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Pseudônimo: Lincclay
Sinopse:
1
Se Álvaro de Campos retornasse
Nascesses de novo
Quero te ressuscitar
De máscara
Um poeta velho
2
E um dia Morfeu conheceu Orfeu
Os dois se entreolharam
Sonhava mais
Sem querer
morrer
3
Eu fiz amizade com a reticência
Na consciência...
E quando chegará o
[dia
[poesia
4
E se foi feliz não soube
Na felicidade
Que se perdeu em ti
E a parte minha
Que se perdeu em ti
5
Todos somos atos errados
Soa engraçado
Existir
6
Não mexi contigo
Meu bem
Sem gosto
Horas, tu choras?
7
E as vezes,
Em qualquer lugar.
Da cerveja.
As vezes,
Perder-se.
Encontrei-me.
Sou.
Devolvo-te
8
Quando eu estiver morto
Avisem-me de antemão
Chacoalhem o corpo
E se eu acordar
Façam questão
De me matar de novo
Existir é um ato
9
Sou órfão
De literatura
O são
A estes, a vida
Explica-me, ciência!
Decifra-me, ciência!
Tu explicas a poesia?
A resolução
Perdeu-se
Joguei longe
10
Sentido da vida
Ah se tu sentisse
Como sinto
Sofreria
Morreria de tanto
Que minto.
Quando amaste?
Nada, ou te afogas.
11
Peguei todas as minhas
Incertezas
Coloquei-as em
Um liquidificador
Ele gemeu
De dor
12
Vivi
Senti
E desliga as luzes...
Fecharem as cortinas
Houve um grito
Enfeavam-me
No fim, chorei
E fiz daquele
Ato
O último
De ser único.
13
Temática
Falemos dela
Quando perdi-a
Eu disse
Fosse homem
Ele entenderia?
Tua vida.
14
E esta noite eu chorei
E do que sou
Serei
De chorar
Sonhar.
15
O estômago vazio de tanto frio
Fome de pecado...
Hoje
Choveu de novo
Ou será que eu
16
Ah, descanses
Seja!
Chega de existencialismo.
Se as árvores são
Eu
Vir a ser
Serei amanhã
Serei
Depois de amanhã
Serei.
17
Despi-me frente ao espelho
Sobrou-me
Lembrei-me
À santa ignorância
Quebrei o queixo
Quando os males
E a chuva da cidade
Me enraiveci...
18
Que furta-os e mete-os
Culpe o receptáculo
19
Odeio o dia em que nasci
Amaria
Se todos os dias
Tratassem-me como se
14/01/22
Sem literatura...
A vida doura
Sem literatura?
20
Sou nada
Um nada lúcido
De ser nada
Chorei
Senti,
Por tudo,
Senti
Por tu,
Senti
Sou louco
Em completa lucidez
Falhei em tudo
Falhei em amar...
Em chorar...
21
Amei errado
Sentir
Senti profundamente
Sempre enganei-me
A mim próprio...
Inventei sentimentos
Inventei o inexistente
Farto da roda
Da câmera
Farto de mim...
Tira-me a vida...
Hoje chorei
22
Por conta de sua morte
Vivo
Chorei, ah,
Sobre 27/10/21
23
Eu, que nunca senti a dor da perda
Devagar
24
Na minha poesia
Tenho chuva
De verões e invernos
Sempre ao entardecer...
Necessito do som
Do silêncio
Estou à cacos
Um turbilhão de barulhos
Ruídos surdos
Tira-me os ouvidos
O som do silêncio...
25
Ah, sossega coração
26
O mais belo suicídio
O sol poente
Ao roxo-amarelo
Confirmou
Era Vênus
Lá embaixo.
Girassóis.
Oscilando
27
Ela levanta,
Ajeita as madeixas,
Nem ninguém
Ela sussurra
No fim, explodiu
Ela pulou.
O vento emudeceu-se
Em atitude de respeito.
Sentia
28
E a janela do choro abriu-se.
Mas o mundo
Já injusto
Pedia silêncio
29
Hahnemann Bacelar
Nesta cidade
Ninguém conhece
De tuas artes
E ele
Reconhece
Diz logo
Eu digo
30
E se tu fosses poeta
Tu irias crescer
Haicai
Só de se dizer: ai!
31
E no mundo há
Muitos poetas
Torrão de terra
32
Preâmbulo
De pelos brancos
Olhos azuis
Adianta tanto
sofrer
33
Amanhã
Amanhã
Conquistarei a humanidade
Amanhã
Viverei de verdade
Hoje não
Porque hoje
Hoje é domingo
Amanhã?
Amanhã...
34
As unhas carcomidas
Pensamentos quadrados
Um mundo arredondado
De sete lados
Moldado
Em simples dados
35
E os girassóis
Fica decretado
De tanta dor
Meus girassóis
Com vergonha
Se encobriram
De tanto frio
36
Não me deram a esperança
Encontrei literatura
A margem de um rio
Ato cândido
Deram de presente
A poesia
Comecei a escrever
E li em algum lugar
Nem tente
Netos só
37
Manaus, ouço teus gritos
De hipocrisia de poeta
Eu mesmo bebo
Pois me embebedo
Eu mesmo grito
38
Será que alguém grita também?
Alguém?
Eu gritei
Pois precisava
39
É preciso ter esperança
Ainda há flores
E do estômago vazio
Ressurgiram girassóis
No fim de tudo
Ela agarra
E ofusca
Seja estrela
Se todo o céu
Parar de brilhar
40
Eu, que com olhos
Tropeçava
É minha desvantagem
Morrer
41
E na sombra
Dancei só
Na lua
Pisei só
Se fui
Fui só
Se Deus viu
Oh, dó
42
Ainda é preciso cantar no escuro
Ainda é longe
É preciso ser
É preciso
Cuidado
Vá sem pressa
43
E no amazonas
Há elefantes
E em Manaus
Há elefantes
E na cidade
Faz calor
E na cidade há elefantes
Alguns melancólicos
E nessa temporada
Caçaremos elefantes
De cada um deles
44
Nunca toca-los
Caçaremos
Aceleramos o passo
Passo e repasso
O tempo
Na minha frente
Nunca vi um elefante
Na minha estante
Vi um elefante
No meu coração
Senti um elefante
E nesse instante
Somos eternos
Caçadores de elefante.
45
Que saudade do tempo
Quando os demônios
Sem ser
Existia
Ele era
Quando criança
Todos fomos
É ser criança
46
Agora sou ateu
Com Deus
Que o sente
De Deus
47
A vida depois dela
A mesma vida
E sorrio
48
Não mais finjo
Fingir sorrir
Nunca soube
Mas chorar
De sofrimento
Sempre coube
49
Onde estão meus versos
Deram-me os seus?
Tu leste o inverso?
Morri?
Nunca os vi
Quando eu morrer
50
Serei?
Quando eu morrer
Chorarei?
Não nascidos
Vão ressuscitar-me?
Deixe-me morrer
Quando eu morrer...
51
Por sonharmos
Éramos
Por acreditarmos
Existíamos
Hoje
Cansados de tudo
Ler é maçada
Em suma
52