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— É PROIBIDA A REPRODUÇÃO —
1ª Edição — 2020
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer
meios existentes sem autorização por escrito do autor.
SUMÁRIO
Informações Iniciais:
00. Prólogo.
01. Lady Bramaum? Nunca ouvi falar!
02. A história da Fera.
03. Grosso é o meu p**!
04. Elas não vão acreditar...
05. “... o divórcio veio junto”.
06. Juca é o perigo!
07. Valentina?!
08. A Caça e o Caçador.
09. Nos Braços da Fera.
10. Cheiro de medo...
11. Fique longe do pato!
12. Sabe de uma coisa?
13. Como quebro a maldição?
14. A noite do lobo.
15. Até que o amor o liberte...
16. A ira do predador.
17. Um novo começo.
18. Sobre o Autor:
Informações Iniciais:
Década de sessenta.
— E se eu conseguir?
— Aceito!
Em quinze anos de casamento, ela opinou uma única vez sobre o que
estava acontecendo e, duas semanas depois, me tornei uma mulher solteira.
Do lado de fora, era impossível dizer que a livraria era imensa por
dentro, sem mencionar que trazia um ar aconchegante. O estabelecimento
contava com quatro funcionários e a senhorinha que abriu as portas.
Provavelmente, ela era a proprietária, pois, desde que entrei, a senhora
permanecia sentada no caixa, observando-nos atentamente.
“... caros clientes, o primeiro andar conta com ambiente para leitura,
além de comportar nossa humilde cafeteria”.
Céus! Com esse cabelo grisalho e essa fala rouca, pensei que fosse um
fantasma...
— Que livro é aquele? — perguntei, ainda intrigada com aquela capa
exótica.
— Por que?
— Lady Bramaun.
— Valentina.
Está tão evidente assim? O meu sofrimento pode ser lido com tanta
facilidade?
— Algo mais?
— Entendo...
Voltei para casa, atordoada e com aquele livro em mente. Agora, mais
que nunca, eu queria lê-lo. Esse mistério que rodeia uma história — não só a
do livro, mas, também a da autora — é uma tentação para leitoras como eu.
Parando para analisar. Sinto que fui um pouco descortês quando disse
que nunca havia ouvido falar dela. Se eu soubesse que estava diante da autora
do livro, teria sido mais gentil. Lê-se: mentido, afinal, realmente, eu nunca
ouvi o seu nome.
“Lady Bramaun é, não só uma autora, mas, também uma maga da década dos
anos oitenta. O seu novo romance O Predador captou toda a crítica e o lançamento está
previsto para o fim do mês. — 07 de Janeiro de 1982”.
Respirei fundo.
O celular apitou.
Uma mensagem:
Que pedido?!
Eu não fiz pedido algum! Deve ter sido engano.
Sabe aquela sensação de que o seu lugar é aqui? Esse é o meu lugar.
Um pouco modesto para os padrões do condomínio, mas, para mim,
aconchegante: quatro quartos, sendo três suítes. Dois banheiros sociais. Duas
salas. Uma cozinha com despensa e a sede cerceada por uma imensa área
com muitas plantas, principalmente, orquídeas.
Gargalhamos.
— Se o pai dele não disse nada e deu apoio, quem sou eu para
questionar? — deu de ombros. — O ponto positivo é que se ele trouxer um
homem aqui em casa, não preciso me preocupar com o golpe da barriga. —
disparou em tom brincalhão e emendou: — O único golpe possível seria um...
o quê? Cuzality?!
Explodimos em gargalhadas.
Estufei o peito de ar, me sentindo. Não é todo dia que uma autora que
vendeu cinquenta milhões de exemplares me manda uma dedicatória assim.
[...]
A ambição não é totalmente ruim, desde que, bem dosada. Todavia,
Graves Wolf, o herdeiro do império do café dos anos oitenta, ambicionava
cada vez mais. O homem de rosto perfeitamente simétrico, barba rala e
cabelos que batiam nos ombros, costumeiramente, bagunçados, era
ganancioso por demais.
Lobão arrastou-se até o arcanjo que se enojou e deu dois passos para
trás, sem deixar de encará-lo de forma altiva.
— Vejo que o teu coração já foi tão puro, mas tornou-se sombrio... —
Balthazar ergueu o tom de voz e afinou os olhos. — O dinheiro não lhe fez
bem...
[...]
Pela manhã...
— Q-Quem é você?!
Como é que é?
— Repita.
— O quê?
— Seu nome!
— Graves Wolf.
— Tem medo do que vai ver? — sua voz soou próxima a minha
orelha e outro arrepio subiu por minha espinha.
— N-Não! É só que... Eu não te conheço. É isso!
Dada a sua expressão de pânico, acho que não foi uma boa ideia
assustá-la. A mulher de cabelos negros e lisos, com um corte que batia nos
pés da nuca, olhos castanho-claros, pele clara e corpo no formato de um
violão, disparou pelos cômodos da casa. Eu conseguia ouvir os passos
apressados sumirem e, em seguida, o ruído de panelas sendo reviradas.
— Sim, trouxe.
— Não!
— O que você quer dizer com isso, seu imbecil? — rosnou, tornando
a apontar a enxada em minha direção.
— Nada... — acenei com uma das mãos e lhe dei as costas, indo em
direção a cozinha.
— Não sei.
— Como um homem amaldiçoado, não posso ser morto. Eis uma das
vantagens dessa maldita prisão. — suspirei, passando o indicador sobre o
mármore da mesa. — Apesar do tempo, eu já saí do livro algumas muitas
vezes e isso me deixa atualizado. Segundo as minhas contas, você é a mulher
de número mil.
— Quê?
— A milésima a me invocar.
— Viu, não foi tão difícil, foi? — cruzei os braços e respirei fundo. —
Essa é a sua sina, mas não será longa. Eu costumo ser passageiro na vida das
pessoas.
— Isso mesmo.
— E depois?
— Ah, temos duas opções. — ilustrei com os dedos. — Se você
quebrar a maldição, pode ter uma recompensa e não pergunte qual é, pois
como nunca foi quebrada, não faço a menor ideia. E se não quebrar, são sete
anos de azar.
— V-V-Vou!
— Grosso!
— Bom, esse sou eu e não vou mudar o meu jeito, assim como espero
que você não mude o seu. Gosto da combustão que você exala.
— Roupa de mulher?!
— Pronto.
Como não soaria? A última vez em que meu livro foi aberto, fui parar
na Inglaterra.
04. Elas não vão acreditar...
POR VALENTINA
Apesar da minha crise de risos ter passado, era inegável que Graves
estava mais que cômico. Ele era uma piada ambulante. Também pudera, um
homem de quase dois metros de altura, usando calça legging que bate nas
canelas e uma camisa que está acima do umbigo...
— De vida.
— Imagino que não, mas preciso saber de onde o perigo virá. — disse
sério e eu o encarei por alguns segundos e ele emendou: — Claro, se não
morrermos em um acidente de carro, afinal, você não tira os olhos de mim.
— Não, não é.
— Leia o livro.
— Grosso!
— É o meu pau.
— Comporte-se!
E foi quando, pela primeira vez, notei o quanto suas presas eram
grandes. Pareciam afiadas para serem cravadas na carne de alguém e...
— ... maricona!
— Vamos!
— Nem vai.
— Você não vai matar ninguém! Eu não quero ser presa como sua
cúmplice.
— Acompanhem-me.
Meu Deus!
— A real.
— Idiota!
— É, todo mundo sabe que você é bonito. Agora vamos pagar a conta
e ir embora. — resmunguei, revirando os olhos.
— Au!
— Isso não significa que eu não sinto dor. — disse como se fosse
óbvio.
Confesso que, pela primeira vez, em poucas horas que havíamos nos
“conhecido”, o achei extremamente fofo. O tom de voz era gentil, a
expressão de alegria em seu rosto era palpável e o carinho pelo animalzinho,
transbordava.
“Combinado!”.
“Estou curiosa”.
Elas não vão acreditar... Pensei comigo mesma, imaginando quando
contasse a elas como Graves Wolf apareceu na minha casa.
05. “... o divórcio veio junto”.
POR VALENTINA
Quando Graves fez o comentário sobre ser uma fera em noites de lua
cheia, isso me veio a mente, mas eu estava tão focada em entender como um
homem poderia sair dos livros, que ignorei o fato, mas, agora...
— É para sentir teu aroma. Que boca grande você tem... — Miranda
usou uma voz sexy, fazendo um beicinho.
Sem saber como reagir, engoli em seco e forcei uma risada, fingindo
estar adorando a brincadeira, mas, no fundo, se aquilo fosse realmente
verdade, eu estava em apuros.
— Val? Val?
— Como diz o ditado: o que os olhos não veem, o coração não sente.
— Ariana gesticulou com uma das mãos, erguendo a taça com água.
— Está com ciúmes? — senti seus olhos em mim, mas não o encarei.
— Quem é esse cara que está na sua casa? — mal abri o livro e a voz
de Juca ecou, fazendo o meu coração se acelerar. Ao erguer o rosto, o vi em
minha frente, a poucos passos de distância.
— Vá embora! — gritei.
Aconteceu tudo muito rápido. Quando vi, Graves havia erguido Juca
pelo pescoço com uma das mãos. Os seus olhos estavam diferentes;
tornaram-se vividos e brilhantes.
— Dê-me uma única razão para eu não rasgar a sua garganta com os
dentes? — rosnou, furioso.
Juca não teve outra opção e soltou a arma, para tentar se livrar da mão
que o sufocava, enquanto ele se debatia.
— Você não vai querer descobrir. — parou na frente de Juca e lhe deu
um soco de direita, derrubando-o. — Aproxime-se dela novamente ou a
ofenda e eu vou te desmembrar vivo. Será um prazer te eliminar.
Por alguma razão, gosto mais dos animais do que das pessoas. Em
particular, os cachorros sempre foram os meus preferidos. São fiéis, honestos
e carinhosos.
Antes mesmo de ser preso nos livros, eu já era amante dos bichos.
Lembro-me de uma vez que dei um tiro no traseiro de um cara que estava
maltratando uma égua. O animal estava cansado, puxando um maquinário
pesado e ele sapecava seu lombo com o chicote, sem dó.
Bons tempos...
Perigo!
Quantas mais virão? Até quando seguirei nessa sina? Não é que seja
ruim. Eu realmente me sinto bem em ajudar todas as mulheres que surgem no
meu caminho, mas, chega um momento, em que eu gostaria de ter um lugar
para ficar e, talvez, alguém para acordar todos os dias ao meu lado.
Cada vez que saio do livro, isso me soa tão distante, ao ponto de essa
ideia não passar de uma mera fantasia. Ambição demais, até mesmo para
mim, Graves Wolf.
— É...
— Sim!
— Você não vai fugir. — ela jogou água novamente, dessa vez, me
acertando.
— Desse jeito, vou ter que entrar na banheira também. — sugeri. Seu
rosto corou imediatamente e, Valentina, afundou aos poucos na banheira,
deixando apenas os olhos de fora. — Eu não mordo... com força. — joguei-
lhe uma piscadela.
Um fato interessante sobre mim é que todos os meus sentidos foram
aguçados: audição, visão, tato, olfato e paladar. Provavelmente, se deve ao
fato do que me tornei. E, por essa razão, eu conseguia ouvir o coração de
Valentina palpitar sem parar.
— Eu já estou bem.
Sem dizer nada, ouvi quando ela deixou a banheira. Assim que me
virei em sua direção, meu rosto parou a poucos centímetros de distância dos
seus e, quando nossos olhos se encontraram, vi suas pupilas dilatarem e ouvi
seus batimentos cardíacos ficarem cada vez mais altos em minhas orelhas,
como tambores batendo, anunciando o prelúdio do ritual de acasalamento.
Durou alguns segundos, até que ela se afastou e saltou dos meus
braços para a cama. Ri sozinho e mordi os lábios, mirando-a de costas para
mim.
— O-O-Obrigada...
Eu não precisava ver seu rosto para ter absoluta certeza de que ele
estava completamente avermelhado.
POR VALENTINA
A única coisa que se passava pela minha cabeça era que sensatez não
cabia ali. Quer dizer, por qual motivo pensar que ele pode simplesmente
entrar no livro e nunca mais volta? Não é?
Após o jantar, fomos dormir. Não era bem o que eu imaginava, mas...
— Ok, não está. — ele respondeu, sorrindo outra vez, sem sequer se
dar o trabalho de abrir os olhos para conferir o quão furiosa eu estava.
[...]
“Não importa a situação, ele irá defendê-la até o fim. Ainda que elas o
vejam como um objeto de prazer, enquanto Graves Wolf, o Lobão, estiver ao
seu lado, ele será o seu defensor”.
— E a garota?
[...]
— Valentina?!
— O que foi...
Como um homem pode ter algo tão grande, mesmo mole, entre as
pernas? O pior é que o seu pau é esteticamente bonito. A glande avermelhada
exposta e as bolas inchadas, sem pelos.
— Eu disse!
— Acordou, papai? Você está com fome? O papai vai colocar ração
para você. — disse e ao me espiar, afinou os olhos. — O que foi?
— Vou me explicar a Clara antes que ela pense que isso aqui virou
um puteiro. — acenei com uma das mãos e apressei-me para fora do quarto.
— Clarinha...
— Sim!
— Normal.
Mentira! Sempre que eu o via nu, meu corpo fica todo aceso e se
havia uma frase que pudesse me definir, era: se eu sento, nem guindaste me
tira de cima.
— Tem?!
— Por qual outro motivo ele escolheria passar uns dias na sua casa?
Bonito como é, ele poderia se hospedar na casa de qualquer uma, mas, não,
ele está na sua casa, Valentina. Esse papo de ex-mulher não me convence. Ele
quer o seu corpo. — soltou risadinhas.
Seria catastrófico!
Desde que nos conhecemos, Miranda sempre fazia essa piada e nunca
perdia a graça.
— Ele tocou em você? Fez algo? O que ele disse? — Miranda rosnou,
me fazendo ouvir sua respiração furiosa do outro lado da linha.
— Não, ele não fez nada além de me ameaçar. Disse que me viu com
outro homem na cidade e queria saber quem era. E começou com aquela
conversa de que não iria me deixar gastar o seu dinheiro com homem e blá
blá blá...
— Ele jura que construiu o que tem sozinho? Se não fosse você
fazendo a contabilidade dos supermercados, ele já teria falido há anos!
— Eu sei...
— E depois disso?
— Ok.
— Beijos.
Depois do almoço...
— Eu entendo que tudo isso seja estranho para você, mas sair dizendo
a verdade por aí, vai te garantir uma vaga com os malucos de verdade. —
joguei-lhe uma piscadela, fazendo-a revirar os olhos.
— Também acho.
— Ainda não.
— Obrigada. — assentiu com a cabeça, encheu os pulmões de ar e
disparou: — Eu não te suporto.
— É uma reserva.
— O quê, Graves?
— Uma cachoeira.
— Imagine que lindo deve ser algo que não foi tocado pelo homem?
— tombei a cabeça para o lado, imaginando águas cristalinas, sem sujeira,
como um paraíso no meio da mata. — Ah, deve ser perfeito... — suspirei.
Parecendo captar meus pensamentos, Valentina parou por alguns
instantes e um sorriso bobo surgiu em seu rosto.
— Ora, vista uma calça, uma camisa de manga longa e leve roupa de
banho. Seria um pecado não dar um mergulho na cachoeira. — assenti com a
cabeça e ela respirou fundo, parecendo indecisa. — Prometo te proteger.
— Você não parece tão idiota quando fala com ela... — espiei-a
rapidamente.
— Pronta.
— Ok.
A mata batia na altura das canelas e as árvores não eram tão juntas,
proporcionando uma caminhada confortável. Em determinado ponto, saquei o
facão que havia pegado no barco e abri caminho, até que encontrei uma
trilha.
— Pelo visto, não somos os únicos que vem aqui. — espiei-a por
cima do ombro, percebendo-a olhando em uma direção. — O que foi?
— Pensei ter visto algo, mas acho que não é nada... — aproximou-se,
colando atrás de mim e eu me segurei para não gargalhar.
— O que foi?
— Suba.
— Hã? Porquê?
— Não! — murchei.
— Não grite. — disse a Valentina, que levou uma das mãos a boca,
abraçando-se ao tronco da árvore.
— Quer tocá-la?
— De jeito nenhum!
— Ok.
— Eu ensino.
Ela fez exatamente como pedi. E então, dei algumas braçadas, indo de
um lado a outro.
— Se não?
— E se for venenoso?
Graves uniu os lábios e levou uma das mãos ao meu rosto, tocando-o
com carinho. E, sem dizer nada, aproximou os lábios dos meus, encostando-
os de forma carinhosa, esperando que eu o correspondesse e por mais que eu
lutasse contra meus instintos, foi impossível resistir aquele homem.
Era algo inteiramente novo para mim e que despertava um lado meu
que eu ainda não conhecia. Automaticamente, deslizei as mãos por suas
coxas grandes e firmes e subi com elas até o seu peitoral, tocando-o.
O seu corpo era um colírio aos meus olhos e o seu cheiro, misturado
ao aroma de sexo, era como um elixir que fazia minha boceta clamar por seus
lábios.
A minha pele estava molhada, com o pré-gozo que sua rola expelia e
quando ele se ergueu sobre os joelhos, o seu pau trouxe consigo, a parte de
cima do meu biquini, esticando-o. Ajudei-o a tirar e quando dei por mim,
estava com a cabeça tombada para trás, segurando os seus cabelos, enquanto
o sentia chupar meu seio direito e esfregar a mão por cima do tecido, que
protegia a parte de baixo.
— Mandei pedir!
— Com prazer.
Imaginei que fosse doer, mas Graves foi gentil; começando devagar,
até afundar-se dentro de mim. Mordi seu ombro e gemi baixinho. Ao mirá-lo,
ele se afastou, apoiando ambas as mãos para trás, sem deixar de esboçar
aquele maldito olhar cativante e que por alguma razão, me deixava ainda
mais sedenta.
— Ah... — ele gemeu, segurando meus cabelos com mais força que
antes e envolveu-me em um beijo, lento e calmo.
Clara passou os olhos por nós dois e seus olhos pareciam querer falar
algo, mas, seja lá o que fosse, ela não disse.
— Quê?!
— Sei bem o que ela vem fazer aqui... — revirei os olhos e respirei
fundo.
Um homem que saiu dos livros. Um homem que tem uma missão:
proteger uma donzela em perigo. No caso, eu. Um homem que tem os dias
contados para ficar aqui.
Por mais que eu quisesse, seria impossível me envolver com ele. Não
que tenha sido amor à primeira vista, é só que, Graves Wolf, o Lobão, é um
homem tão único e interessante que, sinto que se eu não tentar tomá-lo para
mim, vou perder a chance da minha vida, mas quando paro e volto a
realidade, dou-me conta de que estou vivendo dias impossíveis.
[...]
— Socorro!
— Não a odeio, mas não vou dar metade do que conquistei ao longo
da minha vida a ela. — o outro, um pouco maior, de costas para minha
direção, respondeu.
— Meu Deus! — levei uma das mãos a boca, sentindo meu corpo ser
tomado pelo pânico, com as primeiras lágrimas descendo pelo meu rosto. —
Sou eu... — murmurei baixinho. — Sou eu...
[...]
Por instantes, quis rir com tamanha fofura, mas o pesadelo que eu
havia acabado de ter, ainda estava impregnado na minha cabeça, impedindo-
me de esboçar qualquer reação além de receio e preocupação.
Lembro-me de que quando era criança, Clara dizia que sonhos eram
desejos adormecidos e pesadelos eram avisos de que algo ruim está prestes a
acontecer. Talvez fosse apenas uma história para criança, mas, dessa vez,
pareceu tão verdadeiro que eu achei que estava mesmo ali.
— Dormiu bem?
— Ah sim.
— Normais. — menti.
Não mesmo!
Sentamo-nos no sofá.
— Eu o conheço?
Do que adianta riqueza se isso, por si só, não traz felicidade? Apenas
amor faz um casamento feliz.
— Graves Wolf.
— É, um pouco.
— N-N-Não...
— Fui lhe dar bom dia, mas não imaginei que fosse me deparar com
um homem nu ao seu lado. — cruzou os braços e começou a balançar a ponta
do pé.
— É apenas preocupação.
— O que não é natural é querer tomar decisões por mim, como vir até
aqui para me aconselhar a voltar com um homem que me agredia de forma
física e verbal. — ergui o tom de voz e ela engoliu em seco.
— Os dias com o seu pai não eram dos melhores, mas eu precisava te
criar, te dar um futuro. Era uma manhã de domingo quando ele infartou e
caiu morto na cozinha... — comentou.
O meu pai morreu quando eu tinha oito anos e ele era um homem
gentil e um pai maravilhoso. Apesar dos negócios, ele sempre tinha tempo
para me colocar na cama e ler para mim antes de dormir.
Por instantes, ela ficou pensativa, em silêncio, até que sua voz voltou.
— Você pode pensar que eu não te amo ou que não tenho coração,
mas já vi homens poderosos em situações parecidas com a de Juca,
cometerem loucuras... — disse baixinho, segurando uma de minhas mãos
com força.
Dona Isidora Duran sempre foi uma mulher forte e, em raras ocasiões,
vi seus olhos lacrimejarem. Antes, eu não entendia a sua insistência em me
manter naquele relacionamento, mas, agora, tudo havia ficado claro.
— Está tudo bem? — a voz máscula nos fez olhar para trás, em
direção as escadas.
Graves.
— É um negócio de família.
— Minas Gerais.
— Ah... — ela soltou o ar dos pulmões, meio sem jeito. — Achei que
estivesse falando de Juca.
— Não se preocupe com ele, dona Isidora. A sua filha está segura
comigo. Eu garanto.
— Espero que você esteja certo...
Foi o prazo da mãe entrar para que a filha saísse e, como quem não
quer nada, Valentina aproximou-se, com as mãos unidas, balançando-se entre
um passo e outro.
— Oi.
— Durou pouco.
Quando ela ficava furiosa, algo acendia dentro de mim. Era como se o
meu corpo clamasse pelo dela. Eu queria tocá-la, beijá-la e fazê-la minha.
— Amo.
— Prometo caprichar. — assentiu com a cabeça.
— Quer que eu pague pela minha estadia? Pela sua comida? — ergui
as sobrancelhas e antes que ela respondesse, comecei a tirar a camisa. — Vai
gemer a noite inteira.
— T-T-Tá.
Tal pai...
Depois de um tempo, ela veio até mim, parecendo entediada. Sem
dizer nada, acompanhou-me com os olhos, fazer a poda de algumas
hortaliças.
— Qual o motivo?
— Sério?
— Uau!
— O bolo! — disse Clara, que trazia uma bandeja com bolo e leite
achocolatado, rompendo a visão maligna diante de mim.
É como dizem, uma mulher de barriga cheia não quer guerra com
ninguém...
— Obrigada.
Por que iria rir? Seus olhos testemunharam o que digo ser.
— Hum?
— Sim, estou.
— Quê?
— O problema não são seus olhos, mas onde eles param sempre que
você conversa comigo. — e fazendo um beicinho, apontou para baixo; na
direção do seu pau.
— Escuta aqui, seu atrevido... — apontei o dedo em sua direção e ele
deu um passo à frente.
— Estou ouvindo.
Antes que seus lábios chegassem ao meu umbigo, ele subiu com a
boca, mordiscando o meu queixo. Em seguida, chupou meus lábios sem
pressa, puxando-os contra si, enquanto apressávamos em nos despir.
— E-E-Eu...
— Ah... — ele gemeu, deslizando uma das mãos pelo meu corpo,
enquanto usava a outra para massagear o meu clitóris com a ponta dos dedos.
Graves, por sua vez, já havia me deliciado com duas gozadas e, dessa
vez, quem parecia incessante era eu, não ele. Aumentei o ritmo, quicando
com força, ao ponto de ele tombar a cabeça para trás, gemendo
constantemente, até que senti o meu corpo ser tomado pela mais pura
sensação do prazer.
— Ainda é.
— Não sei.
— Eu sinto uns negócios bem estranhos quando estou com você, tipo,
agora... — confessei, meio que sem jeito.
— Estranhos como?
Recuso-me!
— Para que você saiba que, pela primeira vez, vou sentir tristeza em
partir.
— Às vezes, eu me esqueço.
— C-C-Como assim?
— Complicada como?
— O lobo está adormecido há um bom tempo, ou seja, está sedento.
— e dizendo aquilo, ergueu o indicador. — Por isso, vamos estabelecer
algumas regras.
— Farei isso...
Sei que ele está aqui para me proteger, mas se deparar com a
personificação das lendas, não me soa nada atrativo. Pode soar rude, mas eu
não quero conhecer a fera que habita em você, Graves Wolf...
13. Como quebro a maldição?
POR VALENTINA
Por que isso agora? Esse aperto no peito com a ideia de ele partir e
eu nunca mais vê-lo?
No fim das contas, tudo é tão estranho. Ele surgiu do nada e vai
embora do nada. Não é nada disso que está parecendo... É só que, talvez, eu
sinta falta da sua companhia, arrogância e das nossas brigas diuturnas.
Eu precisava espairecer.
Delicioso!
— Acho que ele já deve ter lhe dito que as mulheres nunca o viram
como algo além de prazer passageiro, afinal, o homem do livro amaldiçoado,
sempre retorna para o livro.
Juca.
— Isso é obra sua, não é? — senti meu corpo inteiro fervilhar de ódio.
— A senhorita pode dizer isso ao delegado. Até lá, ele está sob a
custódia da polícia.
Cega pela raiva, não vi quando fui em sua direção. Quando voltei a
mim, pisquei algumas vezes, vendo Juca caído no chão, passando as mãos na
boca ensanguentada. Ao olhar meu punho, ele estava cortado.
— Não te matei da primeira vez, mas não vai ter uma segunda, Juca
Pompeu. — adverti-o e segui pisando duro rumo a porta principal. —
Apareça na minha propriedade mais uma vez e eu te mando para o quinto dos
infernos. — disse, furiosa, sentindo todo meu corpo tremer.
Não era só raiva. Havia medo, mas não só em mim. A expressão nos
olhos de Juca, deixava claro que, agora, mais que nunca, ele pensaria duas
vezes em tentar fazer qualquer coisa comigo.
— Assassinato.
— Deus...
— Na maioria das vezes, o dinheiro fala mais alto que a justiça, Clara.
— engoli em seco, tratando a situação com sensatez.
— Quantos?!
— Corrupção.
A delegacia contava com seis celas, mas apenas duas, além da minha,
estavam ocupadas. Uma com um único preso, encolhido no canto e outra com
outros três.
— Ei, ei...
— Está vendo esse cara que está na cela em frente a sua? Ele é um
maldito estuprador. Abusou de uma garotinha de dez anos.
Isso foi uma ameaça? Eu deveria clamar pela minha vida agora?
Pobrezinho, não sabe o que a noite lhe reserva.
— Senhorita Duran...
— Valentina... — imitei-a.
— Entediado.
— Sentiu ou não?
— Ótimo. Quando for dormir, não a deixe dormir sozinha. Ela não
gosta.
Havia uma hesitação e receio em sua expressão. Por mais que ela
soubesse exatamente o que eu era, ela se importava. E, isso me fez sentir algo
que eu não sentia há muito tempo. A sensação de alguém se lembrar de mim,
de me querer bem.
— Confio.
O meu coração acelerou-se e senti o meu corpo ser tomado pela ira.
Segurei as barras da cela e centrei meus olhos nos dele.
— Dona Maria não tem culpa de ter o filho que tem. — suspirei,
mantendo-me de braços e pernas cruzadas, com as costas coladas na cadeira.
E, por instantes, tombei a cabeça para trás, mirando o céu. — Não consigo
parar de pensar que isso tudo é culpa minha.
— Vou fazer aquela torta de limão que você adora. — fez um “ok”
com as mãos e adiantou-se, cheia de empolgação, rumo à cozinha.
— Obrigada. — agradeci.
— Se tiver que acontecer algo, vai acontecer com ou sem você aqui.
— fui objetiva quanto as suas preocupações. — E, caso eu precise correr, vai
ser mais fácil se eu estiver sozinha.
[...]
— Vão! Vão!
Apesar de não ter sido preso pela primeira vez, ter a cabeça cortada
seria um evento inédito. Passei os olhos pelo lugar e mirei a garota, toda
ensanguentada, como se tivesse tomado uma surra.
— Quem disse que eu não posso protegê-la? — senti o meu corpo ser
tomado pela raiva e as correntes se despedaçaram.
[...]
“Não fosse o sacrifício de ter se tornado uma fera durante o dia, talvez, Graves tivesse sido
liberto, pois, aquela garota, Lissandra, o amou como um pai e ele, a amou como uma filha.
Seja como for, o predador ou como dito por ele, a justiça do arcanjo, segue a sua sina, até
que o verdadeiro amor, aquele que aquece o seu coração e o faz suspirar, o liberte”.
O meu coração palpitava sem parar. Sim, eu estava com medo. Como
não teria?
— Coloque-a no chão!
Prometeu me proteger...
— Jogue esse bicho fora. — pegou pantera, ainda quente das minhas
e a arremessou novamente, na varanda.
Tentei me debater, mas não tive sucesso. Os capangas de Juca me
seguraram e depois de me amarrar, colocaram uma mordaça na minha boca e
me jogaram no banco de trás da camionete.
Supliquei por sua ajuda em pensamento. Ainda que ele não pudesse
me ouvir, repeti a mesma frase mentalmente, várias e várias vezes.
16. A ira do predador.
POR GRAVES WOLF
Posso mentir para os outros, mas não para o meu coração. A partida
será dolorosa, mas a minha missão ao seu lado estaria completa. Ela cresceu e
se tornou mais segura, mais decidida e aprendeu a sorrir de forma
verdadeiramente bela e isso, por si só, é o suficiente para me deixar feliz.
POR VALENTINA
Não demorei para constatar que aquele líquido que havia encharcado
a minha roupa, era gasolina. Ainda inerte com aquilo, passei os olhos ao
redor. Aparentemente, eu havia sido levada até a prainha — que não ficava
muito longe da minha propriedade. Havia, ao menos, dez homens armados,
em completo silêncio, ao redor de uma fogueira, próxima a nós.
Suas palavras foram cortadas quando algo saltou por cima das árvores
e pousou na areia. O impacto das suas patas, mesmo em terreno volúvel,
causou um estrondo. Era duas vezes maior que um homem. A pelugem negra,
num tom fosco, brilhava sob a luz do luar. O focinho alongado, exibia uma
boca repleta de dentes. O lobo estava ereto e seus olhos amarelados e
brilhantes, miravam-me.
E, mirando a lua, o lobo fez um uivo aterrador ecoar. O som dos tiros
começou e a fera, finalmente se moveu. Era rápido demais para que os meus
olhos pudessem acompanhar os seus movimentos. Uns tentaram revidar com
balas, enquanto outros, percebendo a sua ineficácia, mergulharam no rio, sem
sucesso, pois o lobo os perseguiu.
Esse era o momento que eu tanto temia. Ele estava partindo e eu não
podia fazer nada. Estava além do meu alcance. Por mais que o livro ensinasse
como quebrar a maldição, eu havia falhado...
Demorei para me dar conta de que ele não iria voltar, mas quando
constatei o inevitável, respirei fundo e coloquei-me de pé. Apesar de estar
com o coração partido, eu jamais o esqueceria.
O caminho até o rancho levou quase uma hora a pé. Passei os olhos
pela varanda e pantera havia sumido. Ao entrar em casa, iniciei a minha
busca pelo livro de “O Predador”, mas não o encontrei.
Arcanjo Balthazar?!
Pisquei algumas vezes, vendo figuras surgirem atrás das nuvens. Que
vozes são essas? O que está acontecendo? Será que o livro se enganou e me
mandou para o inferno?!
— Olá, Arcanjo.
Ele estava diferente. Quando o vi pela primeira vez, a sua figura não
ostentava tamanha divindade, mas, agora, usando uma armadura reluzente,
com uma espada maior que meu braço na cintura e uma coroa na cabeça. Não
há dúvida; trata-se de uma criatura celestial.
POR VALENTINA
— Sim, mas segue sendo mais minha que sua. — ele resmungou e eu
o soquei de novo.
— Au!
Graves me explicou tudo o que aconteceu, desde quando ele viu, pela
primeira vez, o arcanjo que o castigou, até quando ele lhe disse que deixaria
tudo no lugar, para que ele pudesse seguir com a sua nova vida, após
quarenta anos de castigo.
— Sim.
— Sério?
— Ah... — acenei com uma das mãos. — Ela deve ter pago pelo
horário.
— Não vamos nos preocupar com nada que ficou no passado, ok? —
disse Graves, selando os meus lábios.
FIM.
18. Sobre o Autor:
RODOLPHO SOUSA TOLEDO, mais conhecido como Tom
Adamz. O autor atingiu a marca de dez milhões de leituras na Amazon.
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