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Sinopse
Das autoras mais vendidas do New York Times, Vi
Keeland e Penelope Ward vem uma história de amor sobre correr
riscos, e as surpresas que vêm com eles.

A minha história de amor começou com uma carta.


Só que não era do homem por quem acabaria me
apaixonando. Era da filha dele. Uma doce menina chamada
Birdie Maxwell que escreveu para a revista para a qual eu
trabalhava.
Você vê, uma vez por ano, meu empregador realizava
alguns desejos dos leitores. Só que a coluna não iniciaria por
meses.
Então realizei alguns dos desejos dela. Foi inofensivo...
ou assim pensei. Até que um dia levei as coisas longe demais.
Enquanto anonimamente concedia mais um dos desejos
de Birdie, consegui ver seu pai. Seu pai devastadoramente
bonito e solteiro.
Eu deveria ter parado de brincar de fada madrinha, logo
depois. Eu deveria ter esquecido o assunto. Mas simplesmente
não consegui evitar. Eu tinha uma conexão com essa garota.
Uma que me fez agir irracionalmente.
Como aparecer à porta deles.
CAPÍTULO 1

SADIE

Faça: Diga a sua parceira como ela está bonita.


Não faça: Diga ao seu encontro o quanto ela se parece
com sua ex-noiva... mas com um pouco mais de carne nos
ossos.
O artigo desta semana foi fácil. Tudo que tive que fazer foi
resumir o tempo que passei com Austin Cobbledick na noite
passada. Não, não estou brincando. Na verdade, esse era o
nome dele – uma jogada inteligente de Austin Cobb no
Match.com. De qualquer forma, o nome não era o pior. O cara
era simplesmente horrível. Eu poderia ter escrito a coluna do
que Fazer e não fazer em um encontro desta semana sobre, pelo
menos, meia dúzia de coisas que o cara fez de errado. Vamos
ver...
Eu olhei sem foco para o monitor do computador na
minha mesa e bati meu dedo no meu lábio inferior,
ponderando as outras escolhas.
Faça: Feche a boca ao espirrar.
Não faça: Deixe partículas de comida da refeição que você
acabou de mastigar com a boca aberta por todo o casaco
Burberry do seu encontro. (Que, a propósito, deixei na
lavanderia esta manhã. Devo enviar a maldita conta para
Cobbledick. Não é de admirar que haja um “ex” na frente da
palavra “noiva” quando ele fala nisso.)
Embora um artigo sobre espirrar provavelmente não
decolasse. O grupo demográfico de 21 a 28 anos que lê
a revista Modern Miss tende a ser um pouco melindroso. Talvez
ficassem mais interessados em outro artigo sobre Cobbledick:
Faça: Peça uma cerveja, refrigerante, água ou uma taça
de vinho durante o seu encontro.
Não: Peça um Shirley Temple e use-o como um adereço
para mostrar sua habilidade em dar um nó em uma haste de
cereja quando conhece uma mulher há cinco minutos.
Balde de merda total.
Minhas ruminações foram interrompidas por minha
colega de trabalho Devin vindo entregar a correspondência. Ela
colocou uma pilha de envelopes na caixa de entrada no canto
da minha mesa e disse: — Quer Starbucks? Vou lá rapidinho.
Observe, ela ainda tem um copo inacabado na mão.
Devin era uma das editoras de moda da revista. No
entanto, às vezes, quando a observava, isso me fazia coçar a
cabeça. Hoje ela estava com um vestido baby-doll branco,
jaqueta de lantejoulas prata brilhante, botas de borracha
amarela e um lenço colorido que envolvia seu pescoço e caía
quase até o chão… e nem estava chovendo. Eu mordi minha
língua. Afinal, ela acabara de pegar minha correspondência na
sala de correspondência e agora se oferecia para ir buscar
café. Eu tinha juízo o suficiente para não morder a mão que
me alimentava. Além disso, Devin era uma das minhas
melhores amigas.
Abri a gaveta da minha escrivaninha, tirei a carteira da
bolsa bagunçada e peguei uma nota de dez dólares. — Quero
um grande café com leite de soja e baunilha sem açúcar gelado.
E o seu é por minha conta.
Ela franziu o narizinho empinado. — Há mesmo café
nisso?
— Expresso.
— Oh. OK. Volto em alguns minutos. — Ela se virou e
começou a andar, então parou na porta do meu escritório. —
A propósito, como foi seu encontro na noite passada?
— Ele se transformou em um artigo, cinco minutos
depois.
Ela riu. — Talvez você devesse voltar para o eHarmony?
Nos últimos dois anos, experimentei Match, Plenty of
Fish, eHarmony, Zoosk e Bumble. Eu até tentei o Jdate, o site
onde os judeus procuravam outras pessoas religiosas
semelhantes para namorar, embora eu não fosse realmente
judia . Minha má sorte no namoro era uma merda, mas
funcionava para as colunas semanais que eu precisava
escrever em minha posição como redatora de uma revista.
— Estou pensando em experimentar o Grindr, na
verdade.
— Achei que aquele site fosse para gays, bi e transexuais?
— Posso reconsiderar minhas opções depois do meu
encontro na noite passada.
Devin riu, achando que eu estava brincando. Mas se
houver mais encontros como os últimos, talvez tenha que
reconsiderar seriamente o quanto gostava de pênis.
Decidi esperar até que ela retornasse com meu café antes
de voltar a trabalhar no artigo que precisava terminar. Para
passar o tempo, peguei a nova pilha de correspondência e
comecei a separá-la.
Propaganda.
Propaganda.
Currículo de alguém querendo estagiar na revista.
Provas de layout do departamento de cópia.
Propaganda.
Carta de uma mulher que não gostou do meu uso da
palavra “calcinha” no artigo da semana passada. Era uma
página inteira de frente e verso, digitada. Obviamente ela
estava com muito tempo disponível.
Parei no penúltimo envelope. Este não estava endereçado
a Sadie Bisset ou ao editor. Estava endereçado ao Papai
Noel. Vendo que era junho, olhei para o carimbo do correio,
pensando que talvez a carta tivesse se extraviado no
correio. Mas... Não. O carimbo do correio era de apenas três
dias. Cada um dos redatores da Modern Miss escreviam
colunas semanais definidas, mas também tínhamos que
publicar um artigo sazonal ou relacionado a feriados. Eu era
encarregada do artigo Holiday Wishes1 que ocorria durante
novembro e dezembro. Portanto, não era tão incomum receber
uma carta endereçada ao Papai Noel. Embora a época fosse
obviamente estranha. Não tínhamos sequer colocado o
endereço de correspondência na revista desde dezembro
passado. Mesmo assim, rasguei o envelope e recostei-me no

1 Desejos de Natal
assento, curiosa sobre essa pessoa que estava impaciente
demais para esperar mais alguns meses.
Querido Papai Noel,
Meu nome é Birdie Maxwell e tenho dez anos e meio.
A primeira linha me fez sorrir. Com que idade parei de
dizer e meio? Tecnicamente, eu tinha 29 anos e meio. Mas
certamente não queria me aproximar mais dos trinta do que o
necessário. Hoje em dia, preferia dizer final dos vinte anos do
que minha idade real. Birdie, por outro lado, provavelmente
queria parecer mais madura. Eu também fazia isso nessa
idade. Voltei a ler, curiosa para saber qual era o desejo da
menina.
Embora esteja escrevendo esta carta, não tenho certeza se
acredito mais em você. Sei que parece idiota, já que estou
escrevendo e tudo. Mas tenho meus motivos. Você me
decepcionou. Se realmente existe um você. Talvez esta carta
nunca seja aberta porque você não existe. Eu não sei.
Enfim, há quatro anos, escrevi uma carta para você e pedi
para fazer minha mãe melhorar. Ela estava com câncer. Mas ela
morreu em 23 de dezembro. Quando chorei e disse que você não
existia, papai me disse que o Papai Noel era só para crianças e
não dava certo pedir coisas para adultos. Então, no ano
seguinte, pedi uma Schwinn azul com uma cesta branca com
flores rosa, um sino que emitia um som de grasnido e uma placa
de carro com meu nome. Nada nunca vem com o nome Birdie.
Não ímãs, ou canecas de café, e, definitivamente, não placas de
bicicleta. Mas você conseguiu. Minha bicicleta é super incrível,
mesmo que papai diga que minhas juntas estejam começando a
se arrastar no chão quando ando nela.
Então, no ano passado, pedi um cachorrinho. Eu realmente
queria um Dogue Alemão chamado Marmaduke, com um olho
azul e outro castanho. Mas você não trouxe um
cachorrinho. Papai tentou me dizer que Papai Noel não traz
presentes vivos. Ele não sabia que Suzie Redmond, a garota
mais chata da minha classe, pediu um porquinho-da-Índia e
ganhou um do suposto Papai Noel. Enfim, como eu disse, não
tenho certeza se você é real. Ou se alguma das regras que papai
me falou que o Pai Noel tem de seguir são verdadeiras. Mas
achei que essa seria uma boa forma de enviar minha lista deste
ano. Bem, não é realmente uma lista, mas quero uma grande
coisa...
Se você for realmente o Papai Noel, pode trazer uma amiga
especial para meu pai e para mim? Meio como uma mãe, mas
não uma mãe porque eu só tenho uma mãe, e ela se foi. Mas
talvez alguém que faça papai rir mais. E se ela souber fazer
tranças, seria muito legal. Papai é muito, muito ruim com elas.
Obrigada!
Birdie Maxwell
P.S.: Eu sei que é verão. Mas achei que demoraria um
pouco para encontrar a amiga especial certa.
P.P.S.: Se você for real, papai precisa de algumas meias
pretas. As que ele está usando hoje tinham um buraco no dedão
do pé.
P.P.P.S.: E se você for real, pode me mandar azeitonas? As
grandes negras que vêm em lata. Não temos mais e papai
finalmente me deixou usar o abridor de latas. Gosto de colocar
uma em cada dedo e comê-las na frente da TV.
Pisquei algumas vezes, absorvendo tudo. Foi a carta mais
doce e altruísta que já passou pela minha mesa. O fato de que
a menina perdeu sua mãe com apenas sete anos fez meu
coração doer. Eu tinha seis anos e meio quando minha mãe
morreu de câncer. E, oh meu Deus… Eu tinha acabado de
pensar na última vez que vi minha mãe e percebi que me
lembrava da minha idade – seis anos... e meio.
Oh, Birdie. Eu te entendo totalmente. Nos anos após a
morte da minha mãe, meu pai raramente sorria também. Meus
pais foram namorados no ensino médio. No Dia dos
Namorados na nona série, ele lhe deu um anel de brinquedo
de diamante enquanto estava na frente da pizzaria no final do
quarteirão da escola. Cinco anos depois, ele a levou de volta ao
local exato e propôs com um anel de verdade. O amor deles era
do tipo que as meninas sonham. Embora inspirador, o
romance deles tinha um lado negativo. Meus pais
estabeleceram um padrão tão alto de como deveria ser um
relacionamento que me recusei a aceitar.
Suspirando, reli a carta. Na segunda vez, tinha lágrimas
nos olhos quando terminei. Eu não tinha certeza do que
poderia fazer por Birdie, mas tive o desejo repentino de ligar
para meu pai. Então fiz isso.
Como uma nova-iorquina típica, eu não fazia compras de
alimentos, mas visitava o minúsculo mercado da esquina no
caminho para minha casa todos os dias. Cairo, o cara que
trabalhava atrás do balcão, se mudou de Bahrein para cá com
o sonho de se tornar um comediante de stand-up. Ele tratava
seus clientes como se fôssemos seu público-teste.
Comecei a descarregar os itens da minha cesta no balcão.
— Ontem à noite, eu disse à minha esposa que ela estava
franzindo muito as sobrancelhas. Ela pareceu surpresa.
Eu ri e balancei a cabeça. — Fofo, Cairo. Mas você me
conhece, eu gosto das sujas.
Cairo olhou em volta e fez sinal para que eu me
inclinasse. — Uma menina notou que começou a crescer
cabelo entre suas pernas. Sem saber o que era, ela ficou
nervosa e perguntou à mãe se era normal. A mãe dela
respondeu: ‘É normal, querida. Isso é chamado de macaco.
Significa que você está se tornando mulher’. A garota ficou
animada. Naquela noite, no jantar, ela se gabou disso para a
irmã. ‘Meu macaco tem cabelo agora!’ Sua irmã sorriu. ‘Grande
coisa. O meu já comeu uma dúzia de bananas’.
Eu ri. — Mantenha essa no número.
Cairo apontou para o corredor atrás de mim. — Você
viu? Encomendei mais daqueles biscoitos de chocolate que
você gosta tanto.
Eu gemi. Biscoitos de wafer Pirouline com recheio de
avelã era meu ponto fraco. Tinha sorte que a maior parte do
meu peso ia para a minha bunda, e traseiro grande estava na
moda agora. — Eu disse para você parar de encomendá-los.
Ele sorriu e acenou com a mão. — Vá. Por minha conta.
Suspirei. Mas, ainda assim voltei pelo corredor. Por que…
bem… biscoitos. A pequena loja local de Cairo não tinha lógica
para a colocação do produto. As esponjas estavam empilhadas
ao lado do espaguete e do outro lado estavam os biscoitos.
Peguei a caixinha da frente e, quando me afastei, notei uma
pilha de latas perto de onde eu tinha acabado de pegar os
biscoitos wafer. Azeitonas pretas. Sorri, pensando em Birdie, e
comecei a voltar para o caixa. Dei apenas três passos antes de
me virar e pegar duas latas de azeitonas da prateleira.
Cairo começou a me contar três piadas terríveis sobre
azeitonas enquanto eu acabava de pagar minhas compras. Saí
com dois sacos de mantimentos e não tinha ideia do que diabos
faria com as azeitonas, mas por alguma razão, cantarolei Jingle
Bells todo o caminho para casa.
CAPÍTULO 2

SADIE

— O que diabos você está fazendo?


Na tarde seguinte, Devin entrou em meu escritório e me
encontrou com um rolo de papel de embrulho de Natal listrado
de bengala-doce sobre a minha mesa e uma lata no meio. Dei
de ombros e comecei a cortar o papel. — Embrulhando
azeitonas.
— Uh. Por quê?
Peguei o saco plástico que estava na minha cadeira e
levantei o item que comprei na hora do almoço. — Como você
acha que eu deveria embrulhar isso? Não tenho uma caixa.
As sobrancelhas espessas de Devin franziram. — Você
quer embrulhar meias pretas masculinas?
Larguei a tesoura e envolvi o papel de embrulho com
motivo natalino vermelho e branco na lata. — Bem, eu não
posso mandar as azeitonas em papel decorado e não as meias.
Ela arrancou as meias da minha mão e as enrolou em
uma bola. — Eu tenho dois irmãos. Meu pai costumava me dar
vinte dólares para comprar um presente para cada um deles
no feriado. Todo ano eles ganhavam meias de liquidação por
um dólar, e eu usava o resto do dinheiro para comprar
maquiagem. É melhor embrulhá-las dobradas assim, em uma
bola.
— Oh. Inteligente.
Devin se encostou na minha mesa e moveu o durex para
mais perto de mim. — Então, para quem são as azeitonas e as
meias? Cara novo que não conheço?
Eu balancei minha cabeça. — Não, são para Birdie.
— Ohhhhh. Birdie. — Ela assentiu como se tudo fizesse
sentido. — Quem diabos é Birdie?
— É uma garotinha que escreveu para a caixa de correio
Holiday Wishes. Quero realizar alguns de seus desejos.
— E ela quer meias masculinas e azeitonas pretas?
— Sim. E uma amiga especial para seu pai. A mãe dela
morreu de câncer há alguns anos. Tão doce.
Devin franziu a testa. — Isso é péssimo. Mas como é o pai
dela?
— Como vou saber?
Ela encolheu os ombros. — Ele é solteiro. E está prestes
a ganhar meias limpas. Isso é melhor do que metade dos
homens com quem você já saiu recentemente.
Eu ri. — Verdade. Mas acho que não.
— Como quiser. Sua filha parece um pouco estranha de
qualquer maneira. Quem pede azeitonas ao Papai Noel?
Parei de embrulhar e olhei para ela. — Quando eu tinha
sete anos, pedi um galo porque queria ovos marrons frescos.
— Mas… galos não botam ovos.
— Eu não disse que era a menina de sete anos mais
inteligente.
Devin riu quando saiu do meu escritório. — Acho que
você acabou de dar sentido a por que deveria pesquisar o pai
de Birdie no Google. Parece que vocês são uma combinação
perfeita.
*-*-*
Eu acabei não pesquisando ninguém no Google. Na
verdade, depois de mandar as azeitonas e as meias para Birdie,
desejei-lhe felicidades e não pensei mais nisso. Isto é, até que
outro envelope apareceu na revista cerca de uma semana
depois. Quando notei o nome dela no endereço do remetente,
imediatamente larguei a outra correspondência e abri o
envelope.
Uma foto caiu da carta no chão. Quando a peguei, o que
meus olhos encontraram foi uma linda garotinha com cabelos
dourados e um sorriso brilhante que derreteu meu
coração. Era uma foto escolar do tamanho de uma carteira.
Uau. Essa é ela. Parecia surreal olhar para a verdadeira
Birdie. Ela era tão bonita, com olhos amáveis e, de tudo que
eu sabia, uma alma linda para combinar. Coloquei a foto de
lado e li a carta.
Querido Papai Noel,
Oh meu Deus. Oh meu Deus. Oh meu Deus! Você é real.
Você é realmente real. Hoje ganhei azeitonas e meias.
Os buracos cabem nos meus dedos! Não os buracos nas
meias. Os buracos nas azeitonas. As meias não tinham
furos. As meias do meu pai não têm mais buracos. Elas são
agradáveis e macias. Você deveria tê-lo visto quando encontrou
as meias na gaveta! Ele ainda não sabe como elas chegaram
lá. Ele disse que hoje deve ter sido seu dia de sorte porque as
encontrou. E eu ri. Foi tão engraçado! E então ele me levou para
a sorveteria ao lado de seu restaurante para comemorar nosso
dia de sorte. Não pude dizer a ele que estava muito cheia porque
tinha acabado de comer uma lata de azeitonas.
Eu te disse que meu pai é dono de um restaurante
chique? As pessoas usam salto alto para comer lá. Prefiro comer
no meu pijama confortável. Mas papai me faz usar um vestido
na noite de encontro. Isso ocorre na primeira terça-feira de cada
mês. Mamãe costumava ir com ele. Mas agora eu vou. É meu dia
favorito do mês. Não porque gosto de parecer sofisticada e
comer no restaurante do papai, mas porque, depois do jantar,
papai volta para casa comigo. Ele geralmente trabalha até
muito tarde.
Oh! E também não disse a ele que escrevi para você. Ele
teria me dito que era muito cedo para escrever para o Papai Noel
e que não deveria ser gananciosa.
Ontem à noite, eu disse ao meu pai que realmente quero
que outra pessoa trance meu cabelo além dele. Ele não sabe
como fazer isso direito. Então o peguei assistindo a um vídeo no
YouTube sobre como fazer tranças. Eu lhe disse que queria o
tipo de trança que começa no topo da minha cabeça. Uma
chique. Ele estava assistindo alguém fazer esse tipo de
trança. Se ele tentar fazer uma trança assim no meu cabelo, vou
me sentir mal e deixá-lo fazer. E vou parecer boba.
De qualquer forma, só queria agradecer por me mostrar
que você é real.
Birdie Maxwell
P.S.: Estou enviando uma das minhas fotos da escola. Eles
me deram muitas, e não tenho ninguém para dar além de papai
e minhas avós.
P.P.S.: Eu adicionei algo à minha lista de Natal. Você já
ouviu falar do 23andMe? Na escola, fizemos grandes árvores
que mostravam todos os nossos pais e avós em diferentes
galhos. A Sra. Parker nos falou tudo sobre como você pode
cuspir em um tubo e encontrar pessoas relacionadas a você há
centenas de anos. Quero adicionar galhos à minha árvore, o
suficiente para cobrir uma parede inteira do meu quarto! Minha
árvore era uma das mais estreitas da escola porque não tenho
irmãs ou irmãos.
P.P.P.S.: Não estou tentando dar uma dica. Não quero que
você compre para mim. Minha tia sempre compra vestidos que
eu não gosto, então vou poupar isso para o que ela me der este
ano!
Soltei um longo suspiro e continuei olhando para a
foto. Birdie realmente poderia ter sido eu na idade dela.
Tínhamos muito em comum, desde nosso cabelo loiro até…
bem, nossas mães mortas.
E sua menção as tranças trouxe totalmente de volta
memórias do meu próprio pai tentando em vão arrumar meu
cabelo há muito tempo. Ele ficava tão frustrado e desistia.
Então, eu acabava indo para a escola parecendo Pippi
Meialonga.
Sim. Seu pai lembrava o meu. Nós duas tivemos sorte de
ter homens assim em nossas vidas. Eu sentia pelo Sr. Maxwell,
quem quer que ele fosse – alguém fazendo o melhor que podia
para tornar a vida de sua filha o mais normal possível.
Quando voltei para minha mesa com a correspondência,
tentei trabalhar em meu artigo um pouco antes da minha
mente começar a vagar. Comecei a pensar em Birdie
novamente e, de repente, mudei minha tela para o Google e
digitei: Birdie Maxwell.
Não.
Excluir.
Alguns segundos depois, a tentação venceu mais uma
vez. Eu digitei: Birdie Maxwell New York, New York.
Eu apaguei novamente.
O que estou fazendo?
Simplesmente deixe isso para lá.
Por que você precisa saber mais sobre essa pobre garota e
seu pai?
Meu coração disparou quando digitei novamente: Birdie
Maxwell New York, New York.
Não tenho certeza do que esperava, mas o primeiro
resultado foi algo para o qual não estava preparada.
Era um obituário. Eu cliquei nele.
No topo havia uma foto de uma linda mulher de cabelos
castanhos com o braço em volta de uma garotinha loira – uma
Birdie mais jovem.
Amanda Maxwell, 32 anos, da cidade de Nova York
faleceu em 23 de dezembro.
Amanda foi criada em Guilford, Connecticut, e gostava
dos verões crescendo ao lado de seus muitos primos, todos
criados ao longo da costa de Connecticut. Ela gostava de
organizar grandes festas familiares na casa que dividia com o
marido e a filha.
Amanda estudou na Guilford High School antes de se
formar na New York University, onde se formou em
administração de empresas. Foi lá que conheceu o amor de
sua vida, Sebastian Maxwell. Amanda trabalhou como analista
de negócios em Manhattan por vários anos antes de frequentar
a escola de culinária. Ela e o marido, Sebastian, acabaram
abrindo um restaurante italiano cinco estrelas em Manhattan.
Apesar do sucesso, não havia nada que Amanda amasse
mais do que ser mãe para sua querida filha, Birdie, que era
seu mundo inteiro.
Amanda deixa seu marido, Sebastian, e sua filha, Birdie
Maxwell, de Nova York; sua mãe, Susan Mello de Guilford,
Connecticut; irmão Adam Mello, do Brooklyn, Nova York; irmã
Macie Mello, de Nova Jersey; e muitas tias, tios e primos
amorosos.
Amanda pediu um funeral e enterro íntimos em
Guilford. A família agradece a todos aqueles que cercaram-na
de amor durante seus últimos dias. Para aqueles que desejam
celebrar a vida de Amanda, a visitação será realizada na Casa
Funeral de Stuart na Main Street em Guilford no dia 2 de
janeiro das 16h às 21h. Em vez de flores, a família pede que
façam uma doação em memória ao Hospital de Pesquisa
Infantil St. Jude em nome de Amanda.
A voz de Devin me assustou. — Você está chorando?
Limpei as lágrimas caindo dos meus olhos. — Não.
— O que aconteceu?
Peguei um lenço de papel e disse: — É aquela garotinha…
Birdie.
— O que tem ela?
— Ela… enviou uma carta de agradecimento com uma
foto dela na escola. E eu deveria apenas ter lido a carta e
parado por aí, mas acabei pesquisando o nome dela no Google,
e a primeira coisa que apareceu foi o obituário de sua mãe. A
coisa toda bate muito perto de casa.
— Ugh. Eu posso imaginar. Sinto muito. — Devin olhou
para a minha tela, então rolou até a foto no obituário, levando
alguns segundos para observá-la.
Cliquei no ícone na parte superior para sair dele. — Tudo
bem. De qualquer forma, preciso parar de pensar nela e
começar a trabalhar.
— O que dizia a carta? Ela recebeu as azeitonas?
Peguei o envelope e entreguei a ela.
Depois que Devin leu a carta de Birdie, ela disse: — Oh
meu Deus. Ela parece tão doce. E o pai… procurando vídeos
sobre como fazer tranças no cabelo? Para matar. Eu aposto
que ele é gostoso também. Quer dizer, a mãe era tão bonita.
Sentindo-me estranhamente na defensiva, disse: — Quer
parar com isso?
— Por quê?
Minha reação a ela falando sobre o pai – como se fosse
um pedaço de homem – meio que me pegou desprevenida. Acho
que estava me colocando no lugar de Birdie. Essa coisa toda
era um assunto muito sensível. Eu estava triste por mim? Por
Birdie? Eu nem sabia mais.

*-*-*

Sabe quando às vezes você simplesmente pensa em algo


e de repente vê anúncios em toda a mídia social, como se os
anunciantes de alguma forma tivessem entrado em seu
cérebro?
Poucos dias depois de receber a carta de Birdie, comecei
a ver anúncios em meu feed dessas tiaras trançadas feitas
de cabelo sintético. Então, depois de clicar no anúncio,
esqueça - eles nunca param de enviá-los a você. De qualquer
forma, essa tiara de cabelo parecia uma trança no topo da
cabeça - o tipo exato de trança que Birdie falou que queria.
Antes que eu percebesse, uma semana depois, uma caixa
com a tiara de cabelo trançado chegou ao endereço do meu
escritório. Eu examinei a foto de Birdie para combinar a tiara
com o tom de loiro aproximado.
Tirando o rolo de papel de embrulho listrado de debaixo
da minha mesa, enrolei a trança antes de endereçar o
embrulho e enviá-lo para a Rua 83.
CAPÍTULO 3

SADIE

Alguns dias eu trabalhava no escritório e outros dias


minhas designações me levavam para a rua. Para minha
próxima apresentação de namoro online, intitulado Best Out of
Ten, programei dois encontros por dia durante cinco dias
consecutivos. Para minimizar as variáveis envolvidas,
encontrei todos os dez homens exatamente no mesmo
restaurante, até mesmo sentei na mesma mesa. A ideia do ato
era determinar se quantidade significava qualidade – se você
podia encontrar pelo menos uma maçã boa em cada dez
perspectivas online.
A resposta para mim, infelizmente, foi não. Nem um único
dos meus dez encontros era alguém que eu poderia me ver
encontrando novamente. Um dos caras me deixou pagar a
conta toda depois que me ofereci para pagar minha metade.
Nem mesmo pegou seu cartão. Quando perguntei se ele queria
dividir, ele me informou que “o dinheiro está escasso no
momento”. Outro cara me perguntou se eu me importaria de
deixá-lo cheirar o interior do meu sapato. Aparentemente, ele
tinha um fetiche por pés. Os outros oito não foram melhores,
cada um exibindo alguma característica que era um grande
não para mim.
Portanto, no final desta semana em particular, eu estava
mais exausta do que o normal quando parei no mercado na
esquina da minha rua. Em dias como este, desejava que Cairo
vendesse álcool aqui, porque estava cansada demais para fazer
uma parada adicional em uma loja de bebidas esta noite.
Examinando os corredores, peguei um saco de bolinhos
de queijo, Devil Dogs, uma grande garrafa de Coca Zero, alguns
Sour Patch Kids e uma pizza de pepperoni congelada. Seria
esse tipo de noite.
Quando cheguei ao caixa, os olhos de Cairo se
arregalaram ao ver minha extravagância de junk food.
Enquanto passava minhas coisas, ele começou a sorrir
maliciosamente como sempre fazia quando sua mente estava
inventando uma nova piada.
— O que você tem para mim esta noite, Cairo?
Ele saiu com isso. — O que a pizza com tesão disse ao
pepperoni?
— O quê?
— Eu gosto de você por cima. — Ele riu.
— Ah. Agradável. — Não tenho certeza se era o meu
humor hoje, mas eu achei isso mais irritante do que divertido.
— Você vai ficar em casa hoje a noite? — ele perguntou.
— Sem encontro quente?
— Eu tive dez encontros quentes esta semana, se quiser
acreditar, exceto que foram mais como uma bagunça quente.
Nunca estive mais feliz em passar uma noite de sexta-feira
sozinha na minha vida. — Passei meu cartão de crédito em sua
máquina e sorri. — Tenha um bom fim de semana, Cairo.
Enquanto carregava meu saco de papel sem alça para
fora do mercado, minha notificação de texto soou. Eu abri
minha bolsa e tirei meu telefone quando uma brisa soprou
minha saia, quase me expondo para as pessoas que passavam.
Devin: Você não retornou ao escritório depois de sua
tarefa hoje, então peguei sua correspondência. Você
recebeu outra carta daquela garotinha, Birdie. Eu trouxe
para casa comigo, se você quiser posso te levar.
Merda. Eu queria entrar nisso esta noite? Eu sabia que
isso me deixaria emocional. Estaria melhor apenas escapando
para a Netflix e encerrando a noite. No entanto, embora
soubesse o que era melhor para mim, digitei o contrário.
Sadie: Sim. Seria ótimo. Eu comprei alguns petiscos
se você quiser ficar. Traga uma garrafa de vinho.
Mais tarde naquela noite, Devin e eu terminamos a pizza,
metade dos outros lanches, uma garrafa de vinho e três
episódios de Stranger Things antes de eu decidir abrir a carta.
Querido Papai Noel,
Obrigada por enviar a trança. Eu não esperava receber
mais nada. Não quero que pense que lhe falei sobre desejar uma
trança no topo da minha cabeça para que você me mandasse
uma. Eu nem sabia que faziam tiaras! É tão legal! Você nem
consegue perceber que não é meu cabelo!
A primeira vez que te escrevi, só queria saber se você era
real. E você é. Por isso pedi azeitonas. (Mas eu queria meias
para o papai.) A trança me deixou muito feliz. Meu pai me
viu usando e perguntou de onde veio. Eu disse a ele que ganhei
de um amigo. Não é realmente uma mentira. Ele parecia feliz por
não ter mais que aprender a trançar meu cabelo.
Eu vi papai conversando com uma senhora outra noite. Foi
estranho. Eu estava com fome, então saí da cama para roubar
biscoitos, e ele estava no sofá, e havia uma mulher falando com
ele pelo computador. Corri de volta para o meu quarto, porque
me assustou um pouco. Não sei por quê. Ele não me viu. Sei que
deveria estar na cama, mas eu queria Oreos. Em vez disso, os
comi no café da manhã.
De qualquer forma, não vou pedir mais nada. Não até o
Natal.
Mas quero saber se você pode me dizer algo. Já que o Polo
Norte é bem alto, você consegue ver o céu de onde está? Você
pode me dizer se minha mãe está bem? Ela pode me ver? Falo
com ela o tempo todo, mas não sei se ela pode me ouvir ou me
ver. Pedi a ela que me enviasse um sinal, mas talvez ela não
possa fazer o que pedi. Tipo, se eu pedir a ela para me enviar
uma borboleta ou um pássaro, eles estão por toda parte, e como
vou saber realmente que é ela? Minha mãe costumava andar a
cavalo antes de ficar doente. Ela montava um
cavalo muito bonito chamado Windy – porque corria como o
vento. Ele era todo negro e tinha longos pelos loiros na cabeça e
no rabo. Talvez eu pudesse pedir a ela que me mostrasse um
cavalo preto correndo como o vento? Essa seria uma forma de
saber com certeza que mamãe está bem. Você pode ver se
consegue passar essa mensagem para ela?
Obrigada novamente, Papai Noel.
Te amo muito!
Birdie
P.S.: Eu não te dei o nome da minha mãe! É Amanda
Maxwell, e ela tinha cabelos castanhos compridos (antes de
perdê-los, mas provavelmente os tem de novo) e cheira a
perfume Angel.
O vinho que eu tinha consumido não estava me ajudando
a processar isto nem um pouco. Eu não sabia se ria ou chorava
dessa vez. Então, estava apenas – em choque.
Devin percebeu a expressão em meu rosto e disse: — O
que está escrito? — Entreguei-lhe a carta e deixei que ela
mesma lesse.
Ela me devolveu. — O que diabos você vai fazer sobre
isso?
Suspirei. — Eu não sei.
— Sabe, você realmente se meteu em algo maluco aqui,
Sadie. É fofo e tudo, mas talvez você devesse ter parado nas
azeitonas, sabe? Talvez escrever de volta e encerrar isso de
forma suave para que ela não se machuque?
— A coisa é… Eu não escrevo para ela. Eu só enviei coisas
para ela. Não sei se é uma boa ideia começar a escrever de volta
neste momento. Honestamente, foi divertido iluminar seus
dias. Não tenho certeza se mudaria alguma coisa. Eu não me
importaria de mandar mais coisas para ela também, se isso a
deixasse feliz. Mas um cavalo preto com longos cabelos loiros
correndo como o vento? Eu simplesmente não posso fazer isso
acontecer.
Por mais que achasse que estava falando sério, as rodas
na minha cabeça já estavam girando.
*-*-*

Nunca fui o que considerava normal. Eu gostava dos


meus cachorros-quentes enrolados em pão branco com Doritos
esmagados por cima, em vez de em um pão com ketchup.
Quando estou em um encontro e entediada, traço rotas de fuga
imaginárias em minha cabeça – muitas vezes me visualizando
empurrando uma mesa próxima ou saltando sobre um carro
no estacionamento como um herói de ação. E nem me fale
sobre as mentiras insanas que invento para estranhos quando
estou em um avião – uma vez, quando fui mandada para a
primeira classe, disse a uma mulher que era duquesa da
Bélgica. Mas hoje, hoje poderia ter levado o bolo. Pelo menos
eu teria um futuro artigo no banco – Cinco Encontros de Dez
Minutos.
Pedi que cada um deles me encontrasse em um local
diferente, começando às onze horas.
Sam me encontrou primeiro no Prospect Park, no
Brooklyn. Eu expliquei a cada um deles o conceito. Nós nos
encontraríamos, programaríamos nossos alarmes no telefone
para dez minutos e nos despediríamos no sinal sonoro. Se um
de nós estivesse interessado, esperaríamos vinte e quatro
horas e enviaríamos uma mensagem. Se o destinatário do texto
não respondesse, ele não estava interessado. Sem confusão,
sem desculpas falsas… limpo e simples. A única coisa que não
mencionei nos meus cinco encontros de domingo foi a razão de
ter escolhido cada lugar.
Enfim, Sam era fofo! O sorriso no meu rosto enquanto
caminhávamos pelo parque era genuíno. Claro, eu tinha um
motivo oculto, escrever um artigo e fazer algumas pesquisas
sobre Birdie – dois pássaros, uma pedra. Mas encontrar o amor
verdadeiro nunca esteve fora do reino das possibilidades.
Então, imagine minha decepção quando comecei a andar com
o fofo Sam e ele cuspiu. Cuspiu! Não como Oh meu Deus, uma
abelha entrou na minha boca, tire essa coisa daqui. Mas ele
puxou um catarro e o cuspiu com força no chão na nossa frente.
Ugh.
O que viria depois? Pressionar uma narina e assoar o
nariz na grama?
Nosso encontro durou apenas dez minutos. Ele não podia
esperar para fazer isso? Talvez até que… estivéssemos casados
e eu já tivesse encontrado trinta e quatro razões especiais para
amá-lo que obscureceriam essa grande falha?
Sayonara, Sam!
O segundo encontro aconteceu no zoológico do Bronx,
seguido pelo terceiro no Bryant Park, e o quarto no Hudson
River Park. Deixe-me resumir isso para você.
Fracasso. Fracasso. E fracasso.
Também não tive sorte no que batizei de Birdie Quest.
Meu quinto e último encontro do dia seria no Central
Park. Eu iria encontrar Parker. Estava em frente à Fonte
Betesda exatamente às 5 da tarde. Era uma tarde
movimentada, mas não vi um homem de quase dois metros de
altura procurando pela mulher dos seus sonhos. Enquanto
esperava, peguei meu telefone e visualizei uma foto de Parker
para ter certeza de que me lembrava de como ele era. Eles
estavam todos começando a me confundir. Depois de mais
alguns minutos, sentei e comecei a navegar no Instagram. Às
5:20, encerrei a tarde. Eu oficialmente levei um bolo. Quatro
em cinco não era ruim, supus. Além disso, eu estava ansiosa
para conferir minha última parada no Birdie Quest do dia.
Percorri a distância de cerca de doze quarteirões da
cidade através do parque e cheguei à bilheteria.
— Posso comprar um bilhete, por favor?
O garoto atrás do vidro balançou a cabeça. — Fechado. O
último passeio foi às cinco. Estou apenas resolvendo as coisas
para encerrar o dia.
Eu olhei para o carrossel. — Posso… só entrar e olhar os
cavalos por um minuto?
O garoto não pareceu perturbado com meu pedido. Ele
encolheu os ombros. — Tanto faz. Mas você terá que pular a
cerca. A segurança já trancou.
Eu olhei para o carrossel mais uma vez. Havia uma cerca
de um metro em torno dele. Já fazia muito tempo que eu não
fazia algo assim. Mas ei, por que não? — OK.
De alguma forma, consegui escalar a cerca sem rasgar
meu jeans. Comecei a andar ao redor do carrossel colorido,
procurando o que estava começando a parecer mais um
unicórnio do que um cavalo preto com longos cabelos loiros.
Contornei quase metade quando parei abruptamente.
Oh meu Deus.
Lá estava.
Era perfeito! Eu bati minhas mãos. Não era apenas um
cavalo preto com uma crina loira, mas todos os quatro cascos
estavam levantados no ar como se estivesse a galope – correndo
como o vento.
Pulei a cerca mais uma vez e corri de volta para a
bilheteria. O garoto estava trancando a porta.
— Posso comprar um bilhete?
Ele franziu a testa. — Já te disse. Está fechado.
— Eu não quero montá-lo agora. Só quero comprar um
ingresso. Dois, na verdade.
— Já fechei o caixa.
Eu estava tão animada por ter encontrado meu unicórnio
que fui um pouco longe demais. — Te darei cinquenta dólares
por dois ingressos.
O garoto apontou para a placa colada no vidro. — Você
sabe que custa apenas três e vinte e cinco por ingresso, certo?
— Eu sei. Mas eu realmente preciso dos ingressos. Eles
expiram?
Ele balançou sua cabeça. — Não expiram.
Abri minha bolsa e tirei uma nota de cinquenta dólares.
Mostrar o dinheiro sempre funcionou para fechar um negócio
de Rua em Nova York. Bem, ou isso, ou roubavam sua carteira
quando você a tirava e então fugiam. Mas isso aconteceu
comigo apenas uma vez. Eu segurei a nota de cinquenta
dólares entre dois dedos.
— Cinquenta dólares. Não vai demorar mais do que
alguns minutos para abrir o caixa novamente, tenho certeza.
O troco é seu.
O garoto arrancou a nota da minha mão. — Volto logo.
Eu me senti como se tivesse ganhado na loteria…
pagando quarenta e três dólares e cinquenta centavos a mais
por dois ingressos do carrossel.
Sim, eu tinha perdido.
Depois de sete horas viajando por três bairros, quatro
encontros ruins e levado bolo, estava tonta quando deixei o
parque com os ingressos em segurança na minha bolsa. Eu
senti como se tivesse vencido uma batalha. Mas, realmente, foi
apenas meia batalha. Por que como no inferno eu conseguiria
fazer Birdie vir ao Central Park?
CAPÍTULO 4

SADIE

Decidi deixar o resto por conta do destino. Eu sei, eu


sei... depois de toda aquela busca pelo cavalo preto e subornar
o bilheteiro no parque, algo ainda parecia errado sobre
escrever para aquela garotinha. Então coloquei os dois
ingressos do carrossel em uma caixa, embrulhei com o papel
de Natal listrado com bengala-doce e enviei para ela. Se ela foi,
ela foi. E mesmo que fosse, não havia garantia de que
descobriria o que eu estava tentando fazê-la ver. Sem
nenhuma carta e quase duas semanas depois, imaginei que
talvez meus dias brincando de Papai Noel no verão tivessem
terminado.
Até que... vi Devin caminhando pelo corredor. Ela tinha
ficado quase tão envolvida na louca saga Papai-Noel-Birdie
quanto eu. Todos os dias, quando ela me trazia minha
correspondência, verificava se havia uma carta antes de sair
da sala de correspondência. Seus olhos estreitos me diziam
que nada havia acontecido antes que ela entrasse no meu
escritório. Mas hoje... ela estava literalmente pulando até o
meu escritório com um sorriso cheio de dentes.
— Está aqui! — Ela ergueu o envelope e acenou de um
lado para o outro. — Está aqui!
O que diabos havia de errado com nós duas?
Eu não tinha certeza. Mas descobrir isso teria que
esperar até que eu lesse a maldita carta. Eu a abri e Devin
contornou minha mesa para ler por cima do meu ombro.
Querido Papai Noel,
Eu amo o Central Park! Eu não sabia que havia um
carrossel! Perguntei ao meu pai se ele poderia me levar no fim
de semana passado, mas não pudemos ir por causa da
inundação. Algo aconteceu com um cano velho e enferrujado na
cozinha de seu restaurante, e Magdalene teve que vir.
Magdalene é minha babá. Ela me perguntou se eu queria que
ela me levasse, mas realmente queria ir com papai. Na semana
passada, minha professora do próximo ano enviou uma carta de
boas-vindas a todas as crianças da minha classe, então eu
disse a ele que a professora incluiu os ingressos em sua
carta. Enfim, vou para a aula de dança às nove todos os
sábados de manhã, e papai disse que poderíamos ir logo
depois. Portanto, irei neste fim de semana! Obrigada por enviar
os ingressos para nós.
Além disso, eu queria te dizer uma coisa. Lembra-se de
Suzie Redmond? A garota para quem você deu o porquinho-da-
Índia? Eu te disse como ela é má na minha primeira carta. Bem,
fui eu quem cortou o cabelo dela. Ela senta na minha frente na
aula... e, bem, eu tinha uma tesoura. Mas só cortei um pouco
atrás. Não foi muito. Ela nem teria percebido se não tivesse visto
alguns fiapos vermelhos que caíram no chão. De qualquer
forma, ela mereceu. Na terça-feira, usei lindos Crocs rosa que
papai comprou para mim. Suzie estava em um grande círculo
com todos os seus amigos enquanto eu me aproximava e ela
disse: — Isso são Crocs? Não acredito que sua mãe te deixou
sair de casa desse jeito. Oh, espere. Não me admira. Você não
tem mãe.
Você deve estar se perguntando por que estou falando
sobre Suzie. Veja, papai me faz ir a essas aulas de religião nas
manhãs de domingo. Na semana passada, conversamos sobre
confissão. Você vai à igreja e diz ao padre todas as coisas que
fez de errado, e então ele te manda fazer algumas orações, e
tudo fica bem novamente. Eu esperava que você trabalhasse da
mesma maneira. Porque não quero que você descubra e não
traga para papai nossa amiga especial.
Obrigada!
Te amo muito!
Birdie
P.S.: Eu também guardei um pouco do cabelo de Suzie, e
está na minha caixa de joias.
Comecei a rir três segundos antes de Devin.
— Oh, meu Deus. Eu amo terrivelmente essa garota! —
Eu disse.
Devin riu. — Ela acha que o Papai Noel trabalha como a
Igreja Católica. Mate alguém, e São Pedro ainda abrirá os
portões de pérolas. Corte o cabelo de uma garota e ainda
ganhará presentes do Papai Noel!
Eu tive que enxugar as lágrimas dos meus olhos. —
Talvez eu devesse responder e lhe mandar cantar três ‘Jingle
Bells’ e duas ‘Noite Feliz’.
Nós duas demos uma boa risada, então Devin suspirou.
— Deus, essa Suzie é uma verdadeira obra de arte, dizendo
isso para Birdie. Aposto que a mãe dela também é uma
verdadeira vadia.
— Eu sei, certo? Que pirralha malvada. Eu gostaria de
ser realmente o Papai Noel. Eu encheria sua meia com carvão
este ano e não lhe daria nada.
— E o pai da pobre Birdie. Esse cara não consegue uma
folga. Mulher morta, mal gosto para calçados, cano estourado.
— Os olhos de Devin se arregalaram e ela ergue o dedo. A única
coisa que faltava na imagem à minha frente era a bolha sobre
sua cabeça com uma lâmpada. — Eu tenho uma ideia!
Eu ri. — Não diga...
— Vamos ao Central Park no sábado e vigiar o carrossel
por Birdie e seu pai. Você verá a expressão de Birdie se ela
notar o cavalo preto e, finalmente, darei uma boa olhada em
seu pai. Eu sei que ele deve ser gostoso.
— Não podemos fazer isso!
— Por que não?
— Por que… é… eu não sei. Assustador.
Devin se encostou na minha mesa. — Ummm. Você me
fez ou não ir com você seguir aquele cara Blake com quem saiu
algumas vezes depois do trabalho? Aquele que ficava
recebendo mensagens de alguém chamada Lilly, e disse que
era a mãe dele.
— Não era a mãe dele! Ele era casado!
— Meu ponto, exatamente. Às vezes, ser assustador é
necessário.
Eu balancei minha cabeça. — Eu não sei. Seguir uma
criança é nojento.
— Então finja que não está seguindo Birdie. Você está
seguindo o pai gostoso dela, como eu!
— Quase quero fazer isso só para provar que você está
errada sobre o pai dela. — Imaginei um cara parecido com o
meu pai quando minha mãe morreu. No entanto, por algum
motivo, Devin achava que ele era um supermodelo.
Ela bateu os nós dos dedos na minha mesa. — Prove que
estou errada, então. Estarei aqui às nove para que possamos
chegar ao parque às nove e meia. Quanto tempo deve durar a
aula de dança? Quarenta e cinco minutos? Uma hora no
máximo?
— Eu não sei...
Devin caminhou até minha porta e parou. — Te vejo
amanhã de manhã. E se você não atender a porta, vou sozinha.

*-*-*

— Não acredito que estamos fazendo isso.


Devin e eu pegamos o trem C para Columbus Circle e
paramos na Starbucks antes de irmos até o carrossel. Minha
parceira no crime veio vestida para vigiar, usando preto da
cabeça aos pés, óculos escuros e uma touca de lã... em julho.
Tínhamos sorte por ser Nova York ou ela poderia parecer a
esquisita que é. Eu, por outro lado, estava de jeans e uma
camiseta do Aerosmith. Porque... você sabe... Steven Tyler e
aqueles lábios . Eu nem me importava que ele provavelmente
estivesse chegando aos setenta. Eu ainda chuparia aqueles
bebês.
Sentamos em um banco localizado à direita do carrossel
– não diretamente em frente a ele, mas onde ainda podíamos
ver todos que entravam e saíam. Quando nos posicionamos,
comecei a me sentir muito mal com o que estávamos prestes a
fazer – invadir a privacidade da pequena Birdie.
— Talvez não devêssemos fazer isso.
Devin colocou a mão no meu ombro e aplicou pressão –
para prevenir. Tentei me levantar. — Vamos fazer isso. Nem
tente fugir.
Eu relaxei de volta no banco. — Ok.
Ficamos sentadas por quase uma hora, tomando café,
fofocando sobre o trabalho e procurando por uma menina e
seu pai. Quando olhei o horário no telefone, disse: — Já passa
das onze. Eu não acho que eles virão.
— Vamos esperar até às onze e meia.
Eu revirei meus olhos. Mas dane-se, já estávamos aqui –
eu poderia muito bem aproveitar o resto do passeio. Caso
contrário, Devin nunca me deixaria em paz. Às onze e meia em
ponto, me levantei. — Vamos, Lacey.
— Quem?
— Cagney & Lacey. Era um programa que minha mãe
costumava assistir quando eu era pequena. Tinha duas
mulheres detetives.
— Bem, qual era a mais gostosa? Talvez eu não queira ser
Lacey.
Eu ri. — Você pode ser quem quiser.
Virei-me para jogar meu copo de café na lata de lixo ao
lado do banco e estava quase saindo quando avistei uma
menina e um homem que acabavam de passar pela entrada do
parque. Eles estavam longe, mas achei que pudesse ser Birdie.
— Oh meu Deus. Sente-se! Sente-se! Acho que são eles.
Nós duas plantamos nossas bundas de volta no banco ao
mesmo tempo. Devin se inclinou para frente e estreitou os
olhos. — Você tem certeza?
Eu agarrei seu braço e a puxei para trás. — Não seja tão
óbvia.
Nós observamos, falhando completamente em parecer
casuais, enquanto o homem e a menina se aproximavam. O
homem era alto, tinha ombros largos e vestia jeans e uma
camiseta. Ele estava segurando a mão da menina. E ela estava
vestida... com um body e tutu. Definitivamente era Birdie!
— Oh, meu Deus. São eles!
Nenhuma de nós disse uma palavra enquanto pai e filha
se aproximavam do carrossel. Quando eles chegaram perto o
suficiente para que eu pudesse finalmente ver seus rostos,
engasguei. — Oh meu Deus. Ele é...
Devin agarrou minha mão. — Eu tenho prioridade. Quero
ter seus bebês.
Eu não pude acreditar em meus olhos. Enquanto
esperava uma versão moderna do meu pai há vinte anos, o
homem que estava diante de mim era tudo menos isso. Só para
constar, meu pai é incrível e não tem uma aparência tão
miserável. Mas este homem... era... desmaio. Mortal. Lindo.
Uau. Simplesmente… Uau.
Sebastian Maxwell tinha cabelo escuro, estrutura óssea
de morrer e lábios carnudos e bonitos. Eu brinquei sobre Devin
achar que o cara era uma supermodelo, mas este homem
poderia realmente ser uma supermodelo. Ele tinha o cabelo
longo e bagunçado – do tipo pelo qual podia passar a mão, e
pareceria que foi completamente fodido e acabou de sair de
uma sessão de fotos, ambos. Sim, esse era ele. Eu estava
absolutamente sem palavras.
Eu estava tão preocupada em cobiçar o pai dela que
quase esqueci o verdadeiro motivo pelo qual concordei em vir
– ver a reação de Birdie quando ela encontrasse o cavalo preto.
Levou quase toda minha força de vontade, mas de alguma
forma consegui reorientar a minha atenção para a doce
menina. Os dois deram ao cobrador seus ingressos, e observei
enquanto eles atravessavam o portão em direção ao carrossel.
Eles deram cerca de um quarto de volta quando Birdie apontou
para um cavalo branco e sorriu. Seu pai a ergueu no ar, subiu
no carrossel e a jogou sobre o cavalo para colocá-la na sela.
Merda. Ela nem tinha passado pelo cavalo preto para
notar.
Eu me senti desanimada.
Embora recebesse um impulso no meu moral… ou algo
assim… quando o pai de Birdie se curvou para colocar a filha
no cavalo.
Que bunda. Eu fiquei com um pouco de ciúme do jeans
que abraçava a curva daquele traseiro firme.
Sebastian subiu no cavalo ao lado de sua filha, e os dois
começaram a rir enquanto esperavam o início da cavalgada.
Birdie riu do pai fingindo cair do cavalo e acariciou a crina de
seu próprio brinquedo de plástico.
Uma vez que o carrossel começou a girar, Devin e eu nos
recostamos em nossos assentos. Com toda a franqueza,
esqueci que minha amiga estava sentada ao meu lado por
alguns minutos.
— Acho que estou apaixonada. — Devin cobriu seu
coração com a mão.
— Você provavelmente deveria avisar o homem que
colocou essa pedra odiosamente enorme em seu dedo.
Ela sorriu de orelha a orelha. — Diga. Devin Marie
Abandalo estava certa.
Eu revirei meus olhos. — Eu acho que ele é meio fofo.
Devin caiu na gargalhada. — Você é tão cheia de merda.
Você gostaria que ele estivesse montando em você agora, em
vez daquele cavalo de plástico.
Bem, já fazia um tempo. — Cale-se.
Ela sorriu. — Sadie e Sebastian sentados em uma árvore.
SE BEIJANDO. Parece ótimo, não é? Sadie e Sebastian. Há
uma rima nisso. Como se fosse um programa de TV, mesmo.
Soa melhor do que as idiotas Corey e Lacey.
— Cagney, — eu corrigi.
Devin encolheu os ombros. — Tanto faz.
Suspirei. — Birdie não viu o cavalo preto com a crina
loira.
— É. Você vai mandar um de pelúcia e um hamster vivo
para compensar. Vamos voltar a falar sobre o pai gostoso.
O passeio de carrossel durou cerca de cinco minutos e,
quando parou, o cavalo preto estava bem na minha frente. Eu
bati no braço de Devin.
— Lá está ele!
— Talvez ela perceba na saída.
Birdie e seu pai não estavam à vista, então imaginei que
o passeio tivesse parado com eles do outro lado. O portão de
saída ficava apenas cerca de dois cavalos à direita, então se
eles viessem da direita, ela não teria a chance de ver o
preto. Observei enquanto as pessoas saíam do carrossel e
começavam a seguir em direção ao portão. Infelizmente,
quando Birdie e Sebastian surgiram, eles vinham pelo lado
direito. Eles foram as duas últimas pessoas a sair do grupo
com o qual haviam passeado, e parecia que minhas tentativas
de brincar de Papai Noel e Deus foram em vão.
Até… uma borboleta passar voando por Birdie quando ela
estava prestes a sair. Ela sorriu e passou por baixo do braço
de seu pai para persegui-la. Sebastian gritou quando ela saiu,
mas ela já estava muito longe. Quando ele a chamou pela
segunda vez com uma voz mais profunda e severa, ela
congelou… diretamente na frente do cavalo preto.
Eu literalmente prendi a respiração.
Eu juro, a coisa toda aconteceu em câmera lenta depois
disso.
Birdie se virou, parecendo estar se afastando. Mas deve
ter avistado o cavalo preto enquanto o fazia. Sua cabeça caiu
para trás, e seus olhos ficaram arregalados como pires. Ambas
as mãos subiram para cobrir sua boca aberta. Ela ficou ali
congelada por um longo tempo. Pelo menos pareceu muito
tempo. Até que seu pai se aproximou e agarrou sua mão.
Ela disse algo a ele que não pude ouvir, e então eles
começaram a se afastar. Birdie deu três passos antes de se
desvencilhar das garras do pai, correr de volta para o cavalo de
plástico e beijar a crina do cavalo que corria como o vento.
CAPÍTULO 5

SADIE

Assistir aquela borboleta levar Birdie direto para o cavalo


foi verdadeiramente mágico. Era como se o universo tivesse
interceptado para me provar que se eu achava que podia
controlar tudo, estava muito enganada.
Talvez, em algum lugar lá em cima, Amanda Maxwell
estivesse olhando para mim e balançando a cabeça. Talvez ela
achasse que já era hora de intervir para me mostrar quem
realmente estava no comando.
Uma parte de mim esperava que Birdie não escrevesse
novamente, porque estava começando a me sentir como se
estivesse brincando de Deus. Eu não queria continuar a
enganá-la tanto quanto não queria desapontá-
la. Honestamente, este era um ótimo momento para sair da
situação – com uma grande satisfação.
No domingo à tarde, depois de ver Birdie no parque,
peguei o trem para Suffern para visitar meu pai. Parecia o
momento perfeito para visitar papai. Ele sempre foi bom em
dar ideias quando eu me sentia presa em alguma coisa. Talvez
ele pudesse me dar sua opinião sobre se levei as coisas longe
demais. Bem, eu sabia que tinha levado as coisas longe
demais, mas ainda queria sua opinião. E, para ser honesta,
também queria saber como foi ser pai solteiro todos aqueles
anos atrás. Havia certas coisas que eu nunca tive coragem de
perguntar a ele quando era mais jovem. Mas agora que era
mais velha, estava curiosa para saber se ele namorou mais do
que percebi naquela época. Eu sabia que ele tinha tido
algumas namoradas nos últimos anos, mas houve mulheres
que eu não soube quando era criança?
Suponho que minha curiosidade era resultado de ver
Sebastian ontem. Um homem como aquele deveria ter
mulheres se atirando nele a torto e a direito. No entanto, pelo
que pude perceber pelas cartas de Birdie, ele tentava ser
discreto para não interferir na vida deles.
Meu pai morava na mesma casa em que cresci. Ainda era
marrom por fora, embora a pintura estivesse um pouco
descascada agora. A casa tinha uma grande varanda com
vasos de plantas pendurados. Embora nossa casa certamente
não fosse a maior da cidade, tínhamos uma quantidade incrível
de terreno. Papai tinha o jardim mais incrível e esta era à época
do ano em que ele distribuía tomates a todos os vizinhos
porque tinha tantos que não sabia o que fazer com eles.
Papai sempre calculava o tempo exato que levaria para eu
chegar baseado no meu trem. Como de costume, ele estava
parado na porta esperando por mim.
Ele me deu um grande abraço. — Como está minha
Sadie?
Olhando para algo pendurado perto do topo da porta, eu
disse:
— Estou muito bem. Vejo que você criou uma nova
engenhoca?
Meu pai adorava criar instrumentos que acreditava poder
prever o tempo. Embora houvesse muita tecnologia nos dias
de hoje para fazer isso, ele preferia construir ferramentas do
zero que jurava serem tão boas, senão melhores, do que o
melhor radar Doppler. Ele também lhes dava nomes bonitos.
— Como se chama este? — Eu perguntei.
— Humbug.
— O que significa isso?
— O 'hum' vem do fato de a tira de papel ali se expandir
quando fica mais úmida. Quanto mais se expande, mais
chance de uma tempestade. O 'bug' combinava com 'hum'.
— Você é tão engraçado. — Eu sorri.
O interessante é que me lembro do hobby dos
instrumentos meteorológicos começar não muito depois da
morte de minha mãe. Era sua maneira de manter a mente
ocupada, talvez, para não vagar por coisas que eram muito
dolorosas.
— Acabei de preparar um bule de café fresco, — disse ele
enquanto eu o seguia para dentro.
— Ohhhh, um café fresco, — eu provoquei. — A que devo
esta honra? Devo ser alguém especial.
Eu sempre brincava com meu pai quando que ele fazia
café fresco, porque normalmente ele fazia apenas um bule
grande pela manhã e se servia do mesmo bule durante todo o
dia.
Ele simplesmente o aquecia no micro-ondas. Mas ele
sabia que eu gostava de café fresco, então ele se resignava e
jogava fora o café velho antes de fazer um novo bule sempre
que eu vinha. Eu tentei lhe dar uma daquelas máquinas Keurig
uma vez para que tivesse canecas de café fresco o dia todo,
mas ele disse que não se importava com o café um pouco
queimado e velho e preferia não contribuir para o risco
ambiental de resíduos plásticos.
No balcão havia uma tigela gigante de tomates em vários
tons de vermelho, verde e laranja, junto com uma fila de
pepinos e pimentões em uma toalha de papel.
— Deixe-me adivinhar… salada de pepino e tomate para
o almoço?
— Com queijo feta e azeitonas. — Ele piscou. — E pão
sírio quente da padaria.
Meu estômago roncou. — Mmm. Isso parece muito bom.
Não havia nada como o conforto do lar. Embora esta casa
trouxesse memórias dolorosas, havia muitas boas. Almoços
preguiçosos em um domingo com meu pai definitivamente
caíam na categoria boa.
Ele se sentou à minha frente. — Então, o que a traz para
casa mais cedo? Achei que você não viria até o próximo fim de
semana? — Ele perguntou enquanto servia uma caneca de café
e me entregava.
— Sim, bem, eu meio que tive um problema no trabalho
que me fez pensar em você.
— Espero que não seja um daqueles homens tolos que
você namora.
— Não. — Eu ri. — Embora essa situação realmente não
tenha melhorado. — Suspirei. — Isso diz respeito a coluna
Holiday Wishes. Você sabe, aquela que normalmente me é
atribuída no feriado?
— Sim claro.
— Bem, uma garotinha enviou uma carta para a coluna,
embora seja verão, e isso desencadeou uma série de eventos
interessantes.
Depois de duas xícaras de café, passei os minutos
seguintes contando a meu pai a história de Birdie e suas
cartas. Ele ouviu atentamente e, como esperado, achou a coisa
toda muito cativante.
Ele balançou a cabeça enquanto servia mais café para si
mesmo. — Não consigo superar esse nome adorável. Parece
algo que eu nomearia um dos meus instrumentos
meteorológicos.
— Sim… ela é adorável como você imagina que um
pássaro2 seja. — Eu balancei minha cabeça. — Estou muito
confusa, no entanto.
— Você está se perguntando se deve continuar se ela
responder?
— Estou definitivamente dividida sobre isso. A outra coisa
é que toda essa situação realmente me fez pensar muito sobre
minha própria infância. Pela semelhança entre as situações de
Birdie e a minha.
— É definitivamente estranho que ela tenha perdido a
mãe com a mesma idade que você.
— Sim. — Suspirei e, depois de alguns segundos de
debate interno, decidi trazer à tona o assunto que me deixou

2 Birdie em inglês.
curiosa. — Ela mencionou em uma de suas cartas que se
levantou no meio da noite e flagrou seu pai conversando com
uma mulher em seu laptop. Ela disse que se assustou e voltou
correndo para a cama. Fiquei pensando se você namorava
quando eu era pequena. Sempre achei que você não teve
nenhuma mulher na época, porque não fez isso na minha
frente. Suponho que fui ingênua.
Meu pai olhou para sua xícara e acenou com a cabeça. —
Eu nunca vou amar ninguém como amei sua mãe. Você sabe
disso. Nenhuma quantidade de namoro naquela época
apagaria isso. — Ele olhou para mim novamente. — Mas a
solidão pesa eventualmente. E havia momentos em que eu
dizia que ia jogar pôquer com os caras ou que ia para a casa
do seu tio Al quando realmente me encontrava com uma
mulher.
Eu balancei a cabeça, absorvendo essa revelação por um
momento. — Que idade eu tinha então?
— Provavelmente foi cerca de quatro anos depois que
mamãe morreu, então talvez dez? Nos primeiros anos, eu não
fui capaz de sequer considerar olhar para outra mulher. Mas
assim que alcancei a marca de três anos, bem, passou a ser
sobre um homem ter necessidades. Não tinha nada a ver com
querer seguir em frente de sua mãe. Você sabe o que eu quero
dizer?
Era difícil imaginar meu pai fazendo sexo, mas,
infelizmente, eu sabia exatamente o que ele queria dizer. —
Claro. Eu entendo isso agora. E não é como se você pudesse
ter explicado o sexo casual para mim naquela época. Se eu
tivesse te visto com uma mulher, teria presumido que estava
tentando substituir minha mãe. Isso teria me chateado.
— Bem, foi isso que imaginei. Então… Tentei não abrir
uma lata de minhocas. Mas, honestamente, se eu tivesse
encontrado alguém especial, poderia tê-la trazido
eventualmente, porque teria sido bom para você ter uma
influência feminina positiva em sua vida.
Eu o encarei, pensando no fato de que eu definitivamente
ansiava por uma influência feminina quanto mais velha ficava.
— Chegou um momento, quando entrei na minha
adolescência, que realmente desejei que você encontrasse
alguém… não só por você, mas por mim.
— Não estava escrito. Tive o grande amor da minha vida,
mesmo que não por muito tempo. E agora… Não preciso de
ninguém além de você. — Ele sorriu e bateu algumas vezes na
mesa com os nós dos dedos. — E venci o câncer. O que mais
posso pedir?
Quando eu era adolescente, meu pai foi diagnosticado
com câncer de cólon. Lembro-me de pensar que o diagnóstico
dele seria o fim da minha vida, porque se eu perdesse meu pai
além de minha mãe, como poderia continuar? Ele era tudo
para mim. Graças a Deus, por algum milagre, os tratamentos
funcionaram e meu pai permanece em remissão até hoje.
Papai se levantou e foi até o bule quase vazio, depois o
ergueu. — Quer outra xícara?
— Não. Ao contrário de você, não posso beber um bule
inteiro de café sem repercussões. Tenho certeza que se
enfiassem uma agulha na sua veia, tudo o que sairia é Maxwell
House3.
Maxwell House.
Maxwell.
Isso me atingiu em cheio.
A lata esteve no balcão o tempo todo, mas só agora fiz a
conexão entre o sobrenome de Birdie e a marca de café que
meu pai sempre usou.
Maxwell House.
Eu me perguntei como seria a verdadeira casa dos
Maxwell. Então, é claro, minha mente vagou para Sebastian
Maxwell – seu lindo rosto e cabelo. A maneira como ele cuidava
de sua filha no parque. Birdie disse que ele era dono de um
restaurante – me perguntei como seria.
— Você ainda está comigo? — Meu pai perguntou, me
tirando do meu devaneio.
— Sim. Eu só estava pensando...
— Sobre Birdie?
— Indiretamente, sim. — Bebi o último gole de café e
suspirei. — De qualquer forma, espero que ela não responda.
Por mais que eu ame realizar esses pequenos desejos, não
posso continuar fazendo isso para sempre – brincando de
Deus.
Ele sorriu. — Por falar em Deus, não oro por muito além
da saúde hoje em dia, mas oro para que um desses perdedores
que você leva para passear no trabalho acabe te

3 Marca de pó de café dos EUA.


surpreendendo e sendo um homem decente. Não quero ter que
me preocupar com você quando um dia eu partir.
— Eu posso cuidar de mim muito bem. Eu não preciso de
um homem.
— Não se trata de finanças. Eu sei que você é uma mulher
forte e independente, querida, mas a verdade é… todo mundo
precisa de alguém. A única razão pela qual fiquei bem depois
que sua mãe morreu foi porque eu tinha você.
— Bem, é uma coisa boa que meu pai não vai a lugar
nenhum tão cedo. — Eu pisquei.
Minha visita ao papai durou algumas horas. Depois de
me encher com a comida gostosa que ele preparou para mim,
chamei um carro para me levar de volta à estação de trem. Já
que papai e eu dividimos uma garrafa de vinho durante o
almoço, não quis que ele me levasse.
Quando meu pai me acompanhou para esperar meu
Uber, ele olhou para seu aparelho meteorológico.
Ele coçou o queixo. — Hmm.
— O quê?
— O impostor diz que vai chover.
Com certeza, ao viajar para casa naquela tarde, a
tempestade que meu pai previu caiu, atingindo as janelas do
trem. Então, depois, uma bela recorrência do sol do fim da
tarde brilhou sobre o horizonte da cidade de Nova York à
distância, enchendo-me de esperança e, para meu desanimo,
pensamentos contínuos sobre Sebastian Maxwell.
CAPÍTULO 6

SADIE

Eu digitei.
Restaurante Sebastian Maxwell.
As teclas clicaram quando eu imediatamente deletei as
palavras.
Não, eu não posso fazer isso.
Depois de alguns segundos olhando para o Google, digitei
novamente.
Sebastian Maxwell restaurante em Nova York.
Desta vez, em vez de deletar, pressionei — Enter.
A seção ‘Sobre nós’ de um site apareceu nos resultados
da pesquisa.
Bianco's Ristorante.
Eu li.
O Bianco's Ristorante foi fundado em 2012 por Sebastian
Maxwell, um empresário de Nova York e sua esposa, Amanda,
um máster chef. Os Maxwells foram fortemente inspirados pela
avó paterna de Sebastian, Rosa Bianco, que emigrou do norte
da Itália em 1960. Ao longo dos anos, Sebastian salvou todas
as receitas de sua nonna e hoje, junto com o chef Renzo
Vittadini, elaborou um dos menus mais prazerosos de toda a
área tri-state4, ostentando receitas do velho mundo com um
toque moderno. A cozinha top de linha do Bianco, combinada
com seu ambiente rústico e pouco iluminado, tornam sua
saída noturna mais do que apenas uma refeição – é uma
experiência culinária.
De jantares íntimos a eventos privados, contate-nos para
fazer uma reserva.
Cliquei na guia do menu.
Cada entrada recebia o nome de uma pessoa. Torta de
Ricota Renzo, Frango Parmesão Nonna Rosa, Massa à
Bolonhesa Birdie, Manicotti Mandy.
Mandy.
Amanda.
Saltimbocca de Sebastian.
Eles tinham uma extensa lista de vinhos.
— O que você está fazendo?
Eu pulei ao som da voz de Devin atrás de mim. — Você
me assustou.
— Por que você mudou para outra tela agora?
— Por nada. Você sabe… Eu realmente não deveria estar
brincando.
Ela sorriu. — O que é Bianco?
Ótimo. Ela notou o nome no topo da guia.
Soltei um longo suspiro, mas tentei ao máximo soar
indiferente. — É o restaurante do pai de Birdie.

4 Área de três estados é um termo informal no leste dos Estados Unidos contíguo para
qualquer uma das várias regiões associadas a uma cidade ou metrópole específica
que, com subúrbios adjacentes, se estende por três estados.
— Legal! — Ela riu, muito satisfeita com minha aparente
fraqueza. — Você sabe que sou a favor da perseguição –
especialmente a perseguição daquele espécime de aparência
incrível.
— Eu sei que você apoia totalmente. Mas me sinto uma
idiota fazendo isso.
— Mas uma parte de você não pode evitar, certo?
Dei de ombros. — Ele é intrigante.
Seus olhos se encheram de entusiasmo, como uma
criança tonta que acabara de descobrir que a feira estava
chegando à cidade. — Então, quando iremos? De repente,
estou com desejo de uma grande travessa de massa al dente.
— Ah não. É aí que eu traço a linha. Perseguição online é
uma coisa. É um passatempo. Inocente, até. Mas aparecer
pessoalmente? Não. — Eu balancei a cabeça. — Não, não, não.
— É um restaurante público. Como seria perseguição?
Mexendo em alguns papéis em minha mesa, eu disse: —
Devin… deixe isso para lá.
— Você se importaria se eu desse uma olhada, então?
Armando e eu estamos procurando um novo lugar para
experimentar.
— Você vai dizer ao seu noivo que o verdadeiro motivo de
leva-lo lá é para verificar a gostosura do dono?
Ela acenou com a mão em desdém. — Ele não tem que
saber disso. Ele adora comida. Ele ficará emocionado. — Devin
se inclinou para o meu computador. — Dá para fazer uma
reserva online?
— Eu não sei. Não verifiquei porque não tinha intenção
de ir.
— Deixe-me ver, — disse ela, pegando meu mouse e
maximizando a tela antes de examinar o site. — Ah. — Ela
sorriu.
— O que você está fazendo, Devin?
Ela começou a digitar todas as suas informações. — A
única vaga é às 17 h do sábado. Parece que tudo, além disso,
está ocupado. Ainda bem que amo jantar cedo como uma
pessoa idosa, de qualquer maneira.
Balançando a cabeça, eu disse: — Você é louca.
Ela piscou. — Eu avisarei, se eu o encontrar.

*-*-*

Duas semanas se passaram, o verão estava chegando ao


fim e não chegaram mais cartas de Birdie. Devin e Armando
acabaram tendo um jantar incrível e muito caro no Bianco's –
sem nenhum sinal de Sebastian Maxwell. Isso é o que ela
ganha por tentar persegui-lo.
Como já fazia um tempo, eu estava bastante convencida
de que não ouviria de Birdie novamente.
Então, uma tarde, para minha surpresa, no meio da
minha pilha de correspondência de costume, havia uma carta
da minha amiguinha.
Minha pulsação disparou enquanto corri para a minha
mesa, larguei o resto da correspondência e rasguei o envelope.
Querido Papai Noel,
A mamãe contou que veio me visitar no Central Park? Eu
sei que você lhe passou minha mensagem porque havia no
Carrossel um cavalo preto como lhe falei. Ela enviou uma
borboleta para me levar até lá. Não sei se ela mandou uma
borboleta ou se a borboleta era ela mesma? De qualquer forma,
foi incrível. Tenho tantas saudades dela.
Mas você pode perguntar por que ela não está mais
tentando vir me ver? Continuo procurando por ela e não recebi
mais nenhum sinal. Agora que você a encontrou e ela achou uma
maneira de voltar, achei que ela gostaria de passar mais tempo
comigo.
Estou preocupada que ela possa estar com raiva de mim
agora que pode me ver. Talvez ela saiba o que fiz com o cabelo
de Suzie ou que às vezes roubo biscoitos no meio da noite.
Você pode lhe pedir para me enviar mais um sinal para que
eu saiba que ela não está brava? Mesmo que não possa ficar?
Sinto incomodá-lo novamente, Papai Noel. Esta será a
última vez. Eu prometo.
Birdie
Ao dobrar a carta enquanto as lágrimas escorriam pelo
meu rosto, percebi que talvez Birdie não fosse mais a única
pessoa que precisava de ajuda.

*-*-*
Já fazia muito tempo que eu não visitava minha
psiquiatra, Dra. Eloisa Emery. Seu consultório dava para a
Times Square, o que sempre achei irônico, já que a vista de
sua janela era a coisa mais caótica que eu poderia
imaginar. Definitivamente, não era uma atmosfera relaxante
para terapia. Durante minhas sessões, eu olhava para o
enorme outdoor digital em constante mudança enquanto
tentava organizar meus pensamentos.
Há algum tempo suspeitava que precisasse examinar
minha cabeça, e hoje estava fazendo isso literalmente,
compartilhando a história de Birdie e esperando que a Dra.
Emery pudesse me ajudar a superar tudo.
Eu tinha acabado de lhe contar sobre nossas cartas e
terminei na mais recente que recebi.
— O tom desta parecia mais em pânico, — eu disse. —
Ela estava realmente preocupada que tivesse feito algo para
manter o espírito de sua mãe longe. Não houve o PS normal no
final, também, então o tom geral foi um pouco curto. Isso me
fez perceber que eu realmente piorei as coisas armando para
ela encontrar aquele cavalo, mesmo que tenha sido a borboleta
que finalmente a levou até lá.
Ela tirou os óculos e os colocou na perna. — Então você
está se sentindo culpada.
— Sim, claro. Agora há uma expectativa por mais de sua
mãe quando não há mais nada. Eu comecei uma bagunça. Sua
mãe está morta e qualquer implicação de que Birdie ainda
poderia se comunicar com ela é enganosa.
Dra. Emery colocou os óculos novamente e rabiscou
algumas coisas em seu caderno antes de olhar para mim. —
Sadie, acho que será importante para você aceitar o fato de que
não pode mudar nada que fez até agora. Você sabe agora que
brincar com o destino do jeito que você fez, por mais
encantador que fosse, não foi realmente a ideia mais sábia.
Então, acho que você realmente precisa arrancar o Band-Aid
agora.
Minhas mãos estavam suadas quando as esfreguei ao
longo das minhas pernas. — O que exatamente você quer dizer
com isso?
— Você parece incapaz de não se envolver sempre que ela
entra em contato com você. Eu acho que em algum nível, está
tão envolvida porque ela lembra de você mesma, então é quase
como se tivesse recebido esta oportunidade de fazer por outra
pessoa o que não fizeram por você. E é difícil resistir a
isso. Você também está se conectando um pouco com sua
criança interior. Mas agora sabe que se envolver é prejudicial.
E quanto mais se envolver, mais difícil será parar. Então,
talvez, se ela entrar em contato com você novamente, não deva
abrir a carta.
Balançando a cabeça repetidamente enquanto olhava
pela janela, eu disse: — Não posso fazer isso.
— Por que não?
— Porque tenho que, pelo menos, saber que ela está
bem… mesmo sem me envolver.
— Ela não sabe que você existe. Ela não sabe que você
desenvolveu sentimentos por ela. Portanto, seus sentimentos,
por mais fortes que sejam, não a afetam. Se você não se
comunicar com ela e se comprometer a não interferir mais
fingindo ser o Papai Noel, não deve se envolver de forma
alguma na vida dela. Isso inclui ler as cartas. — Ela inclinou a
cabeça. — Você pode fazer isso? Você pode cortar todos os
laços para o seu próprio bem e, em última análise, o bem desta
menina?
Olhei para o outdoor e o observei mudar cerca de três
vezes antes de finalmente dizer: — Vou tentar.
CAPÍTULO 7

SADIE

Fazia quase um mês desde a última carta de Birdie. Eu


segui o conselho da Dra. Emery e não respondi à minha
amiguinha, chegando ao ponto de colocar Devin na patrulha
do correio – pedindo-lhe para eliminar da minha entrega diária
quaisquer novas cartas que Birdie pudesse enviar. Embora eu
tenha cedido em mais de uma ocasião, exigindo saber se
chegou alguma, e Devin jurou que não teve que
intervir. Ultimamente, até parei de pensar se minhas cartas
tinham feito mais mal do que bem. Mas hoje não era um desses
dias, embora por um bom motivo.
Eu tinha um encontro na Rua 81 com uma casamenteira
profissional – não para mim, mas uma pesquisa para a revista.
No próximo mês, planejava escrever um artigo sobre os prós e
os contras de usar o serviço e hoje seria minha primeira
entrevista. Kitty Bloom dirigia a agência que visitei e me deu
excelentes informações para o artigo. Ela também me deu uma
assinatura gratuita de trinta dias – o que custava incríveis dez
mil dólares. Embora se eu decidisse usar, teria que enviar uma
tonelada de informações pessoais – de autorizações médicas e
um perfil psicológico a demonstrativos financeiros e um
questionário detalhado que perguntava sobre tudo, desde
meus hobbies até meus fetiches e desejos sexuais. Aceitei o
presente, mas não tinha certeza se queria alguém metendo o
nariz na minha vida.
Era uma noite linda, então decidi caminhar. O escritório
da casamenteira ficava no andar térreo de um quarteirão cheio
de lindas casas de pedra, e o Upper West Side era um dos meus
bairros favoritos, que eu nunca poderia pagar. Eu estava na
esquina da Broadway com a Rua 81, e Birdie morava em algum
lugar da Rua 83, que poderia ser perto.
Eu realmente não deveria.
Eu estava tão bem ultimamente.
Mas… Já que estou aqui...
Que mal poderia fazer só em passar?
Eu peguei um Uber no centro da cidade porque estava
atrasada, mas podia pegar o trem de volta para o centro em
algumas estações em diferentes proximidades. Portanto, não
era como se eu realmente estivesse saindo do meu caminho
andando um pouco em qualquer direção. Eu poderia
simplesmente subir a 83 e, se por acaso passasse pela casa de
Birdie no caminho para o trem, isso seria o destino. Lembrei-
me do número da casa dela, apenas porque era o aniversário
dos meus pais, 10 de fevereiro ou 210, mas não tinha ideia de
que quarteirão ele cruzava. Portanto, era realmente uma
questão de sorte passar ou não. Se eu pegasse um trem antes
de chegar à casa de Birdie, então veria a casa dela. Um grande
viva!
Ainda assim… parecia tão errado.
Especialmente quando virei na Rua 83 e vi o número da
primeira casa pela qual passei: 230.
Oh meu Deus.
A Rua 83 era muito longa. Devia ter pelo menos
oitocentos metros somente no lado oeste, do Central Park até
perto do rio Hudson… no entanto, o primeiro quarteirão em
que virei era aquele em que Birdie morava.
Isso meio que me assustou um pouco.
Meu sangue começou a bombear mais rápido a cada
passo.
228.
226.
224.
Era uma das próximas oito ou mais casas à frente.
Droga, o bairro era muito legal. Birdie morava em uma
rua arborizada de casas de pedra que valiam muito dinheiro.
Eu não sei por que, mas a imaginava morando em um prédio
de apartamentos, com pouco espaço como o resto de nós reles
mortais, não em uma casa tão luxuosa. Essas coisas custavam
milhões. Mesmo se não fossem os proprietários e só alugassem
um andar, ainda assim seria muito dinheiro.
Comecei a desacelerar enquanto numerava os endereços.
220
218.
216
A casa de Birdie ficava a apenas mais três.
Quando me deparei com ela, meu coração começou a
bater muito rápido. Reduzi a velocidade da minha caminhada
e tentei dar uma olhada dentro das janelas. Mas eram cerca de
dez passos da calçada até a porta da frente, e eu realmente não
conseguia ver muito daqui. A decepção tomou conta de mim.
Alguns passos depois de passar a escada que levava à porta da
frente de Birdie, forcei-me a parar de olhar como se estivesse
vigiando o local por um possível assalto. Quando olhei para
baixo, algo brilhante chamou minha atenção na minha visão
periférica, caído no último degrau da escada.
Isso é?
Não… não podia ser.
Olhei em volta – ninguém parecia estar prestando
atenção. Então voltei e me abaixei para olhar mais de perto.
Meus olhos se arregalaram.
Oh meu Deus.
Uma presilha de cabelo prateada estava caída no degrau
inferior, do tipo que uma menina usava para prender o cabelo
para trás quando seu pai era péssimo fazendo tranças.
E… tinha uma borboleta prateada.
Borboleta.
Passarinho (Birdie).
Não havia dúvida de que os dois combinavam.
Sem pensar, peguei.
Mas… o que diabos eu faria com isso uma vez que estava
na minha mão?
Suponho que colocá-lo em um lugar mais seguro seria a
coisa certa a fazer. A presilha bonita poderia simplesmente
sumir aqui no último degrau. Ou, pelo menos, alguém poderia
pisar nela e quebrá-la.
De qualquer maneira, não parecia que havia alguém na
casa dos Maxwell. Eu poderia simplesmente deixar na porta da
frente.
Sim… Esta era uma boa ideia.
O fato de que eu poderia visualizar melhor as janelas do
alto da escada era apenas uma coincidência. Afinal, eu estava
fazendo a coisa certa, garantindo que a pequena presilha de
Birdie não se quebrasse. Ela poderia ser apegada a isso, pelo
que eu sabia. Olhando em volta novamente, percebi que
também havia uma porta sob a escada principal, alguns
degraus abaixo do nível do solo. Talvez os Maxwell vivessem no
apartamento do porão? Embora meu instinto achasse que não.
Então, respirei fundo e comecei a subir as escadas de
arenito. Meus joelhos tremiam um pouco enquanto eu subia
até o topo. Deus, eu realmente estava nervosa.
Da calçada, eu não tinha percebido como as portas da
frente eram altas – o conjunto duplo de portas de vidro
ornamentadas tinha que ter, pelo menos, três metros, talvez
mais. Olhando para a minha esquerda, pude ver diretamente
pela janela da frente, que me deu uma visão parcial de uma
grande sala de estar. O paletó de um homem estava em cima
de uma cadeira em frente ao sofá, e me perguntei se pertencia
a Sebastian. Fiquei ali parada olhando por um longo tempo,
tentando captar qualquer pequeno detalhe que pudesse ver –
os títulos dos livros na estante, as fotos sobre a moldura da
lareira – até que, de repente, a cortina se moveu.
Havia alguém em casa!
Eu senti toda a cor sumir do meu rosto.
Oh meu Deus.
Eu preciso dar o fora daqui!
Em pânico agora, procurei um lugar para deixar a
presilha de cabelo. Não encontrando nenhum lugar adequado,
equilibrei-a na parte superior da maçaneta, imaginando que
alguém a veria, ou, se não a visse, cairia no chão quando a
porta abrisse e chamaria a atenção.
Então comecei a levar minha bunda escada abaixo. Meu
coração batia tão rápido que eu parecia estar fugindo da cena
de um crime, em vez de fazendo uma boa ação devolvendo a
presilha de cabelo favorita de uma menina.
Eu dei apenas alguns passos quando ouvi um som
metálico atrás de mim – o som de uma fechadura abrindo.
Enlouquecendo, continuei… até que uma voz profunda me
parou no meio do caminho.
— Ei. Você. O que você está fazendo?
Oh. Meu. Deus.
Eu fechei meus olhos. Aquela voz. Claro, só ouvi
Sebastian Maxwell falar brevemente no carrossel, mas estava
cem por cento certa de que era ele. Aquela voz profunda, rica
e sexy de barítono combinava totalmente com o resto do
pacote.
Quando não respondi, ele falou novamente. A segunda
vez mais alto.
— Eu disse, para onde você está correndo?
Respirei fundo, percebendo que teria que enfrentar as
consequências das minhas ações, e me virei lentamente.
Jesus Cristo. Sebastian era ainda melhor de perto. Ele
parecia ter acabado de sair do chuveiro. Seu cabelo estava
molhado e jogado para trás, e usava uma camiseta branca
simples e calça de moletom cinza. Parada tão perto, fiquei
hipnotizada pela cor de seus olhos verdes – eles eram tão
incomuns, não avelã ou o tom de verde que a maioria das
pessoas tem, semelhante a jade ou musgo, mas o tom brilhante
de uma esmeralda e as áreas ao redor de suas pupilas era
cheias de manchas douradas.
— Você está atrasada, — ele latiu.
— Uh...
— A campainha não está funcionando. Tenho que
consertar neste fim de semana. Então terá que bater um pouco
mais forte e chegar na hora, se quiser este trabalho. Tenho que
sair para trabalhar em cinco minutos.
— Trabalho?
— Você é a adestradora de cães, não é?
Seus lindos olhos estavam me perfurando e me deixando
mais do que um pouco nervosa. Naquele momento, senti que
ele podia ver através de mim e acharia que eu era uma espécie
de perseguidora enlouquecida da sua filha de dez anos. Quer
dizer, eu era, é claro, mas de jeito nenhum queria que ele
pensasse isso. Então entrei em pânico.
— Umm. Sim. Desculpe estar atrasada. Umm. Tráfego. —
O que diabos estou fazendo?
Ele apontou para a casa. — Bem, se apresse. Vamos. Eu
não tenho o dia todo. Vou apresentá-la e você estará por conta
própria. Traga-o de volta em uma hora. A babá já estará aqui
e assumirá quando você voltar. Qualquer comando que precise
ser aprendidos como dever de casa, ensine à Magdalene. Ela
está aqui mais do que eu, de qualquer maneira.
Hesitei, mas comecei a subir as escadas novamente.
Meus joelhos tremiam mais e mais a cada passo. Quando
cheguei à porta da frente, Sebastian havia entrado. Dei alguns
passos cautelosos para o vestíbulo e, do nada, fui atacada.
Tudo bem. ‘Atacada’ pode não ser a palavra certa. Mas fui
repentinamente derrubada de bunda, com duas patas gigantes
pressionadas no meu peito me prendendo. E a maior língua
que já vi começou a lamber o lado do meu rosto.
— Marmaduke, — Sebastian gritou. O Dog Alemão
gigante manchado de preto e branco olhou por cima do ombro
e praticamente riu do homem grande e raivoso olhando para
ele. Então ele começou a lamber meu rosto.
Depois que o choque passou, fui capaz de empurrar o
gigante de cima de mim. Limpei a saliva do meu rosto e me
levantei, apenas para descobrir que Sebastian não parecia
muito feliz. Que diabos? Fui eu quem acabou de ser derrubada,
não ele.
Ele colocou as mãos nos quadris. — Eu, sinceramente,
espero que não seja uma demonstração de suas habilidades de
adestramento. Você tem menos controle sobre ele do que eu.
Eu fiquei irritada. — O que você esperava? Ele me
derrubou sem aviso. Legal de a sua parte estender a mão para
me ajudar a levantar, aliás.
Sebastian fez uma careta. — Você não parece alemã.
Limpei a poeira das minhas calças. — Bem,
provavelmente é porque não sou.
Ele semicerrou os olhos para mim. — Então por que você
ensina os comandos de adestramento em alemão?
Ah, Merda. — Umm. — Pisquei algumas vezes antes de
tirar uma resposta da minha bunda. — Por favor, não comece
a questionar meus métodos. Se você não quer que eu adestre
seu cachorro, que claramente precisa do adestramento que
você não é capaz de fornecer, diga isso e partirei.
O canto dos lábios de Sebastian se contraiu para cima. —
Ok. Vou pegar a coleira dele.
Sério? O que diabos estou fazendo? Eu precisava de uma
visita à Dr. Emery para discutir minhas ações em relação a
uma garotinha que escreveu para o Papai Noel. O que fingir ser
uma adestradora de cães que ensinava comandos em alemão
justificava? Ser internada? Senhor, como diabos eu vim parar
aqui?
Sebastian voltou com a coleira e me entregou. Fiquei
surpresa quando ele suavizou seu tom e estendeu a mão. —
Peço desculpas. Eu não me apresentei. Esse cachorro às vezes
leva o melhor sobre mim. Sou Sebastian Maxwell e presumo
que você seja Gretchen.
Gretchen. Claro! Porque a mulher que não é alemã e treina
em alemão, logicamente se chamaria Gretchen. Eu coloquei
minha mão na sua enorme e apertei. No minuto em que minha
pele fez contato com a dele, meu pulso disparou como um trem
em fuga. Quando ele apertou minha mão com mais força, um
choque elétrico subiu pelo meu braço. Ótimo, um
comportamento mais perturbador para discutir com a Dra.
Emery – embora fizesse sentido que eu acendesse como uma
árvore de Natal, já que era o maldito Papai Noel. Eu precisaria
de um empréstimo para pagar minhas sessões de terapia
depois de hoje.
Puxando minha mão, concentrei-me em dar o fora de lá.
Aparentemente, eu levaria meu novo aluno comigo. Consegui
prender a ponta da guia na coleira de Marmaduke e fiz minha
melhor representação de uma adestradora profissional de
animais. — OK. Então, volto em uma hora. — Eu puxei a
coleira do cachorro gigante e, surpreendentemente, ele me
seguiu. Apenas para solidificar que eu estava perdendo
totalmente o controle, virei no topo da escada e sorri para
Sebastian Maxwell. — Danke.
Depois que falei isso, comecei a questionar se era
realmente ‘obrigada’ em alemão ou não. Bem, tarde demais se
não fosse. Marmaduke desceu correndo as escadas e tive de
correr para acompanhá-lo. Na parte inferior, mantive-me firme
e puxei com força sua coleira.
— Whoa... — eu disse.
Merda. Whoa? Isso era para cavalo e em inglês, não era?
Olhei por cima do ombro e para cima da escada, esperando
que Sebastian já tivesse entrado e não tivesse me ouvido.
Claro, não tive essa sorte.
Sebastian estava no topo da escada me observando. Ele
parecia realmente cético.
Sim, você e eu, cara. Você e eu.
*-*-*

Marmaduke e eu fomos a um parque próximo que tinha


uma área canina, o que significava que eu poderia deixá-lo sem
a coleira na área cercada enquanto pesquisava sobre
adestramento de cães no Google.
Passei uma boa meia hora lendo noções básicas de como
ensinar um cão a obedecer e então perguntei ao Google razões
para adestrar um cão em alemão. Surpreendentemente, era
mais comum do que eu imaginava. Muitas pessoas adestravam
cães na língua nativa da raça. E quem sabia que… na verdade,
um Dogue Alemão não era um dinamarquês – era descendente
de alemães. Então fazia sentido, eu acho. Além disso, o
adestramento em uma língua estrangeira tornava mais fácil
para o animal não se confundir quando outras pessoas usaram
palavras comuns perto dele. Também pesquisei algumas
palavras para adestramento básico em alemão. Sitz,
pronunciado zitz, significa ‘sentar’. Platz, pronunciado plah-tz,
significa ‘no chão’, e nein, pronunciado nine, significa ‘não’.
Achei que Marmaduke precisava desesperadamente dessas
três palavras em sua vida.
A única coisa boa sobre um cachorrinho grande com
muita energia é que ele se desgastava muito rápido. Uma vez
que ele parecia mais moderado, o tirei da área canina e
encontrei uma árvore tranquila para me sentar e adestra-lo.
Ele colocou seu corpo enorme em minhas pernas. Eu o
acariciei enquanto falava. — Então, Marmaduke, fale-me sobre
as pessoas com quem você vive. Sebastian é tão idiota quanto
parecia lá na casa? Ele, definitivamente, não é nada como eu
esperava que fosse depois de ouvir sobre ele por Birdie. —
Quando eu disse — Birdie, — Marmaduke começou a abanar
o rabo. Quis me certificar se era coincidência ou não. Então
esperei até que seu rabo parasse de abanar e falei um pouco
mais com ele. — Sim. Então, eu esperava um cara muito legal,
talvez de fala mansa, mesmo que ele seja claramente um cara
grande como você. Mas Sebastian é meio malvado, não é?
Nada. Marmaduke continuou olhando para mim, mas
seu rabo não se mexeu.
— Eu realmente espero que ele não fale com Birdie como
falou conosco.
No minuto em que disse ‘Birdie’, o rabo do cachorro
começou a abanar. Eu sorri e cocei suas orelhas. — Sim,
entendi, amigo. Posso dizer que ela é realmente especial só
pelas cartas. Estou feliz que você esteja lá para protegê-la.
Birdie havia escrito em uma de suas primeiras cartas que
havia pedido um cachorro no Natal e o Papai Noel não tinha
trazido nenhum para ela. Então não pude deixar de me
perguntar o que fez seu pai lhe dar um agora. Havia algum
perseguidor à espreita pela vizinhança e ele achava que ela
precisava de alguma proteção quando ele não estivesse em
casa? Bem, algum perseguidor além de mim, quero dizer. Eu
esperava que não fosse o caso.
Eu realmente precisava ensinar algo a este cachorro hoje,
porque já estava quase na hora de levá-lo de volta. Mas a
maioria das informações sobre adestramento que li dizia que
você precisava de guloseimas para cães. Então, improvisei.
Procurei dentro da minha bolsa o que quer que tivesse que
poderia ser um substituto decente. Infelizmente, não tinha
muitas escolhas – apenas um chiclete e uma barra de cereais
KIND, que era de nozes. Já que metade do mundo parecia ser
alérgico atualmente, pesquisei no Google se cães poderiam
comer isso. Podiam, mas precisavam evitar macadâmia e
amêndoas. Depois de verificar os ingredientes da minha barra
KIND, coloquei o chiclete na boca e me levantei. Marmaduke
ficou ao meu lado. Quebrei a barra KIND em alguns pedaços
e lhe mostrei um.
— Sente-se, — eu disse severamente. — Oh espere, não.
Sitz.
O cachorro apenas olhou para mim. Suspirei e acessei
um dos melhores artigos que li sobre adestramento de cães e
procurei a seção sobre como ensinar um cão a sentar.
Passo um. Ajoelhe-se diretamente na frente de seu animal
de estimação.
Ótimo. Manchas de grama em minhas calças brancas.
Respirei fundo e caí de joelhos de qualquer maneira.
Passo dois. Segurando a guloseima em sua mão, deixe seu
cão ver a recompensa e leve-a ao seu focinho.
Isso parecia meio maldoso. Eu esperava que Marmaduke
não atacasse meus dedos e pegasse alguns deles junto com a
barra KIND por provocá-lo. Mas ele não fez isso. Hmm… talvez
a pessoa que redigiu este artigo soubesse alguma coisa. Então
continuei.
Passo três. Coloque a recompensa em sua mão e levante-
a. Diga a seu cachorro para sentar.
Coloquei o pedaço de barra na palma da mão e falei com
voz severa. — Sitz!
Puta merda.
Marmaduke sentou.
Ele realmente sentou!
Eu lhe dei a guloseima e cocei atrás de suas orelhas. —
Bom menino. Você é um bom menino.
Quando saí do parque e voltei à casa dos Maxwell para
devolver meu aluno premiado, ele havia seguido meu comando
pelo menos cinco vezes. Da última vez, eu nem tinha uma
guloseima na mão. No momento em que levantei meu braço,
ele simplesmente abaixou sua bunda na grama. Não pude
acreditar. Mas embora tivesse conseguido realizar uma
pequena tarefa, eu definitivamente não era uma adestradora
profissional. E precisava cortar essa loucura pela raiz. Minha
intromissão na vida de Birdie já havia causado danos
suficientes. Eu deveria evitar interferir, não mergulhar de
cabeça. Embora tivesse que admitir, eu estava muito animada
para conhecer a doce menina. E o fato de estar voltando para
a babá e não para Sebastian me fez sentir muito menos
estressada do que ficaria se tivesse que enfrentá-lo novamente.
Cheguei à Rua 83 alguns minutos depois do horário que
deveria retornar. Parando para respirar fundo algumas vezes,
me recompus e subi o lance de escadas para a casa Maxwell.
Toquei a campainha e esperei, mas ninguém apareceu na
porta. Depois de um minuto, lembrei-me do que Sebastian
havia dito sobre estar com problema e que eu precisava bater
com força. Então o fiz.
Uma mulher de aparência agradável, provavelmente na
casa dos cinquenta anos, atendeu a porta. Com seu sorriso
caloroso, ela não era tão intimidante quanto o cara com quem
tive que lidar antes.
— Você deve ser Gretchen, — disse ela.
Eu assenti. — Sim, sou eu. Gretchen, a adestradora de
cães.
Ela deu um passo para o lado. — Entre. Eu sou
Magdalene. O Sr. Maxwell disse que eu deveria aprender
qualquer coisa que precisássemos trabalhar em casa para
ajudar no adestramento de Marmaduke.
Eu olhei em volta quando entrei. A casa estava silenciosa.
Nenhum sinal de Sebastian ou Birdie. — Umm. O Sr. Maxwell
está em casa? Todos são bem-vindos para participar do
adestramento.
Ela balançou a cabeça. — Não. Ele saiu para trabalhar.
Ele trabalha à noite. Mas sua filha e eu estamos ansiosas para
trabalhar no adestramento. O cachorro é dela.
Meu coração deu um pequeno salto inesperado à menção
de Birdie. — O cachorro é da filha dele. Oh, ok. Ela pode se
juntar a nós?
Magdalene balançou a cabeça. — Não, ela saiu com sua
tropa de escoteiras para fazer uma arrecadação de fundos em
frente ao supermercado. Mas ensinarei a ela tudo o que você
achar que devemos trabalhar.
Eu me senti desanimada. Sem Birdie.
Segurando um suspiro, balancei a cabeça. — OK. Bem,
hoje trabalhamos no ‘sente-se’, mas seus comandos são em
alemão. Estou sem guloseimas, você tem algumas para que eu
possa demonstrar?
— Claro. Um momento. Elas estão no armário da cozinha.
Por favor, sinta-se em casa enquanto pego algumas.
Uma parte de mim se sentia tão culpada pelo que estava
fazendo, ainda que outra parte não pudesse deixar de olhar ao
redor, dada a oportunidade. A pior parte venceu quando vi as
fotos sobre a moldura da grande lareira que tinha visto antes
pela janela. Meu coração apertou quando peguei a primeira.
Era uma foto de Sebastian e sua esposa embrulhados em
casacos e toucas de inverno, em frente a uma montanha
coberta de neve. Os dois estavam de esquis, e Sebastian
segurava Birdie no ar com um braço – e ela tinha uma prancha
de snowboard presa em seus pezinhos. Ela não devia ter mais
de cinco ou seis anos na foto. Suas bochechas rechonchudas
estavam vermelhas, e ela mostrava o maior e mais feliz sorriso
que já vi. Mesmo que Sebastian parecesse super bonito, era do
sorriso de Birdie que eu não conseguia tirar os olhos.
Magdalene voltou antes que eu pudesse parar de olhar.
Vendo o que chamou minha atenção, ela sorriu tristemente. —
Esse é o Sr. Maxwell e sua filha, Birdie. — Ela fez o sinal da
cruz. — E sua amada esposa, Amanda. Ela já se foi. Deus
tenha sua alma.
Eu me senti começando a ficar toda engasgada, então
tossi para limpar minha garganta e coloquei a moldura de volta
no lugar. — Bem, eles são uma família muito bonita.
Magdalene assentiu. Ela me entregou a guloseima para
cachorro e voltei minha atenção para Marmaduke. Eu
esperava como o inferno que ele se lembrasse do que havia
aprendido. Seguindo o que tínhamos praticado, eu o deixei ver
a guloseima e então levantei minha mão com ela dentro. —
Sitz, — eu disse. Milagrosamente, Marmaduke sentou-se
imediatamente.
Magdalene sorriu. — Oh, meu Deus. Você é muito boa no
seu trabalho. Este garotão não escuta ninguém.
Por mais louca que fosse toda a situação, ainda me sentia
orgulhosa do que havia conquistado. — Obrigada. — Eu sorri.
— Ou danke. — Quase ri depois de fazer esse último
comentário, mas não pude deixar de entrar no ato. Depois da
minha demonstração, dei à Magdalene algumas dicas que
peguei na internet e então era hora de partir.
— OK. Bem. Boa sorte com ele. Ele é um cachorro doce.
Magdalene me acompanhou até a porta. — Você voltará
na próxima semana, certo?
— Umm. Bem...
— Birdie vai ficar tão chateada por ter perdido hoje. Para
ser honesta, esquecemos sobre sua vinda quando ela fez
planos com sua tropa. Tenho certeza que estará parada na
porta esperando por você na próxima terça. — Parada na porta
esperando por mim.
Imaginei Birdie com o nariz pressionado contra o vidro,
animada para trabalhar no adestramento do cachorro.
Eu não podia decepcioná-la. Podia?
Mais uma semana não vai doer muito, vai? Quer dizer, eu
fui tão longe – como poderia encerrar as coisas sem pelo menos
conhecer a pequena Birdie agora?
Além disso, ela ficaria muito desapontada se a
adestradora desistisse logo no primeiro dia.
— Quer saber, claro. Vejo vocês na próxima terça.
Saí e respirei fundo.
Merda. Lá vamos nós novamente.
CAPÍTULO 8

SADIE

— Bleib.
Ruff
— Bleib.
Ruff!
— O que diabos você está ouvindo? — Devin mais uma
vez me pegou vadiando no trabalho. — Isso é alemão… e
latidos?
Pressionei o botão ‘Pause’ o mais rápido que pude. Eu
estava assistindo a outro tutorial no YouTube sobre
adestramento de cães na língua alemã. Era tudo que eu
assistia ultimamente sempre que tinha algum tempo livre. Na
verdade, o adestramento de cães em alemão estava me
consumido, a ponto de na noite passada eu sonhar que estava
sendo julgada por algum crime, e todo o tribunal estava cheio
de cães gritando comigo em alemão.
— Não. — Eu balancei minha cabeça e menti. — Não é
alemão. Não sei o que você acha que ouviu.
— Não? O que era então?
Não havia nenhuma maneira de eu sair dessa.
Eu admiti. — Ok, era.
— Eu sei que era… porque minha avó Inga é alemã. Você
viajará em breve? — Ela sorriu com a perspectiva de eu viajar
para o exterior. — Um artigo de namoro internacional! Eu
estaria totalmente pronta para ser sua assistente nisso!
Devin não tinha ideia da bagunça em que me meti. Mas
eu ia explodir se não contasse a alguém. Se alguém entenderia
e não me internaria, seria Devin. Só Devin.
— Nenhum artigo de namoro internacional. — Suspirei.
— Mas tenho que te contar uma coisa, e é melhor você sentar
para isso.

Devin não conseguia mais ficar sentada. Ela andou


animadamente pelo espaço entre o meu cubículo e o dela. —
Oh meu Deus. Isso é bom demais para ser verdade.
— É uma bagunça isso sim! E vai acabar após esta
próxima visita.
Ela parou por um momento. — Então você planeja
brincar de adestradora alemã de cães mais uma vez e depois?
Eu bati minha caneta e soltei um longo suspiro. — Depois
tenho que encontrar uma maneira de sair disso.
— Espere… o que aconteceu com a verdadeira
adestradora de cães?
Essa era a questão do ano, não era?
— Eu não faço ideia. Esse é o outro problema. Pelo que
sei, Gretchen não apareceu ontem, mas não tenho ideia do
porquê, ou se ela vai entrar em cena.
— Espero que não. — Ela suspirou. — Isso é o destino,
Sadie. A presilha de borboleta, o fato de ele ter aberto a porta
naquele momento, a maneira como o cachorro ouviu suas
instruções idiotas em alemão como se você fosse uma
especialista! Esta é a sua janela. Por que desistir depois de
mais uma visita?
Não pude acreditar em sua sugestão, embora não devesse
ter achado surpreendente.
— Minha janela para o que, exatamente, Devin? E não
diga para cama de Sebastian Maxwell.
— Eu ia dizer… sua janela para a vida de Birdie. Você
poderá vê-la agora, vê-la, e não ter que realizar desejos
inatingíveis enquanto brinca de Papai Noel. — Ela faz uma
pausa, então sorri. — E pode potencialmente levar a um sexo
incrível com Sebastian Maxwell, sim.
Eu me levantei da minha cadeira. — Mais uma vez e
pronto, Devin. Estou falando sério. Eu não posso mentir no
rosto daquela garotinha. Essa é a única coisa pior do que
brincar de Deus à distância.
— Você não está mentindo. Essa é a beleza disso. Você
será… você. Você simplesmente vai adestrar aquele cachorro –
em alemão. Você é a adestradora do cão. Você ganhou isso.
Quem se importa como chegou lá?
— E meu nome é Gretchen? Isso não é mentira?
Ela encolheu os ombros. — Pequeno detalhe.
Eu puxei meu cabelo. — Como se diz 'fraude' em alemão?

Era um dia lindo e ensolarado de final de verão na Rua


83. O dia perfeito para um piquenique no parque ou um
passeio com direito a uma xícara de café. Havia uma tonelada
de coisas que eu podia fazer hoje – qualquer coisa além de
continuar com essa farsa. Mas com o coração batendo forte,
subi as escadas da casa de pedra Maxwell e bati na porta.
Atrás da porta, eu podia ouvir as patas de Marmaduke
arranhando o piso de madeira enquanto corria freneticamente
para me receber.
Quando a porta se abriu, lá estava ele, imediatamente
pulando em cima de mim. Quem abriu a porta? Tudo o que vi
foi ele. Era como se ele tivesse aberto para me deixar entrar.
Virei minha bochecha, tentando evitar baba na minha
boca. — Uau. Sitz. Sitz.
Aparentemente, ele esqueceu tudo o que aprendeu da
última vez. Sitz não o impediu de ficar de pé sobre as patas
traseiras e tentar me beijar com a língua.
— Entre, — disse Magdalene de algum lugar atrás de
Marmaduke. — Sinto muito pela energia dele hoje. Como você
pode ver, ele está sendo muito indisciplinado, então é o
momento perfeito para outra aula.
Eu esperava que Birdie estivesse me esperando na porta
como Magdalene dissera que estaria, mas não havia sinal dela.
Enquanto Marmaduke se arrastava atrás de mim, segui
Magdalene para dentro enquanto olhava ao redor em busca de
Birdie. Magdalene me levou para a cozinha. Meus olhos
finalmente pousaram nas mechas loiras de Birdie.
Aí está ela.
Ela parecia estar com pressa para colocar algo de volta
no armário. Quando se virou, suas bochechas estavam cheias
como as de um esquilo.
— Você está bem? — Magdalene perguntou.
Ela balançou a cabeça rapidamente e murmurou com a
boca cheia. — Uh-huh.
Magdalene não sabia o que estava fazendo? Porque não
era preciso ser um cientista de foguetes para saber que Birdie
aproveitara a oportunidade de Magdalene ir atender a porta
para roubar biscoitos. Eu ri por dentro. Minha pequena ladra
de biscoitos. Ela ataca novamente.
Ela se virou brevemente de costas para nós, e quando me
encarou novamente, suas bochechas estavam ocas. Ela
aparentemente engoliu os biscoitos. Agora que eu não estava
mais distraída por suas bochechas, realmente dei uma olhada
em seus lindos olhos azul bebê. Birdie era uma garotinha
deslumbrante, e olhar nos olhos da criança que encantou meu
coração por tanto tempo era realmente surreal. Eu não
suportava olhar para aqueles olhos e mentir para ela. Portanto,
decidi que faria o máximo para ser o mais honesta possível
nessas circunstâncias.
— Birdie, esta é Gretchen, a adestradora de cães de
Marmaduke, — disse Magdalene.
— Na verdade, Gretchen é apenas meu nome profissional.
Você pode me chamar de Sadie.
Birdie tinha uma expressão confusa no rosto. — Você tem
dois nomes?
Eu fiz uma pausa. — Sim.
— Eu quero dois nomes! Vou pensar em outro nome.
Sorrindo, eu disse: — Acho que seria divertido.
— Vamos levar Marmaduke para o parque dos cães? —
Birdie perguntou.
— Sim, eu estava pensando em deixa-la me assistir
executando alguns comandos com ele, e então vocês duas
experimentariam também.
Birdie saiu correndo da sala. — Vou pegar meu suéter. —
Com o rabo abanando, Marmaduke a seguiu pelo corredor.
Depois que ela voltou, Birdie, Magdalene e eu
caminhamos juntas até o parque. Bem, era mais como
Marmaduke correndo para o parque e me levando junto com
ele enquanto Birdie e Magdalene corriam atrás de nós. Eu
precisava descobrir como ensiná-lo a ‘desacelerar’.
Quando chegamos ao nosso destino, procuramos um
bom local para ministrar nossas aulas.
Birdie se virou para mim e perguntou: — Você é alemã?
— Não, eu não sou.
— Então, como você ensina Marmaduke em alemão?
— Aprendi por conta as palavras importantes e vou
ensiná-la também, para que não precise mais de mim. O
objetivo é fazer com que ele ouça você, Magdalene e seu pai.
— Você pode ensiná-lo a não pular na cara do meu pai
pela manhã? É assim que Marmaduke o acorda e ele fica tão
furioso. Receio que se ele continuar fazendo isso, papai vai
querer devolvê-lo.
— Não acredito que seu pai faça isso.
Eu provavelmente não deveria ter feito essa promessa em
nome de Sebastian. Pelo menos esperava que ele não partisse
o coração de sua filha dessa forma.
Desta vez, vim armada com uma sacola cheia de
guloseimas. Ter o tipo certo de reforços tornaria isso mais fácil
do que da última vez.
Eu mesma demonstrei sitz (sentar) e platz (no chão)
algumas vezes antes de entregar algumas das guloseimas para
Birdie. Como sempre, o rabo de Marmaduke balançava como
um louco sempre que Birdie assumia o comando. O nível de
empolgação que ele sentia por essa menina era diferente de
tudo. Birdie gritou de alegria na primeira vez que o cachorro
ouviu seu comando por uma guloseima. Era verdadeiramente
milagroso como essa coisa de adestramento de cães parecia
funcionar. Eu realmente não achei que pudesse fazer isso, mas
parecia estar – por enquanto.
Mas, de tudo que li, o adestramento adequado de cães
normalmente durava mais do que apenas algumas sessões.
Não havia como eu simplesmente parar depois de duas vezes
sem um bom motivo. Então, teria que inventar uma desculpa
depois de hoje do porque não voltar. Mesmo pensar nisso era
assustador.
Ironicamente, estávamos trabalhando no comando para
ficar, bleib, quando Marmaduke fez exatamente o oposto
depois que se distraiu com um filhote que entrou na área
canina. Nenhuma quantidade de guloseima o convenceu a não
perseguir o animalzinho. Precisou nós três para controlar
Marmaduke e levá-lo para a área mais calma, longe dos outros
cães. Depois de seduzi-lo com mais alguns petiscos, pudemos
descansar com ele debaixo de uma árvore. Mesmo que
estivesse mais fresco, eu definitivamente estava suando.
— Então, como você entrou nessa carreira de
adestramento de cães? — Magdalene perguntou.
Oh, você não acreditaria.
— Não é minha carreira. É apenas algo em que
literalmente caí. Eu faço isso à parte. Tenho outro trabalho.
— Você tem dois empregos e dois nomes! — Birdie riu.
Magdalene sorriu. — Posso perguntar qual é o seu outro
trabalho?
— Eu escrevo uma coluna para uma revista.
Seus olhos se arregalaram. — Oh, isso parece tão
divertido. Qual é o assunto?
— Namoro, na verdade. Às vezes vou a encontros e
escrevo sobre eles.
Birdie torceu o nariz. — Ai, credo. Você tem que beijá-los?
Eu ri. — Não. Definitivamente não.
— Bom. O único menino que quero beijar é meu pai.
— E eu acho que seu pai ficará perfeitamente bem com
isso pelo maior tempo possível, — eu disse.
Magdalene e eu sorrimos uma para a outra.
— Aposto que muitos meninos querem te beijar, —
acrescentou Birdie. — Você tem um lindo cabelo loiro e um
belo sorriso.
Isso era doce.
— Ora, obrigada, Birdie. Posso te contar um segredo?
Ela se inclinou com curiosidade. — Sim!
Baixei minha voz para causar efeito. — Na maioria dos
dias, prefiro beijar um sapo.
Ela engasgou. — E então ele se transformaria em um
príncipe! Minha mãe leu para mim uma história como essa
uma vez.
Meu coração apertou. — Sério?
— Sim. Eu não me lembro muito disso. Mas sei que havia
um sapo e um beijo e um príncipe.
— Mas parece uma história legal.
Ela ficou em silêncio por um momento antes de dizer: —
Você sabe que minha mãe morreu?
— Sim. Eu sei, na verdade.
A culpa aumentou. Magdalene tinha me falado sobre
Amanda na semana passada, mas eles mal faziam ideia que eu
sabia muito mais do que qualquer um poderia imaginar. De
repente, me lembrei de que era uma impostora.
— Ela morreu quando eu tinha sete anos.
Eu prometi a mim mesma que faria tudo ao meu alcance
para não criar laços com essa garotinha hoje. Eu precisava
deixar o impulso de fazer isso sumir.
Infelizmente, a necessidade de lhe mostrar que ela não
estava sozinha era ainda maior.
— Eu perdi minha mãe quando tinha mais ou menos sua
idade também.
A expressão em seu rosto se transformou de tristeza em
admiração.
— Você perdeu?
Era como se ela nunca tivesse ouvido ninguém dizer isso
antes.
— Sim, perdi.
— O que aconteceu com ela?
— Ela morreu de câncer.
— A minha também!
Meu coração estava tão pesado que eu podia jurar que
estava me empurrando para baixo. Ela parecia tão aliviada em
saber que alguém havia passado pelo que ela passou. Fiquei
feliz por ter escolhido me abrir.
— Você já parou de pensar nela? Tenho medo de esquecê-
la quando ficar mais velha. Já lembro só um pouco.
Tentando tranquilizá-la, eu digo: — Nunca esqueci as
coisas que lembrava quando tinha sua idade. Porque essas
memórias são tão importantes e preciosas que são marcadas
em nós. E tenho um ótimo pai que também garantiu que eu
nunca a esquecesse. Mas você sabe a razão número um pela
qual você nunca será capaz de esquecê-la?
— O quê?
Eu apontei para meu coração. — Porque ela está bem
aqui. Sempre. Ela é uma parte de você e você a carrega dentro
do seu coração todos os dias. Você não pode esquecer o seu
próprio coração e não vai.
Birdie fechou os olhos e sussurrou: — Sim. OK.
Este momento foi um que eu nunca esqueceria. Mesmo
que nunca mais visse Birdie, pelo menos sabia que fui capaz
de fazê-la se sentir um pouco menos sozinha neste mundo. O
tempo todo em que ela se comunicou comigo como Papai Noel,
a única coisa que sempre quis dizer a ela foi: — Eu também.
Eu sei como você está se sentindo.
— Estou muito feliz por ter te conhecido. Nunca conheci
ninguém que perdeu a mãe jovem como eu.
Eu não pude deixar de sorrir. — Bem, talvez tenhamos
sido destinadas a nos encontrar, para que você pudesse saber
que existem outras pessoas lá fora, como você. — Os olhos de
Magdalene brilhavam.
Quando percebi que poderia ter levado as coisas um
pouco longe demais emocionalmente, pulei. — Bem, vamos
voltar ao treinamento de Marmaduke?
O cachorro parecia estar meio adormecido, aproveitando
a brisa com a língua de fora.
Birdie e eu o levantamos e mais uma vez nos revezamos
recitando os comandos em alemão e recompensando
Marmaduke quando ele conquistava as guloseimas. Tudo
estava correndo normalmente até que o filhote de antes entrou
em sua linha de visão novamente. Então ficou claro que talvez
nossa sorte em tentar adestrá-lo esta tarde tivesse se esgotado.
Nós o tiramos do parque e começamos a caminhada de
volta para a casa de Birdie.

*-*-*

Uma vez de volta a casa de pedra, Magdalene insistiu que


eu ficasse mais alguns minutos antes de sair para provar um
prato que ela deixou cozinhando o dia todo na Crock-Pot5.
Estávamos as três à mesa e havíamos acabado de terminar o

5 Panela de cozimento lento.


ensopado quando notamos um barulho estranho vindo de
Marmaduke na sala ao lado.
Quando nos levantamos de nossos assentos, não
demorou muito para perceber que ele estava engasgado com
alguma coisa.
Ele está engasgado.
O cachorro está sufocando.
O pânico se instalou.
Tudo a partir daí aconteceu muito rápido.
Eu assisti a um vídeo outra noite sobre o que fazer se um
cachorro começasse a engasgar. O YouTube recomendou
porque estava relacionado aos resultados da minha pesquisa
de adestramento de cães. Lembrei-me de pensar que talvez
fosse bom assistir, já que sairia com o cachorro mais uma vez.
Mas, bom Deus, nunca pensei que teria que usar qualquer
uma dessas habilidades.
Lutei para lembrar as instruções do tutorial quando
entrei em ação, ficando atrás do cachorro e colocando meus
braços em volta de seu corpo.
Pense.
Pense.
Pense.
Fechando o punho com a mão esquerda, coloquei meu
polegar contra sua barriga e com a outra mão empurrei para
cima em direção aos ombros de Marmaduke. Sem saber se
estava fazendo isso corretamente, continuei repetindo esse
movimento até ouvir Magdalene gritar: — Saiu!
— Saiu! Saiu! — Birdie repetiu, com lágrimas escorrendo
pelo rosto.
Magdalene foi buscar o culpado no chão. Era uma
pequena bola de borracha, não maior do que uma moeda de
50 centavos.
Eu nunca sento tanto medo em toda minha vida. A pobre
Birdie estava muito assustada. Eu realmente não tive tempo
para pensar sobre o que quase aconteceu.
— Você salvou a vida de Marmaduke, — gritou Birdie
enquanto colocava os braços em volta do pescoço do cachorro
e pressionava o rosto contra o dele. O cachorro parecia não se
incomodar com o que poderia ter acontecido com ele.
Abaixei-me para confortá-la. — Eu só fiz o que qualquer
um teria feito nessa situação.
Magdalene estava com a mão no peito, parecendo mais
agitada do que qualquer uma de nós. — Eu não saberia o que
fazer, Sadie. Graças a Deus você estava aqui.
A voz de barítono por trás literalmente me abalou. — O
que diabos está acontecendo? Por que Birdie está chorando?
Ninguém notou, até ele falar, que Sebastian tinha voltado
para casa.
Birdie correu para o pai. — Papai, Sadie salvou a vida de
Marmaduke! Ele estava sufocando com uma bola, e ela fez o
removedor de hímen6.

6 Em inglês, hymen remover, o que soa parecido com Heimlich maneuver (manobra de
Heimlich).
Ela acabou de dizer ‘removedor de hímen’? Claramente,
ela se referia à manobra de Heimlich. Eu teria rido se ele não
estivesse me lançando um olhar mortal.
Sebastian estreitou os olhos em confusão. — Quem é
Sadie?
Ela apontou para mim e começou a falar muito rápido. —
A adestradora! Ela só usa Gretchen para trabalhar. O nome
verdadeiro dela é Sadie, e Marmaduke engoliu a bolinha que
eu tirei da máquina de chicletes no supermercado outro dia.
Sadie fez essa coisa com ele e saiu. Eu estava tão assustada.
Achei que ele ia morrer.
— Foi realmente incrível, Sr. Maxwell, — disse
Magdalene.
Sebastian olhou para mim e depois de volta para Birdie
antes de se abaixar para esfregar a cabeça do cachorro,
parecendo um pouco abalado agora que absorveu totalmente
o que tinha acontecido.
Ele olhou para mim. — Você usou a manobra de Heimlich
com ele?
Deus, eu nem sabia o que fiz. Simplesmente me lembrei
das etapas daquele vídeo e entrei em ação.
— Algo do gênero, sim.
Ainda ajoelhado, Sebastian colocou os braços em volta da
filha.
— Você está bem?
Ela assentiu. — Sim.
Meus olhos focaram em suas mãos fortes enquanto ele
esfregava as costas dela.
— Por que você não vai para a cozinha com Magdalene e
pede alguns biscoitos e leite. — Ele olhou para mim enquanto
se endireitava. — Posso falar com você, por favor?
— Eu? — Falei estupidamente.
— Sim.
Quem mais?
— Claro. — Eu me virei para Birdie. — Caso eu não volte
a vê-la antes de partir, foi ótimo conhecê-la, Birdie.
— Vejo você na próxima semana, Sadie. Não beije
nenhum garoto feio.
Não tive coragem de lhe dizer que talvez não a visse na
próxima semana.
Espere… ‘talvez’? Agora eu duvidava se cortaria as coisas
depois de hoje?
Eu segui Sebastian até seu escritório. Era tão intimidante
quanto ele, de madeira escura e uma cadeira de couro marrom
escuro atrás de sua grande mesa.
Ficamos alguns metros um em frente ao outro e, antes
que ele pudesse dizer qualquer coisa, comecei a gaguejar.
— E-ela estava apenas… Escrevo para uma coluna de
namoro. Eu disse isso a ela. Ela... Foi por isso que ela disse
aquilo sobre beijar meninos. — Eu me encolhi com minhas
próprias palavras.
— Você é uma escritora?
— Sim. O adestramento de cães é… extra.
Extra, certo.
Ele assentiu e contemplou minha admissão por um
momento antes de esfregar os olhos.
— A última coisa que preciso nesta casa é aquele
cachorro. Eu bati o pé por anos sobre não ter um. Trabalho
horas demais e dificilmente consigo manter minha filha viva e
saudável, muito menos trazer o que está mais perto de um
cavalo para esta casa.
— Compreendo. É muita responsabilidade.
— Minha filha vinha pedindo um Dogue Alemão chamado
Marmaduke há nem sei quanto tempo. Eu não tinha nenhuma
intenção de tornar esse sonho realidade. Mas, algumas
semanas atrás, por algum motivo, ela se convenceu de que sua
mãe falecida estava com raiva dela por algumas coisas que ela
tinha feito. Sinceramente, não sei de onde ela tirou algumas
dessas ideias. Tudo o que sei é que a única coisa que ela
realmente desejava, mais do que um cachorro, mais do que
qualquer coisa… Eu nunca vou ser capaz de lhe dar. E isso é
ter sua mãe de volta.
Ele fez uma pausa. Lágrimas estavam começando a se
formar em meus olhos, mas fiz o meu melhor para lutar contra
elas enquanto ele continuava.
— Então fiz algo que provavelmente em retrospecto foi
uma coisa muito estúpida. Eu comprei exatamente o cachorro
que ela queria. Eu procurei em todos os lugares exatamente
pelo Dogue Alemão de pintas pretas e brancas – sem os olhos
de cores diferentes – que ela queria. Eu disse a ela que sua
mãe veio até mim em um sonho, que me disse para comprar o
cachorro, mas avisar Birdie que só porque não estava
recebendo sinais, não significava que sua mãe está brava. —
Ele olhou para longe e balançou a cabeça. — Eu basicamente
menti para minha filha para tirar sua tristeza. De alguma
forma, me convenci de que mentir pelo bem de fazer alguém
feliz anula a mentira.
Uau.
E é exatamente por isso, Sr. Maxwell, que estou diante de
você neste exato momento.
— Eu entendo isso mais do que você imagina, — eu disse,
engolindo.
— De qualquer forma, as coisas estão melhores com ela
desde que esse maldito cachorro chegou, além do fato de que
ele me acorda com a cara pegajosa todos os dias. Mas isso é
problema meu. O meu ponto é… Não posso imaginar o que
faríamos se alguma coisa tivesse acontecido com esse animal
hoje. Não só pelo cachorro, mas pela minha filha. Estou muito
grato por você estar aqui.
Minhas bochechas ficaram quentes enquanto ele olhava
nos meus olhos. A força de suas emoções era quase demais
para eu aguentar.
Eu limpei minha garganta. — Como eu disse à Birdie,
qualquer um teria feito o mesmo.
Seus olhos queimaram nos meus, parecendo desafiar
minha tentativa débil de minimizar o que tinha acontecido.
— Duvido que Magdalene soubesse o que fazer. O fato de
você estar aqui salvou a vida daquele cachorro.
— Bem, estou realmente feliz por estar… aqui, então.
Ele mordeu o lábio inferior um pouco e acrescentou: —
Também quero me desculpar por ter sido rude com você
quando chegou na semana passada. Eu estava em um mau dia
por mais de um motivo. Mas isso não é desculpa.
— Bem, eu estava… atrasada, então entendo.
Ele não disse nada enquanto enfiava as mãos nos bolsos
e continuava olhando para mim. Seu pedido de desculpas foi
uma surpresa. Provou que Sebastian definitivamente não era
o idiota insensível que pareceu durante nosso primeiro
encontro. Ele tinha um lado vulnerável. Eu podia ver isso
agora. Ele era um homem que queria proteger sua filha de ter
que passar por outra tragédia.
Tive o desejo de confortá-lo, de assegurar-lhe que
entendia como era difícil para um viúvo assumir a
responsabilidade de ser pai solteiro. Afinal, eu vivi essa vida
pelos olhos do meu pai.
Mas não disse nada. Porque, neste momento, eu estava
simplesmente dominada pela força do seu olhar e senti a
necessidade de fugir.
— De qualquer forma, é melhor eu ir andando.
Ele assentiu. — Enviarei seu pagamento para o endereço
do PayPal que você me forneceu.
— Obrigada.
Quando saí do seu escritório, ainda não tinha ideia de
como contaria a eles que não voltaria. Antes de sair pela porta,
no entanto, senti-me compelida a me virar e dizer uma última
coisa a ele. — Só para constar, Sr. Maxwell, pelo pouco tempo
que o vi e conheci sua filha, posso dizer que acho que você está
fazendo um trabalho incrível. Não estou falando da boca para
fora. Você tem uma filha incrível, e isso é, sem dúvida, pelo
tipo de pai que você é.
Ele piscou algumas vezes e não pensei que ele fosse
responder, então continuei saindo pela porta.
Sua voz me parou.
— Sadie.
Eu me virei. — Sim?
— Me chame de Sebastian. — Ele fez uma pausa e deu
um sorriso genuíno. — E... danke.
CAPÍTULO 9

SADIE

Número de vezes por semana que você gosta de coito.


Mastiguei a ponta da caneta enquanto meditava sobre
mais uma pergunta difícil. Isso realmente depende, não é?
Quer dizer, ele é bom e me leva ao meu lugar feliz antes de
cruzar a linha de chegada? Tinha que presumir que, como
estava procurando meu parceiro ideal, estavam perguntando
como seriam as coisas com ele e não algum idiota de três
estocadas. Minha mente vagou para Sebastian. Aquele homem
tinha uma clara vantagem sobre ele. Não havia como ele não
dar conta do recado.
Suspirei. Decidi aproveitar meu teste gratuito da
casamenteira para esquecer Sebastian Maxwell. No entanto,
ele parecia surgir em minha cabeça enquanto eu ponderava
cada pergunta intrusiva.
Descreva a aparência física do seu cônjuge ideal.
Fechei os olhos e pensei por qual tipo de homem me
sentia atraída, então anotei a descrição que me veio à mente.
Alto, ombros largos, olhos verdes, queixo esculpido,
antebraços fortes e uma ampla postura de macho alfa. Bom
Deus. A única coisa que faltava eram as manchas douradas
dos olhos de Sebastian. Eu realmente precisava descer do trem
Maxwell.
Local de residência preferencial.
Duh. Uma casa de pedra no Upper West Side, é claro.
Porém, em minha defesa, responderia a mesma coisa antes
mesmo de conhecer certa pessoa.
Qual música você cantou pela última vez em privado?
Oh, caramba. Posso ter que mentir sobre esta. Eu estava
me sentindo um pouco deprimida esta manhã, então, antes de
entrar no chuveiro, aumentei o volume de uma antiga, mas
boa, de “Sir Mix-a-Lot” enquanto lavava meu cabelo. Eu tinha
certeza de que todos gostavam de bundas grandes, mas não
tornava um perfil de combinação muito atraente. Então escolhi
algo um pouco mais maduro “Someone You Loved” de Lewis
Capaldi e então perdi tempo pensando sobre que tipo de
música Sebastian gostava. Por algum motivo, o considerei um
fã de country – todas aquelas canções sobre mulheres e
cachorros perdidos pareciam se encaixar nele. Embora,
estranhamente, tivesse a nítida sensação de que Sebastian
ficaria mais intrigado com uma mulher que cantava “Sir Mix-
a-Lot” do que “Lewis Capaldi”.
Complete esta frase: Eu gostaria de ter alguém com quem
pudesse compartilhar...
Minha resposta imediata foi escrever tudo. Mas achei que
isso poderia me fazer parecer muito carente. Então, abrandei
um pouco, mas, ainda assim, fui com algo que era verdade e
tinha um pouco mais de personalidade: macarrão frio e risos
às duas da manhã.
O som de click de saltos femininos me alertou que Devin
estava vindo pelo corredor, então rapidamente escondi o
questionário sob alguns papéis.
— Hora do café. — Ela entrou no meu escritório. — Você
quer o de sempre?
— Sim. Seria bom. Estou realmente me arrastando esta
tarde.
— Oh? Fez alguma coisa interessante ontem à noite?
Como não classificava assistir vídeos de adestramento de
cães como interessante, balancei a cabeça. — Nah. Acordei
cedo e não conseguia voltar a dormir.
Devin olhou para minha mesa. — Em que você está
trabalhando?
— Edição para os artigos do próximo mês.
— Mm-hmm. — Ela estreitou os olhos para mim. — OK…
bem. É a minha vez de pagar pelo café, então voltarei em um
instante.
— Parece bom, obrigada.
Devin se virou em direção à porta e depois se voltou para
mim. — Na verdade… Esqueci a minha carteira. Posso pegar
vinte dólares emprestados?
— Sim, claro. — Eu levantei da minha cadeira e fui até o
armário sob a janela onde guardava minha bolsa. Assim mexi
para encontrar minha carteira, Devin pegou a pilha de papéis
de cima da minha mesa.
Meus olhos se estreitaram. — Que diabos você está
fazendo?
— Edição, minha bunda. — Ela começou a folhear os
papéis em suas mãos. Tentei agarrá-los, mas ela recuou rápido
demais para mim.
— Me dê isso!
Ela revirou algumas folhas na pilha e, em seguida, puxou
uma delas.
— Aha! Eu sabia que você estava fazendo algo que não
queria que eu visse.
— Você é louca.
Ela começou a ler o papel em voz alta. — Bloom
Matchmaking Services. Serviços de boutique para solteiros de
elite. — Devin revirou os olhos. — Deixe-me traduzir.
‘Boutique’ é igual a ‘caro’. ‘Solteiros de elite’ é igual a ‘um bando
de idiotas enfadonhos que acham que são bons demais para o
Match.com ou para o cenário dos bares’.
— É uma pesquisa para um artigo.
— Então, por que você mentiu para mim e me disse que
estava trabalhando em uma edição?
— Exatamente por causa do que você está fazendo neste
momento. Você aumenta a proporção de tudo.
Devin estava muito ocupada examinando a folha em
busca de pistas para ouvir minha defesa. Ela sorria quando
olhou para cima. — A descrição do seu companheiro ideal soa
muito familiar.
— Sempre gostei de altos com cabelos escuros.
Ela arqueou uma sobrancelha. — Com boa estrutura
óssea, olhos verdes e uma postura ampla?
— Quem não gosta disso?
— Uh-huh. Então você não estava descrevendo Sebastian
Maxwell neste formulário?
— Absolutamente não.
Ela virou a página e olhou para as perguntas que eu
respondi no início desta manhã. — Quantos filhos seu
companheiro ideal tem? Zero a um? Desde quando você
procura um pai solteiro? É a primeira vez que ouço falar disso.
Peguei os papéis de suas mãos. — Você não tem um
trabalho a fazer? Ou café para enfiar em sua veia, ou algo
assim?
— Você precisa simplesmente convidá-lo para sair e sabe
disso.
— Sim. É exatamente isso que preciso fazer. Porque a
base de qualquer bom relacionamento começa com uma série
de mentiras sobre… vamos ver… meu nome, ocupação e
relacionamento com sua única filha. Obviamente era para ser.
Provavelmente estaremos casados no Natal.
Devin suspirou. — Por que você simplesmente não
confessa, então? Diga-lhe a verdade.
— E depois? Convidá-lo para um encontro?
Ela encolheu os ombros. — Claro. Por que não?
— Porque ele vai ficar furioso comigo se descobrir. Ele
comprou um indisciplinado Dogue Alemão que o está
enlouquecendo porque sua filha, de repente, se convenceu de
que sua falecida mãe estava brava por algo que ela fez. Foi tudo
culpa minha, Devin. Fiz uma criança pensar que Papai Noel
tinha uma linha direta com uma mulher morta.
— Mas você teve boas intenções.
— Tenho certeza de que Sebastian Maxwell não verá
dessa forma.
— Bem, você nunca saberá a menos que lhe diga, certo?
Suspirei e balancei minha cabeça. — Eu, realmente,
gostaria daquele café.
Devin assentiu. — Ok. Já vou. Mas pense nisso, Sadie.
Há oito milhões de pessoas nesta nossa pequena cidade e de
alguma forma você conheceu esse cara. Talvez tenha começado
errado, mas talvez haja uma razão para vocês dois se
encontrarem.
Depois que Devin saiu, amassei o formulário de encontro
que estava preenchendo. A verdade é que eu não tinha vontade
de ir a nenhum encontro. Devin estava certa. Eu tinha uma
queda por Sebastian. E não era só porque ele era ridiculamente
bonito. Ele tinha um lado suave que reservava para a filha. Eu
tinha certeza de que sua esposa também conheceu esse lado
dele. Havia algo tão bonito sobre um homem que guardava o
melhor de si mesmo para as mulheres de sua vida. Eu sabia…
porque ele me lembrou de outro homem que eu adorava. Deus,
Freud teria um maldito dia cheio comigo.

*-*-*

Eu decidi confessar. Surpreendentemente, Devin estava


certa. Desde a primeira carta de Birdie, algo parecia destinado.
Como se eu devesse conhecê-la e ao pai dela por um motivo.
Claro, ajudou o fato de que, uma vez que o fiz, o homem era
incrivelmente bonito. Mas, uma parte minha realmente sentia
que mesmo que Sebastian Maxwell não fosse lindo, eu ainda
estaria atraída por ele. Minha atração era mais profunda do
que a superfície. Eu também estava bem ciente de que trazia
partes da minha própria história no meu fascínio pela sua
pequena família – mas não é assim que a vida funciona?
Nossos corações são feitos de diferentes pedaços quebrados
que pertencem a outras pessoas e, quando encontramos a
certa, eles nos mostram como todos podem se encaixar
novamente.
Talvez eu estivesse indo longe demais e sendo filosófica
demais, mas o resultado final era… Eu participei de desafios
de encontros vezes suficientes para saber que, quando alguém
surge e te faz sentir borboletas, você precisa investir. Porque
isso não acontece com muita frequência.
Então decidi que depois da sessão de adestramento de
hoje, eu pediria para falar em particular com Sebastian e então
confessaria. As chances eram de que ele surtasse e nunca mais
quisesse me ver novamente. Mas neste ponto, eu não
conseguia mais manter as mentiras. Não era justo para mim,
ou para ele e sua filha. E se houvesse uma chance no inferno
de que talvez algo pudesse acontecer entre nós, não poderia
construir isso sobre um alicerce de mentiras.
Minhas palmas começaram a suar enquanto me
aproximava da casa de pedra Maxwell. Eu estava tão nervosa.
Uma parte de mim esperava que Sebastian não estivesse por
perto hoje, só para que eu pudesse adiar o que decidi. Da
última vez que treinei Marmaduke, apenas Magdalene e Birdie
estavam em casa. Quando cheguei na casa, respirei fundo e
rezei para que fosse o caso hoje.
Subir as escadas até a porta da frente parecia muito com
andar em uma prancha. Eu sacudi minhas mãos formigando
e me forcei a bater. Alguns segundos depois, vi sombras do
outro lado e prendi a respiração quando a maçaneta começou
a girar.
Infelizmente, não era Magdalene.
— Sr… umm… Sebastian… Eu não esperava que você
atendesse a porta.
Ele cruzou os braços sobre o peito e olhou para mim. —
Não? Por que isso, Sadie?
Era eu ou ele acabou de dizer meu nome estranhamente?
Ou talvez meu nervosismo estivesse levando o melhor sobre
mim. Tirando fiapos imaginários da minha calça para evitar
seu olhar intenso, limpei minha garganta. — Eu… uhh… achei
que você estaria no trabalho. A última vez que vim, Magdalene
estava aqui.
Sua boca deslizou para um sorriso perverso. — Tirei a
tarde de folga. Achei que você e eu poderíamos ter uma
pequena sessão de adestramento. Só nós dois.
Um nó gigante se formou na minha garganta. Merda.
Agora eu não tinha escolha a não ser confessar. Deixei isso
para o destino, e o destino não poderia me bater na cara mais
do que estava fazendo agora. Este homem que trabalhava seis
dias por semana tinha, milagrosamente, tirado o dia de folga
para passar um tempo comigo. Sozinho. — Umm. OK. Isso é
bom.
Ele deu um passo atrás, abrindo a porta. — Entre. Eu
gostaria de começar o treinamento dentro de casa hoje, se
estiver tudo bem com você.
Não estava. De modo nenhum. Atravessar a soleira me fez
sentir claustrofóbica. Pelo menos do lado de fora, eu tinha um
lugar para onde correr. A porta, de repente, fechou-se atrás de
mim e eu saltei.
Sebastian deu outro sorriso malicioso. — Desculpe.
Escorregou.
Se eu não soubesse, pensaria que ele estava
intencionalmente me deixando no limite.
Felizmente, Marmaduke veio em meu socorro. Ele
investiu contra mim e quase me derrubou na tentativa de
lamber meu rosto. — Ei garoto. — Eu cocei atrás de suas
orelhas. — É bom te ver também.
Quando olhei para cima, encontrei os olhos de Sebastian
me queimando. Ele segurava uma folha de papel branca
dobrada na mão que não notei antes.
— Onde você disse que fez seu treinamento mesmo?
Uh. Eu não fiz pelo que me lembrava. Olhando ao redor
da sala, senti o pânico tomar conta de mim. Eu podia
simplesmente arrancar o band-aid e esclarecer nesse
momento, mas meu coração disparou fora de controle, e eu
simplesmente não estava pronta. Então o que eu fiz? Claro, me
afundei mais. O corredor em que estávamos tinha uma grande
mesa redonda. Em cima dela havia um molho de chaves. — Eu
fui para a Escola de Treinamento Chave.
— Escola de Treinamento Chave...
Ele olhou para as chaves na mesa e de volta para mim
com os olhos estreitos. — Onde fica exatamente?
— Umm… no centro da cidade.
— Eu terei que procurá-los. Verificar se eles têm uma
seção de comentários para que possa te fazer um elogio. É
Treinamento C-H-A-V-E?
Merda. — Sim… mas estão fechados agora.
— Fechado hoje ou fechado de vez?
— De vez.
— Isso é uma vergonha. Uma vez que claramente
formaram uma adestradora de cães tão qualificada.
Que diabos? Ele estava zombando de mim? Tínhamos
terminado em uma nota tão agradável depois que salvei a vida
de seu cachorro, e agora, de repente, senti como se
estivéssemos de volta à estaca zero.
Ele inclinou a cabeça. — Por que eles fecharam?
— Umm. Acho que porque o aluguel é muito alto no
centro da cidade.
Ele apertou os olhos com tanta força que mal pude ver o
branco de seus olhos. Então, sem outra palavra, ele se virou
de costas para mim e começou a caminhar para a sala. — Siga-
me.
Como um cachorrinho, segui atrás. Marmaduke havia
saído antes e estava ocupado fazendo algo no canto. Sebastian
se virou para mim e apontou para o cachorro. — Isso é novo.
Talvez possamos começar a sessão de hoje com você
demonstrando como impedir que meu cachorro faça isso com
os bichinhos de pelúcia da minha filha.
Inclinando-me para olhar mais de perto, vi que o animal
gigante estava transando com uma tartaruga de pelúcia. Ugh.
Seu pênis vermelho estava para fora e tudo. Eu franzi meu
nariz. — Ele está transando com uma tartaruga.
— É isso que ele está fazendo? Eu não tinha certeza.
Talvez você tenha muito mais pratica do que eu.
Meus olhos se arregalaram. Ele acabou de me chamar de
piranha? Pisquei algumas vezes. — Perdão?
— Bem, você disse à minha filha que escreve sobre sua
vida amorosa para viver. Então, naturalmente, presumo que
isso significa que você sai com uma grande variedade de
homens.
Eu estava ficando mais irritada a cada minuto. Posso ser
uma mentirosa, mas certamente não era promíscua. Minhas
mãos agarraram meus quadris. — Só porque namoro muito
não significa que transo com qualquer coisa em que coloque
minhas mãos como seu cachorro. Talvez você deva olhar para
dentro – talvez seu cachorro tenha aprendido seus hobbies
com o dono. Como é exatamente a sua vida amorosa?
Sebastian praticamente rosnou para mim. Dane-se isso.
Eu rosnei de volta.
Minha atenção foi novamente distraída quando
Marmaduke começou a foder realmente. Antes, ele estava
girando suavemente os quadris em um movimento aleatório,
agora ele estava bombeando como um homem em uma missão.
Ou um cachorro. Um cachorro em uma missão, eu quis dizer.
Eu gritei com ele. — Marmaduke. Não!
Surpreendentemente, o grande cachorro congelou. Ele
ficou lá no meio da estocada, parecendo não ter percebido que
alguém estava olhando, e agora tinha sido pego em flagrante.
Enquanto ele estava confuso, marchei e tirei a tartaruga de
pelúcia debaixo dele. Ugh. Isso estava… molhado. Eu nem
queria saber que tipo de fluidos corporais caninos estava
tocando. Segurei a cauda entre dois dedos e olhei para
Sebastian. — Onde está sua máquina de lavar?
— A lavanderia fica passando a cozinha.
Eu sabia o caminho, então fiquei a vontade. Levei a
tartaruga infratora até a cozinha e abri várias portas até
encontrar uma que tinha uma pequena lavanderia.
Levantando a tampa da máquina de lavar, joguei o brinquedo
de pelúcia dentro e me virei para Sebastian, que estava
assistindo da porta.
— O que mais ele está fodendo?
— Alguns dos outros bichinhos de pelúcia da minha filha.
— Vá buscá-los.
Sebastian desapareceu e voltou com mais três pequenos
brinquedos de pelúcia. Ele os entregou para mim e os joguei
todos na máquina de lavar. — Você tem vinagre?
Suas sobrancelhas franziram. — Acho que sim.
— Vá buscar.
Mais uma vez, ele me surpreendeu ao fazer o que instruí,
sem questionar. Quando ele voltou, coloquei água na máquina
de lavar e duas tampas de vinagre. — Os filhotes não atingem
a puberdade antes de seis a oito meses, então ele não está
transando por prazer sexual. Geralmente é apenas um jogo
lúdico que acham divertido. Os animais tendem a escolher
coisas que cheiram bem. Um pouco de vinagre na lavagem
pode servir para detê-lo.
Felizmente, eu estava lendo muito e tropecei em um artigo
sobre transar. Por um minuto, quase soei como se soubesse do
que diabos estava falando.
Sebastian assentiu, aparentemente descendo de
qualquer pedestal que estivesse quando cheguei. Passei por ele
para sair da lavanderia e voltei para a sala encontrando
Marmaduke sentado. Parecia que ele estava esperando que eu
voltasse.
— Você disse que queria fazer algum treinamento interno
hoje. Mas acho melhor o levar para dar uma volta antes de
tentarmos fazer isso. Ele tem muita energia e segue melhor os
comandos quando está um pouco cansado.
— Ok. Vou juntar-me a você.
Eu levantei a mão e lhe mostrei minha palma. — Prefiro
ir sozinha. — Sem querer dizer a ele que precisava de um
minuto para recuperar meu juízo, puxei mais uma mentira de
merda da minha bunda. — É hora de criar laços como
adestradora de Marmaduke.
Os olhos de Sebastian percorreram meu rosto, como se
estivesse debatendo o que eu disse. Eventualmente, ele deu
um breve aceno de cabeça. — Ok. Eu esperarei aqui.
Você sabe quando fica calmo durante os segundos de um
desastre evitado por pouco, apenas para seu coração começar
a bater loucamente depois que a situação está sob controle
novamente? Isso é exatamente o que senti enquanto descia as
escadas da frente da residência Maxwell com Marmaduke.
Minhas pernas tremiam a cada passo e tive que engolir alguns
goles de ar para recuperar o fôlego. O que diabos havia
acontecido lá? Eu repassei os últimos dez minutos na minha
cabeça – a forma zombeteira que Sebastian tinha falado
comigo, como ele parecia desafiar cada palavra que saía da
minha boca, a maneira como ele questionou meus hábitos de
namoro. Mas enquanto dava algumas voltas no quarteirão, me
acalmei e me convenci de que minha própria culpa me fazia ler
coisas que realmente não existiam. Era como o coração
revelador 7batendo sob as tábuas do assoalho – a cada minuto
que estava na presença de Sebastian, eu ouvia a batida mais
alta, e comecei a sentir que a sala estava se fechando sobre
mim. Mas, realmente, não havia batimento cardíaco sob o
chão. Todo o louco encontro tinha sido uma invenção da minha
imaginação.
Sim, era isso. Tinha que ser. Quero dizer, claro, Sebastian
era um osso duro de roer. Mas ele não tinha ideia de quem eu
realmente era. Se tivesse, teria me questionado
imediatamente. Então, tinha que ser tudo da minha cabeça.
Vinte minutos depois, finalmente reuni coragem para
voltar para casa. Respirei fundo e levantei minha mão para
bater, mas a porta se abriu antes que os nós dos meus dedos
pudessem se conectar com a madeira.
— Já estava na hora.
— Marmaduke tinha muita energia hoje.

7 “The Tell - Tale Heart” de Edgar Allan Poe é um conto escrito no gênero de
terror. Descreve o cometimento de homicídio e depois a confissão devido a ser
atormentado por um culpado consciente.
— Eu estava começando a achar que você fugiu com meu
cachorro.
Eu meio que ri dessa ideia. Quem diabos em sã
consciência fugiria com este animal fora de controle? Apenas
uma pessoa maluca, obviamente. Oh. Espere. Talvez eu me
qualifique, então. Acho que entendia seu ponto de vista. —
Desculpe. Ficarei um pouco mais para que você tenha sua hora
completa de treinamento, se quiser.
Sebastian deu um passo para o lado, e notei que ele tinha
novamente uma folha de papel branca dobrada na mão. Só que
desta vez, não deixaria minha imaginação tirar o melhor de
mim achando que o que quer que fosse, continha alguma coisa
maligna e sinistra para me expor como uma fraude. Então
levantei meu queixo e ignorei sua mão enquanto entrava.
De volta à sala de estar, senti a presença de Sebastian ao
meu redor. Era desconfortável, mas estranhamente excitante
ao mesmo tempo. Eu limpei minha garganta.
— Há algo específico em que você gostaria de trabalhar
hoje?
Ele me observou atentamente. — Sim. Pular sobre as
pessoas.
Minhas sobrancelhas franziram. — Perdão?
— Seu site diz que é um dos truques que você ensina.
Achei que minha filha gostaria desse tipo de coisa, então queria
que você ensinasse o cachorro a pular sobre as pessoas
enquanto elas ficam de quatro.
— Você quer que eu ensine Marmaduke a pular sobre
pessoas de quatro?
Sebastian olhou em volta. — Há um eco aqui?
— Não. Mas eu só… Parece que um melhor uso do nosso
tempo de treinamento pode ser gasto ensinando Marmaduke
alguns comandos básicos. Não algo assim… avançado.
— Você não é capaz de ensinar-lhe um truque avançado?
Uh… não… Eu ainda não cheguei tão longe no YouTube. —
Claro que sou.
Sebastian deu um sorriso cínico e se sentou no sofá. Ele
esticou os braços na parte superior e chutou a mesa de centro
à sua frente. — Bom. Agora de quatro, Srta. Schmidt.
— Schmidt?
— Oh, esse não é o seu sobrenome verdadeiro? Seu site
dizia Gretchen Schmidt. Mas ainda assim você disse à minha
filha que seu nome verdadeiro é Sadie? Então, o que é agora?
Você é Sadie Schmidt ou existe outro nome?
Comecei a sentir minhas bochechas esquentando. —
Umm. Não, é Schmidt. Como disse à sua filha, só uso Gretchen
para fins de trabalho.
— Certo. Porque soa mais alemão.
— Certo.
— Tudo bem então, Srta. Schmidt. Por que você não
começa? Qual é a palavra alemã para ‘pular’?
Oh, Deus. Eu entrei totalmente em pânico e disse as
primeiras sílabas confusas que consegui tirar da minha boca.
— Flunkerbsht.
As sobrancelhas de Sebastian arquearam. — Flunkerbsht.
— Correto.
Eu poderia jurar que detectei a sugestão de um sorriso
nos cantos de seus lábios. Mas então desapareceu
rapidamente.
CAPÍTULO 10

SADIE

Foram os dez minutos mais longos da minha


vida. Sério. Cada segundo que passou foi insuportável,
enquanto Sebastian apenas me observava com os braços
cruzados fazendo papel de boba.
Tentei em vão fazer com que este cavalo ou cachorro
pulasse sobre minhas costas com um comando inventado que
não significava absolutamente nada. Parecia que eu teria uma
chance maior transformando água em vinho.
Como diabos você ensina um cachorro a pular sobre suas
costas? Tentei de tudo, desde demonstrar o ato eu mesma
saltando sobre uma mesa gritando ‘flunkerbsht’
repetidamente... a pegar outro bichinho de pelúcia do quarto
de Birdie e saltar sobre ele. Ele acabou indo atrás do brinquedo
e transando com ele.
Eu sou uma ‘flunkerbsht’, certo. Uma grande fracassada
de merda8.
Em um último ato de desespero, tentei ficar de quatro e
gritar ‘flunkerbsht’ enquanto cutucava minha cabeça,
esperando que, por algum milagre, Marmaduke interpretasse
isso como um sinal para pular sobre mim. Ele se deitou com o

8 — Flunker shit— em inglês.


queixo no chão ou, pior, subiu nas minhas costas e tentou ficar
lá. Em um ponto, fiquei presa sob ele. Então, depois que me
virei, ele começou a lamber meu rosto enquanto eu lutava para
me levantar.
Como fui de estar pronta para contar a verdade a
Sebastian esta manhã... para isso?
Eu precisava acabar com isso.
Agora.
Eu precisava contar tudo a Sebastian.
Quando finalmente tirei Marmaduke de cima de mim,
levantei-me.
Escovando minhas calças, eu disse: — Sebastian,
precisamos...
— Pare com isso, Sadie. Simplesmente pare. — Seu tom
era chocante e seus olhos – estavam cheios de raiva quando
ele disse: — Não diga mais uma palavra. Não importa. Porque
vai ser apenas mais uma mentira.
Meu coração batia forte e a sala deu impressão de estar
girando.
O que está acontecendo?
Ele desdobrou o papel que estava segurando e me
mostrou. Era a foto de uma mulher e algumas palavras.
Parecia uma biografia, talvez. A mulher tinha cabelos ruivos
compridos e cacheados.
— Quem é essa? — Engoli.
— É a verdadeira adestradora de cães, Gretchen Schmidt.
Ela me contatou recentemente para se desculpar por não ter
aparecido há algumas semanas devido a uma emergência
familiar. Passou-me o link do seu novo site, onde encontrei sua
biografia. — Ah, não.
Eu sabia que deveria dizer algo nesse momento, mas as
palavras não saíam.
Ele continuou. — E quem diria… ela treinou em Munique
enquanto passava um ano no exterior, não na… como você
disse? Escola de Treinamento Chave? Aparentemente, tudo o
que ensinam nessa última é como mentir descaradamente!
Eu ia vomitar.
— Eu posso explicar...
— É bom saber, mas, infelizmente, não há nada que você
possa dizer neste momento em que eu acredite. Então, o que
preciso que você faça agora é, saia da minha casa e nunca mais
volte.
Isso é ruim.
Muito ruim.
— Eu vou embora. Mas posso explicar primeiro?
— Não, a menos que queira explicar à polícia.
A polícia? Ele tinha que estar brincando comigo. Fazer-se
passar por uma adestradora de cães era mesmo um crime? Eu
não tinha conhecimentos jurídicos suficientes para saber se
estava com algum tipo de problema sério. Então, em vez de
arriscar e piorar as coisas, decidi fazer o que ele disse e me
dirigi à porta.
Ele podia muito bem ter me dito para não deixar a porta
me bater na saída, porque juro que a senti bater na minha
bunda quando ele a fechou atrás de mim.
O ar de Nova York nunca pareceu mais frio, o céu nunca
pareceu mais cinza enquanto eu descia as escadas e seguia
para a calçada, sentindo-me como um pedaço de lixo jogado
fora que foi mais fodido que a tartaruga de pelúcia de Birdie.
Uma mistura de emoções me atingiu. Não foi apenas o
choque de ter sido desmascarada, mas também uma sensação
inexplicável de perda – não apenas a perda de Birdie, mas a
perda de uma sensação de pertencimento que veio junto com
essa experiência. Eu nem tinha percebido o que estava
faltando em minha vida até que me foi arrancado.

*-*-*

Duas semanas depois daquele dia horrível na casa dos


Maxwell, eu ainda não tinha superado. A única coisa pela qual
era grata foi que Birdie não estava lá para testemunhar nada
daquilo. Eu certamente esperava que Sebastian nunca
contasse a ela o que realmente aconteceu comigo. Quebraria
meu coração se eu imaginasse que Birdie me via como uma
pessoa maliciosa.
Meu coração estava realmente partido, e passei muitas
noites sem dormir pensando se deveria ou não tentar
encontrar uma maneira de me explicar para Sebastian
novamente. Ele disse especificamente que não acreditaria em
nada que eu tivesse a dizer. Contar a verdade também poderia
piorar as coisas. Então, novamente, quão pior as coisas
poderiam ficar?
Dra. Emery esteve fora do país por alguns meses, então
não pude nem mesmo explicar essa situação a ela. Não
importa quantas vezes falasse e falasse sobre isso, sempre
chegaria à conclusão de que era melhor simplesmente não
tocar mais nesse assunto.
Mas, claro, a vida às vezes tem um jeito de intervir e tomar
decisões por você.
Uma tarde, verifiquei o correio e descobri que Birdie havia
enviado outra carta ao Papai Noel. Já fazia muito tempo desde
que ela escreveu, e realmente não esperava que ela voltasse a
escrever.
Dadas às circunstâncias, nada poderia me impedir de
rasgar aquele envelope.
Querido Papai Noel,
Eu não ia te escrever mais, mas agora que está chegando
o Natal, esta pode ser tipo minha única carta de Natal.
Eu tenho um cachorro chamado Marmaduke agora. Ele é
um Dogue Alemão como eu sempre quis. Eu o amo muito. Mamãe
o trouxe. Bem, não a mamãe propriamente, mas papai disse que
ela mandou uma mensagem para ele trazer Marmaduke para
mim. Foi assim que eu soube que ela não estava com raiva de
mim por roubar biscoitos. (Eu ainda roubo biscoitos. Você sabe
disso, certo?)
Mamãe não me enviou mais nenhum sinal. Mas está tudo
bem. Eu sei que ela está ocupada sendo um anjo.
Conheci alguém que perdeu a mãe quando tinha seis anos
como eu. Nunca conheci outra pessoa cuja mãe morreu de
câncer antes. Ela é muito legal. O nome dela é Sadie. Bem, ela
tem dois nomes: Sadie e Gretchen. Ela é a razão de eu ter dois
nomes agora: Birdie e Muffuleta. Enfim, Sadie era a adestradora
de cães de Marmaduke. Ela o ensinou a sentar e outras coisas
em alemão. Ah, e ela salvou a vida dele também. Achei que
talvez você tivesse atendido meu desejo de ter uma amiga
especial quando ela veio. Mas então Sadie desapareceu. Eu não
sei o que aconteceu. Papai só disse que ela não viria mais. Ele
disse que não sabia por quê. Mas agiu de forma estranha
quando perguntei sobre isso. Acho que foi minha culpa ela ter
ido embora. Talvez eu a tenha deixado triste porque perdi minha
mãe. Talvez isso a tenha lembrado sobre a dela? Eu gostaria de
saber por que Sadie foi embora sem se despedir. Por que todo
mundo me deixa?
De qualquer forma, não sei se você pode encontrar Sadie e
lhe dizer que sinto muito.
Obrigada, Papai Noel.
Amor, Birdie
(Também conhecida como Muffuleta)

*-*-*

Acabei saindo do trabalho mais cedo naquele dia. Mesmo


que quisesse passar na loja de bebidas, sabia que
provavelmente não seria capaz de reconhecer a hora de parar
de afogar minhas mágoas. Em vez disso, fui direto para casa.
Não importa quantas vezes reli aquela carta, a resposta
do que eu precisava fazer a seguir estava agora
abundantemente clara.
Sebastian pagou-me pelo meu serviço através de uma
nova conta no PayPal que abri antes que ele descobrisse a
verdade. Então, eu tinha o endereço de e-mail dele associado
a esse pagamento.
Antes que mudasse de ideia, peguei meu laptop, abri um
novo e-mail com minha conta real e comecei a digitar.
Caro Sr. Maxwell,
Optei por enviar este e-mail em vez de tentar um encontro
pessoal, porque duvido que concorde em me receber. Peço que
leia isto e poupe seu julgamento até chegar ao final. Juro que
explicará completamente por que eu estava na sua porta
naquele primeiro dia.
Meu nome é Sadie Bisset. Tenho 29 anos e, como sua filha,
perdi minha mãe para o câncer quando tinha seis (e meio). Como
parte do meu trabalho, respondo a uma coluna para onde as
pessoas mandam seus Desejos de Natal. A coluna é
normalmente publicada durante a época dos feriados, mas sua
filha, Birdie, escreveu-nos pela primeira vez durante o verão.
O e-mail para Sebastian era provavelmente um dos mais
longos discursos já escritos. Expliquei cada uma das cartas
que recebi de Birdie, os desejos que atendi e também o quanto
me esforcei para responder a cada vez. Eventualmente,
cheguei à parte em que expliquei como acabei sendo a
adestradora de cães.
Nunca tive a intenção de aparecer na sua porta. Por acaso
eu estava na vizinhança e parei quando percebi que era o
mesmo endereço de onde vieram as cartas de sua filha. Eu notei
uma presilha de borboleta caída na escada e me aproximei para
pegá-la e colocá-la mais perto da porta para que ninguém
pisasse nela. Foi quando você abriu a porta e presumiu que eu
era Gretchen. Fiquei um pouco em estado de choque naquele
momento. Talvez meu juízo tenha sido prejudicado pelo fato de
que, naquela época, eu me sentia pessoalmente investida no
bem-estar de sua filha. Para você, eu era uma estranha. Mas,
como Birdie se abriu para mim, senti que não apenas a
conhecia, mas também te conhecia. Tomei a decisão precipitada
de concordar com sua suposição. Foi claramente a decisão
errada e da qual me arrependo profundamente. Apesar disso,
passei muitas horas estudando a arte do adestramento de cães
em alemão e realmente pretendia fazer justiça ao trabalho,
cumprir as funções para as quais você achou que havia me
contratado. Mas, para ser sincera, o verdadeiro motivo pelo qual
fiquei depois daquele primeiro dia foi para ver com meus
próprios olhos que Birdie estava realmente bem.
Isso me leva ao motivo pelo qual decidi escrever esta carta
hoje. Birdie escreveu para o ‘Papai Noel’ novamente. Desta vez,
ela mencionou a repentina ausência da adestradora de cães –
eu. Ela de alguma forma suspeita que algo esteja errado,
embora você não tenha dito a ela por que sumi. (A propósito,
obrigada por isso.) Ela tem uma boa intuição. Mas ela tirou uma
conclusão muito errada: que sumi porque ela fez algo que me
deixou triste, que talvez estar aí tenha me lembrado da morte
da minha própria mãe. Está me matando pensar que ela se
culpa pelo fato de eu ter desaparecido. Não tenho certeza de
como consertar isso. Eu só queria te alertar.
Eu sei que cometi um grande erro. Mas sou humana e, por
favor, saiba que nunca teria feito nada para machucar você ou
sua filha intencionalmente. Eu só desejo o melhor para vocês
dois.
Quero lembrá-lo de algo que você me disse uma vez. Você
explicou seu raciocínio por ter dito à Birdie que a mãe dela havia
enviado Marmaduke. Você disse que se convenceu de que
mentir para tirar a tristeza de sua filha anulava a
mentira. Minha mentira pode parecer muito diferente da sua,
mas a intenção era a mesma. Foi pura.
Se você chegou ao final desta mensagem, obrigada por
dedicar seu tempo para lê-la.
Desejo tudo de melhor,
Sadie Bisset
CAPÍTULO 11

SEBASTIAN

Em noites com esta agradecia a Deus por minha filha


estar aqui dormindo. Se Birdie não estivesse em casa, eu
poderia ter bebido a garrafa inteira de uísque ou tomado
alguma outra decisão imprudente. O maior erro que cometi
esta noite foi verificar meu maldito e-mail antes de
dormir. Porque agora não havia chance de pegar no sono.
Devo ter lido a mensagem de Sadie mais de dez vezes,
mas nunca foi mais fácil compreender o fato de que minha filha
preferia despejar seus medos em um estranho do que falar
comigo. Foi um chamado de despertar. Eu sabia que não
estava lá para Birdie da maneira que ela precisava. Por mais
que tentasse ao máximo fazê-la feliz, estava emocionalmente
indisponível e minha filha sabia disso. Foi assim que sempre
lidei com o falecimento de Amanda, reprimindo minha dor e
me mantendo ocupado.
Sadie Bisset.
Havia algo sobre ela desde o início. Ela era um nocaute,
mas não estou me referindo à sua óbvia beleza. Havia algo
estranhamente familiar sobre ela. Eu não conseguia descobrir.
Agora esse estranho ar de familiaridade fazia sentido. Mesmo
que eu não a conhecesse, de forma indireta, ela me conhecia.
E certamente conhecia Birdie.
Mas fingir ser a adestradora de cães foi estúpido. Não
havia nenhuma dúvida sobre isso. Mas, todo o resto? Eu ainda
não sabia o que fazer sobre isso.
Em alguns aspectos, o que ela fez por minha filha foi
cativante e, em outros aspectos, um pouco insano. Mas quanto
mais eu processava o e-mail, mais acreditava que Sadie não
teve má intenção, que suas intenções eram boas. E de jeito
nenhum ela inventou essa história, porque simplesmente
sabia demais. Tudo o que ela mencionou que Birdie havia dito
batia. Foi um alívio saber que o ato de adestradora de cães não
foi malicioso. Por causa da minha própria raiva, não lhe dei a
chance de se explicar naquele dia. Não saber quem diabos ela
era e de onde tinha vindo me assombrava, agravado pelo fato
de que me culpava pelo meu mau julgamento. Agora, pelo
menos, tudo fazia sentido.
Quando me dei conta, comecei a rir delirantemente. As
meias. As malditas meias.

*-*-*

Na manhã seguinte, fiz algo que raramente fazia. Fiz


panquecas. Ou tentei fazer panquecas. Sábado era o dia de
folga de Magdalene, o que significava que o café da manhã de
Birdie normalmente consistia em qualquer cereal açucarado
que ela tirasse do armário. Cookie Crisp era seu favorito.
Mas hoje jurei dar à minha filha um café da manhã
decente e bater um papo com ela quando se levantasse.
Birdie dormiu até mais tarde do que de costume. Ela
entrou na cozinha esfregando os olhos, seu cabelo loiro uma
bagunça emaranhada.
Virei a panqueca usando apenas a panela para virá-la. —
Bom dia, Luz do Sol.
Sua vozinha estava grogue. — Papai… você está
cozinhando?
— Com certeza estou.
— Tem certeza de que deveria usar o fogão?
Isso me fez rir. Minha filha oficialmente não confiava nas
habilidades culinárias do pai. Mas eu realmente não lhe dei
nenhuma razão para isso.
— Ei, você. Seu pai é dono de um restaurante. Eu sei uma
coisa ou duas sobre comida.
— Você sabe como queimá-la. — Ela deu uma risadinha.
Eu rapidamente virei a panqueca que estava fazendo para
esconder o lado um tanto tostado. Então joguei o lado bom
para cima antes de entregar a ela.
— Esta panqueca parece queimada para você?
— Não. — Ela riu. — Obrigada por fazê-la, papai.
— De nada querida. Estou fazendo muito mais também.
Vá pegar a calda e o chantilly.
Depois que Birdie se sentou, fiz mais duas panquecas
antes de pegar uma caneca de café. Então me sentei em frente
à minha filha. Ela comia em silêncio e parecia estar gostando
das panquecas. Sua mãe costumava fazê-las em formato de
cabeças de Mickey. Eu estava com medo até de tentar isso.
Apoiando o queixo na mão, falei: — Ei… Eu sei que parece
que estou sempre ocupado. Mas quero que saiba que nunca
estou ocupado demais para você. Se você estiver preocupada
com alguma coisa, não há nada que não possa me dizer. Eu
quero saber o que você está pensando. Prometa que virá até
mim se algo estiver te incomodando.
Sua mastigação diminuiu quando ela olhou para mim
com seus olhos grandes.
— OK.
— Você está falando sério?
Ela voltou a devorar a panqueca. — Sim, — disse ela com
a boca cheia.
Depois de um minuto observando-a comer em silêncio,
inclinei minha cabeça. — Há alguma coisa te incomodando
neste momento que queira falar comigo?
Ela pegou o leite e tomou todo em vários goles, depois
enxugou o lábio com a manga. — Não, papai, — ela finalmente
disse.
Eu esperava que ela se abrisse comigo sobre suas
preocupações em relação à Sadie. Então teria a oportunidade
de lhe assegurar que a situação não era culpa dela. Mas ela
não disse nada. Percebi que, apesar de sua garantia de que me
contaria o que a incomodava, ela ainda não tinha intenção de
se abrir comigo. E isso me destruiu. Mas você não pode mudar
velhos hábitos do dia para a noite. Naquele momento, jurei me
envolver mais com as coisas no futuro, para não deixa-la se
afastar de mim mais do que já tinha.
— Obrigada por me fazer panquecas.
— O prazer é meu, menina.
Ela se levantou e colocou o prato na pia antes de jogar
um pouco de água sobre ele.
— Aonde você vai? — Eu perguntei.
— Brincar no meu quarto.
Eu fiz uma careta, mas não retruquei. — Tudo bem.
Quando ela estava prestes a entrar no corredor, eu a
interrompi.
— Ei... Vou deixar você brincar por meia hora. Mas que
tal levarmos Marmaduke ao parque depois? Jogar uma bola
com ele.
Ela encolheu os ombros. — OK. — Então ela seguiu pelo
corredor para seu quarto.
Eu sabia que não poderia ser tudo o que ela
precisava. Uma garota da idade dela precisava da mãe, e isso
era a única coisa que eu não podia lhe dar. Ainda assim,
especialmente depois do que sabia agora, que ela procurou a
ajuda de um estranho, eu precisava me esforçar mais para
preencher esse vazio o máximo que pudesse.

*-*-*

Eu merecia uma estrela de ouro por ser pai hoje. Cumpri


minha promessa de não verificar meus e-mails comerciais ou
meu telefone e passei o dia inteiro com Birdie. Depois de
levarmos o cachorro ao parque, nós o trouxemos de volta para
casa antes de irmos tomar um sorvete.
Mais tarde, jogamos Scrabble juntos antes de eu cozinhar
uma das únicas coisas que sabia fazer para o jantar: espaguete
com almôndegas. Normalmente, nós pedíamos
comida. Certamente era irônico que o dono de um dos
melhores restaurantes italianos da região não soubesse
cozinhar merda nenhuma.
Birdie e eu comemos juntos, depois nos sentamos e
assistimos a um filme, Matilda. Eu me lembrei de Amanda
dizendo que achava que Birdie gostaria algum dia. Era
estranho que tivesse me lembrado desse filme aleatoriamente
hoje, como se minha esposa morta tivesse sussurrado o título
em meu ouvido enquanto eu folheava as seleções de filmes
online. Jesus. Agora eu estava começando a soar como minha
filha.
De qualquer forma, toda vez que Birdie sorria ou ria de
partes do filme, isso me aquecia e cortava como uma faca. Eu
debati se deveria dizer a ela que sua mãe tinha sugerido o
filme, mas no final das contas não queria deixá-la triste esta
noite. Ela parecia desligada hoje, e não pude deixar de pensar
que tinha a ver com o que Sadie mencionou, que Birdie ainda
se culpava pela ausência de Sadie. A culpa era uma cadela, e
quando você a mantém dentro, ela inflama. É ruim o suficiente
quando é justificada, mas, neste caso, era uma completa perda
de tempo e energia da minha pobre garotinha.
Depois que Birdie foi dormir naquela noite, deitei-me na
cama tentando decidir se deveria responder ao e-mail de Sadie.
O problema é que eu não sabia o que queria dizer a
ela. Uma parte de mim ficou tentada a lhe passar um sermão
por manipular minha filha trapaceando. Mas uma grande
parte de mim sabia que isso era besteira. Não era sua intenção
machucar Birdie. Só me deixou com raiva que uma estranha
fazendo o papel de algo que não existe fosse capaz de fazer
Birdie feliz de uma forma que eu não conseguia. E embora
Sadie mentir fosse de mau gosto, para mim esse não era o
problema.
Eu sabia que não seria capaz de dormir a menos que
respondesse a esse maldito e-mail. Então, sem pensar muito,
peguei a mensagem dela e apertei — Responder.
Querida Sadie,
Agradeço por ter arranjado um tempo para me explicar
tudo. Dizer que fiquei chocado ao saber até que ponto você tem
interagido com minha filha – embora de longe – é um eufemismo.
E embora não entenda totalmente o raciocínio por trás da
sua decisão de me deixar presumir que você era a adestradora
de cães, não acredito mais que tenha tido qualquer intenção
maliciosa. Portanto, vamos esquecer este último.
O fato é que sua ausência inexplicável colocou minha filha
em algum tipo de depressão. Eu nem me importo se o maldito
cachorro pode ou não pular sobre suas costas, ou se ele senta,
ou transa com uma tartaruga. Eu só quero ver minha filha
feliz. E é evidente que você estar aqui, mesmo que por um breve
período, deixou-a feliz, pois ela encontrou alguém com quem se
relacionar. Eu não posso acreditar que estou prestes a dizer
isso. Na verdade, posso precisar fazer um exame de
cabeça... mas você consideraria voltar mais algumas vezes para
‘adestrar’ Marmaduke? Dessa forma, você poderia planejar sua
despedida mais suavemente do que a que forcei sobre
você. Poderíamos dizer à Birdie que você só precisou tirar uma
folga e voltou para terminar o trabalho.
Percebo que talvez a loucura tenha se infiltrado um pouco
em mim com essa sugestão. Com certeza entenderei se você não
quiser voltar, principalmente depois da maneira como a
expulsei. Mas, espero que você tenha entendido por que fiz isso,
considerando no que fui levado a acreditar na época. Em todo
caso, sinto muito por ser tão duro e por não permitir a você um
minuto para se explicar.
Avise-me se estiver disposta a aceitar minha oferta. Eu
pagaria o dobro ou o triplo pelo seu tempo. Você basicamente
não teria que fazer nada mais do que manter Marmaduke
vivo. Considerando que você já salvou a vida dele uma vez,
acredito que possa lidar com isso. (Essa foi a minha melhor
tentativa de amenizar as coisas e seguir em frente.)
Atenciosamente,
Sebastian Maxwell
CAPÍTULO 12

SADIE

Posso estar mais nervosa do que na primeira vez que subi


essas escadas. Embora hoje realmente não tivesse uma razão
para estar. Tudo estava em aberto agora. Sebastian e eu
trocamos alguns e-mails e ele me convidou para voltar a sua
casa. No entanto, por algum motivo, estava muito nervosa.
Respirei fundo algumas vezes para me acalmar e bati. Um
minuto depois, Birdie abriu a porta. Seu rosto todo se
iluminou e ela praticamente me derrubou, envolvendo os
braços em volta da minha cintura em um abraço.
— Sadie! Você voltou!
Embora não tivéssemos discutido isso, eu simplesmente
presumi que Sebastian diria à sua filha que eu viria hoje.
— Ei! Sim, estou de volta. Você não sabia que eu viria?
A voz que respondeu não foi a de Birdie. — Achei que
seria uma boa surpresa para ela, então não mencionei isso.
Bem, acho que ambos ficamos surpresas, então. Porque
eu tinha certeza que Sebastian não estaria em casa hoje.
Abaixei-me para abraçar Birdie e olhei para ele. Ele sorriu,
embora eu pudesse ver a hesitação em seu rosto.
— Oi. Eu não esperava que você estivesse aqui.
— Decepcionada?
Exatamente o oposto. Embora eu não tivesse certeza se
poderia passar por uma adestradora de cães na frente dele,
agora que ele sabia que eu não era uma.
Eu balancei minha cabeça. — Não, de jeito nenhum.
Marmaduke se espremeu entre Sebastian e Birdie e pulou
em cima de mim. Ele lambeu meu rosto com sua língua gigante
e molhada, o que fez Birdie rir. O som parecia um bálsamo
para um ferimento que eu vinha tratando nas últimas
semanas.
Cocei as orelhas de Marmaduke. — Ei amigo. É bom te
ver também. Acho que você cresceu sessenta centímetros em
algumas semanas. Você está ficando grande muito rápido.
Sebastian puxou a coleira do cachorro. — Calma,
Marmaduke. Platz!
Chocantemente, ele obedeceu.
— Uhh. Desculpe-me por isso. — Seus olhos caíram para
o meu peito. — Seu novo hobby é cavar as plantas. Acho que
era isso que ele estava fazendo antes de chegar à porta.
Eu olhei para baixo para ver duas pegadas gigantes de
sujeira, cada uma bem sobre um dos meus seios. Tentei limpar
da minha camiseta branca. — Está tudo bem. Vai sair na
lavagem.
Os olhos de Sebastian se fixaram na sujeira
novamente. Ele balançou a cabeça e murmurou algo sob sua
respiração antes de abrir a porta. — Entre.
Quando chegamos à sala de estar, ele falou com Birdie.
— Querida, por que não vai se vestir?
— OK! — Ela literalmente pulou até seu quarto.
Sebastian pegou meu olhar. — Ela está animada em vê-
la.
Eu sorri. — O sentimento é mútuo.
Seus olhos percorreram meu rosto e tive a sensação de
que ele estava medindo minha sinceridade. Parecendo ter
achado o que viu aceitável, ele assentiu. — Obrigado por
concordar em voltar.
— Eu sei que disse isso pelos e-mails. Mas realmente
sinto muito por tudo o que aconteceu. Uma pequena mentira
se transformou em outra e antes que eu percebesse, não sabia
como me livrar disso. Mas juro a você. Minhas intenções nunca
foram nada além de boas no que diz respeito a sua filha.
Sebastian arqueou uma sobrancelha. — Só minha filha?
Isso significa que você tem más intenções comigo?
Uh, sim. Eu tenho más intenções quando se trata de
você. Senti minhas bochechas começarem a esquentar.
Felizmente, Birdie voltou correndo e me deu uma desculpa
para esconder o rosto.
— Sadie, você sabe fazer tranças?
— Sei. Você gostaria que eu trançasse seu cabelo?
Ela saltou para cima e para baixo. — Sim, por favor!
— Que tipo você gostaria?
A testa de Sebastian enrugou. — Há mais de um tipo de
trança?
Eu ri. — Existem centenas de tipos. — Voltando-me para
Birdie, perguntei: — Que tal uma trança escama de peixe?
Essas são as minhas favoritas.
Ela assentiu rapidamente. — Eu amo tranças escama de
peixe!
— Por que você não vai pegar uma escova?
Quando ela saiu correndo para fora da sala, percebi que
Sebastian estava olhando para mim. Eu coloquei minha mão
no meu peito. — Oh, meu Deus. Eu passei dos limites? Eu
deveria ter perguntado se estava tudo bem.
Ele ergueu a mão. — Não. Não, está tudo bem. Eu
agradeço. Seu cabelo sempre foi algo com o que lutei.
— Oh, certo. Se você quiser, posso mostrar como fazer a
trança enquanto faço.
— Isso seria ótimo, na verdade.
Quando Birdie voltou com uma escova de cabelo, sentei-
me no sofá e ela sentou-se entre minhas pernas. Sebastian se
sentou ao meu lado.
Deus, ele cheirava tão bem. Eu me perguntei que colônia
ele usava. Tinha um cheiro amadeirado, mas limpo… talvez
com um pouco de couro misturado e um pouco… o que era
isso… eucalipto? Aposto que ele guardava no banheiro. Talvez
eu pudesse...
Jesus, Sadie, o que diabos há de errado com você? Eu me
repreendi internamente. Você está aqui por Birdie. A última
coisa que precisa é ser pega explorando o armário de remédios.
Obriguei-me a ignorar os feromônios flutuando no ar e me
concentrar no cabelo de Birdie.
Depois de escovar os emaranhados, juntei seu cabelo em
um rabo de cavalo e, em seguida, dividi o cabelo em duas
partes iguais. Levantando uma, expliquei: — Basta pegar uma
pequena mecha daqui. — Eu demonstrei enquanto falava. — E
virar assim antes de adicioná-la ao lado interno assim.
— OK.
— Vou mostrar mais algumas vezes, e então você pode
tentar.
Sebastian observou enquanto eu tecia mechas de cabelo
em um padrão simétrico. Continuei até que ele pudesse ver
como a trança se parecia com a escama de um peixe.
— Eu entendi de onde vem o nome agora, — disse ele.
Eu sorri. — Birdie, você se importa se levarmos alguns
minutos extras para fazer isso? Vou desmanchar e deixar seu
pai tentar.
Ela riu. — Ele trança pior do que faz panquecas. Mas
tudo bem.
Eu desfiz a trança que tinha feito e corri meus dedos por
seu cabelo enquanto falava com Sebastian. — Birdie me disse
que você é dono de um restaurante. Como você não faz ótimas
panquecas?
Seu rosto ficou solene. — Minha esposa era chef. Eu
dirigia a área comercial do restaurante.
Eu fiz uma careta. — Oh. Eu sinto muito.
Ele assentiu.
— Tudo bem, ok, deixe-me sair e você tenta agora. — Abri
espaço para Sebastian sentar atrás de sua filha e, em seguida,
inclinei-me para assistir e dar-lhe instruções passo a passo. —
Separe o cabelo em dois, pegue uma pequena mecha e vire-a
antes de passá-la por dentro, como mostrei.
Sebastian pegou o cabelo de Birdie e o separou, mas foi o
máximo que conseguiu. Ele segurou as mechas de seu cabelo
e riu. — Eu não tenho ideia do que diabos você acabou de fazer.
Sorrindo, estendi a mão e cobri a dele com a minha para
poder guiar seus movimentos e sentir o movimento de tecer a
trança. O gesto era inocente o suficiente, mas minhas mãos
envolvendo as dele parecia absolutamente eletrizante. Isso me
abalou tanto que esqueci como diabos fazer a maldita trança.
— Umm. Você coloca esta aqui… Não, espere… isso não está
certo… essa vai para lá. — Honestamente, eu precisava soltá-
lo se quisesse que Birdie saísse pela porta sem parecer que um
rato tivesse feito um ninho em cima de sua cabeça.
Sebastian tentou sinceramente continuar sem mim, mas
estava perdido.
Eventualmente, ele suspirou. — Por que você
simplesmente não faz, ou ficaremos aqui o dia todo.
— Sim, talvez seja melhor.
Quando me movi para sentar atrás de Birdie, Sebastian e
eu levantamos para trocar de lugar novamente. Nós dois
tentamos passar um pelo outro do mesmo lado e acabamos
nos batendo.
— Desculpe, — disse ele.
— Minha culpa. — Eu sorri.
Eu me movi para a esquerda e Sebastian para a direita, o
que significa que fizemos a mesma coisa novamente. Desta vez,
seus olhos piscaram em meus lábios antes de descobrirmos
como contornar um ao outro.
Eu imaginei o que aconteceu? Acho que não.
Ele limpou a garganta depois que me sentei atrás de
Birdie. — Eu vou… dar um pouco de água a Marmaduke antes
de sairmos.
Se o que achei que tinha acontecido realmente aconteceu,
Birdie parecia alheia. — Viu, eu te disse, — ela disse. — Pior
do que as panquecas.
Com Sebastian fora da sala, consegui fazer a trança de
Birdie em apenas alguns minutos. Ela correu para um espelho
quando terminei. — Ficou tão bonita. Talvez você possa me
ensinar como fazer sozinha. Não acho que papai seja muito
bom nisso.
— Certo. Essa pode ser uma ideia melhor.
Sebastian voltou da cozinha. — Aconteceu algo no
restaurante e preciso fazer algumas ligações. Por que vocês
duas não levam Marmaduke para passear, e acompanharei a
sessão de treinamento quando voltarem.
— Ok, papai!
Eu não tinha ideia do por que, mas tive a nítida impressão
que realmente não tinha surgido algo no trabalho de
Sebastian. No entanto o homem tinha me deixado voltar para
sua vida, então não faria nada estúpido. Alisei as rugas da
minha calça. — Estaremos de volta em cerca de vinte minutos.
Lá fora, peguei a coleira de Marmaduke e Birdie
caminhou ao meu lado.
— Não achei que você fosse voltar, — disse ela.
— Me desculpe por isso. Alguma coisa… inesperada
surgiu. Não tinha intenção de desapontá-la quando parei vir.
Ela encolheu os ombros. — Está tudo bem. Estou feliz
que você voltou.
— Quais as novidades? Como Marmaduke passou as
últimas semanas?
Birdie deu uma risadinha. — Ele comeu o cobertor da
cama do papai e havia fiapos por todo o lugar. Tipo, um milhão
deles.
— Oh, cara. Como ele lidou com isso?
— Ele ficou com raiva. Naquela noite, eu o ouvi dizer à
mulher que queria levar Marmaduke para uma fazenda em
algum lugar.
— Mulher?
— Meu pai fala com uma senhora às vezes à noite. Ele faz
isso do seu quarto porque acha que eu não ouço.
Chegamos à esquina e estendi a mão para garantir que
Birdie não avançasse no sinal vermelho. Enquanto
esperávamos o sinal da faixa de pedestres mudar, cavei um
pouco mais fundo.
— A senhora é amiga dele?
— Ele a encontrou na internet.
Eu tive que sufocar uma risada. — Na internet? O que
você quer dizer?
Birdie franziu a testa. — Acho que ele está procurando
minha nova mãe. Esta menina Suzie na escola disse que seu
pai comprou sua nova esposa da Rússia.
Meus olhos se arregalaram. — Ele o quê?
— Ela falou que a mãe dela disse que o pai dela conseguiu
a noiva pelo correio. — Ela encolheu os ombros. — Da Rússia.
— Querida, acho que talvez a mãe de Suzie esteja dizendo
isso jocosamente.
— Jo-cos-mente?
Eu sorri. — Jocosamente. Significa dizer isso como uma
piada para ser engraçado.
— Oh. Então o pai dela não comprou uma esposa da
Rússia? Acho que faz sentido. Porque se ele fosse comprar
uma, provavelmente compraria um da sua idade, certo? A
madrasta de Suzie é muito jovem.
Ou... talvez o pai de Suzie tenha comprado sua noiva. De
qualquer forma, esta conversa tinha tomado um rumo
estranho. — O que te faz pensar que seu pai está procurando
uma nova esposa?
— Algumas semanas atrás, eu estava escutando em sua
porta à noite, e o ouvi dizer a ela que seria franco com o que
estava procurando – que não queria um namoro.
Opa. — Ele disse o que está procurando?
— Não. Mas o que mais ele iria querer se não quisesse
namorar a senhora?
Eu não tocaria isto com uma vara de três metros. Talvez
fosse hora de mudar de assunto. Eu sabia por suas cartas que
Suzie era uma garota na escola que tinha sido má com ela.
Então achei que talvez fosse uma oportunidade de ver como as
coisas estavam indo nesse departamento.
— Suzie... é uma boa amiga sua?
O rostinho de Birdie se contraiu como se ela sentisse o
cheiro de um peixe podre. — De jeito nenhum. Ela é a pior.
— Por que ela é a pior?
— Ela tira sarro de todos. Sobre o que vestem, seus
cabelos, até mesmo os livros que as pessoas escolhem na
biblioteca durante o tempo de silêncio.
O sinal mudou e nós três atravessamos a rua. — Você
sabe por que Suzie é má com as pessoas?
— Porque a alma dela é negra?
Eu ri. — Onde diabos você aprendeu sobre almas negras?
— Na aula de religião. Bem, eles não nos ensinaram sobre
as negras. Mas disseram que pessoas boas têm almas puras.
E o branco é meio puro. Então percebi que a dela deve ser
preta.
Bem, sua lógica era muito boa. Mas queria levar a
conversa de volta ao verdadeiro motivo pelo qual algumas
crianças eram valentonas.
— Na verdade, geralmente crianças que são más não
gostam de si mesmas. Elas rebaixam outras pessoas na
tentativa de fazê-las se sentirem melhor sobre si mesmas.
Birdie gargalhou com essa ideia. — Suzie gosta muito de
si mesma. Ela se acha a melhor em tudo.
— Isso é o que Suzie quer que você acredite. Mas aposto
que, no fundo, ela está realmente lutando.
— Eu não sei...
Obviamente, Birdie não comprou isso. — Deixe-me ver se
consigo adivinhar algumas coisas sobre Suzie.
— OK...
— Ela é excessivamente preocupada com a sua
aparência? Tipo, seu cabelo está sempre bem feito e ela usa
roupas bonitas todos os dias, em vez de apenas colocar um
moletom e uma camiseta amassada às vezes, como o resto de
nós faz?
— Sim. Ela está sempre perfeita.
— E ela pertence a um grupo de garotas, e elas andam
como um bando – todas juntas?
— Sim.
— Ela cria rumores as pessoas na escola?
A cabeça de Birdie virou para mim. — Como você sabe
disso? Na semana passada, ela disse a todos que Amelia Aster
ainda usa fralda para dormir porque faz xixi nas calças. Mas
ela não faz. Sou muito amiga da Amelia, e dormimos uma na
casa da outra.
— Veja bem… Eu sei de tudo isso porque esses são todos
os sinais clássicos das garotas más que não gostam muito de
si mesmas.
— Você teve meninas más na escola?
— Eu, com certeza. E você sabe o que descobri que
funciona bem para fazê-las parar de implicar comigo?
— O quê?
— Sorrir.
Birdie parecia confusa. — Sorrir?
— Sim. Sempre que uma valentona dizia algo ruim para
mim, eu apenas sorria de volta para ela. Depois de um tempo,
quando a valentona parou de receber uma reação minha, ela
me deixou em paz.
Um gato de rua saiu correndo do nada na nossa
frente. Infelizmente, Marmaduke viu antes de mim, então eu
não estava preparada quando ele disparou. Minha mão estava
presa na coleira e ele me puxou junto na corrida.
— Marmaduke! Não! Pare!
Ele não ouviu. Passei por seis ou sete casas gritando
como uma lunática e tentando acompanha-lo. O maldito
cachorro era muito rápido. Birdie me alcançou e gritou: —
Nein! — Marmaduke parou instantaneamente.
Minha mão cobriu meu coração acelerado. — Oh meu
Deus. Obrigada. Eu não posso acreditar que ele ouviu você.
— Tenho trabalhado com ele todos os dias.
— Uau. Bem, isso é ótimo. Obviamente, você se deu muito
bem com ele.
Birdie sorriu. — Obrigada.
O resto de nossa caminhada foi sem intercorrências e
voltamos para a casa dos Maxwell depois de cerca de vinte
minutos.
— Como foi o passeio? — Sebastian perguntou à sua filha.
— Bom. Marmaduke tentou perseguir um gato.
Sebastian olhou para mim e franziu a testa. — Como foi
isso?
— Bem, para ser honesta, não foi muito bom. Ele me
pegou desprevenida e não consegui fazê-lo parar. Mas Birdie
aqui conseguiu.
Ela deu de ombros. — Não foi grande coisa. Sadie foi
quem lhe ensinou a palavra. Eu apenas gritei.
Sebastian sorriu calorosamente para mim. Isso fez meu
estômago embrulhar.
Deus, estou tensa hoje. Soltei a coleira de Marmaduke e
ele deu alguns passos antes de se esparramar no tapete da
área. Parecia que ia tirar um cochilo. — Eu acho que o filhote
está suficientemente cansado agora. Então, acho que devemos
começar? Eu estava pensando que hoje poderíamos trabalhar
em 'ficar' e 'deitar'. — Deus sabe que assisti cerca de cem horas
de vídeos diferentes para aprender técnicas de adestramento
apenas desses dois comandos.
Sebastian permaneceu na sala, mas sentou-se ao lado e
deixou o treinamento para Birdie e eu. De vez em quando, eu
olhava e o via nos observando. Depois de mais de uma hora de
adestramento, ele olhou para o relógio e se levantou.
— Acho que você ultrapassou o tempo da sessão.
— Está tudo bem. Eles foram muito bem hoje, você não
acha?
Sebastian se aproximou. — Com certeza, foram. — Ele se
abaixou para sua filha. — Eu acho que todo o seu trabalho
duro merece um pouco de sorvete. O que você acha de irmos
ao Emack & Bolio's antes de eu sair para trabalhar?
Birdie deu um sorriso cheio de dentes. — Sim!
— Tudo bem. Por que você não vai se lavar... e use
sabonete, ok?
— Ok, papai! — Birdie olhou para mim. — Sadie, você
quer vir? Eles fazem este sorvete roxo e fica tão bonito com o
Cap'n Crunch por cima.
— Umm. Isso parece delicioso. Mas eu provavelmente
deveria ir.
Ela franziu o cenho. — OK. Mas você vai voltar, certo?
Eu sorri. — Sim, definitivamente.
— Quando?
— Por que não resolvo isso com o seu pai enquanto você
se lava.
Birdie jogou os braços em volta da minha cintura em um
abraço. — Obrigada por ter voltado.
Esta menina realmente fazia meu coração derreter.
Abaixei-me e dei um puxão em sua trança. — Obrigada por
todo o treino que você fez quando não pude estar aqui nas
últimas semanas. Estou muito orgulhosa de vocês.
Depois que ela correu para o banheiro, Sebastian tinha
uma expressão engraçada no rosto.
— O quê? — Limpei minha bochecha. — Eu tenho alguma
sujeira de Marmaduke sobre mim?
— Não. Eu só… Ela realmente tem uma forte conexão com
você. Honestamente, ela não se ligou a nenhuma mulher desde
que sua mãe morreu.
— Existem... outras mulheres em sua vida?
— Ela tem uma tia que mora em Jersey. Ela vem visitar a
cada poucas semanas e sempre traz um presente atencioso.
Mas... Eu não sei... tudo o que vocês têm é apenas diferente.
Eu sorri. — Eu também me sinto conectada a ela. Espero
que esteja tudo bem?
Sebastian colocou as mãos nos bolsos e olhou para
baixo. — Sim, está ótimo, na verdade. Acho que não percebi o
quanto ela sentia falta de uma mulher em sua vida até
recentemente.
Uma mulher em sua vida... Isso me lembrou. Eu balancei
a cabeça em direção à porta da frente. — Você acha que
podemos conversar lá fora por um ou dois minutos?
Suas sobrancelhas franziram, mas ele disse: — Sim,
claro.
Uma vez que estávamos na frente com a porta fechada,
eu não tinha certeza de como dizer o que queria.
Sebastian parecia preocupado enquanto esperava que eu
formulasse meus pensamentos. — Está tudo bem?
— Sim. Está tudo bem. É só... Birdie me disse algo que
achei que deveria alertá-lo.
— O que é isso?
— Bem, aparentemente ela sabe que você fala com uma
mulher online à noite.
O rosto de Sebastian caiu. — Merda. O que exatamente
ela disse?
— Ela acha que você está tentando comprar uma
noiva... uma nova mãe para ela.
— O quê? — Seus olhos se arregalaram. — Por que diabos
ela acha isso?
— Às vezes, à noite, ela escuta suas conversas do lado de
fora da porta do quarto. Ela ouviu você dizer a uma mulher
que não queria namorá-la. Então presumiu que isso
significava que você estava procurando uma esposa e não uma
namorada.
Os olhos de Sebastian se fecharam e ele balançou a
cabeça. — Eu quis dizer que estava procurando... — Ele abriu
os olhos e nossos olhares se encontraram. — Ocasionalmente,
encontro uma mulher online. Tento ser franco… Bem, quando
disse que não queria namorar, quis dizer que não queria um
relacionamento emocional. — Ele franziu a testa. — Não quero
mais do que a parte física. Se você entende o que quero dizer.
— Certo. Claro. Eu meio que percebi que era isso que você
queria dizer. Mas não expliquei para Birdie porque obviamente
não era minha função dizer a ela que o pai dela estava apenas
procurando um encontro.
Sebastian passou a mão pelo cabelo. — Não houve
muitos. Eu não quero que você pense...
Eu levanto minhas mãos. — Não é preciso explicar.
Somos adultos. Com necessidades. Confie em mim, eu sei. —
Eu ri nervosamente. — Ou talvez eu entenda, já que não tenho
o suficiente disso.
Sebastian esboçou um sorriso. — Período de seca?
— Os perfis das pessoas que gostam do meu perfil de
namoro online parecem um registro de criminosos sexuais.
Nós dois rimos.
— Sim, não é fácil, — disse ele. Os olhos de Sebastian
descem fazendo uma varredura rápida sobre meu corpo e
então sobem para encontrar os meus novamente. Descobrindo
que acabei de pegá-lo me checando, ele limpou a garganta. —
Então... quando você pode vir9 novamente?
Escolha interessante de palavras.
— Que tal na próxima semana no mesmo horário?
— Seria ótimo. E obrigado por me informar sobre a
espionagem de Birdie. Eu realmente apreciei disso.

9 A autora usou a palavra come, que também pode significar gozar .


— Claro. Vejo você na próxima semana.
Desci as escadas da frente e segui em direção à
esquina. A cada passo, senti uma forte necessidade de olhar
para trás e ver se Sebastian estava me observando. Quando
cheguei ao final do quarteirão, antes de dobrar, desisti e olhei
para trás. Sebastian não se moveu do local onde o deixei.
Suspirei para mim mesma. Sim. Não está fácil. Mas eu
não me importaria de escalar aquele homem como uma árvore.
CAPÍTULO 13

SEBASTIAN

— Ela é bonita, não é?


— Hmm? — Fingi não ouvir a pergunta que Magdalene
acabara de fazer. Ficamos sozinhos na cozinha logo depois que
Sadie e Birdie saíram para ir ao parque com Marmaduke.
Sadie realmente não tinha um dia definido para vir. Ela
basicamente concordou em vir sempre que sua agenda
permitisse. Hoje era um domingo e foi a segunda visita de Sadie
desde seu retorno. Não havíamos discutido uma data de
término real, mas ela não parecia ansiosa para interromper as
visitas. Enquanto Birdie estivesse feliz, não seria eu a encerrar
o acordo.
— Sadie. Ela é muito bonita, — ela repetiu.
Como se eu não a tivesse ouvido da primeira vez.
Tomei um último gole de café e disse: — Na verdade, estou
atrasado para uma reunião com um fornecedor de azeite
importado no restaurante, então...
— Você está tentando evitar o assunto. Compreendo.
Eu congelei quando estava saindo da cozinha, então me
virei. — O que você espera que eu diga? Claro que ela é uma
garota linda.
Ela limpou os balcões. — E doce… e parece ser uma boa
pessoa.
— Aonde você quer chegar, Magdalene?
— Nada… Simplesmente notei você… olhando para ela,
e...
— Adeus, Magdalene. — Eu sorri para que ela não
achasse que eu estava bravo. Mas precisava descartar
completamente esse tipo de conversa.
O fato de ela ter percebido que estive observando Sadie
não era bom. Na verdade, tenho feito um esforço concentrado
para não fazer isso. Mas não era fácil. Era difícil não olhar para
ela, admirar sua beleza natural sempre que estávamos na
mesma sala. Sadie era atraente de uma forma limpa e sem
esforço. Ela não precisava de um pingo de maquiagem. Sem
mencionar seu corpo. Era perfeito. Então percebi. Processe-me,
Magdalene.
Depois que fui ao meu escritório pegar minhas chaves e
carteira, estava prestes a sair pela porta da frente quando ela
me parou mais uma vez.
— Sr. Maxwell...
Eu virei. — Sim?
Ela olhou para seus pés. — É só que… já se passaram
quatro anos e eu me pergunto se...
— Eu entendo que suas intenções são boas. Mas não
estou interessado em um relacionamento ou uma...
substituição. Ninguém jamais substituirá Amanda. É isso que
você está insinuando?
— Claro que não. Mas você merece ser feliz… e a Sra.
Maxwell gostaria que você fosse.
Eu ri. — A Sra. Maxwell não ficaria feliz por eu cobiçar a
linda adestradora de cães loira, Mags. Se você pensa o
contrário, então não conhecia minha esposa muito bem.
— Eu sinto muito. — Ela balançou a cabeça. — Eu não
deveria ter me metido.
— Eu sei que você tem boas intenções. Mas finalmente
estabeleci uma rotina. E isso não inclui nada sério quando se
trata de namoro ou relacionamentos. Eu mal tenho tempo para
minha filha.
Ela fechou os olhos e assentiu. — Entendido. Contanto
que você esteja feliz.
Eu não mencionaria esse comentário. ‘Feliz’ não era
exatamente a palavra certa. Estável, talvez. Segurando as
pontas, talvez. Não queimando a casa, talvez. Mas, feliz? Não
havia tempo para felicidade. Felicidade não morava mais aqui.
Magdalene convivia com nossa família há muito tempo.
Quando ela não estava cuidando de Birdie, limpava e
cozinhava para nós. Nesse ponto, ela era uma constante em
nossas vidas. Ela também sabia demais. Eu sabia que ela
havia encontrado os preservativos na minha gaveta de roupas
íntimas uma vez porque ela cuidadosamente colocou a tira de
volta na caixa e a fechou. Ela claramente sabia que eu não era
celibatário. Talvez isso tenha lhe dado uma ideia errada – tipo,
só porque meu pau estava funcionando novamente, talvez
houvesse esperança para o meu coração. Mas não funcionava
assim. Evidentemente, Birdie não era a única desejando uma
‘amiga especial’ por aqui.
Mais tarde naquela noite, minha filha correu para o
escritório, onde eu estava fazendo um trabalho de inventário
para o Bianco.
Ela parecia frenética quando disse: — Papai… você tem
que ligar para Sadie.
— Por quê?
Ela ergueu um tablet que estava segurando. — Ela
esqueceu o mini iPad aqui.
Peguei o dispositivo dela e olhei para ele. — Oh. Bem,
tenho certeza de que ela pode ficar sem isso até que nos veja
novamente.
— Não! Ela me disse que usa para trabalhar. Ela faz todas
as suas anotações nele. Você sabe, de seus encontros e outras
coisas. Ela me emprestou para assistir a algo com sua conta
do Hulu enquanto conversava com Magdalene. Larguei para ir
roubar biscoitos da despensa enquanto elas não estavam
prestando atenção. Aí comecei a falar com elas na cozinha e
ela saiu sem levar. Esqueci que estava no meu quarto até
agora.
Eu soltei um suspiro exasperado. — Tudo bem. Eu tenho
o número dela. Vou ligar. Posso avisá-la que está aqui, se ela
quiser vir buscá-lo.
— Obrigada, papai.
Ela colocou os braços em volta do meu pescoço e eu
gentilmente apertei seu pequeno corpo.
Esfregando as costas dela, eu disse: — Vá dormir um
pouco. Está tarde.
Birdie saiu correndo do escritório e ouvi seus passos
enquanto ela seguia pelo corredor.
Olhei para o telefone em minhas mãos por vários
segundos antes de rolar até o nome de Sadie.
Quando ela atendeu, ouvi uma tonelada de ruído no
fundo antes que ela finalmente dissesse: — Alô?
— Ei... é Sebastian Maxwell.
Ela falou sobre os sons abafados. — Oh. Ei. Como você
está? — Parecia que ela estava dentro de um restaurante ou
bar lotado.
— Estou ligando porque você deixou seu iPad aqui. Birdie
insistiu que eu lhe avisasse.
— Oh, droga. Está certo. Eu emprestei para ela e esqueci
completamente de pegar de volta antes de ir embora.
— De qualquer forma, podemos guardá-lo. Só queria que
você soubesse que está aqui, caso estivesse procurando.
— Você se importa se eu passar hoje à noite e pegar?
Sem esperar por isso, hesitei. — Claro.
— Obrigada. Desculpe-me pelo incômodo. Posso chegar
aí em cerca de meia hora.
Passei a mão pelo cabelo. — OK.
— Ótimo. Obrigada. Te vejo daqui a pouco.
Depois que desligamos, fiquei em minha mesa, quicando
minhas pernas para cima e para baixo, girando na cadeira,
batendo com a caneta, amassando papel. Qualquer coisa, a
não ser me concentrar no trabalho. Finalmente desisti e levei
o iPad para a sala de estar enquanto esperava sua chegada a
qualquer minuto.
Quando a batida finalmente soou, nada poderia ter me
preparado para a visão do outro lado da porta. Quando abri,
encontrei Sadie parada lá em um minúsculo vestido preto,
apenas uma capa de pele cobrindo seus ombros. Ela usava
botas de couro que iam até os joelhos. Seu longo cabelo loiro
estava mais ondulado do que o normal. Ela parecia sexy como
o inferno, e honestamente me fez ter que recuperar o fôlego por
um segundo. Meu olhar permaneceu no dela. Um poste de luz
destacava seus olhos apenas o suficiente para o azul de suas
íris brilharem no escuro. Porra, ela era linda. Um pensamento
de como seriam aqueles olhos me encarando de baixo de mim
cruzou minha mente. Sério, Sebastian?
Ela deu alguns passos para dentro da porta, embora eu
não tivesse exatamente a convidado ainda. Embora estivesse
frio, e teria feito isso de qualquer maneira.
— Você está muito bem vestida. Encontro quente esta
noite?
Ela olhou para si mesma, parecendo quase envergonhada
por seu traje. — Oh Deus. Não. Eu estava em um encontro. Ou
melhor… uma atribuição de trabalho. Não um encontro real.
— Ah. Eu deveria saber.
— Era onde eu estava quando você ligou. Essa foi a
desculpa perfeita para sair disso, deixe-me te dizer.
— Não admira que você estivesse tão ansiosa para pegar
seu iPad tão tarde. Outra bomba, hein?
— Vamos colocar assim: ele foi ao banheiro mais vezes do
que eu poderia contar. Ou ele tinha um caso grave de diarreia
ou é viciado em drogas. Seja como for, me safei.
Eu comecei a rir. — Ai.
— Sim. Vamos torcer para que ele tenha lavado as mãos
todas às vezes antes de mexer no cesto de pão. — Ela suspirou.
— De qualquer forma… Vou pegar meu iPad e dar o fora.
— Oh. Sim. Ele está aqui. — Eu cocei minha cabeça,
momentaneamente esquecendo onde o coloquei.
Depois que o vi na mesa, eu o peguei. Mas não antes de
tropeçar na maldita mesa. Tê-la aqui estava me deixando
tenso. Eu finalmente entreguei a ela.
— Obrigada de novo, — ela disse enquanto pegava. — Não
acredito que deixei isso aqui. Se não tivesse todas as minhas
anotações do início desta semana, poderia ter sido capaz de
esperar até a próxima vez que viesse, mas tenho um prazo. —
Ela olhou além do meu ombro. — Presumo que Birdie está
dormindo?
— Sim. Ou possivelmente fingindo estar dormindo até
que decida escapar de seu quarto e roubar alguns biscoitos.
Ela sorriu e iluminou todo o seu rosto. — Claro. — Seu
sorriso desapareceu e ela recuou alguns metros em direção à
porta. — Bem, eu vou deixa-lo em paz. Obrigada novamente.
— Ela se arrastou como se não estivesse pronta para partir.
No segundo em que se virou, eu senti uma sensação
estranha, como se a casa tivesse passado de quente para
fria. E foda-se. Eu queria o calor de volta.
Não faça isso.
Não faça isso.
— Sadie... — Eu gritei.
Ela se virou imediatamente. — Sim?
— Está frio lá fora. Eu costumo preparar um pouco de
chá nesse horário… tentar relaxar e descontrair. Você gostaria
de ficar e tomar uma xícara comigo antes de pegar a estrada?
Lá estava aquele sorriso novamente. — Depois da noite
que tive… uma xícara de chá quente parece muito bom.
— Ótimo. Eu, uh, prometo não correr para o banheiro a
cada dois minutos.
Ela gargalhou. — Sério. Quem faz isso?
Sadie me seguiu até a cozinha e sentou à mesa. Peguei a
chaleira e enchi-a com água filtrada da torneira antes de
colocar duas xícaras de chá de cerâmica no balcão.
— Chá preto está bom? — Eu perguntei.
— Sim. Posso ingerir cafeína a qualquer hora da noite e
ainda assim dormir.
— Eu também. Até café.
— O mesmo. — Ela sorriu.
— Você toma leite... açúcar? Ou tenho mel.
— Só um pouco de leite. Obrigada.
Enquanto esperava a água ferver, inclinei-me contra o
granito e cruzei os braços.
— Então, com que frequência você faz sua pesquisa por
semana?
— Você quer dizer quantos encontros desastrosos eu
suporto? — Ela riu. — Alguns no máximo. É o bastante. É
muito assustador lá fora.
Eu me senti estranhamente protetor com ela. — Você
sempre os encontra em público, certo?
— Sempre.
Sinceramente me surpreendeu que ela não pudesse
escolher o homem que quisesse.
— Sabe... Na verdade, estou chocado que você não tenha
sorte. Você é claramente atraente, inteligente... por que tantos
perdedores?
— Nova York é o problema, honestamente. Existem mais
mulheres do que homens aqui. Isso torna o jogo do namoro
complicado. Você tem que trabalhar muito mais para
encontrar os bons. E os bons podem escolher entre muitas.
Sinceramente, evito sair quando não estou trabalhando.
— Eu conheci minha esposa na faculdade e nunca tive
que namorar online. É uma das coisas que adorava em ser
casado, não ter que me preocupar com a logística de tudo isso.
— É uma grande perda de tempo.
A chaleira começou a apitar, então preparei o chá,
adicionando um pouco de leite e água fervente antes de colocar
o saquinho em infusão.
Coloquei as xícaras na mesa e me sentei.
— Obrigada, — disse ela antes de soprar o vapor.
— Então, hoje foi tudo bem com o cachorro? — Eu
perguntei.
— Você está se referindo claramente ao cachorro real e
não ao cachorro que encontrei esta noite...
— Sim, eu estava me referindo ao Duque.
— Duque. — Ela quase cuspiu o chá. — Eu amo esse
apelido para ele. — Ela olhou em volta. — Onde diabos está o
Duque, afinal?
— Ele dorme quando Birdie dorme. Isso te surpreende?
— Nem um pouco. Isso é tão fofo. — Ela sorriu. — E
sim. Hoje foi um dos melhores dias que tivemos. Ele escuta
Birdie tão bem agora, que era o objetivo de tudo isso, certo?
— Era esse o objetivo? Achei que o objetivo disso era
inicialmente... uma presilha de borboleta, não? — Eu
provoquei.
Seu rosto realmente ficou rosa, e era adorável pra
caralho. Ela olhou para sua xícara, balançando a cabeça. —
Eu merecia isso.
— Estou brincando. Você sabe disso, certo?
— Pelo menos você está rindo disso e não chamando a
polícia para mim.
— Eu não teria chamado a polícia para você. Aquela foi
uma ameaça vazia.
— Bem, isso é bom, pelo menos.
— Você ficará feliz em saber, às vezes lembro e rio do
ridículo do que aconteceu, — eu disse, começando a rir
inesperadamente. — Quando você descobriu que ele deveria
ser treinado em alemão... você deve ter surtado interiormente.
Ela estava rindo agora também. — Você não tem ideia.
— Eu tenho que te dar crédito por tentar lidar com
isso. Isso exigiu muita coragem.
— Coragem e uma pitada de loucura.
Nossos olhos se encontraram por um momento. Havia
algo tão confortável em estar perto dela. Ela sempre me
pareceu familiar, embora eu soubesse que nunca tínhamos
nos encontrado antes dessa coisa toda com Birdie. Falando em
minha filha, havia tantas coisas que eu queria perguntar à
Sadie enquanto tinha sua atenção.
Mas eu não sabia se seria muito intrusivo. Eu arrisquei.
— Você se importa que eu lhe faça algumas perguntas?
— Claro. Acho que consegui salvar um pouco do meu
cérebro que não fritou durante o meu encontro esta
noite. Ficarei feliz em oferecer o que sobrou.
Eu ri. — OK. Obrigado.
Ela tomou um gole de chá e disse: — O que é?
Eu descansei meu queixo no meu pulso. — Eu sei que
você disse que sua mãe morreu quando você tinha seis anos e
meio, assim como Birdie. Olhando para trás, para sua
infância, com apenas um pai e nenhuma mãe, o que você
gostaria que seu pai tivesse feito diferente?
Ela acenou com a cabeça algumas vezes e ponderou sobre
isso. — Essa é uma pergunta interessante. Posso ver por que
você tem curiosidade sobre isso, visto que está na mesma
situação.
— Bem, você tem o raro dom da retrospectiva. Estou
apenas tentando evitar cometer erros ao longo do caminho que
possam ser evitados. Birdie ainda é muito jovem. Não consigo
imaginar como serão as coisas quando ela entrar na
adolescência. Se houver uma maneira de planejar com
antecedência...
Seus olhos se moveram de um lado para o outro. Ela
parecia estar lutando para encontrar uma resposta que me
satisfizesse. — Não há realmente nada específico que eu possa
dizer que mudaria no que se trata em como meu pai lidou com
qualquer coisa comigo. Sempre estive muito consciente do fato
de que meu pai estava fazendo o melhor que podia. O que mais
eu poderia ter pedido? Mas o que os pais às vezes não
entendem... é apenas o quanto as crianças podem ver através
deles. Eu sempre poderia dizer que meu pai estava deprimido,
mesmo que tentasse esconder isso de mim. Eu realmente
queria que ele tivesse dedicado mais tempo para si mesmo e
não se preocupasse tanto sobre como as coisas poderiam me
afetar. Nós, filhas... somos mais resistentes do que vocês
pensam. E no final, realmente queremos ver nossos pais
felizes. Porque isso nos deixa felizes.
— Sim, — eu sussurrei. — OK. Justo.
Dizem que as pessoas entram em sua vida por um
motivo. Talvez Sadie e eu devêssemos nos encontrar porque
sua experiência pessoal espelhava a nossa. Nunca encontrei
ninguém que entendesse muito bem a nossa situação como
ela. Falar com ela definitivamente me trouxe muito conforto,
me fez sentir menos sozinho. Essa foi a primeira vez desde que
Amanda morreu.
— Birdie sabe o quanto você se esforça e o quanto a
ama. E também pode sentir quando você está para baixo.
— Estou começando a perceber isso cada vez mais.
Sadie deu um sorriso simpático. — Quando meu pai foi
diagnosticado com câncer, eu...
— Espere… seu pai também teve câncer? — Eu não tive
a intenção de interrompê-la. Mas foi muito chocante ouvir isso.
— Sim. Meu pai foi diagnosticado com câncer de cólon
quando eu era adolescente. Você pode acreditar nisso? Ele está
em remissão agora, graças a Deus.
Eu balancei minha cabeça em descrença. — Eu não posso
imaginar o quão assustador deve ter sido para você... e para
ele.
— Realmente foi. Isso testou profundamente minha fé. Eu
não entendia como isso podia acontecer comigo duas vezes.
Mas tentei ao máximo não me debruçar no aspecto ai de mim.
Ele precisava de toda a minha força para ajudá-lo a superar
isso, não apenas mentalmente, mas fisicamente. Portanto, a
auto piedade tinha que esperar. Foram alguns anos
delicados. Quando ele finalmente passou por isso, eu, é claro,
senti como se tivesse me esquivado de uma bala. E isso me
deixou ainda mais grata por ele.
Sua atitude me surpreendeu. — Uau. Você foi realmente
cercada pelo câncer enquanto crescia.
— Eu fui. Tanto que, a certa altura, fiz o teste genético
porque tinha certeza de que estava destinada a ter também. O
que é um absurdo.
— Eu não acho isso tão absurdo. Muitos cânceres são
genéticos. Parece que você tomou uma decisão madura
fazendo o teste.
— Umm. Eu mencionei que sou adotada? — Ela riu. —
Eu sabia que não tinha os mesmos genes que minha mãe e
meu pai. Mesmo assim, estava convencida de que também
tinha. Ainda acha que não é estranho?
Eu sorri. — Tudo bem. Acho que isso muda um pouco as
coisas.
— Sim. Minha mãe não podia ter filhos. Ela foi
diagnosticada com câncer de ovário pela primeira vez aos vinte
e três anos. Eles tentaram por anos depois que ela entrou em
remissão, mas a quimioterapia causou muitos danos.
— É incrível... como sua situação reflete a nossa. Minha
esposa e eu lutamos para engravidar também e seguimos o
caminho da fertilização.
— Oh, uau. Isso é louco. Mas acho que essa é outra razão
pela qual Birdie e eu nos conectamos tão facilmente. Nós duas
somos muito especiais porque nossos pais tiveram que
trabalhar muito mais para nos ter.
Eu sorri. — De qualquer forma, sinto muito se nos joguei
em uma tangente deprimente por um tempo. Mas realmente
aprecio a percepção. Já se passou quatro anos desde que
Amanda morreu, mas a coisa de ser pai solteiro ainda parece
um território desconhecido a cada dia.
Fechei os olhos por um momento, contemplando o que
minha vida havia se tornado. Então os abri e falei meio
atordoado. — Você passa a juventude tentando fazer algo de si
mesmo, sentindo-se invencível, cheio de adrenalina.
Finalmente, segue uma carreira, forma uma família… está
tudo perfeito, certo? Então, quando algo como o câncer entra
em cena quando sua vida mal começou, você perde o
fôlego. Mas é muito para entender. A única maneira de lidar
com o fato de ela estar doente era fingir que não estava
acontecendo. Dizendo a mim e a ela que tudo ficaria bem. Você
passa pelos movimentos a cada dia, tentando ser forte por
todos. É como um estado de dormência constante. E tem que
ser. Porque sentir o que estava acontecendo não era uma
opção. Mesmo quando ela morreu, eu ainda estava
entorpecido. Não te atinge, realmente, até um momento
aleatório. Você sabe, muito depois que as pessoas param de
aparecer e trazer comida. Acordei uma manhã qualquer. O
programa TODAY estava no ar. Para a maioria, era apenas uma
manhã normal. Mas aquele foi o dia em que me dei conta de
que minha vida como conhecia estava realmente acabada. Ou,
pelo menos, era o que parecia. Mas realmente não podia
acabar, certo? Porque eu tinha que continuar de alguma
forma… por Birdie. Então você começa a empurrar novamente,
construindo uma nova vida a partir do zero, ainda tentando
não sentir nada demais, porque isso poderia atrapalhar seu
progresso. — Esfreguei meus olhos e suspirei. — De qualquer
forma, às vezes é uma existência estranha. — Jesus. Eu
realmente tinha nos levado a um lugar deprimente.
Seu olhar era penetrante. Ela parecia prestes a
chorar. Eu esperava que ela não fizesse isso. Eu não poderia
lidar com isso.
— Eu senti cada palavra que você acabou de dizer,
Sebastian. Cada palavra. Obviamente, nunca perdi um
cônjuge, mas vi meu pai passar por isso. E entendo em
primeira mão essa sensação de seguir em frente. Eu realmente
entendo.
Bebi o resto do meu chá morno, desejando que fosse
uísque, e coloquei a xícara vazia na mesa. — Que porra
deprimente este chá acabou sendo. Aposto que você gostaria
de estar com o Garoto do Banheiro agora mesmo.
— Deus não. — Ela suspirou. — Você sabe como é raro
ter uma conversa adulta profunda com a qual eu possa me
identificar?
— Eu certamente não planejava te emboscar com isso.
— Sempre que quiser conversar. Honestamente. Fico feliz
em ouvir. — Ela piscou. — Mas você pode receber uma bronca
minha também. Esse é o risco.
— Tudo bem. Obrigado.
Sadie inclinou a cabeça e me estudou em silêncio. Ela
parecia estar debatendo sobre algo que queria dizer.
— Posso te perguntar uma coisa? — Ela finalmente disse.
— Tenho certeza que te devo uma resposta por qualquer
coisa que queira saber depois do que acabei de pedir que você
respondesse.
Um sorriso gigante se espalhou por seu rosto. — Bom. Se
você estivesse assistindo uma mulher nua dançar, preferiria
que ela dançasse ao som de Sir Mix-a-Lot ou Lewis Capaldi?
Eu ri. — Você é uma mulher interessante, Sadie. Essa
definitivamente não é uma pergunta que teria antecipado que
você faria agora.
— Isso é uma coisa boa ou ruim?
Olhei de um lado ao outro entre os olhos dela. — É uma
coisa muito boa. E eu realmente gosto de bundas grandes.
Ela levou um segundo para perceber o que eu quis
dizer. Eu não tinha ideia de por que ela fez a pergunta, mas o
sorriso em seu rosto me disse que eu tinha escolhido a
resposta certa e gostei muito disso.
Acabamos pegando os biscoitos de Birdie e conversando
mais um pouco. Ela me contou um pouco sobre sua infância
no interior do estado, sobre os instrumentos meteorológicos
engraçados de seu pai e me fez algumas perguntas sobre o
negócio de restaurantes, sobre o que eu poderia falar a noite
toda. Falamos sobre sua carreira. Sadie me disse que embora
não previsse deixar a revista, esperava se afastar da coluna de
namoro eventualmente para tentar algo novo. A conversa com
ela era direta… fácil.
E também foi bom desabafar. Mas agora que tinha saído
do meu estupor emocional fugaz de antes, eu estava
novamente olhando para seus lábios enquanto ela falava. Isso
parecia errado por muitos motivos. Se fosse apenas uma
atração física, talvez eu pudesse justifica-la. Mas havia uma
pontada no meu peito agora que eu não queria sentir. Que eu
não podia sentir.
E aí vem o Sebastian introvertido em três, dois, um...
Minha cadeira derrapou no chão quando a deslizei para
trás. — Bem, eu não quero segurá-la.
Ela pareceu surpresa com a minha dica repentina de que
talvez fosse hora de ela partir. Ela parecia tão confortável.
Exatamente como eu me sentia antes que os fatos me
atingissem. Eu estava confortável. Muito confortável.
Ela olhou para seu telefone. — Sim. Eu, uh, é melhor ir
andando.
Acabei chamando um Uber para ela.
Depois que ela saiu naquela noite, levei nossas xícaras de
chá sujas para a pia e notei a marca do batom vermelho dela. E
meu pau pulsou.
Agora eu ficava excitado por uma marca de batom?
Definitivamente era hora de transar novamente. Só não com
Sadie.
Eu repeti. Não com Sadie.
CAPÍTULO 14

SADIE

— Então, o que está acontecendo em Birdie Land? Sinto


que você anda muito calada desde que começou a frequentar
a casa dos Maxwell novamente. — Devin se sentou em uma
cadeira de visitante do outro lado da minha mesa com seu café
na mão. Ela mexeu as sobrancelhas. — Melhor ainda, o que
está acontecendo com Papai Gostoso?
Eu andava muito calada sobre isso ultimamente. Embora
tenha compartilhado todas as travessuras malucas com ela
desde a primeira carta, algo mudou depois que contei tudo e
Sebastian me deixou retomar minhas visitas. Eu não estava
mais fingindo ser alguém que não era, então as coisas meio
que se tornaram… Eu não sei… reais. E isso fazia com que
parecesse privado, como algo sobre o qual eu não deveria estar
fofocando.
Mas depois da outra noite, quando fui pegar meu iPad e
Sebastian e eu passamos algum tempo conversando, senti a
necessidade de falar sobre as coisas agora. Deus sabe que eu
já havia analisado demais aquela noite e ainda não conseguia
entender o que deu errado.
— Na realidade… Passei algum tempo sozinha com
Sebastian algumas noites atrás.
Os olhos de Devin se arregalaram. — Oh meu Deus! E
você está me contando isso agora? Por que não recebi a
descrição detalhada no dia seguinte que aconteceu?
Eu sorri. — Não é o que você pensa. Esqueci meu iPad e
Sebastian me ligou para avisar. Eu estava no meio de um
encontro ruim, então usei a ligação dele como desculpa para
encerrar mais cedo e fui lá pegá-lo. Acabamos tomando chá e
conversando muito. Achei que estávamos em uma ótima
conversa, muito sincera, mas, ainda assim, fomos capazes de
zombar e compartilhar algumas risadas. Em um ponto, eu
poderia jurar que o notei observando meus lábios com aquele
olhar… você sabe qual… quando você está prestando atenção
à conversa e, de repente, seu corpo assume o controle do
cérebro e começa a se concentrar em como a boca se sentiria
se você pressionasse seus lábios contra ela.
— Oh, uau. Aquele tipo de olhar. Sim, entendi
perfeitamente.
— Certo. Bem, logo depois que achei que ele poderia estar
me olhando daquele jeito, ele se levantou e encerrou
abruptamente a conversa. A próxima coisa que percebi foi que,
de repente, estava na parte de trás de um Uber fedorento com
um motorista comendo cabra com curry enquanto dirigia.
— Mmmm... você descobriu onde ele conseguiu o curry?
Eu adoro, e o lugar que eu costumava comprar fechou.
— Uhh. Não, desculpe.
Devin encolheu os ombros. — Enfim... de volta ao Papai
Gostoso. É óbvio que ele está a fim de você e isso o assustou
um pouco.
— Mas, por quê? Ele já esteve com mulheres antes. Ele
quase admitiu isso para mim quando eu disse que sua filha o
ouvia falar com mulheres à noite. Portanto, o problema dele
não é o celibato.
Devin franziu a testa. — Você está procurando o senhor
certo, Sadie. Qualquer um pode ver isso rapidamente. É por
isso que você não teve um relacionamento sério de mais de
alguns meses. Você não quer o Sr. Agora ou um cara qualquer
para cuidar dos negócios. Tenho certeza de que Sebastian
sente isso em você.
Suspirei. — Eu não me importaria que Sebastian
cuidasse dos meus negócios.
Os olhos da minha amiga brilharam. — Assim é que se
fala. Então, por que não divulgar isso? Vocês dois são adultos.
Ele está atraído por você, nós estamos atraídas por ele.
Eu ri de como ela disse que estamos atraídas por ele. Mas
não estava tão certa sobre propor a Sebastian que
tentássemos. — E se eu interpretei errado a situação, e tivesse
um pedaço de salada do jantar entre os dentes que ele estava
olhando?
— Faça alguns testes. Curve-se para amarrar o sapato
quando ele estiver atrás de você e veja se os olhos dele estarão
colados na sua bunda. Melhor ainda, mostre-lhe aquele
conjunto de sutiã e calcinha rendado vermelho e preto que você
comprou na liquidação da Victoria's Secret que fomos no mês
passado.
— Certo… Vou simplesmente tirar a blusa e a calça jeans
enquanto treino um Dogue Alemão. É um ótimo plano.
Devin se levantou. — Você vai descobrir algo. Tenho
certeza de que pode facilmente conseguir a garantia que está
procurando para ter certeza de que Sebastian está atraído por
você. Esse não é o problema.
Minhas sobrancelhas se juntaram. — Não é?
— Não. A questão é que você será covarde demais para
agir, mesmo quando tiver certeza de que ele quer te foder. Você
não faz esse tipo de coisa.
— Eu já fiz sexo casual antes. Você sabe disso.
Ela tomou um gole de café. — Sim, mas foi quando você
soube que o cara era totalmente errado para você. Em sua
mente, só poderia ser sexo casual. Mas com Sebastian, acho
que você o vê como um potencial real. Você será covarde
demais para pular no fogo – não importa o quão quente e suado
o fogo possa ser - porque ficará muito preocupada em se
queimar.
— Isso é ridículo.
Devin andou até a porta do meu escritório. — Prove que
estou errada. Eu adoraria ver.

*-*-*

Sexta-feira à noite, eu tinha uma aula de ioga de quarenta


e cinco minutos às cinco e meia e depois estava programada
para ir treinar Marmaduke às sete e meia. Achei que teria
tempo de correr até em casa, tomar um banho rápido e prender
meu cabelo em um rabo de cavalo antes de ir para a parte alta
da cidade. Mas considerei alterar esses planos depois de sair
do estúdio. Eu não tinha tirado minha roupa de ioga, e
um cara muito bonito olhou na minha direção enquanto eu
estava parada checando as mensagens do meu celular. Seus
olhos estavam tão grudados em mim que ele realmente
tropeçou nos próprios pés.
Eu olhei para ele no chão. — Você está bem?
O homem parecia envergonhado. Ele se levantou, limpou
a sujeira da calça e deu um sorriso torto. — Sim. Embora você
realmente não deva andar pelas ruas assim. As pessoas podem
se machucar.
Corei um pouco, e depois que ele se afastou, olhei para
baixo verificando minha roupa. Eu estava usando um top
Lululemon roxo escuro cortado e uma legging combinando
com redemoinhos de tela vazada descendo por cada perna. Se
encaixava como uma segunda pele, por isso era perfeita para
ioga. Eu tinha um moletom com zíper combinando, mas estava
enfiado na minha bolsa de ginástica, já que fazia quase vinte
graus, embora fosse final de outubro. Os últimos dois dias
foram um verdadeiro verão indiano. Mas a reação do homem
me deu uma ideia. Ou melhor, era ideia de Devin. Talvez eu
não devesse ir para casa me trocar e seguir para a casa dos
Maxwell vestida assim.
Peguei meu telefone e pensei em mandar uma mensagem
de texto para Sebastian verificando se eu poderia chegar um
pouco mais cedo, mas depois de um minuto, revirei os olhos
para o que estava considerando. O que diabos havia de errado
comigo? Não precisava recorrer a táticas como essa para
chamar a atenção de um homem. Qualquer homem que não
se interessasse por mim sem eu estar seminua não estava
realmente interessado. Uau... Eu realmente soava como meu
pai.
Soprando um jato de ar quente, fui para o metrô. Assim
que entrei no trem, notei outro homem olhando na minha
direção. Essa roupa definitivamente chamava atenção. Isso me
fez pensar sobre o que Sebastian faria se eu realmente
aparecesse usando isso. Eu ficaria desapontada por ele nem
perceber, ou ele tropeçaria nos próprios pés?
Oh meu Deus.
Sebastian havia tropeçado outro dia! Eu tinha me
esquecido disso. Foi logo depois que ele abriu a porta e foi
buscar meu iPad. Mas isso tinha que ser uma coincidência. Eu
só o notei cobiçando meu corpo uma vez antes disso. Embora
naquela noite eu estivesse toda arrumada para o meu
encontro. Mas, novamente, a casa dos Maxwell tinha um
tapete na sala de estar. Aposto que a ponta estava enrolada
por Marmaduke correr como um louco, e Sebastian não
percebeu. Sim... Deve ter sido isso.
Peguei meu telefone para ver os e-mails e ocupar minha
viagem de trem de seis estações com algo além de pensamentos
sobre Sebastian Maxwell. Funcionou nas duas primeiras
estações, mas então o trem parou abruptamente. Minutos
depois que ainda não estávamos nos movendo uma voz
abafada veio de cima.
— Senhoras e senhores. Temos outro trem na pista à
frente que parece estar enfrentado alguns problemas
mecânicos. Vamos estacionar aqui por enquanto. Vou
atualizá-los assim que souber mais.
Os ocupantes do trem soltaram um suspiro coletivo e
palavrões murmurados ecoaram por toda parte. Depois de
mais dez minutos, a voz do condutor veio de cima novamente.
— Então, parece que precisarão de algum tempo para
trabalhar no trem avariado à frente. Teremos que voltar para a
Estação da Rua 23 e deixa-los sair para pegar outra linha. Mas
há um trem atrás de nós e eles precisam ser realocados
primeiro. Funcionários de serviço estarão à disposição para
aqueles que não estão familiarizados com nosso adorável
sistema de metrô. Espero que tenham gostado desse começo
divertido do seu fim de semana.
Todos gemeram. Demorou quase outra meia hora de
espera, mas eventualmente começamos a recuar
lentamente. Quando chegamos à Estação da Rua 23, já eram
sete e vinte. Assim que cheguei ao nível da rua, liguei para a
casa dos Maxwell. Birdie atendeu.
— Olá.
— Ei, Birdie. É Sadie. Seu pai está em casa?
— Não. Ele está no trabalho. Você ainda vem?
Eu sorri ao ouvir a preocupação em sua voz. — Sim,
claro. Estou atrasada porque meu trem parou. Posso falar com
Magdalene para saber se está tudo bem que eu chegue mais
tarde do que o planejado?
— Claro!
Magdalene entrou na linha. — Oi, Sadie.
— Oi, Magdalene. Estou um pouco atrasada. Estaria bem
se eu chegasse talvez às oito e meia? É tarde demais para
Birdie?
— Umm. Bem, ela realmente tem uma festa do pijama
esta noite. A amiga dela no mesmo quarteirão está dando uma
festa do pijama no aniversário dela. Seis garotas irão. Começa
às oito, mas eu ia levá-la quando vocês terminassem. Mas acho
que ela pode ir às nove e meia. Ela acabou de entrar no
banheiro. Quer que eu pergunte se está tudo bem com ela?
Suspirei. — Não. Não quero que ela perca ainda mais de
sua festa. Posso voltar para o trem e ir para a parte alta da
cidade agora. Provavelmente ainda estarei, tipo, dez minutos
atrasada.
— OK. Sem problemas.
— Obrigada, Magdalene.
Andei rapidamente os dois quarteirões para chegar a
estação que parava mais perto de sua casa e então entrei no
trem quando as portas estavam começando a se fechar. O
vagão estava lotado e só havia lugar em pé. Então, manobrei
até um lugar próximo a um poste para que pudesse me segurar
enquanto o trem sacudia ao começar a se mover.
Ao contrário de meu trajeto anterior, o trem expresso para
a parte alta da cidade não apresentou intercorrências e
cheguei à casa dos Maxwell apenas sete minutos atrasada.
Bati e aguardei, esperando que Magdalene me deixasse entrar.
Só que não era Magdalene olhando para mim quando a
porta se abriu.
CAPÍTULO 15

SEBASTIAN

Jesus Cristo.
Engoli em seco. O que diabos ela estava vestindo?
— Uhh. Oi. Eu não esperava que você estivesse em
casa. Birdie disse que você estava no trabalho.
Minha atração incontrolável por Sadie me irritou, e joguei
minha frustração nela. — É por isso que você está
atrasada? Quando o gato sai, o rato vem brincar?
— Não. Liguei para Magdalene e lhe avisei que meu trem
parou. Eu estava planejando ir para casa tomar banho depois
da minha aula de ioga. Mas, como o trem me atrasou uma
hora, vim direto para cá para não atrasar Birdie ainda mais
para a festa de aniversário que ela tem esta noite.
Ela tem um piercing no umbigo. Tão brilhante...
Porra. Forcei meus olhos a encontrar os de Sadie e a
encontrei olhando para mim com expectativa. Ela acabou de
dizer algo? Tentando retroceder os últimos dez segundos na
minha cabeça, acho que ela pode ter... algo sobre um trem?
Tanto faz.
Eu me afastei. — Entre. Magdalene acabou de trazer
Marmaduke de volta de uma longa caminhada, então ele está
esparramado no chão da sala de estar.
Entramos na casa e Marmaduke ergueu os olhos. Ele
avistou Sadie, e sua língua começou a sair da boca.
Sim, eu conheço a sensação, amigo.
Birdie saiu correndo de seu quarto e abraçou Sadie, que
se curvou enquanto se abraçavam, dando-me uma visão na
primeira fila de sua bunda. Cristo. Ela parecia tão bem indo
quanto vindo. Meus olhos ainda estavam grudados naquela
bunda quando ela se virou para falar comigo, e quase fui pego.
— Você conseguiu o clicker de treinamento que mencionei
na semana passada? — Ela perguntou.
Minha filha correu até a mesa de centro, pegou a
engenhoca do inferno e começou a clica-la.
Clique-clique. Clique-clique. Clique-clique.
Esse som estava me dando nos nervos por quase uma
semana desde que o trouxe para casa da loja de animais. Olhei
para Sadie, ainda me sentindo irritado, embora estivesse me
enganando se achasse que meu humor atual tinha algo a ver
com esse clicker de treinamento.
— Talvez da próxima vez você possa escolher algo um
pouco menos irritante para treinar.
As mãos de Sadie voaram para seus quadris. Seus
quadris bem torneados. — Há algo de errado?
Passei a mão pelo cabelo e resmunguei. — Estarei no meu
escritório se precisar de mim.
Felizmente, meu escritório tinha álcool. Hoje foi um longo
dia para começar. Meu gerente havia me dado o aviso prévio
de duas semanas, o que significava que teria que encontrar um
substituto e passar muito mais tempo no restaurante até que
treinasse um novo. Então, um pequeno incêndio com graxa
estourou na cozinha, inutilizando uma de nossas fritadeiras e,
finalmente, nosso carregamento de vegetais foi trocado com
outro restaurante que aparentemente planejava fazer milho
como acompanhamento em todas as refeições. Voltei para casa
mais cedo, imaginando que não teria muitas chances de fazer
isso de novo em duas semanas. Além disso, eu não tinha
dormido bem nos últimos dias por algum motivo. Então, abri
uma garrafa de vinho de onde mantinha o álcool trancado em
um aparador e me servi de uma taça bem cheia de cabernet
enquanto me sentava na cadeira.
Deus, ela é sexy pra caralho.
Eu tomei um gole do líquido roxo.
Tive a vontade mais louca de apertar os dentes em volta
daquele diamante em seu umbigo e dar um belo e forte puxão.
Tomei outro gole.
E aquela bunda. Talvez ela pudesse ensinar Duke a saltar
novamente. Aposto que seria uma visão ela de quatro com a
roupa que estava usando hoje.
Outro gole.
Como ela chamava mesmo? ‘Flunk shit’. ‘Flukerbutt’.
‘Flunkerbsht’. Era isso. ‘Saltar’ era ‘flunkerbsht’. Comecei a rir.
O som era quase maníaco.
Flunkerbsht.
Eu quero Flunkerbsht na falsa adestradora de cães.
Eu balancei a cabeça e tomei outro gole.
Na última semana, não consegui parar de pensar nela. Na
noite em que ela pegou seu iPad, estava tão vulnerável e aberta
quando perguntei sobre seu pai. Seus grandes olhos azuis
estavam cheios de emoção e sinceridade. Já fazia muito tempo
desde que conheci uma mulher que abriu seu coração para o
mundo ver. Sem mencionar que havia muitas outras partes
dela que valia a pena ver. A pequena roupa de treino que ela
usava hoje acertou em cheio esse ponto, isso era certo.
Deus, aquela roupa.
Eu bebi o resto do meu vinho.
Durante a hora seguinte, acabei com metade da
garrafa. O som de Sadie e Birdie rindo na outra sala se tornou
tão perturbador que coloquei a música no volume alto e fechei
os olhos. Então, não ouvi a batida na porta quando elas
terminaram.
— Ei. — Sadie abriu a porta o suficiente para enfiar a
cabeça dentro. — Desculpe. Você não estava respondendo.
Terminamos. Birdie só foi pegar sua mochila para a festa do
pijama. Você gostaria que eu a acompanhasse até a casa onde
é a festa do pijama? — Seus olhos se voltaram para a garrafa
de vinho e minha taça vazia. Ela sorriu. — Vejo que você está
muito ocupado.
Meus lábios franziram. — Não, está tudo bem. Sou
perfeitamente capaz de levar minha filha. Obrigado.
Os olhos de Sadie se estreitaram. Olhamos um para o
outro por trinta segundos inteiros e então ela abriu a porta e
entrou. Fechando a porta atrás dela, ela perguntou: — Está
tudo bem? Você parece… chateado. — Não a olhe.
Mantenha seus olhos no rosto dela.
— Está tudo bem.
Ela inclinou a cabeça e me avaliou.
— Você tem certeza?
Meus olhos caíram para seu estômago. Eu simplesmente
não pude evitar.
Deus, você é um idiota, Maxwell.
Olhos para cima.
Levante-os.
Vamos. Você consegue.
Sadie ficou quieta. Não podia nem dizer se ela estava
olhando para mim. Porque meus olhos estavam sobre ela…
traçando a curva de sua cintura, salivando sobre sua barriga
lisa… fantasiando sobre aquele diamante brilhante em seu
umbigo.
Ela deu alguns passos e começou a caminhar em direção
à minha mesa.
Talvez fosse o vinho, mas meu coração começou a bater
forte no peito. Tentei erguer meus olhos para o rosto dela, e
desta vez funcionou. Bem, mais ou menos.
Eles subiram, mas infelizmente, se fixaram em seu peito.
Eles são o que, tamanho C?
Agradável.
Muito agradável.
Aposto que seu decote fica muito suado fazendo ioga.
O suor quente escorrendo de seus peitos redondos
deliciosos até o umbigo.
No momento em que consegui arrastar meus olhos para
cima o suficiente para encontrar os dela, Sadie estava bem na
frente da minha mesa.
Ela balançou para frente e para trás levemente. — O que
você está fazendo, Sebastian?
Nossos olhos se encontraram, e a sugestão perversa de
um sorriso me fez pensar que ela acabara de ouvir todos os
meus pensamentos. Engoli em seco. — Nada.
— Nada, hein? Você está apenas sentado aí... olhando em
volta, então? — O canto de seus lábios se inclinou para cima.
Que espertinha.
Ela sabia exatamente o que eu estava fazendo.
Eu me endireitei na cadeira e limpei minha garganta.
— Se você terminou. Sabe onde fica a saída.
— É nisso que você está pensando sentado aí? Que você
quer que eu... saia?
Uma batida na porta do meu escritório me fez piscar
algumas vezes.
Fiquei completamente confuso quando olhei e vi Sadie
colocar sua cabeça em meu escritório.
O que...?
Ela não estava...?
Eu olhei para onde podia jurar que ela estava
parada. Demorei alguns segundos para sair disso e perceber
que devo ter cochilado por causa do vinho e estava sonhando.
Jesus.
Sadie sorriu. — Terminamos. Por que não acompanho
Birdie até sua festa do pijama para você, já que irei embora de
qualquer maneira?
— Umm. Sim. Isso seria bom. Obrigado. Deixe-me dar
boa noite para ela.
Saí para a sala de estar. Birdie já estava parada com a
mochila, um travesseiro e um saco de dormir nas mãos. —
Parece que você está pronta. — Eu me agachei até o seu
nível. — Que tal um abraço no seu velho.
Minha filha jogou os braços em volta do meu pescoço com
um sorriso enorme. — Eu te amo, papai.
— Eu também te amo querida.
— Marmaduke foi muito bem hoje! Quando Sadie clica no
botão, ele se senta agora.
— É verdade?
Ela assentiu.
— Tudo bem. — Eu dei um puxão suave em seu rabo de
cavalo. — Por que você não vai para a sua festa.
Birdie se virou começando a se afastar, mas voltou
correndo até mim. Sua pequena mão segurou minha
bochecha. — Estou bem no final do quarteirão se você precisar
de mim.
Meu coração apertou e sorri. — Obrigado. Vou me
lembrar disso. — Ela me beijou mais uma vez e então saiu em
direção à porta.
— Algo que você quer que eu diga aos pais? — Sadie
perguntou.
— Não. Vou mandar uma mensagem para Renée e checá-
la mais tarde.
— OK. — Aparentemente, aquele cochilo e minha fantasia
subsequente me fizeram bem. Consegui ter uma conversa
civilizada com Sadie e não a fodi com os olhos como naquele
sonho. Embora, quando ela se virou para seguir Birdie até a
porta da frente, eu simplesmente não pude deixar de olhar sua
bunda naquelas calças de ioga novamente. Quer dizer, estava
bem ali, na minha cara. Que homem em sã consciência não
daria uma olhada?
— Oh, quase esqueci... — Sadie se virou e meus olhos
pularam para encontrar os dela.
Foda-se.
Ela me pegou.
Se eu não tivesse certeza de que acabara de ser pego, o
sorriso de Sadie teria confirmado que ela sabia o que eu tinha
feito.
Ela nem se preocupou em tentar esconder. Estendendo a
mão, ela estendeu o clicker. — Isso é seu.
Eu desviei o olhar enquanto o pegava da mão dela. —
Ótimo. Obrigado. — Depois que ela saiu, baixei minha cabeça
atrás da porta fechada.
Deus, você é um idiota, Maxwell. Você precisa transar.
Já que teria a noite toda para mim, talvez seja exatamente
o que eu deva fazer. Estive conversando com essa mulher Irina
por um tempo, uma ocupada executiva de publicidade que
conheci online e que estava procurando o mesmo tipo de
arranjo que eu. Mas a tinha ignorado nas últimas
semanas. Talvez fosse hora de entrar em contato novamente.
Enquanto voltava para o meu escritório, onde mantinha
meu laptop, tentei me preparar psicologicamente.
Irina.
Ela era sexy.
Cabelo ruivo comprido.
Uma mulher que sabia o que queria.
Isso era exatamente o que eu precisava.
Sim, é isso.
Verei definitivamente o que Sadie está fazendo esta noite.
Irina. Quero dizer, Irina.
Chegando à minha mesa, decidi servir outra taça de vinho
antes de entrar na internet para ver se Irina estava disponível.
Sentei-me e bebi, mas decidi fechar os olhos mais uma
vez. Eu precisava de um momento para limpar minha cabeça.
Mas em vez de ganhar clareza, visões de Sadie inundaram
minha mente.
Novamente.
Ela era tão sexy.
Aquela bunda.
Aquela barriga lisa.
Aquele diamante cintilante.
Seus grandes e lindos olhos.
E aquela boca. A maneira como os cantos se curvaram
quando ela me pegou olhando sua bunda... Jesus... o que eu
não daria para foder aquela boca.
Eu ri de mim mesmo e abri meus olhos.
Que bom que ela se foi. Porque Deus sabe que coisa
estúpida eu teria feito esta noite. A mulher me fazia perder a
cabeça.
Tomei outro grande gole do meu vinho e abri meu laptop.
Exatamente quando a campainha tocou...
CAPÍTULO 16

SADIE

Ele abriu a porta e minha mente ficou em branco. Voltar


e tocar a campainha foi uma decisão em frações de segundo.
Eu só não queria ir embora. O problema era que provavelmente
deveria ter inventado uma desculpa para o motivo de ter
voltado antes de fazê-lo.
A respiração de Sebastian acelerava a cada segundo que
ele me observava.
— Tudo bem?
Eu engoli, mas continuei desligada.
O que eu deveria dizer? Não podia dizer a verdade: vi você
me observando e achei que também poderia estar interessado
em me tocar.
Ele quebrou o gelo. — Esta é a parte em que presumo
que você seja a adestradora de cães e te repreendo pelo
atraso? Parece um déjà-vu agora. Eu abrindo a porta e você
parecendo atordoada. — Ele deu um sorriso torto, o que me
acalmou um pouco.
Eu ri nervosamente.
Ele gesticulou com a cabeça. — Enquanto você tenta
descobrir, por que não entra? Estava muito quente hoje, mas
está esfriando agora.
Eu escovei minhas mãos sobre meus braços. — Obrigada.
Marmaduke correu para a porta e começou a pular em
cima de mim. Não exatamente o homem que eu queria agora.
Felizmente, ele se acalmou muito rapidamente antes de
ir para o canto da sala montar um brinquedo de pelúcia.
Sim. Você não é o único excitado esta noite, amigo.
Sebastian apenas olhava para mim, ainda precisando de
uma explicação sobre por que eu havia retornado de repente.
Jesus Cristo. Tenha coragem, Sadie. Você escreve uma
coluna de conselhos sobre namoro, pelo amor de Deus, e parece
que não consegue se lembrar de como agir perto de um homem
por quem se sente atraída.
— Voltei porque me perguntei se você gostaria de um
pouco de companhia esta noite, — eu disse.
Sebastian colocou as mãos nos bolsos, parecendo menos
do que confortável com minha proclamação.
Sua reação me deixou um pouco em pânico, então tentei
rir disso. — Isso é estúpido, certo? Você provavelmente tem
planos. Se sim, posso simplesmente sair...
— Você gosta de branco ou tinto? — Ele disse de repente.
Levou alguns segundos para sua pergunta ser absorvida.
Ele estava se referindo ao vinho.
Estou dentro?
— Na verdade, o tinto que você estava bebendo parecia
muito bom.
— Já volto, — disse ele.
Eu me movi enquanto Sebastian voltava para seu
escritório, retornando para a sala com a garrafa e sua taça. Ele
colocou na mesa de centro antes de se aventurar até a cozinha.
Depois que ele voltou, assisti enquanto me servia uma
grande taça antes de esvaziar o restante da garrafa na sua.
— Obrigada, — eu disse.
Sentei-me em uma extremidade do sofá. Então ele sentou
na outra extremidade, no ponto mais distante de mim.
Tomei um gole da minha bebida e disse: — Então, quais
eram seus planos esta noite se eu não tivesse me intrometido
nela?
Seus lábios se contraíram. — Eu ainda não tinha
resolvido.
— Provavelmente é raro que Birdie não esteja em casa.
— Sim. Acho que ela só teve outra festa do pijama antes
disso.
Sebastian parecia excepcionalmente bem esta noite. Ele
estava vestido de forma mais casual do que o normal. Uma
camiseta azul-marinho agarrada ao seu peito largo. Ele usava
jeans e seus pés estavam descalços. Ele tinha pés grandes e
bonitos – se os pés de um homem pudessem ser considerados
bonitos. Bem, ele e seus pés eram totalmente bonitos em todos
os sentidos.
— Eu pisei em algo? — ele perguntou.
Merda. Ele me pegou.
— Ah não. Eu só estava… admirando seus pés.
Eu me encolhi. Talvez eu não devesse ter admitido isso.
— Obrigado. — Ele franziu a testa. — Eu acho? —
Sebastian descansou o braço nas costas do sofá e continuou
em seu canto do sofá. — Então, aonde exatamente você vai se
exercitar, Sadie?
— Eu faço aulas de ioga de quarenta e cinco minutos
algumas vezes por semana. É perto da minha casa.
— Agradável. Eu provavelmente deveria fazer algo assim
para aliviar o estresse.
— É excelente para aliviar o estresse… mas faço isso por
flexibilidade.
Ele pigarreou. — Então você é… flexível?
— Muito. — Eu tinha sido intencionalmente
autoconfiante em minha resposta sobre isso. — Hoje ela nos
fez praticar uma postura em que suas pernas passam por cima
da cabeça.
Parecia que ele quase queria cuspir seu vinho. — Isso soa
muito… aventureiro. Como isso é chamado… cachorro
descendente? Cachorros são sua praia. — Ele piscou.
Eu ri. — Não. O cão descendente é um exercício voltado
para frente. Ela nos fez dobrar as pernas para trás e sobre a
cabeça. Chama-se pose de arado.
Seus olhos se arregalaram. — Você dobra as pernas sobre
a cabeça e isso se chama pose de arado?
A ironia nessa terminologia só agora me atingiu.
Ele tem uma mente suja. Eu amo isso.
— Eu acho que é um desperdício de habilidade,
considerando que nada tem acontecido nesse campo.
Sebastian não disse nada enquanto bebia o resto de seu
vinho. Então ele ergueu a garrafa. — Mais vinho?
— Eu aceito, sim. Obrigada.
— Esta garrafa está vazia. Quer experimentar outra coisa
ou devo abrir outra garrafa de Cabernet?
— Eu realmente gostei desse. Como se chama?
Ele foi verificar a etiqueta e eu podia jurar que vi seu rosto
ficar vermelho. Aparentemente, ele não tinha reparado no
nome até agora.
Ele não disse.
— Então? — Eu cutuquei.
— É chamado… Pornfelder. — Ele riu sem jeito ao abrir a
garrafa e encher nossas taças.
Eu não pude deixar de rir também. — Que nome.
— Parece que alguém inventou. Mais ou menos como
flunkerbsht.
Meu rosto estava entorpecido de vergonha. — Ah sim.
Ele ergueu a taça. — Você deveria registrá-lo, a propósito.
Ele bebeu um pouco mais de seu vinho e, quando a taça
saiu de sua boca, percebi que seus olhos desceram até meu
umbigo e subiram novamente. Adorava vê-lo olhando para
mim. Ele imediatamente começou um novo tópico de conversa
para desviar do fato de que o peguei olhando para meu piercing
na barriga.
— Então você nunca me contou como começou a
escrever.
Eu me reposicionei no sofá, ficando um pouco mais
confortável. — Bem, eu fiz faculdade de jornalismo, mas por
muitos anos, nunca fiz nada com meu diploma, apenas fazia
bicos. A certa altura, fiz um estágio na empresa dona da minha
revista, e o repórter para quem eu trabalhava me deixou
escrever alguns dos artigos. Por fim, fui contratada como
redatora da equipe geral e passei por vários departamentos
desde então. A coluna Holiday Wishes ficou comigo por anos,
mas minhas principais atribuições de redação mudaram
algumas vezes. Escrevi artigos sobre etiqueta empresarial por
alguns anos e depois comecei a escrever a coluna Beauty
Basics. Escrever sobre maquiagem me entediou muito rápido.
— Mas você tem escrito a coluna de encontros há um
tempo, correto?
— Sim. — Eu sorri. — Há alguns anos. Nessa fiquei
presa. Eles parecem pensar que sou a pessoa certa para isso,
e se tornou muito popular.
— Bem, posso ver por quê. As mulheres devem amar viver
indiretamente por meio de uma mulher bonita e bem-sucedida
que mora na cidade. É como aquele programa que minha mãe
costumava assistir… aquele com a garota de Hocus Pocus.
Isso me fez rir. — Sarah Jessica Parker, sim. Sex and the
City. Embora eu seja mais parecida com a pobre Carrie
Bradshaw.
Ele parecia estar quase olhando através de mim quando
disse: — Você deixa todas essas garotas no chinelo.
Meu corpo inteiro se encheu de calor. Ele tinha acabado
de me elogiar, e eu não tinha ideia de como lidar com
isso. Basicamente só queria pular nele – mas não achei que
seria muito certo.
— Você se vê continuando nesse emprego? — Ele
perguntou.
— Por mais que eu reclame, realmente gosto. Eu
realmente não consigo me imaginar com uma rotina normal
das nove às cinco.
— O que acontecerá se você encontrar alguém com quem
deseja passar o resto da vida? Você ainda faria a coluna de
encontros?
Sua pergunta fez meu coração palpitar um pouco. — Não
estou apostando nisso com a minha sorte… mas se acontecer,
não faria mais a coluna de encontros. Isso tem que ser
orgânico. Se meu coração pertencesse à outra pessoa, de que
adiantaria fingir? Não funcionaria e também não seria justo
com meu parceiro.
— Então você pediria uma transferência?
Sua curiosidade sobre o assunto me deu o que
provavelmente era uma sensação delirante de esperança. —
Sim. Eu provavelmente só escreveria em um dos outros
departamentos se me aceitassem.
— Como a coluna do Papai Noel... — Ele sorriu. Pela
primeira vez, percebi que ele tinha covinhas sutis.
— Isso é sazonal, então não me cobriria o ano todo… mas
nesse ficarei de qualquer maneira, contanto que me aceitem.
É muito gratificante.
— Estou feliz que você ame seu trabalho, — disse ele.
— Sim, você sabe, por que a coisa de adestramento de
cães… bem, isso não vai a lugar nenhum.
Ele deu uma risadinha. — Exatamente.
Terminei meu vinho e suspirei. — As coisas sempre
poderiam ser piores, sabe? Não estou exatamente onde achei
que estaria aos quase trinta. Mas tenho a sorte de ser feliz no
geral, saudável e de ter uma parte da minha vida certa – minha
carreira.
— E as outras partes?
— Bem, sempre achei que estaria resolvida nessa idade,
talvez com um filho. Não tenho certeza se isso está nas cartas
para mim.
Ele me encarou por alguns instantes, depois disse: — Mas
você quer? Você quer a família, a casa, o cachorro...
Sem hesitar, eu disse: — Sim… mas apenas se for com a
pessoa certa.
Ele acenou com a cabeça e parecia estar perdido em
pensamentos. Eu me perguntei se ele estava pensando em
Amanda, como teve todas essas coisas uma vez… a casa, a
família, a bela esposa. Mas agora ela se foi. Nada disso
realmente se encaixava sem o seu outro significativo, aquele
que você ama. E não tê-la por perto significava que ele
precisava ser mãe e pai para Birdie, o que não deveria ser fácil,
dado seu trabalho exigente.
— Você está bem, Sebastian? — Senti-me compelida a
perguntar. — Não estou me referindo a este momento, mas
quero dizer… em um sentido geral, lidando com a coisa de pai
solteiro?
— Você quer dizer, apenas fingindo manter tudo no
controle enquanto estou realmente deprimido por dentro? —
Ele olhou para o lado. — Honestamente? Às vezes. Mas me
certifico de continuar indo rápido o suficiente para não ser
engolido pela parte depressiva. Está apenas lá no fundo.
Engoli em seco, sem saber o que dizer. — Deve ser difícil
seguir em frente quando você teve um casamento tão bom. Eu
sei que foi difícil para meu pai.
Ele fechou os olhos e balançou a cabeça. — Birdie acha
que sua mãe e seu pai tinham o casamento perfeito. Mas
minha esposa e eu tivemos nosso quinhão de brigas. Quando
minha filha tinha dois anos, nós realmente nos separamos por
um tempo.
Meus olhos se arregalaram. Essa era a última coisa que
eu esperava que ele dissesse. Achei que ele tinha uma pequena
família perfeita. — Uau. Eu não fazia ideia.
— Obviamente, minha filha não sabe. E eu realmente
gostaria de manter assim.
— Claro. Eu nunca diria nada a ela. — Eu balancei minha
cabeça. — Posso perguntar o que aconteceu?
— Vou precisar de mais vinho para isso. — Sebastian
voltou a encher sua taça e me serviu de outra. Suspirando, ele
disse: — O restaurante demorou um pouco para se tornar o
que é hoje. Nós dois trabalhávamos muitas horas, tínhamos
um novo bebê. Colocamos toda a nossa energia no negócio e
em nossa filha, e acho que no final do dia, não tínhamos o
suficiente para dar ao nosso relacionamento o foco que
precisava. Eu sou parcialmente culpado por isso. Mas... —
Sebastian tomou um gole de seu vinho. — Acho que minha
esposa precisava de alguém para conversar sobre outras coisas
que não problemas de dinheiro ou fraldas. E, bem, ela se
aproximou de um garçom do restaurante. Uma noite, eles
beberam um pouco demais e se aproximaram demais.
— Oh Deus. Eu sinto muito.
Ele assentiu. — Nós tentamos ir ao aconselhamento, mas
eu não conseguia superar isso. Então, depois de alguns meses,
nós nos separamos. Eu me mudei e consegui um pequeno
apartamento próximo para que ainda pudesse estar perto de
minha filha. Estávamos apenas começando a nos acostumar a
viver sozinhos quando Amanda descobriu, durante um exame
de rotina, que seu câncer de ovário havia voltado. Isso colocou
as coisas em outra perspectiva. Nunca deixei de amar minha
esposa, e ela precisava de mim.
— Então vocês voltaram?
Ele assentiu. — Tivemos bons anos depois disso. Mas
Amanda sempre achou que o único motivo pelo qual fiz as
coisas funcionarem foi o diagnóstico de câncer.
— Mas não foi?
Sebastian sorriu tristemente. — Não sei como as coisas
teriam funcionado se ela não tivesse ficado doente. Mas não
importa. Às vezes, na vida, você precisa de um pequeno
empurrão para chegar onde deveria. Sua doença foi meu
impulso. Fizemos funcionar, e fiquei maravilhado com sua
força, vendo sua luta todos os dias. Sinto muita culpa por ela
ter morrido achando que só voltei porque ela estava doente.
— Ele balançou sua cabeça. — Eu a amava. Eu realmente
amava.
Eu não queria chorar, mas não tinha controle sobre as
lágrimas escorrendo.
Quando ele percebeu, uma expressão de alarme cruzou
seu rosto. — Ah merda. O que eu fiz? Eu não queria te fazer
chorar.
Limpando meu nariz com o braço, funguei. — Não. Eu
sinto muito. É apenas… triste, mas é lindo, Sebastian. Ter
alguém que você ama em sua vida, mesmo que por pouco
tempo, é lindo. É incrível você tê-la perdoado e reacendido esse
amor. E ela sempre viverá através de Birdie.
— Não sei o que há em você que me faz querer me abrir.
— Ele esfregou os olhos. — Vamos passar para algo mais leve…
OK?
Procurei em meu cérebro algo ‘mais leve’. — Birdie jura
que Marmaduke pode dizer '‘oi’'.
Sua boca se transformou em um leve sorriso. — Oh sim?
— Sim. Na verdade, nós gravamos. Espere.
Pegando meu telefone, pressionei ‘Play’ em um vídeo que
fiz mostrando Marmaduke fazendo um barulho que soava
suspeitosamente como ‘Hiiiiiiiiii’.
Ele deu uma risadinha. — Pedi para passar para algo
mais leve, não totalmente ridículo.
Nós dois estávamos rindo agora, e graças a Deus a
tristeza no ar parecia ter diminuído um pouco.
— Posso usar seu banheiro? — Perguntei.
— Claro.
Minhas pernas estavam bambas quando me levantei e
segui para o banheiro. Jogando água no rosto, olhei-me no
espelho. O vinho estava começando a me atingir, e
o preço físico e emocional da noite também. Minha atração por
Sebastian era quase dolorosa. Eu só queria fazê-lo esquecer
tudo por uma noite, mas mais do que isso, também queria que
ele me quisesse. Eu tinha certeza de que ele se sentia atraído
por mim, mas também tinha certeza de que ele me
respeitava. E isso significava que não me veria como uma
conquista de uma noite. Este último poderia muito bem ser
tudo para o qual ele tinha espaço mental agora, o que
significava que provavelmente não haveria espaço para alguém
como eu em sua vida.
Quando saí do banheiro, Sebastian ainda estava sentado
no sofá esperando por mim. Eu estava começando a sentir que
se alguma coisa acontecesse entre nós, eu teria que dar um
empurrãozinho, testar as águas. Pelo menos então, com base
na reação dele, eu saberia se tinha a chance de algo mais com
ele. Sentei-me, mas desta vez, em um movimento descarado,
bem ao lado dele. O calor de seu corpo era palpável. Sua
mandíbula enrijeceu quando ele apenas olhou para mim. Sua
respiração tornou-se difícil enquanto ele abertamente permitia
que seus olhos vagassem até o meu decote, depois voltassem
para o meu rosto. Ao contrário das outras vezes que me olhou
furtivamente, quase parecia que ele queria que eu notasse. Eu
queria sua boca em mim, mas fiz o suficiente apenas sentando
tão perto. O vinho estava definitivamente subindo à minha
cabeça, amplificando a necessidade física que eu estava
sentindo. Ele estava olhando para meus lábios agora.
— Tudo bem eu sentar perto de você assim? — Eu
perguntei.
Ele assentiu, ainda respirando mais pesado do que
durante toda a noite. De jeito nenhum ele não se sentia afetado
por mim. Eu sabia disso agora.
— Eu te acho incrível, Sadie. Tanto por dentro quanto por
fora, — ele sussurrou rispidamente.
Mordi meu lábio e continuei sua frase. — Mas...
— Não leve a mal… mas estou quase atraído por você. Eu
me sinto muito fora de controle perto de você, como se
houvesse potencial para ficar viciado. E...
— E você tomou a decisão de não deixar isso acontecer
com ninguém.
— É o melhor por vários motivos...
Meu coração afundou ao finalmente ouvir a confirmação
do que eu já temia.
— Eu só achei que talvez… pudesse haver algo lá.
Seus olhos eram penetrantes. — Há algo. Eu só não quero
agir sobre isso.
— OK. — Eu olhei para seus pés descalços. Alguns
momentos depois, olhei para ele. — O que você estaria fazendo
esta noite se eu não estivesse aqui?
— Por que isso importa?
— Não importa. Só estou curiosa. — Eu me inclinei um
pouco. — Não minta para mim, também. Diga-me o que você
realmente faria.
Ele assentiu. — Tudo bem. — Depois de tomar um longo
gole de vinho, ele finalmente disse: — Eu ia ligar para uma
mulher que sei que não quer nada além de dormir comigo. Eu
iria para a casa dela – porque não trago mulheres para esta
casa. Eu transaria com ela – com segurança – e depois sairia e
voltaria para cá, não me sentindo mais realizado do que antes
de partir. Que é exatamente do jeito que preciso que seja.
Sua admissão me deixou sem palavras por um tempo.
— Quando foi a última vez que você esteve… com alguém?
— Eu perguntei.
— Faz algum tempo. Alguns meses, talvez. — Ele exalou.
— E você?
— Muito mais do que isso.
Sebastian engoliu em seco. — Por quê?
— Porque não posso simplesmente estar com alguém só
para transar. Eu preciso de algo mais. Eu preciso de uma
conexão. Preciso ser capaz de olhar em seus olhos e amar o
que vejo dentro deles tanto quanto o que está do lado de fora.
Uma conexão mental é muito importante para mim. — Meus
sentimentos pareciam estar explodindo. De alguma forma,
senti que esta poderia ser minha única oportunidade de
expressá-los. Fiquei chocada quando disse: — Estou muito
atraída por você… de toda forma. Mas entendo totalmente por
que você precisa compartimentar. Eu entendo por que seria
assustador para você deixar alguém entrar… não apenas em
seu coração, mas em sua vida. Acho que agiria da mesma
maneira no seu lugar. — Ele ficou sentado em silêncio
enquanto eu continuava.
— Sinto muito, Sebastian. Lamento que as coisas não
sejam mais fáceis. Lamento que você tenha perdido sua esposa
e que durma sozinho. Espero que um dia você possa ser feliz
novamente. Por mais que eu deseje ter a chance de conhecê-lo
em um nível mais profundo, também entendo que o espaço
para isso em seu coração ainda está ocupado.
Ele voltou a olhar para minha boca quando disse: — Você
torna muito difícil querer compartimentar, Sadie.
Meu coração disparou.
— Você quer que eu vá? — Eu sussurrei.
Ele pegou minha mão. — Não.
A sensação de sua mão grande e quente entrelaçada com
a minha foi a melhor coisa que senti em muito tempo.
— Então ficarei. Como uma amiga. Enquanto você quiser,
eu fico. E quando estiver pronto para ficar sozinho novamente,
partirei.
Ele olhou para nossas mãos. — Eu realmente não gosto
de ficar sozinho. Eu odeio isso. Odeio estar aqui quando Birdie
não está em casa. Porque então tenho que enfrentar o que me
resta. O que não é nada sem minha filha. Não quero que minha
vida seja assim. Eu quero ser feliz de novo. Só não descobri
como fazer isso.
— Eu acho que isso acontece por conta própria. Ser feliz
não é algo que as pessoas possam fazer acontecer. Ocorre
aleatoriamente enquanto estamos vivendo e não tentamos.
O que ele disse a seguir partiu meu coração.
— Amanda nunca me disse que aceitaria se eu seguisse
em frente. E acho que é parte do que me impede. Eu nunca
desejaria que ela olhasse para baixo e se sentisse
substituída. E isso me assombra.
Seus olhos estavam marejados quando ele soltou minha
mão e disse: — Deus, não foi para isso que você se inscreveu
esta noite. Puta que pariu.
— Por favor, — eu implorei. — Por favor, não se desculpe.
Sua honestidade está me dando vida. Você não tem ideia de
como é incrível experimentar, por meio do amor e do respeito
por sua esposa, como é o amor verdadeiro. Você me dá tanta
esperança, Sebastian. Verdadeiramente.
Ele olhou profundamente nos meus olhos. — Quer saber
a coisa fodida?
— Sim.
— Enquanto estou sentado aqui falando sobre minha
esposa, ainda não consigo deixar de querer te beijar.
Suas palavras acenderam o que parecia um fogo dentro
de mim. Fale sobre uma montanha-russa de emoções. —
Ninguém diz que os sentimentos têm que fazer sentido, — eu
disse, meu peito arfando de necessidade.
— Você me perguntou o que eu realmente planejava fazer
esta noite..., — ele disse. — Eu te contei a metade da
história. Mas o que eu não disse é que depois que você saiu,
não consegui parar de pensar em você, em seu sorriso
contagiante e em como parece sexy. Nenhuma mulher no
mundo teria a chance de tirar você da minha cabeça esta noite.
E quando veio até minha porta novamente, eu quase caguei
um tijolo. Era como se você tivesse lido minha mente.
Aproximei-me, meu rosto ficando a apenas alguns
centímetros do dele. A atração física parecia muito intensa. Eu
normalmente não era tão assertiva, mas talvez tivesse a ver
com o fato de que nunca estive em ninguém assim. Sim, eu
amaria mais do que uma relação sexual com Sebastian. Mas
se ele não estivesse pronto para mais, eu ainda desejaria
experimentar estar com ele? A resposta era sim.
Quase sem conseguir respirar, disse o que estava
sentindo naquele momento. — Se você me quiser, pode me ter.
Sem perguntas. Eu preciso disso tanto quanto você. Podemos
simplesmente descontar nossas frustrações um no outro.
Ele engoliu em seco e soltou um gemido antes de balançar
a cabeça. — Você está bêbada, Sadie, e eu também. Não
podemos fazer isso.
Eu balancei a cabeça silenciosamente. Eu entendia
totalmente o seu ponto.
Portanto, dado o que ele disse, você pode imaginar que
fiquei completamente chocada quando ele pareceu perder o
controle, espalmando meu rosto e me puxando para ele
segundos depois. O calor de sua boca na minha enviou ondas
de choque por todo o meu corpo. Sebastian gemeu em minha
boca, e vibrou no fundo da minha garganta. Ele tinha gosto de
vinho e o sabor mais incrível que já provei. Era todo homem,
todo ele, e eu precisava de mais. Eu não me importava com
quão tonta estava, não me importava com nada além de
experimentar cada segundo disso. Ele me puxou sobre ele e eu
me esfreguei. Senti como se pudesse gozar apenas da fricção
de sua ereção contra mim através da sua calça. Sem
mencionar que ficou claro pelo contato limitado que ele era
enorme. Minhas pernas tremiam enquanto seus dedos
acariciavam minhas costas.
— Foda-se, — ele murmurou em minha boca. — Você é
tão sexy. Eu quero te comer viva.
Essas palavras literalmente fizeram os músculos entre
minhas pernas se contraírem. Se alguém me dissesse que eu
teria que arriscar minha vida para tê-lo dentro de mim agora e
poderia considerar isso.
Bem quando senti que estava chegando ao meu limite,
Sebastian pareceu sair de seu transe, se afastando.
Ele cobriu a boca e se levantou. — Eu não posso, Sadie.
Eu simplesmente não consigo. Eu te quero, mas não posso te
tomar assim. Você bebeu demais e eu também.
Meus lábios estavam inchados, meus mamilos duros.
Meu corpo estava tão pronto. Então, naturalmente, isto foi
decepcionante, mas foi para o melhor.
Ofegante, perguntei: — Você quer que eu vá embora?
Ele balançou a cabeça com veemência, mantendo
distância. — Não. Não me sentiria bem te mandando para casa
agora. Por favor, fique. Você pode ficar na minha cama e eu
dormirei no quarto de Birdie.
Eu me enchi de esperança. — Você tem certeza?
— Eu insisto. De jeito nenhum vou deixa-la entrar no
carro com um estranho, bêbada, nem mesmo se for um Uber.
Sua preocupação me fez sentir quente, protegida. —
Obrigada.
Ele acenou com a cabeça. — Vamos. Vou te mostrar o
quarto. — Sebastian me levou pelo corredor até seu quarto.
Uma enorme cama king-size com cabeceira de madeira
escura ocupava o centro do ambiente. Um edredom de cetim
cinza estava sobre ela. Uma vista deslumbrante do luar lá fora
podia ser vista da janela. Por mais convidativo que fosse o
ambiente, parecia intrusivo e proibido estar aqui.
— Fique à vontade. Tome um banho quente no banheiro
master, o que quiser.
— OK... — Eu sorri. — Obrigada.
Depois que ele saiu do quarto, de alguma forma suspeitei
que não o veria pelo resto da noite. Ele tomou uma decisão
madura. Eu o respeitava por isso, mas de forma alguma isso
extinguiu o fogo queimando dentro de mim.
Naquela noite, tomei banho em seu banheiro luxuoso e
deitei em sua enorme cama conjugal. Parecia um pouco
estranho deitar na mesma cama em que Sebastian havia
dormido com sua esposa. Eu podia entender completamente o
vazio que ele descreveu sentir. E eu ansiava por ele. Meus
sentimentos por este homem vinham de muito antes de eu
sequer conhecê-lo. Mas agora que experimentei o quão
apaixonado ele era em primeira mão, isso me fez gostar dele
ainda mais.
CAPÍTULO 17

SEBASTIAN

Eu cheguei muito perto de foder tudo a noite passada. Tão


perto que podia sentir o cheiro. Cheiro dela. Suspirei. Ela
cheirava fenomenal. Mesmo sabendo que não estava bêbado,
de alguma forma ainda me sentia bêbado por causa dela.
Foi um milagre eu ter conseguido dormir, mas o vinho
deve ter me nocauteado, porque em algum momento depois
das duas, eu desmaiei totalmente na cama de Birdie. Mas não
antes de seguir até o banheiro no corredor para me masturbar
com pensamentos de meter em Sadie enquanto ela estava
naquela posição arado de ioga com as pernas apoiadas sobre
a cabeça. Levei trinta segundos para gozar com mais força do
que em meses por toda a porta do chuveiro. Melhor lá do que
dentro dela na noite passada, e acredite, se ela não estivesse
embriagada, isso poderia muito bem ter acontecido.
Vesti uma camiseta branca e jeans e me dirigi para a
cozinha. O cheiro de café penetrando meus sentidos.
A visão dela na minha cozinha fez meu coração quase
parar. Eu não tinha percebido o quanto sentia falta de acordar
com uma mulher. Talvez não tenha sido até este momento que
percebi o quão solitário eu estava. Mas não era nem isso. Ela
estava usando minha camisa. Minha camisa branca. E sem
calça, porra. E ela estava balançando um pouco a bunda,
embora não houvesse música.
— Ei, — eu gritei.
Sadie deu um pulo. — Ei. — Ela sorriu. — Eu me
encarreguei de fazer o café da manhã. — Ela olhou para si
mesma. — Eu roubei uma de suas camisas mais compridas.
Simplesmente não senti vontade de colocar minhas roupas de
treino sujas depois do banho que tomei na noite passada.
Espero que esteja tudo bem.
O que eu poderia dizer sobre isso? Aparentemente estava
tudo bem para o meu pau, porque eu estava ficando duro só
de olhar para ela na minha camisa. Na verdade, eu estava
começando a me sentir como um maldito homem das
cavernas. O sono não diminuiu meu apetite.
Eu não respondi. Estava muito ocupado olhando.
— Achei que o mínimo que podia fazer depois que você
me deixou ficar com seu quarto na noite passada era preparar
um bom café da manhã.
Ela estava sendo mais do que graciosa, considerando que
eu tinha atacado sua boca e a mandado para a cama sozinha
na noite passada.
O cheiro de ovos, café e um toque de canela enchiam o
ar. E por alguma razão, em vez de me sentir culpado ou em
conflito esta manhã, continuei a me sentir muito excitado.
— Isso é incrível. Obrigado, — eu disse quando cheguei
ao lado dela.
Nesse momento, a campainha tocou.
Eu olhei em direção à porta. — Que diabos?
— Você está esperando alguém? — Ela perguntou.
— Não.
Quando eu abri, Birdie estava lá com uma mulher que
reconheci como a mãe de sua amiga. Minha filha não deveria
voltar até esta tarde.
— Ei! O que aconteceu?
Birdie olhou para mim. — Eu estou com conjuntivite.
— Sinto muito, Sr. Maxwell, — disse a mulher. — É
contagioso, então achei melhor trazê-la para casa.
Merda.
Renee percebeu a expressão exausta em meu rosto.
— Este é… um momento ruim? Tentei ligar primeiro, mas
seu celular foi direto para o correio de voz.
Isso porque carregar meu celular foi a última coisa em que
pensei quando fui para a cama ontem à noite.
Eu balancei a cabeça. — Não. Está tudo bem. Claro que
está tudo bem. Eu compreendo totalmente.
Enquanto eu dizia as palavras, meu corpo ainda estava
bloqueando fisicamente a porta.
Que diabos vou fazer? A última coisa que Birdie deveria
ver era uma Sadie seminua parada em nossa cozinha. Era
inapropriado em muitos níveis. Como eu explicaria para ela?
— Aparentemente, conjuntivite está circulando em sua
classe. Normalmente, só precisa de um colírio para melhorar.
Birdie disse que nem percebeu, certo, querida?
Minha filha encolheu os ombros. — Não dói nada.
Nesse momento, Marmaduke chegou a porta. Ele forçou
sua passagem por mim e praticamente derrubou Birdie no
degrau da frente.
— Ei, Marmaduke. Você estava com saudades de mim?
— Ela se abaixou e começou a acariciá-lo, embora ele fosse tão
alto quanto ela.
Renee sorriu. — Deixei meu marido sozinho com sete
meninas. Então é melhor eu voltar correndo.
— OK. Sim. Umm. Muito obrigado por trazê-la para casa.
Ela se virou para descer as escadas e eu olhei por cima
do ombro enquanto Birdie estava distraída com o cachorro.
Nenhum sinal de Sadie.
— Uh. Você sabe o quê, querida. Eu estava prestes a levar
Marmaduke para um passeio. Por que não pego a coleira e
vamos juntos. Vou ligar para o médico e marcar uma consulta
quando voltarmos.
— Ok, papai.
— Estarei de volta em um minuto. Você pode ficar aqui
enquanto pego a guia na cozinha.
Birdie riu e apontou. — Está bem ali, perto da sua cabeça,
papai.
Merda. Sim… a maldita guia estava pendurada bem no
gancho da chave no vestíbulo ao lado da porta da frente, não
estava?
Birdie se levantou e limpou os joelhos. — Vou colocar
meu travesseiro e saco de dormir no meu quarto.
— Não! Não faça isso.
Seu rostinho franziu. — Por que não posso colocá-los no
meu quarto?
— Umm. — Pense. Pense. Oh, sim! — Porque podem
conter algumas bactérias neles. De sua infecção ocular. — Eu
sorri encontrando essa desculpa. Embora minha filha me
olhasse de forma engraçada. Tipo… Por que diabos você está
sorrindo porque minha infecção no olho pode estar no meu
cobertor, seu esquisito? Mesmo assim, peguei o travesseiro e o
saco de dormir e os joguei atrás de mim, na sala de estar.
Então saí e fechei a porta da frente o mais rápido que
pude. — Pronta?
— Uh… Papai… você esqueceu a coleira? — Ela olhou
para baixo. — E seus sapatos!
Jesus Cristo. — Merda. OK… me dê um segundo. — Abri
a porta apenas o suficiente para enfiar o braço e pegar a guia
da parede e meus sapatos, e então a fechei novamente.
— Vamos.
Birdie desceu as escadas. Olhei por cima do ombro
algumas vezes, mas ainda não havia sinal de Sadie.
Esperançosamente, ela descobriria o que aconteceu e, pelo
menos, estaria vestida quando voltássemos.

*-*-*

Fiquei fora uma boa meia hora, levando Marmaduke para


uma longa caminhada, até que Birdie disse que precisava ir ao
banheiro. Voltando para casa, hesitantemente abri a porta da
frente. O saco de dormir e o travesseiro de Birdie estavam
exatamente onde eu os havia deixado. Olhando ao redor – a
casa parecia silenciosa. Enquanto Birdie corria para o
banheiro, dei uma espiada na cozinha. Nenhum sinal de
Sadie. Então fui até o quarto e o banheiro principal. Ambos
vazios. Voltando para a sala de estar, notei minha camisa
dobrada no meio da minha cama – a que ela usava esta manhã,
a que usara para dormir na noite passada.
Ela partiu. Soltei um suspiro de alívio e meus ombros
relaxaram. Embora eu estivesse feliz por proteger minha filha,
uma parte de mim se sentia uma merda por deixar Sadie partir
sem dizer nada. Especialmente depois do que aconteceu na
noite anterior. Ela merecia mais do que isso.
Então, depois de ligar para o médico de Birdie marcando
uma consulta para fazer um exame oftalmológico, deixei meu
telefone carregar por um tempo e decidi enviar uma mensagem
de texto para Sadie.
Sebastian: Desculpe pela saída abrupta. Birdie voltou
para casa mais cedo com conjuntivite. Vou leva-la ao
médico agora.
Poucos minutos depois, meu telefone apitou com uma
resposta.
Sadie: Sem problemas. Eu entendo completamente.
Boa sorte no médico!
Debati em abordar o que havia acontecido entre nós
ontem à noite, mas o que diabos eu diria?
Obrigado por deixar minha bunda bêbada moer contra
você.
Não quero tomar banho para manter seu cheiro em mim.
Imaginando que às vezes é melhor deixar quieto, digitei
algo inócuo.
Sebastian: Obrigado. Falamos em breve.
Então coloquei meu telefone de volta no carregador.
Obriguei-me a tomar um banho rápido e me barbear
antes de me preparar para levar Birdie ao médico. Dentro do
meu armário, peguei a primeira camisa que minhas mãos
tocaram em um cabide, em seguida, fui até a cômoda pegar
uma camiseta de baixo. Mas a camisa dobrada na cama
chamou minha atenção novamente.
Eu não devia.
Isso era fodido.
Olhando para a porta do meu quarto fechada, parei a um
metro e meio de distância, olhando para a maldita coisa como
se eu chegasse muito perto, ela poderia me morder.
Mas a maldita coisa me provocou, mesmo à distância.
Toque-me.
Cheire-me.
Vista-me.
Só uma vez não vai doer.
Tentei ignorar, mas comecei a debater comigo mesmo.
Eu provavelmente deveria cheirá-la uma vez. Verificar se
precisa ser lavada.
Sim... isso é o que devo fazer.
É claro que isso fazia sentido.
Uma cheirada.
Apenas uma cheirada.
Fui até a cama, peguei a camisa e a trouxe ao
nariz. Inspirando profundamente, o cheiro de Sadie permeou
meus sentidos. Cheirava exatamente como ela.
Porra.
Foda-me.
Eu inalei uma segunda vez.
Embora devesse ter me ouvido… Apenas uma cheirada…
porque na segunda vez… Birdie invadiu a porta, me pegando
em flagrante com o rosto enterrado na camisa.
Suas sobrancelhas franziram. — O que você está fazendo,
papai?
— Eu… uh. Eu só estava me certificando de que minha
camisa está limpa.
Ela deu uma risadinha. — Está?
— Umm. Sim. Eu acho. — Eu fiquei lá olhando para ela.
— Você está se sentindo bem, papai? Você está agindo
muito estranho hoje.
— Sim. Estou bem, querida. Desculpe.
— Vamos. — Ela estendeu sua mão. — É hora de ir ao
médico.
— OK… deixe-me pegar uma camisa.
— O que há de errado com essa?
— Está suja.
Ela riu. — Você acabou de dizer que está limpa.
— Oh. Sim… está limpa. É que… tem uma mancha. —
Amassei a camisa em minha mão e a joguei na cama, pegando
a que tirei do armário. — Vou usar esta.
Mais tarde, naquela noite, fiquei contente quando Birdie
disse que estava cansada e que dormiria cedo. Nós dois
estávamos dizimados por nossas festas do pijama na noite
passada. Eu realmente precisava relaxar e estava ansioso para
entrar no meu quarto, colocar meus pés para cima e assistir
um pouco de TV, talvez. Mas depois de passar pelos canais e
não encontrar nada, decidi que o que realmente precisava para
relaxar era mais do que um programa idiota. Eu precisava
gozar.
Então me levantei, tranquei a porta do meu quarto e abri
a gaveta da mesa, onde escondia a loção. Só quando fui pegá-
la, notei um pedaço de papel dobrado em cima do frasco. Sem
pensar, o peguei e desdobrei.
Caro Sebastian,
Eu me diverti muito ontem à noite. Se você estiver
procurando na gaveta o que está embaixo deste bilhete, espero
que pense em mim quando usá-lo.
Deus sabe que pensei em você enquanto cuidava de mim
ontem à noite em sua cama.
Amor, Sadie
PS: Talvez você deva lavar os lençóis. ;)
CAPÍTULO 18

SADIE

Falamos em breve.
Isso era o que dizia seu último texto. Mas,
aparentemente, tínhamos definições diferentes de breve.
Cinco dias e ainda sem contato.
Como se tivesse sofrido uma perda, passei pelos estágios
de luto. No começo estava em negação sobre Sebastian não
entrar em contato comigo novamente. Verifiquei meu telefone
a cada vinte minutos, embora tivesse deixado no volume
máximo e meu toque também configurado para vibrar... você
sabe, apenas no caso de ele me enviar uma mensagem ou ligar
quando eu estivesse dormindo ou algo assim. Eu sabia que
Sebastian e eu procurávamos coisas diferentes, mas até
mesmo uma conexão merecia uma conversa gratuita depois do
fato.
Depois dos primeiros dias de silêncio, comecei a ficar com
raiva. Como ele ousa não telefonar ou enviar mensagem depois
daquela noite? Eu sabia que tinha iniciado as coisas, mas ele
foi mais do que um participante voluntário. A ereção
cutucando meu quadril era uma prova positiva disso.
Então, no sexto dia, o contato finalmente aconteceu. O
número de Sebastian apareceu no meu celular, e fiquei tão
animada que o peguei nas mãos e o derrubei no chão – o que
resultou na quebra da tela. Mas ei… pelo menos ele finalmente
ligou.
Só que a voz do outro lado quando atendi não era de
Sebastian. Era de Magdalene. Ela ligou para combinar minha
próxima sessão de adestramento porque Birdie estava
perguntando quando eu apareceria. Aparentemente, o homem
da casa estava ocupado demais para ligar por si só.
Depois disso, passei pelos próximos estágios… aqueles
que deveriam vir após a negação e a raiva. Acho que são
barganha, depressão e aceitação. Mas não tenho certeza,
porque, a quem estou enganando? Não fui para qualquer
próximo estágio. Bem, a menos que ainda mais irritada fosse a
etapa após a raiva.
Agora, aqui estava eu, sábado de manhã, em frente à casa
de pedra dos Maxwell, pronta para tomar uma grande atitude
ao bater para o meu adestramento semanal.
Exceto quando a porta abriu, não era Sebastian.
Ou Birdie.
Ou mesmo Magdalene.
Era uma mulher de roupão de banho com o cabelo
enrolado em uma toalha.
Ela sorriu para mim e estendeu a mão. — Você deve ser
Sadie. Sou Macie. Seb me disse que você estaria aqui às onze,
mas parece que perdi a noção do tempo no chuveiro. A pressão
da água dele é incrível.
Seb? Chuveiro? Eu senti como se tivesse levado um chute
no estômago. Toda a minha raiva subitamente desapareceu e
pulei o estágio três e fui direto para o estágio quatro:
depressão.
— Uh. Oi.
A mulher escancarou a porta. — Entre. Sinta-se em casa
enquanto corro e visto algumas roupas.
Eu balancei a cabeça e a segui para dentro, embora tudo
que quisesse fazer era me virar e sair. A mulher seguiu pelo
corredor… em direção ao quarto de Sebastian. Em estado de
choque, fiquei ali olhando para a porta fechada e não consegui
me mover até que ela saiu.
— Pronto, assim está melhor. — Ela saiu usando jeans
justo com uma camiseta e tirou a toalha de seu cabelo. Longas
mechas vermelhas caíam em cascata ao redor de seu lindo
rosto.
— Birdie e Magdalene devem voltar a qualquer segundo.
Pisquei algumas vezes, percebendo que nem tinha notado
que elas não estavam aqui. — Oh. OK. Você está… hospedada
aqui?
— Só até amanhã. Eu não tinha planejado vir. Mas foi
uma surpresa tão boa quando Seb ligou e me convidou que
simplesmente não pude dizer não. — Ela sorriu. —
Normalmente sou eu quem me empurro sobre ele.
O ciúme pulsou em minhas veias e cerrei os dentes. Esta
mulher obviamente não tinha ideia de que, apenas uma
semana atrás, eu estava dormindo exatamente no mesmo
quarto em que ela tinha acabado de se vestir. Eu não pude me
impedir de deixá-la saber desse pequeno fato.
— Espero que ele tenha lavado os lençóis antes de vocês
dois... — Fiz um gesto com a mão em direção ao quarto de
Sebastian. — Antes de vocês dois fazerem o que quer que
tenham feito. Porque minha bunda nua esteve sobre eles
menos de uma semana atrás.
As sobrancelhas da mulher franziram. Ela começou a
dizer algo quando a porta da frente se abriu. Birdie e
Marmaduke entraram correndo, fazendo uma confusão
gigante. Magdalene entrou alguns segundos depois, sem
fôlego. Ela sorriu. — Eles correram o último quarteirão. Não
sou páreo para uma criança de dez anos e um corredor de
quatro patas.
A ruiva da cama de Sebastian se aproximou e ajudou
Birdie com o casaco. Assim que saiu de seus ombros, ela
correu para me abraçar. Eu me senti um pouco vingada. Pelo
menos Birdie gostava mais de mim.
— Sadie, podemos trabalhar em rolar hoje?
— Claro. O que você quiser.
— A tia Macie pode ajudar?
Minha sobrancelha franziu. — Quem?
— Tia Macie.
Uma sensação de pavor tomou conta de mim. A ruiva se
aproximou e colocou as mãos nos ombros de Birdie, olhando
para ela. — Eu não tive a chance de explicar quem eu era
ainda, querida. — A mulher olhou para mim. — Como minha
sobrinha disse, eu sou tia dela.
Eu fechei meus olhos. Deus, isso não pode estar
acontecendo. Por favor, diga que ela é irmã de Sebastian. Isso é
o mínimo que você pode me dar, aqui.
Engolindo, abri meus olhos. — Irmã de Sebastian?
A mulher balançou a cabeça de um lado para o outro. —
Não. Da esposa dele.

*-*-*

Eu queria rastejar para um buraco.


Depois que minha sessão de treinamento com Birdie
terminou, Magdalene disse que a ia levá-la para brincar na
casa de uma amiga. Achei que deveria escapar com elas,
mesmo sabendo que devia desculpas à Macie. Mas,
aparentemente, não me safaria assim tão fácil.
— Sadie... Você tem um minuto?
Droga... Eu estava tão perto da porta. Suspirei e balancei
a cabeça, depois me inclinei para dar um abraço de despedida
em Birdie e disse à Magdalene que a veria na próxima semana.
Quando a porta se fechou, respirei fundo e me virei para
encarar Macie.
— Eu sinto muito por mais cedo.
Ela sorriu calorosamente. — Você gostaria de uma xícara
de chá ou talvez um pouco de café?
— É muito cedo para vinho?
Macie riu. — Uma garota das minhas. Venha, vamos
invadir o armário de bebidas de Sebastian. Tenho certeza de
que ele tem alguns Baileys com os quais podemos incrementar
nossos cafés.
Eu estava brincando, mas aparentemente Macie não
estava. Ela entrou no escritório de Sebastian, pegou uma
garrafa e então se dirigiu para a cozinha para fazer dois cafés
e acrescentou o licor cremoso.
De volta à sala de estar, nos sentamos no sofá.
— Estou mortificada pelo que disse. — Eu balancei a
cabeça. — Honestamente não sei o que deu em
mim. Obviamente, não sabia que você era cunhada dele.
Simplesmente te vi entrando no quarto dele para se trocar, e
você disse que normalmente é você que se empurra sobre ele
e... Eu só... Eu sinto muito.
Ela me dispensou. — Nada demais. Entendi. Se eu
estivesse no seu lugar, provavelmente teria feito a mesma
coisa. Talvez pior. Certa vez, peguei meu ex-namorado me
traindo e arranquei seus cabelos.
Eu ri, mas ainda me sentia nervosa. — Obrigada.
Macie deu um gole no café. — Então... há quanto tempo
vocês dois estão se vendo?
Eu balancei minha cabeça. — Nós não estamos. Bem, na
verdade não. Nós apenas... Na outra noite nós... E depois...
Macie ergueu a mão. — Nenhuma explicação necessária.
Meu cunhado é um homem complicado. Sinto muita falta da
minha irmã e sei que ela e Sebastian se amavam. Mas sei que
ela gostaria que ele seguisse em frente. Ele está sofrendo por
muito tempo. Não pude deixar de notar que você e Birdie
realmente parecem ter um vínculo forte.
Eu sorri. — Sim, acho que sim. Perdi minha mãe quando
era pequena, mais ou menos na idade dela. Então sinto que
posso me entender muito do que ela está passando... as coisas
simples... não ter uma mulher para ir comprar roupas com ela,
arrumar seu cabelo, apenas ter aqueles momentos que uma
menina e sua mãe têm.
Macie franziu a testa. — Eu deveria ter vindo com mais
frequência nos últimos anos.
— Oh meu Deus. Eu sinto muito. Não quis dizer que ela
não tinha você. — Senti meu rosto corar de vergonha. — Eu
continuo trocando os pés pelas mãos com você hoje.
Ela sorriu tristemente. — Está tudo bem. Só me sinto mal
porque você está cem por cento certa. Às vezes dói ouvir a
verdade, mas não é sua culpa. Minha sobrinha está perdendo
esses momentos com a mãe e deveria ter um modelo feminino.
— Seus olhos procuraram meu rosto. — Eu vi isso em você
hoje. Ela te respeita.
— Ela é uma ótima garota.
Macie pegou meu olhar. — Ela é. E acho que você gosta
do pai dela?
Parecia muito estranho ter essa conversa com a irmã de
sua falecida esposa, mas ela estava sendo muito legal depois
que fui uma idiota total. Então, fui honesta. Eu assenti. — Ele
é um cara muito bom e um pai especial.
— Posso te dar um conselho?
— Claro.
— Se você acha que há algo lá... não fique nervosa em
pressionar um pouco. Muitos homens têm medo de
compromisso, mas Sebastian não é um deles. Ele é o tipo de
cara para o melhor ou para o pior. Infelizmente, a vida lhe deu
alguns piores do que melhores recentemente. O problema com
ele é que suas decisões não o afetam apenas, obviamente. E
ele tem medo de tomar decisões que possam prejudicar sua
filha.
Eu sorri. — Eu pressionei um pouco na semana
passada. E enquanto avançamos naquele momento, ele parece
ter dado quatro passos para longe de mim depois que
aconteceu.
— Então, se ele deu quatro para trás... você dá dois para
frente e o faz dar dois para frente. Vocês dois já foram a um
encontro? — Eu balancei a cabeça.
— Tente começar por aí. Passos de bebê.
Suspirei. — Eu não sei.
Macie deu um tapinha na minha mão. — Você vai
descobrir. Nesse ínterim, obrigada por estar ao lado da minha
sobrinha.
— O prazer é meu.
Terminamos nossos cafés e então Macie me acompanhou
até a porta.
— Oh. Mais uma coisa… amanhã vou levar Birdie para
um brunch e uma peça na cidade. É uma surpresa, mas vamos
assistir O Rei Leão. Apenas nós duas.
Eu sorri. — Isso é ótimo. Tenho certeza que ela vai adorar.
— Sim. Sairemos por volta das dez. Não estaremos de
volta até pelo menos sete. Sebastian entra no restaurante por
volta das três aos domingos. Portanto, ele estará em casa
sozinho das dez às três. — Ela piscou. — Achei que talvez você
quisesse saber disso.

*-*-*

Na manhã seguinte, repassei minha conversa com Macie


uma e outra vez. Talvez ela estivesse certa. Em retrospecto,
meu pai poderia ter precisado de um pequeno empurrão. Ele
passou muitos anos se preocupando em fazer a coisa certa por
mim e se sentindo culpado por seguir em frente. Eu gostaria
que uma mulher que se preocupasse com ele o tivesse
pressionado um pouco para encontrar felicidade para si
mesmo.
Então respirei fundo e peguei meu telefone. Sem permitir
nenhum debate adicional, enviei uma mensagem de texto e
imediatamente apertei ‘Enviar’. Exceto que na minha pressa de
mandar a mensagem antes de mudar de ideia, não tinha
percebido o erro de digitação.
O que eu pretendia digitar era:
Sadie: Ei. Você está livre? Eu queria saber se você
poderia me encontrar esta manhã.
Mas o que eu realmente digitei foi:
Sadie: Ei. Você está livre? Eu queria saber se você
poderia me comer10 esta manhã?
Fechei meus olhos e balancei a cabeça. Eu observei a
mensagem ir de Enviado para Entregue para Lido e comecei a
rir alto. Eu estive tão mal-humorada esta semana que era bom

10 Autora usou as palavras ‘meet’, encontrar. E ‘eat’, comer.


não me levar tão a sério. Os pequenos pontos começaram a
pular e então pararam, então começaram a pular
novamente. Eu imaginei como estaria a expressão de
Sebastian depois de ler esse texto, e isso me divertiu
muito. Enquanto esperava para ver como ele responderia, o
ridículo da semana passada simplesmente me atingiu e eu
gargalhei como uma louca.
Embora minha risada tenha parado abruptamente ao ver
a resposta aparecer na minha tela. Meus olhos quase saltaram
da minha cabeça, e tive que piscar duas vezes para ler o texto
uma segunda vez.
Sebastian: Esteja aqui às onze.
Oh. Meu. Deus. Do caralho.
Acabei de me convidar para sexo oral e ele aceitou?
Eu acho que sim.
É possível que ele tenha lido meu texto como
originalmente pretendido e não como foi entregue com o erro
de digitação?
Eu reli a breve troca mais uma vez.
Sadie: Ei. Você está livre? Eu queria saber se você
poderia me comer esta manhã?
Sebastian: Esteja aqui às onze.
Parecia muito claro para mim.
No entanto, que diabos eu faria agora?
CAPÍTULO 19

SEBASTIAN

Eu continuei olhando para o texto. Ela não quis dizer


comer, quis? Eu ri do fato de que realmente não sabia. Depois
daquele pequeno bilhete que ela deixou ao lado da minha
cama, eu honestamente não tinha certeza se Sadie estava
sendo sexualmente direta ou não. Eu também não conseguia
decidir se queria que ela quisesse dizer ‘comer’. O que eu tinha
certeza? A ideia de comê-la me deixou duro como o inferno.
A campainha tocou assim que o relógio bateu onze. Fui
até a porta para cumprimentá-la, sentindo-me um tanto tenso,
especialmente devido aos pensamentos que estavam rodando
em minha mente.
Sadie estava linda, usando um casaco de lã
branco. Finalmente estava começando a parecer outono
agora. Suas bochechas estavam vermelhas de frio. Seu cabelo
estava solto em longos cachos suaves.
— Entre.
Antes que eu tivesse a chance de dizer qualquer coisa,
Sadie começou a falar – rápido.
Ela olhou para os próprios pés e depois para mim. — Eu,
uh, percebi que minha mensagem dizia ‘me comer’. Eu quis
dizer ‘me encontrar’. Eu não quero que você ache que eu quis
dizer me comer. Quero dizer… se você quiser fazer isso… Eu
não reclamaria, mas não quero que você pense que estou
sugerindo alguma coisa. Você sabe… voz estúpida de texto.
Não posso nem dizer em quantos problemas isso me meteu no
passado. Eu...
— Sadie, relaxe. Eu entendi. Eu tinha oitenta por cento
de certeza de que você queria dizer me encontre.
Ela soprou seu cabelo. — Oh ótimo. E os outros vinte por
cento?
— Bem, isso é mais ou menos o que eu gosto em você…
que poderia haver uma dúvida. Você tem tendências ousadas.
Você não tem medo de dizer o que quer. Teria sido um pedido
interessante.
Pensamentos de arrancar esse casaco, carregá-la para o
sofá, antes de abrir suas pernas e enterrar meu rosto entre
elas vieram à minha mente. Esse certamente não era o pior
pensamento do mundo agora. E se ela quisesse dizer ‘me
coma’? Deus sabe o que eu teria me permitido fazer agora.
Sair daqui um pouco seria uma boa ideia.
— Falando em comer, Sadie, é quase horário do
almoço. Você gosta de italiano?
Ela sorriu. — Acontece que adoro italiano.
— Que tal irmos ao meu restaurante? É raro eu realmente
poder apreciá-lo da perspectiva de um cliente. Normalmente,
vou lá aos domingos à tarde para trabalhar e fazer o inventário.
Podemos almoçar juntos primeiro?
Ela sorriu. — Isso parece incrível.
— Deixe-me pegar minha virilha, — eu disse.
Sua testa franziu. — Perdão?
— Eu quis dizer casaco. — Eu pisquei. — Deixe-me pegar
meu casaco. Eu só queria mostrar como é fácil trocar palavras.
A risada que ela soltou depois disso fez a piada arriscada
valer a pena.

*-*-*

Naquela tarde, no Bianco’s, meus funcionários estavam


seriamente interessados demais em minha convidada. Cada
vez que eu fazia contato visual com a recepcionista ou os
garçons, eles estavam olhando para nós, sorrindo.
Era verdade que desde o falecimento de Amanda meu
pessoal nunca me viu trazer ninguém além da minha filha ao
restaurante. Claro, assim que eles avistaram Sadie, cada um
deles tirou certa conclusão. Suponho que ainda não sabia se
as hipóteses estavam corretas. Eu estava namorando Sadie no
momento? Este era um encontro oficial? Eu não fazia
ideia. Com certeza parecia um namoro: a adrenalina, aquela
empolgação que você sente quando começa a sair com
alguém. Estava tudo lá. Supus que a única coisa que me
impedia de realmente experimentar todas essas coisas sem
qualquer hesitação era minha própria consciência.
Meu garçom, Lorenzo, voltou à mesa para anotar nossos
pedidos.
Seu sorriso bobo revelou totalmente o que ele estava
pensando.
Ele se virou para ela. — O que vai querer, senhorita?
Sadie fechou o menu. — Acho que vou experimentar
Birdie's Pasta Bolonhesa.
— Birdie vai gostar de saber que você escolheu isso. —
Eu sorri.
Lorenzo assentiu. — Escolha maravilhosa. — Ele olhou
para mim. — E você, Sr. Maxwell?
Deus, parecia surreal pedir no meu próprio restaurante.
— Sabe de uma coisa, Lorenzo? Comerei o mesmo.
Ele pegou os cardápios e saiu com o mesmo sorriso no
rosto. Ele se virou onde Sadie não podia vê-lo e me deu um
enorme polegar para cima. Eu sorri e balancei a cabeça. Talvez
trazer Sadie aqui tenha sido um erro. Todo mundo estava um
pouco animado demais com isso.
Sadie olhou em volta. — É tão lindo aqui. Você fez um
trabalho incrível com a decoração.
Tínhamos lareiras em vários cantos do restaurante.
Tijolos expostos e iluminação reduzida tornavam o ambiente
muito relaxante.
— Amanda teve muito a ver com a escolha da decoração.
Portanto, não posso receber todo o crédito por isso.
Você poderia aprender a não mencionar sua esposa morta
sempre que surgir a oportunidade?
— Bem, ela tinha um gosto notável.
Meus olhos vagaram pelo espaço. — Este lugar era nosso
outro bebê. Continuar a geri-lo tem sido um desafio, mas
também uma bênção. Foi a única coisa que realmente me
ajudou nos momentos mais difíceis.
— O trabalho pode ser bom, com certeza.
— Os restaurantes são empreendimentos arriscados,
especialmente nesta cidade, onde as boas refeições custam um
centavo a dúzia. Há muita competição. Você realmente tem
que descobrir uma maneira de quebrar o molde.
Os olhos de Sadie estavam maravilhados. — É incrível,
realmente. Eu acho que o amor e a paixão vão longe. Este lugar
prosperou porque começou com duas pessoas que se amavam
e se respeitavam, unindo suas mentes. Junte isso ao fato de
que a maioria das refeições são receitas tradicionais da sua
avó? Isso é mais do que apenas um restaurante. É história,
amor e espírito, tudo em um. Só sentada aqui, posso sentir
isso.
Sadie parecia estar prestes a chorar. Ela não estava
dizendo tudo isso apenas para me bajular. Ela realmente
queria dizer isso. Sua paixão era definitivamente notável.
— Eu sempre sinto isso, também, aqui. Estou feliz que
você reconheça.
Depois que nossa comida chegou, tivemos um almoço
fácil e agradável. Adicione vinho à mistura e provavelmente foi
uma boa ideia eu não ter planejado trabalhar muito esta tarde,
afinal. Não estávamos bêbados. Certamente nem perto do nível
que estávamos quando ela passou a noite. Eu
diria... ligeiramente tonto e feliz.
Depois do almoço, coloquei minha mão em suas costas
enquanto saíamos da mesa. Mesmo iniciar essa quantidade de
contato foi enorme para mim. Decidir fazer isso não parecia
uma luta. Parecia natural, quase um toque protetor para
afastar todos os olhares curiosos que estavam sobre
nós. Estava tentado a ficar sozinho com ela e de repente me
lembrei de algo que queria que ela visse antes de partirmos.
— Vamos. Quero te mostrar uma coisa, — eu disse.
Levando-a até o porão, usei minha chave para destrancar
a porta de nossa enorme adega.
Sua boca ficou aberta. — Uau, isso é como o paraíso.
— Sim. Tenho muito orgulho disso. Não é algo que os
clientes sabem que existe na maior parte do tempo. Embora
nossos convidados VIP frequentemente desçam e escolhem seu
vinho, mas não deixamos qualquer um descer até aqui.
— Parece algo que eu imaginaria na Europa.
— Bem, na verdade nós o construímos com pedra e tijolo
para imitar as adegas encontradas na Europa, então você não
está tão errada assim.
— Deve ter sido um projeto e tanto juntar tudo isso.
— Realmente foi. Você tem que se certificar de ter as
prateleiras certas para as garrafas e, claro, tem que estar na
temperatura certa para os vinhos, para mantê-los preservados.
Então, tivemos que instalar um sistema de regulação de
temperatura de última geração e um gerador de backup
também.
— Uau, muito em que pensar.
Seu olho estava em uma garrafa de cabernet.
— Você gostaria de escolher algo para levar para casa? —
Eu perguntei.
— Ah não. Isso não é necessário.
— Eu insisto.
Ela sorriu e começou a passar o dedo indicador ao longo
das garrafas enquanto seguia lentamente a parede do
porão. Eu a segui e não pude deixar de respirar seu perfume
incrível. Finalmente, ela se virou para mim.
— Já tomei minha decisão, — disse ela.
Ansioso para ver qual garrafa ela havia escolhido, esperei
por sua resposta.
Em vez de pegar uma das garrafas da prateleira, ela
colocou as mãos em volta do meu rosto e disse: — Eu escolho
isto.
Antes que eu percebesse, seus lábios estavam nos meus
e minha língua deslizou para dentro de sua boca quente.
Quaisquer outros pensamentos que eu tinha,
evaporaram. Tudo que eu conseguia pensar era em como era
bom beijá-la novamente.
Ela falou sobre meus lábios. — Eu quero te levar para
casa. Não uma garrafa de vinho.
Eu estava duro como uma rocha enquanto seus seios
macios pressionavam contra meu peito.
Certamente, eu não estava pensando com o meu cérebro
quando a agarrei pela mão e disse: — Vamos sair daqui.
Levando-a para fora, não tinha certeza de para onde
estávamos indo quando peguei o primeiro táxi que parou,
quase sendo atropelado no processo.
Quando o taxista perguntou nosso destino, apenas nos
olhamos. Ela deve ter visto a fome clara em meus olhos, porque
deu a ele o que presumi ser o seu endereço.
A viagem até o apartamento dela foi um borrão, uma
mistura de estar em uma névoa luxuriosa com continuar
questionando se eu estava fazendo a coisa certa ao ir para casa
com ela.
Depois de pagar o táxi, agarrei sua mão enquanto ela me
conduzia escada acima para seu apartamento. A porta mal se
abriu quando ela tirou o casaco e a bolsa caiu no chão quando
a puxei para perto de mim. Minha mente parecia quase fora do
meu corpo. Levantando-a, guiei suas pernas para envolver
minha cintura. Ela chupou meu pescoço e esfregou contra
meu pau ingurgitado.
Ainda estávamos de pé enquanto eu a carregava,
desesperado para encontrar o quarto.
— Primeira porta à esquerda, — ela murmurou em meu
ouvido.
Pareceu a caminhada mais longa da minha vida até
chegar lá.
Nunca estive tão faminto por alguém em toda a minha
vida. Levantando sua blusa sobre a cabeça, fiquei maravilhado
com seus seios cheios, mas empinados, saindo de seu sutiã de
renda lavanda. Abaixando minha cabeça, chupei sua pele, mas
precisava provar seu mamilo. Eu prontamente desabotoei seu
sutiã atrás e o deixei cair no chão.
— Porra, você tem seios lindos, — eu disse enquanto os
devorava um por um.
A cabeça de Sadie estava inclinada para trás em
êxtase. Eu não queria nada mais do que ver que barulho ela
faria se eu abaixasse minha boca ainda mais.
Sussurrei em seu ouvido: — Ainda quer que eu te coma
hoje?
Ela riu um pouco através de sua respiração pesada e
acenou com a cabeça. — Porra, sim.
Sadie caiu de costas na cama enquanto eu pairava sobre
ela. Eu trabalhei para tirar sua calça, depois sua
calcinha. Abrindo suas pernas, fiz o que sonhei o dia todo,
trazendo sua boceta para minha boca. Ela tinha um gosto doce
pra caralho. Eu não tinha feito isso com ninguém desde minha
esposa. Eu tinha aderido ao sexo baunilha rápido com
camisinha. Mas sentir a carne quente de Sadie contra minha
língua, saboreá-la e consumir sua excitação foi a coisa mais
íntima que fiz com alguém desde que conseguia me lembrar.
Ela gemeu quando passei minha língua sobre seu clitóris,
circulando e chupando a carne sensível. Suas mãos correram
pelo meu cabelo enquanto eu trabalhava meu rosto horas
extras para agradá-la. Meu pau estava tão duro que pensei que
poderia gozar em minhas calças antes mesmo de terminar.
Sadie empinou seus quadris para encontrar minhas
estocadas não tão gentis. Eu sabia que ela estava perto de
gozar e precisava tomar uma decisão se a deixaria gozar na
minha cara ou se me juntaria à diversão.
Quando parecia que ela estava perto, me afastei de
repente. — Você quer gozar na minha boca ou comigo dentro
de você?
— Eu quero você dentro de mim, — ela ofegou.
Essas palavras eram claras como o dia e tudo que eu
precisava ouvir.
Ainda bem que sempre andava com camisinha na
carteira. Eu podia dizer honestamente que nunca tive que usar
uma de forma tão inesperada antes. Alcançando meu bolso de
trás, tirei o preservativo e rasguei com os dentes, desesperado
para estar dentro dela. Baixei minhas calças, fazendo com que
meu pau ereto saltasse para frente. A ponta estava totalmente
coberta de pré-sêmen. Os olhos de Sadie estavam fixos no meu
pau, e quando ela molhou os lábios, não consegui me
embainhar rápido o suficiente.
Eu deveria ter sido mais gentil com ela, mas meu instinto
foi entrar nela com um movimento áspero. O som de prazer
que saiu dela quando empurrei profundamente até as bolas
dentro dela confirmou que ela queria dessa forma
também. Nunca me senti confortável o suficiente com ninguém
além de minha esposa para me perder completamente no
sexo. Não havia receio, nem hesitação da minha parte, apenas
necessidade crua.
— Sebastian... — ela sussurrou repetidamente. Cada vez
que Sadie dizia isso, eu empurrava com mais força, querendo
merecer até a última letra do meu nome.
— Foda-se, Sadie. Só... Porra... — Eu mal conseguia
falar, sentindo como se tivesse perdido totalmente a cabeça. —
Puxe meu cabelo com mais força... — falei, sem escrúpulos de
dizer o que queria. — Abra mais suas pernas...
Ela fez o que pedi e mexeu seus quadris ainda mais
rápido. Parecia que alguém gostava de receber ordens na cama
e fiquei feliz em dá-las.
— Diga-me quando estiver pronta, Sadie.
Alguns segundos depois, seu corpo estremeceu quando
ela agarrou minha bunda. — Estou gozando, — disse ela. Era
quase inaudível, mas eu ouvi.
Eu me soltei, empurrando tão profundamente dentro dela
enquanto esvaziava minha carga infinita no preservativo. Sua
mão ficou na minha bunda o tempo todo, guiando-me
enquanto eu gozava. Os sons que ela fez quando gozou era algo
que eu nunca esqueceria. Essa garota abalou totalmente meu
mundo em questão de minutos.
Quando desabei sobre ela, ofegamos quase em
sincronia. Foi realmente o sexo mais louco da minha vida. E
embora fosse completamente primitivo e cru, eu sabia que
parte da razão pela qual fui capaz de me soltar nesse nível foi
porque confiava nela. Foi diferente de tudo que experimentei
desde Amanda. E para ser honesto, diferente de tudo que
experimentei antes de Amanda. Mas não me permitiria pensar
na minha esposa agora, porque isso era um pouco fodido.
Demorou alguns minutos antes que eu pudesse suportar
sair de dentro. Se eu pudesse, teria ficado por muito mais
tempo. Mas não estava exatamente certo sobre a segurança de
fazer isso, considerando a enorme carga que despejei no
preservativo.
Depois de me desfazer dele, voltei até ela e coloquei minha
cabeça em seus seios nus. Eu podia sentir seu coração
batendo no meu ouvido a mil por hora. Essa foi a primeira
confirmação de que o que tinha acontecido entre nós era muito
mais do que apenas o melhor sexo da minha vida.
CAPÍTULO 20

SADIE

Eu não sabia o que era melhor, o que tinha acontecido


esta tarde ou a visão da bunda bronzeada e musculosa de
Sebastian quando ele se levantou da cama para colocar a calça
novamente. Ele se virou de lado apenas o suficiente para eu ter
um vislumbre de seu pênis ereto balançando para cima e para
baixo antes de desaparecer em sua cueca boxer. Droga. Seu
corpo era literalmente perfeito. Suas pernas eram tonificadas,
sua pele bronzeada e seu abdômen parecia esculpido em
pedra. Eu não acreditava que tinha acabado de transar com
ele. Eu não podia acreditar que tínhamos resistido fazer isso
de novo. Mas ele só tinha um preservativo, e embora eu
estivesse tomando pílula e ter mencionado isso, a ideia de
transar sem um não parecia uma opção para
Sebastian. Então, em vez disso, baixei a cabeça e o coloquei na
boca até que ele gozou pela minha garganta. Os sons guturais
que ele fez enquanto eu o chupava eram além de sexy. Era o
mínimo que eu podia fazer, considerando que o excitei
esfregando minha umidade contra sua perna. Sem mencionar
o incrível sexo oral que ele me deu antes.
— Você é um homem lindo, — não pude deixar de dizer
enquanto continuava a observá-lo se vestir.
Ele sorriu de volta para mim enquanto jogava a camisa
sobre a cabeça.
Depois que terminou de se vestir, ele rastejou de volta
para a cama e me encarou enquanto eu permanecia nua sob
as cobertas.
Ele se inclinou e beijou meu nariz. — Preciso chegar em
casa antes que Birdie volte.
Olhei para o relógio e não pude deixar de notar que, na
verdade, era um pouco cedo para ele ter que sair. Ela não
estaria em casa antes das sete. Eu esperava que ele quisesse
ficar um pouco mais. Mas não ia parecer pegajosa, porque isso
não era muito atraente. Sebastian não parecia o tipo de
homem que apreciaria isso, especialmente porque já tinha
uma garotinha para cuidar; ele não precisava de outra.
Então, coloquei minha carência e vulnerabilidade de lado
e disse: — Sim, é melhor você voltar.
Ele se levantou da cama. Eu me levantei, pegando meu
robe para me cobrir. Mas não antes de pegar Sebastian me
comendo com os olhos cada segundo que minha carne esteve
exposta. Qualquer que fosse a hesitação que ele estava
experimentando agora, não acho que tinha algo a ver com a
falta de compatibilidade física comigo.
Ele ficou olhando para mim por um momento, como se
não tivesse certeza do que dizer.
— Falaremos em breve, ok?
Inclinei-me para dar um beijo casto em seus lábios, então
respondi: — Sim.
Depois que ele saiu, estaria mentindo se dissesse que não
me senti um pouco vazia. Nós tínhamos ido do sexo mais
incrível que já tive para esta estranha sensação de desapego.
O que era esquisito, porque me senti extremamente conectada
com ele o dia todo, não apenas sexualmente, mas em todos os
sentidos. No entanto, o fato de fazermos sexo pareceu mudar
alguma coisa.
Como se alguém no andar de cima soubesse que eu
precisava de apoio, Devin me enviou uma mensagem enquanto
estava ruminando.
Devin: Super entediada e o cara saiu com os amigos.
Quer companhia?
Sadie: Sim... mas não traga vinho. Já tive minha cota
por hoje.
Devin: Fale por você! Mais para mim.
Sadie: LOL. Ok. Vejo você em breve.
Ela bateu em seu ritmo otimista de costume. Quando
abri, Devin olhou para meu rosto, então para baixo em meu
pescoço. — O que diabos aconteceu com você? Ou devo
dizer... quem?
— Do que você está falando?
Admito, eu não iria necessariamente lhe contar sobre
Sebastian. Eu não tinha decidido totalmente se isso era uma
boa ideia, independentemente do quanto queria conversar
sobre isso. Então me perguntei como ela podia ter tanta
certeza de que algo havia acontecido.
Tentei bancar a idiota. — Do que você está falando?
— Você já se olhou no espelho? Você tem hematomas no
pescoço e no peito.
Corri para o espelho do corredor. Merda. Sebastian tinha
me dado vários chupões.
— Diga. O que aconteceu?
Ela descobriu antes que eu tivesse a chance de confessar.
— Oh, meu Deus. Oh. Meu. Deus. — Ela balançou a
cabeça. — Foi Sebastian Maxwell, não foi?
Quando continuei sem dizer nada, foi tudo menos uma
admissão.
— Puta merda. — Ela colocou o vinho no balcão e
começou a abri-lo. — Vou pegar uma taça para isso, e então
você vai me contar tudo.
Depois, nós nos sentamos na sala de estar e contei à
Devin tudo o que tinha acontecido hoje, enquanto poupava
alguns dos detalhes mais íntimos (por mais que ela os
quisesse e apreciasse). Então contei a ela que dormimos
juntos, mas mantive os detalhes para mim.
— Puta merda. Eu não posso acreditar. Por que você não
parece feliz? Essa é, tipo, a melhor coisa que já aconteceu para
nós.
Nós?
Eu fiz uma careta. — Realmente foi. A melhor coisa de
todas. Ninguém nunca me fez sentir como ele.
Tirando sua própria conclusão da minha expressão, ela
acrescentou: — Mas...
— Mas algo que não consigo entender mudou antes de ele
ir embora. Acho que o que aconteceu realmente o atingiu.
— O que você quer dizer... como o fato de que ele te fodeu?
— Não é a primeira vez que ele faz sexo desde que sua
esposa morreu. Mas tenho a impressão de que foi a primeira
vez com alguém por quem ele pode ter sentimentos. Acho que
talvez ele tenha começado a se sentir culpado ou talvez tenha
se arrependido. Não tenho certeza.
Ela suspirou. — Claro que não pode ser simples, certo?
— Não. E, neste caso, eu não esperava que fosse. Para ser
honesta, ainda estou realmente um pouco chocada com o que
aconteceu. Então, posso imaginar como ele se sente, todas as
emoções que pode estar passando quando a realidade do que
fizemos o atingiu. Eu só espero que ele esteja bem.
Ela girou seu vinho na taça e balançou a cabeça. — Uau.
— O quê?
— A maioria das mulheres se sentiria negligenciada no
seu lugar. Mas você está realmente pensando nos sentimentos
dele? Você realmente se importa com ele, não é?
Eu nem mesmo tive que pensar sobre isso. — Sim. Sim,
realmente me importo, e isso está me assustando porque tenho
uma chance muito real de me machucar por causa disso.

*-*-*

Pela forma como nossas mensagens eram lidas, qualquer


pessoa que pegasse meu telefone poderia achar que esse
homem era meu irmão. Suspirei e reli nossas mensagens dos
últimos dias.
No final da noite de domingo, depois que Devin partiu,
houve:
Sebastian: Ei. Desculpe por sair correndo esta tarde.
Tive momentos muito agradáveis.
Agradável?
Essa não seria a palavra que eu usaria para descrever
sexo arrepiante. Fenomenal? Surpreendente? Incrível?
‘Agradável’… era mais como algo que sua tia-avó diria.
Obrigada por passar pela casa de saúde hoje, Sadie. Foi muito
agradável vê-la.
No entanto... Segui seu exemplo e respondi.
Sadie: Não se preocupe! Tive momentos agradáveis,
também.
Então, na noite de segunda-feira, eu simplesmente não
conseguia parar de me perguntar o que estava acontecendo na
cabeça de Sebastian. Portanto, decidi que desta vez era minha
vez de iniciar o contato. Achei que seria
engraçado. Então digitei:
Sadie: Ei. Como está sua cama11?
Os pontos se moveram um pouco, pararam e começaram
de novo.
Eventualmente, ele respondeu.
Sebastian: Ocupado. E o seu?
Fiquei desapontada que ele não mordeu a isca com meu
erro de digitação intencional, mas respondi:
Sadie: Ótimo!

11 Aqui a personagem fez a troca de palavras. Usou lay, mas o correto seria day
(Como foi seu dia?).
Terça e quarta-feira, não tivemos interação, então ontem
a noite fiquei esperançosa quando meu telefone vibrou com a
chegada de uma mensagem:
Sebastian: Você está ocupada no sábado à noite?
Imanginei... jantar... um filme... sexo talvez?
Sadie: Estou livre depois das sete!
Mas meu coração afundou ao ler sua resposta.
Sebastian: acho que podemos fazer uma seção de
adestramento às 19:30 h ou 20:00 h? Birdie está me
incomodando. Aparentemente, ela ensinou um novo
truque a Duke e mal pode esperar para mostrar a você. Ela
nem quer me mostrar primeiro.
Sorri pelo entusiasmo de Birdie. Porém, novamente,
fiquei desapontada porque o texto não mencionava nada sobre
nós dois. Mesmo assim, não disse nada. Em vez disso,
respondi:
Sadie: Isso parece bom. Mal posso esperar!
Meia hora depois, ainda me irritava quão inócuas nossas
mensagens tinham sido. Então decidi ver se talvez eu podia
irritá-lo. Foi idiota, uma reação repentina aos meus
sentimentos feridos, e me arrependi logo depois de apertar
‘Enviar’.
Sadie: Pode ser mais perto das 20:00 h, mas vou logo
depois de uma... coisinha do trabalho.
Mastiguei minha unha, esperando para ver como ele
responderia. Ele sabia que tipo de trabalho eu costumava fazer
depois do horário comercial. Desta vez, tinha uma combinação
de happy hour e seis minutos de encontro com um
amigo. Depois de tudo o que aconteceu entre Sebastian e eu
nas últimas duas semanas, a verdade é que me sentia estranha
em ir. Oito encontros de seis minutos com homens
consumindo grandes quantidades de álcool não soavam
atraente, mesmo se eu não tivesse conhecido Sebastian
Maxwell. Mas me inscrevi há dois meses porque a parte com
um amigo me intrigou, e achei que seria um artigo divertido.
Nos encontros rápidos regulares, você passava de cinco a dez
minutos conversando com um estranho e depois passava para
o próximo. No final de uma sessão de seis ou oito mini
encontros diferentes, você anotava se estava interessada em
um encontro real com qualquer um dos homens. Se eles
também escrevessem seu nome, então suas informações de
contato eram fornecidas a cada um de vocês pelo anfitrião. Era
tudo real neste evento também. Só o evento de amanhã à noite
teve uma reviravolta. Tanto o homem quanto a mulher que
buscavam os encontros levariam um amigo, e eram os amigos
que falariam nos encontros de seis minutos. Cada um deles
faria perguntas sobre o possível encontro ao amigo do encontro
em potencial. Parecia meio maluco, mas eu sabia que levar
Devin o tornaria interessante. Além disso, meses atrás, não
fazia ideia que os Maxwell estariam na minha vida. O que
era muito surreal de se pensar agora, já que eu sentia que os
conhecia há muito mais tempo.
Observei meu telefone enquanto meu texto ia
de Enviado para Entregue para Lido. Os pontinhos começaram
a pular e prendi a respiração, esperando para ver a resposta
de Sebastian.
Sebastian: Coisinha de trabalho?
Eu sorri para mim mesma. Eu chamei sua atenção, mas
quando comecei a digitar de volta, fiquei nervosa. Por quê? Eu
não sabia. Não era como se estivéssemos em um
relacionamento exclusivo ou algo assim. Embora para mim, as
coisas com Sebastian não fossem exatamente casuais
também. Eu me arrependi de ter cutucado o urso, mesmo
depois de ter conseguido exatamente o que estava
procurando. Como eu me sentiria se Sebastian me dissesse
que tinha um encontro? Ugh. Eu precisava recuar um pouco…
rebobinar e colocar Jack de volta na caixa.
Sadie: Sim. Apenas algumas pesquisas para um artigo.
Mas Sebastian não caiu nessa.
Sebastian: Um encontro?
Bem, tecnicamente eu teria oito encontros. Embora não
achasse que precisava esclarecer esse pequeno ponto no
momento.
Sadie: Tecnicamente, sim. Embora não seja
realmente. Apenas um novo tipo de encontro rápido para
um próximo artigo.
Eu me preparei, esperando pela resposta. Apesar de
estarmos trocando mensagens de texto no estilo bate e volta,
de repente Sebastian silenciou. Passaram-se dez minutos
inteiros antes que meu telefone tocasse novamente. E quando
isso aconteceu, meu coração parou enquanto eu lia suas
palavras:
Sebastian: Divirta-se.
— Então. O que Tyler faz para viver? — Devin disse,
tomando seu segundo Cosmo.
Ethan, amigo de Tyler, respondeu. — Ele é um piloto. Faz
viagens longas entre aqui e Sydney.
— Uau. É um trabalho legal. Tyler consegue descontos
para amigos e família? Nesse caso, posso estar disposta a
contornar as regras e dar-lhe o número de Sadie agora.
Todos nós rimos. Era nosso quinto encontro da noite, e
Devin tinha realmente entrado em seu papel de vetar possíveis
encontros. Embora a diversão da noite não tivesse nada a ver
com nenhum dos homens, porque vamos encarar os fatos, eu
não tinha interesse em nenhum deles. A diversão era a merda
bizarra que saia da boca de Devin. Talvez se eu estivesse mais
interessada na noite, teria notado como Tyler era fofo.
— Seu amigo tem algum apelido? — Devin perguntou.
Tyler lançou a Ethan um olhar de advertência ameaçador.
— Ah, não, você não, — ela disse. — Desembucha. Agora
precisamos saber.
Ethan sorriu. — O apelido dele é Tink.
— Tink? Como em Tinker Bell12?
Ethan balançou a cabeça. — Não, Tink, porque a primeira
vez que ele ficou bêbado, nós tínhamos cerca de treze anos, e
ele ficou tão bêbado que molhou a cama depois de desmaiar.
Todos nós rimos enquanto Tyler socava o braço do amigo.
— Você deveria estar me ajudando a conseguir um encontro,
não as assustando, idiota.

12 Nome da Fada Sininho.


— Que programa seu amigo assiste que ele não gostaria
que você me contasse?
O sorriso de Ethan cresceu novamente. Tyler apenas
fechou os olhos. Isso seria bom.
— Ele assiste aquele programa Algo e os inquietos.
Meus olhos se arregalaram. — Os jovens e os inquietos. A
novela? — Ethan desatou a rir. — Tínhamos um colega de
quarto na faculdade que assistia. Tyler aqui estava loucamente
apaixonado, mas ela tinha um namorado. Ele começou a
assistir apenas para passar um tempo com ela. No Natal, ele
até comprou ingressos para um daqueles encontros entre fãs,
onde você encontra uma celebridade em uma livraria.
— Aww, isso é tão doce, — disse Devin. — O que
aconteceu com ela?
Tyler gemeu e fingiu bater com a cabeça na mesa antes
de Ethan responder. — Ela ficou com o cara do show depois do
encontro. No dia seguinte, ela largou o namorado e começou a
sair com o ator. A última vez que soube, eles tinham dois
filhos.
— Oh meu Deus. — Eu ri. — Ele está brincando?
Pobre Tyler apenas balançou a cabeça. — Eu gostaria que
ele estivesse.
Seu sorriso era torto e modesto, mas adorável e
aparentemente genuíno. Eu sorri de volta e compartilhamos
uma conexão por um breve momento. Um minuto depois, o
anfitrião gritou que o tempo havia acabado e instruiu as
mulheres a moverem uma mesa para a direita. Tyler e eu
apertamos as mãos e ele chamou minha atenção.
— Foi muito bom compartilhar seis momentos
incrivelmente embaraçosos com você.
Eu ri. — Você também.
Arrastando-se para a próxima mesa, Devin bateu em seu
ombro com o meu.
— Ele era muito fofo. Espero que combinemos com ele.
Os próximos três encontros rápidos foram dolorosos. Um
cara arrastava as palavras, e os outros dois definitivamente
não entenderam o senso de humor de Devin. Fiquei
emocionada quando terminou. Devin pegou os cartões de
combinações que nos deram quando entramos.
— Eu voto em um, três e cinco, — disse ela.
— Eu não acho que o homem com quem você mora vai
ficar feliz com três encontros. Talvez você deva reduzir para
um.
Ela franziu o cenho. — Estou falando sério.
Suspirei. — Eu não quero sair com nenhum desses caras,
Dev.
— Eu sei querida. Mas você mesma disse que não sabia
onde estavam as coisas entre você e Sebastian. Então, por que
não dar a alguns desses caras uma chance? Pelo menos o
número cinco. Ele era adorável.
— Acho que não.
O anfitrião veio pegar o cartão onde eu deveria listar meus
encontros. Eu entreguei a ele.
— Você não preencheu ainda.
Eu sorri. — Sim, preenchi. Obrigada por uma noite
divertida.
Lá fora, abracei Devin me despedindo e agradecendo por
ela ter vindo comigo.
— Pelo menos posso escrever um bom artigo sobre
isso. Foi realmente divertido. A outra vez que fiz um encontro
rápido, foi muito estranho. Mas estar com sua amiga mantém
as coisas muito mais relaxadas.
— Não foi o fato de eu estar aqui que te fez relaxar. Você
não tinha intenção de sair com ninguém antes mesmo de pisar
no local. Portanto, não havia pressão sobre você.
Dei de ombros. — Talvez.
— Você sabe que fui Team Sebastian desde o primeiro dia.
— Eu sei. O que aconteceu? Você deixou de me encorajar
a ir atrás dele e passou a querer que eu saísse e namorasse.
Ela apertou meu braço. — Eu não quero que um coração
indisponível para te amar, te impeça de encontrar um que
esteja.
Eu fiz uma careta. — Eu não vou deixar isso
acontecer. Prometo.
Embora eu estivesse falando sério disse isso, o problema
era que me apaixonar não era algo sobre o qual eu realmente
tivesse controle.

*-*-*

— Posso tentar mais uma vez? — Birdie saltou para cima


e para baixo.
Olhei para Magdalene, que fora uma boa esportista a
noite toda, e ela assentiu. Birdie clicou duas vezes no botão e
gritou: — Fale! Marmaduke. Gib laut!
O cachorrinho crescido começou a latir sem parar. Hoje
à noite tínhamos começado a treiná-lo para latir sob comando.
Já que a campainha era algo que sempre o fazia latir, nós a
incorporamos ao treinamento. Magdalene saía e, quando
contava até dez, tocava a campainha e eu clicava no botão e o
mandava falar. Quando ele latia, eu coçava atrás de suas
orelhas enquanto dizia que ele era um bom menino e o
recompensava com uma guloseima. Depois de fazer isso cinco
vezes, podia simplesmente clicar no botão e gritar que ele
falasse, e Marmaduke começaria a latir, mesmo sem a
campainha. O único problema era que às vezes não
conseguíamos fazê-lo parar. Ele pegava o biscoito,
praticamente engolia inteiro e depois voltava a latir.
Que era exatamente o que tinha acontecido novamente
desta vez. Embora o latido alto não incomodasse Birdie em
nada, estava começando a me deixar maluca, e a pobre
Magdalene sentou-se à mesa da sala de jantar esfregando as
têmporas novamente. Desesperada para interromper o som
agudo, abri a gaveta da mesinha de canto, onde escondíamos
os brinquedos de pelúcia que ele gostava, e joguei um
unicórnio de pelúcia nele. Ele parou de latir, mas apenas
porque agora estava muito ocupado transando. Suspirei. Nota
para mim mesma: esta semana, assista a vídeos do YouTube
sobre como parar o latido assim que começar.
O telefone de Magdalene começou a tocar e ela riu ao
atender.
— Oh, oi, Sr. Maxwell.
Meus ouvidos se animaram mais do que os de
Marmaduke quando via a carapaça de uma tartaruga.
— Sim claro. Ela ainda está aqui. — Ela fez uma pausa e
então: — Espere um segundo. — Tentei parecer ocupada
quando Magdalene me chamou. — Sadie, o Sr. Maxwell
gostaria de falar com você.
— Oh. OK. — Meu coração começou a palpitar enquanto
ela me alcançava o telefone.
— Olá.
— Ei.
Sua voz soou tensa. — Está tudo bem?
— Eu estava tentando entrar em contato, mas você não
está atendendo ao telefone.
— Oh. Ele está… na minha bolsa, eu acho. Provavelmente
não ouvi por causa dos latidos.
— Latidos?
— Estávamos ensinando Marmaduke a falar.
Ouvi Sebastian respirar fundo pelo telefone. — Ouça. Eu
estava tentando sair daqui por volta das oito e meia para que
pudesse chegar em casa antes de você partir. Mas isso
obviamente não vai acontecer. Provavelmente posso sair em
uma ou duas horas. Você acha que pode… esperar até eu
chegar em casa? Nós precisamos conversar.
Meu pulso acelerou. — Certo. Claro. Por que não digo à
Magdalene que ela pode ir?
— Se você não se importa. Ela tem ficado até muito tarde
a semana toda. Então isso seria ótimo.
— Claro.
— Deixe-me correr. Estamos com poucas pessoas.
— OK. Até logo.
Encerrei a ligação e devolvi o telefone para Magdalene. —
Sebastian me pediu para ficar para que possamos… uhhh…
conversar sobre o treinamento de Marmaduke. Por que você
não vai para casa? Ele disse que você poderia sair mais cedo
esta noite.
Ela sorriu e olhou por cima do meu ombro para Birdie,
então se inclinou para sussurrar. — Sr. Maxwell tem estado
mal-humorado esta semana.
— Tem?
Ela assentiu e piscou. — Espero que sua conversa sobre
o treinamento de Marmaduke o faça se sentir melhor.
— Oh… Não... é o que você pensa.
Ela ergueu ambas as sobrancelhas.
Suspirei. — OK… então talvez seja o que você pensa. Mas
é… É... Não sei o que é, Magdalene.
Ela sorriu. — Ele é um bom homem. Tenha paciência com
ele.
Eu não tinha certeza do que dizer sobre isso, então,
apenas balancei a cabeça.
Depois que Magdalene saiu, Birdie tomou um banho. Ela
voltou para a sala e perguntou se eu poderia trançar seu
cabelo. Por volta das nove e meia, ela bocejou e a coloquei na
cama. Então me sentei na sala esperando por Sebastian.
Continuei repetindo o que ele me disse ao telefone sem parar.
‘Nós precisamos conversar’. Nenhuma boa notícia vinha depois
de uma frase de abertura como essa. Uma sensação horrível
de pavor pairou sobre mim enquanto esperava. Eu me senti
magoada e ele ainda não havia terminado as coisas. Para ser
honesta, eu nem tinha certeza o que exatamente ele
terminaria. Não era como se tivéssemos definido nada. Tudo o
que eu sabia era que tínhamos começado algo e, para mim,
esse algo era especial.
Por volta das dez e meia, eu ainda estava sentada no sofá,
mas agora balançando meu joelho para cima e para baixo,
sentindo como se fosse saltar da minha pele. Não tive noticias
de Sebastian novamente. No telefone, ele disse uma ou duas
horas, então tinha esperança que ele estivesse aqui a qualquer
minuto. Decidindo que precisava me acalmar, sai em busca de
vinho em seu escritório.
Eu sabia onde a chave estava guardada, porque observei
Macie invadir o armário trancado no fim de semana passado.
Mas quando fui pegá-la da gaveta da mesa, uma foto
emoldurada chamou minha atenção. Peguei e olhei para uma
foto de Sebastian e Amanda. Foi tirada no hospital. Sebastian
tinha um braço em volta do ombro de sua esposa enquanto ela
embalava uma Birdie recém-nascida. Os dois estavam
sorrindo e pareciam muito felizes.
Seria assim se estivéssemos juntos de alguma
maneira? Fotos emolduradas de seu primeiro amor por toda a
casa? Viver na sombra de outra mulher? Como exatamente
funcionaria se ele se casasse novamente? Será que a foto de
sua nova esposa será colocada dentro do porta-retratos bem
acima da do seu primeiro casamento? Talvez ele me deixar esta
noite fosse melhor.
Sim, definitivamente melhor.
— Ela nasceu três semanas antes do previsto.
A voz profunda de Sebastian me assustou e eu pulei.
Infelizmente, a moldura escorregou da minha mão e caiu no
chão, aterrissando com a foto para baixo com um alto clank.
A mão que estava segurando a moldura voou e cobriu
meu coração. — Você me assustou pra caralho.
— Desculpe.
Nervosa, inclinei-me para pegar a moldura. Senti
náuseas quando a virei.
Rachado. O vidro estava rachado.
Eu balancei a cabeça. — Deus, eu sinto muito. Está
quebrado. Vou substituí-lo.
Sebastian caminhou em minha direção e a tirou da minha
mão. — Está tudo bem. Nada demais. — Ele colocou a moldura
virada para baixo em sua mesa e nossos olhos se encontraram.
— Desculpe pelo atraso.
— Eu não estava bisbilhotando. Só vim verificar se você
tinha algum vinho e… Acho que a foto me chamou a atenção.
Sebastian concordou. Ele caminhou até onde eu estava e
abriu a gaveta. Tirando a chave, ele destrancou o armário de
bebidas e pegou uma garrafa de vinho tinto. Ele o inclinou para
me mostrar o rótulo. — Está bom?
— Tem álcool?
Ele deu uma risadinha. — Peguei você. Cheio até a borda.
— Obrigada.
Sebastian abriu a garrafa e encheu uma taça, então
colocou a rolha de volta.
— Você não vai beber? — Eu disse.
Ele me entregou a taça bem cheia. — Talvez mais tarde.
Preciso manter minha cabeça limpa agora.
— Oh. OK.
— Vamos. Vamos nos sentar na sala de estar.
Juntos, nós nos sentamos no sofá. Enquanto eu bebia
meu vinho e esperava, Sebastian segurou a cabeça entre as
mãos e olhou para o chão. Meu coração doeu quando ele
parecia tão aflito quanto eu. O homem havia passado por
muita coisa; eu precisava tornar isso fácil para ele. Então tomei
um gole gigante de coragem líquida e coloquei minha taça na
mesa antes de me aproximar dele.
— Sebastian… está tudo bem. Eu entendo. Você não
precisa dizer nada. Nós nos divertimos, mas você não quer
mais do que isso. Está tudo bem. Você não precisa se sentir
mal.
— É isso que você acha? Que me sinto mal porque quero
terminar com você?
Minhas sobrancelhas se juntaram. — Não é por isso que
você está chateado? Por machucar meus sentimentos?
Ele começou a rir loucamente. Balançando a cabeça, ele
apontou para a taça que eu acabara de largar. — Dê-me isso,
ok?
Entreguei a ele e observei enquanto ele bebia todo o
conteúdo. Devolvendo-me, ele disse: — Foda-se a cabeça clara.
Eu só preciso de coragem.
Ele estava dizendo o que eu achava que estava dizendo?
Lutei para não deixar minhas esperanças crescerem. — Eu não
entendo.
Ele passou as mãos pelos cabelos e se virou para mim. —
Como foi seu encontro esta noite, Sadie? — Ele disse a palavra
‘encontro’ de forma estranha, quase cuspindo o ‘t’, como se a
própria palavra o enojasse.
— Foi… bem.
— Bem. Estou contente. Então, pelo menos um de nós
teve uma boa noite.
— Você não teve uma boa noite?
— Vamos ver… Quebrei a alça de um forno, queimei o
braço duas vezes, anotei três pedidos errados e quase despedi
uma garçonete que não fez nada de errado. E isso tudo antes
das seis horas.
— Eu não entendo.
— Eu não conseguia me concentrar, Sadie. A ideia de você
sair com outro homem – nada menos que meia dúzia de
homens em um encontro rápido – me fez sentir violento.
— Foram oito, na verdade.
Ele zombou. — Obrigado. Isso me faz sentir muito
melhor.
Eu estava tão certa de que ele voltou para casa para
terminar as coisas que, embora tivesse acabado de me dizer
que odiava a ideia de eu namorar outra pessoa, ainda guardei
meu coração.
— Se você não queria que eu fosse, por que não me disse
isso? Ou, melhor ainda, por que não me ligou esta semana?
— Porque sinto que não devo querer outra mulher.
Engoli. — Mas você quer? Você me quer assim?
Sebastian olhou nos meus olhos. — Eu quero você em
todos os sentidos, Sadie. E isso me assusta pra caralho.
Eu sorri tristemente. — Se isso te faz sentir melhor, você
me assusta também.
— Eu quero seguir em frente. Mas sinto muita culpa por
fazer isso. — Ele balançou sua cabeça. — Você já jogou cabo
de guerra na escola quando era criança?
— Claro.
— Você sabe quando dizem para não enrolar a corda em
sua mão?
— Sim...
— Bem, é mais ou menos o que sinto que estou fazendo
agora. Estou jogando cabo de guerra, só que estou com a corda
enrolada na mão com força porque há muito tempo tenho medo
de me soltar. Mas agora minha circulação está sendo cortada.
E se eu simplesmente não largar a maldita coisa, vou causar
mais danos do que se finalmente largá-la.
Eu olhei para as mãos de Sebastian. Elas estavam
fechadas com muita força, quase como se ele estivesse
fisicamente agarrado a essa corda imaginária. E eu queria
ajudá-lo, mesmo que não fosse para puxá-lo para o meu lado
e ganhar o jogo. Então estendi a mão e gentilmente abri seu
punho, coloquei minha mão dentro da dele e segurei.
Sebastian olhou para nossas mãos unidas por um longo
tempo. — Eu quero que você seja minha, Sadie.
Meu coração bateu forte no meu peito. — Tenho quase
certeza de que sou desde o começo.
Ele sorriu. — Eu sinto muito sobre esta semana. Por agir
como um idiota depois de nossa tarde.
— Tudo bem. Só fale comigo da próxima vez. Eu sei que
você terá sentimentos confusos, e vou te dar espaço quando
precisar.
Ele assentiu. Levando nossas mãos unidas aos lábios, ele
beijou o topo das minhas. — Então, como vai funcionar? Já faz
muito tempo que não namoro alguém.
Eu ri. — Namora? Quantos anos você tem, sessenta?
Ele me puxou para seu colo. Colocando uma mecha do
meu cabelo atrás da orelha, ele disse: — Sei que encontros
fazem parte do seu trabalho. Não vou pedir que desista ainda,
mas talvez possamos ter algumas regras básicas.
— OK...
— Eu gostaria que fossemos exclusivos, no que diz
respeito a tudo que é físico.
— Claro. Eu também gostaria disso.
— Qualquer outra coisa que você tenha que fazer para o
trabalho, simplesmente não me conte sobre isso. Nem
mencione que você tem alguma coisinha.
Eu sorri. — Vou pensar em algo no trabalho. Posso
escrever artigos sobre diferentes tipos de encontros,
entrevistar pessoas para histórias de piores encontros... minha
pesquisa nem sempre precisa ser eu tentando um tipo
diferente de encontro.
Sebastian segurou minhas bochechas. — Então, estamos
namorando?
Eu sorri. — Estamos namorando, seu nerd.
Selamos o acordo com um beijo. Quando ele se afastou,
olhei por cima do ombro em direção ao quarto de Birdie. — E
quanto à Birdie?
— Estou pensando se devo contar a ela. O que você acha?
Eu mordi meu lábio. — Isso é com você. Mas acho que é
melhor ser honesto do que ela descobrir me pegando sentada
em seu colo assim.
Ele assentiu. — Falarei com ela amanhã. Que tal depois
disso, nós três sairmos para jantar e um filme, ou algo
assim. Eu e minhas garotas.
Meu coração derreteu e não pude conter meu sorriso. —
Eu gosto de como isso soa.
— Bom. Eu também.
CAPÍTULO 21

SEBASTIAN

Isso era definitivamente algo que eu teria que improvisar.


Não era como se eu tivesse um manual pronto para dizer à
minha filha que estou namorando alguém. Alguém que não era
sua mãe. Eu sabia que Birdie queria isso, mas muitas vezes
me perguntei se sua atitude sobre isso mudaria
quando realmente acontecesse. Minhas mãos estavam suadas
enquanto eu seguia pelo corredor em direção ao quarto da
minha filha. Birdie sabia que Sadie se juntaria a nós para
jantar e ver um filme esta noite. Ela pode ter suspeitado de
algo, mas eu precisava ter ‘a conversa’ de qualquer maneira.
Birdie estava ouvindo música, balançando a cabeça e
deitada de bruços. Suas longas pernas estavam mais
compridas do que costumavam. Ela estava ficando grande. Era
difícil acreditar que ela faria onze em breve. Eu nem podia
imaginar como seria ter uma pré-adolescente.
Eu bati para chamar sua atenção.
Ela ergueu os olhos e tirou os fones de ouvido. — Ei,
papai.
— Oi, docinho. Você está ansiosa para o filme?
— Sim. E para sair com Sadie também. — Que faz dois
de nós.
— Bom. — Sentei-me na beira da cama. — Então... é
sobre isso que eu queria falar com você.
Uma expressão preocupada cruzou seu rosto. — Ela
ainda vem, certo?
— Sim. Sim, claro, querida. — Esfregando as palmas das
mãos, eu disse: — O que preciso dizer é que Sadie se tornou
mais do que apenas uma adestradora de cães. Ela e eu... nos
conhecemos melhor e, bem, gostamos muito da companhia um
do outro.
Os poucos segundos que se passaram pareceram uma
tortura.
Sua boca se curvou em um leve sorriso. — Não estou
surpresa.
Minhas sobrancelhas levantaram. — Sério?
— Você age meio engraçado quando ela está por perto.
Além disso, ela é bonita.
— Como é que você nunca me falou que suspeitava de
algo?
— Eu não queria criar muitas esperanças.
— Então, você está feliz por eu estar namorando Sadie?
— Ela assentiu.
Sentindo uma sensação de alívio, sorri. — Você realmente
gosta dela, não é?
— Sim. Eu realmente, realmente, gosto dela.
Peguei um de seus brinquedos de pelúcia e olhei para
baixo enquanto falava. — Você sabe que é importante que eu
passe o tempo com alguém que se dê bem com você e que
também te faça feliz. Eu nunca traria alguém que não se
encaixasse conosco.
— Eu sei, papai.
— Eu também espero que você saiba que só porque Sadie
e eu nos aproximamos, não muda o quanto eu amava sua
mãe. OK?
Birdie olhou para uma foto de Amanda pendurada na
parede e disse: — Eu sei. Mamãe nunca mais vai voltar. Você
ainda estaria com a mamãe se ela estivesse aqui. A mamãe
sabe disso.
Esse foi um comentário interessante, porque muitas
vezes me perguntei se Amanda e eu teríamos durado se ela não
tivesse adoecido.
Colocando o bicho de pelúcia de volta no chão, eu disse:
— Você tem alguma pergunta?
— Sadie vai morar com a gente?
Bem, isso era mais direto do que eu esperava.
— Não. Não tão cedo. Talvez algum dia se as coisas derem
certo. Ainda é muito novo. Isso também significa que há uma
chance de não dar certo.
— Quer dizer que você pode bagunçar tudo?
Eu ri com sua suposição. Esse é provavelmente o cenário
mais provável, sim.
— Não é minha intenção, mas os relacionamentos adultos
são complicados e, às vezes, embora não tenhamos a intenção
de que fracassem, não dão certo.
Ela não tinha ideia de que até mesmo sua mãe e eu
tivemos dificuldades.
— Sadie ainda vai ter encontros no trabalho dela? — Sim.
Assunto delicado.
— Não reais.
— Porque você é o namorado dela agora? — Ela sorriu.
Levei alguns segundos para absorver essa palavra.
‘Namorado’. Jesus, eu não era o namorado de alguém há anos.
— Sim. Suponho que sou.
— Ela ainda vai treinar Marmaduke?
Coçando meu queixo, eu disse: — Tenho a impressão de
que ela gosta de ficar com você e o Duque, então aposto que
você pode convencê-la a continuar adestrando-o.
Ela suspirou. — Tudo bem, papai.
Eu apertei seu joelho. — Sem mais perguntas?
Ela balançou a cabeça. — Acho que não.
— OK. — Inclinei-me e beijei-a na testa. — Virei te buscar
para sairmos logo.
Quando eu estava saindo pela porta, ela me parou. —
Espere.
— Sim?
— Eu tenho mais uma pergunta.
— Diga.
— Posso comprar a caixa grande de Milk Duds13 no
cinema?
Eu ri. — Veremos.
Outra onda de alívio me atingiu quando saí de seu
quarto. Isso foi muito melhor do que eu esperava. Eu esperava
que nada acontecesse para azarar.

13 Balas de caramelo cobertas com chocolate.


*-*-*

Birdie acabou gostando muito do filme da Disney que


assistimos. Quanto a mim, gostei muito de segurar a mão de
Sadie enquanto me sentava entre elas. Sem mencionar que
estive tão ocupado cuidando de tudo nos últimos anos, que
tinha esquecido como era ter alguém cuidando de mim. Sadie
fazia coisas sutis como tirar o cabelo do meu rosto ou tirar
migalhas da minha camisa. Ela definitivamente tinha um
instinto muito protetor. E devo dizer que adorei ser cuidado
por uma linda mulher.
Era muito cedo para Sadie passar a noite com Birdie em
casa, mas eu não queria nada mais do que tê-la em minha
cama esta noite. Eu teria que descobrir uma maneira de
passar um tempo a sós com ela, fosse no meio do dia ou
pedindo a Magdalene que passasse algumas noites aqui e ali.
Quando saímos do cinema e Sadie levou Birdie pelo
corredor até o banheiro, ocorreu-me que era a primeira vez em
anos que eu não precisava ficar do lado de fora da porta
enquanto minha filha usava um banheiro feminino público
para ter certeza ela estava bem. Isso era definitivamente algo
que eu considerava natural quando Amanda estava viva.
Depois do filme, nós três fomos a um restaurante da
escolha de Birdie e, como sempre, ela escolheu fondue.
Minha filha mergulhou um pedaço de pão no queijo
derretido enquanto olhava para Sadie, que estava sentada ao
lado dela.
— Você não gosta de fondue, Sadie? — ela perguntou.
Sadie parecia estar gostando mais de ver Birdie comer do
que de apreciar a comida por si mesma. — Sabe... você pode
não acreditar, mas nunca comi fondue antes desta noite.
Os olhos de Birdie quase saltaram das órbitas. —
Uau. Por quê?
— Eu sei. Parece loucura, certo? Eu realmente nunca saí
para comer até que me mudei para a cidade, então tinha muito
que pôr em dia. Ainda atualizando, eu acho.
— Seu pai nunca te levou para comer fora?
— Não tínhamos muito dinheiro sobrando. Então meu
pai preferia cozinhar em casa.
— Seu pai sabia cozinhar? — Birdie olhou para mim com
um sorriso travesso. — O meu não sabe.
Meus ombros tremeram de tanto rir. — Obrigado por isso,
querida.
Sadie entrou na conversa. — Sim, mas seu pai tem tantas
outras qualidades excelentes. Ele é inteligente e espirituoso e
um excelente empresário. Então, se ele soubesse cozinhar, isso
o faria, tipo… perfeito… e ninguém é perfeito. — Ela piscou
para mim, e isso me fez querer pular sobre a mesa e devorar
seus lindos lábios.
— É verdade, — concordou Birdie. — Ele é inteligente e
muito legal e inventa histórias de ninar realmente boas.
— Viu... — Sadie sorriu.
Os olhos de Birdie brilharam de curiosidade. — Então,
que tipo de coisas seu pai cozinhava para você?
— Meu pai tem um jardim muito grande, então ele fazia
todo tipo de coisa com vegetais. Molho de tomate para pizza
caseira, abobrinha frita… coisas assim.
— Abobrinha! — Birdie torceu o nariz. — Eu não amo
vegetais. Eu só amo azeitonas.
— Birdie gostaria que seu pai cultivasse biscoitos no
jardim, certo, querida? — Eu disse.
Sadie apontou o dedo para o queixo. — Hmm, teremos
que encontrar algumas maneiras criativas de fazê-la comer
seus vegetais, Birdie. — Ela ergueu a sobrancelha. — Você
gosta de shakes?
— Adoro. Especialmente com sorvete.
— Aposto que consigo colocar vegetais em um shake
delicioso e você nem vai saber que eles estão lá.
Birdie parecia cética. — Sério?
— Sim. Na verdade, eu os preparo o tempo todo e não
consigo nem sentir o gosto do espinafre.
Sua boca caiu. — Espinafre?
Você acharia que Sadie havia proferido uma obscenidade
com base na reação da minha filha.
— Sim. Quer apostar que é bom?
— Você pode fazer hoje à noite?
Sadie olhou para mim como se não tivesse certeza de
como responder a isso.
— Eu acho que Sadie tem que trabalhar amanhã, — eu
disse.
Sadie pareceu um pouco desapontada por eu ter fechado
a porta para ela voltar para casa conosco. Não era que eu não
quisesse. Só estava preocupado em estragar tudo esta noite na
frente da minha filha. Mas eu realmente queria que ela voltasse
conosco, mesmo que por um tempo. Então, acrescentei: — Mas
se ela quiser fazer um shake de sobremesa para você, vou
garantir que ela chegue em casa em segurança.
Sinalizei para ela com meus olhos que eu realmente
esperava que ela voltasse esta noite. Quanto mais pensava
nisso, mais percebia que precisava que ela voltasse para que
eu pudesse, pelo menos, lhe dar um beijo de boa noite.
Sadie sorriu para mim. — Ok, talvez eu possa ficar um
pouco.
Birdie deu um pulo na cadeira. — Yay!
No caminho para casa, paramos em um mercado para
que Sadie pudesse comprar os ingredientes para o que ela
chamou de ‘shake mágico’.
Assim que chegamos em casa, ela colocou todos os
ingredientes no balcão.
— Bem, eu nem deveria dar minha receita secreta, mas
como gosto muito de você, Birdie, vou mostrar exatamente
como fazer meu shake especial.
Birdie observou com entusiasmo enquanto eu pegava o
liquidificador para Sadie. Então enrolei minhas mangas e
inclinei-me no balcão só para aproveitar a interação das duas.
Sadie descascou uma banana. — Portanto, o primeiro
ingrediente mágico é uma banana realmente madura. Porque
isso torna a vitamina super doce sem ter que adicionar muito
açúcar.
Birdie ergueu os olhos para ela. — Eu amo açúcar.
— Eu sei, Srta. Cookie, mas açúcar não é muito bom para
você. Eu juro que isso terá um gosto tão doce quanto açúcar,
ok?
Minha filha encolheu os ombros. — OK.
Sadie abriu um pote de manteiga de amendoim. — Este é
o próximo ingrediente secreto... que tem um pouco de açúcar...
mas vou deixar passar. — Ela piscou.
— Eu amo manteiga de amendoim. Principalmente
biscoitos de manteiga de amendoim, — disse Birdie.
— Por que isso não me surpreende? — Sadie riu.
Minha filha ficou na ponta dos pés ansiosamente. — Qual
é o próximo?
— O próximo é uma xícara de leite de amêndoa com
baunilha.
Birdie torceu o nariz. — Leite feito de amêndoas?
— Sim. E tem gosto de sorvete de baunilha.
Ela parecia cética. — Hmm.
— Você está desconfiando de mim, Srta. Birdie?
Minha filha deu uma risadinha. Era bom vê-la assim
engajada. Sadie a deixava muito feliz. Ela me deixava muito
feliz.
— O próximo ingrediente é... mirtilos congelados. — Sadie
abriu a sacola de frutas.
— Eu amo mirtilos! — Birdie gritou.
Sadie foi até a máquina de fazer gelo e colocou um copo
embaixo dela. — Em seguida, vou adicionar alguns cubos de
gelo para deixar o shake ainda mais frio. Então,
por último, mas não menos importante, vem o ingrediente
principal.
— Qual é?
— Esqueceu? É espinafre, boba, lembra? Vegetais?
— Oh sim. Eu esperava que você esquecesse.
— Não teve essa sorte. — Sadie colocou um punhado de
espinafre cru no liquidificador.
— Acabou?
— É isso aí! — Sadie colocou a tampa. — Você está pronta
para misturar tudo?
— Eu posso? — Birdie perguntou animadamente.
— Sim. Você faz as honras.
Birdie pressionou seu dedo minúsculo no botão
“Misturar” e observou enquanto todos os ingredientes se
transformavam em uma cor verde-escura, quase roxa com os
mirtilos.
— Você sabe como eu chamo essa bebida? — Sadie disse.
— Como?
— O monstro verde.
— Isto é tão legal.
Sadie parou o liquidificador e pegou um copo plástico de
café gelado e um canudo do armário.
— Você está pronta para experimentar? — Sadie
perguntou enquanto colocava o copo no balcão.
Minha filha acenou com a cabeça.
Sadie despejou a mistura no copo e fechou a tampa antes
de adicionar o canudo. Ela o deslizou pelo balcão para Birdie.
Sadie e eu assistimos com a respiração suspensa
enquanto Birdie experimentava. Depois de um primeiro gole
hesitante, ela parou e lambeu os lábios, então tomou outro gole
mais longo. Ela olhou para nós.
Sadie apoiou o queixo nas mãos. — E?
— É muito, muito bom!
Sadie começou a dançar em comemoração. Nós
cumprimentamos um ao outro. Birdie começou a rir e começou
a beber uma boa parte do shake.
Sadie despejou um pouco da bebida em outro copo e me
entregou. — Algo me diz que até seu pai pode fazer isso.
Tomei um gole e lambi meus lábios. — Mmmm. Muito
bom. — Eu tinha certeza que ela poderia dizer pelo brilho em
meus olhos que eu não estava exatamente pensando no shake
quando fiz esse som. Embora eu devesse dizer, a
bebida definitivamente não tinha gosto de espinafre.
Eu olhei para o relógio. Já era tarde para minha filha
estar acordada. — Birdie, já passou da sua hora de dormir e
você tem aula amanhã. Que tal se lavar e depois voltar e dar
boa noite para Sadie.
Ela parecia desapontada ao ver esta noite terminar. Eu
esperava que houvesse muitas mais como essa.
Quando Birdie finalmente desapareceu no corredor,
envolvi minha mão em volta da cintura de Sadie e a puxei para
o beijo pelo qual estive tão incrivelmente faminto a noite
toda. Ela gemeu em minha boca, e isso era a confirmação de
que ela queria tanto quanto eu.
Puxando-a para mim, mordi seu lábio inferior e
lentamente o soltei. — Você é deliciosa pra caralho, sabia
disso?
— Oh Deus, — disse ela, claramente percebendo a
protuberância crescente em minhas calças. — Uau. É melhor
você abaixar isso antes que sua filha volte para se despedir.
— Sim. — Suspirei. — Este não é exatamente um cenário
ao qual estou acostumado.
Imaginando que seria uma boa ideia atender ao aviso
dela, segui pelo corredor e usei o banheiro para respirar.
Quando voltei, Birdie estava de pé na cozinha, de
camisola, o cabelo molhado, olhando para Sadie.
— Você pode trançar meu cabelo antes de eu dormir,
Sadie?
Sadie olhou para mim, parecendo querer permissão. Eu
concordei.
— Certo. Vamos fazer isso, — disse ela.
Sadie desapareceu no corredor até o quarto de Birdie e
ficou lá por muito mais tempo do que eu esperava. Quando ela
voltou, eu estava esperando por ela no sofá da sala.
— Foi uma longa sessão de tranças.
Sadie se sentou ao meu lado e colocou a cabeça no meu
ombro. — Ela é tão fofa. Ela só queria conversar.
— Obrigado por ser tão doce com ela. — Eu beijei o topo
de sua cabeça. — Quer um pouco de vinho? O que você quer?
— Não. Eu estou bem. Eu só quero ficar aqui em seus
braços por um tempo, se estiver tudo bem.
Eu ajustei meu corpo para que ela ficasse completamente
envolvida em meus braços. — Isso está mais do que bem.
Depois de um longo tempo, ela ergueu o queixo para mim
e eu tomei isso como uma dica para dar um longo beijo em
seus lábios. Meu pau subiu imediatamente. Eu estava com
muito tesão esta noite, mas sabia que ela não concordaria em
passar a noite, mesmo que eu sugerisse. Esta era uma
situação complicada. Eu sabia que ela não deveria passar a
noite, mas também não estava pronto para deixá-la ir.
Enquanto empurrava minha língua dentro de sua boca, seu
gosto familiar acendeu uma necessidade tão intensa que eu
não tinha certeza se seria capaz de parar. Quando ela gemeu
desta vez, me perguntei se ela estava tão molhada quanto eu
estava duro. A mais forte tentação de deslizar meu dedo dentro
de sua calcinha para verificar me consumiu.
— Isso é doloroso. Eu preciso estar dentro de você, — eu
murmurei sobre sua boca.
— Parece que faz uma eternidade.
Eu me perguntei se havia uma maneira de entrarmos
furtivamente no banheiro, em qualquer lugar. Eu só precisava
dela.
Sadie deve ter percebido que eu estava pirando, porque
se afastou do nosso beijo. — É melhor eu ir embora.
Soltei um gemido frustrado. — Você sabe o quanto não
quero que você vá embora, certo?
— Claro, eu sei disso. Mas é melhor se eu for. — Ela
levantou.
Eu espalmei suas bochechas. — Não vou conseguir parar
de pensar em você. — Meus globos oculares se moviam de um
lado para o outro enquanto as rodas em minha cabeça
giravam.
— O que você está pensando? — Ela perguntou.
— Estou tentando planejar uma maneira de você estar na
minha cama esta noite e desaparecer magicamente pela
manhã.
— Exceto que não é possível. É muito cedo para arriscar
alguma coisa. Então, eu vou.
Ela estava certa. Simplesmente parecia errado deixá-la ir
por algum motivo. Parecia como se ela pertencesse aqui.
Acabei chamando um Uber, e passamos cada segundo até
ele chegar nos beijando como dois adolescentes com tesão.
Depois que ela entrou no carro e saiu, me enviou uma
mensagem.
Sadie: Esqueci de limpar os restos do monstro
verde. Eu pretendia voltar para a cozinha e fazer isso.
Sebastian: O verdadeiro monstro está nas minhas
calças, e ele não pode ser domesticado esta noite.
Sadie: LOL
Sebastian: Não se preocupe com o shake. Deixa
comigo. Devo a você por fazer minha filha comer
vegetais. Sério, isso foi uma merda mágica.
Sadie: Fiquei muito feliz que ela gostou.
Sebastian: Ela gosta de VOCÊ.
Sadie: Isso me deixa muito feliz.
Sebastian: Eu poderia gostar de você,
também. MUITO.
Sadie: Eu gosto de você, também, Sebastian. Posso até
estar louca por você.
Sebastian: Eu tenho uma ideia para uma nova matéria
para você.
Sadie: Verdade?
Sebastian: Encontro com o pai solteiro excitado.
Sadie: LOL. O que esta atribuição envolve?
Sebastian: Vários encontros à tarde em vários lugares
e muito sexo. Você está dentro?
Sadie: Definitivamente.

*-*-*

Segunda de manhã, ainda não tinha conseguido parar de


pensar em Sadie. Então decidi pressionar o que mencionei na
noite passada sobre um encontro diurno.
Sebastian: Bom dia. Como você dormiu?
Sadie: Muito bem. Tive um sonho bom. Acho que você
estava nele.
Eu me peguei com um sorriso gigante no rosto enquanto
tentava enviar uma mensagem de volta.
Sebastian: Que horas você vai almoçar? Talvez eu
possa passar por ai, te levar para almoçar e você pode me
contar sobre esse sonho.
Sadie: Isso parece ótimo. Exceto...
Meus ombros caíram esperando pelo que viria depois da
palavra “exceto”. Presumi que seria algo como “exceto… que
não posso porque tenho muito trabalho a fazer”. Ou… “exceto
que tenho uma reunião”. Mas a próxima mensagem me
animou... algumas partes podem ter ficado mais animadas do
que outras.
Sadie: Que tal você me encontrar no meu
apartamento às duas, e faço mais do que te contar sobre
meu sonho. Nós podemos representa-lo...
Foda-se, sim. Não consegui digitar rápido o suficiente.
Sebastian: Eu estarei na frente do seu prédio à uma e
quarenta e cinco.
Sadie: LOL. Gosto da sua ansiedade, Sr. Maxwell.
Sebastian: Oh, estou ansioso, claro. Você deveria ver
o que está acontecendo na minha calça... com mais de
cinco horas antes de eu chegar.
Sadie: Você poderia... mostrar-me o que está
acontecendo.
Todo o sangue do meu cérebro correu para baixo com
coisas melhores para fazer do que apoiar decisões lógicas.
Então, é claro, parecia uma ideia muito boa obedecer.
Abaixando-me, eu segurei meu pau duro através da minha
calça de moletom, em seguida, tirei uma foto e enviei em
resposta ao seu texto. Talvez fosse o ângulo, mas meu pau
parecia muito impressionante, se é que posso dizer.
Sadie não perdeu tempo em responder.
Sadie: OMG. O almoço parece delicioso! Eu mal posso
esperar. Venha à uma, em vez de as duas!
Eu ri.
Sebastian: Vejo você à uma, linda. Mal posso esperar.
CAPÍTULO 22

SADIE

— Eu amo este pequeno declive.


Sebastian passou o dedo para cima e para baixo no arco
entre a parte inferior das minhas costas e o topo da minha
bunda enquanto eu ficava deitada de bruços. Nós tínhamos
acabado de destruir um ao outro, mas o menor toque de seu
dedo nas minhas costas já me fez querê-lo novamente.
— Oh sim?
Ele assentiu. — Seria demais se eu despejasse a sopa que
trouxe para o almoço e tomasse aqui?
Eu ri. — Bem, pode estar quente, e eu não acho que você
a tomaria no declive das minhas costas, mais como lamberia
como um cão.
— Querida, aquela sopa está gelada agora. E lambê-la
parece absolutamente perfeito.
Ele estava definitivamente certo sobre a sopa não estar
mais quente. Agora eu estava feliz por ter avisado no escritório
que precisava reservar meio-dia para uma consulta médica
falsa. Já estávamos nisso há quase duas horas, e a comida
chinesa que Sebastian trouxe ainda não tinha saído da sacola.
Como se esse pensamento lembrasse ao meu corpo que
ele havia pulado o café da manhã, meu estômago roncou... bem
alto.
Sebastian deu uma risadinha. — Eu acho que essa é a
maneira de você me dizer que devo alimentá-la.
— Na verdade, estou morrendo de fome. Normalmente
como uma barrinha de cereal pela manhã no trem, mas um
cara trombou comigo e ela caiu no chão depois de uma
mordida.
— Por que não esquento a comida, então?
— OK.
Sebastian saiu da cama. Ele se abaixou para pegar sua
calça jeans, dando-me uma vista espetacular de sua bunda
muito firme.
— Espere!
Ele congelou com uma perna dentro da calça e se virou
para olhar para mim.
— Não se vista, — eu disse.
Ele deu um sorriso torto. — Você quer comer pelada?
— Sim. Eu quero. Você ficaria enojado se eu dissesse que
quero comer nua na cama com você?
Sebastian deu uma risadinha. — Não. Mas pode me fazer
pedi-la em casamento.
Ele chutou a perna da calça e saiu para a cozinha pelado.
Que vista. Suspirei. Sentindo-me contente, ajustei os
cobertores e travesseiros para me recostar contra a cabeceira
da cama.
Poucos minutos depois, Sebastian voltou com três
recipientes e dois conjuntos de pauzinhos. Ele voltou para a
cama e me passou uma das caixas, depois desembrulhou os
pauzinhos de madeira e os partiu antes de oferecê-los a mim.
— Obrigada.
Seus olhos caíram para meus seios expostos e ele
balançou a cabeça. — Melhor merda de almoço de todos os
tempos.
Enchi a boca de camarão Sichuan. — Mmmm. Isso é bom.
Onde você comprou isso?
— Num pequeno restaurante dois quarteirões do meu.
— Sou muito exigente com a comida chinesa.
Provavelmente é porque sou parte chinesa.
Sebastian engoliu em seco e começou a tossir. — Você é
chinesa?
— Quatro por cento. Fiz um daqueles testes de DNA do
23andMe para descobrir minha descendência há dois anos, já
que fui adotada. Sou sessenta por cento italiana, trinta e seis
por cento norueguesa e quatro por cento chinesa. Desde que
descobri isso, sinto que melhorei com os pauzinhos.
Ele riu. — Interessante. Minha filha está obcecada por
esses malditos comerciais desde que ela fez uma árvore
genealógica na escola.
— Eu me esqueci totalmente disso! Ela disse ao Papai
Noel que queria uma dessas em suas primeiras cartas.
Sebastian balançou a cabeça.
— E você? Qual é a sua nacionalidade?
— Meus avós eram da Sicília pelo lado do meu pai, e
minha mãe era galesa. — Sebastian pescou um pedaço de
frango com gergelim de sua embalagem de papelão e levou-o a
boca. No meio do caminho, ele se atrapalhou e a galinha
pousou em seu abdômen. Ele o pegou usando seus pauzinhos.
— Deve ser porque não sou quatro por cento chinês.
Eu sorri. — Você canta no chuveiro?
Sebastian ergueu uma sobrancelha. — Essa é uma
pergunta estranha de se fazer.
Dei de ombros. — Talvez. Mas acho que os hábitos de
banho das pessoas dizem muito sobre elas. Por exemplo, se
você entra e sai em cinco minutos, corre com a lavagem para
acabar logo, ou se você usa o seu frasco de xampu como um
microfone quando sente vontade.
— Acho que nunca usei o frasco de shampoo como
microfone. Mas eu, definitivamente, assobio às vezes. — Seu
rosto caiu. — Pelo menos eu costumava.
Coloquei meu recipiente na mesa de cabeceira e, em
seguida, arranquei o de Sebastian de suas mãos e coloquei seu
almoço ao lado do meu. Rastejando, eu montei em seu colo. —
Acho que podemos fazer você voltar a assobiar no chuveiro.
Ele afastou o cabelo do meu rosto. — Eu também
acho. Você me faz sentir mais feliz do que nunca, Gretchen.
Esfreguei meu nariz no dele. — Danke.
Demorou mais meia hora até que Sebastian e eu
voltássemos à comida chinesa. Estávamos destinados a comê-
la fria. Mas não pude me importar menos. Brincar de vaqueira
no colo do meu lindo namorado era melhor do que comida
quente em qualquer dia da semana.
Depois, tomamos banho juntos e Sebastian teve que se
preparar para ir ao restaurante.
— O que você fará esta noite? — Ele beijou o topo da
minha cabeça enquanto me sentei na minha penteadeira
escovando meu cabelo molhado. — Algum plano?
— Na verdade, eu tenho um encontro quente.
Eu assisti o rosto de Sebastian cair no espelho. Merda.
— Gah! Não é o que você está pensando. Quis dizer que
vou sair para jantar com meu pai.
Ele apertou os olhos para o meu reflexo no espelho. —
Não é engraçado. Considerando o seu trabalho.
Eu me levantei e fiquei na ponta dos pés para dar um
beijo em sua bochecha.
— Desculpe. Eu não raciocinei.
Ele terminou de abotoar a camisa. — Onde vocês vão
jantar?
— Não tenho certeza. Normalmente decidimos quando ele
chega aqui.
— Por que não vêm ao restaurante?
Pisquei algumas vezes. — Sério? Você não se importaria
de conhecer meu pai?
Sebastian encolheu os ombros. — Por que eu me
importaria? Você já é uma das pessoas favoritas da minha
filha.
O calor se espalhou pelo meu peito. Estar com um homem
maduro realmente fazia com que os homens com quem saí nos
últimos – ah, sei lá – dez anos parecessem meninos. Sebastian
não tinha medo de conhecer minha família e me acolheu na
sua uma vez que cedeu a seus sentimentos.
— Eu adoraria. Terei que verificar se papai já decidiu
fazer outra coisa. Mas talvez a gente vá.
— Parece bom.
Acompanhei Sebastian até a porta. — Obrigada pelo...
almoço.
Ele me beijou mais uma vez, então roçou o polegar no
meu lábio inferior. — Obrigado por não desistir de mim quando
você provavelmente deveria.

*-*-*

— Então você está levando esse cara a sério?


Papai pegou o guardanapo dobrado da mesa e o sacudiu,
colocando-o no colo.
Eu olhei por cima do ombro. Sebastian tinha acabado de
ir buscar uma garrafa de vinho no bar. Ele piscou do outro
lado do restaurante quando me pegou olhando para ele. Eu
sorri e suspirei. — Eu sou louca por ele, pai.
— Então acho melhor conhecer um pouco mais o sujeito.
No caminho para o restaurante, contei a papai um pouco
da história por trás do meu encontro com Sebastian. Ele não
falou muito, então eu não tinha certeza do que ele estava
pensando. Mas esse era o jeito do papai. Às vezes, eu podia
jurar que ele nem prestava atenção quando eu falava. Então,
algumas semanas depois, ele me surpreendia fazendo uma
pergunta aleatória sobre algum detalhe que mencionei
casualmente. Papai era mais um ouvinte que um falante.
Sebastian voltou com uma garrafa de merlot e abriu-a ao
lado da mesa.
Papai olhou ao redor. — Está muito cheio. Acha que terá
tempo para se juntar a nós? Eu gostaria de conhecer o homem
com quem minha filha está passando um tempo. Quantos anos
você tem?
— Pai, — eu repreendi. — Sebastian está trabalhando.
Sebastian me dispensou com um sorriso fácil. — Vou só
verificar as coisas na cozinha e fazer o pedido para vocês, e
então terei algum tempo. — Ele se virou para meu pai. —
Existe alguma coisa que você não gosta de comer ou a qual é
alérgico?
Meu pai deu um tapinha na barriga que desenvolveu nos
últimos anos. — Parece que há algo que eu não coma?
— OK. Dê-me cerca de dez minutos. Quando eu voltar
serei todo seu para o interrogatório, senhor.
Meu pai pareceu gostar dessa resposta, mas fiquei
constrangida. Assim que Sebastian se afastou, eu disse: — Pai,
que diabos?
— O quê?
— Sebastian nos convidou para vir aqui e está parando
seus afazeres e você diz: ‘Ei, prazer em conhecê-lo… Quantos
anos você tem?’ O que importa quantos anos ele tem?
— Você disse que é louca por ele. Então, eu quero
conhecer o homem.
— Há uma diferença entre conhecer alguém e ser rude.
Papai pegou um pãozinho do centro da mesa e o partiu
em dois. — Você está envolvida com um homem com muita
bagagem. Um viúvo, com uma filha de dez anos, dono deste
lugar... Eu li que oitenta por cento de todos os restaurantes
falham em cinco anos. Estou apenas preocupado, querida.
Suspirei. Suponho que seja natural para um pai se
preocupar com o fato de sua filha namorar um homem que já
foi casado, especialmente um com uma filha. Fazia sentido que
ele visse a filha de Sebastian como bagagem, embora eu tivesse
certeza de que isso mudaria quando ele conhecesse Birdie.
— OK. Entendi. Só... seja legal com isso, por favor. Vá
devagar.
Quinze minutos depois, Sebastian apareceu em nossa
mesa equilibrando quatro pratos diferentes. Ele os colocou na
mesa e então se sentou.
— Fazemos a mozarela fresca diariamente. É o nosso
aperitivo mais vendido. — Ele apontou para os outros pratos,
um de cada vez. — Também trouxe crostini de salame
e figo com ricota, bolinhos de arroz caseiros e mini rollatina de
berinjela.
Não só tudo cheirava bem, mas a apresentação era
linda... Molhos salpicados e guarnições decorativas quase o
tornavam bonito demais para comer. — Uau. Tudo parece
incrível.
Sebastian sorriu. — Eu não posso levar o crédito por
isso. É tudo obra do chef. Embora eu possa ter ameaçado
demiti-lo se esses pratos não estivessem perfeitos. — Nós três
comemos, e Sebastian encarou meu pai de frente.
— Então, Sr. Bisset, voltando à sua pergunta, eu tenho
trinta e seis, sete anos mais velho que sua filha. Casei-me com
minha namorada da faculdade aos vinte e três anos e ela
faleceu há quatro anos. Minha filha, Birdie, tem dez anos. Eu
tenho uma casa no Upper West Side, mas moro apenas em
parte dela. Eu alugo a outra metade, embora não precise
porque o restaurante na verdade vai muito bem, mas minha
filha e eu não precisamos de todo o espaço.
Meu pai sorriu tristemente. — Sinto muito pela sua
perda.
— Obrigado.
— É uma grande coincidência que você e minha filha
perderam alguém para o mesmo tipo de câncer.
Sebastian concordou. — Sinto muito por sua perda,
também, Sr. Bisset.
— É George, por favor.
Sebastian olhou para mim. — Mas sim, há muitas coisas
que Sadie e eu temos em comum. Acho que é uma das coisas
que nos aproximou com muita facilidade. — Ele estendeu a
mão para eu pegar e felizmente apertei a minha na dele.
Meu pai sorriu. — Você quer mais filhos?
— Pai, isso não é um pouco pessoal? Sebastian está
sendo tão aberto, mas acho que você está indo um pouco longe.
Sebastian apertou minha mão. — Tudo bem. Eu acho
que sempre assumi que mais crianças não estavam nas cartas
para mim. Amanda adoeceu quando Birdie tinha apenas
quatro anos e meio, e imaginei que essa parte da minha vida
estava acabada. Eu tenho minha filha e sou grato por isso. —
Sebastian sorriu para mim. — Mas não me oponho a ter mais
filhos. Acho que realmente gostaria. Birdie ficaria emocionada,
com certeza.
Oh, uau. Fiquei animada ao saber que Sebastian estava
aberto a ter mais filhos. A família era importante para mim e
sempre sonhei em ter uma grande.
Meu pai assentiu. — Obrigado por sua franqueza, filho.
Depois disso, nós três começamos uma conversa mais
fácil e leve. Meu pai e Sebastian descobriram que ambos
adoravam pescar e jogar pôquer. Uma vez que nenhum dos
dois me atraía, ver esses dois homens se unindo me fascinou
mais do que qualquer coisa, eu felizmente comi e escutei. A
certa altura, um garçom se aproximou e disse a Sebastian que
ele era necessário na cozinha.
Inclinei-me para frente em meu assento depois que
Sebastian se desculpou. — Satisfeito por não ter netos
negados? — Eu disse.
Meu pai se esticou sobre a mesa e pegou minha mão. —
Querida, se você se casar com um homem que tem um filho,
esse filho seria meu neto, não será diferente se você der a
luz. Não é sobre o que eu quero. Você sempre quis uma família
grande, e sua mãe e eu não podemos lhe dar isso. Eu só quero
o que você quiser.
Eu realmente tinha tirado a sorte grande quando se
tratava de pais. Eu me levantei e contornei a mesa até o meu
pai para dar um beijo em sua bochecha.
— Por que isso? — Papai sorriu.
— Só por ser você, pai.
*-*-*

— Obrigada por levar na esportiva hoje noite.


Depois de um jantar de três horas no restaurante, papai
foi para casa e eu fiquei por lá esperando Sebastian
terminar. Então ele me convenceu a voltar para casa com ele
por um tempo.
Sentamo-nos no sofá e Sebastian tirou meus sapatos. Ele
colocou meus pés em seu colo e começou a esfregar. Quando
ele enfiou os polegares no arco, soltei um pequeno gemido.
— Oh meu Deus. Isso é tão bom. Mas foi você que ficou a
noite toda em pé. Deveria ser eu lhe dando uma massagem nos
pés.
Ele sorriu. — Meus pés estão bem. Você ganha a
massagem apenas por usar aqueles saltos sensuais esta noite.
E seu pai é ótimo. A maçã não caiu longe do pé.
— Ele é muito bom. Mas lamento que ele tenha se tornado
muito pessoal. Ele nunca fez isso antes.
— Ele conheceu muitos dos homens com quem você saiu?
— Não muitos, mas alguns. Ele só bateu papo com
aqueles que já conhecia. Realmente não é típico dele ser tão
intrometido.
Sebastian deu de ombros. — Tenho certeza de que ouvir
que fui casado e tenho uma filha lhe deu motivos para se
preocupar. Não posso dizer que o culpo. É difícil imaginar um
dia em que eu não posso mais proteger minha filha.
— Eu imagino. Embora não ache que realmente tenha
algo a ver com você ter sido casado ou ter Birdie.
— Não?
— Acho que ele simplesmente viu algo que nunca tinha
visto em mim antes.
— O que seria?
Mordi meu lábio, pensando que talvez tivesse falado
demais. Sebastian percebeu e parou de esfregar meu pé.
— Fale comigo. O que é?
Eu balancei a cabeça. — Nada de ruim. Eu acho que ele
apenas... viu a possibilidade de um futuro para mim com
alguém.
Os olhos de Sebastian vagaram entre os meus. — Homem
inteligente. Eu vejo a mesma coisa Há um futuro aqui,
querida.
Um futuro aqui.
Querida.
Eu deixei suas palavras me inundar, apreciando o calor
em meu peito que se espalhou para a ponta dos dedos das
mãos e dos pés. Um enorme sorriso se espalhou pelo meu
rosto. Sebastian apontou um dedo para mim. — Venha aqui,
risonha. — Sentei-me e me aproximei dele no sofá.
Ele segurou minhas bochechas e seus olhos percorreram
meu rosto por um longo tempo antes de selar seus lábios nos
meus. Emoções borbulharam à superfície enquanto nos
beijávamos. Comecei a me perder no momento. Até que uma
voz nos trouxe de volta à realidade.
— Papai...

*-*-*
— É melhor eu ir.
Birdie acordou com um barulho fora de sua janela e nos
pegou nos beijando no sofá. Se isso a incomodou, ela
definitivamente escondeu bem. Sebastian a subornou com um
biscoito para voltar para a cama e ela perguntou se eu a
colocaria na cama, o que eu fiz.
Sebastian gemeu. — Eu odeio isso.
— Eu também. Mas temos que dar o exemplo para ela.
— Não podemos simplesmente te tirar daqui antes que
ela levante?
Eu fiquei na ponta dos pés e dei um beijo em seus
lábios. — Ela é uma garota inteligente. Não acho que
demoraria muito para ela descobrir as coisas.
Sebastian baixou a cabeça e fez beicinho. — Ok. Vou ligar
para o maldito Uber.
— Obrigada.
— Mas eu quero uma noite inteira. Uma em que posso
adormecer com você em meus braços e acordar, rolar e deslizar
para dentro de você. Eu vou perguntar à Magdalene se ela pode
ficar uma noite em breve.
Eu sorri. — Eu gosto do som disso.
Poucos minutos depois, o Uber chegou e Sebastian abriu
a porta.
— Ei, — ele disse, agarrando minha mão enquanto eu
saía.
Eu recuei. — Sim?
— Sou louco por você.
Minhas entranhas derreteram em um monte de
mingau. — Eu também sou louca por você.
CAPÍTULO 23

SEBASTIAN

Na manhã seguinte, minha filha parecia estar esperando


ver Sadie.
Seus olhos estavam grogues quando ela entrou na
cozinha e perguntou: — Sadie está aqui?
Larguei meu café. — Não, querida. Ela foi para casa
ontem à noite.
— Oh. Eu esperava que ela me fizesse outro monstro
verde.
— Você gostou mesmo daquele shake que ela fez outro
dia, hein? Você não disse isso só para ser legal?
— Não. Eu amei!
— Quer que eu faça para você? — Eu pisquei. — Eu acho
que posso lidar com isso.
— Sim, por favor.
Eu rapidamente me levantei. — Você conseguiu. Um
monstro verde saindo.
Birdie parecia preocupada enquanto se sentava em um
dos banquinhos perto do balcão.
— Tudo certo? — Eu disse enquanto pegava o
liquidificador.
— Acho que o Papai Noel trouxe Sadie para nós.
Seu comentário me pegou desprevenido. Fiz uma pausa,
incapaz de me concentrar em reunir o resto dos ingredientes.
— Acha o quê?
— Eu nunca te contei isso… mas comecei a escrever para
o Papai Noel em junho.
Sabendo a história por trás de quem estava o Papai Noel
realmente, me senti quase desconfortável enquanto Birdie me
confessava isso. Ela passou a contar a história completa de
todas as suas cartas ao Papai Noel. Eu não tinha certeza do
que a compeliu a admitir isso para mim agora.
— De qualquer forma, eu disse ao Papai Noel que queria
uma amiga especial. E acho que Sadie é seu último presente
para mim.
Tive de perguntar: — O que te dá tanta certeza de que foi
o Papai Noel... e não apenas sorte?
— Bem, a mamãe acreditava em escrever para ele.
Mamãe?
— O que você quer dizer?
— A única razão pela qual comecei a escrever para o Papai
Noel foi porque a mamãe costumava ler as cartas que as
pessoas escreviam para o Papai Noel. É por isso que escrevi
pela primeira vez para ele – para o endereço das revistas que
mamãe guardava.
— Sua mãe guardava artigos de pessoas escrevendo para
o Papai Noel?
— Sim. Você sabe aquela grande caixa de bonecas que
você me deu que costumava ser da mamãe?
— O que tem ela?
— É onde estava a pasta. Com todos os artigos do Papai
Noel e outras coisas. — Eu não tinha ideia do que ela estava
falando.
— Você ainda tem?
Birdie assentiu.
— Posso ver?
— Claro. — Ela correu para o quarto e voltou com uma
pasta de papel pardo gasta. Artigos a abarrotavam. Devia ter,
pelo menos, cinco centímetros de espessura e um elástico
grosso amarrado para mantê-la fechada.
Peguei a pasta, confuso. — Por que você não me contou
quando encontrou isso?
Ela olhou para baixo. — Achei que você ficaria bravo
comigo por ter escrito para o Papai Noel. Porque eu realmente
não preciso de muito. E isso é tipo… ganancia. Eu sei. Eu só
queria uma amiga especial para nós… e algumas meias para
você.
— Está tudo bem, querida. Eu não estou bravo. Por que
você não vai tomar seu banho e se vestir, e então vamos levar
o Duque ao parque.
— Ok, papai!
Birdie decolou e eu encarei a pasta por um longo tempo,
inseguro por que isso não caia bem para mim. E daí se
Amanda guardava uma caixa de recortes de Papai Noel? Ela
provavelmente não estava escondendo isso. Talvez a pasta
estivesse na caixa com vários outros arquivos, e essa estava na
parte inferior. Ela os tirou para usar a caixa para outra coisa
e não percebeu que tinha deixado um para trás. Eu tinha
certeza de que havia uma razão lógica.
No entanto, aquela sensação dolorosa na boca do
estômago não desaparecia.
Tentando me livrar disso, tirei o elástico do arquivo e abri
a pasta. Devia haver uma centena de artigos recortados de
revistas aqui. Peneirando, os primeiros vinte ou mais eram
todos artigos do Papai Noel. Parecia que Amanda guardava
cada um dos artigos semanais publicados ao longo de
novembro e dezembro, e há alguns anos. Acho que ela
realmente era uma grande fã. Mas, à medida que me
aprofundava, percebi que havia outros artigos também.
Algumas dezenas de dicas de maquiagem, depois um grupo
que parecia ser sobre mulheres nos negócios – lidando com
política de escritório e coisas como se vestir para o sucesso.
Amanda não gostava muito de maquiagem e definitivamente
nunca trabalhou em um escritório. Então, tudo parecia
bastante aleatório. Por serem recortes, nem todos tinham data.
Mas alguns tinham no topo. Ela cortou esses artigos ao longo
dos anos. Mas, por quê? E por que nunca mencionou sua
pequena coleção?
Então me dei conta.
Artigos de maquiagem.
Etiqueta empresarial.
Cartas de Papai Noel.
Eles não eram aleatórios. Eles tinham uma coisa em
comum.
Examinei os artigos e procurei por um nome em cada um.
Eu não tinha notado a escritora listada na minha primeira
olhada. Os artigos do Holiday Wishes tinham a redatora
listada apenas como Papai Noel.
Mas os outros artigos, aqueles sobre maquiagem e
etiqueta nos negócios eram todas a mesma.
Sadie Bisset.
Anos e anos de artigos escritos por Sadie.
E apenas Sadie. Que porra é essa?

*-*-*

Domingo à tarde, Birdie me convenceu a levá-la com duas


amigas a um daqueles lugares com trampolim. Sadie
apareceu, e planejamos ir ao restaurante Barking Dog no
Upper East Side depois. Era um dos poucos restaurantes com
temática de cachorros da cidade. Embora minha filha tenha
ficado desapontada quando eu disse que Duke não poderia
ir. Aquele cachorro maluco ainda não estava pronto para esse
tipo de passeio. Na verdade, eu não tinha certeza se ele sabia
se comportar o suficiente para entrar em um restaurante.
Sadie e eu nos sentamos tomando café na sala de espera
enquanto as crianças pulavam. Eu estava ansioso para contar
a ela sobre os artigos que descobri. Eu não tinha certeza do
por que, mas não podia simplesmente atribuir isso à
coincidência e deixar para lá.
— Então… Birdie me contou que escreveu para o Papai
Noel ontem.
— Oh. Uau. Estou feliz por ela finalmente confessar isso.
Espero que você tenha sido capaz de parecer surpreso.
Eu concordei. — Ela não teve ideia de que eu já sabia.
— Bom.
— Mas algo interessante surgiu durante a nossa
conversa.
— Oh? O que foi?
— Ela disse que escreveu para você porque a mãe dela
gostava da coluna do Papai Noel.
O queixo de Sadie caiu. — A mãe dela?
Eu assenti. — Ela encontrou seus artigos do Papai Noel
em um arquivo. Amanda recortou todos eles das revistas e os
guardou.
— Então, tudo isso, — ela gesticulou com a mão para
frente e para trás entre nós, — aconteceu porque a mãe dela
era fã da coluna?
— Aparentemente sim.
— Isso é meio estranho, não é? Basicamente, sua esposa,
que faleceu há quatro anos, é responsável por nos
encontrarmos.
— Essa não é a parte mais estranha.
— O que você quer dizer?
— Havia outros artigos na pasta também. Escritos por
você. Eles datavam de quando você começou na revista, ou
perto disso. Aparentemente, Amanda guardou todos eles.
— Uau. — Sadie balançou a cabeça. — Isso é... Eu não
posso acreditar nisso.
Não sei o que estava procurando, mas observei o rosto de
Sadie atentamente. Ela ficou genuinamente surpresa. Talvez
ainda mais chocada do que eu ontem.
— Apenas meus artigos? Ou de outros redatores
também?
— Só os seus. Anos deles.
Suas sobrancelhas se uniram. — Eu não entendo. Quer
dizer que ela era minha fã?
Bebi meu café. — Eu acho. Você tem muitos desses? Fãs
que colecionam seus artigos?
— Eu recebi algumas cartas de fãs ao longo dos
anos. Pessoas dizendo que seguem meus artigos na revista e
outras coisas. Mas isso é apenas uma coincidência bizarra,
não é?
— Isso foi o que pensei.
Nós dois ficamos sentados em silêncio por um tempo,
refletindo sobre o assunto. Eventualmente, Sadie falou. —
Então sua esposa leu todos os meus artigos e os manteve em
uma pasta. Birdie encontrou essa pasta, o que a fez escrever
para mim. Minha personificação do Papai Noel me levou até
sua porta. Onde aconteceu de eu encontrar uma pequena
fivela de borboleta que me fez passar por Gretchen. Também
perdemos alguém que amamos para o mesmo tipo de câncer.
— Ela balançou a cabeça. — Acho que nunca ouvi falar de
destino abrindo tantas portas para fazer as coisas
acontecerem.
Eu sorri. Ela estava certa. Foi o destino. Eu me sentia um
idiota agora. Embora eu não suspeitasse de nada em
particular, tinha apenas uma sensação terrível de que algo
estava trabalhando contra mim, em vez de aceitar pelo
presente que é. Mas talvez fosse por causa do meu histórico.
Cada vez que Amanda e eu estávamos felizes, algo acontecia.
Aprendi a esperar o outro sapato cair. Eu precisava parar de
fazer essa merda e aproveitar o que tinha, não importa como
isso entrou no meu caminho.
Estendendo a mão por cima da mesa, peguei a de
Sadie. — Tive outra ação do destino hoje.
— Oh meu Senhor, o que agora?
— Quando peguei Melissa, a loirinha de cabelos
cacheados que trouxemos conosco, a mãe dela perguntou se
Birdie queria ir buscar maçã no interior do estado amanhã.
Não haverá aula, já que é Dia dos Veteranos.
As sobrancelhas de Sadie se uniram. — Ok, isso é
bom. Mas não tenho certeza do que tem haver com destino. A
menos que você queira dizer que Birdie e eu teremos folga no
feriado amanhã.
Eu balancei a cabeça e sorri. — Não. Elas dirigirão por
três horas para o interior do estado. O destino é que partirão
às seis da manhã para evitar o trânsito.
— OK... Ainda estou perdendo o destino aqui.
— Como sairão muito cedo, a mãe de Melissa perguntou
se Birdie poderia dormir lá esta noite. O que significa que
estarei sozinho por quase vinte e quatro horas.
Os olhos de Sadie brilharam. — Oh, uau. Isso soa como
o destino. — Ela sorriu. — Mas o que você vai fazer com tanto
tempo disponível?
Estendi a mão para a parte inferior da cadeira de Sadie e
a puxei para perto de mim. — Você. Eu vou te fazer... uma e
outra vez.
CAPÍTULO 24

SADIE

Com a casa toda para nós na segunda de manhã, nós


definitivamente nos empolgamos muito rápido. Fiquei
esperando que talvez Sebastian fosse tirar de mim para colocar
uma camisinha em algum momento, mas ele nunca o fez. Ele
sabia que tomava pílula, então não era grande coisa, mas ele
sempre foi diligente sobre a proteção extra toda vez que
estivemos juntos.
Mas tê-lo dentro de mim sem nenhuma barreira era
incrivelmente bom. A sensação era tão intensa que eu gozei
muito mais rápido do que antecipei. Nossos corpos pareciam
estar em sincronia, porque assim que comecei a gozar, o senti
tremer. Estremecemos juntos enquanto nossos orgasmos
dispararam através de nós simultaneamente. Não havia nada
mais bonito do que o som gutural que Sebastian fazia quando
chegava ao clímax. Eu o sentia vibrar por todo o meu corpo.
— Sebastian, — eu gritei várias vezes enquanto ele gozava
dentro de mim.
— Sebastian...
Foi o melhor sexo que tivemos até agora. Eu não tinha
certeza se era porque tínhamos ficado muito mais próximos
recentemente ou o quê. Eu só sabia que nunca me senti mais
conectada a um homem em toda a minha vida.
Ele descansou a cabeça na curva do meu pescoço. —
Sinto muito. Isso foi muito bom. Eu deveria ter parado.
Baixando a mão e apertando sua bunda, eu disse: — Está
tudo bem. Eu tomo pílula.
Ele soltou um suspiro de alívio. — Eu sei. Mas nunca fui
irresponsável assim. Você só me deixa um pouco louco, Sadie.
— Eu te entendo. — Eu sorri.
Ele olhou nos meus olhos e disse: — Sim. Você
definitivamente... me entende.
Delirantemente feliz, retribuí seu sentimento com um
grande sorriso.
— O que você quer fazer? — Ele perguntou. — Temos o
dia todo.
Fazer um monte de nada parecia bom para mim. Ficar em
sua cama assim era uma raridade.
— Podemos simplesmente ficar aqui um pouco? Eu amo
não ter que sair correndo da cama ou me preocupar em ser
pega.
Ele franziu a testa com a minha declaração. — Lamento
não poder tê-la aqui o tempo todo comigo.
— Tudo bem. Isso só torna estar com você ainda mais
especial, quando podemos ter dias como este.
Ele usou o lençol para me puxar de brincadeira em sua
direção. — O que eu vou fazer com você? Você totalmente me
nocauteou, Sadie Mae.
Eu estreitei meus olhos. — Sadie Mae? De onde veio esse
nome?
— Sim. — Ele riu. — Não tenho certeza de onde veio. ‘Mae’
parece combinar com o seu nome. Mas qual é o seu verdadeiro
nome do meio agora que estamos no assunto?
— Não é nada que você possa imaginar.
— Qual é? Conte-me.
— É George.
Seus olhos se arregalaram. — Sério? Em homenagem a
seu pai...
— Sim. Minha mãe achou engraçado me dar o nome do
meu pai. Definitivamente não é feminino, mas eu adoro. É
diferente. — Eu sorri. — Qual é o seu nome do meio?
— Rocco.
— Sério? Eu amo isso. De onde vem?
— Meu avô.
— Nome legal.
Ele moveu o lençol para olhar meu corpo nu. Eu amava a
maneira que ele olhava para mim.
Sebastian parecia estar pensando em algo. — Você sabe,
o fato de que não pensei em parar quando estávamos fazendo
sexo é realmente revelador. Normalmente sou muito
responsável. E acho que parte do motivo pelo qual relaxei é que
me sinto confortável com você. — Ele soltou um suspiro. —
Mas sinto muito não verificar se estava tudo bem para você
antes.
— Eu teria te impedido se estivesse preocupada. Mas se
você quiser... podemos simplesmente abrir mão dos
preservativos agora que já sabe. — Eu pisquei.
— Eu acho que gostaria disso... um pouco demais. —
Seus olhos então pousaram em uma cicatriz no meu
abdômen. Foi a primeira vez que ele pareceu notar. Sebastian
traçou seu dedo ao longo dela. — O que é isso?
Eu olhei para mim mesma. Meu coração disparou um
pouco porque contar essa história poderia me levar a admitir
outras coisas.
— Meu apêndice estourou quando eu era
adolescente. Tive que fazer uma cirurgia de emergência.
— Merda. Deve ter sido assustador.
— Realmente foi. Na verdade... causou algumas
complicações para mim.
Um olhar de preocupação cruzou seu rosto. — Como
assim?
— É uma longa história.
— Eu tenho tempo, — ele disse enquanto agarrava meu
quadril e me puxava em sua direção.
Eu não tinha certeza se era muito cedo em nosso
relacionamento para tocar no assunto. Mas esta era a abertura
perfeita para falar sobre isso. O fato de ele não saber realmente
estava me corroendo um pouco. Não achei que ele fosse me
julgar. Mas, independentemente disso, ainda sentia que era
algo que precisava lhe dizer. Já que estávamos no assunto,
provavelmente não havia momento melhor do que o presente.
Respirei fundo. — Alguns anos depois que meu apêndice
estourou, comecei a sentir dor. Eu estava no final da
adolescência. Fui ao médico para fazer um exame e, quando
me examinaram, descobriram que eu tinha tecido cicatricial
bloqueando minhas trompas de Falópio como resultado da
ruptura do apêndice. Isso significa que, basicamente, no
futuro, posso ter problemas para engravidar.
Sua expressão escureceu. — Eles não puderam fazer
nada por você?
— Bem, acabei fazendo uma cirurgia para consertá-las,
mas eles não conseguiram remover todo o tecido da cicatriz,
então não há garantias. Disseram-me que, no futuro, elas
poderiam ser bloqueadas novamente. É possível que eu não
tenha problemas, mas na época realmente fiquei muito
preocupada que talvez não tivesse sorte em engravidar algum
dia quando estivesse pronta. Minha médica sabia como isso
estava me deixando ansiosa. Então, me encorajou a considerar
a colheita de alguns de meus óvulos. Dessa forma, se um dia
eu chegasse a um ponto em que não pudesse conceber
naturalmente, teria óvulos jovens e saudáveis para fertilização
in vitro.
Sebastian piscou algumas vezes para processar essa
informação. — Então você congelou alguns de seus óvulos...
— Sim. Mas... — Aqui estava a parte para a qual eu
precisava me preparar. Foi algo que nunca disse a ninguém
que namorei antes. — Pouco antes do procedimento, comecei
a pensar em tudo que minha mãe passou… perder sua
capacidade de conceber por causa do câncer e lutando para
adotar. Tudo deu certo no final, porque ela me adotou. Mas
nem todo mundo tem a mesma sorte que nós. Sempre quis
fazer algo para homenageá-la. Então, uma ideia me ocorreu…
já que eu faria o procedimento de colheita de óvulos de
qualquer maneira. — Eu engoli e continuei. — Minha médica
esperava conseguir uma boa quantidade de óvulos porque eu
era jovem e saudável. Eu me perguntei se essa poderia ser
minha única oportunidade de doar alguns para uma família
necessitada, em homenagem à minha mãe.
Seus olhos se arregalaram lentamente. Eu não conseguia
avaliar o que ele estava pensando.
Então continuei. — Isso me fez sentir que não estava
apenas fazendo algo para proteger minha futura fertilidade,
mas também ajudando alguém.
Sebastian piscou algumas vezes. — Uau. Isso é...
certamente uma decisão honrosa para alguém tão jovem.
— Sim. Quero dizer... Eu não queria ter que fazer isso de
novo. Percebi que, já que estava passando por todos esses
problemas, se havia um momento para tomar esse tipo de
decisão, era aquele. Então me joguei. — Eu balancei a cabeça.
— De qualquer forma, nem sei por que fui tão compelida a
admitir isso para você agora. É só que... você me perguntou
sobre a cicatriz e achei que era o momento certo para contar.
— Eu olhei em seus olhos. — Espero que você não me veja de
maneira diferente por causa da minha decisão.
Os segundos que se passaram em que ele não disse nada
imediatamente foram dolorosos.
Então ele segurou meu rosto. — Eu nunca te julgaria por
tomar uma decisão que ajudou outra pessoa. Nunca achei
isso. É definitivamente... surpreendente... mas não algo que
me faça pensar de forma diferente de você, Sadie. Se qualquer
coisa, te admiro ainda mais por fazer isso.
Soltei um longo suspiro de alívio. Não sei por que
esperava que fosse mais difícil do que era. Acho que não
precisava admitir nada, e ele nunca saberia sobre a decisão
que tomei todos aqueles anos atrás. Mas, no fundo, acho que
teria me incomodado não saber como ele se sentiria sobre isso
ou se me veria de forma diferente.
— Então… esses óvulos... — ele perguntou. — Eles foram
para pessoas diferentes?
— Não. Eu não queria isso. Eu queria que todos fossem
para uma pessoa necessitada – uma sobrevivente do câncer
como minha mãe. E não quis saber quem era essa pessoa. Era
importante para mim que não houvesse contato algum. Eu só
queria ajudar alguém. Então, certifiquei-me de que tudo fosse
anônimo. Até hoje, não tenho ideia se alguma coisa
funcionou… se houve um bebê que veio disso.
— Uau. OK. — Ele apertou meu lado. — Obrigado por se
abrir comigo. Eu sei que você não precisava fazer isso. — Então
ele ficou me encarando um pouco.
Ficamos deitados em uma espécie de silêncio
constrangedor depois da minha admissão – até que Sebastian
saiu da cama abruptamente e disse: — Que tal eu pedir o
almoço para nós?
Sentei-me contra a cabeceira da cama. — Isso parece
ótimo.
— Por que você não toma um banho quente? Vou
encomendar algo para que esteja pronto quando você sair.
As coisas pareciam mais brilhantes a cada segundo. Eu
sorri e me levantei da cama. — OK.
*-*-*

No momento em que saí do longo banho, no entanto,


enquanto a comida tailandesa quente me esperava em
recipientes sobre a mesa, Sebastian fez um anúncio
inesperado.
Ele parecia chateado. — Eu tenho que ir até o
restaurante. O chef ligou avisando que estava doente e o
substituto nunca trabalhou conosco antes. Tenho que me
certificar que ele saiba o que está fazendo, supervisionar as
coisas.
— Ah não. Isso acontece com frequência?
— Apenas de vez em quando. Sempre da certo no final,
mas é desesperador.
Isso é péssimo.
— OK… hum, bem… posso fazer alguma coisa?
— Birdie não deve chegar em casa por um tempo. Mas
você pode ficar aqui ou ir para casa. O que preferir.
— Você me avisará se precisar que eu vá buscá-la ou algo
assim se não puder voltar a tempo para ela amanhã?
— Absolutamente. Obrigado por se oferecer para fazer
isso.
Depois que ele saiu, não pude deixar de me perguntar se
havia algo mais em sua partida do que a história que ele me
contara. Eu sabia que provavelmente era uma paranoia
ridícula. Parecia que todo o clima mudou depois que admiti a
ele que havia doado meus óvulos. Posso imaginar como isso
assustaria alguém. Lembro-me de assistir histórias no
noticiário sobre doadores de esperma cujos filhos os
procuraram anos depois. Um cara tinha, tipo, vinte
filhos. Minha situação era diferente, é claro. Eu não fiz isso por
dinheiro. Foi para homenagear minha mãe e ajudar uma
família necessitada. Mas, ainda assim, talvez ele tenha tido
algum tipo de reação tardia à minha admissão.
De qualquer forma, provavelmente estava lendo muito
sobre isso. Tentei tirar isso da cabeça pelo resto do dia.
CAPÍTULO 25

SEBASTIAN

Eu estava sendo ridículo.


Certo?
Suspeitar de tal coisa seria absolutamente louco.
Honestamente, minha mente demorou um pouco para
invocar a teoria maluca que as notícias de Sadie trouxeram.
Em primeiro lugar, fiquei chocado ao ouvir o que ela tinha
passado, quão assustada ela estava, e como isso a levou a
tomar a decisão muito ousada de recolher seus óvulos em uma
idade tão jovem. Mas foi só quando ela mencionou a doação
de óvulos que os alarmes começaram a disparar dentro de
mim.
Era difícil imaginar onde minha mente estava indo com
isso. E ainda assim...
Como não poderia? Como não poderia me perguntar?
Havia uma chance muito boa de que tudo isso fosse apenas
uma grande coincidência. Mas e se não fosse?
Puxando meu cabelo enquanto me sentava sozinho em
um café na esquina do Bianco's, honestamente não tinha ideia
do que fazer. Eu me senti mal por mentir para ela sobre a
situação no restaurante, mas precisava ficar sozinho para
processar isso. Ela definitivamente teria suspeitado de algo no
meu comportamento se eu tivesse ficado por perto.
Pense.
Pense.
Pense.
OK. Quando recebemos as informações de nossa
doadora, tudo o que nos deram foi um perfil de sua aparência,
saúde e antecedentes gerais. Mas... também nos disseram que
nossos óvulos vieram de uma mulher que os doou sem
nenhum custo para ajudar outra família. Suponho que
também possa ser uma coincidência. Mas os artigos. Por que
Amanda os guardou? E como ela poderia ter descoberto o
nome da doadora? O processo foi supostamente
completamente anônimo. E por que não me contar se ela de
alguma forma descobriu? E por que guardar os artigos e não
fazer mais nada a respeito?
Qual era o benefício disso?
Talvez Amanda apenas gostasse daqueles artigos.
Talvez tudo isso fosse uma grande coincidência.
Talvez eu realmente precisasse deixar essa coisa toda ir.
Esquecer que eu até pensei nisso em primeiro lugar. Mas
como? Como poderia simplesmente seguir em frente sem
saber, com certeza, se havia alguma correlação?
E se Sadie fosse a doadora de Birdie? Isso não era uma
intrusão a privacidade de Sadie? Ela não tinha a intenção de
descobrir para quem havia doado. Não era justo fazer isso com
ela. Meu Deus. Isso é uma loucura do caralho.
Queimando, tirei minha jaqueta e descansei minha
cabeça em minhas mãos. Não havia como abordar o assunto
com Sadie sem provas. Certa vez, mencionei que Amanda e eu
tivemos ajuda para fertilidade, mas não contei a ela que
precisamos usar o óvulo de uma doadora por causa dos
tratamentos contra o câncer. Eventualmente, teria lhe contado
e depois o que? Ela poderia se perguntar o mesmo que estou
pensando agora. Eventualmente, teríamos que enfrentar isso.
Se Amanda não tivesse guardado aqueles artigos, nada
disso estaria acontecendo. Mas era muito suspeito para não
considerar. Não havia como alarmar Sadie sem provas, no
entanto. Eu precisava descobrir uma maneira de confirmar as
coisas de antemão.

*-*-*

— Papai, por que você está me olhando engraçado?


Eu nem tinha percebido que estava olhando tão
fixamente para minha filha quando ela sentou à minha frente
comendo seu macarrão na noite seguinte. O dia todo, estive
procurando sinais de Sadie nela. Elas tinham o mesmo cabelo
loiro, mas o rosto de Birdie, também… era meu. Ela se parecia
comigo, então suas características faciais não seriam capazes
de me dar uma pista.
— Só estou pensando em como você é linda, — eu
disse. — E como sou sortudo por tê-la. Isso é tudo.
— Oh. — Ela girou seu espaguete. — Quando vamos ver
Sadie de novo?
— Não essa noite. Mas espero que em breve. Na verdade,
Magdalene virá daqui a pouco cuidar de você para que eu
possa fazer uma visita a Sadie.
— Por que ela não pode vir aqui? — Eu não tinha uma
boa resposta para isso.
— Podemos jantar alguma noite esta semana aqui, ok?
Ela encolheu os ombros. — OK.
Vários minutos se passaram antes que ela me chamasse
novamente.
— Papai...
Eu pisquei para sair do meu devaneio. — O quê, querida?
— Você está me olhando engraçado de novo.
Suspirei. — Estou, não estou?
Birdie não estava apenas sentindo que algo estava errado,
mas eu não podia arriscar foder tudo com Sadie se toda essa
preocupação fosse em vão. Eu a olharia assim também? Eu
precisava descobrir uma maneira de me manter calmo com ela
esta noite.

*-*-*

Depois que Magdalene chegou, fui até o apartamento de


Sadie o mais rápido que pude.
Quando ela abriu a porta, tive o desejo inesperado de
puxá-la em meus braços e apenas abraçá-la. Porque não
importa qual fosse a verdade, eu me importava muito com essa
mulher. Eu não queria que ela acabasse se sentindo magoada
ou violada. Qualquer decisão que ela tomou no passado partiu
da bondade de seu coração, e eu sabia disso.
— O que houve?
Falando em seu pescoço, eu disse: — Estava pensando
em como sou louco por você. Eu também quero me desculpar
por ter encerrado abruptamente nosso encontro de ontem.
— Você não precisa se desculpar por algo assim. Você
tem tanta coisa acontecendo. Honestamente, admiro como
você lida com tudo isso.
Afastando-me para olhar nos olhos dela, disse: — Sabe
de uma coisa, Sadie? Eu estava lidando com isso antes de
conhecê-la, atravessando os movimentos da vida com pouca
esperança para mim mesmo. Cuidar de tudo é muito mais fácil
quando você tem alguém ao seu lado, alguém que te traz
alegria. Nunca duvide do que você trouxe para minha vida. Eu
sei que não estamos juntos há muito tempo, mas não sou tão
feliz há muito tempo.
Ela parecia prestes a chorar. — Você sabe que não
precisa dizer coisas assim para entrar nas minhas calças,
certo? — Ela bateu de brincadeira no meu ombro. — Sério,
obrigada por dizer isso. Eu me sinto muito sortuda por ter te
conhecido. Esta é a primeira vez em anos que não mudaria
nada em minha vida.
Pegando seu rosto em minhas mãos, inclinei-me, tomei
sua boca na minha e fechei os olhos, apreciando cada
movimento de nossas línguas, cada gosto. Eu não queria que
nada mudasse. Tudo estava perfeito do jeito que estava, sem
nada acontecendo para virar nossos dois mundos de cabeça
para baixo.
Levantando Sadie impulsivamente, levei-a para o quarto
e a coloquei na cama. Ela alcançou minha cintura, desfazendo
minha fivela e jogando o cinto para o lado. Meu pau rígido
saltou para frente enquanto eu empurrava minha boxer para
baixo e me abaixava sobre ela. Em segundos, ela abriu bem as
pernas para mim e entrei nela.
Sexo com Sadie era sempre diferente. Às vezes era forte,
outras vezes lento e sensual. Desta vez foi pura paixão, uma
manifestação das palavras que acabei de admitir para ela
minutos antes. A sensação de sua carne quente contra meu
pau nu, como sempre, era quase demais para suportar. Eu
demorei alguns minutos antes de perder o controle, esvaziando
meu esperma dentro dela mais rápido do que queria.
— Merda. Sinto muito, — eu disse enquanto continuava
a me mover para frente e para trás dentro dela.
Agradou-me sentir seus músculos apertarem ao redor do
meu pau segundos depois. Não havia nada mais bonito do que
senti-la gozar ao meu redor.
Com meu pau ainda enterrado dentro dela, murmurei
contra seu pescoço,
— O que eu fazia antes de você?
— Espero que você nunca precise se lembrar. — Ela
sorriu.
Nós nos abraçamos por um longo tempo, e Sadie
realmente cochilou logo depois disso. Ela deve ter tido um
longo dia. Meu plano era voltar para casa às onze, horário em
que ligaria para um Uber levar Magdalene para casa.
Agora eram nove eu não tinha ideia de quanto tempo
Sadie dormiria. Eu sabia que essa poderia ser minha única
oportunidade de fazer algo que realmente precisava – por mais
errado que parecesse e por mais que não quisesse ter que fazer.
Lenta e cuidadosamente me levantando da cama, fui até
a cozinha e olhei ao redor. Encontrei um estoque de sacos
Ziploc e tirei dois da caixa.
Aventurando-me silenciosamente em seu banheiro,
roubei sua escova de dente e a coloquei em um dos sacos.
Abrindo a gaveta abaixo, peguei uma mecha de cabelo de sua
escova e coloquei no outro saco. Pelo que eu sabia, o cabelo
precisava ser arrancado pela raiz para o teste de DNA, então
duvidava que fosse preciso, mas esperava que, pelo menos, a
escova de dente fosse suficiente.
Jesus.
Vou realmente fazer isso?

*-*-*

Eu me senti um ladrão.
Uma mecha de cabelo e uma escova de dente usada
podem não ter nenhum valor monetário, mas o que fiz foi roubo
mesmo assim – roubei o direito de Sadie à privacidade. E me
senti um merda desde o momento em que fiz isso.
De pé no saguão do correio, abaixei minha cabeça
enquanto me inclinava no balcão e soltei um suspiro
trêmulo. Eu tinha acabado de enviar as amostras de teste de
DNA que coletei e não podia voltar para casa ainda. Minha
cabeça latejava, meu peito estava apertado e estava com uma
sensação de afundamento na boca do estômago. Normalmente,
tomaria Motrin para dor de cabeça, mas não merecia nenhum
alívio. Eu era um pedaço de merda que merecia sentir como se
alguém tivesse esculpido suas têmporas.
Mesmo que eu estivesse enojado com o que tinha feito
desde ontem, isso ainda não me impediu de ser o primeiro na
fila do correio quando abriu esta manhã.
Quando Sadie me contou sobre sua doação de óvulos, ela
disse que nunca quis saber quem eram os destinatários de sua
generosidade. Na verdade, ela se certificou de que todo o
processo fosse anônimo antes de prosseguir com ele. E por
alguma razão, não acho que ela já teve contato com seus
próprios pais biológicos. Pelo menos ela nunca mencionou
isso. Então, eu tinha certeza de que ela não queria saber se
tinha filhos.
Mas eu precisava saber.
Além disso, quais eram as chances de Sadie ser nossa
doadora? O centro de fertilidade nunca nos disse de qual
estado a pessoa era, apenas que era uma cidadã americana.
Existem mais de trezentos milhões de pessoas neste país. Eu
teria mais chance de ganhar na maldita loteria. Sadie
provavelmente acharia que enlouqueci por imaginar que era
uma possibilidade dentre trezentos milhões de pessoas no
país, de minha filha resolver escrever uma carta à sua mãe
biológica. Quanto mais eu pensava sobre isso, mais percebia
que ela provavelmente estava certa – eu estava um pouco
maluco por considerar que isso poderia acontecer.
O pior é que nunca me perguntei quem poderia ser a mãe
biológica da minha filha antes do outro dia, mesmo sabendo
que ela estava por aí em algum lugar. Pensei muito sobre isso
nas últimas quarenta e oito horas. Por que estava tão
compelido a saber agora, quando não estava nem um pouco
interessado em saber apenas alguns dias atrás? A resposta era
óbvia – porque era Sadie. Mas, o que eu esperava com esses
resultados?
Eu queria que Sadie fosse a mãe biológica de Birdie?
Ou queria voltar a não saber quem era a doadora do
óvulo?
Eu lutei demais com essas questões. No fundo, embora
não quisesse admitir, acho que uma parte de mim queria que
Sadie fosse a mãe de Birdie. Minha filha perdeu a mãe muito
jovem, e eu daria tudo para que ela pudesse ter sua mãe
novamente. Mas esse tudo que eu daria incluía forçar uma
mulher que amava a reconhecer uma criança que ela nunca
planejou conhecer?
Pisquei algumas vezes.
Uma mulher que amava.
Eu amo Sadie?
Meus ombros caíram e deixei escapar um forte suspiro de
derrota.
Porra.
Eu amo.
Eu estava apaixonado por ela.
Ótimo. Simplesmente ótimo. Eu traí uma mulher que
amo.
Eu tinha certeza que nunca me perdoaria. Mas está tudo
bem. Eu merecia me punir pelo que tinha feito… e mais um
pouco. Isso nem era uma questão. O mais importante agora
era, Sadie algum dia me perdoaria?
CAPÍTULO 26

SADIE

Sebastian estava agindo de forma estranha nos últimos


dias.
Ele estava mais quieto do que o normal e parecia muito
distraído. Esta noite preparei o jantar para ele e Birdie na casa
deles, e então nós três levamos Marmaduke para o parque de
cães. Como sempre, Birdie falou sem parar, mantendo-nos
entretidos com as histórias da escola hoje. Mas assim que ela
foi para a cama, tornou-se realmente perceptível o quão longe
estava a mente de Sebastian.
Eu tinha acabado de lhe contar sobre um artigo em que
estava trabalhando para minha coluna, onde entrevistaria
homens e mulheres após seu primeiro encontro às cegas e
veria como suas respostas divergiam em um determinado
grupo de perguntas. Muitas vezes, uma pessoa acha que as
coisas correram bem, enquanto a outra sai com a sensação de
que o encontro foi um fracasso total. Eu divaguei por sólidos
dez minutos, e meu instinto me disse que Sebastian não tinha
realmente ouvido uma palavra. Ele estava olhando
diretamente para mim, mas seus olhos não estavam
focados. Então decidi testar exatamente o quão longe sua
mente vagou.
— Então... — eu disse. — Achamos que seria divertido
fazer as perguntas pós-encontro nus. Você sabe, para manter
o artigo interessante e tudo.
Parei de falar e esperei que Sebastian respondesse. Ele
piscou algumas vezes e parecia que tinha acabado de descobrir
que era sua vez de falar.
— Oh. Isso parece ótimo.
Eu fiz uma careta. — Sim, é perfeito. Não vou dormir com
mais de dois ou três deles. Portanto, não se preocupe.
Ele começou a acenar com a cabeça. — Certo,
ótimo... Espere... o que você acabou de dizer?
— Oh, oi, Sebastian. É legal da sua parte se juntar a mim
nesta conversa.
— Do que você está falando?
Eu revirei meus olhos. — Estou falando que você não
ouviu uma palavra do que eu disse na última meia hora. Sua
mente está obviamente em outro lugar. O que está
acontecendo com você? Está tudo bem?
Ele olhou para baixo. — Sim. Está tudo bem. Apenas
muita coisa na cabeça.
— Tipo o quê?
Ele continuou a evitar contato visual. — Eu… uh… Ainda
não contratei um novo gerente no restaurante.
Eu sabia que ele estava cheio de merda. — Olhe para
mim.
Seus olhos saltaram para encontrar os meus.
— O que mais está acontecendo? — Eu disse. — Eu sinto
que é algo mais do que apenas trabalho.
Os olhos de Sebastian baixaram enquanto ele balançava
a cabeça. Ele tentou manter o contato visual, mas não
conseguiu. Este homem não era um bom mentiroso. Desde
que notou minha cicatriz de apêndice, ele começou a agir de
forma estranha. Não achei o momento uma coincidência. Tive
a sensação de que sua mudança de humor tinha algo a ver
com a conversa que tivemos sobre meus óvulos. Para ser
sincera, desde que conversamos, também não conseguia parar
de pensar nas coisas.
Peguei sua mão. — Há alguma chance de que o que te
falei outro dia tenha te chateado? Sobre a minha colheita de
óvulos e doação de alguns?
Os olhos de Sebastian se arregalaram, mas ele novamente
os desviou rapidamente antes de balançar a cabeça.
Sua reação praticamente confirmou que era isso, mas por
algum motivo ele ainda não queria admitir. No ano passado,
eu fiz um artigo sobre namoro intitulado Deal Breaker, onde
entrevistei algumas centenas de homens e mulheres solteiros
sobre o que descartaria o potencial relacionamento com
alguém de quem eles realmente gostaram. Ambos os lados
listaram as crenças espirituais entre seus agravantes. Eu
sabia que Sebastian era católico e a Igreja Católica era contra
a fertilização in vitro, então talvez fosse isso. Ou talvez o fato
de eu ter basicamente dado meus óvulos para um completo
estranho o assustou um pouco.
— Você… tem crenças religiosas contra a inseminação
artificial?
As sobrancelhas de Sebastian se juntaram. — Crenças
religiosas? O quê? Não, claro que não.
— O que é então? Você não tem sido o mesmo desde que
falamos sobre isto.
Ele suspirou e me puxou para um abraço. — Eu sinto
muito. Não tive a intenção de fazê-la sentir que disse ou fez
algo errado. Acho que o que você fez, colher seus óvulos para
evitar um possível problema de concepção futura e doar alguns
em homenagem à sua mãe, foi extraordinário.
Eu me afastei para olhá-lo nos olhos. — Você acha? Você
tem certeza?
Ele assentiu. — Foi um ato muito altruísta. Ouvir sobre
o que você fez acabou de confirmar que és, sem dúvida, uma
das pessoas mais bondosas e compassivas que já conheci em
minha vida.
Eu exalei com um suspiro. — Estou tão feliz que você se
sinta assim. Eu realmente achei que talvez o que você
descobriu te fez pensar menos de mim.
— Por que eu pensaria menos de você pelo que fez?
— Eu não sei. Acho que estava preocupada que você
achasse estranho eu ter doado meus óvulos, que podem muito
bem ter crescido e virado crianças. — Eu balancei minha
cabeça. — Você sabe, o fato de eu ter filhos por aí com os quais
não tenho nada a ver.
Sebastian ficou quieto por um momento antes de falar
novamente. — E se… com todos os testes genéticos que se
tornaram comuns nos dias de hoje… e se você descobrisse que
tem um filho ou uma filha por aí? Você gostaria de conhecê-
los?
Eu balancei a cabeça. — Eu não sei. Acho que deixaria
isso para a criança. Como alguém que foi adotado, nunca quis
conhecer meus pais biológicos. Muitos filhos adotivos têm um
sentimento de abandono e ressentimento em relação aos pais
biológicos, mas eu nunca tive. Estranhamente, não vejo a
decisão de minha mãe como tendo algo a ver comigo. Eles nem
sabiam quem eu era ainda, então não levo isso para o lado
pessoal. Embora eu também não deprecie alguém que se sente
assim. Acho que se um dos meus pequenos óvulos conseguiu
se tornar uma pessoa viva de verdade e ele ou ela quisesse me
conhecer, eu estaria bem com isso. Mas a decisão deve ser da
criança quando tiver idade suficiente para tomá-la. Não minha.
O rosto de Sebastian estava tão solene, mas ele balançou
a cabeça. — Você é realmente uma pessoa bonita, Sadie.
Eu ri. — Eu não sei sobre isso. Mas ainda me sinto bem
com o que fiz. Portanto, estou aliviada por não ter te chateado.
Embora, se não é isso, eu realmente gostaria de saber o que
está te incomodando.
Sebastian balançou a cabeça. — Não é nada. Mas você
está certa – não tenho sido eu mesmo nos últimos dias. E sinto
muito por isso. Eu não queria te deixar preocupada.
— Tudo bem. Todos nós temos altos e baixos. Só espero
que você saiba que estou aqui para ouvir se algo estiver te
incomodando. Não importa o que seja.
Sebastian segurou minhas bochechas. — Eu sei. E é por
isso que sou louco por você.
Eu sorri. — Eu também sou louca por você.

*-*-*

Tudo pareceu voltar ao normal depois disso, embora


Sebastian estivesse trabalhando ainda mais do que o normal,
já que não tinha mais um gerente. Eu acho que fazia sentido
que isso estivesse pesando em sua mente. Como ele estava
muito ocupado, me ofereci para ajudar mais com Birdie, para
que Magdalene não trabalhasse oitenta horas por
semana. Esta noite, vim direto do escritório. Trouxe um
projeto de artesanato para nós duas, imaginando que era
sexta-feira, e Birdie poderia ficar até um pouco mais tarde.
Sentamo-nos à mesa da sala de jantar depois do jantar,
fazendo pulseiras da amizade. O kit vinha com barbante
colorido suficiente para fazer dez. Birdie estava na segunda e
já havia descoberto como tecer desenhos.
— Uau. Essa parece incrível, — eu disse.
— Estou fazendo isso para minha melhor amiga.
Eu sorri. — Ela é uma garota de sorte. Sabe, quando eu
tinha sua idade, fazíamos pulseiras da amizade com alfinetes
e contas. Todo mundo dava para seus melhores amigos na
escola. Então fiz uma e dei ao meu amigo Darren. Ele morava
na casa ao lado e brincávamos juntos depois da escola todos
os dias.
Birdie riu. — Seu melhor amigo era um menino?
— Bem, eu achava que sim. Mas quando me aproximei
dele na escola para lhe dar a pulseira que fiz, ele estava com
seus amigos e agiu de modo estranho. Ele enfiou no bolso e fez
parecer que não tinha ideia de por que dei a ele.
Aparentemente, não era legal para um garoto ser o melhor
amigo de uma garota, e eu era a única que não sabia disso.
— Você se sentiu mal?
Eu assenti. — Sim. Nos dias seguintes, ele veio ver se eu
queria brincar, e eu disse que não. Acho que ele se cansou de
não ter ninguém com quem brincar porque uma semana
depois, ele começou a usar a pulseira da amizade na escola.
Nunca conversamos sobre isso, mas comecei a brincar com ele
novamente.
— Vou dar a primeira que fiz para Jonathan na escola.
— Oh? Ele é seu melhor amigo?
— Não. Mas Suzie Redmond gosta dele, e ele disse a
Brendan Andrews que não gosta dela porque gosta de mim.
Oh, uau. Garotos? Já? Ela tinha apenas dez anos. —
Você… gosta de Jonathan também?
Birdie franziu o narizinho fofo. — Definitivamente não. —
Ela encolheu os ombros. — Além disso, papai disse que não
posso gostar de meninos antes dos trinta, de qualquer
maneira.
Eu ri. Isso soava como algo que Sebastian diria.
Estranhamente, eu estava pensando que talvez ele estivesse
certo sobre isso.
— Posso te perguntar uma coisa, Sadie?
— Claro, qualquer coisa.
— Papai é seu namorado, certo?
— Sim, eu acho que é. Por que a pergunta?
— Então... se papai é seu namorado e eu te chamar de
Sadie, como eu te chamaria se você e papai se casassem algum
dia?
Minhas mãos estavam tecendo uma pulseira e
congelaram. — Umm. Papai e eu não vamos nos casar tão
cedo.
— Eu sei. Mas se vocês fizerem isso, como eu te
chamaria? Eu ainda te chamaria de Sadie?
Deus, eu não tinha ideia de qual era a resposta certa para
essa pergunta. — Não tenho certeza, querida. Acho que você,
seu pai e eu nos sentaríamos e conversaríamos sobre isso. E
provavelmente se resumiria a qualquer coisa com a qual você
se sentisse mais confortável.
— Mas você seria minha mãe, certo?
Peso se estabeleceu em meu peito. Esta... esta era a razão
pela qual sempre me senti tão ligada à Birdie. Eu sabia o que
era sentir falta de uma mãe.
— Bem, sua mãe sempre será sua mãe. Tecnicamente, se
seu pai e eu nos casássemos, eu seria sua madrasta. Mas não
preciso casar com seu pai para que você seja especial para
mim. — Inclinei-me e passei a mão no cabelo de Birdie. — Você
sabe que é especial para mim, certo, Birdie? — Ela forçou um
sorriso, mas pude ver que ainda estava preocupada.
— O que há de errado, querida?
— Bem, o que acontecerá se você e o papai não se
casarem e você encontrar outra pessoa e se casar com ele?
— Oh querida. — Eu balancei a cabeça. — Por favor, não
se preocupe com isso. — Estava na ponta da língua dizer que
sempre estaria aqui para ela. Sentia uma forte conexão com
Birdie. Mas, honestamente, esse tipo de compromisso era algo
que eu precisava resolver com Sebastian antes de assumir. Eu
não gostaria de fazer uma promessa importante como essa, a
menos que soubesse que poderia absolutamente cumpri-la. —
Estaria tudo bem se falássemos sobre isso novamente outra
noite? Quero pensar sobre algumas das perguntas que você me
fez. Porque são questões importantes e quero dar-lhe as
respostas certas.
Birdie sorriu. — Certo. — Ela voltou a tecer sua pulseira
da amizade e então parou novamente. — Sadie?
— Sim, querida?
— Já que você vai pensar um pouco, tenho outra
pergunta.
Oh, cara. — Certo. Qual é?
— Como o Papai Noel entra em nossa casa? Papai coloca
uma daquelas tampas na nossa chaminé para que os esquilos
não entrem, lembra?
Eu ri. — Você está cheia de perguntas difíceis esta noite.
Deixe-me pensar sobre isso também.
E assim, nossa conversa séria acabou e as coisas
voltaram ao normal. Uma hora depois, arrumamos as peças de
arte e artesanato e Birdie foi se preparar para dormir. Ela
escovou os dentes, vestiu o pijama e voltou carregando uma
das pulseiras que havia feito.
— Essa saiu muito boa. Acho que é a minha favorita das
cinco que você fez. Você disse que é para a sua melhor amiga,
certo? — Ela assentiu.
— Qual é o nome dela?
Birdie estendeu a pulseira para mim. — O nome dela é
Sadie, boba. É para você.

*-*-*

— Ei, dorminhoca. — Sebastian afastou uma mecha do


meu cabelo do rosto. Devo ter adormecido no sofá assistindo
TV.
Eu estiquei meus braços sobre a cabeça. — Que horas
são?
— Quase uma. Eu sinto muito. Realmente preciso
encontrar um novo gerente. Não posso continuar fazendo isso
com você e Magdalene.
Sentei-me e esfreguei os olhos. — Está tudo bem. Eu não
me importo nem um pouco.
— Eu sei que não. Mas eu odeio que você volte para casa
tão tarde. Na verdade, estava pensando... Magdalene já dormiu
aqui antes, nas noites em que tive um incidente ou uma
emergência no restaurante. Ela dormia no sofá-cama do meu
escritório. E se eu conversasse com Birdie e dissesse que você
vai ficar aqui às vezes, pelo menos nas noites em que tenho
que trabalhar até tarde? Vou dormir no sofá e você pode ficar
no meu quarto.
— Isso pode ser uma boa ideia. Mas ela não pode acordar
comigo na cama com você.
Ele assentiu. — Eu sei. Vou falar com ela amanhã. —
Sebastian notou a pulseira amarrada em meu pulso e passou
o dedo por ela, dando um puxão. — Novas joias?
— Birdie e eu trabalhamos hoje à noite. Na verdade, ela
me disse que estava fazendo para sua melhor amiga, e logo
antes de ir para a cama, ela a pegou e me deu.
Ele sorriu. — Minha filha tem bom gosto para mulheres.
Ela se parece com seu velho.
— Sim. Eu achei muito fofo. Ela realmente iniciou uma
conversa interessante esta noite.
— Oh, sim? Sobre o quê?
— Bem, primeiro ela queria saber como ela me chamaria
se nos casássemos.
As sobrancelhas de Sebastian saltaram. — Merda. O que
você disse?
— Eu basicamente evitei. Disse a ela que se isso
acontecesse, nós três sentaríamos e teríamos uma conversa
sobre o assunto.
Sebastian uniu nossas mãos. — Boa decisão. Estou feliz
por ela perguntar isso a você e não a mim.
— Então ela me perguntou o que aconteceria se nós
terminássemos e eu conhecesse outra pessoa e me casasse
com ele.
Ele franziu a testa. — Ela sabe algo que eu não sei?
Eu ri. — Não. Mas acho que ela realmente queria que eu
assumisse o compromisso de que continuaríamos amigas, ou
o que quer que sejamos, mesmo que as coisas não funcionem
entre você e eu. A perda obviamente está pesando sobre ela.
Por alguma razão, ela está preocupada em me perder também.
Sebastian suspirou. — Você é a primeira mulher com
quem ela se conecta desde que sua mãe morreu.
Eu assenti. — Sim. Eu percebi isso. É por isso que achei
que deveríamos conversar um pouco antes de fazer esse tipo
de promessa a ela.
O olhar de Sebastian ficou sério. — Você quer prometer a
ela que sempre serão amigas, independentemente do que
aconteça entre nós?
Eu assenti. — Quero. Eu sei que só a conheço há alguns
meses, mas ela é muito especial para mim. Eu a amo,
Sebastian. Então, se você aceitar que eu mantenha contato
com ela se nos separarmos, independente do que aconteça
mesmo se, digamos, você sair com outra pessoa e ela não se
importar que sua ex-namorada apareça de vez em quando –
então eu gostaria de fazer a promessa de sempre estar lá para
ela.
Sebastian engoliu em seco. Seus olhos ficaram vidrados
e ele segurou minhas bochechas. — Sadie Gretchen Bisset
Schmidt, eu te amo demais. Eu já sabia disso há um tempo,
mas fui covarde demais para admitir para mim mesmo. No
entanto, você e minha filha de dez anos são completamente
destemidas em dar amor. — Ele balançou a cabeça. — Vocês
duas me deixam envergonhado. Eu gostaria de ter metade da
coragem que vocês duas têm.
Meu batimento cardíaco acelerou e o calor inundou meu
peito. — Você realmente me ama?
— Eu amo. Eu te amo, Sadie.
Minha mão cobriu meu coração. — Eu também te amo,
Sebastian. E eu sei disso há um tempo. Na verdade, posso
provar para você!
Os cantos de seus lábios se contraíram. — Como?
Eu sorri de orelha a orelha. — Ich liebe dich!
CAPÍTULO 27

SEBASTIAN

No sábado de manhã, a campainha tocou quando eu


estava me preparando para sair para o trabalho.
— Já atendi, Magdalene!
Um jovem com uniforme da UPS estendeu um tablet. —
Sebastian Maxwell?
— Sim.
— Assine aqui, por favor.
Rabisquei meu nome, presumindo que fossem os novos
iPads que pedi para o restaurante. Todo o nosso sistema era
eletrônico e, como quebramos dois dias atrás, agora estávamos
reduzidos a um. Depois de assinar, o motorista me entregou
um pequeno envelope. — Tenha um bom dia.
— Você também, — eu disse.
Fechei a porta e comecei a voltar para dentro de casa,
ainda sem pensar no que estava em minhas mãos. Até que vi
o logotipo na embalagem.
Puta merda.
Eu congelei no meio do passo.
Eu conhecia esse logotipo.
O laboratório.
Mas eles disseram de sete a dez dias úteis, e ainda não
tinha se passado uma semana inteira. Uma sensação
avassaladora de pavor tomou conta de mim.
Porra.
Eu encarei o envelope. Minha vida inteira poderia ser
virada de cabeça para baixo por causa do que estava
dentro. Eu me senti mal, completamente enjoado.
Birdie veio pulando para o vestíbulo da frente, onde eu
ainda estava. Ela olhou para minha expressão e para o
envelope. — O que é isso?
— Uh... nada. — Enfiei no bolso de trás. — Apenas uma
conta de algo que comprei para o restaurante.
— Sadie virá esta tarde, certo, papai?
Meu peito doía só de pensar em Sadie em qualquer lugar
perto deste envelope.
— Sim, querida. Ela disse que virá por volta das cinco.
— Podemos ir jantar no restaurante?
Eu não tinha ideia de como seria capaz de olhar na cara
de qualquer uma delas naquele momento. Ainda assim
balancei a cabeça. — Claro. Se estiver tudo bem com
Sadie. Vocês são sempre bem-vindas.
Birdie saltou para cima e para baixo. — Vou perguntar à
Sadie se podemos nos vestir bem!
Eu sorri e me inclinei para beijar o topo de sua cabeça. —
OK. Eu preciso ir. Provavelmente te vejo mais tarde, então.
— Eu te amo, papai.
— Eu também te amo, minha pequena Birdie.
*-*-*

Quando Sadie e Birdie chegaram no Bianco's, eu estava


um caco. Incapaz de me concentrar, estar aqui não era útil a
qualquer um. Continuei dando instruções erradas, e o
candidato a gerente que estava em treinamento provavelmente
achou que eu estava drogado.
Sadie acenou para mim enquanto ela e Birdie eram
levadas pela recepcionista a uma mesa perto de uma das
lareiras. Meu coração estava praticamente explodindo no meu
peito enquanto eu olhava para elas, minhas duas meninas.
Elas estavam arrumadas como se estivessem prestes a
participar de um maldito baile. O cabelo loiro de Sadie estava
preso em um coque, expondo seu pescoço elegante. Eu nunca
tinha visto assim antes. Mesmo tão fodido quanto estava esta
noite, imaginei afundar meus dentes em sua pele.
E Birdie. Minha filha estava adorável. Seu cabelo estava
penteado exatamente igual ao de Sadie – exceto que ela usava
uma pequena tiara. Sadie usava um longo vestido de noite
preto, enquanto Birdie usava um vestido roxo com babados na
barra.
— Olhe para vocês lindas senhoritas. Você não estava
brincando quando disse que Sadie ia te vestir bem.
— Às vezes, uma senhorita precisa viver como a princesa
que é. — Sadie piscou para Birdie.
— Não estamos bonitas, papai?
— É melhor você colocar um guardanapo sobre esse lindo
vestido, Birdie. Eu sei como você normalmente fica bagunçada
quando come bolonhesa.
Respirei fundo. A ansiedade em meu peito estava
começando a crescer de repente novamente. Sempre que eu
pensava no envelope que estava no fundo do meu armário em
uma caixa onde eu guardava CDs velhos, enlouquecia. Eu não
abri. Eu ainda não estava pronto. Não só isso, quanto mais eu
pensava nisso, mais percebia que era uma grande violação da
privacidade de Sadie. Eu ainda não tinha ideia do que
fazer. Mas isso estava me corroendo, e eu sabia que não
poderia durar muito tempo.
Enquanto fiquei ali ruminando na frente de minha
namorada e filha, aparentemente estava fazendo um péssimo
trabalho em esconder meu pânico contínuo.
Uma expressão preocupada cruzou o rosto de Sadie. —
Seb, você está bem?
Pisquei várias vezes. — Você sabe... Não me senti bem o
dia todo.
Não era mentira.
Puxei uma cadeira e me sentei com elas, bebendo a água
que havia sido colocada na frente de Sadie.
Sadie colocou sua mão na minha. — É o estresse. Você
está tão preocupado com a falta de pessoal aqui. Eu sei que
isso está te afetando.
— Sim. Provavelmente é isso. — Coloquei minha outra
mão sobre a dela e apertei, forçando um sorriso para aliviar
sua preocupação.
Ela sentiu minha testa. — Você está realmente
congelando. Não acho que esteja com febre.
Birdie fez beicinho. — Papai, você pode parar de trabalhar
e comer com a gente? Aposto que você vai se sentir melhor
depois de uma grande tigela de Massa à Bolonhesa Birdie.
Eu precisava me recompor. Precisava sentar e fazer uma
refeição normal com elas e calmamente descobrir como lidar
com a situação sem me denunciar.
Recomponha-se.
— Você sabe o quê? Acho que esse pode ser o remédio de
que preciso. Deixe-me fazer os pedidos. — Eu me virei para
Sadie. — O que você quer, baby?
Ela olhou para Birdie e sorriu. — Por que não fazemos
disso um Triplo à bolonhesa.
Eu concordei. — Três massas à bolonhesa de Birdie
chegando.
Enquanto me retirava para a cozinha para fazer o pedido,
respirei fundo, saboreando a pausa de ter que olhar Sadie nos
olhos. Enquanto estava lá em meio ao caos da cozinha,
ouvindo os sons de panelas, vendo o vapor emanar do fogão,
todos os sons se tornaram amplificados. Até mesmo o picar da
salada parecia uma pancada dentro da minha cabeça. Ficou
mais claro a cada segundo que eu não podia lidar com isso
sozinho. Meu medo não era sobre o resultado final daquele
teste de DNA. Era sobre perder Sadie pelo que eu tinha feito,
agir pelas costas e roubar suas coisas. Eu sabia que precisava
contar a ela antes de abrir o envelope. A escolha não era
minha. Era de Sadie. Era toda dela.
Enxugando minha sobrancelha, respirei fundo e voltei
para a mesa.
— O jantar deve estar pronto em breve. — Eu sorri,
olhando entre elas.
— OK. — Sadie estendeu o braço sobre a mesa e pegou
minha mão, depois estendeu a mão e ofereceu a outra para
minha filha. — Birdie, querida, quero falar com você sobre
uma coisa.
Birdie colocou a mão na de Sadie. — Você vai me dizer
que não podemos comer sobremesa? Porque eu realmente não
consigo parar de pensar naqueles biscoitos arco-íris que fazem
aqui. Eles são tão macios com algum tipo de geleia no meio, e
toda a parte externa é feita de chocolate. Eu ia perguntar se
poderíamos comê-los antes do jantar, mas imaginei que papai
diria não.
Sadie riu e balançou a cabeça. — Definitivamente não era
o que eu ia dizer. Mas, já que estamos falando de biscoitos
arco-íris, acho que devemos pedir duas porções desses. —
Sadie olhou para mim, sorriu e apertou minha mão. — Eu
queria falar sobre algo que você me perguntou outro dia. Você
perguntou o que aconteceria se seu pai e eu
terminássemos. Tenho pensado muito sobre essa questão e até
discuti com seu pai. Então, pensei em dar uma resposta
melhor agora que tive tempo para pensar sobre isso. — Sadie
olhou para mim novamente e depois se inclinou para mais
perto de Birdie, olhando-a diretamente nos olhos. — Não
importa o que aconteça entre seu pai e eu, não vou a lugar
nenhum quando se trata de ser sua amiga. Acho que o que
estou tentando dizer é que você está meio que presa a mim,
garota. Não importa onde a vida leve qualquer uma de nós, eu
gostaria de fazer parte da sua vida. — Sadie olhou para mim.
— E seu pai está bem com isso, não é, Sebastian?
Fiquei engasgado assistindo as duas juntas e tive que
limpar minha garganta antes de falar. —
Absolutamente. Sadie sempre será bem-vinda em nossa
família.
Birdie se levantou da cadeira e parou diante de mim. Ela
colocou o queixo contra o peito e disse: — Papai, você pode
tirar minha tiara do meu cabelo para mim?
Minhas sobrancelhas franziram, mas eu fiz isso.
Desembaraçando alguns fios de cabelo que estavam presos,
tirei a coroa brilhante do topo da cabeça da minha filha e
entreguei a ela. Ela então foi até Sadie.
— Esta é a nossa coroa de amiga especial. É a coisa mais
favorita que tenho. Uma vez achei que tinha perdido, então
meu pai foi e comprou para mim outra igual. Portanto, tenho
duas. Eu quero que você fique com esta. Isso significa mais do
que apenas uma pulseira de amizade.
Sadie sorriu largamente e abaixou a cabeça para Birdie
colocar a coroa em seu cabelo. Quando ela terminou, minha
filha praticamente pulou nos braços de Sadie. As duas
trocaram um longo abraço e então Birdie voltou a perguntar
sobre a sobremesa. Ela queria ter certeza de que eu separaria
duas porções de seus biscoitos para que não esgotassem. Mas
enquanto minha filha voltava aos negócios como sempre, senti
como se meu mundo tivesse acabado de oscilar e eu precisava
de uma bebida para me acalmar um pouco. Então chamei o
garçom para trazer à Sadie e a mim uma garrafa de Pinot Noir.
Depois, olhei para minhas duas princesas e rezei para
que esta noite, depois que Birdie fosse dormir, a revelação que
eu faria não me deixasse com apenas uma.

*-*-*

Sadie levou Birdie para seu quarto para ajudar a soltar


seu cabelo e prepará-la para dormir. Nesse ínterim, eu
andei. E andei um pouco mais. Sadie ainda suspeitava que
algo não estava certo comigo, apesar de meus melhores
esforços para fingir durante o jantar. Seu comportamento
mostrou claramente que ela sabia. Eu duvidava que seria o
primeiro a abordar meu comportamento assim que ela saísse
do quarto de Birdie. Eu sabia que ela me enfrentaria uma vez
que minha filha estivesse em segurança fora do alcance da
voz. Honestamente, esperava que ela fizesse isso. Porque eu
não tinha ideia de como começaria a abordar o assunto se ela
não o fizesse.
Ainda andando de um lado para o outro na sala de estar,
observei Sadie fechar lentamente a porta do quarto de
Birdie. Sadie estava tão linda com o cabelo agora em mechas
soltas. Seu vestido de noite estava um pouco amassado. A
visão de sua perna exposta através da fenda na lateral do
vestido conseguiu me deixar excitado, apesar do meu humor.
Sua expressão era sombria enquanto ela caminhava
lentamente até mim. Ela colocou as mãos em volta do meu
rosto e me posicionou para olhar em seus olhos.
— O que está acontecendo? Estou te perdendo? — Ela
perguntou. — Isso é demais?
Meu coração afundou quando fechei os olhos e levei as
duas mãos dela à minha boca. — Não. Não, Sadie. A última
coisa que quero é te perder. Eu posso te jurar isso. — Soltando
um suspiro profundo, encontrei a coragem de acrescentar: —
Mas, infelizmente, tenho uma boa chance de fazer isso depois
do que estou prestes a dizer.
Uma expressão alarmada passou por seu lindo rosto
quando ela se afastou um pouco de mim. — O que é? Você está
me assustando.
Estendendo minha mão para ela, silenciosamente a levei
até o meu quarto. Precisávamos estar o mais longe possível do
quarto da minha filha para essa conversa.
Depois de levá-la até minha cama, acendi a
lâmpada. Deitei em frente a ela enquanto nos encarávamos e
enlacei meus dedos com os dela. Demorou alguns segundos
para reunir forças para pronunciar as primeiras palavras.
— Você estava preocupada que minha atitude tivesse
mudado depois que me contou a história sobre sua doação de
óvulos. Você não estava enganada sobre isso. Mas o raciocínio
por trás da minha reação é algo que você não poderia saber.
Ela engoliu em seco, parecendo ao mesmo tempo
assustada e ansiosa pelo que eu poderia dizer a seguir. — OK...
— Suas mãos começaram a tremer.
— Eu nunca te disse isso... Birdie... bem, ela foi o
resultado de uma doação de óvulos.
Fiz uma pausa para detectar qualquer mudança em sua
reação, mas sua expressão permaneceu congelada, além de
seus olhos examinando os meus. Ela não parecia ter feito a
conexão com base nessa frase. Então continuei.
— Amanda... como sua mãe... foi incapaz de engravidar
naturalmente por causa do tratamento contra o câncer em
uma idade jovem. Eu sabia quando me casei com ela, e sempre
soube que não faria diferença. Encontraríamos uma maneira
de ter um filho de um jeito ou de outro. Quando ela me disse
que preferia experimentar a fertilização in vitro com um óvulo
doado, eu definitivamente tive minhas reservas. — Suspirei. —
No início, não podia entender como meu esperma e o óvulo de
outra mulher fariam nosso bebê. Mas ela insistiu que nosso
filho fosse consanguíneo de, pelo menos, um de nós e que ela
pudesse vivenciar a gravidez. Depois de muito debate,
concordei.
Parei para examinar o rosto de Sadie. Novamente,
nenhuma realização a atingiu ainda. Ou, pelo menos, não
parecia computar. Então continuei.
— Honestamente, vê-la carregar aquela criança, foi a
coisa mais linda. Assim que a gravidez aconteceu e
experimentávamos aquela alegria, eu sabia que havia tomado
a decisão certa. Ela estava começando a viver algo que achou
que nunca teria a oportunidade de fazer. E tudo por causa de
uma pessoa altruísta que decidiu dar uma parte de si mesma
para nós. Foi surreal e incrível. E só ficou mais incrível quando
colocamos os olhos em nossa linda filha, que por acaso se
parecia comigo. — Eu ri. — Ficou claro desde o início que
aquela era nossa filha. Não importava de quem ela veio
biologicamente. Ela era de Amanda. Ela era minha. Ela era
nossa. Ela era de Deus.
O rosto de Sadie se curvou em um leve sorriso. — Isso é
bonito.
Eu limpei minha garganta. — Então, você vê, eu nunca
pensei que faria questão de te contar tudo isso. Não queria te
dar a impressão de como isso foi importante. Claro, eu sabia
que era algo que surgiria eventualmente. Mas simplesmente
não aconteceu antes de você me contar sua história.
Eu intencionalmente parei de falar para realmente dar-
lhe um momento para entender.
Pegando ambas as mãos dela, eu sussurrei: — Sadie,
baby, você sabe aonde estou querendo chegar?
Seu rosto ainda estava congelado, e então em um ponto
seus olhos se arregalaram lentamente enquanto ela desviava o
olhar. Então, quando ela olhou para mim, eu soube. As rodas
finalmente começaram a girar em sua cabeça. Ela viu onde eu
estava querendo chegar. Ela agarrou minhas mãos com mais
força enquanto seus olhos voavam de um lado para o outro.
Então suas palavras finalmente vieram.
— Os artigos... Amanda guardando aqueles artigos...
meus... você acha... você acha... ela sabia que era... minha? —
Sua respiração estava pesada.
— Eu não sei. Ela nunca me disse uma única palavra. Se
ela procurou a doadora de óvulos, certamente não queria que
eu soubesse sobre isso.
Sadie exalou, nunca largando minhas mãos. Eu não
sabia o que ela estava pensando. Ela apenas parecia
entorpecida e um pouco assustada. O que tornava ainda mais
difícil admitir o que eu precisava.
— Quando a possibilidade me atingiu, Sadie, eu
surtei. Decidi que precisava saber a verdade antes mesmo de
abordar isso com você. Eu não queria causar nenhum alarme
desnecessário. Então, tomei uma decisão muito apressada de
pegar sua escova de dente e cabelos e mandá-los para um
laboratório junto com o DNA de Birdie.
O rosto de Sadie ficou vermelho de uma cor que eu nunca
tinha visto antes. Sua respiração tornou-se acelerada. — O
quê?
— Foi a decisão errada, — eu disse. — Foi feito por
medo. Não medo do resultado. Mas medo de te perder,
Sadie. Eu te amo. E nada me faria mais feliz do que saber que
a amorosa e maravilhosa humana que nos deu uma parte de
si mesma... também é a mulher que amo. Não cometa erros...
não há nada me assustando em imaginar que minha filha
possa realmente fazer parte de você e de mim. Mas toda a
decisão de descobrir? Essa não é minha decisão. Portanto, não
abri o envelope. Ainda está selado. E não vou abri-lo sem sua
permissão. Nunca precisamos abri-lo, na verdade. Isso não
mudará nada entre nós ou em seu relacionamento com
Birdie. Você tem todo o direito à privacidade que lhe foi
prometida. E quero me desculpar sinceramente por permitir
que meu medo controlasse a decisão que tomei. — Engoli em
seco, esperando sua próxima reação.
Ela se endireitou contra a cabeceira da cama. — O
envelope... Está... aqui?
Meu coração disparou. — Sim. Recebi os resultados mais
cedo pelo correio. Ele chegou esta manhã, e é por isso que meu
comportamento no restaurante estava tão errático.
Sua voz estava trêmula quando ela perguntou: — Você...
acha que sou eu?
— Eu não sei, baby. Juro por Deus, simplesmente não
sei.
— Nós vamos descobrir?
— Eu me senti na obrigação de contar a você sobre a
possibilidade. Mas, no final, esta não é minha escolha. Nunca
foi. E nunca mais quero fazer nada que possa machucá-la ou
violar sua privacidade. Rasgarei alegremente esse envelope, se
você quiser. Ou você pode pegá-lo. Podemos abri-lo juntos ou
esquecer que ele existiu. Não precisamos descobrir. Birdie te
ama. Amanda é a mãe dela. Nada precisa mudar.
Eu odiava ter colocado esse fardo sobre ela. Eu não sabia
mais o que fazer ou dizer. Mas senti o peso sair do meu peito
agora que ela sabia a verdade.
Eu simplesmente não tinha ideia do que ela faria sobre
isso.
CAPÍTULO 28

SADIE

Parecia um sonho. Enquanto eu continuava sentada na


frente dele em estado de choque, honestamente não conseguia
nem me mover, muito menos saber o que dizer.
Amanda podia estar me seguindo. Se ela tivesse
conseguido minha identidade, como isso foi possível?
Garantiram-me que o processo era anônimo, e essa foi a única
razão pela qual concordei com ele.
— Eu sinto muito... Eu... ainda não coloquei minha
cabeça em ordem, — eu disse.
Sebastian se inclinou e me pegou totalmente em seus
braços. Minha respiração relaxou imediatamente. Apesar da
incerteza e do choque, senti-me segura. Eu me senti amada. E
eu sabia que não importava o que acontecesse – ele me
apoiaria. Saber que ele apoiava totalmente qualquer decisão
que eu tomasse sobre isso significava tudo. Porque eu
certamente não tinha ideia neste momento qual era a decisão
certa.
— Não te culpo por fazer o que fez, — falei. — Eu posso
entender o quão assustado você deve ter ficado.
Ele exalou. — Obrigado. Agora percebo que deveria ter
falado com você primeiro, mas na época, achei que talvez
pudesse descartar isso antes de ter que assustá-la. — Ele
balançou sua cabeça. — Mas estava errado. Por que… E se…
você sabe… Acontecer de você ser... não cabe a mim saber
antes de você. Ou saber no geral.
— Não sei qual é a resposta certa.
— Você não precisa tomar uma decisão agora. Ou nunca.
Eu soltei outra respiração instável e continuei
balançando a cabeça. — Sempre me senti tão conectada a ela.
— Eu sei. Essa coisa toda... tem sido como uma espécie
de mágica desde o início. Mas talvez houvesse mais do que
isso.
— Suponha que Amanda tenha procurado por
mim. Então sempre há a chance de eles terem lhe a informação
errada, certo? Ou talvez... meus artigos só a tocaram e lhe
deram esperança e isso tudo é apenas uma estranha
coincidência. Quer dizer, são artigos públicos. Tudo é possível,
certo?
— Claro. Foi por isso que debati em lhe contar a principio.
Achei que seria loucura só de pensar nisso. Parecia tão difícil
de acreditar.
Uma lágrima finalmente se formou em meus olhos,
rolando pela minha bochecha quando a realização me atingiu
em ondas. Não apenas porque eu não tinha ideia do que fazer,
mas também porque me ocorreu que, se Birdie fosse minha
filha biológica, ela era nossa filha. De Sebastian e minha. Feita
por nós. Eu poderia ter feito inadvertidamente um humano
com o homem que amo antes mesmo de conhecê-lo. As
emoções que esse pensamento trouxe foi uma das mais fortes
que já experimentei. Mas mais forte do que tudo era o
pensamento de que se isso fosse verdade… como eu poderia
contar à Birdie? Ela já havia perdido sua mãe. E isso seria
como perdê-la de novo em certo sentido. Para quê? Então eu
poderia ter algum tipo de validação? Não era justo.
Balançando a cabeça repetidamente, eu disse: — Tenho
que pensar sobre isso.
— Leve o tempo que precisar. Falo sério. Podemos fingir
que nada aconteceu até então. Eu não tenho nenhum
problema em fazer isso. Apenas me diga que isso não vai nos
separar, — ele implorou.
Olhei nos olhos do belo homem diante de mim e dei a ele
a garantia de que precisava. — A única coisa da
qual tenho certeza agora é que preciso de você mais do que
nunca. Amo você, Sebastian. Eu te amo muito.
Ele estendeu a mão para mim e falou no meu pescoço. —
Eu não quero que você vá para casa esta noite. Eu preciso de
você aqui comigo. Na minha cama. Já está na hora.
Eu não discutiria sobre isso. Eu não podia imaginar ir
para casa sozinha agora com o peso dessa decisão me
desgastando.
Não fizemos sexo naquela noite. Sebastian apenas me
segurou até eu adormecer em seus braços, confusa e
assustada – mas segura e amada.

*-*-*
Na manhã seguinte, pode ter parecido um começo normal
do dia, enquanto nós três estávamos sentados na cozinha
tomando café da manhã juntos. Mas parecia longe do normal.
Eu não conseguia parar de olhar para ela. Seu cabelo loiro…
ela herdou de mim? O nariz dela… não era exatamente como o
de Sebastian. Parecia o meu?
— Fiquei surpresa em vê-la aqui, — disse Birdie para
mim. — Você nunca está aqui para tomar café conosco.
Sebastian pigarreou. — Sadie passou a noite aqui. Como
você se sente sobre ela fazer isso com mais frequência? Talvez
todo fim de semana?
Birdie encolheu os ombros e sorriu. — Duh.
Sebastian e eu sorrimos um para o outro enquanto ele
estendia a mão sobre a mesa.
Eu estava totalmente atordoada. Por mais que quisesse
que esse dilema sumisse, sabia que a decisão não viria fácil ou
em breve.
Birdie e eu acabamos levando Marmaduke ao parque
depois do café da manhã, apreciando a beleza da cidade no
final do outono.
Quando voltamos para casa, estávamos sozinhas, já que
Sebastian ficaria no restaurante a maior parte do dia. Depois
que Birdie se retirou para seu quarto para ler um livro para
um trabalho escolar, vaguei pela casa sem rumo até cair bem
na frente de uma das fotos de Amanda no quarto de Sebastian.
Eu levantei a moldura e encarei seus olhos sorridentes.
Parecia natural falar com ela, embora eu soubesse que
ela não estava realmente aqui para ouvir. — O que você
pretendia? Por que você guardou aqueles artigos? Você estava
tentando me encontrar ou esperava deixar um rastro? Você
estava apenas curiosa sobre mim? — Suspirei. — Ou talvez
tenhamos entendido tudo errado. Eu queria poder perguntar o
que você gostaria que eu fizesse agora. — Uma lágrima
escorreu pela minha bochecha.
Se a intenção de Amanda era me encontrar, por que ela
não me contatou? Ela sabia que estava morrendo. Ela
aparentemente sabia onde me encontrar. E nunca o fez. Então,
por que guardar meus artigos? Eu jamais saberia o que ela
queria. Sebastian deixou a decisão para mim. Por um lado,
apreciei que ele tivesse feito isso. Por outro lado, seria muito
mais fácil se alguém simplesmente me dissesse a coisa certa a
fazer.
— Sinto muito, Amanda. Eu sinto muito. Espero que você
esteja em um lugar melhor. Prometo que cuidarei de Birdie.
Vou protegê-la e garantir que ela tenha um modelo feminino.
Obrigada por trazê-la ao mundo. E obrigada por me trazer até
Sebastian. Sei que é estranho eu agradecê-la por me trazer até
seu marido. Mas prometo amá-lo e tratá-lo com carinho e
nunca tentar tomar o seu lugar. Eu realmente sinto que você
gostaria que ele fosse feliz, mesmo que ele pareça inseguro
disso. De mulher para mulher, eu sei em meu coração que você
não gostaria que ele ficasse triste e sozinho.
— Ei.
Eu pulei quando Sebastian entrou na sala.
— Você voltou mais cedo, — eu disse enquanto largava a
foto.
— O que você estava fazendo? — ele perguntou.
— Eu estava... conversando com Amanda. Pedindo
orientação a ela. Isso é louco?
Ele sorriu. — Eu faço isso o tempo todo. Todo o maldito
tempo.
— Isso ajuda?
— Às vezes eu a ouço me xingando, me dizendo para ser
homem e parar de reclamar com ela. — Ele deu uma risadinha.
— Não estou... nem perto de uma decisão sobre o que
fazer. Acho que realmente preciso de algum tempo para pensar
sobre isso.
— Leve o tempo que precisar.
— Acho que preciso visitar meu pai.
— Seu pai sabe que você doou seus óvulos?
Eu assenti. — Sim. Eu falei com ele antes de fazer isso.
Ele não ficou exatamente feliz, mas entendeu. E no final, ele
apoiou minha decisão.
— Seu pai é um cara ótimo. Talvez ele possa ajudá-la a
decidir o que é melhor. Acho uma boa ideia falar com ele.
Assentindo, eu limpei meus olhos. — Provavelmente irei
para lá no próximo fim de semana.
Ele deu um beijo suave na minha testa. — Soa como um
plano. Ficamos assim até então.
CAPÍTULO 29

SADIE

— Essa é uma história maluca. — Meu pai balançou a


cabeça e esfregou a nuca. Eu tinha acabado de passar uma
hora inteira descarregando toda a história inacreditável, desde
como conheci a família Maxwell por Amanda colecionar meus
artigos até como eles receberam um óvulo doado. Ele já sabia
um pouco sobre isso, mas não toda a loucura. Honestamente,
falar isso em voz alta realmente fazia tudo soar como
algo saído de uma novela. Fazia uma semana desde que
Sebastian me contou tudo, e ainda parecia surreal.
— Eu sei. Tantas coisas aconteceram para que tudo
terminasse onde estamos hoje. Quer dizer, digamos que eu seja
a doadora de óvulos deles e, de alguma forma, Amanda
descobriu minhas informações e começou a ficar me
seguir. Alguém seria o destinatário da minha doação, então
essa não é a parte estranha. Embora, claro, eu saiba que a
doação em si provavelmente não é algo que é comumente
feito. Mas mesmo que isso acontecesse, Birdie ainda teria que
encontrar os artigos recortados de sua mãe no fundo de uma
caixa e escrever para o Papai Noel por conta própria. E então
precisava decidir começar a brincar de Papai Noel, o que
acabou me levando a me intrometer e passar pela casa
deles. Birdie teve que perder um pequenino clipe de borboleta
no chão, que aconteceu de eu ter encontrado. Sem falar que
quando tentei devolvê-lo, fui acometida de um repentino caso
de insanidade e decidi fingir ser uma adestradora de cães…
uma que adestrava em alemão. E não vamos esquecer que
a adestradora de cães real coincidentemente não apareceu
naquele dia porque teve uma emergência na mesma manhã em
que passei por lá. E mesmo assim, depois de cada uma dessas
loucas cadeias de eventos realmente de alguma forma
acontecer, Sebastian e eu ainda nos apaixonamos. Quais são
as chances de todas essas coisas acontecerem, pai?
— Você sabe que sou prático demais. Acredito que a
maioria das coisas na vida acontece por nossas próprias
ações. Você não encontra uma nota de cinco dólares no chão
porque tem sorte. Você a encontra porque está prestando
atenção ao que está ao seu redor. Mas esta história, está me
fazendo pensar que há mais do que isso. Sua mãe era mais
religiosa do que eu. Eu acredito que se você trabalhar duro,
consegue colocar comida na mesa para sua família. Enquanto
sua mãe acreditava que Deus cuida das pessoas que o servem.
Tenho que dizer, querida, agora mesmo, estou sentindo que
talvez devesse ir à igreja aos domingos.
Eu sorri. — O que eu faço, pai? Eu abro aquele envelope?
— Mudaria alguma coisa hoje se você o abrisse?
Eu pensei sobre isso e balancei a cabeça. — Eu já amo
Birdie, então isso não vai mudar o que sinto por ela. E não
tenho certeza se seria o momento certo para contar a ela
agora. Você e mamãe nunca esconderam de mim que eu era
adotada. Não me lembro de uma época que não tenha
sabido. Então, eu nunca senti como se um dia você tivesse
puxado o tapete debaixo de mim, jogando a bomba que vocês
não eram meus pais biológicos. Sempre soube quem eu era e
acho que Birdie sentiria como se, de repente, não soubesse
mais, se isso faz algum sentido.
Papai acenou com a cabeça. — Nós lutamos para decidir
como lidar com isso. Mas no final, sentimos que a verdade
sempre vem à tona. E muitas vezes isso acontece quando não
é um bom momento para que apareça. Não queríamos que você
acreditasse em algo durante toda a sua vida e depois
descobrisse que tudo o que sabia era mentira. Sua mãe e eu
temíamos que isso pudesse leva-la a ter problemas de
confiança.
Suspirei. — Sim. Isso faz muito sentido e estou feliz por
sempre saber. Mas no caso de Birdie, as coisas são um pouco
diferentes. Ela já tem dez anos. O fato de sua mãe não ser sua
mãe biológica foi escondido dela por um longo tempo. Então
ela sentiria como se seu mundo tivesse virado de cabeça para
baixo. E você está absolutamente certo, ela pode não confiar
em nada que seu pai, ou eu, lhe diga depois de lançar algo
assim sobre ela. É quase como se o estrago já tivesse ocorrido
há dez anos. Isso não pode ser mudado.
— Quando estávamos debatendo como lidar com isso,
pedimos a opinião da agência de adoção. Você sabe o que a
mulher disse?
— O quê?
— Ela disse que se você tiver que sentar com seu filho e
lhe dizer que ele foi adotado, você esperou demais.
Eu soltei um suspiro profundo. — Eu acho que você está
certo. Como já foi escondido dela, o foco precisa ser quando é
a melhor hora para confessar. Isso é agora ou quando ela
estiver mais madura? Ou é nunca?
— Parece-me que você já sabe a resposta para essa
pergunta.
Eu sorri tristemente. — Sim, eu acho que sim. Obrigada,
pai.
Ele deu um tapinha na minha mão. — Há algo que eu
quero te mostrar. Venha comigo.
Segui papai até o quarto e ele pegou uma velha caixa de
sapatos do alto do armário. Ele cavou por um minuto e então
tirou algo. — Aqui está. Dê uma olhada.
Era um pedaço de papel amassado com uma linha escrita
nele. A caligrafia que eu conhecia era da minha mãe. Eu li em
voz alta.
— Quando duas pessoas devem ficar juntas, Deus faz
acontecer.
Eu olhei para cima, confusa. — O que é isso?
— Você sabe que eu era militar quando sua mãe e eu nos
conhecemos. Eu voltei para casa de licença e a
conheci. Passamos cada momento que pudemos juntos por
duas semanas, mas então tive que voar de volta para onde
estava implantado no exterior. Eu ainda tinha seis meses
restantes da minha turnê.
— Sim, eu sabia disso.
Ele pegou o papel da minha mão e sorriu olhando para
ele. — Nos despedimos na manhã em que tive que
embarcar. Eu era louco por ela, mas seis meses é muito
tempo. Eu estava com medo de voltar para casa e ela ter
seguido em frente. — Papai piscou para mim. — Sua mãe era
um ótimo partido, especialmente para um cara comum como
eu. De qualquer forma, nós nos despedimos e passei as dezoito
horas seguintes viajando de volta à base. Naquela noite,
quando me troquei, este bilhete aqui caiu do bolso da minha
jaqueta. Sua mãe o enfiou lá sem que eu soubesse. Eu o
mantive comigo todos os dias até que pudesse voltar para ela.
— Ele fez uma pausa e olhou para mim. — Então, no dia em
que trouxemos você para casa, sua mãe estava sentada
naquela cadeira de balanço que ela tanto amava, embalando
você em seus braços. E eu não conseguia parar de olhar para
ela.
Meu coração apertou. Foi uma coisa tão bonita para ele
dizer, mas também me deixou triste. Eu encostei a cabeça no
ombro do meu pai e olhei para o papel com ele.
Ele pigarreou. — De qualquer forma... sua mãe me pegou
olhando várias vezes e me perguntou o que diabos eu estava
fazendo. Você sabe o que eu disse?
— O quê?
— Quando duas pessoas devem ficar juntas, Deus faz
acontecer.
Eu engoli e senti o gosto de sal na minha garganta. — Oh,
pai...
Ele dobrou o pedaço de papel nas mãos e o enfiou no meu
bolso. — Mantenha-o. Compartilhe essa sabedoria com seu
filho algum dia. Seja Birdie ou alguma outra criança de sorte.
*-*-*

Não consegui dormir naquela noite. Então mandei uma


mensagem para Sebastian e perguntei se poderia passar por lá
quase às onze horas.
— Ei. — Ele abriu a porta antes mesmo de eu bater.
— Como você sabia que eu estava aqui?
Sebastian sorriu. — Eu estava olhando pela janela para o
seu Uber.
— Oh. OK. — Tirei meu casaco e o pendurei em um dos
ganchos da entrada. — Desculpe vir tão tarde.
Quando me virei, Sebastian imediatamente me puxou
para um abraço. — Estou feliz por você estar aqui. — Ele beijou
o topo da minha cabeça. — Só espero que a urgência que senti
em sua mensagem não seja porque você precisava me dar o
fora e acabar com isso.
Eu me afastei. — O quê? Não. Por que você acha isso?
Ele soltou um suspiro irregular. — Não tenho ouvido
muito de você nos últimos dias. Eu achei que talvez você
tivesse caído em si.
Eu sorri tristemente. — Eu sinto muito. Eu só precisava
de um tempo para pensar.
— Claro. Vamos, você quer um pouco de chá ou algo
assim?
Eu balancei a cabeça. — Não, obrigada. — Entramos na
sala de estar silenciosa. — Birdie está dormindo, suponho?
— Sim. — Ele ergueu o pulso onde havia uma pulseira da
amizade amarrada. — Ela me fez levá-la para comprar outro
kit e depois me interrogou sobre se o Papai Noel era real
enquanto me ensinava a tecer essas coisas. Eu fiz uma para
você.
Eu sorri. — Você fez?
— Sim, mas não fique muito animada. Eu sou péssimo
nisso.
Eu ri. — OK. Bem, é o pensamento que conta.
— Continue pensando nisso quando vir como suas novas
joias são irregulares.
Eu balancei a cabeça em direção ao seu quarto. — Por
que não vamos conversar em particular? Para o caso de ela se
levantar.
— Boa ideia.
Sebastian me levou para seu quarto e sentou contra a
cabeceira de sua cama, e eu me acomodei de frente para ele,
enfiada entre suas pernas abertas. Eu peguei suas mãos.
— Tenho pensado muito e não acho que devamos abrir o
envelope.
Ele segurou meus olhos. — Tem certeza disso?
Eu assenti. — Eu acho que neste ponto, a decisão é de
Birdie. Quando ela descobrir como foi concebida, pode ou não
querer descobrir quem é sua mãe biológica. Nunca quis
conhecer a minha, porque tenho minha família e simplesmente
não precisava de mais nada. — Eu balancei a cabeça. — Talvez
minha decisão tenha nascido de uma aliança com meus
pais. Não tenho certeza. Mas foi minha decisão, e acho que
essa é de Birdie, não nossa.
Sebastian passou a mão pelo cabelo. — OK. Mas vamos
fazê-la tomar essa decisão agora?
— Em última análise, acho que é sua escolha como pai
dela. Você a conhece melhor do que ninguém. Acho que seria
melhor esperar até ela ficar mais velha. Mas, realmente, é sua
decisão.
Ele ficou quieto por um longo tempo antes de falar
novamente. — E você? Não será difícil para você não saber se
eu adiar contar a ela?
— Às vezes, uma coisa difícil também é a coisa certa a
fazer.
Nas duas horas seguintes, debatemos todos os prós e
contras de contar a ela agora ou no futuro. Eu compartilhei
minhas opiniões honestas e Sebastian ouviu e me falou todos
os seus medos. Uma coisa era certa – não o invejava por ter
que tomar uma decisão tão difícil. As perguntas mais difíceis
são sempre aquelas que não têm uma resposta certa ou errada.
Eventualmente, ele balançou a cabeça. — Vamos colocar
o envelope no meu cofre amanhã. Não sei quando devemos
contar a ela, talvez quando ela tiver dezoito anos… Eu não
tenho certeza. Acho que vamos descobrir o momento certo,
quando ele chegar. Pelo menos espero que sim.
Eu sorri. — Sim. Acho que saberemos.
— Mas quero discutir outra coisa. Eu odeio ser mórbido,
mas uma coisa que nós dois aprendemos é que a vida muda
em um piscar de olhos. Se algo acontecer comigo, e você for a
mãe dela... ela deve ficar com você, Sadie. Agora, meu
testamento dá a custódia a Macie.
— Oh, uau. OK. Sim, acho que não tinha pensado nisso.
— Acho que devemos ir ao meu advogado e obter uma
consultoria sobre como isso deve ser tratado.
— Isso faz sentido.
Olhamos nos olhos um do outro por um longo tempo. —
Bem, acho que está resolvido, então, — eu disse.
Sebastian sorriu. — Eu acho.
Respirei fundo e meus ombros relaxaram pela primeira
vez em dias. Ele segurou minhas bochechas.
— Não sei se foi o destino ou uma série de coincidências
malucas que nos uniu. Mas tudo o que me levou a você não é
tão importante quanto o que vai mantê-la aqui. Eu te amo de
todo o coração, Sadie.
— Eu também te amo.
Ele sorriu. — Bom. Agora. Umdrehen.
— Umdrehen? — Minhas sobrancelhas franziram. —
Rolar?
Sebastian fez alguns movimentos furtivos e eu passei da
posição sentada para deitada de costas.
Seus olhos brilharam. — Você sabe, decidir não abrir
aquele envelope até anos a partir de agora funciona a meu
favor de outra maneira.
— Oh sim? Como?
— Isso lhe dará um motivo para ficar por aqui e descobrir
a resposta.
Eu sorri. — Você quer dizer outra razão para ficar por
aqui.
Ele parecia genuinamente confuso. — Qual é a primeira
razão?
— Você. Eu nunca precisei de nenhuma outra.
CAPÍTULO 30

SADIE

Quatro semanas depois

— Café? — Devin entrou no meu escritório e jogou duas


pilhas de correspondência com elásticos na minha mesa. Cada
uma deveria ter sete centímetros de espessura. Ainda mais
cartas do que ontem.
Eu olhei para as pilhas. — Acho que preciso de cafeína
para isso. Você pode pegar meu café com leite de soja de
sempre, gelado grande e sem açúcar?
— Sim. Uma xícara de nada divertido chegando.
Fui até a gaveta da minha mesa e tirei minha carteira.
Devin ergueu a mão. — Não. É a minha vez. Eu volto em breve.
Deixe de lado as cartas mais malucas para eu ler.
Eu ri. — Sempre.
Dois dias atrás, a revista publicou um trecho informando
que o artigo Holiday Wishes voltaria a funcionar na próxima
semana. Eu não pude acreditar na quantidade de
correspondência que recebi em apenas quarenta e oito
horas. Uma de nossas estagiárias geralmente ajudava a
separar as cartas. Ela tirava aquelas que achava interessante
para consideração, mas eu também gostava de vasculhar e
abrir alguns por conta. Às vezes era aleatório, talvez as
primeiras cartas no topo da pilha, e outras vezes eu pegava
pelo sobrenome listado no endereço do remetente ou um lugar
interessante onde a pessoa morava. Mesmo que a revista só
fosse distribuída impressa nos Estados Unidos, sempre
recebia alguns leitores do resto do mundo. Ontem escolhi
Janice Woodcock porque, bem, quem não ficaria curiosa para
saber o que mais uma mulher com esse sobrenome poderia
precisar no Natal? Também escolhi uma pessoa que morava
em Bacon, Indiana. Porque, bem… bacon.
Recostei-me na cadeira, tirei o elástico de um dos pacotes
e comecei a folhear as cartas do dia. Examinando os nomes e
endereços, nada parecia saltar na minha cabeça, até que
cheguei a um envelope em particular e congelei.
B. Maxwell.
Puta merda. Birdie escreveu para o Papai Noel de novo?
Não consegui abrir a carta com rapidez suficiente.
Querido Papai Noel,
Não tenho certeza se você vai se lembrar de mim ou não,
mas meu nome é Birdie Maxwell. Escrevi para você há alguns
meses e pedi que trouxesse algumas coisas para meu pai e para
mim. Não se preocupe, não vou pedir mais. Eu tenho tudo que
preciso. Mas o problema é o seguinte: não acho mais que você
seja real. Não foi muito difícil descobrir.
Veja, em história estamos estudando população. Minha
professora, a Sra. Parker, disse que a população do Polo Norte
é zero. Ela disse que os humanos não podem sobreviver às
temperaturas e praticamente só os narvais vivem lá. Zero
pessoas no Polo Norte, onde você deveria viver!
Depois, há Suzie Redmond, uma garota da escola. Eu já te
falei sobre ela. Ela viu sua mãe distribuindo os presentes na
manhã de Natal do ano passado. Além disso, se você faz os
brinquedos em sua oficina, por que as bonecas que ganhei no
ano passado dizem Made in China? Há algo suspeito nisso.
Ah, e eu fiz as contas. A Sra. Parker disse que há 1,9
bilhões de crianças no mundo vivendo em mais de duzentos
milhões de quilômetros quadrados, e a família média tem 2,67
filhos. Isso significa que você teria que andar 5.083.000 milhas
por hora para visitar todos na véspera de Natal. Como aquele
velho trenó de madeira pode ir tão rápido?
Plus… você não pode entrar em nossa lareira! Duh!
Então, como tenho quase certeza de que você não é real,
provavelmente está se perguntando por que estou
escrevendo. Bem, decidi que, quando crescer, quero ser
escritora, assim como minha amiga especial Sadie. Às vezes,
ela vem para que minha babá possa ir para casa mais cedo, e
nós nos sentamos à mesa da sala de jantar fazendo nosso
trabalho juntas. Como agora, ela está digitando em seu laptop
na minha frente e estou fingindo fazer meu dever de casa. Mas,
realmente, fiz meu dever de casa na aula enquanto o professor
falava sobre algo chato hoje, então estou escrevendo para você
apenas para praticar minha escrita.
Cobri minha boca com a mão e comecei a rir.
Que pequena arteira. Sentamo-nos frente a frente
quando cheguei cedo e tinha trabalho para terminar. Eu não
tinha ideia de que ela não estava fazendo o dever de
casa. Ainda rindo, voltei para terminar sua carta.
De qualquer forma, está tudo bem que você não seja
real. Tenho tudo o que poderia desejar. Meu pai sorri o tempo
todo agora. Isso é muito por causa de Sadie. Ela me faz sorrir
também. Mesmo se você fosse real, eu não pediria nenhum
presente para mim este ano. Bem, exceto talvez para Sadie dizer
sim ao que papai vai perguntar a ela no Natal.
Amor,
Birdie Maxwell
Meus olhos se arregalaram.
O que papai vai me perguntar no Natal?

*-*-*

A véspera de Natal me deixou em frangalhos. Esta seria


talvez a maior noite da minha vida. Eu cuidadosamente
selecionei meu guarda-roupa, escolhendo um vestido vermelho
que sabia que Sebastian amava, baseado em outra vez que
usei. Se ele ia me pedir em casamento esta noite, eu queria ter
certeza de que estava vestida para a ocasião.
O plano hoje à noite era que Sebastian, Birdie e eu
tivéssemos uma Noite de Natal intima junto com meu pai, que
viria de Suffern para passar a noite no escritório de Sebastian,
que também servia de quarto de hóspedes. Eu mal podia
esperar para mostrar à Birdie algumas das tradições natalinas
minha e de papai e para passar uma noite aconchegante em
casa com as pessoas que mais importavam para mim.
Depois de pegar um Uber até a casa de Sebastian, parei
para realmente respirar o ar frio da noite ao sair do
carro. Alguns pequenos flocos de neve começaram a cair. Esta
poderia ser uma noite mais perfeita? Além de tudo, íamos ter
um Natal branco também? Esta era a última vez que eu estaria
nesta calçada como uma mulher descomprometida?
Uau. Deixe isso assentar por um momento.
Agarrei meu casaco e olhei para o céu já escuro,
agradecendo ao homem lá de cima por tornar esta vida
possível, por me conduzir a esta família e por me conceder a
oportunidade de tê-los como meus.
Sebastian abriu a porta antes que eu tivesse a chance de
tocar a campainha.
— O que você está fazendo parada aqui no frio, linda?
— Eu estava apenas agradecendo às estrelas acima –

literalmente – por tudo. Eu me sinto a mulher mais sortuda


viva.
Ele cutucou sua cabeça. — Venha aqui para que eu possa
beijá-la.
Uma vez no topo das escadas, Sebastian me envolveu em
seus braços. O calor do suéter que ele usava trouxe conforto
imediato. Ele cheirava tão bem, como uma mistura de zimbro
e sândalo. Ele me beijou longa e fortemente, e eu realmente
podia sentir seu coração batendo em seu peito. Eu me
perguntei se ele estava nervoso com o que poderia acontecer
esta noite.
— Sadie! Você está aqui. Já estava na hora! — Birdie saiu
correndo.
Ela usava o que muitos poderiam considerar um suéter
de Natal feio com gatos e tinha o cabelo preso em duas tranças.
Nós três nos abraçamos em grupo.
— Estou tão animada para esta noite, — eu disse. — Você
está pronta para começar na cozinha?
Birdie bateu palmas e saltou. — Sim!
Sebastian tirou meu casaco. Ele levou um momento para
me cobiçar em meu vestido e gemeu sutilmente enquanto
balançava a cabeça. Eu estava totalmente ansiosa para ele
tirar este vestido de mim mais tarde. Teríamos que ser mais
silenciosos do que o normal com meu pai no quarto ao lado,
mas de jeito nenhum eu não faria amor na véspera de Natal
esta noite.
Birdie correu na minha frente para a cozinha. A
campainha tocou antes mesmo que eu tivesse a chance de
segui-la.
— Deve ser o papai.
Sebastian foi abrir a porta. Meu pai usava seu famoso
chapéu de inverno com abas peludas nas orelhas.
— George! Que bom que você chegou em segurança. —
Sebastian deu um tapinha nas costas dele.
As bochechas de papai estavam vermelhas de frio.
— Como foi a viagem de trem? — Eu perguntei enquanto
o puxava para um abraço.
— Sem intercorrências. — Meu pai olhou em volta. —
Onde está a Miss América?
— Eu estou bem aqui! — Birdie disse, saindo da cozinha.
Ela correu para dar um abraço no meu pai. — Papai da
Sadie!
— Feliz Natal, querida. É tão maravilhoso conhecê-la.
Ele a abraçou com força. Eu sabia que papai devia estar
pensando o óbvio: que ela poderia ser sua neta.
Sebastian pegou o casaco do meu pai. — O que você quer
beber, George?
— Um pouco do delicioso ponche de rum da minha filha
seria bom.
— Eu estava prestes a fazer, papai. Fazer uma versão não
alcoólica para Birdie primeiro, depois adicionar o rum ao
nosso. — Eu pisquei.
Birdie e eu nos aventuramos na cozinha para começar a
trabalhar nos ingredientes da noite. Assamos castanhas,
preparamos ponche e bandejas de vegetais cortados com várias
batatas fritas e molhos.
Sebastian pediu ao chef do Bianco's que preparasse uma
lasanha especial para nós, que estava na geladeira esperando
para ser colocada no forno mais tarde.
Em um ponto, Birdie caiu em um devaneio. Então ela
disse: — Minha mãe costumava fazer pequenos biscoitos de
gengibre na véspera de Natal.
Meu coração apertou. O fato de que ela estava pensando
em sua mãe agora teve um impacto profundo em mim. Aqui
estava eu, fazendo o melhor que podia para ser maternal esta
noite, quando na verdade nunca seria capaz de substituir
Amanda.
— Realmente? — Eu disse. — Homens-biscoito. Eu amo
isso.
— Não me lembro de tudo o que ela fazia. Mas eu me
lembro disso e das panquecas do Mickey Mouse. — Ela fechou
os olhos momentaneamente e disse: — Não quero esquecer. Às
vezes, temo que isso aconteça quando ficar mais velha.
Naquele instante, eu soube exatamente o que
precisávamos fazer.
— Não vamos esquecer. Temos o material para fazer
biscoitos de gengibre?
Seus olhos brilharam. — Acho que sim? Eu sei que temos
cortadores de biscoitos na gaveta.
— Acho que precisamos fazê-los. E se não tivermos os
ingredientes, vou sair agora mesmo e comprá-los, ok? Acho
que devemos fazê-los todos os anos em homenagem à sua mãe.
Ela sorriu. — Obrigada. A mamãe gostaria disso.
Acabei tendo que correr até o mercado na rua para
comprar alguns ingredientes. Felizmente, estava aberto.
Depois que voltei, fizemos os bonecos de gengibre e os
congelamos.
Assim que estávamos terminando, Sebastian entrou na
cozinha.
— Só estou checando as coisas aqui. — Seus olhos
pousaram nos biscoitos de gengibre que revestiam a
bandeja. — Você está fazendo bonecos de gengibre. Agora faz
sentido porque você correu até o mercado.
— Sim. Birdie me informou que sua mãe sempre fazia
isso na Véspera de Natal.
— Sim. — Ele sorriu. — Ela com certeza fazia.
— Eu disse a ela que precisamos fazer todos os anos.
Ele olhou para os biscoitos por alguns segundos antes de
olhar para mim e balbuciar: — Obrigado.
— Claro, — eu murmurei de volta.
Meu pai entrou. — Estou sentindo cheiro de castanhas
assadas?
Nós quatro nos reunimos ao redor da ilha, saboreando
todas as delícias junto com o ponche.
Depois de carregar alguns dos itens para a mesa de
centro na sala de estar, reunimo-nos em torno da árvore
enquanto meu pai contava a Sebastian histórias da minha
infância.
— Então, o que você pediu que Papai Noel trouxesse para
você este ano, Birdie? — Meu pai perguntou.
— Nada, — ela respondeu. — Eu tenho tudo que
preciso. Além disso, não sei mais se o Papai Noel é real.
Todos nós olhamos um para o outro, sem saber como
responder a isso.
Sebastian abordou primeiro. — Como você explica cada
presente todos os anos, então?
— Eu não sei. Talvez seja você. Talvez parte seja real, mas
não certas partes? Tipo a chaminé? Escrevi para alguém que
pensei ser o Papai Noel. Eu te contei isso, papai. Eu costumava
pensar que era o Papai Noel me respondendo, mas não sei mais
se era. — Ela encolheu os ombros. — Mas coisas boas
aconteceram desde então.
Ficamos em silêncio.
— Eu acredito em pessoas boas, — ela finalmente
disse. — Mas ainda estou esperando azeitonas e uma
estampadora de unhas glamorosa este ano. — Ela piscou para
Sebastian.
Suspirei. Nossa garotinha estava crescendo.
Nossa garotinha.
De qualquer maneira, ela estava. A minha garota. Não
importa qual seja a verdade.
Sebastian se levantou do sofá. — Bem, Birdie, você tem
que esperar até a manhã de Natal para abrir seus presentes,
porque o Papai Noel não estava preparado esta noite. Mas
talvez agora seja um bom momento para dar à Sadie o presente
que compramos para ela?
Ela saltou para cima e para baixo. — Sim! Eu estou tão
animada!
Era isso?
Meu coração disparou. Sebastian estava prestes a me
pedir em casamento com Birdie ao seu lado? Eles iriam me
pedir oficialmente para fazer parte de sua família? Comecei a
ficar um pouco engasgada enquanto eles seguiam juntos para
o quarto.
Meu pai sorriu para mim. Eu não podia garantir cem por
cento, mas ele parecia saber de algo.
Ele está envolvido nisso?
Sebastian pode ter pedido sua permissão.
Birdie estava pulando pelo corredor ao lado de Sebastian
quando eles voltaram para a sala de estar. Sebastian carregava
uma caixa embrulhada em papel vermelho brilhante com um
elaborado laço dourado.
Ele se sentou ao meu lado antes de entregá-la. —
Pensamos muito sobre o que comprar a alguém que significa
muito para nós. Desde que você entrou por aquela porta, nossa
vida tem sido mais rica e cheia de alegria. Este presente
representa nossa gratidão a você por fazer parte do nosso
mundo. Nós te amamos.
Minhas mãos tremiam enquanto eu trabalhava para abrir
a caixa.
Então meu coração caiu um pouco quando percebi que
não era um anel. Fechei os olhos, precisando de um momento
para acalmar meus nervos, porque estava muito certa. Eu os
abri. Então, quando avistei o que era e registrei, minhas
emoções foram de desapontamento a completo temor.
Dentro da caixa havia uma réplica exata da fivela de
borboleta que me trouxe até a porta de Sebastian naquele dia,
exceto que estava incrustada com diamantes e pendurada em
uma corrente de ouro branco.
Minha boca se abriu. — Não tenho palavras.
— Mencionei à Birdie que você me disse o quanto
admirava sua presilha. — Ele piscou para mim, sabendo muito
bem que apenas ele e eu sabíamos a história completa sobre
aquela presilha e como ela me levou ao show de treinamento
de cães.
Ele continuou. — Levamos um joalheiro e perguntamos
se ele podia replicá-la em diamantes. Acho que ficou
perfeito. Espero que você ame.
Engasgada, eu disse: — Você está brincando? Este é o
presente mais atencioso, sincero e deslumbrante que alguém
já me deu em toda a minha vida.
Depois de abraçar cada um deles com força, Sebastian
tirou o colar da caixa.
— Vamos colocar em você.
A sensação das mãos de Sebastian na minha pele enviou
um arrepio pela minha espinha quando ele colocou o colar em
volta do meu pescoço.
Meu pai sorriu de orelha a orelha. — Está linda, querida.
Os olhos de Birdie estavam arregalados quando ela pegou
a bugiganga. — Agora você pode pensar em mim toda vez que
usar.
Abracei-a novamente e disse: — Querida, não preciso de
um colar para pensar em você. Você está sempre na minha
mente. Mas vou valorizar muito isso. Significa mais para mim
do que você jamais poderia imaginar.
Acabou não havendo nenhum anel à vista naquele
Natal. E isso foi ótimo para mim. Eu preferia que Sebastian
não se precipitasse em uma decisão tão importante. Fiquei um
pouco desapontada? Claro. Mas ainda me sentia a mulher
mais sortuda do planeta.
CAPÍTULO 31

SEBASTIAN

— Marmaduke, olhe para mim.


O cachorro corria ao redor da sala, as patas arranhando
o piso de madeira.
— Pare, seu cavalo!
Ele continuou correndo. Então me lembrei do comando
alemão para ‘fique’.
— Bleib!
Isso funcionou. Ele parou na minha frente. — Mostre-me
o que você fez com ele.
— Ruff!
Estendi a caixa destroçada e vazia e apontei para dentro.
— O que você fez com o anel?
— Ruff!
Se os últimos dias fosse um filme, seria nomeado de: O
ano em que o cachorro arruinou o Natal.
Na manhã da véspera de Natal, eu estava em frente ao
espelho do meu quarto, praticando todas as palavras
pungentes que recitaria quando me ajoelhasse e pedisse à
Sadie para ser minha esposa. Eu não tinha certeza de quando
exatamente faria a pergunta – se seria na véspera ou no dia de
Natal. Eu só sabia que aconteceria em algum momento
durante esses dois dias, quando o momento parecesse certo.
Birdie sabia de tudo e havia planejado seu próprio
pequeno discurso para recitar para Sadie quando a
pedíssemos em casamento. Com o pai de Sadie na cidade para
testemunhar tudo, era para ser épico. Isto é, até que decidi
deixar o anel na mesinha de canto enquanto tomava
banho. Quando saí do banheiro, a caixa havia sumido.
Não havia mais ninguém para culpar, exceto o Duke. Ele
era o único em casa no momento e tinha entrado e saído do
meu quarto momentos antes do meu banho.
Acabei tendo que contar à Birdie. Ela e eu passamos o dia
inteiro vasculhando a casa em busca da caixa do anel.
Finalmente a encontramos – vazia. Nosso cachorro havia
perdido um diamante Tiffany de 20 mil dólares.
Eu acho que ainda poderia propor sem ele. Mas eu queria
que tudo fosse perfeito, e sem um anel, bem, isso seria muito
ruim. Graças a Deus também tive a ideia de desenhar aquele
pingente, porque, pelo menos, tinha algo para dar à Sadie. Que
pesadelo.
Então aqui estava eu, um dia depois do Natal, sem anel,
apenas uma caixa vazia amassada, e estava falando com o
cachorro esperando uma resposta como um lunático – como se
eu pudesse, de alguma forma, negociar para que ele me
dissesse o que fez com isso.
O fato de termos virado a casa inteira de cabeça para
baixo e ainda não conseguir encontrar o anel foi muito
desanimador, para dizer o mínimo.
Se não aparecesse nas próximas semanas, teria que
diminuir minhas perdas e comprar um novo anel. Mas eu
ainda não tinha perdido cem por cento das esperanças.
Foi estranho também. Senti algo em Sadie quando ela
saiu esta manhã, tipo uma decepção. Eu me perguntei se ela
secretamente esperava que eu fizesse o pedido. Isso tornou
tudo muito pior – porque eu queria desesperadamente colocar
aquele anel em seu dedo.
Birdie entrou no meu quarto enquanto eu continuava
negociando com o cachorro.
— Teve sorte, papai?
— Não. Você?
Ela balançou a cabeça. — Não. Eu até examinei todos os
meus bichinhos de pelúcia, pensando que talvez Marmaduke
estivesse brincando com eles e o anel estivesse lá. Mas não
encontrei nada. Existe algum outro lugar que possamos
procurar?
Olhando em volta e coçando a cabeça, disse: — Sinto que
vasculhamos todos os cantos da casa.
Birdie se ajoelhou na frente do cachorro. — Marmaduke,
por favor, diga-nos onde você colocou o anel de Sadie. — Ele
apenas começou a lamber seu rosto. Mesmo minha filha não
conseguia fazer sua mágica com ele quando se tratava dessa
situação.
A campainha tocou. Meu coração acelerou um pouco
porque eu sabia que era Sadie voltando para casa para nossos
planos da tarde. Ela só foi até sua casa trocar de
roupa. Levaríamos Marmaduke ao parque e depois iríamos
para o Bianco’s para jantar mais cedo. Depois, assistiríamos a
um filme aqui.
Abri a porta para deixá-la entrar. — Ei, querida, — eu
disse enquanto me inclinava para beijá-la.
As bochechas de Sadie estavam rosadas de frio. — Ei.
— Seu pai voltou para casa bem?
— Sim. Ele acabou de ligar. Ele está seguro de volta à
Suffern.
— Bom. Foi bom passar um tempo de qualidade com ele.
— Sim. Ele realmente gostou de vocês também. — Ela
sorriu.
Birdie entrou na sala com o casaco já vestido. — Estamos
prontos quando você estiver, Sadie!
— Ei, Srta. Birdie. — Ela abraçou minha filha. — Sentiu
minha falta nas três horas em que estive fora?
— Toneladas! — Ela deu uma risadinha.
Nós três embarcamos em nosso passeio com o cachorro
nos carregando como de costume, em vez do contrário.
Quando chegamos ao parque, deixamos Marmaduke
correr um pouco enquanto nos sentamos em um banco e
ouvimos Birdie falar sem parar sobre as crianças na
escola. Enquanto isso, fiquei pensando o tempo todo no
maldito anel. Eu esperava que minha falta de atenção não
fosse muito óbvia. Eu odiaria ter que mentir para Sadie
quando ela gritasse comigo por estar preocupada.
Depois de vinte minutos, Marmaduke finalmente ficou
exausto. Nós nos levantamos do banco e começamos a voltar
para casa para deixá-lo para que pudéssemos jantar no meu
restaurante.
Alguns quarteirões abaixo na rua, o cachorro parou
debaixo de uma árvore. Nós sabíamos o que isso
significava. Então esperamos enquanto ele se agachava. Sadie
estava segurando o saco de limpeza, então ela se abaixou para
pegar as fezes dele.
Ela congelou de repente.
— O que há de errado? — Eu perguntei.
A boca de Sadie ficou aberta.
Ela mal conseguia falar. — Hum… há um... diamante...
anel... no cocô dele!
Birdie gritou e começou a pular. — Yay!
Eu? Eu literalmente apenas fiquei lá na calçada com
meus olhos esbugalhados em total descrença.
De jeito nenhum.
Em vez de explicar, algo inesperado aconteceu. Eu
simplesmente comecei a rir incontrolavelmente. Pode ter sido
os poucos dias de estresse me alcançando. Aparentemente, foi
contagioso porque Birdie também começou a rir. Sadie foi a
última a ceder. Eventualmente, ela perdeu o controle e
começou a rir também. Marmaduke então começou a latir para
nós.
Assim que superei minha histeria, percebi que Sadie
ainda estava parada olhando para o grande diamante oval – e
tudo o que veio junto com ele.
Eu levantei meu dedo indicador. — Fique aí mesmo. Não
se mova.
— Sim... não vou a lugar nenhum no momento. — Ela
riu.
Felizmente havia uma loja na esquina. Entrei correndo,
pedi ao homem do caixa algumas sacolas plásticas e agradeci
profusamente.
Voltei correndo e usei uma das sacolas para cobrir minha
mão, a fim de pegar o anel com cuidado antes de colocá-lo na
outra sacola.
Sadie então descartou todo o resto e amarrou a outra
sacola que estava segurando.
Agora, coletivamente, após nossos acessos de riso, nós
três apenas ficamos ali. Eu precisava reconhecer o anel, mas
não sabia bem como fazer isso. Então fiz o que parecia certo
naquele momento.
Ajoelhando-me, disse: — Sadie, essa provavelmente vai
ficar para a história como a proposta mais merda das
propostas. Mas agora que você viu, não posso apagá-lo. A
surpresa já está arruinada, então vou seguir em frente. —
Respirei fundo. — Eu queria muito te pedir em casamento no
Natal. Birdie e eu planejamos isso há algum tempo. Então,
como você provavelmente descobriu, o anel desapareceu. Nós
vasculhamos a terra atrás dele. E agora está claro por que ele
nunca apareceu. — Eu olhei para o céu para organizar meus
pensamentos antes de encontrar seu olhar novamente. —
Fiquei arrasado, porque achei que o anel era uma parte
importante do processo e optei por adiar algo que no meu
coração eu realmente não queria adiar. Essa era
aparentemente a maneira do universo de me mostrar que o
anel não era a parte mais importante. A parte mais importante
de uma proposta é a expressão do amor. — Eu coloquei minha
mão no meu peito. — Eu te amo. Birdie te ama. Por favor, diga
que você fará parte da nossa família para sempre?
Lágrimas cobriram o rosto de Sadie, suas palavras mal
coerentes enquanto ela assentia.
— Sim! Claro, seria uma honra. Sim!
Então me levantei para beijar minha senhora com força –
minha senhora, que ainda carregava um saco de cocô. Mas de
alguma forma, nada disso parecia importar agora. Minha filha
saltou e bateu palmas enquanto Marmaduke continuava
latindo para nós. Birdie se interpôs entre nós e nós a
abraçamos.
Tínhamos passado de rir para chorar em uníssono. Se
alguém estivesse assistindo a este episódio na calçada do início
ao fim, eu podia imaginar que estava totalmente confuso ou
entretido.
— Eu prometo desinfetar o anel adequadamente, — eu
disse.
Ela enxugou os olhos. — É tão bonito pelo que pude ver.
Eu me virei para o cachorro. — Você poderia ter
engasgado com isso, seu animal louco.
Sadie riu. — Eu acho que era apropriado que ele de
alguma forma fizesse parte disso, visto que ele teve um grande
papel em nós nos tornarmos uma família.
Birdie proclamou com entusiasmo: — E agora posso dizer
a todos que meu cachorro faz cocô de diamantes!
EPÍLOGO

SADIE

Oito anos depois

O feriado de Natal haviam se tornado minha nova época


favorita do ano. Enquanto esperava na porta Birdie chegar da
faculdade para as férias, mal podia suportar. Eu sentia muito
a falta dela.
Com o passar dos anos, Birdie se tornou como uma
melhor amiga. Nosso relacionamento era diferente de um
relacionamento típico de mãe e filha. Nasceu de uma escolha
consciente e do desejo de estar na vida uma da outra. Não
estávamos unidas por sangue, mas sim por alguma fonte
mágica sem nome que parecia ainda mais forte.
Sangue. Essa palavra imediatamente me lembrou de um
dos dias mais difíceis da minha vida, o dia em que contamos a
verdade à Birdie. Sebastian e eu tínhamos decidido que,
quando ela fizesse dezesseis anos, contaríamos a ela sobre a
doação de óvulos. Poucos meses depois de seu aniversário, nós
a sentamos com o envelope e contamos a ela a história, não
apenas sobre a doação, mas sobre todas as circunstâncias que
me conduziram a suas vidas e, finalmente, sobre a
possibilidade de eu ser sua mãe biológica.
Ela ficou sentada em silêncio enquanto contávamos
tudo. Lembro-me de pensar que ela devia estar em choque
total porque, de tudo o que ela poderia ter dito, a primeira
pergunta que saiu de sua boca foi: — Você fingiu ser a
adestradora de cães?
Quando a realidade começou a se estabelecer, foi
difícil. Certamente foi um dia intenso e emocionante, que
nunca esquecerei enquanto viver. Suas emoções foram do
choque à confusão, à tristeza e, eventualmente, à
compreensão. Demorou cerca de um ano para que as coisas
voltassem ao normal depois disso. Mas, eventualmente,
voltaram. E se alguma coisa, contar a ela tornou nosso
relacionamento mais forte. No final das contas, por mais louca
que fosse nossa história, todas as peças dela ainda estavam
fortemente unidas pelo amor.
Depois da revelação, ela levou quase aquele ano inteiro
para chegar a uma decisão se queria descobrir
definitivamente os resultados do teste de DNA. Decidimos que,
se ela quisesse, faríamos um exame de sangue tradicional
apenas para ter certeza da precisão. No entanto, Birdie
finalmente chegou à conclusão de que saber se éramos
parentes de sangue não mudaria o quanto ela me amava. Ela
também acreditava que Amanda poderia não querer que ela
descobrisse. Então sentiu que era melhor continuar sem
saber. Sebastian e eu respeitamos totalmente sua decisão e,
uma vez que ela a tomou, uma sensação de alívio tomou conta
da nossa casa. Finalmente, fomos capazes de seguir em frente.
Sebastian, Birdie e eu acabamos pegando o envelope
infame que estava escondido no quarto de Birdie e queimando
do lado de fora.
E foi isso.
Uma parte de mim sempre se perguntaria? Claro. Mas no
final, não mudava nada. E era isso que importava.
Ironicamente, depois de todos esses anos, as cartas
tornaram-se parte de nosso relacionamento novamente.
Escrever para mim era a maneira favorita de Birdie de manter
contato enquanto estava na faculdade. Ela disse que era uma
espécie de diário – a única diferença era que ela compartilhava
seus pensamentos e sentimentos comigo, em vez de mantê-los
privados. Fiquei tão feliz que ela me considerava não apenas
uma figura materna, mas também uma amiga. Eu esperava
ansiosamente cada uma de suas cartas.
Meu filho chegou por trás de mim, tirando-me de meus
pensamentos.
— O que você está usando na cabeça, mamãe?
Eu o puxei para mim enquanto continuava olhando pela
janela. — Oh… esta é minha coroa especial. Sua irmã me deu
há muito tempo.
— Parece muito pequena para você.
Eu ri. — É essa a sua maneira de me dizer que quer usá-
la?
Seb enrugou seu adorável rosto como se tivesse acabado
de cheirar peixe ruim.
— Não! Coroas são para meninas.
— Na verdade, acho que qualquer um pode usar uma
coroa. — Inclinei-me e esfreguei meu nariz contra o dele. —
Mas estou feliz que você não queira usar a minha, porque é a
minha joia favorita.
Seb Junior nasceu há seis anos como resultado de uma
inseminação artificial com um dos meus óvulos armazenados
depois que Sebastian e eu tentamos, sem sucesso, engravidar
naturalmente por alguns anos. Como sua irmã, Seb tinha
cabelos loiros e o rosto de Sebastian.
— Ela ainda não chegou? — Eu ouvi meu marido dizer
por trás.
— Não. O carro dela deve ter ficado preso no trânsito.
Sebastian colocou a mão na parte inferior das minhas
costas. — Deus. Eu fico pensando que Marmaduke vai ficar
muito animado em vê-la, e então me lembro que ele se foi.
Uma lágrima começou a escorrer pela minha bochecha
com o pensamento disso.
Nosso precioso cachorro faleceu de linfoma no início deste
ano, logo depois que Birdie partiu para seu primeiro semestre
em Stanford. Naquele dia – ter que ligar para ela e dizer que
Marmaduke havia partido – foi o segundo dia mais difícil da
minha vida.
Tínhamos mandado fazer a sua dog tag em um colar para
Birdie como um presente de Natal. Queríamos que ela sempre
tivesse algo para se lembrar dele, já que seu relacionamento
era muito especial.
— Lá está ela! — Seb Junior proclamou entusiasmado
quando notou o Uber de Birdie estacionar.
Sebastian correu para a porta. Meu filho e eu corremos
atrás dele. Foi como uma corrida.
Birdie saiu do veículo. Apenas a mera visão dela colocou
um enorme sorriso no meu rosto. Recentemente, ela
desenvolveu um estilo que era muito boêmio chique. Seu longo
cabelo loiro estava preso em uma trança lateral, e ela usava
uma saia esvoaçante que ia até o chão. Mas foi o que estava no
topo de sua cabeça que me fez melhorar. Cobri minha boca,
sentindo-me emocionada. Minha Birdie também usava a coroa
no topo da cabeça. Mal pude acreditar. Embora eu
provavelmente não devesse ter ficado tão surpresa. De alguma
forma, sempre estivemos na mesma página, desde o início.
Birdie subiu correndo os degraus e se jogou nos braços
de Sebastian.
Ele a abraçou com força. — Minha filhinha está em casa.
— Estou muito feliz por estar em casa. — Ela se abaixou
para bagunçar o cabelo do irmão mais novo. — Ei, esguicho.
Obrigada por segurar o forte para mim.
Quando ela se levantou, ela colocou os braços em volta
de mim. — Smommy! Você também está usando a sua! Eu
senti tanto sua falta.
‘Smommy’ foi o nome que ela me deu logo depois que
Sebastian e eu nos casamos. Era a abreviação de Sadie-
Mommy. Honestamente, era perfeito para nós.
Eu não era sua mãe real. Eu era sua Sadie-mamãe.
Ela olhou em volta, e então vi as lágrimas se formando
em seus olhos quando percebeu que nosso grande cão não
viria correndo para cumprimentá-la. Era a primeira vez desde
os dez anos que ela entrava nesta casa sem ele.
— Eu não posso acreditar que ele se foi.
Eu limpei meus olhos. — Eu sei querida.
— É literalmente a única razão pela qual eu não queria
voltar para casa.
Sebastian esfregou as costas dela. — Ele era como sua
alma gêmea. Ele sempre estará com você, Birdie.
— Podemos ir ao cemitério amanhã?
— Claro, — eu disse. — Estávamos planejando fazer isso
em algum momento durante o seu intervalo.
Ela balançou a cabeça. — OK. Pensamentos felizes.
Pensamentos felizes. — Ela se virou para mim. — Estou
faminta.
— Bem, acabei de fazer sua salada de couve favorita, e
papai trouxe do restaurante uma bandeja de massa à
bolonhesa Birdie's para casa hoje.
Ela ergueu o punho. — Isso aí.
Nós quatro nos aventuramos na sala de jantar, onde eu
já tinha a mesa posta.
— Magdalene vai passar por aqui? — Birdie perguntou. —
Eu esperava vê-la.
— Ela virá amanhã na véspera de Natal para
cumprimenta-la.
— Oh, legal.
Magdalene não trabalhava mais para nós, mas ainda era
como da família. Mantivemos contato e Birdie fazia questão de
escrever para ela o tempo todo da faculdade. Magdalene havia
nos informado há alguns anos que precisava dar uma recuada
para cuidar de seu marido doente. Foi um momento perfeito,
realmente, porque eu estava pensando em deixar a revista para
ficar em casa com Seb. Então funcionou para todos.
Essa decisão em retrospecto foi muito boa, considerando
que eu estava prestes a dar à luz pela segunda vez em alguns
meses.
Birdie parou para olhar minha barriga antes de se servir
um prato cheio de salada. — Você realmente explodiu,
Smommy.
Eu esfreguei minha barriga. — Eu sei. É uma loucura,
certo?
É engraçado como a vida funciona às vezes. Sebastian e
eu tentamos engravidar durante anos antes do nosso filho e
acabamos optando pela inseminação artificial.
Então, depois que aceitamos o fato de que provavelmente
não teríamos mais filhos, engravidei naturalmente. Ficamos
surpresos, mas extasiados.
— Vocês vão descobrir o sexo? — Birdie perguntou.
— Eu não sei, — Sebastian disse. — Smommy e eu
estávamos conversando sobre isso. O que você acha? Devemos
manter este uma surpresa?
— Esta família é realmente boa em surpresas, — disse ela
sarcasticamente. — Então, sim, talvez!
Birdie passou os próximos minutos enfiando comida na
boca.
Ela finalmente parou o tempo suficiente para dizer: —
Então...
Eu inclinei minha cabeça. — Sim?
— Tenho um visitante que vem amanhã à noite para a
véspera de Natal.
A sobrancelha de Sebastian se ergueu. — Visitante?
— Sim. Meu… namorado. — Birdie parecia estar se
preparando para a resposta dele.
Eu podia literalmente ver a veia estourando no pescoço
de Sebastian. — Namorado...
— Sim. Você sabe… Tenho quase dezenove anos.
— Qual o nome dele? — Eu perguntei.
— Não ria. — Ela limpou a boca com um guardanapo. —
É Duke.
— De jeito nenhum! — Eu disse. — Isso pode ser um bom
presságio.
— Ou pode significar… que ele é um cachorro, —
Sebastian brincou.
— Papai. — Birdie revirou os olhos. — Ele é um bom
garoto.
— Eu serei o juiz disso! — Seb Junior gritou do nada. Ele
captou totalmente essa linha de Sebastian, que dizia isso com
frequência.
Todos nós nos viramos para ele e rimos. Ele era tão
inteligente para sua idade, como um pequeno adulto. Mesmo
aos seis anos, ele, com certeza, era protetor com sua irmã mais
velha.
Sebastian suspirou. — Vou tentar me comportar da
melhor maneira.
— A família dele mora no Brooklyn. É uma coincidência
que nós dois sejamos de Nova York.
Eu estendi minha mão para a dela. — Bem, mal podemos
esperar para conhecê-lo.
Ao longo da hora seguinte, acabamos com toda a comida
enquanto Birdie nos contava histórias de seu primeiro ano na
faculdade. Eu fiz biscoitos de gengibre para a sobremesa. Não
se passava um ano sem que eu os fizesse em homenagem à
Amanda durante o feriado.
Birdie terminou de tomar um gole d'água antes de
levantar o dedo indicador. — Oh, esqueci de dizer a vocês. Na
minha aula de genética, estávamos estudando genótipos e
características. Uma das vantagens do curso é que os alunos
ganham um grande desconto em um desses testes de DNA.
Sabe, os kits que você encomenda online e envia uma amostra
de saliva? Lembra, pai, eu costumava colocar um desses
minha lista de Natal todos os anos, mas o Papai Noel nunca
me trouxe?
Sebastian olhou para mim e disse: — Sim, eu me lembro.
— Bem, eu fiz o meu, finalmente. Os resultados foram
realmente intrigantes. Sou basicamente um vira-lata. Mas
você sabe o que é realmente interessante?
— O quê? — Eu sorri.
— Sou meio chinesa.
Meu sorriso desapareceu quando suas palavras se
estabeleceram. Senti uma onda de sangue correr por todo o
meu corpo.
Sebastian e eu apenas olhamos um para o outro.
E nós simplesmente… sabíamos.
Agora nós sabíamos.
Uau.
Apenas... Uau.
Não estávamos procurando a verdade, mas parece que a
verdade nos encontrou.
E como cada parte de nossa jornada – foi mágico.

Fim.

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