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Meu nome é Ricroar, não gosto de usar meu sobrenome, mas caso necessário, é

Anskuld, Ricroar Anskuld. Eu sou de um continente distante, tenho grandes cabelos


negros e olhos azuis, costumo usar uma máscara para esconder minhas cicatrizes, que
estão por todo meu corpo… Vou contar sobre minha história.

Minha vida foi tirada em nome dos deuses, mas falo de algo pior que a morte, meu
vilarejo onde nasci era extremamente devoto aos aclamados deuses, e meus “pais”
Melissa e Nicolau Anskuld tiveram uma gravidez indesejada e fora dos “padrões” do
vilarejo, ter filhos somente depois da autorização dos deuses, meu nascimento foi um
insulto… Com isso, Melissa e Nicolau começaram receber olhares de desprezo de todo
o vilarejo, mas tiveram uma boa ideia para se redimir, me entregar de oferenda ao
vilarejo, eu não tive escolha, eu era apenas uma criança.

Esperaram eu crescer, tinha por volta de 7 anos de idade, sempre fui mantido preso
dentro de um sótão, eu fiz um buraco na parede que me dava visão de fora, eu escutava
várias conversas, ofensas a mim, me chamando de “cria diabólica”, foi com esses
insultos que fui aprendendo a entender os significados das palavras, como conversar…
A única forma de sair do sótão, era ser requisitado pelo vilarejo, afim de cumprir ordens
dadas a mim, eu eram chamado apenas para satisfazer a vontade deles, seja pegar lenha,
limpar a sujeira dos gados, satisfazer os desejo íntimos de homens e mulheres, ou
apenas para servir de saco de pancada de alguém que teve um dia difícil e queria
descontar a raiva em algo. E então, eu voltava para o sótão, com lágrimas escorrendo
incansáveis em meu rosto, e eu repetia tudo de novo no dia seguinte. O motivo de tudo
isso, pelo menos é o motivo que me dera, era de quem eu seria perdoado pelo deuses, e
que eu poderia receber amor, eu acreditei por muito tempo… Mas não passava de uma
mentira.

Certa vez, a fazendeira me chamou para sua casa, era a primeira vez que eu ia para lá, e
chegando ao local, só lembro de um pedaço de madeira me atingindo por trás, e então,
tudo preto. Eu estava amarrado em uma cadeira, eu gritava e me debatia, mas nada
adiantava, eu conseguia ver várias pessoas através da janela passando pelo lado de fora
e me observando, não importava o quanto eu gritava, ninguém me ajudou… Passaram-
se alguns minutos e escutei a porta do outro extremo da sala se abrindo, era a fazendeira
segurando um faca, um calafrio percorreu meu corpo inteiro, eu iria morrer ali? Mas
então eu me acalmei, talvez se eu suportasse essa dor, seria a última. Ouvi ela dizendo
“Sempre tive curiosidade para ver o que um demônio como você tem dentro da
cabeça.”, sua voz era tremula, ela se aproximou e sua expressão representava medo e
pavor, até que ela começou… Ela traçou uma linha em minha testa com a lâmina, o
sangue imediatamente escorreu, até que ela cravou não muito fundo a faca na parte
direita da minha testa, eu gritava de tanta dor, as pessoas ainda passando e olhando,
senti um corte mais fundo passando pela minha testa, a mão da fazendeira tremia, e
então ela cessou, ela deixou a faca cair no chão e foi até a janela, ela começou a
vomitar, logo após isso, correu para fora da sala, me deixando preso lá.

Já se passaram 12 horas, já estava noite, o sangue que cobriu meu rosto secou, o corte
continuava doendo… No sótão da casa onde eu ficava, eu escutava Melissa “rezar”,
pedindo paz, e eu fiz o mesmo a primeira e única vez na qual eu rezei foi para pedir paz.
Mais algumas horas se passaram, minha barriga roncava, estava com sede, estava tonto,
eu queria que tudo aquilo acabasse logo. Escutei um rangido na janela da sala, vi uma
sombra se aproximando, era uma pessoa, não conseguia vê-la muito bem por conta da
escuridão, até que ela se aproximou e disse sussurrando “vai ficar tudo bem.” Senti as
amarras se afrouxarem, eu está livre delas, tentei sair da sala pulando a janela mas não
tive forças, a pessoa que me soltou me dei apoio, e conseguimos sair daquele lugar…
Agora conseguia vê-la com mais nitidez, era uma garota, tinha a minha idade, com
cabelos ruivo alaranjado bem penteados, olhos castanhos claros, possuía sarda no
rosto, usava um vestido florido, seu nome era Luna Hakon, eu a via vez ou outra
pelo vilarejo através do sótão, naquele momento eu fui salvo.

Depois daquilo, Luna começou a “requisitar meu serviços”, mas na verdade ela só me
livrava das pessoas, ela sempre me levava a um campo de flores afastado do vilarejo,
isso me trazia paz, ela não me olhava com desprezo ou medo assim como todos, ela
sorria para mim, me olhava cintilante. Luna me considerava uma “lenda”, ela é muito
sarcástica, mas de forma gentil e brincalhona, eu sorria, sorria muito, ria muito, nunca
tinha me sentido daquela forma antes, eu estava feliz em estar vivo. Certo dia, Luna me
deu uma pulseira feita das vinhas de uma árvore próxima dali, a maior delas, nesse
mesmo dia ela cravou nossas iniciais na árvore, dizendo que ali seria nosso lugar de
encontro caso as coisas fugissem do controle.

O vilarejo sempre comemorava aos finais da semana, agradecendo os deuses pela boa
colheita, bom agouro, boa caça, por qualquer coisa mínima que seja, eu sempre observei
do sótão, e agora que via Luna correndo pra lá e pra cá, eu abria um sorriso sincero.
Falando na Luna, ela me entregou um livro, pegou escondido dos pais, era um livro
sobre a história dos Elfos, pelo menos um pouco delas, eu tive muita dificuldade, eu não
sabia ler nem escrever, aprendi tudo com Luna… Estava tudo bem, mas então, o que
começou com um sorriso, terminaria em fogo.

Era mais um início de semana após as festividades, eu fui até a floresta atrás de
alimentos, foi então que escutei um barulho ensurdecedor, não consegui distinguir o que
poderia ser, aquilo me assustou pra valer, eu comecei a correr, eu avistei o lenhador do
vilarejo, o desespero me fez cometer um erro, pedir ajuda… eu o segurei pelos braços
pedindo ajuda, e em uma reação de raiva, me acertou com o machado bem em cheio na
minhas costela esquerda, eu me lembro de sentir o machado entrando bem fundo, eu
agonizei de dor no chão com uma quantidade enorme de sangue saindo, até ficar tudo
escuro mais uma vez. Contudo, a coisa mais bizarra aconteceria a seguir, mas também, a
coisa que mudaria minha vida, eu acordei em uma superfície rochosa, enquanto eu
recobrava a consciência, sentia um calor imenso, eu pensava que havia morrido, ou que
foi tudo um sonho, mas aquele calor era real demais… eu estava envolto de um mar de
fogo e lava, não conseguia ver o céu, e nada aos arredores, que merda estava
acontecendo? E mais uma vez aquele rugido, dessa vez mais perto, na tentativa de
expirar o ar, meus pulmões arderam, era tão real… Notei a minha frente a lava
começando a se movimentar, e uma figura enorme começou a emergir dela, foi
crescendo até alcançar 9 metros de alturas, mas parte do seu corpo ainda estava debaixo
da lava, o que tornava a figura mais assustadora ainda, eu não conseguia enxergar
direito por conta do vapor que subiu, meus olhos queimavam, quando pude ter um
vislumbre do que era aquela coisa, vi somente olhos, olhos enormes e vermelhos me
encarando, escutei um grunhido vindo dessa criatura, mas eu consegui compreender, ela
disse meu nome… Ficamos nos encarando, aos poucos fui me acostumando ao calor,
senti uma queimação forte na costela esquerda, mas não conseguia tirar os olhos dela,
mais grunhidos, conversamos, ela perguntou sobre mim, me falou um pouco dela, era
um dragão, um dragão estava bem na minha frente, sem prolongar a conversa, o dragão
me disse “Aceite-me”… Abri os olhos, eu estava no sótão, estava suando muito, minha
roupa estava ensopada, a ferida do machado está com um curativo ma feito, mas eu não
estava sentindo mais dores, apenas uma ardência, eu tirei o curativo e vi a ferida
cauterizada, o que aconteceu?

Logo após isso eu fiquei estranho, me sentia sempre quente, mas isso não me
incomodava, até mesmo Luna se preocupou com uma possível febre… mas essa
situação me fez não comparecer aos trabalhos solicitados, o que gerou uma certa
revolta, mas minha boa desculpa era que quase fui partido ao meio.

Mais um final de semana de festividades chegou, eu resolvi sair escondido e fui até a
árvore que Luna e eu marcamos, e lá estava ela, me esperando, ela correu e me abraçou,
eu adorava aquilo até mesmo com minha temperatura atual, abraçar a Luna me dava um
calor de conforto. Nós sentamos bem no centro do gramado e conversamos sobre eu
estar estranho, como estava a noite, ela me mostrou o que estudou sobre constelações, e
era uma noite cheia delas, estava lindo, era a melhor noite da minha vida… Era…
Escutamos uns barulhos vindo da floresta, enxerguei claridade vindo de lá também,
quando me dei conta, os moradores do vilarejo estavam todos ali, armados com foices,
garfos de jardinagem, porretes, e me olhavam, olhavam com ódio, Luna gritou para eu
correr, e foi só quando todos eles vieram que tomei a iniciativa, eles eram rápidos e eu
era apenas uma criança, facilmente me alcançaram… começaram a me espancar, senti
um garfo de jardinagem atravessar minha coxa, senti um homem forte segurando meu
braço esquerdo, tentando quebra-lo, tomei várias pancadas na cabeça, meu corpo inteiro
foi preenchido por hematomas e cortes, até que escutei o grito de Luna, minha visão
turva se focou instantaneamente, vi seu pai puxado ela pelos cabelo, alguns moradores
ao redor a chamando de bruxa, e que iriam nos matar em nome dos deuses… Era isso
não? Esses desgraçados… Esses deuses, é culpa deles… Em um grito de raiva, minha
pele começou a fumegar, todos em minha volta se afastaram, mas eu parti para cima, eu
vi o homem que segurava meu braço, era meu pai Nicolau, eu avancei e agarrei a cabeça
dele, vi sua pele começando a ficar vermelha, e gritos de dor saindo de sua boca, eu
olhava para o fundo dos olhos dele enquanto ele implorava perdão, o caos começou a
envolver os moradores, minhas mãos entraram em combustão, queimando meu pai vivo,
até sobrar cinzas, senti seu sangue borbulhando em minha mãos enquanto olhava a cena,
perplexo, quando entendi o que estava acontecendo, eu sorri, e as chamas começaram a
ser espalhar, o campos de flores agora estava todo queimando, o fogo alcançou a
floresta, vi os moradores correndo para o vilarejo, eu fui atrás deles, ainda marcando, eu
sentia fortes dores, mas estava êxtase, sorrindo e gargalhando, agora eu tinha o controle,
agora era hora da vingança.

Por onde eu passava o fogo intensificava, pude avistar o vilarejo, as chamas também
avistaram. Eu ataquei sem parar, todos que vieram me atacar fora carbonizados, 7
pessoas? Sim, eu fiz questão de contar, as casas queimando, o céu estrelado agora ardia
em vermelho, eu avistei minha mãe, eu manquei em direção a ela, falando tudo o que
estava guardado, ela ouviu tudo em silêncio, a unica coisa que ela fez foi se ajoelhar e
começar a rezar, minhas últimas palavras a ela foram: “Nenhum deus vai te salvar.” eu
preparei o ataque, mas uma mão me segurou, era Luna, no mesmo instante que notei sua
presença, eu me acalmei, tentei faze-la me soltar por causa do fogo, mas ela me segurou
mesmo assim, ela segurou meu rosto com as duas mãos e aproximou sua testa à minha,
ela sofreu queimadura leves, mas eu vi em seus olhos… seus olhos refletiam fé, por
que? Por que mesmo assim ela tem fé em mim? Ela disse: “O mundo não foi justo com
você, não é?”… E então eu corri, marcando, com dores, mas corri o mais rápido que
puder, quando tomei distância, olhei para trás, eu vi todo dano que causei, agora não
tinha mais volta, eu queimei meu passado.

Após destruir o vilarejo onde eu morava, fiz o que pude para sobreviver, caçando e me
abrigando, e por sorte, sabia fazer isso. Já se passou 1 anos desde o ocorrido, estava
longe de casa, após meses caminhando sem rumo, avistei ao longe uma cadeia de
montanhas na distância, e me recordei das histórias que Luna me contava, Luna? Ela
está bem? Foco... As Montanhas da Paz, um local cuja a vida é exsassa, mas que apenas
seres de bom coração podem chegar ao topo e usufruir da paz universal concedida pelos
deuses.

Comecei a subir, e subir, sem parar, o calor de meu corpo me impedia de congelar, já
não tinha mais noção de quanto tempo se passou, mas quando me dei conta, estava
cercado por pessoas no topo das montanhas, e então, tudo ficou escuro.

Após a luz invadir meus olhos, me vi cercado por construções bem simples espalhadas
pelas montanhas, pontes de madeira interligando ponta a ponta, possibilitando o
deslocamento entre os picos, e pessoas comuns, com vestes peculiares, Eu os reconheci
das histórias de Luna, eram monges e eremitas, eles se isolavam do resto do mundo
afim de encontrar equilíbrio e paz em si próprios. O silêncio do local era ensurdecedor,
a não ser pelas correntes de vento se quebrando nas montanhas.

Conforme o tempo se passou, fui aderindo aos costumes locais, o tempo já não fazia
diferença para mim, agora tinha 12 anos?. Passava a maior parte do meu tempo na
biblioteca, onde os Eremitas armazenavam o conhecimento de toda a história, e certo
dia,descobri uma sessão reservada, onde comecei a frequentar com certo entusiasmo,
nessa sessão eu vi a verdade, sobre magias, minotauros, elfos, e seres de poderes
inimagináveis, os aclamados deuses de Haz-Dheli, os nomes que ouvi no vilarejo,
estavam todos naquela sessão:

MITRYAN: DEUS PAI

AG'LOREAN: DEUSA MÃE

GREEMA: PRIMOGÊNITA

OSTEODON: FILHO MAIS VELHO

LYANDRO: FILHO DO MEIO

TYKY: FILHA MAIS NOVA

A cultura de Haz-Dheli alcançou meu distante vilarejo, todos esses nomes, todos esses
“deuses”, é tudo culpa deles.

Eu me apoderei da sessão reservada, estudando magia arcana proibida, muitas vezes fui
alertado e castigado pelos eremitas, mas eu não parava, era uma sede incontrolável por
conhecimento, e fui me aprimorando, aos meus 18 anos de idade me tornei poderoso
demais para ser mantido nas montanhas, eu não queria mais me manter preso, agora
tinha um objetivo claro em minha mente, tracei meu destino para Haz-Dheli, afim de
apagar os deuses da existência junto à fé incondicional de seus devotos.

O caminho até Haz Dheli não foi fácil, passei por diversos ladrões, e seres até então
vistos apenas em livros, falo de monstros, elfos, anões. Eu acabei com ameaças
facilmente, mas isso me esgotou até chegar em meu destino. Chegando em Ciano,
decidi cobrir meu rosto, não queria ser visto com todas aquelas cicatrizes. Em busca de
alimentos, encontrei uma pequena barraca, e algumas crianças com vestes esfarrapadas
e sujas, claramente moradoras de rua, duas delas estavam a frente, um garoto com
cabelos castanhos claros, aparentemente tinha 11 anos, e uma garota que parecia um
pouco mais velha, com seus 15 anos de idade, usava um vestido sujo, cabelos curtos e
loiros, mais atrás deles em um beco, mais meia dúzia de crianças observavam por um
beco, ansiosos pelo que estava prestes a acontecer, estudei a situação até entender que
aquelas crianças estavam roubando a barraca, e após o ato, o mercador partiu furioso
atrás delas com uma machadinha em mãos, após um tropeço, a garota de vestido
tropeçou, estando no alcance do mercador que preparou seu golpe sem misericórdia,
mas resolvi interferir, queimei o braço que segurava a machadinha, que caiu ao lado da
garota. Por conta da bagunça, aproveitei a situação e roubei vários alimentos da barraca,
o mercador em agonia, fugiu para o outros lado do beco, deixando as crianças sozinhas
comigo, mas tinha algo estranho, elas não me olhavam com medo, fiquei pasmo com
aquela situação, até que a garota me abraçou e disse “obrigado, tio”, isso me tirou do
transe, e as outras crianças também correram para o abraçar, era quente, confortante,
então era esse o sentimento do abraço, fazia tempo que não o sentia, um sentimentos
que só tive poucas vezes com Luna. Após utilizar aquela magia, fiquei esgotado
finalmente, minha visão começou a turvar, até que desmaiei de exaustão.

A vista começou a clarear de novo, pequenos fachos de luz iluminavam o local, que era
relativamente grande, era uma grande casa de madeira mofada de úmida toda destruída,
várias crianças se juntaram ao meu redor, consegui identificar aquelas crianças do beco
mais próximas a mim, haviam muitas crianças, todas na mesma situação de vestimentas,
aparentavam ter entre 5 a 13 anos, a garota loira parecia a mais velha., seu nome era
Jade, não havia sobrenome, assim como todas as crianças ali, o lugar era uma espécie de
orfanato abandonado, haviam cerca de 20 crianças ali, não haviam adultos, eram
somente as crianças.

Passei 1 semana no orfanato, aos poucos entendendo aquele lugar, as crianças ali foram
abandonadas pelos pais, rejeitadas, o que me fez me identificar com elas, mas elas
mesmo assim viviam felizes e brincando entre si. Durante os dias, eu ajudei as crianças
a conseguirem bastante comida, com meus poderes mágicos e persuasão, não foi nada
difícil, mas os meus atos começaram a chamar a atenção do alto escalão de Ciano, que
marcharam rumo ao orfanato onde me encontrava com as crianças. Eram cerca de 5
soldados, um deles disse: “A rainha de Ciano requisita vossa presença.”

Já era noite, eu ajudei no jantar das crianças e fui até o castelo da rainha, caminhei em
alerta a quaisquer tentativas de ataque, mas os soldados foram pacíficos até lá. Instantes
depois, me vi frente a frente com Solissa Faber, a rainha de Ciano, e ao seu lado, Lilith
Faber, filha de Solissa. A rainha de Ciano requisitou meus serviço para missões fora do
reino, em troca foi pedido estabilidade e cuidados para as crianças, além da reforma do
orfanato, troca justa e feita.
Várias missões me foram dadas, principalmente de escolta, era um saco, mas consegui
descobrir algumas coisas interessantes sobre as culturas de outros reinos, e a ligação
com os deuses, mas… houve uma missão, tal qual me persegue até hoje, não foi uma
missão dada pela rainha, mas uma missão que a vingança me deu. Alguns dias depois
que retornei de Sedekania, um grupo de mal feitores adentraram Ciano e invadiram o
orfanato onde as crianças ficavam, e raptaram algumas delas, inclusive a Jade… Antes
mesmo de Solissa solicitar meus serviços para resgatar as crianças, eu já estava lá,
próximo a Floresta Yeter, observando vários movimentos próximos a uma fogueira,
haviam diversas tendas espalhadas nas redondezas, e dentre essas pessoas, vi anões,
alguns minotauros, e principalmente Ladinos e Bárbaros… E próximo a fogueiras,
estavam 7 crianças amarradas, não consegui ver Jade. Nesse momento meu sangue
ferveu, isso me lembrou daquele dia em que devastei o vilarejo de onde vim, essas
pessoas cantarolavam o nomes dos deuses, de novo isso? Mais uma vez essa histórias?
Malditos devotos… Pobres crianças. Normalmente eu penso antes de agir, formo
estratégias, mas agora… Agora não há necessidade disso, eu vou matar todo eles.

Envolvendo minha mão direita, canalizo grande poder de fogo e lanço em uma tenda
mais afastada, ouço gritos e vejo uma anã e um bárbaro saindo da tenda, estão pegando
fogo, isso faz meus olhos brilharem, até ver seus corpos carbonizados caindo ao chão,
eu continuo me aproximando lentamente da fogueira, noto que a atenção de todos está
em mim agora, e mais seres de diferentes raças saindo de outras tendas.

Eu sou o mais forte, esses desgraçados não sairão vivos daqui, nenhum deles… Vieram
um por um, e um por um foram caindo, o fogo se espelhava rapidamente, eu não ligava
mais para vingança, naquele momento, eu estava em euforia, nada podia me parar, entre
o céu e a terra, eu sou o mais digno, eu sou capaz de qualquer coisa agora. A minha
risada ecoava pelo ambiente, tendas em chamas, corpos totalmente carbonizados
estirados ao chão, o céu sangrava juntos deles, ardendo em vermelho mais uma vez…
ali estava eu, no centro do caos, o gramado verde se tornou um solo negro, eu ainda
queimava meus inimigos até o fim, e então, uma ideia horrível veio a mim, por que está
fazendo isso? Onde estão as crianças? Eu congelei, e nesse mesmo momento, uma mão
agarrou a barra de minha calça, era Jade com o corpo todo queimado, metade de seu
corpo estava desfigurado, com o outro braço, ela agarrava forte um corpo carbonizado
de uma das crianças já sem vida, e olhando ao redor, as outras estavam na mesma
situação… ela me disse uma coisa que martela até os dias atuais, “Me ajude tio, ta
doendo...” foram suas últimas palavras.

O calor era extremo, notei vapor saindo da minha face, minhas lágrimas não escorriam,
eram evaporadas antes mesmo de conseguir senti-las, o aperto no peito me dominava,
eu cai de joelhos em frente às crianças sem vida, eu fiz aquilo… Eu, Ricroar destruí o
que queria proteger… Eu consegui notar um ladino correndo ao distância, eu já não
tinha mais vontade de lutar, deixei com que escapasse.

Minha chegada ao reino de Ciano foi acolhida por soldados fortemente armado, e de
longe, Solissa e sua filha me observavam, fui levado até a prisão do reino, e lá fiquei
com um bom tempo pensando em meus atos… Eu sou o mais forte, os deuses
pagarão… esses pensamentos me mantinham focado, foi lamentável o que aconteceu
com as crianças, sei disso, mas meu objetivo precisa ser concluído, só assim estarei em
paz finalmente.
Certo dia, a rainha Solissa foi me visitar na prisão, ela ficou me encarando por uns 10
minutos e eu mal conseguia olhar pra ela de volta… Logo após isso, ela quebrou o
silencio me perguntando sobre o que aconteceu e perguntou sobre minha história.
batemos um longo papo, e por incrível que pareça, ela não me criticou, não me olhou
com desprezo como todos fizeram, eu já senti isso antes, com Luna… Solissa me falou
sobre amar e ter laços de amor mesmo recebendo ódio em troca, nessa hora eu surtei, eu
me aproximei da grade e disse: “Você fala de amor… não me meça segundo seus
padrões, família… Amor… os únicos laços sentimentais que tenho com a minha família
são os que eu gostaria de amarrar em seus pescoços, e foi quando eu fiz isso que a
verdade ficou clara pra mim, eu vivo apenas pra mim mesmo.” e então eu travei, e
comecei a entender o que todos sentiam por mim, era algo que eu também sentia,
desprezo e medo. Segurando nas grades, comecei a olhar pra nos olhos de Solissa, ela
continuava com aquele olhar calmo, se aproximou e segurou minhas mãos, e sussurrou
algo: “O mundo não foi muito justo com você, não é?” isso me fez desabar, as lágrimas
vieram e escorreram, e então ouvimos passos se aproximando, eram os guardas, ela
apertou forte suas mãos nas minhas e foi embora com um sorriso no rosto.

Se passaram anos, eu devo ter por volta de 22 agora, eu pensei muito, sobre muitas
coisas. Já era noite, escutei a tranca de minha prisão de abrindo, um dos guardas me
disse que Solissa me aguardava.

Batemos um longo papo sobre uma missão perigosíssima, sobre os riscos, mas as
recompensas por trás, se eu o fizesse, seria solto, teria minha segunda chance… Minha
missão era invadir as terras de Dracarton, o deus caído, era uma missão de
reconhecimento, eu teria comigo uma equipe de soldados e arcanistas habilidosos, era
uma escolhe minha aceitar ou não essa missão… e é claro que aceitei, que oportunidade
de ouro, reconhecimento no território do deus caído e liberdade de bônus.

Eu conheci a equipe que iria comigo, era experientes, nosso líder era um guerreiro, tinha
seus 40 anos de idade, usava armadura leve nos joelhos e cotovelos, carregava duas
espadas, ninguém sabia seu nome, tinha olhos amarelado e cabelo preto curto, pele
morena e um olhar pesado. Contando comigo, eramos 4 guerreiros, 4 arcanistas e 2
curandeiros.

Caminhamos por um bom tempo, não interagi muito com eles, mas pareciam se dar
bem. Todos escondiam seus rostos, como eu, Solissa disse que era para não sermos
identificados pelo seja o que exista naquele lugar. Mas por fim, nem chegamos perto.

O terreno começou a ficar estranho, mas ainda era grama verde, não sei explicar, o ar
parecia pesado, era difícil respirar, mas nos mantivemos firmes. O sentimento era
horrível, eu me achava forte demais, mas agora, me sinto tão fraco, mal me aguento de
pé,

Caminhamos por muito tempo, criaturas bizarras vieram em nossa direção e sofremos o
primeiro ataque de criaturas de sangue negro, nos livramos por pouco, paramos para
descansar e recuperar as forças, mas até fazer isso parecia mais lento e difícil, esse
lugar… Dracarton… Foi em nossa pausa que a segunda leva de criaturas veio até nós,
éramos 10, agora só restaram 4, as mortes foram brutais. Não era mais possível seguir,
na verdade, desde que decidiram essa missão, era impossível, recuamos, mas a terceira
leva nos encurralou, somente eu restei, os outros todos foram mortos.
Não sofri ferimentos, mas a exaustão me dominou, eu me afastei até o ar ficar leve
novamente, me deitei no chão para recuperar as forças, eu só pensava no quão longe eu
estava do meu objetivo, como posso destruir os deuses sendo tão patético? Eu fechei os
olhos e tentei focar no dragão que vi a anos atrás, eu sempre tentei fazer isso, mas nunca
tive respostas, conforme o tempo foi passando, tudo tem ficado tão confuso, não sei
quem sou eu, só sei o que tenho que fazer, e mais uma vez, sem respostas, apenas mais
perguntas.

Ao retornar em Ciano, fui logo algemado pelos guardas e levado até Solissa, eu dei o
relatório da missão, mas ela não parecia surpresa com o resultado, mas sim com o fato
de eu estar ali contando isso tudo a ela. Mesmo com a missão fracassada, a rainha me
deu liberdade, eu precisava pensar no meu próximo passo, como derrotar um deus.

Um deus teria conhecimento de toda a magia, uma experiência sem igual, então como
eu poderia vence-los? Cheguei a conclusão de que preciso ser criativo, mais inteligente
que eles, pensar a frente deles, foi então que comecei a desenvolver uma magia, fiz isso
o mais escondido possível, estudei sobre a magia por 3 anos, eu precisava de algo novo,
algo nunca visto antes, algo para derrotar cada um deles. Eu não me limitei a Ciano, por
mais que a guerra batesse na porta, eu precisava me aprimorar, eu sai para outros reinos,
até mesmo em Immortal, uma cidadela que odeia a magia, precisava saber como
pensam… Passei pela Floresta Yeter diversas vezes, mas nunca tive coragem de entrar
lá, não depois do que aconteceu nas proximidades. E assim fui estudando e treinando
durante esses anos, mas nenhum sucesso, nem mesmo cheguei perto, é tão frustrante…
Passei o ano seguinte focando em evoluir meu poder magico, tinha deixa a ideia de criar
algo novo quase de lado.

Agora eu tenho 26 anos, passei muito tempo longe de Ciano, não tive novidades sobre,
mas nem me preocupei em saber… Quando voltei, a guerra contra Falcareste havia
terminado com a derrota de Ciano, um calafrio subiu pela minha espinha, pensava nas
crianças de lá, Solissa e Elizabeth, quando pensei em entrar, encontrei alguns
aventureiros esquisitos observando na distância, aqueles que outrora seriam os mais
próximos de uma família que eu teria.

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