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KENDALL RYAN

The
TWO-WEEK
ARRANGEMENT

SÉRIE
THE PENTHOUSE AFFAIR 01
01 02
Sinopse
Cara estagiária Sexy AF,

Sei que você particularmente não se importa que eu seja o CEO


desta empresa, e você seja apenas uma estagiária. Também sei que
não está impressionada com meu poder ou riqueza, e tudo bem.

Acha que me conheceu trabalhando ao meu lado por duas


semanas, entretanto não me conhece. Não de verdade.

Não sabe que sou pai solteiro e tenho filhas gêmeas, ou que essas
duas meninas são mais importantes para mim do que esta rede de
hotéis inteira.

Não estou interessado em começar algo profundo e significativo, o


que me interessa é a maneira como seu corpo reage ao meu quando
estamos na mesma sala.

Você provavelmente presume que a concentração em meu rosto


está relacionada ao trabalho, quando, na verdade, estou descobrindo
o que mais quero: pressioná-la contra a parede ou dobrá-la sobre a
minha mesa.

Embora você seja disciplinada demais para agir sobre isso, eu não
sou. E na noite em que você entrou na minha limusine, todas as
apostas foram canceladas.
limusine, todas as apostas foram canceladas.
Prólogo
Presley

Tenho quatorze dias para ganhar o emprego dos meus sonhos.


Duas semanas trabalhando ao lado do hoteleiro bilionário Dominic
Aspen para conseguir uma vaga de executiva na rede de hotéis mais
prestigiada do mundo.

Só há uma coisa no meu caminho: uma coisa de um metro e


noventa e irritantemente sexy. Meu novo chefe – Dominic Aspen.

Se os rumores que circulam sobre ele forem verdadeiros, não tenho


ideia de como passarei por isso inteira.

Ele é intenso, exigente e misterioso.

Porém preciso desse emprego mais do que possa imaginar.

Não jogarei, nem cairei em seus encantos.

Pena que Dominic não joga limpo.

Na verdade, não tenho certeza se estamos jogando o mesmo jogo.

Um toque, e sou massa de modelar em suas mãos.

Uma promessa sussurrada e estou perdida.

Contudo, nunca deveria me apaixonar...


1
Dominic

— Tem saído com alguém ultimamente?

A cefaleia tensional que ameaçou o dia todo, finalmente se


instalou, latejando na base do meu crânio. Balanço a cabeça com a
pergunta ridícula de Oliver, meu olhar não se desviando da tela do meu
laptop.

— Você sabe que não tenho tempo para namorar — digo, mais do
que um pouco exasperado por repetir essa conversa cerca de seis mil
vezes.

Só porque Oliver está em um relacionamento feliz não significa que


precise forçar a monogamia goela abaixo a todos os outros. Estou
perfeitamente feliz por estar solteiro.

— Vamos lá, cara. Você sem boceta é como macarrão sem queijo.

Meu vice-presidente, senhoras e senhores.

— Pelo amor de Deus, Ollie. Tem de ser tão grosseiro?

Esta conversa recorrente está me esgotando. Estou a cerca de três


segundos de chutá-lo para fora do meu escritório. Ou chutá-lo nas
bolas. O que acontecer primeiro. Talvez dê um chute nas bolas dele e
depois para fora. Não que não merecesse os dois.
Oliver apenas zomba, enquanto caminha até a outra extremidade
do escritório e pega um copo de cristal lapidado do carrinho do bar. Os
decantadores de vidro contêm um bom uísque envelhecido e o melhor
gim que o dinheiro pode comprar, porém raramente toco na bebida.

Elas existem para dois propósitos – nas raras ocasiões em que


estou entretendo clientes e para Oliver. O homem bebe como um peixe,
embora por algum milagre raramente o seu metabolismo se intoxica.
No entanto não tenho nenhum problema com isso. Já passa das seis e,
tecnicamente falando, nosso dia de trabalho acabou.

Sem se preocupar em me perguntar se eu gostaria de um copo, ele


simplesmente se serve dois dedos de uísque e depois se junta a mim
novamente, afundando na lateral de couro preto de pelúcia em frente
à minha mesa. Ele toma um gole antes de continuar a crítica.

— Não seja tão presunçoso, Dom.

Ele faz uma pausa para olhar para mim, suas sobrancelhas
levantadas em diversão, como se estivesse prestes a me contar uma
piada interna.

— Você deve ter esquecido.

— Esquecido de quê? — Inclino para frente e coloco meus cotovelos


na mesa.

— Que eu conheço todas as suas peculiaridades. — Ele sorri,


girando o licor em seu copo.

Rolo os olhos. É uma maneira educada de colocar as coisas. Pelo


menos não chamou de desvio sexual novamente. A memória da
conversa no mês passado me faz estremecer.
É verdade que Oliver me conhece bem. Eu seria o primeiro a
admitir que meu melhor amigo e vice-presidente me livrou de algumas
situações inconvenientes ao longo dos anos, contudo, isso não significa
que quero discutir minha vida sexual com ele.

Embora sejamos amigos desde que a gente se formou em


Princeton, há certos limites que gosto de manter, agora que sou seu
chefe. De certa forma, esses anos parecem que foram ontem e, em
outros, parecem ter sido há muito tempo. Mesmo que Oliver não tenha
mudado muito, me sinto uma pessoa completamente diferente.

— Sabe que as únicas duas mulheres para as quais tenho tempo


são Emília e Lacey.

— Sim. Eu sei. — Derrotado, ele suspira.

Eu apreciaria se Oliver não se esquecesse sempre das duas


meninas me esperando em casa para ler histórias de ninar para elas e
verificar se há monstros embaixo da cama. Crianças certamente não
estão no radar de Oliver e Jessica neste momento do relacionamento
deles.

Elas não estavam no meu também.

— Além disso, mais tarde haverá tempo para diversão e jogos. O


programa de estágio começa segunda-feira.

Folheio a programação que meu assistente compilou para mim.

— Droga, isso mesmo. — Oliver tamborila os dedos no braço da


cadeira.

Alguns dos melhores e mais brilhantes recém-formados de todo o


país foram selecionados entre mais de mil candidatos para ingressar
na Aspen Hotel em caráter experimental.
Durante as próximas duas semanas, serão responsáveis por
aprender nosso modelo de negócios atual e executar o movimento de
avanço dos nossos hotéis em um formato mais moderno.

Não é a primeira vez que a Aspen oferece este estágio, contudo,


pode ser a última. Iniciativas de divulgação como essa têm se mostrado
bem-sucedidas do ponto de vista de relações públicas, porém a
retenção de funcionários desses estágios nunca impressionou. Acho
que é a única coisa que herdei do meu pai, o falecido Phillip Aspen –
expectativas perpetuamente baixas.

— Desde quando acreditamos em estágios? — Oliver resmunga em


sua bebida.

Mais uma vez, ele leu minha mente. Apesar das minhas dúvidas
sobre o sucesso do programa, preciso de um novo diretor de operações.
Desesperadamente. Este estágio, com alguns ajustes, me ajudará a
encontrar um candidato fresco e faminto, não alguém tão determinado
em seu próprio caminho que se recuse a fazer as coisas do meu jeito.

— Precisamos reavaliar nossas operações, se quisermos sobreviver


neste mercado. Os estágios são uma excelente forma de trazer sangue
novo sem perder dinheiro com novas contratações que se revelam
riscos financeiros.

— Isso foi apontado. — Oliver ri.

— Terry não era um novo contratado. Mas, um contratado antigo


que precisava de um alerta.

— Eu estava falando sobre Kylie.

— Oh. — Kylie foi brevemente nossa diretora de operações, após a


renúncia de Terry.
— Por que nós a despedimos, afinal?

— Ela tinha algumas expectativas irracionais.

Oliver levanta as sobrancelhas em dúvida, entretanto sabe que é


melhor não perguntar.

Não tolero avanços sexuais injustificados dos meus funcionários


em nossos eventos filantrópicos, não importa o teor de álcool no
sangue. Também não arruíno a carreira de uma mulher perfeitamente
capaz, transmitindo suas ações para meus amigos e colegas de
trabalho, depois que ela se joga em mim. Em vez disso, a despedi
silenciosamente com um pacote considerável de indenização e uma boa
viagem enfática.

— Então é isso que está tentando tirar disso? Um novo diretor de


operações? Olha, Dom, respeito suas escolhas, e Deus sabe, deixo você
fazer a maioria delas. Porém os recém-formados não têm
necessariamente a experiência de que precisamos no comando de toda
a nossa operação.

— Estou feliz que meu pai não se sentiu assim quando contratou
você como consultor recém-saído da faculdade.

Eu sorrio.

— Ponto tomado. E estou feliz que decidiu que precisava de um


vice-presidente para ajudá-lo a dirigir este show de merda. — Oliver
levanta as mãos em sinal de rendição.

Ele levanta o copo em um brinde amigável. Eu imito o gesto de


volta.

Ping.
Um e-mail chama a minha atenção. É a nossa diretora de
marketing, propondo a marca de mídia social atualizada para minha
aprovação. O examino com um olhar crítico – cada uma das fontes,
cada pigmento de cor. É clássica, porém ainda de alguma forma nova
e não se afasta da nossa marca. Decido que gosto e envio um e-mail
dizendo isso a ela.

— Nunca para de trabalhar?

Oliver está tão recostado na cadeira, que preciso olhar para a tela
para fazer contato visual.

— Não. Você não deveria ir para casa em breve, para Jess?

— Ela está viajando a negócios.

Ele suspira, genuinamente chateado com a ausência dela.

Eu sorrio. O amor verdadeiro não é tudo o que parece ser. Oliver e


Jess são um casal próspero para todos os olhos curiosos. Porém, como
amigo deles, sei exatamente quão profunda é sua codependência. Posso
dizer que assim que Oliver sair do meu escritório, estará no telefone
com ela, perguntando sobre seu dia.

Ele está acabado.

— Bem, levante a cabeça, irmão. Amanhã deve ser interessante,


certo?

— Para você, talvez. — Oliver franze a testa. — Não tenho luxo nem
energia para desfrutar da companhia de jovens atraentes.

Eu sorrio com a escolha de palavras de Oliver. Ele não perdeu


nenhuma das suas peculiaridades desde que se estabeleceu. No
mínimo, sua propensão para palavras inventadas só foi encorajada por
sua outra metade.
— Você deve aproveitar as próximas duas semanas, no entanto.

Oliver vira seu copo na minha direção.

— Como assim?

— Pegue um pouco de sangue novo.

Ele me dá um sorriso diabólico.

Ah sim. De volta à estaca zero. Por que sempre acabamos aqui?


Oh, certo, porque Oliver tem a mente focada.

— Os Hotéis Aspen precisam de sangue novo. Dominic Aspen está


bem — respondo com firmeza.

— Quando foi a última vez que você teve uma mulher em sua
cama? — ele pergunta.

Não dou uma resposta a ele, principalmente porque não consigo


me lembrar, porém também porque não é da sua conta.

— Foi isso que eu pensei.

Oliver sorri, com conhecimento de causa.

— E quando foi a última vez que conversou com uma mulher que
não estivesse pagando?

— Já terminamos esta conversa? Tenho trabalho a fazer —


resmungo.

— Boa noite, Dom.

Oliver não responde, apenas desliza para fora da cadeira e coloca


o copo na minha mesa, tentadoramente perto da minha mão.

— Boa noite, Oliver.


Ele está com o telefone na mão, ligando para Jess antes mesmo de
sair pela porta.

Clássico.

Eu corro a mão pelo meu cabelo e olho para o relógio na parede


oposta. Já passou da hora do jantar. Não tenho muito apetite, porém
sei que devo comer. Também deveria ir para casa mais cedo pela
primeira vez, substituir a babá e ver minhas lindas filhas, antes que
sejam colocadas na cama.

No entanto, aqui estou eu. Olhando para as gotas de uísque no


fundo do copo de outra pessoa.

Dominic Aspen está ótimo.


2
Presley

Você é tão pequena quanto os seus sonhos.

Foi o que minha mãe me disse algumas horas antes do câncer


levá-la. Esse sentimento é a pedra angular em que baseio minha vida
desde então. Não faço coisas pequenas. Não está no meu vocabulário.
Sonho grande ou não sonho. Corro riscos, luto pelo que quero e me
esforço para viver a vida ao máximo.

É a única maneira que conheço de honrar as palavras da minha


mãe. Também me certifico de que meu irmão mais novo faça o mesmo.
Ele acabou de terminar seu primeiro ano em uma das mais prestigiadas
academias de balé do país.

Minha mãe ficaria orgulhosa de nós dois. Meu pai, nem tanto. Ele
odiaria o homem que meu irmão se tornou.

Ele nunca liga e, quando nos falamos, é principalmente em


grunhidos e monossílabos. Ele dá tanto suporte quanto um macarrão
cozido demais. Ameaçou parar de pagar os estudos do meu irmão se
ele se formasse em dança, então cumpriu a promessa quando Michael
se declarou gay.

No entanto, jurei a Michael que não precisaríamos dele, nosso pai,


que agora vejo como pouco mais do que um doador de esperma.
Claro, terei que trabalhar um pouco mais, sonhar um pouco mais,
para cuidar tanto do meu irmão quanto de mim, porém não é nada que
não possa fazer. O que me leva a hoje.

— Hoje é o dia, hein? — Minha melhor amiga e colega de quarto,


Bianca, pergunta do seu poleiro no sofá.

Engulo um último gole do café agora frio e faço uma careta


enquanto engulo.

— Sim. Hoje é o dia.

— Você não está nervosa, está?

Ela me encara com um olhar inexpressivo.

— É a mulher mais corajosa que eu conheço, Presley.

Eu rio e reviro os olhos. Bianca é boa para o meu ego. Cada vez
que trazia para casa uma prova com um A, cada boletim que
apresentava uma média de nota perfeita de 4,0, cada bolsa que recebia
e cada estágio que obtinha, Bianca apenas me dava um olhar de
cumplicidade. Era o equivalente a dizer “viu, eu te disse”.

Contudo, esse estágio é diferente. Ela sabe disso tão bem quanto
eu. Em vez de pegar a rede de segurança de um emprego estável
quando nós nos formamos no mês passado, mantive a esperança de
ganhar uma das cobiçadas vagas nos Hotéis Aspen.

E agora que consegui, as borboletas dentro do meu estômago estão


chutando como ninjas enlouquecidas.

Na minha pausa, ela se levanta e agarra meus ombros, dando-lhes


um aperto reconfortante.

— Diga-me que você não está preocupada.


— Sobre o estágio? Não.

Entretanto estou mentindo. Estou um pouco preocupada. É


humano, certo? Esta é a maior oportunidade que já tive e não quero
desperdiçá-la. E há a questão não tão pequena do dinheiro. O estágio
não é remunerado.

— É apenas... o que diabos eu farei para ter dinheiro, B? — Soltei


um suspiro lento.

Acabei de assinar um contrato para três meses de trabalho não


remunerado na esperança de conseguir o emprego dos meus sonhos.
Contudo, esperança não paga as contas. Eu pago. Ou melhor, pagava.

Bianca não tenta embelezar as coisas ou descartar minha


preocupação com algo trivial. Ela me conhece bem o suficiente para
saber que não ficaria estressada a menos que realmente houvesse algo
com que me preocupar. E ela sabe que a mensalidade da escola do meu
irmão é astronômica.

Ela apenas coça o queixo, parecendo preocupada. Tentando me


assegurar, diz: — Ficará tudo bem.

Eu aceno em concordância, porém a verdade é que ela não pode


saber disso. Já estou atrasada em todas as minhas contas e tenho
apoiado Michael desde que meu pai o deserdou no ano passado. Saber
que concordei em fazer um estágio não remunerado não me cai bem.
Se não conseguir a posição executiva ao final deste estágio altamente
competitivo, estarei realmente ferrada.

Quatro dos melhores graduados do país foram aceitos no


programa acelerado, no entanto preciso ser a única a chegar ao topo –
sem dúvidas, sem “se” ou “mas” sobre o assunto.
— Você pode ficar aqui o tempo que precisar. — Bianca se inquieta.

Concordo com a oferta dela, entretanto a verdade é que discordo.


Não quero perder minhas boas-vindas ou tirar vantagem da minha
melhor amiga. Além disso, desabar no seu sofá não é exatamente como
imaginei viver após minha pós-graduação. Estou na casa dos vinte
agora. É hora de me recompor.

— Preciso terminar de me arrumar — digo para Bianca, enquanto


carrego minha caneca para a pia e enxaguo.

— Arrasa, amiga — ela grita.

Caminho para o banheiro e pego um batom dentro da minha bolsa


de maquiagem.

Leva apenas oito segundos para causar uma primeira impressão


duradoura.

Estas são as palavras que repito para mim, enquanto me olho no


espelho, bagunçando meu longo cabelo castanho ondulado. Arrumo as
mechas escuras sobre um ombro e franzo os lábios para meu reflexo.

Odeio parecer mais jovem do que meus vinte e dois anos. Meus
amigos dizem que isso se tornará uma vantagem mais tarde na vida,
porém, por enquanto, ter uma cara de bebê é chato, para dizer o
mínimo. Principalmente quando não quero nada além de ser vista como
uma mulher de negócios profissional.

Na verdade, apague isso. Quero ser vista como um magnata de


negócios confiante. É o que preciso para conquistar o emprego dos
meus sonhos. Parecer esquisita ou muito jovem só prejudicará minhas
chances.
Nos próximos três meses, competirei por uma posição executiva
na rede de hotéis mais prestigiada do mundo. Trabalhar na Aspen
Hotels é o emprego dos meus sonhos desde sempre. Não pode se crescer
em Seattle e não conhecer a marca Aspen. É um local cobiçado e pelo
qual terei de trabalhar muito.

Respirando fundo, converso comigo mesma com uma vitalidade


silenciosa.

Você tem isso, Presley.

Minha voz interior soa muito como minha mãe, e isso me faz abrir
um sorriso. Honrar a memória dela rebentando minha bunda é
praticamente meu único passatempo nos dias de hoje.

Apesar do meu nervosismo, sei que estou pronta para isto. Vestida
com uma calça preta, uma camisa de botão branca e um par de saltos
pretos, estou pronta para qualquer coisa que joguem no meu caminho.

Que venha!

•••

As portas de vidro reluzente que conduzem ao belo hotel Aspen


sempre estiveram fora de alcance. Porém não hoje. Eu nunca estive
dentro do saguão de um hotel cinco estrelas, no entanto esta manhã,
entrei com propósito, parando brevemente enquanto meus saltos
batiam no chão de mármore brilhante. As instruções que recebi por e-
mail me direcionaram para o décimo nono andar, então prossigo para
a fileira de elevadores que se alinha na parede oposta.

Para onde quer que eu olhe, há tapeçarias finas e mogno reluzente,


pinturas elegantes e membros prestativos da equipe do hotel, vestidos
com ternos azul-marinho impecáveis.
Observo cada detalhe ao meu redor e não posso deixar de sorrir
quando entro no elevador. No décimo nono andar, piso em um carpete
azul-marinho luxuoso que contrasta com as paredes revestidas em
tons de creme.

Um fato pouco conhecido sobre o hotel, pelo menos nesta


localização específica no coração do centro da cidade, é que além dos
seiscentos quartos de hóspedes, também abriga os escritórios
corporativos, que ficam diretamente abaixo da cobertura do CEO,
Dominic Aspen.

Sua reputação como CEO é que ele é intenso, exigente, e um pouco


misterioso. Acho que descobrirei.

Faço meu caminho para uma sala de reuniões no final do corredor.


Antes de entrar, verifico meu telefone e vejo que estou oito minutos
adiantada. Perfeito. Sempre aderi a noção de que na hora é tarde e cedo
é a hora certa.

Quando entro, sou saudada por uma mulher que parece estar na
casa dos cinquenta. Ela é baixa e atarracada e tem um sorriso pronto
quando me vê.

— Olá. Bem-vinda. Você deve ser Presley Harper.

Estende a mão em saudação, e eu aperto.

— Sim, é um prazer conhecê-la...

— Beth Darvill, porém Beth está bem. Sou assistente executiva do


Sr. Aspen e coordenadora do programa de estágio. Por favor sente-se.
Começaremos assim que todos chegarem.

Acomodo-me na minha cadeira, na grande mesa de conferência e


faço um balanço da minha competição.
Uma pequena garota asiática está sentada ao meu lado com um
terno preto que parece caro, e um cara que parece ser de origem
indiana está sentado ao lado dela com uma expressão séria. Nenhum
dos dois me cumprimenta. Esperamos em silêncio a chegada do quarto
e último estagiário. Com um minuto de sobra, ele finalmente irrompe
na sala com um sorriso torto.

— Estou aqui! Bem a tempo. Jordan Provost.

Enquanto Beth gesticula para que ele se sente ao meu lado, eu


rapidamente tomo sua aparência. Sua gravata está muito frouxa e seu
cabelo é um pouco comprido na parte superior. Ele me lembra os caras
da fraternidade que eu evitava durante a graduação. Fantástico.

Passamos a próxima hora recebendo uma visão geral do programa


de estágio de Beth, também conheço os meus colegas estagiários. Além
de Jordan, há Jenny e Aarav. Aparentemente, nós quatro fomos
selecionados de um grupo de mais de mil candidatos.

Tenho quase certeza de que Jordan, com seu caderno rasgado e


sem caneta para fazer anotações, é filho de alguém importante.

Jenny, Aarav e eu tomamos notas devidas em nossos laptops. Eu


digito cada palavra que Beth diz, para não perder nada.

Aprendi que compartilharemos um espaço de trabalho aberto no


vigésimo andar. Que, apesar deste estágio não ser remunerado,
teremos acesso ao refeitório dos funcionários, bem como à academia e
piscina do hotel.

Duvido que terei muito tempo livre para nadar – ouvi dizer que nos
esperam noventa horas de trabalho por semana nos próximos três
meses, presumindo que serei a escolhida para esta posição – contudo,
isso não me incomoda. Estou aqui para uma coisa e somente uma
coisa. E pretendo vencer.

Beth faz uma pausa e levanto meu olhar para a frente da sala.

— Cada um de vocês foi emparelhado com um membro da nossa


equipe executiva. Essa pessoa atuará como mentor e supervisionará o
trabalho diário no projeto que lhes será atribuído. Vocês terão duas
semanas para causar uma ótima impressão. Se, depois dessas duas
semanas, não convencerem seu mentor de que merecem uma chance,
serão dispensados.

Um silêncio abafado cai sobre a sala. Eu não sabia sobre essa


estipulação de duas semanas, e parece que os outros também não. Isso
aumenta ainda mais a aposta.

Então Beth continua.

— Ao final do estágio de três meses, a equipe executiva se reunirá


para discutir a qual dos demais candidatos gostaria de estender a
oferta. Se Deus quiser, um de vocês se tornará um novo executivo
associado a Aspen Hotels.

Eu sorrio, tonta com o pensamento do título de executivo


associado por trás do meu nome.

— Agora, faremos uma pequena pausa para o banheiro e chamarei


a equipe executiva para que vocês possam conhecer seus mentores e
começarem o projeto que lhe foi atribuído.

Beth fica de pé em movimentos sensatos.

Corro para os banheiros no final do corredor, verifico rapidamente


meu reflexo e lavo as mãos. Minha bexiga está nervosa demais para
fazer qualquer coisa, então volto para a sala de conferências e encontro
quatro novas pessoas lá dentro.

Eu deslizo no meu lugar e sinto quatro pares de olhos me


avaliando. É um pouco intimidador saber que essas pessoas
provavelmente sabem quase tudo que há para saber sobre mim e estou
praticamente voando às cegas aqui.

Na verdade, eles só passaram um tempo me conhecendo no papel.


Podem saber que eu tinha uma bolsa integral na Brown e que me formei
como a primeira da classe enquanto trabalhava em dois empregos,
porém não me conhecem, na verdade. Puxo uma respiração profunda
muito necessária para os meus pulmões.

Reconheço o homem parado no centro da sala, Dominic Aspen,


contudo, uau é tudo em que meu cérebro pode pensar. Vê-lo
pessoalmente é muito diferente do que ler sobre ele em um jornal de
negócios ou ver sua foto online. Ele tem mais de um metro e oitenta de
altura, ombros largos que preenchem perfeitamente o terno e uma
cintura fina, porém não é apenas sua presença física que oprime meus
sentidos, é a quantidade de confiança que exala.

Meu Deus, ele poderia engarrafar essa coisa e vendê-la. Faria uma
fortuna.

Talvez seja porque seu cabelo escuro está perfeitamente penteado


e há um brilho avaliador em seus olhos, como se soubesse algo que nós
não sabemos. Ou talvez seja porque não posso deixar de imaginar como
seu cabelo escuro ficaria bagunçado depois do sexo. De qualquer
forma, isso puxa algo em mim, e não consigo tirar os olhos dele,
enquanto fala. Sua mandíbula é quadrada e raspada rente, e seus
lábios são carnudos e parecem macios. Em suas mãos estão duas
coisas – um smartphone e um pequeno estojo de couro.

A maneira como o terno feito sob medida se estende sobre seu peito
musculoso e ombros largos é uma distração, para dizer o mínimo, e
não posso evitar meu olhar de vagar, avaliando-o. Porém o cara é um
bilionário de 26 anos. Tenho certeza de que pode pagar pelo melhor
personal trainner, alfaiate e nutricionista que o dinheiro pode comprar.
No entanto não se pode comprar confiança, e esse cara tem muita.

Lembro-me desta manhã no apartamento, quando disse a mim


mesma que estava pronta para qualquer coisa.

Aparentemente, não incluí o coração acelerado quase um ataque


de pânico que tive quando Dominic Aspen abriu a boca para falar,
dando-nos as boas-vindas pessoalmente à empresa. E definitivamente
não estava pronta para minha calcinha ficar molhada, quando ele me
fixou com aquele olhar azul escuro dele.

Que isso?

Respiro fundo e avalio seus companheiros na tentativa de me


distrair de sua masculinidade crua e da reação indesejada do meu
corpo a isso. Seus lábios se abrem e se juntam novamente.

Duas mulheres estão ao lado dele, ambas a própria imagem do


profissionalismo. Uma é loira e mais velha usando um terno cinza, seu
cabelo em um coque bem cuidado, e a outra é morena, que parece ter
trinta e poucos anos usando um vestido preto na altura dos joelhos.
Nenhuma das duas oferece qualquer tipo de sorriso.
O homem no final é o único do grupo sorrindo. Seu sorriso com
covinhas é quase contagiante. Ele é alto, porém não tão alto quanto
Dominic.

De repente, me sinto tola por não pesquisar a equipe executiva


mais a fundo na internet. Eu deveria saber quem eles são, onde
estudaram, o que os irrita. Tudo. Então, novamente, não tinha ideia de
que seria contratada para trabalhar com alguém tão importante e vital
para a empresa. Presumi que, como estagiária não remunerada, estaria
ajudando algum trabalhador mal pago de baixa remuneração. No
entanto acho que isso mostra que eles realmente estão levando esse
estágio a sério.

Não tenho ideia de quem será meu mentor, porém mal posso
esperar para descobrir. Então percebo que, se o próprio Sr. Aspen está
aqui, isso significa que ele é um dos mentores?

Isso não pode ser justo, pode?

O estagiário que tem acesso direto ao CEO certamente estaria em


vantagem. A menos que Dominic Aspen seja testemunha direta de um
erro, e então você estaria fora daqui no primeiro elevador descendo.
Portanto, talvez não seja uma vantagem, afinal.

Beth sorri calorosamente para o Sr. Aspen antes de começar de


novo.

— Maravilhoso. Agora que discutimos o que esperamos de vocês,


gostaria de apresentá-los aos seus mentores nos próximos três meses.
Jenny, você trabalhará com Pamela Brightworth.

A loira mais velha sorri e se adianta para apertar a mão de Jenny.

— Aarav, você fará par com Renee Hildreth.


A morena atravessa a sala e aperta a mão de Aarav com firmeza.

— Vai azul — diz ela a ele, e Aarav sorri. Elas devem compartilhar
a mesma alma matriz.

— Presley — Beth diz, e então Dominic coloca a mão em seu


antebraço para detê-la. Ele se inclina para perto e sussurra algo para
ela em um tom abafado. Seus olhos encontram os meus e ela balança
a cabeça, sussurrando algo para ele em resposta.

— Presley, você fará par com Dominic — diz ela.

Meu estômago salta.

Sinto que todos os outros estagiários estão me observando


enquanto este pequeno anúncio é feito, e não posso deixar de me
perguntar se eles me julgarão, ou se acham que terei uma vantagem
injusta em ser acompanhada pelo próprio CEO.

Meus nervos torcem dentro de mim, quando Dominic se aproxima,


embolsando seu smartphone. Ele estende uma grande mão em minha
direção, e estendo a mão para aceitar sua saudação. No momento em
que minha mão fecha na dele, calafrios percorrem minha espinha.

— É um prazer conhecê-la — diz ele.

Quando sua voz profunda se lança sobre mim, abro a boca para
responder, porém nada sai. Felizmente, Beth continua sem perder o
ritmo.

Nem mesmo ouço as apresentações restantes, porém Jordan está


emparelhado com o homem – Oliver alguma coisa, acho que é o que ela
diz. É impossível ouvir muito ou pensar com clareza, quando meu
coração está batendo tão forte que o sangue ruge em meus tímpanos.
Quando todos se levantam e começam a sair da sala, eu me
levanto, determinada a deixar meu lapso momentâneo de julgamento
para trás.

Ele é apenas um homem, um muito atraente que dirige uma


empresa muito grande. Entretanto no final do dia, ele coloca as calças
uma perna de cada vez, como todo mundo.

Talvez não tenha sido a ideia mais inteligente imaginar Dominic


sem calças, porque de repente ele está parado na minha frente e
minhas bochechas estão em chamas.

— Dominic Aspen. Prazer em conhecê-la. — Estende a mão em


minha direção e eu a pego, sacudindo-a com firmeza duas vezes.

— Sou Presley Harper. Estou feliz por estar aqui.

— Está pronta? Irei lhe mostrar seu espaço de trabalho. — Sua voz
é tão profunda e rica, que meus braços se arrepiam.

— Vamos fazê-lo. — Concordo.

Oh meu Deus, isso soou sexual?

— Não quis fazer isso. Só quis dizer, sim, vamos subir. Não para o
seu lugar ou qualquer coisa. — Gaguejo, certa de que meu rosto está
vermelho como um tomate.

Parecendo divertido por minha óbvia falta de filtro, Dominic


apenas sorri.

— Por aqui.

Em vez de esperar pelo elevador com os outros, Dominic vira, à


esquerda ao sair da sala de conferências e entramos em uma escada
que requer um cartão especial para acesso.
Subimos um lance de escada e, em seguida, entramos no que
parece ser uma área de escritórios, completa com fileiras de cubículos
cinza bem-organizados, uma parede de copiadoras e impressoras e um
aglomerado de escritórios enfileirados nos cantos e alinhados na
parede oposta.

Tenho a sensação de que estou olhando para a minha nova casa


longe de casa e gosto disso. Há uma vibração séria, porém profissional,
ao nosso redor, enquanto a equipe de suporte digita ativamente nos
teclados à sua frente.

— Esta será sua mesa — Dominic diz, parando ao lado de um


pequeno cubículo cinza no centro da sala.

É isso, minha casa longe de casa pelos próximos três meses. Eu


respiro fundo e aceno com a cabeça.

— Ótimo. Estou pronta para começar.

Dominic me olha com curiosidade, um sorriso puxando seus


lábios, enquanto meu coração continua martelando.
3
Dominic

Nem todo o cabelo dela se encaixou na faixa fina que amarra o


rabo de cavalo de Presley. Algumas mechas escaparam, emoldurando
seu rosto. Posso notar que ela prefere que tudo estivesse perfeitamente
preso pela maneira como puxa com eficiência os fios atrás das orelhas.
Ela tem traços delicados e seu corpo pequeno está sentado na cadeira
do lado de fora do meu escritório. Isto é um pouco mais perturbador do
que imaginei que seria.

Depois que a deixei para revisar nosso histórico de negócios, ela


puxou o cabelo para trás, e mergulhou nele, um olhar de concentração
no rosto.

Mandei um e-mail para ela com os arquivos necessários para


leitura – com quem lidamos, como nossa equipe está organizada, qual
departamento lida com qual processo, todos os fundamentos. Não há
melhor maneira dela aprender do que ler, e tenho muitos e-mails na
minha caixa de entrada para orientá-la sobre tudo isso. Ela não parece
o tipo que precise ser pajeada.

Mesmo do outro lado do escritório, posso ver sua testa franzida em


profunda concentração. Percebo que não li um único e-mail desde que
enviei os arquivos para ela. Estive muito preocupado em encarar minha
mais nova contratada.
Droga.

Presley realmente parece jovem. Ela não pode ter muito mais que
a idade legal para beber. Pego o currículo dela no meu computador e
leio pela segunda vez hoje.

Graduada em Brown. Uma rival. Forço um sorriso.

GPA de 4.0. Era esperado.

Venceu uma competição nacional de codificação. Interessante.

Ela é impressionante, para dizer o mínimo, porém não mais do que


os outros três candidatos. Então, por que, assim que entrou na sala,
eu a quis como minha estagiária pessoal?

Engulo a resposta óbvia com um gole de café escaldante. Estou


atraído por ela.

Talvez nomeá-la como minha estagiária pessoal não tenha sido a


ideia mais sábia. É óbvio que meu pau estava tomando as decisões
executivas neste momento. Não posso me dar ao luxo de distrações.
Então percebo que não é tarde demais para mudar de ideia.

Começo a redigir um e-mail para Beth.

Beth:

Reinstale Presley até novo aviso. Não é o ajuste certo. Talvez negociar
com Oliver?

Dom

— Terminei.
Antes que eu pudesse clicar em ENVIAR, Presley está parada na
minha porta, esperando minha resposta.

Ela terminou?

— Já?

— Sim.

É difícil de acreditar. Dei a ela dezenas de arquivos contendo


documentos de trinta ou mais páginas cada.

— Como você conseguiu ler isso tudo tão rapidamente? — Fecho o


e-mail sem enviá-lo enquanto ela se aproxima.

— Falei com a Beth semana passada e pedi material didático. Ela


compartilhou comigo todos aqueles que não são negócios particulares.
Consegui ler os documentos confidenciais em uma hora. Acho que meu
tempo aqui não deveria ser gasto aprendendo como passar meu tempo
aqui. Prefiro ser útil.

Uau.

— Estou impressionado — digo com um sorriso genuíno.

É um rubor que vejo em suas bochechas?

— É um trabalho preparatório básico. Por onde devemos começar?

Em instantes, Presley está de pé por cima do meu ombro enquanto


mostro a ela o banco de dados online que ela usará para acessar os
nossos arquivos de negócios. Explico nossas atuais operações
hoteleiras em todo o país, sem me preocupar em simplificar qualquer
linguagem. Ela faz as perguntas certas e admite quando gostaria de
uma recapitulação sobre um determinado assunto. No final, se oferece
para compilar uma planilha dos nossos fornecedores de alimentos e
bebidas favoritos para comparar preços. Estou convencido.

— Só preciso rastrear os números das contas para que eu possa


fazer as perguntas e conseguir algumas cotações. Devo terminar nas
próximas quarenta e oito horas.

— Isso já estaria feito, porém nosso último diretor de operações


teve uma saída repentina da empresa... — Eu paro abruptamente.

Não há necessidade de se explicar para um estagiário de 22 anos.

— Compreensível. Não é problema — diz ela.

Presley não abriu um sorriso durante toda essa conversa. Eu me


pergunto como o seu rosto ficaria com aqueles lábios carnudos e
rosados curvados. Já vi suas bochechas ficarem rosadas mais de uma
vez. O que será necessário para fazê-la sorrir?

Quando ela se inclina sobre minha mesa para pegar uma pasta
com o seu nome, fico impressionado com o cheiro do seu xampu,
baunilha e amêndoa. É clássico, simples, discreto. Igual a ela.

Porra. Controle-se, Dom. Eu inspiro sério.

Mantive toda a minha vida pessoal escondida do público – meus


clientes, funcionários e a imprensa. Certamente posso manter a
atração por uma mulher sob controle. E não a trocarei com Oliver por
causa do meu tesão. Discriminar alguém no local de trabalho com base
em sua aparência não é uma prática que apoio. Mesmo que sua
aparência seja extremamente perturbadora. Ela é obviamente mais do
que qualificada.

— Dominic?

— O que você disse? — Meus olhos se fixam nos dela. Merda.


— Eu perguntei se esta é minha primeira tarefa.

Ela está segurando a pasta que leva seu nome.

— Sim é. Dentro da pasta está a minha proposta para uma nova


distribuição do pessoal de construção. Mais pessoas nos pisos
negligenciados, menos energia desperdiçada em pisos que precisam
apenas de uma reforma. Será uma grande despesa, contudo, valerá a
pena a longo prazo.

— Quando podemos discutir isso?

— Está tudo aí.

— Eu acredito nisso, porém – aprendiz a mentor – gostaria de


passar um pouco de tempo juntos — diz ela, e seu rosto fica vermelho.
— Para discutir a p... proposta. É claro.

— Claro — digo, lutando contra um sorriso.

O que há com essa mulher e sua maneira estranha de dizer as


coisas? Seu uso repetido de insinuações sexuais aparentemente não é
intencional, o que a torna ainda mais divertida.

— Cinco minutos do seu tempo amanhã, então? A menos que


tenha mais tempo.

— Eu posso ir pelo tempo que você quiser — respondo suavemente.

A cor de tomate inundando suas bochechas é imediata.

Eu ainda posso provocar, certo?

— Ótimo.

E assim, ela vai para sua mesa e estou sozinho novamente.

Não percebo o quanto estou me divertindo, até Presley sumir de


vista.
Normalmente não baixo a guarda com mulheres. Qualquer
terapeuta teria um dia de campo dissecando isso, porém para mim, é
muito simples.

Meu relacionamento desastroso com a mãe de Emília e Lacey


tornou incrivelmente difícil para eu confiar em alguém. Lembro-me de
como me senti quando ela me disse que estava grávida. Tive uma
sensação eufórica de voar quando disse que eram gêmeas, seguido por
uma queda rápida e agitada quando disse que não as teria. Eu não
tinha mais família e ela tiraria a única chance que eu teria?

Em toda a minha vida, nunca implorei a ninguém antes daquele


momento. Era escolha dela, ela insistiu, e não pude contestar. Porém
pude oferecer a ela um acordo.

Eu financiaria suas viagens a Praga e outras joias escondidas do


mundo que ansiava por fazer, e ela carregaria minhas filhas. Daria a
ela tudo o que sempre quis da vida – um mundo de aventura e
espontaneidade. E, em troca, eu e minhas filhas não nascidas,
ficaríamos fora disso. Na mesma semana, os papéis foram assinados e
a custódia de Emilia e Lacey era toda minha. Em poucos meses, eu
tinha duas filhas gêmeas e a mãe delas nunca mais foi vista.

O café na minha caneca esfriou.

Há quanto tempo estou sentado aqui, desenterrando o passado? E


tudo por causa de quê, minha atração por alguém de vinte e dois anos?

Ocorreu-me que, quando Sara e eu nos conhecemos, tínhamos


essa idade. Isso mesmo. É memória muscular. Meu corpo está
simplesmente se lembrando de como me sentia quando tinha vinte e
dois anos com tesão. Talvez Oliver esteja certo, e eu esteja precisando
de alguma companhia feminina. No entanto isso pode ser facilmente
remediado.

Um e-mail aparece na minha tela, um breve lembrete de Beth, de


que tenho um jantar de negócios amanhã à noite. Um cliente
importante e potencial investidor do Aspen Hotels.

Perfeito.

Oliver adora me criticar sobre pagar por sexo. Não consegue


entender por que não posso simplesmente pegar uma mulher em um
bar, como qualquer outro solteiro de nossa idade. A verdade é que
posso. Isso é bastante fácil. Porém não é o sexo que estou pagando.
Estou pagando para ela ir embora depois. Não tenho tempo para mais
nada. Não enquanto estou ocupado brincando de pai e administrando
meu império.

Pego meu celular e disco o número de memória.

— Obrigado por ligar para Allure, a solução para os desejos de sua


noite. Se você conhece a extensão direta do seu grupo…

— Olá, Dominic. — Alguns botões depois, uma voz feminina sedosa


atende.

— Olá, Gia. Como você está hoje?

— Estou bem, obrigada. — Ela ri daquele jeito escuro e sensual


dela. — Lendo alguns aplicativos fascinantes no momento. E você?

— Estou bem, porém preciso de uma acompanhante para um


jantar planejado para sexta à noite.

— Claro! — Sons de batidas surgem na linha enquanto insere meu


pedido. — Me diga o que precisa.
— Alguém inteligente, elegante. Que eu possa mostrar a um cliente
de longa data e potencial investidor.

— Absolutamente — ela garante, praticamente ronronando. — Nós


alinharemos uma garota para você em um momento. Não preciso
lembrá-lo das nossas regras...

— Claro que não. Sem sexo.

— A menos que ela também queira — acrescenta com uma risada.


— Entretanto, conhecendo seu histórico, ela desejará.

— Você é aduladora — declaro.

Gia, a dona da Agência Allure, certamente sabe como manter seus


clientes habituais satisfeitos.

— Tenha uma ótima noite, Dom. Enviaremos os detalhes amanhã.

— Boa noite, Gia.

Pouso meu telefone e me inclino para trás na minha cadeira. Já


me sinto melhor. Até mesmo animado.

Depois de alguns retoques finais no trabalho do dia, estou pronto


para ir embora. Saio pelos fundos e vou direto para o estacionamento,
onde meu Porsche me aguarda.

Tenho um pequeno apartamento que mantenho na suíte da


cobertura do hotel, porém depois que os bebês nasceram, morar fora
de um hotel parecia muito mais prático, então comprei um grande
apartamento de quatro quartos onde minha vida pessoal pode ficar
privada e longe dos olhos curiosos da minha equipe.

Antes da chegada das meninas em minha vida, me sentia


perfeitamente feliz vivendo um estilo de vida de solteiro em uma suíte
de hotel – fazendo pedidos ao serviço de quarto e trabalhando todas as
horas do dia e da noite. Agora, é claro, as coisas são diferentes. Minhas
prioridades mudaram drasticamente.

O trajeto nunca é ideal durante a hora do rush, porém quero ver


minhas garotas. Na verdade, preciso. Todos esses pensamentos sobre
sexo, ex e arranjos secretos, me fazem precisar de um pouco de limpeza
emocional. E não há nada mais puro do que os sorrisos brilhantes de
duas meninas, quando o pai chega em casa mais cedo, pela primeira
vez na semana.

— Você deveria passar mais tempo com elas. Está perdendo muito
da infância delas — Francine me disse isso na noite anterior, quando
cheguei depois da hora de dormir.

Minha babá tem quase 60 anos e nunca tem medo de expressar


suas opiniões sobre meu estilo de vida. Ela estava com as mãos nos
quadris, me repreendendo como uma mãe faria com uma criança.

— Quanto mais tempo eu passar com elas, menos você recebe —


a lembrei com uma voz severa, no entanto ela poderia dizer pelo meu
sorriso que era uma ameaça vazia.

Pago a ela um salário muito generoso todas as semanas e sempre


pago horas extras por todas as horas adicionais em que ela é
necessária. O que não pago a ela são aconselhamentos parentais não
solicitados. Especialmente quando esse conselho me faz sentir uma
merda por estar tão certo.

— Você tem sorte que meus filhos estão fora do estado e meu
marido faleceu — disse ela com um sorriso irônico. — Não tenho nada
melhor para fazer do que amar aquelas meninas.
No elevador, meu coração se contrai de emoção, ainda que
brevemente. Mesmo que eu tenha brincado com Fran sobre o ponto da
minha agenda, sei que ela está certa.

Minhas chaves nem saíram da porta quando ouço o tap-tap-tap de


pequenos pés no chão de madeira do meu apartamento de luxo no
centro.

— Papai! — Lacey corre pelo corredor em suas sapatilhas de dança


e atinge minhas pernas. Emilia está logo atrás, com o rosto vermelho e
molhado de lágrimas.

— Aí estão as minhas garotas — murmuro.

Ajoelhado no chão com dois anjos em meus braços, sinto o cheiro


dos seus cabelos, e suas mãozinhas agarrando minhas roupas.

— O que há de errado, menina? — pergunto a Emilia.

— Senti sua falta — ela choraminga, agarrando-se ao meu


pescoço.

— Senti mais! — Lacey diz.

— Não é uma competição, garotas — Fran grita do corredor,


mancando em minha direção, com seu casaco e bolsa nas mãos.

— Obrigado — agradeço.

Ela aceita minha gratidão com uma piscadela.

— Que bom que você chegou cedo, para variar — ela diz com
aquela voz maternal dela – uma influência que não tenho há tantos
anos. — O jantar está na mesa.

— Obrigado — digo novamente. Aperto minhas filhas com mais


força contra o meu peito, meu nariz enterrado nos cachos de Lacey e
meus dedos emaranhados nos de Emilia. Elas são minha vida inteira.
Meu tudo.

— Você deveria sorrir mais — Fran diz enquanto caminha até a


porta, a bolsa pendurada no ombro e o casaco já abotoado. — É muito
atraente para um jovem.

Ela está certa. Esta é a primeira vez que sorrio desde... já que
Presley me divertiu esta manhã. Parece que foi há muito tempo.

— Digam adeus à Franny — sussurro para as meninas. Elas se


despedem, não me deixando ir.

Fran ri quando a porta se fecha suavemente atrás dela.

— O que tem para o jantar? — pergunto às meninas.

— Macarrão! — Lacey grita, saindo dos meus braços e correndo de


volta para a sala de jantar, porém Emilia se recusa a me soltar.

Tudo bem, pequenina. Eu te carregarei.

Com certeza nunca pensei que seria pai aos vinte e seis anos.
Nunca pensei que seria um pai solteiro. Mas sou, e espero ser um bom
pai. O melhor que posso ser.

Melhor do que o meu sempre foi, pelo menos.

Dentro da sala de jantar, instalo minhas filhas gêmeas em suas


cadeiras e examino a mesa. Há um prato de macarrão com manteiga e
ervilhas para as minhas filhas compartilharem, e um prato de peixe
assado e vegetais para mim.

É outra razão pela qual não deixo a intromissão de Francine me


incomodar. Ela realmente cuida bem de nós e não tenho certeza do que
faríamos sem ela.
4
Presley

Assim que entro na cafeteria aconchegante e perfumada, Michael


acena para mim, do assento no canto.

Sim, ele nos pegou as poltronas superconfortáveis.

Só de vê-lo tira um pouco do estresse do dia de trabalho dos meus


ombros.

— Eu pedi um Dirty chai1 para você.

Ele se levanta para me abraçar e aponta para uma das duas


canecas fumegantes sobre a mesa.

— Eu amo você. — Suspiro.

Ele não deveria estar usando seus fundos limitados para me


comprar coisas – diabos, estou pagando a mensalidade dele, pode ser
meu dinheiro em primeiro lugar, contudo, depois do meu dia, é bom
ter alguém se lembrando da minha bebida favorita. Nos sentamos e
tomo um gole agradecido.

— Então, como vai à escola? — pergunto. Incapaz de resistir a


provocá-lo, acrescento: — Já conheceu algum garoto legal?

1
É uma bebida popular de café expresso servida em cafeterias. Consiste em uma dose de café expresso
misturado em um "chá chai" temperado (ou masala chai).
— Estive muito ocupado levando uma surra na aula de teoria
musical. — Ele geme, embora ainda esteja sorrindo. — Por que, e você?

Ele balança suas sobrancelhas perfeitamente cuidadas para mim.

— Não, a menos que você conte meu novo chefe — murmuro.

Meu novo chefe devastadoramente bonito, cujo ridículo sex appeal


me distraiu o dia todo. É tão injusto... Nunca conheci um cara que
iluminasse meu corpo com desejo, só com um olhar, e ele está
totalmente fora dos limites.

— Certo, seu estágio começou hoje. Me conte a respeito.

— Eu só estive lá um dia, então realmente não há muito para


contar. — Tomo um gole lentamente para cobrir meus nervos.

— Você sabe o que eu quero dizer. Como você se sente sobre o


lugar?

— Eu me sinto uma idiota tagarela.

Suspiro profundamente.

— É uma oportunidade única na vida, e não consigo parar de me


preocupar se estragarei alguma coisa e a explodirei.

— Tenho certeza de que você causou uma ótima primeira


impressão. Você sempre causa.

— Não sei ...

Eu fico olhando para o meu chai, enquanto o mexo, imaginando


minha carreira sendo sugada por suas profundezas. Devo parecer tão
pouco convencida quanto me sinto, porque Michael cutuca meu braço.

— Ei, preste atenção. Não estou dizendo isso apenas porque você
é minha irmã mais velha. Você realmente é o pacote total.
— Obrigada, irmãozinho. — Forço um sorriso.

Devo soar totalmente não convencida – porém ele deixa para lá, e
franze a testa

— Então você disse que havia um motivo para querer me encontrar


hoje? — pergunto.

— Sim... — Michael parece extremamente desconfortável. — Bem,


principalmente eu só queria sair, entretanto... Recebi uma conta da
escola alguns dias atrás, e há um monte de cobranças extras de que
não nos falaram antes.

Oh, pelo amor de Deus.

— Como o quê? — Coloquei minha xícara na mesa. Sinto que


minha compostura está prestes a ser testada e não quero derramar
minha bebida em todos os lugares.

— Hum, como transporte, atletismo, uma taxa de estúdio para a


minha aula de condicionamento, taxa de campus, taxa de orientação...
Esqueci o que mais. Eles listaram meia dúzia de coisas.

Que diabos é uma taxa de campus? É esse o preço que paga para
poder assistir às aulas nas dependências da escola? O que a
mensalidade paga se tudo isso não for coberto?

Esfrego minha testa para afastar a dor de cabeça de estresse


iminente. Tenho medo de perguntar, mas preciso.

— Quanto?

— Mil e novecentos dólares.

Ele hesita, desviando o olhar.


Esqueça derramar meu chai; eu poderia tê-lo jogado do outro lado
da sala se ainda estivesse em minhas mãos.

Quase dois mil malditos – quando mal posso pagar uma xícara
extra de café por semana.

— OK. — Fecho meus olhos e respiro fundo.

Eu descobrirei como. Não tenho nenhuma maldita ideia, porque já


não tinha nada do que viver pelos próximos três meses, exceto minhas
parcas economias. No entanto, inventarei algo.

Nunca se sabe... talvez Dominic decida que falhou no período de


teste e a despedirá após apenas duas semanas.

— V... você não tem que pagar o valor total. Algumas delas são
opcionais.

Michael corre para explicar, com as mãos levantadas em


apaziguamento.

— Como minha aula de coreografia, faremos uma apresentação no


final do semestre, então eles estão nos cobrando pelos figurinos e pelo
tempo de teatro e outras coisas. Porém posso simplesmente largar
aquela aula e...

— Não. Não se preocupe, conseguirei o dinheiro. — De alguma


maneira...

— Ok, se você tem certeza.... obrigado um milhão. Eu te pagarei


de volta algum dia.

Percebo o brilho sutil nos olhos de Michael. Ele está claramente


animado com aquele desempenho, o que só fortalece minha
determinação.
Eu posso fazer isso. Tenho que fazer.

— Você não me deve nada — digo, apertando seu braço. — Somos


uma família. Se não cuidarmos uns dos outros, quem o fará?

Nosso pai não, isso é certo.

— Opa.

O bolso de Michael apita e ele verifica seu telefone.

— Odeio abandonar você, porém o último ônibus para o meu


dormitório estará aqui em cinco minutos. Te amo irmã!

— Também te amo — declaro, levantando-me novamente para um


abraço de despedida.

O que agora? Estava começando a me sentir melhor com relação


ao trabalho, porém depois de ouvir sobre as despesas surpresa de
Michael, estou mais tensa do que nunca. Estou com fome e, como ainda
não terminei minha bebida e preciso desesperadamente de algo para
comer, vou até o balcão e peço a última fatia de pão de banana.

— Somos inimigos mortais agora — alguém diz atrás de mim.

Eu olho para trás, perplexa.

O cara na fila atrás de mim sorri.

— Eu queria a última fatia.

— Oh, me desculpe. Você quer…

— Não se preocupe, só estava brincando. Heh... acho que foi uma


piada de mau gosto.

Ele aponta para a minha mesa, ainda com todas as minhas coisas
nela.
— A propósito, aquele adesivo no seu laptop é da Delinquent
Story? Eu amo essa web comic.

— Uau! Sério? — questiono, mais do que um pouco surpresa.


— Você é a primeira pessoa que conheci que já ouviu falar disso.

Seus olhos castanhos enrugam nos cantos quando sorri para mim,
seu cabelo castanho bagunçado caindo sobre um olho quando balança
a cabeça.

— O que você achou da parte em que… na verdade, talvez devesse


convidá-la para sentar-se antes de começar a fazer perguntas.

Aponta para uma mesa para duas pessoas com uma bolsa carteiro
em uma cadeira.

Ele tem um sorriso bonito. Que diabos, eu poderia ter um amigo


agora.

— Claro, obrigada.

Ele me ajuda a mover minhas coisas para a sua mesa. Entre


mordidas e goles, eu deliro sobre meu webcomic2 favorito por quase
vinte minutos enquanto ele balança a cabeça, murmura em
concordância e me incita a fazer perguntas ocasionais.

— Além disso, o estilo de arte é muito matizado. Tipo, as


expressões de Sheri são exageradas, enquanto as de Lila são sutis e
ambíguas para mostrar o... — Eu me cortei, de repente percebendo que
estou sendo rude. — D... desculpe, apenas estive falando sem parar.
Nem perguntei o seu nome.

2
São histórias em quadrinhos cuja publicação é veiculada exclusivamente pela Internet, apesar de existirem muitos
quadrinhos consagrados à moda tradicional que são disponibilizados de forma digital.
— Não se preocupe, eu estava realmente interessado no que você
estava dizendo. Sou Austin.

— Eu sou Presley. Então, o que você faz? — pergunto.

— Sou programador. Você?

— Na verdade, acabei de começar um novo emprego na Aspen hoje.

Limpo a última mordida do meu pão de banana e limpo a boca com


um guardanapo.

— Uau, a enorme rede de hotéis? — As sobrancelhas de Austin se


erguem. — Ouvi dizer que eles são muito competitivos.

— Sem brincadeira. Para dizer a verdade, não sinto que pertenço


a esse lugar.

Não sei por que estou dizendo tudo isso. Praticamente acabei de
conhecer esse cara e estou despejando minhas inseguranças.
Entretanto é um ouvinte tão bom, parece que posso dizer a ele o que
está em minha mente.

— Provavelmente é apenas o nervosismo do primeiro dia — ele


elucida. — Irá passar quando se acostumar com as pessoas e como elas
fazem as coisas. Você parece inteligente e não teria conseguido o
emprego em primeiro lugar, se não achassem que era boa o suficiente.

— Isso é verdade. — Eu rio e balanço minha cabeça. — Desculpe


fazer você brincar de terapeuta.

—Você não me obrigou a fazer nada. Disse isso porque queria.

Ele sorri, um pouco tímido, porém genuíno.


— Escute, tenho que correr, porém posso ter seu número? E talvez
possamos nos encontrar para tomar um café novamente algum dia?
Quer dizer, você meio que me deve uma fatia de pão de banana...

Considero, entretanto, não é preciso pensar muito. É fácil


conversar com ele e sua maneira sincera é confortável e revigorante.
Ele também é fofo – não com o magnetismo irresistível e ligeiramente
intimidante de Dominic, porém de um jeito doce, seguro, de garoto que
mora ao lado. Austin é exatamente o que preciso para tirar esses
sentimentos proibidos da minha mente.

— Claro, eu gostaria disso. — Pegando meu telefone, eu sorrio.

Depois que saio do café, tudo em que consigo pensar durante o


caminho para casa é na conta que Michael me informou. Tentei manter
a calma na frente dele, contudo, a verdade é que estou pirando sobre
como pagarei tudo isso.

Bianca não está em casa quando chego ao apartamento, e me


lembro da aula de ioga que dá nas noites de segunda-feira. Então pego
um punhado de nozes que espero que me supram e abro meu laptop
para continuar trabalhando nas notas que comecei a juntar para
minha proposta de negócios.

Não há mais nada que possa fazer além de começar a trabalhar.


Além disso, não faz sentido me preocupar com meus problemas de
dinheiro, quando tenho um CEO para impressionar.

•••

Eu passo pelas portas da Aspen às oito em ponto, e mal me sentei


na minha mesa quando Jordan enfia a cabeça no meu cubículo.

— Ei... Parsley, certo?


— Presley. — Eu suspiro.

— Oh merda, sinto muito.

Ele solta uma risada nervosa.

— Oliver quer que desenvolvamos uma proposta de orçamento


para o novo resort em Acapulco. Você pode se reunir agora? Ou posso
voltar mais tarde...

Por que nos colocar juntos? Não importa, não importa. Dominic
me deu minhas próprias funções, porém se o vice-presidente da Aspen
quer que eu faça algo, é isso que farei.

Talvez a intenção seja testar quão bem fazemos malabarismos com


várias tarefas, ou como lidamos com o trabalho em equipe ou algo
assim. Apesar de tudo, tenho certeza de que é algum tipo de teste, e
terei certeza de que acertarei.

Sigo Jordan até o seu cubículo, onde ele puxa um longo e-mail de
Oliver e me deixa lendo-o, enquanto encontra uma segunda cadeira.

Enquanto trabalhamos, minha má impressão inicial de Jordan


desaparece. Claro, falta-lhe rigor – seu hábito de não verificar o guia de
estilo da empresa me deixa louca – porém suas observações são
perspicazes e suas sugestões criativas.

Por volta das onze, meu estômago ronca tão alto que juro que ecoa
pelas paredes. Corando, eu digo:

— Desculpe, perdi o café da manhã.

— Você quer almoçar mais cedo? — Jordan ri, não maldosamente.

— Acho que estamos em um bom lugar para uma pausa.


Ainda conversando sobre nosso projeto em conjunto, vamos para
o refeitório dos funcionários, carregamos nossas bandejas e
encontramos um lugar. Entre os pensamentos, engulo meu sanduíche
de salada de frango e batatas fritas de churrasco, sentindo-me grata
por este estágio incluir almoço grátis.

A maneira como Jordan inclina a cadeira para trás enquanto


come, me deixa nervosa; tenho a sensação de que, se não estivéssemos
no trabalho, apoiaria os pés na mesa. Não estou tão confortável aqui.

— Então, Dominic, hein? Como é trabalhar diretamente com o


próprio grande e mau CEO?

— Sua abordagem para os negócios parece ousada.

Termino de mastigar e considero sua pergunta.

— Ele também tem padrões muito elevados. O que respeito, porque


se mantém nesses padrões também. Vi seu calendário, e está
programado apenas a um centímetro da sua vida. Porém é difícil
acompanhar quão exigente ele é, e às vezes pode ser um pouco direto.

Não se esqueça de mais quente que o pecado, minha libido


incomoda.

— Cara, isso parece intenso. — Jordan chupa os dentes em


solidariedade. — Eu me pergunto por que fomos designados dessa
maneira. Você e Dominic, acha que ele escolheu ser seu mentor porque
você é gostosa?

O quê? Inferno, não, eu não acabei de ouvir isso.

— Que tipo de pergunta é essa? — Mal consigo me impedir de


gritar com ele, e as palavras saem como um silvo estrangulado. Não
posso acreditar que esse cara estava começando a crescer em mim.
— Oh merda, eu não quis dizer isso! — Os olhos de Jordan ficam
enormes. — Tenho certeza de que você conseguiu este estágio de forma
justa e honesta. Você definitivamente conhece seu potencial. É em
Dominic que estou pensando. Você sabe, com sua...peculiaridade.

— Do que está falando? — Eu levanto minhas mãos em


exasperação.

— Huh? Não sabia? Ainda não ouviu os rumores?

— Que rumores? — pergunto, baixando minha voz e me inclinando


para perto.

— Que ele paga por sexo — Jordan sorri torto, ao saber que sabe
algo que eu não.

— S... sério?

— Eu sei, ok? Ele não parece o tipo. Ouvi direto de Oliver, então
não acho que seja apenas um boato vazio. — Jordan engole algumas
batatas fritas e mastiga ruidosamente.

— Você ouviu isso de Oliver? — Parece altamente improvável que


o vice-presidente esteja fofocando sobre seu próprio chefe. Ou não
profissional, pelo menos.

Jordan apenas encolhe os ombros.

— Bem, ouvi, acho que poderia dizer isso. Ele estava atendendo
um telefonema pessoal quando, por acaso, entrei em seu escritório para
nossa reunião.

Eu fiquei olhando para a minha comida como se ela pudesse me


fornecer respostas. Porém, puta merda, devo agir normalmente perto
do meu chefe gostoso com esse conhecimento indecente batendo na
minha cabeça? Não deveria saber muito sobre seus negócios
particulares.

— Acabei de me lembrar de alguns e-mails que preciso enviar. —


Pego o resto do meu almoço, resmungando. — Eu terminarei de comer
na minha mesa. — Minhas bochechas queimam enquanto me afasto.
5
Dominic

Não consigo focar. Meus dedos tamborilam uma batida instável na


minha mesa, enquanto ouço Oliver recitar nossa lista de tarefas
executivas para este trimestre. Uma das tarefas exige que eu vá jantar
com nosso investidor em potencial esta noite.

Para ser franco, não poderia me importar menos em impressionar


este homem hoje. A única coisa que está deixando alguma impressão
em mim é o zíper na minha ereção permanente. A semana toda, estive
no fim da minha maldita corda. Vendo o corpinho apertado de Presley,
cheirando seu xampu de baunilha, ouvindo sua voz de mel quente,
observando-a concluir todas as tarefas propostas ...

Tem sido uma distração insana, e não estou orgulhoso de mim


mesmo por isso. Tudo que preciso agora é uma boa foda para liberar
todos esses impulsos desnecessários.

— ...e depois de construirmos a nave espacial e voarmos ao redor


do mundo pelo menos duas vezes, podemos ir depilar nossas bundas.

— O quê? — Eu finalmente saio do meu devaneio, olhando


fixamente para o meu melhor amigo, porém Oliver apenas levanta as
sobrancelhas. — Oh, desculpe. Merda.

— Ei, Dom. Não sabia que você ainda estava aqui. — Oliver joga
sua pasta na minha mesa. — Olha, cara, se você não quer falar de
trabalho, não falaremos de trabalho. De qualquer maneira, essa é a
última coisa de que quero falar.

— Tudo bem. Sobre o que quer falar?

— Que tal conversarmos sobre como tem estado tenso desde que
contratou sua estagiária gostosa?

Merda.

— Meu nível de estresse não tem nada a ver com Presley.

— Certo, assim como as madrugadas do meu pai não tinham nada


a ver com sua consultora gostosa. Vamos, Dom. Você gosta dela,
apenas admita.

Ele sorri, suas sobrancelhas balançando.

— Eu gosto dela? Quantos anos nós temos, doze?

— Sabe o que eu quero dizer.

Ele suspira e apoia os pés na beira da minha mesa.

Eu odeio quando faz isso. Franzo a testa com a perspectiva de


esfregar essas marcas para longe novamente.

— Eu realmente não sei — resmungo, usando sua pasta para


golpear seus pés da minha mesa. — Não se sinta obrigado a explicar.

— Não se sinta obrigado a explicar.

Ele me imita como o idiota que pode ser.

— Oh, elaborarei bem. Você quer fodê-la. Quer virá-la nesta


mesma mesa, abrir suas pernas e ir para casa. Você quer preenchê-la
com seu...
— Ok, Jesus, você tem que ser assim... — Não consigo encontrar
nenhuma palavra que não me faça soar como o meu pai. Grosseiro?
Inapropriado? Infantil? Mas, porra, agora sou pai, por mais estranho
que isso ainda me pareça.

Oliver ri, então solta um suspiro ao ficar sério de repente.

— No entanto, não pode fodê-la.

— Eu sei disso. E não irei.

Esta não é uma festa da fraternidade.

O olhar em seu rosto me diz que ele não está acreditando em


nenhuma das minhas besteiras.

— Não irei — garanto. — Só estou excitado pra caralho. Porém


tenho tudo sob controle. Tenho um encontro marcado.

— Um encontro? — Os olhos de Oliver se arregalam de esperança.

— Não, não é um encontro. — Droga.

Não deveria ter usado essa palavra. Oliver quer que eu me


comprometa seriamente com alguém. Foi cruel da minha parte
balançar esse osso na frente dele.

— Eu tenho um acordo.

— Oh, um daqueles arranjos. Tipo, o seu arranjo é uma prostituta.

— Elas não são prostitutas, são acompanhantes. 'Prostituta' tem


uma conotação muito negativa. E sexo não faz parte do acordo, é...

— É apenas um benefício adicional — diz Oliver, terminando


minha frase por mim.
Certo, já ouviu tudo isso antes. Não há necessidade de tentar
esclarecer a um amigo que não é capaz de entender meus mecanismos
de sobrevivência.

Porém é a minha vida, não a dele, e posso vivê-la da maneira que


achar melhor. Eu gostaria de vê-lo tentar manter duas crianças vivas
e administrar uma empresa. Pagar por sexo é a última das minhas
preocupações.

— Não entendo.

Balançando a cabeça, Oliver me estuda como se estivesse lendo


minha mente.

— Porém aceito.

Finalmente. Eu ri. Meu vice-presidente pode ser a única pessoa em


minha vida em quem confio, apesar das nossas diferenças. Mal confio
em mim mesmo dessa forma. Porém esta noite, colocarei esse meu lado
imprevisível sob controle.

Hoje à noite, irei foder qualquer pensamento de Presley para fora


do meu sistema.

E mal posso esperar, porra.

•••

No carro, voltando da academia para casa, ainda estou tenso.


Meus dedos apertam o volante, os nós dos dedos embranquecendo. Até
meu peito está apertado.

Ah... sério?

Dobrei minhas repetições usuais e tripliquei minha quilometragem


usual. Ainda assim, não conseguia afastar esse sentimento. Eu tenho
muita energia. Combustível demais no tanque, como diria minha mãe.
Um sorriso surge em meus lábios com a memória de mamãe assistindo
Teddy e eu correndo em volta da mesa da cozinha, balançando a cabeça
em consternação. Quando éramos jovens, eu estava sempre
perseguindo meu irmão, meu herói.

Teddy.

Não há tempo para essa linha de pensamento. Acelero na estrada,


olhando para o relógio. Se chegar em casa nos próximos cinco minutos,
posso pegar as meninas antes que elas sejam colocadas na cama para
dormir.

Estou apenas alguns minutos atrasado, ao que parece. Quando


abro a porta do meu apartamento, não ouço o som familiar de pés
minúsculos tamborilando no corredor. Em vez disso, ouço o baque
suave dos passos firmes de Fran no chão de madeira.

— Basta colocá-las na cama — ela sussurra. — Acabaram de


chegar do parque.

— Obrigado por pegá-las. Eu gostaria de ter ido dessa vez.

Fran não diz nada sobre isso, apenas cantarola pensativamente


para si mesma. Posso dizer que ela está mordendo a língua, querendo
dizer algo sobre meu conflito de horário de trabalho com a criação das
minhas filhas.

Me calo, aceitando que ela tem o direito de julgar. Posso ser


melhor. Isso é verdade. E sempre tentarei ser uma versão melhor de
mim mesmo. Posso não ser perfeito agora – nem no trabalho, nem em
casa – porém não deixarei que isso me impeça de lutar por esse
objetivo.
Posso não ser capaz de estar em dois lugares ao mesmo tempo,
porém me permito ser absolutamente dois homens diferentes – o CEO
durão e decidido durante o dia e o bom pai à noite. Tenho que ser.
Realmente não há outra escolha.

Depois que Fran entrou na sala de estar para se sentar com seu
tricô, tiro os sapatos e caminho para o quarto das minhas filhas as
encontrando aninhadas juntas na cama de Lacey.

Meu coração aperta enquanto as assisto. É doce como não


suportam ficar separadas, mesmo quando estão dormindo.

Eu me aproximo e olho para seus rostinhos. Já estão dormindo,


cílios pequenos tremulando por seus sonhos. Bons, espero. Eu me
inclino e pressiono um beijo em cada uma das suas testas.

Deus, gostaria de poder simplesmente rastejar para a cama com


elas e me enrolar sob esses cobertores de cashmere. Descansar por um
momento e me permitir a simplicidade da bem-aventurança da
infância.

Porém não consigo. Tenho que me vestir. Tenho que colocar minha
cara de jogo e impressionar este cliente.

Lentamente me levanto e caminho em direção à porta. Depois de


olhar para elas mais uma vez pela fresta, fecho a porta atrás de mim.

Papai tem trabalho a fazer.


6
Presley

Me mimo, pedindo uma taça de champanhe de quatorze dólares.


Quando é colocada diante de mim em uma taça de vidro, tomo um gole
lento, deixando as bolhas dançarem na minha língua enquanto
silenciosamente me parabenizo por uma ótima primeira semana de
trabalho. Em alguns anos, poderei encomendar frascos dessas coisas
e não piscar com o custo, e poderei ter certeza de que Michael terá o
que precisa. Só tenho que continuar trabalhando duro.

Como Bianca tem um encontro esta noite e eu não estava com


vontade de ir para casa sozinha num apartamento que nem é meu,
então fui para um bar na esquina do hotel. Bebo lentamente o meu
champanhe, saboreando, já que provavelmente não serei capaz de
pedir algo tão extravagante para mim num futuro próximo.

Uma voz profunda retumba uma maldição, e algo sobre o som da


voz do homem me faz virar. Sentado à minha esquerda, cerca de seis
bancos do bar, está Dominic Aspen.

O calor inunda minhas bochechas ao vê-lo. Mesmo que este seja


um dos bares mais próximos do hotel, onde nós dois trabalhamos,
nunca esperaria vê-lo ali.

Correção: eu trabalho lá. Ele é o dono. É uma loucura pensar que


este homem emprega cerca de quarenta mil pessoas em todo o mundo.
Ele está claramente chateado com alguma coisa, e observo
fascinada enquanto apunhala a tela do seu telefone, digitando uma
mensagem apressada.

Dominic passa a mão pelo cabelo e termina seu uísque puro em


um único gole. Ele olha para cima e nossos olhos se encontram. Minhas
bochechas ficam vermelhas de calor quando percebo que o estive
observando.

— Presley? — Sua voz profunda é rouca e envia arrepios na minha


espinha.

— Olá, Sr. Aspen. — Tomo um gole saudável do meu champanhe


e, em seguida, levo minha taça para me juntar a ele.

— Me chame de Dominic.

— Você está gostando do happy hour? — pergunto, e então


instantaneamente me amaldiçoo por quão infantil isso soou. Tenho
certeza de que ele já me vê como uma estudante que nada sabe, e
aquele pequeno comentário provavelmente apenas reforçou essa ideia.
Idiota.

— O quê? Não. — Ele balança a cabeça. — Tenho um jantar de


negócios começando em trinta minutos, virando a esquina, e deveria
encontrar minha acompanhante aqui.

— Oh. — Minhas mãos caem no meu colo.

Claro que ele tem uma. Um homem lindo como ele. Afinal, é sexta
à noite. Sou a única estranha sem planos. Inclino a cabeça, olhando
para os meus sapatos gastos.

— Divirta-se então. Não irei aborrecê-lo.


Eu termino o meu champanhe e fico de pé, vasculhando minha
bolsa até localizar minha carteira.

— Sente-se, Presley. — Dominic franze a testa para mim.

Antes que possa processar seu pedido, meu corpo está obedecendo
e me sento no banco do bar.

Dominic chama a atenção do barman para pedir um segundo copo


de espumante para mim e pede que minha conta seja entregue a ele.

— Meu encontro foi cancelado esta noite — diz ele com a minha
confusão óbvia.

— Oh. Sinto muito por ouvir isso. — Meu coração bate mais rápido.

— Eu também sinto.

Ele parece um pouco irritado com isso e olha para o copo agora
vazio. Não posso deixar de notar que não pediu outra bebida para si
mesmo. Talvez porque precise estar lúcido para o seu jantar de
negócios.

Quando minha segunda bebida chega, o gosto é ainda melhor do


que a primeira. Talvez porque haja um homem lindo sentado ao meu
lado. Ou quem sabe, seja porque ele é um dos homens mais poderosos
do mundo; seu patrimônio líquido tem muitos zeros por trás dele.

A visão do meu chefe polido e hiper competente admitindo que foi


dispensado, faz meu coração apertar.

— Eu não posso imaginar que tipo de mulher cancelaria com você


— digo, e então imediatamente desejo que pudesse enfiar as palavras
de volta na minha boca.

— Eu nunca a conheci antes, na verdade. Foi um esquema.


Os olhos de Dominic brilham de curiosidade enquanto me avalia.

As palavras de Jordan sobre Dominic Aspen “pagando por isso”


tocam na minha cabeça.

— Então, os rumores sobre você são verdadeiros?

Aparentemente, minha língua foi solta pelo álcool, porque


realmente não tenho desculpa para a minha ousadia agora.

— Rumores? — As sobrancelhas escuras de Dominic se erguem.

— Que compra seus encontros. — Limpo a garganta, endireitando


minha postura.

— Tenho uma agência que me fornece os encontros. — Seus lábios


se contraem e ele sorri. — Não fique tão escandalizada, é a era dos
aplicativos de namoro e de pular fora depois, afinal.

— Entendo. Bem, sinto muito por você estar sozinho — lamento.

— Por que sente muito?

Ele acena com a cabeça uma vez, me observando tomar outro gole
do meu champanhe.

— Você está se oferecendo para preencher a vaga e me ajudar?

— E... eu? — gaguejo. — Não poderia.

Dominic se vira para mim, me dando um olhar suplicante, e algo


se retorce dentro de mim.

— Estou tentando cortejar esse investidor há meses e finalmente


consegui um jantar com ele.

O que significa que não teríamos que ficar sozinhos juntos. Há


uma terceira roda na mistura – provavelmente algum cara velho,
contudo, ainda assim, um cliente. Uma mistura confusa de alívio e
decepção toma conta de mim.

— Serei honesto — diz ele. — Realmente preciso aparecer neste


jantar com uma linda mulher no meu braço. Já fiz a reserva para três,
então, se aparecer sozinho, parecerá que fui dispensado. Não causará
uma boa impressão.

— Para o bem das aparências — digo lentamente, ainda tentando


envolver minha cabeça em torno da ideia de estar agindo como o troféu
de encontro de alguém. A ideia é bastante absurda.

— Exatamente. E se conseguirmos impressionar esse cara, Aspen


terá muito a ganhar. Cinquenta milhões de dólares, para ser preciso.

Ele suspira, então pressiona os lábios em uma linha tensa.

— Prometo que não deixarei isso afetar nossa relação de trabalho


se você disser não... entretanto, por favor, pelo menos considere o
pedido.

Como se nossa relação de trabalho já não tivesse sido "afetada".


Querido Deus, as coisas no escritório estão dez mil vezes mais
complicadas do que jamais imaginei.

Parte de mim está lisonjeada por ele ter dito nós em vez de eu,
como se tivéssemos o mesmo papel em impressionar esse importante
investidor. Contudo, não posso deixar de me perguntar se Dominic
esperaria algo mais de mim... presumindo que seu par também era
alguém com quem planejava dormir.

Não, não pode ser. Certo?

E mesmo se ele quisesse, nunca dormiria com meu chefe. Não


importando quão quente ele fique naquele terno feito sob medida.
— Não sei. — Abaixo o olhar, mordendo meu lábio.

— É um jantar com um cliente, Presley. E te pagarei pelo seu


tempo. Não há nada de impróprio nisso.

Ele tem razão. Não é como se estivesse me chamando para sair. É


um evento de trabalho, com o qual eu teria concordado prontamente
se ele me perguntasse durante o horário comercial.

— Quinhentos dólares pela sua noite. O que me diz?

Quinhentos dólares é muito dinheiro, dinheiro que realmente


ajudaria com a conta que Michael acabou de me passar.

Resumidamente, eu me pergunto o que os outros estagiários


diriam se soubessem que saí com Dominic.

Então, suponho que não seria diferente do que se Jordan fosse


jantar, ou digamos, jogar golfe com Oliver.

É tudo parte do negócio, certo?

Eu poderia pensar nisso como trabalhar horas extras. Além disso,


o benefício de passar mais tempo com o próprio CEO e a chance de ver
como os negócios são feitos, seria uma grande vantagem para os meus
objetivos a longo prazo na Aspen.

Eu tenho que dizer sim. E não tem nada a ver com quão
maravilhosamente atraente é o homem sentado ao meu lado. Ou como
sua voz profunda reflete sobre mim, fazendo meu estômago torcer de
nervosismo.

— Bem, tenho que sair em três minutos para a reserva, então,


infelizmente, preciso de uma decisão rápida.
Respiro fundo, tentando me recompor. Esta pode ser uma grande
oportunidade. Terei um assento na primeira fila para os detalhes que
podem afetar todo o negócio. É uma chance de observar e aprender com
dois dos maiores jogadores do mundo. Se eu conseguir não colocar o
pé na boca, posso até ter um pequeno efeito nas decisões deles.

Além disso, não posso deixar de me sentir um pouco triste por


Dominic. Ele está preso entre uma rocha e um lugar duro agora.

— Ainda não tenho ideia se posso fazer isso, porém tentarei.

Com uma respiração profunda e estável, eu me levanto.

— Essa é uma boa filosofia de vida. Corajosa... — Ele verifica o


relógio e me dá um leve sorriso. — E decisiva, também. Você teve um
minuto extra de sobra.

— Obrigada. Você usará isso contra mim se eu fugir no meio? —


Minha voz quase treme, mas não exatamente, e considero isso uma
pequena vitória.

Ele parece se divertir enquanto pega sua carteira e entrega


algumas notas grandes para o barman.

— Não se você der uma desculpa decente. Na escola de gestão,


uma garota me deu o bolo duas vezes, e ambas as vezes disse que a
colega de quarto havia morrido.

Uma risadinha me escapa. Ainda estou tão nervosa que me sinto


um pouco sem fôlego, porém se ele está tentando me acalmar, está
ajudando um pouco.

Ainda assim, não posso deixar de me perguntar se a garota de


quem ele está falando era uma namorada de verdade ou uma
acompanhante contratada.
Não posso perguntar isso, posso?

Só porque estamos passando um tempo juntos fora do trabalho


não significa que me sinto confortável com ele. Longe disso. Este
homem exala confiança, poder e apelo sexual cru. E estou tentando ao
máximo não notar esse último.

Dominic lidera o caminho até a frente do bar e, em seguida, abre


a pesada porta de vidro para mim. Passo por ele, e então nos encaramos
na calçada. Ele apenas olha para mim por um momento, e não tenho
certeza do que dizer.

— Estou bem-vestida? — finalmente indago, incapaz de suportar


a intensidade do seu escrutínio por mais tempo. Ainda estou vestida
para o trabalho – calça de terno preto, camisa branca de botão, um
cardigã vermelho por cima.

— Você parece adequada. — Sua boca se contorce com a sugestão


de um sorriso. Suavizando seu tom, ele acrescenta: — Espero não ter
estragado sua noite.

— Eu não tinha planos. — Balancei minha cabeça. — Além de,


talvez, começar meu novo projeto.

— Você ficará bem em andar com esses saltos?

Dominic ri e acena com a cabeça em direção à calçada.

— O restaurante fica a quatro quarteirões nessa direção. Se não,


posso conseguir um carro, como você preferir.

Talvez seja por isso que ele estava olhando para mim. Para
determinar se conseguiria andar quatro quarteirões sem quebrar o
tornozelo com o salto alto.

— Eu posso andar.
— Perfeito.

Começamos e, como não costumo andar por aqui, estou ocupada


catalogando as pequenas padarias, cafés e lojas de presentes de que
provavelmente nunca desfrutarei. Pelo menos, não até que eu receba
um salário maior. Manter meu irmão na escola é tão difícil quanto eu
temia que fosse. Só preciso focar.

Enquanto caminhamos, estou desesperada para quebrar o silêncio


e procurar algum assunto de conversa fiada que nos mantenha
ocupados.

— Então, você não está namorando ninguém? — delibero.

— Deus, não.

— Caramba. Não perguntei se você tinha a peste. — Ele responde


tão rápido que eu realmente dou uma risadinha.

— Estou muito ocupado para namorar.

Dominic sorri calorosamente para mim.

— Eu conheço o sentimento. — Retribuo o seu sorriso. — Nesta


fase da minha vida, a única coisa em que quero focar é na minha
carreira.

— Isso é muito admirável — ele concorda.

Chegamos ao restaurante com suas portas de vidro e cromo, e


Dominic para com a mão estendida.

— Aparências, lembra? — ele questiona, sua voz profunda e


sedosa. — Quando eu disse que preciso de uma mulher no meu braço,
quis dizer isso literalmente.
Engulo em seco, em seguida, coloco minha mão na dele. Sua
palma é quente e sólida e envolve a minha completamente. É um pouco
desorientador.

Quando entramos juntos, não consigo resistir a dar uma espiada


nele. Nunca coloquei os pés em um restaurante tão opulento. O carpete
vermelho é grosso sob os meus saltos, e lustres de cristal pendem do
teto. Cada mesa é coberta com uma toalha de linho cremosa e contém
um vaso de orquídeas de fogo.

Dominic cumprimenta a anfitriã e dá o seu nome a ela. Ela nos


leva a uma cabine curva íntima, onde um homem mais velho está
sentado bebendo uma taça de vinho tinto. Ele parece estar na casa dos
cinquenta anos, com uma leve pança e uma bela franja de cabelo
grisalho em volta das orelhas.

— Prazer em vê-lo novamente. — Ele se levanta para apertar a mão


de Dominic. — Como pode ver, cheguei aqui alguns minutos mais cedo
e decidi começar a noite. — Ele ri da sua própria piada.

— Olá, sou Presley. — Dando a ele meu melhor sorriso de


atendimento ao cliente, ofereço minha mão e ele a aperta.

— É um prazer conhecê-la, senhorita. Eu sou o Roger. — Então


ele olha para Dominic. — Rapaz, você está ficando cada vez mais jovem,
não é?

É preciso esforço para não deixar meu rosto cair. Caramba...

A expressão de Dominic permanece agradável, porém o olhar que


ele dá a Roger é afiado.

— Presley é apenas quatro anos mais nova que eu, na verdade.


Também é brilhante. Ela foi para a Universidade de Brown com bolsa
integral, estagiou em várias das principais empresas do Noroeste em
finanças e liderança e, no ensino médio, venceu a competição nacional
de codificação por quatro anos consecutivos.

Roger e eu piscamos para ele, atordoados. Borboletas enchem meu


estômago. Dominic tem todos os motivos para lisonjear esse cara,
entretanto eu secretamente gosto da maneira como ele saltou para me
defender.

E como ele se lembra de tudo isso? Dominic tem o meu currículo,


faz sentido que saiba tudo sobre as conquistas da minha carreira,
porém estou surpresa que possa recitar tanto de memória. O calor em
meu peito aumenta com o pensamento.

— Isso, ah... sim, essa é uma lista e tanto. — Roger limpa a


garganta. — Devemos nos sentar e pedir o jantar?

— Perfeito — Os lábios de Dominic se contraem com a sugestão de


um sorriso.

Ele responde com um tom ensolarado. — Estou ansioso para


entrar em detalhes, porém primeiro precisamos recarregar algumas
bebidas. — Acena para a taça de vinho de Roger, que está meio vazia.

Sentamos, com Dominic entre Roger e eu. Tento não parecer


visivelmente chocada com os preços, enquanto estudo o menu.

— O que você gostaria de beber? — Dominic se aproxima.

É enervante tê-lo tão perto, porém não totalmente indesejado. Seu


aroma fresco e masculino – couro e cedro, e algo que não posso nomear,
cai sobre mim, e o calor da sua coxa está muito perto.

— Hum... — É difícil pensar com ele quase me tocando... sem


mencionar aquela voz profunda e suave praticamente murmurando no
meu ouvido. — Existe um vinho branco aqui que você recomende? —
Espero que isso soe sofisticado o suficiente para mascarar o fato de que
geralmente peço o que tem o menor preço.

— Eles têm um pinot gris que é muito bom. Pedirei um copo para
nós dois. — Com um tom mais suave, ele acrescenta: — Você está indo
bem, a propósito.

Em seguida, ele dá um tapinha reconfortante no meu joelho por


baixo da mesa.

Quase engasgo quando seu toque envia um choque elétrico direto


pela minha coxa e além.

Está apenas sendo legal, digo severamente a mim mesma.


Absolutamente platônico. Porém meu corpo não se importa. Ele reage
da mesma forma como se qualquer homem atraente e elegível o tocasse.

Pressionando meus joelhos juntos, forço a atenção de volta ao


menu.
7
Dominic

Presley se inclina enquanto fala, seus olhos brilhando junto com a


luz das velas e o cristal do restaurante mal iluminado. Ela está
contando a Roger tudo sobre os programas de balé da cidade.

Pela primeira vez, estou sem palavras. Normalmente, minha


escolta mantém suas palavras em um mínimo, borrifando em acenos
ocasionais e risadas. Contudo, Presley me venceu para chamar a
atenção de Roger.

— Realmente, acho que Julie adoraria. Especialmente se ela tem


inclinação para a dança — diz ela, colocando uma das mãos
encorajadora na mesa entre eles.

— Aquela criança é definitivamente cheia de energia.

A neta de Roger tem cinco anos e sua esposa fica com ela depois
da escola nos dias de semana. Pelo que ele nos contou, ela é um terror.
Correndo pela casa, quebrando coisas acidentalmente e de propósito.

— Enquanto isso, me sinto cada vez com menos energia dia após
dia. Não que vocês, jovens, possam se identificar. — Ele levanta o copo
para nós. — Não precisa se preocupar com crianças por anos — diz ele
com um suspiro melancólico.

Eu bufo, fazendo tanto Presley quanto Roger se voltarem.


— Graças a Deus — digo, cobrindo suavemente, e inclino meu copo
em direção ao dele. Brindamos juntos, e posso ver Presley me olhando
com curiosidade por cima do vinho. — Para preservar a energia —
saúdo.

— Ao balé — Presley responde, e Roger ri com vontade. Se não o


ganhei, meu par certamente o fez. E como não poderia? Ela é linda,
inteligente, engraçada...

Minha estagiária virou acompanhante.

Eu me castigo mentalmente. Não estou namorando Presley. Não


fique muito confortável com isso, Dom.

É fácil falar e trabalhar com ela. Ela é jovem, brilhante e bonita,


porém isso não significa que consiga imaginar como sua boca carnuda
ficaria tomando meu pau, ou excitado com seus feromônios, não
importa quão bem ela cheire, ou quão excitante ela estar sentada ao
meu lado.

Eu vi o interesse cintilando em seu olhar quando nossos olhos se


encontraram, porém ainda assim, Oliver está certo. Não posso fodê-la.
O que realmente atrapalha esta noite.

— Roger, me diga. — Eu me inclino e tento me recompor. — Qual


é a sua opinião sobre uma parceria financeira conosco? — Ok, então
essa foi uma abordagem um pouco mais direta do que Ollie teria
sugerido, porém estou indo assim mesmo.

— Você terá que me contar mais. — Ele se inclina para trás contra
a cabine adornada. — Em que tipo de parceria você está pensando?

— Você é cliente de longa data da Aspen. Um cliente consistente


no meu hotel, em particular, e é um prazer fazer negócios com você.
Sua última reserva em toda a empresa nos colocou na margem que
precisávamos. Tem sido incrivelmente lucrativo para nós e queremos
retribuir o favor.

— Estou ouvindo.

— Se Roger Harwood, LLC investir em uma pequena parte da


Aspen Hotels, podemos garantir a você um negócio ainda melhor do
que está obtendo.

— Seu pai me disse que eu já estava fechando o melhor negócio


que havia. — Roger gira o vinho cor de rubi em sua taça.

— Isso poderia ser verdade na época. Porém não sou tão míope
quanto o meu pai — digo com um sorriso. — Papai tinha metas,
entretanto não as executou fora da sua zona de conforto.

— De que tipo de objetivo está falando?

— Metas internacionais — respondo, e ele se endireita um pouco


mais. — Sei que você tem muitos negócios fora do país e posso garantir
que, assim que nossas unidades internacionais forem financiadas,
todos os funcionários da Harwood poderão desfrutar dos benefícios de
serem amigos dos Hotéis Aspen.

Enquanto descrevo os detalhes do negócio, posso sentir o olhar de


Presley em mim. Pela primeira vez durante o jantar, ela está
completamente imóvel, os olhos fixos no meu rosto, observando meus
lábios.

Porra, isso é perturbador. O que ela está pensando?

— Presley, o que você acha? — Roger pergunta, virando-se para


ela.
— Eu acho que é um negócio bom pra caralho — ela diz, então
olha para mim como se perguntasse: Demais?

Não posso evitar o sorriso se espalhando em meus lábios, e eu rio.

— Um negócio bom pra caralho! — Roger explodiu em gargalhadas.

— Deixe-me tentar novamente. — Presley sorri, seus olhos


brilhantes. Ela coloca as mãos na mesa, à sua frente e começa a nos
surpreender com seu conhecimento dos Hotéis Aspen e como Roger
poderia se beneficiar com este negócio.

— Aonde você a encontrou? — Sorrindo, Roger se inclina para


frente.

Engolindo, encontro os olhos de Presley e tenho que me recompor


mentalmente. Porra. Eu nunca estive tão excitado na minha vida e ela
está longe do meu pau. Sem mencionar que ainda está totalmente
vestida.

Roger estende a mão sobre a mesa e apertamos as mãos


calorosamente, trocando promessas de marcar uma reunião formal em
breve, para verificar a logística e acertar os detalhes. Estou confiante
de que podemos satisfazer os objetivos desse homem, ao mesmo tempo
que excedemos nossos próprios planos financeiros.

O jantar acabou e nossos copos estão vazios. É hora de encerrar


as coisas. Quando nos levantamos para sair, Roger estende a mão para
Presley, que aceita com um aperto firme.

— Obrigado, Presley, por compartilhar sua noite comigo — diz ele


com bondade genuína em sua voz.

— A qualquer hora, Roger. Estarei por perto. — Presley sorri


calorosamente.
Sua declaração é curiosa. Ela está tentando fazê-lo pensar que
estamos namorando? Eu não o dissuadi exatamente da ideia. Que
outra conclusão lógica ele poderia ter tirado?

•••

Depois do jantar, ligo para o carro e entramos. O silêncio na


limusine é ensurdecedor. Como saímos de uma conversa tão amigável
para o silêncio completo?

— Não precisa se sentir desconfortável. — Tendo uma ideia do


porquê, limpo minha garganta suavemente.

Ela quase salta ao som da minha voz.

Bom trabalho, Dom.

— Será que não? — Presley pergunta, rindo baixinho.

— Entendo se você estiver.

— Não, eu... Estou desconfortável com a facilidade que foi.

— O que quer dizer?

— Sentada lá, falando de negócios. Lisonjeando o cliente. Sendo


seu encontro.

Essa palavra novamente. Por que não quero corrigi-la quando a


usa?

— Você é boa nisso — eu digo em voz baixa. A excitação se agita


em minhas veias, e respiro para me lembrar do porquê esta é uma ideia
terrível.

— Obrigada — diz ela com um sorriso suave. Mesmo no escuro da


limusine, posso ver seus olhos brilharem. — Foi a minha primeira vez.
Fazendo algo assim, quero dizer.
Ela é uma boa garota, como eu suspeitava. Provavelmente nunca
quebrou uma regra, fez qualquer coisa fora da sua rotina, nota máxima
da Srta. Responsável em toda a sua vida.

Então, por que esse pensamento me faz querer dobrá-la sobre a


minha mesa e bater em sua bunda?

— Sério? Não poderia dizer — eu digo, tentando manter meu tom


frio.

— Não, só não tinha certeza de como seria. Fingir com você, quero
dizer — ela diz, torcendo as mãos. — Me desculpe, não deveria ser tão
tagarela neste assunto com você. Duh.

Ela é tão fofa.

— Não é problema. Estou interessado.

— Bem, obrigada. Estou feliz que você foi meu primeiro. — Ela cora
imediatamente. — Eu não quero dizer nisso, tipo, sexualmente. Eu
nunca tive uma primeira... quer dizer... merda.

Ela enterra o rosto em sua bolsa com um gemido. Sua voz está
abafada quando ela diz: — Você pode fingir que não acabei de dizer
isso?

— Certo.

Digo uma coisa, contudo, como sempre, meu corpo faz outra. Meu
pau com certeza não pode esquecer aquele pequeno pedaço precioso de
conhecimento.

Presley nunca fez sexo? A menos que a tenha entendido mal, acho
que ela apenas insinuou que é virgem. Nunca fodeu ninguém? Nunca foi
fodida?
Com cada pergunta desenfreada, meu pau pulsa.

Bem, merda.

Este jantar foi um sucesso incrível para os negócios. Não


exatamente uma vitória pessoal para as minhas calças, no entanto.
Ainda estou com tesão, senão mais do que antes. Droga.

Nós paramos no seu complexo de apartamentos. Saio do carro,


dou a volta e abro a porta. Ela sai silenciosamente. A distância entre
nós é enlouquecedora, porém a mantenho do mesmo jeito.

— Tenha uma boa noite — ela diz baixinho, quase sem fôlego.

Estou deixando você nervosa, Presley?

— Não terminou comigo ainda. — Ofereço a ela meu braço.

— Oh, eu não…

— Não se preocupe. Eu só quero te acompanhar até sua porta.

— Oh. Tudo bem.

Ela morde o lábio, sufocando uma risada suave, enquanto enlaça


seu braço no meu.

Não consigo me lembrar da última vez em que acompanhei uma


mulher até a porta. Certamente não é algo que faço quando saio com
uma acompanhante. Deve me incomodar que isso pareça muito mais
com um encontro do que deveria. Presley é minha estagiária, pelo amor
de Deus. Porém acho que ainda estou pensando em como ela se saiu
bem ao vencer Roger.

Caminhamos em silêncio até a porta do seu apartamento. Isso me


lembra de onde eu morava na faculdade, tijolo e argamassa velho com
uma campainha ao lado da porta. A nostalgia me enche de mil
memórias do meu eu mais jovem.

Audacioso. Irresponsável. Despreocupado.

Parece que foi há muito tempo.

Seguro a mão dela, subindo os degraus até chegarmos ao topo,


apreciando quão macia é a sua pele enquanto descansa levemente
contra a minha palma. Na porta, ela se vira para mim. Estou na escada
abaixo, nossos olhos no mesmo nível. Por um momento, apenas
olhamos um para o outro. Ela realmente é linda com suas maçãs do
rosto salientes, olhos arregalados e boca carnuda.

— Obrigada, Dominic. Eu tive uma noite muito boa.

É quase um sussurro. Ela não está mais olhando nos meus olhos,
porém seu olhar está em meus lábios.

Interessante.

— Não. Obrigado eu — digo suavemente.

Sua mão ainda está na minha, e eu a levanto aos lábios que está
olhando para dar um beijo casto nas costas da sua mão. Juro que
posso senti-la respirar. Com meus lábios ainda a tocando, encontro
seus olhos.

— Vejo você no trabalho.

Um rubor se espalha por suas bochechas.

Momentos depois, entro na limusine. Eu me acomodo no meu


assento, observando enquanto Presley destranca a porta do seu
apartamento e entra.

— Casa, senhor? — meu motorista pergunta.


— Sim, casa.

•••

— Cutuque.

— Eu o fiz.

— Novamente.

Um dedo minúsculo cutuca meu pomo de adão. Meus olhos se


abrem, ainda nublados de sono.

Deus, quanto tempo eu estive fora?

Aperto os olhos contra a luz da manhã que entra pela janela do


meu quarto. Os cachos cor de mel de Lacey flutuam à vista. Ela e Emília
estão na ponta dos pés, estendendo a mão para mim com seus
bracinhos rechonchudos.

— É melhor não cutucar o urso — resmungo. — De manhã, o urso


está com fome!

Eu pulo para fora da cama com um grunhido, enviando minhas


filhas para longe, com gritos de alegria. Com o cobertor enrolado em
volta dos meus ombros, caminho pelo corredor.

— Corra! — Lacey grita

— Esconda-se! — Emília grita.

Eu rio enquanto as sigo. Deus, elas são fofas pra caralho. Mesmo
que ainda não esteja pronto para acordar.

As duas correm para a cozinha, escondendo-se à vista sob a mesa


de jantar. Eu faço um esforço para não olhar, farejo o ar e círculo ao
redor delas com passos grandes e altos.
— Onde estão minhas filhotinhas? Elas devem estar com muita
fome...

— Nós estamos com fome! Somos filhotes!

As duas rastejam para fora da mesa, agarrando minhas pernas.


Eu as deixo me puxar para o chão, onde me sento de pernas cruzadas
e as envolvo nos meus braços. O cheiro familiar... o peso familiar contra
o meu peito... isso é tudo que eu preciso, bem aqui nos meus braços.

— Você sabe o quê? Você cheira... panquecas! — rosno no pescoço


de Emilia, que grita de excitação.

Os olhos de Lacey se arregalam. — Panquecas!

Panquecas, é isso.

O resto da minha manhã consistirá em fazer panquecas do jeito


que minha mãe me ensinou – uma de cada vez, com um pouco de
manteiga na panela. Depois do café da manhã, passarei uns bons vinte
minutos limpando xarope de bordo dos seus queixos e dedos. Então,
quando as levar ao parque, Emília inevitavelmente encontrará uma
maneira de se machucar. Contudo, isso não será um problema, porque
a carregarei de volta para casa.

Depois disso, almoçaremos, macarrão com queijo, o favorito.


Depois, haverá jogos de tabuleiro e uma soneca antes do jantar e,
finalmente, hora da história. Algo sobre uma princesa, tenho certeza.

É mais um dia inteiro de apenas outro tipo de trabalho. Porém não


o trocaria por todo o tempo livre do mundo.
8
Presley

Cutucando seu pincel no papel, Bianca murmura: — Isso parece


uma bunda.

— Ei, você está se saindo melhor do que eu. Minhas árvores


claramente têm algum tipo de doença. — Olho para a sua paisagem em
aquarela perfeitamente decente.

Ela sempre foi a mais artística. Foi sua ideia passar nossa
preguiçosa tarde de sábado bebendo vinho barato em um estúdio de
pintura próximo que oferece aulas. Não que eu tenha feito objeções –
depois da semana que tive, a voz hipnoticamente calma do instrutor é
mais do que bem-vinda, e o ato de pintar também é reconfortante,
apesar do quanto sou péssima. Além disso, a mãe de Bianca deu para
ela um cartão-presente aqui no Natal passado, então essa pequena
excursão não prejudicou minha carteira.

Nós nos misturamos e pintamos em um silêncio confortável por


um tempo antes de Bianca perguntar:

— Então, como foi a primeira semana no novo emprego?

Hesito, a ponta do meu pincel pairando sobre uma nuvem


protuberante.

— Na realidade... algo estranho aconteceu ontem à noite.


— Por que você estava trabalhando até tão tarde? Achei que você
fosse sair para beber.

— Eu não estava trabalhando. Bem, meio que estava, porém não


estava no trabalho.

— Você pode começar a fazer sentido quando quiser, ok.

Seu pincel pinga tinta no carpete, entretanto ninguém parece


notar.

— Eu vi Dominic no bar. — Respiro fundo. — E ele disse... que


precisava de alguém para ir a um jantar de negócios com ele. A pessoa
que convidou o abandonou.

Provavelmente não preciso mencionar os detalhes de como ele


contrata mulheres para sexo.

— Ele me ofereceu quinhentos dólares, então eu fui.

Agora é a vez de Bianca fazer uma pausa. Ela encara sua pintura,
franzindo a testa cada vez mais profundamente, então olha para mim.

— Seu chefe pagou você para ser seu par.

Seu tom está morto.

Faço uma pausa para ouvir as próximas instruções do instrutor


antes de responder.

— O... ok, entendo como isso soa ruim, no entanto não foi
realmente um encontro, por si só, ele apenas…

— Convidou você para jantar? — ela diz friamente.

— Não é como se estivéssemos sozinhos. Havia um investidor... o


objetivo de tudo era tentar impressioná-lo. Estritamente negócios. Eu
o teria feito de graça, o dinheiro foi só porque foi em cima da hora.
Ela franze os lábios, em seguida, faz um ruído baixo e relutante.

— Bem... contanto que isso não seja uma coisa de assédio sexual
grosseiro, acho que não tenho que matá-lo.

— Tenho certeza que não.

Não importa o quanto eu às vezes desejasse que fosse, exceto que


não há nada nojento em Dominic Aspen.

— De qualquer forma, acho que correu tudo bem. O investidor


parecia feliz. Espero que tenha sido o suficiente para convencê-lo de
que Aspen é uma aposta que vale a pena.

— Ótimo, porém ainda estou cética sobre essa ser a melhor ideia
— diz Bianca.

— Eu sei que é... não ortodoxo. Entretanto imaginei, ei, posso


ganhar um pouco mais de dinheiro para as coisas da escola de Michael,
aprender mais sobre negócios e obter acesso extra ao CEO. Estou
competindo com três outros estagiários altamente qualificados, então
por que não aproveitar a chance de seguir em frente?

— Esses são todos pontos positivos. — Bianca sorri. — E tenho


certeza de que o fato de você ter tesão por Dominic não tem nada a ver
com sua decisão.

— O…o quê? Claro que não. — Quase derrubei meu copo de água
com tinta para então perceber o que acabei de admitir. — Quer dizer,
eu não.

— Besteira, querida, você fala sobre ele sem parar. E agora está
buscando… como você disse… acesso extra?

Ela balança as sobrancelhas.


— Por favor, cale a boca — digo com um gemido.

— Acho que eu deveria estar feliz por você estar namorando.

Ela segue em frente com suas provocações.

— Acho que você ficaria mais relaxada sobre trabalho e dinheiro


se transasse de vez em quando.

— Eu disse que não era namoro, e ninguém transará!

Enquanto ela gargalha pela minha dor, meu telefone me resgata


com um toque. É uma mensagem de Austin.

Ei, estive pensando em você. Ainda quer beber alguma coisa em breve?

Tenho que pensar por um segundo antes de lembrar quem é. Eu


salvei o número dele, então – ah, sim, o cara da cafeteria que gosta do
Delinquent Story. Como eu poderia esquecer? Minha vida tem sido tão
louca ultimamente, todo o caos simplesmente empurrou a memória de
conhecê-lo direto para fora do meu cérebro.

— Vê? — Mostro minha tela para Bianca. — É assim que um


encontro se parece. Não a fantasia estranha que você está inventando
sobre mim e Dominic.

— Não está apenas na minha cabeça, porém, tudo o que precisa é


acreditar.

Antes que eu possa argumentar, ela pergunta: — Então, você sairá


com esse cara, Austin?

— Claro, por que não? Ele é fofo e parecia legal.

E eu realmente preciso de uma distração agora. Um encontro com


Austin será uma boa dose de normalidade. Não é?
— Isso não parece muito entusiasmo em comparação com como
você fala sobre… — Bianca bufa.

— Oh, meu Deus, B, já chega. Estamos apenas saindo, não nos


casando. Não preciso ficar louca por ele logo de cara.

— Isso é justo. Acho que aceitei encontros por motivos mais


idiotas. — Ela toma um gole de vinho.

Enquanto o instrutor demonstra a próxima parte da pintura, envio


uma mensagem de volta para Austin.

Eu adoraria. Que tal quarta-feira, talvez sete horas? Você escolhe o


lugar.

Apenas alguns minutos depois, meu telefone pisca com sua


resposta muito positiva. Este homem não brinca...

Acrescento outro ponto ao lado do seu nome no meu placar


mental.

•••

Na manhã de segunda-feira, alguém bate na parede do meu


cubículo. Eu me viro na cadeira, esperando Jordan ou um dos outros
estagiários, apenas para minha frequência cardíaca acelerar, ao ver
Dominic.

Dominic tão espetacular em um terno marinho escuro perfeito que


tenho que engolir uma onda de luxúria.

— Ótimo, você estar aqui — ele fala.

Antes que eu possa me perguntar onde mais estaria, ele pergunta:


— Você tem um momento para conversar?

— O... oh, claro, por favor, entre.


Ele é o maldito CEO, eu arranjaria tempo para ele, não importa o
que estivesse fazendo. Só espero que esta não seja um tipo de conversa
ruim. Cruzo as mãos atentamente no meu colo, tentando não as torcer.

— Eu quis dizer em particular. No meu escritório. — Seus olhos


azuis escuros piscam para frente e para trás.

Meus nervos inflamam com uma mistura de excitação e


trepidação. O que ele quer?

A parte do meu cérebro que vive na sarjeta desde que conheci


Dominic está focada na perspectiva de ficar sozinha com ele. Todas as
outras partes estão em pânico sobre se estou prestes a ser demitida.

No entanto se fosse esse o caso, ele pareceria tão estranhamente


nervoso?

Bem, não importa o que esteja acontecendo aqui, tenho que


encarar isso como uma profissional. Salvei o documento em que estava
trabalhando e me levanto para segui-lo.

Dominic me leva por um pequeno labirinto de corredores até o seu


escritório no canto, abre a porta e faz um gesto para que eu entre
primeiro. Quando entro, admiro a sala ricamente decorada, que possui
uma enorme mesa de cerejeira polida, uma estante combinando repleta
de livros de negócios e poltronas de couro ao redor de uma mesa de
centro de vidro fumê para reuniões VIPs. Tem cheiro de café e um toque
da colônia picante de cedro de Dominic. Eu me pergunto se os móveis
eram de quando o seu pai ocupava este escritório, ou se Dominic os
escolheu quando assumiu.

Ele fecha a pesada porta de carvalho atrás de si.


Todo o barulho do movimentado local de trabalho além dele é
cortado, deixando-nos envoltos juntos em um silêncio denso.

— Sobre a noite de sexta-feira passada...

Meu estômago tenta pular para fora do meu corpo.


9
Dominic

Eu pensei que jantar com Presley seria administrável, que passar


mais tempo com ela iria de alguma forma me entorpecer com sua
presença. Esperava que chegar ao trabalho na segunda-feira fosse
normal e sem intercorrências. Talvez minha exaustão de um fim de
semana com as meninas fosse o suficiente para me manter amarrado
à realidade.

Pensei errado.

É como se todos os meus sentidos estivessem na cocaína. Tudo é


ampliado em torno de Presley. Seu cheiro flutuando ao meu redor
enquanto caminhávamos em direção ao meu escritório. O som dos
saltos dela no chão, fazendo pequenos buracos na minha fachada de
profissionalismo. Eu acompanho seu corpo esguio pelo canto do meu
olho.

Quando a chamei para conversar no meu escritório, ela congelou.


Então um leve rubor floresceu em suas bochechas, e seus cílios
vibraram com um piscar curto.

Ela ficou envergonhada? Nervosa?

Independentemente disso, essa deve ser a minha expressão


favorita.
— Claro — ela disse. Ainda posso ouvir sua voz saltando
desnecessariamente em torno da minha cabeça, embora quase meio
minuto tenha se passado desde que entramos no meu escritório, e
fechei a porta.

— Sobre a noite de sexta-feira passada...

O lábio inferior de Presley treme e seus grandes olhos azuis fixam-


se nos meus.

Ou talvez esta seja a minha favorita.

Ela é tão determinada, tão séria, mesmo quando tudo está prestes
a mudar entre nós.

— Acho que devemos conversar — digo.

Presley acena com a cabeça, seu olhar passando por mim para
examinar meu espaço. Embora já tenha estado no meu escritório antes,
suponho que esta seja a primeira chance que teve de realmente
observar. Eu a mantive bastante preocupada com as atribuições em
sua primeira semana, e ela as abordou como uma profissional.

Ela toca a borda de uma moldura na parede que contém um


prêmio que a Aspen Hotels recebeu no ano em que comecei como CEO.
Ela sempre tem um olhar inquisitivo no rosto, como se fosse aprender
tudo sobre mim apenas examinando o conteúdo da minha mesa e
paredes.

— Eu realmente gosto do seu escritório — ela diz suavemente,


quase para si mesma.

— Obrigado. — Eu me calo, deixando o silêncio se estender.


O espaço é antiquado, porém humilde. Mantenho tudo em ordem.
Enquanto meu apartamento está cheio de giz de cera mastigado e
brinquedos diversos, nada está fora do lugar aqui no trabalho.

O que é estranho é como ela se encaixa bem aqui. Sua saia de lã


escura e botões brancos complementam seus saltos pontiagudos. Ela
é uma imagem do clássico e do moderno em um corpo pequeno e mais
quente do que o inferno. A maneira como está no meu escritório, uma
das mãos no quadril... parece que ela mesma poderia administrar este
lugar.

Merda, isso é sexy.

Tento não reconhecer a maneira como tudo, abaixo da minha


cintura se anima com esse pensamento.

Agora não, porra.

— Por favor, sente-se — solicito, apontando para a poltrona onde


Ollie costuma sentar-se.

Ela se move para a cadeira, colocando suas mãos delicada no


braço da cadeira. Suas unhas são curtas, lixadas em um formato
quadrado e pintadas de rosa pálido.

— Você não se sentará? — ela pergunta, parando ao lado da


cadeira.

— Eu prefiro ficar em pé.

É mais fácil esconder quão nervoso estou perto dessa mulher,


quando não estou tentando ficar parado. Além disso, se me sentar,
haverá uma mesa entre nós. Esteja ou não consciente dessas micro
decisões que estou tomando, não quero que haja nenhum obstáculo
entre nós. Confuso, eu sei.
— Então eu ficarei de pé também. — Ela pousa uma das mãos nas
costas da cadeira. Seus nós dos dedos ficam brancos com o seu aperto,
entretanto seu olhar é firme.

Por que ela está com medo?

— Você não está em apuros. O oposto — informo, querendo


tranquilizá-la.

Deve ser assustador ser chamado ao escritório do seu chefe na


primeira hora da manhã de segunda-feira, depois da noite de sexta-
feira que compartilhamos.

— Eu tenho uma proposta para você.

Seus lábios se curvam enquanto ela considera isso.

Deus, essa boca. Eu poderia fazer coisas ruins, muito ruins com
aquela boca.

Concentre-se, Dom.

— Eu preciso de alguém confiável. Alguém com quem possa contar


para estar ao meu lado durante as próximas semanas de negociações.
E, sendo honesto, a aparência de que estou em um relacionamento
estável pode ajudar a minha causa. Isso me mostra como confiável.

— Não tenho certeza se entendi — murmura Presley.

— Fora do horário de trabalho, pelas próximas duas semanas,


gostaria que você fingisse ser minha... acompanhante. — Quase digo
namorada, porém decido que não temos mais dezesseis anos.

— Um acordo de duas semanas — ela constata, com a testa


franzida. — Seríamos colegas de trabalho das nove às cinco. E então,
depois disto, seríamos um casal. Eu entendi isso. — Faz uma pausa,
seu olhar disparando para longe do meu. — Acho que não entendo o
que isso significa para você. Por que agora?

— É o Roger. — Cruzo os braços sobre o meu peito. A camisa cinza


que estou usando é apertada nos meus músculos, uma visão que
aparentemente não escapa a ela, porque percebo seu olhar vagando
pelos meus ombros largos. Tenho que morder o interior da minha
bochecha para não sorrir. — Ele é um cara tradicional, sendo educado.

— E se você não estiver sendo educado?

— Ele é um bom rapaz, sem nenhuma confiança ou compreensão


de como os negócios funcionam na era digital. Faz tudo pessoalmente,
sem ajuda de nenhum executivo, sozinho. E, conhecendo-o, levará
cerca de duas semanas para acertar todos os detalhes do nosso acordo.

— Ok, claro, contudo, ainda não entendo. Como minha presença


influenciaria?

— Ele gosta de você — digo, e ela zomba disso, como se eu tivesse


dito algo totalmente absurdo. — O quê? É óbvio. Durante o jantar, ele
prestou mais atenção em você do que em mim.

— Me desculpe, eu…

— Não se desculpe. Você é mais divertida do que eu. — Lá estava


aquele rubor de novo. — Ele esperará você em nossas reuniões no
futuro, como minha namorada fixa.

— Por quê? — ela pergunta, um olhar perplexo em seus olhos.

Eu não a culpo. Para mim, isso é óbvio, porém para Presley parece
rebuscado.

Conheço Roger desde criança. Lembro-me dos jantares de negócios


tarde da noite na casa de minha infância. Minha mãe colocava Teddy e
eu para dormir e se juntava aos homens no andar de baixo para uma
bebida antes de dormir. Era quando a negociação começava. Meu pai
traçava o negócio e minha mãe atuava como moderadora entre os dois,
apontando prós e contras, atraindo Roger com suas opiniões
inteligentes. Era um lindo jogo de gato e rato, e que sempre funcionou
com vários clientes. É uma fórmula com a qual estou muito
familiarizado.

Infelizmente, estou perdendo um elemento vital dessa fórmula, já


que sou um CEO solteiro de 26 anos.

— Roger sabe muito bem que sou jovem para ser o chefe dos Hotéis
Aspen. Preciso convencê-lo de que estou falando sério. Nós precisamos.
Se ele me vir em um relacionamento sério com uma mulher brilhante
e inteligente, ele me levará mais a sério.

Para Roger, ainda sou aquele garoto, espreitando o escritório do


pai para espionar os adultos. Ele não me vê muito mais do que como
uma criança vagando pelos corredores da grande empresa do seu pai.

— Namorando?

— Fingindo namorar. Isso não afetará seu trabalho aqui.

— Como não poderia? — Presley pergunta com um pouco de


incredulidade na voz. Suas bochechas estão ligeiramente coradas e seu
olhar está focado.

Eu a aplaudo por sua cautela em fazer um negócio desconhecido.


Ela está lidando com isso como eu – com uma mente aberta e um toque
de ceticismo à moda antiga. Garota esperta.

— Não irá — eu garanto, na esperança de tranquilizá-la. — Estará


tudo previsto no contrato.
— Contrato?

Entrego a ela um documento de uma página que está em cima da


minha mesa. Provavelmente não se sustentaria em um tribunal, porém
nos dará paz de espírito enquanto isso.

Ela examina a página, lendo rapidamente os termos, que são


basicamente o que já expliquei. É puramente um acordo comercial,
estritamente platônico. Todos os custos serão cobertos. Refeições,
viagens e acomodações, se necessário. E, assim como na primeira noite
em que ela me acompanhou, pagarei quinhentos dólares por cada
aparição que fizermos juntos. Que provavelmente serão várias. Roger
nunca vem ao escritório; são sempre jantares ou bebidas com ele.

— Então o que diz? — Quase posso ver os milhares de


pensamentos e incertezas correndo por seu lindo cérebro. Aposto que
não achou que isso faria parte do programa de estágio de Aspen.

Eu também não posso dizer que faria.

— Posso pensar sobre isso? — ela pergunta depois de uma batida.

— É claro.

Ela caminha em direção à porta e eu a sigo. Juntos, fazemos uma


pausa lá, eu com as costas pressionadas contra o batente da porta. Ela
esperando que eu me afaste, porém eu não faço.

Por que não? Porque, aparentemente, sou a porra de um sádico e


preciso estar perto dela, apesar de todas as razões pelas quais devo
continuar profissional. Anexo A, o contrato que assinei afirmando que
nosso trabalho seria totalmente platônico, dentro e fora do escritório.

No entanto, aqui estou eu, minhas costas grudadas na porta.


Presley está talvez a um pé de mim. Não estive tão perto dela desde que
beijei sua mão na sexta à noite. Poderia contar seus malditos cílios se
quisesse.

— Então é verdade. — Seus olhos brilham diretamente nos meus,


erradicando qualquer besteira que eu possa ter deixado para oferecer.

Porra. Eu pensei que já havia abordado isso.

— Deixa para lá — ela diz, balançando a cabeça e olhando para o


chão.

— Não, diga.

— Que você gosta de pagar por sexo. — Seus olhos brilham de


volta para os meus, segurando-me lá como uma das mãos quente na
minha garganta.

Minhas mãos se fecham em punhos como se eu pudesse manter


minha calma vacilante junto com um aperto forte o suficiente.

A raiva borbulha da abóbada de emoções que mantenho trancada


o tempo todo. Eu pensei que tinha sido tão cuidadoso. Nunca, nunca
revelo essa parte da minha vida para alguém em quem não possa
confiar.

Então quem diabos está espalhando esse boato? Oliver?

Pensei que poderia confiar nele. Talvez não seja o caso, afinal.

Todas as frustrações queimando imediatamente diminuem


quando Presley dá o menor passo em minha direção, deixando apenas
alguns centímetros entre nós.

— Não dormirei com você. Está claro? — Sua voz é baixa, firme e
eu acho isso incrivelmente sexy.

— Não te pedi isso.


— Porém isso está claro?

— Sim. — Meu coração bate rápido dentro do meu peito.

Seus olhos ainda estão fixos nos meus como se ela estivesse
procurando uma pista de alguma mentira.

Não há mentira, Presley. Eu nunca tiraria vantagem.

— Você não parece satisfeita com essa resposta.

— Eu só... não sei se é uma boa ideia — ela diz suavemente.

— Por quê?

— Porque...

Seus lábios carnudos formam um pequeno beicinho, e não posso


deixar de olhar. Ela está usando algum batom ou seus lábios são
naturalmente rosados?

— Por quê?

Presley fecha os olhos em frustração, franzindo a testa. Quando os


abre, seus olhos são como balas contra minha inútil armadura
emocional.

— Isto! — Ela gesticula freneticamente em direção ao pequeno


espaço entre nós, a eletricidade quase tangível no ar que separa seu
corpo do meu.

Eu sabia disso, porra. Sabia que não era o único.

— Você está atraída por mim — eu digo, minha voz suave e baixa.
Mantenho minha expressão calma e controlada, embora possa
realmente ouvir meu coração batendo forte em minhas veias.

Ou isso é o dela?
Ela está completamente imóvel, com os olhos arregalados. Suas
bochechas ficando rosadas. Em seguida, ela puxa o lábio inferior em
sua boca, mordendo por um momento antes de deixá-lo saltar de volta.
Esse pequeno movimento faz meu pau empurrar dolorosamente contra
as restrições da minha calça. Não consigo desviar os olhos.

— Eu também estou atraído por você. — me ouço dizer isso antes


de processar as palavras que saem da minha boca. Estou olhando para
os lábios dela, inclinando-me.

O que estou fazendo? Esta reunião acabou, Dom.

— Presley...

Estou prestes a me desculpar quando de repente há uma pressão


suave de calor e percebo que Presley está me beijando. Presley,
estagiária extraordinária e acompanhante novata, tem seus lábios nos
meus em um beijo quase casto.

O tempo parece parar enquanto tudo se acalma.

Ela coloca uma das mãos no meu peito como se para se firmar.
Caso contrário, nosso único ponto de conexão é esse beijo.

Minhas pálpebras flutuam fechadas sem minha permissão e eu


entro nela, minhas mãos movendo-se para cobrir suas bochechas
quentes com meus dedos.

Deus, ela é tão pequena. Feminina e suave. E já faz tanto tempo.

Inspiro profundamente, pressionando mais forte em seus lábios


molhados. Ela ofega e agarra minha camisa, tentando manter o
equilíbrio. Minha mente está em branco, meu mundo cheio do doce
perfume de Presley, sua pele macia e sua língua quente.
Eu sei que devo parar. Deveria me controlar e ser o CEO calmo e
sereno de sempre.

Porém com Presley em meus braços, não há nada além de fogo.


10
Presley

Eu mal consigo me concentrar no caminho de volta à minha mesa.


Meus joelhos ainda estão tremendo, minhas bochechas queimam,
meus lábios ainda estão formigando por causa daquele beijo. A
revelação de que Dominic está atraído por mim é alucinante o
suficiente, ainda mais a ideia de fingir que somos um casal.

Sento-me, abro o relatório que estava revisando e o olho fixamente,


sem absorver uma única palavra. Em vez disso, uma onda de
pensamentos se aglomera na minha cabeça. Michael preocupado com
as taxas escolares. Os nervos que torcem dentro de mim toda vez que
penso em como no mundo nos manterei. Então, há tudo que eu poderia
aprender sobre negócios observando as negociações de Dominic e
Roger. A chance de afetar um negócio tão significativo. A possibilidade
de ter o toque de Dominic, aquelas mãos fortes e lábios carnudos em
mim novamente... mesmo que não esteja escrito no contrato.

Balanço a cabeça, desconfortavelmente quente.

Estou pensando seriamente nisso? Não, não posso. Eu posso?

Estaria mentindo para um investidor. Quer dizer, não mentiríamos


sobre as reais métricas de negócios da Aspen. Estaríamos apenas
fazendo Dominic parecer o tipo de cara maduro e estável que tem uma
namorada fixa. É mais uma... técnica de contar histórias. Publicidade
criativa. Isso é feito em modelos de negócios em todo o mundo, as
estratégias de marketing e marcas que fecham negócios.

Não, isso é um absurdo – uma mentira é uma mentira. Além disso,


seria incrivelmente pouco profissional e inapropriado. Posso me
permitir um jantar de negócios, porém passar duas semanas com o
CEO fora do horário de trabalho seria injusto com os outros estagiários.

E se fôssemos pegos, não importaria que nosso relacionamento


fosse falso. Pareceria real o suficiente para nos colocar em uma merda
profunda e possivelmente arrastar o nome dos Hotéis Aspen pela lama.
O departamento de RH entraria em pânico e a crise de RP seria ainda
pior.

Meu coração está batendo tão forte que estou quase sem fôlego.
Coloco as mãos contra a superfície fria da minha mesa e respiro
profundamente.

É quando meus pensamentos mudam de direção. Se


conseguirmos, todos se beneficiarão. Eu, Michael, Dominic, toda a
empresa. E a ideia de passar mais tempo com Dominic é tão tentadora,
por motivos que nada têm a ver com o que posso aprender e tudo a ver
com minha atração por ele.

Meus pensamentos cada vez mais confusos são interrompidos


quando Jordan vem saltando para o meu cubículo.

— Ei, Presley. Oliver disse que nossa proposta parece ótima, porém
algumas informações novas vieram da construtora e ele quer que
revisemos nossa estimativa.
— O quê? — Merda, não processei uma única palavra que ele
acabou de dizer. Não adianta – meu cérebro está muito cheio agora. Eu
me viro para encará-lo. — Desculpe, você pode repetir?

— Algo está errado? Você está pálida. — Ele inclina a cabeça para
mim.

— Uh... não, só estou cansada — minto.

— Segunda-feira de manhã, certo? — Ele solta um forte suspiro de


simpatia pelos lábios. — Quer vir tomar um café enquanto
conversamos? Estava pensando em ir ao refeitório de qualquer
maneira.

— Isso parece ótimo. — Empurro minha cadeira. —Talvez minha


pressão arterial esteja baixa.

— Lá vai você. Lanches resolvem tudo. — Ele abre um sorriso


satisfeito.

Apesar dos pensamentos zumbindo dentro da minha cabeça, eu


tenho que rir. Parece que o irmão distraído da fraternidade tem um
lado inesperado de mãe.

No refeitório, me sirvo uma xícara gigante de café e um muffin de


mirtilo para completar.

Quando encontramos lugares, Jordan diz:

— Tive o fim de semana mais louco.

— Sim? — Não mais louco do que o meu, aposto.

Enquanto Jordan divaga sobre alguma festa que foi, respondo com
monossílabos, porém não consigo evitar que meus pensamentos voltem
para Dominic e rezo para que Jordan não perceba, porque não há
chance no mundo que eu possa contar a qualquer um dos outros
estagiários sobre isso.

•••

É quarta-feira à noite e devo encontrar Austin em menos de


uma hora, entretanto estou presa em ponto morto. Em vez de me
preparar, me encontro olhando fixamente para o espelho com apenas
metade da minha maquiagem, tentando descobrir o que é essa
sensação estranha. Não é exatamente ruim, porém também não é boa.

Minha intuição está tentando me afastar dele? Eu quero ir para este


encontro?

Acho que não. Preciso de um descanso de toda essa loucura no


trabalho – sem falar de um ou três coquetéis, e a perspectiva de ver
Austin novamente é agradável. No entanto, ainda estou estranhamente
relutante. Ainda sinto vontade de... esperar algo dele.

— Ei, B? — Eu me viro e grito.

— Sim? — Parece que ela está na cozinha.

— Você vem comigo?

— Você quer que eu atrapalhe seu encontro? — Um armário se


fecha, e Bianca enfia a cabeça no banheiro.

— Sim. — Eu mexo com meu tubo de rímel. — Eu só, não sei, de


repente não me sinto pronta para que isso seja uma coisa séria. Isso
faz sentido?

— Claro, sem problemas. Eu serei seu bote salva-vidas. — Ela me


dá um tapinha no ombro. — Chega para lá. Para onde estamos indo?
— Um bar no centro da cidade, chamado Três Amigos. — Eu me
movo para que ela possa usar o espelho também.

— Ooh, seu menino brinquedo escolheu um lugar elegante.


Certifique-se de pedir um dos coquetéis de manga. — Ela começa a
limpar a base.

— Você já esteve lá? A música é muito alta? — pergunto.

— Não, vovó, juro que você pode ouvir seus próprios pensamentos.

Ela mostra a ponta da língua para mim.

No momento em que estamos no caminho, sua presença e


provocações alegres me acalmam. Um pouco.

O bar é requintado, porém descontraído, com iluminação dourada


suave, piso de madeira e cadeiras largas cor de caramelo. Sem surpresa
para uma quarta-feira, também está meio vazio. Quando nos
aproximamos da mesa de Austin, ele nos observa e um lampejo de
decepção cruza seu rosto.

— Oi, de novo — digo sem jeito, me sentindo um pouco culpada


por mudar seus planos para a noite. — Esta é minha colega de quarto,
Bianca.

Porém ele é gracioso sobre minha gafe. Sem hesitar, sorri e aperta
a mão de Bianca calorosamente,

— Prazer em conhecê-la.

— Você também. Estava curiosa para finalmente descobrir como


você era — ela diz com uma peculiaridade travessa em seus lábios.

— Presley falou sobre mim? Uau, estou lisonjeado. — Ele abre um


sorriso tímido para mim, esfregando a nuca. — Então você já está me
apresentando aos seus amigos, hein? Espere, esqueça... foi uma piada
de mau gosto.

— Fofo — Bianca sorri, o que deixa eu e ele confusos.

Austin vai ao bar por nós. Por recomendação de Bianca, pedimos


dois coquetéis de manga e ele pede uma IPA3. Assim que resolvemos
nossas bebidas, ele pergunta:

— Então, vocês duas se conheceram no trabalho?

— Não, na faculdade — eu digo. — Fomos colocadas nos


dormitórios quando calouras e estamos juntas desde então.

— É ótimo vocês terem mantido essa conexão por tanto tempo. É


muito fácil perder o contato com velhos amigos da escola. — Ele bebe
sua cerveja. — Então, o que exatamente você faz no trabalho?

Ele não me entendeu ou é apenas desajeitado na conversa? Bem,


minhas maneiras também não são perfeitas.

— Um pouco de tudo — eu digo com um encolher de ombros. — É


um estágio, então estou lá para aprender, e eles também querem me
testar. Porém só estou lá há uma semana. Até agora, a maior parte do
trabalho que fiz foi na área de logística.

— Bacana. Você pode ser mais específica? — ele pergunta.

— Uh, eu acho que sim. — Sua brusquidão me pega de surpresa.


— Como orçamento, gerenciamento da cadeia de suprimentos... ah
sim, também escrevi uma pequena cópia da web, me esqueci disso.

— Você escreveu para o site da Aspen? Então, se eu entrasse lá


agora, veria seu trabalho?

3
Marca de cerveja.
— Apenas uma página. Não é grande coisa — eu digo, sentindo um
pequeno rubor de orgulho tímido. — Meu chefe disse que quer colocar
minhas habilidades de programação em uso no back-end, porém isso
ainda não aconteceu.

— Oh, cara, de verdade? — Ele sorri. — Você é linda, inteligente,


legal e faz programação também?

— Sim. Ela é praticamente o pacote completo — Bianca declara.


— Você deve pensar em trancá-la mais cedo ou mais tarde.

Austin ri e eu olho minha bebida para esconder meu rubor. Porém,


em vez de responder, ele volta a me cutucar.

— Você já fez algum trabalho de TI? Ou segurança?

Isso continua por mais quase dez minutos. Cada vez que eu
respondo, Austin imediatamente responde com outra pergunta. Por
mais animada que esteja por trabalhar em Aspen, e por mais que adore
falar sobre meu trabalho, isso está começando a parecer menos um
interesse amigável e mais um interrogatório.

— Sinto que estou em uma entrevista de emprego. — Por fim, digo


brincando.

— Oh, desculpe. — Ele pisca — Estou sendo estranho, não estou?


Estou curioso sobre a indústria de hotelaria. Tenho pensado em mudar
de emprego e um dos meus clientes potenciais é uma rede de hotéis.
Então, sobre o…

— Acho que é a sua vez de nos contar sobre você. Tem algum
passatempo? — Bianca se inclina para a frente e dá um sorriso tenso
para Austin.
Eu não teria dito exatamente assim, porém estou cada vez mais
estranhando a mente limitada dele. Honestamente, estou aliviada por
sair deste tópico.

Depois dessa mudança de assunto, a noite fica muito mais


divertida, quase divertida demais. A próxima vez que verifico meu
telefone, é uma hora depois.

— Devemos ir — informo, oferecendo-lhe um olhar de desculpas.


— Temos que acordar cedo amanhã. Quanto custaram nossas bebidas?

— Não se preocupe com isso. É por minha conta esta noite. —


Austin abre as mãos com um sorriso.

— Oh... tem certeza? — Quando ele acena com a cabeça, eu digo:


— Obrigada.

— Tenha uma boa noite.

Ele aperta a mão de Bianca novamente e me dá um abraço. Sem


beijo, sem comentários românticos. Podemos muito bem ser apenas
amigos.

Sinto-me estranhamente aliviada, depois frustrada comigo


mesma. Ele é um cara perfeitamente decente – por que não posso querê-
lo também? Por que meu corpo insiste em reagir apenas ao homem que
é uma ideia tão ruim em tantos aspectos?

Quando Bianca e eu chegamos em casa, lavamos nossa


maquiagem e dizemos boa noite. Ela apaga as luzes. Eu me deito no
sofá e me contorço, tentando ficar confortável. Porém meia hora depois,
ainda estou bem acordada, Dominic e sua proposta chocante girando
na minha cabeça.
Claro, eu poderia justificar isso financeiramente, entretanto e
eticamente? E mesmo que não esteja fazendo nada de errado, o que
aconteceria com a minha carreira se alguém descobrisse? Quão seguro
estaria o meu segredo?

Por outro lado, Michael precisa desse dinheiro o mais rápido


possível. E pode ser bom comer algo diferente de macarrão instantâneo
pelos próximos três meses. Se tudo correr bem, posso até fazer um
depósito do meu próprio apartamento.

Bianca não teria mais que me aturar no seu sofá – ela sempre
insiste que está tudo bem, porém tenho certeza de que ela prefere sua
privacidade. Minhas costas doloridas também gostam do som de uma
cama de verdade. Além disso, não teria que viver com o que cabe numa
mala...

Com um grunhido aflito, acendo o abajur da mesa e procuro o meu


baralho de tarô na referida mala. Concentro-me na minha pergunta
sobre o meu futuro enquanto embaralho, tiro uma carta e coloco-a
virada para baixo na mesa de café. Então tiro quatro cartas, duas de
cada lado da primeira. Finalmente, abaixo do resto das cartas, coloco
uma carta de conselho.

Viro a primeira carta. Minha situação atual é.... o cinco de moedas.


Eu bufo. Sem conversa, eu já estava dolorosamente ciente das minhas
dificuldades financeiras.

A segunda e a terceira cartas, representam a aderência ao meu


caminho atual, são o Enforcado e o Dez de Paus. Nenhuma das cartas
contém boas notícias. Elas representam alguém lutando sob um fardo
exaustivo, assumindo responsabilidades demais sobre os ombros.
Embora eu não tenha medo do trabalho duro, hesito diante da forte
dica desta carta de que me esforçar demais pode resultar em nada além
de dor inútil.

As próximas duas cartas são totalmente bizarras. Os Amantes e o


Três de Espadas. Paixão e desejo. Mas a última carta também implica
emoções fortes... especificamente, desgosto e traição. Formidável.

Deixo-as por enquanto e passo para a última carta. Que conselho


o tarô me oferecerá? Eu a viro e bufo quando o Louco é revelado.

Talvez eu esteja pensando demais nisso. Às vezes, temos que sair


do caminho confortável para encontrar a melhor solução para um
problema.

O pior que poderia acontecer provavelmente não é o pesadelo que


minha ansiedade descontrolada está evocando, porém ainda é muito
ruim. Não existem muitas cartas mais terríveis do que o Três de
Espadas e Os Amantes, entretanto é muito confuso para ser um
verdadeiro conforto.

Estou acostumada a me empurrar. Sei como quebrar minha


bunda, foco e sacrifício. E sou boa nisso, foi o que me trouxe até aqui
na vida.

Esfrego meu polegar sobre as três figuras na carta dos Amantes.


Eu não deveria me deixar cair em fantasias tolas de colegial sobre o
sexy e intenso Dominic Aspen. No entanto é quase impossível não fazer.

Lembrar da maneira como ele me beijou em seu escritório inunda


meu sangue com algo quente e não dito. Fantasias sujas passam pelo
meu cérebro – seus longos cílios tremulando, fechados, enquanto ele
se entregava ao beijo – o calor da sua língua tocando a minha pela
primeira vez – o cheiro de couro e cedro enchendo todos os meus
sentidos. Uma dor baixa se forma entre minhas pernas e eu solto um
suspiro.

Frustrada, passo os dedos pelo meu cabelo.

Eu não sei, estou muito cansada, confusa e em conflito para


pensar direito agora.

Guardo as cartas, apago a lâmpada e tento dormir de novo.

Não me lembro de ter caído no sono. Entretanto devo ter, porque


sonho com o beijo de Dominic.
11
Dominic

Posso dizer que Fran está de mau humor hoje, antes mesmo de
abrir a boca.

— Por que não vi você com uma mulher ultimamente? — ela


pergunta, pendurando o casaco no armário do corredor da frente.

É uma ótima pergunta, porém não tenho tempo para isso. É sexta-
feira de manhã e tenho que sair em menos de cinco minutos para o
escritório.

Levo a caneca de café aos lábios e tomo um gole para ganhar


tempo. Ela é ótima com minhas filhas e eu a amo, contudo, caramba,
ela é intrometida.

— Me ouviu? — ela pergunta, pegando a chaleira, e ligando o fogo


no máximo para fazer uma xícara de chá.

Estou começando a me arrepender de ter dado a chave a ela. Eu


gostaria de um pequeno aviso antes de ser repreendido.

— Talvez eu não goste de mulheres.

— Então por que não te vi com um homem? — ela pergunta sem


perder o ritmo.
Reviro os olhos, apertando a gravata em volta da minha garganta
enquanto me levanto da mesa. Droga. Esfrego minhas têmporas. Ainda
não ingeri cafeína suficiente para isso.

— Já se passaram três anos, Dom — diz Fran, como se eu


precisasse ser lembrado.

Seu tom é maternal, baixo e suave, entretanto suas palavras ainda


doem. Minha mão aperta a maçaneta da gaveta por um momento, antes
de eu abri-la e pegar uma colher de dentro.

Maldição, Francine. Me dá uma folga.

— Não estou procurando nada sério — digo, mantendo meu tom


casual e leve. Aprendi essa lição quando muito seriamente entreguei
meu coração a uma mulher que não via problema em esmagá-lo com o
salto da sua bota.

— Isso é um absurdo. — Fran suspira e pega uma caneca no


armário antes de preparar seu chá. — Só acho que você deveria pensar
em suas filhas.

— Estou pensando em minhas filhas — respondo friamente. — Só


estou pensando nelas. — Elas recebem todo o meu tempo livre e
atenção sem ter que me compartilhar com outra pessoa.

Coloco meu iogurte e a colher no bolso lateral da bolsa do laptop e


sigo para a porta.

— Eu chegarei tarde hoje à noite — grito, e ouço Fran fazer um


barulho insatisfeito.

Fantástico. Como se eu não tivesse o suficiente com que me


preocupar.
A semana passou voando e esta noite tenho planos de me
encontrar com Roger para discutir as estipulações do nosso acordo. Ele
está esperando que Presley esteja no meu braço. Infelizmente, ela ainda
não se comprometeu com nosso pequeno acordo. Em vez disso, está
me evitando, passando o tempo todo na frente do computador, ou
cercada pelos outros três estagiários.

Quando chegar ao escritório, pretendo confrontar Presley, porém


sou parado no corredor pelo meu diretor financeiro e passo quase uma
hora em uma reunião improvisada sobre os ganhos do próximo
trimestre. Depois disso, tenho duas reuniões consecutivas, uma com
um membro do conselho municipal e, em seguida, minha reunião de
equipe. Oliver fica após a reunião, me informando sobre os planos de
segurança cibernética reforçados que fomos forçados a criar, após uma
violação do sistema no ano passado.

— Parece tudo bem. — digo a ele, no entanto estou distraído e


tenho certeza de que Oliver sabe a razão.

Quando acabo vejo Presley conversando casualmente com Jordan


no café. Ele está contando a ela uma história sobre a sua noite, se
exibindo, tentando ser engraçado. Presley não parece se importar nem
um pouco. Ela ri baixinho, tomando seu café, sua linguagem corporal
relaxada e aberta. Parece gostar dele.

Que idiota.

Eu respiro fundo. Agora não é o momento de ficar irritado com os


meus funcionários – especialmente com algum garoto de fraternidade
imaturo. Isso tem que ser resolvido... agora.

Presley teve a semana inteira para tomar uma decisão. Dei-lhe o


espaço que ela queria e nunca mencionei nossos negócios inacabados,
durante nossos breves e quase inexistentes encontros. Não importa
que, se eu me concentrar, ainda possa sentir o calor do seu rosto contra
as minhas palmas e provar a doçura dos seus lábios na minha língua.

— Posso ter a atenção de todos? — Limpo a minha garganta.

O ruído do escritório suaviza para um zumbido baixo enquanto as


mãos ainda nos teclados e as conversas param no meio da frase. A
atenção de todos se volta para mim.

— Obrigado a todos por uma ótima semana. Estagiários,


principalmente, estamos impressionados e gratos por sua dedicação.
Tirem o resto do dia de folga. Aproveitem o final de semana.

Meus funcionários parecem um pouco atordoados, não


acostumados a meios dias de trabalho. Jordan dá um soco em Presley,
que manobra o movimento com um pouco de dificuldade, quase
derramando seu café.

— Exceto você, Presley. Preciso falar com você no meu escritório.

O escritório fica em um silêncio mortal, mais silencioso do que eu


já ouvi durante o horário de trabalho.

A tez de Presley fica pálida logo antes das suas bochechas ficarem
rosadas. No entanto ela não está envergonhada ou nervosa, eu percebo.
Parece furiosa pra caralho.

— Vejo você na segunda-feira, Pres. — Jordan olha para ela, depois


para mim e de volta para ela.

Ele diz isso, fingindo um tom casual, entretanto ela não tira o olhar
de mim por tempo suficiente para dar a ele um adeus convincente.

— Venha comigo.
Presley está no meu encalço. Posso praticamente senti-la
explodindo de frustração e posso me relacionar com essa sensação.
Embora minha frustração seja por uma coisa totalmente diferente. Ela
me pegou em sua mira antes mesmo da porta fechar.

— Você não pode fazer isso. Não na frente de todos. O que as


pessoas pensarão?

— Primeiro, eu não me importo com o que eles pensam. Eles se


reportam a mim, não o contrário. E em segundo lugar, provavelmente
presumirão que temos negócios a resolver, o que temos.

— Só não quero que as pessoas pensem que estamos envolvidos


de alguma forma.

Ela fica quieta por um momento, antes de olhar para os seus


sapatos.

— Envolvidos? — pergunto.

— Dormindo juntos — ela diz.

A estudo por um momento. Ela é tão determinada. De tirar o


fôlego. Impressionante.

— Contudo, não dormiremos juntos.

— Eu sei! Porém... — Presley se interrompe, pressionando os dedos


nas têmporas. Ela respira fundo, os olhos fechados, se acalmando. —
Só não quero que as pessoas falem.

Quando ela abre os olhos, fico impressionado com sua expressão.


É como se ela estivesse tentando decidir se acreditava em mim.

Quero que saiba que eu realmente sinto muito por colocá-la em


uma situação desconfortável. Quero que se sinta segura comigo. Nunca
teria pedido a ela para ficar na frente da equipe, se isso tivesse me
ocorrido.

Mas ela está certa. É uma mulher, uma bela jovem, e sou um
homem, e as pessoas falam. Infelizmente. Isso é apenas um triste fato
dos negócios.

— Eu sinto muito. Isso não me ocorreu. Não acontecerá de novo.

Sua expressão se suaviza e quero tocá-la. Meus dedos estão


colocando uma mecha de cabelo solta atrás da sua orelha antes que eu
tenha tempo de decidir se devo cruzar essa linha. Ela parece surpresa,
entretanto não se afasta ou quebra o contato visual comigo.

Interessante.

— Você vem comigo esta noite? Tenho sido mais do que paciente.

— Eu sei. E sim.

— Sim, o quê?

— Eu irei. Estarei lá para o jantar.

— Obrigado — eu digo enfaticamente, oferecendo a ela minha mão


para que possamos apertar o nosso acordo.

Um sorriso se alarga em seu lindo rosto, e não posso deixar de


sorrir de volta. Deixo o meu polegar acariciar seu pulso antes de soltar.

— Você pode assinar na minha mesa — digo, apontando para o


contrato cuidadosamente colocado em sua superfície.

Seus saltos estalam quando ela se aproxima e pega a caneta.


Mesmo a alguns metros de distância, posso ver que sua assinatura é
linda – não muito volumosa, nítida e simples.

— Irei buscá-la às cinco e meia. Somos esperados às seis


— Você tem preferência pelo que vestirei?

— Eu confio no seu instinto.

— Uau, um elogio. — Presley sorri.

O canto da minha própria boca se curva enquanto a levo em


direção à porta.

— Você receberá muitos deles esta noite, então se acostume com


isso.

— Farei o meu melhor — diz ela com um sorriso atrevido.

— Vejo você às cinco e meia.

— Vejo você então.

A porta se fecha atrás dela e, assim, tudo está em movimento.

•••

Eu sabia que seria inútil no trabalho nas próximas horas, com


minha mente agitada como está. Pouco depois de Presley ir embora,
também saí a caminho de casa. Tenho que estar mentalmente
preparado para qualquer coisa que Roger jogar em mim esta noite.
Entretanto primeiro, uma pequena recarga.

Abro facilmente a porta do quarto das minhas filhas. É hora da


soneca, então elas geralmente estão deitadas nessa hora, porém suas
camas estão vazias.

Onde elas estão?

— Estão na sua cama — vem uma voz a menos de trinta


centímetros de distância, e quase pulo da minha maldita pele.

— Jesus, Fran!
Como uma mulher que usa a porra de um tênis New Balance se
aproxima de mim com tanta facilidade?

— Você ficará até tarde?

— Sim — digo, desviando meu olhar. Realmente não aguento mais


nenhum julgamento seu.

— Tudo bem — ela diz, apertando meu braço. — Vá passar algum


tempo com suas filhas antes de sair.

Eu aceno, virando no corredor em direção ao meu próprio quarto.


As meninas estão enroladas juntas em cima do edredom, dois pequenos
querubins de mãos dadas.

Sorrindo, tiro os sapatos e entro no meio delas, erguendo Emilia


suavemente para me dar algum espaço para me deitar. Ela dorme como
uma morta, então não tenho a preocupação de acordá-la. Eu me abaixo
na cama, enredando os dedos nos cachos de Lacey e colocando Emilia
contra o meu peito. Escuto os sussurros das suas respirações – tão
suaves, tão firmes.

Por um momento, considero ficar assim pelo resto da tarde.


Poderia acordá-las, levá-las para tomar um sorvete e passar um dos
nossos filmes favoritos. Todos nós poderíamos nos aconchegar no sofá.
Quase posso ouvir o som de Emília chupando o polegar e sentir os
emaranhados do cabelo de Lacey, enquanto tento desatá-los antes de
dormir.

Talvez outra hora.

Depois de um tempo, levanto-me com cuidado para não as


acordar. Meus pés descalços atravessam o chão em direção ao
banheiro. Em alguns minutos, estou de pé sob a água escaldante do
meu chuveiro, deixando-a queimar qualquer hesitação que tenho sobre
esta noite.

Não havia chance de escapar antes que as meninas acordassem.


Quando estou limpo e vestido, encontro-as sentadas na minha cama,
ambas estendendo a mão para mim com olhos sonolentos e bocejos
adoráveis. Pego uma em cada braço e elas relaxam no meu peito. Nem
sempre serei capaz de segurá-las assim, então faço isso sempre que
posso.

Carrego-as para a minha cômoda e coloco Lacey em cima. Emília


ainda está acordando, seu narizinho quente aninhado na dobra da gola
da minha camisa. Este é um jogo que já jogamos antes, então Lacey
olha com expectativa para a primeira pequena gaveta. Eu deslizo para
abri-la, revelando todas as abotoaduras que adquiri ao longo dos anos.
Um par de ouro da formatura. Dois pares que minha mãe me deu há
muito tempo. Um par de prata que herdei de Teddy.

Emília prefere as menores e mais bonitas, as que a minha mãe me


deu. Lacey é quem está escolhendo desta vez, no entanto.

— Outra vez! — Ela deixa escapar, um dedo mindinho gordo


apontando para as abotoaduras de prata de Teddy com o coroamento
quadrado. Ela tagarela um pouco mais, e rio da sua tagarelice. São um
pouco chamativos para o meu gosto, porém a senhora insiste.

Coloco as abotoaduras no lugar. Como se Teddy fosse comigo.

— Agora, qual gravata?

•••
Como esperado, a presença de Presley é uma virada de jogo.
Roger está com o rosto quase vermelho de tanto rir, devorando cada
segundo da atenção dessa mulher.

No início, pensei que ele estava apenas animado para ter a atenção
de uma mulher mais jovem. No entanto agora estou bastante
convencido de que ele realmente gosta dela como pessoa.

Como ele deveria.

Presley me dá um lindo sorriso, e meu coração se aperta como


quando ela saiu do seu apartamento esta noite.

— Você não está com frio? — perguntei quando ela se sentou no


banco do passageiro do meu Porsche.

Ela congelou momentaneamente, as mãos pairando sobre o cinto


de segurança e a maçaneta da porta.

— Devo me trocar. Pele demais?

— Não, você está ótima. E se ficar com frio, te darei meu casaco.

— Oh, certo. Bom detalhe.

— O diabo está nos detalhes. — Engoli em seco, desviando o olhar.


Por um momento, esqueci que tudo isso era um esquema elaborado e
encenado. Eu daria a ela meu casaco para aquecê-la, não para fazer as
coisas parecerem mais convincentes.

Em seguida, caímos em um silêncio confortável. As luzes da rua


de Seattle passaram rapidamente.

— Eu estava esperando uma limusine — ela disse, do nada.

— Oh, isso não foi extravagante o suficiente para você? — Sorri.

— Jesus, não! Este é o seu carro?


— Sim, é.

Eu não estava prestes a parar com o SUV e os assentos das


meninas aninhados no banco de trás. Não, esta versão minha dirige
um Porsche, um modelo recente com bastante potência. Posso ser pai
solteiro, porém ainda posso ter um carro esporte de solteiro.

— Eu não tenho carro — disse ela com naturalidade.

— Você não precisa de um na cidade.

— Então, por que você tem um?

— Porque posso pagar — eu disse com um sorriso, e ela sorriu de


volta para mim com uma risada curta.

E assim foi nosso passeio de carro.

Brincalhão. Confortável. Divertido.

•••

Até agora, o jantar está atendendo a todas as minhas expectativas.


O único obstáculo no caminho é que Roger se recusa a falar de
negócios. O velho e gordo bastardo.

— Sempre há tempo para conversas no escritório — diz ele,


deixando de lado minha segunda tentativa de me concentrar. — Estou
gostando da companhia desta jovem.

Presley me dá um sorriso conhecedor e se volta para Roger.

— É como se ele pensasse que não podemos fazer as duas coisas


— diz ela, fingindo estar chocada.

Roger praticamente cai na gargalhada.

Eu encolho os ombros com o máximo de sorriso carismático que


posso oferecer. Ela me pegou.
— Quer saber — Roger diz com a voz rouca, depois de se recuperar.
— Vocês deveriam vir para a orla.

— O quê? — Presley pergunta.

— É minha casa de fim de semana, no Sound. Algumas horas


daqui. Monica e eu vamos amanhã de manhã. Vocês devem se juntar
a nós.

— Oh, não, não poderíamos — Presley diz, exatamente quando


digo: — Adoraríamos.

Ela se vira para mim com um olhar desesperado.

Alcançando debaixo da mesa, encontro sua mão apoiada em seu


joelho. Dou um aperto tranquilizador, como se dissesse: Falaremos
sobre isso mais tarde.

— Isso é fantástico — Roger diz, erguendo o copo. — À


espontaneidade!

— À espontaneidade.

Com o jantar finalmente terminado, Presley caminha vários passos


à minha frente, propositalmente mantendo sua distância enquanto nos
dirigimos para o carro. Ela nem mesmo me deu a chance de pedir ao
manobrista para trazê-lo para nós. Depois de correr para alcançá-la,
pego sua mão e ela a puxa de volta como se a tivesse queimado.

— Você continua fazendo isso — ela diz.

— Fazendo o quê?

— Me tocando.

— Eu sinto muito. — O pedido de desculpas é reflexivo. — Não


farei isso de novo.
— Está tudo bem — ela diz, recuando.

— Não, não está. Não farei isso de novo sem a sua permissão.

Ela aceita isso mais facilmente do que meu último pedido de


desculpas. Chegamos ao carro, porém Presley se inclina contra a porta
para me encarar, antes que eu possa destrancá-la para ela.

— Eu não quero ir para a casa de Roger.

— Por que não?

— É um fim de semana inteiro. Isso envolve muito mais do que um


jantar de vez em quando.

— É pedir muito, eu sei.

— Sim, é. — Sua face está rosada e seus braços estão cruzados


contra o peito, como se estivesse com frio. Seattle é sempre um pouco
fria à noite, não importa a estação.

— Quer minha jaqueta?

Ela balança a cabeça, os lábios pressionando em uma linha.

— Vamos entrar no carro.

Eu chego ao redor dela para colocar a mão na maçaneta da porta.


Quando ela não se move, deixo a mão cair, determinado a manter
minha promessa de não tocá-la.

— Preciso de você — eu me ouço dizendo. — Presley, preciso da


sua ajuda.

Uma pequena ruga se forma entre suas sobrancelhas, entretanto


ela está olhando para os meus lábios novamente, me dando o olhar que
me deu no meu escritório na segunda-feira. O olhar que eu não tinha
certeza se veria novamente – olhos semicerrados, lábios molhados e um
leve rubor. E está me puxando para dentro.

Não importa que eu seja o chefe e ela seja minha empregada. Por
que agora? Nunca estive mais ciente do fato de que sou um homem e
ela é uma mulher.

Tiro meu casaco e coloco em volta dos ombros dela, pensando em


como parece pequena usando meu casaco grande em seu corpo esguio.

— Você está com frio. Por favor, use.

Eu me movo para ela, o mais perto que posso, sem prendê-la


contra o carro, em seguida, roço suavemente sua mandíbula com os
nós dos dedos, meu olhar fixo em seus lábios rosados.

Olhando profundamente em seus olhos, faço uma pergunta


silenciosa.

Posso?

Ela acena com a cabeça e meu coração para.

Pressiono um beijo em sua boca, com a intenção de que seja lento,


casto. Porém os lábios de Presley se abrem contra os meus, e volto no
tempo, lembrando do nosso beijo no meu escritório, revivendo o
primeiro toque da sua língua.

No entanto esse beijo é ainda mais desesperado e selvagem. Ela


solta um gemido suave, levantando-se na ponta dos pés para se
aproximar, seus dedos se enroscando na minha jaqueta. Eu não
poderia me afastar dela se quisesse. E com certeza não quero.

Minhas mãos deslizam para baixo em sua cintura enquanto ela


une os dentes suavemente contra o meu lábio inferior.
Deus, eu a quero.

Quando nos separamos, luto para encontrar minha voz.

— Por favor venha comigo.

— Ok — ela concorda, sem fôlego.


12
Presley

Caindo no banco de couro suave como manteiga na manhã


seguinte, solto um suspiro. Demorou um pouco para ser convencida,
porém, no final, Dominic venceu e concordei em acompanhá-lo até a
casa de Roger na orla, com a condição de que fosse apenas por uma
noite.

Dominic concordou facilmente com meus termos, e então aqui


estamos, sua limusine preta brilhante estacionada no meio-fio, em
frente ao meu prédio. Ele conversa com o chofer, enquanto minha mala
é colocada no porta-malas e, em seguida, desliza para o meu lado.

Quando o motorista volta para o tráfego, Dominic se vira para mim


com uma expressão séria.

— Você está bem?

— Estou bem. — Aceno e coloco meu telefone na minha bolsa.

Ele é um quebra-cabeça que ainda estou tentando resolver. Um


CEO e bilionário, que às vezes representa em cada centímetro, a
potência dominante que a mídia o faz parecer.

E então outras vezes, meus momentos favoritos, ele é mais suave,


de alguma forma se transformando em um cara solteiro de vinte e
poucos anos que você encontraria no bar da esquina para tomar uma
cerveja e comer uma fatia de pizza.
Parte da diversão nessas pequenas excursões, estou começando a
perceber, é que nunca sei bem qual versão encontrarei em cada
situação.

A sensação de falta de ar em meu peito aumenta com cada um dos


seus olhares preocupados.

O que acontecerá depois? O que eu quero que aconteça depois?

Seguimos em direção à rodovia e Dominic pressiona um botão para


levantar a tela de privacidade, nos separando do motorista.

— Estive pensando... — Ele passa a mão na nuca, parecendo um


pouco incerto. — Temos algumas coisas a combinar. Para Roger
acreditar que somos um casal, precisamos esclarecer nossas histórias.
Fazer com que pareça que nos conhecemos bem.

— Faz sentido — respondo, balançando a cabeça. — Bem, nós


temos duas horas livres agora. Vamos conversar.

Aliso o jeans escuro sobre minhas coxas me sinto um pouco


excitada ao ver seu olhar descendo por um segundo. Estou vestida
casualmente com jeans, um suéter vermelho brilhante e botas de cano
alto. Tenho um vestido de coquetel preto embalado na minha mala,
pois não tenho certeza do que esperar mais tarde ou quanto formal as
coisas serão.

— Perfeito. Você primeiro. — Sua boca se contorce em um pequeno


sorriso. — E nada sobre o lado profissional, já sei de tudo isso.

Eu penso por um minuto, perfeitamente ciente do seu foco em


mim. Não deixo muito espaço na minha vida para hobbies, amigos ou
qualquer outra coisa além do trabalho. Desenterrar uma história
familiar feia parece íntimo demais para este estágio. E, meu Deus, a
ideia de admitir minha constrangedora falta de uma vida amorosa...
Sim, não, isso não acontecerá.

— Bem — eu digo lentamente — Moro com minha melhor amiga,


Bianca. Gosto de ler. — Hesito. — E você provavelmente rirá disso,
entretanto minha avó me ensinou a ler cartas de tarô, e ainda é um
hobby meu.

— Eu não irei rir. Contudo, admito, não esperava isso de alguém


com o cérebro esquerdo. — Ele se inclina para trás, apoiando o
tornozelo no joelho oposto. — Você pode prever meu futuro?

Embora seu tom leve seja divertido, não é zombeteiro, e estou


aliviada por ele não estar julgando meu pequeno hobby.

— Não é bem assim que funciona. É mais como uma ferramenta


de tomada de decisão – pelo menos, é assim que a uso. Para me guiar
em direção a um caminho quando estou insegura.

— Interessante. — Ele considera isso. — Então já sabe a resposta


no fundo, e as cartas são apenas uma ferramenta que você usa para
descobrir.

— Exatamente. — Sentindo-me mais ousada agora, digo: — Ok, é


a sua vez agora. Diga-me algo especial sobre você. Algo secreto. —
Estou animada para aprender mais sobre o Dominic que as pessoas no
escritório não conseguem ver.

— Fui super nerd até chegar à puberdade — Ele faz uma pausa,
com o queixo apoiado na mão enquanto considera minha pergunta.

— Oh, sério? Me diga mais. — Eu rio de alegria e chego um pouco


mais perto, ansiosa para ouvir mais.

— Ha, não, obrigado. Acho que passarei esses detalhes.


— Vamos lá, não seja assim. Gosto de ouvir sobre coisas que
ninguém mais sabe.

— Você quer dizer sobre as minhas falhas? — Ele encolhe os


ombros. — Tenho um monte delas.

— Não parece, de onde estou sentada. — Que atualmente era


quase o tocando.

— Confie em mim. — Ele aponta para si mesmo. — Crivado de


deficiências.

Eu não posso deixar de rir. O homem está em um terno de dez mil


dólares, usando abotoaduras personalizadas e um Rolex vintage, e
ainda é autodepreciativo. Acho que só senti um pouco mais forte.

— Então, qual é o grande segredo? — pergunto. — A coisa que você


não quer que as pessoas saibam?

— Eu sou muito particular sobre o meu café. — Ele parece perdido


em pensamentos, seu olhar vagando para a janela por um momento
enquanto pensa. E quando fala, seu tom é mais frio.

— Seu café. — Eu levanto minhas sobrancelhas.

— Sou um esnobe por café. — Encolhe os ombros.

— É isso? Essa é a grande revelação? A extensão do seu grande


segredo sujo? — Eu reviro meus olhos.

— Por enquanto. Por quê? E você? Algum esqueleto no armário que


eu deva saber? — Dominic sorri novamente.

Considero sua pergunta. É insano. E hilário. Ele realmente espera


que eu responda?
— Pode ser?! — digo, minha voz me traindo. Minha falta de
confiança é óbvia.

— Conte logo, estagiária. — Ele ri.

— Estagiária? — Expiro com força e coloco a mão sobre o coração,


fingindo indignação. Porém a verdade secreta é que gosto desse apelido
bobo. Ultimamente, tenho me sentido qualquer coisa, menos uma
estagiária. Tudo parece tão intenso e real.

— Sinto muito — Dominic diz, sua voz ficando séria. — Para ser
honesto, você não é nada parecida com qualquer estagiária que já
conheci. Você é...

Quando faz uma pausa, me vejo inclinada para a frente, ansiosa


para ouvir o que ele dirá.

— Inteligente. Não... — Suas sobrancelhas se franzem. — Você é


brilhante. Sua pontuação no SAT, seu GPA... — Ele acena com a mão
no ar. — Esqueça. Você é apenas... diferente. E muito motivada.

— Obrigada. — Sorrio e abaixo a cabeça, não havendo necessidade


de ser modesta. Eu me formei no primeiro lugar da classe, com uma
média de 4,0. Tive vários estágios em grandes empresas. Bianca está
certa – eu sou muito foda. É muito bom saber que Dominic me vê
assim, em vez de apenas um rosto bonito.

— Você sabe — Um sorriso surge no canto da sua boca, então ele


diz com sua voz profunda persistindo nas palavras de uma forma que
é decididamente sexy — para passar por este fim de semana, também
precisamos estar confortáveis em nos tocarmos.

— Nos tocarmos? — Minhas sobrancelhas se levantam.


— Nos beijando. De mãos dadas. Esse tipo de coisa — ele diz
inocentemente.

— Eu sei. — Minha voz está tensa e suave.

— Podemos praticar isso agora. — Sua boca se contorce com um


sorriso novamente.

— É assim?

Estou tentando manter meu tom leve e provocador, no entanto


meu coração está martelando a um milhão de milhas por minuto, e
borboletas explodiram dentro do meu estômago.

Deslizo um pouco mais perto dele e levanto meu queixo, e então


sua boca quente está na minha.

Meus lábios se abrem e a hábil língua de Dominic toca a minha,


me deixando quase tonta. Já nos beijamos antes, porém nunca foi
assim. Tão ardente, tão intenso. Sua mão se move para a minha
mandíbula, meu pescoço, seu aperto suave, entretanto extremamente
forte. Mordo seu lábio inferior, ganhando um grunhido áspero de
aprovação que faz meus músculos internos se contraírem.

Sua mão desliza sobre o meu pescoço e clavícula, acariciando cada


vez mais perto do meu peito. Eu gemo em antecipação na sua boca,
apenas para ele evitar tocar meu seio, enquanto sua mão desliza pelo
meu lado. Depois de traçar uma trilha pela minha cintura, meu quadril,
sua mão se estabelece firmemente na parte inferior das minhas costas.

Meu gemido de decepção se transforma em um grito quando ele


me puxa para me sentar em seu colo.

— Estagiária, gostaria de passar um tempo com você — ele


murmura perto da minha orelha, arrepiando minha espinha.
•••

Duas horas depois, o carro para.

Eu me apresso para ficar apresentável, porém embora possa


consertar meu batom, não há muito que possa fazer sobre minhas
bochechas rosadas. Dominic ajeita a gravata e alisa o cabelo, que
desgrenhei correndo meus dedos por eles.

Como ele é tão frio e controlado quando estou prestes a explodir de


necessidade?

Entretanto não, quando olho mais de perto, seus olhos brilham de


fome, e sinto uma onda de satisfação excitada por ter provocado tal
resposta dele.

Nosso motorista abre a porta e estende a mão para nos ajudar. Se


ele suspeita que passamos a viagem inteira flertando e nos beijando,
não deixa transparecer.

Um homem de terno já saiu da casa para nos cumprimentar.


Quando ele começa a descarregar o porta-malas, eu automaticamente
me movo para ajudar, apenas para ele me acenar com um sorriso.

— Está tudo bem, senhorita. Eu cuido de suas malas.

Com um brilho divertido em seus olhos, Dominic me oferece sua


mão. Caminhamos de braços dados pelo caminho sinuoso calçado.

A casa impressionante à nossa frente, com vista para a água


agitada pela brisa, é branca com telhado de ardósia e acabamento azul
marinho. A propriedade se estende até a costa, onde um grande veleiro
flutua perto do cais, balançando na maré. Aqui é lindo. Totalmente
sereno. Pena que sinto qualquer coisa, menos relaxamento.
Roger aparece na porta da frente, radiante. Está vestido
casualmente com calças cáqui e uma camisa polo.

— Estou tão feliz que vocês dois puderam vir. Este é o meu local
favorito para passar o fim de semana.

Ele dá um aperto de mão caloroso primeiro a mim, depois em


Dominic.

— Posso ver o porquê — Dominic responde, liberando sua mão.

— Irei lhes mostrar o seu quarto.

Quarto no singular, não no plural. Meu estômago se revira.

É claro. Se estamos em um relacionamento sério, ele presumiria


que compartilhamos a cama. Reprimo um gemido, sem saber se estou
animada ou nervosa. Talvez seja um pouco dos dois. Enquanto
seguimos Roger pela casa, ele aponta diferentes características. Há
uma biblioteca e um home theater com meia dúzia de poltronas
reclináveis de couro.

Ele para em frente a uma janela panorâmica com vista para a


água.

— Lamento dizer que Monica não pôde vir neste fim de semana.
Entretanto, acho que ainda nos divertiremos.

Ele pisca e continua, enquanto tento redefinir minhas expectativas


sobre o que pensei que seria um fim de semana de casais.

Roger nos conduz pelo corredor até uma suíte estilosa que parece
ter metade do tamanho do apartamento inteiro de Bianca, então diz:

— O jantar estará pronto em breve. Se quiser se refrescar, faça e


junte-se a nós para alguns coquetéis.
— Nós? — pergunto.

— Na ausência da Monica, convidei alguns amigos meus. Quando


estiver pronta, irei apresentá-la.

Quando Roger e Dominic saem do quarto, coloco meu vestido preto


e sapatos de salto combinando, grata por ter trazido algo mais formal.
Depois de escovar meu cabelo e retocar a maquiagem, saio para
encontrar Dominic esperando no corredor. Sou grata por ele não ter
seguido Roger para dentro da casa em algum lugar me abandonado.

Seu olhar passa rapidamente por mim, porém ele está quieto.

— Está tudo bem? — pergunto, meu estômago apertando.

— Você está perfeita.

Suas palavras me atingem no peito quando ele pega minha mão


para me levar pelo corredor. Porém então, eu me lembro, ele só quer
dizer que estou perfeita para fazer o papel da namorada séria do jovem
CEO playboy. Este é um papel para o qual estou sendo muito bem paga
e o desempenharei bem. Isso é tudo.

À medida que avançamos pela casa lindamente decorada, ouvimos


vozes. Olho para Dominic, incerta. Sua expressão é neutra, de uma
forma que parece propositalmente diplomática. Talvez eu não seja a
única que não está entusiasmada com esse desenvolvimento. É a casa
de Roger, ele tem o direito de convidar quem quiser..., porém não gosto
da imprevisibilidade de adicionar pessoas extras à mistura, e não tenho
certeza se Dominic também gosta.

Dominic nos leva a uma sala de estar dominada por uma lareira
de pedra, onde Roger e dois homens de cabelos grisalhos estão
sentados em poltronas de couro, tomando coquetéis em copos de
cristal.

— Senhores, essas são as crianças de que falei antes — Roger diz


quando nos vê nos aproximando. — Dominic, Presley, estes são Albert
e Ernest.

Ele aponta para cada homem enquanto menciona seus nomes, e


eles inclinam a cabeça para nós, erguendo as taças.

— Agora — ele diz — o que será? Posso preparar o que você quiser,
mesmo que seja um Negroni. — Ele pisca para mim.

Eu rio e me ofereço para ajudar, porém Roger acena, dizendo-me


para relaxar e ficar confortável.

Se isso fosse possível. Esta poderia ser uma casa de férias, porém
estou definitivamente em horário de trabalho. Eu acho que…

Estou ao lado do homem mais quente do planeta, que por acaso


também é meu chefe. Estou fingindo ser sua namorada e dividirei a
cama com ele esta noite. Não há nenhuma parte dessa situação que
seja nem remotamente confortável.

Enquanto bebemos nossos coquetéis, fico sabendo que Albert é


administrador de fundos de hedge e Ernest é vice-presidente de uma
empresa de exploração de petróleo. Agora me sinto ainda mais fora do
meu elemento. Eu sou uma estagiária não remunerada e estou muito
ciente desse fato, enquanto os ouço falar. Fico aliviada quando o
homem que pegou nossas malas reaparece para anunciar que o jantar
está servido.
O chef serve uma refeição suntuosa de peixe vermelho, salada de
rúcula com pinhões e parfait de romã4. Tudo parece delicioso. Muito
melhor do que o meu jantar habitual de algo cozido demais no micro-
ondas.

— Meu médico disse que eu precisava seguir uma dieta


mediterrânea — diz Roger, dando um tapinha na pança. — Estou
gostando mais do que pensei, para ser honesto.

Conforme o jantar continua, começo a relaxar. Os tópicos de


conversa – gerenciamento, estratégia financeira, questões de segurança
cibernética, rumores sobre concorrentes – são fáceis de abordar,
mesmo que às vezes eu esteja limitada a apenas fazer perguntas. E
Dominic é uma visão inspiradora, conversando com um toque polido,
totalmente em seu elemento.

Ele tem toda essa vibração de garoto rico mimado e taciturno que
deveria ser irritante. Em vez disso, é cativante. Observando a maneira
como ele se comporta, ouvindo-o conversar sobre tópicos complexos
com tanta facilidade, você sabe instantaneamente que ele foi criado nos
melhores colégios internos que o dinheiro pode comprar. Não só isso,
se olhar de perto, também pode dizer que lhe foi negado o carinho
afetuoso dos seus pais desde uma idade muito tenra. Quero apertá-lo
em um abraço tão inapropriado quanto parece. Ou poderia ser apenas
o álcool subindo à minha cabeça.

Quando nossos pratos foram retirados, Roger conduz todos até o


seu escritório e serve um conhaque para cada um de nós, porém recuso

4
Se refere a uma sobremesa congelada, feita, basicamente, como são preparados os mousses.
o mais educadamente que posso. Já estou embriagada e ainda não
terminei meu copo de vinho importado de sobremesa.

Ninguém está mais falando sobre negócios; todos eles mudaram


para esportes, política, seus filhos e netos, anedotas sobre velhos
amigos. Depois de cerca de meia hora sorrindo e acenando com a
cabeça, peço licença e caminho até a varanda para tomar um pouco de
ar fresco.

Com o copo de vinho na mão, encosto-me na grade, admirando a


vista noturna. A luz da lua prateia o gramado e se espalha, cintilando,
sobre o espelho negro da água. O vento sussurra nas árvores
sombreadas abaixo, e estremeço um pouco.

— Aqui.

Dominic coloca seu paletó sobre meus ombros. Os homens


conversando lá dentro falam alto o suficiente, e não o ouvi se
aproximar.

— Oh, obrigada. — Eu me aconchego em seu casaco, apreciando


seu calor persistente. Abraçando-o ao meu redor, inalo o perfume
amadeirado e masculino da sua colônia.

— Esse vestido não é feito para uma noite fria de verão — diz ele.
— Entretanto não posso negar que fica incrível em você.

Decido não contar a ele que tive que o pedir emprestado a Bianca.

— Você está ótimo também.

Ele parece melhor do que ótimo..., parece absolutamente


comestível. Quero me aproximar dele, continuar o que começamos na
limusine, porém estou muito ciente do bando de velhos rindo e bebendo
do outro lado da janela.
— Como você acha que estamos indo até agora? — pergunto,
indicando os outros com uma inclinação de cabeça.

— Estava prestes a perguntar a mesma coisa. — Dominic olha de


volta para eles. — Minha impressão é muito positiva.

— A minha também. Roger parece feliz.

— E tudo graças a você — diz ele.

— A mim? — Eu coro. — Mas você... Combina com eles.

Dominic se move tão suavemente entre esses homens, que é fácil


esquecer que é apenas alguns anos mais velho do que eu. Estive me
questionando a noite toda, constantemente sentindo que estava perto
de tropeçar na minha própria língua.

— Você é muito mais natural com eles — digo em vez disso. Afinal,
ele nasceu para um estilo de vida poderoso.

— Você não viu como Roger se comporta quando sou só eu.

Dominic ri.

— Acredite em mim, ele está encantado contigo. Essa é a única


razão pela qual ele começou a me dar uma chance justa.

Ele descansa o braço em volta da minha cintura, e seu calor


queima através do tecido fino do vestido até a minha pele.

— E nós somos mais parecidos do que pensa, Presley. Você não


tem motivo para se sentir deslocada.

— Você está dizendo que eu sou um… como disse… uma “super
nerd”? É isso que está acontecendo aqui? — Arqueio minhas
sobrancelhas para ele de brincadeira.

— Não, uh, claro que não.


Ele está divagando, e eu nunca ouvi Dominic divagar. Na verdade,
nunca o ouvi ser nada menos do que cem por cento confiante e
comedido.

Meus lábios se erguem com um sorriso. Gosto desse lado cauteloso


e sedutor dele. Gosto disso o suficiente para ousar provocá-lo mais.

— Falando em nerds, isso me lembra... Na limusine, contei várias


coisas sobre mim, porém você só me disse uma. Não acho isso justo.

— E você quer cobrar o que devo? — pergunta, uma nota rouca em


sua voz que faz minhas entranhas apertarem. — O que você fará a este
respeito?

— Começarei perguntando com educação. Se isso não funcionar...


veremos. — Eu me inclino para mais perto dele. — Então, qual é a sua
história? Você é mais do que apenas um CEO sexy?

Sua boca se contorce em um sorriso. Acabei de chamá-lo de


gostoso e, embora ele não comente sobre isso, está claramente
guardando esse petisco. porém não me arrependo. O homem é gostoso
pra caralho. Sua confiança por si só está fora dos gráficos, e a
aparência que acompanha esse nível de carisma leva tudo a outro nível.

— Honestamente, eu adoro e odeio isso ao mesmo tempo.

— O que você ama sobre isso?

— Ser a pessoa para quem todos olham quando as coisas dão


errado. Tenho orgulho de manter a calma sob pressão.

Ele tem razão.

Dominic é como um farol em um mar tempestuoso. Todos olham


para ele em busca de orientação. Ele é tão firme e seguro. Isso lhe dá
uma presença reconfortante.
— E o que odeia nisso? — Imagino que ele dirá as horas ou as altas
expectativas ou o escrutínio público envolvido em agradar os
acionistas. Entretanto me surpreende mais uma vez.

— Era para ser o trabalho de Teddy.

Seus olhos estão tempestuosos e escuros, e não consigo ler sua


expressão.

— Teddy?

— Meu irmão, o protegido do meu pai. Ele esperou a vida toda por
isso.

O irmão mais velho que morreu jovem. Encontrei um artigo sobre


ele online uma vez, e agora me lembro dos detalhes, foi um acidente ao
dirigir embriagado.

De repente, sinto pena de Dominic. É óbvio que a morte do seu


irmão deixou um buraco duradouro em seu coração, e que nutre um
pouco de culpa por assumir o controle da empresa, que deveria ter ido
para seu irmão mais velho.

Tomada por uma súbita onda de emoção, estendo o braço e aperto


a sua mão.

— Você sente falta dele? — pergunto baixinho. Eu sei que nunca


superaria se alguma coisa acontecesse com Michael.

— Às vezes.

A voz de Dominic está contida. Ele solta um suspiro.

— Então fico com tanta raiva dele por dirigir bêbado naquela noite,
ao invés de pedir um carro, que não sinto falta dele.
— Isso não é verdade. Não diga isso. Você pode ficar bravo, porém
não diga isso.

Seus olhos encontram os meus e estou surpresa com sua beleza.

Azul profundo com manchas de cinza metálico. Eles são


impressionantes.

— Eu tenho um irmão mais jovem. Michael — digo.

— Vocês são próximos? — Ele acena em compreensão.

— Muito. Ele é dançarino... quer entrar no balé. Meu pai


praticamente o deserdou e, desde que minha mãe morreu, sou tudo o
que ele tem.

Dominic se inclina, seu rosto se inclinando para o meu.

— Ele tem sorte de ter você — ele diz suavemente.

Sua respiração mal faz cócegas em meus lábios, e meu coração


excitado. Ele se aproxima...

Até que um toque alto quebra a quietude da noite. Dominic se


afasta, tirando o telefone do bolso da jaqueta. Tento não encarar a
maldita coisa que interrompeu.

— Com licença, é uma ligação particular.

Ao ver a tela, ele arregala os olhos por um segundo, antes de


mudar suas feições.

E antes que eu possa perguntar o que está acontecendo, ele já está


entrando rapidamente, me deixando sozinha e confusa na varanda.

Sobre o que foi tudo isso? Eu pensei que estávamos nos abrindo
um para o outro, e de repente ele puxou aquela máscara controlada
sobre o rosto e saiu correndo. Nunca vi Dominic tão abalado. Foi quase
como... fosse pego em um segredo.

O trabalho não ligaria para ele a esta hora. Talvez a família o


fizesse, entretanto duvido que agisse dessa forma se fosse esse o caso.

Considerando tudo o que descobri sobre sua vida, presumi que ele
fosse solteiro, no entanto será que poderia realmente estar em um
relacionamento? Casado infeliz? Eu com certeza espero que não,
considerando que passei quase duas horas beijando-o hoje.

A ideia de que eu possa ser “a outra mulher” me assola o estômago.

Eu quero respostas, e agora, todo o álcool que tomei esta noite me


dá coragem líquida.

Dreno as últimas gotas de vinho da minha taça e saio na direção


que ele acabou de seguir, determinada a confrontá-lo.

Uma pequena inquietação no fundo do meu cérebro induzido pelo


álcool me lembra que as respostas que espero receber podem não ser
as que desejo.
13
Dominic

— Boa noite. Eu amo você.

Eu nem sequer desliguei meu telefone antes de Presley irromper


no quarto, aonde vim para ter um pouco de privacidade. Todas as
noites, Emília e Lacey precisam de uma boa-noite do papai antes de se
acomodarem na cama. Fran deu início a esse ritual, e estou ansioso
por ele. Eu só queria que o momento tivesse sido melhor. Não queria
deixar Presley sozinha na varanda depois do nosso momento, porém
não havia escolha.

— Quem era? — A face de Presley está manchada de rosa.

De pé ao lado da cama, coloco o telefone no bolso.

— Eu estava prestes a me juntar a você na varanda.

Ela se mantém firme e eu dou um passo mais perto.

— Realmente não é da sua conta — respondo, mantendo meu tom


calmo.

— Você está saindo com outra pessoa?

Porra, ela fica ainda mais quente quando está com raiva.

— Não estou saindo com ninguém.

— Então com quem você estava falando?


— Eu não posso te dizer isso. — Engulo.

— Por que não? — ela pergunta, suas mãos caindo para os lados.
Ela parece genuinamente perplexa. Porém de jeito nenhum lhe direi
que estava falando ao telefone com minhas duas filhas pequenas.

— Não é pessoal, Presley. Existem muito poucas pessoas que


sabem sobre a minha vida privada. Posso contá-las em uma das mãos.
Eu gosto de manter as coisas assim. O telefonema era um assunto de
família.

Presley abre a boca para protestar e, em seguida, fecha-a com um


estalo. Ela parece um pouco triste com o que eu disse; a cor desaparece
das suas bochechas e seu olhar cai para o chão aos seus pés.

— Um assunto de família — ela repete.

Eu poderia ter ferido seus sentimentos?

— Confie em mim — peço a ela, sem ter certeza do que quero dizer.
— Não tem qualquer relação com o nosso acordo. — Dou um passo em
sua direção, e seus olhos brilham nos meus.

— Certo — ela diz, sua voz falhando sob o disfarce de força. — Só


porque estamos compartilhando uma cama, não significa que estamos
compartilhando nossas vidas.

Compartilhando uma cama? Por que não me ocorreu que só havia


uma cama? Ou que passaríamos a noite nela juntos?

Bem, isso será um inferno de uma provocação de pau completo


com a minha história de ninar menos favorita de todos os tempos. Boa
noite, ereção!

— Bem, você é bem-vinda à sala, se preferir — eu digo, abrindo


um sorriso para ela.
— De jeito nenhum. — Ela zomba e dá um tapa no meu braço.

Esse pequeno movimento a faz balançar um pouco, então eu a


seguro com uma das mãos. Eu me inclino para que minhas palavras
sejam um sussurro em seu ouvido.

— Nesse caso, eu prometo manter a sua pureza. — Aperto seu


braço levemente, observando os arrepios subindo em sua pele.

Ela se inclina um pouco para trás para encontrar meus olhos.


Procurando.

— Não sou tão pura — ela diz em voz baixa, e foda-se se eu não
sinto todo o meu sangue correr da minha cabeça para o meu pau
extremamente negligenciado. — Já fiz coisas antes.

— Faz sentido. Os homens devem estar fazendo fila — eu digo,


lutando contra um sorriso.

Não tenho certeza se é o álcool, a proximidade, ou as palavras de


Oliver finalmente me afetando, contudo, de repente, não quero
esconder a atração que sinto por ela. Não é como se ela não tivesse
sentido quando estava espalhada no meu colo hoje cedo, meu pau duro
contra o seu centro quente. Por alguma razão, quando estou com ela,
é fácil esquecer que ela trabalha para mim.

— E daí se eles estão? — ela pergunta com um olhar brincalhão,


inclinando a cabeça.

A luz fraca da luminária do teto atrai seus olhos, e fico sem


palavras por um momento. Ela é linda. Impressionante, até.

— O que você está esperando, então? — Minha boca está a apenas


alguns centímetros da dela agora. Não há mais contato visual, apenas
a conexão das nossas respirações misturadas.
— Amor.

Tá falando sério?

Eu me afasto. Estou prestes a violar essa mulher e, assim que ela


menciona a palavra com A, fico mole como uma tigela de pudim.
Afastando-me, aperto a ponta do meu nariz.

Porra. Eu preciso de algum espaço.

— O que foi? — ela pergunta, perplexa com a minha mudança de


humor.

— É uma fraude. — Eu volto com um encolher de ombros.

— O que é uma fraude?

— Amor.

— Então você tem o coração partido — diz ela, sua voz como a de
uma enfermeira pouco antes de administrar uma injeção.

E sim, eu admito, dói que ela tenha me pegado tão rapidamente.

— Mais de uma vez — digo, sem tentar esconder o cinismo em


minha voz. — Não estou exatamente procurando o 'negócio real'.

Já estive lá, fiz isso. As mulheres já tentaram antes me salvar de


mim mesmo, das minhas dúvidas e das minhas paredes criadas, sem
sucesso.

— É por isso que você contrata acompanhantes — diz ela.

Presley me encurralou e ela sabe disso. Estou em sua mesa de


exame e ela continuará cutucando repetidamente até obter o
diagnóstico completo.

Não se eu tiver algo a dizer sobre isso.


— Conte-me sobre seus relacionamentos anteriores — diz ela.

— Passo.

Ela revira os olhos. Esta pode ser uma conversa casual para ela,
no entanto é muito chocante para mim. Percebo que tenho os punhos
cerrados ao meu lado. Lutando pelo controle, relaxo minhas mãos.

— Você não é casado, não é? — ela pergunta, a voz insegura.

— Deus, Presley, claro que não. — Meus olhos piscam para os dela.
— Você realmente acha que o que aconteceu na limusine teria
acontecido se eu fosse casado?

— Não. — Ela respira fundo, balançando a cabeça. — Contudo,


tive que perguntar. — Ela dá um passo em minha direção, seus olhos
como lanternas em meus cantos mais escuros. — Ok, tentemos uma
pergunta mais fácil. Qual é a coisa mais romântica que você já fez por
alguém?

— Eu não sou realmente romântico. — Esfrego o polegar no meu


lábio, meus olhos nunca se afastando dela.

— Vamos, deve ter havido alguma coisa.

— Uma viagem ao redor do mundo com todas as despesas pagas.

— Fala sério? — Seus olhos se arregalam e sua mandíbula fica


aberta.

— E mil rosas persas, com pequenas gotas de orvalho feitas de


diamantes. Ah, e uma vez, cavalgando um cavalo, porém nós dois
estávamos nus...

— Tudo bem, certo. Entendo. — Ela começa a rir.

Eu não posso evitar o sorriso genuíno puxando meus lábios.


Ela ainda está rindo quando eu deslizo um braço em volta da sua
cintura para ajudar com sua falta de equilíbrio e ajudo-a a se sentar
na beira da cama. Nossa cama.

— Uau, aí…

Assim que ela se acomoda, solta um suspiro de satisfação, com a


face rosada de tanto rir. Ajoelho-me no tapete diante dela, nossas mãos
entrelaçadas em seu colo.

— Você é tão graciosa — elogio, levantando uma sobrancelha.

— Oh, cale a boca. — Ela revira os olhos. — Já sei que não sou
nada parecida com suas acompanhantes chiques.

— Não, você não é.

Seu rosto estremece, mas então levo sua mão aos lábios e
pressiono um beijo suave que lembra o nosso primeiro encontro. Ela
suga uma respiração silenciosa, seu peito subindo excitada.

Olhando para ela agora com seus longos cabelos escuros


despenteados, seu vestidinho preto empurrando e puxando seu corpo
de todas as maneiras certas... Eu a quero. Antes que possa pensar
muito sobre isso, me inclino para ela e inalo seu pescoço. Ela
estremece.

Eu poderia provocar essa mulher para sempre e nunca ficar


entediado.

Porém, Presley não está com vontade de ser provocada. Ela puxa
minha gravata, seus lábios entrando em contato com minha garganta
enquanto beija uma pequena linha através do meu pomo de adão.

Solto um suspiro afiado e levanto seu queixo, pressionando meus


lábios nos dela. Os olhos semicerrados de Presley se fecham.
Meus beijos começam suaves, apenas pressões castas dos meus
lábios nos dela. No entanto sempre ansiosa para agradar, Presley abre
os lábios, e então eu a provo. O vinho se mistura com o doce sabor de
Presley, quando nossas línguas se tocam. Ela faz um ruído suave e
faminto no fundo da sua garganta, enquanto enfio as mãos em seu
cabelo sedoso, inclinando sua cabeça para trás.

Pressionando beijos quentes e famintos contra o seu pescoço,


estou ansioso para ouvir mais dos sons que ela fez no carro. Prometi
que levaria meu tempo com ela, no entanto está testando minha
paciência como nenhuma outra mulher fez.

Meus lábios não deixam sua pele enquanto a coloco de costas na


cama, e nós rolamos para o centro juntos. Seus dedos se enrolam no
tecido da minha camisa. Seu corpo é tão quente, tão macio. Eu quero
prendê-la, pressionar-me contra ela, tomá-la...

Quando ela murmura meu nome, arrasto meus dentes levemente


em sua clavícula, e seus quadris sacodem. Minha mão desliza pelo seu
lado para segurar sua bunda redonda, puxando-a firmemente contra
mim. Pela maneira como ela se esfrega contra mim, posso dizer que
sente o meu comprimento duro contra a sua coxa.

— Diga-me — eu sussurro enquanto beijo seu peito.

Posso dizer que está morrendo de vontade que eu toque os seus


seios. Eu quero, porém não tanto quanto quero que ela queira.
Massageando sua bunda perfeita com uma das mãos, sigo a outra em
uma linha tentadora pelo seu esterno. Cada vez mais abaixo, arrasto
meus dedos levemente sobre o material macio do seu vestido.

— E… dizer o quê?
Ela mal consegue falar, está tão excitada.

— Que tipo de coisas você fez antes? — Deslizo meus dedos pelas
costas do seu vestido, sobre a pele de uma coxa lisa, e alcanço a pele
perigosamente macia dos seus quadris e cintura. Brinco com o elástico
da sua calcinha, tirando-o do osso do quadril e puxando para baixo,
bem devagar. Do meu ponto de vista, posso ver seu peito subindo e
descendo.

— Não sei... coisas — ela diz, então engole em seco.

De joelhos agora, situado entre suas pernas, roço meus dedos


levemente no centro da sua barriga, em direção à junção entre as suas
coxas. Ela respira fundo, seus quadris balançando na cama.

Paciência, Presley.

— Que tipo de coisas? — Dando um puxão no tecido acanhado,


puxo sua calcinha até os tornozelos. Beijo seus joelhos enquanto a
desembaraço dos seus calcanhares, deslizando o material de seda para
o meu bolso. — Coisas assim?

Lambo a linha da sua coxa, pontuando a trilha com uma forte


sucção. Ela geme e ri um pouco, sem fôlego. Enrolo o seu vestido na
cintura, revelando sua boceta rosa perfeita.

Puta que pariu, há algo mais bonito?

— Ou coisas assim? — Levo os meus lábios para o ponto


necessitado entre as suas coxas, porém não a toco ainda, usando meu
hálito quente para deixá-la louca.

— Mmm — ela choraminga, e meu pau pressiona dolorosamente


contra o meu zíper.

Foda-se a paciência.
Eu a separo com minha língua, provando-a com um movimento
confiante. Ela geme, empurrando-se contra a minha boca. Entre beijos
suaves em seu doce centro, me encontro gemendo. As vibrações a
enviam cambaleando, seus dedos encontrando apoio no meu cabelo.

Agora que tenho o gosto dela na minha língua, não consigo parar.
Pressiono a língua no seu calor e quase gozo na porra das minhas
calças. Ela é tão doce. Tão apertada e tentadora. Seus dedos arranham
meu couro cabeludo e ela faz ruídos necessitados de prazer.

Coloco os polegares em torno dos ossos do seu quadril para me


dar mais força contra os seus movimentos ansiosos. Ela está ofegante
com respirações curtas e agudas que me dizem que está perto de gozar.
Focando em seu clitóris, sugo seus últimos esforços de compostura.

— Dom! — ela grita.

Presley.

Deslizo uma das mãos pelo seu corpo para encontrar seu seio,
puxando um mamilo entre o indicador e o polegar. Com os sons de
choramingo mais enlouquecedores e suaves que já ouvi, Presley se
esfrega contra o meu rosto, e eu estou perdido.
14
Presley

Eu nunca senti nada tão intenso. Minhas coxas tremem e meus


quadris empurram contra a boca de Dominic em desespero
incontrolável, na minha necessidade de estar ainda mais perto. A
sensação é quase demais, contudo não recuarei agora. Estou tão perto,
tão irritantemente perto.

— Por favor — choramingo. — Eu não aguento, não pare!

Não estou fazendo nenhum sentido, entretanto não importa


quando sua língua incrível está me inundando com tanto prazer. Ele
rosna para mim, e a vibração e a fome ardente em seus olhos, quando
eles examinam os meus, me fazem virar.

Contorcendo-me, sufoco um grito quando o orgasmo mais


poderoso que já tive me atinge. Isso continua e continua, e ele não para
até que eu estou tremendo de hipersensibilidade, me sentindo tonta e
mole.

Santo Inferno!

— Bom, eu suponho? — Dominic sorri por entre as minhas pernas,


com satisfação de lobo.

Eu aceno lentamente, ainda nebulosa. Bom nem mesmo começa a


cobrir isso. Acabei de ter minha mente explodida – pelo meu chefe.
Oh, Deus.

Mas não questionarei se isso está certo ou errado. Não mais, ou


pelo menos não esta noite.

No momento, estou ansiosa para retribuir o favor.

As endorfinas correndo pela minha corrente sanguínea ordenaram


que meu cérebro diminuísse, e meu corpo é quem está pensando.

No momento em que ele volta para a cama para me beijar, estou


procurando os botões da sua camisa com dedos trêmulos. Ele solta um
zumbido satisfeito enquanto eu desabotoo seu cinto. Juntos, nós
lutamos para despi-lo e jogar suas roupas para o lado da cama, sem
quebrar nosso beijo.

Com meus olhos e mãos, devoro cada novo centímetro da sua pele
exposta. Seu corpo nu é perfeito, todos os ângulos e músculos
esculpidos por um artista clássico. E quando ele tira sua boxer e seu
comprimento rígido se solta, meu corpo dá um aperto involuntário.

— Você é injustamente quente — murmuro.

— Que bom que você aprecia a vista. — Ele ri.

É incrível. Porém depois de tantos dias sendo forçada a me


contentar em apenas olhar, não estou esperando mais um segundo
para provar. Deslizo para baixo no seu corpo para escarranchar suas
pernas e levo meu rosto para perto do seu pau. Longo, espesso, rosado
e pingando... tudo por minha causa. Eu fiz isso com ele.

E agora posso fazer muito mais. Eu lambo meus lábios.

— Você não precisa. — Ele pisca.


— Eu sei, mas eu quero. — Tenho reprimido minhas fantasias
sobre isso desde meu primeiro dia na Aspen.

— Tem certeza? — Ele acaricia meu cabelo. — Não faça nada com
que você não se sinta confortável...

Eu o calo, fechando minha boca em torno dele, e saboreio como


sua respiração engata e sua mão ainda está no meu cabelo.

— Merda. Se você tiver certeza. — Ele solta uma exalação aguda e,


em seguida, um ruído rouco. Ele pousa uma das mãos na minha
cabeça e a outra no meu ombro. — Vá em frente, baby.

O nome doce é inesperado e fora do lugar, no entanto gosto muito


mais do que pensei que gostaria. Porque veio de Dominic, o homem
sempre no controle, sempre tão disciplinado cujas paredes estão
desmoronando só por mim.

Hesito, porque agora tenho que descobrir o que estou fazendo.


Experimentalmente, lambo uma linha da base à ponta. Nossa, a pele é
tão macia. Sinto o sal do seu suor e uma pitada de almíscar –
definitivamente nada desagradável, especialmente com o suspiro
silencioso que escapa dele.

Segurando-o firmemente pela base, deslizo meus lábios em direção


à minha mão. O refluxo se manifesta muito antes de eu chegar ao final.
Ok, não o que eu queria, porém posso trabalhar com isso. Tratar como
um picolé, eu acho. Lambo e chupo meu caminho de volta para cima,
depois para baixo novamente, e seu gemido suave de prazer me
eletrifica. Encorajada, eu continuo.

— Um pouco mais… porra, só assim. Você está indo muito bem.


Ele geme, acariciando meu ombro, meu pescoço e por cima da
minha bochecha.

— Deus, olhe para você. Esses lindos lábios me envolvendo... Você


é tão sexy, deveria ser ilegal.

Em agradecimento ao elogio, tomo um pouco mais dele. Seus


dedos se enroscam em meu cabelo, meio me direcionando, meio apenas
segurando.

Deixando seu toque e seus ruídos sensuais me guiarem, balanço


a cabeça mais rápido e giro a língua, enquanto fico mais confiante com
minha técnica. Eu vejo por que as pessoas gostam disso – é tão quente
ouvi-lo se desfazer aos poucos, tão inebriante saber que posso fazer um
homem tão poderoso suspirar meu nome, dar a ele tanto prazer que
seu estômago musculoso e coxas começam a tremer.

Seu aperto aumenta espasmodicamente, enviando faíscas de dor e


prazer do meu couro cabeludo por todo o caminho pela minha espinha.

— Presley... Eu estou prestes a ...

Eu não paro. Quero tudo que ele pode me dar.

Quando chupo com mais força, ele geme alto e áspero, sua
liberação espessa e quente pulsando sobre a minha língua. Eu engulo,
chocada com quão intensamente amargo é, contudo, ainda ansiando
por cada gota.

— Droga... — Ele solta a palavra, e uma onda de orgulho enche o


meu peito.

A mão enterrada no meu cabelo, relaxa, acariciando em vez de


apertar. Eu deixo minha cabeça cair no seu colo quente e me deleito na
maneira como ele acaricia suavemente as longas mechas do meu
cabelo.

— Isso foi muito bom. — Em seguida, ele acrescenta. — Para uma


estagiária.

Pego um travesseiro e jogo em seu rosto. O idiota arrogante apenas


ri. Entretanto está tudo bem, porque estou rindo também.

— Eu acho que é hora de dormir. Ou você não aceita sugestões de


estagiários? — pergunto, devolvendo o golpe com minhas sobrancelhas
levantadas em uma repreensão simulada.

Ainda estamos nus e isso deve parecer estranho, porém seu


comentário brincalhão parece ter relaxado a atmosfera carregada ao
nosso redor.

Quem sabe, talvez seja por esse motivo que ele disse isso?

Ele parece saber lidar com a maioria das situações sociais. Até o
momento embaraçoso depois de você ter acabado de fazer sexo oral
espontâneo com uma funcionária, quer dizer, estagiária.

Oh Deus, eu me pergunto se ele já esteve nesta situação antes.

Não me deixarei espiralar de preocupação agora. As endorfinas


ainda estão pulsando no meu sistema e estou determinada a não me
preocupar. Pelo menos ainda não. Tenho certeza de que haverá tempo
para arrependimentos e exames de comportamento pela manhã.

Dominic olha para mim com carinho, tocando minha bochecha


uma última vez, enquanto segura meu olhar. Eu vejo a sugestão de um
sorriso nos seus lábios, e então ele balança as pernas para o lado da
cama e puxa sua cueca boxer preta.
— Eu concordo. Roger e os outros também estavam prestes a
encerrar a noite.

Tiramos nossos produtos de higiene pessoal das nossas malas.


Com duas pias, o banheiro é amplo o suficiente para ficarmos lado a
lado, enquanto escovamos os dentes. Normalmente, eu ficaria um
pouco constrangida, porém parece natural. Confortável. Quase...
doméstico. Afasto o pensamento perigoso.

Depois de colocar o pijama, deslizo para baixo das cobertas,


balançando um pouco para desfrutar do seu deslizamento macio e
sedoso. Tudo parece tão bom – ainda estou lânguida e sensível de
antes. Embora tenha certeza de que não faz mal que nossa cama de
hóspedes venha equipada com lençóis dignos de um hotel cinco
estrelas.

Dominic ergue os olhos da sua mala para me lançar um sorriso


suave que não me atrevo a chamar de afetuoso.

— Você parece confortável. Durma bem.

— Você não vai para a cama?

Ele pega seu laptop e o coloca sobre a mesa.

— Num momento. Há um pouco mais de trabalho que eu gostaria


de fazer primeiro.

Estou um pouco desapontada, entretanto principalmente


divertida. Um típico CEO workaholic.

— Boa noite, chefe.

Ele ri enquanto apaga a lâmpada de cabeceira.

— Boa noite, estagiária. Avise-me se a luz incomodar você.


Embora a noite tenha me exaurido, por um momento deixo o meu
olhar pousar nele, a silhueta iluminada pelo brilho suave da sua tela.
Ele realmente é um homem incrível. Trabalhador demais, doce quando
quer, um amante habilidoso e generoso... embora tenha deixado claro
que não acredita no amor.

Meus olhos ficam mais pesados. Eu adormeço com o barulho


silencioso de teclas batendo.

•••

Fui acordada por Dominic me cutucando e dizendo algo.

— O que ...? — Olho para ele na luz do sol da manhã.

— Temos que ir — diz ele com insistência.

Esfrego meus olhos com uma das mãos e tateio meu telefone com
a outra.

— Que horas são?

— Já passa das dez. — Antes que eu possa perguntar, ele


acrescenta — Você dormiu durante o café da manhã. Pedi ao valete de
Roger que colocasse alguns muffins na limusine para você comer,
enquanto dirigimos.

Uau, quase nunca durmo até tão tarde. Acho que ele me cansou
ontem à noite.

Estou prestes a fazer uma piada sobre sua destreza, quando


finalmente dou uma boa olhada nele para perceber que algo está
errado. Dominic está com a barba por fazer e o cabelo desgrenhado.
Seu rosto está tenso, sua testa franzida e os lábios apertados.
— O que está errado? — pergunto. Deve ser ruim se ele está tão
esgotado.

— Houve um incidente. Precisamos voltar para a cidade o mais


rápido possível. Apresse-se e vista-se. Já me despedi de Roger por nós.

Um incidente?

Não tenho ideia do que ele quis dizer, porém sinto que agora não é
hora de fazer mais perguntas. Rolo sobre meus pés, então me visto e
arrumo as malas o mais rápido que posso.

Lá fora, na garagem, a limusine está esperando, com o motor


ligado. Assim que nos sentamos e a porta se fecha, Dominic está ao
telefone antes mesmo que o motorista pise no acelerador.

— Como está Emilia? — Seu tom é baixo e urgente, sua expressão


é grave. Se eu não soubesse melhor, diria que havia medo em seus
olhos.

A voz do outro lado soa como uma mulher, contudo, não consigo
entender as palavras dela.

Tento comer meu muffin sem deixar migalhas por todo o


estofamento, ou deixar claro que estou me esforçando para escutar.
Quando ele disse um incidente, presumi que fosse de natureza
comercial. Isso soa como algo muito mais pessoal.

— O que o médico disse? — ele pergunta.

Ele escuta por vários minutos, durante os quais sua expressão


gradualmente se solta.

— Graças a Deus. — Ele puxa a mão sobre a boca, de repente


parecendo muito mais velho do que seus vinte e seis anos. — Então
você ainda está no hospital?
A mulher diz outra coisa.

— OK. Vou para casa então. Mas, primeiro, você pode me explicar
mais uma coisa? — Uma pausa silenciosa. — Quando ela caiu, onde
diabos você estava?

Eu quase vacilo com o aço em sua voz. Quem quer que esteja do
outro lado, ela está na merda.

Vários minutos se passam com ela falando.

— Eu acho que não poderia ser evitado. — Finalmente, ele suspira.


— Vejo você em... — Ele verifica o relógio. — Uma hora e quarenta e
cinco minutos. — Ele desliga.

Eu sofro para perguntar o que está acontecendo, mas ele está


olhando pela janela com uma expressão taciturna, claramente sem
vontade de ser incomodado. Confusa, dobro o papel do meu muffin em
um quadrado cada vez menor, enquanto tento juntar as peças do que
ouvi.

Quem diabos é Emília? Sei pela minha pesquisa que Dominic tinha
um pai e um irmão mais velho. Sua mãe faleceu quando ele era um
bebê, e nunca ouvi falar de nenhuma outra mulher importante em sua
vida. A queda de Emília deixou Dominic em pânico, então, a menos que
ela despencasse de um prédio ou algo assim, ela provavelmente é muito
jovem ou muito velha. Uma irmãzinha? Uma avó? Uma tia idosa?

Seja ela quem for, a mulher ao telefone chamou imediatamente os


cuidados médicos de Emilia, e parece que ela ficará bem. Fico feliz em
ouvir isso. No entanto ainda estou queimando de curiosidade e espero
que todas as minhas perguntas sejam respondidas quando chegarmos
à casa de Dominic.
15
Dominic

A luz apagada pisca intensamente através das janelas da limusine.


Mantenho o meu olhar nos marcos que passam e nas placas de
trânsito, silenciosamente observando quanto tempo demorará para
chegar em casa. Minha doce Emília.

Fran me ligou para dizer que a menor das minhas gêmeas havia
caído e bateu a cabeça no chão de mármore da cozinha. Ela ligou para
o consultório do pediatra imediatamente. Aparentemente, não é nada
importante. Isso não significa que não perdi a cabeça só de pensar na
minha filha de dois anos de idade tendo um ferimento na cabeça.

Os sons da estrada e o brilho do sol não ajudam nem um pouco a


dor de cabeça latejante pelo estresse. Não percebo que minha perna
está saltando sem parar, até que Presley põe a mão quente no meu
joelho. Ela está sentada ao meu lado o tempo todo, quieta e perto.

Com seu toque, meu joelho se imobiliza, porém não consigo me


forçar a olhar para ela. Não quero que me veja assim. Tenho um palpite
de que, quando ela olhar nos meus olhos, verá através de tudo que
venho tentando proteger, passando pelas paredes vigiadas e entrando
na minha vida pessoal. Estou tentando não entrar em pânico com isso.

Presley terá perguntas. Tive que afastá-la do nosso acordo


abruptamente, pulando o café da manhã e despedidas. Arrastá-la para
a minha vida pessoal era a última coisa que queria fazer, pelo menos
nessas circunstâncias. Agradeço como tem sido compreensiva, apesar
da estranheza da situação, porém ela não precisa fazer parte disso.

No entanto percebo que já estamos, no meu apartamento.

Abro a porta antes de pararmos totalmente, pronto para fazer uma


corrida para a entrada. Presley está se movendo atrás de mim. Antes
dos seus pés tocarem o chão, pego sua mão.

— Não se preocupe, o motorista pode levá-la para casa.

— Está tudo bem? — ela pergunta em voz baixa. A bondade dos


seus olhos me diz que está genuinamente preocupada.

Que faz dois de nós.

— Não sei — admito. Ansioso para entrar, tomo uma decisão


repentina e espero não me arrepender mais tarde. — Vamos.

A porta do carro se fecha atrás de nós e nos movemos rapidamente


em direção ao prédio. Eu uso meu cartão-chave para destrancar a
pesada porta de vidro. Seguro largamente para Presley, que então corre
até o primeiro elevador vazio e pressiona o botão PARA CIMA.

Ela se vira para mim, sua expressão séria e calma. — Qual andar?

— Doze.

O ding normalmente charmoso do elevador passando por cada


andar é irritante hoje, uma vez que sobe terrivelmente lento e as portas
demoram a se abrir. Eu aperto o polegar no botão repetidamente,
tentando forçar o elevador a se mover mais rápido.

Os dedos quentes de Presley encontram os meus. Minha mão


envolve a dela, e não perco o aperto reconfortante que ela me dá.
Quando as portas finalmente se abrem, cerca de dez anos depois, a
arrasto pelo corredor, em seguida, retiro minhas chaves e destranco a
porta em um movimento fluido.

— Fran? — Chamo para o foyer vazio.

— Papai!

Os gritos familiares das minhas garotas precedem seus pés


correndo e, em segundos, estou de joelhos com os braços estendidos.
Elas me maltratam com suas mãozinhas, enterrando o rosto em meus
ombros. Examino a cabeça de Emília, encontrando um grande caroço
rosa em sua testa.

— Baby, o que aconteceu?

— Boo-boo. — Ela choraminga com uma grande carranca, seus


olhos marejando.

Eu a puxo para mim, beijando o topo da sua cabeça. Lacey enreda


os dedos no cabelo da irmã.

— Eu sinto muito — murmuro, enxugando as lágrimas que caem


dos olhos brilhantes de Emília.

— Não chore. — Lacey soluça, um sinal claro de que logo cairá aos
prantos depois da sua irmã.

— Tudo bem, meninas. — Fran contorna a esquina e desce o


corredor. Ela para no meio do caminho quando nos vê, inclinando a
cabeça com uma pergunta óbvia enquanto me encara.

Quem é esta linda jovem que você trouxe para casa com você?

Com certeza não acontece com frequência. Pensando bem, acho


que Fran nunca me viu com uma mulher.
Presley está congelada, suas mãos agarradas à sua frente. Eu
quase rio quando vejo sua expressão – os olhos arregalados e a boca
aberta.

— Olá, mocinha — Fran diz, sua voz calorosa.

— Olá. — Presley dá um sorriso cauteloso.

— Eu sou a babá, Francine.

— Oh, eu sou a… eu sou... — Presley me olha como se dissesse: O


que diabos eu sou para você?

— Ela é uma colega de trabalho. — Eu me levanto e as garotas se


enrolam em minhas pernas.

— Oh, uma colega de trabalho. — Fran levanta as sobrancelhas


para mim.

— Muito prazer em conhecê-la — Presley diz, uma das mãos


estendida. É tão adorável como ela é educada quando está confusa.

— Prazer em conhecê-la. — Fran dá um aperto rápido na mão de


Presley.

Para mim, ela diz com uma piscadela: — Irei embora, então. Muitos
cozinheiros na cozinha.

E assim, Fran está com o casaco e a bolsa gigantesca nas mãos


nos deixando.

Imagino como deve ser a cena da perspectiva de Presley, seu chefe


de 26 anos com um minúsculo humano agarrado a cada perna.

— Presley, conheça as duas mulheres da minha vida.

— Oi — ela diz suavemente, balançando os dedos para as garotas.


Lacey acena de volta, enquanto Emília enterra o rosto mais fundo
na perna da minha calça.

— Estas são minhas filhas, Lacey e Emília.

— Você é pai? — Um pequeno sorriso incrédulo surge no rosto de


Presley.

•••

Dez minutos depois, estou no balcão da cozinha, cortando uvas ao


meio. A única maneira de arrancar as meninas das minhas pernas é
sugerir a hora do lanche. Claro que tinha que ser o favorito delas –
biscoitos de animais e uvas.

Presley está sentada em frente a Lacey e Emília. Ela claramente


tem um monte de perguntas. Porém, em vez de perguntar, fala com as
meninas em voz baixa, contando a história de cada biscoito de animal
que é retirado do saco.

— O macaco é muito bom em escalar. Ele venceu todas as


competições no playground. Girafa está um pouco aborrecida com isso,
já que ela é tão alta quanto a escada mais alta.

Lacey e Emília estão completamente apaixonadas por ela, ouvindo


cada palavra sua.

— Escada? — Emília pergunta em voz baixa.

— Você sabe, como um escorregador? — Presley pergunta, e Emília


concorda. Presley faz pantomimas5 agarrando-se aos degraus de uma
escada, subindo. — As escadas ajudam você a chegar ao escorregador.

5
É um tipo de produção de palco de comédia musical.
Lacey segue o exemplo, como sempre faz.

— Veja, você é um macaco! — Presley diz, e Lacey ri.

Trago duas tigelas com uvas para a mesa, entregando a cada uma
delas. Minhas garotas tentam pegá-las com dedos gananciosos e logo o
suco escorre por seus queixos. Eu uso o canto da minha manga para
limpar a boca de Lacey. Quando olho para cima, Presley está olhando
para mim com um olhar de... fascinação? Admiração? Não tenho
certeza.

Isso é muito estranho.

— Tenho certeza de que você tem que voltar — digo, tentando


recuperar o controle da situação.

— Não realmente — diz Presley com um pequeno encolher de


ombros.

— Não é problema. Pedirei um carro para você. — Pego meu


telefone para fazer a ligação, entretanto minhas duas garotas explodem
em pura indignação.

— Não! Presley, fique! — Elas choram, seus olhos arregalados e


suplicantes.

Porra. Agora terei que lidar com isso a noite toda.

— Presley tem trabalho a fazer — digo, sem saber se isso é mesmo


verdade.

Presley franze a testa, contudo entende a deixa e se levanta da


mesa.

Boa menina.
— Vejo vocês de novo, macacos — diz, colocando uma mecha de
cabelo atrás da orelha de Emília e piscando para Lacey. — Ok?

— Ok — elas murmuram, carrancudas.

Depois de providenciar o carro, acompanho Presley até a porta da


frente. Quando chegamos à porta, ela se vira para mim. Posso ver as
perguntas ansiosas e sensíveis na ponta da língua.

Você é pai?

Por que você mantém isso em segredo?

Onde está a mãe delas?

Qualquer coisa que ela diga fará meu coração apertar


desconfortavelmente, e não quero sentir essa merda agora. Então,
antes que as palavras escapem dos seus lábios, beijo-a.
Ardorosamente.

Apoiando-a contra a parede, deixo a minha boca roubar qualquer


coisa que ela pudesse ter dito que me faria sentir qualquer coisa.
Lambo sua língua e a sinto estremecer contra mim, seus dedos
agarrando a minha camisa. Sua mão desliza pelo meu peito para
descansar contra a minha bochecha com um gesto tão terno que meu
coração aperta dolorosamente.

Eu a solto e, quando me afasto, seus olhos estão vidrados de


emoção. Com expectativa.

Eu nunca deveria tê-la trazido aqui.

Lutando pelo controle, endireito meus ombros. Abro a porta e evito


seu olhar. Presley é um livro aberto que não quero ler neste momento.
— Obrigado pelo seu trabalho neste fim de semana. Pontos extras
por dar um bom boquete.

Ela puxa uma respiração aguda com a minha crueza. Mesmo com
minha visão periférica, posso ver sua expressão atordoada.

Endireito minha postura e mantenho a porta aberta.

— Olha, a noite passada foi divertida, porém não pode acontecer


de novo. Existem regras por um motivo e não as cruzaremos. Na
segunda-feira de manhã, sou seu chefe e você é um dos muitos
estagiários que estão tentando uma posição na Aspen Hotels.

As palavras me deixam apressadas, porém sou grato por parecer


mais composto do que me sinto. Estou chocado pra caralho. E odeio
me sentir abalado.

Presley levanta o queixo, olha para fora da porta e, sem dizer mais
nada, sai.
16
Presley

Na segunda-feira de manhã, fico em frente à minha mesa,


esperando que me jogar no trabalho me distraia.

Passei metade da noite acordada com meus pensamentos à solta.


O tópico? Ninguém menos que meu chefe sexy como o pecado e
igualmente irritante. O que não ajuda muito a minha sanidade.

Entrei em nosso negócio sabendo que era tudo para cortejar um


cliente, porém pensei que tínhamos feito uma conexão real, mais
profunda do que apenas chefe e estagiária.

A risada. O flerte. O beijo.

Porém acontece que nosso relacionamento falso realmente não é


nada além de falso. Como pude ser tão ingênua?

Meus olhos queimam por motivos que não têm nada a ver com a
privação de sono, e a tela do meu computador fica borrada. Pisco
rapidamente para afastar as lágrimas iminentes.

Controle-se, Pres.

Sim, julguei tudo mal e é horrível, entretanto desmaiarei ou ficarei


de pé sobre os meus próprios pés? Preciso esquecer e consertar meus
erros como uma menina grande. E isso começa cortando minhas
perdas, neste minuto.
De agora em diante, me recusarei a ver aquele idiota, exceto
durante o horário comercial no escritório. Na próxima vez que ele vier
valsando para pedir um encontro, lhe direi que o nosso negócio está
cancelado.

Chega de “horas extras” para mim.

Deixe-o descobrir sozinho como mentir para Roger sobre onde


estou. Ganhei parte do dinheiro de que precisava para pagar as contas
de Michael e me preocupo muito comigo mesma para me envolver
emocionalmente com um idiota tão completo.

Bem, para ser justa, ele não é cem por cento um idiota. Ontem à
tarde, parecia um ótimo pai. A maneira como ele se preocupou com
suas filhas foi muito adorável. Observando seus fortes antebraços
enquanto as levantava. Mexendo no lanche e cortando as uvas ao meio.
Foi totalmente desarmante ver um lado tão diferente dele....

Freio essa linha de pensamento.

Droga, pare de sonhar com ele como uma colegial.

Ele já me machucou uma vez – o que mais será necessário para


colocar na minha cabeça que ele é um idiota?

A maneira como ele me agradeceu por aquele boquete me fez sentir


com cerca de 25 centímetros de altura. Como se estivesse comprando
um pacote de chiclete ou algo assim. Quem fala de sexo assim, como
se fosse apenas uma transação?

Mas sexo é uma transação para ele, uma vozinha desagradável


sussurra na minha cabeça. Você esqueceu que ele só trepa com
mulheres pelas quais paga? Ele mesmo disse isso a você. Você estava
cega demais pela paixão para realmente acreditar.
Minhas mãos demoram no teclado.

É isso... que ele sente por mim? Ele vê o que compartilhamos no


sábado à noite como algo que ele comprou?

Balanço a cabeça. Não mais insistindo nisso. Estou aqui para


trabalhar e preciso voltar meu foco para isso. Só tenho que aceitar que
viemos de mundos muito diferentes para serem compatíveis e seguir
em frente... não importa quão certo fosse estar nos seus braços.

Uma batida na parede do meu cubículo, misericordiosamente


interrompe meus pensamentos amargos. Giro a cadeira, esperando
Jordan, apenas para ver o vice-presidente da Aspen.

— B-bom dia, senhor…

— Eu te disse, não há necessidade de ser tão formal. Por favor, me


chame de Oliver.

Ele me dá um sorriso tranquilizador.

E relaxe, eu vim com boas notícias. Só queria passar por aqui e


dizer o excelente trabalho que você fez nessa proposta de orçamento.

Eu pisco, nervosa porque um VP veio me elogiar pessoalmente.

— Oh, obrigada. Jordan ajudou muito também.

Lamento as palavras assim que saem da minha boca. É verdade


que ele trabalhou duro nesta tarefa, porém não posso me dar ao luxo
de minar minhas realizações com modéstia de boa menina.

— Claro, foi um projeto de parceria, entretanto a qualidade da sua


contribuição ficou clara. Você realmente foi além.

Eu não consigo segurar um sorriso.

— Muito obrigada. Isso realmente significa muito para mim.


— É a verdade. Continue com o bom trabalho, ok, Presley? —
Oliver atira um par de armas de dedo em mim e vai embora.

Eu irei.

De agora em diante, serei profissional. Colocarei meu nariz no


moinho, provarei que sou a melhor estagiária aqui e conseguirei esse
emprego. Me erguerei acima de todas as merdas ridículas que
aconteceram e tomarei meu poder de volta de Dominic, não importando
se ele é o queridinho da nossa indústria.

Meu telefone apita. Verifico e quase rio no momento perfeito. É


uma mensagem de Austin, perguntando se posso vê-lo novamente esta
noite. Qual a melhor maneira de tentar esquecer Dominic e seus
“encontros” do que ir a um encontro real com um cara legal de verdade?
Que conceito.

Envio uma mensagem rápida para dizer a ele que estou dentro e,
em seguida, volto para a minha agitação diária.

•••

Meu propósito renovado dura o dia todo. Porém vacila quando


entro no salão do bar e vejo Austin sentado com a testa franzida e uma
carranca grave, balançando a perna e mordendo o lábio.

No instante em que me vê, dá um pulo.

— Presley! É maravilhoso ver você.

— Você também. Está tudo bem? — Eu o abraço com cautela.

— Não... mesmo. Vá em frente e sente-se. Irei buscar bebidas para


nós antes de explicar.

Quando ele retorna do bar com duas cervejas, ele pergunta:


— Você está familiarizada com o Genesis Software?

— Eu conheço o nome — respondo lentamente. — Tudo o que sei


sobre eles é o que ouvi no noticiário no ano passado. Eles causaram
uma grande violação de dados.

— Mais como se fôssemos culpados por isso.

O tom de Austin me surpreende, vindo de um cara que geralmente


é tão descontraído e amigável. Então percebo o que ele deixou escapar.

— Espere, nós? Você trabalha para o Genesis?

— Meu pai é o dono. E quando o Aspen Hotels falou mal de nós


para a imprensa, perdemos quase tudo. O preço das nossas ações
despencou e tivemos de demitir seis mil funcionários.

Meu estômago afunda e meu cérebro luta para acompanhar sua


acusação.

— Você culpa o Aspen por isso?

— Seu CEO – Dominic, não é? Sua opinião oficial é que a violação


na Aspen foi nossa culpa e, desde o momento em que ele disse isso,
tudo está desmoronando.

Isso não leva a lugar nenhum. Trabalho para Aspen e é aí que


reside minha fidelidade. Espero ganhar um lugar na equipe
administrativa. O que significa que eu não deveria estar aqui.

Empurro minha cadeira.

— Eu provavelmente deveria ir.

— Espere! — Os olhos de Austin se arregalam em proporções de


cachorrinho. — Por favor, não vá. Tenho um pedido simples. Apenas
me ouça.
Estou de pé; já deveria estar indo embora. Entretanto, apesar de
tudo, pergunto:

— O que poderia querer de mim? Lamento saber que seu negócio


está indo mal, realmente sinto, porém não tenho nada a ver com isso.
Eu trabalho lá há menos de um mês.

— Eu sei. Eu só... Deus, parece mesquinho quando digo isso em


voz alta, contudo preciso que você insira isso em seu laptop. — Antes
que eu possa recuar, ele pressiona um drive na minha mão.

— O que é isto?

— Um pequeno vírus — diz ele, como se fosse algo completamente


inofensivo.

— Se é tão pequeno, por que quer tanto que eu o libere? O que isso
fará?

— Isso provará a ele que não é o deus que pensa que é. Ele não
está imune; seus sistemas também podem ser corrompidos, e nosso
software não é a merda que afirmava ser.

— E por que diabos eu colocaria em risco a empresa onde estou


tentando começar minha carreira?

— Não se preocupe, ainda terá um emprego. Isso não destruirá o


Aspen, apenas assustar um pouco Dominic. E pagarei o suficiente para
que valha a pena o risco. Você não mencionou que tinha despesas
altas?

— Não há quantia de dinheiro que poderia ...

— Por favor, Presley. Preciso que você faça isso para mim. É a coisa
certa a fazer.
Eu me esquivo da sua tentativa de colocar a mão no meu braço.

— Sinto muito, mas de jeito nenhum.

— Pelo menos pense sobre isso. Leia este dossiê....

Ele pousa uma pasta grossa com o logotipo do Genesis.

— Decida por si mesma se realmente somos os vilões que ele nos


pintou.

Eu não preciso pensar sobre isso. Porém antes que possa jogar sua
merda de volta para ele, Austin já se foi, me deixando sozinha com a
pasta sobre a mesa e o drive queimando na minha mão.

Eu deveria simplesmente jogar os dois no lixo. De jeito nenhum eu


infectaria o computador de Dominic. Ele pode ser um babaca quando
se trata de mulheres, porém ainda é um CEO habilidoso e, mais
importante, os Hotéis Aspen não merecem cair. Pelo menos eu não acho
que merecem ...

Ao mesmo tempo, porém, parece que há muito mais na história do


Gênesis do que fui levada a acreditar. Austin conseguiu despertar a
minha curiosidade.

Após um minuto de hesitação, coloco tudo na minha bolsa para


levar para casa. Assim que tiver uma noite ininterrupta de tempo livre,
vou ler suas informações e depois descartá-las. No mínimo, posso
descobrir a verdade.
17
Dominic

Presley está me evitando. Novamente. Estamos de volta à estaca


zero. Ela fez questão de seguir qualquer caminho no escritório que não
cruze a minha porta. Não a vi por mais de três segundos por vez
durante toda a semana. Ela está apenas trabalhando duro, fico dizendo
a mim mesmo.

“Pontos extras por dar um bom boquete.”

Que porra foi essa? Eu voltei completamente para o garoto da


fraternidade que nunca pretendi ser. Falando nisso…

— Tem um segundo? — Oliver pergunta, enfiando a cabeça pela


minha porta.

Estive olhando para a minha caixa de entrada, incapaz de me


concentrar em qualquer tarefa por tempo suficiente para fazer o
trabalho. Um segundo não doerá. Aceno para ele entrar.

Como sempre, Oliver se sente em casa imediatamente. Em menos


de um minuto, a porta se fecha e o gelo tilinta no fundo de um copo de
uísque fresco. Com um suspiro profundo, Oliver afunda na poltrona
em frente à minha mesa.

De repente, sou atingido por uma sensação de déjà vu. Estávamos


exatamente neste mesmo lugar há apenas duas semanas. Eu ri.
— O quê? — ele pergunta, com as sobrancelhas franzidas.

— Nada. — Suspiro. Que época mais simples.

— Hum. — Oliver me encara por cima da borda do copo.

— O quê? — É minha vez de perguntar.

— O que fez para irritar sua estagiária?

— Do que você está falando?

— Vocês dois foderam?

— Não.

Não tenho certeza se Oliver acredita totalmente em mim, e ele


balança a cabeça em consternação.

— Entretanto contei a ela — acrescento.

— Contou a ela o quê?

— Sobre as minhas meninas.

— Droga.

No início, Oliver pareceu confuso. Então chocado. Então ficou


intrigado.

Me fale sobre isso.

— O que você acha disso? — Quero saber se ele acha que cometi
um erro. Inferno, quero saber se cometi um erro. Há uma razão para
não ter tornado público sobre minhas filhas. Não quero a atenção da
mídia.

— Eu acho que é um grande problema.


— Eu sei. — Me inclino para frente, segurando a cabeça em
minhas mãos. Uma dor de cabeça de tensão está começando a se
formar e meu pescoço está rígido.

— Vamos embora mais cedo.

A mão de Oliver no meu ombro me traz de volta.

Abro a boca para protestar, porém ele tira as chaves do carro da


mesa rápido demais. Incapaz de evitar, abro um sorriso.

Eu não mereço sua amizade, porém tenho certeza de que preciso


disso.

•••

— Adivinha quem está aqui?

Minhas garotas me encaram com olhos grandes, praticamente


saltando de excitação. Bem atrás de mim, no corredor, o tio Oliver
espera, seu convidado surpresa favorito.

— Quem? Quem?

Fran balança a cabeça e ri da empolgação delas.

— Não aquela jovem, suponho — ela diz com um sorriso irônico.

Eu dou a ela um olhar para dizer não tenha muitas esperanças.

— Digam boa noite à Franny primeiro. Então eu direi.

— Noite! — Elas gritam, impacientes.

A doce mulher beija cada uma na bochecha – e um extra no


hematoma de Emília.

Quando Oliver entra, as garotas gritam de empolgação.

— Tio Oliver! Pra cima! Pra cima! — Lacey grita.


Ele a levanta como se ela fosse um saco de farinha e a coloca em
seus ombros. Emília pega a mão dele, sua pequenina completamente
engolfada pela dele, muito maior.

— Olha — ela diz, apontando para a testa.

— Oh meu! O que é isso?

— Um hematoma.

— De quê?

— Eu caí.

— Ah não. — Oliver se ajoelha, Lacey ainda empoleirada em seus


ombros. — Sabe, eu também tenho hematomas.

— Por quê?

— Bem, quando a tia Jess fica com raiva de mim…

— Ok — digo rapidamente, puxando Emília para cima, para os


meus ombros.

Lanço um olhar para ele e ele sorri para mim.

Que idiota do caralho.

Esta noite, não há regras. Comemos nosso jantar vegetariano


assado no estilo piquenique no chão da cozinha com o tio Oliver, que
mal dá às meninas a chance de comerem suas cenouras entre as
cócegas.

— Prometam que vocês nunca, nunca, nunca gostarão de um


menino — Oliver diz, o dedo mindinho estendido. Ambas estendem a
mão e seguram o dedo dele com as mãozinhas.

— Você é um menino — diz Emília, sempre racional.


— Só eu, então.

— E papai — diz Lacey, pegando minha mão.

Eu largo o meu garfo e beijo seus dedinhos antes de fingir que


estou engolindo.

— Viva isso — eu digo, levantando minha cerveja para a de Oliver.

— Saúde! — ele diz. — Levantem o copo!

As meninas levantam seus copinhos com canudinho e riem.

Oliver faz sucesso com as crianças, sempre fez, sempre será assim.

Eu me pergunto como seria a vida se... bem, se eu fosse o tio


Dominic em vez de papai. Entrar na casa de outra pessoa,
simplesmente para causar estragos controlados até a hora de dormir,
e então voltar para a minha própria vida de solteiro. Escolhas
desimpedidas por…

Não.

Não é isso que eu quero. Essas meninas são a minha vida agora.
Eu não aceitaria de outra maneira.

Por algum motivo, a imagem de Presley vem à minha mente.


Lembro exatamente como ela parecia, sentada em frente às minhas
filhas na mesa da cozinha.

Seu sorriso caloroso e seus olhos cheios de admiração enquanto


ela sussurrava com elas. Seu cabelo macio caía em ondas bagunçadas
sobre os ombros. Ela estava desgrenhada com a partida abrupta
naquela manhã, porém não se importou nem um pouco. Estava lá,
naquele momento, dando a Emília e Lacey sua atenção total.

E então, estraguei tudo.


Como um idiota total.

Eu me levanto do chão da cozinha com um alongamento, pratos


na mão. Oliver mantém as garotas atentas a cada palavra sua,
principalmente a parte em que ele concorda em ir ao chá, que está
agendado para agora. É fácil pegar meu celular e enviar uma
mensagem rápida. O que provavelmente é uma má ideia, porém isso
não me impede.

Eu não consigo parar de pensar em você.

Sim. Definitivamente, uma má ideia. Minutos se passam antes que


meu telefone toque.

Eu, ou minha boca?

Eu me surpreendo ao rir. Merda. Eu mereço isso.

Você.

Sem resposta.

Eu disse alguma merda estúpida. Faço isso quando estou com medo.

O que estou mesmo dizendo? Como posso articular isso? Como é


que eu…

Eu te assusto? Posso ligar?

Certo.

Deixe-me aprontar as meninas primeiro.

OK.

— Tudo bem, meninas, que horas são?

Com a louça na pia, volto para a festa do chá no chão.

— Não! — Lacey choraminga, sabendo exatamente que horas são.


— Hora do banho. — Emília se levanta e obedientemente dá o
beijinho mais charmoso na bochecha de Oliver.

— Uau, muito obrigado — diz ele com uma risada. — Vejo vocês
em breve, ok? Continuaremos esta festa do chá. Metade dos convidados
ainda nem chegou.

— Ok. — Lacey faz beicinho, claramente insatisfeita com isso,


porém sendo uma boa garota.

Nós três acompanhamos o tio Oliver até a porta. Quando ele sai,
levo as meninas para a banheira do banheiro principal para um dos
seus rituais favoritos – a hora do banho. Há um mínimo de respingos
esta noite; Oliver as manteve felizes e cansadas. Quando estão de
pijama de futebol e aconchegadas em suas camas, eu só tenho que ler
algumas páginas de Goodnight Moon para elas embarcarem em seus
sonhos.

Eu te devo uma, Oliver.

Eu me esgueiro para o meu quarto, celular na mão. Estou ansioso


para ligar para Presley e me explicar, entretanto me ocorre que não sei
o que direi. Sento-me na beira da cama, olhando para os nossos textos.

Foda-se.

O telefone toca três vezes antes que ela atenda.

— Olá? — Sua voz é tão suave quanto o primeiro gole de uísque


gelado.

— Ei. — Eu engulo.

— Oi — diz ela com cautela.


— O que você está fazendo? — A conversa fiada não faria mal.
Talvez eu encontre meu rumo em algum lugar da conversa.

— Oh, apenas cartas.

— Tarô? — Estou tão fascinado por esse hobby dela.

— Sim.

— O que está escrito? — Esperançosamente, nada sobre deixar


idiotas insensíveis no passado.

— Não sei ainda.

Eu posso ouvir seu sorriso pelo telefone. Bom. Ela ainda pode
sorrir ao falar comigo. Talvez nem toda esperança esteja perdida.

— Eu interrompi?

— Tudo bem. Não há limite de tempo.

— Para que eu possa falar com você a noite toda, é isso que você
está dizendo?

Ela ri. O som inunda minha cabeça, erradicando quaisquer


resquícios da tensão que agarra minhas têmporas há dias.

— Bem, isso depende — ela diz, seu tom é cuidadoso.

— De quê?

— Rumores dizem que um pedido de desculpas está chegando.

Eu sorrio com a sua ousadia.

Presley é certamente diferente de qualquer outra jovem que


conheci. Ela me pega desprevenido e me desafia. Não se importa que
eu seja um CEO poderoso e rico e que ela seja apenas uma estagiária.
Empurra meus limites a cada chance que tem. É revigorante.
— Sim. Você tem razão. Novamente. Eu sinto muito. Agi como um
idiota. Não deveria ter deixado as coisas assim. — As palavras são
verdadeiras, ditas com a confiança de alguém que sabe que estragou
tudo e merece o que quer que esteja por vir. — Espero que você possa
me perdoar.

A linha fica muda por um momento. Fecho os olhos, imaginando


qual poderia ser a sua expressão. Me pergunto se ela está carrancuda,
se há uma ruga em sua testa enquanto avalia as minhas palavras.

— Desculpas aceitas.

— Obrigada. Posso te levar para jantar? — Eu sorrio.

— Hum — ela gagueja. — Para quê? Roger de novo?

— Não, apenas jantar.

— Só jantar?

Posso praticamente vê-la estreitando os olhos em descrença.


Estaria me preparando para a rejeição se não estivesse tão encantado
com ela.

— Só jantar. Só nós dois — digo.

Ela está quieta. Me pergunto se está olhando para as cartas.

— Eu poderia jantar.

E com essas palavras, o universo está do meu lado pela primeira


vez em muito tempo.

— Amanhã à noite, depois do trabalho — digo a ela.

— É um encontro — sussurra Presley.


18
Presley

— Acho que eu precisava disso.

Dominic enfia uma colher no prato oval de crème brûlée de


lavanda.

— A sobremesa? É incrível — respondo com um sorriso, antes de


colocar outro pedaço na minha boca.

— Não, uma noite de folga com você — ele diz, parecendo muito
sério

Uma onda de prazer vertiginoso me atinge. O CEO hiper


disciplinado que sempre joga suas cartas na manga, não só gosta de
mim, como se abre sobre isso. Embora ele também tenda a ser ousado
e direto, talvez não devesse ficar tão surpresa.

Ainda assim, a admissão me pega desprevenida, deixando-me


quase tímida. Nas nuvens, mas um pouco tímida mesmo assim. Este
homem está tão fora do meu alcance e é sexy como qualquer outra
pessoa. É um pouco desorientador. Eu não deveria me sentir tão fraca.
Não deveria sofrer pelos seus sorrisos tortos conquistados a duras
penas, no entanto sofro.

Esta noite nos banqueteamos com peixe assado, bebemos muitas


taças de um incrível vinho francês e desfrutamos de conversas casuais
e risos. E a melhor parte é saber que não estamos dando show para
ninguém. Agora sei com certeza que Dominic realmente se preocupa
comigo, e não está apenas fingindo para manter as aparências com
Roger ou entrar em minhas calças. Embora definitivamente o queira
nas minhas calças também.

— Esta noite foi muito divertida — comento sorrindo. Não tinha


percebido até agora o quanto senti falta de conversar com Dominic tão
casualmente. — Significa muito ouvir que você sentiu minha falta
também.

— Não estragarei isso de novo — ele diz solenemente.

Pega a minha mão, esfregando o polegar nos meus dedos, e embora


o toque seja afetuoso em vez de sexual, ainda faz meu estômago dar
uma cambalhota.

Em seguida, acrescenta: — Não quer dizer que a sobremesa não


seja deliciosa

— Mmm... concordo. — Arranco a última mordida decadente e


solto um suspiro de deleite misto e desapontamento por ter acabado.
— Isso pode ter sido a melhor coisa que já provei.

— Entretanto ainda estou com fome.

De repente, o olhar de Dominic fica latente, e sou pega bem no


meio do fogo.

— Eu quero te levar para casa — ele sussurra, sua voz sombria.

— Deus, eu quero isso também. Muito — respondo ansiosa.

— Mas... — Sua expressão de lobo fica séria por um momento. —


Primeiro devemos ter certeza de que estamos na mesma página.

— Sobre o quê?
— Sobre o que é isso, Presley. Tudo o que eu disse antes ainda se
aplica. Não tenho tempo para relacionamentos, nem mesmo o conjunto
de habilidades para ter um relacionamento, para ser honesto. Não
importa quão incrível você seja como mulher, não estou procurando
por nada sério. Contudo, gosto dessa coisa entre nós. Acha que pode
ficar casual?

Eu o observo em fascinação silenciosa, ainda tentando entender


este homem complicado sentado diante de mim.

O homem que dirige um império de um bilhão de dólares, que cria


sozinho duas lindas crianças e que gosta de pagar por sexo...

— Oh, Deus, você já tem uma tatuagem com meu nome na sua
bunda, não é? — Em seguida, o canto da sua boca se curva.

— Sem tatuagens. Eu prometo — zombo, então balanço minha


cabeça.

— Então o que você diria?

Considero seu convite por um minuto. Nunca fiz nada assim antes
– não apenas sexo, mas qualquer coisa imprudente e “apenas para me
divertir".

Como seria jogar a precaução ao vento e pegar algo que quero só


porque quero? Tirar férias da minha personalidade de boa menina?

Eu sempre faço isso, não é? Sempre analiso todas as decisões.

Mas eu já sei o que quero. Cada célula do meu corpo se estende


em direção a Dominic, o calor do meu desejo se acumulando na minha
barriga. Então, por que estou questionando isso?

Pela primeira vez na minha vida, quero tentar fazer algo diferente.
Ser alguém diferente.
Nunca estive tão confusa.

Isso se perdeu.

É desorientador, porém estaria mentindo se dissesse que não amo


isso.

Os dedos de Dominic traçam levemente sobre o meu pulso, onde


ele bate em um ritmo instável.

— Acho que estou bem em ser casual — declaro. E é a verdade.


Acho que posso. Pelo menos por um tempo. Por que não ir levando e
ver aonde isso vai?

— A conta, por favor. — Os olhos de Dominic brilham de desejo.


Ele acena para um garçom.

•••

Ele me leva rápido e silenciosamente para o seu apartamento


luxuoso através dos corredores escuros, direto para o seu quarto.

— Espere aqui — ele sussurra com um beijo suave pressionado


contra os meus lábios.

Eu ouço vozes e presumo que ele está deixando Francine ir


embora. Coloco minha bolsa no chão e respiro fundo.

Momentos depois, Dominic está de volta e há uma expressão


faminta, quase predatória em seus olhos. Ele fecha a porta e a tranca
antes de acender uma pequena luminária de cabeceira, dando ao
quarto um brilho suave e romântico. Então, sem aviso, me puxa contra
ele, sua boca faminta encontrando a minha. Seu beijo é exatamente
como eu pensei que seria, consumindo, urgente e um pouco
desesperado. Ele imita as minhas emoções exatas neste momento. Sua
protuberância pressiona meu quadril como uma barra de aço e meu
corpo dói em resposta.

Caímos na cama, devorando a boca um do outro. Nossas mãos


estão por toda parte – agarrando, acariciando, rasgando roupas. Não
consigo tirar suas calças rápido o suficiente. Meu vestido cai no chão,
deixando-me nua.

Com um rosnado rouco de prazer, ele me guia para me deitar na


cama para que eu seja exibida diante dele, pronta para ser tomada. De
repente, percebo que merda, isso está realmente acontecendo. Dominic
Aspen, meu chefe, o homem que está me deixando louca pelo que
parece uma eternidade, está deitado, nu, em cima de mim.

Ele me foderá. Estou prestes a perder a minha virgindade.

Uma excitação explode em meu estômago, e nervosismo junto com


ela. Meu cérebro tateia por algo inteligente para dizer, porém não dá
certo.

— E... ei, garotão... é uma ereção e tanto — Deixo escapar e


imediatamente me arrependo.

O que diabos há de errado comigo?

Porém ele não ri de mim ou olha como se eu tivesse duas cabeças.

Apenas ronrona: — É tudo para você. Gosta disso?

— Demais. — Eu rio, me sentindo um pouco menos tensa. O


suficiente para que enlouqueça e comece a falar bobagens,
evidentemente. — Quem diria?

— Eu.
Seus lábios roçam minha orelha e sua risada quente envia arrepios
pelo meu pescoço

— Vamos lá, você não poderia saber o tempo todo.

Ou eu era realmente tão óbvia sobre isso? Será que passei todos
os dias no trabalho com um letreiro néon FODA-ME, DOMINIC
piscando na minha testa?

— Tive um palpite educado.

Bastardo presunçoso.

Então, outra coisa sobre o trabalho me ocorre.

— Uh, eu deveria ter tocado nisso antes, porém qual é a política


da empresa sobre confraternização?

— Estamos nus na cama e você quer discutir isso agora? — Ele


pisca para mim e depois começa a rir.

— Eu sei, eu sei... — Também rio da imagem ridícula que devo


fazer e dos meus próprios hábitos puritanos.

— Não se preocupe com isso. Posso ser seu amante aqui,


entretanto no escritório, sou seu chefe. Posso compartimentar.

Ele me beija.

— Eu valorizo você pelo seu trabalho, e nada do que acontecer aqui


afetará isso.

Então ele está chupando e lambendo meu mamilo, seus dedos


tocando levemente entre minhas pernas, e não posso mais pensar, só
posso gemer e me contorcer por ele. No entanto não posso fazer com
que ele vá mais rápido, ele apenas continua me provocando no seu
próprio ritmo. Cada vez que levanto meus quadris contra o seu toque,
ele apenas me observa com uma fascinação curiosa.

— Q... quanto tempo... você me manter... — Soltei um bufo


impaciente.

— Tenho que me certificar de que você esteja pronta — ele


responde com uma calma irritante

— Eu estou. Pronta. — Suspiro.

— Hum. Cabe a mim decidir. — Ele sorri para mim.

Um dedo grosso desliza em mim, me fazendo gemer de prazer. Em


seguida, seu polegar percorre minha carne escorregadia e inchada, e
não posso deixar de balançar meus quadris contra a sua mão. O
movimento é lento e provocador.

— Ainda está tudo bem? — Enquanto continua acariciando, enfia


outro dedo dentro.

Com este, posso sentir que estou esticando, porém não há dor,
apenas a fome de mais.

— Sim, por favor…

— Seja paciente, baby.

Um terceiro dedo penetra em mim. Agora é realmente um ajuste


apertado; há um pequeno zumbido de dor junto com a plenitude
satisfatória. Mesmo assim, eu balanço em seus dedos, ansiosa para
chegar ao evento principal.

Os dedos deslizam para fora e sufoco um ruído de decepção.

Ele pega um preservativo da sua mesa de cabeceira e rola em seu


eixo tenso. Então ele me preenche com cuidado, seu pau
maravilhosamente maior e mais quente do que seus dedos enquanto
lentamente empurra para dentro.

Um gemido de alívio me escapa, e levanto meus quadris para


encontrá-lo. Dói um pouco, porém muito mais forte é o prazer de
finalmente ter Dominic dentro de mim. É diferente do que imaginei que
seria. Melhor de todas as formas possíveis.

Dominic olha para mim com as pálpebras pesadas cheias do seu


desejo por mim, e faz um som baixo que retumba no seu peito. Ele
envolve minhas pernas em volta da parte inferior das suas costas e se
inclina para me beijar, empurrando-se ainda mais fundo, torcendo um
miado da minha garganta.

Nunca me senti tão felizmente completa. E o prazer se intensifica


mil vezes quando ele se afasta ligeiramente, então empurra de volta.
Estabelece um ritmo constante, cada impulso roubando meu fôlego.

— V... você pode ir mais fundo. — Minha voz sai parecendo


estranha, atordoada e faminta.

— Eu sei que posso. — Sua voz é áspera e quente em meu ouvido.


— Se quer algo, tem que pedir, estagiária.

— Foda-me mais forte, então. Mostre-me como você gosta.

Nunca recuando, eu aperto minhas panturrilhas em torno dele.

Com uma expiração, ele bombeia seus quadris mais rápido e eu


grito, agarrando seus ombros, minhas pernas lutando para prendê-lo
mais perto.

Puta merda, isso é sexo? Essa série de explosões alucinantes que


irradia do meu núcleo é o que tenho perdido por todos esses anos?
É melhor do que eu jamais poderia imaginar. É quente, intenso e
úmido, e meu cérebro corre em dezesseis direções diferentes.

— Você é incrível — Dominic sussurra, sua voz saindo mais


profunda. Seu olhar possessivo e ardente enquanto se move acima de
mim é quase tão opressor quanto a sensação. — É tão bom finalmente
enterrar meu pau dentro de você. Eu não posso mentir... quis você o
tempo todo.

— Eu... também ...

De repente, percebo que vou gozar. Abro a boca para dizer a ele,
falar alguma coisa, por que as pessoas não fazem isso? Porém é muito
tarde. Já estou choramingando e tremendo, meu corpo apertando em
torno dele em onda após onda de êxtase pulsante.

Quando abro os olhos, ainda tentando recuperar o fôlego, ele está


olhando para mim como se estivesse muito satisfeito com alguma coisa.

— Essa foi uma das coisas mais excitantes que já vi. — Seus
dentes tocam seu lábio inferior. — Porra, eu te quero tanto.

— Então me tenha — digo, ofegante.

Ele me beija com força, gemendo na minha boca e, oh Deus, posso


sentir seu comprimento latejando dentro de mim enquanto ele me
segue até o limite.

Por um minuto, nós apenas ficamos ali como uma pilha úmida e
emaranhada. Não sei sobre ele, entretanto estou exausta e ainda
bêbada de sexo.

— Nós provavelmente deveríamos nos limpar — ele murmura


escovando um beijo gentil nos meus lábios
Não quero deixar esse brilho, porém tenho certeza de que ele está
certo. Depois de uma rápida visita ao banheiro, estou de volta aos seus
braços, enrolada com minha cabeça no seu peito, saciada e muito feliz.

Percebo então que não sou mais virgem, porém não me sinto nem
um pouco em conflito com isso.

Sem incerteza, sem confusão, sem necessidade ou mesmo desejo


de consultar as cartas. Pela primeira vez, meu eu interior ressoa com
clareza cristalina. Isso parece certo. Aqui na cama de Dominic é
exatamente onde quero estar.

Ficamos deitados juntos em um silêncio confortável por um tempo,


antes de Dominic finalmente levantar a cabeça do travesseiro para
olhar o relógio.

— Eu darei uma olhada nas meninas. Você precisa de alguma


coisa?

Eu bocejo uma vez e pressiono o nariz no seu pescoço, apreciando


a sensação da sua barba por fazer contra a minha bochecha.

— Um copo de água por favor.

— É claro.

Ele pressiona um beijo suave na minha têmpora.

— Já trago.

Eu vejo meu chefe tão sexy e tão complicado se levantar e puxar


uma calça de moletom. Claro que sua calça de moletom parece ser feita
de cashmere, o que me faz sorrir. Como se pudesse esquecer por um
único segundo quão sofisticado e rico ele é.
Ele olha para mim com carinho mais uma vez, antes de sair para
verificar suas filhas dormindo.
19
Dominic

A curva suave das costas de Presley sobe e desce com sua


respiração suave. Não tenho certeza de quando ela adormeceu porque
eu estava muito ocupado observando a maneira como o luar refletia em
sua pele cremosa, deleitando-me com a calma prazerosa vibrando por
mim.

O que acontecerá, Dom? Você realmente a deixará passar a noite?

Isso não pode acontecer. Não quero ter que explicar sua presença
para Fran pela manhã, ou lidar com a possibilidade de acordar uma
das garotas, enquanto levo Presley para fora. Tentar fazer uma criança
dormir de novo a essa hora da noite não é minha ideia de diversão pós-
coito.

Presley se mexe sob o meu lençol, seu cabelo grosso espalhado nos
meus travesseiros. Ela fuça no material sedoso. Ocorre-me que ela
provavelmente não tem dinheiro para as coisas frívolas que considero
naturais, como lençóis de algodão egípcio de oitocentos fios.

Não quero acordá-la, decido. Deixo-a dormir um pouco mais.

Rolo para fora da cama e coloco o mesmo par de calças de


cashmere de antes. Enquanto aperto o cordão, imagino Presley
puxando-o para fora mais tarde. A maneira como seus olhos ficam
quando ela...
Controle-se, cara.

Eu me acomodo na cadeira ao lado da cama. Abro meu laptop, o


brilho suave da tela é a única luz, exceto a lua.

A bolsa estilo mensageiro de Presley está ao lado da minha cadeira,


perto dos meus pés. Seu laptop está naquela bolsa, o sinal de um
funcionário que está disposto a largar tudo a qualquer momento para
fazer o trabalho.

Ela é tão dedicada, com uma ética de trabalho que rivaliza com a
minha. E parece que tem muito trabalho a fazer. Há uma pasta saindo
da sua bolsa, provavelmente solta em nossa ânsia de chegar à porra da
parte da noite.

Eu fico olhando para ela, pensando. Não dei uma tarefa a ela
recentemente. Em uma extremidade da pasta está rabiscado um nome.

Genesis... a empresa de software que tentou me arruinar.

Estendo a mão, pegando a pasta a abro. Meu estômago revira com


o que vejo.

— O que você está fazendo? — Presley se senta na cama, os lençóis


caindo em volta da cintura, os seios nus na luz fraca do quarto. Seus
olhos estão pesados de sono e suas bochechas rosadas de calor.

— O que é isto? — Enquanto isso, sinto que engoli um pedaço de


carvão.

Presley aperta os olhos para a pasta como se estivesse tentando se


lembrar. O reconhecimento voa sobre suas feições, depois o medo.

— Isso não é o que você pensa.

— O que eu penso?
— Não é minha pasta.

— Então por que você tem isso?

— Um cara me deu. — Ela se endireita, seus olhos alertas agora.

— Um cara. — Minha frequência cardíaca está acelerada agora, e


a raiva ferve em minhas veias.

— Alguém que conheci — diz ela. — Eu só o vi três vezes.

— Você está fodendo com ele também?

Presley se enrijece com minhas palavras, porém a adrenalina


correndo em minhas veias é demais para ignorar.

— É isso que você faz? Transar com quem acha que ajudará na
sua carreira?

Eu mantenho meu tom calmo e frio, e ela me olha com olhos


enormes e preocupados.

Já estive nesta posição antes. Normalmente, porém, não entendo


a mentira enquanto a cama ainda está quente. Entretanto Presley é
jovem e obviamente desleixada na manobra. Muitas mulheres
quiseram me levar para a cama por motivos diferentes, embora o
dinheiro geralmente esteja no topo da lista.

A sabotagem corporativa é nova.

E de Presley, de todas as pessoas?

Porra.

Meu coração bate dolorosamente dentro do meu peito. Eu a deixei


entrar no meu mundo. Inferno, não apenas a deixei entrar, fui eu que
a convidei, que insisti. Ela conheceu minhas filhas. Adormeceu na
minha cama.
A náusea sobe pela minha garganta. Todas as besteiras de
segurança cibernética com as quais lidamos no ano passado me
envelheceram uma década e me custaram milhões. Não posso passar
por isso de novo.

— Eu não o ajudaria.

Ela se inclina para frente na cama, segurando os lençóis à sua


frente.

Esse rosto é sério e honesto – ou pode ser uma máscara.

Presley me surpreendeu mais de uma vez com sua capacidade de


adaptar sua personalidade, dependendo de com quem ela está.

Por que achei que seria diferente comigo?

— Por favor, Dom. Você tem que acreditar em mim.

Eu quero.

Realmente quero.

Pego minhas calças do chão e pego minha carteira. Com o peito


apertado, retiro todo o conteúdo – provavelmente cerca de mil e
duzentos dólares. Segurando as notas entre dois dedos, ofereço o
dinheiro a Presley, a centímetros do seu rosto.

— Aqui.

— O que é isso?

— Pela foda de hoje à noite. — Meu tom é frio, sem nenhuma


empatia.

Confusão e dor passam por aqueles olhos azuis cristalinos


enquanto jogo a pilha de dinheiro na cama.

— Dom… Dom.
Presley pula de pé, arrastando as roupas sobre os membros em
uma luta para se vestir.

Eu me viro em direção à porta para não ter que ver a dor em seus
olhos.

— É como ouviu, certo? Os rumores sobre mim... que não saio a


menos que o dinheiro mude de mãos. Aí está. Pegue seu dinheiro.

— Dom, por favor. Não estou mentindo. Nunca quis te machucar.


Dominic, por favor… você tem que acreditar em mim!

Ela ainda está tentando se explicar quando abro a porta para o


corredor.

— Você tem que me ouvir!

Eu me viro e a olho diretamente nos olhos, meu tom calmo, quase


calculista.

— Você acordará as meninas.

Os olhos de Presley se enchem de lágrimas, e ela acena com a


cabeça – um aceno firme e profissional. Essa conversa acabou. Esta
reunião está encerrada. Ela se volta para o quarto, silenciosamente
pega suas coisas, incluindo o dinheiro, eu noto, e me segue para fora.

Não fazemos nenhum som, nossos pés silenciosos no piso de


madeira. Quando atravessamos o corredor que leva à porta da frente,
Presley pega minha mão, me forçando a olhar para ela. Seus olhos
estão selvagens de emoção, porém sua mandíbula está firme.

— Você tem que acreditar em mim.

— Eu não tenho que fazer nada. Entretanto recomendo que saia


da minha propriedade antes que eu chame a polícia para remover você.
— Dom... — Seus olhos estão brilhantes, alertas e fixos nos meus.

— Eu paguei pelo seu tempo. Agora vá.

Meu coração aperta dolorosamente novamente.

A porta da frente clica atrás de Presley e de repente estou sozinho.


Exatamente como deveria ser.
20
Presley

Passei o resto da noite me revirando no sofá de Bianca, uma dor


latejando no meu peito sempre que imagino a traição expressa nas
feições esculpidas de Dominic.

Só não entendo como tudo desmoronou tão rápido.

Algumas horas atrás, estava em um encontro com Dominic – um


encontro de verdade. Perdi minha virgindade. Estava me apaixonando
perdidamente e rapidamente pelo homem mais difícil, mais bonito e
mais brilhante que já conheci, e agora... Agora não só fui dispensada,
nem sei se ainda tenho um trabalho para ir na segunda-feira.

A dor no meu peito lateja novamente.

Meu futuro parecia tão promissor, e então tudo virou fumaça.

Sufoco outro soluço. O que diabos eu farei?

Além disso, tem o fato não tão pequeno de que ainda preciso de
dinheiro, independente do que aconteça com meu estágio.

Meu peito está tão apertado que sinto que poderia quebrar em um
milhão de pedaços a qualquer momento.

Só estou grata por Bianca não estar em casa para testemunhar


minha festa de piedade. Ela saiu para um encontro e me disse para não
esperar por ela esta noite, o que é o melhor.
Não acho que ela me apoiaria muito, sabendo que dormi com o
meu chefe, e ela provavelmente caçaria Austin e o estrangularia pelo
que fez. Embora, agora, essa seja uma ideia que eu poderia apoiar.

Não posso acreditar que confiei em Austin – achei que ele


realmente gostava de mim. Pensei que queria me conhecer como
pessoa, e o tempo todo estava me usando pela minha conexão com
Dominic.

Normalmente não sou tão crédula.

Sinto-me um completo e total fracasso. Em todos os níveis.

Respiro fundo, estremecendo, e decido que a única coisa que me


fará sentir melhor é conversar com meu irmão. Disco o número dele e
ele atende no primeiro toque.

— Oi, mana. — Sua voz sai tensa, em um sussurro apressado.

— Oi. É... este é um momento ruim?

— Estou em uma festa com algumas pessoas da classe. Tudo bem?

— Claro — eu minto. — Só queria falar com você, entretanto não


tem problema. — Minha garganta está apertada e mal consigo
pronunciar as palavras.

— Eu te ligo amanhã — ele diz sobre o barulho de vozes ao fundo.


— O pagamento do meu segundo mandato será em dez dias. Queria ter
certeza de que você sabia.

— Estarei com o dinheiro. — Meu estômago embrulha.

— Ok. Tenho que ir. Amo você.

Com isso, Michael encerra a ligação e eu fico sozinha mais uma


vez, me sentindo ainda pior do que antes, se é que isso é possível.
O único lado positivo de tudo isso é que é fim de semana e tenho
os próximos dois dias para decidir o meu próximo movimento. A ideia
de não ir para Aspen na segunda-feira de manhã me deixa fisicamente
doente.

Não é típico arriscar toda a minha carreira por uma aventura com
um homem mais velho taciturno. Não tenho ideia do que deu em mim.

Na verdade, eu sei. Dominic Aspen é um homem muito difícil de


ignorar. As coisas que ele me fez sentir... a maneira como ele iluminou
meu corpo inteiro, me desafiou, me orientou... Ele nunca me tratou
como estagiária, e acho que foi disso que eu mais gostei.

Talvez ele estivesse apenas fazendo o que fazia de melhor – me


conquistando simplesmente porque servia aos seus propósitos. Me
pagando pelo meu tempo porque ele sabia que eu não recusaria. Assim
como ele pagou por todos os outros encontros.

E com isso, uma ideia surge na minha cabeça.

Dominic uma vez mencionou a agência de acompanhantes que ele


usa para encontros. Qual era o nome – Ambrosia? Não, chamava de
Allure. Ele fazia a escolta parecer segura e lucrativa. E já tenho um
pouco de experiência em ser paga pela minha companhia... então é
isso.

Antes que possa me convencer do contrário, abro meu laptop para


pesquisar o Allure. O site deles é profissional e de muito bom gosto –
sem nudez, embora haja uma abundância de fotos de mulheres
incrivelmente lindas em lingerie, em poses sedutoras. Isso alivia a
minha paranoia apenas ligeiramente. Porém se o Allure estivesse
infringindo a lei, não seriam capazes de ter um site tão fácil de
encontrar sem a polícia caindo sobre eles, certo?
Ainda assim, meu intestino se contorce de ansiedade. A ideia de
ficar sozinha com um estranho que pagou pelo meu tempo, que
provavelmente tem expectativas não expressas, que talvez até tenha
mentido para a agência sobre o que queria... eu seria capaz de desistir?
E mesmo que não houvesse perigo imediato, e se alguém descobrisse
essa pequena aventura? Quão seguro estaria o meu segredo? Como
isso afetaria minha capacidade de encontrar outro emprego e colocar
minha carreira de volta nos trilhos?

Terríveis como os “se” passam desenfreados em minha mente. No


entanto também não posso esquecer que faltam apenas alguns meses
até o início do próximo semestre de Michael, e ele precisará de ainda
mais dinheiro.

Pego meu baralho de tarô, hesito e coloco-o de volta na mesa.


Estou desesperada por alguma dica para me ajudar a sair dessa
bagunça. Porém sei que consultar as cartas apenas iluminará minha
própria intuição... e, no fundo, já tenho a sensação de que a Allure não
é o caminho certo para mim.

O que mais posso fazer?

Arruinei tudo, destruí a confiança de Dominic em mim, e


certamente estou desempregada agora. Preciso ser capaz de continuar
me alimentando e colocando Michael na escola. Preciso de uma
maneira de ganhar dinheiro até encontrar outro emprego, e esta é a
opção mais fácil que descobri até agora. Ou, pelo menos, a mais rápida.

Talvez não seja tão ruim quanto estou imaginando. Talvez consiga
um show onde tudo o que tenho que fazer é ser um braço doce, como
fiz com Dominic? Uma cortesã. É uma profissão tão antiga quanto o
tempo.
Não quero mais pensar em Dominic. Preciso agir, sentir que sou a
única no controle novamente. No canto superior direito do site, clico
em um botão que diz APLICAR. Sempre posso mudar de ideia mais
tarde, se não parecer certo.

Respirando fundo, começo a preencher o formulário online. Só não


sei se devo orar pela aceitação ou rejeição do misterioso Allure.

•••

Na manhã seguinte, dobro meus cobertores e depois me sento


no sofá com uma xícara de café e meu laptop. Um e-mail do Allure
apareceu na minha caixa de entrada durante a noite. Minha frequência
cardíaca salta um pouco só de olhar. Hesito e clico para abri-lo.

A mensagem é curta:

Cara Presley,

Eu gostaria de me encontrar para uma breve entrevista. Esta manhã às


dez estaria bom para você?

Obrigada,

Gia

Abaixo está uma assinatura automática listando seu título como


PROPRIETÁRIA.

Verifico a hora e suprimo uma maldição alta. Graças a Deus,


naturalmente acordo cedo. Só tenho uma hora para me preparar e fazer
uma entrevista na cidade.

Acabei de clicar em responder para avisar Gia que estarei lá


quando a porta da frente se abre. Eu me assusto e giro como se tivesse
sido pega fazendo algo ilegal – o que não está longe da verdade.
Jesus, acalme-se, é apenas a Bianca. Você sabe, a pessoa que
realmente mora aqui?

— Cara, estou tão feliz em ver você. — Bianca suspira enquanto


tira o casaco e o pendura. — Você tem trabalhado muito ultimamente.
Quer comer alguma coisa e assistir a um reality show ruim comigo?

Então ela faz uma pausa, observando minha expressão selvagem.

— Você está bem?

De jeito nenhum.

— Está tudo bem. Só, uh, eu tenho que fazer algumas coisas de
trabalho esta manhã.

Isso não é uma mentira completa. Afinal, acompanhante pode ser


meu novo trabalho de agora em diante.

— Porém podemos sair mais tarde, se quiser?

— Certo. Isso soa bem. — Bianca me avalia e então me dá um


aceno lento.

Tomo banho em alta velocidade, hesito por um minuto sobre as


roupas antes de puxar o mesmo terno que usei para a minha entrevista
com o Aspen, pulo o café da manhã e rezo para que o ônibus chegue a
tempo todo o caminho até lá.

Os escritórios da Allure ficam em uma torre de escritórios de


aparência totalmente normal. A decoração é sem graça e o elevador toca
jazz suave. O que você esperava, uma orgia bêbada? Eu me repreendo.

No quinto andar, uma recepcionista espera atrás de uma mesa


branca e lustrosa. Ela me dá um sorriso que não alcança os seus olhos.

— Bom dia. Como posso ajudá-la?


De repente, me sinto jovem e inexperiente, e completamente
insegura sobre o que estou fazendo aqui. Quase considero me virar e
voltar para a segurança do elevador. Em vez disso, endireito meus
ombros e respiro fundo.

— Oi. Sou Presley... hum, eu tenho um encontro com Gia às dez?

— Ah, sim, Srta. Harper. — Ela se levanta. — Por aqui. Você


gostaria de café ou chá?

— N.... não, tudo bem, porém obrigado por oferecer.

Eu a sigo pelo corredor com carpete cor de vinho até uma porta de
carvalho que não pareceria deslocada nos escritórios da Aspen. Ela
bate, espera que o ocupante grite “Entre” e abre a porta.

Se eu achava que a recepcionista era glamorosa, a mulher parada


perto da janela é surpreendente. Gia é alta, escultural, sem um único
cabelo escuro fora do lugar. Seu vestido de grife e saltos provavelmente
custam mais do que o meu primeiro carro. Eu diria que ela está na
casa dos quarenta anos, no máximo, porém talvez ela tenha trabalhado
aquela aparência. Ela claramente tem dinheiro para isso.

— Por favor, sente-se. — Gia me olha de cima a baixo, avaliando


descaradamente minha aparência, depois sorri e aponta para a cadeira
de couro na frente da sua mesa.

Tentando não ser intimidada e falhando muito, eu obedeço. A


porta se fecha quando a recepcionista sai.

— Sua inscrição diz que você tem um diploma de bacharel. Onde


você se formou? — Gia está sentada atrás da sua mesa, as mãos
cuidadosamente dobradas no colo.
Eu me forço a parar de torcer as mãos. Respire, Presley. Esta é
apenas mais uma entrevista de emprego. Você sabe como fazer isso.

— Universidade Brown.

— Que campo você estudou? — Gia pergunta.

— Eu me formei em economia. — Começo a relaxar um pouco com


quão comum isso é.

— E quais são os seus objetivos em relação à sua carreira?

Com apenas uma pausa entre as perguntas, Gia me interroga


sobre tudo o que mencionei em minha inscrição, além de algumas
coisas que ela deve ter pesquisado na Internet.

— Por que você se inscreveu no Allure? — Finalmente, ela pergunta

— Uh, eu..., porque... Eu trabalho muito, aprendo rápido e.... —


Minha boca fica seca.

— Você pode dizer dinheiro, querida. — Gia ri pela primeira vez. —


Praticamente todas as garotas dessa indústria têm o mesmo motivo. As
pessoas têm despesas. Às vezes, as circunstâncias da sua vida não
permitem um emprego mais convencional, e não é estúpido admitir
isso.

— Oh. Bem então... sim, é pelo dinheiro. Estou apoiando meu


irmão na faculdade, e meu estágio é... — Provavelmente foi direto para
o inferno. —... não pago, entretanto também é de tempo integral, então
não consegui encontrar um segundo emprego que funcionasse nesse
horário.

— Você não estava mentindo quando disse que trabalhava duro.


Antes que eu possa descobrir como fazer isso, Gia muda de
assunto.

— Quero assegurar-lhe que nada de sexual acontecerá nesses


'encontros'. As acompanhantes não são escravas; vendo a companhia
de mulheres atraentes e interessantes, não o direito aos seus corpos.
Embora você deva ter em mente que quanto mais felizes os clientes
forem, mais generosas serão suas gorjetas.

Ela sorri recatadamente enquanto tento ler nas entrelinhas.

— Não garantirei que um cliente nunca, jamais, tente algo


impróprio, porém você pode denunciá-lo para mim e ele será banido do
Allure. Agora, você ainda está interessada?

Sexo definitivamente não acontecerá se eu tiver algo a dizer sobre


isso. Porém talvez eu realmente consiga fazer isso. Será um grande
extra na minha conta bancária só por manter uma conversa com um
cara rico e solitário por algumas horas.

— Acho que sim — respondo lentamente.

— Maravilhoso. Tenho o cliente inicial perfeito para você, um


senhor mais velho que pediu uma acompanhante para jantar às sete
horas.

— Hoje à noite? T... tão cedo? — Quase engasgo.

— Se você estiver ocupada, posso colocá-la em nossa lista de


espera. Normalmente, o trabalho é atribuído com algumas semanas de
antecedência. Este compromisso só está disponível agora porque a
garota original ligou ontem, dizendo que estava doente.

Eu lambo meus lábios nervosamente e tento firmar minha


respiração. Ela disse que tudo o que ele queria era alguém para jantar,
certo? Não há necessidade de surtar – e nenhum momento como o
presente. Tenho que engolir e pular com os dois pés.

— Não, eu pego.

— Perfeito. — Em seguida, ela puxa uma pasta com o logotipo da


Allure e a entrega para mim. — Vamos cobrir alguns detalhes sobre o
que significa ser uma acompanhante.

Concordo com a cabeça e, em seguida, ouço enquanto ela me


informa sobre as expectativas dos modos à mesa, etiqueta e a arte de
manter uma conversa educada. É principalmente bom senso,
entretanto também é um pouco fascinante. Nunca imaginei que estaria
sentada aqui, ouvindo dicas de como nunca discutir política ou religião
em um encontro, e como parecer amável e interessada, mesmo quando
um cliente não é seu tipo.

Passamos mais trinta minutos conversando, e então Gia desliza


um pedaço de papel pela mesa.

— Este é o restaurante onde você encontrará o cliente desta noite.


Por segurança, nunca divulgarei seu endereço ou outras informações
pessoais.

Eu pego, ainda me sentindo insegura, porém tentando ser


corajosa.

— Obrigada. Eu não a decepcionarei.

— Eu não espero isto de você.

Gia responde com outro dos seus sorrisos pequenos e enigmáticos.


Ela se levanta suavemente.

— Deixe-me te mostrar a saída.


•••

Dale, o cavalheiro mais velho que estou encontrando, não é um


cavalheiro. Quando me sento à mesa dele, a primeira coisa que faz é
colocar a mão no alto do meu joelho e apertá-lo com firmeza.

Pisco para ele e depois me movo na cadeira para que suas mãos
errantes não possam mais me alcançar.

Ele é quase completamente careca, exceto por alguns fios de cabelo


acima das orelhas.

— Você é linda, querida.

— Hum, obrigada.

Se meu tom soar monótono, ele não parece notar. Empurra uma
taça de vinho tinto para mim.

— Ruth, certo? É o nome da tia da minha ex-mulher. Quantos


anos você tem?

Por que não estou surpresa em saber que ele é divorciado? Já estou
feliz por ter escrito um pseudônimo para Gia dar aos clientes. Em vez
de revelar mais detalhes pessoais, tento brincar:

— Não se preocupe. Tenho idade suficiente para beber.

— Nunca teria imaginado. — Ele sorri. — Você parece totalmente


ilegal.

Eu bebo meu vinho para limpar o gosto de bile da minha boca.


Sem nenhuma ideia de como responder a isso, apenas repito.

— Obrigada.

Felizmente, ele não parece se importar com minhas respostas sem


brilho. Durante todo o jantar, mantém um fluxo constante de
comentários degradantes e tentativas de tocar minha perna, meu
ombro, em qualquer lugar que possa escapar em um lugar público. Se
esse cara é um “cliente perfeito para iniciantes”, nem quero tentar
imaginar como seria um cliente de nível avançado.

Assim que o cheque atinge nossa mesa, eu pulo como uma cobra
mordendo minha bunda.

— Foi uma noite maravilhosa, mas eu realmente deveria ir agora.

Graças a Deus, o Allure faz com que os clientes paguem o preço


base adiantado. Mesmo que ele me dê uma gorjeta ruim porque eu
escapei tão sem cerimônia, não preciso me preocupar em ficar
totalmente tensa. Por assim dizer.

— Qual é a sua pressa? — Ele franze a testa.

— Eu tenho que... — Estampo em um sorriso meloso. — Cuidar


da minha mãe. Ela está doente.

Muito doente. Morta há mais de uma década, na verdade.

Antes que ele possa dizer mais alguma coisa, estou indo para a
porta. Se eu me apressar, posso pegar o último ônibus para casa e não
terei que gastar vinte dólares em um Uber.

Porém ele apenas me segue até o estacionamento.

— Deixe-me pelo menos te dar uma carona. Está escuro lá fora.

Como diabos estou entrando no carro desse idiota ou dizendo a ele


onde moro.

— Oh. Hum, obrigada por oferecer, porém eu não preciso de uma.


— Não seja assim. A noite está apenas começando. — Ele me dá
um sorriso lascivo que praticamente goteja gosma. — Vamos a algum
lugar sossegado onde possamos... conversar.

Meu coração congela. Abro e fecho minha boca algumas vezes


antes de conseguir balbuciar: — Eu n... não concordei com isso.

— Ótimo. Não temos que ir a lugar nenhum. — Ele solta um


suspiro irritado, revirando os olhos.

Oh! Graças a deus.

Mas o pânico toma conta de mim novamente quando ele alcança


sua braguilha, murmurando: — Bem aqui funciona também.

— O que você está fazendo? — pergunto gritando.

— O que diabos você acha, garota? Esta é a parte em que você me


chupa. — Ele começa a abrir o zíper da calça.

Eu me viro e pulo tão rápido que meus saltos altos quase me fazem
tropeçar no asfalto áspero.

— Ei! — Dale começa a ir atrás de mim, com o rosto vermelho e o


zíper ainda aberto. — Puta merda!

Atravesso a rua barulhenta entre edifícios que não reconheço.


Alguém buzina – para mim ou para ele, não sei. Eu simplesmente fujo
até não conseguir mais ouvir os gritos de Dale e parece que há uma
faca quente enfiada na minha lateral.

Eu me achato contra uma parede de tijolos, meu coração


martelando, o sangue subindo pelos meus ouvidos, e agarro meu lado,
onde uma cãibra queima com a minha corrida repentina.
Meus tragos para respirar se transformam em soluços. Eu afundo,
tentando sem sucesso lutar contra as lágrimas. Precisando de uma
carona, tiro meu telefone da bolsa para poder ligar para Bianca, um
táxi, qualquer um. Até meu pai poderia aparecer neste momento.

Toco no botão INÍCIO, porém a tela permanece preta. Esfrego meus


olhos e olho para a escuridão. Eu apertei a coisa errada? Tento
novamente, pressionando o botão POWER desta vez. Nada acontece.

Então percebo o que está errado e um soluço histérico me escapa.


Esqueça o ontem... este é o pior dia da minha vida. E ainda por cima,
meu maldito telefone está mudo.

Agora que não estou mais correndo em terror cego, noto o ar frio e
o fedor rançoso do beco. Parte de mim quer apenas sentar aqui e se
esconder, para ter certeza de que Dale não me seguiu. Mas eu me
levanto e continuo andando.

Ando por ali, com os pés doendo, até ver a placa iluminada de um
posto de gasolina 24 horas. Abro a porta com um tilintar e pergunto ao
caixa adolescente:

— Desculpe, posso usar seu telefone?

— Há um telefone público lá fora — ele fala lentamente.

— Eu... não tem nenhuma moeda. — Não carrego dinheiro desde


que tinha a idade desse garoto.

Ele me olha, então sem palavras pega o receptor da parede e o


segura sobre o balcão.

— Muito obrigada — Nunca fui tão grata por parecer uma bagunça
total.

— Sem problemas — Ele encolhe os ombros.


Engolindo o nó na garganta, disco o único número que sei de cor.

Vários segundos se passam e o telefone continua a tocar. É um


número desconhecido, ele não atenderá, digo a mim mesma, lutando
contra outra onda de lágrimas. O caixa me olha com desconfiança
enquanto tento limpar os restos do meu rímel que tenho certeza de que
estão em minhas bochechas.

— Alo? — Então, uma voz masculina profunda atende, e sua


familiaridade é quase tão dolorosa quanto reconfortante

— Dominic. — Eu soluço de alívio. — Você pode... por favor, vir me


buscar?

•••

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