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Prólogo:

Olhar brilhante, vagando tão longe…


Magia e sedução é seu nome…
Vinda da terra do ontem, tão distante.
Do amor tem gula, sente imensa fome.
A noite empolgada se atira em seus braços,
Vênus orgulhosa, abençoa seus passos…
E lá vai ela, cheirando a paixão e mistério,
Prendendo astros famintos em seus laços
Dizem ser uma bruxa, outros chamam de
fada.
Vive entre anjos e Demônios.
Netuno lhe protege, mas Medusa muito
maltrata…
Essa figura dourada, é odiada e amada…
Mas quem é essa criatura ambígua, afinal?
Ela é apenas uma sonhadora que ama,
Intensamente, acima do bem e do mal…

Mari Trujillo
1. O jasmim.
Um dia de sol no meio do inverno em Nova
York não é visto por qualquer um, por isso
resolvi escapar das garras de minha mãe
bêbada e sair daquele antro de doido que se
transformou meu apartamento e ir dar um
passeio tranqüilo no Central Park e tentar
viver vinte minutos como uma adolescente
normal que aparento ser. Meus cachos
bagunçados e cor de fogo junto com meus
olhos azuis excêntricos me fazem passar
por uma menina normal de quinze anos
com um nome normal e não um nome
problemático como o meu (e antes de você
dizer: a o meu é pior, o meu nome
infelizmente é Pat, vai encarar?), com um
pai e uma mãe que pegam no meu pé por
causa da escola, me deixam ter uma vida
social normal, me dão carinho, me fazem
feliz e não uma menina de quinze anos com
um pai morto e uma mãe alcoólatra pé-no-
saco. Nada disso eu mereço, pois na minha
escola sou a melhor da turma, ajudo
qualquer um com a lição de casa mesmo
depois sabendo que serei desprezada pelo
mesmo, em casa arrumo tudo, cozinho,
cuido da minha mãe e ainda faço um bico
de atendente de loja de conveniência, tive
até sorte em encontra um patrão que não se
importa em ser pego pela polícia com uma
menina de quinze anos trabalhando na
lojinha dele.
Minha vida não é nenhuma obra prima, mas
é minha e eu não vou ter outra.
Passei a mão na testa para tirar as gotas de
suor que ameaçavam escorrer até minha
boca. Nossa, mas também com esse calor e
com essas roupas, olhei para minha calça
jeans e minha camisa de manga curta que
eram as roupas mais fresca que eu tinha
para passar um dia como este e como esse
salário de nada que eu ganho junto com
misera quantia que recebemos da
indenização pela morte do meu pai não
servia nem para comprar um pão eu não
podia gastar com roupas a toa.
Olhei para o céu a azul pensando como
seria lá na lua ou em marte, será que existia
um mundo paralelo onde eu tinha uma mãe
cuidadosa e atenciosa e um pai vivinho da
silva?
Olhei para o chão que mudava de quadro a
cada passada que eu dava, mudando do
verde puro e seco ao verde molhado pela
relva povoado de formigas e insetos
inimigos. Alguém já te contou que eu odeio
insetos e baratas? Botei a língua para fora e
fiz uma careta só de imaginar aquelas
asinhas marrons batendo em minha direção
para tentar comer meu cérebro ou sei lá o
que, que as baratas fazem ao nos atingir.
Sentei no gramado macio do cantinho
secreto que eu e meu pai descobrimos
poucas horas antes dele morrer
tragicamente em um acidente de carro na
ida ao trabalho e dá inicio a uma infinita
temporada de bebedeira que minha mãe
começou. Fiquei tentando afastar aqueles
pensamentos horríveis e olhando para as
folhas da arvore que protege o lugar do sol
e logo adormeci.
~~~~~~~~~~~~~~
Acordei com uma gota de chuva que deu
início a uma tempestade horripilante. Tomei
um susto tão grande que mal ao abrir os
olhos e ver aquele céu cinza escuro pulei
que nem uma estabanada batendo a testa na
arvore que me protegeu de ser uma
estabanada molhada. Esfreguei a testa com
mão para ver se tinha ferido muito e sai
correndo dali temendo que um raio
resolvesse me fritar.
Ao chegar à saída do park vi um pontinho
branco familiar sendo levado pela água da
chuva até um bueiro, ignorei a chuva e uma
voz que gritava dentro da minha cabeça que
eu devia dar meia-volta e ir para casa e
corri próximo do pontinho.
Quando me aproximei do lugar percebi que
aquilo não era pontinho nenhum era um
Jasmim, minha flor preferida. Fui tomada
pelo impulso de pega-la e abaixei com a
mão estendida. Peguei a flor e sai correndo
para me proteger da chuva.
Dali a alguns minutos encontrei um toldo
bem próximo ao chão, percebi que esse
toldo ficava um uma ruela com aparência
de casa de bandido psicopata e hesitei em
entrar, mas depois de receber uma lufada de
um vento de congelar fantasma disparei
para o toldo. Fiquei lá observando a flor e
pensando que diabos um Jasmim do Cabo
(Planta nativa do Brasil) está fazendo em
Nova York no meio de uma tempestade?
Esse mundo deve tá mal mesmo pra
confundir os Estados Unidos da America
com o Brasil. Claro que eu nem considerei
a hipótese de alguém deve ter importado ou
sei lá. Mas também! Morando na minha
casa ninguém é lúcido.
Esperei vinte minutos de baixo daquele
toldo naquela ruinha escura, úmida e
assustadora, tremendo de frio e pensando
no que fazer para o jantar amanhã até que a
chuva passou e eu pude perceber que já era
de noite. Meu Deus! Minha mãe vai quebrar
uma garrafa de uísque na minha cabeça e
resmungar que ia apodrecer de fome se eu
não chegasse.
Apressei o passo e sai daquele pesadelo
para ver que as ruas em frente não
mudavam nada com relação à umidade e o
aspecto de casa de doido psicótico, por isso
andei mais rápido que o normal. Como
conseqüências de minha pressa
desnecessária tropecei e bati a testa no
chão. Que legal! Agora além das roupas
encharcadas eu vou ganhar uma enxaqueca.
Levantei e andei mais devagar, escutando
cada barulho que acontecia naquelas
quadras demoníacas até que escutei um
grito agudo vindo de uma ruela. Dei um
pulo pra trás e deixei o Jasmim do Cabo
cair da minha mão o fazendo voar até a
ruela que eu ouvi o tal grito. Não queria
perder aquela flor tão bonita e cheirosa
mesmo com o passeio pelas cataratas do
esgoto e sai correndo atrás dele em direção
a ruela pegajosa.
Entrei dentro do lugar e um pressentimento
muito ruim percorreu minha espinha me
fazendo tremer de medo.
Ouvi passos pesados em minha direção e
quando vi que a distância entre os passos e
eu era menos de cinco metros me virei e me
preparei para sair correndo daquele lugar
horrendo e deixar pra lá o Jasmim, mas uma
mão fria e nojenta pegou no meu ombro me
fazendo parar abruptamente. A mão virou
meu corpo me fazendo olhar dentro de
olhos assustadoramente vermelhos. O
homem não tinha nem meu tamanho mais
me fez tremer nas bases, tentei ver suas
feições, mas os seus olhos exerciam um
efeito-imã sob os meus me fazendo voltar a
aquelas orbitas demoníacas. O homem
pareceu sorrir, então ele estendeu a mão na
altura da minha cabeça e sussurrou em uma
voz rouca:
- Acho que isso lhe pertence. - Só deu
tempo de ver que ele segurava o Jasmim do
Cabo antes de eu afundar em uma escura
inconsciência.
2. Cativeiro.
Acordei com a cabeça encostado em um
chão frio e úmido, quando abri os olhos não
enxerguei nada a não ser preto, preto e mais
preto. Ouvi aqueles mesmos passos pesados
que ouvi antes de provavelmente ficar sega,
só que dessa vez distantes e nada
ameaçadores. Desencostei do chão, tateei a
minha direita para não me bater em nada e
levantei ficando reta e percebendo o quanto
eu estava dolorida e com uma bruta dor de
cabeça. Ajeitei-me de maneira que eu
pudesse suportar a dor e fiquei contando a
batida do meu coração para tentar passar o
tempo.
Duzentas e cinqüenta e duas batidas depois
ouvi algo mais pesado que passos se
arrastar próximo ao lugar que eu estava,
ouvi alguns ganidos eletrônicos de algo
velho tomando força para funcionar e uma
luz fraca invadiu a sala me deixando
verdadeiramente sega e me fazendo ver o
que estava a minha volta, virei meu pescoço
lentamente temendo uma dor maior e vi que
a sala era quadrada e demoniacamente
preta, totalmente uniforme, com uma só
porta de entrada e uns buraquinho no teto
mais todos não revelavam nada, no centro
havia algo parecido com uma TV muito
velha mesmo. A tela só revelava um plano
de fundo azul sem mais nada.
Engoli em seco e vi que eu estava morrendo
de sede e que meu estômago roncava de
tanta fome. Tentei levantar e ir para a porta
mais uma dor lacinante envolveu minha
perna me fazendo cair no chão. Arrastei-me
até meu canto novamente e continuei a fitar
a porta na esperança de que alguém viesse
me dar água ou comida. Der repente a
televisão começou a rodar um filme e uma
voz de manual eletrônico de instrução ecôo
pela sala. Olhei para a TV me perguntando
que maluquice era aquela e vi qual filme
passava. Era um filme caseiro explicando
“Como ser um Dobre”. Que diabos é um
Dobre?
Continuei a assistir ao filme e absorvi cada
palavra daquela produção de segunda
categoria como um escárnio. Que bando de
baboseira sobre o fim do mundo, duas
novas espécies que salvariam o planeta,
mas só se trabalhassem em conjunto, sobre
experiências genéticas secretas dando
origem a raças superiores uma boa uma má,
sobre preparação psicológica que iriam
fazer em minha mente para me preparar
para ser uma dessas duas raças, que foi pro
designado o meu destino para a raça boa ou
a raça Dobre. Fiz força para não gritar que
eles eram maluquinhos e que eu queria pra
casa agora. Em vez disso fechei os olhos
esperando a luz do vídeo se apagar e me
deixar adormecer, mas a luz insistia e o som
da voz se tornava cada vez mais familiar a
tantas repetições que eu já cansada e morta
de sono abri os olhos e assisti como se fosse
a aula mais importante do semestre em
trigonometria.
Dessa vez, eu absorvi cada palavra desse
filme como uma coisa que poderia ser
minha vida.
Então o vídeo entrou me uma parte mais
detalhada dizendo que os Dobre não eram
as maravilhas que todos que os conhecem
pensam que são. Eles para proteger alguém
precisam primeiro se proteger e eles não
têm qualquer instinto de sobrevivência
grassas a uma falha no procedimento do
primeiro Dobre, então teve que ser criado
uma raça totalmente oposta aos Dobre para
que juntos por um toque se tornem
perfeitos. Mas, também ocorreu um erro, o
erro foi o de que os cientistas responsáveis
levaram a serio de mais o oposto dos
Dobres e criaram um oposto exato para
cada um da raça boa o tornando irresistível
para o outro da raça má (que se chama Zlo)
e vice e versa. Até ai tudo bem, segundo o
vídeo, até que descobriram que se um
Dobre tocar em um Zlo que não seja sua
“cara metade” o fim do mundo estará bem
mais próximo.
Então tiveram que separar cada ser desses
(mesmo que sejam da mesma raça) em cada
canto do mundo e implantaram em forma
de chip um objetivo só na mente de cada
criatura dessas, encontrar o seu oposto e
tocá-lo.
Os Dobre e os Zlo tem poderes, cada um
tem força, agilidade, imortalidade e beleza
infinita. Mas, cada um tem dois poderes
únicos e os Zlo tem o oposto dos Dobre
desses poderes únicos. Os meus seriam
ditos depois da operação de mudança. E
simples mente assim do nada a fita acaba e
todas as luzes se apagam me forçando a
fechar os olhos. Ouvi de novo aquele
arrastar de algo muito pesado e depois o
silêncio e o breu. Mais passos e uma leve
batida de porta, der repente as luzes se
acendem e revelam água e comida.
Arrastei-me até o local dos alimentos que
eram apenas uma maçã e devorei quase que
até a semente da fruta, e bebi uns três goles
de água e o resto levei comigo para o meu
canto. Então as luzes se apagaram de novo
e eu resolvi descansar daquele pesadelo
maluco que eu resolvi aceitar que era real.
3. Meu alguém.
Acordei com alguém respirando
pesadamente perto de mim. Abri os olhos,
mas nada. Comecei a ofegar daquele
mesmo jeito e a suar de medo apesar da sala
congelar qualquer um. Olhei para todos os
lados procurando resposta para aquele
ofegar que ficava cada vez mais intenso até
que a luzes se acendem e eu vejo um rosto a
trinta centímetros do meu, dei um pulo para
trás com medo da proximidade e ofeguei ao
perceber os danos ás minhas pernas com
esse ato tão abrupto. O rosto se virou e
começou a rir da minha cara como se fosse
a piada do ano. Pelo amor de Deus ! Eu
estava trancada em um cativeiro com um
garoto que aparentava ter a mesma idade
que eu, sem comida, sem água, sendo
influenciada por histórias malucas e o
mesmo garoto rindo! Que palhaçada.
- Ei! Você viu o Bozo, ou o que?- Gritei
com a voz rouca. Acho que minha voz teve
o efeito ao contrario no menino, pois ele
começou a rir mais. Homens!
Ele começou a diminuir as risadas e a
respirar ofegante mente, como se rir o
trouxesse dor. Cheguei perto dele para ver o
que doía e ele olhou para os meus olhos
azuis revelando a cor da íris dos olhos
deles. Era vermelho fogo, quase da mesma
cor do meu cabelo. Isso me espantou muito.
Que ser humano normal teria os olhos cor
de fogo? Ele já devia ter passado pela tal
cirurgia, isso me fez encolher para longe
dele com um medo evidente na cara.
- Ei, aonde você vai Bozo? Viu um rato?-
Disse ele assim que percebeu que eu tinha
me afastado uns trinta centímetros dele em
um movimento bem grosseiro de minha
parte.
O garoto chegou mais perto e tocou o meu
cabelo me fazendo recuar automaticamente.
Ele fez uma careta e desistiu de chegar
perto. Mesmo eu achando que ele era uma
criatura detestável de olhos vermelhos
confesso que rolou muita química entre
agente.
- Então, qual o seu nome?- Estremeci ao
ouvir a sua voz com um tom normal, nem o
de surpresa ou de sarcasmo. Era doce como
mel e me fazia ficar preza em suas cordas
vocais. Limpei a garganta e tentei responder
a altura daquela voz de arrepiar.
- Pat, não tente me zoar, ouviu Zlo
nojento?- Felizmente minha voz ficou em
um tom de ameaça bem assustador. As
vezes uso com minha mãe quando ela não
percebe que misturar álcool com remédios
não serve pra nada a não ser se matar. Isso
me fez pensar se minha mãe estava
preocupada comigo, se alguém tinha
sentido a minha falta, mas provavelmente
ela só teria saído de casa com uma
impressão de acho que esqueci alguma
coisa então eu afastei esse pensamento da
minha mente e voltei a prestar atenção ao
possível Zlo.
Ele me olhou com uma cara de confusão e
um certo toque de brincadeira e começou
outra rodada de risos. Esse menino me
irrita.
- Há, há, há, há, você pirou? Eu sou
humano, humaninho da silva.
- Então por que você tem os olhos
vermelhos?- Touché.
- Sei lá, nasci assim... - Ao declarar isso
senti a verdade em suas palavras, um Zlo
seria tão mal que não bastaria para ele rir de
mim, talvez torturar até a morte ou sei lá.
- Ah, desculpa. Então, você acredita no
vídeo?- Morri de curiosidade ao saber que
ele não era um Zlo e não tive como deixar
de perguntar.
- Sim, tenho que acreditar. – Afirmou ele
com a voz triste. Vi o quanto isso lhe trazia
dor então cheguei mais perto e ele mudou
de assunto.
- Então... Por que acha que eu acharia seu
nome ridículo?
- Por que ele é ridículo? – Retruquei.
- É porque você não ouviu o meu.
- Experimente me contar. – Mais uma vez:
Touché.
- Claro, meu nome é Tapvol. – Então ele
fechou os olhos como se uma avalanche
tivesse vindo para cima dele e ele não
pudesse fazer nada a não ser fechar os olhos
e esperar a morte.
- Você tá bem? Vai morrer ou algo assim? –
Perguntei preocupada.
- Ah, nada não.
- Ok, posso lhe fazer uma pergunta? – Pedi.
- Uhum.
- Então, quem te levou até essa sala e essa
tal pessoa te disse o motivo? – Bombardeei
o garoto.
– Acho que te deixei fazer apenas uma
pergunta. – Respondeu Tapvol com um
sorrisinho malicioso.
Respirei fundo e me controlei. Esse menino
realmente me irrita.
- OK, que tal a parte que estamos em um
cativeiro e eu preciso do máximo de
informação possível desse lugar dos
demônios?
- Relaxe, era só ter me pedido duas
perguntas. E foram dois brutamontes
totalmente envoltos em preto, não sei nem
como eles respiravam. Sim eles me
contaram.
- Qual era? – Perguntei apreensiva, será que
o dono desse lugar horrendo queria me
testar para ver se eu não mato esse garoto
arrogante de ódio em um dia?
- Foi o de que você seria a minha Dobre e
eu seria o seu Zlo.
- Como é que é?

4. Começou.
- Desculpe, mas lamento lhe informar que
eu não escolho por quem eu vou me
apaixonar muito menos quem vai ser minha
alma gêmea. – Certo, o tom da voz dele era
sedutor, me deixou assustada, envolvida,
constrangida e principalmente com raiva.
Eu não queria amar um garoto tão, tão,
egoísta e petulante. OK, pode até ter rolado
uma química, mas não um amor verdadeiro.
Se eles acham que vão me fazer amar um
protótipo de psicopata estão muito
enganados.
- Não... – Minha voz falhou, estendi a mão
procurando o copo de água com o objetivo
de limpar a garganta e esbarrei em uma
coisa quente e macia. Um choque percorreu
o meu corpo e eu vi pontinhos brilhantes
iluminando a mão que a minha segurava
com força, soltei depressa como se tivesse
pegado fogo e todo meu êxtase
desapareceu.
Olhei para cima com o rosto pegando fogo
e observei Tapvol, seus olhos vermelhos
estavam consumidos pelo desejo, sua boca
rosada sendo mordida, todos os seus
músculos contraídos, a pele levemente
morena e seu cabelo loiro e curto. Ele
emanava desejo, e eu também sentia o
mesmo.
Tentei pensar com clareza, seria aquilo uma
pequena prova do poderoso toque que
transformaria nós dois em seres perfeitos?
Seria tão incontrolavelmente bom que eu
me perderia no meu próprio desejo?
Respirei fundo e fechei os olhos tentando
afastar a imagem que me faria fazer
loucuras por uma pessoa egoísta. Abri os
olhos e o encanto que tinha me envolvido
ainda estava lá, mas em doses mil vezes
menores me permitindo formular frases
coerentes e a me mexer de novo. Peguei o
copo d’água e dei uma boa golada, limpei a
garganta e olhei em seus olhos com muito
mais coerência, ele também tinha
recuperado a capacidade de pensar, mas
continuava a morder os lábios.
Ele percebeu para onde eu olhava e
despregou seus dentes mostrando as marcas
da mordida.
- Que diabo aconteceu aqui? – Perguntou
ele com uma voz rouca e sensual. Balancei
a cabeça tentando afastar esses
pensamentos ruins que me deixavam
arrepiada.
- O - o que? – Gaguejei tentando disfarçar.
- Ah, não diga que você não sentiu o que eu
senti.
- E-e-eu não tenho a mínima idéia do que
você está falando.
Ele suspirou e estendeu a mão para tocar
em meu rosto, dei um salto para trás e quase
bati a cabeça na parede. Olhei para ele com
uma expressão de confusão e ele respondeu
com um olhar de triunfo.
- Há! Se você não tivesse sentido nada você
não teria reagido assim. – Droga, ele me
pegou. Tentei reuni a última leva de
argumentos.
- Tem outra razão, a de eu não gostar de
você. – Toma seu egoísta!
- Hmm, por isso ficou me olhando de um
jeito bem... Obsceno á uns três minutos
atrás. – OK, ele me pegou de vez.
Em vez de argumentar suspirei e me afastei
da parede, tomando o máximo de cuidado
para não tocar na pele dele empurrei Tapvol
fazendo-o voltar ao meio da sala.
Ficamos cem batidas de coração nos
olhando e tentando entender o que tinha
acontecido ali, talvez ele pudesse ser menos
irritante quando nos tocássemos após o
procedimento, isso me fez lembrar que eu
não aceitaria ter essa ligação com ele e a
raiva de antes voltou, apagando todo o
encanto que restava.
- Voltando ao assunto de antes, acho que
não vou ser MERDA nenhuma de sua
Dobre, EU NÃO VOU AMAR UM
PSCICÓPATA EM TREINAMENTO! –
Gritei numa explosão de raiva súbita. Ele
me encarou com surpresa e depois com um
sorriso malicioso sussurrou “Acho que
gostei de você“, olhei pra ele e sussurrei
também “Mas eu não.” Ele riu, olhou para
minha mão e continuou sussurrando
“Vamos tentar de novo, eu sei que você
quer.” Como eu queria, eu nunca quis mais
uma coisa como eu queria aquilo, o brilho e
encanto foram voltando e minha raiva
sumindo, tentei manter o foco mas meu
corpo só queria o calor de sua pele de volta,
arrastei minha mão para a dele e toquei a
ponta de seu dedo, então o prazer me
inundou de novo só que dessa vez não
como desejo, mas sim como amor, um amor
tão puro e certo que não resisti e cheguei
mais perto, ele correspondeu aos meus
movimentos e me puxou para perto fazendo
nossa distância diminuir e eu ofegar. O
momento mágico continuou mais intenso
quando ele levantou a mão que eu não
estava agarrada para tocar minha bochecha,
ele a afagou e passou para os meus lábios
contornando-os com a ponta do dedo.
Cheguei mais perto e fiz os seus mesmos
movimentos, primeiro sua bochecha e na
hora dos lábios ele suspirou e me agarrou
tão abruptamente que me assustou. Pisquei
uma vez e me joguei para trás com todas as
forças que eu tinha antes que ele
prosseguisse com as carícias. Dessa vez eu
consegui bater minha cabeça na parede,
fiquei tonta um momento e depois recuperei
todos os sentidos.
“Nunca mais eu irei tocar nele”, prometi em
silêncio. Olhei para Tapvol com raiva e
quando eu ia gritar coisas que só os
Americanos sabem a porta daquele quarto
preto claustrofóbico se abriu em um
rompante. Dei um grito bem feminino
daqueles que só usam em filme de terror
barato e foquei minha visão nos dois
brutamontes que tinham entrado e se
posicionado um em cada lado da porta.
De lá saio um cara menor e menos forte que
seus prováveis “amiguinhos” que me
inspirava medo. Ele abriu um sorriso falso e
falou:
- Estão prontos.

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