sucedido.

Porque atravessei o corredor, coloquei o presente e voltei para o


meu apartamento para lidar com o ataque de pânico em privado.

Mas ele nunca veio.

Bati minha porta, tranquei e encostei-me contra ela e... nada.


Meu coração estava disparado, mas não entrando em pânico.

E fiquei meditando sobre isso por horas até que meu tio
apareceu, jantamos, abrimos presentes e então se despediu antes de ir
visitar alguns de seus amigos solteirões.

A última coisa que eu esperava nesta noite era uma batida na


minha porta.

Estava no meu quarto me preparando para dormir quando ouvi


a batida, fazendo meu coração disparar na minha garganta enquanto
eu congelava. Ninguém batia na minha porta. Exceto Bry, e Bry não
deveriam aparecer até o dia anterior à véspera de Ano Novo. Minha
mão foi até minha garganta enquanto eu colocava os pés descalços em
meu piso e olhei pelo olho mágico para encontrar Ryan ali parado,
parecendo um pouco cansado, mas feliz e estupidamente perfeito.

Eu não tive ninguém, além de Bry, Carl e meu tio Danny, em no


meu apartamento, bem, por um longo, longo tempo. Era estranho ficar
parada, perguntando o que ele acharia do meu apartamento enquanto
olhava ao redor. Mas ele estava perfeitamente cômodo, sentindo-se em
casa, abrindo o vinho e eu tinha biscoitos.

Essa comodidade me deixava mais à vontade.

~ 55 ~
Qual seria a única explicação possível sobre por que eu o
convidei a assistir a um filme comigo no meu minúsculo sofá de
Barbie. Era grande suficiente para mim, mesmo quando eu me
esticava nele. Mas Ryan era um grande cara e, bem, ele tomou mais do
que a metade.

Isso significava que, quando ele se sentou, seu corpo ficou


literalmente tocando o meu de ombro a joelho, eu tendo minhas
pernas entrecruzadas e ainda assim ele estava colado completamente
ao meu lado. O calor de seu corpo irradiava de suas roupas, um calor
reconfortante do qual eu estava apreciando muito.

Ele se inclinou para frente, servindo o vinho, depois se sentou e


virou para me oferecer minha taça. Eu peguei, fazendo nossas mãos
roçarem novamente e, bem, uma vez foi um acidente, várias vezes
eram propositais. Ele estava me tocando intencionalmente.

Isso, bem, sim, isso foi... bom?

Foi bom. Isso realmente era tudo o que importava, não era?

Ele se sentou e levantou a taça para mim. — O que estamos


brindando? — perguntei. — Sua força hercúlea, talvez?

Ele resmungou nisso. — Por favor. Você pesa tanto quanto seu
gato.

— Então, ah, pelas novas amizades? — perguntei com um pouco


de esperança, rezando para que não estivesse tão desesperada, embora
uma parte de mim estivesse definitivamente desesperada.

Ele me observou um longo momento, seus olhos claros ilegíveis.


— Não. Não, acho que também devemos brindar a isso.

— Bem, eu estou fora, então. Você escolhe.

Seus lábios se curvaram um pouco, não em um sorriso, mas


algo insinuando. — Esse é pelo progresso, — ele propôs, as palavras
um pouco pesadas e eu queria muito considerar algo mais nisso, mas
me obriguei a aceitá-las no valor nominal, brindando meu copo no dele
e tomando um gole.

Nunca bebi vinho de setenta dólares antes, pessoalmente eu


considerava uma garrafa de trinta dólares bastante boa, não sabia por

~ 56 ~
que havia coisas esnobes como vinho. Mas o seu vinho? Sim, era
incrível.

— Oh, meu Deus, — meio que gritei quando me sentei contra o


sofá.

— Vale a pena o preço que paguei? — Ele perguntou,


observando-me.

— Com isso, eu nem ficaria chateada se o seu motivo para


entrar aqui fosse para me roubar.

— A única coisa que estou roubando é mais desses bolinhos


poloneses, — ele disse e notei que os tinha deixado na cozinha.

— Oh, certo, — falei, tentando me levantar do sofá apenas para


encontrar sua grande palma pressionando na minha coxa logo acima
do meu joelho, firme e inflexível, mantendo-me no lugar.

— Relaxe. Vou buscar, — ele disse, levantando e caminhando


em meu apartamento para fazer exatamente isso. Ele colocou-os sobre
a mesa e esticou-se para tirar o paletó, deixando-o com uma camisa
cinza escuro, bem ajustada, com botões foscos.

— O que você faz? — encontrei-me perguntando.

Uma de suas sobrancelhas ergueu ligeiramente. — Tenho alguns


negócios, — ele informou, mas, se não me enganei, havia um pouco de
reserva em seu tom.

— Huh, talvez eu contrate você, — provoquei com um sorriso,


fazendo um gesto para onde eu tinha algumas caixas empilhadas em
meu aparador.

— Não é provável, — ele respondeu, sentando-se de volta e, sem


brincadeira, colocando sua mão de volta na minha coxa de novo, como
se fosse a coisa mais natural do mundo. Como se ficássemos dessa
forma o tempo todo. — Tenho uma joalheria, um prédio comercial,
uma empreiteira, parte de um bar e, recentemente, o abrigo feminino.

— Você é dono do abrigo das mulheres? — perguntei


imediatamente, sendo o mais interessante do grupo.

— Recentemente, — ele disse com um encolher de ombros. —


Eles estavam com problemas financeiros nos estágios iniciais e porque
as mulheres dos meus irmãos e minha mãe estão envolvidas de várias
~ 57 ~
maneiras, decidimos que precisávamos intervir. Acabou que eu estava
em uma posição melhor para assumir que os meus irmãos.

Ele me parecia ser bom com o dinheiro. Morávamos em um belo


edifício de apartamentos e, embora eu soubesse que ele havia feito
reformas no seu apartamento quando se mudou, não era um dos mais
caros da área. Ele usava bons ternos e relógios, mas não estava
constantemente fazendo compras ou trazendo sacolas com coisas.

Ele parecia casado com o trabalho.

Homens como esse geralmente tinham dinheiro para gastar em


garrafas de vinho de setenta dólares.

Mesmo antes da agorafobia, com o salário de uma professora,


tudo isso era um sonho.

Além disso, fui criada sempre poupando. Eu não era


materialista.

— Isso é muito... filantrópico de sua parte.

— Eles fazem coisas boas lá, — ele disse, encolhendo os ombros.

Eles faziam mais do que coisas boas. Eles mudavam vida. Sendo
o proprietário, tendo sua família envolvida, ele devia saber disso.
Quando li no jornal que eles o estavam construindo, o meu primeiro
pensamento foi já estava na hora. Crescendo, mudando-nos do jeito
que sempre fizemos, tinha visto mais do que a minha cota de mulheres
maltratadas. E Navesink Bank teve que lidar com as atrocidades de
homens como Lex Keith e seus antecedentes horríveis com as
mulheres.

Navesink Bank precisava de abrigo para mulheres.

E Ryan, meu vizinho doce e sexy como o inferno, tornou possível


esse negócio.

Isso dizia algo sobre ele.

— O quê? — ele perguntou, a cabeça dobrada um pouco para o


lado e notei que eu estava encarando ele.

Pega, segui em frente e lhe dei a verdade. — Você é uma pessoa


fenomenal, Ryan Mallick, — disse, dando-lhe um pequeno sorriso.

~ 58 ~
— Não me coloque em um pedestal, querida. Vou quebrar a
maldita coisa em um maldito minuto.

Novamente, havia aquela vigilância em seu tom e no rosto


quando ele falava, fazendo-me imaginar o que tinha sobre ele que o
fazia sentir assim. Cheguei à conclusão em seu carro de que ele era
mais do que parecia, mais do que um mero empresário, se as
cicatrizes contassem algo, mas o quê? O que ele era? O que ele faz?

Essas não eram exatamente coisas que eu poderia perguntar a


ele também.

Como para moderar o comentário, sua mão apertou minha coxa


novamente, lembrando-me de que ela ainda estava lá, levando meu
olhar para baixo. Curioso como isso não estava em primeiro plano de
todos os meus pensamentos, sendo o toque humano um conceito tão
estranho para mim por tanto tempo.

— Quer que eu tire? — ele perguntou, interpretando minha


inspeção como um desconforto.

— Não, — respondi muito rápido, julgando pelo jeito que seu


sorriso ficou confuso.

— Bom, — ele disse, deslocando sua atenção para a TV.

Então, nós assistimos a um filme e bebemos vinho e ele comeu


todos os últimos meus chruscikis. E era quase como se fosse a noite
mais normal, como se fizéssemos isso o tempo todo, como se eu não
fosse uma louca enclausurada, de quem todos os outros, exceto o tio,
tinham desistido porque ela era muito “difícil”.

Era como se fôssemos velhos amigos.

E com o bom vinho girando na minha cabeça, fazendo com que


meus pensamentos acelerados se encaminhassem em uma direção
melhor do que costumavam fazer, comecei a pensar que talvez pudesse
ser uma coisa normal. Talvez pudéssemos ser amigos reais. Talvez
pudéssemos ser mais...

— Dusty... — a voz de Ryan me chamou, um ruído baixo e


suave.

Minha cabeça girou em sua direção um segundo depois que


percebi que eu estava vendo os créditos em movimento na TV. Sua

~ 59 ~
taça de vinho tinha desaparecido e eu não tinha certeza quando ele
descartou. Mas sua mão alcançou a minha vazia e colocou-a na minha
mesa de café ao lado dele.

— Sim? — perguntei quando seus olhos voltaram para os meus


novamente, parecendo um pouco mais pesados do que estavam há um
momento, embora, por algum motivo, atribuí indevidamente ao vinho e
ao longo dia com sua família.

Porque, no meu pequeno mundo, a atração nunca foi um fator.

— Diga não, — ele disse estranhamente, retirando a almofada


para que ele estivesse na minha frente, o que forçou a minha perna a
subir um pouco sobre ele.

— Diga não para o quê? — perguntei, minha voz um som


sufocado.

— Para mim.

Eu era um mestre do não.

Precisava dizer isso tantas vezes com a ansiedade, lenta, mas


certamente reivindicava minha vida que parou, mesmo sendo difícil de
fazer.

Mas não para ele?

Eu não tinha certeza se poder dizer isso.

Embora não tivesse ideia para o que ele queria que eu dissesse
não.

Tive a sensação de que estava prestes a descobrir.

— Eu, eu não posso, — admiti, dizendo isso principalmente ao


seu peito porque seu olhar estava sendo muito intenso para aguentar
por tanto tempo.

— Ainda bem, — ele disse, baixo, mal audível.

A próxima coisa que eu notei foram seus dedos roçando meu


maxilar e enganchando o queixo, gentilmente, forçando-o para cima.

E foi então que finalmente entendi sua intenção.

~ 60 ~
Poderia ter sido um inferno de um longo tempo, mas fui beijada
o suficiente na minha vida para saber o que parecia quando eu via
isso.

Ele iria me beijar.

Além disso, quem no inferno alguma vez diria não a isso?

Mesmo eu, Dusty Rose Sunshine maldita McRae, fodida da


cabeça, não poderia fazer tal coisa.

Seus olhos olharam os meus por um longo segundo procurando,


acho, alguma mudança de ideia. E deveria ter mudado. Eu mal
conhecia o homem. Nunca deixava ninguém me tocar assim. Mas, de
alguma forma, nada disso importava para mim.

Eu queria mais era ser normal de novo, poder respirar em


público novamente, não começar a suar com a ideia de fazer um
telefonema.

Meus olhos mergulharam em seus lábios, imaginando por um


segundo, se ele beijava duro e cruel, como suas mãos mostravam, ou
se seria doce e apaixonado, como suas palavras pareciam.

Não tive que me perguntar por muito tempo.

Seus dedos deslizaram, movendo-se para moldar um lado do


meu rosto enquanto ele se movia para frente, olhos olhando os meus
até que eu não conseguia mais olhá-lo e fechei os meus.

Minha barriga estava dando cambalhota e meu coração


disparava e eu não conseguia respirar.

Mas não importava.

Porque em um segundo, seus lábios pressionaram os meus.


Timidamente, mas seguros ao mesmo tempo. Como se estivesse
avaliando minha reação, mas não houve nenhuma hesitação.

E eu... derreti.

Sua cabeça inclinou e seus lábios pressionaram mais sobre os


meus e meus braços se moveram para fora e para cima, fechando a
parte de trás do pescoço e puxando-o para mim. Sua mão livre deixou
minha coxa e se moveu pela parte inferior das minhas costas,
colocando uma pressão firme ali, o bastante para me puxar até ele e
~ 61 ~
eu fazer o absolutamente impensável. Subi em seu colo e ele me
segurou fortemente enquanto a língua traçava a costura de meus
lábios até que eles se abriram e ele se moveu para dentro, dedicando-
se em mim até eu soltar um gemido baixo contra seus lábios.

Minhas pernas apertaram seus lados, tentando puxá-lo para


perto, embora não fosse possível implorar por coisas que eu não me
deixava querer mais do que até mesmo queria admitir.

Meus peitos incharam, meus mamilos apertaram contra o tecido


macio da minha camisa, minha calcinha começou a ficar úmida com o
desejo.

Seu corpo se torceu quando a mão dele deslizou do meu maxilar


e subiu em meu cabelo, deslizando e curvando-se, mas não puxando,
enquanto ele se sentava contra o sofá, me levando completamente para
o colo.

A mão que não estava no meu cabelo se moveu para a lateral do


meu quadril e afundou, impossível ignorar a pressão firme. Meus
quadris se afundaram e senti sua dureza pressionar contra minha
fenda, fazendo-me soltar um suspiro surpreso enquanto eu me
afastava, meus olhos se abrindo.

Ele abriu mais devagar, pesado, enquanto sua mão se afrouxava


no meu cabelo.

— Você está bem? — ele perguntou, quase em um estrondo.

Não respondi.

Porque eu estava.

Estava melhor do que estive em um tempo incrivelmente longo.

Então, em vez de responder, meus lábios caíram de volta nos


dele, sentindo que eles se curvavam para um sorriso antes de
começarem a me beijar novamente, cada vez mais ansiosa, tão carente
quanto sentia.

Sem que eu estivesse consciente de dizer ao meu corpo para


fazer isso, meus quadris se ondularam contra ele, fazendo com que
sua dureza pressionasse contra onde eu mais precisava, fazendo-me
soltar um gemido enquanto fazia um grunhido em resposta, seus
dedos apertando o suficiente para deixar hematoma.

~ 62 ~
E foi exatamente aí que senti uma vibração inconfundível contra
minha coxa interna, onde seu bolso estava situado.

— Porra, — ele murmurou contra meus lábios.

Eu tinha que concordar.

Porra.

Parou, mas como meus quadris fizeram outro delicioso deslize,


começou de novo, fazendo-o fazer um som irritado quando recuei.
Meus olhos se abriram devagar, sentindo-se pesados, encontrando
suas pálpebras igualmente pesadas.

— Pode ser importante, — ouvi-me dizer, minha voz baixa com


desejo, um pouco ofegante.

Então, como para provar que eu tinha razão, houve uma breve
pausa antes de começar de novo.

— Merda, — ele soltou enquanto deslizei se seu colo e para o


lado, pressionando minhas coxas juntas para tentar conter o desejo.
Ele pegou o celular no bolso, bateu o dedo contra a tela e levou-o até a
orelha enquanto ladrava: — O quê?

Ele ouviu por um longo momento enquanto eu


desesperadamente tentava me recompor.

Não era que eu não tivesse um desejo sexual normalmente. Eu


tinha. Na verdade, antigamente, pode ter sido considerado alto. Mas
quando você está fechada em seu apartamento sozinha por tanto
tempo, isso lentamente se apaga. Porque, francamente, seus próprios
dedos e vibradores, bem, simplesmente não ajudam. Não era a mesma
coisa. Estava faltando. E, eventualmente, perdi o interesse nisso.

Então, era como se ele estivesse de volta à vida depois de tanto


tempo, quase completamente esmagador, o coração acelerado, a pele
formigando, o peso nos meus seios e a parte inferior do estômago, a
necessidade dolorida entre minhas pernas.

— Querida, — a voz de Ryan chamou, fazendo minha cabeça


virar para encontrá-lo me observando, o telefone já estava fora de
vista.

— Sim?

~ 63 ~
— Isso era trabalho, — ele explicou, já soando desculpa.

Eu sabia o que aquilo significava.

— Você tem que ir.

— Infelizmente, — ele concordou, balançando a cabeça. Sua mão


estendeu para tocar meu joelho, seu polegar esfregando-o com
tranquilidade.

Sem ter certeza do que deveria dizer, tentei ser casual e encolhi
os ombros. — Tudo bem.

— Ei, — ele disse, inclinando a cabeça um pouco para pegar


meus olhos que abaixaram, querendo não mostrar o quanto eu estava
desapontada. — O que você fará na véspera de Ano Novo? —
perguntou estranhamente, fazendo minha cabeça se encaixar, minhas
sobrancelhas se juntando.

— Véspera de Ano Novo? — repeti.

A véspera de Ano Novo estava a cinco dias de distância.

Cinco.

O trabalho iria levá-lo por cinco dias?

— Sim, com o champanhe e a grande bola caindo do céu e


aquela música que é acho que é para animar as pessoas, mas sempre
parece triste...

Sorri um pouco para isso. — Hum, não tenho exatamente uma


vida social selvagem aqui, Ryan, — falei, dando um aceno. — Estarei
assistindo à TV com Rocky, — adicionei, olhando ao redor e
percebendo que ele não havia entrado para arranhar as pernas de
Ryan. Isso era completamente diferente dele. Eu tinha até que trancá-
lo no quarto quando meu tio me visitava.

— E você acha que poderia ir ao meu apartamento? — Ele


ofereceu.

Sua casa.

Considerando que estava a um metro e meio de distância da


minha porta, quase parecia risível que ele estivesse me perguntando
com tanta antecedência.
~ 64 ~
— Imaginei que eu deveria sugerir logo para que você pudesse
trabalhar consigo mesma, — ele acrescentou, fazendo meus lábios
abrirem um pouco, surpresa que ele conseguiu.

Eu teria que me empenhar.

E mesmo assim, não havia garantias.

— Eu posso trabalhar nisso, — disse, balançando a cabeça. —


Não posso fazer nenhuma festa...

— Não estava pedindo promessas, — ele me cortou. — Apenas


me diga que você vai tentar e ficarei feliz. E não, — ele continuou
quando começou a ficar de pé, — ficarei desapontado se você não pode
fazer isso.

— Sem expectativas? — perguntei, parando, encontrando-me


impressionada e confusa. Confusa porque todos sempre tiveram
expectativas. Impressionada que ele pensou em me dizer que não se
importaria se não pudesse me forçar a fazê-lo.

— Não, — ele disse com uma batida de cabeça quando ele


encolheu os ombros para vestir seu paletó. Então, seu sorriso foi um
pouco diabólico quando ele acrescentou: — Se você não for para minha
casa, estou me convidando para vir à sua. Então, de qualquer forma,
eu ganho. — Eu sorri com isso, mais feliz do que tinha sido em mais
tempo do que gostaria de admitir. — Obrigado pelo presente e pelos
biscoitos e pela companhia, — ele disse enquanto andava em direção à
porta. Os bons costumes me fizeram seguir atrás, alcançando o lado
da porta quando ele saiu. — Feliz Natal, Dusty, — ele disse,
inclinando-se e plantando um beijo casto e absolutamente leve em
minha testa antes de caminhar pelo corredor.

— Feliz Natal, Ryan, — respondi para ele, fazendo-o me atirar


um sorriso sobre o ombro antes de ele desaparecer no elevador.

Fechei e tranquei a porta com uma respiração lenta e profunda.

Então, só por garantia, abaixei e belisquei meu braço. Você sabe,


apenas para ter certeza de que eu não tinha morrido no incidente do
incêndio depois de tudo e não estava experimentando uma longa
alucinação prolongada antes de bater as botas.

A dor puxou meu braço e minha cabeça bateu contra a porta


quando sorri para meu apartamento vazio.
~ 65 ~
Certamente foi um Natal para ficar na memória.

E estava caminhando para ser uma véspera de Ano Novo


também.

Se eu conseguisse ou não entrar no corredor.

No fim das contas, eu faria.

Mas não porque eu tivesse me esforçado, embora eu certamente


iria tentar.

Não, as circunstâncias pelas quais eu me encontrei em sua


porta eram muito menos inspiradoras, muito menos inovadoras do que
isso.

Era muito mais feio.

E, para ser sincera, já fazia muito tempo.

Eu sempre soube que havia um risco.

Eu sempre soube que algum dia isso me alcançaria.

Foi assim que aconteceu no dia anterior à noite em que eu


queria ser muito diferente.

~ 66 ~
Sete
RYAN

Então, não era segredo. Eu sempre tive uma coisa com garotas
legais.

Culpe meu estilo de vida áspero, a violência, a dor, a incerteza, a


dureza que sempre me cercava, a escória, o sangue, a merda
desagradável.

Eu respeitava mulheres difíceis como minha mãe, como Lea, até


Fee e seu jeito. Mas elas nunca foram o tipo de mulheres por quem eu
me interessava.

Inferno, isso durou todo o período do ensino médio, onde passei


um maldito ano tentando controlar essa timidez, usando óculos, livro
de nerds para me dar alguma oportunidade. Ela nunca notou.
Também não a culpei. Meus irmãos e eu, bem, não tínhamos a melhor
reputação. Nós sempre entrávamos em brigas, sempre começando a
merda, sempre brincando.

E, quando ficamos velhos para essas coisas, fodíamos por aí.


Não exatamente quebramos corações, pelo menos não de propósito,
mas andamos por aí.

Mas a partir de então, sempre foi uma tendência.

Eu gostava de suave e doce.

Era por isso que eu estava na porra da loja de festa no dia


anterior à véspera de Ano Novo.

Sim, a loja de suprimentos para festas da minha mãe.

Estava de pé lá debatendo sobre as decorações que devia levar


para o meu apartamento. Eu, que nunca montava uma maldita árvore
de Natal, estava escolhendo decorações de Véspera de Ano Novo.

~ 67 ~
— Ok, o meu carro tem algum tipo de vazamento de gás ou algo
assim? — A voz de Fee chamou do lado, me fazendo endurecer. Claro.
Com certeza eu encontraria um membro da família enquanto fazia algo
completamente incomum e que, portanto, seria a pauta da próxima
reunião. Virei-me para encontrar Fee, vestida com calças justas de
brim rosa, salto 12 centímetros e uma espécie de blusa dourada
brilhante que ligeiramente revelava uma porção de sua barriga. Fee
era, entre muitas outras coisas, interessante no modo de vestir.
Mesmo depois de três filhos, ela parecia estar pronta para andar na
passarela a qualquer momento. — Porque não há como isso não ser
algum tipo de alucinação provocada por fumaça de algum tipo.

— Ei, Fee, — falei, inclinando-me e beijando sua têmpora,


percebendo a enorme pilha de confetes que ela tinha na cesta de mão.
— Você estará limpando confetes por semanas, — avisei, balançando a
cabeça.

— Por favor, — ela disse, revirando os olhos. — Becca de alguma


forma aprendeu o que era uma bomba de glitter há dois meses. Ainda
estou encontrando essa merda em todos os lugares. Isso não é nada
que uma vassoura não consiga limpar. Agora, mudar de assunto não
vai funcionar. O que diabos você está fazendo? Em uma loja de festa?
Finalmente vai decorar o Chaz's para o feriado? Eu sugeri isso há
anos.

Discurso inflamado e delirante.

Meu pai era da velha escola. Ele não gostava da merda de


decoração. Nem mesmo um fio de luzes para o Natal.

— Não, — respondi, estendendo a mão e agarrando alguns dos


lança-confetes de festa, sem perder o que mais eu deveria ter. Anita
ficaria puta da vida comigo, mas considerando que eu mantinha o
lugar limpo e ela geralmente só tinha que usar um aspirador ou um
esfregão uma vez por semana, achei que poderia safar disso para um
feriado.

Ela me observou por um segundo com pequenos olhos antes de


um sorriso pequeno e provocante puxar seus lábios. — Você a
convidou, não é? Ok, desembucha. O que aconteceu?

— Pare, Fee, — pedi, balançando minha cabeça enquanto ela


passava pelas taças plásticas de champanhe. Eu tinha algumas de
cristal em casa que literalmente nunca usei. O que me lembrou que eu

~ 68 ~
precisava enfrentar a maldita loja de bebidas do meu irmão que
certamente estaria lotada. Era melhor ele ter aceitado o meu conselho
e ter mudado o champanhe para frente da loja, assim não teria que me
acotovelar com ninguém nos fundos onde geralmente ficava
armazenado, visto que todo o mundo compra champanhe nesta época
do ano.

— Não. Vamos, — ela disse em um tom mais razoável, agarrando


meu braço para impedir que me afastasse dela. — Só uma vez vamos
manter isso entre nós dois. Nem vou dizer a Hunt que vi você aqui, —
ela sugeriu, parecendo verdadeira. — Sei que ela tem problemas e
talvez você precise de alguém para falar sobre isso.

— Ela me deixou um presente de Natal do lado de fora da minha


porta, — me surpreendi admitindo.

— E você, claro, não conseguiu evitar ir lá e agradecer, — ela


disse com um sorriso de conhecimento.

— Algo assim, — concordei.

— Ela enlouqueceu?

— Não. Na verdade, ela ficou bem. No geral, quase calma.

— Seu apartamento é sua zona de conforto e você é uma pessoa


segura para ela. Ela não precisa se preocupar com você ficando
chateado com ela ou com qualquer coisa. As coisas ficaram... físicas?

— Vamos parar com a coisa da aposta, Fee, — avisei.

— Não estava pensando em aposta. Cristo, relaxe um pouco, —


ela disse, balançando a cabeça. — Só fiz uma pergunta.

— Eu a beijei, — admiti, deixando de lado o fato de que esse foi o


melhor beijo que já tive. Talvez fosse tão simples como a sua reação
aberta, doce e inesperadamente sobrecarregada. Talvez fosse mais do
que isso. Quem sabe. Tudo o que eu sabia era que fiquei puto quando
recebi uma ligação sobre um dos caras que visitei naquela manhã
exibindo-se no ringue subterrâneo de Ross Ward e apostando dinheiro
com o dinheiro que ele nos devia.

Nunca fiquei tão emputecido por ser chamado com um problema


de trabalho, nem mesmo em um feriado.

Mas só que desta vez, eu fiquei.


~ 69 ~
E, embora geralmente não fosse o irmão que mais derramava
sangue, acabei de curar os cortes nos meus dedos da raiva com que
fui para aquele bastardo. Primeiro, por ferrar com minha família.
Segundo, por interromper algo bom que estava se desenrolando
comigo e Dusty.

— Então você a convidou para a véspera de Ano Novo? — Fee


perguntou, os olhos ficando um pouco moles. — Então você precisa de
decorações para fazer uma festa. Não uso essa frase muitas vezes,
Ryan, mas isso é muito fofo.

— Eu acho que você temperou o “fofo” com o “fodido” que o


precede. Ninguém está tirando seu o título de durona.

Ela ignorou isso. — E se ela não puder ir?

— Então vou para a casa dela.

— Plano sólido, — ela concordou com um aceno de cabeça,


alcançando seu celular que tocava. — Oh, não se esqueça de comida.
Não uma refeição para se fazer sentado. Coisas para petiscar. Então,
isso não interfere em ah, outras atividades. — Oh, — ela acrescentou,
assim que começou a se afastar, virando de volta — e de preservativos.
Se ela tem sido agorafóbica por tanto tempo, duvido que esteja em dia
com seu controle de natalidade. Na verdade, tenho um pacote
completo... — ela se afastou, se movendo para mexer em sua bolsa.

Fee mantinha literalmente um aquário cheio de preservativos


nos balcões do banheiro de seu trabalho.

— Fee, eu tenho preservativos, — disse com um sorriso


malicioso quando ela parou de mexer.

— Você tem certeza?

— Sim, querida, tenho certeza.

— Ok. Apenas checando. Se você precisar de uma lembrança de


por que você precisa de preservativos, fico feliz em deixar as diabinhas
com você por uma tarde, — ela acrescentou, acenando por cima do
ombro para mim enquanto caminhava em direção ao caixa. — Tenha
um feliz ano novo, Ry, — acrescentou, enquanto eu contemplava a fila
de pratos e guardanapos de papel preto, dourado e prateado.

~ 70 ~
Imaginado que Anita me odiaria menos se eu não deixasse uma
pia cheia de pratos em cima do confete, agarrei um pacote e fui até o
caixa.

De lá, fui à loja de bebidas e, em seguida, à loja de alimentos e


voltei para casa.

Mal estava a meio caminho do elevador quando soube que algo


estava errado.

Primeiro, o ruído.

Havia batidas, xingamentos e gritos, e os sons que a minha


experiência me dizia ser o som inconfundível do punho batendo numa
carne.

Meu estômago retorceu dolorosamente quando meus olhos


foram para minha porta.

Segundo, havia o fato de que a porta dela estava aberta.

Tudo caiu de minhas mãos em um piscar de olhos enquanto


corri pelo resto do corredor até sua entrada.

Fiquei congelado pelo menor número de segundos, a mensagem


não pareceu transferir dos olhos para o cérebro e para o corpo
rapidamente, enquanto eu via dois homens, não Bry e seu parceiro,
mas dois outros homens, grandes, feios e malvados, em seu
apartamento. Um estava revirando em torno da área de estar já
destruída, abrindo gavetas, arrancando almofadas abertas.

O outro, sim, ele estava em cima Dusty.

Significando que ele estava empurrando sua cintura e aqueles


sons de punho batendo veio dele.

Ouvi um som rugindo e não sabia que ele realmente veio de mim
até que os olhos se moviam em minha direção, escuros, quase negros,
de seus atacantes e um olho verde não inchado e fechado dela.

E enlouqueci, voando no cara que fez isso.

Ele nem se moveu antes de eu pegá-lo pelo pescoço, jogando-o


com tanta força chegou a abrir o gesso na parede atrás dele.

~ 71 ~
Então isso era o que era. Foram punhos e sangue, uivos e
xingamentos, e ossos quebrando sob meus punhos e adrenalina
subindo pelo meu corpo e meu sangue correndo tão rápido que zumbia
nos meus ouvidos.

Não sei quanto tempo continuei. Pareceram apenas segundos,


mas, a julgar pelo olhar de carne crua no rosto do homem, tinha que
ter demorado muito tempo. Mas então braços me agarraram, me
puxando para trás, fazendo minhas costas ficarem contra o balcão da
cozinha de Dusty tão forte que fiquei sem fôlego.

O cara que me agarrou, arrastou o amigo e eles foram embora.

Respirei lento e profundamente, tentando me acalmar de novo.


Talvez pela primeira vez em minha vida, entrei em uma luta sem o
sangue frio, desapegado e calmo. Para mim, era como qualquer outro
aspecto do meu trabalho. Eu fazia isso de forma racional. Finalmente
entendi o que acontecia com Eli quando ele perdia a cabeça, quando
ele ficava quente, quando ele era uma força de raiva incontrolável.

Quando meus os ouvidos já não sibilavam, ouvi os gemidos


baixos, tristes e doloridos que vinham do meu lado e olhei para ver que
Dusty tinha se enrolado e em uma posição fetal, balançando
levemente. Uma de suas mãos segurava seu rosto, o outro seu
estômago.

Porra.

Filhos da puta.

Corri para ela, ajoelhando-me ao seu lado e estendendo a mão


para tocar sua mão.

Ela soltou um grito e afastou-se, fazendo meu estômago


embrulhar de uma forma nauseante.

— Querida, sou eu, — eu disse, deixando a minha voz suave,


apesar de sentir que minha mandíbula ia quebrar com a força que
estava apertada. — Está tudo bem. Eles se foram. Você está bem.

Ela soltou outro gemido quando deixou cair a mão, me dando


uma visão completa do olho preto e inchado. A visão trouxe outra onda
de raiva com a qual precisei que lutar. Ela não precisava de mim com
raiva. Ela precisava de mim calmo e controlado.

~ 72 ~
— Tudo dói, — ela admitiu, seu bom olho perdeu a batalha com
lágrimas e elas começaram a escorrer pelo rosto.

— Eu sei. Eu sei, querida, — disse, estendendo a mão para ela,


feliz quando ela não esquivou enquanto a puxava para cima no meu
colo. Quando ela não gritou pelo jeito que a girei ligeiramente, deduzi
que suas costelas estavam bem, a dor interna, ao que tudo indicava,
era apenas muscular, não no osso. — Quem eram eles? — perguntei,
afastando um pouco do cabelo loiro dela de seu rosto. — O que eles
queriam?

Foi como se eu atirasse uma arma no apartamento dela.

As lágrimas pararam, seus olhos ficaram enormes, e então ela


voou para cima, soltando um grande gemido de dor ao fazê-lo, mas
levantando-se e atravessando a sala até o armário da TV, mexendo no
interior.

— Dusty, acalme-se, — apelei, movendo-me ao lado dela,


observando as sobrancelhas entreabertas quando encontrou uma
caixa, puxou-a e abriu.

— Não. Não, não, não, não, não, — ela gritou, balançando de um


lado para o outro, voltando ao armário e sentindo. — Deus, não.

— Tudo bem, — falei, estendendo a mão e tomando as suas


mãos, puxando-as na frente dela e segurando-as no lugar.

— Solte-me.

— Não até que você me diga o que está procurando.

— Quinhentos 30s, — ela disse em um silvo desesperada.

30s significava trinta miligramas de Percocet.

Uma única pílula naquela dose transformaria em vinte na rua.

Quinhentos dessas significavam que ela acabava de perder dez


mil dólares em drogas.

Dez mil.

Jesus Cristo.

~ 73 ~
— Você entende o que estou dizendo, certo? — ela perguntou,
engolindo com força, o tom desesperado.

— Sei exatamente o que você está dizendo, — concordei,


balançando a cabeça.

— Bry pode ser meu amigo, mas ele não pode simplesmente...
me deixar perder dez mil dólares dele.

Essa era uma maldita verdade.

Quando se tratava de traficantes de drogas, amigo antigo ou


não, o negócio era uma merda de negócios.

E ela acabou de perder uma enorme quantidade de drogas no


dia anterior à véspera de Ano Novo quando todos estariam lutando
para sentir chapado a noite toda.

— Quem eram esses caras, Dusty? — perguntei, querendo


cuidar dela, mas sabendo que não haveria nada que pudesse aliviar a
mente até que soubesse alguma merda.

— Não tenho ideia. Nunca os vi antes. Achei que Bry estava


vindo mais cedo, então abri a porta e ela estourou e... — ela parou,
encolhendo os ombros.

— Tudo bem, querida, escute, — eu disse, puxando minha


cabeça um pouco para pegar seu olhar perturbado. — Sei que este é
um enorme fodido negócio e precisa ser tratado, mas agora, preciso
que você me deixe limpá-la e olhar para você. Imagino que um hospital
está fora de questão, — adicionei, embora preferisse uma tomografia
computadorizada para garantir que ela não tivesse uma concussão e
um raio-x para suas costelas, mas não iria pressionar. Ela sofreu um
trauma suficiente por uma noite.

— Talvez você deva se cuidar primeiro, — ela disse,


aproximando-se timidamente e colocando os dedos no lado da minha
mão.

Olhando para baixo, vi meus nódulos abertos. Mas, talvez


porque meu corpo estava acostumado a um trauma, o sangramento já
havia parado e teria criado uma crosta antes do final da noite. — Isso
não é nada, — eu disse, balançando a cabeça, movendo-me para me
levantar lentamente, puxando-a suavemente comigo — Você consegue
respirar fundo?
~ 74 ~
— Você quer saber se estou fisicamente capaz, — ela refletiu
com um pequeno sorriso autodepreciativo, deslocando de uma mão na
barriga e expandindo-a com ar. — Sim.

— Tudo bem. Como o seu armário está abastecido? — perguntei,


olhando pelo corredor até a porta aberta para o banheiro.

— Band-Aids e antibióticos triplos? — ela meio perguntou, meio


afirmou, sem ter certeza.

— Tudo bem, pegarei algumas coisas do meu apartamento. Você


está bem em ficar aqui?

— Eu posso ir? — ela me chocou perguntando, fazendo-me virar


completamente para olhar para ela com as minhas sobrancelhas
erguidas.

— Para o meu apartamento? — esclareci, observando-a.

— Eu meio que simplesmente não... quero ficar aqui agora, —


admitiu, olhando ao redor como se não o reconhecesse mais. Dado o
desastre absoluto em que estava, imaginei que isso só iria induzir mais
ansiedade nela ficando aqui do que sair. — Se estiver tudo bem, — ela
acrescentou, olhando para os pés.

— Querida, você pode ficar comigo o tempo que precisar, —


ofereci, abrindo a mão, apenas um pouco surpreso quando ela não só
me pegou, mas apertou. — Vamos, — acrescentei quando ela hesitou,
olhando ao redor. — Vou encontrar o Rocky assim que nós estivermos
remedados, — eu disse, sabendo que era isso que a estava segurando.

— Obrigada, — ela agradeceu, silenciosa enquanto a conduzia


pelo corredor e destrancava minha porta. — São as suas sacolas? —
ela acrescentou, balançando a cabeça para corredor.

— Nada importante. Eu as pegarei quando pegar o gato. Vamos,


— insisti, puxando-a para dentro e fechando a porta.

— Alguém já lhe disse que seu apartamento tipo grita “solteiro”?

Eu sorri para isso. — A mulher do meu irmão, constantemente.


— Eu a guiei para o corredor apenas para que ela voltasse, parando e
olhando a tela que ela tinha me dado que eu tinha colocado em um
lugar no corredor.

— Você já o pendurou.
~ 75 ~
— Claro que sim. Vamos, não pare mais. Precisamos cuidar do
seu rosto.

Com isso, eu a guiei para o banheiro e fui direto para o armário


embutido, arrastando o grande recipiente de plástico cheio de todos os
suprimentos médicos que você poderia encontrar em uma loja (e
alguns que você não podia) e coloquei no balcão.

Quando olhei para ela, ela estava se olhando no espelho, seu


lábio inferior tremendo na bagunça em que seu rosto se transformou.
— Tudo vai voltar ao normal, Dusty, — eu disse. — O olho, a bochecha
e os lábios. Eles estão ruins porque estão inchados. As contusões
desaparecerão. Os cortes, bem, você pode ter uma cicatriz ou duas,
mas mesmo essas desaparecerão eventualmente. Confie em mim, —
acrescentei quando ela continuou olhando.

— Você luta como alguém que faz isso muitas vezes, — ela disse,
pegando meu olhar no espelho.

— Não com a frequência que costumava fazer. — não queria


mentir, mas ainda não queria dar a verdade completa.

Por sorte, ela não pressionou. — Sinto muito por suas mãos.

— Não é nada, — eu disse, pegando uma gaze estéril e cobrindo-


a com peróxido, em seguida, alcançando seu quadril para virá-la para
me encarar. Senti-me estremecer, açoitando meu estômago. — Isso vai
doer, — avisei.

Ela me deu um pequeno aceno de cabeça e respirou fundo.

Ela apertou os lábios e tentou ser forte sobre isso, mas, quando
eu limpava todos os cortes, suas lágrimas estavam se misturando com
o peróxido.

— Desculpe, — eu disse, acariciando um dedo por sua


mandíbula. — Isso ajudará, — acrescentei, pegando o antibiótico triplo
e um cotonete, deslizando a merda macia por todo o rosto. — Tudo
bem, — disse quando terminei. — Preciso verificar suas costelas, —
continuei, me perguntando o quanto isso poderia ser um problema.

Ela engoliu em seco e assentiu com força. — Tudo bem.

Era isso... tudo bem.

Ela não pegou sua blusa para levantar.


~ 76 ~
— Posso? — perguntei, tocando a bainha da blusa.

Ela me deu outro aceno firme e lentamente levantei o tecido,


revelando mais sua pele pálida, manchada em vários pontos com
hematomas leves que, embora não parecessem muito, pelo jeito doíam
pra caralho e doeriam por mais uma noite até realmente melhorar.
Mas não estava tão ruim. Melhor do que eu esperava. Quando vi o
sutiã cinza e branco pontilhado, parei, pressionando o tecido de sua
blusa com uma mão e estendendo a outra, deslizando pela barriga e
vendo os músculos se contraindo no contato com a pele, enquanto o ar
correu para fora dela. Ela era tão sensível e eu esperava explorar isso
no Ano Novo. Mas não assim. Não com ela ferida. Minha mão apertou
suas costelas suavemente no início. Sem nenhuma reação, pressionei
com força. — Nada? — perguntei, inclinando minha cabeça para olhar
para ela.

— Não, — ela disse em uma pequena voz sem fôlego que


disparou direito para o meu pau em uma resposta completamente
inadequada dada a situação de merda.

— Tudo bem, — eu disse, forçando-me a tirar minha mão e


puxando o tecido de volta para cobri-la. — Aqui, — acrescentei, indo
para o banheiro por um segundo e voltando com uma das minhas
camisetas um segundo depois. — Há sangue em sua camiseta, —
acrescentei enquanto ela pegava.

Reconheço que poderia ter atravessado o corredor e pegado as


suas próprias roupas, mas de alguma forma eu a queria na minha
camiseta e ela não se opôs. — Leve o tempo que precisar, —
acrescentei enquanto fui para o hall e fechei a porta. — Eu volto já.

Com isso, disparei no corredor e peguei as sacolas, deixando-as


descuidadamente na ilha da cozinha e voltando para o corredor para
encontrar seu maldito gato. Encontrei a gaiola e trouxe-o comigo pelo
apartamento até que finalmente o encontrei sentado no canto do
armário do quarto. Quando cheguei perto, ele soltou um silvo e me
atacou com sua pequena garra afiada. — Goste ou não, arranhe-me ou
não, sua bunda entrará nesta gaiola, — eu disse a ele, resmungando,
quando ele imediatamente pareceu calar. Afastei-o, peguei a caixa de
areia obsessivamente limpa do banheiro e voltei para o meu próprio
apartamento.

E a encontrei na cozinha com minha camiseta, cuidadosamente


desembrulhando as coisas das minhas sacolas.
~ 77 ~
— Você estava mesmo planejando uma noite especial, hein? —
Ela perguntou, seu tom triste.

— Ainda estou, — respondi, colocando a gaiola com o gato e a


caixa de areias para baixo e abrindo a porta, observando a pequena
bola de pelo explorar e esperando que não fosse do tipo que arranha
tudo, inferno.

— Isso é... legal, Ryan, — ela disse, balançando a cabeça, não


conseguindo manter contato visual. — Mas não espero que você
mantenha essa promessa agora que, você sabe, que eu, ah... — ela
acenou, incapaz de continuar.

— Olhe, — eu disse, exalando com força, não adoçando a merda


e querendo ser direto com ela. Mas havia outra parte de mim que só
queria dizer foda-se tudo e não se preocupe com isso. Para melhor ou
pior, a parte lógica ganhou. — Eu não gosto de drogas. Não gosto
delas. Não gosto do que elas fazem para as pessoas que as usam e
como isso afeta as pessoas ao seu redor. Não é minha praia. Dito isso,
não estou julgando você por fazer o que você precisava fazer para
sobreviver. Confie em mim, entendo. Isso não muda o fato de que
quero beber champanhe e assistir a estúpidos balões caírem na Times
Square amanhã à noite.

Juro que você poderia ver a tensão escoando dela. Seus ombros
baixaram, sua mandíbula relaxou. Ela parou de tentar freneticamente
organizar a bagunça das sacolas.

— Tudo bem? — perguntei quando ela não disse nada.

— Tudo bem, — ela concordou, nada mais do que um sussurro.

— Mais uma vez e para me fazer acreditar que você acredita, —


eu disse, sorrindo quando fui em direção à cozinha e comecei a
arrumar a comida.

— Eu acredito, — ela disse, me entregando o patê que escolhi


para acompanhar o pão sírio, legumes ou quatro tipos diferentes de
batatas fritas que também peguei. Não sendo uma pessoa de petiscar,
geralmente ocupado demais para fazer isso e apenas comendo duas ou
três refeições inteiras por dia, não tinha a menor ideia do que comprar
naquela loja de comida.

— Ryan? — Sua pequena voz me encontrou alguns minutos


depois, enquanto eu pegava as sacolas de plástico e as enfiava dentro
~ 78 ~
de alguma coisa de plástico que Anita guardava no meu armário para
colecioná-las, uma compra que achei estúpida na época, mas acabou
por ser bastante prática.

— Sim? — perguntei, voltando para encontrá-la olhando para


mim.

— O que eu deveria dizer a Bry? — ela perguntou, genuinamente


soando como se precisasse de uma resposta para isso.

E, bem, quando uma mulher com um rosto arruinado que te


beijou como se quisesse até a alma, estava preocupada com alguma
coisa, sim, você arrumaria isso para ela.

— Não esquenta com Bry. Vou lidar com ele.

— Não, Ryan. Isso é...

— Eu lidarei com isso, — eu a cortei. — Não adianta argumentar


sobre isso. Você deve estar com uma dor de cabeça assassina agora, —
adicionei, alcançando o armário ao lado da pia, onde eu mantinha um
frasco com aspirina. — Aqui, pegue duas destas e vá deitar com um
saco de gelo, — disse, entregando-lhe os comprimidos e pegando o
saco de gelo, envolvendo-o em toalhas de papel e entregando a ela
também. — Preciso dar alguns telefonemas e então venho falar com
você.

— Você não precisa...

— Eu venho falar com você, — cortei-a novamente, voz um


pouco firme e ela me deu um sorriso grato e dirigiu-se para os quartos.

Peguei meu celular e fui em direção à entrada, indo para o


apartamento dela por privacidade e apertando o primeiro número que
veio a mim.

A outra extremidade atendeu e meu ouvido foi assaltado com


música e um riso de mulher. — Sim? — perguntou a voz de Mark,
ainda meio rindo por algo que eu tinha interrompido.

Mas não houve tempo para culpa.

— Tenho um problema, — eu disse e podia ouvi-lo


imediatamente afastando-se do barulho até que não houve nada.

— Está tudo bem? — ele perguntou com tom sério.


~ 79 ~
— Lembra-se da minha vizinha e dos caras com quem ela se
envolveu?

Houve uma breve pausa e uma hesitação, — Sim?

— Eles são traficantes de drogas e ela as esconde. Hoje à noite


ela foi roubada e espancada e, bem...

— Isso é uma merda, — ele me declarou.

Exatamente.

— Sim.

— Me dê o nome do traficante e vou dar uma pesquisada.

— Bry. Isso é tudo o que ela me deu. Eles foram amigos desde
que eram crianças. São 30s, então não acho que você precise se
preocupar com o Third Street. Eles estão mais na merda barata de
rua. Quem está circulando produtos farmacêuticos por aqui?

Não era algo que eu precisava saber, para me manter atualizado.


Todos nós mantínhamos olhos e ouvidos sobre os maiores negociantes
da cidade — The Henchmen, Hailstorm, Grassis, Richard Lyon e...

— Oh, merda. Diga-me que não é a porra do Lex, cara, — eu


disse, jogando uma mão no meu rosto, minhas palmas calosas
passando pela barba por fazer.

Mark fez uma pausa. — Não tenho certeza. Ele tem as mãos em
tudo, mas duvido que ele guarde sua merda em algum apartamento
sem proteção.

Verdade.

— Acho que está certo, — concordei.

— Como ela está? — Mark perguntou ao silêncio.

Eu expirei. — Segurando-se. Ela parece um inferno. Mas nada


parece sério. Ela fica comigo até que possa voltar ao seu apartamento
novamente.

— Bom, — ele perguntou, sem perder a oportunidade de me


espetar. — Então, estou assumindo que quando você descobrir quem
esses caras eram...

~ 80 ~
— Eles irão pagar, — concordei, desligando.

Havia algumas malditas regras básicas que cada pessoa decente


seguia na vida, você protege o pessoal que te serve, você dá dinheiro
para as pessoas com sinos no Natal, você segura portas e você, porra,
nunca coloca as mãos com raiva em uma mulher.

Era hora de eles aprenderem essa lição da maneira mais difícil.

E eu era um bom professor.

~ 81 ~
Oito
DUSTY

É ruim que meu primeiro pensamento quando eles entraram no


meu apartamento, e eu sabia exatamente o que eu estava enfrentando,
foi me preocupar com o que Ryan poderia pensar quando eu o visse no
dia seguinte?

Estava bastante segura de que não era certo o que eu estar


pensando naquele momento particular, homens que nunca conheci
nem mesmo vi antes gritaram comigo, me empurraram, exigindo saber
onde estavam as pílulas.

Não era que não estivesse com medo. Mas achei que todos os
meus anos estressando sobre monstros invisíveis de alguma forma
tornaria mais fácil para eu me concentrar no medo do que talvez a
maioria pudesse fazer nessa situação.

Então, quando o cara maior bateu os dedos no meu peito, me


fazendo tropeçar e bater na minha parede, derrubando minha meu
abajur, de alguma forma percebi que lhe dar essa informação não me
ajudaria.

Alguém ia me machucar.

Na verdade, a pergunta era, se eu preferiria que minhas feridas


viessem de estranhos... ou de um homem que eu conhecia minha vida
inteira?

A resposta foi simples.

Não tinha certeza se poderia lidar com Bry me batendo.

Eu não estava delirando. Ele teria que me batido. Ele teria que
fazer de mim um exemplo. Não porque ele quisesse. Nem mesmo
porque foi minha culpa. Mas porque era o que se esperava dele. Ele
não era o chefe em sua pequena organização. Ele era um cara de nível
~ 82 ~
médio. Ele tinha alguém a quem responder, alguém que desejaria que
eu tossisse um pouco de sangue para que todos os outros soubessem
que eles tinham que fazer um trabalho melhor para proteger o
suprimento.

Porque se ele não me espancasse, ele poderia ser morto.

Então, apertei meus lábios e não contei a eles.

Infelizmente, parece que eles as encontraram de qualquer


maneira.

Gostaria de dizer que quando ouvi Ryan, quando vi Ryan, me


deu uma sensação de alívio irresistível. Um pouco disso é porque ele
fez a surra parar. Impediu algo que poderia ter sido pior.

Mas envolvê-lo nessa situação, bem, acabaria com qualquer


imagem que ele tinha de mim e quebraria. Eu não seria apenas a
vizinha gentil, fechada e tímida, pela qual ele parecia um pouco
atraído. Não, eu seria uma vadia que se envolveu com traficantes de
droga.

Traficantes.

Deus, eu desci tão baixo.

Aquela que fui três anos antes, sim, ela nunca teria acreditado
que tal coisa fosse possível.

Era incrível o que um distúrbio mental incapacitante poderia


fazer. Era louco até onde alguém iria para salvar seu orgulho, não ter
que se preocupar com a única pessoa que tinha no mundo para cuidar
dela.

Mas a questão era, quando a outra pessoa que eu tinha no


mundo desistiu de mim, Bry esteve lá. E Bry teve uma ideia. Ele tinha
uma ficha grande demais para ser pego com pílulas, especialmente em
uma escala suficientemente grande para ser considerada como
distribuição, então ele me ofereceu um “emprego”. Eu mantinha o
produto, ele me dava um pouco de dinheiro para fazer isso, e era isso.

Seu dinheiro pagava cerca de metade do meu aluguel.

A outra metade, bem, encontrei uma maneira on-line para fazer


o resto.

~ 83 ~
Veja, a coisa legal que acontece quando você fica trancada todo o
maldito tempo e não consegue ver, falar ou experimentar nada ou
ninguém novo, bem... a mente vagueia. Você tem essas ideias enormes
e épicas em sua cabeça.

Um dia comecei a escrever as minhas. E logo descobri como


vendê-las na internet. Tive um medíocre número de seguidores entre
leitores de literatura paranormal que me manteve fora das ruas e com
comida na minha despensa. Precisei economizar cada centavo e
parecia arriscado manter as drogas para Bry, mas eu fiz isso.

Então, foi assim que me tornei uma criminosa.

Não entrei nisso com óculos cor de rosa. Não me achava


intocável. Sempre soube que algum dia isso me alcançaria. No
entanto, pensei que seria mais sobre ir para a prisão do que
espancamento, mas não me chocou muito que isso também
acontecesse.

Mas Ryan testemunhar isso? Ryan entrar? Ryan limpar a


bagunça que eu tinha feito?

Sim, eu não estava bem com isso.

Sua opinião era importante.

E ele nunca mais me olharia do mesmo jeito.

Eu o ouvi sair de seu apartamento quando peguei o saco de gelo


e caminhei pelo corredor.

Eu não ia mentir, tudo doía. Por pior que parecesse, e parecia


ruim, sentia-me dez vezes pior.

Vi outra porta fechada no corredor e percebi que talvez fosse um


escritório ou um segundo quarto. Mas não me sentindo confortável em
abrir uma porta fechada na casa de outra pessoa, entrei na porta
aberta de seu quarto e subi em lençóis que cheiravam a ele, uma
pitada de especiarias de sua colônia e sabão em pó. Entrei, puxei a
colcha para cima, coloquei o saco de gelo sobre o rosto de uma
maneira que cobriu meus olhos e lábios inchados e comecei a respirar
profundamente.

Eu deveria ter ficado louca.

~ 84 ~
Eu deveria estar enlouquecendo de ansiedade por estar fora do
meu apartamento, estar no dele, estar na cama dele, em suas roupas,
sem nenhuma das minhas coisas habituais.

Mas a verdade era que, no segundo em que aqueles homens


colocaram as mãos sobre as minhas coisas, eles arruinaram o conforto
que me ligava a elas. De alguma forma, sair de lá foi menos
estressante do que ficar.

Acho que foi um progresso de certa forma.

Ouvi a porta da frente se abrir e fechar e seus pés se movendo


por alguns minutos antes de eu lentamente me desligar para dormir.
Mas não deve ter sido por muito tempo porque a próxima coisa que
senti foi a cama se mexendo atrás de mim, uma sensação tão
incomum para me acordar, a tempo de sentir seu corpo escorregar
atrás do meu.

— Sou eu, — a voz baixa e suave de Ryan disse logo atrás de


mim quando senti suas pernas girar atrás das minhas e seu braço
deslizar suavemente em volta da minha barriga, me puxando contra
ele. — Como está a dor?

Que dor?

Tudo o que meu cérebro poderia focar era que ele tinha deitado
na cama comigo, envolvendo-me ao seu redor, baixando a cabeça no
meu pescoço e perguntando sobre minha dor.

Ele não se afastou de mim. Ele não me repeliu agora que sabia a
verdade.

— Está tudo bem, — eu disse, encolhendo os ombros um pouco


enquanto seu braço me apertou.

— Seu gato reivindicou o armário da TV como sua cama, — ele


disse, me fazendo sentir culpada por não cuidar dele.

— Sei que você não é um fã de gato. Se quiser que eu o leve de


volta ao corredor para que...

— Está tudo bem, Dusty. Não se preocupe com ele.

— Não sei como agradecer por esta noite, — admiti, odiando o


quão fraca minha voz soou.

~ 85 ~
— Você não tem nada para me agradecer. Eu seria um merda de
homem se visse uma mulher ser atacada e não interviesse.

Isso era verdade.

— Mas você me deixar ficar aqui... — continuei sentindo meu


coração vibrar quando seus dedos começaram a se mover distraído
pela barriga.

— Você sempre é bem-vinda aqui.

Havia ali uma sinceridade que fez uma coisa horrível comigo -
me deu esperança.

— Eu, ah, não sabia se o outro quarto era um escritório ou


quarto de visitas. Eu poderia me mudar...

— Gosto de você aqui, — ele disse, parecendo cansado.

Essa foi a última coisa que ele disse, porque não mais do que
alguns minutos depois, seu braço ficou pesado no meu estômago e eu
sabia que ele estava dormindo.

No entanto, não dormi por muito tempo. Isso ocorreu


principalmente porque minha mente decidiu levar em consideração o
fato de que “ele gostava de me ter ali” e fiquei com isso na minha
cabeça até que, por um lado, acabei me imaginando de volta ao
trabalho, em um relacionamento feliz com ele e, principalmente,
normal. Mas, pelo jeito, eu teria esperanças e depois voltaria para o
inferno e isso me deixaria mais fodida do que antes.

E com aquele pensamento adorável, eu me afundei para dormir.

***

Acordei com Rocky pulando no meu quadril e soltando um


“miau” alto. — Saia, — gritei, tirando o saco de gelo que já estava na
temperatura do quarto e olhando para ele com meu olho bom, um
pouco aliviada ao perceber que o outro também não estava
completamente fechado. Não estava aberto, mas eu tinha uma fenda
na qual poderia enxergar.

~ 86 ~
Ele soltou outro mimado com mais atitude, e suspirei e sentei.
Rocky saltou e correu em direção à porta onde ele fez uma pausa como
se estivesse esperando por mim. — Já vou, — eu disse a ele, mas me
virei para fazer uma rápida parada no banheiro onde encontrei uma
escova de dentes nova esperando por mim. Agradecida, escovei meus
dentes, limpei o que restava da pomada de antibiótico e voltei para a
cozinha.

— Eu o alimentei. Mas a fodido teimoso, aparentemente, não


comerá a menos que você esteja por perto, — Ryan me informou, sem
se afastar de onde ele estava de pé no fogão, parecendo recém-
banhado em uma camiseta preta apertada e calças grossas cinza
escuro.

Como se estivesse de acordo com essa afirmação, Rocky se


dirigiu para onde Ryan havia colocado suas tigelas ao lado da porta da
frente e começou a comer.

— Ele é mimado, — declarei. — Você está cozinhando? —


perguntei, cheirando manteiga aquecendo na panela, mas não estava
disposta a aceitar que um cara como ele fosse capaz de tarefas
mundanas como cozinhar. Era por isso que ele tinha a empregada,
não era?

Sua cabeça girou sobre o ombro com um sorriso divertido, sem


dúvida, pegando a incredulidade no meu tom. — Omeletes, — ele
disse. — Roubei os ovos do seu apartamento, o queijo e o suco de
laranja. Aparentemente, a Anita não foi à mercearia.

Deus, ele poderia melhorar?

Sério.

— Tudo bem, então eu preciso..., — ele começou, um tom um


pouco mais grave, virando-se para mim enquanto batia ovos,
recostando-se contra o balcão.

Mas ele foi cortado com o som de duas pancadas altas em sua
porta antes que de repente se abrisse, fazendo-me tropeçar um passo,
meu coração voando na minha garganta antes de ver quem entrou.

Um de seus irmãos.

Realmente, não havia com confundi-los. Todos tinham a mesma


estrutura óssea perfeita, cabelo escuro e olhos claros. Todos eram
~ 87 ~
altos, embora suas formas variassem. Ryan era alto e magro como um
dos outros irmãos que eu tinha visto visitá-lo. Outro era uma parede
gigante de músculo. Este era algo intermediário. Ele era um pouco
mais amplo do que Ryan, mas não extremamente musculoso.

E ele parou, imóvel a três passos na sala, congelado


completamente no lugar.

O que o fez congelar, você pode me dizer?

Eu, aparentemente.

Porque ele estava sorrindo um pouco enquanto ele entrava. Mas,


em um piscar de olhos, o segundo que seu olhar pousou em mim, o
sorriso caiu, ele parou de andar, e uma escuridão pareceu tomar seus
olhos.

— Eli, — Ryan disse, a voz baixa, mais profunda, quase como


um aviso. Mas uma advertência contra o quê?

Eli congelou, enfiando as mãos no bolso, mas seus olhos ainda


estavam fixos em mim. Ele tirou seu celular, segurando-o, e ouvi o
som inconfundível de sua câmera, fazendo-me saltar para trás, meu
olhar indo para Ryan.

— Cai fora, Eli, — Ryan resmungou, mais alto, deixando cair a


tigela de ovos com um tilintar e desligando o fogão. Então ele se moveu
um pouco entre mim e seu irmão.

— Apenas no caso, — Eli disse, piscando a foto em seu irmão,


fazendo-me estremecer ao ver as provas do meu espancamento tão
claramente. Então ele desligou o telefone, enfiou-o no bolso e olhou do
irmão para mim. E assim, tudo o que o alcançou há um momento
desapareceu, deixando-o com olhos suaves e um sorriso de desculpa.

— Está tudo bem, — ofereci, engolindo com dificuldade. — Sei


que isso é um pouco... ah, assustador, — disse, fazendo um gesto para
o meu rosto.

— Acho que a palavra que você estava procurando era “linda”, —


ele disse, facilmente contornando o tema do meu rosto e salvando
minha vaidade. — Eu sou Eli, — ele disse, me dando um sorriso. — Já
que meu irmão aqui esqueceu completamente dos bons modos. Não
esquenta — ele acrescentou, entrando para que ele estivesse próximo a
mim, inclinando a cabeça em minha direção como se estivesse
~ 88 ~
compartilhando um segredo, — eu informarei a nossa mãe sobre não
ter nos apresentado. Ela irá corrigi-lo.

Sorri para isso, mal notando o que isso fez ao meu olho,
bochechas e aos lábios machucados. — Eu sou Dusty, — informei.

— Dusty. O prazer é meu. E olhe, cheguei bem na hora do café


da manhã! — Ele declarou. — Duas garrafas de champanhe, — ele
notou, olhando para o armário de bebidas de Ryan. — Bem, você não
precisará de mais duas delas. Mimosas?

E foi quando decidi que eu precisava de Eli Mallick na minha


vida. Em uma qualidade amigável.

Ryan me deu uma olhada que não consegui ler, depois voltou
para os ovos, ligando o fogão e cortando vegetais para colocar no meio.

— O seu síndico, cara louco, — disse Eli, tirando minha atenção


enquanto olhava as costas de Ryan para encontrar Eli de pé na ilha
derramando suco de laranja em copos... com Rocky esfregando-se
contra seu braço. Esfregando-se contra ele.

— Ele odeia homens, — exclamei de boca aberta. — Metade do


tempo ele me odeia, — adicionei em um aceno de cabeça.

— Agora, veja, se eu não estivesse em companhia mista agora...


— Eli começou com um sorriso perverso — Eu faria um comentário de
natureza arriscada.

Eu resmunguei com isso, sabendo exatamente qual o tipo de


comentário seria.

— Então, Dusty, — Eli disse enquanto Ryan começava a mexer a


panela com ovo. — O que você faz? — ele terminou, me entregando
uma mimosa.

Comecei por um segundo, me sentindo presa antes do meu


cérebro começar a trabalhar e lembrei que eu tinha uma resposta para
isso. — Eu escrevo.

A cabeça de Ryan balançou sobre o ombro, suas sobrancelhas se


juntando, os olhos interrogativos. E foi então que percebi que,
enquanto eu estava perto dele por um ano, enquanto ele me salvou
duas vezes, me remendou, me beijou e dormiu comigo (o significado
louco dessa frase), nós ainda éramos estranhos um do outro.

~ 89 ~
— Eu sei ler, — disse Eli com um sorriso malicioso, fazendo-me
sorrir novamente. — O que você escreve?

— Adolescente paranormal.

— Vampiros e bruxas que são todos angustiantes e têm


triângulos amorosos?

— Então você leu meu trabalho, — ri enquanto ele brindava meu


copo.

Então todos comemos omeletes e tomamos mimosas enquanto


Eli conduziu a maior parte da conversa com uma pequena ajuda
minha porque Ryan estava de repente mais quieto do que o habitual.

E foi fácil.

Era como se eu não estivesse horrivelmente fora de prática.

Talvez a facilidade disso possa ser atribuída a Eli e seu tipo


descontraído de habilidades para conversar, mas não importa o
motivo, eu estava tomando café da manhã com dois homens que não
eram nem meu tio ou Bry e não estava me sentindo uma bagunça
estranha e ansiosa.

Por progresso.

Foi o que Ryan brindou no meu apartamento no Natal.

Era quase como se fosse algum tipo de premonição.

Não podia esperar por curas mágicas.

Não podia esperar milagres.

Mas, seguramente, poderia esperar progresso.

~ 90 ~
Nove
RYAN

Eli era difícil de prever

Como Hunter, Eli nunca foi verdadeiramente talhado para o


negócio da família. Ele sempre foi um pouco mais suave, mais calmo,
mais artístico. Ele não começava a confusão no playground como
Shane ou Mark. Ele não era o primeiro a pular quando uma grande
briga estourava no ensino médio. Ele não era alguém para quem a
violência vinha facilmente.

Mas a violência foi incutida em nós desde muito jovens.

Assim, porque não era natural para ele, não era algo que fazia
parte dele, que poderia aprender a controlar lentamente através de
níveis mais baixos, sua raiva era muito mais explosiva que qualquer
outra que já tinha visto.

Então, quando surgia para Eli, surgia em uma onda selvagem e


incontrolável. Ele tinha seus gatilhos, às vezes, como entrar no meu
apartamento e ver Dusty quebrada. Mas, como muitas vezes, ele
poderia apenas acioná-los quanto a necessidade surgia.

É por isso que ele era nosso último recurso com clientes difíceis.
Quando não entregava o dinheiro com minhas sugestões firmes ou
aviso do Mark ou surra feroz de Shane, bem, era aí que meu pai
chamava Eli. Geralmente, ele não podia ir sozinho. Porque, na maior
parte do tempo, ele precisava ser arrancado antes de matar alguém.

Mas isso vinha como um interruptor.

Ele entrou, viu Dusty, começou a se assustar, tirou uma foto no


caso de ele precisar mostrar a um policial porque ele estava batendo
em um homem até quase a morte pelo que ele fez com ela, então
voltava ao normal.

~ 91 ~
E Dusty respondeu a ele.

Embora, como eu, ele nunca tivesse sido um galinha como


Shane e Mark, definitivamente ele tinha um charme com o qual a
maioria das mulheres reagia. Ele prestava atenção às coisas pequenas
e quase sempre parece afastar as coisas que ficam muito complicadas.
Isso, para Dusty, era enorme. Se a conversa for interrompida por um
segundo sequer, você poderia visivelmente vê-la ficar tensa, ver seus
olhos ligeiramente em pânico, como se estivesse tentando pensar em
uma maneira de manter as coisas leves e fáceis, para não demonstrar
que ela não era a melhor em situações sociais.

Parte de mim estava agradecido por ele aliviá-la, de deixá-la


confortável com alguém além de mim, de seu tio, e da merda do Bry.

A outra parte estava irracionalmente com ciúmes de como eles


se relacionavam, de como ele conseguiu descobrir coisas dela que eu
nem sequer tinha pensado. Pelo amor de Deus, eu nem sabia que ela
escrevia para ganhar a vida. Guardar drogas para seu amigo era,
aparentemente, apenas para complementar sua renda.

Sua ansiedade poderia tê-la destruído, mas ela encontrou uma


maneira de viver, ter aventuras e se conectar com pessoas.

Após o café da manhã, Eli partiu, tendo seus próprios planos


para a Véspera de Ano Novo com Mark e que ao tudo indica envolveria
muito álcool e alguém para beijar (e algo mais) à meia-noite. Dusty
insistiu na limpeza e ela provou ser malditamente teimosa com isso,
então fui responder alguns e-mails na sala de estar.

Foi assim que o ouvi quando ela não estava com a água correndo
na pia.

Bry.

Ouvi a batida e me levantei em um piscar de olhos.

— Volto logo, — eu disse. — Preciso fazer uma chamada de


trabalho, — acrescentei, ligando meu telefone enquanto ela me sorriu
e voltou para a louça.

Entrei no corredor, fechando a porta com um clique silencioso,


assim que Bry puxou a porta aberta do apartamento de Dusty e pisou
na entrada. Seu corpo inteiro congelou, seus ombros se elevaram, sua
mão agarrou a maçaneta com força.

~ 92 ~
Ele não me ouviu enquanto eu atravessava o corredor. Mas com
certeza sentiu minha mão se esticando e tocando o meio de suas
costas, empurrando-o para frente e fazendo-o tropeçar no apartamento
destruído.

— Que porra é ess... — ele rosnou, explodindo enquanto eu


entrava e fechava a porta, apoiando-me nela. — Mallick? — ele
perguntou, endurecendo. Então, talvez a única coisa que ele pudesse
fazer para se redimir, ele olhou lentamente ao redor. — O que
aconteceu? Cadê a Dusty? Ela está bem?

— Sabe, geralmente, quando você se preocupa com uma mulher,


você não a coloca em uma posição em que ela tem seu apartamento
destruído e em que ela leva uma surra que nenhuma mulher deveria
levar.

— Cadê ela, porra? — ele perguntou, gritando um rugido áspero


entre os dentes cerrados. Ele deu alguns passos ameaçadores em
minha direção, mas parou antes de se tornar um grande desafio. —
Ela está bem?

— Ela não está bem com seu olho fechado e suas contusões e
lábios e...

— Merda, — ele me cortou com um grunhido alto, estendendo a


mão para pegar o que estava mais próximo dele, um livro na parte de
trás do sofá, e jogando-o através do quarto, atingindo a parede e
caindo no chão. — Ela teve que ir ao hospital? Ela deve estar ficando
louca...

— Ela não está no hospital, — eu o cortei.

Então ele se preocupava com ela. Não cheguei a vê-los muito


juntos, apenas o seu impaciente bater na porta em dias de entrega ou
de recolhimento. Isso não me deu a melhor imagem do desgraçado.
Isso e o fato de envolvê-la em seus negócios ilegais, não revelou o
melhor dele.

Mas a julgar pela forma como ele congelou com o apartamento


destruído e de suas primeiras perguntas envolverem o bem-estar de
Dusty e não, digamos, o status de seu esconderijo, bem, isso falou algo
sobre ele.

— Então, cadê ela? Quero vê-la.

~ 93 ~
— Por quê? — perguntei, cruzando meus braços sobre meu
peito.

— Porque ela é a porra da minha amiga. Porque ela apanhou e


ela não está em seu apartamento. O apartamento, devo acrescentar,
de onde ela não tem saído nos últimos anos.

— Ela está na minha casa, — informei, minha voz vazia.

— Por que diabos ela estaria em sua casa, cara? Ela nem sequer
conhece você. Ela com certeza não sabe no que você está envolvido.

— Ela sabe no que você está envolvido e parece estar bem com
isso. Quanto ao outro ponto, ela me conhece. Comprou um presente
de Natal e tudo.

Ele ficou surpreso com isso, sua boca se abrindo, duas linhas
formando entre as sobrancelhas. — Ela nunca falou de você.

Se não eu estivesse errado, e raramente estava, ele tinha uma


coisa por ela. Não apenas uma coisa como “ela é minha casa segura
para as minhas drogas e eu a quero viva” ou mesmo coisas como “nós
crescemos juntos”, mas uma coisa real. Ele a queria. Foi por isso que
ele a tocou quando entrou. E, como parecia conhecê-la, deve ter
entendido porque ela se esquivou dele.

Maldito mito de amor não correspondido.

Quase me senti mal por culpa.

Quase.

Mas a mulher que ele supostamente amava estava no meu


maldito apartamento com o rosto fodido por causa de uma situação
em que ele a colocou.

— Sim, bem, sou uma nova evolução em sua vida.

Seu semblante desmoronou com aquela informação, entendendo


o que eu queria dizer para ele, embora eu e Dusty, tipo juntos, ainda
estivéssemos no estágio inicial. — Você quer dizer o que acho que você
quer dizer?

— Talvez. E vendo que não é sequer nem um pouco da sua


conta, vamos seguir em frente com isso.

~ 94 ~
A tensão voltou quando o queixo inclinou. — Não me parece que
seja um pouco da porra de sua conta, também, — ele jogou minhas
palavras de volta.

Bem, se ele não quer fazer a maneira fácil...

Abaixei os braços e fechei o pouco espaço entre nós, a mão


curvando-se pela garganta dele e batendo-o contra a parede, o rosto
quase na mesma posição, do cara que espancou Dusty, o sangue
vermelho escuro, quase preto, na parede evidenciava desse fato.

— É da minha conta, filho da puta, quando uma mulher que me


interessa tem o rosto esmagado por causa das drogas em que você está
envolvido. E porque conheço todos os negociantes nesta cidade, sei
que você é apenas um lacaio para algum mal maior. Então, pare com
essa merda, filho da puta, e me dê algumas malditas respostas ou
posso lhe mostrar exatamente como a família Mallick conseguiu sua
reputação nesta cidade.

Minha voz foi baixa e selvagem, a raiva geralmente era uma


coisa fria dentro de mim, fria o bastante para congelar você.

E, se ele conhecesse minha família, certamente sabia que minha


ameaça não era vazia.

Minha mão soltou sua garganta e ele respirou fundo antes de


falar. — Você sabe que não posso entregá-lo.

— Como, você não pode? — gritei, impaciente. Não tinha certeza


se Dusty começaria a me procurar em algum momento. Eu não tinha o
dia inteiro para tirar as informações dele. — E você não tem escolha,
Bry.

— O produto desapareceu, certo? — ele perguntou finalmente


quando minha mão o soltou e dei um pequeno passo para trás.

— E você não tem dez mil. Como diabos você vai explicar isso ao
seu chefe? E me dizer quem ele é realmente é a pior merda que você
pode fazer hoje?

— Você não entende, — ele disse, balançando a cabeça,


deslizando para o lado e indo em direção à cozinha, onde alcançou o
fogão de Dusty e pegou um copo, depois foi ao congelador e tirou
vodca que ele mantinha lá.

~ 95 ~
Então, exceto sua aversão a ele tocando-a, eles eram próximos.
Ele sabia onde estavam os copos e as bebidas e sentia-se à vontade
servindo-se a si mesmo. De repente, me perguntei se em algum
momento talvez os dois tivessem sido mais do que amigos. Isso
explicaria sua coisa por ela e o fato de ele ter ficado ligado a ela mesmo
quando todos, menos seu tio, pareciam desistir dela.

— Então, ajude-me, — sugeri, observando como ele derramou


três dedos de vodca e a bebeu em um só gole.

Se eram uns três dedos de vodca nesse tipo de lance, então a


merda era séria. Senti-me tenso, perguntando-me com quem ela
poderia estar envolvida.

— Eu não trabalho para Lex se é o que você está perguntando,


— ele disse, querendo dizer o filho de puta mais cruel em toda
Navesink Bank, que estava bem atrasado para uma morte longa,
demorada e torturante. Lex enterrou suas mãos em um pouco de tudo
em nossa cidade e levou sua parte de algumas operações menores,
mantendo-as sob seu controle, não permitindo que outras pessoas
subissem de posto e o tirassem do caminho.

— Sei que você não está trabalhando para o Lyon, pois tudo o
que ele faz é corretagem de drogas. Não me diga que é tão baixo como
Third Street.

Ele resmungou, quase como se tivesse sido insultado. — Não.

— Então, quem? Porque esses são todos os traficantes desta


área.

Sua cabeça inclinou para o lado. — Exatamente.

Respirei fundo, olhando para o teto por um longo segundo. Ele


estava traficando em Navesink Bank para alguém que não deveria
estar operando na cidade? Esse era o tipo de situação fodida na qual
eu não queria estar nem perto. Porque isso não significava apenas que
você tinha um problema com o chefe de Bry e quem quer que roubou a
porra dele, mas também significava que, se Lex, Lyon ou Third Street
descobrirem essa armação, você também estava na mira.

Esse não era um lugar onde alguém queria estar.

Minha família sempre trabalhou para ficar fora do negócio de


todos na cidade. Tínhamos relações amigáveis com The Henchmen,
~ 96 ~
Hailstorm, Grassis e os freelancers como Breaker e Shooter. Evitamos
ativamente qualquer contato com Lex Keith. E não tivemos nenhuma
razão para ter qualquer comunicação com Lyon ou Third Street.

Era um mecanismo de sobrevivência neutro, mesmo que você


não concordasse com o que os outros estavam fazendo. Meu pai
sempre teve boa reputação e, enquanto crescemos e ficamos mais
velhos, todos nós também ganhamos isso. Mas seu negócio não era
enorme. Não tínhamos muita gente de fora além de mim e meus
irmãos. Nunca sobreviveríamos a uma guerra no submundo. Sabíamos
disso, então não metíamos o nariz nos negócios que não eram nossos.

Havia uma exceção aqui ou ali.

Ou seja, a merda que aconteceu com Shane e Lea.

Mas isso era uma exceção porque Lea era de Shane e qualquer
demônio que ela tivesse também era problema de Shane. Então ele
lidou com isso e porque família era família (não importa quão doido o
esquema era), nós ajudamos.

A mesma regra serviria se Dusty fosse minha, certo?

Somente um problema, a gente não tinha concordado com isso.


Nós mal nos falamos. Uma parte de mim estava preocupado em forçar
a barra, em colocar expectativas sobre ela que pudessem estressá-la.
Mas, para ser sincero, vi isso em algum lugar. Embora fosse novo.
Embora não soubesse tudo sobre ela, estava vendo isso em algum
lugar. Um dia. A seu ritmo.

Então, por enquanto, ela não era tecnicamente minha.

Mas não achei que isso também era um problema.

Eu não era aquele que começava as merdas. Nunca me envolvi


com uma merda que não era boa para minha família. E não faria isso
agora se não fosse por uma boa razão.

— Onde? — perguntei enquanto ele se servia de outra dose.

Ele suspirou, balançando a cabeça enquanto olhava a janela de


Dusty durante um longo segundo antes de seus olhos encontrarem os
meus novamente. — Camden.

— Oh, pelo amor de Deus, — gritei.

~ 97 ~
Camden? Maldita Camden? O lugar classificado como a mais
perigosa cidade da América, nos Estados Unidos, durante anos? Com
uma taxa de criminalidade seis vezes maior que a média nacional?
Ótimo. Fantástico. Apenas o que eu precisava.

Respirei fundo, agarrando-me à esperança. — Quinhentos


comprimidos não são um grande negócio. — Era enorme para a nossa
cidade, mas, como um todo, era um pequeno pedaço do comércio.

— Não se você levar em consideração que sou um dos cinquenta


caras que fazem essa merda.

Cinquenta.

Se cada cara tivesse o mesmo esconderijo de quinhentos


comprimidos, isso significava que havia vinte e cinco mil pílulas e mais
de meio milhão de dólares na operação. E isso era apenas envio e
distribuição, porra. Eu não tinha ideia de quantas vezes eles traziam
pílulas, mas mesmo que fosse apenas uma vez por mês a essa altura,
isso era um grande problema.

O chefe de Bry, quem fosse o merda, não era alguém com quem
eu tinha qualquer fodido negócio.

Eu me estiquei, raspando uma mão na minha barba áspera com


um suspiro.

— Então, aqui estamos, — Bry disse, balançando a cabeça.

— Me sirva um copo, porra, — gaguejei, pensando rápido.

Bry bufou e voltou para fazer isso, servindo-me uma dose grande
e bebi.

— Tudo bem, — eu disse, gemendo com a queimação. — Dez


mil. Vou cobrir isso, — decidi, vendo como a única saída para a
situação de merda.

Bry estava balançando a cabeça antes de eu terminar. — Ele


tem contatos por aí para manter um olho nas coisas. Se as pessoas
começam a reclamar que eles não encontram 30s por aí, de repente,
numa porra festa noturna, haverá perguntas. Elas seriam do tipo que
vem com um monte de sangue da minha parte. — Ele fez uma pausa,
olhando para os pés. — Gostaria de dizer que sou forte o suficiente

~ 98 ~
para manter minha boca fechada, mas ele é um fodido doente e não
posso fazer essa promessa e Dusty...

Dusty poderia pagar por suas malditas conexões.

— Tudo bem, quem é o fodido que sabe sobre você? — perguntei,


esperando que, se ele fosse tão estúpido para se ligar com algum
traficante em Camden, ele seria pelo menos inteligente o suficiente
para manter suas atividades pouco legais para si mesmo.

— Além de literalmente cada fodido com quem eu lido? — ele


perguntou, fazendo um bom ponto.

Os viciados eram um tipo desesperado. Se eles percebessem que


Bry sempre estava com uma grande quantidade de drogas e o
seguiram casualmente, achariam que nosso prédio era uma parada
constante dele.

E Dusty, bem, ela não poderia ter sido um alvo mais fácil,
poderia?

— Você ama Dusty, não é? — perguntei, fazendo o idiota se


sentir culpado.

— Ela é minha melhor amiga desde que éramos crianças, — ele


protelou.

— Como você poderia deixá-la tão desprotegida? — perguntei,


sem raiva na minha voz, apenas um tipo profundo de tristeza, em vez
disso. Quando você ama alguém, você cuida dela. Mesmo se estivesse
envolvido com uma merda obscura, como eu e minha família, você se
certificava de que isso nunca tocasse suas mulheres ou crianças.

Bry balançou a cabeça novamente, olhando para o copo vazio. —


Ela é teimosa pra caralho, cara, — ele disse e quase queria sorrir.
Percebi isso sobre os pratos, mas era difícil imaginar que ela fosse tão
teimosa que não poderia obrigá-la a ter um sistema de segurança ou
um guarda ou um cachorro ameaçador para sua segurança. — Eu
nunca quis que ela estivesse envolvida. Ela nunca deveria tocar nessa
merda.

Bem, isso era uma puta verdade. E eu tinha que dar-lhe pelo
menos um pouco de relutante respeito por saber disso.

— Então, por que ela está nisso?

~ 99 ~
— Olha, é fácil julgar de fora, cara. Mas você não estava aqui
para vê-la desmoronar. Não viu os ataques de pânico e a maneira
como ela começou a se fechar. Você não ficou ao lado dela assistindo a
cada pessoa em sua vida, menos eu e seu tio, desistir dela. Sua
própria mãe disse que ela era um maldito peso e se recusou a vir aqui.
Disse que se Dusty quisesse vê-la, ela teria que sair para almoçar em
algum lugar. Não gosto de chamar as mulheres de cadela, mas ela é
uma, ― ele acrescentou, olhando para mim. — Ela teve que abandonar
seu trabalho. Teve que mudar de seu apartamento antigo. Ela tinha
pouco dinheiro. Eu sabia que ela estava quase falida e estupidamente
conversei sobre a necessidade de um lugar seguro para manter meu
estoque. E essa merda começou daí. Quero dizer, eu poderia ter
conseguido um armário em algum lugar, sabe? Mas ela estava tão
desesperada e não aceitaria esmolas.

Então, na verdade ele não precisava pagar a ela... seja lá que


inferno ele pagou pra ela para segurar sua mercadoria. Ele estava
apenas, de um jeito distorcido, sendo um bom cara.

— Tudo bem, — eu disse, decidindo encerrar minhas acusações,


concordando que não estive lá. Eu não sabia o que eles passaram
como amigos. Não tinha ideia de como era sentar-se e assistir a
alguém que você ama perder a vida por causa de algum monstro
invisível dentro dele. Imaginei que também teria feito tudo o que fosse
necessário para ajudá-la. E Bry não tinha os privilégios que eu tinha.
Ele fez o que podia. Era inútil jogar a merda sobre ele. — Vamos tentar
consertar essa merda antes que tudo exploda em nossos rostos.

Ele acenou com a cabeça, concordando. — Como eles eram?

— Dois caras. Ambos eram de altura média, talvez um metro e


setenta. Grandes, mas não gordos. Atarracados. Cabelos escuros,
olhos escuros. Trinta a trinta e cinco anos. Lutadores não treinados.
Briga de rua. Para não dizer que eles são o tipo de escória que
colocaria as mãos sobre as mulheres.

— Infelizmente, essa pequena parte realmente não reduziu


muito, não é? — Ele perguntou, provando novamente que ele era
decente. O que diabos aconteceu em sua vida para levá-lo ao tráfico de
drogas? — Cicatrizes? Tatuagens? Sotaques?

Eu me concentrei um pouco, tentando pensar, tentando lidar


com a raiva que obscurecia a minha visão naquele momento. — Aquele
que a machucou, ele tinha uma cicatriz na sobrancelha, cortando-a
~ 100 ~
completamente em duas partes. O outro, não olhei tão bem para ele.
Mas aquele com a cicatriz da sobrancelha, seu rosto parece carne
moída agora.

Seus olhos se fixaram nos meus por um minuto, procurando por


algo. E deve ter achado, porque seus lábios se apertaram em uma
linha firme, seus olhos ficaram mais cautelosos e ele me deu um
pequeno aceno de cabeça.

Aceitando, talvez, que Dusty fosse minha.

— Posso lidar com isso, — ele disse, balançando a cabeça.

— Você não tem muito tempo, — avisei. Se eles tivessem um


estoque assim tão grande, poderiam tentar transferir isso e arranjar a
grana. Mas se ele conseguisse recuperar a maior parte das pílulas, as
coisas não iriam dar em merda.

— Não vou precisar, — ele disse com uma espécie de fúria que
eu admirava em alguém, independentemente da profissão.

— Bom, — eu disse com um aceno de cabeça. — Se você


precisar de alguma motivação, — acrescentei, alcançando o meu
telefone e abrindo o texto que Eli enviou não só para mim, mas para
toda a minha maldita família em sua tentativa de mostrar que todos
nós precisávamos estar na situação dela, acho, e mostrei a foto de
Dusty.

O rosto de Bry caiu quando ele pegou o telefone, segurando-o e


olhando para ela por um longo tempo antes de me devolver e deixando
seu olhar se encontrar com o meu. O que eu vi lá? Fúria. E o tipo de
determinação que dizia que ele encontraria os fodidos que fizeram isso,
não importa o que fosse necessário. Não para salvar sua própria pele,
mas como acerto de contas.

— Só para que fique claro, quero saber quem são eles, —


acrescentei, guardando meu telefone.

— Sim, — disse Bry, puxando seu próprio celular e digitando,


pedindo meu número depois me fazendo adicionar um contato
chamado — Eddie's Pizza.

— Seja inteligente, — adicionei enquanto ele guardava seu


telefone. — Não dê a seu chefe nenhuma razão para se aproximar,
porque você está sendo um fodido lunático.
~ 101 ~
Ele acenou com a cabeça, passando por mim, mas não indo para
a porta e sim para o corredor do apartamento dela, fazendo minhas
sobrancelhas se juntarem quando ouvi barulho no banheiro.

— Você tem uma banheira? — ele perguntou estranhamente,


sua voz elevada.

— Ah... sim, — respondi, ainda mais curioso porque ouvi outro


baque e depois ele saiu com uma caixa decorada verde e branca nas
mãos. Ele alcançou dentro do bolso e puxou um pequeno pacote
embrulhado de Natal e colocou-o dentro da caixa antes de entregar
tudo para mim. — O que é isso? — perguntei, puxando a tampa e
vendo uma tonelada de pequenas bolas redondas preenchidas com o
que parecia ser ervas e flores secas.

— Sais de banho, — ele informou, encolhendo os ombros. — Ela


fica estressada, ela precisa de um banho. Às vezes, cinco vezes por dia
em um dia ruim. Ela gosta dessas coisas. E você vai querer colocar seu
computador no seu apartamento se ela não voltar aqui.

— Por quê? — eu perguntei, colocando a tampa de volta na


caixa, sabendo que o pequeno pacote que ele pegou era mais que seus
sais, mostrando de novo como ele a conhecia bem. Outra pequena e
inexplicável onda de inveja percorreu-me e tive que me lembrar de que
um dia eu também a conheceria bem.

E melhor.

Pelo menos eu esperava.

— Ela tem compromissos com sua psiquiatra através de um


computador, — ele disse, balançando a cabeça para o computador no
canto. — Vídeo-chamadas. No entanto, acho que ela vai cancelar até
que seu rosto esteja um pouco melhor. E, além disso, ela precisa ser
capaz de escrever e encomendar a merda que ela precisa. Como você
sabe, ela não consegue sair.

— Certo, — concordei, balançando a cabeça ligeiramente.

— Ela tem medo de voltar, não é? — ele perguntou, fazendo um


gesto ao redor.

— Acho que sim, — respondi, não totalmente seguro.

~ 102 ~
— Está tudo quebrado. Tudo isso, são coisas dela. Era tudo
perfeito e como ela precisava. Agora está tudo fodido. Quando essa
merda explodir, vou compensar e pagar para refazer essa decoração...
— Disse ele com fúria, querendo fazer isso direito.

Mordi minha língua para me impedir de dizer que, quando


explodir, esperava que ela estivesse comigo de forma mais permanente.
Porque aquela merda era louca.

Ele caminhou em direção à porta, segurou a maçaneta, mas


voltou-se para mim. — Mallick, — ele disse, a cabeça inclinada para o
lado. — Agiota.

— Executor, — falei, encolhendo os ombros. Tecnicamente, meu


pai era quem fazia o empréstimo real.

— Ela merece coisa melhor, — ele disse e eu sabia que ele queria
dizer melhor do que nós dois, porque ele também a queria.

— Minha sujeira nunca a tocará, — falei com tanta convicção,


era praticamente um voto.

— Melhor não... porque goste ou não, faço parte da vida dela e


se eu imaginar que você não a está tratando bem, você e eu... vamos
ter um problema.

Acenei com a cabeça, respeitando essa posição mais do que ele


saberia. — Entendido, — confirmei com um aceno de cabeça.

Ele estava se afastando, mas voltou novamente. — Não a


pressione, — ele acrescentou e, nisso, desapareceu.

Olhei a porta fechada por um longo minuto, ouvindo o som do


elevador e sabendo que ele tinha ido embora.

Não a pressione.

Entendi.

Principalmente, entendi isso.

Mas também não estava de acordo com isso.

Eu não podia fingir entender o que Dusty estava passando e com


o que Bry lidou ao seu lado ao longo dos anos, mas sabia que

~ 103 ~
simplesmente aceitar a condição não ajudava. Você não precisava
pressionar, mas precisava incentivar a mudança.

Se ele esteve ao lado dela todos os dias, trazendo para ela o que
ela precisava e nunca tentando ajudá-la a sair de sua concha, de seu
apartamento, de sua pequena prisão pessoal, então ele, de certa
forma, fez mais mal do que bem.

Eu não queria pressioná-la.

Mas queria ver seu progresso.

Não por mim. Não porque quisesse levá-la comigo em todos os


lugares que eu fosse ou porque não me contentaria em vê-la no meu
apartamento quando chegasse em casa.

Mas por ela. Porque ela merecia ter uma vida que não a fizesse
sentir como se estivesse constantemente presa, como se ela estivesse
cercada por lobos que a consumiriam se tentasse sair de sua zona de
conforto.

Veja, o engraçado é que as zonas de conforto às vezes podia ser


uma arma. Às vezes, podia ser uma lembrança. Às vezes podia ser um
apartamento inteiro. Mas às vezes, oh às vezes, podia ser uma pessoa.

E eu tentaria, como o inferno, provar que poderia ser isso para


ela. Que sempre seria um lugar seguro para ela se aterrar, que eu
poderia pegar sua mão e levá-la para fora, e mostrar-lhe que os lobos
filhos da puta se encolheriam diante de mim e eles nunca poderiam
machucá-la novamente.

Talvez fosse muito cedo para isso.

Talvez fosse irracional querer ser isso para alguém que você mal
conhecia.

Talvez ela nem sequer quisesse que eu seja isso para ela.

Mas, independentemente de tudo isso, eu tentaria.

~ 104 ~
Dez
DUSTY

Levou uma eternidade para ele dar o seu telefonema, o que,


bem, não era da minha conta. Então, terminei de lavar os pratos e
guardei os vegetais não cortados que Ryan havia deixado de fora e
voltei para o quarto para fazer a cama.

A empregada de Ryan mantinha as coisas organizadas. Mesmo


com a minha necessidade ligeiramente discreta de que as coisas
estivessem na ordem certa e limpas, descobri que, depois de arrumar
as coisas que Ryan, Eli e eu tínhamos usados nesta manhã,
literalmente não restava nada.

Então, com uma perda, sem nenhum dos meus confortos


habituais para me manter ocupada, encontrei um bloco de notas na
gaveta da cozinha no qual Ryan e Anita costumavam deixar as
mensagens um ao outro, a julgar pelas seis páginas de mensagens
dizendo a Anita para comprar limões e proteína em pó, ou Anita
dizendo a Ryan que ela usou o cartão que ele deu para comprar
suprimentos de limpeza e mantimentos, e que o recibo estava na
gaveta.

Depois de me achar olhando sua escrita rabiscada e inclinada


por muito mais tempo do que eu queria admitir, peguei uma caneta e o
bloco de notas no sofá e me sentei para escrever um pouco.

Nem mesmo o ouvi entrar, achando que ele se movia


silenciosamente quando não estava com sapatos de trabalho. Achei
interessante porque, literalmente, todos os outros homens que já
conheci pareciam fazer tudo com passos pesados, pisando forte no
banheiro no meio da noite, batendo armários na cozinha, bocejando
como se estivessem sendo pagos para realmente torná-lo crível.

~ 105 ~
Mas então o sofá ao meu lado se afundou quando ele se sentou,
fazendo minha almofada pular ligeiramente e meu coração voar na
minha garganta, ainda não acostumada a ter alguém ao redor.

Olhei e observei enquanto a expressão um tanto tensa de Ryan


se suavizava até surgir um pequeno sorriso. Ele estendeu a mão em
minha direção, seu polegar pressionando minha bochecha e
esfregando. — Tinta, — ele explicou, afastando o dedo e me mostrando
o azul.

Quando eu estava pensando, tinha o hábito de tocar a caneta


contra minha bochecha com impaciência.

— Obrigada, — falei, fechando o bloco para que as notas dele e


sua empregada escondessem minhas palavras. Sempre fui tímida com
as minhas escritas até que fossem um projeto acabado e as liberava
para o público.

— Então, trouxe algumas coisas de sua casa, — ele disse,


indicando a cozinha com queixo, fazendo-me seguir seu olhar,
chocando-me quando notei que toda a ilha estava coberta. Ele não era
apenas silencioso, ele era praticamente um ninja. — Encontrei seu
notebook e carregador desde que o computador era demasiado para o
projeto, algumas coisas de banho, algumas roupas e alguns dos livros
que pareciam estar em uma pilha não lida.

Era totalmente uma pilha não lida com uma pilha de


marcadores em cima, um para cada livro.

— Obrigada, — disse novamente, dando-lhe outro sorriso grata.


Bom. Ele era muito bom.

— Encontrei Bry, — ele disse exatamente quando me levantei e


comecei a apanhar a pilha, fazendo-me girar de volta, a boca fechada,
os olhos incomodados.

— O quê? — disse com meu coração disparando novamente,


mas não de forma surpreendente, de uma maneira muito ansiosa.

Ryan e Bry?

Não.

Combinação ruim, muito ruim.

~ 106 ~
— Dusty, respire, — ele sugeriu, o tom quase irritantemente
calmo enquanto eu pensava em um milhão ou dois de motivos de que
ele falar com Bry era uma coisa absolutamente terrível. — Nós apenas
discutimos algumas coisas e chegamos às mesmas conclusões. — O
que, — ele continuou quando me movi para interromper, — não inclui
deixar você se preocupar com nenhuma maldita coisa sobre isso. Você
já sofreu bastante. Ele também deixou seu presente de Natal. Está na
caixa com as coisas de banho, — ele acrescentou, casual, como
sempre, embora literalmente me contou que estava lidando com um
problema que envolvia um traficante de drogas e homens que me
espancaram e me roubaram quando ele quase não me conhecia. —
Então, ouvi que você gosta de banhos quando está ansiosa, — ele
continuou, de pé e atravessando o piso em minha direção. Ele pegou a
caixa na qual eu mantinha meus sais de banho e me entregou. —
Nunca usei a banheira, mas Anita a limpa toda vez que está aqui,
então está limpa e é toda sua. Gaste todo o tempo que você precisar.

Todo o tempo que eu precisar?

Para aceitar que um cara, por quem eu talvez estivesse


começando a sentir alguma coisa pela primeira vez em anos, que mal
me conhecia de alguma forma, está lidando com meu problema com a
distribuição ilegal de medicamentos prescritos?

Sim, eu tinha certeza de que não havia água quente suficiente


no prédio para gastar até eu enfrentar esse tipo de coisa.

— Enquanto você faz isso, vou começar a preparar as coisas


para mais tarde.

— Mais tarde? — repeti, minha mente indo em muitas direções


para decifrar o que isso significava.

Sua cabeça abaixou um pouco, os olhos cálidos, sorriso doce. —


Véspera de Ano Novo, querida. Nós temos um encontro.

Um encontro.

Tinha certeza de que fiquei bastante corada com essa palavra.

Faz tanto tempo que tive algo tão normal como um encontro com
um homem.

— Certo, — concordei com um sorriso hesitante.

~ 107 ~
— Tenho bombas de confete, — ele acrescentou, parecendo
quase um pouco envergonhado com a ideia.

Ao ver isso, senti que algumas das minhas tensões


desapareceram. Se existiam coisas que o fazem se sentir um pouco
inseguro, e aquelas coisas eram bombas de confetes, então ele parecia
um pouco mais humano para mim.

— Parece bom, — Falei, querendo de verdade falar isso.

Então segui adiante e tomei um banho de uma duração


respeitável. Pelos meus padrões. Por isso, foi um longo banho de duas
horas, para os padrões normais.

Mas, bem, depois que a ansiedade sobre Bry e tudo isso se


dissipou, outra ideia cruzou minha mente. Eu ia ter um encontro.
Com um homem com quem já tinha dado, tipo, uns amassos na
minha sala de estar na semana anterior. Então, se as coisas
seguissem como costumavam seguir, essas coisas e outras poderiam
acontecer.

Isso significava, hum, que alguma atenção adicional precisava


ser feita para alguma preparação.

Então fiz isso e me besuntei com a loção que ele trouxe para
mim e entrei nas roupas que ele escolheu, sentindo um pouquinho de
vergonha ao saber que ele passou pela minha gaveta de roupa íntima,
já que trouxe conjuntos de sutiãs e calcinha, todos empilhados na
cozinha.

Mas, se as coisas seguissem como eu esperava, e estava um


tanto meio apavorada que isso iria acontecer, a jogada final era ele ver
minha calcinha e sutiã de qualquer jeito. De preferência, quando ele os
retirasse. Talvez com os dentes.

Ok.

Eu estava me precipitando.

Quando voltei, Ryan estava na cozinha cortando vegetais e


colocando-os em uma travessa que eu apostaria que ele não comprou
para si mesmo. Que homem pensava em coisas como ter travessas?

— Sentindo-se melhor? — ele perguntou, de alguma forma me


ouvindo mesmo de costas para mim.

~ 108 ~
— Sim, obrigada. Ei, cadê as minhas coisas? — perguntei,
caminhando até a ilha, que estava lotada com as minhas coisas
quando eu saí, mas de repente só estava coberta de comida, lanches
para o nosso pequeno encontro da véspera de Ano Novo. Mesmo a
ideia disso fez com que minha barriga tivesse uma pequena borboleta
batendo asas, algo que eu não tinha certeza de ter experimentado
desde o ensino médio.

— A roupa está na segunda gaveta no quarto. Você pegou as


suas coisas de banho. Seu notebook e seus livros estão na mesa de
café da sala de estar.

Ele estava... me mudando?

Quero dizer, levar os livros e o notebook para a sala de estar não


era estranho. Ele precisava do balcão para colocar a comida. Mas
colocar minha roupa na sua cômoda? Ele era o tipo de homem que se
vestia bem, tinha que usar todas as gavetas da sua cômoda. Então, ele
esvaziou uma para mim?

— Você não precisava...

— Achei que você não se sentiria muito confortável em seu


apartamento agora. Você parece bem aqui.

Ele deixou isso no ar, esperando que eu entrasse em algum tipo


de acordo. — Eu estou, — concordei, examinando. Não era nada como
meu apartamento. Tudo era escuro e simplificado. Enquanto meu
apartamento sempre estava limpo, eu tinha bibelôs e itens pessoais
para ficar mais aconchegante. Ryan não tinha muitos, além de talvez
as imagens emolduradas de suas sobrinhas. Não deveria ser
confortável para mim. Era o oposto de tudo o que eu achava que fosse
relaxante. Mas, de alguma forma, ainda era. Talvez porque fosse dele.
Talvez o meu conforto não estivesse no próprio lugar, mas na pessoa a
quem isso pertencia, que vivia nele, tocava tudo dentro dele.

— Bom. E, como eu disse, é bem-vinda durante o tempo que


você precisar. Fazia sentido guardar suas coisas.

Ele falou tão casualmente, encolhendo os ombros, como se não


fosse grande coisa que quase acreditei. Até que me lembrei do
namorado que tive dos dezoito aos vinte e dois que não me deixou ter
uma gaveta em sua casa até que exigi isso com um ultimato.

~ 109 ~
Significa algo quando um homem voluntariamente, sem que lhe
tenha sido pedido, abriu espaço para você.

E assim, quando dei por mim, eu estava morando com o Ryan


Mallick.

Foi quando peguei meu reflexo no micro-ondas. As palavras


saíram antes que eu pudesse detê-las. — Ryan, quanto tempo até o
meu olho abrir? — perguntei, dizendo sobre o inchaço.

Ele apoiou a faca no tabuleiro e se virou lentamente, me dando


um sorriso simpático. — Não há maneira de dizer. Todos se curam de
forma diferente. Algumas pessoas verão uma diferença em alguns dias,
outras levam semanas ou meses para ser honesto. Você precisa por
mais gelo, — acrescentou, indo ao freezer e retirando um novo saco de
gelo e o embrulhou. — Vinte minutos no olho e tira por trinta minutos,
— ele me disse, me dando isso.

— Obrigada, — agradeci, dando-lhe um pequeno sorriso e indo


para o sofá, ligando a TV e deitando-me para seguir as ordens.

De alguma forma, talvez devido à persistente da dor de cabeça


em minhas têmporas ou ao estresse do último dia e meio, eu adormeci.

Houve uma sensação de cócegas ao lado do meu rosto, fazendo-


me resmungar e bater no ar. — Deixe-me em paz, Rochester, —
murmurei, apenas para ouvir uma risada baixa e profunda que, sim,
até meio adormecida, eu sabia que não pertencia ao meu gato.

Meus olhos se abriram. Sim, os dois. Aparentemente, a crosta de


gelo ajudou um pouco. Não estava totalmente aberto, mas eu podia ver
mais do que uma fenda. E o que vi era Ryan sentado à beira do sofá,
sua mão ainda retirando meus cabelos secos de parte de meu rosto. Se
meu cabelo estava seco, então... — Há quanto tempo eu dormi? —
perguntei, tentando levantar, mas ele me empurrou de volta.

— Algumas horas, — ele encolheu os ombros.

— Quantas horas?

— Cinco, — ele admitiu com um sorriso.

— Cinco horas! Por que você não me acordou?

~ 110 ~
— Imaginei que você precisava recuperar o atraso. Substituí o
seu saco de gelo algumas vezes. Uma coisa boa. Talvez você seja uma
das sortudas que só têm uma semana ou mais de inchaço.

— Como você sabe muito sobre coisas assim?

— Coisas como o quê? — ele perguntou, mas foi apenas para


esquivar-se. Ele sabia exatamente do que estava falando.

— Lesões, lutas e tudo isso.

— Acho que essa é uma história para outro dia, — ele disse, me
fazendo endireitar ligeiramente. — Vou te contar, — ele me
tranquilizou, observando de perto minha mudança. — Mas não vamos
lá esta noite, ok? — ele pediu e porque ele parecia precisar disso,
decidi concordar com ele. Eu sabia o como era se sentir não estar
preparado para falar sobre algo, querer trabalhar com isso.

— Ok. Então, o que você fez enquanto eu estive apagada?

— Frios e algo mais, — ele ofereceu, encolhendo os ombros. —


Minha cunhada me disse que a véspera de Ano Novo não era o tipo de
noite em que você faz uma refeição enorme. Então, é tudo lanche e
aperitivos. Preparei alguns queijos fritos e patês com pães. Não sei
qual é sua tolerância a álcool e pensei que deveríamos forrar o
estômago com uma boa camada de gordura e carboidrato.

— Boa ideia. Não tive mais que duas taças de vinho, bem, em
anos. — Na verdade, eu me recusei a manter muito álcool na minha
casa porque sabia como seria fácil chegar um copo de algo durante um
tempo estressante. E então isso se tornaria uma muleta.

— Bem, champanhe à parte, tenho de tudo, — ele disse,


acenando em seu armário de bebidas. — Benefícios de ter um bar na
família.

— Que bar? — perguntei, movendo-me para me sentar.

— Chaz's.

— Não diga, — eu disse com um grande sorriso. — Esse foi o


primeiro bar no qual entrei quando fiquei maior de idade.

— Tipo, único que segue as regras na cidade, — ele concordou.


— Embora eu tenha entrado e bebido ilegalmente com meus irmãos
mais do que uma ou duas vezes.
~ 111 ~
— Mesmo? — perguntei, sorrindo com a ideia de ele ser um
encrenqueiro. Ele parecia tão seguro e responsável.

— Eu chamaria de pressão dos colegas, mas eu realmente só


queria saber qual era a comoção sobre aquilo. Meu pai entrou e nos
achou vomitando no banheiro.

— Ele ficou chateado?

Ele riu um pouco com isso. — Meus pais não são pais típicos.
Meu pai era o tipo de homem que corrigia o “problema”, quando Shane
decidiu fumar, ele o fez fumar um maço inteiro, um após o outro, até
ficar tão enjoado que nunca mais tocou em um.

— Então estou presumindo que quando vocês melhoraram...

— Ele nos fez beber até que vomitássemos novamente, — Ryan


concordou, sorrindo para a memória. — Papai é durão, mas
funcionou. Em parte. Nós não nos esgueiramos mais para o bar. Pelo
menos, foi um bom ano ou dois antes de qualquer um tocar em álcool
novamente.

— Como é sua mãe? — perguntei, gostando do panorama que ele


estava criando para mim.

— Ainda mais durona do que o meu pai, se você puder imaginar.


Papai teve que trabalhar muito quando éramos crianças e ela ficou
presa com cinco instigadores de problemas, desafiadores de limites e
pés no saco em geral. Ela tinha que ser uma força para lidar com
todos nós.

— Tipo, como? — insisti, percebendo o modo como o sorriso dele


era nostálgico falando sobre sua família, seus olhos um pouco longe
na memória.

— Shane teve um toque de recolher, seguido de uma história


próxima de congelamento que ele pode contar em algum momento, —
ele disse com facilidade, apenas assumindo que isso aconteceria
eventualmente, uma certeza em seu tom que quase me fez acreditar
também. — Há uma história de queda na janela da cozinha que, acho,
Hunter tem que contar. Mark tem uma história de acordar na
mangueira do jardim.

— E você e Eli?

~ 112 ~
— Eli, em geral, ficou mais sem problemas do que o resto de
nós, mas ele nunca conseguiu seguir ordens simples. Um tempo atrás,
Mamãe exigiu que todos levássemos companhia para o jantar de
domingo. Era obrigatório. Se nós não fizéssemos, não comíamos. Eli
não comeu. E ela o fez ajudá-la a servir e tudo, — acrescentou, rindo.

— E você?

— Hmm, — ele disse, pensando nisso um segundo, suas


próprias histórias não vinham tão fácil para ele quanto as de seus
irmãos. — Eu estava no último ano e sabe-se lá porque motivo, todos
nós devíamos praticar algum esporte. Eu diria que era porque ela
queria que aprendêssemos a trabalhar em equipe ou alguma merda
assim, mas na verdade, acho que ela só queria algumas horas para si,
quando não a deixávamos louca depois da escola. E eu, idiota que era,
não optei por baseball, onde eu poderia ficar sentando na maior parte
do treino, ou luta livre, como Shane, para poder usar as habilidades
que aprendi para lutar com meus irmãos por toda a minha vida. Ou
mesmo líder de torcida, como Mark...

— Oh, não, não, não, — eu o cortei. — Você não pode


simplesmente deixar cair uma bomba dessa como seu irmão sendo um
líder de torcida e seguir em frente, — eu disse, rindo.

— Você teria que conhecer Mark para entender completamente.


Ele é, ah... não há uma maneira simpática de dizer um galinha, então
vou seguir em frente e usar isso. Ele sempre, realmente amou
mulheres. Todos os seus amigos, fora nós e talvez Colt, eram do sexo
feminino. Ele namorou uma garota diferente a cada semana na escola.
E quando ele foi forçado a praticar um esporte, bem, por que não
escolher um onde ele poderia deitar e rolar ao redor de um monte de
garotas quentes todos os dias?

— Cara inteligente, — concordei, decidindo que Mark era


definitivamente um irmão que queria conhecer. — O que você fez?

— Trilha, porra, — ele admitiu com um resmungo. — Não faço a


mínima ideia do que estava pensando. Desisti depois de, não sei...
duas semanas. Isso foi mais do que uma merda para mim. Mas então,
Mamãe descobriu. E minha mãe, além de ser uma rigorosa adepta das
boas maneiras, obrigação familiar, respeito pelos mais velhos e tratar
bem as mulheres, bem, ela odeia desistentes. Se nós nos inscrevemos,
nós terminamos. Sem desculpas.

~ 113 ~
Sua mãe era tudo, minha mãe não era. Acho que aprendi as
boas maneiras apesar dela, não por causa dela. — O que ela fez?

— Ela veio e me pegou todos os dias na escola, me vestiu roupas


de ginástica e depois dirigiu ao meu lado enquanto eu atravessava os
bairros, por mais longo que fosse. Todos os dias. Mesmo nos dias em
que chovia e a trilha real foi cancelada, lá estava eu, correndo, com ela
dirigindo ao meu lado, então não tive como escapar de fazer isso.

— Sua mãe parece incrível, — admiti.

— Como era a sua? — ele perguntou, fazendo meu sorriso


desaparecer.

Minha mãe nunca foi um bom tópico para mim. Um, porque
atualmente temos um relacionamento ruim. Dois, por causa do jeito
como fui criada. E três, porque ela não via nada de errado na forma
como ela me criou.

Eu era filha única, obviamente. Fruto de um caso de curto prazo


com um homem muito mais velho, quando ela tinha praticamente
dezoito anos. Quando perguntei sobre ele, tudo o que ela me contou
era que ele era alto e loiro, seus cabelos rastafári e com uma barba
que ele untava com óleo de rosas e lavanda e passava oito horas por
dia meditando e fazendo ioga e esperando a Segunda Vinda chegar.

Ela nunca me deu o nome dele.

Um dia, quando fiquei bem mais velha, percebi que... talvez ela
nem tivesse um nome para me dar.

Não havia um jeito agradável de dizer que sua mãe era, bem, um
pouco vadia. Mas era exatamente o que ela era, em quase todo o
sentido da palavra. Casos de uma noite, aventuras de fim de semana,
namoricos curtos. Passei mais tempo em apartamentos de homens que
não eu conhecia do que naqueles onde minhas coisas me pertenciam.
E ela também não tinha nenhuma bússola moral. Namorava jovem,
velho, casado, noivos. Não se importava.

Monogamia é um conceito religioso, não uma normalidade


humana.

E, embora isso possa ter sido correto, não era desculpa para
arrastar uma menina pequena e impressionável e colocá-la em casas

~ 114 ~
de pessoas onde ela não sabia se poderia confiar. Tive sorte de nunca
ter sido abusada nas situações em que ela nos colocou.

Ela gostava de se chamar de hippie, fã do amor livre e da


ingestão mais que ocasional de ácidos para fins “espirituais”.

Nunca tive hora de dormir. Comi o que queria, mesmo que fosse
uma caixa inteira de cereais de açúcar para o jantar. Nem sabia o que
era um dentista até os dez anos e meu tio cuidou de mim e fez aquelas
coisas normais comigo, médico, dentista, oftalmologista, as tarefas.
Nunca aprendi nada sobre a civilidade humana básica quando estive
ao lado dela.

E, bem, o fato de que ela passava em Navesink Bank, me


deixava e depois saía sem mim apenas para aparecer semanas ou
meses ou mesmo anos depois, diz muito sobre ela.

— Ela era difícil, — Ryan concordou quando eu terminei de


contar tudo isso. — Você teve sorte de ter seu tio.

Palavras mais verdadeiras nunca foram faladas.

Não queria imaginar como eu poderia ter acabado se ele nunca


tivesse sido parte da minha vida.

Uma grande parte em mim pensava que talvez eu acabaria como


a minha mãe. E, bem, era a pior coisa que poderia acontecer. Eu
ficaria feliz em ter minha agorafobia do que aquilo qualquer dia.

— Posso te perguntar uma coisa, — ele começou, mas continuou


antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. — E está tudo bem se você
não quiser falar sobre isso.

Senti minha barriga apertar, meu coração vibrando de uma


maneira que estava insinuando o pânico, mas não deu o salto ainda.
— Claro.

— Como sua agorafobia se tornou tão ruim?

Certo.

Veja, era estranho que, depois de um tempo vivendo a vida de


certa maneira, pode ser fácil esquecer que isso não é normal. Não
gastava todos os momentos do meu dia no meu apartamento
pensando na loucura em que vivia, como eu estava aleijada pela
minha condição. Acabei por me adaptar. Vivia da melhor maneira
~ 115 ~
possível. Cozinhava, limpava, lia, escrevia, pagava contas. Era uma
vida muito simples, mas era uma vida.

Então, quando isso era mencionado, quando era jogado na


minha cara, meu instinto imediato era desligar. Esse era o meu
mecanismo de defesa. Depois de tantos anos de perturbador e
desapontar as pessoas, era difícil tocar no assunto.

Mas havia Ryan, bom, paciente, compreensivo e ele queria saber.


Não porque queria me acusar de algo como ser uma amiga ruim ou
não o apoiar, mas porque queria me entender melhor.

Não podia negar-lhe algo que era uma grande parte de mim.

Respirei fundo, virando o olhar para minhas próprias mãos e


esfregando meu polegar contra meu outro polegar, um estranho hábito
que achei reconfortante. Talvez eu fosse capaz de lhe dizer, mas não
pensei que poderia fazer isso com contato visual.

— Quando minha mãe me abandonou pela última vez quando eu


era adolescente, eu progredia com meu tio. Sentia-me bem ter raízes e
saber que não seria arrancada novamente a qualquer momento. Então
me resolvi. Fiz amigos. Socializei. Eventualmente, namorei. Era
normal. Fui para a faculdade. Voltei e consegui um emprego na escola
primária. Consegui um apartamento e tive muitos amigos e
compromissos sociais.

― E então, um dia, sem mais nem menos, eu estava comprando


em uma loja onde já tinha estado um milhão de vezes e eu
simplesmente... perdi o controle. Não entendi na época, a tontura, o
batimento cardíaco acelerado, o suor frio, o formigamento e as
sensações quentes e frias, a pressão no meu peito que dificultava
respirar. Tudo o que sabia era que precisava correr. Então, corri e
nunca mais voltei para a loja. Tudo ficou bem por um tempo. E então
aconteceu em uma loja diferente. E parei de ir lá. Aconteceu em
restaurantes, bares, clubes, cafés. E parei de ir lá também. Então, no
trabalho. Eu tive que sair.

— Na época não entendi o que fez essas fugas progredirem tanto.


Não entendi até finalmente comecei a ver uma terapeuta. Você sabe, —
falei, rindo de mim mesma, — até que também não voltei para o
consultório dela. A única maneira real de lidar com isso é enfrentar.

— Terapia de exposição, — ele disse, puxando minha cabeça,


surpreendendo que ele soubesse o termo.
~ 116 ~
— Exatamente. Você precisa plantar seus pés e lidar com o
ataque de pânico, não deixá-lo te expulsar do lugar. Porque, as
chances são, uma vez que você sair... você nunca mais voltará. E isso
te agarra para que você não possa mais sair do seu apartamento. Você
não pode fazer mais nada. Durou talvez... mais de um ano e meio.
Desde o primeiro ataque de pânico até a impossibilidade de sair do
meu apartamento. Apenas um ano e meio. E, naquela época, decidi
que eu estava “muito envolvida comigo mesma” ou “pouco solidária”
com meus amigos, porque não conseguia chegar aos shows de sua
banda ou reagir exageradamente, dizendo que queria ir, mas não
consegui fazê-lo.

Fechei os olhos, puxando algumas respirações profundas,


sentindo uma picada familiar de lágrimas. Não costumava pensar nas
pessoas que perdi ao longo do caminho, da maneira dolorosa como
geralmente aconteceu. Bry foi o único que ficou. Quando eu conseguia
sair, ele ia comigo. Quando eu tinha um ataque de pânico e precisava
voltar, ele me trazia, pagava qualquer conta que tivéssemos, conseguia
que nossa comida fosse embalada, depois vínhamos para meu
apartamento e ele ficava lá comigo. Quando finalmente não consegui
tentar sair, ele encolheu os ombros e aceitou.

No final das contas, seu novo “empreendimento” o tirou de mim


cada vez mais, me tornou ainda mais reclusa e faminta por contato
humano, mas sabia que não podia esperar que as pessoas deixassem
suas vidas para girarem em torno de meus problemas. Ele ainda vinha
às vezes, mas geralmente apenas em dias de retirada ou entrega.
Embora ele sempre tenha feito uma parada no meu aniversário ou
para trazer um filme que tinha chegado em DVD e que eu queria ver
no cinema, mas não conseguia ir. Mas ele nunca insistiu e esperou
para fazer isso comigo.

Ele era um bom comigo.

Às vezes, senti que não merecia isso.

Essa é a ansiedade de falar, meu terapeuta diria.

— Posso perguntar mais uma coisa? — Ryan perguntou quando


finalmente abri meus olhos, tendo vencido a batalha com as lágrimas.

O que restava para me perguntar que poderia me incomodar?

— Claro.

~ 117 ~
Meus olhos até foram até os dele e o encontrei observando-me
atentamente, como se estivesse procurando a menor reação à pergunta
que ele iria fazer. — Você e Bry já namoraram?

— O quê? Não! — gritei, a ideia tão absurda que realmente


ri/bufei com isso. Era um som muito delicado e encantador, deixe-me
dizer. — Claro que não. Ele é o mais próximo de um irmão que tenho.
Por que você pergunta isso?

Sua cabeça inclinada ligeiramente, sua boca se abrindo e


fechando um par de vezes, como se tentasse decidir me dizer ou não.
Enfim, ele disse. — Porque ele está apaixonado por você, Dusty.

Eu estava bastante certa de que uma bola de canhão inteira caiu


e acertou a minha barriga com essa frase.

Apaixonado por mim?

Bry?

Não, isso não era...

Exceto, talvez fosse.

Para ser sincera, eu admitiria que houve momentos tensos,


silêncio pesado ao longo dos anos, quando ele estava lutando para
dizer algo para mim, isso poderia ser amigável de uma pessoa sensível,
(que Bry não era), mas não era normal para dois amigos de infância.
Ele catalogou até os menores detalhes sobre mim e de alguma forma
tocou nesse assunto de novo meses ou anos depois. Seus presentes
sempre foram exatamente o que eu gostava.

Amizades assim entre duas mulheres, eu poderia dizer que era


normal.

Mas talvez não funcionasse exatamente assim com homens e


mulheres.

Talvez sua consciência de mim tivesse menos a ver com apenas


uma amizade e mais a ver com... algo mais.

— Você não tinha ideia, — ele observou com precisão, me dando


um meio sorriso.

— Eu deveria saber, — disse, balançando a cabeça. — Uau. Eu


realmente, realmente deveria ter visto isso. Quero dizer, talvez não
~ 118 ~
quisesse admitir isso porque ele era tudo o que eu tinha e admitir isso
poderia ter arruinado...

— Acho que você o subestimou, — ele me surpreendeu dizendo.


— Ele pode estar apaixonado por você, querida, mas ele também te
ama. Acho que uma parte dele sabe que você nunca retornaria os
sentimentos e é por isso que ele não fez nada sobre isso. Talvez nem
faça. Talvez ele sempre fique lá para você em qualquer situação que
você precise. E provavelmente eu seja um merda por lhe contar isso,
mas acho que é algo que você precisava saber. E, bem, eu precisava
saber sobre seu relacionamento com ele.

— Por quê?

Seu sorriso foi um pouco provocador. — Porque essa coisa aqui


entre a gente, se for do jeito que quero que seja... está acontecendo.

— Está acontecendo? — repeti, minha barriga dando outra


daquelas cambalhotas deliciosas, mas eu queria ter mais clareza.
Precisava saber para não ficar completamente louca sobre o que ele
queria dizer.

— Sim. Acontecendo. Você está na minha casa. Gosto de você


aqui. Gostaria que você continuasse aqui. Sei que é cedo e ainda não
nos conhecêssemos bem, mas cedo ou tarde vamos saber mais um do
outro. Eu precisava saber que você não estava tendo sentimentos
contraditórios sobre ele antes de avançarmos.

Avançarmos.

Como em um futuro.

Comigo?

Acho que ele não percebia o que estava dizendo.

— Ryan, não acho que você...

— Eu entendo, — ele me cortou, balançando a cabeça. — Eu,


ah, bem, fiz algumas pesquisas antes de decidir, Dusty. Sei no que
estou entrando. E sei que não existe uma cura mágica, que são
progressos e retrocessos, mas acho que você está superestimando o
quanto isso importa para mim. Não sou uma pessoa social. Trabalho,
volto para casa. Às vezes vejo a minha família. Eventualmente gostaria
que você também pudesse ir nessas ocasiões, mas não estou dizendo

~ 119 ~
que precisa ser na próxima semana ou no próximo mês. Tudo o que
estou pedindo é...

— Progresso, — eu o cortei.

Eu poderia fazer progresso.

Quero dizer, eu estava fora do meu apartamento. Estava no dele.


E não estava enlouquecendo. Isso já foi uma melhora. Conheci seu
irmão e interagi com ele e isso também foi um progresso.

Enquanto os passos eram pequenos e não as expectativas que


me impuseram o fracasso, estava bastante segura de que poderia fazer
isso.

— Exatamente, — ele concordou, estendendo a mão e segurando


meu joelho, dando-lhe um aperto reconfortante. — Pensa que isso
possa funcionar?

Eu dei-lhe um pequeno sorriso, não querendo me afastar, mas


me sentindo esperançosa. — Acho que sim, — concordei.

O sorriso que ele me deu, sim, valeu a pena decidir concordar


em sair continuamente da minha zona de conforto.

— Tudo bem, — ele disse, os olhos ficaram um pouco aquecidos


enquanto seus dedos afundavam nos meus quadris e me puxaram até
que eu não tivesse escolha senão ir em direção a ele, até me
esgarranchar nele enquanto ele se sentou. Seus dedos deslizaram um
pouco para trás, quase tocando minha bunda, mas não
completamente. — Não quero te beijar porque não quero machucar
seus lábios, — ele explicou, me apertando um pouco.

Meus lábios?

Quem diabos se importava com meus lábios quando eu tinha


um homem doce, atencioso, lindo e sexy embaixo de mim, e que me
queria como o inferno mesmo que eu fosse uma bagunça completa e
total?

Definitivamente não eu, podem ter certeza.

Curvei-me para frente, minhas mãos deslizando em seus braços


para se instalar nos lados do pescoço. Seus brilhantes olhos claros
ficaram aquecidos com uma compreensão um momento antes que eu
pressionasse cuidadosamente meus lábios contra os dele.
~ 120 ~
Eles ainda estavam inchados e havia uma pressão de dor, mas
no segundo, seus lábios se moviam contra os meus, e bem, tudo o que
senti foi uma inebriante, quase esmagadora, rajada de desejo. Sua
língua traçou a costura em meus lábios e senti a umidade entre
minhas coxas enquanto meus seios ficavam pesados.

Meus quadris se abaixaram quando sua língua se movia sobre a


minha, fazendo um pequeno gemido escapar de mim enquanto me
contorcia contra seu comprimento duro, tentando aliviar a ânsia
dentro de mim.

Suas mãos me apertaram até quase doer, trazendo-me para


frente novamente, encorajando-me a tomar o que eu precisava dele.

E eu não poderia recusar esse convite, poderia?

E me retorci contra ele, sentindo o prazer crescendo em seu


interior, não aliviando a dor, mas prometendo um fim para ela. Minha
testa pressionou a dele, muito perdida na sensação para lembrar-me
de continuar beijando-o.

— Querida, — ele disse, sua voz ressoando mais profundo e


mais sexy do que o habitual, o que é realmente impressionante, pois
sua voz normal já poderia me colocar de joelhos. Eu me afastei um
pouco, abrindo meus olhos. Ele elevou os quadris e atingiu meu
clitóris com uma pressão perfeita. Soltei um gemido alto e quase
embaraçoso e seus olhos se fecharam quando ele soltou uma lenta
exalação.

Quando ele abriu seus olhos novamente, tirou sua mão de


minha bunda e levou-a para frente, agarrando meu botão e em
seguida abrindo o zíper mais rápido do que pensei que fosse possível.

Então, sua mão deslizou para cima e para dentro, escorregando


sob minha calcinha e acariciando minha fenda escorregadia.
Encontrando-me molhada, um murmúrio atravessou seu peito
enquanto o dedo dele subia e apertava meu clitóris, senti algo parecido
com calor e gemi quando minha mão voou e agarrou seu braço forte.

— Tudo bem? — ele perguntou, recuando seu dedo, querendo


ter certeza de que ele tinha meu consentimento.

As palavras ficaram sufocadas em minha garganta, de um jeito


bom que era inteiramente uma novidade para mim. Acenei com a

~ 121 ~
cabeça, enquanto meus quadris fizeram um pequeno movimento que
fez ele dar um sorrisinho diabólico.

Não houve provocações, nem insinuações de que ele me levaria


ao limite e me afastaria. Seu dedo trabalhou meu clitóris com uma
pressão perfeita, mudando de direção ocasionalmente, fazendo meu
corpo querer mais.

Então, tão repentinamente quanto encontrou meu clitóris, seu


dedo acariciou para baixo e circulou minha entrada por um longo
momento antes de pressionar lentamente dentro. Com a sensação tão
esquecida, mas tão bem-vinda, deixei escapar um som que mais
parecia um grito enquanto eu me inclinava para frente e aninhava
meu rosto no pescoço dele.

Seu dedo deslizou completamente para dentro e sem hesitação,


começou um impulso lento, doce e perfeito que fez todos os músculos
de meu corpo enrijecer, minha respiração saindo estrangulada e
frenética enquanto a pressão aumentava.

Então, quando pensei que algo melhor não era nem


remotamente possível, o dedo enrolou, acariciando minha parede
superior e atingindo meu ponto G com uma segurança que me
impressionou. Para ser sincera, tinha certeza de que nunca tinha
achado aquele ponto sozinha. E, quando a sensação se tornou
diferente de uma que já conhecia, sim, tive certeza de que ele conhecia
meu corpo melhor do que eu.

Meus quadris se moveram para cima e para baixo enquanto seu


polegar deslocava para cima, começando a trabalhar em meu clitóris
novamente. As duas sensações juntas me fizeram gemer e gritar alto,
gemidos frenéticos que eu não sabia de que era capaz até ele me levar
ao limite. Então, sem hesitação, jogou-me ao abismo.

Eu me deixei levar pelo orgasmo.

Não havia outra maneira de colocar isso.

Todo o meu corpo esmoreceu fortemente, minhas pernas ficaram


moles enquanto as pulsações passavam através de mim, começando
do fundo da minha barriga e, em seguida, movendo-se para fora, até
que a sensação parecia assumir todo o meu corpo.

Recuperei meus sentidos ainda choramingando o nome de Ryan


em meus lábios, meu corpo tremendo, minha respiração uma mera
~ 122 ~
imitação do que deveria ser, saindo em meros sopros de ar, quando
seu polegar deixou meu clitóris, mas seu dedo fez um impulso suave,
quase preguiçoso, lento, me trazendo cuidadosamente de volta.

Desmoronei sobre ele, virei minha cabeça e plantei um beijo


casto em sua garganta, muito sobrecarregada para dizer algo, nem
sequer pensar em algo.

Não sei dizer quanto tempo se passou desde que tive um


orgasmo. Meses, pelo menos. E com outra pessoa? Anos. Vários anos.

Era quase como a primeira vez na sua novidade, a maravilha


que tudo consome.

A mão de Ryan deslizou para fora de minha calcinha e


descansou em minha coxa, a outra ao redor da minha parte inferior
das costas e me segurando contra ele com força. — Porra, Dusty, — ele
disse, com um rosnado desesperado.

Eu sorri contra seu pescoço para isso.

Porra.

Isso definia tudo, não é mesmo?

Meus quadris se moveram e o senti se pressionar contra mim,


mais do que antes, e uma onda de culpa me percorreu, percebendo o
egoísmo da situação.

Afastei-me um pouco nervosa, abrindo meus lábios para falar,


quando ele sacudiu a cabeça.

— Não o quê? — perguntei, minha testa vincando.

— Não, essa noite nós não vamos mais longe que isso, — ele
disse, de alguma forma lendo perfeitamente a situação. — Ou, — ele
continuou quando eu abri minha boca para protestar, para dizer que
estava feliz em... equilibrar as coisas, — até que eu possa estar dentro
de você e te beijar sem machucar você, porra.

— Ryan, está tudo bem...

— Não, — ele disse, balançando a cabeça, dando-me o que eu só


poderia chamar de um olhar severo. — Não vai acontecer. Quando isso
acontecer, quero que seja certo. Não é certo se estou machucando
você. Então, estamos adiando isso.
~ 123 ~
— Mas isso não...

— Shh, — ele disse, me empurrando para o lado de repente e me


fazendo sentar-me ao lado dele, minhas pernas inclinadas sobre suas
coxas.

— Você acabou de... me mandar calar? — perguntei, sorrindo


muito porque parecia tão fora do personagem para alguém como ele.

— Sim, — ele concordou quando olhou ao redor para procurar o


controle remoto.

— Acho que está escondido no canto do sofá, — eu disse,


sabendo que dormi com ele debaixo de meu corpo e que eu tinha a
mania de rolar um pouco logo que acabava dormindo. — Não é muito
cedo para, — comecei, mas ele encontrou o controle remoto, mudando
de canal, e lá estava a Times Square. — Oh, — eu disse, olhando para
baixo as horas na TV e vendo que já era bem depois das nove.

— Nós temos três horas para beber, — ele disse, batendo a mão
no meu joelho e apertando antes de usá-la para se levantar. — É
melhor forrar um pouco o estômago, — ele disse, indo em direção ao
armário de bebidas. — Qual é o seu veneno?

Eu bebia vinho, uma ou duas taças. E quando Bry chegava de


mau humor e precisava de uma bebida, tínhamos vodca, porque essa
era a bebida.

Minha bebida, bem, costumava ser um gin Martini muito seco


com duas azeitonas.

E cerca de dois deles poderia me derrubar, mesmo quando eu


costumava beber socialmente.

— Dusty, — ele perguntou quando eu só fiquei lá sentada. — O


que você bebe? — ele repetiu, contraindo os lábios levemente se me
achasse divertida.

E, bem, se um homem poderia achar a minha falta de jeito


divertida, então ele era um bom partido.

— Você tem vermute? — perguntei quando lentamente saí do


sofá. Percebi que meu zíper ainda estava aberto quando seu olhar foi
lá e um sorriso surgiu em seus lábios. Senti minhas bochechas se
aquecerem quando abaixei conscientemente para fechar.

~ 124 ~
— Qual armário de bebidas que se preze não tem vermute? — ele
disparou de volta, curvando-se e olhando para dentro. — Como você
quer, doce, seco, sujo ou perfeito?

Minha cabeça se abaixou para o lado quando ele se endireitou,


duas garrafas de vermute em suas mãos e eu só sabia que uma era
francesa, significando seco, e a outra era italiana, o que significa doce.
— Uau, isso é um conhecimento impressionante em bebida, — eu
disse com um sorriso. — Seco. Bastante.

Ele assentiu, guardando uma das garrafas e movendo-se para


pegar um copo de Martini e gin. — Nós todos trabalhamos em turnos
como bartender quando tivemos idade legal para isso. Meu pai achava
que era importante compreender como administrar os negócios.
Aprendi alguma coisa.

— Parece que aprendeu um monte de coisa, — retruquei,


caminhando em direção à ilha e pegando um prato de papel
adoravelmente decorado com o tema Véspera de Ano Novo e o enchi
com cenouras, aipo, batatas fritas e queijo. Se iríamos beber por horas
e minha tolerância era tão baixa, ele estava certo, eu precisava forrar o
estômago.

Então, comemos e bebemos e fiquei um pouco alta. Cada parte


de mim formigando e viva, minha cabeça descontraída e um pouco
livre da ansiedade, o que me fez sentir revigorada quando me
aconcheguei em Ryan no sofá, o seu braço forte em volta de mim, me
entregando uma taça de champanhe quando faltava um minuto para a
meia-noite.

Nós assistimos às bolas caírem.

Nós assistimos ao ano novo chegar até nós, oferecendo coisas


que eu rezava que pudesse ter.

Ele se inclinou, me deu um beijo doce, suave, cuidadoso com


meus lábios e deu-me um quase sussurrou, — Feliz Ano Novo,
querida.

— Feliz Ano Novo, — eu concordei, dando-lhe um sorriso que


senti até a minha alma quando ele ergueu a taça.

— Progresso? — ele perguntou.

E concordei com a cabeça. — Progresso.


~ 125 ~
Perfeito.

Era tudo tão perfeito que doía.

Você sabe, até o dia seguinte, quando tudo ficaria em ruínas.

~ 126 ~
Onze
RYAN

Nunca liguei para essas merdas de Ano Novo. Na maioria das


vezes, ficava na cama meio adormecido, ou respondendo e-mails de
trabalho à meia-noite. Simplesmente não era o meu lance. Eu não era
um cara de festa e não tinha uma namorada séria para me importar
sobre um beijo de meia-noite desde que eu tinha quase vinte anos.

Mas, me esforçando um pouco, ficando acordado e vendo Dusty


ser bombardeada do jeito mais lindo possível e, depois, ganhar um
beijo de meia-noite?

Sim, valeu a pena.

Senti-la em torno dos meus dedos enquanto ela gritava meu


nome no meu pescoço?

Perfeito pra caralho.

Compreendendo como ela chegou a ser como ela era? Isso foi
incrivelmente importante. Eu precisava saber. Eu precisava ver como
procurá-la no futuro.

A história sobre sua mãe era fodida. Vindo de uma família que,
enquanto seus métodos de parentalidade não eram exatamente
tradicionais, todos eram próximos, no interesse de criar homens bons,
fortes e respeitosos, eu não conseguia imaginar o que era não ter isso.
Ser tratada como uma praga, ser colocada em situações
potencialmente perigosas.

Se Bry disse a verdade, estava feliz por não estar em contato


com essa pessoa. Pelo jeito estava melhor sem ela.

Falando em Bry, tive notícias dele duas vezes, apenas para me


dizer que ainda não descobriu nada. O que, francamente, significava
que ele possivelmente nunca descobriria. A mercadoria, ao que tudo
~ 127 ~
indica, desapareceu e ele e Dusty e, portanto, eu, todos estávamos
fodidos.

Meu telefone tocou, o nome de Mark piscando na tela. — O que


há, Mark? — Perguntei, pegando minhas chaves, dando a Dusty um
rápido beijo na têmpora, depois de ter contado a ela enquanto me
vestia que precisava ir até Chaz’s para conferir os registros da noite
anterior e fui para o corredor.

— Então, não consegui encontrar o merda sozinho, daí entrei em


contato com o irmãozinho de Sawyer...

— Barrett? — perguntei, tendo uma vaga lembrança dele quando


costumávamos matar aula com Sawyer no colégio. Barrett não era do
tipo que fazia merda nem era durão como eu, meus irmãos e Sawyer,
por isso, não o víamos tanto, sempre grudado em seus computadores,
videogames ou livros. Ouvi dizer que ele tinha uma habilidade especial
com alguma merda de investigação e que Sawyer costumava usá-lo
ocasionalmente em alguns casos, mas não sabia que ele fazia algo
para si mesmo.

— Sim, parece que ele é um gênio nesta merda agora. De


qualquer forma, ele fez algumas investigações e rastreou Bry até um
cara em Camden chamado Dom Donovan.

Ele parou de falar ao dizer isso e eu o conhecia muito bem para


saber que era ruim. Mark sempre falava pelos cotovelos. — Estou
ficando cansado de esperar, Mark.

— Ele é ruim. Do tipo com quem a gente não fode. Do tipo que
ninguém fode. Ele tem uma ficha criminal que faz A Revolta de Atlas1
parecer fichinha perto dele, — ele disse com um tom de desgosto. Ele
precisava ler esse livro em seu último ano de ensino médio, mas se
cansou logo nas três páginas e decidiu seduzir uma das bonitas
garotas nerd na classe para escrever o artigo para ele. O que ela fez,
felizmente. E ele conseguiu um A sem nunca ter lido o livro que eu o
encontrei usando como peso de porta em seu apartamento.

— O que ele fez?

— A maior parte é por merda violenta. Assalto à mão armada,


posse de armas, embriaguez e desordem.

1 Nota da revisora: Livro de ficção da autora e filósofa Ayn Rand publicado em 1957. Esse livro tem mais de mil
páginas.
~ 128 ~
— Nenhuma por posse de drogas? — perguntei, destravando as
portas do meu carro.

— Nunca foi pego nem com um baseado. Ele está limpo disso,
tem a ficha suja, ao que parece, apenas para manter sua reputação. E,
além da merda que está registrada, tem muito mais coisa que
supostamente foi atribuída a ele. Incluindo seis estupros e nove
assassinatos.

Caralho.

— E isso nem sequer chega perto da merda em que seus homens


estão metidos.

Eu me endureci no banco do meu carro, não me incomodando


em responder porque algo me ocorreu naquele momento, algo que
realmente não queria considerar, algo que significava um mundo
doente.

— O que foi? — ele perguntou, obviamente, sentindo o clima


tenso mesmo pelo telefone.

Talvez Dom tenha desconfiado de algo que ele não gostou de Bry
e levou as coisas de volta?

— Já parou pra pensar que talvez isso fosse uma coisa interna.
Talvez o Dom tenha desconfiado de algo que não gostou em Bry e
pegou as drogas de volta? — O que explicaria porque eles foram tão
cruéis com Dusty. Se Dom e seus homens são estupradores, então foi
um milagre eu ter chegado a tempo.

— Então isso significa que Bry...

— Merda, — eu disse, desligando e abrindo meus contatos,


encontrando a ligação de Bry e retornado.

— Ainda não tenho nenhuma novidade...

— Onde quer que você esteja, você tem que sair. Encontre um
lugar aonde ninguém vá te procurar e fique escondido.

Houve uma longa pausa. — Por quê?

— Porque parece que são os caras do Dom que foram ao


apartamento de Dusty pegar a mercadoria. É por isso que você não

~ 129 ~
consegue achar isso na rua. É por isso que ninguém está
reconhecendo esses fodidos.

— Jesus Cristo, — ele disse e eu poderia realmente ouvi-lo


assimilando isso, o zumbido dos carros que passavam, o xingamento
em sua respiração. — Por que diabos ele viria atrás de mim? — ele
perguntou depois que ouvi algo bater.

— Só você pode me dizer isso. Talvez ele simplesmente não


gostou saber que você guardava a mercadoria no apartamento de
Dusty. Talvez você esteja ligado a alguém que ele não confia. Talvez ele
ache que você está roubando. Quem é que sabe, porra? Caras nesta
posição costumam ficar paranoicos e fazer merdas estúpidas. Para
eles, é melhor se livrar de você a ter que se preocupar com você.

E então ele falou algo que provou o quanto o pobre fodido se


importava com ela. — Dusty. Você precisa...

— Não se preocupe com Dusty. Eu cuidarei dela, — eu disse.

— Entendo que talvez agora ela seja mais sua do que minha,
cara. Mas preste atenção, é melhor você ter certeza...

— Gosto muito que você se importe com ela e quer ter certeza de
que ela esteja segura, mas você não precisa me ensinar como lidar
com minha merda. Posso proteger os meus. Preocupe-se com você.

Mais uma vez, uma pausa, pelo jeito não gostando de ter que
recuar em relação à Dusty, mas sabendo que não havia nada que
pudesse fazer sobre isso. — Então, que diabos devo fazer? Relaxar e
não fazer nada pelo resto da vida?

Isso não era ruim.

Esconder ele e Dusty em algum lugar seguro não resolveria o


problema. Seria apenas um Band-Aid temporário sobre uma grande
ferida aberta.

— Faça isso até que eu possa pensar em outra maneira de


contornar as coisas, — eu disse, desligando.

O fato era que os problemas de Bry não eram meus problemas.


Dito isto, se estivessem o observando, eles a observavam. Se a
observavam, eles sabiam que ela e Bry eram pelo menos um pouco

~ 130 ~
próximos. Então, eles entenderiam que se eles chegassem a ela, eles
poderiam talvez descobrir o paradeiro de Bry.

E de jeito nenhum eu iria deixar isso acontecer.

Mas para garantir isso eu teria de fazer algo que sabia que ela
não iria gostar, odiaria na verdade.

Se eu conseguisse pensar em qualquer outra saída, eu faria


diferente.

Mas ela precisava estar segura, mesmo que significasse ela me


odiar por isso.

Suspirei, pegando meu celular de volta e discando o número do


meu pai. — Mallick, — sua voz cortada, como alguém que nunca
conferiu a identificação antes de atender.

— Pai, me meti em um problema, — comecei exalando muito.

— No dia de Ano Novo? — ele zombou, então, soltou uma risada


sem humor. — Apenas meus meninos ligariam no novo ano com um
problema. O que foi?

— Sim, não, isso é algo que precisamos conversar todos juntos.

Houve uma breve pausa, e em seguida ele provou mais uma vez
que tinha algum tipo de sexto sentido — Isso tem a ver com sua
garota, não é?

— Sim.

— E, mais uma vez, só um dos meus fodidos filhos encontra


uma reclusa doce e gentil que traz um monte de problemas junto com
ela na privacidade de seu apartamento. — Esse era Charlie Mallick,
acostumado com uma vida de incerteza, de caos, de aceitar merda e
lidar com isso e seguir em frente. — Tudo bem. Quando você precisa
conversar com a gente?

— Preciso de Dusty em algum lugar seguro primeiro e depois


estarei em contato. No mais tardar amanhã. Isso precisa ser tratado
antes que piore.

— Tudo bem. Mande uma mensagem para um dos seus irmãos e


vamos nos reunir. Mantenha sua garota segura.

~ 131 ~
Ele terminou a ligação e saí do carro, travando as portas e
acionando a partida remota para manter aquecido. Acho que depois de
tudo eu não iria trabalhar.

— Ei, o que você está fazendo de volta tão cedo? — Dusty


perguntou, dando-me um sorriso do sofá, onde ela se ajeitou depois
que saí, com duas garrafas de água, uma bolsa de gelo e um antiácido.
Parece que não estava disposta a admitir que tinha numa ressaca
perversa pois quando saí ela estava tomando café da manhã como se
nada estivesse errado. Um café da manhã que ainda estava no balcão,
sem comer.

Atravessei a sala, sentando-me ao seu lado e trazendo as pernas


delas sobre as minhas.

— Tão sério, — ela disse, franzindo a testa. Então, como eu não


disse nada, ela se enrolou e seus perfeitos olhos verdes ficaram
preocupados. — Tem alguma coisa errada?

Essa era a parte que me deixou mais preocupado, não a


seguinte, a parte que eu sabia que seria mais difícil para ela. Mas ter
que dar a notícia para arruinar seu dia. Essa parte era um saco.

— Sim e não, — falei, colocando minha mão sobre o tornozelo e


apertando.

— Vamos começar com o não, — ela disse, sua respiração já


estava muito mais rápida do que deveria, sua mão descansando abaixo
de sua garganta, como se soubesse que o que estava por vir a deixaria
ansiosa.

— Depois de algumas investigações, Bry, meus irmãos e eu


concluímos que os caras que a atacaram trabalham para o chefe de
Bry.

— Tudo bem, — ela disse, a mão subindo um pouco mais alto.

— E isso não é coisa boa. Ele é alguém de Camden com uma má


reputação por estupro e assassinato, — expliquei, apertando de novo
seu tornozelo assim que seu corpo começou a ficar tenso. — Então,
estou me reunindo com minha família para ver como podemos
solucionar isso definitivamente. Até lá, falei para Bry ficar escondido,
onde ninguém poderia procurá-lo. E isso significa...

— Não, — ela disse, já balançando a cabeça, já entendendo.


~ 132 ~
— Receio que não seja uma escolha, querida. Não podemos ficar
aqui. Estamos do outro lado do corredor do seu apartamento. Os caras
me viram e eles vão começar a me observar.

— Mas eles não vão me ver! — Ela se opôs, a voz dela era um
sussurro, provavelmente porque eu não a vi respirar por muito tempo.

— Não posso garantir isso. Talvez eles não saibam que você está
aqui. Mas isso não significa que, se eu sair, eles não vão entrar e
encontrar você. Então, Dusty, nem quero imaginar. Pense no que pode
acontecer. Sei que isso é muito para você. Desculpe, não consigo
pensar em uma saída melhor do que isso, mas temos que ir.

Ela tirou as pernas de cima da minha, pousou os pés no chão e


baixou os cotovelos sobre os joelhos, a cabeça encaixada nas mãos.
Observei-a por um longo tempo quase alarmante antes que finalmente
a vi respirar, devagar e um pouco instável, mas profundo, como se
estivesse tentando manter a calma.

— Onde? — ela murmurou, recusando-se a olhar para mim.

— Não muito longe. Tenho um lugar onde podemos ir que é


seguro. Mesmo que eu não esteja lá, será seguro. E já vimos que meu
carro está bem para você.

Mesmo que assumimos isso quando estava estacionado a poucos


metros da porta que levava até seu lugar seguro.

— Quando?

— Honestamente, assim que conseguirmos arrumar as coisas e


ir.

— Rochy...

— Pode vir, — falei, sabendo que ele provavelmente não deveria,


mas não dava a mínima. Eles deveriam fazer uma exceção.

Ela olhou para mim com os olhos arregalados e os lábios um


pouco trêmulos. Quando falou, sua voz tremeu. Mas disse o que eu
precisava ouvir. — Ok.

Quero dizer, não era como se ela tivesse uma opção. Tentei
esclarecer isso. Mas mesmo que ela enlouquecesse e tivesse que levá-
la novamente sobre o meu ombro, eu faria. Não ia deixá-la ficar e
permitir o que só Deus sabia que poderia acontecer com ela.
~ 133 ~
— Será melhor eu empacotar as coisas e você apenas tenta...

— Não. Ficarei melhor se estiver fazendo alguma coisa, — ela


disse, pulando, agarrando todos os itens que tinha ao seu redor e
movendo-se para colocá-los novamente no lugar.

Ela foi em busca de Rocky e fui para o quarto, peguei uma mala
e joguei o que trouxe para ela, juntamente com várias das minhas
coisas, antes de fechá-la e voltar para a sala.

Encontrei-a na cozinha, a caixa de transporte de gatos na ilha


sacudindo violentamente enquanto Rocky lutava contra seu
confinamento. Mas também encontrei Dusty de pé ali, uma mão no
balcão, a outra pressionada em sua testa.

— Você está bem?

— Tonta, — ela admitiu, não se movendo.

— Tudo bem, — eu disse, colocando a mala no chão e indo para


trás dela, um braço sobre a parte mais baixa de seu estômago,
colocando meu outro braço direto no centro como eu a tinha visto
fazer muitas vezes. — Respira.

Ela respirou, o ar fazendo vibrar a barriga no início. Mas ela se


encostou em mim, os olhos fechados, e continuou respirando fundo
até que a maior parte da tensão deixou seu corpo.

— Desculpa.

— Não, — retruquei, virando a cabeça para beijar sua têmpora.

— Não o quê?

— Não se desculpe por estar ansiosa. Qualquer um ficaria


ansioso nesta situação.

— Você não está, — ela observou, uma pergunta em sua voz.

Ela estava certa. Eu não estava. Na verdade, nem sabia qual era
a sensação de pânico. Primeiro, porque eu simplesmente não era uma
pessoa propensa a isso. Era calmo e racional e lidava com a merda
antes de sair do controle. Segundo, porque minha vida era fodida
demais para me permitir ficar louco sobre todas as coisas.

— Juro que vou explicar isso, querida. Mas agora não é a hora.
~ 134 ~
— Tudo bem, — ela concordou, entendendo que havia certa
urgência naquele momento. — Podemos encerrar por aqui? — ela
perguntou e entendi que era para a gente se mexer.

— Sim, — concordei, pressionando-a para frente, deixando cair


minhas mãos e me afastando. — Apenas deixe-me pegar os nossos
notebooks e então podemos ir.

Coloquei-os com outros itens aleatórios que vi ali, incluindo três


de seus livros que poderiam caber na bolsa com os eletrônicos.

— Não, — eu disse quando vi seus olhos pousarem na pequena


caixa. — Eu pego coisas novas quando chegarmos onde estamos indo,
— falei e ela concordou com a cabeça pegando o transportador de
gatos. Caminhei para a porta, puxando-a para abrir e pulei para trás
— Filho da puta, — Rosnei, exalando forte.

— As pessoas me chamam muito disso. Normalmente, as


mulheres, — disse Mark, ignorando-me completamente e olhando para
Dusty para quem ele piscou.

— Que porra você está fazendo do lado de fora do meu


apartamento como a merda de um bisbilhoteiro?

— Dusty, — ele disse, segurando uma mão em seu coração e me


ignorando por completo. — Meu amor, eu a reivindico antes dele, você
sabe.

Pega de guarda baixa, ela soltou uma risada surpresa. — O quê?


Você nem me conhece.

— Você despertou o interesse deste Eunuco, isso é tudo que


preciso saber, — ele disse, virando a cabeça para mim.

O olhar de Dusty o seguiu e ela me deu o que só poderia chamar


de sorriso perverso antes de olhar para o meu irmão. — Você deve ser
Mark. O líder de torcida.

Sem esperar por isso, joguei minha cabeça para trás e ri, uma
gargalhada como não dava há um longo tempo.

Mark, despreocupado como de costume, deu-lhe um sorriso


também. — Anjo, você tem alguma ideia de quantas dessas líderes de
torcida eu tive debaixo de mim ou acima... ou na minha frente? — ele
perguntou.

~ 135 ~
— Deixe-me adivinhar, todas, — ela respondeu, ainda tensa,
mas sorrindo.

— Todas, menos a linda Jenny Anderson, — ele admitiu. — Mas


só porque ela fraturou sua bacia quando um dos outros caras não a
pegou depois de um salto. O que é uma pena.

— Sim, tenho certeza de que ela ficou muito desapontada, —


Dusty adicionou secamente.

— Isso é bom, docinho, — ele disse com um aceno de cabeça. —


Você vai precisar desse senso de humor para sobreviver nessa família.

— Se terminou de se divertir com a porra da minha mulher, —


eu disse, sem maldade na minha voz porque Mark flertava com todas.
Estávamos todos convencidos de que ele não podia evitar. Embora
tenha desistido de Fee e Lea assim que elas ficaram sérias com Hunt e
Shane. — Que tal me contar o que está fazendo aqui?

— Quem, eu? Sou a caravana de segurança. O pai achou que


você iria querer alguém para cuidar de você.

— O pai deveria ter perguntado, — corrigi, mas soube que nosso


pai não era o tipo de perguntar qualquer maldita coisa. — Bem, agora,
— falei, jogando nele a bolsa dos notebooks junto com a mala, — você
é meu burro de carga. Mova-se. Precisamos tirá-la daqui, — disse
quando ele me deu um olhar conhecido, levando os itens que lhe dei,
juntamente com o maldito gato, e foi embora.

— Seus irmãos são... — ela parou, pensando.

— Intrometidos? — sugeri, sendo mais verdade do que nunca.

— Ia dizer personalidades interessantes. Os outros são como Eli


e Mark?

— Há apenas um Eli e um Mark. Shane é alto e teimoso. Não


tem muito filtro. Hunter é um pouco mais calmo. Tem filhas e uma
mulher e um negócio que o mantêm com a cabeça no lugar.

Ela me deu um sorriso tímido e admitiu: — Bem, gosto de Eli e


Mark até agora. Acho que também vou gostar de Shane e Hunter.

Eu gostei daquilo.

~ 136 ~
E gostei que ela estivesse pensando no futuro para planejar isso
para algum dia.

— Se você pode lidar com Mark, você pode lidar com os outros,
— assegurei. — Está pronta? — perguntei quando o olhar dela foi até a
porta aberta.

— Você pegou meu celular? — ela perguntou, buscando nos


bolsos dela.

— Com os notebooks.

— Tudo bem, — ela disse, indo em direção à porta e calçando as


sapatilhas que eu trouxe de seu apartamento. — Então, bem, acho que
estou tão pronta quanto posso estar, — ela concordou, me dando um
sorriso vacilante.

Mas ela não foi em direção à porta aberta. Ela congelou no local,
suas mãos em seus lados apertando repetidamente.

— Apenas indo para o carro, — falei para ela, segurando sua


mão na minha e dando um aperto. Ela não olhou para mim. Ela não
relaxou. Meu toque não foi um remédio. Mas ela acenou com a cabeça
e fomos para o corredor, fazendo uma pausa para que eu pudesse
fechar a porta e depois percorremos o corredor.

— Não, — ela disse, sua voz um pouco frenética quando me virei


em direção ao elevador.

— Não? — Repeti, juntando as sobrancelhas.

— Escada, — ela exigiu, acenando com a cabeça em direção a


elas.

Eu sentia uma pequena vibração vinda de sua mão e subindo no


meu braço. E quando olhei para baixo, podia vê-la visivelmente
tremendo.

— Escada. Você acha que pode me acompanhar? — adicionei


enquanto abrimos a porta para o primeiro degrau.

— Acho que poderia superar um guepardo agora mesmo, — ela


disse, descendo as escadas, quase esmagando minha mão na dela
enquanto descíamos para o próximo andar onde ela sabia que poderia
respirar.

~ 137 ~
Ao lado do meu carro, Mark nos observou chegar. Destravei as
portas e ele se virou para colocar as coisas no porta-malas. Exceto o
gato, que deixou no capô. Ele nos deu um grande sorriso. — Ele já
contou sobre quando ele tentou desistir das trilhas? — perguntou
quando chegamos e Dusty agarrou desesperadamente o trinco da
porta e entrou, fechando-a com um golpe e repousando a cabeça para
trás no apoio de cabeça, respirando profundamente.

— Uau, — Mark disse, o sorriso desaparecendo enquanto ele a


observava se esforçando para controlar a respiração.

— Acredite ou não, isso não é tão ruim, — falei, pegando Rocky e


abrindo a porta do banco traseiro, colocando-o dentro e fechando-a.

— Como acha que ela vai ficar no novo lugar? — ele perguntou,
seguindo-me para o outro lado do carro.

— Sabe, acho que ela ficará bem assim que esteja atrás de uma
porta fechada. Pode precisar tomar um banho ou algo assim, mas
então vai se acalmar e ficar bem. Acho que ela tem o dom de fazer de
qualquer lugar fechado sua própria zona de conforto uma vez que ela
supere o choque.

— Tudo bem, vamos acabar com isso, — ele concordou,


segurando meu ombro e depois indo em direção ao seu próprio carro.

Entrei no meu, estendendo a mão para dar um aperto à sua


coxa. — Tudo bem?

Ela exalou com força e abriu os olhos. — Não, — ela admitiu. —


Mas eu estarei.

— Isso é tudo o que podemos esperar, certo? — perguntei,


dando-lhe outro aperto antes de pôr o carro em macha ré e avançar.

— Onde estamos indo?

~ 138 ~
Doze
DUSTY

Um hotel?

Ele estava me levando para um hotel?

Quero dizer, eu não sabia muito sobre segurança ou qualquer


coisa, mas estava bastante segura de que qualquer um poderia entrar
e sair de um hotel a qualquer momento. Certo?

No entanto, não dirigimos direto para lá. Ryan fez um longo e


sinuoso caminho que nos levou por duas cidades e depois voltou.
Mark estava alguns carros atrás em todos os momentos.

Acho que para se certificar de que não tinha ninguém na nossa


cola. O que, de uma maneira estranha, foi um pouco legal.

Mas logo em seguida entramos em um estacionamento um


pouco cheio para um hotel de seis andares com um lindo revestimento
cinza, tudo gritando “caro”. Aposto que eu não poderia nem pagar o
quarto mais barato no prédio para uma estadia de uma noite.

Então, quando Ryan saiu, o porteiro apressou-se em seu terno


imaculado e pegou a chave de Ryan e dirigiu-se a ele pelo nome. Bem,
eu precisei forçar minha boca aberta a fechar.

— Sr. Mallick, há muito tempo que não o vejo, — disse quando


foi abrir a porta para mim.

— Eu cuido dela, obrigado, — disse Ryan, interrompendo-o e me


deixando respirar fundo.

O passeio tinha feito maravilhas para aliviar os nervos


esfarrapados, para me ajudar a respirar novamente.

~ 139 ~
Francamente, a última coisa que eu esperava quando ele voltou
para o apartamento era dizer que precisávamos sair. Tipo... nós dois.

Acho que uma parte de mim esperava que eu pudesse


transformar o apartamento de Ryan em minha nova pequena prisão,
mas desta vez com um cara gostoso que era doce como todo o inferno e
feliz por me dar orgasmos unilaterais.

O que foi, bem, bobo.

Eu sabia.

Negociar uma prisão por outra não funcionaria indefinidamente.


Nós até falamos sobre isso na noite anterior, sobre como ele não
esperaria milagres, mas que pudéssemos trabalhar para melhorar.

E, ser forçada a deixar o apartamento dele e ficar em um lugar


onde nunca estive antes, enquanto levemente (ok, moderadamente, se
não gravemente) terrível para mim ainda não era a melhor maneira de
fazer isso, já era um progresso.

Meu coração batia como as asas de um beija-flor em meu peito.


Estava enjoada e suando miseravelmente. Mas não estava tonta e nem
ansiosa para respirar e não tinha certeza de que precisava correr feito
uma louca procurando a saída mais próxima e voltar para minha zona
de segurança. Porque, bem, minha zona de segurança era agora um
lugar decididamente inseguro. De uma maneira muito literal, não
imaginária, eu me decidi.

Então, quando Ryan me alcançou e me ofereceu sua mão,


coloquei a minha mão úmida na dele, internamente querendo sumir
por ele sentir minha mão pegajosa, mas mesmo assim saí do carro e
fui com ele enquanto me conduzia para longe. Não para a grande área
de recepção que eu podia ver através das portas de vidro brilhantes.
Ele me levou para a lateral do prédio onde havia outra entrada, mais
discreta, com a palavra “moradores” sobre ela.

Ele era um morador?

Quem diabos morava em um hotel caríssimo, mas que também


tinha um apartamento? Não entendia muito coisa disso, mas sabia
que quem morava em hotéis pagava o olho da cara para viver lá.

— Sr. Mallick! — A garota atrás da mesa, com um vestido cinza


muito justo, mas muito profissional, embora agarrado aos grandes
~ 140 ~
quadris e aos seios de uma forma que beirava o ousado,
cumprimentou-o com um sorriso exagerado com um batom vermelho.

E lá estava eu em calças e uma camisa larga sem um pingo de


maquiagem, com hematomas, arranhões e um olho inchado.

Adorável.

Fazia tanto tempo que me preocupei com coisas tipo a aparência


que a insegurança veio sobre mim como um chute no estômago.
Abaixei minha cabeça, deixando meu cabelo cair como uma cortina
enquanto Ryan cumprimentava a garota pelo nome e rapidamente me
conduziu para um elevador dourado onde ele colocou um cartão chave
para acessar.

Somente quando ficamos aninhados no interior que ele voltou a


falar comigo. — Desculpe, mas o elevador é o caminho mais rápido
para o último andar, — ele explicou com tom de desculpa. — Ei, olhe
para mim, querida, — ele pediu um momento depois, quando eu
continuava a estudar o piso de mármore muito brilhante. — Dusty, —
ele tentou novamente, erguendo meu queixo e forçando meu rosto. —
Você não está entrando em pânico, — ele disse, como se estivesse
excluindo o que poderia estar errado comigo.

E, bem, nunca foi inteligente contar a um cara que você acabou


de conhecer que estava tendo uma crise de insegurança por causa de
uma assistente bonita em um hotel. Se há uma coisa que os caras
certamente odiariam era uma insegurança sem sentido.

Sem dizer que se estou namorando ela é porque acho que ela é
linda, entende? Era o que Bry dizia quando reclamava sobre a garota
que ele estava vendo e ela ficava perguntando o tempo todo se ele
estava olhando outras garotas e comparando-as com ela.

— Estou bem, — eu admiti, ouvindo os andares passando. —


Rocky... — Falei, de repente me lembrando dele e me sentindo uma
porcaria como dona de animal de estimação.

— Mark e o porteiro vão trazer tudo. Mark tem uma chave, —


acrescentou.

Porteiro.

Você sabia que um lugar era elegante quando eles chamavam


um carregador de porteiro.
~ 141 ~
Olhei para cima assim que atingimos um ding mais longo,
indicando o andar e vendo a pequena placa dizendo C.

Cobertura? Sério?

— Aqui vamos nós, — ele disse, saindo na porta e segurando um


braço para mim.

Eu meio que esperava entrar na cobertura, mas era um corredor


que tinha uma porta de cada lado.

— Posso te perguntar uma coisa? — perguntei quando meu peito


começou a ficar pesado novamente. Precisava me distrair quando Ryan
deslizou o cartão na porta e ela bipou.

— Claro.

— Por que você tem uma residência na cobertura de um hotel


quando você tem um apartamento?

Ele soltou uma risada baixa quando abriu a porta e entrou. —


Não é tecnicamente minha. Todos nós, meus irmãos e meus pais,
ficamos neste lugar. Apenas no caso de precisarmos ou se quisermos
apenas um lugar longe.

Seu “lugar longe” era quase ostentoso.

Toda a parede traseira tinha janelas do chão ao teto com vista


para o rio Navesink. Todo o lugar era um andar espaçoso, aberto com
uma enorme lareira, sala de estar em frente ao espaço para refeições
na cozinha. Tudo tinha o mesmo bronze quente, branco e marrom,
desde o piso do elevador até os balcões da cozinha. O mobiliário era
todo neutro, cadeiras brancas, sofá bege, mesas medianas de madeira.

— Vamos, você quer um banho? — ele perguntou, sabendo que


tive uma manhã do inferno. Era uma coisa pequena, mas significava
muito para mim, independentemente de tudo.

— Sim, — concordei, soltando uma respiração longa enquanto


ele pegava minha mão e me conduzia pelo corredor.

Havia um banheiro à direita junto de um quarto. Mas ele me


levou para a esquerda, para a suíte máster. Tinha o mesmo esquema
de cores e uma cama gigante em frente a uma TV enorme sem fios
pendurados em qualquer lugar.

~ 142 ~
Depois, havia o banheiro. E, bem, era a pura essência dos
sonhos. Havia mais do mesmo mármore no piso e um box de vidro
com chuveiro enorme. Uma bancada dupla com espelhos enormes e
iluminação aérea. E, finalmente, a banheira. Se eu pensasse que
minha banheira era legal, e foi porque gastei muito tempo pesquisando
isso, então esta era extraordinária. Na verdade, tinha certeza de que
três pessoas podiam sentar-se confortavelmente. E não era
hidromassagem, pela qual tenho aversão. Era apenas uma enorme
banheira de imersão.

— Oh, meu Deus, — gritei, inclinando minha cabeça em seu


braço. Ele soltou uma pequena risada.

— E se eu não estou enganado, — disse, soltando minha mão


para entrar no closet. — Sim. Tem aquelas coisas de sais de banho
que você gosta, — falou, trazendo uma caixa com padrões brilhantes
que eu sabia só de ver que deveria ser luxuosa. — Use todas se você
quiser, — acrescentou, entregando-me e voltando para encontrar uma
toalha e um robe.

Então, tudo bem, talvez eu pudesse me acostumar a me


esconder em uma suíte de cobertura em um hotel chique.

As coisas que você aprende sobre si mesma enquanto foge de


traficantes de drogas.

Bufei alto em minha própria linha de pensamento, fazendo os


lábios de Ryan se abaixarem enquanto ele me observava. — O quê?

— Nada. Tudo isso é apenas... louco, — admiti.

— É um pouco... fora do comum. Tenho que concordar. Tome


seu banho. Volte quando você se sentir como você novamente, — ele
disse, dando-me um sorriso, depois saindo e fechando a porta.

Sozinha, gastei pouco tempo até que a água enchesse a


banheira, e os sais de banho se dissolvessem e tirando a roupa.

Conseguia ouvir vagamente Ryan e Mark conversando, apenas


os burburinhos masculinos abafados que atravessavam o espaço em
minha direção no banheiro silencioso.

Foi então que percebi que estava bem. Estava em um lugar novo
e nada era familiar e não era meu estilo e muito pouco dos meus itens

~ 143 ~
de conforto estava lá, mas eu estava bem. Não estava perdendo a
cabeça.

E isso era um grande feito.

Tanta coisa mudou em apenas... dias.

Parecia muito mais, mas eram apenas dias.

Eu estava presa há anos. Anos fodidos da minha vida incapaz de


me mover, presa no mesmo lugar literal e metaforicamente.

Mas o mais curioso era que não era estranho sair. Talvez porque
gastei a maior parte de minha vida viajando, mudando-me, vendo e
experimentando coisas novas. Não era como se fosse um choque
cultural. Eu não era uma pobre alma criada em um porão e que nunca
viu o mundo real. Já faz um tempo. Mas não foi tão assustador quanto
pensei que seria. Não estava completamente calma, mas como era um
grande espaço com todos os confortos de uma casa e não estava cheio
de um monte de gente, eu estava muito perto de estar confortável.

Progresso.

Fiquei no banho sabe lá por quanto tempo, porque os banheiros


pareciam ser universalmente como salas sem relógios, embora fosse
onde a maioria das pessoas se apressava a se preparar para o trabalho
em um cronograma programado. Depois sai, deslizei em um roupão
fofo e macio e caminhei para olhar para mim mesma.

Ainda havia inchaço, embora meus lábios estivessem


desinchados completamente. Era principalmente ao redor do meu olho
que ainda havia uma feia sombra púrpura. Mas a pálpebra estava
quase toda aberta e podia mais uma vez ver que, na verdade, eu tinha
dois olhos verdes. O inchaço era mais para o lado de fora do olho em
um arco que passava da minha sobrancelha até o topo da minha
bochecha. Os arranhões ainda estavam vermelhos, mas curados na
maior parte.

Não estava horrível.

Não estava bom, mas não estava horrível.

Abri as gavetas da bancada e encontrei uma escova de dentes


nova juntamente com a pasta e preparei-me para escovar antes de
finalmente ir para o quarto.

~ 144 ~
Onde congelei.

A razão para isso?

Sim, seria porque Ryan estava lá.

Não só estava lá, como estava sem camisa.

Estava sentado ao lado da cama com os pés descalços, mas suas


calças ainda estavam no lugar. Ele estava ligeiramente curvado para
frente, os cotovelos nos joelhos, olhando para baixo.

Devo ter engasgado ou algo assim porque sua cabeça subiu de


repente e seus olhos me prenderam no lugar, o calor deles intenso. Foi
então, também, que percebi três outras coisas. Um, ele tinha uma
tatuagem. No lado esquerdo de seu peito sobre seu coração, um
desenho grande e ousado que parecia ser o brasão de sua família.
Dois, bem, o homem tinha um corpão. Era algo que eu imaginava, mas
na verdade nem tive a chance de olhar para ele. Seu peito era largo, os
ombros fortes, o abdômen, mesmo sentado, podia distinguir a firme
linha de músculos. E a pequena trilha escura que descia para
desaparecer no cós de suas calças. Ah, e três, sim, seu botão e zíper
estavam abertos.

Claro, meu foco pareceu ir e ficar lá.

Por um longo tempo, até meu olhar voltar para cima. Seu sorriso
era um pouco perverso, seus olhos ainda mais quentes.

— Venha aqui, querida, — ele disse, sua voz um estrondo sexy,


enquanto ele ergueu o braço e esperou, querendo que eu caminhasse
até ele.

Eu sabia, então, exatamente o que ia acontecer.

Eu sabia.

E caminhei em direção a ele sem a menor hesitação.

Entrei entre suas pernas espalhadas e suas mãos pousaram


sobre o tecido fofo cobrindo as laterais das minhas coxas e subindo...
então, para dentro. Elas seguraram a faixa e, enquanto seus olhos se
elevaram para encontrarem os meus, seus dedos puxaram e o tecido
se separou no centro.

~ 145 ~
Minha respiração exalou lentamente e suas mãos deslizaram
para o centro da minha barriga, roçando suavemente entre meus
seios, sobre meu peito. Ele se moveu lentamente para se levantar.
Suas mãos pousaram debaixo dos ombros e empurraram o material
pesado para baixo, que deslizou sobre meus braços, para fora da
ponta dos meus dedos, e juntou-se em um semicírculo ao meu redor
no chão.

Mas os olhos de Ryan não se moveram. Ele não me olhou.

Ele observou meu rosto.

Ele mediu minha reação.

Ele queria ter certeza de que estávamos indo no meu ritmo.

A decisão dependia de mim e eu sabia disso.

Minhas mãos se afastaram, pousando em seus pulsos e


deslizando cuidadosamente para cima sobre os músculos sarados de
seus antebraços e bíceps, descansando nos fortes ombros por um
momento, enquanto suas pálpebras ficavam cada vez mais pesadas,
depois se movendo sobre seus peitorais. Meu dedo traçou o contorno
de seu brasão durante um longo momento antes de espalmar minhas
mãos novamente e deslizá-las pelos lados de seu abdômen, observando
com fascinação os músculos se esticarem sob meu toque. Elas
pousaram sobre seus os quadris, os dedos encolhidos sob o cós de
suas calças e o que parecia ser cueca boxer enquanto levava meu
olhar de volta para o rosto dele.

Então, acho que não vendo incerteza em meu rosto, suas mãos
desceram até meus pulsos e fizeram a mesma lenta exploração para
cima e para baixo. Exceto quando roçaram abaixo de meus ombros,
suas palmas se fecharam sobre meus seios.

Minha respiração gemeu fora de mim, meus seios inchando,


meus mamilos endurecendo em pontos apertados contra ele e ficando
molhada entre minhas coxas.

Deus, isso foi há tanto tempo.

Suas mãos deslizaram para que as pontas dos seus dedos


estivessem ao meu lado e seus polegares se movessem em torno de
meus mamilos durante um longo minuto antes de prendê-los entre

~ 146 ~
seus polegares e rolar apertado com uma pressão firme e quase
dolorosa.

Meu sexo apertou fortemente e minhas mãos arrancaram as


roupas que restava no corpo dele. As calças e a cueca boxer caíram e
ele saiu delas. Suas mãos liberaram meus seios e foram até minhas
costas, deslizando para baixo até que ele estivesse cavando minha
bunda, depois puxando minha frente inteira para a dele enquanto
seus lábios batiam nos meus.

Seu pênis pressionou contra minha barriga, prometendo coisas,


sem um mínimo de espaço entre nós, completa realização, esticando-
me como nunca antes.

Sua língua se moveu no interior para reivindicar a minha


quando uma de suas mãos deslizou pela minha coxa, agarrando o meu
joelho, arrastando-o e colocando-o ao lado de seu quadril, permitindo
que seu pau deslizasse entre minhas dobras e golpeasse para cima
para pressionar meu clitóris. Gemi contra seus lábios e ele recuou um
pouco, olhando-me, então acariciou-se contra mim novamente.

Depois ele trocou nossas posições e eu era a única com as


pernas contra a cama. Empurrou-me para baixo, pressionando meus
ombros até que eu estivesse atravessada na cama. Ajoelhou-se na
minha frente, agarrando os meus joelhos e escancarando-os contra o
colchão.

Senti primeiro seu pescoço, arranhando a parte interna de


minha coxa. Então seus lábios pressionaram beijos suaves na pele
sensível. Houve uma breve pausa quando seus lábios encontraram o
vinco de minha coxa antes que sua boca se fechasse sobre meu clitóris
e sugasse forte. Gritei, minha mão batendo contra a parte de trás de
sua cabeça, meus quadris se arqueando no prazer e quase cego
quando sua língua começou a trabalhar em círculos tortuosamente
lentos. Sua mão acariciou minha outra coxa enquanto ele continuava
me devorando, baixando e pressionando um dedo dentro de mim,
empurrando preguiçosamente por um longo minuto antes de outro
dedo se juntar e a pressão tornar-se muito intensa, muito parecida
com a dor.

E eu explodi.

~ 147 ~
O nome dele saiu entre gritos de meus lábios enquanto ele
continuava lambendo, empurrando, prologando, tirando o máximo que
conseguia.

Minha mão abaixou em sua cabeça e sua boca me liberou, mas


seus dedos ficaram dentro de mim, ainda lá. Ele beijou o triângulo
acima do meu sexo, minha barriga, lambeu sob cada um dos meus
seios inchados, então fechou os lábios em torno do meu mamilo e
trabalhou sua língua ao redor até que, embora parecesse impossível,
apertou ainda mais. Ele amassou meus seios para continuar o
tormento quando o desejo voltou a se construir, conforme meu sexo
apertava novamente.

E foi exatamente quando seus dedos começaram a empurrar


mais uma vez. Não lento, suave e doce, mas rápido, áspero, primitivo.

Sua cabeça levantada, me observando ao mesmo tem em que me


levava às alturas de novo, rápido, rápido demais.

Mas antes que as ondas pudessem escorrer sobre mim


novamente, perdi seus dedos quando ele se sentou de volta. Com os
joelhos na beirada da cama, enfiava os dedos dentro da boca,
lambendo o sabor antes de alcançar o criado e pegar um preservativo,
fazendo um trabalho fácil de nos proteger antes que suas mãos
começassem a acariciar minhas coxas, meus lados, meus seios.

Ele se curvou sobre mim, um braço deslizando debaixo do meu


corpo e me deslocando até que eu estivesse inteiramente na cama e,
uma vez que estava, veio completamente sobre mim, apoiando seu
peso em seus braços.

Meus dedos deslizaram em seu braço, o lado de seu pescoço,


descansando logo abaixo da mandíbula, enquanto seu pau se
pressionava contra mim, fazendo alguns golpes.

Antes mesmo de senti-lo recuar e se afastar, seu pau deslizou


dentro de mim em um golpe longo, grosso e lento.

Senti uma pequena queimação enquanto ele me esticava,


desacostumada da invasão depois de tanto tempo. Mas quando ele
entrou até o fim e acalmou-se, seus olhos nos meus, corpos
conectados, nada me pareceu mais certo, mais perfeito.

Eu esperava suave e doce, como todas as coisas entre nós.

~ 148 ~
Mas assim que ele estava dentro de mim e nossos olhos se
mantiveram um no outro, algo parecia nos ultrapassar ao mesmo
tempo. Era algo selvagem, primitivo, desesperado.

Ele recuou e bateu de volta em mim e meus quadris se


levantaram para encontrá-lo. Apenas forte no início, então, tanto forte
quanto rápido. Nossa respiração ficou superficial, nossos corpos
pareciam batalhar, ambos desesperados pela vitória. Meus gemidos
tornaram-se tão altos até para meus próprios ouvidos e seu silêncio
tornou-se sussurros e grunhidos de necessidade quando comecei a
apertar ao redor dele, quando ele ficou incrivelmente mais duro dentro
de mim.

Ele bateu de volta mais uma vez e o mundo ficou branco por um
segundo assim que um orgasmo mais intenso do que pensei ser
possível começou onde nós nos encontrávamos e explodiu para fora
até que parecia envolver todo o meu corpo. Seu nome saiu de meus
lábios e o meu gritou nos dele quando enterrou profundamente,
arqueando-se quando gozou comigo.

Mais uma vez, perfeito.

Sua cabeça se aconchegou no meu pescoço, permanecendo lá


por um longo tempo enquanto recuperava o fôlego. Ele pressionou um
beijo lá antes de se levantar, olhos pesados, mas avaliando. — Tudo
bem? — perguntou, equilibrando-se em um braço para que pudesse
tirar um fio de cabelo do meu rosto.

— Não, — respondi, balançando a cabeça, percebendo seu rosto


ficar tenso. — Não está bem. Isso nem sequer está perto de como me
sinto bem agora, — admiti, sorrindo enquanto o observava exalar com
força e relaxar novamente.

— Solte-me por um minuto, querida, — ele pediu e foi então que


percebi que minhas pernas estavam cruzadas em torno de seus
quadris e meus braços sobre a parte superior das costas.

Liberei meu aperto e ele deslizou fora de mim, plantando um


beijo na minha testa antes de ficar de pé e caminhar até o banheiro.

Sozinha, rolei na cama e escorreguei sob os lençóis e o edredom,


girando de lado, para frente da porta do banheiro, para
descaradamente vê-lo voltar um momento depois, completamente nu
para mim.

~ 149 ~
Ele chegou ao lado da cama, levantou os lençóis, entrou e
apoiou-se contra os travesseiros. Seu braço deslizou abaixo de mim. —
Venha aqui, Dusty, — ele disse, sua voz suave.

E, bem, quando um cara tão quente como o pecado cai de boca


em você, deixando cega, surda e idiota, e depois pede que se
aconchegasse com ele, você se aninha a ele.

Praticamente voei para ele e seu braço enrolou-se na minha


parte inferior de minhas costas, apertando-se, enquanto a outra mão
escovava meus cabelos e vagava vagarosamente para cima e para
baixo pelas minhas costas.

— Tudo bem, acho que é hora, — ele disse estranhamente,


tirando-me de uma neblina sonhadora e quase sonolenta.

— Hora? — repeti, roçando meus dedos em cima de seu brasão


de novo, rastreando as letras de seu sobrenome.

— Disse-lhe que eu contaria sobre minhas cicatrizes e meu


passado e minha família, — ele continuou fazendo-me ficar
completamente acordada.

— Oh, certo, — falei, colocando um beijo no peito dele. — Ok.


Desembucha, — disse, tentando ser leve porque ficou um pouco tenso
debaixo de mim.

O que estava esperando, no entanto, nem se aproximou da


verdade.

~ 150 ~
Treze
RYAN

Nunca tive que ter essa “conversa” antes.

Não quis dizer essa conversa de relacionamento ou o “estamos


apenas fodendo um ao outro e você está usando anticoncepcional” ou
mesmo a conversa “isso não vai funcionar”.

Quis dizer a conversa sobre a verdade, sobre o meu estilo de


vida.

Porque o fato era que nunca tive uma mulher por tempo
suficiente para precisar explicar isso para ela ou ela já sabia desde o
início. A reputação da minha família não era exatamente um segredo
ao redor de Navesink Bank. Embora todos nós tínhamos negócios
legais, com reputação diferente dos outros negócios da família, sempre
fomos vistos como agiotas e executores agiotas antes de sermos vistos
como proprietários de academia ou joalheria, donos de lojas ou
artistas tatuadores.

— Seja o que for, não pode ser tão louco como uma agorafóbica
envolvida com traficantes de drogas, — ela continuou quando não falei
imediatamente.

Eu não tinha vergonha da minha vida, da minha família, como


ganhamos nosso dinheiro. Longe disso. Mas estava difícil encontrar as
palavras.

E, percebi com uma clareza ofuscante, era porque importava


desta vez. Ela importava desta vez.

Apesar de estar envolvida com Bry e os problemas dele, ela não


era o tipo de garota que acabava com um fodido agiota executor. Ela
dava aula no jardim de infância. Eu quase não a escutava xingar. Ela
era boa, doce e limpa.

~ 151 ~
Todas as coisas que minha vida não era.

Mas não havia como adiar. Dusty não era um caso de apenas
uma noite. Ela nem estava no mesmo patamar dessas mulheres.

Ela importava.

Eu a queria.

Eu a queria de uma maneira mais permanente.

E ela me deu sua história e me deu seu corpo.

Era hora de lhe dar minha história.

Quaisquer que fossem as consequências.

Respirei fundo e lhe dei um aperto.

— Meu pai, meus irmãos e eu somos empresários. Somos


empresários legítimos. Mas isso não é tudo o que somos.

— Tudo bem, — ela disse, sem parecer tão nervosa quanto eu


pensava que poderia estar, especialmente devido à tensão na minha
voz.

— Meu pai sempre foi um agiota.

Naquele momento, ela fez a coisa mais estranha. Ela bufou,


porra.

Quando eu não disse que estava brincando, ela se levantou,


grande sorriso no rosto, seu cabelo caindo para frente. — Você fala
sério? Um agiota? O tipo de agiota “você me dá o dinheiro ou quebro
seus joelhos”?

Seu sorriso era tão contagiante que meus próprios lábios se


contraíram. Mas era sério e eu precisava que ela entendesse. — É
exatamente o que quero dizer, querida, — concordei. — E todos os
meus irmãos e eu, exceto Hunt, todos trabalhamos para ele.

O sorriso escorregou enquanto seus olhos ficaram pensativos,


suas sobrancelhas se juntando, então duas pequenas linhas se
formaram acima de seu nariz. — Trabalha para ele como?

— Nós somos os executores, — admiti.

~ 152 ~
Lá estava.

Ela parou por um longo segundo, avaliando meu rosto,


procurando humor, mas não encontrando nenhum. — Então, um
executor...

— Quebra os joelhos, — completei por ela.

Sua língua se moveu, molhando os lábios, e custou muito me


controlar para não jogá-la de volta na cama e fodê-la até que
esquecesse que eu disse alguma coisa sobre minha família.

— Sério?

— Bem, não exatamente. Na verdade, hoje em dia não existem


tantos joelhos quebrados. Não vou dizer que isso nunca acontece, mas
é raro.

— Você bate nas pessoas? — ela perguntou. Eu podia ver as


engrenagens girando, podia vê-la juntando as peças, minhas
cicatrizes, a maneira que lutei, que sabia cuidar de ferimentos.

— Às vezes. Não sou eu que costumo dar muitas surras, mas


acontece.

— Quem, então? — ela perguntou, sem parecer horrorizada. No


máximo, ela parecia... curiosa. — Não posso imaginar Mark batendo
nas pessoas. Ele é tão... descontraído.

— Ele bate mais do que eu, mas não muito.

Ela parou então, balançando a cabeça. — Não Eli. Fala sério! Ele
brincou com o meu gato! Deu-lhe comida de seu prato.

— Lembra quando Eli entrou pela primeira vez, quando ele


olhou para o seu rosto, ele congelou e ficou assustador e silencioso?

Ela pressionou seus lábios ligeiramente juntos com isso e


acenou. — Sim, isso foi um pouco estranho.

— Eli nunca deveria ser violento. Mas fomos criados para saber
que os negócios da família envolviam violência, que todos nós
deveríamos seguir os passos de nosso pai. Então, Eli foi de certo modo
forçado a ser algo que ele não era e por isso, quando ele se irrita, não é
nada como você já viu antes. É brutal e primitivo, estranho como o

~ 153 ~
inferno de ver. Eli é o último recurso, quando esgotamos todos os
outros esforços.

— Esses outros esforços incluem o seu outro irmão, certo?


Shane? Ele é quem faz a maioria dos... esforços?

— Na maior parte dos casos, sim. Ele é bom nisso. Ele pode
manter o controle, mas ainda causa danos sem perder a cabeça. — Ela
me observou durante um longo minuto, uma espécie de máscara sobre
seu rosto, tornando-a ilegível por um longo tempo. — Diga-me o que
está acontecendo aí, — pedi, tocando sua têmpora.

Ela deu de ombros. — Estou apenas assimilando. Você já foi


preso?

— Não, querida.

— Mas presumo que os policiais por aqui sabem o que vocês


fazem...

— A maioria, sim.

— Nenhum dos seus irmãos foi...

— Não, — eu a cortei. — Bem, pelo menos não por causa dos


negócios.

Apesar da situação pesada, seus lábios se inclinaram para o


lado. — Então, por quê?

— Principalmente embriaguez e desordem. Shane e Mark


costumavam aprontar muito e um de nós tinha que ir até a delegacia e
arrancar suas bundas bêbadas e levá-los para casa. Não aconteceu
desde que estavam em seus vinte anos, mas aconteceu. Mais de uma
vez. Mais de meia dúzia de vezes, na verdade.

— Se todos têm outras empresas e estão indo bem, então, por


que ainda fazem essa coisa de agiotagem?

Essa era uma pergunta válida para a qual eu realmente não


tinha uma resposta satisfatória. Por quê? Tradição, talvez seja
apropriado dizer. Era algo que meu pai construiu desde o início. A
única razão pela qual todos nós, no final das contas, podíamos ter
coisas como nossos próprios negócios era por causa de todo o trabalho
que ele fez, o dinheiro que tínhamos, cada centavo, veio da agiotagem
e, em seguida, investido em outros interesses. Nem sempre foi fácil.
~ 154 ~
Naqueles primeiros dias, ele economizou cada centavo. Ele e minha
mãe batalharam. Logo em seguida, para piorar, nós cinco chegamos.
Mas ele finalmente começou a se dar bem, contratou outros para
ajudá-lo e, quando tínhamos idade suficiente, todos nós queríamos
entrar.

— Não tenho uma boa resposta para isso, querida. É exatamente


como é. E não vou mentir para você e dizer que vai mudar, que vou
mudar ou alguma merda. Isso é quem sou. Isto é o que faço. Não vejo
isso mudar.

Uma parte de mim queria tranquilizá-la, dizer-lhe que eu poderia


desistir, poderia me endireitar, ser como qualquer outro empresário
normal. Mas se o que tínhamos entre nós fosse funcionar,
precisávamos ser crus e honestos um com o outro.

Ela me deu a verdade sobre ela e sua ansiedade e agorafobia.


Não tentou dizer que seria completamente normal um dia, que nunca
mais teria outro ataque de pânico, que poderia ser alguém que não
era. Da mesma forma, não podia dizer a ela que eu poderia ser alguém
que não era.

Era verdadeiramente uma situação em que ela precisava me


aceitar como eu sou.

E havia uma grande parte de mim que estava genuinamente


preocupada de que ela talvez não me escolhesse. Que mudasse de
ideia e decidisse que não valia a pena as noites sem sono quando
sabia que eu estava perseguindo um cliente ou a sensação de náusea
no estômago quando eu voltasse para casa ensanguentado e ferido.

Ela tinha todo o direito de querer o melhor para si mesma.

E eu só teria que aceitar isso.

— Então, quando você estiver velho e enrugado e com artrite...

— Se você conhecesse meu pai, saberia que ficar velho e


enrugado não é algo com o qual tenho que me preocupar.

— Coroa enxuto, hein? — ela perguntou, me dando um pequeno


sorriso sujo.

Eu ignorei isso, ninguém queria pensar em seu pai nesse


sentido. Mas tínhamos que concordar que eu teria a cabeça cheia de

~ 155 ~
cabelo e boa estrutura óssea quando envelhecer. E enquanto me
mantivesse em forma, achava que seria capaz de possuir o título de
“coroa enxuto” quando estivesse mais velho. — Eu imagino que até lá
os negócios tenham evoluído para não precisar mais disso, ou,
possivelmente, as crianças possam assumir o controle.

— Crianças, — ela sugeriu, parecendo ligeiramente tensa sobre


isso.

— Sim, crianças, — concordei, com as sobrancelhas desenhadas


juntas.

— Você quer crianças?

— Inferno sim, quero crianças, — falei, dando-lhe um sorriso. —


Cresci com quatro irmãos, Dusty. Foi caótico, barulhento e frustrante,
não existia privacidade e você tinha que ser casca grossa, tanto literal
quanto figurativamente, porque não havia trégua nas brigas físicas e
verbais, mas não iria querer isso de outra maneira. Sempre tive
parceiros no crime e agora que somos adultos, sempre estamos
cobrindo as costas uns dos outros e sempre podemos nos apoiar.
Quero que minha família também seja selvagem e louca um dia.

Seu olhar caiu do meu, olhando meu peito.

— Você quer ter filhos? — perguntei quando o silêncio se


prolongou por tanto tempo até quase ficar desconfortável.

Ela não olhou para cima e encarou meu peito em vez do meu
rosto. — Eu costumava querer.

— Por que costumava?

Ela riu, sem graça sobre isso. — Porque não posso ficar grávida
quando nem consigo sair da minha casa. Não posso ir ao médico, ou
ao hospital, ou reuniões de pais na escola, ou nas práticas esportivas.
Seria... injusto colocar minha doença mental em um filho.

— Querida, ninguém pode prever o futuro. Ninguém pode dizer


com certeza que você ficará sempre presa em sua casa, que sempre
terá uma zona de conforto. Todos os dias as pessoas lutam contra a
agorafobia delas e ganham. Elas reconstroem suas vidas e criam laços.
Elas se apaixonam. Elas têm filhos.

— Sim, mas não dá pra saber que vai ser assim comigo.

~ 156 ~
— Não, — concordei. — Mas acho que você é um pouco jovem
para perder a esperança pelo o resto da vida. E acho que não está
vendo o quanto as coisas mudaram para você apenas em algumas
semanas.

— Eu só estive fora do seu apartamento por...

— A noite do vazamento de monóxido de carbono, Dusty. Você


ficou louca e não gostou, mas ficou no meu carro e se acalmou. Depois
me comprou um presente de Natal e foi até a minha porta. Você me
recebeu no Natal. Logo em seguida nem hesitou em vir para o meu
apartamento. E para superar tudo, agora está em um maldito quarto
de hotel comigo, fora de sua zona de conforto, recentemente fodida
pela primeira vez em quem sabe quanto tempo, mas ainda calma.
Essas coisas não são pequenas. Você não pode olhar para o quanto
você tem que percorrer e ficar desanimada. Olhe para trás e veja o
quanto você foi longe.

Ela deu duas respirações lentas e profundas e olhou para mim


lentamente. — Três.

— Como? — perguntei, acariciando uma mão na sua espinha


dorsal, sentindo o meu pau ficar duro quando ela estremeceu com o
meu toque.

— Três anos.

— Vou precisar de mais do que isso, querida.

— Isso é quanto tempo passou. Desde que eu... você sabe.

— Foi fodida? — sugeri, dando-lhe um sorriso enorme quando


ela ficou corada pra caralho. — Assim, você é doce e tudo mais, Dusty,
mas vai ficar sempre vermelha como um pimentão se a palavra
“fodida” te deixar desconfortável.

— Não é a palavra, — ela objetou, me dando um sorriso


estranho, que não consegui interpretar.

— O que então? O tempo? — perguntei e seu olhar caiu por um


segundo antes de voltar. Então era isso. — Não achei que você tivesse
dormido com um monte de caras, Dusty. Eu sabia que já fazia um
tempo.

— Um tempo é como... oito meses, um ano no máximo...

~ 157 ~
— Por padrão? Todos fodem de forma diferente. Alguns levarão
para casa quem diabos sorrir para eles e lhes dizer que são gostosos.
Outros precisam estar apaixonados. Alguns não fazem isso até se
casarem. Que merda importa quanto tempo passou? Porque se isso for
algum problema de insegurança? Tipo você pensar que está fora de
prática ou alguma merda assim, — eu disse, observando enquanto ela
ficava mais vermelha. Era exatamente isso. De todas as coisas bobas.
Mas era isso o que a ansiedade dela fazia, fazia montanhas de merda.
— Então me deixe ir em frente, resolver isso e aliviar sua cabeça um
pouco.

— Ryan, não. Está bem... — ela disse, balançando a cabeça.

— Não. Não está bem. Tenho uma mulher na cama comigo


dentro da qual eu estava alguns minutos atrás e que acha que foi de
alguma forma decepcionante. Essa merda nunca vai ficar bem. Olhe
para mim, — exigi, minha voz um pouco mais firme do que o habitual,
mas ela ainda não levantou os olhos. Estendi a mão e segurei o queixo,
levantando-o. — Você não está fora de prática. E, com certeza, não é
uma decepção, porra. Na verdade, o que acabamos de ter aqui foi o
melhor que já tive. E não apenas porque a maneira como você grita
meu nome me deixa duro e me faz querer gozar logo, ou porque você
tem a buceta mais doce que já provei, mas porque isso significava algo,
tudo bem? Isso significa algo. Então, não destrua isso, tornando-o feio
ou alguma coisa para se preocupar. Ok? Dusty?

Ela piscou forte algumas vezes, tentando afastar um brilho que


vi ali, antes de virar o rosto e beijar minha mão. — Ok.

— Então está resolvido. Voltando para a pergunta original. Você


quer ter filhos?

Ela me deu um pequeno sorriso. — Sim. Quero filhos.

— Um ou uma ninhada?

Para isso, ela riu. — Como filha única que cresceu com poucos
amigos, gostaria que meus filhos tivessem irmãos para que eles
sempre pudessem ter um amigo.

— Parece um bom plano. Então, não queria acabar com o clima


que temos agora. Mas acho que precisamos encerrar esse assunto de
vez. O que se passa na sua cabeça sobre o meu trabalho?

~ 158 ~
Ela ficou pensativa. — Sei que deveria estar enlouquecida sobre
isso...

— Mas?

— Mas, você não é nada além de bom. Seus irmãos foram bons
para mim. Você é a primeira pessoa que encontrei por muito tempo
que não me deixa ansiosa. Acho que o bom supera a parte ruim agora.

— Só quero ter certeza de que você saiba no que está entrando.

— Entendo a situação, — ela disse, me dando um pequeno


aceno de cabeça.

— E você sabe que não vai mudar, — pressionei.

Para isso, ela riu um pouco. — Sou uma garota crescida, Ryan.
Há muito tempo descobri que não posso mudar pessoas ou situações.
Você deve aceitá-las como elas são. E, em seu caso, eu ficaria feliz.

Ah, merda.

Soube ali mesmo que estava com problemas, que as coisas


tinham ficado sérias. Porque ouvi-la dizer que ficaria feliz em me
aceitar como eu era, sim, havia uma sensação no meu peito que,
embora não tivesse experimentado antes, eu sabia o que era.

— Por que esse olhar? — ela perguntou, com a cabeça inclinada


para o lado, observando-me.

— Olhar?

— Você parece... ansioso, — ela disse com um sorriso. — Sei que


parece intimidante. E você tem esse olhar. — Então seu rosto caiu um
pouco. — Isso foi, hum, demais? Quero dizer, posso...

— Cale-se, — eu disse, estendendo a mão e colocando um dedo


em seus lábios. — Não foi demais. É só... novo para mim.

— Sim, bem, seu apartamento parece sugerir que uma mulher


não ficou por mais de uma noite ou duas.

— O que há de errado com o meu apartamento?

— Tem uma caneta e um papel? Isso pode demorar um pouco.

~ 159 ~
Ri daquilo, rolando-a de costas e beijando-a até ela esquecer
tudo sobre caneta e papel e queixas e queixas sobre meu apartamento.

— Você pode fazer o que quiser, — falei depois e assisti


enquanto ela piscava para mim, pálpebras pesadas, lábios inchados
por todos os malditos motivos.

— Fazer o que quiser? — ela perguntou, com voz transpirável e o


som disparou diretamente no meu pau.

— No meu apartamento, querida. Quando chegarmos lá, sinta-se


livre para se instalar.

— Ryan, só nos conhecemos por...

— E é o suficiente, — eu a cortei.

— Suficiente para quê?

— Basta saber que falo sério por tentar isso. Você não pode
tentar de verdade se não receber alguém na sua vida. Pegue algum
espaço no armário. Pegue algumas gavetas. Traga suas bugigangas.
Contrate pintores, não me importo, porra.

— Ryan, eu tenho meu próprio apartamento...

— E você pode mantê-lo até que se sinta tão séria comigo quanto
me sinto com você. Entendo que você precise dessa rede de segurança.
Mas não se engane, se for do jeito que quero, haverá alguém morando
naquele apartamento muito em breve.

Então ela se inclinou, escondendo o que era um sorriso doce,


tímido e bochechas cor-de-rosa, e plantou um beijo no centro do
sobrenome no brasão da minha família.

Não acho que ela via isso do mesmo jeito que eu, mas essa era
toda a prova que eu precisava. Ela poderia ter beijado meus lábios,
minha bochecha, meu pescoço, o centro do meu peito. Mas ela
escolheu beijar o emblema da minha família, o que representava tudo
o que eu era.

Por isso, quando ela finalmente desmaiou, saí da cama e fiz


alguns telefonemas, planejando encontrar meu pai e meus irmãos.
Então, depois disso, liguei para as meninas.

~ 160 ~
Porque se queríamos um futuro, tínhamos que resolver o
passado.

Tão logo seja possível, porra!

~ 161 ~
Quatorze
DUSTY

Acordei cedo na manhã seguinte com Ryan inclinando-se para


baixo, onde o cobertor deveria ter caído, e sugando meu mamilo na
boca.

Dizer que era uma maneira inesperada e agradável de ser


despertada seria um eufemismo. Sentindo o meu corpo estremecer, ele
soltou o mamilo úmido e endurecido e olhou para mim, com um
sorriso diabólico no rosto, então se moveu para pegar meu outro
mamilo na boca.

— Ryan, eu... — Comecei querendo dizer que precisava escovar


meus dentes antes que qualquer coisa fosse mais longe. Os beijos ao
acordar, sim, eles nunca foram sexy. Pelo olhar dele, já estava
acordado fazia um tempo e, ao que tudo indicava, já teve a chance de
escovar.

— Precisa de mim para sentir o gostinho da buceta doce


novamente? — ele perguntou, me dando um aceno de cabeça. — Eu
sei, querida. É para isso que estou aqui.

Com isso, sua língua rastreou o centro do meu peito, puxando


os cobertores para baixo e continuando pelo meu estômago. E, olha,
quando um homem fala algo assim já na primeira hora da manhã,
quando você está cansada de dormir até mesmo sem forças para
contestar, você o deixa fazer o que ele quiser. Especialmente vendo
como ele faz isso, prometendo outro orgasmo mental, estonteante e
esmagador.

Assim que terminou, entretanto, percebi que ele não estava nem
perto de acabar. Cheguei a essa conclusão, porque ele se sentou em
seus calcanhares e seu pênis estava duro e esticado, uma gota de pré-
sêmen na ponta, e promessa em seus olhos. Então, pulou de volta
para a beirada da cama, plantando os pés no chão e alcançando os

~ 162 ~
meus tornozelos, arrastando-me para ele. Estendeu o braço para o
meu lado onde vi que ele já havia jogado um preservativo.

Mas primeiro...

Curvei-me para cima, minhas mãos afundando em seus quadris,


a cama alta colocando-me no ângulo perfeito para me inclinar e
lamber a umidade. Ele soltou um suspiro, sua mão estava atrás da
minha cabeça. — Porra, Dusty, — ele rosnou quando fechei meus
lábios em torno da cabeça inchada e em seu comprimento sólido,
levando-o tão profundo quanto o ângulo permitiria, em seguida,
voltando para cima, erguendo os olhos para ver os dele, intensos, com
fome.

Esqueci o quanto perdi coisas assim, como ter o prazer de um


homem completamente à sua mercê. Saber que você pode fazê-los
perder o controle, desmoronar, falar seu nome como um juramento.

— Porra, querida, isso é bom, — ele gemeu e, como se estivesse


provando seu ponto, pude senti-lo cada vez mais duro na minha boca
enquanto trabalhava nele. — Mas preciso estar dentro de você. Agora,
— acrescentou quando ouvi a embalagem do preservativo rasgar e ele
me puxou para trás pelo meu cabelo. Chupei o máximo que pude até
que estivesse fora da minha boca e ele sacudiu a cabeça para mim
quando pegou seu pênis e deslizou a camisinha.

Fui me deitar, mas ele estendeu a mão e agarrou-me, puxando-


me para cima em meus pés e se movendo para sentar-se abaixo,
virando-me e puxando-me até minhas costas estivessem em sua
frente. — Assim, — ele me disse e senti o meu sexo se apertar e minha
barriga vibrar.

Nunca fui uma puritana ou inexperiente e, enquanto era uma


posição que tinha visto em praticamente todos os pornôs que já vi, não
era uma que já havia tentado antes.

Houve uma preocupação momentânea sobre as minhas pernas


não conseguirem me segurar por muito tempo quando ele me levasse
ao orgasmo antes que se senti-lo se aproximar entre nós e então
deslizar até o fim.

Então, bem, foi apenas instinto e necessidade.

Movi-me contra ele, um braço curvando-se e em volta da parte


de trás do pescoço, o outro pressionando em sua coxa para manter o
~ 163 ~
equilíbrio quando ele atingiu lugares que nunca senti antes, criando
sensações que nem sabia que existiam. E quando meus movimentos
ficaram erráticos e descuidados, as mãos de Ryan foram para meus
quadris e me guiaram. Então, assim, sua respiração no meu ouvido,
sem corpo embaixo e atrás de mim, eu gozei, gritando seu nome.

Quase poderia ficar perdida entre as ondas antes que ele se


levantasse, jogando-me de barriga contra o colchão, arrastando meus
quadris para cima com as mãos e entrando mais fundo em mim.

Foi rápido, duro, implacável, brutal, os sons de nossos corpos se


chocando encheu o ar, misturando-se com seus xingamentos e meu
gemido, enquanto um orgasmo parecia estar rolando diretamente para
outro. Então, meu grito foi mais alto que os anteriores.

— Oh, meu Deus, — gritei enquanto voltei, ofegante, meu corpo


inteiro ficando escorregadio, meus membros pesados e inúteis.

— Ainda não terminei com você, — ele me informou e percebi


que ele ainda estava duro dentro de mim.

— Eu não posso... — repliquei, balançando a cabeça. Tinha


certeza de que três era o meu limite.

— Quer apostar? — ele perguntou, puxando metade de mim,


agarrando minhas duas pernas e empurrando-me ligeiramente na
cama, armando minhas pernas em um ângulo de um lado e depois
caindo dentro de mim novamente.

Curvei meu tronco combinar com a parte de baixo de meu corpo,


olhando para ele enquanto ele entrava em mim. Naquele momento
decidi que não havia imagem mais sexy no mundo. Todo músculo em
seu corpo estava tenso e esticados, seus olhos pesados. Uma das mãos
segurou minhas pernas como ele as queria, a outra estendeu a mão e
apertou meus seios quando seus quadris se bateram contra mim,
pressionando o máximo possível de cada vez.

Tive certeza de que não havia nada mais surpreendente do que


ver um homem à beira do esquecimento enquanto ele metia dentro de
você, querendo trazê-la ao clímax pela quarta vez antes de encontra o
seu próprio.

Então, assim, descobri que ele ganhou a aposta.

~ 164 ~
Gozei, meu corpo inteiro se convulsionando com força quando
ele bateu quase dolorosamente, profundamente, e gozou com meu
nome em seus lábios.

Assim que voltei, meus olhos olharam para encontrá-lo ofegante,


mas um sorriso puxou seus lábios. — Eu te falei, — ele disse ao
mesmo tempo em que batia na minha bunda com força, então me
afastou, dando ali uma deliciosa picadinha de dor, uma dor que com
certeza sentiria o dia todo quando me sentasse.

De alguma forma, gostei da ideia disso.

Ele foi para o banheiro e eu forcei meus membros entorpecidos e


sem vida a me levar para o outro lado da cama onde peguei o robe que
tínhamos descartado na noite anterior, puxando-o para cima e
envolvendo-o ao meu redor enquanto me sentava ao lado da cama.

Ryan voltou um minuto depois, não nu como eu esperava, mas


com suas calças e uma camisa preta de botão que ele deixou aberta
quando veio em minha direção com um sorriso suave, agarrando os
lados do meu robe e me colocando de pé.

— Não se preocupe, pedi café da manhã para que você possa


recuperar suas forças, — informou, parecendo muito satisfeito com ele
mesmo e com sua proeza. Da qual, bem, ele deveria estar mesmo.

— Comida. É melhor que tenha café junto, — acrescentei


quando ele colocou um lado do robe sob o outro e puxou a faixa,
amarrando-a sem esforço.

— Não te decepcionaria, — ele disse. — Vá tomar um banho e


outras coisinhas e me encontre na cozinha.

Não fazia ideia de que, quando tomei banho, vesti um jeans e


um suéter branco leve, e cheguei à cozinha, ele tinha uma bomba para
jogar sobre mim.

Foi quando tomei um gole do meu café que ele anunciou que
tinha que sair por um tempo.

O que, bem, estava bem. Ele tinha uma vida. Tinha negócios.
Tinha funcionários. Era de esperar que ele precisasse voltar para eles.

— Mas não queria deixar você sozinha o dia todo.

~ 165 ~
Senti um sorriso surgir nos meus lábios. — Oi, já nos
conhecemos? Sou Dusty e fiquei trancada em meu apartamento
sozinha, com Rocky ao lado, por anos.

Ele quase sorriu por isso. — Sim, mas aquele era o seu
apartamento. Este é um quarto de hotel onde você ainda não está
confortável.

— Ryan, de verdade, eu poderia estar nervosa, mas sou uma


garota crescida.

Ele respirou fundo, então, me dando um sorriso de desculpas. —


Acho que é tarde demais...

— Tarde demais para quê? Eli ou Mark estão vindo ou algo


assim? — perguntei, sem me opor a nenhum dos dois.

Em algum momento durante meu banho, sentindo meus


músculos doloridos que não tinha usado em eras, meu peito, barriga e
coxas internas arranhados pela barba dele, percebi que gostava muito
disso, gostava demais dele para arruinar isso. Então, decidi fazer
algum tipo de plano de ação, como minha psiquiatra sempre me falou,
para me ajudar a progredir, a melhorar. Não tive a chance de ir além
desse pensamento, mas achei que me socializar com sua família seria
um avanço. Se eu conseguisse ficar completamente à vontade com
eles, então talvez eu esteja bem com a ideia de possivelmente lidar com
uma família normal.

Isso seria enorme.

— Eli e Mark têm algo que precisam fazer comigo hoje na


verdade. Então, ah...

Ok, vê-lo um pouco estressado era encantador. Mas eu conhecia


essa sensação, então resolvi por fim em seu sofrimento. — Quem
então?

— Fee e Lea. São as mulheres de Hunter e Shane. Elas queriam


conhecê-la e eu pensei... — ele parou, suspirando. — Acho deveria ter
perguntado primeiro, mas eu as convidei.

Ok.

Isso estava bem.

Não há motivo para enlouquecer.


~ 166 ~
Não era como se estivessem me entrevistando como um
potencial membro da família ou qualquer coisa. Exceto, vamos cair na
real, elas me entrevistariam.

Tive uma momentânea vontade louca de ter um conjunto de


maquiagem para encobrir os machucados, algum batom, qualquer
coisa.

— Dusty, elas são garotas muito legais, ok? Não há nada para se
assustar. Fee vai aparecer vestida como se ela saísse de uma merda
revista de moda porque é assim que ela é, e Lea estará com jeans,
camiseta e as botas de combate porque é assim que ela é. Ambas
praticamente vão xingar muito e, provavelmente, fazer piadas sexuais
altamente inapropriadas, porque é o que elas fazem. Mas elas não vão
cutucar e zoar você sobre qualquer coisa. Ambas têm passados
também.

Respirei fundo, pensando que poderia lidar com um pouco de


xingamento e comentários sexuais. Afinal, sua cunhada dirigia um
negócio de sexo por telefone. Isso era um pouco esperado.

— Tudo bem, — concordei com um aceno de cabeça, enquanto


me obrigava a comer.

Na verdade, quanto mais pensava sobre isso, mais interessada


eu ficava. Queria conhecer a dinâmica familiar. Queria ver as pessoas
que ele amava tanto. E talvez uma parte de mim estivesse
entusiasmada com a ideia de estar ao redor de algumas mulheres para
variar. Minha vida foi hipermasculina desde que saí de minha casa.
Além de ver o dia a dia da mulher que morava abaixo de mim e as
sessões com minha psiquiatra, literalmente eu não tinha contato com
mulheres. Tinha meu tio e Bry. Tinha o síndico quando
ocasionalmente precisava dele. Agora eu tinha Ryan e um pouco de Eli
e Mark. Seria legal conversar de novo com algumas garotas.

— Você está bem? Você está quieta.

Sorri para ele, tentando esquecer momentaneamente que ele


estava realmente lá. — Desculpe. O silêncio ainda é meu padrão, —
admiti. — Não estou acostumada a ter alguém para conversar. Estou
bem. Quando elas chegam?

— Conhecendo-as, quinze minutos mais cedo do que combinei


com elas. Só pra encher o saco. Embora Fee tenha a tendência de se
atrasar mais por causa das crianças.
~ 167 ~
— Oh, — falei, sentindo outra pequena emoção. — As crianças
estão vindo? — perguntei, ouvindo o entusiasmo em minha própria
voz.

Você não ensinava no jardim de infância se não gostasse de


crianças. Elas eram alegres, loucas, estressantes e imprevisíveis, e
nem todos achavam essas qualidades bonitas e encantadoras. Eu,
pessoalmente, sempre achei. Adorei estar cada minuto na minha sala
de aula, desde como elas se iluminavam quando aprendiam todas as
letras, ou ouvir a maneira horrível e desafinada como cantavam
juntas, ou derramarem glitter e cola e brigarem por brinquedos. Adorei
cada segundo.

E parecia que uma grande parte de mim estava desaparecida


desde que perdi isso.

— Não, — ele disse, parecendo se desculpando. — Não hoje.


Pensei que talvez isso fosse demais. Minhas sobrinhas são fofas como
uma merda, mas dão trabalho. Becca especialmente. Fee culpa todos
nós por ela. Diz que fazemos todas as vontades dela.

— Você faz?

— Quase sempre, — ele admitiu descaradamente. — Ela foi a


primeira criança que tivemos por perto. Gostamos de estragá-la.

— E agora ela tem você na palma da mão, — eu disse sorrindo.


Sabia como era isso. Vi isso todos os dias. Uma vez, uma mãe veio até
mim e me pediu para dizer à sua filha que ela não tinha permissão
para empurrar as outras crianças no playground porque ela não
queria ser a pessoa ruim. Ridículo.

— Algo assim, — ele admitiu, colocando o copo de café de volta


no carrinho de café da manhã. Acho que essa era uma vantagem de
viver em um hotel ocasionalmente, serviço de quarto.

Segui o exemplo, colocando o que restava do meu café da manhã


no carrinho e observando enquanto ele ia até o corredor.

— Venha aqui, — ele pediu, encostado na porta da frente. E não


queria fazer nada além do que ele pediu. Seus braços me rodearam,
puxando-me contra seu corpo firme. — Você acha que elas vão acabar
com minha masculinidade se eu disser que vou sentir saudades hoje?

~ 168 ~
No meu peito, meu coração deu uma cambalhota selvagem e me
aproximei dele. — Será nosso pequeno segredo, — disse, envolvendo
meus braços ao redor da parte de trás do pescoço, fazendo meus seios
se esmagarem no peito dele. E apesar de ter tido ele na noite anterior e
há pouco mais de uma hora, meu corpo o queria de novo. — Também
vou sentir saudades, — admiti, sabendo que era verdade do fundo do
meu coração. Em tão pouco tempo, ele começou a significar tanto. Se
fosse honesta comigo mesma, talvez até demais.

— Bem, então, acho que estou seguro, — ele disse, me dando


um sorriso enquanto se inclinava para frente e reclamava meus lábios.

Pensei que seria só um pequeno beijo curto e doce. Mas, bem, no


segundo em que seus lábios pressionaram os meus, tornou-se
completamente diferente. Gemi contra seus lábios enquanto ele me
segurava impossivelmente apertada em seu corpo, enquanto ele
inclinava minha cabeça e aprofundava o beijo, enquanto sua língua
seguia a costura e invadia.

Ele se virou de repente, batendo-me de volta contra a parede,


tirando os braços do pescoço e prendendo-os na parede acima da
minha cabeça enquanto seus lábios soltavam os meus, deixando-os
inchados e sensíveis, e seguiram pela minha bochecha, mandíbula e
então torturando meu pescoço. Ele beijou, lambeu, sugou, até que
cada centímetro do meu corpo cantarolava com a necessidade dele, até
que eu sentia a meio caminho de um orgasmo e sua mão nem estava
perto do meu sexo.

Sua boca subiu, seus dentes agarrando meu lóbulo da orelha e


me fazendo soltar um gemido.

Então, como se fosse perfeitamente cronometrado, houve um


som no corredor que fez Ryan me libertar e afastar um passo. Minhas
mãos caíram entorpecidas pelos meus lados enquanto eu me
pressionava contra a parede, sentindo-me bamba e tão excitada que
era realmente doloroso enquanto Ryan recuperava o fôlego, afligido de
forma semelhante.

— Porra, — ele suspirou, esfregando uma mão pelo pescoço, na


bochecha que estava bem a caminho de se tornar uma barba se ele
não se barbeasse em breve. — Falei que elas chegariam cedo, — ele
acrescentou com um sorriso de desculpas, aproximando-se de mim e
pressionando um beijo na minha testa enquanto eu forçava minhas
pernas a se firmarem novamente e ficando de pé.
~ 169 ~
Depois, a batida na porta. Não tocando. Parecia com, pelo
menos, três punhos. — Abra! — Uma voz feminina chamou, fazendo
Ryan rir e caminhar em direção à porta.

— Pronta para isso? — ele perguntou.

— Como sempre estou, — admiti, dando-lhe o que esperava ser


um sorriso reconfortante.

Então ele deslizou as fechaduras e elas... explodiram.

Elas eram o oposto uma da outra no departamento de aparência.


Uma era loira com um rosto macio e delicado, grandes olhos verdes,
cabelos ondulados e usava uma minissaia apertada com calças legging
brilhantes e um suéter preto grande com uma gola alta. A bainha
incomum que subia no centro então mergulhava para baixo nas
laterais, então realmente escovava a barra de sua saia no meio das
coxas.

A outra era uma mulher alta, de pernas compridas e peituda,


com cabelos longos e retos, impressionantes olhos azuis e rosto
feminino, mas angular. Como Ryan havia previsto, ela usava jeans
azul escuro, botas de combate preto e uma camiseta azul longa.

Ambas também tinham cerca de meia dúzia de sacolas com elas,


nas mãos e penduradas nos pulsos.

— Bem...? — A loira, Fee, exigiu, com olhos arregalados em


Ryan, enquanto agitava uma mão cheia de sacolas.

— Bem o quê? — Ryan perguntou.

— Cadê ela? — ela acrescentou, revirando os olhos.

— Bom dia para você também, Fee, Lea, — ele disse, e enquanto
eu não conseguia ver o rosto da minha posição atrás da porta, eu
podia ouvir o sorriso nele. — É bom ver você. Você parece bem...

— Corta o papo furado. Não estamos aqui por você, — Fee


acrescentou com um sorriso em sua própria voz.

Ryan fechou a porta e seus olhos caíram sobre mim enquanto


ele estendeu a mão para pegar minha mão e puxar-me para frente. —
Dusty, — ele disse, me dando um aperto. — Esta é Fee e Lea, as
mulheres dos meus irmãos. Meninas, esta é Dusty. Tente não deixá-la
muito ansiosa enquanto estou fora.
~ 170 ~
— Oh, por favor, — disse Fee, revirando os olhos para ele. — Ela
vai nos amar. Agora vá embora pra gente conseguir detalhes sobre
você.

— Detalhes sobre mim? — Ryan perguntou, erguendo uma


sobrancelha.

— Tenho a sensação de que ele é dominante quando fode...

— Tudo bem, — Ryan a interrompeu com uma risada estridente.


— Depois dessa, estou fora. Peço desculpas antecipadamente por te
deixar nas garras dessas víboras, — ele acrescentou, me dando um
beijo e soltando minha mão. — Tenha um bom dia. Se você realmente
precisa entrar em contato comigo, tenho meu celular. — Ele saiu pela
porta aberta e olhou para Fee e Lea e, com um enrugar de testa
mandou, — Seja legal. — Com isso, ele se foi.

— Tão dramático, — Lea bufou quando ele saiu. — Como se


estivéssemos aqui para fazer você se juntar ao nosso culto satânico ou
algo assim, — ela disse, deixando cair as sacolas na mesa de café. —
Isso é totalmente para você, — acrescentou e, pega de surpresa, soltei
uma risada um pouco alta.

— Então você parece recém-beijada, — acrescentou Fee,


descartando as sacolas e erguendo a cabeça para olhar para mim. —
Vamos lá, o suspense está me matando. Ele é o tipo que tem pegada?

Minha boca se abriu enquanto lutava sobre se devia ou não


contar esse tipo de detalhes íntimos. Mas ele tinha acabado de me
prensar na parede agora há pouco. — Tipo assim. — admiti.

— Falei, — Fee disse a Lea que revirou os olhos.

— Só porque ela tem um negócio de sexo por telefone acha que


conhece as taras de todo mundo.

— Ei, eu estava certa sobre o cara que possui a lavanderia , não


estava?

— Ele tem um fetiche peludo, — forneceu Lea. — Algo que


realmente não queria saber. Obrigada pelos pesadelos, Fee.

— Ouça, isso não é nem metade ruim do que reconhecer o


conselheiro da escola da minha filha em uma das linhas e descobrir
que ele é um filho da puta estranho e precisa de minhas mulheres

~ 171 ~
para lhe oferecer biscoitos e leite depois de gemer sobre ele ferindo
seus pequenos quadris geriátricos e amando a sensação de suas bocas
livres de dentes ao redor de seu pênis. Você quer pesadelos, lhe darei
pesadelos.

Bufei com isso, achando que o aviso de Ryan sobre elas era
perfeitamente preciso e também que o nervosismo que sentia quando
ele abriu a porta enquanto ainda estavam lá não estava piorando.

— Então, — Lea disse, virando-se para mim. — Você é Dusty.

Concordei com a cabeça, encolhendo os ombros. — Sou Dusty.

— Mark e Eli disseram que você era quente. Eles não estavam
mentindo. Shane quer saber como você não tem trezentos quilos se
não sai do seu apartamento.

— Shane é um rato de academia, — Fee informou.

— Eu, ah, faço exercícios vendo DVDs. — admiti.

— Isso é o que eu disse a ele. Ele é um adepto de academia.


Tentei os DVDs, mas a menos que eu esteja na academia, não há
ninguém para me julgar quando a minha bunda recebe o tipo errado
de gingado, então não funciona para mim. De qualquer forma, nós lhe
trouxemos algumas coisas. Ouvimos que você teve que sair com pressa
e achei que Ryan não pensou exatamente em coisas como pijamas,
maquiagem ou absorventes.

Bem, isso era verdade. E, pensando nisso, devo menstruar em


breve e isso não era uma conversa divertida para ter, ei, hum, eu tenho
o diabo vermelho em minhas calças. Você pode me comprar alguns
absorventes? Não é sexy.

— Isso é ótimo na verdade, obrigada, — agradeci, sendo sincera.

— Quero dizer, duvido que você vai vestir pijamas tão cedo, —
acrescentou Fee. — Com todo o sexo. Você está fazendo isso, certo?
Quero dizer, sendo agorafóbica não significa que não gosta de sexo.

— Sim, tenho certeza de que não deveríamos trazer a coisa da


agorafobia, — Lea repreendeu, me dando um sorriso de desculpa.

— Por favor, — disse Fee, revirando os olhos. — Não é grande


coisa.

~ 172 ~
— Acho que o problema é que agora parece que Ryan estava
falando dela pelas costas, — especificou Lea.

— Tudo bem, — disse Fee, virando-se para mim com um sorriso.


— Quando Hunt e eu nos conhecemos ele era meu vizinho e alguns
pontos altos do nosso namoro incluem: ele pensar que eu era uma
vagabunda total só porque me ouvia falar sujo e gemer o tempo todo,
sem perceber que era o meu trabalho; me ver tropeçar em casa bêbada
o tempo todo; ele parar uma tentativa de estupro; me encontrar
desmaiada em uma pilha de meu próprio sangue porque eu costumava
me cortar porque tive uma educação de merda que costumava
dificultar a minha vida às vezes. Pronto, agora você sabe tudo sobre
mim e Hunter.

— Você esqueceu a coisa do vibrador, — acrescentou Lea,


fazendo com que minha testa se encolhesse. A coisa do vibrador?

— Certo! — Fee disse, soando animada. — Então eu não estava


na coisa sexo na primeira vez, acredite ou não. História longa. Na
próxima vez que você tomar duas bebidas comigo, entraremos nisso.
Mas, de qualquer forma, eu estava tentando fingir que não estava
pensando em Hunter quando eu estava... batendo uma siririca, — ela
disse, fazendo uma risada me escapar. — Mas isso foi uma merda uma
noite quando ele veio e encontrou o meu vibrador na pia do meu
banheiro.

— Shane e eu realmente não temos...

— Hum, vai se fuder — Fee cortou-a. — E a coisa do banheiro da


academia? E a coisa do oral enquanto está em cima dos ombros?
Vamos lá. Você tem alguma merda suculenta para contar também.

Ok.

Eu gostei delas.

Isso não era possível?

Claro, ainda havia um pouco da sensação de me sentir uma


estranha, porque não conhecia todas as pequenas histórias, mas elas
eram abertas, engraçadas e acolhedoras. O que mais você poderia
pedir?

Achei que, com algum tempo e contando alguma história, todos


ficariam felizes por me ter por perto.
~ 173 ~
— Ah, e trouxemos porcarias para comer, — disse Lea.

— Graças a Deus, — acrescentou Fee, remexendo as sacolas e


pegando um pacote de Reeces. — Olha, amo minhas crianças. Mas
juro que elas podem ouvir o som de uma embalagem de doces há cinco
quilômetros de distância durante uma tempestade. Nunca tenho
minhas besteiras para comer. E, bem, ainda elas têm vários anos até
menstruarem, então não entendem o perrengue que é precisar de um
chocolate, mas quando entenderem, espero que se lembrem de todos
os doces que roubaram de mim ao longo dos anos e se sintam muito
mal por isso.

— Você foi professora no jardim de infância, certo? — Lea


perguntou, olhando para mim.

— Sim, — concordei, acenando com a cabeça, aceitando um


Reeces quando Fee entregou um para mim.

— Aqui mesmo na cidade?

— Sim, — concordei, me sentindo perdida de novo.

— Uma classe cheia de vinte pequenas Beccas ou Izzys? Como?


Por quê? — Fee perguntou com um sorriso.

— Sempre gostei de crianças. Eu era filha única. Gosto do caos.

— Fee, acho que você acabou de encontrar uma babá, —


declarou Lea, indo para a cozinha e fazendo café como se já estivesse
no local muitas vezes antes.

— Sério, se você quiser ficar louca por algumas horas, sempre


estou procurando por uma babá decente. Para vir aqui hoje, tive que
pagar três meninas do bairro para observá-las por algumas horas.
Trinta dólares por horas, porque nenhuma garota vai aguentá-las.
Elas têm uma reputação ruim.

— Eu ficaria feliz em sair com elas, — ofereci-me. — Você sabe,


assim que eu me resolver.

— Sim, situação louca, — disse Fee, caindo no sofá e apoiando


os pés na mesa. — Olha, Lea tecnicamente ganha de você. Mas ainda é
louco.

— Talvez ela não queira falar sobre isso, — disse Lea, voltando
quando o cheiro de café fresco encheu o ar.
~ 174 ~
— Tudo bem, então podemos falar sobre como Shane cuidou...

Lea limpou a garganta e ambas compartilharam um olhar que,


como não as conhecia o suficiente, não consegui interpretar.

Mas, em seguida, Fee mudou abruptamente o rumo da conversa.


— Este lugar é fantástico, não é? Ninguém fica aqui muito, mas todos
os anos Hunt e eu voltamos aqui para comemorar nosso aniversário
num longo fim de semana. Charlie e Helen ficam em nossa casa com
as crianças. Eles têm serviço de quarto! Ugh, o luxo.

— Por favor, Hunter faz a maior parte da comida de qualquer


maneira, — disse Lea, balançando a cabeça.

— Bem, só porque não sou boa nisso. Nós também temos férias
aqui às vezes. Todos nós viemos aqui no Quatro de Julho para ver os
fogos de artifício sobre o Navesink. É perfeito daqui, — ela disse,
apontando para as janelas.

Então, bem, bebemos café, comemos as tranqueiras e falamos


sobre assuntos leves antes que as coisas se tornassem sérias e
descobrir sobre o passado delas.

E aprendi sobre a infância ferrada de Fee com um pai abusivo


fanático religioso na floresta e isolada de qualquer um além de seu pai,
mãe e irmão. Aprendi sobre como ela fugiu para a cidade de Nova York
e teve que aprender como o mundo real funcionava, com cicatrizes de
seu pai, tanto literal quanto figurativamente, que a fazia se esforçar
para manter-se sã sem álcool e sem se cortar. Então, encontrou Hunt
e alguém que a aceitou assim como ela era, e se recuperou lentamente.

A história de Lea não era menos traumática, proveniente de uma


vida em uma gangue de motoqueiros na qual seu pai e irmão não
fizeram nada para impedir que o presidente do clube a estuprasse e
abusasse dela durante anos. Ela escapou e ele retaliou abusando e
matando uma garota que ela conhecia e machucando seu irmão e
tentando culpá-la para retornar. Ao fugir dele, ela foi trabalhar para
Fee e conheceu Shane e, eventualmente, ele soube da sua ex-situação
e “tratou disso”.

Havia uma espécie de caráter definitivo em suas palavras que


diziam que isso nunca mais seria um problema, mas não continuou a
conversa. Achei que era porque, embora estivesse com Ryan, ainda
não estava exatamente no círculo. Elas mal me conheciam e não
sabiam o quanto podiam confiar em mim.
~ 175 ~
Eu tinha que entender isso.

Estava quase escuro quando Fee, obviamente aquela com menos


filtro, finalmente deixou escapar: — Então, agorafobia...

— Fiona, — disse Lea.

— O quê? Agora somos velhas amigas, — ela disse, balançando a


cabeça. — Não é como se fosse um segredo. Então, foi só a ansiedade
que aumentou? — ela perguntou, surpreendentemente precisa.

— Sim.

— Fazia quanto tempo antes de Ryan forçá-la a sair? Meses...

— Anos.

— Oh, uau, — ela disse, levantando as sobrancelhas. — Então,


você está aqui... isso é enorme. Bom para você.

Foi bom ouvir isso, ter alguém de fora, talvez as poucas pessoas
perto de mim entendessem o que isso significava para alguém como
eu, saber que demorou muito para fazer os movimentos que, para
outros, pareciam pequenos.

— Obrigada, — falei, sentindo o rosto ficar quente.

— Se você tiver um desejo de sair sem pressão, você pode ir a


minha casa, — Fee ofereceu. — No caso de você querer diversificar
com novas zonas seguras e outras coisas.

— Também a convidaria para a minha casa, mas o armazém não


é tão interessante.

— Armazém?

— Sim, Shane decidiu reformar um armazém antigo. É uma


coisa de segurança, acho. É um espaço enorme e aberto.

Um telefone começou a tocar. Bem, não tocando exatamente.


Seu toque era um tema pornô dos anos setenta: bow chicka bow
wooooow.

— Deve ser as meninas. Pelo jeito, as minhas, — ela especificou,


pulando para buscar sua bolsa. — As atuais babás devem estar
amarradas e com fitas adesivas duplas.

~ 176 ~
Com isso, ela foi para cozinha para atender a chamada e Lea
tocou minha perna com o pé. — Você está bem? — ela perguntou,
levantando a testa.

Assenti. — Sim.

— Sei que isso é demais.

— Sei que eu deveria me sentir desse jeito, mas estou bem.


Vocês, na verdade, todos que conheci da família de Ryan, tornaram
fácil. Não sei. Vocês não são como meus velhos amigos ou familiares...
vocês apenas... vão com o fluxo.

Lea sorriu para isso. — A família Mallick é um grupo de pessoas


interessante. Todos são loucos, intensos e únicos, mas para eles...
nada é mais importante do que a família. Assim, se Ry está sério com
você e isso vai a algum lugar, então você também vai ser da família e
eles vão te aceitar como você é. Na verdade, Helen está com vontade de
conhecer você.

— A mãe de Ryan? — perguntei, pensando nas histórias que ele


me contou sobre ela.

— Sim, ela gosta de personagens únicos. Fee com seu passado


distorcido e sexo por telefone. Eu trabalhando meio período no sexo
por telefone e minha formação de motoqueira. E então você com sua
agorafobia.

— Acho que o meu é muito menos interessante do que o de


vocês.

— Talvez, — ela concordou com um encolher de ombros. — Mas


acho que o assunto de Helen tem menos a ver como nossas histórias
são nuas e mais a respeito de como as nossas histórias funcionam
bem para seus filhos. Ryan sempre gostou de garotas doces, legais e
normais. Como quando conheci Ryan, ele trouxe uma garota para o
jantar de Helen e ela era muito doce e muito boa, e quando Helen disse
a ela que Ryan é um executor, ela o despachou. Então, acho que ela
gosta que ele encontre uma garota que é o seu estilo, mas não se
espante com o estilo de vida dele.

— Bem, espero que ela...

— Ah não! — Ela me cortou, estendendo a mão para tocar meu


braço. — Não. Não quis dizer que parece que ela julgaria você ou
~ 177 ~
qualquer coisa. Ela só quer conhecer a garota que finalmente
conseguiu que Ryan ficasse sério. Ela e Charlie querem mais bebês.
Então, se vocês puderem ficar sérios logo, eu apreciaria, porque como
Fee declarou que ela encerrou, eles estão no meu traseiro e de Shane
sobre fazer bebês.

Eu ri daquilo. — Bem, vou me esforçar, — concordei com um


sorriso.

— Isso é tudo o que estou pedindo, — ela disse,


dramaticamente, quando Fee suspirou.

— Tudo bem, tenho que ir salvar as meninas. Acho que elas


estão loucas com minhas diabinhas. E desde que Lea me trouxe...

— Foi muito bom conhecer vocês, — falei, sincera. — E muito


obrigada por todos os suprimentos. Isso foi realmente atencioso.

— De nada — disse Lea.

— Oh, espere, esqueci algo, — disse Fee ao mesmo tempo, indo


para a bolsa e procurando. E então ela tirou a maior caixa de
preservativos que já vi. — O único bom sexo é o sexo seguro, então, até
sentir-se confortável o suficiente para ir a uma clínica novamente,
evite usando estes. Tenho um suprimento ilimitado.

— Já ouvi falar dos seus aquários, — concordei, enquanto ela a


deixou junto com o resto das coisas. — Obrigada, — acrescentei,
enquanto todas caminhamos juntas para a porta e nos despedimos.

Eu estava desempacotando as sacolas, passando a conversa das


últimas horas na minha cabeça. E então me ocorreu.

O olhar que Lea e Fee trocaram em um dado momento.

O fato de Ryan e seus irmãos terem saído juntos.

O modo como a maior parte do dia passou sem que eu


percebesse.

— Aquele bastardo, — declarei ao apartamento vazio.

Fee e Lea não estavam lá para se entrosarem comigo.

Estavam lá como uma distração.

~ 178 ~
Porque ele estava fazendo algo com seus irmãos. E tive uma
sensação forte e quase irresistível de que seja lá o que ele estava
fazendo, envolvia os meus problemas e os de Bry.

Mas antes que eu pudesse me concentrar demais nisso, o som


baixo e calmante do meu toque me chamou da bolsa, onde Ryan tinha
colocado nossos eletrônicos ao lado da lareira.

Pensando que talvez fosse ele, talvez muito excitada e aliviada


com essa perspectiva, atravessei a sala e agarrei-o antes de terminar
de tocar.

— Alô?

— Srta. McRae? — uma voz masculina desconhecida falou, e


algo na cadência de sua voz imediatamente me fazendo endurecer.

— Sim, — eu disse, meu coração já disparado no meu peito. Eu


sabia. Eu sabia sem saber que algo estava errado.

— Srta. McRae você está listada como o contato de emergência


para um Bry Hardy.

Bry.

Contato de emergência.

— O que aconteceu? — perguntei, minha voz um sussurro tenso.

— O Sr. Hardy foi trazido com um tiro de bala...

Não ouvi o resto.

Eu não precisava.

E, ao contrário do tempo em meu apartamento quando minha


vida estava em jogo, não congelei. Não entrei em pânico. Corri pelo
quarto e encontrei meus sapatos, peguei um suéter que estava em
uma das sacolas, tirando as etiquetas enquanto corri para fora da
porta.

Tudo o que pude pensar quando subi pelo elevador e explodi


para o exterior voluntariamente pela primeira vez em anos foi que ele
sempre esteve lá para mim. Não importava o que, ele estava perto de
mim.

~ 179 ~
Eu estaria ao seu lado quando ele precisasse de mim também.

Exceto, que eu não era o contato de emergência de Bry.

E o hospital na verdade não me ligou.

E a merda estava prestes a bater no ventilador.

~ 180 ~
Quinze
RYAN

— Você precisa respirar, — Shane me disse enquanto entramos


no carro juntos. — Ela ficará bem com Lea e Fee. E você sabe que
temos que fazer isso.

Isso significa que tínhamos que lidar com a situação.

Não podíamos sentar e nos esconder na maldita residência. Isso


não era jeito de começar um relacionamento. Nós precisávamos ter
uma chance justa no meu apartamento, onde ela poderia se acomodar
e ficar confortável e sentir que poderia relaxar.

Então, isso significava que eu e meus irmãos estávamos no


caminho para Chaz's para ter uma reunião com o nosso pai e ver qual
jogada achávamos que seria a melhor.

Francamente, não tinha dado tanto importância a toda a


situação quanto a severidade exigida.

No entanto, considerando que era porque eu estava tendo


minhas mãos, boca e língua em toda a Dusty e, finalmente, meu pau
dentro dela, não estava exatamente irritado comigo por causa isso.

O que importava era que ela estava segura. Ninguém passaria


pela entrada se não fossem moradores. E mesmo que você pudesse
fazê-lo, havia apenas um elevador para os dois apartamentos de
cobertura e a única maneira de acessá-los era com uma chave. Cada
membro da minha família tinha uma chave para o elevador e a porta.

O outro morador da cobertura, Ross Ward, era a única pessoa


com uma chave para o elevador. Ele não deixava ninguém chegar perto
de seu apartamento para que ele não ficasse preocupado. Na verdade,
tê-lo do outro lado do corredor quando as meninas estavam lá
sozinhas era outra forma de proteção, caso acontecesse algo. Ele

~ 181 ~
poderia estar ocupado com seu próprio negócio na maior parte do
tempo, mas não ficaria de braços cruzados se ouvisse algo no corredor.

Elas estavam seguras.

Ela estava segura.

Mas era temporário.

Ela nunca estaria totalmente segura até que lidemos com a


situação de uma vez por todas.

Se o Dom fosse tão grande coisa como parecia, não seria fácil.

— Tudo bem, — disse Hunt, empurrando um arquivo na mesa


em que nos sentamos, Chaz’s estava fechado até a hora do jantar. —
Dom Donovan. Traficante de drogas. Estuprador. Assassino. Cabeça
de merda geral, — ele disse, suspirando. — Bry ficou ligado a uma
verdadeira joia.

— Tudo bem, — disse o meu pai, recostando-se na cadeira. —


Realmente, há duas opções aqui. Fazemos uma viagem a Camden e
tentamos conversar com Dom, de empresários para empresário. Mas,
para ser sincero, não vejo como isso vai ajudar. Ele parece ser o tipo
de bastardo que vai pegar nosso dinheiro e depois disparar de volta em
nossa direção.

— Não posso dizer que não concordo com isso, — eu disse,


balançando a cabeça. — Bry não é um criminoso perigoso, mas parece
estar vendendo droga toda a sua vida. Ao que tudo indica, esteve
envolvido com vários traficantes ao longo dos anos, então conhece os
canalhas, mas tem medo de Dom. Me ouviu dizer para sair da rua e ele
saiu correndo. Literalmente. Enquanto estava no telefone comigo.

— Você viu a foto, — acrescentou Eli, corpo rígido, pronto para


entrar em ação, querendo sangue. — Se eles fizeram aquilo com uma
mulher...

— Exatamente, — meu pai disse, balançando a cabeça.

— Então, a outra opção? — Shane alertou, mais calmo do que


você geralmente esperava encontrá-lo. Ele costumava ser extrovertido,
barulhento, louco. Desde que a merda aconteceu com o ex de Lea, ele
passou a ter certa seriedade em relação a situações de trabalho que
não tinha antes.

~ 182 ~
Meu pai encolheu os ombros. — Nós temos alguém para lidar
com isso.

Certo.

O Navesink Bank conseguiu ser a fossa estranha do crime,


porque todos conheciam seu lugar. Todos tinham seu nicho. O
Henchmen MC contrabandeava suas armas. Os Grassis controlavam
suas docas. Nós ilegalmente emprestamos dinheiro. Ross Ward tinha
suas lutas clandestinas. Breaker contratava músculo. O Shooter era
um assassino. V e Lex Keith eram os mais ferrados dos desprezíveis e
traficavam na pele e outros atos deploráveis. Hailstorm fazia... seja lá o
que for que os fodidos Hailstorm faziam.

Quanto às drogas, bem, nós tínhamos dois jogadores principais:


Richard Lyon tinha sua alta cocaína, que ele fornecia, principalmente
a empresários que precisavam de um salto. Depois, havia o Third
Street que tinha sua heroína e outras drogas de rua.

Ninguém mais entrava no Navesink Bank com drogas.


Simplesmente não entrava. Talvez alguém vendesse algum bagulho
como erva, mas nem Lyon nem a Third Street davam a mínima pra
isso.

Tudo funcionava. Não havia guerras. Todos tinham seus


clientes. Ninguém tinha que se preocupar em brigar por merda
nenhuma.

Então, quando novas ameaças começavam a aparecer, um deles


ou ambos eram rápidos para se livrar delas antes de criar raízes e se
tornar um problema para os negócios.

Eles não ficariam felizes em saber que outra pessoa estava


operando sob seus narizes por fodidos anos. Primeiro, porque pode ter
afetado seus negócios sem que eles saibam. Segundo, porque parecia
ruim. Quando se tratava de criminosos, era melhor atrair seu ego, sua
reputação.

— Especialmente Lyon ficará puto com o fato de que algum


porra louca de Camden está sentado rindo sobre operar logo abaixo de
seu nariz, — disse Mark.

— E Third Street está indo mal pra caralho, — acrescentou


Shane. — Enzo está aguentando, mas a taxa de prisão é alta e a
demanda é maior e o fornecimento está ficando cada vez mais difícil,
~ 183 ~
— concordou Mark. — Ele será rápido em reagir quando ele achar que
algo está acontecendo.

— Olha, não que estejamos bem na fita ou qualquer coisa, —


disse Eli, soando razoável, — mas não acho que seria inteligente
colocar um Doberman Pincher contra um Pitbull. Este Dom tem pelo
menos cinquenta traficantes. Parece que ele tem segurança. Enviar
Enzo poderia ser uma missão suicida.

Era um bom argumento e todos nós sabíamos disso, e ficamos


sentados por um momento para pensar na situação.

Foi minha mãe, que eu nem tinha percebido que estava ali
porque ela ficou até tarde no escritório, que apareceu e nos deu uma
terceira opção.

— Nós podemos terceirizar, — ela forneceu, entrando com um


maldito prato de minissanduíches porque, enquanto estávamos
sentados lá, discutindo planos para derrubar um fodido traficante de
drogas, ela ainda era nossa mãe.

— Terceirizar, — meu pai repetiu, estendendo a mão e a


agarrando, puxando-a para baixo em seu colo. Trinta anos estando
juntos e eles ainda agiam como fodessem como adolescentes. Há muito
tempo consegui superar a mentalidade “isso é nojento” e estabelecendo
firmemente no “isso deve ser bom”. E, ultimamente, “talvez isso seja eu
e Dusty daqui a trinta anos”. — Imagino que você tenha alguém em
mente.

Minha mãe encolheu os ombros quando pegou um sanduíche. —


Isso é trabalho grande. Na verdade, há apenas uma organização da
cidade na qual confiaria.

Certo.

— Você quer que a gente consiga uma reunião com Hailstorm. —


esclareci.

Quando se tratava de operações, eles eram muito difíceis de


entender. Eles tinham um grande acampamento de sobrevivência nas
colinas com cerca eletrificada e arame farpado, cachorros e atiradores.
As paredes dos seus prédios eram feitas de material de contêiner. Eles
tinham seus próprios poços, jardins, energia solar, lojas. Do que
qualquer um poderia dizer, suas fileiras estavam cheias de ex-militares
e vários antigos criminosos. O que eles faziam, bem, um pouco de
~ 184 ~
tudo. Eles faziam perseguições. Faziam segurança, golpes e sabe Deus
o que mais.

Lo era a suposta líder, alguém que, até a merda que aconteceu


com The Henchmen e V, todos achavam que era a porra louca de um
homem. Não era assim.

— Pegue esse dez mil que você desperdiçaria com o Dom e dê


para eles resolverem o problema de uma vez por todas. Eles vão fazer
isso, — ela disse encolhendo os ombros.

Talvez fizessem.

— Como diabos nós vamos arranjar um encontro com Lo? —


perguntou Mark, levantando as sobrancelhas, parecendo o menos
convencido do plano.

E foi nessa altura que meu telefone tocou, um número que não
reconheci. — Ryan Mallick, — atendi, levantando-me e me afastando
da mesa.

— Ryan, Ross Ward, — a voz suave veio da outra extremidade,


fazendo-me ficar rígido ligeiramente.

Primeiro, nunca dei ao homem o meu número.

Segundo, sua chamada não podia ser boa.

— Ross, o que está acontecendo?

— Essa merda não é da minha conta, mas sei que você tem uma
mulher que está com você. A loira com o rosto quebrado. Imagino, não
foi você que quebrou...

— Claro que não fui eu quem...

— Então, — ele continuou cortando-me. — Quando eu a vi


saindo em pânico, pensei em dar uma olhada pela janela. Vi ser
golpeada no estacionamento e arrastada para um carro.

Tudo em mim congelou, porra.

Voltei para minha família, minha voz como um chicote, — Ligue


para os fodidos Hailstorm agora mesmo, gritei, fazendo com que todos
me olhassem e congelassem. Eles me conheciam muito bem para

~ 185 ~
saber que eu nunca reagia exageradamente. Sabiam que a merda
atingiu o ventilador.

— Bom plano, — eu estava quase consciente do que Ross disse


no meu ouvido.

— Eles têm Dusty, — acrescentei à minha família enquanto


Shane revirava seus contatos. Ele era amigo de Reign que poderia nos
colocar em contato com Lo. — Ross, preciso do vídeo...

— Já estou no escritório, — ele me cortou novamente. — Vou


pedir para enviar um SMS com detalhes.

— O... — Comecei, mas ele já havia desligado.

— Reign, — a voz de Shane era firme. — Não, não pode esperar,


porra. Ponha-me em contato com Lo... agora. Sim, é sério.

— Quem ligou para você? — Mark perguntou, parado, como


todos os outros de repente.

— Ross Ward. Disse que viu algo. Dusty estava saindo do


apartamento, então ele olhou para fora e ela foi empurrada para
dentro de um carro.

Meu telefone tocou novamente e eu deslizei, — Ross, o que


agora...

— Ele está com Dusty, — a voz desesperada de Bry encontrou


meu ouvido.

— Eu sei. Estamos trabalhando nisso. Como você sabe?

— Recebi uma foto do filho da puta em meu telefone dizendo


para eu encontrar Dom em Camden ou ela pagaria.

— Bry, escute...

— Estou a caminho. Eles não podem estar a mais de cinco


minutos na minha frente e estou quebrando todos os limites de
velocidade do filho da...

— Bry, porra, escuta. Você não pode simplesmente aparecer lá.


Eles não vão soltá-la. Eles vão torturá-la e fazer você assistir, porra, —
disse, minha voz um rumor baixo porque minha mandíbula estava
apertada pra caralho para falar corretamente.
~ 186 ~
— Não posso simplesmente não ir, Mallick. Eu preciso...

— Você vai, — eu o cortei. — Apenas me dê cinco fodidos


minutos para descobrir uma maneira mais inteligente.

— Sim, aqui é Charlie Mallick. Preciso conversar com Lo agora


mesmo, — a voz do meu pai me alertou, mais firme do que tinha
ouvido há muito tempo.

Fiquei parado enquanto ele a colocava na linha e transmitia a


situação o mais rápido possível, depois fez uma pausa para ouvir tudo
o que Lo estava dizendo, o tempo todo, meu coração saindo na minha
garganta, batendo tão forte que senti como se estivesse sufocando
nisso. Foi a primeira vez que senti o gosto do que é ter pânico. E
concluí que, se era assim que Dusty sentia quando saia de sua zona
de conforto, então eu retomaria todas as coisas que falei sobre o
progresso e diria que ela poderia ficar no meu apartamento para o
resto da vida se essa era a única maneira de ela não se sentir assim.

Você sabe... quando a pegar de volta.

— Certo. Claro. Direi a ele. Agradeço que você faça disso uma
prioridade, Lo.

— O que ela disse? — Shane perguntou, pegando o telefone e


deslizando no bolso.

— Disse que era uma hora e meia de carro e ela e seu pessoal
encontrariam um plano no caminho. Ela quer você, — ele disse,
girando a cabeça para mim, — lá fora em dez minutos e ela quer você
com ela. O resto de nós seguirá...

— Pai, não. Hailstorm tem isso. Não preciso de vocês se


colocando... — Sua testa enrugada era tudo que eu precisava para
saber que era inútil tentar discutir. — Tudo bem, — falei, caminhando
para a porta da frente do bar e indo para a rua.

— Não pira e pense com clareza, — advertiu Hunter enquanto


ele saia comigo. — Você não vai ajudá-la se tudo o que você faz é se
preocupar com o que está acontecendo. Se existe alguém que pode
resolver logisticamente essa situação é Lo e sua equipe de
especialistas. Dom pode ser um grande negócio em Camden, mas
Hailstorm é simplesmente o raio de um problema grande pra caralho
pra qualquer um. Eles têm sua reputação por um motivo e não entram
em nada sem pensar e planejar. Eles vão recuperá-la.
~ 187 ~
Como se para provar que estava certo, eu podia ver um comboio
de SUVs pretos que desceram a colina a poucos minutos de distância.

Quando eles pararam, a porta do banco de trás do primeiro se


abriu e entrei para encontrar-me sentado ao lado não de Lo, mas de
uma jovem muito magra, de cabelos negros e coberta de tatuagem,
com um notebook no colo e uma bebida energética em sua mão,
digitando incrivelmente rápido com uma mão.

— Ryan, — uma voz feminina veio do banco do passageiro


quando ela voltou para me encarar. E ali estava ela em todos os seus
lindos cabelos loiros, olhos castanhos, a Lo.fodona. — Então, aqui está
a situação, Jstorm entrou em contato com Ross que enviou a imagem
da placa do carro e a rastreou. A informação nos levou para algum
canalha chamado Ray Cleaver, que tem um registro criminal tão longo
quanto meu braço direito. Lesão corporal, assalto à mão armada, três
acusações por posse de drogas, uma acusação com intenção de
traficar. Oh, e ele gosta de ficar trancado com prostitutas também.
Pelo olhar das fotos das prostitutas, excita-se em torná-lo ainda mais
desagradável para elas, como um trabalho já desagradável que elas
são obrigadas a fazer.

— Porra, — gritei, encontrando-me quase desnecessariamente


irritado pelo som da menina teclando furiosamente ao meu lado,
mesmo que fosse sobre o caso.

— As boas notícias aqui seriam, pelo que Jstorm pode ver no


vídeo, Ray era aquele que dirigia e não o que estava com ela.

— Quem estava com ela, então?

— A imagem é granulada, — Jstorm informou, sem se preocupar


em levantar os olhos do que estava fazendo. — Mas minha melhor
aposta é no homem que seria o braço direito de Dom, que na verdade é
seu irmão, Albert. — Com isso, ela girou o notebook na minha direção
para me mostrar uma foto rápida do homem em questão, em seguida,
retrocedeu o vídeo da segurança do hotel.

Meu estômago apertou forte, observando Dusty explodir para


fora do prédio, frenética. Algo a tinha assustada. Algo aconteceu para
fazê-la sair do apartamento. E eu não consegui descobrir o que poderia
ser. Ela não conseguiu deixar seu próprio apartamento com alarmes
avisando que ela morreria se ela ficasse.

Não fazia sentido.


~ 188 ~
Mas quando ela passou pelo carro, a porta se abriu e um homem
que, de fato, parecia ser Albert, puxou-a e eles aceleraram.

— Por que esta é uma coisa boa?

Jstorm desligou a tela e retomou o toc toc no teclado, pois Lo me


deu uma aparência compreensiva. — Albert parece ter uma cabeça
mais fria em situações como essa. Ele não tem nenhum registro
criminal. Sua única prisão foi por dirigir sem habilitação... quando ele
tinha dezessete anos. Nada desde então. Mas trabalha na organização.
Então acho que ele é o que mantém as coisas calmas e racionais. Ele
não vai encostar o carro para deixar a merda acontecer com sua garota
quando eles sabem, ele sabe, que estão trabalhando contra o relógio
porque Dom já contou a Bry sobre o sequestro. Então, pela próxima
uma hora e meia, ela provavelmente estará bem. E você precisa de sua
cabeça no jogo.

Respirei fundo, balançando a cabeça. — Ok. O que você precisa


de mim?

— Seu telefone, — disse Jstorm, estendendo a mão sem olhar


para cima, então o deixei cair na palma da mão dela. — Preciso
conversar com esse gatinho do Bry antes que ele faça algo estúpido.

— Boa sorte com isso, — falei, olhando pela janela lateral. — Ele
está apaixonado por ela. Provavelmente não vai ouvir a razão agora.

Lo me deu uma olhada, não entendi exatamente até três


segundos depois, quando a voz rápida de Jstorm, sem papo furado,
carregada de palavrões, explodiu no silêncio do veículo.

— Cale-se e ouça-me. Eu sou Janie de Hailstorm e preciso que


você esfrie a porra da cabeça por dois minutos e ouça o plano...

Então, ela disse a ele e a mim e, aparentemente, a Lo, porque eu


tinha certeza de que ninguém nesse carro sabia qual era o plano até
que Jstorm despejou isso para nós.

Mas eu mesmo tinha que admitir que isso poderia funcionar.

~ 189 ~
Dezesseis
DUSTY

Claro que eu não estava na lista de contatos de emergência de


Bry em seu telefone.

Era fácil não pensar bem nas coisas quando você se depara com
uma situação de vida ou morte.

Talvez, três anos antes, isso teria sentido. Nós costumávamos


ser tão próximos. Junto com meu tio, ele estava em meus contatos de
emergência no meu telefone, bem como em meus formulários de
trabalho. Mas Bry passou por pelo menos três telefones desde então e
teve que reprogramar esses números. Ele não teria me colocado
porque acharia que era uma pressão desnecessária sobre mim.

Seu irmão perdedor provavelmente era o contato de emergência.

Percebi meu erro dez segundos depois de sair do prédio e entrar


na rua.

Digamos apenas que quando a porta de um carro se abre e um


cara grande e assustador sai, você sabe exatamente o que estava
acontecendo.

Eu fui enganada.

E seria usada em algum tipo de barganha.

— Pare de lutar, — o cara grunhiu depois de me jogar dentro,


fazendo minha cabeça bater contra a outra porta fechada, o baque fez
meus dentes baterem dolorosamente.

Nem percebi que estava lutando. Tudo era puro, não diluído,
instinto animal. Estava me debatendo e chutando com tudo no homem
que me pegou quando entrou atrás de mim e bateu a porta.

~ 190 ~
— Poderia jogá-la no porta-malas, — veio uma sugestão da
frente em uma voz que enviou um arrepio pela minha espinha porque
reconheci. Uma vez gritou comigo, me amaldiçoou, exigiu saber onde
estava meu estoque.

Minha cabeça girou para olhar no banco da frente, vendo os


olhos no retrovisor que fazia meu estômago apertar. O motorista era
aquele que me espancou. Eu reconheceria aqueles olhos em qualquer
lugar. Isso, e o fato de que seu rosto ainda estava espancado até o
inferno... graças a Ryan. O passageiro estava olhando por cima de seu
ombro para mim e ele era familiar também, era aquele que tinha
procurado em meu apartamento, destruiu-o, tirado todo o conforto que
eu encontrava lá.

— Cale a boca e dirija, — veio a voz quase alarmantemente


calma atrás de mim, apesar do comentário do cara dirigindo, minha
perna chutou e colidiu com algumas costelas duras.

Ele parecia um pouco semelhante com os caras na frente. Havia


certa dureza em tudo sobre ele. Seus olhos eram castanhos escuros,
mas ilegíveis. Seu rosto era um que eu poderia ter achado bonito em
circunstâncias diferentes com suas características fortes, mandíbula
larga, cabelo escuro e completamente hipermasculino. Também era
grande, largo, forte. Parecia ocupar todo o espaço (e o ar) no banco
traseiro.

Minha perna chutou de novo, o medo agarrado de maneira


muito apertada, engasgando-me, fazendo-me reagir sem pensar.

As mãos fortes se moveram e pegaram meus tornozelos,


prendendo-os às suas coxas duras. — Pare de lutar, — ele repetiu,
mas as suas palavras não eram barulhentas ou assustadoras ou
mesmo ameaçadoras. Na verdade, ele disse calmamente para que
apenas nós dois pudéssemos ouvi-lo, seus olhos olhando para mim.

Se não estivesse estrangulada pelo meu próprio terror, poderia


dizer que ele parecia me implorar para entender.

Mas entender o quê? Sequestrar-me?

Não havia como entender isso.

— Deixe-me ir, — sussurrei de volta, meus olhos tão arregalados


que sabia que eles estavam implorando e, francamente, meu orgulho
poderia dar uma linda caminhada porque não havia espaço para isso
~ 191 ~
nesta situação. Se implorar, suplicar, chorar, gritar para minha
mamãe maldita, qualquer coisa poderia me tirar dessa, estava disposta
a tentar.

— Não posso fazer isso, — ele disse de volta, tão humilde, sua
boca mal se abrindo para enunciar, mas entendi perfeitamente bem.

— Que diabos você está fazendo aí, Albert, brincando com a


cadela? — perguntou o motorista, fazendo meu estômago ficar
novamente azedo e me preocupei por um momento quase excruciante
se eu ia ficar enjoada.

— Se você não calar sua boca fodida, porra, e cuidar da sua


maldita vida, vou fazer você estacionar este carro. Mas com o que vou
brincar será seu rabo estúpido, porra.

Essas palavras calaram o motorista, que deu um pequeno


resmungo quando pegou o rádio e o ligou. O alto-falante atrás da
minha cabeça na porta devia estar estragado porque nada saia dali,
que era uma benção porque eu precisava pensar.

A primeira coisa foi o cara atrás comigo, Albert, parecia ser


aquele que estava no comando. Segundo, seu nome era Albert. Eu ouvi
Bry deixar escapar o nome de seu chefe, e ele o chamou de Dom, não
de Albert. Então, quem era o gigante atrás comigo? Apenas alguém
mais importante do que os idiotas que me bateram e me roubaram?

— Não vou contar a ninguém, — tentei, respirando


profundamente, tentando manter o crescente pânico à distância. Não
seria capaz de pensar em qualquer coisa se meu cérebro estivesse
completamente paralisado por pensamentos alimentados pela
ansiedade.

— Não é minha decisão, querida, — ele disse, uma desculpa em


sua voz.

Não precisava de suas desculpas fodidas. Eu precisava de sua


empatia, sua bússola moral, sua percepção de que o que ele estava
fazendo estava além de confuso.

Senti as lágrimas brotarem, inútil, mas incontrolável, apesar de


tudo. Pisquei rapidamente, tentando não mostrar tanta fraqueza. Mas
ele estava me observando e seus próprios olhos fecharam por um
longo segundo, como se não gostasse de vê-las. Mas quando eles
abriram, ele não me deu nenhum tipo de conforto.
~ 192 ~
— Eles me bateram, — informei, fazendo sinal para o banco da
frente. — Eles vão fazer isso novamente. E desta vez, ninguém estará
lá para impedir que eles me machuquem, pior, me estuprem. Me
matarem.

Seu rosto se endureceu visivelmente em “estupro”, mas


novamente... nenhuma ação para mudar o que estava acontecendo.

Desesperada, me retorci no banco, virando metade do meu


estômago com as pernas ainda presas e agarrei a porta, encontrando-a
trancada, mas não conseguindo encontrar nenhuma trava visível para
puxar para cima. Estúpidos, estúpidos carros novos. Sobre o que só
poderia ser chamado de soluço, estendi a mão para a janela, batendo-
a com cada força que poderia dar à posição embaraçosa. Sabia que
não iria quebrá-la, mas imaginei que alguém que passasse dirigindo
ou algo assim poderia me ver e achar estranho e dar um alerta. Sabe,
tipo soltar a lanterna traseira e balançar sua mão fora se estivesse no
porta-malas. De repente, desejei que o motorista tivesse seu desejo
cumprido e eu estivesse lá atrás. Porta-malas tinha travas, pelo menos
havia uma esperança de fuga em uma situação de sequestro.

Mas meus tornozelos foram liberados.

Ainda não conseguiria chutar porque, de repente, seu grande


corpo se curvou sobre o meu, prendendo a parte inferior do meu corpo
com seu peso e agarrando minhas mãos e puxando-as para baixo da
janela, prendendo-as acima da minha cabeça na porta, esmagadas por
seu peso.

Tentei girar, levando meus joelhos, torcendo meu peso para


cima.

Tudo era completa e totalmente inútil. Ele era muito grande,


muito forte, muito firme.

Amoleci de novo com um soluço, virando o rosto para o lado, não


querendo estar cara a cara com ele, mas isso significava que teria meu
rosto enterrado em um de seus braços maciços, lágrimas escorrendo
pelo antebraço.

— Porra, você está tendo alguma diversão sem nós? —


perguntou o motorista, fazendo-me engolir outro soluço, virando-se
para trás e olhando para o rosto dele, sem ver nada além de um ódio
profundo. Mas não por mim, pelo motorista.

~ 193 ~
— Estou tentando manter seu cu fora da fodida prisão, isto é o
que estou fazendo. Não ligo o quanto meu irmão paga por um
advogado, de jeito nenhum você sairia com um segundo sequestro e
tentativa de estupro, seu idiota.

— Seu irmão.

As palavras saíram quando eu só pretendia pensá-las, fazendo


com que seu olhar voltasse ao meu rosto, parecendo um pouco mais
cauteloso.

Seu irmão era Dom, o chefe de Bry.

Seu irmão era aquele quem mandava as pessoas para bater,


roubar, possivelmente estuprar e sequestrar.

Seu irmão.

Qualquer esperança que eu tinha de ele ter um coração, uma


consciência, um ponto fraco, ser uma pessoa possivelmente razoável
que poderia convencer de me deixar ir embora desapareceu.

Senti todas as lágrimas secarem em um segundo.

Os batimentos cardíacos rápidos, a pressão no meu peito, os


pensamentos girando, tudo pareciam parar completamente, deixando
apenas uma compreensão profunda do meu destino.

E chorar não ajudaria.

O mendigar não ajudaria.

Eu precisava relaxar. Precisava pensar. Precisava prestar


atenção em qualquer pequena possível oportunidade de fuga.

— Você se acalmou? — Albert perguntou, as sobrancelhas


erguidas como se não conseguisse entender como eu passava do modo
de ataque e confusão histérica para acalmar e me recolher tão
rapidamente. Acenei firmemente para ele, não confiando muito na
minha voz para não entregar cada pedacinho de rebeldia em mim.

Eu não iria desistir sem lutar.

Não ia deitar lá e receber o que eles tinham para mim.

Mas eu seria inteligente.

~ 194 ~
Ganharia tempo, pensaria em algo e me livraria dessa situação
ridícula.

E naquele momento, anos, uma vida, as gerações de codificação


de DNA pareciam estar revertidas. Porque meu instinto não era
simplesmente entrar em pânico e fugir. Meu instinto não era
necessariamente voar.

Era lutar.

Eu ia lutar.

— Não me faça segurar você de novo, — ele acrescentou quando


me empurrou para trás, soltando meus pulsos.

Trouxe meus braços para baixo da minha cabeça, estremecendo


com a dor, vendo marcas roxas já se formavam de minhas mãos.

Ao ver-me olhando para elas, ele exalou com força, chamando


minha atenção. Ele não disse as palavras. Podia ver em seus olhos que
queria, mas não disse porque não podia, porque isso o deixaria mal.
Mas seu dedo se moveu para baixo e tocou uma das faixas de
hematomas se formando e me deu um olhar que disse isso para mim.

Desculpa.

Mas desculpe não era bom o suficiente.

Desculpa era fraco, triste e vazio quando não tinha uma ação
por trás dela.

Então, enquanto lentamente me ajeitei no banco, desviei o olhar


e não aceitei o pedido de desculpa.

Era contra minha natureza e quase me senti mal por isso. Mas a
questão era: eu não poderia criar algum tipo de vínculo emocional com
meu sequestrador porque pretendia fazer o que fosse necessário para
fugir. Mesmo que isso significasse rastejar sobre seu cadáver.

Passei muito da minha vida me escondendo, tendo medo, não


experimentando coisas. E finalmente, finalmente comecei a sair dessa
vida.

Não estava perdendo isso.

Não iria desistir sem lutar.


~ 195 ~
A viagem de carro parecia não ter fim, suficientemente longa
para sentir um peso no meu estômago, algo parecido com medo, com
nada além de meus pensamentos e o som de uma gravação ruim de
um rap de rua machucando os ouvidos.

Pontos turísticos passavam, familiares, mas desfocados com o


tempo que decorreu desde que os vi.

Podia sentir um suor frio começar em cada centímetro de minha


pele quando cruzamos um lugar onde só estive uma vez, só porque
sediava o maior aquário de Jersey. Fui lá com meu tio e nós
estacionamos tão perto das portas e saímos da cidade antes de
escurecer. Paranoico? Talvez. Mas, novamente, quando uma cidade
como Camden era conhecida pelo crime, era sábio não correr riscos.

Passamos por uma área movimentada, gente dentro e fora das


lojas, nada nem um pouco ameaçador à vista. Mas quanto mais
andávamos, menos gente eu via, nós passamos por os edifícios mais
degradados, meio dilapidados. Grafite com diferentes níveis de talento
artístico cobria alguns dos edifícios vazios, alguns se destacando mais
do que outros:

Pare o ódio.

Levante Camden.

Fique rico ou tente compartilhar.

Quase tive uma estranha sensação calorosa meu peito. Por dois
minutos, até ver a imagem de uma mulher que ocupava toda a lateral
de um prédio, nua, segurando seus seios, um raio laser saindo de sua
vagina e essa sensação escapuliu para o inferno.

Dirigimos por uma rua estreita com pequenos prédios


degradados alinhados de um lado, a maioria dos quais parecia não ter
janelas, e do outro lado um muro de contenção coberto de grafite.
Momentaneamente me perguntei o que estava escondido atrás dele,
até que de repente desaceleramos e viramos em um portão aberto,
indo para trás do referido muro de contenção.

E o pensamento dominante que atravessou era, uma cerca de


cadeia poderia ser escalada, um muro de contenção não.

Uma vez que o portão se fechasse, eu não voltaria.

~ 196 ~
Por sorte, não parecia ser uma operação altamente funcional
porque ninguém estava trabalhando nos portões e os dois homens que
vi na área estavam parados em um canto fumando. Eles nem sequer
olharam quando entramos.

Meu coração estava saindo pela minha garganta quando o carro


parou e o passageiro saiu sem mesmo olhar para trás. Albert saiu do
seu lado e andou ao redor do capô para, suponho, vir me buscar. Mas
o motorista ainda ficou lá.

As portas estavam destrancadas.

E, sem mesmo me dar conta da ideia chegando, coloquei o braço


entre a porta e o banco do motorista, soltei o cinto de segurança e
empurrei meus pés contra a parte de trás do banco. Ele bateu no
volante com uma maldição enquanto voei para o outro lado onde
Albert esteve sentado, puxei o trinco da porta e pulei para fora.

Nem olhei para ver se estava sendo seguida.

Não me deixei pensar que era uma cidade de merda e que


qualquer coisa também poderia acontecer comigo lá.

Apenas corri.

Passei pelos portões e cheguei à rua, minha pulsação batendo


nos meus ouvidos, tão forte que nem ouvi os passos atrás de mim.

Não tive nenhum aviso antes de mãos agarrarem a minha


cintura por trás exatamente quando cheguei ao fim do muro de
contenção sinuoso, apenas um suspiro longe de uma chance de
liberdade.

— Não lute, — uma voz recém-familiar disse uma frase recém-


familiar. E, bem, eu não faria exatamente o que me mandassem, não
é? Levantei-me e tentei me libertar, agarrando os braços que me
seguravam. Tomei fôlego para gritar apenas para ter uma mão ao redor
da minha boca. — Querida, pare, — ele disse, nem mesmo o mínimo
de falta de fôlego, quando de repente senti-me puxada para trás.

Mas quanto mais ele me arrastava de volta, mais eu lutava,


arranhando, unhando, mordendo, jogando meu peso no corpo tanto
quanto seu domínio forte permitia.

~ 197 ~
Não parei nem quando fui puxada para dentro dos portões e os
ouvi fechar atrás de mim, enquanto fui arrastada para o prédio que
nem tinha percebido antes, baixo e sem janelas, parecendo tão
abandonado como muitos dos outros que tínhamos visto pelo
caminho. Mas, a julgar pelo pequeno grupo de homens que estava na
entrada, ele parecia apenas aparentemente vazio, provavelmente para
impedir os policiais de espionarem.

— Sua fodida puta estúpida, — o motorista gritou quando nos


aproximamos, esfregando o peito que devia estar ferido da colisão
contra o volante. — Mal posso esperar para fazer você pagar por isso.
Mostrar o que tinha planejado fazer antes quando seu namoradinho
salvou sua bunda. Aliás, eu e todos os caras aqui vamos gostar de...

— Feche a porra da boca e saia do meu maldito caminho, —


disse Albert, fazendo dois outros rirem. — Você quer que eu conte ao
Dom que você é a razão pela qual estamos de pé na merda da luz do
dia com uma prisioneira quando a gente devia estar lá dentro e fora da
vista de olhos curiosos, porra?

Com isso, o homem realmente empalideceu e senti o estômago


apertar com tanta força que dobrei para frente, tanto quanto o agarre
de Albert permitia. Se aquele desprezível empalideceu com a menção
do nome de Dom, ele devia ser algo muito ruim que nunca se viu
antes.

E meu destino estava em suas mãos.

Albert moveu-se para me empurrar a frente e não pude, não


consegui pensar em mais nada além de plantar meus pés. Então foi o
que eu fiz. O braço de Albert no meu estômago apertou um pouco,
quase reconfortante, antes de me apertar e me levantar dos meus pés
e me levar torpemente para a entrada, os homens se afastando do
caminho para nos permitir passar.

O interior estava tão escuro como se pensaria do lado de fora.


Não ajudava que as paredes estivessem pintadas com um cinza tão
escuro que era quase preto. As paredes eram de blocos de concreto,
conduzindo a um longo corredor de volta para o que parecia um
entroncamento de três direções diferentes.

Eu estava vagamente ciente do movimento de passos atrás de


nós enquanto Albert me levava pelo corredor para a direita e, no meio
caminho, na entrada de uma sala. Era enorme. Em sua vida anterior,

~ 198 ~
poderia ter sido usada como algum tipo de centro de recreação ou
academia ou sala de conferências. As paredes ainda eram de blocos de
concreto, escuras e sem janelas. Mas o teto tinha longas tiras de
iluminação fluorescente superior que me fez estremecer com a falta de
naturalidade disso. Do lado esquerdo da sala, contra a parede, como
se estivesse confirmando minhas suspeitas sobre o espaço, havia um
pequeno palco, talvez a apenas noventa centímetros do chão.

Naquele palco havia três cadeiras.

Na cadeira central estava Dom.

Não havia como confundi-lo.

Ele e Albert poderiam ter sido gêmeos.

Tudo sobre ele parecia escuro e cruel, de seus olhos ao jeans e a


camiseta pretos, e a cicatriz de um lado de seu rosto. E estava sentado
lá, como se fosse um rei diante de sua corte.

— Bem, finalmente, — ele disse, sua voz um pouco mais nasal


do que a de seu irmão, uma característica que achei quase divertida
mesmo dada a situação. — Pegou o caminho mais longo?

— A putinha conseguiu... — começou o motorista.

— Estava falando com meu irmão, — Dom o interrompeu. — A


putinha estúpida fez o que, Al? — ele perguntou e contra a mão de
Albert, podia sentir meus lábios se enrolarem com nisso. Você poderia
dizer muito sobre um homem vendo como ele usa livremente a
“palavra com P”.

Pelo o estado das pequenas marcas arranhões ensanguentadas


em seus braços e rosto, ele não estava exatamente em posição de
mentir. — Ela resistiu um pouco, — disse Al, fazendo minha barriga
apertar novamente e tudo em mim queria dar um giro e acertá-lo tão
forte quanto a minha pequena estatura permitiria. Como se atreve a
tentar me tranquilizar, me chamar de querida quando estava me
levando para casa como um rato ao seu dono?

— Estou vendo, — disse Dom, olhando por cima de seu irmão


antes que seus olhos se movessem para mim. E fez uma inspeção
sobre meu rosto, meus seios, meu estômago, minhas pernas. Senti
como se cada centímetro do meu corpo estivesse sujo. Tive um desejo
estranho e quase irresistível de arrancar minha pele, como se insetos
~ 199 ~
houvesse sob ela, como se estivessem se contorcendo. — Oh, bem, —
ele disse, me dando um sorriso. — Por que é que vocês caras sempre
perdem a melhor parte? Ela é uma diabinha linda e pequena, não é?
Acham que ela tem uma bela buceta para combinar com esse rostinho
bonito?

Oh Deus.

Fechei os olhos, tentando me forçar a respirar, tentando não


ficar doente, simultaneamente desejando que houvesse uma maneira
de prender minha respiração até eu morrer sem o instinto de
sobrevivência entrar em cena... ou talvez engasgar com meu próprio
vômito. Nada, literalmente nada além de ter as mãos dele e de seus
homens em mim.

— Por que você não a traz um pouco mais perto, Al? Preciso
bater um papo com ela. — Albert me levantou novamente, me
colocando de pé com os dedos de meus pés encostados no palco. —
Acho que você pode soltá-la agora, — disse Dom, acenando com uma
mão desdenhosa em direção ao banco ao lado dele, convidando seu
irmão subir. — Ela não vai a lugar nenhum com Ray de guarda, certo
Ray? — ele perguntou e, a contragosto, virei minha cabeça
ligeiramente para ver o motorista. Ray.

— Certo. Ela não vai a lugar nenhum até eu conseguir tudo


dessa bunda apertada dela.

— Isso vai ficar para mais tarde, — disse Dom, fazendo com que
minha barriga se revirasse de forma ameaçadora. — Uma coisa de
cada vez, primeiro temos que esperar o outro convidado.

Havia apenas outra pessoa sobre a qual eles poderiam estar


falando.

Bry.

Oh, Deus, Bry.

Engoli a bile subindo na minha garganta, sabendo exatamente o


que estava em nosso futuro. Bry apareceria e então nos revezaríamos
observando o outro ser torturado de vários modos horríveis.

E naquele momento, diante do meu sombrio futuro, apenas um


pensamento realmente veio à mente.

~ 200 ~
Ryan.

Ryan e seus olhos perfeitos, seu sorriso amável, suas palavras


reconfortantes, suas mãos que poderiam ser gentis e ásperas de
maneiras deliciosas. Mãos que provavelmente nunca mais sentirei.
Olhos para os quais nunca mais olharei. Um sorriso que nunca mais
me deixará aquecida. Palavras que nunca mais ouvirei.

Tudo o que restava para mim era a dor, o medo e a feiura.

E, sem poder evitar, me perguntei se ele saberia o que aconteceu


comigo. Ele era um bom homem. Mais cedo ou mais tarde descobriria
que eu estava desaparecida, e não voluntariamente, e ele me
procuraria. Mas ele iria me encontrar? Teria um corpo a ser
encontrado? Eu seria apenas pedaços descartados por toda parte?

Com lágrimas mais uma vez picando meus olhos quando olhei
para os meus pés, me perguntei uma última coisa louca: será que ele
sentiria minha falta? Era uma loucura porque era irracional. Talvez ele
sentisse um pouquinho de saudades, de alguma maneira passamos
um tempo interessante. Mas as coisas eram tão novas. Nós ficamos
juntos apenas alguns dias. Só tivemos relações sexuais duas vezes.
Para um homem como ele, provavelmente não era grande coisa.
Enquanto que para mim, era tudo. Ele era tudo.

Acho que foi uma sorte ter conseguido um pouco dele. Isso foi
menos patético que uma história de vida. A menina que cresceu
arrastada como uma bagagem, facilmente deixada quando não era
necessária ou desejada, então construiu uma vida digna apenas para
perder tudo por causa de uma doença mental e depois ser estuprada e
brutalmente morta por traficantes de drogas.

Pelo menos, havia um pequeno romance para animá-la um


pouco.

Antes do fim trágico.

— Então, você é quem tem mantido um olho nas minhas drogas


para mim nos últimos anos, hein? Nunca provou a mercadoria? — ele
perguntou, fazendo minha cabeça disparar.

Não sei o que deu em mim, mas não consegui segurar as


palavras. — Não sou uma viciada em drogas.

~ 201 ~
— Oh, ela fala, — disse Dom, sorrindo perversamente. — Tem a
voz tão doce, também. Gosto disso. Elas gritam melhor. Certo, Al? —
ele perguntou, dando um tapa no braço do irmão.

— Não sei, — respondeu Al, olhando para mim.

— Sim, essa merda. Um escoteiro de merda.

— Tenho certeza de que não violar as mulheres não o torna um


escoteiro de merda. Apenas um ser humano decente.

Sim, não consegui segurar isso também.

Aparentemente, fiquei um pouco louca quando estava prestes a


ser torturada e morta.

Pelo menos não morreria como um ratinho manso. Gastei


bastante da minha vida assim, com medo de coisas que nunca
aconteceram, com medo de monstros estúpidos e invisíveis. Diante de
pessoas da vida real, não iria me acalmar, chorar e deixar o medo
ganhar.

— Oh, cabeça quente. Gosto disso também. Vejo que você gosta
de lutar, — ele disse, fazendo um gesto para o irmão que, agora que
olhei bem para ele, parecia ter sido atropelado por um rolo
compressor. Havia cortes desagradáveis e sangrando das minhas
unhas em cima e embaixo dos antebraços e mais duas na sua
bochecha. Havia um hematoma em semicírculo na carne macia entre o
polegar e o indicador, onde eu o tinha mordido momentaneamente,
mas com cada força que minha mandíbula tinha.

Não tive uma resposta ao comentário de Dom, então fiquei com a


boca fechada, concentrando-me em tentar lembrar de respirar e
continuar engolindo a bile, que sentia subindo na garganta com cada
segundo que passava.

Houve uma pequena confusão no exterior da sala e fiquei tensa


conforme se aproximava. — Chefe, — alguém chamou do lado de fora
da porta. — Ele está aqui.

Não.

Não, não, não.

Por que diabos ele viria?

~ 202 ~
Ele tinha que saber que era uma armadilha, que ele não podia
me salvar.

Eu sabia que ele me amava, mas que adiantaria vir e


simplesmente assistir a coisas ruins acontecerem comigo? E depois ser
ferido e provavelmente ser morto?

— Mande entrar, — Dom disse e eu podia sentir seus olhos no


meu perfil quando me virei para encarar a porta.

Houve mais confusão, então, como um pesadelo do qual não


conseguiria acordar, Bry entrou.

Seu olhar nem sequer percorreu a sala.

Seus olhos encontraram meu rosto e ficaram lá quando ele se


aproximou, estendendo a mão e para segurar a minha tão forte que
fiquei genuinamente preocupada que pudesse quebrar os ossos.

— Isso é tão doce, — disse Dom, dando-nos um olhar de


desprezo desagradável. — Não é doce, Ray? — ele perguntou.

— Será ainda mais doce quando me assistir foder sua mulher


até ela gritar.

Havia um som vindo de Bry que nunca tinha ouvido antes. Veio
do fundo do peito e era uma espécie de ruído, algo parecido com um
rosnado. Quando levava seu amigo para o meu apartamento, às vezes
poderia ser um pouco mais frio e distante. Normalmente, quando ele
estava ao meu redor, era bom, doce, observador e engraçado. Nunca o
vi realmente aborrecido.

Mas não se engane, ele ficou irritado com aquele comentário.


Todo o seu corpo parecia estar tremendo com isso.

Então, quando falou, ele não se importou com o tom ou com as


palavras que ele falou. — O que diabos você quer de nós, Dom? Você
pegou suas pílulas de volta. Não pense que não sei que foi esse merda,
— ele disse, apontando para Ray, — e um dos seus outros lacaios que
fez isso também.

— Espertinho, — disse Dom, balançando a cabeça. — Soube que


seus métodos não foram o que combinamos. O que quero de você, —
ele disse, levantando uma sobrancelha, — é te fazer de exemplo para
todos os outros não esquecerem as fodidas regras.

~ 203 ~
— Não havia nenhuma fodida regra sobre onde eu colocasse o
maldito fornecimento, Dom, e você sabe disso.

O que diabos ele estava fazendo?

Olhei para o seu perfil, meus olhos esbugalhados, apertando sua


mão esperando que transmitisse a mensagem que eu tentava entregar
com os olhos: Está tentando irritá-los? Cala a boca!

E apesar de nos conhecermos a maior parte de nossas vidas e


poder ter conversas não verbais assim, ele estava completamente me
ignorando.

— É algo que meus outros homens simplesmente entendem.

— Bem, agora foi esclarecido. Aliás, não sei como isso veio à
tona, Dom. A menos que, Ray e seu parceiro andaram abrindo a boca
sobre eu ser o único que estava negociando em Navesink Bank. Não
sei por que estou sendo feito de exemplo, quando você tem alguns
caras com uma fodida língua solta, o que é uma ameaça muito maior
para sua organização.

— Basta, — disse Dom, acenando a mão em direção a Bry.

Aparentemente, essa era uma espécie de sugestão não verbal,


porque, quando me dei conta, Ray estava do outro lado da sala
agarrando Bry, puxando-o para o lado. Sua mão apertou a minha,
novamente como garantia, antes de me soltar completamente. Quando
tentei buscá-lo novamente, Ray estendeu a mão livre e me empurrou,
derrubando-me no chão.

Caí de lado com uma dor aguda desde meu quadril até o meu
ombro.

Mas quase não senti isso, toda minha atenção se concentrou em


Bry enquanto ele estava sendo afastado. Assim que ele tentou girar de
volta para mim, me vendo cair, o braço de Ray recuou e balançou,
socando solidamente em seu estômago e fazendo-o cair de joelhos,
respirando com dificuldade.

— Não! — gritei, incapaz de evitar a histeria borbulhando como


nunca antes.

— Cale a boca, putinha, ou você será a próxima.

Não ouvi a confusão. Não ouvi nenhum dos homens gritando.


~ 204 ~
Não ouvi nada fora do normal.

Exceto no segundo seguinte, uma voz que não tinha estado na


sala antes falou, rompendo a tensão como o estalo de um chicote.

— Cuidado para me chamar de putinha também? Quer dizer, eu


tenho as partes certas do corpo para isso.

E lá estava uma mulher.

Bem, uma olhada nela para saber que ela não era meramente
uma mulher. Era uma força a ser considerada. Não era que fosse
excessivamente volumosa ou cortante ou intimidante. Na verdade, ela
tinha um corpo feminino perfeitamente cheio de curvas, com pernas
longas, quadris largos e uma bela comissão de frente. Vestia de forma
um tanto militar com calças de camuflagem e uma camiseta cavada
curta, justa. Tinha longos cabelos loiros e olhos castanhos quentes,
inteligentes e observadores. Mas havia algo mais nela. Havia um ar de
autoridade e força.

Ela ficou na entrada com a cabeça inclinada para o lado, calma


como poderia estar. Como se todos os dias ela entrasse no complexo
de um traficante de drogas.

Por um momento fiquei preocupada de que talvez ela fizesse


parte da organização ou algo assim. Até Dom ficar rígido em sua
cadeira. — Quem diabos é você?

— Eu sou Lo. E esta, — ela disse, andando para o lado e


permitindo que outra mulher entrasse em cena. Ela era mais jovem, de
cabelos pretos, olhos azuis e coberta de tatuagens, — é Jstorm. E esse,
— ela continuou quando Jstorm entrou para permitir espaço na
entrada novamente, — é Ryan Mallick, — ela disse e senti como se
minha barriga tivesse caído nos meus pés.

Ryan?

Mas, mesmo quando eu tentava me convencer de que estava


ouvindo coisas, alucinando, perdendo minha cabecinha sempre louca,
ele entrou.

Assim como quando Bry entrou, ele não olhou para os homens
no palco. Ele não olhou para Bry no chão ou Ray parado sobre ele.
Seus olhos foram e ficaram em mim. Parecia haver mil palavras em
seus olhos profundos.
~ 205 ~
Mas não era hora nem lugar.

— Que porra você está fazendo aqui e onde diabos estão os meus
homens? — Dom gritou, sentando-se direito, mas parecia que se
recusava a deixar seu trono improvisado.

— História engraçada, — disse Lo, recostando-se contra a porta,


casual como quis. Quem era a mulher? — Você emprega um bando de
ratos de rua, sem qualquer treinamento. Olha, o primeiro cara a puxar
uma arma para mim, ele a estendeu em um ângulo. Pelo amor de
Deus. Como um gângster em um filme. Ridículo. Desnecessário,
digamos, eles foram fáceis de desarmar e controlar. Minha gente e as
de Mallick os colocaram em uma das outras salas.

Eles os encurralaram em uma sala.

Então, eles essencialmente... controlavam a situação?

Eu não seria estuprada e assassinada.

— Você não é tão patético como pareceu no telefone, — disse a


outra mulher, Jstorm, falando para Bry.

— Puxa, obrigado, — disse Bry, ainda parecendo sem fôlego, e


me preocupei com suas costelas.

— Por que você está aqui? Você quer a puta? — Dom perguntou,
agitando uma mão em minha direção. Foi nessa altura que pensei em
me levantar ligeiramente, me colocando de joelhos.

— Vamos levar a menina, — Lo disse, uma pequena irritação em


sua voz. — Também iremos levar o seu ex-revendedor com a gente.

— É aí que você passou dos limites, — disse Dom, a voz ficando


firme. — Ele é meu. Ele fez uma tremenda cagada. E vou lidar com ele
como eu quero.

— É engraçado, você falar como se tivesse qualquer influência


aqui. Você não tem.

— Eu não sei que merda é... — Dom começou levantando-se da


cadeira e alcançando a cintura de seu jeans.

Já vi muitos filmes para saber o que ele tinha lá.

~ 206 ~
E sabia suficiente sobre probabilidades para saber que ele
poderia colocar uma bala em pelo menos uma das outras pessoas na
sala antes que alguém pudesse pegar uma arma e atirar nele. Se eles
sequer tivessem armas. Eu sabia que Ryan era um agiota e tudo, mas
estava certa de nunca ter visto uma arma com ele quando estava ao
seu redor.

Mas, como quis o destino, sua mão nunca alcançou sua arma.

Porque, em uma ação que nunca poderia ter previsto, não


importa quantas vezes pudesse ter imaginado a situação, Albert
ergueu a mão. Peguei um flash de prata antes que ouvir o estrondo.

Então, toda a lateral da cabeça de Dom explodiu.

Explodiu.

Vermelho disparou de um lado, espirrando em todos os lugares


enquanto seu corpo cambaleava e depois desabou.

Tanto quanto dói o meu orgulho admitir isso, eu gritei.

E quero dizer... gritei.

E não parei até sentir uma mão apertar meus os olhos e quando
um braço circulou minha cintura, puxando-me para trás.

Eu não precisava ver para saber.

Ryan.

~ 207 ~
Dezessete
RYAN

O plano que Jstorm elaborou foi surpreendentemente simples.


Não havia nenhuma ostentação para isso. Era uma invasão rápida e
seca, desarmamento e contenção. Na verdade, era isso. Nós, o que
significava eu, Lo, Jstorm, o cara que dirigia, cujo nome era Malcolm,
junto com uma dúzia de outras pessoas acompanhando em SUVs e
minha família inteira que seguia atrás em seus próprios veículos,
minha fodida mãe incluída, todos saíram dos carros depois que um
dos homens de Lo no SUV atrás de nós saiu e destrancou o portão
para que todos pudéssemos entrar.

Então, Lo saltou e caminhou até o primeiro cara que viu nossa


presença, um garoto com uma Glock. Ele a estendeu em um ângulo
que, aparentemente, ela achou tão divertido, pois jogou a cabeça para
trás e riu antes que seu braço direito cruzasse seu corpo, agarrando
todo o lado da arma, depois trazendo o punho esquerdo em um soco
curto no maxilar do homem. Era cômico como ele foi rapidamente
nocauteado e jogado no chão e Lo com a posse de sua arma.

De lá, todos os outros saíram de seus respectivos veículos e me


entregaram uma arma, olhando para trás para ver que meus pais e
meus irmãos trouxeram as suas próprias, algo que muito raro, quase
nunca carregamos.

E então, simplesmente, agimos, todos cientes, cada um


derrubando uma ameaça antes que pudessem gritar ou ter a chance
de atirar, chamando a atenção do chefe para nossa presença.

Uma vez que eles foram dominados de joelhos em uma sala, os


caras e as garotas de Lo, e minha família, ficaram lá para manter um
olho sobre eles. Nós três caminhamos pelo corredor ao som de vozes.

~ 208 ~
Se eu não tivesse sido avisado severamente por Lo e depois por
Jstorm, esta última muito mais agressiva, para ficar calmo e deixar Lo
tratar disso, teria parado do outro lado da porra daquela sala com ela.

Nunca, na minha fodida vida, estive tão preocupado com algo ou


com alguém como estive com ela nas últimas duas horas. Foi um
sentimento de enfermidade constante, esmagadora e consumidora.
Todos os piores cenários horríveis surgiram em minha mente.

Ao vê-la naquele chão, tudo dentro de mim me implorou para ir


até ela, deslizar minhas mãos sobre ela e ter certeza de que não estava
ferida em qualquer lugar.

Mas não pude.

Eu devia a Lo e os Hailstorm mais do que o dinheiro que pagaria


por isso. Eu lhes devia o meu respeito e cooperação.

Então, fiquei onde estava.

E me confortei com o fato de que ela estava totalmente vestida,


nem mesmo um sapato faltando, então o pior dos casos
definitivamente não aconteceu. E além do que parecia serem
hematomas em seus pulsos e a vermelhidão em seus olhos que
insinuava as lágrimas, parecia não haver feridas.

Eu poderia examiná-la assim que a situação fosse tratada.

A verdade era que situação ainda estava um pouco instável até


Dom, Albert e Ray Cleaver serem neutralizados.

A última coisa que eu esperava, porém, era um maldito motim.

Irmão atirando em irmão.

Era bem bíblico em sua simplicidade.

Uma bala na cabeça e nenhum de nós tivemos que sujar as


mãos.

Lo e Jstorm levantaram suas armas, inseguras da situação,


enquanto Dusty gritava, o rosto torcido de horror quando se sentou
congelada, observando a bala rasgando o crânio de Dom, observando a
massa do cérebro espalhar em todos os lugares, observando seu
cadáver cair no chão.

~ 209 ~
E, bem, foda-se as regras.

Foda-se respeito e gratidão.

Ela precisava de mim e elas só teriam que lidar com isso.

Eu me apressei atrás dela, apertando minha mão sobre seus


olhos, embrulhando meu braço ao redor de sua cintura e arrastando-a
para trás, olhos focados no homem com a arma.

Bry se torceu de sua posição, soltando um grito de dor e ficou


claro que ele tinha uma ou duas costelas quebradas, mas ele fez isso
de qualquer maneira, chutando os joelhos de Ray e fazendo-o voar em
suas costas.

— Bem, certamente não é uma perda para nenhum de nós, —


disse Lo, calma, como sempre, e me perguntei o tipo de coisas que ela
tinha supervisionado e se envolvido em sua carreira para torná-la tão
imperturbável.

— Eu estava esperando uma oportunidade para fazer isso, —


admitiu Albert, voz um pouco áspera e acho que matar seu próprio
irmão faria isso com um homem. Ele levantou as mãos por um
segundo, mostrando rendição, depois baixou lentamente a arma no
chão, chutando-a.

— Não que não estejamos satisfeitos por não ter que fazer isso
nós mesmos, mas gostaria de nos contar por quê?

— Imagina um verdadeiro lixo... Lo, é isso? — ele perguntou,


sentando de volta. — E não por alto. Eu me refiro a conhecer de
verdade. Comer com eles, compartilhar a porra das férias com eles. E
ter que ouvir essa merda, ouvi-los se gabar de toda a merda doentia
que eles fizeram? Os homens que torturaram e mataram? As mulheres
que estupraram e mandaram estuprar? Se você tivesse mesmo uma
pista de como era, você entenderia isso.

— Claro, mas por que agora? — Lo pressionou e eu estava


vagamente ciente de Bry subindo em cima de Ray e começando a
espancá-lo violentamente. O que, bem, não pude culpá-lo. Também
teria espancado aquele homem.

Jstorm passou por Lo e foi ficar de pé do lado dos homens.


Imaginei que estava se assegurando de parar Bry antes de ele matar o
homem.
~ 210 ~
— Não podia deixar ele por suas mãos sobre ela, — disse Al,
estendendo uma mão em direção onde eu ainda tinha Dusty puxada
contra mim, seu corpo completamente em colapso contra mim, seu
peito tremendo como se estivesse chorando, embora silenciosamente.
— Já é ruim pra caralho saber que o desgraçado faz essa merda com
as mulheres, mas não saber disso na hora. É completamente diferente
receber ordens para buscar uma mulher para ser espancada,
estuprada e morta.

— Mas você a trouxe aqui, — Lo especificou, tentando entender.

— Uma vez que ele tivesse sua pequena audiência com ela,
imaginei que poderia tirá-la daqui e dizer que ela escapou. Este lugar é
apenas impenetrável na frente. A parte de trás do prédio é cheia de
janelas e merda para as antigas salas de aula.

— Você poderia ter me deixado fugir, — Dusty disse, me


surpreendendo o suficiente para soltar minha mão. Sua voz era alta,
parecendo explodir para fora dela. E, acostumado com ela falando
silenciosamente, murmurando e sussurrando e timidamente dizendo
sua opinião, foi chocante. — Eu tentei fugir. Estava fora e você me
arrastou de volta!

— Querida, — disse Albert, balançando a cabeça. — Havia


quatro caras naquele pátio. Eles teriam dito a Dom que eu deixei você
ir.

— Tudo bem, — interrompeu Lo. — E agora? — ela perguntou,


olhando Albert.

Foi então que Jstorm, com uma série de palavrões, tentou tirar
Bry de Ray. Quando ele não respondeu a nada disso, ela levantou sua
pesada bota de combate e bateu em seus quadris, derrubando-o.

— Eu assumo. Você leva o sua gente e vai embora. Nunca mais


ouvirá falar de nós.

Lo endireitou os lábios. — Isso poderia funcionar. Apenas um


aviso, estamos espalhando para todos traficantes locais para manter
um olho em qualquer pessoa nova em nossas ruas. Dizer que não vão
lidar com isso tão amigavelmente como estamos fazendo agora seria
um eufemismo.

— Ficaremos fora de Navesink Bank, — Albert disse com um


aceno de cabeça e, apesar de não conhecer o homem, acreditei nele.
~ 211 ~
— Você fica a trinta quilômetros de Navesink Bank em todas as
direções ou voltamos com uma das criações de Jstorm. Elas são de
grande variedade de explosões, — ela especificou com o que parecia
um sorriso quase materno para a mulher mais nova.

— Entendido, — concordou Albert.

Olhou os olhos para Al, mas se dirigiu a mim. — Por que vocês
não seguem em frente e saem daqui? — ela sugeriu, alcançando no
bolso e jogando uma chave. — Bry, você também. A gente te leva para
o hospital assim que voltarmos para a cidade. — acrescentou.

Não hesitei, agarrei Dusty e a levei comigo, encontrando-a


estranhamente pouco cooperante. Mas nos foi dado a chance de sair e
eu estava fazendo isso. Puxei-a pelos corredores, acenando com a
cabeça para Shane quando ele chamou minha atenção ao passarmos
pela sala onde estavam prendendo as pessoas de Dom, agora as de Al.

Então corremos para fora e não parei até me sentar no banco de


trás do SUV que me levou até Camden, fechei e travei as portas. Bry
me deu um olhar que dizia não querer isso, mas me deixaria sozinho
com ela e ficou fora do carro.

— Dusty, querida, respire, — pedi, tentando manter minha voz


calma, mas mais do que um pouco de desespero se infiltrou no meu
tom.

Ela nem estava olhando para mim, seus olhos arregalados e


aparentemente sem ver. Minha mão estendeu e pressionou seu
estômago com força. — Respire, — repeti.

Isso pareceu funcionar quando ela sugou ar avidamente, sua


barriga se expandindo. Seus olhos se moveram para mim, olhando-me
como se estivesse me vendo pela primeira vez.

E então a barragem apenas... quebrou.

Seus olhos inundaram e ela apoiou rosto no meu peito, seus


braços envolvendo minha cintura com tanta força que ficava difícil
respirar.

— Está tudo bem, — murmurei, as mãos deslizando ao redor


dela, escorregando suas costas e percorrendo seus cabelos. — Eu
tenho você. — acrescentei, puxando-a para frente e no meu colo.

~ 212 ~
— Como... você... — ela começou, fungando forte de uma
maneira que eu não deveria ter achado divertido, mas ela estava viva,
ilesa e em meus braços. Então, eu iria em frente e ficaria encantado
por isso.

— O morador na outra cobertura. Ele pensou que algo estava


acontecendo e olhou pela janela e viu você sendo sequestrada. Ele me
ligou. Chamamos Hailstorm. Você viu o resto.

— O que... é... Hailstorm?

— Essa é uma pergunta boa pra caralho. — concordei, olhando


pela janela da frente quando Lo, Jstorm e Malcolm saíram, seguidos
cuidadosamente por minha família, depois o resto do grupo de Lo que
se espalharam, virando-se de frente para o prédio, com armas ainda
em punho, e caminhando de costas em direção aos carros, criando
uma parede humana.

Treinados.

Altamente, altamente treinados.

Seja quem forem os fodidos Hailstorm, apostava que eles faziam


isso bem.

Meu pai tocou ligeiramente na janela quando passou, me dando


um aceno de cabeça, depois se dirigindo para o SUV.

Bry subiu no outro lado do banco traseiro, Jstorm passando por


nós para outro SUV e Lo e Malcolm entraram também.

Então, como se tivéssemos acabado de parar para um rápido


jantar, todos nos acomodamos e saímos.

Quanto a mim, não respirei até que estávamos de volta na rua


principal. Como se estivessem da mesma forma aflitos, ninguém mais
parecia inclinado a quebrar o silêncio também.

Quando ficamos fora dos limites da cidade, alguém finalmente


falou. E esse alguém, sem surpresa, foi Bry.

— Ei, Sunshine, — ele disse calmamente, extremamente


hesitante, usando seu odiado nome do meio. Eu sabia que ele se
sentia culpado. Embora, na verdade, era apenas uma situação
insustentável e ela estava, afinal, bem. — Não fique bravo comigo,
Dust, — ele apelou, necessitado, desesperado pelo perdão.
~ 213 ~
— Não estou com raiva de você, — ela murmurou contra meu
peito.

— Você não pode sequer olhar para mim, — ele apontou.

— Estava olhando muito para você lá dentro. Tentando


comunicar silenciosamente com você para...

— Fechar a porra da boca antes que nós dois morrêssemos, —


ele concordou, balançando a cabeça, fazendo a dela girar para olhar
para ele. — Eu sei.

— E ainda...

— Eu sabia que nada iria acontecer, Dusty. Não iria colocá-la


em perigo de propósito. Você me conhece melhor do que isso. Eu
apenas... aquele filho da puta fez com que os homens te espancassem
e roubassem de você seu pequeno refúgio seguro. E daí, para piorar
tudo, você foi sequestrada? Eu não poderia ficar de pé como uma puta
e ficar quieto.

— Eu meio que me provoquei Dom também, então acho que não


posso culpá-lo, — ela disse, passando as mãos em suas bochechas,
nem tentando se afastar de mim e eu não teria deixado nenhuma
maneira.

— Você? — Bry perguntou exatamente o que eu queria saber. —


Você não provoca ninguém.

— Aparentemente, quando as pessoas fazem piadas sobre me


estuprar, eu faço isso.

Podia ver Bry empalidecer, provavelmente sentindo a mesma


sensação em seu interior com a ideia de ela ter que ouvir essa merda.

Houve uma pausa longa e tensa enquanto Bry a olhava, com as


sobrancelhas juntas. — Você não está pirando, — ele observou,
parecendo completamente confuso com isso.

— Estive, ah, habituando-me a ser arrastada contra minha


vontade, — ela admitiu com um pequeno sorriso bamboleante
enquanto ela olhava para mim.

— Lembra da última vez em que você saiu? — Bry perguntou,


chamando minha atenção e dela também enquanto ela olhava para

~ 214 ~
ele. — Nós fomos para um almoço tardio porque o restaurante estaria
mais vazio e achamos que ficaria bem.

— Bry... — ela disse, balançando a cabeça, obviamente, não feliz


com a lembrança.

— A maneira como você estava tremendo e aquele olhar de


absoluto terror em seus olhos, Dusty, nunca pensei que alguma dia
iria vê-la outra vez fora de casa sem aquele olhar. E aqui estamos
depois que você foi sequestrada e, porra, você não tem aquele olhar. —
Ele fez uma pausa lá, exalando uma respiração profunda e me dando
uma breve olhada. — Tenho que agradecer a você por isso, — ele disse,
aceitando uma realidade que eu sabia que o estava matando. Eu era
bom para ela. Ajudei-a onde ele não podia. — Estou feliz por vocês, —
ele acrescentou enquanto olhava para ela, seus olhos transmitindo
uma mensagem do jeito que só irmãos ou velhos amigos podiam, algo
que eu não conseguia decifrar, mas Dusty esticou e pegou sua mão,
dando um aperto antes de deixá-lo novamente e descansar no meu
peito.

Foi então que vi Lo.

Ela estava completamente virada em seu banco e nos observava,


estranho sorrisinho divertido no rosto.

— Oh, não se importem comigo, — ela disse, balançando a


cabeça. — Preciso de pipoca ou algo assim. Eu amo um bom romance.
Por que ninguém está se beijando? — ela acrescentou com uma risada
provocadora.

Aparentemente, a dona Lo-fodona, chefe dos fodidos Hailstorm,


que acabou de negociar um acordo para salvar duas pessoas com
quem eu me preocupava e ainda neutralizou uma gangue inteira e
assistiu a um homem ser assassinado, sem sequer piscar, era uma
romântica da porra.

Vai entender essa merda.

— E agora? — ela perguntou quando todos se sentaram um


pouco desconfortavelmente com seu comentário anterior. — Quero
dizer, acho que vocês dois farão a coisa felizes para sempre, — ela
disse, sorrindo para mim e Dusty. — Aliás, quero um convite para o
casamento, — ela acrescentou e Dusty riu, fazendo um sorriso surgir
nos meus lábios. — Mas e você? — ela perguntou a Bry.

~ 215 ~
Para isso, ele soltou um bufo estranho. — Como se eu soubesse,
caralho. Não tenho outras habilidades.

— Hum, idiota, — Dusty disse, balançando a cabeça. — Você


tem muitas outras habilidades que poderia usar. A droga foi saída fácil
e você sabe disso.

— Sim, e não é por nada, — disse Lo, — mas nem Third Street e
nem Lyon vão querer qualquer coisa com você agora. Então, em
Navesink Bank sua chamada carreira acabou. É hora de arrumar um
jeito de ganhar dinheiro honesto.

Com isso, como se percebendo que Bry precisava de um tempo,


Lo virou para frente e ligou o rádio. Bry olhou pela janela.

Inclinei-me, pressionando um beijo no lado da cabeça de Dusty.


— Você está bem? — murmurei, abraçando-a apertado.

Ela respirou fundo e virou a cabeça, então estava no meu


pescoço, plantando um doce beijo lá. — Agora estou.

— Eu não deveria ter deixado você, — acrescentei, balançando a


cabeça.

Poderia ter feito a reunião no hotel e pedido a Dusty para ficar


no quarto ou ter a reunião na merda do saguão.

Jogada estúpida.

Mas pensei que, se ela ficasse, estaria segura.

Nunca poderia ter previsto que ela fosse sair.

— Você me deu companhia, — ela disse, olhando para cima, me


dando um sorriso divertido. Ela se divertiu com Fee e Lea.

— Você se divertiu com as meninas?

— É possível não se divertir? A Fee é uma viagem, — ela disse,


balançando a cabeça.

— Espere um pacote de presente em breve.

— Já tenho um monte.

— Sério? O que você ganhou?

~ 216 ~
— Apenas pijamas e coisas para meninas e porcarias para comer
e...

Ela se afastou, as bochechas estavam ficando rosa e eu sabia


que isso tinha que ser o que causou aquela reação. — E?

— E, — ela apertou os lábios, pensando, então me deu um


sorriso. — Acho que podemos preencher nosso próprio aquário agora,
— ela disse e eu ri.

Fee e seus preservativos.

— O próximo presente provavelmente exigirá baterias, — eu


disse a ela, sabendo que era a maldita verdade. Quando ela e Lea se
tornaram amigas, Fee a arrastou para um sex shop para ajudá-la a
escolher um vibrador. Fee era assim.

— Oh, bem. Eu já... — ela começou a admitir antes de se parar,


olhando ao redor conscientemente, claramente consciente, de que
tínhamos uma audiência. Mas ninguém estava prestando atenção.

— Sério? — perguntei, sentindo uma onda de excitação um


pouco inadequada na ideia. — Onde posso encontrar esses itens em
seu apartamento? Temos que ter as coisas importantes conosco, certo?

Para isso, ela riu e não pensei que iria conseguir mais. Mas
então ela se inclinou ligeiramente, seus lábios realmente roçando
minha orelha e me disse: — Segunda gaveta do meu criado.

Foi um maldito e inoportuno momento para o meu pau ficar


duro.

Mas ficou mesmo assim.

A julgar pela forma como seus olhos ficaram um pouco


aquecidos, ela sentiu isso.

— Dusty, — a voz de Bry chamou, fazendo-a pular como se ela


fosse pega no flagra e eu sabia com certeza absoluta que estava
molhada só de pensar no meu pau. O que, bem, só deixou ainda mais
duro pra caralho.

— Sim? — ela perguntou, com a voz com apenas o menor toque


de falta de ar que ele não, mas eu com certeza, sabia o que era desejo.

~ 217 ~
— Como diabos eles a levaram para fora do hotel? — Bry
perguntou o que fiquei pensando por horas, mas estava muito aliviado
com sua presença para lembrar de perguntar.

Lo também se voltou um pouco de seu banco, interessada.


Durante a viagem, a história toda foi contada, incluindo o fato de
Dusty ser agorafóbica.

— Recebi uma ligação que parecia ser do hospital, — ela


começou, balançando a cabeça como se tivesse feito algo
genuinamente estúpido e, olhando para trás, envergonhada. — Eles
disseram que eu era seu contato de emergência, — ela disse, olhando
para Bry, — e que você foi baleado. Nem mesmo parei para pensar em
como fui estúpida, como não tinha como eu ser seu contato de
emergência. Apenas... corri. Nem terminei de ouvir a pessoa no
telefone. Apenas saí de lá e... bem... eles estavam contando com isso.

Bem, isso fez muito sentido.

Claro que era algo assim, algo envolvendo uma das únicas duas
pessoas que a amaram o suficiente para ficar ao seu lado. Ela não
podia sair para salvar a si mesma, mas era absolutamente o tipo que
poderia se controlar para estar ao lado de alguém que sempre estava
com ela.

— Você é, — a voz de Bry cortou um longo silêncio enquanto


todos digeriam sua história.

— Eu sou o quê? — perguntou Dusty, cabeça inclinada para o


lado.

— Você é o meu contato de emergência. Sempre foi.


Provavelmente sempre será.

— Mesmo que eu não conseguisse... — começou Dusty, apenas


para ser interrompida.

— O contato de emergência é quem você quer informar se algo


acontecer com você, quem melhor conhece seus desejos. Quem diabos
vou colocar? Minha família que não vejo há anos? É você, Dusty.
Sempre será. Imagino que mesmo se não pudesse sair do
apartamento, poderia dizer a eles por telefone para deixarem a porra
do meu plug em paz, se isso acontecesse. Ninguém vai puxar a tomada
dos aparelhos pra mim.

~ 218 ~
Ela sorriu para ele, gostando que ele confiasse nela o bastante
para isso. Ela ficou em silêncio por um longo tempo, olhando para o
colo. — Ei, Bry?

— Sim? — ele perguntou, olhando por cima, de repente pareceu


que os acontecimentos do dia estavam se aproximando dele, fazendo-o
parecer pálido e cansado.

— Talvez, assim... uma semana ou duas... acho que podemos


tentar o jantar de novo e ver se é... melhor desta vez. Quero dizer, sem
promessas, mas...

— Duas coisas, — ele cortou o que certamente seria um pouco


seguro e tímido. — Um, o restaurante mudou de proprietário e a
comida é péssima, pura gordura e açúcar. Dois, você nunca precisa
tentar me prometer nada. Você sabe disso.

— Desculpe interromper o pequeno momento que todos estão


tendo, — disse Lo, dando a todos um sorriso. — Mas, além dele no
hospital, — ela disse, balançando a cabeça para Bry, — onde estamos
deixando o resto de vocês?

— Chaz's, — respondi imediatamente, onde estava meu carro.

— Tudo bem, — disse Lo, voltando para frente quando chegamos


mais perto da cidade.

— Onde estamos indo? — perguntou Dusty, parecendo tão


cansada quanto eu.

— Pensei em passar outra noite ou duas no hotel, só para me


certificar. Então podemos voltar para o apartamento. Desculpe, é só...

— Não se desculpe. Gosto do hotel, — ela disse, me dando um


sorriso melancólico. — Sempre vou ter duas boas lembranças desse
lugar.

Pensando como ela, inclinando-me para que meus lábios


esticassem o lóbulo da orelha dela. — Logo que chegar lá, vou te dar
mais duas, — prometi.

O braço apertou-me e ela enterrou a cabeça novamente.

Nós deixamos Bry com um convite para ir ao hotel pela manhã.


Fomos para o Chaz’s, onde coloquei uma Dusty meio adormecida em

~ 219 ~
meu carro, pegando algo do porta-luvas, depois levando-o e
entregando a Lo.

— O que é isso? — ela perguntou, pegando.

— Dez mil. Eu realmente agradeço por isso, Lo. E agradeça a


Jstorm por mim também, — acrescentei. — Pegue, — insisti quando
ela parecia hesitar. — Sem ofensa, mas não quero dever aos Hailstorm.
Acho que tem sido bastante louco em nossas vidas como está.

— Entendido, — ela concordou, jogando-o na porta aberta de


seu SUV. — Mas se você precisar de nós novamente, não hesite.

Com isso, ela pulou e desapareceu.

— Não posso dizer que gosto da quantidade de problemas que as


mulheres que vocês escolheram para trazer para esta família tem
ligado a elas, — meu pai disse enquanto caminhava, — mas acho que
mantém um homem jovem, — acrescentou, apertando uma mão no
meu ombro.

— Pai...

— Não agora, — ele disse, balançando a cabeça. — Você tem


uma mulher para levar para casa e consolar. Todos nos recuperaremos
assim que as coisas se estabelecerem.

Com isso, ele jogou um braço ao redor do ombro da minha mãe e


os dois foram embora.

— Recebi dezoito mensagens de Fee sobre o quanto ela gosta de


Dusty, — Hunter disse, acenando seu telefone para mim. — E então,
vinte e quatro pedindo atualizações enquanto estávamos fora.

— Eu ia zoar de você, — Shane concordou, olhando para o seu


próprio telefone, — mas recebi doze de Lea, então não posso dizer
merda nenhuma. Bem, — ele disse, acenando com a cabeça para mim,
— foi divertido. Nada como um pouco de invasão e assassinato para
manter os irmãos próximos. Mas tenho uma mulher em casa que
precisa de algum, ah, consolo. Até mais tarde.

Hunt também disse adeus que me deixou com Eli e Mark.

— Não tenho uma mulher em casa, mas acho que existem pelo
menos... dez mulheres em Navesink Bank agora, que poderiam
precisar de algum consolo, certo? — ele perguntou, me dando um
~ 220 ~
aceno de cabeça e entrando no Chaz’s, o que, apesar de todos os
proprietários estarem em uma pequena missão fodida, ainda estava
aberto. Negócios, como sempre.

— Ela é uma boa mulher, Ry, — Eli me disse, balançando a


cabeça, depois seguindo Mark no bar. Embora provavelmente ele não
estivesse à procura de uma mulher, inevitavelmente a encontraria.

Havia, aparentemente, apenas algo sobre Eli.

Quanto a mim, bem, eu planejava levar minha mulher para


casa.

E consolá-la.

Esse era o plano de qualquer maneira.

~ 221 ~
Dezoito
DUSTY

Flutuei dentro e fora da consciência no banco da frente de Ryan


enquanto ele conversava com o grande grupo de pessoas, dois dos
quais obviamente eram seus pais. Seu pai parecia exatamente com
seus filhos com alguns anos extras sobre ele.

Eu não deveria ter conseguido dormir.

Com o meu usual ciclo de ansiedade, qualquer pequeno soluço


na vida me deixava dando voltas na cama, obcecada, durante horas a
fio até que meu corpo ficasse cansado demais para deixar meu cérebro
ficar mais acordado.

Mas lá estava eu, depois de um dia, na verdade, uma semana,


do inferno e estava flutuando tão feliz como um bebê saciado.

Era uma das muitas das coisas em que precisaria pensar. Algum
dia.

A batida da porta de Ryan me deixou meio acordada e lhe dei


um sorriso sonolento quando sua a mão foi para a minha coxa e
apertou.

Então estávamos dirigindo.

E tudo estava bem.

Até que passamos pelo prédio onde morávamos e lembrei-me.

— Pare, — sussurrei, disparando para cima no meu banco.

— Querida, o que é...

— Oh, Deus. Ok. Tudo bem. Um... telefone. Preciso do seu


celular.

~ 222 ~
— Tudo bem, — ele disse, desacelerando o carro e me
entregando o celular. — Aqui. Mas o que está acontecendo?

— Como eu poderia esquecer? — eu me amaldiçoei, digitando o


número no celular e iniciando a chamada. — Ele já deve ter feito um
B.O. na polícia, — acrescentei.

— Seu tio, — concluiu Ryan, enquanto eu apenas escutava o


toque.

— Atenda o telefone, — rosnei para ele quando foi para o correio


de voz. Desliguei e tentei novamente. Nada.

— Dusty, qual é o endereço dele? — Ryan perguntou


calmamente, fazendo minha boca se separar um pouco e uma risada
estranha e histérica escapou de mim.

Endereço.

Certo.

Porque poderíamos simplesmente... dirigir até lá.

Fazia tanto tempo que minha realidade era aquela que realmente
me esqueci que havia outra maneira de contatá-lo do que por telefone.

Então dei a Ryan o endereço, apenas três ruas, e paramos na


frente de uma casa que literalmente não havia mudado nada desde
que estive lá. Os tijolos eram vermelhos e vigorosos como sempre
foram. As persianas, molduras e portas eram todas brancas, porque
meu tio acreditava em conservar sua casa.

Senti uma onda de nostalgia quando alcançamos os trincos de


nossas portas ao mesmo tempo, enquanto Ryan segurava a minha
mão, enquanto andávamos pelo caminho, quando levantei a minha
mão para bater. Um aperto estranho na minha barriga, excitada com a
ideia de ele poder me ver funcionando de novo, fora do meu
apartamento outra vez.

A luz exterior acendeu-se e a porta se abriu.

E lá estava meu tio Danny.

Ele tinha um aspecto sábio.

~ 223 ~
Era alto e um pouco magro, com o cabelo loiro cortado de forma
elegante com um corte profundo afiado e escovado de volta no topo.
Tinha olhos verdes como os meus, mas um pouco mais escuros.
Sempre o tipo casual, ele vestia jeans e um camiseta branca.

— Jesus Cristo! — ele explodiu assim que seus olhos pousaram


em mim. Não houve nem uma hesitação antes de estender a mão e me
puxar contra seu corpo, me abraçando apertado. Era o tipo de carinho
que ele muitas vezes não me ofereceu e, portanto, era a evidência de
como tinha estado preocupado. — Seu apartamento foi destruído, —
ele disse em meu cabelo.

— Fui roubada há alguns dias, — admiti, sentindo a culpa bem


forte. Embora ele tenha sido tudo o que tive no mundo por um longo
tempo, eu também era tudo o que ele realmente tinha. Pelo menos
quando se tratava de relacionamentos íntimos.

— Você está fora, — ele disse, como se percebendo o significado


disso pela primeira vez, recuando e olhando para mim. Seu rosto
estava tenso e lembrei ainda tinha ainda tinha arranhões e
hematomas e estava um pouco inchada. — Seu rosto.

— Obviamente eu estava em casa quando eles invadiram, —


informei, odiando-me por não dar toda a verdade, mas entendi que
haveria uma hora e um lugar para isso e que não era agora. — Eles
não eram tímidos no departamento de tocar em mulheres. Felizmente
para mim, Ryan entrou, — Falei, olhando para trás e gesticulando
para ele, fazendo os olhos do meu tio ir para lá pela primeira vez. —
Ryan, esse é meu tio, Danny. Tio Danny, Ryan.

Eles apertaram as mãos e fizeram essa avaliação masculina por


um minuto. — Eu lhe devo uma, — meu tio disse, dando-lhe um aceno
de cabeça.

— Penso que devo mais a você, — disse Ryan, fazendo com que
as minhas sobrancelhas e as do meu tio se juntassem em confusão.
Mas então o braço de Ryan saiu e passou pela minha parte inferior das
costas, puxando-me para o lado dele.

— Entendo, — disse Tio Danny, dando-lhe um aceno de cabeça.


— Bem, entre. Preciso ouvir onde diabos você estava quando passei
por lá.

Ele nos convidou a entrar e quase ri quando notei as


semelhanças entre as casas de Ryan e Danny. Ambos diziam
~ 224 ~
“solteirão” com seus tons escuros e resistência por qualquer
quinquilharia.

— Alguma chance de você ser o Ryan que vive no andar de


Dusty? — ele perguntou, andando e abrindo a geladeira, agarrando
três cervejas e tirando-as para fora.

— Esse seria eu.

— Eu pediria desculpas pelos recados “desculpe-nos, não


encontramos você”, mas você nunca limpa sua fodida caixa de correio.

— Justo, — Ryan concordou, rindo um pouco quando ele tirou a


cerveja das minhas mãos porque eu não conseguia abrir a tampa e ele
fez isso sozinho.

— Isto é novo? — perguntou o tio Danny, acenando entre nós


enquanto se sentava em sua cadeira.

Uma coisa que eu sempre apreciei sobre meu tio enquanto


crescia e começava a namorar era que... ele nunca foi todo um “pai”
comigo ou meus namorados. Na verdade, quando eu tinha cerca de
dezesseis anos, ele jogou uma caixa de preservativos na minha cama e
me informou: — Sei que você vai namorar. Faça você mesma e a seu
velho tio um favor e certifique-se de que esteja sempre segura.

Foi isso.

Ele nunca tentou assustar os meninos que vieram me buscar ou


mesmo questioná-los. Ele apenas deixou-se levar, entendendo que era
uma parte da vida. Eu não era mais uma menina e faria o que queria,
independentemente de suas opiniões. Então ele as guardou para si
mesmo.

— Sim, — admiti, balançando a cabeça.

— Desde o Natal, — Ryan acrescentou com um aceno de cabeça.

Danny assentiu, bebendo um gole da garrafa. — Tudo bem,


quanto tempo você saiu de seu apartamento sem eu saber e por que
você não me contou?

Senti-me sorrir com a mudança abrupta na conversa. A fase de


“conhecer o namorado” terminou.

~ 225 ~
— Acho que desde o dia anterior à véspera de Ano Novo, —
respondi, achando que era tão próximo da verdade quanto possível. —
Mas então fiquei só... do outro lado do corredor porque meu
apartamento estava bem, destroçado.

Danny assentiu, aceitando isso. — E sobre hoje?

Ryan olhou para mim, uma das sobrancelhas levantou o


mínimo, como se ele estivesse pensando sobre o que eu iria inventar,
que não o preocuparia. — Eu estava conhecendo os irmãos de Ryan e
depois ele, Bry e eu saímos para um... rolê. Então lembrei que não
liguei para você e nós paramos aqui. Sinto muito, eu fiz você se
preocupar.

— Campeã, qualquer preocupação que atravessei valeu a pena


por ver você de pé na minha porta.

Senti meu coração espremer no meu peito e, sem conseguir me


conter, voei para ele, pousando em seu colo como a garotinha sempre
fazia. E seus braços me abraçaram como sempre, um pouco tímido no
começo, mas depois apertado e reconfortante.

— Não acho que alguma vez te agradeci por estar sempre lá por
mim, — eu disse a ele, minha voz baixa. Estava ciente de, em algum
momento, ter falado com Ryan sobre isso, mas naquela hora, era para
mim e meu tio.

— Você não tem nada para me agradecer, garota.

— Não quero dizer apenas quando eu era pequena, embora


também seja por isso. Quero dizer, nos últimos anos. Sei que não foi
fácil para você me ver lutando. E você e Bry... foram os únicos que
ficaram comigo. Eu realmente valorizo isso mais do que já lhe disse.

— Pare, — ele disse, sempre ficando desconfortável com


exibições abertamente de emoções. Talvez fosse algo que eu tinha
herdado dele. — Isso é família, — ele acrescentou, encolhendo os
ombros. — Agora, melhore, — ele pediu, me acariciando, obviamente
me dando carinho suficiente para durar o dia, o mês ou ano.

Falamos por mais alguns minutos, terminamos nossas cervejas


e depois nos despedimos. Era tarde e meu tio tinha que estar de pé no
início do amanhecer.

~ 226 ~
— Ele gosta de você, — falei para Ryan enquanto entramos no
carro e nos afastamos.

— Nós mal conversamos, querida, — ele disse, balançando a


cabeça.

— Eu sei. Mas ele ainda não é tão falador. Além disso, você é
quem me tirou do meu apartamento.

— Por causa de um vazamento de gás e um assalto e depois um


sequestro, — ele disse, olhando por um segundo com um sorriso
irônico.

— Sim, bem, ele não sabe disso, né? — adicionei com meu
próprio sorriso enquanto entramos no estacionamento do hotel.

Ryan estacionou e veio ao redor do carro para mim. Houve uma


pequena facada de desconforto nauseante enquanto caminhávamos
pelo local onde eu tinha sido levada. Como se estivesse sentindo, sua
mão alcançou a minha e a apertou. Ele não soltou até que
estivéssemos em segurança atrás da porta da cobertura.

— Banho? — ele perguntou, já conhecendo minha rotina.

— Deus, sim, — admiti, querendo lavar um dia cheio de medo e


preocupação e as mãos de outros homens em mim.

— Companhia? — ele perguntou, inclinando a cabeça para o


lado. — Não vou prometer que vou controlar minhas mãos, —
acrescentou, com os olhos um pouco aquecidos.

— Não vou prometer que não vou gostar disso, — acrescentei,


sorrindo.

Nunca tomei banho junto com um homem. Uma chuveirada,


claro. Mas, geralmente, era um apressado, “estamos atrasados e
precisamos trabalhar e pare de monopolizar a droga da água quente”.
Não tomei tanto banho em minha vida antiga. Tinha muita coisa
acontecendo, não tinha tempo sobrando para descansar em uma
banheira. Além disso, minha banheira me irritava.

No entanto, tive uma sensação quando movi e enchi a banheira,


deixando cair bombas e observando enquanto as pétalas de flores
passavam pela água, sorrindo um pouco melancolicamente, mais do
que eu realmente gostaria.

~ 227 ~
— Pode ser um pouco estranho se eu for a única pessoa pelada
na banheira, — Ryan anunciou, voltando a atenção para o lado onde
eu o encontrei de pé apenas em sua cueca boxer preta, com uma
sobrancelha levantada para mim.

— Oh, certo, — disse, balançando a cabeça para mim mesma.


Uma onda de ansiedade completamente ridícula surgiu na minha
barriga enquanto eu alcançava a bainha da minha blusa. Este era um
homem que me tinha visto nua. Várias vezes. Ele em tocou, me beijou
e me lambeu em quase todas as partes de mim. Era bobo me sentir
insegura.

Mas, a ansiedade me lembrava, sempre feliz de brincar de


advogado do diabo, que é diferente quando se está no calor do momento
e roupas estão voando e hormônios estão furiosos e tudo que se pode
pensar é chegar a um orgasmo. Isso é completamente diferente.

— Que tal eu fazer isso? — perguntou Ryan, esticando as mãos,


pegando a blusa e tirando-a de mim. Havia apenas uma hesitação
antes que seus dedos encontrassem meu botão e zíper e ele estava
puxando o tecido pelas minhas pernas.

Houve uma pausa, então, seus dedos roçaram suavemente o


meu quadril, minhas costelas, minhas costas. Seus dedos abriram os
fechos de meu sutiã e puxaram o material livre. Quase
simultaneamente, minhas mãos alcançaram sua cueca e suas mãos
alcançaram minha calcinha e nós dois estávamos nus.

Ele não fez uma pausa. Virou-se e subiu na banheira,


alcançando-me e puxando-me também.

— Poderia me acostumar com isso, — ele admitiu, me


encostando contra o seu peito, suas pernas ao meu lado, os braços
cruzados sobre meu peito e barriga, seus lábios pressionando
suavemente na minha têmpora.

E eu não poderia estar mais de acordo.

Eu poderia me acostumar com isso.

— Fale comigo, — ele pediu suavemente, sua mão começou a


roçar suavemente sobre minha barriga. Não era sexual, mas teve o
mesmo impacto que se fosse. Meu corpo não podia ser tocado por ele
sem perceber os sinais.

~ 228 ~
— Não tenho nada a dizer, — murmurei, virando a cabeça para o
lado, meu rosto descansando em seu peito.

— Querida, você foi enganada, raptada, mantida refém,


ameaçada e resgatada e você não tem merda nenhuma para dizer?

— Na verdade não, — eu disse, sorrindo um pouco quando ele


bufou.

— Como seus pulsos ficaram assim? — ele perguntou, seu dedo


se movendo através de um dos pulsos em questão, fazendo meu olhar
o seguir.

Como suspeitava, eles pareciam muito pior do que a última vez


em que olhei para eles. Cada um tinha uma faixa de fundo roxo e azul
ao redor, inconfundível pelo que era.

— Albert estava na parte de trás comigo e eu, hum, estava


tentando fugir e ele me impediu.

— Você o pegou muito bem. Aqueles arranhões eram de


aparência brutal.

— Também o mordi, — acrescentei, sorrindo um pouco.

— Boa garota, — ele disse, sua mão começando a mover-se para


cima e para baixo na minha coxa em um ritmo delicioso e eu sabia que
estava absolutamente destinada a ser provocada. — Você quer me
perguntar qualquer coisa? — ele perguntou quando seu dedo roçou o
local onde minha coxa encontrava meu quadril.

Além de quando seu dedo iria me tocar dentro e acabar com o


tormento? — Nada que eu possa pensar, — murmurei, deixando as
pernas se abrirem levemente, convidando-o para entrar.

— Bem, então, se a conversa terminou... — Ele parou quando


seu dedo finalmente se moveu para dentro, acariciando minha fenda e
esfregando meu clitóris com uma exploração preguiçosa.

— Ryan... — gritei, minhas unhas se enterrando em suas coxas


enquanto ele mantinha o ritmo incrivelmente lento, me deixando alta,
irritantemente devagar.

— Ainda não, — ele disse, beijando minha testa.

~ 229 ~
— Por favor, — implorei, meus quadris se movendo para
encontrar sua mão, tentando se aproximar.

— Nuh-uh. Fizemos de um jeito duro e rápido. Quero


experimentar do jeito lento e doce.

Tão bom quanto lento e doce soou, meu corpo não queria ouvir
sobre isso. Queria apenas se satisfazer.

Com apenas esse pensamento em mente, usei os joelhos para


me levantar, virando para encará-lo quando saí da banheira e peguei a
toalha me envolvendo nela.

— Bem, — falei, forçando as palavras e tentando realmente não


me ruborizar, — você pode ficar aí e fazer a coisa romântica lenta e
doce você mesmo...

— Ou? — ele perguntou, sorrindo maliciosamente e, naquele


ângulo, olhando para ele, pude ver o quão duro ele já estava.

— Ou você poderia me encontrar na cama e fazer a coisa rápida


e dura, — sugeri, certificando-me de que meus pés estivessem secos
para não arruinar meu rebolado na minha saída, balançando minha
bunda, e me afastei do banheiro.

Ouvi a cascata de água enquanto ele estava de pé, e me obriguei


a não olhar para trás quando entrei no quarto onde rapidamente me
sequei o máximo que pude e descartei a toalha.

— Não, — a voz de Ryan chamou quando andei para subir na


cama.

— Não? — perguntei, voltando para encontrá-lo saindo,


igualmente meio seco e completamente nu.

— Na cama é lento e doce. Você quer rápido e áspero, — ele me


informou, caminhando logo atrás de mim e para a área principal da
casa.

Consciente de que não havia cortinas reais nas janelas do chão


ao teto da área principal da casa, peguei uma das camisetas brancas
de Ryan e vesti antes de segui-lo. Somente para encontrá-lo em frente
àquelas janelas sem cortinas, sem mostrar absolutamente nenhum
sinal de autoconsciência.

~ 230 ~
— Hum... — Comecei dando um passo atrás em direção ao
quarto.

— Venha aqui, — ele disse, voz rouca de desejo.

— Talvez lento e doce vai funcionar, — eu disse, sentindo um


desejo quase irresistível de correr de volta para a cama e esconder-me
sob as cobertas.

— Nuh-uh, você fez sua escolha, — ele disse, virando-se para


mim, sorriso perverso em seus lábios, olhos aquecidos, pau duro.
Senti um aperto inconfundível do meu sexo em resposta quando ele
estendeu uma mão em minha direção. — Querida, — ele acrescentou
quando não me movi diretamente para ele, indo, em vez disso, em
direção à sala de estar.

— Apenas pegando algo, — expliquei, alcançando a caixa


enorme que Fee tinha deixado e retirando um preservativo que estava
embrulhado em uma folha amarela brilhante e desagradável.

— Esta coisa da camiseta, — ele disse quando pisei na frente


dele. — Eu tiro ou você tira?

Quando hesitei em dar uma resposta, encontrei meus pulsos


acelerados e batendo sobre a janela atrás de mim. Antes que eu
pudesse até mesmo assustar se a janela era forte o suficiente para me
segurar ou não, suas mãos agarraram o tecido da camiseta e puxou-o
para cima. Mas quando ele passou por cima da minha cabeça, não
deixou meus braços livres. Ele puxou-a rudemente para baixo e
prendeu meus braços do meu lado com ela.

Antes que eu pudesse mesmo registrar sua intenção, ele estava


de joelhos diante de mim, batendo-me contra a janela, puxando minha
coxa e prendendo-a contra o vidro. À medida que o medo enchia
minha barriga em potencialmente cair para a minha morte, sua cabeça
abaixou e sua boca sugou meu clitóris e todos os outros pensamentos
fugiram da minha cabeça.

Completamente presa, não havia nada que eu pudesse fazer, a


não ser deixá-lo me devorar, me torturar com seus lábios e sua língua
enquanto ele se esbanjava sobre mim. Dois dedos me penetraram
profundamente e começaram a me excitar, rápido, implacável.

Antes que o orgasmo que apertava meu sexo pudesse escorrer


sobre mim, ele abaixou a minha perna, pôs-se de pé, deslizou um
~ 231 ~
preservativo e me virou para encarar meu corpo nu contra a janela, em
exibição total para qualquer um do outro lado do rio com uma boa
visão ou um binóculo medíocre assistir.

Seus pés afastaram os meus ainda mais.

Então senti seu pênis deslizar entre minhas dobras


escorregadias, batendo meu clitóris e me fazendo soltar um gemido
áspero.

Sua mão subiu pelas minhas costas, encontrando a camiseta


onde ela se esticava de ombro a ombro e pressionando-me
ligeiramente, fazendo-me levantar minha bunda contra ele e colocando
meu rosto a poucos centímetros do vidro. Seus dedos agarraram o
tecido, segurando-o nas mãos, de modo que não havia nenhuma
maneira de escapar, não importa o quanto eu lutasse.

Então, seu pau deslizou para trás e entrou em um forte impulso.

A força por trás disso fez com que meu corpo avançasse, mas ele
puxou a camiseta e segurou-me no lugar quando começou a me foder,
áspero, duro, rápido, exatamente como pedi.

Meu orgasmo estava vindo incrivelmente rápido, amolecendo os


meus joelhos e deixando a respiração presa na garganta.

— É isso aí, — ele resmungou, me sentindo apertada em volta


dele. — Goze.

E gozei, gritando, literalmente gritando o nome dele quando fiz


isso.

Ele afundou em mim, prologando o orgasmo, drenando-o tanto


quanto conseguia. Mas depois que ele parou e voltei, ainda estava
duro dentro de mim.

Então, como se estivesse respondendo a minha pergunta não


formulada, ele se afastou de mim o suficiente para me virar e entrou
de novo, lentamente, tão devagar que eu sentia cada centímetro
enquanto ele o fazia. Ele puxou minha perna para cima, envolvendo-a
em torno de seus quadris, e então me alcançou para me livrar da
camiseta na qual eu estava presa, meus braços foram
automaticamente ao seu redor.

~ 232 ~
Sua mão foi para a minha bunda, forçando minha outra perna
em volta de sua cintura e me segurando enquanto caminhava pelo
espaço e para quarto. Seus joelhos foram na cama e seu corpo se
curvou sobre o meu quando ele me deitou de volta, ainda dentro de
mim, nossos corpos nunca perderam contato.

Agarrou-me em seus antebraços, ele se inclinou e gentilmente


pressionou um beijo nos meus lábios, e senti a doçura na minha alma.
— Do seu jeito, — ele me disse, retirando-se lentamente, e tão
lentamente pressionando de volta para dentro. — Agora vamos fazer
do meu jeito, — ele me disse, fazendo outro golpe perfeito e me
consumindo.

Então ele me teve do jeito dele.

E quando senti meu orgasmo crescer, decidi que também era


meu jeito.

Inferno, eu iria levá-lo de qualquer jeito que ele me quisesse,


duro, rápido e dominante ou lento, doce e amoroso.

Chorei em seu pescoço quando gozei e ele amaldiçoou quando


gozou.

Perfeito.

Ele me deixou apenas por um momento antes de voltar,


puxando as cobertas lentamente pelo meu corpo e me puxando para o
peito, as mãos escovando meus cabelos e deslizando pela minha
coluna.

— O quê? — perguntei, sentindo que havia algo pesando sobre o


silêncio.

— Os lobos recuaram, — ele disse enigmaticamente, fazendo-me


pressionar para poder olhar para ele.

— Os lobos? — perguntei, as sobrancelhas juntas.

— Durante anos, você teve lobos à sua porta, grunhindo,


fazendo você sentir que não poderia sair de sua casa. — Ele estendeu
a mão, tocando a lateral do meu rosto, os olhos suaves, mas ainda de
alguma forma pesados com significado. — Já não estão rosnando.

Ele estava certo.

~ 233 ~
E, verdade, talvez psicologicamente, era toda a terapia de
exposição, sendo forçada a sair da zona de conforto para perceber que
não iria pirar nem morrer fora dela.

Mas houve uma constante em cada situação.

Ryan.

Perfeito, ainda falho, dominante, porém doce, sexy e


despretensioso, compreender foi ainda encorajador.

E tive um forte sentimento em algum lugar no fundo que,


caramba, não era necessariamente por causa de alguma força dentro
de mim. Era ele.

Meu próprio domador de lobo pessoal.

~ 234 ~
Epílogo
DUSTY – 1 DIA

— Eu não teria feito Mark deixar toda essa merda se me


soubesse que os biscoitos não seriam para mim, — Ryan me informou
de onde estava, inclinado contra o balcão, vestindo apenas uma calça
de moletom grossa cinza e uma camiseta branca, seu cabelo
casualmente desgrenhado. A culpa é minha. Eu o tinha despenteado.
Alegremente. Entusiasticamente. Insolentemente.

O sexo estava, obviamente, envolvido.

— Estou guardando alguns para você, — insisti, despejando o


óleo na panela e colocando fogo sob ela.

Estava fazendo chruscikis, principalmente porque era a única


receita que eu fazia com bastante frequência para conhecê-la de cor, já
que não tinha meu caderno de receita comigo no hotel.

E acabei de informá-lo de que o plano era deixar alguns para seu


vizinho, o esquivo e enigmático Ross Ward.

— Alguns? — ele pressionou, obviamente, era o tipo de homem


que pensava com o estômago às vezes. Era algo que eu achava
encantador.

— Tudo bem. Metade, — concedi, jogando alguns biscoitos no


óleo quente e observando-os chiar.

Havia uma verdadeira arte e ciência para esses bolinhos. Eles


tinham que estar perfeitamente cozidos ou ficariam com um gosto de
merda assim que esfriassem.

— Não acho que Ward seja o tipo de homem que come bolinhos
poloneses cobertos com açúcar em pó.

~ 235 ~
— Independentemente disso, — falei, balançando a cabeça para
ele, fazendo com que alguns fios do meu cabelo caíssem do meu
grampo — Acho que eu devo uma bandeja deles como um muito
obrigada por impedir meu estupro e assassinato. Você sabe, um gesto
de agradecimento, — disse, dando-lhe um sorriso sobre meu ombro.

— Bem, — ele disse, aproximando-se de mim, envolvendo um


braço ao redor da barriga e descansando a cabeça no meu ombro, —
acho que seria a coisa certa a fazer.

Então, vinte minutos depois, minha barriga dando nós, mas não
muito enjoada, depois de trocar minhas roupas, arrumar o cabelo e
colocar um pouco de maquiagem, entramos no corredor e bati na porta
de Ross Ward.

— Mais forte, — exigiu Ryan, de pé a alguns centímetros atrás.


— Ele trabalha a noite toda. Provavelmente está dormindo.

— Por que você não me disse isso antes de eu vir até aqui com
os bolinhos e acordá-lo? — Assobiei, olhando para ele.

— Você era uma mulher em uma missão, — ele encolheu os


ombros.

— Mas que tipo de gesto “de agradecimento” é arrastar um


homem da cama quando ele trabalha a noite toda? — exigi, um
sussurro.

E, aparentemente, Ryan gostava disso porque o sorriso dele foi


radiante. — Com os dentes, querida, — ele me informou quando a
porta se abriu bruscamente.

Lá estava Ross Ward.

Embora, ao contrário das suspeitas de Ryan, ele não estava


dormindo.

Notei isso porque estava pingando e apenas em uma toalha.

Olha, embora estivesse me apaixonando por Ryan, não


significava que não reconhecia um cara bonito quando via um.

Ross Ward era um cara bonito.

Outras descrições me vieram à mente: sólido, musculoso, com


cicatrizes, escuro, perigoso, implacável.
~ 236 ~
Era o que você tirava de um olhar sobre os cabelos escuros, os
olhos escuros, a barba escura, bem como os ombros largos, o peito
forte, um impressionante tanquinho e a aura de o que você quer que
ele tinha sobre ele.

Também não disse nada, apenas olhou para mim.

— Ward, — Ryan aproximou, salvando-me de engasgar com meu


próprio coração que estava de repente na garganta, forçado por pura
intimidação do homem diante de mim. — Está é Dusty, — ele explicou,
me dando uma olhada que sugeria que eu soltasse minha língua e
falasse. — Dusty, Ross Ward.

— Desculpe, eu não queria interromper seu banho. Apenas,


hum, eu, ah... fiz bolinhos para você, — falei, empurrando o prato
decorado para ele, acertando-o no estômago enquanto a mão dele se
movia para pegá-lo de mim. — Como uma espécie de agradecimento
por chamar Ryan e, bem, me salvar de ser estuprada e assassinada.

Aí.

Saiu.

Posso fugir agora, certo?

Ele era definitivamente o tipo de homem que qualquer pessoa


decente correria para longe, muito longe.

— Parece que não te salvei de tudo, — ele disse, estendendo a


mão livre e colocando o dedo indicador no meu queixo, virando o rosto
em sua direção.

— Oh, isso, — disse, acenando, tentando leveza. Ele era tão


intenso. — Isso aconteceu há alguns dias, — acrescentei com um
sorriso tímido.

A mão de Ross caiu e ele olhou para Ryan com um elevar de


sobrancelhas sempre tão leve. — Toda mulher em sua família vem com
um balde de problemas? — ele perguntou, movendo-se para trás em
seu apartamento sem esperar uma resposta e alcançando a porta,
obviamente, apressando-me.

— Tudo bem, sim, não vamos segurá-lo. Eles ainda estão


quentes e geralmente são melhores quando...

— Sei como comer chruscikis, boneca, — ele me interrompeu.


~ 237 ~
— Oh, ok. Ótimo. Bem, obrigada novamente. Desculpe
incomodar você.

Ele não disse que não era problema, nem a qualquer hora ou,
absolutamente nada.

Ele empurrou o queixo para mim e então fechou a porta na


minha cara.

— Ele não é exatamente uma pessoa amigável, — Ryan me


disse, tentando suavizar o golpe. — Venha, tenho uma ideia.

Sua ideia envolvia um chrusciki colocado diretamente no


triângulo acima do meu sexo e açúcar em pó polvilhado por todo o
meu corpo.

Que ele lamberia.

DUSTY – 1 SEMANA

— Você tem certeza disso? — Bry perguntou do corredor no meu


apartamento, mas de frente para o de Ryan... onde eu estava vivendo.
— Você pode demorar mais uma semana se precisar.

— Essa é a pior coisa que eu poderia fazer, — disse, encolhendo


os ombros na minha jaqueta. — Agora que posso lidar com isso, acho
melhor sair o mais rápido possível. Rocky, — chamei, voltando para
onde ele estava apoiado, tão inocentemente na ilha. Mas sabia que no
segundo que fechasse a porta, ele iria criar algum tipo de problema.
Enquanto ele nunca arruinou meu antigo apartamento, ele
aparentemente tinha uma coceira para bagunçar o de Ryan. — Se você
derrubar qualquer um desses copos, vou fazer algo verdadeiramente
hediondo com você. Como te dar banho, — eu disse com um aceno de
cabeça enquanto pegava a minha bolsa e caminhava para o corredor
com Bry.

Caminhamos para a saída. As escadas, não o elevador. Talvez eu


tenha feito alguns progressos, mas não era nenhuma Mulher
Maravilha. Isso demoraria algum tempo. Tentei convencer Bry para me
~ 238 ~
encontrar lá embaixo, descer de elevador, porque ainda estava
segurando seu lado onde quebrou duas costelas.

Mas Bry era Bry, nem quis saber.

Então descemos as escadas tão lentamente quanto ele precisava


até chegarmos lá fora.

Íamos compensar minha ideia de tentar almoçar novamente,


mas não por mais uma hora e meia. Antes havia uma parada e era o
que fazia com que minha barriga desse essas pequenas cambalhotas
quando entramos no carro e dirigimos para a cidade.

O consultório era o que se poderia esperar — limpo, neutro,


reconfortante, mas impessoal.

Eu estava de pé na mesa, Bry recusou-se a ouvir o meu discurso


de que eu estava bem e que ele podia correr e tomar café se quisesse,
ficando sentando, lendo uma revista de carpintaria sobre a mesa.

E então ouvi uma voz que reconheceria em qualquer lugar, tendo


ouvido tanto quanto a minha. — Danielle, você tem a Srta. McRae para
a uma hora. Você deve ter errado. Ela é sempre atendida por vídeo...

— Ei, Amy, — eu a interrompi, usando o nome que ela preferia.

Sua cabeça levantou dos papéis, a boca caindo, os olhos


arregalados. — Dusty? Como... como... — Ela balançou a cabeça com
força, limpando-a, deslizando sua máscara profissional de volta. —
Quando você cancelou suas últimas sessões de vídeo, achei que você
estava passando por uma fase difícil, — ela admitiu, com uma
preocupação clara em sua voz.

Achei que ser terapeuta vinha com uma grande quantidade de


aborrecimento, as pessoas queixavam e queixavam as coisas mais
banais e desinteressantes por horas a fio, na verdade não tendo
problemas mentais, mas precisava essencialmente pagar alguém para
ouvi-las, porque ninguém mais gostaria de fazer isso de graça. Mas
parecia haver pacientes aqui e ali que realmente os tocavam, os faziam
querer ajudar.

Estava bastante segura de que eu era um desses pacientes para


a Dra. Amy Robertson.

~ 239 ~
— Na verdade, tive muita coisa, — admito quando ela caminhou
para abrir a porta do consultório e me deixou passar.

— Esse é Bry? — ela perguntou enquanto fechava a porta e me


conduzia para uma pequena sala que fazia meu peito ficar apertado.

— Sim.

Coloquei a mão na minha barriga e respirei fundo enquanto me


adentrava no consultório. Havia uma mesa branca situada quase em
um canto, fora do caminho, e no centro quatro lugares que ela tinha
para sentar em torno de uma mesa de café baixa. Havia um sofá
cinzento à moda antiga, uma poltrona, uma cadeira estofada sem
braços e uma chez. Um monte de pensamentos veio naquele momento
e encontrei-me indo em direção à chez, tirando meus sapatos e
deixando que ela me rodeasse, precisando me sentir um pouco
protegida. Imaginei que o sofá era para deitar e a cadeira era para
pessoas que não gostavam de se sentir presas.

Avaliando-me, ela se sentou na poltrona e me deu um sorriso. —


Vou ser honesta aqui. Não tinha certeza de que veria esse dia.

Não me ofendi com isso.

Nem eu tinha certeza de que veria esse dia também.

— Sim, eu também, — admiti.

— Você está bem ansiosa? Precisa de algo? — ela perguntou,


seus olhos mergulharam para onde minha mão ainda estava na minha
barriga por um segundo antes de subir.

— Não. Estou bem agora.

— Então. Você está aqui, — ela disse, me dando um sorriso. —


Quer falar sobre isso, “tive muita coisa”, que você mencionou?

— Claro, — disse, respirando fundo.

Então contei tudo para ela. A partir da noite do alarme tocando e


sendo levada nos ombros, estilo bombeiro, depois ser roubada e
espancada, cortando os detalhes. Conhecia a coisa paciente-cliente,
mas não tinha certeza o quanto isso se estenderia. Falei muito sobre
Ryan e nosso romance estranho, mas completamente perfeito e sem
precedentes. Contei a ela que visitei meu tio, conheci as cunhadas de
Ryan e um vizinho de Ryan, quer dizer Ross Ward, mas não dei nome.
~ 240 ~
— Você tem estado ocupada, — observou quando terminei,
balançando a cabeça um pouco como se a ficha ainda tivesse caído. —
Estou muito orgulhosa de você, Dusty, — disse, o peso em suas
palavras mostrando o quanto ela quis dizer isso.

— Acontece que você estava certa todos esses anos, — falei com
um sorriso irônico. — Tudo o que eu precisava fazer era fazer alguma
coisa.

— Nós duas sabemos que nem sempre é tão fácil, — ela disse
com um sorriso suave. — Se soubesse que um bombeiro tirando você
prédio teria feito uma jogada, poderia ter enviado um lá dois anos
atrás, — ela acrescentou, fazendo-me rir. Gostei daquela qualidade
dela. Era uma profissional, mas também era apenas uma pessoa.
Brincava e fazia comentários que talvez não fossem exatamente
apropriados, mas a humanizou e para mim era melhor. — Esta coisa
com Ryan. Parece séria.

— É, — admiti, sentindo as borboletas na minha barriga, a


conversa ainda está fresca em minha mente de três noites antes,
quando ele chegou à casa do trabalho, caiu no sofá, me puxou para o
seu colo, e teve a conversa.

A conversa sobre a relação.

E ele tinha instigado.

Não acho que já tive um relacionamento com um homem


disposto a falar antes na minha vida.

Era mais uma coisa maravilhosa sobre Ryan. Ele não tinha
medo de nada. Nem mesmo de compromisso. Deixou muito claro
quando me informou que, se eu concordasse, eu era dele e ele era
meu, e era isso.

Então, sim, era isso.

Ainda tenho aquela empolgação quando penso sobre isso. O que


era frequente. Porque... vamos lá! Se você tivesse alguém como Ryan
Mallick, estaria obcecada com a pura sorte que os uniu.

Quarenta minutos depois, eu saía do escritório de Amy com uma


promessa de tentar continuar minha terapia de exposição e até me
agendar para outra sessão pessoalmente naquela semana.
Esperançosa. Ela estava esperançosa.
~ 241 ~
Enquanto caminhávamos pela rua e mergulhamos no jantar, eu
também estava.

RYAN – 11 MESES

Não foi sempre linear, a cura geralmente não é.

Na primeira semana, ela ficou louca. Foi para a terapia duas


vezes, saiu para almoçar com Bry, foi ao café comigo, e até enfrentou
seu apartamento para limpá-lo e mudar mais coisas no meu nosso
apartamento.

Então, na sexta-feira seguinte, tentamos ir jantar no Famiglia,


algo com o que ela estava ansiosa e passou horas trabalhando. Estava
ao meu lado no carro tentando descobrir qual era a coisa favorita no
cardápio, do qual ela havia tentado extensivamente no passado,
obviamente. Decidiu sobre o frango Alfredo quando finalmente
paramos e saímos.

Mas a dois metros de entrar, ela congelou. Sua mão foi até a
garganta. Seus olhos arregalaram. Sua respiração parou. Paramos,
vendo se ela poderia respirar, forçar-se a lidar com os sintomas. No
final, a ansiedade ganhou.

Voltamos para casa e pedimos por delivery enquanto ela ficou


sentada e pensando o tempo todo em ter “falhado”.

Mas a próxima em vez que fomos, ela estava bem.

E foi assim, especialmente naqueles primeiros meses. Você


nunca sabia realmente se seria uma saída boa ou ruim, mas, depois
que a tranquilizei algumas dúzias de vezes, ela começou a acreditar
que não era importante para mim. E não. Eu não era o tipo de pessoa
que gostava de sair o tempo todo, então, quando ela simplesmente não
podia se forçar a passar por isso por uma ou duas horas, realmente
voltar para casa não era uma dificuldade para mim.

Nunca se tornou “sem problemas”. Não havia “cura” real para


sua ansiedade e agorafobia. Mas ela melhorou no gerenciamento.
~ 242 ~
Chegou a um ponto em que ela nunca disse que ela “não podia” ir a
um determinado lugar, mas que ela tinha problemas e iria tentar. Às
vezes, tentava o suficiente, às vezes não.

Mas todos os dias, semana e mês podia se ver o progresso.

Isso sempre foi tudo o que eu quis para ela.

Depois de cerca de seis meses, ela finalmente concordou em


deixar seu apartamento e vender, doar ou trazer o resto de suas coisas
comigo. Sem esse aluguel a pagar todos os meses. Na verdade, sem
contas, apenas coisas como seu celular, seguro saúde e vários serviços
de assinatura, ela estava indo bem com apenas seu dinheiro vindo de
suas histórias.

Era um pouco cedo demais para convencê-la de que não teria


que se preocupar mais com o dinheiro. Eu estava num ponto em que
sabia que, mais cedo ou mais tarde, nós teríamos um monte de filhos e
ela ficaria em casa para cuidar deles de qualquer maneira, então, ela
não precisava se preocupar com o trabalho, a menos que quisesse.

Na verdade, em seu aniversário, Fee e Hunt apareceram à nossa


porta com os três inferninhos que deixaram Rocky louco por uma
hora. Fee lhe trouxe roupas que dariam para ser usadas por um ano.
E Hunt fez para ela algo que a fez correr para ele e atirar os braços ao
redor dele.

Veja, Hunt, além de fazer tatuagens, também fabricava móveis.

E quando soube sobre o aniversário dela, decidiu fazer uma


escrivaninha elaborada para ela trabalhar. A sua antiga tinha soltado
a perna e, por ser essa merda de madeira falsa, não podia ser
consertada e não fomos a uma loja de móveis. Principalmente porque
eu continuava a ignorá-la, pois sabia que Hunter faria uma dez vezes
melhor do que qualquer coisa que pudéssemos encontrar em uma loja
de qualquer maneira.

Finalmente, eu a levei aos meus pais para o jantar de domingo,


onde ela passou o começo da noite escondida com as crianças, sendo
elas mais uma coisa de zona de conforto para ela. Então ela se
preparou para se juntar ao resto de nós e depois de cerca de uma
hora, minha mãe não tão discretamente me pediu para ajudá-la com
algo na cozinha.

~ 243 ~
Dei a Dusty um aperto e segui minha mãe que imediatamente se
virou e me informou que é melhor eu pegar a minha mulher com uma
aliança.

Então, eu tinha uma aliança no bolso.

E fazia um ano desde o dia em que soaram os alarmes de


monóxido de carbono, um evento que nos reuniu em primeiro lugar.

Eu estava no corredor, e bati na porta.

Ela não verificaria o olho mágico porque esperava ser Bry.

E ela estava esperando Bry porque ele estava nisso comigo desde
que eu não pedi apenas ao seu tio, mas a ele também, permissão para
me casar com ela, quando finalmente consegui resolver tudo.

— Já vou! — Ela falou soando distraída. — Eu só tenho que


terminar esses bolinhos, maldição! — Ela gritou e eu me senti sorrir.
Ela não xingava com frequência, mas quando xingava, era com um
verdadeiro floreio.

Foi mais um minuto antes que a porta se abrisse e eu a


encontrei com toda a sua frente coberta de açúcar em pó. Havia uma
mancha sobre a bochecha também.

E sabia exatamente quais tipos de bolinhos ela estava fazendo.

— Oh, — ela disse, as sobrancelhas se juntaram quando me viu.

Observei-a quando abaixei aos seus pés, vendo seus lábios se


afastarem, seus lindos olhos verdes avançando bem com a
compreensão.

— Pensei em iniciar um alarme, — admiti, fazendo seus lábios


curvarem, — você sabe, para fins de autenticidade, — adicionei,
alcançando meu bolso para pegar o anel, que Fee e Lea me ajudaram a
escolher porque, “os homens não sabiam nada sobre esse tipo de
coisa”. Era um diamante de halo simples em uma banda de platina.
Na verdade, isso lhe serviu perfeitamente.

— Ryan... — ela disse, sua voz aberta, mas de alguma forma


pesada ao mesmo tempo.

~ 244 ~
— Case comigo, — eu disse simplesmente, alcançando a mão
dela que estava visivelmente tremendo e deslizei meu anel em seu
dedo.

Oito meses depois, ela aceitou.

Após semanas de discussão, ela finalmente pensou que era


melhor ter uma pequena coisa familiar. Então ela, Fee e Lea
decoraram o quintal dos meus pais. Tivemos um Juiz de Paz, a família,
Bry e Lo de Hailstorm e foi isso. E isso foi mais do que suficiente.

DUSTY – 2 ANOS

— É como um jogo de dados, — Fee disse, subindo na cama


comigo e puxando o cobertor para trás do rosto do bebê. Eu estava
refletindo sobre com quem seus olhos e cabelos pareceriam, vendo
como os olhos eram um azul muito escuro que nenhum de nós
tínhamos e os médicos disseram que provavelmente mudariam e ele
era quase careca. — Tenho duas com olhos verdes e uma com azul. O
cabelo também é diferente.

Foi um dia inteiro depois de eu ter dado à luz para que Fee
aparecesse porque, “nenhuma mãe recente quer ser vista aos cinco
minutos depois de ter sua vagina costurada e uma pilha de gelo na
calcinha”. Ela também trouxe maquiagem que eu tinha esquecido.

— Eu sei que você acabou de dar à luz, mas todo mundo quer
parecer decente em suas fotos de hospital, — ela me disse enquanto
aplicava rímel e corretivo com mãos experientes. — Vocês já
escolheram um nome?

— Danny, — informei automaticamente. Fácil. Na verdade, nós


escolhemos assim que eu soube que estava grávida. Danny, o único
pai que já conheci. Achei que se continuássemos a ter meninos,
finalmente renderíamos homenagem a seu pai e talvez até a Bry.

— Adoro, — ela declarou. Embora meu tio nunca estivesse


acostumado a uma grande dinâmica familiar como eu, ele se encaixou
~ 245 ~
sem esforço no clã Mallick. Eles... o aceitaram. Ele veio comigo e foi
tudo o que eles precisaram saber para considerá-lo família.

— Eu queria que Eli... — Comecei sentindo o pânico em algum


lugar profundo.

— Eu sei, — disse Fee, parecendo triste.

Eli sempre foi um tema de coração pesado.

— Você acha que ele permitiria...

— Não, — Fee cortou-me, voz firme. Ela não estava sendo cruel,
apenas honesta. E sabia que ela estava certa.

— Mark perdeu apenas cem dólares, — falei, mudando o tópico


para coisas mais leves.

Mark estava perdendo muito no departamento de apostas sobre


bebê. Ele tentou a cor do primogênito de Shane e Lea, Jason, errou.
Então ele seguiu em frente e apostou que o sexo do próximo seria uma
menina. Foram gêmeos e ambos eram meninos, pelos quais seus
irmãos fizeram-no pagar o dobro.

— Acho que ele só quer mais garotas na família agora, — disse


Fee, sorrindo com saudade. Basta saber se ela talvez estivesse
reconsiderando sua ideia de “três Mallick é mais do que suficiente”.

— Então talvez ele devesse começar a fazer alguns, — eu disse


com um sorriso. — Ele tem a garota agora. O que eles estão
esperando?

— Você conhece Mark, — ela disse, encolhendo os ombros.

Eu conhecia. Mark era o mais ‘ir-com-o-fluxo’ dos irmãos.


Certamente nunca planejaria algo como fazer bebês. Se acontecesse,
aconteceu. Em outras palavras, ele estava contente com o que tinha.

— Hei, Fee, — disse Ryan, entrando no quarto depois de forçá-lo


a ir para casa e tomar banho e se trocar, assegurando-lhe que eu
ficaria bem sozinha por um tempo. Mas não havia tal coisa como
sozinha na família Mallick. Quando ele partiu, Helen e Charlie
apareceram. Quando eles se foram, Fee e Hunter e as crianças fizeram
uma aparição. — Hunt parece que ele está prestes a perder a cabeça,
— ele acrescentou quando Fee pulou da cama para que ele pudesse
deslizar ao meu lado.
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— Estas são minhas pestinhas para vocês. Venho buscar vocês
quando voltarem para casa. — ela acrescentou, me dando um sorriso
caloroso e se inclinando para beijar seu sobrinho. — Tente dormir
durante a noite, Danny. Mamãe e papai serão muito mais toleráveis se
você fizer isso.

Com isso, ela saiu.

— Perdi alguma coisa? — ele perguntou, passando o dedo no


rosto do bebê.

— Oh, apenas as muitas tentativas de mamar, — resmunguei,


irritada porque isso não veio tão naturalmente como algo tão natural.
Ele não se agarrou a mim, mas ele sugou a mamadeira como se não
fosse da conta de ninguém.

Ryan se inclinou, beijando minha têmpora. — Ele tirou alguma


coisa de você?

Dei de ombros, respirando fundo. — Cerca da metade do que ele


deveria, acho.

— A metade é melhor do que da última vez, — ele me disse, me


dando um pequeno sorriso. — Isso é progresso, querida.

— Você está certo, — concordei, sorrindo o estresse para longe.


— É progresso.

Progresso.

Foi como nós construímos nosso relacionamento, com a


esperança dele.

E foi o que tivemos, lento, mas seguro.

E foi o que certamente haveria muito, muito mais no nosso


futuro.

~ 247 ~

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