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DEDICAÇÃO

Para a pedra da desgraça.

Obrigada por não estragar nosso prazo.


CAPÍTULO 1

— É isso — declaro para a jovem mulher de cabelos escuros atrás de


mim. — Lar Doce Lar. Sinta-se à vontade para dar uma olhada.

Ela dá um passo para a entrada e seus olhos imediatamente visualizam


o desenho de madeira ornamentada no teto - uma das minhas características
favoritas da casa. Há muitas casas antigas neste quarteirão, mas minha casa
é a mais bonita, a mais original de todas, graças à mente criativa da vovó e às
habilidades do vovô em carpintaria.

— Uau — murmura ela, olhando para um dos panfletos que postei por
todo o campus nas últimas semanas. — Eu esperava um buraco de merda por
esse preço, mas este lugar é realmente bem decente. Um pouco velho e
mofado, mas não é ruim.

Strike um. Cerro os dentes e tento sorrir, mas estou tomando todas as
maneiras que tenho para manter o rosto sério. Vovó me ensinou a nunca
tomar decisões precipitadas com base na primeira impressão, mas já posso
dizer que essa mulher não é o tipo de colega de quarto que estou procurando.
Assim que penso nisso, Jinx sibila do andar de cima.
— Não gosto de gatos. — Ela faz uma careta, olhando na direção de
Jinx. — Ele está sempre dentro?

— Ela é uma menina — respondo categoricamente. Se eu deixasse essa


mulher ficar aqui, Jinx deixaria bola de pelos presentes em todos os seus
sapatos e ratos mortos em sua cama. — E sim, ela é uma gata que fica dentro
de casa.

— Entendo — bufa ela.

De caras assustadores a estudantes estrangeiros que não falavam uma


única palavra de inglês, todo o processo de encontrar novos inquilinos tem
sido um pesadelo. Por que diabos meus melhores amigos tiveram que se
formar mais cedo? A melhor pergunta poderia ser: por que escolhi um
programa que exigia que a pós-graduação fosse licenciada? Após quase três
semanas de exibições, sem nenhuma pessoa razoável para preencher uma
vaga, estou realmente começando a questionar muitas coisas na minha vida.

Sou eu? Eu sou o problema?

— A cozinha fica logo ali. — Aponto em direção ao corredor, perto da


entrada. — Há um banheiro neste andar e outro no segundo, onde ficam os
quartos. A lavanderia fica no porão.

Ela continua observando os acessórios vintage enquanto se move


silenciosamente para a sala de estar. Os saltos de suas botas estalam alto na
madeira, o som deixando meus dentes tensos. Ela para perto do couro em
forma de L do sofá antes de se virar para mim com um olhar de pura
confusão no rosto. — Então, qual é o truque?

Atordoada, eu abro minha boca para responder com algo sarcástico, e


então a fecho, questionando, em vez disso, — Desculpe-me? Não sei o que
você quer dizer com isso — enquanto dou alguns passos largos para diminuir
a distância entre nós.
Revirando os olhos, ela cruza os braços sobre o peito. — Você me ouviu.
Qual é o truque?

— Sem pegadinhas — digo, tentando manter meu tom calmo. — O que


você vê é o que obtém.

Honestamente, ela não é a primeira pessoa a perguntar sobre meu


anúncio. O mesmo anúncio que li pelo menos meia dúzia de vezes antes de
publicá-lo. As fotos por si só deveriam ter dado a qualquer locatário em
potencial uma boa ideia do que estavam comprando. Não é como se eu
encontrasse fotos aleatórias de uma casa no Google e as jogasse no anúncio.

Estou aprendendo que o aluguel barato é uma bandeira vermelha para


uma casa tão bonita, especialmente em um bairro tão perto do campus.
Poderia contar com as duas mãos os que eu rejeitei ao longo dos anos, tanto
da universidade quanto dos desenvolvedores locais. Isso não deveria ser
difícil de entender. Bela casa. Bom aluguel. Companheira de quarto não
psicótica. Uma boa gata. Se os papéis fossem invertidos, eu teria aproveitado
a oportunidade.

— Sim, certo — dispara ela, as sobrancelhas arqueadas em descrença. —


Onde está o tapete que você vai puxar debaixo de mim? Porque este lugar é
bom demais para o que está pedindo. Alguém morreu aqui?

Strike dois. Você está a cerca de um comentário de ser excluída da


lista, senhora. — A casa está em perfeitas condições de funcionamento, se é
isso que você está insinuando. E não, ninguém foi assassinado aqui. Só
preciso de uma colega de quarto para ajudar com as contas do semestre de
verão. Já tenho uma colega de quarto agendada para o semestre de outono.

Agradeço a Deus por isso. Eu só queria que Melissa tivesse decidido


ficar durante o verão e fazer aulas extras em vez de me deixar em apuros,
mas entendo por que ela fez isso. Depois de quase não se formar, ela
precisava de uma pausa. Especialmente com o programa rigoroso que
estávamos prestes a iniciar neste outono, com uma programação completa
de pós-graduação e requisitos de assistente de ensino.

A garota bufa silenciosamente sob sua respiração. Você tenta ajudar


alguém e esta é a resposta que obtém. Sua persistência em tentar encontrar
defeitos na casa só torna minha decisão mais fácil. Ela não é o que estou
procurando, não importa quão desesperada esteja por ajuda com as contas
mensais. Deve haver uma maneira melhor de manter a casa vitoriana de 1917
de minha falecida avó. Estou começando a me arrepender profundamente de
ter rejeitado a última garota que veio ver a casa. Claro, ela tinha um cachorro
e Jinx enlouqueceria, mas sua atitude era muito melhor do que a dessa
garota.

— Você é uma psicopata ou algo assim? É por isso que este lugar não foi
arrebatado?

Strike três. Posso lidar com sua atitude de merda, mas me chamar de
psicopata após minutos de pisar em minha casa? Sem chances. Há mais
quatro pessoas esperando nos bastidores para ver esta casa. A essa altura,
eles teriam que ser totalmente malucos para que eu pudesse respirar o
mesmo ar que esta mulher diariamente.

— Acho que terminamos aqui — recortei. — Você e eu — faço um gesto


entre nós, — simplesmente não vai funcionar.

— Não, espere — chora ela, suas mãos subindo em sinal de rendição. —


Não queria parecer uma vadia. Eu sinto muito. Eu só... não sou boa nessa
coisa de pessoas. Este lugar é realmente ótimo, e adoraria ser sua colega de
quarto.

— Sinto muito, mas você insultou a mim, minha casa e minha gata.
Você não pode pensar seriamente que eu consideraria você se mudar para cá.
Precisa sair. Agora.
— Por favor, me dê outra chance — implora ela, sua atitude
desagradável e arrogante se foi. — Não posso pagar mais nada tão perto do
campus e estou com um orçamento muito apertado. Meus empréstimos
estudantis ainda não foram aprovados e começo as aulas na próxima
semana. Eu realmente preciso disso. — Por mais que eu simpatize com a
história dela, preciso cuidar de mim primeiro. Sei que dar a essa garota um
lugar para morar causará sérios danos à minha saúde mental.

— Sinto muito, mas é um não meu.

— Só pode estar brincando comigo! — choraminga, batendo o pé em um


acesso de raiva digno de uma criança em idade pré-escolar. — Eu disse que
sentia muito.

— E eu pedi que você fosse embora, mas seus pés não parecem se mover
mais perto da porta. Deixe-me lembrá-la onde fica. — Voltando para a
entrada, eu abro a porta, direcionando-a com minha mão para entender a
dica. Ela tem quinze segundos no máximo antes de eu removê-la à força ou
ligar para a polícia do campus.

A mulher fica furiosa ao passar por mim, balbuciando uma série de


palavrões que fariam um marinheiro corar enquanto pisa forte pela calçada.

Saio para a varanda, observando para ter certeza de que ela se foi antes
de fechar a porta. Suspirando pesadamente, vou para a cozinha para
esquentar as sobras do jantar da noite passada. E ela me chamou de
psicopata. Ela precisa desesperadamente de ajuda profissional, o tipo que eu
- daqui a três anos - posso dar a ela. Bem, isto é, se eu sobreviver a eles. Pego
uma tigela da geladeira, tiro a tampa e coloco no micro-ondas. No segundo, o
primeiro botão emite um bip, um miado familiar chama por trás.

— Ainda não é hora do jantar, Jinx. — Ela mia de volta, mas desta vez
com um pouco mais de atitude por trás disso. — Não me atrapalhe assim.
Ela pula no balcão ao meu lado, o único lugar que ela sabe que não
deveria estar. Mas os gatos são notórios por criar suas próprias regras.

— O que você pensa que está fazendo, garotinha? — No segundo em que


estendo a mão para agarrá-la, ela cai de barriga, fazendo uma dancinha fofa
de gatinho. Finalmente coloco minhas mãos em torno de sua cintura preta e
peluda, e a ajudo a descer para o chão da cozinha, bem a tempo de o
microondas apitar.

Volto para a sala de estar e me jogo no sofá com meu jantar e Jinx a
reboque. Na verdade, é bom que a exibição tenha terminado mais cedo -
apesar do desagrado da possível locatária - porque já se passaram semanas
desde que comecei a comer sentada, em vez de pegar uma tigela com o que
quer que esteja na geladeira e comer no caminho para a aula.

Pegando o controle remoto, clico em um programa da Netflix que estou


morrendo de vontade de começar enquanto coloco um pedaço de macarrão
com queijo na boca. Só quando vou dar uma segunda mordida é que Jinx,
que está empoleirada no encosto do sofá, tenta puxar a tigela.

— Jinx! — estalo. Saltando do sofá, ela corre para a entrada e sobe as


escadas para sua cúpula de gatinho furiosa. É sua caverna de morcego de
solidão quando ela é repreendida. A pura ousadia de suas ações não deveria
me surpreender, mas depois de três anos e meio de convivência, não há
muito que a pequena bola de pelos negra da travessura não tente pelo menos
uma vez.

Após devorar minha comida, vou para a cozinha para limpar minha
tigela, assim que a campainha toca.

— Hã. — Olho para o relógio no microondas. — Ela está adiantada. —


Talvez seja um bom sinal. Cedo pode significar ansiosa. Seja quem for, ela
tem que ser muito melhor do que a anterior. Secando minhas mãos com uma
toalha, vou até a porta.
Jinx mia para mim. — Oh, fique quieta — advirto, levando um rápido
segundo para arrumar minhas roupas antes de abrir a porta para meu
próximo locatário em potencial.

— Olá... — saúdo alegremente, mas nem tenho chance de terminar a


frase. A pessoa em pé na minha varanda não é a estudante de pós-graduação
que eu esperava. Em vez disso, é meu pior pesadelo.

Uma figura encapuzada, vestida com jeans escuros e um moletom


preto, está na minha porta, uma faca brilhando nas mãos. Um estranho com
intenções claras e duvidosas. Com um flash da arma sob a luz da varanda,
meu mundo inteiro fica mais lento.

Tento gritar, fechar a porta, mas o intruso a bloqueia com uma mão
grande e enluvada. Meus pés vacilam debaixo de mim, fazendo-me entrar no
plano de intruso. Agarrando-me pelos cabelos, ele me arrasta para mais
perto da zona de perigo. Com um medo inegável percorrendo cada
centímetro das minhas veias, meu corpo congela.

O homem, eu acredito, com base em sua constituição, pressiona a faca


sob meu queixo. Quando um golpe forte atinge o lado da minha cabeça, tudo
fica escuro.

Um pensamento final cruza minha mente enquanto perco a


consciência.

Vou morrer.
CAPÍTULO 2

— Você tem que mijar em cada porra de árvore que passarmos? — Eu


gemo quando Walter levanta a perna pela centésima vez em menos de vinte
minutos.

Walter me ouve, mas não dá à mínima. Ele sabe que vou parar quando
ele fizer isso, e quando um cachorro tem que ir, um cachorro tem que ir.

Temos um entendimento, Walter e eu. Eu o trato com respeito e o levo


para sua caminhada de uma hora todas as noites, permitindo que ele explore
a vizinhança. Por sua vez, ele me dá amor incondicional e não destrói minha
casa. É uma vitória para nós dois, especialmente para ele.

A história de Walter é sombria e distorcida, e ele tem sorte de estar


vivo. Nossa jornada juntos começou quando meu clube explodiu um ringue
perverso de luta de cães. Eu o encontrei deitado em uma gaiola enferrujada,
rasgado e ensanguentado, esperando para morrer. Com um olhar de seu olho
castanho solitário, eu sabia que ele precisava de mim. E talvez eu também
precisasse dele. Então, por mais que eu possa reclamar do amor de Walter
por regar a vizinhança, ele pode mijar em quantas malditas árvores quiser.
Assim que Walter está terminando, uma garota se aproxima de mim, o
telefone colado ao lado de seu rosto enquanto pragueja como um
caminhoneiro para alguém do outro lado. — Sim! — estala. — A vadia burra
me expulsou sem motivo!

Pulo para o lado para evitar que ela se choque contra mim. — Não se
preocupe comigo — grito para ela. Vadia estúpida.

Ela se vira para me repreender, mas assim que seus olhos pousam em
Walter, eles se arregalam e ela murmura uma triste desculpa para um pedido
de desculpas antes de seguir seu caminho.

— Mulheres — bufo, e depois rio quando Walter solta um suspiro de


acordo.

Walter vira a esquina sem avisar, nossa rota noturna embutida nele
tanto quanto eu. Eu costumava tentar desviar, fazer outros caminhos, mas
ele é uma criatura de hábitos. Ele não se desvia da rotina, e ele será
amaldiçoado se eu tentar mudá-la.

A rua está tranquila, como sempre, com casas vitorianas ao longo da


rua. Grandes carvalhos e bordos preenchem os jardins da frente, seus galhos
alcançando o céu, proporcionando uma privacidade que outros bairros não
possuem.

Sempre adorei essa área da cidade. É tranquila, elegante e repleta de


uma história que sempre me intrigou. Vovó viveu aqui toda a sua vida.
Quando a perdemos e ela deixou sua casa para mim, mudar foi uma decisão
fácil. Este lugar é mais um lar para mim que a minha infância jamais foi. Só
precisava de muito trabalho após anos de negligência.

Walter quase arranca meu braço do lugar, me tirando de meus


pensamentos.

— Walter! — estalo, puxando levemente a coleira.


Ele puxa com mais força, seu corpo alcançando e se esticando em
direção a uma das casas. — Walter! — chamo novamente, dando outro puxão
para chamar sua atenção.

Sua cabeça gira para que ele possa olhar para mim, seu corpo ainda
lutando contra a coleira. Para algumas pessoas, ele deve parecer assustador,
mas quando olho para ele, tudo que vejo é inteligência e lealdade.

A luta de cães deixou o gigante Bulldog Americano branco com


cicatrizes. Seu lábio era rasgado. Um de seus olhos faltava. Sua orelha
esquerda foi arrancada e seu pelo não cresceu além das cicatrizes que
cruzavam seu rosto e corpo. Mas agora, não vejo as cicatrizes. Vejo
determinação e uma tentativa de me dizer algo.

— Vamos, amigo — tento novamente. — Vamos em frente.

Desta vez, Walter não se esforça apenas pela casa. Desta vez, ele está
desesperado. Um gemido agonizante sai de sua garganta e suas unhas
arranham o pavimento. É quando ouço. Um grito curto e abafado, seguido
pelo som de algo se estilhaçando.

A coleira de Walter é arrancada da minha mão enquanto olho para a


casa. Antes que eu possa impedi-lo, ele está correndo para a porta.

Conheço esse lugar. É a casa da ruiva. A linda ruiva que procuro toda
vez que passamos, esperando malditamente que ela esteja em sua varanda
fazendo ioga novamente. Não sei quem inventou as calças de ioga, mas
agradeço, porra, que tenham inventado. Elas cobrem aquele pequeno
traseiro apertado dela como uma segunda pele. Não que eu tenha olhado...
muito.

— Walter, volte aqui! — ordeno, correndo para pegá-lo, mas ele já está
na porta, que está entreaberta. Isto está errado.
Walter desaparece lá dentro, um grunhido profundo saindo de seu
peito. Meus pés atingem a varanda da frente, e aquele rosnado se transforma
em um rosnado de gelar o sangue.

Correndo para dentro, meu coração afunda. A ruiva está enrolada em


posição fetal no chão, inconsciente, uma poça de sangue envolvendo sua
cabeça. A poucos metros de distância, um homem estava esparramado no
chão, uma máscara cobrindo o rosto, o braço firmemente preso nas
mandíbulas de Walter. Com uma grande faca na mão, ele usa a outra para
socar meu cachorro.

— Seu filho da puta! — rugi, pulando sobre a garota, pronto para dar
um soco no filho da puta.

— Por favor — chora ele, a dor clara em sua voz. — Por favor, chame seu
cachorro. Ele está me machucando.

Com sangue escorrendo pelo queixo, Walter sacode o braço do homem,


puxando-o para dentro da casa.

Em vez de intervir, estendo a mão, arranco a faca da mão do homem e a


jogo fora de seu alcance. Agora que ele está sem a arma, eu recuo meu pé e
dou um golpe na lateral de sua cabeça, nocauteando-o.

Walter o solta e vai até a garota. Eu me ajoelho para ter certeza de que o
cara está realmente apagado antes de virar as costas para ele. Preciso
verificar a ruiva, mas o que não preciso é de uma faca nas minhas costas.

Sim. Ele está fora.

Girando, empurro Walter para o lado e estendo a mão para ela. Ela está
respirando, mas é superficial. E se o corte na têmpora direita me diz alguma
coisa, é que ela precisa de cuidados médicos agora.

— Foda-se — murmuro, tirando meu telefone do bolso. A última coisa


que preciso é de qualquer tipo de atenção da polícia. Os Black Hoods estão
no meio de algo grande no momento, e eu me envolver nisso pode ser o fim
de todo o nosso trabalho duro.

— Nove-um-um, qual é a sua emergência? Você precisa de polícia,


bombeiros ou ambulância?

— Ambulância, agora! — estalo, minha mente correndo para saber


como lidar com isso. — E a polícia. — Saltando, corro para a varanda da
frente e dou o endereço a ela. — Uma mulher foi atacada. Está inconsciente e
sangrando.

A despachante começa sua enxurrada de perguntas, mas não espero


para ouvi-las. Já é ruim que agora eles tenham meu número registrado por
fazer a ligação, mas não quero estar aqui quando a polícia aparecer. Não
posso estar aqui, não com o patch nas costas. Meu clube não é exatamente
amigável com os LEOs1.

De volta a casa, Walter fica parado ao lado da mulher, empurrando e


cutucando seu rosto com o nariz e gemendo de angústia. Lembrando que o
homem tinha uma faca, ajoelho-me ao lado dela mais uma vez, fazendo o
meu melhor para verificar se há feridas de faca sem incomodá-la.

Olho para o corredor atrás de mim. Ele se foi. O filho da puta que a
atacou deve ter escapado pela porta dos fundos quando eu estava lá fora. Vou
atrás dele?

A garota no chão geme, a sua cabeça virando de um lado para o outro.


Porra. Acho que isso responde a isso.

— Está tudo bem — digo a ela, pegando sua mãozinha. — Você está
segura agora.

Seus olhos verdes se abrem, mal focando em mim antes de se fecharem


mais uma vez. Não posso deixá-la agora. Essa merda covarde pode esperar,

1 Law Enforcement Officer: Agente de Aplicação da Lei.


mas vou encontrá-lo. Walter machucou o braço dele, então ele mesmo
precisará de cuidados médicos. Quando for obtê-lo, estarei esperando,
enrolado como uma víbora, pronto para atacar quando ele menos esperar.
CAPÍTULO 3

Dizem que sua vida passa diante de seus olhos em situações como essa,
mas posso garantir que isso é besteira. Eu não via minha vida como um rolo
de filme se projetando na minha frente. Vi os olhos frios e escuros da pessoa
prestes a tirar minha vida olhando para mim da minha própria varanda. Eu
podia sentir o mal escorrendo de cada poro dele quando correu em minha
direção, pressionando sua faca sob meu queixo.

O resto foi um borrão completo. Jinx sibilando. Dor. Rosnar. Gritos do


meu atacante. Trevas. Exceto, houve um momento em que pensei ouvir um
homem falando comigo. Uma presença pacífica no caos turbulento do ataque
até que a escuridão me engoliu até a inconsciência. Ele deveria ser uma
invenção da minha imaginação. Não conheço ninguém por aqui com meus
colegas de quarto agora fora.

Por que de repente haveria um homem cavalgando em meu resgate


como um cavaleiro em um cavalo branco? Isso não acontecia na vida real,
e isso com certeza não é um conto de fadas.

As vozes abafadas de pessoas conversando me tiram do abismo, mas a


dor é quase insuportável. Minha cabeça dói como se tivesse dado uma volta
com um trem de carga e perdido. Tento falar, mas apenas um gemido escapa
dos meus lábios. Um prêmio de consolação por ainda estar viva, embora por
pouco, se meu nível de dor fosse a única coisa em jogo. Meu corpo inteiro
dói, mas minha cabeça é o pior de tudo.

— Srta. Thompson, você pode me ouvir? — chama uma voz feminina


através da névoa.

Quero desesperadamente responder, mas uma cascata de ondas de


calor ganha vida em minhas veias. Um doce alívio vem logo depois,
acalmando as batidas de tambor dentro do meu crânio. Eles me deram algo
para a dor, ou uma marreta na cabeça. Não importa, já que qualquer uma
das opções seria adequada neste ponto.

— O que nós temos? — questiona uma voz masculina rouca.

Uma dúzia de pares de mãos se move, me cutucando e espetando


enquanto tento me forçar a acordar. Vamos, olhos. Só abram. A súplica
claramente não faz absolutamente nada para me acordar. O remédio para
dor está fazendo seu trabalho um pouco bem demais.

A voz da mulher relata a informação. Seria hipnótico se não fosse o fato


de que acabara de ser atacada.

— Mulher, vinte e poucos anos, atacada em casa. Feridas defensivas nas


mãos e nos braços e uma laceração no olho direito. A pressão arterial está
ligeiramente elevada, mas outros sinais vitais estão normais. A paciente
estava inconsciente quando os paramédicos chegaram ao local.

— Vamos fazer um raio-X de seu abdômen e tórax e uma tomografia


computadorizada. Sedá-la até que possamos avaliar completamente seus
ferimentos.

— Sim, Dr. Malic. — É a última coisa que a mulher diz antes de eu


sucumbir à escuridão mais uma vez.
****

Quando o nevoeiro levanta o suficiente para que eu possa finalmente


abrir os olhos, parece que horas se passaram. As paredes totalmente brancas
de um quarto de hospital brilham para mim sob o sol da manhã. Nascer do
sol? Há quanto tempo estou desmaiada? Tento me mexer na cama, mas a
IV2 no meu braço puxa, disparando um alarme no processo. O bip só serve
para intensificar o latejar na minha cabeça.

— Alguém está acordada, pelo que vejo — diz uma enfermeira alegre ao
entrar na sala com uma bolsa de soro na mão. Trocando a bolsa, ela então
caminha até o terminal de computador próximo a ela. — Como está sua dor?
Escala de um a dez.

— Seis — respondo. Minha garganta se esforça para sair essa única


palavra. — Água?

— O médico ainda não te liberou para beber ou comer — explica ela. —


Acabei de enviar um recado para o seu médico assistente informando que
está acordada. Suspeito que ele chegará para vê-la em breve. Veremos se
conseguimos retirar o pedido de NPO3.

A enfermeira sai voando pela porta, deixando-me com meus próprios


recursos. Cada movimento que faço resulta em uma onda de dor irradiando
por todo o meu corpo, como uma corrente elétrica pulando de um membro
para o outro. Não importa como eu me mude, não consigo encontrar
qualquer aparência de conforto.

Encontrando o controle remoto conectado à cama, pressiono o botão de


chamada para o posto de enfermagem. Preciso de algo para a dor, e agora.

2 Intravenosa.
3 Do latim Nil Per Os, termo médico que indica que o paciente não pode se alimentar pela
boca.
Passos fortes veem do corredor, e então um médico alto entra na sala com
uma prancheta nas mãos, distraindo-me momentaneamente do meu
desconforto.

— É bom vê-la acordada, Srta. Thompson. Sou o Dr. Malic. Nós nos
encontramos antes, mas duvido que você lembre muito de sua chegada. —
Ele sorri para mim. Cara engraçado. Ótimo. Exatamente o tipo oposto de
médico que preciso agora. Ele se aproxima da minha cabeceira, pega uma
lanterna do bolso e a ilumina nos olhos.

— Os reflexos da pupila são responsivos — murmura, desligando a


lanterna e recolocando-a no bolso. — Sua tomografia computadorizada e
raio-X estavam claros. Você teve uma concussão leve e uma pequena
laceração que costuramos acima do seu olho direito. Considerando todas as
coisas, Srta. Thompson, você tem muita sorte.

Não acho que chamaria de sorte o ataque, mas ele está certo. Eu
poderia estar morta. Sempre há um lado positivo em tudo, eu acho.

— Eu gostaria de mantê-la aqui por mais um dia, apenas para pecar


pela cautela. — Ele acena com a cabeça, desaparecendo apenas alguns
segundos depois, sem sequer um adeus.

Outro dia aqui? Em circunstâncias normais, eu ficaria bem com isso,


exceto Jinx. Não tenho como saber se ela está bem ou não. A ideia dela estar
ferida e sozinha me perturba, porque ela não tem ninguém além de mim
para cuidar dela. Não posso ficar aqui mais uma noite, pelo menos por causa
dela. Mesmo que a ideia de pisar de volta em minha casa - que nunca
parecerá a mesma novamente - sozinha tão logo após o ataque, me assuste
pra caralho. De uma forma ou de outra, estou fugindo deste lugar, mesmo
que tenha que sair contra o conselho médico.

A enfermeira retorna com um copo de papel branco, junto com uma


garrafa de plástico com água, desviando minha atenção das memórias
dolorosas que enchiam minha cabeça. Ela me entrega um copo com água e
dois comprimidos brancos que caem como balões de chumbo contra uma
lixa quando os engulo. Tomando outro gole de água, queima um pouco
menos do que da primeira vez. A enfermeira pega a xícara e a coloca na
mesinha de cabeceira.

— Você gostaria de se sentar?

Eu aceno, e ela pega o controle remoto para levantar a cabeceira da


minha cama.

— Você tem uma grande comitiva na sala de espera — informa ela com
um sorriso provocador.

Eu franzo a testa. — Desculpe? — Por que eu teria uma comitiva? Não é


como se eu conhecesse alguém por perto, e todos os meus vizinhos foram
embora no verão. A enfermeira muda para o outro lado da cama e reajusta o
travesseiro atrás da minha cabeça.

— O cara que entrou com você - aquele com todo o couro e o cachorro?
Ele esteve na sala de espera a noite toda. Fez uma cena e tanto quando não o
deixaram voltar para ver você sem mostrar a identidade. O cachorro quase
mordeu um dos seguranças.

— Cachorro? — Lanço um olhar confuso para ela. Eu estava sozinha,


então ela deve estar enganada. Não tenho ninguém por perto - nem uma
alma. Eu ligaria para meus pais, mas duvido que eles se importem. No
segundo em que fui morar com minha avó aos quinze anos, não era mais
problema deles. Eles nem apareceram para o funeral dela há três anos. Eles,
no entanto, entraram em contato com o advogado dela para ver se ela havia
deixado algo no testamento.

— Não é como se você pudesse não percebê-lo, ou a meia dúzia de seus


amigos vestidos como ele que apareceram algumas horas depois de você.
Estão sentados lá desde então. Deve ser bom ter tantos caras bonitos por
perto, né?
— Não vim aqui com ninguém. — Seriamente. Se eu tivesse um homem
em minha vida, muito provavelmente não estaria na situação em que me
encontro atualmente.

— Entendi. Eu também não gostaria de compartilhar. — Ela pisca e


coloca o cobertor firmemente em volta dos meus pés, provocando um chiado
em mim. — Você pode querer falar com ele sobre aquele cachorro, no
entanto. Um hospital não é lugar para um animal assim.

Que cachorro? Eu não tenho cachorro. Quem diabos é esse cara? Não
havia mais ninguém lá, exceto Jinx e eu. A menos que…

Não. Não pode ser.

Afinal, a voz que ouvi me confortando era real?


CAPÍTULO 4

— Então, você não viu a cara desse filho da puta? — pergunta Karma
depois que termino de explicar minha história para o resto dos caras.

Suspirando, coloco a mão no rosto, exausto após a enorme onda de


adrenalina que experimentei antes, e ansioso para saber o que exatamente
está acontecendo no corredor com Blair. — Não. O cara usava uma balaclava
e não tive a chance de tirá-la.

— Parece que Walter conseguiu um bom pedaço dele — observa Judge,


apontando um dedo para o cachorro adormecido, com o focinho manchado
de sangue seco do braço do misterioso fodido.

A enfermeira quase teve um ataque cardíaco quando entrei na sala de


emergência com Walter ao meu lado, mas um olhar meu, ela fechou a boca
bem rápido. Ele e eu havíamos acabado de passar por algo intenso, e de jeito
nenhum eu o levaria para casa antes de ir ao hospital. Além disso, tudo que
eu fiz foi chutar o filho da puta. Foi Walter quem correu e salvou a ruiva. Eu
nem sabia seu nome verdadeiro até que a médica pegou a bolsa dela e
procurou sua identidade.
— Ele o pegou bem — confirmo. — Dei um bom chute na cabeça dele
também, então meu palpite é que ele também está com uma concussão
terrível agora. Precisará de um médico, e quando for a um, precisamos estar
lá.

Judge acena com a cabeça, mordendo o lábio. — Existem apenas quatro


hospitais a duas horas de carro daqui. Vou mandar dois caras para cada um,
e quando ele aparecer, nós vamos pegá-lo.

E é por isso que liguei para ele. Judge pode ser o presidente do clube,
mas primeiro ele é um irmão. Ele é um dos filhos da puta mais assustadores
que já conheci, mas daria a camisa de suas costas por qualquer um de nós. E
quando se trata de alguém cometer violência contra outra pessoa que não
pode se defender, ele vê vermelho.

Não sei quem era aquele filho da puta, ou por que ele estava na casa de
Blair, mas o fato de ter a clarividência de usar uma máscara me diz que ela
provavelmente não terá a menor ideia de quem ele seja. Ele a atacou em sua
própria casa, e se não fosse por Walter, quem sabe o que teria acontecido
com ela.

A memória dela deitada no chão, seu lindo cabelo vermelho manchado


de vermelho com seu próprio sangue, me faz desejar voltar no tempo e matar
o bastardo quando tive a chance. Mas garantir que ela estava bem foi a coisa
mais importante para mim na hora.

— Nós vamos encontrá-lo — diz Judge, batendo a mão no meu ombro


com um aperto firme.

Assentindo, fico um pouco mais ereto quando um médico entra na sala


de espera. A política do hospital determina que você deva ser um membro
imediato da família para acompanhar o paciente até a área de tratamento. E
mesmo que eu tivesse mentido e dito que era o noivo dela, não havia como
eles me deixarem voltar lá. A enfermeira que me deu a notícia não deu a
mínima para nenhum olhar ameaçador que lancei em sua direção; ela não
tinha medo de mim. E embora eu sinta que estou rastejando para fora da
minha pele esperando por notícias, me senti melhor sabendo que a mulher
sensata estava cuidando de Blair atrás daquelas portas fechadas.

— Você é o homem que veio com Blair Thompson

Blair Thompson. Algumas horas atrás, eu nunca ouvi esse nome antes,
então por que ouvi-lo agora me faz sentir como se minha própria alma
estivesse ligada a essas duas palavras?

Eu aceno, aproximando-me, de repente incapaz de respirar. Até Walter


levanta a cabeça, seu olhar focado no médico na minha frente.

— Nós a verificamos. Ela levou um golpe feio na cabeça e teve uma


concussão leve. A laceração na têmpora levou alguns pontos, mas deve
cicatrizar sem deixar cicatriz. Vamos mantê-la aqui para observação, mas a
Srta. Thompson ficará bem.

Bem. Essa palavra passa por mim como uma onda de alívio curativo e,
finalmente, meus pulmões são capazes de funcionar novamente.

É engraçado. Sempre pensei em mim como um cara bem equilibrado.


Eu penso em tudo e nunca conduzo por emoções. Mas agora, minhas
emoções estão levando o melhor de mim. Tudo o que quero fazer é passar
pelo médico esquelético de quatro olhos e correr para o quarto de Blair,
pegá-la em meus braços e dizer que sinto muito por ter deixado aquele filho
da puta fugir. Prometer a ela que vou encontrá-lo e fazê-lo pagar pelo que fez
a ela.

Mas não consigo.

O fato é que, embora eu a tenha encontrado do jeito que encontrei, e


tenha passado horas em alfinetes e agulhas esperando para ouvir que ela está
bem, Blair não tem a menor ideia de quem eu sou. Ela não me conhece. E
com toda a merda acontecendo na minha vida, ela não quer me conhecer.
Mas encontrarei aquele filho da puta e farei com que ele pague.

— Obrigado — diz Judge, quebrando o silêncio constrangedor enquanto


trabalho meus pensamentos. — Fico feliz em saber que a garota ficará bem.

O telefone do médico toca. Olhando para a tela, ele balança a cabeça e


se desculpa, já saindo para lidar com outro paciente. De nosso lugar no
saguão, observamos um grupo de policiais uniformizados e dois detetives
que todos conhecemos muito bem caminhando em direção ao quarto de
Blair.

— E agora? — pergunta Karma atrás de mim. — Você vai voltar e


reivindicar a garota? Talvez ver como é foder uma ruiva em uma cama de
hospital?

Judge ri, mas não acho sua piada de merda engraçada. — Não, idiota.
Vamos deixar essa garota viver sua vida em paz, mas vamos caçar esse cara.
Quando o encontrarmos, ele orará a Deus para que nunca tenha escurecido a
porta da casa dela. E fazemos tudo antes que esses malditos policiais nos
vejam.

Enquanto falo, o sorriso provocador de Karma desaparece, e a


seriedade da situação enche a sala mais uma vez. — Maldição — murmura
ele.

Pego a coleira de Walter e, com um último olhar de volta para o


corredor do quarto de Blair, saímos, nossa missão é a única coisa com a qual
eu posso me preocupar agora.
CAPÍTULO 5

Aparentemente, sair do hospital contra o conselho médico nunca foi


realmente uma opção. Não com a polícia me impedindo, não só de sair do
hospital, mas de voltar para casa. Minha casa agora é uma cena de crime
ativa, e até que seja liberada desse status, minha bunda não vai a lugar
nenhum. Ou pelo menos é o que me diz o detetive careca e obeso que
atualmente mora na cadeira em frente à minha cama. Veremos sobre isso.
Ele tem que ir para casa em algum momento, e talvez o próximo oficial de
serviço seja mais compreensivo com minha situação. Uma garota pode ter
esperança, de qualquer maneira.

Você pensaria que ter sido atacada menos de um dia antes me pouparia
de uma enxurrada constante de perguntas. Entre a equipe médica, a polícia e
os repórteres - que me disseram que estão acampando no estacionamento na
tentativa de obter acesso a mim - estou enlouquecendo. Preciso descansar,
mas isso não está nem no reino das possibilidades - ou pelo menos é o que
parece agora, com a linha de questionamento do Detetive Douchebag 4.

— Srta. Thompson — pede o detetive. — Vamos repassar o que você me


disse novamente.

4 Na tradução literal, detetive babaca.


— Blair. Meu nome é Blair. Por favor, use — interrompo
grosseiramente. — O que mais há para contar? Não é como se você fazendo
as mesmas perguntas repetidas vezes fosse refrescar magicamente minha
memória.

Acredite em mim, a possibilidade de me lembrar de muito de qualquer


coisa é pequena, fora de anos de terapia para desfazer o trauma. Estudei
casos como o meu em minhas aulas de graduação. Algumas vítimas nunca se
lembram, outras sim. O cérebro humano é um campo minado de
complexidades, e apenas começamos a arranhar a superfície quando se trata
de perda de memória cognitiva e a correlação de amnésia induzida por
trauma. Mas o detetive parece determinado a provar que eu e a ciência
estamos erradas.

— Blair — resmunga ele, corrigindo-se. — Você pode descrever o seu


agressor?

Isso de novo. Esta deve ser a sexta ou sétima vez que ele me faz essa
pergunta, já que ele entrou apenas uma hora depois de eu ter acordado
totalmente. Eu nem tive a chance de tomar o caldo agora frio que a
enfermeira foi tão gentil em pedir para mim. Minha fome e bem-estar
claramente vêm em segundo lugar para este homem.

— Detetive, eu já te disse. Havia um cara parado ali, usando uma


máscara de esqui e segurando uma faca. Ele atacou, tudo escureceu, acordei
aqui e pronto.

Ele franze a testa, sua desaprovação se espalhando por seu rosto branco
e barbudo. — Eu gostaria de poder contar mais, mas a coisa toda é um borrão
na minha cabeça.

Ele grunhe.
— Você pode grunhir o quanto quiser, mas isso não limpará a estática
na minha cabeça. Duvido que até mesmo uma antena de orelha de coelho
embrulhada em papel alumínio consiga consertar. Não há nada lá — concluo.

Ele faz uma careta então, esfregando o rosto em frustração. — Você fez
alguma coisa para incitar o homem a atacar?

— Desculpe?

— Muitas jovens universitárias hoje em dia atraem a atenção indesejada


sobre si mesmas com a maneira como se vestem e agem. Não é incomum
atrair o tipo errado de atenção masculina.

— Você está brincando comigo agora? — estalo. — Fui atacada em


minha própria casa, a vítima, e você me culpando como se eu fosse uma
vadia implorando por isso na rua? — Ele está realmente insinuando que eu
mesmo causei isso? Que me exibi para este homem?

— Srta. Thompson, você mesma me disse que postou panfletos por todo
o campus, procurando preencher uma vaga em sua casa, e que convidou
várias pessoas para vê-la. Você anunciou sua vulnerabilidade para o mundo
inteiro ver.

Suas palavras são como um soco no estômago. — Você é uma figura.


Sou uma mulher educada, detetive. Anunciar para um colega de quarto não é
um convite aberto para alguém invadir minha casa e me atacar.

Ele me encara. — Pelo que posso dizer, em relação à companhia que


você tem - se o homem que ligou para o 911 é qualquer indicação - tirar esse
tipo de conclusão não está longe de ser o alvo.

Aqui vamos nós novamente. Por que todo mundo está tão interessado
nesse cara? Primeiro, a enfermeira e agora o detetive. É um pouco difícil
falar sobre alguém que nunca conheci, ou mesmo vi.
— Minha resposta não mudou desde a última vez que perguntou. Não o
conheço. — Encolho os ombros. — Ele cai naquela área negra que acabei de
mencionar. Eu nem sabia que mais alguém estava lá. — Aponto para minha
cabeça, esperando que lembre a ele que levei um golpe nela. Esse cara é um
típico viajante do ego. Quase me dá vontade de trocar de papéis e escolher
seu cérebro. Quase. Não sei se gostaria de bisbilhotar lá com sua linha de
trabalho. — Eu realmente quero ajudá-lo, mas não há muita informação que
posso oferecer.

— Eu vejo. — Fria descrença goteja de suas palavras. — É simplesmente


interessante para mim que um completo estranho entre em sua casa e salve
sua vida, especialmente alguém como esse cara. Ele não é o tipo de homem
que, como você mesma disse, uma mulher educada deveria se associar.

É estranho, mas de repente me sinto protetora com meu salvador. —


Não sei como fazer isso. Como um bom samaritano é interessante? Devo
tudo a esse homem. Francamente, acho que você deveria agradecê-lo em vez
de insinuar o quão interessante ele estar lá.

Inacreditável. Não foi algum tipo de briga doméstica que deu errado.
Fui atacada em minha própria casa, minha vida quase tirada. Nada foi
conveniente para mim - nem um pouco. E o que há com esse homem que
acionou o gatilho para esse detetive? Se fosse honesta, quanto mais ele fala
sobre ele, mais eu quero saber. Ficar com tanta ira após um ato tão corajoso
é tão estranho. Eu só queria ter tido a chance de agradecê-lo.

— Se soubesse quem é ele, duvido que dissesse isso, Srta. Thompson.


Homens como ele não salvam a vida de uma mulher apenas sem um
propósito ou razão. Acho que você sabe mais do que está me dizendo.

Eu vou discutir, mas ele fecha seu bloco de notas. Aparentemente, a


sessão de perguntas e respostas acabou. — Em vez de me interrogar sobre
um estranho - do qual não tenho nenhuma ideia de quem é ou como estava
lá - por que não está na rua, rastreando a pessoa que fez isso?
— Seria muito mais fácil fazer se você cooperasse, Srta. Thompson —
responde ele com os lábios franzidos. — É muito difícil rastrear alguém com
apenas a descrição de uma faca e olhos escuros.

Eu me endireito na cama, exercendo muito mais trabalho do que


esperava. Se é uma luta que ele quer, agora eu estou mais do que chateada o
suficiente para dar a ele.

— Faça seu trabalho, detetive. Não posso te dar mais informações do


que já disse.

— Estamos fazendo o melhor que podemos, Srta. Thompson. O


processamento das provas de sangue pode demorar semanas. E a menos que
o suspeito tenha antecedente, é como atirar em peixes em um barril.

Então é isso. Tudo o que posso fazer é esperar e torcer para que esse
cara não venha bater na minha porta novamente. Isso é inaceitável. Não é
que eu não entenda o que o departamento de polícia está tentando fazer, mas
deve haver algum caminho que eles ainda não pensaram. Tem que ter.

— Alguém deveria ter câmeras em sua casa. São os malditos subúrbios,


pelo amor de Deus. Faça o seu trabalho e encontre-o antes que alguém se
machuque. —Meu peito arfa de raiva, a ponto de a dor da minha cabeça se
irradiar por todo o meu corpo. O monitor de pressão arterial grita um
alarme, mas ele apenas fica lá, olhando para mim como um pai
repreendendo sua filha rebelde.

— O que está acontecendo aqui? — exige minha enfermeira ao entrar no


quarto. Ela olha para mim, depois para o detetive, avaliando a tensão no
quarto. — Senhor, perturbar minha paciente é um prejuízo para sua
recuperação. Acho que você precisa sair do quarto e permitir que a Srta.
Thompson descanse.

Obrigada.
Ele sai do quarto sem dizer uma palavra, batendo a porta atrás de si.
Ecoa nas paredes por alguns segundos depois que ele sai.

— Assim está melhor — diz ela com um sorriso. — Eu podia ouvi-lo


gritando com você do posto de enfermagem.

— Ele era um verdadeiro pêssego5, deixe-me te dizer — murmuro,


deslocando-me dolorosamente no colchão fino como papel debaixo de mim.
— Ele poderia buscar um treinamento de atualização quando se trata de
entrevistar uma vítima.

Eu me mexo novamente, tentando ficar confortável, mas isso não


acontecerá. Esta cama de hospital e eu não somos compatíveis. Ouvi falar
sobre como elas eram horríveis, mas experimentar a sensação de cada
primavera cutucando minha bunda por mim mesma é uma história
diferente. Estas camas são lajes de cimento cobertas de algodão com zero
conforto ou comodidade.

— Seu amigo que esperava também não parecia gostar dele — sugere,
indo para o computador.

— Meu amigo?

Ela sorri. — Sr. alto, moreno e taciturno na sala de espera. — Eu franzo


a testa.

— Não sei de quem você está falando.

— Bem, seja ele quem for, é uma pena que tenha partido. As
enfermeiras na área de recepção não se importaram com a vista.

5 Usado de maneira sarcástica quando as coisas dão errado. Significa mais ou menos o
mesmo que Oh maldição!
— Foi embora? — Não que eu me importe com as idas e vindas de um
completo estranho, mas entre o idiota do detetive e as enfermeiras falando
sobre ele, tenho que admitir, eles despertaram minha curiosidade.

— Claro que sim — profere enquanto digita. — Assim que o detetive


chegou, ele e todos os seus amigos saíram daqui.

Seus amigos? Quem é esse cara? E por que tem uma comitiva com ele?
É preocupante, com certeza, mas meu coração ainda bate. Ele foi embora
sem sequer uma visita para me ver. Por que ficar todo esse tempo e não
entrar? Nada disso faz sentido. Ele poderia pelo menos ter ficado tempo o
suficiente para eu agradecê-lo.

— Mas tenho boas notícias — diz a enfermeira, sacudindo-me da minha


inesperada dor de cabeça. — Dr. Malic está gostando dos seus números e,
salvo qualquer complicação inesperada, você deve sair daqui pela manhã.

Indo para casa. Meu estômago cai pela segunda vez. Deveria estar
animada - em êxtase, na verdade - exceto pelo fato de que a pessoa
responsável ainda está lá fora. O noticiário já informava que a vítima do
ataque sobreviveu. Então, o que o impede de voltar para terminar o
trabalho? Talvez ficar aqui um pouco mais não seja tão ruim afinal... bem, se
não fosse por Jinx. Maldita gata.

A enfermeira vagueia pelo quarto por mais alguns minutos antes de sair
novamente, aconselhando os guardas da polícia na minha porta a me
permitirem descansar por algumas horas. Ela deve estar brincando se acha
que vou dormir com a turbulência dentro da minha cabeça. Há muito para
processar. Devo ficar lá ou arrumar Jinx e ir para um hotel? Um hotel seria
mais seguro, mas caro. Eu não estou exatamente ganhando dinheiro sem ter
alguém para ajudar a pagar as contas. E é duvidoso que façam fila para
alugar um quarto vago na casa agora que quase morreu alguém.

O resto da tarde passa lentamente. Só depois do jantar é que um novo


detetive assume, montando guarda do lado de fora da minha porta como se
eu fosse uma criminosa comum esperando para voltar para a prisão em vez
de ser a vítima. Pelo menos esse oficial concordou em pedir a um dos
patrulheiros que protegiam minha casa para verificar minha gata. Falhei em
mencionar o temperamento de Jinx, mas eles descobrirão isso logo se
tentarem pegá-la.

Provavelmente não deveria ter deixado essa parte de fora.


CAPÍTULO 6

Quatro hospitais, dois dias e nada. Nenhuma pessoa foi ao pronto-


socorro para uma mordida de cachorro. E nada para concussões, exceto por
alguns jogadores de futebol adolescentes desordeiros. O que significa que
não temos nada para continuar. Ainda não temos ideia de quem é esse filho
da puta, e Blair está oficialmente fora do hospital há vinte e quatro horas.

A pior parte de tudo isso é que tem sido surpreendentemente difícil


ficar longe dela. Nunca tivemos uma conversa, mas por algum motivo, não
consigo tirar a linda ruiva da minha mente. Eu me sinto protetor com ela -
possessivo, até - e a ideia dela estar desprotegida enquanto aquele filho da
puta ainda está lá fora me deixa no limite, de uma forma que eu
simplesmente não estou familiarizado.

— Apenas um homem — digo, meus punhos enrolados em frustração. —


Faça com que ele fique perto o suficiente para pular, mas longe o suficiente
de modo que ela nunca saberá que ele está lá.

Judge olha para mim enquanto pensa no meu pedido. — O que há com
essa garota? Por que ela?
Já me fiz a mesma pergunta várias vezes e ainda não encontrei uma
resposta que fizesse algum sentido. — Não sei, cara. Apenas sinto que ela
deve ser protegida, sabe? Não é o que fazemos?

Judge cruza os braços sobre o peito, deixando seus bíceps musculosos


protuberantes. — Não é justo, cara. Você sabe que qualquer um dos Black
Hoods daria a vida por alguém que não pode revidar, mas já temos uma
missão. Aqueles idiotas nojentos que comandam as lutas de cães por aqui
estão de volta. São más notícias.

Olho para Walter, que está sentado ao meu lado, observando como se
fizesse parte da conversa. A cicatriz em seu rosto e seu olho perdido veio de
uma luta que esses mesmos homens o forçaram. Pegá-los foi tudo em que
pensei durante meses, até agora.

— Então, nós só fazemos uma boa ação por vez?

O rosto de Judge fica duro como pedra. — O que estamos fazendo


agora, GP? É um grande momento. Você sabe disso e eu sei disso. Não
podemos retroceder agora, ou nunca acabaremos com essas brigas de cães. E
quanto à sua garota, ela não é a porra da sua garota. Ela tem os policiais
envolvidos. Tem amigos. Provável família. Ela não está sozinha. A merda
será tratada sem nossa ajuda. Não podemos nos envolver em cada pequena
coisa que acontece nesta cidade.

Por mais que eu odeie, não posso discutir com o homem. Ele não é
apenas o presidente do clube, mas também está cem por cento certo. Blair
não é minha. Não é minha responsabilidade ou minha mulher. Inferno, ela
nem é minha amiga. Não a conheço de jeito nenhum.

Então, por que não posso deixar para lá?

— Estamos bem? — pergunta Judge, virando sua garrafa de cerveja na


minha direção.
Estendo a mão, bato em sua garrafa com a minha. — Sim cara. Nós
estamos bem.

— Bom. — Judge leva a garrafa aos lábios e drena o resto do conteúdo


com um longo gole. — Agora, saia daqui. Vejo uma loira ali que parece
precisar de um pouco de atenção.

Olho para trás, procuro a loira a quem ele se refere e a encontro no


canto, seu cabelo bagunçado para cima, seu vestido praticamente pintado. —
Use camisinha, mano — advirto, levantando-me da mesa. — Aquela tem
muita experiência com atenção masculina.

Judge sorri e joga sua garrafa vazia na mesa, seus olhos nunca deixando
a mulher do outro lado da sala. — Sempre uso, GP. Sempre uso.

E esse é o fim da conversa. Assisto com diversão Judge se aproximar da


loira, rindo um pouco quando seus braços não tão sutilmente empurram
seus seios juntos, tornando seu decote mais pronunciado.

Oh sim. Judge definitivamente precisará de uma camisinha.

Permaneço em silêncio por mais alguns minutos, meu olhar vagando


sobre o bar movimentado. Ao meu redor, as pessoas estão rindo, bebendo e
se divertindo. Mais do que algumas delas chamam meu nome, me
convidando para me juntar a elas, mas eu aceno e as cumprimento, não
tenho certeza se posso ter uma conversa de verdade agora.

Só consigo pensar em Blair. Ela está em casa? Está segura? Ela se


lembrou de trancar a porta? A polícia está fazendo patrulhas regulares?

Finalmente, não aguento mais. Procurando no bolso, jogo uma nota de


vinte dólares sobre a mesa antes de passar pela multidão e sair.

Entendo por que o Judge não quer envolver o clube no que quer que
seja que Blair se meteu, mas não posso deixar de me envolver. Eu segurei
essa mulher em meus braços enquanto ela estava inconsciente no chão.
Caminhei pelo hospital enquanto esperávamos pelos médicos dizerem que
ela ficaria bem.

Blair Thompson pode não ser minha garota, mas cada sarda em seu
rosto está gravada em minha memória. Não deixarei nada acontecer com ela.
Com ou sem clube, eu irei pessoalmente garantir que aquele idiota nunca
chegue a cem metros dela novamente.
CAPÍTULO 7

— Jinx! — grito com a mecha de pelo preto escorregando após quase me


fazer tropeçar pela sexta vez hoje. — Não posso te alimentar se você me fizer
tropeçar e me matar!

Jinx para perto da porta da cozinha e olha para mim, lambendo a pata
com desinteresse absoluto.

— Que amiga você é — murmuro baixinho. Sou mais o mordomo de sua


alteza peluda no que diz respeito a ela.

Jinx trota pelo corredor, desaparecendo com um miado. Reviro meus


olhos com sua insolência antes de voltar para lavar a louça suja na pia.

No minuto em que voltei para a casa sob o olhar atento do detetive


idiota e seu bando de detetives juniores não tão alegres há dois dias, ela era
minha sombra. Não posso usar o banheiro, comer ou mesmo dormir - o
pouco que estou dormindo, de qualquer maneira - sem que ela me arranhe.
No início, era irritante, mas agora, é estranhamente reconfortante saber que
alguém se importa o suficiente para me verificar. Bem, se importa o
suficiente para ter certeza de que ainda estou respirando e capaz de
alimentá-la, eu quero dizer.
Tentei encontrar um hotel acessível para me mudar por alguns dias,
para que a polícia tivesse mais tempo para rastrear meu agressor, mas meus
fundos eram muito apertados. A Amazon até me falhou com sistemas de
segurança acessíveis. Não posso comprar uma arma - embora, se você
perguntasse a qualquer texano, todos nós deveríamos ter uma ao nascer, tão
comum quanto por aqui. Minha avó era veementemente contra elas, e se
alguém ousasse cruzar sua soleira com uma delas no coldre, ela os enxotava
com sua vassoura até que a colocassem em outro lugar.

Ficar parada é minha única opção. Ficar na casa onde cada baque, carro
passando ou barulho lá fora faz meu coração disparar e minha pele arrepiar.
A mancha do meu próprio sangue no piso de madeira pode ter desaparecido
a olho nu, mas ainda está fresca em minha mente. Alvejante não pode limpar
a mancha emocional e mental, não importa o quanto eu tente tirar isso da
minha cabeça.

Ele ainda está lá, me torturando por dentro. Só posso esperar que uma
vez que minha professora do programa de aconselhamento estiver de volta
ao escritório, ela esteja disposta a me ver cara a cara para me ajudar a
trabalhar nisso.

Hoje foi muito mais fácil, apesar das tentativas agressivas de afeto de
Jinx. Passei a maior parte das horas do dia dormindo no sofá, com apenas
alguns momentos de acordar em pânico quando o rugido alto de uma
motocicleta passava pela casa nas primeiras horas da manhã. Não sei quem é
o dono dessa coisa, mas eles realmente precisam encontrar uma rota
diferente para pedalar, e logo. Cada rotação do motor me deixava em estado
de alerta, fazendo-me pular do sofá. Demorei mais de uma hora para me
acalmar antes que pudesse finalmente cair no sono novamente.

Se meu estômago não tivesse me acordado algumas horas depois, eu


poderia ter dormido a noite inteira.
Jinx se esfrega em mim enquanto preparo o jantar, implorando por sua
própria refeição. Eu desisto, pois é a única maneira de comer minha própria
refeição em paz.

Estou enxugando as mãos na pia quando uma batida forte vem da porta
da frente. — Merda! — A intrusão inesperada faz meu coração galopar a um
ritmo que me faz balançar em meus pés. O pano cai na pia ensaboada,
enviando bolhas voando para minha camisa e rosto.

Respire, Blair. É plena luz do dia. Ele não voltará agora. Não com o
desfile constante de carros de patrulha passando várias vezes por hora.

Sigo silenciosamente até a borda da cozinha e olho o corredor. A batida


vem de novo, mas desta vez, com mais força e intensidade. Movendo um pé
de cada vez, eu me aproximo da porta, respirando pesadamente a cada passo.
Olhando pelo olho mágico, vejo um homem de terno parado na varanda com
um microfone na mão, e uma equipe de câmera atrás dele.

— Srta. Thompson — chama uma voz masculina. Merda. Ele deve ter
me ouvido. Merda. Merda. Merda.

— O que você quer? — Minha voz falha conforme eu me afasto da frente


da janela, me escondendo atrás da porta com minhas costas pressionadas
contra ela.

— Sou Rich Van Nees, do Channel Four News. Gostaria de falar com
você sobre o seu ataque.

— Sem entrevistas — grito de volta, verificando a fechadura. Duvido que


eles tentem invadir minha casa, mas não estou disposta a correr esse risco.
Esse cara é conhecido por abrir caminho para conseguir a história
impossível. Lembro-me de assistir ao noticiário com vovó, onde ele atacou
um médico acusado de abuso de medicamentos prescritos no meio de um
exame. Esse cara é o equivalente a uma ambulância perseguindo um
advogado miserável.
— Srta. Thompson, por favor. Queremos contar sua história.

— A polícia está cuidando do meu caso. Fale com eles. Não posso lhe
dar nada mais do que a investigação deles pode lhe dizer.

— Queremos falar com você. — Desta vez, eu noto o aborrecimento em


sua voz.

Ele então murmura para alguém preparar a câmera se eu abrir a porta.


Sem chance disso acontecer. Nada de bom viria se eu me exibisse no
noticiário local todas as noites. Não preciso pintar um alvo maior nas minhas
costas, visto que continuo na cena do crime. O farol é brilhante o suficiente
por si só. Quanto antes os repórteres esquecerem minha história, melhor
será para mim.

— O mesmo não pode ser dito de mim, e eu disse não. Agora saia.

— Srta. Thompson, por favor, reconsidere. Podemos ajudar uns aos


outros.

— A única coisa que você pode me ajudar é escoltar-se para fora da


minha propriedade antes que eu chame a polícia e denuncie você por invasão
ilegal e assédio. Também pode retransmitir essa mensagem para os outros
que estão lá com você. Não darei uma entrevista a você ou a qualquer outra
pessoa. Você está perdendo seu tempo.

Ele pragueja baixinho antes de sair pisando forte da varanda, com um


bando de passos atrás dele. Entrando na sala de estar o mais rápido que
posso sem me causar dor, afasto as cortinas apenas o suficiente para ter uma
visão melhor do meu jardim.

Quatro vans de notícias diferentes alinham-se na rua. Duas têm


cinegrafistas e repórteres fora delas. Van Nees continua pela calçada e joga
as mãos para cima quando outro repórter o chama. No entanto, nenhum
deles sai. Observo por mais de uma hora enquanto cada um deles se
posiciona na calçada do lado de fora da minha casa, gravando suas notícias,
basicamente dizendo ao meu atacante exatamente onde me encontrar. Não é
isso que preciso agora.

Deslizando meu celular do bolso, eu disco o número que o detetive


idiota me deu.

— Detetive Morrison — estala ele.

— Detetive, aqui é Blair Thompson.

— Ah, Srta. Thompson — fala arrastado. — Finalmente pronta para me


contar sobre seu amigo no hospital?

Sério? — O que há com você e esse cara? Não tenho nenhum vínculo
com ele, certo? Nenhum. Nada. Zero.

— Eu sei que você não está sendo honesta comigo. Caras como ele não
salvam mulheres aleatórias. Há uma razão, e eu gostaria de saber qual é.

— Quantas vezes tenho que dizer? — grito ao telefone, meu motivo para
ligar para ele em primeiro lugar desaparece da minha mente. — Não o
conheço. Não sei quem ele é ou por que você está tão excitado por ele, mas
cada minuto que você se concentra nele é mais um minuto em que meu
agressor ainda está lá fora, possivelmente machucando outra mulher
inocente. Por que não o pegou?

Cada centímetro do meu corpo formiga de raiva. Eu sou a vítima, mas


este filho da puta pretende acreditar no contrário. Não sei quanto mais de
culpar a vítima eu posso me sujeitar antes de explodir. Eu não tenho culpa.
Não fiz esse homem me atacar. Eu só queria que o detetive puxasse sua
cabeça de sua bunda e visse isso por si mesmo. Enquanto meu atacante vagar
livremente, minha vida corre risco e meu senso de segurança se deteriora
ainda mais.
— Estamos nos esforçando. Se você não tem nenhuma informação para
adicionar ao caso, o que posso fazer por você? Alguém mais te seguiu para
casa? — A provocação flagrante reverbera em seu tom.

Cerro os dentes, tentando manter a calma. Gritar com ele não me dará
mais ajuda do que ele já dá. Não sei se ensinam misoginia na academia, mas
se ensinavam, esse cara superou.

— Eu gostaria que um oficial fosse enviado à minha casa.

— Posso perguntar por quê? — bufa em descrença. — Não desperdiçarei


recursos do departamento com alguém que sequer está disposta a ajudar a si
mesma dizendo a verdade.

— Jesus — murmuro. Batidas fortes começam na minha porta


novamente. Levantando meu braço, seguro meu celular na direção do som
para que ele possa ouvi-lo. — Essa batida que você ouve é um grupo de
repórteres que atualmente acampa na frente da minha casa. Eu gostaria que
eles saíssem e parassem de bater na minha porta.

— Bater em uma porta não é um crime, Srta. Thompson. Eles estão


apenas tentando fazer seus trabalhos, da mesma forma que estou tentando
fazer o meu. Eu vejo que você não está cooperando com eles.

— Ouça, idiota — rosno. — Fui atacada, hospitalizada, assediada por


você e agora estou sendo assediada por repórteres. Se não mandar alguém
aqui para fazê-los sair, eu irei na frente das câmeras e chamarei por você e
todo o seu departamento por não fazerem o seu trabalho.

Ele tenta discutir comigo, mas desligo antes que ele possa dizer a
primeira palavra. Deveria chamar o detetive responsável pelo meu caso de
idiota? Provavelmente não, mas estou enlouquecendo. Minha vida está em
frangalhos e estou emocional e fisicamente esgotada. Alguma coisa tem que
acontecer, e se eu tiver que ameaçar um oficial da lei para que isso seja feito,
que seja.
Aparentemente, porém, funcionou, porque menos de trinta minutos
depois, todas as quatro vans estão saindo de seus lugares de estacionamento.

Paz e silêncio assustador, finalmente. Mas é um lembrete doloroso de


que eu estou realmente sozinha neste mundo, exceto por Jinx. Eu estaria
mentindo se dissesse que não pensei em ficar sozinha. Que ficaria bem sem
ninguém para sentir minha falta se morresse naquele dia. Meus pais me
deixaram, e meus colegas de quarto também. Minha avó era a única que me
restava neste mundo até que o câncer a roubou de mim.

Verdade seja dita, sou a garota propaganda por ser abandonada quando
você mais precisa de apoio. Levei anos para trabalhar meu trauma de
abandono de infância com vários terapeutas, e agora, aquele medo
profundamente arraigado está voltando.

Eu sou merecedora de amor?


CAPÍTULO 8

Eu me inclino contra minha motocicleta, tentando parecer casual,


enquanto Jack Carson para em sua garagem. Posso dizer apenas pelo
conjunto de sua mandíbula que ele sabe exatamente por que estou aqui. Isso
ficará interessante.

Ele desdobra seu corpo esquelético do banco do motorista e bate a


porta. — Posso te ajudar?

De pé, dou alguns passos a frente, mas paro quando seus punhos se
fecham e se movem em direção à sua cintura. Ele e eu sabemos que ele está
fazendo as malas e não estou prestes a levar um tiro. — Apenas uma visita
amigável, Carson. Por que está tão nervoso?

— Foda-se — cospe ele, seus olhos brilhando de raiva. — Não somos


amigos. O que diabos você quer?

Tudo bem, hora de parar com essa merda. — Sabemos que os meninos
Armstrong ainda estão lutando. Quero saber quando e onde. Sem mentira.

O rosto de Carson empalidece, mas tenho que dar crédito a ele. Sua
expressão não vacila nem um pouco. — Não sei do que diabos você está
falando, cara. Não tenho mais nada a ver com os Armstrongs. — Seus olhos
se voltam para a casa, e sigo seu olhar para ver uma menina olhando pela
janela, seu sorriso torto brilhando fortemente para nós. Ele acena para ela
com um sorriso, mal movendo os lábios enquanto diz: — Por favor, não faça
uma cena na frente da minha garota.

Vantagem. Vantagem suja, mas é tudo o que tenho. — Então responda


minha porra de pergunta, Carson. Onde são as lutas e quando?

Seus braços voam em exasperação. — Eu fodidamente te disse, cara, eu


não sei merda nenhuma, ok? A última vez que os Black Hoods quebraram
essa merda, os Armstrongs enlouqueceram. Minha esposa me disse que
levaria as crianças e sairia da cidade se eu não me afastasse delas. Não tive
nada a ver com eles desde então.

Olho atrás de mim para a casa onde a menina acena para mim, seu
sorriso tão largo que não posso deixar de acenar de volta. — Garota fofa —
digo a ele. — Seria uma pena ela perder o pai porque ele não sabe quando
dizer a verdade. Judge não está recuando, Carson. Nenhum de nós está. Os
Black Hoods acabarão com essa merda, com ou sem a sua ajuda. E se você
estiver envolvido, você afundará com eles.

Carson suspira, seus ombros caindo com a derrota.

Mantenho minha posição enquanto ele dá a volta em sua caminhonete e


se aproxima.

— Olha, eu falo sério. Não tenho nada a ver com eles. Não mais. Os
Armstrongs são loucos pra caralho, e minha família vem primeiro. Mas vou
te dizer uma coisa. —Sua cabeça gira de um lado para o outro, seus olhos
examinando a área ao nosso redor. — Ouvi de um cara que ainda trabalha
para eles que eles estão construindo um anel fora de Paloma, em algum lugar
no mato.

Fico olhando para ele, tentando malditamente avaliar se ele está me


dizendo tudo o que sabe.
— Mantenha meu nome fora disso. Não posso me envolver nessa merda
de novo, cara. Não se eu quiser manter minha família. Sugiro que você fale
com Kenny Dwyer. Ele saberá muito mais do que eu.

E aí está. Carson oferecendo um nome, como se me dissesse que ele está


tentando se recompor de verdade. — Apreciado — digo a ele, em seguida, dou
um passo para trás. — Seu nome não está nem perto disso. Deixarei o clube
saber que você está tentando mudar sua vida, mas se eu ouvir um sussurro
sobre você em qualquer lugar perto disso, os Black Hoods vão chover o
inferno sobre você, com família ou sem família. Você me escuta?

Carson engole, balançando a cabeça para cima e para baixo como uma
cabeça redonda de grandes dimensões. — Eu te escuto.

Tendo dito tudo que preciso dizer, jogo minha perna sobre o assento e
ligo a motocicleta. Não é muito, mas a informação que ele acabou de me dar
é mais do que descobrimos em mais de uma semana de pesquisa. Judge
ficará feliz. Isso nos coloca um passo mais perto de prender os filhos da puta
que torturaram Walter, e Deus sabe quantos outros cães indefesos. Os dias
dos irmãos Armstrong estão contados.

Também espero que esta nova informação mantenha Judge longe de


mim um pouco. O bastardo parece ter a intenção de me manter ocupado,
sabendo muito bem que não estou ouvindo suas ordens para ficar longe de
Blair. Ele não mencionou ainda, mas está trabalhando duro para me impedir
de checá-la, incumbindo-me de fazer recados nos últimos dias. Tarefas que
devem ser atribuídas aos prospectos em potencial, não a um membro. Mas
não tive escolha, pois ele é meu presidente. Ele simplesmente não precisa
saber sobre minhas atividades extracurriculares.

Eu estava certo em continuar olhando para ela, no entanto. Judge errou


quando disse que ela tinha alguém. Há dias que observo a casa dela como
uma espécie de perseguidor e, além do ocasional carro que passa pela polícia
e do bando de repórteres que não desistem, ela está completamente sozinha.
Perigosamente sozinha. E foda-me, de jeito nenhum vou deixá-la assim.
Não importa o quanto Judge não queira que o clube se envolva, eu estou
envolvido, com ou sem eles para me apoiar. A segurança de Blair está em
meus ombros agora.

Normalmente, dirigir minha motocicleta é uma forma de acalmar meus


pensamentos turbulentos, mas não hoje. Chego a minha casa em pouco
tempo, e ainda não parei de pensar sobre como tudo isso é fodido.

Após estacionar e fechar a porta da garagem, pego meu celular e ligo


para Judge.

— O que você descobriu? — Sua voz rouca late sobre as batidas pesadas
da música tocando ao fundo.

— Bem, olá para você também, amigo.

— Corta essa merda, GP. O que encontrou?

Eu suspiro, esfregando a mão ao longo do meu rosto. — Não tanto


quanto esperávamos. Carson está fora do jogo, de verdade desta vez. Mas ele
me deu um nome para acompanhar e disse que onde quer que estejam
reconstruindo é em algum lugar fora de Paloma.

— Paloma, hein? — Posso praticamente ouvir as engrenagens girando


em sua cabeça. — Tem certeza que ele está fora? Ele estava mergulhado na
merda da última vez.

Imagino aquela garotinha na janela, e o medo no rosto de Carson. —


Tenho certeza. Sua velha ameaçou levar seus filhos. Ele não arriscará.

— Acha que ele está mentindo?

— Ele quase se mijou quando sua filha saiu. Tenho certeza de que falava
a verdade.
Judge ri no receptor. — Justo. Veja o que pode descobrir sobre o
contato que ele lhe deu. Quanto mais tempo esses filhos da puta têm para se
organizar, mais trabalho nós teremos que lidar.

— Isso é verdade.

— Você voltará para o clube esta noite?

Uma voz feminina abafada diz algo baixinho ao fundo, removendo


oficialmente Judge da conversa. Obrigado porra.

— Nah — digo, já caminhando para a minha porta da frente. — Walter


ficou confinado em casa o dia todo. Acho que ficarei em casa e levarei o
pobre coitado para um passeio.

— Você está recusando uma boceta de grau A para o seu cachorro? Não
teria nada a ver com a sexy ruiva em perigo estar em casa agora, não é?

Merda. Ele tem me checado?

— Nah, Judge. — Preciso forçar as palavras para fora. — Ela não é o


problema do clube. — Cada sílaba queima enquanto a expresso. Mentir para
meu presidente não é algo que considero levianamente. Judge sempre esteve
lá para mim, então é um soco no estômago fazer isso pelas costas. Mas deixar
Blair não é uma opção para mim.

— Vamos manter assim. Não é a hora de trazer sangue novo ao clube.

— Entendido, Prez. — Não tenho intenção de trazer Blair para a vida do


clube. Meninas como ela não precisam da mancha que espalhamos por todo
o lugar. Assim que ela estiver segura, vou desistir. Simples assim.

— Bom — declara ele, a palavra mais para uma ordem do que para um
acordo. A mesma voz suave faz barulho ao fundo. — Um segundo, querida —
diz Judge a ela. — GP comece a rastrear o amigo de Carson. Não há tempo a
perder.
Aceno, embora ele não possa me ver. Estou feliz por ter a conversa
desviada de Blair. — Você tem isso. Divirta-se esta noite.

— Sempre faço, cara — diz ele com outra risada. — Até mais.

Conhecendo-o tão bem quanto eu, ele estará bêbado e com as bolas
afundadas na boceta em breve, o que é uma coisa boa para mim, porque
assim que deixar Walter sair, terei minha própria garota para ver.
CAPÍTULO 9

— Ei, Blair — sussurra outro assistente de graduação. Essa garota pode


estar no meu programa, mas ela nunca prestou a menor atenção em mim
antes. Tento ignorá-la, mas ela enfia um dos dedos na minha lateral para
chamar minha atenção. — Psst, Blair.

— Estou tentando ouvir a aula — sussurro com os dentes cerrados. Por


que ela não entende que não tenho nenhum interesse em responder a
qualquer pergunta que ela me faça tão inflexivelmente?

Um aluno atrás de nós se inclina e a cala, irritação clara como o dia


pintado em seu rosto quando ela aponta para o professor na frente da sala.
Minha inquisidora afunda de volta em seu assento com um baque. Espio por
cima do ombro e aceno com a cabeça agradecida para minha salvadora,
Lindsey - uma das poucas alunas originais do meu programa que não foi
transferida antes do início do programa de graduação.

— Obrigada — sussurro, e ela sorri.

Voltar para as minhas aulas foi de longe uma das maiores decisões que
eu tomei nos últimos dias, desde minha alta do hospital. A professora
McCallen foi muito clara em sua resposta por e-mail que meu retorno ao
cronograma do programa de verão não seria algo definido se eu não estivesse
com vontade de voltar. Pronto, não estou, mas a única maneira de encontrar
meu senso de normalidade novamente é não colocar minha vida em espera.

Recostei-me em meu assento, concentrando-me na aula apresentada


sobre como lidar com pacientes com histórias de violência e abuso com
respeito - uma que chega um pouco perto da casa agora. Fora das
enfermeiras, respeito era a última palavra que usaria para descrever meu
tratamento durante minha provação.

O resto da aula transcorre pacificamente, mas seja minha imaginação


ou não, sinto que os outros alunos estão prestando mais atenção em mim do
que na professora. Eu me sinto como uma aberração em exibição no meio de
uma sala lotada como a garota que sobreviveu. Embora chamar a mim
mesma assim, pareça muito com um vilão de Harry Potter de segunda
geração.

No segundo em que a aula termina, eu reúno meus pertences e corro


em direção à porta antes que alguém possa me encurralar. Mas é quando
encontro Lindsey, encostada no batente da porta, acenando para eu me
juntar a ela. Ela me salvou lá atrás. Seria rude ignorá-la e passar agora, por
mais que eu gostaria de fazer exatamente isso.

— Ei. — Forço um sorriso. — Obrigada por calar aquela garota lá atrás.

— Não é um problema — responde. — Você não merece essa merda.


Olha, tenho cerca de uma hora antes da minha carona chegar aqui. Quer
comer alguma coisa? —Ela olha por cima do ombro em direção à grande área
da máquina de venda automática.

Odeio recusar, mas este é meu primeiro dia de volta e estou exausta. —
Por mais que eu goste disso, realmente quero chegar em casa antes que fique
muito escuro.
— Compreendo. Aqui, pegue isso. — Alcançando sua bolsa, ela puxa
uma caneta e um pedaço de papel, rabisca algo e entrega para mim. — Este é
o número do meu celular. Se quiser conversar, ou o que for, sinta-se à
vontade para me enviar uma mensagem.

Olho para o pedaço de papel em minha mão. Não entendo? — Obrigada.


Mas tenho que perguntar... por que você está sendo tão legal comigo? Mal
nos conhecemos.

Os lábios de Lindsey se curvaram em um sorriso triste. — No primeiro


ano, eu estava no seu lugar.

— Você foi atacada? — suspiro.

Ela balança a cabeça e desliza seu cabelo comprido e escuro para longe
de seu ombro, revelando uma longa cicatriz em seu pescoço que sobe em sua
bochecha esquerda. — Jogador de futebol. Eu disse não e ele não gostou. Ele
me atacou no estacionamento de sua casa de fraternidade e tentou colocar
meu rosto através do para-brisa de um carro quando revidei.

— Oh meu Deus! — suspiro. O que mais eu posso dizer? Como não vi


isso no jornal? Futebol é a vida aqui no Texas, e se esse cara jogava no nosso
time, deveria ter sido notícia de primeira página.

— Foi uma merda — diz ela. — Mas tive ajuda. Eu gostaria de ajudá-la
se você precisar.

Seu telefone toca alto, tirando seu olhar do meu, e faz uma careta para a
tela. — Merda. Meu carro quebrou esta manhã, e agora minha carona está
me abandonando. O último ônibus para o meu condomínio é tipo, agora,
então eu preciso correr. — Ela começa a se virar, mas para. — Sério, Blair.
Me ligue se quiser conversar.

— Eu vou. Obrigada — grito antes que ela desapareça pela porta.


Não vou muito longe antes de dar de cara com a professora McCallen
no corredor, derrubando o livro em sua mão no chão.

— Sinto muito, professora. Eu não olhava para onde ia — peço


desculpas, mas ela levanta a mão, me parando.

— Está tudo bem, Blair. Esperava encontrar você hoje. Bem, não
literalmente. Tem alguns minutos? — Ela aponta para seu escritório.

— Claro — respondo. Girando em seus calcanhares, eu a sigo pela porta


aberta de seu escritório.

— Por favor, feche a porta e sente-se.

A professora McCallen está sentada atrás de sua mesa, depositando seu


livro na grande pilha ao lado dela. Deslizo para a cadeira desocupada em
frente a ela. Fui ao escritório pelo menos uma meia dúzia de vezes só este
ano para discutir o programa, e para sessões de aconselhamento cara a cara.
Esta visita parece diferente, no entanto.

— Blair, eu sei que você passou por uma experiência traumática. O


departamento e eu queremos ter certeza de que retornar aos seus estudos é o
melhor curso de ação para você neste momento. Equilibrar um cronograma
completo de programa de doutorado é difícil o suficiente, mas você também
está trabalhando como assistente de ensino. Só quero ter certeza de que não
é apenas fisicamente, mas também emocionalmente capaz de pular de volta
na sela, como dizem.

— Eu entendo, professora — digo a ela. — Mas recuperar minha vida é a


única maneira de superar isso.

Seu olhar avaliador nunca deixa o meu. Ela deve procurar por
rachaduras na armadura que passei a manhã inteira protegendo hoje.
Preciso ficar forte. Meus estudos são tudo o que eu preciso agarrar para tirar
minha mente do fato de que estou enfrentando tudo sozinha.
— Blair, eu só quero o melhor para você. Você é de longe uma das
alunas mais talentosas deste ano no programa de doutorado do primeiro
ano. Mas se precisar tirar um ano sabático, o comitê do programa já
concordou em mantê-la por um ano se você precisar.

— E aprecio isso, mas para mim, não é negociável. Não deixarei esse
cara tirar minha vida de mim. Trabalhei muito para chegar aqui.

Ela cruza as mãos sobre a mesa com um olhar ilegível cruzando seu
rosto, fazendo-me conjecturar minha decisão. Estou fazendo a coisa certa?

— Achei que fosse isso que você diria, mas a oferta ainda está de pé. Se
você se sentir oprimida a qualquer momento, Blair, meu escritório está
sempre aberto para você. Vê-la ter sucesso em seu trabalho é algo que me
interessa muito. Se, por qualquer motivo, precisar desabafar, conversar,
desvendar seus sentimentos, estou aqui para ajudá-la. Espero que realmente
saiba disso.

Sinceridade soa em sua voz. Sempre me senti especialmente próxima


dela desde o dia em que aterrissei em seu escritório como sua orientada de
graduação. Hoje, ela se sente como a única pessoa no mundo que me dá
apoio, e o desejo irresistível de deixá-la orgulhosa reverbera por cada fibra
do meu ser. O fracasso não é uma opção para mim - nunca foi - mas agora,
ainda mais.

— Eu sei — asseguro a ela. — Sei que os dias e semanas que virão não
serão fáceis, mas acho que posso lidar com isso. Honestamente, a escola não
me preocupa. Eu queria ser psicóloga desde que me lembro. É o meu sonho,
e não vou bagunçar agora que estou tão perto.

— Manter-se positiva é a chave para se recuperar de um trauma como o


seu, mas também precisa se lembrar de que nem todo dia será bom. Você
terá altos e baixos. É natural para o processo de cura mental e emocional.
— Entendo, professora McCallen, eu realmente entendo. Este é apenas
um obstáculo.

— Um violento, Blair. Há uma diferença — interrompe. — A polícia fez


algum progresso no seu caso?

Prossigo, contando a ela sobre minha experiência com o detetive


conduzindo meu caso, e ela me dá o nome e o número de alguns contatos
pessoais que ela tem no departamento de polícia, os quais eu posso contatar
se seu comportamento inaceitável em relação a mim continuar.

Eu realmente quero ficar e conversar mais com ela, mas outro aluno
irrompe pela porta, implorando para falar com ela. Educadamente me
desculpo e saio de seu escritório, andando pelo corredor.

No meio do caminho para a porta, meu anúncio para colega de quarto


no conselho da comunidade me faz parar. Depois de tudo que o detetive me
disse antes, me viro para examiná-lo. Foi minha culpa? Eu anunciei minha
vulnerabilidade? Estendo a mão para arrancá-lo do quadro de cortiça
quando uma conversa na esquina chama minha atenção.

— Não acredito que Blair mostrou a cara aqui hoje.

Meu coração cai. Chego mais perto do canto, meus ouvidos aguçados,
sabendo muito bem que quanto mais eu ouço, mais doerá ouvir.

— Ela parece uma merda. Você a viu pular quando o livro de alguém
caiu da mesa? Achei que ela fosse chorar no meio da aula — brinca uma
segunda voz.

— Quero dizer, você a culpa? — repreende uma terceira voz, mas esta
pelo menos parece ser mais compreensiva. — Ela passou por um inferno. Dê
uma folga para ela.
— Oh vamos lá! — geme a primeira voz, suas palavras gotejando
condescendência. — Você não pode acreditar na história dela. Está no
Twitter que ela está mentindo.

— Os policiais dizem que não têm motivos ou suspeitos — interrompe


alguém. —É como se o cara fosse um fantasma.

— Ou alguém que ela conhecia — acrescenta a primeira voz.

Lentamente, eu espio pela esquina, espiando pelo menos seis dos meus
colegas de classe amontoados como um grupo de colégio.

— Isso te surpreenderia? Ela mora naquela casa grande sozinha.


Ninguém saberia se ela vive uma vida dupla. Não é como se ela tivesse
amigos de verdade.

Eles cavam e cavam até eu não aguentar mais. Viro a esquina e enfrento
meus acusadores de frente. Já é suficiente. Cada um deles parece veados nos
faróis quando percebem que ouvi cada palavra vil que acabou de sair de suas
bocas.

— Merda — engasga a garota que se sentou ao meu lado esta manhã


quando me vê olhando para um buraco através deles.

— Apenas pare — ordeno, levantando a mão.

—Não queríamos dizer... — gagueja ela.

É estranho que, quando eles pensaram que eu não podia ouvi-los,


fofocar sobre minha situação fosse bom. Mas assim que se deparam com a
pessoa que, até poucos minutos atrás, era o alvo de suas piadas, eles se
fecham.

Não respondo. Não é como se eles fossem ouvir, de qualquer maneira.


Deixo-os lá para contemplar sua decisão de bater verbalmente em alguém
que não consegue se abaixar emocionalmente. Desço as escadas do prédio
antes que lágrimas quentes e úmidas comecem a correr pelo meu rosto.
Como podem pessoas educadas que sequer me conhecem empurrar essas
acusações em meu caminho? Especialmente aquelas que deveriam ajudar
eticamente as pessoas na minha situação, não envergonhá-las?

— Ei, Blair! — grita alguém atrás de mim, mas ignoro. Não posso lidar
com mais nada hoje. Voltando-me para a calçada, vou para casa.

Quanto mais me afasto do campus, as ruas ficam mais silenciosas e,


com o silêncio assustador, meus nervos começam a esquentar. Passos
pesados se aproximam de mim por trás em um ritmo acelerado e minha
mente implora para que eu corra. Eu me viro para encará-los, apenas para
encontrar um motorista de entrega correndo para a casa que acabei de
passar para deixar um pacote.

Controle-se, Blair. Nem todo mundo está atrás de você. Apenas um


psicopata que tentou te matar em sua própria casa, e quem sabe se ele
ainda está por aí?

Poucos minutos depois, a casa finalmente aparece. Meu instinto é


correr em direção à porta, mas mantenho minha cabeça erguida e os ombros
para trás, determinada a manter minha compostura. Depois de entrar, posso
enlouquecer. Mas não aqui fora.

Uma sombra se move nas sebes perto da minha varanda. Parando


bruscamente, eu me enfio atrás de um tronco de árvore e olho ao redor,
meus olhos se esforçando para ver mais claramente. Por favor, deixe ser
minha imaginação.

A sombra se move novamente. Oh Deus. Tento tirar o telefone do bolso,


sem saber eu se devo ligar para o detetive ou para o 911, mas não importa. A
bateria acabou. Porra.

Nunca tiro meus olhos da forma sombria. O que devo fazer? Eu corro?
Eu o confronto?
A sombra se afasta das sebes, desaparecendo pela lateral da casa e fora
de vista. Um caminhão que passa me assusta, desviando minha atenção da
sombra, e é quando vejo uma motocicleta estacionada em frente à casa ao
lado da minha. Uma casa vazia. Seria a mesma motocicleta que fica dando
voltas pela minha casa a qualquer hora da noite ou apenas uma
coincidência?

Que diabos eu faço? Posso continuar a ser uma vítima e fugir, ou posso
manter minha posição. Meu coração troveja contra minhas costelas quanto
mais eu observo de uma distância segura, esperando a sombra reaparecer.

Enquanto espero, meus músculos ficam tensos e a raiva começa a


queimar um buraco no fundo do meu estômago. Não. Se o mundo vai me
culpar, não serei mais a vítima. Ninguém me protegerá, então é hora de me
proteger.

Quem esse idiota pensa que é, afinal? Ele invade minha casa, me
assalta, me coloca no hospital e assombra cada momento da minha vida com
o medo de que ele volte para terminar o que começou, e agora ele está aqui.

Não desta vez, idiota.

Saio na ponta dos pés de trás do meu esconderijo, meus pulmões


queimando de tanto segurar a respiração. Vejo um grande galho de uma
pilha de arbustos que meu vizinho coletou e o agarro. Pelo menos terei uma
arma desta vez e sei que está chegando.

Como se estivesse em câmera lenta, eu coloco minha mochila na beira


da varanda e me esgueiro para onde o homem foi, com cuidado para não
fazer barulho. Na esquina, pressiono minhas costas contra a parede,
segurando o galho pesado contra o peito. Você pode fazer isso, Blair.

Inclinando-me, espio minha cabeça e lá está ele, a poucos metros de


distância, parado no meu quintal. Ele está olhando para o telefone, como se
não se importasse com nada no mundo.
Bastardo. Afastando o galho do meu corpo, dou três passos gigantes e
balanço para trás. O galho avança, mirado na cabeça dele. Um grito escapa
da minha garganta como nunca ouvi. Pouco antes de o galho se conectar, o
homem se vira e vejo seu rosto pela primeira vez.
CAPÍTULO 10

Eu nem acho que ela está em casa.

Espio por entre os galhos dos arbustos e espero um pouco mais.


Quando cheguei aqui, havia tantos malditos repórteres, todos querendo
marcar a história da semana. Isso não acontecerá.

Blair precisa de tempo para se curar. Recuperar-se. Não ter um monte


de paparazzis de merda seguindo-a como se ela fosse o maldito OJ Simpson.

Bastou um aviso rápido e um flash do patch do clube nas minhas costas


para eles me levarem a sério e se perderem. Após ameaçar remover o saco de
bolas de um cara e enviá-lo para o cameraman, duvido que algum deles volte.

Se ela não está em casa, por que estou aqui?

Ultimamente, tenho procurado bastante, fazendo o que posso para


manter Blair segura à distância. Mas me esconder do lado de fora de sua casa
quando ela nem está em casa está ficando um pouco perseguidor, até mesmo
para mim.

Uma espiada lá dentro, só para garantir. Depois de fazer algumas


varreduras de segurança em seu quintal, descobri que posso ver diretamente
em sua sala de estar de seu quintal. A porta do pátio é larga e ainda não vi as
cortinas fechadas. Não é algo que eu aprove, mas é útil para garantir que ela
esteja segura quando estiver em casa.

Ficando nas sombras, vou até o quintal, à esquerda da porta do pátio.


Trevas. Nenhum sinal de Blair. Embora sua gata seja outra história. Ele está
estendido em uma faixa brilhante de luz do sol que brilha no chão, suas
orelhas achatadas em sua cabeça enquanto olha para mim através das folhas
do arbusto entre nós.

Meu telefone vibra no bolso.

Karma: Judge está furioso. Venha rápido.

Porra. Não sei o que tem acontecido com Judge ultimamente, mas ele
tem sido extremamente teimoso nas últimas semanas. Está estressado com
os irmãos Armstrong surgindo novamente e rejuvenescendo seu negócio de
luta de cães - inferno, todos nós estamos - mas ele tem sido como um velho
urso bravo, recém-saído da hibernação, e está começando a se desgastar para
todos nós.

Um grito estridente, que deixaria qualquer fã de Xena orgulhoso,


assalta meus ouvidos por trás, e eu me viro pouco antes de algo se conectar
com o lado da minha cabeça, esmagando minha orelha em meu crânio.

— Puta que pariu! — Pressiono minha mão no meu ouvido e olho para o
atacante, a raiva drenando de mim em um instante quando vejo quem é.

Blair está diante de mim, seus cachos ruivos bagunçados e


desgrenhados pelo vento, os ombros pesados enquanto tenta recuperar o
fôlego. — Fique para trás, idiota.

Seu tom é forte e confiante, e se suas mãos não estivessem tremendo


enquanto segurava o galho com o qual me esmagou, eu quase acreditaria que
ela não teve medo. — Já chamei a polícia — diz ela. — Eles estão a caminho.
Ignorando a dor em meu ouvido latejante, abaixo minha mão e dou um
tapinha no ar entre nós. — Acalme-se, querida. Não estou aqui para te
machucar.

As narinas de Blair dilatam-se e ela dá um passo para trás, acenando


com o galho entre nós. — Não sou sua namorada — cospe de volta. — O que
você quer de mim?

Abaixo minhas mãos, tentando parecer o mais calmo e menos


ameaçador possível. — Eu só me certificava de que você estava segura, só
isso.

Seu nariz sardento enruga com descrença. — Garantindo que eu estava


segura? Besteira. Você rastejava fora da minha casa como um perseguidor de
merda.

Não consigo tirar os olhos de suas sardas. Fora de seu rosto. Blair é uma
mulher linda, mas quando está com raiva assim... foda-me, ela é adorável.

Blair puxa o galho para trás, pronta para atacar novamente. — Ei,
idiota, pare de olhar.

A risada escapa dos meus lábios antes que eu possa detê-la, e seus olhos
brilham de fúria. — Você acha que isso é uma piada? Vou quebrar a porra do
seu crânio!

— Tenho certeza que sim — digo, tentando e falhando em conter meu


sorriso. — Tenho certeza que você é muito mortal com essa... vara. Mas não
estou aqui para te machucar. Estava apenas checando. Tenho feito isso todos
os dias desde...

A raiva em seus olhos vacila um pouco antes de cair completamente,


substituída por compreensão. — Você — sussurra. — Você é ele. Aquele que
me salvou naquela noite.
Meu sorriso desaparece com a memória. Blair, ensanguentada e
amassada no chão. Não posso responder, então simplesmente aceno.

Abaixando o galho, ela o segura ao lado do corpo. — Por quê? —


pergunta. — Como? Como você me salvou? Por que não ficou?

Suspiro, apontando para os degraus de seu deck. — Posso?

Posso dizer que ela ainda está insegura sobre mim, mas ela balança a
cabeça, no entanto. Sento-me, novamente reprimo uma risada dela parada
ali, a vara em sua mão ainda entre nós. — Foi meu cachorro — digo a ela. —
Ele deve ter ouvido você gritar, e não me deu nenhuma escolha a não ser dar
uma olhada.

Seus olhos se arregalam. — Então você o parou?

Concordo. — E o cachorro deu uma boa mordida ou duas, então quem


quer que seja, está sofrendo.

— Você viu quem era?

Eu suspiro e abaixo a cabeça, incapaz de olhar para ela. — Não. Quase o


peguei, mas você estava muito machucada. Você precisava de ajuda, então
me concentrei em você. Eu odeio ter deixado aquele filho da puta fugir, no
entanto.

O pedaço de pau cai no chão com um baque suave, e ela se senta ao meu
lado no degrau, o calor de seu corpo irradiando contra meu braço. — Eu
poderia ter morrido.

Levanto a cabeça e encontro seus olhos verdes eletrizantes. — Eu sei.

— Obrigada.
As palavras saem como um sussurro, mas eu as sinto no fundo da
minha alma. — Não é necessário agradecer, Red6. Estou feliz que chegamos
aqui quando chegamos.

Seus olhos brilham e um sorrisinho enfeita seus lábios. Ficamos assim


por muito mais tempo do que o necessário, apenas olhando um para o outro.

— Por que não ficou? — pergunta ela. — No Hospital. Eles me disseram


que você estava lá, mas assim que disseram que eu estava bem, você foi
embora.

Foco meu olhar para baixo e coço uma mancha imaginária em meu
jeans desgastado. — Não nos conhecíamos. Eu não queria tornar isso
estranho.

Sua mãozinha aparece, forçando minha atenção para ela. — Blair —


oferece com um sorriso.

Pegando a mão dela, faço o meu melhor para não notar quão frágil e
perfeito parece enquanto dou uma sacudida lenta.

— GP — respondo.

Ela inclina a cabeça para o lado, o nariz franzindo em confusão. — GP?

— Abreviação de GreenPeace — explico. — É como meus amigos me


chamam.

Seu sorriso fica mais largo, seus dentes brilhando através do vinco entre
seus lábios carnudos e rosados. — Bem, GP, agora nós nos conhecemos.

Eu rio, sua mão macia ainda na minha. — Sim, nós fazemos. — Meu
telefone vibra novamente. Porra. Judge.

6 Red: apelido dado a mocinha pelo fato dela ser ruiva.


— Eu tenho que ir. — Libero meu aperto em sua mão e me forço a ficar
de pé. Tocá-la foi um erro, mas porra sua pele se sentia bem. — Dê-me seu
telefone e colocarei meu número. — Porra, isso parece estranho. — Você
sabe... no caso de precisar de algo.

Ela dá um tapinha no bolso e então para. — Está morto.

Eu franzo a testa. — Então, como diabos você chamou a polícia?

Seus ombros se erguem e seu sorriso reaparece. — Eu menti.

— Jesus — murmuro. Ela iria atrás de seu atacante com a porra de um


galho e nenhuma maldita reserva. Ela é corajosa ou extremamente sortuda
por ser eu a verificando e não o cara voltando para terminar o trabalho. De
qualquer forma, talvez eu apenas tenha que passar por aqui com mais
frequência para ter certeza de que ela não tente esse truque com outra
pessoa. — Caneta?

Blair levanta e faz sinal para que eu a siga. Damos a volta para frente da
casa, onde sua mochila está encostada no degrau da frente. Ela se abaixa
para abrir o zíper e não consigo tirar os olhos de sua bunda. Para com isso,
idiota. Pare de olhar para o que não pode ter.

— Aqui está. — Ela me oferece uma caneta rosa brilhante e um post-it


em forma de coração.

Fico olhando para os dois itens. Posso dizer honestamente que em toda
a minha vida, eu nunca antes tive nada tão fodidamente feminino em minhas
mãos. — Jesus — murmuro novamente, ignorando sua risada enquanto
rabisco minhas informações no papel. — Me ligue — digo a ela, meu tom tão
sério quanto um ataque cardíaco. — Dia ou noite, faça chuva ou faça sol.
Moro ao virar da esquina e posso estar aqui muito mais rápido do que a
polícia.

— Obrigada — diz ela suavemente, segurando o papel em sua mão.


Dou um passo em direção à calçada e levanto minha mão em um aceno.
— Até mais, Blair.

— Até mais, GP.

Jesus. Ela tem problemas com P maiúsculo.


CAPÍTULO 11

Já se passaram três dias desde que GP se revelou meu salvador, e não


consigo tirá-lo da cabeça. Ainda confunde a minha mente que um completo
estranho iria se jogar e seu cão em perigo para me ajudar. Não faz sentido
para mim. No entanto, ele fez isso sem pensar duas vezes.

Quem faz isso? E me daria o número dele caso eu precisasse contatá-lo?


Deveria ter jogado fora no segundo que ele saiu, mas aqui estou eu, dias
depois, ainda olhando para ele como uma idiota. Ele poderia ser meu
agressor, pelo amor de Deus, e estou pensando em mandar uma mensagem
para ele e convidá-lo para entrar em minha casa como um amigo.

O que há de errado comigo?

O pior é que uma parte de mim quer. Levaria duas mãos para contar o
número de vezes que cliquei em seu nome e comecei a enviar mensagens de
texto para ele. Digito uma após outra, mas depois apago rapidamente cada
uma como uma adolescente apaixonada que quer dizer a sua paixão o quanto
gosta dele.

Patético, eu sei. Mas, a menos que você conte aquele vizinho fofo por
quem eu tinha uma queda quando era criança, e o cara com quem namorei
durante o primeiro ano que me chutou para o meio-fio um milésimo de
segundo depois de começar a correr para uma fraternidade, eu não tenho
experiência adulta nesta arena. Depois que fui dispensada, concentrei-me
nos meus trabalhos escolares e decidi esquecer tudo sobre a cena do namoro.
Então GP me resgatou, e agora todo aquele trabalho árduo não está mais
sendo levado em consideração em meus pensamentos.

Porém, uma coisa me incomoda. Ele invadiu minha vida e é um


completo estranho. Encontrei o homem uma vez - duas vezes se eu contar o
ataque - e posso contar as coisas que sei sobre ele em uma mão.

Seu nome, mais ou menos. GP. Um apelido, eu suponho, mas quem


sabe hoje em dia? As pessoas agora chamam seus filhos de vegetais e frutas.
Pelo que sei, pode muito bem ser seu nome verdadeiro.

Que foi ele quem me deu uma olhada em todas as horas da noite com
sua motocicleta barulhenta e que mora nas proximidades. Embora depois de
atacá-lo com um pedaço de pau, eu não o tenha visto por aí desde então. Não
que esteja procurando. Ok, tudo bem, estou procurando. Procurando
constantemente, se for honesta aqui.

E vi o rosto dele. Um lindo, com ângulos afiados e olhos escuros que eu


podia sentir olhando diretamente para minha alma. É um rosto que eu não
me importaria de olhar regularmente.

É isso aí. O fato é que eu realmente não conheço esse cara, mas tente
dizer isso ao meu cérebro, que fica repetindo nosso primeiro encontro
indefinidamente. No entanto, aqui estou eu, com GP ainda em minha mente,
como uma garota doente de amor. O que diabos está errado comigo?

— Pare de pensar nele — murmuro para mim mesma, olhando para o


espelho ainda embaçado do meu banho noturno. Eu gostaria que fosse tão
simples - dizer as palavras mágicas e todos os pensamentos e sonhos que tive
com ele nos últimos dias desapareceriam. Não posso ter essa sorte.
Meus dedos traçam os hematomas leves espalhados pelo meu rosto. O
lembrete final do que passei fisicamente começando a desbotar do roxo
escuro para um tom de amarelo. Sacudindo as feridas e o GP da minha
cabeça, envolvo minha toalha de banho macia em volta de mim. Saindo do
banheiro e indo para o meu quarto, Jinx me cumprimenta na porta com um
assobio agudo.

— Pare com isso — repreendo. Seu traseiro peludo e preto esfrega


contra minha perna, rosnando enquanto o faz. Ela está muito mais nervosa
hoje do que no dia em que voltei do hospital. Qualquer som ou movimento
externo a envia a um ataque de assobios e rosnados raivosos em poucos
segundos.

— O que está errado? — murmuro, dando um arranhão entre suas


orelhas. Ela uiva ainda mais alto, olhando diretamente para a porta do meu
quarto. Uma sensação de extrema inquietação toma conta de mim quanto
mais ela se posiciona em uma direção específica. — Você ouviu algo lá
embaixo?

Examino o quarto. Espero…

As roupas colocadas na minha cama antes de entrar no chuveiro estão


espalhadas pelo chão. Já se passaram anos desde que Jinx fez algo assim.
Quero acreditar que essa bagunça é ela, mas tudo muda quando vejo a gaveta
de cima da minha cômoda entreaberta. Não há como ela ter feito isso.
Alguém esteve no meu quarto.

Jinx abaixa seu corpo mais perto do chão e se aproxima da minha porta.
Ela espia para fora, e um barulho alto ecoa no andar de baixo. Eu não estou
sozinha.

— Porra — grito baixinho. Agarrando Jinx da porta, eu volto correndo


para o banheiro e rapidamente fecho a porta. Meus dedos tremem quando
pego meu telefone no balcão, meu corpo inteiro tremendo ao tentar acertar
os números.
— Atenda, atenda, atenda — imploro no receptor, até que a voz rouca do
detetive responda.

— Pronta para me contar sobre o seu namorado, Srta. Thompson? —


repreende o Detetive Morrison.

— Não! Esta é realmente uma emergência. Alguém está na minha casa!

— Calma, Blair — diz ele, seu tom um pouco mais alerta do que antes. —
Diga o que aconteceu.

— Alguém revirou meu quarto enquanto eu estava no banho.

— Você sabe se ainda estão na casa?

— Acho que estão lá embaixo. Continuo ouvindo barulhos.

— Onde você está agora? — pergunta ele, mas então ele está falando
com outra pessoa, latindo ordens.

— Trancada no meu banheiro. Por favor, se apresse — imploro, com


lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Estou presa se eles ainda estiverem
na casa.

— Aguarde — insiste. — Estou do outro lado da cidade trabalhando em


outro caso, mas vou conseguir um despacho para mandar policiais para sua
casa o mais rápido possível. Fique onde está e fique quieta.

— Quanto tempo? — pergunto em lágrimas.

— Não sei — responde ele com sinceridade. — Mas te prometo, alguém


estará lá o mais rápido que puder.

Ele desliga. Sem um cronograma de quando a ajuda chegará, sou um


alvo fácil se esperar seus oficiais aparecerem. Será tarde demais.
Meu coração dispara e tento forçar minha respiração para equilibrar.
Estou à beira de um ataque de pânico.

— Me liga. Dia ou noite, chova ou faça sol. Moro ao virar da esquina e


posso estar aqui muito mais rápido do que a polícia.

A promessa de GP ressoa em minha memória, e pego suas informações


de contato. Por favor, esteja perto o suficiente para me ajudar agora. Ele
me salvou uma vez. Só espero que faça isso uma segunda vez.

— Blair? — atende GP, mas eu mal posso ouvi-lo com o barulho ao


fundo.

— Alguém está na minha casa — sussurro ao telefone com minha mão


em concha no receptor.

— O que você disse? Espere um segundo, querida. Deixe-me sair. Mal


posso te ouvir. — O barulho desaparece e ele fala novamente. — Posso te
ouvir agora. Você está bem?

— Alguém está na minha casa — repito. — Chamei a polícia, mas eles


não estão aqui ainda. Por favor, estou com medo — jorro as palavras, mas
um segundo estrondo alto vindo de baixo me assusta o suficiente para gritar.
— Ainda estão na casa!

— Estou a caminho, querida. Preciso que me escute, ok? Fique quieta.


Estarei aí o mais rápido que puder, está me ouvindo? — O som de uma
motocicleta dispara estrondos no alto-falante.

— Sim — choro. — Rápido.

— Estou indo atrás de você agora, baby — canta. Ele desliga no


momento em que um terceiro ruído vem do andar de baixo. Desta vez, vem
diretamente de baixo do meu banheiro.
Eu congelo, apertando Jinx com força contra mim. Por favor, deixe o
GP chegar a tempo. Os segundos passam como horas, estendendo-se por
eras em tempo real sem o barulho de uma motocicleta ou o som de sirenes.

— Fique calma, Blair. Fique calma. GP e a polícia estão a caminho.


Apenas continue respirando — sussurro para mim e Jinx, até que o som da
escada range sob passos pesados subindo.

As chances estavam ao meu favor da última vez, mas soaria verdadeiro


na segunda?
CAPÍTULO 12

Mova-se, idiota.

Deslizo minha motocicleta entre duas faixas de tráfego. Estou sendo


totalmente imprudente, mas realmente não dou a mínima agora.

Ele está na casa dela.

De todas as noites para eu estar na porra do clube. Normalmente não


fico por aqui depois de uma reunião, mas Judge ainda estava em pé de
guerra e eu não queria arriscar irritá-lo ainda mais. O que deveria ter feito
era ir direto para casa. Bem, direto para a casa de Blair, para ter certeza de
que estava tudo bem.

Aproximando-se da rampa de saída, uma buzina grita em meu ouvido.


Evito por pouco tirar a extremidade dianteira de um sedan, mas o quase erro
mal é registrado. Se o atacante de Blair estiver em casa, vou matar aquele
filho da puta desta vez.

A subdivisão está tranquila a esta hora da noite, embora as luzes ainda


brilhem na maioria das casas que se alinham nas ruas. Todas, exceto a de
Blair. Apenas uma luz está acesa na janela do andar de cima.
Paro na frente de sua casa antes de descer da minha motocicleta. Subo
as escadas da varanda de dois em dois, e meu coração dispara no meu peito
quando encontro a porta da frente não apenas destrancada, mas aberta a
meio metro. A escuridão e o silêncio estavam além disso.

Minha mão aperta minha Glock 17 e a puxo do coldre. Sem um som, eu


respiro fundo e abro caminho através da porta aberta, olhando para as
sombras. Nada se move, mas não significa que ele ainda não esteja aqui.
Examino cada centímetro do que está na minha frente. Está em silêncio.

O banheiro. Blair disse que se trancou no banheiro do andar de cima.

Olho para as escadas, uma parte de mim querendo mais do que tudo
subir para ter certeza de que ela está bem, mas esse não é o movimento certo
ainda. Agora, preciso limpar a casa e ter certeza de que o intruso foi embora.

Minhas botas pesadas esmagam o vidro no meu caminho pelo corredor.


Uma moldura de quadro, pelo que parece, mas a única coisa que tenho para
continuar é a luz da lua e um poste de luz aleatório entrando pelas grandes
janelas antigas.

A casa é grande, mas não demoro muito para garantir que o primeiro
andar esteja deserto. Subo lentamente as escadas e a imagem de Blair
enrolada no banheiro, apavorada com a própria vida, passa pela minha
mente. Meus ouvidos se esforçam para o mais ínfimo dos sons, mas a única
coisa que ouço é o batimento do meu coração.

O corredor superior está escuro, exceto pela luz que sai de um quarto e
por baixo da porta de outro. Verifico os quartos escuros primeiro, mas estão
todos vazios.

Eu me aproximo do quarto cheio de luz e me encontro em um espaço


que grita feminilidade. Grita Blair. Paredes verdes claras e móveis brancos
são realçados por flores e fotos emolduradas. Uma pequena pilha de roupas
estava amassada no chão ao lado da cama e a porta do armário estava aberta.
Não há ninguém aqui. Ele se foi.

Desesperado para vê-la, para me assegurar de que ela está bem, saio do
quarto e me aproximo da porta com a luz fluindo por baixo. Meu coração
dispara, e a única coisa que o acalma é ver Blair.

Com mais força do que pretendo, bato na porta. — Blair, sou eu. Abra.

Seu soluço abafado vem de dentro da porta fechada, e o som incomoda


meu coração. Como qualquer filho da puta poderia ter machucado essa
mulher está além de mim. Odeio que ela esteja com tanto medo. Odeio que
ela não possa estar segura em sua própria casa. Mas ela ficará. Vou me
certificar de que ela ficará.

— Blair, querida, por favor, abra a porta. Está segura agora.

O mecanismo de bloqueio faz um som de clique quando ela o vira do


outro lado, e então, lá está ela, seu rosto coberto de lágrimas. Sua gata está
agarrado em seus braços, embora a maldita coisa pareça totalmente
assustadora com suas orelhas pressionadas contra sua cabeça, rosnando um
aviso para mim.

— Oh, Deus — chora, soltando a gata no chão e correndo para os meus


braços. — Estava tão assustada. Eu chamei a polícia, mas...

— Sssshhh — digo a ela, abraçando-a com força. Graças a Deus ela está
ilesa. —Está tudo bem agora, Red. — Ela soluça no meu ombro, suas
lágrimas molhadas encharcando minha camisa. Continuo a abraçá-la
enquanto a culpa abre seu caminho por amar como seu corpo se sente
pressionado contra o meu em uma situação como esta. Ela se afasta do meu
ombro e me encara com o mais lindo par de olhos verdes que já vi. Pego seu
rosto, enxugando suas lágrimas com meus polegares.

— Obrigada — sussurra. — Eu não sabia mais o que fazer.


— Eu te dei o meu número por uma razão, querida. Estou feliz que você
usou.

Ela se afasta do meu alcance, e leva cada grama de controle que tenho
para não gemer audivelmente quando ela o faz. Essa toalha fina não esconde
nada.

— Eu também — admite, seu olhar examinando o cômodo com lágrimas


ainda em seus olhos, seu corpo tremendo de medo.

O filho da puta vasculhou seu quarto quando ela estava a apenas alguns
metros de distância. Fúria assassina arrepia dentro de mim, pensando em
como ela está desprotegida aqui sozinha. Isso mudará, aqui e agora.

— Se vista.

Confusão passa por seus olhos. — O que? Mas... não tenho nenhum
outro lugar para ir — dispara ela.

— Mentira. Você está voltando para casa comigo, Red.

— Não posso fazer isso. Mal nos conhecemos.

Eu invadi o castelo duas vezes para salvar a vida dela. As formalidades


se que danem. — O inferno que não pode. Não te deixarei aqui como um pato
sentado.

— Os policiais — começa, antes que eu a interrompa.

— Os policiais não apareceram, eu sim. Você está mais segura comigo.


Posso te proteger, eles não podem — rosno.

Ela mastiga o lábio. Não quero pressioná-la, mas os meninos de azul


chegarão a qualquer minuto. Seria melhor se nenhum de nós estivesse aqui,
especialmente eu.
— Ok — concorda ela. Ela se abaixa para pegar algumas coisas da pilha
no chão. — Você pode se virar para que eu possa me vestir?

Porra. Tudo sobre essa mulher deve ser tão fofo?

— Por favor — implora.

O som das sirenes a alguns quilômetros de distância chamam no ar


silencioso do campus. Temos no máximo cinco minutos antes que eles
apareçam aqui. Não temos tempo.

— Precisamos ir, querida. Não se preocupe com suas coisas. Voltarei


para pegá-las assim que souber que está segura

Vejo um moletom preto perto dos meus pés e me curvo para pegá-lo.

— Aqui — digo a ela. — Põe isto. — Deslizando sobre os ombros, ela


fecha o zíper. — Vamos. — Estendendo a mão para ela, ela recua.

— Não posso partir sem Jinx — protesta.

— Quem diabos é Jinx?

— Minha gata.

Ótimo pra caralho. Walter enlouquecerá por causa de um novo colega


de quarto de quatro patas. Ele estava se acostumando com as pessoas de
novo depois de sua passagem pela arena de cães. Não tive a chance de testar
outros animais.

— Tudo bem — gemo. — Mas temos que nos apressar.

Ela sai correndo do quarto e volta para o banheiro. Ela volta um minuto
depois com um assobio, um caroço se movendo dentro do seu moletom com
zíper. Balanço a cabeça com a visão.
— Pegue aqueles chinelos perto da porta — digo a ela. — Há vidro
quebrado lá. Não quero você cortando seus pés.

Ela o faz, e assim que ela se acomoda - sem o fato de que ainda está em
uma toalha - eu a agarro pela mão e a conduzo escada abaixo. As luzes das
viaturas que se aproximam iluminam partes do primeiro andar. Precisamos
nos apressar.

No momento em que saímos, quase a arrasto para o beco onde


estacionei minha motocicleta, quando viaturas da polícia passam voando
pela entrada de cascalho atrás de nós.

— Suba — exijo quando balanço minha perna sobre o assento e ligo a


ignição. Ela desliza atrás de mim com sua gata se contorcendo entre nós. —
Segure.

Pegando o suporte, eu saio em direção a casa, com as garras de sua gata


cavando em minhas costas por dentro de sua jaqueta todo o caminho.
CAPÍTULO 13

Assim que chegamos à casa do GP, ele me empurrou para dentro e saiu,
deixando-me com uma ordem para não sair de casa e não abrir a porta da
cozinha até que ele voltasse. Assisti da porta da frente enquanto ele montava
sua motocicleta novamente e saía da garagem.

Quanto mais espero por ele voltar, mais me pego examinando meus
arredores. A casa dele é uma construção mais antiga, com algumas das
mesmas características que a minha. Tetos abobadados. Moldagem em
gesso. Ele ainda tem o arco de expansão da entrada para a área de
recebimento de correspondência que era comum na época em que este tipo
de casa foi construída. Caminho pelo primeiro andar, encontrando vários
quartos fechados fora da sala de estar principal. Um contraste total com a
sensação de abertura da minha casa. Estranhamente, todos os cômodos
estão vazios, exceto a cozinha nos fundos do primeiro andar. Panos e
materiais de construção estavam espalhados por todo o lugar. Ele está
remodelando?

O estranho é que sua casa parece estranhamente familiar. Não me


lembro de alguma vez ter estado nesta casa em particular, mas minha avó
tinha uma tendência a visitar todos os vizinhos com guloseimas recém-
assadas quando surgia a ocasião. Hospitalidade do sul e tudo. Mas não me
lembro de ter vindo aqui em uma dessas viagens. Acho que teria me
lembrado de uma tão parecida com a nossa. Será que minha casa foi
construída pelo mesmo construtor? Balanço a ideia da minha cabeça. Não
tem jeito.

Eu me perco olhando ao redor de sua casa, mas então Jinx me morde


algumas vezes. Abrindo o zíper do meu moletom para deixá-la sair, ela fica
louca, correndo por todos os cantos da casa e derrubando uma pilha de
caixas velhas na entrada.

— Droga, Jinx — amaldiçoo. — Somos convidadas aqui. Pare de destruir


o lugar. — Ela desliza escada acima para se esconder. Encontrá-la será um pé
no saco mais tarde, mas não estou prestes a subir sem GP aqui. Já é ruim o
suficiente eu estar bisbilhotando o primeiro andar. Expandir minha
espionagem para o segundo andar é onde estou traçando a linha.

Quando começo a pegar a bagunça de Jinx, meu telefone toca dentro do


meu bolso. — Merda — amaldiçoo quando o nome do detetive pisca na tela.
— Olá? — murmuro quando atendo.

— Onde diabos você está? — grita ele no receptor. — Meu oficial


vasculhou sua casa e você não foi encontrada em lugar nenhum.

— Estou na casa de um amigo — minto. GP é meio que um amigo...


acho. — Não poderia ficar lá.

— E é esse amigo o homem sobre o qual você está mentindo para mim?

— Não — respondo casualmente, continuando a disfarçar minha


mentira. — Um amigo da escola.

— Entendo — dispara ele, a suspeita clara em sua voz.

Acho que não sou tão boa mentirosa quanto pensava.

— Pelo que entendi, você estava em casa quando ligou.


— Estava, mas se tivesse ficado lá por mais tempo, eu estaria morta, não
graças a você.

— Meus oficiais não estão à sua disposição, Srta. Thompson. Você não é
o nosso único caso.

— Não brinca — murmuro baixinho.

— Vou ignorar esse soco e, com sorte, nosso suspeito terá nos deixado
um pouco mais para continuar desta vez. Meus oficiais estão processando a
cena agora. Aconselho você a ficar na casa do seu amigo por enquanto.

— Ok... — GP não me deu exatamente um prazo de quanto tempo eu


poderia ficar aqui em nossa curta conversa. Não que ficar em sua casa por
mais tempo do que esta noite seja uma opção viável neste momento. Eu
poderia entrar em contato com Lindsey, já que ela se ofereceu para me
ajudar mais cedo.

— Entrarei em contato com o que encontrarmos. Você e seu amigo


deveriam ficar na cidade.

— Para onde eu iria exatamente?

— Com um amigo como ele, você poderia desaparecer como fumaça no


vento, Srta. Thompson.

Antes que eu possa perguntar qualquer coisa a ele, como ir buscar


minhas coisas enquanto a polícia ainda está lá, ele desliga na minha cara.
Acho que é um não.

Vou até as caixas derrubadas e começo a colocar o conteúdo de volta


dentro até que um item em particular chame minha atenção sob a mesa final
próxima. Fico de quatro para recuperá-lo, quase batendo minha cabeça no
processo.
A curiosidade leva o melhor de mim quando retiro uma fotografia
empoeirada e dobrada. Que diabos? A mulher mais velha no lado visível da
imagem é minha avó, em seu vestido de verão favorito, com um de seus
chapéus extravagantes - como os chamei - que ela só usava em ocasiões
especiais. Vovó era o epítome do Velho Sul. Boas maneiras e hospitalidade
foram uma das coisas mais importantes que ela enfatizou durante meu
crescimento.

Meu dedo traça sua imagem, sentindo sua falta mais do que nunca.

Endireito o vinco da imagem e meu estômago embrulha. À esquerda da


vovó está uma mulher que não reconheço, e dois filhos pequenos na frente
das duas. Uma deles sou eu.

— Que diabos? — murmuro em choque. Como ele conseguiu essa foto?

A porta da frente se abre e GP entra. Eu congelo. Ele olha para mim e


para a caixa tombada com uma carranca.

— Eu te deixo sozinha por dez minutos e você passa pela minha merda?
— questiona ele com raiva.

Deslizo do chão até os meus pés, segurando a foto na minha mão, e piso
no seu lugar perto da porta. — Por que diabos você tem uma foto minha?

Ele está surpreso com a minha pergunta, confusão clara como o dia
lavando seu rosto. — Eu não tenho — dispara de volta.

— Mentira. Dê uma olhada por si mesmo. — Enfio a foto em sua mão.

Ele olha. — Tudo o que vejo aqui é uma foto minha com minha avó. Não
conheço as outras duas.

Passo para o lado dele e o examino novamente. — Não, sou eu — digo,


apontando para mim mesma quando era criança. — Esta é minha avó. — Ver
seu rosto sorridente envia uma pontada triste ao meu coração.
— É você?

— Por que eu mentiria sobre algo assim? Sim, sou eu.

— Este sou eu. — Ele aponta para o menino ao meu lado na foto com
um sorriso enorme no rosto, espelhando o meu.

— Isso não é possível. — Pego a foto dele e olho novamente. Isso


realmente aconteceu. Viro a imagem e procuro uma inscrição no verso, mas
não há nada escrito.

— Isso diz o contrário — provoca ele, inclinando-se mais perto do meu


corpo.

Tento ignorar sua proximidade, mas é calmante estar perto dele. —


Quantos anos você tinha aqui?

Ele tira a foto da minha mão e a estuda com mais atenção. — Talvez seis
ou sete? Passei todo verão com minha avó antes de começar a estudar em
Seattle, onde morava com minha mãe.

— Eu tinha mais ou menos isso quando meus pais me deixaram na


porta dela com uma sacola de roupas e sem um adeus.

Seus lábios se curvam em uma carranca.

— Não me olhe assim. É o que é. Nem todo mundo vive em um conto de


fadas enquanto cresce. Simplesmente não posso acreditar que nos
conhecíamos quando crianças.

— Sério. Você pensaria que eu me lembraria de brincar com uma garota


bonita como você.

Um rubor quente floresce em minhas bochechas.

— O que? — pergunta ele.


— Ninguém nunca me chamou de bonita — admito.

Colocando o braço sobre meus ombros, ele me puxa contra seu corpo. —
Eles deviam ser cegos, Red.

O silêncio cai entre nós, mas logo é perturbado pelo som de algo no
andar de cima caindo no chão. GP ergue os olhos para ver de onde veio o
barulho.

— Jinx pode ter corrido escada acima quando a soltei — explico,


tentando fingir que minha gata provavelmente não estava destruindo seu
segundo andar em um ataque de vingança furiosa.

Sorrindo, ele balança a cabeça. — Vamos. Tenho alguém que você


precisa conhecer.
CAPÍTULO 14

Levo Blair para a cozinha, pensando em cada coisa nada sexy que posso
para tirar minha mente do fato de que ela ainda está vestindo nada além de
uma toalha e um moletom. Suas pernas são tão longas.

Só de pensar nessas pernas em volta de mim, meu pau fica duro contra
minha braguilha. Porra. Trazê-la para minha casa pode não ter sido a melhor
ideia.

Merda de cachorro. Estrada da morte. O gordo Eddie no clube de


strip. O banheiro do clube quando transborda depois de uma das sessões de
merda de uma hora de duração do Karma.

Limpo minha garganta e paro do lado de fora da porta. — Então, você


lembra que eu disse que tinha um cachorro, certo?

O rosto de Blair se ilumina com um sorriso e ela assente. Porra, ela é


linda.

Coloco minha mão na porta, tentando me concentrar. — O nome dele é


Walter, mas tenho que avisar, ele é... um pouco assustador.
Blair revira os olhos e empurra meu braço de brincadeira. — Apenas
abra a porta, pessimista. Quero conhecer o menino que salvou minha vida.

Fico boquiaberto com ela por um momento, surpreso com sua


ansiedade. —Ok. Mas não diga que não avisei.

Abro a porta e lá está Walter, com a cabeça erguida e o rabo abanando


como uma tempestade. Sua língua pende para fora de sua boca enquanto ele
sorri para nós.

— Oh, meu Deus — grita Blair, passando por mim e entrando no


cômodo.

Eu a alcanço, pronta para avisá-la que Walter não é uma pessoa muito
sociável, mas é tarde demais. Ela já se dobrou no chão ao lado dele,
esfregando o rosto em sua bochecha.

— Olá, garoto lindo — murmura ela. — Então você é o garoto que salvou
minha vida. Não só bonito, mas valente.

Não consigo me mover Nunca antes entrei no cômodo com uma pessoa
desconhecida e não encontrei Walter encolhido em um canto, os lábios
puxados para trás de seus dentes de uma forma que avisa a todos nós para
ficarmos longe.

Nunca vi Walter acariciar ninguém, inclusive eu. Ele não é do tipo que
demonstra afeto pelos humanos depois da maneira como foi tratado por eles.

Blair olha para mim de seu lugar no chão, onde abraça meu cachorro
como se ele fosse um maldito ursinho de pelúcia e sorri. — Ele é incrível.

Suas palavras me tiram do meu estado de choque, e não posso deixar de


sorrir. — Ele é — admito. — O velho Walter aqui passou por muita coisa, mas
ele é um bom menino... na maioria das vezes.
Blair continua coçando o queixo. — Oh, ele está cheio disso — diz ela a
Walter. — Aposto que você é um bom menino o tempo todo, não é?

Walter se aperta mais perto dela, quase a jogando de costas no chão.


Sua maneira de concordar com ela, presumo.

Um estrondo vem de cima. Walter fica quieto e os olhos de Blair se


arregalam. — Jinx — sussurra ela.

Esqueci tudo sobre sua gata louca causando estragos no meu segundo
andar. Ela se levanta e faz um gesto para Walter. — Ele será...?

— Não sei. — Antes que eu tivesse a chance de dizer qualquer coisa,


Walter disparou por mim, seus pés batendo escada acima antes mesmo de
sairmos da cozinha.

— Jinx! — grita Blair, o medo claro em sua voz.

Alcançamos a escada. Um único latido e os sons de um gatinho puto


assaltam nossos ouvidos de cima.

— Walter, não! — grito, meus pés não se movendo rápido o suficiente


para eu fazer qualquer coisa sobre o que está acontecendo lá.

Chego ao patamar, e a visão diante de mim me faz parar no meio do


caminho. Lá, no canto do corredor, está a gata de Blair, com as costas
pressionadas contra a parede e a pata pressionada no focinho de Walter.
Walter fica completamente imóvel, exceto pelo rabo abanando, e permite que
o felino insano acredite que ela está segurando sua cabeça no chão.

— Jinx — repreende Blair, passando por mim e pegando sua gata. —


Somos hóspedes nesta casa. Você não trata seus anfitriões dessa maneira.

Jinx ronrona ameaçadoramente, sua cauda se contorcendo de raiva.


— Ela machucou você, lindo? — pergunta ela a Walter, sua mão
passando pelo topo de sua cabeça. Este é provavelmente o mais amor, neste
momento, que ele já experimentou em sua curta vida.

Assisto ao espetáculo diante de mim. Como diabos nós passamos de


Blair escondida no banheiro, se escondendo de seu agressor, para nós dois
parados no corredor da velha casa da minha avó, tentando impedir que a
gata dela batesse no meu cachorro enorme?

— Parece que é com sua gata que precisamos nos preocupar — digo
finalmente, ainda surpreso com a virada dos acontecimentos, bem como com
a mudança completa no comportamento de Walter. Meus olhos vagam para
onde sua toalha está ligeiramente aberta acima dos joelhos. — Por que não
compramos algo para você vestir?

Ela desvia o olhar dos animais e, pela primeira vez, parece perceber o
quão pouco está vestindo. — Isso pode ser uma boa ideia. — Ela ri. Suas
bochechas ficam um tom de rosa, fazendo minha mente ir para um milhão de
lugares diferentes e travessos.

Eu me viro e vou em direção ao meu quarto. Merda de pássaro. Bolas


de cabelo. O gambá morto que Judge atropelou na semana passada.

— Mesmo apenas uma camiseta para dormir — diz ela atrás de mim. —
E o sofá mais próximo, e um travesseiro. Depois desta noite, preciso dormir
um pouco.

Entro no meu quarto, abro uma gaveta, e retiro a minha T-shirt


favorita. Uma camiseta do Metallica gasta que ganhei em um dos primeiros
shows que participei. — Aqui — digo, jogando-o para ela. — E você não vai
dormir na porra de um sofá. Você fica com a cama.

Ela faz um gesto com o dedo para que eu me vire, então eu viro. Tecido
farfalha atrás de mim, e tudo que consigo pensar é ela trocando de roupa a
poucos metros de distância. Sujeira do chuveiro. O cheiro de esterco. Pão
mofado.

— Terminei.

Jesus, ela está incrível pra caralho. O material cinza claro a cobre como
um vestido, descendo até um pouco acima dos joelhos. Seus seios atingem o
pico, deixando pouco para minha imaginação. E minha imaginação está a
todo vapor agora.

Aponto para a cama. — Você dorme aqui, eu fico com o sofá. Amanhã,
vamos pegar algumas roupas e fazer um plano.

Blair acena com a cabeça, os olhos arregalados.

Eu a observo, meu coração batendo forte a cada passo que ela dá para
mais perto de mim.

— Obrigada, GP.

— A qualquer hora, Red — respondo, minha voz rouca.

Seus olhos nunca deixam os meus, e ela pressiona sua mãozinha no


meu peito enquanto fica na ponta dos pés. Seus lábios roçam minha
bochecha, e estou envolvido em seu cheiro doce - flores silvestres e chuva.

Quando não tenho certeza se posso aguentar mais, eu limpo minha


garganta e dou um passo atrás. — Estarei lá embaixo se você precisar de
alguma coisa. Vamos, Walter. — Walter me encara antes de pular na cama e
ficar confortável. — Walter! —Ele não se move.

— Ele está bem — diz Blair, puxando os cobertores, enquanto Jinx se


enrosca em um travesseiro. O olhar de Walter está claramente me dizendo
para desaparecer.

Traidor de merda.
— Boa noite, Blair. — Fecho a porta.
CAPÍTULO 15

O cheiro de GP, persistente nos travesseiros e lençóis, me envolveu em


um cobertor de conforto desde o segundo que minha cabeça bateu no
travesseiro. Parecia um pouco sujo estar na cama dele enquanto ele ocupava
aquele pequeno sofá. Sua cama parecia grande demais para eu ficar sozinha,
mas Walter compensou isso. Na maior parte da noite, ele estava sentado
entre minhas pernas, com o corpo minúsculo de Jinx envolto em minha
cabeça como um chapéu para estar mais longe da besta que ainda está
roncando de sua posição reivindicada.

Acordar na cama de um homem estranho, vestindo nada além de sua


camiseta, não deveria ser tão estranho em um campus universitário, mas é
para mim. Porém, eu poderia realmente classificar GP como um estranho
neste momento?

Minhas aspirações para a faculdade eram menos sobre as experiências e


mais sobre a educação, e não - experimentar a liberdade - pela primeira vez
como um adulto.

Eu mexo, e o olho bom de Walter se abre levemente em uma fenda,


mantendo-se de olho em mim, assim como GP. Não deixei de notar ele
andando do lado de fora da minha porta mais do que algumas vezes na noite
passada, antes que a exaustão bem e verdadeiramente me afundasse. Era um
conforto estranho saber que ele ainda estava cuidando de mim, mesmo na
segurança de sua própria casa.

— Bom dia. — Sorrio para Walter, esfregando sua cabeça.

Ele se inclina para o meu toque com um gemido. Jinx nos interrompe,
dando um golpe nele. Walter não dá a mínima para ela e se arrasta mais para
cima, quase deitado de bruços.

— Posso acariciar outro animal, sabe. — Eu a corrijo com um leve boop


em seu nariz.

Jinx olha para a posição ainda mais próxima de Walter e sibila para ele.
Walter a empurra com o nariz, fazendo com que Jinx tombe da cama e caia
no chão. Aterrando de quatro, ela apenas me encara, e eu sei que pagarei por
isso de uma forma ou de outra em breve. Não sei quando, mas ela se vingará.
Com os pés leves, ela caminha até a porta agora entreaberta e desliza para
fora. A porta se abre mais, e o cheiro mais celestial de bacon penetra no
quarto. Meu estômago ronca quase que instantaneamente quando meus pés
atingem o chão de madeira.

— Você também está sentindo o cheiro, hein, Walter?

Walter se espreguiça e pula da cama. Ele para na porta como se


estivesse esperando por mim. — Estou indo, amigo — digo, acariciando sua
cabeça quando passo por ele.

Walter e eu descemos as escadas curvas até o primeiro andar. Na


cozinha, GP está de pé junto ao fogão, de costas nuas para mim. O colete de
couro que ele usava nas duas vezes em que estive em sua presença se foi. Ele
nunca me contou sobre sua afiliação a um clube de motociclismo, mas
morando nesta cidade por tempo suficiente, você será capaz de reconhecer o
logotipo do Black Hoods sem um segundo olhar. Ele parece estranhamente
normal com ele pendurado nas costas.
Embora, tenho que admitir, eu gosto da vista na minha frente agora
também - sua construção muscular e as numerosas tatuagens em exibição
total - mas é o jeans caindo baixo em seus quadris enquanto ele dança ao
som do rock tocando no telefone que quase tira o meu fôlego. Tudo que
posso fazer é olhar. Eu sabia que ele era construído, mas não há uma palavra
no dicionário para explicar isso. Nem uma só.

Ele sorri para mim. — Dia.

— Uh, manhã — deixo escapar. No segundo em que deixa meus lábios,


quero rastejar em um buraco e morrer de vergonha. Manhã? Suave, Blair.
Realmente suave.

GP volta para as panquecas, mas eu o pego rindo. — Algo engraçado?

Ele volta seu olhar para o meu e aponta para o topo da minha cabeça
com a espátula. — Eu gosto de seu cabelo, Red.

Estendo a mão para senti-lo e, pela segunda vez em questão de


minutos, aquele buraco escondido de vergonha proverbial parece um bom
lugar para chamar de lar.

— Uh... já volto — murmuro, depois passo por ele e vou para o banheiro
da cozinha onde Walter e eu nos conhecemos ontem à noite. No canto do
cômodo, vejo uma tampa de caixa de papelão cheia de papel picado. Uma
caixa de areia improvisada. Isso definitivamente não estava lá na noite
passada.

Dou uma longa olhada em meu reflexo no espelho. — Merda. — Meus


cachos ruivos parecem que decidiram que hoje seria um ótimo dia para ficar
rebelde e assumir a aparência do que você esperaria ver se eu colocasse meu
dedo em uma tomada elétrica. Tento consertar o melhor que posso com um
pouco de água da torneira, mas se continuar eu parecerei um rato ruivo
afogado.
— Isso poderia ficar pior? — Merda. Eu não deveria ter dito isso.

Respirando fundo, reúno o que restou da minha dignidade e volto para


a cozinha, bem a tempo de GP colocar na mesa um grande prato de
panquecas, ovos mexidos e bacon.

— Espero que esteja com fome — declara ele, com um toque de


nervosismo na voz. — Não pensei em perguntar se você gosta desse tipo de
coisa. Tenho algumas frutas enlatadas na despensa, se não comer carne.

— Parece delicioso — sorrio. GP puxa uma das cadeiras de jantar e


espera que eu me sente.

Ele se inclina quando me ajuda a chegar mais perto da mesa, e sinto seu
cheiro - chuva de verão e couro, assim como seus lençóis. Droga. Ele cheira e
parece muito bom para me receber em sua casa. Ele pega a cadeira ao meu
lado e empurra meu prato com tudo que está na bandeja. Meu estômago
ronca novamente quando ele se senta na minha frente.

— Obrigada — digo a ele, lembrando-me de minhas maneiras. — Você


fez uma caixa de areia para Jinx?

— Não é muito, mas vou buscá-la mais tarde.

— Você não precisa fazer. Ela já tem uma. Ela pode apenas usá-la
quando formos para casa mais tarde.

Seus lábios se estreitam, mas Walter abre caminho por baixo da mesa,
parando entre meus pés e enfiando a cabeça em meu colo.

— Vá se deitar — comanda GP severamente.

— Está tudo bem — asseguro a ele. — Estou acostumada com isso. Jinx
é uma ladra de alimentos de classe mundial.
— Ele também. O idiota roubou uma pizza inteira do balcão alguns dias
atrás.

— Ele estava com fome — murmuro para Walter, colocando um pedaço


de bacon crocante por baixo da mesa.

— Continue assim, ele nunca deixará você ir. — Seu sorriso provocador
desaparece. — Sobre isso... acho que seria uma boa ideia você ficar aqui um
pouco.

— Você está me convidando para morar? — Ele ainda está no meio da


mordida. — Eu realmente aprecio a oferta, mas não posso fazer isso com
você. Já roubei sua cama por uma noite. Não posso fazer isso de novo.

— Você não roubou minha cama, eu dei a você. E você está muito mais
segura aqui, comigo, do que naquela velha casa gigante sozinha. — Suas
palavras dizem que ele está tentando raciocinar comigo, mas o olhar duro em
seus olhos me diz que ele não desistirá. Esta não é uma oferta - é uma
demanda, uma que envia um raio ardente de excitação zunindo direto entre
minhas pernas.

— É uma cama confortável — provoco.

Desta vez, GP engasga com a comida.

— A melhor noite de sono que tive em algum tempo, mesmo com


Walter dormindo nas minhas pernas. — Não sinto falta do olhar que o GP
manda na direção de Walter.

— Pense nisso. Eu me sentiria melhor se ficasse aqui. Não é como se eu


não tivesse o quarto.

— Eu estava realmente curiosa sobre isso. Por que este lugar está tão
vazio?

Ele sorri. — Então você estava bisbilhotando.


— Não. Eu estava me acostumando porque meu anfitrião foi embora
assim que chegamos aqui.

— Em primeiro lugar, eu estava verificando o beco para ter certeza de


que não fomos seguidos — repreende. — E voltando à sua espionagem, estou
reformando a casa.

— Para vender? — Casas da virada do século como esta eram


procuradas. Não por sua arquitetura, mas pelos grandes terrenos que
ocupavam tão perto do campus. Este bairro é o último com casas originais
restantes.

— Não tenho certeza ainda. — Ele encolhe os ombros. — Acho que


começarei com uma reforma e verei onde as coisas vão parar.

— É um lugar bonito. Odiaria ver outra cair para desenvolvedores e


alojamentos estudantis.

— Os vizinhos podem ser o suficiente para me manter aqui. — Ele sorri,


me dando uma piscadela. — Tudo terminado?

— Não consigo comer mais nada. — Limpando meu rosto com um


guardanapo, coloco em cima do prato agora vazio. Tenho que admitir, eu não
peguei GP para o tipo de cozinha, mas se o café da manhã for uma indicação,
a muito mais nele do que aparenta.

— Se você quiser se limpar, eu coloquei algumas toalhas no meu


banheiro lá em cima. Acho que a polícia saiu de sua casa esta manhã.
Podemos entrar lá e pegar suas coisas.

— Minhas roupas ficariam bem. Não que eu não goste da sua camiseta.

Seus olhos percorrem meu corpo. Talvez eu não devesse ter chamado
atenção para o fato de que a única coisa entre nós é um pedaço fino de
material.
— Podemos ir lá mais tarde, se quiser.

— Podemos fazer isso depois que eu sair da aula? Hoje deve ser meu
primeiro dia como TA.

— Uma o quê?

— Sou assistente de professor em meu programa de doutorado.

Arqueando a sobrancelha, ele pergunta: — O que você está estudando?

— Psicologia.

— Não esperava que dissesse isso. — Ele se afasta da pia, encosta-se a


ela e cruza os braços sobre o peito largo. — Por que psicologia?

— Eu quero ajudar pessoas. — Encolho os ombros. — Ajudar alguém


durante uma crise de saúde mental é como um quebra-cabeça. Você precisa
descobrir como eles funcionam antes de ajudá-los a consertar. Estranho, eu
sei, mas sempre tive afinidade com isso.

— Eu posso dizer. Você se ilumina quando fala sobre isso. É por isso
que você estava bisbilhotando, não é? Estava tentando me entender.

— Pela última vez, eu não estava bisbilhotando — protesto. — Jinx


derrubou aquela caixa.

— Claro, Red. A culpa é da gata demônio — brinca ele, sorrindo


largamente. — Que horas é a sua aula?

— Dez e meia.

Olhando para seu telefone no balcão, ele ri. — Por que você está rindo?

Ele não me responde.

— Que horas são? Meu telefone meio que morreu no meio da noite.
— Dez e cinco.

— Merda! Eu nem vou chegar lá, mesmo se eu correr!

— Relaxe, Red. Posso te levar lá em dez minutos.

— Você quer me levar para a aula? — Minha sobrancelha arqueia com a


perspectiva. Andar de motocicleta para a aula pode virar algumas cabeças,
mas não da maneira que eu quero. Já tenho bastante atenção em mim devido
ao ataque. Ser vista com um Black Hoods só iria atrair mais raiva e rumores
de meus colegas.

— Eu sou um salvador de serviço completo. O que posso dizer?

— Não tenho nenhuma das minhas roupas — atiro como uma desculpa,
apontando para sua camisa. — Isso não se encaixa exatamente no código de
vestimenta.

Ele dá um longo e persistente olhar no meu corpo. Isso deveria me


deixar inquieta, mas não deixa. — Há uma caixa no meu quarto com algumas
roupas velhas da minha avó do sótão. Eu ia doar, mas você tem o tamanho
dela. Sinta-se à vontade para levar o que quiser. Eu as lavei, então estão
limpas.

Merda, ele me encurralou agora. Eu quero recusar, mas se não aceitar


sua oferta, vou perder metade do meu primeiro dia como TA. É uma espada
de dois gumes. Aproveitar a oportunidade de espalhar mais boatos ou causar
uma boa primeira impressão com o professor.

— Tem certeza? — Última chance. Por favor, mude de ideia.

— Se continuar me fazendo perguntas, você realmente se atrasará, Red.


Vamos. — Droga. Rumores, é isso.

Saio correndo da cozinha e subo as escadas para o quarto dele. Com


certeza, uma caixa cheia de roupas velhas está no canto. Vasculho até
encontrar algo que possa servir. É um vestido justo vermelho e branco
riscado. Não é exatamente o meu estilo, mas sem fazer uma viagem lateral
para casa, apenas me deixando mais tarde, eu realmente não tenho escolha.
Puxando a camiseta de GP sobre minha cabeça, coloco o vestido.

O corpete é grosso o suficiente para que ficar sem sutiã não seja tão
perceptível. Eu só queria ter calcinha. Eu me viro para sair do quarto e uma
ideia me ocorre. A cômoda de GP talvez tenha a resposta. Eu me aproximo,
abro silenciosamente e encontro uma cueca boxer na gaveta de cima.

— Isso é tão errado — murmuro para mim mesma enquanto a coloco,


puxando-a sobre meus quadris e sob a cintura com cinto do vestido. É muito
grande, mas você trabalha com o que tem. Com sorte, o cinto a manterá no
lugar, então não posso mostrar tudo para o mundo - e GP.

— Você vem ou o quê? — grita ele lá embaixo.

— Chegando! — grito de volta. Desço até o final da escada sem que ele
perceba que roubei sua boxer, mas com o jeito que ele olha para mim, não
tenho tanta certeza.

Ele não se move quando passo por ele em direção à porta. — Nós
vamos? — pergunto.

— Merda, desculpe. Sim, vamos — rosna ele.

Ele me segue porta afora, murmurando algo sobre atropelamentos


enquanto caminhamos em direção à sua motocicleta, estacionada ao lado da
casa no beco. Ele desliza sobre o grande tanque preto e liga o motor, em
seguida, faz um gesto para que eu suba na parte de trás.

— Segure firme. — Ele me lembra, e eu me sento. Envolvendo meus


braços em volta de sua cintura, eu agarro minha vida quando ele sai da
garagem, indo em direção ao campus.
CAPÍTULO 16

O departamento de psicologia da universidade ocupa alguns quarteirões


do extenso campus. Cada prédio está sombrio e orgulhoso, cercado por
alunos de óculos em gravatas e saias, correndo de um lado para o outro com
pilhas de livros nas mãos. Sigo o dedo de Blair apontando por cima do ombro
para um prédio logo à frente.

Parando em frente a um dos edifícios maiores, desligo a motocicleta,


totalmente ciente dos olhos sobre nós. Eu não poderia me importar menos.
Deixe que eles vejam Blair na minha carona. Isso deve assustar qualquer um
que esteja tentando atacá-la.

Ela se mexe atrás de mim e, instantaneamente, sinto falta do calor de


seu corpo macio pressionado contra minhas costas. Estendo a mão para
pegar a mão dela, e ela desliza para o lado, endireitando-se de forma que os
dois pés fiquem no chão ao meu lado.

— Obrigada pela carona.

Suas bochechas estão vermelhas em um tom quente de vermelho. Não


sei se estão assim por causa do passeio em si, ou dos seus colegas, que estão
todos parados nos observando agora. Seja o que for, está deixando meu pau
duro.

— Que horas você acaba? — Sua testa franze.

— Uh…

— Pergunta simples, Red. Que horas você acaba?

Ela olha ao redor nervosamente, colocando uma mecha perdida de


cachos atrás da orelha. — Hum, três e meia hoje.

— Mesmo prédio?

Blair olha para mim boquiaberta e acena com a cabeça, os olhos


arregalados. Seus lábios estão separados e ela parece tão fofa que não
consigo me conter. Eu me inclino e escovo meus lábios contra os dela. — Vejo
você então, querida.

— Mas...

Já posso imaginar os protestos que ela está prestes a vomitar em mim,


então pego a chave e acelero minha carona. Sem outra palavra, eu pisquei
para ela e me afastei. Não consigo esconder meu sorriso. Ela provavelmente
está tão irritada comigo agora.

Na beira do campus, empurro todos os pensamentos sobre Blair para


fora da minha mente, precisando colocar minha cabeça no jogo. Graças a
uma pesquisa sofisticada feita no computador por meu amigo, Hashtag,
finalmente conseguimos uma localização em Kenny Dwyer, o homem que
Carson disse que poderia nos contar sobre a nova arena de luta de cães.

Perto do posto de gasolina na esquina da Fifth com a Wallace, vejo


Karma e Stone Face parados ao lado de suas motocicletas na beira do
estacionamento. É difícil não vê-los. Karma é o executor do Black Hoods MC
por uma razão. O cara é absolutamente enorme. Eles não o chamam de
Karma sem motivo.

O mesmo pode ser dito para Stone Face. Eu o conheço há oito anos e
nunca o vi sorrir. E quanto ao tamanho, ele tem uns bons sete centímetros de
Karma e provavelmente quinze quilos a mais de músculos.

Há um motivo pelo qual Judge enviou esses dois para me acompanhar


nesta pequena expedição. Ninguém consegue obter uma resposta de um
homem relutante como Karma ou Stone Face. Só a visão deles é intimidante.
Para completar, com eles já irritados com as brigas de cães, eles deixarão
Kenny Dwyer mijando nas calças.

— Já era hora, porra — fala arrastado Karma quando paro no espaço


vazio ao lado deles.

Olho para o meu relógio e reviro os olhos. — Relaxe suas nozes, K. Eu


disse para me encontrar às dez. São dez e dez.

Stone Face acena sua saudação, e já está escarranchado na estrutura


maciça de sua Harley, pronto para ir e quebrar algumas cabeças. Ele nunca
foi muito brincalhão, não importa quão engraçado possa ser.

Karma olha em sua direção e ri. — Vamos fazer essa merda.

Cito o endereço que recebi de Hashtag e, como um trio unificado, nós


saímos para a estrada e fazemos uma curta viagem até o ferro-velho nos
arredores da cidade. De acordo com Hashtag, o pai de Dwyer é o dono do
quintal, mas está muito velho e frágil para gerenciá-lo há anos. Esse trabalho
caiu sobre os ombros de seu filho. Kenny assumiu, mas não sem trazer um
pouco mais de dinheiro extra. É como usar o quintal para armazenar e matar
os cães de fome a ponto de ficarem cegos de raiva e depois jogados em um
ringue para arrancar a garganta uns dos outros.
Para nossa sorte, mas não tanto para Kenny, alguém deixou o portão da
frente do quintal aberto, dando-nos livre acesso para cavalgar bem no centro
dele. O próprio Kenny está parado no centro de uma ampla abertura, cercado
por montes de sucata e eletrodomésticos enferrujados.

Ele nos observa chegar perto dele com olhos arregalados, e posso
praticamente ler sua mente. Ele provavelmente está tentando decidir se
mantém sua posição ou corre como um louco. Mais uma vez, para nossa
sorte, Kenny é um idiota e escolhe a primeira opção.

Nossas motocicletas ficam em silêncio. — Kenny Dwyer? — pergunto.

Ele olha boquiaberto para mim, sua postura mais ampla do que antes,
seus ombros mantidos firmes. Uma tentativa de parecer mais intimidante.
Boa tentativa, idiota.

— Quem quer saber?

Stone Face dá alguns passos em direção a ele. — Eu quero.

Olhando para o gigante diante dele, toda a cor desaparece de seu rosto.
Seu pomo de adão balança quando engole, mas ele não responde.

— Você pode querer responder à pergunta — aconselha Karma, olhando


pelas costas de Stone Face. — Meu amigo aqui não gosta de ser ignorado.

Kenny tira os olhos de Stone Face e os joga em direção a Karma e


depois a mim. — O que os Black Hoods querem com Kenny Dwyer?

Esse cara deve pensar que não fizemos nosso dever de casa. Eu vi a foto
dele - todos nós vimos. A menos que Kenny tenha um irmão gêmeo - e para
que fique registrado, sabemos que ele não tem - não há dúvidas em qualquer
parte de nossas mentes sobre quem está diante de nós.

Antes mesmo de eu ter a chance de responder, Kenny está de joelhos,


seu rosto contorcido de dor. Sua cabeça está inclinada para o céu, graças ao
punho carnudo incrustado em seu cabelo, puxando-o a ponto de ele ficar
careca depois desse pequeno encontro.

— Onde estão os malditos irmãos Armstrong? — Assim é com o Stone


Face. Curto, direto ao ponto, e vincado com uma quantidade indescritível de
dor.

— Não sei o que você está - Ahhh! — As mãos de Kenny voam, cobrindo
as de Stone Face em uma tentativa desesperada de puxá-las de seu cabelo. —
Pare! Porra!

Karma acende um cigarro e encosta-se a sua motocicleta, claramente se


preparando para um show. — Eu responderia ao homem — diz ele com um
sorriso malicioso. — Depois que ele começa, é difícil pra caralho controlá-lo.

— Eu não sei de nada! — chora ele. — Porra! Solte a porra do meu


cabelo.

Dou um passo à frente e Stone Face me faz um favor, puxando o cabelo


de Kenny de tal forma que ele não consegue deixar de olhar diretamente para
mim. — Veja, por acaso eu sei que você está mentindo, Kenny, e não gosto
que mintam. — Aponto para Karma. — E o Karma ali? Ele definitivamente
não gosta dos que mentem.

Lágrimas de raiva e derrota escorrem pelo rosto de Kenny.

— E você, Stone Face? — pergunto, mantendo minha voz calma e


casual. — Você gosta de ser enganado?

Stone Face fica bem baixo, seus lábios bem ao lado da orelha de Kenny.
Não sei o que ele disse a ele naquele momento, mas as mãos de Kenny caem.
Seu rosto fica do tom mais pálido que um homem poderia ter, e posso
praticamente ver o desafio o deixar.

— Não sei onde estão — confessa. Stone Face puxa o punho.


As mãos de Kenny se erguem no ar. — Espera! Eu - eu não sei onde eles
estão agora, mas sei onde estarão em alguns dias. Eu sei onde a luta será.

Stone Face deixa cair o punho, e eu agacho na frente de Kenny, então


estamos praticamente nariz com nariz. — Conte-me.

— A velha fazenda de porcos na I-84, perto da linha do condado.

Olho para Karma, e ele acena. Que bom que alguém sabe do que diabos
ele está falando.

— Sexta à noite às nove e quinze. É quando começa.

— Há uma senha? — pergunta Karma.

— Não sei, porra - Ahhh! Filho da puta!

Stone Face sorri um pouco enquanto se torce com mais força. Ele adora
essa merda. — Facão! — chora Kenny. — A senha é facão.

Karma revira os olhos. — Muito inteligente — zomba ele. — Solte-o,


Stone. Nós temos o que precisamos.

Stone Face empurra Kenny para o chão, seus dentes esmagados na


terra. Eu o vejo rolar de costas e pressionar as mãos no topo da cabeça.

— Você não vai impedi-los — avisa, e está claro que está feliz com isso.

— Veremos — chamo por cima do ombro. E é quando eu o vejo.

Lá, enrolado na sombra de uma pilha de geladeiras velhas, um pit bull


marrom e branco está deitado. Pelo menos, acho que é dessa cor. É difícil
dizer, porque a cor dominante em seu casaco agora é vermelho. Sangue.

O cachorro não se move. Ele não choraminga. Ele nem mesmo olha
para nós. Mas ele está vivo - por um fio.
Antes mesmo de saber o que estou fazendo, meu punho bate no rosto de
Kenny Dwyer e posso sentir o osso estalar sob meus dedos. Eu o acertei uma
vez, duas, depois uma terceira. Esses malditos idiotas. A dor que causam, só
de apostar na luta de dois pobres e inocentes cães é desprezível. Há um lugar
especial no Inferno para essas pessoas, e se eu tiver algo a dizer sobre isso,
ajudarei a mandá-los para lá.

Kenny não tenta revidar. Acho que o nocauteei com o primeiro soco,
mas nem sei. Tudo que sei é raiva. Raiva e desespero para parar com essa
merda.

Experimentei em primeira mão os danos que esses filhos da puta


podem causar a um cachorro. Cuidei de Walter para que recuperasse a saúde
sozinho. Espalhei pomada em sua pele quebrada e gelo em suas juntas
inchadas. Levei meu tempo para chegar perto dele, dando-lhe todas as
oportunidades de confiar em um humano pela primeira vez em sua curta
vida.

Kenny Dwyer fez isso com ele. Os irmãos Armstrong fizeram isso com
ele. Eles causaram aquela dor, e fizeram aquele pobre cachorro ali passar
seus últimos momentos de vida enrolado em agonia no centro de um ferro-
velho de merda, sozinho e com medo.

— Ok! GP, pare! — Palavras do Karma. Puxando meu ombro, ele me


traz de volta ao presente.

Kenny está inconsciente no chão aos meus pés, seu rosto quase
irreconhecível pela surra que acabei de dar. Alguns caras de macacão se
destacam no quintal, com os olhos em nós, mas não fazem nada a respeito.
Homens espertos.

E o cachorro. Ele não está mais naquele lugar na grama. Ele foi levado
para a sombra e para o colo de um homem gigante. Stone Face embala o
cachorro quebrado como um bebê, sua voz baixa e suave, suas mãos outrora
violentas agora calmantes e gentis.
Eu não me movo Não falo, Karma e eu apenas ficamos ali, quietos,
observando enquanto o homem mais perigoso que conhecemos oferece uma
despedida amorosa a um cão que nunca conheceu um momento de amor ou
paz em sua vida.
CAPÍTULO 17

Pare de olhar para o relógio. Não faça isso.

Verifico novamente o que deve ser a centésima vez nas últimas duas
horas. Droga.

Passo minha mão em meu rosto em frustração. Por que não consigo me
concentrar? Este é um dos meus assuntos favoritos, mas no segundo que
tento ouvir a aula, minha mente vagueia de volta para esta manhã. Repasso a
conversa uma e outra vez quanto mais tempo eu fico aqui. Como GP estava
quando não sabia que eu o via dançar. Seu sorriso e sua risada profunda
quando me provocava. Até mesmo a maneira como me senti com meus
braços cruzados em torno dele enquanto me sentei na parte de trás de sua
motocicleta, o vento soprando em meus cabelos no caminho para a aula.
Tudo no GP é frustrante e reconfortante ao mesmo tempo. Minha maldição e
meu salvador envolto em um enigma sexy de homem.

— Srta. Thompson? — chama o professor por mim, trazendo-me de


volta à realidade. Merda. Do que ele falava de novo?
— Sinto muito, professor Brewer. Acho que não ouvi sua pergunta. —
Mais como, não ouvi uma palavra maldita que ele disse desde que minha
bunda bateu no assento. Obrigada, GP.

Seu rosto envelhecido franze a testa para mim. — Se você tivesse


ouvido, estávamos discutindo a correlação entre o vício em opióides e a
depressão profunda em adultos jovens. Você pode tirar sua cabeça das
nuvens e prestar mais atenção. Isso estará no primeiro exame.

Eu poderia causar a pior primeira impressão não apenas no professor


de um dos cursos mais difíceis que farei neste programa de doutorado, mas
no professor que ajudaria durante o verão até receber minha designação
permanente para o ano acadêmico neste outono? Se eu pudesse segurar a
palma da mão sem que ninguém percebesse, o meu seria um recorde
mundial.

— Peço desculpas, senhor. Não acontecerá novamente.

— Certifique-se de que não aconteça — rosna ele severamente antes de


retornar à sua apresentação. Ótimo. Aquela reunião depois da aula para
discutir meus papéis e responsabilidades ficou ainda mais estressante.

A aula se arrasta, e quanto mais o relógio passa devagar, maior é a


vontade que tenho de voltar para casa, rastejar debaixo das cobertas e orar
por uma renovação. A pior parte é que ir para casa nem mesmo é uma opção
neste momento. Foda-se minha vida.

O professor Brewer finalmente termina sua aula alguns minutos após o


término programado da aula. Os outros alunos saem imediatamente da sala
de aula, deixando nós dois sozinhos. Pego minhas coisas e sigo para a
bancada de aula com meu rabo entre as pernas.

Professor Brewer ergue os olhos quando me aproximo. — Antes de me


contar uma história triste sobre sua situação, Srta. Thompson, eu quero
alertá-la de que se ofereceu para preencher a vaga temporária que eu tinha
para meu horário de verão. Minha expectativa é que você preste atenção, não
importa de que lado da aula você se sente.

— Compreendo. Não espero que você me dê acomodações especiais,


professor.

— Bom — resmunga. — Infelizmente, não poderei encontrar-me com


você para discutir sua posição conforme agendado anteriormente. — Ele
vasculha sua bolsa, pega um pedaço de papel e o coloca em minhas mãos. —
Tomei a liberdade de digitar minhas expectativas e um cronograma
provisório.

Examino o papel e escondo minha careta. Lá, em letras pretas e brancas


simples, está uma lista de regras e responsabilidades de um quilômetro de
comprimento. Eu sabia que trabalhar para alguém tão estável e respeitado
como o professor Brewer seria difícil, mas isso é um exagero. Lá se vai meu
tempo livre.

— Obrigada — forço, tentando esconder meu descontentamento.

— Vejo você amanhã de manhã, Srta. Thompson — murmura ele,


pegando sua bolsa antes de passar por mim. — Não se atrase.

— Eu não vou — falo atrás dele, mas ele se foi. Junto com qualquer
chance de meu GPA perfeito continuar assim.

Abatida, saio da sala de aula, com a intenção de tentar encontrar uma


maneira de fazer as pazes com o professor Brewer amanhã e salvar nosso
relacionamento de trabalho agora danificado. Graças à minha desatenção,
bato com força contra um objeto quase imóvel, o que me faz cair de bunda
com um baque.

— Merda!

— Permita-me ajudá-la a levantar — diz uma voz suave e acentuada,


estendendo uma grande mão para me ajudar a ficar de pé.
— Obrigada — murmuro, pegando, então me endireitando. Tirando a
poeira do vestido, tento me dar um segundo para recompor meu ego antes de
olhar para cima, apenas para perceber que o homem não é outro senão o
professor Daniel Coates. Um especialista de renome mundial no campo da
psicologia e o homem cujo trabalho eu tenho acompanhado nos últimos
anos. Este homem literalmente redefiniu nosso campo na maneira como
tratamos pacientes com depressão bipolar, e simplesmente eu o derrubei no
corredor. Hoje poderia ficar pior?

— Sinto muito. Eu não olhava para onde ia — peço desculpas


profusamente. — Eu deveria ter prestado mais atenção.

— Bobagem. Não foi nada mais do que um acidente. — Seu sotaque


britânico rola sobre mim, suave como seda. —Você está bem?

— Estou bem — admito. Fisicamente sim. Meu orgulho? Não muito. —


Realmente sinto muito por atropelá-lo assim, professor Coates.

— Ah, então você sabe quem eu sou — supõe.

— Blair Thompson — deixo escapar rapidamente. — Sou uma grande fã


do seu trabalho, professor.

— Tenho o prazer de conhecê-la, Blair — diz ele, oferecendo a mão.

Estendo a mão e sacudo a dele com firmeza.

— Ouvi dizer que você está ajudando Brewer neste verão. O primeiro
dia não foi bem?

Se ele consegue ler minha expressão, não tenho dúvidas de que não
escondi bem do professor Brewer. Eu não poderia ter estragado sua primeira
impressão de mim mais do que se tivesse passado pela sala de aula no meio
da aula.
— Foi minha culpa. Fiquei um pouco distraída durante a aula e ele me
pegou desprevenida.

— Estive em uma série de suas aulas, minha querida. Não é você. O


homem deveria ter se aposentado há muito tempo.

Ele não está errado quanto a isso, mas não tenho o direito de concordar
com ele em voz alta - especialmente com um de seus colegas.

— Odeio ver alguém do seu calibre - como me disse a professora


McCallen - desperdiçar seu talento trabalhando para alguém como ele.

Minha orientadora... e ela falou sobre mim? Por quê? Ela não
mencionou isso para mim. Por que ela não disse algo?

— É experiência — respondo com um encolher de ombros. — Não


ajudou o fato de eu ter perdido os prazos para as oportunidades que eu
realmente queria me candidatar. — Ou seja, seu programa de estágio de
verão. Ainda estava chateada comigo mesma por perder o prazo para me
inscrever para trabalhar para ele, mas como estava no hospital me
recuperando, não tinha outra escolha.

— Espero que você se inscreva para a vaga que tenho neste outono, Srta.
Thompson. Uma mente brilhante como a sua não deve ser desperdiçada
dessa maneira.

Tento esconder a emoção dançando dentro de mim. Um professor do


calibre dele não deveria saber nada sobre mim. Sou um peão comparado a
ele no mundo da psicologia. Chegar ao seu nível de reconhecimento e
realização era o que constituía meus sonhos.

— Estou pensando nisso — sorrio.

Ele sorri, e alguém o chama do outro lado do corredor. — Preciso ir,


mas, por favor, inscreva-se. — Ele se despede de mim, caminha pelo corredor
e olha para mim antes de desaparecer em uma sala.
Quando o faz, cada gota de excitação flui de mim de uma vez, e giro em
um círculo, gritando alto. Seria a chance de uma vida trabalhar para o
professor Coates. Um endosso de um homem como ele, e eu poderia escolher
qualquer emprego que quisesse. Minha trajetória de carreira pode disparar
de maneiras que apenas imaginei.

Talvez hoje não seja tão ruim assim.

O toque alto da torre do sino do campus me traz de volta à realidade.


Merda! GP provavelmente já está lá fora esperando por mim. Saio do prédio
em direção ao estacionamento central. Algumas das garotas andando atrás
de mim avistam GP antes de mim. Seus murmúrios sobre aquele homem
sexy e sua motocicleta me fazem revirar os olhos.

Eu me aproximo de onde ele está encostado em sua motocicleta, com os


braços cruzados sobre o peito largo.

— Você parece feliz — diz ele com um sorriso. — O professor deve ter
facilitado com você por quase perder a aula. — Ele desliza de sua posição e
agarra um capacete vermelho brilhante da parte de trás de sua motocicleta.
— Comprei algo para você hoje. —Ele o entrega para mim, e só quando o faz
é que noto suas mãos ensanguentadas.

— O que aconteceu com você? — pergunto, arqueando minha


sobrancelha.

Ele olha para os nós dos dedos machucados e enxuga o sangue em seu
jeans. — Não é nada, Red.

— Isso não é nada — argumento, agarrando sua mão para inspecionar


mais de perto. — Parece que você brigou com uma parede de tijolos.

— Talvez eu tenha. — Ele pisca para mim, mas afasta as mãos.

O que ele está escondendo de mim? Não sou idiota. Qualquer cara
disposto a entrar de cabeça na casa de um estranho para salvá-la
provavelmente tem alguns demônios em seu armário. Mas evidências físicas
como essa significam que algo aconteceu. O que ele fez?

— Tem certeza de que está bem? — empurro com mais força.

— Estou bem, querida. Você está com fome?

Ele está desviando. Acho que a conversa sobre a mão dele acabou.
Veremos sobre isso, no entanto. Dois podem jogar este jogo e tenho a noite
toda para descobrir mais.

— Eu poderia estar — admito com um encolher de ombros. — O que


você tem em mente?

— Você gosta de churrasco?

— Como texana, é meio que um requisito — provoco.

Ele joga a perna por cima da motocicleta e dá um tapinha no assento


atrás dele. — Suba, Red. Podemos dar uma passada na loja a caminho de
casa para pegar o que precisamos para o jantar.

Começo a subir na motocicleta, mas ele me para, apontando para o


capacete em minha mão. — Coloque-o.

— Eu tenho que usar isso? — protesto.

— Não gostou do seu presente?

— Tudo bem — admito. Afixando o capacete corretamente, eu o coloco


na posição. Lindsey sai de um dos prédios do outro lado do estacionamento e
aceno para ela, mas ela não acena de volta. Estranho, considerando a oferta
dela para ajudar ontem. Talvez não me reconheça tão longe.

— Para quem você está acenando? — pergunta GP, seus dedos na chave
na ignição.
— Uma amiga — declaro. — Como estou? — Eu giro nos calcanhares,
girando para modelar meu novo acessório.

— Você está linda, Red. Combina com o seu cabelo. — Seu comentário
me faz franzir a testa.

— O que está errado?

— Acabei de perceber que isso me deixará com o cabelo do capacete.

— Alguém pode nos acertar e você está preocupada com o cabelo do


capacete. —Ele ri muito. — As coisas que saem da sua boca fofa, Red.

— Não ria de mim — rosno. Subo em sua motocicleta e envolvo meus


braços em volta de sua cintura firme e musculosa. — Você tenta pentear
esses cachos com o cabelo do capacete soprado pelo vento e veremos se você
gosta.

— Se for algo parecido com o seu cabelo, estamos definitivamente em


apuros — brinca ele. Ele liga o motor e puxa o suporte. Posso senti-lo rindo
de mim durante todo o caminho até o supermercado.
CAPÍTULO 18

Tirando as batatas e os bifes da grelha, volto para a cozinha. Blair está


no balcão, jogando uma salada, uma cerveja aberta na frente dela. Seus
quadris balançam com a música do rádio, e sua gata ziguezagueia em torno
de seus tornozelos enquanto ela trabalha, sem noção de qualquer coisa
acontecendo além da tarefa em mãos.

A mulher é linda É doce e gentil. Walter a ama. Ela também parece que
pertence à minha cozinha, bebendo a cerveja que comprei para ela,
preparando-se para comer a comida que cozinhei.

Que porra você está pensando, cara? Este não é o caminho a percorrer
agora. Ou nunca, por falar nisso.

— O jantar está pronto — digo, colocando a comida no centro da velha e


angustiada mesa de jantar da vovó.

Eu a vejo beber sua cerveja e pegar a salada para trazer para a mesa, e
um sorriso se espalha pelo meu rosto.

— Graças a Deus — geme. — Estou faminta.


Puxo uma cadeira e faço um gesto para que ela se sente. Depois que ela
se acomoda, sento-me ao lado dela. Nós dois começamos a preparar nossos
pratos sem dizer uma palavra, mas o silêncio é quebrado quando ela solta
um gemido que deixa cada gota de testosterona em meu corpo em estado de
alerta.

— Oh Deus. Faz muito tempo que não como comida na grelha. Isso é
delicioso.

Limpo minha garganta e, de repente, não estou mais com tanta fome.
Formigueiros. Larvas. Chicletes embaixo da minha mesa em um
restaurante. Porra. — Estou feliz por ter gostado.

Minhas palavras são o que um cara como eu deveria dizer quando está
bem, mas não me sinto muito bem agora. Blair dá outra mordida entre
aqueles lábios carnudos e rosados e mastiga. Seus olhos reviram, e ela deixa
escapar outro gemido de prazer.

Merda de cachorro. A bunda peluda de Karma. O cheiro dentro de um


banheiro de parada de caminhões.

— Não acredito que nos conhecíamos quando éramos crianças — diz ela
entre mordidas.

É preciso muito esforço para me concentrar em suas palavras e não em


seus lábios. Jesus Cristo, cara. Você precisa transar.

— Sim... — respondo, dando uma mordida enquanto olho para a foto


que ela colocou na mesa em frente a nós. — Não éramos muito velhos lá, não
é? Eu diria que tinha uns seis anos.

Blair acena com a cabeça. — Sim, eu pareço o mesmo. Obviamente,


passamos algum tempo juntos. Quer dizer, há evidências fotográficas disso.
Então, por que não me lembro de você?

Encolho os ombros. — Passei todo verão aqui com meus avós.


Ela franze a testa. — Espere um minuto... eu me lembro desse menino.
Ele foi mau comigo o tempo todo. Ele costumava puxar minhas tranças e me
fazer chorar.

Uma memória repentina passa pela minha mente tão rápido que não
consigo entender tudo.

— Mas o nome dele era... Blake? Não. Brad? Não, era Brock! Eu lembro
agora. O garoto em quem estou pensando se chama Brock. Ele era terrível.

Coloco meu garfo e me viro para encontrar seu olhar. Seu cabelo ruivo
desperta outra memória. A menininha ruiva costumava vir brincar com a
vovó, mas tudo o que ela queria fazer era brincar de casinha. Ela queria que
eu fosse o pai e ela a mãe, e que tivéssemos um - bebê - representado por
uma boneca assustadora que ela tinha, cujos olhos fechavam toda vez que
você a deitava.

Não há como eu, de seis anos, fingir que sou o marido de alguém.
Queria brincar de esconde-esconde ou construir um forte. Essa menina era
um pé no saco. E eu me lembro de puxar aquelas lindas maria-chiquinhas
encaracoladas só para fazer ela me deixar em paz.

— Puta merda — murmuro.

— O que? — Ela me encara, seus olhos cheios de perguntas, ainda sem


conseguir somar dois e dois.

Ofereço minha mão para ela. — Brock Fletcher, prazer em conhecê-la.

— Não! — engasga, sua mão voando para cobrir a boca. — Quer dizer
que você é aquele menino horrível?

Finjo estar ofendido. — Gosto de pensar que sou mais um homem


horrível, grande e assustador agora.
A mão de Blair cai de seu rosto, e ela fica boquiaberta antes de jogar a
cabeça para trás e uivar de tanto rir. Não posso deixar de me juntar a ela. A
coisa toda é bizarra. Quais são as chances de que ela seja a mesma garota que
eu odiava ter nesta mesma casa há vinte anos? Que passamos um tempo
juntos quando éramos mais jovens?

Nossa risada desaparece e Blair segura a barriga, uma única lágrima


escorrendo pelo rosto. Ela solta um suspiro lento e ri um pouco mais. — Você
era um idiota — informa ela.

— Ainda sou — respondo com um sorriso.

Não espero isso quando seu rosto fica sério. — Você é meu herói, no
entanto — sussurra ela.

Nossos olhos se encontram e, por um momento, não consigo desviar o


olhar. Seu herói. Nunca fui o herói de ninguém, mas se eu fosse ser de
alguém, gostaria de ser dela.

Pare com essa merda, idiota. Essa é a menor das suas preocupações
agora.

É preciso esforço, mas minha própria autocensura é suficiente para me


fazer desviar os olhos dos dela. Pego meu prato vazio e fico de pé,
interrompendo o momento que estávamos tendo. Ao passar por ela no meu
caminho para a pia, vejo o que só pode ser um lampejo de decepção em seus
olhos.

Porra.

De repente, o que antes era uma noite divertida, cheia de risos e ótimas
conversas, ficou estranha. Atrás de mim, Blair se afasta da mesa e sua
cadeira raspa no chão.
Não me movo quando seus passos se aproximam ou quando seu ombro
roça o meu repetidamente enquanto ela enxagua o prato. Sequer me movo
quando ela solta um suspiro sutil antes de se virar para sair.

— Ah, Walter — murmura ela. — Você precisa de mais água, amigo?

Eu me viro e a vejo se curvar para pegar a tigela do chão. Um lampejo


de azul escuro espia por baixo da bainha de seu vestido. Um azul escuro
muito familiar. Fico boquiaberto com ela. Nah. Ela não iria... iria?

Ela se move para ficar ao meu lado, enchendo a tigela com água da
torneira, mas tudo que consigo pensar é o que ela está usando por baixo do
vestido. Seu cheiro me envolve. Tudo nela me oprime.

Ela é linda. É inteligente. É corajosa e gentil. Tem um grande senso de


humor e pernas que se estendem por uma milha de comprimento. Ela não é
tudo que eu sempre quis, mas nunca ousei esperar?

Eu a vejo se curvar novamente para colocar o prato de água no chão, e


quando o azul pisca sob seu vestido novamente, eu atiro.

Antes que eu perceba, estou me movendo em direção a ela. Ela se vira,


seus olhos arregalados de surpresa, mas então eles mudam. Foda-me, eles
mudam. Alarme se transforma em necessidade. Uma necessidade que
conheço muito bem, porque preciso dela também, pra caralho.

Pegando seu braço suavemente em minha mão, eu a puxo até que seu
peito esteja pressionado contra o meu. — O que você está usando por baixo
desse vestido, Red?

Um sorriso perverso cresce lentamente em seu rosto, e ela me encara


com o que nunca poderia ser confundido com nada além do que é - um
desafio. — Advinha.

Meus olhos se fecham e abaixo minha cabeça, enterrando meu nariz no


lugar delicioso onde seu pescoço termina e seu ombro começa, bebendo dela.
Ela cheira tão bem pra caralho. Desta vez, nem me incomodei em tentar
impedir. Desta vez, não há nada que qualquer um de nós possa fazer.

Quando sua mão sobe e descansa ao longo da minha bochecha, eu


levanto a cabeça e encontro seu olhar. — Acho que você gosta de mim em sua
cueca?

Minha única resposta é um rosnado. Meus lábios batem nos dela, meu
batimento cardíaco rugindo tão alto que os vizinhos provavelmente podem
ouvir. Ela pressiona de volta, e seus dedos torcem em meu cabelo, seu beijo
profundo, sua própria necessidade se fortalecendo contra a minha.

— Diga-me para parar — murmuro, movendo meus lábios de sua boca


para seu pescoço. — Diga para parar agora, Red, ou não conseguirei.

Suas mãos seguram meu cabelo com mais força, e sua coxa envolve
minha cintura. — Não ouse parar, porra.

Com um grunhido, eu me abaixo e levanto sua outra coxa, embalando


sua bunda doce em minhas mãos enquanto ela enrola suas pernas em volta
da minha cintura. Seu calor pressiona contra meu pau, forçando os limites
do meu jeans.

Seus lábios continuam seu glorioso ataque aos meus enquanto faço meu
caminho em direção às escadas. Ela é tão macia, tão doce, que quase decido
dizer foda-se e apenas levá-la aqui nos velhos degraus rangentes. Mas não.
Ela merece mais do que isso.

Quando chegamos ao quarto, eu a deito de costas na cama, subindo


entre suas pernas. Seus olhos olham para mim, um sorriso suave em seus
lábios. As pontas dos seus dedos sobem e roçam ao longo da minha
bochecha, enviando um arrepio pela minha espinha. — Você é tão bonito.

— Você é linda pra caralho.


Seus olhos brilham de necessidade, e em um movimento que deixaria
um lutador profissional com vergonha, ela me colocou nas minhas costas e
sobe em cima de mim. Seus lábios estão inchados de nossos beijos, e suas
bochechas estão vermelhas quando ela puxa minha calça. — Tire — engasga
ela.

Ela não precisa me pedir duas vezes. Levanto minha bunda e as chuto.
Assim que elas caem no chão, eu puxo seu vestido por cima da cabeça e voa
pelo ar.

Não consigo me mover. Ela é perfeita. Seus seios são cremosos e cheios,
seus mamilos implorando para que eu dê beijos carinhosos em cada um. Sua
cintura estreita se alarga na altura dos quadris como uma ampulheta. Meu
pau fica mais duro do que nunca.

Vejo os olhos de Blair se arregalar.

Ela olha entre as pernas, para o lugar onde seu núcleo pressiona contra
minha dureza. — Já faz muito tempo — admite. — Muito tempo.

— Tome seu tempo, Red. Não estou com pressa para acabar com isso.

Quando ela levanta os quadris e agarra meu pau, a visão por si só é o


suficiente para me enviar ao limite. Observo ela se posicionar em cima de
mim, e então lentamente - muito, muito lentamente - ela me leva para
dentro.

Ela é tão apertada. Tão quente. Tão fodidamente incrível.

Quero chicoteá-la e transar com ela. Quero mergulhar profundamente


dentro dela e me deleitar em senti-la em todos os lugares. Mas não. Eu a
deixei assumir o controle, eu a deixei liderar a corrida. Eu a deixei fazer amor
comigo, seu olhar nunca deixando o meu. Suas mãos envolvem meus pulsos
e ela leva minhas palmas aos seios, pressionando-os ali, deixando sua cabeça
cair para trás.
Seus quadris giram e balançam, seu corpo me envolvendo como uma
luva de seda. Seu cabelo balança, roçando minhas bolas. Seus gemidos de
êxtase me dizem que ela está tão perto.

Ela é incrível. Cada movimento que faz me traz cada vez mais perto, e
quando eu acho que não posso segurar por mais um segundo, ela solta um
gemido que nunca esquecerei enquanto eu caminhar nesta Terra.

Sua boceta me aperta, e estou feito. Qualquer autocontrole que eu tenha


desaparece com a ondulação das paredes de sua vagina. Eu a abraço, dando-
lhe tudo, bombeando cada grama de prazer que tenho dentro dela.

Quando ela termina, ela encosta a cabeça no meu ombro e ri. — Oh,
meu Deus — diz ela. — Eu sinto muito mesmo.

Ainda não consigo respirar direito, mas respondo mesmo assim. — O


que você poderia ter para se desculpar?

— Gozei tão rápido. Eu não queria.

Levanto seu rosto para que eu possa olhar em seus olhos. — Baby, a
qualquer hora que você quiser gozar no meu pau, você pode. E nunca se
desculpe por isso, porque ainda não terminamos.

Eu a viro de costas, provocando uma gargalhada. Sorrindo, levo seu


mamilo à minha boca. Garota tola. Ela pensou que estava tudo acabado, mas
estou apenas começando.
CAPÍTULO 19

— Ela sempre faz isso? — pergunta GP, olhando para a cabeceira de sua
cama onde Jinx está sentada, cuidando de nós.

— Ela é gárgula. — Eu rio contra seu peito. — Apenas a ignore.

— Eu não acho que posso fazer isso — bufa ele. — Ela está com uma
expressão no rosto, como se estivesse tentando descobrir se vai me comer ou
me deixar viver.

— Abençoado coração — digo com uma risadinha. — Quem diria que


um cara grande como você teria medo de uma gatinha.

Seus olhos permanecem em Jinx. — Não estou com medo, só estou


sendo excessivamente cauteloso, vendo como ela foi atrás de Walter outro
dia. Por quanto tempo ela faz isso?

— Pode levar horas. Jinx meio que faz o que quer, se você ainda não
sabe. —Homens. Walter pode lamentar do lado de fora da porta o quanto
quiser, mas uma gatinha velha os observa e o jogo acaba. Eu me afasto do
corpo quente de GP e gentilmente a afasto da cabeceira da cama. Ela cai no
chão com um baque e um grunhido de desagrado. — Feliz agora?
— Sim. — Ele ri. — Não tenho que me preocupar com ela tentando
chutar a minha bunda por segurar você. — Ele me puxa sobre seu peito nu e
passa o braço em volta do meu ombro, preguiçosamente passando os dedos
nele. — Gosto da maneira como você se sente assim contra mim.

Sua confissão é um pouco chocante, porque eu também gosto. Se você


tivesse me perguntado se eu pensasse que em um milhão de anos eu acabaria
na cama com ele, eu teria rido na sua cara. Toda essa situação e
relacionamento estão muito fora da minha zona de conforto, mas ele me faz
sentir tão diferente quanto mais tempo me segura.

— Você ainda está acordado? — Eu o provoco quando roncos silenciosos


escapam de sua boca.

— Por quê? Você está pronta para ir de novo, Red? — Ele se mexe,
dando um beijo na minha testa. Vê-lo assim é um contraste gritante do jeito
que ele fica quando está invadindo os portões para me proteger.

— Não é isso — declaro, fazendo-o franzir a testa. — Ainda precisamos


ir até minha casa para pegar minhas coisas.

— Você está certa. Por mais que eu queira ficar nesta cama com você o
resto da noite, devemos ir lá antes que seja tarde demais. Então, podemos
voltar para mais disso. — Ele me puxa para um beijo antes de jogar o
cobertor fora e deslizar para fora da cama. Sua bunda apertada está em plena
exibição enquanto caminha até sua cômoda, pega um short de basquete da
gaveta e o veste. A maneira como eles caem sobre seus quadris me faz pensar
duas vezes em pegar minhas coisas. Isso poderia esperar. Certo?

Ele se vira para mim e sorri. — Você sairá daí ou preciso voltar lá e
arrastá-la para fora... mais tarde?

— Se fizéssemos isso, eu teria que usar sua boxer para a aula amanhã —
respondo quando saio da cama para procurar algo para vestir, já que meu
vestido emprestado não serve mais para o público, graças a GP. Só preciso de
algo para sobreviver até eu ter minhas próprias roupas, e arriscar mais um
dos clássicos da moda de sua avó não funcionará. — Por acaso você não tem
outra de suas camisetas que eu possa pegar emprestada, tem? Parece que
estou sem roupas de novo.

Remexendo nas gavetas, ele puxa outra de suas camisas e um segundo


par de shorts esportivos, e os joga para mim. Colocando-os, aperto o cordão
em volta da minha cintura. Ambos são muito grandes, mas servirão por mais
alguns minutos. Nós descemos as escadas e, enquanto calço meus chinelos,
Walter roça minha perna.

— Ei, amigo — murmuro para ele enquanto coço suas orelhas. — Quer ir
conosco? — Walter resmunga feliz e vai direto para a porta.

GP balança a cabeça para nós. — Ele gosta de você. Você sabe disso,
certo?

— Acha que me importo? — Eu o repreendo. — Ele ganhou atenção


extra, se você me perguntar.

— Vamos sair antes que Jinx convença você a levá-la também. —


Abrindo a porta para nós, saímos para o ar frio da noite. Não demora muito
para chegar à minha casa.

— Deixe-me entrar primeiro. — Levantando a mão, ele olha para a velha


casa gigante. — Quero dar uma olhada antes de deixar você entrar. Walter,
fique com a Red. — Subindo as escadas, ele rasga a fita da cena do crime da
porta da frente e desaparece dentro de casa.

— Senhor, eu espero que minhas coisas ainda estejam aí — digo a


Walter, que resmunga baixinho, concordando. Eu deveria ter vindo a
primeira coisa esta manhã, mas nem pensei no fato que a polícia não teria as
chaves para trancar a porta da frente.
Ele se foi por vários minutos antes de reaparecer na porta da frente,
acenando para eu entrar. Voltar para minha casa depois do que aconteceu faz
com que pareça ainda mais estranho. Camadas espessas de pólvora negra
cobrem tudo dentro. Obrigada por limpar, Detetive Douchebag.

— A área está limpa. Vamos pegar o que precisa e dar o fora daqui. — O
corpo de GP fica tenso enquanto ele examina cada centímetro quadrado da
casa. — Você sobe as escadas. Ficarei de olho aqui embaixo.

— Ok. Você poderia tirar algumas coisas de Jinx para mim da


lavanderia? Há uma caixa de areia sobressalente, comida e um saco de
petiscos no armário acima da máquina de lavar.

— Precisa de mais alguma coisa daqui? Carregador de celular, talvez?

— Isso é lá em cima, sabichão — digo a ele com um sorriso. — Eu acho


que isso deve ser tudo por aqui. Sinta-se à vontade para invadir a despensa
em busca de qualquer coisa que queira levar para sua casa. Odeio comer toda
a sua comida.

— Não vamos nos preocupar com a comida. Basta pegar o essencial,


Red. Posso lidar com o orçamento de comida muito bem.

Deixo Walter e ele no primeiro andar e subo as escadas. Todos os pelos


do meu corpo se arrepiam enquanto volto para o meu quarto. Parece tão
errado aqui. Tento me livrar da sensação de invasão do meu atacante e me
concentro em conseguir o que preciso. Pegando minha maior mala do
armário, coloco uma variedade aleatória de roupas. Felizmente, minha
mochila com minha bolsa e laptop ainda estão na minha cômoda onde os
deixei. Puxando os carregadores para meu laptop e telefone dos soquetes,
coloco-os no bolso da frente da minha mochila, junto com a foto da minha
avó na mesa de cabeceira.

— Roupas. Computador portátil. Bolsa. Bolsa de livros. Carregadores. O


que mais eu preciso?
Artigos de higiene. Como eu poderia esquecer? Entro no banheiro e
pego tudo do chuveiro, bem como alguns dos meus extras do armário
debaixo da pia. Isso definitivamente vai me cobrir por alguns dias, até que as
coisas esfriem. Coloco tudo na minha mala antes de fechar o zíper. Examino
meu quarto mais uma vez. Merda. Minhas roupas íntimas.

— Bom Deus, Blair — castigo a mim mesma. — Essa é a primeira coisa


que você deveria ter pegado. — Usar a boxer de GP já me causou problemas
suficientes mais cedo. Um tipo de problema muito sexy. Sorrindo com a
memória, vou até minha cômoda e abro a gaveta de cima. Olhando para
baixo, meu coração gagueja. Meu peito não se move - de repente pesado,
como se tivesse virado uma pedra. A gaveta está vazia. Cada par de minha
calcinha está faltando. A única coisa dentro é um pedaço de papel com uma
escrita forte.

Com a mão trêmula, estendo a mão e pego o papel da gaveta vazia.

Ainda estou aqui, Blair. Esta noite não foi nossa noite. Mas
chegará muito em breve, meu amor.

Um grito sai dos meus lábios e me afasto da nota, caindo contra a


minha cama.

— Blair! — grita GP do andar de baixo. Seus passos pesados sobem as


escadas, com Walter logo atrás dele. Ele corre direto para mim e me puxa
para seus braços. — O que está errado?

Não respondo. Não consigo falar.

— Red, você está me assustando. Fale comigo, querida.

— A-a gaveta — gaguejo. — Há uma nota. — Minha voz falha enquanto


luto para contar a ele sobre minhas calcinhas perdidas, mas ele me solta,
caminha até a gaveta aberta e puxa o bilhete.
— Filho da puta! Ele é um homem morto, Blair. Vou matá-lo, porra! —
Ele se enfurece, chutando uma pilha de toalhas no chão quanto mais irritado
ele fica. — Ele não tocará em você enquanto eu respirar, eu te prometo.

— Ele levou todas as minhas calcinhas — sussurro. Walter pressiona seu


corpo quente contra mim, e fico boquiaberta com GP em estado de choque.
— Ele esteve no meu quarto.

— É por isso que você ficará comigo. Eu posso te proteger. — A


intensidade brilhando em seus olhos é diferente de tudo que já vi. Ele
entende cada palavra que está dizendo. Ele mataria para me proteger, um
conceito que deveria me assustar até o fim. Mas agora, é o tipo de proteção
de que preciso. A única maneira de sobreviver a isso é ao lado dele.

— Pegue suas coisas — exige. — Precisamos sair agora.

Pego minha mochila e GP pega minha mala. Com minha mão na dele,
ele me puxa escada abaixo atrás dele. Parando no final, ele pega as coisas
para Jinx, colocando-as em meus braços. — Nós vamos sair pela porta dos
fundos e descer o beco. Fique quieta.

— Por que não podemos levar meu carro?

— Blair, querida, eu sei que você está com medo, mas seu carro pode ser
rastreado. Precisa ficar aqui.

Não pensei nisso, mas ele está certo. Se meu carro se mudasse para
outra casa, isso revelaria minha localização, como um farol. — E a porta da
frente? Preciso trancar.

— Fiz isso enquanto você estava lá em cima. Vamos. Precisamos voltar


para minha casa, onde você estará segura. — Agarrando minha mão
novamente, e com Walter a reboque, ele nos leva para a escuridão, para
longe da minha casa e para a segurança da dele. No entanto, a questão
permanece: eu estaria segura em qualquer lugar?
CAPÍTULO 20

Examino cada sombra na curta caminhada de volta para minha casa,


meu corpo zumbindo de raiva com o bilhete na gaveta de Blair. Como os
malditos policiais não o encontraram? Quando o atacante o deixou? Isso
pode significar que ele voltou desde a noite passada.

Meu telefone toca no meu bolso, mas entre a mala, saco de livros,
suprimentos de gato e o cão, minhas mãos estão fodidamente ocupadas. — É
ao virar da esquina — digo a ela, mesmo que provavelmente ela já saiba.

— Graças a Deus — suspira. Suas mãos estão tão cheias quanto as


minhas, e a caminhada para casa não foi de lazer. Nós nos apressamos.

Assim que entramos na casa calorosamente iluminada, largamos as


malas e sacudimos nossos membros cansados.

— Teria sido mais fácil levar o carro — resmunga Blair, rolando os


ombros com uma careta de desconforto.

Meu telefone toca novamente. Dou uma olhada nela e o pego. É o


Judge. E não é a primeira vez que ele liga. Porra.
— Preciso atender. — Desapareço na sala de estar. Uma vez dentro, eu
aceito a ligação. —Aqui é o GP.

— Já estava na hora de atender esse telefone de merda, idiota.

Respiro fundo calmamente, permitindo que minhas pálpebras fechem.


— Desculpe, Judge. Eu estava no meio de algo.

— Sim — pronuncia lentamente. — Aposto que estava.

Franzo a testa. Não sei qual o ângulo aqui. Não estou atrasado para
algo. Não estava planejado para nada do clube esta noite. Qual a porra do
problema?

— Rumores dizem que você está saindo com uma ruiva — diz ele, uma
lâmina afiada no seu tom. — A mesma ruiva que eu disse para você deixar
fodidamente em paz.

Merda.

— Judge, escute

Ele me interrompe. — Eu não escutarei merda nenhuma que você diga,


idiota. Sua chance de dizer sua parte veio e se foi. Você foi contra uma ordem
direta, colocando todo o clube em jogo, tudo para que pudesse brincar de
dançar com a vadia que quase levou um soco de um psicopata.

Suspiro. — Judge

— Corta essa merda, GP — rebate ele. — Você tem trinta minutos para
chegar aqui. E traga a ruiva.

A chamada é desconectada antes que eu possa dizer outra palavra.

— Foda-se — rosno, chutando meu pé, derrubando uma pequena pilha


de caixas ao meu lado.
Uma batida suave cai do outro lado da porta aberta, e olho para cima
para ver Blair parada ali, com os olhos cheios de preocupação.

— Tudo certo?

O que diabos eu direi a ela? Ela sabe que estou no clube, mas não tem
ideia do que realmente significa. Como ela reagirá quando eu disser que ela
precisa vir comigo ao clube? Ou que pode não acabar bem para nenhum de
nós, mas será pior se não formos?

— Estraguei tudo — digo a ela. — Não fui totalmente franco com você.

— Ok — diz ela, prolongando a palavra com cautela.

— Você sabe que estou em um clube de motociclismo.

Ela sorri. — Sim, eu peguei essa parte.

— Bem, o que você pode não saber é que meu clube... é como uma
família. Um tipo de família grande, cabeluda e tatuada, mas que eu não
mudaria por nada no mundo.

— Hum, tudo bem. Então, como tudo isso se compara a você fodendo?

Suspiro. — Disseram-me para te deixar em paz. O Prez estava


preocupado que ajudá-la traria muita atenção para o clube.

Sua carranca aumenta, e suas bochechas ficam vermelhas de raiva. —


Então você quebrou algum tipo de regra do motociclista ao me ajudar a não
morrer?

— Não — digo, tentando manter meu tom calmo. — Mas fui contra o
meu clube, e essa merda simplesmente não acabou.

Parecendo chegar a algum tipo de decisão, ela joga as mãos para o ar. —
Bem. Vou embora, então — corta ela. Ela já deu meia-volta, voltando para
onde deixamos seus pertences. — Sorte minha, ainda nem desfiz as malas.
— Blair — admoesto, movendo-me atrás dela.

— Jinx! — chama ela escada acima, recusando-se a encontrar meus


olhos. — Vamos, gatinha. Precisamos ir.

Walter choraminga de dentro da cozinha. — Blair, pare.

Seus olhos se estreitam e seu dedo se interpõe entre nós em um aviso.


— Não — estala. — Nunca pedi isso. Nunca pedi para ser atacada. Eu nunca
pedi para você entrar e me salvar. Nunca te pedi para rastejar pela minha
casa como um perseguidor. E nunca pedi para você ir contra as regras
estranhas pelas quais os motoqueiros vivem. Quero apenas ir para casa,
tomar um banho, deitar na cama e esquecer que essas últimas semanas
aconteceram.

— Red, pare. — Dando um passo à frente, eu a puxo em meus braços. —


Por favor, escute. — Seus ombros tremem com soluços silenciosos. — Eu fiz o
que fiz por você porque queria. Porque era a coisa certa a fazer. Porque você
precisava de ajuda e eu queria ser o único a ajudá-la.

— Mas e quanto ao seu clube? — pergunta ela no meu peito, não saindo
do nosso abraço caloroso.

— Meu clube está chateado, mas eles não te conhecem, e realmente não
conhecem nossa situação. Eles são bons homens, Blair.

— Vou acreditar na sua palavra — resmunga ela.

Eu me preparo para a reação dela. — Você terá que fazer mais do que
isso, Red.

Ela se afasta do meu peito, olhando para mim com os olhos estreitos. —
O que isso significa?

— Significa que vamos para lá. Esta noite. Agora.


— E se eu recusar? — desafia.

— Isso vai irritá-los mais. E eu ficaria muito desapontado se você não


pudesse fazer isso por mim.

Ela contempla exatamente o que estou dizendo, seus olhos nunca


deixando os meus. Segundos parecem horas enquanto espero, fingindo ser
paciente, mas sentindo que vou enlouquecer se ela não disser algo logo.

Finalmente, ela levanta o nariz no ar. — Bem. Vamos acabar com isso,
então.

Ignoro a raiva em seu rosto e me aproximo para um abraço. — Sinto


muito, Red. Nunca pretendi que nada disso fosse assim.

Seus olhos brilham com algo que não reconheço, mas desaparece em
um instante. Ela tira um par de jeans e um suéter de sua mala, em seguida,
fecha o zíper com os lábios pressionados firmemente.

Em um movimento rápido, ela levanta minha camiseta sobre a cabeça e,


em seguida, puxa o cordão do short de basquete. Meus olhos seguem
enquanto eles caem no chão, onde se agrupam em torno de seus tornozelos.
Meu olhar sobe de volta, e meu pau estremece nas calças. Mesmo irritada,
ela é tão gostosa. Ela lentamente se veste com suas próprias roupas. Ela
também sabe disso. Sabe exatamente o que está fazendo comigo, e faz de
propósito. É um castigo.

Puxando o moletom pela cabeça, ela puxa o cabelo para cima e para
fora do pescoço. Depois de gritar, — Pronto — ela se dirige para a porta.

Posso não conhecer Blair há muito tempo, mas uma coisa que não é
preciso é ser um cientista espacial para descobrir que, quando ela está com
esse humor, é melhor apenas prosseguir. É por isso que não digo mais uma
palavra, e apenas a sigo até a garagem. Fico em silêncio enquanto subo,
ligando. Espero pacientemente até que ela fique atrás de mim e, quando o
calor dela atinge minhas costas, saio para a rua.

A viagem para o clube é curta, mas pela primeira vez, quase desejo que
fosse mais longa. Não tenho ideia do que esperar. Cruzei a linha em grande
estilo e fui honesto com Blair quando disse a ela que isso não estava acabado.

Como eles estão esperando por nossa chegada, dois prospectos abrem a
corrente de três metros do elo da cadeia do portão à medida que nos
aproximamos, e depois o fecham. Vários dos caras e algumas old lady estão
do lado de fora, com cervejas nas mãos e cigarros pendurados na boca.

Estaciono no meu espaço de sempre e pego a mão trêmula de Blair na


minha. — Você está prestes a conseguir um novo idiota — grita Twat Knot.

Eu o ignoro e os outros riem. Dói-me pensar que esses caras conhecem


o meu negócio e obviamente têm falado sobre isso antes de chegarmos aqui.

Quando entro, a música que geralmente está tocando nos alto-falantes


está faltando e todos parecem olhar para a porta. Nós entramos na sala
principal. Passos soam atrás de nós, e olho para trás para ver Twat Knot e os
outros nos seguindo, prontos para assistir ao show.

No centro de tudo está Judge, como um rei em um trono - exceto que,


em vez de joias, ele usa couro e, em vez de um trono, ele se empoleira em um
banco de bar Harley Davidson cromado brilhante. Sua sobrinha, Lindsey,
está sentada à sua esquerda.

— Bem na hora — observa ele, apontando para outra cerveja.

— Lindsey? — diz Blair, chocada.

Lindsey não diz nada, mas acena e me dá um sorriso de desculpas.

Puxo Blair para ficar ao meu lado. — Judge, esta é Blair Thompson.
Blair, este é o Judge.
Os olhos de Judge estreitam sobre ela antes de voltarem para mim. —
Que parte de fique longe da ruiva se perdeu na porra da tradução, GP?

— Ela precisava de mim, Judge. — É a única resposta que posso dar.

— E eu preciso que meus malditos irmãos pensem com suas cabeças e


não com seus paus! — ruge ele de volta, levantando-se e se inclinando para
mim. Seus olhos estão cheios de raiva, e é a primeira vez que vejo aquele
olhar dirigido a mim. Abaixo a cabeça, com vergonha de como deixei meu
clube na mão. — Você tem mentido para mim esse maldito tempo. E eu
nunca saberia se não fosse por Lindsey ver vocês dois no campus. Isso é
besteira, GP. Tudo por um pedaço de rabo.

— Em primeiro lugar, meu nome não é a ruiva.

Chicoteio minha cabeça para cima e fico boquiaberto com Blair.

Seus ombros estão enquadrados, seu nariz empinado mais uma vez e
ela parece irritada. — É Blair, e eu agradeceria se você o usasse.

Eu a agarro pelo cotovelo e dou um aperto suave, mas ela não presta
atenção.

— E, em segundo lugar, sou mais do que apenas um instrumento para


um homem se divertir. Sou uma mulher, e o GP me salvou em mais de uma
ocasião, quando a polícia não o faria.

— Eu observaria como você fala com nosso prez, mulher — diz Karma
atrás de nós.

E é então que saio do meu transe de vergonha. — E eu observaria como


você fala com Blair, Karma — falo. A sala fica em silêncio enquanto ele me
encara, mas não diz mais nada.

— Por que os Black Hoods são conhecidos? — pergunto na sala, mas


ninguém responde. — Somos ou não conhecidos por sermos vigilantes? O
tipo de homem que vai acima da lei e faz a merda quando se trata de ajudar
alguém em necessidade?

Um estrondo relutante de acordo percorre suavemente a sala.

Perfuro Judge com um olhar. — Prez. Normalmente, eu não vou contra


porra nenhuma do que você diz, você sabe disso. Sua palavra é o evangelho
para mim, cara. Mas desta vez, eu precisava fazer o que qualquer Black Hood
digno desse nome faria. Defendi a vítima quando a polícia deixou a bola cair.
Salvei a garota e a mantive segura, e continuarei fazendo isso até
encontrarmos o filho da puta que continua assediando e assustando a merda
fora dela.

Judge dá um passo à frente. — Você está reclamando-a, GP?

Eu congelo. É o que estou fazendo? É o que quero? É o que ela quer?


Porra. — Sim, estou — digo a ele. É a única maneira. É a única maneira de
mantê-la segura e meus irmãos apoiam isso. É a única maneira de Judge
permitir que esta missão de resgate continue. E é a única maneira de manter
esses outros filhos da puta nojentos longe da minha garota. — Blair é minha.

Blair faz um som sufocado ao meu lado. — Desculpe? Eu não sou sua.
Não sou de ninguém, muito obrigada. Sou um ser humano, não uma
possessão.

— Blair — advirto, mas Judge me interrompe.

— Mulher, se quiser nossa ajuda, feche sua armadilha, aprenda nossos


costumes e mostre algum respeito, porra, em nosso clube. GP a reclama. Isso
significa que você está sob a proteção dele e também a nossa. Não jogue esse
presente na cara dele.

A mandíbula de Blair aperta, mas ela não diz mais nada. Vou pagar por
isso quando chegarmos a casa. E mesmo que esteja chateada, não posso
deixar de sorrir com a ideia de a minha casa ser nossa casa.
CAPÍTULO 21

Durante todo o trajeto de volta para casa, agarrei-me a ele, sentindo a


tensão em seu corpo. Uma vez dentro de casa, ele não disse uma palavra.
Simplesmente pegou Walter no banheiro e passou por mim para levá-lo para
um passeio rápido. Isso me deu muito tempo para pensar em tudo o que
acabara de ser colocado diante de mim com pouco aviso.

GP é um homem muito mais perigoso do que eu poderia imaginar.


Mesmo com o mais breve dos vislumbres dentro de sua fortaleza, eu sabia
quão perigosos eles eram. Os Black Hoods são o tipo de homem que seus
pais dizem para você atravessar a rua sempre que os vê chegando, e acabei de
ser reivindicada por um deles.

Ele volta para casa e Walter vem direto para mim. Tento concentrar
toda a minha atenção nele, e não na tempestade que começou mais cedo
entre GP e eu.

— Eu sei que hoje foi muito para absorver — começa ele com cautela. —
Muito disso é por minha conta. Eu deveria ter te contado mais sobre o clube.

— Foi revelador, para dizer o mínimo. Você me reivindicou na frente de


todos os seus amigos.
— Eu sei, Red — admite, esfregando as mãos no rosto. — É difícil
explicar para alguém que não vive esse estilo de vida. Inferno, eu não sabia
se queria que você fizesse parte disso até ontem à noite.

— Até você dormir comigo, você quer dizer?

— Sim. Não. Porra, eu não sei. Gosto do que está acontecendo entre
nós. Não esperava que Lindsey me dedurasse, ou que você a conhecesse. Eu
queria levar as coisas devagar quando se tratava do clube. Sabia que se te
jogasse com eles, você enlouqueceria, mas não tive essa escolha.

A raiva queima minhas veias. — Não brinca — atiro. — Entre meu


ataque e agora isso, meu cérebro acabou de pegar. Não sei se devo ter mais
medo do cara que está tentando me matar ou das pessoas que você chama de
irmãos.

— Nós somos os mocinhos, Blair.

Levanto uma sobrancelha. Este grupo de homens provavelmente matou


outras pessoas. Como poderiam ser os mocinhos?

GP suspira. — Às vezes, temos que fazer coisas ruins para proteger as


pessoas boas. Eu sei que é difícil de entender, mas essa é a minha vida.
Aquele clube me deu um propósito quando andar pelo caminho reto e
estreito fez merda. — Seus olhos queimam ferozes e cheios de verdade.

Ele acredita em cada palavra que diz, e respeito. Mas não gosto de como
tudo foi forçado a mim. Ele tinha escolha, eu não.

— Acho que isso explica por que você saiu no segundo em que a polícia
apareceu no hospital.

— Não dou a mínima para a polícia, Red. Se você não tivesse me


chamado, não estaria aqui. Eu ainda estaria protegendo você, mas seria à
distância. Sempre quis manter você segura e meu clube fora do radar da
polícia.
— Mas você mentiu para Judge sobre me proteger.

Sua carranca se aprofunda. — E faria isso novamente. Você não


entende? Não importa o quanto eu tentei ficar longe de você, não consegui.
Você e eu — acena ele com o dedo entre nós, — nós estivemos em rota de
colisão desde o segundo em que invadi sua casa pela primeira vez.

Ele dá um passo em minha direção. Minha cabeça e meu corpo lutam


contra meu coração. Quero dar um passo atrás. Quero gritar com ele pelo
drama extra que ele trouxe para minha vida. Mas não faço.

Ele colocou tudo que é importante para si mesmo em jogo para mim
esta noite. Mentiu para seu presidente para me proteger. Ele foi contra sua
família para me manter segura. Afastar-se agora criaria uma barreira entre
nós da qual não acho que poderíamos voltar.

— Você não precisa ter medo de mim, Blair — diz ele baixinho. — Fiz
coisas que te assustariam? Porra, sim, eu fiz. Mas não me arrependo delas
nem por um segundo. Eu faço coisas terríveis para proteger pessoas
inocentes.

Ele está certo, mas minha moralidade não consegue aceitar o fato de
que ele me reivindicou como sua propriedade. — Só não sei o que pensar
agora.

Estendendo a mão para mim, ele me puxa contra seu peito, me


segurando como se fechando os olhos por um segundo, eu desapareceria
como um fantasma. — Eu fodi tudo esta noite — murmura ele contra a minha
cabeça. — Mas tudo o que fiz foi para te proteger. Reivindicá-la a deixou mais
segura.

— Eu sei — respondo a ele, me afastando de seu alcance o suficiente


para olhar em seus olhos escuros. — Eu só queria que você tivesse me
contado tudo isso para começar.
— Não espero que aceite tudo esta noite, mas espero que me dê uma
segunda chance.

Meu coração e meu cérebro continuam sua guerra. Meu coração quer
perdoá-lo sem pensar duas vezes. Meu cérebro, por outro lado, diz para
correr o mais longe possível dele, de seu porrete e de meu atacante. Vender a
casa e recomeçar em outro lugar. Mas não sou eu. Não sou esse tipo de
garota. Não desisto de uma luta. Eu não fujo.

Minha vida inteira foi uma luta após a outra. Minha vida é aqui nesta
cidade, nesta escola, e talvez até aqui com GP. Só preciso dar esse salto e
colocar minha confiança no verdadeiro GP que está na minha frente agora.

— Você está certo. Não posso aceitar isso — começo.

Um lampejo de tristeza passa por seus olhos. Levanto minha mão para
embalar sua bochecha, e ele pressiona seu rosto contra ela.

— Mas você fez mais por mim do que qualquer outra pessoa neste
mundo já fez. Não posso simplesmente me afastar. Estou disposta a ter a
mente aberta, se você puder me fazer uma promessa.

— Qualquer coisa, Red. Você me pede para fazer qualquer coisa, eu


farei.

— Não minta para mim. Nunca. Se houver mais alguma coisa que
precise me dizer, eu preciso saber agora. Chega de ataques cegos.

— O homem que você viu esta noite, lutando por você? Este sou eu. O
verdadeiro eu. Eu sou o mesmo cara que era, só que com um tipo diferente
de família cuidando de mim.

Eu rio. Ele está tão certo sobre sua família expandida.

— O que? — pergunta ele com um sorriso confuso.


— A maioria dos casais se preocupa com o ódio da família do parceiro.
Eu só tenho que me preocupar com qual deles me seguirá e assustará meus
colegas no campus.

— Casal, hein? — Ele sorri quando percebe meu deslize. — Eu gosto do


jeito que soa saindo dessa sua boca linda, Red.

— Bem, eu sou sua propriedade agora.

— Red, você é muito mais do que propriedade para mim — diz ele
severamente, antes de Walter se colocar entre nós, forçando-nos a nos
separar. — Vejo que alguém já está tentando roubar minha mulher de mim.

Eu me afasto do GP e me ajoelho na frente de Walter. — Ele não falou


sério, Walter. Você sabe que sempre terá meu coração.

O corpo pesado de Walter pressiona contra mim, quase me derrubando


no chão. — Traidor — resmunga GP baixinho, mas Walter o ignora
completamente enquanto dou amor para ele.

Rolando de barriga para baixo, eu o coço, nossa festa de amor


continuando até que um rosnado alto vem do topo da escada.

— A gata do diabo não gosta que você acaricie Walter — informa GP.

Encolho os ombros. — Ela vai superar isso assim que eu colocar seu café
da manhã para ela. — Um bocejo me escapa antes que eu possa detê-lo. —
Mas é tarde. Acho que vou para a cama. Tenho aula amanhã de manhã.

— Que horas? Vou me certificar de que esteja pronto para levá-la.

— Tenho certeza de que você me ouvirá levantar se estiver ao meu lado.

— Achei que estaria no sofá esta noite — admite.


— Não chutarei você para fora da sua cama novamente. — Sorrio para
ele. — E não foi você quem disse que eu estava mais segura com você? O que
é mais seguro do que você estar ao meu lado?

— Só se você tiver certeza, Red.

Procuro encontrar seus olhos quando digo: — Tenho certeza. Mas você
terá que dizer a Walter que roubará o lugar dele esta noite.

— Eu vi você primeiro — bufa ele, caminhando até a porta e abrindo a


fechadura. — Vocês vão para cima. Vou verificar as portas e janelas.

Pego minha mala e sigo para as escadas com Walter a reboque. Dentro
do quarto de GP, vejo Jinx deitada bem no meio da cama. O segundo que ela
vê Walter, ela salta para os pés, assobios e arqueando as costas em modo de
ataque total. Walter dá um passo atrás e se esconde atrás de mim.

Dou um passo em direção à cama e ela sai correndo, certificando-se de


dar um golpe em Walter antes de escapar do quarto com o rabo esvoaçante.
Se as coisas entre GP e eu funcionarem, ela terá que descobrir uma maneira
de coexistir com Walter.

Mas, por enquanto, me livrei do dilema de como fazer gatos e cachorros


se darem bem, abro minha mala e tiro uma das minhas camisas de dormir
mais longas. Tirando os sapatos, puxo minha camisa pela cabeça e desabotoo
meu sutiã, colocando os dois em cima da minha mala. Deslizando minha
camisa de dormir sobre a minha cabeça, minhas mãos vão para o botão do
meu jeans, e um rangido do chão do lado de fora da porta me paralisa. Eu
giro, encontrando GP parado ali, com um sorriso malicioso nos lábios.

— Não pare por minha causa. Gosto do show.

— Silencioso, você. — Desabotoando minha calça jeans, deslizo ao longo


de meus quadris, em minhas pernas, e deixo-as cair no chão. — De que lado
você dorme normalmente? — pergunto a ele, endireitando minha camisa.
— O lado mais perto da porta. — Ele tira a camisa e não posso deixar de
vê-lo ficar apenas com a boxer. Ele me pega. — Não tenha nenhuma ideia,
Red. Esses boxers são todos meus.

— Minha nossa. Você usa boxers de um cara de vez em quando, e tudo


se transforma — respondo, escorregando na cama.

Apagando as luzes, ele se junta a mim, estendendo os braços para me


agarrar pelos quadris. Aproximando seu corpo, ele embala minha bunda
contra ele. Walter pula em cima da cama, tentando abrir caminho entre nós,
mas desiste e volta para o chão, choramingando.

— Pobre Walter — murmuro.

— Ele ficará bem. Mas, se isso faz você se sentir melhor, podemos
comprar para ele uma cama de cachorro nova e bonita amanhã, depois da
aula.

— Combinado. — O silêncio perdura por alguns momentos entre nós.

— Gosto de abraçar você, Red — sussurra ele, antes que sua respiração
comece a desacelerar e roncos suaves caiam de seus lábios.

— Eu gosto quando você me segura também — sussurro, antes de


adormecer em seus braços, sã e salva pela primeira vez em semanas.
CAPÍTULO 22

— Por que você está tão animado? — pergunta Twat Knot atrás de mim
enquanto caminhamos pela trilha não marcada. — Judge arranca uma tira de
você e lhe dá um dos empregos mais merdosos que pode, e você ainda está
sorrindo. Essa ruiva deve ter uma boceta dourada. — Normalmente sou
muito bom em me esquivar dos comentários de Twat Knot. Ele é um cara
engraçado... geralmente. Mas só dele pensar na boceta de Blair é o suficiente
para me fazer querer enterrar ele bem aqui neste campo infestado de
roedores.

Giro no local, agarro a frente de sua camiseta em meu punho, e o puxo


perto o suficiente para arrancar a porra de seu nariz se ele disser outra
palavra. — O nome dela é Blair, idiota. Não ruiva. E ela é a porra da minha
mulher agora. Foi oficializado, então, se disser mais alguma coisa sobre ela
ou sua boceta, estará palitando os dentes com a porra dos dedos quebrados.
Está claro?

Os olhos de Twat Knot se arregalam. — GP, irmão. Aceita uma piada,


sim?

Soltando-o, coloco meu dedo em seu peito. — Esta não é a merda com a
qual brincar, idiota, e sabe disso.
Ele pelo menos tem o bom senso de parecer apologético.

— E você também deve ter irritado o Judge, seu filho da puta. Parece
que você está aqui fazendo um trabalho de merda junto comigo.

Twat Knot desvia o olhar, murmurando algo que não consigo entender.
— O que?

Ele suspira. — Eu disse que derrubei algumas motocicletas na outra


noite quando estava bêbado. A de Judge está com um grande arranhão agora
e está puto.

Por um momento, esqueço onde estamos. Esqueço que estamos


parados no meio de um campo, esgueirando-nos pelas sombras, tentando
descobrir exatamente onde esses caras estão mantendo todos os cães com os
quais planejam lutar. Em vez disso, imagino o idiota na minha frente
derrubando uma linha completa de motocicletas e Judge perdendo a cabeça.

Jogando minha cabeça para trás, comecei a rir. A risada profunda de


Twat Knot se junta à minha, e a discussão é esquecida, do jeito que deveria
ser com a família.

Juntos, caminhamos pela grama seca até chegar ao topo de uma colina.
Lá embaixo, no vale, nós vemos. A velha fazenda de porcos parece degradada
e dilapidada. Cada janela da casa está quebrada. As telhas estão caindo ou
faltando completamente.

O celeiro, no entanto, parece que foi reformado. Possui novas tábuas


em locais aleatórios. Homens caminham ao longo do telhado, martelando
telhas novas. As pessoas entram e saem, carregando móveis velhos e fardos
de feno. O som de cães choramingando chega aos meus ouvidos, mas por
mais que eu queira ir até lá agora e resgatar cada um deles, sei que não
posso.
Preciso ser inteligente. Judge precisa que eu seja inteligente. Ele já está
chateado comigo do jeito que está.

— Acho que eles estão mantendo-os em casa — supõe Twat Knot,


entregando-me um par de binóculos de ponta.

Sigo seu dedo e olho através das lentes. Pelas janelas quebradas, posso
ver as grades enferrujadas da gaiola e movimentos aqui e ali. É muito longe
para ter certeza, mas acho que Twat Knot está certo. O celeiro é onde
acontecerão as lutas, mas aquela casa está cheia de cães maltratados e
famintos, esperando para serem sacrificados por um bando de indivíduos
doentes sem valorização pela vida.

Por mais que eu odeie a brecha entre Judge e eu agora, não acredito que
ele me mandar nessa corrida era um castigo. Acredito que ele me enviou
porque sabe o quanto eu quero acabar com esses filhos da puta. Que farei o
que for preciso para garantir que os irmãos Armstrong nunca tenham a
chance de se reagrupar e começar um novo ringue de luta.

— Ok — diz Twat Knot. — Tenho uma tonelada de fotos. Vamos sair


daqui antes que um desses idiotas nos veja.

Ele não precisa me dizer duas vezes. Quero ajudar esses cães, mas não
há nada que eu possa fazer agora. Por isso não consigo parar de pensar em
Blair. Desde a sua introdução pouco agradável aos Black Hoods, as coisas
têm estado um pouco tensas entre nós.

Ela estuda atentamente seus deveres de escola tarde da noite e, assim


que se levanta de manhã, está no chuveiro e me entrega um café no caminho
para a porta. Ela é linda e inteligente. É boa demais para mim e me preocupo
em já estar perdendo-a.

Se eu pensei que ela estava chateada por tê-la reivindicado, ela estava
absolutamente furiosa com a perspectiva em seu encalço. É uma prática
comum nos Black Hoods que um prospecto em potencial siga, ajude ou
proteja a old lady de qualquer membro se a situação exigir. Tentei dizer isso
a ela, mas fui inteligente em manter o termo old lady fora da equação. Se ela
não gostasse do minha, odiaria Old lady.

Nós voltamos para nossas motocicletas sem incidentes, e Twat Knot me


dá um aceno antes de ligar a sua e sair pela rodovia. Acho que isso significa
que sou eu que devo atualizar Judge.

— Sim — late ele ao telefone.

— Acabei de explorar a velha fazenda de porcos — digo a ele.

— E?

— Oh, eles estão lá, sim. O celeiro tem algumas melhorias acontecendo
agora, e tenho noventa por cento de certeza de que estão abrigando os cães
dentro da velha casa.

— Você viu algum dos Armstrong chutando por aí?

— Não. Parece um novo grupo de caras. Não reconheci nenhum deles.

Judge respira fundo. — Agradeço a atualização.

— Ei, Judge?

— Sim?

— Estamos bem?

Ele fica em silêncio por alguns momentos, provavelmente imaginando


todos os designs criativos que ele poderia fazer com meus intestinos. —
Quase, GP. Quase. Mantenha o nariz limpo e cuide da sua garota. Nós
chegaremos lá. Mas se você mentir para mim de novo, eu vou pessoalmente
arrancar seu coração batendo do seu cu e enfiar na sua garganta. Me
entendeu?
Não sei se devo rir ou ficar apavorado, então, — Sim, senhor — é tudo o
que digo.

— Bom. Agora vá para casa e descanse. Temos muito mais trabalho a


fazer antes da luta de sexta-feira.

A lembrança da próxima luta faz com que todo o resto pareça um pouco
menos importante. Há tantos cachorros de merda naquela casa lá atrás. Cães
como Walter. Cães que nunca conheceram uma mão gentil, uma boa refeição
ou uma corrida no parque. Cães que estão destinados a lutar por sua vida,
indefinidamente, até perder.

Esses bastardos estão caindo, e desta vez, eles não voltarão disso.
CAPÍTULO 23

GP foi fiel à sua palavra ao me dar tempo para processar sua afiliação ao
clube e me reivindicar ao longo dos dias seguintes, apenas porque seu
presidente o fez correr por toda a Terra verde de Deus em algum tipo de
missão que ele não poderia ou não faria, contando-me sobre o fim de semana
inteiro e a noite passada.

Dormir sozinha em sua casa parecia tão estranho, mesmo com a


perspectiva do clube estacionado do lado de fora de guarda. Não conseguia
nem levar Walter para passear ou sair de casa. O prospecto - cujo nome eu
nem mesmo fui informada - cuidou de tudo para me manter dentro. Foi
frustrante, para dizer o mínimo. Sentir-se livre e presa ao mesmo tempo.

O mundo de GP é tão diferente de tudo de que já fiz parte. Só não sei


como ou se posso me encaixar totalmente. Tornar-me uma psicóloga foi meu
objetivo por tanto tempo, que adicionar algo mais no jogo me deixa perplexa.
Um laço grande e perigoso revestido de couro que poderia me custar tudo.

Eu realmente gosto de GP - talvez até mais do que gostar - mas não


consigo parar de pensar no que nosso relacionamento significa para meus
objetivos futuros. O clube dele aceitará eu trabalhar com o público em geral
ou até mesmo com a polícia? Existem tantos e se, meu cérebro não consegue
parar de tentar sabotar a maneira como me sinto quando ele entra na sala e
sorri para mim, como se eu fosse a única garota no mundo. A maneira como
me sinto ajudando-o a cozinhar nossas refeições, ou como ele me segura à
noite, embalando-me em seu casulo de conforto e calor. Eu só queria saber o
que fazer.

Tentando tirar meu foco da tempestade formando dentro da minha


mente sobre minha moral, eu trabalho para pôr em dia meus trabalhos
escolares na cama de GP. Sem qualquer mobília lá embaixo, exceto a mesa da
cozinha, transformei sua cama em uma mesa improvisada. Meus livros
ocupam todo o espaço, exceto onde Walter está enrolado em meus pés,
mantendo um olho na porta, observando e ouvindo qualquer barulho lá
embaixo.

— Ugh — suspiro, olhando para o meu trabalho final para a aula do


professor Brewer. Para um curso de verão, ele com certeza não facilita para
nós. O trabalho - que em um semestre normal, seria nosso projeto final para
grande parte da nossa nota - é minha primeira tarefa. Vinte páginas no
mínimo, com pelo menos quatorze referências científicas. Acho que o bônus
de GP ter ido muito neste fim de semana é que me deu mais tempo para
trabalhar no meu projeto.

Termino de digitar o último parágrafo da minha conclusão, depois de


puxar uma noite inteira para cumprir o prazo. Ajuda o fato de o professor
Brewer ter cancelado suas aulas da manhã, dando-me um dia de folga para
me recuperar. Revisei meu trabalho brevemente antes de salvá-lo e enviá-lo
para a caixa de depósito virtual da classe.

— Está feito — exclamo Walter.

Ele abre o olho bom e olha para mim.

— Foi mau cara. Não tive a intenção de perturbar sua soneca.


Ele se move de seu lugar nas minhas pernas e se acomoda contra meu
quadril com a cabeça envolta em minha perna, tentando empurrar meu
laptop para fora dele.

— Só falta mais uma coisa, e então vamos nos aconchegar — digo a ele
esfregando as orelhas.

— Não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz porque meu cachorro
finalmente gosta de outro ser humano mais do que de mim — provoca GP da
porta, assustando-me.

Sorrio para ele. — Talvez ambos?

Ele entra no quarto e se senta na beira da cama, onde não há livros ou


Walter. — No que você está trabalhando, Red?

— Acabei de terminar meu trabalho final, graças a Deus. Achei que


aquela coisa nunca seria concluída.

Tirando meu cabelo do ombro, ele dá um beijo no meu pescoço,


causando arrepios em todo o meu corpo. — Que tal começar algo novo? —
murmura ele contra minha pele.

— Pare de me distrair. Tenho mais uma coisa a fazer.

Ele se afasta de mim e sorri. — Posso ajudar em alguma coisa?

— A menos que você saiba como escrever um aplicativo estelar para me


ajudar a conseguir o estágio dos meus sonhos em menos de uma hora, acho
que esse trabalho pode ser solo.

Ele arqueia a sobrancelha, sorrindo maliciosamente. — Posso assistir?

Eu soco meu cotovelo em suas costelas. — Não esse tipo de solo.

— Bom — declara ele. — Esse é o meu trabalho.


Minha nossa. Este homem me deixará louca. Nunca estive com alguém
tão descarado por fora como ele. Na minha última relação de - o único - eu
era a mais dominante. Com GP, é um jogo totalmente novo.

— Fale-me sobre este estágio dos sonhos. Talvez ajude a fazer com que
esses... sucos criativos fluam.

— Se continuar falando assim, vai me distrair até o fim do prazo de


inscrição. Perdi uma vez e não posso fazer isso de novo.

— Não posso evitar, Red. Eu amo a maneira como você se sente ao meu
redor, e foi um longo fim de semana sem te ver o suficiente. Vou tomar
banho e, se você terminar a tempo, fique à vontade para se juntar a mim.

Ele se desloca da cama e joga a camiseta sobre a cabeça. Não perco seu
flexionar. Quando o ignoro, ou tento fazer isso, ele sai do quarto.

Conclua o aplicativo. Não pense nele no chuveiro esperando por você.

— Porra, ok. Pense, Blair — murmuro para mim mesma, trazendo à


tona a inscrição incompleta de algumas semanas atrás para o professor
Coates.

Encontro o novo aplicativo que ele me enviou por e-mail na minha


caixa de entrada e trabalho copiando e colando o que já havia feito no novo
formulário. A única coisa que resta é o breve ensaio sobre por que quero
trabalhar com ele. Sento e penso por alguns momentos antes de respirar
fundo e digitar. Não escrevo sobre minhas experiências de ser abandonada
por minha família, ou mesmo sobre meu ataque. Falo sobre minha paixão
pela área, e as palavras fluem até eu escrever quase cinco mil palavras.
Satisfeita, guardo-o e envio-o ao professor Coates.

— Você fica sexy quando está se concentrando assim. — GP está parado


na porta, ainda molhado do banho, com uma toalha pendurada na cintura.

Antes que eu possa me segurar, minha boca cai aberta.


— Que tal voltarmos para mim distraindo você? — Ele puxa a toalha de
seu corpo, deixando-a cair em uma pilha a seus pés. Caminhando até mim,
ele usa o dedo para empurrar meu laptop fechado.

— Você terminou com isso, certo? — Como se ele se importasse.

Tirando meu laptop, ele reúne os livros da cama e os coloca em sua


cômoda. Só uma coisa o impede de executar o plano tortuoso tão claramente
escrito em seu rosto. Walter.

— Abaixe-se — ordena ele, mas o cachorro cava ainda mais longe. —


Você realmente o virou contra mim.

— Vamos, amigo — digo, cutucando-o. — Alguém pensa que você está


bloqueando o pau dele.

— Ele está muito certo — resmunga ele. — Tenho planos para você hoje
que não envolvem deixando este quarto por pelo menos quatro ou cinco
horas, ou até que ambos tenhamos nos enchido.

— Parece ambicioso. E se ficarmos com fome?

— A única coisa que pretendo comer é você, querida.

Walter leva seu querido e doce tempo se alongando antes de finalmente


pular no chão. GP se move para a beira da cama, agarra meus tornozelos e
me puxa em direção a ele em um movimento rápido. Grito de surpresa, mas
silencio quando ele inclina seu corpo musculoso sobre mim, me beijando
profundamente.

Meus dedos agarram seu cabelo, trazendo-o para mais perto. Se há uma
coisa de que não me canso, são os beijos de GP. Nunca me senti mais
desejada, mais bonita ou mais adorada do que quando ele pressiona aqueles
lábios perfeitos nos meus.
Pegando meu seio, seu polegar dedilha meu mamilo, causando
borboletas em minha barriga. Não sei como ele faz isso, mas sinto cada um
deslizar direto para o meu núcleo.

— Deus — gemo contra sua boca.

Afastando-se, ele segura meu olhar e suas mãos puxam minha camisa.
Está nos meus braços, acima da minha cabeça e em uma pilha no chão mais
rápido do que posso piscar. Meu sutiã rapidamente se junta a ela, e coro um
pouco quando ele cai de joelhos na minha frente.

Pegando meus seios, um em cada mão, ele lambe meu mamilo com a
língua. Ele belisca, lambe, suga e sopra. E justamente quando acho que
poderia sair dessa sozinha, ele muda para o outro seio.

— Ohhh — choro, puxando seu cabelo. Não forte o suficiente para doer,
mas o suficiente para deixá-lo saber que preciso de mais. Preciso dele.

Ele pressiona um beijo suave em cada botão duro e se afasta. — Tire


essas calças, Red. — Meu estômago embrulha com a fome em seus olhos.
Deus, ele é tão gostoso, e é para mim que ele olha assim, não alguma outra
garota. É a mim que ele quer. É por mim que ele está com fome. De repente,
quero ser sua boa garota, então faço exatamente o que me mandam.

Levanto minha bunda da cama, prendo meus polegares na minha


cintura e deslizo meu jeans sobre meus quadris. Uma vez que eles estão
sobre minhas coxas, ele empurra minhas mãos, arrasta-as pelas minhas
pernas e as joga por cima do ombro.

Agora ele está de pé em cima de mim, onde me sento na beira da cama,


recostado nos cotovelos sem nada, porque ainda não comprei nenhuma
calcinha nova.

— Você é a mulher mais sexy que já vi — murmura ele, sua voz grossa
com a necessidade.
Eu me deito diante dele e me deleito com o rastro de seu olhar
queimando minha pele. — Abra seus joelhos para mim.

Inalo lentamente pelo nariz e separo meus joelhos um pouco. — Mais —


diz ele, seus olhos fixos no meu núcleo.

Eu os abro um pouco mais.

— Mais — rosna ele, e desta vez, quase não reconheço sua voz.

Espalhando-as ainda mais, seus olhos me devoram enquanto ele fica lá,
sem se mover. Apenas olhando.

Seus joelhos bateram no chão exatamente ao mesmo tempo em que sua


língua atingiu meu clitóris. Ele o pega com um golpe longo e forte. Depois
outro e outro. — Tão bom pra caralho — diz ele contra a minha boceta. Sua
respiração é quente, sua língua quente. Em seguida, ele desliza o dedo
profundamente dentro.

Pego o cobertor embaixo de mim em meu punho enquanto o vejo me


lamber. A visão é erótica pra caralho, e nunca quero que ele pare.

Finalmente, não consigo mais assistir. Posso sentir chegando. Meu


prazer está assumindo o controle e estou prestes a despencar do precipício.

Deito na cama e rolo meus quadris. Ele chupa meu clitóris


profundamente, sacudindo sua língua de um lado para o outro, cada vez
mais rápido. Seu dedo se curva dentro de mim, esfregando o lugar que todas
as mulheres desejam ser tocadas, mas poucos homens parecem saber.

— Oh, Deus — choro.

— Dê-me isso, baby — suspira ele, adicionando um segundo dedo.

Sinto seus lábios, sua língua, seus dentes, sua respiração. Eu o sinto. Eu
me sinto. Não posso demorar mais um segundo.
Não caio do penhasco. Tiro a porra de uma bola de canhão, meu corpo
tremendo. Emito sons que tenho certeza de que estou chamando o Diabo
neste exato momento, mas não consigo encontrar forças para me importar.
Tudo o que me importa é este homem, e a porra do orgasmo alucinante que
ele está me dando.

— Puta merda — suspiro quando finalmente desço.

— Ainda não terminamos. — Rastejando por entre minhas pernas, ele


se empurra para dentro de mim.

Mesmo que ele seja mais dotado do que a maioria dos homens, ele se
encaixa perfeitamente dentro de mim, como se fosse assim que sempre
deveria ser. Como se fôssemos feitos um para o outro. Como se eu fosse feita
para ele.

Seus dedos se entrelaçam com os meus e ele levanta minhas mãos


acima da minha cabeça. Seus lábios encontram os meus em um beijo lento e
suave e, de repente, o clima muda. Ele não está mais me devorando. Ele está
fazendo amor comigo.

Como um, nós nos movemos. Nossos quadris balançam em uníssono,


nossa respiração se misturando entre nós. Sinto cada centímetro dele, e isso
me faz sentir um tesouro. Isso o faz sentir como um tesouro para mim. Como
tive tanta sorte? Como acabei nesta cama, sendo amada por este homem? A
aventura termina comigo deitada no conforto indescritível de seus braços
com um sorriso no rosto enquanto ambos caímos no sono.

Meu estômago tem outras ideias, no entanto. Ele solta um grunhido,


alto e longo, acordando nós dois.

— Vamos, Red. Vamos alimentar a besta.

Finjo estar ofendida, dando um tapa nele de brincadeira quando ele sai
da cama. Ele desaparece descendo as escadas, e tento acordar enquanto
ainda me deleito com a felicidade do que acabamos de compartilhar. Com
todas as minhas dúvidas sobre sua vida e seu clube, são os momentos em que
estamos juntos assim que me dão esperança de que possamos descobrir
como fazer isso funcionar. Enrolando-me em seu lugar, começo a
desaparecer até que o nariz frio de Walter pressiona contra minha mão, me
mantendo acordada por um instante.

— Eu sei, eu sei — resmungo. — Preciso me levantar. — Demora um ou


três minutos, mas finalmente me forço a sair do calor da cama e me visto
rapidamente com um par de calças pretas e uma das camisas grandes de GP.

Meu telefone apita de algum lugar próximo. Procuro por ele, mas não
está onde deixei antes, em sua mesa de cabeceira. Caminhando para o
patamar do lado de fora de seu quarto, eu chamo, — Você pegou meu
telefone?

— Está carregando no banheiro — responde ele. — Ao contrário de você,


eu sei como mantê-lo carregado.

— Muito engraçado — grito. Girando, vou para o banheiro e o encontro


no balcão do banheiro, conectado ao meu carregador de parede. Digitando
minha senha, vou para o atalho que criei para o meu e-mail da escola e
percorri-os até que um deles me parasse. Abro rapidamente.

— Oh meu Deus!

GP chama meu nome lá de baixo, mas não atendo. Estou muito


ocupada lendo as palavras na tela em minha mão. Seus passos pesados
subindo as escadas me alertam que ele está subindo.

— O que está errado? — engasga. Seus olhos estão arregalados, seu


rosto pálido.
Posso apenas sorrir enquanto coloco meu telefone em suas mãos,
observando enquanto ele lê. Ele olha para mim com um sorriso irritado, mas
feliz.

— Sou finalista do estágio! — grito, batendo palmas de emoção.

— Isso é ótimo, Red — diz ele, seu tom seco e nada impressionado. —
Mas você poderia começar com isso da próxima vez? Quase me deu um
ataque cardíaco.

— Desculpe — murmuro, relendo o e-mail novamente. — Isso meio que


escapou. Este é o tipo de oportunidade que eu esperava, e fiz um péssimo
trabalho para contê-la, dada a situação particular agora.

— Conte-me sobre isso — brinca ele. — Então, o que vem a seguir com o
estágio?

Percorro a mensagem, lendo em voz alta. — Preciso organizar uma


entrevista pessoalmente para amanhã com o professor. — Minha voz cai
enquanto continuo a ler.

— Isso é bom, certo?

— Isto é. Mas se entendi, significa que toda a minha trajetória


profissional pode mudar. O último estagiário que trabalhou para ele recebeu
uma oferta de emprego em sua clínica em Londres.

— Se isso acontecer, vamos descobrir, Red.

Deus, o que fiz para merecer este homem?

Puxando-me para um abraço apertado, um estrondo alto e uma voz


chamando do andar de baixo nos interrompe.

— GP? Cara, você está bem?


— Merda — murmura ele. — Esqueci sobre o prospecto. Ele deve ter
ouvido você gritando do lado de fora. — Ele dá um passo para a beira da
escada. — Estamos bem. Desço em um segundo. — Voltando para mim, ele
pega minha mão. — Acho que é hora de você conhecer sua nova sombra.

Nós descemos as escadas, de mãos dadas, e encontramos um homem


mais jovem, com longos cabelos loiros e um colete de couro semelhante ao de
GP parado na entrada, parecendo pronto para uma luta.

— Que porra foi essa? — pergunta ele.

— Desculpe — digo com um sorriso. — Não queria te assustar. A


propósito, sou Blair. — Eu me afasto do aperto de GP e estendo minha mão
para ele.

O cara olha além de mim para GP, que balança a cabeça negativamente.

— Ele não pode nem apertar minha mão?

— Prospectos não podem tocar em propriedades patched sem


permissão — oferece GP.

Olho para ele. Aí está aquela palavra de novo - propriedade. Ele sabe
como me sinto sobre isso.

— Sério? É apenas um aperto de mão. Não é como se eu estivesse


tentando seduzi-lo. — Ele estreita os olhos para mim.

— Eu gosto dela, GP — diz o prospecto com uma risada. — Ela não


aceita merda nenhuma.

— Cale a boca, Priest.

Eu me afasto dele e, desta vez, pego a mão do cara e aperto.


— Prazer em conhecê-lo. Obrigada por me assistir neste fim de semana
enquanto ele estava fora. — O prospecto solta minha mão instantaneamente
e se afasta do GP, que agora me pressiona por trás.

— Não é um problema, madame — gagueja ele. — É melhor eu voltar ao


meu posto agora que sei que vocês estão bem.

— Faça isso — rosna GP.

O prospecto acena com a cabeça para mim e sai. No segundo que ele
está fora da porta, eu me viro e fico olhando para GP com minhas mãos nos
quadris.

— Você poderia ter sido mais legal com o cara — estalo. — Por que você
não o convidou para ficar e comer conosco?

— Você está chateada comigo porque não deixei você apertar a mão dele
ou convidá-lo para jantar? Deus, Red. Você é fofa demais. — Ele ri.

— Você foi rude com ele — digo, não desistindo disso.

— Querida, esta não é uma festa no jardim. Esta é a entrevista dele para
ser remetido ao clube. Ele segue as regras e tem a chance de votar na
plenitude. Ele não ultrapassará os limites porque você quer ser educada.

— Mesmo assim, você poderia ter sido mais legal com ele.

— O que diabos eu farei com você? — Ele balança a cabeça enquanto


continua rindo. — Vamos. Vamos alimentá-la e você pode me ensinar tudo
sobre boas maneiras.
CAPÍTULO 24

Não me lembro da última vez que passei a manhã apenas relaxando em


casa. Não ajuda em nada o fato de não ter muitos móveis, mas hoje não me
importo menos com os oitocentos projetos inacabados esperando pela minha
atenção, ou a falta de opções de lugares em minha casa. Tudo que me
importa é pegar outro café para minha mulher e apreciar os próximos
minutos com ela antes de ter que levá-la para a escola.

Blair dá a Walter mais um pedaço de bacon de seu prato, e assisto com


diversão. Ela sorri para ele, acariciando sua cabeça enquanto ele devora sua
guloseima. Jinx está sentada na porta, observando, seu rabo enrolado na
frente, a ponta balançando de um lado para o outro.

— A gatinha do diabo está puta com você — digo a ela pela milionésima
vez.

Olhando para sua gata, ela revira os olhos, assim que seu telefone apita
com um alerta. — Se você não fosse tão rabugenta, também receberia mais
amor.

Blair pega o telefone, bate na tela algumas vezes e seu rosto fica sem
cor. — Oh, Deus — sussurra ela.
— Qual é o problema, baby?

Virando seu telefone para me encarar, ela o empurra na minha direção.


— Não consigo mais fazer isso, GP, simplesmente não consigo. Não posso
suportar nunca saber quando ele invadirá minha vida de alguma forma. Por
mais que você diga que estou a salvo dele, ele ainda encontra maneiras de
chegar até mim.

Pegando o telefone de sua mão, eu olho para o e-mail.

— Seu novo namorado vai morrer tentando te salvar — li em voz alta. —


Filho da puta! — A raiva ferve dentro de mim e eu me levanto. Primeiro, ele a
ataca, quase a matando. Então a espreita, invadindo sua casa quando ela está
no chuveiro. Então deixa um bilhete assustador na gaveta de lingerie dela,
roubando toda a maldita calcinha, e agora um e-mail. E ainda não tenho
ideia de quem é esse filho da puta. Nada. Ele é um fantasma. Intocável.

Ando de um lado para o outro, lendo e relendo o e-mail que ele enviou.
Não é apenas uma ameaça para ela, é uma ameaça para mim. E está dizendo
que está longe de estar pronto para deixá-la em paz.

— Você não reconhece o endereço de e-mail? — pergunto, devolvendo o


telefone.

Ela o encara por um momento, pensando. — É da universidade, mas


não tem nome, o que é estranho. Normalmente, nossos e-mails escolares
incluem nosso primeiro e último nomes. Este aqui é todo letras e números
aleatórios.

Pensei nisso por um minuto. Esse cara é alguém da escola dela? Alguém
que ela conhece? Talvez algum psicopata que a viu pelo campus e ficou
obcecado?

— Se vista — digo a ela, tomando uma decisão.

— Por quê?
Pego nossos pratos da mesa e os levo à pia. — Nós vamos ao clube.
Quero mostrar ao meu amigo Hashtag. Não sei merda nenhuma sobre
tecnologia, mas ele é um gênio da computação. Se alguém consegue
descobrir quem enviou, é ele.

Blair se levanta, parecendo inquieta. — Não deveríamos levar isso para


a polícia primeiro?

Eu bufo. — Foda-se a polícia, Red. O que eles fizeram para te ajudar? A


única coisa em que o detetive está interessado é em receber pagamento e
chegar à aposentadoria sem ter que fazer nenhum trabalho policial de
verdade. — Aponto um dedo em direção ao seu telefone. — Isso é assunto do
clube agora. Nós cuidamos dos nossos.

Preciso dar crédito a Blair. Depois da maneira como ela reagiu ao ser
referida como minha posse, presumi que ela voltaria a bater palmas com a
minha última declaração. Mas ela não faz. Em vez disso, balança a cabeça, se
levanta da mesa, pressiona um beijo na minha bochecha mal barbeada e
desaparece escada acima, com Walter e Jinx a reboque. Em minutos, ela está
de volta no andar de baixo e pronta para ir.

— Pegue seu laptop, caso ele precise dar uma olhada nele também.

Ela não discute. Pegando o laptop, ela toma um último gole de seu café
e me segue até minha motocicleta.

Ainda é cedo na sede do clube, mas Hashtag estará lá. Ele está sempre
acordado a maior parte da noite e, em seguida, acordado e saindo de casa no
início da manhã. Acho que o homem sequer dorme, para ser sincero.

Com certeza, quando entramos, ele está parado na área da cozinha,


servindo-se de uma xícara de café fumegante. Ele levanta uma sobrancelha
quando nos vê. — Bom dia, filho da puta — cumprimenta ele. — E Blair.
Sorrio. Parece que ele se lembra do pequeno discurso de Blair sobre o
nome dela não ser ruiva. — Exatamente o homem que estávamos
procurando — digo a ele. — Você tem tempo para procurar algo para mim?

— Homem certo. E aí?

Faço um gesto para que Blair me entregue seu telefone.

Levando um segundo para destravar, ela o passa.

— Blair recebeu um e-mail de seu perseguidor esta manhã. É um e-mail


estranho, mas estou me perguntando se ele pode nos dar uma pista. Talvez
você possa descobrir quem o enviou?

Hashtag pega o telefone e examina a tela. Vejo seu rosto endurecer com
a mensagem exibida. — Oh, eu vou descobrir. Se não consigo descobrir
quem, posso pelo menos descobrir onde. O local de onde foi enviado pode
nos apontar diretamente para este idiota.

— Trouxe meu laptop para o caso de você também precisar — diz Blair,
oferecendo o computador fino para ele.

Acenando com a cabeça, ele pega e desaparece na sala comunal. As


teclas clicam e ruídos soam enquanto ele digita. Assisto por cima do ombro,
mas sei merda sobre isso.

Minutos se passam e, finalmente, ele se afasta da mesa em que está


sentado. — Bingo, filho da puta.

— Você o encontrou? — Blair deixa escapar, esperança queimando em


seus olhos.

— Não exatamente — responde Hashtag, um pedido de desculpas em


seu tom. — Mas descobri onde. Este e-mail é enviado pela universidade, que
tenho certeza que você conhece. O estranho é que até mesmo as informações
básicas são anônimas. Quem quer que o tenha configurado tem acesso ou
hackeado o sistema da administração.

O olhar preocupado de Blair encontra o meu.

— Não sei a quem pertence o endereço de e-mail, mas posso dizer que o
e-mail foi enviado do campus. Do prédio na 745 Hyatt Road, para ser exato.

Os olhos de Blair se arregalam. — Esse é um dos edifícios psiquiátricos.


Aquele em que tenho a maioria das minhas aulas.

Hashtag encolhe os ombros. — Desculpe, não posso te contar mais, mas


é óbvio para mim que quem quer que esteja fazendo essa merda com você é
alguém que você vê no campus.

Filho da puta.
CAPÍTULO 25

Passamos algumas horas discutindo sobre minha segurança no campus


quando voltamos para casa ontem à noite. GP foi inflexível para que eu não
voltasse à escola até que esse cara fosse eliminado. Por mais que me apavore
ir para lá, sem saber quem é esse cara, não o deixarei mudar minha vida de
jeito nenhum. Não vou me esconder ou viver com medo por causa de algum
idiota que precisa de uma avaliação psiquiátrica. Eu me recuso a colocar
meus sonhos em espera por algum pervertido.

GP não gostou, mas entendeu. Demorou um pouco para ser convencido


antes de finalmente ceder, mas não sem novas restrições. Se vou para o
campus, ele irá comigo, e não apenas para me deixar. Onde eu for, ele vai.
Talvez meus professores e colegas de classe não o notem. Inferno, quem
estou enganando? Eles definitivamente o notarão, e sua perspectiva
igualmente intimidante que nos seguirá para o campus também.

GP estaciona sua motocicleta perto da entrada do prédio principal de


psicologia, onde minha entrevista com o professor Coates será realizada.
Cada cabeça se vira para nós quando a motocicleta do Priest estaciona atrás
da nossa.
— Você realmente acha que preciso de vocês dois para me proteger no
campus? Isso não é necessário. — Minhas bochechas queimam quando olho
por cima do ombro e perco a conta do número de alunos e professores que
estão recebendo minha comitiva. Exatamente o que eu temia - uma
audiência.

— Podemos voltar para a casa se você quiser. Você sabe como me sinto
sobre isso. — GP me ajuda a descer da motocicleta antes de desmontar.

Ele odeia isso. Com cada fibra de seu ser, ele odeia que eu não esteja
enfurnada em casa, me escondendo do mundo. Estou em perigo? Sim. Mas
não posso continuar me escondendo na esperança de que quem quer que
seja se esqueça de mim e siga em frente. Se o e-mail dele for qualquer
indicação, meu invasor não está desistindo. Na verdade, ele está aumentando
suas tentativas de me manter vivendo em um estado perpétuo de medo.

— Não. Não perderei minha entrevista com o professor Coates hoje.

— Você significa mais para mim do que uma maldita entrevista, Red. —
Franzindo a testa, ele me entrega minha mochila de livros que tirou de seu
alforje. — Esse cara sabe sobre mim. A única maneira disso ser possível é se
ele nos viu juntos.

— E caso você não tenha notado, eu tenho dois homens grandes e


assustadores olhando minhas costas. Ficarei bem.

— Ainda não gosto disso. Você está exposta aqui.

— Também estou rodeada por um grande número de pessoas. Ele veio


atrás de mim quando soube que eu estava sozinha. Ele não tentará nada
abertamente. — Ou pelo menos assim espero. Priest caminha até nós dois,
interrompendo a repetição da discussão da noite anterior.

— Onde você me quer, GP? Qual edifício?


— Aquele — respondo, apontando o menor dos prédios de psicologia do
campus à nossa esquerda. — O escritório dele fica no segundo andar.

— Se estiver tudo bem para você, eu ficarei de olho por aqui. — Um


bando de mulheres passa por nós três, seus olhos fixos em ambos os caras
me flanqueando, e não se movendo.

— Olhos no alvo, prospecto — avisa GP a Priest quando o pega olhando


de volta. — Esta não é a hora de procurar bocetas.

— Eu tenho você e sua senhora. — Ele garante a ele. — Me mande uma


mensagem quando terminar.

— Sim. Mantenha os olhos abertos para qualquer coisa suspeita, e não


nas mulheres. E se esse filho da puta nojento está vigiando Blair, este lugar é
o mais óbvio. Você vê algo fora do comum, envie uma foto para Hash.

Priest responde com um aceno de cabeça e se move em direção a uma


área de estar no centro da passarela pavimentada, dando a ele uma visão de
todos os edifícios ao redor.

— Vamos acabar com isso — resmunga GP, estendendo a mão para


pegar minha.

Eu o levo direto para o prédio da administração de psicologia, tentando


evitar o contato visual com qualquer um dos meus colegas. GP me segue de
perto escada acima para o segundo andar. Tão perto, na verdade, ele quase
me derruba quando paro do lado de fora da porta do escritório do professor.

— Belas luzes de freio, Red — diz ele com uma risada. — Este é o lugar?

— Sim. E você ficará do lado de fora.

— O inferno que vou — argumenta. — Você concordou com meu acordo.


Você não sairá da minha vista. Não consigo ver você por uma porta fechada.
— Estarei dentro de uma sala sem outra saída. Você estará do outro
lado da porta.

— Não é o ponto.

— GP... — paro.

— Eu disse não — rosna ele de volta.

— Por favor — imploro a ele, piscando meus olhos como uma criança.

— Isso não funciona comigo, Red, não importa o quão fofa você pareça.

— Por favor, deixe-me fazer isso sozinha. Se você entrar lá como um


touro em uma loja de porcelana, não terei a menor chance de conseguir esse
estágio.

Ele me encara, sua mandíbula pulsando enquanto pensa. Finalmente,


seus ombros caem. — Tudo bem — murmura ele. — Mas se eu ouvir um som
que eu não goste, vou entrar aí, quer você goste ou não.

— Obrigada. Sei que você não precisava concordar com isso, mas
agradeço por tentar.

— Você não tem ideia, Red. Agora entre lá e coloque essa coisa na bolsa.
Tenho planos para você esta noite.

Após dar-lhe um beijo rápido na boca, bato na porta. Uma voz me


chama para entrar no escritório do professor Coates.

O que está do outro lado da porta é um pouco inesperado. Ao contrário


dos outros professores do programa, seu escritório é pouco decorado. As
duas grandes estantes embutidas que flanqueiam sua grande mesa de
madeira estão vazias. Nem um único livro à vista. Eu acho que viajar para
diferentes universidades significa viajar com pouca bagagem, mas esperava
ver uma foto de família ou algo decorando o espaço. Não há absolutamente
nada.

O professor Coates espia por cima de seu laptop aberto. Seus olhos
grandes e escuros parecem inchar na penumbra de seu escritório.

— Por favor, sente-se. — Acenando para a cadeira de madeira solitária


na sala, ele continua digitando por vários minutos, então finalmente fecha
seu laptop com um baque. — Me desculpe por isso.

— Está tudo bem — asseguro a ele. — Espero não estar muito cedo.

— De modo nenhum. Estou bastante feliz que você pudesse se


encontrar comigo em tão pouco tempo. Tive medo de que me recusasse —
admite.

Não consigo esconder minha carranca. Por que recusaria uma oferta de
entrevista? É para isso que eu me inscrevi.

Afastando-se de sua mesa, ele arrasta a cadeira em torno dela, parando


no canto, a apenas alguns centímetros de mim. — Ah, assim é melhor. Posso
ver você muito melhor sob esta luz.

Pressiono meus lábios em sua proximidade, mas ele apenas sorri para
mim. — Fale-me sobre você, Blair.

— Oh, um... acho que realmente não há muito o que dizer que eu já não
tenha dito na minha curta resposta ao ensaio sobre a inscrição.

— Seu ensaio foi excelente. — Ele me garante em seu forte sotaque


britânico. — Mas não tem nenhuma percepção sobre você como pessoa. A
paixão que tem pelos estudos é bastante aparente, mas quero conhecê-la. —
O professor Coates estende a mão e coloca sua mão sobre a minha.

Minha barriga rola de inquietação. — Não há muito para contar. Morei


aqui minha vida inteira...
— Não é possível com o que ouvi sobre você, Srta. Thompson — conclui.
— Uma mulher como você deve ter uma história pessoal fascinante.

— Minhas cartas de referência e listas de realizações acadêmicas me


tornam mais do que qualificada para este estágio.

A mandíbula do professor Coates aperta levemente.

— Se você me dissesse exatamente o que gostaria de saber, eu estaria


mais bem equipada para responder à sua pergunta.

Seu olhar muda para o chão, depois para mim. — Você está certa. Suas
qualificações a colocam no topo da pilha. No entanto — continua ele,
cruzando as pernas, — eu gosto de conhecer meus estagiários em um nível
mais... pessoal. Minha pesquisa aqui é crucial para uma nova teoria que
estou desenvolvendo. Esta posição exigirá o toque especial de alguém que é
tão apaixonado por ela quanto eu. — Ele faz uma pausa e pressiona seus
lábios finos em um sorriso malicioso. — Você é solteira, Srta. Thompson?

Eu franzo a testa. — Sinto muito, mas como isso é relevante? Não tenho
certeza se você pode me perguntar isso.

— Peço desculpas por te ofender. Nada pode interferir no meu trabalho.


Distrações não podem ser permitidas. Estou apenas perguntando se você
tem tais distrações em sua vida.

O professor se senta em sua cadeira, observando e esperando a resposta


que não receberá. Minha vida pessoal não é da conta dele, especialmente
com minha distração sentada do lado de fora de seu escritório.

Olho por cima do ombro. GP obviamente não o ouviu me perguntar isso


através da porta. Se tivesse, ele já teria destruído. — Você pode elaborar um
pouco mais sobre a pesquisa? — pergunto, tentando me desviar de sua
pergunta desconfortável.
— Sim, você está certa. Eu deveria ter começado com isso. — Ele se
desculpa. — Minha pesquisa é de natureza delicada, tenho que admitir. —
Seu olhar se endurece sobre mim novamente, e ele para de falar.

— Professor? — pergunto, ficando mais desconfortável a cada segundo.

Ele balança a cabeça suavemente e limpa a garganta. — Sim, desculpe.


Onde eu estava? — Ele leva os dedos aos lábios. — Ah, sim, minha pesquisa.
Estou trabalhando em um amplo estudo sobre violência no namoro. Mais
especificamente, o papel do agressor. Houve alguns artigos interessantes
publicados no ano passado, comparando histórias de violência passada na
infância a uma predisposição para a continuação da violência na idade adulta
durante o namoro.

Merda. — Suponho que você tenha visto os jornais e as notícias.

Seu rosto não esconde seu conhecimento de forma alguma. Ele sabe
sobre meu ataque. Droga. — Eu não queria tocar no assunto, mas estou
ciente do seu incidente. — Ele se mexe na cadeira abruptamente, cruzando as
pernas. — Entendo que sabendo agora o que minha pesquisa envolve, pode
ser desconfortável para você trabalhar com esses assuntos. Mas acredito
sinceramente que sua experiência enriquecerá ainda mais esta pesquisa.

Faz sentido. É por isso que ele está tão interessado em mim. Meu
ataque se encaixa em sua pesquisa. O sujeito e um estagiário envoltos em um
laço conveniente que não teria que ser pago por seu tempo.

— Não sei como poderia ajudar, professor Coates. Eu sou a vítima em


meu cenário, não o agressor.

— É exatamente por isso que você seria uma grande candidata para este
programa. Sua visão sobre a mente de uma vítima sobrevivente pode ser útil
com os indivíduos encarcerados que consegui entrevistar. — Seus olhos
escuros fixam-se nos meus enquanto ele teoriza sobre o potencial de explorar
meu ataque.
— Tipo, criminosos condenados? — A ideia de entrar em um espaço
confinado com alguém que matou faz meu estômago revirar de desconforto.

— Sim — responde ele categoricamente. — Criminosos violentos. O pior


do pior.

Uma enxurrada de hipóteses passa pela minha mente. A pessoa do


outro lado da mesa pode me machucar, ou pior - ser ou conhecer meu
agressor. Um suor frio irrompe por todo o meu corpo. Minha mão cai no
meu estômago, rezando para que eu possa me acalmar e acalmar a
tempestade que se agita.

— Você está bem, Srta. Thompson? Parece agitada.

— Estou bem — minto. Estou longe de estar bem. Não vomite. Não
vomite. Não vomite.

— Tem certeza? — Ele estende a mão para mim uma segunda vez. Desta
vez, apenas tocando levemente minha mão. — Posso oferecer algo para
beber?

— Por favor, não me toque — estalo, pondo-me de pé. Sua necessidade


incessante de fazer contato físico é perturbadora. Sempre me disseram que
ele era um profissional juramentado, mas seus comentários e toques estão
me fazendo pensar o contrário. — Professor Coates, eu tenho que ser
honesta. Não acho que esse estágio seja adequado para mim. Sinto muito por
desperdiçar seu tempo. — Sem pensar duas vezes, corro para a porta, mas de
alguma forma, ele já está lá antes que eu possa alcançar a maçaneta.

— Por favor, reconsidere. — Seu tom afiado me confunde. — Você é a


melhor candidata para esta posição. Não quero que perca esta oportunidade.

— Sinto muito. — Lágrimas picam em meus olhos. — Mas a resposta é


não.
— Red? — A voz de GP chama do outro lado da porta. — Você está bem?
— A maçaneta da porta balança. Em seguida, a porta de madeira estremece
em seu batente enquanto GP bate os punhos contra ela. — Blair, abra a porta.

O professor Coates dá um passo para o lado. Ele não diz uma palavra, e
abrindo a porta eu passo por ele, caindo direto nos braços de GP.

— Que porra está acontecendo? — rosna ele, olhando por cima do meu
ombro. — Ele fez algo com você?

— Por favor — sussurro, reprimindo as lágrimas, — Vamos voltar para


casa.

— Não até você me dizer, o que está acontecendo?

— Não consegui o estágio — minto. Se eu contar a ele a verdade - que o


único homem que eu admirava queria apenas explorar meu ataque para seu
projeto de pesquisa - GP ficaria louco. É mais seguro assim para nós dois. Eu
acho.
CAPÍTULO 26

Estou parado no corredor fora da sala de aula de Blair, esperando ela


terminar quando meu telefone vibra no bolso. Não reconheço o número, mas
é local.

— Olá — respondo, tomando cuidado para evitar que minha voz ecoe
pelo corredor vazio.

— Esse é o cara que atende pelo nome de GreenPeace? — pergunta um


homem do outro lado.

— Quem quer saber?

— Uh... é, uh, Kenny. Kenny Dwyer. — Se esse cara tivesse se declarado


Papai Noel, eu não teria ficado mais surpreso. A última vez que vi Kenny, seu
rosto havia sido espancado até o inferno atenciosamente, deitado
inconsciente em uma poça de seu próprio sangue.

— Como diabos você conseguiu meu número, Dwyer? — rosno ao


telefone, minha voz reverberando nas paredes, ecoando de volta para mim.
Foda-se.
Suas palavras são apressadas quando ele diz: — Não é importante.
Preciso te contar uma coisa.

Abandono meu ódio pelo homem por tempo suficiente para ouvir quais
informações ele tem para compartilhar. — Cuspa isso, idiota.

— Os Armstrong estão atrás de você. Eles sabem que os Black Hoods os


estão observando. Sabem que você encontrou seu novo ringue de luta. Eles
não se importam, no entanto. A luta de sexta-feira foi uma mentira para
enganar o seu clube. Eles farão isso esta noite. Mesmo horário, mesma
senha, mas esta noite.

— Puta que pariu — murmuro. — E como vou saber se você está dizendo
a verdade?

— Você quebrou meu nariz e minha mandíbula. Sabe o quanto isso dói?
— lamenta.

— Não tanto quanto você machucou os cães que ajudou a treinar para
lutar — retruco.

Dwyer suspira. — Eu só não queria que você pensasse que menti para
você. Não quero vocês vindo para mim novamente. E eu nunca mais quero
colocar os olhos naquele Stone Face de novo.

Eu sorrio. Stone Face tem esse efeito nas pessoas. — Apreciado — digo a
ele. — Agora, se for inteligente, você encontrará uma desculpa para ficar
longe daquela fazenda de porcos esta noite. O que está para acontecer não
será bonito. Stone Face não é o único filho da puta assustador que temos.

— Anotado — fala Dwyer.

Desligo a ligação e espio pela pequena janela de vidro no canto superior


direito da porta. As costas de Blair estão voltadas para mim, mas até suas
costas são quentes como o pecado. Observo por um momento enquanto ela
faz anotações em seu laptop, digitando, sem saber que estou assistindo.
Depois de um momento, pego as informações de contato de Judge e ligo
para ele.

— Sim? — responde ele, sua atenção ainda não focada em nossa


conversa.

— Acabei de receber uma ligação de Dwyer — informo a ele.

— Huh — fala ele arrastado. — Não sabia que vocês eram tão bons
amigos agora.

— Foda-se — resmungo. — Ele me disse que a luta de sexta à noite era


uma mentira. Eles farão isso esta noite.

O silêncio segue minha declaração. — Traga sua bunda aqui, e traga o


prospecto. Estou chamando as tropas. Isso termina hoje à noite.

Olho para a porta da sala de Blair. — Não posso deixá-la, Judge.

— Você não tem escolha, porra, GP. Você é necessário aqui. Ela está
segura. Está na escola.

— Sim, por mais algumas horas — rosno. — O que então?

Judge amaldiçoa. Ele entende meu problema, mas ele está certo. Se
vamos destruir esse ringue, nós temos que mover, agora.

— Deixe-me ligar para Lindsey — diz ele. — Ver se ela ficará com ela,
leve-a para a sede do clube no final do dia. Então, quando terminarmos, você
pode levá-la para casa com você.

— Lindsey não é exatamente um guarda-costas, cara.

— Bem, ela é a melhor que temos. É pegar ou largar.

Afundo contra a parede e olho para o teto. — Eu vou pegar. Chame-a.


— Sobre isso — diz ele. — Agora, você e Priest traga suas bundas aqui,
tout de fucking suite7.

Ele desliga antes que eu possa comentar sobre sua tradução para o
francês de merda. Ainda a mais uma hora dessa aula para Blair. Não posso
ligar para ela agora, mas pelo menos ela está segura em sua sala de aula. Vou
ligar para ela quando acabar e colocá-la em dia.

Saio e encontro Priest em uma mesa de piquenique. Seus olhos


percorrem o campus, absorvendo cada detalhe. Não sei o que pensar desse
cara ainda. Já ouvi coisas boas, mas ele ainda precisa se provar para mim, e
isso me deixa inquieto.

— Temos que ir — digo a ele, movendo-me para onde estacionamos


nossas motocicletas.

— E quanto à sua garota? — pergunta ele, correndo para me alcançar.

— Judge está mandando sua sobrinha. Ele quer você e eu no clube o


mais rápido possível.

Vou dar crédito a ele. Priest faz o que é mandado sem discutir muito.
Ele se move atrás de mim, e caminhamos através do campus e em direção ao
clube. Posso sentir as pessoas olhando para nossas motocicletas rugindo
pelas ruas movimentadas, mas silenciosas. Uma universidade é o lugar
menos provável para encontrar um par de motoqueiros tatuados destruindo
as estradas.

Somos os últimos a chegar ao clube. Quando entramos, a reunião já


começou. Priest sai porque, como prospecto, não sabe o que acontece em
nossas reuniões oficiais.

— Consegui falar com Lindsey — diz Judge, antes mesmo que eu tenha
a chance de sentar minha bunda em meu assento de sempre. — Ela

7 Agora mesmo.
encontrará Blair do lado de fora da classe assim que acabar. Ficará com ela
durante todo o dia e a trará aqui depois que ambas terminarem no campus.

Embora Lindsey não seja necessariamente uma proteção, me sinto


melhor sabendo que Blair não estará sozinha.

— Tudo bem, babacas, ouçam. Karma aqui tem um plano, e acho que é
nossa melhor chance de entrar e colocar as mãos nesses desgraçados. É a
melhor maneira de manter a segurança de qualquer pessoa inocente e de
evitar que qualquer um de nós seja carregado com chumbo.

Enquanto Karma traça o plano, completo com tampas de cerveja para


nós e amendoins para o inimigo, eu observo o relógio. A ideia do Karma é
genial. Eu só queria que não tivesse que acontecer esta noite.

Após um pouco mais de conversa, as diretrizes são estabelecidas para


esta noite e todos se espalham, pegando cervejas geladas ou fazendo ligações.
A hora muda no relógio. Red sairá da aula agora mesmo.

Eu saio, ligo para ela e espero quatro toques antes que ela finalmente
atenda. — Olá?

— Ei, Red.

— Ei. Você desapareceu. Eu estava preocupada.

— Não tive escolha, querida.

— Eu sei. Lindsey me contou. Não sei exatamente o que você está


fazendo GP, mas, por favor, fique seguro enquanto faz isso.

— Estou sempre seguro — digo a ela. — Você fica com sua garota. Ela
trará você aqui para mim no final do dia.

— Ok — diz ela suavemente.

— E Red?
— Sim?

Sorrio. — Carregue a porra do seu telefone.

Sua risada suaviza meu coração preocupado. — Não tenho meu cabo,
espertinho. E está quase morto.

— Figura — murmuro. — Vejo você esta noite, querida.

— Vejo você esta noite — retorna ela. Nenhum de nós desliga, mas
nenhum de nós diz mais nada. Existem três palavras que preenchem o
silêncio, mas ainda não chegamos lá. Nós chegamos?

— Adeus, GP — diz ela, e desliga o telefone.


CAPÍTULO 27

— Eu realmente aprecio você cuidando de mim.

Depois que GP desapareceu do campus hoje, fiquei


surpreendentemente grata a Lindsey por intervir como minha
acompanhante. Nunca pensei que a ideia de ficar sozinha me assustaria
assim, mas desde que acordei esta manhã, uma sensação estranha me
envolveu como uma tempestade crescente. A tensão na voz de GP antes,
quando ligou, também não está me ajudando a me livrar dela. Sua
preocupação só piora a minha.

— Não é nada. — Lindsey sorri com um encolher de ombros. — Eu


estava querendo um tempo de menina com você, de qualquer maneira.
Realmente sinto muito por começar a merda com GP e meu tio. Nunca teria
dito nada se soubesse que ele não sabia do relacionamento de vocês.

— Isso é entre Judge e GP, não nós. Não é como se eu estivesse por
dentro também. Fui tão pega de surpresa quanto seu tio.

— Eu o vi bravo — admite. — Mas nunca assim. A honestidade é uma


grande parte da vida do MC. GP quebrou isso, mas ele tinha um bom motivo.
Aquela noite na casa do clube foi, de longe, a segunda coisa mais
assustadora que já experimentei - o ataque obviamente sendo o primeiro da
lista.

— Eu sei que ele fez isso por mim, mas há tanto que não entendo sobre
a vida no clube. No entanto, aqui estou eu — lamento. — Propriedade de um
motociclista.

Lindsey para abruptamente e se vira para me encarar. — A


reivindicação dele significa muito mais do que isso, Blair. Isso faz de você
parte da família. A família dele. Minha família.

— Uma família que me assusta muito.

— Achei que fosse trabalho do GP — brinca ela.

— Isso é aparente?

— Querida — ela ri. — Se você visse a maneira como aquele homem olha
para você quando você não está prestando atenção, não teria dúvidas.

— Ele me deixa muito feliz — admito, um sorriso bobo rastejando em


meu rosto antes que pudesse impedir. — E não é só porque ele está me
protegendo. É tão difícil de explicar. Ele literalmente bateu na minha vida
para me salvar.

— O cavaleiro em armadura de couro montando um cavalo de duas


rodas. Que romântico — desmaia ela, com um pouco de entusiasmo demais.
— Oh, GP, você é tão bonito — imita. — Estou certa — diz ela, baixando a voz
para soar mais masculina. — Quer foder?

Jogo minha cabeça para trás e rio da terrível representação dela de nós.
— Você sabia que nos conhecíamos quando crianças?

O queixo de Lindsey cai. — Viu? É exatamente disso que estou falando.


Merda de nível de marca registrada.
— Então você não quer que eu lhe conte a história?

Lindsey me agarra pelo braço, esgueirando-se ao meu lado. — Oh, eu


não disse isso. Derrame.

— Você não tem um laboratório para monitorar?

Verificando seu relógio, ela sorri. — Preciso estar lá em quinze minutos.


E já que você não sairá da minha vista até que eu a entregue em segurança,
conforme ordenado, você pode me contar tudo sobre o jovem GP.

Caminhamos até o prédio do laboratório psicológico enquanto conto a


história para ela. Quando conto a ela como ele era horrível para mim quando
criança, ela ri tanto que alguns alunos que passam viram a cabeça para olhar.
Nós os ignoramos e subimos as escadas da frente do prédio em direção ao
laboratório psicológico. A sala está quase vazia, com exceção de alguns
alunos sentados em uma mesa nos fundos, amontoados em torno de uma
pilha de livros.

— Como você foi enganada para monitorar este laboratório novamente?

— Atribuição de crédito extra. Era fazer o turno aqui, ou escrever um


grande trabalho final. Você tem algo para trabalhar? Planos de casamento,
talvez?

— Cale a boca — rio. — Estamos juntos há uma semana. Um pouco cedo


para isso, não acha?

Revirando os olhos, ela joga sua bolsa na mesa na frente da sala. —


Cartão Hallmark, Blair — brinca ela. — Do jeito que as coisas estão indo,
vocês estarão aos beijos e dizendo aqueles doces eu aceito na frente do clube
antes do fim do verão.

— Você está louca — bufo. — Não vai acontecer.


— Se você diz. — Ela puxa um laptop de sua bolsa e o coloca na mesa
que reivindicou. — Você tem alguma tarefa para trabalhar?

Pego meu livro de psicologia anormal. — Cerca de cinquenta páginas de


leitura e anotações para fazer.

— Meu turno termina às nove. Se o lugar esvaziar antes disso, podemos


sair mais cedo. Não queremos GP lançando um APB8 se chegarmos
atrasadas.

Com uma risada, eu me viro e me coloco em uma mesa aberta não


muito longe dela. Abro meu livro e tento começar, e ela olha para mim
algumas vezes. Mas quanto mais tento ler a tarefa, mais penso no que ela
disse.

Ela está certa? Merda. É uma loucura pensar nisso tão cedo no
relacionamento. Nós nem mesmo dissemos que nos amamos ainda, muito
menos saímos para um encontro - a menos que você conte o jantar na casa
dele. Por que estou pensando nisso? Duvido que ele esteja. Gah. Concentre-
se em sua tarefa. Leia. Apenas leia as palavras.

Luto por quase duas horas e meia antes que o último aluno finalmente
saia da sala. Lindsey correu para a porta para trancá-la. Outra estudante se
aproxima da janela, mas apaga as luzes.

— Desculpe — diz ela pela janela. — O laboratório está fechado. — A


estudante tenta protestar, mas Lindsey apenas se repete continuamente até
que ela saia, sorrindo maliciosamente quando se vira para olhar para mim. —
O que?

Balancei a cabeça. — Nada.

8 All-Points Bulletin: boletim de todos os pontos. É um informativo eletrônico enviado de


um remetente para um grupo de destinatários, a fim de comunicar rapidamente uma
mensagem importante.
— Ei, eu cumpri meu dever. Sentei aqui. Monitorei. Eles não disseram
que eu precisava ficar o tempo todo.

— Certo — respondo, arrumando minha mochila. Vendo a tela do meu


telefone piscar de dentro, eu o retiro, na esperança de ver uma mensagem do
GP, mas a única notificação que tenho é um lembrete para carregar meu
telefone.

— Pegou alguma coisa do amante?

— Não — franzo a testa. Empurrando meu telefone no bolso de trás,


pego minha bolsa e caminho em direção a Lindsey, que está arrumando a
sua. — É normal que eles fiquem tanto tempo sem contato?

— Após saírem, não há como dizer quanto tempo vai demorar até que
eles voltem para casa. — Minha carranca se aprofunda.

Largando sua bolsa na mesa, ela se aproxima e me puxa para um


abraço. — Sinto muito. Eu não deveria ter dito isso. — Liberando-me, ela
garante: — Eles ficarão bem. Provavelmente já estão comemorando a vitória
na sede do clube, e é por isso que precisamos ir. — Girando para longe, ela
pega sua bolsa da mesa. — Pronta?

Assentindo, eu a sigo para fora da sala e espero enquanto ela fecha. O ar


quente e úmido do verão esfriou, e a lua brilha sobre nós quando saímos do
prédio.

— Onde está o seu carro?

— Não longe. Quando o Judge me ligou, puxei-o para mais perto do


campus. Siga-me.

Lindsey vira à esquerda ao virar da esquina do prédio, indo em direção


ao estacionamento dos professores. Fico perto dela, meus olhos examinando
as sombras ao nosso redor. Ela tenta conversar um pouco, mas a sensação
estranha desta manhã ainda pulsa por mim. Tento ignorar, forçando-me a
me concentrar nas conversas de Lindsey.

Um sedã azul de quatro portas está posicionado sob a lâmpada solitária


no estacionamento vazio. Começamos a passar por uma fileira de arbustos
perto da borda do estacionamento e um deles começa a tremer.

— Que porra é essa? — suspiro, lutando para longe. Lindsey pula entre
o arbusto e eu, me empurrando para trás.

— Vá para o carro, Blair — ordena, jogando as chaves para mim antes


de puxar algo da bolsa. — Entre e tranque a porta. Ligue para o GP, agora!

Pulo do local e corro para o carro, meu coração martelando no meu


peito a cada passo.

— Venha, filho da puta! — grita Lindsey assim que chego ao carro.

Atrapalho as chaves com minhas mãos trêmulas, enviando-as ao chão,


onde deslizam sob o lado do passageiro do carro com um tilintar que parece
enviar ondas de choque pelo estacionamento silencioso.

— Porra! — Eu me espalho de joelhos e varro minhas mãos em todos os


lugares para eles.

— Você deve estar brincando — ri Lindsey. — Era apenas um gato.

Olho para cima da calçada, esperando ver Lindsey segurando um gato,


mas não é o que encontro. Atrás dela, aparecendo na escuridão, uma figura
alta com o rosto escondido dentro de uma balaclava se aproxima.

— Atrás de você! — grito.

Lindsey se vira em câmera lenta, ficando cara a cara com o homem. Ela
se vira para mim, o terror estampado em seu rosto. — Corre! — grita ela.

O brilho de uma faca brilha ao luar. — Não!


Minhas palavras não fazem nada para impedir os ataques da figura em
Lindsey, e ela cai no chão em uma pilha. A figura passa por cima de seu
corpo e continua avançando, direto na minha direção. Esquecendo sobre as
chaves, eu me levanto, puxando meu telefone para discar o número do GP
enquanto corro para o lado do motorista do carro. Olho para cima para
encontrar a figura se aproximando.

O telefone toca uma vez e morre na minha mão. Merda! Jogo a pilha
inútil no chão e puxo a maçaneta da porta do carro. Ele não se move.

Que porra eu faço? Lindsey está ferida. Meu telefone está mudo. GP
está Deus sabe onde. Estou sozinha e o homem que tenho certeza de que está
me perseguindo está contornando a frente do carro.

Eu recuo, mas meus pés tropeçam embaixo de mim quando tento


correr. Só consigo dar dois passos antes que ele me agarre por trás.
Empurrando sua mão sobre minha boca, ele usa a outra para envolver meu
peito, me apertando com tanta força que mal consigo respirar. Tento gritar,
mas o som é abafado por trás de sua mão enluvada.

— Eu disse que você é minha, Blair — sussurra ele, sua voz calma e
suave.

Os dedos cavam em meu couro cabeludo e me puxam com força para o


chão. Eu luto, arranhando e lutando meu caminho para meus pés, tentando
como o inferno fugir. Dou uma cotovelada no estômago do atacante,
forçando-o a recuar, mas ele revida. Pela segunda vez, ele agarra meu cabelo,
usando-o para bater minha cabeça contra a lateral do carro. Uma vez. Duas
vezes. Três vezes, até o mundo e minha cabeça começarem a girar.

Apenas um pensamento permanece enquanto a escuridão me leva para


baixo. Nunca disse a GP que o amava e agora é tarde demais.
CAPÍTULO 28

O plano é simples. Priest e um dos outros candidatos assistiriam à luta,


como se fossem qualquer outro patrono sanguinário. Sem cortes. Sem
roupas afiliadas ao clube. Eles usam a senha para passar pelos rudes
bloqueios de segurança e chegar à frente dos ringues.

Uma vez dentro, eles mandam uma mensagem para Judge com uma
ideia de quantos homens armados estão postados ao redor do prédio, tanto
dentro quanto fora. O resto de nós vai pelos fundos, assim como Twat Knot e
eu fizemos outro dia. Só que desta vez está escuro como o diabo, e não
saberemos se os Armstrong têm essa parte coberta.

Nós os atacamos cedo, antes mesmo de começar a primeira luta.


Tiramos o pessoal, assustamos os fregueses, resgatamos o máximo de cães
possível e incendiamos o lugar para que não possam tentar essa merda de
novo.

— Por que está demorando tanto? — resmunga Karma, olhando para a


noite.
— Dê-lhes tempo — diz Judge, exibindo uma paciência que nunca vi
dele. — Esse cara novo pode ser um idiota, mas Priest é uma boa merda. Ele
não estragará tudo.

As palavras mal saem de sua boca quando seu telefone acende em sua
mão. Todos nós observamos Judge verificar a mensagem e aguardar nossas
instruções.

— Há dois homens postados em cada porta. Dois homens dentro da


casa onde alojam os cães, e mais dois correndo com os cães de e para a arena.
Dez homens no total, mais os Armstrong, mas ainda não foram vistos. Todos
estão armados e vão atirar em você se o pegarem.

Fico olhando por cima do ombro para os carros alinhados na longa


entrada de automóveis, seus faróis brilhando na escuridão como um outdoor
anunciando as lutas de cães que estão prestes a assistir.

— É melhor nos movermos rápido — diz Karma, seus olhos observando


a multidão crescente. — Quanto mais gente lá, mais gente nós temos que
matar.

Esta não é a primeira vez que invadimos um ringue de luta, mas é a


primeira vez que entramos com a intenção de matar. No passado, nós
separaríamos, estouraríamos algumas cabeças e sairíamos com um aviso
para não fazerem novamente. Essa tática não funcionou com os irmãos
Armstrong, então era hora de tentar algo novo.

Quando Karma dá o sinal, todos os oito avançamos colina acima,


mantendo-nos abaixados, contando com a cobertura da escuridão para nos
impedir de ser vistos. Os outros se aproximam do celeiro, e Stone Face e eu
vamos para a casa. Se a informação de Priest estiver certa, há apenas dois
homens aqui, e dois que se movem entre os dois edifícios.

O primeiro homem cai sem nós sequer dispararmos um tiro. Um soco


de Stone Face e ele desmaia antes mesmo de saber que estamos lá.
Nós nos movemos rapidamente, entrando na casa. Gaiolas de arame
enferrujado revestem as paredes, cada uma contendo um cachorro. A
maioria deles são pit bulls ou buldogues como Walter. Alguns estão
rosnando e latindo para nós, enquanto outros estão deitados no chão de suas
gaiolas, já entregues.

Stone Face aponta para as escadas e depois para si mesmo. Eu aceno.

Eu o vejo desaparecer nos degraus velhos e rangentes, e então continuo


meu tour pelo andar principal, tomando cuidado para não chegar muito
perto das gaiolas. Esses cães podem ser inocentes, mas estão longe de ser
confiáveis.

Uma voz grita lá de cima, seguida por um baque alto e depois outro.
Fico olhando para o teto. Por favor, que esse grito seja de um dos homens de
Armstrong e não do Stone Face.

Entro na cozinha e fico cara a cara com Kenny Dwyer. Ele engasga e
levanta as mãos no ar, seu prato se espatifando no chão entre nós.

— Que porra é essa, cara? — assobio. — Pensei que você ficaria longe
daqui esta noite?

Dwyer engole em seco. — Eu ficaria, mas após levar uma surra no outro
dia, os Armstrong ficaram preocupados que eu falasse mais do que deveria.
Se não aparecesse esta noite, eles saberiam que você sabia.

Eu o encaro por um momento. É uma sensação estranha quando você


odeia alguém e tudo o que ele representa. Mas, ao mesmo tempo, você vê que
eles estão tentando fazer a coisa certa, não importa quão pequena seja.
Olhando ao redor, chego a uma decisão. Apontando para uma cadeira na
cozinha, digo: — Sente-se.

Dwyer olha para ela e depois para mim. Se eu não soubesse melhor,
pensaria que o homem estava prestes a mijar nas calças. Ele não discute, no
entanto. Como uma boa vadia, ele vai até a mesa e se senta na velha cadeira
de metal.

Pegando uma coleira que foi deixada no balcão, faço uma tentativa
meia-boca de amarrá-lo. — Isso é só para mostrar — digo a ele. — Você fica
aqui, e não se mova, porra. Se um dos meus rapazes aparecer, diga a eles
para falar comigo antes de lidar com você.

Dwyer acena com a cabeça, os olhos arregalados de medo. — Obrigado


— diz ele, lutando contra as lágrimas.

— Porra, não me agradeça ainda, idiota. Estou apenas atrasando a


decisão sobre o que fazer contigo.

Giro no meu calcanhar e volto para as escadas.

— Tudo limpo — diz Stone Face quando chega ao fundo. Tirei um lá de


cima.

Aceno em direção à cozinha. — Tenho Dwyer lá. Longa história de


merda.

Tiros e gritos flutuam do celeiro, e nós nos movemos em direção à porta


para ver o que podemos fazer para ajudar. Chegamos à varanda da frente e
Judge sai do celeiro, um homem idêntico em cada mão, as costas das camisas
agarradas com força nas mãos.

— Juntem-se, rapazes! — grita ele, e um por um, cada um dos Black


Hoods sai de onde estava e entra na luz fornecida fora do celeiro. Patronos
da luta estão ao nosso redor, todos parecendo desconfortáveis e confusos.

— Eu sei que vocês, filhos da puta, vieram aqui para assistir a uma luta
até a morte, mas esta noite, vocês terão uma surpresa especial. Sabe, aqueles
cachorros aí, eles estão fartos de lutar pelo entretenimento de vocês. Eles
fizeram seu trabalho tornando esses homens ricos.
Judge joga os homens no chão, onde eles ficam ali, olhando para ele
com medo. — Vocês querem ver uma luta? — grita ele, alto o suficiente para
que todos possam ouvir.

— Sim! — grita a multidão.

Ele ri. — Aposto que sim, seu bando de nojentos. E vocês estão com
sorte, porque nós temos um cachorro louco, e ele enfrentará esses caras -
dois contra um, sem armas. A luta termina quando alguém ainda está de pé.
Estão comigo?

A multidão ruge com aprovação e eu franzo a testa para Stone Face. Ele
é o cachorro louco que Judge mencionou, mas isso não fazia parte do plano.
Stone Face sorri, me entrega sua arma e caminha para o centro do círculo,
estalando os nós dos dedos e rolando os ombros.

— Alguém entra aí e toca aquela campainha! — ruge Judge. — É hora de


começar a luta!

A luta é brutal e sangrenta. Mesmo eu não posso assistir.

Este clube tem feito muitas coisas para salvar alguém, ou ensinar uma
lição a uma pessoa má, mas o sangue e a dor infligidos nesta punição são
quase demais para mim.

— Isso é só — diz Judge suavemente, se esgueirando ao meu lado. —


Isso é o que esses homens têm feito com esses cães há anos. É o que eles
merecem.

— Eu sei — digo a ele. — Simplesmente não suporto ver a maldade das


pessoas torcendo por isso.

— O mundo está cheio de pessoas más — lamenta Judge. — Os mais


perigosos são aqueles que pensam que as más ações são a escolha natural. Os
que nem sequer sabem que eles são maus.
Carne contra carne e osso esmagando ossos. Os sons atingem meus
ouvidos e entro em casa para avaliar os cachorros no corredor da frente.
Muitos feridos. Muitos arruinados. Muitos que terão que ser sacrificados.

— Qual é o plano para os sobreviventes?

Os olhos de Judge suavizam-se quando um cão macho sai mancando do


cercado e cai no chão aos nossos pés. Ajoelho-me, tentando confortar a pobre
criatura enquanto ela luta para respirar.

— Chamei o resgate que nos ajudou da última vez. Deve estar aqui em
breve para pegar aqueles que eles podem salvar.

De repente, um rugido alto sobe da multidão, e nós dois saímos


correndo a tempo de ver Stone Face usar a cabeça de um homem para
esmagar os outros. Três batidas, é tudo o que precisa. Três batidas de cabeça
na cabeça e eles apagam. Suas más ações acabaram e não afetarão mais os
animais.

Justiça foi feita.


CAPÍTULO 29

Luzes brilhantes me despertam da escuridão que envolve minha cabeça


latejante. Meus olhos tremem duas vezes, mas a luz queima. A banda marcial
desfilando pela minha cabeça implacavelmente, me fazendo querer voltar
para a escuridão para escapar dela.

É preciso um esforço hercúleo para erguer minha cabeça para observar


meu novo ambiente. O espaço está mal iluminado e úmido. O ar na sala fria
se agarra à minha pele úmida. Onde estou?

Vou fazer meu corpo se mover, mas simplesmente não vai. Forçando
meus olhos a abrirem mais, eu descubro o motivo. Meus pés, coxas e mãos
estão amarrados a uma velha cadeira de madeira. Qualquer aparência de
tempo foi arrancada de mim. O ataque ocorreu por volta das nove, mas sem
janelas à vista, não tenho ideia de como avaliar a quanto tempo estou aqui.

— Você está acordada — diz uma voz à minha esquerda na escuridão. —


Estou feliz.

— Quem... quem é você? — coaxo.

A figura sai das sombras. A balaclava preta ainda esconde seu rosto,
mas não seus olhos escuros. Eu os reconheceria em qualquer lugar. O mesmo
par de olhos que me encarou do outro lado da porta. Os que olharam dentro
dos meus enquanto me segurava no chão. É ele.

Ele se aproxima de mim, como um predador avaliando sua presa. — Eu


temia ter te matado.

Sim... como se ele se importasse.

Do jeito que me sinto, sinceramente gostaria que ele tivesse. Isso só


acabará de uma maneira - minha morte e sua satisfação. Lágrimas queimam
em minhas bochechas. Toda esperança se foi. Minha ligação para o GP nunca
foi atendida e, como Lindsey disse, eles poderiam demorar dias. Dias
preciosos que não tenho. Estou por conta própria.

— Socorro! — choro, tentando gritar, mas sai mais como um gemido.

— Ninguém te ouvirá aqui embaixo. Eu me certifiquei disso. Nem


mesmo seu namorado pode salvá-la agora, ou aquele vira-lata feio dele.

Ele anda de um lado para o outro na minha frente, girando uma grande
faca na mão - primeiro para um lado, depois para o outro. O sangue goteja ao
longo de sua borda afiada enquanto se move. O sangue de Lindsey. Oh, Deus,
Lindsey! Meu coração dói sabendo que sua morte mancha minhas mãos. Ele
a matou por me proteger.

Como pude deixar isso acontecer? Ela nem deveria estar lá. Eu deveria
ter dito a ela para correr. Deveria ser eu morta naquela calçada, não ela. Ela
não merecia esse destino, mas ele está me mostrando intencionalmente os
frutos de seu trabalho assassino para me insultar.

— Sinto muito pela sua amiga — diz ele, a felicidade inegável em sua
voz. — Ela teria feito um ótimo acréscimo à minha coleção. — Ele desvia o
olhar para uma parede vazia, como se houvesse algo lá que só ele pode ver,
mas puxa seu olhar para mim com um rápido movimento. — Ela tentou me
impedir de te levar. Você é minha, no entanto. Minha! — grita ele a última
palavra, as mãos espalmadas bem na frente dele, mas não solta a faca. —
Ninguém pega o que é meu.

Estico o pescoço para olhar ao redor da sala novamente. Por favor,


Deus. Tem que haver uma maneira de sair daqui. Alguma maneira de
escapar bem na minha frente. Mas não. Nada. Não há absolutamente nada.
Apenas meu atacante e eu, sozinhos neste poço do Inferno, com minha vida
pendurada em suas mãos psicóticas.

— É sua culpa, sabe — continua ele. — Você me desafiou. Você me


provocou com o que eu não poderia ter, escondendo naquela sua grande casa
com os policiais sempre por perto. — Sua voz falha, e há algo familiar nela.
Parece estranho, como se ele estivesse tentando mudar de alguma forma. —
Mas eu sou paciente, Blair. Esperei até que mesmo aquele seu namorado não
pudesse protegê-la.

Seu ritmo se intensifica. Para frente e para trás no chão, seus olhos
nunca se desviam de mim. Eles são como mísseis de busca de calor fixados
em seu alvo.

— Você me negou três vezes, mas agora, não pode fugir de mim. De nós.

Ele me encara por um momento e, em um piscar de olhos, avança.


Tento me encolher, virando a cabeça para proteger meu rosto do impacto
iminente, mas ele para um pouco antes disso, me provocando, revelando
meu medo. Suas mãos se movem para os braços da minha cadeira, e ele
chega ao nível dos olhos.

Por mais que eu queira acreditar que não é verdade, eu conheço esse
homem. Sei que conheço. Já vi aqueles olhos. Então, por que não consigo
identificá-lo?

Ele se inclina, pressiona o nariz no meu cabelo e respira fundo. Ele


exala e seu hálito quente cai em cascata sobre minha pele. Essa sensação,
misturada com sua proximidade, faz meu estômago embrulhar.
Sua cabeça cai para trás enquanto ele geme em êxtase. — Posso cheirar
seu medo, Blair. Sabe o que isso faz comigo? O que isso me faz querer fazer
com você? — Ele respira fundo novamente e seu corpo treme, meu medo
transformando sua excitação em estímulo.

Ele se afasta de mim, fazendo com que a cadeira arranhe o chão. Ele
oscila, o movimento tensionando a condição já vulnerável de suas velhas
pernas de madeira. Usando meu peso corporal, eu mudo o melhor de minha
capacidade para mantê-la em pé.

— Tudo estava perfeito até o seu namorado se envolver — ferve ele. — O


pensamento dele tocando você me revolta. Ele te contaminou, mas posso
consertar isso. Vou limpar o toque dele de você. Então — rosna ele, — então
posso ter você. Tudo de você.

Meus olhos o seguem, e ele vira as costas para mim, movendo-se em


direção a uma mesa no canto oposto da sala. Cantarolando para si mesmo,
ele desenrola um pano preto na frente dele. Cada movimento revela várias
ferramentas dentro do rolo, cada uma em seus próprios lugares. Ele não vai
apenas me matar. Ele vai me torturar.

Um renovado senso de autopreservação começa a se agitar dentro de


mim. Talvez seja um último esforço da minha mente provar a mim mesma
que fiz tudo o que podia para me salvar. Inútil, do jeito que as coisas estão
agora, mas preciso tentar. Mesmo que apenas adie o inevitável.

Faça-o falar. Coloque o foco de volta nele. A voz da professora


McCallen flutua em minha mente, a memória de uma de minhas primeiras
aulas com ela. Alguém que está verbalizando não está batendo em você.
Mordo de volta com força e tento a única coisa que me resta.

— Eu não deveria ter feito isso — peço desculpas, mantendo meu tom
neutro e até mesmo para esconder a mentira.

Ele se vira de suas ferramentas, seus olhos me prendendo no lugar.


Quero desviar o olhar dele, mas o contato visual é a chave para fazê-lo
acreditar que estou dizendo a verdade. — Não percebi o quão especial você
era naquele dia.

Ele não se move.

— É minha culpa, tudo isso. Eu te induzi. Você me atacou porque eu o


provoquei. — Cada coisa que sai da minha boca envia bile subindo do meu
estômago para minha garganta. — Sinto muito.

— Não minta para mim! — grita ele. — Você não está arrependida. Você
não aprecia o que estou fazendo. Está dizendo isso porque quer me deixar,
assim como ela. Como todas fizeram. Mas não desta vez. Vou me certificar
disso.

Pense, Blair. Pense. Mentira do caralho. Lute por sua vida.

Ele vira as costas para mim novamente, tocando um ponto em suas


ferramentas antes de selecionar algo longo e prateado. — Sabe o que eu gosto
nas facas, Blair?

Vejo com horror quando ele esfrega o dedo ao longo da lâmina,


sibilando quando pica sua pele. Ele gira e inclina a cabeça para o lado. — As
armas são muito impessoais, muito rápidas. Mas uma faca... — ele acena na
frente dele como um prêmio —... é a arma de um cavalheiro. Uma arma
destinada a infligir danos, para tirar a vida lentamente. É perfeita.

Sua caminhada é lenta, mas deliberada. Seus olhos se estreitam em


concentração. Cada passo o aproxima cada vez mais. Abaixo meus olhos para
a faca, sentindo toda a esperança se esvair de mim. Acabou.

— Vamos ver se o seu sangue tem um gosto tão doce quanto eu me


lembro. — A faca mergulha profundamente na minha carne, arrancando um
grito gutural dos meus lábios.

— Por favor — suspiro. — Não quero morrer.


— Você morrerá, Blair. Exatamente como aquelas que vieram antes de
você. Assim como minha falecida esposa. Todo mundo deve morrer.
CAPÍTULO 30

O pânico fez meu coração martelar no meu peito. É engraçado como em


um minuto podemos ser os heróis conquistadores, voltando para a sede do
clube, prontos para comemorar um trabalho bem feito em um mundo sem os
irmãos Armstrong, e no minuto seguinte, todo o nosso mundo chega ao
limite.

— Tente de novo — rosno, olhando por cima do ombro de Hashtag para


a tela de seu computador. Hashtag suspira. — Estou te dizendo, cara, não
está aparecendo. Se o telefone dela está morto, não está enviando um sinal
localizador. Fim da história.

— Porra! — Eu me afasto dele e bato meu punho na parede. Minha mão


desaparece dentro dela, em uma nuvem de poeira de gesso.

Algo está errado, eu sei que está. Elas deveriam estar aqui agora. E nem
Lindsey nem Blair estão atendendo seus telefones. Judge mandou os caras
para fora, e eles procuraram por toda parte. Minha casa. A casa de Blair. A
casa de Lindsey. A escola. A biblioteca. Até a porra do Walmart. Elas não
estavam em nenhum deles.

— Respire fundo, GP — diz Judge atrás de mim.


Não sei como ele pode estar tão calmo. Sua sobrinha também está
desaparecida. — Hash, tente o telefone de Lindsey. Felizmente, onde quer
que estejam, elas estão juntas. — Hashtag bate nas teclas. Leva apenas
alguns momentos antes que ele olhe para nós e sorri. — Bingo.

Corro e olho para a tela, como se eu tivesse uma ideia do que ela diz.

— Onde?

— Setecentos Merwin Road. — Ele digita mais algumas coisas, e então


seus ombros caem. — Merda, pessoal. Esse é o hospital.

— Foda-se — murmura Judge, mas não digo uma palavra. Não posso.
Fico imóvel, olhando para a tela.

No hospital. Elas podem estar machucadas. Podem estar mortas.

— Vamos — diz Judge, dando tapinhas em meu ombro ao passar.

Eu o sigo até o estacionamento. Somos apenas nós dois, já que somos


nós que temos algo a perder. Judge lidera o caminho para o hospital e,
graças a Deus, não ultrapassamos nenhum policial, porque na velocidade
que ele definiu, teríamos nossas licenças tiradas na hora.

Uma vez lá dentro, eu o sigo até o balcão de informações. A senhora


atrás dele dá uma olhada para ele, depois para mim, examinando nossas
tatuagens e cortes de couro. Seu rosto empalidece. — Posso te ajudar?

— Lindsey Sheridan? Ela pode ter sido trazida para a emergência? —


pergunta Judge. Colocando o nome no sistema, ela lê algo na tela. — Você é
da família, senhor?

— Eu sou o tio dela — diz ele a ela. — Criei aquela garota como minha.

Ela dá a ele um sorriso triste. — Ela veio de ambulância. Está na UTI.


Meu coração afunda. — E Blair Thompson? Blair Thompson estava com
ela?

Ela digita esse nome também e balança a cabeça. — Me desculpe


senhor. Não há Blair Thompson listada em nosso sistema.

Fecho meus olhos e respiro fundo, bem fundo. Nem sei como me sinto
com essa notícia. Por um lado, estou feliz que ela não esteja aqui, porque isso
significa que ela não foi encontrada ferida. Por outro lado, ela não estar aqui
significa que ainda está desaparecida. E se Lindsey está na UTI, algo terrível
aconteceu. Diabos, onde está minha mulher?

A senhora dá instruções ao Judge e eu o sigo, minha mente girando,


tentando pensar em algo - qualquer coisa - para ajudar a encontrar Blair.

— Relaxe, amigo — diz Judge, sua voz baixa. — Nós vamos encontrá-la.

Não discuto. É fácil para ele dizer, no entanto. Ele encontrou sua
sobrinha, e minha garota ainda está lá.

Lindsey parece tão pequena naquela cama de hospital gigante. Tubos e


fios estão ligados a seu rosto e braços, máquinas apitando e zumbindo ao seu
redor.

— Com licença — chama uma enfermeira, correndo para nos


interceptar. — Apenas família imediata.

— Somos a família imediata — rosna Judge, encarando-a com um olhar


feroz, dizendo que ela seria louca pra caralho para discutir com ele agora. —
O que aconteceu?

— A polícia já esteve aqui. Não sabíamos quem era seu parente mais
próximo.

— Eu sou — afirma ele enquanto dá um passo à frente, pegando a mão


pálida de Lindsey em sua mão escura e bronzeada.
A enfermeira vai para o outro lado da cama e brinca com alguns dos
equipamentos ao redor de Lindsey. — Ela é uma garota durona. — Ela nos
diz. — Veio aqui de ambulância. Ela tinha um ferimento de faca bem na
barriga e algum trauma na parte de trás do crânio. Perdeu muito sangue. Os
médicos tiveram que consertar alguns danos internos de seu ferimento de
faca, e não sabemos ainda que tipo de dano ela terá do ferimento na cabeça.

— O que você quer dizer com não sabe?

— Ela não acordou ainda. Recebeu uma quantidade significativa de


analgésicos, mas sua inconsciência é resultado do ataque, não de sua
intervenção médica.

— Havia alguém por perto onde a encontraram? Outra garota?

A enfermeira balança a cabeça. — Sinto muito. Não sei muito, então


essas seriam perguntas melhores para fazer à polícia. Tudo o que sei é que
ela foi encontrada assim por um estudante da universidade.

Isso me tira da desesperança em que lentamente me afundava. — Ela foi


encontrada no campus?

A enfermeira concorda. — Em um estacionamento, eu acredito.

Viro meus olhos para Judge e ele acena com a cabeça. — Vai.

A esperança floresce em meu coração e eu me viro, saindo correndo do


quarto. Os prospectos disseram que examinaram o campus e todos os
prédios de psicologia, sem encontrar nada. Mas não tenho mais nada para
continuar. E confiar cem por cento na palavra de um prospecto é a última
coisa que estou prestes a fazer.

Com a saída à vista, digito o número de Karma e espero que ele atenda.
— Sim, cara — responde ele.
— Lindsey está em mau estado. Foi encontrada por um estudante. No
campus. —Karma amaldiçoa baixinho. — Vou para lá agora. Quem fez isso
conhece o campus, e de jeito nenhum eles levariam Blair longe, não sem
serem vistos.

— A caminho, com reforços.

Termino a ligação e coloco o telefone no bolso. Durante todo o trajeto


até o campus, minha cabeça gira com diferentes cenários. Talvez seja algum
garoto que vai à escola com Blair. Talvez ele a drogou e a levou de volta para
seu dormitório. E se for um jardineiro ou um colega de classe? Alguém que
não suspeitasse de espreitar pelo campus?

Nas poucas vezes que estive na escola com Blair, todas as suas aulas
pareciam estar localizadas em uma área. Há um cenário semelhante a um
parque no centro e um estacionamento gigante na parte de trás do
quarteirão. Pelo que posso dizer, o departamento de psicologia é composto
por cerca de dez edifícios mais antigos, mas bem conservados.

Entrando no estacionamento, meu sangue gela. Lá, sob um poste de luz,


cercado por nada além de vagas de estacionamento vazias, está o carro de
Lindsey.

Os prospectos disseram que não havia sinal das garotas aqui e, por isso,
vou arrancar suas cabeças de merda.

Estaciono atrás do carro dela e, assim que meu motor desliga, o rugido
de várias outras motocicletas vem na minha direção. É Karma, e ele trouxe os
outros. Um por um, eles entram no estacionamento e estacionam ao meu
lado.

Os olhos de Karma estão fixos no carro de Lindsey quando ele grita: —


Priest!
— Sim? — responde Priest, abrindo caminho através da pequena
multidão.

— Por que diabos nos disseram que não havia sinal das garotas no
campus quando a porra do carro de Lindsey está bem aqui? — grita ele essas
últimas palavras, seu rosto cheio de raiva.

— Não verifiquei aqui, Karma — admite Priest. — Fui mandado para a


casa do GP e de Blair. Campus era com Burnt e o cara novo.

Karma balança a cabeça. — Eu lidarei com eles mais tarde. E você tem
certeza que as casas estavam vazias?

O Priest acena com a cabeça. — Cem por cento. Quase fui devorado por
Walter quando fiz o check-in no GP.

— Ela tem que estar aqui em algum lugar — rosna Hashtag, olhando ao
nosso redor. — Fiz uma verificação rápida das câmeras de tráfego na área e,
embora não tenha visto Blair em nenhuma delas, também não vi nada
suspeito.

Olho para todos os edifícios escuros que nos cercam. — Ela está aqui em
algum lugar. Posso sentir.

— Vamos nos separar — anuncia Karma, falando mais alto para que
todos possam ouvir. — Mova-se em pares. Vamos de prédio em prédio.
Começaremos no porão e subiremos. — Ele continua latindo ordens, mas já
estou a caminho do prédio mais próximo, com Hashtag no meu encalço.

— Nós vamos encontrá-la, cara — insiste ele, chegando ao meu lado. —


Não vou parar até que o façamos.

O prédio está trancado, mas nunca deixei uma fechadura me impedir.


Um cartão de crédito e um grampo de cabelo são coisas sem as quais não
saio de casa, e leva apenas alguns segundos para abrir a fechadura e entrar.
Este é o mesmo prédio em que Blair e eu estávamos hoje cedo. O
mesmo que deixei quando recebi a ligação de Dwyer.

Procuramos sala a sala. O porão está cheio de velhas caixas de papéis,


estantes de livros quebradas e cadeiras velhas. Os andares superiores não
têm nada além de escritórios e salas de aula. E nada de Blair.

Nós nos movemos em direção ao próximo prédio, e ouço os outros se


movendo, chamando uns aos outros, declarando os edifícios vazios. Espere,
baby. Estou chegando.
CAPÍTULO 31

O tempo passa ainda mais devagar quando volto pela segunda vez.

Pelo que pareceram horas, entrei e saí da consciência. Facas perfuraram


e cortaram minha pele, perfurando profundamente em mais de uma ocasião.
Ele estava me torturando, deleitando-se com minha dor, com meu medo.

O entorpecimento finalmente assumiu o controle e, quando o fez, não


chorei. Não gritei. Não dei a ele essa satisfação. Ele me deu uma rebatida,
com raiva por eu não jogar em seu jogo. Esse golpe me mandou para uma
feliz inconsciência.

Sonhei com GP e nossa vida. Imaginei o que poderia ter sido se nada
disso tivesse acontecido. Como me senti em seus braços quando ele me
segurou. A maneira como ele fingia odiar Jinx, mas no fundo, na verdade a
amava. A felicidade me preencheu e o amor cresceu em meu coração. Lutei
para ficar naquele estado de sonho, ignorando o anel de escuridão ao longo
das bordas que manchava o único pensamento lindo que eu havia deixado.

Continuo a me agarrar a esse pensamento enquanto meu atacante me


força de volta ao pesadelo em que estou vivendo com ele.
— Boa menina — ronrona ele, dando-me outro tapa na minha bochecha.
— Eu sabia que você não me desapontaria. Você é uma lutadora. Você me
fará trabalhar para ter você.

Cada parte de mim dói. Poças de sangue do meu estômago e coxas,


pingando no chão abaixo de mim em repetidas manchas, infiltrando-se nos
cantos porosos do concreto, deixando para trás um traço do meu destino.
Um pedaço de mim que já encontrou seu lugar de descanso final, enquanto
minha alma provavelmente nunca encontrará paz.

— Apenas me deixe ir — imploro, as lágrimas escorrendo pelo meu


rosto enquanto luto para respirar em meio à dor. — Não contarei a ninguém.

— Já passamos por isso, Blair. — Ele me lembra. — Você não sairá


daqui. Sem respirar, de qualquer maneira.

Ele volta para a mesa de onde vieram suas últimas ferramentas. Desta
vez, ele não pega nada de dentro do rolo de facas, mas volta com as mãos
vazias e ensanguentadas.

— Conte-me sobre as outras — imploro, na tentativa de distraí-lo


novamente. — Quantos eram?

— Eu sei o que você está fazendo, Blair — diz ele, caminhando atrás de
mim, passando a mão na minha bochecha. Ele está fora de vista por apenas
um segundo antes de seus dedos enfiarem em meu cabelo e sacudirem
minha cabeça, batendo-a contra as costas da cadeira. — Estou fazendo isso a
mais tempo do que você está viva, criança. Você não pode usar meus
próprios truques contra mim, aquele que os desenvolveu.

E é aí que as peças se encaixam. Eu sei quem é por trás dessa máscara.


A sensação de seus dedos contra minha carne queima como fogo selvagem
encontrando gasolina. Meu corpo recua, mas ele apenas os enterra com mais
força. Realmente não há como escapar dele.
— Ver toda a esperança sumir de seus olhos foi quase tão prazeroso
quanto na noite em que nós nos conhecemos. — Suas mãos envolvem minha
garganta, seus dedos cavando em minha carne, cortando meu oxigênio. Meu
corpo estremece enquanto luto para respirar. Tento me desvencilhar, mas ele
só aplica mais pressão.

— Você se parece tanto com minha esposa quando eu a seguro assim,


com o mesmo terror em seus olhos. Ela lutou também, sabe, assim como
você. Ela tentou ir embora, mas eu a impedi. — Ele inala uma respiração
estremecida. — Ninguém me deixa, Blair. Ninguém

— Professor, por favor — imploro.

Seus olhos ficam selvagens com o meu reconhecimento. Liberando


minha garganta, ele circula em torno de mim, suas mãos alcançando o gorro
ainda cobrindo seu rosto. Seus dedos traçam as bordas antes que ele rasgue
sobre a cabeça, confirmando meu pior medo.

Meu invasor não era uma pessoa aleatória que me encontrou. O ataque.
Os encontros não tão aleatórios. A entrevista. Ele planejou tudo desde o
início. Fui uma participante desconhecida em cada passo do caminho.

— Para uma garota inteligente, você demorou muito para montar o


quebra-cabeça — diz ele, balançando a cabeça com verdadeiro
desapontamento. — Pensei que você fosse mais inteligente do que isso.
Poderíamos ter trabalhado lindamente juntos, Blair. — Os lábios do
professor Coates se abrem em um sorriso que faz meu sangue gelar. Quanto
mais irritado e apaixonado ele fica, mais forte e pronunciado se torna seu
sotaque britânico. — Mas você não gostou do meu trabalho, não é? Não viu o
que poderíamos realizar juntos.

— Você é um monstro! — grito, minha voz ecoando pela sala, e


esperançosamente na noite.
— Um monstro teria simplesmente te matado naquela primeira noite.
Não sou um monstro, Blair. Sou um gênio. Eu te preparei. Manipulei você
para cair no meu colo sem nem pensar duas vezes. Eu era o mestre de
marionetes do seu corpinho amarrado, e você ainda não parou de dançar
para mim.

Ele tem razão. Eu era como sua marionete e me apaixonei por tudo. O
sonho de trabalhar para alguém como ele me cegou para o que realmente
estava à minha frente. Um verdadeiro monstro. Naquele dia da minha
entrevista, eu deveria saber que não era ele tentando me seduzir, ou usar
meu ataque para continuar sua pesquisa. Era ele querendo me possuir. Caí
no anzol, linha e chumbada.

— Você sabia que foi sua própria conselheira que a colocou na minha
mira? No dia em que me encontrei com ela para discutir minha pesquisa, vi
você do lado de fora do escritório dela, colocando seu pequeno anúncio. Esse
seu cabelo ruivo caindo em suas costas até aquele short minúsculo,
implorando por alguém para te foder.

Suas mãos vêm em minha direção novamente, desta vez deslizando


para o cós da minha calça jeans. Ele geme enquanto me apalpa. Não consigo
parar de engasgar.

— Mas descobrir pelos seus próprios lábios que você é fã do meu


trabalho? Bem, isso tornou tudo muito mais fácil. Fui à sua casa naquela
noite, não com a intenção de machucá-la, mas para observá-la. Você
despertou meu interesse, mas eu queria saber se poderia mantê-lo. Quando
te vi ali, sozinha, em sua casa, era perfeito demais para me afastar. Tive que
provar você.

Sua mão desliza para fora do meu jeans, mas não deixa meu corpo. Suas
palmas migram até meus ombros, deslizam sobre eles e apertam meus seios.

— A aparência do seu rosto naquela noite, quando abriu a porta, ficou


cimentada em minha mente desde então, me atormentando cada vez que
fechei os olhos. Mas não preciso mais ser atormentado. Eu tenho você agora,
e a terei.

Ele puxa a cadeira para trás e caio no chão, as pernas quebrando com o
impacto. Todo o ar sai correndo dos meus pulmões e a dor explode com um
som de estalo sob o meu peso.

— Porra! — berro. — Minha mão!

—É isso — murmura ele. — Quero ouvir sua dor.

Ele fica de joelhos, tentando separar meus pés enquanto luto contra sua
força. Ele está pronto para terminar seu trabalho, para tirar a única coisa que
ainda não conseguiu de mim.

Meu medo e terror assumem o controle, forçando meu cérebro a se


afastar do que está para acontecer, me impedindo de lutar. Minha voz se foi.
Meu corpo está rígido. Até a pulsação em minhas mãos desaparece. Todo o
meu sistema congela. Sem mais nada, ele pegará o que quer, e sou incapaz de
impedi-lo.

Ele apalpa minhas pernas, tentando separá-las enquanto me concentro


na memória do rosto de GP dentro da minha mente.

Tirando uma faca do bolso, ele rasga e corta minhas roupas, me


deixando nua.

— Seja uma boa menina e grite por mim. Quero sentir o resto da sua
vontade de viver te deixando enquanto levo seu espírito.

Ele pressiona sua virilha contra mim, e solto um grito final antes que
meu corpo mergulhe na escuridão.

Perdoe-me, GP.
CAPÍTULO 32

— Vamos encontrá-la, GP — diz Hashtag, suas palavras com o objetivo


de me acalmar, mas tudo o que elas fazem é me irritar.

— Sim? Como diabos você sabe? Percorremos quase todos os edifícios e


não encontramos nada. Como sabemos que ela está aqui? Não sabemos.
Estamos seguindo um palpite.

Hashtag abre a boca para responder, e é quando ouvimos. Um grito


fraco e agudo, cheio de dor e terror. Nós nos movemos juntos em direção ao
som, e sinto que meus pés não conseguem se mover rápido o suficiente. Essa
era Blair, e ela está ferida. Ela precisa de mim para salvá-la, e eu
simplesmente não consigo me mover mais rápido.

— Aqui — chama Hashtag alguns outros.

Desisti de chutar a fechadura desta vez, e uso meu punho para quebrar
a porta de vidro. As vozes se aproximam, mas não fico esperando. Correndo
para dentro, vidro de segurança quebrando sob minha bota, levanto minha
mão para silenciar Hashtag. Meus ouvidos ficam tensos. Por favor, Blair,
faça outro som. Mas ela não faz.
Meu coração bate em meus ouvidos, meu peito aperta enquanto meu
medo por ela se transforma em desespero. E então um som que nunca vou
tirar da minha cabeça enquanto viver chega aos meus ouvidos. A risada
alegre de um homem completamente fora de si flutua em torno de nós,
saltando pelo corredor vazio em um eco fantasmagórico.

— Porão — diz Hashtag, mas já estou me movendo, examinando cada


porta e placas por algo que indica o caminho para o porão. Os passos
pesados dos meus irmãos ecoam nas minhas costas.

A escada do porão fica atrás de uma pesada porta de madeira. Esta


placa é tão pequena que é quase ilegível na escuridão. Um por um, entramos
em fila pela porta comigo na liderança.

Desço as escadas, não dando a mínima se eu alertar o atacante neste


momento ou não. Não dou a mínima, porque desta vez, não há como
escapar. Ele já passou por mim antes, mas não conseguirá passar pelos meus
irmãos.

O porão está vazio e quase todo aberto, exceto por uma única porta.
Fica no fundo da sala, e meu melhor palpite é que leva ao que poderia ser a
sala da caldeira do prédio. É também onde ele está fazendo minha Blair
gritar de dor.

Corro pelo chão aberto e nem me incomodo em tentar a maçaneta. O


tempo de civilidade já passou. Levanto meu pé e bato ao lado da maçaneta. A
madeira se estilhaça e racha antes que a porta se abra e se choque contra a
parede.

O que está dentro me deixa com uma raiva que me puxa da minha
missão de salvar minha garota e me força a uma em que meu único objetivo é
matar este homem.

Blair está deitada no chão, uma cadeira quebrada embaixo dela. Ela não
está mais gritando, porque está inconsciente. Seus olhos estão inchados, seu
lábio partido e uma quantidade assustadora de sangue se acumulou ao redor
dela. Suas calças foram rasgadas, deixando-a exposta. E pairando acima
dela, com uma expressão de aborrecimento e raiva em seu rosto, está um
homem mais velho careca.

— Eu vou te matar, porra! — rugi, agarrando-o de seu lugar entre as


pernas dela.

— Não! — grita ele, seus olhos esbugalhados de raiva. — Não, você não
pode tê-la! Ela é minha! Ela era minha antes de você aparecer. Você não
pode nos impedir de ficarmos juntos.

Não sei do que diabos ele está falando e, francamente, não dou a
mínima. Minha bota acertando seu queixo o cala muito rápido, e seu
discurso louco é substituído por gemidos de dor.

— Por favor — geme, pedaços de seus dentes saindo de sua boca com
seu apelo.

— GP! — chama Karma. — Blair precisa de você.

Stone Face aparece ao meu lado. — Deixe-me cuidar dele. Você vai para
a sua garota.

Olho para trás e, quando meus olhos pousam em Blair mais uma vez,
meu coração se parte em meu peito. Karma havia tirado sua camiseta e
colocado sobre seu corpo exposto, e ela já estava encharcada de sangue.

— É ruim, cara. Ela está cortada em todos os lugares.

— Blair? — chamo, rastejando de joelhos para chegar até ela. — Baby?


Baby, por favor, acorde. Por favor, acorde, Blair.

Ela não se move.


Sinto-me desamparado. Levanto meu olhar e olho para Karma. — O que
nós faremos? Não posso perdê-la, Karma. Não posso.

Os olhos de Karma vagueiam pela sala. Sua mandíbula endurece e suas


narinas dilatam. — Não vamos perdê-la, GP. De jeito nenhum é assim que
termina.

Afasto o cabelo encharcado de sangue de Blair de seu rosto, falando


palavras suaves de encorajamento para ela enquanto Karma late ordens para
os outros atrás de mim. Não consigo prestar atenção em nada que ele diz,
não agora. Agora, tudo que posso fazer é estar perto da minha garota e rezar
para que não seja o fim para ela. Para nós. Por favor, Deus.
CAPÍTULO 33

A morte é tão diferente do que pensei que seria. Não há luz branca no
fim do túnel. Minha avó não me recebeu em um lindo mundo de felicidade.
Na verdade, é o oposto de tudo que cresci aprendendo sobre a vida após a
morte. É um mar de escuridão. É dor. Não há paz aqui.

— Blair — chama uma voz das sombras. Meu ser etéreo flutua para
encontrar o som, mas não há nada lá.

— Baby, acorde — chama novamente. Desta vez, a escuridão muda


como um barco no mar. Uma rachadura se forma perto da fronteira ao meu
redor, e uma luz aparece. Meus dedos traçam. Eu bato nele e a rachadura se
expande ainda mais.

— Volte para mim, Red.

GP! A rachadura se expande ainda mais, até que uma explosão de luz
me cega, e a dor perfura meu peito, fazendo a escuridão desaparecer. Tudo o
que resta quando finalmente abro meus olhos é uma luz cegante.

— Obrigado porra — sussurra GP, seu bonito rosto aparecendo.


Seu grande corpo puxa o meu, me abraçando com força contra ele. A
névoa desaparece de minha visão, e uma sala desconhecida aparece.

— Você esteve fora por três dias. Achei que tivesse te perdido. — Ele me
aninha com mais força, como se eu fosse flutuar para longe.

Uma dor lancinante atinge cada parte do meu corpo, fazendo-me chiar,
e ele me libera instantaneamente.

— Porra. Você está bem? — Sua voz contém uma ternura nervosa que
nunca ouvi dele. Ele está com medo.

— Isso dói — choramingo.

— Eu sei, baby. — Gentilmente, ele reajusta meu travesseiro e me ajuda


a me acomodar na cama.

A dor irradia por mim enquanto ele tenta me recolocar em uma posição
confortável. — Melhor?

Eu aceno, percebendo minha mão em um gesso branco, todo o caminho


até o meu cotovelo. Eu o levanto, testando seu peso desconhecido.

— Está quebrada — informa ele. — O clube tem um médico sob custódia


e a levamos para a clínica dele. Você teve uma concussão e algumas facadas.
Felizmente, nada vital foi atingido. O médico a costurou, e temos cuidado de
você aqui, na sede do clube... — sua voz some e seus ombros caem. — É
minha culpa ele te machucar. Nunca deveria ter deixado você para trás.

— Não — argumento, minha voz quase inaudível.

Ele se empurra para fora da cama, seu peso deslocando as molas com
força, fazendo-me pular de dor. — Ele te pegou porque te deixei
desprotegida. Ele fez isso... — seus olhos caem para o meu corpo antes que
ele desvie o olhar. — Eu o parei antes que ele pudesse... — ele para
novamente.
Um peso sai de cima de mim. Seu desejo mais sombrio não se
concretizou. Meu corpo nunca seria dele.

— Você me salvou — lembro a ele, embora não me lembre de nada


desde o momento em que a cadeira caiu no chão até acordar aqui. Se foi ou
não a concussão, ou a maneira da minha mente de me proteger das piores
memórias, eu nunca saberia.

— Quase não fizemos, Red. Depois de encontrar Lindsey no hospital,


tive certeza de que era tarde demais. Que eu perdi você, porra.

Ele disse Lindsey? — Ela está viva?

— Por um fio. Mas ela é uma lutadora, assim como você. Judge está no
hospital com ela agora. — Lágrimas quentes e úmidas escorrem pelo meu
rosto com a notícia. Eu poderia viver com minha morte, mas não a dela.
Saber que nós duas fizemos isso torna minha sobrevivência mais
significativa. Nós duas conseguimos.

— Você o matou? — Meu coração dispara com o pensamento de que,


com sua morte, eu estaria realmente livre da loucura em que minha vida se
tornou. Livre para me sentir segura novamente sem orar para que ele não
esteja parado na esquina, esperando para me derrubar novamente.

— Você estava mal quando chegamos lá. Você era minha prioridade.

— É ele…? Ele ainda está...? — Não, ele não pode estar. Minha garganta
se aperta e meu peito arfa de ansiedade. Não é possível.

— Sim — responde ele friamente. — Mas não por muito tempo.

— Ele está aqui?

— No celeiro. Judge queria ter certeza de que você sobreviveria antes de


decidirmos o que fazer com ele.
Meu coração dispara, quase explodindo ao pensar nele ainda vivo, e tão
perto de mim. GP caminha até mim, senta-se na beira da cama e pega minha
mão boa na sua, segurando-se em mim como se eu fosse um sonho tentando
escapar.

— Vou matá-lo, Blair, por tudo que ele fez com você. A vida dele é
minha. — Seu tom é atado com a intenção de cumprir sua promessa, e isso
me assusta.

Já o vi com raiva antes, mas este é um nível totalmente diferente. Isso


não é raiva. É determinação. É uma retribuição.

— Vou vê-lo sangrar.

Uma batida suave vem da porta à nossa direita, e Hashtag entra com
uma pilha de papéis nas mãos.

— Tenho algo que vocês dois podem querer ver. — Ele entrega os
papéis. — Existem toneladas deles. Demorou muito para vasculhar os
relatórios de pessoas desaparecidas, mas ele está ligado a pelo menos outros
quatorze desaparecimentos, todas mulheres.

Os olhos de GP se arregalam a cada página que ele folheia na pilha. —


Porra, Hash. Como ele escapou dessa merda?

— Não faço ideia, cara. Já vi algumas merdas fodidas na minha vida,


mas esse cara... — tocando a foto do professor presa no topo da pilha —... é o
topo da pilha. Cada universidade à qual ele se afiliou tem um caso. Todas
ruivas. Todas alunas de pós-graduação.

— Como a polícia não ligou os pontos?

— Sem corpos, cara. Nenhuma delas foi encontrada.

— E a esposa dele? — pergunto.


A cabeça de GP vira para mim.

— Ele continuou falando sobre sua esposa.

— Página três — responde Hashtag. — Pediu o divórcio no Reino Unido


em 2000. Nenhuma pista de papel desde então. É como se ela fosse um
fantasma.

— Ela está morta. Ele me disse que a matou.

Hashtag tira a pilha das mãos de GP. — Judge diz que depende de você.

— Coloque uma bala na cabeça dele — responde GP.

— Não você — esclarece ele.

Ambos os homens se viram para olhar para mim. — É a decisão dela.

Deve ser fácil. Ele tentou me matar, ele matou outras. Mas sou forte o
suficiente para tirar a vida dele?As vítimas costumam dizer que a justiça
feita aos que as prejudicaram é como um peso tirado de seus ombros. Uma
segunda chance de uma vida feliz e pacífica. Não sinto nada disso.
Absolutamente nada, mas estou com medo de como viverei com tal escolha.

— Eu quero vê-lo.

— De jeito nenhum, porra — berra GP, se empurrando para fora da


cama com pressa. — Não quero você perto dele.

— É minha escolha, não é?

GP quer discutir comigo. Posso ver em seus olhos ferozes, mas negar-
me isso não apenas desafiaria os desejos do presidente do clube, mas
também negaria minha única chance de encerramento. Quero ver o rosto
dele uma última vez. Para ver o terror em seus olhos. O mesmo terror que ele
colocou no meu. Só então posso afirmar que a justiça realmente será feita.
Tento empurrar minha perna para fora da cama por conta própria, mas
estou fraca demais para ficar de pé. GP e Hashtag me pegam antes que eu
caia da cama completamente.

— Pega leve aí, sangue jovem — ri Hashtag. — Você ainda não está
pronta para correr uma maratona. Vamos tentar andar primeiro.

Cada um deles pega um dos meus braços, gentilmente me ajudando a


ficar de pé. Testo minha força, mas tropeço em um único passo. Tento
novamente. Desta vez, encontro uma posição melhor. Com os dois me
apoiando, eles me levam para o espaço principal do clube. A última vez que
estive aqui foi tão cheio de vida. Agora, está vazio. Virando-me em direção a
uma porta na extremidade sul do clube, a mudança me faz tropeçar
novamente, e inclino todo o peso contra GP.

— Foda-se. — Seus grandes braços me pegam e me embalam contra seu


peito. A dor lateja por todo o meu corpo como um fogo rápido, mas ele se
recusa a se desculpar desta vez. — Não posso ver você lutar, Red. Se você está
decidida a fazer isso, eu a carregarei.

Hashtag mostra o caminho e abre a porta. O ar frio da noite do sul me


atinge como um raio no momento em que saímos. Um celeiro vermelho
velho e desgastado está sentado à nossa frente. Nós nos movemos
lentamente em direção a ela e, por um momento, quero dizer a eles para
pararem. Dar a volta. Para me ajudar a esquecer de que tudo isso aconteceu.

Dois homens grandes montam guarda do lado de fora da porta. — Por


que ela está aqui? — pergunta um deles. — Ela parece uma merda.

— Cuidado — rosna GP. — É a decisão dela. Ordens do Judge.

Ele balança a cabeça, alcança a maçaneta e abre a porta grande e


pesada. GP começa a me carregar para dentro, mas eu o impeço.

— Ponha-me no chão — exijo.


— Você mal consegue ficar de pé, Red.

— Quero que ele me veja em pé sobre meus próprios pés. Quero que ele
veja que não consegue mais tirar minhas forças de mim.

Ele considera isso por alguns segundos antes de gentilmente me colocar


em meus próprios pés. Eu me dobro, reprimindo meu grito de dor.

Você pode fazer isso, Blair. Use tudo que tem. Não mostre a ele o
quanto ele te machucou.

Eu cavo fundo, usando toda a força que tenho para dar o primeiro
passo. A dor bate forte. Pego um segundo, e depois movo um pé após o outro
até estar dentro do celeiro. GP fica a uma distância segura atrás de mim.
Perto o suficiente para que, se eu tropeçar, ele possa me pegar, mas longe o
suficiente para que o professor Coates veja somente a mim.

No centro do celeiro estéril, eu o encontro preso por uma corrente em


seus pulsos, suspenso nas vigas expostas. Seu rosto é quase irreconhecível. O
clube pegou seus pedaços de carne em retribuição. Eles o fizeram sofrer até
que uma decisão pudesse ser tomada. Uma decisão que agora está em
minhas mãos.

Eu me aproximo, mas GP chega por trás de mim, puxando minha


camisa. Uma ordem silenciosa para não ir mais longe.

O rosto ensanguentado do professor Coates olha para mim. Seus lábios


se movem, tentando falar, mas não sai nada.

Eu o observo em silêncio, tendo na memória a maneira como o homem


que me atormentou por tanto tempo está pendurado indefeso na minha
frente. Seu poder foi tirado dele, assim como ele havia tirado o meu.

— Sabe o que vejo quando olho para você, professor? — digo, minha voz
baixa ecoando por todo o celeiro vazio. — Um homem fraco. Um monstro.
Você tentou tirar tudo de mim. Já tirou de tantas outras. Mas não mais.
Estou retomando nosso poder. Para mim. Para sua esposa. Por todas as
outras mulheres que você machucou. Acabou. Você não machucará mais
ninguém.

Ele gorgoleja enquanto tenta falar, sangue escorrendo de seus lábios. —


Eu serei sua última vítima.

Sem nem mesmo um segundo olhar, me viro e me afasto do homem


cujo nome será riscado dos livros de registro por mim. Por esses homens que
tanto fizeram para me proteger. O resto da minha energia e força vai embora
quando saio de sua vista. GP entra e me carrega de volta para fora do celeiro.

— Faça — digo a ele, sem um pingo de hesitação. — Termine isso.


CAPÍTULO 34

— Mas você pensou que a havia quebrado — cuspo com os dentes


cerrados enquanto arrasto sua própria lâmina para baixo em seu torso nu,
cortando seu cinto em dois. — Mas não fez isso, não é? Você viu por si
mesmo. Blair Thompson está mais forte do que você nunca esteve.

— Por favor — soluça ele, balançando a cabeça de um lado para o outro.


— Por favor, não faça isso. Eu irei parar. Deixarei Blair em paz. Você pode
ficar com ela.

Suas palavras levam minha raiva ao limite.

— Ela já era minha! — grito em seu rosto velho e suado, fazendo-o


soluçar ainda mais forte, seu corpo inteiro tremendo de medo e angústia. —
Ela é minha porque ela quer ser, não porque eu a fiz, seu psicopata.

Usando minha faca, eu corto sua calça do jeito que ele cortou a de Blair
e, quando termino, ele está pendurado na minha frente, completamente nu.
Seus ombros tremem com as lágrimas, seus lamentos abafando todos os
outros ruídos. — Apenas acabe com isso — lamenta.

— Não tão rápido, professor — digo com um sorriso. — Temos um


joguinho que queremos jogar primeiro.
Hashtag se aproxima, a pilha de relatórios sobre as vítimas de Coates
em suas mãos. Entregando-me a pilha, passo a lâmina para um Stone Face
que parece animado.

— Sabe o que é isso? — pergunto, agitando os papéis no ar. Coates não


responde. Ele apenas continua chorando, mas sei que ele ainda pode me
ouvir. — Esta é uma impressão de cada um de seus crimes. Cada página,
outra mulher que você machucou.

Suas lágrimas diminuem e ele levanta a cabeça para me observar.

— Isso mesmo, professor. Você foi descoberto. Você tem vítimas em


todo o mundo, e elas querem jogar o jogo também.

Sua testa franze e seus tremores ficam mais intensos.

Stone Face dá um passo à frente dele e gira a lâmina continuamente. —


Quer saber como jogamos?

Coates balança a cabeça freneticamente, mas Stone Face está em seu


elemento.

— O GP aqui lerá os nomes de cada uma de suas vítimas inocentes. —


Stone Face levanta a faca mais alto para que Coates possa ver. — Para cada
nome, eu escolho um lugar para enfiar isso em seu corpo. Uma facada por
nome. Mas não se preocupe. Vou desenhar para que cada menina tenha sua
vez.

— Não! — chora ele novamente, desta vez caindo em derrota. — Sinto


muito. Eu sinto muito. — Stone Face olha nos meus olhos e acena com a
cabeça.

— Vanessa Riggins — li em voz alta, em seguida, deixei cair sua página


no chão.
Stone Face examina Coates acima e abaixo, em seguida, enfia a lâmina
profundamente na lateral de sua barriga. Coates grita continuamente,
lamentando e se debatendo, orando a um Deus que certamente o abandonou
antes.

Quando ele silencia, leio o próximo nome. — Gwyn Ackerman.

Stone Face mergulha novamente. Coates grita, chora e reza, e quando se


aquieta, leio o próximo nome. Stone Face o esfaqueia novamente. O jogo
continua - cada facada é um memorial rude para cada mulher infeliz o
suficiente para cruzar seu caminho e ousar ter cabelos ruivos.

Após ler a última página, Coates está caindo de sua corrente. Os outros
caras do clube estão todos aqui, encostados na lateral do celeiro, vendo ele
receber esse castigo doentio. Coates parece exausto, sem sangue e à beira da
morte.

— Há mais um nome — diz Judge de lado.

Olho enquanto ele dá um passo à frente.

— Pegue a lâmina, GP — ordena ele.

Faço o que me foi dito.

— Essas outras mulheres são as vítimas que você matou — disse Judge a
Coates. — Mas há duas mulheres que você não conseguiu. — Ele estreita os
olhos, rosnando o nome, — Lindsey Sheridan.

Lindsey se machucou protegendo Blair. Afundo a lâmina na barriga do


professor.

Judge espera até que eu a tire e o professor pare de gritar. Assim que
Coates fica quieto o suficiente para ouvi-lo, Judge fecha a cara. — E,
finalmente, esta última é para Blair Thompson.
Quando ouço o nome dela, imagino como eu a encontrei duas vezes por
causa deste homem. Quebrada, ensanguentada, à beira da morte. Tudo
porque ela tem um farto cabelo ruivo. Rugindo de raiva, puxo meu braço
para trás e coloco a faca no coração de Coates.

Sua boca escancarada em choque, seus olhos fixos nos meus enquanto
seu corpo treme e se sacode em suas amarras. Vejo a luz da vida evaporar de
seus olhos malignos, me sentindo entorpecido por ter matado um homem,
mas orgulhoso de dizer à minha garota que matei seu dragão.

Depois que ele parte, eu largo a faca no chão e encaro o nada.

— Você fez a coisa certa, GP — insiste Judge, batendo a mão no meu


ombro. — Estou tão orgulhoso de você.

— Mesmo que eu tenha mentido — brinco, meu coração apenas pela


metade.

— Especialmente porque você mentiu. Eu sou um idiota às vezes. E de


vez em quando, os idiotas precisam de um lembrete sobre o que exatamente
eles representam.

Sorrio para ele, sentindo sua aprovação como um filho se deleitaria com
a aprovação de seu próprio pai.

— Vá ficar com sua garota — ordena.

Não o faço dizer duas vezes. Passo por cima da bagunça de feno
ensanguentado no chão e saio do celeiro, aceitando tapas nas costas e
parabéns do resto dos caras.

Quando entro no quarto que mantenho aqui na sede do clube, o


chuveiro está ligado. Posso ouvir os soluços de Blair, e cada um rasga uma
fatia do meu coração. Aquela pobre mulher passou por mais nas últimas
semanas do que a maioria das pessoas na vida.
— Baby — chamo, entrando no banheiro. — Você está bem?

Ela funga e limpa a garganta do outro lado da cortina. — Sim —


responde ela, sua voz cheia de tristeza.

Com a ponta do dedo, deslizo a borda da cortina e a encontro no chão


da banheira, com os braços em volta dos joelhos, o cabelo encharcado e
emaranhado na cabeça, as lágrimas se misturando com a queda da água do
chuveiro.

— Oh, Red — digo, tirando meus sapatos. — Não chore, baby. Acabou
agora.

Ela acena, sem olhar para mim, e limpa o nariz vermelho no braço. —
Eu sei. Eu sei que acabou. Estou tentando, GP. Estou realmente tentando.

Sem me preocupar em tirar minhas roupas, eu passo por cima da


banheira e entro no chuveiro. Ajustando seu corpo maltratado e costurado,
eu me envolvo no espaço atrás dela, puxando-a em meus braços.

— Sinto muito — soluça ela, seu corpo tremendo.

Eu franzo a testa, puxando-a para mais perto. — Do que diabos você


está arrependida?

— Me desculpe por trazer isso para você. Lamento não ter visto antes.
Sinto muito por ter te envolvido nesta merda.

Não posso deixar de sorrir. Puxando minha cabeça para trás, eu levanto
seu corpo e a viro para me encarar, para que eu possa encontrar seu olhar. —
Red, se nada disso tivesse acontecido, eu não teria você. Nunca se desculpe
por algo que não pode controlar. E definitivamente não se desculpe por estar
na minha vida, porque eu não iria querer isso de outra maneira.

Ela desvia o olhar de mim. — Estou quebrada, GP. Ele me quebrou.


Eu a forço a olhar para mim novamente, dando-lhe uma pequena
sacudida. — O que aconteceu com aquela fogueira que acabei de ver no
celeiro? Aquela que queria provar a Coates que ele não a quebrou?

— Eu não sou ela — soluça. — Era uma mentira.

— Isso é mentira, e você sabe disso, Red.

— GP, a pessoa que eu costumava ser, deixou de existir na noite em que


ele me atacou. A pessoa que ele deixou para trás é irreconhecível para mim.
Alguém de quem você tem pena, não alguém que você ama. Eu sou a herança
de família de valor inestimável que ninguém quer ter por medo de quebrar
em suas mãos.

— Estou apaixonado por você, Blair — deixo escapar. — Estou desde o


dia em que você tentou me forçar a brincar de casinha quando éramos
crianças. Nada mudará isso. Nem mesmo sua própria dúvida.

— Você não deveria me amar — chora ela. — Eu sou uma bagunça.

— Você é minha bagunça, Red. Matei o homem que te machucou. Eu


faria de novo um milhão de vezes se isso significasse que você ainda está aqui
comigo. E quero você aqui comigo. Só você e eu.

A tristeza em seu rosto diminui um pouco. — E Walter e Jinx? —


adiciona.

Eu franzo meu nariz. — Bem... Walter, com certeza.

A tristeza diminui um pouco mais e um sorriso se espalha em seu rosto.


— Você ama Jinx e sabe disso.

— Jinx é uma idiota.

Então, ela me presenteia com o som mais lindo que já ouvi na minha
vida. Ela joga a cabeça para trás e ri. Ela ri longa e fortemente, e quando
termina, ela pressiona seu rosto contra o meu peito coberto de camiseta
encharcada. — Eu também te amo, GP.
EPÍLOGO

Nas quase duas semanas que se passou desde que tomei a decisão de
acabar com a vida do professor, sentei-me em contemplação silenciosa
inúmeras vezes, tentando conciliar que moralmente, deveria estar chocada
por mandar matar um homem. Um monstro colocado para pastar pelas
mãos do meu próprio namorado. GP se recusou a me dizer o que fez com ele,
mas ver o rosto do professor estampado em todas as notícias locais e
nacionais foi mais do que suficiente para mim. Como o clube conseguiu
implicá-lo em todos os outros assassinatos horrendos que ele cometeu foi a
reverência no presente. Isso é o que eles me deram. Seu acréscimo não
reconhecido ajudaria muitas famílias a encontrar o encerramento que agora
encontrei.

Eles se reuniram em torno de mim como uma família e confiaram em


mim para fazer a coisa certa.

— Estive pensando — informo a GP, que está virando hambúrgueres na


grelha do lado de fora do clube.

— Sobre deixar o prospecto terminar de grelhar e irmos para o meu


quarto? — Reviro meus olhos e ele ri.
— Você não se fartou de mim antes?

Ele estava insaciável desde que o médico do clube me deu um atestado


de boa saúde. Minha mão estava se curando bem e as feridas de faca
pareciam ótimas. Elas deixariam cicatrizes, mas não me importei com isso.
Essas cicatrizes eram sinais de coragem, para me lembrar do que passei. O
que sobrevivi.

— Nunca serei capaz de me cansar de você, Red. Nem mesmo quando


estivermos velhos. Minha bunda enrugada ainda tentará entrar em suas
calças.

— Essa não é uma imagem que eu queira pensar, idiota — interrompe


Judge com uma expressão de desgosto no rosto. — Querida, se você se cansar
desse cara, é só me ligar. Eu cuidarei dele para você. — Ele joga uma
piscadela para mim para ter certeza.

— A porra que você vai, prez. Ela é minha garota.

Ele o encara, apontando a espátula para sua cabeça. — Ainda posso


chicotear sua bunda grande.

— Eu tenho uma nota de vinte se você atirar aqui e agora — ri Karma,


tirando uma nota de sua carteira e jogando-a no chão.

— Não quero envergonhá-lo na frente de sua garota. Acabou de virar a


carne?

GP mostra para ele o dedo médio. Judge e alguns dos caras voltam para
dentro, deixando-nos sozinhos novamente. Pego Judge apontando para GP
com o canto do meu olho. Começo a perguntar a ele o que está acontecendo,
mas ele volta para nossa conversa anterior. — Você vai me dizer ou me deixar
em suspense antes que aqueles idiotas nos interrompam novamente?

— Estava pensando na minha casa.


— Oh? — Ele arqueia a sobrancelha.

Nos últimos dias, conversamos sobre nossa questão da habitação. Ele, é


claro, queria que eu colocasse minha casa à venda e morasse com ele. Não
que já não estivéssemos morando juntos, mas o que o significado é o que me
fez pensar. A casa da vovó sempre foi minha casa. Um lugar de conforto.
Após o ataque, suas memórias foram roubadas de mim, mas não precisava
ser assim. Pode ser um lar que trouxe esperança e amor novamente.

— Não quero vender. Quero convertê-la em uma casa de recuperação


para mulheres agredidas. — Suas sobrancelhas levantam em surpresa.

— Uau. Não é o que eu esperava que você dissesse.

— Tenho pesquisado um pouco. Existem todos esses tipos de abrigos


para mulheres na cidade, mas nenhum deles é para violência doméstica.

— Posso dizer que há mais coisas acontecendo nessa sua cabeça. — Ele
vira os hambúrgueres e eles chiam. Satisfeito, ele fecha a tampa e vem se
sentar ao meu lado na cadeira extra de pátio que Priest colocou com
medicamentos para mim.

— Enviei um e-mail para a professora McCallen na noite passada. Ela


quer ser voluntária como conselheira. Isso poderia realmente funcionar.
Pode atender a uma necessidade não atendida e talvez seja um bom caminho
para mim depois de me formar. Tenho que fazer muito para conseguir as
licenças e o status 503c9 para arrecadar fundos, mas quero dar uma chance.

— O sorriso em seu rosto me diz tudo que preciso saber. Se é o que você
quer fazer, Red, eu estou totalmente com você.

9 Para estar isento de impostos, uma organização deve ser organizada e operada
exclusivamente para fins isentos estabelecidos na seção 501(c)(3) do Código da Receita
Federal, e nenhum de seus ganhos pode reverter a favor de qualquer acionista privado ou
indivíduo.
Eu me inclino em direção a ele, envolvendo meus braços em volta de
seus ombros. — Há apenas um pequeno problema. — Sorrio para ele. — Vou
precisar de um lugar para ficar.

Ele ri. — Você está pedindo para se mudar, Red? — repetindo


exatamente a mesma coisa que provoquei na manhã em que ele me preparou
o café da manhã.

— Quer dizer, eu teria que perguntar ao meu namorado se ele ficaria


bem com isso... — seus lábios colidem com os meus, cortando minhas
palavras, e eu o beijo com a mesma força.

— Há uma coisa que temos que fazer antes de eu concordar com tudo
isso. — Ele se empurra da cadeira e estende a mão para mim. Eu pego. —
Siga-me, Red.

Com um olhar cético, faço o que ele diz, seguindo-o direto para a sede
do clube, onde todo o clube está em um semicírculo ao redor da porta. Todos
os olhos estão em mim, o que me deixa muito inquieta. Ele aperta minha
mão de forma tranquilizadora.

— O que está acontecendo?

— O negócio é o seguinte, Red. Naquela noite que eu a reivindiquei,


esqueci algo.

— Ok…

GP solta minha mão e caminha para onde seu clube está. Judge lhe
entrega algo, coloca a mão no ombro de GP e assente. GP gira e se move
metodicamente para mim.

— Reclamar você foi a melhor coisa que já fiz, mas sei que não lhe dei
escolha nesse assunto. — Olhando para seus irmãos por cima do ombro, ele
continua.
— Este clube é uma irmandade. Uma família. Vivemos, pilotamos e
morremos lado a lado. Protegemos nossa família e gostaria que você fizesse
parte dela.

— Mas pensei que já fizesse?

— Então eu acho que isso torna a próxima parte mais fácil.

Ele estende o objeto que Judge deu a ele. Uma versão menor de seu
próprio corte. Ele o desdobra, revelando o patch de minha propriedade atrás
dele, com seu nome bordado embaixo dele. Ele o vira novamente para me
mostrar a frente, e na parte superior do seio direito está meu nome bordado
em um remendo.

Sorrio, traçando meu nome com a ponta do dedo. — Você está dizendo
sim?

— Eu sempre quis uma família.

— Preciso ouvir você dizer as palavras, Red.

— Claro que sim! — grito. — Agora, você colocará isso em mim ou


preciso fazer isso sozinha?

Ele abre os botões e estende para que eu coloque sobre meus ombros.
Tento ajustar o couro duro com a mão boa. GP se aproxima com a pretensão
de me ajudar, mas seu rosto conta uma história diferente. — Quando
chegarmos a casa esta noite, eu quero ver você vestindo isso, e apenas isso.

A promessa de nossa própria celebração para mais tarde me faz


estremecer. Eu me viro para o clube, vendo o orgulho claro como o dia em
todos os seus rostos.

— Bem-vinda ao lar, Red.

Lar nunca foi tão bom.


****

São noites como esta que me fazem perceber que não estou amarrado
como alguns desses filhos da puta. Apenas assisti-los desfilarem com
grandes sorrisos de bunda em seus rostos é o suficiente para me deixar
inquieto. Tentei toda essa coisa de relacionamento uma vez - a porra da
vadia me quebrou. Ninguém terá a chance de puxar essa merda comigo
novamente.

Priest se senta ao meu lado no bar, pedindo uma bebida para uma das
garotas do clube que está cuidando das festividades desta noite. Ela abre a
tampa e desliza a garrafa para ele.

— Grande festa — declara ele, tomando um gole de sua cerveja


enquanto se inclina contra o bar. — Ela é boa para ele. Para todos nós.

Posso apenas acenar em resposta. Sim, funcionou para ele. Blair é uma
boa pessoa. Eu gosto dela. Mas ficar aqui sentado vendo os dois celebrarem
seu amor não vai muito bem para mim esta noite. Não é Blair ou GP. Não são
as outras pessoas lotando a sede do clube e se divertindo. É a data. O nosso
encontro. Que teria sido a data do nosso casamento.

— O que está na sua bunda?


— Nada — rosno. — Só estou tentando beber minha cerveja sem que
vocês estraguem tudo para mim.

Priest olha para mim e balança a cabeça. — Você não está feliz por eles,
está?

— Não disse que não estava.

Priest toma outro gole antes de jogar a garrafa no balcão, levantando os


dedos para pedir outra. Uma das garotas do clube vem até mim com os seios
caindo da blusa. Pressionando-os contra mim, eu a empurro.

— Não estou de bom humor, querida.

Seu rosto pintado se entristece com minha recusa. Não é nada contra
ela ou aquele belo corpo dela. Se fosse um dia diferente, eu enfiaria meu pau
nela, esquecendo todas as besteiras.

— Não entendo você, cara. Todas essas mulheres por aqui, e não vi você
tocar em nenhuma delas ultimamente.

— Ei, eu tenho uma pergunta para você.

— Qual?

— Esta banqueta parece uma porra de um confessionário, prospecto?

Sem outra palavra, Priest vai embora. Missão cumprida. Esta noite é
exatamente o tipo de noite em que quero sentar aqui neste bar e ficar
bêbado. Eu nem deveria estar aqui. Não estou com humor para comemorar.

— Cacete! — grita Karma da multidão.

Ótimo. Uma das garotas do clube deve estar fazendo um show. Pegando
minha cerveja, começo a me virar quando...

Porra.
A porra de um fantasma do meu passado. Um que nunca esperei voltar
para seu lugar enquanto meus pulmões ainda sugassem o ar.

— Ele está aqui? — grita sua voz sobre o barulho, balançando a porra do
meu mundo. A cerveja cai da minha mão, espatifando-se no chão. Ela vira
seu olhar para mim, focalizando.

Foda-me. Não há como se esconder dela agora. Muito bem, idiota.

Ela foge em minha direção, o medo claro como o dia naquele rosto
bonito que eu costumava chamar de meu anos atrás. O rosto que sumiu sem
nenhuma maldita palavra.

Os anos foram bons para ela. Muito bom. A garota que eu conhecia se
tornou uma mulher, e uma gostosa ainda por cima. Cada par de olhos
masculinos solteiros está sobre ela. A besta adormecida dentro de mim
rosna, querendo reafirmar minha reivindicação sobre ela, e forçá-los a
desviar o olhar. Mas ela não é mais minha. Ela deixou isso bem claro quando
partiu.

— Hash — chama sua voz sedosa.

— Então, você se lembra do meu nome. Não tinha certeza de que


lembraria pela forma que partiu.

Seus belos olhos azuis suavizam quando uma lágrima desliza por sua
bochecha.

— Preciso da sua ajuda.

— Não estou com vontade de ajudar, querida. Não mais. Vá pedir a


outra pessoa, — rosno, contornando-a.

— Por favor — implora ela. — Alguém levou minha filha.


Então ela tem uma filha. Esse fato me atinge como um soco no
estômago.

Não me viro para olhar para ela quando pergunto por cima do ombro:
— E por que eu deveria me importar com a prole de outro homem?

— Porque ela é sua, Hash.

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