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A história de ethan folks

The Abyss of Death RPG


Capítulo 1: O início de tudo
Essa é a história de como eu morri... *nasci*... enfim... essa é a minha história.
Era uma noite qualquer, eu caminhava pela praça da cidade dos magos aproveitando a
bela vista da luz das estrelas, eu nem imaginava o que ela aquela noite guardava para
mim... De repente reparo, um vulto preto parece estar me encarando nas sombras,
encostado em uma árvore, quando ele percebe que eu notei sua presença ele começa a se
aproximar, bem devagar. Minha nuca fica arrepiada enquanto caminho de costas
tentando me afastar, até tropeçar em uma raiz no chão
- Quem é você? O que quer comigo? – Falo enquanto me arrasto de costas no chão
A figura se aproxima de mim e diz com uma voz amigável – Não importa, logo,
logo você não lembrará de mais nada – Sua risada arrepia os pelos em meus braços, até
sua boca, com quatro dentes grandes a afiados alcançarem o meu pescoço.
Sinto meu corpo adormecer, quase como se tivesse tomado um calmante para
dormir, enfim... tudo se apaga.
Quando abro meus olhos, a luz das estrelas não brilha mais, o céu está claro
como se estivesse quase amanhecendo
- Ai, minha cabeça! – digo enquanto me levanto, mas de longe a dor de cabeça não é o
que mais me incomoda. Eu estou com fome, muita fome, uma fome enlouquecedora que
faz meu sangue ferver.
De repente, um cheiro tão suculento, como se fosse a minha comida favorita a
um palmo de distância de mim, mas o cheiro não é familiar, pensando bem... qual é a
minha comida favorita? Aliás, qual é o meu nome? Não sei. Mas isso não importa, a
fonte daquele cheiro está tão próxima, eu quase sinto o gosto. Ando em direção ao
cheiro como um alcóolatra em direção a uma garrafa de Vodka. Quando me dou conta
do que estou fazendo estou com os dentes cravados no pescoço de um homem, enquanto
sua mulher grita ao meu lado, mas é tão saboroso, tão doce, tão... vermelho... tiro os
dentes do pescoço do rapaz enquanto a mulher corre em direção a uma casa ao longe.
Mas quem disse que eu estou satisfeito? Em cerca de 1 segundo eu estou na frente da
mulher, ela esbarra em meu peito enquanto seus olhos apavorados me encaram como se
estivesse vendo a morte em pessoa. Quando seus gritos cessam e seu corpo cai no chão
empoeirado, minha consciência volta.
- O que... o que eu fiz? Olho para o corpo na minha frente como alguém que vê sua
própria mãe morta, meus olhos arregalados encaram aquela cena enquanto minhas mãos
se alojam em minha cabeça. Isso não pode estar acontecendo...
- Ei você aí – grita um homem ao longe enquanto corre em minha direção.
Ele não pode ver isso, não pode saber o que eu fiz..., mas já é tarde, quando ele
chega a uma distância suficiente para distinguir o que estava diante de seus olhos ele
para estático e grita
- VAMPIRO!!!!
Dezenas de pessoas que estavam nos arredores começam a correr desesperadas
para suas casas, e quando eu tento explicar o que aconteceu para o homem que acaba de
gritar, ele some de minha vista.
Corro procurando um lugar seguro, um lugar onde ninguém possa me achar, até
parar em um beco escuro, sento-me atrás de uma lata de lixo e começo a refletir sobre
tudo o que aconteceu
- Eu estava andando quando fui atacado, acordei e... e matei aquelas pessoas...
- Mas o que aconteceu antes disso? – Forço minha memória, mas nada surge, apenas
uma dezena de perguntas, mas nenhuma resposta.
- Meu nome... qual o meu nome? – Vasculho meus bolsos procurando qualquer coisa
que possa me ajudar a me identificar, mas não encontro nada. Com uma rajada de vento
um pedaço de papel voa em minha direção, pego e leio suas manchetes, tento formar
palavras com as letras que encontro até: Ethan. Ethan do que? Ethan Folks. Esse será o
meu nome de agora em diante. Revisto meu corpo como alguém que acorda no corpo de
outra pessoa, não me reconheço, meus dedos terminam em longas unhas afiadas, meus
dentes são afiados e resistentes, como os dentes de um predador, olho meu reflexo em
uma poça de água e vejo grandes e profundos olhos, vermelhos da cor das chamas do
inferno. As manchas de sangue em meu rosto também chamam minha atenção, aquele
sangue não é meu. É o sangue das pessoas que acabo de matar, esfrego as mãos em
minha boca tentando limpar aquele sangue como alguém que recebeu uma lambida na
boca vindo de um cachorro, mas o sangue seco gruda em minha pele como lama seca
depois de um dia de sol.
Momentos depois escuto passos apressados vindos de todos os lados, me levanto
e tento espiar o que está acontecendo quando ouço:
- Ele está aqui! – Um homem aponta em minha direção enquanto segura uma foice
Dezenas de pessoas, se não uma vila inteira corre em minha direção com armas
diferentes, foices, arpões, estacas de madeira, espadas, cruzes??? Enfim... não é hora de
questionar, a única coisa que eu realmente sei é que eu não sou bem-vindo aqui.
Corro por alguns minutos até chegar na entrada de uma floresta, quando olho
para trás e não vejo mais ninguém. Ou eles desistiram, ou eu corri muito rápido. Mas eu
sou um vampiro agora não sou? Vampiros não queimam no sol? Me questiono enquanto
olho para cima com um sol escaldante tocando minha pele, não sei o que está errado,
mas com certeza algo está.
Fico vagando por algumas horas até encontrar uma casa no meio da floresta, já
se passaram horas e a fome está começando a voltar. Bato na porta quando uma senhora
abre e me convida para entrar. Fico receoso, afinal, não quero machucar ela também.
- Eu estava esperando por você meu caro vampiro
- Você sabe o que eu sou?
- O sangue em sua boca te entrega. Mas a floresta me disse que você estava se
aproximando. Um pobre vampiro recém-criado, abandonado por seu criador, perseguido
por sua própria aldeia. Você fez uma grande bagunça devo admitir.
- Você é algum tipo de vidente ou algo do gênero?
- Me chamam de muitas coisas, todas tem um pouco de verdade. Mas tome esses
coelhos, cacei eles para a sua chegada. Se não quiser machucar mais pessoas deverá se
acostumar com carne e sangue animal. Sua fome não vai sumir por completo, mas tudo
exige um certo sacrifício, não é?
Olho para os coelhos mortos com cara de nojo, mas as palavras da sábia senhora
me convencem. Olho para seu rosto e me volto para os coelhos, devoro cada um como
um morto de fome que encontra um rato na rua.
- Muito bem, agora vai tomar um banho, deixei umas roupas em cima da pia, o banheiro
fica a direita. Depois teremos muito o que conversar.
Tomo um banho quente, mas parece que o calor não chega ao meu corpo, minha
pele permanece pálida e fria como uma geleira. Após o banho me visto e vou de
encontro a senhora. Ela está em meu aguardo com alguns livros em cima da mesa
- Sente-se caro rapaz – Eu me sento em frente a ela e observo os livros entre nós
- Se você quiser sobreviver como um vampiro você precisa aprender sobre o que e
quem você é. Consigo ver em seus olhos que você não quer machucar ninguém, mas
esse é um fardo que todo vampiro precisa carregar.
- Se eu vou continuar machucando as pessoas por que aprender?
- Porque o conhecimento é a maior arma que alguém pode ter, até mesmo contra si
mesmo. Se você aprender a controlar suas habilidades e sua sede por sangue, diminuirá
drasticamente as pessoas a quem você fará mal.
- Certo, farei isso. Mas existe alguma forma de eu me comunicar com as pessoas que eu
matei? Quero me desculpar, mesmo que elas não queiram dar o meu perdão. Quero
mostrar que eu me importo.
- Sabia que você não era como a maioria dos outros vampiros. Existe sim um jeito, a
magia de necromancia te permite falar com aqueles que já se foram. Mas é algo que
você precisará praticar. A magia tem seus privilégios, mas também vem com grandes
responsabilidades. Vou pegar livros de necromancia para você, mas você tem que me
prometer que irá estudar ao máximo.
- Eu prometo.
Alguns momentos depois ela traz alguns livros para mim e passo horas os
estudando, habilidades que um vampiro é capaz de desenvolver, como controlar suas
habilidades, como trazer o corpo de pessoas mortas de volta. Mas a teoria é bem
diferente da prática.
No dia seguinte quando acordo em cima dos livros, a sábia senhora aguarda na
cadeira em minha frente
- Bom dia – diz ela
- Bom dia
- Vejo que passou a noite em claro lendo os livros, muito bem. Mas sinto em dizer que
você não poderá ficar mais tempo aqui. Eu te ajudei com a parte teórica das suas
habilidades, mas a prática você tem que fazer sozinho. Não posso te ajudar mais do que
isso.
- Eu compreendo, agradeço muito o que fez por mim, nunca esquecerei da ajuda que a
senhora me deu. Gostaria apenas de saber o seu nome antes de ir.
- Meu nome é Celeste meu caro Ethan Folks.
Franzo a testa ao ouvir ela dizer o nome que eu inventei no dia anterior e ela me
responde com uma piscadinha no olho direito. Dou um sorriso tímido para ela e sigo o
meu caminho.
Capítulo 2: Recomeço
Sigo vagando de cidade em cidade procurando lugares para passar a noite, casas
abandonadas ou até mesmo cavernas em florestas. Durante o dia passo o tempo tentando
colocar em prática todas as coisas que eu li nos livros que Celeste me emprestou. Mas
nada parece funcionar. Quando penso que consegui controlar minha sede de sangue me
vejo devorando um lenhador no meio da floresta...
- Por que é tão difícil?
Meses se passam, cerca de uns 6 meses, minhas habilidades estão melhores do
que antes. Consigo me manter estável com pessoas com até pequenos machucados por
perto, mas nem sempre os machucados são pequenos... Com a prática também aprendi a
me defender de criaturas hostis usando minhas longas garras afiadas, nos livros os
golpes de vampiros que poderiam causar um grave sangramento usando suas garras se
chama de Garra Profana, aprendi sobre o processo de transformação de um vampiro e
como funciona o seu veneno, o veneno responsável pela maldição de ser vampiro. Se
um dia eu encontrar o vampiro maldito que me transformou... o pior é que eu nem vi o
seu rosto.
Também aprendi um pouco sobre a necromancia, apesar de ainda não conseguir
falar com os mortos, consigo invocar esqueletos que fazem o que eu comandar e invocar
braços do chão que injetam um veneno paralisante no alvo. Os feitiços Marcha Fúnebre
e Aperto dos Mortos.
Depois desses 6 meses, voltei para a cidade onde eu fui transformado, a famosa
cidade dos magos. Mais especificamente em um bairro chamado Lécia. Quando cheguei
me deparei com algo que eu nunca tinha visto em minha vida, uma “cidade” fantasma,
devastada por uma praga, doença, feitiço, seja lá o que isso for... Não há sobreviventes,
vejo diversos corpos espalhados nas ruas da cidade impregnados por manchas que
brilham em roxo pelos corpos.
Adentro a “cidade”, em busca de sobreviventes, alguém que eu possa tentar
salvar. Tentar me redimir do monstro que eu me tornei quando fui transformado. Ando
por algum tempo quando escuto um som vindo de uma casa, entro na casa e procuro
pelos cômodos por algum sobrevivente, até que uma força invisível me joga contra a
parede que se quebra, me jogando para fora.
Tiro a poeira dos restos de parede dos meus olhos quando escuto uma voz
feminina vinda de cima:
- Quem é você?
Abro meus olhos e me deparo com um grupo de pessoas, uma mulher com
longos cabeços castanhos e o que parece ser um par de chifres com diversos entalhes de
madeira, um homem de cabelos brancos, porém com uma feição jovem e olhos
profundos de quem guarda uma grande mágoa, um guerreiro de armadura com... uma
cabeça de lagarto? e por último, um homem forte com pose de galã de cinema com
olhos dourados e uma cara sedutora.
A mulher estende a mão para eu me levantar
- Meu nome é Ethan, Ethan Folks – Digo enquanto me levanto com a ajuda da mulher
- Mas e vocês? Qual o nome de vocês? E o que vocês estão fazendo aqui?
- Meu nome é Selene, e poderíamos te fazer a mesma pergunta – Diz a mulher
- Eu estou aqui de passagem, sou um viajante. Encontrei esse lugar em decadência e
vim ver se tinha algum sobrevivente
- E você voou pela parede sozinho? – Diz Selene
- Não, mas eu não sei o que me empurrou, uma criatura invisível eu acredito.
- Ótimo, temos um estranho, uma cidade destruída e uma criatura que só ele consegue
ver – Diz o homem lagarto
- Bom, se a cidade foi destruída nossa missão aqui já acabou, devemos voltar para a
guilda e avisar o que encontramos – Diz o galã
- Certo, mas quem são vocês mesmo?
- Meu nome é Balagos – Diz o lagarto
- Ashtaroth – Diz o homem de cabelos brancos
- Vladimir – Diz o galã
- Não temos tempo para isso, precisamos investigar o que aconteceu com essa cidade –
Diz Selene enquanto caminha na frente do grupo
Sigo ao lado de Selene, pois sua aparência me lembra a necromancia, sinto que
ela pode me ajudar a aprender um pouco mais sobre esse mundo de magia. Após algum
tempo caminhando chegamos a um cemitério com um símbolo desenhado no chão, para
mim é um símbolo qualquer, mas Selene parece preocupada, como se aquele símbolo
significasse muito mais do que qualquer um do grupo pudesse imaginar. Sigo o grupo
quieto enquanto escuto muitas teorias que não fazem sentido na minha cabeça, sobre o
que pode ter acontecido naquele lugar. Até que em determinado momento escuto o
Ashtaroth falar com a Selene:
- Selene, sinto muito por isso ter acontecido a sua cidade, seja lá o que tiver acontecido
aqui, nós vamos descobrir.
- Esse lugar deve ter sido usado para um ritual que criou a praga que destruiu essa
cidade. – Diz Selene
- Mas por que espalhar uma praga pela cidade? – Diz Ashtaroth
- Porque seria uma forma rápida de sacrificar uma grande quantidade de pessoas, o
necessário para invocar alguma criatura de grande poder. – Responde Selene
Quanto mais eles falam menos as peças do quebra cabeça se encaixam. Nada
parece fazer sentido, até que as conversas sessam, dando espaço para um grupo de
esqueletos ambulantes se aproximarem. São 3 esqueletos com trapos velhos, quase
como se fossem moradores de rua, 2 esqueletos de armadura, como se fossem guerreiros
de um exército e atrás dos 5, 1 esqueleto maior, mais forte, segurando uma espada preta
com detalhes em vermelho luminescentes e runas escritas na lâmina.
- Isso não deve ser nada bom – Penso me preparando para o combate
Vejo o resto do grupo se preparar e mesmo que ninguém tenha dito isso, já está
claro. Isso vai ser uma longa luta. Antes de conseguir agir, uma flecha atinge o meu
ombro, graças a minha roupa não chega a perfurar, mas aí está o motivo para eu me
envolver.
Selene toma a iniciativa invocando 4 esqueletos o que deixa claro a minha
dúvida. Ela realmente é uma necromante. Balagos ignora a existência dos esqueletos
menores e vai com tudo em direção ao chefão, imbuindo seus braços com fogo e dando
um grande soco no esqueleto, acho que ele sabe usar piro cinese. Vlad usa magia arcana
para criar correntes e prender os esqueletos, mas a magia sai errado e acaba prendendo
um aliado que eu nem tinha percebido que estava com a gente, os outros chamaram ele
de Ogthalok. Ashtaroth vai em direção a um dos esqueletos com armadura e imbui sua
espada em chamas causando um golpe quase fatal ao esqueleto, mais um com piro
cinese? Ogthalok tenta se soltar das correntes de Vlad, mas apesar de ter errado o alvo, a
magia ainda é muito forte. Eu arranco a flecha do meu ombro e ando em direção ao
esqueleto com armadura que sobrou e tento cravar a flecha em seu crânio, mas antes de
chegar... tropeço em uma pedra e cravo a flecha de volta em meu ombro. De tudo o que
poderia acontecer, tinha como piorar o início dessa luta?
Me recomponho após desviar do ataque do esqueleto o acertando com minhas
garras em seus ossos envelhecidos, a luta está longe de acabar, mas é melhor eu me
concentrar no que eu estou fazendo ou acabarei morto. O esqueleto chefe após sofrer
um ataque do Balagos, golpeia o ar criando uma onda de energia que atinge quase todos
nós. Eu estou ferido e não vou aguentar outro ataque desses. Uso a magia Marcha
Fúnebre para invocar 3 esqueletos para me protegerem, um se posiciona na minha
frente para me defender de qualquer ataque que eu receba, enquanto os outros 2 me
ajudam a derrotar o esqueleto de armadura a minha frente.
Antes de dar o próximo ataque, um cheiro forte de sangue chega as minhas
narinas, tirando a minha atenção do esqueleto e me voltando contra o Vlad, ele tentou
conjurar uma lança para matar um dos esqueletos sem armas, mas novamente errou o
alvo e acabou empalando sua própria mão. Balanço a cabeça enquanto tranco a
respiração me impedindo de ser dominado pela sede de sangue, mas quando me viro
para o esqueleto, ele destrói a minha proteção e acerta um golpe em meu peito.
Ashtaroth após derrotar seu inimigo vem me ajudar com o meu.
Após derrotarmos o esqueleto que estava me atormentando, eu corro em direção
ao chefão tentando canalizar a raiva pela sede de sangue para um inimigo, mas acabo
acertando um golpe no chão após o chefe desviar. O desvio dele fez com que eu errasse
o meu golpe, mas fez o Balagos acertar precisamente o peito do chefe morto-vivo que
caiu partido em 2 na nossa frente. Após toda a adrenalina passar, meus ferimentos
começam a mostrar que estão presentes, minha visão fica turva até que eu desmaie no
chão.
Capítulo 3: A Guilda
Aos poucos eu recupero a consciência, e quando eu finalmente acordo
levanto bruscamente dando com a testa na cabeça de uma senhora que estava tratando
dos meus ferimentos
- ACORDEI! – Grito enquanto eu me levanto da cama
- AI MEU DEUS! Você está querendo me matar moleque? – Diz a senhora
ofegante
- Desculpe, não era a minha intenção te assustar. Mas me diz, onde eu estou?
- Você está na guilda “Ordem do Caos”, a Selene e os meninos te trouxeram,
você estava muito ferido. – Responde ela
- E você me curou??
- Sim, esse é o meu trabalho.
- Muito obrigado! - Enquanto converso com a xamã, Selene entra pela porta de
madeira.
- Olha, você acordou. Já estava na hora. – Diz Selene me encarando
- É... o que aconteceu lá?
- Você desmaiou depois da luta, então te trouxemos para cá.
Um homem de cabelos castanhos e olhos brilhando em roxo entra na sala logo
depois e começa a conversar com Selene como se eu não estivesse parado bem ali na
frente deles, como vampiro já estou acostumado a correrem, seja para longe ou tentando
me matar, a gritarem e coisas piores. Mas me ignorar foi um novo tipo de dor que eu
nunca tinha sentido antes.
- O rei está reunindo todo mundo da guilda para um discurso – Diz o homem
desconhecido
- Vamos logo então, o rei não gosta de esperar – Responde Selene
Eu sigo os 2 sem nem imaginar se eu deveria estar presente em um discurso de
uma guilda a qual eu não faço parte, mas bom... Eles me levaram quando eu desmaiei.
Se eu estou lá é porque eles me levaram, então vou ficar junto com eles.
- Selene, o que é essa guilda? O que vocês fazem por aqui? – Pergunto enquanto
caminho ao seu lado
- Aqui é um lugar que acolhe aqueles que não tem um lar, mas não de graça. Nós
ajudamos os outros, lutamos para tornar o reino um lugar melhor.
- E o que era aquele símbolo no meio do cemitério?
- Cemitério? O que vocês estavam fazendo no cemitério? – Diz o homem mais
perto do meu rosto do que eu sentiria confortável.
- Ãhn, o cemitério onde nós lutamos contra os esqueletos. Você não sabia?
- Esqueletos? Não eu não sabia. Incrível, você ajudou muito! – Diz o homem
enquanto corre para longe
- Não liga para o Hermes, ele é meio estranho mesmo. Infelizmente eu não tenho
todas as respostas que você busca Ethan. Mas estou tentando encontrar. – Diz Selene
Fico mudo enquanto tento raciocinar os fatos que aconteceram até agora, mas
parece que nada faz sentido. Quando chegamos ao pátio da guilda, encontramos
dezenas, se não centenas de pessoas reunidas esperando o comunicado do rei. Pessoas
de espécies, etnias, crenças diferentes, todos misturados e reunidos como uma família.
Isso parece ser legal, penso comigo mesmo, ter uma família que não se preocupa com o
que você é, que não te trata pelo que você é, mas sim por quem você é. Talvez eu tenha
encontrado um lar...
Balagos se aproxima de mim e de Selene junto com Hermes e o rei começa o
discurso.
- Venho anunciar a vocês que o grão-mestre, meu filho... morreu em combate.
Que isso sirva de lembrete que nós fazemos tudo que estiver ao nosso alcance para
proteger o nosso reino, que os perigos que se escondem nas sombras não terão piedade
de vocês, então não tenham piedade deles.
Ele deve ter dito mais algumas coisas, mas o cheiro de guerreiros machucados
estava me matando, precisei de um grande esforço para me conter. Quando o rei termina
seu discurso as pessoas começam a dispersar, mas Selene, Balagos e Hermes continuam
parados, estáticos ali. Eu fico com eles, não sei nem onde fica o banheiro nesse lugar...
Depois de alguns segundos Selene anda em direção ao rei, até que uma lança voa pelo
céu do pátio e atinge o pé de Selene. O cheiro de sangue sobe e eu começo a me
aproximar de Selene, bem devagar, mantendo um certo nível de controle, mas eu não
consigo parar.
- Eu preciso falar com o rei, é importante – Diz Selene
- Então marque uma reunião como todo mundo – Diz a guarda real
- Deixe-a passar – Diz o rei
A lança da guarda sai do pé de Selene e se dirige até a mão de sua dona,
instantaneamente a ferida se fecha, cessando o cheiro de sangue. Eu consigo parar, fico
estático esperando Selene enquanto ela fala com o rei.
- O que você quer? – Diz o rei
- Quero saber o que é isso – Diz Selene enquanto tira seu capacete de chifres
- O que você faz com o símbolo de Ay'lladon na testa? – Diz o rei com um olhar
sério
- É isso que eu quero descobrir, ele apareceu aí e desde então Ay'lladon fala
comigo em algumas ocasiões
- Ay'lladon fala com você??? – Diz a guarda, incrédula
- Venha ao meu escritório amanhã de manhã, falaremos sobre isso. – Responde o
rei com um pingo de curiosidade
- Está bem, vejo você amanhã então. – Responde Selene
Selene vem andando até mim, Balagos e Hermes estão um pouco atrás, quando
ela passa por mim eu pergunto:
- Onde está o Ash?
- Ash? Quem é Ash?
- Ashtaroth – Digo como se fosse óbvio
- Somos só nós agora... – Selene fala em um tom que é difícil dizer se é com
raiva ou com pesar.
Fico apreensivo, mas digo:
- O que vamos fazer agora?
- Eu vou ir treinar no campo de batalha – Diz Balagos com pose de quem
aguenta levantar um trator
- Vou junto – Diz Hermes
- Eu também vou então
- Ótimo, vamos todos treinar, estávamos meio fora de forma na luta de ontem. –
Responde Selene
Sinto que a Selene é meio sínica demais em alguns momentos, talvez ela só seja
grossa mesmo, mas não sei dizer. Parece que todo mundo é um peso nas costas dela, as
vezes um pingo de gentileza poderia cair bem. Penso comigo enquanto caminho junto a
eles em direção ao campo de treinamento. No meio do caminho passamos por uma
mulher de pele pálida, lábios grossos e vermelhos e um cabelo mais escuro do que a
noite. Ela para na frente de Selene
- Selene, que surpresa em te ver! Soube que vocês acabaram de voltar de uma
missão, foi tudo certo por lá?
- Ashley... A surpresa é toda minha. Quando chegamos lá a cidade estava
destruída, não encontramos nenhum sobrevivente, mas acabamos lutando contra alguns
esqueletos que nos atacaram. – Responde Selene meio nervosa
- Nossa, parece ter sido bem intenso... se quiser dar uma passada no meu quarto
mais tarde... acho que você vai conseguir relaxar um pouco... – Diz Ashley com uma
cara um tanto quanto safada
- Talvez eu passe mesmo – Responde Selene dando um sorriso de canto de boca
Agora muita coisa faz sentido, Ashley continua andando enquanto nos dirigimos
para o campo de treinamento.
Durante o caminho digo a Selene:
- Será que você poderia me ensinar um pouco sobre a necromancia? Eu estou
recém aprendendo sobre como tudo isso funciona
- Eu sei tanto quanto você – Responde Selene como se já não tivesse visto tudo
que eu sei fazer
Chegando lá, nos posicionamos na frente de bonecos-alvo e preparamos nossos
feitiços, habilidades e ataques para aperfeiçoá-los. Paro para pensar e me lembro do que
eu fiz na luta contra os esqueletos, eu canalizei a minha sede por sangue para atacar os
inimigos. Se eu conseguir aperfeiçoar isso, pode ajudar muito a minha equipe. Dou uma
fungada no ar, sentindo o cheiro de dezenas de pessoas machucadas pela guilda e o
sangue seco de todos que se machucaram nesse campo de treinamento, até que...
Meu corpo se impulsiona em um surto de velocidade, quase como se eu me
teletransportasse para um lugar, nesse caso... para o pescoço de Hermes, bebo um pouco
do sangue dele, mas não o suficiente para matar, percebo que o veneno de vampiro está
começando a fazer efeito e bebo o veneno do pescoço dele sem cravar os dentes dessa
vez, Selene me olha com ódio no chão e tenta me dar um chute, quando tropeça e cai de
bunda no chão.
- O que você fez???? – Grita Selene com ódio no olhar
- Fo... foi um acidente, eu estava tentando aperfeiçoar uma habilidade de
vampiro, mas acabei atacando-o. Eu já tirei o veneno do sangue dele, mas precisamos
levar ele para a xamã o mais rápido possível. Selene me olha com um olhar sério e
desconfiado, mas ela concorda. Eu pego o Hermes desmaiado no colo e o levo até a
xamã enquanto Selene me acompanha.
- Xamã! Você pode ajudar ele? – Grito quando entro na sala
- AAAAAAhhhhh!!!! Você de novo? Você ainda vai me matar desse jeito!
Custava bater na porta? – Diz a xamã assustada e ofegante
- Desculpa, mas é urgente.
- O que aconteceu com ele?
- Eu acabei atacando-o enquanto nós estávamos treinando, você consegue curá-
lo?
- Claro que consigo, mas vocês ainda vão acabar me matando desse jeito, cada
vez que eu curo vocês eu fico mais velha.
- Se esse é o problema eu posso resolver, vampiros não envelhecem. – Brinco
tentando aliviar o peso de ser o monstro que eu sou.
- Deus me livre, agradeço a proposta, mas estou bem como estou. – Diz a xamã
enquanto cura o Hermes
- A senhora que sabe! – Falo com peso nas palavras e na consciência.
Algumas horas depois, enquanto eu e Selene esperávamos o Hermes acordar na
sala da xamã, Hermes acorda e me olha com uma cara de raiva.
- Me desculpe Hermes, eu não quis te machucar, as vezes eu não controlo direito
a sede por sangue. – Digo com cara de arrependimento
- Tudo bem! Acidentes acontecem – Hermes diz enquanto sorri e se levanta.
- Vamos para o dormitório, precisamos descansar pois amanhã será um dia cheio
– Diz Selene com expressão de alívio
Nos dirigimos até o dormitório e quando chegamos eu pergunto:
- Onde eu vou dormir?
- Pode dormir na minha cama, eu não vou estar no quanto essa noite, tenho umas
coisas para resolver. – Diz Selene com um sorriso de canto de boca
- Obrigado, mas eu prefiro dormir embaixo da cama, é mais apertado, lembra um
caixão.
- Está bem então... boa noite para vocês. Vê se dorme direito Hermes! – Diz
Selene enquanto sai pela porta do quarto.
Tomo um banho e me ajeito embaixo da cama de Selene, parece a menos
empoeirada... Quando acordo de manhã, rolo para o lado e me levanto, vendo Balagos
se espreguiçando perto da janela e o Hermes com profundas olheiras cambaleando para
fora da cama
- Bom dia – Digo alegre
- Bom dia – Diz Balagos
- Boomm diaaaaaaa – Responde Hermes dando um bocejo
- Você por acaso dormiu Hermes? – Pergunto já imaginando a resposta
- Bom... eu tentei – Responde ele quase dormindo em pé
- Aqui na guilda tem café da manhã?
- Tem sim, eu te levo até lá – Diz Hermes indo até a porta do quarto de pijama e
descalço.
Eu acompanho Hermes até a cantina e quando chego me deparo com muita
comida humana, as quais antes eu deveria ser apaixonado, mas que agora me dão um
embrulho no estômago só de ver.
- Será que eles não têm sangue ou alguma coisa viva não? – Pergunto curioso
- Acho difícil, mas pergunta para a cozinheira. Ela vai saber te responder.
Ando até onde parece ser a cozinha e chamo:
- Olá? Tem alguém aí?
- O que você quer? – Diz uma mulher que aparece de repente na minha frente
- Oi tudo bem? Você teria sangue, algum animal vivo ou coisa do gênero por aí?
- O que você é?
- Bom... um vampiro hehe – Digo rindo de nervoso
- Era só o que me faltava... tanto tempo livre de vocês e agora aparece um mais
uma vez... – Ela adentra a cozinha e depois de alguns segundos aparece com um pedaço
grande de carne crua.
- Toma aqui, isso já estava fazendo aniversário no freezer. – Diz ela como se
quisesse que eu fosse embora logo
- Obrigado. – Pego o pedaço de carne e levo até a mesa onde está Hermes
Chegando na mesa vejo que Hermes está com uma cara de nojo olhando para o
pedaço de carne crua no prato em minhas mãos, ofereço um pedaço e ele recusa com
cara de pavor e desgosto, em seguida Selene chega, ofereço um pedaço para ela e ela
recusa como se tivesse comido recentemente. Dou uma mordida no pedaço de carne e
Hermes vomita em cima de sua própria comida.
- Está vendo, se tivesse dormido direito como eu falei não estaria passando mal –
Diz Selene com a voz da razão.
- Eu juro que tentei – Diz Hermes com refluxos
Acabo de comer rapidamente e acompanho Selene me atualizando das missões
do dia, quando encontramos a guarda do rei que diz:
- Selene, sinto muito em te dizer, mas o rei pediu para adiar a reunião de vocês
para amanhã pois surgiu um imprevisto que ele teve que ir lidar. – Diz a guarda com
deboche
- Tudo bem então. – Diz Selene como se já esperasse por isso.
Continuamos andando enquanto pergunto aonde iremos hoje.
- Tem uma vila próxima em que pessoas estão desaparecendo constantemente,
vamos investigar a vila e ver se descobrimos o que está causando os desaparecimentos.
- Certo, quando partimos? Queria tomar um banho antes
- Em breve. Se apresse.
Capítulo 4: Primeira missão
Andamos por uma trilha até chegar a uma aldeia bem aconchegante, casas rurais
com telhados de palha e diversos currais de animais e plantações espalhadas
- Aonde vamos primeiro? – Pergunto esperando uma instrução de alguém
experiente
- Vamos entrevistar os moradores para ver se eles viram algo incomum
recentemente – Responde Selene se direcionando a primeira casa da vila
- Tem alguém em casa? Pergunta Selene enquanto bate na porta
- Já vai! – Responde uma voz com bastante idade
- Ah, vocês são os exploradores que vieram salvar a nossa vila? – Diz a senhora
após abrir a porta e olhar nossas características um tanto quanto peculiares
- Sim, somos nós mesmos – Responde Selene esperando ser convidada para
entrar
- Ótimo! Entrem, vou preparar um café para vocês!
Entro na casa junto ao resto do grupo e aguardo Selene fazer a entrevista, afinal
eu nem saberia o que perguntar.
- Você conhece algum dos desaparecidos? – Pergunta Selene
- Sim, meu marido Philip foi um dos desaparecidos, ele sumiu tem alguns dias.
Ele não sairia assim sem avisar nada, alguma coisa aconteceu com ele.
Selene continua fazendo perguntas enquanto eu observo a casa da Senhora
procurando algo incomum que possa dar alguma pista, quando Selene termina as
perguntas ela agradece a senhora e sai da casa com Hermes, enquanto o Balagos fica e
pede uma peça de roupa do desaparecido para farejar. Observo enquanto a senhora traz
uma bermuda suja e entrega para Balagos que dá uma cheirada e me entrega a bermuda
dizendo para eu ajudá-lo com o cheiro, fico enojado com o fedor de merda impregnado
na bermuda e peço uma sacola para levar a bermuda sem ter que encostar naquela coisa
nojenta novamente.
Nos dirigimos para a próxima casa, onde encontramos um menino na porta, ele
nos vê como heróis e parece nos enrolar com uma conversa amigável, me aproximo de
seus olhos e tento botar em prática mais uma habilidade de vampiro, o controle mental.
Arregalo meus olhos ordenando que o menino chame seus pais para nos ajudar e o
menino me encara com uma cara confusa dizendo que ele morava apenas com o seu pai,
que não aparecia a cerca de 2 dias. Acho que o controle mental não funcionou, penso
enquanto Selene puxa meu braço para trás, como se quisesse que eu parasse de
atrapalhar.
Observo Selene entrevistar o menino como havia feito com a senhora e fico
triste quando percebo que o menino realmente acha que o pai dele vai voltar. Ele não
tem mais ninguém... penso de cabeça baixa, ele é apenas um menino, o que vai
acontecer com ele sem ter nenhuma família?
Selene agradece a cooperação do menino e nos dirigimos a mais uma casa.
Quando bato na porta ninguém responde, chamo por alguém, mas um silêncio mortal
me consome. Já sei! Penso como se tivesse tido uma ideia brilhante. Antes de atacar
Hermes no campo de treinamento eu consegui me transformar em morcego, se eu me
transformar, entrar pela janela aberta e abrir a porta por dentro o grupo vai ver que eu
tenho alguma utilidade para eles. Me transformo e voo com excelência pela janela, volto
a forma humana e uso minha super velocidade para chegar à porta rapidamente, quando
percebo que a porta estava destrancada esse tempo todo... O resto do grupo ri vendo
meu esforço em vão e me sinto um idiota diante de todos.
Revistamos a casa e concluímos que não há mais ninguém. Provavelmente quem
morava aqui desapareceu também. Pensando que não conseguimos descobrir nada nas
últimas 3 horas em que estivemos nessa vila, sugiro:
- E se a gente montasse um acampamento aqui nessa casa e esperássemos até
anoitecer para capturar a criatura ou pessoa que está sequestrando as pessoas? – Digo
me lembrando que a senhora tinha dito que as pessoas só desapareciam durante a noite.
- Acho que é a melhor opção que temos – Diz Selene cansada e com poucas
esperanças.
Enquanto aguardamos a chegada da noite, pego a bermuda que a senhora me
entregara mais cedo e tento conjurar um feitiço de necromancia para localizar ou me
comunicar com o espírito de Philip, o que claramente mostra não ter funcionado quando
a bermuda se transforma em cinzas em minhas mãos, deixando todos confusos. Após
isso, o cansaço toma conta de nós e todos pegamos no sono. Acordo assustado quando
ouço a Selene gritar dizendo que o sequestrador está aqui, ela corre em direção à rua e
lança a magia Aperto dos Mortos em si mesma por acidente, ficando completamente
paralisada, observo o sequestrador carregar um senhor de idade nas costas enquanto ele
se remexe tentando escapar ao longe e penso: essa é a minha chance. Canalizo minha
sede de sangue confiante e me lanço diante do sequestrador, mordendo seu pescoço, ele
solta o senhor que sai correndo para sua casa e arrasto o sequestrador para dentro da
casa onde estávamos alojados.
Após Selene voltar a consciência ela se junta a mim, Hermes, Balagos e o
sequestrador amarrado por correntes arcanas feitas por Hermes. Vejo o veneno de
vampiro deixando as veias do sequestrador pretas e sua testa escorrendo suor.
- Selene, ele está com o veneno de vampiro, eu posso tirar ou ele vai acabar
morrendo ou se transformando – Digo em voz baixa.
- Muito bem, qual é o seu nome? – Diz Selene parecendo ignorar o que acabo de
lhe dizer
- É Philip – Diz o sequestrador se debatendo
- Pois bem Philip, veneno de vampiro está correndo pelas suas veias, mas nós
temos a cura, você pode nos ajudar e dizer por que você estava sequestrando os
moradores dessa vila? Assim nós te curaremos. Ou você pode não responder e morrer de
uma forma bem dolorosa. – Diz Selene parecendo não se importar com a vida que se
esvai diante aos meus olhos
- Eu não posso – Responde Philip começando a convulsionar
- Ele não tem mais tempo Selene – Digo rezando para ela me autorizar a salvá-lo
Selene não reage e o corpo do sequestrador Philip para de se mexer. Checo seu
corpo para ver se a transformação estava começando, mas nada. Algumas pessoas não
resistem a transformação e acabam morrendo de vez com o veneno... Triste, porém com
fome... aproveito o corpo cheio de sangue caído no sofá bem na minha frente faço
minha refeição enquanto Balagos checa um papel que encontra no bolso de Philip e uma
transmissão 3D sai do papel, revelando uma mulher que pergunta:
- Philip? – Ela olha assustada para o homem lagarto bem na frente dela e diz:
- Encerre a transmissão, nossa integridade foi corrompida. – Ela diz antes da
transmissão se encerrar
Largo o corpo já sem sangue no sofá e me dirijo até Balagos tentando entender o
que havia acontecido. Selene pega um medalhão que estava junto com o bilhete e diz:
- Esse é o símbolo da prisão, mas por que eles estariam levando os moradores da
vila para a prisão? – Diz Selene intrigada
- Bom, graças ao nosso caro vampirão aqui não saberemos mais. Teremos que
esperar outra noite para ver se mais alguém aparece. – Diz Balagos, como se a culpa
fosse minha
Talvez seja mesmo. Eu conheço essas pessoas tem menos de 2 dias, por que eu
estou esperando me darem uma ordem? Eu poderia simplesmente tirar o veneno do
sangue de Philip e salvar a sua vida, mesmo que contra a decisão de Selene. Talvez isso
realmente seja a minha culpa.
- Acho que antes de esperar a próxima noite deveríamos procurar o senhor que
estava sendo levado. Ele correu para aquela casa – Aponto na direção que o vi correr,
ignorando o fato de terem me culpado por isso.
Nos dirigimos até a casa do senhor e quando batemos na porta ele pergunta:
- Quem é? – Como se nada tivesse acontecido
- São as pessoas que salvaram a sua vida – Diz Selene como se ela tivesse feito
alguma coisa além de paralisar a si mesma
- O que vocês querem? – Diz o homem após abrir uma pequena fresta da porta
- Queremos saber o que aquele homem queria com você, o porquê de ele estar te
sequestrando. – Responde Selene
- Não sei – Diz o senhor fechando a porta novamente
Mas antes de conseguir fechar a porta, Selene coloca o pé na fresta e empurra a
porta, obrigando o senhor a nos dar atenção. Enquanto Selene faz as perguntas de
sempre e o senhor responde como se não soubesse de nada e não quisesse nos ajudar,
vasculho sua casa procurando por qualquer coisa que pudesse explicar o porquê ele de
tantas pessoas que restavam na vila teria sido o escolhido para ser levado. Mas como de
costume, não encontro nada. Ao retornar à cozinha, onde Selene interrogava o senhor,
vejo nosso grupo se dirigindo a rua, como se não tivesse mais nada que pudesse nos
ajudar ali. Saio junto com eles e digo:
- Vou tentar me transformar em morcego e ficar vigiando de cima para ver se
tem mais alguém suspeito pelos arredores.
- Certo – Diz Selene – Faça isso.
Me concentro na transformação quando uma teoria maluca invade minha mente,
o sequestrador e o marido da senhora, dono da bermuda tinham o mesmo nome, e se
fossem a mesma pessoa? E se tivessem usado nele um tipo de fonte da juventude e
lavagem cerebral para ele trabalhar como sequestrador com eles? A teoria tira minha
concentração e quando percebo minha cabeça é de morcego, mas meu corpo é humano.
Fico irritado ao ver o resto do grupo rindo de mim e penso: eu não vou ser a piada aqui.
Vou pedir para a senhora uma foto de Philip quando era mais jovem e comparar com o
corpo no sofá, se a minha teoria estiver certa, eu resolvo o caso sozinho. Assim eles não
poderão mais rir de mim. Antes de tomar a iniciativa, Selene pede minha ajuda para
investigar a floresta, acompanho ela por uma trilha longa, até decidirmos que ir mais
além sozinhos é perigoso de mais. Decidimos explorar mais quando amanhecer, com a
ajuda do resto da equipe que ficou na vila.
Quando chegamos de volta na vila digo para ela ir para a casa onde estavam os
outros que eu iria checar uma teoria e já encontrava eles. Ela concorda sem se importar
muito e eu me direciono até a casa da senhora. Quando chego na porta, bato com força,
mas ninguém responde. Fico preocupado em que ela possa ter sido sequestrada e tento
abrir a porta, quando percebo que ela está destrancada. Minha preocupação aumenta e
começo a procurar com desespero pelos cômodos da casa, quando me deparo com a
cena da doce senhora dormindo confortavelmente em sua cama. Me sinto aliviado, mas
eu já estou ali. Posso procurar a foto sem ela acordar, assim não terei que esperar até
amanhecer. Vasculho os armários, escrivaninha e criado mundo sem encontrar nada, até
acabar fazendo barulho o suficiente para acordar a pobre senhora. Ao olhar meu rosto de
morcego em um corpo humano enquanto invade sua casa a senhora dá um grito de
pavor e desespero e cai dura na cama após um ataque cardíaco. Me aproximo e tento
fazer uma sequência de RPC para trazê-la de volta, mas quando percebo que não
funcionou me deparo com Selene, Balagos e Hermes na porta do quarto me
perguntando:
- O que você fez???
No meio de uma crise de pânico sem nenhuma ideia do que fazer a única coisa
que sai pela minha boca é:
- Sustou...
Escuto Selene esfregar em minha cara que eu matei a única pessoa que tinha
dado o mínimo de informação útil até agora e que eu não servia para nada. Selene,
Balagos e Hermes se dirigem para fora enquanto procuro alguma coisa que tenha a
essência da senhora para tentar falar com ela no pós vida, me deparo com uma carta
encostada na cabeceira da cama, abro e leio, é uma carta de amor. Escrita por Philip se
declarando quando eles ainda eram jovens. Concluo que nada pode ter mais essência da
senhora que matei, cujo nome eu nem ao menos lembro e de seu marido Philip. Decido
levá-la para usar em um ritual, mas quando chego na rua com os outros, Balagos me
pergunta o que é isso que está no meu bolso. Tiro a carta e digo:
- É uma carta de Philip para a senhora, vou tentar usar ela para me comunicar
com o espírito deles. – Digo com orgulho como se o grupo fosse achar minha ideia
brilhante.
- Você está louco? Como você pode ser um necromante e não saber que tirar o
bem mais valioso de uma pessoa que morreu prende o seu espírito aqui na Terra – Diz
Selene como se eu tivesse acabado de matar a senhora pela segunda vez.
- Eu... eu não sabia... – Respondo segurando as lágrimas
- É claro que não sabia. Você não sabe de nada! Não sei nem como você ainda
está vivo. – As palavras de Selene perfuram meu coração como se fossem uma dezena
de estacas afiadas cravadas em meu peito.
- Eu te pedi para me ensinar um pouco, mas você disse que sabia tanto quanto
eu. – Digo apontando a parcela de culpa dela
- É parece que eu sei mais do que você mesmo. – Ela diz a palavra final me
condenando como o destruidor da missão.
Vejo Selene se virar e seguir rumo a guilda pela trilha junto com o resto do
grupo. Uso minha super velocidade para devolver a carta para a senhora, pedindo
perdão enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto pálido e corro em direção a
guilda, chegando horas antes deles. Consigo me transformar em morcego por completo
dessa vez e fico pendurado em uma árvore enquanto choro observando a lua. Passo
algumas horas ali e depois me dirijo como humano até a biblioteca da guilda, onde falo
coma bibliotecária:
- Oi boa noite, você teria algum livro sobre vampiros?
- Bom dia né? Já está amanhecendo – Ela responde enquanto dá uma risadinha
- É, nem isso eu acerto – Digo com a cara murcha
- Sobre os livros, tem sim. Estão ali na seção de vampiros.
- Certo, obrigado.
Vou até a seção de vampiros e pego meia dúzia de livros o quais passo mais
horas do que posso contar os estudando. Em um dos livros acho algo que me chama a
atenção:
Existe uma lenda de que o sangue do primeiro vampiro e o mais poderoso se encontra
nas ruínas da cidade dos magos, beber tal sangue amplificaria todos os seus poderes e
sua força, podendo lhe tornar o rei dos vampiros
Os vampiros são raças que abrangem grandes segredos, que nem mesmo todos os
vampiros conhecem. Através de um ritual feito a lua cheia, é possível descobrir novas
habilidades... (Página rasgada) ... Todos os vampiros têm essa capacidade, porém foi
esquecida com o passar dos anos, e hoje só os livros ou vampiros anciãos conhecem
esse ritual por completo.
Também encontro menções a 2 habilidades que eu não conhecia:
Vampiro primordial:
O vampiro se transforma em uma forma maior e mais monstruosa de um vampiro, se
tornando mais forte, inteligente e resistente por um período.
Eco localização:
O usuário consegue emitir gritos extremamente agudos para desnortear seus inimigos e
para se localizar mesmo de olhos fechados, ou descobrir lugares ocultos.
Quando leio sobre as novas habilidades corro para o campo de treinamento e
passo algumas horas treinando, tentando aprender a me transformar no Vampiro
primordial. Mas no meio do treinamento, pego no sono entre os bonecos alvo.
Capítulo 5: Quando tudo deu errado
Ao acordar entre os bonecos alvo, me levanto e me dirijo a cozinha, onde chamo
novamente pela cozinheira que me recebe tão elegantemente quando da primeira vez:
- O que você quer agora vampiro?
- Teria outro pedaço de carne crua?
- Ai meu deus, tinha que ser um vampiro. – Murmura ela enquanto busca o
pedaço de carne
- Ontem você disse não havia mais vampiros por aqui. O que aconteceu com
eles?
- Ué, você é um vampiro. Como você não sabe? – Questiona como se o fato de
ser um vampiro me obrigasse a saber tudo que acontece com vampiros pelo mundo
- Não, não sei. – Respondo levemente debochado
- Todos foram mortos por um caçador de vampiros que vagava por aqui, com
você aqui, não acho que vai demorar para ele voltar – Seu sorriso malicioso e seu tom
debochado me questiona se ela só quer me assustar para eu ir embora ou se ela está feliz
porque muito em breve um caçador de vampiros irá me matar como fez com tantos
outros vampiros antes de mim.
- Ah, entendi. Obrigado por responder... até mais – Saio de perto levando meu
café da manhã até uma mesa onde eu faço minha refeição sozinho
Depois de comer, me levanto e me direciono até o quarto onde dormi no dia
anterior, no meio do caminho me encontro com Selene
- Ah, Selene, bom dia
- Bom dia – Responde curta e grossa
- Queria te pedir desculpas por ter saído ontem. Eu precisava de um tempo para
respirar.
- Tudo bem, acho que todos nós precisávamos de um tempo ontem.
- Pois é... tem planos para hoje?
- Por enquanto não.
Cada um continua seguindo o seu caminho, até eu chegar no quarto e me deparar
com uma cena inusitada.
- Ash? Você voltou! Fico feliz que esteja bem.
- Do que foi que você me chamou? – Responde Ashtaroth me olhando torto com
ódio nos olhos enquanto se levanta da cama.
- De Ash, não é o seu nome? Ashtaroth? – Respondo como se fossemos amigos a
anos
- Para você é ASH taroth. E você não tem o direito de vir falar comigo depois de
abandonar a Selene, o Balagos e o Hermes no meio de uma missão.
- Pode ter certeza de que se eu larguei eles eu tive os meus motivos. Fora que
quando sai de lá eles já estavam voltando para a guilda. – Falo irritado pois mais uma
vez eu sou o culpado de tudo.
- Não importa os seus motivos. Você os abandonou, deixou eles lá. Se tivesse
alguma criatura ou qualquer perigo eles estariam mortos por sua culpa. – Diz Ashtaroth
sem nem ao menos querer saber o motivo de eu ter saído.
- Eu já percebi que você não gosta de mim. Tudo bem, eu não estou aqui para ser
seu amigo. E você não tem ideia de como eu estava me sentindo. O como a Selene e o
Balagos fizeram eu me sentir. Eu precisava de um tempo para respirar – Digo chateado
por relembrar da noite de ontem.
Antes que Ashtaroth possa responder somos interrompidos por um grito
estridente
- ASHTAROTH!!!!!!!! – Grita Selene desesperada
Ashtaroth corre em direção a voz e eu sigo atrás dele. Quando chegamos ao
quarto me deparo com um corpo. Ashley. Esfaqueada em cima de sua própria cama e
Selene chorando desesperadamente no chão. Observo o Ashtaroth se aproximar
incrédulo e digo depois dele dizer umas palavras de consolação.
- Se a arma do crime ainda está por perto, nem que seja na floresta eu posso
encontrá-la.
- Faça isso e nos avise se achar alguma coisa. – Diz Ashtaroth
Sinto cheiro de sangue em diversas partes da guilda e começo a correr de um
lado para o outro usando a super velocidade tentando encontrar as fontes do sangue. Um
soldado machucado no campo de treinamento, um homem sem um braço voltando de
uma missão, diversas pessoas machucadas em um lugar onde acontecem combates
diariamente, mas nada de uma arma ensanguentada.
- Se a arma está aqui dentro eu não vou conseguir achar o cheiro. Acho melhor
procurar na floresta. Podem ter escondido a arma por lá.
Me direciono até a floresta e sinto cheiro de sangue vindo de 3 locais diferentes.
Corro até o primeiro, um corpo em decomposição no meio do mato, o segundo, outro
corpo, esse morto recentemente, o último chama atenção, é um homem ainda vivo, sem
uma perna encostado em uma árvore. Me mantenho a uma distância segura e pergunto:
- O que aconteceu com você?
- Uma criatura me atacou, por favor me ajude!
Penso no risco que é tentar ajudá-lo e concluo: já fiz mal a muitas pessoas,
preciso salvar pelo menos uma pessoa. Eu preciso fazer o que eu puder para ajudá-lo.
- Tem algum lugar em que eu possa te levar?
- Para um curandeiro, qualquer um. Por favor!
Me aproximo tentando manter o controle, mas não resisto. Voo no pescoço dele,
mas consigo parar antes que seja tarde. Ele já perdeu muito sangue, e está com o veneno
de vampiro, se eu tirar, ele morre. Vou levar ele o mais rápido possível para a xamã,
talvez se ela curar ele eu consiga tirar o veneno a tempo.
Quando chego na sala da xamã ela se assusta como de costume, imploro para ela
curar ele e ela o faz. Mas já é tarde, o veneno já se espalhou pelo corpo dele e a
transformação se inicia. Tento tirá-lo da sala para levar ele a um lugar seguro, mas a
xamã me impede, dizendo que não importava se ele fosse ser perigoso, ele precisava
descansar então ficaria ali até acordar. Aguardo ele acordar sentado ao lado do meu
recém-criado com a cabeça baixa e as mãos no rosto enquanto choro pensando que eu
passei a maldição para uma pessoa inocente, agora eu sou responsável por destruir a
vida dele e de todas as pessoas que ele machucar. Pouco tempo depois, Ashtaroth entra
na sala e me pergunta o que aconteceu. Explico como eu acabei o transformando e ele
só me pergunta:
- Você queria transformar ele?
Me viro bruscamente com os olhos cheios de água e com expressão de
indignação e digo:
- É claro que não. Eu não iria querer transformar ninguém. Ser vampiro é uma
maldição e não uma salvação.
Ele ouve minhas palavras com expressão de compreensão e encosta meu rosto
em seu peito, quase como se estivesse me dando um abraço. Sinto que pela primeira vez
na vida alguém me entendeu, mas estou confuso. A mesma pessoa que me acolheu foi a
pessoa que acabou de brigar comigo e de quem eu disse que não estava lá para ser seu
amigo. Penso que talvez eu possa explicar tudo para ele, pela primeira vez eu posso
contar tudo que eu sinto para alguém, a maldição que o vampiro desgraçado que me
transformou me passou. Sinto tanta raiva, tanta dor, tanta coisa que eu quero te contar.
Mas no momento eu não sou a prioridade. Uma velha amiga dele acaba de perder a
pessoa que amava, ela precisa do amigo dela.
- Se quiser podemos conversar depois, posso te explicar tudo o que aconteceu.
Mas agora a Selene precisa de você. Vai lá apoiá-la. Eu acabei não achando a arma do
crime, mas talvez eu possa entrar em contato com o espírito da Ashley e perguntar o que
aconteceu com ela. Eu só preciso de um objeto que lembra dela, algo que contenha a
essência dela.
- Ok, vou procurar alguma coisa, fique aqui. Você tem coisas mais importantes
para cuidar no momento – Ele fala olhando em direção ao corpo do meu recém-criado
- É... você tem razão. – Concordo olhando para o pobre coitado de quem eu
destruí a vida.
Ashtaroth sai da sala e eu aguardo por alguns minutos até ele voltar com um
colar
- Esse colar era da Ashley, acho que você consegue usar isso. – Diz ele enquanto
me entrega o colar
- Obrigado, farei o que puder para falar com ela. – Digo enquanto guardo o colar
em meu bolso
Ashtaroth sai pela sala enquanto eu aguardo a minha criação acordar. Corro até a
cozinha para buscar um pedaço de carne e volto para a sala. Depois de algum tempo sou
surpreendido por algo inesperado. Um cheiro de sangue extremamente forte passa pela
porta e se agarra em meu nariz como um chiclete no cabelo. Tranco a respiração e corro
para fechar a porta, torcendo para o cheiro parar, mas minha cabeça não funciona como
antes, sinto como se meus neurônios estivessem se enrolando e saltando do meu cérebro
em direção ao cheiro. Tentando assumir o controle de minha consciência, olho para a
xamã e pergunto:
- Você tem alguma corda, ou algo que dê para amarrar ele?
- Não, eu sou uma curandeira, eu só tenho utensílios curativos.
Saio correndo da sala me amarrando ao pensamento de que eu preciso amarrar o
recém-criado para ele não machucar ninguém, uso a super velocidade para chegar nas
escadas, mas quando chego, um som estranho vem da sala da xamã. Como choque de
adrenalina recupero a noção das coisas e me dirijo até a sala, quando vejo meu recém-
criado no pescoço da xamã. No desespero tento obrigá-lo a soltá-la usando um comando
que vampiros podem usar graças a ordem hierárquica que é criada quando um novo
vampiro é criado. Mas não funciona. Esqueço as habilidades e tento tirar ele a força,
mas quando consigo, não escuto mais a pulsação da xamã. Entrego o pedaço de carne ao
recém-criado enquanto falo frases tentando convencê-lo de fazer a coisa certa, ele
agarra o pedaço de carne enquanto eu me posiciono em frente a porta tentando impedi-
lo de sair e causar uma confusão ainda maior.
Em seguida a porta se abre atrás de mim e revela ele. Ashtaroth incrédulo do que
está acontecendo, ele entra e pega o corpo da xamã olhando para o recém-criado e me
diz:
- O que aconteceu aqui?
- Eu não consegui impedi-lo, ele acordou e pulou direto no pescoço dela – Minto
pois não quero dizer que não consegui manter o controle de minha própria mente
- Como você não conseguiu impedir um vampiro recém-criado perneta de matar
a xamã? – Ele diz irritado
- A sede de um vampiro recém-criado é incontrolável, eu não consegui fazer
nada para impedir... – Tento inventar uma desculpa esfarrapada, mas sei que estou
complicando ainda mais a minha situação.
- Enfim. Eu vou ver o que consigo fazer com relação a xamã, você cuide desse
vampiro antes que ela faça mais merda do que já fez.
- Está bem, feche a porta quando sair – Por que eu falei sobre a porta? Era só
concordar...
- A porta?? O que você acha que uma porta de madeira vai fazer contra um
recém-criado? Você não conseguiu impedi-lo nem estando do lado dele. O que uma
droga de porta de madeira vai fazer contra ele?
A mentira que eu criei quebra minha mente no meio de uma discussão e eu
começo a defender com unhas e dentes o ponto de que se a porta estivesse fechada eu
teria mais tempo de reação para impedir o recém-criado de passar por mim. Cada
palavra que eu dizia fazia os olhos de Ashtaroth ficarem mais vermelhos, até a xamã
morta nos braços dele criar vida e tentar mordê-lo, ele afasta a vampira de seu pescoço e
a joga em cima de mim, machucando meu braço no processo.
Uma luta começa, temos 2 recém-criados mortos de fome e 2 pessoas com os
nervos à flor da pele. Começamos a lutar, mas a xamã como uma senhora vivida, para
não dizer quase uma vampira anciã, desvia de todos nossos golpes e nos golpeia em
cheio, pouco tempo depois Balagos chega com um Goblim no ombro e se juntam a luta,
o que poderia dar errado nessa luta deu. Eu tentei paralisar a xamã, mas acabei
paralisando o Ashtaroth que ficou ainda mais irritado comigo. Balagos erra um golpe a
acaba criando uma cratera no chão que leva até o andar de baixo. Quando a paralisia de
Ashtaroth passa, ele usa um golpe final na xamã que já está machucada, mas antes de
acertar, Vlad surge e para o golpe, pressionando Ashtaroth contra o teto usando tele
cinese.
Ashtaroth explica o que aconteceu e depois de vaporizar a xamã com uma magia
absurda ele pergunta quem, foi o responsável por isso. Ashtaroth olha para mim e fala:
- Ethan Folks.
Vlad se vira para mim e diz:
- Você ainda está aqui? Achei que depois de todo esse tempo você já teria ido
embora. Me acompanhe, vamos ver o rei.
Acompanho Vlad até a sala do rei e quando chego ele diz:
- Majestade, temos um intruso.
Olho para o lado e vejo Selene, ela vira a cara ao me ver e Vlad diz ao rei:
- Esse vampiro chegou na guilda a alguns dias com o grupo dela – Fala
apontando para a Selene – E está aqui desde então. Nesse período de 2 dias mais ou
menos ele transformou um homem de fora da guilda e trouxe ele para cá. O recém-
criado matou a xamã.
- Como é? A xamã está morta? O que você tem a dizer sobre isso? – Diz o rei
irritado
- Sinto muito pelo que aconteceu, não queria que nada disso acontecesse. Se
quiserem que eu vá embora eu vou. Sei que vampiros não são bem-vindos em nenhum
lugar e nunca serão bem-vistos pelas pessoas. – Digo chateado, pois já sei como as
coisas funcionam para os vampiros, até ser surpreendido por uma frase de Vlad
- Você ser vampiro não quer dizer nada. Temos muitos como você por aqui e
nenhum deles fez o estrago que você fez.
Fui pego de surpresa com essa frase, então a cozinheira mentiu para mim.
Existem sim vampiros aqui, mas por que ela me tratou daquele jeito? Antes que eu
tivesse tempo de responder qualquer coisa, o rei ordena a Vlad que me mande embora
de uma vez. Uma chama dourada me cobre e quando percebo estou do lado de fora da
guilda.
É, como o esperado eu fui mandado embora, chegou a hora de seguir meu
caminho como sempre foi. Não sei o porquê eu pensei que esse lugar pudesse ser o meu
lar. Sigo pela floresta em direção a cidade dos magos lembrando do que eu li no livro da
biblioteca.
Existe uma lenda de que o sangue do primeiro vampiro e o mais poderoso se encontra
nas ruínas da cidade dos magos, beber tal sangue amplificaria todos os seus poderes e
sua força, podendo lhe tornar o rei dos vampiros
Se eu encontrar o sangue do primeiro vampiro eu vou ficar mais forte, talvez eu
consiga controlar de vez a minha sede por sangue. E sobre ser o rei dos vampiros...
posso impedir que eles machuquem pessoas inocentes novamente.
Ando alguns quilômetros pela floresta quando percebo que está começando a
anoitecer. Monto uma fogueira para passar a noite e aproveito para testar uma
habilidade, se eu preciso encontrar o sangue nas ruinas da cidade dos magos, vai ser útil
encontrar locais escondidos com a Eco localização. Puxo uma grande quantidade de ar e
solto tudo em um grande grito, sinto minha garganta doer como se uma flecha a
atravessasse. Eu não consigo mais falar, mas de certa forma eu consegui usar a
habilidade, criaturas começam a correr na minha direção até eu ver um monstro
horrendo, um cervo bípede com boca de jacaré e garras grossas tenta me atacar, desvio
do ataque e começo a correr com minha super velocidade até despistar a criatura.
Quando sinto que estou em um lugar seguro, começo a procurar alguma coisa que eu
pudesse comer, quando me deparo com alguns coelhos, lambo meus lábios com água na
boca e corro tentando pegar um deles, quando um homem me para e me pergunta:
- O que você pensa que está fazendo na minha floresta?
Olho para o homem e tento falar, quando lembro que não consigo falar, percebo
que isso não vai acabar bem e volto a correr, o mais rápido que eu conseguir. Corro um
pouco até uma árvore desaparecer na minha frente e aparecer o homem no lugar. Acho
que é um druida e ele não está feliz comigo aqui. Depois de trocar de lugar com a árvore
ele tenta me agarrar, mas tropeça em uma raiz e cai no chão. Penso que correr não vai
adiantar já que ele troca de lugar com árvores e tento me transformar em morcego para
fugir voando, mas eu estou cansado e ferido de mais para isso. O druida se levanta e me
agarra pelo pescoço me pressionando contra o chão. Ele fala mais uma vez:
- O QUE, VOCÊ, ESTÁ FAZENDO, NA MINHA FLORESTA E COM OS
MEUS COELHOS?
Tento falar mais uma vez e nada além de chiados e ruídos sai de minha boca, o
druida percebe que eu não consigo falar e me entrega um graveto para escrever na areia.
Escrevo as seguintes palavras:
Eu estou de passagem, estou tentando chegar em Lécia. E sobre os coelhos... eu
estou com fome.
- Você queria comer meus coelhos? – Grita o druida enfurecido
Ele cria uma espada no ar e crava ela em minha barriga. Penso em formas de
escapar, mas nada vem em minha mente, junto minha força de vontade de viver e meus
conhecimentos de necromancia para invocar um único esqueleto que segura o druida
enquanto eu me recomponho e junto as minhas forças para atacá-lo. Cravo minhas
garras em seu coração e ele cai morto no chão. Eu estou com fome... levanto o corpo do
druida que tentou me matar e devoro seu corpo até ele ficar quase irreconhecível. Roubo
sua espada mágica e 2 poções verdes com um cheiro horrível que arde o meu nariz,
depois volto com meu servo esqueleto até o lugar onde ficavam os coelhos, ordeno que
o esqueleto fique caçando os coelhos para eu ter comida no dia seguinte. Encontro a
casa do druida em cima de uma árvore e invado procurando suprimentos médicos.
Encontro 1 frasco com um líquido transparente que tem cheiro de álcool. Presumo que
seja álcool e uso para limpar o buraco que se encontra em minha barriga, monto um
curativo com as bandagens que eu encontro pelo balcão e me deito para descansar.
De manhã acordo com um som estranho vindo de dentro da casa, me levanto e
procuro a origem do som, quando vejo uma luz branca vindo de debaixo de uma porta.
Eu abro a porta...
Capítulo 6: Uma luz branca
Quando abro a porta, dentre todas as coisas que eu imaginava que pudessem
estar lá, encontro eles. O grupo que eu encontrei em Lécia, o mesmo grupo que lutou
junto a mim contra a xamã e o mesmo grupo que não fez nada quando eu fui expulso da
guilda. Me deparo com o Goblim dizendo:
- Vampirão? Você por aqui? – Escuto enquanto vejo o pequeno Goblim
estendendo a mão para que eu vá junto a ele
Não entendo absolutamente nada, por que um portal se abriu na exata casa onde
eu estava descansando? Não faz sentido, mas aconteceu. Pego minhas coisas e agarro
sua mão, atravessando o portal e parando em um lugar estranho, parece uma prisão.
Prisão? A mesma prisão de onde veio Philip, o sequestrador que eu matei por ordens de
Selene? O que eles estão fazendo aqui? E mais importante. O que eu estou fazendo
aqui? Observo o grupo, estão aqui Balagos, Selene com um esqueleto que por algum
motivo não sai de trás de mim, Ashtaroth que está com um pé quebrado, Hermes, o
Goblim que eles chamam de Jericó e uma pessoa estranha que eu não reconheço, parece
um gato bípede estranho que se apresenta como Nico Law.
Selene me encara como se esperasse que eu falasse alguma coisa, depois de um
tempo me encarando ela pergunta;
- O que você está fazendo aqui?
Tento falar, mas como o esperado, minha voz falha miseravelmente, eu coloco a
mão na garganta tentando mostrar que algo está errado. Jericó entende o sinal e me
pergunta:
- Está com a garganta machucada, vampirão?
Faço que sim com a cabeça e ele me manda me abaixar, ele tem um metro e
vinte, faz sentido eu ter que me abaixar... me abaixo torcendo para ele conseguir curar
minha garganta, mas não funciona. Ashtaroth se vira para mim e pergunta o que eu
estou fazendo naquele lugar, tento responder, mas apenas gaguejos e tosse saem de
minha boca. Ele responde grosseiramente:
- Se for para fazer barulhinhos é melhor não falar nada.
Olho para ele quase rangendo os dentes e pensando: se eu conseguisse falar eu te
mandaria para puta que te pariu. Ignoro a existência dos dois idiotas que com certeza
não queriam que eu estivesse lá e sigo Jericó, Hermes e Balagos até um alçapão
trancado que parece que eles estavam tentando abrir antes de eu simplesmente aparecer
ali. Hermes conjura algum feitiço que faz um choque vermelho atingir seu corpo.
Hermes cai no chão tremendo como se estivesse convulsionando e seus olhos ficam
brancos. Jericó começa a rezar e em seguida conjura um feitiço que tira Hermes do
transe. Hermes se levanta e escutamos gritos vindos de uma cela ao lado, andamos até
ela, com o resto do grupo que tinha ficado para trás nos seguindo e nos deparamos com
4 pessoas amarradas na cela, 3 delas estão quietas com a cabeça baixa, mas a quarta
grita em desespero. Jericó pega um par de chaves, não sei de onde ele tirou essas
chaves, e testa cada uma até abrir a porta. Quando a porta abre uma Quimera aparece
atrás de nós nos atacando, a maioria de nós toma um golpe enquanto ela avança em
direção a cela. Com a Quimera parada na frente da cela eu saco a espada que eu roubei
do druida e tento cortar sua cauda, para não sermos envenenados, mas apesar de acertar
o golpe, não decepou o ferrão, a luta continua, cada um disfere um golpe contra a
Quimera enquanto Jericó liberta os prisioneiros, quando o prisioneiro que estava
gritando é libertado, ele ataca a Quimera com suas garras, mostrando ser um homem
gato, acho que é Kemono o nome usado para animais com características humanas.
Depois de uma longa luta a Quimera cai morta no chão, Jericó procura um frasco para
coletar um pouco do veneno de Quimera, mas não encontra nenhum. Lembro dos
frascos com líquido verde que eu peguei com o druida e entrego para ele
- O que é isso? – Pergunta Jericó
Faço que não sei com os braços, seguido de um sinal de morte com o dedo no
pescoço, não sei o que é aquilo, mas com certeza não é algo bom. Jericó passa uma
porção do líquido em sua adaga e crava no corpo da Quimera, não sei o que ele esperava
com isso, mas definitivamente não aconteceu o esperado. As veias da Quimera
começaram a inchar com uma coloração verde enquanto a maioria de nós se afasta
pensando que ela vai explodir. A Quimera volta a vida olhando para o Balagos e o
atacando novamente, começo a pensar que se aquele líquido trouxe um ser de volta a
vida talvez possa curar minha garganta e o pé de Ashtaroth, até o dito acontecer. A
Quimera explode em uma gosma verde ácida que começa a dissolver a armadura de
Balagos e os pelos do homem gato que encontramos.
A Quimera está aos pedaços, checamos os outros 3 prisioneiros que também
estão mortos, sigo o grupo que está querendo ir para o andar de baixo até chegarmos em
um conjunto de celas, por algum motivo que não faz nenhum sentido em minha cabeça,
Balagos resolve abrir todas as celas onde estavam os prisioneiros, os quais começam a
correr desesperadamente para fora da prisão, seguimos em um corredor a frente e vemos
uma escada, eu não consigo ver nada lá embaixo, está tudo muito escuro. Mas Balagos
parece ver, ele diz que tem uma porta lá, descemos as escadas apesar de eu ainda não
saber o que exatamente a gente está procurando, até que quando chegamos, nos
deparamos com uma parede. Nada de porta, apenas uma enorme parede sem nada de
especial, coloco a mão na parede para confirmar que ela é real e olho para o Balagos,
apenas ele e o Ashtaroth conseguem ver a tal “porta”, pelo menos é o que eles dizem
estar vendo. Balagos põe sua mão na parede e depois crava seu machado nela, em
seguida diz:
- Abra essa porra de uma vez – Diz enquanto levanta um bilhete muito parecido
com o que o guarda Philip tinha guardado
- Desculpe meu senhor – Diz uma voz de traz da parede enquanto a tal parede se
materializa em uma porta diante aos meus olhos.
Entramos e vemos uma cena peculiar, uma sala dourada com cerca de 15 pessoas
encapuzadas formando uma passagem até um altar onde aguarda um homem também
encapuzado que segura um cajado com uma gema roxa, a mesma cor roxa que estava
nas manchas dos corpos que eu encontrei em Lécia. Apesar de tudo acontecer tão
rápido, uma coisa está clara. Nós estamos em uma seita.
3 pessoas amarradas e amordaçadas são trazidas até o altar enquanto um dos
membros da seita nos entrega mantos vermelhos, os mesmos mantos que todos os
membros da seita estão usando. Vestimos o manto e o homem com o cajado diz: Por
Ay'lladon! Enquanto os outros membros da seita fazem um símbolo com as mãos que eu
e o resto do grupo tenta imitar. Ao dizer o nome, Selene desmaia e Balagos e Ashtaroth
a seguram tentando manter a discrição. Após alguns segundos fazendo o símbolo, o
homem com o cajado crava uma adaga no coração dos 3. O cheiro de sangue sobe e
meus olhos arregalam, luto com todas as minhas forças para me manter no disfarce, até
que Ashtaroth me diz:
- Se controle Ethan.
Fecho os punhos cravando minhas garras em minhas próprias mãos e ranjo meus
dentes como se estivesse mascando o ar. Não sei se aguento por muito tempo.
Capítulo 7: A seita
Passo alguns segundos me contorcendo para tentar resistir ao cheiro de sangue
quando Selene finalmente acorda.
- Seita... Matar... – Diz ela sem fôlego, quase como se estivesse embaixo d’agua.
Aguardo o sinal de Ashtaroth me dando a permissão de não resistir a tentação e
assim que ele autoriza eu voo na direção do líder da seita, arranco o cajado de suas mãos
e mordo o seu pescoço enquanto saboreio aquele doce e apetitoso sangue vermelho. Me
concentro apenas nele, apenas no líder da seita que tem um gostinho de dar água na
boca. Quando acabo de beber a última gota de sangue eu largo seu corpo no chão e me
deparo com o resto da minha equipe lutando bravamente.
Balagos está aos socos com uma Quimera que tenta furar seu peito com seu
ferrão venenoso, mas Balagos sempre desvia. Ashtaroth está protegendo Selene, Hermes
e Jericó dos membros da seita na retaguarda, fatiando em 2 qualquer um que tende se
aproximar. Selene invoca esqueletos e criaturas monstruosas para desmembrar os
inimigos um a um. Jericó conjura uma armadura mágica em nossa pele, fazendo nossa
pele e músculos se enrijecer e nos tornar mais resistentes. Hermes invoca correntes
arcanas que prendem os inimigos uns aos outros e que é atraída toda vez que um novo
alvo se aproxima. Nico Law é difícil dizer... eu consigo ver ele em mais de um lugar ao
mesmo tempo, é quase como se ele tivesse criado diversos clones de si mesmo e cada
um atacasse um inimigo diferente. E o homem gato que resgatamos, o qual ninguém
sabe o nome, usa suas longas garras para perfurar os olhos de um inimigo que tentava
passar por Ashtaroth.
Paro um segundo admirando essa cena. Um grupo de pessoas totalmente
diferentes umas das outras lutando unidas e focas em proteger umas as outras. É tão
lindo, é quase como uma família em um vilarejo colhendo frutas em uma árvore
enquanto riem juntas. Eu daria qualquer coisa para ter algo assim de novo... O que mais
me dói é pensar que eu tinha uma família antes de ser transformado, mas que eu não
lembro de absolutamente nada deles, dos momentos que passamos juntos, do amor que
eu sentia por eles e que eles deveriam sentir por mim, seus nomes, ou até mesmo se eles
realmente existiam, se isso não era apenas um sonho maluco de um vampiro idiota que
nunca quis ser o que é. Que nunca quis fazer as coisas que fez. Mas já está feito, não há
nada que possa ser feito para mudar o que aconteceu.
Basta apenas aceitar. Aceitar que eu sou um monstro. Aceitar que ninguém gosta
de mim. Aceitar que eu não sou bem-vindo em lugar nenhum. E aceitar que eu jamais
vou ter uma família. Basta apenas... aceitar.
Paro de me perder em meus pensamentos quando percebo que algo está errado.
Quando percebo que toda a cena que eu estava admirando a poucos segundos atrás
parou. Não parou como se a luta tivesse acabado, e que finalmente teríamos alguns
segundos de paz. Parou como alguém que clica no botão de pause durante um filme.
Nada parece fazer sentido, sangue e outros restos mortais estão parados no ar, Balagos
está flutuando com um braço flamejante, cujas chamas estão tão paradas quando
qualquer coisa nesse ambiente, enquanto a Quimera prepara uma mordida em sua
direção. Ashtaroth está com sua espada no meio do corpo de um inimigo como se
estivesse fatiando um pão, enquanto faz uma cara de raiva. Selene está apontando em
direção a um inimigo enquanto suas criaturas flutuam no ar como se pulassem em
direção a ele. Jericó está com os dois braços apontados para cima como se estivesse
tentando segurar uma barreira. Hermes parece ter parado no meio de um movimento em
forma nó, como se estivesse amarrando as correntes. Nico Law e todos seus clones
pararam em posições diferentes, realizando ataques diferentes ao mesmo tempo. E o
gato rasgando o rosto de um inimigo como um gato rasga uma cortina.
Tudo e todos estão imóveis. Apenas eu consigo me mexer. Ando pela sala
tentando acordar alguém que possa me ajudar, mas nada acontece. Quando paro
exatamente na mesma posição em que eu estava no início do combate algo muda. Não
sei dizer o que está acontecendo, mas o meu corpo está estranho. Ele formiga como se
eu estivesse em sendo atacado por um formigueiro, meu coração acelera como se fosse
explodir. O que me leva a pensar que realmente tem algo muito errado, eu sou um morto
vampiro, eu não tenho pulsação sanguínea, esse é o motivo da minha pele ser tão fria.
Mas o meu coração bate. Bate forte, e mais forte, quase como se fosse sair do peito.
Minhas mãos começam a inchar e se deformar, minha visão começa a adquirir a
coloração vermelha, como se uma veia estourasse em meus olhos. De repente... me
encontro na mesma situação de quando eu fui transformado. Não reconheço o meu
corpo, não consigo descrever o que está em minha frente. Vejo sombras avermelhadas
com a forma de pessoas, mas não consigo ver quem são. Eu lembro de minhas
memórias, mas é quase como se a minha mente as rejeitasse, eu não tenho controle de
minhas ações. Eu me encontro em um estado que o que me move é apenas a vontade de
matar.

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