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K.A. Tucker
# He Will Be My Ruin
Livro Único
Leitura: Sil
Data: 04/2018
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SINOPSE
Maggie Sparkes chega à Nova York para juntar o que restou dos
pertences de sua melhor amiga depois do suicídio que deixou todos
atordoados. A polícia considerou as provas conclusivas: Celine tomou
um coquetel letal de pílulas e vodka, foi para a cama e nunca mais
acordou. Mas quando Maggie descobre uma fotografia escandalosa em
uma caixa trancada escondida no apartamento de Celine, ela começa a
fazer perguntas. Perguntas sobre o homem por quem Celine se
apaixonou. O homem sobre o qual ela nunca disse a ninguém, nem
mesmo Maggie. O homem que Celine acreditava que iria mudar sua
vida.
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Prólogo
MAGGIE
23 de dezembro de 2015
Agora ele está explorando isso. Isso deve ser o que ele faz,
descobre seus segredos, seus medos, suas falhas e os usa contra
você. Ele fez isso com Celine.
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Como confiei nele, como me apaixonei por seu charme, como
acreditei nas mentiras dele. Como me tornei tão fácil para ele fazer isso
comigo.
Como Celine se tornou tão fácil para ele, deixando-o chegar perto.
Antes de matá-la.
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Capítulo Um
MAGGIE
30 de novembro de 2015
— Maggie?
Acho que ele falou seu nome antes, mas eu não estava
escutando. Mal pronunciei duas palavras desde que o conheci em frente
ao apartamento de Celine, armado com uma pilha de caixas e sacos de
lixo. Uma orquestra de relógios soando suavemente ao longe avisa que
já se passou meia hora. Eu simplesmente fiquei aqui desde então,
sentindo as paredes de tijolos expostos, forradas do chão ao teto com
estantes e preenchidas com a impressionante coleção de tesouros que
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Celine acumulou ao longo dos seus vinte e oito anos, se fechando em
cima de mim.
Ele concorda.
— Você a viu?
Seus olhos piscam para a parede fina que divide o quarto do resto
do apartamento, que só serve para permitir ao proprietário do edifício
cobrar o aluguel de um “um quarto” em vez de um estúdio. Não há
espaço suficiente nem para uma porta. E sim, ele viu o corpo dela. — Ela
parecia bem, — ele responde, com a garganta arranhando, remexendo-
se no lugar. Ele preferia estar desentupindo um banheiro cheio de
merda do que estar aqui agora. Não o culpo. — Uh... Então você pode
deixar a chave através da abertura do correio na minha porta quando
terminar, se puder? Estarei em casa hoje à noite para pegá-la.
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inalo profundamente. O desodorizador de ambiente não pode mascarar
completamente o cheiro. Seu corpo jazia na cama por dois dias.
Morto.
Decompondo-se.
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Poucas coisas aqui não são antiguidades ou vintage. As garrafas
de Ketel One, Maker’s Mark, e Jägermeister alinhadas em um carrinho
de latão polido. Seu computador e uma pilha de livros de capa dura,
sobre uma mesa de madeira desgastada que eu esperaria encontrar em
uma antiga escola primária. Até mesmo a árvore de Natal artificial de
dois pés de altura tem enfeites velhos pendurados em seus ramos.
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Olhando o apartamento de Celine agora, no entanto, percebo que
a venda vai demorar uma eternidade. Estou meio tentada a despejar
tudo em caixas para a caridade, adivinhar o valor e fazer um
cheque. Mas isso seria menosprezar todas as noites e fins de semana
que Celine dedicou à procura de antiguidades, vendas de garagem e
vendedores ignorantes para o seu próximo tesouro perfeito.
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Disseram-me que não era assim que o mundo funciona. Além
disso, embora Rosa quisesse o melhor para sua filha, ela era orgulhosa
demais para aceitar esse tipo de generosidade. Mesmo doar a Celine
minhas roupas usadas era uma batalha constante.
O pior de tudo foi que Rosa e Celine ficariam por conta própria.
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Rosa, que foi mais um pai para mim do que qualquer um de meus
pais verdadeiros tinha sido.
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o frasco de comprimido aberto sobre sua mesa de cabeceira e que era de
uma prescrição que ela pegou apenas dois dias, combinada com uma
grande quantidade de vodka, foi o que a matou. Eles investigaram isso
como um caso de suicídio simples e direto, sem complicações, auxiliado
por uma nota escrita por ela que dizia eu sinto muito por
tudo, encontrada ao lado dela.
Isso simplesmente não parece possível. Como ela pôde fazer isso
com sua mãe? Eu mudei meu foco para a foto de Rosa, uma pequena
morena com um coração forte, que dá abraços a estranhos que parecem
ter tido um dia ruim e jorra uma sequência de palavras em espanhol
quando alguém tenta deixar a mesa de jantar antes de terminar de
comer.
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maquiagem, que gasta tempo e dinheiro pela aparência. Como a quarta
geração de uma das maiores empresas de energia do mundo, um dia
vou herdar 51 por cento das ações da companhia. Embora meus pais
não precisem trabalhar, cada um deles administra uma divisão - meu
pai gerencia a coisa horrorosa da queima de carvão, enquanto minha
mãe distrai o mundo com uma linda máscara das fazendas de energia
eólica e solar, escondendo o fato de que nós estamos lentamente
ajudando a destruir o mundo.
Mas ouvi Celine. Foi ela quem me convenceu a não fazer isso,
enviando-me páginas e páginas de escândalos envolvendo organizações
de caridade. Apenas pouco do dinheiro doado chegaria realmente aos
necessitados, enquanto a maior parte ficaria nos bolsos dos
indivíduos. Ela usou os piores cenários para me afastar do meu plano,
porque sabia que isso funcionaria. Então, sugeriu que eu usasse o
fundo fiduciário para liderar meus próprios empreendimentos
humanitários. Eu poderia fazer maior e melhor as coisas se eu as
controlasse.
V.U. pode ter apenas seis anos, mas já se tornou uma ONG
reconhecida internacionalmente, focada em projetos de empréstimos de
alto impacto em todo o mundo voltados para a construção de aldeias
autossustentáveis. Nós ensinamos as crianças a ler e damos a elas um
teto para dormir, água limpa para beber, roupas para vestir e livros
para ler. Entre o meu próprio dinheiro e o dinheiro que a V.U. tem
levantado, nós já deixamos uma marca duradoura em trinta e seis
comunidades em países de todo o mundo.
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em primeira mão. Algo que meus pais simplesmente não entendem,
embora eles tivessem tentado transformar isso em um empreendimento
da Sparkes Energy em mais de uma ocasião.
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é extremamente religiosa e Celine, a filha devota matinha as aparências
para sua mãe, embora ela admitisse para mim que não via valor nisso.
Puxo cada item para fora, colocando-os na mesa do centro até que
não resta nada, exceto o fundo de veludo liso da caixa. Mexo
desajeitadamente no pequeno detalhe do lado de fora que funciona
como uma alavanca, me lembrando para a minha surpresa, quando o
homem revelou o segredo da caixa, até ouvir o clique, permitindo-me
abrir o fundo falso.
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Também não estou surpresa que ele é loiro. Sempre foi uma piada
entre nós, sua propensão para loiros. Ela nunca namorou outro tipo.
Será que ela já falou dele para mim? Ela sempre me contou sobre
seus namoros, todos os defeitos ou o contrário. Apesar de fazer anos
desde que ela esteve com alguém sério, e ela estava
definitivamente vendo esse cara sério se estava dormindo com
ele. Celine geralmente esperava meses antes de dar aquele presente
para um cara. Ela perdeu a virgindade quando tinha 22 anos, com um
cara que estava namorando há seis meses e com quem ela esperava que
um dia fosse casar. E que terminou com ela pouco depois.
Então, quem diabos é esse cara e por que eu nunca ouvi sobre
ele? E onde ele está agora? Quando eles ficaram juntos pela última vez?
Este homem foi uma vez a minha salvação. Agora ele vai ser a
minha ruína.
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Capítulo Dois
MAGGIE
Celine sempre foi mais emotiva do que eu. Ela tinha um amor
para a prosa florida na literatura e o tipo de poesia que deixa meus
olhos vidrados. Ela chorava em filmes e poderia sentar e olhar para uma
escultura por horas. Suas paixões nunca eram apenas paixões.
Estas palavras que agora estou vendo... O que elas queriam dizer?
Esta é uma declaração extravagante de amor por um cara com quem ela
estava dormindo? Um fio de poesia para expressar o quanto ele
significava para ela? Conhecendo Celine, isso é possível. Mas, como ele
deveria salvá-la? Do que ela precisaria ser salva? E ele acabou
quebrando seu coração?
Eu sei que ela não estava com ele quando morreu. A casa
funerária organizou todos os pertences pessoais para ser enviados junto
com o corpo quando ele foi transportado para San Diego. Tudo o que
veio foram um par de brincos e um relógio.
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Será que se perdeu em algum lugar pelo caminho? Será que
alguém poderia ser nojento o suficiente para roubar um celular de um
cadáver? A última vez de que me lembro é de Celine delirando de como
boa era a câmera do seu iPhone. Acho que alguém poderia ganhar
algum dinheiro com ele. Mas seus brincos de diamante eram caros, ela
me disse que eram Michael Kors. Por que roubar um celular e não as
joias? Roubar os brincos era menos propenso a ser notado do que um
telefone celular...
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descobriu que a parte do “sou eu” envolvia uma ruiva de sua aula de
História, que a fez pirar.
Foi a primeira e única vez que ela aceitou um presente caro meu,
sob a forma de uma viagem com tudo pago para Jamaica para nós
duas. A única razão pela qual ela concordou era porque ela estava
chafurdando na miséria tão profundamente que não conseguia pensar
direito. Além disso, eu já tinha reservado e não era reembolsável.
Jogo o bilhete longe com desdém. Por que será que ela guardou
isso? Mas essa era Celine, sempre a sentimental; mesmo quando as
boas lembranças eram prejudicadas pelos feios efeitos colaterais, ela
queria manter as provas. Uma verdadeira ganância por castigo.
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— Está tudo bem. Estamos sempre dispostos a ajudar os nossos
clientes. — Ela cantarola baixinho. — Nós abrimos há dois meses e
ainda estamos nos acostumando com esse sistema. Então... Qual dia
você disse que elas chegaram?
— Celine Gonzalez.
Há outra longa pausa. — Sinto muito por ouvir isso. Posso ligar
para você de volta amanhã?
Mas descobri uma coisa. Alguém mandou flores para Celine nos
últimos dois meses. Talvez fosse o cara da foto e talvez a rosa em minha
mão fosse uma delas, o que significaria que ele era alguém importante
para ela, e ela era importante para ele também. Mas parece que ele
estragou tudo.
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do perfume de Celine na almofada enquanto minha mente exausta e
naturalmente desconfiada gira.
Um maço de dinheiro.
E se a polícia errou?
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Capítulo Três
MAGGIE
01 de dezembro de 2015
— Eu quem?
— Que avaliação?
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— As escadas estão a sua esquerda. Apartamento 310. — Abro
para ele entrar e corro para escovar os dentes. Pelo menos estou
vestida, ainda no mesmo jeans desgastado e camisa de flanela
amarrotada com que voei para Nova York no dia de ontem.
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me trazer aqui para fazer uma avaliação formal por meses para então
poder vendê-los. Simplesmente não tive tempo antes.
Mas... — Vendê-los?
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— Eles não são Fabergé reais, são? — Pergunto. Não sei muito
sobre a história da arte, mas até eu ouvi falar sobre Fabergé. — Não são
os que valem tipo... Milhões?
— Uau.
Ele deve sentir a minha falta de emoção, porque sua boca achata
e aquele tom esnobe ressurge. — Onde está Celine?
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— Ela era uma pessoa linda e tão amável. Nunca julgou.
Costumava me deixar falar com ela sobre tudo. Mas, então, fiquei
ocupado com o trabalho e continuei cancelando com ela. — Ele assoa o
nariz em um lenço de pano que ele tinha enfiado no bolso. — Eu não
fazia ideia. Sou uma pessoa terrível. Ela foi realmente uma das minhas
melhores amigas.
— Espere, você é aquela amiga dela? Você é... — Ele estala seus
dedos na minha cara quando aponta para mim.
— Maggie Sparkes.
— Eu não sei ainda. Estava lendo sobre isso e acho que a minha
melhor opção é encontrar uma empresa de avaliação online que pode
cuidar de toda a coleção dela. Tipo, dez dólares por item vai me render
cerca de... — eu tremo, — dez mil, mais ou menos? — Acho que a
avaliação vai valer mais do que a soma total de tudo aqui.
Sinceramente, vou acabar pagando isso do bolso e, além disso, encher
generosamente os cofres da fundação.
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cabeça lentamente, sua mandíbula definida com determinação
enquanto enxuga as lágrimas de suas bochechas. — Conheço muitas
pessoas na indústria e todas me devem um favor. Podemos fazer isso. E
conheço bons negociantes, também, que poderiam estar dispostos a
comprar diretamente ou vender em consignação. Colocar tudo no
depósito e com calma podemos encontrar o comprador certo.
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O supervisor está de volta. — Olá, como vai? — Seu olhar vagueia
sobre a pilha de caixas de papelão intocada e sobre a mesa de café,
coberta com lembranças sentimentais. Ele se barbeou hoje, noto, e se
empenhou em arrumar seu cabelo.
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não estava no trabalho. Você gostaria de entrar para chá ou café? Eu fiz
bolinhos. Celine sempre gostou deles.
E o pesadelo de um claustrofóbico.
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Eu a interrompo. — E quanto aos homens? Será que ela estava
namorando alguém?
— Não. Não que ela tenha mencionado para mim. Estranho, não
acha? Ela era tão bela. Eu lhe digo, se pudesse voltar no tempo e me
parecer como ela, teria um monte de moços bonitos desfilando por aqui.
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Capítulo Quatro
MAGGIE
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Eu o sigo por um corredor estreito, mal iluminado que não via
uma camada de tinta há muito tempo. Termina em uma grande sala de
computadores e mesas em fileiras, com o zumbido baixo de telefones
tocando por toda parte. Ele assume a terceira mesa. Soltando um bloco
de notas pesado ao lado do teclado, ele senta-se na cadeira com um
gemido. — Então, Celine Gonzalez. — Algumas teclas em seu teclado e
um arquivo aparece no monitor. — A menina bonita perto do Mott e
Kenmare.
Ele faz uma pausa para lê-lo. — E onde foi que você disse que
encontrou isso?
— Em uma caixa que lhe dei anos atrás. Ela tem um fundo falso,
para esconder as coisas. Encontrei quase dez mil dólares lá com isso.
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Olhos escuros piscam para mim por um segundo antes de voltar
para a tela. — Ela acabou de renovar sua receita com seu médico e sua
dosagem foi aumentada. Ela disse algumas coisas a seu médico que eu
não podemos revelar, mas são indicadores claros.
— Então é por isso que você está aqui. — Ele sorri tristemente
para si, inclinando-se para trás na cadeira até que ela protesta sob seu
peso. — A teoria de assassinato.
— Isso não significa que não é possível. Nós ainda nem sequer
sabemos oficialmente o que a matou, certo? É apenas alguma opinião
do médico legista.
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Eu o assisto rasgá-lo vagarosamente com os dedos e analisando a
página, cantarolando para si mesmo. Eu mordo meu lábio até não
aguentar mais. — Bem? O que ele diz?
— Eu não sei. Ela nunca me disse que estava saindo com alguém.
— Hmmm...
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— Esta cidade vê uma média de quatrocentos e setenta e cinco
suicídios por ano. Sinto muito, Maggie, mas não podemos manter os
casos aberto a menos que haja uma boa razão. Minha investigação
concluiu que não havia absolutamente nenhum sinal de violência e não
havia provas suficientes para sugerir a intenção de causar
automutilação. A investigação está acabada. Considere a investigação
da sua amiga encerrada.
— Sim, eu notei isso. A maioria das jovens nessa idade não vive
sem seus celulares. Questionamos o vizinho e a sua colega de trabalho
sobre ele, e ambos confirmaram que Celine tinha o mau hábito de
perder seu telefone. Deixando-o em lojas de café, no trabalho. No metrô
uma vez.
Eu não posso discutir com ele porque sei que isso é verdade. Acho
que ela perdeu um telefone a cada ano desde a faculdade.
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seu melhor amigo gay, não sabe sobre qualquer namorado. Eu com
certeza também não. — O que eu deveria fazer?
Caso encerrado.
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Capítulo Cinco
MAGGIE
Mas ela continuou se aventurar lá dentro, até que um dia meu pai
chegou a casa e encontrou-a sentada de pernas cruzadas no chão e
olhando para o quadro. Meu pai nunca foi um homem cruel, mas
sempre foi brusco e sem paciência. Eu esperava que ele fosse
repreendê-la, mas em vez disso, ele se sentou no chão e perguntou o
que ela gostou na pintura.
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em seu bolso, Celine comprou um conjunto de chá de prata de uma
venda de garagem local que meu pai acreditava que valia mil dólares.
Embora Rosa nunca obrigasse Celine a voltar para casa, acho que
ela secretamente esperava que sua filha voltasse depois de acumular
quatro anos de débito na faculdade, apenas um pouco suavizado pelas
economias de Rosa e algumas pequenas bolsas de estudo. Mas Celine
tinha outros planos.
Água limpa.
Vacinas da malária.
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— Quadragésimo andar, — o cara instrui com apenas um olhar
antes de passar, sorrindo amplamente, para ajudar uma mulher
atraente com o crachá.
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desconfortáveis. Mas este é por Celine, então cerro os dentes e tento não
endurecer quando ela me toca.
— Então, eu embalei tudo das gavetas dela que não era específico
da empresa, e as poucas fotos em sua mesa. Mas não havia muito lá,
mesmo depois de cinco anos. Ela manteve seu espaço arrumado.
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O cheiro disso é realmente tentador. Eu não tive uma refeição
sólida em duas semanas. Mas balancei minha cabeça e sentei-me em
um banco próximo, no pátio, aconchegando-me contra o frio. Nunca irei
me acostumar com este tipo de frio.
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Então Celine tinha seu telefone até o meio-dia naquele dia, pelo
menos. Enquanto a demora em encontrar seu corpo tornava difícil para
o médico legista identificar a hora da morte, ele estimou que ela morreu
entre onze horas no domingo à noite e seis horas na segunda de
manhã.
— Ela não queria perder mais tempo longe de sua mãe. Uma
história tão triste. Mas Celine ainda estava esperançosa, — Dani se
apressa a dizer, limpando uma mancha de pimenta do seu lábio. —
Não... Suicida.
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— Está se sentindo bem? — Dani se inclina, carrancuda. — Você
está um pouco pálida.
Ele retarda quando passa por mim, seus olhos pegando os meus
enquanto o vejo subir os degraus. Olhos azuis da cor do céu me
capturam. A conexão dura apenas alguns segundos, mas enquanto eu o
vejo desaparecer no prédio de Celine, o tempo para.
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— Maggie?
Pelo olhar no rosto de Dani, ela está chamando meu nome por um
tempo. — Você tem certeza que está tudo bem?
Jace Everett.
Ele é real. Ele não é apenas uma foto de Internet, Detective Childs.
E Jace começa com a letra J. Como o “J” que enviou flores para
Celine.
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— Mas ela — Eu paro de falar quando olho para o edifício, Esse
homem foi uma vez a minha salvação. Agora ele vai ser a minha ruína. —
Você tem certeza?
— Tudo bem. — Você não cresceu nos meus sapatos sem molde
de pele reptiliana. — Vejo você mais tarde, Dani. — Entro em um táxi e
vou para casa.
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Capítulo Seis
MAGGIE
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O que “terminal “ e “um a dois anos para viver “ realmente
significa?
Rosa fez Celine jurar que ela não iria me contar ainda. Elas
planejaram me contar juntas, quando eu voltasse para a América nos
feriados. Rosa não queria que eu me apressasse para retornar para casa
por causa dela, como fiz da última vez. Acho que em algum momento ao
escrever esta mensagem, Celine decidiu não enviá-la; respeitou os
desejos de sua mãe.
— Mas não pode. Não desta vez. — Eu ouvi isso em sua voz. Ela já
decidiu. Será que ela estava tão decidida assim antes de perder sua
única filha, se Celine era a única coisa por quem ela lutava? Ela assoa o
nariz. — Não quero que você se preocupe. Você já deixou tudo para vir e
tomar conta de mim uma vez. Eu não poderia deixar você fazer isso de
novo.
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Teimosa, mulher teimosa! — Eu faço isso porque eu posso e
porque eu quero. Essas coisas não são importantes.
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vários itens. Isso não me surpreende, uma vez que deve haver mais de
mil peças recolhidas neste apartamento.
Uma empresa que seu pai ajudou a iniciar décadas atrás, antes
que ele se afastasse para se tornar governador de Illinois.
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— Bem, isso pode explicar algumas coisas, — murmuro através
de um gole de uísque. Não que eu possa dizer muito contra o
nepotismo.
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meus pais não apoiavam seus pais em qualquer projeto de lei ou fraude
que tentavam passar no Senado. Eu apostaria dinheiro que este
solteirão elegível e eu iríamos bater as cabeças como duas cabras de
montanha dentro de cinco segundos.
~ 53 ~
Luto contra o arrepio que vem ao pensar em todos aqueles
livros. Agora, eu sufocaria lá. — Eu só... — Suspiro e encosto no batente
da porta com a frustração. — Eu preciso de um pouco de ar fresco.
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Ele simplesmente me olha do seu lugar. Eu tenho certeza que ele
está procurando uma maneira educada de dizer Foda-se. Eu quero ficar
chapado em paz. Mas não estou pronta para ir me foder, e este lugar...
Escolho caminhar por ali em vez disso, nunca sendo boa em ficar
parada. — Isso é incrível. — Espreito por cima da beirada em direção à
rua embaixo, ainda ocupada por uma noite de terça-feira às onze.
— Sim.
— Até isso? — Aponto para a pérgula robusta que está sobre ele.
A rede que ele encontra é autossustentada, com uma moldura de
madeira curvada impressionante para manter os cantos elevados.
~ 55 ~
Eu examino o portão atrás de mim de novo e a cerca de madeira
em volta, enquadrando este pequeno jardim. — Mas não aqui.
Uma sombra cintila na sua face. — Não. Eu não via muito ela, na
verdade.
O silêncio paira entre nós e acho que não tenho nada a perder. Eu
caminho em direção a ele com a lata. — Você trocaria esta... Por um
destes que você está fumando?
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— Isso pode ficar desastrosamente perigoso, — eu adverti, dando
um passo para a plataforma de madeira. Em resposta, Grady deixa cair
a perna do outro lado para nos estabilizar. Ele levanta as mantas e eu
entro, descansando minha cabeça no travesseiro, enquanto tento não
rolar em cima dele. Com movimentos suaves, ele ajusta-se à minha
direita, até que nós estamos perfeitamente equilibrados, meu corpo
tremendo pressionado contra o dele surpreendentemente quente.
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obra em demolição. Estavam sendo jogadas fora e ela as queria. Não me
pergunte como ela conseguiu trazê-las até aqui, mas eu arrastei para
dentro e as parafusei na parede para ela.
— Eu não faço ideia. Ela nunca me falou sobre ele. — Nem para
mim, nem sua colega de trabalho mais próxima, e nem seu melhor
amigo gay, ninguém. Nem mesmo a vizinha intrometida. — Nem sei se
ele percebeu que ela está morta. — Faço uma pausa. — Por que eu
ainda estou lhe dizendo isso?
~ 58 ~
Ele não responde, inalando mais do cigarro antes de passá-lo de
volta para mim.
Porque eu preciso falar sobre isso em voz alta, é por isso. Num
impulso, eu pergunto: — Você nunca a viu com ninguém, não é?
Ele desliza o cigarro das minhas pontas dos dedos com uma
piscadela. — É chamado de controle de aluguel. Ruby se mudou para
seu apartamento na década de setenta. — Anéis de fumaça flutuam no
céu noturno enquanto a mandíbula de Grady trabalha para soprá-las
para fora. — Se as pessoas ao redor daqui souberem que ela está
pagando tão pouco, elas se revoltariam. Mas não diga nada, porque
esses biscoitos são muito bons e não teremos nada para comer quando
ficamos chapados aqui se ela nos tira isso.
~ 59 ~
— Você está certo, este é o melhor biscoito que já provei. E não é
só porque estou chapada.
~ 60 ~
Sei o que estou inevitavelmente fazendo. Pensando sobre a
pequena voz no fundo da minha mente que me diz que algo não está
certo aqui.
Talvez seja como Dani disse, que talvez Jace não quisesse levar
uma humilde assistente administrativa para casa para conhecer seu pai
governador. Ou talvez o problema não fosse o seu trabalho. Talvez fosse
outra coisa. Algo que ele não quis admitir.
— Pode falar.
A menos que...
~ 61 ~
Eu pego meu telefone e procuro nos meus e-mails para encontrar
um com seu número de telefone. Eu sei que isso é além de inadequado,
mas uma vez que coloco algo na minha cabeça, não posso tirar. Além
disso, eu estou chapada.
— Alô?
~ 62 ~
Capítulo Sete
MAGGIE
02 de dezembro de 2015
O que Dani não comentou, e sou grata por isso, é que estou
usando um dos vestidos de Celine. É decotado com listras pretas e
brancas que percorrem diagonalmente ao longo de todo o
comprimento. É um daqueles vestidos que Celine poderia usar uma vez
e ninguém iria esquecer.
Eu o escolhi intencionalmente.
~ 63 ~
— Reservas já estão feitas, para dois às oito horas desta sexta-
feira, com as despesas indo diretamente para a conta de minha família.
— Precisávamos de uma cenoura para balançar na frente da assistente
de Jace, e Dani sugeriu jantar no Per Se para ela e seu namorado.
— Não.
— Se ele me impressionar.
~ 64 ~
— Marnie, — Dani chama no segundo que saímos. Ela caminha
depressa através do mogno do chão ao teto, lustres de cristal e couro
italiano branco, em direção a duas mulheres sentadas atrás da
recepção gigantesca, seus saltos acelerando na medida em que batem
contra o travertino.
~ 65 ~
manhã juntas. Quanto Natasha realmente era amiga de Celine? —
Sente-se, por favor.
— Tudo certo. Vejo você no próximo mês. Diga oi para o seu pai
por mim. E me faça ganhar mais algum dinheiro. — Um homem de
cabelos grisalhos sai com uma risada, piscando para ambas, Natasha e
eu, antes de desaparecer no corredor.
— Por quê?
~ 66 ~
— O tempo dele é valioso. Ele quer ter a reunião mais
produtiva. Assim que eu conseguir localizar os arquivos, ligarei para
você e podemos reprogramar. Mais uma vez, sentimos muito sobre isso.
— Ela não soa arrependida quando analisa meu vestido de novo. Se eu
não soubesse de nada, diria que ela está feliz por não ter dado certo.
— Gostaria de ver o que você pode fazer por mim, — digo em vez
disso, limpando minha voz, porque estou soando muito instável para o
meu gosto. — Ainda que esteja começando a me perguntar se esta
empresa é organizada o suficiente para me ajudar.
~ 67 ~
— Nós nunca tivemos um problema como este antes. — Seus
olhos piscam para mim e peço desculpas silenciosamente por lançar
sua assistente debaixo do ônibus, mesmo ela sendo uma cadela. Um
lampejo de diversão toca sua expressão. — Mas me sinto bastante
confiante de que podemos ter uma boa conversa, apesar dos
documentos. Obrigado, Natasha. — Seu olhar é muito mais uma
demissão do que qualquer coisa que eu já vi.
Este homem foi uma vez a minha salvação. Agora ele vai ser a
minha ruína.
Ele olha a capa com um sorriso. Mas noto que suas bochechas
não são afetadas. Ele não está envergonhado pela atenção. Não consigo
entender e minhas alfinetadas de desconfiança crescem ainda mais.
Quando uma proeminente revista ambiental fez um artigo completo
sobre mim no ano passado e as pessoas começaram a retirar suas
cópias com grandes sorrisos em seus rostos, era tudo que eu podia
fazer para não me enfiar debaixo da mesa. Eu nem sequer queria ter a
estúpida visibilidade, pra começo de conversa. Celine foi a única que me
convenceu de que eu deveria fazer para conseguir a atenção de
investidores e ativistas.
~ 68 ~
Talvez Jace realmente seja o filho da puta arrogante que Dani
disse. Mas, por que diabos Celine estaria saindo com um cara como
este? Ela era muito tímida, doce demais para ele.
Imaginei assim.
~ 69 ~
limites de risco com escrita perfeita, me assediando com charme apenas
o suficiente para segurar a minha atenção, sem qualquer oportunidade
de ser acusado de ter um comportamento inadequado para uma
primeira reunião.
Sua mão roça na parte inferior das minhas costas e tento não
endurecer. — Não, eu realmente odeio essa cidade. Estou voltando para
San Diego o mais rapidamente possível.
~ 70 ~
Isso é tudo. Grady prometeu que eu pegaria alguma coisa com a
sua linguagem corporal, mas isso não me diz nada, exceto que Jace
realmente não conhece Celine ou que ele é um ator fenomenal. Qual
será?
~ 71 ~
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— Eu deveria ter avisado você. — Ela deixa cair sua voz. — Ela é
mais amiga de Marnie que minha.
— Ela não correria o risco de ser demitida por irritar seus clientes
e fazê-lo perder dinheiro. Ela adora o seu trabalho. E ela faz tudo para
ele. Pega seu almoço, pega sua roupa na lavanderia, agenda todas as
suas reservas.
— Por que não estou surpresa? — Ele parece ser o tipo de cara
que espera que uma mulher cuide de todas as suas necessidades
pessoais.
~ 72 ~
porque Natasha provavelmente seria demitida e eu não quero ser
responsável por alguém ser demitido, mesmo que ela não seja tão
agradável.
Porque você disse a elas que eu não era nada pelo que Jace Everett
estaria interessado, com base em como eu estava vestida ontem. Acho
que aparecer como uma trabalhadora humanitária que mal escova os
cabelos foi uma boa ideia, afinal. Natasha nunca teria concordado em
me colocar na agenda dele de outra forma.
— Não, obrigada. Deixe Natasha saber que seu chefe não é o meu
tipo, assim ela não tem nada para se preocupar. — Tão atraente quanto
ele pode parecer, eu não me sinto atraída por homens arrogantes. Só
quero saber como ele conhecia Celine e seguir em frente.
~ 73 ~
escondendo a tela, completamente séria. Só quando aceno, ela me
entrega seu telefone. — Foi uma grande festa no
trabalho. Comemoração da aposentadoria de alguém, ou algo
assim. Eles ficaram bêbados e voltaram para a casa dele. Ela tirou isso
na manhã seguinte. Antes que ele acordasse e percebesse que tinha
transado com sua assistente, chutando-a para fora.
— Sobre a foto?
— Não! Sobre sua mãe. Ela disse que sua mãe estava com uma
gripe forte e ela desejou que pudesse estar lá para cuidar dela. Dada a
~ 74 ~
forma como ela já estava doente, Celine estava preocupada que isso
poderia lavá-la para o hospital.
Dani franze a testa. — Eu não vejo por que ela estaria. Ela estaria
com inveja, se fosse o caso. Inferno, eu estou! Olhe para isto!
~ 75 ~
Capítulo Oito
MAGGIE
Calor enche meu peito. — Oh meu Deus, Hans. Isso teria sido o
sonho de Celine.
~ 76 ~
Eu me espanto. — Seu especialista em relógio?
— Sim.
— Ei, Hans?
~ 77 ~
— Sim?
~ 78 ~
Deixo cair uma caixa na frente de uma prateleira. Quero
preenchê-la hoje. Mas, primeiro, prometi a meu contador que enviaria a
papelada de Celine para ele para que pudesse começar a preparar os
impostos dela. Mesmo os mortos têm obrigações, ele me assegurou.
Celine tinha outro emprego? Parece que sim e acho que pagava
em dinheiro. Calculo a taxa de hora em hora e minhas sobrancelhas
sobem. Isso é muito dinheiro. Deve ter algo a ver com antiguidades,
talvez? Um envelope está escondido na parte de trás do livro. No
interior, está uma pilha de recibos. Eu começo a folheá-los.
~ 79 ~
A suspeita que me pegou desprevenida me fez correr para seu
armário, as lágrimas queimando meus olhos, fazendo meus olhos
embaçarem. Eu só tinha olhado de relance suas roupas antes,
agarrando o ousado vestido listrado porque precisava do que ele
transmitia. Mas agora vou me concentrar mais de perto. Quanto mais
fundo eu cavo, mais curtos, mais apertados, mais ousados os vestidos
se tornaram.
~ 80 ~
Fico de joelhos para verificar debaixo da cama. Nada está lá além
da poeira, a sobrevivente alma do regime de limpeza excessiva de
Celine.
Eu não sabia que Celine mantinha um diário. Mas é claro que ela
tinha. Ela gostava de se manter a par de tudo. Só faz sentido que ela
iria manter o controle de sua vida.
Temendo a verdade.
~ 81 ~
Capítulo Nove
MAGGIE
03 de dezembro de 2015
— Eu não tenho certeza do que está errado. Vou ligar para o meu
assessor quando tiver uma chance, — minto e minha voz é oca.
Mal consigo manter meus olhos abertos e ainda assim sei que o
sono não vai me conceder um indulto. — Estou lidando com algumas
questões particulares.
~ 82 ~
para o que poderia estar dentro dessas últimas páginas. Que eu não
estivesse pronta para testemunhar o quanto Celine tinha se perdido.
Tantos dias.
Tantas confissões.
~ 83 ~
Mas ela sentia pena de mim. Eu tinha muito e Celine tinha tão
pouco e ainda assim ela sentia pena de mim.
Ela viu que eu tinha dois pais que não me conheciam, que
colocou Sparkes Energy e o legado do nome da família antes do legado
deles, da filha deles. Que esperavam ter as melhores notas de mim, mas
nunca expressaram orgulho por isso, que dariam festas de aniversário
perfeitas, mas não tinham ideia dos nomes de meus amigos. Às vezes,
eles nem estavam lá. Eles nem tinham a menor ideia de que eu estava
intimidada como uma caloura em um elegante colégio para o qual
pagaram muito dinheiro para me aceitar. Eles não entendiam por que
eu deixava na mesa da cozinha ou na mesa de cabeceira deles recortes
de artigos de jornais sobre problemas ambientais causados por
empresas de energia como a nossa. Em qualquer lugar onde eles
poderiam tomar conhecimento disso e das preocupações de suas
ideologias promissoras.
Ela nunca admitiu nada disso para mim. Mas ela escreveu muito
sobre isso. Sobre o que ela faria com esse dinheiro, como ela desejava
ter nascido com pais ricos em vez de uma mulher mexicana pobre, com
~ 84 ~
o paradeiro de seu pai desconhecido. Como desejava que eu percebesse
a quão sortuda eu era.
Ela odiava.
Os caras não eram muito melhores. Ela descobriu que havia uma
aposta para ver quem poderia roubar a virgindade da Princesa
Mexicana. Na primeira e única festa que foi na escola, aos dezessete
anos, alguém colocou algo em sua bebida. Se não fosse pela ajuda de
um de seus poucos amigos, ela provavelmente seria estuprada naquela
noite.
~ 85 ~
ouvia e pedia desculpas para o que não era culpa dela e nunca
mencionou o tarado que a polícia pegou sentado do lado de fora de sua
janela, observando-a trocar de roupa. Ou a gangue atirando a duas
quadras.
Ou como Rosa foi roubada com uma faca tarde da noite, voltando
para casa da parada de ônibus depois de um turno de doze horas.
É por isso que ela escolheu Nova York. Ela pegaria o dinheiro que
Rosa guardou para o seu diploma da faculdade, e iria candidatar-se
para cada bolsa que podia, e faria algo para si mesma. Com sua paixão,
seu talento e seu conhecimento de antiguidades faria uma vida real,
confortável para si mesma na qual poderia ser mais apreciada.
17 de abril de 2007
Ela poderia muito bem ter escrito “Eu odeio Maggie” com sangue,
de tão mordaz aquele particular registro era. Mais tarde, em outras
~ 86 ~
anotações no diário, Celine raramente se refere a alguém pelo
nome. Eles são simplesmente “ele” ou “ela”. De vez em quando ela faz
referência a alguém com uma inicial, mas isto é o mais longe que ela
sempre vai. É como se estivesse protegendo a si mesma no caso de
alguém ler isso. Não estou surpresa. Celine nunca foi do tipo que fala
mal de alguém, então faz sentido que ela se sentisse culpada por fazê-lo
mesmo na privacidade de seus diários.
Precisei fazer uma pausa, não muito tempo depois de ler esse
registro, bebendo um copo de vodka e acalmando meu coração
desprezado antes de seguir em frente. Felizmente, parecia que a minha
decisão de ficar com o dinheiro e começar Villages United apaziguou um
pouco Celine. Eu finalmente tive uma noção da realidade, de acordo
com ela. Fazendo algo de verdade em vez de ser aquela pessoa
“santinha que morde a mão que a alimenta”.
Mais esperançosa.
~ 87 ~
Ela fala sobre a graduação e sobre se mudar da residência da
faculdade para compartilhar um apartamento de um quarto no
Brooklyn com uma amiga da faculdade, pagando a sua parte com um
emprego de garçonete até que, nove meses depois, ela finalmente
consegue um trabalho de administração na Vanderpoel. Uma
companhia de seguros e nada glamorosa, mas ela sabe que como
bacharel em história da arte, tem sorte que eles olharam duas vezes
para a sua ficha de solicitação de emprego. Além disso, descobre que
trabalhar em uma companhia de seguros é bom para seu currículo, no
futuro. É claro que ela preferia ter ido direto para o seu mestrado, mas
Nova York é cara, e simplesmente não pode pagar as mensalidades. Ela
tem seu futuro traçado, no entanto. Ela sabe que quer se candidatar
para Hollingsworth e que, com base no que seu brilhante amigo Hans,
disse, eles olham com mais atenção para os graduados do Instituto de
Arte de Hollingsworth em seu processo de contratação. Acho que não é
preciso ser um gênio para descobrir isso.
De um banco.
~ 88 ~
Capítulo Dez
CELINE
12 de julho de 2012
~ 89 ~
dúvida viu coisas dos caras na faculdade que nós não queremos nunca
saber.
— Você é a melhor!
— Você não vai. — Eu sento ao lado dela. — Então, não vá. Por
favor. — Dou-lhe a minha melhor cara triste.
— Como secretária.
~ 90 ~
Apenas ouvi-la dizer esse número me faz estremecer. Separei o
dinheiro de cada pagamento por mais de um ano e agora mal tenho o
suficiente para comprar livros de estudo. Se eu conseguir economizar a
metade disso antes dos trinta, vou ficar surpresa. — Mas Hollingsworth
quer graduados no Instituto Hollingsworth.
— Isso é o que Hans disse. Você espera que ele esteja certo. Assim
como você espera que ele possa realmente conseguir um emprego para
você. — Sinto que ela conhece o brilho desanimado em meu rosto. Às
vezes, Hans gosta de pintar a si mesmo em cada promessa, a tal ponto
que você acha que as pessoas se curvam em sua presença. Neste caso,
espero que ele não esteja me enrolando e que possa realmente
conseguir um emprego para mim em uma das casas de leilões mais
importantes do mundo. Deram-lhe um, porque ele se formou no topo da
sua classe, com impossíveis notas altas. Ele é um verdadeiro gênio em
teoria. Provavelmente não faz mal que seu tio seja um curador de
renome, que atualmente trabalha para o Guggenheim, e ele vem de uma
longa linha de arqueólogos e historiadores.
— Posso perguntar por aí. Ver quem pode estar à procura de uma
companheira de quarto, — Patty oferece.
— Ou...
~ 91 ~
— Quantas vezes tenho que dizer-lhe que não é assim tão ruim.
Honestamente!
— Sim, você pode! Celine! Não seria bom não ter que se preocupar
sobre como vai pagar as contas? Não seria bom não entrar em grandes
dívidas, apenas a faculdade?
— Sim Mas...
— Sério?
— A editora do jornal?
~ 92 ~
— Graduada em Jornalismo pela Columbia agora.
Ela faz beicinho. — Odeio que estou deixando você na mão com
isso.
— Sim. Por quê? Que grande plano você tem? Quer dizer, eu sei
que começou Antiques Roadshow...
— Não sei.
----
~ 93 ~
minhas curvas são muito mais pronunciadas, tornando este esvoaçante
vestido à beira de ser escandaloso.
Meu riso soa instável, graças aos meus nervos. — Terei sorte se
mantiver algo no estômago.
----
~ 94 ~
Eu subo os degraus de concreto rachado para a porta da
frente. Nosso prédio parece ainda mais desprezível agora, em
comparação com o local glamoroso onde acabei de passar as últimas
quatro horas, comendo comida deliciosa que não podia recusar, apesar
de meus nervos e de meu vestido restritivo, recusando os martinis para
evitar ficar bêbada e ouvindo conversa da indústria que não fazia
sentido para mim.
Eu sorri. E concordei.
~ 95 ~
Agora corro para o meu apartamento, uma guerra de alívio entre
culpa e curiosidade está dentro de mim. Aliviada porque a noite acabou,
culpada que isso iria matar a minha mãe se ela descobrisse, e curiosa
sobre o conteúdo da sacola de presente da Tiffany que estava esperando
por mim no carro. Não me atrevi a abri-la sob o olhar vigilante do
motorista.
— Será que ele lhe deu um pouco mais? — Pergunta Patty. — Ele
normalmente faz.
~ 96 ~
— Agora você paga vinte por cento para a casa. Da taxa original, é
claro. O resto é seu. Só não diga nada sobre isso. — Ela pisca. — Eu
vou te dar o endereço dela. Você pode levar isso amanhã e ver sobre
conseguir ser adicionada à lista de chamadas regular. — Ela caminha
de volta ao seu trabalho.
~ 97 ~
Capítulo Onze
MAGGIE
03 de Dezembro de 2015
Por que ela tinha muito orgulho para aceitar o meu dinheiro, mas
não muito para vender a si mesma? Vários diários não lidos encontram-
se na minha frente. Meu estômago torce com o pensamento do que eles
irão revelar: que há evidências suficientes neste apartamento do
tamanho da caixa de sapato para sugerir que Celine teve muitas noites
com ricos velhotes que só queriam companhia.
----
04 de dezembro de 2015
~ 98 ~
Claro, começou bastante inocente. Um encontro com um senhor
mais velho, um saco de diamantes e dinheiro. Mais funções sociais
pendurada no braço dele. Em seguida, o braço de outro homem mais
velho e mais rico, que pagou ainda mais e gostava de mandá-la para
Bergdorf2 com antecedência, para escolher vestidos e cobrá-los na conta
dele. E depois outro, até que ela tinha vários homens ricos, levando-a
para “encontros” a cada mês. Isso continuou por um ano e meio,
obscurecendo seus limites e construindo sua confiança, e um belo pé de
meia para sua educação. Também lhe permitiu mudar de seu
apartamento sombrio no Brooklyn para este no moderno Lower East
Side de Manhattan no início de 2014. Ganhando tanto assim, ela
descobriu que tinha o suficiente para pagar sua mensalidade integral
por nove meses, bem a tempo para o início do programa. Claro, ainda
havia a questão de manter-se durante o programa de quinze meses de
duração de tempo integral, porque ela teria que largar seu trabalho em
Vanderpoel. Mas ela achou que alguns “encontros” na semana não era
nada que não poderia resolver.
Há sempre um problema.
Não sei quem é essa “L”, mas ela agradeça se eu nunca encontrá-
la.
2Nota da tradutora: Sofisticada loja em Nova York, localizada em um dos pontos mais
descolados da Fifth Avenue.
~ 99 ~
Celine, nervosa e em conflito e não sabendo como ela manteria
seu apartamento, muito menos poupar o suficiente para pagar os
estudos e começar a faculdade no ano seguinte, investiu em algumas
lingeries provocativas e uma garrafa de Grey Goose. Porque Deus não
permitiu que ela pedisse alguma ajuda de sua amiga rica, que pularia
em um avião e pessoalmente a mataria se soubesse o que ela estava
fazendo para ter dinheiro.
E ela diz para si mesma uma e outra vez que está tudo bem. Um
monte de meninas faz isso para conseguir fazer faculdade. “L” diz isso
também.
~ 100 ~
É em uma data em meados de julho que acho que encontrei algo.
16 de julho de 2015
Eu ainda não estou totalmente certa de que não fiz a coisa errada
ao aceitar. Ele se apresentou para mim como Jay e perguntou se eu era
Maggie (M iria me estrangular se soubesse que usei o nome dela com os
clientes). Eu estava com medo de não continuar com isso. Com medo de
que se me recusasse, ele diria às pessoas o que eu estava fazendo.
Me chamando.
Nós fizemos isso bem ali no sofá, com todas as luzes brilhando
sobre nós. E foi o melhor que já tive, cliente ou não. Por um tempo depois,
quando ele apenas olhou para mim, isso ainda parecia “real.”
~ 101 ~
minha cabeça e fiquei animada novamente. L espera uma divisão quando
a gorjeta é superior a 20 por cento, mas eu preciso desse dinheiro mais
do que ela. Ela vai conseguir dividir o principal e estaremos quites.
Será que ele realmente quis dizer o que disse quando me deu um
beijo de boa noite e perguntou se eu gostaria de fazer isso de novo em
breve, “Maggie?” Ele piscou para mim quando ele usou esse nome.
Mas esse registro foi de julho e é o último neste diário. Será que
eles já se encontraram novamente?
~ 102 ~
Capítulo Doze
MAGGIE
~ 103 ~
Deve haver um diário em algum lugar que vai me dizer o que
aconteceu entre 16 de julho e a noite em novembro que Celine
morreu. Especificamente, o que aconteceu com “Jay”.
Ele ainda não diz nada, seu olhar sobre mim, sobre o fogo, sobre
as luzes que liguei. Finalmente, recebo um leve aceno de cabeça. —
Você pulou a cerca?
Depois de atiçar o fogo com mais lenha, Grady anda para o outro
lado da rede e calmamente entra, puxando meu cobertor até que ele
tem o suficiente para envolver em torno de si mesmo, antes de
mergulhar o seu mais grosso e mais pesado sobre nós dois. — Isso é
bastante impressionante.
~ 104 ~
Ele dá de ombros. — Eu apenas gosto do meu espaço para ser...
meu.
Ele ri.
— Não. Mas você tem que me contar, Maggie... por que seus dias
foram tão ruim que você recorreu a invadir meu espaço?
Eu sorrio apesar do meu mau humor, porque amo o jeito que meu
nome soa com seu sotaque. Mas isto desliza tão facilmente. — Eu
encontrei os diários de Celine.
— Sim, pode ser. — Não tive tempo suficiente para processar tudo
isso, para decidir para quem - se alguém - vou dizer. Ou o que eu
deveria dizer. E, no entanto, por alguma razão tenho o desejo de contar
a Grady. Talvez porque ele conhecia Celine, mas realmente não a
conhecia. Talvez porque duvido que ele seja o tipo de correr e contar a
todos que ele sabe. Ele é um cara tranquilo. Privado, definitivamente, se
a câmera de segurança aqui me diz alguma coisa. Talvez porque nós já
descansamos aqui uma vez, e ele não tentou nada comigo, não pareceu
querer alguma coisa de mim. Ele estava contente em
simplesmente estar comigo.
~ 105 ~
pagado por tudo – seu aluguel, sua taxa de matrícula, tudo - mas ela
nunca iria aceitá-lo! — Uma lágrima quente rola sobre minha bochecha.
— Celine não desfrutou. Sei que não. Eu li sobre o quanto ela não
gostou. Pelo menos a maior parte, — acrescento tranquilamente, porque
o último registro do diário com “Jay” iria sugerir o contrário. — Ela
gostava de ter dinheiro, isso é o que ela gostava. Para não ter que se
preocupar sobre como pagaria suas contas e, em vez disso, viver seus
sonhos.
~ 106 ~
Seu elogio - no entanto imerecido que seja, depois da minha
maratona de trinta e seis horas de leitura de diários que me deixou com
bolsas escuras sob meus olhos e pele amarelada - aquece um pouco o
meu coração. Eu suspiro. Sim, ter alguém para conversar sobre isso
ajuda. — Só não sei o que dizer para a mãe dela.
Grady faz careta. — Por que diabos você iria contar para a mãe
dela? Há algumas coisas que os pais simplesmente não devem saber. —
Ele acrescenta baixinho: — Enterre isso com Celine.
~ 107 ~
vendeu a ele e ameacei matá-lo se ele não confessasse. Você pode
imaginar como isso foi agradável, ameaçar um traficante de drogas. —
O som de sua risada reverbera contra a minha orelha, enviando um
arrepio através de meus membros.
— Sim, tipo isso, — diz ele em voz baixa. — Eu não tinha pensado
sobre isso por um tempo, na verdade. Depois que ele morreu, pulei em
um avião para a América. Era para ser apenas um período de férias,
mas eu acabei ficando.
— Criação de ovelhas.
— Criação de ovelhas?
~ 108 ~
— No momento, bem aqui. — Ele está me observando, seus
longos cílios escuros tremulando enquanto seus olhos vagueiam sobre
mim, fixando-se em minha boca mais de uma vez.
~ 109 ~
Eu não fui beijada assim há um bom tempo.
— Bolso de trás.
~ 110 ~
— Terrivelmente presunçoso, — Eu brinco, enfiando a mão no
bolso para pegar o pacote de alumínio. Assim que consigo pegar o
pacote, empurro sua calça para baixo e envolvo seu comprimento em
minha mão, apreciando seu tamanho. Outra coisa que eu não percebi o
quanto senti falta.
Eu sufoco meu riso e estico nas pontas dos pés para colocar um
beijo em seu rosto. — Obrigada por esta noite. — Rapidamente
esclareço — Por me emprestar seu ouvido.
~ 111 ~
Obrigado por me emprestar suas outras partes do corpo. — Ele se vira
para sair, subindo dois degraus de cada vez, de volta para o quarto
andar.
~ 112 ~
Capítulo Treze
MAGGIE
~ 113 ~
dedo indicador sobre a maioria dos pensamentos privados de Celine
fazendo uma leitura rápida. Ele olha quatro das páginas marcadas,
antes de entregar o diário de volta para mim. — Então, ela era uma
prostituta. — Nem mesmo uma pitada de choque em sua voz.
— Ela escreveu em seu diário quase todos os dias desde que tinha
treze anos e o último diário termina em julho.
— Hmm...
— Não me lembro.
~ 114 ~
Detetive Childs suspira e se inclina para trás na cabine. — Você
está conectando um monte de pontos espalhados para pintar um
quadro que você está desesperada para ver.
— Por quê? Porque você acha que ele pagou por sexo e não quer
que ninguém saiba sobre isso? Não há nenhum antecedente desse cara
agredindo ou ameaçando sua amiga, ou até mesmo se a conhecia. Não
temos recursos para perseguir palpites.
Eu tinha medo que ele ia dizer isso. — Ok. Como faço para
conseguir algo bastante atraente para você então?
----
~ 115 ~
Meu nariz é recebido por uma mistura de fumaça de cigarro,
perfume almiscarado e purificadores de ar floral no segundo em que
empurro a porta.
~ 117 ~
— E me dê o seu número de celular, também.
— Ok. Não o deixe saber que você tem conhecimento sobre ele e
sua amiga. Isso vai deixá-lo paranoico, e isso faz com que seja mais
difícil para eu fazer o meu trabalho.
----
~ 118 ~
desenho animado enquanto ela está de pé na sua porta. — E fiz uma
receita de biscoitos, também. Você gostou daqueles, certo?
Ruby espia por cima do ombro com um grande sorriso. Para mim,
ela balança a cabeça. — Estou sempre entupindo a pia. Graças a Deus
por este jovem maravilhoso.
~ 119 ~
aconteceu ontem à noite não o perturbou. Talvez ele tenha mentido e
tenha sexo com mulheres lá em cima o tempo todo.
~ 120 ~
Capítulo Quatorze
MAGGIE
O prédio de Jace.
Jay?
~ 121 ~
— Você está bem? Você parece... preocupada. — Eu olho para os
olhos azuis curiosos, seu olhar seguindo para o decote do meu vestido
de bolinhas vermelho e branco por um segundo fugaz. Outro vestido
sedutor de Celine que intencionalmente usei porque
bolinhas são sempre memoráveis e eu ainda estou pescando por sinais
óbvios de reconhecimento.
Mas não agora, porque tudo no que posso pensar é sair dessa
armadilha mortal de metal.
~ 122 ~
E então as luzes desligam, lançando-nos na escuridão completa.
~ 123 ~
meu peito e ouço-o dar ao 911 nossos dados de uma forma muito calma
e profissional - o endereço do prédio, número de ocupantes. Estado de
saúde.
— Apenas fale.
~ 124 ~
— Sobre?
— Sim.
— Como é isso?
— Bom, eu acho.
— Eles tiveram seus momentos, mas acho que tive sorte a esse
respeito.
— Como assim?
~ 125 ~
— É um sonho tornando realidade.
— Certo. É por isso que você foi presa por protestar contra uma
das usinas da sua família?
— Você deve tentar isso algum dia, se você puder parar de contar
o seu dinheiro por mais de um segundo, Tio Patinhas.
Seu corpo fica tenso ao meu lado. — Desculpe, isso foi rude da
minha parte.
— O que está errado, com medo que eu leve os meus fundos para
longe antes que você comece a jogar?
~ 126 ~
— Como se fosse assim tão fácil! — Eu falo, meu peito pronto
para ceder à pressão. Nunca tive um ataque como este antes.
Agarrando cada lado da minha cabeça, ele puxa meu rosto para o
seu, cobrindo minha boca com a sua, até que estou empurrando seu
peito repetidamente para me libertar.
~ 127 ~
ele. Ele geme quando meus punhos apertam sua gravata, enrolando-a
apertado até que não posso ter certeza se não estou sufocando-o. E eu
não me importo, porque há algo sobre Jace que me faz esquecer todas
as boas maneiras e considerações. Há algo que me faz querer assumir o
controle.
~ 128 ~
— Senhora! Você é a pessoa que sofre de claustrofobia? — Uma
paramédica corpulenta chama. Depois de mentir para ela - felizmente
há muito caos no saguão para ocupar mais do que alguns segundos de
atenção de alguém - eu tento sair da confusão.
Estou a alguns metros das portas quando uma mão firme agarra
meu braço. Eu me afasto dela rapidamente, virando-me para encarar
Jace.
~ 129 ~
Capítulo Quinze
MAGGIE
~ 130 ~
— Você talvez devesse atender? — Ele pergunta quando meu
celular toca pela terceira vez.
Eu estou certa.
— Ei, Doug.
— Quem é este?
— Sim. Isso é exatamente o que ele é. Deve ser bom. Acho que
vamos descobrir.
A menos que Ruby contou a Grady quem eu sou, acho que ele
não tem ideia de quem é a coxa sobre a qual ele está pressionando sua
ereção agora. Prefiro manter assim. Sim, em meu ataque emocional na
outra noite, contei a ele que tenho muito dinheiro. Mas é ainda mais do
que ele pode imaginar. — Eu dei-lhe um cheque. Acho que ele vai
trabalhar até eu conseguir minhas respostas ou eu parar de pagá-lo, o
que ocorrer primeiro.
— Claro. Ela quer passar por aqui e ver o lugar no próximo fim de
semana, se você estiver de acordo. Mas só se você estiver de acordo.
Sem pressão, sério.
~ 132 ~
Capítulo Dezesseis
MAGGIE
05 de Dezembro de 2015
— Antiques Roadshow?
Não é difícil ver por cima do seu ombro. — Como você conseguiu
uma cópia do caso de Celine?
Ele fechou antes que eu pudesse dar uma boa olhada na cópia da
foto e enfiou de volta no seu esconderijo. — Chester tirou impressões
digitais daquela noite. Nada além das dela foi encontrado.
~ 133 ~
— Não. Eu sempre gosto de testar as fechaduras para os meus
clientes. — Ele dá de ombros. — É Nova York. Todo cuidado é pouco,
especialmente quando uma escada de incêndio de um beco leva para o
seu apartamento. É muito fácil puxar a escada para baixo ao nível do
chão, se você sabe o que está fazendo. Investiguei este edifício. O último
registro reportado de invasão foi vinte e dois anos atrás, então acho que
você não deve se preocupar muito. Mas você deve perguntar o
supervisor sobre isso. Descobrir quando foi consertado. Preciso do
computador de Celine e as senhas. Posso usar isso? — Doug se abaixa
para pegar uma das caixas de madeira antigas.
— Sim.
~ 134 ~
Eu imagino que seja a última, o que significa que talvez elas não
fossem dele afinal... — Ouça, sobre esse gestor de fundos...
Ela ri. — Não. Sem filhos. Nenhum marido... Sou uma exceção
para a sociedade. Nunca poderia encontrar um homem que combinasse
comigo. — Ela suspira. — Eu realmente gostei de ter Celine ao lado. —
~ 135 ~
Seus olhos vagueiam sobre as prateleiras meio vazias, inúmeras caixas
já marcadas e empilhadas em um lado da sala de estar. — As coisas
parecem diferentes desde que estive aqui pela última vez.
~ 136 ~
E o quão longe estas pretensões me fizeram chegar? Além de
enganar e quase transar em um elevador...
Ela se inclina mais perto, como se o que ela está prestes a dizer
não deve ser ouvido. — Você também não acha que foi suicídio, não é?
Assim era como eu também via Celine. — Você não acha que
talvez ela não estivesse bem da cabeça naquele momento em particular?
~ 137 ~
— Doug é um investigador particular, recomendado pelo detetive
que fechou este caso, — eu finalmente admito. — Ele vai investigar
algumas pessoas com as quais Celine se relacionava. E próximas a ela.
Em suas atividades diárias e tal.
— Eu não entendo.
— Eu costumava. Tem sido vinte anos desde que meu último foi
liberado. Vivo com meus direitos agora, que é apenas o suficiente para
as coisas simples da vida, graças ao meu controle de aluguel. Meu
~ 138 ~
ponto é que sou a senhora velha tonta do outro lado do corredor que
gosta de teorias de conspiração e resolver mistérios. Ninguém
acreditaria em mim se eu dissesse que Celine foi assassinada. E, como
para a outra coisa, bem... Eu percebi que ela iria querer manter esse
segredo para si mesma.
— Mas pode ser este segredo que a tenha matado. Eu não sei. Eu
não sei nada sobre isso, exceto o que li em seus diários, porque ela
nunca me disse. — O que mais Ruby pode saber? — Ela nunca falou
sobre uma amiga, cujo nome começava com um L? — Eu hesito ao usar
a palavra, “amiga”.
~ 139 ~
— Ruby, este é... — Dirijo-me a cumprimentar Hans.
— Jace. — Ela é tão velha e rígida que precisa virar seu corpo
inteiro para olhar para mim, com os olhos brilhando. — Nós estávamos
falando sobre você.
~ 140 ~
fechando uma porta aberta. Mas depois do que aconteceu ontem no
elevador, definitivamente não queria vê-lo novamente em pessoa.
— Eles são, mas não estou com pressa. Você deve ler antes de
assinar.
~ 141 ~
— Oh, inferno, não! Ela tem o amigo brilhante e talentoso de
Celine trabalhando exaustivamente para vender esta valiosa coleção em
um leilão silencioso no estimado showroom de Hollingsworth, — uma
voz masculina petulante anuncia. Hans pisa com suas botas pesadas
no capacho. — Alguém no térreo ficou com pena e me deixou
entrar. Minha pele delicada não foi feita para este tempo! — Ele
lamenta, desenrolando o cachecol xadrez vermelho escondendo metade
do rosto. Está apenas um pouco abaixo de um grau lá fora e ele está
vestido para uma caminhada através de Alasca.
— Crown Staffordshire?
— 1938.
Ruby sorri para nós com entusiasmo. Para uma mulher idosa,
esta agora é uma festa. — Eu volto em um momento com outra xícara.
Tomando chá.
~ 142 ~
— Sim.
~ 143 ~
mandíbula lembrando-me da outra noite. Em seus jeans desbotado e
camiseta Black Sabbath, ele é o oposto de Jace tanto quanto um cara
poderia conseguir.
E estou ficando muito mais atraída por ele por causa disso.
Jace tosse contra sua boca cheia de chá. — Isso é algo que sua
amiga estava fazendo?
— Bem... — Jace coloca sua xícara sobre o pires. — Isso soa como
uma instituição de caridade louvável, então. — Ele limpa a garganta e
fica de pé. — Obrigado pelo chá, Ruby. Preciso ir agora.
~ 144 ~
Seus olhos seguem para minha boca. — Acho que devo a você. —
Ele faz uma pausa. — E você parece tão obcecada em acreditar que sou
um idiota, talvez isso mude sua opinião.
----
Ele deve ser capaz de ler minha mente. — Então, onde é o lar para
você, Maggie Sparkes?
~ 145 ~
Ele se inclina, a ponta do seu nariz gelado toca a ponta do
meu. — Então você gosta de climas quentes.
Eu sei que esta “coisa” que nós temos é temporária, por isso estou
na maior parte brincando quando digo: — Ou você pode vir e me ajudar
a construir uma casa. Se eu voltar para lá, então, — eu adiciono
rapidamente, lembro-me de Rosa e uma pontada amarga desliza em
minha espinha.
~ 146 ~
Um telefonema de Doug - eu já lhe atribuí o seu próprio toque
agora, para me salvar de conferir o telefone - rompe esse momento
íntimo.
— Não posso dizer com certeza, ainda. Fique ligada. Além disso,
nós passamos por registros escolares de Jace Everett. Ele é um cara
inteligente, baseado em suas notas. Ficou fora de problemas a maior
parte.
— A maior parte?
Eu suspiro de frustração.
3 Nota da tradutora: Backdoor é um recurso utilizado por diversos malwares para garantir acesso remoto ao
sistema ou à rede infectada, explorando falhas críticas não documentadas existentes
em programas instalados, softwares desatualizados e do firewall para abrir portas do roteador. (Fonte:
http://www.psafe.com/blog/backdoor/)
~ 147 ~
— “L” significa Larissa Savoy. É o único L lá. Trinta e um anos,
solteira, uma advogada imobiliária em Delong e Quaid, vive em 30 East
Street. Nós temos uma série de mensagens entre ela e Celine. Tudo
cuidadosamente redigido. — Ele bufa em meu ouvido. — Mas eu tenho
nomes dos clientes. Alguns números de telefone. Você deseja conseguir
mais informações sobre eles?
— Outra coisa que notei - seu registro no diário mostra que ela
parou com os serviços de acompanhantes no final de julho.
Meus olhos seguem o homem deitado ao meu lado, que agora está
retirando o preservativo e puxando suas calças para cima. Uma ponta
~ 148 ~
de desconfiança me importuna. Ele disse que nunca falou com ela. —
Sobre o quê?
~ 149 ~
Capítulo Dezessete
CELINE
28 de julho de 2015
~ 150 ~
Eu desligo, e meu estômago retorce de ansiedade.
~ 151 ~
Capítulo Dezoito
MAGGIE
06 de Dezembro de 2015
Fantástico.
~ 152 ~
esta manhã, parcialmente escondida sob um casaco branco de
inverno. Também de Celine.
— Sim.
~ 153 ~
cinismo, nivelando meu olhar para ela asperamente. — Sim, eu tenho
certeza que você é muito boa no que faz.
~ 154 ~
bem fechados. Quando fala novamente, é com um sorriso. — Você está
obviamente equivocada sobre isso. Acho que você está à procura de
pessoas para culpar pelo que Celine escolheu fazer com sua vida. Mas
eu poderia lembrá-la que fazer acusações sem provas sólidas só vai
prejudicar você e a memória de Celine. Qualquer confusão que você
causar pode fazer a mãe dela descobrir o que ela estava fazendo. Você
realmente quer isso? Acho que a pobre mulher passou o suficiente, não
é? Pelo que Celine me contou, este tipo de notícia iria matá-la.
~ 155 ~
hispânica para acompanhante. Obviamente, pensei em
Celine. Providenciei um encontro entre os dois.
— Onde?
Se Larissa não sabe, então é porque Celine viu Jace apenas uma
vez, ou porque Celine decidiu ficar com as taxas de Larissa e não
contou a ela.
~ 156 ~
Larissa se levanta e começa a caminhar para a porta, sinalizando
o fim da conversa. Sigo, admirando seu perfil curvilíneo. Posso ver por
que os homens pagariam por ela. Simplesmente não consigo entender
por que ela - uma mulher já bem sucedida - iria vender a si
mesma. Mas acho que é como Celine disse sobre mim: eu nunca terei
uma boa noção da realidade, porque nunca precisei de qualquer
coisa. Não financeiramente, de qualquer maneira.
~ 157 ~
Capítulo Dezenove
MAGGIE
09 de Dezembro de 2015
~ 158 ~
Eu estudo a imagem - um vaso alto e fino, com uma base
dourada, decorado por detalhe floral colorido em volta do pescoço e um
dragão vermelho no corpo. — Eu não me lembro de embalar isso.
Hans tagarela enquanto ele desembrulha cada peça frágil, sua voz
trêmula com os nervos. — Eu não posso acreditar que Celine tinha isso
e não me telefonou imediatamente! É uma história bem conhecida. O
sétimo imperador da Dinastia Qing - a última dinastia chinesa antes da
República Popular da China ser formada - encomendou dois vasos de
porcelana para adicionar à sua coleção imperial, em honra de seus
primogênitos, gêmeos, que morreram três dias após o nascimento. Eles
eram réplicas exatas um do outro, feitos utilizando as cinzas dos ossos
dos corpos das crianças.
Eu tremo só de pensar.
Por mais difícil que seja de acreditar que o seu palpite poderia
realmente estar certo, preciso me lembrar de que toda esta investigação
de Doug é baseada em um palpite, também. Minha crença de que Celine
não se mataria.
~ 160 ~
libras em uma casa no Reino Unido. E você sabe para quanto ele foi
quando o leilão realmente abriu? — Eu espero ele responder enquanto
ele faz uma pausa para olhar para mim. — Equivalente a oitenta e cinco
milhões de dólares!
— O cara que comprou aquele vaso seis anos atrás pagou vinte
pelo seu, — ele atira de volta. — Se eu pudesse encontrá-lo e verificar as
marcas, então saberia se vale a pena levar a meu diretor. Vamos
precisar de várias avaliações, é claro, e testes.
— E sobre as fotos que enviei? Será que ela não tirou de todos os
ângulos? — Pelo que eu vi, se havia alguma assinatura, Celine com
certeza a fotografou.
— Isso não faz sentido. Ela sempre foi tão meticulosa. Por que
incluí-lo neste livro, mas não em sua outra catalogação? — Eu franzi a
testa, olhando sua escrivaninha agora vazia, onde seu computador
~ 161 ~
costumava estar. Alguém poderia ter apagado as fotos deste vaso? Suas
senhas estavam bem ali.
~ 162 ~
Capítulo Vinte
CELINE
11 de novembro de 2015
~ 163 ~
mais as taxas de avaliação, pelas quais não poderia pagar, mas era
necessário naquele momento.
~ 164 ~
encontrou o vaso gêmeo há muito perdido é como pedir ajuda quando
você não precisa.
Eu considerei levar isso para Ling, mas dado que ela é uma
negociante de arte chinesa, me sentiria obrigada a vender para ela. Não
há como eu vender algo que pode se revelar ser precioso para algum
comerciante de Chinatown. Este é um achado para os gostos de
Hollingsworth, em algum lugar onde eu posso fazer um nome para mim
na área.
Preciso falar com Hans. Ele deveria vir amanhã à noite para
verificar o Fauxbergé, mas desmarcou comigo, novamente. Ele prometeu
que viria em poucas semanas. Quase me sinto estúpida sugerindo a
autenticidade, prefiro mostrar a ele e ver o que ele diz.
~ 165 ~
Capítulo Vinte e Um
MAGGIE
09 de Dezembro de 2015
É essa energia que primeiro atraiu meu pai, pelo menos foi o que
ele disse. Se ele tivesse se casado com uma debutante do clube como
todos os homens Sparkes antes dele, em vez de uma mulher com uma
carreira profissional, será que eles ainda estariam casados hoje?
~ 166 ~
— Estou voltando para San Diego, logo que terminar aqui, para
ficar com ela até que... — Minha garganta começa a fechar com um
pedaço considerável. — Até que ela não precise mais de mim.
— E como você está fazendo isso? Rosa disse que você pode
realmente ficar lá? — Meus pais têm conhecimento sobre a minha
claustrofobia desde que eu tinha sete anos, quando me levaram para
ver um especialista. Até aquele momento, eles tinham apenas atribuído
minha chateação por estar muito tempo em um carro por ser uma
criança exigente; minha recusa em caminhar por multidões ou entrar
em salas pequenas, e minha necessidade de buscar saídas, por ser
“difícil”.
Tenho que admitir que, enquanto meus pais não estavam sempre
lá para mim, eles sempre asseguraram que eu tivesse o melhor de tudo.
~ 167 ~
— Você está certa. Quatro imagens daquele vaso foram excluídas
do computador.
— Bingo.
~ 168 ~
Quando uma torta de queijo com duas colheres é colocada entre
nós - cortesia do chefe, porque Waldorf Astoria conhece bem a
matriarca da Sparkes Energy - ela inadvertidamente traz Jace Everett
na conversa. — Então, Clifton Banks mencionou que você está
investindo fundos com a filial da empresa de investimento do
Governador Everett, em Nova York. Não que seja mais a empresa dele.
~ 169 ~
porcentagem desse montante irá para uma causa de minha
escolha. Ultimamente, tem sido a fundação que construí do zero.
~ 170 ~
Celine teria realmente namorado um cara cuja mãe compartilhava
sua paixão, eu aposto. Apesar de que a verdadeira emoção de Celine
estava sempre na identificação dos tesouros e pagando muito pouco por
eles, em vez de entregar milhares - se não mais - para alguém que tinha
feito o trabalho braçal.
E outra.
----
~ 171 ~
para você com algumas fotos. — Enviei as fotos da biblioteca de Eleanor
Everett para mim do telefone da minha mãe. Imaginei que Hans
também pode ajudar a identificar o que está naquelas prateleiras.
~ 172 ~
Capítulo Vinte e Dois
MAGGIE
10 de Dezembro de 2015
~ 173 ~
— Ok. Potencialmente. Você acha que alguém sabia o que isso
valia, matou Celine e roubou o vaso, e que Jace Everett - que pode ter
pagado Celine por serviços sexuais - é o culpado, porque sua mãe e seu
pai, o governador de Illinois, têm uma apreciação por antiguidades
chinesas.
— Certo.
— Eu não sei. — Essa é uma boa pergunta. Uma que eu não tinha
pensado em questionar. — Talvez por que... Bem, ela definitivamente
teria notado o roubo imediatamente. Celine era extremamente
detalhista. — Quando éramos mais jovens, Rosa tinha certeza que sua
filha tinha TOC, sempre alinhando suas bonecas e bichos de pelúcia em
fileiras. Ela soube de outras peculiaridades que vêm junto com tal
diagnóstico, no entanto. Descobriu-se que ela simplesmente amava
ordem e padrões.
~ 174 ~
Eu só posso dar de ombros em resposta. Celine seria o tipo de
aprender mais antes de ficar muito animada sobre um achado tão
monumental.
— E então o quê?
— Do telefone de Celine.
~ 175 ~
— Não. — Eu me viro e marcho para fora, antes que ele tenha a
chance de me dizer que eles não podem usar qualquer evidência disso
para construir um caso qualquer.
----
— Se alguém pedir uma avaliação sobre este vaso, isso vai causar
uma comoção. Eu ouviria sobre isso. — Hans anda de um lado para
outro, suas pernas longas e finas dando voltas em torno das caixas com
habilidade surpreendente.
Isso é considerável.
~ 176 ~
Isso também significa que o resto de sua coleção - ou pelo menos
uma boa parte dela - tinha que ter sido comprada através de
concessionários privados, e nem Hans nem Zac tem alguma visibilidade
sobre isso.
Isso também significa que Jace Everett foi criado por uma mulher
que conhece a história dos vasos gêmeos. Quem aprecia a falta de um
para o seu valor monumental.
~ 177 ~
Momentos depois, Doug retorna. — Há quanto tempo isso está lá?
— Sua mandíbula está apertada. O que será que o incomoda mais, ele
não ter notado, ou que a velha senhora saber mais que ele? Para ser
justa, eu também não havia percebido.
— Não posso dizer com certeza, mas pergunte a Grady. Ele sabe
tudo o que acontece neste edifício.
----
~ 178 ~
— Eu convenci Dean que ele deveria...
— Quem é Dean?
— E quem a supervisiona?
— Qual?
Ele está agindo de forma diferente hoje, como se nós não nos
conhecêssemos. Poderia ser apenas uma reação a Doug, que não pode
trazer para fora o melhor nas pessoas. Mas não, há algo mais lá. Eu o
sinto se fechando para mim.
Ou...
O ciúme queima dentro de mim enquanto olho o jeito que ele está
vestido - ou a falta das roupas - de novo.
~ 179 ~
pequena câmera escondida no canto, escondida de aviso casual. Sim,
padrão.
~ 180 ~
Capítulo Vinte e Três
MAGGIE
11 de Dezembro de 2015
~ 181 ~
Hans balança a cabeça. — Qualquer um pode abrir uma loja
assim e dizer que é avaliador. Esta Lady Bone4 provavelmente registrou-
se para um curso de dois dias, e voilá, agora ela é parte da liga de
avaliadores certificados. — Seus olhos se estreitam em uma mulher
asiática pequena de meia-idade com cabelo curto óculos de aro grosso,
conversando com um casal mais velho nos fundos. — Eu lhe garanto
que ela desvalorizou cada item aqui apenas para poder comprá-los e
vender e ter um enorme lucro. É assim que estes concessionários
privados trabalham.
4 Senhora Osso.
~ 182 ~
meu, uma cadência animada em sua voz. Não posso evitar, mas olho
para ele. Ele é alguns centímetros mais baixo do que eu. Graças a Deus
não estou usando saltos porque eu nunca seria capaz de conseguir
fazer isso com uma cara séria.
~ 183 ~
casca de amendoim que misteriosamente produziu, e joga a casca vazia
no chão. Percebendo nossos olhares, ele dá uma batidinha no bolso do
casaco e encolhe os ombros. — O quê? Eu trabalho por longas
horas. Preciso manter lanches ao alcance.
— Você acha que ele ia levá-lo para uma casa de leilão, se ele o
roubou? — Eu pergunto, descartando o hábito bastante indecente de
Doug.
— Acho que não. — Ele faz uma pausa. — A menos que ache que
cobrisse seus rastros. Ele pode esperar algum tempo, porém, apenas
para ter certeza que vai conseguir despistar. Ele não sabe que você me
contratou para investigar o computador dela, certo?
— Será que eles vão falar com você? Quero dizer, você não é um
concorrente?
Doug acena com a cabeça. — Claro. Ele seria tão burro para
trocar e-mails sobre isso com alguém? Vou conseguir que Zac entre no
sistema de e-mail da FCM.
~ 184 ~
— Não há muito que ele não possa fazer. Será difícil passar os
firewalls, mas é uma grande rede e tudo que você precisa é de uma
pessoa para abrir o e-mail errado.
— Nada de invadir. Seja convidada. Diga a ele que você quer saber
mais sobre o mercado e que você pode ter mais dinheiro para gastar
com ele. Diga... Que seu conselheiro enviou alguns planos de
investimentos e que você não está muito confiante e gostaria que Jace
os analisasse para uma segunda opinião.
Doug está tentando fazer uma jogada inútil aqui. — Mas esse é o
tipo de coisa que faríamos em seu escritório.
— Você está muito ocupada durante o dia. Tem que ser durante a
noite.
~ 185 ~
— Não. Se ele acha que você está lá para vê-lo, vai ficar tudo
bem. Ele não vai suspeitar de nada. Basta balançar todo esse dinheiro
na frente dele e dar uma boa olhada ao redor.
----
Sua risada alcança meu ouvido de uma maneira que amo, antes
de lembrar exatamente quem é esse cara. — Justo. Que tal nos
encontrarmos durante o jantar? Conheço um ótimo lugar italiano na
Chelsea.
~ 186 ~
— Que tal a sua casa. Hoje à noite?
Há uma longa pausa e mordo meus lábios, com medo de que Jace
Everett ache isso um pouco rápido. — Você tem uma caneta?
----
Ele seria tão estúpido? — Não faço ideia. Isso é o que nós
esperamos descobrir. Mas não sei se posso fazer isso.
Uma risada escapa dela. — Se você pode lidar com todos esses
magnatas poderosos tentando pegar seu dinheiro, você pode lidar com
um idiota bonito.
— Que pode ter tido algo a ver com a morte de Celine, lembre-se.
~ 187 ~
— Oh, isso é uma escolha inteligente, — diz Ruby ao retornar,
olhando o vestido preto simples com um decote em V. — Atraente, mas
não evidente. Aqui. — Ela estende a mão. — Ambien. Eu uso para
dormir. Eles funcionam bem para algumas pessoas, mas vale a pena
um tiro, no caso dele ficar muito brincalhão e você precisar se afastar
dele. Isso deve lhe dar algum tempo para procurar o vaso,
também. Basta esmagar dois em seu vinho.
Se Jace tinha algo a ver com a morte de Celine, então ele tinha
algo a ver com todos os medicamentos que foram encontrados no seu
corpo.
----
~ 188 ~
— Sim, bem... Este não falhou ainda. — E dezessete andares para
cima, eu não tinha muita escolha. Já estou me sentindo fraca com
meus nervos em erupção. Estou realmente fazendo isso?
Eu sigo atrás dele, observando que ele trocou seu traje típico para
um suéter de cashmere e calças que abraçam a sua forma. Porco
imundo que paga por sexo ou não, ele se veste bem. Só não entendo por
que ele iria pagar por isso, quando ele tem uma assistente como
Natasha, de joelhos e esperando. — Sério? Pensei que você gostasse de
mulher que se comporta muito formalmente.
~ 189 ~
Eu respiro fundo e, em seguida, forço-me a relaxar contra ele.
Para mim, Jace diz, — E esta é a cozinha, que Carla usa mais do
que eu.
— É uma boa cozinha, — ela diz e ri e seu forte sotaque agita uma
pontada no meu peito me lembrando de Rosa.
~ 190 ~
Um pequeno sorriso arrogante toca seus lábios. — Claro. — Ele
bate a barra de espaço e seu protetor de tela desaparece para mostrar
um gráfico complicado com uma dúzia de diferentes linhas coloridas. —
Deixe-me explicar o que eu posso fazer com esse dinheiro. Eu vou ser
melhor, prometo.
— Não importa.
Pego meu telefone, fixo minha mão trêmula, meu coração batendo
no meu peito. — Qual o endereço de e-mail que devo enviá-lo?
— Sim, estou feliz que você veio até mim. Nunca recomendaria
esses investimentos e vou explicar por que...
~ 191 ~
Porque vou precisar de muito para passar esta noite.
----
~ 192 ~
Ele ri quando Carla aparece para recolher os pratos. —
Sobremesa, senhor?
Eu cerro os dentes. — Ela tem idade para ser sua mãe e ainda
assim ela o trata tão formalmente.
Ele sorri. — E não me diga que você não teve a sua quota de
babás.
~ 193 ~
e levá-los para a cozinha. Encontro Carla inclinando-se na frente da
máquina de lavar louça.
— Hola.
— Se você não pode ver que sou a melhor pessoa para lidar com o
seu dinheiro, então não sei mais o que dizer para você. — Acho que isso
conclui oficialmente a parte profissional da noite. Mas não posso ir
embora ainda, porque preciso ver o que tem dentro da maldita caixa de
papelão.
~ 194 ~
pendurada na parede atrás dele, forçando-o a virar. Eu rapidamente
troco nossos copos de vinho.
~ 195 ~
Eu afasto meu olhar de sua boca e viro para observar as janelas
do chão ao teto e olho para o céu à noite, durante todo o tempo
observando seu reflexo no vidro.
— Ela se matou.
Quanto tempo para que o Ambien funcione? Será que vai mesmo
funcionar? Se não, e Jace tentar algo comigo, eu vou embora.
Preciso mantê-lo falando assim ele não terá tempo para tentar
qualquer coisa comigo antes que as pílulas para dormir façam efeito. —
Você se vê saindo de Nova York?
Será que ele ainda vai pagar por prostitutas quando isso
acontecer?
~ 196 ~
sempre que há calmaria de um segundo, ao mesmo tempo mantenho
uma distância confortável, e isto parece um pouco como um jogo de
gato e rato.
— Então me diga sobre sua empresa. Li que o seu pai era um dos
sócios fundadores antes de se aposentar para que ele pudesse concorrer
para governador?
~ 197 ~
Um sorriso malicioso aparece em seus lábios, mas ele não se
queixa, descansando a cabeça na almofada e estendendo-se ao longo do
sofá de costas. Ele fecha os olhos quando enfio meus dedos no seu
cabelo muito macio e sedoso para estar na cabeça de um homem. — Eu
não posso dizer que eu já fiz isso com um cliente antes.
~ 198 ~
Meu estômago está apertado. Meu coração bate forte contra meu
peito. Se for o vaso então isto estará vindo comigo e não tenho ideia do
que farei com Jace.
— Foi ideia da Ruby! — Até eu sei que isto não é uma boa
desculpa.
~ 199 ~
Eu desligo. Meu coração ainda acelerado e meus olhos continuam
cuidando a direção da porta do escritório.
Mas eu não estou pronta para sair ainda. Esta é a minha única
chance de descobrir quais são os segredos de Jace.
Mas não existe nada exceto papelada e mais papelada. Uma tigela
que não é o vaso que quero. Nenhum diário, nenhum iPhone.
Ainda respirando.
Quando estou três passos da saída olho para cima e percebo uma
pequena câmera de segurança branca acima da porta da frente.
~ 201 ~
Capítulo Vinte e Quatro
MAGGIE
~ 202 ~
Meu peito começa a apertar. Fecho meus olhos e lembro-me do
por que estamos aqui, esperando que isso seja o suficiente para me
distrair do ataque de pânico iminente.
Ele joga uma saudação preguiçosa para mim antes de cair em sua
cadeira de computador, uma lata de Coca-Cola na mão. — Devo
proteger a minha bebida? — Sua voz é profunda e rouca, lembrando-me
de uma versão desleixada de Philip Seymour Hoffman.
~ 203 ~
Ele passa rapidamente pelas sequências de imagens – que
capturaram nosso movimento várias vezes – até a parte em que
caminho até Jace, primeiro, trocando nossos copos quando ele está de
costas, e, em seguida, secretamente despejando o Ambien no seu vinho
enquanto olho por cima do meu ombro.
Oh, a ironia.
~ 204 ~
avançando rapidamente através das sequências. — Mas vamos supor
que este seja o Senhor J. Ele ficou lá por cerca de uma hora.
— O vaso poderia estar lá! Só porque ele não está lá agora não
significa que não estava aqui. — Eu aponto na tela.
— Continue com isso. Vamos ver quantas vezes Jace Everett veio
para este endereço. E quem mais pode ter lhe visitado, — Doug diz e
sua voz é exigente.
~ 205 ~
decapitação sangrenta ou alguma merda assim, não é? Porque a última
vez que você me fez abrir um desses arquivos secretos...
~ 206 ~
fazendo o fez. Eles apagaram todos os dados para provar que nenhum
vídeo algum dia existiu.
Seja quem for que está chegando, não acho que ela esperava o
visitante, porque está tirando rapidamente a camiseta sobre a cabeça
dela enquanto desaparece em seu quarto, fora do alcance da
câmera. Em menos de quinze segundos, ela reaparece, abotoando a
calça jeans e um suéter preto suavizando sobre suas curvas. Ela solta
seu cabelo e tem apenas tempo suficiente para passar os dedos entre
ele antes de abrir a porta da frente.
Jace entra.
~ 207 ~
Ela sorri para ele e dá um passo atrás para deixá-lo entrar,
chegando a tocar seu braço. Ele não se inclina para beijá-la ou abraçá-
la ou qualquer coisa que possa sugerir um relacionamento romântico,
mas quando ela levanta na ponta dos pés para lançar um rápido beijo
na boca dele, ele não se afasta.
Parece que ele está sorrindo para ela enquanto ele fala, mas é
difícil dizer.
E então ele deve dizer algo para ela que não é amigável ou
agradável ou casual, porque seu rosto se desfaz. Mesmo por esse
ângulo, mesmo sob a luz fraca, posso ver que qualquer faísca de
emoção que surgiu nela no segundo em que ele entrou, está agora
extinto.
Ele estende a mão para ela, chamando-a para mais perto. Ela
hesita por um... dois... três segundos antes de ficar de pé. Ele não se
levanta. Ele simplesmente se senta lá e olha para ela. Eu posso ver
claramente seu rosto. É uma expressão quase indiferente. Ele está
esperando por algo.
~ 208 ~
sua cadeira rangendo quando se inclina para trás como se para ficar
mais confortável, observando-a desabotoar seus jeans e retirá-lo.
~ 209 ~
alcança um bolso interno para sua carteira, ele puxa um rolo de
dinheiro.
E começa a chorar.
— Por que Jace tem este vídeo? — Eu exijo saber, minha voz
trêmula.
Olho feio para ele. Ela faria isso? Se assim for, isso
definitivamente daria a ele o motivo para assassinato.
~ 211 ~
Capítulo Vinte e Cinco
MAGGIE
Ou seja, exceto pelo vaso faltando que eu tinha tanta certeza - tão
esperançosa – que encontraria na casa de Jace, mas não aconteceu.
~ 212 ~
Alguém está em pé na escada de incêndio.
Eu não sei o que fazer. Não vejo quem é? Chamo a polícia? Tenho
o meu telefone aberto e estou a ponto de ligar para Doug, quando outra
batida balança o vidro velho. — Maggie?
~ 213 ~
Eu entendo isso e me deito na cama, de repente, rindo
histericamente. — É claro que sim. Você está cultivando maconha em
seu apartamento.
— E isso a incomodou.
Não quero que isso signifique alguma coisa para mim - vivemos
em mundos separados e estarei indo embora em breve - mas isso
significa, afinal. Fico quieta, embora, enquanto ele rasga a embalagem
de alumínio com os dentes e, em seguida, rola o preservativo sobre si
mesmo com uma mão.
~ 214 ~
----
— Você não acha que nós acordamos Ruby, não é? — acho que
ter paredes em volta de mim, em vez de um jardim no terraço e telas de
treliça enfraqueceu minhas inibições.
— Eu? Não é provável. Mas você e aqueles gritos, acho que todo
mundo no andar estará olhando estranho para você amanhã, —
murmura Grady, deitado de costas. Parecendo completamente saciado.
~ 215 ~
— Me desculpe. — Eu o alcanço sob as cobertas, meus dedos
deslizando para a pele sensível. Ele geme quando o envolvo suavemente,
mas não é mais um som de dor.
— Nah. Não tenho tempo suficiente para fazer isso valer a pena.
~ 216 ~
— Definitivamente poderia usar alguém para substituir parafusos
lá. — Minhas palavras terminam com a minha boca na sua e nossas
línguas entrelaçadas novamente e ele estendendo a mão para a mesa de
cabeceira para pegar outro preservativo.
----
~ 217 ~
belas feições. — Você seriamente ainda não acha que... É por isso que
você contratou esse cara?
Mas agora que Grady rotulou o que nós fizemos aqui como
errado, não posso evitar, mas sinto absolutamente imunda. — Você está
certo. Nós vamos ficar com o telhado. Ou o seu apartamento. — Que
ainda não visitei.
~ 218 ~
— Sim, Ruby vai ser a minha acompanhante.
Rastejo para fora das cobertas e agarro seu cinto para puxá-lo
mais perto.
~ 219 ~
Capítulo Vinte e Seis
MAGGIE
13 de Dezembro de 2015
— Tenho sorte que este vestido ainda serve, depois de trinta anos!
— Com a mão livre, ela alisa o laço preto sobre seu quadril,
acrescentando em um sussurro, — Com uma pequena ajuda da minha
amiga, Cinta.
Eu ri. — Espero ser como você com meus oitenta anos. Você está
adorável.
~ 220 ~
— Vamos. — Eu a guiei para frente. — Vamos encontrar nossa
mesa. Você precisa conhecer os meus pais. Só me faça um favor, tente
não mencionar nada sobre Celine ou a investigação, ok?
— Ahh... Sim, eu vejo isso. É bom ver a minha filha abraçar sua
beleza de vez em quando.
Meu pai muda seu foco para uma Ruby sorrindo, que estende a
mão para apertar as duas mãos dele.
~ 221 ~
— Você criou uma mulher inspiradora, William. Você deve estar
muito orgulhoso.
Ela não pode ter mais do que trinta, no máximo. Meu pai está
namorando uma mulher da minha idade. Aquela que, se eu tivesse que
adivinhar, passa mais tempo na academia, deitada ao redor da piscina
de topless, e no salão de beleza do que em qualquer outro lugar.
Meu pai tem sessenta anos e namora uma mulher com metade de
sua idade.
~ 222 ~
legível. Não quero ser rude, mas será que é assim que as outras pessoas
se sentiam quando viam Celine no braço de seus muito mais velhos
“companheiros”? Olhavam para ela e perguntavam por que ela sairia
com um homem duas vezes a sua idade, a menos que fosse pelo seu
dinheiro?
Então Cindy está atrás do meu pai pelo seu dinheiro ou é mais
como Celine? Uma acompanhante?
— Fico feliz.
~ 223 ~
— Não. Ela tem trinta, — ele me assegura com um sorriso
paciente, e um olhar que diz que não vamos mais falar sobre isso aqui.
~ 224 ~
— Ela tem pessoas. Sua mãe disse que a comunidade mexicana
da qual ela faz parte está por perto. Eles vão garantir que ela consiga o
que precisa. Tenho certeza de que um deles vai cuidar das contas, se
você enviar o dinheiro.
— Ah, olha, eu acho que vou me sentar ao seu lado, — diz Ruby,
interrompendo a resposta do meu pai, que tenho certeza que só vai me
deixar mais irritada. — Adoro essa música. Tenho que me levantar mais
tarde e dançar, se encontrar um parceiro adequado. Talvez possamos
encontrar um jovem e você possa dançar também, — ela diz para mim,
jogando uma ducha fria na discussão acalorada.
----
~ 225 ~
— Um Cold-Blooded Ginger, — peço ao garçom, respirando o ar de
fluxo livre com puxadas profundas, meus pulmões sentindo-se leve
novamente. É a terceira vez que saio do salão de baile sufocante e vou
ao bar do hotel, onde as ricas paredes de mogno são reconfortantes ao
invés de sufocar. A primeira vez que saí, me senti mal por ter
abandonado minha acompanhante de oitenta e um anos de idade. Mas
ao voltar para minha mesa, encontrei um homem de cabelos brancos
em um terno levando-a para a pista de dança e descobri que Ruby faz
amigos com muito mais facilidade do que eu. Ela vai ficar bem por onde
passa.
E eu posso decidir não deixar este bar até a hora de ir para casa.
Mas não posso ignorá-lo agora. Então me viro. — O que você está
fazendo aqui? — Ele está vestido com um terno preto, parecendo o
cavalheiro elegante que agora sei que ele não é.
~ 226 ~
Será que sua raiva combina com a minha?
Ele dá um passo na minha direção, tão perto que seu peito toca o
meu. Luto para não recuar. Inclinando-se, ele sussurra em meu ouvido,
— O que você colocou no meu vinho?
Sabendo que ele tem a minha atenção, Jace desliza a mão para a
minha, envolvendo nossos dedos juntos em um nó apertado do qual
quero desesperadamente me livrar. Ele me guia para uma área de estar
semiprivada com duas poltronas bege e uma tela de plantas.
~ 227 ~
Eu calmamente encosto-me a minha cadeira e cruzo as pernas,
deixando a fenda aparecer, fingindo calma.
— Que pendrive?
~ 228 ~
Capítulo Vinte e Sete
CELINE
16 de julho de 2015
— Como assim, você não pode vir? Você tem que vir. — Hans
sacode a gravata lápis, enquanto sorri para um cliente na tentativa de
esconder sua irritação. — Eu trabalhei neste leilão durante dezoito
meses! É o prato principal da Hollingsworth, e ouça o que estou
dizendo, as pessoas estarão agitando as plaquetas azuis como
fanáticos. Eles falarão sobre as peças de Fabergé por anos.
~ 229 ~
O leilão é daqui a dois meses e meio, mas esse é Hans. Ele fica tão
envolvido com seu trabalho que podemos ficar semanas sem falar. — Se
houver alguma maneira de você fazer antes disso, eu aprecio. Quero
conseguir o máximo que puder por ele.
Eu tenho tanta coisa para descobrir. Tipo, como vou manter meu
apartamento, assim tenho alguma coisa para voltar. Meu contrato
expira no final de janeiro e quero renová-lo, mas não posso ser capaz de
pagar o aluguel. Provavelmente vou perguntar a Dani se ela e seu noivo
querem sublocar de mim, enquanto eles esperam a construtora
terminar o condomínio deles. Ela mencionou que está tentando
convencer seu namorado a sair da casa dos seus pais, onde eles vivem
agora de graça. Não desejo o mal para Dani, mas estou tão feliz que sua
futura sogra a leva à loucura.
~ 230 ~
a Deus não fiz isso. Vou precisar do emprego em tempo integral no
outono.
Uma parte de mim está irritada com ela sobre isso. Acho que
estou finalmente pronta para ceder e aceitar alegremente o dinheiro de
Maggie, porque não importa o que eu faça, não importa o quão duro eu
trabalhe, não consigo alcançar o objetivo.
Maggie - e todo o dinheiro que ela tinha de bom grado para dar -
poderia resolver muitos dos nossos problemas. Além do câncer, é claro.
Mas pelo menos essa parte da minha vida vai ser apenas até o
Natal. Maggie vai voltar da África e descobrir o que estamos escondendo
dela e nos dar dinheiro. Ela vai ficar irritada, mas pelo menos vai estar
lá comigo, até o fim. Vai ser como nos velhos tempos.
~ 231 ~
voz masculina murmura ao meu lado, seu perfume picante chega ao
meu nariz.
~ 232 ~
um livro sobre antiguidades do período Kangxi na semana passada,
então pelo menos eu sei um pouco.
Seu olhar cai sobre meu rosto como se tomando toda a minha
feição. — Você já soa como uma avaliadora.
~ 233 ~
Ele olha para a tela. — Eu sinto muito... negócios. — Ele estende
a mão que eu aceito, a sensação de sua palma contra a minha
paralisante. — Agradeço a ajuda...
— Celine.
Não posso nem mesmo dizer que odeio fazer isso. Eu costumava
odiar. Agora tenho me tornado insensível, porque isto me beneficiou
muito. E, mais importante, ninguém sabe. É engraçado como foi fácil
me tornar livre quando comecei a pensar sobre isso por aquilo que
realmente é - sexo sem sentido que transforma os meus sonhos em
realidade. Posso estar dando-lhes o meu corpo, mas eles não estão me
recebendo.
Eu suspiro.
----
~ 234 ~
23 de julho de 2015
Hoje pode ser a primeira vez em cinco anos que estou atrasada
para o trabalho. Mantenho minha cabeça abaixada quando entro no
elevador, novamente checando o local úmido no meu vestido onde tão
desesperadamente tentei apagar uma mancha de tinta no início desta
manhã. Não sei se estou apenas paranoica ou se ainda posso ver o azul.
— A avaliadora de antiguidades.
~ 235 ~
Nós não estamos nessa fase, ainda.
~ 236 ~
inteligente, competente e elegante. Não apenas outra garota para
transar.
Será que ele realmente quis dizer o que disse sobre procurar
antiguidades juntos?
~ 237 ~
Capítulo Vinte e Oito
MAGGIE
13 de Dezembro de 2015
— Algo?
~ 238 ~
quebrou? Celine comprou para mim. — Ele dá de ombros. — Eu gostava
dela. — Ele olha para o líquido âmbar em seu copo, imerso em
pensamentos.
— Por que nenhum de seus amigos sabe sobre vocês dois, então?
— Ela não queria contar a eles. Ela não queria contar a ninguém.
Isso não faz sentido. Qual mulher solteira de vinte e oito anos de
idade pega um dos solteiros mais cobiçados de Nova York e não conta a
ninguém?
— Começo de outubro.
~ 239 ~
amigos sobre mim? É porque ela sabia que meu pai concorreria a
reeleição. Até brinquei sobre isso em um de nossos encontros, dizendo-
lhe que se ela tivesse algum segredo, era melhor me contar porque a
oposição dele era particularmente brutal, e eles, sem dúvida iriam
investigá-la, exatamente como eles tinha investigado a mim.
Ele toma outro gole de sua bebida. — Esse pendrive que você
roubou? Ela apareceu em um envelope sem identificação na minha
mesa no trabalho, duas semanas depois daquela noite em seu
apartamento. O vídeo estava lá, com a nota que você também levou.
~ 240 ~
— Eu? Hackear um computador? — O rosto de Jace enruga. —
Posso gerenciar centenas de milhões de dólares, mas não sei porra
nenhuma sobre invadir computadores. Além disso, eu nem sabia que
ela tinha uma câmera escondida. Você acha que eu teria feito isso, se
soubesse? Meu rosto está claramente nele, junto com muito mais de
mim. Esse vídeo arruinaria meu pai se fosse liberado.
~ 241 ~
Eu estudo seu rosto por um momento - cheio de raiva e pânico
selvagem. Acabei de acusá-lo de assassinato. — Bem, alguém matou.
Se ela tinha alguma esperança de que ele era o homem que iria
salvá-la de ter que passar mais uma noite com qualquer dos clientes de
~ 242 ~
Larissa, ela sairia do seu caminho para ajudá-lo. Para lhe dar um sinal
de que ela ainda se importava.
Jace deve ver minha confiança vacilar. — Não continue indo por
este caminho, Maggie. Nunca vai desaparecer e você vai arruinar a
minha vida, a vida do meu pai, e no seu processo, a reputação de
Celine. — Ele destaca. — Aquela foi uma noite privada entre Celine e eu
e ninguém tem qualquer coisa com isso.
Ele parece não se incomodar quando uso esse nome, mas está
claramente chateado. — Se esse vídeo se tornar público, você vai para a
cadeia. — Ele se inclina, tão perto de mim que o cheiro de uísque em
seu hálito chega às minhas narinas. — Só porque você teve seu pessoal
apagando as imagens de segurança não significa que você vai conseguir
acabar com isso.
~ 244 ~
Ele bufa. — Eu acho que você não tem investigado direito, afinal.
— Ele coloca o copo sobre a mesa lateral em um lento e preciso
movimento antes de marchar para longe.
~ 245 ~
Capítulo Vinte e Nove
MAGGIE
Grady?
— E? Problema?
~ 246 ~
simplesmente o adoram. E ele é tão inteligente. Ele pode consertar
qualquer coisa! A senhora do apartamento 207 tem uma dessas
máquinas de café expresso extravagantes. De repente parou de
funcionar e Grady consertou.
----
~ 247 ~
da limusine. Tenho sorte que não causei qualquer dano ao vestido de
dois mil dólares. Estou pensando em oferecê-lo a leilão para uma
instituição de caridade. — Quando ele está na cidade, apanhando
damas?
— Você dançou com o homem durante horas. Acho que você pode
lidar com uma xícara de chá. — Faço uma pausa. — A menos que seja o
código para outra coisa, neste caso eu realmente não quero saber.
----
~ 248 ~
observa aproximar. Não tenho certeza se ele estar fumando maconha
vai ajudar neste confronto ou torná-lo pior.
— Você não é uma visão, — ele murmura, seu olhar sobre mim
enquanto caminho por entre as cadeiras e plantas, escorregando um
pouco meu vestido sobre o chão revestido de neve, meus saltos não
serviam para usar ao ar livre do inverno.
Mas agora sei, graças à sua caixa de correio, que começa com um
“J,” e Celine teve um cliente chamado “Jay”, e isso significa que talvez
Ruby esteja errada e Jace não estava mentindo para mim esta noite.
— Quem?
~ 249 ~
— Não importa. Basta responder à pergunta. — Quanto mais
tempo isso durar, mais eu suspeito.
— Bem, isso meio que importa, porque algum idiota lá fora está
enchendo sua cabeça com mentiras!
Meu coração.
— Talvez.
~ 250 ~
em cima. Mas, de repente, este conforto foi substituído por desequilíbrio
e desconfiança. Preciso ser uma jogadora de pôquer melhor. E não
posso ignorar o que Jace me disse hoje à noite, simplesmente porque
não quero que seja verdade. Especialmente desde que muito do que ele
disse faz sentido.
Espero até a porta exterior estar fechada para pegar meu telefone
e ligar para Doug. Preciso dele para me dizer que meu instinto está
errado e Grady não está mentindo para mim.
~ 251 ~
Capítulo Trinta
MAGGIE
Até agora, está provando ser muito mais complicado do que Zac
esperava. Que implora a pergunta, por quê?
— Isso é tudo o que ele passou. Mesmo Ruby não pensou muito
nisso.
~ 252 ~
do meu prédio imediatamente, assim continuei descendo sem me
preocupar em parar no apartamento e trocar de roupa.
— Data?
~ 253 ~
em seguida, eliminou todos os vestígios de que Senhorita do Mal esteve
lá, não só do vídeo de segurança do Senhor J, mas também do vídeo do
edifício.
— Ele quis dizer isso e ele estava cobrindo a bunda dele. — Zac
atira um olhar de soslaio para mim. — O que Doug não sabe não vai
machucá-lo.
— Obrigada.
— Quero saber tudo sobre J. Grady. Onde ele nasceu, o que ele
come, onde compra. Quanto mais penso sobre isso, sinto algo que não
está certo com ele, — exige Doug. Acho que a nicotina realmente ajuda
Doug pensar.
~ 254 ~
Eu.
Ele me tocou.
— Encontrei.
~ 255 ~
Capítulo Trinta e Um
CELINE
16 de julho de 2015
~ 256 ~
Suas palavras, ditas em voz baixa, lembram-me de que estou de
pé no meio de um corredor do hotel e ninguém nos quartos nas
proximidades pode ouvir esta conversa. Um rápido olhar pelo olho
mágico e eles veriam nossos rostos. Tenho duas escolhas: vou embora
ou entro.
~ 257 ~
Capítulo Trinta e Dois
MAGGIE
14 de Dezembro de 2015
Ele usou a escada de incêndio quando ele veio até mim, alegando
que não queria perturbar Ruby. Ele tinha chamado isso de “mais
romântico” do que usar a porta.
Pelo menos ele não deixou nenhum dinheiro sobre a mesa para
mim.
Isso ainda não faz sentido. — Você realmente acha que ele poderia
ter condições para pagar por ela?
~ 258 ~
— Não com o que Zac encontrou em sua conta bancária, mas ele
poderia ter outra em outro lugar. Ele também poderia estar ganhando
algum dinheiro sério fora deste lugar, — Doug me lembra. — Zac vai
entrar em suas contas de energia elétrica, para ver se ele está
plantando maconha suficiente. Mas acho que vai ser um beco sem
saída. — Doug franze os lábios. — Eu ainda acho que ele tem uma
conexão com Vanderpoel que não sabemos ainda. Há uma ligação e nós
vamos encontrá-la.
É tarde e estou exausta, mas sei que não vou conseguir dormir
tão depressa, por isso estou relutante em deixar o calor do carro de
Doug. — Então, qual é o plano a seguir?
— Agora mesmo?
— Não conte com que ele esqueça disso. Não quando ele estava
tentando encobrir a verdade. Mas ele está fazendo isso por orgulho,
respeito a ela, ou porque está escondendo alguma coisa?
~ 259 ~
— Mas este é Grady! Ele assumiu que tudo o que ela tinha era
uma porcaria velha. Não há nenhuma razão para ele achar que aquele
vaso era valioso.
— Nem sempre. Eu não sei como isso surgiu. Então, o que agora?
— A última coisa que quero é Doug descobrindo que tenho dormido com
um suspeito. Possivelmente o nosso principal suspeito.
— Fique longe dele. Zac vai procurar por qualquer conexão entre
ele e arte chinesa. E a primeira coisa amanhã, você irá para aquela
empresa e descobrir exatamente o que Celine disse a Jace sobre
Grady. Palavra por palavra.
Eu gemo com a ideia de ver Jace novamente, agora que sei que eu
poderia ter drogado e roubado um homem inocente. Bem, “inocente” é
uma extensão depois do que vi naquele pendrive. Mas inocente de
assassinato, o mais provável. — Ele quer me denunciar e me colocar
atrás das grades. Ele não vai me dizer nada.
— Aposto que ele preferia ter você focada em alguém que não seja
ele, — contrapõe Doug.
— Sim.
~ 260 ~
Capítulo Trinta e Três
MAGGIE
~ 261 ~
— E o que vai ajudá-lo a se lembrar?
Ele se inclina sobre sua mesa. — Você sabe exatamente o que vai
me ajudar a lembrar, por isso, pare de brincar. Não tenho tempo para
isso. Alguns de nós realmente ganham o nosso dinheiro.
~ 262 ~
Capítulo Trinta e Quatro
CELINE
4 de agosto de 2015
E como ele pode pagar? Ainda não entendo. Nós realmente não
falamos nada naquela noite e não acho que era apropriado perguntar.
~ 263 ~
Fechei a porta e sigo Grady quando ele vai direto para a cozinha.
Pego um vislumbre do meu reflexo em um espelho no caminho, e
imediatamente começo a alisar meu cabelo. Mas, por quê? Eu não me
sinto atraída por Grady; não tanto para querer mais dele. Ele é
agradável e inteligente e aquele sotaque me faz querer desmaiar às
vezes, mas ele não é muito ambicioso. Estou procurando por alguém
determinado e bem sucedido.
Sobre quem não ouvi desde aquele dia no elevador. Acho que foi
tudo apenas fingimento.
— Não vou demorar muito. — Ele olha para cima para encontrar
os meus olhos e estou de volta ao Langham, com ele me olhando assim,
também. Odeio admitir isso para mim, mas realmente gostei daquela
noite. Muito.
~ 264 ~
Mesmo pensando sobre isso agora me faz tremer. Eu deveria
saber - quando o cara me disse para ficar de quatro e olhar para a TV,
quando senti os primeiros filetes de lubrificante correndo na minha
bunda, quando o vídeo caseiro com garotas que estavam nem perto de
dezoito anos encheu tela, correndo e rindo em seus trajes de banho.
— Bem.
~ 265 ~
— Não se preocupe, ele vai aprovar se eu lhe disser, e eu
vou. Quer dizer, acho que você conhece e confia na sua amiga para
pagar o aluguel em dia.
— Oh, definitivamente.
Ele diz de forma tão convincente que quase acreditei nele. — Não
estou fazendo isso mais.
~ 266 ~
Seus olhos analisam meu rosto, fixando-se em minha boca. — Tão
bom que você estaria disposta a fazer isso de novo?
Olho por ele em direção ao meu quarto. Quão fácil isso seria se ele
simplesmente aparecer aqui, conseguir o que quer, me pagar e depois ir
embora? Normalmente eu nunca concordaria com isso, mas é
Grady. Ele sempre foi respeitoso e amável. Ele é atraente.
~ 267 ~
Presumo que ele quer começar com este acordo agora.
~ 268 ~
Capítulo Trinta e Cinco
MAGGIE
14 de Dezembro de 2015
~ 269 ~
Eu gostaria de acreditar que Jace está me alimentando de
mentiras para me desviar da trilha que tenho seguido, mas quanto mais
ele revela, mais percebo que ele pode estar dizendo a verdade.
~ 270 ~
— Só para você saber, não vou esquecer isso. Vou gastar cada
último dólar que tenho para descobrir o que realmente aconteceu com
Celine. E quando esse vaso roubado aparecer – porque uma hora vai
aparecer, - vou saber. Não importa onde... Nova York, Chicago, Xangai
— Eu pego a maçaneta da porta, — em qualquer lugar... vou descobrir,
e quem tentar vendê-lo terá muito pelo que responder.
E medo.
~ 271 ~
Capítulo Trinta e Seis
MAGGIE
Eu imagino quando Doug vai dizer que este caso está “encerrado”.
Vai estar mesmo “encerrado”, com respostas que me trazem o
encerramento?
~ 272 ~
— Bem, é uma coisa boa que você tenha mantido uma atitude
positiva através de tudo isso. — Eu me inclino contra a entrada da
cozinha e o vejo passando por uma caixa pequena com uma antena
curta saindo de uma extremidade ao longo das bordas inferiores do
sofá. Ele não se sentou neste sofá desde que veio aqui. Acho que é por
causa das manchas brilhantes de fluido corporal que sua luz UV de alta
potência iluminou. Algumas delas ele me asseguram que são mais
prováveis de Jace, com base no que ele viu do vídeo que ainda me
recuso a assistir. E os outros... Só espero que este sofá que Celine
comprou seja usado.
— Pela razão exata que estou aqui agora. — Doug puxa a cadeira
dobrável de madeira velha para o canto e sobe nela para testar o
ventilador. — Porque eu precisava ser capaz de seguir meus palpites, e
~ 273 ~
às vezes esses não correspondem ao que a evidência preliminar pode
sugerir.
Ele sorri para mim. — Do que você está reclamando? Você sempre
consegue o que quer de mim.
— Uma vez, aos meus vinte anos. O maior erro da minha vida. —
Ele se junta a mim no quarto a tempo de me ver rolar os olhos. — Você
precisa guardar todas as roupas dela e outras coisas. — Ele gesticula
para as gavetas da cômoda. Ele sabe o que está lá dentro. Não há um
armário ou gaveta que ele não tenha investigado em algum momento. —
Poderia haver evidências sobre elas. Nada que levante no tribunal por
conta própria, mas talvez vai ajudar a construir um caso.
~ 274 ~
— Livre-se dela, — Doug sibila quando eu passo por ele. — Os
idosos falam demais. Eles são um perigo para investigações.
Doug para com o que ele está procurando em sua caixa e olha
para mim. — Que parte de “manter para si mesma” você não entendeu?
~ 275 ~
fica nove acima da sua, e eu notei que a sua diz “J. Grady”. Então eu
perguntei o que o “J” representa. Ele me disse “James”. E então eu
perguntei por que ele não usa, e ele disse que é porque o nome de seu
pai também é James. — Ela encolhe os ombros. — Eu nunca tinha
notado isso antes. Sou tão idiota na minha velhice.
— E o jardim no telhado?
~ 276 ~
— Me desculpe. Doug não tem o melhor comportamento. — Eu
adiciono um cubo de açúcar na minha xícara. Vou sentir falta disso
quando eu for embora, percebo, enquanto levo a delicada porcelana
para meus lábios.
Ele está parado na minha porta aberta com uma jovem mulher ao
lado dele. Com seus longos cabelos escuros, pele escura e curvas bem
cuidadas, ela quase poderia passar por... Celine.
Grady entra antes que possa dizer a ele que não é um bom
momento. — Não posso acreditar como está vazio aqui. — Seu olhar
vagueia pelo apartamento, aterrando na mala de perícia de Doug.
~ 277 ~
— E brilhante. — Ela admira silenciosamente o tamanho da
janela.
E talvez matá-la.
~ 278 ~
Finalmente, eles estão na porta da frente novamente.
— Obrigado por nos deixar entrar, Maggie. — Grady vai atrás dela
sem me dar outro olhar, fechando a porta atrás dele.
— E você viu aquela garota? Você viu como ele estava agindo
perto dela? Todo sorrisos e sensível. — Eu começo a andar em círculos
em torno de Ruby agora. — Ele vai entrar pela janela, da mesma forma
que ele fez com Celine. E, então, Deus sabe o que vai acontecer. Tive
que avisá-la.
— Avisá-la?
~ 279 ~
Droga. Conhecendo ele, vai me fazer ficar aqui e vê-lo passar essa
luz UV sobre os lençóis que não lavei desde que Grady saiu. Quão
mortificante seria isso?
----
Ele veio à minha porta há uma hora e bateu, mas também não
respondi.
Ele seria tão estúpido para fazer isso, com Doug na minha folha
de pagamento?
— O que você pensa que eu fiz... você está errada, — ele diz.
— E o que exatamente eu acho que você fez que estou tão errada?
— Pergunto, cruzando meus braços sobre meu peito, ambos para
afastar a corrente de ar e seu olhar.
~ 281 ~
de Celine. Eu sei que você estava pagando por sexo e você estava
entrando por esta janela, assim como você fez comigo na outra noite.
~ 282 ~
Capítulo Trinta e Sete
MAGGIE
15 de Dezembro de 2015
— Oh... eu diria que sim. Mas vamos esperar por Doug. Ele estará
aqui em cinco minutos. Ele gosta de fazer a grande revelação.
~ 283 ~
Eu franzo a testa. — Eu não sou Doug.
— Sim. Será?
Com a boca cheia, ele explica, — Porque sou bom no que faço e
ele me paga bem.
— Tem certeza que você poderia estar fazendo esse tipo de coisa
em algum lugar mais brilhante? Mais social?
— Sim, bem... minha mãe é cega e está ficando velha. Pelo menos
desta maneira estou por perto quando ela precisa de mim. — Ele diz
isso quase com relutância, como se não quisesse admitir que existe um
lado humano nele.
~ 284 ~
de pessoas que não conhecem, os seres humanos não a fazem suas
pesquisas e arquivos mal intencionados são instalados em seu
computador. Claro, isso não é tudo isso. Eu passo horas ou dias - ou
mesmo semanas, às vezes - escrevendo códigos e quebrando sistemas.
— Por quê?
— Mas pelo menos você faz tudo isso com boas intenções,
certo? Tenho certeza que você poderia estar usando esse grande cérebro
por pura maldade.
— Você está aqui. Bom. — Doug - com pesadas bolsas sob seus
olhos, como se ele não tivesse dormindo a noite toda - empurra um café
na minha mão. É a única bebida que compro no Starbucks.
~ 285 ~
Zac limpa suas mãos em suas calças - elas estão manchadas de
laranja agora - e, em seguida, começa a bater nas teclas. Os monitores
apresentam novas telas, um por um. O último enche com um cartão de
identificação do aluno do MIT e um retrato muito mais jovem de Grady -
talvez nos seus vinte anos.
— Você o encontrou.
Pelo menos ele não estava mentindo para mim sobre isso.
~ 286 ~
governo e, em seguida, expôs para provar a vulnerabilidade. Nunca
foram capazes de provar isso.
— É por isso que não fiz a conexão entre seu nome de usuário e
quem ele é imediatamente, — Zac acrescenta.
— Você disse que ela não era muito fã de tecnologia. Ela poderia
ter pedido a ele para ajudar a colocar a câmera em primeiro
lugar. Torna isto ainda mais fácil para ele entrar no sistema, — diz
Doug.
~ 287 ~
O que significa que Grady poderia ter assistido na noite que Jace
veio, de alguma forma descobriu quem ele era e viu uma oportunidade
para chantagem.
~ 288 ~
Capítulo Trinta e Oito
CELINE
16 de julho de 2015
Meu queixo cai por um momento em que olho para ele – seu típico
jeans e camiseta substituídos por um terno, sua barba aparada e seu
cabelo com gel penteado para trás – e aceito que não estou enganada e
este é, de fato, Grady, o mesmo cara com quem me deparo nos
corredores do prédio onde moro todos os dias. Parece que temos o
mesmo horário para pegar correspondências e usar a lavandaria, e ele
está sempre consertando algo para Ruby. — Ei. O que você está fazendo
aqui? — No meu local de trabalho.
~ 289 ~
Ele parece realmente diferente em um terno. Realmente
atraente. Parece que estou vendo-o pela primeira vez.
~ 290 ~
Capítulo Trinta e Nove
MAGGIE
15 de Dezembro de 2015
Abro a boca, mas ele me corta. — E Jin Chou diz, “Puta merda,
vende para mim, porque então posso virar e provocar Li Jie com ele.” —
Zac bate em algumas teclas e um rosto aparece em outro monitor, de
um homem asiático sisudo em um terno cinza-carvão. — Esse é o cara
que comprou o vaso gêmeo com a fênix sobre ele, de volta em noventa e
~ 291 ~
seis. Outro cara chinês obscenamente rico, que é dono de uma empresa
de comunicação. E ambos Chou e Jie são membros do mesmo clube
privado em Pequim.
Mas, se estamos sendo honestos, este quadro tem tudo a ver com
Grady.
~ 292 ~
— Ele é bom, — Zac confirma, seu rosto mostrando sua
admiração.
— Mas por que ele iria querer pagar por isso? Ele é atraente. Ele
não tem problemas para encontrar alguém. — Eu sei que é um fato.
— Porque ele não quer mais ninguém. E porque ele não poderia
capturar o interesse dela de outra forma. Ele provavelmente já tentou.
— O palpite de Jace não é tão louco, afinal.
~ 293 ~
meses em um tempo e depois reaparecer para invadir ou consertar
alguma coisa.
— Talvez. Nós não sabemos, — diz Doug. — Mas Jace disse que
Grady queria exclusividade e aqui ela está namorando outro homem.
~ 294 ~
— Porque ela não tem dinheiro. Porque ele ainda se preocupa com
ela. Porque ele quer acabar com qualquer chance de Everett voltar. Há
muitas razões.
— Mas ela já podia ter encerrado o acordo deles, como ela disse a
Jace na noite que eles se separaram.
~ 295 ~
Verdade. Eu mastigo o interior da minha boca em
pensamentos. Por que ela não iria documentar, como ela fez com todo o
resto? Um pensamento me impressiona. — Porque os registros são para
sua coleção. Essa tigela era um presente.
Doug faz uma pausa. — Isso faria sentido. Então ela encontrou o
vaso dragão, começou a pesquisar naquela semana, ficou animada com
o que ela achava que tinha encontrado. Estava pronto para publicar
sobre isso em seu blog. Provavelmente estava digitando o post quando
Jace Everett veio naquela noite para pegar o presente.
~ 296 ~
Doug suspira. — Talvez. — Ele coloca o marcador para baixo. —
Ou talvez ninguém a matou. Talvez essa parte aconteceu exatamente
como o relatório da polícia disse que aconteceu.
~ 297 ~
Capítulo Quarenta
MAGGIE
Já ouvi duas vezes e não preciso ouvir de novo. Mesmo com todo o
ruído de fundo não há dúvida de que é Grady.
— Pensei que ele não iria passar por um avaliador se ele roubou o
vaso e tem aqueles contatos chineses, — eu digo.
E eu caí na encenação.
~ 298 ~
ele caminha até o banheiro e começa a encher minha bolsa com minhas
coisas, — você vai arrumar suas coisas e ficar em um hotel. Não quero
você nesse edifício mais um dia. Além disso... — ele lança um braço ao
redor do apartamento vago —...é o apartamento vazio da sua amiga
morta. Isso não pode ser bom para seu estado mental. Vou vigiar o lado
de fora. Ele não vai sair do edifício sem eu saber. Por favor, não discuta
comigo, Maggie.
— Tudo bem.
----
18 dezembro de 2015
~ 299 ~
hackeando o número na empresa de telefonia. Três dias de Doug
sentado do lado de fora ao antigo prédio de Celine e não viu um único
indício de Grady.
— Ela me ligou ontem de manhã, mas eu não lhe disse que você
estava lá. Eu juro.
Parte de mim quer gritar com ele pela invasão de privacidade, mas
eu encontro mais satisfação em incomodá-lo do que repreendê-lo. —
Então a mulher de oitenta e um anos de idade, com óculos de fundo de
garrafa de Coca-Cola flagra seu disfarce? Tem certeza de que não é sua
primeira emboscada?
~ 300 ~
Capítulo Quarenta e Um
MAGGIE
— Então vou ter que pedir que você volte para seu apartamento e
nos deixe trabalhar com nossa investigação. — O policial me leva para
trás, em direção à escada. Outro oficial está do lado de fora da porta
aberta de Grady, em guarda. Não consigo ver por dentro, mas não é
difícil de detectar a fita isolante amarela na porta.
— Você é da família?
~ 301 ~
plano aqui, mas espero que funcione. Acho que de uma forma já
funcionou.
— Mas Grady não está aqui. — Pelo menos imagino que ele não
esteja. — O que acontece agora?
~ 302 ~
— Deve estar aqui em breve. — Doug envolve seu braço no meu,
me puxando em direção à escada, mas não antes de um único aceno na
direção de Childs - um reconhecimento silencioso que não consigo
decifrar, mas também não perdi.
----
~ 303 ~
Eu rolo meus olhos. — Não seja ridícula.
~ 304 ~
— Eles encontraram um vaso correspondente à descrição de um
roubado da coleção de Celine. Ele estava escondido no armário do
corredor. Eles estão procurando por digitais agora.
~ 305 ~
preciso ver isso. — Por mais difícil que seja, preciso ler os últimos
pensamentos de Celine. Preciso saber o que aconteceu. Será que ela
suspeitou de Grady? Ela estava com medo de Grady afinal?
— Maldição. — Eu o solto.
~ 306 ~
Capítulo Quarenta e Dois
CELINE
20 de agosto de 2015
— Você não acha que Ruby nos ouviu, não é? — Ela é como uma
avó para mim. Se ela souber o que estou fazendo para pagar minhas
contas será quase tão ruim quanto a minha mãe descobrir.
— Bom.
~ 307 ~
semiaberta. Um edredom ligeiramente amarrotado. Coisas que uma
pessoa normal provavelmente não notaria, mas que percebo por causa
da minha necessidade de organização. Então, digo a mim mesma que
estou louca, que é apenas nervosismo por viver sozinha nesta cidade
gigante.
Mas tenho voltado para casa com esta estranha sensação cada
vez mais ultimamente.
— Sim. Eu acho.
~ 308 ~
E Grady não parece muito ansioso por qualquer um. É por isso
que ele nunca será o cara para mim.
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05 de setembro de 2015
~ 309 ~
nascido e criado em um mundo de expectativas, seus traços perfeitos
expressos sob a luz fraca.
Porque sei que encontrei o homem pelo qual tenho procurado. Ele
é bonito, educado e motivado - Deus, ele é mesmo motivado - e, melhor
de tudo, ele aprecia os meus interesses profissionais.
Sua cabeça cai para trás com sua risada. — Falar de política é
divertido para você? Ou é o vinho?
~ 310 ~
— Você não é totalmente culpado. Ultimamente, os meus fins de
semana têm sido ocupados. — Voei para a Califórnia por duas vezes
desde que nos conhecemos em Hollingsworth. Dois voos de olhos
vermelhos no fim de semana, para ver minha mãe.
Ele segura a minha mão de novo, só que desta vez ele puxa meus
dedos à sua boca, e os beija tão suavemente, fazendo meu estômago
vibrar. Deus, não só é a minha mãe morrendo, mas agora tenho que
enfrentar uma mudança para o outro lado do país e deixar este homem
lindo para trás. Estes próximos três meses comigo serão suficientes
para prender sua atenção até eu voltar?
Como se lesse a minha mente, ele diz, — San Diego está apenas
um avião de distância. E é temporário.
— Acho que sim, mas vamos ver. Ele ama a política, mas não
pode suportar a oposição. Eles foram perversos nas duas eleições,
especialmente nesta última, no ano passado. O candidato favorito era
cruel. Ele não tinha escrúpulos em jogar sujo. Três dias depois que meu
pai anunciou que estava concorrendo de novo, colocaram a minha mãe
no centro das atenções com uma história sobre ela abusar dos nossos
porteiros. Foi ridículo. Quando você conhecer minha mãe, verá que
é. Ela é a mulher mais doce neste mundo.
~ 311 ~
— Também foram atrás de mim. Primeiro com uma história falsa
de que eu estava desviando dinheiro dos investidores, e quando a
opinião pública não comprou isso, pegaram uma história sobre uma
colega de trabalho que namorei por um tempo curto.
~ 312 ~
tudo será passado. — Talvez devêssemos definir algumas regras
básicas.
— Tudo o que fizer com que você fique confortável, — diz ele
calmamente. — Não quero que você se preocupe. Vou cuidar bem de
você.
Eu sorrio.
E acredito nele.
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26 de outubro de 2015
Esse foi o dia após Jace vir aqui para esmagar meu coração.
Eu deveria ter dito não quando encontrei Raymond. Ele foi meu
primeiro cliente, de volta quando um encontro era apenas isso - um
amigável passeio casual, sem quartos de hotel envolvidos. Ele tinha
uma reunião de negócios para a próxima noite e não tinha
~ 313 ~
acompanhante. E eu tinha acabado de descobrir naquele dia que Dani e
seu noivo não poderiam se mudar antes de fevereiro, o que significava
que eu teria de cobrir mais um mês de aluguel e minhas economias
estavam quase desaparecidas. Então, eu disse que sim.
Ele olha para mim, frio e calmo. — O que você está falando,
Celine?
Eu odeio o seu sotaque quando ele está assim. Ele soa assim tão
condescendente. — Alguém estava me espionando, com esta
câmara que você instalou.
Eu seguro seu braço para detê-lo. — Foi você. Admita. Você estava
me observando. Você não gostou de eu estar vendo outra pessoa, não é?
~ 314 ~
— Ele era! Ele é o homem perfeito para mim. Ele é tudo que quero
e agora ele acha que estou chantageando ele. E aquele vídeo... — Eu
mal sou coerente entre os meus soluços. — Se isso vazar e minha mãe
descobrir, vou me matar.
~ 315 ~
Capítulo Quarenta e Três
MAGGIE
22 de Dezembro de 2015
Ele já está “no vento” por sete dias, quatro desde que a polícia
invadiu seu apartamento. Os técnicos especialistas da NYPD
demoraram trinta e seis horas para quebrar o sistema “Fort Knox” de
computadores de Grady. Embora tivessem diversos arquivos protegidos
e criptografados para mantê-los ocupados por meses, eles foram
capazes de entrar nos arquivos de vídeo - incluindo os ocultos.
~ 316 ~
Aparentemente, houve outras. Especificamente, duas mulheres
que, no mínimo, Grady espionou no passado. A polícia está tentando
identificá-las, para confirmar se alguma coisa desagradável aconteceu.
~ 317 ~
— Você pode acreditar que ela tinha o suficiente para encher toda
a galeria e mais um pouco?
— Eu sei.
Ele tem razão. Eu não tinha pensado nisso dessa forma, mas o
apartamento de Celine era uma obra de arte em si.
~ 318 ~
acariciando a mão do homem de cabelos brancos que reconheço do
baile de caridade. Eles lentamente se aproximam.
— Oh, por algum tempo, mas vocês dois pareciam que estavam se
divertindo muito, não quis incomodá-los. — Ela aponta para seu
acompanhante. — Este é o honorável Theodore Higgins.
— E ela pode beijar minha bunda por pagar por isso, — murmuro
sob a minha respiração, ganhando aquele riso estridente e desajeitado
dele. — Escute, provavelmente vou voltar para o meu hotel agora. O
meu voo é amanhã cedo, e estou praticamente dormindo de pé. E
bêbada, eu acho.
~ 319 ~
— Oh. — Ele se vira seu lábio inferior em um beicinho
exagerado. — Então é isso para nós, também?
— Sei que você não é do tipo que abraça. Nem eu. — Eu envolvo
meus braços em torno dele de qualquer maneira. — Obrigada por tudo.
— Quando ele se afasta, fico surpresa de ver que seus olhos estão
brilhando.
— Não importa onde você está, parece que elas estão observando
você, não é? — Uma voz masculina profunda diz ao meu lado.
~ 320 ~
— Oh sim. Você acusou. — Um pequeno sorriso ondula em seus
lábios, mas não alcançou seus olhos. — A caça às bruxas finalmente
acabou?
— E sobre o supervisor?
— Não sei. Parece que ele fugiu no segundo que sentiu que
estávamos em cima dele. Deixou tudo para trás, incluindo um monte de
provas incriminatórias. — Quando digo isso, percebo algo. Pelo que fiz
Jace passar, provavelmente eu devo-lhe um aviso. — Ouça, eles
apreenderam o computador dele e é muito provável que vão achar
aquele vídeo de você e Celine lá.
Ele mastiga o interior de sua boca. — Acho que vou ter que lidar
com isso, se e quando isso aparecer, então. — Ele suspira. — De uma
forma ou de outra, só espero que isso traga para você e para a mãe dela
a paz que vocês precisam.
~ 321 ~
— Eu também — Outro caroço está se formando na minha
garganta e bebo um gole de meu champanhe para impedi-lo. Eu
realmente deveria parar de beber.
Ele faz uma varredura rápida da sala. — Vou sair agora. Tenho
um voo de manhã cedo, também.
— Sim, definitivamente.
Fico mais dez minutos e depois vou à sala dos casacos para
recuperar minha echarpe - que é um artigo ridículo de roupa para
vestir, agora que as temperaturas caíram para um dígito - e saio. A
entrada para a casa de leilões é em uma rua estreita, e embora eu saiba
~ 322 ~
que os táxis farão a curva nesta direção de vez em quando, não vou
durar um minuto de pé neste frio.
~ 323 ~
— Não se preocupe. — Silêncio enche o carro. — O que aconteceu
com os dedos? — Eu pergunto, arranhões e hematomas estão em sua
mão direita.
— Muito tempo.
— Não sei como você dirige nesta cidade. Acho que eu ficaria
louca.
~ 324 ~
Ele faz uma curva para a direita e tenho certeza que nós estamos
dirigindo na direção oposta do meu hotel, mas acho que ele está me
levando na rota cênica. — A imprensa não vai conseguir se apoderar
dessa história, se eu tiver alguma coisa a ver com isso. — Pelo menos,
não até que Rosa se vá e eu estiver segura dos segredos que posso
revelar. Mas espere... — Como você sabe que o vaso não é real? Eu não
lhe disse, não é? — Minhas palavras soam abafadas e arrastadas em
meus ouvidos, a minha língua parecendo espessa e emaranhada.
A garrafa de água.
Jace.
Meu Deus.
~ 325 ~
Capítulo Quarenta e Quatro
MAGGIE
23 de Dezembro de 2015
É uma picada fria que eu sinto pela primeira vez. Não posso dizer
que é o que me acorda, mas é a primeira coisa que sinto.
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~ 326 ~
E agora ele está explorando esse meu ponto fraco. Isso deve ser o
que ele faz, ele descobre seus segredos, seus medos, suas falhas e os
usa contra você. Ele fez isso com Celine.
Como Celine tornou tão fácil para ele, deixando-o chegar perto.
Antes de matá-la.
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~ 327 ~
— Levante-se ou congele aqui fora. — quando ele se dirige em
direção a uma pequena cabana construída em uma colina, a neve
esmaga sob suas botas, o único som que chega a meus
ouvidos. Estamos em uma floresta pacífica, o assassino de Celine e
eu. As únicas coisas que posso ver são árvores e um céu bonito
expansivo e um Cutlass com placas de Nova York que parece ser um
clássico. Definitivamente não é o carro que entrei hoje à noite.
Eu nem grito. Sem sequer tento, sei que minha voz está muito
longe.
Fico onde estou, pensando como isso poderia ter sido tão
diferente se eu não tivesse baixado a guarda. Foi uma bela armadilha,
realmente. Câmeras em Hollingsworth teriam capturado nada mais do
que uma conversa de cinco minutos e, em seguida, uma despedida
amigável, com Jace saindo antes de mim.
E valeu a pena.
~ 328 ~
Ele agarra as amarras e me encolho na dor e expectativa,
pensando que ele vai me arrastar. Mas depois de alguns puxões e o som
da corda sendo cortada, meus braços caiem para as escadas, liberados.
— Suba as escadas.
Eu começo a chorar.
~ 329 ~
Capítulo Quarenta e Cinco
MAGGIE
Ele olha para mim, mas em seus olhos vejo uma mistura
selvagem de pânico e medo brilhante. — Ela ia destruir a minha vida.
— Não, ela não ia. Não era ela que estava chantageando
você. Grady estava! — Estou esperando por Childs confirmar isso, mas
tenho certeza. — Não foi culpa dela.
~ 330 ~
membros ao redor do meu corpo para afastar seus olhos azuis frios
enquanto eles viajam sobre meu corpo.
Eu olho para ele. — Ela foi raptada. Isso não combina com ela.
Então, por que me jogar no banho? Acho que era porque urinei e
vomitei sobre mim e ele me queria limpa antes de me violar.
— Não parece bom, acordar depois que alguém drogou você, não
é?
— Não. Ande.
— Lá.
~ 332 ~
— Por quê? Porque sou inteligente? Porque não tão sou estúpido
para usar uma arma que poderia de alguma forma ser rastreada até
mim? Porque não sou tão animalesco para picar você em pedaços com
essa faca? Qualquer pessoa pode comprar Oxy; ninguém nunca vai ser
capaz de conectar esses pontos. Nem mesmo seu caríssimo investigador
particular.
Ele está pronto para isso, no entanto. Dor explode em meu rosto
quando seu punho o atinge. Eu tropeço para trás e perco o equilíbrio,
caindo sobre o colchão.
— Sim, eu preciso. Você não vai parar. Você mesma disse isso,
naquele dia no meu escritório. Você é como um cão atrás de um osso
com essa porra de vaso. Acho que posso entender, dado o seu valor. —
Ele balança a cabeça. — Celine e todas as suas anotações. Quem
mantém registros em papel ainda? Estou feliz que eu estava em seu
apartamento naquele dia quando você entregou os livros para o amigo
dela. Pensei que eu tinha coberto meus rastros quando apaguei as fotos
dela e aquele post que ela estava escrevendo.
~ 333 ~
Entendimento me atinge como um tapa no rosto. — Você pegou,
depois de tudo... — Eu estava certa da primeira vez. Não foi Grady. Mas
então... por que aquele vaso estava armário de Grady?
Ele não vai colocar isso no meu corpo. Não vou deixá-lo.
~ 334 ~
Pergunto-me quanto tempo vai demorar.
~ 335 ~
Capítulo Quarenta e Seis
CELINE
15 de novembro de 2015
Tem sido semanas desde que descobri que Jace dormiu com sua
assistente e ainda não posso esquecer a mágoa. Naquele dia, quando
meu celular apitou com uma mensagem do grupo de Marnie para mim e
Dani, dizendo “Adivinhem quem está transando com o chefe! Shhhh...”,
seguida por uma imagem de Jace deitado dormindo em sua cama, era
como se alguém tivesse me dado um soco no estômago.
Natasha não deveria ter tirado e Marnie não deveria ter enviado,
mas estou feliz que ela fez isso. Prova como é fácil espalhar uma
informação privada. Estou feliz que mantivemos nossa relação em
segredo. Agora não há ninguém para questionar por que terminamos.
~ 336 ~
Dobro a imagem e a guardo no compartimento secreto da caixa
que Maggie me deu de presente de aniversário alguns anos atrás - o
presente mais inteligente que ela já me deu - ao lado do maço de
dinheiro que consegui deixar de lado. É o suficiente para cobrir o
aluguel e as contas de dezembro e janeiro. Depois disso... bem, Maggie
vai entrar e salvar o dia e não há nada que mamãe será capaz de fazer
nada para detê-la.
Mas não vai ser para sempre, me fiz uma promessa. Vai ficar
muito melhor, em breve, porque fiz a descoberta de uma vida com este
vaso.
Meu coração salta ao som da voz abafada de Jace. Está tarde. Dez
e meia em um domingo à noite. — Pode subir! — Abro a porta do prédio
para deixá-lo passar. E então entro em pânico, verificando minha
aparência para confirmar que meu rosto está de fato tão inchado como
acho que está.
~ 337 ~
suficiente para trocá-los por uma camisola e meu roupão de seda antes
de ouvir sua batida.
Eu abro a porta.
Ele sorri, mas fica fora. É o mesmo sorriso que ele me deu na
noite em que veio aqui para me enfrentar. Na ocasião, eu não fui
sensata. Agora, é como se eu estivesse em uma situação delicada. No
entanto, não deixarei isso influenciar a minha determinação. — Ei,
entre. — Deixo-o entrar, não querendo responder a quaisquer
perguntas de Ruby amanhã sobre o homem no meu apartamento. Mas
ela está provavelmente dormindo neste momento de qualquer maneira.
— Não. Obrigado.
Sua testa franze levemente, mas não diz nada. — O que é esta
tigela Ming que você falou em sua mensagem de voz?
~ 338 ~
para sua mãe. Ela vai adorar. — Eu nunca sequer a conheci, mas eu
sei.
Que você me perdoou. Que você percebeu que nós somos muito
perfeitos juntos para deixar o meu passado ficar no caminho.
~ 339 ~
— Está em uma coleção particular, mas não confirmei exatamente
quem tem isso ainda. — É onde definitivamente eu vou precisar da
ajuda de Hans.
— Não é?
Orando.
Sua mandíbula fica tensa. Ele estava com tanta raiva no dia em
que ele veio aqui com aquele pendrive e a nota em sua mão para me
perguntar o que diabos eu estava fazendo. Como se fosse eu quem
estivesse chantageando.
Ele abre a boca, hesita. — Isso é bom porque você não deve
vender a si mesma assim. Você é muito inteligente e bonita para deixar
qualquer um ter você.
~ 340 ~
— Você tem que parar com isso, Celine, — diz ele, com a voz
calma glacial. — As ligações. As visitas. Notas, como esta. — Ele puxa
do bolso de trás o envelope que eu enviei através do serviço de correio
interno do edifício. — As pessoas vão descobrir.
— Não, eles não vão. Não disso aí. — Tudo o que eu podia dizer
essa noite era que eu sentia muito.
— Natasha abriu. Você não acha que uma nota como esta com a
escrita de uma mulher iria levá-la a fazer perguntas?
— Por quê? Por que você está dormindo com ela? — Eu falo. Eu
não quis dizer irritada.
Devo contar-lhe o que ela fez. Mas não quero arrastar Dani ou
Marnie para isso. — Não importa como eu sei. É ruim o suficiente que
eu saiba. E apenas uma semana depois que terminamos?
— Você está certo. Me desculpe, eu não deveria ter dito nada. Por
favor, podemos simplesmente começar de novo? Eu prometo que não
vou dizer nada.
Ele range os dentes. — Certo, tudo bem. Era mais do que apenas
uma coisa casual.
~ 342 ~
Eu balancei minha cabeça, tentando parar de chorar. Não
posso. — Mas acabei de tomar um comprimido. Deve ajudar. Se não,
vou tomar outro.
~ 343 ~
Aprendi algumas coisas no meu tempo tentando agradar a
homens que pagaram para mim, e então eu deito em cima de meus
lençóis, deixando meu vestido deslizar no alto da minha coxa, sem
mostrar muito. Jace disse que ele gosta das minhas coxas grossas e
minha figura curvilínea.
Eu afasto o pensamento.
— Fale comigo.
Ele balança sua bebida. — Eu não sei. Eu gosto mais de ver você.
— Seu olhar se arrasta sobre o meu corpo, parando na minha calcinha,
onde eu deixei a minha camisola abrir. — Aqui. Que tal você beber o
~ 344 ~
meu. — Ele entrega para mim e, em seguida, com a mão livre agora,
acaricia a lateral do meu rosto, empurrando meu cabelo para longe. —
Continue. Beba.
Abro meus olhos para vê-lo folheando meu diário que deixei no
criado-mudo. — Oh Deus. Não... , — eu digo, e pretendia que isso saísse
mais veemente do que acho que é quando falo. Há todos os tipos de
coisas lá dentro, sobre o quanto eu o amo, e sobre Grady - não quero
que ele leia sobre eu estar dormindo com outro homem.
— Está tudo bem. É bom eu ler isso, — ele sussurra, seu rosto
uma máscara de tristeza. — Isso me faz sentir melhor sobre ter feito
isso. Você não ia parar, não é?
~ 345 ~
atenção, e me esforço para me concentrar mais longe. Ele ainda está
aqui. Ele está na porta agora, com uma caixa de papelão na mão.
Eu sabia que a compra da tigela para sua mãe era uma boa ideia.
~ 346 ~
Capítulo Quarenta e Sete
MAGGIE
23 de Dezembro de 2015
~ 347 ~
novo. Ela era uma prostituta, nada mais. E eu não ia deixá-la destruir
minha vida. Ou a vida da minha família. Ela deveria ter sido honesta
desde o início.
— Mais cedo ou mais tarde eles vão pegar Grady. Você não está
preocupado com o que ele vai dizer a eles quando o acusarem de
assassinato?
Jace paira sobre mim, fazendo uma pausa para assistir. Tenho
certeza que ele está medindo quão longe estou. Quanto tempo antes que
ele possa me deixar e ter certeza, assim como fez com Celine.
~ 348 ~
— Por que você se importa? Se ele não tivesse gravado o vídeo e
me chantageado, sua melhor amiga provavelmente ainda estaria viva.
— E o telefonema?
~ 349 ~
todos os seus crimes a uma muito em breve mulher morta. — Não até
que li o diário de Celine. Fiquei esperando ele me procurar, para me
ameaçar novamente. Eu não ia fazer nada, por outro lado. Com Celine
morrendo, se algo acontecesse com ele, poderia levantar
suspeitas. Então, mantive minha distância e esperava tudo se
dissipar. Até que você veio e estragou tudo.
~ 350 ~
Reunindo toda a energia que eu consigo, pego o relógio de pedra
da mesa. É mais pesado do que eu imaginava e tenho que lutar para
manter meu controle. Balanço minhas mãos amarradas o mais alto
possível, bato forte, no topo de sua cabeça.
Atrevo-me a olhar por cima do meu ombro apenas uma vez. Não
vejo Jace, mas ele está lá, sei disso. Eu posso ouvir seus pés, batendo
no chão. Ou talvez seja apenas o meu coração, batendo em meus
ouvidos enquanto corro.
O frio frígido faz meu corpo continuar seguindo, mas estou tão
cansada. Não sei se posso ir mais longe. Mas acho que vejo alguma
coisa. Longe na distância. Feixes de luz. Talvez seja um farol.
Eu só preciso...
~ 351 ~
Capítulo Quarenta e Oito
MAGGIE
04 de janeiro de 2016
Jace não estava a dois passos atrás de mim naquela noite. Ele
estava inconsciente no chão daquele quarto com corte profundo em sua
cabeça. Não o suficiente para matá-lo, mas o canto do relógio era uma
arma afiada e eu bati nele forte. Devo ter pisado no vidro quebrado da
porta no meu caminho. A polícia seguiu o rastro de sangue do meu pé
até a calçada e o encontrou lá, junto com o saco de provas que ele
estava plantando.
~ 352 ~
Grady. Eu não sei o que sentir sobre Grady e o que aconteceu
com ele. Por um lado, ele era um cara doente com um fascínio
pervertido por Celine. Ele violou sua privacidade, manipulou suas
fraquezas e mentiu para mim sobre tudo.
Por outro lado, ele era o cara que me manteve quente no telhado,
que me deu alguns momentos de descanso em meio ao que foi
provavelmente o momento mais difícil da minha vida.
Será que ele realmente mereceu o que Jace fez com ele?
~ 353 ~
— E seus advogados vão argumentar que você estava “fora da sua
realidade” cheia de drogas. Melhor coisa que a promotoria pode fazer
agora é construir um caso tão forte que faça Jace finalmente aceitar que
não conseguirá fugir com isso e confessar.
Pelo que ela disse à polícia, Jace apareceu um dia com uma caixa
de papelão contendo a tigela Ming azul e branco que ela já tinha
avaliado para Celine e um vaso com um dragão vermelho sobre ele - e
um selo chocantemente verdadeiro. Ele não quis dizer a ela onde
conseguiu o vaso e ele não deixou que ela entrasse em contato com
ninguém sobre isso para avaliações adicionais, para autenticar o que
ela já acreditava que poderia ser verdadeiro. Ele simplesmente pediu-
lhe para rastrear o colecionador que possuía o outro e não dizer uma
palavra sobre o vaso, ou ele levaria seu negócio em outro lugar e ela
poderia dar adeus a uma negociação considerável.
Ela não era estúpida. Ela sabia o quanto poderia valer a pena.
Embora o fato de que ele está fora não me faça sentir bem, não
estou preocupada que ele virá atrás de mim. Ele foi um assassino
quando precisou cobrir seus rastros. Agora que esses rastros estão
~ 354 ~
expostos, estou confiante de que ele irá se acalmar. Ele não precisa de
mais nada para incriminá-lo.
Childs nivela seu olhar com o meu. — Agora você nos deixe fazer o
nosso trabalho e fechar este caso da maneira certa. E volte para ajudar
as pessoas que ainda estão vivas.
Doug pigarreia.
~ 355 ~
Epílogo
MAGGIE
09 de agosto de 2016
~ 356 ~
olhos. Estou igualmente petrificada e curiosa para ver como a astuta
velhinha traduziu o relato que dei a ela, acompanhado de chá, nas
várias viagens de volta para Nova York desde dezembro.
A cada dia que passa, fico mais confiante de que Jace será punido
por seus crimes. Ele tem advogados, mas eu tenho um dos melhores
investigadores privados, trabalhando ao lado dos NYPD, polícia
estadual, bem como o FBI, que se envolveu por causa do valor do vaso e
porque este é um caso de alto perfil. Seus advogados tentarão acabar
com meu testemunho sobre a noite nas montanhas de Catskill, quando
Jace tentou me matar, dizendo que eu estava drogada. Mas não podem
esconder o vaso roubado e o diário desaparecido de Celine, que foram
encontrados no cofre de Jace, que indiquei a direção para a polícia
antes de conseguirem quaisquer mandados de busca.
~ 357 ~
A polícia confirmou que as duas outras mulheres nos vídeos
encontrados no computador de Grady estão vivas e bem e alheias às
intrusões do seu admirador, apenas enfatizando que, enquanto as
tendências de Grady podem ter sido deploráveis, uma sentença de
morte era muito dura.
Rosa faleceu.
~ 358 ~
pedido tão pouco, só deixou as coisas muito mais importante. Tenho
toda a intenção de garantir que o vaso seja devolvido à propriedade de
Celine após o julgamento contra Jace terminar, e a venda dele, através
de Hollingsworth, em vez de algum comerciante de Chinatown, ajudará
a afastar muitas mulheres da prostituição.
— Ei. Você deve ser Maggie. Eles disseram que você estaria
voltando. — Ele estende a mão para um cumprimento. — Eu sou Sam.
— Certo. Tenho certeza que será. Bem, foi bom conhecer você,
Sam...
~ 359 ~
A voz grogue de Doug responde.
~ 360 ~