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Criado no Brasil.
SUMÁRIO
O despertar
A descoberta
A realidade
As lembranças
A revelação
O desespero
A convalescença
A preparação
O recomeço
Nota final
Agradecimentos
A autora
Seja bem-vindo à Dias de Céu Azul, uma história rápida, mas cheia
de mistério, teorias e romance.
(Carl Sagan)
Luana tinha tudo.
Levanto com certa dificuldade, pois minhas pernas não estão muito
firmes e meu corpo inteiro está pinicando. Por cima da grama, posso
observar que existe uma casinha de madeira bem próxima daqui. Não vejo
ninguém nos arredores e sigo até lá, tentando conciliar minha caminhada
desajeitada com as paradas para coçar minhas pernas e braços, que ainda
estão irritados pelo contato com a vegetação seca.
Não obtenho nenhuma resposta e insisto por mais algum tempo, mas
ninguém atende a maldita porta. Afasto-me alguns metros da casa e
observo as várias antenas sobre o telhado encardido. Se alguém mora nesta
casa, deve ser algum lunático. Resolvo que é melhor procurar ajuda em
outro lugar, quando a porta se abre de supetão e, neste instante, passo a ter
certeza de que era melhor ter ido embora.
Qualquer pessoa que cruzasse uma única vez com esse homem não
esqueceria jamais. Ele é enorme! Deve medir quase dois metros. E deve
malhar também, porque eu duvido muito que esses braços sejam resultado
de trabalho duro e essas coisas. Apesar de morar no meio do nada, ele não
tem a menor aparência do homem recluso, que odeia sociedade e todos
esses estereótipos que vemos em filmes. Ele não é nada bruto, com exceção
da forma como atendeu a porta, há alguns instantes.
— Minha última lembrança foi de ter viajado com o meu marido até
aqui para o Vibefest. Eu preciso ligar para ele. Você tem um telefone?
— O que foi?
— Você disse que sua última lembrança foi de ter ido ao Vibefest? —
insistiu, boquiaberto.
— Sim.
Sem me conter — nem ligar para a manta que esconde minha nudez
— avanço para cima de Gerson e começo a apalpar seus bolsos atrás de um
celular, que possa me provar que ele está zombando de mim. Fico feliz ao
descobrir que ele esconde seu aparelho no bolso da frente, caso contrário,
teria que apertar sua bunda. Puxo o equipamento e aperto o botão, para
acender a tela. Além da foto dele abraçado à cadela, vejo a data.
— Desbloqueia, agora!
— Eu não sei. — Apesar de não ter nada a ver com o assunto, ele
parece preocupado e interessado em me ajudar. Acho que ele pensa que eu
estou louca.
Ele faz o que eu peço e disco apressada o número que eu sei de cor e
salteado. Para meu total desespero, a voz feminina e impassível me diz que
o número não existe. Tento mais algumas vezes, sem sucesso, e decido
ligar para a casa da minha mãe. Após cinco toques, ouço, finalmente, uma
voz familiar.
— Alô.
— Alô. — Desta vez, ela está muito menos receptiva do que antes.
Ouço sua respiração do outro lado da linha, mas ela não diz nada.
Sinto-me grata por ela, pelo menos, não desligar.
É muito a cara do meu pai fazer esse tipo de pergunta sem nexo
algum. Meu sorriso ganha amplitude, quando tenho a resposta na ponta da
língua.
— Na verdade, aconteceu.
Sinto que ele tenta medir as palavras, com medo da minha reação, e
isso só aumenta meu desespero. Será que ele não me conhece o suficiente
para saber que esse tipo de atitude só me deixa pior? Ou pior… Será que
ele esqueceu?
Em vez de se abalar com o meu ataque, ele revira os olhos, o que faz
o meu nível de ódio — que já está criticamente alto — alcançar um
patamar que eu desconhecia, até então. Agora eu entendo como alguém é
capaz de cometer homicídio, porque, neste instante, estou prestes a acabar
com a vida desse infeliz com as minhas mãos.
— Está mais calma? Ótimo. Olha só… Tenta enxergar as coisas pelo
ângulo dele. Se ele sumisse por quase três anos e a família dele pensasse
que ele morreu, você não iria seguir em frente?
Analisando por esse ponto de vista, até que a coisa faz sentido.
Respiro mais algumas vezes e assinto, bem mais controlada do que antes.
Ele se aproxima e pousa sua mão no meu ombro, em uma atitude
confortadora.
Observo uma mala entreaberta na sala, o que deixa claro que ele não
é um morador fixo. O estado calamitoso do cômodo também deixa claro
que o local ficou inabitado por muito tempo.
— Seus pais disseram que vão levar dois dias para vir até aqui.
— Olha… Não é grande coisa, mas é melhor que essa manta de sofá
— explica-se, coçando a nuca, sem graça.
Concordo com um aceno de cabeça, mesmo sabendo que ele não vai
me ver, e volto a ligar o chuveiro, desta vez, tomando cuidado para focar no
que eu tenho que fazer aqui: tomar o meu banho. Não tem shampoo, nem
condicionador dentro do box, então sou obrigada a lavar meu cabelo só
com o sabonete. Não preciso me preocupar em pedir uma lâmina para
raspar meus pelos, pelo menos, pois a depilação a laser que fiz antes do
incidente me poupou de mais esse constrangimento.
— Adoro.
A conversa morre de uma hora para a outra e para evitar que isso
aconteça, mudo de assunto.
— Não sei quem é Ele, mas se te consola, meu pai parou de falar
com o meu tio depois de uma briga por causa de um guarda-roupa velho.
Eles não se falam até hoje e isso faz quase vinte anos… — conto, revirando
os olhos. — Nada pode ser pior do que isso.
Ligo-o, fazendo uma prece silenciosa para que não seja protegido por
senha. Não contenho um sorriso ao dar de cara com a selfie do Gerson todo
agasalhado sobre esquis, dando tom à área de trabalho. Sem perder tempo,
abro o navegador, mas, antes que eu digite retrospectiva 2016, para
começar a colocar meus conhecimentos em dia, minha curiosidade fala
mais alto e, antes que eu pudesse voltar atrás, já estou com a tela inicial do
Facebook aberta na minha frente.
Para a minha sorte, ninguém colocou uma foto de uma fita preta no
meu perfil, nem um textão sobre a minha partida e essas coisas. Sempre
achei isso meio mórbido e estranho. Procuro pelo Rui, mas não o encontro.
Então uma ideia vem à minha cabeça. Será que nesse meio tempo as
pessoas deixaram de usar o Facebook? Será que alguma outra rede social
tomou o seu lugar? Nada que o pai Google não possa responder. Em poucos
segundos, descubro que o Instagram é a segunda rede social mais utilizada
e ressuscito a minha conta só para poder descobrir mais informações sobre
o Rui.
Desta vez, minha pesquisa surte efeito. Vejo várias fotos do meu
marido ao lado de uma morena linda, algumas do casamento deles. Eles
parecem felizes nas fotos. Ele parece feliz, como se não sentisse a minha
falta. Como se eu não significasse mais nada na sua vida. Como se eu fosse
ninguém.
Pelo menos, a busca serviu para alguma coisa. Rendeu boas risadas.
Com esse desfecho maravilhoso, dou a noite por encerrada. Fecho a tela,
subo até o quarto que foi preparado para mim e não demoro nada a pegar
no sono.
O meu sono, que deveria ser leve tranquilo, é interrompido com
gritos e mãos grandes segurando meus ombros e me chacoalhando com
força. Abro os olhos assustada e vejo o Gerson à minha frente, a poucos
centímetros de mim e com a expressão muito assustada.
Ele nota que eu estou despida por baixo das cobertas e seu
constrangimento é evidente.
Será que foi um sonho? Não consigo lembrar com o que estava
sonhando, mesmo que tente buscar na minha mente com toda a força.
— Tenho.
Ele leva um susto, vira na minha direção e fica sem graça. Apesar do
tamanho, o Gerson não é o que se pode chamar de um cara gato. Pelo
menos, não à primeira vista. Mas não posso deixar de notar que ele fica
uma gracinha quando fica com vergonha e tem um sorriso lindo. E tem a
cicatriz, que é bem sexy.
Quando abro os olhos, noto que ele está sentado de frente para mim,
encarando-me. Sinto meu rosto corar e tento disfarçar. Ele deve pensar que
eu sou uma doida.
— O que é demais?
Eu sei que passei do limite novamente, mas é mais forte do que eu.
Cada vez que alguma vagabunda o olho daquele jeito… Eu fico fora de
mim! E a culpa é toda dele, por ter destruído a confiança que eu sentia
nele.
Eu era doente! Talvez ainda seja, não tenho certeza. Mas hoje, com
cabeça fresca e observando de fora, consigo concluir que aquelas atitudes
só o afastavam mais de mim. Como eu era burra. E escrota também.
— Você está bem? — insiste.
Assinto, mesmo que não seja verdade. Estou longe de estar bem.
Ele me puxa pela mão e me leva até o tapete da sala. Sem dizer uma
palavra sequer, afasta-o e noto que existe uma espécie de alçapão ali, que
ele retira sem grandes problemas. Há uma escada íngreme que leva até o
porão da casa. Ele desce alguns degraus e, antes de sumir debaixo do chão,
me olha, bem sério.
— Eu vou te mostrar uma coisa, mas não quero que você pense que
eu sou doido, tudo bem?
— Tudo bem.
Desço logo atrás dele, tomando cuidado com cada passo que dou,
pois, o lugar está completamente escuro. Ele aperta um interruptor e, após
meus olhos se acostumarem com a claridade repentina, depois de minhas
pupilas se dilatarem para tentar absorver a luz escassa do lugar, dou de cara
com a coisa mais perturbadora que já vi na minha vida.
Sinto suas mãos agarrarem a minha cintura antes que eu tenha chance
de escapar. Ele me ergue do chão com certa facilidade e esperneio o ar, em
uma tentativa frustrada e ridícula de me livrar dele.
Fico estática, sem saber como agir. Se por um lado, quero fugir para
o mais longe possível, por outro, sinto-me atraída por ele, exatamente como
aconteceu com aquela luz misteriosa e, por mais que eu saiba que esta
decisão não vai ser boa, não consigo agir diferente.
Ele não responde, mas segue até um dos painéis coberto por recortes
de jornais. Ao me aproximar, percebo que todos noticiaram o meu sumiço.
— Meu tio era ufólogo e passou a vida tentando provar que suas
teorias estavam certas. Passou os últimos anos obcecado no que ele
chamava de caso Luana Trajano. Ele se mudou para cá, pois era
razoavelmente perto do local do seu sumiço e também isolado, onde ele
poderia instalar seus apetrechos, sem ninguém o questionar sobre isso —
explica, apontando para o painel.
— Afonso Menezes.
Merda!
Mas, de todas elas, a mais importante fica piscando como uma luz de
natal.
— Eu sei que não faz. — Pousa a sua mão enorme no meu ombro,
como se isso fosse capaz de me consolar. — Mas no momento é a única
pista que nós temos. Você viu o que todos os sites diziam.
Ele tem razão. Todas as páginas que noticiaram o meu sumiço eram
unânimes em dizer que não havia qualquer vestígio, nem pista. A polícia
encerrou as buscas sem nenhuma conclusão sobre o meu caso.
— Foi aqui. Foi bem aqui! — grito, abrindo a porta e correndo até a
estrada de chão.
Eu sei que ele está tentando ser gentil, mas nada vai ficar bem.
Minha vida foi destruída. Eu perdi o meu marido, o meu emprego, meus
amigos… Minha vida já era!
Como eu vou explicar para as pessoas que eu sumi por quase três
anos e não me lembro do que aconteceu? Ou pior! Quem vai acreditar
nesse absurdo de abdução? Se eu mesma não acredito direito nisso, como
posso pedir para as pessoas comprarem a minha história?
— Não tem mais nada para a gente ver aqui. Vamos embora.
Dentro de poucos minutos, ele volta com algumas sacolas com roupa
íntima, uma legging, duas regatas e uma havaianas. Tudo bem que o sutiã
tem alças normais, enquanto a regata é nadador, mas pedir que um homem
se atente para esse tipo de detalhe é pedir demais.
O medo do meu futuro é uma realidade. Eu não sei o que vou fazer,
nem como vou convencer as outras pessoas do que me aconteceu, quando
eu mesma não consigo acreditar nessa história. Eu sei que é a explicação
mais aceitável, mas a “explicação mais aceitável” ainda é bastante ilógica,
despropositada e maluca.
O que pode ser pior? Fingir para a minha irmã e meus pais que eu
não faço ideia do que aconteceu, ou contar a eles sobre as teorias que eu
descobri com o Gerson, e ouvir todo tipo de chacota e zombaria deles?
Todas as alternativas me parecem uma merda!
E se eu simplesmente sumisse?
Eu poderia pedir para o Gerson dizer aos meus pais que tudo não
passou de um mal-entendido e comprar documentos falsos em algum lugar.
Não seria tão difícil assim começar a minha vida do zero, depois que eu
perdi tudo o que tinha.
— Vai sair?
Travo uma batalha dura entre o meu lado desesperado e o meu lado
tarado e, apesar dos vários chutes e socos, para a minha total falta de sorte,
o juiz declara empate técnico entre os dois.
Decido que é hora de ocupar a minha mente, antes que ela me sabote
mais uma vez e sigo para a cozinha. Já está anoitecendo e penso que seria
uma ótima ideia cozinhar alguma coisa para nós.
O que você está fazendo, Luana? Desse jeito, o Gerson vai pensar
que você é uma depravada! A pequena Luana, usando uma bata branca até
os pés e uma auréola na cabeça, insiste, de cima do meu ombro, que eu
devo me comportar.
E neste instante, dou-me conta que a luta, que até então estava
empatada, começa a demonstrar que um lado está ganhando. E para o meu
azar — ou sorte, ainda não sei — é o meu lado libidinoso. Dou um peteleco
na minha versão anjinho e passo o total controle da situação à diabinha.
Além disso, eu sempre fui aquela pessoa chata, que tem nojo de tudo.
Ficar suada? Deus me livre! Transar, sem antes tomar um belo banho? De
jeito nenhum! Chegar perto de alguém completamente pingando em suor?
Nem sob tortura.
E aqui estou eu, provando para mim mesma que, não só a cor do meu
cabelo mudou nesse tempo. Ainda que eu saiba que o vinho teve uma
parcela de culpa nesse meu comportamento mundano e nojentinho, eu
posso apostar meu rim — se ele não foi retirado durante esse tempo que
fiquei no limbo — que isso só está acontecendo porque eu já mandei a
minha razão para a China há algumas horas.
E, pela forma que ele segura a minha nuca e me puxa para um beijo,
tenho certeza de que ele também fez o mesmo. Deixo sua língua invadir a
minha boca, formando uma mistura de sabores deliciosa. O vinho, a saliva
e o suor produzem uma combinação inusitada, mas perfeita.
Conforme nosso beijo vai se tornando mais intenso, sinto meu corpo
sendo deitado sobre a varanda. Seu tronco enorme faz uma pressão
deliciosa sobre o meu. Gerson faz questão de pressionar sua ereção em
mim, aumentando a minha temperatura a níveis incontroláveis. É como se
meu coração bombeasse água fervente e, apesar da tentativa de fazê-la
percorrer todo o meu sistema circulatório, o único caminho que minhas
artérias conhecem acabasse bem no meio das minhas pernas. Acho que
nunca senti tanto tesão assim em toda a minha vida!
Aperto com força a sua bunda, enquanto ele deixa uma trilha de
beijos molhados pelo meu pescoço, o que me faz soltar um gemido longo.
Mas é quando ele morde a minha pele sensível, que eu solto um grito alto
demais. Digo isso, porque neste instante, a Princesa acha que estamos
brigando e pula em cima de nós, latindo em puro desespero.
Ainda bem que não existe nenhum vizinho por aqui, caso contrário
ele me veria só de lingerie, pois minha regata e legging foram descartadas
no chão, ali na varanda mesmo. Antes de cruzar a porta, ele se afasta de
mim e me fita de cima a baixo.
Ainda que minha vontade fosse ficar ali, sentindo sua boca na minha
orelha e pescoço, não posso negar que estou adorando esse joguinho de
provocações. Solto-me do seu abraço e caminho lentamente até o sofá,
rebolando a minha bunda muito mais do que o habitual. Por fim, sento-me
e espero a sua jogada.
Se, apenas a maneira como essa frase foi dita, quase me fez ter um
orgasmo, imagine só quando essa língua entrar em ação. Deus, eu estou
perdida!
Não vou mentir, dizendo que foi a experiência mais fácil da minha
vida, mas também não foi tão doloroso quanto eu imaginava. Dentro de
poucos minutos, meu corpo já está acostumado com todo o seu volume e,
conforme vou ganhando confiança, vou me arriscando mais nos
movimentos.
— Depois dessa, vou ficar uma semana sem poder andar — reclamo,
fazendo graça.
— Se eu fizer com você o que eu pretendo, juro que você vai ficar
um mês inteiro.
Mesmo depois de tudo o que aconteceu entre Gerson e eu, ainda é
estranho despertar com ele a poucos centímetros do meu rosto, me
sacolejando e perguntando o que diabos está acontecendo, exatamente
como ontem.
— Você não tinha isso antes, né? — indaga, deslizando as mãos por
cima delas.
— Se você tem medo que sua família não acredite na sua história, o
que você acha que eu vou ouvir quando contar que uma gostosa pelada
bateu na minha porta e me proporcionou um dos melhores sexos da minha
vida, sem fazer nenhum cu doce? Vou ser chamado de mentiroso pelo resto
da vida.
Se, por um lado estou ansiosa pela chegada deles, por outro, vou
morrer de saudade desses poucos dias que passei aqui e da maneira como
uma pessoa totalmente desconhecida foi o pilar necessário para que eu não
surtasse — não completamente, pelo menos.
Durante uma das poucas conversas que tivemos hoje, descobri que
ele é professor de Educação Física em uma escola estadual e que está no
período de férias. Fora isso, ficarei sem saber grandes coisas sobre a sua
vida. Se ele tem irmãos, quais seus gostos musicais, suas aspirações… É
engraçado saber tão pouco sobre uma pessoa que eu já considero demais.
Princesa também parece sentir que algo está para acontecer. Desde
que sentamos aqui, ela não sai de perto de mim. Talvez o motivo seja a
quantidade de petiscos que eu já lhe dei, associado aos montes de carinhos
em seu pescoço que fiz.
Não demoro até sentir os braços dos meus pais ao nosso redor. Uma
confusão de falas, choros, sorrisos…
— Você está bem? Está tão magrinha — constata a minha mãe, com
sua costumeira preocupação de mãe.
— Não foi culpa dele. Eu tive mais uma crise de ciúme e ele ficou
puto, com toda a razão.
Ele os convida para entrar e tomar um café — que é tudo o que ele
pode oferecer. Liara aproveita esta oportunidade para ir até o banheiro
comigo e me alvejar com suas perguntas. Todas de cunho sexual, é claro,
porque ela é desse tipo.
Por mais que eu tente disfarçar, ela percebe que existe muito mais do
que eu estou contando nesta história. Ela é minha irmã mais velha e me
conhece há mais tempo do que eu mesma.
— Eu vou deixar passar, por ora, mas não pense que está livre do
meu interrogatório, porque esse homem tem cara de fodedor e o jeito como
ele te olhou, deixou bem claro que rolou alguma coisa entre vocês. — Seu
tom acusatório me causa um pouco de medo, mas admito que senti falta até
disso.
— Eu juro que quando chegar em casa, passo um relatório completo,
porque isso precisa de tempo, tudo bem?
— Nem me fala. Minha família sabe ser bem espaçosa quando quer.
— Reviro os olhos.
— Eu nunca vou ter como te agradecer por tudo o que você fez por
mim. — Suspiro e olho para o carro, onde vejo todos eles colados ao vidro
da janela, assistindo de camarote ao nosso momento.
— Sim. Até estou pensando qual vai ser o assunto da nossa viagem,
já que este está fora de cogitação — respondo, afastando-me dele.
Seguro o papel com força e lhe dou um último abraço, antes de virar
as costas e correr para o carro. Bato a porta com força e desconverso,
quando a Liara tenta tornar nosso beijo o assunto principal da viagem.
Sete bilhões de pessoas no mundo e eu fui a escolhida para ter meus sonhos
destruídos. Isso é uma merda e ninguém vai me fazer acreditar no contrário.
Mas não posso negar que essa experiência serviu para me fazer acreditar
que eu sou muito mais forte do que imaginava e que os desafios que eu vou
enfrentar vão me fortalecer, ainda mais.
Retomar uma vida que ficou parada por anos é uma tarefa difícil pra
caramba. Ainda mais, depois de sentir que você está completamente
diferente — eu não me refiro apenas a cor do meu cabelo, que permaneceu
alguns tons mais escuros. Ter que lidar com o bando de enxeridos, que
praticamente me encurralavam para ter as informações mais quentinhas
sobre o assunto do momento, era uma tarefa que sugava toda a minha
energia e bom humor. A Liara chegou a enxotar algumas visitas indesejadas
algumas vezes, para o desespero da nossa mãe.
E cá estou eu.
Ouço a música baixinha que toca no rádio do táxi, mas não consigo
me concentrar nela, nem em nada do que o motorista diz. Minha cabeça só
tem espaço para pensar em todas as formas de quebrar a cara com essa
minha atitude precipitada. E se ele não estiver em casa? E se tiver arranjado
outra e ficou com medo de me contar? E se ele simplesmente não sente por
mim o mesmo que eu sinto por ele? Eu não devia ter ouvido os conselhos
da descabeçada da minha irmã!
Tarde demais. O táxi para em frente à casa onde ele mora — que eu
só tenho o endereço, porque lhe mandei um presente no seu aniversário, há
quinze dias. Encaro a tela do celular, só para me certificar de que esse é o
número da casa.
Quando a porta se fecha atrás de nós, meu corpo inteiro anseia por
poder tocar no dele, mas me contenho. Eu vim até aqui com uma missão e
tenho que focar nela.
— Está claro que aconteceu alguma coisa. Você não viria de longe e
bateria na minha porta a esta hora, se não fosse algo importante. — Ele
aponta para o pequeno sofá, para que eu sente ali. — Você está me
preocupando.
Não consigo olhar para o seu rosto e fico encarando os meus pés.
Sinto suas mãos levantando o meu rosto e sou forçada a lhe encarar.
— Sou?
— Eu queria muito que você tivesse ficado comigo, mas sabia que
não tinha o direito de te pedir isso. Você tinha que retomar a sua vida e eu
também tinha meus compromissos.
Sorrio, feliz e aliviada, ao notar que não estou fazendo papel de boba.
Eu não tenho certeza do que vai acontecer com a gente, nem com o
nosso relacionamento. Desde que eu acordei naquele dia, sem me lembrar
do que aconteceu nos últimos anos, todas as minhas certezas inabaláveis se
desfizeram e, mesmo que isso pareça assustador — e realmente foi, no
começo —, neste momento, eu percebo que uma vida de certezas é muito
chata.
Não estou atrás de números expressivos para ele, nem espero ficar
rica com seu lançamento, tanto, que estou lançando o livro gratuitamente,
somente com o intuito de que minhas palavras cheguem ao maior número
de pessoas!
Meu muito obrigada dessa vez é único e exclusivo para ti, que
chegou até aqui, que me deu essa oportunidade, que se interessou pelas
minhas palavras, pela minha forma de contar histórias.
Amazon:
Procura-se um Otário (comédia romântica);
Procura-se um Boy Lixo (comédia romântica);
Pai de Primeira (comédia romântica);
Em Pé de Guerra (comédia romântica);
Operação Vingança (comédia romântica);
Wattpad:
Incompletos (distopia);
A Corte (distopia);
Por Amor às Causas Perdidas (distopia);
A Segunda Geração (ficção científica).