Não revide,
perdoe!
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J
esus falava à multidão...!
No auge do Sermão do
Monte alertou:
Não penseis que vim destruir a
lei ou os profetas, não vim para
destruí-los, mas para dar-lhes
cumprimento.
Porque em verdade vos digo
que o Céu e a Terra não pas-
sarão, até que se cumpra tudo
quanto está na lei, até o último
jota e o último ponto. (Mateus,
5:17-18.)
O universo, a Terra e a hu-
manidade são regidos por leis
justas e imutáveis, criadas
por Deus.
Lei é um conjunto de regras
necessárias e obrigatórias, que
devem ser obedecidas, a fim
de manter equilíbrio, discipli-
na, ordem, justiça e progresso.
Quando não obedecida gera
confusão, indisciplina, sofri-
mento, caos.
282 28 Reformador | Maio de 2016
A. Merci Spada Borges
merci1940@terra.com.br
O homem, predestinado à
evolução, desde o instante em
que assumiu a razão, foi do-
tado de livre-arbítrio. Desse
modo, passou a ser responsá-
vel pelos próprios atos. Criado
para viver em sociedade, deve
respeitar o direito dos seme-
lhantes e cumprir com seus de-
veres para que haja disciplina,
entendimento, paz e progresso
geral. Se não há paz entre os
homens e a violência transita
livremente pelos continentes
do mundo, atingindo corpo e
alma, deve-se à desobediência
das leis que lhes dificulta a vida
sobre a Terra e, consequente-
mente, a escalada evolutiva.
Não há como alegar igno-
rância, pois, a lei está gravada
na consciência de cada criatu-
ra. Então, a desobediência não
se justifica e as consequências
geram sofrimento. A dor não é
um personagem casual e sim a
mestra eficiente que, a serviço
da lei de causa e efeito, ensina ao
discípulo rebelde e desobediente
o caminho da redenção. Quanto
mais graves forem suas atitudes,
mais árduo será o caminho a se-
guir. Por isso Jesus alertou sobre
a importância de não se fazer
aos outros aquilo que não se de-
seja para si mesmo. Estes são os
princípios básicos da lei.
Em todos os tempos, des-
de os primórdios da criação, o
homem sempre contou com o
auxílio divino presente na figu-
ra de mensageiros ou profetas,
encarnados ou desencarnados.
Dentre os mensageiros divinos
destaca-se a figura incontestá-
vel de Moisés, que libertou os
hebreus da escravidão que os
acorrentava no Egito. Duran-
te quarenta anos conduziu-os
através do deserto em busca da
Terra Prometida. Assistido pelo
plano maior, Moisés recebeu as
tábuas da lei: os Dez Manda-
mentos ou Decálogo, primeira
revelação das leis de que se tem
notícias. Ali está contida a dire-
triz do comportamento huma-
no: todos os deveres para com
Deus e os semelhantes.
Mas, no início, só o Decálo-
go não foi suficiente para con-
ter e disciplinar uma multidão
recém-saída da escravidão; foi
preciso que Moisés criasse leis
civis muito severas e construís-
se a ideia de um Deus terrível e
vingativo, que castigava o cul-
pado sem piedade. Era preciso
impressionar homens ignoran-
tes, que desconheciam qualquer
princípio de moral e de justiça.
Transcorridos aproximada-
mente 1.250 anos, Jesus desce
à Terra para desenvolver a Lei
divina e apropriá-la ao grau
de adiantamento dos homens.
Esta é a segunda revelação da
lei. Para simplificar o seu enten-
dimento, reduziu-a em poucas
palavras: “Amar a Deus sobre
todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo”. (Mateus,
22:37 a 40.)
Jesus desfaz a ideia de um
Deus terrível e vingativo, criada
por Moisés, e revela a Verda-
de: Deus é Pai, misericordioso e
compassivo, ama suas criaturas
e as perdoa dando-lhes novas
oportunidades de quitar seus dé-
bitos e de evoluir, embora, para
isso, tenha de “nascer de novo”.
Revela aos homens que a
vida não é a única sobre a Terra,
e que a verdadeira vida se en-
contra no reino dos Céus. Para
conquistá-lo estabeleceu o mais
perfeito dos roteiros: o Evange-
lho, cujas lições preparam o ho-
mem para a busca do aprimora-
mento moral.
Entretanto, Jesus sabia que
não era o momento de dizer
tudo; os homens não estavam
preparados para absorver todos
os seus ensinamentos. Somente
com o progresso adquirido ao
longo dos séculos e, auxiliado
pelo desenvolvimento científi-
co, poderia alcançar o amadu-
recimento. Então prometeu o
Consolador:
[...] que ficará convosco e estará
em vós. Porém, o Consolador
que é o Santo Espírito, que meu
Pai enviará em meu nome, vos
ensinará todas as coisas e vos
fará recordar de tudo que vos te-
nho dito. (João, 14:17 e 26.)
Os séculos se sucedem e, fi-
nalmente mil e oitocentos anos
depois, Jesus envia o Consolador
prometido, expresso num corpo
de doutrina, codificado por Allan
Kardec: o Espiritismo. Está entre
os homens a terceira revelação da
lei. É esta consoladora Doutrina
que vem revelar a existência do
mundo espiritual, a “natureza,
origem e destino dos Espíritos,
bem como suas relações com o
mundo corporal”. (KARDEC,
Allan. O que é o espiritismo. FEB,
2014. Preâmbulo.)
Esclarece, ainda, que “o amor
resume a doutrina de Jesus intei-
ra, visto que esse é o sentimento
por excelência, e os sentimentos
são os instintos elevados à altura
do progresso feito”. (KARDEC,
Allan. O evangelho segundo
o espiritismo. FEB, 2015. cap.
11, it. 8.)
O Evangelho de Jesus foi
distorcido e mal interpretado
ao longo dos séculos. Hoje, re-
divivo nessa abençoada Doutri-
na dos Espíritos, cumpre o seu
objetivo de iluminar consciên-
cias e conduzir o homem à per-
feição de acordo com o livre-ar-
bítrio de cada um.
Ao contrário do que pregava
Moisés, Deus não castiga! Deus
é amor, misericordioso e bom,
criou leis para que suas criaturas
cresçam em sabedoria e moral.
A dor que se alastra sobre a
Terra não é de origem divina, é
consequência da rebeldia hu-
mana. Portanto, tudo que ocor-
re na vida do homem tem uma
explicação, uma causa: a deso-
bediência da lei. Toda lei não
cumprida gera sanção. Assim,
encarregada de fazer justiça, a
lei de causa e efeito reaproxima
os culpados a fim de se harmo-
nizarem de acordo com os có-
digos divinos. Geralmente, o
reencontro se realiza por inter-
médio da reencarnação. Quan-
do, então, entra em cena a lei do
Amor e da Justiça para resgatar
os Espíritos endividados.
Maio de 2016 | Reformador 29 283
 . mente, questionei-me: o que
Há pouco tempo, bateu à
minha porta um andarilho, já
idoso e alquebrado. Fora soli-
citar a “esmola de alguns tro-
cados”. Trazia nas faces sulca-
das as marcas do sofrimento.
Quando atendi, ele pronunciou
meu nome. Fiquei surpresa.
Então, lhe perguntei: “Quem
é o senhor?”. Com voz segura
e bastante clara delineou seu
nome: Gerval (nome fictício).
Mais que surpresa, fiquei atô-
nita. O que fazer por ele além
de satisfazer o seu pedido?
Orar. Passei a orar por ele to-
das as noites. Para entender a
situação vou retornar, pelo fio
da memória, à década de 70.
Gerval era um jovem inte-
ligente, bem posto, de boa fa-
mília e muito requisitado pelas
garotas da sua idade. Ele fazia
parte da mesma turma que
cursava a faculdade comigo.
Em quatro anos, conquistamos
os nossos diplomas. Nesse pe-
ríodo, ele iniciou namoro com
uma das colegas de classe e,
no ano seguinte à formatura,
casou-se. Seu casamento não
durou muitos anos. Após o
nascimento do segundo filho,
abandonou a família, foi tra-
balhar na capital em busca de
novos ares. Os anos se passa-
ram! Somente agora, em 2015,
revejo, na porta de minha casa,
essa figura singular. Intima-
284 30 Reformador | Maio de 2016
teria acontecido para que Ger-
val chegasse a tal estado de de-
gradação física e moral?
Alguns dias depois, voltou-
-me à lembrança um fato ocor-
rido na época da faculdade, há
muito esquecido e que trouxera
mal-estar entre os colegas que
presenciaram a cena: numa tar-
de em que saía das aulas, perce-
bi uma aglomeração de alunos
e me aproximei para saber do
ocorrido; em meio à confusão
deparei-me com Gerval que,
bastante alterado, havia agredi-
do violentamente um mendigo
que lhe solicitara ajuda. Ouvi
suas palavras: “Imbecil, como
se atreve a encostar suas mãos
sujas nas minhas? Vá trabalhar
vagabundo!”...
Bastante assustado e com as
pernas feridas pelos pontapés
recebidos, o pobre homem saiu
às pressas, da maneira que pôde.
Esse fato, ocorrido há dé-
cadas, e associado aos ensina-
mentos espíritas, trouxe-me a
resposta:
Sim, só poderia ser a lei de
causa e efeito, atuando na mes-
ma encarnação.
Poucas semanas depois, em
uma das reuniões mediúnicas,
na Casa Espírita que frequento,
eis que o Espírito de um men-
digo se comunica e pronuncia
o nome Gerval com todas as
letras. Ele se sentia vingado.
Durante mais de trinta anos
acompanhou Gerval, condu-
zindo-o por antros e becos
viciosos a fim de levá-lo à der-
rocada moral. E conseguiu!
Estava satisfeito. Mas, ali, sen-
sibilizado pela luz do Evange-
lho do Cristo, arrependeu-se e
prometeu abandoná-lo.
Talvez, em futuro próximo,
com esforço e boa vontade Ger-
val encontre o discernimento
necessário para se reerguer. A
família sempre procurou aju-
dá-lo, mas sem sucesso. Quem
sabe agora conseguirá vencer as
barreiras do progresso que ele a
si mesmo impôs.
O Espírito Joanna de Ân-
gelis sintetiza com sabedoria a
atuação da justiça divina:
Ante o amor, a dificuldade
torna-se desafio, a dor faz-se
teste, a enfermidade consti-
tui resgate, a luta se converte
em experiência, a ingratidão
ensina, a renúncia libera, a
solidão prepara, e o sacrifício
santifica. [...]
Desse modo, recorda Jesus,
em qualquer circunstância ou
posição em que te encontres,
e à semelhança d’Ele, consul-
ta e responde com amor, não
fazendo ao teu próximo o que
não gostarias que este te fi-
zesse. O amor tudo resolve...
(FRANCO, Divaldo P. Leis
morais da vida. Pelo Espírito
Joanna de Ângelis. cap. 55,
“Ante o Amor”.)