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LUA

ESCARLATE
ICARO TRINDADE

2ª Edição
Índice

Índice
Agradecimentos
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Copyright
Agradecimentos

Tudo começou com Lua Escarlate.

Foi o primeiro livro que eu escrevi e quando realmente percebi que o que eu escrevia cativava as
pessoas. Foi uma experiência única ver a história de Lucas conquistar tantos leitores e logo assinei
com uma editora, animado.

Queria vê-lo nas livrarias e nas estantes de todos meus leitores, como qualquer autor sonharia,
mas não foi bem assim que as coisas aconteceram...

Pouco tempo depois surgiu meu maior sucesso — Garoto à Venda — e tive o contato com a
produção independente. O sucesso foi absoluto e, surpreendeu-me muito, afinal, era um romance gay
editado, revisado, formatado e com capa feita pelo próprio autor. Nada de grandes investimentos,
além de muito amor e dedicação.

Depois veio o meu segundo livro publicado na Amazon, derivado do primeiro, e que também
conquistou bons resultados, enquanto meu primogênito permanecia esquecido na pequena loja virtual
da editora por meses.

Sentia que ele merecia ser lido assim como seus irmãos e então, rescendi o contrato. Mas, ao
reler o que havia escrito naquela época de muita imaturidade literária minha, percebi que não estava
bom o suficiente.

Por isso surgiu essa segunda edição que, além de ter capítulos adicionais, foi melhorada em sua
totalidade. Espero que a experiência de leitura desse livro possa te divertir e emocionar tanto quanto
foi para mim, enquanto revisitava Floresta Negra.

No mais, não poderia deixar de agradecer e dedicar esse livro a algumas pessoas que me
ajudaram muito nessa segunda edição:

Diego, meu marido lindo, que sempre me apoiou e incentivou.

Minha mãe Mirian, que é minha rainha e maior fã.

Escritor X, que além de um excelente amigo, me ajudou demais nessa segunda edição, com dicas,
sugestões e as ilustrações que estarão ao decorrer do livro.

Josiane Veiga, por sempre incentivar e torcer por meu sucesso.


Robson Gabriel, por ser um divo e sempre me ajudar a melhorar.

Marja, por estar sempre me ensinando coisas novas e pressionando-me para escrever e melhorar.

E claro, a todos os leitores e fãs que me acompanham desde a primeira edição.

Esse livro é para vocês!


Prólogo

Naquela trágica noite tive um sonho estranho.

Eu estava em meio a uma floresta escura e desconhecida. A Lua cheia acima de mim estava
enorme e tingida de um tom escarlate, colorindo boa parte das nuvens ao seu redor, formando um
cenário surreal e assustador.

Não sabia exatamente o que eu fazia ali, somente que queria deixar aquele local o quanto antes;
eu estava completamente tomado por uma sensação de perigo e mau presságio. Então, caminhei com
cuidado em meio a aquela floresta iluminada pela Lua, em busca de uma saída.

Árvores enormes me rodeavam, fazendo com que eu me sentisse constantemente observado por
alguma coisa entre seus galhos. Não conseguia ouvir nada além do som do vento uivando e o crepitar
das folhas amassadas sob meus pés enquanto andava.

Estava sozinho em um lugar escuro e completamente desconhecido, o que me deixava


completamente assustado.

Quando finalmente avistei a saída daquela floresta – uma estrada deserta – corri apressado, mas
antes que eu pudesse chegar até ela, fui surpreendido por um enorme lobo negro saltando diante de
mim.

Parei drasticamente no mesmo momento, petrificado de medo e ofegante pela corrida.

De onde ele havia surgido?

Nunca imaginei que lobos poderiam alcançar aquele tamanho. Mesmo em quatro patas, ele
conseguia alcançar a altura do meu peito e rosnava de maneira feroz e assustadora, deixando-me
ainda mais desesperado. Sentia que meu coração poderia saltar do peito a qualquer momento.

Seus pelos eram negros como a noite, e seus olhos de um tom escarlate, igual ao da Lua. Ele me
encarava atento, como que me analisando antes de tomar qualquer decisão.

Eu queria correr desesperadamente para longe, mas não me parecia uma ideia muito inteligente.
Provavelmente ele me alcançaria antes mesmo que eu pudesse perceber, então permaneci estático,
observando-o, na esperança de que se eu não fizesse movimentos bruscos, em algum momento a
criatura desistiria de mim.
O lobo continuou rosnando e deixando a mostra seus enormes dentes brancos e afiados, fazendo-
me tremer de medo e desespero. Uma mordida sua seria o suficiente para rasgar minha carne.

Alguns minutos se passaram enquanto estávamos ali, parados um diante do outro.

Enquanto eu estava paralisado e apenas observando-o calado, a criatura continuava rosnando


para mim, aparentemente analisando meus movimentos e pronto para atacar a qualquer sinal de vida
em meu corpo.

Para o meu azar, diferente do que eu torcia que acontecesse, o lobo não foi embora ou desistiu de
me atacar, o ser de pelos negros foi se aproximando lentamente de mim. Meu coração acelerou ainda
mais e eu sentia que podia cair a qualquer momento, por causa de um ataque cardíaco.

Tentei não demonstrar a quantidade de medo que sentia de sua aproximação, mas era praticamente
impossível.

Assim que o imponente lobo parou diante de mim e senti sua respiração quente chegar ao meu
pescoço, minhas pernas estremeceram e fui tomado pelo desespero.

Sentia que ele a qualquer momento iria me atacar, e então eu morreria. E foi exatamente o que
aconteceu, mas de uma forma ainda mais dolorosa.

Fui acordado do pesadelo por minha tia Andréia, que invadiu meu quarto chorando e
desesperada. Assim que a vi, corri para tentar acalmá-la, e ao abraça-la ouvi a pior notícia da minha
vida.

— Tia, — disse, com seu rosto molhado pelas lágrimas envolto em minhas mãos. – Tia, o que
aconteceu? Me responde!

Ela respirou profundamente e, em seguida, me disse aos prantos:

— É a sua mãe – sua voz entrecortada pelos soluços me deixou preocupado. — Ela sofreu um
acidente e não resistiu.

Instantaneamente fui tomado por uma dor aguda em meu peito e gritei o mais alto que podia, em
prantos.

Ela me contou que, naquela noite de muita chuva, minha mãe - que era enfermeira - havia saído
para trabalhar em seu turno no hospital, porém, não conseguiu chegar ao seu destino. Um caminhão
havia perdido o controle na pista escorregadia e atingiu seu carro com toda força.
Minha mãe estava morta, eu sentia que uma parte importante de mim também havia morrido
naquela noite. Definitivamente, a realidade conseguia ser mais cruel e assustadora do que o pior dos
pesadelos.
Capítulo 01

Observava o jardim de casa com saudades, através da janela de meu quarto.

Minha mãe adorava-o. Nos dias de folga, um de seus passatempos favoritos era cuidar e plantar
novas plantas em seus vasos de cerâmica, que ela comprava como se fosse uma viciada. Tínhamos
todos os tipos de plantas ali, desde rosas de todas as cores a chás que serviam para curar quase tudo
que se podia imaginar.

Ela simplesmente detestava remédios, dizia que faziam mais mal a saúde do que bem e só devia
ser considerado em casos extremos. Não entendia como havia escolhido trabalhar dentro de um
hospital. O único motivo só podia ser a sua grande necessidade de cuidar de todos.

Vivia preocupada com sua irmã, minha tia Andreia, que sofria de alcoolismo. Começou a beber
após passar por dois abortos espontâneos seguidos. Seu marido, Marcelo - que tanto minha mãe
quanto eu detestávamos - adorava jogar em sua cara o quanto ela era inútil ou jamais seria mãe. E
apesar de tudo, ela jamais o largou.

Foram anos de tratamento e acompanhamento até que ela finalmente conseguiu parar. Tudo jogado
fora em uma noite, afinal, naquele momento Tia Andreia estava bebendo tudo que surgia em sua
frente, no andar abaixo. Achava que de alguma forma todo aquele álcool iria diminuir seu
sofrimento.

Não a culpava, eu também estava sofrendo muito e queria encontrar uma forma de diminuir a dor.
Mas sabia que nada seria capaz de me proporcionar isso.

Como já dizia em um livro “Esse é o problema da dor. Ela precisa ser sentida”.

Era estranho pensar que nunca mais veria minha mãe novamente.

Éramos tão próximos, que muitas vezes eu deixava de sair com meus amigos para ficar com ela
em casa, assistindo a filmes policiais ou de investigação. Seus favoritos. E apesar de que éramos
inseparáveis, agora que ela havia se ido, todo o tempo que tivemos juntos parecia muito pouco.
Queria poder ter a abraçado mais.

Arrependia-me completamente de não ter dito que eu a amava, quando despediu-se de mim na
noite do acidente. Pois o “até depois” que havíamos trocado, jamais iria chegar.
Fui despertado de meus pensamentos com alguém batendo na porta.

Fingi não ouvir, não queria falar com ninguém, mas essa pessoa continuou batendo sem parar.
Levantei-me preparado para mandar ir embora, mas assim que abri a porta fui surpreendido.

— Pai? – perguntei, encarando-o surpreso. Fazia meses desde a última vez que havíamos nos
visto, e pelo que minha tia havia dito, ele não conseguiria chegar a tempo do velório.

Estava vestindo um terno preto e parecia ter ganhado um pouco de peso. Mesmo assim,
continuava sendo um dos coroas mais bonitos que eu conhecia, afinal sempre fora vaidoso. Minha
mãe sempre dizia que me parecia mais com ele, afinal eu tinha cabelos e olhos castanhos escuros
iguais os seus. Mas diferente dele que era robusto, sempre fui alto e magro.

— Oi Lucas – ele falou forçando um sorriso para mim.

Fiquei calado, sem saber o que dizer. Ele então me puxou para um abraço apertado, era bom tê-lo
por perto novamente, principalmente naquele momento.

Ele e minha mãe separaram-se quando eu era muito novo, então o via poucas vezes por ano, já
que morava numa cidadezinha a quase 5 horas de Porto Alegre e trabalhava muito. Ele era médico,
outro que fazia questão de cuidar de todos.

— Sinto muito, filho – ele falou com voz triste e me apertou forte mais uma vez, antes de me
soltar.

— Eu ainda não consigo acreditar, parece que é tudo uma grande pegadinha e que logo ela entrará
sorridente e rindo pela porta – comentei, sentindo as lágrimas ressurgirem com intensidade.

Ele me observou calado e segurando as suas, queria parecer forte para mim, mas no fundo, eu
sabia que ele nunca havia deixado de ama-la.

— Entenda que enquanto tivermos ela em nossas lembranças e coração, ela jamais morrerá –
falou, forçando um sorriso.

Concordei com a cabeça, secando as lágrimas.

— Eu não quero ir – falei, referindo-me ao velório.

— Você precisa Lucas, todos lá embaixo estão te esperando para irmos até a igreja e sua tia
precisa de você.

— Eu sei, mas... – disse e tampei meu rosto com as mãos, tentando manter a calma e não cair em
prantos novamente.

— Lucas... – meu pai pegou em meu braço, tentando me acalmar.

Voltei a olha-lo nos olhos.

— Eu não quero me despedir dela ou ver seu corpo sendo sepultado. O que aconteceu não é justo,
preferia que tivesse sido eu!

— Não fale besteiras! – ele gritou. — Claro que o que aconteceu não é justo Lucas, mas a vida
em geral não é justa para ninguém. Temos que aceitar que a morte uma hora chega para todos, e
infelizmente não podemos prever como e quando será. Eu também tive que me despedir de meus pais,
quando era mais jovem ainda que você e aqui estou, vivendo até que chegue minha vez. Você precisa
ser forte e fazer o mesmo, você sabe o quanto sua mãe te amava e odiaria que sua partida o
impedisse de viver.

— Eu sei, desculpa – falei entre lágrimas e meu pai apenas voltou a me abraçar.

— Lembre-se que apesar de tudo, você não está sozinho filho...

Permanecemos ali durante um tempo, até que senti que conseguiria descer e encarar a todos.
Acompanhei-o de perto.

A sala estava cheia de gente, alguns parentes e amigos de minha mãe. Cumprimentei alguns, que
retribuíram com condolências. Assim que vi Marcelo sozinho próximo à parede, fui até ele. Meu pai
não se distanciou de mim em nenhum momento e foi junto.

— Onde está minha tia? – perguntei e ele me encarou com desdém.

— Não sei.

— Tem certeza que não sabe? – insisti.

— Ah, deve estar em algum canto chorando bêbada.

— Você devia estar de olho nela – comentei irritado.

Não queria que minha tia fizesse alguma besteira, ela costumava ser imprevisível.

Também quero muito que vovó tivesse vindo, mas estava morando em Portugal e já estava
abalada o suficiente com a perda da filha. Não faria bem para sua saúde vir até o Brasil naquele
momento.
— Eu fiquei com ela o tempo todo garoto. O problema foi quando seu pai chegou e conversou
com ela. A maluca simplesmente saiu apressada e chorando.

— O que vocês conversaram? – perguntei ao meu pai, tentando manter a calma. Toda vez que
tinha que falar com Marcelo, sentia vontade de soca-lo. Não sabia porque ainda estava casado com
minha tia, se fazia questão de trata-la tão mal.

— Falamos sobre sua situação – meu pai respondeu receoso.

— Que situação?

— Você não pode ficar morando aqui sozinho, Lucas. Você ainda é um adolescente.

— Mas tia Andreia mora a meia quadra daqui.

— Esse não é o problema, Lucas... – meu pai fez uma pausa, como se escolhesse as palavras que
ia dizer.

— O que ele está querendo dizer é que sua tia é uma bêbada que mal pode tomar conta de si
mesma – Marcelo disse de forma sarcástica.

Encarei-o irritado e em seguida meu pai, que nada disse.

Seu silêncio confirmava que pensava o mesmo.

Sai dali apressado. Não importava o que falassem, eu sabia que minha tia se preocupava comigo.
E agora que minha mãe havia se ido, ela precisava de mim mais do que nunca. Não podia deixa-la
sozinha com seu marido desatável.

Procurei-a pela casa, mas como não a encontrei em lugar algum, sai pelos fundos até a sua. Não
queria ter que encarar o rosto de Marcelo novamente. A porta de sua casa estava aberta, e assim que
entrei ouvi seu choro vindo de cozinha.

— Tia? – chamei aproximando-me.

Ela estava agachada encostada à parede. Em sua mão tinha uma garrafa de licor.

— Não quero que você me veja assim, sai daqui Lucas – ela disse enrolado, tampando seu rosto.

— Para com isso, você sabe que estou aqui para te ajudar – falei, sentando-me ao seu lado – falei
e ela choramingou.

— Eu que devia estar te ajudando, seu pai tem razão. Eu não tenho capacidade para cuidar de
você.

— Ele está enganado, você esteve presente sempre que eu e minha mãe precisamos.

Ela ficou em silêncio e encarou a garrafa pela metade em sua mão.

— Era o mínimo que eu podia fazer, após tudo que vocês fizeram por mim, mas agora que ela se
foi não sei se terei forças.

— Você é forte tia, foi apenas uma recaída – disse pegando a garrafa de sua mão.

Houve relutância em me entregar, mas por fim ela soltou.

— Sua mãe se preocupava tanto com você e agora irá morar com seu pai – comentou olhando
para o nada.

— Eu ainda não decidi isso.

Ela riu em meios às lagrimas.

— Você não tem opção de escolha Luquinhas, você é menor de idade e agora sua guarda vai ficar
com seu pai. Queria poder te proteger como havia prometido a sua mãe, mas não tenho como, me
desculpa.

Fiquei calado e pensativo.

Não queria deixar Porto Alegre. Largar a casa em que morei com minha mãe, minha tia, escola e
amigos. Não era justo que em tão pouco tempo minha vida mudasse tanto.

— Tentarei conversar com meu pai, ele pode me emancipar.

— Duvido muito, mas se você tiver que ir para Floresta Negra, promete tomar cuidado? – minha
tia perguntou, fitando a garrafa ao meu lado.

— Do que está falando? – perguntei confuso.

— Apenas prometa Lucas, não posso perder você também.

— Claro que prometo tia, eu-

— Lucas? – a voz de meu pai surgiu, interrompendo-me.

— Estou aqui – gritei.

Assim que entrou na cozinha e viu minha tia ao meu lado, demonstrou preocupação.
— Você está bem Andreia? – perguntou a ela, que secou suas lágrimas.

— Estou ótima – falou, levantando-se com dificuldade – Mas já te aviso Lúcio, se eu souber que
Lucas não está bem em Floresta Negra, eu mesma vou busca-lo de volta.

— Você sabe que jamais faria mal algum ao meu filho. Irei cuidar dele com tanto amor e carinho
quanto Ângela fazia.

Minha tia ficou calada, mas continuou encarando-o nos olhos.

— Precisamos ir, os carros já estão prontos – meu pai anunciou, voltando a me olhar.

Balancei a cabeça positivamente, não teria como fugir dessa vez.

— Tudo bem, vamos lá – minha tia falou, sinalizando para eu devolver a garrafa a ela. Repreendi
com o olhar, levantando-me.

— Eu não quero ir no mesmo carro que o Marcelo – avisei logo.

— Você dois vem no meu, vamos lá.

***

A igreja estava cheia, como era de se esperar.

Minha mãe era adorada por muitos, então metade dos seus colegas de trabalho estavam ali.
Alguns amigos meus também compareceram, mas o clima estava tão pesado e triste que apenas
cumprimentei a distancia. Não queria falar com ninguém. Na verdade, não queria estar ali.

Sentei-me próximo ao altar, enquanto meu pai e tia cumprimentavam a todos. Ficava feliz que não
havia me forçado ao fazer o mesmo. Só queria que tudo aquilo terminasse logo, mas levaria mais
algum tempo até que o corpo de minha mãe chegasse.

As horas foram passando e quanto mais eu esperava, mais era tomado por impaciência e
ansiedade.

Quando finalmente alguns homens surgiram carregando o caixão até uma base no altar, senti meu
coração acelerar e vontade de fugir dali. Eu não queria vê-la naquele estado. Queria lembrar apenas
de como ela era feliz e empolgada com a vida.

Minha tia veio até mim e pegou em minha mão.

— O que está lá dentro é apenas uma casca Lucas, sua mãe deve estar em algum lugar melhor –
ela falou, tentando reconfortar-me.

Balancei a cabeça positivamente, torcendo que ela estivesse certa.

Assim que o caixão foi posicionado e aberto, aos poucos todos foram se aproximando para
despedir-se dela. Já eu e minha tia permanecemos ali sentados, sem pressa de levantar e ir até lá.
Logo meu pai juntou-se a nós.

Havia muito choro e tristeza no ar, e aquilo apenas me causava mais agonia.

Quando finalmente todos despediram-se de minha mãe, e faltava somente nós, senti vontade de
correr dali, mas tinha medo de no futuro me arrepender de não tê-la visto essa última vez.

Respirei fundo, juntando forças.

Meu pai levantou-se e me encarou nos olhos, apertando meu ombro.

— Você não está sozinho filho.

— Ele tem razão – minha tia concordou, também levantando e me puxou pelo braço.

Não disse nada e os acompanhei de perto até o caixão, em passos lentos.

Quando cheguei diante dele e enxerguei minha mãe lá dentro, vestida com seu vestido lilás
favorito, senti um vazio enorme em meu peito e fui tomado por lágrimas. Minha tia também caiu em
um choro profundo, enquanto meu pai continuava tentando parecer forte.

— Oh minha irmã, sentirei saudades – minha tia falou, pegando em seu braço.

Fiz o mesmo, mas cai em prantos ao sentir sua pele fria. Simplesmente não conseguia fazer nada
além de chorar e soluçar.

Permanecemos ali durante um bom tempo, observando-a pela última vez.

Ela era tão linda. Tinha cabelos ondulados em um tom castanho-claro, que contratavam
lindamente com sua pele alva e olhos cor de mel. Detestava quando meus colegas de escola ficavam
elogiando-a, mas era inegável sua beleza, que em breve seria sepultada.

— Quero ir embora – falei ao meu pai. – Não quero ver ela sendo enterrada, não vou aguentar.

Meu pai respirou fundo, pensativo e depois balançou a cabeça consentindo.

— Tudo bem, te levarei para casa e depois retorno.


— Obrigado.

Encarei minha tia, que apenas fez sinal para eu ir. Ela não abriria mão de ficar até o último
segundo perto de sua irmã.

Eu e meu pai saímos da igreja sem despedirmos de ninguém. Ele logo voltaria e eu não queria
explicar o motivo de ir embora a ninguém.

— Não quer comer algo antes de voltarmos? Sua tia disse que não come nada desde ontem – meu
pai perguntou, assim que entramos em seu carro.

— Estou sem fome – respondi, tentando me acalmar um pouco.

— Saúde é algo sério filho.

— Eu sei, juro que comerei algo, mas quero ir direto para casa, por favor – implorei.

— Tudo bem – falou, dando a partida.

Ficamos em silêncio o caminho todo e assim que chegamos em casa, desci do carro por primeiro
e segui apressado até meu quarto. Joguei-me sobre a cama, queria dormir até que a tristeza passasse,
mas sabia que ela continuaria comigo durante um bom tempo.

— Lucas – meu pai chamou, entrando. – Preciso falar com você antes que você descanse.

— Pode falar – disse, sentando-me de frente para ele, prevendo o assunto.

— Precisamos começar a planejar sua mudança para Floresta Negra – anunciou.

— Desculpa, mas eu não quero ir pai. Tenho minha tia aqui, escola e amigos. Não quero abrir
mão de tudo isso também! – contestei.

— Eu sei que é difícil filho, mas você não tem como ficar sozinho aqui ou morando com sua tia.
Você sabe que ela está em uma situação complicado, e jamais permitiria você morando com aquele
homem – falou, sentando-se diante de mim.

Peguei um travesseiro atrás de mim e tampei o meu rosto, simplesmente queria desaparecer.
Sabia o quanto meu pai sempre desejou minha guarda. Sempre que chegavam as férias da escola,
insistia que eu fosse ficar com ele, mas minha mãe nunca deixou, dizendo que por ele trabalhar muito
eu ficaria sozinho. Então, ele que sempre vinha me visitar quando tinha folgas ou férias.

— Essa mudança será uma chance de você recomeçar. Você sabe o quanto sua mãe ficaria triste
em te ver assim. Às vezes mudanças são necessárias para conseguirmos seguir em frente com nossas
vidas – ele falou, tirando o travesseiro do meu rosto.

Fiquei em silêncio, pensativo.

— Talvez seja melhor me afastar de tudo isso durante um tempo mesmo – comentei, percebendo
que se ficasse ali seria mais difícil lidar com a perda de minha mãe, pois tudo na casa e vizinhança
me fariam lembrar dela.

— Sei que sempre estive distante, mas me preocupo e amo você Lucas.

— Eu sei pai, e também te amo. Na verdade, não sei o que faria se não tivesse você e minha tia,
tudo isso está sendo um pesadelo sem fim.

— Logo as coisas se tornarão mais fáceis, prometo. E você é forte, é de família – comentou
apertando meu braço.

— E quando iremos? – perguntei, observando tudo ao redor.

Sentiria falta dos pôsteres nas paredes, minha estante de livros e minha bagunça pessoal. Nada no
mundo dizia tanto sobre mim quando aquele quarto.

— Dentro de uma semana, consegui esse tempo de folga no hospital para resolver tudo antes de
irmos. Tem muita coisa legal envolvida, mas já consegui conversar com o advogado de sua mãe. Esse
tempo também será bom para você conseguir despedir-se de todos seus amigos.

— Tudo bem, me prepararei para essa mudança – disse decidido.

Minha mãe havia se ido, mas meu pai tinha razão. Precisava continuar vivendo minha vida, e
tinha certeza de que era isso que ela gostaria que eu fizesse. Não seria fácil, mas daria o meu melhor
para seguir em frente.
Capítulo 02

Os dias foram passando lentamente, e sentia cada vez mais saudades de minha mãe.

Queria que todo aquele sofrimento diminuísse o quanto antes. Todos os dias, quando eu acordava
e lembrava o que havia acontecido, caia em choro no mesmo instante e permanecia trancado em meu
quarto o tempo todo. Não queria falar ou ver ninguém, e isso deixava meu pai completamente
preocupado. Saia apenas para comer quando sentia fome.

Quando finalmente chegou o dia da viagem, fui despertado cedo por ele batendo em minha porta.
Queria fingir não ter ouvido para dormir mais, mas era impossível com tamanho barulho.

— Acorda Lucas, precisamos estar prontos até meio dia, é necessário que eu chegue em Floresta
Negra antes de anoitecer – ele anunciou do outro lado, impaciente.

Levantei num pulo, lembrando que não havia feito nenhuma mala ainda.

— Já estou levantando e já desço!

Fui direto para o banheiro, onde tomei um breve banho de água fria. Precisava mudar a forma
como eu estava lidando com tudo, pois sabia que para meu pai também não estava sendo nada fácil.
Havia perdido a mulher que amava e agora estava prestes a viver com seu filho de 17 anos, que
costumava ver apenas três vezes por ano. Eu precisava ser tão forte quanto ele e fazer dar certo.

Com tia Andreia instável e vovó na Europa, agora só tínhamos um ao outro.

Assim que comecei guardar minhas roupas nas malas, reservei espaço para alguns dos meus
livros e CD’s favoritos, além da coisa mais importante a ser levada. Então, quando estava quase
pronto, sai do meu quarto e fui até o da minha mãe.

Assim que entrei, imediatamente senti cheiro de velas. Sabia que minha adorava e tinha várias
aromáticas, mas era como se alguém havia acabado de acender algumas ali dentro e que
definitivamente não eram tão cheirosas.

Ignorei aquilo, não era por aquele motivo que estava ali.

Então respirando fundo e tentando ser forte, fui até a última gaveta do guarda roupa. Era onde ela
guardava nossos álbuns de fotos. Assim que os encontrei, abracei-os forte contra meu corpo, como se
fossem a coisa mais preciosa do mundo, e de fato, para mim eram.

Voltei para meu quarto e guardei em uma das malas sem abri-los, sabia que se fizesse, não pararia
de chorar por um bom tempo. Quando finalmente estava tudo pronto, carreguei as malas com certa
dificuldade até o andar de baixo. Estavam bem pesadas.

Deixei tudo próximo à porta da casa e segui até a cozinha, de onde eu conseguia ouvir as vozes de
meu pai e tia. Entrei e imediatamente Andreia veio me abraçar.

Inevitavelmente estava cheirando a bebidas alcoólicas.

— Sentirei muito sua falta, Luquinhas – ela falou, começando a chorar.

Meu pai observava tudo sentado à mesa, enquanto tomava café.

— Eu também tia, mas assim como você me pediu no dia do enterro, também quero que me
prometa que irá cuidar de si mesma. Não quero te ver definhando – falei, também caindo em choro.
Preocupava-me demais com ela, e sabia que seu marido horrível não levantaria um dedo para ajudar.

Ela colocou suas mãos em meu rosto e encostou nossas testas, ficando calada e pensativa durante
um bom tempo. Eu sabia que só meu pedido não era o suficiente para fazê-la parar, mas não podia
deixar de fazê-lo. Minha tia merecia ser feliz e todo aquele álcool que ela estava consumindo,
somente ia leva-la para a fossa.

— Eu farei meu melhor para não decepcionar você e sua mãe – ela falou decidida e eu abracei-a
forte.

— Obrigado.

Sentiria muito sua falta, mas infelizmente não havia como eu ficar. Então aproveitei cada minuto
que tinha com ela para despedir-me, torcendo que ela ficasse bem.

***

O restante da manhã foi usado para ajeitarmos os últimos detalhes da viagem, e assim que deu
meio dia e já havíamos almoçado, partimos no carro de meu pai em direção à Floresta Negra. Agora
não havia mais volta.

Havíamos decido não fazer pausas durante o caminho e quase cinco horas de viagem depois, já
estávamos passando por uma discreta placa que anunciava “Bem vindo à Floresta Negra”. Chovia
muito, então meu pai dirigia com todo o cuidado. Após o que havia acontecido com minha mãe, todo
cuidado era pouco.

— Quantos habitantes a cidade tem? – perguntei, percebendo que sabia muito pouco.

— Em torno de cinco mil – respondeu sem tirar os olhos da estrada.

— Menor do que eu imaginava.

— Sim, Floresta Negra é pequena e maior parte dela é formado por florestas, como deve ter
imaginado pelo nome. Mas apesar de tudo, é uma ótima cidade para viver, pelo menos na maior parte
do tempo.

— Com tão pouca gente assim, todos devem se conhecer.

— Infelizmente – meu pai comentou pensativo.

— Por que diz isso? – questionei confuso, enquanto tentava enxergar a paisagem pela janela do
carro. A chuva havia embaçado o vidro, e também estava escuro lá fora, mas fui capaz de ver que
realmente as laterais da estrada eram compostas por florestas de enormes árvores.

— Esquece – ele desconversou.

Encarei-o desconfiado e percebi que mordia seu lábio inferior, algo que de acordo com minha
mãe, ele costumava fazer quando estava nervoso.

— Conta logo pai, você sabe que sou curioso – insisti.

— Outra hora conversamos sobre isso Lucas, preciso me concentrar na estrada agora – falou,
encerrando a conversa.

Cruzei meus braços, inconformado.

Detestava não saber de algo.

Permanecemos calados o restante do caminho, e após cerca de meia hora chegamos à casa de meu
pai. Ela era de dois andares, mas não tão grande. Pintada em um azul claro, tinha um pequeno jardim
na parte da frente bem cuidado, protegido por cercas-vivas baixas.

Na verdade, o bairro todo parecia bem calmo. Não havia visto nenhuma casa com muros ou
grades altas, dando-me a entender que não deviam ter problemas com ladrões por ali. Pelo menos
com isso não precisaria me preocupar.

Meu pai entrou com o carro na garagem, e assim que desligou, descemos para pegar as minhas
malas. Ele fez questão de carregar as mais pesadas para mim. Percebi que havia uma bicicleta
vermelha ali, adorava pedalar.

— Vamos levar até seu novo quarto – falou entrando na casa e eu o segui de perto.

Passamos primeiro pela cozinha, que não era muito grande, mas era bem organizada e toda
mobiliada na cor branca e prata. Em seguida, passamos pela sala, que era bem ampla e decorada com
móveis muito bonitos. Tinha uma estante cheia de dvds e pequenas estatuetas encostada a parede,
uma TV de plasma enorme sobre um hack e dois sofás de cor vinho próximos a mesa de centro de
vidro. Havia ainda uma enorme janela, que dava vista para o jardim lateral, que estava bem
iluminado por pequenas luminárias.

Da sala pegamos caminho por uma escada, que tinha diversas fotos emolduradas penduradas a
parede. Maior parte minhas e de minha mãe, algumas nunca havia visto. Subimos até o segundo
andar.

Lá, havia um corredor com duas portas de cada lado. Meu pai sinalizou para acompanha-lo até a
primeira a direita e assim entrei, fui surpreendido.

Era um quarto espaçoso e tinha até cama de casal para mim, mas nada chamou mais minha
atenção que a estante cheia de livros encostada a parede, ao lado de uma janela que dava para o
outro jardim lateral. Larguei as malas no chão e corri até ela, fiquei ainda mais surpreso ao ver que
somente tinha título ali que eu amava ou tinha muita vontade de ler.

— Já fazia um tempo que estava montando essa estante, para quando sua mãe permitisse você
passar um tempo comigo. Como sei que você ama ler, fui selecionando os títulos de acordo com o
que você postava nas suas redes sociais, espero que tenha gostado – meu pai explicou, também
soltando as malas no chão.

— Eu amei – me aproximei e o abracei. – Obrigado pai!

Sem dúvidas, ele faria de tudo para me ajudar a superar a perda de minha mãe, e estava se
esforçando ao máximo para me agradar. Agora que éramos só nós dois, precisava fazer o mesmo.
Queria ser um bom filho para ele.

Quando me soltei dele, voltei a olhar melhor o quarto e só então percebi que na parede ao lado da
porta havia uma escrivaninha, com um lindo notebook sobre ela. Logo ao lado estava o guarda roupa,
e ao lado de minha cama havia uma porta, possivelmente para um banheiro.

— Está perfeito, adorei – falei sorrindo para ele.


Ele sorriu de volta, satisfeito.

— Fico contente que tenha gostado. Meu quarto fica na porta da frente, ao lado dele é um
banheiro e no lado do seu é um quarto de hospedes — explicou apontando as direções. — Agora
descanse um pouco, a viagem foi longa e cansativa. Precisarei resolver algumas coisas no hospital,
não pretendo demorar muito, mas se sentir fome, peça uma pizza ou algo assim – falou entregando-me
dinheiro de sua carteira, e eu consenti com a cabeça. – E ah, amanhã precisamos ir até a escola da
cidade, fazer sua transferência para cá. Quantos menos dias de aula você perder, melhor.

— Mas já? – perguntei, desanimado.

— Sim Lucas. Sei que será difícil para você voltar a estudar após o que houve, e ainda por cima
numa escola nova, mas é seu último ano e só faz um mês desde o início dos meses letivos. Será
péssimo se você atrasar.

— Você tem razão – concordei.

— Que bom que entende — falou, apertando meu ombro. — Enfim, deixa eu ir lá. Por favor, fique
a vontade, agora essa casa também é sua – meu pai falou e saiu do quarto em seguida.

Joguei-me sobre a cama e respirei fundo.

Precisava ter forças para enfrentar uma nova escola naquele momento e ainda por cima sem meus
amigos, mas daria meu melhor. Eu realmente queria tornar Floresta Negra meu novo lar.

Decidi tomar um banho, então após pegar roupas limpas em uma de minhas malas, segui até o
banheiro. Não era muito grande, mas só pelo fato de eu continuar tendo um só meu, era perfeito. Tirei
minhas roupas e joguei no canto.

Entrei no box e liguei o chuveiro.

Deixei a água molhar meu corpo e fechei meus olhos, aproveitando a sensação. Queria que aquilo
fosse capaz de me limpar por dentro também, levando toda a tristeza e coisas ruins que eu estava
sentindo. Mas apesar de tudo, estava determinado em tentar seguir minha vida normalmente, sem
ficar lamentando-me pela perda da minha mãe o tempo todo. Precisava aproveitar o que Floresta
Negra tinha a me oferecer, nessa nova fase da minha vida.

Fiquei um bom tempo ali no banho; sempre fora meu momento favorito para pensar na vida e
dessa vez tinha muito o que pensar. Esperava conseguir me adaptar a tantas mudanças.

Quando desliguei o chuveiro e sai do box, já sentia-me melhor, mas ainda muito cansado. Então,
após me secar e vestir as roupas limpas, segui até o quarto e me joguei sobre a cama.

Queria dormir um pouco e poucos minutos depois adormeci.

Tive um sonho estranho. No começo, estava lindo, eu e minha mãe estávamos conversando
animados, enquanto tomávamos nosso café da manhã. Ela havia acabado de chegar de seu turno no
hospital, e eu logo sairia para a escola. Mesmo cansada, ela sempre ficava aquele tempo comigo
antes de ir descansar. Ela sempre tinha histórias interessantes sobre o que havia acontecido em seu
trabalho para me contar.

Mas logo o sonho foi se modificando e tornou-se um pesadelo.

Minha mãe sumiu, deixando-me sozinho ali e tudo ao meu redor começou a tremer, como em um
terremoto. Fiquei assustado, enquanto via os quadros da parede caindo e se despedaçando no chão,
as paredes rachando e a casa toda desmoronando aos poucos. Tentei fugir, mas balançava muito e mal
conseguia manter-me em pé. Não entendi o que estava acontecendo direito, e quando ouvi um barulho
alto e olhei para cima, vi uma parte do teto caindo sobre mim. Acordei imediatamente, ofegante e
todo suado.

Respirei fundo tentando me acalmar. Era como se o sonho tivesse me mostrado tudo que havia
perdido nos últimos dias. Tentei não chorar, mas era quase impossível.

Como meu coração ainda estava muito acelerado, decidi descer até a cozinha e buscar um pouco
de água. Pelo relógio do meu celular, já eram duas da manhã, não queria acordar meu pai e preocupa-
lo.

Desci as escadas a passos lentos e evitando fazer barulho. Assim que cheguei à cozinha, tateei a
parede até encontrar o interruptor e liguei a luz. Fui direto até a geladeira, e antes de abri-la percebi
que havia um adesivo com calendário lunar na porta.

De acordo com ele, era noite de lua cheia.

Fiquei surpreso em meu pai se interessar por aquilo. Só me perguntava agora se era de
astronomia ou astrologia que ele gostava.

Na geladeira encontrei uma jarra de água gelada, peguei e após procurar por um copo nos
armários, me servi. Tomei lentamente, enquanto me acalmava, mas logo ouvi um barulho estranho
vindo de fora de casa, era como se algo pesado tivesse caído.

Assustei-me e soltei o copo sobre a pia.


Tentei ver se enxergava algo pela janela da cozinha, mas aparentemente não havia nada na frente
da casa. Segui com medo até a sala e olhei pela enorme janela, mas também não vi nada ali.

Ouvi novamente um barulho e subi as escadas correndo até o quarto de meu pai. Bati na porta
energicamente, mas não obtive resposta deixando-me mais nervoso. Girei então a maçaneta e a porta
se abriu, mas assim que entrei e liguei a luz, constatei que não havia ninguém ali.

Ele ainda não havia chegado.

Dei um pulo ao ouvir uma espécie de rosnado alto vindo lá de fora, aproximei-me da janela do
quarto e avistei no jardim algo que fez minhas pernas estremecerem. Lá embaixo estava um enorme
lobo negro igual ao de meu sonho, encarando-me com seus olhos vermelhos cintilantes. Fui tomado
por pânico.

Corri até meu quarto em busca de meu celular.

Assim que o peguei sobre minha cama, tentei o mais rápido possível ligar para meu pai. Meu
coração quase saltava do peito, não podia acreditar que aquilo estava acontecendo, não fazia nenhum
sentido.

Antes de eu conseguir terminar de discar o número, senti a respiração de algo atrás de mim, virei-
me imediatamente e dei de caro com o lobo negro na porta do meu quarto. Ele havia entrado na casa
silenciosamente.

Gritei ao ver seus enormes dentes afiados e deixei o celular cair.

Ele voltou a rosnar ferozmente, enquanto aproximando-se de mim lentamente. Eu fui dando passos
para trás assustado.

— Por favor, não me ataque! Por favor, por favor – implorava repetidamente em prantos.

Quando senti minhas costas batendo na estante, e não havia como me distanciar ou fugir dele, fui
tomado por desespero.

Aquele era o meu fim.


Capítulo 03

Senti a respiração quente do enorme lobo em meu rosto, seu feroz rosnado anunciava que estava
pronto para me atacar. Fui tomado por pânico e de repente, minha visão foi escurecendo e perdi o
equilíbrio de meu corpo.

Cai lentamente sobre o chão e desmaiei um pouco depois de ver suas patas.

E então só havia escuridão em todo lugar, não conseguia enxergar nada. Mas aos poucos ela foi se
desvanecendo, e dando lugar a uma luz. Luz essa que entreva pela janela do meu quarto. Sentei num
impulso, e só então percebi que estava na minha cama.

Como aquilo era possível? Eu lembrava-me de tudo! De ter acordado durante a madrugada, ido à
cozinha e depois ao quarto de meu pai e o enorme lobo entrando na casa. Como havia chegado até
minha cama após desmaiar?

Levantei num pulo, e fui correndo atrás de meu pai. Ao verificar que ele não estava em seu
quarto, desci até o andar de baixo chamando-o pelo nome. Foi quando ele surgiu da cozinha,
carregando uma xicara em sua mão e confuso.

— O que foi menino? Que agitação toda é essa? – perguntou, tomando um gole de seu café logo
em seguida.

— Você está bem? – questionei, aproximando-me dele e verificando se havia alguma ferida em
seu corpo, porém obviamente não havia nada. Se ele tivesse visto aquele lobo negro, não estaria tão
calmo.

— Claro que estou! Por que não estaria?

Eu havia sonhado tudo aquilo? Não podia ser, tudo havia sido tão real e intenso.

— Pai, você voltou muito tarde ontem? – perguntei, lembrando-me que não estava em seu quarto.
Precisava entender o que havia acontecido na noite anterior.

— Sim, demorei mais do que imaginei no hospital, pois surgiu uma paciente que havia sofrido um
acidente e precisavam de mim na sala de cirurgia. Cheguei em casa por volto das 3h da manhã, até
mesmo passei em seu quarto, mas obviamente você estava dormindo. Aconteceu alguma coisa? –
perguntou desconfiado.
— Não! – respondi imediatamente. Claramente ele não acreditaria se eu contasse o que vi e não
queria que pensasse que eu estava ficando louco. Após perder minha mãe, provavelmente ia dizer
que tudo não passava de criação da minha cabeça, e talvez fosse isso mesmo. Ele me encarou
demonstrando não acreditar em minha resposta. – Só tive um pesadelo estranho, por isso perguntei –
completei.

— Entendi, mas não se preocupe Lucas, prometo que nada de ruim irá acontecer conosco
novamente! – falou bagunçando meu cabelo carinhosamente.

— Eu sei...

— Esqueça um pouco esse pesadelo, e venha tomar seu café. Precisamos sair daqui a pouco, já
agendei um horário com o diretor da escola.

— Tá bom - concordei com a cabeça e o segui até a cozinha.

Se aquilo tudo havia sido apenas um sonho, já era a segunda vez que sonhava com aquele lobo
negro. E esse último havia sido ainda mais real que o primeiro. Precisava controlar meus
pensamentos, se quisesse parar de ter pesadelos estranhos.

Quando entrei na cozinha, sentei-me à mesa com meu pai, já que havia tigela e xícara postas para
mim. Servi meu café, e em seguida um pouco de cereal com leite. Para minha sorte, meu pai gostava
da mesma marca que eu.

Assim que comecei a comer, mecanicamente olhei para a pia da cozinha, e não pude acreditar no
que vi. Lá estava um copo de água pela metade, na verdade, o mesmo copo que eu havia usado
durante a madrugada. Eu tinha certeza!

Definitivamente aquilo não era coincidência, eu havia estado mesmo na cozinha e isso significava
que todo o resto também aconteceu, não havia sido um sonho. Mas se eu havia desmaiado diante do
lobo, como havia chegado a minha cama, antes mesmo de meu pai retornar para casa?

Tudo aquilo não fazia sentido.

Por que aquele lobo negro estava atrás de mim? Primeiro apareceu em meu sonho, agora de
verdade e apesar de tudo, sem me atacar ou machucar. O que ele queria comigo afinal? Eram tantas
perguntas, que logo senti minha cabeça doer.

Meu pai me observava atentamente, e decidi continuar tomando meu café sem falar nada, pelo até
que eu entendesse melhor o que estava acontecendo. Alguma coisa me dizia que era péssima ideia
contar tudo a ele.

— No que está pensando? Está muito calado – questionou, enquanto bebia seu café, mas sem
desviar seu olhar de mim.

— Nada demais, apenas nessa nova escola – inventei uma desculpa e ele pareceu acreditar.

— Não se preocupe com isso, você é inteligente filho, e a cidade tem ótimos jovens, tenho
certeza que fará novos amigos bem rápido.

— Espero que sim – forcei um sorriso.

Assim que terminamos nosso café, subi para meu quarto, precisava trocar de roupa.

Queria entender o que estava acontecendo, mas não queria preocupar meu pai até descobrir algo
concreto. Ninguém ia acreditar que o lobo negro de meus sonhos estava me perseguindo, então
precisava agir normalmente por enquanto.

Escolhi para vestir uma calça jeans escura e apertada, uma camisa branca de mangas longas, já
que fazia um pouco de frio devido o clima chuvoso, e um All Star azul. Após estar completamente
vestido, baguncei um pouco meu cabelo e desci novamente para encontrar meu pai.

Quando cheguei à cozinha, ele ainda estava lá, lendo seu jornal. Assim que me viu, o dobrou e
deixou sobre a mesma, pegando a chave de seu carro que estava pendurada num gancho na parede.

— Vamos lá – falou, sinalizando para acompanha-lo. Ele estava com uma pasta de documentos
em mãos, provavelmente meus.

Assim que entramos no carro e abriu a garagem, logo deu a partida em direção ao colégio.

Meu pai aproveitou a viagem para me explicar que aquela era a única escola da cidade, e como
havia muitos alunos, talvez não fosse tão fácil convencer o diretor a me ceder uma vaga, já que fazia
mais de um mês desde que as aulas haviam começado, mas que faria o necessário para convencê-lo.

Também falou que provavelmente eu não teria muitos problemas para me adaptar, pois devido
minha antiga escola ser particular, eu devia estar com conteúdo mais avançado que eles. Torcia que
estivesse certo.

Não estava mais chovendo na cidade, mas o clima continuava fechado e com um pouco de
neblina, principalmente nas florestas em torno da estrada que estávamos pegando. Mas pelo caminho
que havíamos passado, pude perceber que a cidade parecia calma e acolhedora.
Foram cerca de trinta minutos de carro, até que chegamos à escola.

Era um prédio antigo grande, mas bem cuidado. Logo na fachada, tinha um letreiro bem grande
anunciando “Escola Municipal Floresta Negra”. Meu pai estacionou logo ao lado, onde havia um
pequeno estacionamento ao ar livre, cheio de carros.

— Vem – ele falou, descendo do carro com a pasta de documentos.

Também sai e o acompanhei de perto.

Entramos no prédio por uma porta que dava num tipo de recepção, mas que estava vazia e então
meu pai indicou o caminho que deveríamos seguir. Nas paredes havia diversos murais com trabalhos
e fotos, além de alguns armários de vidro expondo troféus.

Pelo barulho, todos estavam tendo aula naquele momento.

— Tenho certeza que você irá gostar daqui – meu pai comentou, percebendo meu nervosismo.

Abri um sorriso para ele, demonstrando que faria meu melhor para me adaptar.

— Não sabia que havia campeonatos de esportes por aqui. Não é a única escola da cidade? –
perguntei.

— A maioria acontece nas cidades nas cidades vizinhas, mas os alunos daqui são ótimos; o time
de futebol da escola, por exemplo, é o atual campeão regional.

— Entendi.

Quando chegamos diante de uma porta dupla de madeira, meu pai sinalizou que era ali e bateu na
porta. Não demorou muito, e surgiu de dentro um senhor grisalho e baixinho bem simpático.

— Doutor Lúcio, que prazer o senhor aqui, estava mesmo lhe esperando – ele falou, enquanto
apertava a mão de meu pai, que era enorme perto dele.

— Senhor Francisco, o prazer é meu em revê-lo. Esse é meu filho, Lucas – meu pai me
apresentou para o homem baixinho, que me observou atentamente. – É sobre ele que vim aqui hoje,
gostaria de matriculá-lo na escola, como mencionei no telefonema.

Francisco se aproximou de mim e estendeu a mão. Apertei cumprimentando-o.

— É um prazer conhece-lo Lucas, sou o diretor desta escola, espero que goste de Floresta Negra.

— Obrigado – falei sem jeito e ele soltou minha mão, voltando a encarar meu pai.
— Doutor, poderíamos conversar a sós referente a esse assunto em minha sala?

— Sim, claro – meu pai concordou, virando-se para mim em seguida. – Lucas, fique aqui até eu
resolver tudo, okay? Pode me esperar sentado naquele banco – apontou um banco encostado à
parede, diante da sala.

— Tudo bem – falei, indo até esse banco.

Assim que me sentei, vi os dois entrarem na sala e fecharem a porta.

Fiquei ali esperando por diversos minutos, aquela parte da escola parecia deserta; não devia ser
naquela parte que ocorriam as aulas. Peguei meu celular e fone de ouvido no bolso da calça, e
coloquei uma playlist tocar, a fim de me distrair. Odiava ficar esperando.

Enquanto ouvia e cantarolava mentalmente Hotel California, senti alguém tocar meu braço. Dei
um pulo no banco, assustado.

Quando olhei para o lado, vi um garoto grande e completamente lindo.

— Desculpa, não queria te assustar – ele falou sorrindo com seus dentes perfeitos e boca
carnuda, fitando meus olhos. Senti meu rosto queimar.

— Não se preocupe, não assustou, só estava um pouco distraído – disse, tirando meus fones de
ouvido e tentando me recompor.

— Que bom – ele levantou-se diante de mim, enquanto me observava bem.

Inevitavelmente fiz o mesmo, mas ao contrário de mim, ele era muito mais interessante. Nunca
havia visto alguém tão lindo pessoalmente, parecia um modelo ou ator. O que estava fazendo em uma
cidadezinha como Floresta Negra?

Ele tinha o cabelo curto de cor castanho claro, um rosto quadrado bem sexy e olhos verdes que
chamavam muita atenção, em contraste a sua pele alva. Mas que mesmo assim não ofuscava seu belo
corpo, pois o garoto era enorme e cheio de músculos. Devia viver dentro de uma academia.

Quando percebi que estava fitando demais seus deliciosos braços e coxas grossas, que eram bem
evidentes mesmo sob seus jeans e camisa preta, tentei me controlar. Não queria que ele notasse meus
olhares, mas era a primeira vez que me sentia tão atraído por alguém.

Claro, sempre soube que não eram como os outros garotos, mas até aquele momento nunca havia
encontrado algum cara que me chamasse tanta atenção. Se eu tinha alguma dúvida antes se eu era
realmente gay, ela havia desaparecido completamente com a ereção que tentava tomar forma entre
minhas pernas.

Eu definitivamente estava excitado por aquele garoto.

Tentei desviar meu olhar de seu corpo, e concentrar apenas em seu rosto, a fim de evitar
problemas, mas assim que nossos olhares se encontraram, percebi que ele estampava um sorriso
safado em seus lábios. Ele havia percebido!

Senti vontade de fazer um buraco no chão e esconder meu rosto, de tão vermelho e envergonhado
que fiquei.

Virei meu rosto na hora, e se não fosse parecer completamente estranho, teria corrido dali de
tanta vergonha que estava sentindo. Claramente eu era péssimo em disfarçar olhares.

Ficamos em silêncio durante alguns momentos. Mesmo não olhando diretamente para ele,
conseguia sentir seu olhar sobre mim, enquanto eu fingia prestar atenção no corredor. Quando
finalmente senti que a ameaça de ereção havia ido embora, soltei o ar de meus pulmões mais
tranquilo.

— Você irá estudar aqui? – ele tentou puxar assunto, assim que percebeu que eu não o faria.

— Sim, vou – respondi sem jeito, dando uma rápida olhada em seu rosto, mas assim que nossos
olhos se encontraram, desviei novamente. Ele não cansava de me encarar, e não demonstrava
nenhuma timidez fazendo isso.

— Isso é ótimo! Raramente surgem novos alunos. Meu nome é Adrian, sou do terceiro ano e
presidente do grêmio estudantil da escola – ele se apresentou e estendeu a mão para mim.

— Meu nome é Lucas – disse, retribuindo timidamente seu forte aperto de mão. Ainda estava
completamente envergonhado pelo que havia acontecido.

— Prazer, Lucas, se precisar de alguma coisa, ou de alguém para te mostrar a escola, pode me
chamar a qualquer momento, irei adorar – Adrian disse ainda fitando meus olhos e sorrindo, e só
após longos segundos soltou minha mão.

— Obrigado.

— Enfim, infelizmente preciso retornar para minha aula, mas foi ótimo te conhecer Lucas! Espero
que nos tornemos amigos, até mais.
— Até... – despedi-me, observando-o sair dali pelo caminho contrário que eu e meu pai havíamos
entrado. Fiquei surpreso comigo mesmo em ter fitado até mesmo sua bunda volumosa e redonda. Eu
não costumava ser tão tarado assim!

Antes de sair, Adrian virou-se e sorriu para mim, dando um breve tchauzinho com a mão. Retribui
tímido e então ele dobrou o corredor, saindo do meu campo de visão.

Recostei-me no banco, voltando a respirar normalmente.

Aquilo havia sido intenso! Não sabia que eu era capaz de sentir tudo aquilo por alguém que havia
acabado de conhecer, mas agora definitivamente estava ansioso para voltar a estudar e ver Adrian
novamente. No fundo, havia gostado de me sentir daquela forma, pois significava que eu continuava
sendo um adolescente normal, apesar de tantas mudanças e perdas repentinas que havia acontecido
comigo.

Para minha sorte, não demorou muito e a porta da sala do diretor se abriu, saindo de lá meu pai e
ele. Eles se despediram um do outro, e logo em seguida Francisco despediu-se também de mim, mas
sem dizer nada sobe eu ingressar na escola.

Meu pai e eu seguimos de volta até o carro sem falarmos nada, mas eu já estava quase tendo um
infarto de tão ansioso que estava para saber se eu iria poder estudar ali. Somente quando entramos e
ele deu a partida, que se pronunciou sobre o assunto.

— Não foi fácil convencer o diretor a deixar você ingressa ainda esse ano, como havia
imaginado, mas depois de uma longa conversa, consegui o persuadir. Então é melhor estar preparado,
pois você começa amanhã mesmo Lucas – meu pai revelou sorridente.

— Obrigado pai, isso é ótimo! – disse animado, aquilo significava que iria ver Adrian
novamente.

Meu pai pareceu surpreso com toda minha animação, mas não comentou nada e muito menos eu.
Não sabia qual seria sua reação em saber que eu era gay, então esperaria um tempo até tudo se
acalmar. Muita coisa estava acontecendo naquele momento.

Seguimos direto para casa, pois já era quase meio dia, e meu pai tinha que começar a preparar o
almoço para nós. Para minha sorte, diferente de mim, ele sabia cozinhar.

Naquela noite ele trabalharia normalmente, em seu turno noturno no hospital.

Quando chegamos em casa, disse a ele para me chamar assim que o almoço ficasse pronto, e que
iria tomar um banho rápido. Subi correndo para meu quarto e assim que entrei, fui direto para o
banheiro.

Embaixo da água, inevitavelmente lembrei-me de Adrian.

Queria que o dia seguinte chegasse o quanto antes, pois meu primeiro dia nessa nova escola tinha
tudo para ser maravilhoso.
Capítulo 04

Assim que sai do banho e vesti roupas limpas, desci até a cozinha ver se o almoço estava pronto,
já que estava faminto. Quando cheguei, meu pai estava pondo a mesa.

— Bem na hora, já ia te chamar – ele comentou, terminando de por os talheres.

Sentei-me à mesa, e ele fez o mesmo em seguida. Meu pai havia preparado para nós macarrão ao
molho branco com champignon, frango ao molho e legumes cozidos. Pelo cheiro e aparência, tudo
parecia completamente delicioso.

Ele se serviu de um vinho para acompanhar a comida, mas como eu detestava e ele jamais me
deixaria beber, tomei apenas refrigerante. Como imaginava, ao provar constatei que estava tudo
muito gostoso, massas eram a melhor coisa do mundo e meu pai tinha habilidades na cozinha.

Almoçamos sem falar muito, e assim que terminamos de comer, levantei para lavar os pratos, mas
ele me impediu segurando meu braço.

— Só um momento Lucas, tem algo que preciso conversar contigo – falou com um tom
preocupado na voz.

Voltei a me sentar.

— Pode falar pai – incentivei, completamente curioso.

— Como já havia te contado, hoje volto a trabalhar normalmente no hospital. Então, saio à noite e
retorno cedo da manhã. Preciso saber se você irá ficar bem.

— Claro que sim pai, não sou mais uma criança! – falei tentando acalma-lo, mas a verdade era
que não tinha tanta certeza disso, considerando as estranhas visitas que estava recebendo. Aquele
lobo podia aparecer novamente, e talvez na segunda vez eu não fosse ter tanta sorte de sair ileso.

— Claro que sei que não é mais uma criança Lucas, mas está acontecendo algo sério na cidade.
Então preciso que me prometa que irá manter a porta trancada, e não irá sair de jeito algum enquanto
eu não estiver – pediu sério.

— C-claro, mas o que está acontecendo? – perguntei, preocupado.

— Devia ter te contado antes de trazê-lo para cá, mas não queria te assustar, pois tenho certeza
que tudo irá se resolver logo – meu pai começou a contar, e eu ouvi tudo atentamente – Nas duas
últimas semanas aparecerem quatro corpos mutilados na floresta. Eram todos moradores da cidade.

— Há um serial killer? – questionei assustado.

— Não, calma Lucas. Já foi constatado que não se trata de assassinatos, mas sim ataques de um
animal grande. A polícia está fazendo o possível para encontra-lo o quanto antes.

— Que tipo de animal? – perguntei com medo da reposta.

— Pela mordidas e arranhões, acreditam ser um lobo.

Meu coração acelerou na hora, quase saltando do peito.

Aquilo era péssimo, pessoas estavam sendo mortas por um lobo e eu recebendo visitas do
possível assassino. Tentei não transparecer meu nervosismo para meu pai.

— Tudo bem pai, prometo que vou ficar e me manter distante da floresta – disse, tentando não
gaguejar.

— Ótimo, tirou um peso das minhas costas. Eu sei que você jamais faria algo imprudente ou que
exponha-o ao perigo, mas precisava conversar com você sobre isso – meu pai falou, levantando-se.
Veio até mim e beijou minha testa – Vou subir e descansar um pouco, mas qualquer coisa é só chamar.

— Tudo bem, vou lavar a louça e subir estudar um pouco, para estar preparado para amanhã –
menti, precisava saber mais sobre esses assassinatos.

Lavei a louça o mais rápido possível, e subi as escadas correndo até meu quarto. Ao entrar em
meu quarto, tranquei a porta e liguei o notebook. Quando o sistema operacional se inicializou, abri o
navegador e fui direto no Google.

Digitei “mortes em Floresta Negra’’, e surgiram alguns resultados. Fui abrindo os sites, até achar
alguma informação relevante, mas não havia muitos detalhes nas reportagens além do que meu pai
havia dito. Os ataques aconteceram todos a noite, e as vítimas eram pessoas que mantinham contato
com a floresta.

Foram todas mortas por mordidas letais em seus pescoços, e tiveram partes de seus órgãos
comidos. Senti meu estomago embrulhar, somente em imaginar.

De repente, entre os resultados encontrei um blog com título curioso: “Diário de uma garota que
mora no fim do mundo”.
Lá tinha uma postagem comentando sobre as mortes e decidi ler.

“Mortes Bizarras na cidadezinha de merda:

Hoje acordei maravilhosamente bem, após ter tido um sonho bem molhado com o perfeito do
Zac Efron, meu futuro marido ou amante. Mas meu humor se foi quando ao tentar tomar banho,
tive de esperar por quase 40 minutos meu pai tomar o seu. Definitivamente eu precisava de um
banheiro só para mim em meu quarto, e ele de uma nova namorada. Desse jeito sua mão ia ficar
mais peluda que a do Tony Ramos... Tinha certeza que mamãe concordava comigo lá do céu.

Após testar o novo shampoo que havia comprado, e perceber que foi dinheiro jogado no lixo,
pois o cheiro era horrível e sequer fazia o que prometia na embalagem, fui surpreendida com a
principal notícia do único jornal da cidade, que tomei da mão do meu pai assim que vi.

Uma garçonete havia sido encontrada morta na floresta que envolve a cidade. Isso significava
que era quarta vítima em menos de duas semanas! Alguém estava animadinho.

Meu pai — que é policial — continua afirmando ser um lobo, mas vamos aos fatos:

1º esse lobo tinha que ser ENORME para causar tanto dano;

2º não existiam lobos na região!

Definitivamente, não havia como acreditar nisso.

Tenho quase certeza de que são homicídios, e há alguém matando essas pessoas. A floresta
dessa cidade de merda não tem animais de grande porte, apenas alguns coelhos, cobras e
esquilos. Isso se não for contar as vacas da minha escola, quando vão passear por lá.

Ninguém me tira da cabeça que o assassino deve estar mutilando aquelas pessoas, justamente
para fazer todos acreditarem ser um animal. Ele deve ser até canibal, já que todas as vítimas
tiveram algumas partes dos seus corpos comidos. Será que ele cozinha pelo menos, ou come cru,
como se fosse sushi?

Estando certa ou não, a única coisa que sei é que mantarei distância da floresta. Gosto de mim
linda e vivinha da Silva, além de que só me falta um ano para deixar esse submundo que chamam
de cidade. Vem ni mim faculdade, sua linda! <3

Enfim, fico por aqui.


Até mais meus amados (e quase nenhum) leitores,

De sua loira favorita de Floresta Negra, Michele K.”

A garota que havia escrito o texto não podia ser normal.

Mas isso não importava, só de saber que em Floresta Negra não havia lobos, isso me assustava
mais. Definitivamente o lobo negro era quem estava matando essas pessoas!

Não podia deixar de pensar que eu havia tido sorte, considerando o que havia acontecido com
aquelas quatro vítimas. Por que ele não havia me atacado? Eu estava completamente a sua mercê
quando desmaiei.

Perguntava-me também porque havia sonhado com ele dias antes, não podia ser coincidência, mas
ao mesmo tempo, não fazia sentido.

Deitei na cama, tentando organizar todos aqueles turbilhões de pensamentos. Minha cabeça já
voltava a doer com tantas perguntas, então decidi descansar um pouco. Não chegaria a nenhum lugar
naquele estado.

Adormeci pouco tempo depois.

Não sei exatamente quanto tempo cochilei, mas para minha sorte não tive mais pesadelos. Fui
acordado pelo meu pai, que batia na porta do quarto.

— Lucas – ele chamava do outro lado.

Fui até a porta e abri.

— Oi pai – disse entre um bocejo, e voltei a sentar sobre a cama tentando acordar por completo.

— Por que trancou a porta? – parecia desconfiado.

— Ah, desculpa, tenho esse costume – enrolei, não queria que descobrisse o que eu estava
pesquisando.

— Não quero que fique trancando sem motivos, se algo acontecer como vou poder entrar?

— Tudo bem, prometo não trancar.

— Ótimo... Enfim, preciso sair para meu plantão, e volto antes de você acordar amanhã para ir à
escola. Ainda tem comida lá embaixo, então só esquentar e não esqueça o que prometeu! Nada de
sair de casa, ou deixar estranhos entrarem, qualquer coisa que acontecer me ligue imediatamente.

— Sim, estou lembrado.

— Até logo mais, se cuida – despediu-se e deixou o quarto, deixando um rastro de aroma de seu
perfume amadeirado e delicioso. Será que ele estava saindo com alguém e apenas não queria me
contar?

Fui até o banheiro, lavei meu rosto e escovei os dentes, coisa que havia esquecido de fazer, afinal
saber sobre as mortes estranhas parecia mais importante. Quando terminei, não sabia o que ia fazer
durante a noite.

Podia continuar pesquisando sobre os ataques, mas isso só me deixaria mais assustado, e
considerando que estava sozinho, era melhor não. Também não estava com muita vontade de estudar
meus cadernos para o dia seguinte, então decidi descer até a sala e ver um pouco de TV, a fim de
distrair.

Queria evitar um pouco a internet, não queria lidar com meus amigos de Porto Alegre dizendo o
quanto sentiam minha falta. No dia que me visitaram para despedir, foi muito drama.

Antes de ir para a sala, passei na cozinha e peguei um pouco de refrigerante; eu era


completamente viciado naquele líquido negro dos deuses. Sentei-me num dos sofás de cor vinho, e
liguei a televisão com o controle remoto.

Fiquei passando os canais até encontrar algo interessante para ver, mas não havia muitas opções
que me agradassem. Tinha os canais adultos, mas ao tentar acessar, foi solicitada a senha, mas
nenhuma das minhas combinações deu certo, é claro.

Quando desisti de ficar procurando o que ver sem parar, deixei em um canal de documentários.
Estava falando sobre alienígenas terem construído as pirâmides do Egito, adorava coisas assim, mas
não conseguia relaxar lembrando que podia haver um lobo no lado de fora da casa naquele exato
momento.

Tentei tirar aquilo da minha mente um pouco e decidi jantar logo; voltei para a cozinha e
esquentei a massa e frango no micro-ondas, dispensei os legumes cozidos dessa vez.

Olhei para o relógio na parede, e ainda eram apenas nove horas da noite. Assim que terminei de
comer, lavei o que havia sujado, e decidi voltar para o meu quarto.

Observei as fotos da parede enquanto subia a escada, eram na maioria eu quando criança, meu pai
e minha mãe juntos. Sentia saudades daqueles tempos. Nunca havia entendido direito o motivo de
separarem, quando questionava minha mãe, ela respondia que era porque meu pai sempre trabalhava
demais e não estava dando mais certo.

Quando cheguei ao pequeno corredor do segundo andar, que tinha cinco portas, entrei na primeira
que era de meu quarto e dessa vez fui direto para o banheiro e escovei os dentes antes que
esquecesse de novo.

Voltei para meu notebook, e acessei meu e-mail, mas só havia recebido publicidade de algumas
lojas virtuais; para minha sorte, graças a meu pai, não precisaria comprar livros por um bom tempo.
Quando decidi ver o que estava acontecendo nas redes sociais e quem sabe tentar encontrar perfil de
Adrian, percebi algo que me fez parar tudo que eu estava fazendo na hora.

Aquele corredor era para ter só quatro portas! Levantei da cadeira num pulo, e fui até lá com o
coração acelerado e sentindo um frio na barriga. Precisava confirmar o que havia visto, mas quando
saí de meu quarto e verifiquei o corredor, só havia as quatro portas de sempre ali. Aquilo não fazia
sentido!

Tinha certeza de que havia visto uma porta a mais, exatamente no final do corredor. Para onde
havia ido? Não havia como eu ter imaginado. Fui até onde a vi, e tateei a parede em busca de algo,
mas não encontrei nada de diferente.

E ao bater, percebi que era bem sólida e realmente, pelas dimensões da casa e aquele corredor,
não havia como ter outro cômodo naquele andar. Tudo estava ficando cada vez mais estranho desde
que havia mudado para aquela cidade, e tinha certeza de que não estava ficando louco.

Queria respostas o quanto antes, mas não sabia onde procurar. Voltei para o quarto e tentei me
acalmar, ficar assustado e agitado daquela forma não ia ajudar em nada.

Quando já me sentia melhor, decidi não fazer mais nada naquela noite, e fui dormir. Por algum
motivo sentia-me muito cansado, apesar de ter descansado durante a tarde. Lidar com tudo aquilo
durante o dia seria mais fácil.

Não demorou muito e adormeci, mas um sonho começou a se formar.

Eu estava em minha antiga casa, assistindo um filme na sala, quando minha mãe surgiu animada e
carregando um pote com pipoca. Ela sentou-se ao meu lado e começou a prestar atenção no filme
policial, é claro.

Estranhamente eu sabia que aquilo era um sonho, mas não disse ou fiz nada, era bom tê-la ao meu
lado novamente, mesmo não sendo real. Sentia falta daquilo, então decidi aproveitar aqueles
momentos, que eram idênticos ao que costumávamos fazer em suas folgas.

Não queria saber do filme ou qualquer outra coisa, fiquei apenas observando-a sorrir; era
daquela forma que queria lembrar-me dela. Fiquei um bom tempo ali, até que de repente, surgiu
diante de nós a minha mãe.

Outra, na verdade.

A que estava ao meu lado continuava comendo sua pipoca, e parecia não perceber a presença de
si mesma diante de nós, inclusive tampando a visão da televisão. Observei aquela outra imagem dela,
que vestia o mesmo vestido lilás com o qual foi enterrada e me observa atenta e com expressão triste.

Senti um estranho arrepio percorrer todo meu corpo, e ela decidiu falar.

— Não devia estar aqui, mas você corre perigo filho – anunciou estalando os dedos. Levantei
assustado, pois tudo ao nosso redor imediatamente foi desaparecendo, até que ficaram somente nós
dois ali, cara a cara.

Por algum motivo, algo dentro de mim gritava que aquilo não era mais um sonho.
Capítulo 05

— M-mãe? – perguntei com voz trêmula. Precisava ter certeza de que ela era mesma diante de
mim, e não apenas mais um elemento de meu sonho.

— Sim, sou eu Lucas – ela confirmou abrindo os braços para mim, e de alguma forma eu
simplesmente acreditei.

Era estranho, pois mais que eu soubesse que estava sonhando, eu sentia verdade nela e em suas
palavras. Conseguia sentir aquela forte ligação que compartilhávamos, e sem pensar duas vezes cai
em choro e corri até seus braços num apertado e sincero abraço.

— Sinto sua falta – falei, entre lágrimas.

— Eu sei, eu também, muito filho – ela acariciava meu cabelo, como sempre costumava fazer. Era
tão bom poder abraça-la novamente; sentia vontade de nunca mais solta-la, com medo de perdê-la
outra vez. Ela chorava silenciosamente, enquanto eu soluçava – Mas agora sei como fazer para
encontra-lo.

Ela soltou-se do abraço, para me encarar nos olhos.


— Como isso? – perguntei confuso. – Você está...

— Morta – ela completou.

— Sim... Então como você pode estar aqui? Não entendo.

— O plano dos sonhos é muito próximo de onde estou, então não foi tão difícil chegar aqui.
Apenas precisava de uma forma de encontra-lo, mas para minha sorte recebi ajuda.

— De quem? Onde você está? – perguntei cada vez mais confuso.

Queria entender tudo aquilo.

— Isso não importa agora Lucas, não tenho muito tempo. Há regras que precisamos seguir nesse
lugar, e vir até aqui falar contigo vai contra várias delas, terei muitos problemas se descobrirem,
então preciso ser rápida filho – consenti com a cabeça. – Floresta Negra não é um lugar seguro, você
precisa tomar cuidado com tudo e todos; as florestas emanam morte e tragédia paira sobre a cidade.

— Tem haver com os assassinatos que estão acontecendo?

— Então você já sabe das mortes — ela parecia surpresa.

— Pai me contou — revelei.

— Mas é ainda mais complicado filho, além desses ataques, há muitas coisas que você não sabe
– comentou nervosa.

— Então me conte o que está havendo! – fui enérgico.

— Eu sei de muito pouco Lucas, não tenho acesso fácil à cidade, está protegida; mas de algo
tenho certeza: quem está matando essas pessoas é muito perigoso, e irá atrás de você. Posso sentir! É
apenas uma questão de tempo.

Senti minhas pernas estremecerem ao ouvir aquilo.

— P-por que diz isso?

— Logo você entenderá o motivo; não posso conta-lo agora, desculpa.

— Por que não? Quero entender o que está acontecendo!

— Ainda não está preparado para saber da verdade Lucas, mas logo chegará a hora e prometo
que tudo fará sentido.
— Você acabou de dizer que sou um alvo! O que farei então? – perguntei nervoso.

— Apenas tome cuidado; eu conseguirei algo que irá te ajudar e proteger, apenas seja cauteloso
até lá e saiba que não está sozinho. Você é meu bebê, e sempre irei cuidar de você! – ela voltou a me
abraçar, e eu novamente cai em choro.

Fiquei em silêncio enquanto aproveitava aquele abraço, que pensei que nunca mais ia receber.
Era incrível que mesmo em sonho, fosse tão real quanto se eu estivesse acordado.

— Não quero te perder de novo.

— Você não irá! Por mais que agora estejamos separados Lucas, lembre-se de que eu te amo
muito e isso nunca vai mudar! – beijou minha testa.

— Também te amo muito mãe.

— Preciso ir agora, mas lembre-se que eu voltarei, prometo! – ela falou afastando-se de mim;
senti vontade de agarra-la e impedir de ir embora, mas não queria que ela tivesse problemas,
principalmente agora que sabia que poderia vê-la novamente.

— Vou contar os minutos – falei, secando minhas lágrimas.

Ela sorriu para mim; como sentia saudade de seu sorriso!

— Tome cuidado e aguarde, farei com que logo chegue a suas mãos algo que irá te proteger – ela
falou, começando a desaparecer – Até mais, meu filho. E agora acorde!

Vi ela sumir e imediatamente despertei.

Sentei-me na cama num pulo. Ao olhar para o quarto ao meu redor, constatei que eu estava
sozinho e pela luz que entrava pela janela, estava quase amanhecendo.

Não podia acreditar no que havia acontecido!

Nunca fui muito religioso, ou acreditei em vida após a morte, mas agora estava eufórico. Se havia
algo que eu tinha certeza, era que tudo aquilo que eu havia sonhado era muito real.

Ainda podia sentir a presença de minha mãe, e isso era incrível, apesar de tudo que ela havia me
dito. Mas no fundo, desde o momento em que cheguei a Floresta Negra e vi aquele lobo negro dentro
de meu quarto, eu sabia que estava em perigo.

Não sabia se era ele que realmente estava matando aquelas pessoas, ou porque não contei sobre
isso a minha mãe, mas iria fazer o que havia me pedido: ia tomar muito cuidado.

Mas era fato de que até que eu descobrisse sobre o que ela estava falando, ou qual era essa ajuda,
eu seria consumido de ansiedade e impaciência. Naquele momento, poucas coisas estavam fazendo
sentido em minha vida.

Como faltava muito pouco para o horário da escola, e não sentia absolutamente nenhum sono
mais, decidi levantar e tomar meu banho. Fiquei vários minutos embaixo da água quente, enquanto
tentava organizar todos meus pensamentos e pela primeira vez em muito tempo, percebi que sentia-
me bem.

Saber que eu corria risco de vida era péssimo, mas saber que ainda poderia ver e falar com
minha mãe era o suficiente para me deixar muito feliz. Não podia me sentir mais sortudo! Estava até
animado para ir estudar.

Escolhi minhas melhores roupas para aquele primeiro dia de aula, afinal iria rever Adrian e
queria causar uma boa impressão. Então, vesti uma calça jeans clara bem apertada, para evidenciar
minhas pernas, uma camiseta preta que estava praticamente nova e um tênis de mesma cor. Refiz
minha barba para eliminar alguns pelinhos que estavam voltando a aparecer, e arrepiei meu cabelo
um pouco.

Encarei-me diante do espelho do banheiro, e não consegui evitar de soltar um sorriso bobo com o
canto da boca; eu estava feliz e apresentável. Torcia que Adrian me notasse novamente.

Também espirrei em mim meu melhor perfume, caso chegasse perto.

Após arrumar minha bolsa estilo carteiro com o material, decidi descer e ver algo para comer.
Assim que terminei de preparar o café, ouvi o barulho do carro de meu pai entrando na garagem e
poucos minutos depois entrou pela porta da cozinha, enquanto eu montava um sanduiche.

— Já está acordado? — ele perguntou, surpreso. Parecia bem cansado.

— Na verdade, já faz um tempinho, dormi cedo — mordi meu sanduíche.

— Entendi... — ele sentou-se à mesa e serviu-se com um pouco do café que eu havia preparado.
— Teve algum problema durante a noite?

— Não, tudo tranquilo — respondi de imediato. Não era como se eu pudesse contar que agora
falava com minha mãe morta através dos sonhos; ele iria me obrigar a fazer um monte de exames
neurológicos na mesma hora.
— Ótimo — falou e tomou um pouco de seu café.

Comemos sem falar muito, e assim que terminamos, pedi para meu pai alguns minutos para subir
de volta ao meu quarto. Escovei meus dentes, e após pegar minha bolsa, desci até a garagem, onde
ele já me esperava no carro.

— Preparado?

— Sim, vamos! — respondi animado, e ele deu a partida.

Durante todo o trajeto perguntei-me como seria quando eu reencontrasse Adrian. Ele seria
simpático novamente? Será que viria falar comigo mesmo que estivesse com seus amigos? Quanto
mais nos aproximávamos da escola, mais ansioso e nervoso eu ficava. Era um pouco estranho sentir-
me assim, afinal nunca havia conhecido um garoto que tivesse me abalado tanto – e tão rápido –
quanto ele.

Quando finalmente chegamos, meu pai estacionou o carro diante da escola para eu poder descer,
mas quando tentei, me impediu.

— Espera Lucas – ele abriu o porta-luvas, e de lá tirou um papel dobrado e me entregou. — Aí


está seu horário de aulas e sala, boa sorte; e não se preocupe que estarei aqui assim que você sair.

— Okay, obrigado pai — sorri para ele, e desci do carro. — Até mais!

— Pera aí — chamou e me aproximei da janela do carro. Ele pegou em sua carteira dinheiro e me
entregou. — Caso sinta fome, agora sim, boa aula.

— Tchau pai — falei e observei ele partir com o carro.

Segui até o interior da escola em passos lentos, tentando não ficar muito nervoso, afinal mesmo
que estivesse animado, odiava ir a lugares que não conhecia ninguém.

Assim que entrei no colégio avistei Adrian de costas no corredor principal, conversando com
outros três garotos. Naquele momento fiquei intimidado, e decidi que era melhor procurar minha sala
sozinho; não queria interrompê-lo. Virei-me rapidamente para seguir em sentido contrário ao que ele
estava, mas logo ouvi sua voz me chamando.

— Lucas! — gritou e assim que virei, vi que estava vindo até mim sem seus amigos.

Meu coração acelerou.

— Oi Adrian — cumprimentei estendendo a mão para ele, e forçando um sorriso.


— Opa, cara! — ele me puxou para um abraço. Ao sentir seus enormes braços em torno de mim,
e sua respiração quente em minha nuca, fui tomado por um arrepio intenso em todo meu corpo. —
Não achei que fosse começar hoje, isso é ótimo! — comentou, soltando-me para meu azar.

Ele estampava um enorme sorriso em seu rosto, e continuava insistindo em me encarar


diretamente nos olhos.

— Sim, mas quase não consegui a vaga para começar ainda esse ano — comentei, tentando
continuar a conversa. Pude perceber que haviam alguns olhares em nossa direção.

— O importante é que conseguiu! Mas me diz aí, está em que turma? Posso te levar até sua sala
— ele perguntou cruzando seus braços, fazendo-os parecer ainda maiores. Naquela manhã vestia uma
calça jeans azul e uma camiseta floral linda.

— Deixa eu ver — disse pegando o papel que meu pai havia entregue. — Aqui diz que sou da
turma 3B.

— Não podia ser mais perfeito! — anunciou, animado. — Também sou da 3B, iremos estudar
juntos.

— Sério?

— Sim! Deixa eu te mostrar onde fica — disse, puxando-me pelo braço.

— Okay — falei, sem jeito.

Assim que percebeu que eu o seguiria, soltou-me.

Seguimos pela direção que ele havia saído no dia anterior, e demos de cara com outro corredor,
só que com várias portas abertas e alunos entrando e saindo por elas. Acompanhei Adrian até um
dessas.

— Pronto, essa é a sala da turma 3B — anunciou. Havia somente meia dúzia de alunos ali, e
todos me encararam imediatamente. Tentei ignorar. — Você pode sentar logo atrás de mim, já que
está vago.

Concordei com a cabeça e ele me mostrou onde ficava. Para minha sorte, bem atrás da sala;
deixei minha bolsa sobre a mesa, e sentei. Adrian puxou uma cadeira até o meu lado, para poder
conversar.

— Enquanto a aula não começa, poderíamos aproveitar para nos conhecer melhor, não é mesmo?
— sugeriu.

— Tudo bem, mas o que gostaria de saber sobre mim? — perguntei. Não era como se eu fosse
muito interessante.

— Para começar de onde você veio.

— Sou de Porto Alegre.

— Sério? Por que veio para Floresta Negra?

Fiquei em silêncio alguns momentos, e ele me encarou confuso.

— Minha mãe faleceu em um acidente, e vim morar com meu pai — revelei sem jeito e ele
pareceu surpreso.

— Sinto muito... — falou sério e suspirando fundo. — Sei o quanto é difícil, também perdi a
minha mãe quando tinha 12 anos.

Seus olhos refletiam a dor que ainda sentia por causa disso.

— Também sinto muito — falei, tentando-o confortar.

— Obrigado, mas agora chega de drama. Perdemos pessoas importantes, mas continuamos aqui, e
definitivamente não fomos feito para sermos infelizes. Temos que seguir em frente e viver da melhor
forma possível, todos os dias. — falou voltando a sorrir para mim.

— Tem razão — também sorri, tímido pela forma que ele me encarava nos olhos.

Aos poucos a sala foi se enchendo, e não demorou muito para o sinal tocar. Tentei observar meus
novos colegas, mas como todos pareciam prestar atenção em mim, sentia-me um pouco
desconfortável para manter contato visual maior que cinco segundos.

Assim que a professora entrou na sala, aqueles que ainda estavam em pé foram indo para seus
lugares. Adrian sentou-se corretamente em sua classe.

— Pessoal todos em seus lugares e sem mais conversas — ela pediu, deixando sua bolsa sobre a
mesa.

Aparentava ter em torno de 50 anos com seus cabelos brancos, e era baixinha e bem magra,
dando-lhe um ar de frágil, mas com um tom de voz autoritário. Ela me observou por alguns
momentos, atenta.
— Antes de eu retomar o conteúdo da última aula, como devem ter percebido, temos um aluno
novo — anunciou e dessa vez todos os olhares se voltaram para mim de uma só vez. — Gostaria de
se apresentar para a turma, querido?

Senti vontade de dizer não, mas seria uma péssima forma de começar em uma turma nova, então
timidamente levantei.

— Olá a todos, sou Lucas Scopelli e vim de Porto Alegre — foi apenas o que consegui dizer sem
gaguejar, e definitivamente não queria mencionar a morte da minha mãe na frente de todos eles.

Com Adrian havia sido diferente, senti que podia confiar.

— Se deu muito mal! Trocar a capital por essa cidade de merda foi a pior coisa que poderia ter
feito! — uma garota loira sentada um pouco à frente comentou e todos riram.

— Senhorita Michele, mais respeito, por favor. Não toleramos esse tipo de vocabulário nessa
sala — advertiu a professora e ela deu de ombros. — Enfim, seja bem vindo Lucas, me chamo
Marlene e dou aulas de português. Espero que sinta-se acolhido na cidade e escola.

— Obrigado — agradeci e voltei a me sentar.

Observei Michele que continuava me encarando atentamente.

Definitivamente, só podia ser a mesma do blog. Pelo menos o desprezo pela cidade e os cabelos
loiros batiam com o que havia lido. E se eu estava certo, poderia ser uma boa ideia aproximar-me
dela, já que seu pai era policial. Novas informações sobre as mortes na cidade seriam excelentes,
considerando que de acordo com minha mãe, eu era um alvo.

A professora começou a passar conteúdo no quadro negro, e todos começaram a copiar, com
exceção de alguns poucos que preferiam cochichar e conversar. Como eu era novo ali, e precisava
entrar no ritmo deles, optei em me concentrar na aula.

De vez em quando Adrian tentava puxar assunto, mas respondia brevemente, eu não queria ter
problemas já em meu primeiro dia. Foram três aulas seguidas de português, até que o sinal voltou a
tocar.

— Finalmente intervalo! — Adrian disse, levantando-se. Fiz o mesmo, surpreso pelo tempo ter
passado tão rápido. — Está com fome?

— Na verdade, estou sim — respondi.


— Então me segue, vou mostrar onde vendem os lanches.

Concordei com a cabeça e o acompanhei de perto.

Algumas pessoas cumprimentaram Adrian no caminho, e ele me apresentou brevemente a elas,


dizendo a todos que depois conversava. Parecia que ele queria dar atenção total a mim, e isso me
fazia sorrir igual um bobo, mesmo que ainda não entendesse o porquê.

Assim que chegamos até um salão onde havia uma espécie de lanchonete e várias mesas,
entramos numa pequena fila para ser atendido.

— O que achou da turma? — Adrian perguntou próximo ao meu ouvido, já que havia muito
barulho, com tantas pessoas falando.

Inevitavelmente me arrepiei.

— Não sei ainda, mas parecem legais — respondi, sem ter tanta certeza disso.

— Sim, quase todos são mesmo.

— Quase?

— Ah, sabe como é, não tem como gostar de todo mundo – comentou, até que chegou sua vez para
ser atendido. — Eu gostaria de um pastel de carne e uma coca, por favor — pediu. — E você Lucas?

— Hm... Pode ser o mesmo.

— Então dois pastéis e refrigerantes — ele disse para a mulher que nos atendeu.

Busquei em meus bolsos o dinheiro que meu pai havia dado.

— Deixa que eu pago! — Adrian ofereceu ao perceber.

— Não é necessário — disse imediatamente. — Eu tenho dinheiro.

— Eu faço questão, pequeno presente de boas-vindas — ele entregou seu dinheiro à atendente e
pegou os lanches.

— Não é justo que você pague para mim — comentei incomodado, enquanto deixávamos a fila.

— Sem drama Lucas, é só um lanche — entregou-me minha parte, sinalizando para que o
acompanhasse.

— Então amanhã pagarei o seu — falei seguindo-o de perto até uma mesa, onde sentamos.
Adrian riu.

— Você que sabe, agora coma; infelizmente os intervalos são muito breves.

— Okay — disse, dando a primeira mordida em meu pastel.

Notei que enquanto comíamos, ele quase não desviava seus olhos de mim.

Perguntava-me o por que de tanto interesse dele em mim, afinal eu havia acabado de chegar na
cidade e mal me conhecia. Ele era assim com todos ou só comigo?

— Você joga futebol? Amanhã temos aula de educação física, e estamos precisando de um novo
jogador para nosso time. Pedro quebrou a perna durante um jogo, e vai ficar um tempo sem frequentar
as aulas — Adrian perguntou interessado, assim que terminamos de comer.

— Vocês não gostariam de me ter no time, sou péssimo — comentei voltando a beber meu
refrigerante e ele riu.

— Isso não é problema, eu te ensino direitinho — Adrian disse e mordeu em seguida seu lábio
inferior. Senti muito calor imediatamente.

— Tudo bem — foi apenas o que eu disse e ele sorriu imediatamente, vitorioso.

— Ótimo, então amanhã traga roupas esportivas e toalha, vamos ver o que sabe fazer.

Consenti com a cabeça, já arrependido.

Por que raios eu havia concordado em jogar futebol?


Capítulo 06

No dia seguinte acordei novamente cedo. Havia ido dormir muito antes do que estava
acostumado, torcendo rever minha mãe, mas para meu azar sequer tive um sonho durante a noite toda.
Foi simplesmente dormir e acordar.

Assim que levantei, tomei meu banho e arrumei em minha bolsa o que teria que levar para jogar
futebol com Adrian e os outros. Isto é, se eu não conseguisse achar uma boa desculpa para fugir disso
até lá. O máximo de exercícios físicos que eu fazia era me masturbar e dançar Just Dance no
videogame às vezes, então torcia que eu não acabasse com a perna quebrada, igual esse tal de Pedro
– ia complicar na hora que eu precisasse fugir de um lobo ou assassino.

Mal tinha roupas esportivas e estava completamente nervoso em saber que teria que tomar banho
junto de todos os outros garotos; coisa que consegui evitar completamente em minha antiga escola.
Resumindo, toda minha animação do dia anterior já tinha desaparecido naquela altura.

Como meu pai não havia trabalhado na noite anterior, naquela manhã não aparentava ser um
zumbi e me levou até a escola demonstrando certa inquietação.

— Está tudo bem contigo pai? — perguntei durante o caminho.

— Claro que sim — ele respondeu imediatamente, sem desviar sua atenção da estrada, mas
parecia surpreso pela pergunta.

— Você está um pouco estranho.

Ele ficou calado durante alguns momentos, pensativo.

— Não é nada demais, apenas preocupado com o trabalho e você. São muitas mudanças
acontecendo rápido para nós dois — disse, mas não consegui acreditar que fosse aquilo o motivo;
sabia que essa preocupação dele era verdadeira, mas naquele momento parecia apenas uma desculpa
qualquer para me enrolar.

— Não precisa se preocupar comigo — acrescentei mentalmente “se ignorar o fato de que posso
aparecer morto qualquer hora dessas” — Estou me adaptando bem.

— Fico mais tranquilo em saber disso, quero que seja feliz aqui em Floresta Negra.
— Já estou sendo — apertei seu ombro e ele sorriu satisfeito.

— Durante a noite percebi que falamos pouco sobre seu primeiro dia ontem, me desculpe; quando
faço esses plantões, fico muito cansado e desatento.

— Não se preocupe pai, eu entendo. E ocorreu tudo bem.

— Fez muitos amigos novos? — ele perguntou interessado.

— Ainda não, apenas um; mas comecei agora, então não tenho pressa e já estou satisfeito. Ele
está me ajudando bastante!

— Que bom Lucas, é o que sempre digo: mais vale qualidade do que quantidade, e isso se aplica
a amizades também, sabia? Vou torcer que vocês tornem-se bons amigos.

— Obrigado pai — disse, imaginando como ele reagiria se soubesse que eu queria mais do que
amizade com Adrian.

Ensaiei durante meses como ia contar para minha mãe, mas infelizmente antes que pudesse, o
acidente aconteceu. Mas não conseguia imaginar uma reação negativa vindo dela; ela era muito
mente aberta e inteligente para ter qualquer tipo de preconceito. Já meu pai, não tinha tanta certeza
disso.

Assim que chegamos à escola e eu me despedi dele, entrei no prédio e fui direto para a minha
sala de aula; ainda era um pouco cedo e só tinha outras poucas pessoas ali e dessa vez não pareciam
mais tão interessados em mim. Sentei na mesma classe do dia anterior.

Aos poucos foram chegando mais pessoas. Assim que Michele entrou na sala, deixou sua mochila
rosa sobre a sua mesa e veio diretamente até mim. Mesmo sendo cedo da manhã, ela calçava saltos
altos vermelhos que faziam-lhe ficar mais alta que eu e olha que estou distante de ser baixo.

— Bom dia Luan — falou sentando-se na classe de Adrian, virada para mim. Seu perfume doce e
marcante invadiu minhas narinas.

Ela era realmente linda. Tinha belos cabelos loiros lisos, olhos esverdeados que faziam contraste
à sua pele clara e aveludada, em conjunto com seus lábios grossos tingidos com um batom rosa
clarinho. Seus peitos eram generosos, e chamavam atenção pelo decote de sua blusa; tentei não olhar
muito e ser inconveniente.

— É Lucas... — corrigi.
— Erro técnico, ignore. Serei breve, preciso saber de algo sobre você, é importante.

— O que? — questionei surpreso.

— Que dia e horário você nasceu? — Michele perguntou séria.

— 23 de março e em torno das quatro e meia da manhã — respondi confuso. — Por quê você
precisa saber disso?

— Logo você saberá! — ela disse animada, levantando-se e saindo dali.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa Adrian surgiu e veio até sua mesa.

— Oi Lucas — ele estendeu sua enorme mão para mim e eu apertei com vontade.

— Bom dia Adrian.

— Chegou cedo? Dei uma procurada por vocês nos corredores, mas como não encontrei, decidi
vir pra cá.

— Sim, faz alguns minutos.

— Percebi que estava conversando com Michele, o que ela queria? – perguntou interessado.

— Minha data e horário de nascimento.

— Por quê? — ele parecia tão confuso quanto eu.

— Boa pergunta — respondi e ele riu.

— Michele é meio maluca, mas é legal. Estudamos juntos desde quando éramos crianças, e ela
sempre foi assim; o pesadelo de todas as professoras.

— Imagino — comentei rindo.

Conversamos um pouco, mas logo o sinal tocou e uma professora gordinha entrou.

— Bom dia pessoal. Espero que todos estejam animados nessa quarta-feira, pois hoje tenho
bastante conteúdo para passar a vocês — falou e o desanimo era visível em quase todos. Para minha
sorte, até que eu gostava de biologia; o que me deixava nervoso era saber que a aula seguinte seria
educação física.

Adrian parecia um pouco perdido com o conteúdo, então fiz uma nota mental de me oferecer para
ensina-lo qualquer dia. Para meu azar, os minutos foram passando rapidamente e como a professora
havia dito, realmente era muito conteúdo que ela estava passando no quadro negro.

Quando faltava pouco tempo para a aula acabar, alguém bateu na porta; a professora foi até ela e
abriu. Para minha surpresa era um garoto lindo do lado de fora.

Se eu achava que Adrian era o garoto mais bonito e gostoso que eu já havia visto até aquele
momento, agora não tinha tanta certeza disso, pois aquele garoto era tão ou mais lindo que ele.
Também era enorme e cheio de músculos, mas diferente de Adrian, tinha a pele bronzeada e seus
cabelos eram tão negros quanto seus olhos. Seu rosto era quase perfeito, sem quaisquer marcas ou
espinhas; apenas uma rala barba que o deixava ainda mais sexy. E para completar, era dono de uma
boca carnuda e vermelha, muito convidativa.

— Posso entrar? — ele perguntou com sua voz grave e excitante.

Simplesmente não conseguia acreditar que em minha sala haviam duas pessoas tão lindas quanto
ele e Adrian. Eles podiam estar nas passarelas ou televisão.

— Pode, Sr. Bernardo. Afinal só faltam dois minutos para o fim da minha aula — a professora
falou a ele, demonstrando um pouco de irritação.

— Não é nada pessoal, professora. Também atraso nas aulas dos outros professores — falou
passando por ela e vindo em direção de onde eu estava.

Ele me observou enquanto andava, e sentou-se na mesa vaga ao lado da minha. Percebi um pouco
de inquietação em Adrian.

Não demorou muito e, poucos minutos após Bernardo ajeitar-se em sua classe, o sinal tocou. Ele
virou-se para mim e me encarou com uma expressão séria, após me olhar dos pés as cabeças.
Bernardo vestia-se completamente de preto; sua camiseta ressaltava seus enormes braços, e sua calça
apertada as pernas grossas. Seu coturno de cano alto deixava-o ainda mais intimidador.

— Quem é você? — perguntou, encarando-me com seus olhos profundos e misteriosos.

— Esse é o Lucas, um aluno novo. Faça o favor de não perturba-lo — Adrian respondeu por mim
em um tom grosso e se levantando com sua mochila já nas costas. — Venha Lucas, agora é a
educação física, vou te mostrar onde fica o campo.

— Tudo bem — disse, um pouco incomodado com seu tom autoritário.

Após pegar minha bolsa, o segui para fora da sala; Bernardo continuava me encarando sentado.
Afinal, o que ele estava pensando? Parecia desconfiado.
Andamos num corredor que dava para os fundos da escola, onde havia um campo gramado que
era cercado por uma grade. O professor, um homem de meia idade alto e magro, já estava no campo
nos aguardando; ele carregava algumas bolas consigo.

— Decorou o caminho? — Adrian perguntou e eu fiz que sim com a cabeça. — Ótimo, ali é a
entrada dos vestiários — informou apontando para um pequeno prédio que havia ao lado do campo.

— Não sabia que havia vestiários em escolas públicas — comentei observando aquela parte da
escola.

Não era cercada e logo à frente podíamos ver a floresta.

— Normalmente não tem, mas o time da escola é o campeão regional de futebol já faz algum
tempo, então com a ajuda da comunidade a escola levantou dinheiro para construir — explicou.

— Entendi.

— Vamos falar com o professor, para que possa jogar hoje — ele lembrou, para meu completo
azar. Acompanhei Adrian de perto até o campo.

— É o aluno novo? — o professor perguntou logo que chegamos perto. Pude sentir um forte
cheiro de cigarro vindo dele.

— Sim, sou Lucas Scopelli — me apresentei estendendo a mão.

— Seja bem-vindo Lucas, sou o treinador Marcio — disse retribuindo o aperto.

— Professor, há como ele jogar conosco hoje no lugar do Pedro? — Adrian perguntou.

— Se ele quiser, mas é claro que sim.

Senti vontade de dizer que não queria de jeito algum, mas não podia voltar atrás e nem tinha uma
desculpa plausível.

— Ótimo! Então bora trocar de roupa Lucas — Adrian chamou.

— Pode pegar um armário vazio Lucas, e não se esqueça de comprar um cadeado pra trancá-lo
depois — o treinador disse.

— Obrigado.

Seguimos até o vestiário e já estava tremendo de nervosismo, não queria jogar ou trocar de roupa
diante de Adrian; era estranho, considerando que seu corpo me atraia muito.
Assim que entramos, nos deparamos com os outros garotos já saindo, inclusive Bernardo; todos
usavam uniformes de cor preto e azul. Adrian deixou sua mochila sobre o banco que havia ali e de lá
dentro tirou um igual.

— Depois tentamos conseguir um para você — falou e eu concordei com a cabeça, enquanto
observava ele tirar sua camisa; deixando expostos seu peitoral e braços definidos para começar a
vestir.

Tentei não olhar muito e abri minha bolsa, de onde peguei o short, camisa e tênis que havia
trazido para aquele jogo. Virei-me de costas para Adrian, e tirei minha roupa o mais rápido que pude
para vestir.

Quando eu finalmente estava com a roupa esportiva, virei e encontrei Adrian me observando com
um sorriso enorme no rosto. Fiquei vermelho na hora.

— Está pronto? — perguntou e confirmei sem jeito com a cabeça. — Então vamos.

Após guardamos nossas coisas nos armários, andamos a passos largos de volta até o campo, onde
todos os outros garotos já faziam um círculo no centro; fomos até eles.

— Pronto, podemos montar os times agora que Adrian chegou — um deles disse.

Adrian parou diante de Bernardo e fechou o punho.

— Par ou ímpar?

— Ímpar — ele respondeu e em seguida ambos jogaram dois dedos.

— Eu escolho o Lucas — Adrian disse de imediato e me aproximei dele. Bernardo lançou um


olhar estranho para ele, e alguns garotos pareceram surpresos pela escolha.

— Vem Marcelo — Bernardo chamou com desdém e aos poucos todos foram sendo escolhidos,
até que os times estavam completamente formados.

— Você fica como zagueiro Lucas — Adrian disse para mim e eu concordei com a cabeça,
ficando ali parado no meio do campo. – Logo na frente da área do gol — ele informou tentando não
rir, assim que percebeu que eu não tinha menor ideia do que estava fazendo ali.

— Tudo bem — disse envergonhado e fui até lá. Fiquei no lado esquerdo, enquanto um garoto
ruivo e magrelo estava no direito.

Fui surpreendido quando todos os jogadores do meu time começaram a tirar suas camisas; Adrian
sinalizou para eu fazer o mesmo e receoso tirei a minha. Arrependia-me cada vez mais de estar
naquele jogo.

Observei Adrian; obviamente nenhum outro garoto chegava ao nível de seu corpo, sem ser
Bernardo. Seu peitoral era enorme e lindo, mas sem pelos; só haviam alguns poucos em sua barriga
tanquinho, onde desciam até o cós de seu short e davam espaço a um generoso volume entre suas
pernas.

Senti uma ereção tentando criar forma dentro da minha cueca com aquela vista, mas logo o jogo
se iniciou e tentei me concentrar; não podia envergonha-lo depois de ter me escolhido por primeiro.

Rapidamente entendi porque ele e Bernardo haviam escolhido os times, eles eram os dois
melhores jogadores e seria desumano colocar ambos na mesma equipe, iam massacrar os inimigos.
Já eu, era péssimo; toda vez que a bola chegava a mim, tentava o mais rápido possível passar para
um dos meus aliados.

Frequentemente distraia-me com o corpo de Adrian; estava adorando vê-lo correr suado por
aquele campo. Meus momentos favoritos eram quando o short dele subia um pouco e exibia mais de
suas coxas grossas; definitivamente era minha parte favorita em homens, junto do volume entre suas
pernas que balançava de forma quase hipnotizando enquanto corria.

Sentia-me um tarado por ficar prestando mais atenção nele do que no jogo, mas diferente do que
imaginei, até que eu estava me divertindo bastante. A partida estava bem equilibrada e todos estavam
se esforçando para desempatar, mas para o azar de meu time – ou nem tanto –, fui chamado pelo
professor, que gritava meu nome.

Peguei minha camisa no canto do campo e fui até ele.

— Desculpa interromper seu jogo, mas mandaram te chamar; você precisa ir até a secretária —
ele informou.

— Tudo bem — disse um pouco ofegante, e após vestir a camisa caminhei devagar até o interior
da escola.

No caminhei encontrei um bebedouro, onde tomei um pouco de água, e segui até onde ficava a
secretária; lá aguardei atenderem outro aluno durante vários minutos, até que chegou minha vez.

Uma das mulheres que atendiam me passou uma pequena lista com três documentos que faltaram
para minha matrícula e disse que precisava o quanto antes. Disse a ela que iria passar para meu pai
assim que eu chegasse em casa; não entendia como ele havia conseguido me transferir sem aquilo, um
deles era meu histórico escolar.

Enquanto voltava para os fundos da escola, o sinal tocou. Apressei-me, mas assim que cheguei, já
não havia ninguém mais por lá. Fui direto até o vestiário e constatei que também estava vazio; todos
já deviam ter voltado para a sala.

Como eu estava completamente suado – e provavelmente fedido –, seria necessário tomar um


rápido banho antes de voltar; apenas torcia que outra turma não aparecesse ali enquanto isso. Peguei
no armário minha bolsa e busquei pela toalha, shampoo e sabonete que havia trazido ali dentro, junto
do resto. Queria ver como ia guardar tudo novamente; havia gasto mais de meia hora esmagando tudo
para caber.

Após me despir e deixar a roupa e toalha sobre o banco, segui até os chuveiros.

A água não era muito quente, como eu gostava, mas era ótimo poder tirar todo aquele suor do meu
corpo; estava sentindo-me grudento.

Após alguns minutos, para meu desespero, ouvi barulho de metal batendo; alguém estava mexendo
em um dos armários. Tentei manter a calma e mantive-me de costas para aquela direção – seria mais
fácil fingir indiferença assim –, então dificilmente conseguiria ver quem era, mas torcia que fosse
apenas o treinador.

Não ouvi mais barulhos por alguns momentos, então deduzi que estava sozinho novamente; mas de
repente, fui surpreendido por alguém que surgiu silenciosamente e abriu o chuveiro vizinho.

Era Bernardo, e estava completamente nu ao meu lado.


Capítulo 07

Bernardo encarou-me nos olhos e em seguida desceu seu olhar até meu corpo; senti muita
vergonha, mas era inevitável que meus olhos também não fossem de encontro ao seu.

Ele possuía um peitoral enorme, assim como seus braços; sua barriga tanquinho exibia oito
deliciosos gomos bem definidos, e diferente de Adrian, ele tinha mais pelos naquelas regiões, o que
tornava-o ainda mais atraente e masculino.

Suas coxas e pernas eram bem grossas, e sua bunda redonda e empinada. Da cintura para baixo
também tinha uma boa quantidade de pelos, que lhe caiam muito bem. Mas meus olhos não
conseguiam desviar era do que mais me chamava atenção nele: seu pênis, que mesmo flácido parecia
enorme. Os pelos de sua virilha eram aparados e seu saco completamente depilado.

— Gostou do que viu? — ele me perguntou, encarando-me.

Senti meu rosto pegar fogo.

— Desculpa – desviei meu olhar rapidamente.

— Não até me dizer o que achou. Você gostou ou não? — voltou a perguntar, agora virando-se
completamente para mim.

— Não gostei — menti, tentando não olha-lo novamente.

— Sabe, você pode até mentir, mas seu corpo não. Você está de pau duro cara, não há como negar
que adorou o que viu — Bernardo falou, com um sorriso debochado no rosto, e imediatamente
constatei que ele tinha razão; eu estava completamente ereto. Não entendia como não havia
percebido.

— Desculpa — disse envergonhado e me virei de costas. — Por favor, não conte a ninguém —
implorei.

Ele ficou calado durante alguns momentos, e eu sentia-me cada vez mais nervoso. Sequer tinha
coragem de virar e voltar a encara-lo.

— Fique calmo. Lucas, né? Não vou contar a ninguém — ele disse, e eu podia senti-lo mais
próximo de mim. — Mas sabia que você até que tem uma bunda bem gostosa?
Fiquei completamente sem reação. Ele estava zombando da minha cara?

Não sabia o que dizer, então permaneci calado. Pude ouvir um breve riso baixo vindo de
Bernardo, e após alguns segundos senti uma de suas mãos apertar minha bunda.

Tomei um grande susto, mas não me movi.

— O que você está fazendo? — perguntei, nervoso.

— Já disse, gostei da sua bunda — ele sussurrava próximo ao meu ouvido. — e se você quiser,
posso te ajudar com todo esse tesão Sr. Tímido.

Senti um arrepio tomar conta de todo meu corpo.

— P-pare — disse, com a voz falhando.

Não houve resposta ao meu pedido, e em seguida senti Bernardo deslizar lentamente sua mão
entre minhas nádegas, e com seu dedos tocou minha entrada de uma forma que me fez gemer alto.

— Tem certeza que não quer? — ele sussurrou, passando seu outro braço na minha frente e me
puxou contra seu enorme corpo. Podia sentir seu peitoral e pelos em minhas costas, e a sensação era
inegavelmente maravilhosa.

Não conseguia responder. A forma que ele estava me tocando em meu buraco fazia-me contorcer,
tomado por prazer. Isso era completamente estranho e vergonho; jamais havia tocado ali antes.

— Quero socar meu pau dentro desse rabo gostoso. Posso? — Bernardo perguntou, lambendo
minha orelha.

Sem dúvidas, um pedido tentador.

— Não sei — respondi. Apesar de todo o tesão que estava sentindo, jamais havia feito sexo antes
e morria de medo. — Alguém pode aparecer.

— Nenhuma turma tem aula agora, temos tempo de sobra — insistiu, descendo sua boca até o meu
pescoço, onde depositou beijos excitantes.

— Vai doer? — perguntei, nervoso.

— Muito, mas depois que passar, farei valer a pena — Bernardo disse, puxando minha mão até
seu membro, já completamente duro.

Assustei-me com o tamanho e grossura; era enorme.


Antes que eu pudesse dizer algo, ouvimos um barulho de porta batendo e rapidamente ele se
afastou de mim, voltando para embaixo de sua ducha. Virei-me de costas novamente.

— Que pena — Bernardo sussurrou ao meu lado, e de certa forma senti-me mais aliviado; não
sabia se estava preparado para fazer sexo, principalmente ali e da forma que ele me queria.

— Você dois estão aí! — a voz de Adrian surgiu atrás de nós. — A professora pediu que eu fosse
atrás de vocês, já que não haviam voltado para a sala.

Bernardo bufou e eu senti meu coração acelerar; não queria que Adrian me visse daquela forma,
então permaneci de costas, diferente de Bernardo que virou-se em sua direção, agora com o pau em
estado meia bomba.

— Tudo bem, logo voltamos para a sala. Lucas e eu tivemos coisas para resolver durante a aula
de educação física, e precisávamos tomar banho antes de retornar à sala. O que foi bom, afinal estava
aproveitando para conhecê-lo melhor — Bernardo disse a Adrian, com um sorriso cínico no rosto. O
que diabos ele estava fazendo?

— Que ótimo! — Adrian comentou em um tom de voz irônico. — Vou voltar para a sala, não
demorem.

— Já estou terminando — falei virando-me o mínimo para ele, aliviado por não estar mais duro.

— Te vejo lá — falou forçando um sorriso e saiu.

— A cada dia que passa, mais detesto esse cara — Bernardo comentou.

— Não entendo, ele está sendo muito legal comigo — disse, tentando defende-lo.

— Ele está sendo legal contigo porque deve querer algo em troca. Tinha que ver como ele ficou
olhando para sua bunda, e ficou completamente irritado ao me ver com você — replicou e mantive-
me calado.

Não sabia o que pensar; apesar de Adrian ser atencioso comigo, não significava que ele tinha
algum interesse além de amizade em mim, de fato. Meu gaydar não era dos mais confiáveis, tanto é
que se não fossem os últimos acontecimentos, jamais imaginaria que Bernardo era. Se Adrian
também fosse gay, significava que eu era muito sortudo e não ter transado com Bernardo podia ser
algo positivo.

— De qualquer forma, vamos logo mesmo, antes que mais alguém venha atrás de nós. Deixemos a
brincadeira pra outro dia — Bernardo disse, desligando seu chuveiro.
Não falei nada e também desliguei o meu. Bernardo seguiu até os bancos e fui também, atrás da
minha toalha e roupas. Comecei a me secar e tentei não encarar muito seu corpo.

— Tá com medo de ficar de pau duro de novo? — zombou, enquanto secava seu saco e pau
lentamente, completamente virado para mim.

Revirei os olhos; ele era completamente exibicionista.

Só não sabia ainda se gostava disso ou não.

— Por que você não voltou para a sala com a turma? — perguntei curioso, enquanto secava-me
rapidamente; não queria demorar ainda mais.

— Logo após você sair do jogo, fui chamado pelo diretor — respondeu, começando a vestir suas
roupas. — Queria falar sobre o que aconteceu com o Pedro.

— O garoto que quebrou a perna?

— Sim, exato; fui eu — revelou.

— Você quebrou a perna dele? — perguntei, surpreso e terminando de me vestir.

— Sim, mas foi sem querer. Não tenho culpa se ele achou que podia me vencer num jogo de
corpo.

Concordei mentalmente; ir contra Bernardo realmente parecia uma péssima ideia.

— Enfim, vou indo — disse já vestido e com minhas coisas guardadas na bolsa.

— Não vai me esperar? — perguntou, surpreso.

— Não, Adrian está me esperando; nós vemos na sala.

— Aquele cara é um babaca, se eu fosse você não caia na dele.

— Afinal, por que vocês se detestam? É perceptível que não suportam um ao outro. O que
aconteceu entre vocês? — questionei interessado e Bernardo ficou pensativo.

— Não houve nada, na verdade. Apenas não consigo acreditar que ele é esse santinho que todos
acreditam que ele é; a mim, ele não engana.

— Então não tem nada de concreto, além do seu achismo. Até depois — disse e sai dali
apressado.
Enquanto voltava para a sala, simplesmente não conseguia parar de pensar que mesmo sem nunca
ter beijado um garoto antes, quase havia perdido minha virgindade naquele vestiário. Apesar de
Bernardo ser lindo, quase não o conhecia ainda e não tinha certeza se eu queria que minha primeira
vez fosse com qualquer um.

Assim que cheguei à minha sala, bati na porta um pouco nervoso por estar tão atrasado e logo em
seguida, uma professora muito bonita abriu. Ela era magra com um corpo em forma e aparentava ter
menos de trinta anos; seus cabelos eram de cor vermelho fogo, assim como seu batom, e sua presença
intimidante.

— Então quer dizer que já em seu segundo dia, faz questão de aparecer à hora que quer em minha
aula — ela comentou, irritada.

— Desculpa, fui chamado pela secretaria da escola durante a educação física, pois preciso trazer
alguns documentos que faltam, e precisava tomar banho antes de voltar à sala — expliquei.

— Isso não me interessa. Da próxima vez, quero o senhor aqui quando eu chegar. Entendeu? —
concordei com a cabeça. — Agora sente-se em seu lugar. — disse, retornando para o quadro negro e
eu fui até minha mesa.

Adrian parecia emburrado, então decidi não falar nada e apenas copiar o que a professora havia
passado no quadro; era aula de história. Para minha surpresa, Bernardo não apareceu até o sinal
tocar, sinalizando o intervalo. Passou pela professora, sem sequer olha-la na cara.

— Ainda bem que lembrei que era a diaba ruiva que estava dando aula, e não entrei — ele
comentou, deixando suas coisas sobre a mesa.

— Compreensível — comentei, levantando-me. — Vamos lá comprar lanches? — chamei Adrian.

— Vamos — ele respondeu com cara fechada, e também levantou.

Andamos calados até a lanchonete da escola.

— Você está bem? — perguntei a ele na fila.

— Claro. Por que não estaria? — respondeu de imediato.

— Não sei, é que depois de me ver com Bernardo no vestiário, você está estranho.

Ele suspirou fundo.

— Vou ser sincero contigo Lucas, não gosto nenhum pouco dele e acho que você deve tomar
cuidado. Ele não é boa influência — disse com um olhar sério.

— Eu ainda não conheço direito ele, mas no momento que ele se tornar uma má influência para
mim, eu paro de falar com ele, tenha certeza disso. Mas enquanto não houver motivo, não tenho
porque manter distância — respondi um pouco seco. Estava detestando os dois querendo dizer com
quem eu devia ou não falar.

— Tudo bem, tem razão, me desculpe — Adrian disse, saindo da fila.

— Aonde você vai? — perguntei, surpreso.

— Estou sem fome, nos vemos depois — respondeu e foi embora.

Também desisti de comer e tentei manter a calma; não podia acreditar que havia me envolvido
com duas pessoas que se odiavam. Era muito azar.

Assim que sentei em uma mesa livre para pensar, Michele surgiu, sentando-se diante de mim
sorridente e animada.

— Podemos namorar — anunciou.

— O quê? – perguntei, completamente confuso.

— Dei uma olhada em sua mapa astral, e de acordo com o site do João Bidu temos tudo para dar
certo. Você é de Áries com ascendente em Peixes e eu Sagitário com Aquário, só pode ser um sinal
divino de que é pra você se jogar nas minhas águas.

— Não, obrigado — disse de imediato.

— Você não está entendendo; fomos feito um para o outro! Os astros jamais erram, e
considerando que eu sou a garota mais popular da escola e você é carne nova e super gatinho, se
namorarmos, todo mundo sai ganhando. Não é perfeito? — ela trouxe sua mão até minha coxa.

— Desculpa, mas não estou interessado — respondi, tirando sua mão de mim.

Vi uma faísca de ódio e revolta em seus olhos; Michele parecia o tipo de garota que não aceitava
não como resposta.

— Por que não, Lucas? Você não me acha bonita? — perguntou, tirando suas madeixas loiras da
testa.

— Você é linda, mas é que...


— Então o quê? — ela interrompeu. — Você tem a chance de ficar popular já em seu segundo dia,
não deveria nem pensar duas vezes. Você já namora, por acaso?

— Não, apenas não estou querendo ficar com ninguém ainda; só isso — enrolei.

Ela me encarou séria, olhando-me diretamente nos olhos.

– Você é gay, não é? — perguntou.

— O quê? N-não! — respondi, nervoso.

— Claro que é, para alguém me dispensar só pode significar que não gosta de mulher —
comentou, parando para pensar durante alguns segundos. — Mas quer saber? Até que isso é ainda
melhor, digo, sempre quis ter um melhor amigo gay e você será perfeito!

Senti vontade de correr, mas lembrei que me aproximar dela era exatamente o que eu precisava
fazer, para conseguir informações da polícia. Apesar de não imaginar que seria daquela forma.

— Apenas não conte a ninguém — pedi e o sinal tocou.

— Farei o meu melhor para não acabar espalhando seu segredo, prometo — falou levantando-se.
— Agora vamos voltar para a sala Lulu, vem.

Um apelido vergonhoso, ótima maneira de começar uma amizade.

Assim que voltamos à sala, Adrian já estava lá; ignorando o pedido de Michele que queria que eu
ficasse numa classe próximo a ela, sentei-me na mesma de antes. O restante da aula passou sem
maiores problemas, mas percebi que Bernardo toda hora me encarava com um sorriso safado ou
piscava para mim, ao lado.

Como não sabia como agir, fingi não demonstrar interesse. Mas inevitavelmente perguntava-me se
teríamos outra chance de fazer o que começamos no vestiário, e se dessa vez, eu teria coragem de ir
adiante. Não gostava muito de como ele era convencido e arrogante, mas seu corpo e jeito safado me
excitavam muito.

Mas preocupava-me se ele tivesse razão, e Adrian havia observado meu corpo e sentido ciúmes
ao nos ver juntos. Isso justificaria a forma como agiu.

Quando a aula finalmente acabou, deixei a sala sem falar com ninguém; havia acontecido coisas
demais naquele dia e só queria ir para casa. Mas assim que já estava na frente da escola e
procurando pelo carro de meu pai, ouvi Adrian me chamar.
— Posso falar com você? — perguntou, se aproximando.

— Tudo bem — respondi, cruzando os braços.

Ele respirou fundo.

— Me desculpa a forma que agi. Como te disse, não gosto de Bernardo, mas realmente não tenho
o direito de te dizer com quem deve falar ou não. Apenas preocupei-me com você.

— Tá desculpado — disse encarando-o nos olhos. — Agora preciso ir, meu pai deve estar me
esperando.

— Espera! O que irá fazer no sábado?

— Não sei, acho que ficarei em casa. Por quê?

— Gostaria de sair comigo? Sabe, para conversar e tomar sorvete? — convidou, receoso.

— Adoraria — respondi, abrindo um sorriso.

— Ótimo! Combinado então — ele abriu um ainda melhor.

— Vou lá, tchau Adrian — me despedi.

— Até mais, Lucas.


Capítulo 08

O restante da semana se passou sem novos grandes acontecimentos.

Ninguém mais havia morrido na cidade, e não tive nenhuma outra visita desagradável pela noite,
para minha sorte. Mas ainda assim mantinha-me atento.

Michele havia se aproximado ainda mais de mim, e mesmo com seu jeito doido de ser, já havia
me conquistado completamente. Adrian continuava me ajudando e sendo muito legal comigo, e de
certa forma, sentia-me cada vez mais conectado a ele. Bernardo continuava me provocando, sempre
que tinha oportunidade, mas mantinha-se distante sempre que eu estava com Adrian.

O clima entre eles parecia apenas piorar.

Quando chegou o final de semana, durante a madrugada de sábado tive um sonho onde finalmente
voltei a rever minha mãe. Estávamos novamente num local tomado por escuridão, onde éramos
capazes de enxergar apenas um ao outro.

— Desculpa por demorar — ela disse, abraçando-me forte.

— Tudo bem, o importante é que você conseguiu vir me ver novamente. Senti sua falta — falei,
sentindo o cheiro agradável de seus cabelos, algo que eu sentia muita saudade.

— Eu consegui descobrir onde está o que irá te ajudar a se proteger — informou, soltando-me. —
Mas preciso de mais tempo; precisarei de ajuda novamente, pois está no plano físico e não posso
trazer até você. Então continue tomando cuidado!

— Claro mãe. Mas o que é? Eu não posso ir buscar?

— Claro que não, é perigoso! Conseguirei um jeito de chegar até as suas mãos Lucas, apenas
tenha calma e prepare-se para encarar coisas que você nunca imaginou que existissem. Queria poder
estar ao seu lado para protegê-lo, mas infelizmente você terá que fazer isso por si mesmo.

— No momento, eu só quero entender tudo isso! Você apenas está me deixando mais confuso e
nervoso. Por favor, mãe, me conte logo o que está acontecendo! — implorei.

— Espere até que o colar chegue até você, e então eu contarei tudo; prometo.

— Colar?
— Sim, é o que te protegerá do responsável por essas mortes.

— Não entendo como um colar irá me proteger — indaguei, confuso.

— Por isso precisa esperar até que chegue as suas mãos, para então descobrir a verdade. Há
coisas que precisamos ver, para acreditar — falou séria para mim. — Agora infelizmente preciso ir,
trarei notícias o quanto antes.

Voltei a abraça-la forte.

— Eu te amo!

— Também te amo, Lucas — ela beijou minha testa e apertou mais forte, antes de me soltar e dar
passos para trás, desaparecendo por completo em seguida.

Detestava essa parte, mas era ótimo poder vê-la novamente, mesmo que nossos encontros fossem
tão breves.

Respirei fundo e concentrei-me para acordar, mas não obtive resultados. Tentei novamente e
nada, para minha preocupação; aquele local me dava arrepios. Decidi então tentar concentrar-me em
meu corpo físico, e imediatamente me vi sendo puxado até o meu quarto e encaixando em meu corpo
que estava dormindo.

Despertei no mesmo instante.

— Ufa — disse ofegante e sentando na cama.

Levantei e fui direto até o banheiro, onde tomei um banho gelado; queria evitar que meu cérebro
fritasse. Todo aquele suspense que minha mãe estava fazendo, estava me tirando do sério.

Tomei meu café da manhã sozinho naquela manhã, já que meu pai havia trabalhado na noite
anterior e não queria acorda-lo. Decidi também fazer o almoço, e livra-lo desse trabalho. Sofri no
preparo daquela macarronada, e sujei quase toda a cozinha, mas quando terminei e provei, percebi
que até que estava uma delícia.

De certa forma, sentia-me orgulhoso pelo primeiro almoço que havia feito na vida.

Após despejar queijo ralado encima e arrumar tudo, chamei meu pai, que assim que desceu até a
cozinha, demonstrou surpresa ao ver a mesa posta.

— Você preparou tudo sozinho? — perguntou, sentando-se e já começando a servir seu prato.
Torcia muito que ele gostasse.
— Sim, mas já vou avisando que não chega aos pés da sua comida. Queria apenas lhe poupar do
trabalho, já que sei que está exausto.

— Obrigado filho — ele deu a primeira garfada na massa, com molho à bolonhesa. — e para
constar, isso está uma delícia.

Sorri satisfeito e também comecei a me servir.

— Como foi o trabalho ontem? Aconteceu algo de diferente? — perguntei. Adorava quando
minha mãe contava os casos estranhos, como das pessoas que introduziam objetos estranhos em seus
orifícios e não conseguiam tirar.

— Na verdade, foi bem tranquilo.

— Entendi — comentei, decepcionado. — Ah, à tarde vou sair com um amigo.

— Irão aonde? — questionou, preocupado.

— Não se preocupe, bem longe das florestas; vamos a uma sorveteria que tem no centro da
cidade.

— Okay, sem problemas então. Que horas preciso te levar lá?

— Não precisa pai, posso pegar ônibus dessa vez.

— Tem certeza? Não irá se perder?

— Eu morava numa capital, lembra? E não se esqueça que prometeu não me tratar igual a uma
criança; já prometi ficar longe da floresta.

— Tudo bem, tem toda razão; espero que se divirta. Fico feliz em saber que está fazendo amigos
rápido; assim que der, quero conhecê-los.

— Pode deixar — sorri para ele, e voltei a comer.

Assim que terminamos o almoço, meu pai voltou para seu quarto e eu arrumei a bagunça da
cozinha o mais rápido que pude. Estava bem ansioso para chegar o horário do meu encontro com
Adrian, então comecei a testar roupas e me arrumar quase duas horas antes.

Quando finalmente faltava pouco, decidi não acordar meu pai e sai de casa direto até a esquina,
onde ficava a parada. Para minha sorte, de acordo com o site, o ônibus fazia seu trajeto em torno de
toda a cidade, então eu podia chegar a qualquer lugar com ele.

Não demorou muito para passar, e eu embarquei. Só tinha mais outras três pessoas, e levou cerca
de vinte minutos até chegar na praça do centro da cidade, onde Adrian me indicou.

Estava cheia de pessoas tomando chimarrão e crianças brincando. Assim que me aproximei da
estátua que ficava no centro, encontrei ele esperando-me ali.

— Chegou cedo — comentou vindo sorridente até mim, e me puxou num apertado abraço. Fazia
um pouco de sol, e ele vestia uma regata branca solta, que deixava seus enormes braços amostra.

O calor de seu corpo e o aroma de seu perfume amadeirado me fez arrepiar.

— Você ainda mais; não achei que já estivesse aqui.

— Não queria deixa-lo esperando — disse, soltando-me.

— Obrigado — falei, sem jeito. — Onde fica a sorveteria?

— Aqui perto, bora lá — respondeu indicando para acompanha-lo.

Caminhei ao seu lado até a sorveteria, que ficava a meia quadra da praça. Era toda decorada com
papéis de parede floral azul e bem agradável. Serviam os sorvetes através de um Buffet até que
diversificado e, para nossa sorte, não estava muito cheio.

Enchi meu pote com os meus sabores favoritos e muitos, muitos confetes.

Adrian fez o mesmo.

— Simplesmente amo sorvete. Como você sabia, quando me convidou para vir aqui? — comentei
sentando com ele em uma mesa no exterior da sorveteria.

— Não sabia — respondeu dando uma colherada em seu sorvete; assim que comeu, gemeu de
prazer. — Apenas pensei que é quase impossível alguém não gostar.

— Fato — disse, também começando a degustar o meu; e de fato, estava delicioso.

— O que achou da sua primeira semana de aula, nessa nova escola?

— Foi bem diferente do que imaginei que seria — revelei. — Mas estou adorando, de verdade.
Você me ajudou muito e não pensei que fosse gostar tanto de Michele, fiquei bem feliz em ter feito
amigos tão rápido — optei em não mencionar Bernardo; não queria discutir com Adrian naquela
tarde.
— Que bom, também gostei muito que você mudou aqui pra cidade — disse, sorrindo para mim.
— Claro, desconsiderando o motivo – acrescentou rapidamente.

— Não se preocupe, eu entendi.

— Me desculpa mesmo assim, sei o quanto é chato quando as pessoas comentam coisas
desconfortáveis assim, esquecendo que não temos mãe.

— Pois é; por isso decidi não contar a turma, além de você.

— Fiquei surpreso por isso, mas ao mesmo tempo, lisonjeado por você ter confiado em mim —
comentou.

— Algo me dizia que podia confiar em você... — revelei e ele abriu um enorme sorriso. —
Agora eu que peço desculpas, realmente espero que não se importe, mas estou curioso... Como você
perdeu sua mãe, Adrian? — questionei e ele parou para pensar, largando o pouco que sobrava de seu
sorvete e respirando fundo.

— Eu tinha 10 anos, e sabe... Digamos que meus pais tinham uma relação complicada. Ele bebia
muito, e constantemente discutiam e brigavam. Após um tempo começaram as agressões, e
infelizmente eu não podia fazer nada pra parar — Adrian começou a contar, com voz embargada.
Senti vontade de pegar em sua mão e confortá-lo, mas não o fiz por medo de sua reação. — Toda vez
que ele chegava bêbado, batia nela acusando-a de ter um amante, algo que minha mãe jamais seria
capaz de fazer. Como dependíamos dele, financeiramente falando, e ameaçava de mata-la se contasse
a alguém, ela se calou por muito tempo. Até que um dia, o maior medo dela aconteceu: meu pai
chegou bêbado em casa numa tarde que minha mãe não estava, não lembro onde foi. Ele ficou irado e
decidiu descontar em mim; foram diversos socos e chutes, que me deixaram todo marcado. Ele foi em
busca dela na rua, e quando minha mãe chegou em casa e me encontrou daquele jeito, imediatamente
arrumou uma mala com nossas coisas e pegou todo o dinheiro que tinha; iriamos fugir — ele fez uma
pausa, segurando o choro.

— Está tudo bem, se não quiser contar, eu entendo — disse, imediatamente.

— Eu quero — informou, tomando ar. — Quando estávamos quase saindo, ele surgiu novamente.
Assim que viu as malas e entendeu o que estava acontecendo, ele sacou uma arma do cós de sua
calça, que havia pegado com um amigo e atirou nela, gritando coisas horríveis... Várias vezes.
Quando percebeu o que havia feito, fugiu igual um covarde, deixando-me ali.
— Isso é horrível! — disse, completamente chocado.

— Sim, às vezes ainda tenho pesadelos com isso, mas já estou começando a superar. Antigamente
culpava-me muito por nunca ter contado a ninguém, ou pedido ajuda, mas eu era apenas uma criança.
Não posso me culpar, não é?

— Definitivamente não.

— Algum tempo depois disso, como nenhum parente quis minha guarda, fui adotado por Heitor
que me trouxe para cá e desde então, finalmente sei o que é fazer parte de uma família de verdade —
revelou.

— Que bom que encontrou pessoas que o amam.

— Sim — ele forçou um sorriso.

Ficamos um bom tempo ali conversando; contei sobre minha tia, e ele sobre sua infância e
adoção. Era incrível o quanto ele era forte emocionalmente. Sentia vontade de abraça-lo a todo
instante, mas para minha sorte, logo fomos mudando para assuntos mais banais e ele voltou ao
normal.

Adorava vê-lo estampar sorrisos em sua boca carnuda e linda.

— Vai querer mais sorvete? — perguntou depois de um tempo; os nossos já haviam acabado
completamente.

— Estou completamente satisfeito; comi demais.

— Eu também. Quer andar um pouco?

— Quero sim — respondi, levantando-me.

Assim que fomos ao caixa, Adrian fez questão de pagar; pois de acordo com ele, ele que havia
me chamado para sair.

Andamos lado a lado pela praça, que agora já estava menos movimentada.

— Sente saudades da capital?

— Claro, mas bem menos do que imaginei que sentiria — respondi pensativo. — Provavelmente
o que mais me faz falta são os shoppings, shows, eventos, cinema... Essas coisas, sabe? Eu adorava!
— ele riu.

— Podemos não ter shoppings, grandes eventos e shows, mas nós temos um cinema aqui, sabia?
— revelou.

— Sério? — fiquei surpreso; meu pai não havia contado e jamais imaginaria que uma cidade de
cinco mil habitantes teria um.

— Sim, temos. Quer conhecer? Acho que deve começar a sessão de hoje dentro de uma meia
hora, mas já aviso que é bem pequeno e nada de blockbusters por aqui, eles somente exibem filmes
antigos.

— Para mim parece ótimo — respondi, rindo.

Adrian pareceu contente e sinalizou o caminho que deveríamos seguir.

Era um prédio antigo e desgastado; na entrada ficava a bilheteria, onde atendia um homem de
meia idade e um pôster ao lado da porta anunciava o filme que estavam exibindo naquele sábado:
Beetlejuice.

— Não acredito que estão passando esse filme; eu amo! — comentei animado.

— Eu amo tudo que Tim Burton faz — revelou.

Após esperar um casal com o filho de uns 10 anos adquirir seus ingressos, compramos os nossos
e entramos no prédio. Lá havia uma pequena lanchonete, que vendia meia dúzia de coisas; Adrian
perguntou se eu queria pipoca e informei que não, então compramos apenas refrigerantes.

Decidimos entrar logo na sala, então apresentamos pra um funcionário que estava na porta nossos
ingressos e entramos. Era uma sala pequena, com capacidade de umas 200 pessoas ou menos. Havia
umas trinta ou quarenta pessoas ali, em maior parte famílias em busca de lazer.

Sentamos em poltronas perto do telão, em uma fileira completamente vazia; faltavam ainda alguns
minutos até a sessão começar.

— Sabe o que achei curioso? — Adrian perguntou num de tom voz baixo, abrindo seu
refrigerante.

Sinalizei que não com a cabeça.


— Quando perguntei se você sentia falta de Porto Alegre, imaginei que iria falar que eram seus
amigos e não somente de eventos e opções de lazer. Não sente falta deles?

— Claro que sim, mas como comentei na sorveteria, encontrei aqui alguns ótimos. — sorri para
ele.

— Mas você não tinha namorada lá? Ou sei lá, namorado? — Adrian perguntou, completamente
interessado.

— Não tinha — respondi, sentindo meu rosto ficar vermelho.

— Bom saber — ele comentou, tomando um gole de seu refrigerante.

— Adrian... — tentei juntar forças para fazer aquela pergunta; precisava saber. — Por que você
está me ajudando tanto?

Ele sorriu com o canto da boca.

— Eu gosto de você, Lucas.

— Eu sei disso — disse de imediato. — Mas desde que cheguei, você passou a falar menos com
seus amigos e me dá total atenção. Por quê? Qual o motivo de tanto interesse em mim?

— Você ainda não entendeu Lucas — as luzes se apagaram e ele se aproximou lentamente de mim.
— Eu gosto muito de você...

Senti sua respiração quente chegar ao meu rosto, e em seguida seus lábios tocarem os meus. Não
me afastei, pelo contrário, dei a permissão para que Adrian continuasse, ao abrir minha boca e
oferecer uma entrada para sua língua.

Foi um beijo que começou lento e carinhoso, mas logo se intensificou; Adrian explorava cada
canto de minha boca com sua língua insaciável e eu fui tomado por um desejo quase incontrolável.
Meu pau endureceu-se igual pedra dentro da cueca, e eu me entreguei completamente a aquela nova
experiência.

Não sei quanto tempo o beijo durou, mas assim que comecei a ficar sem ar, contra a minha
vontade, Adrian afastou sua boca da minha e me encarou nos olhos, colando nossas testas. O filme já
passava no telão, sem darmos qualquer importância.

— Ninguém na escola pode saber disso; principalmente Bernardo — pediu.

— Tudo bem — concordei, puxando-lhe para um novo beijo.


Agora que eu havia experimentado sua boca, não iria querer outra coisa.
Capítulo 09

Depois da minha sessão de beijos no cinema com Adrian, a semana seguinte foi uma das melhores
da minha vida. Simplesmente toda vez que tínhamos oportunidade, na escola, entravamos em salas
vazias para nos beijar.

Sua boca já havia se tornado meu vício, e cada vez me sentia mais apaixonado por ele, mas ainda
sentia medo de falar uma frase tão forte quanto “eu te amo” a ele. O mais complicado era enrolar
Michele, que às vezes, não desgrudava de mim.

Bernardo encarava-me estranho, toda vez que me via saindo da sala ao lado de Adrian, e torcia
que ele não suspeitasse de nada. Afinal, havia prometido a Adrian de que não contaria a ninguém,
principalmente ele. Afinal, devido toda a competitividade e inimizade entre eles, era compreensível
querer guardar esse segredo dele muito bem.

O mais estranho para mim naquela situação, era quando Adrian descia suas mãos até minha bunda
e eu podia sentir seu pau duro tocar no meu. Claro que sentia muito tesão naquilo, mas preocupava-
me com a hora que ele quisesse ir além. Eu era completamente virgem; toda e qualquer experiência
que eu tinha se resumia a punhetas e assistir pornô. O que eu iria fazer se ele quisesse fazer sexo
comigo? Tinha medo de decepcioná-lo.

Durante aqueles dias não voltei a ver minha mãe, mas na sexta-feira um pouco antes de acordar
ouvi sua voz anunciando que “O colar estava a caminho”. Nem preciso comentar sobre o quanto
estava ansioso, né? Afinal além de querer entender como raios um colar iria me proteger, minha mãe
prometeu contar o que estava acontecendo quando o tivesse em mãos.

Torcia que fosse o mais breve possível.

Não sabia se era o fato de ser a segunda semana seguida sem novos ataques, ou estar namorando
escondido com Adrian, mas já não sentia tanto medo ou preocupação quanto antes. Até parecia que
tudo estava bem novamente, mas mesmo assim foquei em não abaixar minha guarda.

Naquele dia, como havia prova de matemática, cheguei mais cedo na escola.

Surpreendi-me completamente ao ver Bernardo lá. Afinal, ele quase sempre atrasava, mesmo em
aulas importantes.
— Bom dia — disse, deixando minha bolsa sobre a mesa.

— Preciso falar contigo — anunciou levantando-se e olhou ao redor, havia outras duas garotas
encostadas à parede conversando entre si. — Mas tem que ser em outro lugar — informou.

Preocupei-me imediatamente, ouvir um “preciso falar contigo” sempre fora motivo para eu achar
que vinha coisa ruim.

— Tudo bem, mas onde?

— Me segue — falou, saindo na frente. Acompanhei de perto.

Torcia que não fosse nada muito sério.

Bernardo me levou até uma sala vazia, num corredor que não tinha aulas durante a manhã, onde eu
já havia estado com Adrian. Só então percebi que ele poderia tentar novamente algo parecido com o
que fez comigo no vestiário ali.

Meu coração acelerou e fiquei nervoso; Bernardo era quase irresistível, mas estava com Adrian e
não queria que isso mudasse.

— Por que precisa ser tão escondido? — protestei a ele, demonstrando receio de entrar.

— Porque você não vai querer que outros ouçam o que tenho a te falar; entra logo — respondeu,
impaciente.

Respirei fundo e fiz o que ele mandou, mas mantive-me a certa distância dele, para garantir. Sabia
muito que uma aproximação corporal entre nós, poderia nos levar até uma situação que eu tinha que
evitar ao máximo.

Bernardo fechou a porta atrás de nós.

— O que você tem com Adrian? — perguntou sério.

— N-nada, somos apenas amigos — respondi, surpreso.

— Não minta, vocês não desgrudam um do outro. Estão se pegando? — questionou, aproximando-
se de mim de forma intimidadora.

Recuei dando passos para trás, mas ele continuou avançando.

— Juro que não — tentei soar o mais sério possível.

— Espero que esteja dizendo a verdade — encarou-me nos olhos. — Mas no fundo, sei que é
apenas uma questão de tempo até ele tentar algo com você. Mas acredite em mim quando digo que
você não irá querer se envolver com alguém como ele. Se eu fosse você, abandonava o barco
enquanto ainda tem tempo.

— Você não pode falar algo assim, só porque não vai com a cara dele; Adrian é a melhor pessoa
que já conheci! — defendi.

— Não é apenas questão de não ir com a cara dele, Lucas; eu sei de coisas que duvido que ele
tenha contado a você. Ele é um excelente mentiroso — podia sentir sua respiração em meu rosto, de
tão próximo a mim.

— Do que você está falando? — questionei, confuso.

Ele trouxe sua mão até mim e acariciou meu cabelo.

— Eu conto se você me der um beijo — ofereceu, mordendo seu lábio inferior.

Senti o ódio subir e imediatamente empurrei-o de perto de mim.

Ele riu.

— Não vou cair nessa Bernardo, você está me enrolando apenas pra conseguir o que quer, mas
não vou cair no seu papo. Adrian está sendo um excelente amigo para mim! — disse irritado,
tentando passar por ele e deixar a sala.

Bernardo colocou a mão em meu peito, impedindo-me.

— Você está sendo manipulado, e nem mesmo percebeu.

— Estou? Então me diga o que de tão sério que Adrian está escondendo de mim!

— Sem beijo? — provocou.

— Claro que sem beijo Bernardo; me conta logo!

— Então você não merece a informação completa — ele passou a mão em seu cabelo pensativo,
alinhando os fios que caiam sobre sua testa. — Mas vou fazer o seguinte, para você perceber que não
estou te enrolando, vou dar uma dica: pergunte a Adrian sobre sua família.

— O que tem demais nisso? Eu já sei que ele é adotado.

Bernardo me encarou, surpreso.

— Ah, então ele te contou toda aquela história triste... — comentou, irônico.
— Não zombe! Você não sabe como é perder alguém — protestei.

— Na verdade, eu quase sei sim; só preciso descobrir se meu pai tá morto, ou apenas decidiu
abandonar a família — revelou. — Mas não é sobre isso que estou falando; Adrian definitivamente
não te contou tudo o que aconteceu após ser adotado. Pergunte a ele como foi vir para Floresta
Negra; garanto que são informações bem relevantes para se saber de um amigo. Aposto uma boa
grana que você irá se afastar imediatamente, assim que descobrir a verdade.

— O que você quer Bernardo? Por que está tão decidido a me afastar de Adrian? Juro que não
entendo — perguntei, confuso.

— Pra começar, detesto ver ele enganando a todos dessa forma — disse, voltando a se aproximar
de mim. — E por segundo, eu quero você! E sei muito bem que enquanto estiverem tão próximos,
você continuará me evitando, com medo de ceder ao seu desejo por mim — Bernardo puxou-me
contra seu enorme peitoral e senti um arrepio correr pelo meu corpo. Tudo nele exalava sexo.

— Eu não vou me afastar dele...

— Por que você é um tolo — ele trouxe seus lábios quentes até meu pescoço e beijou;
involuntariamente deixei um gemido escapar. — Ele não é quem você pensa que ele é; estou avisando
pelo seu bem. É comigo que você deveria estar!

Não disse nada e Bernardo subiu sua boca até minha orelha, onde lambeu deliciosamente,
deixando-me sem qualquer defesa.

Para minha sorte, o sinal tocou em seguida e eu consegui me afastar de seu corpo.

— Precisamos ir pra sala fazer a prova — disse, um pouco sem fôlego.

Meu pau marcava minha calça de uma maneira gritante, de tão duro que eu estava.
Definitivamente, ele sabia me excitar.

Bernardo sorriu satisfeito ao ver aquilo.

— Tudo bem, eu sei que você ainda será meu; é inevitável — falou, deixando a sala por primeiro,
em seguida.

Respirei fundo.

Se Adrian descobrisse aquilo, iria ser péssimo.

***
Assim que retornei à sala, encontrei Adrian lá, já sentado e se preparando para a prova; a
professora já havia entrando também. Segui até minha classe, apressado.

— Onde você estava? — foi a primeira coisa que ele perguntou a mim, assim que passei por ele.
Bernardo me encarou de sua classe, com um sorriso malicioso no rosto.

— No banheiro — menti, sentando na minha classe sem olha-lo nos olhos.

— Então por que você está cheirando ao perfume de Bernardo? — Adrian questionou com voz
baixa, sem virar para mim.

Senti meu coração acelerar no mesmo instante.

— Ele me abraçou ao cumprimentar — tentei não gaguejar.

Para me deixar ainda mais nervoso, Adrian não disse nada.

Fiz a prova sem conseguir me concentrar direito. Como raios ele havia sentido o cheiro de
Bernardo em mim? Havíamos nos encostado durante poucos segundos.

Não queria que o estava acontecendo entre nós acabasse.

Após um tempo, ele terminou a prova e entregou à professora, saindo da sala em seguida. Fiz o
mesmo, sem me preocupar que ainda faltava duas questões para responder; precisava conversar com
ele e consertar as coisas.

Assim que sai, avistei-o andando em direção ao pátio.

— Espera Adrian! — corri até ele.

— Preciso tomar um ar, sozinho — disse, assim que me aproximei.

— Não fica com ciúmes; eu não fiz nada com Bernardo! — disse a ele, torcendo que acreditasse.
Eu sabia que havia agido errado, mas faria diferente dali em diante.

Adrian me encarou durante alguns momentos e sem se preocupar com nada e quem pudesse ver,
trouxe sua boca até a minha e lambeu meus lábios com sua língua.

Para nossa sorte, o corredor estava vazio.

— Tudo bem, eu acredito — informou, afastando nossas bocas. — Desculpa por ser tão
possessivo, mas quero que você seja somente meu. Gosto muito de você, Lucas! — disse, mais
calmo.
— Eu já sou! — falei, abraçando-o forte.

***

Como meu pai havia saído para trabalhar, naquela noite dormi relativamente cedo; queria
descansar bem para aproveitar o sábado, mas daquela vez tive um sonho muito estranho. O mais
estranho de todos.

Nele, eu via minha tia Andreia dirigindo seu carro durante a noite, numa estrada pouco iluminada;
ela demonstrava certo nervosismo e ansiedade. Até mesmo fumava um cigarro com uma de suas mãos
— algo que havia abandonado há anos — e com a outra, manobrava o volante.

A sensação que eu tinha era muito estranha; parecia que eu estava em seu carro, mas ao mesmo
tempo não. Sendo mais especifico, era como se apenas minha mente estivesse ali.

Após um tempo, para minha surpresa, minha tia passou pela placa da cidade; ela estava entrando
em Floresta Negra. Mas ao invés de prosseguir seu caminho, poucos metros depois, ela encostou o
carro rapidamente.

Ela jogou o cigarro pela janela.

— Não acredito! — disse, olhando fixamente para a estrada a sua frente.

Tentei enxergar o que ela estava vendo, mas estranhamente, só conseguia enxergar uma luz
cegante refletindo no vidro do carro.

Ela abriu seu cinto de segurança e desceu.

Tentei acompanha-la até lá fora, mas não consegui me mover; eu estava fixo ali dentro do carro.
Imediatamente fui tomado por uma sensação de mau presságio e senti vontade de gritar para ela
voltar ao carro.

Mas o que ouvi poucos segundos depois foi um alto grunhido gutural, e em seguida os gritos da
minha tia. Tentava desesperadamente olhar por aquela luz e ver o que estava acontecendo ali na
frente, mas o desconforto que me causava era quase insuportável.

Houve silêncio e de repente, vi o corpo de minha tia bater com força no para-brisa do carro,
rachando-o no mesmo instante e dissipando um pouco da luz. Em seguida, uma enorme silhueta preta,
como se fosse uma sombra, se aproximou dela e enormes garras peludas envolveram seu pescoço.

Sem saber como, num impulso de desespero apertei a buzina do carro; que fez muito barulho e
assustou a coisa ali na frente, fazendo-o correr para longe.

Poucos segundos depois, acordei ofegante em meu quarto.

Meu coração quase soltava do peito, e o medo de que aquilo não tivesse sido um sonho era
enorme. Então, levantei-me num pulo e disquei no celular o número da minha tia diversas vezes.

Nenhuma das ligações fora atendida.

Também tentei falar com meu pai, mas somente na caixa de mensagem. Então vesti minha roupa e
tênis o mais rápido possível e, após guardar o celular no meu bolso, desci as escadas correndo.

Eu precisava ter certeza que aquilo que eu havia visto não havia acontecido, e como eu sabia
como chegar até a entrada da cidade, sem pensar duas vezes, peguei a bicicleta que estava na
garagem e sai pedalando madrugada afora atrás da minha tia.

Só descansaria assim que eu tivesse certeza que minha tia estava bem.
Capítulo 10

Quanto mais me aproximava do local, mais ansioso ficava.

Pedalei durante quase uma hora; minhas pernas já estavam quase exaustas, mas não podia parar.
Assim que faltava muito pouco, e eu avistei faróis de um carro parado logo à frente, fui tomado por
desespero e acelerei ao máximo a velocidade.

Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo!

Ao ver o corpo de minha tia sobre o carro, joguei a bicicleta de lado e corri até ela em prantos.
Sua blusa estava rasgada e cortes de garras marcavam a pele de suas costas, pude ainda perceber que
um pouco de sangue saia de um corte em sua testa.

Aquilo era péssimo!

Com medo e receio segurei seu pulso, e para minha sorte, senti pulsação.

Tentei respirar fundo e com as mãos tremulas busquei pelo celular em meu bolso; assim que
peguei, disquei o número da emergência.

— Por favor venham rápido até a placa de entrada da cidade minha tia foi atacada — disse assim
que fui atendido, atropelando todas as palavras.

Houve um breve silêncio do outro lado da linha.

— Calma, vamos mandar uma ambulância para aí imediatamente — uma mulher informou em
seguida.

— Por favor, não demorem — implorei e desliguei a ligação.

Aproximei-me novamente da minha tia e debrucei-me com cuidado sobre seu corpo, em choro;
não podia perdê-la também. Eu amava-a demais! Naquele momento até sentia-me culpado por não ter
ligado para ela muitas vezes, desde que havia mudado para ali.

Se ela morresse, jamais iria me perdoar.

Foram agoniantes minutos de espera, até que finalmente a ambulância chegou. Encostaram ao lado
do carro, e de trás saíram dois homens apressados com uma maca e carrinho de oxigênio.
— O que aconteceu? — um deles perguntou preparando a maca, enquanto o outro verificava a
pulsação da minha tia e sua respiração.

— Ela foi atacada. Ela vai ficar bem? — respondi, preocupado.

— Calma, faremos o possível — falou, colocando-lhe a mascara de oxigênio. — Sabe quem


atacou ela? Você viu?

Balancei a cabeça, em negativa.

— Precisamos leva-la para o hospital urgente; ela perdeu muito sangue — o outro anunciou,
preocupado.

— Você tem os documentos dela? — o enfermeiro perguntou, enquanto ajudava a coloca-la


cuidadosamente sobre a maca.

Corri até a porta aberta do carro e verifiquei que a bolsa de minha tia estava no banco de
passageiro. Abri e vi que sua carteira estava ali, junto de algumas coisas suas e um colar lindo.

Ele era feito com uma corda marrom longa, que ao final entrelaçava uma pedra redonda
transparente, que possuía reflexos prateados em seu interior; era de uma beleza ímpar.
Definitivamente devia ser sobre o mesmo que minha mãe havia falado.

Rapidamente guardei aquele colar em meu bolso e acompanhei os enfermeiros com a maca até o
interior da ambulância, levando a bolsa de minha tia.

Cada minuto que levava até chegar ao hospital parecia uma eternidade.

Quando finalmente chegamos, os enfermeiros desceram com a maca e levaram apressados minha
tia até o interior do hospital, mas assim que passaram pela porta que provavelmente levava até a
emergência, impediram-me de acompanha-los.

— Você tem que ficar aqui; assim que tivermos novidades avisaremos! — um deles disse. E eu
concordei com a cabeça, nervoso; queria ficar ao lado dela.

A recepcionista do hospital chamou-me.

— Você é parente dela? — a linda mulher negra com cabelos crespos perguntou.

— Sim, ela é minha tia — busquei na bolsa sua carteira e abri. — Aqui está o documento dela —
entreguei a identidade.

— Obrigado — ela pegou.

— Poderia, por favor, chamar meu pai? — pedi.

— Quem é ele?

— Lúcio Scopelli — respondi, impaciente; queria muito vê-lo.

Ela foi até o telefone e discou um número; em seguida, perguntou por meu pai.

Assim que desligou, retornou até mim.

— O Dr. Lúcio está realizando um parto nesse momento — informou.

— Tudo bem — falei, olhando para minhas mãos trêmulas.

Eu ainda estava muito nervoso.

— Sente-se e tente se acalmar enquanto espera, querido. Assim que seu pai for liberado, será
imediatamente avisado do que aconteceu e de que você está aqui.

— Obrigado — agradeci e fui até um dos bancos.

A sala de espera só tinha algumas poucas pessoas, e eu tentei realmente me acalmar e respirar
fundo. Precisava pensar bem no que faria dali em diante, afinal, mesmo após aquelas duas semanas
sem novos ataques, naquele momento minha tia estava correndo risco de vida e se minha tivesse
razão, eu podia ser o próximo.

Apenas queria entender o quanto antes como eu havia visto o ataque em meu sonho e o que era
aquela coisa; nada estava fazendo sentido. Aquilo definitivamente não era um animal e nem mesmo
humano.

Após uma meia hora ali esperando, meu pai surgiu e veio até mim preocupado.

— Você está bem, Lucas? — perguntou, olhando para meu corpo.

— Estou bem, pai — disse, levantando. — Somente tia Andreia foi atacada.

— O que aconteceu? — questionou encarando-me nos olhos, muito sério.

Engoli em seco; como ia explicar que eu havia sonhado sobre o ataque?

Definitivamente, não acreditaria!


— Fala logo, Lucas! — meu pai insistiu, impaciente.

— Eu não sei direito, ela me ligou dizendo que precisava de ajuda. Como ela estava na entrada
da cidade, e eu sabia como chegar, fui atrás dela com a sua bicicleta e infelizmente a encontrei
desacordada e machucada — menti.

— Você não devia ter saído de casa sozinho, essa hora da madrugada! Tem noção do perigo que
você se expôs? — meu pai gritava, irritado.

— Eu sei, desculpa — disse, começando a chorar. — Mas eu fiquei preocupado com ela, e queria
ter certeza que ela estava bem.

— Você podia ter me ligado!

— Eu tentei, mas só caia na caixa de mensagem.

— E nenhum momento pensou em ligar para a emergência ou policia, ao invés de ir pessoalmente


lá? — indagou.

— Eu não sabia que ela havia sido atacada!

— Tudo bem, tudo bem — ele disse, respirando fundo e se acalmando. — Desculpa por gritar,
apenas fiquei preocupado contigo. Sei que você queria ajudar sua tia, mas da próxima vez pense bem
antes de fazer algo assim.

— Eu prometo — falei, secando minhas lágrimas.

— A polícia está a caminho, irão te fazer perguntas sobre o que aconteceu; conte tudo que você
sabe a eles.

— Tudo bem — disse, nervoso.

Havia esquecido dessa parte e havia acabado de contar uma mentira enorme para meu pai; assim
que vissem o celular da minha tia, eu estava fodido.

— Agora eu vou entrar lá e ver se precisam de ajuda com Andreia; assim que eu souber qualquer
coisa venho aqui te contar, okay? — concordei com a cabeça. — Não se desespere ainda.

— Salva ela, por favor, pai; não sei se aguento perde-la também! — implorei.

— Farei meu melhor; prometo — ele me puxou para um breve abraço e em seguida, retornou para
dentro da emergência.
Voltei a sentar naquele banco, e assim que percebi que a recepcionista do hospital estava
distraída, abri a bolsa da minha tia rapidamente em busca do celular. Estranhamente, não estava ali.

Tentei me acalmar; eu não tinha opção além de mentir novamente. Se eu contasse que havia
sonhado com o ataque, iria achar que eu estava louco ou mentindo e logo suspeitariam que tivesse
algo de errado. Não queria acabar me tornando um suspeito.

Assim que chegaram, dois policiais vieram até mim e além de pedir a bolsa da minha tia, fizeram
diversas perguntas. Respondi todas, mas não tinha resposta para a maioria delas, é claro. Repeti a
mesma história que contei a meu pai.

Quando finalmente ficaram satisfeitos, falaram com os médicos que estavam atendendo minha tia
e em seguida, foram embora, provavelmente para analisar a cena do ataque. Torcia que não
encontrassem o celular no carro.

Foram longas horas que se passaram enquanto eu esperava, e inevitavelmente fui vencido pelo
cansaço; minhas pernas ainda doíam e latejavam de tanto que pedalei.

Adormeci sentado.

Fui despertado somente por meu pai, algum tempo depois, que chacoalhou meu ombro
carinhosamente e chamou por meu nome.

Assim que abri os olhos, encarei-o assustado e após alguns segundos lembrei onde estava e o que
havia acontecido.

— Como minha tia está? — foi a primeira coisa que perguntei.

Meu pai calou-se durante alguns segundos, respirando fundo.

Senti meu coração acelerar, e todo o nervosismo voltar de uma vez.

— Conseguimos tratar os cortes em suas costas e conter a infecção, mas ela bateu muito forte a
cabeça — ele fez uma pausa, encarando-me sério. — Nós tivemos que induzi-la ao coma.

Comecei a chorar imediatamente.

— Isso é ruim, não é? Ela vai ficar bem?

— Ainda não sabemos, já não depende mais de nós Lucas; ela precisará ser levada até um
hospital de Porto Alegre, não temos como mantê-la aqui. Já liguei para Marcelo e dentro de uma
hora, uma ambulância irá levá-la — informou.
— Eu vou junto! — disse, levantando-me rapidamente.

— Não, Lucas, você ficará aqui! — meu pai interviu, autoritário.

— Mas...

— Não tem o que discutir — ele interrompeu. — Você continua sendo um adolescente, e eu sou
seu pai. Tem que me obedecer! Você já agiu errado em ter saído de casa sozinho, independente do
motivo. Podia ter sido você lá dentro ou morto, tem noção disso? Não pensou em como eu ficaria?

— Eu já me desculpei pai e prometi não voltar a fazer isso! Eu apenas quero ajudar minha tia,
você sabe o quanto eu amo ela — insisti.

— Eu sei filho, mas você ficará, está decidido. Marcelo irá ficar com ela o tempo necessário; sei
que não gosta dele, e eu também não, mas ele demonstrou muita preocupação pelo telefone. Além de
que você é apenas um garoto; infelizmente, não pode fazer nada para ajuda-la nessa situação, além de
orar e torcer que dê tudo certo.

— Tudo bem — disse, vencido. — mas posso pelo menos vê-la antes de a levarem?

— Pode — meu pai concordou. — Vou leva-lo até lá.

Acompanhei-o de perto, até onde ficava o quarto em que minha tia estava.

Ela estava deitada desacordada na cama tomando um soro, com mascará de oxigênio presa ao
rosto e equipamentos de monitoramento conectados ao seu corpo.

Corri até ela, assim que a vi naquele estado.

— Tia... — eu ainda chorava muito.

— Acalme-se Lucas, os médicos da capital são excelentes — meu pai disse tentando me
confortar, alisando meu ombro.

— Quanto tempo ela ficará assim? — questionei.

— Não há como saber, o coma induzido pode durar desde algumas horas a dias. Dependerá de
quando poderão tirá-la dos sedativos, sem qualquer risco a ela — explicou.

Fiquei ao lado de minha tia, segurando a sua mão até o momento que a ambulância chegou. Não
queria ficar longe dela naquele estado, mas não tinha outra opção.

Depois daquilo, meu pai me levou direto até em casa.


Como eu estava ainda muito abalado com o que havia acontecido, ele me deu alguns remédios
para dormir e descansar. Tomei, sem qualquer resistência e ele permaneceu ao meu lado até eu
adormecer.

***

Queria ter apagado completamente e ter dormido até que tudo estivesse bem, mas um sonho se
formou enquanto eu dormia.

Eu novamente estava na floresta que havia sonhado no dia do acidente. Em um primeiro momento
achei que o sonho estava se repetindo, mas, ao olhar para cima, constatei que a Lua não estava
tingida de vermelho, dessa vez.

Olhei ao redor, mas parecia estar sozinho novamente.

Perguntei-me se devia andar e buscar pela saída como da primeira vez, afinal não havia sido
muito bom o resultado quando o fiz.

Quando decidi não ficar parado ali, pois talvez também não fosse boa ideia, ouvi barulhos de
folhas sendo pisadas logo atrás de mim. Virei rapidamente e vi minha mãe surgindo detrás de uma
árvore; ela correu até mim e me abraçou.

— Sinto muito — disse e me abraçou forte. — A culpa foi minha! Não devia ter pedido a ela que
fosse atrás do colar.

Só então lembrei o que havia acontecido.

— A culpa não é sua; é daquela coisa que atacou ela! — disse, começando a chorar. Minha mãe
me apertou ainda mais.

— Você precisa agora tomar mais cuidado do que nunca, Lucas – minha mãe orientou, e eu
concordei com a cabeça, afastando-me.

— Como você sabe o que aconteceu? Disse-me que não tinha acesso a cidade — indaguei,
secando minhas lágrimas.

— Fiquei sabendo da mesma forma que você: através de uma visão. Ela podia não enxergá-lo,
mas eu te vi dentro daquele carro e salvando-a da criatura — revelou.

— Como e por que eu vi aquilo? — questionei, confuso.

— Desculpa Lucas, mas não posso contar; quando chegar a hora, você saberá através de outra
pessoa. Por enquanto, é até mais seguro que você não saiba!

— Mas eu preciso entender o que está acontecendo! — protestei.

— Você tem razão e eu irei contar sobre os ataques, como prometi — ela respirou fundo. — Mas,
por favor, me diga primeiro se você conseguiu encontrar o colar que sua tia estava levando-lhe.

— Sim, está comigo, em meu bolso; não entreguei a policia.

— Ótimo! Mas tome cuidado, Lucas; você não perdê-lo de jeito algum, foi muito difícil encontra-
lo e é a única coisa que poderá te ajudar a descobrir quem é o assassino e proteger-se dele.

— Como? Já disse que não entendo como um colar poderá me ajudar com algo assim.

— Não é apenas um colar Lucas, é um artefato mágico; a joia que ele prende chama-se Pedra da
Lua — explicou, dando mais nós em minha cabeça.

— Mágico? O que ele faz? — perguntei, confuso.

— Primeiro você precisa saber o que está atacando essas pessoas — minha mãe fez uma pausa,
encarando-me nos olhos. — Pode parecer estranho ou brincadeira, mas todos esses ataques são de
um lobisomem, Lucas — revelou.

Senti meu coração acelerar, ao ouvir aquilo.

— V-você está falando sério? — questionei.

Cada vez mais, tudo aquilo fazia menos sentido.

Tudo bem, eu já imaginava que aquela coisa não fosse humana, mas primeiro foram os sonhos;
depois o lobo, uma porta que desaparece e agora visões, artefatos mágicos e um lobisomem. O que
mais eu poderia esperar?

— Sim, estou falando muito sério, por isso você precisa do colar. Além de enfraquecer o
lobisomem, se você colocar nele, revelará sua outra forma.

— Como assim?

— Entenda uma coisa primeiro, Lucas! Lobisomens, quando não estão transformados, possuem
forma humana. Então, pode ser qualquer um da cidade! Por isso precisa estar sempre atento; se você
desconfiar de alguém, você poderá utilizar o colar nessa pessoa e se for o lobisomem, ela
automaticamente irá se transformar em sua forma bestial; mas não se preocupe, estará enfraquecida
pela Pedra da Lua e você poderá fugir — explicou.

— Mas e se ele vier até mim transformado? — indaguei, apavorado.

— Tente de tudo para fazê-lo ter contato com o colar! Assim que a pedra encostar à sua pele, a
mesma coisa acontecerá: ele mudará para sua outra forma, a humana e ficará ainda mais vulnerável.
E então, você também descobrirá quem é!

— Tudo bem, mas ainda não entendo o que irei fazer, se eu descobrir; ninguém acreditará em mim
se eu for a policia e disser que é um lobisomem.

— Você não é o único que sabe sobre lobisomens em Floresta Negra, Lucas. A cidade sempre foi
lar dessas criaturas, então, se você descobrir quem é, conte a polícia e saia da cidade imediatamente.
Eles podem rir de você, mas tenha certeza que a informação chegará a conhecimento de quem é capaz
de impedi-lo de fazer novas vítimas.

— Okay, farei isso — concordei, ainda assustado com tudo aquilo. — E se eu perder o colar? O
que pode me ajudar a se proteger dessa coisa?

— Prata e acônito, mas esse segundo dificilmente você encontrará na cidade.

— Tudo bem, tentarei conseguir algo de prata para manter sempre comigo.

— Faça isso! — minha mãe disse, abrindo os braços e me chamando para um abraço. Fui até ela
e abracei-a forte. — Desculpa por não poder te ajudar mais do que isso, filho; mas o mundo real,
esse que poucos conhecem, é muito mais complicado do que você possa imaginar. Então, por favor,
tome cuidado e faça o que eu te disse. Eu te amo muito e não quero nem imaginar algo ruim
acontecendo a você!

— Eu prometo que tomarei, mãe; mas faço questão de descobrir quem atacou tia Andreia e matou
todas essas pessoas, para garantir que ele pague por isso!
Capítulo 11

Os dias foram passando e acabei faltando dois dias de aula.

Ainda estava muito triste pelo que havia acontecido com minha tia, e não sentia qualquer vontade
de voltar à escola, até saber que ela estava bem; meu pai me passou o número de Marcelo já que,
para minha sorte, o celular dela fora encontrado quebrado em sua roupa.

Então, ligava para ele de hora em hora para perguntar se tinha alguma novidade sobre o estado de
tia. Resultado? Fazia quase um dia inteiro que ele ignorava todas as minhas ligações.

Detestava-o com todas as minhas forças; mas pelo menos, sabia que ele não havia saído do lado
de minha tia em nenhum momento. Acho que finalmente estava se tornando uma pessoa menos
detestável.

Guardei escondido o colar da Pedra da Lua entre meus livros, até que eu precisasse dele. Iria
levá-lo em todos os lugares que eu fosse, mas ali dentro de casa preocupava-me se meu pai visse.
Não saberia explicar como eu havia conseguido aquilo.

Também fui em busca de informações sobre lobisomens na internet, mas a maior parte do que
consegui, tratava-se de informações baseadas em filmes e livros de ficção, então não podia confiar
muito.

Havia algumas lendas de como eles se tornavam lobisomens, mas cada cultura tinha sua própria
visão a respeito da licantropia. As únicas coisas que coincidiam em todos os resultados era o uso de
prata para se proteger — como minha mãe havia me dito. — e que para matar era necessário cortar a
cabeça, ou envenenar com o tal do acônito, que era uma planta de origem europeia.

Como era a coisas mais acessível e rápida de conseguir, precisava achar um jeito de conseguir
alguma corrente ou pulseira de prata, mas o problema era de que não tinha dinheiro para algo assim.
Podia tentar pedir ao meu pai, mas não queria fazer isso, afinal podia estranhar e definitivamente eu
não tinha um bom motivo para convencê-lo a dar de presente.

O que eu podia fazer, mesmo sendo algo vergonhoso, era pegar escondido seu cartão de crédito e
comprar pela Internet uma corrente em prata, ou em alguma loja da cidade, e torcer para que ele não
notasse na fatura.
Eu poderia ir para o inferno por causa disso, mas pelo menos era por um bom motivo.

Já que eu não estava indo as aulas, Adrian mandava-me mensagens a todo o momento,
preocupado em saber se eu estava bem; sempre respondia que sim, e que logo voltaria a seus braços
e beijos. Não tinha como não me sentir mal em estar distante dele, agora que havíamos começado a
ter algo especial, mas ir assistir às aulas estava fora de cogitação. Não tinha cabeça para isso.

Na quarta-feira, meu pai saiu para a rua durante a tarde; disse que precisava resolver algumas
coisas e poderia acontecer de ter que ir direto para o trabalho, então como eu estava sozinho em
casa, decidi tentar dormir — algo que já estava fazendo em excesso.

Saber que Marcelo continuaria ignorando minhas ligações me revoltava, mas não podia fazer
nada além de esperar e que melhor maneira de aguardar por algo do que dormindo? Para alguém tão
ansioso como eu, era a melhor opção.

Então após desligar meu computador, tirei minha calça para deitar na cama, mas antes que eu o
fizesse, ouvi barulhos de algo batendo no vidro da janela do meu quarto, que estava fechada; alguém
estava jogando pedras.

Aproximei-me e surpreendi-me em ver que era Adrian, lá embaixo.

Abri o vidro e Adrian abriu um enorme sorriso, assim que me viu.

— Vou descer, espera — avisei e voltei a vestir minha calça. Não iria recepcioná-lo apenas de
cueca, mesmo que não fosse tão má ideia.

Antes de descer fui até o banheiro e me olhei no espelho; estava com a cara um pouco inchada de
tanto dormir e chorar naqueles dias, mas como não havia nada que pudesse fazer para melhor, desci
para abrir a porta.

Adrian já me aguardava parado em frente a ela.

Ele vestia uma camisa branca, uma bermuda jeans escura — já que fazia um pouco de calor
naquela noite. — e um mocassim preto. Ele me encarava sorrindo de uma forma que parecia que não
víamo-nos há anos.

— Oi Adrian — cumprimentei, sem jeito. — Entra!

— Sinto muito pelo que aconteceu com sua tia — falou, assim que entrou.

Fechei a porta e abracei-o forte.


— Obrigado; senti muito sua falta!

— Eu também até mesmo me desculpe por aparecer assim do nada, mas é que eu realmente não
aguentaria ficar mais um dia sem vê-lo!

— Fico feliz que tenha vindo! — disse, percebendo que eu realmente importava para Adrian.

— Não suma assim novamente, fico incompleto sem você — pediu, trazendo seus lábios até os
meus.

Foi um beijo carinhoso e lento; Adrian comandava cada movimento e eu não sabia se era o fato
de não beijá-lo há dias, mas naquela tarde, sua boca parecia ainda mais deliciosa. Ele era como uma
droga para mim.

Ficamos naquilo durante vários minutos, matando a saudade que sentíamos um do outro, até que
fiquei ofegante e tivemos de separar nossos lábios.

— Quer subir até meu quarto? — sugeri. — Podemos conversar melhor lá encima.

— Adoraria — respondeu, com um sorriso em seus lábios.

Adrian me acompanhou até o andar de cima, e percebi que ele observou atento as fotos na parede
da escada. Assim que chegamos, esperei ele entrar e fechei a porta de meu quarto.

Sentei em minha cama, mas ele permaneceu em pé; a estante havia chamado sua atenção e ele foi
até ela.

— Tem muitos títulos legais aqui — falou, olhando um de meus livros.

— Sim, foi meu pai que montou, de acordo com meu gosto. Posso dizer que ele acertou em cheio
nas escolhas — comentei.

Assim que ficou satisfeito de olhar meus livros, virou-se e ficou olhando para mim.

— Quer sentar? — convidei, batendo ao meu lado na cama, para sinalizar onde.

— Claro — respondeu e veio até o meu lado. Ele pareceu observar a árvore que havia do lado de
fora de minha janela, mas estava apenas pensando no que dizer. – Sabe, quando revelou o que havia
acontecido, fiquei com medo de você deixar a cidade e nunca mais vê-lo — disse, finalmente.

— Jamais o abandonaria assim.

— Eu sei, mas percebi que se você o fizesse, jamais me perdoaria — ele demonstrava
nervosismo.

— Não se perdoaria do quê? — perguntei, confuso.

— De deixar você ir, sem dizer que eu te amo — ele pegou minha mão. — Por isso vim aqui
hoje, quero que você saiba que meu coração já pertence completamente a você, de uma forma que
jamais senti com mais ninguém.

Encarei-o sem palavras.

Não acreditava que ele estava falando aquilo pra mim.

— Obrigado por dizer isso, sentia medo da sua reação se eu o fizesse antes, mas a verdade é que
eu também te amo — revelei e ele abriu um enorme sorriso.

— Isso é maravilhoso! — gritou animado e se jogou encima de mim, enchendo-me de beijos no


rosto e pescoço, enquanto me prensava contra a cama.

Eu ria descontroladamente com aquilo.

Quando percebeu que eu já estava ofegante, Adrian parou e encarou-me no fundo dos olhos; nunca
havia o visto tão feliz assim.

— Eu te amo — repetiu, sussurrando.

— Também te amo — retribui, com um sorriso bobo no rosto.

Era maravilhosa a sensação de ser amado pela pessoa que eu também amava.

Adrian voltou a aproximar seu rosto do meu e logo senti o suave e gentil toque de seus lábios
tocarem minha boca. Ele continuava olhando-me no fundo dos meus olhos, como se pedisse
permissão para continuar em frente.

Nossos narizes se tocaram e eu pude sentir sua respiração quente em meu rosto; fechei meus olhos
e logo senti nossas bocas colarem, com sua língua finalmente adentrando, buscando pela minha. Senti
o gosto da sua, assim que elas se entrelaçaram.

Adrian explorou cada canto de minha boca.

Seu beijo era controlado, mas feroz; ele sabia exatamente cada coisa que queria me fazer sentir.
Permanecemos daquela forma por vários minutos, até que tive que me afastar, pois já estava ofegante,
mas Adrian não demonstrou ter perdido o fôlego.
Adrian me olhava com desejo, e sem que eu esperasse por aquilo, ele afastou um pouco as minhas
pernas e encaixou uma das suas entre as minhas, inclinando-se sobre mim para voltar a me beijar.

Desta vez o beijo era ainda mais feroz e eu podia sentir sua coxa sobre meu pau, que logo
começou a ficar duro; ele apoiava-se com as mãos na cama para permanecer curvado sobre mim.

Sem pensar muito, instintivamente levei uma das minhas mãos até seu peito e comecei a alisar
com vontade. A outra passei por baixo de sua camisa, e senti entre meus dedos sua barriga definida e
os poucos pelinhos que havia ali.

Eu estava ficando muito excitado; sentir seu corpo quente era delicioso. Parecia que sua pele
estava pegando fogo e logo senti o membro de Adrian ganhar vida.

Permanecemos daquela forma por um bom tempo, até eu ter coragem de começar a tirar sua
camisa; ele se afastou para facilitar meu trabalho. Assim que a arranquei, joguei no canto e observei
seu corpo maravilhoso; mecanicamente mordi meu lábio inferior, tomado por desejo.

Eu alisava minhas mãos sobre suas largas costas, enquanto ele continuava me beijando; sua
ereção latejava sobre minha coxa e ele subiu ainda mais sobre mim, para poder esfregar contra a
minha, arrancando de mim gemidos intensos.

A sensação de nossos paus se tocando era indescritível.

Continuamos daquela forma por mais um bom tempo, mas eu queria mais do que aquilo; então,
sem saber de onde tirei forças, joguei Adrian para o lado na cama e rapidamente subi em cima dele,
montando sobre seu pau.

Ele pareceu completamente surpreso com minha iniciativa, mas antes que ele pudesse falar algo,
calei sua boca com a minha; só que dessa vez, por pouco tempo.

Comecei a descer meus beijos por seu pescoço, indo em direção a seu peito, enquanto tentava
abrir o cinto de sua bermuda, abaixo de mim. Mas para minha surpresa, Adrian me impediu, tirando
minhas mãos de lá.

Ele me encarou sério.

— Melhor irmos com calma Lucas; eu exagerei, pois é difícil me controlar perto de você, mas
não quero que nossa primeira vez seja assim. Você ainda está abalado pelo que aconteceu com sua
tia, e não quero que façamos sexo apenas como uma forma de você fugir do que está sentindo. Quero
que seja especial — explicou.
— Tem razão; desculpa — disse envergonhado, saindo de cima dele.

Sentei no canto da cama novamente e Adrian me abraçou por trás.

— Você não precisa se desculpar por nada Lucas, eu amei a forma que me beijou e tocou; pude
sentir que nossos corpos se conectam de uma maneira única, mas como disse, prefiro esperar até que
você esteja bem para se entregar completamente a mim. Então, se ainda quiser ficar comigo, mesmo
sem sexo, posso passar a tarde inteirinha abraçado contigo – Adrian ofereceu e eu abri um sorriso
bobo.

— Seria ótimo.

Voltei a me deitar na cama, dessa vez de lado, e após Adrian tirar seus mocassins também se
deitou, encaixando-se em mim por trás de conchinha. Ainda sentia sua ereção, mas não disse nada,
mesmo que fosse difícil ignorar algo daquele tamanho encostado à minha bunda.

Um tempinho depois seu amiguinho finalmente se acalmou, e ficamos ali deitados por um bom
tempo. No fundo, era bom saber que Adrian não queria apenas sexo comigo, pois isso só podia
significar que ele me amava de verdade.

As coisas pareciam estar indo rápido demais, mas não havia como ser diferente. Sempre que
nossos corpos ou bocas se encostavam, era intenso demais.

Não sei quanto tempo ficamos deitados naquela mesma posição; não queria me soltar de Adrian,
mas então lembrei que eu não havia comido nada desde o café e meu corpo agora estava implorando
por comida.

— Estou com fome e você? – perguntei.

— Também estou.

— Vamos ver algo para comermos e assistir algum filme? – sugeri.

— Para mim parece perfeito – Adrian aceitou, soltando-me.

Assim que começamos a levantar, ouvi meu celular tocar sobre a escrivaninha. Corri para atender
e, para minha surpresa — e nervosismo —, era Marcelo.

— Alô — atendi, com receio do que ouviria e Adrian pareceu notar.

— Lucas, está me ouvindo? — ele perguntou e respondi que sim, mesmo que houve muito
barulhos e ruídos. — Andreia finalmente acordou; ela está estabilizada. Já não corre mais nenhum
risco de vida, e aparentemente não ficará com nenhuma sequela no cérebro — informou e eu dei
pulinhos de felicidade, caindo em choro.

Adrian se aproximou de mim e me abraçou.

— Que notícia maravilhosa; quando ela sairá do hospital? Quero ir vê-la em seguida, farei de
tudo para convencer meu pai!

— Ainda não há previsão de alta, pois querem mantê-la sobre monitoramento, mas Lucas... —
houve uma breve pausa do outro lado da linha, e consegui ouvir a respiração pesada de Marcelo. —
Sua tia perdeu uma parte da memória, não consegue lembrar-se de muitas coisas, como por exemplo,
até mesmo a morte de sua mãe. Ela está perguntando sobre Ângela a todo o momento...

Senti um grande aperto no peito ao ouvir aquilo.

— E isso é permanente? — questionei, preocupado e soltando-me dos braços de Adrian.

— Os médicos acreditam que não, mas não há como saber quando ela irá voltar ao normal.

— Menos mal... Obrigado por me informar, Marcelo — disse e desliguei o telefone.

— Sua tia está bem? — Adrian perguntou, em seguida.

— Na verdade está sim; ela já acordou e não corre qualquer risco de ter sequelas no cérebro,
mas está com amnesia parcial temporária.

— Isso é ruim; mas pelo menos ela está bem, não é?

— Sim... Ela deu muita sorte; estou muito mais tranquilo em saber que poderei voltar a vê-la em
pé e acordada — disse, abrindo um sorriso.

— Fico feliz por você também — Adrian me deu um selinho.

— E então... Vamos lá comer?

— Na verdade... — Adrian agarrou minha cintura. — Agora que você sabe que sua tia está bem,
posso voltar atrás sobre o que falei a respeito de nada de sexo hoje?

— Seu bobo! — bati em seu ombro, rindo e ele também caiu na gargalhada.

— Não, agora é serio; posso te fazer um convite?

— Você quer me convidar para o quê?


— Quero que você vá à escola amanhã, para matarmos aula juntos; quero te levar até meu lugar
favorito. Prometo que não irá se arrepender.

— Não tenho certeza se é uma boa ideia — falei, preocupado se meu pai descobrisse depois que
eu havia feito fazer algo assim.

— Por favorrrr — Adrian insistiu, com voz manhosa. — Você não disse que me amava?

— Claro que eu te amo, mas matar aula... Não sei se é boa ideia...

— Se você disser que não, farei greve de beijo — ameaçou, e eu ri.

— Você não teria coragem de fazer isso comigo! Mas tudo bem, eu aceito, mas já te aviso que se
tivermos problemas, eu é que farei grave de beijo.

— Obrigado meu gatinho lindo — ele encheu meu rosto de beijos.

— Vamos descer pra cozinha logo — disse, em riso.

Quando chegamos lá, procurei por algo que pudéssemos preparar. O único problema era que eu
não sabia preparar nada além de macarrão, e para meu azar, não havia nenhuma massa ali no balcão.
Meu pai precisava fazer as compras urgente.

— Você sabe preparar alguma coisa? Porque eu não — perguntei a Adrian.

— Na verdade, também não — respondeu rindo.

— Que tal pedirmos pizza então? — sugeri.

— Claro, eu amo pizza!

— Ótimo; tem o número de alguma pizzaria? – perguntei, tentando economizar os esforços de ter
que subir e procurar no Google.

— Sim, tenho — Adrian pegou seu celular e assim que encontrou o número me entregou, já
realizando a ligação. Assim que me atenderam, pedi uma pizza metade calabresa e metade quatro
queijos.

Fomos para a sala aguardar e ligamos a televisão.

O canal em que iniciou, por alguma piada do destino, estava passando um filme sobre
lobisomens. Adrian sentou-se no sofá e pareceu animado.

— Podemos assistir esse? — perguntou.


— Claro — respondi, sem ter muita certeza disso.

Sentei-me ao seu lado e Adrian me puxou para próximo de seu corpo; passei meus braços ao seu
redor e aproveitei para repousar minha cabeça em seu ombro, enquanto assistíamos.

Vi no filme que o protagonista usava prata para se proteger do lobisomem, como minha mãe havia
sugerido; precisava conseguir algo feito do material logo.

— Agora que percebi algo — comentei, um tempo depois, sentando-me de frente a Adrian. —
Como você sabia onde ficava minha casa? — questionei, me sentindo burro por só naquele momento
lembrar que nunca havia passado a ele.

Eu devia estar tão animado por sua visita, que nem havia me perguntado isso.

— Ora, seu pai é um dos poucos médicos da cidade; eu vi você entrando no carro dele no seu
segundo dia, lembra? E como eu sabia onde ele morava, decidi tentar te ver pessoalmente; simples
assim – revelou.

— Entendi, mas como sabia qual era a minha janela? — Indaguei.

— Não sabia; foi sorte acertar na primeira que tentei, eu estava disposto a tentar uma por uma.

— Você podia ter simplesmente tocado a campainha.

— Eu gosto de ser romântico igual nos filmes — Adrian comentou e eu ri.

Voltamos a assistir o filme e a pizza não demorou a chegar; essa devia ser uma das vantagens de
morar em uma cidade pequena.

Assim que paguei o entregador, deixei a pizza com Adrian e fui até a cozinha pegar refrigerante e
copos para nós; deixamos tudo sobre a mesa de centro e começamos a comer sem cerimônias.

Assim que havíamos devorado a pizza por completo, voltamos a ver o filme agarradinhos, até que
de repente, ouvimos um barulho alto de carro.

Era meu pai que estava estacionando o carro em casa.

Afastei-me rapidamente de Adrian; tinha medo de que ele nos visse daquela forma, não sabia qual
seria sua reação. Adrian demonstrou bastante nervosismo; parecia querer correr dali, mas não o fez.

Após alguns momentos, meu pai surgiu na sala, olhando desconfiado para nós.

— O que ele está fazendo aqui? — perguntou, demonstrando irritação em seu tom de voz.
— Eu o convidei; não queria ficar sozinho e achei que seria uma boa chama-lo pra assistir a
filmes e comer pizza — menti.

Meu pai encarava fixamente Adrian, que parecia excessivamente tenso.

O que estava acontecendo ali?

— Pode ir agora, garoto, e, por favor, não volte aqui quando eu não estiver nessa casa — meu pai
disse a ele, grosseiramente.

— Por que você está tratando-o assim? Ele é um amigo meu — intervi levantando-me, indignado
com o que meu pai havia dito.

— Não se intrometa, Lucas; eu não disse que você poderia trazer pessoas aqui, enquanto eu
estiver fora — ele passou por mim e ficou diante de Adrian. — Está na hora de você ir embora,
Adrian; não há motivos para ficar aqui – meu pai continuou, ainda mais áspero.

— Tudo bem, já estou indo — Adrian se levantou. — Te vejo amanhã na escola, Lucas. Não se
esqueça da prova, okay? – ele piscou para mim, forçando um sorriso; mas era perceptível que estava
muito desconfortável com tudo aquilo.

Em seguida, passou pelo meu pai sem dizer nada e saiu pela porta da frente.

Fiquei observando tudo, sem saber o que pensar.

— O que foi isso? — perguntei indignado ao meu pai.

— Eu não gosto daquele garoto, não quero ele em minha casa novamente, está me ouvindo,
Lucas? — ordenou, de forma autoritária.

— E posso saber o motivo, pelo menos? — questionei, irritado.

Odiava ser tratado como uma criança.

— Você não tem que saber! Eu tenho meus motivos e sei muito que ele não é uma boa influência
para você, então se eu digo que você irá manter distância dele, você irá! — ele quase saltava fogo
pelos olhos.

— Vou para meu quarto! — disse passando por ele. — E ah, a propósito, Marcelo ligou e minha
tia acordou sem riscos de sequelas, apenas com uma amnésia temporária — informei áspero e subi as
escadas correndo até meu quarto.
Simplesmente não entendia o porquê de meu pai não gostar de Adrian e ter tratado ele daquela
forma. Se ele tinha qualquer motivo, por que não havia me contado? Só sabia que precisava
descobrir o quanto antes.

Não havia mais como eu me distanciar de Adrian; eu amava-o demais para fazer algo assim.
Mandei então mensagens a ele perguntando o que havia acontecido entre ele e meu pai; respondeu-me
que iria me contar no dia seguinte, durante nossa fuga para esse local que ele queria me levar.
Concordei, já ansioso.

Naquela noite, para minha surpresa, meu pai saiu para o trabalho sem falar comigo, chateando-me
ainda mais; tinha esperanças de que em algum momento ele fosse entrar em meu quarto e pedir
desculpas, mas não aconteceu.

Como eu iria para a “escola” no dia seguinte, decidi dormir cedo.

Algo me dizia que iria ser um dia e tanto para mim.


Capítulo 12

Acordei duas horas antes do necessário; não sabia se era minha ansiedade, mas como não
conseguiria voltar a dormir, levantei e decidi descer até a cozinha tomar um pouco de água. Estava
com muita sede.

Enquanto eu descia as escadas, ouvi a voz de meu pai vindo da cozinha; ele havia chegado mais
cedo. Senti-me um pouco desconfortável por estar vestindo apenas cueca, mas como a curiosidade
era maior, aproximei-me silenciosamente ao lado da porta para tentar descobrir com quem estava
falando, sem ser notado.

— Claro que não está tudo bem! — ele soava irritado e estava falando ao telefone, já que em
seguida ficou em silêncio, aguardando uma resposta que não surgiu da cozinha. — Um dos seus
entrou na minha casa ontem e ele conhece muito bem as regras — outra pausa. — Eu apenas quero
que você garanta que ele não voltará a quebrar essas regras e o discipline bem. Você me conhece o
suficiente, para não querer me ver bravo — ordenou. – Passarei aí mais tarde e discutimos melhor
isso. Até depois — finalizou a ligação, bufando.

Corri na ponta dos pés de volta para meu quarto, antes que ele notasse minha presença. Assim que
cheguei, fechei a porta e me joguei sobre a cama para fingir estar dormindo, caso decidisse verificar;
um pouco depois ouvi os passos de meu pai subindo as escadas e a porta do seu próprio quarto
batendo.

Suspirei aliviado.

Definitivamente ele estava falando sobre Adrian ao telefone, mas que regras eram essas? E com
quem estava falando? Não podia acreditar que meu pai também estava escondendo coisas de mim.
Detestava me sentir perdido, mas pelo jeito isso já havia se tornado algo constante em minha vida,
desde que havia mudado para Floresta Negra.

Tentei pensar em possíveis respostas, mas nada fazia sentido.

Como ainda tinha tempo e estava impaciente e ansioso demais para ficar deitado, levantei e, após
trancar a porta do meu quarto, liguei o computador. Poderia usar aquele tempo que eu tinha até me
arrumar pra escola.

Entrei no blog da Michele antes, para verificar se ela havia comentado algo sobre minha tia, mas
só havia uma nova postagem sobre como descobrir se um garoto era gay. Não quis ler e torcia que
meu nome não tivesse sido citado ali.

Entrei no Google e decidi fazer novas pesquisas.

Havia percebido que estava pensando pequeno sobre aqueles ataques; desde que havia
descoberto que eram causados por um lobisomem, as possibilidades se multiplicaram, então procurei
se já havia ocorrido algo semelhante na cidade antes, independente do ano.

E como imaginei, já havia acontecido.

Mais de vinte anos atrás onze pessoas foram encontradas mortas por ferimentos causados por um
animal, num período de dois meses. Causou pânico na população, porém, nunca conseguiram capturar
a criatura e simplesmente os ataques cessaram.

Perguntava-me se era o mesmo lobisomem, e se fosse, por que ele havia ficado 20 anos sem
atacar e somente agora havia retomado os ataques? Devia ter algum motivo.

Tentei encontrar mais informações sobre aquilo, sem muito sucesso, já que Floresta Negra sempre
contou com apenas um jornal local. Decidi então procurar um site que vendesse correntes de prata.
Rapidamente encontrei uma que eu poderia usar por baixo da camiseta, sem que ninguém notasse.

Sabia que meu pai diversas vezes deixava suas chaves e carteira sobre o balcão da cozinha e
decidi arriscar descer e ver se dava sorte. Depois de descobrir que ele escondia coisas de mim, não
me sentia tão culpado por roubá-lo.

Abri a porta com calma, evitando ruídos e, após verificar que a dele estava fechada, desci na
ponta dos pés o mais rápido que pude. Quando cheguei à cozinha, liguei a luz e fiquei muito contente
ao constatar que ele novamente havia deixado sua carteira e chaves ali.

Abri, peguei um de seus cartões e voltei a subir para meu quarto.

Ao retornar, criei uma conta naquele site e fiz a compra com o cartão de meu pai, torcendo para
que ele não notasse na fatura; era menos arriscado do que pegar dinheiro. Agora eu só tinha de
esperar a entrega e criar uma boa desculpa para justificar eu estar recebendo uma encomenda, se ele
visse.

Para minha sorte, estava virando um expert em mentir.

Retornei silenciosamente para a cozinha, para devolver seu cartão, e voltei ao meu quarto com a
mesma velocidade. Meu coração estava um pouco acelerado com tudo aquilo e, após verificar a
hora, decidi tomar meu banho para começar a me arrumar.

Fiquei vários minutos embaixo do chuveiro, sentindo a água escorrer pelo meu corpo e, algum
tempo depois, ouvi alguém bater na porta do meu quarto; só podia ser meu pai tentando me acordar.
Sai do banho e vesti minha roupa com calma.

Antes de descer fui até minha estante e peguei o colar e guardei no meu bolso; iria mantê-lo
sempre comigo, assim como minha mãe havia orientado.

Cheguei à cozinha já carregando a minha bolsa.

Meu pai estava tomando seu café; sentei-me junto a ele, que ainda vestia seu pijama.

— Acordou muito cedo? — perguntou, olhando atentamente para mim. Balancei a cabeça em
negativa, servindo-me com um pouco de café. — Entendi... Havia imaginado que sim, já que quando
fui te acordar ouvi o barulho do chuveiro – comentou.

— Mas não, você sabe que ando dormindo demais – acrescentei um pouco áspero, e em seguida
tomei um pouco do café, que estava mais forte que o costume.

Meu pai calou-se, continuando a me observar estranho.

— Tem certeza de que já quer voltar a frequentar a escola? – questionou, um tempo depois. Ele
realmente ia fingir que o dia anterior não havia acontecido?

— Sim, absoluta – respondi. — Tia Andreia está melhor e eu preciso voltar a minha rotina
normal; como o senhor mesmo disse, se eu reprovar esse ano, será péssimo.

— Tem razão – falou, pousando sua xícara sobre a mesa. — Vou me vestir então, para te levar até
a escola — levantou-se em seguida.

— Não está cansado? Posso ir de ônibus — sugeri.

— Faço questão de leva-lo — falou e deixou a cozinha para ir até seu quarto.

Suspirei fundo.

Como iria encontrar Adrian para matar aula?

Decidi mandar uma mensagem a ele e perguntar; a resposta veio menos de um minuto depois.

“ Oi amor,

Eu vou te esperar ao lado da escola.


Então, quando chegar com seu pai, você finge entrar na escola e assim que ele for embora, você
vem me encontrar. Okay?

Estou muito ansioso para te ver e beijar sua boca,

TE AMO, não demore.

— Adrian.”

Sorri ao ler aquela mensagem, e mandei outra concordando e retribuindo aquelas palavras.
Aquele garoto já havia me conquistado completamente!

Terminei meu café enquanto aguardava meu pai e, assim que ele voltou vestido, levantei para
seguirmos até o carro. Não pude deixar de notar que a roupa que ele usava não devia ser somente
para me levar até a escola.

Assim que entramos no carro, não pude deixar de perguntar.

— Vai a algum lugar depois de me deixar no colégio? — questionei, sabendo da resposta. Ele iria
encontrar a pessoa com quem falava ao telefone.

— Pretendo passar no hospital, esqueci umas coisas minhas lá — mentiu, saindo da garagem.

— Hm, entendi — tentei demonstrar desinteresse.

— Então quer dizer que você e Adrian são amigos? — ele finalmente mencionou o assunto.

— Sim, muito — respondi, analisando sua reação.

— Tantos jovens bons na cidade e foi se envolver logo com ele? — comentou, concentrado na
estrada. Fiquei calado. — Tudo bem, desculpa por ontem, eu exagerei.

— Você acha? — fui irônico.

— Não força a barra Lucas, já estou me desculpando.

— Você pediu que eu me distanciasse dele e sequer me contou o motivo para isso. O que você
quer que eu pense?

— Tudo bem... — ele respirou fundo. — Uma vez tive um desentendimento com ele, apenas isso;
por isso não gostamos um do outro.

— Que tipo de desentendimento? — indaguei, desconfiado.


— Meses atrás um parente de Adrian foi internado no hospital e ele não podia receber visitas;
Adrian invadiu o hospital e entrou no quarto sem permissão. Como era eu que estava tratando-o, tive
de manda-lo ir embora; ele ficou irritado e se recusou de todo jeito, ameaçando até de me bater.
Obviamente tive de chamar os seguranças e desde disso, vejo-o com um garoto rebelde e agressivo
— explicou.

Ouvi a tudo aquilo confuso; definitivamente não parecia algo que Adrian faria. Estava ansioso
para ouvir sua versão e tentar confirmar se meu pai contava a verdade.

— Okay, se você diz que foi só isso, tudo bem. Não é a mim que você deve desculpas —
provoquei. Ele demonstrou irritação com meu comentário.

— Não acho que eu preciso me desculpar com ele; a casa é minha, tenho total direito de pedir
para que qualquer um saia.

— Como quiser — falei, cruzando meus braços. — E a proposito, não pretendo me distanciar
dele jamais, tenho o direito de escolher meus amigos — completei.

Meu pai me encarou surpreso, mas não disse nada, provavelmente querendo evitar novas
discussões e voltou a concentrar-se na estrada, respirando pesadamente.

Depois daquilo, não trocamos mais nenhuma palavra durante todo o caminho e assim que
estacionou o carro em frente à escola, desci apressado sem despedir-me e entrei na escola.

Fiquei no pátio, para evitar ser visto por algum professor ou Michele e, assim que tive certeza de
que meu pai já havia partido, sai da escola apressadamente pelo portão de entrada; fui até a rua
lateral à da escola.

Adrian esperava-me lá encostado a um carro preto.

— Espero que esteja preparado pra nossa pequena aventura — falou, assim que me aproximei
dele.

— Estou, mas o que é isso?

— É o carro do meu irmão, peguei emprestado.

— Ele sabe?

— Claro que sim, entra aí — orientou rindo.

Fiz o que ele disse.


— Não teremos problemas se alguém vê-lo dirigindo?

— Em Floresta Negra não temos esse tipo de monitoramento e, além disso, para onde vamos
estaremos completamente sozinhos — respondeu, dando a partida.

Adrian novamente vestia roupas leves e que exibiam seu belo corpo.

— Sobre o que aconteceu ontem... — comecei a falar.

— Você quer saber o motivo de seu pai não gostar de mim, não é? — interrompeu e eu assenti
com a cabeça. — Espero que isso não mude o que sente por mim, pois foi em um momento muito
complicado onde me descontrolei, mas meio que ameacei bater em seu pai algum tempo atrás, no
hospital — revelou.

Aquilo significava que meu pai não havia mentido; senti-me mal por tê-lo tratado mal. Ele até
podia estar sendo um tirano comigo, mas no fundo, é isso que pais fazem.

— Por que você fez isso? — indaguei a Adrian.

— Um primo meu, Mateo, que é filho do irmão do meu pai adotivo, machucou-se gravemente ao
entrar numa briga com um assaltante — ele fez uma breve pausa e respirou fundo. Parecia ser um
assunto que ainda abalava-o. — Ele ficou internado durante alguns dias e não me permitiram visitá-
lo, sem pensar direito nas consequências eu invadi. Queria vê-lo de qualquer jeito e foi quando
encontrei seu pai e a discussão aconteceu — explicou.

— Você gostava tanto assim dele?

— Mateo foi o primeiro garoto que beijei e foi com ele que descobri muitas coisas sobre mim
mesmo — revelou. — Naquela época achava que o amava.

— Achava? — questionei, com ciúmes.

— Sim... Tínhamos uma conexão sabe, mas depois disso, nos distanciamos. Quando te conheci,
para mim ficou claro que nunca amei Mateo de verdade. O que sinto por você Lucas, é muito mais
intenso e forte do que tudo que já senti.

Abri um sorriso bobo ao ouvir aquilo.

Adrian dirigiu em direção à saída da cidade, parando um pouco antes; para minha surpresa, ele
encostou o carro ao lado da estrada.

— Teremos que andar o resto do caminho — informou.


— Você quer entrar na floresta? Está ficando louco Adrian? Não quero morrer não!

— Calma Lucas, nada irá acontecer conosco. Primeiro porque irei te proteger, sempre, e segundo,
caso não tenha notado, os ataques só acontecem durante a noite.

— Tem razão — comentei, ainda não tendo certeza se era uma boa ideia.

— Vamos logo, garanto que irá valer a pena — ele se inclinou para beijar minha boca e em
seguida desceu do carro.

Sai também, vencido, mas não acreditava que estava fazendo aquilo!

Segui Adrian de perto, por uma trilha de chão batido.

Andamos cerca de meia hora, até chegarmos aonde ele queria me levar: um lindo lago em meio a
aquela floresta. A água refletia o tom esverdeado das árvores ao redor, e o clima era completamente
agradável.

— Então esse é seu lugar da cidade favorito?

— Sim, adoro vir aqui quando preciso pensar, o lago me passa muita tranquilidade. E agora que
conheci uma pessoa tão especial, não poderia deixar de trazê-lo.

— Obrigado — disse e o beijei, feliz por Adrian fazer questão de compartilhar coisas assim
comigo.

— Você sabe nadar, né? — perguntou, assim que separamos nossas bocas.

— Sim, mas não trouxe roupas para entrar na água.

— Ótimo! Exatamente por isso não contei aonde ia te levar — confessou, afastando-se de mim.
— Como ninguém aparecerá aqui, já que estão todos morrendo de medo da floresta, pensei que
poderíamos aproveitar e nadar pelados.

Ele tirou sua camisa e me encarou com um sorriso travesso no rosto e, depois de jogar de lado
seus mocassins, desceu sua bermuda toda de uma vez, revelando que não vestia cueca alguma ali
embaixo.

— Você vem?
Capítulo 13

Comecei a tirar minha roupa, timidamente.

Era estranho ficar nu diante de Adrian, que tinha um corpo tão perfeito, mas eu não podia
desperdiçar aquele convite. Ele não desviava seu olhar de mim, enquanto eu tirava toda minha roupa
e espiava-o nu ali na minha frente.

Como imaginava, seu pau era grande mesmo flácido e toda aquela região da sua virilha tinha
pouquíssimos pelos. Suas coxas também eram muito excitantes.

Quando finalmente terminei de me despir, Adrian sorriu satisfeito e estendeu sua mão para mim.
Peguei e ele me puxou até a água.

Assim que entramos, senti todos os pelos do meu corpo arrepiarem-se, estava um pouco fria, mas
completamente deliciosa em contraste ao calor que fazia naquela manhã. E de certa forma, depois de
toda a caminhada para chegar ali, era como uma recompensa.

Adrian jogou água em meu rosto, provocando-me e eu me vinguei fazendo o mesmo. Brincamos e
nadamos ali durante um bom tempo até que, inevitavelmente, começamos a nos beijar. Parecia que
nossas bocas tinham imãs.

A sensação de nossos corpos nus e molhados tocando-se era maravilhosa e, em pouco tempo,
senti sua ereção tocar a minha. Adrian explorava vorazmente minha boca, enquanto apertava minha
bunda com desejo.

Ele definitivamente queria me comer ali.

— É melhor pararmos — disse, afastando minha boca da sua.

— Por quê? — ele passou a beijar meu pescoço.

— Não sei se estou preparado... — Adrian me encarou, confuso. — Eu nunca fiz isso antes —
revelei e ele demonstrou surpresa.

— Você está falando sério? Devia ter me contado Lucas.


— Fiquei com medo da sua reação.

— Não seja bobo, o que eu penso que eu ia fazer? Se você nunca fez isso antes Lucas, tentarei ir
com calma com você enquanto estivermos juntos, não quero apressar nada. Mas se algum dia você
quiser que eu seja seu primeiro, saiba que ficarei muito feliz.

— Então seja carinhoso e paciente comigo, pois eu quero — pedi trazendo-lhe para próximo de
mim novamente, decidido; não podia continuar adiando aquilo.

Adrian abriu um enorme sorriso e me puxou pelo braço até fora do lago, sem dizer nada. Seu
enorme pau continuava em ponto de bala e apontava para frente, exibindo grossas veias em todo seu
comprimento e uma linda cabeça rosada na ponta.

Sem dúvidas, um instrumento que causaria inveja em até mesmo muitos atores pornôs.

Ele me deitou perto da beira do lago, e se posicionou encima de mim, encarando-me nos olhos.
Podia sentir algumas folhas grudarem em meu corpo molhado, mas não importava, eu estava excitado
e nervoso demais para ligar com aquilo.

— Se em algum momento você quiser que eu pare, me avise, que farei no mesmo instante. Eu não
quero te causar qualquer desconforto Lucas, apenas lhe proporcionar o máximo de prazer que eu
puder — ele avisou e eu concordei com a cabeça.

Adrian trouxe novamente sua boca até a minha, e começou a acariciar todo meu corpo enquanto
beijava-me. Sua mão percorreu carinhosamente por meu peito, braços e pernas, mas foi em meu pau
que encontrou seu destino final.

Soltei um gemido abafado ao sentir seus dedos envolverem meu membro; nunca alguém havia
segurado meu pau antes e isso era completamente delicioso. Adrian então começou a me masturbar
lentamente e trouxe sua boca até meu pescoço, onde beijou diversas vezes com vontade, deixando-me
ainda mais excitado.

Em seguida ele foi descendo por meu peito com sua boca e logo começou a chupar um de meus
mamilos, deliciosamente; eu gemia alto, jamais imaginei que fosse uma área tão prazerosa. Meu pau
latejava e babava em sua mão, de tanto tesão que eu estava e ele parecia estar apenas começando.

Seu pênis tocava minha coxa e parecia ainda mais duro.

Quando terminou de lamber ambos os meus mamilos, ele foi deslizando seus lábios macios por
minha barriga até ficar diante do meu mastro. Provocou-me com o olhar e então, segurando com
ambas as mãos, lambeu a cabeça carinhosamente, limpando todo meu líquido pré-gozo que havia ali;
gemi alto.

Adrian, querendo me enlouquecer ainda mais, lambeu em seguida da base do meu pau até a ponta
lentamente, para só em seguida finalmente abocanha-lo com seus lábios carnudos. Contorci-me de
prazer ao sentir a sensação quente e úmida se sua boca envolvendo-me; era mais delicioso que eu
podia imaginar.

Ele me chupou com vontade, num sobe e desce frenético de sua boca, sempre abocanhando meu
membro por completo e me arrancando intensos gemidos; podia sentir que gozaria muito rápido
daquela forma. Ele ainda desceu até meu saco um tempo depois; chupou e massageou com a língua
cada uma de minhas bolas, fazendo me contorcer e gemer descontroladamente. Aquela parte era
ainda mais sensível.

Quando Adrian se deu por satisfeito, subiu e voltou a beijar minha boca.

Podia sentir o gosto do meu pau em sua boca e isso era muito excitante.

— Me chupa você agora — pediu, sussurrando ao meu ouvido.

— Tá bom — concordei de imediato, levantando-me; afinal, já ansiava por isso há muito tempo.

Adrian se deitou de barriga para cima, e eu encarei com desejo aquele monstro sobre sua barriga.
Sem pensar duas vezes, ajoelhei-me diante dele e segurei pela primeira vez seu pau; era grosso e
quente.

Deixando a timidez de lado, aproximei meu rosto de seu membro e abocanhei a cabeça
delicadamente; Adrian gemeu alto. Ouvir aquilo deixou-me satisfeito e então decidi abocanhar mais
seu pau, mas infelizmente eu não era capaz de chegar sequer à metade; era muito grande.

Mesmo assim comecei a fazer movimentos de sobe e desce com minha boca, enquanto masturbava
o que sobrava de seu pênis. Adrian se contorcia e arranhava o chão; só podia significar que eu estava
fazendo certo.

Às vezes tirava seu pênis da minha boca, e lambia-o completamente de baixo até encima, como se
fosse um grande picolé de carne, provocando-o com o olhar; Adrian parecia adorar aquilo, e
inclusive aproveitou para com ele em meu rosto algumas vezes.

Também chupei suas bolas cuidadosamente, uma por vez, enquanto masturbava-o freneticamente.
O gosto de sua pele e pau era viciante.
Algum tempo depois ele me puxou sobre si e voltou a me beijar, enquanto apertava minha bunda
com vontade.

— Quer ir adiante? — perguntou, assim que nossas bocas separaram-se. — Não precisa fazer
nada que você não queira.

— Eu quero — respondi decidido e então ele se levantou, deixando-me deitado de bruços. Senti
um pouco de vergonha em ficar naquela posição, mas decidi me entregar completamente a Adrian;
dificilmente ele me decepcionaria.

Ele beijou minhas costas inteira, fazendo-me arrepiar por completo, e foi descendo sua boca
lentamente, até chegar a minha bunda, onde primeiro mordeu carinhosamente.

— Não tem noção de quantas punhetas bati, imaginando esse momento — Adrian comentou e
puxou meu quadril, deixando-me de quatro para ele.

Senti-me um pouco exposto e para minha surpresa, ele ainda abriu bem minhas nádegas com suas
mãos e trouxe sua boca até meu cu.

Gemi alto e me contorci de prazer ao sentir sua língua quente tocar a minha entrada; não estava
esperando por aquilo, mas era completamente delicioso!

Ele continuou lambendo e chupando meu cu, até que começou a penetrar sua língua, que entrou
sem qualquer dificuldade. Para me preparar melhor para o seu membro, em seguida ele inseriu um
dentro de mim e fez movimentos de vai e vem.

Gemi muito; era uma sensação estranha, mas deliciosa.

Quando percebeu que eu não sentia qualquer dor com aquilo, adicionou um segundo dedo e eu
gemi ainda mais intensamente, enquanto ele me penetrava e batia uma punheta em meu pau logo
abaixo.

— Quero você dentro de mim logo, você está me enlouquecendo — implorei.

— Se é o que você quer, fico feliz em atender a seu pedido então — Adrian disse, encaixando seu
pênis na entrada do meu cu.

Ele esfregou várias vezes a cabeça, provocando-me.

— Só vai com calma — pedi.

— Pode deixar amor; se doer, só pedir para eu parar — falou voltando a afastar seu membro.
Olhei para trás e vi que Adrian cuspiu em seu próprio pau para ajudar a lubrificar, e então voltou
a encaixa-lo na minha entrada.

Tentei relaxar e respirar fundo; havia lido uma vez que se ficássemos tensos, o ânus contraia e
definitivamente não queria que isso acontecesse. O pau de Adrian era grande o suficiente para eu
saber que já não seria nada fácil para entrar.

— Vou empurrar — anunciou e eu concordei com a cabeça.

Em seguida, imediatamente fui tomado por uma dor intensa, que me fez urrar.

— Relaxa — Adrian disse, depositando beijos em minhas costas para acalmar-me.

— Continua — pedi.

Ele pareceu surpreso, mas fez o que eu disse e voltou a forçar, separando minhas nádegas com as
mãos para facilitar. Logo senti a cabeça de seu pau entrando, e gritei de dor; era como se estivesse
me rasgando.

— Não se move — implorei ofegante e ele ficou imóvel.

Sentia uma ardência horrível em meu cu.

— Podemos tentar outro dia, Lucas — Adrian sugeriu, alguns momentos depois.

Balancei a cabeça em negativa.

— Já está passando, continua.

Adrian voltou a empurrar e senti seu pau entrando em mim dolorosamente, mas deixei; pedi que
parasse somente quando senti que havia entrado a metade. Ele tentou ao máximo ficar imóvel, para
não me machucar mais, e quando finalmente me acostumei com aquilo dentro de mim, orientei para
que metesse o restante.

Foram vários minutos para que todo seu pênis estivesse dentro de mim, mas mesmo assim, sentia-
me satisfeito e feliz por ter conseguido aguentar.

Eu queria aquilo tanto quanto ele.

Adrian logo começou a fazer movimentos lentos de vai e vem, e eu gemia intensamente tomado de
prazer; estava delicioso. Ele continuava a apertar minha bunda enquanto me comia e estampava um
enorme sorriso no rosto.
Pouco tempo depois sinalizei que ele podia aumentar o ritmo, e as estocadas se tornaram mais
potentes, quase enlouquecendo-me; nunca havia sentido tanto prazer na minha vida. Dar era muito
melhor do que eu podia imaginar.

— Seu cuzinho é maravilhoso, Lucas — Adrian elogiou, entre gemidos.

— Então me fode mais forte — provoquei, olhando para a trás.

A cena de Adrian me penetrando era absurdamente excitante.

— Se é pau que você quer safado, então toma — disse, aumentando a força e velocidade com que
metia em mim drasticamente.

Gemi alto e ele continuou me comendo com toda vontade; ele tirava quase todo seu pau de dentro
de mim, e depois socava novamente. Sentia que podia gozar a qualquer momento.

Pouco tempo depois, para minha surpresa, ele parou de meter e tirou seu pau de mim. Encarei-o
surpreso.

— Quero ver você cavalgando em mim — pediu, deitando-se no chão.

Sem pensar duas vezes levantei e, após encaixar seu pau na entrada do meu cu, sentei com
vontade, engolindo todo seu membro. Adrian gemeu alto e logo comecei a descer e subir no seu
mastro, encarando-o nos olhos.

Ele parecia estar adorando tanto quanto eu.

Meu pau balançava e batia em minha barriga a cada sobe e desce, e lançava sobre a barriga e
peito de Adrian um pouco de meu líquido pré-gozo. Ele observava aquilo hipnotizado e sem pensar
direito, arranhei seu peitoral.

— Isso, safado! — gritou e mordeu seu lábio inferior.

— Eu vou gozar assim — avisei.

— Então continua — Adrian orientou e fiz o que ele disse.

Com o tesão era enorme, levei minha mão até meu pau, e comecei a me masturbar enquanto
continuava cavalgando-o; em pouco tempo fui tomado por um êxtase maravilhoso e gozei muito,
sujando Adrian completamente com meu esperma.
Ele lambeu algumas gotas que caíram sobre seus lábios e sorriu satisfeito.

— Minha vez agora — falou, tirando-me de cima de si.

Ele voltou a me posicionar de quatro e, após dar uma lambida no meu cu, voltou a meter seu pau
em mim. Dessa vez, ele estocou ainda mais forte e selvagemente, levando-me ao delírio.

Em pouco tempo, seus gemidos se intensificaram e, após soltar um gemido alto e intenso, ele
gozou com força dentro de mim. Senti seus jatos de esperma encherem meu cuzinho e
involuntariamente gozei outra vez.

— Porra, isso foi incrível — falou ofegante, curvando-se sobre mim.

Não consegui dizer nada; estava exausto e sem fôlego, mas concordava completamente com o que
ele havia dito. Aquele havia sido o melhor dia da minha vida.

Em seguida, deitamo-nos lado a lado para descansar.

— Lucas, posso pedir algo para você? — Adrian perguntou, algum tempo depois.

— Claro — respondi, virando-me para ele, que fez o mesmo.

Ele me olhava nos olhos.

— Namora comigo.

— E não é o que estamos fazendo? — questionei, confuso.

— Digo, oficialmente e não assim, em segredo; quero que todos saibam que nos amamos. O que
me diz?

— Não sei se estou preparado para assumir para meu pai...

— Não precisa ser agora, posso esperar até que chegue o momento certo para você contar a ele,
mas quero muito oficializar o fato de agora pertencemos um ao outro — explicou.

— Tudo bem, eu aceito ser seu namorado Adrian— respondi feliz e ele me puxou para um beijo
apaixonado.
Capítulo 14

No dia seguinte adentrei o prédio da escola mais feliz do que nunca.

Busquei por Adrian na sala e corredores, mas quem encontrei foi Michele.

— Lucas! — ela gritou e correu até mim; havia feito luzes rosa em sua franja.

— Oi Michele — cumprimentei sorridente, mas ela estava com a cara fechada.

— Você me magoou, sabia? Justo quando estávamos nos tornamos melhores amigos, você para de
vir às aulas e some sem dar notícias. Isso não é algo muito legal de se fazer — reclamou, fazendo
biquinho.

— Desculpa Michele, você tem razão, devia ter avisado. Mas achei que você soubesse o que
aconteceu.

— Como assim? O que houve?

— Minha tia foi atacada no sábado de madrugada na entrada da cidade, pelo mesmo animal que
os outros e, por sorte, foi encontrada a tempo. Ela ficou alguns dias em coma induzido, mas já
despertou e está melhorando — revelei, estranhando ela não saber. — Seu pai não te contou?

— Não! — respondeu, irritada. — Sinto muito por meu comentário desnecessário, você devia
estar muito preocupado e sem cabeça para vir para a escola. Pelo menos fico feliz em saber que sua
tia está melhor agora! Eu e meu pai discutimos feio sobre uma coisa importante para mim e agora se
recusa a me contar as novidades, só porque sabe que eu detesto ficar desinformada. Para ter noção,
sequer tive assunto para falar em meu blog essa semana e tive de criar uma postagem ajudando as
manas a descobrirem se o crush delas é gay — explicou.

— Percebi — comentei.

— Você lê meu blog? — Michele perguntou, surpresa.

— Você viu o Adrian por aí? — enrolei.

— Ainda não e nem tenho interesse nele agora; preciso é saber se sua tia viu o que atacou ela.
Era de fato, um animal?
— Na verdade, ela está passando por uma amnesia temporária, então não disse nada sobre a noite
do ataque.

— Que azar!

— Pois é... Mas enfim, retornando ao outro assunto, me ajuda a encontrar Adrian?

— Já pensou em apenas ligar para ele?

— Tem razão — concordei, pegando meu celular e disquei seu número.

Aguardei chamar diversas vezes, mas Adrian não atendeu; tentei outra vez e caiu na caixa de
mensagens, então desisti. Provavelmente logo chegaria.

— Vamos para a sala; ele não atendeu — disse, chateado.

— Não fica assim não gato, prometo não te deixar sozinho enquanto Adrian não chegar e protege-
lo das garras de Bernardo.

— Por que eu precisaria ser protegido dele?

— Não faz a Sonsiane Lucas, você sabe muito bem que aquele ali está doido para te dar umas
mordidas. Sentarei na mesa de Adrian até ele chegar — falou.

— Tudo bem, obrigado... Eu acho... — disse, tentando não rir.

Retornamos para a sala e ainda faltavam alguns minutos para a aula começar, então fomos
surpreendidos ao ver que Bernardo já havia chegado e estava sentado em sua mesa. Michele sentou-
se na de Adrian, como havia dito, e eu segui para a minha.

Bernardo me observou atento o tempo todo.

— Bom dia — cumprimentei.

— Que bom que você retornou, sinto muito por sua tia.

— Todos sabiam menos eu? — Michele questionou revoltada e ignoramos.

— Obrigado Bernardo, ela já está melhor. Como você sabia?

— Tenho contatos no hospital – respondeu.

— Entendi...

— De qualquer forma, o que essa aí está fazendo aqui atrás? – Bernardo perguntou, referindo-se à
Michele.

— Oi pra você também, Bernardo — ela disse com desdém. — Sabe, só porque eu sou mulher,
não significa que você pode me ignorar e tratar assim – provocou e ele riu.

— Você acha que eu tenho problemas por você ser mulher? — Perguntou.

— Não acho, tenho certeza! Pegar mulheres seria muito fácil para você, então do que você gosta
mesmo é de desafios. De dominar outros machos, não é? Eu percebi como você olha para Lucas
desde que ele chegou – Michele respondeu, encarando-o.

Não acreditava que ela falando aquelas coisas!

— Você tem razão, eu gosto de desafios e adoraria dominar o Lucas, que é muito mais
interessante do que você com esses dois litros de silicone, por exemplo — ele retribuiu a
provocação. Queria sair correndo dali.

— Primeiro, não fale sobre meus peitos e segundo, Lucas não é para o seu bico não gato. Vai
atrás de outro! — Michele revidou, gesticulando as mãos.

— Você acha mesmo que eu não sou pro seu bico, Lucas? — Bernardo perguntou para mim, com
uma sorriso safado no rosto.

— Gente, podem, por favor, parar com isso? — pedi da forma mais séria que consegui, mas
estava muito envergonhado com tudo aquilo.

Não queria que Bernardo comentasse o que havia acontecido no vestiário entre nós, pois, se
Michele descobrisse, provavelmente chegaria até os ouvidos de Adrian e não sabia como ele
reagiria. Provavelmente nada bem.

— Tudo bem, me desculpe Lulu — Michele se desculpou.

— Eu não irei me desculpar, pois eu sim bem do que o Lucas gosta — Bernardo disse piscando
para mim, ainda com aquele sorriso safado no rosto.

Para minha sorte o sinal tocou e, assim que a aula começou, voltamos a ficar em silêncio, já que
era a diaba ruiva que iria dar a primeira aula.

Alguns minutos depois que ele havia feito a chamada, Michele me passou um bilhete, que dizia:

“Não suporto essa professora, tenho certeza que ela me odeia, só porque sou mais bonita que
ela!”
“Para de dizer isso, sua louca! Só deve ser o jeito dela, além de que também é muito bonita.”
— respondi.

“Para com isso você! Eu não admito meus amigos elogiando minhas inimigas, okay? Tá
avisado. Mas mudando de assunto, quando é que Bernardo passou a ter toda essa intimidade
contigo?” — perguntou.

“Ele é assim com todos, você sabe.” — enrolei.

“Eu sei que ele se acha com todo mundo, mas ele jamais falou tão claramente que queria
comer alguém como disse para você”.

“Ele devia estar brincando.”

“Duvido muito, nunca o vi com garotas e meu gaydar jamais erra. Você mais do que todo
mundo devia saber disso, então definitivamente não era brincadeira”.

“Se você acha, okay. Vamos voltar a prestar atenção na aula” — escrevi, tentando encerrar o
assunto e mandei pra ela, que voltou a escrever naquele papel.

— Posso saber o que os dois estão conversando nesses bilhetinhos, que é mais interessante do
que minha aula? — a professora perguntou, irritada.

— Nada — Michele disse, amassando o bilhete e escondendo-o atrás do corpo.

Segurei para não rir, mas foi difícil.

— E você ainda acha graça? — ela se aproximou de mim. — É apenas seu primeiro mês nessa
escola Lucas, mas saiba que você já entrou na minha lista negra.

Encarei Michele, que apenas sussurrou um “desculpa” e se virou para frente.

As aulas seguintes passaram sem maiores problemas, até que finalmente tocou o sino do
intervalo. Adrian ainda não havia chegado e provavelmente não viria mais; torcia que estivesse tudo
bem com ele, pelo menos.

Levantei da minha classe com objetivo de ir comer algo; estava faminto.

— Vamos, Lu? — Michele perguntou, também em pé.

— Lucas, poderia ficar mais um pouco na sala? Quero conversar contigo, é algo rápido e
importante; depois você vai atrás dessa maluca — Bernardo pediu.
— Tudo bem — concordei. — Michele, assim que terminar aqui vou atrás de você, okay? —
disse a ela, que pareceu não gostar nem um pouco daquilo.

— Tá, mas depois que for devorado por esse aí, nem venha chorar pra mim — falou e saiu da
sala apressada.

Aguardamos os outros alunos saírem também, e assim que ficamos somente eu e ele ai, fechou a
porta da sala e retornou até diante de mim. Senti um pouco de nervosismo.

— O que você quer falar comigo? — perguntei.

— Sei que aconteceu o ataque à sua tia, mas você pensou sobre o que eu falei de Adrian? —
questionou, fitando meus olhos.

— Não tenho o que pensar, já disse que não vou me distanciar dele Bernardo.

— Você pelo menos perguntou sobre a família dele, como eu havia dito?

— Não, eu confio completamente nele.

— Você acha que eu estou mentindo? — questionou, aproximando-se de mim.

— Eu não sei; apenas não gosto do fato de que você está tentando nos separar a todo custo. Você
é bonito Bernardo, vai atrás de outro!

— Você não entende; eu não quero qualquer um, quero você!

— Desculpa, mas não há como isso acontecer — disse, tentando passar por ele.

Bernardo me impediu, puxando-me por trás contra seu corpo; tentei soltar-me, mas estava
completamente preso entre seus enormes braços.

— Me solta Bernardo, dessa vez estou falando sério.

— Não até você ouvir o que eu tenho a dizer sobre ele.

Antes que qualquer um de nós pudesse falar algo a mais, fomos surpreendidos com alguém
abrindo a porta da sala. E não poderia ter sido ninguém pior; Era Adrian.

Ele parou drasticamente assim que nos viu, em choque, e Bernardo para irritá-lo mais
rapidamente beijou meu pescoço. Ele queria dar a entender que estávamos fazendo outra coisa, então
debati-me tentando soltar dele, mas ele era muito mais forte que eu.

Estava em pânico; não queria que Adrian me visse daquela forma, não depois de tudo que
havíamos feito no dia anterior. Nós tínhamos algo especial e não queria perder isso de jeito algum.

Para minha surpresa, ele correu até nós e socou Bernardo com força, que finalmente me soltou.
Recuei, assustado.

— Isso definitivamente não vai ficar assim — Bernardo falou levando a mão até seu nariz, que
sangrava devido o golpe. Havia ódio em seus olhos.

— Eu não quero ver você tocar nunca mais no Lucas! Entendeu? – Adrian gritou a ele, furioso.

— Claro, pode deixar — Bernardo ironizou. — Mas que tal perguntar a ele mesmo se não gosta
de quando eu agarro-o? — provocou.

— Cala a boca, idiota, você estava o forçando; eu vi!

— Por que está tão irritado em ter visto nós dois agarrados? Não me diga que ficou putinho por
eu ter ficado com ele primeiro que você?

— Você que acha — Adrian riu.

Torcia que ele nunca descobrisse sobre o que rolou naquele vestiário.

— Quer saber? Que se foda essa conversa, a única coisa que me interessa agora é dar o troco que
você merece — Bernardo disse, avançando em cima dele.

Ele tentou socar Adrian, que foi mais rápido e desviou, girando seu corpo em seguida e acertando
o cotovelo com toda força no seu estômago. Bernardo emitiu um urro de dor e, após levar sua mão
até a boca um pouco cambaleante, tossiu.

Assim que ele tirou, pude ver que havia sangue; o golpe havia sido mais forte do que imaginei.
Aquilo não ia acabar bem.

— Por favor, parem! — implorei, nervoso.

Bernardo se virou para mim e sorriu, ficando de costas para Adrian.

— Isso é algo pessoal entre nós, Lucas; uma hora teríamos resolver isso, então apenas afaste-se
para não se machucar — Bernardo disse e seus olhos pareciam pegar fogo, de tanto ódio que estava
sentindo.

— Desista, você se acha, mas no fundo é apenas um lixo — Adrian provocou.

Bernardo riu, deu uma piscadinha para mim e num movimento muito rápido pegou uma mesa que
havia a seu lado e girou, batendo-a em Adrian com muita força, derrubando-o no chão.

— Continua me chamando de lixo e você vai ver se continuará tendo dentes — Bernardo
ameaçou, jogando a mesa no chão.

Entrei em desespero e corri até Adrian; ele estava contorcendo-se de dor e com uma das mãos
sobre sua costela esquerda, onde havia sido acertado em cheio.

— Para, Bernardo! Chega, por favor — gritei.

— Tem certeza que prefere ficar ao lado dele? — perguntou, irritado.

— Sim, tenho.

— Se prefere assim, que se foda, logo você descobrirá que eu estava certo o tempo todo, porque
de algo eu tenho certeza: entre os lobos, os aduladores são os mais ferozes — disse e saiu da sala em
seguida.

Adrian foi se levantando, lentamente.

— Para Adrian, precisamos te levar para o hospital — disse.

— Não se preocupe, não foi assim tão forte. Logo ficarei bem.

— Você só pode estar brincando; você mal consegue ficar em pé.

— Sério Lucas, não quero ir para o hospital; prefiro voltar para minha casa. Juro que amanhã
estarei bem.

— Precisamos ter certeza que você não quebrou nada, e fazer uma denúncia contra Bernardo! Ele
te machucou, não podemos deixar quieto.

— Você esqueceu-se de quem desferiu o primeiro soco? — lembrou-me. — Se fizermos isso,


terei tantos problemas quanto ele.

— Droga, tem razão, mas como é que você irá voltar para casa nesse estado?

— Eu estou com o carro novamente – respondeu.

— Você irá conseguir dirigir nesse estado?

— Não tenho tanta certeza. Você sabe dirigir?

— Sei, mas você sabe que não tenho nem idade para ter carteira.
— Já te disse que não tem monitoramento na cidade, Lucas. Pega sua bolsa, vamos aproveitar que
o intervalo ainda não acabou e sair por trás da escola, antes que alguém nos veja. Isto é, se quiser me
ajudar.

— Claro que sim Adrian, você sabe que eu te amo e faria tudo por você.

— Obrigado, também te amo.

Fui apressado até a minha mesa e guardei tudo o mais rápido possível.

Em seguida saímos da sala e eu ajudei Adrian a caminhar; nossa sorte era de que, durante o
intervalo, aquela parte da escola ficava quase deserta.

Assim que chegamos do lado de fora, peguei a chave com Adrian e o ajudei a sentar-se no banco
de passageiro. Dei a partida no carro em seguida, seguindo a orientação de continuar naquela mesma
rua.

— Desculpa por gerar toda essa situação — falei.

— Não é sua culpa, é dele, que estava agarrando-o a força; sinto ódio só de lembrar ele beijando
seu pescoço. Você é só meu!

— Sim, eu sou seu, nós falamos sobre isso ontem quando me pediu em namoro, então não era
necessário que você partisse para a briga pelo que aconteceu. Olha o que aconteceu por causa dessa
história!

— A dor já está passando e se eu não desse uma lição nele, ele poderia tentar outras coisas
contigo depois. Não quero que ele nos separe! Era óbvio que ele tentaria em algum momento.

— Por que diz isso? — questionei.

— Nada, esquece — falou, ajeitando-se no banco. — Dobre a direita.

Enquanto seguia o caminho que ele me orientava, percebi que estávamos indo para uma região
afastada da cidade. Assim que chegamos, deparei-me com um enorme casarão azul. Não havia
nenhuma outra residência perto a vários quarteirões e era rodeado pela floresta, como se esta fizesse
parte do seu jardim.

Adentrei com o carro pela entrada de terra batida e estacionei com cuidado perto do casarão,
onde também havia alguns.

— Só não se assuste com a minha família — Adrian avisou.


Capítulo 15

Ajudei Adrian a caminhar até o interior da sua casa; levava minha bolsa comigo.

Assim que entramos, deparamo-nos com dois homens ainda mais musculosos que Adrian, jogando
videogame ali na sala.

Eles pararam assim que nos viram e se levantaram imediatamente.

— O que aconteceu? — o mais velho questionou, preocupado e vindo até nós.

Ele me encarou desconfiado e senti-me intimidado por seu olhar. Ele era moreno e tinha olhos e
cabelos castanhos que lhe caiam aos ombros, em um tom escuro e brilhante; parecia ter a idade de
meu pai, mas era muito mais atraente e musculoso.

— Não se preocupe, foi apenas uma briga boba e Lucas me ajudou a chegar. Logo ficarei bem, só
preciso descansar — Adrian respondeu-lhe, encarando-nos olhos.

— Que você irá ficar bem, isso é óbvio — o outro comentou. — Me diga quem foi que fez isso
contigo, Adrian; vou acabar com ele — estava furioso. Ele era mais jovem, mas não se parecia com
o outro; era loiro de olhos azuis e tinha um porte físico mais próximo ao de Adrian.

— Isso não importa mais, Bruno; só quero ir para meu quarto — respondeu.

— Seu irmão tem razão, importa sim; não vou deixar que toquem em um dos meus assim. Fala
logo quem foi! – o mais velho ordenou.

— Foi Bernardo — Adrian revelou, vencido. — Então sem novas brigas.

— Aqueles Gasparellos me irritam cada vez mais! E o pior de tudo é saber que não posso fazer
nada, mas eles estão enganados se pensam que deixarei quieto.

— Acalme-se pai, já disse que brigamos por besteira. Agora, se não se importar, vou para o meu
quarto com Lucas.

— Tudo bem, mas o Lucas pode ficar? Digo, está havendo aula nesse momento.

— Está tudo bem pai — disse de imediato.

— Você ouviu, está tudo bem — Adrian falou, sinalizando para que o seguisse.
Acompanhei-o de perto e seu pai e irmão fitaram-me de maneira estranha.

Adrian já conseguia andar um pouco melhor, para minha surpresa.

Assim que chegamos a seu quarto, ele jogou-se sobre a cama e eu deixei minha bolsa ao lado
dela. Não era muito grande, mas era bem organizado. Sua cama era de solteiro e estava constada à
parede, abaixo da janela de fundos, que dava a vista para a Floresta. Havia ainda um guarda-roupa
branco e uma escrivaninha com seu computador, além de duas estantes longas penduradas à parede,
cheias de livros e DVD’s.

— Pode deitar aqui comigo? — convidou.

— Adoraria, mas e se alguém entrar?

— Eu não ligo para isso e você também não deveria. Só me importo em ficar perto de você.

Sorri e deitei com cuidado ao lado, ficando com minha cabeça sobre seu peito, enquanto
abraçava-o. Ele acariciava meu cabelo com uma das mãos.

— Seu pai pareceu não gostar de mim — comentei.

— Impressão sua, não há como alguém não gostar de você, Lucas.

— Espero que esteja certo...

— Tenho certeza!

Inclinei minha cabeça e beijei sua boca.

— Sabe, é horrível sentir o cheiro de outra pessoa em alguém que você ama — comentou assim
que nossos lábios separaram-se.

— Desculpa por isso.

— Já disse que não foi sua culpa, ele que estava prendendo-o.

— Eu sei, mas não devia ter dado abertura para que ele fizesse algo assim – comentei,
arrependido por não ter sido mais firme com Bernardo antes.

Adrian ficou em silêncio, respirando fundo e pensativo.

— Seja sincero Lucas, você gosta dele?

— Claro que não! Eu amo você — respondi de imediato, encarando-o.


— Eu sei disso, mas e se não estivéssemos juntos? Se a última semana nunca tivesse acontecido,
você teria permitido Bernardo ir além daquele abraço?

Engoli em seco, não sabia o que responder.

— Eu sei que pode soar muito egoísta isso, mas não consigo suportar a ideia de outros tocando
em você, principalmente Bernardo.

— Não é possível que vocês se odeiem tanto sem algo ter acontecido.

— É algo de família, na verdade, os Baungarten sempre odiaram os Gasparellos e vice e versa.


Essa rixa existe desde a fundação da cidade e sabendo o que ele quer contigo, não há como evitar
detestá-lo ainda mais.

— Só não quero ver vocês brigando. Você se machucou hoje, fiquei muito preocupado.

— Já estou quase sem dor, olha — ele subiu sua camisa e mostrou que não havia qualquer
hematoma ali, tranquilizando-me.

Permanecemos deitados e em silêncio durante um bom tempo, apenas aproveitando estarmos


próximos um ao outro.

— Fiquei curioso a respeito de uma coisa, espero que não se importe se eu perguntar — disse a
Adrian.

— Você pode perguntar o que quiser, Lucas.

— Tudo bem então... Aquele seu irmão, Bruno, também é adotado? Digo, ele também é
completamente diferente de seu pai. — perguntei e Adrian riu.

— Sim, quase todos aqui em casa somos adotados; somente Gustavo que é seu filho biológico —
revelou.

— Vocês são em muitos?

— Pode se dizer que sim, fica até difícil contar.

— Bobo — disse, rindo. — Mas vocês todos se dão bem?

— Na maior parte do tempo sim. Às vezes ocorrem algumas briguinhas, mas nós amamos e
cuidamos uns dos outros. Sou muito feliz em fazer parte dessa família, depois de tudo que aconteceu
comigo. Foi a melhor coisa que me aconteceu!
— Que ótimo! Sempre quis ter um irmão — revelei.

— Quando quiser se sentir parte de uma família grande, só vir para cá.

— Obrigado — disse rindo.

— Estou falando sério! Inclusive, se quiser conhecer todo mundo, pode ficar para almoçar
conosco hoje — convidou.

— Eu adoraria, mas você sabe que não posso, meu pai enlouqueceria — disse sentando-me na
cama.

Assim que peguei meu celular no bolso, vi que tinha ligações perdidas de um número
desconhecido, estranhei.

— Diz isso por causa da nossa discussão?

— Sim, veja como ele te tratou aquele dia.

— Eu sei que ele me detesta, mas fica pro almoço, por favor. Prometo me ajoelhar diante dele e
pedir desculpas pelas coisas que falei naquele dia.

— Vou pensar no assunto — disse, rindo.

Adrian me puxou para encima de seu corpo, novamente, deixando-nos com os rostos quase
colados.

— Cuidado, não quero te machucar.

— Então me dê um beijo, para me ajudar a melhorar — pediu.

— Safado — disse, levando minha boca até a sua.

Assim que nossos lábios se encontraram, começamos um beijo ardente.

Ele explorava com sua língua cada centímetro da minha boca e dava deliciosas chupadas na
minha, excitando-me; aquilo estava maravilhoso. Não consegui evitar de deslizar minha mão por suas
pernas e Adrian logo se afastou para tirar a camisa.

— O que você está fazendo? — indaguei.

— Apenas te oferecendo novas possibilidades.

Ele voltou a me beijar e guiou minha mão até sua barriga; era delicioso sentir os gomos de seu
tanquinho. Uma ereção se formou dentro da minha cueca.

Ficamos um tempo beijando-nos daquela forma, até que Adrian empurrou minha cabeça para
baixo, em direção ao seu peitoral. Entendo o que ele queria, eu comecei a chupar e beijar com
vontade, fazendo-lhe soltar alguns gemidos.

Fui até um de seus mamilos e comecei a lambê-lo, assim como havia feito comigo no dia anterior
e ele pareceu adorar. Enquanto chupava aquela parte, senti em minha língua seu mamilo enrijecer-se,
o que me fez chupá-lo com ainda mais vontade. Adrian estava de olhos fechados e contorcia-se na
cama.

Fui até o outro mamilo e fiz o mesmo, enquanto alisava sua barriga e sentia seus ralos pelos entre
meus dedos. Ele gemia cada vez mais intensamente e percebi que seu pau estava completamente duro
em sua calça, pulsando e implorando por atenção.

Então assim que comecei a beijar sua barriga para provoca-lo, Adrian não aguentou e empurrou
minha cabeça em direção a sua ereção.

Mordi o volume com vontade.

— Você está me enlouquecendo assim — comentou, entre gemidos.

Sorri satisfeito e abri o botão e zíper da sua calça, liberando seu mastro pulsante e cheio de
veias, que saltou para fora como uma catapulta.

Admirei alguns segundos e lambi meus lábios, tomado por desejo.

Peguei para senti-lo quente em minha mão; era delicioso. E então comecei a fazer movimentos de
vai e vem lentos, Adrian parecia estar adorando aquela visão, mas ambos sabíamos o que queríamos
de verdade. Então não fiquei muito tempo fazendo aquilo e logo me posicionei de quatro na cama,
ficando na altura de seu pênis.

Primeiro levei minha língua até a cabeça de seu pau e lambi com movimentos circulares, ele
gemeu intensamente na cama e ela inchou, ficando ainda maior. Era uma parte deliciosa, mas eu
queria mais. Então, antes de abocanha-lo por completo, fui até a base de seu pênis e deslizei minha
língua desde ali até em cima, sentindo o gosto de cada centímetro do seu delicioso membro.

Era viciante.

Em seguida abri bem a minha boca e abocanhei o seu enorme pau. Adrian contorceu-se de prazer
ao sentir minha boca quente tocando-o; tentei colocar o máximo que conseguia dentro e em seguida
segurei a base do seu pênis para começar a chupá-lo com movimentos de vai e vem.

Estava muito excitado e logo comecei a masturbá-lo também, enquanto chupava seu pau com
vontade. Fiquei um bom tempo fazendo aquilo e ele não parava de gemer; era bom saber que havia
aprendido.

Algum tempo depois tirei minha boca de seu membro e desci mais, começando a lamber seu saco
enquanto continuava masturbando-o com minha mão. Coloquei uma de suas bolas na boca e brinquei
com a língua nela.

Seus gemidos se intensificaram, preocupando-me se alguém ouvisse.

Mas como queria continuar dando-lhe prazer, não disse nada e então soltei aquela bola e fui para
a outra, fazendo o mesmo. Ele reagiu da mesma forma. Bem sabia que aquele era a parte mais
sensível.

Um pouco depois voltei a chupar seu mastro com vontade.

Ele se contorcia e gemia muito, e eu quase estava gozando, sem sequer me tocar, de tanto tesão
que estava sentindo; meu pau pulsava e babava dentro de minha cueca. De repente, Adrian empurrou
minha cabeça para longe de seu membro.

— Estou quase gozando — avisou.

— Não me importo — disse voltando a chupa-lo com ainda mais intensidade.

Queria sentir o gosto da sua porra.

Seus gemidos logo se intensificarem e pude sentir seu pau enrijecendo ainda mais. Num espasmo
ele gozou, enchendo minha boca de leitinho; acabei deixando um pouco escorrer por meus lábios e
sujar seu pau e virilha. Ele havia gozado muito.

Engoli o que havia em minha boca, sentindo seu gosto amargo e salgado e em seguida lambi todo
seu pau, limpando cada gota que tinha ali com a língua.

Era minha recompensa por tê-lo feito gozar e era delicioso.

— Caralho, isso foi muito bom — Adrian disse, ofegante.

Eu sorri satisfeito.

— Onde fica o banheiro? Preciso lavar minha boca agora — perguntei.


— No fim do corredor, última porta a direita — respondeu, recompondo-se.

Saí do quarto e segui as instruções de Adrian, mas um pouco antes de chegar à porta, vi um
homem sair de lá; ele era lindo, enorme e musculo como todos os outros daquela casa. Tinha diversas
tatuagens sobre seu peitoral e barriga e era muito parecido com o pai de Adrian, moreno de olhos e
cabelo castanhos, mas sem todo o comprimento; parecia ter uns 25 anos.

Ele me observou atento e rapidamente desviei minha atenção de suas tatuagens.

— Quem é você? — perguntou.

— Lucas... Sou amigo do Adrian...

— Amigo, sei... É melhor você enxaguar essa boca logo garoto, antes que os outros sintam o
cheiro de porra vindo de você — disse-me e senti meu rosto pegar fogo, de tão vermelho e
envergonhado que fiquei.

Não disse nada e ele passou por mim com indiferença. Entrei rapidamente no banheiro e a
primeira coisa que fiz foi fazer uma concha com minha mão e soprar, para tentar sentir o cheiro. De
fato dava para senti-lo, mas aquele cara não havia chegado perto o suficiente. Não sabia se
conseguiria encará-lo novamente.

Abri a torneira e me curvei, enxaguando e gargarejando diversas vezes minha boca, até que
tivesse a certeza do cheiro ter saído completamente. Assim que terminei, saí do banheiro e voltei
para o quarto de Adrian; ele agora estava sentado em sua cama.

— Estava te esperando — disse, com um enorme sorriso.

Sentei-me ao seu lado.

— Está melhor? — perguntei.

— Quase que completamente, a dor foi mais na hora. Eu sou duro na queda – comentou, rindo.

— Que bom, fiquei com medo de Bernardo ter te machucado seriamente.

— Fico feliz em saber que se preocupa comigo... Mas o que eu quero mesmo saber é se ficará
para o almoço?

— Você sabe que não posso...

— Claro que pode, ele tecnicamente me proibiu de ir à sua casa, mas não disse nada sobre você
vir a minha — comentou e eu ri.

— Quer saber? Você tem razão, ele não pode proibir de vê-lo, eu te amo demais para obedecer
algo assim, mesmo vindo dele. Vou ligar e torcer que não pire muito.

— Isso aí, amor! — Adrian me deu um beijo.

Busquei meu celular e vi que faltava meia hora para o fim da aula, e então disquei o número de
meu pai, que atendeu rapidamente.

— Lucas? – perguntou do outro da linha.

— Sim, sou eu pai — respondi.

Adrian ouvia atento a ligação.

— Saiu mais cedo hoje? Estava já me preparando para ir buscá-lo.

— Posso dizer que sim...

— Como assim?

— Adrian machucou-se na educação física e vim trazê-lo até sua casa — menti.

— Como é que você o levou? – perguntou, preocupado.

— Dirigi o carro com que ele estava. Sei que não tenho carteira, mas não se preocupe que tomei
muito cuidado — respondi.

— Depois conversamos sobre isso Lucas, estou indo buscá-lo.

— Pai, era exatamente sobre isso que liguei. Não precisa me buscar agora, irei almoçar com a
família de Adrian — disse finalmente.

— Como assim? Claro que não!

— Pai, não sou mais criança, tenho direito de escolher algo simples como aonde irei almoçar ou
não. Não é como se estivesse pedindo permissão para ir para uma boate ou fazer uma tatuagem, além
de que Adrian está proibido de ir à nossa casa, mas te disse que não ia deixa-lo de vê-lo — fui firme
nas palavras, mas sentia meu coração acelerado com medo da resposta.

Meu pai ficou em silêncio durante alguns momentos e podia ouvir sua respiração pesada da outra
linha, ele só podia estar furioso.
— Tudo bem, pode almoçar com eles, mas me liga caso aconteça qualquer coisa ou quando
quiser voltar para casa, que irei buscá-lo — disse por fim.

Suspirei aliviado.

— Tá bom, obrigado pai. Até mais tarde! – desliguei.

Adrian olhava para mim com um sorriso ainda maior e abriu os braços para mim, fui até ele que
me abraçou forte e animado.

— Estou tão feliz que irá passar mais um tempo comigo — comentou.

— Eu também — disse, tentando não me preocupar com a cena que havia acontecido com um de
seus parentes e torcendo que não estive no almoço.

Adrian começou a me beijar carinhosamente, mas logo alguém bateu na porta interrompendo-nos
e então me afastei imediatamente.

Adrian abriu; era uma mulher de uns 30 anos, absurdamente linda, com grandes olhos claros e
cabelos ruivos volumosos.

— O almoço está pronto — anunciou e após dar uma breve olhada dos pés a cabeça em mim,
saiu.

— Vamos? — chamou.

— Vamos... — respondi, um pouco tímido.

Além de lindos, toda a sua família tinha uma imponência intimidante.

Saímos do quarto e segui Adrian de perto, que nos levou até uma sala de jantar espaçosa;
realmente havia muitas pessoas, como havia comentado. Tinha cerca de oito homens além dele —
mais da metade sem camisa—, quatro mulheres e mais uns três garotos que não aparentavam ter mais
que 12 anos.

Estavam todos sentados em enorme e longa mesa com muita comida.

Todos parecem perceber nossa presença ao mesmo tempo e trouxeram seus olhares para nós, quer
dizer, em maior parte para mim. Senti-me estranho com aquilo, pois também pararam suas conversas.

— Gente, esse é Lucas, um amigo meu da escola. Hoje ele irá almoçar conosco! —Adrian
apresentou e informou. Quase todos ainda me olhavam desconfiados.
Adrian sinalizou para que sentasse ao lado dele, onde havia dois lugares vagos e então todos
voltaram a comer suas comidas, mas ainda permanecia o estranho silêncio. O que estava acontecendo
ali?

— Fique à vontade, Lucas — a mulher ruiva disse.

Ela estava sentada ao lado do pai de Adrian e pareciam ser um casal.

— Obrigado — respondi, timidamente.

— Também aproveito para agradecer por ter ajudado Adrian a voltar para casa, depois do que
houve hoje. Fiquei tão furioso com o que aconteceu que esqueci disso — o pai de Adrian disse para
mim. — Ah proposito, pode me chamar de Heitor.

— Obrigado, mas não precisa agradecer, eu e Adrian somos muito amigos, era o mínimo que eu
podia fazer — disse enquanto servia meu prato.

O homem que havia feito o comentário constrangedor riu e todos olharam para ele no mesmo
instante.

— Por que está rindo, Gustavo? — Adrian questionou, demonstrando irritação.

— Estou rindo por causa desse papo de vocês sobre serem amigos. Por que não conta a todos
logo que você está comendo esse garoto? — perguntou.

Encolhi-me na cadeira, parando de me servir, envergonhado. Meu rosto devia estar igual a um
pimentão e sentia vontade de correr para longe.

— Gustavo, por favor, chega! — Heitor gritou a ele.

— O quê? Agora não posso contar a verdade? Por acaso vai negar que estava chupando Adrian
no quarto, Lucas? — provocou-me.

Todos pareciam estar se divertindo à custa da nossa discussão.

— E se ele estava, qual o problema? Eu tenho o direito de namorar quem eu quiser! — Adrian
disse, levantando-se.

— Não há problema algum se você quiser ser veadinho, irmão. O problema aqui, você sabe muito
bem qual é. Acho que todos aqui perceberam que esse garoto é filho do Lúcio, não entendo porque
ficaram calados — Gustavo disse, deixando-me confuso.
— Gustavo tem razão; você vai deixar mesmo Adrian quebrar as regras assim, pai? — uma das
garotas perguntou.

— Cale-se, Camila, você sabe muito que quem decide as coisas aqui sou eu — Heitor parecia
muito irritado. — Tire Lucas daqui Adrian.

— Que regras são essas? — perguntei quase gritando.

Por que estavam falando todas aquelas coisas de mim? Só podia ter haver com a ligação que
ouvira de meu pai.

— Pera aí, ele não sabe? — Gustavo perguntou, confuso.

— Cala a boca, Gustavo! — Adrian gritou a ele. — Devia tentar se informar mais sobre o que
está acontecendo, antes de sair fazendo merda. Não entendo como pai escolheu você para ser o
segundo em comando — acrescentou e me puxou pelo braço para me tirar dali, contra minha vontade.
Queria entender o que estava acontecendo!

Ele me levou até os fundos da casa e eu encarei-o aguardando respostas, mas ele ficou em
silêncio, andando de um lado ao outro nervosamente. Não aguentei!

— Não vai me explicar, Adrian? — perguntei irritado. — O que todos vocês estavam falando,
que todos sabem, menos eu?

— Me desculpa por tudo isso, Lucas; não esperava que Gustavo fizesse algo assim.

— Me fala o por quê dele ter falado aquelas coisas! O que tem de mais em eu ser filho de Lúcio?
Tem haver com a briga entre vocês? — Adrian balançou a cabeça em negativa.

— Eu realmente te amo muito, mas infelizmente não posso contar.

— Se você não me contar Adrian, juro que nunca mais te olho na cara! – disse, agora não
conseguindo segurar minhas lágrimas. — Achei que você fosse ser sempre sincero comigo.

Não podia acreditar que até ele escondia segredos e mentia para mim.

— Por favor, Lucas, não faça isso. Eu nunca menti para você, apenas não posso te contar o que
aconteceu lá dentro, pois tenho motivos para omitir — disse.

— Há muitas acontecendo e não posso aceitar mais mistérios em minha vida. Vou pedir uma
última vez Adrian, o que são essas regras e o que tem haver comigo e meu pai? Você é meu
namorado, porra! Não devia ocultar coisas de mim — disse gritando e chorando muito.
Adrian socou a parede forte, irritado e voltou a me encarar.

— Eu queria te contar, eu juro! — ele também começou a chorar. — Mas não posso, somente seu
pai pode fazer isso.

— Quer saber? Que se foda você! — disse, entrando de volta em sua casa.

Fui direto em seu quarto para pegar minha bolsa, ele me seguia de perto.

— O que você vai fazer? — perguntou-me, nervoso.

— Vou embora, já que não conseguirei respostas aqui.

— Sozinho? Você está maluco? Aqui é muito afastado de sua casa.

— Não me importo, sei caminhar — disse com minha bolsa no ombro e sai do quarto, deixando a
casa pela porta que havia entrado.

Não sabia, de fato, voltar para minha casa dali, mas não importava.

Queria ficar apenas longe, enquanto pensava e chorava; não podia acreditar que Adrian havia
mentido e ocultado coisas de mim o tempo todo, enquanto dizia me amar. Se ele não era capaz de me
contar o que estava acontecendo, o que envolvia meu pai, ele não devia se preocupar de verdade
comigo. Nenhum dos dois!

A única coisa que eu tinha certeza era de que, assim que eu chegasse em casa, iria enfrentar meu
pai e exigir as respostas para todas aquelas mentiras, para tentar entender qual sua ligação com a
família de Adrian.

Não era justo que todos estivessem ocultando coisas de mim; disso já bastava minha mãe que
usava o papo de “você não está preparado para saber ainda” o tempo todo. Mas, dessa vez,
recusava-me a ficar sem respostas.

Caminhei durante alguns minutos tentando lembrar o caminho que fiz de carro, mas aquela região
quase não tinha movimento e as casas eram bastante afastadas uma das outras. Sentia meu celular
vibrar no bolso sem parar, mas não queria atender; só podia ser meu pai ou Adrian.

Quando percebi que estava perdido, comecei a sentir um pouco pelo medo, afinal estava quase
com um pé dentro da floresta. Decidi, então, que deveria ser melhor pedir que meu pai me buscasse.
Por mais que não queria ver sua cara, era melhor do que ser o próximo a aparecer morto.

Assim que peguei meu celular e vi as ligações, constatei que na verdade não eram de nenhum dos
dois; era daquele número desconhecido. Minha curiosidade falou mais alto naquele momento e então
decidi ligar para ver quem era.

Não tocou nem duas vezes e logo atenderam.

— Alô? — disse.

— Lucas, sou eu, Bernardo — a voz grossa que eu conhecia muito bem respondeu.

— Como conseguiu meu número? — indaguei, irritado.

Definitivamente não estava com humor para falar com ele.

— Com a Michele, depois de insistir e ameaçar arrancar o cabelo dela.

— Para de me perseguir Bernardo! O que você quer comigo depois do que fez hoje?

— Você sabe muito bem o que eu quero, mas exatamente pelo que aconteceu hoje que te liguei;
fiquei preocupado assim que vi que você e Adrian sumiram. Onde você está?

— Não te importa! – respondi, áspero.

— Estou falando sério Lucas! Você estava com Adrian?

— Não mais, discuti com ele e sai da casa dele há pouco. Estou tentando chegar em casa, mas
estou meio perdido.

— Porra, Lucas; me diz agora onde você está, que eu vou aí te buscar. Eu não podia estar
contando isso, mas você não pode confiar no Adrian, ele mente.

— Percebi — comentei irônico, interrompendo-o.

— Não, você não percebeu Lucas; além de mentir, ele é perigoso. Temos regras e eu posso me
dar muito mal te contando isso, mas acho que você precisa saber. Só que tem que ser pessoalmente,
me diz onde você está.

Bernardo também tinha regras? O que diabos estava acontecendo ali?

Fiquei alguns momentos em silêncio pensando se deveria dizer ou se deveria ligar para meu pai,
quando fiquei surpreso ao ver o carro que Adrian usava surgindo na estrada e vindo em minha
direção.

— Droga, é Adrian, está se aproximando de carro — contei.


— Não entra e não confia nele, está me ouvindo? Me diz logo onde você está!

Olhei ao redor em busca de referência e vi somente um outdoor, que anunciava um motel que
ficava a alguns quilômetros dali.

— Eu não sei, estou perto da floresta e única coisa de referência que consigo enxergar é um
outdoor escrito Motel Floresta — disse nervoso, pois Adrian logo parou o carro diante de mim.

— Eu moro muito perto daí, chego aí em poucos minutos. Não entra naquele carro de jeito algum
— Bernardo alertou.

— Seja rápido — disse e desliguei.

Adrian encarava-me sério de dentro do carro.

— Com quem você estava falando? — ele perguntou.

— Com meu pai, pedi para que me buscasse — menti.

— Não precisa se preocupar com isso, me deixa te levar até sua casa. Prometo te contar o que
está acontecendo — ofereceu.

— Obrigado, mas prefiro aguardar ele, conversamos amanhã na escola.

— Lucas, entra nesse carro! Eu preciso conversar contigo para esclarecer as coisas; não quero te
perder.

- Não, Adrian, eu não vou entrar; vou continuar aqui esperando. Por favor, vai embora — disse
nervoso.

— Você está com medo de mim? O que você descobriu? — perguntou preocupado.

— Não descobri nada, por favor, me deixa aqui. Já disse que meu pai está vindo!

— Tem certeza que é seu pai? — Adrian encarou a estrada a nossa frente.

Olhei para a mesma direção e vi Bernardo correndo até nós.

— O que ele te disse? — Adrian perguntou gritando e saiu do carro.

— Nada ainda — disse tentando me afastar, mas segurou meu braço.

— Você não entende? Você não pode confiar nele, ele é um mentiroso — disse encarando-me nos
olhos, enquanto continuava me prendendo.
Bernardo acelerou e assim que chegou até nós, socou Adrian com força no rosto, que caiu no chão
devido o impacto.

— Fica você longe dele — Bernardo gritou.

— Não sei o que você mentiu para Lucas, mas o único que é perigoso aqui é você — Adrian
disse furioso, levantando-se.

— Vamos Lucas, eu vou te levar para um lugar seguro – Bernardo disse para mim.

Mas eu não sabia o que fazer, estava ainda mais confuso e nervoso. Ambos acusavam o outro de
mentir, em quem eu podia confiar?

— O que está acontecendo aqui? — perguntei. — Eu não vou a lugar algum com qualquer um de
vocês, sem que me expliquem — eu tremia e meu coração quase saltava do peito.

— Lucas, você não percebe que ele está mentindo? Use o colar nele e você verá quem é o
perigoso aqui — Adrian disse.

— Como você sabe do colar? — perguntei dando passos para trás, assustado por ele saber
daquilo.
Capítulo 16

— Droga — Adrian xingou. — Eu vi sem querer quando fui à sua casa e puxei um de seus livros
— revelou.

— Como você sabe para o que ele serve? — perguntei, ainda mantendo distância.

— Que colar é esse que vocês estão falando? — Bernardo perguntou.

— Um colar com a pedra da lua — Adrian respondeu-lhe.

— Pera aí, você já sabia? — Bernardo questionou a mim.

— Sabia o quê? Eu tenho esse colar porque era da minha tia — respondi, evitando comentar que
falava com minha mãe morta.

— Porra, Lucas, vamos sair daqui que eu te explico tudo — Bernardo ofereceu.

— Você está maluco, Lucas? Ir com esse cara? Use o colar nele que você descobrirá a verdade
por si só — Adrian sugeriu e Bernardo riu.

— Sério mesmo, Adrian? Quanto tempo vai fingir ser inocente e normal para ele? Se não quer
contar, eu conto, não tenho medo de Lúcio.

— Então me conta! Cansei de tudo isso, eu não vou ir a lugar algum, até vocês me contarem a
verdade — disse irritado.

— Lucas, o que Adrian te escondeu esse tempo todo, é que ele é um lobisomem —Bernardo
revelou, surpreendendo-me. — Assim como eu também — completou.

Olhei para Adrian que não negou e me afastei dos dois, completamente assustado.

Não sabia o que fazer; minha mãe não havia contado que havia mais de um. E se ambos fossem
perigosos? Não podia acreditar que quem eu procurava estava embaixo do meu nariz o tempo todo.
Sentia-me traído e enganado.

— Ótimo Bernardo, agora ele está com medo de nós dois.

— Pelo menos agora ele sabe da verdade.

— Como vocês não querem que eu tenha medo? Tem gente morrendo na cidade por um
lobisomem e agora descubro que os dois são. O que querem que eu pense?

— Lucas, calma, eu não sou assassino; revelei porque acho que você tem direito de saber, era o
que estava tentando te contar antes mais cedo. Existem mais lobisomens na cidade além de nós, por
exemplo, toda minha família e a de Adrian – Bernardo revelou.

— Bem, é o que ele diz — Adrian comentou, encarando-o hostilmente. — Mas, realmente, a
questão aqui é que nem mesmo nós sabemos quem é o assassino. Pode ser qualquer um, de minha ou
da família dele, que são as duas únicas matilhas da cidade — completou.

Fiquei em silêncio por alguns momentos, tentando processar todas aquelas informações. As
coisas estavam ficando mais complexas ainda; eu havia me envolvido com dois lobisomens e
qualquer um dos dois poderia ser o assassino.

E, para completar, tinham vários outros.

Devia ter ouvi minha mãe, quando me disse para não confiar em ninguém.

O colar ainda me seria útil se eu fosse atacado pelo lobisomem, pois descobriria sua forma
humana, mas isso não era muito reconfortante.

— Na sua casa, você me disse que suas famílias não se davam bem. Por quê? — perguntei para
Adrian. Não irei correr sem ter o máximo de respostas que precisava.

— A família de Bernardo são todos lobisomens, é passado pelo sangue e já nascem com a
licantropia, enquanto a minha é uma matilha. Eu não nasci lobisomem, fui transformado por Heitor —
explicou.

— Eles não aceitam o fato de sermos Lycans puros.

— Cala a boca Bernardo! Não tenho vergonha de ser mestiço.

— Me falem sobre essas regras e o que tem haver com meu pai! — pedi.

— Acho que isso é melhor você descobrir por ele mesmo — Adrian sugeriu e Bernardo pareceu
concordar.

— Então ele está mesmo envolvido com tudo isso?

— Ele que faz as regras — Bernardo revelou.

— O que você quer dizer com isso? — perguntei confuso.


— Como Adrian disse, é melhor perguntar para seu pai. Tem mais coisas que você precisa saber,
mas não por nós — respondeu sério.

— Me perdoa Lucas – Adrian se aproximou de mim. — Eu não queria esconder tudo isso de
você, mas não podia quebrar as regras. Meu pai proibiu e, quando se fazer parte de uma matilha, não
podemos desobedecer ao Alfa.

— Pare com esse draminha Adrian, se eu não tivesse contado, você ia continuar mentindo.
Vamos, Lucas, deixa eu te levar para casa — Bernardo ofereceu.

— Não quero ir embora com nenhum de vocês, preciso de um tempo — disse, decidido. — Vou
ligar para meu pai – peguei meu celular, discando seu número e ambos encaravam um ao outro,
preocupados.

Meu pai atendeu no primeiro toque.

— Pai, preciso que você venha me buscar. Estou numa estrada perto de um outdoor de um motel
— disse sério.

— O que você está fazendo aí? — perguntou, preocupado.

— Depois conto, só preciso que você venha me buscar o quanto antes — respondi e desliguei em
seguida, voltando a encarar os dois.

— Por favor, vão embora; quero ficar sozinho — disse.

— Sem chances Lucas, eu não vou te deixar sozinho, quando esse aí pode aparecer novamente —
Bernardo negou-se.

— Pelo que vocês me contaram, vocês não sabem quem é o assassino; então, pode ser qualquer
um, incluindo você Bernardo — falei irritado.

— Exatamente — Adrian comentou. — Não vou sair daqui enquanto você estiver.

— Ambos sabemos quais eram suas intenções, Adrian. Quer que eu aproveite e conte isso
também? — Bernardo provocou.

Adrian cerrou os punhos, irritado.

— Se eu fosse você, não faria isso; já levou uma surra hoje mais cedo. Se não fosse seu fato de
cura, estaria agonizando no hospital — Bernardo riu.
— Você joga sujo! Precisa usar mesas para vencer; muito lamentável – Adrian disse irritado.

— Eu não jogo sujo, eu jogo para ganhar — provocou.

— Parem vocês dois! Me conta logo Adrian, do que Bernardo está falando? O que você queria
comigo? – perguntei.

Não consegui aguentar e acabei caindo em choro; arrependia-me completamente de ter me


entregado a ele. O quanto podia acreditar em tudo que havia me contado? Ele dizia me amar, mas
decidiu me esconder até mesmo o que ele era.

— Vamos lá Adrian, conta pra ele. Ou prefere que eu conte?

— Por que você está fazendo isso Bernardo? Por quer nos separar a todo custo? – Adrian
perguntou a ele, encarando-o.

— Fugindo do assunto? Que feio. Mas te respondendo, eu gosto dele desde o primeiro dia,
quando quase o comi gostoso naquele vestiário, se não fosse você para estragar tudo — Bernardo
provocou.

Adrian pareceu se irritar ainda mais e bufou.

Senti que iria partir para cima de Bernardo a qualquer momento, mas para minha sorte o carro de
meu pai surgiu, estacionando próximo a nós.

Ele saiu do carro assim que nos viu.

— Você está bem Lucas? O que vocês três estão fazendo aqui?— ele perguntou ao me ver
chorando e encarou Bernardo e Adrian, que demonstraram intimidarem-se.

— Vamos logo pai — pedi, secando minhas lágrimas e entrando no seu carro sem olhar para trás.

Vi pelo vidro do carro que meu pai continuou encarando ambos, mas quando viu que nenhum
falaria algo, entrou no carro irritado e deu a partida. Ele tentou me perguntar o que havia acontecido
durante todo o caminho, mas em nenhum momento o respondi, o que pareceu irritá-lo ainda mais.

Iria exigir minhas respostas assim que chegássemos em casa.

Quando ele finalmente estacionou o carro na garagem, desci com pressa e fui até a sala, onde o
esperei sentado no sofá e respirando fundo.

Meu pai surgiu logo em seguida.


— Você precisa me contar o que aconteceu para que eu possa ajudá-lo.

— Você pode me ajudar sendo sincero e parando de mentir para mim.

— Do que você está falando? — perguntou nervoso.

— Eu já sei de quase tudo — revelei. — Sei que essa cidade está cheia de lobisomens e que é um
deles que está matando essas pessoas.

— Quem te contou isso? — ele estava furioso.

— Pelo amor de Deus, isso não importa; p que importa é que você estava escondendo isso de
mim todo tempo – respondi, voltando a chorar.

Ele sentou-se ao meu lado e segurou minha mão.

Puxei em seguida, não queria que me tocasse.

— Eu estava aguardando o momento certo Lucas, não queria te assustar.

— Você fez pior, mentiu para mim.

— Sinto muito filho.

— Sente? Então, por favor, seja sincero comigo. O que temos a ver com toda essa história de
lobisomens? — questionei, encarando-o.

Ele respirou fundo.

— Lucas, existem duas matilhas lobisomens na cidade, uma familiar e a outra formada pelo lobo
alfa, e eles sempre foram rivais. Eu sou o guardião da cidade, isto significa que sou o responsável
em manter a diplomacia entre eles e proteger Floresta Negra de ataques ou caçadores — revelou.

— Mas por que você? — questionei confuso.

— Porque somos de uma família de bruxos, Lucas.

— Tá zoando, né?

— Não... — respondeu-me sério. — Sua mãe também era bruxa, o que significa que também está
em seu sangue.

Fiquei em silêncio durante alguns momentos, tentando processar todas aquelas informações. Era
difícil de acreditar.
— Eu sou um bruxo? – Indaguei.

— Sim, você não notou o surgimento de alguma habilidade? É na sua idade que começam a surgir.

— Como assim?

— Cada bruxo apresenta diferentes tipos de poderes como telepatia, intuição, vidência,
manipulação elemental, entre outros. Não notou nada de diferente em você?

— Eu sabia que minha tia estava sendo atacada — revelei.

— Entendi, por isso você foi atrás dela... Com o tempo novas habilidades surgirão Lucas, nossa
função é manter e proteger o equilíbrio.

— Para isso existem as regras? — perguntei.

— Exatamente, elas foram criadas para manter a paz entre as matilhas e proteger nossas
identidades dos cidadãos comuns, para que possamos conviver em paz.

— E quanto a esses assassinatos?

— É um assunto delicado e complicado, pois ainda não sabemos o culpado e enquanto as mortes
continuam, a rivalidade entre as matilhas apenas aumenta e está a um fio de estourar um confronto
mortal entre eles. Todos acusando um aos outros de serem os culpados, mas é minha função tentar
descobrir quem é o culpado.

— O que eu vou fazer agora que sei de tudo isso?

— Continue com sua rotina e tente manter distância dos lobos.

— Por quê? Foi por esse motivo que não queria que eu me relacionasse com Adrian? Por ser
contra as regras?

— Não há regras sobre isso Lucas; apenas pedi para que ninguém contasse nada a você, com o
intuito de protegê-lo. Entenda que você já corre perigo, lobisomens sentem um cheiro diferente em
nós, bruxos. É algo que atrai e chama a atenção deles completamente, e só se intensifica quanto mais
poderoso for o bruxo.

— Por isso todos me encaravam estranho...

— Você tem que ficar longe de qualquer lobisomem, até descobrirmos quem for o assassino. Não
deve confiar em nenhum!
— Tudo bem, manterei distância — concordei.

Não queria mais ver ou falar com Adrian e Bernardo, principalmente Adrian, que dizia me amar e
então traiu minha confiança, ao esconder toda a verdade que sabia desde o início. Tive de descobrir
por seu maior inimigo.

Agora fazia sentido ele se interessar por mim desde o início; ele sentiu que eu era um bruxo e
decidiu aproximar-se de mim, mesmo após perceber que eu não tinha qualquer noção disso.

— Sua mãe se preocupava muito com você, por isso nos separamos. Quando você era muito
novo, o Conselho de Bruxos me designou como guardião de Floresta Negra, algo que desejei por
muito tempo. Mas sua mãe foi contra, preferiu ficar na capital para manter você longe de tudo isso —
revelou.

— Então foi esse o real motivo... — comentei surpreso.

Realmente era algo que minha mãe faria.

— Mas não se preocupe Lucas, pois eu protegerei e cuidarei de você. Só mantenha-se distante
disso tudo, por enquanto; num futuro breve ensinarei tudo que você precisa saber — disse.

— Mas e se eu for atacado e você não estiver por perto? — perguntei, lembrando-me do lobo
negro.

— Não se preocupe com isso, a casa é protegida por um feitiço poderoso. Adrian conseguiu
entrar em sua forma humana, mas ele impede a entrada de qualquer lobisomem transformado.

Se existia essa proteção na casa, como aquela fera havia entrado?

Definitivamente eu não estava seguro como meu pai imaginava, mas permaneci em silêncio, algo
me dizia para não conta-lo sobre isso.

— Agora descanse, pois eu tenho que ir para uma reunião entre as matilhas, precisamos falar
sobre os ataques. Não se preocupe que voltarei aqui antes de ir para o hospital, okay? – disse.

— Tudo bem...

Ele levantou-se e bagunçou meu cabelo.

Em seguida saiu e, poucos momentos depois, ouvi o barulho do carro deixando a casa. Eram
muitas informações para lidar, sentia minha cabeça quase explodindo.
Havia conseguido muitas respostas, mas várias outras ainda permaneciam.
Capítulo 17

Faltei às aulas o restante da semana.

Precisava de tempo e espaço para colocar a cabeça no lugar.

Inevitavelmente chorei muito durante aqueles dias, afinal eu havia me entregue a uma pessoa
mentirosa e, pior ainda, me apaixonado. Saber que não teria mais seu corpo e lábios era horrível,
mas não tinha escolha. Seria burrice minha voltar me envolver com ele ou Bernardo, agora que sabia
da verdade.

Quando voltei a ver minha mãe, questionei-a sobre não me contar que havia mais de um
lobisomem, e ela respondeu-me que não esperava que eu fosse me envolver com as matilhas e pediu
que eu tentasse entender os motivos de meu pai ocultar que eu era bruxo. Estava esforçando-me para
aquilo, mas não estava sendo fácil.

Decidi retornar à escola na segunda-feira, já com objetivo de ignorar completamente Bernardo e


Adrian, que mandaram-me diversas mensagens nos últimos dias; não respondi nenhuma.

Meu pai tentou insistir que eu não retornasse ainda, mas eu não ia fugir mais.

Assim que entrei na sala naquele dia, fui direto até o outro lado, onde havia mesas vagas; queria
evitar ao máximo ter contato com os dois. O olhar triste de Adrian acompanhou-me, mas fingi dar de
ombros e sentei-me em uma das últimas classes, encostada à parede. Bernardo ainda não havia
chegado.

Seria estranho não falar mais com Adrian, mas era necessário; ele não me amava o suficiente para
ter sido sincero comigo desde o começo. Eu cheguei a brigar com meu pai para protegê-lo, enquanto
contava mentiras para ter meu corpo.

Assim que ajeitei-me na nova classe, percebi que estava perfeito; era bastante distante de Adrian
e Bernardo, mas ainda assim conseguiria observá-los, quando necessário. Precisava analisar
comportamentos suspeitos, afinal qualquer um dos dois podia ser o assassino.

Michele assim que chegou à sala surpreendeu-se em me ver ali e veio direto até mim, sentando-se
na classe de trás.

— O que está fazendo aqui? — perguntei, virando-me para ela.


— Não, a pergunta aqui é o que VOCÊ está fazendo aqui?

— Nada, só queria mudar de lugar.

— Nem começa a me enrolar, Lucas. Primeiro você some de novo e quando volta muda de lugar?
Eu sei que algum babado forte aconteceu e eu preciso saber, senão nem conseguirei dormir hoje.
Então desembucha — disse, encarando-me com um olhar sério.

— Não foi nada demais, só me desentendi com Adrian e Bernardo.

— Como assim se desentenderam? Por quê? – perguntou curiosa. — Semana passada você e
Adrian sumiram, achei que estivessem por aí transando loucamente até agora.

— Está maluca? Claro que não! Briguei por que eles queriam mandar em mim, dizer com quem
falar ou ser amigo. Não estava aguentando, só isso — enrolei.

— Mentira, você pegou os dois, não é? E agora os dois estão brigando por ti.

— O quê? Não!

— OMG, eu já imaginava que Adrian também queria seu corpo nu. Sabia que tinha escolhido
certo para ser você meu melhor amigo gay, porque você é rápido igual a mim, guri. Menos de um
mês, e já pegou os dois garotos mais gostosos da escola, que agora estão duelando por seu
coraçãozinho. Estou completamente chocada e excitada com tudo isso — Michele disse com olhos
brilhando.

— Para Michele, alguém pode ouvir — disse envergonhado, mas deixando-a acreditar que era só
isso.

— Por que esconder Lulu? Tem mais é que deixar todos saberem que você é destruidor — falou e
eu respirei fundo, tentando manter a calma. — Mas me diz, quem tem a maior piroca? — perguntou
curiosa.

— Não vou contar — respondi e senti meu rosto pegar fogo.

— OMG, você se entrega muito fácil, Lucas; acabou de admitir que viu dos dois. Você é muito
safadinho hein! Estava achando que você era virgem, mas me enganei bonito pelo jeito — comentou
fascinada; ela estava adorando aquilo.

— Para, não gosto de falar sobre isso — insisti.

— Para você! Se eu tivesse pegado um dos dois, ia sair contando para todo mundo, esfregar na
cara das inimigas mesmo. Tudo bem que não sou muito fã do Bernardo, pois ele tem cara de mau,
mas assumo que isso o deixa mais sedutor — ouvia seus comentários completamente sem reação. Ela
era completamente louca! — Mas, pera aí Lulu, você ficou um de cada vez ou pegou os dois ao
mesmo tempo em um ménage? — perguntou interessada.

— Não, eu não fiz um ménage — quase gritei e alguns colegas próximos ouviram.

Quis esconder meu rosto embaixo da terra naquele momento.

— Que pena... Quando for fazer um me chama para eu ver? Deve ser maravilhoso ver três caras
transando, já está na minha lista de desejos a tempos.

— Você não tem Internet em casa? Só entrar em sites pornôs.

— Tenho, mas prefiro ver pessoalmente — disse, alinhando suas madeixas loiras que caiam
sobre a testa.

Para minha sorte o sinal tocou e o professor Marcos entrou na sala 30 segundos depois. Ele dava
aulas de física e era muito bonito; não devia ter nem 30 anos, tinha um bom porte físico e era muito
charmoso, com sua barba rala.

Comecei a pôr meu material sobre a mesa, quando senti Michele me cutucar novamente. Virei
para ela.

— O que foi agora?

— Eu quero ele — anunciou.

— Ele quem?

— O professor, eu quero ele; ele é muito gostoso e eu adoro caras mais velhos.

— Marcos é bem bonito mesmo, mas você está louca? Nunca assistiu séries ou filmes? Nunca dá
certo se envolver com um professor.

— E daí? Não quero namorar, só quero fazer uns sexos selvagens com ele e depois eu dispenso.
Não quero ter nada que me prenda a Floresta Negra, pois ano que vem preciso ir embora. Eu odeio
essa cidade desde que me lembro — comentou.

— Vocês dois aí atrás, prestem atenção, pois a aula já começou — o professor alertou.

— Claro, desculpa — Michele disse, toda sorridente.


Revirei os olhos.

A garota era maluca, mas devia assumir que ela sempre conseguia me alegrar, mesmo com seus
comentários inapropriados; gostava de tê-la como amiga.

Comecei a copiar o que o professor escrevia no quadro quando um bilhetinho surgiu na minha
mesa, jogado por Michele. Respirei fundo e abri.

“O que irá fazer na sexta e no fim de semana? Você não tem o direito de me deixar sozinha.
Você já me abandonou demais e tentou mentir para mim” — estava escrito.

“Não sei o que vou fazer, acho que vou ficar em casa. E não menti, omiti.” – respondi.

“Isso não importa. Tentar esconder uma fofoca de mim é quase um crime divino. De qualquer
forma, vai ficar em casa não, nós vamos para uma festa”.

“Que festa? Não sei se quero ir” – perguntei.

“A falsiane (Beatriz) vai dar uma festa sexta à noite e nós vamos sim. Não quero entrar de
penetra sozinha”.

“Como assim de penetra? Agora que não vou mesmo” – escrevi.

“Ela é uma vaca e tem recalque de mim, agora quer ser popular comprando as pessoas com
festas e fez questão de não me convidar. Mas você acha mesmo que vou deixar ela me afrontar
assim? Não mesmo! Preciso estar lá e você também, pois chegou a hora de provar sua amizade
para mim”.

“Aff, tá bom” – concordei.

“Não faz a vítima, porque vai ter um monte de macho para você passar o rodo” – ri alto ao ler
aquilo.

***

Passei a semana toda conversando apenas com Michele, principalmente por bilhetinhos, já que
ela não aguentava ficar quieta um momento sequer. Era incrível como estávamos nos dando bem; ela
conseguia me animar e divertir mesmo com tantas coisas estranhas acontecendo.

Adrian começou a faltar bastante e Bernardo continuava provocando-me com o olhar, sempre que
me pegava olhando-o. Era difícil fingir indiferença.
Meu pai se negava a responder muitas coisas sobre magia, afirmando ser para meu bem; afirmava
que eu não estava preparado para lidar com essas coisas ainda, mas logo chegaria a hora. Ele tinha
medo de que se eu treinasse, eu poderia atrair ainda mais a atenção dos lobos, incluindo o
responsável pelos ataques.

Mas eu sentia que precisava aprender a me proteger; existiam muitos lobisomens na cidade e
qualquer um poderia ser o assassino. Ninguém podia me garantir que eu não seria atacado a qualquer
momento, e não queria depender apenas do colar.

O pior de tudo era que eu não tinha acesso a informações reais sobre bruxaria; não podia confiar
em conteúdo de blogs, afinal até uma doida como a Michele poderia postar como fazer feitiços.

Quando finalmente chegou sexta-feira, na escola, Michele estava mais animada que o normal
devido à festa e eu apenas mais nervoso; detestava a ideia de entrar de penetra, mas não tinha como
voltar atrás mais.

Naquele dia, Adrian e Bernardo haviam ido para a aula e encaravam-me mais que o normal,
deixando-me nervoso. Sentia falta de falar com eles.

Assim que tocou para o intervalo, Michele me puxou pelo braço sala a fora.

— Não precisa me arrastar — comentei.

— Claro que sim, vou te proteger daqueles dois; parece que eles vão te morder a qualquer
momento. Não aceitam o fato de que já perderam o osso.

Não disse nada e assim que compramos nossos lanches, sentamo-nos em uma das mesas que
estava vazia. Comemos em silêncio, enquanto observávamos os outros alunos passar por nós até que
Bernardo surgiu, sentando-se ao meu lado.

— Você não pode sentar aqui — Michele disse a ele.

— Não pedi permissão para ninguém.

— Mas nós não queremos você aqui — ela insistiu.

— Não me importo com o que você quer ou não Michele, dá um tempo. Estou aqui por que quero
saber até quando você Lucas, pretende me ignorar? – questionou.

— Por muito tempo ainda — respondi encarando-o. — Você sabe muito bem o motivo de eu me
afastar Bernardo e quero que você respeite e mantenha distância.
— Você sabe que não vou fazer isso, não desisto fácil de algo que eu quero.

— Mas você já teve — Michele se intrometeu. — Bola para frente Bernardo, vai atrás de outro,
pois Lucas decidiu ser puta e passar o rodo.

Senti meu rosto ficar vermelho. O que diabos ela estava fazendo?

— Não quero que você fale por ele, pois ele não é assim como você disse — Bernardo irritou-se.

— Claro que sim, não é mesmo, Lucas? Hoje mesmo vamos à festa da Beatriz e vamos pegar
todos lá — ela provocou e Bernardo calou-se por alguns segundos, pensativo.

— Então vocês vão à festa da Beatriz? Bom saber, nos veremos a noite então —falou abrindo um
enorme sorriso e levantou-se, em seguida. — E Lucas, você não vai fugir de ter uma conversa
comigo, mas sem essa aí — avisou e foi embora.

— Por que disse aquelas coisas? — perguntei para Michele.

— Para ele parar de se achar o gostosão, pois quem está destruindo corações aqui é você. Você
tem que aprender a fazer esses homens comerem na sua mão, gato.

— Eu não quero isso Michele, já disse que deles só quero distância e agora você revelou que
vamos à festa. Bernardo vai me perseguir lá!

— Tá, desculpa, essa parte foi sem querer, não pensei direito e nem achei que ele iria; ele
também detesta a Beatriz. Só que, diferente de mim, a piriguete convidou ele, afinal é apaixonado por
ele desde a sétima série — comentou.

— Será que Adrian também vai? — perguntei, tentando mensurar o quão problemática seria
aquela festa.

— Ah, isso é de certeza, ele e Beatriz já até namoraram. Até faz sentido ele virar gay, aquela
garota deve ser irritante até dando — respondeu e eu olhei feio para ela. — Tá, tudo bem, ninguém
vira gay; nasce. Livro de Gaga, versículo 02.

Não aguentei e ri do comentário de Michele, mas me senti um pouco desconfortável ao saber que
essa Beatriz havia namorado Adrian e gostava de Bernardo. Sem nem mesmo conhecê-la, já a
detestava também.

Estava sentindo ciúmes, que beleza! Só faltava descobrir de qual dos dois.

Assim que terminamos de comer nossos lanches retornamos para a sala.


O restante da aula passou tranquilamente, tirando o fato de Michele não conseguir ficar quieta um
segundo sequer. Havíamos combinado de ela convencer seu pai a passar na minha casa, para levar
nós dois de carro para a festa.

E falando nisso, ainda não havia contado ao meu pai que iria sair à noite; havia enrolado a
semana toda e agora torcia que ele deixasse.

Assim que sai da escola, logo vi o carro dele e fui em direção.

— Eles vieram até você? — perguntou, assim que entrei no carro.

— Não pai, eu continuo sentando no outro lado da sala e ignorando eles — respondi, omitindo a
parte em que Bernardo tentou falar comigo. Se eu queria que ele me deixasse ir à festa, não podia
saber que os dois estariam lá.

— Tudo bem, vamos para casa.

Ele deu a partida e em pouco tempo chegamos.

Assim que entramos, antes de eu subir para trocar de roupa, decidi perguntar algumas coisas a
meu pai; não aguentava mais tantas dúvidas.

— Pai, podemos conversar? — perguntei, sentando-me à mesa da cozinha.

— O que você quer saber? — questionou desconfiado, sentando-se também.

— Sei que você quer me proteger, mas estou enlouquecendo sem saber o mínimo das coisas.
Digo, eu sei dos lobisomens e que sou um bruxo, mas ao mesmo tempo, não sei de nada; quero
entender como funciona esse mundo onde criaturas mágicas existem.

Ele suspirou fundo e encarou-me.

— Tudo bem, pode perguntar, acho que algumas coisas posso contar

— Primeiro quero entender o que você faz realmente como guardião.

— Tudo bem... Como já disse, tenho a responsabilidade em manter o equilíbrio e proteger tanto
os humanos quanto os seres sobrenaturais da cidade. Como aqui existem duas matilhas, é meu papel
manter a paz entre elas e garantir que não haja ataques de ômegas, lobos solitários, ou caçadores.

— Essa parte eu entendi, mas como você faz isso? Naquele dia contou-me que bruxos possuem
certas habilidades. Quais são as suas? — perguntei.
— Para evitar os conflitos existem as reuniões, onde decidimos regras que beneficiem todas as
partes. Mas quando alguém não as segue, eu tenho que agir, como é o caso do lobo que está atacando
os humanos da cidade. E sim, cada bruxo apresenta diferentes tipos de habilidades e talentos. A
minha principal é em feitiços – respondeu.

— Então quando precisa, você faz um feitiço...

— Sim, às vezes, porque, além disso, também tenho a habilidade de persuasão — revelou.

— Como assim? — perguntei, confuso.

— Posso manipular as pessoas por palavras — explicou.

— Nossa — disse surpreso.

— Sim, é uma das habilidades mais raras, mas não funciona com todos, apenas com humanos —
explicou.

— Foi o que você fez com o diretor da minha escola? — questionei lembrando que ele havia
conseguido me matricular sem todos os documentos básicos.

— Sim, exatamente, mas evito usar essa habilidade; não é algo muito legal ficar manipular as
outras pessoas, só em casos necessários — respondeu.

— Tudo bem, acho que entendi o que o senhor faz, mas e agora que eu sei que sou um bruxo, o
que eu faço para aprender sobre magia? Como contei, já tive uma visão. Isso quer dizer que minhas
habilidades estão manifestando-se, não é?

— Sim Lucas e pode ter certeza que eu ensinarei tudo a você, mas como já repeti várias vezes,
realmente prefiro que, por enquanto, você não inicie seus estudos e seja paciente — ele respondeu,
revoltando-me.

— Ser paciente? Tem pessoas morrendo na cidade e faz alguns dias que eu descobri que sou
bruxo, o que significa que chamo mais a atenção do assassino que as outras pessoas. Preciso
aprender formas de me proteger pai! Pois não sei se percebeu, mas eu não recebi nenhuma carta de
Hogwarts.

— Lucas, você não entende. É exatamente por esse motivo que não pode estudar ou aprender
magia ainda, quanto mais forte você fica e se desenvolve na bruxaria, mais atrairá outras criaturas
sobrenaturais. O nosso cheiro seduz a eles e, na maior parte das vezes, não é nada romântico. Para
você ter noção do quanto corremos perigo, se um lobisomem beber de nosso sangue, ele fica mais
forte — explicou.

— Eu só não quero ficar indefeso se eu for atacado!

— Eu sei filho, mas ouça o que estou dizendo, estou falando muito sério. Para te tranquilizar, irei
fazer algo que o proteja, mas você tem que prometer não ir em busca de magia por enquanto. Seus
próprios colegas já conseguem sentir o seu cheiro diferente e se aproximaram atraídos; se fossem
lobas, há essa hora já estariam completamente apaixonadas por ti — comentou.

Ruborizei imediatamente e tentei não demonstrar comportamentos estranhos para meu pai, afinal
ele não ia gostar nada de saber que eu já havia dados uns pegas nos dois. Era muito estranho pensar
que eles se aproximaram de mim só porque eu era um bruxo.

— Tudo bem, vou ficar longe de tudo isso, por enquanto — disse levantando-me.

— Obrigado por entender Lucas.

— Estou confiando em você pai... Ah, falando nisso, eu vou a uma festa hoje a noite com a
Michele — contei finalmente.

— Não mesmo guri, você sabe que não é seguro — interviu.

— Não se preocupa; o pai dela, que é policial, vai nos levar e buscar. Você mesmo disse que
queria que eu continuasse com minha rotina normal e acho que isso inclui eu sair com meus amigos
não lobisomens — insisti.

— Tudo bem, tem razão, mas se notar algo suspeito, fique perto das outras pessoas e me liga
imediatamente. O assassino dificilmente irá querer se expor.

— Pode deixar — concordei e subi para meu quarto.

Mas assim que cheguei ao segundo andar, fiquei surpreso.

Lá estava novamente a 5ª porta; aproximei-me dela com cuidado e senti uma grande quantidade de
energia e poder sendo emanados dela. Queria muito descobrir o que tinha lá dentro, mas ao tentar
girar a maçaneta, novamente não abriu; estava completamente trancada.

Comecei a alisar a madeira, sentindo toda aquela energia viva em minha mão, quando fui
surpreendido com alguém tocando em meu ombro.

Virei-me assustado e vi que era meu pai.


— O que você está fazendo? — ele perguntou sério.
Capítulo 18

— Nada — respondi por impulso, não sabia o que dizer.

— Como você achou essa porta? — ele demonstrava nervosismo.

— Não sei, apenas a vi e tentei abrir.

— Eu não quero você chegando perto dela novamente! Entendeu? — ordenou.

— Por quê? O que tem aí dentro? — perguntei, irritado. Ele não podia apenas me dizer o que
fazer, esperando que eu não questionasse. Tinha o direito de saber.

— É uma biblioteca com livros de magia e muitos ensinam feitiços e rituais proibidos — revelou.
— Então, fique longe dessa porta a todo custo; lembre-se do que acabamos de combinar lá embaixo.

— Tudo bem, desculpa — disse desconfiado.

— E então descobrimos outra habilidade sua...

— Do que está falando?

— Pelo jeito você é capaz de ver anular feitiços, é uma habilidade muito útil para um bruxo. Usei
um feitiço para ocultar essa porta e ninguém deveria ser capaz de ver, mas você conseguiu —
explicou.

— Mas eu não fiz nada...

— Deve ter ativado inconscientemente; precisarei reforçar a proteção da casa, caso você acabe
derrubando-a também. A que estava nessa porta era tão forte quanto.

— Desculpa... Mas não sabia que existiam magias proibidas — comentei, querendo saber mais
sobre esses tais livros.

— Sim, existe um Conselho de bruxaria e alguns tipos de magia são proibidos, como a
necromancia, por exemplo — esclareceu.

— E o que acontece se alguém for pego usando esse tipo de magia?

— Nada muito legal, acredite — respondeu sério.


— Tudo bem, prometo ficar longe dessa porta. Vou trocar de roupa para almoçarmos — disse a
ele e entrei em meu quarto.

Após trocar de roupa, desci e almocei com meu pai; não conversamos muito. Ele parecia distante
e havia me avisado que iria sair pela tarde, mas voltaria antes do pai de Michele passar aqui em
casa. Fiquei a tarde toda pesquisando sobre bruxaria no Google, mas a minha mente estava era
naquela porta.

Queria muito ver essa tal biblioteca.

Ouvi alguém tocar a campainha e achei estranho. Desci até o andar de baixo e abri a porta de
entrada, era um carteiro. Havia chegado meu colar de prata e tive sorte que meu pai havia decidido
sair exatamente àquela tarde, assim demoraria mais para ele descobrir que furtei seu cartão para
compra-lo.

Após informar meu RG e assinar um documento, o homem me entregou o pequeno pacote e seguiu
com sua rota. Fechei a porta e logo desembrulhei ansioso; era lindo. Era uma fina corrente e
reluzente muito mais bonita pessoalmente que nas fotos.

Retornei ao meu quarto e permaneci lá em meu computador. Michele havia me marcado em uma
publicação do Facebook e após comentar, fui até seu perfil ver os amigos dela. Encontrei Adrian e
Bernardo ali e foi inevitável, em segundos já estava com perfis de ambos abertos, um em cada aba do
navegador.

Olhava as fotos de ambos, alternando entre os perfis.

Não conseguia dizer qual me interessava mais, enquanto as fotos de Adrian eram mais
comportadas, e nas de Bernardo ele estava sem camisa em quase todas. Quando percebi, estava
excitado, mas definitivamente não iria me masturbar por eles.

Não depois do que haviam me escondido.

Fechei os perfis deles, sem adicioná-los, e abri um site pornô qualquer e cliquei em um vídeo.
Sentia-me menos culpado assim.

No vídeo, um coroa musculoso e peludo fodia forte um garoto magro, muito semelhante a mim.
Excitei-me ainda mais assistindo aquilo e levei minha mão para dentro da minha cueca e comecei a
massagear meu membro que pulsava duro, pedindo por atenção.

Permaneci por vários minutos assim, massageando-o com suaves movimentos de vai e vem, até
que de repente meu celular vibrou na mesa.

Tirei minha mão da cueca e destravei a tela do telefone.

Era uma mensagem de Michele que dizia “Chega de ver pornô e começa a se arrumar. Em uma
hora e meia passaremos aí”.

Olhei para meu redor assustado, em busca de câmeras, mas não havia nada. Naquela altura, não
duvidaria se ela também fosse uma bruxa.

Depois que li a mensagem perdi a vontade de continuar o que havia começado, então fechei o site
e fui para o chuveiro. Não tive pressa, tomar banho era uma das coisas que mais adorava, era o
momento em que conseguia pensar melhor.

Quando finalmente terminei e voltei para o quarto, percebi que havia passado mais de 40 minutos
lá. Escolhi vestir uma calça skinny preta, um tênis azul marinho e uma camisa social branca, que
ficava vestia muito bem em mim e dobrei as mangas.

Nunca havia ido a uma festa assim e estava ansioso, talvez também por saber que Adrian e
Bernardo estariam lá, mas havia decidido que iria continuar ignorando-os, não queria ter uma recaída
e parar nos braços de um dos dois.

Tudo bem, queria sim, mas meu orgulho falava mais alto.

Enquanto arrumava meu cabelo diante do espelho, bagunçando-o um pouco, meu pai surgiu no
quarto e veio até mim.

— Já está se arrumando? Que horas eles virão te buscar? — perguntou.

Parecia mais tranquilo.

— Dentro de alguns minutos – respondi.

— Tudo bem, se quiser vir embora antes dessa Michele, me liga que lhe busco na hora. Toma
cuidado e não anda sozinho por aí, principalmente com um daqueles garotos — meu pai alertou.

— Pode deixar e já te disse, vou manter distância deles, não se preocupe.

— Ótimo. Se precisar de mim, estarei no meu quarto descansando — disse e saiu do quarto em
seguida.

Ele parecia muito mais tranquilo que antes. Onde ele havia ido?
Tentei ignorar um pouco todas as perguntas que surgiam em minha mente. Eu devia aproveitar
essa festa para distrair e me divertir, senão poderia enlouquecer a qualquer momento.

Assim que terminei de arrumar o cabelo e espirrei meu perfume, peguei meu celular e colar,
guardando ambos no bolso. A corrente usaria somente assim que saísse de casa, para que meu pai
não a visse.

Não demorou muito e ouvi um carro buzinar na frente de casa; olhei pela janela e eram eles.
Desliguei o computador e luz e, antes de descer, bati na porta do meu pai, avisando-o que já estava
saindo.

Assim que cheguei ao carro, sentei-me no banco de trás com Michele e cumprimentei o pai dela,
que não parecia muito simpático e comunicativo, diferente da filha. Michele havia comentado que ele
havia se fechado muito desde a morte de sua mãe.

Ela estava absurdamente linda! Estava com um vestido preto curto, todo bordado com lantejoulas
pretas, e com um decote que evidenciava seus enormes seios. Seu cabelo loiro e volumoso estava
perfeito como sempre, assim como a maquiagem.

— Eu sei que estou linda, não precisa babar — ela comentou e eu ri.

— Está linda mesmo — disse.

Estava muito contente em ter me tornado seu amigo.

— Eu sei, você também está um gato! — ela piscou para mim.

— Muito obrigado, sua opinião é muito importante para mim — brinquei e ambos rimos.

Tirei o colar de meu bolso e pedi para ela me ajudar a fechar atrás; estava com os dois primeiros
botões da camisa abertos, o que evidenciava ele.

— Estou louca para ver a cara da Beatriz, assim que nos ver na festa — Michele comentou com
um sorriso maligno no rosto.

— E se ela nos mandar embora? – perguntei.

— Ela não ousaria e mesmo que mande, você mente que foi convidado pelo Bernardo; ela não vai
falar nada. E eu, bem... Sei convencer – respondeu.

Não demorou muito e logo o pai dela anunciou que havíamos chegado.
Descemos do carro e, antes mesmo da gente se despedir ou agradecer, ele partiu; Michele não
pareceu se importar. A casa de Beatriz era enorme e o jardim da frente já estava tomado por várias
pessoas, que bebiam e conversavam.

Lá dentro tocava música eletrônica.

— Vamos entrar — Michele disse, puxando-me pelo braço.

— Tudo bom — respondi, como se tivesse escolha.

Quando entramos, nos deparamos com uma quantidade muito maior de pessoas lá, alguns
pareciam ser bem mais velhos que nós. Todos dançavam ou se pegavam ao som da música e
embalados por muita bebida, que estava disponível para ser servida em uma mesa. Um DJ tocava
num dos cantos da sala, enquanto várias pessoas estavam ao seu redor, possivelmente pedindo por
músicas.

— Vamos tomar algo — Michele disse ao meu ouvido; a música estava bem alta.

— Eu não bebo — informei.

— Mas hoje vai. Deixa de ser careta, Lucas; mal chegou à cidade e já pegou dois machos, então
não vem querer se fazer de santa — eu ri.

— Tudo bem, mas só um pouco — concordei, mas o fato era que não havia como contrariar a
Michele.

Ela nos serviu com vodca e energético. Nunca havia bebido aquilo e achei um pouco forte, mas
até que era bom.

Observamos bem as pessoas que estavam ao redor enquanto bebíamos próximos a mesa. Após
alguns minutos calada, o que estranhei, ela finalmente se pronunciou.

— Achei meu alvo — anunciou.

— Quem? — Perguntei curioso, olhando ao redor.

— Aquele gostoso tatuado, ali perto do DJ, de camisa preta e jeans claro — ela sussurrou ao meu
ouvido e corri meu olhar na direção em busca do cara.

Fiquei surpreso ao ver que era o Gustavo.

— É o irmão de Adrian — informei.


— Sério? Será que todos da família dele são gostosos assim? Já quero fazer parte — ela disse,
enquanto comia Gustavo com os olhos.

— Você nem imagina... — comentei. — Mas já te digo que ele não é uma pessoa muito fácil. Tem
certeza que quer ficar com ele? — questionei.

— Gosto de desafios e aquele ali está chamando por mim. Olha aquela bunda e braços, super
vale a pena — respondeu. — Espera aqui que eu já volto. Não some —ela tomou um enorme gole de
sua bebida e, após me entregar o copo vazio, foi em direção de Gustavo.

Larguei os dois copos que segurava na mesa e observei ela chegar perto dele.

Num primeiro momento ele não pareceu muito simpático com ela, mas, após Michele sussurrar
algo em seu ouvido, logo abriu um sorriso e começar a conversar com ela; parecia estar gostando.

Enquanto conversavam, Michele aproveitava para de vez em quando apertar seus enormes braços
ou alisar seu peito. Parecia que ela ia se dar bem. Enquanto me distraía observando os dois, alguém
surgiu em minha frente tampando a visão.

Era Bernardo.

— Olha só, finalmente te encontrei sozinho — ele disse, com um sorriso travesso.

— Vai encontrar outro, Bernardo. Não estou a fim de falar contigo hoje, vim para me divertir —
cruzei meus braços.

— Podemos nos divertir muito juntos — sugeriu, piscando para mim e lambendo seu lábio
inferior.

— Você acha que me seduz fácil assim? Acha que é só falar coisas sacanas e lamber o lábio, que
eu me jogo em cima de você?

— Bem, se você quiser, eu mesmo posso me jogar sobre você. — disse aproximando-se de mim.
— E lamber os seus lábios. O que acha? – completou sussurrando ao meu ouvido. Senti um arrepio
subir pelo meu corpo.

Não soube o que responder.

Devia negar como havia planejado fazer, mas naquele momento não conseguia dizer nada. Sua
respiração em meu pescoço, o calor de seu corpo próximo ao meu... Eu queria muito senti-lo, mesmo
que não devesse.
Ambos permanecemos em silêncio, quase nos tocando, de tão próximos.

Até que de repente, senti sua língua quente deslizar pelo meu pescoço e morder minha orelha.
Deixei escapar um gemido; ele sabia me provocar.

— Não vai me responder? — perguntou sussurrando, novamente.

— Não quero — respondi após consegui reunir forças para ir contra meus desejos. Percebi que
algumas pessoas observavam surpresas, mas ele não parecia se importar.

— Tem certeza? — questionou novamente e se aproximou mais de mim.

Não disse nada e ele tentou me abraçar, mas afastou-se segundos depois levando a mão até seu
pescoço. Ele gemeu de dor.

Assim que tirou levantou a mão, vi que havia uma queimadura horrível ali.

— Isso é prata? Desde quando começou a usar? — perguntou irritado.

— Desde o momento em que percebi que não posso confiar em ninguém completamente. E sim,
tenho certeza que não quero me divertir com você — respondi também irritado e saí dali, indo para
fora, já que Michele preferia ficar com o macho sarado dela.

Quando cheguei lá fora, dei a volta na casa em busca de um local vazio para pensar. Nos fundos
havia poucas, próximas à beira de uma piscina e então sentei-me num canto da grama de costas para
eles, onde era pouco iluminado e dificilmente alguém me veria.

Fiquei um bom tempo ali tentando colocar minha cabeça no lugar.

Não sabia o que fazer, as coisas haviam se complicado demais. Não bastava eu ser apenas gay, eu
era um bruxo gay que estava apaixonado por um ou dois lobisomens, enquanto tentava não ser morto.
Eu definitivamente era um fodido.

Bernardo surgiu algum tempo depois e sentou ao meu lado, trazendo de volta minha irritação.

— Sério que agora não posso ficar sozinho mais? — perguntei.

— Não adianta se esconder no escuro, posso sentir seu cheiro, lembra? Além de que eu não quero
te deixar sozinho, assim como também não quero ficar com outra pessoa que não seja você —
respondeu, encarando-me sério.

Era a primeira vez que conversava comigo daquela forma.


— Mas isso é só porque sou bruxo, temos um cheiro especial para vocês que faz se sentirem
atraídos — comentei, dando de ombros.

— Um pouco sim, assumo, mas é além disso Lucas, pois não é apenas atração o que sinto por
você — disse, fitando meus olhos.

— E o que você sente por mim então, Bernardo? — perguntei, sem desviar o olhar.

— Lucas! — um garoto que era da minha sala surgiu interrompendo-nos.

Aparentemente o local não era tão escondido quanto eu achava.

— O que foi? — perguntei impaciente a ele. Bernardo bufou ao meu lado.

— Você é amigo da Michele, né? — concordei com a cabeça. — Então é melhor você ir correndo
lá para dentro, antes que aconteça algo.
Capítulo 19

Eu e Bernardo levantamos em um pulo da grama e corremos para dentro da casa, onde havia um
tumulto de pessoas. Até mesmo a música havia sido desligada. Saí empurrando todos que haviam na
frente para poder ver o que estava acontecendo.

— Eu não vou repetir novamente, sai da minha casa agora! —uma garota morena de pele pálida
gritou para Michele, que encarava-a furiosa.

— E desde quando eu tenho que obedecer ao que você pede, Beatriz? E só para constar, estou
como acompanhante do Gustavo — Michele respondeu com o mesmo tom de voz. Gustavo se
aproximou dela, pousando sua mão sobre seu ombro.

— Exatamente. Se ela tiver que ir embora, também vou — ele defendeu.

— Não mintam para mim, vocês nem se conhecem. Ela entrou de penetra, quando deixei claro que
a única pessoa que não queria ver na minha festa era essa vagabunda — Beatriz esbravejou.

— Tudo bem, assumo que entrei de penetra, mas você me conhece, era óbvio que eu iria aparecer.
Se tivesse me convidado, daí que eu não apareceria.

— Eu não acredito que você, Gustavo, ainda se abraça com uma aberração dessas — Beatriz
disse para ele.

— O que você quer dizer com isso? — ele perguntou e Michele ficou mais nervosa.

— Vamos embora — pediu a ele tentando puxar seu braço, mas Gustavo não se moveu.

— Imaginei que você não soubesse mesmo, pois jamais teria se aproximado dele — Beatriz
disse.

— Me diz logo, porra! – Gustavo insistiu, irritado.

— O que acontece é que essa garota ao seu lado, na verdade, é um menino de vestido — revelou,
surpreendendo a ele e a mim. Michele parecia querer correr dali. — Ele acha que fazendo cirurgias,
tomando hormônios, pode virar mulher, mas deixa eu te dizer uma coisa Michel: Você nunca irá se
tornar mulher de verdade, vai ser sempre um veadinho iludido. Não sei como todos ficam fingindo
que você é mulher mesmo, pois eu não consigo, simplesmente tenho nojo de pessoas como você —
Beatriz gritava para que todos ali ouvissem.

Michele se aproximou dela e deu uma forte tapa em sua cara.

Todos ouviram o alto estalo e a garota levou a mão até o rosto vermelho e deu passos para trás,
assustada. Michele tremia e apontou o dedo em sua direção.

— Ouça bem, vadia. Eu não sei como um dia pude ser sua amiga e ter confiado meus segredos
para você, mas vou te alertar de uma coisa, nunca mais volte a dizer o que eu sou ou não. Você não
tem esse direito! Isso cabe somente a mim e se eu digo que sou mulher, você vai ter que respeitar. Eu
não sou obrigada a aturar gente preconceituosa e discursos retrógrados — Michele disse, encarando-
a nos olhos e Beatriz tremia assusta e sem reação.

Assim que Michele virou-se e encarou Gustavo, desviou seu rosto rapidamente, envergonhada,
mas ele surpreendeu a todos; se aproximou dela e segurou sua mão.

— Vamos embora daqui Michele, tenho nojo de pessoas ignorantes. Se tem alguém aqui que não
merece título de mulher, é essa aí — ele disse, fazendo-a sorrir e chorar ao mesmo tempo.

Vi que ela apenas sussurrou um “obrigada’’ baixinho para ele.

— Todo mundo circulando, voltem a festejar. DJ, põe a música tocar que o showzinho de
preconceito aqui acabou – Bernardo gritou e todos dispersaram quando a música começou
novamente.

Beatriz saiu correndo dali quando viu que ninguém a defenderia.

Quando finalmente Michele me viu, ela veio até em mim em passos tímidos e com a cabeça baixa.
Ainda chorava.

— Me desculpa por não contar — disse, sem me encarar nos olhos.

Eu levantei seu rosto para mim.

— Erga essa cabeça, porque eu tenho orgulho de você. A cada dia que passa, mais você me
surpreende, sem dúvidas, é a garota mais incrível que já conheci — disse, olhando em seus olhos,
para ela saber que podia contar comigo.

— Obrigada — ela me abraçou com força.

Não consegui evitar e comecei a chorar também. A nossa amizade era tão recente, mas eu sentia
uma conexão tão forte e poderosa entre nós, que já a via como uma irmã que sempre quis ter. Se não
fosse ela me divertindo todos os dias, não sabia como estaria lidando com tantas coisas acontecendo
comigo.

Permanecemos naquele abraço por alguns momentos.

— O motivo de você querer ir embora da cidade... — comecei a perguntar.

— Sim, eu não odeio aqui tanto assim. Quero ir embora para poder me tornar uma mulher
completa — admitiu.

— Você já é, Michele!

Ela se afastou e sorriu para mim; em seguida limpou as lágrimas de seu rosto.

Sua maquiagem estava toda borrada.

— Eu estou horrível, não estou? — perguntou.

— Sim, está — confirmei rindo.

— Pelo menos peguei um boy maravilhoso, diferente de você — provocou. — Cuidado que logo
eu que conquistarei o título de arrasadora de corações da cidade — encarei-a sério e em seguida
ambos caímos na gargalhada.

Gustavo se aproximou de nós.

— Vamos, Michele? — ele perguntou.

— Me chama que eu vou — ela brincou.

— Aonde vocês irão? — questionei preocupado; afinal, Gustavo não deixava de ser um
lobisomem e Michele parecia não suspeitar de nada.

— Aonde você imagina? — ela riu, passando por mim e dando um tapa na minha bunda. Em
seguida, os dois partiram.

Tentei ignorar o fato de Gustavo sequer ter se despedido de mim, mas depois do que havia
acontecido na casa dele, era compreensível; não devia gostar de mim. Mas a verdade era que nem eu
tinha motivos para me tornar seu amigo, apenas torcia que tratasse Michele bem.

Olhei ao redor e percebi que pouquíssimas pessoas continuaram na festa. Bernardo estava a
alguns metros ainda me observando, sorri e ele logo veio em minha direção. Parou a poucos
centímetros de mim, fitando meus olhos.
— Você está bem? — ele perguntou.

— Foi uma surpresa, mas estou. Você já sabia, né? — questionou.

— Sim... Desculpa por não te contar, mas achei que seria mais justo deixar que ela fizesse.

— Está tudo bem, acho que eu faria o mesmo.

— Ela adora tanto você e nem sabe de nada, é muito curioso essa coincidência.

— Como assim? — perguntei, confuso.

— Michele é bruxa, assim como você, apenas não descobriu ainda — revelou.

— Está falando sério? — estava completamente surpreso.

— Claro, por que você acha que Gustavo se interessou tanto nela?

— Nossa, espero que ela fique bem.

— Sem dúvidas vai ficar, assim que estiver quicando nele. Ele não vai atacar ela nem nada,
muitas pessoas os viram saindo juntos — Bernardo tranquilizando-me.

— Espero que esteja certo, mas agora que ela foi embora, melhor eu ir também, afinal fiquei
sozinho — comentei.

— Está sozinho porque quer...

— Estou sozinho porque é melhor assim — rebati.

— Eu não acho isso. Não há motivos para você se afastar de mim, nós dois não somos humanos;
assim como você pode estar em perigo comigo, eu também posso estar em perigo estando com você
— ele disse.

— Fala como se eu fosse perigoso.

— Muitos bruxos são e bem, talvez eu me sinta atraído por caras perigosos — comentou se
aproximando cada vez mais de mim.

— Vou ligar para meu pai para vir me buscar — anunciei, tentando fugir das suas investidas.

— Deixa eu te levar, por favor — pediu.

— Você sabe que não é uma boa ideia, meu pai vai pirar comigo se souber que estamos nos
falando.
— Por que se preocupa com isso? Ele ocultou 17 anos da sua vida sobre o fato de você ser
bruxo. Pense quantas mentiras já não contou? — Bernardo argumentou.

Pensei naquilo e até que ele tinha razão. Talvez eu devesse começar a seguir minha própria
intuição, que dessa vez dizia que eu podia ir com Bernardo.

— Tudo bem, mas você está com algum carro? — questionei.

— Claro que não, além de não obviamente não ter um, fui proibido de pegar o da minha mãe por
ter dado aquela surra em Adrian.

— Então como pretende me levar até em casa?

— Ué, caminhando, enquanto observamos as estrelas. Tem algo mais romântico do que isso?

— Estando perto da floresta e com um assassinato a solta? Não mesmo.

— Não se preocupe, não irei te matar no caminho e se alguém nos atacar, eu te defendo —
insistiu.

— Meu herói — ironizei.

— Posso ser, é só pedir. Faria tudo por você.

— Tudo bem, irei confiar em você dessa vez. Vamos logo! — disse e ele abriu um enorme
sorriso.

Saímos da casa de Beatriz, que estava com um clima bem ruim, e seguimos pela rua, lado a lado.
A noite estava bem calma e percebi que Bernardo não tirava seus olhos de mim, mas eu fingi não me
importar com aquilo.

— Já que temos um bom caminho pela frente, você poderia aproveitar e me contar o que Adrian
queria comigo — sugeri. Tiraria proveito daquela viagem.

— Tem certeza? Parece que você gosta bastante dele — perguntou, com um sorriso malicioso no
rosto.

— Você sabe muito bem que o que tínhamos acabou, então me conta logo! Desde aquele dia não
consegui deixar de imaginar o que era.

— É bem obvio, Lucas; ele estava aproximando-se de você para transformá-lo. Seria ótimo para
a matilha deles um híbrido de bruxo com lobisomem, pois se tornariam mais fortes e independentes,
usando suas habilidades — contou.

Ouvi aquilo me chocou, não parecia algo que Adrian realmente faria comigo, mas inegavelmente
fazia sentido. Até mesmo lembrei o comentário que ele havia feito em sua casa, no dia que descobri a
verdade. Ele havia dito que se eu quisesse sentir-me parte de uma família grande, poderia ir até eles.

— E você Bernardo, não tem o mesmo objetivo? — questionei, tentando manter a calma. Sentia
vontade de encontrar Adrian e soca-lo; ainda bem que ele não havia aparecido na festa.

— Claro que não! Até começando pelo fato de que minha família não transforma ninguém, o gene
da licantropia é passado somente por hereditariedade — explicou.

— Bom saber...

— Tem mais alguma pergunta a me fazer?

— Na verdade, sim, eu tenho! Como é a forma transformada de vocês? Eu ainda não vi


claramente — perguntei, lembrando que na visão que tive, somente enxerguei uma silhueta borrada e
garras.

— Qual delas? — Bernardo perguntou.

— Como assim? Há mais de uma? — questionei surpreso.

— Sim, claro. Quando nos autotransformamos possuímos forma Glabro, onde permanecemos com
boa parte da aparência humana e ganhamos pelos, dentes afiados, garras e aumentamos de tamanho,
ficando mais altos e fortes. A outra forma ocorre em noites de Lua Cheia, onde temos a transformação
forçada e ficamos na forma lupina, 100% lobo — explicou.

— Nossa, não sabia disso — comentei, lembrando que realmente o lobo negro havia surgido em
noite de Lua Cheia.

— Na verdade há mais tipos, mas essas são as que todos temos, assim por dizer. As outras só
pertencem a alguns tipos de Lycans, como a Crinos, que é a dos Alfas.

— Obrigado por explicar.

— Mas e você? Como está lidando com o fato de ser um bruxo? — perguntou.

— Não estou, meu pai não quer que eu me envolva ou aprenda magia — contei.

— Isso é sacanagem, você precisa evoluir suas habilidades e conhecimentos, para sempre estar
preparado para se defender — comentou o mesmo que eu pensava.

Estávamos andando numa rua ao lado da floresta e eu tentei manter a calma

— Concordo, mas vou fazer isso como? Procurando na Internet?

— Se quiser, eu tenho livros na minha casa... Livros sérios de magia que podem ser úteis. Eu
posso emprestá-los — Bernardo ofereceu.

— Sério? Seria ótimo!

— Mas não vou emprestá-los de graça — avisou.

— Como assim? O que você quer? — questionei desconfiado.

— Um boquete talvez? — Sugeriu, com um sorriso safado no rosto.

O Bernardo que eu conhecia havia voltado.

Dei um soco em seu braço e ele riu.

— Por que está rindo, maldito?

— Você é engraçado Lucas; você deseja meu corpo, mas não quer assumir. Não tem vergonha
alguma nisso, também desejo o seu.

— Você fala como se já não afirmasse isso por si só sempre, você é convencido Bernardo e
sempre tenta forçar as coisas.

— Tudo bem, tem razão, que tal recomeçarmos de uma forma mais romântica, para te ajudar a
superar isso então? — sugeriu.

— Como? — questionei confuso.

Ele se aproximou de mim e começou a me empurrar com a mão.

Dei vários passos recuando para tentar não cair, enquanto ele continuava a me empurrar. Quando
percebi, bati as costas numa árvore e já estávamos dentro da floresta. Minha respiração e batimentos
cardíacos aceleraram.

Para minha sorte, ainda permanecíamos iluminados pelos postes da rua.

— Desta forma — Bernardo disse aproximando seu rosto do meu.

Senti sua língua invadir minha boca com ferocidade e entreguei-me. Ele explorava cada canto da
minha boca, seu beijo era selvagem e ardente e Bernardo fazia questão de controlar o ritmo. Mal
havíamos começado e eu já estava ficando sem fôlego.

Ele chupava minha língua com força, arrancando de mim gemidos. Podia sentir sua ereção contra
a minha, enquanto me prensava contra a árvore. Ele tinha uma pegada muito mais forte e firme que
Adrian, que era mais carinhoso.

Após alguns minutos, tive de afastar minha boca da sua para respirar um pouco, mas ele logo a
tomou de volta, mordendo meus lábios. Eu estava completamente arrepiado e excitado, suas
mordidas não eram carinhosas, eram de paixão e desejo.

De repente, senti um gosto estranho em nosso beijo e logo percebi que ele havia cortado meu
lábio inferior, numa dessas mordidas.

Ele afastou-se de mim rapidamente.

— Desculpa — ele disse, tampando os olhos.

— Não precisa se desculpar, não foi nada demais, eu estava gostando — falei ofegante.

— Não é isso, é o seu sangue, fica difícil de controlar a transformação.

Aproximei-me dele e, após afastar a mão de seu rosto, pude ver que seus olhos agora tinham um
tom dourado brilhante e lindo.

— Quer ir embora? — ele perguntou, receoso.

— Não mesmo — disse, tirando meu colar e jogando-o no chão.

Voltei a beijá-lo; eu não iria mais negar os meus desejos.

Novamente senti o gosto de meu sangue misturar-se ao nosso beijo, que ficou ainda mais feroz.
Bernardo parecia estar gostando ainda mais daquela forma e, de certa forma, eu também.

Nossas mãos exploravam o corpo um do outro. Enquanto eu levava as minhas para suas enormes
costas e braços, ele parecia gostar mais da minha bunda, onde apertava com vontade e força. Estava
totalmente excitado e decidido a tê-lo em mim.

Após alguns minutos de beijos, ele se afastou e tirou sua camiseta.

Observei seu peitoral e barriga definidos, com pelos que o deixavam ainda mais delicioso. Alisei
com a minha mão e queria muito explorar cada canto de seu corpo com a minha língua, mas naquele
momento sentia que meu tesão ia além.

Então, quando Bernardo tentou se aproximar de mim novamente, eu impedi.

Não sabia de onde vinha todo aquele desejo, mas era algo quase sobre-humano e eu não tinha
como reprimir; eu estava disposto a tudo naquele momento, mesmo que estivesse cometendo um
grande erro ou loucura.

Então, sem pensar duas vezes, disse completamente excitado a Bernardo:

— Eu quero que você se transforme.


Capítulo 20

— Você tem certeza disso? – Bernardo perguntou, surpreso.

— Não, mas eu quero — respondi decidido.

Ele me encarou sério e então abriu um sorriso safado.

— Tenho apenas que te avisar que não é apenas minha estatura que cresce quando me
transformo... Então pode doer muito — alertou.

— Quero tentar mesmo assim — disse, antes que eu tivesse tempo de pensar e desistir daquela
loucura.

Encarando-me ele deu alguns passos para trás.

Tirou seu tênis e calça, ficando apenas de cueca branca, que marcava seu enorme membro duro
que estava para o lado. Aquela visão de seu corpo seminu havia me excitado ainda mais e também
me assustado, afinal, na forma humana já doeria muito, sabia bem disso.

Mas eu havia pedido por aquilo, então faria o máximo para aguentar.

— Tirei a roupa, porque não estou a fim de rasgar outra enquanto me transformo — explicou. —
Se você se sentir muito assustado, avise, que não precisamos continuar — ele me olhava sério.

— Tudo bem, mas não vou — disse a ele.

Ele sorriu satisfeito e começou a se contorcer e rosnar ferozmente.

Seus ossos emitiram barulhos, como se estivessem quebrando. Enquanto ele começava a ganhar
tamanho e altura, suas unhas das mãos e pés foram transformando-se em garras longas e afiadas.

Muitos pelos surgiram em seu corpo, deixando seus braços, barriga, peito e pernas
completamente peludos. Quando finalmente parou de se contorcer, percebi que agora Bernardo tinha
mais de 2 metros de altura. Suas orelhas ficaram pontudas e em sua boca exibia enormes dentes
caninos.

Ele estava enorme e assustador.

— E então, já mudou de ideia? — ele perguntou com uma voz gutural, encarando-me com seus
olhos dourados.

— Não vou desistir — respondi, tentando convencer a mim mesmo que era uma boa ideia.

Bernardo abriu um sorriso assustador e excitante.

Desci meus olhos até sua cueca, que estava quase arrebentando devido a seu novo tamanho e
como ele havia dito, agora seu volume parecia maior ainda. Eu estava completamente preocupado em
não conseguir aguentar, mas tentaria de qualquer jeito. Era estranho pensar que algo que antes me
assustava, naquele momento estava me excitando tanto.

Bernardo aproximou-se de mim, levantou meu rosto para o seu e se inclinou para poder tocar
nossas bocas. Ele levou sua língua até a minha com cuidado, para não me cortar com seus caninos;
chupei-a enquanto ele me fitava os olhos.

Ele parecia ainda não acreditar no que estávamos fazendo.

Larguei sua língua e deslizei a minha por seus dentes afiados, sentindo que com qualquer leve
movimento poderia me cortar; eu estava completamente excitado e queria mais que sua boca,
precisava do seu corpo.

Então afastei-me dele e passei minha mão sobre seu peitoral peludo.

Senti os pelos entre meus dedos e deslizei até sua barriga, alisando os duros músculos que
haviam por baixo deles. Rapidamente ajoelhei-me diante dele e dei beijos nas suas grossas coxas,
mas desejando o que estava um pouco acima.

Desci lentamente sua cueca branca, libertando o seu enorme membro que pulou para fora
completamente duro; assustei-me com a visão. Seu pau estava enorme e muito grosso, com uma
grande cabeça que brilhava, molhada por seu líquido pré-gozo.

Sua virilha estava também estava peluda, mas a extensão de seu pênis continuava liso. Levei
minhas duas mãos até ele e senti-o pulsar quente nelas, era uma delicia. Fiz então lentos movimentos
de vai e vem, sentindo suas veias grossas e sua ereção que estava dura como pedra.

O que mais me surpreendia era que, mesmo com o enorme tamanho, ainda apontava para cima.
Bernardo gemia com os toques, ansioso por mais também.

Sem demorar, aproximei meu rosto e levei minha língua até a cabeça de seu pau, onde fiz
movimentos circulares, limpando todo seu líquido salgado de pré-gozo; ele rosnou alto. Depois, fui
até a base do seu pênis e deslizei minha língua, subindo novamente até a cabeça, queria sentir bem
todo o seu gosto.

Lambi várias vezes seu mastro e aquilo parecia apenas deixá-lo mais excitado e ansioso, então,
assim que fiquei satisfeito de tortura-lo, finalmente abri bem a minha boca e tentei colocar máximo
que conseguia dentro.

Mas não foi muito, havia conseguido abocanhar apenas um pouco mais que a sua cabeça. Então,
enquanto chupava aquela parte de seu pau com vontade e ferocidade, o masturbava com a mão.

Eu queria mais, mas era muito grande e grosso.

Bernardo pareceu não se importar com isso e pôs a mão por trás da minha cabeça, para então
empurrar contra seu corpo, fazendo mais de seu membro entrar na minha garganta. Eu engasguei e
tirei a boca em seguida, tossindo e tentando respirar.

Ele rosnou satisfeito e logo puxou minha cabeça novamente, e fez a mesma coisa, mas dessa vez
com movimentos de vai e vem, fodendo minha boca com vontade. Meus olhos começaram a
lacrimejar um pouco, com ele forçando seu pau contra minha boca, mas inegavelmente estava
adorando a forma que Bernardo estava me dominando.

Fiquei um bom tempo ali ajoelhado com ele socando seu pau dentro da minha boca — muitas
vezes quase me engasgando —, até que senti um líquido quente e espesso jorrar em minha boca; ele
havia gozado muito.

Engoli todo o leitinho que havia em minha boca e lambi seu pau, bebendo cada gota, mas um
pouco decepcionado. Eu não queria somente aquilo.

Voltei a olhar para Bernardo e vi que me encarava com seu sorriso safado.

— Você acha que é só isso? Tenho muito mais para te dar.

Ele então me virou e empurrou contra o chão, fazendo-me cair de quatro.

Ele arrancou minha camisa, rasgando-a, e tirou meu tênis e calça, junto da cueca, me deixando
completamente nu ali. Eu estava completamente duro também e gemi alto quando senti sua língua
quente tocar meu cuzinho.

Ela era enorme; e ele lambia e chupava com vontade minha entrada.

Sentia ainda suas garras tocando com cuidado minha bunda, enquanto ele a abria para ter melhor
acesso ao meu buraco.
Em pouco tempo, Bernardo começou a me penetrar com sua língua quente e molhada, fazendo-me
enlouquecer ainda mais; eu rebolava em seu rosto e meu pau babava de tão excitado que eu estava.

Ele continuou com aquilo por alguns momentos, para me relaxar para o que viria depois. Assim
que estava satisfeito, levantou e foi até sua calça, onde pegou algo no bolso sua carteira.

Assim que retornou, vi que era um sachê, que parecia muito um preservativo. Mas, para minha
surpresa, assim que ele abriu com seus dentes afiados, despejou um líquido gelado em cima de meu
cu. Gemi alto com a sensação, era lubrificante.

Levei meus dedos até lá e espalhei bem, penetrando dois dedos para me preparar para receber o
enorme pênis de Bernardo; ele observou com desejo. Como suas garras eram afiadas, não podia fazer
sem me cortar todo.

Com o restante do conteúdo daquele sache, ele lubrificou o que pôde de seu membro e se
ajoelhou próximo a mim e, após erguer um pouco minha bunda, senti seu pau tocar minha entrada.

Ele deslizou-o várias vezes ali, para me relaxar; eu estava louco para tê-lo dentro de mim, então
respirava fundo e tentava manter a calma.

— Vai com calma — pedi.

— Até entrar, pode ter certeza que sim.

Bernardo começou a forçar a cabeça do seu pau contra minha entrada e senti uma dor enorme, que
me fez urrar alto. Naquele momento, já havia começado a pensar em desistir, mas não disse nada;
precisava ser forte, eu que havia pedido por aquilo.

Ele pediu para eu relaxar e voltou a tentar empurrar.

Gritei novamente quando senti sua cabeça me invadindo, mas ele só parou assim que toda ela
havia entrado. Respirei fundo, tentando me acalmar e parar de prender e apertar seu pau, mas estava
ardendo muito.

— Quer parar? — perguntou.

— Não, continua — não iria desistir assim tão fácil.

Ele voltou a empurrar e, quanto mais entrava em mim, mais parecia que eu estava sendo rasgado.
Eu gemia muito de dor e, assim que a metade havia entrado, parecia ser meu limite; ele parou e
esperou eu acostumar.
— Você está indo bem Lucas e seu cuzinho é mais delicioso do que imaginei — Bernardo disse
entre gemidos, doido para fazer movimentos com seu pênis.

— Espera um pouco — pedi.

Novamente respirei fundo e tentei relaxar meus músculos, mas não conseguia direito, eu estava
bastante tenso. Bernardo permaneceu parado por vários minutos, enquanto eu não dava permissão
para continuar, mas sentia seu pau quente pulsar dentro de mim, completamente duro.

— Tenta movimentar — sugeri, após sentir que finalmente meu cu havia parado de apertar.

Bernardo fez o que eu disse e iniciou movimentos de vai e vem, somente com aquela parte que
havia entrado; gemi alto com a mistura de dor e prazer e ele continuou com movimentos calmos,
enfiando só a metade do seu pau.

Não demorou muito e finalmente senti a dor indo embora.

Eu estava tomado somente pelo prazer e logo meus gemidos se intensificaram, estava sendo a
coisa mais prazerosa que eu já havia sentido. Aos poucos, ao perceber que eu havia acostumado,
Bernardo foi aumentando o ritmo, sem nunca enfiar todo.

A sensação de seu pau dentro de mim, entrando e saindo, era incrível.

Chegou um momento que o prazer e tesão haviam aumentado tanto, que empinei a minha bunda e
pedi para ele enfiar o resto; eu precisava dele todo em mim.

Ele fez o que eu disse e começou a empurrar o restante de seu pau; senti a dor retornar, mas não
me intimidei e nem pedi que parasse. Deixei que empurrasse tudo, até que finalmente senti minha
bunda tocar os pelos de sua virilha.

Estava com todo ele dentro de mim e saber daquilo me satisfazia muito.

Dessa vez, ele não esperou eu me acostumar e logo começou a movimentar; eu gemia muito, era
inevitável. O prazer era extremo e minhas pernas tremiam.

Bernardo logo pareceu não estar mais satisfeito com aquilo e senti-o começar a meter forte em
mim, fazendo-me soltar gemidos de prazer e dor; estava delicioso.

Ele rosnava de prazer e isso só me deixava com mais tesão; não podia acreditar que eu estava
fazendo sexo com um lobisomem.

Bernardo levou suas garras até minhas costas e deslizou-as devagar; senti-las me arranhando, me
fez arrepiar completamente e contorcer de prazer. Ele pareceu gostar de ver aquilo e fez novamente,
mas com um pouco mais de força.

Gritei ao sentir que havia me cortado e ele apenas curvou-se sobre mim, sem parar de meter com
força e lambeu o sangue em minhas costas. Eu não queria que ele parasse de me comer, então permiti
que continuasse.

— Você é delicioso de todas as formas — elogiou.

Ele parecia ainda mais excitado depois daquilo e então me puxou contra seu corpo, sem tirar seu
pau de dentro de mim e nos levantou. Levou-me até uma árvore, onde me prensou contra ela e voltou
a estocar com toda força, enquanto puxava meu cabelo e continuava a lamber o sangue de minhas
costas, que não parava de escorrer.

Com sua outra mão, apertava minha nádega e podia senti-lo furando-a também, mas
estranhamente, aquilo tudo estava apenas me excitando mais.

O misto de prazer e dor era indescritível.

Não demorou muito e com suas estocadas comecei a gozar; meu pau jorrou muitos jatos de
esperma contra a árvore, mas Bernardo não parou de meter um segundo sequer, sem em nenhum
momento diminuir o ritmo acelerado e selvagem.

Quando percebi, não demorou muito e estava gozando pela segunda vez; eu estava completamente
exausto, mas para ele não parecia suficiente. Bernardo continuou me fodendo com força, enquanto
lambia minhas costas e pescoço.

Até que finalmente ele rosnou alto e senti jatos quentes de porra me encher por dentro; a sensação
era maravilhosa. Ele encostou sua cabeça em meu ombro quando finalmente parou, também
descansando. Sua respiração estava quente e ofegante.

Após alguns momentos, senti o volume dentro de mim diminuir; ele estava voltando à forma
humana e finalmente tirou seu pau de mim, que agora voltava para seu estado flácido.

Ele respirava fundo com seu corpo completamente molhado de suor.

Minhas pernas tremiam muito, não sabia se aguentaria caminhar o resto do caminho e, para minha
surpresa, senti uma forte tontura e sentei-me na hora. Para minha sorte, passou rapidamente.

— Você está bem? — Bernardo perguntou, preocupado.


— Acho que sim, foi apenas uma tontura; estou exausto — respondi, tomando ar.

— Você também me cansou, guri. Nunca havia transado na forma de lobisomem e foi incrível —
revelou.

— Obrigado, eu acho — comentei sem jeito.

— Acho que eu te amo — ele disse e eu ri. — Estou falando sério — ele ajoelhou-se diante de
mim e fitou meus olhos. — É o que eu queria contar na festa. Esse é o real motivo de eu te perseguir
e tentar tê-lo a todo custo Lucas; não consigo controlar o desejo que sinto por você, é algo mais forte
que eu, penso e sonho com você o tempo todo.

— Deve ser só pela atração que sua espécie tem por bruxos...

— Esse é o motivo por eu ter me atraído por você, mas não o motivo por passar a amá-lo; eu
gosto de quem você é. Por favor Lucas, seja só meu — implorou.

—Não é certo essa nossa aproximação — respondi.

— Eu não me importo e você também não devia. Olha o que acabamos de fazer, isso só prova o
quanto um deseja o outro. Por favor, namore comigo e seja só meu — pediu novamente.

Fiquei alguns momentos em silêncio pensando. Eu sabia que não era uma boa ideia voltar a
envolver-me com um lobisomem, mas o fato era que, no fundo, eu também gostava de Bernardo e
depois do que havíamos feito ali, seria muito difícil manter distância.

— Preciso de um tempo para pensar — respondi e ele abriu um enorme sorriso, como se eu
tivesse respondido que sim. O estranho era que sentia podia confiar nele, diferente de Adrian, que
havia traído minha confiança ao mentir tanto e tentar me manipular para os objetivos de sua matilha.

— Obrigado — Bernardo disse animado e trouxe sua boca até a minha.

Beijou-nos intensamente.

Quando finalmente levantei, senti um pouco do esperma que havia dentro de mim escorrer,
causando-me desconforto. Minhas pernas ainda estavam bambas e, além de meu cuzinho, onde
Bernardo havia arranhado também ardia.

Olhei para minha camisa completamente rasgada no chão e percebi que não podia voltar para
casa naquele estado. Eu estava fodido!

— Meu pai não pode me ver assim, nós exageramos — disse.


— Desculpa, eu me empolguei um pouco — Bernardo me encarou preocupado. — Já sei, vamos
para minha casa; diga que vai dormir na da Michele, ela com certeza irá confirmar para te proteger,
se ele ligar — sugeriu.

— Ele vai pirar, mas acho que não tenho escolha — concordei.
Capítulo 21

Bernardo me ajudou a chegar a casa dele.

A verdade era que eu estava acabado; mal conseguia ficar em pé de tanta dor que sentia e minhas
pernas tremiam muito. Os cortes em minhas costas e bunda também ardiam bastante.

Eu havia cavado minha própria cova, como explicaria o meu estado para meu pai? “Oi pai,
então... ontem eu dei para o Bernardo e pedi que se transformasse em lobisomem, porque eu queria
algo mais selvagem”. Ele já não havia ficado nada feliz em saber que eu iria dormir na casa de
“Michele”.

Eu estava até sem camisa, já que fora completamente rasgada por Bernardo. Quando finalmente
chegamos, me soltei dos seus braços; não queria que seus parentes percebessem o quão péssimo
estava e esforcei-me para conseguir andar sozinho.

Assim que ele abriu a porta e entramos, demos de cara para uma sala que, para minha sorte,
estava vazia, mas logo surgiram duas mulheres na escada. Uma mais velha e outra que devia ter a
idade de minha mãe.

Elas encararam-nos desconfiadas e senti meu rosto esquentar.

— Ele foi atacado? — a mais velha perguntou; ela tinha volumosos cabelos negros e aparentava
ter uns 50 anos ou mais, mas era completamente conservada para sua idade. Vestia-se
impecavelmente também.

— Mais ou menos, vó. Só que nesse caso, foi por mim — Bernardo respondeu-lhe e fiquei ainda
mais envergonhado.

— Percebemos pelo cheiro — a outra comentou. Ela era muito bonita também, com cabelos na
altura dos ombros, era alta e encorpada. — A questão aqui é, desde quando está saindo com o filho
do guardião?

— Mãe, para com isso; nenhum de nós é criança, temos o direito de nos relacionar e sequer existe
uma regra específica sobre isso.

— Depois conversamos sobre isso, Bernardo. Leve-o lá para cima, dê um banho nele e trate
essas feridas antes que os outros cheguem — orientou a mais velha.
— Tudo bem — ele concordou. — Vamos, Lucas.

Passamos por elas e eu não conseguia encará-las de tão envergonhado.

Bernardo me levou até um banheiro e ambos entramos.

— Não precisa ficar, eu consigo tomar banho sozinho — disse para ele, um pouco
desconfortável.

— De jeito algum, você mal consegue ficar em pé. E sem falar que não perderia a oportunidade
de tomar um banho com você — ele protestou. — Só vou ao meu quarto antes, pegar algumas coisas
para cuidar dos seus ferimentos e já volto. Aproveite para tirar o esperma dentro de você — avisou e
saiu.

Estava cada vez estava mais envergonhado, mas fiz o que ele disse, ainda podia sentir escorrer
entre minhas pernas. Então me sentei no vaso e livrei-me de seu líquido dentro de mim e puxei a
descarga. Em seguida lavei bem minha boca.

Menos de um minuto depois, Bernardo retornou com um frasco pequeno e transparente na mão.
Dentro havia uma espécie de creme verde.

— O que é isso? — perguntei.

— Bem, achei que precisávamos ser mais práticos nesses seus cortes, que devem estar ardendo.
Então peguei essa pomada que foi feita por seu pai, para nos ajudar a nos curar ainda mais rápido,
servirá em você também — explicou.

— Tudo bem... — virei-me de costas para Bernardo.

— Pode arder um pouco, mas vai curar completamente. Sei que você é bom em aguentar —
comentou com uma risadinha safada.

Quase que dei na cara dele por causa daquele comentário besta, mas logo senti ele passando
aquela pomada em minhas costas; ardeu muito. Tive de segurar para não gritar e ele foi espalhando
por onde haviam os cortes de suas garras.

Não demorou muito e logo parou de arder, para a minha sorte. Respirei fundo mais aliviado e
surpreendi-me com ele, que desceu minha calça e cueca e passou um pouco também nos pequenos
furos em minha bunda.

— Pronto, quase completamente curado — falou.


Fui para frente do espelho e me virei.

De fato, os cortes haviam fechado e agora só havia quatro finos arranhões.

Assim que me virei para Bernardo, ele já havia se despido e estava ligando o chuveiro. Ele me
chamou e fui até ele, também completamente nu; entrei embaixo d’água, um pouco mais fria do que
gostava e ele me abraçou.

Era muito bom sentir seu corpo molhado grudado ao meu.

Logo senti algo duro me cutucando; era seu pau.

— Mas já? — perguntei surpreso.

— Me recupero rápido e não menti quando disse que você me excita muito — ele respondeu com
um sorriso safado no rosto.

— Infelizmente, não vai poder me comer até eu me recuperar — provoquei.

— Isso é injusto, é só passar a pomada lá também.

— Para, Bernardo! Preciso só de um tempo para descansar.

— Nem um boquete rápido? — sugeriu.

Levei a minha mão até seu membro, que conseguia estar tão duro quanto antes.

— Agora não — respondi, largando-o.

Estava muito cansado e só queria dormir.

— Tudo bem — ele disse e me beijou, passando sua mão por todo meu corpo, principalmente
minha bunda, que parecia ser sua parte favorita.

Era ótimo não sentir mais a ardência dos machucados, mas meu cu ainda doía e não podia esperar
nada diferente.

Terminamos o banho e ele me levou até seu quarto; fiquei muito contente ao ver que ele tinha uma
cama de casal. Seu quarto era bem amplo e lá tinha um enorme guarda-roupa escuro que pegava toda
a parede, uma enorme televisão de plasma pendurada diante de sua cama, com um videogame
moderno conectado e uma estante com livros, além de figuras de heróis e animes.

Surpreendi-me com seu gosto, mas assim que me deitei na cama, apaguei.
***

Acordei horas depois com Bernardo agarrado em mim de conchinha, ele ainda dormia e me
prendia com força contra seu corpo. Tentei me soltar, mas não tinha como sem acorda-lo, então,
permaneci ali deitado sentindo seu pau duro tocando minha bunda até que despertasse.

Levo uma meia hora até que ele finalmente acordou.

— Bom dia — ele me apertou com mais força ainda e esfregou seu pau na minha bunda. — Não
poderia acordar de melhor forma — comentou e beijou minha nuca. – Está melhor?

— Sim, bem melhor — respondi, percebendo que a dor havia diminuído bastante.

— Pode me chupar agora então? — provocou e eu ri.

— Talvez, mas não vai ser de graça — respondi, mordendo meu lábio inferior.

— Já está assim? O que você quer, seu gostoso?

— Ver os livros de magia — anunciei.

— Tudo bem, vou mostrar, mas depois terá que me dar o seu melhor boquete — ele disse, dando
leves mordidas em meu pescoço.

Levantamos e ele trocou sua roupa na minha frente.

Admirei seu corpo maravilhoso; era quase inacreditável o quanto sua forma mudava quando se
transformava. Ele pegou uma camiseta branca em seu guarda-roupa e jogou em mim.

— Pode vestir essa, já que rasguei a sua — disse.

Eu a vesti, mas havia ficado bem larga em mim.

Meu pai notaria imediatamente quando eu chegasse em casa que eu estava com roupa diferente da
que saí, e bem maior. Após nos vestirmos, Bernardo foi primeiro ao banheiro e eu em seguida.

Quando finalmente estávamos prontos, descemos para a cozinha.

Já era meio-dia e sua família estava almoçando, eram menos pessoas que a de Adrian. Tinha as
duas mulheres do dia anterior, três homens com uns 30 anos ou mais e dois garotos gêmeos idênticos
de uns 14 anos.

Bernardo me puxou pelo braço e fez-me sentar numa cadeira ao lado da sua; todos me
observavam atentos.
— Está melhor? — a mais velha perguntou a mim.

— Sim, estou — respondi sorrindo, tentando ser simpático.

Era incrível o quanto todos se pareciam ali, todos compartilhavam de cabelos e olhos negros.

— Eu sou Rosângela, a avó de Bernardo como já deve saber e a líder da família – apresentou-se.

— Eu sou Lucas, é um prazer conhecê-la.

— Não precisa se apresentar, todos aqui sabem quem você é. Seu pai falou sobre você em
reunião e todos aqui podemos sentir o cheiro dele em seu sangue — comentou.

— Lucas, essa é minha mãe, Leila — Bernardo apresentou apontando para ela. – O mais alto é
Daniel, o meu padrasto, e os outros dois são meus tios, Marcelo e Paulo — os três eram enormes,
principalmente Daniel. — E essas duas crias são meus irmãos, André e Mauricio. Nem me pergunte
quem é quem.

— É um prazer conhecer todos vocês — disse, sem jeito.

— Ele é o namorado do Bernardo? —um dos gêmeos perguntou para a mãe, fazendo-me ficar
vermelho.

— Na verdade, eu também quero saber, filho — ela respondeu séria. – Desde quando você é gay,
Bernardo? Não me lembro de termos tido uma conversa sobre isso.

— Sei lá, talvez desde sempre, mas só percebi quando conheci o Lucas – ele respondeu tranquilo,
enquanto eu estava sentindo-me desconfortável.

— Pode se servir, querido. Sinta-se em casa — Rosângela disse, bem simpática e tentando mudar
de assunto.

— Obrigado — sorri para ela e comecei a fazer meu prato, evitando encarar muito qualquer um.

— Eu só não quero ter problemas com o pai dele, Bernardo — Leila acrescentou.

— Não precisa se preocupar com isso, eu resolvo — Bernardo disse a ela.

— Você sabe fazer algum feitiço? —o outro dos gêmeos perguntou para mim.

— Na verdade, ainda não. Descobri faz pouco tempo que sou bruxo — expliquei.

— Seu pai não o ensinou nada? —Rosângela perguntou surpresa.


— Ele não quer que eu aprenda, por enquanto... Disse que é perigoso eu fortalecer minhas
habilidades e atrair a atenção do assassino — contei.

— De fato, é um risco, mas acredito que se você aprender estará mais seguro. Precisa saber se
defender até descobrirmos qual dos Baungarten está matando essas pessoas — o padrasto de
Bernardo comentou, referindo-se à família de Adrian.

— Você acha que é um deles? — questionei.

— Claro que é, Lucas – respondeu Bernardo por ele. — Não há ninguém nessa mesa que faria
algo assim e só há duas matilhas na cidade

— Mas por que motivo um deles estaria matando essas pessoas?

— A matilha deles quer sempre ficar maior e mais poderosa — Leila respondeu. — Acredito que
ele estava tentando criar novos lobos, mas nem todos conseguem sobreviver à transformação. Então,
acredito que quando as vítimas morrem durante o processo, ele faz aquilo com os corpos para
despistar e se alimenta deles para ficar mais forte.

— Mas é normal que, em tantas pessoas seguidas, o corpo recuse a transformação?

— Mais do que você imagina, todos sabem disso, mas como a matilha deles é grande, não tem
como saber quem é. Pode até ser um dos novatos que, descontrolado, tentou e viciou na carne humana
— ela respondeu.

— Estamos fazendo o possível para tentar descobrir — Rosângela acrescentou. —Se as mortes
não pararem, todos em Floresta Negra correm perigo, pois a cidade chamará a atenção de caçadores.

— Espero que descubram mesmo — disse, pensando naquilo.

O restante do almoço ocorreu bem.

Percebi que, apesar de parecerem intimidantes a primeira vista, todos eram legais; mesmo a mãe
de Bernardo, que parecia preocupada com a reação de meu pai quando descobrisse o que eu havia
feito com seu filho, mas no fundo, eu também estava e não era pouco.

Assim que havíamos terminado de comer, segui Bernardo de volta ao seu quarto, onde ele fez
questão me derrubar na cama assim que entramos. Subiu encima de mim e me beijou; retribuí sem
hesitar.

Após algum tempo de beijos selvagens e quentes, fiquei sem fôlego e afastei minha boca da sua,
mas ele continuou beijando meu pescoço.

— Seu padrasto parece legal, mas o que houve com seu pai? — perguntei a ele, curioso.

— Bem que eu queria saber — respondeu, parando de me beijar. — Ele abandonou-nos quando
eu era ainda bebê e desde então, não sabemos onde está.

— Sinto muito...

— Não se preocupe, Daniel desempenhou esse papel em minha vida muito bem.

— Que bom, mas ele é um lobisomem também? Você havia me dito que não transformavam outras
pessoas de fora — questionei.

— Ele é sim, na verdade, também é da família — revelou. — A família Gasparello é maior do


que você imagina e está dividida por várias cidades e estados para não chamarmos atenção dos
caçadores. Então, tecnicamente, ele e minha mãe são primos distantes. É o que fazemos para manter a
nossa linhagem.

— Entendi... Mas e nós? Você pode se relacionar comigo?

— Claro Lucas, não sou obrigado a reproduzir. Não há nada que impeça de ficar com você —
respondeu.

— Só meu pai — lembrei-o.

— Só se você deixar — comentou.

Ele tinha razão; meu pai não devia me controlar tanto.

— Falando nisso, quero ver os livros — disse. — Preciso aprender magia, não quero ser um
inútil.

— Tudo bem, vem comigo.

Eu segui Bernardo até o andar debaixo e lá entramos numa porta, que dava para uma pequena
biblioteca, aparentemente normal. Ele se aproximou de uma das estantes e puxou, revelando outra por
trás, cheia de livros velhos.

— Pronto, aqui estão os livros.

— Por que vocês os têm?

— Mesmo que não possamos praticar magia, sempre mantemos conosco para entender o potencial
dos bruxos. Sabe, nem todos simpatizam com lobisomens — explicou.

Aproximei-me e puxei um dos livros, podia sentir poder emanando de suas páginas e Bernardo e
eu passamos a tarde toda ali, em busca de feitiços úteis. Tinham muitas coisas interessantes e
importantes para se aprender ali.

Quando percebi, já estava anoitecendo. Meu pai ia me matar, não havia ligado para ele e assim
que peguei o celular em meu bolso vi que estava descarregado.

— Tenho que ir para casa ser assassinado — anunciei.

— Calma Lucas, vai dar tudo certo — Bernardo tentou me acalmar. — Eu te levo, mas
infelizmente não poderá levar nenhum livro, pois seu pai não sabe que temos um acervo desses.
Então, por favor, mantenha entre nós — pediu.

— Claro, muito obrigado por mostrar — disse e beijei-o. Ele sim estava interessado em me
ajudar a entender tudo.

— Mas não esqueça que está me devendo um boquete — ele comentou e eu ri.

— Vamos logo!

Bernardo me levou de carro até meia quadra antes da minha casa, meu pai não podia vê-lo.
Despedi-me dele com um beijo e saí do carro, nervoso com o que me aguardava em casa.

Quando finalmente abri a porta da frente, lá estava meu pai, esperando-me sentado no sofá da sala
e com uma expressão irritada no rosto.

— Quer tal o senhor me contar onde estava? — perguntou.

— Na casa de Michele, como avisei — respondi, com voz trêmula.

— Não minta para mim, Lucas; eu sei que não estava lá, eu conheço o pai dela e assim que liguei
pra ele, disse-me que você nunca havia ido para lá. Essa camisa nem mesmo é sua, então me diga
logo, onde você estava? — perguntou novamente, impaciente.

— Tudo bem, eu menti, estava na casa do Bernardo — contei e ele levantou imediatamente.

— Você está ficando louco? O que estava fazendo lá?

— Se acalme pai... — disse respirando fundo. Eu estava completamente nervoso, mas eu não
tinha mais como fugir daquilo; precisava ser sincero sobre o que estava acontecendo comigo. —
Preciso te contar duas coisas — anunciei.

— O que você tem para me contar, Lucas? — ele perguntou surpreso.

— Pai, talvez você já tenha imaginado isso, mas eu sou gay – revelei e ele me encarou calado por
um tempo, deixando-me ainda mais nervoso.

— Eu sou um bruxo Lucas, claro que eu já sabia — comentou finalmente, como se não fosse
grande coisa, para meu alívio.

— Isso não te incomoda? — questionei.

— Bem, vai depender do que é essa segunda coisa que tem para me contar.

— Eu meio que estou namorando um lobisomem — contei.


Capítulo 22

“Você pode namorar Bernardo, desde que se mantenha distante da bruxaria.”

Quase três semanas se passaram desde aquela conversa com meu pai.

Achei estranho ele ter aceitado tão facilmente, mas concordei com seus termos para poder
continuar vendo Bernardo. Mas, obviamente, havia mentido, afinal estava estudando quase todos os
dias quando ia à sua casa.

Eu finalmente estava entendendo e aprendendo muitas coisas.

Minhas intuições e sonhos eram vidência e, de fato, eu parecia ter a habilidade de anular feitiços
e magias. Era o que havia feito para conseguir ver aquela porta, que estava oculta por um feitiço de
meu pai. Tentei manipular os elementos, mas infelizmente não consegui.

Minhas habilidades não eram das mais legais, mas eram úteis.

Minha tia finalmente estava voltando a recuperar suas memórias, mas ainda não conseguia falar
nada sobre a noite do acidente. Havia prometido a ela visitar o quanto antes e, realmente estava com
muitas saudades.

Eu e Bernardo estávamos indo muito bem.

Passava todos os dias em sua casa, e sua família já estava acostumada e gostando de mim. Mesmo
quando eu queria só estudar, ele sempre dava um jeito de me fazer transar com ele. Felizmente, meu
corpo já estava acostumando ao seu, porém ainda não havíamos repetido algo semelhante a nossa
primeira transa.

Também me aproximei ainda mais de Michele, que se tornou a minha melhor amiga e continuava
saindo com Gustavo, num namoro (quase) oficial. Diferente de Bernardo, que fez questão de que
todos soubessem que estávamos namorando na escola, para que assim mantivessem distância de mim.

Ele era absurdamente ciumento e claro que fez aquilo pensando em Adrian, que passou a me
evitar a todo custo; ele parecia ter se abalado demais com a notícia. Às vezes o pegava me
observando, mas ele estava cada vez mais estranho e distante.

Havia deixado de ser o garoto comunicativo e feliz que eu conheci meses antes, mas infelizmente
eu não podia fazer nada.

Por algum motivo, as mortes haviam cessado, nenhum corpo havia sido encontrado desde o
ataque de minha tia e minha mãe visitava meus sonhos cada vez menos. Queria usar um ritual que
havia em um dos livros para invocá-la, mas não sabia se era certo, afinal ela me disse que lá também
havia regras e não queria causar problemas.

Mas o que eu queria muito fazer era um ritual para aumentar minha vidência, mas teria que ser no
sábado de Lua Cheia. Os poderes e habilidades de um bruxo se intensificavam nessas noites.

— Sábado à noite preciso fazer algo ao ar livre, talvez na floresta. Pode vir comigo? — perguntei
a Bernardo enquanto estávamos ambos sentados no chão da biblioteca da sua casa, lendo os livros de
magia.

— Não posso Lucas. Nem você — respondeu sério.

— O que você quer dizer com isso?

— É Lua cheia, todos os lobos entram em forma lupina e as coisas ficam mais complicadas.

— Como assim complicadas?

— Nessa forma, ficamos na nossa forma mais selvagem. É muito difícil ter controle sobre nós
mesmos, apenas os mais experientes conseguem e mesmo assim poucos arriscam. Ou seja, no sábado
estarei acorrentado no porão, com quase todo o resto da minha família — explicou.

— Não sabia sobre isso, devia ter me contado — disse pensativo.

— Desculpa, mas o fato, aqui, é que você também não deve sair nesse dia. Não será seguro para
você, principalmente na floresta e à noite — alertou.

— Tudo bem, tentarei o ritual em casa — concordei.

— Que ritual você tentará? — ele perguntou, preocupado.

— Não se preocupe, é apenas um ritual para amplificar minha vidência e intuição.

— Vidência e intuição, é? Então me diga uma coisa, Raven Baxter, o que eu vou fazer agora? —
ele provocou, com um sorriso safado no rosto.

— Não preciso de nenhuma habilidade para responder isso — respondi rindo.

Ele largou seu livro e se aproximou, jogando seu corpo sobre mim e me fez cair deitado com ele
em cima. Ele logo trouxe sua boca até a minha e começamos um beijo ardente; eu chupava sua língua
para provocá-lo, pois sabia que ele adorava aquilo.

Em poucos segundos já sentia seu pau duro sobre o meu.

— Vamos lá para cima? — sugeri.

— Não, eu quero aqui — respondeu.

— Alguém pode ver, ouvir ou sentir o cheiro, sei lá; não vai ser muito legal.

— Só estamos nós dois em casa, eles ainda irão demorar para voltar. Além de que, dessa forma,
é mais excitante — Bernardo insistiu.

Mesmo preocupado que alguém nos visse, ele tinha razão, daquela forma era ainda mais
excitante. Então continuei a beijá-lo e ele logo tirou sua camisa e a minha, colando nossos corpos
enquanto beijávamos.

Seu corpo era muito mais quente que o meu.

Como dessa vez ele estava sobre mim, aproveitei e desci suas calças e peguei em sua bunda com
as duas mãos. Não era um lugar que eu tocava muito, por receio de sua reação, mas sua bunda era
grande e redonda, então era impossível não me excitar com ela.

Ele não disse nada e então continuamos aquele beijo selvagem.

— Está gostando da minha bunda? — ele finalmente comentou, afastando seu rosto e me olhando
nos olhos com seu sorriso safado.

— Sim, estou — respondi, apertando mais sua bunda durinha e retribuindo seu sorriso safado
com outro.

— Então, aproveita e aperta à vontade, porque você jamais me comerá — provocou.

— Por que não? — perguntei decepcionado.

— Porque, obviamente, o macho alfa aqui sou eu — respondeu, me puxando com força e
invertendo nossas posições. Fiquei exatamente em cima de seu pau duro.

Rebolei para provocá-lo.

— Bem, irei pensar sobre isso, mas talvez eu só volte a te dar se você retribuir.

— Se você disser algo assim, posso procurar outro que fique feliz em me dar todo dia. Tenho
certeza que teria muitos candidatos.

— Descarado — dei um fraco tapa em seu rosto e ele mordeu o lábio inferior.

— Bate de novo, se tiver coragem — ele provocou, com sua expressão mais safada e eu voltei a
bater em seu rosto.

Ele então me levantou, carregando-me pelas pernas.

Entrelacei meus braços ao seu redor para não cair e Bernardo me colocou sobre a mesa que havia
ali e me empurrou para que eu caísse deitado. Ele deslizou sua mão por meu corpo e pegou algo na
gaveta; quando vi o que era, senti vontade de fugir, mas ele rapidamente subiu na mesa e me prensou
com uma das suas pernas.

Eu comecei a rir, sem saber o que fazer e ele segurou minhas mãos, imobilizando-as, e passou a
fita para prender uma à outra. Em seguida, fez o mesmo em meus pés.

Sentei-me na mesa e tentei forçar, mas aquela fita adesiva era muito forte. Mesmo se eu quisesse,
não conseguiria correr ou me soltar facilmente.

— O que você vai fazer? — perguntei.

— O que eu quiser — ele respondeu, tirando sua bermuda e cueca, deixando exposto seu enorme
pau.

Ele me empurrou novamente e subiu em cima de mim, deixando suas pernas próximas ao meu
rosto e forçou seu pau contra a minha boca.

Não abri e tentava desviar o rosto.

— Isso é estupro, sabia? — comentei rindo.

— Você está gostando, então não é — ele respondeu, apertando meu pau duro sobre a calça.

— Já disse, enquanto você não retribuir, não vou te dar mais – provoquei.

— Quer que eu retribua? Tudo bem, eu posso fazer algo — ele disse, saindo da mesa e puxando
minha calça e cueca. Meu pau duro saltou para fora e ele se curvou e pegou nele, com a boca bem
próxima. – Isso serve? Se eu te chupar, você volta a me dar? — perguntou e senti sua respiração
quente chegar à minha pele.

— Sim, serve — concordei completamente excitado.


Ele ainda não havia feito aquilo em mim, Bernardo estava sempre focado em me dominar e
poucas eram as vezes que tocava em meu pau.

— Que bom, mas aparentemente eu não preciso perguntar nada aqui, Lucas. Afinal, você está
amarrado e eu tenho o total controle da situação — ele disse, largando meu pau. — Então, o que farei
é o seguinte. Vou te foder gostoso e, se tiver vontade, talvez te chupe depois — informou, me virando
para que ficasse de costas para ele.

Não me surpreendi com aquilo, ele tinha uma obsessão enorme por minha bunda e logo senti suas
mãos abrindo-as para abrir caminha a sua língua quente e molhada, que lambeu avidamente meu
cuzinho.

Segurei meus gemidos, para não demonstrar que estava gostando e provocá-lo, mas seria bem
difícil, afinal estava uma delicia. Bernardo continuou com aquilo por um tempo e depois começou a
me penetrar com sua língua.

Ele me puxou para ficar de quatro, para facilitar a entrada e eu continuei calado mesmo tomado
por prazer. Não demorou e ele veio com seus dedos e penetrou dois em meu cuzinho, fazendo
movimentos de vai e vem.

— Tem certeza que vai continuar sem gemer? — ele perguntou com um sorriso safado no rosto.

Não respondi nada e ele continuou a me penetrar com seus dedos.

Logo senti um terceiro e quando ele percebeu que eu não iria gemer, ele me empurrou contra a
mesa e subiu sobre mim e começou a morder minhas costas, enquanto roçava seu pau em minha
bunda.

Eu estava completamente excitado e quase pedindo para que ele me comesse logo, mas não iria
fazer por orgulho. Mas nem foi necessário, porque logo o senti posicionando seu pênis contra a
minha entrada.

Bernardo começou a empurrar e senti uma dor horrível enquanto entrava, mas aguentei, pois
queria ele me fodendo o quanto antes.

Quando finalmente seu pau estava todo dentro, ele começou com movimentos de vai e vem já
fortes. Dessa vez não consegui segurar e soltei gemidos altos, a mistura de prazer e dor me levava à
loucura. Ele sorriu satisfeito e começou a puxar meu cabelo, fazendo-me sua putinha.

Ele aumentava cada vez mais o ritmo e força das estocadas e mordia minhas costas
deliciosamente, causando-me cada vez mais prazer. O fato era que, por mais que eu quisesse
experimentar comê-lo, não trocava aquilo por nada.

Jamais havia chegado a um prazer próximo daquilo com meu pênis.

Depois de um tempo me fodendo daquela forma, ele tirou seu pau de mim e me puxou me
levantando e me jogou contra a parede. Voltou a enfiar em mim com mais força ainda e eu queria
cada vez mais dele dentro de mim.

Até mesmo pensei em pedir para transformar-se novamente, porém, levando em conta como fiquei
da última vez, podia não ser uma boa ideia.

Ele continuou me comendo freneticamente por bastante tempo; ele sempre demorava muito para
chegar lá e me fazia gozar sem nem mesmo tocar em meu pênis, mas, dessa vez, toda vez que ele me
ouvia intensificar os gemidos, parava para eu não gozar e depois voltava a socar.

Já estávamos assim por quase uma hora e sentia-me exausto.

Quando ele finalmente começou a intensificar seus gemidos e acelerou o ritmo, percebi que ele
iria gozar, mas dessa vez tirou seu pau de dentro de mim e me derrubou de joelhos diante dele.

Fiquei observando ele se masturbando diante de mim e como sabia bem o que ele queria, abri a
boca e assim que ele fechou os olhos e começou a gemer alto, socou rapidamente seu pau na minha
boca e a senti sendo inundada por seu esperma.

Engoli tudo e Bernardo ainda me fez lamber seu pau até ficar completamente limpo. Eu estava
exausto e ofegante, mas principalmente irritado, essa era a primeira vez que ele não havia me feito
gozar.

Para minha surpresa, ele me levantou e me jogou contra a parede ajoelhando-se diante de mim e
pegou em meu pau que estava melado de pré-gozo.

Ele começou limpando a cabeça com a língua e eu gemi alto com aquela sensação; logo em
seguida ele abocanhou tudo de uma vez, fazendo-me contorcer e começou a me chupar ferozmente,
tirando quase tudo da boca e depois colocando novamente em movimentos rápidos.

Aquilo estava incrível, mas devido ao seu ritmo e todo o tempo que me fodeu, não demorou muito
e comecei a sentir que ia gozar. Eu avisei, mas ele acelerou ainda mais. Gemi alto com a onda de
prazer que tomou conta de mim e logo senti meu pau esporrar muito em sua boca, fazendo uma parte
da minha porra escorrer por seus lábios. Ele fez o mesmo que eu e limpou cada gota que ainda havia
em meu pênis e em seguida levantou e me beijou, fazendo o gosto de nossos espermas se misturarem.

***

Mais tarde, quando cheguei em casa encontrei meu pai na cozinha com diversos papéis sobre a
mesa, enquanto tomava café.

— O que está fazendo? — perguntei, aproximando-me.

— Apenas analisando os pedidos das matilhas, amanhã temos reunião.

— Posso ir? — questionei.

— Não acho uma boa ideia, lembra-se do acordo que temos?

— Por favor, pai — insisti. — Eu não estou estudando magia, só quero ir à reunião. Você me
permitiu namorar um lobisomem, não vejo motivos para me impedir de ir com você. Prometo ficar
quietinho, quero ver melhor o que você faz.

Ele parou por alguns momentos, pensativo.

— Tudo bem, você pode ir comigo — respondeu.

— Obrigado – disse animado, abraçando-o. – Agora vou subir e descansar um pouco — avisei.
Bernardo havia me deixado exausto.

Quando cheguei ao andar de cima, senti vontade de me aproximar onde ficava a porta, que agora
permanecia oculta. Fechei meus olhos e me concentrei para fazer a ilusão cair e, quando os abri
novamente, eu havia conseguido.

Lá estava ela novamente.

Levei a mão até a maçaneta e obviamente continuava trancada, mas algo me dizia que não era uma
chave que abria. Sentia que era outro feitiço que a trancava, impedindo até mesmo que fosse
derrubada à força.

Aparentemente, eu só conseguia anular um feitiço por vez, mas podia tentar na noite de Lua Cheia,
quando as minhas habilidades deviam ficar mais fortes. Só precisaria despistar meu pai.
Capítulo 23

Estava quase noite.

Meu pai nos levou até um tipo de galpão distante da cidade, aonde chegamos por uma estrada de
terra batida. Havia vários carros na frente.

Assim que descemos do nosso e entramos, percebi que havíamos sido os últimos a chegar; toda
família de Bernardo e Adrian já estavam ali. Havia somente uma longa mesa de madeira e cada
matilha sentou-se de um lado.

Meu pai me orientou a sentar-me com ele na ponta da mesa.

— Esse aí não deveria sentar-se com os Gasparellos? Afinal, quase já faz parte da família, né?
— Gustavo ironizando, referindo-se a mim.

— Ele não é lobisomem, então ele permanece comigo; ele namorar uma pessoa de lá, não faz dele
parte da matilha — meu pai respondeu firme.

— O fato aqui é que vocês não conseguiram realizar o plano de vocês, de transformarem Lucas e
terem um híbrido na matilha de vocês. E agora estão irritados por causa disso — Bernardo provocou.

— Eu jamais transformaria Lucas sem que ele pedisse ou quisesse — Adrian interviu irritado,
surpreendendo-me. Ele encarou-me nos olhos.

— Duvido muito, sua matilha sempre fez questão de ser mais numerosa que a nossa, como se isso
fosse torná-los melhor — Bernardo contestou.

— Parem vocês dois, a reunião nem começou ainda — meu pai interrompeu. Todos se calaram e
passaram a prestar atenção; claramente havia certo medo dele que pairava por todos. — Muito bem,
vamos começar falando sobre as mortes que cessaram. A questão é, seria possível terem sido
causadas por alguém de fora da cidade e que agora decidiu parar? — meu pai indagou.

— Claro que não, todos aqui sabem que foi um dos Baungarten. Devem estar tentando criar novos
lobos para a matilha e essas vítimas não conseguiram sobreviver à transformação — Leila acusou.

— Você não tem direito de acusar um de nós sem ter qualquer prova — Heitor argumentou,
levantando-se e apontando o dedo para ela.
— Você não levante o dedo para mim! — Leila também se levantou e exigiu.

— Chega vocês dois também! — meu pai interferiu. — Heitor tem razão, Só volte a levantar
teorias quando tiver provas, Leila

— Não entendo essa pergunta, Lúcio. Como pode ser alguém fora da cidade, quando há um feitiço
em torno da cidade que irá lhe informar quando qualquer ser sobrenatural entrar? –Rosângela
questionou.

— O feitiço não está livre de anulação — meu pai respondeu.

Sabia que ele tinha razão, afinal eu já havia anulado um dos seus, apenas torcia que não
derrubasse sem querer essa proteção. Seria péssimo!

— Contrafeitiços ou habilidades desse tipo são raros. Dificilmente um bruxo consegue ou tem
essa habilidade — Heitor comentou.

— Você tem razão, mas não podemos excluir qualquer possibilidade. Se as mortes não foram
causadas por alguém de fora, isso só pode significar que o assassino está sentado aqui hoje — meu
pai disse.

— Essas mortes não fazem sentido, digo, elas podem ter cessado, mas sabemos que logo irão
retornar, como da última vez e isso é perigoso até mesmo pro responsável, afinal pode chamar a
atenção de caçadores — um dos irmãos de Adrian comentou o mesmo que eu já havia ouvido na casa
de Bernardo.

Pelo que me explicaram, os caçadores eram grupos de indivíduos que odeiam qualquer criatura
sobrenatural e querem livrar o mundo de nós, com medo da extinção da espécie humana.

— Eu sei disso, também me preocupo muito com a segurança do meu filho. Todos correm perigo
e estou me esforçando ao máximo para descobrir a identidade do assassino — meu pai comentou.

— Se preocupa tanto que deixou ele namorar com um Gasparello — Gustavo ironizou. — Eles
nos acusam, mas também podem ser os assassinos. Acham-se superiores a tudo e a todos, não
duvidaria nada se tivesse um psicopata entre eles.

— Qual é Gustavo? Não basta o Adrian e agora você também tá com ciúmes do Lucas comigo?
— Bernardo provocou.

— Você está me chamando de veado? — ele levantou-se irritado.


— Sim, estou; meu gaydar lupino dificilmente erra – Bernardo respondeu irônico e também
levantou.

— Desgraçado! — Gustavo xingou e pulou a mesa para ataca-lo.

— Chega! — meu pai gritou levantando e estendeu a mão direita aberta na direção deles, fazendo
fortes rajadas de vento jogar ambos em direções contrárias. Senti uma forte energia pairar ao nosso
redor.

— Uau — não consegui segurar e todos pareciam assustados.

— Estou cansado dessa reunião, eu vou embora — Bernardo informou, levantando-se mais
irritado ainda. — Até mais, Tempestade — provocou e saiu.

Gustavo retornou calado ao seu lugar de antes com cara feia.

— Tudo bem, chega desse assunto que está gerando só mais brigas e não está levando a lugar
nenhum — meu pai disse. — Outro ponto da reunião, como todos sabem, amanhã é Lua Cheia e todos
têm a obrigação de se acorrentar.

— Eu não acho que devia ser obrigatório, eu consigo ter controle sobre mim, mesmo na forma
lupina — Gustavo comentou.

— Mesmo assim não é seguro; qualquer um de vocês pode perder o controle, principalmente se
sentirem cheiro de sangue — meu pai alertou.

— Exatamente. Todos se acorrentam em nossa família, então vocês também devem — Rosângela
acrescentou.

O restante da reunião ocorreu de forma tranquila, sem maiores discussões ou brigas, referentes a
assuntos menores. Quando todos começaram a levantar para irem embora, Heitor chamou meu pai
para uma conversa e eu fiquei aguardando próximo do nosso carro, enquanto via os outros partirem
nos seus.

Adrian veio até mim, um pouco tímido.

— Oi — ele cumprimentou, analisando minha reação.

— Oi — respondi sem jeito; não sabia como reagir.

— Desculpa por me afastar de você.


— Não se preocupe, eu entendo; eu fiz de tudo para mantê-lo distante e depois simplesmente
apareci namorando Bernardo — disse.

— Está tudo bem, você teve seus motivos, apenas queria ter certeza que você soubesse que
jamais faria algo como transformá-lo só para tornar minha matilha mais forte.

— Se você diz...

— Mas isso é obvio, Lucas. Claro que, se você decidisse tornar-se um híbrido, seria ótimo, pois
poderíamos fazer parte da mesma matilha, mas jamais lhe forçaria a isso – contestou.

— Ok, eu acredito em você — disse respirando fundo; acreditava nele. Sabia que esse desejo
existia, mas não conseguia imaginar ele me forçando a isso.

Abri um sorriso para ele, como forma dele entender que estava tudo bem entre nós e ele sorriu
também.

— Sinto sua falta — falou, fitando meus olhos.

— Também sinto falta da sua amizade.

— Não disso, sinto falta do que nós iriamos nos tornar juntos. Todos os dias me culpo e não
consigo me perdoar em deixar você ser tomado de mim tão facilmente. Eu ainda te amo, Lucas —
desabafou.

Fiquei em silêncio, sem saber o que dizer.

— Por favor, me dê mais uma chance — pediu.

— Desculpa, Adrian, também gosto muito de você, mas estou indo muito bem com Bernardo —
respondi, sem conseguir continuar encarando-o nos olhos.

— Tudo bem, mas não irei desistir fácil, pois sei que não demorará até Bernardo pisar na bola
contigo, eu o conheço há anos. Então, quando isso acontecer, saiba que ainda estarei esperando por
você — ele disse, se aproximando e tocando meu rosto com carinho.

Senti vontade de tocá-lo também, mas isso não era justo, eu amava Bernardo e ele não havia me
dado motivos para querer me separar dele, então, apenas sorri para Adrian.

— Por enquanto vamos voltar a ser só amigos, ok? — sugeri, tirando sua mão do meu rosto antes
que alguém visse.
— Tudo bem, isso já será ótimo — ele respondeu com um enorme sorriso.

Quando vimos meu pai vir até nós, Adrian afastou-se rapidamente.

— Melhor eu ir, tchau Lucas e obrigado por essa nova chance — ele se despediu.

— Tchau Adrian — retribuí e observei ele partir.

Assim que meu pai chegou até mim, entramos no carro.

— Você acha mesmo que é um deles matando essas pessoas? — perguntei.

— Sendo realista? Sim, Lucas. A cidade é protegida e se qualquer ser sobrenatural entrar,
realmente serei avisado e nada disso aconteceu — respondeu.

— E sobre a possibilidade de alguém ter anulado esse feitiço? — questionei.

— Dificilmente, afinal, como foi mencionado na reunião, poucos são os bruxos que têm
capacidade de fazerem contrafeitiços e menos ainda possuem sua habilidade.

— E se eu tiver derrubado o feitiço sem querer? Igual fiz com a porta?

— Você precisaria de um poder imenso para isso, filho; a magia em torno da cidade foi criada
por diversos bruxos, em conjunto.

— Entendi... Falando nisso, por que não me disse que manipulava os elementos também? Aquilo
foi muito legal! — meu pai riu.

— Porque não manipulo todos, apenas o ar e se eu te contasse e você não possuísse também essa
habilidade, poderia ficar decepcionado — respondeu.

— E estou mesmo. Trocaria essa minha habilidade rara para ter um poder legal assim, sem pensar
duas vezes; ia me sentir um X-men — comentei e ambos rimos.

— Quando você começar a treinar e estudar, pode surgir — falou.

Mal imaginava ele que já fazia semanas que estava estudando.

— Vai trabalhar amanhã, né? — perguntei.

— Sim, mas não se preocupe, fortaleci a proteção da casa, para que não haja chances de você
acabar anulando sem querer – respondeu.

— Tudo bem, obrigado — disse, pensando que poderia aproveitar a Lua Cheia para fazer o
feitiço que havia lido.

Após chegarmos em casa, no restante da noite, apenas jantei com meu pai e fui dormir cedo.
Afinal, no dia seguinte me encontraria com Michele.

***

Acordei com meu celular tocando.

Tateei o criado-mudo ao lado da cama e quando encontrei, atendi, sem nem mesmo olhar o
identificador de chamadas.

— Acorda rapariga — era a voz animada de Michele no outro lado.

— Que horas são? — perguntei, irritado por ter sido acordado daquela forma.

— 8 horas, Lucas; já está tarde, quero você aqui em menos de uma. Me ouviu? — perguntou
quase gritando.

— Aff Michele; tudo bem, em uma hora estarei aí — disse e desliguei a chamada.

Levantei contra a minha vontade e fui direto para o banho.

Assim que finalmente estava pronto, saí e fui até a casa dela a pé, que ficava apenas a uns 20
minutos caminhando; o que me faria bem.

Era ótimo tomar um pouco de ar e a manhã estava linda.

No caminho, um carro parou ao lado da calçada pela a qual eu caminhava e quando olhei bem,
percebi que era o que Adrian usava.

Ele baixou o vidro para falar comigo.

— Está indo aonde? Quer carona? — ofereceu.

— Precisa não, estou indo na casa da Michele e está bem pertinho.

— A gente não tinha combinado de se reaproximar e nos tornar amigos novamente? Entra aí! —
lembrou-me e respirei fundo.

— Tudo bem, eu aceito — disse e entrei, sentando no banco de passageiro.

Ele abriu um enorme sorriso.

— E onde você estava indo essa hora da manhã num sábado? – perguntei.
— No lago, para pensar — ele respondeu fitando meus olhos. — Quer ir junto?

— Não, obrigado — disse imediatamente, ruborizado, lembrando-me do que havíamos feito lá.
— Michele me mata se furar com ela.

— Tem razão, ela sim é perigosa — comentou e rimos.

— Você vai lá para pensar? Muitos problemas acontecendo? – questionei, lembrando o quão
triste ele parecia estar naqueles últimos dias.

— Além de ter perdido a pessoa que eu amo? Alguns — ele respondeu, forçando um sorriso para
mim.

— Desculpa, mas você sabe tudo o que aconteceu... Descobri tantas coisas e Bernardo se faz
presente e me ajudou muito.

— Eu sei, a culpa foi minha; primeiro traí sua confiança e depois me afastei completamente sem
nem tentar consertar as coisas, quando você mais precisava de alguém para ficar ao seu lado e ajudar
a entender tudo — ouvi a tudo aquilo calado, sem saber o que dizer. — Mas enfim, isso é passado, o
que importa é que podemos voltar a ser amigos.

— Sim... — disse, forçando um sorriso para ele.

Quando percebi, já havíamos chegado até a casa de Michele.

Ele parou o carro e permanecemos ali calados por um tempo, o clima entre nós estava estranho,
apesar de nossos esforços. No fundo, nenhum de nós conseguiria esquecer o que um dia fomos.

Quando abri a porta para descer, fiquei surpreso ao ver Michele vindo até nós.

— Lucas, quando que voltou a pegar o Adrian que não me contou? — ela perguntou, como sempre
inconveniente, abaixando-se próxima do vidro.

— Não estou, Michele, apenas voltamos a ser amigos, nada demais — respondi.

— Oi, Adrian — ela o cumprimentou, ignorando-me.

— Oi Michele, você está bem? — ele retribuiu educadamente.

— Estou ótima! Você vai aonde?

— No meu local secreto, que gosto de ir quando preciso pensar.

— Que depressivo! Não prefere vir comigo e Lucas? — ela perguntou e eu a fuzilei com o olhar.
O que diabos ela estava fazendo?

— O que irão fazer? — Adrian perguntou interessado e animado.

— Apenas assistir filmes, comer pizza e fofocar. Está afim?

— Claro, eu amo pizza! — ele aceitou, fazendo-me lembrar do dia em que fora em minha casa e
fizemos as mesmas coisas.

Não sabia se era boa ideia voltar a ficar perto dele assim, mas como Michele estava junto,
acreditava que não teria tanto problemas, afinal assim nos comportaríamos. Apenas preocupava-me
se Bernardo descobrisse.

Assim que entramos na casa de Michele, fomos direto para a sala, onde o Netflix já estava
conectado a televisão. O filme selecionado era Crepúsculo e pelo jeito, ela nos faria ver todos. Pelo
menos iria ser uma experiência inédita para mim, já que ainda não havia visto-os.

O ponto negativo era saber que falava sobre lobisomens também, um tema de filmes que parecia
perseguir a mim e Adrian. Preocupava-me com Michele tão próxima de Gustavo sem nem mesmo
saber de nada que acontecia em Floresta Negra.

— Crepúsculo? — Adrian questionou surpreso.

— O que foi? Não gosta? — Michele perguntou encarando-o com um olhar de “Diga que é ruim e
irei cortar suas bolas”.

— Na verdade, adoro. Qual é, tem algo melhor do que esses romances sobrenaturais? Sou
completamente Team Jacob.

— Não é?! Ele é o mais gostoso — ela concordou animada e eu ri.

— Parem de me dar spoiler e vamos ver isso logo — disse, sentando-me no sofá.

Cada um deles sentou em um dos meus lados, deixando-me no meio.

O filme começou e assistimos enquanto comíamos várias besteiras, como salgadinhos e


chocolate, sem se preocupar que ainda fosse de manhã. Mas o fato era que eu não conseguia me
concentrar no filme com Adrian tão próximo a mim e me sentia mal por isso.

Bernardo estava sendo muito legal comigo e eu amava-o, mas tinha uma diferença entre ele e
Adrian que fazia a minha mente toda hora se questionar se eu havia escolhido certo. Com Bernardo
as coisas eram selvagens e excitantes, mas com Adrian sentia que podíamos nos completar, que
nossos corpos atraíam-se um pelo outro de uma forma intensa.

Por que eu tinha de escolher? O mundo era muito injusto!

Quando o filme já estava na metade, senti meu celular vibrar no bolso e, quando vi a tela,
assustei-me ao ver que haviam 10 ligações perdidas do meu pai; eu realmente estava distraído.

Antes de eu conseguir atender aquela, ele desligou.

Quando levantei para retornar a ligação, Adrian levantou-se num pulo com uma expressão
preocupada e olhando ao redor. Notei que ele estava cheirando algo.

— Precisamos subir agora! — ele alertou sério.

— Como assim? — Michele perguntou, tão confusa quanto eu.

— Há alguém hostil vindo diretamente para nós — ele informou olhando para mim e eu entendi
na hora, relacionando com as ligações do meu pai.

Alguém perigoso havia entrado na cidade.


Capítulo 24

Adrian carregou Michele nos ombros até o segundo andar.

Ela esperneou enquanto batia com as mãos em suas costas, completamente histérica e sem
entender nada. Quando chegamos ao seu quarto, trancamos a porta e Adrian foi direto até a janela ver
se conseguia enxergar alguém se aproximando.

— O que está acontecendo aqui? — Michele perguntou, gritando.

— Depois eu te explico, só tenta manter a calma — respondi mais para mim mesmo. Estava
completamente nervoso, percebendo a preocupação de Adrian.

Disquei o número do meu pai, a fim de saber se ele sabia algo a mais além de nós, mas dessa vez
caiu na caixa postal. Michele andava de um canto para o outro, impaciente. Aquilo não era nada bom.

— Seu pai deixa alguma arma guardada em casa? —Adrian perguntou a ela, saindo de perto da
janela e vindo até nós.

— O que você quer com uma arma? — Ela perguntou assustada.

— Armas não são inúteis contra? — questionei, também preocupado em envolver armas na
história.

— Se quiser matar, sim, mas será o suficiente para atrasá-lo e para vocês se defenderem — ele
respondeu olhando-me sério.

Tateei meus bolsos em busca do colar e, desespero foi o meu, quando percebi que havia
esquecido! Eu havia saído de casa com tanto com sono, que nem pensei em pegá-lo. Adrian tinha
razão, precisávamos de algo, eu e Michele não tínhamos o que fazer para nos protegermos, afinal
minhas habilidades não eram das mais úteis em um momento desses e ela nem sabia que era bruxa.

— Tem ou não, Michele? — insisti, nervoso.

— Vocês estão malucos? Acham mesmo que eu vou entregar uma arma para vocês, sem me
dizerem o que está acontecendo? — ela interviu, também começando a ficar nervosa.

Respirei fundo e percebi que ela tinha razão. Deveria contar a verdade, ela precisava estar
preparada para não entrar em pânico quando o momento chegasse.
— Tudo bem, vou contar. Mas, por favor, não surte; sei que pode parecer brincadeira, mas é
muito sério. Michele... — respirei fundo novamente, para tomar coragem para contá-la. — Tem um
lobisomem perigoso, aqui perto, querendo nos atacar — revelei. Ela começou a rir muito, sem parar,
o que me deixou mais nervoso ainda. — É sério, Michele! — disse irritado.

— Tudo bem, só me diz uma coisa, ele vai vir com o peitoral e tanquinho à mostra? Porque daí
não me importo de ser atacada — comentou e voltou a rir.

Foi quando ouvimos um alto barulho vindo do andar de baixo, algo se partindo.

Era a porta de entrada que havia sido arrombada, assustando a todos. Adrian correu para próximo
da porta do quarto, fazendo sinais com a mão para que eu e Michele recuássemos para longe dela.

Vi no rosto de Michele que ela estava muito assustada e não a culpava, qualquer um estaria numa
situação dessas. Eu que já sabia sobre os lobisomens, talvez estivesse mais aterrorizado que ela.

Ouvimos passos de alguém pesado subir as escadas.

Quanto mais se aproximava de onde estávamos, mais meu coração acelerava, parecendo querer
saltar fora do meu peito. Quando os passos finalmente chegaram diante da nossa porta e ouvimos o
rosnar da criatura lá fora, Michele apertou minha mão com força, agora convencida do que eu havia
contado.

— Vá embora, não há nada para você aqui — Adrian gritou, mas parecia estar preparado se a
coisa do outro lado decidisse derrubar essa porta também.

— Eu não quero nada contigo, garoto — surgiu uma voz gutural. — Eu quero esses bruxinhos aí
dentro, principalmente ele, que parece ser uma delícia. Afinal, desde que entrei na cidade, sinto seu
cheiro — ele disse, assustando-me ainda mais.

Meu pai tinha razão, eu havia chamado a atenção daquela coisa só por estar estudando magia.
Não devia ter feito aquilo!

— Do que ele está falando? – Michele perguntou assustada e tentando entender tudo que estava
acontecendo.

— Lembra-se de quando você tinha um segredo e achou melhor não me contar? Bem, eu tenho um
também. Eu sou um bruxo e meio que você também é, mas mantenha a calma — disse para ela, que
pareceu ainda mais assustada e desesperada.

— Tudo isso só pode ser uma pegadinha. Cadê as câmeras? Silvio Santos está aí? Não quero
virar viral sem minha maquiagem não — ela falou nervosa.

— Estou falando sério Michele!

— Tudo bem, tudo bem, eu acredito!

— Entreguem-me ele e ninguém precisará se machucar — a criatura ofereceu do outro lado da


porta.

— Não, vá embora você e então não precisará se machucar – Adrian respondeu, firme. Ouvimos
sons guturais que pareciam uma espécie de risada.

Quando ele voltou a ficar em silêncio por alguns momentos, uma tensão se fez presente no quarto;
todos mantiveram os olhos atentos na porta. Quando, de repente, com um enorme estrondo, a vimos
ser partida ao meio.

Adrian conseguiu se afastar a tempo.

Estremecemos ao ver um enorme lobisomem, que conseguia ser maior que Bernardo. Seu corpo
era todo peludo e vestia apenas um short que estava quase todo rasgado devida à transformação. Seus
olhos eram vermelhos e seus dentes e garras enormes e assustadores.

— Como imaginava, apenas crianças. Isso vai ser divertido — ele disse com sua voz
assustadora, enquanto olhava e cheirava nós três.

— Sai daqui, que eu tenho prata! — Michele ameaçou e a criatura voltou a rir.

Ela então tirou uma pulseira prateada grossa de seu braço e jogou nele, acertando seu peito e
grudando ali. Ele rosnou alto de dor e rapidamente arrancou aquilo de sua pele e jogou contra a
parede com ódio. Aquilo o havia queimado.

— Desculpa, não imaginei que os filmes contavam a verdade — ela comentou, recuando com
medo dele.

— Sua maldita, você será a primeira que eu devorarei — ele vociferou irado, se aproximando
mais de nós. Demos passos para trás, aterrorizados, e vimos Adrian pular em suas costas tentando
impedir. A criatura apenas o jogou contra o chão, com muita facilidade. — É só isso que você tem?
— provocou.

— Na verdade, não — Adrian respondeu, levantou e começou a se contorcer iniciando sua


transformação. Percebi o susto de Michele ao descobrir que Adrian também era um lobisomem.
Todos acompanharam ele se transformar, ganhando muita altura e tamanho, mas que não chegava
próximo ao do outro; sua camisa havia se rasgado quase toda, assim como sua calça.

Ele arrancou o restante do que ainda existia da camisa e encarou a criatura.

Seu corpo estava também quase todo coberto por pelos; suas orelhas se tornaram pontiagudas,
exibia enormes dentes caninos na sua boca e seus olhos eram de uma cor azul safira brilhante.

A criatura partiu para cima dele, tentando desferir um golpe, mas Adrian desviou atacando-o na
barriga com suas garras. Percebi sangue caindo sobre o piso de madeira, ele o havia acertado em
cheio.

O intruso se afastou, levando sua mão até o ferimento e rosnou alto, ainda mais irado. Por mais
que ele fosse enorme, ele era lento, diferente de Adrian que mesmo menor era muito ágil.

— Feliz por ter me acertado, garoto? Quando eu colocar as mãos em vocês, vou te dividir em
dois — a fera ameaçou, voltando a ir para cima de Adrian que novamente desviou girando para o
lado e ficando próximo de nós.

— Preciso de um pouco de seu sangue, Lucas. Isso me fortalecerá — Adrian pediu.

Como a maior parte da energia de um bruxo se concentrava em seu sangue, realmente ajudaria se
bebesse o meu.

— Tudo bem, rápido — disse estendendo meu braço para ele, que com seus afiados dentes furou
minha pele e em seguida sugou com força o máximo que conseguiu, causando-me um pouco de dor.
Mas aquilo não importava, a única coisa com que devíamos nos preocupar era sairmos vivos dali.

Adrian dessa vez avançou contra o outro, que tentou impedir o ataque criando uma barreira com
seus braços em forma de X, mas o que não esperava era que Adrian fosse se jogar no chão e deslizar
pelo meio de suas enormes pernas, desferindo cortes em ambas com suas garras.

Ele caiu de joelhos no chão, urrando de dor e ainda mais irritado.

O lobisomem encarou a mim e Michele.

— Você é rápido garoto e aparentemente será difícil acertá-lo, mesmo que só precise de um golpe
para acabar contigo. Minha sorte é que esses dois não podem fazer nada — comentou levantando-se
e veio para cima de nós.

Adrian tentou correr até nós, mas não haveria tempo.


Quando vi o enorme braço do lobisomem se aproximando de nós com força, levantei o meu para
tentar nos proteger e fechei os olhos, preparado para o golpe.

Fiquei surpreso ao não sentir nada.

Quando abri os olhos, vi que ele não conseguia nos acertar porque havia bloqueado por uma
barreira de ar que eu havia criado.

Não sabia como, mas eu havia feito.

Ele tentou com a outra, pelo outro lado, e novamente não conseguiu. Havia algo nos protegendo e
sentia era o elemento ar. Eu era capaz de senti-lo emanado através de todo meu corpo.

A criatura tentou socar várias vezes, mas era inútil, ele não conseguia nos tocar. Aquilo era
ótimo, mas não sabia como controlar ou quanto tempo duraria.

— Parece que isso começou a ficar interessante — o lobisomem comentou, virando-se novamente
para Adrian.

Avançou na direção dele para golpeá-lo e Adrian novamente tentou desviar girando para o lado,
mas dessa vez era a criatura já sabia do truque, pois, quando fez isso, o enorme intruso conseguiu
segurá-lo pelo pescoço com a outra mão.

Adrian tentou soltar-se, mas não tinha tanta força quanto ele.

Fiquei desesperado ao ver a criatura levantar Adrian contra a parede e apertando seu pescoço
com força. Ele ia matá-lo.

Não sei o que me deu e, por impulso, avancei contra ele.

Ouvi Michele gritar para eu não fazer aquilo, antes de sentir um forte golpe em meu rosto e ser
jogado contra o chão. Fiquei caído agonizando de dor e minha amiga veio até mim desesperada.

Senti suas lágrimas caírem sobre o meu rosto já molhado por sangue, devia ter quebrado meu
nariz. Minhas costas também doíam devido ao impacto, mas a única coisa que me preocupava era
Adrian.

Voltei a olhá-los e vi o intruso furar sua barriga com as enormes garras e subindo-as lentamente.
Adrian gritava e agonizava de dor, enquanto o outro se divertia em matá-lo de forma lenta e dolorosa,
vendo-o sangrar.

Forcei-me a levantar, mas a dor era quase insuportável.


Só consegui sentar com a ajuda de Michele.

Eu tinha que fazer algo e eu precisava fazê-lo, logo. Então respirei fundo e tentei me concentrar
para criar novamente uma daquelas barreiras de ar em torno de Adrian para protegê-lo, mas não
estava dando certo.

As lágrimas escorriam de meus olhos sem parar, não acreditava que eu havia colocado em perigo
as pessoas que eu amava daquela forma. A culpa era toda minha.

— Por favor, me leva, mas deixa meus amigos — ofereci, em prantos.

— Não, esses dois me irritaram profundamente. Levarei você somente após matá-los — recusou,
já cortando o peito de Adrian, que não conseguiu manter a transformação e voltou a sua forma
humana.

Vi o líquido escarlate escorrer por seu belo corpo, enquanto esforçava-se para manter-se
consciente. Aquilo era péssimo!

— PARAAA! — gritei desesperado e senti uma enorme quantidade de energia explodir dentro de
mim lançando-se para fora, fazendo-me cair no chão exausto logo em seguida.

Imediatamente senti-me perdendo a consciência, completamente esgotado.

Mas antes de meus olhos fecharem e tudo se apagar, eu vi o que eu havia feito: a enorme criatura
se debatia e gritava de dor pelo quarto, com seu corpo tomado por enormes chamas que queimavam
sua carne. Também vi Adrian caído sobre o chão coberto por seu próprio sangue, completamente
desacordado.

***

Fiquei num lugar rodeado por escuridão e tomado pelo silêncio, no que pareceu ser uma
eternidade, sem nem mesmo lembrar o que eu estava fazendo ali ou quem era. Apenas sentia que
deveria voltar, mas... Para onde?

Quando finalmente voltei a ver luzes, tentei abrir os olhos aos poucos, pois a forte iluminação
incomodava-os. Quando finalmente consegui, percebi que estava num quarto de hospital, ligado a
vários equipamentos. O que havia acontecido?

Assim que tentei me mover, percebi que meu pescoço doía muito.

Olhei para os lados e vi Michele dormindo sentada em um sofá ao lado da minha cama. Era a
primeira vez que a via sem maquiagem ou com cabelo despenteado.

Foi quando lembrei-me de tudo que havia acontecido e comecei a chorar intensamente, fazendo-a
se acordar e ficar surpresa por me ver acordado.

Ela correu até mim e me abraçou forte, também em choro.

— Achei que você não fosse mais acordar — ela disse e senti suas lágrimas caírem sobre meu
pescoço.

— Desculpa, desculpa, desculpa — era só o que eu conseguia dizer.

A culpa era toda minha, devia ter ouvido meu pai desde o começo.

— Não, Lucas, vocês nos salvou! — Michele falou e se afastou, respirando fundo.

— O que aconteceu depois que apaguei? — perguntei.

Eu precisava saber.

— Aquele monstro queimou até a morte, junto da metade da minha casa, mas isso não importa. O
que importa é que você nos salvou. Seu pai teve que usar magia para que você conseguisse se
recuperar e ainda bem que deu certo — ela respondeu tentando limpando as lágrimas e tentando
controlar o choro.

— Michele, o que aconteceu com Adrian? — perguntei, sentindo meu coração acelerar com medo
da resposta que poderia vir e Michele pareceu hesitar. – Me diz logo, por favor! — imporei.
Capítulo 25

— Lucas... — ela ainda tentava me enrolar e chorava.

— Me conta logo, Michele. Ele está bem? — insisti mais nervoso.

— Acho que sim... As coisas se complicaram enquanto você estava apagado — respondeu
finalmente.

— Como assim “acho que sim”? — questionei.

— Ele foi levado pra fora da cidade para ficar distante de você e a família dele está querendo
expulsar seu pai e você. Só quando vocês partirem ele poderá retornar, eles te culpam por Adrian ter
quase morrido e acusam seu pai de ser incompetente — explicou.

Permaneci em silêncio durante alguns momentos tentando digerir aquela informação, que, por
algum motivo, havia me machucado muito. Meu peito doía muito e o ar que entrava em meus pulmões
parecia cortar.

Sentia uma parte de mim sendo tomada à força.

O quanto eu realmente sentia por Adrian?

— Quanto tempo eu fiquei inconsciente? — perguntei quando consegui voltar a falar.

— Quase um mês — revelou, assustando-me. — Eu e Bernardo viemos todos os dias ficar aqui
contigo, torcendo que despertasse. Ele me explicou tudo!

— A culpa é realmente minha, eu sou um idiota. Não escutei meu pai e coloquei você e Adrian
em perigo — disse, dando socos na cama e irritado comigo mesmo.

— Para com isso! — Michele pediu e segurou minhas mãos — A culpa não é sua, a culpa é
daquele monstro que queria te machucar. Adrian te ama e jamais permitiria, você sabe disso —
tentou me acalmar.

— Onde está Bernardo? — questionei.

— Agora deve estar na escola.

— E por que você não foi?


— Eu larguei, não consegui retornar — revelou. — Não depois de tudo que aconteceu, tudo que
descobri. Precisava ficar aqui contigo.

Abri meus braços para que ela voltasse a me abraçar e ela veio até mim.

— Agora você vai atrasar um ano para poder ir embora — comentei, triste por ela.

— Se eu tiver a você, isso não importa. Sua amizade é mais importante do que qualquer cirurgia
que não vai definir o que já está definido — ela disse, apertando-me ainda mais. Permanecemos
daquela forma por um bom tempo, eu era muito sortudo em ter alguém como Michele em minha vida.

— Cadê meu pai? — perguntei, quando finalmente nos soltamos.

— Ele saiu há algum tempo para fazer uma ligação — respondeu e logo vi ele entrando no quarto
em seguida.

Meu pai correu até mim assim que me viu desperto e me abraçou absurdamente forte, quase me
esmagando.

— Nunca mais faça isso, por favor — ele disse entre lágrimas.

— Desculpa, pai. A culpa de tudo isso é minha — assumi o erro, arrependido.

— Agora isso não importa mais, não podemos mudar o passado.

— O que está acontecendo, exatamente? — perguntei, soltando-me dos seus braços e tentando
controlar meu choro.

— Depois do ocorrido, os Baungarten entraram em contato com o Conselho pedindo que


substituíssem guardião da cidade, alegando que eu coloquei a cidade em perigo instruindo-lhe mal e
não sendo capaz de parar os ataques — explicou.

— Mas você não tem culpa alguma, pai! — disse, revoltado com aquilo.

— Isso não importa, aparentemente o conselho vai ceder ao pedido. Lucas, eles quase perderam o
Adrian e não querem vocês na mesma cidade. Aquele garoto se colocou em perigo, apenas para te
defender... Eu faria o mesmo que Heitor.

Depois de ouvir aquilo, não consegui mais prestar atenção no que meu pai ou Michele me diziam,
pois fui tomado por muita culpa e arrependimento.

As lágrimas quase já faziam parte da minha fisionomia.


E mesmo que eu não estivesse junto de Adrian, esse afastamento forçado entre nós estava me
machucando muito, não queria ficar longe dele. Por que estava me sentindo assim? Incompleto?
Precisava vê-lo novamente.

Fiquei preso aos meus próprios pensamentos e, após algum tempo, meu pai disse que precisava
resolver algumas coisas e logo voltaria. Os médicos vieram ver como eu estava e pareciam
surpresos por eu acordar. Michele permaneceu comigo.

Tentava processar tudo aquilo que estava acontecendo, mas simplesmente não era suficiente. Eu
precisava fazer algo, resolver tudo.

— Preciso sair daqui — disse à Michele.

— Acho que você não irá receber alta ainda hoje — Michele comentou.

— Não me importo, vou sair agora. Preciso falar com Heitor, ele não pode simplesmente mandar
Adrian embora e expulsar eu e meu pai da cidade — anunciei, seguro do que estava prestes a fazer.

— Tudo bem, nessa mochila tem algumas roupas suas — ela disse, me entregando. Michele sabia
que eu faria aquilo e como gostava de um bom barraco, claro que me apoiaria. Por isso e outros
motivos amava-a tanto!

Assim que terminei de vestir uma de minhas roupas, eu e Michele saímos do hospital tentando não
sermos notados, o que aparentemente deu certo. A minha sorte era que Michele estava com o carro do
pai.

Se eu estava seguro com ela dirigindo não importava, a única coisa que era importante para mim
naquele momento era resolver a bagunça que eu mesmo havia criado.

Assim que chegamos e Michele estacionou na frente do casarão, saltei do carro indo direto atrás
de Heitor. Ela saiu correndo atrás de mim e assim que entrei, dei de cara com Gustavo, que me olhou
surpreso.

— O que estão fazendo aqui? — ele perguntou.

— Isso não te importa. Cadê Heitor? — questionei.

— Virou macho, agora? Para falar grosso, assim? — provocou, rindo.

— Diferente de você, né? Assume logo, Gustavo! — Michele comentou.

— Aceite o término garota, não tínhamos como dar certo.


— Mas é claro, você não gosta de mulher; sai de Nárnia logo miga — Michele disse, deixando-o
mais irado. Mas eu não tinha tempo pra perder com aquilo e passei por Gustavo indo em busca de
Heitor.

— Aonde você pensa que está indo? — ele me segurou pelo braço.

— Já disse, atrás de Heitor, preciso falar com ele — respondi, tentando me soltar.

— O que você quer comigo? — Heitor surgiu e veio até nós.

Gustavo soltou meu braço.

— Eu vim dizer que você não pode simplesmente mandar Adrian embora e muito menos culpar
meu pai pelo que aconteceu. A culpa foi toda minha e só minha — disse encarando-o, sério.

— Garoto, ouça bem — Heitor silabou irritado. — Eu quase perdi meu filho por causa de você.
Enquanto você está sendo comido por um Gasparello, foi meu filho que teve que te proteger e
colocar em risco a própria vida. Você acha isso justo? Pois eu não. Então, sim, enquanto você estiver
nessa cidade, Adrian não retorna — desabafou.

Senti muito ódio, mas não sabia se era mais dele ou de mim mesmo. Eu queria ver Adrian
novamente, mas não podia culpar Heitor pela decisão que tomou.

— Onde ele está? — perguntei.

Não tinha mais nada o que poderia falar para reverter aquela situação, mas eu ainda precisava de
um jeito de falar ou vê-lo novamente.

— Ele está com a matilha do meu irmão — revelou, deixando-me desconfortável.

Aquilo significava que estava morando perto de Mateo.

— Onde?

— Isso não vou responder, você já sabe o suficiente, agora saia da minha casa — ele disse
friamente.

— Tudo bem, já estou indo — disse áspero e me virei, sinalizando com o olhar para que Michele
também viesse.

Sentia o olhar de ambos fitando minhas costas enquanto nos dirigíamos para fora da casa, mas,
antes de chegamos à porta, uma das irmãs de Adrian surgiu correndo na casa, em prantos.
Ela empurrou a mim e Michele para abrir caminho e se jogou no chão de joelhos diante de Heitor,
ofegante e desesperada. Chorava muito, assustando a todos.

— O que aconteceu, Camila? — Heitor perguntou, preocupado.

— O Bruno... — ela não conseguia finalizar a frase, estava em pânico.

Bruno era um dos irmãos de Adrian, o loiro que conheci no dia que havia descoberto toda a
verdade sobre as matilhas.

— O que têm o Bruno? Me conta logo! — Heitor gritou, impaciente.

— Lá fora... Perto da grande árvore. Lá fora, lá fora — ela disse finalmente.

Heitor e Gustavo correram para fora da casa.

Eu e Michele seguimos e adentramos a floresta atrás deles, mas eles eram muito mais rápidos que
nós. Quando os vimos finalmente pararem lá na frente, Heitor uivou alto; aquilo ecoou sentimentos de
dor e ódio por toda a floresta, fazendo as folhas das árvores tremer.

Aceleramos o passo e quando chegamos até eles, vimos a horrível cena.

Bruno estava caído ao lado de uma enorme árvore, com sua garganta rasgada e diversos cortes
pelo corpo, pelo que pareciam ser garras. As mortes finalmente voltaram a acontecer e aquilo não
era nada bom.

— Aqueles Gasparellos me pagam! Eu vou rasgar cada um deles — Heitor esbravejou, irado.

— Calma pai, não vá sozinho — Gustavo impediu. — Vamos aguardar Léo e Paulo retornarem
amanhã, então planejamos um ataque eficiente. Não quero perder mais nenhum de vocês. — sugeriu
com seus olhos tornaram-se azul safira, ele estava começando a transformar-se devido todo o ódio
que estava sentindo.

— Vocês estão malucos? Vocês não sabem se foram eles — protestei.

— Claro que foram eles! — Heitor vociferou. — Todos sabiam desde o começo que era alguém
de dentro da cidade matando e agora surge um dos meus morto, você acha mesmo que há alguém aqui
que mataria um de seus próprios irmãos? Os Gasparellos sempre nos odiaram, era só questão de
tempo até isso acontecer. Mas eu não vou permitir e deixar isso quieto. Eles irão pagar com sangue!

— Saiam daqui os dois! Não sejam inconvenientes, acabamos de perder uma pessoa da família.
Vá correndo contar pro seu namoradinho o que pretendemos —Gustavo disse irado, abraçando seu
pai com força e encarando-me.

Puxei Michele pelo braço para que saíssemos dali.

Ela parecia muito chocada e não era de menos levando em conta o que havíamos passado. Ela
ainda devia estar traumatizada, surpreendia-me o fato de que ela não havia se afastado de mim e de
todos.

— Preciso mesmo avisar a família de Bernardo, não posso deixar que eles se matem — disse.

— Isso não é trabalho do seu pai? —Michele questionou. — Talvez seja melhor falar com ele
antes, pois contar diretamente para a família do Ber pode piorar tudo – observou.

— Você tem razão, vamos procurar ele.

***

Quando chegamos até minha casa, entramos correndo e demos de cara com meu pai com várias
malas na sala. Ele pareceu muito surpreso ao nos ver.

— O que você faz fora do hospital? — perguntou preocupado.

— O que o senhor faz com todas essas malas?

Ele encarou-me sério e respirou fundo.

— Desculpa, não queria te contar no hospital. Ia esperar você ter alta, para você não tentar se
rebelar e complicar mais as coisas, mas já que você pelo jeito já fez isso, vou contar. O conselho
votou a favor do pedido de Heitor e temos de partir da cidade até amanhã — anunciou.

— Não podemos! — disse imediatamente. — Bruno acabou de ser encontrado morto e os


Baungarten pretendem atacar e matar todos os Gasparellos, achando que foram eles — alertei.

Meu pai ficou calado, olhando-me seriamente durante alguns momentos.

Eu não entendia, ele devia correr e ir tentar resolver tudo aquilo o quanto antes.

— Desculpa, mas não podemos fazer nada — falou. — Nós vamos embora amanhã cedo, esteja
preparado.

— Como assim? Você vai deixar que eles se matem? Há crianças entre as famílias! — gritei,
revoltado com aquela decisão.

— Ouça bem, Lucas — ele aproximou-se de mim e colocou a mão em meu ombro. — Eu já não
sou mais o guardião da cidade e, mesmo que eu fosse, eu não tenho poder para controlar a todos. Eu
queria poder ajudar, mas não posso e se continuarmos aqui, também correremos perigo.

— Não podemos deixar isso acontecer — disse, entrando em prantos.

Meu pai encarou Michele, que também estava muito nervosa e com medo de toda aquela situação.

— Desculpa por isso, Lucas, mas é o melhor para todos — falou e colocou a mão, energizada
com uma luz branca, em meu rosto. — Isso vai te ajudar a dormir até a hora de nós partirmos.

Senti um cansaço extremo tomar conta de meu corpo e minha mente querendo apagar. Não
acreditava que ele estava fazendo aquilo, eu precisava impedir aquela guerra entre as matilhas.

Na minha mente surgiram imagens de Bernardo, não podia perdê-lo também.

Estava cansado de perder as pessoas que amava.

Tentei tirar sua mão de meu rosto, mas era inútil; já não tinha mais forças e logo senti meu corpo
ceder e cair sobre o chão. Simplesmente apaguei, em seguida.
Capítulo 26

Uma voz conhecida surgiu em meio à escuridão, mas não consegui lembrar quem era. Tentei
descobrir de que direção vinha, mas era inútil, a escuridão estava por todos os lados e o local
parecia infindável.

O som foi aos poucos se aproximando de mim.

Permaneci parado e aguardei até que ele se tornasse compreensível aos meus ouvidos, até que
finalmente tornou-se mais audível.

“Você precisa acordar, tem que impedir a batalha. Concentre-se, Lucas!” – a voz feminina ecoou.
Mas de quem era aquela voz gentil? E do que estava falando?

Sentia como se faltasse uma parte de minha memória e isso me agoniava.

Então tentei me concentrar e lembrar; eu precisava lembrar, minha cabeça parecia querer explodir
se eu não fizesse. Primeiro veio imagens de um sonho, o primeiro que tivera com um lobo negro e
então comecei a recordar.

Logo após isso veio o acidente da minha mãe.

A voz, a voz que eu havia escutado... Era dela!

Mas sobre o que ela estava falando? Que batalha era essa?

Continuei a me concentrar e vieram imagens de Adrian e depois de Bernardo, o quanto gostava de


cada um, minha aproximação com Michele e por fim a morte de Bruno. Era isso, haveria uma batalha
entre as matilhas e eu precisava impedir a matança de acontecer.

Foi então que percebi onde estava.

Meu pai havia usado magia para me fazer adormecer e agora estava no mundo dos sonhos.
Precisava acordar o quanto antes então concentrei-me ao máximo em meu corpo físico e, quando abri
os olhos, me vi em meu quarto.

Havia despertado, mas quando tentei levantar, percebi que meus braços e pernas presos à cama
por cordas. Tentei forçar, mas elas estavam realmente apertadas.
Não podia acreditar que ele havia feito aquilo comigo.

Eu não conseguiria soltar-me sem a ajuda de alguém. Debati-me sobre a cama, até que lembrei
que eu controlava os elementos. Então, respirei fundo e me concentrei para colocar fogo naquelas
cordas, só nelas, sem tentar me matar com aquilo.

Precisava só de um pouco na parte certa para conseguir me soltar.

Logo na primeira tentativa, o fogo surgiu exatamente próximo aos nós e, para minha sorte, em
todas as cordas de uma vez e, em poucos segundos sentindo as chamas próximas à minha pele, eles se
desfizeram ao serem queimados.

Levantei-me rápido e concentrei em apagá-los, não queria que meu quarto queimasse junto e
assim se fez. Eu estava melhorando naquilo muito rápido.

Saí com cuidado do meu quarto e verifiquei se meu pai estava no seu, mas, como havia
imaginado, ele não estava, assim como no resto da casa. Aonde ele havia ido? Estava tentando
resolver as coisas sem mim antes de partirmos?

Olhei no meu celular, que ainda estava no bolso e já eram quase 5 horas da manhã. Havia
diversas ligações perdidas de Bernardo.

Disquei seu número e torci para que me atendesse. Tocou várias vezes e achei que ele não
atenderia, quando finalmente ouvi sua voz no outro lado da linha.

— Lucas? — ele soou surpreso. Pela sua voz, devia estar dormindo.

— Onde você está? — perguntei imediatamente.

— Em casa. Por que não me ligou avisando que havia acordado do coma?

— As coisas são bem mais complicadas, vou até aí e explico — avisei.

— Como assim? Essa hora? É perigoso! — ele disse preocupado.

— Não posso ficar na minha casa, estou saindo e indo aí — disse, deixando a minha casa, antes
que meu pai retornasse.

— Calma, eu vou te buscar — ele avisou.

— Tudo bem, mas me pega no caminho — disse e desliguei a chamada, sem nem despedir. Eu
estava com a cabeça a mil, não sabia o que poderia fazer além de alertar a família de Bernardo.
Poucos minutos depois vi o carro de Bernardo surgir na estrada.

Ele parou para que eu entrasse e eu o fiz; ele vestia apenas um short e regata. Ele encarou-me
completamente confuso, mas a primeira coisa que fez foi apenas me abraçar forte, assim como
Michele e meu pai haviam feito. Até mesmo havia esquecido que já fazia quase um mês que ele não
me via, desperto pelo menos.

— Que bom que você acordou — ele apertou-me forte e cheirou minha pele.

— Eu sei, me desculpa — disse.

— Eu que tenho que me desculpar, por não ter estado lá para te defender quando precisou.

— Isso não importa mais, tem coisas mais sérias em jogo — disse afastando-me dele e
encarando-o nos olhos. — Melhor irmos para sua casa e já se prepare para acordar toda sua família
— avisei.

Ele me olhou confuso, mas apenas fez o que eu disse sem questionar. Devia ter percebido que eu
só que falaria na presença de todos.

Assim que finalmente chegamos à sua casa, Bernardo saiu acordando a todos.

Ouvi quase todos reclamarem e, quando foram surgindo na sala e me viram, pareciam tão
confusos quanto Bernardo. Sua mãe e vó foram as últimas a surgirem.

— Não sabia que havia acordado — Leila comentou vindo até mim e me abraçou carinhosamente.
Ele sempre havia me tratado bem e gostava muito dela.

— Acordei ontem pela manhã.

— Isso é ótimo, mas foi por esse motivo que vocês acordaram todos nós? — ela questionou,
soltando-me.

— Lucas precisa contar algo para nós, nem mesmo eu sei o que é ainda — Bernardo respondeu a
ela e se juntou à sua família.

Fiquei diante deles e todos fixaram seus olhares em mim, aguardando que eu falasse. Senti minhas
pernas estremecerem e a garganta secar; aquilo podia piorar tudo, mas eles precisavam saber para
estarem preparados.

— O que tenho para falar é muito sério, peço apenas que não ajam por impulso e tentem resolver
da melhor forma possível, sem que ninguém se machuque — disse e todos me olharam desconfiados.
Quando vi que ninguém iria comentar nada, decidi continuar. — Ontem, quando acordei, soube que
Heitor pediu para meu pai ser substituído como guardião da cidade e fui até a casa dele falar sobre
isso — omiti a parte sobre Adrian, não queria ver Bernardo tendo um ataque de ciúmes, não era um
bom momento. — Após a conversa, quando ia saindo da casa, Camila surgiu correndo e dizendo que
havia algo perto de uma grande árvore na floresta. Todos corremos até lá e foi quando achamos
Diego morto. Eles acreditam que foi um de vocês e pretendem realizar um ataque ainda hoje,
possivelmente à noite — contei e vi todos ficarem sérios e calados.

Todos os olhares voltaram-se para Rosângela, que era a líder da matilha, aguardando alguma
posição. Comecei a ficar mais nervoso enquanto ela mais parecia pensar; eu não queria ver as
matilhas se matarem.

— Daniel, pegue os gêmeos e leve até a casa da minha irmã e volte o quanto antes com reforço —
ordenou Rosângela, para o padrasto de Bernardo.

— Compreendido — ele concordou, fazendo sinal com a cabeça para os gêmeos, que o seguiram
sem pestanejar. Pareciam completamente assustados.

— Como assim, reforço? Vocês deviam evitar essa batalha!

— Lucas, eu realmente agradeço muito por ter nos avisado, pois isso provavelmente salvou
nossas vidas, mas não temos como fugir disso. Tenho a certeza que ninguém aqui é o assassino e,
principalmente, que não iremos abrir mão do nosso lar — ela disse firme.

— Vó, hoje à noite é a Lua de Sangue — Bernardo alertou.

— Exatamente, por isso precisaremos de reforço; dessa vez, quantidade irá ser crucial na batalha.

— Como assim Lua de Sangue? — perguntei confuso. Havia passado um mês desacordado e não
tinha mínima ideia do que eles estavam falando.

— É um eclipse lunar, onde as luzes solares atravessam a Terra e tingem a Lua em um tom
escarlate. Todos os seres sobrenaturais durante o evento recebem o potencial máximo de seu poder.
Ou seja, se o ataque ocorrer durante a noite, quem tiver o maior número possivelmente vencerá —
Leila explicou.

— Eu não sabia — comentei atônito.

Aquilo havia me preocupado ainda mais, afinal se ambas as matilhas tentariam se fortalecer ao
máximo em número, isso só podia significar mais mortes. O pior de tudo era saber que eu não podia
fazer nada para evitar.

Se nem meu pai, que era guardião da cidade, tinha poder para impedir tantos lobisomens, o que
eu faria?

— Você precisa ir, Lucas, não é seguro você permanecer aqui — Rosângela alertou.

— Eu não posso voltar para casa, meu pai quer me levar embora da cidade à força — revelei e vi
Bernardo me olhar com um olhar triste.

— Talvez seja o melhor mesmo Lucas, vou te levar de volta — ele disse, levantando-me e me
carregando para fora da casa.

— Para, Bernardo, eu quero ficar. Eu quero ajudar — eu gritava enquanto batia em suas costas
para que me largasse, inutilmente.

Ele me levou até o carro e, após abrir o porta-malas, me colocou lá dentro e ficou tentando
fechar, enquanto eu chutava tentando impedir.

— Você vai fazer isso mesmo? — perguntei, chocado.

— Desculpa, mas é a única forma leva-lo sem que você consiga escapar — ele respondeu,
imobilizando minhas pernas dentro do porta-malas e finalmente fechando.

Senti-me claustrofóbico ali dentro e logo em seguida deu a partida.

Lá dentro chorei muito; não por estar preso ali, mas por saber que poderia perdê-lo também. Ele
apenas queria me proteger e me ver distante de toda a matança que logo aconteceria.

Evitei usar magia ali dentro, não queria fazer o carro explodir até que, depois de um tempo, ele
finalmente parou o carro e abriu o porta-malas. Ele carregou-me novamente até dentro da minha casa,
mas dessa vez não lutei contra.

— Promete que vai ficar bem? — pedi chorando, assim que largou-me no chão.

— Desculpa — foi apenas o que ele conseguiu responder, desviando seu olhar.

— Eu te amo — disse, vendo pela primeira vez lágrimas surgirem de seus olhos.

— Eu também te amo, Lucas — ele veio até mim e, após me apertar forte, me deu o beijo mais
carinhoso que eu já havia recebido e que poderia ser o último.

— Quando tudo isso acabar, darei um jeito de retornar — disse e vi-o sorrir descrente.
Provavelmente duvidava que eu quisesse retornar à Floresta Negra, após tudo o que havia
acontecido.

— Preciso ir. Por favor, parta com o seu pai; não fique na cidade! Faça isso por mim — ele
implorou. Apenas consenti com a cabeça em prantos, não queria despedir-me dele.

Assim que me soltou, Bernardo partiu.

Ele teria que se preparar para o que estava por vir, o que eu não estava.

Verifiquei mais uma vez se meu pai já havia retornado, olhando seu quarto por último, mas
continuava sumido. Perguntava-me se ele estava na casa da matilha de Heitor.

Sentei na sua cama e liguei para Michele, precisava ter certeza que ela ficaria distante da batalha
entre as matilhas também.

Assim que chamou, ela atendeu de imediato.

— Alô? Lucas? — ela questionou surpresa, do outro lado da linha.

— Sim, eu mesmo Michele — respondi.

— Como conseguiu despertar?

— Isso não importa. Fui avisar a família de Bernardo, para eles estarem preparados quando
chegar a hora, mas e você, por que está acordada tão cedo?

— Nem consegui dormir, preocupada — respondeu.

— É melhor você não sair de casa hoje, Michele. Não será seguro e não quero nem imaginar você
correndo perigo também — orientei.

— Desculpa, Lucas — ela disse com voz embargada.

— Por que desculpas, Michele? — perguntei nervoso, levantando-me.

— Eu estou com Gustavo, ele agora está fora do quarto, mas eu não consegui ficar distante, não
sabendo que posso perdê-lo. Eu o amo, Lucas — confessou.

— Mas o que você poderá fazer aí? Só estará se colocando em perigo! — intervim, sentindo
minhas lágrimas se intensificarem e o medo de perder mais uma pessoa que amava surgir.

— Não tive oportunidade de te contar, mas nesse tempo em que esteve desacordado, eu treinei
muito minhas habilidades de bruxa, se precisasse um dia usa-las para proteger quem eu amo. Foi bem
difícil descobrir que meu pai havia ocultado isso por toda minha vida, mas eu herdei da família de
minha mãe. Lucas, nossas mães eram amigas — Michele revelou. Ela também chorava muito do outro
lado da linha.

— Como poderiam ser amigas? Minha mãe nunca morou em Floresta Negra — perguntei, confuso
pelo que ela havia me contado.

— Eles mentiram, seus pais moraram por anos aqui antes de separarem, por isso seu pai foi
atribuído como guardião da cidade — ela respondeu, confundindo-me muito. — Lucas, preciso
desligar. Prometo me cuidar, amo você — despediu-se.

— Também te amo, se cuida — disse, sentindo meu peito doer ao ouvir a ligação ser encerrada.
Michele era teimosa, não iria conseguir convencê-la a ir embora.

Por que meu pai havia mentido sobre minha mãe nunca ter morado em Floresta Negra? Por que
ela nunca me contou? O que havia acontecido para ela ir embora comigo? Assim que ele chegasse, eu
iria exigir todas essas respostas.

Não partiria sem descobrir a verdade.

Quando deixei o quarto de meu pai, lá estava ela de novo, a maldita porta.

Aproximei-me dela, essa provavelmente seria minha última oportunidade de descobrir o que ela
guardava, de fato. Então, após verificar que a maçaneta continuava trancada, concentrei-me ao
máximo. Eu tinha que anular o feitiço.

Comecei a sentir que a magia nela estava sucumbindo à minha tentativa, então forcei ainda mais
minha mente a desligar o feitiço de proteção e senti minha cabeça começar a doer. Não parei. Não
demorou e senti uma dor de aguda, que fez-me cair de joelhos no chão.

Respirei fundo e permaneci ali me recompondo por alguns momentos.

Quando finalmente senti que estava melhor, levantei e novamente levei minha mão até a maçaneta
que, para minha surpresa, dessa vez girou, abrindo a porta.

Senti um cheiro muito forte de podridão vindo de dentro, como se houvesse algum animal morto
ali. Entrei receoso, pois não havia qualquer iluminação lá dentro e aparentava ser mais escuro que o
normal, como era em meus sonhos.

Levei minha mão até a lateral da porta e tateei em de um interruptor de luz, mas não havia. Senti
um calafrio subir pela minha espinha ao perceber que teria que entrar mais para descobrir o que
havia ali.

Estava apavorado e com uma forte sensação de mau presságio, mas era a única maneira, não iria
desperdiçar todo o esforço que tive para abrir.

Dei alguns passos para dentro da escuridão e logo esbarrei em algo, fazendo muito barulho. Meu
coração quase saltou com o susto, mas assim que tateei percebi ser apenas uma mesa de madeira,
com alguns livros sobre ela.

Continuei tateando tudo ao meu redor, para não cair ou derrubar e logo senti meus dedos tocarem
uma estante, cheia de livros cobertos por poeira. De fato, era mesmo uma biblioteca, assim como
meu pai havia me dito.

Decidi pegar alguns daqueles livros e levar até o corredor, onde haveria luz para conseguir
enxergar sobre o que eram, mas, após pegar quatro bem volumosos, ao me virar tomei um susto
enorme, deixando-os cair no chão.

Enormes olhos escarlates encaravam-me da escuridão.


Capítulo 27

— Não tenha medo de mim — uma voz grave surgiu da escuridão.

Continuava amedrontado pelos olhos vermelhos cintilantes do dono dela.

— Quem é você? — perguntei dando passos para trás e mantendo distância.

— Vou ligar a luz para quem você veja — respondeu e em seguida bateu palmas, fazendo-a ligar.
— Viu como era fácil acender?

Como meu pai havia dito, aquilo era uma pequena biblioteca, rodeada por estantes com diversos
livros antigos e no centro uma mesa de madeira com mais livros e páginas soltas. Mas o que
importava era o dono dos olhos escarlate em minha frente.

Ele aparentava ser jovem, um pouco mais de 25 anos, era moreno com cabelos negros e também
era grande e forte em seu porte físico. Vestia-se com roupas sujas e aparentava não tomar banho há
tempos, pois mais que tivesse boa aparência.

Exalava um péssimo odor.

— Quem é você? — Perguntei novamente, nervoso.


— Sou Roberto Gasparello — apresentou-se.

— Gasparello? — perguntei confuso. — Você é o pai de Bernardo?

Foi a primeira coisa que me veio à mente, já que ele havia comentado sobre seu pai ter sumido.
Porém, o homem na minha frente não aparentava ter idade para isso, era muito jovem.

— Sim, sou — ele respondeu sério. — Você é o filho de Ângela, não é?

— Sim, meu nome é Lucas Scopelli – respondi nervoso, percebendo que minhas costas já batiam
na estante e não tinha como me afastar mais.

— Eu sabia! Apenas não imaginei que havia passado tanto tempo assim — comentou.

— Você a conhecia?

— Sim, mas já faz muitos anos. Como ela está? — questionou.

— Morta — respondi sério.

Ele pareceu se abalar, ficando alguns momentos calado após minha resposta.

— Quando e como? — perguntou.

— Abril, em um acidente de carro — ele socou a mesa com força. — Eram amigos? —
questionei nervoso e surpreso por sua reação.

— Mais do que isso, nós nos amávamos — respondeu, voltando a me encarar.

— Como assim? Isso não faz sentido, ela me disse que meu pai havia sido o único homem da vida
dela.

— Isso é mentira! Eu e Ângela nos amávamos muito, ela ia separar-se de seu pai, assim como eu
de Leila, para que pudéssemos ficar juntos. Só que então ela engravidou e Lúcio a forçou a ir embora
com ele, para mantê-la distante de mim. Eu fiquei muito abalado, mas como Leila engravidou também
pouco tempo depois, percebi que talvez fosse melhor cada um cuidar de sua própria família —
revelou.

— Mas Bernardo disse que você abandonou-os quando ele era criança — comentei, tentando
entender toda aquela história.

— Sim, pois com o passar do tempo, senti-me sendo consumido por um vazio enorme; sentia falta
de sua mãe. Então, fui atrás dela para dizer que estava disposto a cuidar de ti também e foi quando
tudo aconteceu.

— O que foi que aconteceu?

— Tem certeza que quer saber? Você pode acabar ouvindo algo que não queira — perguntou
encarando-me sério.

— Sim, tenho — respondi nervoso. Por mais confuso que eu estivesse, estranhamente não sentia
que ele estava mentindo para mim.

— Quando cheguei a Porto Alegre e fui atrás de sua mãe, seu pai soube na hora. Dessa vez ele
estava mais irado e antes que pudesse encontrar sua mãe, fui impedido por algum tipo de magia de
imobilização. Ele me levou para um tipo de cabana fora da cidade e lá fui preso e amarrado por
correntes de prata — contou, analisando minha reação. Eu estava muito chocado, não conseguia
imaginar meu pai fazendo algo assim.

— Você está mentindo!

— Desculpa, mas não estou, veja por si só — ele aproximou-se de mim e levou minha mão até
sua cabeça.

Imediatamente minha mente se encheu de rápidas visões e cenas. Vi meu pai atacando-o, ele preso
num local sujo agonizando, as violências que recebia e muito, muito sofrimento. Senti meu estômago
embrulhar.

— Por que ele fez isso? – perguntei, caindo em choro.

— Ele queria fazer testes comigo, ampliar seu poder; foram meses horríveis e de intensa dor, que
nunca cessasse devido à prata. Ele ainda me forçava a alimentar-me para que eu não morresse —
continuou.

— Para o que eram esses testes? — perguntei interrompendo-o.

— Primeiro, testou todo tipo de magias em mim, depois começou a tentar usar seu poder de
manipulação em criaturas sobrenaturais. Durante muito tempo suas tentativas não foram eficientes,
mas com o passar do tempo ele finalmente conseguiu e passou a me manipular para fazer muitas
coisas.

— Que tipo de coisas? — ele hesitou, virando o rosto. — Que tipo de coisas? — insisti, nervoso.

— Lucas, após ele separar-se de sua mãe e vir para Floresta Negra, onde me manteve preso nessa
sala por magia, ele...

— Era você o lobo negro? — interrompi novamente.

— Sim — revelou. — Não sei como, mas naquela noite o feitiço que me mantinha preso caiu,
então obviamente tentei fugir, mas havia outro nível de proteção em torno da casa que me impediu.
Quando vi que havia alguém dentro da casa, achei que fosse seu pai e decidi retornar para ataca-lo,
mas então me surpreendi ao vê-lo. Podia sentir o cheiro de Ângela em você e decidi ficar, para
protegê-lo se necessário — respondeu.

- Me proteger do quê? Do assassino? – questionei.

Ele encarou-me sério.

— Lucas, eu sou o assassino — revelou. — Depois que seu pai passou a me manipular, forçou-
me a matar todas essas pessoas na cidade — Seus olhos voltaram para a cor natural e lágrimas
surgiram em seu rosto. — Ele me forçou a matar amigos, pessoas com quem cresci e estudei. Tive de
atacar até mesmo sua tia, que era como se fosse uma irmã para mim e se não fosse algo que
despertou-me do transe, teria a matado.

Ouvir aquilo havia me impactado tanto que já não conseguia controlar mais o fluxo de lágrimas.
Então ali estava a verdade; fora meu pai o tempo todo, que manipulava outra pessoa para fazer o
trabalho sujo.

— E agora ele vai fazer todos se matarem — comentei, sentindo meu peito doer.

— Tem a ver com a morte do garoto lobo da matilha de Heitor? — ele perguntou nervoso.

— Sim, os Baungarten estão acusando os Gasparellos de serem os assassinos e nessa noite de


Lua de Sangue irão batalhar — respondi.

— Que horas você entrou aqui? – questionou nervoso.

— Eram um pouco mais de 8 horas da manhã. Por quê?

— Você precisa sair agora e precisa contá-los a verdade! — Roberto exclamou. — Aqui o tempo
passa mais lentamente que lá fora, estamos fora da realidade física, os poucos minutos aqui dentro já
se tornaram horas lá fora.

— Eu não sabia disso, vamos, então! Precisamos impedi-los!

— Eu não posso, Lucas. É Lua de Sangue e seu pai é muito mais poderoso do que imagina, ele
pode me manipular novamente ou até mesmo vários de nós ao mesmo tempo. É mais seguro que eu
fique aqui, eu sou um alfa e há magias que ele lançou em mim que me tornam mais forte do que os
outros lobos — revelou.

— Tudo bem, eu vou fazer o máximo para tentar impedir que mais pessoas morram — disse,
saindo correndo dali.

Percebi pela janela que estava anoitecendo e assim que olhei em meu celular, constatei que já
eram quase 19 horas. Desci correndo as escadas, mas estava estranhando o fato de meu pai não ter
surgido, levando em conta que haviam passado horas.

Quando abri a porta e tentei sair, fui empurrado de volta por uma barreira invisível. Tentei de
novo e novamente fui jogado para trás.

Eu estava enganado, ele havia vindo sim e ao perceber onde eu estava, aproveitou para criar uma
magia que me prendesse na casa. Mas, por estar anoitecendo, já começava a sentir a influência da
Lua de Sangue em mim e bastou me concentrar um pouco. A magia em torno da casa quebrou-se como
vidro.

Tentei mais uma vez sair e dessa vez consegui.

Peguei o celular em meu bolso e liguei para Michele.

— Alô? — a voz dela surgiu do outro lado da linha.

— Michele, onde você está? — perguntei impaciente.

— Num tipo de galpão. Por quê?

— Que galpão, Michele? O que está acontecendo aí?

— Seu pai tentou impedir a batalha e não deu muito certo, mas conseguiu convencer para que
ocorresse próximo a esse galpão, onde aparentemente acontecem reuniões. Para que assim ninguém
inocente da cidade saia ferido — explicou.

— Estou indo para aí! Michele, por favor, tente atrasar a batalha e não confie no meu pai —
alertei.

— Por que diz isso? — ela perguntou confusa.

— É ele o culpado, é ele o assassino! — revelei correndo até a garagem, precisaria da bicicleta
se quisesse chegar antes de todos estivessem se matando.
— Você tem certeza? — ela estava chocada.

— Sim, tenho, Michele. Por favor, só atrase essa batalha, não deixe que todos se matem sem
necessidade — implorei.

— Vou fazer o possível, prometo, mas seja rápido, pois os Gasparellos acabam de chegar e tem
muitos — alertou.

— Estou indo, vou desligar – disse, encerrando a ligação e saindo de casa.

Pedalei o mais rápido que podia e em pouco tempo já podia sentir minhas pernas doeram, mas
não podia parar. Eu tinha que parar meu pai a todo custo!

Quando finalmente cheguei, quase uma hora depois, joguei minha bicicleta de lado e aproximei-
me de onde todos estavam. As matilhas estavam diante do galpão, cada uma de um lado, encarando a
outra.

A quantidade de novos lobisomens também era grande, cada matilha estava contando com mais de
30 pessoas, aquilo seria um banho de sangue. Notei que Adrian não estava ali.

Meu pai estava no centro, falando algo com Heitor e Rosângela e assim que me viu aproximando,
percebi pavor e surpresa em seu olhar e veio até mim.

— Lucas, não era para você estar aqui! Vamos embora enquanto eles resolvem os problemas
entre si — disse puxando meu braço para me levar para longe dali.

Apenas o joguei longe de mim emanando uma rajada de vento com a mão e ele bateu as costas ao
cair no chão. Todos me encararam chocados e confusos por eu estar atacando meu pai.

— Lucas, seu pai tem razão. Vá embora, não é seguro — Bernardo alertou, segurando-me pelo
braço.

Soltei-me e fui até o meio de todos.

— Vocês todos, parem o que estão fazendo! — gritei com todas as minhas forças, para que me
ouvissem e consegui a atenção de todos. Meu pai sentou-se no chão e me encarou com um olhar
estranho — Não é nenhum Gasparello ou Baungarten que está matando pessoas na cidade, o culpado
de tudo isso é meu pai, que usou de magia para manipular Roberto Gasparello e causar tudo isso —
revelei.

Todos me olharam surpresos e chocados, principalmente Bernardo; afinal, estava falando sobre
seu pai.

Meu pai começou a rir histericamente no chão e todos o encararam, em busca de alguma resposta,
como se pensassem que tudo não passava de uma brincadeira minha. Ele, então, levantou-se com um
enorme sorriso medonho estampado em seu rosto.

— Aparentemente meu plano de acabar com todos vocês da maneira mais divertida não deu certo.
Mas não tem problema, ainda verei os corpos de todos vocês jogados sobre esse chão sujo essa noite
— ameaçou.

— O que Lucas disse é verdade, Lúcio? — Heitor perguntou irado, aproximando-se dele e pronto
para atacar. Rosângela sinalizou com a mão em suas costas que seus lobos que não fizessem nada e
recuou dos dois. Ela esperaria o momento certo para atacar, ela era uma estrategista.

— Sim, completamente verdade. Eu realmente fiz o papai de Bernardo matar todas aquelas
pessoas e seu filhinho — meu pai respondeu sem demonstrar qualquer intimidação.

Heitor rosnou alto e tentou golpeá-lo, mas meu pai somente levantou a mão e ele ficou
completamente paralisado. Todos os lobisomens de sua matilha começaram a transformarem-se e
ficaram em posição de ataque, em direção de meu pai, mas nenhum se aproximou intimidado.
Michele estava apavorada, ao lado de Gustavo.

— O que v-você está fazendo? — Heitor perguntou com dificuldade.

— Não acelere as coisas Heitor, quero aproveitar bem o que acontecerá essa noite, é minha
grande vingança.

— Por que você está fazendo isso pai? — perguntei chorando. — Nada disso faz sentido, foi só
por que minha mãe ia separar-se de você para ficar com Roberto? Isso não é motivo para vingança!

— Você tem razão, filho, não era motivo suficiente... — ele virou-se para mim. — Algo que
também sempre menti foi a respeito de meus pais, mais exatamente a forma que eles morreram. Acho
que Heitor lembra-se bem de um lobinho de sua matilha chamado Leonel – meu pai aproximou-se
dele. — Por que você não conta a Lucas o que ele fez?

— Leonel era meu irmão — Heitor começou a falar, com seu olhar fixado e paralisado em meu
pai, que fazia questão de encara-lo nos olhos. Percebi que os lobos atacariam a qualquer momento
pra proteger seu alfa. — Após sua primeiras transformações, ele começou a sentir-se poderoso e isso
subiu-lhe à cabeça. Inicialmente ele queria aumentar nossa matilha, então começou a atacar pessoas,
mas quase todos morreram rejeitando a transformação e cada vez que experimentava a carne e sangue
humano, mais desejava aquilo. Então, quando já não tinha mais controle sobre si, em uma noite de
Lua Cheia saiu atacando todos que encontrava pela frente.

— E adivinha o que o atraiu à casa de meus pais? — meu pai interrompeu, voltando sua atenção
para mim. — Exatamente, o doce cheiro de uma família de bruxos, minha sorte era de não estar na
cidade no dia. Meus pais não eram tão eficientes em feitiços e como eu era uma criança ainda, a casa
estava desprotegida. Então o que aconteceu? O lobinho desfigurou e devorou quase tudo dos corpos
deles. Linda história, não é? — Meu pai revelou irônico, fazendo-me enojar. — Por isso todo meu
ódio por lobisomens Lucas. Primeiro tiraram minha família, depois Roberto tentou impedir que eu
construísse uma. Quando soube que iria ser guardião de Floresta Negra, percebi que era o destino me
dando uma chance para ter minha vingança e, para mim, acabar com os Baungarten não era suficiente,
queria acabar com todos. Na verdade, ainda vou.

Ao ouvir aquilo, um lobo sozinho avançou em sua direção, mas com apenas um olhar meu pai fez-
lhe quebrar as pernas e cair agonizando no chão.

— Alguém mais quer tentar? — ele gritou, provocando-os.

— O que você pretende fazer Lúcio? — Heitor perguntou. — Você sabe bem que eu mesmo tive
que executar Leonel devido a esses acontecimentos. Tive de matar meu próprio irmão.

— Não é suficiente, Heitor. E sabe, tenho mais magoa de você do que todos os outros, por saber
que são do mesmo sangue.

— O que você quer Lúcio? — Rosângela questionou, atenta a seus movimentos.

— Já disse, minha vingança — respondeu-lhe — E aproveitarei essa linda noite de Lua de


Sangue, para usar todo meu poder para isso — revelou apontando para o céu, aonde a Lua começava
a receber o tom escarlate.

Rosangela tentou sinalizar algo com o olhar para Gustavo que estava do outro lado, como se
quisesse tentar um ataque simultâneo das matilhas, mas meu pai percebeu e rapidamente virou seu
pulso ao mesmo que o pescoço dela quebrou-se, fazendo com que seu corpo caísse inanimado sobre
o chão; aquilo demoraria em curar.

Houve pânico e todos avançaram em sua direção, mas meu pai estendeu ambos os braços com as
mãos abertas, liberando rajadas de vento que o jogaram para trás, mantendo distância de onde
estávamos.

— Parece que agora é para valer — comentou e também empurrou-me para trás com outra rajada,
fazendo-me bater com força meu ombro no chão, alguns metros longe.

Quando vi, um círculo de fogo se formou em torno dele e as árvores ao nosso redor começaram a
balançar, com todo o poder que estava sendo emanado daquele círculo mágico. Surgiu neblina e o
vento soprava muito forte.

A sensação de mau presságio era intensa e forte.

Fiquei vidrado em meu pai que começou a entoar palavras estranhas, não era latim ou outra língua
que eu conhecia. De repente, senti alguém segurar meu braço e vi que era Michele assustada.

— Olhe — sinalizou apontando para as matilhas.

Foi então que percebi que todos os lobisomens estavam de joelhos e tampando seus ouvidos
afetados pela magia. Seus semblantes eram de dor.

Levantei rapidamente e um pouco cambaleante.

— Precisamos fazer alguma coisa, somos os únicos que não foram afetados — anunciei.
Capítulo 28

Corri aproximando-me de meu pai, que continuava entoando aquelas palavras e Michele me
seguiu.

— O que você está fazendo? — gritei.

— Sabe Lucas, com muito esforço consegui aumentar meu poder de controle mental, mas só
consegui torná-lo eficiente em lobisomens, além de humanos; por isso você dois não foram afetados.
Estou entrando na mente deles e farei eles completarem minha vingança e não me refiro só a
matarem-se entre si, mas saírem de Floresta Negra e executarem todo outro lobisomem que sentirem
o cheiro. Mesmo que só dure essa noite, com essa quantidade de lobos poderei limpar uma boa parte
da região — revelou, sem desgrudar os olhos das matilhas que pareciam lutar contra aquele controle.

— Por favor, chega pai! Isso não é justo — implorei.

— O que não é justo é você interferir em meus planos e defender esses monstros que já tentaram
acabar com a nossa família duas vezes. Você até mesmo se deitou com um deles, Lucas. Tem noção
do quanto me decepcionou? Fingi estar tudo bem para que não percebesse como me sentia em relação
a eles, mas a verdade é que há muito tempo sinto nojo de você — ele desabafou.

Aquelas palavras soaram como uma facada em meu peito, mas não podia perder tempo pensando
em como me sentia, a única coisa certa a fazer era impedir o banho de sangue. Infelizmente meu pai
estava errado e devia ser impedido.

Concentrei-me e estendendo as mãos lancei uma forte rajada de vento ele, a fim de tirá-lo de
dentro do círculo, mas foi inútil, pois o fogo se ergueu, defendendo-o e cortando o ataque.

— Você não irá conseguir me atingir ou entrar aqui tão fácil — ele zombou.

— Mas eu sim — Michele contestou.

Encarei confuso Michele, que parecia decidida.

— O que você vai fazer?

— Isso — respondeu avançando em direção ao círculo mágico. Seu corpo tornou-se translúcido,
lembrando um cristal. — Nessa forma nada pode me tocar ou atingir — revelou, entrando em meio
ao círculo de fogo e parando diante de meu pai, que recuou com alguns passos para trás. — Está com
medo de uma garota? — provocou.

— De você? Jamais! — respondeu cuspindo as palavras.

— Bem, devia — Michele alertou e em seguida passou o braço pela barriga de meu pai,
atravessando-a e em seguida fez retornar à forma original. Meu pai urrou de dor e tossiu um pouco de
sangue. — Avisei — Michele disse, puxando seu braço de volta e retornando à forma translúcida. —
Intangibilidade é um poder muito útil, me sinto a Lince Negra só que mais diva.

— Sua maldita! — meu pai gritou, irado. — Outra traidora da raça que prefere esses lobinhos a
seus irmãos mágicos. E engana-se bonito achando que está protegida dessa forma.

Ele fechou os olhos e concentrou-se.

— Sai daí, Michele! — gritei alertando.

Ela correu para fora do círculo, mas, quando tentou sair, o fogo levantou-se a queimando e
fazendo-a recuar. Ela estava presa e não conseguiria sair tão fácil. Senti o nervosismo tomar conta de
meu corpo ao perceber que ela corria muito perigo presa àquele círculo, junto de meu pai.

— Eu disse, garota! Vocês são só dois bruxinhos iniciantes, como esperam me impedir? Vejam, os
lobos já estão se entregando a meu feitiço — observei as matilhas e ele tinha razão. Alguns ainda
lutavam contra o controle, mas outros já estavam em pé e imóveis com olhares frios, como se fossem
apenas bonecos. — Talvez seu pai não seja tão bom explicando magia, afinal ele é apenas um
humano lixo, mas quando você entra nesse estado, adentra outra frequência; por isso torna-se
inatingível no plano físico. O que eu fiz foi simplesmente levar alguns desses elementos para a
frequência que está. Assumo que isso custou um pouco da minha capacidade mágica, mas graças à
Lua de Sangue, não irá afetar meus planos — explicou.

— Se você tocar nela, jamais o perdoarei — ameacei meu pai.

— Você acha que eu ligo para a opinião de um traidor? Eu posso conseguir um novo filho, que
talvez não seja um veadinho com tesão por rolas peludas. Você apenas os manteve distraídos
enquanto eu planejava o ato final da minha vingança — meu pai cuspiu as palavras com ódio. Tentei
não me afetar com aquilo.

Michele parecia assustada e sem saber o que fazer.

— Michele, atravessa por baixo da terra! — sugeri.


— Você está louco, Lucas? Tá achando que isso é desenho animado? Eu não tenho mínima ideia
de como iria conseguir subir de volta — contestou nervosa.

— Como disse, apenas duas crianças brincando de serem bruxos. Vocês me divertem muito! —
comentou rindo. — Vejam! Todos já se entregaram ao meu controle! — meu pai anunciou e, de fato,
todos já estavam em pé e imóveis, como se fossem apenas seus fantoches. — Querem ver algo
divertido? — ao perceber que não iríamos falar nada, continuou: — Bem, eu quero... Bernardo,
ataque Lucas! — ordenou.

Assustei-me com a ordem de meu pai e encarei Bernardo.

Seus olhos dourados cintilavam mais do que nunca e ele avançou na minha direção com tudo,
mas, antes que me tocasse, fiz uma parede de terra levantar do chão servindo de escudo.

Mas, segundos depois, ele a contornou e me desferiu um forte soco na minha barriga, fazendo-me
cair no chão urrando de dor. Ele era muito ágil.

— Para, Bernardo! — Implorei, soltando lágrimas de dor e medo.

— Ele não pode te responder, seu idiota! Ele apenas faz o que eu mandar, mas a diversão maior
aqui é que ele está consciente lá dentro. Então ele está vendo o que está fazendo com seu próprio
amado — meu pai revelou, rindo.

— Lucas, reage! — Michele gritou.

Vi um golpe se aproximar de meu rosto, mas antes de ser atingido usei o vento para me fazer girar
para o lado, desviando do forte soco de Bernardo que provavelmente acabaria comigo.

Com esforço coloquei-me de pé.

Michele tinha razão, precisava de um jeito de imobilizar Bernardo. Concentrei-me mais uma vez
e conjurei novamente o elemento terra, mas dessa vez em torno dele, prendendo-o numa espécie de
prisão de terra.

Meu pai pareceu surpreso, mas eu sabia que não era totalmente eficiente, pois eram audíveis os
socos que ele desferia lá dentro, contra a terra que o prendia e que parecia ter sua resistência
abalada a cada golpe recebido.

Eu poderia lutar contra Bernardo, mas meu pai estava apenas brincando comigo. Se ele quisesse,
poderia ordenar todos os outros lobisomens a me atacar, tinha que focar nele.
— Lucas, aqui! — ouvi uma voz conhecida chamar.

Assim que me virei, vi minha mãe na Floresta vestida com um vestido branco; ela parecia
nervosa e deveria estar tentando chamar a minha atenção há tempos. Percebi que meu pai e Michele
também levaram seus olhares para onde estava encarando.

— O que tem ali? — meu pai perguntou, desconfiado.

— Somente você e Michele podem me ver, Lucas — ela explicou. — Desrespeitei todas as
regras do outro lado vindo aqui, mas quando consegui passei pela barreira com a ajuda da Lua de
Sangue e vi o que seu pai estava tentando fazer, sabia que deveria fazer de tudo para ajuda-lo a
impedi-lo.

— O que eu faço então? — perguntei desesperado e meu pai pareceu nervoso ao perceber que
estava falando com alguém.

— Só há uma forma de parar tudo isso, filho! Você precisa anular os feitiços de seu pai e para
isso, você precisará utilizar de toda sua energia.

— Tudo bem! — concordei.

— Você não está entendendo Lucas, se fizer isso, as chances de você sobreviver, mesmo com o
poder da Lua de Sangue, são quase nulas — revelou, assustando-me.

Senti minhas pernas estremecerem e meu coração subir a garganta, mas aquilo não era uma
escolha, mas sim uma necessidade. Não ia permitir que tantas pessoas morressem se eu pudesse
impedir.

— Só me diz como faz — pedi.

— Primeiro terá que imobilizar seu pai, impedindo que ele interrompa sua conjuração. Depois
você fará o que sempre fez para anular feitiços, só que dessa vez de forma mais intensa e entregando-
se completamente — ela chorava intensamente.

Como eu iria imobiliza-lo? Assim que voltei a encarar meu pai, vi que agora já não parecia mais
se divertir e estava muito nervoso. Ele devia estar tentando imaginar o que eu faria.

Percebi que Michele havia voltado ao normal, dentro do círculo.

— O que está fazendo? Assim é perigoso — alertei-a.

— Desculpa, Lucas, mas não consigo ainda manter aquela forma durante muito tempo — explicou
nervosa.

Vendo minha preocupação em relação a ela, meu pai a arrastou em sua direção com a ajuda do ar,
segurando seu pescoço.

— Me diga com quem estava falando e o que disseram, senão vou acabar com essa vagabunda!
— ele ameaçou. — Cansei de brincar com vocês, podia tê-los matado com apenas um suspiro, mas
estava decidido a mantê-los vivos ao final de tudo. Mas não me contar o que pedi Lucas, não vou
hesitar.

Senti meu coração acelerar e a indecisão tomar conta de mim.

Se eu contasse, poderia prejudicar o plano; o único que tinha.

— Não conta, Lucas! — Michele gritou.

— Cala a boca, piranha! — meu pai exigiu, levantando-a do chão, ainda segurando seu pescoço.
Ela parecia estava completamente sem conseguir respirar.

— Tudo bem, eu conto, mas primeiro largue-a — disse, decidido.

Ele jogou-a no chão.

— Fala logo!

— Eu tenho mais uma habilidade que escondi de você esse tempo todo, eu posso falar com os
mortos. Quem estavam aqui eram seus pais, meus avós – menti.

— O que eles queriam? — ele perguntou surpreso.

Parecia ter acreditado, mas eu sabia que não poderia simplesmente dizer que eles o mandaram
parar o que estava fazendo; ele não acreditaria.

— Disseram que era um desperdício usar todos esses lobos apenas para matar outros e depois
fazê-los se matarem, quando você pode roubar a vitalidade deles tornando-o mais forte ainda —
menti novamente.

— E como faz isso? — ele perguntou interessado.

— Você tem que apenas vampiriza-los. Quando se faz isso em noites de Lua de Sangue, a energia
e poder roubados se torna permanente para quem o fez — respondi, tentando parecer seguro do que
estava dizendo.
Sabia que se ele fosse vampirizar alguém, precisaria estar muito próximo e isso faria com que
saísse do círculo mágico.

— Apenas isso? — questionou desconfiado. Consenti com a cabeça e ele calou-se pensativo por
um tempo, encarando-me nos olhos, em busca de algo que pudesse revelar que eu mentia. — Bem,
não custa tentar — disse finalmente, saindo do círculo e vindo próximo a mim. Recuei com medo.

Ele ficou diante da prisão de terra, onde Bernardo continuava a socar.

Com um simples movimento de mão, meu pai a fez cair.

— Permaneça imóvel — meu pai exigiu e assim Bernardo fez. — Vamos testar nele — disse,
analisando minha reação.

Naquele momento percebi que podia ter colocado a vida de Bernardo em risco, então fui
completamente tomado desespero, mas tentei demonstrar.

Meu pai aproximou seu rosto ao de Bernardo e então vi a energia vital de Bernardo, que era
azulada, saindo de sua boca e sendo sugada como se fosse fumaça por meu pai. Aos poucos Bernardo
foi ajoelhando-se enfraquecido e meu pai também curvou-se, continuando o vampirismo mágico.

Aquela era a minha única chance de imobilizá-lo, então pensei rápido no que poderia fazer.
Magias como a que usei em Bernardo seriam inúteis contra ele, então naquele momento esqueci que
era bruxo e fiz algo básico e físico, que se tornou eficiente.

Levantei com a ajuda do elemento ar uma pedra grande que havia atrás dele e, rapidamente,
acertei-o com toda força que tinha em sua cabeça, fazendo-o cair atônito. Ele ainda estava
consciente, mas parecia tonto e abalado. Ao perceber o que havia o atingido, me lançou para trás em
um ataque, fazendo-me bater as costas com força em uma árvore.

Ele parecia tentar retornar ao normal, mas claramente sentia muita dor.

— Michele, é agora! — gritei, percebendo que se fosse rápido poderia anular as magias dele.

— Pode deixar — ela respondeu, se jogando contra o círculo de fogo que, dessa vez, levantou-se
mais fraco.

Ela parecia ter se queimado um pouco nisso, mas não ligou e correu até meu pai, jogando-se
sobre e aplicando um golpe mata-leão por trás, para ocupá-lo mais. Ela nunca havia me contado ter
conhecimento em artes marciais, mas tentei não me distrair. Afinal, eu não teria outra chance.
Ao começar a me concentrar, percebi no olhar de Michele que ela chorava por saber o que
poderia acontecer, mas ela me conhecia o suficiente para saber que preferia me sacrificar a permitir
que tantas pessoas que eu amava morressem.

Visualizei todo o poder que ocupava o local, toda a energia utilizada para manter o controle de
tanta gente e me concentrei para tentar dissipá-lo. Logo na primeira tentativa senti tudo ali ser
abalado e meu pai também.

— O que você está fazendo? — ele gritou, tentando se livrar de Michele.

Aparentemente estava com dificuldade de lançar magias daquela forma.

Não respondi e novamente me concentrei, mas dessa vez entreguei-me mais e senti novamente que
um pouco da força da magia havia sido derrubada.

Já estava sentindo-me tonto e exausto, mas lá estavam todos os lobos ainda parados como
fantoches; eu precisava anular aquilo de qualquer jeito.

Lágrimas começaram a escorrer involuntariamente em meu rosto e na terceira e última tentativa,


fiz exatamente o que minha mãe havia dito:

Entreguei-me completamente ao meu objetivo, permitindo que toda energia e forças de mim
fossem utilizadas. Então, dessa vez, senti tudo sucumbir, desde a magia de controle até as magias
elementais lançadas por meu pai.

— NÃAAOOOO! — ele gritou, ao perceber o que havia feito.

Fora a última coisa que consegui ouvir, junto da visão que tive de Heitor e outros homens
avançando em meu pai e atravessando suas garras por todo seu corpo; aquele era seu fim.

Michele e Bernardo correram em minha direção, mas, antes que pudesse vê-los chegar até mim, a
escuridão me abraçou e acolheu.

Entreguei-me completamente, sem medo ou hesitação.

Eu estava satisfeito.

Havia salvado as pessoas que eu amava.


Capítulo 29

— Michele —

Bernardo e eu corremos até Lucas.

Heitor e outros lobos já avançavam em Lúcio, perfurando-o com força com suas garras; aquele
era seu fim.

Assim que cheguei até Lucas, já estava completamente em prantos.

Não podia acreditar que iria perder meu melhor amigo; tentei verificar em seu punho se ainda
havia pulsação, mas estava muito nervosa e tremendo para conseguir sentir algo. Bernardo, ao
perceber, empurrou-me para o lado e ele mesmo o fez.

Encarei-o ansiosa por uma resposta e com medo de qual seria, quando poucos segundos depois
ele socou o chão com força.

— Me fala logo, Bernardo! — implorei.

— Ele está sem pulso. Está morto, porra! —Bernardo revelou, enfurecido.

Senti meu peito ser estraçalhado.

Por mais que sua mãe tivesse dito que aquilo poderia acontecer, eu ainda tinha esperanças dele
sobreviver. Afinal, Lucas sempre se preocupou com aqueles que amava e não era justo ter que
sacrificar-se para impedir os planos de seu pai.

Eu e Bernardo ficamos ali encarando o corpo sem vida de Lucas e ele chorava ainda mais do que
eu. Sequer deu atenção à sua vó, que ainda não havia curado.

— Bernardo! — ouvimos a voz de sua mãe se aproximando até nós. Ele rapidamente secou suas
lágrimas e pegou o corpo de Lucas no colo. — Lucas está bem? — ela questionou, assim que chegou
até nós.

— Ele usou muito da sua capacidade mágica novamente, precisamos levar até o hospital agora —
ele mentiu, para minha surpresa.

— Então, vamos! — Leila disse.


— Não, fique com a vó, eu vou leva-lo no meu carro, preciso ser o mais rápido possível. Então,
resolva as coisas aqui. Vem, Michele — Bernardo falou, carregando Lucas até seu carro estacionado.
Acompanhei calada.

Ele deitou o corpo de Lucas nos bancos traseiros e, assim que se sentou no de motorista, eu entrei
e sentei no de passageiro. Bernardo deu partida em seguida.

— Por que mentiu? — indaguei.

— Porque não vou deixar que ele morra — ele respondeu, dirigindo em alta velocidade.

— Mas ele já morreu, Bernardo! — gritei, ainda em prantos.

— Lucas uma vez disse que seu pai tinha livros de necromancia, nós vamos revirar a casa toda se
necessário para achar.

— E mesmo que a gente encontre, como faremos? Espera que eu seja capaz de trazê-lo de volta à
vida? — questionei nervosa.

Ele não poderia colocar tal responsabilidade em minhas mãos, eu estava aprendendo magia há
menos de um mês.

— É a nossa única opção Michele, precisamos tentar — ele disse, encarando-me com seus olhos
marejados e implorando que eu concordasse.

— Tudo bem, por Lucas, eu tentarei.

Poucos minutos depois já estacionávamos na frente da casa de Lucas.

Descemos do carro correndo e Bernardo novamente carregou Lucas; como não tínhamos chave ou
tempo para desperdiçar, Bernardo chutou a porta com força, arrombando-a. Assim que a porta se
abriu, corremos em direção ao segundo andar, já que lá ficava o quarto de Lúcio, onde
provavelmente deveriam estar esses livros.

Mas, ao chegarmos, havia um homem parado no corredor, que pareceu se surpreender conosco
carregando Lucas. Bernardo parou de imediato.

— O que houve com Lucas? — ele questionou preocupado.

— Está morto, usou toda sua energia mágica e vital para anular os feitiços de controle do pai —
Bernardo respondeu, encarando-o.
O homem pareceu ficar furioso e triste com a revelação.

— Você está procurando livros de necromancia, não está? — ele questionou.

— Sim, estamos. Você sabe onde estão? —Bernardo respondeu, abalado.

— Sei, mas não acho que é uma boa ideia.

— Eu não me importo com o que você acha. Você irá nos ajudar! Você me deve isso por ter
permitido outra pessoa impedir que eu tivesse um pai — Bernardo exigiu, voltando a chorar.

— Tudo bem, você tem razão Bernardo. Fui fraco e peço desculpas por isso, só os deuses sabem
o quanto queria vê-lo crescer e estar sempre ao seu lado — falou, também começando a chorar. —
Eu não deixei de pensar em você um dia sequer. Eu te amo, filho!

Se eu já não estivesse chorando, começaria ao ver aquela cena.

— Temos que ser rápidos, precisamos trazê-lo de volta — Bernardo disse, concentrando-se no
que era mais importante naquele momento.

— Por aqui! — seu pai sinalizou, levando-nos até uma pequena biblioteca que nunca havia visto
ali. — Coloquem-no sobre a mesa — indicou. Bernardo derrubou no chão tudo que havia ali e deitou
Lucas. — Vou encontrar o livro, mas vocês têm que ter certeza do que estão prestes a fazer —
Roberto anunciou.

— O que você quer dizer com isso? — questionei nervosa.

— Para começar, necromancia é magia proibida e como devem saber, há um Conselho Mágico
que controla o convívio entre os seres sobrenaturais. Se descobrirem, terão problemas realmente
sérios — explicou.

— Isso não me importa — Bernardo interrompeu. — Desde que Lucas retorne para mim, eu faço
o que for necessário.

— Ele tem razão, estou disposta a tentar, independente dos riscos! — disse.

Roberto encarou-nos nos olhos e, ao perceber que estávamos falando muito sério, voltou a
procurar pelo livro, até que trouxe um bem velho e com capa marro.

— É esse! — anunciou. — Mas antes de deixa-los ir em frente, preciso falar com os dois,
seriamente, pois acho que vocês não têm mínima noção do que estão prestes a fazer — informou.
— Tudo bem... — concordei, mas Bernardo parecia impaciente. — Pode falar.

— Se a magia realmente der certo, já que dependemos da garota, Lucas poderá retornar diferente,
pois seu espírito já conheceu a escuridão e a morte. Isso pode afetá-lo completamente — revelou.

— Como assim afetá-lo? — questionei confusa.

— O Lucas que vocês conheceram era bondoso e justo, mas o Lucas que pode retornar do outro
lado pode se tornar uma pessoa completamente diferente. É o que a morte faz com a maioria —
explicou.

— Mesmo que ele mude, tenho a certeza que ele merece voltar a viver — dessa vez fui eu que
intervim. Bernardo concordou com a cabeça e com o olhar me agradeceu por estar apoiando-o.

— Se vocês têm certeza, tudo bem, mas há mais coisas envolvidas nisso. Imagino que Lúcio
esteja morto, correto? — perguntou e confirmamos. — Então logo um novo guardião será atribuído à
cidade e como já sabem, necromancia é uma magia proibida. Então ninguém poderá saber o que estão
fazendo, nem mesmo Lucas — ele exigiu.

— Temos que esconder até mesmo dele? Ele não irá lembrar que morreu? —Bernardo questionou
surpreso.

— Os mortos que são trazidos de volta, nunca retornam com lembranças do que aconteceu do
outro lado. A única coisa que trazem consigo são as lembranças energéticas da escuridão e morte que
acabam por conhecer — explicou. — Por garantia, precisamos que Lucas acredite que nunca morreu.
Há mais alguém que sabe da morte dele? — perguntou.

— Não, eu menti que ele ainda estava vivo quanto o trouxe para cá.

— Podemos fazer logo? — perguntei impaciente e nervosa.

Queria trazer Lucas de volta o quanto antes para me livrar daquelas sensações e sentimentos
horríveis. Eles estavam colocando muita pressão sobre mim.

— Tudo bem, mas há uma última coisa que vocês precisam saber: Trazer uma pessoa dos mortos
requer um pagamento e uma vida só se paga com outra — Roberto revelou, encarando Bernardo.

— Tudo bem, eu me sacrifico — Bernardo disse com a voz trêmula.

— Não, você não irá fazer isso. Eu vou — seu pai protestou.

— Não posso deixar fazer isso, não agora que você retornou — Bernardo disse em prantos.
— Ouça bem, filho... Eu amo você e enquanto estive preso sempre me perguntei onde você estava
ou o que estava fazendo; queria poder ter sido presente na sua vida e ter te criado com todo amor que
merecia. Mas, mesmo que eu tenha feito muitas coisas contra a minha vontade, eu estava consciente
lá dentro e vi muitas coisas tristes e revoltantes. Eu ficaria muito feliz em me livrar dessa culpa e
lembranças que atormentam minha mente constantemente, trazendo de volta alguém como Lucas.
Permita-me fazer isso, pois estarei devolvendo alguém que você ama — falou encarando o filho, que
apenas chorava como uma criança, não muito diferente de mim.

Bernardo não soube o que dizer e então somente abraçou o pai com força em despedida. Aquilo
estava sendo o dia mais triste e revoltante da minha vida e ainda não conseguia acreditar no quanto
as pessoas conseguiam ser más.

Quando finalmente soltaram-se, Roberto encarou-me.

— Vou pegar o que precisamos; afastem a mesa e coloquem Lucas deitado sobre o chão —
orientou e nós fizemos o que ele pediu. — Você está preparada? — perguntou e eu assenti com a
cabeça, mas sem tanta certeza disso.

Com o que ele trouxe, formamos um círculo com velas pretas.

Todas foram acesas e no centro ele deitou-se sem camisa, ao lado de Lucas. Entregaram-me um
athame de prata e o livro, que havia apenas uma evocação que eu deveria ler. Também fiquei por
dentro do círculo e o único que havia ficado fora foi Bernardo, que observava tudo nervoso.

— Michele, concentre-se e foque em seu objetivo que é trazer Lucas novamente. Infelizmente,
você que terá que desferir o golpe mortal em meu coração quando chegar a hora, então seja forte! —
Roberto orientou, parecendo muito calmo para alguém que sabia que logo seria esfaqueado por uma
doida. — Bernardo, seja forte e não esqueça que eu te amo — falou encarando-o.

Senti um aperto enorme no peito ao ver Bernardo chorando sem parar.

Iria perder o pai para ter de volta a pessoa que amava.

— Tudo bem, vamos fazer isso logo — falei, percebendo que poderia acabar desistindo a
qualquer momento. Minhas mãos tremiam.

Fechei os olhos e me concentrei no ritual.

Senti meu corpo se conectando a uma outra frequência, uma que era fria e mórbida e quando
finalmente abri os olhos, minha visão só conseguia enxergar o que havia dentro do círculo. Ao meu
redor só havia escuridão e nem mesmo Bernardo se fazia visível mais.

Então comecei a entoar o que no livro estava escrito:

Venite large cantet,

Lady mortuorum,

Dies me et enutries me tenebrae depulsae.

Magne Morrigan,

Deam vitam et mortem,

Magnum reginae

Para meu desespero, nada aconteceu.

— Continue tentando! — Roberto incentivou.

Voltei a ler a invocação, desejando profundamente que meu pedido fosse atendido e quando
estava terminando a segunda entoação, fui interrompida com a visão de um corvo preto entrando no
círculo mágico e transformando-se numa linda mulher com longos cabelos negros, que caiam-lhe aos
ombros como uma capa.

Fiquei estática ao vê-la ali.

— O que está fazendo? Continue o ritual! —o pai de Bernardo questionou.

— Ele não consegue me ver e o que está lá fora, apenas enxerga escuridão —informou com sua
voz sedutora.

Ela estava com um lindo vestido negro, com um decote que exibia seus generosos peitos. Sua pele
era absurdamente branca e seus olhos mais negros do que qualquer Gasparello. Ela era linda e sua
presença fazia-me estremecer, de tão poderosa.

— Você é Morrigan? — perguntei com voz trêmula.

O pai de Bernardo pareceu entender e voltou a se calar.

— Desculpa informar, mas minhas irmãs não se interessaram tanto em vir aqui, mas para sua
sorte, eu sim. Pode me chamar de Badb, sou a mais jovem e bela da Tríade Morrigan — a deusa
respondeu olhando bem para o círculo mágico. — Deviam aposentar esse livro, esse ritual de
invocação é muito cafona e ultrapassado — comentou.

— Desculpa, mas eu realmente precisava chama-la. Preciso de ajuda para trazer meu amigo de
volta — informei.

— Não precisa se explicar, eu sei bem o que estavam fazendo, mas as coisas não funcionam
assim. Tudo bem que esse cara que vão sacrificar é bem gostoso, mas você ainda não tem poder o
suficiente para realizar um ritual desses.

— Então está dizendo que não pode trazê-lo de volta? — questionei nervosa.

— Bem, você jamais seria capaz sem minha ajuda e normalmente nem me importo ou faço
qualquer coisa quando sou invocada, mas por algum motivo você chamou minha atenção. Sua
ambição e vaidade lembram um pouco a mim mesma — revelou. — Então digamos que eu queira
ajudar, porém quero em troca que você se una e seja fiel a mim Michele Kittel. Quero que você seja
uma das minhas representantes no plano físico — Badb propôs.

— Mas você acabou de dizer que sou fraca — comentei confusa.

— Você não é fraca querida, apenas não despertou todo seu poder. Deixe-me que eu lhe mostre o
caminho — ofereceu estendendo sua mão.

— Tudo bem, se me ajudar a trazer Lucas de volta, serei fiel a você e me tornarei forte para
representá-la — disse e segurei sua mão, não tendo total certeza do que estava fazendo, mas se era
necessário para trazê-lo de volta, não havia como negar.

— Perfeito, vamos selar o acordo — Badb disse, aproximando-se.

Assim que ficou a poucos centímetros de mim, trouxe seu rosto até o meu e beijou minha boca,
surpreendendo-me. Não recuei e permiti que ela continuasse.

Seu beijo era suave, mas carregado de uma energia poderosa e eletrizante, que espalhou-se por
todo meu corpo, causando-me uma sensação que jamais sentira antes. Foi inevitável não me arrepiar
complemente.

Não podia acreditar que estava beijando uma deusa.

Assim que se afastou de mim, fitou meus olhos satisfeita.


— Recomendo manter isso apenas entre nós, seus amigos não precisam saber de nosso acordo.
Entendido? — questionou com um olhar intimidador.

— Entendido — concordei nervosa.

— Vamos para o ritual, então. Você ainda precisará perfurar o coração do mais velho com a
adaga — Badb informou.

Aproximei-me do pai de Bernardo, que, ao me ver diante de si empunhando o athame, apenas


sorriu e fechou seus olhos, preparado para o que estava por vir.

Minhas mãos tremiam, mas eu precisava ser firme e forte, não havia mais volta. Então, com força
para que não fosse necessário tentar novamente, perfurei-o bem no coração.

Ele gemeu de dor com o golpe, mas logo pareceu perder a consciência.

Badb afastou-me do corpo em seguida.

Ela ajoelhou-se diante do homem que eu acabara de matar e sugou da boca dele uma energia
azulada. Quando finalmente parecia ter acabado, ela foi até Lucas e abriu sua boca, soprando a
mesma energia para ele.

Assim que ela terminou, levantou-se e observou Lucas, que logo começou a mexer seus braços
demonstrando vida. Respirei fundo, aliviada; havia funcionado.

— Tome cuidado com ele; pessoas que retornam do Reino dos Mortos não costumam ser
confiáveis. Uma boa parte de seu espírito se corrompeu no processo e agora a escuridão habita nele
— Badb alertou, séria.

— Me manterei atenta a isso — disse.

— Partirei, mas logo volto a fazer contato. Esteja preparada! — ela disse e tornou-se um corvo
negro novamente, voando para a escuridão em seguida.

Observei atenta e quando percebi, tudo começou a voltar ao normal ao meu redor e já conseguia
enxergar Bernardo fora do círculo de velas.

Assim que sinalizei em positivo com a cabeça, ele correu até Lucas e constatou que agora havia
vida nele.

— Ele está vivo! Ele está vivo! Ele está vivo! — Bernardo repetiu várias vezes, não conseguindo
controlar sua emoção e lágrimas.
— Não consigo acreditar que eu consegui! — falei emocionada, também caindo em choro. Eu
havia trazido meu melhor amigo de volta!

Alguns segundos depois, Bernardo encarou o corpo sem vida e coberto de sangue de seu pai e
debruçou-se sobre ele, chorando intensamente e inconsolável.

Tentaram nos alertar de que Lucas poderia mudar depois de voltar dos mortos, mas o fato era que,
depois daquela noite, todos nós mudaríamos de alguma forma.

Afinal, a morte nos acompanharia de diferentes formas.


Capítulo 30

— Lucas —

As luzes feriram meus olhos assim que os abri.

Quando finalmente me acostumei à iluminação, percebi que está novamente em um hospital, local
que agora já odiava muito.

Dessa vez, diferente da última, eu não havia estado em um longo sonho escuro; fora como se eu
apenas tivesse apagado.

Olhei para o lado e lá estavam Michele e Bernardo sorridentes encarando-me.

— Quanto tempo? — perguntei, me referindo ao tempo que estive inconsciente, preocupado em


ter perdido outro mês da minha vida.

— Apenas dois dias dessa vez — Michele respondeu e me abraçou com força, quase me
esmagando.

— Você está me sufocando Michele!

— Seja bem-vindo de volta Lucas — Bernardo disse, tirando Michele de cima de mim e me
dando um carinhoso beijo.

Senti as lágrimas surgirem.

Estava feliz por ter sobrevivido.

Fim do Livro 01
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Edição digital: novembro de 2015

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