Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MAYA HUGHES
ÍNDICE
1. Emmett
2. Avery
3. Emmett
4. Avery
5. Emmett
6. Avery
7. Emmett
8. Avery
9. Avery
10. Emmett
11. Avery
12. Emmett
13. Avery
14. Emmett
15. Avery
16. Emmett
17. Avery
18. Emmett
19. Avery
20. Emmett
21. Emmett
22. Avery
23. Emmett
24. Avery
25. Emett
26. Avery
27. Emmett
28. Avery
29. Emmett
30. Emmett
31. Avery
32. Emmett
33. Avery
34. Emmett
35. Avery
Epílogo
1
EMMETT
— Você vai na nossa formatura, não é? — Heath patinou para o meu lado e
pousou as mãos em seu taco de hóquei.
O suor escorria em mim, fazendo com que as proteções leves sob a
minha camisa grudassem na minha pele. As temperaturas congelantes da
pista não faziam nada para contrabalançar o treino pesado pelo qual todos
nós nos submetemos. Obviamente como punição para os comilões,
deixamos Heath liderar o ataque.
— Sim, tenho a formatura da Rittenhouse Prep, porém estou tentando
me livrar disso. — Alyson, a irmã mais nova de Avery, estaria se formando.
Eu odiava que ainda sabia disso. Muito do meu tempo junto com Avery
ainda estava enraizado em minha mente, como o aniversário dela sendo
apenas um dia antes do meu em julho… O fato de que ela separava os
Skittles amarelos e verdes do resto do pacote… Como demorava cinco
minutos para comer um único Kit Kat por causa da forma como ela
desmontava a coisa toda, comendo parte por parte antes de lamber o
chocolate dos dedos – se eu não conseguisse pegar primeiro.
— Isso é por causa Daquela-Que-Não-Deve-Ser-Nominada? — Heath
se inclinou para trás, se preparando e abrindo caminho para minha habitual
fuga desesperada para toda e qualquer menção a Avery. Fios de seu cabelo
loiro estavam grudados em seu rosto.
Eu assenti severamente.
— Algo do tipo. Mas posso ir à sua formatura.
Eu precisava parar de deixar as merdas com Avery me afastar dos meus
amigos. Isso só iria piorar. A namorada do Declan, Makenna, era amiga de
Avery, o que significava que havia mais chance de eu me encontrar com ela.
Se nossa guerra fria continuasse, eles iriam começar a me excluir, parar de
me convidar para as coisas já que eu não estava por perto de qualquer
maneira, e antes que eu percebesse, eu me sentiria um estranho com os
caras.
Não vai acontecer.
— Você não precisa fazer isso. Essas coisas são chatas pra caramba –
não queremos te forçar a passar por isso. Só queríamos saber se você
poderia estar por perto para a festa. — Ele pegou uma das garrafas d’água
do banco e espremeu o líquido na boca. O restante dos caras estavam
deitados no centro do gelo, mal conseguindo se mover.
— Eu quero ir. Quero estar lá, e me avise se você quiser fazer uma festa
de formatura. Vou cuidar de tudo. — Bebi um pouco de água quando uma
lâmpada acendeu na minha cabeça. A ideia me atingiu tão rápidamente que
balancei minha cabeça e engasguei. A tosse que queimava os meus pulmões
arrancou algumas risadas sem fôlego dos caras que se levantavam
lentamente do gelo. — Talvez pudéssemos alugar algo durante o verão. É a
única época que todos nós temos uma folga, e seria uma ótima maneira de
comemorar.
— Emmett, eu não te contei isso para que você oferecesse algo e
pagasse a conta. A gente não quer te extorquir. — Ele tirou o capacete e o
jogou no banco, bagunçando o cabelo.
— Eu sei. Em alguns meses, quando vocês receberem seus primeiros
salários, não vai ter diferença. Você pode me pagar de volta. Estou fazendo
isso porque não tenho estado muito por perto. Pense nisso como um
presente de formatura. — Esse poderia ser o verão do século: uma casa de
praia foda, um bar ridiculamente super abastecido, curtindo como nos
velhos tempos, todo o bolo de funil que poderíamos comer. Sempre foi o
preferido de Avery – eu balancei minha cabeça. Pare!
— Em…
— Está resolvido. Me fale as datas que eu cuidarei de tudo.
— Cara, se acalma. Podemos fazer a coisa da casa de verão. É uma
ótima ideia, mas vamos resolver isso. Vamos juntar o nosso dinheiro e todo
mundo dar uma parte. Ok? — Ele apontou para os caras patinando em
nossa direção.
— Mas…
— Sem mas. Fazemos assim ou vamos roubar seus cartões de crédito e
destruí-los.
— Ok, tudo bem. Vou contribuir com apenas a minha parte. — Eu
pegaria todas as informações pessoais deles e pagaria antes que eles
conseguissem, e então me recusaria a receber o dinheiro deles. Grana não
importava para mim. Nunca importou, exceto pelo que eu conseguia fazer
com ela. Ajudar as pessoas me fazia sentir como se eu pertencesse ao
grupo, como se elas precisassem de mim para algo. Cuidar das coisas que as
pessoas precisavam com meu dinheiro se tornou minha segunda natureza.
— Contanto que você saiba que não precisa.
Ele soltou um longo suspiro de sofrimento como se eu estivesse pedindo
um rim, não se oferecendo para financiar um verão cheio de festa para
comemorar sua conquista e a primeira vez em anos que todos nós ficamos
juntos por mais do que alguns dias.
— Claro.
2
AVERY
EMMETT
AVERY
EMMETT
AVERY
EMMETT
AVERY
Deixe a crosta da Terra se abrir e uma nuvem de lava me sugar para seus
poços de fogo. Minhas bochechas estavam tão quentes que jurei que tinha
um sol dentro de cada uma.
AVERY
Atrasada para o quê? Eu não tinha turno para trabalhar e Alyson estava
dirigindo através do país para a faculdade. Sentei na ponta do sofá em
silêncio tentando me lembrar da última vez que tive um momento para mim
mesma, um momento em que não havia coisas mais urgentes no fundo da
minha mente me dizendo Vai! Vai! Vai! Talvez tenha acontecido quando eu
tive uma terrível intoxicação alimentar alguns anos antes. Eu achei que ia
morrer de tanto chamar o Raul, mas consegui sobreviver
EMMETT
AVERY
EMMETT
Ela é uma traidora. Ela não dá e nunca deu a mínima para mim. Repeti
essas palavras na minha cabeça.
AVERY
EMMETT
— Q
anunciou.
ue tal tomarmos um café da manhã no Shack — Declan
AVERY
EMMETT
AVERY
EMMETT
AVERY
EMMETT
AVERY
— Também senti sua falta. — Passei meus braços em volta do seu pescoço.
— Só vou ficar aqui por mais alguns dias.
— Nem me lembre. — Ele gemeu e fechou os olhos.
— E você vai começar a treinar em setembro, certo? Talvez… —
Minhas palavras foram cortadas pela ferocidade de seu movimento, como
se eu mencionar que íamos ficar separados o tivesse provocado.
Ele me empurrou contra a porta, desabotoando minha calça jeans com
uma mão e deslizando-a para baixo pela minha bunda. Eu não iria lutar
contra isso. Chutando-a para longe, agarrei o cabelo na base da sua nuca e
gritei em sua boca quando ele me levantou, envolvendo minhas pernas em
volta de sua cintura.
Quando ele afundou em mim em um movimento suave, eu assobiei com
a invasão repentina e rolei meus quadris para levá-lo mais fundo. Cada vez
que nos reuníamos era tão explosiva quanto a anterior. A porta gemeu nas
dobradiças.
Ele levou minhas pernas mais alto com seus quadris, me abrindo ainda
mais. Seus dedos estavam sob a minha camisa, puxando meu sutiã até que
eu estivesse em suas mãos. Seus dedos beliscaram e torceram meus
mamilos, tirando um assobio dos meus lábios.
— Sim, Emmett, mais. — Eu ofeguei contra o lado de seu rosto.
Segurando firme, gritei enquanto seus golpes ficavam mais fortes e mais
rápidos.
— Tão apertada, Avery. É sempre tão bom. — Suas palavras foram
cortadas como se ele estivesse se segurando.
— Em. — Seu nome saiu dos meus lábios. Eu estava perto, a crista da
onda em que eu estava quase no seu auge.
— Porra, sim. Deixa ele saber que você é minha. Diga a ele que sou a
única pessoa que faz você gozar com tanta força assim.
Suas palavras me atingiram como um surfista sendo atirado de sua
prancha por uma onda rebelde. O que? Eu empurrei ele com a palma da
minha mão em seu peito.
Ele estremeceu, esfregando o local. Que bom!
— Isso é você reivindicando sua posse? — A raiva borbulhou. Suas
palavras foram um balde de água fria derramado sobre minha cabeça.
Deixa ele saber que você é minha. A vergonha envolveu seu punho de ferro
em torno de mim, me fazendo pensar em todos lá fora me ouvindo.
Ele se afastou do meu corpo. Mas não era o sentimento habitual de
perda; em vez disso, eu morri de humilhação. Saber que os outros podiam
nos ouvir quando estávamos professando nossos sentimentos um pelo outro
era diferente do que ele arrancando as palavras de mim como um aviso para
qualquer um que ousasse tocar no que era “dele”.
Eu lancei um olhar mortal para ele.
— Avery… — Ele estendeu a mão para mim, mas eu bati nelas, a
afastando.
— Por que você não me fode no convés e aluga a porra de um holofote?
Pegando meu jeans do chão, empurrei minhas pernas de volta para
dentro.
— Você está correndo até lá para fingir que isso não está acontecendo?
— Ele abotoou as calças.
— Não, vou até lá para ficar com pessoas que não estão me usando. —
Envolvi meus dedos em torno da maçaneta.
— Você sabe por que eu tenho problemas de confiança? Por que me
assusta ver você tocando outro cara? — Sua voz era como uma chicotada na
minha pele, forte e pungente.
Eu congelei.
— Porque você me matou, Avery. Você arrancou meu coração e o
estilhaçou. Você sabe que nunca passei mais de três meses com outra
mulher desde você? Nunca disse que eu ama… — Ele exalou. — Nunca fui
capaz de me apegar a mais ninguém.
Deixei cair minha testa contra a porta. Sua mão deslizou do meu braço
para a minha palma e meus músculos tensionaram. Queria tapar meus
ouvidos com as mãos e sair correndo, me esconder de todas as coisas que
fiz de errado, de todas as maneiras que fiz mal a ele e a mim mesma.
— Não houve mais ninguém desde que você me deixou, ninguém para
me fazer sentir do jeito que você me faz… para me machucar como você
me machucou.
Eu fechei meus olhos com força.
— Eu sei que nunca poderei me desculpar o suficiente pelo que fiz, mas
se estamos avançando com o que quer que isso seja, você não pode
continuar fazendo isso. Eu não estou te traindo. Eu nunca te traí. — Me
virei, de frente para ele, e seu rosto era uma máscara de preocupação e
remorso. A tensão em meus músculos diminuiu. — Machucar você é a
última coisa que eu quero. Eu… eu não vou mentir para você sobre algo
assim. Absolutamente nada está acontecendo entre mim e o Noah. Você e
eu estamos descobrindo essa coisa juntos. Não há mais ninguém.
Ele deslizou seus dedos ao longo da minha bochecha e subiu para o meu
cabelo.
— Nunca houve ninguém mais. — Seus lábios colidiram com os meus,
exigindo tudo que eu tinha para dar a ele. Descansando sua testa contra a
minha, ele olhou nos meus olhos. — Eu sinto muito.
Corri meus dedos ao longo da barba por fazer em seu queixo.
— Eu também sinto muito.
21
EMMETT
AVERY
EMMETT
A very tinha ficado quieta desde que deixamos o Surf Shack. Suas
mãos correram ao longo do meu peito, me acariciando
distraidamente enquanto assistíamos a um filme. Todos os outros
foram para a cama, cheios de sorvete e brownies. A casa inteira cheirava a
chocolate e felicidade, o tipo de cheiro que apenas sundaes e amigos
poderiam criar.
Era o tipo que eu experimentei apenas em pequenas explosões com
Avery ou com os caras, mas nunca com as pessoas que eu deveria ter
experimentado – minha família. Acho que foi por isso que fiz a minha
própria.
Passei meus dedos para cima e para baixo em seu braço enquanto os
créditos rolavam. A tigela de pipoca no meu colo sacudiu enquanto os grãos
balançavam contra o fundo da tigela quando eu me mexi. Ela enterrou o
rosto no meu peito, deixando escapar um grande bocejo.
— Você queria assistir outro filme? — Ela cobriu a boca, escondendo
outro bocejo.
— Por que não vamos para a cama? Você sabe que vai acordar cedo
fazendo o café da manhã para todos. — Era seu ritual matinal: acordar mais
cedo do que qualquer humano em férias deveria acordar e encher a casa
com cheiros que poderiam tentar até o diabo. Todas as manhãs, estômagos
roncando ficavam satisfeitos enquanto nos amontoávamos ao redor do forno
e do fogão para ver o que ela havia feito. Às vezes, eu tinha permissão para
ajudar. Às vezes eu não tinha. Naqueles dias, ficava feliz em apenas vê-la
trabalhar.
Ela pegou meu celular e verificou a hora.
— Uau, está tarde. — Ela não fez menção de se levantar.
Envolvendo minha mão em torno de seu pulso, corri meu polegar sobre
as costas de sua mão. Contentamento não era algo a que eu estava
acostumado a sentir. Eu estava acostumado com aquela sensação inquieta,
de querer pular para fora da minha pele constantemente, mas com ela eu
podia ficar sentado em silêncio, saboreando cada toque, cada respiração,
guardando o momento na memória.
Algo que Avery disse antes ficou preso na minha cabeça.
— Você disse que seu pai revirou o armário do Fischer – seu pai ia
chamar a polícia para ele? Entregá-lo por causa das drogas?
Seu corpo ficou tão rígido que pensei que algo poderia quebrar. O
silêncio não era mais reconfortante. Era tenso e sufocante. Ela se afastou de
mim, sentando-se totalmente. Arrastando o cobertor de suas pernas, ela
olhou para suas mãos.
— Eu não sei. Tudo que sei é que Fischer estava puto. — Sua garganta
balançou.
— Fischer ameaçou seu pai? Ameaçou você? — Raiva pulsou em
minhas veias por ela ter ido negociar por seu pai depois que ele se envolveu
nas merdas do Fischer, em vez de vir até mim pedir ajuda.
— Não com tantas palavras. Acho que Fischer se assustou ou algo
assim. Não houve nenhum problema depois disso. Você está pronto para ir
para a cama? — Ela se levantou, encerrando efetivamente a conversa. O
gosto de suas mentiras pesou na minha língua. Apertando meus lábios,
peguei sua mão e a levei de volta para o quarto.
Nós escorregamos para debaixo das cobertas e ela adormeceu antes de
sua cabeça bater no travesseiro, quase como se ela tivesse ficado
inconsciente para evitar minhas perguntas. A constante ascensão e queda de
seu peito suavizou as bordas da minha inquietação.
Ela ainda não estava se abrindo completamente. As coisas ainda
estavam tomando forma, se desenrolando lentamente. As conversas sobre o
futuro não haviam progredido além do nosso tempo no litoral e nos
restavam apenas alguns dias. Minha oferta para ela ficar no meu
apartamento não foi respondida.
Meu celular vibrou na mesa de cabeceira. Pegando-o, abri a mensagem
e ela resmungou quando deslizei meu braço de trás de sua cabeça. Jogando
minhas pernas para o lado da cama, peguei meu computador da minha bolsa
e fui para a cozinha.
— Do que você precisa, Randolph?
— Que tal que você atenda ao celular ou responda os e-mails de vez em
quando? — Sua voz estrondosa contradizia a alma gentil com um bom
coração.
— É para isso que eu pago você.
— Você me paga para administrar as doações de caridade, não para
correr atrás de você. A papelada está quase finalizada e preciso que assine
algumas coisas. Você está em Nova Jersey, certo? Posso mandar tudo para
nossos escritórios na Filadélfia.
Meus ouvidos se animaram – era a desculpa perfeita para ir com a
Avery. Não, claro que não estou seguindo você para a cidade como um
vira-lata que finalmente encontrou um lar. Também tenho negócios na
cidade como um adulto normal.
— Claro, pode fazer isso. Você consegue mandá-los para lá nos
próximos dias?
— Consigo. Por que você soa tão ansioso?
— Por nada.
— Você tem certeza que quer fazer isso, certo? Isso vai amarrar cada
dólar sem ser da sua poupança nos próximos anos.
— Sim, tenho certeza. Posso assinar tudo assim que chegar ao
escritório. Porque você está acordado tão tarde? — Eram quase dez horas
na Califórnia, muito depois da sua hora de dormir.
— Estamos de férias com as crianças, estou tentando resolver algumas
coisas agora que todos estão dormindo.
— Vá para a cama, cara, e pare de trabalhar nas suas férias.
Ele resmungou do outro lado da linha.
— Assine os papéis e não terei mais que me preocupar com isso.
— Pode deixar.
Terminamos a ligação. Fiquei olhando para o meu computador,
procurando casas e apartamentos. A primeira coisa que olhei em cada um
foi a cozinha. Avery iria gostar? Tinha espaço suficiente? Então verifiquei
se ficava perto da padaria. Essas perguntas passaram pela minha cabeça
enquanto meus olhos se esforçavam contra a tela brilhante com a luz do teto
desligada.
— O que você está fazendo aqui tão tarde?
Eu pulei quase um metro e meio para fora da minha cadeira quando
Declan apareceu na porta da cozinha.
Bati minha mão contra a mesa, meu coração batendo tão forte que era
como se eu estivesse no gelo durante o último jogo da temporada.
— Jesus Cristo, você me assustou pra caralho! — Engolindo um pouco
de ar, me recostei na cadeira. — O que você está fazendo acordado?
— Vim buscar um analgésico para Mak. Ela tomou três drinques hoje à
noite, o que significa que estamos em um trem de ida para a cidade da
enxaqueca amanhã de manhã. — Ele encheu um copo de água na pia. —
Ela jura que está aumentando sua tolerância e, nesse ritmo, poderá tomar
cinco drinques por noite quando estiver na casa dos cinquenta anos. Então,
o que você está fazendo acordado?
Ele deslizou o copo no balcão e abriu o armário improvisado de
primeiros socorros.
— Tinha algumas coisas da instituição para fazer. Tenho que assinar
alguns documentos para uma coisa de caridade que iniciei, então terei que ir
para a Filadélfia por um tempo.
Declan esfregou as mãos ao longo do queixo.
— Isso é muito conveniente, considerando que as férias da Avery estão
quase acabando, você não acha?
Fechei meu laptop. Não havia muito que eu pudesse dizer sobre isso,
exceto o fato de que eu estava indo atrás dela e iria pelo tempo que fosse
necessário. Eu já vivi sem ela antes e mesmo quando pensei que ela tinha
me traído, tive que lutar contra todos os meus instintos para ceder e perdoá-
la. Agora, não havia nada nesse mundo para me manter longe.
— Como estão as coisas entre vocês dois?
Me virei na cadeira, apoiando os cotovelos na parte de trás.
— Estão bem, eu acho. Ainda estamos nesse lugar estranho. Nenhum de
nós quer pressionar o outro muito rapidamente, mas isso está me deixando
um pouco louco.
— Vocês discutiram tudo sobre o término? Não tem mais gritaria, então
parece uma coisa boa.
— É uma coisa boa e acho que sim, mas parece que ainda há algo não
dito entre nós.
— Você recebeu o resumo completo sobre o pai dela?
Meus ouvidos se animaram.
— Sim. O que você quer dizer? — Seu pai nunca foi o cara mais
responsável. Manter um emprego na Rittenhouse parecia o máximo que ele
tinha sido capaz de fazer. Eu não o conhecia antes do acidente, mas Avery
jurou que o esquecimento dele era por causa disso, embora eu não soubesse
como você poderia esquecer de pegar sua filha todos os dias durante um
mês.
— Era uma merda total. Avery teve que lidar com muitas coisas. Mak
tem sido muito discreta sobre isso, mas cara, ele definitivamente tornou a
vida muito mais difícil para todas elas. — Declan balançou a cabeça. —
Tenho certeza que você sabe tudo sobre isso, no entanto. — Ele me deu um
tapa no ombro.
Eu assenti, não querendo admitir que provavelmente sabia menos do
que ele pelo visto. Muitas das minhas perguntas sobre coisas fora de nosso
relacionamento encontraram a resistência de um cofre mestre. Doeu saber
que Avery não confiava em mim para falar sobre isso – nunca confiou em
mim o suficiente.
— O que vai acontecer quando o verão acabar?
Passando meus dedos pelo meu cabelo, eu apertei os dois lados da
minha cabeça.
— Eu sei o que eu quero – eu quero acordá-la agora, pedir ela em
casamento e levá-la comigo para Los Angeles, mas sei que isso é uma ideia
terrível pra caralho. Isso é o que estragou tudo antes. Além do nosso mal-
entendido, eu pressionei tanto para o que eu queria, que não pensei sobre o
que ela precisava e o que ela estava passando.
— O que ela quer?
— Eu não sei. Faculdade? Ela conseguiu entrar, né? Isso é muito
importante para ela. Alyson está na Califórnia, no entanto, isso fica ao meu
favor.
— O que acontece quando você voltar para LA?
— Que porra é essa, um interrogatório? Eu não sei. Se soubesse, estaria
comprando tudo o que fosse preciso para que isso acontecesse – uma casa,
uma faculdade, o que fosse necessário.
— Talvez isso seja parte do problema.
Eu o encarei.
— Talvez não seja pelo dinheiro, ou não deveria ser. Não se trata de
comprar algo. Às vezes, essas coisas levam tempo. Inferno, Mak e eu
levamos anos para superar uma briga simples no ensino médio. Não seria
uma loucura se vocês fossem com calma.
— Mas eu não quero ir com calma. Eu preciso dela. Eu preciso dela
mais do que jamais precisei de qualquer coisa. Eu abandonaria o hóquei
agora mesmo se ela me pedisse.
— Você sabe que ela nunca faria isso.
— Talvez essa seja a razão pela qual estou disposto a fazer isso. Eu sei
como as coisas eram sem ela. Você viu como eu estava. — Corri meus
dedos em minha barba por fazer. Barbear tinha ficado de lado quando Avery
começou a correr os dedos pelo meu rosto como costumava fazer. Essa era
parte da razão pela qual sempre me certifiquei de estar bem barbeado. A
sensação dos pelos no meu rosto foi uma lembrança constante e dolorosa
dela.
— Sim, um pé no saco rabugento.
— Valeu. — Eu levantei uma sobrancelha e lhe lancei um olhar feroz.
— Tudo o que estou dizendo é que: vocês dois estão voltando para isso
e se for se transformar em um relacionamento que dure, vocês dois
precisam estar na mesma página. Você precisa se certificar de que tudo o
que atrapalhou da última vez não é mais um problema.
Ele pegou o copo e o frasco de analgésico. Caminhando de volta para o
meu quarto, puxei as cobertas e deslizei meu braço sob a cabeça de Avery.
Ela resmungou algo e suas pálpebras se abriram devagar, a luz captando
a sonolência em seus olhos.
— Onde você estava? Senti sua falta. — Ela passou os dedos pela
minha bochecha. O arranhar da minha barba a fazendo sorrir.
— Eu tive que atender uma ligação. Volte a dormir — sussurrei.
— E se eu não quiser? — Sua mão mergulhou entre nós e ela colocou-a
sob o cós da minha cueca boxer.
Eu gemi quando seus dedos envolveram a cabeça do meu pau. O meio
mastro crescia a cada movimento da sua mão.
— Não comece algo que você não planeja terminar.
Ela lambeu os lábios e deslizou o tecido sobre a cabeça do meu pau. O
pré-sêmen cobriu a cabeça e, usando o polegar, ela o espalhou e continuou a
acariciar.
— Ah, estou pensando em terminar sim. — Deslizando lentamente pela
cama como se estivesse fazendo isso apenas para me colocar no limite, ela
empurrou os cobertores para longe. Suas unhas roçaram minha pele e um
arrepio percorreu minha espinha.
Meu pau ficou mais duro contra seu aperto. Eu cavei minhas mãos no
colchão embaixo de mim e a deixei continuar sua exploração.
— Eu não consigo acreditar que você esteve mantendo isso longe de
mim todo esse tempo. — Sua respiração sussurrou na cabeça do meu pau.
— Isso não é nem possível. Eu sou seu bufê – se deleite à vontade. —
Eu gemi quando ela encontrou meu ritmo, o mesmo que tínhamos praticado
muitas tardes na minha cama.
— Então você está dizendo que, se eu acordar no meio da noite e você
estiver dormindo, mas eu estiver com vontade de provar você, devo ir em
frente? — Ela lambeu a cabeça do meu pau, passando a língua ao longo da
borda.
Eu joguei minha cabeça para trás.
— Eu ficaria tão puto se você não fizesse isso. — Minhas palavras mal
conseguiram passar pela minha mandíbula cerrada.
— Que tal depois de um jogo? E se você estiver super cansado depois
de um jogo?
Enfiei minhas mãos em seu cabelo, tirando do seu rosto para não perder
uma chupada ou passada de sua língua.
— Não há nada na Terra, exceto a decapitação, que me faria rejeitar
você.
Ela sorriu com minhas palavras e me colocou em sua boca. Peguei um
travesseiro e coloquei no meu rosto. Gritando nele, eu já estava prestes a
gozar. Os músculos das minhas coxas se contraíram e tudo se centrou em
torno de sua boca quente e úmida me envolvendo. A tentação era demais.
Eu tive que olhar, não pude evitar meu olhar de queimar no dela.
Ela sugou com força e isso fez meus olhos rolarem para trás na minha
cabeça, mas eu os forcei a permanecerem abertos, os forcei a vê-la me fazer
chegar ao ápice mais rápido do que qualquer outra pessoa já conseguiu.
— Eu vou gozar. — Minhas palavras foram curtas e tensas.
Ela me chupou ainda mais fundo, a ponta do meu pau atingindo o fundo
de sua garganta.
Eu bati minha mão livre na cama. Os espasmos atravessaram meu corpo
e ela engoliu cada gota minha.
Pontos pretos dançaram na frente dos meus olhos. Lentamente, ela
rastejou de volta para o meu peito. Com minhas mãos ainda em seus
cabelos, puxei-a para mim. Eu a beijei até que ela estava se contorcendo ao
meu lado. Parecia que nosso interlúdio noturno estava prestes a se
transformar em um alarme matinal para a casa.
— Fica de quatro, Ave. — Eu bati em sua bunda, deixando meus dedos
afundarem em sua carne macia. Ela gritou e sorriu para mim antes de ficar
de joelhos.
Droga, eu a amo.
24
AVERY
Avery
Eu: Fischer
Fischer: Sim. Agora, o que você vai fazer para consertar isso?
Eu: Onde você está?
Fischer: Na festa do seu namorado. Talvez eu deva pegar o que você
me deve com ele? Ir encontrar Emmett e contar a ele tudo sobre isso?
Eu: NÃO
Minhas mãos tremeram e o celular quase caiu de minhas mãos.
Eu: Já chego aí. Por favor, não diga nada. Eu vou consertar isso.
A mensagem de Fischer me fez revirar a casa para tentar encontrar o
estoque de drogas que meu pai tinha tirado do nosso traficante local, mas
meu pai tinha ficado melhor em esconder coisas de mim – ou ele já usou
tudo. Eu não tinha tempo para isso. Eu precisava ir até a casa do Emmett
antes que Fischer dissesse qualquer coisa a ele.
Pedi um táxi e parei no banco. Com os dedos trêmulos, digitei minha
senha no caixa eletrônico drive-through e tirei o máximo que pude,
esperando que fosse o suficiente. Fechando meus olhos com força, recostei-
me no assento. Eu precisava chegar lá rápido.
Respirando fundo, olhei pela janela enquanto as casas se transformavam
de bangalôs de um andar dos anos 70 em casas coloniais de três andares e
mais. Não importava quantas vezes eu descesse aquela rua, eu me sentia
como se estivesse a segundos de ser detida em um posto de controle de
proibido-crianças-pobres.
Saí do táxi e paguei o motorista. Meus dedos estavam apertados em
torno das notas quando seus dedos as envolveram, mas um táxi era a única
maneira de eu chegar lá sem ligar para Emmett, já que Percy estava na
oficina. Saltando, fechei a porta do carro. O chão tremia com o baixo do
som do lado de fora, mas não tanto quanto minhas mãos.
Eu não conseguia acreditar que meu pai tinha feito isso. Ele tinha sido
tão irresponsável e arriscou tudo, não que fosse diferente de qualquer outro
dia. Pelo menos ele conseguiu manter um emprego – por enquanto.
Roubando de alguém da escola? Daquelas crianças privilegiadas com suas
famílias poderosas? Olhei para o céu noturno sem nuvens rezando para que
Emmett não descobrisse, rezando para que meu pai não fosse demitido e
não prejudicasse a educação da Alyson.
A formatura estava tão perto. Meu estômago embrulhou. Emmett iria
para a faculdade onde quisesse e então ele me deixaria. Eu o perderia.
Nossos três anos juntos chocaram quase todo mundo, inclusive eu. As
palavras de seus pais zumbiram em meus ouvidos sobre nunca ser boa o
suficiente para ele. Talvez eles estivessem certos.
Correndo escada acima, empurrei a porta de vidro fosco e o som
explodiu do outro lado. As pessoas correram pela sala em biquínis e sungas,
o traje obrigatório. Os bares estavam abertos, os barris de cerveja fluíam e
risadas ecoavam pelo saguão de três andares.
Peguei alguém que passou correndo por mim.
— Você viu o Fischer?
A garota deu de ombros. Eu não queria que Emmett soubesse que eu
estava lá, não ainda, não até que eu falasse com Fischer e limpasse essa
bagunça. Perguntei a mais duas pessoas antes de localizá-lo.
Com seus óculos escuros apoiados no topo de sua cabeça, ele girou e
agarrou uma garota pela cintura antes de jogá-la em seu ombro e bater em
sua bunda. Ele desceu o corredor para um dos quartos dos fundos do andar
de baixo.
Eu me encolhi. Respirando fundo, corri pelo corredor atrás dele. Melhor
chegar lá imediatamente, antes que ele começasse algo que eu não queria
ver. Me encostei na parede do lado de fora da porta que ele acabou de
fechar para me recompor. Se ele conseguisse foder com todas no seu
caminho da festa, ele estaria com um humor muito melhor, mas isso não
podia esperar. Assim que Emmett descobrisse que eu estava lá, ele não iria
sair do meu lado. Não havia outra maneira. Eu não podia correr o risco de
Fischer se distrair o suficiente dormindo com alguém para não explodir
minha vida.
Dando a menor das batidas, empurrei a porta e a garota em cima dele
rolou para a cama. Eu tive algumas aulas com ela no ano anterior.
— Podemos te ajudar? — Ela perguntou, maliciosamente.
— Nós precisamos conversar. — Fechei a porta atrás de mim.
— Você não está vendo que estou ocupado? — Ele se encostou na
cabeceira da cama com as mãos apoiadas atrás da cabeça.
— Foi você quem me mandou mensagem. Precisamos conversar agora.
— Virei meu olhar para a garota ao lado dele. — Fora. Tenho certeza que
ele estará disponível mais tarde.
Ela olhou entre nós dois.
— Vá em frente, eu te encontro mais tarde. Se você quiser sua
recompensa extra, não desapareça da minha vista. — Ele piscou e passou os
dedos pelos lábios.
Ela riu e se inclinou para um beijo. Ele agarrou seu cabelo em sua mão
e a atacou. Parecia que ele estava tentando devorar todo o rosto dela, mas
seu olhar ficou preso em mim.
Minha pele se arrepiou. Eu resisti à vontade de cruzar os braços sobre o
peito, para me afastar e me esconder, me tornar menor. Ele só veria isso
como uma fraqueza para atacar.
Ele a soltou e bateu em sua bunda novamente. Ela olhou para mim
quando saiu, fechando a porta atrás dela. A trilha sonora abafada da festa
estrondosa acontecendo ao nosso redor filtrou seu caminho para a sala.
— Avery, Avery, Avery. É uma pena que seu pai tenha roubado de mim.
Ele era um dos meus melhores clientes até que atrasou os pagamentos.
— Você tem vendido para o meu pai? — Eu apertei minhas mãos ao
meu lado. Minha pulsação martelou em minhas veias e meus pulsos
tremeram.
— Estou dirigindo um negócio. — Ele disse isso como se o absolvesse
das vidas que estava tentando destruir. Ele se sentou e balançou as pernas
para o lado da cama, a braguilha de sua calça jeans aberta e mostrando sua
boxer branca.
— Quanto ele deve a você? Eu tenho dinheiro. — O maço de notas de
vinte enfiado no bolso queimava meu quadril.
Ele soltou uma risada.
— Tenho certeza de que não é suficiente. — Ele se levantou da cama e
se aproximou de mim. Meu estômago revirou e eu me preparei, plantando
meus pés para não fugir na primeira chance que tivesse. Eu precisava
consertar isso.
— Quanto ele deve a você?
Seus lábios se curvaram em um sorriso torto e ele caminhou atrás de
mim. Seu hálito quente encharcado de cerveja patinou em meu pescoço e
me fez querer vomitar. A quantia que ele me disse quase terminou o
trabalho.
— Seu pai era um cliente muito bom, como eu disse. — Ele ficou na
minha frente e andou de costas até a cama, caindo com as mãos atrás dele,
apoiando-se.
— Posso pagar em prestações. Vou ter o dinheiro até o final do verão.
— Eu poderia trabalhar em turnos triplos na padaria, talvez conseguisse que
Syd me desse um adiantamento.
— Não vai funcionar, Avery.
— Por que não? — O tom desesperado da minha voz não estava mais
escondido.
— Estou disposto a dar a você uma única suspensão da dívida do seu
pai, uma espécie de presente de formatura. Nós nos conhecemos há muito
tempo, e Emmett sempre dá essas festas do caralho.
— O que eu tenho que fazer? — Engoli o nó na minha garganta.
— Implorar. — A palavra pairou entre nós como uma víbora em espiral
pronta para atacar. Seu sorriso ficou ainda maior até que se tornou um
sorriso grande o suficiente para engolir um canário inteiro, exatamente
como uma cobra. — Fique de joelhos e me implore.
— Vai se foder. — As palavras mal conseguiram passar pelos meus
dentes cerrados.
— Ah, uau, o valor acabou de subir ou posso ligar para a polícia agora e
dizer a eles que várias coisas foram roubadas do meu armário – dinheiro,
joias, eletrônicos. Posso me certificar de que seja uma boa quantia que daria
ao seu pai uma pena de prisão séria, então talvez você queira começar a ser
legal comigo.
Lágrimas picaram atrás dos meus olhos. Eu já vi isso tantas vezes antes.
Ele podia dizer o que quisesse, e escaparia impune porque sua família tinha
dinheiro.
— O que você me diz? Vai fazer essa coisinha ou preciso chamar a
polícia? Eu poderia mandar prender seu pai no meio da escola. Quão
constrangedor isso seria? O que Emmett pensaria sobre isso? — Ele puxou
o celular do bolso e o jogou na cama. — O tempo está passando. — Ele
bateu em seu pulso nu. — Implore. — A satisfação brilhando em seus olhos
me fez querer dar um soco no rosto dele.
Como se eu fosse feita de metal enferrujado, lentamente dobrei meus
joelhos. A cada centímetro que eu chegava mais perto do chão, outro
pedacinho de mim morria. Olhando em seus olhos o tempo todo, fechei
minhas mãos em punhos quando meus joelhos bateram no chão.
— Isso mesmo. Aí é exatamente onde você deveria estar. Talvez eu
deva mandar você limpar o chão igual seu coroa. Vá perguntar ao Emmett
onde estão o esfregão e o balde. — A alegria em sua voz quase fez meu
estômago se revirar. — Ele sabe que seu pai é um viciado?
Eu apertei minha mandíbula com força. Você está fazendo isso pela
Alyson, para proteger ela, o papai e o Emmett – e você mesma.
— Agora eu vejo o que Emmett gosta em você. Tenho que dizer, você
fica ainda mais bonita de joelhos.
Uma fúria ardente queimou profundamente em minhas entranhas.
— Eu não tenho a noite toda — ele disse com desdém, mas seu sorriso
dizia que ele estava gostando tanto disso que fiquei surpresa por ele não se
levantar e dançar pelo quarto.
— Fischer, por favor…
— Não consigo te ouvir. Você vai precisar se aproximar. — Ele colocou
a mão em concha sobre a orelha.
Rangendo os dentes, avancei para a frente de joelhos. Ele era o cara rico
idiota dos filmes dos anos 80 que sempre acabava levando um soco no pau.
Isso me deixou ainda mais grata por Emmett. Ele nunca faria algo assim,
nunca usaria sua riqueza e status de família para dominar outra pessoa.
— Não se preocupe, Avery, eu não vou morder. — Ele me chamou para
mais perto com o dedo.
Fui para frente até que minhas coxas atingissem seus pés. O tapete
felpudo esfregou contra meus joelhos.
— Fischer, por favor, perdoe a dívida do meu pai.
— Eu acho que você pode implorar um pouco mais docemente do que
isso. — O lampejo de fome em seus olhos não combinava com sua pose
relaxada.
Acabe com isso logo. Dê a ele o que ele quer e limpe essa bagunça.
— Por favor, não entregue meu pai para polícia. — Eu pressionei
minhas palmas uma na outra. A histeria borbulhou e guerreou com a minha
necessidade intensa de bater com o cotovelo em sua virilha.
Ele se moveu tão rapidamente que não tive tempo de ir para trás da
minha posição ajoelhada.
Seus dedos afundaram em meu cabelo, me puxando para frente.
— Eu acho que você pode fazer muito melhor do que isso. Me faça
acreditar que é o que você quer. — Ele empurrou minha cabeça em direção
a sua virilha.
Minhas mãos dispararam e o pânico cresceu em meu peito, então uma
onda de som encheu o quarto quando a porta atrás de mim se abriu.
— Avery?
O tempo parou. Por favor, agora não. A histeria tentou subir para a
superfície. Eu pulei e levantei do chão, girando.
— Emmett. — Corri até ele.
Ele olhou para mim com os olhos arregalados, olhando por cima do
ombro.
Eu queria me afundar no chão, desaparecer para sempre. Como eu
poderia explicar isso? A vergonha passou por mim, embora eu não tivesse
feito nada de errado, mas as palavras para explicar isso ficaram presas na
minha garganta.
— Festa do caralho, Emmett. Avery estava apenas desempenhando o
papel de boa anfitriã. — A satisfação presunçosa na voz de Fischer deveria
ter feito com que eu me lançasse até o outro lado do quarto para atacá-lo,
mas fiquei presa pelo olhar de Emmett.
— O que está acontecendo?
— Nada. Emmett, não é nada. — Minhas palavras saíram em um frenesi
de pânico. Balançando a cabeça, meus olhos imploraram para ele acreditar
em mim, para não fazer mais perguntas que eu não pudesse responder.
— Não parecia nada. O que diabos está acontecendo? — Ele deu um
passo à frente, seu olhar disparando para Fischer.
— Por que você não conta a ele exatamente o que te deixou de joelhos
para mim? — A voz zombeteira de Fischer se elevou acima da batida da
música.
Pressionei minhas mãos contra o peito de Emmett e olhei em seus
olhos.
— Por favor, Emmett, não. Nada está acontecendo.
Seu olhar disparou para o meu, narinas dilatadas.
— Me diga o que está acontecendo. — Os músculos de sua mandíbula
pulsaram.
— Conta pra ele, bebê. — Fischer riu atrás de mim. — Conte tudo para
ele.
Eu vacilei com as palavras de Fischer.
— Cala a boca! — Eu gritei com ele por cima do ombro. — Por favor,
Em. Eu… eu… — Não havia palavras.
Ele se afastou do meu toque como se tivesse sido queimado.
— Não me faça perguntar outra vez. O que você estava fazendo aqui
com ele? — Seus olhos brilharam com lágrimas não derramadas e algo
dentro de mim rachou.
As outras pessoas também podiam ouvir tudo se quebrando? Parecia tão
alto, como se tivesse criado uma cratera na crosta terrestre.
— Por favor, Em. — Minha voz vacilou quando ele ficou turvo e
nebuloso na minha frente, meus olhos se enchendo de lágrimas. O que eu
poderia dizer? Minha boca se abriu e fechou. Eu não queria que ele me
visse como a filha de um drogado, confirmando o que todo mundo pensava
– que eu não era boa o suficiente. Eu não poderia deixar ele saber disso.
Não havia mais nada que eu pudesse dizer se ele simplesmente não
acreditasse em mim. Por que ele não podia simplesmente acreditar em
mim?
E então o olhar se foi. A determinação de aço encheu seu olhar. Ele
nunca olhou para mim assim antes.
Eu queria me encolher e me esconder. Ele se virou e saiu do quarto. A
bile subiu pela minha garganta.
Meus pés finalmente descongelaram com a gargalhada de Fischer, e
corri atrás de Emmett. Eu encontraria as palavras – mentiria para ele e o
perderia ou contaria a verdade e enfrentaria o mesmo destino. Ou eu não
digo nada e tento descobrir uma maneira de fazer com que ele me perdoe
algum dia…
25
EMETT
—ElaEestava
m… — Avery começou.
quieta desde que voltou de sua conversa com Imogen.
Sentamos na varanda com uma jarra meio vazia de margaritas que Olivia
preparou – Colm se acalmou sobre ela preparar as bebidas, desde que ela
não participasse do consumo. Os barulhos que Avery fazia quando as bebia
me faziam querer sempre manter o apartamento totalmente abastecido com
elas.
— Por que você me pediu em casamento na primeira vez? — Ela se
recostou na cadeira, os óculos de sol que usava para proteger os olhos do
sol poente obscurecendo sua expressão.
— Na primeira vez? — Houve tantas vezes, mas eu nunca esquecerei a
primeira. Foi durante as férias de verão. Ela estava deitada em uma das
espreguiçadeiras ao lado da piscina no meu quintal, seu cabelo molhado
grudado em sua pele depois de dar um mergulho na piscina. Eu finalmente
consegui convencê-la a vir nadar e pedi uma pizza, que estava entre nós em
uma das mesas.
Seu biquíni azul brilhante abraçava seu corpo com tanta força quanto
eu queria. Deslizando os óculos pelo nariz, ela sorriu para mim. Seus olhos
estavam cheios de vida e admiração e eu não pude conter meu sorriso
bobo. Lentamente, ela deslizou da sua cadeira e sentou-se na beirada da
minha.
— Eu me diverti. Obrigada pelo convite. — Seus ombros se mexeram e
seus seios balançaram. Lutei para manter meus olhos desviados.
— Só precisei perguntar por cinco meses.
— Eu sei. — Pegando minha mão na dela, ela olhou para baixo,
traçando formas nas costas da minha mão. — Não sou muito fã de
conhecer os pais.
Eu dei risada, provavelmente mais alto do que deveria.
— E eu te disse um milhão de vezes, você nunca precisa se preocupar
em topar com eles aqui. É mais provável que eu encontre um guaxinim
sapateando no pátio do que ver os dois nessa casa.
— Bem, agora eu sei. — Ela inclinou a cabeça com um sorriso sexy. —
Você está com um pouco de molho no rosto. — Como se fosse instintivo, ela
ergueu o polegar e o limpou. Eu segurei sua mão, a mantendo ao lado do
meu rosto. Talvez sentindo que isso não era um flerte comum, ela abriu os
dedos e descansou a palma da mão na minha bochecha.
— Eu quero que você durma aqui hoje. Você pode passar a noite
comigo? — Prendi a respiração, esperando sua resposta. Parecia que o
mundo parou de girar enquanto ela pensava sobre isso. Eu estava a
segundos de ficar de joelhos e implorar.
— Eu gostaria disso. Tenho que sair cedo pra caramba amanhã de
manhã, mas vou ficar.
Foi a primeira noite em que fizemos amor. Com ela envolta em meus
braços, meu coração martelando contra meu peito, eu disse as palavras
que queria dizer na primeira semana em que a conheci. Nunca estive tão
feliz por ter aberto um armário escolar na minha vida. Ela me ofereceu
metade de seu sanduíche no almoço quando eu deixei minha carteira no
armário do ginásio depois de me trocar para a aula de educação física. Foi
uma oferta automática, como se ela não tivesse que pensar duas vezes, e foi
o primeiro passo na estrada que a levou a ser o centro do meu mundo.
— Casa comigo, Avery. — Minhas palavras saíram como um grasnido,
empurradas através do aperto na minha garganta.
Um leve empurrão foi a única resposta que recebi.
— Sério, casa comigo.
Inclinando-se para trás, ela olhou para mim e revirou os olhos.
— Essa é a sua maneira de tentar me fazer concordar com mais sexo?
Boa jogada, Em. Boa jogada. — Foi a primeira vez que ela encurtou meu
nome. De alguma forma, parecia uma linha de intimidade que não
tínhamos cruzado antes, mesmo com o que tínhamos acabado de fazer.
— Estou falando sério. — Corri as costas dos meus dedos ao longo de
sua bochecha.
Ela balançou a cabeça, mas não disse nada.
— Estamos de férias e estou com saudades de ver você todos os dias.
Pode vir para cá quantas vezes quiser. — Passei meus dedos em seu ombro
e em seu braço.
— Vamos dormir antes que você diga algo que vai se arrepender, mas
virei o máximo de vezes que puder. Tudo bem se eu trouxer Alyson às
vezes?
— Claro, sem problemas. —Por que ela quer que sua irmã venha
junto? Para intermediar? Estou fazendo as coisas irem rápido demais?
— Perfeito. — Ela se aconchegou mais forte ao meu lado.
Estava na ponta da língua dizer a ela que eu estava falando sério,
porque estava, mas talvez ela não quisesse ouvir isso. Eu não estava
exatamente apaixonado pela ideia de sua irmã mais nova ter que vir junto,
mas se assim eu pudesse ter Avery, eu faria todas as concessões que
precisasse.
O cheiro de protetor solar misturado com cloro tinha sido o aroma do
verão. Na maioria das noites pedíamos algo para o jantar, seguido por algo
que ela preparava, e aquele tinha sido nosso paraíso pessoal por três meses.
Pelos próximos dois anos, fiz tudo ao meu alcance para mostrar a ela o quão
sério eu estava falando.
— Eu perguntei porque queria me casar com você. — Encarei seus
olhos.
Seus lábios se curvaram, mas não havia nenhum traço de brincadeira
nos meus.
— Você está falando sério? Aos dezessete anos você estava seriamente
me pedindo em casamento?
— Não sei porque você nunca entendeu isso. Sempre estive cem por
cento pronto para me casar com você. Você sempre achou que eu estava
brincando? — Minha garganta se apertou. Eu estava pronto para tornar isso
oficial e ela pensou que eu estava jogando palavras ao vento que não
significavam nada.
— Não, nem sempre. No último ano, imaginei que você estava falando
sério, mas de alguma forma foi ainda mais assustador. Eu… eu não sabia
como lidar com aquilo.
Peguei a mão dela na minha, colocando-a no meu colo.
— Eu continuei pressionando. Só queria que você soubesse o quão sério
eu estava falando.
O anel que estava em meu bolso, gaveta de meias e bolsa da academia
por meses foi uma prova de como eu estava pronto para dar o próximo
passo.
— Eu queria dizer sim. — Ela olhou para mim com lágrimas brilhando
em seus olhos.
Meu coração disparou e mergulhou na terra ao mesmo tempo.
— Então por que você não disse? — Poderíamos estar casados, vivendo
a vida da qual sempre conversamos, talvez com nossos próprios filhos. A
visão de uma miniatura da Avery usando um lindo vestido enquanto corria
em um quintal coberto de grama encheu minha cabeça.
— Porque eu estava com medo.
— Medo do que? — Eu a puxei para mais perto.
— Do que poderia acontecer se eu estragasse sua vida. — Ela piscou
com força para conter as lágrimas. Me rasgou por dentro ver que meus
pedidos de casamento lhe causaram tanta dor.
— Como você poderia fazer isso? Você nunca poderia estragar minha
vida.
— Você tinha todos aqueles planos e nenhum deles envolvia algo além
de mim. Tudo girava em torno de estar comigo, desistir da faculdade e do
hóquei, seu futuro incrível, para ficar comigo. E se não valesse a pena
desistir dessas coisas por mim? — Uma lágrima escapou de seus olhos e ela
a enxugou.
Pegando-a em meus braços, eu a sentei em meu colo. Minhas tentativas
de mostrar a ela o quão importante ela era para mim apenas a afastou. As
palavras ficaram presas na minha garganta.
— Eu não teria desistido de nada para ficar com você. — Ela abriu a
boca, mas eu continuei. — Não quero dizer que teria tudo, mas nada disso
importava. Eu estava em cima do muro sobre o hóquei. Jogar sem os Kings
não era o que eu queria. A faculdade – eu não tinha nem ideia do que queria
estudar. Eu estava incerto para onde a vida estava me levando, mas havia
apenas uma certeza, e essa era você. Você era meu tudo. — Corri meus
dedos ao longo de sua nuca.
— Mas eu não podia ser seu tudo. Ter essa pressão sobre mim me
assustou pra caralho. Era apenas uma questão de tempo até você perceber
que tudo foi um erro e então o que aconteceria? Você ficaria preso, ou pelo
menos não teria as mesmas oportunidades que teria de outra forma, e eu
ficaria com o coração partido se tivesse tirado algo de você.
Eu estava balançando minha cabeça antes que ela terminasse.
— Você nunca tirou nada de mim – nunca. — A convicção em minha
voz ricocheteou nas paredes. — Eu não queria que você pensasse que
estava carregando o fardo que eu era.
— Eu não quis dizer isso. — Ambas as mãos dela torceram minha
camiseta como se ela estivesse desesperada para que eu acreditasse nela.
— Eu sei. — Meus lábios se torceram em uma linha sombria. — Parece
que nós dois estragamos tudo.
— Éramos crianças. Porra, ainda somos crianças de algumas maneiras.
— Você está prestes a se tornar proprietária de um negócio e eu sou um
atleta profissional – acho que não nos qualificamos mais como crianças.
Isso é tudo?
Seus olhos se arregalaram, mas ela assentiu.
— Sim. — Ela desvencilhou as mãos do meu aperto e se levantou. —
Vamos para a cama.
Eu a segui pelo corredor até o nosso quarto.
— Eu sei que você vai embora amanhã, mas quero que saiba que vou
com você
— Não… por quê? Você está aqui para se divertir com os caras. Não era
por isso que você estava pronto para me expulsar? — Ela brincou. — Fique
aqui. Vou tentar voltar sempre que puder. — Ela colocou a cabeça para fora
do banheiro com a escova de dente pendurada na boca.
— No Percy? É mais provável que você acabe presa na beira da
estrada.
— Percy é leal até a morte. Nós nunca nos separaremos. — A espuma
da pasta de dente a fazia parecer um cachorro louco.
— Então me deixa te comprar um carro novo. Você pode guardar Percy
para ocasiões especiais. — Seus olhos se arregalaram no espelho e a escova
de dentes caiu na pia. Depois de enxaguar a boca, ela se virou para mim.
— Não estamos fazendo isso, Emmett. Não estamos jogando o jogo
“Vou comprar algo para você e conseguir o que quero”.
— Quem disse que era um jogo? — Eu a puxei para os meus braços e
mordisquei o lóbulo da sua orelha, a fazendo gritar. — Quieta, ou você vai
acordar todo mundo. — Eu dobrei meus joelhos e espalmei sua bunda,
levantando-a sobre a bancada.
— Como se eles não estivessem acostumados.
— Se você não me deixa comprar um carro novo, parece que você terá
que se comprometer. Podemos ir juntos. Você pode ficar na minha casa e
não tem desculpa para não ficar, já que Alyson está na faculdade. Podemos
dirigir para cá juntos sempre que você tiver uma folga.
— Mas…
— Carro novo ou você fica na minha casa.
— Eu já te disse que você é irritante? — Ela cruzou os braços sobre o
peito.
— Você costumava me dizer o tempo todo, mas não ouço isso há um
bom tempo. — Eu sorri de volta para ela. — Posso cuidar de algumas
coisas de trabalho na cidade, garantir que toda a papelada seja assinada para
a próxima rodada de financiamento da minha instituição de caridade. Será
um momento produtivo para nós dois.
Ela me olhou com desconfiança.
— Só não tente fazer nenhuma coisa ardilosa, ok?
Eu tracei meu dedo sobre meu peito, cruzando meu coração
— Posso ver no espelho que seus dedos estão cruzados nas suas costas.
— Ela deu risada e me empurrou para ir até o quarto. Rastejando sob as
cobertas, ela as virou para o outro lado e deu um tapinha no colchão com a
mão.
Eu queria isso todos os dias. Ainda não tínhamos conversado sobre o
fato de eu morar do outro lado do país. Ela teria uma padaria na Filadélfia e
eu estaria jogando hóquei em Los Angeles. Quando não estávamos jogando,
estávamos treinando. Eram oito meses, sem incluir os playoffs, mais de
oitenta jogos por ano. O que isso significa para nós e para os planos que eu
já estava fazendo na minha cabeça?
Ela recuou contra mim enquanto eu deitava de lado. Seu cabelo fez
cócegas no meu nariz e sua bunda pressionou contra meu pau.
— Está tão tarde. — Ela bocejou.
— Apenas o ignore e ele vai te deixar em paz — eu sussurrei em seu
ouvido.
Ela resmungou e se aconchegou mais perto, o que não estava ajudando
no departamento da ereção.
— Eu posso te levar de volta amanhã e você pode deixar Percy aqui.
Dar um pouco de descanso a ele.
— Humm. — Seus dedos acariciaram o braço que eu joguei sobre seu
peito. As cócegas do seu carinho fazendo valer a pena.
Em um piscar de olhos sua respiração ficou nivelada. Sua capacidade de
dormir rapidamente nunca deixou de me surpreender. Tê-la segura em meus
braços era onde ela sempre deveria estar. Agora eu tinha que descobrir
como mantê-la ali. Ela resistiu a mim quando éramos mais jovens e ela
estava mais forte agora, ainda mais independente. Como eu conseguiria
fazer com que ela me deixasse ajudar? Ela havia usado meu computador
antes para verificar algo sobre a padaria…
O risco de castração seria muito alto se eu interferisse. Eu poderia dizer
que ela queria fazer isso sozinha, queria ajudar sua amiga e começar um
novo capítulo em sua vida, mas eu precisava ter certeza de que estava
incluído nela, então eu ia começar a incluir na minha. Rolando
cuidadosamente de debaixo dela, peguei meu celular e enviei uma
mensagem aos meus pais.
Eu: Mãe e pai, voltarei em algumas semanas logo depois do meu
aniversário. Eu não irei sozinho. Estou levando Avery comigo, então por
favor, pelo amor de Deus, podem parar quaisquer planos de casamentos
que vocês já colocaram em ação. Estaremos na cidade a partir de
amanhã.
O celular vibrou vinte minutos depois.
Pai: Obrigado por nos avisar. Tentaremos ver você na cidade antes do
seu aniversário.
Iríamos de carro para a cidade no dia seguinte. Avery teria sua padaria,
eu a teria, e todo o resto se encaixaria. Ela rolou em seu sono e se
aconchegou contra mim, e eu afastei o cabelo de seu rosto.
As coisas finalmente estavam saindo como deveriam e eu mal podia
esperar pelo início da próxima fase de nossa vida.
26
AVERY
EMMETT
AVERY
EMMETT
AVERY
EMMETT
AVERY
Tão perto. Eu estava tão perto de realizar meu sonho. Fazia sentido que os
dois sonhos do meu futuro feliz morressem no mesmo dia, que eu tivesse
sido chamada ao hospital pensando que meu pai poderia ter morrido, em
vez disso, fui chamada para a hora da morte de qualquer esperança que eu
tivesse de escapar de quem eu era e do que merecia.
EMMETT
“Parece que ela está de volta para mais”. A alegria quase maníaca na voz
da minha mãe por ser capaz de dizer isso, a maneira como ela olhou para
Avery – fez minha pele arrepiar. Repassei nossa briga como se estivesse
observando outra pessoa, vendo como tudo tinha acontecido. Eles tiveram
uma participação nas coisas que eu não tinha visto antes.
Meus pais. Eu soltei um bufo pelo nariz. Eles poderiam ser chamados
disso? Eu ignorei suas ligações e mensagens. Agindo pelas minhas costas,
ameaçando Avery quando ela era apenas uma criança… eles passaram tanto
do limite que poderiam muito bem ter cruzado para um hemisfério
diferente.
Porém, ela não era uma criança agora, ela deveria ter me falado a
verdade. Eu fiz uma careta e balancei meu copo para o barman, sacudindo o
gelo. Eu não estava nem perto de bêbado o suficiente.
— Você tem certeza? Você não parece muito bem, cara. — Ele se
inclinou sobre o balcão com um pano pendurado no ombro.
— Acabei de perceber que meus pais enfiaram a faca nas minhas costas
pagando minha namorada para me dar um fora. Vou precisar de outro.
Ele assentiu severamente e preparou outro copo de uísque. Ele o
deslizou pelo bar, mas uma mão disparou e interceptou minha bebida. O
olhar reptiliano cintilante de Harold caiu em mim.
— Você não acha que já bebeu o suficiente?
— Você não acha que deveria se foder? — Peguei o copo de sua mão.
Minha mãe e meu pai sentaram-se nos banquinhos ao meu lado.
Engolindo a bebida em um gole só, respirei fundo, deixando o ardor
tomar conta de mim. Eu definitivamente não estava bêbado o suficiente.
— O que caralhos vocês querem?
— Viemos conversar.
— Eu não quero conversar.
— Então você pode ouvir. — Harold estalou os dedos e sua horda de
"faz-tudo" apareceram para limpar a área ao nosso redor.
Eu os observei persuadir as pessoas a se moverem para outra parte do
bar. Isso vai ser divertido. Eu fiz uma careta e engoli o resto de álcool que
revestia meu copo.
Girando na minha cadeira, encarei Harold.
— Em que diabos esses dois estão metidos? — Eu olhei entre ele e
meus pais.
— Seu pai é um homem muito importante.
Eu bufei.
— Um homem que pode ter um futuro com o qual nenhum de nós
poderíamos sonhar, se todos trabalharmos juntos para dar a ele o que ele
precisa.
— Como se os cofres deles não estivessem cheios o suficiente.
Certamente estão cheios o suficiente para arruinar a vida do filho deles.
Tenho certeza de que eles têm tudo de que precisam. — Fiz um gesto para
meus pais sentados igual manequins com meu copo.
— Existem algumas coisas que o dinheiro não pode comprar. — Harold
cruzou os braços sobre o peito. Fiquei surpreso que os punhos de sua
camisa social não o cortassem, eles eram tão afiados.
— Como o quê?
— Poder. — A ganância por trás de suas palavras revirou meu
estômago. — Seu pai se candidatará a governador e anunciará sua
campanha após as eleições em novembro.
— Vocês dois mal conseguiam manter uma criança viva – como diabos
você vai governar um estado?
Meu pai abriu a boca, mas Harold o interrompeu.
— Isso não importa. Essas coisas podem ser resolvidas, mas precisamos
da sua cooperação.
— Vai se foder. — Eu estava cerca de 3,5 segundos longe de envolver
minhas mãos ao redor de sua garganta.
— Eu não acho que você vai querer fazer isso.
— Por que não? — Bati meu copo no balcão. — Para que caralhos você
precisa de mim? Vá lançar sua campanha. Eu não dou a mínima. Eu não
quero ver nenhum de vocês novamente. Cansei. — Tirei alguns dólares da
carteira e joguei no balcão.
— Eu não acho que você tenha entendido — Harold fervia de raiva
como se ele mal conseguisse manter a calma. Bem-vindo ao clube. — Isso é
um pacote completo. Não podemos deixar você fazer quem sabe o que, com
Deus sabe quem, enquanto seu pai está concorrendo a um cargo.
Precisamos que você faça parte do grupo.
— Talvez você devesse ter pensado nisso antes de me fuder. — Eu
deslizei para fora do meu banquinho e meu pai colocou uma mão restritiva
em meu braço. Eu olhei para baixo como se alguém tivesse deixado cair
uma barata no meio do cômodo.
— Não faça isso, filho. Nós precisamos de você.
Por um segundo, pensei que ele estava falando sério, pensei que eles
realmente precisavam da minha ajuda ou algo assim, mas então os eventos
dos últimos meses voltaram: a maneira como eles tentaram me juntar com
Sloane, as perguntas de Harold. Cada telefonema e mensagens foram
calculadas, gotejando com segundas intenções que eu não sabia até este
momento.
— Você estava fazendo tudo isso para a sua campanha.
Pelo menos meu pai teve a decência de parecer envergonhado. Claro
que não haveria outro motivo para ele começar a ligar.
— É por isso que vocês começaram a me ligar, me enviar mensagens…
— Precisávamos nos reconectar. — A resposta nervosa de minha mãe e
a maneira como seu olhar moveu ao redor do bar me disseram que havia
mais. Por que todo mundo estava escondendo a verdade de mim?
— Reconectar? Vocês precisavam fazer com que eu respondesse, que eu
seguisse o plano de vocês.
— Não é isso que você sempre quis? Do que você reclamava
incessantemente quando criança? — As palavras do meu pai me deram um
tapa, então um pensamento doentio me atingiu.
— Você sequer teve um ataque cardíaco?
— Não importa — minha mãe interrompeu, seu rosto uma máscara de
irritação.
— Não importa?! Acho que isso responde à minha pergunta, não é?
Você mentiu sobre ter um ataque cardíaco para ter um passe-livre por serem
os piores pais – patético. — Eu tirei a mão do meu pai do meu ombro.
Passando por eles, eu estava a um segundo de perder minha cabeça.
— Se você sair, nós o cortaremos. — A voz dela me seguiu, irritando
meus tímpanos.
Lentamente, me virei para encará-los.
— O que você quer dizer com “vão me cortar”?
— Não queríamos ter que fazer isso. Estávamos tentando facilitar as
coisas, torná-las simples. — Ela disse isso como se estivesse tentando me
convencer a comer bolo de chocolate em vez de baunilha.
— Tornar o que simples?
— Seu envolvimento na vida política pública. As diretrizes do
testemunho e da poupança são muito claras: podemos adiar a liberação de
sua poupança e suspender os pagamentos anuais se acharmos que você não
está cumprindo os valores dos Cunnings. — Parecia que meu pai tinha
finalmente criado coragem, uma que eu estava pronto para enfiar suas
palavras na sua bunda. Traição nem era uma palavra que eu pudesse
compreender quando se tratava daqueles dois. Você tinha que sentir algo
por alguém para eles te traírem. Aqueles dois eram estranhos glorificados.
— E que valores seriam esses? — Eu cuspi as palavras para eles.
— Podemos impedir que você acesse sua poupança se não fizer o que
dizemos. Ajudar seu pai a alcançar o potencial dele.
A respiração escapou de meus pulmões como se tivessem acertado um
disco no meu peito completamente desprotegido.
— Como diabos isso é possível?
— Há uma cláusula na poupança em que podemos tornar os fundos
completamente inacessíveis até nossa morte, se quisermos. — Toda a
pretensão do ar maternal que ela estava tentando colocar se foi agora. Essa
era a mãe fria como uma manhã de Dezembro que eu sempre conheci.
— O que vocês querem? — Meus dentes se cerraram e minha
mandíbula começou a doer. Eu precisava desse dinheiro. Eu estava falido
sem ele. Os planos que eu tinha, meus planos com Avery… eles morreram
sem aquele dinheiro.
— Queremos que você seja o filho atleta profissional perfeito de agora
até a eleição – e depois também, se as coisas progredirem da maneira que
queremos.
— Vocês querem que eu faça parte da sua pequena farsa da família
perfeita.
— Existem certas coisas que as pessoas esperam de uma figura pública.
Elas querem ver uma família feliz.
— Bem, você está começando sua carreira política bem cedo com essas
mentiras, porque não somos nada assim.
Harold bufou
— Ah, por favor. Pobre rapazinho rico. Você teve sua vida entregue a
você em uma bandeja de prata. Você nem pode reclamar que lhe faltou
alguma coisa.
— Não faltou nada além do amor das duas pessoas que mais deveriam
ter me amado.
— Está no passado. Estamos de olho no futuro. É um futuro para todos
nós e há certos sacrifícios que todos temos que fazer.
— Como eu? Como Avery? — Eu estremeci. Seu nome em meus lábios
era um suspiro de ar depois das ondas quebrando em cima de mim.
— Emmett, você não pode estar falando sério sobre aquela garota e o
pai viciado dela. Você sabe o que esse tipo de envolvimento pode fazer com
a nossa família e nosso legado? — Aparentemente, minha mãe decidiu que
era hora de declarar sua sabedoria materna.
— Tudo o que fizemos foi contar para aquela garota o que ela realmente
era para você.
Meu intestino revirou.
— O que vocês disseram a ela? — Resisti ao impulso de socar meu pai,
fazer sua boca sangrar. Isso daria uma boa foto.
— Só dissemos que ela não iria colocar as mãos no dinheiro da nossa
família.
— Ela nunca quis – nunca me pediu uma única coisa!
— Mas teria pedido. Sempre é assim. E com o passado dela, isso nunca
teria saído bem na mídia.
— Qual foi o acordo que vocês fizeram com ela? Me falem a coisa
toda! Tudo.
— Nós já te falamos.
— Não, vocês me falaram a parte que sabiam que mais me machucaria.
— E eu caí nessa.
— Nós limpamos a terrível bagunça familiar dela, colocamos o pai dela
na reabilitação, asseguramos que o conselho tutelar não levasse sua irmã e
garantimos que o pai dela continuasse no emprego. Um zelador – Emmett,
você não consegue ver o que esse tipo de associação pode fazer à nossa
família? — Ela disse as palavras como se eu estivesse namorando uma
assassina ou alguém que deveria ter sido internada em um manicômio. Mais
como se eu fosse o louco por pensar que eles poderiam se importar com
outra pessoa além de si mesmos.
Eles usavam as mesmas palavras que outras pessoas, mas eu achava
difícil acreditar que eram humanos. Alyson corria o perigo de ser levada
embora? Foi com isso que meus pais a ameaçaram – contar ao conselho
tutelar e realmente fazer com que eles a levassem? Conhecendo meus pais e
o quanto eles odiavam não conseguir o que queriam, eu não teria duvidado.
Se o pai de Avery tivesse perdido o emprego, Alyson não conseguiria
ter ido para a Rittenhouse. Avery tentou explicar, tentou me contar tudo…
até mesmo recentemente, ela tentou e eu a ignorei novamente, disse a ela
para dar o fora.
Olhei para o teto e fechei os olhos com força. Ela deveria ter me
contado naquela época. Eu poderia ter ajudado, mas com meus pais
segurando tudo isso sobre seus ombros, não havia nenhuma maneira de ela
ter arriscado alguém levar Alyson embora. Ela teria deitado no meio do
trânsito por ela. Eu não entendia antes. Como poderia, sendo filho desses
dois monstros? Meu olhar zangado se voltou para eles. Se a irmã dela
estava com problemas, não havia nada que Avery não faria para salvá-la, e
apesar de tudo que seu pai a fez passar, eu sabia que ela ainda o amava.
De certa forma, eu tinha certeza que ela poderia ter transformado tudo
isso no que teria sido melhor para mim, especialmente se ela soubesse que
meus pais eram contra nós ficarmos juntos. Todas as minhas palavras sobre
como foi ótimo me reconectar com eles, passar um tempo com eles, a
convidando para ficar conosco como se fôssemos uma família de verdade…
Eu fiz uma confissão para ela tarde da noite com uma vulnerabilidade que
eu só deixava ela ver. Eu disse a ela o quanto era uma merda que meus pais
não davam a mínima para mim.
Ela sacrificaria tudo se isso significasse que eu teria o que queria. Tudo
o que eu disse a ela sobre ela ser meu único sonho – eu não iria deixá-la
duvidar disso novamente. Nunca mais.
— Eu não dou a mínima para o que as pessoas pensam sobre eu estar
com Avery. Vocês dois… nem tenho palavras para descrever como vocês
são pessoas horríveis. Eu não quero fazer parte disso.
— Nós sabemos sobre a instituição. Sabemos tudo sobre sua situação
financeira. Você não tem uma perna para se apoiar. Como vai sobreviver
nos próximos anos sem nenhum dinheiro?
— Isso não é da sua conta. Vão se foder vocês e a eleição. Não estou
fingindo nada para que ganhe. Vocês não poderiam nem mesmo fingir ser
bons pais e tenho certeza que não vou sacrificar mais um segundo tentando
ser qualquer coisa para nenhum de vocês. Boa sorte com sua eleição — eu
cuspi com uma amargura tão forte e crua que picou minha língua. Saindo,
tentei me recompor. Eu nunca não tive o dinheiro da minha família para me
sustentar. Mesmo com o hóquei, se eu quisesse desistir, poderia a qualquer
momento. A faculdade foi uma reflexão tardia. Tudo foi uma reflexão
tardia.
Como eu faria isso sem o dinheiro? Era muito uma parte de mim. Quem
diabos eu era sem ele? Com táxis e carros passando zunindo por mim na
rua, deslizei meu telefone para fora do bolso e toquei em um contato, minha
mão tremendo quando o levei ao ouvido.
— Eu preciso de um favor.
33
AVERY
— A very, por favor, vem pra cá. Declan já conversou com ele. Ele
disse que não vem. Você precisa pegar o Percy.
Fiquei olhando para os grandes números piscando no canto do site
oficial. Era o dia do leilão. Em menos de uma hora, a Pão & Manteiga seria
vendida pelo maior lance. Eu fechei meus olhos com força. A dor maçante
dos últimos dias se transformou em um animal ferido abrindo caminho para
fora do meu peito.
— Avery!
Eu estremeci, olhando para o celular, e o levantei de volta ao meu rosto.
— Desculpa, Mak, não te ouvi.
— Sinto muito, Avery. Eu sinto muito.
Respirando fundo, lambi meus lábios secos.
— Ele falou alguma coisa?
— Eu não sei. Declan parecia muito chateado quando desligou o
telefone. Todos os caras têm mandado mensagens para ele. Declan me disse
que os pais dele te pagaram para você terminar com ele.
Meu estômago embrulhou com a pena em sua voz. Ela estava lá mais
uma vez, me oferecendo apoio, assim como estava no ensino médio.
— Eles pagaram. — Limpei meu nariz com as costas da minha mão.
— Tenho certeza de que você teve seus motivos. Eu vi você, Avery. Eu
te conheço e sei que você nunca faria algo assim – nunca seria tão egoísta.
— Talvez eu estivesse melhor agora se fosse. — Se eu tivesse sido
despreocupada o suficiente para deixar minha irmã para trás e ir morar com
Emmett, para não socorrer meu pai e deixá-lo sentir todas as consequências
de suas ações, para observar todo o circo pegando fogo, enquanto Alyson
era levada para um orfanato… talvez eles estariam melhor do que eu, e
minha vida teria…
Balançando a cabeça, não me permiti continuar indo em direção a onde
esse caminho poderia levar. A culpa apunhalou meu estômago por pensar
dessa forma por sequer um segundo.
— Você vai vir amanhã?
— Não acho que seja uma boa ideia. Eu preciso encontrar um trabalho,
decidir o que diabos vou fazer.
— Você precisa vir aqui para pegar o Percy. É feriado, então ninguém
está contratando. Você terá o carro e poderá dirigir para onde precisar ir à
procura de emprego no dia seguinte.
A ideia de enfrentar os Kings depois do que aconteceu me deixou
enjoada. Passei meus braços em volta da minha cintura. A náusea ameaçou
devolver o pouco que eu consegui engolir no início do dia.
— Vou pensar em algo.
A névoa em que eu estava vivendo não parecia que iria se dissipar tão
cedo. Chutando a porta no caminho para o quarto, eu bati minha cabeça na
minha cama.
— Pare de ser ridícula. Desça aqui e pegue seu maldito carro.
Eu deixei minha cabeça cair para trás contra o colchão duro atrás de
mim. O chão era meu novo lugar favorito. Fazia dias que eu não conseguia
me levantar. Sem emprego, sem faculdade, sem negócios, sem dinheiro –
péssima situação nem começava a descrever.
Meu pai estava na reabilitação. Alyson estava na USC. Todo mundo
estava no caminho para algo novo – exceto eu. Eu estava presa, agarrada à
saliência de um penhasco sobre um poço sem fundo.
— Estou voltando para a cidade então. Vou levar o carro até você.
— O que? Não. Não faça isso. Você tem razão, amanhã é dia 4, e eu sei
que você tem uma grande festa planejada. Não me deixe estragar tudo.
— Você não está estragando nada. Me deixa subir aí e buscar você.
Venha para a festa. Isso lhe dará a chance de relaxar.
O pânico causado pela ideia de Mak vir à minha casa e ver onde eu
morava todo esse tempo me estimulou a entrar em ação.
— Vou pegar o trem para Atlantic City e você pode me buscar lá. Eu
posso te deixar na casa e ir embora. Ninguém mais precisa saber. — Não
adianta fazê-la subir até a cidade. Eu poderia ir e voltar antes da festa.
— Você tem certeza? Você está bem?
Não.
— Eu vou ficar bem. Vou ir para aí amanhã. Eles estão no horário de
feriado, então há apenas alguns trens.
— Me avise qual vai pegar e eu estarei lá.
— Falo com você mais tarde, Mak.
Encerrando a ligação, olhei para a pintura azul clara na minha parede.
Depois de clicar em atualizar na página do site de leilões, vi um grande
banner vermelho anunciando que havia sido vendido. As lágrimas
escorrendo não foram acompanhadas pelo aperto no meu peito ou o nó na
garganta. Elas cairam pelo meu rosto em silêncio. Eu não tinha mais nada.
A batida forte na porta da frente me tirou do meu torpor. A suave luz do
sol que estava se filtrando quando eu estava em minha ligação com Mak foi
substituída por uma escuridão totalmente preta. Passei minha mão em meu
rosto, secando minhas bochechas na minha camisa.
Outra batida forte. Pegando o taco de beisebol do canto, andei devagar
pelo corredor e olhei pelo olho mágico.
Relaxando meu aperto no taco, causado pelo choque, abri a porta.
— O que você quer?
Se havia alguém mais repugnante que os pais de Emmett, era esse cara.
Eu o vi rondando os Cunnings naquele dia na cobertura, espreitando ao
fundo.
— Senhorita Davis, não nos conhecemos formalmente. Sou Harold
Sexton. Eu trabalho para o Sr. e a Sra. Cunning.
— O que você quer? — Eu odiei a maneira como seus olhos correram
sobre mim enquanto ele estava do lado de fora da minha porta.
— Talvez seja melhor conversar sobre isso lá dentro.
Envolvi meus dedos em torno da porta e inclinei meu corpo contra ela.
— Que tal não?
— Tudo bem, vamos fazer isso do seu jeito. — Ele enfiou a mão no
bolso do terno.
Recuei, dando um passo para trás e erguendo o taco, mas era apenas um
envelope branco fino que pendia de seus dedos.
Minhas sobrancelhas franziram e eu olhei entre ele e o papel creme.
— O que diabos é isso?
— Esse é o próximo capítulo da sua vida.
— Eu não quero. — Cerrei meus dentes. — Eles acham que podem me
comprar novamente, fazer com que eu faça o que eles querem? Isso vale
para todos vocês: vão se foder! — Eu fechei a porta com força, mas ela
voltou para trás.
Seus sapatos brilhantes provavelmente custavam mais do que eu paguei
no Percy, mas eles estavam prestes a ficar seriamente destruídos.
— Seja razoável, Senhorita Davis. Você não tem dinheiro. Você tem
uma irmã na USC e um pai na reabilitação. Os Cunnings não poderão
intervir pelo trabalho dele nesse momento.
— Eu não me importo. Nós vamos dar um jeito. Não vou deixar que me
comprem novamente. Eu vou encontrar meu próprio caminho como sempre
fiz, então você pode ligar para eles e mandarem enfiar esse suborno onde o
sol não bate. — Eu apertei o taco em seu pé, fazendo-o gritar e pular para
trás.
Fechando a porta na cara dele, descansei minha cabeça contra ela. Eles
pensaram que poderiam me comprar – de novo – pensaram que poderiam
tratar a vida das pessoas como se fossem peças inconvenientes em um jogo
de tabuleiro que poderiam mover como quisessem, mas eu não iria mais
rolar que nem um cachorrinho por eles. Não me admira que Emmett não
conseguiu perceber o que era real do que não era. Seus pais não sabiam
como lidar com um problema que não podiam resolver com dinheiro.
No dia seguinte, eu pegaria Percy e iria para outro lugar, talvez visitar
Alyson na Califórnia.
Talvez eu possa até começar do zero.
Descobri que pegar um dos quatro trens que circulavam no feriado não era a
melhor ideia. A única razão pela qual consegui um assento foi porque
embarquei na Filadélfia, que foi a primeira parada.
Vermelho, branco e azul cobriam todas as superfícies e pessoas. Não
recebi o memorando. Meus jeans e blusa de moletom cinza eram o conforto
que eu precisava. Determinada a não desmoronar, desci do trem e saí da
estação, uma em um mar de centenas.
Mak baixou a janela e acenou para mim. Eu parei bem no meio da rua.
Uma buzina soou ao meu lado e corri para fora do meio do cruzamento.
Estacionado do outro lado da rua, Percy brilhava à luz do sol poente. Corri
até o carro e entrei.
— Ele definitivamente parece bem. — Eu bati a porta e ela trancou
imediatamente.
— Eles fizeram um trabalho incrível em tão pouco tempo.
Corri minhas mãos ao longo do painel liso. Ainda era Percy, mas ele
brilhava como nunca brilhou antes.
Eu coloquei minhas mãos no meu colo. Emmett tinha feito isso por
mim, antes de tudo desmoronar, quando as coisas não eram uma lixeira
cheia de comida de uma semana completamente engolfada em chamas. Eu
afundei contra o assento e soltei um suspiro instável. Engolindo o nó na
garganta, corri minhas mãos ao longo do estofamento macio e escorregadio.
Eu só podia imaginar o show gigante que ele teria feito por causa disso.
Fiquei surpresa que não havia um laço gigante no topo.
— Emmett os mandou fazer um bom trabalho. O enorme laço está no
porta-malas, se você quiser. Achei que seria difícil dirigir com ele grudado,
então o escondi lá.
Eu balancei minha cabeça.
— Vou encontrar uma maneira de devolver tudo isso. — Eu estava me
sentindo em dívida com os Cunning – todos eles.
Mak entrou na rua movimentada. Fiquei admirada com a suavidade do
passeio e o cheiro de carro novo. Havia plugues USB no lugar do velho
toca-fitas, e os dois faróis funcionavam em perfeito alinhamento.
Paramos na frente da casa de praia e eu estava animada para levá-lo
para casa. Eu pensei que talvez visitar Alyson não fosse uma ideia tão ruim.
Eu poderia até dormir nessa coisa – o banco traseiro estofado parecia
confortável o suficiente agora.
Mak saltou do carro e guardou as chaves no bolso.
— Que foi, caralho? Me dê as chaves.
— Uma bebida – entre para tomar uma bebida. Aproveite os fogos de
artifício e então você pode ir para casa.
— Não, de jeito nenhum eu vou entrar lá.
— Então, eu não vou te devolver as chaves. — Ela correu para os
degraus.
Eu a persegui, nossos pés batendo contra a escada de madeira. Eu
agarrei seu cinto e a puxei para trás, mas ela agarrou a porta de tela.
— Para com isso e entra — ela gritou, tentando soltar meus dedos, que
estavam cavando em seu bolso, procurando por minhas chaves.
— Avery? — Ford colocou a cabeça para fora da porta de tela
parcialmente aberta.
Eu soltei Mak, pronta para fugir. Meu coração batia forte contra minhas
costelas. Girando, eu parei com tudo um degrau abaixo quando Heath e
Declan apareceram na parte inferior da escada. Minhas costas pressionaram
contra a corrimão. Eu estava encurralada. Avaliei as possibilidades de pular
sobre o corrimão a essa altura. Minhas unhas cravaram na madeira atrás de
mim.
Os dois subiram os degraus antes de pararem na minha frente. Eu me
preparei.
— Estamos felizes por você ter vindo. — Declan seguido por Heath, me
abraçaram. Lágrimas encheram meus olhos. — Você quer uma bebida?
Vamos pegar uma bebida para você.
Encurralada pelos corpos nas escadas, entrei com eles.
— Aqui está. — Colm me entregou uma bebida em um copo de plástico
vermelho.
Eu sorri fracamente, não confiando em minha voz. Minha garganta se
apertou. Expirando pela boca, tentei me acalmar. Não houve olhares de
raiva. Sem confrontos sobre como ousei mostrar meu rosto e não havia
nenhum Emmett.
A festa começou em alta velocidade. Música retumbava nos sons
instalados do lado de dentro e de fora. Um pequeno palco na praia em frente
à casa e um bar totalmente abastecido com bartender me disseram que
Emmett tinha uma mãozinha nisso.
Por mais que eu quisesse fugir, Mak ainda tinha minhas chaves e
alguém sempre parecia estar posicionado bem na frente da porta. Eu escapei
para a varanda da cozinha. Balançando minha bebida, olhei para o lado da
baía da ilha. As pessoas corriam pelas ruas, caminhando para seus locais
perfeitos para verem os fogos de artifício.
— Eu imaginei que tinha visto você aqui. — Eu pulei com a voz atrás
de mim. Era familiar, embora não fosse a que eu queria ouvir.
— Ei, Noah. — Eu descansei meus braços contra o parapeito de
madeira.
— Ei, Avery. Você foi embora sem se despedir. Achei que você não
voltaria.
— Eu não estava planejando voltar. Achei que você tivesse ido embora
também.
— Esse era o plano, mas meu irmão veio para cá um pouquinho, depois
teve que voltar. Ele não terminará de gravar até o final do verão agora,
então ele nos disse para ficarmos mais um pouco. Não estou com pressa de
voltar para o mundo real ainda, então vou ficar.
Ele estava pronto para adiar a volta para o mundo real enquanto eu
procurava freneticamente por aquela porta na parte de trás do guarda-roupa
para o lugar despreocupado para o qual todos os outros pareciam ter sido
convidados, um lugar que eu nunca tinha visto, onde as verdadeiras
responsabilidades e pressão não existiam.
— Isso é legal. Vou ficar aqui só essa noite. Eu tive que voltar para
pegar meu carro.
— É aquele? — Ele apontou para Percy na garagem abaixo de nós.
— Esse mesmo. — A porta atrás de nós se abriu e a música de dentro
retumbou.
— É um carro legal. — Seus dedos se aproximaram dos meus.
— Obrigada. Eu nunca imaginei que ele poderia ficar tão incrível. —
Os cabelos da minha nuca se arrepiaram.
— Avery…
— Estou feliz que tenha gostado. — O estrondo profundo da voz que eu
conhecia quase tão bem quanto a minha enviou um choque direto pelo meu
sistema.
Girando, engasguei com o ar.
— Você está certa, ele nunca esteve melhor.
Eu me pressionei contra a grade, meu olhar disparando entre Noah e
Emmett. A culpa azedou meu estômago, embora eu não tivesse feito nada
de errado.
— O que você está fazendo aqui? — Minhas palavras saíram roucas e
rápidas.
— Você se importa em nos dar um minuto, Noah? — Não havia uma
pitada de raiva ou acusação na voz do Emmett.
34
EMMETT
AVERY
AVERY
Um Ano Depois
EMMETT
Ela estava deslumbrante como sempre, ainda mais com meu anel em seu
dedo. Finalmente! Quase me matou não colocar aquele anel em seu dedo,
mas esperar mais um ano sem ser capaz de mimá-la como eu sempre quis
foi ainda pior. Talvez essa fosse parte da razão pela qual ela estava
aceitando tão tranquilamente quando eu fazia coisas para ela, comprava
coisas para ela. Nosso ano morando separados havia terminado com minha
transferência para a Filadélfia. Mas toda a coisa do orçamento ainda era
uma necessidade. Não havia a opção de exagerar. Isso com certeza não era
mais o caso.
Depois da derrota satisfatoriamente humilhante do meu pai na disputa
para governador, ele e minha mãe se esconderam sob as rochas das quais eu
esperava que nunca tivessem saído. O vídeo no YouTube da sua reação ao
ouvir que ele perdeu depois das quantias insanas de dinheiro que eles
gastaram na campanha ainda aparecia de vez em quando.
Sem o suposto poder de meu pai na mistura, Randolph e Franklin
conseguiram me dar acesso a minha poupança seis meses atrás.
Eu ainda não tinha contado a Avery.
Ela levantaria aqueles antigos escudos novamente se soubesse, mas eu
finalmente precisava contar a ela.
Eu estava jogando com Heath, Declan e Ford por quase um ano. Era
igual aos velhos tempos e as coisas nunca estiveram melhores. Colm havia
sido negociado para a Filadélfia, mas machucou o joelho durante o primeiro
jogo. Depois de sua passagem pela fisioterapia em Los Angeles, os Kings
estariam reunidos.
— Seu aniversário de casamento está chegando. — Eu bati no ombro de
Declan.
— Louco demais, não é? — Declan correu o polegar sobre o anel de
platina brilhante em seu dedo.
Seu casamento no verão passado me deixou ansioso para finalmente
colocar o segundo anel no dedo de Avery. Em breve. Muito em breve.
— A Olivia está vindo ou o quê? — Os olhos de Heath examinaram a
multidão.
— Ela disse que estava saindo com alguns amigos e nos encontraria
aqui. — Eu tomei um pouco da minha bebida, meus olhos fixos em Avery
na pista de dança com Kara e Mak. A atenção que elas estavam recebendo
significava que todos nós estávamos de olho nelas.
— Colm já me mandou uma mensagem vinte vezes pedindo para cuidar
dela hoje à noite. — Heath riu.
— Eu sei, acho que todos nós recebemos. — Colm mandava mensagens
sem parar enquanto fazia fisioterapia em Los Angeles depois de um
pequeno ferimento.
— Puta merda! É o Ford! — Declan estendeu seu celular, quase o
enfiando no meu rosto. Ele tinha um aplicativo de rede social aberto e
alguém havia gravado Ford em um bar. Ele nos disse que não conseguiria
sair e passaria a noite em casa.
— Ele nos abandonou. Não é legal! — O loop do vídeo começou
novamente no telefone de Declan.
— O que diabos ele está fazendo? — Heath olhou por cima do ombro
de Declan, tentando obter uma visão melhor.
No vídeo, Ford estava em pé ao lado de um bar com a mão na nuca de
uma mulher e a outra desaparecia entre eles. Parecia que seu aperto poderia
ser a única coisa mantendo o corpo dela de pé pela maneira como ela
agarrava o braço dele. Seu rosto estava pressionado contra o lado dela.
— Puta merda, os dedos dele estão onde acho que estão? — Todos nós
inclinamos nossas cabeças para descobrir o que estávamos vendo. Um
puxão revelador em sua saia e a forma como seu corpo afundou contra ele
nos disse tudo o que precisávamos saber. — Em público? Nós sabíamos que
ele era uma besta, mas caramba, isso é algo de outro nível, olha como os
joelhos dela estão dobrando. — Heath sorriu de orelha a orelha.
— O que diabos vocês três estão fazendo?
Mak abriu caminho através da parede semicírcular que tínhamos
construído e olhou para a tela.
— O que Ford está fazendo com a Olivia? — Ela inclinou a cabeça e
bebeu um gole da sua bebida.
— O que? — Todos nós gritamos ao mesmo tempo.
— Essa não é Olivia. — Declan balançou a cabeça como se tivesse
entrado em uma cena de crime em um filme de terror.
— Claro que é. Olhem para a mecha. — Ela bateu na tela e lá estava –
fraco para a maioria das pessoas, mas definitivamente estava lá.
Meu estômago afundou.
— Ah, merda.
— Espera, o que o Ford está fazendo? — O sangue foi drenado de seu
rosto e sua boca abriu antes de fechar e abrir como um peixe, agora que ela
viu mais do vídeo.
— O que está acontecendo? — Os braços da Avery envolveram meu
pescoço e seu peito pressionou contra minhas costas enquanto ela espiava
por cima do meu ombro. Seus olhos se arregalaram quando ela olhou para a
tela. Abaixando os braços, ela deu um passo para o meu lado. — Me digam
que não é o que estou pensando. — O olhar severo em todos os nossos
rostos disse a ela tudo o que ela precisava saber.
— Me deixa ver. — Kara agarrou o telefone da mão do Declan,
cobrindo a boca quando o vídeo começou novamente. — O Colm sabe? —
Os olhos de Kara estavam grudados no vídeo.
Julgando pelo fato de que a Terra ainda estava girando em seu eixo, eu
diria que não.
— Caramba, isso é ÉPICO!
[1] Long Island Iced Tea - O Long Island Iced Tea é um tipo de Coquetel
alcóolico normalmente preparado com vodka, tequila, rum claro, triple sec,
gin, e um toque de refrigerante de cola, que dá ao preparado a mesma
coloração da bebida que lhe empresta o nome.
[3] Backsplash - Backsplash é à área que fica localizada atrás da pia, entre a
parede do balcão e os armários superiores.