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Personagens que
não existem mais
do que versões honestas de si mesmo. Quando a ação começou, algo ruim aconteceu.
Alguém penetrou alguém ou algo com uma faca. Ou talvez não. Mas o que é certo é que
algo ruim aconteceu. O plano ficcional não pode se afastar do plano autoral-experiencial. A
história
supera quem o imagina. O ponto de origem foi perdido e em sua busca fatal o autor
ele se encontra sem rumo nos recessos labirínticos de sua memória. Traçar um
Saída. Quem escreve interroga ferozmente o que encontra em sua cabeça para revelar
a verdade. A verdade de um mistério criado dentro de casa. Bem no fundo. Aqui está
ausência de diálogos de forma poética tão condizente com os nossos tempos. Aqui está
esta alteração
da ordem linear do discurso em busca da ruptura significativa das frases. Aqui estão dois
universos que encontram origem e fim no outro: o da mente do autor e o de sua época.
Conhecer
desculpe ambas as confusões.
1
A última coisa que ele fez foi escrever meu nome.
No piso.
A última coisa que ele queria era me ter ao seu lado.
Ele me levou com ele.
Ele foi embora por mim. Eu não consigo entender isso.
Ainda não consigo entender.
Havia uma faca
no piso.
A faca estava lá.
Ele viu tudo. De muito perto.
Ela ouviu passos.
Meus passos. O eco dos meus passos.
Ele falou de mim para silenciar as vozes de seus medos
Deeper.
Estamos nus aqui. Ninguém pode ver isso?
Eu não posso falar.
Quero fazer. Mas eu não consigo.
Tento fazer meus pensamentos falarem por mim.
Ou talvez meus olhos.
Ou algum vazio do meu corpo
isso significa algo para alguém.
Sou.
Ainda.
Tento não distrair meu olhar para que algum olho
fique em cima de mim.
E então entenda.
Procuro alguém que compartilhe minha culpa.
Vamos ser parceiros culpados por um momento.
Não?
Ele não me vê. Continue.
Ele me olha como se quisesse me dizer algo.
Mas isso não acontece.
Eu também não.
2
Impossível reconstruir uma história. Não aqui.
3
Vocês são médicos?
Nesta folha, tenho um enigma.
O que parece ser, mas não é realmente?
Pensar
Aqui temos muito tempo.
Venha, Santiago.
Tenho que te dizer algo.
Só você, Santiago.
Eu sei qual era o problema.
Ela saiu.
Mas não pode estar aqui.
Isso é para os idosos.
Ela não pode sair. Eu não posso sair.
Você não tem que sair.
Mesmo se eu quiser. Essas são as regras.
Vamos seguir as regras?
Cre em Deus?
Dá-me fogo.
4
Eu me engano. Eu não consigo parar de me ouvir.
Não quando eu falo, não quando penso.
A maioria das pessoas não entende o tempo.
Eu sim. Eu entendo porque eu o direciono.
Eu escolho quando parar e quando não.
Uma vez decidi que o tempo não deveria passar. Ele representou todos.
Claro que ninguém percebeu.
Os homens pensam no tempo.
A ausência de tempo é o vazio de pensamento.
Pense nisso. É interessante.
Um dia, minha filha entrou pela porta da minha casa como uma pessoa diferente.
Eles a haviam mudado. Eles a transformaram em outra pessoa.
Em alguém mau. Com apenas dez anos.
Você, a de cabelos compridos, será minha filha esta noite.
5
Ou esta manhã. A que horas estamos?
Eu já te concedo perdão
que vai demorar para me perguntar.
6
Se você olhar para aquela faca
ainda posso sentir a melodia
que ele deixou escapar quando perfurou meu sangue.
Uma melodia triste
misturado com um nome
de sabor alegre.
Você não sente isso.
Quase.
Alegria,
o abraço sutil do abandono.
E logo,
o último suspiro.
O perdão final.
O adeus.
Quando acordei, alguém estava ao meu lado.
Ele me pediu fogo.
Eu o encarei.
Se foi.
7
Só isso.
Não tenha medo.
Não tenha medo.
mais profundo,
8
Eu não quero cair nessa de novo.
Não outra vez.
Sim estou.
E sim, eu me vejo.
Alguém me vê.
Minha mente.
Que inútil
Que absurdo
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boa troca.
Essa nostalgia.
Que nada.
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porque quando me acaricio não posso me tocar.
Não tenho aderência material em nenhuma parte do meu corpo.
É uma sensação estranha sentir-se parte da miséria geral.
Tudo dói porque eu sou a dor.
Tudo me dói porque eu sou a ferida.
E eu sou invulnerável ao mesmo tempo.
Porque eu não sou nada. Apenas o que afirma ter forma
e você não consegue convencer seus limites de ficar por perto.
É isso.
Eu não tenho limites.
Nem corporalmente nem dos outros.
E eu sou capaz de tudo.
Eu também.
Alguém colocou essa faca na minha mão.
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É construído cedo.
Desde muito cedo.
É ensinado a adorá-lo.
Para amá-la como uma forma intempestiva de verdade.
Como uma inconsistência cara.
Eles vão ler livros sobre mim e pensar que me conhecem.
E eles me chamam de louco!
sim.
Fui eu quem mandou ele pegar a faca.
Não espere. Foi uma faca. Eu me lembro bem.
À Quanto tempo você esteve aqui? Você ouviu tudo que eu disse?
Eu não tenho a culpa. Eu queria isso. Eu disse que queria. Já sabe.
Agora, deixe-me. Acho que estou incubando algo diferente.
Uma nova culpa ou um rancor único.
Inesquecível.
Um rancor daqueles inesquecíveis.
Vá embora.
Me deixe em paz.
Me deixe sair!
Isto é divertido.
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Não tire seus olhos de mim
E não se atreva a cobrir meu rosto
Quero morrer um pouco com a história.
Eu sou mais velho como as peças do passado
presos na parede, eles vagam na frente dos meus olhos.
Olhos que sempre tenderão a ser outros.
Minha juventude está na casca dessas paredes.
Eu tenho pouco resto. Eu sei. Passar por. Continue.
Não se divirta mais comigo. Eu não sou nada novo.
Apenas mais um. Tão comum e tão triste quanto o resto.
Eu tentei voar. Existem grilhões que controlam minha loucura.
É o que eles dizem, eu acredito neles. Aqui não há escolha a não ser acreditar.
Ou desconfiar
e morrer tentando.
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Como uma besta
ignorante de sua malícia para o tempo do cativeiro.
Como uma besta
que quando ele sai sente impulsos renovados novamente,
impulsos primordiais para mudar tudo.
Ou para ser mudado.
Enquanto morria um pouco.
Enquanto isso mata um pouco.
Enquanto mal mata.
E então grite minha condenação eterna.
A condenação de ser preso
Entre esses tijolos de carne humana indiferente ao seu
decomposição.
E assim, deixo meus rastros de sangue de outras pessoas na laje
como um testemunho de amor à vida de outra pessoa.
Para a vida de outra pessoa.
Saia da banheira. Não sei. Não sei.
Sério.
Saia da banheira e ...
Eu esqueci.
Uma imagem desaparecendo da minha memória.
Algo cai.
Algo rola.
Talvez seja eu.
Já disse que está tudo escuro aqui.
Algo me impede.
Sou eu.
Uma dor.
Uma ferida abrindo
entre as curvas da minha inocência.
Talvez na cabeça.
Isso.
Uma faca.
Uma mao.
De quem?
A minha.
Não entendo.
Eu esperava outra coisa.
Não Isto.
A minha.
Era eu.
O tempo todo eu estava.
Uma carta de amor carnal
escrito com sangue na banheira.
Eu não queria que fosse assim.
E música.
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Não se esqueça da música.
Agora está um pouco mais claro?
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Apenas.
Tão só.
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