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Tradução: Rezinha/ Irina/ Nate/ Ane/ Drika/ Juzita/ Livia

Revisão Inicial: Thay


Revisão Final: Luma Lee / Hígia
Formatação: Kytzia
Distribuição: Sweet Club Book´s & Rhealeza Traduções
09/2018
Sinopse
Não seja pego no pico.

Através de um buraco de bala na parede, vejo um homem sangrar até a morte.

Os responsáveis acham que seu crime morreu com a vítima, até eu identificá-los.

O que uma garota pode fazer quando está sendo caçada por assassinos que a proteção a
testemunhas não pode parar?

Corra.
Meu único refúgio é um lugar que prometi nunca mais voltar.

Quando é matar ou morrer, uma mágoa de oito anos atrás parece subitamente trivial.

Além disso, ele não estará lá de qualquer maneira.

Mas ele está.


Acontece que minha antiga dor parece nova no segundo em que seus olhos encontram os
meus.

Eu não posso sair. Eu não posso ficar.

Esta cidade nevada que deveria ser meu abrigo, de repente me expõe mais do que antes.

Com ninguém mais para me apoiar, Liam se torna minha salvação.

Agora nós dois estamos correndo por nossas vidas, tentando não sermos atingidos.
PRÓLOGO
Bellamy

Olhando o endereço rabiscado no pedaço de papel


amassado na minha mão, levo a mão ao topo da cabeça para
pegar meus óculos de sol, apenas para perceber que os deixei
em casa.

Estatísticas.

De todos os dias para esquecê-los, hoje é um dia em


que me seriam úteis, não apenas pelo sol, mas para esconder
as expressões em meus olhos. É tarde demais para voltar
agora, considerando que estou a cerca de um quarteirão do
lugar que preciso estar.

Pelo menos, acho que é.

Não conheço esta parte da cidade. Não é um lugar que


a maioria das pessoas recomendaria visitar, a menos que
tenha que fazê-lo. Como eu, agora. Colocando o papel bem na
frente dos meus olhos, asseguro-me, pela quinquagésima vez,
que estou lendo direito.

Sim. Ghetto Street, 666, à frente e à esquerda. Logo


após as latas de lixo em chamas e através da porta para o
inferno.
Arfando, enfio o papel no bolso e caminho. Este bairro
não é tão ruim assim. Quer dizer, nada está pegando fogo. E
o endereço definitivamente não é 666. Eu disse a você,
porém: se não fosse em plena luz do dia, eu não estaria aqui.

Pai ou não, seria um passo difícil.

Não está escuro, no entanto. Na verdade, ainda é cedo,


mas não exatamente na hora do almoço. Além disso, não vi
ou ouvi sobre meu pai em três anos. Quando ele ligou do
nada ontem, me perguntei como diabos ele conseguiu meu
número, porque fiquei imensamente surpresa.

Ele quer me ver. Ele tem algo importante para me


contar, ele disse. Por favor, venha, ele pediu.

O que posso dizer? Fui uma otária. Bem, tive alguns


problemas com papai porque ele nunca esteve por perto.
Quando estava, foram poucos momentos e distantes entre si,
o que, mesmo assim, foi mais do que minha mãe quis. Eu fiz
questão de não contar a ela sobre esta pequena visita. Ela
teria um ataque, e não teria sido bonito.

Contarei a ela sobre isso depois.

Talvez a maioria das mulheres adultas não sejam tão


rápidas em pular de cabeça quando alguém que as
desapontou uma e outra vez liga. Se eu fosse inteligente (e
fizesse o que a minha velha mãe me ensinou), teria dado a ele
o dedo do meio e desligado.

Não fui esperta. Como prova disso, volto a olhar para


trás e perceber como minha mãe está certa.

Na verdade, a indiferença do meu pai teve o efeito


inverso. Isso me fez querer pular mais e mais rápido quando
ele liga. Como se desta vez eu pudesse finalmente provar que
mereço sua atenção. Desta vez ele verá o que esteve perdendo
todos esses anos.

Com um suspiro pesado, paro em frente ao prédio de


tijolos que parece sujo e pronto para desmoronar. Arrepios de
advertência tremulam ao longo da minha espinha e fazem
cócegas na nuca. Olhando a escada de incêndio enferrujada,
janelas rachadas em quase todos os andares e, finalmente, o
céu, que está cheio de nuvens escuras e sinistras, decido
ignorar o frio em meu estômago e seguir em frente.

Com cuidado, abro a porta que leva ao piso inferior e


coloco a cabeça para dentro. Cheira a suor e urina, lixo e
folhas cobrem o corredor, e parte do tapete está faltando,
revelando o piso de concreto rachado.

Olhando a mancha escura que sinceramente espero


não ser sangue, apresso-me para subir as escadas, movendo-
me tão silenciosamente quanto meus tênis permitem.
No momento em que chego ao terceiro andar, meu
coração está batendo forte e estou ofegando baixinho para
respirar. Sei que estou sendo ridícula. O lugar está
degradado, mas não é como se alguém estivesse me
perseguindo. Ainda assim, a adrenalina alta em minhas veias
torna difícil não sentir que estou em perigo iminente.

Tentando me livrar do sentimento, entro no corredor e


me sinto um pouco melhor quando não vejo nenhuma
mancha de sangue. Ele está na terceira porta à esquerda.
Quando me aproximo, meu punho levanta para bater, mas
antes que meus dedos possam tocar na madeira suja, ela se
abre.

Uma mão com dedos ossudos se curva ao redor da


quina da madeira enquanto olhos arregalados espiam,
fazendo-me sentir que estou num tipo de filme de terror.

"Papai?"

Meu pai estende a mão, pega meu pulso e me puxa


rapidamente para o apartamento, fechando a porta.

Esfregando meu braço onde ele agarrou, entro no


pequeno espaço, olhando ao redor. O lugar é uma lixeira. E
não estou sendo rude. Ou esnobe. Na verdade, é uma
descrição gentil.
A única mobília em todo o lugar é um colchão
manchado no chão, sem lençóis ou cobertores, e uma cadeira
que parece pertencer a uma daquelas velhas mesas de metal.

Oh, há uma lamparina. É de latão, não tem cúpula e a


lâmpada está quebrada.

O cheiro está aqui também. Principalmente de suor. E


medo.

Não percebi que o medo tinha um cheiro, mas


respirando agora, penso diferente.

"Bellamy", diz ele, movendo-se para o quarto atrás de


mim depois de trancar a fechadura. "Obrigado por ter vindo."

Ele se move para me abraçar. Fico tensa, mas ele não


para. Seus braços me envolvem e apertam. Depois de um
momento, esqueço que isso é estranho. Esqueço que não
quero estar aqui. Sinto-me uma garotinha novamente,
naquele dia quando ele me puxou para seus braços e
explicou que tinha que ir embora e eu provavelmente não o
veria por um tempo.

Tempo que acabou por ser cinco anos.

Abraço-o de volta, fungo e me afasto.


"O que está fazendo aqui?" Olho ao redor. "E num lugar
como este?"

"Obrigado por ter vindo", diz ele, torcendo as mãos e


olhando para se certificar que a fechadura está de fato
trancada.

Percebo que ele parece ter envelhecido rapidamente


desde a última vez que o vi. Sim, faz cerca de três anos, mas
ele está apenas em seus quarenta anos... porém parece mais
perto dos cinquenta.

Seu cabelo castanho parece mais ralo, o corpo mais


magro. Há linhas de preocupação em sua testa e ao redor da
boca e olhos. Suas roupas estão amarrotadas e ele está
trêmulo. Ele está nervoso. Quase arisco.

Joseph Cutler é um monte de coisas na vida, mas


nervoso e arisco não fazem parte.

"É tão bom te ver. Senti saudades."

"Papai" digo, olhando-o novamente. A preocupação está


tomando conta de qualquer outra emoção que posso sentir
em vê-lo novamente. "O que está acontecendo aqui? O que
está errado?"
"Ouça, querida. Não temos muito tempo. Você não pode
ficar. Só queria te ver, mesmo que por um momento."

Meu estômago afunda. "Por que não vamos almoçar?


Por minha conta. Há um restaurante a poucos quarteirões de
distância. Tenho certeza de que eles têm torta", digo, sorrindo
um pouco. Meu pai gosta de torta.

Sem esperar, começo a andar em direção à porta.

"Não!" Ele diz rapidamente, entrando na minha frente e


erguendo as mãos. Paro de andar. "Nós não podemos ir. Eu
não posso."

"Por quê?"

Seus ombros caem. "Não é nada que você precise se


preocupar."

"Então por que ligou? Por que está na cidade?"

"Eu vim para te ver. Eu..." Sua garganta fecha. "Vim


dizer adeus."

"Adeus?" Realmente não preciso perguntar. Eu sei.

Como um adeus para sempre. Não, vou te ver daqui a


cinco anos.
Ele avança e agarra meus braços. "Entrei em alguns
problemas, fiz um mau negócio." Ele diz, olhando para a
porta mais uma vez. Quando seus olhos retornam aos meus,
eles suavizam. "Lembra daquela vez que saímos de férias?"

Assinto. "Para B..."

Rapidamente, ele coloca a mão sobre minha boca e


balança a cabeça. Seus olhos se arregalam, silenciosamente
me dizendo para não dizer nada. Quando se afasta, ele coloca
um dedo nos lábios, dizendo-me para ficar quieta.

"Essa foi a melhor época da minha vida." Ele


confidencia. "Deveria ter sido um pai melhor. Deveríamos ter
tido mais férias assim."

"Nós ainda podemos", digo a ele. Meu coração aperta


desconfortavelmente. Toda essa conversa não é o que
esperava quando entrei neste edifício hoje. Talvez o endereço
e o telefonema inesperado dele devessem ter sido as primeiras
pistas.

Ele sorri melancolicamente. Deixando meu lado, ele vai


em direção ao colchão nu e levanta uma mochila azul-
marinho do lado oposto, colocando-a no colchão. O som do
zíper é silencioso, mas distinto. Meu pai enfia a mão dentro e
tira um envelope branco com a aba retorcida. É espesso como
se estivesse cheio, e um dos cantos está dobrado.
Sem uma palavra, ele levanta a aba da bolsa de couro
sobre meu corpo e enfia o envelope. "Tome isso", diz ele, sua
voz falhando um pouco.

"Você precisa", respondo, olhando em volta


intencionalmente.

"Preciso que você tenha a última parte de mim que está


limpa."

Sinto minha testa franzir, intrigada com suas palavras.


Não entendo o que ele diz.

Antes que possa perguntar, a cabeça dele inclina de


lado, escutando.

Eu também presto atenção, a princípio não ouço nada,


mas então sons fracos parecem vir dos andares de baixo.

"Eles estão vindo", diz ele, parte suspiro, parte


sussurro.

"Quem?"

Ele bate toda a palma da mão sobre minha boca. As


pupilas de seus olhos estão dilatadas, fazendo-as parecerem
negras e selvagens. Sinto o tremor de seus dedos contra meu
rosto e imediatamente também tremo.
"Ande", meu pai ordena tão baixo que não teria ouvido
se ele não me empurrasse para trás com exigência.

Tropeço, mas ele continua empurrando. Mesmo que eu


esteja na frente, sinto como se ele estivesse me arrastando
para a porta estreita grosseiramente instalada na parede.
Meus tênis batem no linóleo descascando, travando
instantaneamente. Meu pai empurra e vacilo para trás.

Fazendo sinal para eu ficar em silêncio, ele


rapidamente abre a porta do armário do minúsculo balcão no
banheiro. Eu observo com descrença como ele
silenciosamente puxa o painel do lado de dentro, a peça que
deveria estar presa à parede. O som de passos ecoa no
corredor, fazendo-me tremer.

Meu pai me agarra, me forçando para o pequeno


armário. Meu corpo está rígido, mas ele empurra de qualquer
maneira. Não vou me encaixar. Este armário é muito
pequeno. Não vou caber.

Ele continua empurrando, e sinto a quina da porta me


arranhar. Dor aguda irradia pelo meu braço. Sufocando um
grito, noto o buraco na parede, sob o painel que ele removeu.
Parece quase como se alguém tivesse mastigado a parede.

Pânico toma conta de mim quando meu corpo força um


espaço no pequeno vão entre a parede do banheiro e o quarto
principal. Eu luto, medo genuíno arranhando minha
garganta, fazendo-me sentir como se minha traqueia
estivesse se fechando.

Antes que possa sair, meu pai se inclina no armário e


faz sinal para eu ficar quieta. Na sala principal, alguém bate
na porta. Ouço o barulho da fechadura que meu pai tão
cuidadosamente trancou.

Sua mão dispara contra a parede, acariciando minha


bochecha. "Não sou um bom homem, mas eu te amo."

Outro estrondo na porta, e meu pai empurra o painel


de volta no buraco, tornando o espaço ainda mais
claustrofóbico do que já é.

Empurro, tentando me libertar. "Papai?"

"Não faça barulho."

Então o painel é deslizado sobre o buraco, e o som do


gabinete se fechando enche meus ouvidos.

Está escuro aqui. Totalmente escuro. O espaço é tão


pequeno que meus ombros doem por estarem pressionados
entre as duas paredes. A caixa elétrica dentro da parede
marca no meu quadril, mas não há lugar para eu me mover,
então fico lá apenas sentindo a dor. O mesmo cheiro de medo
permanece, como se não fosse a primeira vez que alguém se
espreme aqui. Como se o esconderijo fosse algo normal.

Luto para respirar. Terror diferente de tudo que já senti


antes parece me estrangular. O som de uma porta se abrindo
entra pelas paredes. O som da maldita corrente balançando,
batendo contra a moldura da porta de madeira, penetra
minha mente como uma britadeira.

Vozes abafadas chegam aos meus ouvidos, murmúrios


baixos e depois um grito mais alto.

O som familiar da voz do meu pai atravessa a madeira.


Suas súplicas saltam ao meu redor.

O que está acontecendo? Quem está lá fora com ele?

Um homem com uma voz profunda grita uma ordem de


silêncio. O silêncio reina por um tempo, mas então meu pai
fala novamente.

Um estrondo alto soa. Apesar do espaço minúsculo,


caio para trás, meu corpo se contorcendo para o lado
enquanto algo atravessa a parede acima de mim, exatamente
onde eu estava.
Quero gritar, mas o som fica preso na minha garganta.
Minha boca abre amplamente, mas nada sai. Um fino rastro
de luz parece me cegar na escuridão.

Pisco, tentando entender o que aconteceu.

Tremendo quase além da compreensão, outro grito


sobe por minha garganta. Sinto-o se construir e empurrar
contra o outro ainda preso lá.

Forço o punho contra meus lábios, empurrando os


dedos na boca para que não haja chance de qualquer som
escapar.

Meu peito queima. Sem lugar para ir, os gritos


golpeiam meu peito e garganta até que tenho certeza de que
vou desmaiar.

Olhando o feixe de luz que de repente se estende pelo


espaço, parecendo um raio laser, noto uma coisa.

Há um buraco na parede. Um buraco irregular e


esfolado.

De uma bala.
O estrondo alto que ouvi foi uma arma sendo
disparada. A força da bala atravessou a parede e teria me
matado se eu não tivesse caído.

Um tapa forte e o som de um rosnado me fazem


esquecer da minha quase morte. Com cuidado, levanto a
cabeça, inclino o rosto na frente do buraco de bala e olho o
quarto.

Há dois homens. Caras grandes, como lutadores de TV.


Seus ternos esticados contra os corpos, o tecido parecendo
tensionado e prestes a rasgar.

Um homem tem cabelos loiros e o outro é careca. O


sem cabelo tem uma grande tatuagem de aranha na nuca.

Estremeço. Forçando meu pulso de volta na boca,


observo como o homem agarra meu pai e o segura para que o
outro possa acertar um soco em seu estômago.

O ar em seu corpo sai e ele se dobra sobre o braço que


o segura. Como se ele fosse uma boneca de pano, ele é
puxado novamente, apenas para ter um punho acertando seu
rosto.

Lágrimas, espessas e rápidas, transbordam, escorrendo


por todo o meu rosto.
"Não achou que poderia se esconder para sempre, não
é?", diz o homem de cabelos loiros, dando outro soco em meu
pai.

O careca o solta. Seu corpo cai no chão em um


amontoado lamentável. Não posso simplesmente me sentar
aqui! Não consigo me esconder neste minúsculo buraco e
observá-lo.

Tapa! Pontapé! Gemido.

"É inútil esconder-se. Crone sempre pega seus


homens."

"Por favor", meu pai diz, cuspindo sangue. "Eu farei


qualquer coisa."

Começo a me mover, para tentar me afastar das


paredes. Como se sentisse o que estou prestes a fazer, meu
pai fica de joelhos, o sangue escorrendo pelo rosto, e olha
para o buraco como se soubesse que estou assistindo.

Uma leve sacudida de sua cabeça me faz ficar imóvel.

O careca puxa uma arma, fazendo um show ao


enroscar um silenciador de cano longo. Obviamente, é apenas
uma maneira de prolongar o que ele planeja fazer.
Obviamente, esses homens não estão preocupados em serem
ouvidos. Eles já atiraram através da parede.

"Alguma última palavra?" O homem loiro zomba.

Meu pai olha a parede. Uma única lágrima desliza por


sua bochecha, misturando-se com o sangue. "Diga a minha
filha que eu a amo."

Os dois homens recuam. Meu pai olha para cima.

Uma bala de cada arma dispara.

O som do metal acertando o corpo do meu pai é algo


que nunca esquecerei. Sangue respinga na parede atrás dele.
Seu corpo cai imóvel.

Fechando meus olhos, mordo meu pulso até que o


inconfundível gosto de sangue enche minha boca. Continuo
mordendo, olhando o corpo do meu pai através do pequeno
buraco enquanto sua vida se esvai.

Tremo tanto que praticamente vibro. Minha boca está


tão seca que é um esforço engolir. Sinto meu próprio sangue
descendo pela minha garganta, mas neste momento, não
sinto como se estivesse engolindo meu sangue.

Parece o dele.
Fico sentada lá enquanto os homens jogam o conteúdo
de sua mochila por todo o colchão. Fico sentada lá enquanto
eles fazem uma piada sobre o jeito que ele sujou as calças
para morrer. Meus olhos ficam colados no buraco enquanto o
homem loiro aperta um botão em seu celular e fala.

"Diga ao Crone que está feito", ele ordena, rouco.

Quando ele termina, o careca entra no banheiro e mija.


O som dele se aliviando é quase demais. Pontos negros vagam
diante dos meus olhos, e a sala ao meu redor gira.

"Vamos almoçar", diz um deles.

Fico sentada no pequeno espaço muito depois que eles


saem. Meu corpo treme por tanto tempo que honestamente
penso ser um estado permanente.

Os olhos do meu pai estão abertos, ainda olhando para


a parede. Ainda assistindo, certificando-se que estou
escondida.

Quando eu finalmente rastejo para fora da parede, fico


de pé sobre seu corpo, olhando para baixo enquanto seu
sangue se infiltra em meus sapatos se agarrando às solas.
Olhando para a pilha virada de sua bolsa, meu olhar
pousa em uma foto virada para cima. As bordas estão gastas,
e um lado foi rasgado.

Abaixo-me e pego-a. A imagem fica desfocada,


desbotada e depois volta para o foco. Não noto o sangue onde
me mordi nas minhas mãos ou as marcas na palma deixadas
por minhas unhas.

É a foto de uma lembrança. De um homem mais jovem


em pé na neve, sua filha sorrindo ao lado dele.

Essa foi a melhor época da minha vida.

Agarrando a foto no meu peito, olho de volta para meu


pai e, finalmente, começo a gritar.
CAPÍTULO UM
Bellamy

Um ano depois…

Fico até tarde porque amo meu trabalho. Fico até


tarde no trabalho porque não tenho nada melhor para fazer.
Quer dizer, realmente, tento dizer a mim mesma que a
mentira é ridícula. Tão ridícula, na verdade, que me faz rir
enquanto tento me convencer de que é meio verdade.

Não faz sentido. Se eu não posso ser honesta dentro da


minha própria cabeça, então provavelmente deveria ter saído
daquela parede naquele dia e morrido junto com meu pai.

Cruel.

Às vezes a verdade é cruel. Mas a verdade não é melhor


do que mentira após mentira? Eu sei. Vivo uma a cada dia.

Correção: não é mentira. É um novo eu.

Ou o que sou treinada repetidamente para acreditar.


Na maioria das vezes, funciona. Exceto em noites como esta,
quando fico até tarde correlacionando arquivos porque o
pensamento de ir para casa e olhar as paredes vazias do meu
apartamento é insuportável. Pergunto-me, não pela primeira
vez, se algum dia ficará mais fácil.

Para me animar, paro em uma mercearia local na


esquina perto do meu prédio. Não paro muito aqui, embora o
lugar seja incrível. É caro, mas fora isso, me deixa com
saudades de casa. Por isso, provavelmente, deveria ter sido o
primeiro lugar para evitar esta noite, enquanto todos os
pensamentos giram dentro de mim. É razoável, porém, achar
que se talvez esse lugar me deixa com saudades de casa,
também possa me fazer sentir mais perto do que eu perdi.

No mínimo, posso pegar uma boa garrafa de vinho.

Andando pelos corredores da pequena mercearia,


respiro os vários aromas que se misturam no ar. Ervas
frescas, produtos e o aroma inebriante de baguetes no forno.

Respiro fundo e exalo. Parte da tensão e inquietação


dentro de mim diminui.

Colocando a cesta na dobra do meu braço, continuo,


parando para olhar os molhos e a seleção de óleos. Um
arrepio de excitação e inspiração me toma, deixando meu
peito palpitante. A necessidade de criar algo que penetre a
língua é quase irresistível.
Depois de ceder aos meus pensamentos por alguns
momentos, escolho ervas frescas, tomates que cheiram
deliciosamente, um pouco de alho e outros ingredientes leves.
Uma vez que eles estão na minha cesta, pego uma baguete
fresca, ainda quente.

Bruschetta fresca vai muito bem com o vinho que


planejei beber esta noite.

Examinando a seleção de vinhos, sinto um arrepio na


minha nuca. Quase como se alguém abrisse uma janela ou
porta e um pouco do ar frio entrasse. Não estou nem perto da
porta. E não há janelas aqui.

Olhando ao redor, nada parece errado, então continuo.


Enquanto pego a garrafa que escolhi, noto algo com o canto
do olho. Viro, olhando o corredor, enquanto um homem
desaparece na esquina.

Meu estômago aperta e arrepios de advertência - o


mesmo tipo que já senti antes - me dominam. Adrenalina
inunda meu sistema tão rapidamente que tudo na cesta
começa a chocalhar com o tremor do meu corpo.

Forçando-me a respirar fundo, caminho em direção ao


caixa, obrigando meus passos a serem sem pressa e casuais.
Tudo o que realmente quero fazer é correr.
Correr e gritar.

Aquela sensação familiar de aperto no meu pescoço


começa e eu pigarreio, tentando afastá-la.

Depois de pagar pelos meus itens e dar ao caixa um


sorriso forçado, uso o ar frio como desculpa para me encolher
no meu casaco e correr para o carro.

Aperto o volante até sair do estacionamento passando


pelo portão de segurança. Não é muito, realmente, mas ter o
pequeno bastão suspenso que exige um passe para
estacionar lá dentro é melhor que nada.

Posso ter pressionado o botão fechar portas dentro do


elevador algumas milhares de vezes enquanto olho
ansiosamente para a garagem. E posso ter quase tropeçado
correndo pelo corredor até minha porta e me apoiado contra
ela uma vez que estou segura lá dentro.

O alívio não dura muito tempo, no entanto.

Em vez disso, minha cabeça vira rapidamente e olho o


pequeno corredor que leva ao resto do apartamento.
Suspeita, ansiedade e adrenalina são uma combinação
perigosa. Afastando-me da porta, sigo pelo meu apartamento,
acendendo cada luz ao longo do caminho. Depois de colocar
meus mantimentos e bolsa no balcão, checo o resto do lugar,
algo que não é realmente familiar para mim.

Uma vez que termino isso, verifico novamente o


armário, então finalmente tiro meu casaco e suspiro.

Estou sendo boba.

Agindo como criança.

Não há como alguém ter me encontrado. Eu fiz tudo


certo. Tomei todas as precauções. Estou segura.

Então, por que não me sinto assim?

Sirvo uma grande taça de vinho e desembalo as coisas


que comprei. Depois de cerca de metade da garrafa, começo a
me sentir um pouco mais relaxada. Decido que o que preciso
fazer é tomar um banho quente, colocar algo confortável e
depois fazer a Bruschetta. Posso tomar outro copo cheio de
vinho e assistir a um filme de romance na TV.

Depois de tomar banho, e prender meus cabelos loiros,


coloco um moletom largo e confortável que cobre minhas
pernas, levo o copo vazio de vinho para a cozinha e começo a
cozinhar.
Mal começo quando o sentimento desliza sobre mim
novamente.

Soltando a faca, agarro a beirada do balcão e a aperto,


observando a maneira como meus dedos ficam brancos pela
pressão. Sob minhas costelas, meu coração dispara e um
desejo intenso de fugir me atinge.

Pensando que me fará sentir melhor, vou até o armário


mais próximo da porta da frente e olho dentro da mochila na
prateleira de cima.

Não tenho certeza do que o que ela contém diz sobre


mim, mas o que quer que seja, não me impede de tê-la.

Depois de forçar algumas respirações profundas,


começo a fechar a porta.

Bang! Bang! Bang!

Solto um grito baixo e pulo para trás, pressionando a


mão no meu peito.

Alguém está à porta, batendo. Nunca ninguém bateu


na porta.

Avançando, olho pelo olho mágico.


Um homem de uniforme marrom escuro com o logotipo
amarelo de uma empresa de entregas está do outro lado. Sua
cabeça está inclinada para baixo, então não posso ver seu
rosto, apenas a touca. Nos braços dele há uma caixa marrom.

Não espero nenhuma entrega. Na verdade, nunca faço


compras online. Nunca faço nada online. É muito arriscado.

"Sim?" Digo através da porta.

"Entrega!"

"Não estou esperando nada." Observo pelo olho mágico


quando o homem puxa a caixa e a olha.

"Bella Lane?" Ele grita. "Apartamento doze?"

Balanço a cabeça, então percebo que ele não pode me


ver. "Sim, sou eu."

"Então é para você."

Hesito, sem dizer nada. O sentimento está de volta. E


desta vez, não quero tentar lutar contra ele. "Basta deixar na
porta", grito. Pegarei depois que ele for embora.

"Eu preciso que assine."

Não abra essa porta!


O cheiro de tomates salteados que estão perto de
queimar flutua pelo pequeno corredor.

"Não posso atender agora. Se não pode sair, leve para a


loja e vou buscá-la amanhã."

Sua cabeça permanece baixa, mas os ombros


enrijecem. "Levará apenas um segundo."

Recuo para longe da porta, silenciosamente,


imaginando que se fizer o menor som, ele saberá.

Ele bate de novo. Apoio a mão para me equilibrar na


parede.

Algo está errado. Se você sente que algo está errado,


provavelmente está.

Voltando para o quarto, pego meu celular da bolsa e


disco 9-1-1. Com o coração batendo, fico entre a cozinha e o
corredor, segurando o telefone, olhando para a porta.

Por favor, vá embora. Por favor.

De repente, estou de volta, espremida entre as paredes


do apartamento de merda do meu pai. O cheiro de medo e
suor se agarra ao interior do meu nariz, e o som de carne
batendo em carne me faz tremer.
"Tudo bem, então", o entregador grita. "Estou indo
embora!"

Solto um suspiro, mas ainda estou tremendo.

Ainda estou com muito medo de me mexer, então fico


lá por um longo tempo, apenas olhando a porta e esperando
ouvir alguma coisa. Qualquer coisa.

Penso em ir checar a janela, para ver se talvez o


caminhão de entregas foi embora, mas não consigo fazer
meus pés andarem.

Um som fraco me atinge como o estrondo de uma


arma. Eu pulo, meu olhar se voltando rapidamente para a
porta.

Vejo com horror quando a maçaneta, que estava


trancada, gira devagar... Até parar.

Aberta.

A porta da frente range como um filme de terror ruim


quando o homem, que claramente não é um entregador, abre-
a. Ele enche a porta com seu uniforme marrom. Sua cabeça
se levanta tão lentamente quanto a porta se abriu.
"Eu tenho seu pacote", ele entoa. A caixa é largada e,
por baixo, na mão dele, está uma arma.

Uma arma com um silenciador no final.

Grito e me jogo para o lado, caindo na cozinha. O som


de um tiro sendo disparado e a bala atingindo a parede é algo
que estou, infelizmente, familiarizada.

Na pressa de me afastar, meu celular escorrega da mão


e desliza quase debaixo do fogão. Com um grito, jogo-me para
frente, meus joelhos batendo no chão. Meus dedos fecham
em torno dele, mas quando o puxo para perto, o homem
aparece, empurrando-me de volta para o canto dos armários.

Ele aponta a arma. Seus olhos estão vazios.

A adrenalina sobe novamente, e antes que saiba o que


estou fazendo, estendo a mão por cima da minha cabeça e
pego a panela que está no fogão. Jogo-a no homem e ele grita.

O óleo quente, os vegetais e a própria panela lhe


acertam no rosto. Ele grita como se estivesse queimado,
afasta a panela e começa a tentar tirar a comida em brasa.

Afasto-me, corro pelo corredor e abro a porta do


armário. Minha mão envolve a mochila quando ele vem para
mim. Balanço, usando as costas como um aríete1 e acerto-o
no rosto. Ele cai contra a parede com uma maldição. Abro a
porta do apartamento e corro. Em vez do elevador, desço
correndo as escadas. Ouço-o não muito atrás, seus passos
cada vez mais perto. Pensando rápido, entro na sala de
manutenção pouco antes da porta que dá para a garagem.

Tremendo por trás do equipamento enorme, ouço-o


passar correndo.

"Ela se dirigiu para você!" Ele diz e irrompe na


garagem.

No segundo que meu coração para de trovejar, sei que


não posso ficar aqui. Não posso esperar que ele volte. Saindo
do cômodo, vou na direção oposta, passando pelo corredor
até chegar a uma porta que dá para uma rua diferente.

Puxando meu capuz sobre a cabeça, escapo para a


calçada e carrego a mochila de ombro enorme.

Um táxi para no meio-fio à frente e um casal sai aos


risos.

1 Antiga máquina de com que se derrubavam as muralhas ou as portas das


cidades sitiadas, constituída por um forte tronco de freixo ou árvore de madeira
resistente, com uma testa de ferro ou de bronze a que se dava em geral a forma da
cabeça de carneiro.
Corro para ele, deslizando no banco de trás antes de
fechar a porta. O motorista olha para cima, surpresa por todo
seu rosto.

"Para onde?", ele pergunta.

"Apenas dirija."

Ele sai para o tráfego, desce a rua e vira a esquina.


"Vou precisar de um endereço, senhora."

Meu primeiro pensamento é a delegacia de polícia. Eles


saberão o que fazer. Eles têm os recursos para me manter
segura. Abro a boca para dar o endereço do lugar. Eu sei de
cor.

Algo me para.

Uma sensação de frio me domina.

Ir à polícia é o que devo fazer. Foi o que fiz da última


vez.

E agora estou aqui.

Eles me prometeram proteção. Eles juraram que eu


estava segura. Minha nova identidade, minha nova vida...
Tudo foi perfeitamente calculado para que os homens que
mataram meu pai não conseguissem me encontrar.

Eles mentiram.

O entregador falso com uma arma é a prova.

Eu fui encontrada.

Tudo o que fiz foi por nada.

A proteção a testemunhas não me protegeu. Eu lhes


dei uma chance. Eles falharam.

Agora é por minha conta.


CAPÍTULO DOIS
Liam

O som do assobio corta o ar gelado. O metal brilhante


cai dos meus lábios e derrapa sobre meu casaco para pousar
no meio do meu peito, parado pela corda azul a qual está
preso.

Todos olham para cima e bato palmas. "Arrumem suas


coisas!" grito, uma nuvem de ar branco saindo com minhas
palavras. "Boa aula hoje. Vejo todos nas encostas."

Duas pessoas vão para os elevadores, e algumas


começam a pegar parte de seus equipamentos.

Leva apenas um segundo para eu soltar a prancha dos


meus pés, abaixar-me e pegá-la. Estou tão acostumado a
fazer isso que poderia fazê-lo dormindo.

Andando em direção ao rack e para minha prancheta,


paro quando alguém chama meu nome por trás.

"Liam?"
Olho ao redor quando uma snow bunny 2 de rosa
avança, oscilando nas botas volumosas e meio arrastando o
snowboard3 junto com ela.

"O que posso fazer por você, Senhorita —"

"Heather," ela diz, me interrompendo. É uma coisa boa,


já que não sei o nome dela. Só Deus sabe o que teria saído da
minha boca.

"Heather", digo e sorrio.

Ela tropeça e a prancha cai sobre a neve e derrapa


enquanto ela anda.

"Whoa", digo e a seguro, facilmente fazendo


malabarismos com minha prancha e seu corpo. Noto o jeito
que ela pressiona por um segundo. Inferno, até deixo-a fazer
isso antes de se segurar sozinha. "Cuidado aí. Você quase
caiu de cara na neve."

Ela dá uma risadinha e ajeita os óculos na cabeça.


"Obrigada."

2
Snow bunny: Coelhinho da neve é uma gíria para uma jovem esquiadora.
3
Snowboard, Snowboarding ou surfe na neve é um esporte que, tal como o skate e
o surfe, consiste em equilibrar-se sobre uma prancha. Este, porém, se faz na
superfície nevosa das encostas de montanhas - como o esqui.
Depois de um minuto, ela não diz nada e apenas fico
ali esperando como um idiota, então pigarreio. "Há algo que
precisa?"

"Oh!" Ela diz, suas bochechas ficando mais rosadas do


que já estão. "Quero saber se você tem alguma dica de última
hora para mim? Como fui na aula?"

Meu olhar percorre sobre ela, começando em suas


botas e parando no rosto. Ela tem longos cabelos loiros que
pendem de seu boné e sobre os ombros. Está ligeiramente
úmido e levemente ondulado pela neve. Isso me lembra
alguém.

Do passado.

Mantendo meu olhar profissional em seu rosto,


respondo: "Você foi bem hoje, para uma iniciante." Então
sorrio.

Ela ri.

"Lembre-se de manter seu olhar para cima e não para


baixo na prancha. Seu corpo vai seguir seus olhos, ok?"

Ela assente.

"Legal". Começo a me virar e sinto-a me seguir.


Quero gemer. Normalmente, estou muito bem com a
atenção das garotas. Mas não agora. Não dela.

Além disso, há um lugar onde preciso estar.

Como se por sugestão, um corpo num par de esquis


desliza habilmente para onde estou indo. A perfeição de sua
parada é amplificada pela neve fofa que pulveriza em minha
direção.

"Legal", digo, sorrindo.

Alex enfia os bastões sob os braços, sua risada alta e


clara. O reflexo verde em seus óculos de proteção pisca para
azul quando ele os ergue sobre a cabeça. "Vê isso?" Ele se
gaba. "Cem por cento de perfeição."

Resmungo e apoio minha prancha no suporte.

Os olhos de Alex deslizam em direção a minha


admiradora e depois de volta para mim. De costas, reviro os
olhos para ele. Surpresa brilha em seu rosto por um nano
segundo, mas desaparece praticamente antes de ser notada.

"Ei, coelhinha", ele diz, apontando o queixo para ela.


"Qual seu nome?"
"Heather", diz ela, tomando isso como uma sugestão
para se aproximar.

"Você só tem aula com meu amigo, Liam?"

Ela assente. "Ele é o melhor."

Alex sorri, um sopro de ar saindo do canto de sua boca


por sua risada baixa. Seus olhos focam para atrás de onde
estamos e depois de volta. "Diga, ah, por quanto tempo ficará
por aqui?"

Quero gemer. Ela deve ter uma amiga. Uma não tão
descarada.

"Toda a semana", diz Heather.

"Aquela é sua amiga?"

Heather olha por cima do ombro e assente.

Dou a Alex um olhar de advertência, silenciosamente


dizendo a ele para se calar. Ele nem sequer me nota.

Um sorriso lento se espalha pelo seu rosto. "Estamos


pensando em ir até a taverna ao lado dos chalés hoje à noite
para tomar umas bebidas. Talvez as vejamos, garotas."

Quase pego o bastão de esqui e o apunhalo com ele.


Depois que a garota dá uma risadinha e praticamente
promete estar lá, ela pega sua prancha e conversa
animadamente com a amiga.

Uma vez que elas estão fora do alcance da voz, olho


meu melhor amigo e gemo. "Cara. Por que fez isso?"

"É meu dever te dar uma presa", brinca ele.

Dou um soco em seu ombro. Ele desliza para trás nos


esquis, mas o bastardo se firma com a mesma rapidez. "Sabe
que não preciso de ajuda com isso."

Ele ri. "Talvez não, mas ela é boa, assim como sua
amiga."

"Então foda sua amiga", resmungo. "Foda-se, faça um


trio com as duas, pouco me importa."

"Whoa." Ele faz uma careta. "Quem jogou uma bola de


neve em sua cueca?"

"Ninguém." Pego a prancheta e faço algumas anotações


antes que esqueça. "Às vezes é cansativo, isso é tudo."

"Sim, ser seguido por todos os lados por mulheres


sexys no dia-a-dia é uma tragédia."
Mostro a ele o dedo do meio.

Ele bate na parte de baixo da prancheta. "O que se


passa, mano?"

Olho para cima. Seus olhos azuis estão preocupados.


"Nada", murmuro. "Ela apenas me lembra alguém."

"Alguém que conheço?"

Olho na direção em que ela se foi, depois para os


pinheiros altos cheios de neve. "Esqueça", digo. "É uma
história antiga."

Alex faz um som, mas antes que possa pressionar,


digo: "Obrigado por dar minha próxima aula. É melhor eu ir
antes que o velho mande alguém me buscar."

"Sem problemas." Ele verifica o relógio enterrado sob o


casaco. "Tenho algum tempo. Vou entrar e pegar uma bebida.
Irei com você."

Alex tira os esquis, inclinando-os no suporte onde


minha prancha estava antes de eu colocá-la sob meu braço.
Eu não deixo minha prancha por aí. E não uso o espaço de
locação onde todos os outros equipamentos estão
armazenados. Isto é meu e de mais ninguém.
"Então, o que acha daquelas cervejas hoje à noite?"
Alex pergunta enquanto andamos.

Eu dou risada. "Você sempre pensa com o seu pau"?

"Você não?", ele pergunta, sem graça.

"Touché." Mas, mesmo quando falo, sei que não é


verdade. Pelo menos não ultimamente. Ultimamente, estou
pensando com minha cabeça muito mais do que com meu
pau.

Não gosto muito disso, mas não sei como consertar.

"Vamos lá, Liam. Provavelmente vai precisar de uma


cerveja depois da reunião com o Sr. Mattison."

"Tudo bem." Eu concordo. "Encontro você no bar mais


tarde."

Ele me dá um tapinha nas costas.

Olho para ele pelo canto do olho. "Mas sem mulheres.


Não essa noite."

"Como você vai fazer isso comigo?" Alex reclama.

Eu dou uma risada. "Bem. Nenhuma mulher para mim.


Mas você pode escolher.
"É isso que eu estou falando!" ele exclama.

Eu rio e retorno sua batida de punho antes de ir para a


entrada dos funcionários, depois ao escritório do meu pai.
CAPÍTULO TRÊS
Bellamy

No segundo em que o ônibus para, o nervosismo me


ataca.

E se eu estiver fazendo a coisa errada?

Essa coisa que eu estava fazendo parecia certa até que


eu cheguei aqui e realmente tive que seguir com meu plano.

Se puder chamá-lo assim.

Sou a última a sair do ônibus. Na verdade, fico sentada


ali por tanto tempo, olhando o crepúsculo e a rua escura, que
o motorista do ônibus aparece.

"Esta é a última parada", diz ele, com a voz rouca.

Eu pulo, sem sequer ouvi-lo se aproximar.

Pressionando minha mão no meu peito, eu pisco, com


os olhos arregalados.

"Não quis te assustar, senhorita."


Forço uma risada baixa. "Ah não. Você não me
assustou." É uma coisa estúpida para dizer porque
obviamente ele me assustou. Estou no piloto automático, no
entanto, apenas murmurando a primeira coisa educada que
consigo pensar.

"Desculpe por segurar você", digo e me levanto,


segurando a bolsa no meu peito. Eu mordo meu lábio inferior
e espero ele se afastar.

"Não é um problema", diz ele, movendo-se.

Ele diz boa noite quando piso na rua nevada.

As portas do ônibus batem atrás de mim, e ele puxa


para frente antes mesmo de eu estar no meio-fio. Uma vez lá,
eu paro, abraçando a bolsa perto. Levantando meu queixo, eu
olho para o céu que parece uma sombra profunda de azul,
mas não muito escura. Flocos de neve grossos e brancos
flutuam do céu. Eles me lembram penas pela forma que
deslizam de um lado para o outro até o chão.

Um me atinge no nariz, sua estrutura gelada me


assusta um pouco quando começa a derreter contra minha
pele. Sorrio, o primeiro sorriso que dou há um tempo.

Parece errado, mas não posso me castigar por isso. Não


essa noite. Não depois de tudo.
Eu posso estar em apuros, mas eu cheguei até aqui.
Isso é algo para se orgulhar.

Junto com o sorriso, uma leve sensação de paz toma


conta de meu peito. É pequena e frágil, assim como os flocos
de neve caindo ao meu redor, mas está lá. E assim como os
flocos brancos, é linda.

Eu estou com medo, duvidando de cada movimento


que eu fiz no último dia.

Mas eu estou viva.

É um bom lugar para começar.

Alguém na calçada contorna-me, evitando por pouco


uma colisão. Tirando meus olhos do céu, eu olho ao meu
redor.

O lugar parece o mesmo.

O mesmo, mas diferente.

Isso existe?

Talvez seja apenas eu que estou diferente. Depois de


tudo o que aconteceu desde que estive aqui, é óbvio que não
olharei ao redor com os mesmos olhos.
A cidade de Caribou, Colorado, é um lugar lindo.
Parece enraizada na história com a sensação de cidade
pequena e rua principal estreita cheia de lojas e luzes. A neve
cai aqui frequentemente, e a montanha se ergue ao redor da
cidade como uma força intimidadora. O cheiro de uma
padaria nas proximidades atravessa o ar de inverno e meu
estômago ronca.

Não me alimento há quase dois dias, exceto por um


café velho e um pacote de bolachas. Não quis dar chance de
ser vista enquanto pegava comida em qualquer lugar.

A viagem de ônibus foi longa, e até mesmo quando fez


paradas, recusei-me a sair. Minha vida literalmente dependia
disso.

Estou segura aqui?

Não tenho certeza, mas é o único lugar que pude


pensar para fugir.

Suspiro fundo pensando nisso.

A primeira e única vez que estive aqui, eu corri


também. Fugi.
Prometi nunca mais voltar, nem para recuperar o
pedaço do meu coração que infelizmente ficou para trás.
Mesmo depois de todos esses anos, sei que ainda está aqui.

Eu sinto.

Virando, olho de relance para as pessoas encasacadas,


as pequenas lojas e luzes bonitinhas. Eu olho através da neve
caindo em direção à montanha.

Não muito longe, há um grande prédio. Perto dali há


longas pistas brancas que descem a montanha, e próximas a
elas ficam os teleféricos iluminados, com as cadeiras indo e
voltando.

Meu estômago revira quando olho para o BearPaw


Resort. O lugar onde me apaixonei pela primeira vez.

O lugar onde meu coração foi destruído pela primeira


vez.
CAPÍTULO QUATRO
Liam

Meu pai vira-se quando eu entro em seu grande


escritório de canto cheio de móveis de nogueira e vistas
deslumbrantes das encostas.

É provavelmente uma das vistas mais bonitas do


resort.

Fico surpreso por ele não ter feito disso uma suíte
chique e cobrado o triplo. As pessoas pagariam, e sua linha
de fundos aumentaria.

No entanto, como astuto homem de negócios que meu


pai é, ele pode apreciar uma boa visão.

Além disso, diga o que quiser sobre Renshaw Mattison;


ele é um trabalhador esforçado. E se alguém merece esse
lugar privilegiado no BearPaw, é ele.

"Não poderia ter se trocado para a reunião?", ele


pergunta, olhando por cima dos óculos.

"Tenho certeza que essa conversa ainda será a mesma


se eu usar um terno de três peças."
"As aparências significam muito no mundo dos
negócios."

Sento na cadeira em frente à sua mesa me inclinando


para trás e apoio um pé sobre o joelho. "Não sou você, pai."

"Estou ciente disso."

Resmungo. "Bem, não é tarde demais para mudar de


ideia."

Ele ri. "Ainda acredito que é o homem certo para o


trabalho, não importa seus hábitos de vestimenta."

"Isso é bom, porque se assumir este lugar algum dia,


ainda estarei me vestindo assim."

"Cabeça dura. Assim como sua mãe."

Não é um insulto. Na verdade, vejo como o oposto. Meu


pai ama minha mãe mais do que tudo, então, ele dizer que
sou como ela conta muito.

Ele limpa a garganta. "Então já pensou sobre nossa


última conversa?"

"Que você quer que eu assuma o BearPaw Resort?"


Sento-me ereto. "Pensei sobre isso."
"E?"

Suspiro. "Ainda estou pensando."

Ele franze a testa.

"Não sou do tipo comercial, pai." Aponto minhas


roupas como prova. "Sou um atleta. Passo a maior parte do
meu tempo fora. Até o ano passado, não passei muito tempo
num só lugar."

"As coisas são diferentes agora."

Como posso esquecer? Olho meu joelho, então mudo de


posição.

"Há muitos executivos de alto escalão aqui que


matariam por esse trabalho." Aponto.

"Sim. Bem, eles não são meu filho."

"Nepotismo no seu melhor", digo devagar.

Meu pai me dá um olhar desagradável e levanta. Com


as mãos cruzadas atrás das costas, ele olha para as encostas.
As luzes acenderam há alguns minutos. Logo, estará
completamente escuro. Amo aqui à noite. Esqui noturno.
Passear de snowmobile4 depois do horário.

"Isso começou como uma empresa familiar e é assim


que quero que permaneça. Notei que tinha outros planos
para sua vida, mas agora você está de volta. Foi criado aqui.
Sei que conhece este lugar como a palma da sua mão. Eu
poderia te ensinar qualquer coisa que precise saber."

"Posso fazer o trabalho", digo, confiante.

Ele olha ao redor. "Isso é um sim?"

Sorrio, rápido. "Não. Significa que não duvido das


minhas habilidades em administrar este lugar."

"Se ainda quer ensinar", ele começa, "tenho certeza de


que pode ser resolvido".

Sorrio. A ideia tem algum mérito. Imagine o chefe do


lugar lá fora, na montanha, dando aulas de esqui. As pessoas
nunca esperarão por isso.

Gosto de fazer o inesperado.

4
Snowmobile: Uma motoneve ou moto/mota de neve é um veículo misto entre
uma motocicleta e um carro desenvolvidos para andar em lugares com neve,
possui tração traseira por esteira com cravas para melhor estabilidade, e pás na
parte dianteiras.
Algumas pessoas podem até argumentar que é pelo que
sou conhecido.

"Espero começar a te treinar na primavera." Meu pai


diz, olhando para trás.

Minhas sobrancelhas arqueiam. Isso é mais cedo do


que esperava. "Está pronto para se aposentar, pai?" pergunto,
com um tom de provocação na voz.

Ele não ri. Em vez disso, responde: "Só quero ter


certeza de que você estará pronto quando chegar a hora".

Minha testa franze. "A hora de quê?"

Ele vira para a janela e sorri. "Quando sua mãe decidir


que não quer ser uma Snowbird 5 e nos reservar um cruzeiro
de inverno."

Solto uma risada. Então mamãe está falando em se


aposentar.

Meu pai me olha, esperando.

Suspiro. "É só fevereiro", respondo.

5
Snowbird é um termo norte-americano para uma pessoa que migra de latitudes
mais altas e climas mais frios do norte dos Estados Unidos e Canadá na direção sul
no inverno para locais mais quentes como a Flórida, Califórnia, Arizona, Texas ou
outros lugares Cinturão do Sol do sul dos Estados Unidos, México e áreas
do Caribe .
"Então?"

"Então a primavera é daqui alguns meses. Ainda tenho


tempo para pensar."

Sentando atrás de sua mesa, ele assente. "Sim. Você


tem algum tempo."

"Reunião adiada?" Levanto-me.

"Te vejo no jantar de domingo."

"Estarei lá preparado." Vou até a porta, já pensando


num banho quente.

"Sei que isso não é o que esperava", diz ele


abruptamente.

Meu peito aperta e me viro. "Não. Não é."

"E desculpe por isso, filho." Ele dá a volta na mesa,


colocando as mãos nos bolsos das calças. "Mas não sinto
muito que esteja em casa."

Assinto.

"Talvez seja a maneira do destino de te dizer que você


pertence ao BearPaw."
"Vou pensar sobre isso, pai", digo a ele, segurando seu
ombro. Minha garganta está apertada quando deixo seu
escritório.

Não que tenha me arrependido por estar de volta aqui


com minha família, onde cresci e meu melhor amigo vive.

É apenas difícil deixar o passado para trás. As coisas


que poderiam ter sido.
CAPÍTULO CINCO
Bellamy

O táxi para na frente do resort e todos aqueles receios


de vir aqui se tornam tempestades. Eu realmente não tenho
certeza disso. Sobre estar aqui.

Eu não sei mais para onde ir.

Eu não tenho ninguém. A menos que você conte os


policiais que me colocaram na proteção a testemunhas.

*Suspiro*

Esses caras definitivamente não contam.

Enquanto fiquei encolhida na parte de trás do táxi com


minha bolsa de viagem no colo e o taxista me encarando,
perguntando-me para onde ir, o único lugar que me veio à
mente foi aqui.

De todos os lugares.

Jurei que nunca voltaria, mas aqui estou.

O fato é que mesmo com o mal que experimentei aqui,


também foi muito bom.
Apenas uma vez em toda minha vida passei as férias
com meu pai. Apenas uma vez tive sua atenção durante duas
semanas inteiras. Este foi o lugar onde passamos o que ele
me disse ser o melhor momento de sua vida.

A foto que peguei ao lado de seu corpo assassinado é


dele e eu em pé sobre as encostas.

Talvez seja por isso. Porque quando fechei meus olhos


e tentei imaginar um lugar que os assassinos de meu pai não
conseguiriam chegar até mim, seria o lugar que fui feliz com
ele.

Ninguém sabe que passei duas semanas aqui oito anos


atrás. Caribou é uma pequena cidade de montanha, apenas
no mapa por causa do BearPaw Resort. Os homens de
Chicago não pensarão em vir aqui.

Estou segura.

Isso é tudo que realmente quero.

Enquanto o táxi se afasta e estico o pescoço para olhar


o gigantesco prédio de madeira iluminado por dentro, meu
estômago afunda e meu coração aperta. Há outra coisa que
quero.

Não vê-lo.
Para sorte minha, as probabilidades estão a meu favor.

Ele deixou este lugar há muito tempo. Antes de mim,


na verdade. Sei que ele não está aqui. Estou contente. Vê-lo
só traria dor e reviveria coisas que enterrei há muito tempo.

Não é?

Tenho o suficiente para lidar de qualquer maneira.


Como me esconder dos homens tentando me matar.

O pequeno lembrete me faz andar sob o toldo gigante


de madeira, onde carros podem entrar para o serviço de
manobrista e as pessoas descarregarem suas malas.

Puxando as portas largas de madeira, atravesso uma


pequena entrada com um tapete grosso no chão e calor
soprando através das aberturas no teto. Nem percebi o quão
frio estava até que o calor acaricia minha pele.

Tremendo, aproximo-me do conjunto de portas de vidro


que se abrem para a área de recepção do edifício principal. A
ideia da pequena entrada pela qual passei é realmente
inteligente. Muito provavelmente pensada por uma mulher
cansada de limpar.
O tapete espesso e o espaço extra... são para as
pessoas deixarem toda a lama e neve que trazem, e tudo
desaparecerá no momento em que chegarem ao saguão.

O lugar parece o mesmo, mesmo oito anos depois.


Avançando no espaço gigante com tetos altos, vigas de
madeira e uma lareira de pedra que posso literalmente ficar
em pé, lembro o quanto amei isso aqui.

É uma pena que um evento estragou tudo.

Afastando o pensamento, caminho para o interior,


observando os assentos confortáveis agrupados para criar
vários lugares de reuniões íntimas. Perto da grande recepção,
há uma mesa cheia de biscoitos, chocolate quente e café. As
pessoas se aproximam, rindo. Alguns com sacolas; outros
levam equipamento de esqui. Há um casal perto do fogo,
bebendo vinho, vestindo blusas que provavelmente saíram do
QVC6.

Estou tão apreensiva que evito a recepção no início. Em


vez disso, vou até a lareira. Admiro a pedra de grande corte
em tons de cinza e castanho, estendendo as mãos congeladas
em direção ao fogo. Calor as envolve, e tremo novamente.

Um lustre gigante está pendurado no centro do espaço.


É rústico e, apesar de seu tamanho, parece acolhedor, não

6
QVC – Canal de Compras.
grandioso. Há uma lareira dupla face, e depois disso, a sala
se estende em direção a uma enorme parede de janelas que
dão vista para um terreno com árvores cobertas de branco e
uma paisagem que francamente pertence a um cartão postal.

Ruídos do bar que está localizado fora do salão enchem


o ar. Música e risos competem com os tons mais quietos aqui
de fora.

Penso avidamente num copo de vinho da garrafa que


não consegui apreciar. Talvez depois de ter um quarto, possa
pedir uma. Tenho que controlar meus gastos, tendo apenas o
que guardei na bolsa, mas mereço um pouco de vinho.

Inferno, preciso disso.

Afundando meus dentes no lábio inferior, olho o balcão


de registro. Um homem de camisa e gravata está atrás do
balcão. Ele olha para cima e sorri. Desvio o olhar.

Nem sei quanto custam os quartos. Eles podem ser


loucamente caros. Não paguei a última vez que estive aqui.
Oh, ter dezesseis anos novamente. Não ter que me preocupar
com contas ou responsabilidade.

Sabe, mesmo aos dezesseis anos, nada é perfeito. Longe


disso.
Eu vim até aqui. Posso pelo menos passar a noite. Se
os preços forem muito altos, posso bolar um plano pela
manhã. Estou cansada. Com fome. Assustada.

Esfregando as mãos na frente do meu casaco (sim,


Deus me ajude, eu ainda estou usando as roupas de casa
largas), caminho até o balcão, cautelosa.

"Oi. Bem-vinda ao BearPaw Resort. Você tem uma


reserva?" O homem diz, um sorriso amigável no rosto.

"Oi." Digo quando minhas mãos começam a tremer.


"Lamento mais não tenho reserva. Você tem algo disponível?"

"Hmm." Ele diz pensativo. "Deixe-me ver, o que consigo


para você."

Ele volta a atenção para o computador à sua frente, o


som dos dedos voando sobre as teclas.

"Eu tenho um quarto. Tem uma cama de casal. Tudo


bem?"

"Eu vou querer", digo, quase caindo no chão de alívio.

"Ok, o quarto mais o café da manhã e um vale para


uma bebida grátis no bar todas as noites depois das cinco da
tarde, o total é..." Ele faz uma pausa, seus dedos digitando.
"Duzentos e vinte por noite."

Minha respiração fica presa. Duzentos e vinte dólares


por noite! Não posso pagar isso.

Meus ombros caem.

O homem franze a testa, aparentemente lendo a


expressão derrotada no meu rosto. Ele pigarreia, batendo
mais algumas teclas. "Posso tirar o café, o vale-bebida e
oferecer um quarto sem vista. Então o total será de cento e
cinquenta e nove por noite."

Mordendo meu lábio inferior, eu assinto. "Pode reservar


esse, por favor?"

"Claro." Ele sorri. "Quantas noites?"

"Hum, não tenho certeza", murmuro. "Apenas uma."

"Nome?"

"Bella Lane", respondo no piloto automático.

Amanhã posso voltar à cidade e procurar um motel.


Algo mais barato.
Depois de mais alguns momentos, ele sorri. "Tudo bem,
senhorita Lane, só preciso ver uma identificação válida e um
cartão de crédito para a reserva."

Empalideço.

Não tenho nenhuma dessas coisas. Fugi de casa sem


minha bolsa. Sem identidade, sem celular, sem carteira...
tudo que tenho é um envelope de dinheiro e algumas roupas.

Quer dizer, pelo amor de Deus, os sapatos nos meus


pés são roubados!

"Claro", digo e sorrio. Colocando a bolsa perto dos


meus pés, me inclino e finjo procurar. "Eu tenho essas
coisas."

Ofego. "Ah não!"

Os olhos do homem se arregalam.

"Algo está errado?"

"Deixei minha carteira no táxi!"

Ele faz um som. "Sabe qual empresa de táxi usou?


Terei muito prazer em ligar para que os tragam de volta."

"Era um amarelo", digo, sabendo o quão idiota soa.


Desta vez ele empalidece. "Eles são todos amarelos
aqui, senhorita."

Lágrimas correm por meus olhos. Nem sequer tenho


que fingir. Elas são genuínas. Não há maneira de eu
conseguir um quarto neste lugar sem identificação e sem
crédito.

Quase dezoito horas num ônibus, e agora não consigo


nem ficar.

"Oh, e agora," o homem se irrita. Claramente, as


lágrimas o deixam desconfortável.

Fungo, tentando conter um completo colapso.

"Foi apenas um dia horrível," digo a ele, com um


gemido na voz. "Já percorri um longo caminho."

Ele busca embaixo do balcão e coloca uma caixa de


lenços na minha frente.

"Sinto muito por ter desperdiçado seu tempo, vou


embora."

"Espere!" Ele diz quando me afasto.

Limpo as bochechas e olho para trás.


"Aonde vai?"

"Não tenho certeza", respondo. "Tudo bem se eu me


sentar por alguns minutos para pensar?" Faço um gesto para
uma das cadeiras aconchegantes perto do fogo.

"Claro", diz ele. "Você só quer o quarto por uma noite?"

Eu assinto. "Eu tenho dinheiro. Posso pagar."

"Deixe-me apenas falar com meu gerente. Sente-se. Eu


já volto."

Uma chama de esperança acende dentro de mim. Não o


suficiente para me fazer sentir melhor, mas razoável para
fazer as lágrimas pararem.

Sei que não vou conseguir o quarto aqui hoje à noite,


mas pelo menos posso sentar e pensar meu próximo passo.
Talvez se tiver sorte, ele se esquecerá de mim e posso passar
a noite na cadeira junto ao fogo.

Dou uma olhada para a bandeja de biscoitos e café


quente. Meu estômago ronca. Parece desonesto usufruir das
delícias. Em vez disso, volto para o fogo e esquento mais um
pouco minhas mãos.
Depois de alguns minutos, estou quentinha e tão
cansada que meus olhos estão lacrimejantes pela quantidade
de bocejos que dou. A cadeira parece confortável e
acolhedora. Afundo, levando minha bolsa de pertences junto.

Um rápido olhar para o balcão me diz que o homem


ainda está longe de ser visto.

Espero que ele não esteja chamando a polícia.

O pensamento é aleatório, quase sarcástico. Mas me


deixa bem acordada. Tremendo, minhas costas e ombros
ficam tensos. Olho ao redor como se a polícia já estivesse
aqui e vindo direto para mim.

Tecnicamente não fiz nada errado, mas se eles forem


chamados para uma mulher sem identidade, vestida como
vagabunda, tentando conseguir um quarto num resort
chique, certamente verificarão meu nome.

Eles me mandarão de volta.

De volta para onde sou um alvo fácil.

De volta para onde serei assassinada.


Visões de meu pai sendo morto a tiros na minha frente
tomam conta dos meus pensamentos. Eu pulo da cadeira e
vejo que o homem ainda não voltou.

Se eu correr agora, ainda posso fugir.

Pegando minha bolsa, ando por trás da cadeira, para


longe da recepção. Passarei por esse caminho, talvez andando
contra a parede, então se ele voltar, ele não me verá.

Na minha pressa, não vejo onde estou indo. Colido com


uma forma grande e sólida e recuo.

Logo antes de cair no chão, mãos fortes me agarram e


levantam.

"Whoa", diz ele.

Todos os pelos do meu corpo se eriçam. Meu coração


desmorona.

Mesmo depois de oito anos, reconheço essa voz em


qualquer lugar.

Suspiro ao mesmo tempo em que olho para cima.

Olhos cinzentos encontram os meus.


As mãos ao redor dos meus braços se apertam e
choque toma conta da sua expressão. "Bellamy?"

Meu Deus. Ele não deveria estar aqui.

Meu Deus.

É ele.
CAPÍTULO SEIS
Liam

A taverna ao lado dos chalés do BearPaw é


basicamente como qualquer outro lugar aqui no resort. Com
o mesmo teto alto, vigas de madeira e vista para as encostas
pitorescas, ninguém pode dizer que este bar se parece muito
com um bar.

Mesmo que seja.

O bar em si fica no centro da sala, basicamente


formando um U gigante. É feito de pinheiros e a bancada é
um mapa gigante do resort e da cidade vizinha, sob uma
camada de resina espessa e clara ou algo que não deixa o
álcool penetrar.

De um lado, há um palco para karaokê ou noites em


que temos entretenimento ao vivo. Há, claro, uma lareira, e o
resto do espaço é cheio de mesas e cadeiras.

Alex já está no bar quando entro. Ele acena, e vou


direto para lá. O garçom diz olá e ergue um copo. Eu balanço
a cabeça enquanto ocupo o banquinho ao lado do meu amigo.

"Começou sem mim", digo, acertando o lado de sua


cerveja.
"Honestamente, não tinha certeza se viria."

Faço uma careta. "Quando foi a última vez que te disse


que estaria em algum lugar e não fui?"

"Nunca." Ele admite.

O barman coloca uma garrafa na minha frente, eu


envolvo minha mão em torno dela, deslizando-a para mais
perto.

"Obrigado, Todd."

"Sem problema, Liam", diz ele e se move para outro


cliente.

"Não tinha certeza de com que tipo de humor estaria


depois da reunião com o grande homem."

Dou um sorriso. É engraçado como todo mundo vê meu


pai como o grande chefe, e acho que ele é. Quer dizer, ele
basicamente construiu todo esse lugar do zero, e com isso
trouxe muitos negócios e oportunidades para toda a cidade
de Caribou.

Algumas pessoas se referem a ele como o fundador de


Caribou.
Alguns veem toda minha família como a realeza do
Colorado.

Eu apenas penso nele como meu pai.

"Não sei por que o chama assim, cara", digo, tomando


um gole. "Ele costumava trocar suas fraldas também."

Alex gargalha. "É por isso! O grande homem trocando


nossas fraldas."

Reviro os olhos e bebo a cerveja.

"Então, como foi?" Ele pergunta.

Olho-o por um minuto, notando sua camisa de mangas


compridas e colete preto de lã. O colarinho foi virado para
cima por isso sombreia a sua mandíbula que já está com a
barba escura por fazer.

Seu cabelo está fora de controle, como sempre. Mas, na


verdade, faz parte do seu charme. As garotas parecem amar a
maneira como é baixo dos lados, em seguida, cheio e
encaracolado no topo.

Alex sempre diz que nascer de uma mulher branca e


um homem afro-americano deu a ele o melhor dos dois
mundos: olhos penetrantes e cachos que ainda são
administráveis.

Sua pele é da cor de café com creme, e nunca queima,


mesmo quando o sol está quase cegando enquanto derrete a
neve fresca. Ele nunca fica com o cabelo bagunçado pela
touca, mesmo quando usa uma o dia todo, e seus olhos
claros combinam com a rica cor de sua pele, o que sempre faz
as coelhinhas da neve (como ele gosta de chamá-las) olharem
duas vezes.

"Está me encarando, L?" Seus dentes brilham quando


ele leva a cerveja aos lábios.

"Não, porra," respondo. "Só queria saber quanto gel tem


que colocar no cabelo para que fique assim o dia todo."

Alex ri. "Tudo natural, meu amigo. Tudo natural."

"Papai quer começar a me treinar na primavera", digo


baixinho.

Alex engasga. Sua cerveja bate no topo do balcão do


bar. "Tipo nesta primavera?"

"Chocado pra caralho."


"Vocês meninos querem uma pizza?" Sharon diz
chegando atrás de nós. Ela trabalha no resort desde que me
lembro, e para ela, seremos sempre garotos até o dia em que
se aposentar.

Olho ao redor e dou um sorriso. "Pepperoni extra"

"Como sempre", ela murmura com carinho.

"Sou um menino em crescimento."

Ela sorri sob a respiração. "Continue comendo pizza e


vai crescer bem."

"Obrigado, Sharon", Alex grita enquanto ela se afasta.

"Sim, sim", ela responde.

Uma coisa boa sobre não treinar constantemente é


toda a pizza e cerveja que eu posso consumir.

"Então, por que tão cedo?" Alex pergunta quando ela se


vai.

Dou de ombros. "Ele deu uma desculpa sobre mamãe


querer fazer um cruzeiro de inverno."

Alex me dá um olhar vá-se-foder.


Assinto. É uma merda completa.

"Talvez ele esteja pronto para uma pausa e só não


queira admitir." Alex supõe.

"Talvez." Concordo. "Ele com certeza trabalha muito."

"Você está pronto para isso?"

Desabafo. "Amo este lugar e quero deixar meu pai


orgulhoso, mas não posso dizer que estou ansioso para
trabalhar no escritório."

"Então, o que você fará?"

"Disse a ele para lhe oferecer o emprego."

Alex cospe a cerveja e suja o balcão do bar.

"Limpe essa bagunça!" Sharon grita de algum lugar no


bar.

Juro que ela tem olhos na nuca.

Alex limpa a boca com a mão. "Que porra é essa?"

Eu dou risada. Então eu rio novamente. "Sua cara."

"Foda-se, Mattison. Foda-se."


Ainda estou rindo quando o ajudo a limpar a bagunça e
jogo o pano no balde atrás do balcão.

Alguns minutos depois, Sharon desliza uma pizza


grande cheia de pepperoni extra, linguiça e pimentão verde
na nossa frente. "Eu trouxe pratos", ela informa, dando um
para cada. "Usem-os."

"Sim, senhora," digo respeitosamente.

Ela me dá um tapinha na bochecha. "Estou tão feliz


por te ter de volta aqui." Então seu tapinha se transforma
num aperto mais suave. "Agora coma bem e não me
envergonhe. Este lugar está ficando terrível."

Olho ao redor com uma risada. Está ficando cheio.

Apenas para irritá-la, pego uma fatia e empurro metade


dela na boca. Gemendo pelo sabor, sorrio, mostrando a
comida na minha boca.

"Absolutamente nojento." Ela balança a cabeça e vai


embora.

A conversa não volta à reunião, o que é ótimo para


mim. Não sei o que pensar de toda a discussão. Sei que meu
pai sempre esperou que eu voltasse um dia e administrasse o
lugar.
Inferno, nunca descartei isso também. Mas nunca
pensei que seria tão cedo.

É difícil conciliar o que é com o que poderia ter sido.

Esse pensamento traz uma imagem de muito tempo


atrás que não tem absolutamente nada a ver com negócios.

Abaixo a pizza e tomo a cerveja num gole.

Porra. O que há de errado comigo hoje?

"Senhoras", Alex diz, girando na banqueta para ficar de


frente para o resto do bar.

Uma leve risada responde e meus dentes cerram. Não


estava no clima mais cedo, e estou com menos disposição
agora.

Alex me bate no ombro. "Como somos sortudos? As


senhoras desta tarde nos agraciam com sua presença."

Tomo meu tempo baixando a garrafa agora vazia e giro.


Disfarço meu mau humor e dou um sorriso. "Senhoras", digo.
"Vocês estão muito bem esta noite."

É verdade. Ambas são sexys. Sei que posso ficar com


uma. A loira me olha da mesma forma que mais cedo na
neve. Sua amiga divide a atenção entre Alex e eu, como se
tentasse se decidir.

Doces de homem. Isso é tudo o que somos.

Que trabalho duro.

Se fosse qualquer outra noite, estaria pronto para isso.


Inferno, eu lideraria a brigada.

Não me sinto assim esta noite.

"Vamos pegar uma mesa?" Alex pula do banquinho e


faz um gesto para as mulheres o seguirem em direção a uma
das últimas mesas livres.

A loira hesita, olhando-me. Gesticulo para Todd para


uma rodada de bebidas, então levanto. Por hábito, ou talvez
porque não sou o garoto rude que Sharon tanto gosta de me
chamar, coloco a mão nas costas da garota e a levo para onde
Alex e sua amiga já estão sentados.

Ela me observa por baixo dos cílios escuros e sorrio.

Posso não estar de bom humor, mas não sou um


idiota.
Além disso, talvez depois de outra cerveja, eu me sinta
diferente.

Pelo menos agora a garota não me deixa com a


sensação engraçada no estômago de quando a olhei. Ela está
mais maquiada. Maquiagem completa, um top apertado que
deixa pouco para a imaginação, e seu cabelo está seco e
enrolado de modo que não cai mais sobre os ombros.

Não é a cor certa de loiro agora. É muito claro.

Deveria estar aliviado.

Não estou.

No segundo que Todd nos traz as cervejas, tomo um


longo gole. Alex me dá uma olhada, perguntando que porra
está acontecendo. Eu o ignoro.

Deixo ele levar a maior parte da conversa. O charme é


sua especialidade. Pode-se dizer que também é a minha. Mas
esta noite, estou contente em sentar na cadeira e observar.

A garota, acho que o nome dela é Heather, deixa tudo


muito fácil. Ela cruza as pernas na minha direção e se inclina
sobre a mesa, dando uma visão direta de seu sutiã. Então ri,
colocando a mão no meu braço.
Depois que a segunda cerveja fica vazia, noto uma
coisa. Não importa quantas cervejas beba hoje à noite. Não
vou me sentir diferente. Não me embebedo só para transar de
qualquer maneira. Isso é algo que somente idiotas fazem.

De repente, fico de pé, procuro no bolso do jeans e jogo


algumas notas na mesa. "É por minha conta esta noite", digo.

"Você está indo embora!" A loira exclama, arregalando


os olhos.

"Temo que sim. Tenho que acordar cedo amanhã."

Alex me olha como se eu tivesse crescido um pau extra.


Ele sabe muito bem que não tenho que acordar cedo. Não
faço nada cedo.

"Não posso te convencer a ficar? Apenas mais uma


bebida?", pergunta Heather, pulando do assento e agarrando
meu braço.

Casualmente, afasto-me, sorrindo para ela. "Se alguém


pode me convencer, querida, é você. Mas não esta noite."

Seus olhos piscam em choque. Ela simplesmente não


pode acreditar que está se jogando em mim e estou
recusando.
Quase dou risada.

"Vejo-te amanhã, mano." Estendo o braço para Alex.


Ele o acerta e começo a me afastar da mesa.

Só dou alguns passos quando ele chama meu nome e


aparece atrás de mim. Eu me viro, olhando por cima do seu
ombro para ver as duas mulheres nos observando da mesa.

"Está saindo de verdade?", ele pergunta.

Meus olhos encontram os dele. "Estou cansado."

Ele franze a testa. "Sim. OK. Quer que eu volte com


você? Nós podemos apenas relaxar." Ele é um bom amigo,
disposto a desistir de uma bunda que sei que ele terá hoje à
noite.

"Não, fique. Quero detalhes amanhã."

Ele responde. "Eu não beijo e conto."

Suspiro.

Depois que o sorriso de merda no seu rosto morre, ele


pergunta: "Sério, você está legal?"

Assinto. "Estou. Vou te ver de manhã."


Alex me dá um tapinha no ombro e depois volta para a
mesa. Quando saio, ouço-os rir de algo que ele diz e sorrio.

O cara é um jogador.

No segundo em que entro nos chalés mais silenciosos,


sinto um pouco da tensão deixar meus ombros.

Talvez só precise ficar sozinho esta noite.

Pensar.

Contornando a lareira, um borrão aparece de repente, e


bate em mim.

"Whoa", exclamo automaticamente estendendo a mão


para estabilizar o que me acertou.

Um pequeno suspiro para meu coração.

Olho para os olhos azuis que honestamente pensei


nunca mais ver.

Pisco, pensando que minha mente está me enganando.


Só estou vendo-a porque esteve em minha mente hoje.

Como se estivesse testando ver se ela era real, meus


dedos flexionam onde a seguro. Ela não desaparece.
"Bellamy?" Seu nome sai de mim como uma explosão
do passado.

Meu Deus.

É ela.
CAPÍTULO SETE
Bellamy

Respirar é algo que meu corpo esqueceu como se faz.


Uma ação automática que de repente se tornou algo muito
complicado.

"Liam", digo, a palavra baixa e tensa. Isso consome a


última porção do meu oxigênio.

Suas mãos flexionam novamente, ainda segurando


meus braços.

Esse é o problema. A razão pela qual meus pulmões


estão queimando e minha visão embaça. Ele está me tocando.

Afasto-me, quase tropeçando. Ele estende a mão para


me estabilizar novamente, mas faço um som estrangulado, e
ele para.

No minuto seguinte há um precioso espaço entre nós,


respiro fundo. Então de novo.

"Você está aqui", ele diz asperamente.

"Você não deveria estar."


Ele sorri. Oh, por que ele tem que fazer isso? A covinha
no queixo aparece e meus joelhos começam a tremer.

Oito anos. Mesmo depois de oito anos, ele ainda me


reduz a nada.

"Pensou em mim, não é?"

Cada. Maldito. Dia.

"Claro que não." Levanto, envolvendo os braços em


meu corpo. Oh Deus, pareço uma bagunça. Estou vestida
como uma sem teto...

Oh Deus, sou uma sem teto.

E vim aqui.

Esta foi uma escolha muito, muito ruim.

Ele dá um passo à frente e eu um para trás. Liam


franze a testa e meu olhar percorre seu rosto, observando
suas feições, notando a maneira como ele mudou ao longo
dos anos.

Ele está maior agora. Muito maior. Seu cabelo não é


tão longo quanto costumava ser. Oito anos atrás, ele podia
fazer um rabo de cavalo curto na base do pescoço. Ele dizia
que gostava desse jeito porque deixava seu pai louco. Agora é
mais curto nas laterais, mas ainda longo o suficiente para
correr os dedos.

Sua mandíbula está mais esculpida. Preenchida por


pelos claros, deixando-a mais definida. E os olhos.

Oh, seus olhos.

Ainda o mesmo cinza tempestuoso, a mesma


profundidade que posso me perder por horas. Eles estão mais
sábios agora. Quase como um falcão, como se ele pudesse
penetrar até o mais profundo dos segredos com esse olhar.

O tremor nos meus joelhos muda para as mãos. Fico


ali, olhando-o, incapaz de falar, parecendo uma mulher sem
teto e tremendo como um rato apanhado no frio.

"Seu pai está com você?", ele pergunta.

As palavras são como uma faca no meu peito.


Realmente estremeço quando ele fala.

Depois que minha garganta funciona, consigo


responder. "Hum, não. Estou sozinha."
Ele franze a testa. Ele está começando a ver que algo
não está certo. Ele saberá se eu ficar na frente dele por mais
tempo.

Há algo sobre Liam Mattison que consegue me


desnudar.

Pensei ser porque tinha dezesseis anos. Mas aqui estou


com vinte e quatro anos e sei que não é a idade.

É ele.

"Senhora Lane", o recepcionista diz de algum lugar


atrás de mim. "Falei com o gerente, e sinto muito, mas não
há nada que possamos..."

Giro. "Tudo bem!" Eu o interrompo instantaneamente,


desejando poder ter feito isso mais cedo.

"Gerente?" Liam pergunta por trás.

Claro que ele ouviu.

O homem olha atrás de mim, seus olhos se arregalando


um pouco.

"O que é isso sobre um gerente, Kenny?"


Seus olhos piscam para mim, e balanço a cabeça,
implorando para ele calar a boca.

"Quem dirige este lugar?" Liam retruca.

Suspiro. "Você comanda o BearPaw agora?"

"Sim," Liam responde com toda a confiança do mundo.

"E seu pai?" Kenny pergunta por trás de nós.

"Por que precisa de um gerente?" Liam pergunta,


ignorando o que ele diz.

"Eu... ah..." começo, então vou para a minha bolsa que


deixei cair no chão. "Eu tenho que ir."

"Como o inferno", Liam rosna, agarrando meu braço


novamente. Seu aperto é firme, mas não dói.

E paro de respirar novamente.

"Por favor, não me toque." Ofego.

Liam franze a testa, mas me solta. "Fique", ele ordena.

Aborrecimento me faz esquecer o efeito que ele tem em


mim. "Não fale comigo assim!"
Os cantos de sua boca levantam, mas ele olha para
Kenny. "Eu lhe fiz uma pergunta."

"Senhorita Lane…"

"Lane?" Liam ecoa, confuso. Então o olhar sombrio


aparece em seus olhos e ele fica tenso. Seu olhar volta para
Kenny.

"Sim. Ela está tentando conseguir um quarto, mas sem


identificação e cartão de crédito...

As sobrancelhas de Liam se arqueiam. Ele olha de volta


para mim. "Sem identificação e sem cartão de crédito?"

"Ela perdeu a carteira", diz Kenny.

Kenny não é um sujeito útil?

"Eu vejo", Liam murmura.

Na verdade, ele não vê nada. Ele não pode.

"Obrigado por seu tempo, Kenny", digo ao homem e


começo a me afastar.

Atrás de mim, Liam amaldiçoa, e sei que ele está me


seguindo.
Dou alguns passos quando de repente a sala começa a
girar. Meus pés falham e sinto meu corpo tremer.

Alguém chama meu nome, mas está distante.

De repente, tudo fica escuro.


CAPÍTULO OITO
Liam

Num minuto estou saindo da taverna, querendo ficar


sozinho, e agora estou com uma mulher, com medo de que
ela vá embora.

Corro atrás dela, não entendendo nada, exceto que não


posso deixá-la ir embora.

Não dessa vez.

A apenas alguns passos, vejo a maneira como seu


corpo vacila, como seus ombros caem. No segundo em que
ela começa a balançar, eu corro.

Pego-a antes que ela atinja o chão, aconchegando seu


corpo contra meu peito. Minha respiração está ofegante, meu
coração frenético.

O que ela faz aqui?

Algo está errado.

"Porra", murmuro enquanto olho para baixo. Ela


desmoronou em meus braços. Seus cílios loiros roçam as
bochechas que percebo estarem muito pálidas.
Carregando-a, coloco-a numa das grandes cadeiras.
Kenny fica por perto. Quero dizer a ele para dar o fora, mas
me contenho. Se ela precisar de algo, ele terá que conseguir.
Não sairei de seu lado.

Empurrando os fios loiros de seu rosto, seguro sua


bochecha. "Bellamy", digo suavemente. "Bellamy, acorde."

Leva um momento para ela acordar. Um pequeno som


ecoa em sua garganta, e me inclino mais perto. "Ei, Bells",
murmuro, acariciando sua bochecha. "Vamos. Abra os olhos."

Seus olhos abrem. O azul é nebuloso e um pouco fora


de foco, mas ela sorri.

Meu coração acelera.

"Você me chamou de Bells."

"Sim", sussurro, acariciando seu cabelo novamente.

"Eu gosto disso."

É como se alguém perfurasse meu peito, agarrasse meu


coração e o apertasse o mais forte que pode. Isso quase me
faz curvar, mas fico onde estou. Não consigo desviar o olhar.
A consciência cai sobre ela como um balde de gelo. Ela
respira fundo, os olhos arregalados, e senta-se. O movimento
repentino a faz balançar novamente, e ela geme.

"Devagar." Advirto. "Apenas sente-se."

"Eu tenho que ir", ela protesta.

Reprimo o desejo de gritar com ela. Uma vez que tenho


certeza de que não irei, pergunto: "Quanto tempo passou
desde que comeu?"

"Alguns dias", ela murmura.

Levanto e olho para Kenny. "Traga um chocolate quente


e biscoitos."

Ele assente, mas não se move.

"Agora!"

Ele pula e corre para a mesa.

Alguns momentos depois, volta com um copo


descartável e um guardanapo com três biscoitos. Mesmo que
queira mastigar para ela e colocar a porcaria em sua boca, sei
que não posso.
Ordenando-me a me acalmar, agacho na frente da
cadeira onde ela está sentada.

Porra, seus pés nem sequer tocam o chão.

"Aqui", digo, mantendo a voz suave. "Coma algo."

Bellamy pega um biscoito do guardanapo na minha


mão e coloca-o entre os lábios. O jeito que ela o mordisca me
deixa ansioso. Quero que ela o jogue na boca e engula. Por
que diabos ela está passando fome por dias?

Jesus.

Quando o biscoito está quase acabando, empurro o


chocolate quente sob seu nariz. "Beba."

"Você é mandão", diz ela, colocando o resto do biscoito


na boca.

"Mais uma razão para fazer o que digo."

Seus dedos roçam os meus quando ela pega o copo.


Noto o jeito que sua respiração fica arfante e os olhos voam
para meu rosto. Mantendo-me casual, entrego a bebida e não
reajo à maneira como ela me afeta.
Bellamy leva o copo à boca e toma um gole. Soltando-o
de seus lábios, ela faz uma careta.

"O quê?" pergunto, de pé, pronto para lutar numa


batalha que nem sequer conheço.

"Queimei a língua", diz ela, envergonhada.

Viro para Kenny. "Você trouxe isso muito quente!"


rosno. "Ela se queimou!"

"Eu... eu sinto muito, Sr. Liam. A água está na


cafeteira..."

"Tudo bem." A voz de Bellamy passa por mim. "Eu não


deveria ter engolido. O chocolate quente deve ser quente."

Estreito meus olhos em Kenny e ele faz uma careta.

Agacho na frente dela, resistindo à vontade de acariciar


seu joelho.

"Obrigada", diz ela depois de um momento. "Eu me


sinto melhor."

Há uma pequena diferença em sua cor, mas não o


suficiente para me convencer de que ela está melhor.
"Reserve um quarto para ela", digo a Kenny. "Sob meu
nome. Use minhas informações."

"O quê?" Ela engasga. "Não!"

Eu a ignoro e olho Kenny. "Envie um hambúrguer e


fritas e mais chocolate quente."

Kenny começa a se afastar e lembro-me de algo. "Sem


maionese no hambúrguer!"

Viro. Há um olhar engraçado em seu rosto.

"O quê?" Eu me preocupo.

"Você lembrou que não gosto de maionese."

Um milhão de respostas passam por minha cabeça.

Claro que sim. Você é a única pessoa no planeta que não


gosta de maionese.

Só garotas não gostam de maionese.

Palpite de sorte.

Eu nunca poderia esquecer.

Não digo nenhuma delas.


"Lembrei."

Nós nos encaramos pelo que parece um mero


batimento cardíaco, mas então Kenny está atrás de mim,
limpando a garganta. Eu olho ao redor, irritado, mas ele
estende o cartão-chave para o quarto dela.

Eu peguei e olhei para baixo, observando o número do


quarto. "Sério?"

Eu olhei para cima. Ele faz uma careta. Ele sabe o


motivo da pergunta.

"É o quarto que ela tentava reservar".

Jogo o cartão de volta para ele. "Troque. Agora."

"Sim, senhor." Ele sai correndo.

O que foi isso?" Bellamy perguntou, lançando-se para a


frente da cadeira, tentando colocar os pés no chão.

Deus. Ela é adorável. Tão bonita quanto oito anos


atrás.

Inferno, talvez até mais.

"Cuidado", digo, segurando gentilmente seu cotovelo e


ajudando-a.
"Estou bem." Ela começa. "Sobre o quarto…"

"Não discuta comigo", digo, suavemente. "Você não vai


embora."

O queixo dela se projeta, mas então ela baixa a cabeça,


olhando dentro do copo. "Só por esta noite."

Quero gritar, mas não é um acordo. Somente sobre


meu cadáver ela sairá daqui amanhã.

Pego a bolsa, e ela estende a mão para ela como se


estivesse preocupada que eu vá tirá-la. Um sentimento de
raiva e desconforto me percorre, fazendo meus punhos
cerrarem. Inspecionando cada centímetro dela, o maldito
moletom que a cobre tanto irrita-me.

Sinto a necessidade de procurar por contusões. Alguém


a machucou. Eu sei.

"Relaxe", digo com calma. "Eu carrego para você. Traga


seu chocolate quente."

Começo a ir para a recepção, então paro. Ela bate nas


minhas costas e ofega.

Sorri.
Ela me encara.

"Pegue um biscoito." Eu estendo o guardanapo.

"Eu não..."

"Bells". O tom da minha voz não é tão gentil e


persuasivo quanto antes.

Ela pega o biscoito e eu vou pegar o cartão-chave.


Quando me aproximo, Kenny olha para cima, atenção
dividida entre mim e Bellamy.

"Dei a ela uma suíte no lado oeste, de frente para as


encostas e seu chalé. Espero que esteja tudo bem..."

"Bom homem." Pego a chave. "Envie a comida."

"Já chamei o serviço de quarto."

"Obrigado, Kenny. Vou lembrar disso."

Ele parece igualmente contente e horrorizado por esse


fato. Levo um momento para dar a ele meu olhar habitual,
tentando deixar cair um pouco da intensidade que emano.

Seus ombros relaxam.


"Vamos," digo, colocando a mão na cintura de Bellamy.
Ela dá um passo para o lado, o que só me faz querer fazer
isso de novo.

Quando o elevador abre, seguro a porta para que ela


possa entrar. Andamos até o quarto em silêncio.

Há tantas coisas que quero dizer, tantas coisas que


quero saber. Por baixo de tudo isso, uma dura descoberta
que tive no andar de baixo.

Descoberta que não gostei nada.


CAPÍTULO NOVE
Bellamy

Eu não deveria fazer isto.

O pensamento praticamente se transforma no


batimento do meu coração quando saio do elevador e sigo
Liam pelo corredor.

Liam!

Não tenho escolha. Literalmente não tenho outro lugar


para ir esta noite. Estou exausta, o que acabo de provar de
forma embaraçosa ao desmaiar. Nos braços dele.

Provavelmente é melhor não me lembrar de estar em


seus braços, porque isso é algo que me assombrará pelos
próximos oito anos.

Estarei mentindo se dissesse que ficar no quarto em


nome dele não me faz sentir segura. O mais segura que já me
senti desde que fugi de Chicago. Mal dormi na viagem de
ônibus porque tive medo deles de alguma forma me
encontrarem e fazerem o ônibus sair da estrada.

Nem é assim tão longe do campo da possibilidade. Já vi


do que são capazes. Mais de uma vez.
Tremo com tanta força que os meus dentes
batem. Liam olha por cima do ombro para mim e franze a
testa. Disfarço enchendo minha boca com o biscoito.

É um bom biscoito. Gotas de chocolate. Meu favorito.

"Aqui", ele diz, parando quase no fim do corredor,


passando o cartão-chave e abrindo a porta. Hesito na
entrada, dominada por uma súbita explosão de medo.

Espreitando através do meu cabelo, pergunto: "Pode


entrar primeiro?"

Ele assente rapidamente e depois entra. Sei que ele não


consegue entender, mas move-se de uma maneira que me
tranquiliza. Meu olhar fixa nele quando acende a luz do
banheiro ao passar, olha o armário espelhado e percorre o
resto da suíte.

Ele verifica tudo, inclusive atrás das cortinas.

"Parece ok", ele diz.

A porta que liga ao quarto ao lado do meu está


trancada com mais de uma fechadura e correntes. O som que
a corrente fez na noite em que foi arrebentada na casa do
meu pai ricocheteia pela minha mente.
Liam olha entre mim e a porta, e uma carranca puxa
seu rosto.

Desvio o olhar e tento sorrir. Não consigo. Não posso


fingir que aquela porta não me assusta em cem por cento.

Como se lesse meus pensamentos, Liam deixa cair


minha bolsa e se move. Em poucos segundos, ele desliza a
pesada cômoda que está abaixo da tela plana e a arrasta para
que fique diretamente na frente da porta.

Ele nem perde o fôlego quando termina.

"Você está segura aqui." Ele promete.

Lágrimas enchem meus olhos e afasto-me. "Obrigada


por afiançar o quarto por mim."

A voz dele é baixa, mas parece um tapa. "Você não


perdeu seus documentos, não é?"

Sem olhar para trás, balanço a cabeça.

"O que está acontecendo?"

"Tudo bem se eu tomar um banho?"

Ele se materializa atrás de mim, gentilmente segurando


meus ombros e me incentivando a encará-lo. Quando
mantenho o rosto para baixo, ele levanta meu queixo. "Este é
seu quarto. Pode fazer o que quiser aqui. OK?"

Assinto. "Vou tomar banho."

Seus olhos cinzentos escurecem como o céu pouco


antes de uma chuva torrencial. Meu coração troveja e meus
dedos coçam. Para estar nessa tempestade. Para ser
envolvida por ele.

"Não posso tomar banho até você sair." Chamo a


atenção. Estou orgulhosa por minha voz soar normal.

Ele ri, e uma onda quente de tremores desce por minha


espinha. Dentro dos meus tênis roubados, meus dedos dos
pés se enrolam. "Eu não estou indo a lugar nenhum."

"Por que não?" Exijo. "Você disse que este é


o meu quarto."

"E é. Mas alguém tem que atender quando o serviço de


quarto chegar."

"Oh." Não pensei nisso.

"Vá." Ele dá um passo para trás, pega minha bolsa e


segura-a entre nós. "Tome um banho. Vou me certificar de
que ninguém te incomode."
"Nem você?", pergunto.

Ele sorri. "Nem eu."

A tentação de um banheiro, água quente e um pouco


de sabão é demasiadamente forte para ignorar. Mesmo
que não deva, confio nele. Confio que posso tomar um banho
e Liam não me incomodará.

Ainda tranco a porta do banheiro. E empurro a lata de


lixo na frente dela.

O quê? É tudo que tenho para usar.

No mínimo, cairá se ele conseguir ultrapassar a


fechadura e abrir a porta. É um sistema de alarme para
mendigos.

Mudo a temperatura da água para quente. O vapor


começa a encher o banheiro quase imediatamente enquanto
olho no espelho. Estremeço como se recebesse uma bofetada
pelo meu próprio reflexo. Não pareço bem.

Círculos debaixo dos meus olhos, cabelos


emaranhados, sem força e pele manchada. Meus lábios estão
pálidos, algo que é aparentemente alarmante, e o moletom
parece pender mais em mim do que há apenas dois dias.
Depois de tirar a roupa, olho para elas em minhas
mãos. Adoraria jogá-las no lixo e nunca mais vê-las. Não
posso. Só tenho isto e o que está na bolsa. Se não estivesse
tão paranoica para fazer uma "fuga", nem essa bolsa teria.

Pela primeira vez, minha paranoia não parece tão boba.

Deixando de lado as roupas no longo balcão, encho


minhas mãos com os pequenos brindes que os hotéis
mantêm nas suítes - xampu, condicionador, sabonete e entro
sob o jato.

Um longo suspiro sai dos meus pulmões no segundo


em que a água quente atinge minha cabeça. Fico aqui quase
derretendo por longos e felizes momentos. Quase posso sentir
alguns dos piores momentos dos últimos dois dias escoando
de mim e descendo pelo ralo.

Algumas lágrimas rolam, misturando-se com a água no


meu rosto.

Depois de um tempo, pego o xampu. Utilizo metade da


pequena garrafa só para lavar o cabelo. Provavelmente um
sinal que deveria cortá-lo. Não consigo fazer isso, no entanto.

Eu amo seu cabelo. A voz do passado flutua na minha


cabeça, combinada com a que ouvi esta noite.
Afastando o pensamento, concentro-me em lavar e
desfrutar da água quente. Sei que preciso criar algum plano,
mas, sinceramente, estou cansada demais para sequer
pensar nisso. Tudo que quero é dormir um pouco.

E me sentir segura.

Você poderá nunca estar segura novamente. Colocando


meu rosto no jato de água, tento afugentar o pensamento.

Demoro no chuveiro. Estou me escondendo, mas não


me importo. Ainda não consigo acreditar que Liam está aqui e
no quarto ao lado. Pensei que nunca mais o veria. E quando o
vi, certamente não esperava que ele tivesse aquela reação.

Quase como se ele estivesse feliz em me ver. Como se


ele se importasse.

Não deixe que ele te machuque novamente. Lembro-


me. Você já tem o suficiente com que lidar.

Usando uma toalha reserva, limpo a névoa do


espelho. Há uma loção no balcão, então passo um pouco nos
meus braços e pernas, em seguida, gentilmente passo no
meu rosto. Minha bolsa está no assento fechado do vaso. As
roupas e as coisas estão lá há tanto tempo que mal me
lembro do que contém.
Exceto o envelope. Disso lembro com clareza
vívida. Ainda é exatamente o mesmo que meu pai colocou na
minha bolsa.

Não o toquei desde então.

Nunca tirei nem uma única nota do monte de dinheiro


dentro dele.

Nunca planejei fazer isso.

Mas agora não tenho escolha.

É como se ele estivesse cuidando de você agora, mesmo


que tenha partido. É um pensamento lindo, não é? A ideia de
uma filha que quer ser a garotinha do papai.

A verdade fria é que não estaria aqui hoje se não fosse


por ele.

Eu voltaria à minha antiga vida, com o emprego que


amava, um relacionamento com minha mãe e usando o nome
com o qual nasci.

Afastando o envelope, vasculho o que tenho. Um par de


calcinhas, um sutiã, um par de jeans, camiseta e suéter. Há
também uma escova, um protetor labial e alguns produtos
femininos. Oooh! E um desodorante. Nunca pensei que ficaria
animada com isto.

É estranho como ter tudo tirado, duas vezes, produz


este efeito. Pequenas coisas que as pessoas têm como
garantidas todos os dias se tornam grandes coisas para mim.

Pego a escova e passo em todo o comprimento do meu


cabelo. Demora uma eternidade porque não faço isso há dois
dias e porque meu cabelo já alcançou o meio das costas. Uma
vez que termino, passo um pouco de protetor labial, de
desodorante, e então olho a camiseta e jeans. Meu olhar se
desvia para um robe branco e fofo pendurado logo ali. Assim
que estou com a roupa de baixo, visto o roupão, atando-
o apertado.

Quando abro a porta do banheiro, o cheiro de batata


frita me atinge no rosto. Meu estômago ronca alto e uma
onda de tontura cai sobre mim.

Empurrando-a de lado, entro devagar e constrangida


no quarto. Liam está de pé na janela, com as mãos atrás das
costas, olhando para qualquer que seja a vista de lá.

A bandeja do serviço de quarto está sobre uma mesa


perto da janela, tampas prateadas cobrem os pratos. Tenho
que passar pelo sofá, pela mesa de café e pela cama para
chegar lá.
Pulando de pé em pé, olho suas costas e abraço minha
bolsa.

"A comida vai esfriar", ele diz, sem sequer se virar.

"Você não precisa ficar. Estou melhor agora. Sério."

Ele rosna e aponta para a cadeira perto da comida.

Ele não era tão mandão há oito anos.

Que rude.

Digo a mim mesma que a razão pela qual não lhe digo
onde ele pode ir com seu jeito mandão é por causa da
provação pela qual acabei de passar, e argumentar apenas
eliminará a pouca energia que me resta.

Estou mentindo para mim mesma novamente.

É um hábito horrível.

Num pequeno ato de desafio, vou até a mesa e sento na


cadeira ao lado da que ele me disse para sentar.

Ele ri.

O som me atinge como uma carícia e arrepios sobem ao


longo dos meus braços. Por que ele ainda me afeta assim?
Liam vira-se da janela, envolvendo-me com o
olhar. Então, habilmente, tira as tampas de dois pratos, um
com um hambúrguer e o outro cheio de batatas fritas.

Suspiro com apreço.

"O chocolate quente está no bule." Ele aponta para


uma pequena chaleira branca, com aparência de cerâmica e
para uma caneca branca.

Pego uma batata frita e gemo quando o sabor salgado e


frito toca minha língua. Liam se joga na cadeira na minha
frente, com os olhos pesados, o rosto neutro.

"Esta é primeira vez que você volta desde..." sua voz


some.

Paro de comer. "Desde da época que você fez sexo


comigo e depois desapareceu?"

Ele faz um som sufocado.

"Eu não ia colocar assim", ele murmura, sem graça.

"A noite que me amou e me abandonou? Quando me


prometeu uma coisa, e depois partiu durante a noite?"

Sua boca se contrai.


"Eu não fiz isso."

Eu dou risada. É um som amargo. "Isso nem importa."


Começo a levantar.

Ele se move tão rápido que nem vejo no início. Não até
que sua mão segura meu ombro e gentilmente me empurra
de volta no assento.

"Eu sinto muito. Eu..." Ele esfrega a palma da mão


sobre o rosto e suspira. "Apenas coma, ok? Eu não queria te
chatear."

Recosto-me no assento, esgotada. Liam empurra o


hambúrguer na minha direção. Depois de um momento,
levanto-o do prato e dou uma mordida. Depois outra.

Liam assiste, divertido. "Bom?"

Pisco um olho e inclino a cabeça. "Bom." Então dou


outra mordida. Ainda mastigando, reflito: "Ficaria melhor se
eles usassem bife moído e trocassem o pão de hambúrguer
por algo um pouco mais macio por dentro".

Seus olhos se arregalam surpresos. "O que você é, uma


chef?"
"Costumava ser", digo, largando o hambúrguer. Um ar
de tristeza se apodera de mim. "Desculpe. Às vezes me torno
gourmet sem perceber."

Ele sorri. "Uma gourmet?"

Eu balanço a cabeça e pego uma batata frita. "É tudo


muito bom. Eu realmente agradeço por ter pedido isto para
mim." Pensando nisso, dou um pulo. "Eu te pagarei de volta."
Dirijo-me para mochila, mas Liam me pega pela cintura e
puxa de volta.

Respiro fundo quando meu corpo é puxado contra o


dele. Por um breve momento, relaxo. Ele cheira bem, como
pinho... e neve.

"Não estou preocupado com seu dinheiro", ele


resmunga perto do meu ouvido. Juro que sinto seu polegar
acariciando o lado do meu quadril.

"Então não será nada de mais quando eu pagar


por esta noite."

Ele suspira pesadamente. A ação sopra sua respiração


contra minha bochecha. Meus olhos fecham por um
segundo.
"De volta ao seu lugar", ele diz, me empurrando
suavemente.

Como mais algumas batatas fritas, depois paro


enquanto alcanço o chocolate. "Quer um pouco?"

Puxa vida, fui criada num estábulo? Minha mãe


morreria se soubesse que me sentei aqui todo esse tempo
com um roupão, comendo na frente dele.

Ele sorri. "Eu já comi."

Então por que seus olhos parecem tão famintos?

Depois de servir um pouco do líquido na caneca,


envolvo as minhas mãos em torno dela e dobro as pernas
debaixo de mim, certificando-me de que o roupão cubra todas
as partes importantes.

Os olhos de Liam nunca me deixam. Ele parece um


lobo numa jaula, observando calmamente sua presa, como se
soubesse o momento exato de atacar.

Pensei que ele era intenso aos dezessete anos... Não é


nada comparado ao modo como é agora.
"Então você, hum, dirige o BearPaw agora?" Pergunto,
tentando me distrair do jeito que ele me encara. Do jeito que
ele agita meu interior.

"Algo assim."

"Eu pensei que você fosse um grande snowboarder,


ganhando medalhas e patrocínios."

Reconheço meu erro instantaneamente.

Um enorme sorriso se espalha pelo rosto dele, mais ou


menos como o sol nascente se estendendo num dia
chuvoso. "Você andou me checando."

Quero bater na minha cabeça. Internamente, eu


gemo. De todas as coisas para conversar, tinha que puxar o
assunto da minha mania de perseguidora?

Bom, Bellamy. Muito bom.

Levanto o queixo. "Vi um artigo há alguns anos."

Seus olhos brilham como se ele soubesse bem. Penso


que ele zombará de mim, mas não o faz. "Eu me machuquei
há cerca de um ano. Terminou com minha carreira
profissional."
Eu ofego e me inclino para frente. Chocolate quente
espirra sobre a borda do copo e respinga o imaculado roupão
branco.

"Merda!" Exclamo e pulo para cima. Isso só resulta


em mais chocolate quente derramando em
mim. Resmungando alguns palavrões, abaixo a caneca,
estendo as mãos e olho para mim mesma. "Não posso
acreditar que acabei de fazer isso!"

A risada profunda e calorosa de Liam enche a sala.


Olho para cima, esquecendo sobre o roupão.

"Eu vou tentar limpar." Saio do quarto, pego um pano


extra e começo a absorver o que posso.

No final, pareço um desastre ambulante. E é


exatamente o que sou.

Derrotada, arrasto-me para o quarto. Sinto vontade de


chorar. "Isto foi o melhor que consegui. Eu pagarei para
substituir."

"O serviço de quarto tira isso, não tem problema. Tenho


certeza de que eles já viram pior." Ele não parece preocupado.

Olho para baixo e franzo a testa. "Lá se vai vestir algo


confortável", murmuro.
"O quê?"

Olho para cima. "Nada..."

"Você não tem roupas extras nessa bolsa?" Ele


pergunta intrigado.

"Sim", digo, pegando-a. "Vou dormir com a camiseta e


usarei o suéter amanhã."

"Você só tem duas camisas?"

"Estava com pressa quando saí", murmuro,


envergonhada. Limpando a garganta, digo: "Vou para a
cidade amanhã e comprarei algumas coisas."

Liam empurra a cadeira, impondo-se em toda sua


altura. Ele tem que ter mais de um metro e oitenta do jeito
que se eleva sobre mim. Ele estende a mão por cima dos
ombros, puxando o moletom do BearPaw que está usando.

Cubro os olhos com as mãos. "O que está fazendo?"

Ele ri. "Eu tenho uma camisa por baixo disto."

Abaixo meus dedos bem a tempo de vê-lo tirá-la


também!
Ofego novamente, mas desta vez não cubro os
olhos. Não posso. Ele é bonito demais. Não tem como parar a
maneira como meu olhar fixa no seu torso e braços nus. Ele é
musculoso. Na verdade, acho que o termo apropriado para a
parte superior do corpo de Liam é sarado.

Seus braços ondulam de forma definida, e o jeito como


ele se move... Minha boca fica seca.

Fico boquiaberta, nem sou capaz de esconder.

A risada se extingue, o humor desaparecendo do seu


rosto. Estou enraizada no lugar enquanto ele se aproxima,
com o seu peito glorioso em plena exibição.

Engulo em seco, incapaz de falar.

"Tome", ele diz, com a voz como uma lixa.

O tipo de lixa que pode me polir com suavidade.

Quando não faço nada, os cantos de sua boca se


levantam e ele balança o que está segurando na minha
frente.

"Bells"
Pisco. Olhando para baixo, vejo-o segurando a
camiseta. "O quê?"

"Pode usar isso para dormir hoje à noite. "

"É seu." É uma coisa estúpida de dizer. Claro que é


dele.

Mas o quero dizer é, que estava agora no corpo dele.

"Eu deixo você pegar emprestado."

"Não precisa fazer isso."

Ele faz um som frustrado e empurra-a em meus


braços. "Pegue. Vá se trocar."

Meu olhar volta para seu peito, demorando. Ele não


tenta se cobrir ou recuar. Ele fica ali sob o peso dos meus
olhos e me deixa examinar.

Depois de não sei quanto tempo, volto ao normal e


corro para o banheiro como se meu roupão estivesse em
chamas.

Não está.

Mas meu interior já é outra história.


CAPÍTULO DEZ
Liam

Que inferno.

Esta mulher ainda tem a habilidade de se infiltrar


debaixo da minha pele e me atingir como ninguém. Ao longo
dos anos, disse a mim mesmo que foi um golpe de sorte. Uma
coisa de adolescente. Hormônios. Por isso que
nunca aconteceu novamente.

Tenho vinte e seis anos agora.

Está acontecendo agora. E Bells é quem está na minha


frente.

Poooorra.

Compreendi uma coisa desde que me sentei nesta sala


com ela. Quanto mais as coisas mudam, mais permanecem
as mesmas.

Nunca soube o que isso significava. Na verdade, achava


ser um ditado estúpido que as pessoas gostam de falar para
parecerem sábias e outras merdas.
Não tenho interesse em parecer sábio, mas agora
entendo.

Nós dois somos muito diferentes. Posso dizer pelo olhar


assombrado em seus olhos. A forma como ela praticamente
vibra com o desejo de fugir. O jeito como fica.

Quando adolescente Bellamy era um problema.

Como adulta, Bellamy está com problemas.

Tem que ser algo ruim para ela vir aqui. Ela ainda está
amarga e chateada com o que aconteceu há oito anos. Algo
que realmente me confunde. Não posso puxar o assunto, não
agora de qualquer jeito. Se fizer isso, ela fugirá.

Não posso deixar acontecer.

Onde está seu pai? Sua mãe? Por que ela está sozinha,
morrendo de fome e com um nome miserável?

Um movimento tímido no quarto chama minha


atenção. Eu a vejo hesitando na porta do banheiro, quase
como se estivesse dançando ao redor, não querendo sair.

"Saia daí", digo. "Sua comida está esfriando."


Ela faz um pequeno som e sorrio. No entanto, é de
curta duração, porque ela sai vestindo minha camiseta.

É como se alguém me matasse e depois reanimasse


meu coração.

Minhas mãos acertam os braços da cadeira e apertam.

Puta merda. O desejo e a necessidade batem em mim


tão forte e tão rápido que pontos negros vagam diante dos
meus olhos. Nunca quis tanto alguém ou algo quanto neste
momento.

Ela sai, quase na ponta dos pés, com os pés descalços


silenciosos no carpete. Observo-a puxando a camiseta como
se não fosse suficientemente recatada. Mas é. Fica quase na
altura dos joelhos. O decote é um pouco grande e expõe a
curva delicada do seu pescoço e a suavidade das clavículas.

Ela levanta o cabelo úmido, amarrando-o numa espécie


de nó na cabeça.

Ela está mais magra do que lembro, mas não me


importo. Meu Deus, ela é linda pra caralho.

Se estivesse em pé, a possessividade me faria cair de


joelhos. É afiada e pesada. Sinceramente me pergunto se a
carga não aliviar, como diabos suportarei o peso.
De repente, fico com raiva. Extremamente com raiva.

Pulo da cadeira e ando em direção a ela, e depois para


longe.

"Qual é o nome dele?" Exijo saber.

Sua inspiração suave me faz fechar os olhos por um


breve segundo. Acalme-se.

"Nome de quem?"

Faço um som rude. "Não brinque comigo, Bells. Seu


marido." Deus, apenas dizer isto em voz alta me faz querer
dar um soco em algo.

O fato de ela ser de outro homem...

"Marido?" O tom perplexo em sua voz me faz parar.

Eu giro e prendo-a com um olhar fixo. "Você tem um


novo sobrenome. Sei que é casada"

Sua boca forma um pequeno O.

"É dele que está fugindo?" Passo uma mão por


meu cabelo. "Seu marido te machucou?"

"Eu..." Suas palavras vacilam.


Faço um som agressivo e ela se encolhe.

"Merda", amaldiçoo baixo e vou até ela.

Ela recua um passo, mas alcanço-a de qualquer


maneira. Eu preciso. Ela está em pé engolida pela camisa que
acabei de usar contra minha pele.

Porra, posso muito bem gozar no meu jeans.

"O que está fazendo?" Sua voz treme.

Eu a seguro contra o peito, desejando não ter vestido o


moletom de novo. Desejando segurá-la contra meu corpo
nu. "Eu não queria gritar." Esfrego a mão por suas
costas. "Não vou te machucar, Bells. Você está segura aqui."

"Eu não estou segura em nenhum lugar", ela responde.

O som de sua voz machuca meu coração.

Eu a seguro um pouco mais apertado. Fico chocado


quando, depois de alguns momentos, sinto seus braços se
fecharem me abraçando de volta.

Meu estômago dá uma cambalhota. Uma sensação


surreal toma conta de mim. Não consigo acreditar que ela
está aqui e que estou a segurando.
Depois de um momento, ela esfrega o rosto contra
minha camisa e inala. Sorrio.

Bellamy se afasta, e é muito difícil deixá-la ir. Consolo-


me com o fato de minha camiseta estar envolta no corpo
dela. Como um tipo de declaração.

Como se, de alguma forma, estivesse fazendo uma


reivindicação.

Ela inclina a cabeça para trás e olha para mim,


cautelosa. "Não sou casada."

"Como?" Minha voz está rouca.

"Não sou casada. Meu nome..."

"Você já esteve casada?"

Ela balança a cabeça lentamente. "Nunca."

Faço um som como se tivesse acabado de ganhar


algum torneio e me lanço para cima dela. Ela grita quando a
pego pela cintura, levantando-a e girando-a em um círculo.

Ela não é casada. Ela é minha.


"Nossa, poderia mostrar um pouco de desapontamento
com o meu estado civil", ela murmura quando a coloco no
chão.

O desejo de beijá-la é muito forte. Tão forte que a


agarro pela cintura novamente e a puxo para mim. Ela abaixa
a cabeça, sua testa roçando na frente da minha camisa.

Respirando fundo, deixo-a ir, volto e sento-me na


cadeira. "Venha comer." Minha voz está tensa, mas ei, eu
consegui não a beijar.

"Não estou com fome", ela murmura.

"Você acabou de desmaiar porque não tem cuidado de


si mesma", digo.

Bellamy senta na cadeira e pega sua caneca. "Quando


se machucou?"

"Cerca de um ano atrás", digo.

Ela assente. "É verdade. Você já disse isso."

Eu repetiria para você mil vezes.

"Onde você machucou?" Seus olhos azuis são


lindos. Empáticos.
"Rompi o Ligamento Anterior Cruzado."

Ela faz um som. "E não pode mais praticar


snowboard?"

"Não profissionalmente. Ainda pratico aqui. Dou


algumas aulas." Provavelmente não deveria fazer isso, mas
foda-se. É a minha vida.

"Você realmente amava aquilo."

"Eu realmente amava."

Ficamos em silêncio. Falar sobre meu joelho não é


divertido.

"Liam?"

Eu faço um som.

"Realmente sinto muito em ouvir isso. Deve ter sido


difícil."

O nó no meu peito faz eu não me sentir bem, então


tento amenizar. "Não é tão difícil como descobrir que você não
sabia sobre isto também."

Também por pensar que ela voltaria para mim.


Ela abaixa a cabeça. "Tem sido um ano difícil."

"O que está acontecendo, Bellamy? Sei que tem alguma


coisa."

Ela pousa a caneca. "Estou muito cansada."

Quero pressioná-la. Mas não o faço. Os círculos


escuros sob os olhos e a palidez de sua pele me alertam.

Neste momento, ela estar aqui e usando minha


camiseta é mais que suficiente. Levanto-me e vou para a
cama, puxando os cobertores com um movimento.

"O que está fazendo?" Ela diz cautelosa.

"Entre." Aponto.

"Eu te acompanharei até a saída." Ela olha entre mim e


a porta.

Eu dou risada, balançando a cabeça. "Sutil. Eu não


vou embora."

"Bem, você não dormirá comigo!" Ela planta as mãos


nos quadris.

Eu realmente tento não sorrir. "Não sonharia com


isso."
Um pouco de dor brilha em seus olhos, e sou um
bastardo porque fico feliz por isso. Quero que ela me deseje
mesmo que seja apenas uma fração do quanto a
desejo. Pigarreio e acrescento: "Não esta noite pelo menos."

Seus olhos voltam para os meus.

Desta vez sorrio, deixando um pouco do desejo e da


possessividade brilharem.

Ela corre para a cama e salta nela, puxando as


cobertas até quase cobrirem sua cabeça. "Você pode sair
sozinho."

Jogo a cabeça para trás e dou risada.

Depois sento de novo na cadeira.

Fazendo um barulho, Bellamy senta-se, empurrando


algumas das cobertas para olhar feio para mim. "O que está
fazendo?"

"Ficando até você cair no sono."

Sua boca se abre. Fecha. Abre novamente. "Mas por


quê?"

"Porque você quer que eu fique."


"Você é ridículo."

"Você não discordou."

Ela cai de costas na cama com um gemido.

Sorrio e coloco minhas mãos sobre a cintura. "Durma,


Bells. Eu cuidarei de você."

Ela rola para o lado, olhando pela janela acima da


mesa. "A neve aqui é mais bonita do que em qualquer outro
lugar que já vi."

Mal posso vê-la por baixo dos cobertores. De vez em


quando, meus olhos voltam apenas para ter certeza de que
ela ainda está lá.

O som de seu bocejo enche o quarto.

Estendo a mão e apago a luz.

Não demora muito para que o som da sua respiração


estável e uniforme chegue aos meus ouvidos.

Sento nesta cadeira desconfortável até o sol começar a


clarear no céu. Eu cochilo, só para depois acordar e ter a
certeza de que ela ainda está bem.
Eventualmente, forço-me a levantar, encarando-a
enquanto me alongo.

Ela parece tão inocente. Ela disse que eu a


machuquei. Ela me machucou.

Eu provavelmente não deveria estar aqui agora. Não


deveria ter todos os pensamentos que tive a noite inteira.

Sempre faço coisas que não deveria.

Depois de aconchegar um pouco mais os cobertores em


volta dela, viro e saio, silenciosamente fechando a porta atrás
de mim. Antes de dar um passo, certifico-me que a fechadura
está definitivamente no lugar.

Não estou nem na metade do corredor quando alguém


sai de um dos quartos na minha frente. Instantaneamente,
paro, sentindo que fui pego fazendo algo errado.

É estúpido. Sou um homem adulto. Posso fazer o que


quiser.

Não dou satisfações a ninguém.

E nem sequer fiz nada!


Alex olha por cima do ombro. No segundo que seus
olhos me veem, eles se arregalam e um sorriso enorme surge
no seu rosto. Ele faz questão de me olhar de cima a baixo.

"Mesma roupa. Amarrotado. Olhos turvos," Alex


enumera, depois ri.

Olho feio para ele. Empurrando seu ombro, digo:


"Mexa-se".

"Sr. Sem Meninas Esta Noite está fazendo a caminhada


da vergonha esta manhã", ele canta.

Paro abruptamente.

Alex volta-se. O olhar no meu rosto apaga a expressão


no dele. "Liam?"

"Não é nada disso", rosno.

Seus olhos azuis penetrantes se arregalam. "Então, o


que é?"

Sinto um aperto no peito. Vê-la na noite passada. Vê-la


dormindo esta manhã… Balanço a cabeça. "Bellamy está
aqui."
"Bellamy..." Alex medita. "Por que conheço esse..." A
cabeça do meu melhor amigo chicoteia para
cima. "Bellamy? Tipo Bellamy, a garota que escapou?"

Meu lábio se curva. "Odeio quando a chama assim."

"Oh, merda ", diz ele, parte divertido, parte chocado.

Gemo. "Eu sei."

Ele recua até onde estou. Na minha frente, ele se


inclina, falando baixo. "E ontem à noite você teve um pouco
dela?"

Meu rosnado ecoa ao longo do corredor. Agarro ele pela


frente da sua camisa enrugada. "O que diabos acabou de
dizer?"

"Whoa." Ele ergue as mãos. "Cedo demais?"

Eu o empurro para trás e ele tropeça. "Dê o fora,


porra."

"Estou brincando. Sabe que estou apenas brincando."

"Ela não é uma piada." Insisto.

"Sim". Ele assente, alisando a camisa. "Sim, posso ver


isso."
Começo a andar. À medida que caminho, olho por cima
do ombro para ter certeza de que ela não nos ouviu de
alguma forma. O corredor está vazio e isso meio que me
irrita. Esperava vê-la ali de pé.

"O que ela está fazendo aqui?" Alex pergunta, me


acompanhando.

"Ainda não tenho certeza", murmuro, pensando no jeito


como ela estava na noite passada. "Mas algo está
acontecendo. Ela age como se não quisesse estar aqui,
mas..."

"Mas?" Alex arqueia uma sobrancelha quando não


termino.

Olho meu melhor amigo, franzindo a testa. "É como se


ela não tivesse escolha."

"O que vai fazer?"

"Algo", murmuro.

"Algo", ele repete.

Dou-lhe um olhar brando. Ele dá de ombros.


Quando descemos as escadas, dou-lhe um tapinha nas
costas. "Pode ir. Tenho que fazer uma parada antes de ir para
minha casa."

"Ei, L?" Ele pergunta.

Viro-me.

"Sabe que estou aqui para o que precisar, certo?"

"Sim, Alex. Eu sei. Obrigado, cara."

"A qualquer hora", ele responde, depois sai do hotel.

Vou até a recepção, pego um dos telefones e ligo para o


serviço de quarto. "É Liam", digo quando respondem.

"O que posso fazer por você esta manhã, Sr.


Mattison?"

"Apenas Liam." Corrijo. Eu sempre corrijo. Sr. Mattison


é o meu pai e sempre será.

O homem limpa a garganta. "Liam".

"Preciso que enviem ao quarto 440 um bule de


chocolate quente, um pouco de suco de laranja, água,
algumas panquecas, ovos e torradas."
"Imediatamente senhor."

"Coloque na minha conta."

"Liam?" Ele pergunta, como se não tivesse ouvido.

"Minha conta. Coloque na minha conta."

Sinto sua surpresa. Nunca fiz nada assim. Eu não


explico. Eu não preciso.

"Vou avisar à equipe que isto é prioritário."

"Obrigado", digo, então desligo o telefone.

A caminho da minha casa, olho de relance para o


hotel. Assim que tomar banho e trocar de roupa, voltarei.
CAPÍTULO ONZE
Bellamy

A batida na porta me acorda de um sono profundo.

Memórias horríveis me assaltam. Meu pulso acelera tão


rápido que me preocupo que possa fazer meu coração
explodir.

Por um momento, fico desorientada e insegura de onde


estou.

Então tudo volta. BearPaw. Meu quarto. Liam.

Imediatamente, meus olhos voam para onde ele estava


quando adormeci. A cadeira está vazia agora, e uma dor que
não me preocupo em reconhecer floresce no meu peito.

Outra batida firme soa na porta. Pressionando a mão


no peito, tropeço para fora da cama e vou com pernas
instáveis até ela. Há um olho mágico, mas me escondo, com
medo do que poderei ver.

A última vez que tive um visitante inesperado, ele


tentou me matar e acabei uma fugitiva da minha própria
vida.
Pela segunda vez.

"Serviço de quarto!" uma mulher diz do outro lado da


porta.

Agarro o colarinho da camisa. Um cheiro familiar de


pinho e neve me envolve. Instintivamente, eu inalo.

"Eu não pedi serviço de quarto", respondo, de repente


um pouco mais corajosa do que antes.

Há uma pequena pausa. "Liam Mattison ligou e fez o


pedido."

Liam pediu comida para mim?

A suspeita obscurece o desejo de ficar um pouco


aquecida pelo gesto.

"Deixe do lado de fora da porta. Por favor", grito.

"Claro", responde a mulher.

Passam-se alguns momentos e não ouço nada. Meus


olhos ficam grudados na maçaneta da porta, esperando que
ela rode e se abra.

Depois que me canso de ficar aqui, ansiosa, aproximo e


espreito pelo olho mágico.
Ninguém está aqui.

Minhas mãos estão pegajosas quando giro a fechadura


e abro a porta. Vejo um carrinho de serviço de quarto, e o
cheiro de panquecas flutua até meu nariz. Num movimento
explosivo, abro a porta, pego a alça do carrinho e puxo. No
segundo em que o carrinho está completamente dentro, eu
me jogo contra a porta e a tranco.

Rodando o carrinho para o lado da cama, mergulho por


baixo das cobertas e coloco-as em volta das minhas pernas
nuas. O cheiro do café da manhã faz meu estômago roncar, e
olho para os pratos duvidosamente. Como posso saber que foi
realmente Liam quem mandou isto?

E se aqueles homens me encontraram? E se tudo nesta


bandeja estiver envenenado?

O telefone toca e quase caio do lado do colchão.

Gemendo, pego a coisa estúpida porque está alta e


insuportável. "Alô?"

"Eles entregaram o café da manhã?" Sua voz é como


uma descarga de calor em meus sentidos.

Meu couro cabeludo formiga e não paro o sorriso que


se forma nos meus lábios.
"Liam?"

"Algum outro cara pediu que entregassem serviço de


quarto a você?"

"Umm..."

Ele rosna na linha, e os arrepios se transformam numa


dor fraca.

"Ainda está usando minha camisa?"

Olho para baixo. Ainda estou usando-a. "Não",


digo. "Tirei no segundo que me levantei. Faz coçar. E fede."

Sua risada rica faz meus olhos se


fecharem. "Mentirosa."

"Você realmente me enviou café da manhã?"

"Panquecas, ovos, torradas. Suco de laranja, chocolate


quente... tudo." Enquanto ele fala, inclino-me e levanto
algumas das tampas. É tudo o que ele disse.

"Isto é..." murmuro, olhando a comida, com os olhos


um pouco nublados.

"Egoísta", ele proclama.


"O quê?" grito.

"Coma, Bells. Volto daqui a pouco e você vem comigo."

Faço um som de alarme. "Não posso ir a nenhum lugar


com você!"

"Por que diabos não?"

Gaguejo, incapaz de formar um argumento coerente.

Ele ri baixo. "Eu te verei daqui a pouco."

Sento com o tom de discagem no ouvido por alguns


momentos antes de desligar. Agora que sei que a comida não
foi enviada para me matar, pego um garfo, coloco bastante
xarope nas panquecas e levo o prato para a cama.

O controle remoto está na mesa de cabeceira, então ligo


a tela plana e encontro um canal de notícias. Pergunto-me se
talvez alguma reportagem está sendo feita sobre o que
aconteceu no meu apartamento.

Como quase todas as panquecas, metade dos ovos,


e bebo um pouco de chocolate, e nesse tempo todo, nada é
relatado sobre mim ou qualquer coisa acontecendo em
Chicago. Sei que estou muito longe de casa, mas estas não
são notícias locais. Inferno, há até mesmo uma história de
uma pequena cidade perto de Chicago sobre um cão guia!

Posso ver a falta de cobertura da mídia de duas


maneiras:

1. Ninguém sabe nada sobre meu "desaparecimento".


Portanto, ninguém está procurando por mim e minha
localização aqui é desconhecida.

Ou

2. Ninguém se importa o suficiente para perceber que


estou desaparecida.

Escolho o número um. Espero que minha fuga rápida e


ter pego o trem sem hesitação para a próxima cidade e, em
seguida, um ônibus até aqui não tenha deixado pistas.

Farta das notícias, mudo para o canal de culinária e


assisto por um curto período antes de me arrastar até o
banheiro. Graças a Deus há uma escova de dentes de
cortesia com pasta porque minha bolsa de fuga de itens
essenciais está seriamente carente em higiene dental.

Lavo o rosto, aplico mais loção e protetor labial, depois


puxo o cabelo do coque em que o amarrei antes de
adormecer. Ainda está úmido em alguns lugares onde ficou
preso, por isso pego o secador e seco os longos fios loiro-
escuros por alguns minutos enquanto uso a escova para
alisá-los um pouco.

Quando termino, passo os dedos por ele e me sinto


satisfeita por não estar uma bagunça emaranhada, e cair
sobre meus ombros e costas ligeiramente desgrenhados.

Realmente não quero tirar a camiseta de Liam. Não faz


coçar. Nem fede. Na verdade, o tecido é perfeito, macio de
usar, e seu cheiro é algo que gostaria de poder
engarrafar. Dispo-a de qualquer maneira, dobro
ordenadamente e deposito na beira da cama para que possa
devolvê-la.

Durante todo o tempo em que me visto, penso sobre o


que aconteceu e o que vou fazer.

A única coisa que sei com certeza é que a proteção a


testemunhas me prometeu segurança e falhou. Pensei que
talvez depois de uma noite inteira de sono, um pouco de
comida e um banho quente, as coisas ficariam mais
claras. Ou que, pelo menos, alguma ideia de plano estaria se
formando em minha mente.

Não tenho nada. Nada além de medo.


Outro pensamento me assalta, um tão formidável que
afundo na cama, com os dedos brancos por causa do jeito
que aperto minhas mãos. E se os homens que me
encontraram também encontraram minha mãe?

E se, quando eles não conseguiram me encontrar, eles


foram atrás dela?

Lágrimas aparecem rápido e deslizam sobre minhas


bochechas silenciosamente. Meu choro não tem som. Mal
sinto a umidade. Estou entorpecida demais com o terror.

Não deveria ter fugido. Deveria ter deixado aquele


homem atirar em mim na minha cozinha. Eu estaria morta e
tudo isto acabaria. Minha mãe estaria segura.

Para começar é minha culpa que ela está nessa


bagunça. Se eu tivesse a escutado...

Uma batida na porta me faz gritar. Ah, realmente


preciso controlar o nervosismo.

Pressionando uma mão no peito, grito: "Quem é?"

"Liam."
Esfrego meu rosto, tentando me livrar da evidência das
lágrimas. Respirando de forma instável, olho pelo olho
mágico. Ele sorri como se soubesse que eu olharia.

Uma pequena risada escapa, e bato a mão sobre meus


lábios. Não é hora de rir! Minha vida está em frangalhos e
minha mãe pode estar em perigo.

Não tenho como saber... O que eu fiz?

Destrancando a porta, começo a abri-la. Liam me


surpreende, agarrando a borda e mantendo-a parcialmente
fechada.

"O que você está fazendo?" Eu me preocupo.

"Advertindo você."

Meu estômago afunda. "Eles me encontraram?" Eu me


preocupo. "Oh Deus, eu devo ir."

Começo a me afastar da porta.

Liam amaldiçoa baixo e abre-a completamente.

Tudo de uma vez, um turbilhão de movimento e uma


explosão de atividade invade meu quarto. Liam se move
rapidamente, agarrando-me pela cintura, me estabilizando.
Segundos depois, entendo o porquê.

Latidos profundos preenchem o


espaço. Automaticamente, agarro Liam. Suas mãos apertam
um pouco mais a minha cintura, me puxando para perto. "É
só o Charlie."

Tomando isso como sua apresentação, um cachorro


gigante e peludo pula em cima de mim. O som de seu nariz
farejando como se estivesse me revistando é tão alto que é
tudo o que ouço. Meus olhos se arregalam quando vejo o
gigantesco São Bernardo com orelhas marrons e
um rosto preto e branco. Ele parece exatamente com aquele
cachorro do filme Beethoven.

"Use suas boas maneiras, Charlie", Liam diz a ele.

O cachorro desce, mas seu corpo se agita e a enorme


cauda bate no ar.

Sorrio e solto Liam instantaneamente. "Olhe para você!"


digo, ajoelhando-me para fazer carinho nele.

"Cuidado. Ele é uma máquina de baba ambulante."


Liam ri e fecha a porta. O som da fechadura sendo trancada
quebra um pouco a tensão.
Charlie lambe meu queixo com a língua gigante e
desleixada e sorrio. Ele tem uma cabeça enorme e peluda e
minhas mãos enterram atrás das suas orelhas para
coçar. Ele solta um gemido alto e senta.

"Este é seu cachorro?" Pergunto, olhando Liam.

Ele está nos observando com uma expressão suave, os


lábios ligeiramente inclinados para cima.

"Sim. Charlie. Eu o adquiri logo depois que me mudei


para casa. Ele ama a neve tanto quanto eu."

"Você tem seu próprio casaco embutido", digo a


Charlie, esfregando seu peito.

O cachorro cai no chão e rola, oferecendo sua barriga.

Liam ri. "Bem, você está dentro."

"Dentro?"

Ele assente. "Charlie só mostra a barriga para as


pessoas que ele gosta."

"Eu também gosto de você, garoto", digo, coçando a


barriga.
Ele me lambe de novo e eu grito. Ele definitivamente é
uma máquina de baba.

"Então estava me avisando sobre ele?" pergunto, ainda


sentindo um pequeno aperto no peito.

Ele assente. "Charlie tende a entrar como um


canhão. Não queria que ele batesse em você."

"Eu não sabia que tinha um cachorro."

"Há muitas coisas que não sabe sobre mim, Bells." A


confissão é tranquila, meio secreta, e me faz engolir.

Liam pigarreia. "Não tinha certeza se você gostava de


cachorros ou não, mas Charlie estava bravo por eu tê-lo
deixado sozinho a maior parte da noite, então achei melhor
trazê-lo."

"A maior parte da noite?"

Ele assente, os olhos cinzentos se tornando


tempestuosos.

Ele esteve comigo a noite toda? Meu estômago afunda.

Levanto do chão e Charlie dá um pulo, sacudindo seu


pelo. Um fio de baba literalmente bate na parede.
"Cara", Liam diz a ele. "Não é legal."

Charlie não parece se importar, vai até o carrinho e


começa a cheirar as sobras do meu café da manhã. Ele é tão
grande que pode pegar os pratos se quiser. Reparo a maneira
como seus olhos se movem para Liam enquanto ele cheira.

"Você sabe melhor", é tudo que Liam diz.

Charlie senta-se bufando, mas continua a olhar a


comida.

"Obrigada pelo café da manhã", digo porque não tenho


ideia do que mais dizer.

"Você parece melhor hoje." Movo-me um pouco quando


seus olhos percorrem meus jeans e camiseta, pousando no
meu cabelo. "Seu cabelo está mais longo."

Eu concordo.

"Eu gosto."

O elogio faz-me sentir calor de maneiras que não sinto


há muito tempo. Toda a luta que tenho com o comprimento
quando se emaranha ou quando é muito chato lavá-lo não
parecem tão irritantes.
"Está pronta para ir?" Liam pergunta.

Eu me endireito. "Ir?"

Ele assente. "Tenho uma aula. Pensei que poderia


querer vir. Cuidar de Charlie por mim."

Olho para o cachorro, sua cauda batendo contra o


chão.

"Não acho que seja uma boa ideia."

Ele arqueia uma sobrancelha. "Tem algo melhor para


fazer?"

Deus, ele é tão bom de se olhar. Seu cabelo castanho


claro está ligeiramente desgrenhado. A barba na mandíbula
parece quase dourada. Faz um grande contraste com os olhos
tempestuosos. Como se o homem tivesse um pouco do céu e
um pouco do inferno em seu rosto.

Ele está usando um grosso suéter esta manhã. Do tipo


que fecha no pescoço com um zíper. O colarinho está alto,
emoldurando sua mandíbula. Debaixo da bainha, uma
camiseta branca esticada e sua calça jeans se molda na
frente de suas coxas.
As botas nos seus pés são grandes e
resistentes. Perfeitas para passear na neve. O couro está
molhado como se isso fosse exatamente o que ele esteve
fazendo.

"Você mora no resort?"

"Não. Tenho um chalé do outro lado das


encostas. Charlie precisa de lugar para correr e gosto de ter
meu espaço."

"Só você e Charlie moram lá?" Não consigo deixar de


perguntar.

Um sorriso lento levanta os cantos dos seus lábios e


coloca um pouco de malícia em seus olhos. "Só eu e Charlie."

Não significa que ele não tenha namorada, no


entanto. Quer dizer, é só olhar para ele. Mesmo quando tinha
dezesseis anos, todo mundo no resort babava por causa dele
e disputava sua atenção. Isso quando ele era garoto. Agora
ele é todo homem.

Seu sorriso se transforma numa exibição completa de


dentes. "Estou solteiro."

"Oh. Bom."
Aparecem mais dentes.

Quero bater na minha testa. "Quero dizer... eu não...


quis dizer." Eu gemo. "O que quero dizer é que é bom porque
acho que sua namorada não aprovaria que você basicamente
me hospedasse no hotel ontem à noite."

"Ou hoje à noite", ele entoa, aproximando-se.

Recuo. "Esta noite?"

Ele assente.

"Eu não posso ficar esta noite. Tenho que ir."

"Ir aonde?"

"Uh." Recuo até sentir Charlie me cutucando com


o nariz. Sem pensar, estendo a mão atrás de mim e dou um
tapinha na cabeça dele. "Isso realmente não é da sua conta."

Os olhos de Liam se estreitam.

O cachorro me cutuca novamente, então pego um


pedaço da torrada que não comi e dou para ele.

"Você vai mimá-lo", Liam resmunga.

"Ele está com fome." Dou-lhe outro pedaço.


"Pegue seu casaco", ele responde. "Tenho que ir lá
embaixo."

"Não tenho um casaco."

Ele franze a testa. "Compraremos um numa das lojas."

Debato-me por outro motivo pelo qual não posso ir. No


final, sinto meus ombros caírem. "Eu realmente não deveria
sair deste quarto."

Ele me estuda por longos momentos. O peso de seu


olhar é o suficiente para me fazer contorcer.

"Está muito claro para mim que você está fugindo de


alguma coisa. Ou de alguém. Alguém que obviamente te
assusta muito."

Não digo nada. Não confirmo nem nego.

Liam diminui a distância entre nós e acaricia minha


bochecha com a ponta do polegar. "Venha para as encostas
comigo, Bellamy. Eu ficarei por perto. Charlie também. Não
deixarei ninguém chegar até você."

Maldito. Maldito o jeito como ele me faz sentir. Sei


muito bem. Eu absolutamente sei muito bem.
Mas é impossível negar o poder de Liam.
CAPÍTULO DOZE
Liam

Charlie segue atrás de Bellamy como se ela fosse um


novo brinquedo. Provavelmente por causa da comida que ela
lhe deu.

Ou talvez porque esse é apenas o poder de Bellamy.

De certa forma, sua devoção imediata é uma espécie de


prova de que não importa em que tipo de problema esteja, ela
é inocente. Cães sentem este tipo de coisa. Eles podem dizer
se uma pessoa é uma boa semente ou ruim.

Eu já sabia que ela era boa.

Mas é bom que o cão tenha provado também.

Seus olhos estão extremamente vigilantes enquanto


andamos pelo resort, quase hiperativos. A garota está me
fazendo sentir no limite e nunca me senti assim. Uma onda
de preocupação por sua segurança passa por mim, por
arrastá-la para fora do quarto. E se não devesse ter feito
isso? E se ela estiver melhor escondida?

Que tipo de vida é esta?


Não o tipo que ela deve ter.

Além disso, estou muito preocupado que se a perder de


vista por muito tempo, ela desaparecerá. Bellamy não foi a
única que ficou de olho. Fiz o mesmo com ela ao longo dos
anos. É verdade, que a vida dela não é espalhada no canal de
esportes. Ela não tem repórteres disputando sua atenção e
publicando histórias.

Não sei muito sobre a vida dela, além de que ela mora
na Califórnia e está na faculdade.

Tentei procurá-la depois da minha lesão, mas foi como


se ela tivesse desaparecido sem deixar vestígios. Isso me
irritou, e sei que uma pequena parte de mim lamentou por
ela enquanto o resto lamentava a perda da minha carreira.

Bellamy está aqui agora. Posso ter uma segunda


chance. Desta vez não estragarei tudo.

"Aqui", digo, pegando seu cotovelo e gentilmente


empurrando-a para uma das lojas de esqui do resort. Tudo
está anexado ao edifício principal por uma série de corredores
ou passagens cobertas. Ela me permite conduzi-la até a loja,
mas sinto a energia nervosa em volta dela.

Inclinando-me, sussurro: "Relaxe, Bells."


Então dou um tapinha nas costas de Charlie. "Fique
com Bellamy."

Ele é um cão incrivelmente perceptivo, pertenceu à


patrulha de esqui antes de seu cuidador morrer tragicamente
num acidente de carro. Depois disso, Charlie ficou com
Sharon até que eu apareci, machucado e zangado.

Sharon o trouxe para mim um dia, e foi basicamente


isso. Eu me senti melhor em tê-lo por perto, e gosto de pensar
que ele sentiu que tinha um propósito novamente, ajudando-
me a levantar. E pelo menos comigo, ele passa muito tempo
na neve, algo que ama.

Bellamy sorri quando o cão se levanta contra sua perna


e caminha ao lado dela.

"Liam", diz Robin, materializando-se ao lado de uma


prateleira de equipamentos. "Que bom te ver."

"Ei, Robin", digo, parando para sorrir. "Como está?"

"Melhor agora que você está aqui", ela responde. Ela é


uma mulher atraente, com cabelos e olhos escuros. Ela
começou a trabalhar na loja anos antes de eu voltar. Ela
administra esta loja e faz um bom trabalho. "Está aqui para
comprar algum equipamento? Já precisa de luvas novas?"
Eu dou risada. "Não, estou fazendo aquelas durarem."
Olho através de algumas prateleiras onde Bellamy está dando
uma olhada.

Dando uma olhada = se escondendo.

"Precisamos de um casaco e equipamento de neve",


digo, apontando para Bells.

Robin olha entre mim e Bellamy com surpresa em seus


olhos. "Ajudando uma hóspede? Que gentil."

Quero corrigi-la, reivindicar Bellamy neste


momento. Sei que se o fizer, as notícias correrão por este
resort na velocidade da luz.

"Estou. Doce como açúcar", digo em vez disso.

Não sei o que está acontecendo com Bellamy, e não


tenho certeza se ela quer que alguém saiba que a
conheço. Acho que algum anonimato pode ser aconselhável
para sua proteção.

A resposta, no entanto, faz os olhos de Bell revirarem.

Suprimo um sorriso.

"Tudo bem, então. Vamos pegar algumas coisas."


Pigarreio e Robin olha para mim. "A aula começa em
trinta minutos."

"Amo um desafio", ela ronrona e depois começa a


trabalhar.

Dez minutos depois, paro ao lado de Bellamy, que está


carregada com um casaco polar preto com um forro de lã
destacável impermeável, calças leves de neve, meias grossas,
luvas e um cachecol.

Robin corre para a parte de trás para encontrar uma


touca que Bells gostou, mas que só está estocado em
verde. Ela está disposta a aceitar, mas eu não. Quero que ela
use azul. Combina com seus olhos.

No segundo que Robin sai, Bellamy olha para


mim. "Não posso pagar tudo isto agora, Liam."

Solto um suspiro. "Não se preocupe com isso."

"Estou preocupada. Isto não é responsabilidade


sua. Eu não sou."

Meus olhos vão para ela. Sinto minha mandíbula


cerrar. "Estou lhe tornando minha responsabilidade."

"Não quero que esteja envolvido."


"Querida, eu me envolvi no segundo que você desmaiou
em meus braços."

"Deveria ter me deixado cair no chão", ela resmunga.

Dou risada.

"Sério, vou voltar para o quarto."

"É fim do inverno. Você está em Caribou. Não pode


andar de jeans e suéter o tempo todo. Vai morrer de frio."

Ela baixa os olhos.

Abro minha boca para dizer algo, mas Robin


aparece. "É o último em azul!" Ela diz vitoriosamente. "E tem
o logotipo do BearPaw."

"Perfeito." Pego a touca de Robin, notando a caixa


grande em sua mão.

Ela limpa a garganta. "Reparei nos seus sapatos, achei


que poderia querer algo mais... apropriado ao tempo?"

Bellamy olha para baixo. "Quer dizer algo que não


seja feio como pecado e tão grande?"

"Isso também", murmura Robin.


Sigo os olhares de ambas as mulheres e faço uma
careta. Como é que não reparei mais cedo nessas coisas
terríveis em seus pés?

Você estava muito ocupado olhando o resto dela.

Os tênis parecem ter pelo menos cinco anos, gastos em


alguns lugares e imundo em outros. O pé direito está rasgado
no lado e um dos cadarços parece mastigado por
alguém. Falando em cadarços, eles estão amarrados
firmemente, com dois nós, e quando Bells levanta o pé,
o sapato balança, provando o fato que se não estivessem
amarrados tão apertados, cairiam imediatamente.

Raiva corre por mim como um incêndio florestal sob


uma forte rajada de vento. Não sei como ela acabou assim,
mas seja qual for o motivo, eu odeio.

"Tamanho trinta e cinco, certo?" Robin pergunta.

"Como sabe?" Bellamy parece surpresa.

Robin ri levemente. "É o meu trabalho. Vamos lá." Ela


deposita a caixa grande e tira a tampa. "Não tenho preto, que
parece ser a sua cor preferida." Ela olha todas os itens
escuros que Bells escolheu.

Suas bochechas ficam rosadas.


"Mas espero que goste destas." Ela levanta uma das
botas da caixa e a estende.

Os olhos de Bellamy se arregalam. Ela estende a mão


para o sapato, o dedo acariciando o pelo castanho-claro que
se destaca no topo. "São lindas", ela murmura.

"São Sorel. Impermeáveis, à prova de intempéries e


forradas de pelos. Estas são em castanho claro e têm
cadarços azuis resistentes. A variedade de tons no pelo
realmente combina com tudo."

A parte que envolve o pé não é de couro, mas algum


material grosso de borracha preta, e tem uma sola branca.

Bellamy tira a mão da bota e levanta a caixa para


verificar o preço. Quase posso ouvir sua cabeça explodindo
quando o vê.

"Nós vamos levá-las. Tudo", digo.

Robin sorri. Bellamy engasga.

"Coloque tudo na minha conta. OK?"

Robin é quem engasga agora. "Sua conta?"


Balanço a cabeça e começo a reunir todas as
mercadorias. "Vamos, Bells. Vou me atrasar."

Sei que ela quer discutir, mas quer mais sair daqui,
então segue logo atrás, segurando a caixa gigante das botas.

"Obrigado, Robin. Você é a melhor", falo por cima do


ombro, saindo.

"Tchau!" Ela responde, o choque ainda soando em sua


voz.

Uma vez fora da loja, eu não posso evitar rir. "Você viu
a cara dela?"

"Provavelmente parece muito com a minha." Bellamy


diz.

Eu olho para baixo e faço uma careta. Ela está


chateada. Caramba, ela deve ser a única mulher na Terra a
ficar chateada quando um cara a leva para fazer compras.

"Você pode me pagar de volta. OK?"

Seus dentes afundam em seu lábio inferior, mas ela


assente.

Eu solto um suspiro.
Ando rapidamente para os alojamentos do instrutor,
percebendo que ela tinha que praticamente correr para
acompanhar. Na segunda vez que ela quase tropeça naqueles
sapatos horríveis, eu diminuo meu ritmo.

"O que há com os sapatos?" Eu pergunto, rouco.

Ela fica em silêncio por um momento. Eu olho para ela


com o canto do olho.

"Eu os roubei de um armário de ginástica. Não tinha


tempo para fazer compras", ela praticamente estala.

"Quem você roubou provavelmente ficou aliviado. Essa


merda é horrível."

Seus olhos voam para os meus, chocados. Então, de


repente, ela começa a rir. Eu me junto a ela, e então nós dois
estamos do lado de fora do alojamento dos instrutores,
olhando um para o outro, rindo.

Charlie late.

"Vamos lá." Abro a porta e faço sinal para ela entrar.

Não há ninguém por perto, então aponto para um


pequeno vestiário e largo todas as coisas novas dela lá.
"Vista-se."

Enquanto ela está trocando de roupa, abro meu


armário e tiro tudo o que preciso para me vestir também.
Quando estou prendendo o meu distintivo de instrutor e
crachá, a porta abre e ela sai.

Charlie corre para ela, cumprimentando-a como se


tivesse passado uma semana em vez de alguns minutos. Ela
ri, sem se incomodar com a excitação dele, e dá um tapinha
em sua cabeça com a mão enluvada.

"Tudo serviu bem?" pergunto, pigarreando.

Meu Deus, ela é linda para caralho.

Senti falta dela.

Nem percebi o quanto.

Claro, às vezes brincávamos que ela era "a que


escapou", e com certeza, me pergunto às vezes o que poderia
ter sido..., mas este, este é um sentimento completamente
diferente.

"Eu gosto das botas", ela diz baixinho.

Olho para os pés dela e sorrio. O pelo que se destaca ao


redor de suas pernas é adorável. "Elas são muito melhores
que as outras coisas."

Ela ri.

Meu equipamento balança quando caminho até ela,


pego a touca azul de suas mãos, e puxo-a para baixo sobre
sua cabeça para que descanse logo acima dos olhos. Minhas
mãos demoram em suas bochechas antes de caírem
completamente. "Eu sabia."
"Sabia o quê?"

"Que o azul faria seus olhos parecerem ainda mais


bonitos."

Ela abaixa a cabeça e a levanto de novo. Ficamos ali


por longos momentos, apenas olhando nos olhos um do
outro, sem dizer uma palavra.

Bellamy respira fundo e me afasto.

"Vamos lá. Preciso estar lá fora."

Pego minha prancheta e a prancha de snowboard.

"Você vai dar uma aula?"

Assinto. "Tenho algumas hoje. São turmas."

Quando saímos, o ar frio do inverno atinge-nos. Gosto


do jeito que bate em minhas bochechas, como um
despertador pessoal todos os dias. Respiro fundo, deixando
os ar gelado encher meus pulmões.

Charlie late e salta pela neve fresca, espalhando-a


tanto quanto possível.

Bellamy ri, observando-o. Olho para baixo. Suas


bochechas já estão ficando rosadas pelo frio.

"Tenho um tempo entre cada aula. Podemos almoçar


mais tarde."
Ela não diz nada. Seus olhos indo de mim para um
grupo de pessoas subindo a colina. "São eles?"

Sigo o olhar dela. "Sim. Fique nas proximidades, ok?


Charlie não precisa de uma coleira. Ele ficará com você."

Ela assente e sorrio.

A vontade de me inclinar e beijá-la é muito forte. No


entanto, resisto. "Te vejo daqui a pouco."

"Até logo."

Vou dar minha aula, olhando para trás para garantir


que ela ainda está lá.

Ela está. Durante toda a aula, ela fica por perto,


Charlie é sua sombra. De vez em quando, me distraio porque
ouço a risada dela ao vento. Eu me viro e vejo ela e meu
cachorro rolando na neve.

Sim, não tenho ideia do que a fez fugir para cá ou


porque ela precisa desesperadamente se esconder.

Mas quanto mais estou perto de Bellamy, menos me


importo.
CAPÍTULO TREZE
Bellamy

O ar está frio. A neve é pura. A diversão de um


cachorro é genuinamente inocente.

Estar aqui fora é como um novo começo. Um novo


começo que desejo tão desesperadamente que meu peito dói.
Supostamente, tive um "novo começo" há um ano, mas nunca
o senti assim.

Acabei me sentindo como um segredo sujo. Como uma


pessoa inteiramente nova que apenas compartilha a mesma
silhueta de quem eu costumava ser.

Com a touca azul que Liam insistiu em puxar para


baixo na minha cabeça e meu cabelo sorrateiramente enfiado
no casaco, sinto-me bem disfarçada. Todo mundo aqui está
vestido da mesma maneira, e sem o cabelo loiro para me
denunciar, é como se eu fosse apenas outra pessoa de férias
no BearPaw.

Não consigo deixar de pensar no meu pai e no tempo


que passamos aqui. Foi o único tempo que consegui passar
com ele.

Parece bobo eu sentir falta dele. Quero dizer, sim, ele


era meu pai, mas posso contar numa mão a quantidade de
vezes que o vi em minha vida.

Será que sinto a falta dele ou apenas da ideia de um


pai?
Não tenho ilusões sobre o grande homem que ele era
ou mesmo um grande pai. Na verdade, sei que ele não era
ótimo em nenhum dos dois. Se a ausência dele na minha vida
não é prova, o modo como sua vida chegou a um fim violento
é.

Meus olhos se desviam para Liam. Quão confiante ele


parece na frente da fila de pessoas que está instruindo.

Posso contar em uma mão o número de vezes que o vi


também.

Estranhamente, é menos vezes que ao meu pai.


Também senti falta de Liam. Algo profundo dentro de mim
pode até argumentar que senti mais a falta dele do que do
meu pai. Oito anos de falta de alguém que mal conheço.

O coração não mede o tempo, não é?

O coração tem seu próprio jeito de equacionar o valor.


E parece que meu coração tem um fraco por homens que não
ficam por perto.

Olho em volta, para a direita, onde funciona o


teleférico. Pessoas com esquis e pranchas de snowboard
estão na fila. Risos flutuam dos carros suspensos à medida
que sobem a montanha.

Enquanto olho, sou transportada de volta no tempo.


Para oito anos atrás...

Era cedo. Estupidamente cedo. Eu nem sequer me


levantava da cama para ir à escola a esta hora. No entanto,
aqui estava, vestindo todos os novos equipamentos de neve
que meu pai me comprou no andar de baixo. Eu olhei para a
porta que unia os nossos quartos, grata por não termos que
dividir apenas um. Isso seria totalmente embaraçoso.

E isso não teria tornado o que eu estava fazendo


possível. Uma vez que vesti todas as camadas, fala sério, eu
não podia me imaginar fazendo isso todos os dias; na
Califórnia, às vezes parecia um sacrifício ter que calçar
sandálias em vez de apenas chinelos, eu saí.

As encostas abriam cedo para todas as pessoas que


gostavam de entrar em algumas corridas (como as chamavam)
antes de terem que ir trabalhar ou preencher o dia com um dos
outros milhões de atividades do resort.

Pensei que meu pai estava louco quando ele apareceu e


anunciou que íamos para uma pequena cidade no Colorado de
férias. Quem tira férias na neve?

Realmente parecia a quinta dimensão quando minha


mãe concordou em me deixar ir.

Eu fiquei cética, nervosa até, mas agora que estava


aqui, adorei. Este lugar era lindo. Eu nunca tinha visto tanta
neve e tantas árvores em toda a vida.

Havia apenas um problema. Esta menina da Califórnia


não sabia esquiar. Nadinha.

Era por isso que estava parada ali com um par de esquis
que pareciam sapatos de palhaço presos às minhas botas
enquanto olhava para o teleférico, uma máquina na qual era
suposto eu sentar enquanto ela me arrastava sobre o terreno
suspensa num fio.

Poxa!
É obvio que eu não pensei cuidadosamente nisto. Posso
ter que admitir a derrota.

Enquanto estava lá, em guerra comigo mesma, alguém


derrapou, jogando uma onda de neve contra minhas pernas.
Estiquei meu pescoço, seguindo a pessoa na neve enquanto ele
curvava e parava atrás de mim.

Quando ele levantou os óculos do rosto, fiquei


momentaneamente estupefata. Ele era lindo. Pele clara e
macia que parecia beijada pelo sol mesmo na neve. Uma testa
forte, mandíbula definida e um nariz reto.

Seus olhos eram cinzentos.

Não aquele tom entre cores. Sabe aquele em que a cor


não é bem azul e nem verde.

Verdadeiro cinza.

Como um céu nublado. Ou um chão de pedrinhas num


rio.

"É suposto você entrar nisso. Não ficar encarando-o", o


cara de olhos cinzentos me disse, um sorriso convencido
curvando sua boca.

"Acho que gosto dos meus pés aqui embaixo. No chão."

Ele sorriu. "Primeira vez?"

Engoli em seco, olhando para os lábios dele. Eles eram


beijáveis. Muito beijáveis.
Eu não conseguia falar, então, em vez disso, assenti.

"Você está aqui muito cedo para uma novata. A maioria


de nós que estamos nas encostas a esta hora somos
experientes."

"Você é experiente?"

"Claro. Eu tenho habilidades loucas."

Meu estômago tremeu um pouco quando ele sorriu. "Eu


vim aqui porque queria praticar. Estou aqui com meu pai e..."
Minha voz sumiu. Por que estava contando isso para ele? Ele
era um estranho.

"E?" Ele se inclinou como se estivesse realmente


interessado.

"E eu queria impressioná-lo. Eu não queria parecer uma


novata." Olhei a neve. "É estúpido."

"Não é estúpido."

Surpreendida, olhei para cima. Ele sorriu para mim e me


vi sorrindo de volta. "Estúpido se você está com muito medo até
de entrar no elevador."

"Talvez não fique tão assustada se eu for com você."

"O quê?"

Ele assentiu e fez sinal para eu segui-lo. "Vamos lá. Se


for comigo, eu serei seu primeiro." Mesmo com os óculos e a
touca na cabeça, podia vê-lo mexendo as sobrancelhas.
"Eu acho que vou recusar", disse, olhando o carro
flutuando acima da minha cabeça.

"Eu seguro sua mão." Ele ofereceu.

Olhando entre ele e o elevador, decidi ir em frente.


Usando os bastões, empurrei-me, deslizando
instantaneamente pelo pequeno declive em direção à entrada
do elevador. Depois que comecei, não consegui parar.

"Cuidado!" Eu gritei, mas ele não se mexeu. Em vez


disso, ele se plantou bem na minha frente e me pegou pela
cintura.

"E você está preocupada com o elevador? Acho que


deveria estar mais preocupada com os esquis amarrados nos
seus pés."

Envergonhada, recuei, mas meus esquis tinham


deslizado por cima da sua prancha, e não conseguia
simplesmente dar um passo para trás. Eu teria caído se ele
não tivesse reforçado o aperto.

"Eu sou Liam", disse ele, nossos narizes a poucos


centímetros de distância.

"Bellamy."

"É a sua vez!", O atendente do elevador chamou.

Liam conseguiu nos separar e me direcionar na frente do


próximo assento. De pé ao meu lado, ele segurou meu cotovelo.
"Agora", ele disse assim que o banco chegou.
Nós dois sentamos, e o carrinho continuou se movendo,
nos levantando do chão. Liam puxou uma barra na nossa
frente enquanto eu segurava os bastões e olhava para o lado.

"Aqui", disse ele, pegando meus bastões. Depois que


eles desapareceram, ele pegou minha mão.

Eu sabia que as luvas eram uma necessidade aqui no


tempo frio..., mas eu gostaria que não houvesse nada entre
nós.

"Não olhe para baixo. Olhe para fora."

"O quê?" Eu olhei para ele. Por um longo momento, juro


que me perdi nos seus olhos.

"Olhe para fora", ele respondeu, pegando no meu queixo


com a mão livre e virando meu rosto para que eu pudesse ver a
vista arrebatadora.

Suspirei. Aqui de cima tudo parecia tão puro. Como uma


fantasia. A neve era como um manto branco envolvendo tudo,
até mesmo as árvores verde-escuras. Grandes flocos de neve
flutuavam do céu, roçando minhas bochechas e criando uma
névoa branca sobre tudo.

"É tão bonito", sussurrei.

"Viu o que perderia se tivesse ficado lá no chão?"

"Obrigada."

"A próxima parada é a nossa." Ele gesticulou para a


plataforma que se aproximava.
"Já?"

Sua risada foi o suficiente para derreter os flocos de


neve que ainda caíam do céu. "A menos que queira subir até o
percurso do diamante negro. E, a julgar pelo que vi no chão,
você provavelmente deveria ficar no morro do coelho."

Sorri, envergonhada. "Você provavelmente está certo."

"Quando aparecer, você tem que se levantar


rapidamente."

Meus dentes afundaram no meu lábio inferior, e


concentrei-me à medida que nos aproximamos da plataforma.
Liam e eu ficamos de pé rapidamente, mas ainda não fui
rápida o suficiente. Como alguém poderia com essas
armadilhas mortais nos pés?

Não fui achatada pelo carro ainda em movimento, no


entanto. Em vez disso, Liam me puxou para o lado.

"Obrigada", disse quando estávamos fora de perigo.

"Que tal uma aula grátis?" Ele gesticulou para os meus


esquis e me entregou os bastões que realmente tinha
esquecido.

Olhei para a prancha de snowboard sobre a qual ele


estava tão confiantemente apoiado. "Você sabe esquiar
também?"

"Desde que comecei a andar."

"Você não preferia estar fazendo outra coisa?"


Seus dentes brilharam. Eles eram tão brancos quanto a
neve. "Impedir você de se matar ou de matar alguém nessas
coisas? Eu acho que isso é muito importante."

Eu ri.

"Vamos lá. Dê-me trinta minutos e estará esquiando


melhor que seu pai."

Ele passou trinta minutos me ensinando a esquiar.

Ele passou trinta minutos ocupando um lugar no meu


coração que eu não tinha ideia de que ainda estaria lá oito
anos depois.

O som de um riso de paquera me tira do passado.


Charlie cutuca minha mão e choraminga. Coço atrás da sua
orelha enquanto olho na direção do som.

Não demoro muito para encontrá-lo.

É bem na frente de Liam.

A lição deve ter acabado porque as pessoas estão


saindo para fazer suas coisas. Algumas ficam para trás,
ajustando o equipamento. Liam tem uma prancheta na mão e
um gorro preto puxado sobre a cabeça. Flocos de neve
grudam nele e pousam em seus ombros largos.

A garota ri de novo e meus dentes cerram.

Ela tem cabelos loiros que caem em ondas molhadas


debaixo da touca. Seus olhos estão cobertos com óculos
escuros espelhados, e sua roupa de esqui é rosa-choque e
azul-marinho. Sei pelo jeito que ela está se inclinando em
direção a Liam, que ela está flertando com ele.

Ouço o baixo timbre da voz dele, mas não consigo


entender as palavras. Ele não se inclina como ela faz, mas
não está fugindo também.

Isso não deveria me incomodar.

Mas incomoda.

Estou aqui para me esconder. Eu nem queria vê-lo.


Tenho tanta coisa acontecendo. A última coisa que preciso é
me envolver com um cara que literalmente partiu meu
coração aos dezesseis anos.

Vá embora, Bellamy. Apenas vá embora.

Meus pés obedecem. Começo a andar.

Mas não para longe.

Na direção da garota que está ali parecendo uma


Barbie em tamanho natural, tentando flertar com um homem
que definitivamente não é dela.
CAPÍTULO QUATORZE
Liam

Ontem, esta garota parecia muito com Bellamy.

Ontem, quando a vi na neve com o cabelo loiro e


úmido, foi como um soco no estômago.

Hoje é diferente.

Hoje, enquanto estou aqui e a observo, ela não parece


nada com Bells. Ela é tão diferente de Bellamy que me
pergunto o que diabos pensei ontem.

Fiz uma coisa certa, no entanto. Não estava interessado


nela ontem, e tenho certeza que não estou agora.

No entanto, estou parcialmente impressionado que ela


ainda está tentando. Depois que me levantei e saí da Taverna
ontem à noite, pensei que ela percebeu o que eu estava
mostrando. Aqui está ela, porém, de volta para outra lição.
Flertando novamente enquanto sua amiga está a uma curta
distância.

Ou ela é estúpida ou tem um par de bolas do tamanho


de melões. Infelizmente para ela ambas as coisas não são
atraentes.

"Estou tão chateada que teve que ir embora mais cedo


a noite passada", ela diz, seguindo para este assunto depois
do que quer seja que ela estivesse falando. "Você parece
muito mais descansado. Talvez possamos tentar de novo esta
noite?"

Ela estende a mão enluvada e coloca-a no meu peito.

Estou tão desinteressado que poderia me alarmar se


não soubesse o motivo. Normalmente, estou pronto para
curtir um pouco, e ser um atleta profissional famoso que se
tornou um instrutor especialista me dá muitas coelhinhas de
neve. Não quero uma coelhinha de neve agora.

A menos que Bellamy decida se tornar uma.

Sorrio para Heather (esse é o nome dela, certo?) e me


movo para tirar a mão do meu peito quando Charlie late e
aparece do nada. Ele late novamente e se empurra entre
Heather e eu, derrubando-a de bunda.

"Charlie!" Chamo quando ele dá um pulo, colocando as


duas patas dianteiras no meu peito. Ele é um cachorro
grande, com quase noventa quilos. Se ele quer estar em
algum lugar, ele entra direto. "Cachorro mau", digo a ele,
apesar de nem estar bravo. Ele lambe meu rosto.

Eu o empurro para baixo e ele abana o rabo como se


estivesse orgulhoso de si mesmo.

Heather está sentada na neve, os olhos arregalados.

"Desculpe por isso", digo, oferecendo um sorriso.


Abaixo-me para ajudá-la, algo que sei que ela está festejando.
Mesmo depois que a coloco de pé, suas mãos se agarram aos
meus braços.
"Esse cachorro é seu?"

Começo a responder, mas uma voz me interrompe.

"Sinto muito", Bellamy diz enquanto se aproxima. "Eu


tentei pará-lo, mas ele estava muito animado para vê-lo."

Sua voz não soa nada arrependida.

Dou risada e lanço um olhar conhecedor em sua


direção. Não encontrando meus olhos, ela ergue o queixo e
encara Heather.

Vendo as duas mulheres juntas agora, me pergunto o


que diabos pensei. Bellamy é muito mais bonita.

"Espero que ele não tenha te machucado. Charlie é


apenas um cachorrinho grande."

"Quem é você?" Ela pergunta, tirando um pouco da


neve de si.

"Sou a babá do cachorro."

Faço um som abafado, e Heather olha para mim


bruscamente. "Você tem uma babá de cachorro?"

Assinto. "Basta olhar para ele." Aponto para Charlie,


que está pulando em torno de um pobre esquiador. "Ele
claramente precisa de supervisão."

Bellamy dá uma risadinha.


Meu estômago se agita um pouco com o som.

Os olhos de Heather se tornam calculistas e os meus se


estreitam. Não tenho ideia do que ela está pensando, mas
conheço esse olhar. Eu o vi muito nos últimos anos. Essa
garota se sente ameaçada por Bell, minha babá de cachorro,
e sei que ela mostrará suas garras.

Cuidado, cadela. Minha fachada encantadora e atlética


vai dar lugar a um malvado Jack Frost7 se olhar atravessado
para ela.

Sem pensar, movo-me, me aproximando de Bellamy,


encostando meu lado contra o dela. É uma mensagem
silenciosa.

Uma que esta garota parece não receber.

"Bem, talvez a babá possa levar o cachorro para passar


a noite para que possamos terminar o que começamos na
noite passada." Ela fala para mim, mas olha Bellamy. Seus
olhos estão frios, seu ar altivo.

Começo a dar um passo à frente, para bloquear


completamente Bells da vista. Esta é uma situação que posso
difundir com um golpe da minha língua gelada.

Bellamy coloca a mão no meu peito, me dizendo


silenciosamente para recuar.

Abro a boca, mas ela se adianta. "E o que exatamente


começou com Liam na noite passada?"

7 Jack Frost é a personificação da geada e do frio, sendo uma figura lendária


élfica pertencente ao folclore do norte da Europa, acredita-se que esse mito seja
proveniente dos anglo-saxões e nórdicos
"Oh, precisa que eu soletre para você?" Heather
estende o lábio inferior num beicinho.

Eu rosno.

"Acho que talvez precise", diz Bellamy, ficando na


minha frente, mas recuando para que suas costas fiquem
contra meu peito. Minha mão dobra em torno do material de
seu casaco, puxando-a um pouco mais firmemente contra
mim. "Porque estou confusa. Ele não poderia ter começado
nada com você na noite passada porque ele passou a noite no
meu quarto."

Acho que não é Heather quem tem garras. E Bellamy


está com ciúmes.

Cheia de ciúmes.

Provavelmente poderia viver disso por anos. Anos.

Os olhos de Heather se arregalam, depois brilham com


raiva. "Como se ele fosse passar a noite com você."

Sinto a leve tensão em seu corpo. Não é visível, mas tê-


la pressionada contra mim torna impossível não notar. A
farpa a machucou.

Isso me irrita.

Movo-me rapidamente ao redor dela, meu corpo


bloqueando-a completamente de vista.

"Na verdade, eu passaria. Eu passaria todas as noites


com ela se ela deixasse. Deixe-me ser muito claro." Falo
baixo, intensamente. "Eu não estou interessado, Heather.
Nem agora. Nem nunca."

Ela ofega como se não pudesse acreditar nas palavras


que acabam de sair da minha boca. Eu me afasto, cruzo os
braços sobre o peito e olho-a fixamente.

"Tanto faz", ela diz e se vira para ir embora.

Sua amiga está assistindo com um olhar confuso no


rosto. Quando ela chega ao seu lado, Heather fala baixo e a
outra garota olha para mim com a expressão de choque.

Eu aceno.

Então ignoro-as completamente. Girando, olho para


Bellamy. "Você é tão ciumenta."

"Não sou", ela retruca.

Dou risada.

Ela bufa. "Estava tentando te ajudar. Aquela garota é


extremamente idiota. Você poderia arranjar alguém melhor."

Eu me aproximo, colocando uma mão na cintura dela.


"Tipo você?"

Ela puxa o fôlego rapidamente. Seu olhar se fixa no


meu, com vulnerabilidade nas profundezas azuis.

Alex escolhe esse momento para aparecer esquiando. E


Charlie salta com um latido. Seria bom se parassem de nos
interromper.
"Quem é esta?" Alex reflete, observando-nos.

Bellamy se vira para ele, arregalando os olhos. "Alex?"

Um sorriso lento se espalha pelo rosto dele. "Em carne


e osso!" Depois ele olha para mim, de volta para Bells, depois
para mim novamente. "Porra, Bellamy ficou mais gostosa."

Eu rosno e o empurro. "Cale-se."

Ele ri. Então se aproxima e a puxa para um abraço.


"Quanto tempo, garota!"

Bellamy ri.

Invejo o jeito fácil que ele apenas a alcança e a abraça.


O jeito fácil como ele a faz rir.

Isso me faz querer dar um soco nele.

"Você parece..." Bellamy reflete depois que ele a coloca


no chão. "Crescido."

"O leite faz bem ao corpo", ele brinca e levanta o bíceps.

"Você não bebe leite." Lembro-o.

"Ela não precisa saber disso", Alex sussurra.

Bellamy dá uma risadinha. "Vejo que continua sendo o


mesmo sabichão."
"Algumas coisas nunca mudam." Alex confirma. "Como
o olhar apaixonado que meu garoto está dando a você."

As bochechas de Bellamy, já rosadas pelo frio, ficam


vermelhas.

Dou a Alex um olhar duro de aviso. Ele pisca para


mim.

"Você tem algo no olho?" Pergunto.

"Você ainda mora aqui?" Bellamy pergunta a Alex.

"Claro", ele responde. "BearPaw é meu lar."

"Você também é instrutor?"

"Sim. Sou tão bom em um par de esquis quanto o


nosso menino é numa prancha."

"Quase." Corrijo.

"Bem, eu nunca fui profissional", ele murmura.

"É realmente ótimo que vocês ainda sejam amigos


depois de todo esse tempo", diz Bellamy, sua voz meio
melancólica. Isso faz meu interior dar um nó.

Pelo que diabos ela passou?

Eu deveria ter ficado mais atento a ela.


"Melhores amigos." Alex me dá um tapinha no ombro.
"Desde que usávamos fraldas."

Bellamy se agacha na frente do cachorro e começa a


acariciá-lo, dizendo que ele é um bom menino.

"Vocês dois querem comer alguma coisa?" Alex


pergunta.

"Tenho outra aula em trinta minutos." Pela primeira


vez em muito tempo, desejo poder faltar.

"Então Bellamy." Alex olha para ela.

Um som rouco sai do meu peito. "Ela vai ficar aqui


comigo."

Um dos outros instrutores está passando, e Alex o


chama. "Ei, Brant! Você se importa de dar a próxima aula do
nosso garoto daqui a trinta minutos?"

Brant olha para sua prancheta. "Posso fazer isso. Mas


não posso nenhuma das suas aulas à tarde. Eu tenho as
minhas."

Assinto. "Posso cuidar dessas."

"Então tudo certo."

"Obrigado, cara. Eu agradeço", digo, apertando sua


mão.

"Não tem problema, Liam. Você já me substituiu


muitas vezes. Finalmente posso retornar o favor."
Depois que ele se afasta, viro para ver Alex se
inclinando para Bellamy. "Tudo o que ele faz é trabalhar. Às
vezes trabalha tanto que faz o trabalho de outras pessoas. O
cara precisa de um hobby."

Os olhos de Bellamy vão para os meus.

Algo quente passa entre nós. Algo que me faz querer


pular o almoço e voltar para o quarto dela.

"Vamos, pombinhos. Estou faminto."

Quando ele está passando, agarro Alex pelo casaco e


puxo ele para perto. "Pare com isso", rosno baixinho.

Ele ri. Quando não rio, seus olhos se estreitam nos


meus. "O que está acontecendo, L?"

"Nada. Ela acabou de passar por muita coisa, ok?


Acalme-se."

"Então, sem comentários sobre a forma como vocês se


olham?"

Solto o casaco e balanço a cabeça. "Definitivamente


não."

Ele ri. "Ela não está muito disposta a continuar de


onde pararam, não é?"

Mostro-lhe o dedo do meio.

Meu amigo arregala os olhos. "Oh, merda. Liam tem


que trabalhar por alguma coisa."
Mostro o dedo novamente.

Será um longo almoço.


CAPÍTULO QUINZE
Bellamy

Esqueci o quanto gostava daqui.

Ao longo dos anos, me convenci de que só olhava para


trás em minhas duas semanas no BearPaw com óculos cor-
de-rosa porque tive um tempo maravilhoso com meu pai.

Disse a mim mesma que estava tão apaixonada por


Liam porque ele foi meu primeiro amor. Hormônios
adolescentes o fizeram irresistível, então quando tudo
aconteceu, pareceu pior.

Comecei a mentir para mim mesma desde jovem. Isso


está provando ser um hábito horrível de quebrar.

A verdade não é fácil de admitir, mesmo para si


mesmo. Especialmente quando a verdade é algo que você não
quer ouvir.

Passar a manhã basicamente brincando na neve com


um grande cão peludo, sob o olhar atento de Liam, me fez
lembrar de todos os tipos de coisas. Sentimentos.

Sentimentos que só achei serem tão fortes porque tinha


dezesseis anos.

Tenho vinte e quatro agora, e a corrida de emoções


girando dentro de mim é esmagadora. Tão intensa como
quando adolescente. Às vezes, quando pego Liam me
olhando, os sentimentos de desejo, atração... a química são
tão fortes que competem com o medo que tenho por minha
vida.

Você sabe que um homem tem uma atração poderosa


sobre você quando você começa a esquecer que alguém está
tentando te matar.

Tornei-me uma menina de contornar um confronto. De


me deixar ser derrotada mesmo quando quero lutar. Desisti
de muito, me afastei de toda minha vida. Vim para BearPaw
me esconder. Como um último esforço para ficar longe dos
meus demônios.

Então, o que faço?

Quase entro numa briga com a primeira garota que


vejo falando com Liam.

Na verdade, ela não falava com ele. Ela poderia muito


bem ter apenas tirado o casaco, camisa e sutiã e ficado lá
com suas mamas agitando no vento do inverno. Isso seria
menos óbvio.

Vadia.

Agi na fronteira da loucura, mas ele ficou lá e me


apoiou.

Oh, os sentimentos que isso causou em mim. Se não


tiver cuidado, me tornarei um oceano e me afogarei em Liam.

Estou ficando muito apegada. Mal foi um dia, mas me


encontro gravitando em direção a ele quando o medo escuro
em mim tenta afundar suas garras. O que mais é? Liam
parece sentir isso. É como se soubesse exatamente quando
preciso de proteção extra. Um pouco de garantia extra.

Oh meu Deus, faz tanto tempo. Tanto, tanto tempo


desde que me senti até mesmo remotamente segura.

Nunca conheci um homem que tornou impossível


respirar, mas ao mesmo tempo é como uma onda de oxigênio
diretamente em meus pulmões.

Ver Alex é outro soco nos rins. Seu relacionamento


descontraído e de longo prazo com Liam é um lembrete de
algo que nunca tive, algo que provavelmente nunca mais
terei.

O almoço é divertido. Sentar na mesa de trás com uma


tigela gigante de sopa de batata e queijo, bem ao lado da
janela com vista para as pistas. Liam desliza no banco ao
meu lado, sua perna pressionando na minha. Não me afasto.
A forma nervosa que ele me faz sentir é viciante. Em vez
disso, apenas finjo que não sinto. Como se sua forte perna
musculosa não fosse impossível de notar.

Não falo muito. Apenas ouço os dois brincarem um


com o outro. Eles são engraçados, e mesmo que insultem um
ao outro mais do que qualquer coisa, posso ver o vínculo que
tem. Eles podem não ser de sangue, mas são família.

Conforme mergulho meu pão na sopa e olho para a


neve, penso na minha família. Minha mãe.

Como falhei com ela.


O medo que Liam de alguma forma tinha conseguido
entorpecer volta. Ele volta tão duramente e tão forte que mal
posso terminar de comer.

"Há algo errado com a sopa?" Liam pergunta, usando o


dedo para girar minha colher para frente e para trás ao longo
da borda da tigela.

"É muito boa." Digo. "Devo ainda estar cheia do café da


manhã."

Ele franze a testa.

"Bem, vou comer se você não vai." Alex alcança minha


tigela sobre a mesa.

Liam afasta suas mãos.

"Desperdiçar comida é um crime." Alex murmura,


puxando sua mão para trás.

Rio e empurro a tigela para ele. "Pegue."

Alex olha para Liam, então cautelosamente alcança


minha sopa.

Depois de Alex e Liam limparem seus pratos (e o meu),


eles deslizam para fora da mesa. Liam estende a mão para
mim. Rendo-me, a respiração no meu peito acelerando
quando seus dedos quentes se fecham ao redor dos meus.

"Eu tenho que voltar. As coelhinhas da neve


provavelmente estão se perguntando para onde minha bela
bunda esquiou."
"Tenho certeza de que todas estão procurando."
Confirmo.

"Bellamy, garota." Ele diz e me puxa para um abraço.


"Bom te ver."

"Obrigada." Digo, me afastando. "Foi bom vê-lo


também." Quero dizer isso. Mesmo quando tinha dezesseis
anos, eu gostava de Alex.

"Você deveria ficar por aqui um tempo. Vou levá-la a


Caribou, te conseguir alguns chocolates."

Chocolates? Olho para Liam.

Ele ri. "Os pais de Alex são donos da loja local de


chocolate."

"Hum." Alex concorda. "Eles com certeza sabem fazer


chocolate." Ele aponta para si mesmo.

Liam geme. "Essa piada é tão velha."

Alex pisca para mim, então levanta a mão enquanto


sai. "Até mais!"

"Ele parece muito mais velho..., mas ainda age como se


ainda tivesse dezessete anos." Divago em voz alta.

Liam gargalha. Sua palma atinge minhas costas.


"Vamos lá. Tenho mais algumas lições esta tarde."

"Acho que vou voltar para meu quarto." Digo, meus pés
parando.
Liam vira totalmente para me encarar. Ele é tão grande
que bloqueia o resto da sala. "O quê?"

"Estou, hum, cansada." Sou vaga. "Vá você, faça seu


trabalho."

Ele cruza os braços sobre o peito. "O que está errado?"

"Você esteve quieta no almoço e mal comeu."

"Disse que ainda estava cheia de toda a comida que


enviou esta manhã, e como é que qualquer um pode ter uma
palavra com você e Alex na mesa?"

Ele resmunga. "Não minta para mim."

"Não estou mentindo." Começo a passar.

Ele me pega pela cintura e me puxa contra seu corpo.


Meus pulmões congelam. Essa coisa de ficar sem respirar em
torno dele está realmente começando a ser um problema.

"Bellamy."

Levanto o queixo, respondendo seu chamado.

"O que está errado?"

Meu corpo afrouxa contra o dele. Não deslizo para o


chão, embora, porque ele está me segurando, me dando força
quando estou praticamente drenada. "Eu só quero ir para
meu quarto."
"Você não pode partir."

Olho para cima. "Acha que vou partir?"

"Acho que vai fugir de mim novamente. Eu não posso


deixá-la."

"Nunca fugi de você. Você fugiu de mim." Minha


garganta está apertada, meus pulmões queimando. Começo a
mover-me contra ele.

"Respire." Ele instrui.

Respiro ofegante. A tensão em meus pulmões vai


embora.

Chocada, pergunto: "Como sabia?"

"Porque tenho dificuldade para respirar em torno de


você, também."

"Por favor. Apenas deixe-me ir para meu quarto."

Liam coloca-me de volta nos meus pés. Uma vez que ele
tem certeza de que estou numa base sólida, ele recua.
"Ótimo. Mas me prometa que estará aqui mais tarde. Prometa
que vai jantar comigo."

"Eu..."

"Prometa." Ele rosna.

"Eu prometo."
Ele pega minha mão e me guia ao longo de seu lado,
através da cabana na direção oposta do elevador indo para
meu quarto. "O que está fazendo?"

"Levando-te para pegar Charlie. Não se importa se ele


ficar com você esta tarde, não é? Ele provavelmente gostará
da companhia."

"É claro." Concordo. "Eu gosto de Charlie."

"Ele gosta de você."

Uma vez que Charlie está aos meus cuidados, Liam


caminha conosco até o elevador e faz com que entremos. Ele
se ergue na abertura. As portas nem sequer se movem, como
se soubessem que não devem fechar antes que ele esteja
pronto.

"Cuide da minha garota, Charlie." Ele diz ao cão.

"Eu não..."

Liam se inclina e beija minha testa, me fazendo


esquecer o que falava. "Estarei pronto para te levar para
jantar, Bells. Se precisar de mim, chame a recepção. Eles
sabem como me encontrar."

Assinto, entorpecida.

No segundo que ele se afasta, as portas fecham e o


elevador sobe. Acaricio Charlie na cabeça e solto um suspiro
trêmulo.
No meu quarto, enrolo-me na cama com Charlie (que
definitivamente é uma fábrica de baba) e olho pela janela,
observando as rajadas de neve ao redor do vento.

Não posso parar de pensar em minha mãe. Se o que fiz


de alguma forma fez dela um alvo e se ela é tão fácil de
encontrar como eu.

No momento em que o céu começa a escurecer, entro


num belo pânico. Não posso apenas sentar aqui. Não posso
me esconder ou até mesmo pensar na minha própria
segurança se a dela está em jogo.

Quando Liam bate na porta um pouco mais tarde, nem


sequer hesito em abri-la e puxá-lo para dentro.

"Bells?" Ele pergunta, procurando meus olhos. "O que


é?"

"Há algo que preciso que faça para mim."


CAPÍTULO DEZESSEIS
Liam

"Considere feito." Respondo sem um segundo de


hesitação.

As sobrancelhas de Bellamy arqueiam. "Bem assim?"

Acariciando as costas dos dedos sobre sua bochecha,


sussurro: "Bem assim."

"E se eu quisesse que matasse alguém?"

"Então ele provavelmente merece ser morto."

Seus olhos quase caem da cabeça, e não posso parar a


risada que vibra em minha garganta.

"Você não pode estar falando sério."

Abaixo, nivelando nossos olhares. "Olhe para mim.


Pareço sério?" Meu olhar é firme, quase sem remorso.

Ela arfa. "Não admira que não posso respirar quando


estou perto de você. Você é louco."

Sinto meus olhos escurecerem. A única parte de mim


que se move é meu braço, envolvendo sua cintura e puxando-
a para minha frente. "Você me deixa louco."

"Liam."
Endireitando-me, trago seu corpo para o meu. Usando
minha mão livre, esfrego o polegar ao longo de seu lábio
inferior. Está vermelho como se ela o estivesse mordendo
mais cedo.

"Qual o problema, querida?"

"Não posso te dizer." Ela sussurra.

"Você já pensou?"

"Pensei no quê?" Suas palavras são sem fôlego. Tudo


sob minha pele vibra.

"Pensou se os nossos beijos agora seriam tão elétricos


como eram há oito anos?"

"Não."

Pisco. "Não?"

Sua garganta trabalha. Ela está tão perto que


realmente a ouço engolir. "Sei que eles seriam. Posso sentir."

Gemendo, abaixo minha cabeça, mantendo minha boca


a apenas alguns centímetros da dela. Quando falo, deixo
meus lábios roçarem contra os dela. "Você vai deixar?"

Sua voz treme. "Nós não devemos."

"Você vai deixar?"


Um tremor sacode seu corpo. Puxo-a ainda mais perto.
"Sim."

Um ligeiro movimento nos une. É a maior corrida que


já fiz. Maior que descer uma montanha, maior do que dar um
salto que disseram ser impossível. É ainda maior do que a vez
que subi tanto no ar que parecia estar voando.

Nada comparado à forma como os lábios de Bellamy


são contra os meus.

Nada.

O som mais suave que já ouvi enche meus sentidos.


Meus braços a envolvem e levantam. Os braços de Bellamy
enrolam ao redor do meu pescoço. A touca que tinha no
cabelo de repente desaparece, e seus dedos enterram-se nele.

Um braço está sob a bunda dela, apoiando-a, e suas


pernas prendem ao redor da minha cintura.

Movo-me, prendendo-a entre a porta e meu corpo


enquanto minha língua lambe sua boca e desliza em torno
como se a possuísse.

Ela está quente e molhada. Os pequenos sons que faz


vibram em minha boca, e os engulo como se nunca tivesse
comido na vida.

Suas mãos puxam meu couro cabeludo enquanto fodo


sua boca com minha língua, e pequenos arrepios correm no
meu pescoço e coluna vertebral, porque, Cristo fodido, suas
mãos são pura magia do caralho.
Sem levantar minha boca, viro a cabeça para o outro
lado, beijando-a com paixão implacável, estimulado pela
química inegável que chicoteia através do quarto como uma
tempestade com relâmpagos.

Pressiono-a tão forte que sinto seus mamilos ficarem


duros contra meu peito. Meu pau lateja. É tão forte que
quase doí. Mas é uma dor com a qual viveria o resto da vida
desde que ela mantenha a boca na minha.

Minha palma esfrega toda sua bunda. Bellamy puxa


meu lábio superior em sua boca e o chupa. Gemo, e ela solta,
lambendo o local.

Murmuro algo completamente incoerente, e ela


responde com palavras igualmente ininteligíveis. Continuo a
beijá-la, passando minhas mãos por ela e deixando a doce
tortura de seu corpo me trazer à beira da loucura.

Quando finalmente forço minha boca para longe, é


tudo o que consigo. Eu a mantenho presa entre a porta e eu,
peito arfando, lábios formigando. Minha testa abaixa na dela
enquanto suas mãos lentamente deixam meu couro cabeludo
e arrastam para baixo na minha nuca.

"Há mais." Ela sussurra, sua voz tão rouca que teria
me assustado se não estivesse tão entorpecido. Porra, é quase
como se eu tivesse acabado de foder, mas nossas roupas nem
sequer saíram.

"O quê?" Sussurro, inclinando-me para beijar seu


ombro.

"Há ainda mais química agora."


Gemo e dou risada ao mesmo tempo. "Jesus. Você está
certa."

"Coloque-me no chão agora, Liam."

Um som estrangulado sai de mim. "Você não pode dizer


meu nome assim e esperar que eu te coloque no chão."

Seu peito arfa um pouco mais, e volto para seus lábios.


Desta vez a beijo mais suave, mas o resultado ainda é o
mesmo.

Até o momento que a deixo deslizar para baixo, estou


muito perto de tremer de necessidade. Tenho que sair deste
quarto e para longe da grande cama que apenas implora para
eu deitá-la sobre ela.

Depois de alguns momentos tentando me recompor,


viro para ela e quase enlouqueço de novo. Seu cabelo está
despenteado. Seus lábios estão inchados, e o olhar vidrado
em seus olhos azuis é do que os sonhos molhados são feitos.

Ela precisa de você agora, Mattison. Recomponha-se.

Limpando a garganta, digo: "Que tal me deixar levá-la


para jantar? Pode me contar tudo sobre o que você precisa, e
então vou fazê-lo."

"Ainda mais agora." Ela repete.

"Oh, bebê." Esfrego a palma da mão para baixo no


comprimento de seu cabelo. "Ainda mais agora."
CAPÍTULO DEZESSETE
Bellamy

Digo sim quando deveria ter dito não.

Ele me beija sem sentido... E quando o mundo volta


lentamente em foco, eu sei.

Sei que não são mais oito anos que Liam está
esculpindo meu coração.

É uma vida.
CAPÍTULO DEZOITO
Liam

"Não estou tão certa sobre isso." Bellamy se preocupa,


de pé debaixo do toldo de madeira iluminado na entrada da
loja.

Viro para ficar em pé na frente dela, usando meu corpo


como uma barreira para o vento forte da noite. As noites de
inverno aqui em Caribou não são para os fracos de coração.
Bellamy é uma garota da Califórnia, então este tipo de vento
tem que ser esmagador.

"Não quer ir para a cidade?" Pergunto conforme dou


uma olhada para seus lábios.

Quero beijá-la novamente.

Quero beijá-la milhares de vezes.

"Não é isso." Ela é vaga, seus olhos encontrando os


meus.

"Você está com medo." Murmuro, dando um passo


mais perto.

Ela assente uma vez.

"O restaurante é um lugar pequeno e local. Já está


escuro lá fora e estou dirigindo, então sem táxis estranhos ou
ônibus."
"Como sabe que vim aqui num ônibus?" Ela pergunta,
de repente desconfiada. Seus olhos arregalados olham ao
redor, incertos.

"Hum, eu não sabia. Mas sei agora." Ela veio aqui de


ônibus? Sozinha?

Que porra...?

Ela solta um suspiro. "Sinto muito. Estou nervosa."

Inclino a cabeça. "Podemos voltar para seu quarto.


Pedirei serviço de quarto."

Quase posso ouvir o debate acontecendo dentro de sua


mente. Uma rajada de vento entra, e as extremidades de seu
cabelo sopram para o lado, cobrindo parte do rosto. Movo-me
novamente, então estou na frente da nova direção do vento.

Bellamy afasta o cabelo do rosto. "O restaurante é


pequeno?"

"Muito. E eles têm tacos."

"Podemos voltar aqui depois?"

"É claro."

"Ok. Eu quero ir."

O som da minha caminhonete é nítido enquanto o


manobrista para debaixo do toldo. Deslizando o braço em
volta da cintura de Bellamy, digo: "Vamos lá."
O manobrista dá a volta com um sorriso. "Foi um
prazer, Liam."

Sorrio. "Obrigado."

O olhar de Bellamy pousa na minha caminhonete, e


seus passos vacilam. "Essa é sua caminhonete?"

"Nunca viu nada assim, não é?" O manobrista


interrompe.

"Não acho que vi." Bellamy responde, ainda a olhando.

"É apenas um Chevy." Digo e a incito para frente.

O manobrista ri. "E você é apenas um instrutor de


esqui."

"Eu sou!" Grito por cima do ombro.

Mais risos soam do posto do manobrista. Abro a porta


do passageiro e recuo.

Bellamy olha entre a caminhonete e eu.

"Que tal uma ajuda?" Sei que o sorriso no meu rosto é


de lobo.

"Talvez só desta vez."

"Pé aqui." Digo, apontando para minhas mãos. Ela dá


um passo para cima, e a levanto, depositando-a sobre o
assento de couro laranja e preto.
"Acho que ter grandes pneus assim faz com que seja
fácil conduzir na neve." Ela diz, olhando-me.

"Claro que sim." Inclino-me ao redor dela, pego o cinto


de segurança, e o prendo. "Volto logo."

Caminhando para o lado do motorista, salto e ajusto o


ar apontado para a direção dela. Então ligo os assentos
aquecidos.

"Por que eles estão olhando?" Bellamy pergunta,


olhando através da janela escura para os manobristas.

Dou uma risada. "É a caminhonete, querida. Os caras


sempre tiram pedra, papel, tesoura para decidir quem vai
trazê-la."

"Acho que não é apenas um Chevy, é?" Ela pergunta.

Rio e saio do meio-fio. Meus olhos passam pelo interior


de couro personalizado. A maior parte é preto, mas os
assentos são personalizados em laranja brilhante, assim
como o painel e o volante. O monitor embutido no painel é
touchscreen e artisticamente trabalhado.

"É um Chevy Colorado Extreme. Basicamente, um


modelo Chevrolet Colorado com uma tonelada de peças
especiais e acessórios para torná-lo adequado para uso em
ambientes externos. Perfeito para um atleta extremo como
eu." Faço uma pausa para dar-lhe uma piscadela. Ela revira
os olhos. "Tecnicamente, esta caminhonete não está em
produção, então não está disponível para compra. Foi criada
pela Chevy como uma caminhonete de apresentação. Chevy
atende muito o mercado tailandês, e esta foi construída para
isso."
"Mas não estamos na Tailândia."

"Não. Mas eu estive uma vez. A Chevrolet foi uma das


minhas principais patrocinadoras quando ainda era um
atleta profissional. Eu costumava viajar muito para eles. Fiz
uma campanha publicitária alguns anos atrás e visitei a
Tailândia com eles. Vi essa beleza durante essa vez e
comentei o quanto a amei."

"E eles deram para você." Ela supõe.

"Foi considerado um presente do país."

Ela faz um som sufocado. "O país da Tailândia te


enviou um presente?"

"Eles gostam de mim."

Ela ri e balança a cabeça. "Tem que estar inventando


isso."

Dou de ombros. "Não. É por isso que todos os caras no


resort têm uma ereção para dirigi-la. Porque é como dirigir
algo que nem sequer existe."

"Bem, é uma linda caminhonete."

Bufo. "Não é linda. É extrema."

"Bem, gosto que seja laranja."

Dou uma risada.


"Embora penso que estamos tentando nos misturar
hoje à noite. Você sabe, não chamar a atenção. Esta
caminhonete é um ímã de olhos."

"Nada. Todo mundo está acostumado a vê-la por aqui.


Eles sabem que é minha."

Bellamy vira e olha pela janela. Está escuro, mas assim


que descemos a montanha onde BearPaw está localizado, as
ruas estão iluminadas pelas luzes das lojas e pelas lâmpadas
penduradas nos fios presos às árvores alinhadas pela
estrada.

Estaciono atrás do restaurante e desligo as luzes e o


motor.

"Fique aí." Instruo, então posso descer e ajudá-la a


sair. O estacionamento está ligeiramente congelado da neve
que caiu dias atrás. Ela derrete durante o dia, mas volta a
congelar quando o sol se põe. "Cuidado." Digo a ela, me
certificando que seus pés estão firmemente no chão antes de
soltá-la para fechar a porta.

Caminhamos até a frente do pequeno lugar que tem


um toldo de tecido multicolorido sobre a porta. Na parte
inferior há alguns cordões de luzes que iluminam a porta
vermelha.

"Não como mexicano faz um tempo." Ela murmura


conforme abro a porta.

"Liam!" Uma mulher redonda com cabelo escuro e


lábios vermelhos exclama e corre ao redor de um estrado de
madeira.
"Rosa." Abro os braços e sorrio. Ela avança, e a pego
num abraço. "Está linda como sempre."

"Oh, você." Ela diz, me acertando no peito. Seus olhos


deslizam para Bellamy. "Esse aqui é um galanteador."

"Sim, certamente é." Ela concorda.

Então, por que isso não soa como uma coisa boa
quando ela diz?

"Mesa para dois?" Ela pergunta, colocando um


cardápio debaixo do braço.

"Alguma na parte de trás?" Pergunto, esperançoso.

"Ah sim. Privado." Rosa nos leva a uma mesa de canto


na parte de trás do local. O tampo da mesa ainda está úmido
da limpeza. Tomo o lugar que dá para a sala, deixando o
outro para Bellamy, onde ela ficará escondida da vista.

Nem sei do que eu a estou protegendo, mas não


importa. Parece a coisa mais importante que já fiz.

"Não acho que vi você em Caribou antes." Rosa diz para


Bellamy após me entregar o cardápio.

"Hum." Bellamy responde, sem saber o que falar.

"Ela é uma convidada no resort. Pensei em mostrar-lhe


a cidade enquanto está aqui."

"Ah sim. Muito bom. Bem, aproveitem o jantar."


Quando ela sai, Bellamy cai contra o encosto alto da
cadeira de madeira. "Você vem aqui com frequência?"

"Eles fazem bons tacos."

"Você não é apenas um instrutor de esqui, Liam." Ela


se inclina para frente, os olhos estudando meu rosto. "Você é
uma celebridade por aqui."

Dou de ombros. "Minha família sempre foi famosa em


Caribou. Sabe disso."

"Sim." Ela diz, um tom sombrio na voz.

"Por que diz isso assim?"

"Não importa." Ela puxa o cardápio das minhas mãos e


o folheia.

Agarro o topo e o empurro para baixo com um dedo


então posso olhar para seu rosto. "Isto importa."

"Liam!" O garçom se aproxima. "Bom te ver. O mesmo


de sempre?"

"Você sabe." Digo, sentando. "Mas vou querer uma


Coca-Cola para beber. Sem cerveja esta noite."

O garçom assente e vira para Bells. "E para você,


senhorita?"

"O mesmo que Liam."


"Muito bom." Ele pega o cardápio e vai fazer o pedido.

Bato na mesa à frente dela. "Bells, precisamos ter uma


conversa."

"Estamos conversando."

"Uma conversa séria."

A cor parece drenar de seu rosto. "Sei que quer saber o


que está acontecendo comigo."

"Sim." Digo. "Eu com maldita certeza, quero. Mas não


estou falando disso."

Ela pisca. "Não está?"

"Não. Estou mais interessado em saber o que


aconteceu entre nós há oito anos."

Ela faz uma careta. Seus olhos fecham. "Tenho certeza


que estava lá, Liam. Ou não lembra? Fui apenas mais uma
para você usar?"

Raiva retumba em mim como um trovão durante uma


tempestade. "Você nunca foi."

"Tenho certeza que quando você dorme com alguém,


diz a ela que acha que a ama, e depois desaparece, é
exatamente o que significa."

Faço uma careta. É realmente o que ela pensa? "Eu


não desapareci." Voltando a pensar naquela manhã, digo:
"Você nunca apareceu."
Ela sussurra: "Oh, eu estava lá."

Uma onda de memórias e emoções me encontram de


uma vez. De repente, sou transportado de volta no tempo
para aquela manhã, há oito anos. Para a última vez que vi
Bellamy.

O sol ainda não tinha começado a subir quando olhei


meu relógio. Pela primeira vez em toda a vida, realmente senti
que havia mais na vida do que uma montanha cheia de neve.

Apenas o pensamento já foi chocante. Sentir isso quase


me entorpeceu.

Girando a cabeça para o lado, olhei a loira embaixo das


cobertas comigo. Dormimos com a lareira acesa toda a noite. O
brilho quente no quarto deu aos seus cachos loiros escuros um
brilho dourado. Seus cílios claros tocavam as bochechas,
fazendo-a parecer inocente e incrivelmente linda.

Eu não queria ir.

Eu não importava, entretanto. Eu não tinha escolha.


Trabalhei quase toda a vida para isso. Meus pais trabalharam
para isso. Chegar aqui não foi fácil, e, finalmente, finalmente,
tinha o contrato na minha mão e a promessa de uma carreira
que sabia que poderia me tornar uma estrela.

A semana passada me mudou. Eu sabia. Eu senti. Era


praticamente inexplicável, e sabia que ninguém acreditaria em
mim se eu tentasse explicar.

Todos diriam que era muito jovem para me sentir assim.


Que estava pensando com meu pau e não com a cabeça.
Desistir de anos de trabalho por uma menina que nem sequer
vivia aqui seria estúpido e irresponsável.

Poderia até concordar.

Mas eu a amava.

Não importava que só passei uma semana com ela. Não


importava que nem mesmo tinha dezoito anos ainda. Pessoas
me trataram como um adulto por metade da vida. Realmente
não era tão surpreendente que eu agisse como um.

Ela se mexeu, a cabeça pendeu para mim, e um de seus


olhos se abriu o suficiente para ver que eu estava olhando-a.
Ela sorriu suavemente, e seu corpo rolou, seguindo seu olhar.

"Que horas são?" Ela sussurrou.

"Não é hora de levantar ainda, mas em breve."

Sua mão se moveu sob a colcha, encontrou a minha, e


entrelacei nossos dedos.

"Eu gostaria de não ter que ir."

Olhos azuis encontram os meus. Seu peso me fez sentir


um pouco mais estável. Um pouco mais seguro. "Queria que
não tivesse também."

"Vamos fazer isso funcionar, ok?"

"Você promete?" Ela perguntou.


Avancei e a beijei intimamente, rolando-a de costas e
empurrando-a para baixo com meu peso. Sua pele estava nua
contra a minha e quente do sono. Incapaz de parar em seus
lábios, beijei ao longo de sua mandíbula e pelo pescoço,
sugando a pele conforme desci.

Levantando a cabeça, olhei-a nos olhos. "Eu te amo,


Bells."

Sua respiração ficou presa.

"Eu sei que é loucura. Mas é assim que você me faz


sentir. Meio louco. Mas eu te amo. Nunca me senti assim."

Lágrimas brilhavam nos olhos dela, e ela segurou meu


rosto e sorriu. "Eu também te amo, Liam."

Não muito tempo depois, ela teve que se esgueirar de


volta para seu quarto e eu tinha que ficar pronto.

Eu sabia que o carro estava esperando lá embaixo e não


tinha tempo, mas encontrei meu pai de qualquer maneira.

"Eu não posso ir." Disse.

"O quê?" Ele disse com os olhos arregalados.

"Sei que é loucura, pai, e sinto muito. Mas não posso ir


hoje."

"Filho." Ele se levantou da mesa. "Sei que está nervoso, e


é assustador que vai ficar longe de mim e sua mãe..."
"Não é isso." Interrompi. "Estou apaixonado. Não posso
deixá-la para trás."

Ele ofega. "A menina com quem esteve na última


semana?"

Assenti. "O nome dela é Bellamy. Estou apaixonado por


ela."

Meu pai riu. "Tenho certeza de que se sente assim agora,


filho. Mas..."

"Não se atreva a me dizer que sou muito jovem. Ou que


meus hormônios estão fora de controle." Rosnei.

Sua testa franziu, e quando ele olhou para cima,


preocupação brilhou em seus olhos. "Não acho que seja muito
jovem. Eu não era muito mais velho do que você quando
conheci sua mãe. Nós éramos jovens e loucos. Apenas nós dois
construindo um resort do nada."

"Então você entende." Disse, a tensão dentro de mim


começando a sumir. Comecei a sentir um pouco de paz.

"Sim." Ele estendeu a mão e a colocou no meu ombro.


"Também entendo que assinou um contrato, Liam. Você é um
atleta profissional agora. As pessoas estão contando com você.
Eles estão colocando sua fé e recursos em você. Ser um homem
é honrar seus compromissos."

Meus ombros caíram.

"Tenho certeza que essa menina..."


"O nome dela é Bellamy."

"Bellamy é muito especial. E se assim for, então este não


é o fim. Ela estará lá, apoiando-te assim como o resto de nós."

"Não vou conseguir vê-la."

"Não frequentemente. Mas se estão realmente


destinados a ser, vão encontrar uma maneira de fazer isso
funcionar."

Senti como se meu coração estivesse pendurado por fios,


mas esta conversa cortou todos eles. Já não era um homem
com um coração.

Eu tinha dois.

Um que batia por Bellamy e um que batia pelo


snowboard.

"Vá encontrá-la. Diga adeus."

"Ela vai me encontrar lá embaixo no carro."

"Bom." Papai assentiu. "Diga a ela que vai ligar. Você vai
enviar e-mail."

Assenti.

"Agora é a hora de seguir seus sonhos, Liam. Se não o


fizer, vai se arrepender pelo resto da vida."

Eu sabia que ele estava certo. É claro que ele estava.


Nós dissemos adeus em seu escritório. Não foi difícil
porque eu sabia que ele e minha mãe estariam em minha
primeira competição.

Desci as escadas e esperei. Nervosismo crescendo em


mim. Assim como determinação. Eu não escolheria hoje. Não
entre meus dois corações.

Eu teria ambos. Faria isso funcionar.

"Liam!" A voz feminina gritou.

Sai do carro e girei, um sorriso morrendo em meus


lábios. Não era Bellamy, correndo em minha direção. Era
Kelsey.

Não parecia importar quantas vezes disse que eu não


estava afim. Era como se ela tivesse audição seletiva. Ela
pensou, por ser popular e bonita e nós crescermos juntos, que
ela tinha algum tipo de direito sobre mim.

"Ei, Kelsey." Disse, me afastando.

"Eu vim te desejar boa sorte!" Ela exclamou.

Antes que soubesse o que aquilo significava, ela se jogou


em mim. Envolveu os braços ao redor do meu pescoço e me
beijou. Fiquei tão chocado que lhe dei a chance de enfiar a
língua na minha boca.

No segundo que percebi o que diabos ela fazia, a


empurrei, segurando-a longe. "Que diabos?" Cuspi e limpei a
boca com as costas da mão.
"Vejo-te quando estiver em casa." Ela disse, e então
saltou para longe como se estivesse orgulhosa de si mesma.

Voltei à espera.

Esperei um pouco mais.

Esperei até meu gerente sair do carro e me dizer que eu


tinha que ir.

Ela nunca veio.

Bellamy nunca veio dizer adeus. Durante anos e anos,


imaginei o porquê.

O som de duas cocas batendo na mesa do pequeno


restaurante mexicano me traz de volta à realidade.

Engulo em seco e olho para cima.

Bellamy está me observando com uma expressão


engraçada no rosto.

"Você viu." Ofego. "Naquela manhã, você viu."

Ela não parece confusa, quase como se também


estivesse sentada lá revivendo naquela manhã.

Lentamente, Bellamy assente. "Sim, Liam. Eu vi."


CAPÍTULO DEZENOVE
Bellamy

Ele geme. Um baixo som que realmente parece


doloroso.

"Liam?" preocupo-me, alcançando o outro lado da


mesa, incapaz de ficar sentada. Compelida a consolá-lo.

Ele vê minhas mãos deslizarem para perto, volta seu


olhar tempestuoso para o meu, e se move. O suporte alto de
madeira da cabine treme sob a pressão do seu movimento.
Num movimento suave, ele desliza para o banco ao meu lado,
seu corpo empurrando o meu para o lado.

"O que está fazendo?" Ofego.

Mesmo quando falamos sobre como ele magoou meu


coração, ainda não consigo respirar quando ele me toca.

Seu torso gira para mim. As mãos largas sobem,


segurando meu rosto firmemente para que não possa olhar
para qualquer lugar além dele. "Eu não a beijei."

"Eu vi." Tento me afastar.

"Ela se atirou em mim, e eu a empurrei. Não queria


Kelsey. Não queria ninguém além de você."

Sua admissão me atinge. "Não brinque comigo." Aviso,


a voz trêmula.
"Juro por Deus, porra, Bellamy. Pode perguntar ao
meu pai. Fui ao escritório dele pouco antes para dizer que
não poderia ir. Disse a ele que te amava e que tinha que
ficar."

Minha boca abre, mas nenhum som sai. Nenhum ar


entra. Se suas mãos não estivessem me prendendo no lugar,
eu teria caído para trás.

"Respire." Ele murmura, lembrando-me.

Capturo um pouco de ar.

Seus olhos suavizam. As nuvens de tempestade


diminuem, deixando para trás um cinza genuíno. Liam baixa
a cabeça e pressiona um beijo suave e rápido no canto dos
meus lábios.

"Esperei naquela manhã. Esperei tempo pra caralho.


Meu empresário ficou furioso. Empurrei Kelsey e voltei a
esperar... e você nunca veio."

"Você a beijou."

"Não." Ele balança a cabeça. "Ela me beijou."

Começo a negar. Não posso acreditar no que estou


ouvindo. Saber algo tão absolutamente por oito anos, algo
que me mudou para sempre, e depois descobrir que
absolutamente não é tão concreto como pensei...

Se eu só tivesse dito algo. Se apenas…


"Eu ia te assegurar que faria isso funcionar. Eu
juraria."

Ofego.

Seus olhos se fixam no meus, seu olhar tão aberto e


sincero.

"Pensei que mentiu para mim." Sussurro. "Pensei que


disse o que eu queria ouvir para conseguir o que queria."

"Não, baby. Eu não faria isso."

"Ouvi os rumores sobre você. Onde quer que fosse, o


pessoal falava. Fofocas. Vi aquela menina ao redor. Eu a vi
pendurada em você. Eu..."

"Tentei ligar depois que voltou para a Califórnia."

"Eu não atendi."

"Eu sei."

"Você desistiu." Sussurro, pesarosa.

"Eu desisti."

De repente, ele solta meu rosto e me puxa para seu


peito. Encaixo-me perfeitamente. Seu corpo encaixa ao redor
do meu como uma luva. Estremeço quando sou golpeada com
emoções e sentimentos.
"Eu nunca deveria ter desistido." Ele geme em meu
ouvido.

Agarrando a frente de sua camiseta, enterro o rosto


nela. Liam me afasta, e tento me enrolar de volta nele.

"Bells."

Levanto o queixo.

"Nunca parei de te amar. Nunca. Mesmo quando


tentei."

"Nem eu." Murmuro, esfregando o lugar acima do meu


coração.

Liam espalma meu queixo com uma mão e o levanta,


tomando meus lábios num único movimento.

Se não tivesse acreditado em suas palavras, o beijo não


poderia mentir. É o tipo que te deixa nu, do tipo que sussurra
diretamente em seu coração. Seus braços me seguram tão
perto que é como se fôssemos um só corpo. Seu aroma de
neve fresca sobe e me envolve, me fazendo sentir reivindicada
e protegida de uma só vez.

É um beijo completamente inadequado para um


restaurante.

Para qualquer lugar com mais do que nós dois. Eu o


beijo de volta da mesma forma, não dando a mínima para
onde estou ou quem pode ver.
Quase morri mais de uma vez na vida, e tinha certeza
de que nunca voltaria a vê-lo. Pensei que nunca me sentiria
dessa maneira.

Mas aqui está ele. Nos meus braços. Rastejando sob


minha pele. Possuindo cada batida do meu coração.

O som de alguém pigarreando invade a neblina.

Ele soa novamente.

Liam levanta a cabeça, olhando por cima do ombro.

Quando seu corpo fica tenso, o meu o imita. Minhas


mãos curvam em sua camisa. Ele se move então está me
bloqueando completamente de quem está lá.

"Seus tacos estão prontos." O garçom diz, com a voz


um pouco incrédula, mas também meio que admirado.

Não posso evitar. Eu dou risada.

Os ombros largos de Liam balançam sob sua risada


silenciosa.

"Deixe-os aqui, amigo. Acabei de ganhar um maldito


apetite."

Suspiro.

Meu Deus! Isso é terrivelmente embaraçoso!


O garçom ri. "Acho que é uma coisa boa ter uma cabine
privada."

Liam limpa a garganta. "Sim. Desculpe por isso, cara.


Não quis desrespeitar. Eu só, ah, fui pego no momento."

"Às vezes a paixão não pode esperar." Ele responde


graciosamente. Uma vez que temos tudo o que precisamos
para os tacos, ele some na parte de trás.

Caio contra o lado de Liam. "Volte para seu lugar!"


Silvo, empurrando-o.

Ele nem sequer se move. Nenhum centímetro.

"De jeito nenhum. Vou ficar aqui." Como se para provar


seu ponto, ele joga ambas as longas pernas debaixo da mesa
e usa seu antigo assento como um apoio para os pés. Então
ele estende um braço sobre meus ombros. "Coma, Bells.
Estes tacos são maravilhosos."

Ele começa a empurrar meio taco na boca e geme.

Meu estômago ainda está revirando. Minhas mãos


ainda tremem e minha mente ainda em choque sobre o que
ele disse.

"Vai ficar tudo bem agora, Bells." Liam me diz, ficando


um pouco mais firme contra mim. "Agora que sei o que
aconteceu, posso corrigir."
"Não é tão fácil." Murmuro, olhando a comida. Parece
incrivelmente bom. O pico de gallo 8 parece caseiro.

Ele faz uma pausa na mastigação e me encara. "O


inferno que não é." Ele anuncia. "Não vou cometer o mesmo
erro duas vezes."

Meu coração acelera, meio como as asas de um beija-


flor. Rápido. Furiosamente.

"As coisas são diferentes agora." Digo, colocando a


cabeça em seu ombro. "Eu sou diferente."

"Você ainda parece perfeita para mim."

Suspiro.

Ele toma um gole de sua bebida, em seguida, fala. "Sei


que está falando sobre o que te fez fugir para cá. E não dou a
mínima para isso também."

"Pessoas querem me ver morta, Liam." Digo baixinho.


Tão baixo que eu espero que ele não possa ouvir.

Ele ouve.

O taco na mão dele cai sobre o prato. Ele se inclina


para olhar para baixo, ainda me mantendo debaixo de seu
braço. "Ver morta?"

Assinto, não querendo dizer as palavras duas vezes.


"Não é seguro para você ficar perto de mim."

8
Molho mexicano parecido com vinagrete servido com uma grande variedade de pratos, muitas vezes acompanhado de
guacamole e nata azeda.
"Vivi os últimos oito anos da minha vida sem você. Não
pude seguir em frente, não importa o que tentei. Fiquei
miserável para caralho, Bells. Não farei isso de novo. Nunca
mais."

"Você pode não ter escolha."

Ele ri. Não é um som amigável, quente. É frio. Frio


como a neve em que ele mora. Talvez ainda mais frio. "Nada
nem ninguém vai tirar você de mim novamente."

Não digo nada. Quer dizer, o que posso dizer sobre


isso? Estou dividida entre derramar tudo e não dizer nada
para tentar protegê-lo.

A primeira regra de proteção a testemunhas é não dizer


nada.

Liam já sabe demais.

"Coma seu taco, querida." Ele diz, voltando a comer.


"Pode me dizer cada sabor que sentir."

Não acho que serei capaz de comer.

Mas como.

Como quase todo o prato e, em seguida, Liam termina o


resto. Ele não estava brincando. São os melhores tacos que já
comi alguma vez.

Sei que Liam acha que podemos apenas seguir de onde


paramos. Mas não podemos. É impossível.
E quando ele finalmente perceber isso, nós dois
acabaremos de coração partido novamente.
CAPÍTULO VINTE
Liam

"Peça."

"O quê?"

"Já que praticamente controlei a conversa no jantar,


você não teve a chance de me dizer o que precisa que eu
faça."

Bellamy parece uma pequena coelhinha da neve sexy


sentada na minha caminhonete. Os assentos de couro preto a
cercam, um casaco preto envolve seu corpo, e as malditas
botas com a pele saindo do topo parecem uma provocação a
algo que eu realmente, realmente quero. Oito anos atrás, seu
cabelo era longo. O tipo de comprimento que poderia
emaranhar minhas mãos e puxá-la para perto. O tipo que
caia sobre meu peito quando ela se deitava sobre mim.

É ainda mais longo agora. Os mesmos fios cor de mel


que às vezes viram ouro sob certa luz. Eu amo. Quero-os em
torno dos meus dedos uma e outra vez.

Sua pele ainda é macia e suave, e os olhos azuis podem


assombrar os sonhos de um homem.

"Realmente não acho que este é o lugar para falar sobre


isso." Ela responde.

Oh, isso é certo. Teremos essa conversa. Às vezes as


palavras me falham quando olho para ela.
Eu alcanço a cabine, espalmo sua cintura, e a levanto
para fora. No segundo que seus pés tocam o chão, pego sua
mão, empurrando meus dedos entre os dela. O manobrista
aparece instantaneamente, sorrindo de orelha a orelha.

"Eu ganhei." Ele anuncia, erguendo a mão para


mostrar que jogou pedra no mais recente jogo de pedra, papel
e tesoura.

Eu dou risada e estendo as chaves. "Seja cuidadoso


com ela, ok?"

"É claro, Liam." Ele responde. "Como sempre. Ela será


estacionada em seu lugar."

"Obrigado."

Bellamy olha para mim por debaixo dos cílios loiros.


"Não há muitas pessoas ao redor te chamando de Sr.
Mattison."

Bufo. "Esse é o meu pai. Não eu."

"Todos te amam."

Bufo novamente.

"Você está realmente assumindo o resort?"

Pauso e lanço um olhar para ela. "Supostamente."

"Mas não é isso o que você quer?"


Gemo. "Estamos falando de algo que você quer." Eu a
lembro.

A recepção está bastante tranquila, algo que é


surpreendente porque é um dos pontos de encontro mais
populares no resort. Mas então lembro que há algum tipo de
show num dos outros edifícios. Estou meio que contente pela
paz.

Puxando a mão de Bells, caminho para a mesa com


chocolate quente e cookies para nos servir uma xícara. Uma
vez que termino, entrego a dela, e ela sorri.

Eu a vejo levá-la em direção aos lábios, em seguida,


franzo a testa, ao tirá-la rapidamente de volta de suas mãos.

"Ei!" Ela diz, surpresa.

Tomo um gole e faço uma careta. Então devolvo.


"Segure isso."

"Claro. Deixe-me segurar a bebida que você fez para


mim para você." Ela murmura.

Dou risada. "Gosto de sua insolência, mulher." Tirando


a tampa de uma lata de chantilly, encho o topo de sua xícara
com ele e, em seguida, enfio um dos canudos vermelhos
superfinos. Eles foram feitos para mexer, mas todo mundo
que conheço os usa para beber.

"Espere até que derreta um pouco. Então não deve te


queimar." Volto para minha própria xícara e acrescento
chantilly.
Sinto seu olhar, então viro e arqueio uma sobrancelha.
"Sim?"

"Você testou minha bebida para ver se estava muito


quente?"

"Você se queimou da última vez." Meu olhar vai para a


recepção, em seguida, de volta. "Aquele cara tem sorte que
não o demiti."

Ela me dá um olhar severo. "Não pode demitir alguém


por dar-lhe uma xícara de chocolate quente, quente."

"Está tentando me seduzir?"

"O quê?" Ela pergunta, com os olhos confusos.

"Porque está funcionando."

"Você é ridículo."

"Totalmente." Zombo. Faço meu melhor beicinho. "Eu


queimei a língua por você."

Suspirando, ela baixa a xícara e agarra meu rosto.


Gosto da forma como suas mãos roçam contra minha barba.
"Você queimou? Deixe-me ver."

Coloco a língua para fora. "Bem aqui." Digo,


apontando.

Ela suspira e se eleva na ponta dos pés para estudar a


pequena queimadura. Tenho sua completa atenção.
Até ela me beijar.

Bellamy se inclina e beija o local na minha língua que


disse a ela estar queimado.

Meu coração entra em colapso.

Toda a diversão e flerte saem pela janela. Meu olhar


fixa no dela, e ela deve ter sentido a mudança porque suas
mãos se afastam do meu rosto.

"Você me beijou."

"Não é a primeira vez." Ela aponta.

"É em oito anos."

Ela me beijou. E não quero dizer me beijou de volta


quando eu a beijei. Quero dizer que ela. Me. Beijou.

Ela engole em seco. "Dói muito?"

Ela quis dizer minha língua. "Não mais." Murmuro, não


falando da minha língua no entanto.

"Liam, respire." Ela instrui.

Inspiro.

Quero agarrá-la e correr. Trancar-nos em sua suíte,


não, minha cabana e não sair até que compense cada ano
que ela esteve longe.
Sei que não posso. Tenho que conhecê-la novamente. O
pensamento é absurdo, porque meu coração insiste que a
conhece melhor do que ninguém. Mas não tenho mais
dezessete anos. Sou um homem adulto, e tanto quanto quero
ouvir meu coração, tenho que ouvir minha mente.

Além disso, compensar anos perdidos não é algo que só


pode ser feito num quarto.

Depois de entregar-lhe a xícara, estendo a mão. "Vem


comigo."

Levo-nos para o outro lado da lareira crepitante. Há um


pequeno sofá ao lado dela, e a puxo sobre a almofada ao meu
lado.

"Do que precisa?"

Depois de olhar em volta e perceber que tem a


privacidade que quer, ela responde: "Preciso que ligue para
minha mãe."

"Você mesma não pode ligar para ela?"

"Não."

Não sei como essa palavra de uma sílaba pode soar


quebrada. Mas soa.

Minha mão cobre seu joelho. "Quer que eu mande uma


mensagem para ela?"

Ela assente e morde o lábio inferior.


Gentilmente, alcanço e puxo a carne de entre os
dentes. "Que tipo de mensagem?"

Olhos azuis se elevam para os meus, grandes, suaves,


quase suplicantes. "Só quero saber se ela está bem."

Assinto. O centro do meu peito parece menor. "Claro


que ligarei para ela, querida."

Bellamy avança e agarra minha mão nas suas. A


maneira como ela as agarra e me encara, faz meu pulso
acelerar. "Preciso dizer a ela para ter cuidado. Preciso avisá-
la."

Fico intrigado. "Avisá-la?"

Ela assente. "Se os homens não puderem me


encontrar... eles podem ir para ela."

"Sobre o que diabos é isso?" Exijo. "Você precisa me


contar. Eu posso te ajudar."

"Eu já contei demais."

"Inferno! Não me contou nada."

"Não amaldiçoe!" Ela exige.

"Querida, sabe que não é nada pessoal. Estou apenas


preocupado com você."

Ela revira os olhos. "Acalmar é tão ruim como


amaldiçoar."
Sorrio rapidamente. O momento passa e a gravidade da
situação volta. "Só quero que confie em mim o suficiente para
me contar."

"Não é isso." Ela olha para onde suas mãos ainda


seguram as minhas. "Eu só..." Seus lábios pressionados
juntos. Então, finalmente, ela disse: "Você pode apenas ligar
para ela? Por favor?"

Eu não poderia negar nada a ela. "Qual o número?"

Soltando minhas mãos, ela enfia a mão na calça jeans


e tira um pedaço de papel rasgado com o logotipo do BearPaw
nele. O número de telefone foi escrito a caneta. Em vez de
pegar o papel, seguro sua mão e o papel entre as minhas. Ela
está tremendo.

Não gosto disso.

"Estou com medo por você ligar para ela. Com medo
por você não fazer."

"Por quê?" Pergunto, esfregando as mãos contra a dela,


tentando dar um pouco de calor aos seus dedos gelados.

"Eu não deveria te envolver. E se eles estiverem


observando? E se eles vierem para você?" Começo a balançar
a cabeça, mas ela me corta. "Mas eu preciso saber. O que
fiz... eu a coloquei em perigo."

O jeito que ela cai, como se ela estivesse exausta e


derrotada ao mesmo tempo, é demais para eu assistir. Puxo
Bellamy para meu colo e me recosto nas almofadas. Seu
corpo relaxa no meu imediatamente, o rosto caindo contra
meu peito.
Possessividade emana de mim. A necessidade de
defender e proteger nunca foi tão feroz dentro de mim.

"Está tudo bem agora." Murmuro, puxando-a mais


perto e acariciando seus cabelos.

"Eu não tenho certeza de que será novamente."

Um momento depois, ela levanta a cabeça e me olha.


"Às vezes acho que deveria ir para casa. Deixá-los me
encontrar. Então isso terminará de uma vez por todas, e ela
estará segura... e não terei que fugir."

A mera sugestão de Bellamy se render a qualquer


merda que esteja acontecendo é um não dentro de mim. Um
não Eu vou derrubar esta cidade fodida.

Não consigo parar o súbito peso no meu peito, mas


tento não ir por esse pensamento. Quer dizer, ela está
sentada no meu colo buscando conforto.

"Você não vai a lugar nenhum. Ficará aqui, comigo."

"Não entendo por que ainda está solteiro." A palma da


mão dela repousa no meu peito. "Por que, depois de oito
anos, ninguém te reivindicou?"

Emoção retumba dentro de mim. "Porque você me


reivindicou no dia em que te vi em pé debaixo do elevador,
parecendo verde de medo." Seguro seu rosto. "Você me
reivindicou, Bells, e nunca me deixou ir."
Ela beija o lado da minha mandíbula. Meus olhos
caem, o meu ritmo cardíaco abranda. Quando ela levanta,
roço seus lábios.

Não é um beijo longo. No segundo que acaba, ela


aconchega-se de volta em meu peito e suspira. Fico sentado
lá por um longo momento, apenas olhando por cima da
cabeça dela para o fogo. Sinto-me destruído. Destroçado e
machucado. Mas não quero um alívio temporário. Não quero
essa normalidade de sempre. Sempre imaginei como seria vê-
la novamente.

Às vezes pensei sobre isso. Até mesmo esperei.

Eu nunca imaginei que seria assim. Até parece que o


vínculo que formamos há oito anos tinha se fortalecido, não
enfraquecido.

Se é tão forte agora, sem sequer tentarmos, como será


quando eu der a ela meu tudo?

Depois que acalmo a furiosa tempestade dentro de


mim, puxo o telefone do meu jeans.

"Deixe-me ver o papel, Bells."

"Não acho que deve usar seu celular."

"É um número privado." Digo a ela. "Se usar um da


cabana, ele vai voltar diretamente para BearPaw."

Ela parece insegura, mas eu não. Pego o papel e disco.


Pouco antes de eu pressionar LIGAR, a mão de Bellamy cai
sobre a minha. "Pergunte a ela sobre suas rosas."
"Suas rosas?"

Ela assente. "É uma espécie de código entre nós."

"É inverno."

"Apenas pergunte." Ela implora.

Levanto a mão cobrindo a minha e a beijo. Então ligo.


O corpo de Bellamy enrijece enquanto ouve os toques. Após o
terceiro ficar sem resposta, sua mão fecha um punho na
frente da minha camisa.

"Alô?" A mulher responde no quarto toque.

Bellamy quase colapsa contra mim.

"Oi, Sra...."

Bellamy sacode e balança a cabeça com firmeza.

Pigarreio. "Ei, é Liam. Estou apenas ligando para ver


como está."

Alívio inunda os olhos de Bellamy, e ela assente.

Há uma breve pausa do outro lado da linha, e


honestamente espero que a mulher simplesmente desligue.
Ela não o faz.

"Oh, que bom que ligou. Estou bem. E você?"


Grandes lágrimas rolam pelas bochechas de Bellamy, e
limpo uma ao falar. "Estou bem, também. Apenas, sabe,
conversando com velhos amigos."

A mulher pausa de novo.

"Queria saber como suas rosas estão? Sei o quanto


gosta de jardinagem." Deus, espero que ela realmente goste
de jardinagem.

Há uma pequena falha na voz da mulher quando ela


responde: "M-minhas rosas estão muito bem. Estou tão
ansiosa para a primavera quando todas florescem."

Bellamy funga e cai no meu peito. Seus ombros


tremem, e realmente, não tinha ideia que um telefonema
poderia ser tão arrasadoramente difícil.

"Tenho certeza que elas são as mais bonitas no bloco."


Digo. Não tenho ideia do que dizer.

"Você disse que está bem?" Ela pergunta, mas sei


imediatamente que não é sobre mim que ela está
perguntando.

Bellamy se afasta e assente. Lágrimas manchando seu


rosto. "Sim, estive ocupado, mas está tudo bem."

"Isso é bom de ouvir." Ela murmura. "Senti falta de


falar com você."

Bellamy toca o telefone, puxando-o mais perto, como se


ouvir a voz dela fosse a coisa mais preciosa do mundo.
"Assim como eu. Devo ligar mais vezes." Digo.

"Sim, por favor. Ligue a qualquer momento."

Bellamy funga e sinaliza para eu desligar.

"Eu tenho que ir, mas por favor, cuide-se. Os meses de


inverno podem ser muito longos."

"Eu vou. Cuide-se também. Foi muito bom falar com


você, Liam."

Após a ligação terminar, Bells pega meu telefone e o


abraça contra seu peito, deitada em mim, e chora em
silêncio.

Esfrego suas costas porque não sei mais o que fazer.

Depois de um tempo, pergunto: "Há quanto tempo você


não vê sua mãe?"

"Um ano e meio."

"E seu pai?"

Ela prende a respiração, e seu tremor aumenta. "Quase


dois anos."

Isso significa que ela esteve sozinha todo esse tempo?


Sem ninguém?
Quero exigir respostas, mas ela já está chateada
suficiente. "Vamos." Digo, levantando e a levando comigo.
"Hora de dormir."

Eu a carrego para seu quarto, entro e afasto um


Charlie excessivamente animado, que ficou aqui enquanto
jantávamos.

Depois de colocá-la no chão, ela pega minha camisa de


sua cama e a abraça contra o peito. "Você não pode ter isso
de volta", ela murmura e dirige-se ao banheiro.

Sorrio. "Não sonharia em pegá-la."

Ligo no canal de culinária (ela parece gostar disso) e


apago todas as luzes exceto uma pequena lâmpada. Quando
ela sai do banheiro, parece vulnerável e sexy com minha
camisa caindo em torno de suas pernas.

Sem dizer nada, puxo as cobertas para trás e gesticulo


para ela entrar. Ela se arrasta e desliza por baixo. Movo-me
para cobri-la, mas ela olha por cima do ombro. "Vai ficar aqui
comigo?"

Tiro meus sapatos e deslizo atrás dela, puxando-a


contra meu corpo. Charlie salta sobre o colchão, e começo a
dizer-lhe para descer, mas ela aperta minha mão. O cão se
estabelece do outro lado dela com um grande bufo.

Sua risada enche o meu coração, e ela coça atrás das


orelhas dele.

Depois de alguns minutos, ela se aconchega mais


firmemente no meu abraço. "Obrigada por ligar para ela.
Sinto-me muito melhor sabendo que ela está bem."
Beijo a sua nuca e me aconchego mais.

Ela adormece nos meus braços, deito lá e imagino


como posso consertar o que está acontecendo. É difícil
encontrar uma solução para um problema que você não
conhece.

Adormeço em algum momento e acordo quando o céu


está começando a clarear. É difícil sair da cama. Quase não o
faço, mas sei que se ficar, não serei capaz de me afastar de
seu corpo.

Eu sei que poderia tê-la, que se eu começasse a tocá-la,


ela provavelmente não me pararia.

Eu me afasto, no entanto. Ter seu corpo não


significaria tanto se eu não posso ter o resto dela também.
CAPÍTULO VINTE E UM
Bellamy

Estou sem calcinha.

Depois de passar alguns dias aqui no BearPaw, minha


reserva de fuga está acabando. E estou meio cansada de ter
apenas uma calça jeans como opção.

Gostaria de saber sobre meu apartamento. Sobre


minhas coisas. Será que tudo ainda está lá esperando meu
retorno? Será que o lugar ainda tem bruschetta por toda
parte? O aquecedor ainda está ligado?

Ou, talvez esperando me encontrar por lá, os homens


retornaram e resolveram destruir tudo como um aviso.

Quero saber se a polícia sabe sobre meu


desaparecimento. Talvez alguém do trabalho os tenha
chamado devido a minha ausência. Ou talvez eles não se
importem, já que não sou nada social e não me preocupei em
fazer amizade com qualquer um dos meus colegas.

Assisto ao noticiário todas as manhãs, nunca vendo


nada a meu respeito. Mas isso não significa necessariamente
que ninguém está procurando. Isso não significa que estou
segura.
No entanto, estou começando a me sentir assim. Um
pouquinho a cada dia. Cada dia mais à vontade e já começo a
me sentir um pouco mais em casa.

Nem sinto falta de Chicago. Bem, além das minhas


calcinhas e do resto do meu guarda-roupa. E talvez da
garrafa de vinho que comprei naquela noite.

É estranho que esteja me escondendo aqui. Há muito


tempo não me sinto tão bem comigo mesma quanto
agora. Justo num lugar que jurei nunca voltar. Um lugar que
veria como último recurso. Não planejei ficar. Agora, não
quero sair.

Eventualmente, terei que partir. Na noite em que fugi


do meu apartamento, praticamente me tornei um fantasma.
Uma fugitiva de assassinos. Uma mulher que nunca será
capaz de parar novamente.

Posso procurar a polícia. Retornar para a proteção a


testemunhas. Eles me disseram que me manteriam segura.
Mudariam meu nome, minha identidade e me deslocariam
por todo o país.

Eu me tornaria um alvo fácil. E totalmente infeliz


Parece que não importa a escolha que faça, estou
fodida de qualquer jeito. Pelo menos sei que minha mãe está
segura.

Por agora. O sussurro na minha cabeça não é bem-


vindo. Mas ouço assim mesmo.

O que não daria para voltar oito anos atrás naquela


manhã, em que vi Liam com a outra garota. Desejo não ter
fugido. Não posso deixar de pensar no que poderia ter sido.

Penso muito nisso.

A batida na porta me faz sorrir, outra coisa que mudou


desde que cheguei aqui. Em vez de encolher e me esconder,
corro para ver o rosto de Liam.

Mesmo assim, não sou tola. Sigo até a porta, saltando


de um lado para o outro em cada pé. Charlie pula e se
remexe ao meu lado, então olha para cima e choraminga.

Sorrio. Ele sabe quem é, e está tão empolgado quanto


eu.

"Quem é?" Grito, embora a reação de Charlie já tenha o


denunciado.

"Como se não soubesse," Liam entoa.


Charlie late e abro a porta e me afasto. O São Bernardo
gigante salta e quase derruba Liam.

Liam ri e acaricia Charlie, que balança a cauda.

"Seu cachorro sentiu saudades," digo.

Liam resmunga e entra no quarto. "Já que ele está


praticamente morando com você, posso dizer."

Charlie roça contra o lado de Liam, deixando uma


enorme linha de baba em seu rastro.

Dou risada.

Liam me pega pela cintura e me puxa para ele. "E você?


Sentiu minha falta?"

"Talvez," digo, abaixando a cabeça.

Ele me levanta, meus pés balançam como se eu fosse


uma boneca de pano. "Não gosto dessa resposta."

Liam faz meu coração feliz. Sorrio. "Acabei de te ver há


apenas algumas horas."

Ele me sacode gentilmente. "Tente novamente."

"Seus braços não estão cansados?" Gostaria de saber.


"Bellamy," ele resmunga.

"Senti sua falta."

Ele me aproxima mais e minhas pernas envolvem sua


cintura. Nossos lábios se unem e derreto como manteiga
numa fatia de torrada quente. As pontas dos dedos
encontram a bainha da minha camiseta e empurram até que
a palma da sua mão está apoiada nas minhas costas.

Ronrono contra sua língua, e ele acaricia mais


profundamente, inclinando a cabeça para que possa alcançar
um ângulo ideal. Meus dedos se enrolam em seu cabelo,
enquanto o resto do mundo desaparece.

Entre minhas pernas, a última calcinha limpa


umedece, e desloco meu peso inconscientemente, tentando
saciar a fome que só ele me causa.

Sinto seus dedos cravarem e deslizarem por minhas


costas, flertando escandalosamente com o cós da minha
calcinha.

Liam afasta a boca e rapidamente me separa dele.


Cambaleio e ele volta, usando as mãos para me estabilizar.

Ele dorme no meu quarto todas as noites desde que


ligou para minha mãe. A mesma noite em que lhe pedi para
me abraçar. Não preciso mais pedir. É como se ele soubesse.
Há muito tempo que não durmo tão pacificamente. É quase
chocante o quanto após uma noite de sono repousante,
minha cabeça ficou clara e serena. Acrescente a isso todas
as refeições que ele enviou para meu quarto e os almoços
compartilhados com Alex e ele todos os dias... Isso causou
quase uma mudança completa.

Comida, sono... Sensação de segurança.

Não levaria essas coisas como garantidas nunca mais.

No entanto, nunca fizemos mais do que apenas dormir.


Liam me abraça e eu adormeço. Embora ele jamais fique a
noite inteira. E nunca me beije na cama, a não ser na minha
testa.

Os beijos como o que acabamos de compartilhar vêm


acontecendo com mais frequência. A necessidade dele
borbulhando no meu sangue está a ponto de transbordar.

Sei que não devo, mas oh meu Deus, eu quero. Eu o


quero.

"Por que não está vestida?" Ele pergunta, de repente,


percebendo que ainda estou usando apenas sua camiseta.

"Não gosta da minha roupa?"


Ele arqueia uma sobrancelha. "Sabe muito bem a
resposta para isso."

Dou um sorriso preguiçoso.

Ele geme baixinho e esfrega a nuca com a mão. "Você


testa minha paciência como nenhuma outra."

Pisco inocentemente, secretamente excitada. E espero


que ele sinta uma fração do desejo que me desperta.

"Eu tenho algumas aulas," ele diz, com os olhos fixos


no meu corpo.

Desabo no lado da cama e dou um pedaço de torrada


para Charlie.

"Não é de se admirar que ele queira ficar aqui quando


saio rastejando ao amanhecer," Liam murmura.

"Por que faz isso?" Pergunto, parando, a torrada no ar.

"Por que faço o quê?"

"Por que sai de manhã cedo? Tem medo que o pessoal


saiba que está dormindo aqui?"

Seus olhos brilham em choque. Um par de passos o


leva para onde estou sentada. Ele se ajoelha no chão a minha
frente, inclinando seu corpo entre meus joelhos. Antes de
falar, ele arranca a torrada da minha mão e joga para
Charlie, que a engole de uma vez.

Pequenos arrepios sobem e descem pelos meus braços


e pernas quando ele coloca as mãos nos meus joelhos. Ele
está sempre tão quente. "Eu não me importo que saibam que
eu estou aqui com você. Inferno, vou descer, convocar uma
reunião de equipe e contar tudo agora."

"Não acho que seja necessário," digo secamente.

"Você está certa. Não é." Ele sorri. "Porque eles já estão
fofocando como em um reality show, e ainda acham que não
sei disso."

Um lampejo de vergonha me atravessa. "Tenho certeza


de que posso imaginar o que estão dizendo." Engulo em seco
e analiso as coisas que tenho certeza estão sendo percebidas
pela equipe do BearPaw.

O amado atleta, seu futuro chefe, o queridinho da


cidade desde o nascimento... E aqui estou eu, vestindo a
mesma roupa dia após dia, aparecendo com sapatos
roubados, grandes demais e sem casaco. Meu quarto está em
seu nome. Ele envia comida todas as manhãs, e eu almoço
com ele todas as tardes.
Eu o acompanho durante as aulas e basicamente
compartilho a custódia do seu cachorro. Todos provavelmente
pensam que estou usando Liam.

E se eu for cem por cento honesta comigo mesma, meio


que pareço uma prostituta.

Os pensamentos me fazem tremer. Quero me afastar,


mas ele mantém as mãos nos meus joelhos e me empurra
para baixo. "Onde pensa que vai?"

"Isso está errado." Fico inquieta. "Eu realmente preciso


ir. Já arruinei minha vida, a vida de minha mãe... Não posso
fazer isso com você também."

Liam franze a testa e aproveito a oportunidade para me


afastar. Corro para a bolsa e tiro o envelope de dinheiro que
meu pai me deu. Ele não mentiu naquele dia, quase dois
anos atrás. Ele disse que o dinheiro era limpo, que queria que
fosse meu.

A polícia verificou. O dinheiro foi realmente ganho por


meu pai. Legalmente

E ele me entregou tudo.

Provavelmente me perguntarei até o dia da minha


morte se essa quantia seria o suficiente para livrá-lo dos
problemas em que se encontrava. Meu advogado me disse
uma vez que não seria o suficiente...

Mas, ainda assim sempre me pergunto.

São apenas alguns dólares, mas ainda é uma quantia


bem decente, especialmente para uma garota que precisa
fugir e começar de novo. Conto mil e viro para entregar a
Liam. Engasgo e caio para trás, porque ele não está mais do
outro lado da sala, mas logo atrás de mim.

"Cuidado," ele murmura, estendendo a mão para me


firmar.

Afasto suas mãos e empurro o dinheiro entre


nós. "Aqui."

"Que diabo é isso?"

"Disse que eu poderia pagar por tudo." Balanço o


dinheiro. "Não sei se isso vai cobrir tudo, aquelas botas..."
Minha voz some quando meu olhar se demora nas botas
lindas e caras que ele comprou para mim.

Ele suspira e afasta minha mão. "Não vou pegar seu


dinheiro."

"Você tem que aceitar!" Exclamo.


"Por quê?" Ele pergunta. Liam é uma mula teimosa!

"Porque eu sei cuidar de mim mesma."

"Não."

Suspiro. "Não!"

"Não."

"Pegue o dinheiro, Liam," resmungo.

Ele cruza os braços sobre o peito e estreita os olhos


prateados em mim. É tão intimidante que começo a me sentir
um pouco instável. Odeio a sensação de me sentir fraca.

Sei que não sou. Realmente não. Mas, para ser


honesta, confrontos me destroem. Desde o dia que me
escondi entre duas paredes e vi os homens confrontarem meu
pai... Até a morte.

"Por favor," digo com voz rouca. Meu braço ainda está
estendido e segurando o dinheiro entre nós.

Liam suspira e pega as notas. Então, ele as dobra ao


meio e agarra meu braço ainda estendido, puxando-me
suavemente para ele.
A próxima coisa que sei, é que ele me pega e senta na
cama comigo em seu colo. O dinheiro fica esquecido ao nosso
lado, e ele levanta meu queixo com o dorso da mão. "Por que
você está de repente tão determinada em me dar uma pilha
de dinheiro?"

"Sempre quis entregar para você."

"Por que agora?" Sua voz é paciente. Amável.

É quase a minha ruína.

"Porque pareço uma prostituta!" Exclamo.

Ele recua, chocado. "O quê?"

"Estou hospedada em seu nome nesta bela suíte,


vestindo roupas que você pagou e comendo refeições que você
manda ou coloca em sua conta. Você mesmo disse. Todo
mundo está falando... e parece que estou tirando vantagem
de você."

Ele levanta rápido, me levando com ele. Então, me põe


de pé. "Você não é uma prostituta," ele rosna como se a mera
sugestão o enojasse.

"Liam, pegue o dinheiro. Por favor."


"Vista-se," ele diz em tom ríspido.

"Liam..."

"Vista-se!"

Charlie vai até um canto e deita. Claramente, o tom


mortal calmo, mas ainda severo, é um que ele já sabe que
não deve se mexer.

Faço uma careta para Liam, e ele estende a mão e puxa


a camisa do meu corpo num rápido movimento.

Ofego e me movo para cobrir meu peito nu.

Ele fica boquiaberto. "Por que diabos não está usando


sutiã?"

"Eu não durmo de sutiã, seu idiota!" Digo, baixando


meus braços, dando-lhe uma boa visão dos meus seios.

Ele desvia o olhar.

Começo a chorar.

Essa é a gota d’água. Oh meu Deus, a quantidade de


emoção que borbulha dentro de mim é quase demais. Eu
sinto como se estivesse sendo destruída por emoções que são
mais afiadas do que facas.
Viro, sentindo meu cabelo me cobrir a minha volta
como uma cortina. Minha visão fica embaçada quando
lágrimas caem dos meus olhos. Vasculho a bolsa, procurando
meu sutiã e camiseta, apenas para perceber que estão
pendurados no banheiro. Mantendo minhas costas viradas,
pego o suéter que está por perto para me cobrir antes de
seguir para o banheiro.

"Bells," a voz de Liam é suave. Isso me faz chorar ainda


mais.

O bastardo.

Ele estende a mão e me afasto. "Não me toque."

"Ei," ele diz de novo, ignorando meu pedido. Seus dedos


envolvem meu braço e me puxam.

Pego o suéter e seguro na minha frente como proteção.

Ele o afasta e joga no chão. "Pare."

"Parar de cobrir o que você claramente não quer ver?"

Um ruído áspero sai de sua garganta e sou puxada


contra seu peito. Meu corpo bate contra o dele, meu torso
inteiro nu.
Inferno. Tudo o que uso é uma calcinha.

Quando se inclina, Liam cuidadosamente joga os


longos fios do meu cabelo sobre meus ombros, retirando
qualquer barreira que tenha restado.

"Por que está fazendo isso?" Choramingo.

"Não quero gritar com você, querida," ele murmura,


passando um dedo sobre a minha clavícula. "E com certeza
não quis fazer você se sentir envergonhada por estar... nua
debaixo da minha camisa."

"Não estou nua," murmuro.

Ele sorri, mas rapidamente tenta esconder.

"Quero ver você assim, desde aquela noite que te vi em


pé no meio da loja."

Eu bufo.

"Estou falando sério. Eu tenho tentado ir devagar."

"Devagar?"

Ele assente. "É por isso que saio da cama todas as


manhãs. Não confio no meu controle para ficar na cama,
quando acorda toda sonolenta e sexy com o cabelo
bagunçado, vestindo minha camisa."

"Não precisa dizer isso."

"Não estou apenas dizendo isso, Bells." Sua voz está


um pouco sarcástica.

Bufo e ele agarra minha mão, guiando-a para a frente


de sua calça jeans.

Respiro fundo. Meus olhos se voltam para o rosto


dele. Liam está duro como uma rocha.

"Eu tenho certeza que a ereção latejante que tenho não


é fingimento."

Dou um pequeno aperto e ele geme.

"Liam." Umedeço meus lábios com a ponta da língua.

Ele retira minha mão e beija as costas dela.

"Quero arrancar essa calcinha e fazer coisas que vão te


fazer andar esquisita e tremer por uma semana," ele
murmura, dando um passo à frente, me fazendo andar para
trás. "Quero ouvir meu nome sair dos seus lábios quando te
fizer gozar. Quero tocar seu corpo inteiro um milhão de vezes,
depois um milhão de vezes mais."

Respiro fundo quando minhas costas batem na


parede. Liam coloca os braços a minha volta, para me
desencostar da parede, mas acabo pressionada contra seu
peito e me inclinando nele.

"Não é que não queira ver você, querida. É que estou


realmente com medo de que, quando o fizer, não seja capaz
de me controlar."

Meus mamilos estão duros. Minha calcinha, que estava


quase seca, está úmida novamente. Sua voz é como um
maldito afrodisíaco.

Movo-me, roçando os mamilos eretos contra seu


peito. Um pequeno som sai entre meus lábios. Suas mãos
flexionadas nas minhas costas.

"Então, você me quer?" Sussurro.

Ele ri, um som rico e gutural. "Você não tem ideia do


quanto."

"Eu acho que tenho." Sussurro.


Liam me levanta como fez quando entrou pela primeira
vez no quarto. Minhas pernas envolvem sua cintura e minhas
costas batem na parede. Usando os quadris para me fixar no
lugar, ele se afasta para que possa olhar meu corpo.

Um rubor me envolve e minha cabeça bate na parede.

Liam levanta a mão, permitindo que ela paire sobre


meu seio, e olha nos meus olhos.

Eu assinto.

Sua mão baixa instantaneamente, cobrindo


completamente o monte macio. Sua palma esfrega o mamilo
e solto um suspiro. Ele acaricia e massageia um seio antes de
passar para o outro. Começo a ansiar e me esfregar contra
ele, inquieta.

Ele sussurra meu nome e abaixa a cabeça. Ofego ao


primeiro contato, a maneira como sua boca quente envolve
meu mamilo. Ele chupa e provoca até que estou lutando para
me afastar da parede. Rindo, ele me empurra de volta e vai
para o outro seio.

Minha pele está tensa e latejante. Entre minhas


pernas, estou pingando. Arrepios descem do meu peito e
terminam no meu núcleo.
Eu balanço contra ele, agitada e nem mesmo
percebendo o porquê.

Liam recua. Seus lábios estão escorregadios e os olhos


pesados. Afasto-me da parede e o beijo apaixonadamente. Eu
posso sentir seu comprimento rígido esforçando-se para
chegar mais perto e eu tento mover para baixo, para
combinar meu corpo com o dele. Ele faz um som e me puxa
de volta. Choramingo.

Ele ri. "Não temos tempo para isso agora," ele


murmura, me beijando novamente.

"Você começou," resmungo.

"E vou terminar."

Minhas costas batem na cama e um travesseiro é


colocado debaixo da minha cabeça. Liam pega outro e o
empurra debaixo da minha bunda, levantando meus quadris.
Quando ele deita ao meu lado, seus lábios sugam meu seio
novamente e eu arqueio.

Ele me empurra para baixo, sugando enquanto sua


mão percorre meu corpo em direção à calcinha.

Arqueio em direção a sua mão, dando uma resposta


antes que ele pergunte.
Ele ri baixinho e muda para o outro seio, mergulhando
a mão abaixo do único tecido em meu corpo.

Mordo o lábio inferior para não gritar quando minha


mão encontra sua nuca e a segura contra meu seio.

O dedo de Liam se move sobre meu clitóris inchado e


sensível e minhas pernas começam a tremer. Ele geme,
levantando a cabeça. Olho para ele, sem realmente ver nada.

Um dedo desliza dentro de mim e meus olhos fecham.


Ele começa a entrar e sair, ocasionalmente girando o dedo
sobre meu clitóris. Os sons que faço são inevitáveis. Sinto
como se tivesse perdido todo o controle do meu corpo e
sentidos.

Liam agora está no controle... E ele é um piloto muito


bom.

Ele sobe meu corpo um pouco mais, e seu peso se


acomoda ao meu lado. Dois dedos deslizam em mim e seus
lábios se fecham sobre os meus.

Grito quando ele empurra os dedos profundamente e os


move, me fazendo gritar de novo.
Liam move a língua na minha boca, usando o polegar
para pressionar meu clitóris, e faz aquela coisa novamente
com os dedos.

Eu me desfaço embaixo dele. Estilhaço em milhões de


pedaços, e nunca me senti tão bem.

Grito seu nome, e ele engole o som. Ele continua


tocando, explorando mais do meu corpo, e os tremores
continuam incessantemente.

Finalmente, caio de costas, completamente desfalecida,


fascinada.

Liam gentilmente retira os dedos e acaricia minha


boceta sobre a calcinha por alguns minutos antes de se
afastar.

Abrindo um olho, olho para cima e ele ri. "Sente-se


melhor?"

Solto um suspiro.

Ele me beija novamente, deixando a língua permanecer


dentro da minha boca. Quando ele senta-se, olho seu corpo, o
jeito que seu cabelo está despenteado por minhas mãos e
suas bochechas coradas.
Deus. Ele era tão bonito aos dezessete anos.

Agora é devastador.

Ele foi esculpido e aperfeiçoado. Parece vigoroso por


todo o esporte ao ar livre e um pouco áspero devido à
experiência.

Eu o amei.

Não parei de amar.

E jamais pararei.

"Ei," murmuro, acariciando suas costas.

Ele olha em volta. Levanto-me, subindo em seu colo,


deixando minhas pernas caírem ao lado de seus quadris.

Sua ereção ainda é forte. Corajosamente, toco minha


mão contra ela. Ele enrijece e um assobio sai de sua boca.

"Isso parece doloroso."

Ele pega minha mão. "Você não precisa."

Levanto uma sobrancelha. "E se quiser?"

Seus olhos procuram os meus.


"Vai me dizer não, Liam?"

Ele se rende antes mesmo de poder dizer as palavras.

Empurro seus ombros, forçando-o de volta a


cama. Afasto a camisa sobre o estômago e começo a lamber
seu abdômen definido inalando o cheiro fresco da sua pele.

"Você cheira a neve."

"Isso é porque vivo nela."

"Eu gosto."

Ele geme e dou outra lambida em seu abdômen.

Demora um minuto para abaixar a calça jeans sobre


sua ereção pulsante, mas consigo e faço algumas carícias
provocantes. Antes de abaixar sua boxer, esfrego e agarro
dando um aperto em seu pau.

Liam pega o travesseiro e cobre o rosto para abafar o


som que escapa dele. Preciso admitir... Saber que seu rosto
está coberto me deixa um pouco mais ousada.

Antes que ele retire o travesseiro, puxo o cós e dou


uma lambida na ponta.

Ele estremece e seus quadris se levantam da cama.


Dou outra lambida, então chupo apenas a cabeça do
seu pau. Mais sons são abafados pelo travesseiro e dou um
sorriso.

Uma vez que a boxer desaparece, levanto seu pau


grosso e começo a bombeá-lo enquanto chupo uma bola,
depois a outra.

Mesmo que quisesse provocar e desfrutar dele, estou


muito impaciente.

Em vez disso, subo nele, levanto seu pau e deslizo a


boca sobre ele. Sua carne sedosa desliza facilmente em meus
lábios e boca. Ele geme e chupo mais fundo, levando-o até
sua ponta bater no fundo da minha garganta. Repito a ação
várias vezes até que ele se estica para cima.

Mudando de curso, puxo a ponta na minha boca e


chupo, usando a mão para bombeá-lo. Seu sabor salgado
cobre minha língua e quero mais.

Começo a chupar mais e mais rápido.

Sua mão afunda no meu ombro e aperta. Escuto o


travesseiro bater contra a cabeceira da cama quando ele o
joga para longe.

"Não aguento mais," ele diz baixinho.


Chupo mais fundo.

"Caralhooo," ele xinga e começa a pulsar, esvaziando-se


em minha boca.

Engulo seu prazer, suavizando minha boca, mas ainda


não disposta a soltá-lo.

Sua mão se afasta de mim. Seu corpo desfalece no


colchão. Levanto o rosto, mas antes dou um último golpe com
a mão.

"Venha aqui," ele murmura, e me arrasta para cima de


seu corpo.

Liam me beija profundamente, não se importando nem


um pouco que eu ainda tenha seu gosto. Ele me beija até que
afasto a boca em busca de ar.

"Porra, eu precisava disso." Ele geme.

Corro meus dedos por seus cabelos. "Você deveria ter


dito."

Ele faz um som rude. "Estava tentando fazer a coisa


certa."
"Parece muito certo para mim," sussurro, deitada
contra seu peito.

"Tem toda a razão."

Depois de um momento, ele se levanta, me puxando


com ele. "Vamos lá. Preciso ir lá embaixo."

Faço uma careta e ajusto minha calcinha ainda


encharcada. "Você poderia me levar para fazer compras na
cidade? Preciso de roupas."

"Claro, posso te levar hoje mais tarde."

Depois de colocar meu jeans e suéter, puxo meu cabelo


num nó bagunçado no alto da cabeça. Também preciso de
produtos para cabelo. Estou no modo natural, mas já cruzei a
linha da aparência de uma mulher das cavernas.

"Bells." Ele pega minha mão, me puxando. Ele segura


meu rosto, com seus olhos nos meus. "Não queria te fazer
chorar."

"Você não fez, eu só... Meus sentimentos foram


feridos."

"Sim, porque eu os machuquei."


Balanço a cabeça. "Eu não quero que as pessoas
pensem em mim como se... eu..." Minha voz vacila.

"O quê, querida?"

"Quero que as pessoas saibam que você significa muito


para mim. Que nunca te usaria." Meus olhos se fixam aos
dele. "Você sabe disso, não é?"

Ele geme e me puxa para perto. Abraçando-me, ele diz


sobre minha cabeça. "Eu sei."

"Por favor, pegue o dinheiro, Liam."

"Não quero seu dinheiro."

"É importante para mim."

Ele amaldiçoa e sorrio em seu peito.

"Ninguém pensa isso de você," ele diz, afastando-se.

"Como sabe?"

Seus olhos se estreitam e brilham como aço. "Porque se


alguém falar algo remotamente próximo a isso, eu o demito e
me certifico de que não trabalhe nunca mais nesta cidade."

Estremeço porque sei que ele tem o poder de fazer isso.


"Além disso..." Ele continua, mais casualmente, seu
encantador eu habitual. "Todos gostam de você."

"Eles gostam?"

"Claro. Vamos." Ele estende a mão e entrego a


minha. Antes que ele possa me afastar, pego o dinheiro e
entrego para ele.

Ele faz uma careta, como se tivesse acabado de comer


algo podre. "Metade?"

Parece que isso é tudo que vou conseguir que ele


aceite, então lhe dou a metade da quantia e empurro o
restante no bolso do meu jeans.

Não é exatamente o que planejei, mas já é alguma


coisa.

Olho o relógio antes de fechar a porta atrás de mim e


Charlie. "Temos tempo suficiente para fazer uma coisa que
preciso antes de sairmos."

"Que parada?" Pergunto.

"Você verá."
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Liam

Bellamy acha que as pessoas pensam que ela é uma


prostituta.

Vou resolver essa merda agora.

Essa ideia estúpida jamais passou pela minha cabeça,


porque é ridícula. Mas, nesse momento o pensamento me
enoja. Vi a dor em seus olhos.

Claro, as pessoas estão comentando. Sou visto com ela


desde que chegou aqui. Raramente alguém me vê na
companhia da mesma garota por mais de duas vezes. Alex
também a aceitou, outra coisa que tenho certeza que as
línguas fofoqueiras estão falando. Almoços com a mesma
menina e meu melhor amigo?

Eles provavelmente já estão planejando um casamento


gigantesco.

Jesus. Cristo.

Antes jamais me preocupei com o que as pessoas


pensam. Francamente, agora mesmo não dou à mínima para
os comentários. Mas, agora isso não diz respeito apenas a
mim.

Agora existe Bellamy.

E vou deixar bem claro o que está acontecendo e


exatamente o tipo de respeito que quero que todos tenham
por ela.

Lá embaixo no hotel, faço um gesto com o dedo para


dois funcionários que estão passando pelo corredor. Seus
sorrisos se tornam cautelosos, mas mudam de direção e me
seguem de qualquer maneira.

Bellamy me dá um olhar estranho, mas a ignoro.

Na recepção, os atendentes ficam um pouco mais retos


quando me aproximo. "Liam?" A garota à direita diz.

Faço um movimento com o dedo. "Reúna o pessoal.


Pelo menos os que estão por perto. Quero dar uma
palavrinha."

Bells engasga. "O que está fazendo?"

Arqueio uma sobrancelha e digo: "Tornando as coisas


claras."
"Oh meu Deus!" Ela sussurra. "Isso não é o que eu
queria."

Resmungo. "É o que eu quero. Eu insisto."

Ela vira-se para os funcionários atrás de mim. "Eu


sinto muitíssimo. Apenas voltem a trabalhar."

"Eles não trabalham para você, querida," digo


gentilmente. Hoje já a fiz chorar e esse é praticamente o limite
da minha vida.

O homem que está lá assente para ela em desculpas.

Ela geme.

Quando a garota atrás do balcão desliga o telefone, ela


discretamente acena para mim. Um casal está vindo à frente
e a bagagem atrás deles. Aponto para Kenny. "Fique aqui e
cuide da recepção. Shelby pode te passar as informações
depois."

"Sim, senhor," ele diz, olhando Bellamy.

Tenho que conter uma ordem para ele não olhar para
ela. É irracional, mas Kenny precisa manter seu olhar longe.
Depois do que aconteceu lá em cima no quarto, agora
claramente sou um completo idiota, dominado pela
possessividade.

Atrás da recepção há uma sala para uso dos hóspedes,


onde um computador extra está ligado para uso de correio
eletrônico, etc. Atrás desta sala existe uma sala de descanso
para os funcionários. No corredor, abro a porta e aponto às
poucas pessoas que me acompanham para seguirem em
frente. Uma vez que elas entram, olho para Bellamy.

Ela semicerra os olhos como se emitisse um aviso.

Eu a beijo.

Dentro da sala, cerca de doze funcionários ficam ao


redor, incluindo o barman e Sharon. É uma fração muito
pequena das pessoas que trabalham aqui, mas é o suficiente
para espalhar a notícia pelo Resort como um incêndio.

Fecho a porta atrás de nós e solto a mão de Bellamy.

Seguindo em frente, pigarreio. Todos esperam em


silêncio, cautelosos. "Relaxem pessoal," digo, oferecendo um
sorriso. "Não é como se estivesse formando um esquadrão de
fuzilamento."

"Você geralmente não liga para reuniões," alguém diz.


"Você nunca faz isso." Mais alguém fala.

"Apenas deixe que ele fale." Sharon silencia todo


mundo.

Dou a ela um sorriso agradecido.

"Eu só quero falar sobre todos os boatos que estão


correndo sobre Bellamy." Faço um gesto para Bells. Ela fica
vermelha como um tomate. "Sei que todos estão
comentando."

Algumas pessoas parecem envergonhadas, outras


intrigadas.

"Caso alguém esteja se perguntando, Bellamy é minha


namorada, seu quarto está em meu nome por respeito à sua
privacidade, ela ainda está pagando todas as contas, e espero
que a tratem como convidada, porque é isso que ela é."

"Claro." Sharon assente.

Alguém no fundo levanta a mão. Preciso esconder uma


risadinha. Sinto-me como um professor. "Sim?"

"Com todo o respeito, você nunca teve uma namorada


antes."
Eu me desloco para que possa olhar a mulher que
falou. "Só porque diz com todo o respeito não significa que
possa perguntar o que quiser."

Ela cora.

As pessoas olham em volta desconfortavelmente.

Bellamy se aproxima do meu lado e me dá um tapinha


na barriga. "Você convocou uma reunião para fazer um
anúncio, e depois não entende por que as pessoas são
curiosas. Não seja tolo."

Algumas risadas se transformam em tosses.

Sharon apenas ri. "Eu gosto dela."

"Tudo bem," murmuro, em seguida ofereço um sorriso


à garota. Ela relaxa e sorri de volta.

"Você está certa. Nunca trouxe uma namorada aqui


antes. Conheço Bellamy há anos. Ela não é alguém que só
acabou de aparecer e estamos juntos. Já faz um bom tempo."

As pessoas a olham com curiosidade. É a verdade.


Além disso, removerá mais suspeitas sobre ela. As pessoas
não precisam saber que a deixei escapar oito anos atrás. Vou
deixá-los acreditar que a conheci durante o tempo que passei
fora como snowboarder profissional. Sim, tive diversas
aventuras desde que cheguei aqui, mas isso não é da conta
deles.

"De qualquer forma, o ponto é que Bellamy agora faz


parte da família BearPaw. Ela agora é minha família. Todos
sabem o quanto meu pai e eu valorizamos o respeito e a
lealdade. Isso deve se estender a ela. Se alguém tiver um
problema com o que acabei de falar, pode procurar o RH e
retirar seu último cheque."

Bellamy se contorce desconfortavelmente. Ela terá que


suportar, porque quis dizer isso.

Sharon é a primeira a dar um passo à frente. Ela


estende a mão, se apresenta e depois abraça Bellamy. No
começo, minha garota fica surpresa, mas logo retribui o
abraço.

Mais algumas pessoas se apresentam, e então informo


que já podem retornar ao trabalho, apenas não devem deixar
de passar aos colegas tudo o que foi falado.

A porta mal fecha atrás da última pessoa, quando


Bellamy vira-se para mim. Suas mãos se apoiam nos quadris,
e o olhar em seu rosto é intenso. "O que diabos acabou de
fazer?"
Minha resposta é bem tranquila. "Eu me certifiquei de
que todos saibam que você não é apenas mais uma garota."

"Você anunciou que sou sua namorada!"

"Você não quer ser?"

"Você não anuncia primeiro e pergunta depois!"

"Isso não foi um não."

Ela joga as mãos no ar. "Você é impossível!"

Começo a andar em sua direção, mas ela levanta as


mãos com as palmas para cima. "Oh, não, você não.
Mantenha suas mãos mágicas longe de mim!"

Engulo um sorriso. "Por que quer que eu faça isso


agora?"

"Porque não consigo respirar ou pensar quando você


me toca!"

Abro a boca, mas ela bufa. "Não tente me encantar


também, senhor."

Fecho a boca e a encaro. Ela é tão fofa.


"Mal estou aqui por uma semana. Uma semana,
Liam! Agora você vai e diz a todos que estamos juntos... que
somos... que sou da família."

"Você é minha família," digo baixinho. "Isso nunca vai


mudar."

Ela geme. "Liam."

"Isso é tudo que bastou da última vez. Uma semana."

"Somos adultos agora."

"Ainda possuímos os mesmos corações."

"Minha vida é complicada."

"Não me importo."

Com cada refutação que faço, dou um passo à frente.


Acho que ela não percebe que estou chegando perto; está
muito ocupada rebatendo.

Ela para de andar e olha para mim. "Se soubesse você


se importaria."

"Então me diga."
Ela balança a cabeça e olha para o teto. "O que estou
fazendo?"

Eu a pego pela cintura e ela enrijece.

"Como chegou aqui?"

Sorrio. "Quer ser minha namorada?"

"Não é assim tão simples."

"É."

"Talvez na sua mente de homem das cavernas," ela


murmura.

Sorrio.

"Realmente não posso acreditar que acabou de fazer


isso." Ela olha para a porta.

Puxo o rosto dela e olho em seus olhos. "Fiz o quê?


Garantir que todos saibam que você é importante para mim?
Que tenha o respeito que merece? Que todos saibam, em
termos inequívocos, que, em uma situação difícil, eu escolho
você todas as vezes?"

Ela suspira. "Como luto contra isso?"


"Você não pode." Logo depois, repito: "Quer ser minha
namorada?" Na verdade, quero que ela seja mais do que isso,
mas preciso começar de algum lugar.

"Eu gostaria de poder." A melancolia em sua voz faz


meus pés formigarem.

"Que tal fazer disso um sim?" Ela começa a falar, mas


coloco os lábios contra os dela, silenciando as palavras. Ainda
segurando meus lábios contra os dela, sussurro: "Até que me
prove que não quer ser."

Seus lábios se movem contra os meus. "Não quero


provar isso."

Eu sei. É exatamente por isso que disse.

Ela assente.

Eu me afasto. "Isso é um sim?"

"Sim."

Eu a pego e giro. Charlie pula ao nosso redor e late.

"Nunca trabalhei tão duro na minha vida."

"Se acha que isso é trabalho duro, então teve uma vida
de lazer, meu amigo."
Dou risada e a abaixo.

"Obrigada," ela diz calmamente. "Por garantir que


ninguém pense que estou tirando vantagem de você."

"Realmente não acredito que alguém tenha pensado


isso. Provavelmente deve ser o contrário." Dou uma risada
baixa. "Mas não há de quê."

Pego sua mão e a levo para os alojamentos dos


instrutores de esqui com Charlie andando ao nosso lado.
Alguns funcionários observam enquanto passamos; alguns
esticam as cabeças para fora de seus escritórios.

A fofoca está se espalhando.

Bom.

Dentro dos alojamentos, pego a prancheta com a


agenda e folheio. Então, pego o telefone e faço algumas
chamadas, organizando para que todas as minhas aulas da
tarde sejam transferidas.

Quando termino, viro para ver Bellamy esparramada


no chão com Charlie. "O que foi tudo isso?" Ela pergunta.

Abro meu armário para me vestir. "Cancelei minhas


aulas da tarde. Vou te levar à cidade."
Ela se levanta apoiada nos cotovelos. "Você não precisa
largar seu trabalho."

"Eu mal tirei folga desde que comecei a trabalhar aqui.


Está tudo bem"

"Você tem certeza?"

Termino de fechar o casaco e a coloco de pé. "Positivo."

Observo enquanto ela coloca seu casaco, touca e luvas.


Charlie fica ao seu lado abanando o rabo. Aquele maldito
cachorro está tão apaixonado por ela quanto eu.

"Pronto para sair?" Ela pergunta entusiasmada. Ele


pula e quase a derruba.

"Ei," digo, correndo para pegá-la. "Cuidado."

Ela apenas sorri.

Saímos e ela corre para brincar com Charlie na neve


enquanto trabalho.

Sorrio comigo mesmo, olhando para ela, observando o


modo como alguns funcionários a observam também. O
orgulho infla meu peito, porque ela é minha.

E, agora todos sabem disso.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Bellamy

Meu corpo está vibrando, provavelmente devido a


completa excitação acontecendo dentro do meu coração.

Não deveria ter cedido, mas Liam me faz


amolecer. Como poderia olhar em seus tempestuosos olhos
prateados e dizer que não quero ficar com
ele? Concordei. Quero mais do que qualquer coisa no mundo.

É exatamente por isso que deveria ter mantido minha


posição e não ter permitido deixar a coisa ir tão longe. Não
quero machucá-lo, mas sinceramente estou temendo que seja
para onde isso tudo está indo.

Ele disse a todos, em voz alta e sem qualquer


hesitação, que sou sua família. Família. E realmente eu não
sabia o quanto queria isso até que ele disse as palavras.
Fazer parte de algo. De alguém. Saber que não estou sozinha.

Há uma razão pela qual você está sozinha. Eu me


lembro.

Tudo parece tão incerto. Estou dividida entre


duas vidas: uma que quero e uma que preciso.
Querer e precisar, minha mãe costumava dizer: O que
quer nem sempre é o que precisa.

Existe uma linha tênue entre essas duas coisas, certo?


Uma linha que sinto cada vez mais indefinida.

Quanto mais tempo ficar aqui, mais indefinida se


tornará.

Tenho pensado muito sobre tudo, sobre o que devo


fazer e aonde ir. Tenho algumas opções, mas todas me
assustam.

Sei que é errado querer permanecer um pouco mais


nesse padrão de espera. É como dar uma chance a um
alcoólatra. Apenas uma pequena dose pode enviá-lo ao limite
outra vez. Quanto mais tenho de Liam, mais eu quero.

E vai doer quando eu tiver que partir.

"O que está acontecendo nessa sua cabeça?" Liam


pergunta do banco do motorista.

"A cidade é tão bonita durante o dia, mesmo sem todas


as luzes nas árvores," comento, olhando pela janela.

Ele faz um som como se não acreditasse que isso é


tudo o que estou pensando, mas realmente não quer discutir.
"Para onde primeiro?" Ele pergunta, dirigindo
lentamente pela rua principal da cidade, a Caribou
Boulevard.

"Gostaria de comprar shampoo e alguns produtos de


higiene," respondo. "E preciso comprar roupas, estou farta
desse jeans."

Rindo baixo, ele para num estacionamento no final da


rua. "Vamos para o Posto Comercial aqui na esquina. Eles
devem ter tudo, menos as roupas. Diabos, Hal pode até estar
estocando isso também."

Olho não muito longe da calçada para a loja com uma


grande placa de madeira estampada com: POSTO
COMERCIAL, desde 1930.

"É como um Wal-Mart local?" Pergunto.

Liam sorri. "Mais ou menos, mas não chame assim na


frente de Hal. Se quiser uma dessas grandes lojas, vou te
levar para a próxima cidade. Lá têm maiores."

"Não," digo rapidamente. "Isso é perfeito. Quanto


menos pessoas, melhor."
Depois que Liam me ajuda a descer do seu carro
monstro (não realmente, mas é bem grande), inalo. O doce
aroma de chocolate enche o ar. "Esse cheiro é tão bom."

"Ali é a confeitaria." Ele aponta para o outro lado da


rua. "A dos pais de Alex."

"Mmm" digo apreciativamente.

"Eu te levaria até lá, mas Alex ficaria chateado. É


definitivamente uma loja que ele gostaria de mostrar."

"Ele está orgulhoso deles," digo, sentindo um pequeno


nó de emoção na garganta.

"Oh sim." Ele concorda, colocando a mão na parte


inferior das minhas costas para me guiar em direção a nossa
primeira parada.

Parece uma explosão do passado quando um sino toca


ao abrirmos a porta e entrarmos. Algumas pessoas mais
próximas da porta param o que estão fazendo e olham para
cima. Algumas saudações a Liam são feitas.

"Todo mundo." Ele sorri e aponta para mim. "Esta é


Bellamy."

"Oi, Bellamy," todos dizem em uníssono.


Aceno.

Liam passa o braço por cima do meu ombro e me guia


para dentro da loja. Tento me convencer que a sensação de
nervosismo no meu estômago é devido ao fato de ter pessoas
novas nos observando, e não por me sentir um pouco tonta
por ele estar me abraçando em público.

Sinto-me com dezesseis anos novamente.

"Aquela coisa de garota que você quer está aqui," ele


diz, me arrastando.

"Meninos também usam shampoo." Aponto.

Ele resmunga. "Tenho um sabonete no chuveiro que


serve para tudo. As meninas têm cerca de vinte produtos
para cada parte do corpo."

Paro e me viro para ele. Cutuco seu peito, e digo: "E


como sabe quantos produtos as mulheres têm em seus
chuveiros?"

Ele empalidece. "Uhh..."

Dou um sorriso.
Liam se lança como se fosse me atacar, mas em vez
disso ele abraça minha cintura e beija o lado do meu pescoço.

Pressionando a testa contra a minha, ele diz: "Não fui


um menino comportado."

"Eu meio que imaginei."

"Você é a única que importa, Bells."

Sussurro: "Eu sei."

Eu me afasto e começo a andar pelo corredor de


produtos de higiene. "A propósito, vou comprar shampoo e
condicionador para você. Não me interessa o que a
embalagem do seu sabonete diz. Não é bom e nem serve para
tudo."

Um homem passa por Liam, se inclina e comenta:


"Mulheres. Sempre tentando nos comprar coisas que não
precisamos."

O homem barrigudo ri e dá um tapinha no ombro de


Liam. "Apenas concorde, filho. Isso economiza tempo."

Liam surge atrás de mim com uma cesta de compras


de vime com duas grandes alças. É charmosa e eu coloco-a
no meu antebraço e pego uma embalagem familiar de
shampoo. Então, percebo que é o tipo que usava quando
estava sob custódia protetora e os policiais faziam todas as
minhas compras.

Devolvo tão rápido que derrubo as que estão atrás.

"Droga," xingo baixinho.

"Está tudo bem, Bells," Liam diz, se esticando por cima


do meu ombro para arrumar. Antes que me afaste
novamente, ele dá um beijo na minha bochecha.

Mais borboletas surgem.

Um homem no fundo da loja chama Liam.

"Ei, Hal!" Ele responde. "Eu já volto," ele diz e corre


para falar com o proprietário.

Aproveito o tempo para verificar os produtos e fazer


minhas seleções. Escolho um shampoo e condicionador, um
creme de pentear, e adiciono um pente de dentes largos à
minha cesta. Depois pego um hidratante para o corpo,
algumas lâminas e um creme de barbear barato. Feito para
homens, mas funciona da mesma forma para ‘garotas’, e
custa a metade do preço. Nossa, essas empresas colocam
uma faixa cor-de-rosa na embalagem, faz com que cheire
como flores, e depois querem cobrar setenta por cento a
mais. Eles devem estar chapados de todo o perfume falso que
estão despejando nessas coisas.

Depois disso, pego uma nova escova de dente, um


creme dental grande e protetor labial com aroma de baunilha.
Sinto falta do meu hidratante facial habitual, então pego algo
parecido e acrescento um sabonete líquido.

Não me importo com o que Liam diz. Um


sabonete não pode servir para tudo.

Depois de adicionar mais algumas coisas na cesta, viro


para o próximo corredor, que por acaso está cheio de doces.

Liam para atrás de mim, inclina-se sobre meu ombro e


aponta para um saco de Red Vines9. "Você ainda gosta dessas
coisas?"

Ele lembra.

"Você ainda acha que os Twizzlers são melhores?"

Ele sorri. Então, pega um saco de Vines e de Twizzlers,


jogando-os na minha cesta. "Sim."

Sua mão desliza sob as alças descansando contra meu


braço e retira. "Pelo peso da cesta, posso dizer com cem por

9 Red Vines e Twizzlers são marca de balas de alcaçuz vermelho


cento de certeza que você definitivamente tem um produto
para cada parte do seu corpo."

"Também tem algumas coisas para você." Digo


docemente.

Liam geme e joga a cesta por cima do ombro.

Depois de pagar pelos meus itens, Liam coloca as


sacolas na caminhonete, e vagamos pela calçada, de mãos
dadas.

As pessoas cumprimentam Liam e me olham com


interesse. Ele me apresenta mais de uma vez como sua
namorada.

Por mais apreensiva que me sinta, tudo é ofuscado pelo


orgulho. Orgulho de estar aqui com ele, orgulho por ele estar
tão disposto a garantir que todos saibam que ele é meu.

(Bem, ele provavelmente viu isso como demarcar


território, mas prefiro ver de outra maneira).

Acho algumas lojas onde encontro roupas em


promoção. Nada extravagante. Peças quentes e um jeans que
não é tão folgado quanto o que estou usando.
"Por favor, me diga que acabamos." Liam diz quando
saímos da última loja.

Sorrio. "Quase." Prometo. "Só uma última loja." Aponto


para o outro lado da rua.

Liam segue minha mão e sorri lentamente. "Agora esse


é o tipo de loja que não me importo nem um pouco em te
ajudar a escolher."

Bato em seu estômago. Ele fez um som de gemido, mas


sei que não doeu. "Ali você não vai entrar comigo."

"Por que diabos não?" Ele exige.

Escondo um sorriso. Ele soa como um menino de cinco


anos de idade. "Porque o que uso sob minhas roupas deve ter
um pouco de mistério."

Encostado a minha orelha, ele sussurra: "Eu vi o que


usava esta manhã."

Sinto minhas bochechas esquentarem quando penso


nesta manhã e o desejo desabrocha em meu corpo. Liam ri
secretamente enquanto segura minha mão e me leva para o
outro lado da rua.

O tráfego realmente interrompe para ele passar.


Esqueça os semáforos reais pendurados acima. Não. As
pessoas aqui realmente param para Liam Mattison.

Quando estamos em segurança, o ritmo do tráfego


recomeça.

Liam segue meu olhar para a rua. Olho para ele


com um olhar conhecedor. Ele dá de ombros.

"Fique aqui," peço.

"De qualquer forma verei tudo," ele diz.

"Fique," eu o instruo. Liam está certo, provavelmente


ele verá mesmo.

Ele ri, mas senta no banco que fica do lado de fora da


loja. Não posso deixar de pensar que a loja o colocou ali de
propósito, como se talvez muitas mulheres condenassem seus
parceiros enquanto compram calcinhas.

O interior é perfumado como rosas, e o meu estômago


revira um pouco, porque isso me faz pensar em minha mãe.
Enquanto caminho, olhando as elegantes vitrines e as
gavetas de calcinhas e camisolas, lembro que minha mãe está
segura. E acabo escutando sua voz.

As coisas mudam.
O pensamento me faz parar e olhar para meus pés.
Nunca achei que esta preocupação com ela fosse desaparecer.
Talvez deva falar com ela. Talvez o risco de estarmos juntas
seja menor que o de estarmos separadas.

Nunca sei qual é a escolha certa. É exaustivo.

No fundo da loja, encontro um belo modelo de calcinha


de algodão e renda. Quero achar uma coisa fofa, mas não sou
o tipo que escolhe peças excessivamente sensuais. Seleciono
as promoções da semana, depois volto para procurar outro
sutiã. O que tenho está bom, mas seria melhor ter pelo
menos mais um. Encontro uma prateleira com peças que
comprando uma ganha outra e escolho duas.

Olho um monte de camisolas, mas acabo passando


porque, se comprar uma delas, não vou mais precisar usar a
camisa de Liam.

A caminho do caixa, uma sensação estranha sobe pelo


meu pescoço.

Meus passos diminuem e tento afastar a sensação. Até


consigo me virar entre duas grandes prateleiras. Repito para
mim mesma que devo me acalmar, que pensar em minha mãe
me assusta.
O tempo todo em que estou no caixa aguardando a
garota passar cada item, o nó no meu estômago fica cada vez
mais forte. Ao lado, alguém deixa cair alguma coisa, e pulo
tão repentinamente que derrubo uma amostra de brilho labial
no balcão.

"Oh meu Deus!" Exclamo, correndo para endireitar o


suporte e arrumar a bagunça. "Eu sinto muito."

"Acontece o tempo todo," a menina diz.

Enquanto recolho os brilhos labiais, viro-me para olhar


por cima do ombro. Ninguém está lá.

Meu coração dispara quando entrego o dinheiro, e


percebo que é a mesma sensação que senti no supermercado
na noite em que fui atacada. Como se estivesse sendo vigiada.

O que é pior? Sinto que estou sendo observada


enquanto compro calcinhas.

*Estremeço*

"Obrigada," a vendedora diz, e me assusto novamente.

"Sinto muito," gaguejo e lhe entrego o restante do


brilho labial que ainda precisa ser empilhado. Logo que
minhas mãos estão vazias, pego a bolsa e corro para a porta
da frente.

Pelas janelas frontais da loja, vejo Liam parado na


calçada, rindo. Um pouco do meu medo diminui, mas depois
aumenta dez vezes. E se os homens me acharem? E se eles
estiverem me vigiando agora?

E se eles descobrirem que Liam está comigo?

"Liam!" Suspiro, correndo para fora, quase caindo de


cara na calçada.

"Uau." Ele engasga e duas figuras correm em minha


direção.

Eu grito.

"Bells!" A voz de Liam corta meu grito. "Ei, peguei você."


Estou contra seu peito e segura entre seus braços.

Meus olhos vasculham tudo, procurando alguém que


pareça suspeito.

Tudo o que vejo é Alex.

"Você está bem, Bellamy?" Ele se preocupa. Então,


seus olhos se arregalam. "Tem algum idiota causando
problemas para vocês, coelhinhas, enquanto compram essas
coisas rendadas?"

Um resmungo baixo cresce no peito de Liam.

"Precisamos cuidar disso," Alex diz a ele.

Eles começam a marchar em direção à porta.

"Pare!" Imploro. "Não tem nenhum tarado da calcinha


lá."

"Tarado da calcinha?" Alex ecoa. "Isso é que é


criatividade." Ele estende o punho para que eu possa bater,
mas Liam o empurra para longe.

"O que há de errado?" Liam pergunta.

Eu me afasto dele e inspiro trêmula. "Nada. Eu..." Olho


ao redor novamente, sem notar nada fora do comum. Na
verdade, agora não tenho a sensação de que alguém está me
observando. Balanço a cabeça. "Nada. Acho que estou apenas
cansada."

Alex dá um passo à frente e tenta espiar dentro da


minha sacola. "O que comprou lá?"
"Você não está tentando olhar a calcinha da minha
garota." Liam reclama.

Alex olha para mim e pisca. Virando para Liam, ele diz:
"Calcinhas! Ah, é isso que vendem lá? Nojento."

Liam revira os olhos.

Dou risada.

"Vamos, Bells." Alex coloca um braço no meu ombro.


"O que você precisa é de um pouco de chocolate, e sei
exatamente onde pode encontrar."

"É Bellamy para você," Liam diz, enquanto segue atrás


de nós.

"Não se preocupe. Comprei um pouco de creme para


assaduras na loja. Ele deve ficar menos irritado
amanhã," sussurro — muito alto — para Alex.

Alex gargalha. "Acho que vou gostar de ter você por


perto." Ele olha por cima do ombro para Liam. "Ouvi tudo
sobre a sua reunião de funcionários. Eu me senti excluído,
irmão." Ele põe a mão sobre o coração. "Quer dizer, fiquei de
fora de um anúncio tão importante." Alex se vira para
mim. "Meu amigo fora de mercado, e nem estava lá para
assistir a morte da sua solteirice."
Sorrio.

Liam puxa o braço de Alex dos meus ombros e o


substitui pelo dele. "Sua hora está chegando, A. E quando
acontecer; vou fazer tudo isso com você."

"Agora, por que eu iria querer abrir mão de ser o único


solteiro?" Ele se pergunta.

Liam me olha e pisca.

Uma rajada de celestial ar perfumado gira em torno de


nós. Meu estômago ronca.

"Eles têm chocolate quente, também," ele diz contra


minha orelha.

"Bellamy." Alex estende o braço para a loja dos pais.


"Posso lhe apresentar a confeitaria?"

"Se é tão bom quanto cheira; então diria que este lugar
tem o meu voto como loja favorita entre todas em Caribou."

"Vamos lá, meus pais estão morrendo de vontade de te


conhecer." Ele sorri. "Eles estão definitivamente interessados
na garota que está fazendo Liam se acomodar."

Olho Liam e ele sorri.


"Aviso justo." Alex continua. "Minha mãe vai insistir
que está muito magra, te alimentará com tudo e depois vai
entregar uma sacola gigante para levar para casa."

Liam ri. "Ele tem razão."

Os dois caras seguem na frente. Alex abre a porta e


Liam passa. Antes de seguir seu exemplo, outro
formigamento arrepiante rasteja pela minha nuca. Viro-me
rapidamente e olho para o final do quarteirão.

Posso jurar que vi alguém desaparecer na esquina.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Liam

Ela está quieta demais.

Olhando-a dentro da Extreme, a sensação de que algo


está errado fica um pouco mais forte. Ela está quase sombria,
olhando pela janela enquanto dirijo.

Estendo a mão e pego a dela, dobrando-a na


minha. "Você não está apenas cansada."

Bellamy se vira para mim. As mechas loiras do cabelo


caem sobre os ombros como longas fitas. "Eu comi muito
chocolate."

Dou um sorriso. "Bem, de acordo com a mãe de Alex,


você não comeu o suficiente."

Ela geme. "Vocês não estavam brincando sobre isso."

"Não."

"Aquele lugar é incrível, no entanto. É como um


mundinho de açúcar no meio de uma montanha de neve. Eu
adorei."
Concordo. "Sim, é incrível." Faço uma pausa. "Sabe,
tenho brincado com a ideia de abrir uma pequena loja no
resort para vender os doces deles. Talvez ver se eles
desenvolvem um sabor exclusivo ou um chocolate para nós."

"Essa é uma ideia incrível," diz ela, virando o corpo


para mim. "Por que não fez isso?"

"Porque meu pai ainda está no comando."

Ela fica quieta por um momento, depois diz, "E você


acha que trazer essa ideia à mesa, vai provar a opinião dele
que você é capaz de administrar o BearPaw."

Olho-a de relance pelo canto do olho e depois para a


estrada. "Nunca disse isso."

"Você não precisa."

"Assim como você não precisa dizer que não está


apenas cansada," retruco.

"Estamos falando de você agora." Ela funga.

"Que conveniente," replico.

"Você perguntou aos pais de Alex o que acham de ter


um local no resort?"
Balançando a cabeça, respondo, "Ainda não. É óbvio,
no entanto. Alguns dos nossos clientes não se aventuram em
descer até Caribou. Eles ficam no resort porque têm certeza
que tudo o que eles precisam está lá. Esta seria uma chance
de colocar o doce nas mãos de novos clientes."

Sinto-a me observando, então olho de relance. "O


quê?"

Ela sorri. "Que outras grandes ideias você têm na


cabeça?"

"Apenas algumas," murmuro.

Bellamy ri e beija as costas da minha mão. "Você tem


receio que não possa ser apaixonado por snowboard se
estiver administrando um resort inteiro?"

Isso atinge um ponto fraco. Um ponto que ninguém


mais percebeu estar lá. Um que nem eu gosto de
reconhecer. Minha voz é baixa. "É difícil desistir do que se
ama."

"Sim, posso entender isso."

A empatia em seu tom é muito real. Sinto um aperto na


boca do meu estômago. Seguro forte na mão dela. "Você quer
dizer assim como quando costumava ser uma chef?"
Ela concorda, olhando pela janela.

"Você só está aqui há uma semana, Bells. Não acho


que sua carreira vá desaparecer tão rápido." Eu paro. "A
menos que tenha queimado tudo que cozinhou."

Ela suspira e bate no meu braço. "Blasfêmia!"

"Tudo o que estou dizendo,", provoco, "é que ainda não


comi sua comida. Ainda tenho que te ver numa cozinha."

"Isso é um desafio?" Seu tom é irônico.

"Se for me alimentar? Claro que sim."

Ela ri. "Adoraria cozinhar para você." Seu suspiro é


triste. "Sinto muita falta disso."

Não sei o que dizer. Odeio que ela sinta falta, mas
também estou feliz que ela teve que correr para cá.

"Desisti de ser uma chef há muito mais do que uma


semana," ela diz com relutância. Seu rosto volta para a
janela. O céu já está escurecendo e há pesadas nuvens
prometendo neve.

"Há quanto tempo?"

"Quase dois anos."


Faço uma careta. Isso é aproximadamente a mesma
quantidade de tempo que ela está sem sua mãe.

O que diabos está acontecendo?

"Então, o que fez antes de vir aqui?"

Ela dá de ombros. "Trabalhei num escritório de


advocacia. Arquivei muitos papéis."

"Isso é o completo oposto de estar numa cozinha."

"Eu sei." Mais uma vez, seu tom é melancólico e triste.

"O que aconteceu hoje?" Mantenho a voz gentil. O que


realmente quero saber é o que aconteceu hoje, semana
passada e dois anos atrás.

Ela fica quieta por um momento, então,


surpreendentemente, responde, "Você já teve a sensação de
estar sendo observado?"

Algo dentro de mim fica absolutamente imóvel. Alguém


estava a observando? O pensamento me faz sentir doente e
homicida ao mesmo tempo.

"Observando como?" pergunto com cuidado.


Bellamy enfia minha mão um pouco mais no colo dela,
cobrindo-a com a sua livre. "Eu acabei de sentir isso. Um
sentimento arrepiante como se alguém estivesse por perto...
observando-me."

"Quando saiu da loja?"

Ela concorda.

Por dentro, eu amaldiçoo. Deveria ter prestado mais


atenção ao nosso ambiente. A ela.

"Eu não vi ninguém, então provavelmente foi apenas


sensação."

Estaciono sob o toldo do resort e paro a


caminhonete. "Mas?" Pressiono.

Bellamy fixa os olhos nos meus. "Mas foi a mesma


sensação que tive naquela noite. A noite em que vim parar
aqui." Um arrepio percorre seus ombros, e um sentimento
desconfortável serpenteia dentro de mim.

Alcançando-a na cabine, seguro seu rosto e me inclino


mais perto. "Não vou deixar nada acontecer com você,
querida."
Ela abaixa os olhos e balança a cabeça. "Não diga
coisas assim, Liam. Às vezes, coisas ruins acontecem, não
importa o quê."

Levanto o queixo e quase me encolho com os fantasmas


que vejo em seu olhar azul.

"Ah, baby", murmuro e me inclino para tocar seus


lábios.

Ela suspira e se inclina e aprofundo o beijo.

Quando me afasto, tento tranquilizá-la. "Você está


comigo agora, Bells. Vou cuidar de você."

Ela sorri tristemente, afasta-se e sai do Extreme sem


qualquer ajuda.

Andamos em silêncio até a suíte dela, e então o silêncio


é apagado por um Charlie animado. Deixo Bellamy e o
cachorro no chão para usar o banheiro, e quando volto, eles
ainda estão rolando no carpete.

Sorrio. "Vou pedir o jantar. O que quer?" Estou


morrendo de fome. Ela pode estar cheia de chocolate, mas
preciso de um bife.
"Sopa de batata cozida," ela diz. "E Charlie quer um
hambúrguer."

"Ele tem comida de cachorro."

"Por favoooor," diz ela, olhando para cima com um


grande sorriso no rosto.

Charlie late.

Eles estão trabalhando contra mim.

Sorrio. "Certo."

Pouco tempo depois, estamos comendo - bem, eu estou


comendo. Bellamy está alimentando Charlie com o maldito
hambúrguer com que eles me tapearam.

Quando meu celular toca, Bellamy pula, o que me


mostra que ainda está se sentindo nervosa como antes, na
cidade. Pego o telefone, planejando silenciar o toque quando
vejo quem é. "É só meu pai," digo a ela, querendo ter certeza
de que ela saiba que nada de terrível está no horizonte.

Ela parece aliviada, depois volta a brincar com o


cachorro.

"Ei, pai," respondo.


"Liam, precisamos conversar."

Sento um pouco mais ereto. "Está tudo bem?"

"Tudo bem, mas gostaria que viesse ao meu escritório."

"Estou meio ocupado agora," respondo, empurrando


outro pedaço de bife na boca.

"Sim, posso ouvir você mastigando, filho." Ele suspira.

Sorrio para o telefone, embora ele não possa ver.

"Quando terminar o jantar, venha ao meu escritório."

Olho na direção de Bellamy. Ela está me observando do


chão. Não parece certo deixá-la hoje à noite. Sinto que ela
precisa de mim.

"Eu vou amanhã logo cedo." Comprometo-me.

"Hoje à noite seria melhor."

Bellamy se levanta da cadeira ao lado de Charlie e


concorda. "Vá."

Faço uma careta.


"Eu estarei esperando, Liam," ele diz e desliga a
ligação.

Tiro o telefone do ouvido e olho para ele. "Ele desligou


na minha cara," eu resmungo.

"Seu pai quer te ver?"

Suspiro. "Sim. Tenho que ir ao escritório dele."

"Ele disse para quê?" Ela grita enquanto entra no


banheiro para lavar as mãos.

Levanto a voz sobre o som de água corrente. "Não,


então não deve ser tão importante."

Quando Bells aparece no corredor, digo, "Vou vê-lo de


manhã."

"Por que não hoje à noite?"

Eu hesito. Então sorrio torto. "Porque quero ficar com


você."

Bellamy se aproxima, pega meu garfo e coloca-o no


prato, em seguida, monta no meu colo. Eu seguro sua bunda
e a puxo mais firmemente contra mim. "Bem, olá," ronrono.
Ela passa os dedos por meu cabelo e os prende na base
do meu pescoço. "Estou bem, Liam. Seu pai quer te ver. Você
deveria ir." Há algo em sua voz.

Não tenho certeza do que é.

Arqueio uma sobrancelha. "E se eu não estiver bem?"

Suas mãos se separam, deslizando até que ela segura


as laterais da minha cabeça, inclina-se e me beija
suavemente. Ela definitivamente não está facilitando para eu
deixar este quarto.

"Estarei aqui quando voltar." Ela fala contra minha


boca. Muito rapidamente, ela senta, colocando uma distância
indesejada entre nossas bocas.

"Volte aqui," rosno e agarro seu lado.

Ela ri e me empurra. "Adoraria ver meu pai mais uma


vez. Se o seu quer te ver, você deve ir. Não vou atrapalhar sua
família, Liam."

Eu adoraria ver meu pai mais uma vez. As palavras são


como um gancho de direita. Lembro-me do pai dela. Joe é seu
nome. Ele parecia um cara legal. Sempre que Bells estava ao
seu redor, ela brilhava como se estivesse ansiosa por sua
atenção.
Olhando para trás agora, como um adulto, parece
haver algo um pouco desesperado nisso. Como a encontrei na
neve no início da manhã. Quando ela praticava para que
pudesse impressioná-lo.

Filhas não devem ter que "impressionar" seus pais.

Minha mão desliza para o lado dela para descansar em


seu pescoço. Meu polegar roça descuidadamente em sua
clavícula. "Onde está seu pai, querida?"

Ela engole em seco. As mãos apertam entre nós e ela


balança a cabeça. Seus olhos celestes encontram os meus,
implorando. "Vá ver seu pai."

Estou com medo de machucá-la se não o fizer. Como se


recusar essa oportunidade de ver meu pai, de alguma forma,
ferisse seu coração.

"Por que não vem comigo?" murmuro, acariciando o


lado do seu cabelo. "Pode finalmente conhecê-lo."

"Gostaria disso. Mas não esta noite. Esta noite ele está
pedindo por você."

Solto um resmungo. "Bem. Não vou demorar."


"Talvez depois, possa ficar a noite inteira." O calor em
seus olhos é inconfundível.

Meu pau, que já está em atenção, estremece. Quero


ficar. A noite toda. Todas as noites. "Claro que vou ficar,"
murmuro, empurrando as costas da cadeira e juntando
nossos peitos. Meus braços a envolvem e minha testa toca a
dela. "Mas quero que saiba que não precisamos fazer
sexo. Estou bem com a espera."

"O que estamos esperando?"

Beijo a ponta de seu nariz. "Só quero que confie em


mim, querida. Quero que se sinta segura comigo."

Ela suspira. "Liam. Nunca me senti mais segura com


ninguém."

Então por que não me conta por qual motivo correu para
cá? Eu pensei que era apenas um pensamento. Você sabe,
algo que ficou na minha cabeça, na mente.

Aparentemente, a questão se espalhou, enchendo a


sala e fazendo Bellamy recuar.

Sua testa franze. "Acha que não confio em você?"

"Não foi o que quis dizer."


"Então, que outro motivo eu poderia ter para não
confessar tudo." Ela desce do meu colo e se afasta de mim. "É
isso que está pensando?"

Fico de pé. "Não. Eu te disse o que estava


pensando. Quero que se sinta segura."

"Alguma vez lhe ocorreu que quero que


você esteja seguro?"

"O quê?"

Ela joga os braços para cima. "É por isso que hesitei
em me envolver. É por isso que tentei resistir a você."

"Você tentou resistir a mim?" Repito.

Ela faz um som grosseiro. "Sim. Fiz um trabalho de


merda. Você também é muito..." Ela acena com a mão em
minha direção. "Você."

"Obrigado?"

Um som sufocado irrompe de sua garganta. "Estou


tentando ser séria, Liam!"

"Eu também."
Ela senta na beira da cama e o colchão afunda
ligeiramente. "Desde o minuto em que olhei para você, não
houve mais ninguém." Sua voz enche o quarto. É baixa, mas
é tudo que ouço. "Eu tentei seguir em frente. Namorei alguns
caras."

Rosno. Não quero ouvir sobre eles. Odeio qualquer um


que a tenha tocado quando eu não estava por perto.

Ela olha para cima, um fantasma de um sorriso


aparecendo por um momento. "Sempre foi você. Mesmo
quando disse a mim mesma que não era. Mesmo quando
disse a mim mesma que esperava que você não estivesse aqui
quando entrei naquele ônibus..." ela ri sem graça. "Tento
mentir para mim mesma. Sou tão ruim nisso."

Movo-me para frente dela e caio de joelhos.

Sua cabeça levanta o suficiente para encontrar meus


olhos.

"Esperava que estivesse aqui. Quando olhei para


aquela arma... tudo o que vi foi você. Você foi o primeiro
pensamento que veio à minha mente. Você foi quase o último
pensamento que tive."

Uma arma? Jesus.


"Estou aqui, baby," praticamente canto, envolvendo
minha mão ao redor do seu pescoço. "Estou aqui."

"Eu te amo."

Meu coração para. Meus pulmões param. Eu tenho


certeza que o mundo inteiro para.

"Liam?" Ela sussurra, espreitando por baixo de seus


cílios loiros.

Minha voz está rouca. "O que acabou de dizer?"

"Eu te amo. Eu sempre amarei. Não importa o quê."

Pigarreio. Em seguida, pigarreio novamente. Quer


dizer, eu sei... eu sei como ela se sente. Sinto o mesmo. Nós
dissemos isso, mas não com estas três palavras. Não tão
claro.

Abro minha boca. Nada sai. Não consigo encontrar as


palavras que estão ali na ponta da minha língua.

"Respire Liam," ela murmura.

Eu inalo. Quando o oxigênio enche meus pulmões, as


palavras que estou procurando saem. "Também te amo,
Bellamy. Tanto que literalmente me assusta."
Ela prende a respiração e a puxo para fora da cama,
para o meu colo, no chão. Beijo-a rápido e profundamente,
curvando-me contra ela, em torno dela, tentando chegar o
mais perto que é humanamente possível. Porra. Posso
rastejar sob sua pele, e ainda não será o suficiente.

Seus tornozelos se unem atrás da minha cintura, e a


beijo com todos os sentimentos reprimidos que tenho por
dentro. Rolando, eu a prendo no carpete, meu corpo se
movendo contra o dela com impaciência.

Charlie se aproxima, respirando sobre nós. Sem


levantar os lábios, alcanço ao redor e o empurro para trás.

Ele volta a comer. Até ele sabe que quero ficar sozinho
com ela.

Meu quadril empurra contra ela, e um som de


impaciência sai de mim porque há muitas camadas entre
nós. Muitas roupas.

"Liam," ela murmura contra mim. "Liam."

Levanto apenas o suficiente. Seu rosto está embaçado


pela névoa de emoções. "Sim?"

"Não podemos agora. Você tem um lugar para estar."


"Eu vou amanhã." Abaixo minha boca. Ela vira a
cabeça e meus lábios roçam sua bochecha. Não sendo algo
para se adiar, arrasto beijos por sua bochecha, pelo queixo e
depois mordisco sua orelha.

Ela geme e me agarra a ela, então me empurra de


volta. "Você tem que ir."

A única coisa que tenho que fazer é entrar nela.

Ela me empurra de novo e solto um som frustrado. Sua


palma acaricia minha bochecha. "Seus olhos parecem com o
céu antes de uma tempestade de neve."

"Quero você, Bells."

"Quero você também." Seu polegar traça meu lábio


inferior. "Depois de se encontrar com seu pai, ok? Mais tarde
essa noite."

"Tenho esperado oito anos. Oito. Longos. Anos."

"Um par de horas não são nada comparado a isso."

Respiro fundo e levanto. Então me inclino, ajudando-a


a ficar de pé. Não há como ignorar a enorme barraca do meu
jeans.
Ela passa a mão sobre ela e gemo. "Se fizer isso de
novo, vou deixa-la nua e embaixo de mim em segundos."

"Acredito em você," ela diz baixinho, momentos antes


de se afastar.

"Eu sei."

Ela balança a cabeça. "Lembra quando disse que seria


sua namorada até que eu te desse uma razão para não
poder?"

"Bellamy..." aviso.

Ela é louca se acha que pode me dizer que me ama e


então se virar e ir embora.

Não a deixarei ir.

"Esta é a razão, Liam. A razão pela qual não te


contei. A razão pela qual não deveria ter vindo aqui. Eu te
amo muito e quero que você esteja em segurança. Acima
de tudo. Mesmo acima de sua felicidade... e da minha. Não
acho que possa estar seguro quando estou por perto."

"Você está errada," argumento.


"Espero que esteja." Ela cede. "É por isso que ainda
estou aqui." Ela suspira e se vira. "Isso e eu realmente não
acho que posso te perder duas vezes."

Vou até ela, envolvendo os braços ao seu redor por


trás. Contra seu ouvido, faço uma promessa. Uma que
matarei para manter. "Você não vai me perder. Nunca."

Seus braços cobrem os meus e nos balanço de um lado


para o outro por alguns minutos silenciosos. Depois de um
tempo, ela passa a mão sobre as bochechas e funga. "Você
deveria ir. Seu pai está esperando."

Realmente não quero ir.

Ela vira em meus braços, sorrindo. "Estarei aqui


quando voltar."

"Jure," exijo.

"Eu juro."

Eu a beijo de novo, permitindo que minha língua


permaneça na dela.

"Eu volto," digo, me afastando. "Vamos, Charlie,"


grito. Ele se levanta e corre para meu lado. "Vou deixá-lo
fazer algum exercício e colocá-lo para fora antes de voltarmos
para a noite."

Ela concorda. Seus lábios estão inchados dos nossos


beijos.

"Tranque quando eu sair," instruo.

Bellamy me segue até a porta e dou a ela um último


olhar persistente antes de sair para o corredor.

"Eu te amo," digo a ela. Nunca serei capaz de dizer o


suficiente.

"Eu também te amo."

Nunca ouvirei o suficiente.

Espero até ouvir a tranca da porta antes de sair.


CAPÍTULO VINTE E CINCO
Bellamy

Sou uma covarde.

Parte de mim está bem com isso. Não é muito poder


feminino, é? A coisa é que a parte covarde me mantém
aqui. Me mantém com Liam.

Não posso me arrepender disso. Nunca.

Nunca poderei ser a garota-propaganda de força e


coragem. Nem quero ser. Só quero viver minha vida.

Minha vida. Não a vida de Bella Lane - uma mulher


que tem uma vida insossa, trabalha num escritório de
advocacia enfadonho, mora sozinha, sem família e com medo
de fazer amigos de verdade. Uma mulher que às vezes se
esgueira até a mercearia da esquina para pegar bons
ingredientes e preparar uma refeição para um, porque é
a única maneira pela qual se sente viva.

Senti-me mais viva na semana passada, vivendo com


uma mala, uma calça jeans mal ajustada e roupas íntimas
que tive que lavar na pia do banheiro, do que nos últimos
dois anos.
Preciso dizer a Liam.

Confessar tudo. Meu pai, testemunhar seu assassinato,


o julgamento, a proteção a testemunhas... Eu ter que fugir
para proteger minha vida. Não é justo da minha parte
confessar meu amor quando ele realmente não tem ideia do
que diabos está lidando.

Não sou mais uma garota de dezesseis anos com


problemas paternos.

Sou uma mulher adulta fugindo de assassinos.

Engraçado, no entanto, como essas duas versões


amam o mesmo homem.

E é por isso que preciso contar a ele. Um homem como


Liam, um homem que inspira esse tipo de amor, merece a
verdade.

Talvez seja uma desculpa eu continuar a não dizer


nada porque quero que ele esteja em segurança.

Oh, quero isso. Mais do que tudo.

Mas mantê-lo no escuro é como levá-lo a uma jaula


com um tigre faminto e depois acender a luz.
Vou até a janela e apoio minha testa no vidro frio. Está
nevando lá fora. Pequenos flocos gelados caem do céu, dando
uma camada fresca à cobertura que já brilha na montanha.

Se ficar aqui, tenho que ser honesta.

Ando pelo quarto, desembrulhando os itens que


comprei, dobrando as roupas e colocando tudo em cima da
cômoda.

A maior parte é básica, itens do dia a dia. Há algo


diferente sobre eles, no entanto. Eles não são todos
negros. Gravitei para algumas cores. Não uso cor há muito
tempo.

Sempre escolhi preto. Sempre disse a mim mesma que


isso ajudaria a me esconder, e talvez correspondesse ao meu
coração afinal de contas...

Mas hoje comprei azul. E verde. E rosa!

Não quero mais apenas preto.

Ver meu pai sendo espancado e assassinado ligou um


interruptor dentro de mim. Quase ser assassinada e fugir
trouxe isso de volta.
Usei meus novos produtos no chuveiro, levando tempo
para me depilar e hidratar. Saber que Liam vai passar a noite
me faz querer tomar cuidado extra com minha aparência,
algo que não pensei muito nos últimos anos.

Depois de vestir a camiseta dele, escovo meu cabelo, e


já que tenho alguns elásticos novos, aproveito o tempo para
fazer duas tranças espinha de peixe que caem sobre meus
ombros. As tranças passam dos seios e levam uma eternidade
para terminar, mas assim que estão presas, eu as aperto com
os dedos e sorrio.

Vale o trabalho.

Palpitações de ansiedade são comuns enquanto espero


Liam voltar para passar a noite. Não posso esperar para estar
em seus braços. Para senti-lo contra mim. Em mim. Ao meu
redor.

Realmente tentei seguir sem ele todos esses anos.

Cerca de um ano depois daquela manhã, estive com


outra pessoa. Fui ao banheiro depois e chorei lágrimas
silenciosas. Parecia errado. Tão errado.

Depois disso, não tive intimidade com ninguém até o


cara que estava namorando há seis meses. Naquele ponto,
era ficar ou ir embora. Talvez devesse tê-lo deixado ir, mas
não o fiz.

Não chorei depois, mas naquela noite, sonhei com


Liam. E passei o dia seguinte tentando não ler todos os
artigos on-line sobre ele. Continuei a sair com o cara. Nós
ficamos juntos por quase dois anos. Ele finalmente terminou
comigo porque disse que parecia que eu estava em outro
lugar.

Ele estava certo. Eu estava.

Parece quase irreal que estou aqui no BearPaw e que


Liam está de volta na minha vida. Nunca em um milhão de
anos pensei que isso aconteceria.

Entro nas cobertas, coloco algum filme na TV e olho a


neve caindo novamente. Ele foi embora há um tempo e estou
ficando ansiosa para vê-lo.

Quase como se tivesse o conjurado, ele bate na porta.

Pulo quando ele bate suavemente novamente. Meu


coração está acelerado, dedos formigando e meus olhos
desesperados por seu rosto. Vou para a porta, o tecido macio
de sua camisa acariciando minhas coxas enquanto corro.
A ansiedade me deixa burra. A paixão que sinto nubla
meu julgamento.

Pela primeira vez não sei em quanto tempo, abro a


porta sem chamar primeiro, sem olhar pelo temido olho
mágico.

O sorriso no meu rosto cai instantaneamente, mais


rápido do que a camiseta leva para se acomodar em torno das
minhas pernas. Com um grito, movo-me para fechar a porta.

Mas é tarde demais.

Deveria ter prestado mais atenção hoje na


cidade. Deveria ter prestado atenção à sensação assustadora
de estar sendo observada.

Eu não fiz isso.

E agora isso custará minha vida.


CAPÍTULO VINTE E SEIS
Liam

A porta do escritório do meu pai está entreaberta. Não


toda, apenas o suficiente para Charlie enfiar a cabeça e
empurrá-la.

Ouço meu pai rindo antes mesmo de passar por ela.

"Charlie!" Ele grita. "Como vai, meu bom homem?"

Sorrio ouvindo meu pai falar com meu cachorro. É


como se ele pensasse em Charlie como um dos caras. Acho
que ele é de certa forma. Charlie ajudou a me tirar de uma
depressão profunda, uma depressão que ainda está dentro de
mim com seus tentáculos escuros. Mais ou menos como se
estivesse à espreita.

Charlie se tornou parte da família no ano passado, não


só para mim, mas para todos ao meu redor. Todos sabem que
o cão gigante me ajuda de uma maneira que ninguém mais é
capaz. Se não por outro motivo, para me dar um propósito. É
difícil se afundar em auto piedade quando o cachorro está
puxando seus lençóis porque ele tem que mijar ou arrastando
a coleira porque quer andar.
"Ele está ótimo, pai. Acabou de comer um
hambúrguer," falo, entrando no escritório e fechando a
porta.

Papai ri de novo e sorrio porque Charlie está com a


cabeça no seu colo. Provavelmente babando em todo seu
terno. Ele não parece se importar, no entanto. Ele apenas
acaricia as orelhas do cachorro.

"Bem, tenho certeza que sua mãe ficará satisfeita por


estar alimentando-o bem."

Minha mãe liga para seu neto Charlie. Posso dizer.

"O que foi?" pergunto, sentando na cadeira perto de


sua mesa.

As luzes da noite estão acesas sobre as pistas. Tenho


uma súbita vontade de pegar minha prancha e descer. Fazer
snowboard à noite é algo que sempre adorei. O frescor no ar,
a calma ao redor das árvores e as milhões de estrelas
enchendo o céu noturno acima da neve branca e pura. Não
há realmente nada igual.

"Ouvi que teve uma reunião hoje."

Gemo. É disso que isso se trata?


"Bem, se já sabe, então não precisa me perguntar sobre
isso."

"Aparentemente, pergunto por que ficou claro que não


vai me informar nem à sua mãe sobre o que está acontecendo
em sua vida."

Ah, merda. Estremeço. "Mamãe está chateada?"

"Se sua mãe estivesse chateada, ela já estaria na sua


porta." Ele olha para cima. "Ou na porta de onde quer que
esteja dormindo."

Suspiro.

"Você esqueceu que BearPaw é uma espécie de família


gigante? Famílias fofocam, filho. Principalmente sobre
o membro mais popular."

"As pessoas precisam se importar com suas próprias


vidas," murmuro.

"Considerando que realizou uma reunião e deixou todo


mundo ciente da sua vida, diria que essa afirmação é um
ponto discutível."
Sento na cadeira. "Sinto muito por não ter falado com
você e mamãe antes de fazer o anúncio. Realmente não
planejei dessa maneira. Só precisava ser dito."

"Esta deve ser uma garota e tanto." Ele começa. "Uma


suíte no seu nome, pedindo serviço de quarto todas as
manhãs, comprando um monte de equipamentos numa
das nossas melhores lojas, trazendo-a para suas aulas...
ficando no quarto dela."

"Eu entendi, pai. Você sabe de tudo." E cada pessoa


nesse lugar é um pequeno dedo-duro.

"Não estou tentando te repreender. Você é um homem


adulto. O que faz com seu tempo e com quem, realmente não
é da minha conta, desde que não esteja se machucando, nem
a mais ninguém."

"Mas?"

Sempre há um mas com os pais. Mesmo quando se é


adulto.

"Mas isso parece muito extravagante para alguém que


acabou de conhecer na semana passada."

"Ninguém te disse o nome dela?" pergunto.


Sua testa franze. Ele parece cansado. Um
pressentimento que não gosto dá sinal dentro de mim, então
me concentro no assunto à nossa frente.

"Não. Mas realmente não acho que isso importe."

"É Bellamy, pai."

Seu rosto fica branco nos primeiros segundos. Então o


entendimento toma suas feições e ele se inclina para
frente. "A garota por quem queria deixar o profissional?"

Concordo. "A garota que foi embora," murmuro,


repetindo a frase favorita de Alex.

"Você quer dizer a garota que fugiu."

Meus olhos brilham nos dele. Não gosto da implicação


de suas palavras. Meu tom é plano, irracional, quando
respondo. "Não foi assim."

Ele espalha suas mãos. "Então como foi?"

"Ela me viu beijando outra pessoa naquela manhã. Eu


não sabia..." Minha voz some quando o arrependimento toma
conta de mim. Não lutei por ela naquela época.

Por que diabos eu não lutei?


Papai faz um som. "Vocês eram muito jovens. Não
estavam prontos para o amor."

"Bem. Ela está de volta agora."

"Presumo que os sentimentos que tinha oito anos


atrás ainda são os mesmos?"

Encontro seus olhos. "Eles estão mais fortes."

"Entendo."

Balanço a cabeça. "Ela está com algum problema,


pai. Ela não fala muito, fica dizendo que está tentando me
proteger. Mas ela está nervosa. Irrequieta. Ela está fugindo de
pessoas más."

"E você quer protegê-la."

Quero fazer muito mais do que protegê-la. "Pode ter


certeza que sim."

"E dizer aos funcionários que ela é sua namorada é sua


maneira de fazer isso."

Suspiro. "Ela estava preocupada que eles pensassem


mal dela porque tudo está em meu nome."

Meu pai sorri suavemente. "Então você deixou claro."


Levanto inquieto. Vagando para o outro lado da sala,
digo, "Por que isso te diverte tanto?"

"É muito bom ver você se preocupando com algo


diferente de snowboard."

"Eu me importo com mais do que apenas snowboard,"


argumento.

"Então, quando vamos conhecê-la?" Papai


pergunta. Não tenho certeza se devo ficar aborrecido ou
aliviado por ele não ter argumentado. "Sabe que sua mãe será
implacável."

Bufo. "Ela provavelmente te colocou nisso."

Ele ri, e isso praticamente prova tudo. "Ela está


curiosa. Ela também ouviu as fofocas. Mas eu também
estava, especialmente porque esteve aparecendo tanto no
resort e marcando reuniões da equipe."

Faço uma careta. "Ela tentou me pagar. Mais de uma


vez. Não posso aceitar o dinheiro dela."

"Entendo."

Viro para ele. "Entende realmente?"


Ele sorri largamente. "Eu fui jovem uma vez. Quando
conheci sua mãe, fui um idiota enlouquecido."

Solto uma risada.

"Estou preocupado, no entanto. Se ela realmente está


em apuros, isso pode segui-la até aqui. Quero que seja feliz,
Liam, mas não à custa do seu bem-estar."

"Você também não," murmuro e esfrego a mão sobre o


rosto.

"Como?"

"Bellamy acabou de me dizer a mesma coisa."

"Eu já gosto dela."

Reviro os olhos.

"Fale com ela. Se há uma coisa que aprendi depois de


todos esses anos de casamento, é que tem que ser honesto. E
vocês tem que ser uma equipe. Se não forem, nunca vai
funcionar."

"Sim." Concordo, pensando em voltar oito anos


atrás. Se tivéssemos sido um pouco mais honestos, talvez
agido como um time, as coisas pudessem ter sido diferentes.
"Vamos nos reunir neste fim de semana. Traga-a para o
jantar de domingo. Vou falar para sua mãe. Ela pode te ligar
para combinar."

Concordo.

"Então," ele diz no tom que sempre usa quando quer


mudar de assunto. Sei exatamente para onde isso está indo -
para eu assumir o resort. "Já pensou sobre o que discutimos
no nosso último encontro?"

Há uma rápida batida na porta, e então ela se


abre. Alex coloca a cabeça para dentro. "Desculpe incomodá-
lo, senhor Ren, mas estou tentando encontrar Liam."

Dou um passo para frente para que ele possa me ver.

O rosto de Alex suaviza com alívio. "Tentei te ligar."

Meu peito aperta. "Está tudo bem?"

Ele olha para meu pai, depois de volta. "Podemos


conversar?"

Nós dois olhamos para meu pai e ele nos


dispensa. "Vá. Liam, eu te vejo no sábado."
"Vejo você então," eu digo, mas antes de sair, paro e me
viro. "Obrigado, papai. Por tudo."

"De nada, filho."

Charlie está dançando ao redor de Alex quando saio no


corredor. É assim que sei que é sério. Alex sempre brinca com
o cachorro, mas esta noite ele nem parece notar.

"O que está acontecendo?" pergunto, colocando minhas


mãos nos bolsos do meu jeans.

"Eu estava na taverna há poucos minutos, e uns caras


entraram. Não pensei nada a princípio. Quer dizer, há novos
rostos entrando e saindo o tempo todo, sabe?"

Concordo. Um buraco de medo está formando um nó


no meu estômago, e isso está me deixando impaciente.

"Mas havia alguma coisa sobre eles... Algo não parecia


certo."

"Eles são hóspedes aqui?"

Alex sacode a cabeça. "Acho que não. Eles pagaram em


dinheiro pelas bebidas... começaram a fazer perguntas."

"Que tipo de perguntas?"


Sua testa fica ainda mais profunda. "Eles
queriam saber sobre Bellamy."

Minhas mãos caem dos bolsos, ombros rígidos. "Eles


perguntaram sobre Bells?"

"Sim. Eles estavam sendo casuais sobre isso, mas


havia algo estranho. Então me lembrei que você disse que ela
estava com algum problema..."

Eu pulo para frente e agarro-o pela camisa. "O que


disse a eles?"

Alex afasta-se e fez uma cara azeda. "Como se eu fosse


dizer alguma merda."

"Venha," digo e sigo pelo corredor. Ele vem ao meu


lado. "Eles ainda estão no bar?"

"Não, eles saíram. Foi quando vim te encontrar."

"Onde eles foram?"

"Não tenho certeza, mas disse ao cara que trabalha na


recepção para observá-los."

Aperto o botão do elevador cerca de quinze vezes e


depois amaldiçoo. Essas coisas são muito lentas! Com um
rosnado impaciente, aperto o botão uma última vez e parto
para as escadas.

"Onde está Bellamy agora?" Alex diz, correndo ao meu


lado, Charlie vindo atrás.

"Eu a deixei no quarto."

Sozinha.

De repente, sinto como se todo o sangue nas minhas


veias fosse substituído por água gelada. Solto uma série de
maldições e corro mais rápido.

Este lugar é enorme. Só porque os homens estão aqui


não significa que a encontraram. Ela está bem. Ela está
segura.

Por favor, Deus, permita que ela esteja segura.


CAPÍTULO VINTE E SETE
Bellamy

"Não fique tão surpresa," um homem com olhos


escuros diz, enquanto sua palma bate na porta e a empurra.

Luto contra, mas minha força sucumbe a dele.

A porta se abre quando tropeço para trás, mantendo


meus olhos no homem.

Ele não sorri. Ele apenas olha, entra no quarto e cruza


os braços, esperando.

Ele pode ter todo o tempo do mundo, mas tenho certeza


que eu não. Pego a primeira coisa que vejo, uma caneca de
cerâmica e jogo-a nele. Acerta no rosto e ricocheteia. Ouço-a
quebrar, mas não procuro descobrir onde. Corro para ele,
aproveitando a distração. Batendo nele, empurro, tentando
passar por ele e fugir para o corredor.

Com um rosnado, ele me puxa de volta, mal precisando


sair de sua posição na entrada.

Voo para trás, meu corpo como uma boneca de


pano. Bato no canto da cama e tropeço, caindo no chão.
Levantando, me preparo para lutar mais um
pouco. Mas o homem agora tem uma arma apontada para
mim.

"A última vez que alguém apontou uma dessas para


mim, eu joguei uma panela de comida quente na cara dele."
Aviso.

Ele não diz nada, apenas segura a arma quando


alguém aparece no canto.

Flashbacks surgem em minha mente. Uma neblina


vermelha cai sobre mim e, através dela, tudo o que vejo é a
noite em que meu pai foi morto. Sinto o cheiro da urina e
suor no quarto. Ouço os socos e gemidos enquanto meu pai
era espancado. Ouço o homem mijar no banheiro enquanto
eu tremia e engolia meu próprio vômito.

Eu vi.

Vi o olhar vago e vazio nos olhos do meu pai morto. O


sangue... Meu Deus, o sangue.

"Lembra-se de mim?" o segundo homem pergunta


quando fecha a porta atrás dele.

Pisco, concentrando-me na visão perfeita e repentina


que tenho da aranha gigante preta tatuada na sua nuca.
Ele tem cabelo agora, mas essa tatuagem ficará
gravada na minha mente por toda a eternidade.

"Você estava morto," sussurro, chocada.

Ele ri. É um som sinistro. "Porque tinha que


estar. Difícil levar um morto ao tribunal."

O esforço que essas pessoas fazem para ficar livres me


choca. Mesmo agora.

Ele deve ter visto isso na minha cara, porque ri. "Acha
que somente a polícia tem proteção a testemunhas?"

Não consigo pensar. Tudo o que posso fazer é ficar


paralisada - corpo e mente - pelo choque de vê-lo e ter
lembranças tão vívidas daquele dia horrível.

Ele ri. É caloroso e arrogante. "Oh, querida. De onde


venho, temos essa coisa chamada assassino de aluguel
escondido."

O homem que nunca sorri faz um barulho. Apenas um


som indefinido que não significa nada. O cara da aranha
parece saber o que significa, no entanto.
"Não me importo com o termo também. Todo mundo
sabe que caras como nós são muito mais do que apenas
assassinos."

Abro minha boca para gritar. Planejo gritar tão alto que
todas as janelas do prédio tremerão.

O cara da aranha lança-se através do quarto e me


segura. Seu corpo grande me joga no tapete. Antes que eu
possa dizer ou fazer qualquer coisa, ele me acerta no rosto.

A dor explode atrás dos meus olhos e irradia pelo


crânio. Minha cabeça cai para o lado por um minuto antes
que a realidade volte e tento lutar contra ele.

Ele faz um som e levanta, agarrando-me pela frente da


camiseta e empurrando. Uma das costuras dos ombros rasga
e algo dentro de mim dói.

Esta é a camisa de Liam.

Lágrimas enchem meus olhos e tento afastá-las. Elas


caem sobre minhas bochechas.

Liam.
O pensamento dele fica mais claro, e medo real se
instala profundamente em mim. Ele está voltando. Ele pode
ser pego no fogo cruzado.

Olho ao redor para o telefone na mesa de cabeceira. O


cara da aranha me agarra pela nuca e aperta com tanta força
que meus joelhos se dobram. Eu teria caído, mas ele me
segura, mantendo meu corpo refém.

Tento bater em seu braço, afastá-lo.

Ele ignora os movimentos e se inclina para meu


rosto. "Você mandou meu amigo para a prisão pela vida
toda. Ele não vai receber nenhuma condicional por bom
comportamento. Sabe por quê?"

Ofego e tento me soltar. Não consigo respirar.

"Por que, Spidey?" O homem com olhos vazios


pergunta.

"Porque alguém bateu nele em sua cela enquanto ele


dormia." Os dedos ao redor do meu pescoço se apertam e um
grito sai da minha garganta.

Ele me larga e caio de joelhos, ofegante.


Uma arma aparece na mão de Spidey. Não há
silenciador, e me pergunto o por quê.

Ele pressiona o cano contra minha testa, empurrando-


a com tanta força que caio, e ele aperta mais, empurrando a
lateral do meu rosto no tapete.

Eu chuto meu salto acertando seu joelho.

Ele amaldiçoa e a arma sai da minha cabeça.

"Você nos causou muitos problemas para uma porra de


menininha." Ele rosna e puxa uma das minhas tranças. Eu
paro enquanto ele puxa.

"Vamos." O homem da porta resmunga.

"Ir?" pergunto, minha voz rouca e estridente ao mesmo


tempo.

"Ela pensou que fôssemos matá-la bem aqui," diz


Spidey, divertido. Toda a brincadeira deixa sua voz e ele
chega perto novamente, tão perto que seus lábios roçam
contra minha bochecha. "Se quisesse ser eliminada da
maneira mais fácil, deveria ter nos deixado matá-la nas
primeiras vezes que tentamos. Essa é a última vez? Chega de
sermos bonzinhos."
"Se essa é sua ideia de bom, você realmente deveria ter
uma aula sobre boas maneiras."

Ambos os homens param e olham um para o outro.

Spidey olha de volta para mim. "Você está


brincando? Faz piadas antes de morrer?" Ele balança a
cabeça. "Cara, você é uma vadia louca."

Ele gesticula com a arma, e o outro homem abre a


porta e olha para o corredor. "Limpo."

"Deixe-me dizer-lhe como isso vai ser," ele sussurra no


meu ouvido enquanto me arrasta pela porta. "Você vai sair
daqui como se fôssemos amigos. E não fará uma cena."

"E se eu não fizer isso?" cuspo. Oh meu Deus. Onde


está Liam? Por favor, por favor, deixe que ele não volte ainda.

"Se não fizer, vamos começar a atirar nas


pessoas. Todos que encontrarmos. E depois que estiverem
mortos, nós vamos voltar para seu namorado."

Minha voz treme. "Que namorado?"

"Não brinque com a gente, e não vamos brincar com


você." Ele me empurra. Caio no corredor, com a bunda no ar.
"Porra," diz Spidey. "Onde está sua calça?"

Fico de pé, olhando para o corredor onde um sinal


vermelho de SAÍDA está aceso.

"Vá colocar uma calça. Sapatos também. E um casaco."

"Que diferença faz? Ela não precisa de calça para


morrer," - o outro homem comenta.

"Porque as pessoas notarão uma mulher caminhando


seminua com dois homens. Especialmente na neve."

Na neve? Nós vamos para fora?

"Leve-a," Spidey ordena.

O outro homem aproxima-se, me pega pela cintura e


leva de volta ao quarto. Ele me joga na cama e pulo para
cima. "Se vista."

Estico uma mão, pegando o jeans que estou usando há


dias. Quando o trago para mim, o homem estende a mão e
agarra meu pulso.

Seus olhos ainda estão vazios e negros quando


encontram os meus. Seu polegar acaricia meu pulso onde ele
segura. "Se tivéssemos mais tempo... oh, as coisas que eu
faria com você."

Um grito cresce na minha garganta e me afasto


dele. A ação me faz cair na cama. O homem se inclina sobre
mim, me prendendo com os braços. Ele sorri.

Oh Deus. É a coisa mais doente que já vi.

Levantando a arma, ele usa a ponta e corre até o


interior da minha coxa. Eu pulo, tentando fugir. Ele me força
para baixo na cama, me segurando com o braço. Seu peito
está me tocando. Assim como a arma...

Ele continua indo mais e mais para cima até que a


sinto sobre minha calcinha. Ele esfrega o metal frio contra
meu núcleo.

"Você já foi fodida até a morte?" ele pergunta, sua voz


quase sem emoção. "Imagine ser baleada por dentro."

Ele sorri de novo e grito.

Sua mão bate na minha boca e começo a lutar.

"Que porra é essa?" Spidey grita da porta.


O homem me segurando está em pé. Viro de costas e
saio da cama, então ela está entre nós.

Rapidamente, visto o jeans. Quero quantas roupas for


humanamente possível.

"Não temos tempo para isso. Vamos!" ele ordena.

O homem vem até mim e recuo. Minha bunda sobe


contra a mesa lateral. Esbarro nela e uma caneta cai contra
minha mão. Com cuidado, puxo-a sob meus dedos,
deslizando-a para minhas costas.

"Agora," o homem exige.

"Preciso dos meus sapatos." Aponto para as botas que


Liam comprou.

O homem se vira para pegá-las e enfio a caneta no meu


bolso de trás. Não é muito, mas é alguma coisa.

As botas são atiradas para mim. Uma bate na parede e


uma me atinge. Com as mãos trêmulas, eu as puxo. Em
seguida, ele me joga o casaco. Também o visto.

Saio do quarto de bom grado. Spidey anda na minha


frente, o outro atrás.
Em vez de seguir o caminho que espero, eles me forçam
a descer as escadas, mas depois em outro andar eles me
obrigam a descer uma escada de serviço, que claramente não
é usada pelos hóspedes.

Eles me levam por uma parte do resort onde nunca


estive, um lugar que deve ser da manutenção. Os corredores
estão escuros e barulhentos, e o zumbido do equipamento
abafa o som dos bandidos ordenando que eu me mova mais
rápido.

Finalmente, chegamos a uma porta. Spidey empurra e


abre. Flocos de neve e ar frio correm para dentro e giram em
torno dos meus pés.

O céu está escuro e tudo o que está lá fora parece


quieto.

Piso fora, esmagando a neve com minhas botas


frouxamente amarradas. O homem por trás me
empurra. Caio de cara na neve. Tudo sob o pó recém caído é
duro e implacável.

Grito e fico de pé.

"Vamos, Pequena Testemunha Chave," Spidey zomba,


apontando a arma para mim. "Parece uma noite muito boa
para morrer."
CAPÍTULO VINTE E OITO

Liam

Tenho uma chave do quarto dela, mas não preciso.

Está aberto. O sinal de não perturbe pendurado na


parte de trás virou e ficou preso entre a porta e o batente.

Alex e eu nos entreolhamos. Coloco meu dedo em meus


lábios e ele concorda, pegando Charlie pela coleira.

Abro a porta e olho para o quarto.

As luzes estão acesas. A TV está ligada. Meu prato


vazio e o jantar dela intocado estão perto da
janela. Entro. "Bells?"

Algo estala sob minhas botas. Olho para baixo e vejo


pedaços de porcelana branca por todo o carpete.

"Bellamy!" Grito e entro mais.

Não é difícil perceber que ela não está aqui. Sua


ausência soa como vibrações nefastas ainda flutuando ao
redor. Pânico, diferente de tudo que já senti, agarra meu peito
e aperta. Dor atinge minhas costelas e me sufoca.
Praticamente cego, passo por Alex e corro para
o banheiro.

Está vazio também.

"Eles estão com ela." Minha voz é rouca. "Eles forçaram


entrada e a levaram."

"Tem certeza?" Alex diz, preocupação escrita em todo


seu rosto.

Eu me abaixo e pego a alça da xícara quebrada. Jogo-a


através do quarto e ela bate na parede, quebrando. "Eles a
levaram, porra!"

"Ei," Alex diz e coloca a mão no meu ombro. "Relaxa."

"Não me diga para relaxar!" Eu me afasto dele. "Tenho


que encontrá-la." Começo a sair correndo.

Alex me segura, me puxando. Olho para baixo, onde ele


me segura. Meu peito está arfando. "Eu amo você, cara, mas
vou arrancar seu braço se tentar me impedir."

"Não estou tentando impedi-lo."

"Então solte," resmungo.


Ele puxa um telefone do bolso. "Deixe-me ligar lá
embaixo para ver se alguém sabe onde eles foram."

Respiro fundo. "Você tem cinco segundos."

"Farei em quatro." Ele solta um suspiro, e ando para o


outro lado do quarto. Os lençóis estão bagunçados e parte
deles no chão como se ela tivesse caído.

Solto um som engasgado e puxo meu cabelo.

"É Alex. Ei, aqueles homens que estavam lá embaixo há


alguns minutos? Para onde foram?"

Meu corpo inteiro fica tenso enquanto o ouço.

"É melhor descobrir agora, ou está demitido!" Alex diz


as palavras como um raio.

Suspiro e vou até a janela, achatando as palmas das


mãos no vidro. Meu corpo estremece com energia, medo.

Ela jurou que estaria aqui. Ela deveria estar aqui. A


única razão pela qual ela não estaria é se alguém a obrigasse
a sair.
Quando estava olhando para aquela arma... Tudo que vi
foi você. Suas palavras enchem minha cabeça. A angústia
nelas, o medo.

"Eu deveria ter estado aqui!" Solto e bato no vidro com


o lado do meu punho. A janela inteira treme sob o impacto.

Vejo o vidro balançar. É assim que me sinto por


dentro. Vacilante. Prestes a quebrar. Frio.

Subindo a montanha, ao lado do elevador e à beira da


luz, algo me chama a atenção. Bato minhas mãos no vidro
novamente. Ele quase quebra quando me inclino e olho.

Há três figuras em movimento. Duas grandes e uma


visivelmente menor. O cabelo claro da pequena se destaca
como um farol para homens perdidos no mar.

É ela. Sei que é. Posso sentir minha alma tentando


deixar meu corpo para voar para onde ela está. Dói, de tão
desesperada tentando sair do meu peito.

"Cuide do Charlie," peço e corro do quarto.

"Liam!" Alex grita, seguindo-me para o corredor. "Liam,


aonde vai?"
Olho para trás enquanto continuo a correr. "Se eu não
voltar de manhã, mande uma equipe de busca."

"Deixe-me ir com você!" Ele grita, mas continuo


correndo.
CAPÍTULO VINTE E NOVE
Bellamy

Está frio. Não apenas qualquer frio. O tipo que alcança


através do vento uivante com seus dedos magros e finos e
envolve sua pele, passando pela carne, atingindo até o osso.

O inverno é um adversário digno. Não precisa ser nada


além do que é para ganhar uma guerra. Pode enterrá-lo na
neve, sufocá-lo com ar gelado ou diminuir sua temperatura
corporal a ponto do sangue congelar em suas veias.

E ele pode fazer tudo ao mesmo tempo parecendo um


país das maravilhas.

"Isso tudo é realmente necessário?" Olhos vazios


pergunta enquanto nos arrastamos pela neve.

Não digo nada. Por dois motivos:

1. Estou apavorada.

2. Estou conservando minha energia porque não vou


morrer assim.

"Você ouviu o chefe." Spidey joga as palavras sobre o


ombro como uma bola de neve.
O vento frio sopra, e pisco contra ele. Jeans, uma
camiseta e um casaco não são proteção suficiente contra uma
montanha de neve à noite. Meus ouvidos já doem, meus
dedos estão ardendo por falta de calor, e mesmo enfiados nos
bolsos, eles estão duros e inflexíveis.

A neve cobre meu cabelo e meu nariz está


dormente. Quase mordo a língua duas vezes porque meus
dentes estão batendo violentamente.

Tropeço e teria caio se não me segurasse com as


mãos. Elas gritam de dor quando afundam na neve
gelada. Engraçado como parecia tão bonito através de uma
janela, mas no segundo em que sai para o mundo, cancelo o
que disse.

"Levante." Olhos vazios me agarra, forçando-me a ficar


de pé. Meus joelhos doem pelo frio.

Mesmo se conseguisse sobreviver a um ferimento à


bala, nunca sobreviveria a uma viagem de volta à montanha.

"Aonde vamos?" pergunto, estremecendo.

Ele me empurra e começo a me arrastar novamente.


"Para um lugar onde seu corpo não será encontrado até
a primavera. E quando for, será pelos ursos," Spidey
responde.

"Por que não simplesmente me mata agora?" pergunto,


olhando o resort. Ele está ficando mais distante a cada passo.

Apenas continue. Leve-os para longe de Liam. Quanto


mais, melhor.

"Eu já disse. Você ganhou uma morte dolorosa e


fria. Não só colocou o chefe e muitas pessoas dele atrás das
grades, mas fez todos parecermos tolos quando
escapou. Vamos fazer você de exemplo. Qualquer um que
queira seguir seus passos vai pensar duas vezes."

"É por isso que saiu do esconderijo?" instigo. "Para


poder cuidar de mim pessoalmente?"

"Não gosto de pontas soltas," ele cospe.

Meus dedos queimam, e minhas pernas sentem o vento


queimando através do jeans estúpido.

"Por aqui." Spidey me agarra de repente, forçando-me


numa direção diferente. Até agora, estávamos subindo a
montanha. Para o lado dos elevadores. Tento acenar para
algumas pessoas que estão a cerca de um quilômetro e meio
para trás.

Spidey e o amigo riem de mim.

A neve caindo do céu aumenta. A visibilidade é menor


que antes. Não estamos sob luzes, e todos usamos preto. Por
que não escolhi um casaco amarelo neon?

Caminhamos um pouco mais, passando por um


marcador que informa para voltarmos para a colina. Fica
mais escuro quanto mais longe vamos, tão escuro que Spidey
tira uma pequena lanterna e lidera o caminho.

Ele ilumina outro marcador, que marca os limites do


resort. Tudo além deste ponto não é patrulhado e é
considerado inseguro. Eles estão me fazendo subir pela
lateral de uma montanha até o lugar onde morrerei.

Começo a pensar em Liam. Sobre tudo o que nunca


conseguiremos fazer. Sobre o quanto estou feliz por tê-lo visto
novamente. Como estou feliz por ter, pelo menos, dito que o
amo.

"Opa," diz Spidey, parando abruptamente. Ele foca a


lanterna sobre o que parece ser uma queda. A luz se estende
até a neve suave e intocada.
"Estamos aqui," diz ele, virando. O branco de seus
olhos brilha no escuro, e seu rosto pálido se destaca contra a
noite e o gorro preto que usa.

Aposto que está quente sob a touca.

Olhos vazios empurra-me para a borda, e luto por


equilíbrio antes de conseguir me endireitar.

Duas armas miram no meu peito.

Outro flash da noite em que meu pai morreu atinge


meus pensamentos. A maneira como ele tremeu quando as
balas o atingiram. A maneira como seu corpo caiu no chão.

"Alguma última palavra?" Spidey pergunta.

"Sim," digo, alcançando o bolso de trás. Meus dedos


estão tão gelados que é difícil forçá-los a dobrar, mas eles o
fazem, e pego a caneta. "Isto é pelo meu pai."

Eu me lanço, pegando-os desprevenidos. Spidey


dispara um tiro, mas passa longe. O som ecoa pela noite e
retumba no chão sob meus pés.

Continuo indo, não me importando se for baleada. Se


vou morrer agora, causarei algum dano primeiro.
Meu corpo colide com o dele, e nós dois caímos num
emaranhado de membros. O peso do meu corpo faz com que
ele afunde ainda mais na neve, então aproveito a vantagem,
empurro o braço para baixo e enfio a caneta em seu pescoço.

Seus olhos se arregalam de surpresa e a arma em sua


mão cai na neve. Ambas as mãos sobem para onde o
instrumento fino sai de sua carne. O líquido vermelho-escuro
penetra em suas luvas.

Olhos vazios me agarra por trás e me levanta. Começo


a chutar e balançar os braços com tudo que me resta. A
ponta fria de uma arma empurra contra minha testa e
congelo.

Spidey levanta, tira a caneta do pescoço e joga-a no


chão. Observo-a cair na neve imaculada, salpicando-a com
manchas escuras.

Bem. Isso não foi realmente o planejado.

"Vai pagar por isso," ele cospe.

"Por que morrer já não é castigo suficiente?"


Retruco. Então chuto o homem me segurando na canela. Ele
geme, mas não solta.

Spidey se aproxima e me dá um soco no rosto.


Sim. Homens não deveriam bater em mulheres?

Esses dois não acreditam nisso. Claramente.

Minha cabeça balança nos ombros e meu corpo fica


momentaneamente mole. A sensação de algo quente no meu
rosto me traz de volta. É realmente uma sensação agradável
porque estou com tanto frio, até que o foco volta o suficiente e
me lembra de que se eu estou sentindo calor, provavelmente
é sangue.

Se é meu ou de Spidey, não sei.

Levantando a cabeça, sinto o peso da morte. Como se


já estivesse aqui, tentando me enterrar.

Um flash de algo acima nas árvores chama minha


atenção.

Pisco, tentando ver através da neve caindo e minha


visão fica turva. O que quer que seja se move novamente.

Algo familiar agita dentro de mim. Algo que se parece


muito com amor.

Liam.
"Verei você no inferno, cadela," Spidey entoa e faz sinal
para olhos vazios me colocar para baixo. Ele me joga perto da
beira do declive e balanço.

O som de um galho quebrando atrai os homens, e


ambos giram a tempo de ver um borrão saindo das árvores e
cortar a neve num rápido movimento.

É o Liam. Ele veio por mim.

Não há tempo para sentir qualquer tipo de alegria, no


entanto. Ele estar aqui não é um alívio.

Só piora a situação.

Um fato que sem dúvida é provado quando Spidey e


seu amigo de olhos vazios erguem as armas e começam a
atirar.
CAPÍTULO TRINTA
Liam

Esses homens são estúpidos ou simplesmente


incrivelmente arrogantes.

Na verdade, não. Eles são ambos.

Sua arrogância os faz estúpidos. Eles pensam que


podem entrar no meu resort, fazer um monte de perguntas
sobre minha namorada, e nenhum dos meus amigos
levantaria uma bandeira vermelha.

Idiotas.

Além disso, pensam que podem levar Bellamy até uma


montanha sem que ninguém perceba ou pare para pensar
nas pegadas que eles literalmente deixaram para trás na
neve.

Se não estivesse olhando pela janela, talvez não


notasse.

O pensamento na minha própria cabeça me ofende.

Sim, bem, eu vi, retruco.


Você sabe que um homem é bom e preocupado quando
ele discute consigo mesmo. Estou mais do que
preocupado. Estou quase espumando pela boca.

Vi em que direção eles iam quando sai correndo do


quarto dela, mas quando desci as escadas e entrei nos
alojamentos dos instrutores, estava com a camisa suada. E
se no tempo que levei para pegar alguns equipamentos e os
seguir, eles tivessem desaparecido?

E se eu a perder de novo?

E se eu nunca mais vê-la?

O medo urgente e quase entorpecedor me mantém em


movimento, dando uma explosão de adrenalina que não
sentia desde que competi nas Olimpíadas de inverno há
alguns anos.

Conheço essas montanhas como a palma da minha


mão. Eu cresci aqui, Alex e eu estivemos em todos os
lugares quando adolescentes. Posso usar isso em minha
vantagem. Esses caras não conhecem o lugar. Eles não
conhecem a montanha.

Meus músculos das pernas queimam com o esforço de


subir a montanha enquanto carrego meu equipamento, mas
não paro. Nem mesmo quando sinto a familiar pontada de
dor no meu joelho ruim.

Você está se esforçando. Não deveria fazer isso.

Eu serraria a porra da minha perna antes de deixar


essa lesão me atrasar. Essa voz da razão na minha
cabeça? Pode ir se foder.

Pego a trilha que eles deixaram para trás e a sigo até


que passamos pelas marcas do diamante negro. A luz de uma
lanterna é fraca à frente, então sei que os encontrei. Apenas
oro a Deus para não chegar tarde demais.

Escuto o chicotear do vento, na esperança de ouvi-la,


esforçando-me para escutar aquele som familiar sobre minha
própria respiração irregular.

Sei que eles estão saindo dos limites no segundo em


que a luz desaparece nas árvores. Também sei que há uma
queda perto, e leva tudo dentro de mim para não gritar
o nome dela e avisá-la.

Não posso me entregar. O elemento surpresa está do


meu lado. Tenho que usar isso. É tudo que tenho.

Minha direção desvia da que eles seguiram. Em vez de


atravessar como eles, subo, tudo em mim tremendo com
força. Uma vez que chego nas árvores, começo a descer na
direção deles. Ouvindo enquanto cuidadosamente passo pelas
árvores, espero que eles também não tenham mudado de
direção e estejam vindo direto para mim.

Alguns momentos depois, ouço Bellamy gritar,


seguido rapidamente por um tiro. Começo a correr, não me
importando mais com o barulho que faço ou se eles me
ouvem chegando. Meu snowboard está batendo contra o chão
e atrás das minhas pernas enquanto corro. Quase tropeço,
mas me endireito antes de cair.

O snowboard bate na neve acumulada na minha frente,


derrapando na montanha um pouco antes de atingir uma
árvore e parar.

O que diabos estou fazendo? Correndo montanha


abaixo quando poderia estar naquela prancha. Inferno, estou
melhor nela do que em meus pés.

Desço, apoio minha mão na árvore e bato os pés na


prancha. Meu joelho dói, mas ignoro.

Uma vez que estou equilibrado, atravesso a neve,


desviando pelas árvores até quase chegar a uma clareira logo
antes da queda.
Estendendo a mão, pego um galho e paro bem a tempo
de ver um cara corpulento de preto dar um soco no rosto de
Bellamy.

Uma raiva tão forte corre por todo meu corpo que ele
treme com isso. Digo a mim mesmo para me acalmar, me
recompor e pensar claramente. O homem segurando Bellamy
a arremessa. Ela quase cai na beira.

O galho quebra com meu aperto, e penso que não é


mais uma opção.

Com um grito de raiva, saio das árvores, cortando a


neve com mais controle do que tenho há muito tempo.

O som de armas de fogo mal é registrado, mas a


maneira como o chão treme sob minha prancha funciona.

Porra!

"Liam!" Bellamy grita, sua voz ecoando pela noite.

Mais tiros disparam e fazem um ziguezague na


distância entre nós quando as balas atingem a neve ao meu
redor.

Observo através de olhos selvagens quando minha


garota pula no homem que a atingiu, caindo nas costas dele,
e os faz cair no chão. Enquanto a dupla luta, o chão treme
mais.

Isso não é bom. De modo algum.

Eles precisam parar de disparar essas armas.

Como se quisessem ser idiotas, uma arma dispara mais


uma vez.

Bellamy grita, e olho para cima descontroladamente,


quase mijando na calça de alívio quando vejo que ela não foi
atingida. O idiota atirou sobre a cabeça dela, assustando-a e
começando tudo.

O profundo e bravo estrondo da montanha corta todo o


caos.

"Bellamy!" grito.

Tudo abaixo de nós começa a mudar e desaparecer.

Há apenas uma coisa que posso fazer.

Só uma maneira de não morrer numa avalanche...

Superá-la.
Passo pelo homem em que Bellamy pulou, deslizo
minha prancha pela neve e jogo uma onda de neve nele e em
Bells. Ele a solta para proteger o rosto e continuo, batendo
direto nela, levantando-a enquanto continuo a deslizar.

"Espere", grito, sentindo-a envolver seus braços e


pernas em mim.

No momento seguinte, o chão cai completamente e


estamos voando.
CAPÍTULO TRINTA E UM
Bellamy

O chão debaixo dos meus pés se quebra e


desintegra. Em um momento estou de pé, e no seguinte estou
olhando para baixo, onde o chão costumava estar, enquanto
pedaços de gelo e neve caem numa nuvem gigante e
barulhenta que está mais furiosa do que qualquer coisa que
já vi antes.

Avalanche.

Puta merda, estamos no meio de uma avalanche.

"Segure-se!" Liam grita, a voz quase inaudível com o


som da montanha rugindo ao nosso redor.

A saliência sobre a queda desmorona quando Liam


salta, nos levando ao ar sobre o caos. Não olho para
baixo. Não posso. Segurando nele o mais firme que posso,
sinto a agitação na atmosfera ao nosso redor, ouço os gritos
dos homens que tentaram nos matar.

O chão vem rápido e duro. O choque de Liam batendo


no chão abaixo de nós com a prancha faz meus dentes
baterem. Um som de dor sai de sua garganta, mas seu corpo
trava, exibindo um nível de habilidade e controle que
honestamente não consigo entender.

Ele continua a descer a montanha. Olho por cima do


ombro e ofego.

A fúria da natureza no seu melhor. Isso é exatamente o


que estou vendo.

Ouvi os relatos. Vi as consequências na TV. Nada pode


fazer justiça. É absolutamente aterrorizante.

É como um tsunami de neve. O som é ensurdecedor


enquanto observo grandes quantidades de branco rolarem e
retumbarem em nossa direção. Tudo que ela toca, pega para
si. Tudo em seu caminho é destruído.

Na verdade parece quase leve conforme o branco estufa


e cresce sobre tudo, mas sei que é mentira.

Aquela neve é pesada.

É mortal.

"Não solte," Liam grita, prendendo o braço em mim


enquanto sua parte inferior do corpo gira com a prancha.
Agarro-o com mais força, incapaz de desviar o olhar do
terrível monstro literalmente nos perseguindo montanha
abaixo. Está ganhando de nós. Estou o atrasando.

"Largue-me!" Grito contra seu ouvido. "Coloque-me no


chão!"

Se ele fizer isso, pode fugir. Ele pode sobreviver.

Em resposta, seu braço me aperta ainda mais, a ponto


de doer.

Deus, esse homem. Por que ele não consegue entender


que eu não importo? Contanto que ele viva, nada mais
importa.

O estrondo fica mais alto. O jato de neve me bate nas


bochechas.

Não vamos conseguir.

Somos pequenos, impotentes contra tal força.

"Vamos lá!" Liam resmunga e gira o corpo num ângulo


diferente. Sinto nossa posição mudar, quase como se, de
alguma forma, estivéssemos no ar novamente.

"Nade, Bellamy," ele grita. "Lembre-se de nadar!"


E então o branco nos engole por inteiro, desmoronando
ao nosso redor, forçando-nos a nos separar mesmo enquanto
grito e tento desesperadamente me segurar.

Meu corpo é arremessado e curvado. O rugido alto da


avalanche torna-se ensurdecedor... Até que tudo fica
assustadoramente silencioso.
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
Liam

O resultado de uma avalanche é chocante. O que antes


era violento e explosivo torna-se impotente e pacífico.

Mesmo se conseguir sobreviver, as primeiras duas


respirações te fazem questionar se está morto. O silêncio. O
branco sem fim. O distanciamento momentâneo de tudo ao
seu redor.

Mas em seguida volta tão violentamente quanto tudo o


que isso deixou.

O silêncio é interrompido pelo som do seu coração


acelerado, a dor nos membros e a maneira irregular como
respira.

"Bellamy!" Grito, sentando-me. A velocidade do


movimento me deixa tonto e estendo a mão para me
equilibrar em algo.

Não há nada.

Nada além de branco, um cobertor produzido pelo


inverno, cobrindo tudo o que os olhos podem ver.
"Não." Engasgo, me forçando a ficar de pé. Meu joelho
cede e caio, mas levanto tão rápido quanto posso.

"Bellamy!" Grito. Minha voz ecoa pelo ar.

Espero que tenha sido o suficiente. Por favor, permita


que tenha sido o suficiente.

No segundo em que soube que a avalanche ia nos


atingir, acertei um relevo natural na montanha, pegando um
pouco de ar quando o branco estendeu as garras.

Espero ter subido o suficiente para não


ser completamente golpeado. Espero ter nos dado uma
chance de não sermos enterrados sob toneladas de neve que
se acumulou como concreto.

Depois de trinta minutos, as chances de ser encontrado


vivo em uma avalanche diminuí drasticamente.

Depois de três horas, está certamente morto.

"Bellamy!" Grito novamente.

Preciso encontrá-la. O relógio está correndo. Não vou


sair desta montanha sem ela. Se ela morrer aqui em cima,
então, por Deus, eu também morro.
Ignorando a dor angustiante no meu joelho, corro para
frente. Minha prancha sumiu há muito tempo. Provavelmente
nunca mais a verei.

"Bells!"

Cambaleio ao redor, examinando o branco, procurando


por algo... qualquer coisa.

Um som, abafado e quase perdido, faz-me virar a


cabeça. Congelo e olho na direção que ouvi o ruído.

Colocando as mãos ao redor da boca chamo,


"Bellamy?"

Um grito abafado responde.

Afasto-me um pouco do lugar onde estou, o som abaixo


de mim. Meu joelho cede de novo, mas continuo me movendo,
seguindo em direção ao som.

No segundo que levanto meu pé, uma mão esbelta e


pálida se destaca do branco. Mexe e move como uma
bandeira contra o pano de fundo da noite.

Um som estrangulado força minha garganta, e


resmungo enquanto me jogo, caindo sobre minhas mãos e
joelhos e escavando a neve ao redor da mão.
Ela continua se movendo, sua mão forçando para
baixo, voltando para cima, para baixo novamente, até que
posso ver seu pulso e outros dedos.

Agarro suas mãos e puxo, soltando um grito no céu.

O corpo de Bellamy surge do buraco branco e caio de


costas, trazendo-a comigo. Ela desaba no meu peito. Ela
ofegando por ar é o melhor som que já ouvi.

"Obrigado!" Murmuro para o céu. As estrelas piscam


para mim. "Obrigado."

Bellamy começa a falar e meu foco muda. Segurando


seu rosto em minhas mãos, olho-a com atenção. "Você está
bem? Está muito ferida?"

"Liam." Ela ofega. "Liam." Seus olhos ficam enevoados e


uma lágrima cai em sua bochecha. "Eu realmente tentei
segurar."

Uma risada borbulha no meu peito. A pressão disso,


juntamente com a gratidão profunda que ela está viva doí,
mas é uma dor que aceitarei o resto da minha vida se for
preciso. "Você está segura," digo, desmoronando de costas na
neve com um suspiro. "Você está segura."

"Você salvou minha vida."


Levanto a cabeça, encontrando seus olhos. "Não
querida. Eu nos coloquei em perigo ao sermos atingidos por
uma montanha zangada."

Ela balança a cabeça. "Você me disse para nadar. Isso


me impediu de ficar presa lá embaixo, certo? Você me disse
para nadar."

Numa explosão de energia, sento e abraço-a. "Sim,"


digo, dando um beijo em sua testa, em seguida, seu nariz.
"Sim," murmuro novamente e beijo seus lábios.

É uma das coisas que ficou memorizada. Se estiver em


uma avalanche, nade. A neve, uma vez compactada, é quase
impossível de mover. Precisa nadar para sair.

Bellamy afasta os lábios dos meus com um suspiro e


afunda no meu peito. Seu corpo está assustadoramente
flácido.

"Ei." Puxo-a completamente para fora da neve. "Diga


onde está ferida."

"Não tenho certeza," ela responde.

"Ok, vamos nos levantar. Fazer um balanço de como


está."
"Liam?" Ela agarra meus braços antes que possa me
mover.

"Sim?"

Seus olhos estão arregalados quando ela olha para


cima. "Eles tentaram me matar. Eles iam te matar." Seu lábio
inferior treme e estou perdido.

"Shh," sussurro, puxando-a para mim. "Eles tentaram,


mas falharam. Estamos bem agora. Nós dois estamos bem."

Ela ofega e se afasta do meu peito. "Meu Deus! Eles


ainda podem estar procurando por nós. Eles ainda estão
aqui!"

Eu a seguro quando ela tenta se mexer. "Acalme-se,"


insisto. "Está tudo bem."

"Não!" Ela chora. "Não está nada bem!"

Ela está em choque. Seus olhos estão selvagens. Os


lábios estão ficando de uma tonalidade de azul que não
gosto.

Ela não tem luvas. Sem gorro. E está vestida com um


jeans ensopado.
Eu a abraço, balançando-a para frente e para trás,
segurando tão apertado quanto posso. Estou incrivelmente
com medo de apertar muito e piorar algo que já está
machucado.

Seus dentes batem uns contra os outros e seu corpo


estremece.

"Levante," digo, sentindo a mesma urgência de quando


desci a montanha, tentando me livrar da avalanche.

Sem abrigo e calor, ela vai morrer.

Arrancando o gorro da minha cabeça, coloco-o sobre a


dela, puxando-o para baixo, quase cobrindo seus olhos. Em
seguida, retiro minha jaqueta e envolvo-a, fechando
completamente. "Coloque as mãos dentro do forro," peço.
Quando ela não obedece automaticamente, pego suas mãos e
as empurro para dentro do casaco.

"E quanto a você?" Seus dentes batem.

"Não se preocupe comigo." Asseguro a ela. "Tenho neve


no meu sangue."

Usando minhas mãos, esfrego rapidamente para cima e


para baixo em seus braços, tentando colocar qualquer calor
que eu possa nela. Ela choraminga e seu corpo recua.
Meus olhos estreitam, mãos pairando sobre seu corpo.
"O que dói?"

"Meu ombro." Ela olha o ombro direito. Observo-o, mas


não consigo ver nada porque meu casaco está cobrindo-a.

Meu olhar percorre seu rosto. Sua bochecha tem um


corte. O sangue está congelado no rosto dela. Seus olhos
estão escurecendo e um dos lados do lábio está inchado.

"Ele bateu em você," resmungo quando minha própria


avalanche de raiva explode.

"Poderia ser pior," ela responde. Um sentimento de


incapacidade me atinge. "Os homens!" Ela diz, olhando ao
redor.

"Eles provavelmente estão mortos," respondo


imediatamente. Se por algum ato divino de Deus estiverem
vivos, eu os matarei.

"Tente andar," murmuro, envolvendo um braço em sua


cintura. Os movimentos são rígidos e desajeitados. Cada
passo que ela dá, antecipo um grito de dor.

Mas quando um pé vai lentamente à frente do outro,


começo a me sentir um pouco mais esperançoso.
"Como você está?" Ela pergunta, olhando-me.

Como posso pensar em mim quando metade do rosto


dela está inchando, seu ombro machucado, e segundo após
segundo, ela está mais exposta ao congelamento?

"Liam!" Sua voz aguda corta meus pensamentos. "Você


está machucado?"

"Uh, acho que não," digo, balançando a cabeça


enquanto caminhamos. Meu joelho falha.

"Não minta!"

"Meu joelho," digo. Lentamente, faço uma análise do


meu corpo, na verdade guardando meus pensamentos para
mim, lutando para mantê-los lá dentro. É difícil pensar em
mim, especialmente quando preciso pensar nela primeiro.
Especialmente com a dor forte na cabeça.

"Você está sangrando!" Ela diz com um suspiro.

"O quê?"

Seus dedos saem do casaco que coloquei em volta dela,


levantam e alcançam atrás da minha orelha. Estremeço. Eles
saem vermelhos.
"Você bateu a cabeça, Liam."

Bem, isso explica a dor na cabeça.

Agarro seus dedos expostos, ignorando o sangue


manchando-os, e puxo minha jaqueta para cobri-los.
"Mantenha sua mão coberta."

"Mas sua cabeça!"

"O frio vai retardar o sangramento." Realmente não


estou preocupado. Já passei coisa pior.

"Precisamos voltar ao resort." Ela se preocupa. "Você


precisa de um médico. Nós dois precisamos."

"É muito longe," respondo, balançando a cabeça. "Não


vamos conseguir. Não sem minha prancha."

Ela agarra a frente da minha camisa, os dedos


enrolando dentro das mangas do casaco. "Nós não temos
escolha." Sua testa franze. "Onde está seu casaco?" Como se
finalmente entendendo o que está acontecendo, ela olha o
próprio corpo, e faz um som de surpresa.

Bellamy começa a desenrolar o casaco, tentando tirá-


lo. Eu sei que ela fará. Agarro seus braços e os seguro ao lado
do corpo enquanto ela luta.
Em seu desespero, ela oscila muito, e uma onda de dor
atravessa seus olhos. Ela reprime um gemido e fica
imóvel. Solto seu pulso direito instantaneamente, com medo
de ter puxado seu ombro.

"Não vou usar seu casaco!"

"Sim, você vai."

"Você precisa disso!" Ela exige.

"Você precisa mais."

"Não!"

Agarro seu rosto e forço nossos olhos a se encontrarem.


"Olhe para mim."

Ela fica imóvel e escuta. Meus olhos estudam os dela,


procurando. Suas pupilas estão dilatadas. Amaldiçoo.

"O quê?" Ela choraminga.

"Acho que você tem uma concussão."

"Eu?"

Tenho certeza que nós dois temos. Ela definitivamente


está em estado de choque, mas seu nível de compreensão e
movimento atrasados... Ela bateu com a cabeça em algum
momento. Talvez no momento que machucou o ombro.

Eu a pego no colo, tomando cuidado com seu ombro e


me certificando de que o direito esteja virado para fora e não
contra mim enquanto eu a embalo contra meu peito.
"Estamos indo."

"Seu joelho!" Ela engasga.

"Não dou a mínima para meu joelho!" Grito.

Ela fica em silêncio, escorregando contra meu


peito. A maldição que solto flutua atrás de nós enquanto
caminho. "Sinto muito, querida. Só... Apenas me deixe nos
levar a um lugar seguro."

"Mas onde?" Ela pergunta, colocando a cabeça contra


meu peito.

Olho para frente, esperando como o inferno que ainda


esteja lá. "Conheço um lugar."
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
Bellamy

Tenho quase certeza de que ele está destruindo sua


perna esquerda, e isso me deixa enjoada. Quero tanto dizer a
ele para me colocar no chão, mas não falo. Liam é ranzinza e
sei que se pressionar o assunto, ele vai gritar de novo.

Não me entenda mal. Não sou alguém que deixaria


alguém gritar comigo.

Mas é diferente.

Liam está claramente muito agitado e irracional. Ele


sabe que nós dois estamos feridos, mas está tão focado em
mim que nada mais importa. A briga só piorará a situação.
Acomodo-me para me segurar o máximo que posso para, com
sorte, facilitar o transporte.

"Não era tão teimoso oito anos atrás," murmuro contra


seu peito, me sentindo um pouco mal-humorada.

Um som retumba dele e a respiração que solta


enquanto fala forma uma nuvem branca ao meu redor. "Sim,
bem, oito anos atrás, eu ainda não tinha perdido você. Eu
não vivi sem você."
"Liam," sussurro suavemente, colocando a mão em seu
peito.

Ele faz uma pausa e olha para baixo. Nossos olhos se


encontram. Ele tem algo além da dor. "Eu desisti de você,
Bells." O olhar frio e afetado dá lugar a uma forte
determinação. "Nunca farei isso de novo. Nunca."

Retirando minha mão do casaco, toco-o, colocando


meus dedos gelados contra sua bochecha. "Eu te amo."

Ele volta a andar, mais determinado do que antes. Meu


Deus, ele é teimoso. Estou condenada, porque essa teimosia
associada ao raciocínio por trás disso me derrete, mesmo no
centro de uma avalanche.

Não sei quanto tempo ele anda. Parece


uma eternidade. No entanto, tenho certeza de que minha
percepção de tempo está meio distorcida. Não ajuda que o
céu permaneça escuro, sem qualquer sugestão de sol.

Eventualmente, Liam diminui a velocidade. "Acha que


pode andar um pouco?"

Tento controlar um revirar de olhos. "Tenho certeza que


posso lidar com isso."
Com cuidado, Liam me coloca de pé, as mãos pairando
como se ele estivesse com medo de que eu vá quebrar.

"Estou bem." Asseguro a ele, ignorando a dor no meu


ombro.

Ele aponta para mim. "Estamos quase lá."

Seguindo sua direção, olho através da neve para uma


estrutura escura logo à frente. "Isso é uma casa?"

"Uma cabana," ele responde, colocando uma mão na


parte inferior das minhas costas para me mover. "Anos atrás,
um dos gerentes da propriedade morava aqui. Ele era meio
excêntrico e gostava de ficar isolado e por conta própria."

"O que aconteceu com ele?"

"Ele se aposentou, mudou para a Flórida para ficar


perto de seus netos. Acho que ele já teve o bastante da neve."

"E mais ninguém morou aqui?"

Liam ri. "Ninguém mais queria viver sozinho ao lado de


uma montanha. Alex e eu costumávamos correr até aqui. Às
vezes, Paul nos levava para pescar alguns quilômetros
descendo a montanha. Pensando sobre isso, talvez ele não
gostasse de ficar tão sozinho como dizia. Por que mais ele
aguentaria dois adolescentes?"

"Talvez ele simplesmente gostasse de vocês."

"Talvez meu pai lhe pagasse mais para nos manter


ocupados." Ele ri.

Sorrio.

"De qualquer forma, não sei em que tipo de condição o


lugar está, mas isso nos protegerá do clima. Vamos te
aquecer."

"Acha que há um kit de primeiros socorros?"

Seus olhos se voltam rapidamente para mim. "Você


está sangrando?"

"Não. Você está." Eu o lembro. "Liam?" Pergunto


quando ficamos mais próximos da cabana.

"Hmm?"

"Como sabia onde eu estava?"

"Alex veio e me encontrou. Acho que aqueles idiotas


estavam fazendo perguntas sobre você na taverna, e ele ficou
preocupado. Fomos para seu quarto." Ele faz uma pausa. "A
porta estava aberta e havia vidro quebrado... A cama estava
bagunçada."

Resmungo.

Liam para de andar e vira abruptamente. "Bellamy,


eles... eles te machucaram?"

Sei o que ele está perguntando. "Não. Eles não me


machucaram. Ele apenas me bateu algumas vezes."

Um olhar intenso domina suas feições. Sei que ele está


com raiva e sei que ele odeia essa situação, mas consegue
controlar isso, deixar de lado o pior. "Olhei pela janela e vi
você. Seu cabelo na verdade... Você passou perto de uma das
luzes, e foi o suficiente para eu te ver."

"E me seguiu." Suponho, meio que impressionada. Isso


quase parece destino. Ele ter olhado pela janela no momento
exato em que por acaso uma luz permitiu que ele me visse.

"Claro, eu segui. Quase não peguei nenhum dos meus


equipamentos, mas porra, foi uma boa coisa que fiz."

"Sinto muito que tenha perdido sua prancha." Sei que


ele amava aquilo. E agora desapareceu.
Ele faz um movimento de desprezo com a mão. "É
só uma prancha. Tenho mais em casa." Depois de uma
pausa, ele diz muito mais calmo, "Provavelmente nem
precisarei de uma, de qualquer maneira."

"O quê?" pergunto. Algo sobre a declaração silenciosa


faz meu estômago revirar. Parece muito sinistro.

"Nada," ele responde, em seguida, muda de assunto.


"Pergunto-me se está trancada."

A cabana está literalmente poucos metros à minha


frente. Nem percebi que chegamos tão perto. Estava muito
focada em Liam e no que ele dizia. Tão perto, posso ver
melhor no escuro. Não é muito, apenas uma cabana pequena
que parece um pouco desgastada por estar vazia há anos.

Tem uma única porta na frente e duas janelas sem


persianas.

Liam tenta girar a maçaneta e não abre. Sem qualquer


hesitação, ele bate na pequena vidraça acima da alça. O som
de vidro quebrando me faz estremecer.

"Liam!" Digo com espanto. "Sua mão!"

Seu braço já está no buraco que criou e, segundos


depois, a porta destranca. Puxando o braço livre, ele ergue a
mão para me mostrar que está tudo bem. "Estou usando
luvas, querida."

Fungo. Ainda não gosto que ele soque coisas.

Ele estende a mão. Juro que vejo uma pitada de


diversão em seus lábios. "Vamos lá."

Movo-me para ficar ao seu lado.

Nós dois entramos na cabana escura, meus olhos


procurando cada canto escuro, apenas esperando ver se algo
se move.

"Alguém aqui?" Liam pergunta.

Zombo. "Como se eles fossem responder."

Liam ri, recuando um pouco para fechar e trancar a


porta. Não sei por que ele se incomoda em trancá-la. Há um
buraco nela. Uma vez feito isso, ele vai até a pequena cozinha
básica e abre alguns armários. O som deles abrindo e
fechando parece alto e perturbador. Fico preocupada que de
alguma forma possa entregar onde estamos.

Pergunto-me novamente sobre Spidey e seu amigo


assustador. Se eles sobreviveram à avalanche. Liam parece
pensar que eles estão mortos... mas eu sei.
Sei que se ele e eu sobrevivemos, então aqueles
homens também podem sobreviver.

O ruído de um fósforo me afasta dos pensamentos


dignos de tremor, e o brilho de uma chama enche o espaço
quando Liam acende uma lamparina a óleo. Uma luz suave e
quente enche a sala, afugentando as piores sombras
e revelando a pequena e esparsa cabana.

"Sem eletricidade. Mas isso servirá," Liam diz,


carregando-a através da sala para colocar na frente de uma
lareira.

A sala escurece novamente quando ele enfia a lâmpada


dentro da abertura e a segue com a cabeça. Segundos
depois, tanto ele quanto a lâmpada voltam. "Bem, vamos
esperar que a chaminé esteja limpa o suficiente para que esta
cabana não se encha de fumaça quando eu fizer fogo."

"Vai fazer uma fogueira?"

"Você precisa se aquecer, querida. Venha aqui."

Por que ele precisa me chamar assim? Por que ele


precisa me chamar tão carinhosamente enquanto tenta
cuidar de mim? Não consigo lidar com isso. Não agora. Não
tão cedo. Depois de tudo o que aconteceu esta noite, sou um
pacote de nervos superexpostos.
Sigo a voz dele, porque a seguirei em qualquer
lugar. Liam me entrega a lâmpada e depois começa a usar os
poucos troncos na prateleira ao lado da lareira e um papel
que definitivamente viu dias melhores para acender o fogo.

Enquanto ele trabalha, olho ao redor da pequena


cabana, notando um sofá, duas cadeiras e uma velha mesa
de madeira. Perto da porta, há um cabide de madeira, e do
outro lado do espaço há uma porta que presumo que leva a
um quarto. Numa das paredes há um pássaro empalhado, as
asas estendidas como se fossem voar.

É assustador. Tento não olhar para isso.

Liam aparece na minha frente, colocando a lâmpada na


mesa não muito longe. O crepitar das toras no fogo me
chama a atenção, assim como o delicioso calor que já se
aproxima de mim.

As chamas são realmente de bom tamanho e sei que só


ficarão mais fortes. Minha mão se solta da longa manga do
casaco e a estendo em direção ao calor. Penso em puxar o
casaco completamente para que o calor possa chegar ao
braço e dedos contra meu lado, mas no final, eu não me
incomodo.

Ouço Liam andar pela casa, mas não me viro para


olhar. Eu olho, quase paralisada, o brilho laranja-claro de
cada chama. O cheiro de madeira e papel queimando começa
a envolver-me e respiro fundo.

A dor no meu ombro corta a respiração, e exalo com


dificuldade, chegando mais perto do fogo.

"Peguei o que consegui encontrar," Liam murmura,


chegando perto.

Viro-me, observando-o colocar no chão uma pilha de


toalhas e um monte de cobertores que parecem ter sido
arrancados da cama. Antes de se acomodar do meu lado, ele
pega o cobertor na parte de trás do sofá e deixa cair na pilha.

"Seus dentes estão batendo." Sua voz é suave, mas


preocupada quando ele pega o zíper no casaco ao meu redor.

"Meus dedos doem," digo a ele, tentando não soar como


uma chorona. Talvez esteja em choque e mal tenha
processado tudo, deixando escapar coisas que em outra
situação não diria.

"Eu sei." Ele levanta-os e beija antes de voltar para


o casaco. "Isso é bom. Precisa da sensação voltando."

"O que está fazendo?" Pergunto quando ele tira o


casaco de mim. "Pensei que eu deveria me aquecer."
"Essa coisa está encharcada, Bells. Vai tornar mais
difícil." Depois que ele coloca o casaco de lado, abre o zíper do
meu e começa a retirá-lo.

Solto um suspiro e ele para. Sua boca é uma linha


dura enquanto seus olhos vagam por mim. "Seu ombro?"

Balanço a cabeça, mordendo meu lábio. Sem dizer mais


nada, eu mesma termino de tirar meu casaco. Não vou deixá-
lo fazer isso. Ele já fez o suficiente por mim. Lágrimas ardem
nos meus olhos, mas as ignoro.

"Tudo o que tem embaixo é minha camisa," ele


resmunga, analisando.

"Eu estava te esperando."

Ele suspira. "Eu sei. Mas essa camisa não é proteção


suficiente contra o frio lá fora." Ele se inclina, afrouxando os
cordões soltos das botas e puxando-as dos meus pés. Ele
amaldiçoa, mas não reconheço isso.

Sei que ele está chateado ao ver que não estou usando
meias. Inferno tive sorte que eles me deixaram colocar a
calça.

Continuando com sua tarefa, Liam desabotoa meu


jeans e desliza-os de mim num movimento.
"Liam," digo, meus dentes batendo uns contra os
outros. "O-o que..."

"Nós precisamos de calor corporal, Bells." Seu tom é


seco.

Quando ele alcança a barra da minha camisa, os olhos


encontram os meus, perguntando. Balanço a cabeça uma vez
e ele puxa.

"Não posso levantar meu braço." Digo desculpando-me


quando a camisa está quase fora do meu corpo.

"Está tudo bem," ele diz gentilmente, em seguida,


retira-a com cuidado do meu corpo. Quando estou apenas
com minha calcinha, seus olhos me percorrem, mas não de
uma forma acalorada. É como se ele não visse minha pele
nua. Tudo o que ele está preocupado é com lesões.

Quando seu olhar encontra meu ombro, seus olhos


escurecem. "Está quebrado."

"O quê?" Olho para baixo.

Alguma coisa está fora. Não deveria ser assim. Está


inchado e um pouco... deformado. Estendendo a mão, toco
perto da clavícula e estremeço.
Pegando minha mão, ele a coloca entre as suas,
puxando-a para longe do ombro. "Está
quebrado. Provavelmente aconteceu quando a avalanche te
atingiu." Ele geme como se fisicamente o machucasse
também. "Sinto muito."

"Como sabe que está quebrado?" Pergunto.

"Já aconteceu comigo algumas vezes durante os


saltos. Precisa fazer um raio-X e usar uma tipoia. Precisa de
gelo, mas serei amaldiçoado se colocar qualquer coisa gelada
em você agora."

"Está tudo bem." Tento acalmá-lo. Claramente, vendo


que meu ombro está perturbando-o. "Não dói muito."

Ele me dá um olhar sério e faço o mesmo.

"Você não pode simplesmente colocá-lo de volta no


lugar?" Pergunto.

"Está quebrado, não deslocado. Há uma diferença. E


não, não vou fazer nada até sabermos quão ruim está."

Liam recua e puxa a camisa sobre a cabeça, depois a


camiseta por baixo. Em seguida, retira o gorro, as botas e
calça.
Quando ele está apenas com a cueca boxer muito bem
ajustada, ele mexe nos cobertores e joga um grosso no chão
em frente ao fogo. Ele senta-se, abre as pernas e olha para
mim com expectativa.

Eu mal noto. Também estou olhando seu corpo


incrivelmente forte, de repente nu... escondido apenas pela
cueca.

"Bellamy," ele entoa.

Presto atenção, olhando seu rosto.

Ele sorri conscientemente. "Venha aqui, querida."

Sento entre suas pernas. O calor do fogo crepitando


acaricia minha pele fria, e suspiro. Uma toalha cai na minha
cabeça e Liam começa a secar meu cabelo.

"Enxugue suas tranças," ele instrui.

Estendo a mão com o braço que não machucou para


terminar quando ele me agarra pelos quadris e me puxa para
perto de seu corpo. Ofego no instante em que nossa pele se
encontra. A respiração ofegante de Liam e a maneira como ele
congela momentaneamente me dizem que também foi
afetado.
A toalha cai da minha cabeça e minha mão abaixa. Nós
olhamos um para o outro, Liam sustentando meu olhar.

"Diga-me se eu te machucar," ele murmura,


provocando calor no meu corpo com uma mão enquanto me
segura contra ele com a outra. Ele trabalha gentilmente, mas
de alguma forma consegue evitar meu ombro.

"Precisamos estabilizar isso," diz ele, recuando o


suficiente para olhar.

"Está tudo bem," eu murmuro, aconchegando-me de


volta em seu peito nu.

O contato pele com pele é pecaminoso. É o suficiente


para me fazer esquecer que quase morri, fui atingida por uma
avalanche e agora estou me escondendo numa velha cabana
sem eletricidade até que meus membros absorvam calor
suficiente para trabalhar novamente.

"Mais perto," sussurro, aconchegando-me um pouco


mais.

Ele resmunga e me levanta de seu colo. Minhas pernas


envolvem em sua cintura, nossos peitos nus pressionam um
contra o outro. Apoio minha bochecha em seu ombro e
deslizo o braço bom ao redor de sua cintura. Liam pega um
cobertor grosso do chão e envolve-o em nós, esfregando
minhas costas.

Meus olhos se fecham. O som do fogo crepitante, a


sensação de sua pele, o calor que ele parece gerar, embora
estivesse lá fora também...

"Bellamy."

Meus olhos abrem de novo, e a sala desconhecida volta


à vista.

"Você não pode dormir, querida."

"Não ia," argumento.

Ele ri. "Deixe-me ver suas mãos."

A contragosto, afasto-me o suficiente para empurrar


minhas mãos entre nós. Dentro do cobertor, ele esfrega
minhas mãos e dedos, tentando apressar o processo de
aquecimento.

"E os dedos dos pés?" Ele pergunta minutos depois.

"Não vou sair do seu colo," eu insisto. "Eles estão bem."


Como se para provar isso, movo meus dedos atrás de suas
costas.
Sua risada baixa desliza por mim como mel, tão doce e
grudando em todos os lugares certos. Liam agarra meu rosto
e me puxa para perto. "Como está sua cabeça?" Seu olhar
salta entre meus olhos. "Está com dor?"

"Não muito," respondo. "Meu ombro dói mais que


tudo."

Como ele pode estar tão focado agora? Como pode não
estar tão completamente distraído por mim quanto estou por
ele?

Meu olhar percorre seu peito e abdômen. Sua pele é


macia e suave. Amo o jeito que se estende em seu peito,
moldando todos os músculos e força abaixo dela. Ele se
transformou num homem nos últimos oito anos. Seu corpo
foi aperfeiçoado. O desejo de correr as mãos sobre todo o
corpo dele, reaprender tudo novamente, ofusca todo o resto
em minha mente.

"Seus dentes não estão batendo mais." Ele observa,


esfregando a ponta do polegar sobre meu lábio inferior.

"Eu acho que você está me aquecendo", eu ronrono.


Incapaz de parar, eu chupo o dedo entre meus lábios.

Ele geme. "Não torne isso mais difícil do que já é,


Bells."
Arqueio uma sobrancelha e solto seu polegar. "O que
quer dizer?"

"Sabe muito bem o que quero dizer," ele murmura,


segurando meus quadris e movendo-se contra mim. Sua
ereção dura como pedra é inconfundível.

Eu balanço contra ele novamente e prazer dispara


através do meu núcleo.

Liam geme. Seu rosto encontra meu pescoço, os lábios


esfregando levemente a pele. Afastando-se, ele solta um
suspiro. "Tudo que quero fazer é estar dentro de você. Para
provar a mim mesmo que você está realmente bem. Sei que
está sentada aqui comigo. Sei que você está bem em grande
parte... mas não é suficiente, Bellamy." Ele olha para baixo.
"Quero sentir você viva sob minhas mãos. Pode até não ser
suficiente então."

Pego seu queixo, empurrando-o para cima. "Não estou


dizendo não."

Raios de prata atingem seus olhos. A tentação passa


por seu rosto, mas ele a afasta. "Eu estou."

Antes que possa responder, ele beija a ponta do meu


nariz, em seguida, gentilmente me afasta. Depois de colocar o
cobertor ao meu redor, ele coloca nossas botas e roupas
molhadas perto do fogo.

Meu olhar fica nele o tempo todo, devorando tudo o que


posso. Não é somente o desejo desenfreado correndo por
mim, mas ele é a minha salvação. Sem ele, eu provavelmente
não estaria aqui.

O pensamento me faz tremer.

"Ei," ele murmura, voltando. "Está com frio de novo?"


Liam senta no cobertor, colocando ao lado um kit branco, e
abre os braços. Ele tem um cobertor envolto nas costas,
então quando me abraça, estou envolvida por ele e um
cobertor extra.

Meus olhos seguem o kit de primeiros socorros, e sento


de volta. "Deixe-me limpar sua cabeça."

"Você primeiro." Ele pega o kit e abre, retirando alguns


suprimentos e alinhando-os no chão.

"Não estou sangrando," respondo.

"Sim. Você está." Ele olha incisivamente para minha


bochecha.
"Acho que não era o sangue do Spidey depois de tudo",
eu resmungo.

"O quê?" A voz de Liam é afiada.

"Eu o perfurei no pescoço com uma caneta. Ele puxou


e me bateu. Eu senti sangue na minha bochecha, mas
esperava que tivesse sido dele.

Liam não parecia empolgado. Em absoluto. "Sim, bem,


é seu."

Viro a cabeça para que ele possa ver a área, ele


trabalha em silêncio para limpar o corte na minha
bochecha. Estremeço no início quando ele toca, mas seu
olhar me assusta. Então me controlo e forço minha expressão
a ser passiva enquanto ele cuida da pele machucada.

Acho que estar no frio congelante é bom para alguma


coisa. Entorpecer toda a dor. Agora que eu estou aquecendo e
tentando limpar as feridas, a dor estava se tornando mais
fácil de sentir.

Eu não acho que estou escondendo tão bem quanto eu


esperava o fato do meu rosto doer. Ocasionalmente, os
músculos da mandíbula de Liam se contraem como se ele
soubesse, e meu estômago revira.
"Por que o chama de Spidey?" Ele pergunta, pegando
um curativo.

Olho para o fogo. "Ele tem uma grande aranha tatuada


na nuca."

Liam segue para meu lábio, limpando. Dói também,


então imagino que também deve estar cortado. Quando ele
termina, joga o algodão de lado e olha meu ombro. "Tente não
mover isso, ok?"

Balanço a cabeça e pego os suprimentos.

Sua mão pousa sobre a minha e olho para cima.

"Você precisa me dizer."

Minha voz vacila. "Dizer o quê?"

Eu sei.

Ele sabe que eu sei.

Ele sabe que estou tentando fugir. Até agora, ele


deixou, mas termina esta noite.

"Diga-me por que aqueles homens vieram aqui. Por que


eles querem te matar," Liam responde. "Está na hora,
Bellamy. Você precisa me contar tudo."
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

Liam

"Eu preciso olhar para a sua cabeça." Ela evita meu


olhar enquanto fala e alcança os suprimentos de primeiros
socorros.

Minha mão cobre a dela, parando seu movimento.


"Bellamy, preciso saber."

Abaixo do meu toque, sua mão relaxa. "Sei que


precisa," ela sussurra. "Não é justo eu ficar e manter você no
escuro."

"Ligue a luz, então, querida."

Ela solta uma respiração instável. Seus olhos


encontram os meus. "Posso cuidar de você enquanto falo?"

Um meio sorriso levanta o canto da minha boca. Eu


provavelmente a deixarei amputar meu braço se isso tornar
mais fácil. "Sim."

Uma fração de alívio surge em seu rosto, e com essa


pequena mudança percebo o quão difícil isso é para
ela. Como ela está com medo.
"Vire para cá." Ela faz sinal para eu girar. "Assim a luz
da lâmpada fica deste lado da sua cabeça."

Faço o que ela pede, observando a maneira como


minha pele roça a dela quando me movo. Deus, essa mulher
é um teste ambulante de paciência. De todas as maneiras.

Por pior que a situação esteja agora e tão preocupado


quanto estou por ela, estar dentro de seu corpo ainda é uma
necessidade que pulsa através de todas as minhas
células. Provavelmente mais agora por causa da situação em
que estamos.

Usando apenas uma mão, os dedos frios de Bellamy


acariciam o lado do meu rosto, gentilmente guiando minha
cabeça para que ela possa ver.

"Sua mão ainda está fria." Estendo a mão, mas ela a


afasta.

"É sua vez, Liam." Ela insiste. Alcanço-a novamente,


mas ela bate na minha mão. "Não force a barra, senhor. Já
tive o suficiente."

Pressionando meus lábios, seguro a piada que está


prestes a sair.
Bellamy chega mais perto, e uso isso como uma chance
de cobrir seu colo com um cobertor extra. Quando o faço, ela
me dá um olhar de advertência, então me aproximo
rapidamente e planto um beijo rápido em seus lábios antes
de voltar. Sorrio. "Continue,"

Com um revirar de olhos e um sorriso bonitinho, ela


inclina minha cabeça para onde quer e pega um lenço estéril
para gentilmente enxugar o corte atrás da minha
orelha. Cerro meus dentes contra a dor aguda.

"Está um pouco inchado," ela murmura enquanto


limpa suavemente. "Sangrou muito." Depois de pegar outro
lenço, ela começa a limpar novamente. "Não acho que precisa
de pontos..."

"Dói muito?" Ela sussurra quando não digo nada.

Minha voz está rouca quando respondo, "Não."

A verdade é que qualquer dor que sinto é silenciada sob


seu toque. Bellamy provoca um efeito em mim que ninguém
mais causa. Quando ela está por perto, é como se fosse
apenas ela. Mesmo quando tinha dezesseis anos, ela tinha
um poder tão forte que eu teria voluntariamente desistido dos
meus sonhos de atleta profissional.
Ela pigarreia, continuando a trabalhar. "Não tinha um
bom relacionamento com meu pai."

Olho-a. Estou surpreso. "Parecia ter."

Ela assente, sorrindo tristemente. "A verdade é que o


tempo que passei com ele aqui no BearPaw foi a maior parte
do tempo que passei com ele. Foram anos e anos entre as
visitas, e geralmente, quando o via, era por menos de um dia
a cada vez."

"Eu não sabia," murmuro, sentindo-me triste por ela.


Não posso imaginar não ter meu pai na minha vida, sem
saber que ele está lá.

"Minha mãe é bastante inflexível, e ele ficou longe. Ela


não queria que ele aparecesse. Nunca." Bellamy deixa de lado
o lenço e pega uma bola de algodão. "Meu pai estava
envolvido em coisas que não deveria. Coisas perigosas..." Sua
voz desaparece, então retorna. "Ele não era um homem muito
bom."

"Ele te amava," digo, virando para encontrar seus


olhos. "Ele pode não ter sido um bom homem, mas ele te
amava. Eu vi."

Um olhar triste e melancólico cruza seus olhos, e isso


perfura meu coração. "Obrigada por dizer isso."
Agarro seu queixo, levantando-o. "Isso é verdade. Era
óbvio naquela época."

"Sim." Ela sorri tristemente e empurra minha cabeça


para trás. "Sei que ele me amava. Por que mais ele arriscaria
a ira de minha mãe mesmo que fosse apenas uma visita de
um dia?"

"Você vale a pena," sussurro.

Ela volta a limpar minha cabeça e aplicar


pomada. Parece demorar mais porque ela usa só uma
mão. Lamento que ela esteja ferida, mas não lamento o tempo
adicional que ela passa me tocando.

"Depois que me formei no ensino médio, fui para


a faculdade de culinária. Amo cozinhar e estar na
cozinha. Sempre tive a esperança de ter meu próprio
restaurante ou ser uma chefe num dos lugares mais
badalados de LA."

"Ainda estou esperando uma refeição sua." Lembro.

Ela ri.

"Consegui um emprego num lugar, comecei


como lavadora de pratos e consegui ir para a equipe de
cozinha. As cozinhas são muito rigorosas. Precisa se esforçar
para conseguir o que quer. Provar a si mesmo."

"Tenho certeza de que era a melhor naquele lugar."

"Eu estava chegando lá." Sua voz é suave e gentil,


assim como seu toque. Sei que ela está limpando uma ferida,
mas parece mais que ela está me acariciando. Acariciando
meu corpo e meus sentidos. Calafrios de prazer percorrem
meu couro cabeludo, descendo pela nuca. De vez em quando,
uma pontada de dor surge quando ela atinge um ponto
sensível, e aquela dor misturada com o prazer me deixa de
pau duro.

"Quase pronto," diz ela. "Não tenho certeza se vou


conseguir um curativo, mas posso tentar."

"Continue falando, Bells," murmuro. Só quero o som de


sua voz.

"Cerca de dois anos atrás, meu pai ligou. Eu não o via


há anos. Ele disse que estava na cidade, me deu um endereço
e me pediu para encontrá-lo. Eu fui…"

Meu estômago revira. "Algo aconteceu."


"Era na pior parte da cidade, mas não pensei no que
isso significava. Sabia que minha mãe não queria que eu o
encontrasse... mas eu só queria vê-lo. Ele era meu pai."

Era. Jesus.

Seus dedos estão tremendo. Sinto os tremores quando


ela tenta, pela terceira vez, colar uma atadura gigante na
minha nuca. Devagar, estendo a mão e afasto a dela.

"Não está no lugar ainda," ela diz incomodada.

Afasto a atadura da minha cabeça e olho a mancha de


sangue. "Não preciso disso." Jogo-a no chão e tento puxá-la
para mim. Ela resiste, pega uma compressa de gaze e
pressiona-a cuidadosamente contra o corte.

"Pelo menos segure isso até que pare completamente de


sangrar."

Pego a gaze e faço sinal para ela. "Sente comigo."

Bellamy sobe no meu colo e meu coração acelera. Ela


se senta de frente para o fogo, as costas contra meu
peito. Dobro minhas pernas e braço ao redor dela (o que não
está segurando a gaze estúpida contra minha cabeça).

Abaixando a cabeça, beijo-a no ombro.


"Quando cheguei ao local, ele estava muito nervoso e
agitado. Eu sabia que algo estava errado. Ele empurrou um
monte de dinheiro na minha bolsa. Tentei levá-lo para
almoçar..."

"O que aconteceu?" Pressiono, querendo que ela apenas


chegue à parte ruim. Não a quero perdida no passado,
revivendo algo que claramente a mudou.

"Alguns homens apareceram. Meu pai tinha um


esconderijo... entre as paredes. Ele me empurrou para dentro
logo antes deles baterem na porta..." todo seu corpo está
tremendo agora.

Começo a nos balançar suavemente, dando beijos em


seu ombro.

"Bateram nele, e uma das balas atravessou a parede


onde eu estava... como um olho mágico numa porta... Nunca
há coisas boas quando se olha através do olho mágico de
uma porta."

Dou a ela uma pequena sacudida. "Bells"

"Eu assisti eles matarem meu pai."

Respiro fundo.
"Eles atiraram duas vezes. Então riram e conversaram
sobre ir almoçar."

Ela testemunhou um assassinato. Não apenas


qualquer assassinato, no entanto, o assassinato de seu
pai. Através de um buraco de bala. Não consigo sequer
imaginar a quantidade de tormento mental que ela deve viver
diariamente.

"Eles viram você?" Preocupo-me. O pensamento dela


ver aquilo é hediondo, mas dela ser pega é muito pior.

"Não." Sua voz é rouca, seu corpo ainda contra o meu.


"Eu fiquei dentro daquela parede por horas, esperando para
ver se eles voltariam. Apenas olhando o corpo dele através do
buraco."

É quase como se ela estivesse lá atrás, músculos


tensos, corpo imóvel, voz baixa e áspera.

Um profundo rosnado escapa do meu peito quando


jogo de lado a gaze idiota. Ambos os braços a envolvem. Eu
me envolvo ao redor dela o máximo que posso e aperto, ainda
tentando ficar atento ao ombro ferido.

Sua pequena mão encontra meu antebraço e agarra-o.

"Já ouviu falar de Perry Crone?"


"O chefe do crime mais infame deste século?" Todo
mundo neste país sabe quem é Perry Crone. Se não soubesse,
estava vivendo em uma caverna.

Eu senti ela acenar. "Quanto você sabe sobre ele?"

"Uma boa parte, na verdade," digo, esfregando o queixo


sobre seu ombro enquanto olho o fogo. "Aquele grande
julgamento que o prendeu há um ano esteve em todos
os canais quando eu estava no hospital."

Ela se vira, os olhos preocupados. "Você estava no


hospital?"

Viu. Isso aí. É por isso que ela é a única pessoa que me
possui. Não importa que homens tentaram matá-la. Não
importa que seu ombro esteja fodido, que ela tenha levado
um soco no rosto, ou até mesmo que esteja me contando
sobre testemunhar o assassinato de seu pai.

Mencionei uma internação, e todas essas coisas


pararam de existir. Seus olhos azuis saltam entre os meus,
procurando... preocupando-se.

Usando o polegar, aliso as rugas entre suas


sobrancelhas e sorrio. "Tendão rompido, lembra?"
Compreensão e ainda mais preocupação nublam seus
olhos. Ela ofega e se vira para meu joelho. "Você se
machucou de novo." Sua mão paira sobre ele. Então
cautelosamente, ela o acaricia. "Está inchado."

"Não é importante agora." Eu a lembro, meu peito


apertando um pouco. Pergunto-me quão diferente minha
recuperação seria se ela fosse parte da minha vida naquela
época. Pergunto-me se a depressão que quase me afogou teria
sido tão intensa.

Os olhos de Bellamy se levantam para os meus mais


uma vez. "É importante."

Balanço a cabeça, aceitando o fato de que, sim, é. Mas


também não é algo com o qual estou preparado para lidar
agora. Estou com muito medo do que a dor no meu
joelho significa. Do que isso pode fazer comigo... de novo.

"Sabe, estou aqui, contando a você sobre meu passado,


e isso está me fazendo ver que nós realmente não
conversamos sobre o seu também."

Um sorriso rápido se forma no meu rosto. "Isso é


porque ninguém está tentando me matar." Porque o tempo
que passamos separados não importa. Tudo o que importa
está aqui. Agora. Você.
"Nem todo mundo pode ter uma vida tão encantadora,"
ela retruca atrevida.

Sorrio.

Quando seus olhos encontram os meus novamente,


eles estão sombrios, menos provocantes. "Sei que não foi
encantadora, Liam. Eu posso... sentir isso em você às
vezes. Sei que passou por algumas coisas. Quero que saiba
que me importo com isso. Tudo isso. Eu quero saber."

O nó na minha garganta é difícil de engolir. Preciso de


várias tentativas, e mesmo assim, sinto como se apenas
conseguisse empurrá-lo para meu peito, onde ele se
estabelece como um peso. "Eu sei, querida. Vamos conversar
sobre mim. Mas você é mais urgente agora." Olho ao redor da
cabana escassa para dar efeito. "Claramente."

Ela parece cautelosa mais uma vez. Um olhar que


aprendi a reconhecer, ressurge quando ela gira de volta para
o fogo. Passo os braços ao redor dela novamente,
descansando meus lábios ao lado de sua orelha. "Não vou a
lugar nenhum."

A sensação de seu corpo relaxando deveria me fazer


sentir melhor.

Isso não acontece.


"Então assistiu a cobertura do julgamento?"

Balanço a cabeça, pensando no passado. "Sim, foi o


caso do ano. Inferno, da década. Os federais estiveram atrás
de Crone por um longo tempo e, finalmente, conseguiram
uma testemunha com informações suficientes para colocá-
lo..." O que estou dizendo faz sentido.

A maneira como Bellamy está rígida em meus braços,


olhando silenciosamente o fogo...

Fico imóvel. "Puta merda," sussurro. Então um som


baixo e agudo irrompe da minha garganta. "Oh, não, querida.
Não. Diga-me que não é o que estou pensando."

Ela estremece. "Eu queria poder."

Gemo e a puxo ainda mais contra mim. Quando ela


grita suavemente por causa de seu ombro, apenas afrouxo
meu aperto.

"Você foi a testemunha principal? Aquela que a


acusação protegeu até poder falar."

"Isso mesmo." As palavras parecem arranhar sua


garganta, deixando-a machucada e áspera. "Sou a
testemunha. Sou eu quem colocou Perry Crone na cadeia
para sempre."
E agora entendo. Por que ela apareceu aqui com quase
nada além do nome, porque ela não queria me
dizer nada. Por que ela esteve tão hesitante em ficar.

Perry Crone é um mafioso. Certamente, ninguém para


se envolver.

Mas aqui está minha garota, envolvida com o bastardo


como um pretzel10.

10 Tipo de pão de origem alemã que geralmente é enrolado em formato de nó


CAPÍTULO TRINTA E CINCO
Bellamy

As palavras foram ditas.

Não há como voltar atrás.

Liam levanta do chão, me deixando desorientada e


correndo o risco de ir embora. Antes de se afastar, ele coloca
um cobertor em volta dos meus ombros e enfia-o bem debaixo
do meu queixo.

Decido que a melhor coisa a fazer é prosseguir e não


prolongar isso.

Liam tem uma escolha a fazer. Preciso deixá-lo fazê-la.

"Acontece que a razão pela qual minha mãe não me


queria perto do meu pai era porque ele estava envolvido com
alguns mafiosos bem sujos de Nova York." O som que faço é
muito severo para ser uma risada, mas não triste para ser
um choro. "Quem diria que mafiosos existiam fora dos
quadrinhos e filmes?"

Liam continua a andar atrás de mim. Sinto seus


movimentos, ouço, mas não olho. Realmente não quero ver a
expressão em seu rosto quando ele entender completamente
que está envolvido com alguém que pode literalmente trazer a
máfia até ele.

"Antes de eu nascer, ela fez as malas e se mudou para


a Califórnia, do outro lado do país. Ela disse a ele para ficar
longe, mas ele não deu ouvidos. E eu era apenas uma
garota. Não sabia o que custaria um relacionamento com
ele. Eu só queria meu pai. Eu queria que ele me amasse."

"Bells." Liam soa magoado.

Quando a mão dele desliza por minhas costas, eu


tremo.

Não posso aceitar o conforto dele agora. Se aceitar, não


serei capaz de terminar.

"Acho que ele fez algo para trair Crone e sua


organização. No tribunal, eles disseram que meu pai estava
tentando sair, cortar os laços com tudo isso."

"Você não sai da máfia," Liam murmura. "Até eu sei


disso."

"Você está certo. Não se sai. Mas ele tentou de qualquer


maneira."
"Ele queria ser um homem digno de uma filha como
você."

Um som abalado escapa de mim. Meu coração fica


esmigalhado. "Por favor, não diga isso," murmuro. "Não quero
viver pensando que ele foi morto porque tentava escapar por
mim."

Liam se aproxima, pega-me e me leva para o sofá. Ele


senta comigo em seu colo e ajusta os cobertores ao nosso
redor. "Não quero te fazer se sentir culpada, querida." Sua voz
é suave e doce. "Não há nada sobre esta situação que é sua
culpa." Ele puxa meu rosto para encontrar o seu. "Nada."

"Eu sei, mas às vezes é difícil sentir assim. Entende?"

Seus lábios roçam minha têmpora. "Eu entendo."

Coloco a bochecha contra seu peito. "Talvez ele


estivesse cansado de olhar por cima do ombro. Talvez ele
quisesse ser um homem melhor. Eu não sei. Nunca vou saber
a razão pela qual meu pai queria sair, apenas que ele queria."

"No dia que foi morto, os homens que fizeram isso…


Eles disseram o nome de Crone. Duas vezes. Eles até ligaram
para alguém enquanto eu observava para avisar Crone que
fizeram o que ele ordenou. É a prova que o promotor
precisava para prendê-lo. Um dos homens que estava lá
naquele dia, foi preso e entregou algumas informações,
pensando que seria protegido... mas as pessoas de Crone
chegaram até ele de qualquer maneira. Ele morreu antes do
julgamento." Isso me faz pensar em algo que Spidey disse.
"Ele foi apunhalado enquanto dormia," murmuro.

Talvez seja por isso que Spidey me quer morta. Não


porque mandei o amigo dele para a prisão e o matei, mas
porque ele sabe que Crone fará o mesmo com ele. Talvez ele
pense que me matar, o tornará menos um alvo.

Liam ofega e me puxa para mais perto.

"Mal vi a luz do dia nos seis meses que antecederam o


julgamento. Minha mãe e eu ficamos sob custódia
protetora. Mamãe não era uma testemunha, mas era a única
coisa que Crone poderia usar contra mim. Eles fizeram uma
tentativa uma vez, quase conseguiram me matar. Depois
disso, os federais nos mudaram constantemente. Olhei por
cima do meu ombro toda vez que me movia. Quando dormia,
era inquieto e, se conseguia dormir profundamente, sempre
sonhava com aquele dia…"

"Gostaria de estar lá," Liam murmura, acariciando


minha trança úmida e bagunçada. "Sinto muito que precisou
passar por isso."
"Nunca esquecerei o olhar no rosto de Crone no dia que
o vi no tribunal. O vazio frio em seu olhar. Depois que
testemunhei, que coloquei o último prego em seu caixão, ele
sorriu. Ele olhou diretamente para mim e sorriu. Nunca me
senti mais ameaçada em toda a vida."

"O que aconteceu?"

"Eles me colocaram na proteção a


testemunhas. Mamãe também. Mas estamos separadas. É
mais seguro assim. Não a vejo desde o final do julgamento. A
última vez que nos encontramos, ela me deu um
número. Não tenho ideia de onde veio. Ela me disse que
poderia ligar se precisasse. Nosso código era perguntar
sobre rosas; dessa forma, sabemos que de verdade somos
nós."

"Você estava com medo de ligar para ela, no entanto."

Assenti. "Eu estava preocupada que eles estivessem


vigiando ela, esperando descobrir para onde eu tinha fugido."
levanto meu rosto e olho para ele. "Ainda estou apavorada
que posso tê-la entregado. Mas eu tinha que saber se ela
estava bem."

"Eu sei." Ele me acalma, colocando meu rosto de volta


em seu peito.
"Eles prometeram que eu estaria segura na proteção a
testemunhas. Tenho uma nova vida, um novo nome. Um
novo endereço. Deixei para trás tudo sobre quem eu
era. Desisti do meu trabalho, minha mãe... tudo."

"Você foi para Chicago, certo?"

Concordo. "Parece meio idiota se você me perguntar. A


mulher que colocou um mafioso na prisão foi enviada para
morar em Chicago, onde Crone tem conexões. Mas eles me
garantiram que era seguro. E por um tempo, foi."

"Como acabou aqui comigo?"

"Uma noite, um entregador veio até a minha porta. Eu


não pedi nada, e tive esse sentimento, sabe? Como se
estivesse sendo observada... como se algo estivesse errado."

Sinto Liam acenar, então continuo, um pouco


mais. Revivendo a noite de apenas uma semana atrás. Deus,
parece uma vida inteira.

"Disse a ele para deixar o pacote e ir embora." Engulo


em seco. Minha boca está seca e minha garganta também.
"Ele disse que iria… mas ele não foi. Ele arrombou a
fechadura e entrou."
O corpo de Liam está tenso sob o meu, quase vibrando
com o estresse. Querendo consolá-lo, deslizo meu braço para
cima e abraço seu pescoço.

"Ele tinha uma arma com silenciador. Nós, ah,


entramos numa luta. Eu estava cozinhando no fogão, e
quando ele me empurrou para dentro da cozinha, peguei a
panela e joguei a comida quente em seu rosto. Corri
então. Tinha uma mochila no armário perto da porta. Talvez
eu sempre soubesse que teria que fugir. Eu peguei e me
escondi no andar de baixo. Quando o vi correndo para o
outro lado, peguei um táxi e dei o fora."

"Você veio aqui," diz Liam. Praticamente posso ouvi-lo


digerir tudo o que contei.

Concordo. "Depois entrei numa academia local e roubei


sapatos e uma touca, depois de pegar alguns trens, sim,
peguei um ônibus e vim para cá. Era o único lugar em que
consegui pensar."

"Você não disse ao FBI que está aqui?"

Balanço a cabeça. "Não. Eles tiveram a chance de me


proteger. E falharam. Os caras de Crone ainda me
encontraram, e sei que não vão parar. Eles vão
continuar procurando até que eu esteja morta."
"Não vou deixar que te matem."

Resmungo. "Você não entende o que estou dizendo,


Liam? Esses homens... eles são assassinos profissionais. Eu
os traí. E o pior é que fugi. Mais de uma vez. Qualquer pessoa
associada a mim será pega no fogo cruzado. Sou como uma
bomba-relógio ambulante."

Escorrego de seu colo, apesar de suas tentativas de não


me deixar ir.

"É por isso que não posso ficar aqui!" Digo, levantando
meu braço. "É por isso que não posso ser sua
namorada. Tecnicamente, Bellamy Cutler nem existe mais."

A gravidade dessa situação parece desabar sobre mim


a toda velocidade. Sinto como se estivesse sendo agredida
pela avalanche novamente. Meu corpo cai com o peso de tudo
e meu ombro dói. Lágrimas que eu nem notei estar
derramando escorrem pelo meu rosto e pingam nos lábios,
deixando um gosto salgado em minha língua.

Eu fui uma idiota. Cega. Liam me deixou cega. Ele me


deu uma sensação de segurança e o amor que sempre desejei
desesperadamente.

Eu o amo. Ferozmente. Quase estupidamente.


E por estar aqui, assinei sua sentença de morte.

Vergonha me enche. O tipo de humilhação esmagadora


que só conheci quando vi minha mãe a primeira vez depois do
assassinato de meu pai. O tempo que ela olhou para mim
com um olhar triste, quase condenatório nos olhos.

Ela tentou me dizer. Eu não escutei.

Eu nunca escutei.

Segurança não faz parte da minha vida. O amor dele


também não.

Um soluço escapa do meu peito, e corro para minhas


roupas, batendo minhas mãos no tecido, sentindo que ainda
está molhado, mas sabendo o que tenho que fazer.

Talvez se sair agora, se sair e nunca mais voltar,


aqueles homens seguirão... e esquecerão de Liam.

Talvez se eu simplesmente deixar eles me matarem,


tudo acabe. Liam estará seguro. Minha mãe também... eu
não teria que fugir.

Outro soluço escapa do meu peito e mais lágrimas


correm por minhas bochechas.
"O que está fazendo?" Liam exige, aparecendo ao meu
lado.

"Eu preciso ir," digo, pegando o jeans. "Apenas me


deixe ir."

O jeans molhado é arrancado das minhas mãos e


jogado do outro lado da sala. Pego outra peça de roupa,
minha camisa.

A camisa que Liam me deu para usar.

Agarrando-a ao meu peito, soluços profundos e


dolorosos me escapam.

Braços quentes e fortes me cercam por trás. Liam me


puxa contra ele, curvando-se ao meu redor como um escudo
protetor. "Você não vai embora," ele murmura.

"Se eu ficar, eles vão te matar. Eles vão matar a nós


dois." Soluço.

"Prefiro morrer com você do que viver sem você."

Respiro fundo. Os soluços me sacudindo param, e fico


congelada contra ele, seu corpo segurando o meu. "O-o quê?"
"Estou falando sério, Bellamy," ele diz, a voz
perigosamente baixa e sincera. "Se sair, eu vou te seguir. Vou
persegui-la por esse maldito mundo se for preciso. Não
vou viver sem você."

Estremeço sob o poder absoluto dessa declaração. Não


posso nem me enganar em acreditar que ele não sabe
exatamente o que está dizendo. Ele sabe.

Ele quer dizer isso.

Meus pulmões tremem quando finalmente respiro. Viro


para encará-lo. No segundo que se afasta para me deixar,
caio em direção ao chão.

Com um rosnado, Liam me pega, me puxando para seu


peito.

Meu corpo inteiro está tremendo, dentes batendo


novamente. Foi demais. Ele é demais.

"Por quê?" É tudo que consigo falar. Tudo o que consigo


pensar.

"Porque eu te amo. Porque um dia com você é melhor


do que uma vida sem."

Mais lágrimas caem.


A emoção esmagadora no meu peito, juntamente com a
fraqueza dos membros, supera todo pensamento. Até mesmo
medo.

O medo, a emoção mais forte e discutível de toda


a raça humana, sucumbe.

Por Liam.

As pontas de seus polegares estão quentes e um pouco


ásperas quando ele as arrasta por cima das minhas
bochechas queimadas pelo vento e encharcadas de
lágrimas. Minha respiração falha, e ele sorri ternamente,
fazendo-me sentir que encontrei meu porto seguro.

"Você vai ficar aqui, Bells. Vai ficar em casa comigo."

"Casa," sussurro, lágrimas enchendo meus olhos.

Ele assente, e me encontro acenando de volta. Minhas


mãos se fecham em torno de seus pulsos, segurando-os
enquanto ele se apega em mim.

Ficamos ali por muito tempo, a luz do fogo criando


uma auréola alaranjada ao redor de Liam, dando ao seu já
forte corpo um brilho sobre-humano enquanto nos
abraçamos, apenas nos encarando.
Um tronco na lareira cai e o som é alto e repentino. Eu
salto, pega de surpresa. Liam me firma antes de recuar para
adicionar mais madeira e atiçar as chamas.

Quando termina, ele empilha mais cobertores no chão


em frente ao brilho quente e em seguida, pega minha
mão. Nossos lábios se encontram apenas alguns segundos
depois de nossas mãos. Sua boca é suave e persuasiva. Um
véu cai sobre tudo. De um lado, é apenas ele e eu, e do outro
está o resto do mundo. O único som na sala é de nossos
lábios se encontrando de novo e de novo. As únicas luzes são
as das chamas do fogo e da que está dentro da lamparina.

Lá fora o vento uiva. Um fluxo de ar gelado entra pela


janela quebrada na porta e encontra minha parte inferior das
costas, quase como um esqueleto me alcançando de um
túmulo.

Tremo e me aproximo. Liam se aproxima mais de mim


e se vira, colocando-se no caminho do ar e me bloqueando de
suas garras. Calor exala do fogo, envolvendo minhas pernas e
acariciando minha pele.

Erguendo a cabeça, Liam olha para baixo com olhos


pesados e prateados.

Penso em falar. Dizer algo para tentar transmitir


exatamente como ele me faz sentir. No final, não digo nada
porque não há palavras que possam explicar, e nenhuma
palavra pode se igualar àquelas que ele acaba de dizer.

Envolvendo um braço em minha cintura, ele me


levanta e empurra. Meu corpo de bom grado vai para a pilha
de cobertores, pousando suavemente debaixo dele.

A luz do fogo se estende ao seu lado e sobe pelo ombro


definido. Traço as sombras com as pontas dos dedos e assisto
com a respiração suspensa quando seus mamilos ficam
duros. Abaixando novamente, sua boca encosta levemente na
minha, e nos beijamos sem parar, usando nossas línguas
para explorar um ao outro. Sinto sua ereção friccionando em
mim toda vez que ele se move inquieto e, a cada vez, minha
inquietação aumenta.

Meus dedos exploram os contornos das suas costas e


laterais. A maneira como seu corpo responde e ondula sob
meu toque é inebriante. Sua boca afasta da minha, e ofego
quando ele encontra o lado do meu pescoço e chupa. Arqueio
para ele, virando a cabeça de lado para dar a ele todo o
acesso que deseja.

Logo, seus lábios suavizam, e solto um gemido de


frustração e empurro em direção a ele. Liam beija minha
clavícula e passa a língua pelo meu mamilo.
Respiro fundo, então exalo quando a pressão de seus
lábios se fechando ao redor do mamilo provoca arrepios de
prazer em meu corpo terminando entre as pernas.

Agarro seu cabelo, enchendo minhas mãos, e esfrego


meu pé no interior de sua coxa.

Liam levanta a cabeça. O brilho em seus olhos é


quente e perigoso. "Cuidado com esse braço, querida," ele diz.

Pisco, não ouvindo realmente o que ele diz.

Deus, apenas o som de sua voz é sexy.

Não devo ter feito o ordenado porque ele sorri e volta a


beijar meu corpo subindo pelo pescoço novamente.

Apoiando sobre suas mãos, Liam puxa a minha para


longe dele e dá um beijo na palma. "Não pode se mover
muito," diz ele, colocando o braço ao meu lado.

Meu ombro. Certo. Esqueci disso.

Neste momento, não me importo.

Toco-o novamente, ignorando sua ordem.


Ele recua, arqueando uma sobrancelha. "Não me faça
parar, Bells," ele diz deliciosamente. "Por favor, não me faça
parar."

Meu braço recua de lado e ele abaixa novamente.

"Este realmente não é o momento para isso," diz ele,


pressionando beijos contra minha boca enquanto fala.
"Mas caramba, eu te quero muito."

Envolvendo minha mão ao redor de sua cintura, puxo


seu corpo até que estamos unidos. Seus olhos piscam para os
meus e abro minhas pernas para que seu corpo encaixe no
meu. Seu pau duro fica exatamente onde quero.

Nós dois estremecemos e seus quadris se lançam para


frente. Ele estaria dentro de mim com o movimento se nossa
roupa de baixo não estivesse no caminho. Gemo e me movo
inquieta abaixo dele.

Levantando-se de joelhos, ele enfia os polegares no cós


da cueca boxer e puxa-a para baixo. Respiro fundo, olhando
a força em seu corpo e a maneira como seu torso longo e
magro dá lugar a um musculoso e pecaminoso V que
transforma o interior da minha boca no deserto do Saara.

Envolvendo a mão na parte de trás do meu joelho, ele


levanta minha perna, apoiando-a em seu ombro. Lentamente,
ele arrasta a calcinha sobre minhas pernas usando as pontas
dos dedos como preliminares por todo o interior das minhas
coxas e além dos joelhos.

Uma vez que a calcinha sai, ele beija o interior do meu


tornozelo e mordisca minha panturrilha.

Eu o observo, sentindo que o fogo não está mais ao


meu lado, mas dentro de mim. Meus dedos agarram os
cobertores abaixo de mim, fechando os punhos enquanto
espero impacientemente seu corpo tocar o meu.

A maneira como seus olhos permanecem no meu corpo


nu me deixa louca. Estou encharcada, pronta, e ele nem
sequer precisa me tocar.

"Liam," murmuro.

"Diga-me o que quer querida," ele sussurra.

Puxo meu pé de seu ombro e abro as pernas num


convite austero, acenando. "Venha para casa, Liam."

Seus olhos brilham e então estamos pele com


pele. Sinto sua cabeça larga na minha entrada, mas ele não
empurra para dentro. Estremecendo, ele se levanta sobre
mim, uma maldição baixa escapa de seus
lábios. Equilibrando-se nos cotovelos, ele encontra meus
olhos. "Eu quase me esqueci." Sua voz é rouca.

Liam se levanta, afastando-se. Com um grito, levanto,


estremecendo um pouco com o movimento repentino do meu
ombro.

"Cuidado," ele murmura, voltando e dando um beijo na


minha boca.

"Não pare." Seguro-o.

"Não vou parar, querida. Espere." Ele vai até o casaco,


enfia a mão no bolso interno e tira a carteira. Segundos
depois, há um pacote em sua mão.

"Você está tomando pílula?" Ele pergunta, olhando


entre mim e o preservativo.

Balanço a cabeça tristemente. "Nunca precisei."

Ele ri. "Não posso dizer que sinto muito por ouvir isso."

"Eu queria estar agora," murmuro.

Posicionado novamente entre minhas pernas, ele


desliza o preservativo sobre seu comprimento.
"Podemos consertar isso em breve." Alcançando entre
nós, ele desliza um dedo no meu centro. Eu arqueio e grito.
Observo-o enfiar o dedo cheio com meu desejo entre os lábios
e chupar. "Por enquanto, isso será o suficiente."

Ele se levanta sobre mim novamente, bloqueando tudo


então eu vejo apenas ele. Num movimento, nossos corpos se
juntam. Minha boca abre, mas nenhum som sai. Liam
congela acima de mim, apoiado em braços trêmulos. "Eu te
machuquei?" Ele pergunta.

O esforço que ele precisa para não se mexer é evidente


em seu rosto.

Balanço a cabeça. "Você é tão gostoso."

Ele geme. "Você é apertada pra caralho."

Movo-me embaixo dele, roçando contra ele. Seu rosto


encontra meu pescoço, os lábios chupando suavemente
minha pele.

Lentamente, Liam começa a se mover. É uma


tortura. Ele é tão gostoso, alongando minhas paredes,
preenchendo-me completamente. Necessidade e desejo
crescem dentro de mim até que sinto que posso explodir se
ele não me der o que quero.
Estendendo a mão, agarro sua bunda e empurro-o
profundamente.

Gememos ao mesmo tempo.

Ele empurra mais fundo e grito seu nome.

E então ele começa a se mover. Ele parece a definição


de controle quando empurra dentro de mim e balança os
quadris, bombeando em meu corpo.

Minha cabeça se move para o lado, e os olhos reviram


enquanto onda após onda de intenso prazer percorre meu
corpo.

"Bellamy," Liam geme, o som como uma oração.

Virando a cabeça, nossos olhos se encontram e procuro


seus impulsos. Levanto os quadris a cada vez que ele desce. A
intensidade dentro de mim cresce até que estou ofegante e
não há mais como segurar.

Seu nome escapa dos meus lábios enquanto um prazer


entorpecedor me domina. Meu corpo estremece e balança
quando o orgasmo parece não ter fim.
Acima de mim, Liam grita, seu corpo tenso enquanto
goza dentro de mim. Cada estocada do seu pau envia mais
ondas de prazer em meu corpo.

Não recuo até que ele o faz. Até que ele me pega e rola,
cuidadosamente me colocando sobre seu peito, prendendo os
braços ao meu redor.

"Prometa-me que não vai embora," diz ele um pouco


mais tarde, quando as pontas dos dedos arrastam por
minhas costas.

"Não tenho certeza se entende o quão ruim isso pode


ficar." Não sei o que mais dizer a ele. Eu contei tudo. É como
se ele não estivesse com medo.

Sua voz sai rouca quando ele responde, "Eu entendo


Bellamy. Eu escolho você."

Ele me escolhe.

Essa é a escolha dele.

Meu coração incha de amor... E culpa.

Ainda assim, faço uma escolha.

Eu o escolho.
"Prometo."
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
Liam

O céu está começando a mostrar sinais do amanhecer


quando me forço a sair do emaranhado de cobertores e
membros em que eu estou.

No começo, achei que seria difícil ficar acordado a noite


toda. Depois do que aconteceu, nossos ferimentos e o fato de
que estou totalmente saciado por causa do sexo, fiquei
preocupado que não seríamos capazes de lidar com isso.

Acabou não sendo um problema. A preocupação faz


isso com um homem. Preocupação e desejo de proteger o que
é dele. Acho que os homens que forçaram Bellamy a subir a
montanha estão mortos, mas seria um idiota em não
perceber que há uma pequena chance dos idiotas estarem
vivos.

Fiquei acordado, ouvindo qualquer sinal de que


estivessem se aproximando da cabana, procurando-nos ou
apenas buscando algum tipo de abrigo. Eles não vieram, e a
esperança que tenho deles estarem mortos cresce.

Não. Não sinto remorso por esperar que os homens


estejam mortos. Eles merecem isso e muito mais.
Há também o fato de Bellamy ser o alvo de um
mafioso. Preciso deixá-la em segurança... Mas, porra, não sei
como.

"Está tudo bem?" Ela pergunta enquanto olho pela


janela, provavelmente pela centésima vez, procurando no
horizonte nevado por sinais de que não estamos sozinhos.

"Sim, querida, está tudo bem." Viro a tempo de vê-la


tremer levemente e puxar o cobertor mais firmemente ao seu
redor.

O fogo está começando a diminuir. Usei o resto da


madeira. Posso sair e pegar mais, mas está molhada e
demorará um pouco para queimar. Com a chegada do sol, a
melhor coisa a fazer é nos movermos. Podemos voltar ao
resort em uma hora.

"Liam?"

Resmungo, dando-lhe atenção.

"Você está com seu telefone?"

Balanço a cabeça. "Estava no bolso do casaco, não no


interior. Perdi durante a avalanche."
"Bem, agora não me sinto tão idiota por nem pensar
nisso antes."

"Você não é idiota. Muita coisa aconteceu ontem à


noite." Atravesso a sala e cutuco o que sobrou do fogo. "Está
quase apagado. Acho que devemos sair, voltar ao resort o
mais rápido possível."

"Vou ligar para meu contato no FBI."

Viro. "Pensei que não confiava neles."

Ela faz uma careta. "Não é que acho que são corruptos
ou algo assim. Simplesmente não tenho muita fé na proteção
a testemunhas. Eles vão ficar chateados, quebrei as regras e
fiz algo que me liga à minha antiga vida."

Sinto meus olhos se estreitarem quando um


pensamento me ocorre. "Eles vão tentar te levar embora?"

"Tenho certeza que vão querer."

Um rosnado baixo retumba de mim.

Bellamy apressa-se em dizer, "Mas vou recusar. Não


vou aceitar cegamente tudo o que dizem ser o melhor. Quero
dizer algo sobre a minha própria vida. Quero um pouco do
que perdi. Eu quero você."
Curvando-me, levanto-a, puxando-a para meus braços.
"Porra, eu amo ouvir isso."

"Eu amo dizer isso."

"Vamos lá. Vista-se." Junto as roupas dela, ficando


bravo de novo com o pouco que ela usava como proteção
contra a neve. O jeans ainda está úmido e outras peças
também.

Bellamy pega sua camiseta da pilha que estou


segurando e franze a testa. "Eles rasgaram sua camisa," ela
comenta, dedilhando um rasgo que não notei na noite
passada.

Meu estômago aperta e, novamente, preciso lutar


contra a raiva instantânea ameaçando assumir o controle. "É
só uma camisa," digo a ela.

Ela balança a cabeça. "Era sua e você me deu." Seus


olhos azuis levantam. "Era minha favorita."

Dor invade meu coração quando ela me olha. Mesmo


depois de tudo, minha camisa ainda significa algo para ela.

"Vou te dar uma nova, querida," murmuro. "Inferno,


vou levá-la para minha casa e deixar escolher qualquer coisa
em todo o maldito guarda-roupa."
"Não fui à sua casa ainda." Ela diz intrigada.

Sorrio. "Ainda há muitos primeiros momentos que


precisamos ter. Mais uma razão para dar o fora daqui."

Sorrindo suavemente, ela levanta a camisa até o nariz e


cheira-a. Estou prestes a perguntar a ela o que diabos está
fazendo quando resmunga. "Está rasgada e não cheira mais a
você."

Sorrio e puxo a camisa da mão dela. Então entrego a


que usei na noite passada. "Melhor?"

Seus olhos se iluminam quando ela estende a mão e a


veste, lutando para conseguir passar por cima do braço e
ombro machucados. Depois que a ajudo a vestir-se, ela sorri,
tocando a bainha que passa das suas coxas. "Esta ainda
cheira a você."

Beijo sua testa, depois visto tudo o que tenho, inclusive


a camisa rasgada que não cheira mais a mim. Quando
termino, ajudo Bellamy a vestir o casaco, depois começo a
colocar o meu em volta dela.

"Eu não posso," diz ela, recuando.

"Não vou discutir com você sobre isso, Bells. Você vai
usá-lo."
"E se eu apenas colocar um cobertor ou dois ao meu
redor?" Ela oferece.

Penso sobre isso, então balanço a cabeça. "O casaco é


impermeável. Sente-se." Aponto para a mesa de centro.

Com mau humor, ela senta-se e me olha irritada.


Suprimindo um sorriso, pego suas botas para amarrá-
las. Antes de deslizar a primeira em seu pé, coloco minhas
meias nos pés descalços.

Bellamy engasga como sei que faria, e puxa o pé para


fora das minhas mãos. "O que está fazendo?"

"Colocando sua calça jeans nas meias. Isso ajudará a


manter o calor."

"São suas meias," ela diz.

Suspiro e passo a mão pela testa. "Estou com dor de


cabeça, querida. Que tal apenas me satisfazer?"

Um som empático escapa de sua garganta. Sua


pequena mão cobre minha bochecha e levanta minha cabeça.
"Deixe-me ver." Ela se inclina mais perto do corte que limpou
horas antes. Depois de outro resmungo, ela se afasta. "Não
está mais sangrando, mas ainda está inchado. Nós realmente
precisamos dar uma olhada nisso."
"Pé," digo, estendendo a mão.

Ela se rende sem uma palavra.

É um truque sujo, fingir estar mal para conseguir que


ela coopere. Minha cabeça dói, mas não é nada que não
possa lidar. Inferno, meu joelho dói mais. Não quero discutir
com ela, e precisamos dar o fora daqui. Então sim, eu usei
minha lesão para fazê-la cooperar.

"E você?" Ela se preocupa, mordendo o lábio inferior.

Termino de amarrar suas botas e sorrio. "Minhas botas


são impermeáveis e quentes. Ficarei bem."

Ela assente, parecendo duvidosa.

"Mantenha suas mãos dentro dos casacos, ok? Vou


usar as luvas."

Ela assente e puxo minha touca sobre suas orelhas.

Outro olhar de protesto escurece seus olhos, então


coloco os braços ao redor de seu corpo embrulhado e a
beijo. Seus doces lábios se separam instantaneamente, e
minha língua invade o interior para acariciá-la. Um
sentimento de retidão toma conta de mim, um sentimento
que me permito desfrutar antes de me afastar.
Quando afasto, um som fraco vem de fora.

Nossos olhos se encontram, nós dois silenciosamente


nos perguntando se o outro ouviu. Coloco um dedo enluvado
nos meus lábios e viro, automaticamente colocando-a atrás
de mim.

O som aumenta um pouco. É um som com o qual estou


familiarizado. Um que normalmente não pensaria duas vezes,
mas hoje não é um dia normal.

Está com pouca luz ainda.

Estamos fora dos limites do resort, então quem está lá


fora não está apenas dando um passeio de snowmobile.

Há uma razão pela qual está lá fora. Há uma razão


para o som do motor chegar mais perto a cada segundo que
passa.

"E se forem eles?" Bellamy se preocupa, sua mão se


fechando na parte de trás da minha camisa.

Não pode ser. Onde diabos eles conseguiriam


snowmobiles? A menos que tivessem os escondidos na
floresta em algum lugar. A menos que tivessem sobrevivido à
avalanche, voltado ao resort, e pego um para vir nos
procurar.
Viro para Bellamy. "Fique aqui. Não saia até que eu
venha para você."

Seus olhos se arregalam. "Onde vai?"

"Ver quem é."

"Liam." Ela pega minha mão, agarrando-a. "Fique


comigo."

"Sabe que não posso fazer isso, querida," digo


razoavelmente. Eu não vou ficar sentado aqui como um alvo
fácil. Eu vou descobrir quem diabos está lá fora.

E farei isso agora.


CAPÍTULO TRINTA E SETE
Bellamy

Conforme a mão de Liam envolve a maçaneta da porta


da frente, não consigo evitar pensar.

Haverá um tempo em que não sentirei medo? Haverá


um tempo em que todos a minha volta não estarão em
perigo?

Em algum momento, a vida voltará ao normal?

Poderei ser livre em algum momento?

Faço a coisa certa ao ficar aqui?

Todas as perguntas que estão fervilhando na minha


cabeça param instantaneamente no segundo em que ele abre
a porta e olha pra trás.

"Por favor, tenha cuidado," choramingo.

"Eu vou voltar."

Quero gritar por ele quando ele sai para a neve. Ele não
sabe que essa é pior coisa que poderia dizer? Toda pessoa
num filme de terror que diz "eu vou voltar," nunca volta!
Vou lhe dar mais dor de cabeça! Não ficarei aqui. Se ele
sai na neve como um idiota, então por Deus, eu vou também.

Paro a meio caminho da porta. Ocorre-me que um de


nós ser um idiota é… bem, idiota.

Bem, pelo menos não estamos sozinhos nisso.

O vento gelado beija minhas bochechas quando me


arrasto para a porta. Não é um bom beijo na verdade. Não do
tipo que Liam me dá. É mais como o tipo de beijo que sua avó
de oitenta e cinco anos lhe dá antes de apertar suas
bochechas e te dizer quão adorável é.

Rapidamente, minha pele exposta começa a pinicar um


pouco, mas ignoro e tento impedir a neve de fazer muito
barulho sob meus pés.

******

O céu está clareando, mas o sol não saiu totalmente


ainda. A camada branca de neve do lado de fora oferece
algum tipo de brilho para que eu possa ver. Estreito os olhos
contra as rajadas de neve voando descontroladamente,
procurando por Liam.
Ele não está longe, em pé atrás de um grande arbusto
perto do canto da cabana, olhando a moto de neve que
percorre rapidamente a montanha.

Momentos depois, Liam enrijece, parecendo se inclinar


para a pessoa se aproximando, e então sai do esconderijo.

Ofego e corro. O que ele está pensando? Pode ser o


homem voltando para finalizar o trabalho.

"Liam!" grito, correndo na neve.

Ele vira abruptamente. "Eu te disse pra não sair."

"Se vai agir feito um idiota, então eu também vou!"


Explodo.

Teria rido da cara dele, mas isso não é engraçado. Ele


tem que saber o tipo de risco que corre.

"Não estou sendo um idiota, querida," ele rebate. Um


sorrisinho apareceu em sua boca. "Mas mais tarde, vamos
conversar sobre você me seguir numa situação possivelmente
perigosa."

Faço uma careta. Ele quer falar, o Sr. Segui-


você-e-dois-homens-com-armas-pela-montanha. "Não foi o
que fez noite passada?"
Seu rosto muda. "Isso é diferente."

"Não jogue essa porcaria machista em mim." Aviso,


plantando meu pé na neve, pronta pra discutir.

A moto para, e alguém grita, "Liam!"

Estremeço, lembrando que não é o momento para uma


discussão.

Liam levanta a mão e acena, então começa a ir até ele.


Após alguns passos, ele para e oferece a mão. "Venha."

Apresso-me em segurá-la. "É Alex?"

"Certeza que sim," ele diz, orgulho na voz.

Alex corre pela neve, sendo muito mais gracioso do que


eu jamais conseguirei. "Sério, cara, fiquei doente de
preocupação," ele diz, ofegante.

"Eu disse para procurar se eu não estivesse de volta


pela manhã." Liam fala enquanto lhe dá um abraço de um
braço.

"O sol está quase saindo. Não podia esperar mais." Alex
olha para mim, os olhos parando nos machucados que sei
que cobrem meu rosto. Então de volta para seu melhor
amigo. "Que diabos aconteceu?"

"Longa história," Liam resmunga.

"A versão curta funciona por agora," Alex responde.

"Alguns homens ruins estão tentando me matar. Liam


os impediu, e o tiroteio desencadeou uma avalanche noite
passada. Quase morremos." Ambos me olham.

Dou de ombros. "O quê? Você queria a versão curta."

Alex olha para Liam. "Quando disse que achava que ela
estava com problemas, pensei que quis dizer que ela perdeu o
emprego ou estava se escondendo de um ex."

"Bem que eu queria," murmuro.

Alex solta uma risada. "Bem, que tal da próxima vez


dar ao cara um aviso sobre com o que ele está lidando?"

Pisco. É isso? Isso é o que ele tem a dizer?

Liam vê meu choque. "Não somos o tipo de homem que


foge de problemas." Alex fez um som concordando.

"E sobre mafiosos com armas?"


Alex franze os lábios, mas não demora muito pra ele
dar de ombros. "Nem eles. O que acha que somos?
Covardes?"

Engasgo, mas os caras viram um para o outro para ter


sua própria conversa. Francamente, acho rude. "Um relatório
chegou há cerca de uma hora sobre uma avalanche deste
lado da montanha na noite passada. Como não respondeu ao
seu telefone, soube que tinha que vir aqui. Lembrei-me deste
lugar, esperava que viesse aqui se precisasse de abrigo."

"Pensou bem," Liam diz a ele, estendendo o punho para


um toque.

Por que caras sempre fazem isso? Eles também devem


bater seus peitos.

"Estávamos voltando ao resort." Liam continua.

"Não tinha certeza do que encontraria quando chegasse


aqui", Alex diz, a voz baixa, revelando um pouco do tormento
que obviamente passou.

"Sinto muito por ter fugido assim, cara. Eu não queria


te preocupar."

"Estou feliz por você estar bem." Ele olha para mim.
"Os dois."
A preocupação genuína de Alex me toca. Esqueci como
é ter pessoas ao seu lado, pessoas que realmente se
importam.

Liam pega minha mão. "Vamos, precisamos sair rápido


dessa montanha."

"Acha que o trenó pode lidar com três pessoas?" Alex


pergunta quando nos movemos em direção a ele. O céu está
ficando mais claro e um belo tom de laranja surge logo acima
das copas das árvores.

Liam grunhe. "Vou dirigir."

"E seu joelho?" preocupo-me. "Você deveria deixar Alex


dirigir." Alex se vira, olhando imediatamente para Liam. "Você
machucou o joelho?" Liam assente, um olhar sombrio
cruzando suas feições.

Algo passa entre os dois. Algo que me faz me contorcer


nas botas. Obviamente, há mais acontecendo do que estou a
par. Quero perguntar. Quero todos os detalhes.

Agora não é a hora, e não gosto de saber que tenho que


esperar. "Eu vou dirigir." A voz de Alex é rouca. "Apenas
segure sua menina." Liam assente novamente.
"Por que não discute com ele?" pergunto um pouco
descontente.

"Não seja ciumenta." Alex brinca. No entanto, não


posso deixar de me perguntar se ele pode sentir que talvez
esteja com um pouco de ciúmes. Sua óbvia relação íntima
com Liam e o tipo de lealdade e confiança que compartilham
é algo que quero também. "Nem todo mundo tem meu poder
de persuasão."

Reviro os olhos e Liam rosna. "Cara. Não."

Alex passa a perna por cima do trenó. "Obrigado,


Alex", ele zomba. "Aprecio ter vindo aqui na porra da
madrugada para me procurar, Alex."

Sorrio e me inclino para beijá-lo na bochecha.


"Obrigada, Alex."

Seus penetrantes olhos azuis vão para os meus. Ele


não esperava por isso e, por um segundo, eu o deixo sem
palavras. Provavelmente isso não acontece com frequência.

"Agradeço que Liam tenha um amigo tão bom quanto


você."

Ele levanta o cachecol grosso em volta do pescoço e


passa-o contra os olhos. "Esse maldito ar de inverno está
fazendo meus olhos lacrimejarem. Deveria ter pego meus
óculos."

Sorrio.

Soltando o tecido, Alex sorri, estende a mão e puxa


uma das minhas tranças bagunçadas. "A qualquer hora."

"Vocês dois podem se unir depois", Liam murmura. "No


trenó, Bells." Subo no trenó atrás de Alex. "E você?", Pergunto
a Liam.

Ele monta a máquina atrás de mim, cuidadosamente


deslizando-me para frente até que eu atinja as costas de Alex.
"É um ajuste apertado, mas podemos fazer funcionar."

Alex olha por cima do ombro para nós. "Ei, olhe para
isso. Um sanduíche de Bells."

Liam dá um tapa na nuca de Alex. "Você não faz parte


de nenhum sanduíche que envolva minha garota."

Os braços de Liam deslizam em minha cintura e meu


corpo relaxa no dele. "Você precisa segurar em Alex, querida."

Depois do que ele acaba de dizer, isso é literalmente a


última coisa que esperava ouvir.
"Vamos lá, garota. Tenho que dirigir," Alex brinca e dá
um tapinha em seu lado.

Olho Liam, e ele assente, então deslizo o braço bom ao


redor de seu lado e aperto a cintura de Alex.

"Segure-se", Alex grita por cima do motor enquanto


acelera.

A próxima coisa que sei é que estamos voando sobre a


montanha e cortando as árvores. Alex é um motorista
horrível. Minha vida passa diante dos meus olhos. Estou
meio cansada de isso acontecer.

A sensação dos braços de Liam se apertando ao redor


da minha cintura me dá uma sensação maior de segurança, e
me inclino nele novamente, o braço em torno de Alex
deslizando. Liam se aproxima de mim, usando seu corpo para
prender o meu mais firmemente entre ele e seu melhor amigo.

Depois de cortar uma das últimas colinas, o resort


aparece à vista e quase choro de alívio. Sei que não estou
realmente segura ainda, mas só de ver BearPaw depois que
sinceramente pensei que a noite passada seria minha última,
fico incrivelmente grata e sentimental.

Alex diminui para um ritmo que realmente parece mais


normal e olha para Liam. Óculos espelhados cobrem seus
olhos, mas sinto-os vagarem sobre mim antes de se fixar no
homem em quem estou me inclinando.

Ele não diz uma palavra, mas não precisa. Liam sabe o
que ele quer perguntar.

"Minha casa!" Ele grita, e meu corpo treme quando Alex


acelera sem qualquer aviso.

Minha mão afunda no casaco de Alex, e o resto de mim


gruda em Liam. Seus braços se apertam e o som da risada
baixa sobre o motor enche meus ouvidos. Ele nem sequer se
move quando Alex foge como um demônio!

Alex se afasta do resort, e esqueço sua condução


infernal porque percebo que estamos indo para a cabana de
Liam. Um lugar que ainda tenho que conhecer.

Tão ansiosa quanto estou para descobrir uma nova


porção do homem que amo, não posso deixar de me
preocupar. Não posso deixar de olhar por cima do ombro
enquanto seguimos em frente, observando toda a neve
imaculada procurando por qualquer um que possa estar nos
seguindo.

Podemos ter saído da avalanche, mas sei melhor do


que ninguém que ainda estou longe de estar segura.
CAPÍTULO TRINTA E OITO
Liam

As dores estão surgindo. O latejar no meu joelho está


mais difícil de ignorar.

Agora que a ameaça iminente sobre Bellamy


desapareceu e toda a adrenalina que correu por mim a maior
parte da noite está se dissolvendo, meu corpo diz que precisa
de recuperação.

Como atleta, sei o quanto a recuperação é importante.


Também sei que se não é capaz de se recuperar
adequadamente, o corpo - e a mente - nunca serão o mesmo.

"Deixou a Extreme no resort?" Alex pergunta no


segundo que o trenó estaciona ao lado da minha cabana.

Assinto. "Sim."

Alex olha entre mim e Bells. "Vou buscá-la e encontro


vocês aqui. Então vamos ao hospital."

"Obrigado, cara", respondo. "O conjunto extra de


chaves está na cozinha. Elas estão no quarto de Bells."

"Chave da casa com elas?" Assinto.


"Eu pego." Alex tira um chaveiro do bolso do casaco e
sobe o convés para a porta dos fundos. Aqui na BearPaw, a
parte de trás da casa é mais parecida com a da frente, porque
geralmente são as costas que dão para as encostas e as
vistas.

"Ele tem uma chave?" Bellamy pergunta quando a


ajudo a descer do trenó.

"É claro", Alex e eu respondemos ao mesmo tempo.

Beijo sua bochecha, e em seu ouvido, sussurro: "Você


terá uma também." Bellamy sorri, os olhos suavizando por
um momento antes de mudarem para a paisagem atrás de
nós. A tensão em seu corpo ainda é palpável. É quase como
se seus nervos tivessem aumentado desde que descemos do
trenó.

"Está tudo bem agora", digo a ela, querendo que sinta-


se segura.

"Mas por quanto tempo?" Ela se preocupa, os olhos


voltando aos meus.

Não tenho uma resposta para isso. Desejo que tivesse.


Não quero vê-la assim. Não quero que ela viva assim. Ela
merece muito mais que isso.
Charlie late e quase salta do convés traseiro, correndo
na neve em nossa direção. Bellamy ri e estende o braço para
o cachorro. Ele se lança nela. Movo-me rapidamente,
colocando-me entre eles para que ele não a derrube.

"Calma, garoto." Sorrio quando ele lambe meu rosto.

Bellamy coça atrás da orelha quando ele se inclina e


solta um gemido satisfeito.

Alex sai da porta, segurando as chaves reserva da


minha caminhonete. "Voltarei em alguns minutos. Esteja
pronto."

"Realmente aprecio isso", digo a ele.

Ele mal faz uma pausa. "Você faria o mesmo por mim."

"Sim. Faria."

Levo Bellamy para minha casa quando o snowmobile


começa a sair.

"Ele é um motorista terrível", ela diz, fazendo uma


careta.

Dou uma risada. "Na verdade, Alex se comporta bem


num desses."
"Sua cabana é linda, Liam", diz ela, olhando ao redor
enquanto caminhamos para dentro. "Tenho me perguntado
como é."

Eu meio que sorrio. "Não é o que está esperando?"

"Talvez um pouco mais limpa do que pensei." Ela


brinca, em seguida, dá um passo para dentro.

Ofego. "Não tenho estado em casa o suficiente para


fazer bagunça."

Charlie atravessa a sala, pega uma bola gigantesca e


traz para mim. Eu a seguro. A sensação familiar de baba
cobre meus dedos antes que eu a jogue pela porta dos fundos
e ele vá atrás.

Olho para Bellamy, que ainda encara ao redor com


uma expressão quase melancólica. Tento entender o que ela
pode estar vendo, mas é difícil porque já vi isso um milhão de
vezes.

É uma cabana simples, típica do que encontrará no


BearPaw. Ou em qualquer montanha. Tem madeira por fora e
por dentro. O teto foi montado com vigas atravessando-o. As
janelas são grandes, dando vista para as encostas, e são da
mesma madeira que está nas paredes. Tudo é bem básico, na
verdade. Não sou um cara que precisa de muito.
A mesa foi feita por um fabricante local de móveis e os
bancos de madeira deslizam por baixo dela. Há sapatos de
neve velhos e snowboards pendurados nas paredes, e todas
as almofadas e mantas na mobília da sala de estar são em
xadrez vermelho.

A lareira no centro da sala é de pedra, e uma tora


grosseira serve de cornija. É bem masculino, na verdade, mas
a cozinha é moderna com balcões de mármore branco (minha
mãe os comprou) e tem um monte de prateleiras abertas com
pratos brancos, tigelas e canecas.

Atravesso a sala até a lareira, de repente me sentindo


um pouco nervoso sobre o lugar que realmente nunca pensei
muito. É apenas casa para mim. Apertando o interruptor, as
chamas no fogo rugem para a vida ao mesmo tempo em que
Charlie corre de volta para a casa, trazendo uma tonelada de
neve com ele.

"Acho que é praticamente um lugar de solteiro", digo,


indo fechar a porta e barrar o frio.

"Eu amei", ela murmura, olhando pela janela,


envolvendo os braços em torno de si. "Parece um lar de
verdade."
Compreensão me atinge. Bem como prazer. Isso me
emociona, ela achou minha casa confortável. "Algo que você
não tem há muito tempo." Minha voz é de reconhecimento.

Afastando os olhos da vista, ela olha para mim. "Acho


que esqueci como é realmente ter uma casa."

Meu peito doí. Deslizando entre ela e a janela, puxo-a


suavemente, e ela vem, colocando a cabeça contra meu peito.
"Você tem uma casa agora, Bells."

Quero ficar com ela o dia todo. Quero levá-la num tour
pelo lugar, mostrar os dois quartos e o loft. Tudo terá que
esperar.

"Vamos," digo, pegando sua mão e puxando-a pelo


corredor até o quarto principal. Enquanto ela olha em volta,
tiro algumas roupas limpas, secas e quentes, jogando tudo na
cama. Em seguida, vou até o banheiro anexo, estendo a mão
para o box de vidro e ligo o jato para aquecê-lo.

"Alex estará de volta com a caminhonete a qualquer


momento, mas acho que um banho será bom antes de irmos
ao hospital. Está pronta para isso?"

Seu aceno de cabeça é ansioso, e tiro todas as roupas e


ajudo-a a fazer o mesmo.
"Deveria ligar para a polícia." Ela se preocupa, mas
balanço a cabeça.

"Nós vamos, mas vamos cuidar de você primeiro."

Bellamy cede, e gosto de dizer a mim mesmo que é


porque estou nu na frente dela.

Dentro do chuveiro, avalio seu corpo, notando que seu


ombro ainda está inchado e há um nó perto da clavícula. Ela
precisa de raio-X e uma tipoia, espero que nada mais.

"Vai me ajudar?" Sua voz flutua ao meu redor como o


vapor do chuveiro. Afasto os olhos de seu corpo e do jeito que
os fios de água cascateiam sobre ela, e a vejo tentando
desfazer as tranças com apenas uma mão.

Com um som, afasto a mão dela e enfio os dedos em


seus cabelos, desfazendo-as.

Ela suspira quando sua cabeça se inclina para trás


debaixo da água. Sou tomado pela luxúria enquanto a água
encharca os longos fios, puxando-os e fazendo-os agarrar-se
a seu pescoço, ombros e peito.

O calor do meu olhar deve ser palpável porque ela abre


os olhos e baixa o queixo, encontrando meu olhar.
Nós nos encaramos silenciosamente enquanto o vapor
flutua e a água caí sobre nossa pele. "Se não estivéssemos
com pressa agora..." As palavras saem de mim. "Teria suas
costas contra a parede e as pernas ao redor da minha
cintura."

Ela estende a mão, a palma cobre meu peito. "Já sinto


sua falta."

Gemo. "Isso não está tornando mais fácil para mim,


querida."

"Beije-me."

Obedeço. Cascatas finas de água morna correm entre


nossos lábios enquanto se movem uns contra os outros. Seu
corpo está escorregadio contra o meu, e a exaustão que se
agarra aos meus membros desaparece por longos momentos
quando tomo sua boca.

Quando começo a relaxar, ela vem, puxa meu lábio


inferior em sua boca e o chupa, bebendo a água agarrada à
minha pele. Juro que ela de alguma forma consegue beber
um pedaço da minha alma.

Gemo quando ela me solta. Seu braço desliza ao redor


da minha cintura, e ela se aproxima, me abraçando como se
estivesse com medo de nunca mais me ver.
Meu coração bate forte contra as costelas, meu
estômago faz todo tipo de reviravoltas, e meus dedos coçam
para explorar seu corpo, para empurrá-la embaixo de mim.

Acima de tudo, porém, há essa sensação de emoção


esmagadora na alma. Uma profundidade de amor que
verdadeiramente nunca senti. Nem mesmo oito anos atrás. É
ainda mais forte do que minha necessidade de estar dentro
dela.

É mais forte do que qualquer coisa que já experimentei


em minha vida. Tenho que protegê-lo.

Para protegê-la.

Mas como?
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
Bellamy

"É Bellamy."

"Quem?"

Suspiro. "Bella Lane"

"Senhora Lane, esperei sua ligação.

Eu olho para o chão e para as meias de Liam que


cobrem meus pés. "Você sabe o que aconteceu?

"Sabemos que sua localização e identidade foram


comprometidas e que foi encontrada pelos homens de Crone.
Por um tempo, realmente não tínhamos certeza se conseguiu
sair viva."

"Eu consegui. Achei melhor continuar escondida."

Ele geme. "Voltar à sua identidade original não é


recomendado." Algo dentro de mim acende. Estou exausta,
magoada e as pessoas continuam tentando me matar. Sim,
provavelmente chateei o bom e velho FBI por não ligar, mas
não tenho o direito de me proteger?
"Não é minha identidade original", retruco. "É quem
realmente sou."

"Você é Bella Lane."

"Estou bem ciente da minha nova identidade.


Realmente não voltei à antiga. Estou apenas com algumas
pessoas que me conhecem como Bellamy." A verdadeira eu.

"Está falando sobre o snowboarder profissional e


medalhista olímpico Liam Mattison?"

Nem me surpreende que ele saiba que estou com o


Liam. Quer dizer, se os homens de Crone puderam me
encontrar, acho que o FBI também pôde. Que bagunça do
caralho.

"Sim."

"E Alexander Carter?"

"Sabe o nome da minha camareira também?" rebato.

"Hoje de manhã, uma Jennifer Fray esteve em seu


quarto."

Puta merda! Bufo. "Isso é uma piada."

"Não é brincadeira, senhorita Lane."


"Estou bem ciente, especialmente desde que estou a
caminho do hospital agora."

"Então, seus homens apareceram?" Ele não fica


surpreso com isso também.

"Sim. Eles me levaram para uma montanha para


morrer."

"Temos uma equipe a caminho agora, inclusive eu", diz


o agente Frost, sem nem mostrar reação ao fato de alguém ter
tentado me matar.

Novamente.

Quantas vezes isso ocorreu? Três? Quatro?

Nem sei mais.

"Minha mãe…" começo, mas ele me corta.

"Já foi transferida para um local seguro."

"Eu quero vê-la", digo, sentindo meu lábio inferior


tremer.

"Isso não é aconselhável no momento." Sabia que ele


diria isso.
"Eu não dou a mínima!" grito no telefone.

Liam, que esteve descansando contra a ilha,


escutando, anda para lá e para cá. Não posso deixar de notar
seu mancar. Isso tira toda a raiva e luta de mim.

Depois do banho, ele colocou uma espécie de joelheira


para estabilizá-lo.

Ele precisa ir ao pronto-socorro.

"Tenho que ir", digo na linha.

"Vamos encontrá-la no Caribou Memorial em cerca de


uma hora e meia."

Desligo. "Eles sabem onde estou. Estão a caminho."

Liam me pega em seus braços e segura firme. Algumas


lágrimas perdidas escorrem e as seco no moletom dele. Então
me afasto. "Vamos."

Seguramos as mãos no caminho até a caminhonete, e


quando me movo para subir na parte de trás, Liam me para e
senta na parte de trás.

O caminho para o hospital é em silêncio, mesmo


sabendo que Alex tem cerca de cem mil perguntas. Talvez ele
sinta meu humor tempestuoso, ou talvez ache que conseguirá
mais respostas quando for apenas ele e Liam. De qualquer
forma, fico feliz pelo silêncio.

Eu não tenho ideia do que vai acontecer quando Frost e


companhia aparecerem. Ele não ficará feliz quando eu o
informar que não tenho intenção de voltar para a proteção a
testemunhas.

Ele me dirá que estou cometendo grande erro.

Parte de mim sabe que ele estará certo.


CAPÍTULO QUARENTA
Liam

Hospitais são um saco.

Passei tempo suficiente neles para valer pelo resto da


minha vida.

No entanto, aqui estou. Novamente.

No segundo em que entramos no pronto-socorro, nos é


dado um quarto. Acho que há alguns benefícios em ser a
realeza da cidade e um medalhista olímpico.

Um medalhista olímpico que foi vencido... Um que


provavelmente não verá as montanhas novamente.

Tento não me concentrar na nevasca que se forma na


minha mente. Em vez disso, foco em minha garota e me
certifico de que ela tenha o mesmo tratamento que eu.

Cada enfermeira ou médico que entra na sala é


apresentado à minha namorada, algo que está começando a
me irritar cada vez que falo.

Ela não é apenas minha namorada.


Ela é minha vida.

Como deixar isso claro para as pessoas? Como falar


exatamente o que farei se eles não cuidarem dela como se ela
fosse a governante do meu mundo?

Considero o fato de que a palavra namorada parece


funcionar. Fomos colocados no mesmo quarto, mas eles nos
separam para raios X e essas merdas. Algo que realmente
não gosto.

Além de Bells chamar seu contato do FBI (que já odeio


porque parece incomodá-la), liguei para a polícia local. Eles
saíram para procurar os corpos dos homens que tentaram
nos matar, e também deixaram alguns em nosso andar para
se certificar de que ninguém mais tente algo estúpido.

Além das perguntas gerais, não tivemos tempo de


responder muito mais porque a prioridade são nossos
ferimentos.

Sei que as perguntas virão, no entanto. Muitas.


Perguntas difíceis. Não estou pronto ainda, mas terei que
estar.

Não estou pronto para os resultados da ressonância


magnética que acabei de fazer também.
Sou salvo das profundezas da minha mente quando a
porta abre e Alex entra. Olho para trás dele, esperando
Bellamy aparecer. Quando ela não o faz instantaneamente,
encaro-o.

"Ela está a caminho. A enfermeira não me deixou


conduzi-la pelo corredor."

"Porque ele é um péssimo motorista", anuncia Bellamy


ao virar a esquina.

"Não sou", Alex protesta.

"É sim", a enfermeira responde.

Bellamy dá uma risadinha. Faz bem ao meu coração


vê-la. Ela é como o sol num dia tempestuoso. Mesmo com a
tipoia prendendo o braço dela.

"Como foi?", pergunto.

"Quebrado, como disse", responde Bellamy.

A enfermeira para a cadeira ao lado da cama de


Bellamy, mas ela se levanta e vem ao meu lugar. A enfermeira
começa a dizer alguma coisa, mas eu pisco.

Ela não diz mais nada.


Meu joelho está apoiado, um bloco de gelo cobrindo-o.
Bellamy cuidadosamente o evita, mas corre em minha direção
entre minhas pernas.

"O médico entrará em breve", diz a enfermeira, depois


sai.

"Estou exausto." Alex boceja e vai até a cama de


Bellamy, esticando-se sobre ela.

"Fique à vontade", diz ela, observando-o.

"Obrigado, eu vou." Ele boceja de novo e fecha os olhos.


"Fiquei acordado a noite toda, preocupando-me com vocês."

"Obrigado por ficar com Bells", digo a ele.

Seus olhos reabrem, o peso do seu olhar frio pousando


em mim. "Como está o joelho?"

"Esperando", digo.

Bellamy olha por cima do ombro, espiando pela cortina


de cabelos caindo sobre o rosto. "Quão ruim é?"

"Vai ficar tudo bem."


Sinto o olhar de Alex e devolvo-o. Ele faz uma cara
azeda e lhe mostro o dedo. "Vocês precisam parar com isso."
Nós dois olhamos para Bellamy.

"Parar o quê?" pergunto.

"Tendo conversas que não posso ouvir." Alex gargalha.

"Não fazemos isso, querida", digo, dando-lhe outro


olhar duro.

Seus olhos se nivelam no meu rosto. "Você está fazendo


agora."

"Gosto de você, garota que fugiu. Gosto muito de você",


Alex reflete.

"Não fugi. Eu voltei", retruca Bells.

Eu apoio um braço em volta da cintura dela e descanso


meu queixo em seu ombro ileso. "Graças a Deus você voltou,"
eu murmuro.

Um pequeno arrepio percorre as costas dela. Eu senti


se mover através dela. Então ela vira a cabeça e me beija
suavemente.
A porta abre novamente e olho meu médico. Meu corpo
enrijece. Empertigando-me, assinto. "Dr. Brackner."

"Liam", diz ele, olhando Alex deitado na cama.

"Ei, doutor." Alex acena, mas não faz nenhum


movimento para sentar.

Ele inclina a cabeça. "Alex"

O médico conhece Alex porque ele esteve aqui na


minha recuperação anterior. A equipe está acostumada a nos
ver juntos, então ninguém estranha quando Alex sente-se em
casa.

O Dr. Brackner, no entanto é muito mais curioso,


quando se trata da garota sentada entre minhas pernas. Já
os apresentei, mas assim como o resto da equipe, todos estão
curiosos. É a primeira vez que apresento uma mulher como
namorada.

"Como está o ombro, senhorita Lane?", Ele pergunta. É


estranho ouvi-lo a chamar assim. Mas ela fez o check-in
usando o que penso ser seu nome falso. Ela me diz que é seu
nome legal, mas para mim ela nunca será Bella Lane. Sempre
a verei como Bellamy Cutler.

"Está quebrado", ela responde. "Mas vai ficar bom."


Ele assente. "Sim. Descanse, mantenha-o imobilizado
e, em seguida, talvez fisioterapia resolva o restante. Você
estará novinha em algumas semanas."

Sua cabeça balança. "Isso é o que meu médico disse."

"Posso te ajudar com a fisioterapia", digo.

Sua cabeça gira, e um rubor rosa escurece seu rosto.


"Liam," ela sussurra.

Engulo uma risada. Ela tem uma pequena mente suja.


Amo isso. "Sei tudo sobre fisioterapia para um ombro
deslocado. Tive um algumas vezes", explico.

Seus olhos se arregalam quando percebe que estou


realmente falando da fisioterapia para o ombro e não o outro
tipo de fisioterapia. Mais uma vez, reprimo uma risada, mas
tenho certeza de que meus olhos estão brilhando.

Do outro lado da sala, Alex está sufocando, tentando


não fazer uma piada.

"Obrigada", diz ela, sua voz um pouco tensa, as


bochechas ainda rosa brilhante. "Posso aceitar isso."

Pisco.
Ela cora ainda mais.

Dr. Brackner pigarreia. "Tenho seus resultados, Liam."


Fico tenso. Alex senta na cama.

"Suponho que não há problema em discutir isso na


companhia de seus amigos?"

"Claro", digo sem perder o ritmo.

"Amigos são apenas a família escolhida, doutor", Alex


diz a ele.

"Sim, acho que sim."

"Quão ruim é?" pergunto, minha voz mais dura do que


pretendia. Não quero saber, mas agora que o momento está
aqui, não quero dar voltas.

"Não é tão ruim quanto tenho certeza que está


pensando", responde o médico. "Não está quebrado."

"Louvado seja Jesus!" Alex exclama.

Posso sentir a confusão no modo como Bellamy olha


para mim, depois de volta para o médico.

"Mas está deslocado."


Assinto mesmo quando a notícia me atinge no
estômago como um soco.

"O que isso significa?" Bellamy pergunta, pegando


minha mão e a apertando. Respiro fundo e lentamente exalo.

"Significa que nosso menino ainda tem uma chance de


voltar para as pistas!" Alex declara, alívio em sua voz.

Bellamy vira para mim com os olhos arregalados. "Você


planeja voltar ao snowboard?"

Dou um olhar severo para Alex, e ele parece engasgar.


"Foi mal."

Faço uma careta e ele estremece. "Desculpe, cara.


Pensei que tinha contado para sua garota."

"Eu ia falar", rosno. "Ficamos meio ocupados."

"Devo dar-lhe um momento?", pergunta o médico.

"Não", digo, dispensando Alex e dando um aperto suave


no quadril de Bellamy.

Explicarei tudo assim que puder. "Por favor, continue."

"O tempo de recuperação é menos significativo do que


quando rompeu seu tendão. Você não vai precisar de cirurgia
novamente, mas acho que vou sugerir um procedimento
chamado de encolhimento térmico."

"O que é isso?" Bellamy pergunta.

Eu já sei. Eu aprendi tudo sobre procedimentos e essas


coisas um ano atrás.

"Eles aquecem o colágeno no meu joelho para realocá-


lo."

"É perigoso?" Ela se preocupa, olhando para meu


médico.

"De modo nenhum. É um procedimento simples, então


ele estará de volta em casa com você até o final do dia." Meu
médico me olha. "Como provavelmente já sabe, após o
procedimento, provavelmente será capaz de suportar todo o
peso no joelho."

Assinto.

"Não fazemos isso aqui, então farei algumas ligações


para que faça em outro lugar o mais rápido possível".

Balanço a cabeça novamente, meu estômago


afundando um pouco. Não quero fazer essa merda de novo.
Mesmo que não seja tão ruim quanto antes, ainda causa
problemas. Merda, pensei ter deixado isso de lado.

"Vou ligar para meu treinador e ver se ele pode ligar


para o médico que fez minha última cirurgia. Ver se consigo
entrar em contato com ele."

"Se é isso que quer, então é claro. Peça que me


telefonem e vou discutir tudo e enviar os registros."

"Obrigado."

Ele inclina a cabeça. "Você precisa repousar. Nenhum


esqui. Sem aulas. O foco principal agora é o inchaço e o
controle da dor."

"Sim, eu sei", murmuro.

"Se o inchaço não diminuir em um dia ou dois,


precisará voltar. Não espere. Eu vou prescrever..."

"Sem pílulas", retruco.

Bellamy pula, e esfrego suas costas em desculpas pela


explosão.
O médico faz uma pausa. "Nada pesado ou viciante,
mas posso dar-lhe uma receita para uma dose maior de
Motrin11 para que não tenha que engolir tantas pílulas."

Minha voz é rouca quando respondo: "Obrigado."

"Sei que este tipo de lesão é perturbadora para um


atleta como você. Também sei que fez tudo certo no ano
passado. Isso podia ser pior. Vai curar."

"E os profissionais?", Pergunto, sentindo o olhar de


Bellamy novamente. Evito-o.

"O tempo vai dizer."

O tempo é meu inimigo agora.

"E a cabeça dele?" Bellamy corta o nível de finalização


nas palavras do médico e a maneira como estou me
recuperando delas.

"Mostra sinais de uma leve concussão e, normalmente,


nós o manteríamos durante a noite para observação. Mas
como isso aconteceu há várias horas, acho que
provavelmente conseguiremos liberá-lo mais tarde, sem
complicação."

11 Ibuprofeno
"E ele não precisa de pontos?" Ela pressiona.

"Eles já disseram que não, querida", digo gentilmente.

"Eu ainda me preocupo", ela diz, e sorrio.

"Sem pontos. Apenas mantenha limpo. Qualquer


complicação ou dor volte."

Bells olha por cima do ombro. "Isso é o que disseram


sobre meu rosto." Eu a beijo na testa.

"A enfermeira estará em contato periodicamente para


verificar se tem tudo o que precisa. A polícia já está
esperando para falar com você, mas os impedirei até ter os
resultados dos testes." Balanço a cabeça, grato.

"Volto no final da tarde, assim como o médico que te


atende, senhorita Lane. Então, sem nenhuma complicação ou
problema, vocês estarão liberados no final da tarde para irem
para casa descansar."

"Podemos dormir?" Bellamy pergunta, esperançosa.

O médico ri. "Depois que estiver acordada por vinte e


quatro horas, o que acredito que vai conseguir antes de te
liberarmos."
Ela suspira. "Esperava que dissesse algo diferente do
meu médico."

Dr. Brackner ri. "Receio que não."

"Alex pode nos manter acordados", diz ela e olha meu


melhor amigo.

Ele continua na cama. Roncando.

"Talvez não." Ela emenda.

Sorrio.

"Alguma outra pergunta?"

"Não", digo e estendo a mão. "Obrigado por não me


fazer esperar."

Ele assente uma vez. "Claro. Imagino que tenham


passado momentos difíceis nas últimas horas. Se é algum
consolo, vocês têm muita sorte, considerando a avalanche.
Poderia ter sido muito, muito pior."

Bellamy se inclina para mim e a abraço.

Quando o médico sai, ela vira para mim, os olhos


arregalados e sinceros. "Por que não me contou?"
Não vou insultar sua inteligência, fingindo não saber o
que ela quer dizer, ou evitar a pergunta.

Eu me inclino para que minha testa descanse na dela.


"Porque estava muito ocupado tentando fazer você me contar
pelo que passou."

"Não sou mais importante que você, Liam."

"Para mim é."

"Bem, sinto o mesmo sobre você."

"Nunca quis fazer você se sentir como se eu estivesse


escondendo isso. Suas coisas são um pouco mais
complicadas."

"Sinto-me culpada."

Descanso a mão contra sua bochecha e suspiro. "Não."

"Não é tão simples assim."

Meio que sorrio. "É bem simples."

Ela balança a cabeça uma vez. "Eu entrei em sua vida e


trouxe muito drama. Você é um alvo para a máfia agora,
Liam. Se o agente Frost sabe quem você é, o mesmo acontece
com Crone."
Começo a falar, mas ela continua, passando direto por
minhas palavras.

"Claramente, você tem muita coisa acontecendo, e nem


sequer pensei nisso. Acabei de aparecer e" - ela gesticula
entre nós - "isso aconteceu." Então, num tom mais suave,
quase sussurrando, ela disse: "Eu não queria que isso
acontecesse."

"Há quanto tempo está completamente sozinha,


Bellamy?"

Ela afasta a testa da minha e suspira. "Mesmo se eu


voltar para a proteção de testemunhas, você ainda estaria em
perigo agora."

"Quanto tempo?" pressiono.

Seus ombros caem. "Quase dois anos."

Dói ouvir. Doí saber. Nós dois sofremos nos últimos


dois anos, mas ao contrário dela, tive minha família. Ela não
teve ninguém.

Deslizando o braço ao redor de sua cintura, descanso


minha palma em suas costas. "Você não está mais sozinha.
Nunca mais estará. Você não vai voltar para a proteção a
testemunhas e vamos resolver isso. Juntos."
Estamos tão perto que a ouço engolir. Sinto ela puxar o
fôlego. "Você não deve arrastar as pessoas que ama para
situações horríveis."

"Você não está me arrastando. Estou entrando de bom


grado. Inferno, estou correndo para essa situação."

A maneira como seu olhar safira alcança


profundamente dentro de mim e aperta meu coração, faz a
mão contra suas costas tremer. "Eu deveria ter corrido para o
carro naquele dia, puxado Kelsey pelo rabo de cavalo, e feito
minha reivindicação."

Dou uma risada baixinho. "Uma briga de gatas em


minha homenagem?" Arqueio as sobrancelhas para ela.

"Comporte-se."

Seus lábios se curvam no mais delicioso sorriso, e


fecho a distância, beijando-a, reivindicando seu sorriso e
aconchegando-a em meus braços.

"Eu te amo", murmuro contra seus lábios.

"Eu também te amo, Liam. Muito."


"Essa foi a coisa mais tocante que eu já ouvi em toda a
minha vida, e minha mãe e irmã assistem muitas merdas
sentimentais."

Bellamy pula e provavelmente teria caído da cama se


eu não a estivesse segurando. Apenas viro a cabeça.
Realmente não estou surpreso. Alex é um espião idiota.
"Sério, cara?"

"Pensei que estava dormindo!" Bellamy exclama, suas


bochechas rosadas.

Ela é tão linda.

Menos os cortes, hematomas e inchaço no seu rosto.


Essa merda só me irrita.

Não ligo que seja cortesia do mais notório chefe do


crime moderno. Esse cara pode chupar um pau depois que
eu der um soco em sua cara. Não vou recuar. Não quando ele
ameaça Bellamy.

Uma ameaça para ela é uma ameaça direta para mim.


Para toda minha vida.

Este bastardo encontrou a luta de sua vida.


"Como vou dormir enquanto estão conversando como
se estivéssemos no Dr. Phil?"

"Você não deveria estar escutando!" Bellamy declara.

Alex boceja e senta. "Eu preciso saber no que estou me


envolvendo." Ele balança a cabeça. "Perry Crone, hein? Não
sei como conseguiu irritar aquele cara, Bells, mas droga. Não
sei se deveria ficar preocupado ou impressionado."

"Eu te disse para não chamá-la de Bells", rosno.

Bellamy parece incrédula. "Isso é tudo que tem a dizer


para ele?"

Dou de ombros. "Eu ia contar de qualquer maneira."

"Você não está envolvido." Bells avisa Alex.

Nós dois rimos.

Seus olhos se estreitam.

Paro de rir e agarro sua mão. "Agora, querida. Alex e eu


somos um pacote. Você sabe disso."

Ela balança a cabeça. "Isso é perigoso."

"Sou um cara perigoso." Ele pula da cama.


"Isso vai muito além de má direção", ela continua.

Ele faz um som rude, sua linguagem corporal muda, e


o escudo de suave arrogância que ele usa cai para revelar um
lado muito mais privado que Alex não mostra, a menos que
seja necessário. Atravessando a sala quase como uma
pantera, ele mantém os olhos penetrantes em Bellamy. Seus
dedos envolvem os meus um pouco mais forte.

Quase digo a ele para dar o fora, mas seguro minha


língua.

Bellamy está em nossas vidas agora, e embora a


ameaça para ela seja mais importante, já é hora de aprender
sobre mim e Alex e quem nós somos agora versus quem nós
éramos oito anos atrás.

No fundo, preocupo-me que mudará o que ela sente por


mim.

O jeito que me ama.

Talvez seja por isso que não esteve com tanta pressa
para contar a ela sobre sua vida.

Alex cai, agachado, então está no nível dos olhos com


minha garota. Dou a ele um olhar de advertência, que sei que
ele vê, embora seus olhos permaneçam nela.
"Confie em mim quando digo que não fiquei apenas
sentado numa montanha nos últimos oito anos, esquiando e
perseguindo coelhinhas."

Seus olhos nunca deixam os dele. Sua voz é


ligeiramente hesitante. "O que esteve fazendo?"

Ele se levanta, o olhar em seus olhos é vazio.


"Aprendendo a lidar com pessoas perigosas, algumas piores
do que as que está fugindo."

Bellamy estremece um pouco, dou um tapa no braço de


Alex. "Você fez seu ponto. Que tal um café?"

Alex pisca e o escudo volta a subir. Ele sorri. "Café


parece bom. Creme e açúcar, Bellamy?"

"Sim, por favor."

Quando ele sai, ela olha para mim com os olhos


arregalados. "O que foi isso?"

"Alex passou algum tempo no exército. Pode confiar


nele. Ele sabe o que é preciso para mantê-la segura."

Seus olhos voltam para a porta onde ele saiu.


Pego seu queixo e puxo seu rosto. "Não se engane,
porém, querida. Alex tem habilidade e experiência que eu não
tenho, mas sou capaz de lidar com essa situação. Não há
ninguém nesta Terra mais motivado para mantê-la segura do
que eu."

"Não quero que me salve."

Sei disso, mas não me impede de querer protegê-la de


qualquer maneira.

"Como está se sentindo?" Murmuro acariciando sua


bochecha inchada.

"Eles me deram analgésicos."

Acaricio seu lábio perto de onde está cortado. "Venha


para casa comigo esta noite."

"O quê?"

"Sem mais quarto no resort. Não precisamos mais


acordar separados. É hora de voltar para casa, Bells."

Ela parece surpresa. "Quer que eu vá morar com você?"

"Quero que volte para casa."


"Não acha que é cedo demais?" Ela pergunta,
preocupação escurecendo seus olhos.

Meu estômago revira, e a vozinha na parte de trás da


minha cabeça me avisa que isso é má ideia. Que uma vez que
ela souber tudo de mim, ela irá embora.

Mando-a calar a boca.

Mesmo silenciada, a dúvida ainda está lá. Assim como


o medo.

"Não", digo. Pegando o que quero. Pegando-a. "Quer


dizer, é um pouco retrógrado, acho, considerando que
precisamos nos conhecer melhor agora. Mas podemos fazer
isso em casa. Juntos. Eu te amo e isso não vai mudar."

Por favor, diga que isso não vai mudar para você.

"Vai me contar sobre seu joelho? Sobre os


profissionais?"

"Sobre tudo." Porra, minha voz fica rouca.

"Sobre Alex?"

"Se quiser. Mas talvez deva deixá-lo fazer isso."


Um lindo sorriso ilumina seu rosto. "Lar é onde está
meu coração."

"Isso é um sim?"

Ela assente. "Sim."

Lanço-me nela, segurando-a em meu peito. Ela


estremece com o empurrão repentino de seu braço, e me
afasto, e beijo a parte nua de seu ombro.

"Como está o joelho?", ela pergunta, olhando o bloco de


gelo.

"O tempo dirá", murmuro sombriamente, repetindo as


palavras do médico.

Perguntas percorrem seus olhos, e me preparo para


elas. Não estou realmente pronto para falar sobre isso. Aqui
não. Agora não.

Mas farei.

Se ela perguntar, eu direi.

Sou salvo quando a porta abre e Alex aparece,


carregando três copos de papel com tampas. "Olha quem
encontrei", ele anuncia.
Bellamy e eu olhamos para cima.

Minha mãe e meu pai correm para o quarto.

"Oh meu Deus, Liam! O que aconteceu?" Mamãe se


agita, correndo até minha cama. Seus olhos vão para Bellamy
e se arregalam. "Oh, coitadinha." Sua mão paira em direção a
sua bochecha inchada. "O que aconteceu com você?"

"Mãe, esta é Bellamy. Bellamy, esta é minha mãe,


Holly."

"Prazer em conhecê-la, Sra. Mattison."

Mamãe bufa. "Chame-me de Holly. E sim, estou


ansiosa para conhecê-la. A notícia da nova namorada de
Liam está se espalhando por todos no resort como um
twitter."

"Como um twitter", Alex ecoa.

Suprimo um sorriso.

Mamãe suspira. "Liam! Seu joelho! Oh, o que


aconteceu?"
"Mãe, o que está fazendo aqui? Como soube que estou
aqui?" Jesus, o pessoal ligou para eles? Isso é uma maldita
violação dos direitos dos pacientes ou algo assim, não é?

A última coisa que quero é assustar meus pais, e estou


tentando evitar toda a coisa de conhecerem minha namorada
logo após uma experiência de quase morte.

Olho Alex, querendo algum tipo de explicação.

Ele dá de ombros. "Encontrei-os perambulando pelo


corredor." Uma expressão estranha toma seu rosto, e seus
olhos vão em direção ao meu pai que está de pé ao lado,
deixando minha mãe pirar.

Sento e olho ao redor.

Minhas sobrancelhas franzem quando o vejo parado lá.


"Papai?"

Nossos olhos se encontram e o... Olhar passa entre


nós. Ele está usando uma roupa de hospital.

"Não estávamos perambulando." Mamãe silencia Alex.


"Nós estávamos te procurando. Imagine nossa surpresa
quando ouvimos todas as enfermeiras rindo e falando sobre a
presença do medalhista olímpico local."
"Imagino", digo, olhando para meu pai. "Por que está
vestindo isso, pai? O que diabos está acontecendo?"

Mamãe para de se preocupar comigo e fica quieta,


virando para olhar meu pai.

Ele avança. "Não é nada para se preocupar filho. Acabei


de fazer um checkup com meu médico esta manhã, e estive
fazendo exames. Você sabe como eles são neste lugar. Acham
que todo mundo precisa usar um desses malditos vestidos."

"Eles são muito deselegantes" Bellamy concorda.

Papai ri e volta a atenção para minha namorada. "Isso


eles são. Tão bom conhecê-la, Bellamy." Ele estende a mão.
"Liam fala muito bem de você."

"De você também", responde Bellamy, parecendo um


pouco tímida. Ela olha para minha mãe. "Dos dois."

Mamãe fala novamente. "Conte-nos o que aconteceu."

Gemo. "É uma longa história, mãe."

Alex dá a Bellamy um café, ela coloca as mãos em volta


dele e suspira. Noto os arrepios cobrindo seus braços e franzo
a testa. Pegando perto da mesa de cabeceira o moletom com
capuz e zíper que ela usou até chegar aqui, inclino-me e o
coloco em torno de seus ombros.

Ela sorri quando puxa a gola mais ao seu redor. "Tudo


bem com o ombro?", pergunto baixinho.

Sua cabeça balança. "Obrigada."

"Liam?" Mamãe pergunta, tentando me fazer falar.

Porra, estou cansado. Só quero pegar Bellamy e nos


fechar dentro da cabana por alguns dias.

Sei que não posso. "Que tipo de exames de rotina?"

"O quê?", pergunta mamãe.

"Que tipo de exames de rotina está fazendo, pai?" Alex


se move e Bellamy toma um gole de café.

A porta abre novamente. Desta vez, um homem de


terno entra, seguido por uma mulher vestida com uma saia
lápis e camisa social. Atrás do par está o chefe de polícia de
Caribou.

"Frank!" Mamãe exclama ao vê-lo. A mão dela voa para


o pescoço. "Isso é um assunto policial?"

"Receio que sim." Frank concorda.


O homem de terno pigarreia. Bellamy se encolhe contra
mim. "Vou precisar de uma palavra com a senhorita Lane e o
Sr. Mattison." Ele olha ao redor. "A sós."

"Agora espere um minuto. Não pode simplesmente


entrar aqui e assumir minha jurisdição." Frank interrompe.

O homem mostra seu distintivo brilhante do FBI. "Na


verdade, nós podemos." Ah, então esse é o agente Frost.
Babaca.

"FBI!" Mamãe exclama.

Olho para o teto. Este quarto está se tornando uma


tempestade de pessoas e conversas subjacentes que ainda
tem que acontecer.

"Sou Renshaw Mattison, pai de Liam. O que é isso


tudo?" Papai dá um passo à frente, soando cada vez mais o
poderoso homem de negócios que é. O vestido de hospital que
usa parece ainda mais fora de lugar.

Faço uma careta e um sentimento doentio rasteja por


meu estômago.

Um médico enfia a cabeça no quarto. Não é meu


médico nem o de Bells. "Sr. Mattison pensei que poderia te
encontrar aqui."
"Doutor", meu pai responde rigidamente.

"Eu tenho os resultados, se não se importar de voltar


para seu quarto?"

"O que está acontecendo?" Olho para mamãe.

Ela desvia o olhar.

Rotina minha bunda.

De repente, a pressão para começar a treinar nesta


primavera e assumir o BearPaw faz muito mais sentido. O
conhecimento me atinge no rosto com tanta força que me
pergunto se talvez minha concussão piorou.

Começo a sair da cama. A bolsa de gelo no meu joelho


bate no chão, e a cama fica um pouco torta enquanto tento
contornar Bellamy.

"Liam." Ela engasga, estendendo a mão para me


segurar.

"Filho". Papai aparece. "Volte para a cama. Mantenha o


gelo no joelho."

"Meu joelho está bem", retruco. "Eu vou com você", digo
a ele, finalmente conseguindo ficar de pé, a maior parte do
meu peso na perna esquerda. "Quero ouvir o que seu médico
tem a dizer."

"Isso não é necessário", meu pai responde rapidamente.

Bufo. Não sei porque ele se incomoda em falar. Eu vou.

Consigo levar meus pais para a porta, perto do médico


que espera pacientemente.

"Vamos precisar que espere do lado de fora enquanto


conversamos com a senhorita Lane", diz o agente Frost atrás
de mim.

Congelo e viro para vê-lo olhando Alex. Olho entre


meus pais e Bellamy, que está sentada na cama sozinha.

Droga.

Não posso deixá-la aqui com esses abutres. Tenho cem


por cento de certeza de que os agentes tentarão assustá-la e
jogá-la no banco de trás de seu SUV. Ela já está confusa e
assustada o suficiente.

Tenho que estar aqui. Quero estar.


"Apenas fique com Bellamy, filho. Você claramente tem
uma declaração para dar à polícia. Sua mãe e eu estamos
bem. É apenas rotina."

"Pode parar de dizer isso", retruco, mais forte do que


pretendia. "Nós dois sabemos que é uma grande mentira."
Meus pais ficam em silêncio.

"Vá Liam. Estarei aqui quando terminar," Bellamy diz,


compreensão e paciência em sua voz.

Virando para Alex, digo: "Pode ir com mamãe e papai.


Certifique-se de que eles cheguem ao quarto, ok?"

"Com prazer." Ele assente, depois me entrega o café


que ainda não toquei. Pego-o e encontro seus olhos.

O olhar de compreensão naquelas profundezas me faz


sentir melhor. Ele ficará de olho nos meus pais, para ter
certeza de que tudo está bem.

"Venho buscá-lo se for preciso", ele diz baixinho.

"Não aceito com muita gentileza o fato do meu filho


contratar uma babá", anuncia papai ao quarto.

"Estou insultado que pense tão baixo de mim, Ren",


Alex brinca.
Papai bufa. "Venha, então."

O médico, Alex e meus pais vão para o corredor.

"Mãe", digo, e ela vira. Ela está se movendo mais


devagar do que todo mundo porque sabia que iria chamá-la.

"Quão ruim é?"

"Tudo está bem." Ela me assegura.

Não acredito nela.

Quando ela sai, viro. O agente Frost está tentando


expulsar Frank.

"Ele fica", anuncio. Minha voz é dura e sombria. Abraço


um pouco daquela escuridão que sempre tentei esconder.
Preciso disso agora. "Se quer qualquer cooperação, vai
envolver o chefe de polícia local em quem confio
implicitamente." Dou um duro olhar ao agente Frost. "O que é
mais do que posso dizer de você."

O agente Frost parece ter engolido um cubo de gelo


inteiro, mas acena para a mulher com ele, e ela se move para
fechar a porta.
Volto para a cama. Bellamy se levanta para me deixar
deitar, depois recoloca a bolsa de gelo no meu joelho e
certifica-se de que os travesseiros estão altos. Quando ela
termina, puxo-a de lado, ancorando um braço em sua
cintura.

Antes de me submeter à rodada de perguntas


intermináveis que tenho certeza que virá, olho de relance
para a porta pela qual meus pais acabaram de sair. Eles têm
algumas explicações para me dar.
CAPÍTULO QUARENTA E UM
Bellamy

Já é tarde quando chegamos à cabana. Enquanto as


horas passavam no hospital, fiquei mais convencida de que
nos fariam ficar a noite inteira.

Subestimei o poder de persuasão de Liam e sua


popularidade na cidade. Sei que ele é um medalhista
olímpico, mas é algo que mal me passa pela cabeça até que
alguém mencione.

Ele não é a realeza de Caribou transformada em atleta


estrela com medalhas e popularidade mundial. Para mim, ele
é apenas o garoto bonito que uma vez passou algumas horas
ensinando uma garota que ele não conhecia a esquiar. Um
cara que flertou para me deixar com menos medo de um
teleférico... E aquele que tirou minha virgindade.

E meu coração.

Agora ele se transformou do bad boy genioso num


homem sexy com instintos afiados e intensidade inabalável.

Ele ainda tem meu coração.


Estou começando a perceber que não importa a
versão de Liam. Eu o amo, não importa o quê.

"Se fosse qualquer outra pessoa, nós ainda estaríamos


naquele quarto de hospital", penso, tirando minhas botas na
porta.

Ele bufa. "Fico feliz por estar em casa."

"Você deve abaixar seu joelho." Vou para o lado dele,


enlaçando meu braço bom em sua cintura, oferecendo-me
para tirar um pouco de seu peso.

Ele não cede, é claro. Realmente não esperava que o


fizesse. Quero que ele saiba que aceitarei se ele decidir dar.

"Estou cansado de me sentar." Ele reclama.

"Quer que eu faça algo para você comer?" Ofereço.

"Finalmente vai cozinhar para mim?" Ele brinca.

Sorrio. "Não tenho certeza se vou fazer uma refeição


inteira", digo quando entramos na cozinha. "Mas
provavelmente posso pelo menos fazer um sanduíche."

"Provavelmente é tudo o que tenho na geladeira de


qualquer maneira."
"Vou ao mercado em alguns dias", digo, deixando-o na
ilha para abrir o grande aparelho de aço inoxidável.

Mal chego a olhar para o que tem dentro antes que ele
alcance meu ombro e feche a porta. Giro, surpresa, e ele usa
seu corpo para me apoiar contra o metal frio.

"Pensei que quisesse um sanduíche."

Liam abaixa a cabeça, então seus lábios estão ao lado


da minha orelha. Uma palma é apoiada na geladeira ao lado
da minha cabeça. Estou completamente enjaulada por ele... E
isso faz meu coração disparar.

"Como posso pensar em comida quando está na minha


cozinha, falando em fazer compras?"

"Uhh..." Meu coração ainda vibra, e a cada palavra que


ele diz, traz a respiração ao meu ouvido.

"Vejo você parada aqui e mal posso acreditar. Sabe


quantas vezes imaginei isso? Sabe quantos anos pensei em
você, garota que fugiu?"

Meus cílios tremulam. Meu olhar tenta encontrar o


dele.
Abaixando o rosto, ele pressiona um beijo contra meu
pescoço. "Saber que está aqui. Que está ficando…" Ele beija
meu pescoço novamente.

Minha cabeça cai para o lado e meus dedos se enrolam


na frente de sua camiseta.

"Sabendo que vou cozinhar para você", brinco, mas soa


mais como um gemido.

Sua risada rouca excita meus mamilos. O espaço entre


minhas pernas começa a doer. Não sei como ele faz isso
comigo. Como ele pode me fazer desejá-lo depois de estar
acordada por mais de vinte e quatro horas... Depois de tudo.

"Você pode me dar um pacote de biscoitos, querida, e


será a melhor refeição que já comi."

"Eu te amo." Minhas mãos deslizam pela frente de sua


camisa até o cós da calça folgada. A faixa grossa da cueca
boxer da Calvin Klein que o vi colocar mais cedo atrai meus
dedos, e empurro-os por baixo.

Seus dentes mordiscam meu pescoço e sorrio.

"Esqueça a comida", ele murmura e me agarra.

Suspiro. Por dois motivos:


1. Seu pau duro me pressiona em todos os lugares
certos quando minhas pernas envolvem sua cintura.
E

2. Ele não precisa desse peso extra no joelho!


"Seu joelho!" tento descer.

"Você deveria fazê-lo melhorar."

Eu olho para baixo, preocupação misturando com o


desejo dentro de mim. "O que eu posso fazer?"

Ele sorri. "Tudo o que quiser."

Ele me carrega pelo corredor, apesar de eu dizer a ele


que não o faça. Charlie dança como se estivéssemos
brincando. Liam me coloca na beira da cama e alcança em
sua mesa de cabeceira um osso gigante. Charlie late,
arranca-o de sua mão e desaparece.

Voltando para a gaveta, Liam tira alguns preservativos


e os joga na cama.

Eu pego seu moletom e o empurro pela perna dele. Ele


se agarra na cinta grossa em torno de seu joelho, então eu
deslizo para fora do colchão e para baixo em seu corpo para
cuidadosamente tirá-lo. Quando isso foi feito, eu faço o
mesmo com sua Calvin.
Sinto o calor de seus olhos enquanto me movo, o que
me deixa ainda mais excitada. De joelhos, olho seu corpo
enquanto minha mão fecha em torno do pênis rígido. Liam
respira fundo e nossos olhos se encontram. Bombeio algumas
vezes, e os músculos em seu abdômen ondulam. Inclino-me e
lambo-o, em seguida, desço e chupo a cabeça na minha boca.

Com um gemido, o corpo de Liam fica frouxo. Ele se


inclina um pouco, apoiando uma das mãos no colchão. Movo-
me para cima e para baixo de seu pênis, deslizando meus
lábios ao longo da pele lisa e macia.

Ele geme e tenta me puxar para cima, mas não


terminei. Afasto-me, mas mantenho a mão em torno de seu
eixo quando beijo e chupo seu saco.

Ele murmura algumas maldições e sorrio.

Levantando, passo a língua sobre meus lábios, ainda


saboreando-o em mim.

Os olhos de Liam brilham em prata. Ele começa a tirar


as roupas que me deu para usar no hospital. No segundo em
que ele desamarra o cordão na minha cintura, as calças caem
direto no chão.

"Está pronta para isso?" Ele murmura, olhando meu


braço na tipoia.
Em resposta, pego a mão dele e guio os dedos grossos
entre minhas coxas, roçando-os contra a umidade
escorregadia.

Ele estremece no segundo em que sente quão pronta


realmente estou.

Subo na cama. Sua palma cobre minha bunda e os


dedos deslizam entre minhas pernas novamente. Ele me
acaricia e estremeço.

Depois que dou um tapinha no colchão ao meu lado,


Liam entende. No segundo em que está na cama, eu o
empurro de costas. Ele levanta uma sobrancelha e
gentilmente empurro um travesseiro sob o joelho, dando-lhe
apoio.

"Que tal me deixar fazer isso?" digo, arrastando um


dedo por seu peito.

Sua cabeça cai para trás contra os cobertores e um


sorriso satisfeito puxa seus lábios. Colocando uma palma no
meu quadril, Liam me puxa. Monto-o, mas não seus quadris,
sua cintura.

Balançando contra ele, estremeço. Meu desejo cobre


seu abdômen e suas palmas envolvem meus seios. "Você é
tão linda", ele geme, apertando os mamilos.
Deixo minha cabeça cair para trás, e ele se apoia nos
cotovelos para ter um seio na boca. Grito e empurro seu
abdômen novamente. Os dedos de Liam apertam meu quadril
e ele me pede para me mover novamente. Meus músculos
internos flexionam e agitam, querendo mais, querendo senti-
lo dentro de mim.

Deslizo por seu corpo, e ele me solta para pegar um


dos pacotes nas proximidades. Nossas mãos trabalham
juntas, rolando o látex por seu pau, minhas pontas dos dedos
demorando em suas bolas enquanto ele termina. Quando
acaba, Liam sustenta seu comprimento espesso e duro, e fico
acima dele.

Nossos olhos se encontram enquanto lenta e


torturantemente deslizo sobre ele. Meu corpo aceita
centímetro por centímetro glorioso. Tenho que me forçar a ir
devagar, porque, realmente, tudo que quero fazer é descer e
levá-lo completamente.

Quando finalmente ele me enche e nossos corpos se


juntam totalmente, ele espalma meus quadris e balança meu
corpo. Nós dois gememos e minha cabeça cai para trás. As
longas mechas do meu cabelo roçam o topo da minha bunda
e meus dentes afundam no lábio inferior.

Começo a me mover, montando-o do jeito que parece


certo. Liam geme, suas mãos caem e tomo o controle. Antes
que perceba, estou ofegante e o quarto está embaçado. Minha
palma bate ao lado de sua cabeça e me inclino sobre ele. Nós
nos beijamos do jeito que fodemos. Fervorosamente,
profundamente e às vezes, com loucura.

A tensão no meu corpo torna-se demais para suportar


e gemo.

Liam abre a boca, agarra meus quadris e encara meu


rosto.

"Eu tenho o que quer querida", ele rosna, em seguida,


levanta os quadris da cama, aprofundando dentro de mim.

Abaixo-me e prazer explode. É tão avassalador que


meus olhos reviram e a luz explode atrás das pálpebras.

Gemo novamente, e ele balança em mim, ordenhando


minhas paredes internas, acariciando meu clitóris inchado
com cada gota de prazer.

Desmorono contra seu peito, arfando. Estou totalmente


sem energia enquanto pequenas ondulações ainda percorrem
meus membros.

Liam se move embaixo de mim, subindo novamente.


Sentindo o jeito que ele pulsa dentro de mim, sei que está
pronto. Começo a empurrar para cima para poder montá-lo,
mas ele geme, coloca os braços em minha cintura e me
segura.

Empurro para baixo, e ele sobe. Seu grito profundo


enche o quarto, e ele empurra uma e outra vez. Estou tão
pressionada contra ele que posso sentir o bater de seu
coração e ouvir cada respiração que ele dá.

Eventualmente, seu corpo se acalma e relaxa contra o


colchão. Deito de bruços sobre seu peito, seu corpo ainda
embalado dentro do meu.

Seus dedos arrastam lentamente pelo comprimento do


meu cabelo enquanto a satisfação nos envolve pelo quarto.

Pouco tempo depois, percebo que o ar está frio. Pego o


cobertor, apenas para perceber que estamos deitados em
cima deles.

"Levante", ele murmura e obedeço. Faço beicinho


porque não estou pronta para ele me deixar ainda. Ele ri e
beija meu lábio inferior.

Meu ombro está doendo. Já é quase hora de tomar os


remédios para dor, mas estou muito saciada para me
levantar. Acomodo-me para descansar as costas contra a
cabeceira e puxo as cobertas ao meu redor.
Liam beija meu ombro quando se arrasta de volta para
a cama. Ele espelha minha posição, e sentamos juntos na
cama, de mãos dadas.

"Sinto que poderia dormir por uma semana." Confesso.

"Nós dois."

"Você não teve a chance de falar com seus pais", digo,


me preocupando com eles. Com Liam. Vi a reação quando
notou seu pai numa roupa de hospital. Meu estômago treme
por ele. Liam tem o tipo de relacionamento com o pai que eu
sempre quis ter com o meu.

Se estou tão machucada por perder meu pai, o que


acontecerá com Liam se algo estiver seriamente errado com o
dele?

"Estávamos todos tão exaustos depois que os federais


saíram. Se eu os fizesse explicar, então eles nos fariam
explicar. Eu estava cansado de falar. Estou cansado de falar.
Cansado de tentar entender alguma coisa."

"E talvez..." Começo, minha voz gentil. "Esteja com


medo de descobrir o que está acontecendo?"

"Talvez", ele repete, sua voz mal sai.


"O que precisar Liam, eu estou aqui."

Ele ergue nossas mãos unidas e beija a parte de trás da


minha.

"Vamos vê-los amanhã. Depois de termos dormido um


pouco."

Amo quando ele diz nós. Como se realmente fosse ele e


eu agora. Como se eu realmente não estivesse mais sozinha.

"Acha que eles vão me querer lá? Sei que é um assunto


de família."

Ele bufa. "Você é minha família. E diabos sim, eles te


querem lá. Mais importante, eu quero você lá."

Quero que os pais dele gostem de mim. Que me amem.


Adoraria ter um relacionamento próximo com eles. Apenas
rezo para que eles também queiram, uma vez que contarmos
tudo que eu trouxe para a vida do filho deles. "Você sabe que
o que o agente Frost disse hoje cedo é verdade." Começo.

Ele me olha rapidamente, uma expressão amarga se


formando no rosto.

"Não gosto desse cara."


Sorrio. "Você deixou bem claro. Para todos."

Ele resmunga. "Não sinto muito. Ele precisa saber que


não gosto dele. Quero que ele olhe por cima do ombro,
sabendo que estou observando. Porque eu estou. Vou
observar todas as decisões que o cara tentar tomar quando se
trata de você."

"Eles só encontraram um corpo na montanha." Lembro.


Como se ele pudesse esquecer.

"Não significa que o outro não esteja muito enterrado


para encontrar." Balanço a cabeça, rezando para que ele
esteja certo.

Mesmo assim. Há esse sentimento dentro de mim... No


fundo. O mesmo tipo de sensação que arrasta na minha nuca
sempre que os homens de Crone se aproximam.

Spidey não foi encontrado na montanha. Mas uma


trilha de sangue foi. Até que desapareceu, de repente,
deixando a neve tão imaculada como quando caiu pela
primeira vez.

Eles não encontraram o corpo porque ele não morreu.

Ele ainda está lá fora. Eu sei.


Ele voltou à clandestinidade novamente, habilmente se
escondendo do FBI e qualquer outra parte interessada que
queira apanhá-lo. O Spidey também ficará escondido. Sei que
fará. Ele ficará à espera como uma cobra, pronto para atacar.
Como um urso pardo irritado em hibernação.

Ele se curará de seus ferimentos. Aguardará seu


tempo. Provavelmente até de alguma forma receber a ordem
de Crone.

O agente Frost nos disse isso e sei que está certo.

Afastei-me desse cara mais de uma vez agora.

Para Spidey, não sou apenas um trabalho. Não sou


apenas um alvo da máfia. Isso é pessoal. Liam e eu podemos
ter ganhado tempo na avalanche, mas não sou idiota, e nem
o homem ao meu lado.

Os homens de Crone voltarão. E desde que me recuso a


fugir, eles sabem exatamente onde estou. Não há muito que o
FBI possa fazer se me recuso a cooperar com a proteção a
testemunhas.

Liam sente meus pensamentos sombrios e perturbados


e vira, envolvendo seu corpo ao redor do meu. "Nós estaremos
prontos quando eles voltarem, querida. Não há nada que eu
não faça para te proteger."
Charlie pula na cama, fazendo o colchão saltar sob seu
corpo gigante. Ele se estica, mastigando o osso.

Meu peito se enche. Meu coração está tão cheio aqui


nesta cama com meus rapazes. Virando, corro o olhar pelo
rosto de Liam. "Todo esse tempo eu me perguntei o que
poderia ter sido", sussurro, acariciando seu rosto. A barba na
mandíbula faz cócegas na minha palma e envia borboletas
por meu corpo.

Ele beija as pontas dos meus dedos e sorri. "Você não


precisa mais se perguntar."

"Agora eu sei", sussurro.

Um som de aprovação sai de sua garganta. "Agora nós


sabemos."

A certeza cresce dentro de mim enquanto observo o


cachorro e me aconchego mais nos braços do único homem
que amei. Nós sobreviveremos ao que quer que venha até nós.
Nós temos que sobreviver.

Liam e eu sobrevivemos à avalanche, mas uma nova


nevasca está se formando.
FIM

POR AGORA

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