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Nome da obra: Girassóis Viscerais

Pseudônimo: Lincclay

Sinopse:

1
Se Álvaro de Campos retornasse

Se tu, querido poeta

Nascesses de novo

Das mãos de um outro poeta

Tu que se tornaste imortal

Das mãos de um velho poeta

Pessoa te deste um presente

Algo que perdura muito mais que um instante

Ah, velho poeta

Tuas vestes, me empresta?

Teu ser, de onde veio esta?

Ah, velho poeta

Quero te ressuscitar

Não sei porque não te fizeram

De máscara

Um poeta de poemas eternos

Um poeta velho

De poemas tão novos...

2
E um dia Morfeu conheceu Orfeu

Os dois se entreolharam

E não souberam dizer

Qual dos dois

Sonhava mais

Sem querer

morrer

3
Eu fiz amizade com a reticência

Pois nunca soube falar

O que surge de dentro

Na consciência...

E quando chegará o

[dia

Em que tudo que sairá da minha boca será

[poesia

4
E se foi feliz não soube

Na felicidade

A consciência não coube

E desde quando tu enlaçou-me

Nos teus braços

Há uma parte de mim

Que se perdeu em ti

E a parte minha

Que se perdeu em ti

Ah, tu bem sabes

Ela anda sempre a sorri

5
Todos somos atos errados

Na arte de dizer quem somos

Começamos a duvidar de nossos próprios sonhos

A dizer quem nunca fomos

E se o sol nasce sereno

Não foi para ti nem para mim

Ele nem sabe que nasce

Se foi para alguém

Que bem tem?

Que mal há em nascer para alguém...

Soa engraçado

Existir

Que mal há em existir só depois de conhecer alguém?

Quem fui antes dela, nem sequer lembro

Quem sou depois dela, sorrio

E choro, quando relembro.

6
Não mexi contigo

Foram as palavras que remexeram a poesia que há em ti

Meu bem

Se elas te fizeram bem?

Que mal tem?

Se elas te fizeram mal

Não foi culpa de ninguém...

Serviram-me de um amor frio

Sem gosto

O calor tira todo o ar de sombrio...

Por que choras?

Não sabe as horas?

Oras, por que choras?

Horas, tu choras?

7
E as vezes,

Não há tanto motivo para se estar,

Mesmo que se esteja

Em qualquer lugar.

A certeza nasce da boca

Da cerveja.

As vezes,

Não há motivo para se encontrar,

E há tantos motivos para

Perder-se.

Eu, que nunca nem sequer

Encontrei-me.

Quem me dera um lugar

Que não fosse lugar,

Quem me dera um estar

Que não me fizesse dizer

Sou.

Nem me perguntasse quem sou.

Quem me dera um nada,

Que me fizesse íntimo do Nada.

Quem me dera uma rua...

Devolvo-te

Fiz desfeita da tua estrada

Não sei andar

8
Quando eu estiver morto

Avisem-me de antemão

Chacoalhem o corpo

Meu corpo morto

E se eu acordar

Façam questão

De me matar de novo

Existir nunca fora um hábito

Existir, gritar, grunhir

Existir é um ato

9
Sou órfão

De literatura

Talvez todos que aqui nasceram

O são

Talvez todos deste país são irmãos

Todos órfãos de literatura

A estes, a vida

Parece tão dura

Explica-me, ciência!

Tu que nunca nem explicaste o amor

Decifra-me, ciência!

Sou um enigma resguardado numa caixa vazia

Tu explicas a poesia?

Joguei a chave do cadeado...

A resolução

Perdeu-se

Joguei longe

Na esperança de ser monge...

10
Sentido da vida

É pra frente, não é?

Ah se tu sentisse

Como sinto

Sofreria

Morreria de tanto

Que minto.

E quem seria o louco

Em puro e pleno delírio

Que não iria encantar-se contigo

Minha flor de lírio?

Que te disse a poesia

Quando amaste?

Nada, ou te afogas.

11
Peguei todas as minhas

Incertezas

Coloquei-as em

Um liquidificador

Ele gemeu

De dor

Para mim foi tranquilizador

12
Vivi

Por simples questão de hábito

Senti

Quando dera por mim

Eu não era nem sequer

Um figurante de minha própria peça

Um zé-ai que liga

E desliga as luzes...

Que manda e desmanda

Fecharem as cortinas

Manda, mas quem me ouve?

Houve um grito

Pois há tempos que precisava gritar

Gritei com cada um dos protagonistas

Enfeavam-me

No fim, chorei

E fiz daquele

Ato

O último

Por uma mera questão

De ser único.

13
Temática

Não me fales de coisas que não me fazem a cor

Falemos dela

Que é toda minha cromática

Ela tornara as coisas mais findas

Tanto quanto lindas

Quando perdi-a

Eu disse

Dor, sejas bem-vinda!

Se Deus não fosse quem fosse

Fosse homem

Ele entenderia?

Apresentar-te-ei uma ideia

Uma nunca explorada

Tua vida.

14
E esta noite eu chorei

Talvez pelos sonhos que sonhei

Pela solidão que passei

Ou por tudo que não vivenciei

Esta manhã eu chorei

Por causa de como sou

E do que sou

Serei

Esta noite eu chorei

Por tudo que somos

Por tudo que nunca seremos

Por tudo aquilo...

Negaram-me o ato de sonhar

Restou-me o hábito de sonhar

De chorar

E esta noite eu chorei

Pelos sonhos que sonhei

Pelos que deixei de

Sonhar.

15
O estômago vazio de tanto frio

Fome de pecado...

Uma dor de não ter tentado...

Não há lugar que chova como aqui

E aqui, o céu nasceu em chuva

Na cidade da mãe dos deuses

Hoje

Choveu de novo

O dia nasceu em triste...

Ou será que eu é quem nasci assim

O céu aqui anda sentimental

Como anda o céu daí?

Ele chove como o daqui?

O céu nasceu em triste...

Ou será que eu

Que não nasci feliz...

16
Ah, descanses

Uma única vez

Seja, por amor de Deus!

Seja!

Chega de existencialismo.

Se as árvores são

Que me importa que eu não seja?

Eu

Que sempre sou um

Vir a ser

Serei amanhã

Porque hoje é domingo...

Mas amanhã é segunda...

Serei

Depois de amanhã

Serei.

17
Despi-me frente ao espelho

Sobrou-me

Uma imagem de criança

Lembrei-me

Dos tempos de criança...

Onde tudo era infância...

Quando existia por simples devoção

À santa ignorância

Chorei por não ser mais criança

Quebrei o queixo

Que saudades do tempo

Quando os males

Eram próprios do corpo

O gosto era mais gostoso

O cheiro, mais cheiroso

Os gatos, menos gatos

O rio, mais rio

E a chuva da cidade

Nunca nascia em triste

Ah, os tempos eram amarelos...

Me enraiveci...

Essa raiva trago dentro de mim

Quisera eu ter furtado o passado

Como o ladrão de livros

18
Que furta-os e mete-os

Por baixo da calça...

Se a alma que aqui jaz

Escreve mal, não a culpe

Culpe o receptáculo

Nunca fui um espetáculo

19
Odeio o dia em que nasci

Que vá para o inferno o dia que nasci

Amaria

Se todos os dias

Tratassem-me como se

Fosse o dia em que nasci

Mas negaram-me os dias em que não nasci...

14/01/22

Um poeta morreu hoje

E nessa cidade de almas

Sem literatura...

Ser poeta é ser eterno

É ser a única possibilidade

Que sempre dura...

A vida doura

Sem literatura?

20
Sou nada

Ou quase nem nada — sou

Um nada lúcido

De ser nada

Um nada que sabe ser nada

Ou será que sou?

Ah, quem dera ser nada.

Ficar na comiseração do Nada.

Chorei

Não chorei por nada

Senti,

Por tudo,

Senti

Por tu,

Senti

Sou louco

Em completa lucidez

Falhei em tudo

Pois nem sequer tentei falhar...

Falhei em amar...

Em chorar...

Fiz quem amei chorar

21
Amei errado

Não soube amar

Sentir

Senti profundamente

Sempre enganei-me

A mim próprio...

Tentando ser poeta

Inventei sentimentos

Inventei o inexistente

Inventei a minha própria metafísica

Estou farto de inventos

Farto da roda

Que tira-me os pés...

Da câmera

Que tira-me os olhos...

Farto de mim...

Tira-me a vida...

Hoje chorei

Pelo meu gato

22
Por conta de sua morte

(não, ele não está morto)

Chorei pelo que não aconteceu

E, nessas falsas sensações

Vivo

Chorei, ah,

Já repeti tanto o verbo

Chorei até por meu filho não nascido

Eu, que ainda sou filho não crescido

Eu, que não tenho vivido...

Sobre 27/10/21

Eu, que nunca chorei para parentes

23
Eu, que nunca senti a dor da perda

Eu, que nunca me fiz de enlutado

Eu, que chorar só choro por chorar

Eu, que diante de tudo não chorei por chorar

Eu, que chorei porque o mundo era injusto

E um jovem tirara sua própria vida

Eu, que chorei porque ele amava literatura

Eu, que chorei porque ele tirava boas fotografias

Eu, que chorei porque...

Eu, que nem sei porque chorei

Eu, que quando vi as lágrimas caíam...

Devagar

Quando senti, chorei por quem nunca conheci

Ah, por amor de Deus

Por amor dos deuses

Por que sofro pelos outros?

Por que sinto dores que não são minhas?

Por que o cinza ne faz tanto a cor?

Que os Demônios se vão para o céu

Que o inferno sempre foi meu...

24
Na minha poesia

Sinto falta da neve

Tenho chuva

De verões e invernos

Sempre ao entardecer...

Mas falta neve...

Necessito do som

Do silêncio

Estou à cacos

Um turbilhão de barulhos

Ruídos surdos

Tira-me os ouvidos

Que quero ouvir melhor

O som do silêncio...

25
Ah, sossega coração

Que te importa se não dura

Tu já olhaste uma flor

Que morrera no dia seguinte

E nem por isso

Tu deixaste de bater mais forte

Tu bateste na mesma intensidade

Que importa se não dura...

O que importa é durar enquanto dura...

26
O mais belo suicídio

Ela estirada sob o chão.

Rochas feito de leito.

Deitada a beira de um precipício.

Não haveria de haver cena mais desenhável.

Ele era um artista

O sol poente

A penumbra transitória do vermelho

Ao roxo-amarelo

Confirmou

Tudo aquilo era poesia

Poesia que incita a mais fútil das criaturas

A noite estrelada chegara.

A estrela da noite chegara.

Era Vênus

Ofuscava todas as outras estrelas

Não seus brilhos

Os olhos é quem começavam a ignorar

A luz de pequenos brilhos

Estrelas cultivadas no jardim do céu.

Lá embaixo.

Girassóis.

Oscilando

Feito bailarinas em harmonia com o vento.

27
Ela levanta,

Joga sua sapatilha,

Ajeita as madeixas,

Olha para trás e sorri.

Ninguém dissiparia uma certeza tão hedionda

Nem a brincadeira de bailar

Entre o vento e seu vestido roxo

Nem o vislumbre da noite

Nem o mais amarelo dos girassóis

Nem ninguém

Ela sussurra

O sussurro não atinge o artista por intermédio do ouvir

Ele o tocou, dançou com ele

No fim, explodiu

Como nasce uma estrela

Ele sentiu-se a beira de um precipício

Ela pulou.

Os girassóis já não eram mais tão amarelos.

O vento emudeceu-se

Em atitude de respeito.

Os girassóis não dançavam mais

O mar obrigou suas ondas se dissiparem

O artista, caído de joelhos, não entendia

Sentia

28
E a janela do choro abriu-se.

Ele se pergunta o porquê

Mas o mundo

Já injusto

Pedia silêncio

E nenhuma resposta daria.

29
Hahnemann Bacelar

E eu, que se pergunto teu nome

Nesta cidade

Ninguém conhece

De tuas artes

Todo o mundo desconhece

De teus quadros não se faz prece

Tu foste Van Gogh em algum lugar

Talvez por causa da cor da tua pele

Ninguém veio te olhar

Se pergunto a qualquer homem

Sobre quem foi tu

E ele

Reconhece

Diz logo

Um jovem artista que se matou

Eu digo

Pois ele foi muito mais

Ele foi muito mais do que a vida o tornou

30
E se tu fosses poeta

Em São Paulo ou Rio de Janeiro

Tu irias crescer

Sem precisar morrer

Haicai

Poesia que se faz

Só de se dizer: ai!

31
E no mundo há

Muitos poetas

Sem um pingo de poesia

Sou sonhar do mundo inteiro

Sem sequer um único

Torrão de terra

32
Preâmbulo

No deleite de sensações irreais

Moldou seus sonhos acidentais

E fez-se como sonâmbulo

De pelos brancos

Olhos azuis

Conceba a realidade dos fatos

Tudo isso é sobre gatos

Adianta tanto

sofrer

Sem nunca viver?

33
Amanhã

Tomarei as rédeas da vida

Amanhã

Conquistarei a humanidade

Terei, finalmente, uma finalidade

Amanhã

Viverei de verdade

Hoje não

Porque hoje

Você bem sabe

Hoje é domingo

Amanhã?

Amanhã...

34
As unhas carcomidas

Produto de uma ansiedade voraz

Pensamentos quadrados

Um mundo arredondado

Ideias geometricamente imperfeitas

Sonhos nascidos de ligeira agonia

Sonhos como triângulos perfeitos

Sonhos como pura poesia

Palavras eram um equilátero

De sete lados

Moldado

Em simples dados

35
E os girassóis

Que brotam em minhas vísceras

Não estão voltadas para o verde

Muito menos estão em minha janela

Ah, o mundo encobriu minha dor

O mundo fingiu ter somente amor

Fica decretado

Que a esperança só nasce do amor

E do meu estômago vazio

De tanta dor

Meus girassóis

Com vergonha

Se encobriram

De tanto frio

36
Não me deram a esperança

Não me deram poetas ilustres

Eu que não sei fazer soneto

Um poeta que não sabe rimar

Algo tão difícil quanto amar

Encontrei literatura

No fundo de um baú vazio

Escondido nessa cidade

A margem de um rio

Ato cândido

Deram de presente

A poesia

Comecei a escrever

E li em algum lugar

Nem tente

Ah, numa cidade sem literatura

A culpa não é de ninguém

Minha, sua, de todos

Numa cidade sem sonetos

Netos só

37
Manaus, ouço teus gritos

Perdoa o que te fizeram

Não te souberam cuidar

Não te souberam amar

E quem um dia amou

Luta fingindo que tentou

E quem um dia amou

Foge fingindo que amou

Mil desculpas, mãe dos deuses

Mas dessa taça

De hipocrisia de poeta

Eu mesmo bebo

Pois me embebedo

Para não ouvir teus lamentos

Eu mesmo grito

Com meus sofrimentos

Quem ouvirá o meu lamento

Na cidade dos lamentos?

38
Será que alguém grita também?

Será que não ouço tão bem?

Será que não grito tão bem?

Será que há na cidade

Alguém?

Eu gritei

Pois precisava

Não veio ninguém...

39
É preciso ter esperança

É preciso ser criança

Na cidade das dores

Ainda há flores

E do estômago vazio

Não nasceram sóis

Ressurgiram girassóis

No fim de tudo

Quando tudo acabar

Não deixe de amar

Cuidado com a angústia

Ela agarra

E ofusca

Seja estrela

Se todo o céu

Parar de brilhar

40
Eu, que com olhos

Tropeçava

Que cego via

Que sem ouvidos ouvia

Mais que cem ouvidos

Eu, que com meus defeitos

Fiz mais do que

Cem atos perfeitos

Eu, que minha vantagem

É minha desvantagem

Eu, que meu caminho

É não ter nenhum sequer

Morrer

Numa vala qualquer

41
E na sombra

Dancei só

Na lua

Pisei só

Se fui

Fui só

Se Deus viu

Oh, dó

42
Ainda é preciso cantar no escuro

Ainda é preciso encontrar caos na paz

Ainda é preciso tantas necessidades

Ainda é longe

É preciso dar luz a uma estrela

É preciso ser

É preciso

O tempo passa depressa

Cuidado

Vá sem pressa

Se não se acidenta, tropeça

43
E no amazonas

Há elefantes

E em Manaus

Há elefantes

Esgueirando-se em cada gota de chuva

Em cada gota de sol

E na cidade

Faz calor

Um sol para cada corpo

E na cidade há elefantes

Alguns melancólicos

E nessa temporada

Oh, minha amada

Caçaremos elefantes

Apressamo-nos contra eles

Vamos correr atrás

De cada um deles

Correr, correr depressa

44
Nunca toca-los

Mesmo que façam troça

Caçaremos

Aceleramos o passo

Passo e repasso

O tempo

Ah, somos grandes sonhadores

Sonhar com grandes dores

Nunca peguei nenhum elefante

Na minha frente

Nunca vi um elefante

Na minha estante

Vi um elefante

No meu coração

Senti um elefante

E nesse instante

Somos eternos

Caçadores de elefante.

45
Que saudade do tempo

Quando Deus existia

Que saudade do tempo

Quando os demônios

Não vinham de dentro

Que saudade do tempo

Quando tudo era poesia

Sem ser

Que saudade do tempo

Em que Deus simplesmente

Existia

Não existia verbo crer

Ele era

Nós também éramos

Quando criança

Todos fomos

E tudo que é passado

É ser criança

46
Agora sou ateu

Um ateu que brincou

Com Deus

Que fala com Deus

Que o sente

Mas logo mente

Que acredita e desacredita

Que mente e desmente

Que finge que é crente

Um poeta que dança com Deus

Um ateu que dançou com Deus

Blasfemo, sim blasfemo

Porque nunca estive tão perto

De Deus

E se vou fazer troça

Venha cá e bata minha porta

47
A vida depois dela

A vida depois dela

Parece mais finda

As cores mais coloridas

As dores mais doloridas

A vida mais linda

E eu, que antigamente era imortal

Sou finalmente mortal

E eu, que em ato antinatural

Tinha angústia existencial

A vida continua a mesma

Eu que amo mais as cores

Eu que amo até as dores

Eu que brinco de rimar

Com coisas repetidas

Eu que vivo a repetir

A mesma vida

E sorrio

Não mais choro

48
Não mais finjo

Fingir sorrir

Nunca soube

Mas chorar

A lágrima no meu fingimento

De sofrimento

Sempre coube

49
Onde estão meus versos

Deram-me versos não meus

Deram-me os seus?

Já tive sequer um verso?

Já fui sequer um universo?

Tu leste o inverso?

Onde estão meus versos?

Não sou original

Sou ninguém que roubou alguém

Onde estão meus versos?

Serão mais meus quando direi

Morri?

Onde escondi meus versos

Nunca os vi

Não sou original

Na poesia não fluí

Quando eu morrer

50
Serei?

Quando eu morrer

Chorarei?

Uma criança a de imitar-me?

Vocês todos, órfãos

Não nascidos

Vão ressuscitar-me?

Deixe-me morrer

Meus versos serão mais meus

Quando eu morrer...

51
Por sonharmos

Éramos

Por acreditarmos

Existíamos

Hoje

Cansados de tudo

Ler é maçada

Não cremos em nada

Em suma

Rebeldes sem causa

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