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— Uau — murmura ela, olhando para um dos panfletos que postei por
todo o campus nas últimas semanas. — Eu esperava um buraco de merda por
esse preço, mas este lugar é realmente bem decente. Um pouco velho e
mofado, mas não é ruim.
Strike um. Cerro os dentes e tento sorrir, mas estou tomando todas as
maneiras que tenho para manter o rosto sério. Vovó me ensinou a nunca
tomar decisões precipitadas com base na primeira impressão, mas já posso
dizer que essa mulher não é o tipo de colega de quarto que estou procurando.
Assim que penso nisso, Jinx sibila do andar de cima.
— Não gosto de gatos. — Ela faz uma careta, olhando na direção de
Jinx. — Ele está sempre dentro?
— Você é uma psicopata ou algo assim? É por isso que este lugar não foi
arrebatado?
Strike três. Posso lidar com sua atitude de merda, mas me chamar de
psicopata após minutos de pisar em minha casa? Sem chances. Há mais
quatro pessoas esperando nos bastidores para ver esta casa. A essa altura,
eles teriam que ser totalmente malucos para que eu pudesse respirar o
mesmo ar que esta mulher diariamente.
— Sinto muito, mas você insultou a mim, minha casa e minha gata.
Você não pode pensar seriamente que eu consideraria você se mudar para cá.
Precisa sair. Agora.
— Por favor, me dê outra chance — implora ela, sua atitude
desagradável e arrogante se foi. — Não posso pagar mais nada tão perto do
campus e estou com um orçamento muito apertado. Meus empréstimos
estudantis ainda não foram aprovados e começo as aulas na próxima
semana. Eu realmente preciso disso. — Por mais que eu simpatize com a
história dela, preciso cuidar de mim primeiro. Sei que dar a essa garota um
lugar para morar causará sérios danos à minha saúde mental.
— E eu pedi que você fosse embora, mas seus pés não parecem se mover
mais perto da porta. Deixe-me lembrá-la onde fica. — Voltando para a
entrada, eu abro a porta, direcionando-a com minha mão para entender a
dica. Ela tem quinze segundos no máximo antes de eu removê-la à força ou
ligar para a polícia do campus.
Saio para a varanda, observando para ter certeza de que ela se foi antes
de fechar a porta. Suspirando pesadamente, vou para a cozinha para
esquentar as sobras do jantar da noite passada. E ela me chamou de
psicopata. Ela precisa desesperadamente de ajuda profissional, o tipo que eu
- daqui a três anos - posso dar a ela. Bem, isto é, se eu sobreviver a eles. Pego
uma tigela da geladeira, tiro a tampa e coloco no micro-ondas. No segundo, o
primeiro botão emite um bip, um miado familiar chama por trás.
— Ainda não é hora do jantar, Jinx. — Ela mia de volta, mas desta vez
com um pouco mais de atitude por trás disso. — Não me atrapalhe assim.
Ela pula no balcão ao meu lado, o único lugar que ela sabe que não
deveria estar. Mas os gatos são notórios por criar suas próprias regras.
Volto para a sala de estar e me jogo no sofá com meu jantar e Jinx a
reboque. Na verdade, é bom que a exibição tenha terminado mais cedo -
apesar do desagrado da possível locatária - porque já se passaram semanas
desde que comecei a comer sentada, em vez de pegar uma tigela com o que
quer que esteja na geladeira e comer no caminho para a aula.
Após devorar minha comida, vou para a cozinha para limpar minha
tigela, assim que a campainha toca.
Tento gritar, fechar a porta, mas o intruso a bloqueia com uma mão
grande e enluvada. Meus pés vacilam debaixo de mim, fazendo-me entrar no
plano de intruso. Agarrando-me pelos cabelos, ele me arrasta para mais
perto da zona de perigo. Com um medo inegável percorrendo cada
centímetro das minhas veias, meu corpo congela.
Vou morrer.
CAPÍTULO 2
Walter me ouve, mas não dá à mínima. Ele sabe que vou parar quando
ele fizer isso, e quando um cachorro tem que ir, um cachorro tem que ir.
Pulo para o lado para evitar que ela se choque contra mim. — Não se
preocupe comigo — grito para ela. Vadia estúpida.
Ela se vira para me repreender, mas assim que seus olhos pousam em
Walter, eles se arregalam e ela murmura uma triste desculpa para um pedido
de desculpas antes de seguir seu caminho.
Walter vira a esquina sem avisar, nossa rota noturna embutida nele
tanto quanto eu. Eu costumava tentar desviar, fazer outros caminhos, mas
ele é uma criatura de hábitos. Ele não se desvia da rotina, e ele será
amaldiçoado se eu tentar mudá-la.
Sua cabeça gira para que ele possa olhar para mim, seu corpo ainda
lutando contra a coleira. Para algumas pessoas, ele deve parecer assustador,
mas quando olho para ele, tudo que vejo é inteligência e lealdade.
Desta vez, Walter não se esforça apenas pela casa. Desta vez, ele está
desesperado. Um gemido agonizante sai de sua garganta e suas unhas
arranham o pavimento. É quando ouço. Um grito curto e abafado, seguido
pelo som de algo se estilhaçando.
Conheço esse lugar. É a casa da ruiva. A linda ruiva que procuro toda
vez que passamos, esperando malditamente que ela esteja em sua varanda
fazendo ioga novamente. Não sei quem inventou as calças de ioga, mas
agradeço, porra, que tenham inventado. Elas cobrem aquele pequeno
traseiro apertado dela como uma segunda pele. Não que eu tenha olhado...
muito.
— Walter, volte aqui! — ordeno, correndo para pegá-lo, mas ele já está
na porta, que está entreaberta. Isto está errado.
Walter desaparece lá dentro, um grunhido profundo saindo de seu
peito. Meus pés atingem a varanda da frente, e aquele rosnado se transforma
em um rosnado de gelar o sangue.
— Seu filho da puta! — rugi, pulando sobre a garota, pronto para dar
um soco no filho da puta.
— Por favor — chora ele, a dor clara em sua voz. — Por favor, chame seu
cachorro. Ele está me machucando.
Walter o solta e vai até a garota. Eu me ajoelho para ter certeza de que o
cara está realmente apagado antes de virar as costas para ele. Preciso
verificar a ruiva, mas o que não preciso é de uma faca nas minhas costas.
Girando, empurro Walter para o lado e estendo a mão para ela. Ela está
respirando, mas é superficial. E se o corte na têmpora direita me diz alguma
coisa, é que ela precisa de cuidados médicos agora.
Olho para o corredor atrás de mim. Ele se foi. O filho da puta que a
atacou deve ter escapado pela porta dos fundos quando eu estava lá fora. Vou
atrás dele?
— Está tudo bem — digo a ela, pegando sua mãozinha. — Você está
segura agora.
Dizem que sua vida passa diante de seus olhos em situações como essa,
mas posso garantir que isso é besteira. Eu não via minha vida como um rolo
de filme se projetando na minha frente. Vi os olhos frios e escuros da pessoa
prestes a tirar minha vida olhando para mim da minha própria varanda. Eu
podia sentir o mal escorrendo de cada poro dele quando correu em minha
direção, pressionando sua faca sob meu queixo.
— Alguém está acordada, pelo que vejo — diz uma enfermeira alegre ao
entrar na sala com uma bolsa de soro na mão. Trocando a bolsa, ela então
caminha até o terminal de computador próximo a ela. — Como está sua dor?
Escala de um a dez.
2 Intravenosa.
3 Do latim Nil Per Os, termo médico que indica que o paciente não pode se alimentar pela
boca.
Passos fortes veem do corredor, e então um médico alto entra na sala com
uma prancheta nas mãos, distraindo-me momentaneamente do meu
desconforto.
— É bom vê-la acordada, Srta. Thompson. Sou o Dr. Malic. Nós nos
encontramos antes, mas duvido que você lembre muito de sua chegada. —
Ele sorri para mim. Cara engraçado. Ótimo. Exatamente o tipo oposto de
médico que preciso agora. Ele se aproxima da minha cabeceira, pega uma
lanterna do bolso e a ilumina nos olhos.
Não acho que chamaria de sorte o ataque, mas ele está certo. Eu
poderia estar morta. Sempre há um lado positivo em tudo, eu acho.
— Você tem uma grande comitiva na sala de espera — informa ela com
um sorriso provocador.
— O cara que entrou com você - aquele com todo o couro e o cachorro?
Ele esteve na sala de espera a noite toda. Fez uma cena e tanto quando não o
deixaram voltar para ver você sem mostrar a identidade. O cachorro quase
mordeu um dos seguranças.
Que cachorro? Eu não tenho cachorro. Quem diabos é esse cara? Não
havia mais ninguém lá, exceto Jinx e eu. A menos que…
— Então, você não viu a cara desse filho da puta? — pergunta Karma
depois que termino de explicar minha história para o resto dos caras.
E é por isso que liguei para ele. Judge pode ser o presidente do clube,
mas primeiro ele é um irmão. Ele é um dos filhos da puta mais assustadores
que já conheci, mas daria a camisa de suas costas por qualquer um de nós. E
quando se trata de alguém cometer violência contra outra pessoa que não
pode se defender, ele vê vermelho.
Não sei quem era aquele filho da puta, ou por que ele estava na casa de
Blair, mas o fato de ter a clarividência de usar uma máscara me diz que ela
provavelmente não terá a menor ideia de quem ele seja. Ele a atacou em sua
própria casa, e se não fosse por Walter, quem sabe o que teria acontecido
com ela.
Blair Thompson. Algumas horas atrás, eu nunca ouvi esse nome antes,
então por que ouvi-lo agora me faz sentir como se minha própria alma
estivesse ligada a essas duas palavras?
Bem. Essa palavra passa por mim como uma onda de alívio curativo e,
finalmente, meus pulmões são capazes de funcionar novamente.
Judge ri, mas não acho sua piada de merda engraçada. — Não, idiota.
Vamos deixar essa garota viver sua vida em paz, mas vamos caçar esse cara.
Quando o encontrarmos, ele orará a Deus para que nunca tenha escurecido a
porta da casa dela. E fazemos tudo antes que esses malditos policiais nos
vejam.
Você pensaria que ter sido atacada menos de um dia antes me pouparia
de uma enxurrada constante de perguntas. Entre a equipe médica, a polícia e
os repórteres - que me disseram que estão acampando no estacionamento na
tentativa de obter acesso a mim - estou enlouquecendo. Preciso descansar,
mas isso não está nem no reino das possibilidades - ou pelo menos é o que
parece agora, com a linha de questionamento do Detetive Douchebag 4.
Isso de novo. Esta deve ser a sexta ou sétima vez que ele me faz essa
pergunta, já que ele entrou apenas uma hora depois de eu ter acordado
totalmente. Eu nem tive a chance de tomar o caldo agora frio que a
enfermeira foi tão gentil em pedir para mim. Minha fome e bem-estar
claramente vêm em segundo lugar para este homem.
Ele franze a testa, sua desaprovação se espalhando por seu rosto branco
e barbudo. — Eu gostaria de poder contar mais, mas a coisa toda é um borrão
na minha cabeça.
Ele grunhe.
— Você pode grunhir o quanto quiser, mas isso não limpará a estática
na minha cabeça. Duvido que até mesmo uma antena de orelha de coelho
embrulhada em papel alumínio consiga consertar. Não há nada lá — concluo.
Ele faz uma careta então, esfregando o rosto em frustração. — Você fez
alguma coisa para incitar o homem a atacar?
— Desculpe?
— Srta. Thompson, você mesma me disse que postou panfletos por todo
o campus, procurando preencher uma vaga em sua casa, e que convidou
várias pessoas para vê-la. Você anunciou sua vulnerabilidade para o mundo
inteiro ver.
Aqui vamos nós novamente. Por que todo mundo está tão interessado
nesse cara? Primeiro, a enfermeira e agora o detetive. É um pouco difícil
falar sobre alguém que nunca conheci, ou mesmo vi.
— Minha resposta não mudou desde a última vez que perguntou. Não o
conheço. — Encolho os ombros. — Ele cai naquela área negra que acabei de
mencionar. Eu nem sabia que mais alguém estava lá. — Aponto para minha
cabeça, esperando que lembre a ele que levei um golpe nela. Esse cara é um
típico viajante do ego. Quase me dá vontade de trocar de papéis e escolher
seu cérebro. Quase. Não sei se gostaria de bisbilhotar lá com sua linha de
trabalho. — Eu realmente quero ajudá-lo, mas não há muita informação que
posso oferecer.
Inacreditável. Não foi algum tipo de briga doméstica que deu errado.
Fui atacada em minha própria casa, minha vida quase tirada. Nada foi
conveniente para mim - nem um pouco. E o que há com esse homem que
acionou o gatilho para esse detetive? Se fosse honesta, quanto mais ele fala
sobre ele, mais eu quero saber. Ficar com tanta ira após um ato tão corajoso
é tão estranho. Eu só queria ter tido a chance de agradecê-lo.
Então é isso. Tudo o que posso fazer é esperar e torcer para que esse
cara não venha bater na minha porta novamente. Isso é inaceitável. Não é
que eu não entenda o que o departamento de polícia está tentando fazer, mas
deve haver algum caminho que eles ainda não pensaram. Tem que ter.
Obrigada.
Ele sai do quarto sem dizer uma palavra, batendo a porta atrás de si.
Ecoa nas paredes por alguns segundos depois que ele sai.
— Seu amigo que esperava também não parecia gostar dele — sugere,
indo para o computador.
— Meu amigo?
— Bem, seja ele quem for, é uma pena que tenha partido. As
enfermeiras na área de recepção não se importaram com a vista.
5 Usado de maneira sarcástica quando as coisas dão errado. Significa mais ou menos o
mesmo que Oh maldição!
— Foi embora? — Não que eu me importe com as idas e vindas de um
completo estranho, mas entre o idiota do detetive e as enfermeiras falando
sobre ele, tenho que admitir, eles despertaram minha curiosidade.
Seus amigos? Quem é esse cara? E por que tem uma comitiva com ele?
É preocupante, com certeza, mas meu coração ainda bate. Ele foi embora
sem sequer uma visita para me ver. Por que ficar todo esse tempo e não
entrar? Nada disso faz sentido. Ele poderia pelo menos ter ficado tempo o
suficiente para eu agradecê-lo.
Indo para casa. Meu estômago cai pela segunda vez. Deveria estar
animada - em êxtase, na verdade - exceto pelo fato de que a pessoa
responsável ainda está lá fora. O noticiário já informava que a vítima do
ataque sobreviveu. Então, o que o impede de voltar para terminar o
trabalho? Talvez ficar aqui um pouco mais não seja tão ruim afinal... bem, se
não fosse por Jinx. Maldita gata.
A enfermeira vagueia pelo quarto por mais alguns minutos antes de sair
novamente, aconselhando os guardas da polícia na minha porta a me
permitirem descansar por algumas horas. Ela deve estar brincando se acha
que vou dormir com a turbulência dentro da minha cabeça. Há muito para
processar. Devo ficar lá ou arrumar Jinx e ir para um hotel? Um hotel seria
mais seguro, mas caro. Eu não estou exatamente ganhando dinheiro sem ter
alguém para ajudar a pagar as contas. E é duvidoso que façam fila para
alugar um quarto vago na casa agora que quase morreu alguém.
Judge olha para mim enquanto pensa no meu pedido. — O que há com
essa garota? Por que ela?
Já me fiz a mesma pergunta várias vezes e ainda não encontrei uma
resposta que fizesse algum sentido. — Não sei, cara. Apenas sinto que ela
deve ser protegida, sabe? Não é o que fazemos?
Olho para Walter, que está sentado ao meu lado, observando como se
fizesse parte da conversa. A cicatriz em seu rosto e seu olho perdido veio de
uma luta que esses mesmos homens o forçaram. Pegá-los foi tudo em que
pensei durante meses, até agora.
Por mais que eu odeie, não posso discutir com o homem. Ele não é
apenas o presidente do clube, mas também está cem por cento certo. Blair
não é minha. Não é minha responsabilidade ou minha mulher. Inferno, ela
nem é minha amiga. Não a conheço de jeito nenhum.
Judge sorri e joga sua garrafa vazia na mesa, seus olhos nunca deixando
a mulher do outro lado da sala. — Sempre uso, GP. Sempre uso.
Entendo por que o Judge não quer envolver o clube no que quer que
seja que Blair se meteu, mas não posso deixar de me envolver. Eu segurei
essa mulher em meus braços enquanto ela estava inconsciente no chão.
Caminhei pelo hospital enquanto esperávamos pelos médicos dizerem que
ela ficaria bem.
Blair Thompson pode não ser minha garota, mas cada sarda em seu
rosto está gravada em minha memória. Não deixarei nada acontecer com ela.
Com ou sem clube, eu irei pessoalmente garantir que aquele idiota nunca
chegue a cem metros dela novamente.
CAPÍTULO 7
Jinx para perto da porta da cozinha e olha para mim, lambendo a pata
com desinteresse absoluto.
Ficar parada é minha única opção. Ficar na casa onde cada baque, carro
passando ou barulho lá fora faz meu coração disparar e minha pele arrepiar.
A mancha do meu próprio sangue no piso de madeira pode ter desaparecido
a olho nu, mas ainda está fresca em minha mente. Alvejante não pode limpar
a mancha emocional e mental, não importa o quanto eu tente tirar isso da
minha cabeça.
Ele ainda está lá, me torturando por dentro. Só posso esperar que uma
vez que minha professora do programa de aconselhamento estiver de volta
ao escritório, ela esteja disposta a me ver cara a cara para me ajudar a
trabalhar nisso.
Hoje foi muito mais fácil, apesar das tentativas agressivas de afeto de
Jinx. Passei a maior parte das horas do dia dormindo no sofá, com apenas
alguns momentos de acordar em pânico quando o rugido alto de uma
motocicleta passava pela casa nas primeiras horas da manhã. Não sei quem é
o dono dessa coisa, mas eles realmente precisam encontrar uma rota
diferente para pedalar, e logo. Cada rotação do motor me deixava em estado
de alerta, fazendo-me pular do sofá. Demorei mais de uma hora para me
acalmar antes que pudesse finalmente cair no sono novamente.
Estou enxugando as mãos na pia quando uma batida forte vem da porta
da frente. — Merda! — A intrusão inesperada faz meu coração galopar a um
ritmo que me faz balançar em meus pés. O pano cai na pia ensaboada,
enviando bolhas voando para minha camisa e rosto.
Respire, Blair. É plena luz do dia. Ele não voltará agora. Não com o
desfile constante de carros de patrulha passando várias vezes por hora.
— Srta. Thompson — chama uma voz masculina. Merda. Ele deve ter
me ouvido. Merda. Merda. Merda.
— Sou Rich Van Nees, do Channel Four News. Gostaria de falar com
você sobre o seu ataque.
— A polícia está cuidando do meu caso. Fale com eles. Não posso lhe
dar nada mais do que a investigação deles pode lhe dizer.
— O mesmo não pode ser dito de mim, e eu disse não. Agora saia.
Sério? — O que há com você e esse cara? Não tenho nenhum vínculo
com ele, certo? Nenhum. Nada. Zero.
— Eu sei que você não está sendo honesta comigo. Caras como ele não
salvam mulheres aleatórias. Há uma razão, e eu gostaria de saber qual é.
— Quantas vezes tenho que dizer? — grito ao telefone, meu motivo para
ligar para ele em primeiro lugar desaparece da minha mente. — Não o
conheço. Não sei quem ele é ou por que você está tão excitado por ele, mas
cada minuto que você se concentra nele é mais um minuto em que meu
agressor ainda está lá fora, possivelmente machucando outra mulher
inocente. Por que não o pegou?
Cerro os dentes, tentando manter a calma. Gritar com ele não me dará
mais ajuda do que ele já dá. Não sei se ensinam misoginia na academia, mas
se ensinavam, esse cara superou.
Ele tenta discutir comigo, mas desligo antes que ele possa dizer a
primeira palavra. Deveria chamar o detetive responsável pelo meu caso de
idiota? Provavelmente não, mas estou enlouquecendo. Minha vida está em
frangalhos e estou emocional e fisicamente esgotada. Alguma coisa tem que
acontecer, e se eu tiver que ameaçar um oficial da lei para que isso seja feito,
que seja.
Aparentemente, porém, funcionou, porque menos de trinta minutos
depois, todas as quatro vans estão saindo de seus lugares de estacionamento.
Verdade seja dita, sou a garota propaganda por ser abandonada quando
você mais precisa de apoio. Levei anos para trabalhar meu trauma de
abandono de infância com vários terapeutas, e agora, aquele medo
profundamente arraigado está voltando.
De pé, dou alguns passos a frente, mas paro quando seus punhos se
fecham e se movem em direção à sua cintura. Ele e eu sabemos que ele está
fazendo as malas e não estou prestes a levar um tiro. — Apenas uma visita
amigável, Carson. Por que está tão nervoso?
Tudo bem, hora de parar com essa merda. — Sabemos que os meninos
Armstrong ainda estão lutando. Quero saber quando e onde. Sem mentira.
O rosto de Carson empalidece, mas tenho que dar crédito a ele. Sua
expressão não vacila nem um pouco. — Não sei do que diabos você está
falando, cara. Não tenho mais nada a ver com os Armstrongs. — Seus olhos
se voltam para a casa, e sigo seu olhar para ver uma menina olhando pela
janela, seu sorriso torto brilhando fortemente para nós. Ele acena para ela
com um sorriso, mal movendo os lábios enquanto diz: — Por favor, não faça
uma cena na frente da minha garota.
Olho atrás de mim para a casa onde a menina acena para mim, seu
sorriso tão largo que não posso deixar de acenar de volta. — Garota fofa —
digo a ele. — Seria uma pena ela perder o pai porque ele não sabe quando
dizer a verdade. Judge não está recuando, Carson. Nenhum de nós está. Os
Black Hoods acabarão com essa merda, com ou sem a sua ajuda. E se você
estiver envolvido, você afundará com eles.
— Olha, eu falo sério. Não tenho nada a ver com eles. Não mais. Os
Armstrongs são loucos pra caralho, e minha família vem primeiro. Mas vou
te dizer uma coisa. —Sua cabeça gira de um lado para o outro, seus olhos
examinando a área ao nosso redor. — Ouvi de um cara que ainda trabalha
para eles que eles estão construindo um anel fora de Paloma, em algum lugar
no mato.
Carson engole, balançando a cabeça para cima e para baixo como uma
cabeça redonda de grandes dimensões. — Eu te escuto.
Tendo dito tudo que preciso dizer, jogo minha perna sobre o assento e
ligo a motocicleta. Não é muito, mas a informação que ele acabou de me dar
é mais do que descobrimos em mais de uma semana de pesquisa. Judge
ficará feliz. Isso nos coloca um passo mais perto de prender os filhos da puta
que torturaram Walter, e Deus sabe quantos outros cães indefesos. Os dias
dos irmãos Armstrong estão contados.
— O que você descobriu? — Sua voz rouca late sobre as batidas pesadas
da música tocando ao fundo.
— Ele quase se mijou quando sua filha saiu. Tenho certeza de que falava
a verdade.
Judge ri no receptor. — Justo. Veja o que pode descobrir sobre o
contato que ele lhe deu. Quanto mais tempo esses filhos da puta têm para se
organizar, mais trabalho nós teremos que lidar.
— Isso é verdade.
— Você está recusando uma boceta de grau A para o seu cachorro? Não
teria nada a ver com a sexy ruiva em perigo estar em casa agora, não é?
— Bom — declara ele, a palavra mais para uma ordem do que para um
acordo. A mesma voz suave faz barulho ao fundo. — Um segundo, querida —
diz Judge a ela. — GP comece a rastrear o amigo de Carson. Não há tempo a
perder.
Aceno, embora ele não possa me ver. Estou feliz por ter a conversa
desviada de Blair. — Você tem isso. Divirta-se esta noite.
— Sempre faço, cara — diz ele com outra risada. — Até mais.
Conhecendo-o tão bem quanto eu, ele estará bêbado e com as bolas
afundadas na boceta em breve, o que é uma coisa boa para mim, porque
assim que deixar Walter sair, terei minha própria garota para ver.
CAPÍTULO 9
Voltar para as minhas aulas foi de longe uma das maiores decisões que
eu tomei nos últimos dias, desde minha alta do hospital. A professora
McCallen foi muito clara em sua resposta por e-mail que meu retorno ao
cronograma do programa de verão não seria algo definido se eu não estivesse
com vontade de voltar. Pronto, não estou, mas a única maneira de encontrar
meu senso de normalidade novamente é não colocar minha vida em espera.
Odeio recusar, mas este é meu primeiro dia de volta e estou exausta. —
Por mais que eu goste disso, realmente quero chegar em casa antes que fique
muito escuro.
— Compreendo. Aqui, pegue isso. — Alcançando sua bolsa, ela puxa
uma caneta e um pedaço de papel, rabisca algo e entrega para mim. — Este é
o número do meu celular. Se quiser conversar, ou o que for, sinta-se à
vontade para me enviar uma mensagem.
Ela balança a cabeça e desliza seu cabelo comprido e escuro para longe
de seu ombro, revelando uma longa cicatriz em seu pescoço que sobe em sua
bochecha esquerda. — Jogador de futebol. Eu disse não e ele não gostou. Ele
me atacou no estacionamento de sua casa de fraternidade e tentou colocar
meu rosto através do para-brisa de um carro quando revidei.
— Foi uma merda — diz ela. — Mas tive ajuda. Eu gostaria de ajudá-la
se você precisar.
Seu telefone toca alto, tirando seu olhar do meu, e faz uma careta para a
tela. — Merda. Meu carro quebrou esta manhã, e agora minha carona está
me abandonando. O último ônibus para o meu condomínio é tipo, agora,
então eu preciso correr. — Ela começa a se virar, mas para. — Sério, Blair.
Me ligue se quiser conversar.
— Está tudo bem, Blair. Esperava encontrar você hoje. Bem, não
literalmente. Tem alguns minutos? — Ela aponta para seu escritório.
Seu olhar avaliador nunca deixa o meu. Ela deve procurar por
rachaduras na armadura que passei a manhã inteira protegendo hoje.
Preciso ficar forte. Meus estudos são tudo o que eu preciso agarrar para tirar
minha mente do fato de que estou enfrentando tudo sozinha.
— Blair, eu só quero o melhor para você. Você é de longe uma das
alunas mais talentosas deste ano no programa de doutorado do primeiro
ano. Mas se precisar tirar um ano sabático, o comitê do programa já
concordou em mantê-la por um ano se você precisar.
— E aprecio isso, mas para mim, não é negociável. Não deixarei esse
cara tirar minha vida de mim. Trabalhei muito para chegar aqui.
Ela cruza as mãos sobre a mesa com um olhar ilegível cruzando seu
rosto, fazendo-me conjecturar minha decisão. Estou fazendo a coisa certa?
— Achei que fosse isso que você diria, mas a oferta ainda está de pé. Se
você se sentir oprimida a qualquer momento, Blair, meu escritório está
sempre aberto para você. Vê-la ter sucesso em seu trabalho é algo que me
interessa muito. Se, por qualquer motivo, precisar desabafar, conversar,
desvendar seus sentimentos, estou aqui para ajudá-la. Espero que realmente
saiba disso.
— Eu sei — asseguro a ela. — Sei que os dias e semanas que virão não
serão fáceis, mas acho que posso lidar com isso. Honestamente, a escola não
me preocupa. Eu queria ser psicóloga desde que me lembro. É o meu sonho,
e não vou bagunçar agora que estou tão perto.
Eu realmente quero ficar e conversar mais com ela, mas outro aluno
irrompe pela porta, implorando para falar com ela. Educadamente me
desculpo e saio de seu escritório, andando pelo corredor.
Meu coração cai. Chego mais perto do canto, meus ouvidos aguçados,
sabendo muito bem que quanto mais eu ouço, mais doerá ouvir.
— Ela parece uma merda. Você a viu pular quando o livro de alguém
caiu da mesa? Achei que ela fosse chorar no meio da aula — brinca uma
segunda voz.
— Quero dizer, você a culpa? — repreende uma terceira voz, mas esta
pelo menos parece ser mais compreensiva. — Ela passou por um inferno. Dê
uma folga para ela.
— Oh vamos lá! — geme a primeira voz, suas palavras gotejando
condescendência. — Você não pode acreditar na história dela. Está no
Twitter que ela está mentindo.
Lentamente, eu espio pela esquina, espiando pelo menos seis dos meus
colegas de classe amontoados como um grupo de colégio.
Eles cavam e cavam até eu não aguentar mais. Viro a esquina e enfrento
meus acusadores de frente. Já é suficiente. Cada um deles parece veados nos
faróis quando percebem que ouvi cada palavra vil que acabou de sair de suas
bocas.
— Ei, Blair! — grita alguém atrás de mim, mas ignoro. Não posso lidar
com mais nada hoje. Voltando-me para a calçada, vou para casa.
Nunca tiro meus olhos da forma sombria. O que devo fazer? Eu corro?
Eu o confronto?
A sombra se afasta das sebes, desaparecendo pela lateral da casa e fora
de vista. Um caminhão que passa me assusta, desviando minha atenção da
sombra, e é quando vejo uma motocicleta estacionada em frente à casa ao
lado da minha. Uma casa vazia. Seria a mesma motocicleta que fica dando
voltas pela minha casa a qualquer hora da noite ou apenas uma
coincidência?
Que diabos eu faço? Posso continuar a ser uma vítima e fugir, ou posso
manter minha posição. Meu coração troveja contra minhas costelas quanto
mais eu observo de uma distância segura, esperando a sombra reaparecer.
Quem esse idiota pensa que é, afinal? Ele invade minha casa, me
assalta, me coloca no hospital e assombra cada momento da minha vida com
o medo de que ele volte para terminar o que começou, e agora ele está aqui.
Porra. Não sei o que tem acontecido com Judge ultimamente, mas ele
tem sido extremamente teimoso nas últimas semanas. Está estressado com
os irmãos Armstrong surgindo novamente e rejuvenescendo seu negócio de
luta de cães - inferno, todos nós estamos - mas ele tem sido como um velho
urso bravo, recém-saído da hibernação, e está começando a se desgastar para
todos nós.
— Puta que pariu! — Pressiono minha mão no meu ouvido e olho para o
atacante, a raiva drenando de mim em um instante quando vejo quem é.
Não consigo tirar os olhos de suas sardas. Fora de seu rosto. Blair é uma
mulher linda, mas quando está com raiva assim... foda-me, ela é adorável.
Blair puxa o galho para trás, pronta para atacar novamente. — Ei,
idiota, pare de olhar.
A risada escapa dos meus lábios antes que eu possa detê-la, e seus olhos
brilham de fúria. — Você acha que isso é uma piada? Vou quebrar a porra do
seu crânio!
Posso dizer que ela ainda está insegura sobre mim, mas ela balança a
cabeça, no entanto. Sento-me, novamente reprimo uma risada dela parada
ali, a vara em sua mão ainda entre nós. — Foi meu cachorro — digo a ela. —
Ele deve ter ouvido você gritar, e não me deu nenhuma escolha a não ser dar
uma olhada.
O pedaço de pau cai no chão com um baque suave, e ela se senta ao meu
lado no degrau, o calor de seu corpo irradiando contra meu braço. — Eu
poderia ter morrido.
— Obrigada.
As palavras saem como um sussurro, mas eu as sinto no fundo da
minha alma. — Não é necessário agradecer, Red6. Estou feliz que chegamos
aqui quando chegamos.
Foco meu olhar para baixo e coço uma mancha imaginária em meu
jeans desgastado. — Não nos conhecíamos. Eu não queria tornar isso
estranho.
Pegando a mão dela, faço o meu melhor para não notar quão frágil e
perfeito parece enquanto dou uma sacudida lenta.
— GP — respondo.
Seu sorriso fica mais largo, seus dentes brilhando através do vinco entre
seus lábios carnudos e rosados. — Bem, GP, agora nós nos conhecemos.
Eu rio, sua mão macia ainda na minha. — Sim, nós fazemos. — Meu
telefone vibra novamente. Porra. Judge.
Blair levanta e faz sinal para que eu a siga. Damos a volta para frente da
casa, onde sua mochila está encostada no degrau da frente. Ela se abaixa
para abrir o zíper e não consigo tirar os olhos de sua bunda. Para com isso,
idiota. Pare de olhar para o que não pode ter.
Fico olhando para os dois itens. Posso dizer honestamente que em toda
a minha vida, eu nunca antes tive nada tão fodidamente feminino em minhas
mãos. — Jesus — murmuro novamente, ignorando sua risada enquanto
rabisco minhas informações no papel. — Me ligue — digo a ela, meu tom tão
sério quanto um ataque cardíaco. — Dia ou noite, faça chuva ou faça sol.
Moro ao virar da esquina e posso estar aqui muito mais rápido do que a
polícia.
O pior é que uma parte de mim quer. Levaria duas mãos para contar o
número de vezes que cliquei em seu nome e comecei a enviar mensagens de
texto para ele. Digito uma após outra, mas depois apago rapidamente cada
uma como uma adolescente apaixonada que quer dizer a sua paixão o quanto
gosta dele.
Patético, eu sei. Mas, a menos que você conte aquele vizinho fofo por
quem eu tinha uma queda quando era criança, e o cara com quem namorei
durante o primeiro ano que me chutou para o meio-fio um milésimo de
segundo depois de começar a correr para uma fraternidade, eu não tenho
experiência adulta nesta arena. Depois que fui dispensada, concentrei-me
nos meus trabalhos escolares e decidi esquecer tudo sobre a cena do namoro.
Então GP me resgatou, e agora todo aquele trabalho árduo não está mais
sendo levado em consideração em meus pensamentos.
Que foi ele quem me deu uma olhada em todas as horas da noite com
sua motocicleta barulhenta e que mora nas proximidades. Embora depois de
atacá-lo com um pedaço de pau, eu não o tenha visto por aí desde então. Não
que esteja procurando. Ok, tudo bem, estou procurando. Procurando
constantemente, se for honesta aqui.
É isso aí. O fato é que eu realmente não conheço esse cara, mas tente
dizer isso ao meu cérebro, que fica repetindo nosso primeiro encontro
indefinidamente. No entanto, aqui estou eu, com GP ainda em minha mente,
como uma garota doente de amor. O que diabos está errado comigo?
Jinx abaixa seu corpo mais perto do chão e se aproxima da minha porta.
Ela espia para fora, e um barulho alto ecoa no andar de baixo. Eu não estou
sozinha.
— Calma, Blair — diz ele, seu tom um pouco mais alerta do que antes. —
Diga o que aconteceu.
— Onde você está agora? — pergunta ele, mas então ele está falando
com outra pessoa, latindo ordens.
Mova-se, idiota.
Olho para as escadas, uma parte de mim querendo mais do que tudo
subir para ter certeza de que ela está bem, mas esse não é o movimento certo
ainda. Agora, preciso limpar a casa e ter certeza de que o intruso foi embora.
A casa é grande, mas não demoro muito para garantir que o primeiro
andar esteja deserto. Subo lentamente as escadas e a imagem de Blair
enrolada no banheiro, apavorada com a própria vida, passa pela minha
mente. Meus ouvidos se esforçam para o mais ínfimo dos sons, mas a única
coisa que ouço é o batimento do meu coração.
O corredor superior está escuro, exceto pela luz que sai de um quarto e
por baixo da porta de outro. Verifico os quartos escuros primeiro, mas estão
todos vazios.
Desesperado para vê-la, para me assegurar de que ela está bem, saio do
quarto e me aproximo da porta com a luz fluindo por baixo. Meu coração
dispara, e a única coisa que o acalma é ver Blair.
Com mais força do que pretendo, bato na porta. — Blair, sou eu. Abra.
— Sssshhh — digo a ela, abraçando-a com força. Graças a Deus ela está
ilesa. —Está tudo bem agora, Red. — Ela soluça no meu ombro, suas
lágrimas molhadas encharcando minha camisa. Continuo a abraçá-la
enquanto a culpa abre seu caminho por amar como seu corpo se sente
pressionado contra o meu em uma situação como esta. Ela se afasta do meu
ombro e me encara com o mais lindo par de olhos verdes que já vi. Pego seu
rosto, enxugando suas lágrimas com meus polegares.
Ela se afasta do meu alcance, e leva cada grama de controle que tenho
para não gemer audivelmente quando ela o faz. Essa toalha fina não esconde
nada.
O filho da puta vasculhou seu quarto quando ela estava a apenas alguns
metros de distância. Fúria assassina arrepia dentro de mim, pensando em
como ela está desprotegida aqui sozinha. Isso mudará, aqui e agora.
— Se vista.
Confusão passa por seus olhos. — O que? Mas... não tenho nenhum
outro lugar para ir — dispara ela.
Vejo um moletom preto perto dos meus pés e me curvo para pegá-lo.
— Minha gata.
Ela sai correndo do quarto e volta para o banheiro. Ela volta um minuto
depois com um assobio, um caroço se movendo dentro do seu moletom com
zíper. Balanço a cabeça com a visão.
— Pegue aqueles chinelos perto da porta — digo a ela. — Há vidro
quebrado lá. Não quero você cortando seus pés.
Ela o faz, e assim que ela se acomoda - sem o fato de que ainda está em
uma toalha - eu a agarro pela mão e a conduzo escada abaixo. As luzes das
viaturas que se aproximam iluminam partes do primeiro andar. Precisamos
nos apressar.
Assim que chegamos à casa do GP, ele me empurrou para dentro e saiu,
deixando-me com uma ordem para não sair de casa e não abrir a porta da
cozinha até que ele voltasse. Assisti da porta da frente enquanto ele montava
sua motocicleta novamente e saía da garagem.
Quanto mais espero por ele voltar, mais me pego examinando meus
arredores. A casa dele é uma construção mais antiga, com algumas das
mesmas características que a minha. Tetos abobadados. Moldagem em
gesso. Ele ainda tem o arco de expansão da entrada para a área de
recebimento de correspondência que era comum na época em que este tipo
de casa foi construída. Caminho pelo primeiro andar, encontrando vários
quartos fechados fora da sala de estar principal. Um contraste total com a
sensação de abertura da minha casa. Estranhamente, todos os cômodos
estão vazios, exceto a cozinha nos fundos do primeiro andar. Panos e
materiais de construção estavam espalhados por todo o lugar. Ele está
remodelando?
— E é esse amigo o homem sobre o qual você está mentindo para mim?
— Meus oficiais não estão à sua disposição, Srta. Thompson. Você não é
o nosso único caso.
— Vou ignorar esse soco e, com sorte, nosso suspeito terá nos deixado
um pouco mais para continuar desta vez. Meus oficiais estão processando a
cena agora. Aconselho você a ficar na casa do seu amigo por enquanto.
Meu dedo traça sua imagem, sentindo sua falta mais do que nunca.
— Eu te deixo sozinha por dez minutos e você passa pela minha merda?
— questiona ele com raiva.
Deslizo do chão até os meus pés, segurando a foto na minha mão, e piso
no seu lugar perto da porta. — Por que diabos você tem uma foto minha?
Ele está surpreso com a minha pergunta, confusão clara como o dia
lavando seu rosto. — Eu não tenho — dispara de volta.
Ele olha. — Tudo o que vejo aqui é uma foto minha com minha avó. Não
conheço as outras duas.
— Este sou eu. — Ele aponta para o menino ao meu lado na foto com
um sorriso enorme no rosto, espelhando o meu.
Ele tira a foto da minha mão e a estuda com mais atenção. — Talvez seis
ou sete? Passei todo verão com minha avó antes de começar a estudar em
Seattle, onde morava com minha mãe.
Colocando o braço sobre meus ombros, ele me puxa contra seu corpo. —
Eles deviam ser cegos, Red.
O silêncio cai entre nós, mas logo é perturbado pelo som de algo no
andar de cima caindo no chão. GP ergue os olhos para ver de onde veio o
barulho.
Levo Blair para a cozinha, pensando em cada coisa nada sexy que posso
para tirar minha mente do fato de que ela ainda está vestindo nada além de
uma toalha e um moletom. Suas pernas são tão longas.
Só de pensar nessas pernas em volta de mim, meu pau fica duro contra
minha braguilha. Porra. Trazê-la para minha casa pode não ter sido a melhor
ideia.
Eu a alcanço, pronta para avisá-la que Walter não é uma pessoa muito
sociável, mas é tarde demais. Ela já se dobrou no chão ao lado dele,
esfregando o rosto em sua bochecha.
— Olá, garoto lindo — murmura ela. — Então você é o garoto que salvou
minha vida. Não só bonito, mas valente.
Não consigo me mover Nunca antes entrei no cômodo com uma pessoa
desconhecida e não encontrei Walter encolhido em um canto, os lábios
puxados para trás de seus dentes de uma forma que avisa a todos nós para
ficarmos longe.
Nunca vi Walter acariciar ninguém, inclusive eu. Ele não é do tipo que
demonstra afeto pelos humanos depois da maneira como foi tratado por eles.
Blair olha para mim de seu lugar no chão, onde abraça meu cachorro
como se ele fosse um maldito ursinho de pelúcia e sorri. — Ele é incrível.
Esqueci tudo sobre sua gata louca causando estragos no meu segundo
andar. Ela se levanta e faz um gesto para Walter. — Ele será...?
— Parece que é com sua gata que precisamos nos preocupar — digo
finalmente, ainda surpreso com a virada dos acontecimentos, bem como com
a mudança completa no comportamento de Walter. Meus olhos vagam para
onde sua toalha está ligeiramente aberta acima dos joelhos. — Por que não
compramos algo para você vestir?
Ela desvia o olhar dos animais e, pela primeira vez, parece perceber o
quão pouco está vestindo. — Isso pode ser uma boa ideia. — Ela ri. Suas
bochechas ficam um tom de rosa, fazendo minha mente ir para um milhão de
lugares diferentes e travessos.
— Mesmo apenas uma camiseta para dormir — diz ela atrás de mim. —
E o sofá mais próximo, e um travesseiro. Depois desta noite, preciso dormir
um pouco.
Ela faz um gesto com o dedo para que eu me vire, então eu viro. Tecido
farfalha atrás de mim, e tudo que consigo pensar é ela trocando de roupa a
poucos metros de distância. Sujeira do chuveiro. O cheiro de esterco. Pão
mofado.
— Terminei.
Jesus, ela está incrível pra caralho. O material cinza claro a cobre como
um vestido, descendo até um pouco acima dos joelhos. Seus seios atingem o
pico, deixando pouco para minha imaginação. E minha imaginação está a
todo vapor agora.
Aponto para a cama. — Você dorme aqui, eu fico com o sofá. Amanhã,
vamos pegar algumas roupas e fazer um plano.
Eu a observo, meu coração batendo forte a cada passo que ela dá para
mais perto de mim.
— Obrigada, GP.
Traidor de merda.
— Boa noite, Blair. — Fecho a porta.
CAPÍTULO 15
Ele se inclina para o meu toque com um gemido. Jinx nos interrompe,
dando um golpe nele. Walter não dá a mínima para ela e se arrasta mais para
cima, quase deitado de bruços.
Jinx olha para a posição ainda mais próxima de Walter e sibila para ele.
Walter a empurra com o nariz, fazendo com que Jinx tombe da cama e caia
no chão. Aterrando de quatro, ela apenas me encara, e eu sei que pagarei por
isso de uma forma ou de outra em breve. Não sei quando, mas ela se vingará.
Com os pés leves, ela caminha até a porta agora entreaberta e desliza para
fora. A porta se abre mais, e o cheiro mais celestial de bacon penetra no
quarto. Meu estômago ronca quase que instantaneamente quando meus pés
atingem o chão de madeira.
Ele volta seu olhar para o meu e aponta para o topo da minha cabeça
com a espátula. — Eu gosto de seu cabelo, Red.
— Uh... já volto — murmuro, depois passo por ele e vou para o banheiro
da cozinha onde Walter e eu nos conhecemos ontem à noite. No canto do
cômodo, vejo uma tampa de caixa de papelão cheia de papel picado. Uma
caixa de areia improvisada. Isso definitivamente não estava lá na noite
passada.
Ele se inclina quando me ajuda a chegar mais perto da mesa, e sinto seu
cheiro - chuva de verão e couro, assim como seus lençóis. Droga. Ele cheira e
parece muito bom para me receber em sua casa. Ele pega a cadeira ao meu
lado e empurra meu prato com tudo que está na bandeja. Meu estômago
ronca novamente quando ele se senta na minha frente.
— Você não precisa fazer. Ela já tem uma. Ela pode apenas usá-la
quando formos para casa mais tarde.
Seus lábios se estreitam, mas Walter abre caminho por baixo da mesa,
parando entre meus pés e enfiando a cabeça em meu colo.
— Está tudo bem — asseguro a ele. — Estou acostumada com isso. Jinx
é uma ladra de alimentos de classe mundial.
— Ele também. O idiota roubou uma pizza inteira do balcão alguns dias
atrás.
— Continue assim, ele nunca deixará você ir. — Seu sorriso provocador
desaparece. — Sobre isso... acho que seria uma boa ideia você ficar aqui um
pouco.
— Você não roubou minha cama, eu dei a você. E você está muito mais
segura aqui, comigo, do que naquela velha casa gigante sozinha. — Suas
palavras dizem que ele está tentando raciocinar comigo, mas o olhar duro em
seus olhos me diz que ele não desistirá. Esta não é uma oferta - é uma
demanda, uma que envia um raio ardente de excitação zunindo direto entre
minhas pernas.
— Eu estava realmente curiosa sobre isso. Por que este lugar está tão
vazio?
— Minhas roupas ficariam bem. Não que eu não goste da sua camiseta.
Seus olhos percorrem meu corpo. Talvez eu não devesse ter chamado
atenção para o fato de que a única coisa entre nós é um pedaço fino de
material.
— Podemos ir lá mais tarde, se quiser.
— Podemos fazer isso depois que eu sair da aula? Hoje deve ser meu
primeiro dia como TA.
— Uma o quê?
— Psicologia.
— Eu posso dizer. Você se ilumina quando fala sobre isso. É por isso
que você estava bisbilhotando, não é? Estava tentando me entender.
— Dez e meia.
Olhando para seu telefone no balcão, ele ri. — Por que você está rindo?
— Que horas são? Meu telefone meio que morreu no meio da noite.
— Dez e cinco.
— Não tenho nenhuma das minhas roupas — atiro como uma desculpa,
apontando para sua camisa. — Isso não se encaixa exatamente no código de
vestimenta.
O corpete é grosso o suficiente para que ficar sem sutiã não seja tão
perceptível. Eu só queria ter calcinha. Eu me viro para sair do quarto e uma
ideia me ocorre. A cômoda de GP talvez tenha a resposta. Eu me aproximo,
abro silenciosamente e encontro uma cueca boxer na gaveta de cima.
— Chegando! — grito de volta. Desço até o final da escada sem que ele
perceba que roubei sua boxer, mas com o jeito que ele olha para mim, não
tenho tanta certeza.
Ele não se move quando passo por ele em direção à porta. — Nós
vamos? — pergunto.
— Uh…
— Mesmo prédio?
— Mas...
O mesmo pode ser dito para Stone Face. Eu o conheço há oito anos e
nunca o vi sorrir. E quanto ao tamanho, ele tem uns bons sete centímetros de
Karma e provavelmente quinze quilos a mais de músculos.
Ele nos observa chegar perto dele com olhos arregalados, e posso
praticamente ler sua mente. Ele provavelmente está tentando decidir se
mantém sua posição ou corre como um louco. Mais uma vez, para nossa
sorte, Kenny é um idiota e escolhe a primeira opção.
Ele olha boquiaberto para mim, sua postura mais ampla do que antes,
seus ombros mantidos firmes. Uma tentativa de parecer mais intimidante.
Boa tentativa, idiota.
Olhando para o gigante diante dele, toda a cor desaparece de seu rosto.
Seu pomo de adão balança quando engole, mas ele não responde.
Esse cara deve pensar que não fizemos nosso dever de casa. Eu vi a foto
dele - todos nós vimos. A menos que Kenny tenha um irmão gêmeo - e para
que fique registrado, sabemos que ele não tem - não há dúvidas em qualquer
parte de nossas mentes sobre quem está diante de nós.
— Não sei o que você está - Ahhh! — As mãos de Kenny voam, cobrindo
as de Stone Face em uma tentativa desesperada de puxá-las de seu cabelo. —
Pare! Porra!
Stone Face fica bem baixo, seus lábios bem ao lado da orelha de Kenny.
Não sei o que ele disse a ele naquele momento, mas as mãos de Kenny caem.
Seu rosto fica do tom mais pálido que um homem poderia ter, e posso
praticamente ver o desafio o deixar.
Olho para Karma, e ele acena. Que bom que alguém sabe do que diabos
ele está falando.
Stone Face sorri um pouco enquanto se torce com mais força. Ele adora
essa merda. — Facão! — chora Kenny. — A senha é facão.
— Você não vai impedi-los — avisa, e está claro que está feliz com isso.
O cachorro não se move. Ele não choraminga. Ele nem mesmo olha
para nós. Mas ele está vivo - por um fio.
Antes mesmo de saber o que estou fazendo, meu punho bate no rosto de
Kenny Dwyer e posso sentir o osso estalar sob meus dedos. Eu o acertei uma
vez, duas, depois uma terceira. Esses malditos idiotas. A dor que causam, só
de apostar na luta de dois pobres e inocentes cães é desprezível. Há um lugar
especial no Inferno para essas pessoas, e se eu tiver algo a dizer sobre isso,
ajudarei a mandá-los para lá.
Kenny não tenta revidar. Acho que o nocauteei com o primeiro soco,
mas nem sei. Tudo que sei é raiva. Raiva e desespero para parar com essa
merda.
Kenny Dwyer fez isso com ele. Os irmãos Armstrong fizeram isso com
ele. Eles causaram aquela dor, e fizeram aquele pobre cachorro ali passar
seus últimos momentos de vida enrolado em agonia no centro de um ferro-
velho de merda, sozinho e com medo.
Kenny está inconsciente no chão aos meus pés, seu rosto quase
irreconhecível pela surra que acabei de dar. Alguns caras de macacão se
destacam no quintal, com os olhos em nós, mas não fazem nada a respeito.
Homens espertos.
E o cachorro. Ele não está mais naquele lugar na grama. Ele foi levado
para a sombra e para o colo de um homem gigante. Stone Face embala o
cachorro quebrado como um bebê, sua voz baixa e suave, suas mãos outrora
violentas agora calmantes e gentis.
Eu não me movo Não falo, Karma e eu apenas ficamos ali, quietos,
observando enquanto o homem mais perigoso que conhecemos oferece uma
despedida amorosa a um cão que nunca conheceu um momento de amor ou
paz em sua vida.
CAPÍTULO 17
Verifico novamente o que deve ser a centésima vez nas últimas duas
horas. Droga.
Passo minha mão em meu rosto em frustração. Por que não consigo me
concentrar? Este é um dos meus assuntos favoritos, mas no segundo que
tento ouvir a aula, minha mente vagueia de volta para esta manhã. Repasso a
conversa uma e outra vez quanto mais tempo eu fico aqui. Como GP estava
quando não sabia que eu o via dançar. Seu sorriso e sua risada profunda
quando me provocava. Até mesmo a maneira como me senti com meus
braços cruzados em torno dele enquanto me sentei na parte de trás de sua
motocicleta, o vento soprando em meus cabelos no caminho para a aula.
Tudo no GP é frustrante e reconfortante ao mesmo tempo. Minha maldição e
meu salvador envolto em um enigma sexy de homem.
— Eu não vou — falo atrás dele, mas ele se foi. Junto com qualquer
chance de meu GPA perfeito continuar assim.
— Merda!
— Ouvi dizer que você está ajudando Brewer neste verão. O primeiro
dia não foi bem?
Se ele consegue ler minha expressão, não tenho dúvidas de que não
escondi bem do professor Brewer. Eu não poderia ter estragado sua primeira
impressão de mim mais do que se tivesse passado pela sala de aula no meio
da aula.
— Foi minha culpa. Fiquei um pouco distraída durante a aula e ele me
pegou desprevenida.
Ele não está errado quanto a isso, mas não tenho o direito de concordar
com ele em voz alta - especialmente com um de seus colegas.
Minha orientadora... e ela falou sobre mim? Por quê? Ela não
mencionou isso para mim. Por que ela não disse algo?
— Espero que você se inscreva para a vaga que tenho neste outono, Srta.
Thompson. Uma mente brilhante como a sua não deve ser desperdiçada
dessa maneira.
— Você parece feliz — diz ele com um sorriso. — O professor deve ter
facilitado com você por quase perder a aula. — Ele desliza de sua posição e
agarra um capacete vermelho brilhante da parte de trás de sua motocicleta.
— Comprei algo para você hoje. —Ele o entrega para mim, e só quando o faz
é que noto suas mãos ensanguentadas.
Ele olha para os nós dos dedos machucados e enxuga o sangue em seu
jeans. — Não é nada, Red.
O que ele está escondendo de mim? Não sou idiota. Qualquer cara
disposto a entrar de cabeça na casa de um estranho para salvá-la
provavelmente tem alguns demônios em seu armário. Mas evidências físicas
como essa significam que algo aconteceu. O que ele fez?
Ele está desviando. Acho que a conversa sobre a mão dele acabou.
Veremos sobre isso, no entanto. Dois podem jogar este jogo e tenho a noite
toda para descobrir mais.
— Para quem você está acenando? — pergunta GP, seus dedos na chave
na ignição.
— Uma amiga — declaro. — Como estou? — Eu giro nos calcanhares,
girando para modelar meu novo acessório.
— Você está linda, Red. Combina com o seu cabelo. — Seu comentário
me faz franzir a testa.
A mulher é linda É doce e gentil. Walter a ama. Ela também parece que
pertence à minha cozinha, bebendo a cerveja que comprei para ela,
preparando-se para comer a comida que cozinhei.
Que porra você está pensando, cara? Este não é o caminho a percorrer
agora. Ou nunca, por falar nisso.
Eu a vejo beber sua cerveja e pegar a salada para trazer para a mesa, e
um sorriso se espalha pelo meu rosto.
— Oh Deus. Faz muito tempo que não como comida na grelha. Isso é
delicioso.
Limpo minha garganta e, de repente, não estou mais com tanta fome.
Formigueiros. Larvas. Chicletes embaixo da minha mesa em um
restaurante. Porra. — Estou feliz por ter gostado.
Minhas palavras são o que um cara como eu deveria dizer quando está
bem, mas não me sinto muito bem agora. Blair dá outra mordida entre
aqueles lábios carnudos e rosados e mastiga. Seus olhos reviram, e ela deixa
escapar outro gemido de prazer.
— Não acredito que nos conhecíamos quando éramos crianças — diz ela
entre mordidas.
Uma memória repentina passa pela minha mente tão rápido que não
consigo entender tudo.
— Mas o nome dele era... Blake? Não. Brad? Não, era Brock! Eu lembro
agora. O garoto em quem estou pensando se chama Brock. Ele era terrível.
Coloco meu garfo e me viro para encontrar seu olhar. Seu cabelo ruivo
desperta outra memória. A menininha ruiva costumava vir brincar com a
vovó, mas tudo o que ela queria fazer era brincar de casinha. Ela queria que
eu fosse o pai e ela a mãe, e que tivéssemos um - bebê - representado por
uma boneca assustadora que ela tinha, cujos olhos fechavam toda vez que
você a deitava.
Não há como eu, de seis anos, fingir que sou o marido de alguém.
Queria brincar de esconde-esconde ou construir um forte. Essa menina era
um pé no saco. E eu me lembro de puxar aquelas lindas maria-chiquinhas
encaracoladas só para fazer ela me deixar em paz.
— Não! — engasga, sua mão voando para cobrir a boca. — Quer dizer
que você é aquele menino horrível?
Não espero isso quando seu rosto fica sério. — Você é meu herói, no
entanto — sussurra ela.
Pare com essa merda, idiota. Essa é a menor das suas preocupações
agora.
Porra.
De repente, o que antes era uma noite divertida, cheia de risos e ótimas
conversas, ficou estranha. Atrás de mim, Blair se afasta da mesa e sua
cadeira raspa no chão.
Não me movo quando seus passos se aproximam ou quando seu ombro
roça o meu repetidamente enquanto ela enxagua o prato. Sequer me movo
quando ela solta um suspiro sutil antes de se virar para sair.
Ela se move para ficar ao meu lado, enchendo a tigela com água da
torneira, mas tudo que consigo pensar é o que ela está usando por baixo do
vestido. Seu cheiro me envolve. Tudo nela me oprime.
Pegando seu braço suavemente em minha mão, eu a puxo até que seu
peito esteja pressionado contra o meu. — O que você está usando por baixo
desse vestido, Red?
Minha única resposta é um rosnado. Meus lábios batem nos dela, meu
batimento cardíaco rugindo tão alto que os vizinhos provavelmente podem
ouvir. Ela pressiona de volta, e seus dedos torcem em meu cabelo, seu beijo
profundo, sua própria necessidade se fortalecendo contra a minha.
Suas mãos seguram meu cabelo com mais força, e sua coxa envolve
minha cintura. — Não ouse parar, porra.
Seus lábios continuam seu glorioso ataque aos meus enquanto faço meu
caminho em direção às escadas. Ela é tão macia, tão doce, que quase decido
dizer foda-se e apenas levá-la aqui nos velhos degraus rangentes. Mas não.
Ela merece mais do que isso.
Ela não precisa me pedir duas vezes. Levanto minha bunda e as chuto.
Assim que elas caem no chão, eu puxo seu vestido por cima da cabeça e voa
pelo ar.
Não consigo me mover. Ela é perfeita. Seus seios são cremosos e cheios,
seus mamilos implorando para que eu dê beijos carinhosos em cada um. Sua
cintura estreita se alarga na altura dos quadris como uma ampulheta. Meu
pau fica mais duro do que nunca.
Ela olha entre as pernas, para o lugar onde seu núcleo pressiona contra
minha dureza. — Já faz muito tempo — admite. — Muito tempo.
— Tome seu tempo, Red. Não estou com pressa para acabar com isso.
Ela é incrível. Cada movimento que faz me traz cada vez mais perto, e
quando eu acho que não posso segurar por mais um segundo, ela solta um
gemido que nunca esquecerei enquanto eu caminhar nesta Terra.
Quando ela termina, ela encosta a cabeça no meu ombro e ri. — Oh,
meu Deus — diz ela. — Eu sinto muito mesmo.
Levanto seu rosto para que eu possa olhar em seus olhos. — Baby, a
qualquer hora que você quiser gozar no meu pau, você pode. E nunca se
desculpe por isso, porque ainda não terminamos.
— Ela sempre faz isso? — pergunta GP, olhando para a cabeceira de sua
cama onde Jinx está sentada, cuidando de nós.
— Eu não acho que posso fazer isso — bufa ele. — Ela está com uma
expressão no rosto, como se estivesse tentando descobrir se vai me comer ou
me deixar viver.
— Pode levar horas. Jinx meio que faz o que quer, se você ainda não
sabe. —Homens. Walter pode lamentar do lado de fora da porta o quanto
quiser, mas uma gatinha velha os observa e o jogo acaba. Eu me afasto do
corpo quente de GP e gentilmente a afasto da cabeceira da cama. Ela cai no
chão com um baque e um grunhido de desagrado. — Feliz agora?
— Sim. — Ele ri. — Não tenho que me preocupar com ela tentando
chutar a minha bunda por segurar você. — Ele me puxa sobre seu peito nu e
passa o braço em volta do meu ombro, preguiçosamente passando os dedos
nele. — Gosto da maneira como você se sente assim contra mim.
— Por quê? Você está pronta para ir de novo, Red? — Ele se mexe,
dando um beijo na minha testa. Vê-lo assim é um contraste gritante do jeito
que ele fica quando está invadindo os portões para me proteger.
— Você está certa. Por mais que eu queira ficar nesta cama com você o
resto da noite, devemos ir lá antes que seja tarde demais. Então, podemos
voltar para mais disso. — Ele me puxa para um beijo antes de jogar o
cobertor fora e deslizar para fora da cama. Sua bunda apertada está em plena
exibição enquanto caminha até sua cômoda, pega um short de basquete da
gaveta e o veste. A maneira como eles caem sobre seus quadris me faz pensar
duas vezes em pegar minhas coisas. Isso poderia esperar. Certo?
Ele se vira para mim e sorri. — Você sairá daí ou preciso voltar lá e
arrastá-la para fora... mais tarde?
— Se fizéssemos isso, eu teria que usar sua boxer para a aula amanhã —
respondo quando saio da cama para procurar algo para vestir, já que meu
vestido emprestado não serve mais para o público, graças a GP. Só preciso de
algo para sobreviver até eu ter minhas próprias roupas, e arriscar mais um
dos clássicos da moda de sua avó não funcionará. — Por acaso você não tem
outra de suas camisetas que eu possa pegar emprestada, tem? Parece que
estou sem roupas de novo.
— Ei, amigo — murmuro para ele enquanto coço suas orelhas. — Quer ir
conosco? — Walter resmunga feliz e vai direto para a porta.
GP balança a cabeça para nós. — Ele gosta de você. Você sabe disso,
certo?
— A área está limpa. Vamos pegar o que precisa e dar o fora daqui. — O
corpo de GP fica tenso enquanto ele examina cada centímetro quadrado da
casa. — Você sobe as escadas. Ficarei de olho aqui embaixo.
Ainda estou aqui, Blair. Esta noite não foi nossa noite. Mas
chegará muito em breve, meu amor.
Pego minha mochila e GP pega minha mala. Com minha mão na dele,
ele me puxa escada abaixo atrás dele. Parando no final, ele pega as coisas
para Jinx, colocando-as em meus braços. — Nós vamos sair pela porta dos
fundos e descer o beco. Fique quieta.
— Blair, querida, eu sei que você está com medo, mas seu carro pode ser
rastreado. Precisa ficar aqui.
Não pensei nisso, mas ele está certo. Se meu carro se mudasse para
outra casa, isso revelaria minha localização, como um farol. — E a porta da
frente? Preciso trancar.
Meu telefone toca no meu bolso, mas entre a mala, saco de livros,
suprimentos de gato e o cão, minhas mãos estão fodidamente ocupadas. — É
ao virar da esquina — digo a ela, mesmo que provavelmente ela já saiba.
Franzo a testa. Não sei qual o ângulo aqui. Não estou atrasado para
algo. Não estava planejado para nada do clube esta noite. Qual a porra do
problema?
— Rumores dizem que você está saindo com uma ruiva — diz ele, uma
lâmina afiada no seu tom. — A mesma ruiva que eu disse para você deixar
fodidamente em paz.
Merda.
— Judge, escute
Suspiro. — Judge
— Corta essa merda, GP — rebate ele. — Você tem trinta minutos para
chegar aqui. E traga a ruiva.
— Tudo certo?
O que diabos eu direi a ela? Ela sabe que estou no clube, mas não tem
ideia do que realmente significa. Como ela reagirá quando eu disser que ela
precisa vir comigo ao clube? Ou que pode não acabar bem para nenhum de
nós, mas será pior se não formos?
— Estraguei tudo — digo a ela. — Não fui totalmente franco com você.
— Bem, o que você pode não saber é que meu clube... é como uma
família. Um tipo de família grande, cabeluda e tatuada, mas que eu não
mudaria por nada no mundo.
— Hum, tudo bem. Então, como tudo isso se compara a você fodendo?
— Não — digo, tentando manter meu tom calmo. — Mas fui contra o
meu clube, e essa merda simplesmente não acabou.
Parecendo chegar a algum tipo de decisão, ela joga as mãos para o ar. —
Bem. Vou embora, então — corta ela. Ela já deu meia-volta, voltando para
onde deixamos seus pertences. — Sorte minha, ainda nem desfiz as malas.
— Blair — admoesto, movendo-me atrás dela.
— Mas e quanto ao seu clube? — pergunta ela no meu peito, não saindo
do nosso abraço caloroso.
— Meu clube está chateado, mas eles não te conhecem, e realmente não
conhecem nossa situação. Eles são bons homens, Blair.
Eu me preparo para a reação dela. — Você terá que fazer mais do que
isso, Red.
Ela se afasta do meu peito, olhando para mim com os olhos estreitos. —
O que isso significa?
Finalmente, ela levanta o nariz no ar. — Bem. Vamos acabar com isso,
então.
Seus olhos brilham com algo que não reconheço, mas desaparece em
um instante. Ela tira um par de jeans e um suéter de sua mala, em seguida,
fecha o zíper com os lábios pressionados firmemente.
Puxando o moletom pela cabeça, ela puxa o cabelo para cima e para
fora do pescoço. Depois de gritar, — Pronto — ela se dirige para a porta.
Posso não conhecer Blair há muito tempo, mas uma coisa que não é
preciso é ser um cientista espacial para descobrir que, quando ela está com
esse humor, é melhor apenas prosseguir. É por isso que não digo mais uma
palavra, e apenas a sigo até a garagem. Fico em silêncio enquanto subo,
ligando. Espero pacientemente até que ela fique atrás de mim e, quando o
calor dela atinge minhas costas, saio para a rua.
A viagem para o clube é curta, mas pela primeira vez, quase desejo que
fosse mais longa. Não tenho ideia do que esperar. Cruzei a linha em grande
estilo e fui honesto com Blair quando disse a ela que isso não estava acabado.
Como eles estão esperando por nossa chegada, dois prospectos abrem a
corrente de três metros do elo da cadeia do portão à medida que nos
aproximamos, e depois o fecham. Vários dos caras e algumas old lady estão
do lado de fora, com cervejas nas mãos e cigarros pendurados na boca.
Puxo Blair para ficar ao meu lado. — Judge, esta é Blair Thompson.
Blair, este é o Judge.
Os olhos de Judge estreitam sobre ela antes de voltarem para mim. —
Que parte de fique longe da ruiva se perdeu na porra da tradução, GP?
Seus ombros estão enquadrados, seu nariz empinado mais uma vez e
ela parece irritada. — É Blair, e eu agradeceria se você o usasse.
Eu a agarro pelo cotovelo e dou um aperto suave, mas ela não presta
atenção.
— Eu observaria como você fala com nosso prez, mulher — diz Karma
atrás de nós.
Blair faz um som sufocado ao meu lado. — Desculpe? Eu não sou sua.
Não sou de ninguém, muito obrigada. Sou um ser humano, não uma
possessão.
A mandíbula de Blair aperta, mas ela não diz mais nada. Vou pagar por
isso quando chegarmos a casa. E mesmo que esteja chateada, não posso
deixar de sorrir com a ideia de a minha casa ser nossa casa.
CAPÍTULO 21
Ele volta para casa e Walter vem direto para mim. Tento concentrar
toda a minha atenção nele, e não na tempestade que começou mais cedo
entre GP e eu.
— Eu sei que hoje foi muito para absorver — começa ele com cautela. —
Muito disso é por minha conta. Eu deveria ter te contado mais sobre o clube.
— Sim. Não. Porra, eu não sei. Gosto do que está acontecendo entre
nós. Não esperava que Lindsey me dedurasse, ou que você a conhecesse. Eu
queria levar as coisas devagar quando se tratava do clube. Sabia que se te
jogasse com eles, você enlouqueceria, mas não tive essa escolha.
Ele acredita em cada palavra que diz, e respeito. Mas não gosto de como
tudo foi forçado a mim. Ele tinha escolha, eu não.
— Acho que isso explica por que você saiu no segundo em que a polícia
apareceu no hospital.
Ele colocou tudo que é importante para si mesmo em jogo para mim
esta noite. Mentiu para seu presidente para me proteger. Ele foi contra sua
família para me manter segura. Afastar-se agora criaria uma barreira entre
nós da qual não acho que poderíamos voltar.
— Você não precisa ter medo de mim, Blair — diz ele baixinho. — Fiz
coisas que te assustariam? Porra, sim, eu fiz. Mas não me arrependo delas
nem por um segundo. Eu faço coisas terríveis para proteger pessoas
inocentes.
Ele está certo, mas minha moralidade não consegue aceitar o fato de
que ele me reivindicou como sua propriedade. — Só não sei o que pensar
agora.
Meu coração e meu cérebro continuam sua guerra. Meu coração quer
perdoá-lo sem pensar duas vezes. Meu cérebro, por outro lado, diz para
correr o mais longe possível dele, de seu porrete e de meu atacante. Vender a
casa e recomeçar em outro lugar. Mas não sou eu. Não sou esse tipo de
garota. Não desisto de uma luta. Eu não fujo.
Minha vida inteira foi uma luta após a outra. Minha vida é aqui nesta
cidade, nesta escola, e talvez até aqui com GP. Só preciso dar esse salto e
colocar minha confiança no verdadeiro GP que está na minha frente agora.
Um lampejo de tristeza passa por seus olhos. Levanto minha mão para
embalar sua bochecha, e ele pressiona seu rosto contra ela.
— Mas você fez mais por mim do que qualquer outra pessoa neste
mundo já fez. Não posso simplesmente me afastar. Estou disposta a ter a
mente aberta, se você puder me fazer uma promessa.
— Não minta para mim. Nunca. Se houver mais alguma coisa que
precise me dizer, eu preciso saber agora. Chega de ataques cegos.
— O homem que você viu esta noite, lutando por você? Este sou eu. O
verdadeiro eu. Eu sou o mesmo cara que era, só que com um tipo diferente
de família cuidando de mim.
— Red, você é muito mais do que propriedade para mim — diz ele
severamente, antes de Walter se colocar entre nós, forçando-nos a nos
separar. — Vejo que alguém já está tentando roubar minha mulher de mim.
— A gata do diabo não gosta que você acaricie Walter — informa GP.
Encolho os ombros. — Ela vai superar isso assim que eu colocar seu café
da manhã para ela. — Um bocejo me escapa antes que eu possa detê-lo. —
Mas é tarde. Acho que vou para a cama. Tenho aula amanhã de manhã.
Procuro encontrar seus olhos quando digo: — Tenho certeza. Mas você
terá que dizer a Walter que roubará o lugar dele esta noite.
Pego minha mala e sigo para as escadas com Walter a reboque. Dentro
do quarto de GP, vejo Jinx deitada bem no meio da cama. O segundo que ela
vê Walter, ela salta para os pés, assobios e arqueando as costas em modo de
ataque total. Walter dá um passo atrás e se esconde atrás de mim.
— Ele ficará bem. Mas, se isso faz você se sentir melhor, podemos
comprar para ele uma cama de cachorro nova e bonita amanhã, depois da
aula.
— Gosto de abraçar você, Red — sussurra ele, antes que sua respiração
comece a desacelerar e roncos suaves caiam de seus lábios.
— Por que você está tão animado? — pergunta Twat Knot atrás de mim
enquanto caminhamos pela trilha não marcada. — Judge arranca uma tira de
você e lhe dá um dos empregos mais merdosos que pode, e você ainda está
sorrindo. Essa ruiva deve ter uma boceta dourada. — Normalmente sou
muito bom em me esquivar dos comentários de Twat Knot. Ele é um cara
engraçado... geralmente. Mas só dele pensar na boceta de Blair é o suficiente
para me fazer querer enterrar ele bem aqui neste campo infestado de
roedores.
Soltando-o, coloco meu dedo em seu peito. — Esta não é a merda com a
qual brincar, idiota, e sabe disso.
Ele pelo menos tem o bom senso de parecer apologético.
— E você também deve ter irritado o Judge, seu filho da puta. Parece
que você está aqui fazendo um trabalho de merda junto comigo.
Twat Knot desvia o olhar, murmurando algo que não consigo entender.
— O que?
Juntos, caminhamos pela grama seca até chegar ao topo de uma colina.
Lá embaixo, no vale, nós vemos. A velha fazenda de porcos parece degradada
e dilapidada. Cada janela da casa está quebrada. As telhas estão caindo ou
faltando completamente.
Sigo seu dedo e olho através das lentes. Pelas janelas quebradas, posso
ver as grades enferrujadas da gaiola e movimentos aqui e ali. É muito longe
para ter certeza, mas acho que Twat Knot está certo. O celeiro é onde
acontecerão as lutas, mas aquela casa está cheia de cães maltratados e
famintos, esperando para serem sacrificados por um bando de indivíduos
doentes sem valorização pela vida.
Por mais que eu odeie a brecha entre Judge e eu agora, não acredito que
ele me mandar nessa corrida era um castigo. Acredito que ele me enviou
porque sabe o quanto eu quero acabar com esses filhos da puta. Que farei o
que for preciso para garantir que os irmãos Armstrong nunca tenham a
chance de se reagrupar e começar um novo ringue de luta.
Ele não precisa me dizer duas vezes. Quero ajudar esses cães, mas não
há nada que eu possa fazer agora. Por isso não consigo parar de pensar em
Blair. Desde a sua introdução pouco agradável aos Black Hoods, as coisas
têm estado um pouco tensas entre nós.
Se eu pensei que ela estava chateada por tê-la reivindicado, ela estava
absolutamente furiosa com a perspectiva em seu encalço. É uma prática
comum nos Black Hoods que um prospecto em potencial siga, ajude ou
proteja a old lady de qualquer membro se a situação exigir. Tentei dizer isso
a ela, mas fui inteligente em manter o termo old lady fora da equação. Se ela
não gostasse do minha, odiaria Old lady.
— E?
— Oh, eles estão lá, sim. O celeiro tem algumas melhorias acontecendo
agora, e tenho noventa por cento de certeza de que estão abrigando os cães
dentro da velha casa.
— Ei, Judge?
— Sim?
— Estamos bem?
A lembrança da próxima luta faz com que todo o resto pareça um pouco
menos importante. Há tantos cachorros de merda naquela casa lá atrás. Cães
como Walter. Cães que nunca conheceram uma mão gentil, uma boa refeição
ou uma corrida no parque. Cães que estão destinados a lutar por sua vida,
indefinidamente, até perder.
Esses bastardos estão caindo, e desta vez, eles não voltarão disso.
CAPÍTULO 23
GP foi fiel à sua palavra ao me dar tempo para processar sua afiliação ao
clube e me reivindicar ao longo dos dias seguintes, apenas porque seu
presidente o fez correr por toda a Terra verde de Deus em algum tipo de
missão que ele não poderia ou não faria, contando-me sobre o fim de semana
inteiro e a noite passada.
— Só falta mais uma coisa, e então vamos nos aconchegar — digo a ele
esfregando as orelhas.
— Não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz porque meu cachorro
finalmente gosta de outro ser humano mais do que de mim — provoca GP da
porta, assustando-me.
— Fale-me sobre este estágio dos sonhos. Talvez ajude a fazer com que
esses... sucos criativos fluam.
— Não posso evitar, Red. Eu amo a maneira como você se sente ao meu
redor, e foi um longo fim de semana sem te ver o suficiente. Vou tomar
banho e, se você terminar a tempo, fique à vontade para se juntar a mim.
Ele se desloca da cama e joga a camiseta sobre a cabeça. Não perco seu
flexionar. Quando o ignoro, ou tento fazer isso, ele sai do quarto.
— Ele está muito certo — resmunga ele. — Tenho planos para você hoje
que não envolvem deixando este quarto por pelo menos quatro ou cinco
horas, ou até que ambos tenhamos nos enchido.
Meus dedos agarram seu cabelo, trazendo-o para mais perto. Se há uma
coisa de que não me canso, são os beijos de GP. Nunca me senti mais
desejada, mais bonita ou mais adorada do que quando ele pressiona aqueles
lábios perfeitos nos meus.
Pegando meu seio, seu polegar dedilha meu mamilo, causando
borboletas em minha barriga. Não sei como ele faz isso, mas sinto cada um
deslizar direto para o meu núcleo.
Afastando-se, ele segura meu olhar e suas mãos puxam minha camisa.
Está nos meus braços, acima da minha cabeça e em uma pilha no chão mais
rápido do que posso piscar. Meu sutiã rapidamente se junta a ela, e coro um
pouco quando ele cai de joelhos na minha frente.
Pegando meus seios, um em cada mão, ele lambe meu mamilo com a
língua. Ele belisca, lambe, suga e sopra. E justamente quando acho que
poderia sair dessa sozinha, ele muda para o outro seio.
— Ohhh — choro, puxando seu cabelo. Não forte o suficiente para doer,
mas o suficiente para deixá-lo saber que preciso de mais. Preciso dele.
— Você é a mulher mais sexy que já vi — murmura ele, sua voz grossa
com a necessidade.
Eu me deito diante dele e me deleito com o rastro de seu olhar
queimando minha pele. — Abra seus joelhos para mim.
— Mais — rosna ele, e desta vez, quase não reconheço sua voz.
Espalhando-as ainda mais, seus olhos me devoram enquanto ele fica lá,
sem se mover. Apenas olhando.
Sinto seus lábios, sua língua, seus dentes, sua respiração. Eu o sinto. Eu
me sinto. Não posso demorar mais um segundo.
Não caio do penhasco. Tiro a porra de uma bola de canhão, meu corpo
tremendo. Emito sons que tenho certeza de que estou chamando o Diabo
neste exato momento, mas não consigo encontrar forças para me importar.
Tudo o que me importa é este homem, e a porra do orgasmo alucinante que
ele está me dando.
Mesmo que ele seja mais dotado do que a maioria dos homens, ele se
encaixa perfeitamente dentro de mim, como se fosse assim que sempre
deveria ser. Como se fôssemos feitos um para o outro. Como se eu fosse feita
para ele.
Finjo estar ofendida, dando um tapa nele de brincadeira quando ele sai
da cama. Ele desaparece descendo as escadas, e tento acordar enquanto
ainda me deleito com a felicidade do que acabamos de compartilhar. Com
todas as minhas dúvidas sobre sua vida e seu clube, são os momentos em que
estamos juntos assim que me dão esperança de que possamos descobrir
como fazer isso funcionar. Enrolando-me em seu lugar, começo a
desaparecer até que o nariz frio de Walter pressiona contra minha mão, me
mantendo acordada por um instante.
Meu telefone apita de algum lugar próximo. Procuro por ele, mas não
está onde deixei antes, em sua mesa de cabeceira. Caminhando para o
patamar do lado de fora de seu quarto, eu chamo, — Você pegou meu
telefone?
— Oh meu Deus!
— Isso é ótimo, Red — diz ele, seu tom seco e nada impressionado. —
Mas você poderia começar com isso da próxima vez? Quase me deu um
ataque cardíaco.
— Conte-me sobre isso — brinca ele. — Então, o que vem a seguir com o
estágio?
O cara olha além de mim para GP, que balança a cabeça negativamente.
Olho para ele. Aí está aquela palavra de novo - propriedade. Ele sabe
como me sinto sobre isso.
O prospecto acena com a cabeça para mim e sai. No segundo que ele
está fora da porta, eu me viro e fico olhando para GP com minhas mãos nos
quadris.
— Você poderia ter sido mais legal com o cara — estalo. — Por que você
não o convidou para ficar e comer conosco?
— Você está chateada comigo porque não deixei você apertar a mão dele
ou convidá-lo para jantar? Deus, Red. Você é fofa demais. — Ele ri.
— Querida, esta não é uma festa no jardim. Esta é a entrevista dele para
ser remetido ao clube. Ele segue as regras e tem a chance de votar na
plenitude. Ele não ultrapassará os limites porque você quer ser educada.
— Mesmo assim, você poderia ter sido mais legal com ele.
— A gatinha do diabo está puta com você — digo a ela pela milionésima
vez.
Olhando para sua gata, ela revira os olhos, assim que seu telefone apita
com um alerta. — Se você não fosse tão rabugenta, também receberia mais
amor.
Blair pega o telefone, bate na tela algumas vezes e seu rosto fica sem
cor. — Oh, Deus — sussurra ela.
— Qual é o problema, baby?
Ando de um lado para o outro, lendo e relendo o e-mail que ele enviou.
Não é apenas uma ameaça para ela, é uma ameaça para mim. E está dizendo
que está longe de estar pronto para deixá-la em paz.
Pensei nisso por um minuto. Esse cara é alguém da escola dela? Alguém
que ela conhece? Talvez algum psicopata que a viu pelo campus e ficou
obcecado?
— Por quê?
Pego nossos pratos da mesa e os levo à pia. — Nós vamos ao clube.
Quero mostrar ao meu amigo Hashtag. Não sei merda nenhuma sobre
tecnologia, mas ele é um gênio da computação. Se alguém consegue
descobrir quem enviou, é ele.
Preciso dar crédito a Blair. Depois da maneira como ela reagiu ao ser
referida como minha posse, presumi que ela voltaria a bater palmas com a
minha última declaração. Mas ela não faz. Em vez disso, balança a cabeça, se
levanta da mesa, pressiona um beijo na minha bochecha mal barbeada e
desaparece escada acima, com Walter e Jinx a reboque. Em minutos, ela está
de volta no andar de baixo e pronta para ir.
— Pegue seu laptop, caso ele precise dar uma olhada nele também.
Ela não discute. Pegando o laptop, ela toma um último gole de seu café
e me segue até minha motocicleta.
Ainda é cedo na sede do clube, mas Hashtag estará lá. Ele está sempre
acordado a maior parte da noite e, em seguida, acordado e saindo de casa no
início da manhã. Acho que o homem sequer dorme, para ser sincero.
Hashtag pega o telefone e examina a tela. Vejo seu rosto endurecer com
a mensagem exibida. — Oh, eu vou descobrir. Se não consigo descobrir
quem, posso pelo menos descobrir onde. O local de onde foi enviado pode
nos apontar diretamente para este idiota.
— Trouxe meu laptop para o caso de você também precisar — diz Blair,
oferecendo o computador fino para ele.
— Não sei a quem pertence o endereço de e-mail, mas posso dizer que o
e-mail foi enviado do campus. Do prédio na 745 Hyatt Road, para ser exato.
Filho da puta.
CAPÍTULO 25
— Podemos voltar para a casa se você quiser. Você sabe como me sinto
sobre isso. — GP me ajuda a descer da motocicleta antes de desmontar.
Ele odeia isso. Com cada fibra de seu ser, ele odeia que eu não esteja
enfurnada em casa, me escondendo do mundo. Estou em perigo? Sim. Mas
não posso continuar me escondendo na esperança de que quem quer que
seja se esqueça de mim e siga em frente. Se o e-mail dele for qualquer
indicação, meu invasor não está desistindo. Na verdade, ele está aumentando
suas tentativas de me manter vivendo em um estado perpétuo de medo.
— Você significa mais para mim do que uma maldita entrevista, Red. —
Franzindo a testa, ele me entrega minha mochila de livros que tirou de seu
alforje. — Esse cara sabe sobre mim. A única maneira disso ser possível é se
ele nos viu juntos.
— Belas luzes de freio, Red — diz ele com uma risada. — Este é o lugar?
— Não é o ponto.
— GP... — paro.
— Por favor — imploro a ele, piscando meus olhos como uma criança.
— Isso não funciona comigo, Red, não importa o quão fofa você pareça.
— Obrigada. Sei que você não precisava concordar com isso, mas
agradeço por tentar.
— Você não tem ideia, Red. Agora entre lá e coloque essa coisa na bolsa.
Tenho planos para você esta noite.
O professor Coates espia por cima de seu laptop aberto. Seus olhos
grandes e escuros parecem inchar na penumbra de seu escritório.
— Está tudo bem — asseguro a ele. — Espero não estar muito cedo.
Não consigo esconder minha carranca. Por que recusaria uma oferta de
entrevista? É para isso que eu me inscrevi.
Pressiono meus lábios em sua proximidade, mas ele apenas sorri para
mim. — Fale-me sobre você, Blair.
— Oh, um... acho que realmente não há muito o que dizer que eu já não
tenha dito na minha curta resposta ao ensaio sobre a inscrição.
Seu olhar muda para o chão, depois para mim. — Você está certa. Suas
qualificações a colocam no topo da pilha. No entanto — continua ele,
cruzando as pernas, — eu gosto de conhecer meus estagiários em um nível
mais... pessoal. Minha pesquisa aqui é crucial para uma nova teoria que
estou desenvolvendo. Esta posição exigirá o toque especial de alguém que é
tão apaixonado por ela quanto eu. — Ele faz uma pausa e pressiona seus
lábios finos em um sorriso malicioso. — Você é solteira, Srta. Thompson?
Eu franzo a testa. — Sinto muito, mas como isso é relevante? Não tenho
certeza se você pode me perguntar isso.
Seu rosto não esconde seu conhecimento de forma alguma. Ele sabe
sobre meu ataque. Droga. — Eu não queria tocar no assunto, mas estou
ciente do seu incidente. — Ele se mexe na cadeira abruptamente, cruzando as
pernas. — Entendo que sabendo agora o que minha pesquisa envolve, pode
ser desconfortável para você trabalhar com esses assuntos. Mas acredito
sinceramente que sua experiência enriquecerá ainda mais esta pesquisa.
Faz sentido. É por isso que ele está tão interessado em mim. Meu
ataque se encaixa em sua pesquisa. O sujeito e um estagiário envoltos em um
laço conveniente que não teria que ser pago por seu tempo.
— É exatamente por isso que você seria uma grande candidata para este
programa. Sua visão sobre a mente de uma vítima sobrevivente pode ser útil
com os indivíduos encarcerados que consegui entrevistar. — Seus olhos
escuros fixam-se nos meus enquanto ele teoriza sobre o potencial de explorar
meu ataque.
— Tipo, criminosos condenados? — A ideia de entrar em um espaço
confinado com alguém que matou faz meu estômago revirar de desconforto.
— Estou bem — minto. Estou longe de estar bem. Não vomite. Não
vomite. Não vomite.
— Tem certeza? — Ele estende a mão para mim uma segunda vez. Desta
vez, apenas tocando levemente minha mão. — Posso oferecer algo para
beber?
O professor Coates dá um passo para o lado. Ele não diz uma palavra, e
abrindo a porta eu passo por ele, caindo direto nos braços de GP.
— Que porra está acontecendo? — rosna ele, olhando por cima do meu
ombro. — Ele fez algo com você?
— Olá — respondo, tomando cuidado para evitar que minha voz ecoe
pelo corredor vazio.
Abandono meu ódio pelo homem por tempo suficiente para ouvir quais
informações ele tem para compartilhar. — Cuspa isso, idiota.
— Puta que pariu — murmuro. — E como vou saber se você está dizendo
a verdade?
— Você quebrou meu nariz e minha mandíbula. Sabe o quanto isso dói?
— lamenta.
— Não tanto quanto você machucou os cães que ajudou a treinar para
lutar — retruco.
Dwyer suspira. — Eu só não queria que você pensasse que menti para
você. Não quero vocês vindo para mim novamente. E eu nunca mais quero
colocar os olhos naquele Stone Face de novo.
Eu sorrio. Stone Face tem esse efeito nas pessoas. — Apreciado — digo a
ele. — Agora, se for inteligente, você encontrará uma desculpa para ficar
longe daquela fazenda de porcos esta noite. O que está para acontecer não
será bonito. Stone Face não é o único filho da puta assustador que temos.
— Huh — fala ele arrastado. — Não sabia que vocês eram tão bons
amigos agora.
— Você não tem escolha, porra, GP. Você é necessário aqui. Ela está
segura. Está na escola.
Judge amaldiçoa. Ele entende meu problema, mas ele está certo. Se
vamos destruir esse ringue, nós temos que mover, agora.
— Deixe-me ligar para Lindsey — diz ele. — Ver se ela ficará com ela,
leve-a para a sede do clube no final do dia. Então, quando terminarmos, você
pode levá-la para casa com você.
Ele desliga antes que eu possa comentar sobre sua tradução para o
francês de merda. Ainda a mais uma hora dessa aula para Blair. Não posso
ligar para ela agora, mas pelo menos ela está segura em sua sala de aula. Vou
ligar para ela quando acabar e colocá-la em dia.
Vou dar crédito a ele. Priest faz o que é mandado sem discutir muito.
Ele se move atrás de mim, e caminhamos através do campus e em direção ao
clube. Posso sentir as pessoas olhando para nossas motocicletas rugindo
pelas ruas movimentadas, mas silenciosas. Uma universidade é o lugar
menos provável para encontrar um par de motoqueiros tatuados destruindo
as estradas.
— Consegui falar com Lindsey — diz Judge, antes mesmo que eu tenha
a chance de sentar minha bunda em meu assento de sempre. — Ela
7 Agora mesmo.
encontrará Blair do lado de fora da classe assim que acabar. Ficará com ela
durante todo o dia e a trará aqui depois que ambas terminarem no campus.
— Tudo bem, babacas, ouçam. Karma aqui tem um plano, e acho que é
nossa melhor chance de entrar e colocar as mãos nesses desgraçados. É a
melhor maneira de manter a segurança de qualquer pessoa inocente e de
evitar que qualquer um de nós seja carregado com chumbo.
Eu saio, ligo para ela e espero quatro toques antes que ela finalmente
atenda. — Olá?
— Ei, Red.
— Estou sempre seguro — digo a ela. — Você fica com sua garota. Ela
trará você aqui para mim no final do dia.
— E Red?
— Sim?
Sua risada suaviza meu coração preocupado. — Não tenho meu cabo,
espertinho. E está quase morto.
— Vejo você esta noite — retorna ela. Nenhum de nós desliga, mas
nenhum de nós diz mais nada. Existem três palavras que preenchem o
silêncio, mas ainda não chegamos lá. Nós chegamos?
— Isso é entre Judge e GP, não nós. Não é como se eu estivesse por
dentro também. Fui tão pega de surpresa quanto seu tio.
— Eu sei que ele fez isso por mim, mas há tanto que não entendo sobre
a vida no clube. No entanto, aqui estou eu — lamento. — Propriedade de um
motociclista.
— Isso é aparente?
— Querida — ela ri. — Se você visse a maneira como aquele homem olha
para você quando você não está prestando atenção, não teria dúvidas.
Jogo minha cabeça para trás e rio da terrível representação dela de nós.
— Você sabia que nos conhecíamos quando crianças?
Ela está certa? Merda. É uma loucura pensar nisso tão cedo no
relacionamento. Nós nem mesmo dissemos que nos amamos ainda, muito
menos saímos para um encontro - a menos que você conte o jantar na casa
dele. Por que estou pensando nisso? Duvido que ele esteja. Gah. Concentre-
se em sua tarefa. Leia. Apenas leia as palavras.
Luto por quase duas horas e meia antes que o último aluno finalmente
saia da sala. Lindsey correu para a porta para trancá-la. Outra estudante se
aproxima da janela, mas apaga as luzes.
— Após saírem, não há como dizer quanto tempo vai demorar até que
eles voltem para casa. — Minha carranca se aprofunda.
— Que porra é essa? — suspiro, lutando para longe. Lindsey pula entre
o arbusto e eu, me empurrando para trás.
Lindsey se vira em câmera lenta, ficando cara a cara com o homem. Ela
se vira para mim, o terror estampado em seu rosto. — Corre! — grita ela.
O telefone toca uma vez e morre na minha mão. Merda! Jogo a pilha
inútil no chão e puxo a maçaneta da porta do carro. Ele não se move.
Que porra eu faço? Lindsey está ferida. Meu telefone está mudo. GP
está Deus sabe onde. Estou sozinha e o homem que tenho certeza de que está
me perseguindo está contornando a frente do carro.
— Eu disse que você é minha, Blair — sussurra ele, sua voz calma e
suave.
Uma vez dentro, eles mandam uma mensagem para Judge com uma
ideia de quantos homens armados estão postados ao redor do prédio, tanto
dentro quanto fora. O resto de nós vai pelos fundos, assim como Twat Knot e
eu fizemos outro dia. Só que desta vez está escuro como o diabo, e não
saberemos se os Armstrong têm essa parte coberta.
As palavras mal saem de sua boca quando seu telefone acende em sua
mão. Todos nós observamos Judge verificar a mensagem e aguardar nossas
instruções.
Uma voz grita lá de cima, seguida por um baque alto e depois outro.
Fico olhando para o teto. Por favor, que esse grito seja de um dos homens de
Armstrong e não do Stone Face.
Entro na cozinha e fico cara a cara com Kenny Dwyer. Ele engasga e
levanta as mãos no ar, seu prato se espatifando no chão entre nós.
— Que porra é essa, cara? — assobio. — Pensei que você ficaria longe
daqui esta noite?
Dwyer engole em seco. — Eu ficaria, mas após levar uma surra no outro
dia, os Armstrong ficaram preocupados que eu falasse mais do que deveria.
Se não aparecesse esta noite, eles saberiam que você sabia.
Dwyer olha para ela e depois para mim. Se eu não soubesse melhor,
pensaria que o homem estava prestes a mijar nas calças. Ele não discute, no
entanto. Como uma boa vadia, ele vai até a mesa e se senta na velha cadeira
de metal.
Pegando uma coleira que foi deixada no balcão, faço uma tentativa
meia-boca de amarrá-lo. — Isso é só para mostrar — digo a ele. — Você fica
aqui, e não se mova, porra. Se um dos meus rapazes aparecer, diga a eles
para falar comigo antes de lidar com você.
— Eu sei que vocês, filhos da puta, vieram aqui para assistir a uma luta
até a morte, mas esta noite, vocês terão uma surpresa especial. Sabe, aqueles
cachorros aí, eles estão fartos de lutar pelo entretenimento de vocês. Eles
fizeram seu trabalho tornando esses homens ricos.
Judge joga os homens no chão, onde eles ficam ali, olhando para ele
com medo. — Vocês querem ver uma luta? — grita ele, alto o suficiente para
que todos possam ouvir.
Ele ri. — Aposto que sim, seu bando de nojentos. E vocês estão com
sorte, porque nós temos um cachorro louco, e ele enfrentará esses caras -
dois contra um, sem armas. A luta termina quando alguém ainda está de pé.
Estão comigo?
A multidão ruge com aprovação e eu franzo a testa para Stone Face. Ele
é o cachorro louco que Judge mencionou, mas isso não fazia parte do plano.
Stone Face sorri, me entrega sua arma e caminha para o centro do círculo,
estalando os nós dos dedos e rolando os ombros.
Este clube tem feito muitas coisas para salvar alguém, ou ensinar uma
lição a uma pessoa má, mas o sangue e a dor infligidos nesta punição são
quase demais para mim.
— Chamei o resgate que nos ajudou da última vez. Deve estar aqui em
breve para pegar aqueles que eles podem salvar.
Vou fazer meu corpo se mover, mas simplesmente não vai. Forçando
meus olhos a abrirem mais, eu descubro o motivo. Meus pés, coxas e mãos
estão amarrados a uma velha cadeira de madeira. Qualquer aparência de
tempo foi arrancada de mim. O ataque ocorreu por volta das nove, mas sem
janelas à vista, não tenho ideia de como avaliar a quanto tempo estou aqui.
A figura sai das sombras. A balaclava preta ainda esconde seu rosto,
mas não seus olhos escuros. Eu os reconheceria em qualquer lugar. O mesmo
par de olhos que me encarou do outro lado da porta. Os que olharam dentro
dos meus enquanto me segurava no chão. É ele.
Ele anda de um lado para o outro na minha frente, girando uma grande
faca na mão - primeiro para um lado, depois para o outro. O sangue goteja ao
longo de sua borda afiada enquanto se move. O sangue de Lindsey. Oh, Deus,
Lindsey! Meu coração dói sabendo que sua morte mancha minhas mãos. Ele
a matou por me proteger.
Como pude deixar isso acontecer? Ela nem deveria estar lá. Eu deveria
ter dito a ela para correr. Deveria ser eu morta naquela calçada, não ela. Ela
não merecia esse destino, mas ele está me mostrando intencionalmente os
frutos de seu trabalho assassino para me insultar.
— Sinto muito pela sua amiga — diz ele, a felicidade inegável em sua
voz. — Ela teria feito um ótimo acréscimo à minha coleção. — Ele desvia o
olhar para uma parede vazia, como se houvesse algo lá que só ele pode ver,
mas puxa seu olhar para mim com um rápido movimento. — Ela tentou me
impedir de te levar. Você é minha, no entanto. Minha! — grita ele a última
palavra, as mãos espalmadas bem na frente dele, mas não solta a faca. —
Ninguém pega o que é meu.
Seu ritmo se intensifica. Para frente e para trás no chão, seus olhos
nunca se desviam de mim. Eles são como mísseis de busca de calor fixados
em seu alvo.
— Você me negou três vezes, mas agora, não pode fugir de mim. De nós.
Por mais que eu queira acreditar que não é verdade, eu conheço esse
homem. Sei que conheço. Já vi aqueles olhos. Então, por que não consigo
identificá-lo?
Ele se afasta de mim, fazendo com que a cadeira arranhe o chão. Ele
oscila, o movimento tensionando a condição já vulnerável de suas velhas
pernas de madeira. Usando meu peso corporal, eu mudo o melhor de minha
capacidade para mantê-la em pé.
— Eu não deveria ter feito isso — peço desculpas, mantendo meu tom
neutro e até mesmo para esconder a mentira.
— Não minta para mim! — grita ele. — Você não está arrependida. Você
não aprecia o que estou fazendo. Está dizendo isso porque quer me deixar,
assim como ela. Como todas fizeram. Mas não desta vez. Vou me certificar
disso.
Algo está errado, eu sei que está. Elas deveriam estar aqui agora. E nem
Lindsey nem Blair estão atendendo seus telefones. Judge mandou os caras
para fora, e eles procuraram por toda parte. Minha casa. A casa de Blair. A
casa de Lindsey. A escola. A biblioteca. Até a porra do Walmart. Elas não
estavam em nenhum deles.
Corro e olho para a tela, como se eu tivesse uma ideia do que ela diz.
— Onde?
— Foda-se — murmura Judge, mas não digo uma palavra. Não posso.
Fico imóvel, olhando para a tela.
— Eu sou o tio dela — diz ele a ela. — Criei aquela garota como minha.
Fecho meus olhos e respiro fundo, bem fundo. Nem sei como me sinto
com essa notícia. Por um lado, estou feliz que ela não esteja aqui, porque isso
significa que ela não foi encontrada ferida. Por outro lado, ela não estar aqui
significa que ainda está desaparecida. E se Lindsey está na UTI, algo terrível
aconteceu. Diabos, onde está minha mulher?
— Relaxe, amigo — diz Judge, sua voz baixa. — Nós vamos encontrá-la.
Não discuto. É fácil para ele dizer, no entanto. Ele encontrou sua
sobrinha, e minha garota ainda está lá.
— A polícia já esteve aqui. Não sabíamos quem era seu parente mais
próximo.
Viro meus olhos para Judge e ele acena com a cabeça. — Vai.
Com a saída à vista, digito o número de Karma e espero que ele atenda.
— Sim, cara — responde ele.
— Lindsey está em mau estado. Foi encontrada por um estudante. No
campus. —Karma amaldiçoa baixinho. — Vou para lá agora. Quem fez isso
conhece o campus, e de jeito nenhum eles levariam Blair longe, não sem
serem vistos.
Nas poucas vezes que estive na escola com Blair, todas as suas aulas
pareciam estar localizadas em uma área. Há um cenário semelhante a um
parque no centro e um estacionamento gigante na parte de trás do
quarteirão. Pelo que posso dizer, o departamento de psicologia é composto
por cerca de dez edifícios mais antigos, mas bem conservados.
Os prospectos disseram que não havia sinal das garotas aqui e, por isso,
vou arrancar suas cabeças de merda.
Estaciono atrás do carro dela e, assim que meu motor desliga, o rugido
de várias outras motocicletas vem na minha direção. É Karma, e ele trouxe os
outros. Um por um, eles entram no estacionamento e estacionam ao meu
lado.
— Por que diabos nos disseram que não havia sinal das garotas no
campus quando a porra do carro de Lindsey está bem aqui? — grita ele essas
últimas palavras, seu rosto cheio de raiva.
Karma balança a cabeça. — Eu lidarei com eles mais tarde. E você tem
certeza que as casas estavam vazias?
O Priest acena com a cabeça. — Cem por cento. Quase fui devorado por
Walter quando fiz o check-in no GP.
— Ela tem que estar aqui em algum lugar — rosna Hashtag, olhando ao
nosso redor. — Fiz uma verificação rápida das câmeras de tráfego na área e,
embora não tenha visto Blair em nenhuma delas, também não vi nada
suspeito.
Olho para todos os edifícios escuros que nos cercam. — Ela está aqui em
algum lugar. Posso sentir.
— Vamos nos separar — anuncia Karma, falando mais alto para que
todos possam ouvir. — Mova-se em pares. Vamos de prédio em prédio.
Começaremos no porão e subiremos. — Ele continua latindo ordens, mas já
estou a caminho do prédio mais próximo, com Hashtag no meu encalço.
O tempo passa ainda mais devagar quando volto pela segunda vez.
Sonhei com GP e nossa vida. Imaginei o que poderia ter sido se nada
disso tivesse acontecido. Como me senti em seus braços quando ele me
segurou. A maneira como ele fingia odiar Jinx, mas no fundo, na verdade a
amava. A felicidade me preencheu e o amor cresceu em meu coração. Lutei
para ficar naquele estado de sonho, ignorando o anel de escuridão ao longo
das bordas que manchava o único pensamento lindo que eu havia deixado.
Ele volta para a mesa de onde vieram suas últimas ferramentas. Desta
vez, ele não pega nada de dentro do rolo de facas, mas volta com as mãos
vazias e ensanguentadas.
— Eu sei o que você está fazendo, Blair — diz ele, caminhando atrás de
mim, passando a mão na minha bochecha. Ele está fora de vista por apenas
um segundo antes de seus dedos enfiarem em meu cabelo e sacudirem
minha cabeça, batendo-a contra as costas da cadeira. — Estou fazendo isso a
mais tempo do que você está viva, criança. Você não pode usar meus
próprios truques contra mim, aquele que os desenvolveu.
Meu invasor não era uma pessoa aleatória que me encontrou. O ataque.
Os encontros não tão aleatórios. A entrevista. Ele planejou tudo desde o
início. Fui uma participante desconhecida em cada passo do caminho.
Ele tem razão. Eu era como sua marionete e me apaixonei por tudo. O
sonho de trabalhar para alguém como ele me cegou para o que realmente
estava à minha frente. Um verdadeiro monstro. Naquele dia da minha
entrevista, eu deveria saber que não era ele tentando me seduzir, ou usar
meu ataque para continuar sua pesquisa. Era ele querendo me possuir. Caí
no anzol, linha e chumbada.
— Você sabia que foi sua própria conselheira que a colocou na minha
mira? No dia em que me encontrei com ela para discutir minha pesquisa, vi
você do lado de fora do escritório dela, colocando seu pequeno anúncio. Esse
seu cabelo ruivo caindo em suas costas até aquele short minúsculo,
implorando por alguém para te foder.
Sua mão desliza para fora do meu jeans, mas não deixa meu corpo. Suas
palmas migram até meus ombros, deslizam sobre eles e apertam meus seios.
Ele puxa a cadeira para trás e caio no chão, as pernas quebrando com o
impacto. Todo o ar sai correndo dos meus pulmões e a dor explode com um
som de estalo sob o meu peso.
Ele fica de joelhos, tentando separar meus pés enquanto luto contra sua
força. Ele está pronto para terminar seu trabalho, para tirar a única coisa que
ainda não conseguiu de mim.
— Seja uma boa menina e grite por mim. Quero sentir o resto da sua
vontade de viver te deixando enquanto levo seu espírito.
Ele pressiona sua virilha contra mim, e solto um grito final antes que
meu corpo mergulhe na escuridão.
Perdoe-me, GP.
CAPÍTULO 32
Desisti de chutar a fechadura desta vez, e uso meu punho para quebrar
a porta de vidro. As vozes se aproximam, mas não fico esperando. Correndo
para dentro, vidro de segurança quebrando sob minha bota, levanto minha
mão para silenciar Hashtag. Meus ouvidos ficam tensos. Por favor, Blair,
faça outro som. Mas ela não faz.
Meu coração bate em meus ouvidos, meu peito aperta enquanto meu
medo por ela se transforma em desespero. E então um som que nunca vou
tirar da minha cabeça enquanto viver chega aos meus ouvidos. A risada
alegre de um homem completamente fora de si flutua em torno de nós,
saltando pelo corredor vazio em um eco fantasmagórico.
O porão está vazio e quase todo aberto, exceto por uma única porta.
Fica no fundo da sala, e meu melhor palpite é que leva ao que poderia ser a
sala da caldeira do prédio. É também onde ele está fazendo minha Blair
gritar de dor.
O que está dentro me deixa com uma raiva que me puxa da minha
missão de salvar minha garota e me força a uma em que meu único objetivo é
matar este homem.
Blair está deitada no chão, uma cadeira quebrada embaixo dela. Ela não
está mais gritando, porque está inconsciente. Seus olhos estão inchados, seu
lábio partido e uma quantidade assustadora de sangue se acumulou ao redor
dela. Suas calças foram rasgadas, deixando-a exposta. E pairando acima
dela, com uma expressão de aborrecimento e raiva em seu rosto, está um
homem mais velho careca.
— Não! — grita ele, seus olhos esbugalhados de raiva. — Não, você não
pode tê-la! Ela é minha! Ela era minha antes de você aparecer. Você não
pode nos impedir de ficarmos juntos.
Não sei do que diabos ele está falando e, francamente, não dou a
mínima. Minha bota acertando seu queixo o cala muito rápido, e seu
discurso louco é substituído por gemidos de dor.
— Por favor — geme, pedaços de seus dentes saindo de sua boca com
seu apelo.
Stone Face aparece ao meu lado. — Deixe-me cuidar dele. Você vai para
a sua garota.
Olho para trás e, quando meus olhos pousam em Blair mais uma vez,
meu coração se parte em meu peito. Karma havia tirado sua camiseta e
colocado sobre seu corpo exposto, e ela já estava encharcada de sangue.
A morte é tão diferente do que pensei que seria. Não há luz branca no
fim do túnel. Minha avó não me recebeu em um lindo mundo de felicidade.
Na verdade, é o oposto de tudo que cresci aprendendo sobre a vida após a
morte. É um mar de escuridão. É dor. Não há paz aqui.
— Blair — chama uma voz das sombras. Meu ser etéreo flutua para
encontrar o som, mas não há nada lá.
GP! A rachadura se expande ainda mais, até que uma explosão de luz
me cega, e a dor perfura meu peito, fazendo a escuridão desaparecer. Tudo o
que resta quando finalmente abro meus olhos é uma luz cegante.
— Você esteve fora por três dias. Achei que tivesse te perdido. — Ele me
aninha com mais força, como se eu fosse flutuar para longe.
Uma dor lancinante atinge cada parte do meu corpo, fazendo-me chiar,
e ele me libera instantaneamente.
— Porra. Você está bem? — Sua voz contém uma ternura nervosa que
nunca ouvi dele. Ele está com medo.
A dor irradia por mim enquanto ele tenta me recolocar em uma posição
confortável. — Melhor?
Ele se empurra para fora da cama, seu peso deslocando as molas com
força, fazendo-me pular de dor. — Ele te pegou porque te deixei
desprotegida. Ele fez isso... — seus olhos caem para o meu corpo antes que
ele desvie o olhar. — Eu o parei antes que ele pudesse... — ele para
novamente.
Um peso sai de cima de mim. Seu desejo mais sombrio não se
concretizou. Meu corpo nunca seria dele.
— Por um fio. Mas ela é uma lutadora, assim como você. Judge está no
hospital com ela agora. — Lágrimas quentes e úmidas escorrem pelo meu
rosto com a notícia. Eu poderia viver com minha morte, mas não a dela.
Saber que nós duas fizemos isso torna minha sobrevivência mais
significativa. Nós duas conseguimos.
— Você estava mal quando chegamos lá. Você era minha prioridade.
— É ele…? Ele ainda está...? — Não, ele não pode estar. Minha garganta
se aperta e meu peito arfa de ansiedade. Não é possível.
— Vou matá-lo, Blair, por tudo que ele fez com você. A vida dele é
minha. — Seu tom é atado com a intenção de cumprir sua promessa, e isso
me assusta.
Uma batida suave vem da porta à nossa direita, e Hashtag entra com
uma pilha de papéis nas mãos.
— Tenho algo que vocês dois podem querer ver. — Ele entrega os
papéis. — Existem toneladas deles. Demorou muito para vasculhar os
relatórios de pessoas desaparecidas, mas ele está ligado a pelo menos outros
quatorze desaparecimentos, todas mulheres.
Hashtag tira a pilha das mãos de GP. — Judge diz que depende de você.
Deve ser fácil. Ele tentou me matar, ele matou outras. Mas sou forte o
suficiente para tirar a vida dele?As vítimas costumam dizer que a justiça
feita aos que as prejudicaram é como um peso tirado de seus ombros. Uma
segunda chance de uma vida feliz e pacífica. Não sinto nada disso.
Absolutamente nada, mas estou com medo de como viverei com tal escolha.
— Eu quero vê-lo.
GP quer discutir comigo. Posso ver em seus olhos ferozes, mas negar-
me isso não apenas desafiaria os desejos do presidente do clube, mas
também negaria minha única chance de encerramento. Quero ver o rosto
dele uma última vez. Para ver o terror em seus olhos. O mesmo terror que ele
colocou no meu. Só então posso afirmar que a justiça realmente será feita.
Tento empurrar minha perna para fora da cama por conta própria, mas
estou fraca demais para ficar de pé. GP e Hashtag me pegam antes que eu
caia da cama completamente.
— Pega leve aí, sangue jovem — ri Hashtag. — Você ainda não está
pronta para correr uma maratona. Vamos tentar andar primeiro.
— Quero que ele me veja em pé sobre meus próprios pés. Quero que ele
veja que não consegue mais tirar minhas forças de mim.
Você pode fazer isso, Blair. Use tudo que tem. Não mostre a ele o
quanto ele te machucou.
Eu cavo fundo, usando toda a força que tenho para dar o primeiro
passo. A dor bate forte. Pego um segundo, e depois movo um pé após o outro
até estar dentro do celeiro. GP fica a uma distância segura atrás de mim.
Perto o suficiente para que, se eu tropeçar, ele possa me pegar, mas longe o
suficiente para que o professor Coates veja somente a mim.
— Sabe o que vejo quando olho para você, professor? — digo, minha voz
baixa ecoando por todo o celeiro vazio. — Um homem fraco. Um monstro.
Você tentou tirar tudo de mim. Já tirou de tantas outras. Mas não mais.
Estou retomando nosso poder. Para mim. Para sua esposa. Por todas as
outras mulheres que você machucou. Acabou. Você não machucará mais
ninguém.
Usando minha faca, eu corto sua calça do jeito que ele cortou a de Blair
e, quando termino, ele está pendurado na minha frente, completamente nu.
Seus ombros tremem com as lágrimas, seus lamentos abafando todos os
outros ruídos. — Apenas acabe com isso — lamenta.
Após ler a última página, Coates está caindo de sua corrente. Os outros
caras do clube estão todos aqui, encostados na lateral do celeiro, vendo ele
receber esse castigo doentio. Coates parece exausto, sem sangue e à beira da
morte.
— Essas outras mulheres são as vítimas que você matou — disse Judge a
Coates. — Mas há duas mulheres que você não conseguiu. — Ele estreita os
olhos, rosnando o nome, — Lindsey Sheridan.
Judge espera até que eu a tire e o professor pare de gritar. Assim que
Coates fica quieto o suficiente para ouvi-lo, Judge fecha a cara. — E,
finalmente, esta última é para Blair Thompson.
Quando ouço o nome dela, imagino como eu a encontrei duas vezes por
causa deste homem. Quebrada, ensanguentada, à beira da morte. Tudo
porque ela tem um farto cabelo ruivo. Rugindo de raiva, puxo meu braço
para trás e coloco a faca no coração de Coates.
Sua boca escancarada em choque, seus olhos fixos nos meus enquanto
seu corpo treme e se sacode em suas amarras. Vejo a luz da vida evaporar de
seus olhos malignos, me sentindo entorpecido por ter matado um homem,
mas orgulhoso de dizer à minha garota que matei seu dragão.
Sorrio para ele, sentindo sua aprovação como um filho se deleitaria com
a aprovação de seu próprio pai.
Não o faço dizer duas vezes. Passo por cima da bagunça de feno
ensanguentado no chão e saio do celeiro, aceitando tapas nas costas e
parabéns do resto dos caras.
— Oh, Red — digo, tirando meus sapatos. — Não chore, baby. Acabou
agora.
Ela acena, sem olhar para mim, e limpa o nariz vermelho no braço. —
Eu sei. Eu sei que acabou. Estou tentando, GP. Estou realmente tentando.
— Me desculpe por trazer isso para você. Lamento não ter visto antes.
Sinto muito por ter te envolvido nesta merda.
Não posso deixar de sorrir. Puxando minha cabeça para trás, eu levanto
seu corpo e a viro para me encarar, para que eu possa encontrar seu olhar. —
Red, se nada disso tivesse acontecido, eu não teria você. Nunca se desculpe
por algo que não pode controlar. E definitivamente não se desculpe por estar
na minha vida, porque eu não iria querer isso de outra maneira.
Então, ela me presenteia com o som mais lindo que já ouvi na minha
vida. Ela joga a cabeça para trás e ri. Ela ri longa e fortemente, e quando
termina, ela pressiona seu rosto contra o meu peito coberto de camiseta
encharcada. — Eu também te amo, GP.
EPÍLOGO
Nas quase duas semanas que se passou desde que tomei a decisão de
acabar com a vida do professor, sentei-me em contemplação silenciosa
inúmeras vezes, tentando conciliar que moralmente, deveria estar chocada
por mandar matar um homem. Um monstro colocado para pastar pelas
mãos do meu próprio namorado. GP se recusou a me dizer o que fez com ele,
mas ver o rosto do professor estampado em todas as notícias locais e
nacionais foi mais do que suficiente para mim. Como o clube conseguiu
implicá-lo em todos os outros assassinatos horrendos que ele cometeu foi a
reverência no presente. Isso é o que eles me deram. Seu acréscimo não
reconhecido ajudaria muitas famílias a encontrar o encerramento que agora
encontrei.
GP mostra para ele o dedo médio. Judge e alguns dos caras voltam para
dentro, deixando-nos sozinhos novamente. Pego Judge apontando para GP
com o canto do meu olho. Começo a perguntar a ele o que está acontecendo,
mas ele volta para nossa conversa anterior. — Você vai me dizer ou me deixar
em suspense antes que aqueles idiotas nos interrompam novamente?
— Posso dizer que há mais coisas acontecendo nessa sua cabeça. — Ele
vira os hambúrgueres e eles chiam. Satisfeito, ele fecha a tampa e vem se
sentar ao meu lado na cadeira extra de pátio que Priest colocou com
medicamentos para mim.
— O sorriso em seu rosto me diz tudo que preciso saber. Se é o que você
quer fazer, Red, eu estou totalmente com você.
9 Para estar isento de impostos, uma organização deve ser organizada e operada
exclusivamente para fins isentos estabelecidos na seção 501(c)(3) do Código da Receita
Federal, e nenhum de seus ganhos pode reverter a favor de qualquer acionista privado ou
indivíduo.
Eu me inclino em direção a ele, envolvendo meus braços em volta de
seus ombros. — Há apenas um pequeno problema. — Sorrio para ele. — Vou
precisar de um lugar para ficar.
— Há uma coisa que temos que fazer antes de eu concordar com tudo
isso. — Ele se empurra da cadeira e estende a mão para mim. Eu pego. —
Siga-me, Red.
Com um olhar cético, faço o que ele diz, seguindo-o direto para a sede
do clube, onde todo o clube está em um semicírculo ao redor da porta. Todos
os olhos estão em mim, o que me deixa muito inquieta. Ele aperta minha
mão de forma tranquilizadora.
— Ok…
GP solta minha mão e caminha para onde seu clube está. Judge lhe
entrega algo, coloca a mão no ombro de GP e assente. GP gira e se move
metodicamente para mim.
— Reclamar você foi a melhor coisa que já fiz, mas sei que não lhe dei
escolha nesse assunto. — Olhando para seus irmãos por cima do ombro, ele
continua.
— Este clube é uma irmandade. Uma família. Vivemos, pilotamos e
morremos lado a lado. Protegemos nossa família e gostaria que você fizesse
parte dela.
Ele estende o objeto que Judge deu a ele. Uma versão menor de seu
próprio corte. Ele o desdobra, revelando o patch de minha propriedade atrás
dele, com seu nome bordado embaixo dele. Ele o vira novamente para me
mostrar a frente, e na parte superior do seio direito está meu nome bordado
em um remendo.
Sorrio, traçando meu nome com a ponta do dedo. — Você está dizendo
sim?
Ele abre os botões e estende para que eu coloque sobre meus ombros.
Tento ajustar o couro duro com a mão boa. GP se aproxima com a pretensão
de me ajudar, mas seu rosto conta uma história diferente. — Quando
chegarmos a casa esta noite, eu quero ver você vestindo isso, e apenas isso.
São noites como esta que me fazem perceber que não estou amarrado
como alguns desses filhos da puta. Apenas assisti-los desfilarem com
grandes sorrisos de bunda em seus rostos é o suficiente para me deixar
inquieto. Tentei toda essa coisa de relacionamento uma vez - a porra da
vadia me quebrou. Ninguém terá a chance de puxar essa merda comigo
novamente.
Priest se senta ao meu lado no bar, pedindo uma bebida para uma das
garotas do clube que está cuidando das festividades desta noite. Ela abre a
tampa e desliza a garrafa para ele.
Posso apenas acenar em resposta. Sim, funcionou para ele. Blair é uma
boa pessoa. Eu gosto dela. Mas ficar aqui sentado vendo os dois celebrarem
seu amor não vai muito bem para mim esta noite. Não é Blair ou GP. Não são
as outras pessoas lotando a sede do clube e se divertindo. É a data. O nosso
encontro. Que teria sido a data do nosso casamento.
Priest olha para mim e balança a cabeça. — Você não está feliz por eles,
está?
Seu rosto pintado se entristece com minha recusa. Não é nada contra
ela ou aquele belo corpo dela. Se fosse um dia diferente, eu enfiaria meu pau
nela, esquecendo todas as besteiras.
— Não entendo você, cara. Todas essas mulheres por aqui, e não vi você
tocar em nenhuma delas ultimamente.
— Qual?
Sem outra palavra, Priest vai embora. Missão cumprida. Esta noite é
exatamente o tipo de noite em que quero sentar aqui neste bar e ficar
bêbado. Eu nem deveria estar aqui. Não estou com humor para comemorar.
Ótimo. Uma das garotas do clube deve estar fazendo um show. Pegando
minha cerveja, começo a me virar quando...
Porra.
A porra de um fantasma do meu passado. Um que nunca esperei voltar
para seu lugar enquanto meus pulmões ainda sugassem o ar.
— Ele está aqui? — grita sua voz sobre o barulho, balançando a porra do
meu mundo. A cerveja cai da minha mão, espatifando-se no chão. Ela vira
seu olhar para mim, focalizando.
Ela foge em minha direção, o medo claro como o dia naquele rosto
bonito que eu costumava chamar de meu anos atrás. O rosto que sumiu sem
nenhuma maldita palavra.
Os anos foram bons para ela. Muito bom. A garota que eu conhecia se
tornou uma mulher, e uma gostosa ainda por cima. Cada par de olhos
masculinos solteiros está sobre ela. A besta adormecida dentro de mim
rosna, querendo reafirmar minha reivindicação sobre ela, e forçá-los a
desviar o olhar. Mas ela não é mais minha. Ela deixou isso bem claro quando
partiu.
Seus belos olhos azuis suavizam quando uma lágrima desliza por sua
bochecha.
Não me viro para olhar para ela quando pergunto por cima do ombro:
— E por que eu deveria me importar com a prole de outro homem?