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O Estanho Mafioso

Histórias relatam os gângsteres e mafiosos como pessoas frias e cruéis


mostrando-os pouco a pouco como pessoas capazes de mudar pela pessoa que
ama, mas o que poderá ocorrer a um homem que não foi forçado a ser cruel pelo
meio em que vive? Existirá um modo de fazê-lo mais humano ou ele apenas
permanecerá frio e indomável?
Vlad Vitorino Galli Chevalier. Um homem de poucas palavras e ações
desmedidas conhecido por todos por Vlad Galli possuía uma fortuna obtida de
diversos modos tanto legais quanto ilegais, mas para o mundo todo ele era
apenas mais um investidor experiente e presidente de uma empresa construtora.
Entretanto para poucos homens ele era conhecido como Vlad Galli, o experiente
e cruel mafioso oriundo de uma das famílias mais perversas. Um homem com
duas faces e duas personalidades. Qual delas poderia ser a real? O homem justo
e correto que trabalha para realizar o sonho das pessoas através de sua
construtora, ou o homem cruel desprovido de qualquer emoção capaz de matar
sem ao menos sentir remorso ou culpa?
Luna Vega Dupont acaba encontrando refúgio em um, único, lugar que jamais
imaginaria ao se ver deixada em uma rua escura para morrer após ser violentada
quando retornara para casa. Resgatada por um desconhecido que possuía olhos
frios e sem brilho é levada para a sua casa onde se inicia uma nova chance de
recomeçar a vida ao mesmo tempo em que começa a se perguntar o quanto valia
uma vida.
Dois mundo diferentes que ligam-se através de um fatídico dia. Um dia que seria
o primeiro da vida de duas pessoas tão desconhecidas quanto parecidas.

CAPITULO 1
Um mundo completamente cinza. Isto era o que a vida de Vlad Vitorino Galli
Chevalier se tornou após nascer e crescer com a sua família, a temida família
Galli Chevalier. A família mafiosa tanto italiana quanto francesa. Para ele era
irônico que seus pais, filhos de pais mafiosos, houvessem se apaixonado e
casado aumentando assim o laço entre as famílias e o império do poder. Deste
casamento nasceu quatro filhos, três homens e uma mulher. Dois haviam se
tornado mafiosos como ele, enquanto o mais novo optou por se tornar médico. A
sua irmã casou-se com um desenvolvedor de jogos e logo se viu com um filho.
Seus pais continuavam administrando alguns negócios, mas a maioria dos
negócios da família ficou nas mãos de Vlad e seus dois irmãos. Muitos
conheciam a fama de sua família, mas poucos sabiam sobre ele. Vlad optara por
viver nas sombras a medida que administrava um dos maiores impérios de
tráfico, assassinato e extorsão. Ninguém ousava levantar o olhar para os Galli
Chevalier sem aparecer morto no dia seguinte. Com uma criação severa como
ele tivera não poderia torna-se outra coisa que não fosse um mafioso ou gângster,
como costumava se chamar, bem sucedido.
Um homem caminhou pelo seu escritório vazio ao olhar para o caro relógio em
seu pulso. Ele possuía 1.95 de altura, cabelos pretos, rosto quadrado e olhos sem
brilho. Ajeitou o paletó ao escutar a batida na porta e em seguida um homem
com feições duras entrar na sala, fechando a porta atrás de si.
- Et le chargement, Luca? – Vlad indagou sério ao olhar para o seu braço direito
[1]

e seu Consiglieri.
Luca sorriu levemente ao assentir com a cabeça indicando que tudo estava indo
bem. Luca possuía 30 anos e trabalhava com a família Galli Chevalier desde que
fora resgatado das ruas e colocado para estudar para ajudá-los, o que fez com
bom gosto e maestria.
- Qui va bien, venir demain à 10h la nuit et livraison aura lieu bientôt .
[2]

-Parfait – disse sério ao voltar a sua atenção para a cidade que avistava através
[3]

da grande janela de sua sala. Ele encontrava-se em sua construtora, a Mirai Galli.
Uma construtora que crescia a cada dia, sendo vista como uma das maiores
construtoras dos últimos 5 anos. – laissez-moi savoir si vous avez des problèmes,
si cela arrive, vous savez quoi faire .
[4]

-Sí, avisarei a Cosimo para estar preparado.


-Leve mais alguns homens e no momento da negociação, eu irei aparecer. – disse
antes de fazer uma careta ao falar em português.
-Tem certeza? – perguntou estranhando o comportamento de Vlad, pois poucos
conheciam o seu rosto, e desta forma aumentava o mistério e o medo sobre ele já
que qualquer um que o via acabava morto.
-Sí, sinto que será uma noite... divertida – falou misterioso ao virar de costas
para Luca e voltar sua atenção para a paisagem. Luca concordou saindo em
silencio. Ele conhecia Vlad desde pequeno, mas nunca conseguiu entende-lo por
completo. Vlad era um completo mistério. Luca olhou para a secretaria de Galli
antes de entrar no elevador e seguir para o local de encontro, sorrindo consigo
mesmo ao perceber que nada naquela construtora era o que imaginavam.
***
Todos na sala olhavam atentos para o relógio marcar, exatos, oito da noite. A
turma de política e direitos humanos encontrava-se com poucos alunos naquele
dia, anterior ao feriado. Os poucos alunos que compareceram mostravam-se
ansiosos para ir embora. Assim que passaram pela porta da sala cada um tomou
um caminho diferente. Uma mulher com cabelos loiros e olhos azuis trajava um
longo vestido azul e casaco preto. Ela caminhava séria pela rua que tanto lhe
dava arrepios. Luna jamais gostou de passar por aquele caminho, entretanto
aquele dia perdera o ultimo ônibus e sua única opção era ir a pé para casa. A casa
que era o seu refúgio. Apesar do horário, a rua encontrava-se vazia. Luna
apressou os passos temerosa ao agarrar com força o livro que trazia consigo nos
braços. Caminhou cada vez mais rápido, entretanto logo escutou passos vindos
atrás de si. Ao se virar, deparou-se com um homem de cabeça baixa com as
mãos dentro do seu casaco. Tentou não se desesperar ou imaginar tolices quando
atravessou a pista indo para a outra calçada, mas nervosamente percebeu que o
desconhecido fizera o mesmo que ela.
-Dios mio – murmurou para si ao apressar ainda mais o passo e quando estava
prestes a começar a correr sentiu algo apontar para a sua cintura e em seguida,
escutou a voz que jamais esqueceria.
-Se falar uma palavra ou tentar correr, irá morrer – o homem anunciou fazendo-a
estremecer e tremer.
-Po..pode levar o dinheiro que tenho na bolsa, por favor, leve tudo, mas... não me
faça nada. – rogou para ele escutando apenas uma gargalhada como resposta.
Com extrema facilidade, o homem segurou no braço de Luna e a puxou, com
força, para um beco próximo. A viu se tremer e rogar a ele para que não a fizesse
mal. Ele nada disse, apenas mostrou a faca que tinha consigo e apontou em sua
direção – Tire o vestido. – a viu sem reação e gritou sem paciência – Tire ou eu
te mato. – as lagrimas caiam pela face de Luna e com as mãos tremulas, ela
agachou-se depositando os livros no chão. Olhou mais uma vez para o homem e
se perguntou se conseguiria fugir se fizesse isso naquele momento. Olhou de
soslaio para a rua e antes que o desconhecido pudesse fazer algo, Luna se
levantou e correu para longe dele. A sua respiração estava ofegante e seus olhos
ardiam pelas lagrimas. Ela não ousou olhar para trás apenas continuou a correr
até sentir o seu cabelo ser puxado com violência, fazendo-a cair no chão,
gritando de dor. – Sua vadia – o homem disse com raiva e ofegante ao olhar para
ela – agora farei tudo com você e depois a matarei – anunciou ao colocar a faca
em seu pescoço, fazendo um pequeno corte. – Se ficar caladinha posso te deixar
viva – prometeu falsamente ao vê-la arfar ao sentir o sangue escorrer pelo seu
pescoço. Como se o destino estivesse compactuando com o ato desumano que o
homem iria cometer com ela, ninguém passou por aquela rua, nem mesmo
escutaram seus gritos de desespero ao ser levada para uma rua sem saída, a qual
estava escura e o chão sujo. O homem sorriu ao pegar a faca e rasgar o vestido
dela ao mesmo tempo em que ela implorava e se debatia incansavelmente. –
Estou cansado de você – falou impaciente ao direcionar a faca para a perna dela,
onde a perfurou. Escutou o seu grito e sorriu satisfeito ao vê-la ficar quieta em
seguida – Isso, quanto mais calada estiver, menos dor irá sentir – mentiu ao ver o
seu corpo e olhar para ele com malicia. Rasgou a sua lingerie e a acariciou com
força fazendo o possível para marcá-la. Abriu a, sua própria, braguilha sem olhar
para o rosto atormentado da jovem.
***
Luna não sabia quanto tempo havia se passado ou se ao menos ela estava viva. O
homem ainda encontrava-se dentro dela, violentando-a. Ela não resistia mais
apenas permaneceu quieta esperando o tormento acabar, mas ela sabia que a
partir daquele dia havia morrido. Seus olhos permaneciam abertos, encarando o
nada, mas logo viu um par de sapatos aproximar-se cada vez mais deles. Ela não
se importava com o que aconteceria contigo mais, apenas desejava acabar com
aquele tormento. Fechou seus olhos assim que percebeu que o seu carrasco
sorria satisfeito ao sair de dentro dela e apontar a faca para o homem.
-Saia daqui, isso não tem nada a ver com você – o homem com a faca disse
nervoso.
Vlad olhou para mulher no chão, desnuda e quieta, e em seguida voltou a sua
atenção para o homem a sua frente. Com calma, retirou um par de luvas pretas
de seu bolso e as colocou sem retirar os olhos do homem.
-Um verme como você me dirigindo a palavra – Vlad tornou sério ao caminhar
até onde o homem estava parando a poucos centímetros dele – qual deveria ser a
sua pena?
-É um policial? Porque eu vou te matar aqui e agora – o homem disse exaltado
ao começar a imaginar o perigo que vinha do homem desconhecido.
-Policial? – sorriu diante daquela palavra – Non – negou ao olhar novamente
para a mulher no chão – me pergunto quem é o monstro agora – falou consigo
mesmo ao olhar desafiador para o homem. Assim que o homem avançou em
direção a Vlad, o viu desviar e segurar a mão do homem, forçando-a para o lado
fazendo com que ele deixasse a faca cair no chão. Em um único movimento,
Vlad retirou a pistola de suas costas, uma Colt 1911, e apontou para o homem
caído no chão. – Isso será divertido – murmurou para si e virou-se para onde a
mulher estava – acho melhor fechar os olhos se não quiser ver sangue – tornou
sério ao voltar a sua atenção para o homem. Sem titubear, atirou na perna direita
do homem, sorriu diante de seu grito, atirou mais uma vez na outra perna, deu
dois tiros consecutivos no braço direito e ao ver o sangue dele no chão misturar-
se com a sujeira – Deveria saber que não deve bagunçar no território de outra
pessoa – caminhou sem importar-se em pisar no sangue e abaixou-se ficando
próximo a ele – O território de Vlad Galli, o mafioso, que sou eu – esclareceu
com um sorriso macabro ao ver o homem empalidecer e suplicar pela vida.
Suplica esta que não funcionou. Vlad levantou-se e sorrindo friamente atirou no
meio da testa e no pescoço do homem. Qualquer policial que visse aqueles dois
tiros saberiam que ele havia sido o autor do crime. Guardou a arma e olhou para
a mulher, percebendo pela primeira vez que ela assistira tudo. Andou até onde
ela estava, retirou o seu paletó, a cobriu e em seguida a ergueu do chão,
segurando-a em seus braços. Nenhum dos dois disse uma palavra sequer. Luna
apenas se deixou levar pelo desconhecido que matara a sangue frio o homem que
a violentou, e se perguntou se estava fazendo o certo quando foi colocada em seu
carro.

CAPITULO 2
A cidade permanecia inalterada no momento em que um carro avançava
ultrapassando os outros carros e diversos sinais vermelhos. O motorista apenas
mantinha a sua atenção em sua frente, em um cruzamento levou a mão para a
marcha mudando-a para a quinta sem se preocupar com nada. Avançou sem
titubear uma, única, vez. O percurso que demoraria 20 minutos fora feito em
menos de 10 minutos e assim que Vlad estacionou o seu carro na entrada de
emergência do hospital olhou para a mulher, a qual mantinha-se impassível
deitada na parte traseira do seu carro. Retirou o cinto de segurança, saiu do carro
e com rapidez a retirou levando-a em seus braços para a entrada sem importar-se
com os olhares que lhe lançavam ao perceber que ela estava nua e sangrando.
Em instante uma maca surgiu em sua frente juntamente com alguns enfermeiros
e médicos. A maca se afastou rapidamente, enquanto ele permaneceu parado
vendo-a se afastar.
-Por favor, venha comigo Senhor – uma enfermeira falou ao parar ao lado de
Vlad, o qual apenas a mediou de cima a baixo –O senhor a trouxe, precisamos
que preencha a sua ficha e....
-Eu não sei quem ela é – falou frio ao afastar-se dela. A enfermeira permaneceu
parada, confusa com o que ele dissera, mas ao vê-lo ir embora deu de ombros e
seguiu para a recepção.
Vlad encostou-se na parede do lado de fora do hospital e sem expressar seus
pensamentos, pegou uma caixa prateada de seu bolso, a abriu retirando um
cigarro, o acendeu e tragou lentamente ao ver a fumaça misturar-se com o ar.
Uma hora depois sentiu o celular vibrar em seu bolso, pegou o aparelho sério.
-Sí – disse ao escutar a voz de Luca do outro lado da linha – Non, ficarei fora –
falou evasivo antes de desligar. Votou a tragar o próximo cigarro antes de olhar
para o relógio e retornar para o hospital. Caminhou até a recepção e olhou para
uma das mulheres que ali estavam sentadas – Em que quarto está a mulher que
foi violentada?
-O senhor...
-Eu a trouxe – tornou sem paciência ao retirar a sua identidade e jogar no balcão
– verifique, mas antes diga-me aonde ela está. – a mulher pegou o documento e
ao ler o nome do homem, sorriu sem graça.
-Ela está na enfermaria, senhor Galli. Leito 16. – Vlad pegou o seu documento
de volta sem encará-la ou pronunciar alguma palavra. Seguiu as placas e logo se
viu na enfermaria. Caminhou entre as diversas camas até avistar uma mais
afastada de onde podia escutar uns múrmuros e choro. Aproximou-se em
silencio e logo avistou a jovem que salvara sentada, agora vestida com a roupa
do hospital, abraçando as pernas. Seus cabelos loiros caiam tapando o seu rosto,
o que o fez hesitar antes de ir onde ela estava.
-Comment ça va ? – Vlad perguntou ao olhar para a mulher frágil. – Je ...
[5] [6]

-Me deixe – ela pediu chorosa sem encará-lo. Escutou os passos dele
aproximando-se cada vez mais – O que quer de mim? – perguntou ao erguer o
rosto sustentando olhar dele lutando contra toda a dor e vergonha que sentia.
-Um agradecimento seria interessante – Vlad tornou cético.
-O que...estava fazendo lá? – perguntou nervosa abaixando o olhar – porque...
-Não sou um homem com tempo livre, apenas pergunte de uma vez – tornou
grosseiro ao apertar os olhos levando a mão aos seus cabelos, bagunçando-os –
Sobre o que está curiosa?
Luna ergueu o olhar lentamente, abaixo em seguida. Nem ela mesma sabia sobre
o que questionar para o homem a sua frente. O homem que havia a salvado. De
alguma forma, ela tentava não se recordar do que ele fizera para a livrar do
homem que a violentou. “Seria melhor não ter visto?” pensou angustiada.
-Ainda estou esperando – Vlad falou sem paciência interrompendo os
pensamentos dela. Ele a observou atentamente e quando estava prestes a ir
embora escutou a sua voz.
-Porque me salvou?
-Esta é a pergunta que desejava fazer? Deve me considerar um monstro – sorriu
enigmático – na verdade deve achar isso pelo que fiz, estou enganado? – obteve
como resposta o silencio dela, o que o fez sorrir levemente – Não sou um
monstro tão terrível, se eu fosse a teria deixado naquela rua, si? Petit , não sou
[7]

tão cruel quanto imagina – a olhou sem expressão antes de ir embora sem olhar
para trás. Luna agarrou o lençol com força ao se ver sozinha. Fechou os olhos
mais uma vez, permanecendo sentada, pois temia que algo poderia acontecer
com ela. Ela soube naquele momento que a sua vida jamais seria a mesma.
Vlad ajeitou o retrovisor de seu carro refletindo o sorriso satisfeito que
emoldurava o seu rosto. Em poucos segundos, ligou o seu carro, um Bugatti
Veyron preto, trocou a marcha sumindo rapidamente entre os demais carros.
Luca levantou-se do sofá da casa de Vlad assim que escutou o som do alarme ser
desativado, olhou para Tony, o homem calado com uma marca em sua face que
deixava-o assustador. Vlad entrou na sala e olhou para os dois homens nada fez,
apenas retirou as chaves de seu bolso jogando-as no sofá próximo. Percebendo
naquele momento ter deixado o paletó com a mulher que salvara. “Salvar?” se
pegou sorrindo diante do que fizera. Sem perceber olhou em volta percebendo
que nada fora alterado. Tudo estava em seu lugar. O grande sofá branco tomava
toda uma parte da sala, decorado com algumas almofadas pretas, em frente a ele
uma grande TV conectada a diversos aparelhos eletrônicos enfeitava a sala, e
nada mais. Onde deveria haver uma parede fora substituída por uma grande
janela de vidro.
-Já sumimos com tudo – Luca tornou eficaz ao olhar sério para Vlad.
-Sí – virou para Tony - Beau travail . – Tony assentiu sem nada a dizer. Ele
[8]

apenas fazia o que lhe mandavam e aquela vez não fora exceção. – Estou indo
dormir, mas alguma coisa?
-Seu irmão ligou – Luca disse sério – ocorreu algum problema com a carga dele.
- Che cosa ? -indagou em italiano, idioma que costumava falar quando perdia a
[9]

paciência.
-Um de seus homens o traiu e conseguimos capturá-lo. – Luca viu o sorriso
sombrio de Vlad e sorriu em seguida – Ele estará amanhã no galpão.
-Parfait –murmurou ao dar as costas aos dois homens ao seguir para o seu
quarto. Abriu a porta jogando-se na cama fechando os olhos em seguida com as
lembranças povoando a sua mente. Lembranças que odiava. Recordações que o
faziam sentir raiva e ódio pela sua família. Os segundos, minutos e horas
passaram sem que conseguisse adormecer. Sedento por sangue com a raiva
consumindo-o, se levantou da cama e saiu do quarto encontrando Luca ainda
sentado no sofá lendo alguns papeis. Não estranhou e nem ao menos disse algo,
para Vlad e Luca aquele era um ritual entre eles. Silencioso, Vlad pegou a chave
do seu carro e foi para a porta com um sorriso estranho na face. Um sorriso que
aparecia apenas quando sabia que seus desejos sombrios seriam saciados.
A poucos quilômetros da casa de Vlad, um galpão abandonado encontrava-se
rodeado por homens armados, e gritos de desespero ecoavam do seu interior. Um
homem era mantido amarrado sentado em uma cadeira. Suas mãos estavam
presas com algemas, suas pernas amarradas com corda e seus olhos vendados. O
desespero e o medo emanavam de seus poros. Sua audição estava ainda mais
apurada e ao escutar a porta do galpão ser aberta e o silencio imperar, sentiu todo
o medo transbordar.
-Un traître em minha frente – a voz de Vlad soou aterrorizante para o homem
[10]

preso. Ele se debateu ao mesmo tempo em que gritava por clemencia. – Adoro
essa palavra clemencia – Vlad sorriu ao avistar um carrinho de metal ser levado
até si por um de seus homens, com calma dobrou a manga de sua camisa. – Essa
noite será inesquecível para você – tornou calmo assim que o carrinho parou ao
lado do homem. Vlad caminhou com tranquilidade esquecendo-se que naquele
galpão havia mais pessoas. Para Vlad, havia apenas ele e o traidor. Com esse
pensamento pegou um martelo pequeno de metal e com força bateu no joelho do
homem. Em poucos segundos o grito de dor ecoou pelo local e uma risada
satisfeita ecoou juntamente com o gemido de dor. – Não desmaie já que apenas
começamos – depositou o martelo de volta ao carrinho antes de pegar um alicate,
segurou os dedos da mão esquerda e com curiosidade olhou para um deles com
calma e frieza. Sentiu a mão do homem tremer violentamente e sem piscar ou
sentir remorso colocou o alicate na ponta da unha dele, e a puxou com
lentamente e em seguida com força. O homem amarrado chorava em desespero
sem ver o sorriso satisfeito na face de seu carrasco – De quem é espião? Posso
mata-lo sem dor se me contar tudo que quero saber – Vlad barganhou.
-Eu conto tudo. – o homem disse esperançoso em morrer com uma bala na
cabeça. Sem dor e sem tortura.
-Faz muito bem – Vlad sorriu antes de tirar a venda do homem a sua frente. –
Estou ouvindo.
O homem amedrontado contou tudo o que sabia por longos minutos não viu
nenhuma expressão em Vlad apenas quando se calou o viu sorrir e retirar uma
arma de suas costas. Um sorriso de alivio estampou o rosto do homem antes de
Vlad atirar em seus braços, suas pernas, no meio da testa e no pescoço.
CAPITULO 3
Nada que falassem a Luna amenizava ou diminuía o choro que vinha constante
em sua face. Ela não havia dito mais nenhuma palavra após o seu encontro com
Vlad. Ninguém escutou a sua voz depois. Por mais que perguntassem ou
insistissem, ela se mantinha em silencio com as lagrimas nos olhos. O coração
dela doía não mais que o seu corpo ou a sua alma, a qual estava despedaçada.
Não importava o tempo ou a intensidade, as suas lagrimas tornavam a cair pela
sua face. Aos poucos, todos pararam de tentar por perceber que aquela seria a
sua única forma de derramar todos os seus sentimentos pela aquela noite. A noite
em que foi violentada.
Um dos médicos que acompanhava Luna olhou com pesar ao vê-la deitada. Não
era difícil perceber o seu choro em meio ao quarto vazio da ala na enfermaria.
-Será difícil para ela – o médico comentou com a enfermeira que estava ao seu
lado.
-Sim, infelizmente não conseguimos contatar ninguém para vir lhe buscar.
-Então ela ainda ficará sozinha. Me parece ser um péssimo destino – a
enfermeira assentiu diante das palavras realistas do médico. – E o homem que a
trouxe? Eles se conhecem?
-Não sei ao certo, mas ele é um homem muito famoso.
-Famoso. Algum ator?
-Não –negou com um sorriso estranho – ele é dono de uma das maiores
construtoras e alguns dizem que possui contato com a máfia.
-Vlad Galli – o médico falou por fim estupefato – isso é uma surpresa –
murmurou ao voltar a sua atenção para a jovem que continuava deitada sem
mexer-se. – Temos que fazer algo por ela. – a enfermeira assentiu complacente
com a situação de Luna. – Talvez possamos falar com ele, soube que ele
gerencia diversas ONGs e instituições. Ele pode saber como ajudá-la.
-Não acho que seja...possível, doutor – a enfermeira falou sem graça ao perceber
a ingenuidade do médico. – O Senhor Galli já fez uma caridade ao salvá-la,
trazendo-a. Não acredito que se responsabilizará ainda mais por ela.
-Será? Não custa tentar, certo? – sorriu ao dar as costas e seguir para a sua sala.
Assim que entrou em sua sala, fechou a porta e foi para o computador onde
conseguiu todos os dados possíveis sobre Luna Vega e nenhum sobre Vlad Galli.
– Será que foi realmente ele que a trouxe? – questionou-se após longos segundos
pensativos até que percebeu algo que estava em sua frente todo o tempo. Com
um sorriso espirituoso digitou os números em sua frente, não demorando para
escutar a voz de um homem.
***
A expressão nada agradável de Luca ao entrar no hospital era perceptível a todos
que passavam por ele. Com passos firmes, caminhou até a sala do médico que
telefonou para o escritório de Vlad e assim que bateu na porta foi recebido com
um sorriso amigo de um homem de meia idade.
-Vim em nome de Vlad Galli – Luca tornou sério ao estender a mão enquanto
buscava no comportamento do médico algo que pudesse decifrar a sua ida até o
hospital. Quando recebera a chamada apenas foi informado que havia um
assunto do interesse de Vlad. – Estou curioso para saber o motivo da ligação. –
tornou sério e profissional. Estranhou o sorriso gentil que o médico exibia. Se
uma coisa Luca havia aprendido desde a época em que começou a trabalhar com
os Galli era que o mais temido dos homens encontrava-se por trás de um sorriso
gentil e um olhar bondoso.
-Acho que tudo ficará mais esclarecido se puder vir comigo. A propósito, sou o
doutor Sam. Venha comigo, por favor – o médico deu passagem para Luca que o
seguia pelo hospital em silencio até entrarem na enfermaria. Dentre as inúmeras
camas disponíveis apenas uma estava sendo ocupada, o que despertou o interesse
de Luca.
-Este quarto não deveria estar cheio? – Luca questionou curioso ao olhar em
volta tentando não focar a sua atenção na mulher deitada.
-Sim, mas este ala é diferente das demais.
-Em que sentido?
-Nesta ala ficam pessoas que necessitam de um certo acompanhamento e neste
caso, é um pouco mais especial. Ela foi violentada.
-Entendo – Luca murmurou com os olhos semicerrados – e qual o motivo de ter
me trazido até aqui?
-Sabe quem ajudou esta jovem?
-Não, eu deveria? – indagou com um péssimo pressentimento.
-Creio que sim, afinal foi o seu chefe que a trouxe.
Luca olhou surpreso para o médico e em seguida para a jovem deitada de costas
para eles. Ela malmente se mexia, o que lhe deu a impressão que poderia ter
desistido da vida. Voltou a sua atenção para o médico e por fim disse friamente.
-E qual a relação disso? Está tentando acusar Vlad Galli?
-Não, claro que não – disse surpreso – estou apenas querendo encontrar um lugar
para ela.
-Lugar?
-Sim. Ela não diz nada e temo que não tenha para onde retornar – assentiu em
concordância – tentamos contatar algum familiar, mas não conseguimos. É como
se ela...
-Não existisse? – Luca indagou ao olhar para ela com curiosidade pela primeira
vez.
-Podemos falar desta forma. Ninguém procurou saber dela nos dias em que ficou
sumida. Seus documentos mostram que conseguiu visto temporário e nada mais.
Não sabemos mais nada sobre ela.
-Um fantasma – murmurou ao encarar o médico novamente – estais pedindo que
consiga um lugar para ela?
-Sim, ela ainda está frágil com o que aconteceu. Desde que a trouxeram, não
disse uma palavra com exceção de algumas, poucas, palavras ditas ao seu chefe,
Vlad Galli.
-E não disse mais nada?
-Nenhuma palavra.
Luca suspirou antes de pensar. Ele sabia que possuía inúmeras oportunidades
para afastar-se dali e deixar aquele assunto para trás, mas o que lhe deixou
intrigado foi o comentário sobre Vlad. Luca o conhecia tanto quanto conhecia a
si mesmo e nunca o viu ajudar alguém se não pudesse tirar proveito da situação.
-Vlad, quero dizer, o Senhor Galli veio falar com ela após trazê-la? – viu o
médico assentir o que trouxe um sorriso a face de Luca – Acho que encontrei
uma solução para ela – tornou ao caminhar em direção a Luna, parou ao lado de
sua cama, mantendo uma distância segura. – Senhorita? – Luca a chamou ao
obter o silêncio como resposta, suspirou – Sou Luca, e vim lhe fazer uma oferta
– esperou alguns segundos, mas nada escutou e nem a viu se mexer – Sei que
está acordada pelo modo como a sua respiração está suspensa. Sei que deve estar
com medo de mim, mas não irei lhe tocar ou lhe fazer mal. Minhas palavras
também não devem conseguir lhe acalmar, entretanto vim lhe perguntar se deseja
se recuperar em um local mais calmo. O que acha? Estou lhe oferecendo um
lugar para ficar até que se recupere por completo. – Luca já estava ficando
frustrado diante do silencio dela – Trabalho para o homem, Vlad Galli, que lhe
trouxe. Tenho certeza que ele irá ficar contente, se aceitar.
Luca esperou ansioso por alguma resposta ou algum som que pudesse servir de
resposta a sua proposta, mas apenas a viu virar-se para ele exibindo um par de
olhos azuis. Os olhos mais claros que ele já havia visto antes. A encarou sem
palavras momentaneamente ofuscado por ela.
-Aceita? – Luca indagou ao se controlar, pois sabia que a última coisa que ela
iria desejar em sua vida, naquele momento ao menos, seria um homem lhe
olhando com lascívia. Luna o encarou por inúmeros minutos até recordar-se de
algo. Hesitante e relutante, ela assentiu, concordando. – Ótimo, irei falar com o
seu médico e logo estarei de volta para te buscar. – como resposta Luna apenas
voltou o seu rosto para a parede, olhando para o nada.
***
Em meio ao silencio perturbador, Vlad surgiu trazendo sorrisos discretos entre os
homens que estavam em pé de guarda. Todos encontravam-se em um velho
galpão afastado da cidade. O barulho da porta sendo aberta ocasionou temor ao
homem com uma venda no rosto, amarrado em uma cadeira e amordaçado. Com
passos lentos, sempre fazendo questão de fazer algum ruído, Vlad parou em
frente ao homem, retirando o pano que cobria os seus olhos em um único
movimento.
-Se está me vendo deve saber que este é o seu fim, não é? – o viu tremer ao
mesmo tempo em que balbuciava algo inaudível. –Devemos começar? – riu
graciosamente ao fazer um pequeno sinal para que um de seus homens se
aproximassem com um carrinho. Em cima do carrinho havia alguns alicates, um
martelo utilizado por médicos, algumas agulhas e diversos alfinetes. – Deve
estar se perguntando o motivo de eu ter escolhido objetos tão simples, não é?
Não se deixe enganar, eu sou muito bom no que faço – tornou sombrio ao retirar
a amordaça. Sorriu largamente ao escutar os gritos de desespero – Vamos
começar – apontou para um dos homens que trouxe consigo um balde cheio de
água e sal grosso – Isso é muito simples, mas a dor que sentirá, me deixará tão
feliz que não faz ideia. – segurou um dos alicates e posicionou próximo a um dos
dedos de sua mão, a qual estava presa – Irá me falar tudo o que quero saber?
-Sim, por Deus. Contarei tudo – falou tremendo.
-Ótimo – colocou o alicate em seu dedo indicador ao mesmo tempo em que o
sorriso brotava em sua face – Quem foi o mandante?
-Foi... o Senhor Donnel – o homem disse em meio ao desespero antes de sentir o
alicate em sua unha puxando-a lentamente – Eu estou falando... foi...-antes que
pudesse terminar de falar, seu gritou ecoou por todo o recinto.
-Eu acredito em você, apenas não gosto de delatores – deixou o alicate de lado,
pegou o balde com água e sal grosso – agora irá me falar... o que recebeu em
troca? O que foi tão importante para trocar pela família? – questionou com a
fúria em seu olhar. Apenas uma coisa poderia tirar Vlad Galli do sério: traição
cometida contra a família.
-Eles...eles estavam com a minha Jenny. A minha filha – falou com lagrimas nos
olhos pela dor que estava sentindo.
-E onde ela está agora? – Vlad indagou sério.
-Em casa – falou sem coerência e firmeza, o que fez o Galli sorrir.
-Claro que está – murmurou ao pegar o balde e despejar, um pouco, em sua mão.
O olhar de Vlad pousou no olhar assustado, nas lagrimas que caiam pelo rosto
do homem. Vlad deleitava-se em ver a dor alheia. – Vamos ser sinceros, o que
Donnel queria que descobrisse?
-Ele... queria os horários da chegada das cargas. Não sei mais de nada – revelou
por fim em meio a dor.
– Você fala muito facilmente, sabe como isso é frustrante? Podem terminar o
serviço – disse alto ao dar as costas. Caminhou em direção a saída escutando os
gritos de dor, entretanto não se importou, pois descobrira o que desejava.
Friamente olhou para o relógio em seu pulso e caminhou até o seu carro.
Destravou e ao entrar, o ligou e em seguida deu a partida. Por todo o caminho
nada lhe passou pela cabeça. Sua mente estava em branco assim como o seu
coração. Seus dedos deslizavam pelo volante como se relembrasse bons
momentos em que passara quando era pequeno. Pegou-se a tais lembranças até
estacionar o seu carro em frente à sua casa, uma hora depois.
***
As mãos tremulas de Luna percorreram a parede do cômodo em que se
encontrava. As cortinas fechadas davam asas ao seu temor e aos seus medos.
Seus passos não emitiam nenhum ruído naquele quarto. Ela sentia que não
existia apesar de sentir o seu coração batendo e o ar entrar e sair de seus
pulmões. Andou calmamente até chegar a janela e olhou para o céu. Ela não
sabia o motivo de ter aceitado a proposta do desconhecido, mas antes que
pudesse pensar racionalmente já encontrava-se no carro a caminho de uma casa
que em nenhum momento se atreveu a questionar onde era. Assim que
chegaram, Luca apenas a levou ao último quarto de um extenso corredor e lhe
garantira que tudo ficaria bem. Apesar de seu silencio, ele não insistiu para
conversar com ela, apenas sorriu antes de deixá-la sozinha. Por mais que Luna
tentasse fechar os olhos e adormecer, uma sensação de pânico e terror tomava
conta de seu corpo, sentindo-se segura apenas no escuro, pois sabia que poderia
ficar oculta. Oculta de uma forma que não conseguiu aquela noite.
-Quem é você? – uma voz masculina com sotaque surgiu em meio a escuridão.
Luna sentiu todo o medo brotar de si ao se virar lentamente ao mesmo tempo em
que fazia o possível para não gritar. Seu corpo tremia violentamente. Ela podia
sentir o seu coração bater de forma frenética ao sentir o olhar do desconhecido
sob si. Ela apenas o olhou sem conseguir pronunciar um único som. Ao escutar
os passos dele cada vez mais próximos de si, agachou-se no chão, enquanto
lagrimas desesperadas caiam pela sua face.
-Não – Luna murmurou incontáveis vezes a medida que o desespero tomava
conta de si.
Vlad estancou ao perceber a reação dela. Sua mão foi em direção ao interruptor
ficando sem reação ao reconhecer a mulher.
- Que faz aqui, Lune? – questionou ao abaixar o tom de voz. Percebeu frustrado
que o comportamento dela não se modificou. Ela continuava agachada ao chão
chorando de forma desesperada.
-Eu a trouxe – Luca informou ao surgir parado na porta olhando o desenrolar.
-E o que significa isso? – Vlad o indagou sem expressão – O que acha que está
fazendo?
-Estou tentando consertar as coisas – Luca respondeu antes de dar as costas e
afastar-se.

CAPITULO 4
Vlad passou a mão pelo seu cabelo tentando controlar-se diante daquela situação
adversa. Olhou para Luca com raiva, enquanto tentava compreender o que se
passou pela mente de seu consigliere. Eles estavam trancados no escritório de
Vlad.
-Ainda estou tentando compreender o motivo de ter trazido ela...essa mulher
para aqui. Como traz uma desconhecida para a minha casa? Perdeu o juízo? –
Vlad questionou ao encarar Luca, o qual mantinha-se impassível.
-Você a conheceu.
-Não a ponto de trazê-la para morar aqui, Che cosa passou pela sua cabeça?
[11]

-Não acredito que ela vá trazer algum problema, além do mais confio nela.
-Confia? – riu sem vontade ao encará-lo – só podemos confiar na família, Luca,
apenas na família.
-Eu sei, mas... acho que podemos confiar nela.
-Está sendo tão condescendente com ela, simplesmente, porque ela foi
violentada? Fará de minha casa um abrigo para mulheres violentadas? Luca,
Luca sabe o quanto prezo a nossa convivência, mas está indo longe demais, meu
amigo.
-Eu só estou pedindo um tempo, chefe. Um tempo para que ela se recupere –
Luca tornou calmo ao pedir. Entretanto observava cada ação de Vlad como se
estivesse tentando decifrar um complicado livro de enigmas. Vlad ponderou a
questão calmamente tentando não se recordar do episódio em que o fez perder a
calma.
A música embalava a todos que mexiam com o ritmo animado
na boate recém inaugurada. Rebeca, uma amiga que Luna conheceu
em seu emprego de meio período, puxou Luna para si ao mesmo tempo
em que abria caminho e sorriu ao parar e começar a dançar,
incentivando a sua amiga a fazer o mesmo. Luna sorriu ao ver o modo
como sua amiga mexia o seu corpo e logo deu de ombros, fazendo o
mesmo. Ambas dançavam de forma animada e descontraída até
Rebeca virar-se e logo percebeu que havia feito algo. Sentiu o seu
corpo grudar-se com de alguém e algo molhar a sua blusa. Seu olhar
ergueu-se lentamente para cima onde avistou um par de olhos verdes.
-Uau – murmurou impressionada ao mordiscar seu lábio
inferior – Você é lindo, a melhor coisa que fiz hoje foi trombar com
você. – Luna reparou na movimentação estranha que ocorria logo
atrás do homem com quem Rebeca havia trombado. O encarou
tentando se recordar de onde tinha o visto antes.
-Está foi a coisa mais infeliz que já me aconteceu durante toda
a minha vida – Vlad falou pausadamente as últimas palavras sério ao
olhar com asco para a mulher a sua frente. Virou-se praguejando em
italiano quando sentiu a mão de alguém em seu ombro, virou-se e
encarou a mulher que lhe causou tamanha infelicidade. – o que é? –
sua voz conseguia demonstrar a impaciência que sentia. Olhou para
outra mulher que segurava o braço da que lhe segurava – Deveria
escutá-la, pois estou sem paciência. – Rebeca tornou a insistir e Vlad
apenas bufou impaciente. Com um único gesto, puxou o seu braço
fazendo com que ela caísse no chão. Um grupo de pessoas parou de
dançar para olhar o que acontecia em sua volta, enquanto Luna
olhava tudo abismada. – O que queria? Dançar com alguém como eu
ou então algo a mais? Eu não me deito com prostitutas baratas como
você. Consegue compreender isso? – olhou para Luna com um sorriso
sem emoção – E ainda sujou a minha roupa – resmungou mal
humorado ao olhar para Luna – Você, já nos vimos antes? - Luna o
encarou perplexa por seu modo rude e tirano de tratar as pessoas. –
Estou fazendo uma pergunta, não escutou? – Vlad tornou impaciente.
-Se eu tivesse visto alguém como o senhor, certamente faria
questão de não me recordar – Luna respondeu ao abaixar-se para ver
como Rebeca estava, entretanto viu um sorriso em sua face.
-Então estou sendo rude comigo?
-Não estou falando com mais ninguém com exceção do senhor
– Luna rebateu ao encará-lo. Segurou no braço de Rebeca a fim de
ajudá-la a se levantar, mas percebeu, estranhamente, que isso era a
última coisa que ela pretendia. – Você está bem? – murmurou próxima
ao rosto de Rebeca quando sentiu alguém puxar o seu braço, levantou
os olhos e se deparou com o homem que havia insultado a sua amiga –
Me solte – bradou ao se debater. Por questões de segundos a luz
rebateu nos olhos de Vlad, o que fez Luna recordar-se de um par de
olhos verdes. – O que deseja? Me solte.
-Não ainda – a curiosidade começava a falar mais alto. Ele
tinha consciência que já tinha a visto antes, só não se recordara de
onde.
-Eu não terei nada com você, apenas me solte – Luna falou
impaciente ao puxar o seu braço, sem sucesso – Qual o seu problema?
Me largue de uma vez.
-Não até conversamos e você acalmar os meus ânimos afinal a
sua amiga me deixou extremamente raivoso.
-E o que tenho com isso?
-A dívida é dela, mas você irá pagar – tornou sério.
-Não irei, apenas me largue.
-Não deverias ser tão obstinada, apenas aceite e fique contente por...
-Está agindo como um monstro cheio de si – Luna argumentou ao vê-
lo parar e encará-la friamente.
-Um monstro?
–Sim, você é um monstro – Luna disse ao afastar-se dele – eu jamais,
irei ter algo com você. E sabe por quê? Porque sinto nojo e....- antes
de terminar escutou os risos dos homens atrás de si, esquecendo-se
momentaneamente com quem estava lidando. Ela sorriu, friamente,
fingindo estar segura de si – O que? Ainda vai insistir?
-Por mais que eu pense nisso esta situação me parece absurda – Vlad respondeu
minutos depois ao dar as costas a Luca – livre-se dela. – ordenou sério.
-Mas...
-Está com problemas em escutar minhas ordens ou apenas não quer cumpri-las?
Sei de homens que matariam, a sua própria família, para estar em seu lugar.
-Não estou afrontando-o, por favor, não entenda de forma errônea – Luca tornou
pausadamente.
-E o que está querendo que eu entenda? Que é coerente ter uma estranha
morando aqui?
-Ela...
-O fato dela ter sido violentada não muda que é uma estranha para mim e para a
família.
-Eu sei, chefe, entretanto porque não... podemos fechar os olhos para isso e
deixá-la aqui?
-Luca, Caro Luca, sempre soube deste seu lado humano e sensível – Vlad disse
ao virar-se e o encarar não demonstrando o que lhe passava pela cabeça – Mas
saiba que antes de tudo, o que deve vir a sua mente sou eu. O que eu mandar
deve acatar, compreende?
-Sim – assentiu cabisbaixo.
-Ótimo – disse ao olhar para ele – entretanto como foi leal a minha família e
agora a mim, eu irei concordar com este pedido absurdo. – Vlad olhou para o
sorriso de satisfação de Luca e não conseguiu evitar que sorrisse também –Se ela
fizer algum erro ou demonstrar, de alguma forma, que estava aqui sobre algum
pretexto, eu a matarei – avisou.
-Não há problemas – Luca tornou sorrindo. Vlad meneou a cabeça ao fazer um
gesto para que fosse deixado sozinho. Suspirou ao sentar-se em sua poltrona que
ficava próxima a janela, e fechou os olhos.
– Ela acabará me trazendo problemas – murmurou pensativo.
***
Os cinco homens mais fieis a Vlad encontravam-se em pé em seu escritório a
espera de suas ordens. Aquela havia sido a primeira reunião que Vlad pediu de
forma tão repentina e misteriosa. Luca era o único que já imaginava sobre o que
se tratava, entretanto permaneceu em silencio a espera do comunicado dele.
-Chamei vocês, pois são os únicos que possuem acesso a minha casa – Vlad
tornou sério ao olhar para Luca, o qual sorriu – A partir de hoje não será
permitido que entrem aqui sem que eu ou Luca esteja presente. Luca, trouxe para
minha casa, uma convidada problemática. Acredito que diante das circunstancias
dela, queria ficar longe de homens desconhecidos.
-Um momento Chefe – um homem disse sério diante dos olhares surpresos dos
demais. Deto era um homem magro com feições suaves capaz de matar uma
pessoa sem ninguém jamais encontrar o seu corpo – Está dizendo que não confia
em nós? Não confia nos seus cinco dedos da mão esquerda? – disse estupefato.
Cinco dedos da mão esquerda eram os cinco homens mais confiáveis de Vlad,
onde cada um deles representava a sua importância na hierarquia da família Vlad
e a mão esquerda por ser o lado que reflete a emoção, e neste caso a confiança.
-Nom, esta mulher foi violentada a poucas noites – disse sério. Vlad odiava se
explicar, entretanto sabia que naquela situação era necessário – Luca a trouxe e
agora estou limitando o acesso de minha família a minha casa – olhou para Luca,
o qual abaixou a cabeça sem jeito. – Estamos entendidos? – perguntou e ao vê-
los assentir, fez um sinal para que todos o deixassem sozinho. Suspirou ao
sentar-se na poltrona e encarar a porta fechada – Díos, terei muitos problemas –
percebeu ao fechar os olhos.
Deto fechou a porta da casa de Vlad com uma expressão confusa na face. Ele
não conseguia entender o motivo de seu chefe estar agindo daquela forma.
-Ele não confia em nós, Luca? – perguntou ao olhar para o braço direito de Vlad.
-Ele apenas está tentando proteger a jovem – explicou calmo, já que prudência
nunca fora o forte de Deto.
-Desde quando Vlad Galli tem sentimentos como...proteção para com alguém? –
Cosimo, um mediador de mercadorias, o segundo homem em importância na
hierarquia.
-Ele não tem, vamos esperar e aguardar as próximas instruções – Luca tornou ao
pensar em tudo que acontecera. Por mais que ele conhecesse Vlad e soubesse
contorna-lo jamais imaginou que conseguiria deixa-la naquela casa. – Conseguiu
deixar tudo pronto para a chegada da mercadoria da suíça? – Luca perguntou a
Cosimo que sorriu confiante.
-Nada dará errado – prometeu diante da preparação que fizera. Por todo o cais
haviam capangas bem armados à espera do carregamento e o informante na
polícia não informa nada naquela região aquele dia. – Não teremos nenhum
problema. – Luca assentiu feliz por isso. Ele odiaria ter que contar que cometera
algum erro quando Vlad fizera a sua vontade.
***
O corpo de Luna ainda tremia após a saída de Vlad do quarto aonde estava
acompanhado pelo homem que lhe levara do hospital. Suas mãos tremiam
violentamente, seu coração batia descompassado ao erguer os olhos minutos
depois, após suas lagrimas secarem e seu terror sumir. Ela ainda estava
apavorada. Deixou o seu corpo cair no chão ainda enfraquecida pelo que
acontecera a pouco tempo. Luna não sabia dizer a quanto tempo permaneceu
sentada no chão olhando para o nada quando avistou um par de sapatos negros
na porta, ergueu o olhar temendo encontrar o homem que a assombrava em seus
sonhos, e quando seus olhos se depararam com o homem que lhe salvou, ficou
sem palavras. Vlad apenas encarou a jovem desesperada sem expressão, se ele
fosse sincero consigo não saberia dizer o motivo de ter ido até ela. Olharam-se
por longos minutos sem desviarem o olhar até Luna sentir as lagrimas surgirem
em seus olhos. Vlad não esboçou nenhuma emoção afinal nada sentia ao ver a
mulher a sua frente se desesperar sem motivo. Ele não conseguia compreender
seus motivos, assim como nunca conseguiu simpatizar com os sentimentos
alheios com o tempo apenas aprendeu a conviver com a sua frieza e com as
emoções alheias, entretanto não sabia lidar com Luna.
-O que... fará comigo? – Luna perguntou com um fio de voz. Seu corpo tremia
apenas ao sentir o olhar dele em seu corpo.
-Nada – respondeu frio ainda olhando para ela sem expressão – Luca conseguiu
para que ficasse aqui, mas não significa que será minha hospede. Ficará aqui até
quando eu quiser, ou Luca neste caso, e enquanto isso arrumará toda a casa,
entendeu?
-Serei a sua empregada – murmurou aliviada ao perceber que ele não desejava o
seu corpo – Como alguém poderia depois daquilo? Sentiu o seu coração apertar-
se ao perceber a verdade. Para Luna nenhum homem a desejaria ou a veria com
decência após o estupro, nem ela mesma se via como um ser humano após isso,
se fosse sincera consigo. A cada vez que passava em frente a algum espelho
repudiava o seu próprio corpo, o seu rosto e a si mesma.
-Chame como quiser. – disse antes de dar as costas a ela, mas parou no vão da
porta ao escutar a voz tímida dela.
-Meu nome é Luna – tornou com a voz baixa. Vlad não esboçou nada ao ignorá-
la e afastar-se rapidamente. Luna sorriu com as lagrimas caindo pelo seu rosto ao
perceber que não fazia ideia do motivo de estar ali na realidade.

CAPITULO 5
O frio que fazia naquela noite de outono deixou todos os homens apreensivos ao
esperar o navio cargueiro atracar no cais abandonado. Os homens de Vlad Galli
encontravam-se a postos armados a espera de todo tipo de situação, e entre eles
podia-se ver Cosimo, um homem jovem com cabelos longos loiros, olhos claros
e uma luva marrom em uma, única mão. Ele era o homem de confiança de Vlad
para qualquer mediação de mercadoria, ainda mais as quais valiam milhões
como aquela que chegaria a qualquer momento. Cosimo olhou em volta,
enquanto mantinha-se agachado acompanhado por mais três homens atrás de um
container. Havia atiradores posicionados e o seu celular encontrava-se ligado
para qualquer informação de seu informante na polícia.
Nada daria errado.
Antes de dar meia noite, avistou uma luz ao longe acender e apagar três vezes,
sorriu confiante ao sair do esconderijo e coordenar os homens. O navio havia
chegado. Em poucos minutos o navio intitulado El Mar atracou, e dele saíram
homens carregando diversas caixas, apagou o cigarro e caminhou acompanhado
por um dos homens até o capitão do navio, um homem velho com um sorriso
falso estampado. Nada disseram ao parar em frente ao outro, duas maletas foram
colocadas em frente ao capitão, enquanto o mesmo abriu uma das caixas.
Conferiram e se despediram em seguida. O carregamento de armas havia sido
bem sucedido e nada poderia estragar aquela noite festiva para os capangas de
Galli.
***
O escritório de Galli permanecia na penumbra à espera da ligação de Cosimo.
Vlad sabia que a probabilidade de algo dar errado era mínima, mas infelizmente
imprevistos aconteciam, e ele não poderia dar margem ao azar. Não na posição
em que estava. Se aquela negociação falhasse ele teria que entrar em contato
com os Galli, e isso ele não desejava. Enquanto pensava nas próximas transições
escutou o seu telefone tocar, e ao atender sorriu satisfeito. Desligou poucos
segundos depois sentindo o seu corpo relaxado. Levantou-se de sua cadeira e se
pôs a caminhar pelo escritório até parar em frente à janela. Ficou vislumbrando o
seu jardim e a rua movimentada. Vlad permaneceu em silêncio apenas
apreciando a vista quando escutou um barulho vindo da sala, sem demonstrar
nada, sacou a arma que estava presa em sua calça e foi para sala silenciosamente.
O corpo de Vlad esgueirava-se pela casa com maestria apesar do pouco barulho
que fazia. Seus olhos captaram todos os objetos e lugares da casa por onde
passava tentando identificar algo diferente neles, mas nada percebeu. A medida
que se aproximava da cozinha escutava um barulho estranho, segurou a arma
com mais firmeza e assim que parou em frente a porta, olhou para a cena a sua
frente confuso. Luna encontrava-se encolhida no canto da cozinha com os olhos
apavorados, enquanto na sua frente Fred, um de seus seguranças que costumava
entrar em sua casa para comer naquele horário todos os dias, olhava frio para a
mulher desesperada a sua frente. Vlad guardou a arma e suspirou ao perceber o
problema em que Luca havia lhe entregado. Um problema que ele não fazia
questão alguma de ter em sua vida.
-Fred, s'il vous plaît , saia – Vlad tornou sério olhando para Luna que mantinha
[12]

seus braços em frente ao seu corpo. O Segurança assentiu e sem perguntas saiu
deixando-os a sós. – Se demonstrar esse desespero para todos os homens que vir,
é melhor não sair do quarto – Vlad se viu falando sem importar-se com os
sentimentos dela – Nesta casa vive entrando e saindo homens. Não tenho opções
quanto a deixa-la aqui, já que prometi a família que ficaria, mas não irei tolerar
isso. Esta é a minha casa e eles são a minha família, é patético demais ter que
restringir a entrada deles aqui por sua causa. – Vlad disse olhando duro para ela
e não estranhou vê-la chorar em sua frente. Deu de ombros ao dar as costas a ela,
mas antes que saísse do quarto escutou um barulho estranho e ao se virar a viu
caída no chão, desmaiada. – Luca, terá que me pagar muito caro por tudo isso –
Vlad murmurou ao parar ao lado do corpo dela. Com facilidade agachou-se no
chão e a ergueu em seus braços. – Não parece a mesma jovem que me enfrentou
naquela boate.
***
O corpo de Luna remexeu-se nervosamente na cama, sua respiração ofegante e o
suor em sua testa denunciavam o terror que passava em seus sonhos. Na porta do
quarto um homem a olhava com compaixão e um olhar entristecido por ela. Luca
levou a mão ao crucifico que trazia no pescoço e perguntou-se o que uma mulher
poderia ter feito para ser tratada daquela forma. Ninguém sabia que o
Consigliere de Vlad já possuirá uma irmã quando mais novo, e a viu ser
violentada e morrer cada dia que passava em sua frente, e ele impotente sem ter
o que fazer. Luca via em Luna a sua irmã e uma possível vida para Vlad. Desde
que viviam juntos aprendeu a lidar, a conhece-lo e a gostar de Vlad como um
irmão e como tal desejava que ele fosse feliz, e vivesse para alguém que não
fosse para si próprio. Ao saber que Vlad demonstrara curiosidade sobre Luna viu
nisso uma oportunidade para mudar a vida dele. Respirou fundo ao caminhar
com cuidado para dentro do quarto, pegar o lençol que estava no pé da cama e a
cobrir. A fitou por alguns segundos antes de sentir um olhar em suas costas.
Mudou a sua expressão para a mais fria possível ao virar-se, se deparando com
Vlad. O cumprimento em silencio se pondo a caminhar para a porta, ao passar
pelo seu chefe o ouviu falar baixo.
-O que pretende ao trazê-la aqui? – Vlad perguntou frio mantendo a sua
curiosidade no interior.
-Nada, apenas uma mudança – Luca respondeu antes de afastar-se. Vlad
continuou parado no vão da porta por alguns minutos. Seus olhos captaram o
sofrimento da jovem deitada, e o seu choro silencioso. Não era difícil distinguir
o terror que ela passara em seus sonhos. Deu as costas confuso com a sua
curiosidade sob ela se dirigindo até o seu quarto, aonde se trancou.
Os olhos de Luna abriram-se apesar da escuridão e do silencio. Percebeu que seu
quarto encontrava-se com a porta fechada e as persianas igualmente fechadas.
Ela não sabia que horas eram, e sinceramente, não lhe importava. Ela não tinha
razões para se levantar ou abrir os olhos todas as manhãs. Ainda sentia-se suja,
nojenta e infeliz. Não havia nada que pudesse fazê-la mudar de ideia. Todas as
noites se recordava da voz do homem, dele a ameaçando, da faca em seu
pescoço e dele dentro de si. Todas as noites gritava e implorava para que tudo
acabasse e todas as noites percebia que não seria possível. Ela queria apagar
todas as lembranças. Todas que a fazia gritar a noite. Fechou os olhos com força
ao sentir as lagrimas inundarem seus olhos, lagrimas que pareciam
intermináveis. Colocou os pés no chão e caminhou lentamente para o pequeno
banheiro que tinha no quarto. Olhou-se no espelho fazendo um esforço para não
vomitar diante de sua imagem. Ela sentia-se cada vez pior, mas ao ver a sua
imagem só conseguia enxergar uma jovem com boa aparência. Luna se
questionava o quão fria ela poderia ser para se manter com a face daquela forma
apesar de sentir-se morta por dentro. Reprimiu um grito que teimava em escapar
de sua garganta, e cega pela sua própria dor se viu socando o espelho a sua
frente. O sangue escorria pela sua mão caindo na pia. Um sorriso triste brotou
em seus lábios assim como as lagrimas surgiam em seus olhos. O que mais lhe
doía não era a dor do que acabara de fazer, mas a dor de saber que jamais
poderia ser ela mesma. Ajoelhou-se no chão mantendo a sua mão no chão, sem
importar-se com nada. Fechou os olhos deixando-se entregue ao desespero.
***
Luca vagou pela casa de Vlad até se ver parado em frente ao quarto de Luna. Se
ele fosse sincero diria a si mesmo que estava exagerando, pois sabia que ela não
era a sua irmã, entretanto não conseguia manter-se inexpressivo ou quieto diante
de seu sofrimento. Com cuidado abriu a porta do quarto, e ao entrar estranhou o
silencio. Olhou para os lados até perceber a porta do banheiro aberta. Ele já
estava indo embora quando escutou o choro dela. Seus passos silenciosos se
dirigiram até o banheiro e parou assim que a viu no chão com a mão sangrando.
Cuidadosamente se aproximou dela transparecendo calma, se ajoelhou em sua
frente, erguendo a sua mão em direção a ela.
-Eu não irei lhe fazer nada – Luca disse calmo ao abaixar a mão. Seus olhos
percorreram o chão do banheiro e em seguida focou-se nela. Viu seu corpo
tremer e o medo exalar por seus poros. Esboçou um sorriso cálido ao pegar na
mão machucada de Luna apesar de seus protestos, com gentileza a ergueu e
colocou a sua mão embaixo da agua corrente da pia. Ele a escutou gemer e
chorar silenciosamente. Em seu pensamento apenas a imagem de sua irmã
surgia. Ele desejava voltar no tempo e ajuda-la daquela forma. – Não deveria
fazer isso – Luca se viu falando em tom de repreensão ao limpar o ferimento
com cuidado ao mesmo tempo em que lutava contra a resistência dela – O nosso
corpo... é um bem importante. Do que adianta estarmos vivos se continuamos a
nos machucar?
-Eu nunca pedi para continuar viva – Luna respondeu com a voz baixa sem saber
o motivo de fazê-lo. No mesmo instante em que pronunciou tais palavras sentiu
a dor em sua mão, pois Luca a apertava com força. Ela o encarou com medo e
avistou em seus olhos dor. Em seu coração sentiu que deveria se desculpar, mas
pelo que ela deveria se desculpar?
-Por mais que a dor seja grande devemos viver – Luca disse sério antes de soltar
a mão dela e afastar-se – Pedirei para alguém ver esse machucado – a sua voz
denunciava o seu contragosto e a raiva que o consumia. Sem mais nada a dizer
deu as costas a Luna e afastou-se rapidamente sufocando todas as palavras que
vinha em sua mente.
Luca proferiu todos os impropérios que veio a sua mente assim que deixou o
quarto de Luna. Recriminou-se pela falta de paciência apesar de conhecer tudo
pelo que ela passara. O que mais lhe atormentava era pensar que sua irmã
pensara tudo aquilo e ele não estivera ao seu lado para cuidar dela.
-Mas eu irei cuidar de você, Luna – prometeu a si mesmo ao ir para a cozinha,
pegar o seu aparelho celular e discar para um número conhecido.
***
Vlad odiava o barulho em sua casa ainda mais após as oito da noite. Com um
semblante taciturno se viu saindo de seu quarto e indo em direção ao barulho,
assim que chegou a sala de estar estancou diante do que via. A jovem com
cabelos loiros que Luca levou para a sua casa encontrava-se sentada no sofá, em
sua frente a jovem medica responsável por ele cuidava de um ferimento em sua
mão e Luca permanecia em pé, ao lado delas, observando tudo com
preocupação.
-Isso só pode ser brincadeira – Vlad Galli se viu falando sozinho. Olhou para a
cena mais uma vez imaginando que estivesse tendo alucinações, mas percebeu
ser realidade. – O que diabos está acontecendo na minha casa? – perguntou com
a voz calma, mas assim que Luca o olhou soube da raiva que transbordava do
seu chefe. A medica que aplicava os primeiros socorros em Luna mal olhou para
Vlad, pois ela era uma protegida daquela família. Havia sido criada como uma
prima de Vlad e assim que perceberam seu gosto para cuidar das pessoas a
ajudaram a entrar em uma boa faculdade de medicina, e agora ela apenas devia
cuidar da família, sem perguntas.
-Estou cuidando dela, não percebeu Vlad? – a medica disse em seu tom
ponderado antes de olhar de soslaio e ver Vlad esboçar descontentamento
através de sua sobrancelha que fora erguida apenas no lado esquerdo – Ela está
ferida, o que espera que eu faça? Se for leva-la para um hospital... bem, poderia
ser complicado para você – mentiu. Ninguém com o histórico de Luna seria
bombardeada de perguntas, não com aquele tipo de ferimento. Ela
provavelmente seria acompanhada por um médico psiquiatra. – Precisa ir para
um hospital? – a medica perguntou a Luna olhando em seus olhos.
-Não, obrigada – respondeu baixo envergonhada por tudo – Foi... um acidente.
-Sempre é – a medica murmurou com o olhar de simpatia antes de continuar a
limpar o ferimento e enfaixa-lo. Virou-se para Luca e o olhou seriamente –
Cuide dela e espero que isso não aconteça novamente.
-Não irá – Luca prometeu sério.
-Ótimo que estão se entendendo, mas o que está acontecendo aqui, Luca? – Vlad
olhou seriamente para Luna e em seguida para o seu Consigliere, o qual abaixou
a cabeça envergonhado. Ele não desejava admitir a culpa e a vergonha.
-Ela feriu a mão com o espelho, chamei a doutora e....
-Já entendi – Vlad murmurou inquieto – Venha ao meu escritório – deu as costas
as duas mulheres voltando a se refugiar em seu escritório. Assim que entrou, não
demorou dois minutos para Luca estar parado atrás de si – Feche a porta –
escutou o barulho do tranco e se virou para encará-lo – Eu lhe disse que não dará
certo.
-Foi um acidente.
-Ela continuará me dando problemas. Ela não poderá permanecer aqui.
-Vlad, por nossa amizade, deixe-a ficar.
-Ficar para arrumar a casa? Acredite, não preciso de empregadas, já tenho o
suficiente. Como espera que ela pague a moradia se tem medo de todos os
homens? Estou curioso, pois deve imaginar que ela ficará aqui de graça?
-Eu pagarei - falou firme atraindo um sorriso de Vlad. Um sorriso frio.
-Sabe que sou um homem de negócios, não é? – olhou frio para Luca – se ela
fizer o que eu mandar, não terá problemas em ficar aqui.
-E o que seria?
-O que imagina? – sorriu diabolicamente ao cruzar os braços em frente ao seu
corpo – Se ela quiser ficar aqui terá que entrar para a família.
-Como assim? – Luca perguntou confuso – Irá manda-la...
-Ela terá que levar um carregamento, pequeno, de drogas. Se conseguir, ela fica,
se não ela partirá.
Luca engoliu em seco antes que pudesse processar as palavras de Vlad. O seu
chefe estava enviando a sua protegida para a prisão de forma deliberada.

CAPITULO 6
Luca mantinha seu olhar incrédulo ao olhar para Vlad ainda perplexo por ele
estar propondo aquilo para a jovem Luna, a sua protegida. Ele mais do que
ninguém sabia o quanto aquilo seria perigoso ainda mais para alguém que jamais
teve contato com o mundo deles. Um mundo sujo e perverso. Luca tinha
consciência que Vlad queria ter certeza sobre uma possível lealdade dela, mas
aquele seria um teste muito cruel.
-Esse tipo de teste é cruel demais – Luca ponderou aparentando calma, pois
sabia que tinha que medir todas as suas palavras para falar com Vlad.
-Cruel será se ela nos delatar. Sabe o quanto prezo a minha privacidade e
segurança. Vivemos em um mundo onde não podemos confiar em ninguém,
apenas na família, Luca. Não se esqueça disso. O fato dela ser mulher não a
isenta de ser uma ameaça.
Aquela afirmação tinha todos os contextos para ser verdadeira, mas Luca sabia
que ela não representava uma ameaça, pelo menos era nisso que queria acreditar.
-Se é assim que deseja, Vlad, não há nada que posso fazer – resignou-se por fim
após pensar em todas as suas alternativas – Mas, você irá falar com ela.
-Sí, Não vejo problema nisso – concordou tranquilo. – Eu mostrarei a Lune o
lugar dela nesta família.
Luca assentiu em silencio antes de sair do escritório de Vlad. Ele não fazia ideia
de como ajudar a sua protegida naquela situação. Aquela noite, ele não ficaria
vigiando o quarto de Luna, pois sua mente encontrava-se conturbada demais. Ele
precisava de um plano.
Vlad permaneceu sentado em sua poltrona por longos minutos após a saída de
Luca de seu escritório. A escuridão começava a tomar conta de todo o cômodo,
mas não se importou. Por mais que Luca continuasse a implorar para poupar
Luna, Vlad sabia que aquela seria a melhor alternativa. Ele não iria colocar a sua
família em perigo.
Ergueu-se decidido a informar sobre a missão dela naquele momento, já que a
qualquer momento seu consigliere poderia aparecer com alguma ideia que
excluísse Luna, e isso ele não queria. Vlad desejava ver até onde Luna estava
disposta a ir. Seus passos silenciosos não o denunciavam. Andou por todo o
caminho até o quarto de Luna com uma expressão indecifrável na face. Ao parar
na porta esperou para escutar algum barulho que ela estivesse acordada,
entretanto nada escutou. Já estava virando as costas e retornando para o seu
escritório quando viu a luz se acender por de baixo da porta. Bateu na porta sem
nada dizer, e mesmo assim escutou a voz fraca dela permitindo a sua entrada.
***
Luna olhou para a sua mão enfaixada e suspirou longamente ao perceber que a
dor que sentira não a ajudou como imaginara. Por um segundo Luna imaginou
que aquela dor fosse apaziguar a dor que sentia, mas não, apenas piorou. Nada
em sua vida estava como havia imaginado a alguns meses.
-E ainda estou morando com um completo desconhecido – se viu falando ao
olhar para a porta fechada. Fechou os olhos tentando sentir aquela dor como uma
libertação, entretanto em sua mente apenas surgia a expressão fria de Vlad.
Antes que pudesse continuar com a sua imaginação, uma batida na porta a fez
voltar a razão – Pode entrar – disse sem vontade e assim que a porta foi aberta, o
olhar de Luna permaneceu congelado no homem a sua frente. A vontade de
gritar já começava a brotar de seu íntimo, mas ela resistiu ao ver o olhar frio de
Vlad.
Vlad não sentia nenhuma compaixão ao olhar para Luna, a qual mantinha a sua
mão enfaixada em seu colo. Ele não conseguia sentir nada em relação a alguém
fraca como ela, alguém que, para ele, desistia facilmente da vida.
-O que veio fazer aqui? – Luna perguntou com a voz fraca.
-Vim dizer sobre o seu trabalho – Vlad falou frio ainda permanecendo no lado de
fora do quarto.
-Trabalho?
-Sim, para continuar aqui você tem que fazer um, pequeno, trabalho – ao dizer
isso observou as reações no rosto dela.
-Como assim? Eu deveria arrumar a casa. – murmurou com o olhar perdido e
sem perceber abraçou o seu próprio corpo em um sinal de defesa, sinal este que
não passou despercebido para Vlad, o qual ergueu a sobrancelha.
-Ninguém deseja o seu corpo, se é esse o seu medo. Para ficar nesta casa precisa
entregar uma coisa.
O modo duro com que Vlad disse a Luna a fez sorrir levemente de uma forma
triste ao perceber que ele tinha razão. Para ela, ninguém mais poderia amá-la ou
sentir algo que não fosse nojo ao olhar para o seu corpo. Para Luna, o seu corpo
era algo desnecessário e alvo de piedade.
-Sim, você tem razão – murmurou com o olhar baixo antes de o encarar –
Entregar o que?
-Você saberá – Vlad tornou evasivo – Vá até a sala daqui a trinta minutos e tudo
será esclarecido. – deu as costas a ela antes que fosse feita alguma pergunta.
Deixou a porta aberta, e como esperava escutou a porta ser fechada segundos
depois.
Luna deixou a mão na maçaneta da porta ao trancá-la e perguntou-se nervosa o
que ele gostaria dela.
Trinta minutos depois, Luna saiu de seu quarto com o olhar temeroso. Andou
silenciosamente pela casa até chegar a sala, onde avistou Vlad sentado na
poltrona com as pernas cruzadas e dois homens ao seu lado, em pé. Em frente a
eles havia um pacote em cima da mesa de centro. Um dos homens, ela conhecia
como Luca, enquanto o outro ela nunca virá antes. Ele aparentava ser jovem,
mas o seu rosto possuía um olhar frio e sem alma.
-Bem na hora - Vlad comentou assim que a viu. Permaneceu sentado na poltrona
ao vê-la parar a alguns centímetros de si. Apontou para o sofá ao lado dela, e a
viu sentar-se a contragosto. – Ninguém dá nada de graça, sabe disso, não é
Lune? – ele a viu assentir com medo – E não sou exceção. Não irei fornecer
abrigo gratuitamente. Não sou obra de caridade – Vlad ignorou o riso que
teimava em surgir na face de Cosimo.
Cosimo ainda não acreditava que em sua frente estava a hospede misteriosa de
Vlad, e que encontrava-se ali para garantir que a mercadoria fosse entregue por
ela sem problemas.
-Esse pacote a sua frente contem drogas, não precisamos ser específicos quanto
ao tipo – Vlad continuou a falar friamente ao perceber a reação de surpresa dela
– Irá entregar esse pacote a um de meus traficantes, se conseguir fazer isso sem
ser pega pela polícia ou arruinar tudo, poderá ficar aqui.
Luna sentiu o seu corpo tremer ao perceber que ele não estava mentindo ou
brincando com ela. Seu olhar foi em direção ao pacote lacrado e em seguida para
Vlad e os dois homens. Olhou para Luca como se buscasse por ajuda, mas
apenas avistou o seu olhar costumeiro.
-Isso... é verdade? – ela perguntou ao fixar o seu olhar no pacote lacrado – Isso
é....
-Sim, são drogas. – Vlad afirmou – Não acredito que desconheça a minha fama.
Sou Vlad Galli, um exímio construtor e mafioso, não é assim que se referem a
mim? Se entregar este pacote poderá ficar aqui por quanto tempo quiser ou for
necessário, se não, terá que sair – tornou com o olhar firme – o que decidirá?
-Se eu não quiser entregar isso, poderei ir embora facilmente? – perguntou o que
tanto temia. Em seu íntimo, Luna sentia medo da morte apesar de se sentir
tentada a acabar com o seu sofrimento.
-Porque não? – Vlad respondeu com um sorriso enigmático – Você será livre
para sair.
Algo em sua frase fez Luna sentir um arrepio frio. Ela tinha consciência que
deveria recusar e simplesmente ir embora, mas se viu concordando em silencio.
-Aceita?
-Sim – respondeu baixo ao olhar para o chão – Aceito entregar a droga.
-Ótimo – Vlad disse friamente com o olhar duro ao se levantar – Cosimo –
apontou para o homem parado ao seu lado – Irá te falar aonde ir e para quem
entregar. Luca, venha comigo – sua voz extremamente fria, fez Luna se assustar
e olhar para ele se afastar da sala acompanhado por Luca. Em poucos segundos
se viu sozinha com o desconhecido.
-Sou o Cosimo – o homem disse com um sorriso na face. Ele percebeu o modo
como Luna abaixou a cabeça e como seu corpo tremeu em resposta – Não
precisa ter medo de mim, não faço nada que Vlad não me diga para fazer – disse
tentando a tranquilizar – Vai mesmo fazer isso? A entrega.
-Vou – Luna respondeu sem encará-lo.
-Por que? – perguntou curioso. Cosimo possuía uma inteligência para estratégias
acima de média e sua curiosidade conseguia ser superior.
-Porque não tenho para aonde voltar – respondeu erguendo o olhar lentamente.
Cosimo não tinha reparado no quão claro eram os olhos dela, e se viu surpreso.
-Certo – murmurou ao pigarrear sem jeito – Esta mercadoria terá que ser
entregue hoje à noite. Irá levar para um restaurante chinês e quando chegar lá
verá um homem sentado em uma mesa, a de número 16. Colocará o pacote em
cima da mesa, ele irá lhe entregar uma mochila e você irá pegá-la e vir embora.
Entendeu?
-Acho que sim – Luna gaguejou ao ver até onde estava disposta a ir.
-Ótimo, está pronta para ir?
-Agora?
-Claro – falou animado ao vê-la hesitar antes de se levantar – Você pega o
pacote, assim vai se acostumando com a ideia – para Cosimo aquela situação
conseguia ser mais pitoresca de quando entrara para a máfia da família Galli. Ele
observou Luna se levantar sem vontade, ou coragem, e pegar o pacote quadrado
com as mãos tremulas – Não se preocupe, depois fica mais fácil – garantiu com
um sorriso sem ver a face de horror dela.
***
Vlad entrou em seu escritório e sem ascender a luz sentou-se em sua cadeira
ficando olhando para a janela com o olhar pensativo.
-Ela irá mesmo? – Luca perguntou logo atrás de Vlad – Ela realmente tem que
fazer isso?
-Sim – disse polido – mas não acha estranho ela ter aceito isso? Quem aceitaria
tão facilmente cometer um crime?
Luca ficou em silencio, talvez por pensar o mesmo que seu chefe. Aquela era a
primeira vez em que vira alguém aceitar tão facilmente entregar drogas ainda
mais sem motivo. Ela não precisou ser forçada ou coagida.
-Talvez não queira ficar sozinha – Luca ponderou como sempre fizera.
-Ela esconde alguma coisa. – disse por fim.
-Quer que eu descubra?
-Não, será divertido descobrir sozinho – disse sem perceber o sorriso que surgiu
na face de Luca.
Não demorou tanto quanto imaginei, Luca pensou ao ver o brilho de curiosidade
nos olhos de Vlad. Um brilho que a anos não via nos olhos de seu chefe.

CAPITULO 7
Cosimo sentou-se atrás do volante de seu carro preto mantendo o semblante
sério. Luna mantinha-se sentada ao seu lado em silencio, sem esboçar nenhuma
reação, deixando-o apreensivo.
-Isso... será perigoso? – Luna se viu perguntando ao segurar com força o cinto de
segurança. O pacote com drogas encontrava-se repousado em suas pernas, e seu
olhar mantinha-se fixo no mesmo.
-Não, já fiz coisas mais perigosas – se viu responsando ao parar em um sinal
vermelho. Cosimo viu o seu reflexo no vidro do carro, e sorriu ao ver seus
cabelos loiros e seu rosto juvenil. Ele havia entrado para a família Galli quando
tinha sete anos de idade. Seus pais o haviam trocado por drogas, e sem perceber
Cosimo se viu entrando nesse mundo. A família Galli o acolheu por alguns dias
e já estavam prestes a leva-lo a alguma instituição quando descobriram seu
talento para estratégias desde pequeno. Cosimo sabia que ele poderia odiar
aquela família e se vingar deles, entretanto ao entrar para a máfia se viu em uma
família. Uma família que nunca tivera. Seu olhar voltou-se de relance para a
mulher amedrontada ao seu lado, Cosimo não conseguia entender o motivo de
Vlad desejar trazê-la para a família, mas não deveria ser contra ele.
O silencio permaneceu no veículo até Luna perceber que o carro estava
estacionando em uma rua deserta próxima a uma rua com restaurantes chineses.
-É aqui a sua parada – Cosimo falou calmo ao olhar para ela – Já sabe o que
fazer, não é?
-Já – murmurou fraca ao acuar o corpo deixando-o colado a porta.
-Agindo assim fica parecendo que estou prestes a te agarrar – disse com
repugnância ao imaginar tal ato. Cosimo poderia ser um bandido, mas respeitava
as mulheres acima de tudo – Não sou um verme, nunca irei te agarrar, pode ter
certeza que estará protegida ao meu lado assim como ao lado de Luca –
assegurou seriamente. Pigarreou para disfarçar o desconforto dela – Está
olhando para aquele restaurante chinês com a frente em vermelho? – a viu
assentir em silencio – É ali que deverá entrar. O homem que estará lhe esperando
deve ter uns trinta anos, usa um casaco velho na cor verde. Não será difícil acha-
lo – completou com um sorriso estranho. – Pode ir.
Luna concordou ao tirar o cinto de segurança com lentidão. Não passou
despercebido as mãos tremulas da jovem para Cosimo. Ela segurou o pacote ao
mesmo tempo em que saia do carro ainda incerta sobre o que fazia de sua vida.
Seu medo de ser pega pela polícia conseguia ser igual, ou superior, ao seu medo
dos homens. Abraçou o pacote marrom com força ao avançar pela rua e entrar
no restaurante chinês. O cheiro de peixe impregnou suas narinas. Seus olhos
voltaram-se para os clientes e se surpreendeu ao ver apenas três pessoas. Dois
homens sentados juntos em uma mesa afastada e um homem de cabeça baixa
sentado logo no fundo. O observou e não demorou para ver o seu casaco verde,
surrado, repousado em uma cadeira ao seu lado. Respirou fundo muitas vezes
antes de seguir até onde ele estava, andou sentindo o medo cada vez mais forte.
-Você... é.... – murmurou confusa ao parar próxima a mesa dele – Eu sou...
-Pode deixar em cima da mesa – falou sem a olhar – e pegue a mochila que está
no chão. Faça rápido – aconselhou com a voz rouca e sombria. Luna ficou
parada alguns segundos antes de assentir e deixar o pacote na mesa, se abaixar e
pegar a mochila, mas antes de dar as costas ao homem que desejava nunca mais
ver em sua vida, disse o que vinha em sua mente – Não deveria continuar com
isso... é perigoso demais.
-E o que uma avião , poderia saber?
[13]

-Avião? – Luna indagou sem perceber a movimentação do lado de fora.


-É melhor ir embora, a polícia chegou – o homem falou ao se levantar com
calma, pegar o pacote e erguer o seu olhar pela primeira vez – Até que você é
bonita, se desistir de entregar drogas e quiser ganhar mais, basta me procurar. É
melhor ir embora pelos fundos – após dizer isso caminhou lentamente para o
fundo do restaurante, se virou e a viu ainda parada – Ande logo! - gritou e
somente então a viu se mover com receio. Meneou a cabeça incrédulo com ela.
Ele não conseguia acreditar que alguém tão inexperiente estava entregando as
drogas que alimentavam duas quadras importantes daquela rua. Eles seguiram
para a cozinha, e como se fossem fantasmas andaram em meio aos funcionários
do restaurante, sentiram o calor dos fogões, o cheiro de peixe cada vez mais forte
até verem uma porta. Ele abriu a porta, saiu e esperou por ela no lado de fora. Na
luz do sol, ele percebeu o quanto ela era bonita – Tome cuidado ao ir para casa –
disse antes de dar de ombros diante de seu silencio e seguir para o seu caminho.
Luna sentiu o seu coração bater cada vez mais forte ao ver o homem afastar-se
de si. Suas pernas fraquejaram, e sem perceber se viu ajoelhada no chão com as
mãos agarradas com força na alça da mochila. Sua razão lhe dizia para sair dali,
mas seu corpo não a obedecia. Um barulho ao longe a fez olhar para a esquerda,
e logo viu o mesmo carro que chegou. Cosimo estava a esperando. Com as
pernas ainda tremulas, levantou-se e se viu andando até o carro. Aquela distância
que fora tão pouca lhe parecera uma eternidade.
-Segurem ela – um grito atrás de si a fez correr em direção ao carro. Luna não
virou-se para saber quem a perseguia, mas apenas correu em direção ao carro.
Assim que estava próxima a ele, Cosimo abriu a porta, ela entrou e rapidamente
ele arrasou e somente então ela olhou pelo retrovisor. Dois policias olhavam com
raiva para o carro que se afastava.
-Até que não foi ruim para uma novata – Cosimo elogiou sorrindo.
-Isso... é loucura – Luna falou pasma consigo mesma – Isso é....
-Insano, eu sei – Cosimo se viu falando após se deleitar com o som de sua voz.
Luna calou-se e ficou olhando o caminho que percorriam. Tudo lhe era familiar e
ao mesmo tempo estranho, e mesmo assim se viu surpresa por não temer o
homem sentado ao seu lado. Ela sabia que ele poderia ser uma ameaça, mas não
temia tanto quanto temia Vlad. Vlad possuía um olhar frio que a deixava
aterrorizada.
-Quando chegar basta entregar a mochila ao chefe – Cosimo falou ao dirigir com
cuidado pela rua movimentada. Luna não o escutou, apenas se viu olhando para
as pessoas nos outros carros, e se perguntou se algum dia sorriria novamente.
***
A construtora Mirai Galli encontrava-se movimentava naquela manhã. Os
arquitetos corriam de um lado para o outro juntamente com os engenheiros para
discutirem o novo projeto da construtora. Um projeto que poderia leva-los a
fama rapidamente. Um dos responsáveis pelo projeto andou esbarrando nas
pessoas ao carregar diversas plantas de forma desajeitada. Parou segundos
depois em frente a uma mulher séria sentada atrás de sua mesa.
-Preciso falar com o Senhor Galli – o homem com o rosto vermelho, respiração
ofegante e cabelos bagunçados falou para a mulher que apenas o olhou
seriamente antes de pegar o telefone e anuncia-lo – O senhor é?
-O técnico responsável pela construção, Alberti Graini – não demorou para ser
indicado a porta que ficava atrás dela. Albertini entrou surpreso ao ver a
decoração, pois era a primeira vez em que entrara naquela sala. Seu olhar
direcionou-se para o homem que via apenas nas revistas e nunca pessoalmente. –
É.. Uma honra – disse nervoso ao olhar para Vlad, o qual mantinha o olhar sério.
– Eu...
-Sente-se primeiro, Senhor Graini – Vlad disse educado ao esboçar um falso
sorriso. – No que posso ajudar?
-Os projetos estão errados – afirmou nervosamente ao jogar as plantas que
levava consigo no chão, pegar uma delas e desenrolá-la em frente a Vlad – O
peso que colocaram, os materiais, está tudo errado. Se isso for construído.
-Irá desabar – Vlad concluiu ao ver rapidamente a planta. –Quem foi o
responsável? – indagou serio ao se levantar de sua mesa, pegar a planta das mãos
de Albertini e olhar com cuidado para o nome na parte de baixo – Quero que
mande o Neiman Treman vir até mim. Está me entendendo? – perguntou ao
olhar para Albertini que assentiu em silencio – ótimo, quer falar mais alguma
coisa? – ele negou ainda surpreso e impactado com a impressão que teve de seu
chefe. – Pode sair agora – Vlad esperou paciente que o Albertini saísse da sala e
somente então olhou para o relógio em seu pulso. Sorriu levemente de forma
enigmática ao voltar para a frente do seu computador, mas antes pegou um papel
e escreveu rapidamente.
Despedir Neiman Treman.
Retornou ao seu trabalho com rapidez, mas ao abrir o seu e-mail pessoal
encontrou uma mensagem desconhecida. Espero que aproveite, dizia o título.
Vlad abriu com calma e apesar de tudo o que leu se viu excluindo o e-mail com
mais tranquilidade ainda, em seguida pegou o seu aparelho celular e discou para
Luca.
-Teremos algumas mudanças – disse frio – Precisamos entrar em contato com
meu irmão, o mais rápido possível – desligou antes que Luca perguntasse o
motivo. Vlad ainda buscava ter alguma emoção diante do e-mail que recebera.
Todos os policiais envolvidos com você estão em perigo. Todas as pessoas
ao seu redor estão em perigo. Deveria começar com o seu irmão?

***
A hora se arrastava para passar. O barulho dos ponteiros do relógio deixavam
Luna ainda mais apreensiva. Ela sabia que já se passara horas desde que chegou
da entrega, mas ainda não havia saído de seu quarto. A mochila repousava no
chão ao lado de sua cama e seu olhar não desgrudava da mesma. Um nervosismo
apoderou-se de seu corpo ao imaginar Vlad Galli entrar naquele quarto.
Meneou a cabeça para afastar tal cena de sua mente. Fechou os olhos ao mesmo
tempo em que deixava o seu corpo cair na cama. Antes de adormecer, abriu os
olhos e olhou para a porta, e somente quando teve certeza que estava trancada, se
deu a liberdade de adormecer.
Diante da escuridão de seus olhos, Luna apenas sentiu o terror voltar na forma
de seus sonhos.
***
O barulho do telefone tocando tornou o ar do escritório de Vlad Galli ainda mais
assustador. A escuridão e o homem sentado próximo a janela tornava tudo mais
obscuro. Com tranquilidade, quase congelante, Vlad pegou o seu aparelho
celular e atendeu com a voz fria ao escutar a voz do seu irmão do outro lado da
linha.
-É sempre bom escutar a voz do meu irmão caçula – o irmão de Vlad falou com
a voz divertida ao escutar o resmungo de Vlad ao escutá-lo falar em português –
Eu não falarei em francês, sabe o quanto gosto do português? Porque quis falar
comigo?
-Eu odeio esse seu gosto peculiar, frère . Acredito que temos problemas.
[14]

-Adoro problemas. Qual o nome desse?


-Donnel. – disse simplesmente como se tal informação colocasse seu irmão a par
da situação em que estavam.
-Não acho que seja uma ameaça tão grande – desconversou.
-Ele colocou um espião próximo a você. Como não é uma ameaça? – perguntou
frio tentando se controlar. Seu irmão sempre conseguia tirá-lo do sério.
-Você controlou tudo, não foi? Qual o grande problema?
-O problema é que agora ele está lhe ameaçando, não que eu me importe – disse
revirando os olhos ao escutar a gargalhada de seu irmão – Não irei lhe salvar se
algo acontecer.
-Quando algo acontecer, eu saberei me cuidar, você sabe disso. Presumo que
para ter me ligado é por ter se preocupado ou ter algo que eu me interesse.
-Algo assim – confessou no final – Como anda o seu negócio?
-Muito bom – disse sorrindo abertamente – Irá participar?
-Não faz meu estilo – fez uma careta ao lembrar-se dos negócios centrais do seu
irmão: tráfico de mulheres.
-Está perdendo um grande dinheiro.
-Não importa, já está avisado. Se souber...
-Se souber aonde ele está se escondendo mandarei uns amigos meus darem um
olá para ele. Não se preocupe.
-Ótimo, até a próxima – desligou o celular e antes de se levantar da cadeira,
olhou para o relógio em seu pulso enquanto se indagava o quanto Luna estaria
ansiosa para vê-lo e lhe dar o dinheiro. – Qual deverá ser seu próximo trabalho?
– se perguntou ao se divertir em imaginar o sofrimento dela.
CAPITULO 8
O carro seguia em velocidade alta pela estrada, se desviando dos demais carros.
Vlad conduzia como um exímio piloto de corridas. A sensação de perigo lhe
instigava a ir além. Naquela noite, nada iria atrapalhar o seu divertimento. Ele
encontrava-se intrigado para ver o sofrimento de Luna.
Assim que estacionou o seu carro em frente à sua casa, avistou Fred lhe fazendo
uma pequena e discreta reverencia. O significado de que tudo estava bem.
Entrou em casa com o semblante sério e olhou para a sala de estar meneando a
cabeça.
-Não é uma boa forma de começar – disse para si mesmo ao afrouxar a gravata e
caminhar em direção ao quarto de Luna, sua hospede indesejada. Optou por não
bater na porta e apenas abri-la, mas assim que o fez teve uma surpresa. A porta
estava trancada. Retirou a chave mestra de seu bolso e abriu a porta. Encontrou o
quarto com apenas a luz do abajur, e ela deitada na cama com o suor escorrendo
pelo seu rosto e uma expressão de medo na face. A observou em silencio por
algum tempo até ligar a luz. A viu se remexer na cama incomodada antes de
abrir os olhos e encará-lo com terror. – E a entrega? – perguntou frio ao colocar
as mãos no bolso de sua calça.
Luna respirou fundo para controlar o seu medo, se levantou desajeitada, pegou a
mochila e estendeu para ele sem nada dizer. Vlad a olhou sério, intimidando-a,
mas ela se resignou a abaixar os olhos.
-Não irá falar nada, Lune?
-Eu consegui entregar – disse com a respiração ofegante – O dinheiro... essa será
a única vez?
-Claro que não – sorriu levemente ao pegar a mochila e dar as costas a ela –
Ainda haverá muitas entregas – disse misterioso antes de deixa-la sozinha. Luna
se viu estática ao olhar para a porta aberta. Seu corpo tremeu e sem forças para
falar alguma coisa, se viu deixando as lagrimas rolarem pela sua face. Ela estava
esgotada.
***
O olhar frio de Vlad Galli repousava no amontoado de dinheiro. A mochila
jogada no chão da sala de forma displicente, e o dinheiro depositado em cima da
mesa de centro. Ele se manteve impassível apesar de escutar passos atrás de si.
Não precisou de virar para saber quem era.
-Ela então fez isso – Luca comentou com um suspiro pesado.
-Sua protegida não teve muitas escolhas – tornou ao entrelaçar os dedos de suas
mãos – Pelo que vejo, imaginou que ela não faria.
-Tinha esperança, mas sabia que ela acabaria fazendo.
-Ainda não entendo a sua fixação por ela. Ela é comum e sem graça –
resmungou ao fazer uma breve careta ao se recordar dela e de seu corpo.
-Eu não acho que ela seja dessa forma – Luca disse sem entrar em detalhes ao
olhar para Vlad com curiosidade. Aos poucos Luna começava a modifica-lo,
lentamente. Passo a passo. – Eu irei vê-la – falou antes de dar as costas e ir em
direção ao quarto de Luna. Vlad permaneceu sentado com o olhar fixo no
dinheiro. Ela não queria admitir, mas começava a ficar cada vez mais curioso
sobre Luna.
Luca bateu na porta do quarto de Luna antes de abrir a porta. A viu sentada na
beirada da cama com o olhar perdida envolta em uma luz fraca do abajur. Ele
não se aproximou, apenas permaneceu parado na porta.
-O que você quer? – Luna perguntou a voz abaixa – Tenho que fazer outra
entrega? É por isso que veio?
Luca nada disso, continuou calado olhando-a de longe. A viu murmurar algo
inaudível e em seguida ergueu os olhos para ele.
-Porque eu estou passando por tudo isso? – Luna se viu desabafando ao encarar
o homem com o olhar gentil a sua frente.
-Eu não sei – disse sincero controlando-se para não ir abraça-la e confortá-la.
Luna assentiu em silencio antes de sentir lagrimas escaparem de seus olhos. As
deixou rolar livremente pelo seu rosto até sentir um toque em seu ombro. Seu
corpo tremeu como resposta ao toque de Luca.
-Por favor, não me... toque – implorou com as lagrimas cada vez mais forte
caindo pelo seu rosto.
-Eu nunca lhe farei mal – prometeu antes de se afastar dela e voltar aonde estava
inicialmente - Luna – falou antes de sair, fechando a porta atrás de si. Luna
continuou sentada com as lagrimas caindo pela sua face desejando poder acabar
com aquela sensação.
****
Longe dali..
A delegacia de polícia continuava em polvorosa, pois mais um assassinato fora
cometido nas ruas sem que ninguém soubesse quem era o mandante dos crimes.
Um corpo carbonizado havia sido encontrado próximo ao leito de um rio e
drogas continuavam matando dia após dia nas ruas. A cada segundo chegavam
mais crime para que os policiais investigarem. Em meio aos burburinhos e as
gritarias, um dos policiais se destacava pelo seu físico e semblante carrancudo.
O policial andou por todo o corredor do primeiro andar com um cigarro nos
lábios, óculos escuros na face e um casaco pesado e escuro. Ele caminhou por
entre os policiais sem ao menos cumprimenta-los e ao entrar em sua sala, fechou
a porta, retirou o casaco exibindo o seu físico bem preparado. Caminhou até a
janela e permaneceu olhando para a vista da cidade deturpada.
-Tenente – uma voz baixa chamou o policial na porta de forma educada. O
jovem oficial viu o tenente se virar e encará-lo sem expressão – O resultado da
autopsia do corpo carbonizado chegou.
-E o que tem de importante? – o tenente Hack, disse após soltar a fumaça dos
cigarros pelos lábios secos.
-Ele já estava morto quando foi queimado. A morte dele se deu por tiros.
-Isso não é novidade nesta cidade podre.
-Não, mas as balas batem com a de outros casos.
-Casos? A do Colt 1911?
-Exatamente, Tenente – disse alegre ao ver a expressão animada do outro
policial.
-Traga todos os casos que esta arma está envolvida. Tenho a impressão que
vamos encontrar o culpado por esses assassinatos – o oficial assentiu saindo
apressado sem ver a expressão de ódio nos olhos do tenente Hack. – Vamos ver
se conseguirá se safar, Vlad Galli – murmurou ao se recordar de tudo que fizera
para prender o milionário.

CAPITULO 9
O Tenente Hack manteve-se sentado no banco mais afastado da praça próxima a
delegacia. Costume este que habituou-se durante os últimos três anos. Os três
anos mais solitários de sua vida. Três anos em que havia perdido a sua esposa
para as drogas. Joan Hack era um policial condecorado, mas todos tinham
consciência de seu temperamento explosivo e temperamental.
Ao olhar para um casal que passou pela sua frente, um lampejo de tristeza
transpareceu em seus olhos ao se recordar de sua esposa. A sua doce esposa que
foi morta por tudo que ele mais desprezava no mundo.
Ergueu o olhar para céu nublado, e intimamente se perguntou quando iria chover.
Retirou um maço de cigarros do bolso da calça, pegou o isqueiro e ao tragar o
cigarro, sentiu uma calma apoderar de seu corpo. Uma calma que tinha certeza
que sentiria assim que prendesse Vlad Galli. O único homem intocável naquela
cidade.
Há 9 anos atrás, uma nova droga havia surgido na cidade. Uma droga potente
que era conhecida como Butterfly. Uma droga capaz de deixar a pessoa viciada
na primeira vez de uso. Ninguém soube como chegou e nem quem a
comercializou, mas rapidamente se alastrou como a peste tinha se alastrado pela
Europa. Jovens, velhos, homens e mulheres usavam sem distinção ou remorso
pelo menos até surgirem as vítimas de overdose, uma após a outra. Após isso,
todos começaram a reduzir o uso ou ao menos disfarçar, e foi neste ponto em que
tudo se tornou pior.
Joan Hack meneou a cabeça ao se lembrar do episódio que o fez perder tudo. O
início de tudo havia sido uma batida policial a um armazém, onde foi avisado
que era comercializado as drogas. Com facilidade conseguiu fazer a apreensão
das drogas e dos traficantes, mas um deles havia escapado. Um homem que ele
jamais se esqueceria. Um homem que sequestrou a sua mulher e a drogou. Um
homem que ele nunca viu o rosto, apenas uma marca em seu braço. Uma marca
que o recordava um trevo de quatro folhas.
Sua esposa foi sequestrada uma semana depois desse episódio e encontrada dois
dias depois drogada, jogada em uma viela próxima a delegacia onde ele
trabalhava. Sua esposa nunca mais foi a mesma. E não demorou para ela se
drogar escondido dele e morrer por overdose.
Todos os crimes que investigou no decorrer dos anos, o levou para o nome da
família de Vlad e por mais que tentasse colocá-lo como suspeito, não conseguia.
O cigarro já tinha acabado quando o Tenente Joan pegou a lata de refrigerante no
saco depositado ao seu lado, e sorveu todo o liquido agora quente. Naqueles
momentos sentia-se solitário e inútil. A nove anos vivia atrás dos culpados, mas
até agora não conseguira pegar ninguém. Ninguém parecia ligar para ele naquela
tarde solitária e ensolarada quando um grunhido de raiva escapou de seus lábios.
Olhou para o relógio em seu pulso e ao perceber a hora, se levantou e voltou
para a delegacia. Ele ainda tinha muitos bandidos para prender até chegar a
Vlad.
Todos os policiais do 14º distrito sabiam sobre o policial Hack, o policial que
havia virado tenente após perder a sua mulher para as drogas. O policial que
vivia atrás da Máfia Cosa Nostra desconfiava que Vlad Vitorino Galli fosse um
dos chefes, mas jamais conseguiu comprovar. Não com suas conexões e seu
dinheiro. Toda a vez em que tentava culpa-lo por algo, ele era absorvido antes
mesmo das provas serem validas. A vida de Hack se resumia a pegar o culpado
pela distribuição de drogas naquele distrito e se esse homem fosse Vlad, ele iria
pegá-lo ou mata-lo, mas vingaria a sua esposa.
Com esse pensamento entrou na delegacia e parou em frente a mesa de um dos
detetives.
-Que casos temos hoje?
O detetive loiro com olhos cansados encarou o Tenente e com um suspiro pesado
meneou a cabeça.
-Nenhum que envolva uma Colt 1911.
-Temos que trabalhar em algo. Algum assassinato?
-Não, apenas um estupro que já está sendo cuidado por dois detetives e um
suicídio.
-Apenas dois casos hoje? Isso não é possível.
-Temos que agradecer pelos bandidos estarem de folga – retrucou ao voltar a
fazer um relatório sem perceber o olhar raivoso do tenente.
-Bandidos nunca tiram folga. Os policias que são incompetentes para descobrir
os crimes – falou com a voz dura ao se dirigir até a sua sala.
***
Uma semana havia se passado desde a primeira entrega de drogas de Luna. A
jovem de olhos entristecidos mantinha-se enclausurada no quarto saindo apenas
para comer e arrumar a cozinha quando sabia que não tinha ninguém em casa.
Naquela noite, a casa encontrava-se mais silenciosa que de costume, Luna saiu
do quarto de modo silencioso sempre olhando a sua volta, com receio de
encontrar com Vlad. Avançou pelo corredor até chegar a cozinha, e antes de
entrar na mesma escutou um barulho estranho, já estava retornando para o quarto
quando som de risadas preencheu o ar. Por mais que soubesse que não deveria ir
até lá, se viu caminhando em direção ao som. Estancou diante da cena a sua
frente. O homem que tanto temia estava em pé, em frente a mesa de madeira,
tendo relações sexuais com uma mulher de cabelos vermelhos, enquanto outra de
cabelos pretos mantinha-se deitada no chão com um sorriso estranho na face, ao
mesmo tempo em que inalava um pó branco.
A mulher de cabelos vermelhos e olhos da mesma cor gemia de prazer ao sentir
Vlad dentro dela. Seus gritos conseguiam ser abafados pela risada da outra
mulher. O homem frio conseguia manter a sua expressão fria apesar de estar
sentindo prazer com a mulher desconhecida. O barulho do quadril de Vlad
chocando-se com as nadegas da mulher, o cheiro de sexo, o ar de luxuria e a
mulher nua no chão, somente fazia Luna sentir repugnância por tudo. A cena a
sua frente a deixava desconcertada e com medo, pois se recordava de tudo que
acontecera com ela, mas algo nos olhos da mulher caída no chão a fez ter
esperanças. Esperanças de que pudesse esquecer tudo. Ao pensar nisso, olhava
para o pó branco espalhado pelo chão, sem perceber o olhar de Vlad para ela.
Vlad continuava a segurar o quadril com força, enquanto metia incontáveis vezes
sempre apertando o seu quadril com as mãos. Ele não se importava em marca-la
como uma de suas propriedades, pois era o que elas eram. Ambas eram mulheres
que deviam dinheiro a ele, e porque não se aproveitar delas antes de deixa-las
para morrer? Vlad não sentia compaixão ou possuía consciência. Para ele, nada
importava. Seu olhar direcionou-se para a porta, e olhou fixamente para Luna.
Ele esperou que ela falasse algo, chorasse ou apenas o encarasse e depois
fugisse, mas não. Ela permaneceu hipnotizada pela cocaína no chão. Com um
sorriso cínico, ele percebeu qual deveria ser o próximo trabalho dela e qual seria
o pagamento.
Seu olhar mantinha-se em Luna, enquanto continuava a meter na mulher. Ele não
a imaginou embaixo dele, mas para ele, bastava que ela permanecesse aonde
estava.
Luna ao escutar um gemido mais alto, se deu conta de onde estava, e assustada
com o que pensava, se viu olhando para Vlad. Seus olhos se encontraram, e
antes que ele pudesse falar ou fazer algo, ela deu as costas e seguiu correndo
para o seu quarto.
Assim que entrou fechou a porta atrás de si sentindo o seu corpo estranho. A sua
mente forçava-a se recordar da cena, e por mais que tentasse esquecer não
conseguia. Sua garganta estava seca, as suas mãos tremiam e ela percebeu que
sentira vontade de se aproximar de Vlad naquele momento. Ela não conseguia
entender o motivo de sentir-se daquela forma, mas quanto mais pensava nisso
mais surgia em sua mente o pó branco caído no chão. A imagem do pó e da
felicidade nos olhos sem vida da mulher lhe tentava.
-Eu também ficarei feliz? – se perguntou no quarto escuro. Ela não sabia dizer o
tempo em que permaneceu naquele quarto, em pé atrás da porta, mas ainda
hipnotizada pela cena, se viu abrindo a porta. Parou próxima a porta de seu
quarto ainda decidindo se deveria ir até lá novamente. Sem pensar em uma
negativa, se viu indo em direção a cozinha, mas ao parar em frente a porta, viu
apenas a mulher nua, caída no chão. A mesma mulher de outrora. Como se sua
respiração ofegante a tivesse denunciado, a mulher abriu os olhos e encarou
Luna com felicidade. Mas seus olhos nada expressavam.
-Mais uma vadia do Vlad – disse com a voz arrastada – O que tanto olha? –
perguntou sem vergonha de sua nudez.
Luna sentia um nervosismo se apoderar dentro de si, e ao engolir em seco se viu
perguntando o que tanto desejava.
-Você esquece tudo quando cheira? Não sente dor, e nem alegria, apenas vazio. É
isso que sente?
-O que é sentir? – a mulher perguntou em meio ao seu delírio sem perceber que a
jovem tomara uma decisão ao se ajoelhar no chão, e olhar fixamente para o pó.
-É isso que quero sentir. Nada – murmurou ao recordar-se de como ela fizera. Da
mesma forma, arrumou uma carreira do pó, se abaixou e sem pensar muito,
cheirou. A primeira sensação que sentiu foi o pó queimando as suas narinas, mas
em seguida transformou-se. Não havia mais nada. Uma felicidade preencheu o
seu ser e nada mais existia. Apenas ela. Fechou os olhos e ficou sentada olhando
para o nada ao se recordar de sua família e da vida que levava antes de ir para
aquele país. Uma vida feliz.
***
Fred olhou para o corpo da mulher ruiva caído no chão do escritório de Vlad
sem vida. Aquela não inédita e com certeza não seria a última. Com o olhar frio
sendo vigiado por Luca, constatou o estado da mulher e ao confirmar que ela
estava morta, ergueu o olhar para o autor do crime. Vlad Galli mantinha a sua
face calma e impassível enquanto tragou e soltou a fumaça com prazer. O chefe
mantinha-se em pé olhando tudo com prazer.
-Poderia parar de mata-las aqui dentro – Luca se viu falando ao ver o arame que
Vlad usou estrangular a mulher jogado ao lado do corpo.
-Ela não é ninguém, basta se livrar do corpo – falou costumeiro com o ar frio – e
lembre-se que eu sou o chefe. Eu mando e vocês...
-Nós sabemos chefe – Luca o interrompeu com a voz calma, mas sentia a sua
raiva aumentar. Ele odiava pensar em quantas mulheres como aquela Vlad não
matará naqueles anos. Mulheres que não significavam nada para ninguém.
Mulheres que desapareciam e ninguém percebia e sentia falta.
-Luca, não seja sentimental – Vlad falou ao perceber o olhar do seu consigliere –
Apenas se livre do corpo como sempre.
Luca assentiu incomodo ao ver naquela mulher a sua irmã e Luna. Ele sabia que
não tinha relação, mas apenas elas vinham em sua mente. Ele permaneceu em pé
olhando para Fred erguer o corpo como se não fosse mais nada, e jogar em seu
ombro. Saíram da sala em silencio deixando Vlad sozinho admirando a vista do
seu jardim encoberto pela escuridão.
A mulher ruiva, sem nome, era a sua trigésima vítima. Vlad não se lembrava
quando descobriu prazer em matar as mulheres tão facilmente, mas alguém
como ela, conseguia lhe deixar entediado até em sua morte. Ele se recordava de
seus olhos esbugalhados, enquanto o oxigênio faltava e mesmo assim o seu olhar
mantinha-se vazio. Ele queria sentir algo. Ele queria sentir prazer em algo.
Seus pensamentos foram interrompidos com um barulho. Um barulho de algo
sendo derrubado. Ele não desejava ver o que era, mas um som de gargalhada lhe
fez seguir para do escritório e avançar até o local da origem do som. No meio da
sala, encontrou Luna olhando para um vaso quebrado com um sorriso na face.
Ele não precisou olhar com atenção para saber que ela estava drogada.
Vlad Galli não soube dizer o que o motivou a ir até ela, porem se viu parando ao
seu lado e colocando a mão em seu rosto, forçando-a a olhar para ele.
-Vulnérables . – disse antes de segurar em seu pescoço e beijá-la com ardor.
[15]

CAPITULO 10
O barulho de beijo sendo trocado. O gemido sensual que saia dos lábios de Luna
eram os únicos barulhos naquela casa aquela noite. A língua de Vlad fazia
movimentos frenéticos juntamente com a língua de Luna. Ele mantinha as mãos
em seu pescoço, enquanto ela apenas se entregava ao beijo sem reservas. Vlad
sabia que aquilo era um erro, mas não via mal nenhum em beijá-la ainda mais
com ela naquelas condições. Ele precisava prova-la. Ele precisava parar de
pensar nela. Precisava descobrir o que tanto o fascinava ao ponto de ter
curiosidade sobre ela.
A mente de Luna ainda encontrava-se nublada e feliz. Ela não se importava com
o que acontecia, apenas continuava com sua ilusão de um mundo em que não
sentia nada. Para ela, o beijo que trocava não era nada. Sentia apenas um leve
torpor invadir o seu corpo e a sua mente.
Vlad não estava satisfeito. Quanto mais a beijava mais sentia vontade de ir além.
Suas mãos começavam a percorrer o corpo dela com sofreguidão. Faminto pela
vontade de possui-la, se viu a empurrando em direção a parede. Quanto mais ele
a beijava, mais ela correspondia. As costas de Luna ao chocar contra a parede
não fez nenhum barulho com exceção do gemido que saiu pelos seus lábios,
deleitando Vlad. As mãos de Vlad percorrem a perna dela, erguendo o seu
vestido com facilidade. Ela arfou inconsciente ao sentir a mão dele apertando a
sua perna com força.
Vlad não mais aguentava aquela sensação de espera, e antes que ela pudesse
falar algo ou o efeito da droga passar. Ele se viu retirando a sua calcinha com
brusquidão. Ele queria tê-la.
Com um dos braços, puxou a perna de Luna colocando-a próximo a sua cintura,
enquanto a apertava, marcando-a. Com a outra mão abria a braguilha de sua
calça.
Luna mantinha-se no torpor da inercia quando sentiu o membro de Vlad
tocando-a. Arregalou os olhos assustada como se despertasse do transe em que
se encontrava. Seu olhar encarou os olhos frios de Vlad, e ao tentar falar, não
conseguiu. Sua voz não saia da garganta. O seu corpo estava quente, como se o
desejasse, entretanto o seu corpo tremia de medo. Dividida entre a ilusão e a
realidade, ela se viu resistindo a ele. Suas mãos mantinham-se firmes no pescoço
dele, arranhando-o como se implorasse para soltá-la, mas Vlad ignorou.
-Não... – Luna murmurou assim que Vlad a penetrou. No mesmo instante o olhar
dela se perdeu. Tudo o que passou naquela noite fatídica pairou em sua mente,
todavia algo estava diferente. Ela não conseguia se lembrar da última vez que se
sentira daquela forma. O medo ainda a impedia de falar, e o terror a mantinha
imóvel, mas o seu corpo parecia corresponder a ele. A cada movimento que ele
fazia, escapava um tremor do corpo dela. Um tremor que ela não sabia dizer se
era de medo ou prazer. A repulsa que ela esperava sentir demonstrava em nível
inferior. Talvez pela droga que tomou, mas em algum momento, ela gemeu de
prazer.
A respiração de Vlad no pescoço de Luna, o cheiro de sexo no ambiente, o
gemido, os suspiros de prazer, o suor escorrendo pelos corpos deles.
A cada movimento que Vlad fazia, ele sentia o seu membro ser acolhido pela
feminilidade voluptuosa dela. Por mais que ele tentasse pensar, não conseguia. O
sexo com ela conseguia ser diferente.
Luna não soube o que sentiu quando Vlad saiu de dentro dela. O seu corpo
escorregou pela parede, caindo ajoelhada no chão. Ao mesmo tempo em que
sentia bem pelo prazer que ele lhe proporcionou, um medo indescritível
mantinha-se dentro de si.
Vlad manteve-se em frente a ela, olhando-a com cuidado ainda com o membro
para fora da calça.
-Com medo? – perguntou de forma doentia esboçando um leve sorriso. Luna não
respondeu apenas o encarou séria. – Na próxima vez que for se drogar não faça
aqui dentro. Nunca se sabe o que pode acontecer – disse ao segurar o seu
membro e colocá-lo para dentro da calça – Se arrume, não será bom que Luca a
veja dessa forma.
Luna assentiu em silencio ainda sem entender o que acontecerá consigo. Ela
deveria teme-lo, ela deveria odiá-lo e sentir nojo, mas apenas metade daqueles
sentimentos habitavam em seu ser.
-O que aconteceu? – ela se perguntou em um sussurro ainda o encarando.
-Tivemos prazer – vangloriou-se ao dar as costas e voltar para o seu escritório.
Luna se levantou com dificuldade e ainda tonta pelo que tomou foi em direção
ao quarto.
O escritório silencioso de Vlad mantinha um ar fúnebre. O mafioso levou o
cigarro aos lábios sorvendo a fumaça com prazer. Com o olhar distante pegou o
telefone em cima de sua mesa e discou para alguns números.
-Quero que descubra tudo sobre a mulher que está aqui em casa. Luna. – disse
antes de desligar – Há algo nela que eu não gosto – admitiu ao olhar para a
janela de seu escritório.
***
O Tenente Hack suspirou frustrado ao parar a viatura próximo a um terreno
baldio. Assim como nos filmes, sempre haviam corpos descartados em locais
como aqueles. Como se aquelas pessoas não valessem nada em suas vidas. Não
havia jornalistas ou curiosos apenas três policiais cuidando do corpo frio e
pálido. Hack se aproximou com o seu modo taciturno e assim que viu a mulher
ruiva com os olhos arregalados e marca no pescoço soube como fora morta.
Andou em volta de seu corpo nu e não precisou pensar muito para perceber que
ela não foi morta ali.
-Quem avisou sobre ela? – Hack perguntou ao policial jovem que foi o primeiro
a chegar no local. O policial mantinha um olhar assustado e para Hack era a
demonstração de ser seu primeiro homicídio.
-Uns garotos jogam bola aqui todas as tardes. Assim que viram o corpo ligaram
para a polícia.
Hack assentiu ao pensar quanto tempo teria o assassino para colocar o corpo ali
sem ser visto. Olhou em volta e constatou que ele teve todo o tempo do mundo.
Não havia nada a quilômetros.
-Ele conhece o lugar perfeitamente – constatou com um olhar duro – e não é a
primeira vez em que faz isso.
-Pode falar isso tão facilmente? – o policial perguntou curioso.
-Apenas idiotas não conseguiriam ver isso - respondeu sem vontade ainda
olhando o corpo dela com cuidado. Pegou o maço de cigarros do bolso da sua
calça, o isqueiro e acendeu o cigarro ainda absorvido pela atmosfera. – Chamem
os peritos. É provável que esse homem seja um tipo de assassino em série.
Os policiais olharam um para o outro temerosos. Eles sabiam que aquele tenente
não iria desistir do caso fácil.
-Uma distração para quando eu for pegá-lo, Vlad – Hack murmurou ao dar as
costas ao corpo da mulher ruiva e seguir para a viatura.
***
Vlad Galli ajeitou o seu paletó escuro antes do elevador da construtora Mirai
Galli abrir as suas portas pesadas. Seu olhar sério continuava em sua face e
assim que saiu em seu andar caminhou pelo corredor sem cumprimentar
ninguém. Ele odiava ceder a desejos sem pensar antes, e aquela vez havia sido
assim. Ele havia tido relações com a protegida de Luca, uma mulher que todos
desconheciam a sua origem e o motivo de insistir em ficar em sua casa, com sua
família.
Eu deveria matá-la.
O pensamento insistente o fez abrir um leve sorriso somente em imaginar a face
de horror de Luca ao encontrar o corpo de Luna sem vida.
Não valeria tanto a pena.
Percebeu com pesar ao entrar em seu escritório. Andou pelo seu escritório
avaliando se algo havia sido tirado do lugar, como fazia todos os dias, e ao
sentar-se em sua cadeira, inclinou-se para atrás. Fechou os olhos enquanto
listava tudo o que deveria ser feito.
Reunião da família Morales, entregar os novos projetos ao prefeito, encontrar
com o comissário.
Continuou pensando em que tudo que deveria ser feito quando alguém bateu em
sua porta. Sem se mover ou abalar-se, permitiu que a pessoa entrasse, e assim
que a porta se abriu, um olhar de surpreso estampou em sua face por meros
segundos.
Marco, um homem franzino com olhos castanhos e cabelos da mesma cor,
segurava um envelope em frente ao seu corpo. Seu nariz avermelhado
denunciava a sua gripe, o cabelo bagunçado e o modo de andar lento não passou
despercebido para Vlad.
-Je suis surpris. Ne vous attendez pas à être si rapide . - Vlad disse ao olhar para
[16]

Marco, o homem que era encarregado de investigar qualquer pessoa. Marco


havia sido um garoto problemático em sua infância que foi resgatado pela
família Galli, e a partir de então seguia as pessoas e passava todas as
informações que a família pedisse, mas com o tempo e a modernidade, ele
tornou-se um exímio investigador.
-Sí, foi mais rápido do que eu esperava – confidenciou antes de uma tosse lhe
afligir.
--Aller chez le médecin . - Disse ao fazer uma breve careta.
[17]

-Eu irei – assegurou ao se aproximar da mesa de Vlad e depositar o envelope –


Está tudo ai, chefe.
Vlad assentiu ao olhar para o envelope, ajeitar-se em sua cadeira e segurá-lo
antes de abri-lo.
-O que há de interessante aqui?
-Nada – disse pensativo – apenas que ela não é daqui e que sua família, quando
criança, tinha um dívida com a máfia ucraniana.
-Como foi paga? – perguntou calmo.
-A mãe dela se vendeu para a máfia. Prestava favores sexuais.
Vlad não fez mais perguntas apenas começou a ler o relatório em silencio,
enquanto Marco se despediu e saiu da sala. Ele não desejava levantar suspeitas
ou ser visto saindo da sala de seu chefe.
***
Um bar afastado do centro da cidade encontrava-se vazio naquele final de tarde.
Os poucos homens que ali estava mantinham-se com os olhos fixos na televisão
colocada próxima ao teto do bar. O único garçom que estava posicionado atrás
do grande balcão também mantinha a sua atenção na televisão. Os únicos que
ignoravam o jogo eram dois homens, um com olhar gélido e sorriso frio e outro
com olhar caloroso, mas postura indecifrável.
O bar chamado El Sol era o bar pertencente à família Galli, um bar reservado
para encontros rápidos da máfia. Ninguém desconfiava de nada.
O homem com olhar caloroso levou a caneca de cerveja aos lábios antes de olhar
de soslaio para o homem sentado ao seu lado.
-Algum problema com a carga nova? – Luca perguntou para Cosimo.
-Nenhum, mas estão dizendo que o tenente Hack está chegando perto – revelou
em um sussurro.
-Vamos dar um jeito. Notícias sobre os negócios na Europa?
-O irmão do chefe está indo bem. Fez amizade com o juiz responsável por um de
seus casos. Ninguém desconfia que ele seja o culpado pelo tráfico de mulheres.
Está tudo indo bem.
-Ótimo – suspirou aliviado. A maior preocupação de Luca seria o irmão de Vlad
ser pego pela polícia. – E como está para a reunião com os Morales?
-Deto e Tony irão com o chefe, não precisamos nos preocupar.
Luca assentiu ao imaginar o tempo em que teria para conversar com Luna. Havia
demorado alguns dias para perceber quem poderia ajuda-la. Ele não desejava que
ela tivesse o mesmo destino de sua irmã. Ele iria protege-la de todos e de si
mesma.
-Cosimo, o que acha da convidada de Vlad?
-Ah! A garota que você trouxe – Cosimo sorriu largamente ao lembrar-se dela –
Não é ruim. Se não tivesse medo dos homens poderia ser uma boa vadia.
-Nem todas as mulheres querem ser vadias de mafiosos – Luca comentou sério,
o que fez Cosimo sorrir.
-Sim, é verdade. O que quer que eu fale?
-A verdade. Acha que ela está nos enganando?
-Não acredito em mulher alguma, sabe disso.
-Sim, por isso que lhe perguntei.
Cosimo ficou em silencio ponderando todo o comportamento de Luna da última
vez em que a virá.
-Talvez ela esconda algo, mas o seu medo não deixa saber o que é. – falou
pensativo – é provável que o chefe já tenha a investigado, mas se quiser posso
fazer isso.
-Seria muito bom.
-Eu farei – comentou sorrindo. Cosimo adorava investigar as pessoas e o que
mais lhe atraia era perceber que todos escondiam segredos.
-Eu já vou.
-Não esqueça da segurança – falou em código para se referir as armas. Todos
saiam armados era uma regra da família.
-Sempre está comigo – Luca disse antes de se levantar do banco e se dirigir para
a saída. Cosimo continuou a beber sozinho no velho balcão do bar enquanto
pensava por onde começar a investigar a misteriosa mulher.

CAPITULO 11
Cosimo sorriu para a jovem que continuava a olhar para ele. Para ser sincero
consigo, ele não tinha muita ideia por onde começar a pesquisar sobre Luna até
que foi ao hospital, conseguiu ler o seu arquivo e não demorou para encontrar a
faculdade aonde estudava. Uma faculdade simples onde a maioria das aulas
acontecia a noite. Assim que parou na entrada pensou por onde começar.
Dificilmente alguém naquela instituição conhecia Vlad Galli ou a máfia, a qual
pertencia. Coçou a cabeça com o olhar divertido assim que a mulher acenou para
ele. Sorriu encantador ao caminhar até ela. Talvez tudo se tornasse mais fácil do
que imaginara.
-Olá – Cosimo falou assim que parou em frente a mulher. Observou seu corpo
com cuidado constatando o quanto ela era atraente apesar de seus cabelos loiros
não serem naturais e dos seus olhos serem grandes demais.
-Olá, querido, nunca lhe vi por aqui – disse ao passar a mão pelos cabelos, o que
fez Cosimo fazer uma leve careta.
-Posso dizer que sou novo aqui.
-Eu tenho certeza disso. Dificilmente alguém como você estaria aqui.
-Alguém como eu? – perguntou curioso.
-Sim, bem vestido, bonito e seguro de si.
Cosimo assentiu percebendo que cometerá uma gafe, mas aquilo não iria
atrapalhá-lo.
-Estou lisonjeado pelos elogios – piscou travesso – Estuda aqui há muito tempo?
-Um pouco – garantiu pensativa.
-Tenho uma amiga, ela sumiu. Estou preocupado com ela. – percebeu o olhar de
decepção da jovem e logo se explicou – Ela é uma prima, mas costuma chama-la
de amiga. Luna odeia que a chame de prima.
-Luna?
-Sim – assentiu sorrindo levemente.
-Tinha uma aluna com um nome assim na aula de diplomacia ou ciências
políticas, não me recordo bem.
-Ela era bonita com cabelos loiros meio castanhos?
-Acho que sim – confirmou estranhando a forma dele em perguntar – vocês são
mesmo primos?
-Sim – sorriu.
-Estranho.
-Um pouco, mas diga-me, sabe algo sobre ela? Onde possa estar?
-Ela não tinha muitos amigos – falou acanhada tentando transparecer meiguice.
-Entendi – murmurou triste ao perceber que a sua missão seria mais difícil do
que imaginara – Bem, tenho que ir até a diretoria. Obrigado pela atenção –
piscou malicioso ao passar por ela segurando o riso ao vê-la pasma. Ela
acreditava que ele iria dar-lhe atenção. Cosimo mudou o seu semblante ao
caminhar pela faculdade e com os olhos semicerrados procurou pela sala da
diretoria, e somente a encontrou minutos depois no último andar. Bateu na porta
esboçando o sorriso mais falso e cordial que conseguira.
-Desculpe interromper, mas preciso de algumas informações... – o sorriso na
face de Cosimo maquiava a sua sede de sangue. Ele odiava ter que encenar tanto
em um dia.
***
Luna mantinha o seu olhar fixo na porta do quarto. Para ela, era inconcebível
não sentir nojo de Vlad. Não após ter relações com ele. Para Luna, o mais
correto seria sentir ódio de todos os homens, mas por alguma razão não
conseguira sentir de Vlad. Não pelos motivos certos. Os motivos que ela achava
correto.
A noite, em seus sonhos tenebrosos ainda conseguia ver o rosto do homem que a
transformou naquilo que era, e mesmo assim não conseguia sonhar com Vlad. A
droga que tomara não a fez esquecer sobre nada. Ela se recordava de tudo que
sentira. Ela se recordara das mãos dele, de seu próprio gemido, de seu próprio
prazer e do terror que sentira.
Ela estava assustada não com ele, mas consigo mesma.
Com as mãos tremulas, entrelaçou-as e iniciou uma prece silenciosa.
-Luna? – uma voz masculina que conhecia bem a chamou atrás da porta,
fazendo-a estancar – Posso entrar? – Luca perguntou com a voz calma e paciente
esperou pela sua resposta.
-Sim – respondeu fraca. Na realidade ela não desejava vê-lo. Ela não queria ver
Vlad e nem lembrar-se dele atrás de seu empregado.
Luca abriu a porta do quarto surpreso ao vê-lo mais escuro que o habitual,
entretanto Luna mantinha-se sentada na cama como sempre.
-Não saiu do quarto a algum tempo – ponderou ainda na porta. Ele não iria entrar
no quarto de forma abrupta – Estive preocupado.
-Comigo? Porque?
-Já disse que...
-Ainda não me deu nenhuma resposta plausível – respondeu o interrompendo.
Ela não fazia ideia do que estava fazendo.
-Sim, está certa – sorriu um pouco aliviado ao vê-la confrontá-lo – Lhe
considero uma irmã, uma amiga, e por isso me preocupo.
-Sou uma desconhecida.
-Eu sei, mas os desconhecidos merecem amigos, não é? – a viu assentir
relutantemente – Diga-me, ainda tem medo dos homens?
Luna poderia responder a verdade, que sentia medo apenas de alguns, mas optou
por mentir. Ela não saberia que tipo de consequências sua resposta traria para
ela. Jamais iria admitir que Vlad, aparentemente, era o único homem que não a
fazia sentir nojo.
-Isso é tão importante assim....? – questionou baixo com a cabeça cabisbaixa,
mas ao escutar os passos de Luca para dentro do quarto começou a sentir o seu
corpo tremer – Não se aproxime, por favor.
-Eu não vou lhe faz mal. Já deveria ter percebido.
-Eu sei, mas...
-Realmente desejo lhe ajudar – Luca falou pausadamente para não assustá-la
ainda mais – Traze-la pode não ter sido a melhor forma, mas acredito que sei
como lhe ajudar.
-Do que está falando?
-Conheço uma medica. Uma amiga intima, ela poderá lhe ajudar.
-Como assim?
-Ela escutará tudo que tens a falar, não falará nada disso com mais ninguém e....
Luna o olhou fixamente, provavelmente era a primeira vez que fazia isto. Luca
manteve o olhar firme sobre os olhos dela. Ele não poderia desviar e demonstrar
fraqueza, não agora.
-Eu poderia falar de tudo?
-Sim.
-Ela... você não saberia?
-Nem eu, nem Vlad. Ninguém. Eu prometo.
Luna assentiu em meio a pensamentos racionais. Ela desejava entender o motivo
de ter se sentido daquela forma com Vlad, mas não tinha certeza se estaria
disposta a ir em um médico por isso.
Ao perceber a indecisão dela, Luca sorriu e retirou de seu bolso um papel
dobrado.
-Aqui está o endereço, telefone e nome da medica. Não precisa marcar hora,
basta ir e ela lhe atenderá.
Luna olhou para a mão de Luca que lhe estendia o papel, confusa.
-Não entendo o motivo de ser extremamente gentil comigo. Porque? Não sou
especial.
-Eu sei que não é. Sou gentil porque me preocupo com você.
-Mas, porque comigo? Logo comigo?
Luca parou para pensar por um momento e sorriu de forma sincera.
-Eu não sei – deu de ombros ao sentir a mão fria e macia de Luna pegar o papel
de suas mãos – Estarei indo agora – afastou-se rapidamente, porem antes de sair
do quarto, a olhou mais uma vez apenas para ter certeza que ela não era a sua
irmã. A irmã que ele deveria ter protegido. – Desta vez, eu não irei fazer nada
errado – se viu falando antes de fechar a porta.
Vlad cruzou os braços ao sentir a parede fria em suas costas. Olhou para Luca,
que acabara de fechar a porta do quarto de Luna.
-Estou curioso Luca, o que pretende? – Vlad questionou sem encará-lo – Sabe
que ela não é sua irmã, não é? A sua irmã está...
-Eu sei que ela está morta – tornou com a voz dura.
-Isso não a trará de volta.
-Eu também sei sobre isso.
-Então porque se esforça tanto por ela?
-Tenho uma intuição sobre ela. – falou antes de fazer uma leve reverencia e
sumir pelo corredor deixando Vlad sozinho.
-Intuição? Eu também tenho uma – disse com um sorriso cruel antes de ir em
direção a porta do quarto dela. A sua face permaneceu com a mesma expressão
ao segurar a maçaneta e abrir a porta de uma só vez. Ligou o interruptor que
ficava ao lado da porta. Ele sorriu ao ver o olhar assustado dela. A encarou como
se regozijar-se de prazer ao vê-la daquela forma. –Assustada? – Luna não disse
nada, apenas manteve o seu olhar fixo nele – Parece que sou o caçador e você a
caça. Uma caça muito fácil.
-O que faz aqui? – gaguejou desconcertada ao se recordar do que tivera com ele.
-Vim conversar, estive lendo sobre algumas coisas e achei que seria conveniente
conversar com você, Lune.
-Sobre o que deseja falar?
-Sua infância seria um ótimo começo ou o motivo de estar aqui. – Vlad observou
o modo com o olhar dela modificou-se e logo viu o terror neles – Sua mãe foi
comprada pela máfia Ucraniana, mas curiosamente não odeia as máfias em
geral, sente algum tipo de ligação? Está tentando ter o mesmo destino que sua
progenitora? –Vlad observou cada musculo facial dela. Ele esperou por algum
sinal e assim revelasse a verdade, mas apenas a viu chorar em silencio. Lagrimas
começavam a cair pela sua face, entretanto isso não o abalou. – Se é tão fraca
para responder sinceramente pode se esconder em meio a ilusão – retirou um
pequeno frasco transparente do bolso e jogou sobre a cama – É a mesma droga
que usou da última vez. Pode usar se assim desejar, e eu estaria aqui para saciar
o seu desejo – disse malicioso – mas esperarei respostas. Não sou um homem
paciente.
O olhar ambicioso e desesperado da jovem pousou no frasco em cima de sua
cama. Ela desejava sentir a libertação mais uma vez, ela ansiava pela sensação
que a deixou feliz. O seu coração batia mais rápido como se implorasse pela
droga e inconsciente se viu pegando o frasco.
-Vamos, será tudo mais fácil quando abrir o frasco. Se recorde de toda a
sensação que teve. Não foi bom?
Luna assentiu como se estivesse hipnotizada, mas ao erguer o olhar vislumbrou o
sorriso de satisfação e de crueldade de Vlad.
-A única coisa que deseja são respostas que não tenho – Luna falou com a voz
tremula – E mesmo assim deseja me dar isso? – mostrou o frasco a ele e o viu
indiferente – Não pode ser tão cruel.
-Eu não sou cruel, apenas não sou paciente. Prefere compartilhar esta cama
comigo drogada ou sóbria? A escolha será sua, mas ainda assim desejarei
respostas.
-Não serei seu objeto sexual.
-E nem eu quero que seja.
-Espera que eu compactua com seus próprios desejos?
Vlad gargalhou ao ouvi-la falar daquela forma. Ao parar, a olhou fixamente
enquanto se movia pelo quarto parando em frente a ela. Segurou o seu rosto com
cuidado e o estendeu para frente.
-Quero conhecer os seus também, Lune. Será divertido – de forma calma,
colocou a sua perna entre as pernas dela, e empurrou o seu corpo para cima do
dela, forçando-a a deitar-se na cama. Olhou para seus olhos com firmeza antes
de aproximar seus lábios dos dela – Não precisa resistir, apenas se entregue a
mim – disse antes de beijá-la. Luna sentia o seu corpo cada vez mais quente e
dividida entre o terror e o desejo, fechou os olhos correspondendo ao beijo dele.
***
Cosimo esticou o seu corpo afim de se espreguiçar-se. A tarde havia sido mais
proveitosa do que imaginara. Após passar na diretoria da faculdade e manipular
o diretor para ter os papeis, descobriu mais sobre ela do que imaginara. Luna
estava no pais com um visto de estudante, não tinha ninguém naquele pais e
muito menos amigos. Ela conseguia ser mais solitária que o próprio chefe deles.
O desaparecimento de Luna não havia feito diferença para ninguém.
-Ela é realmente solitária e triste – Cosimo murmurou ao ir em direção ao bar El
Sol, aonde se encontraria com Luca. – Ele deve ficar com mais compaixão por
ela. Espero que sua compaixão não se transforme em algo mais.

CAPITULO 12
O corpo de Luna correspondia a todos os gestos de Vlad. De forma inconsciente,
ela se via arqueando o corpo para facilitar o acesso das mãos dele em seu corpo.
Vlad com rapidez e agressividade, rasgou a blusa de Luna sem parar de beijá-la.
-Sim, se submeta, Lune – Vlad murmurou em seu ouvido antes de beijar o seu
pescoço e delicadamente beijar cada centímetro dos seus seios. Ele se deliciava
com a contradição dela. Com o seu medo e desejo estampado no olhar. – Olhe
para mim – ordenou ao vê-la fechar os olhos – Veja quem está te dando prazer –
Luna gemeu assim que as mãos de Vlad tocaram a sua intimidade. Ela tentava se
recordar de sua primeira vez e do que sentira, mas nada se parecia com aquilo.
O gemido de Luna fez com que Vlad sorrisse. Por mais que ele tivesse certeza
que ela escondia algo dele, o que ele sentia ao dormir com ela era único. Toda a
vez em que ela gemia, ele se sentia satisfeito.
***
Cosimo sentou-se ao lado de Luca na bancada do bar. Eles nada falaram por
alguns minutos até uma cerveja ser posta em frente a eles. Beberam o primeiro
copo em silencio.
-Como foi? – Luca questionou ao levar o copo de cerveja aos lábios.
-Melhor do que esperávamos – disse ao retirar do bolso um papel e entregar a
Luca, o qual olhou para o pedaço de papel com o semblante estranho.
-Sabe que não entendo seus códigos de escrita.
-Ah, verdade – sorriu como costumava fazer. Cosimo tinha uma forma única de
fazer anotações quando necessário. Ele fazia códigos para que ninguém
entendesse quando fosse ler. –Descobri aonde mora, sei o endereço se quiser ir.
Como imaginava, ela não tem ninguém. Não há sinais de familiares, amigos ou
qualquer coisa. Estudava a noite, e trabalha pela manhã e à tarde. Não tinha vida.
Não há envolvimento com drogas ou máfia ou polícia.
-Entendo, é como imaginava – Luca murmurou – Ela é solitária.
-Sim, e o que fará agora?
-Não há muitas chances. Vou continuar fazendo o que pretendia.
-Ajudá-la?
-Salvá-la – o corrigiu antes de se levantar – estou indo primeiro, e obrigado.
Cosimo assentiu silencioso antes de suspirar ao ver Luca se afastar. Ele teve
certeza que algo aconteceria naquela máfia.
***
Tenente Hack jogou o jornal com raiva no chão de seu escritório. Seus casos
continuavam em abertos e todos pareciam estar ligados de alguma forma. A
mulher ruiva encontrada morta continuava sem identificação. Não haviam
digitais ou DNA em seu corpo. Ele retornara a revisar o laudo médico quando
um detetive entrou em sua sala.
-Hack, temos problemas – o detetive disse com o semblante sério – O
governador virá aqui.
-E qual o problema nisso? – perguntou já sabendo a resposta. Provavelmente iria
pressioná-lo para resolver os casos das mulheres mortas por estrangulamento.
-O problema é que sua sobrinha morreu de overdose da Butterfly.
Hack se permitiu sorrir ao escutar aquela notícia.
-Isso será perfeito.
-Do que está falando?
-O governador fará tudo que for possível para poder capturar o verdadeiro
traficante. Isso é tudo que eu esperava.
O detetive estranhou o comportamento do tenente e questionou-se até onde Hack
estava disposto a ir para conseguir pegar o distribuidor daquela droga.
***
No quarto escuro de Luna, Vlad permanecia deitado sem roupa olhando para o
teto com a jovem deitada ao seu lado sem se mover. O cheiro de sexo exalava no
ar, e nenhum ruído conseguia ser escutado com a exceção do som das
respirações deles. Sem olhar para Luna, Vlad se levantou e começou a se vestir
calmamente, e somente então olhou para o corpo de Luna, a qual permanecia
deitada de costas para ele em silencio.
-Arrependida novamente? – Vlad questionou sem emoção em sua voz. Luna não
respondeu ainda tentando entender como cedeu facilmente pare ele. – Isso é bem
cansativo – deu de ombros ao fechar a camisa social – Hoje a noite irá comigo a
um evento social – declarou e somente então viu a atenção de Luna em si. – O
que? Não concorda?
-Não – Luna disse com a voz baixa envergonhada de sua nudez.
-Sua opinião foi escutada e negada. Irá comigo hoje a noite nesse evento. Mais
tarde alguém irá lhe trazer uma roupa. Se troque e se comporte na reunião.
-Porque está fazendo isso? – Luna questionou ao se sentar na cama e abraçar
suas pernas.
-Tem que pagar pela sua estadia de alguma forma. Não há muitas entregas hoje –
falou ao ir para a porta, destrancando-a – Não se preocupe, não será minha
mulher, apenas mais uma que irá comigo – disse antes de sair do quarto.
Os olhos da jovem tornaram-se marejados. Ela não sabia o que acontecia
consigo. O seu corpo correspondia a Vlad de forma intensa, enquanto sentia
raiva e ódio dele por usá-la daquela forma.
***
Luca olhou para Vlad saindo do quarto de Luna com os olhos arregalados. Ele
jamais acreditara que seu chefe chegaria a tal ponto. Ele não queria acreditar que
Vlad havia violentado a jovem que protegia com afinco.
-Surpreso, imagino – Vlad falou ao ajeitar a camisa, enquanto apreciava a
confusão no semblante de Luca. Como sempre, Vlad Galli, se manteve frio.
-Desde quando isso acontece? – Luca questionou ao sentir a raiva crescer em seu
íntimo. Para ele, Luna era intocável.
-Luca, lembre-se que sou o seu chefe – tornou com a voz dura. Não era difícil
ver a transformação no olhar de Luca. A raiva transbordava – Deve ser fiel a
mim e não a ela.
-Eu sou fiel a você – Luca disse com a cabeça baixa. – Ela já sofreu o bastante,
não deveria...
-Sofreu? Luca, esta colocando-a no lugar de sua irmã. Ela não é sua irmã e
nunca será. Lembre-se disso.
-Eu sei.
Vlad nada disse, apenas observou a face de Luca, e por fim sorriu levemente.
-Ela irá comigo a reunião de hoje à noite. Traga roupas e o que ela precisar.
Luca estava cada vez mais surpreso e aterrorizado com o futuro da jovem Luna.
Todas as mulheres que iam a reunião com Vlad acabavam perdidas. Nenhuma
era salva.
-Porque fará isso com ela? Já não a tem?
-Gosto de me divertir, Luca – Vlad disse simplesmente ao dar de ombros e
seguir para o seu escritório. A noite prometida ser divertida para o chefe da
máfia.
As mãos de Luca tremiam de raiva perante a frieza de Vlad. Olhou para a porta
do quarto de Luna e entrou com o único intuito de consolá-la, mas assim que
abriu a porta a encontrou sentada na cama, vestindo-se calmamente. Ele não
conseguia ver nenhuma prova de agressão em seu corpo. Não olhando
rapidamente.
-O que ele fez? – Luca perguntou e no mesmo momento, Luna se virou e o
encarou sem expressão. –Me diga e eu prometo que jamais ele tornara a fazer.
Luna já estava cansada de promessas vazias e de si mesma.
-O que fará contra ele? Ele não é o seu chefe? Irá contra ele por mim? Me ama, é
isso? – sorriu com o pouco de escarnio que ainda sentia.
A face de Luca tornou-se pálida.
-Não é isso, eu jamais iria contra Vlad e não te amo.
-Então porque insiste em me proteger? Eu não lhe entendo.
-Eu também não – murmurou ao abaixar a cabeça e em seguida ergue-la e
perceber que Luna o olhava fixamente – Esta é a primeira vez que me olha sem
ter medo de mim.
-Agradeça ao seu chefe por isso – respondeu séria sem saber o motivo de ter
falado aquilo. – O que deseja de mim?
-Eu queria saber se estava bem.
-Eu não estou, provavelmente nunca ficarei, mas obrigada por perguntar.
-Luna, eu...
-Se for apenas isso quero dormir um pouco.
-Certo – assentiu antes de dar as costas – Mais tarde trarei roupas e alguém para
te ajudar a se arrumar para a reunião. Se precisar de algo, pode falar com Deto
ou Tony. Eles irão com vocês.
Luna nada disse apenas esperou pela saída de Luca para se levantar e trancar a
porta para enfim deixar toda a sua confusão e dor sair.
***
No jardim da residência de Vlad Galli, Deto, andava tranquilamente com fones
em seus ouvidos. Seus passos assemelhavam-se a batida ritmada que escutava.
Estralava seus dedos no ritmo da música e assim que avistou Luca, acenou e foi
até ele ao ver a expressão carrancuda em seu companheiro.
-Luca comeu algum limão azedo? – Deto perguntou com seu modo brincalhão e
bobo de sempre, mas ao ver o rosto de Luca imutável percebeu que algo estava
errado. – Aconteceu algo com o chefe?
-Preciso de um favor.
-Tudo por um dos esquerdos.
-Preciso que proteja a mulher que irá com o chefe hoje à noite.
-Protegê-la de que? – perguntou confuso.
-De tudo. – falou sério – Quem irá com ele é a jovem que está morando na casa.
-A mulher que nos fez ser expulsos – murmurou ao fazer uma careta.
-Deto, isso é sério. Eu preciso que cuide dela por mim.
Deto suspirou antes de assentir para Luca. Ele jamais faria algo contra Luca ou o
chefe, as duas pessoas que mais respeitava no mundo.
-Eu a protegerei, não se preocupe.
-Estarei grato quando vê-la chegar sem nenhum arranhão.
***
A família Morales era muito conhecida no meio mafioso, por ser responsável por
entretenimento adulto, por bordeis, filmes pornográficos e algumas vezes
tráficos de mulheres. Todos os anos, os Morales davam uma festa apenas para as
famílias mafiosas e famílias que possuíam algum vínculo com a máfia. Em todas
as festas eram mostradas as novas mulheres adquiridas para seus bordeis, onde
cada pessoa poderia experimentá-las gratuitamente por uma vez. Cada mafioso
que levasse uma companhia, a qual não fosse propriedade sua dava a
oportunidade para outros apreciarem ela.
A noite surgiu com tranquilidade e logo que o ocorreu o crepúsculo vespertino,
Vlad saiu de seus aposentos devidamente trajado. O blazer preto acentuava o seu
corpo bem formado assim como a calça preta. Em seu pulso repousava um
relógio de marca, seus sapatos novos e italianos estavam perfeitos. Nada
encontrava-se fora do lugar. Ele andou pelo corredor extenso até parar na sala,
aonde se sentou e olhou para a hora que marcava em seu relógio. Ele havia
passado todas as instruções para as maquiadoras que foram arrumar Luna. Ele
odiava se atrasar. Cruzou as pernas, enquanto mantinha a expressão de
impaciente. Já estava prestes a se levantar e ir busca-la quando a viu chegar
lentamente, acompanhada de mais duas mulheres.
O vestido vermelho com alças finas que se entrelaçavam nas costas, o vestido
longo com uma fenda na perna esquerda deixava a jovem ainda mais bela.
Entretanto, a sua face mantinha um rubor envergonhado dando-lhe um ar
inocente. Ar este que ganhava ainda mais força quando seus cabelos caiam pelos
seus olhos. Seus cabelos encontravam-se soltos, mas nas pontas haviam cachos.
A maquiagem conseguia ser perfeita e discreta.
-Estamos atrasados – foi a única coisa que Vlad falou antes de observar cada
detalhe e em seu íntimo acha-la linda. Ele ofereceu o braço a ela, e a viu rejeitá-
la e seguir em frente tentando não pisar no vestido a medida que andava pela
sala. Vlad sorriu discreto antes de segui-la e assim que passaram pela porta
central, avistaram o carro que os levaria. A limusine possuía um motorista que
ela jamais vira antes. Deto e Tony mantinham-se no carro que vinha atrás da
limusine.
Assim que Tony parou o carro atrás da limusine avistou Luna e a mesma
expressão de perplexidade em sua face foi compartilhada por Deto.
-Os mafiosos ficarão loucos ao vê-la – Tony se viu falando ao sorrir sem
perceber o olhar sério de Deto, que naquela hora entendera o que Luca desejava.
Luna acomodou-se na limusine tentando permanecer fria assim que Vlad sentou
ao seu lado.
-Hoje à noite, aconselho a não falar nada. Fique sempre ao meu lado.
Luna virou-se para ele querendo, implorando, sentir ódio pelo homem ao seu
lado, mas não conseguiu.
Qual o meu problema?
-Que tipo de festa está me levando?
-Uma que jamais se esquecerá – prometeu assim que o carro começou a andar.

CAPITULO 13
O clima dentro da limusine tornou-se um frio cortante. Nada mais fora dito até o
carro parar em um semáforo, cinco minutos depois. Vlad olhou para Luna
discretamente antes de desabotoar os botões de seu blazer, e colocar a sua mão
esquerda em cima da coxa dela. Ele sentiu o corpo dela endurecer e a respiração
ofegar.
-Não faça isso, por favor – Luna pediu com a voz fraca ao sentir a mão de Vlad
subir pela sua perna, apertando-a levemente, aproveitando-se da fenda em seu
vestido. – Não – murmurou ao ofegar assim que a mão de Vlad aproximou-se de
sua intimidade. – Eles vão saber e isso é....
Humilhante.
Vlad apenas sorriu malicioso ao continuar o que fazia sem preocupar-se com
nada. Apenas apertou o botão que ergueu uma divisória entre eles e o motorista.
Como um felino, avançou para cima dela tomando cuidado com a sua própria
roupa. Ele tinha que chegar impecável.
-Uma brincadeira rápida – Vlad murmurou no ouvido de Luna ao mordiscar a
sua orelha ao mesmo tempo em que acariciava a sua intimidade. A cada
movimento que fazia, Luna se contorcia e gemia baixo. Em cada gemido havia a
humilhação no olhar dela e desejo. Vlad jamais virá alguém tão dividida entre o
desejo e a vergonha quanto ela. – Isso, Lune, continue e se entregue a mim –
Vlad disse em seu ouvido antes dela gozar em seus dedos. Assim que Luna abriu
os olhos avistou o olhar frio de Vlad, e antes que pudesse falar algo, ela o viu
levar os dedos que estavam em sua intimidade e leva-los a sua própria boca –
Muito bom – falou após lamber seus próprios dedos e afastar-se dela – Lembre-
se de não sair do meu lado – ajeitou o blazer e em poucos minutos o carro
estacionou – Arrume o vestido ou quer que eles te vejam desta forma? – sequer a
olhou antes de falar, mas não demorou para sentir os pequenos movimentos ao
seu lado. Luna havia feito o que ele falara.
***
A residência dos Morales encontrava-se resplandecente aquela noite, assim como
em todas em que ocorriam aquelas reuniões. Inúmeros carros começavam a
chegar, e deles saiam casais, ou grupos, bem vestidos e com sorrisos em suas
faces. A única exceção era o mafioso Vlad e sua companheira. Ambos
mantinham a expressão apática na face. Vlad mantinha Luna ao seu lado, com o
braço em torno de sua cintura. O seu olhar mantinha-se firme exaltando respeito
a todos que passavam por ele.
Um longo tapete vermelho dava as boas-vindas aos convidados. Tony e Deto
mantinham-se a poucos metros de Vlad sempre atento ao que acontecia em
volta. Eles não possuíam permissão para errar, não quando a vida de seu chef
estava em jogo.
Os homens olhavam com lascívia para Luna como se conseguissem sentir o
cheiro sexual que exalava dela. As mãos de Vlad mantinham-se firmes em sua
cintura, e pela primeira vez ela não pensou em retrucar ou fugir. Ela sabia que
estaria segura enquanto ele estivesse ao seu lado.
A entrada da residência possuía uma aura de poder. Um enorme lustre com
cristais enfeitava o teto assim como quadros valiosos enfeitava as paredes. Todos
os convidados possuíam um olhar perigoso e ameaçador, entretanto todos se
curvavam para Vlad. Fato este que deixou Luna curiosa sobre o quão perigoso
ele poderia ser.
Luna nada dizia apenas observava tudo ao mesmo tempo em que acompanhava
os passos de Vlad pela imensa casa dos Morales.
Um homem bem vestido com um sorriso na face aproximou-se deles e sem
medo ou temor de Vlad, o abraçou, espantando Luna.
-É sempre bom vê-lo, Vlad – o homem falou ao se afastar e olhar para Luna com
curiosidade – Ela é uma graça. Poderá ganhar um dinheiro com ela.
-Ela é apenas minha diversão – Vlad tornou ao olhar fixamente para o homem –
Trouxe sua esposa para a festa? – tornou com escarnio ao ver o semblante do
homem mudar a sua frente. Todos sabiam que o homem com quem Vlad
conversava, era um senador cuja esposa havia o traído com seu assessor. –
Imagino que ela esteja ocupada. Mas irá se divertir nessa festa – sem nada dizer,
segurou no braço de Luna e a afastou dali – Não olhe nos olhos dele, não se
aproxime daquele homem. Entendeu? – falou firme ao leva-la para a sala onde
todos encontravam-se sentados em grandes sofás.
-Entendi – murmurou acuada. Luna deixou-se ser levada até uma poltrona mais
afastada.
-Sente-se aqui e me espere. Tenho que falar com algumas pessoas. – Vlad Galli
tornou sério ao olhar com firmeza para ela, que não conseguiu fazer nada que
não fosse assentir e sentar-se na poltrona. Permaneceu sentada olhando Vlad se
afastar cada vez mais e ao olhar em sua volta empalideceu. Em sua frente havia
um grupo de homens e mulheres se beijando, tendo relações sem importar-se
com nada. Suas mãos começaram a tremer ao mesmo tempo em que um enjoo
começou a subir pela sua garganta. A cena a sua frente era grotesca.
-O que é isso? – murmurou pálida.
Vlad ajeitou o seu paletó ao andar pela sala sozinho. Seu impulso era de olhar
para atrás apenas para ver o semblante de terror de Luna. O seu intuito ao leva-la
aquela festa era de amedronta-la. De mostrar que ele poderia fazer o que quiser
com ela e ninguém poderia impedi-lo. Ele queria mostrar a ela que tinha o
controle.
-O que irá fazer, Lune? – Vlad murmurou com um sorriso vitorioso ao ir em
direção a um grupo de homens que sorriam ao conversarem e acariciar as
mulheres que passavam por eles. Os homens pararam de falar assim que Vlad se
aproximou deles. Todos fizeram uma reverencia singela. – Vejo que estão se
divertindo.
-Sim, esta reunião está muito divertida – um dos homens falou ao sorrir
largamente.
-A mulher que trouxe consigo é muito bela – um mais velho entre eles disse –A
trouxe para dividir com os demais ou está buscando alguém especial para ela? –
os outros sorriram sem perceber o semblante inexpressivo de Vlad.
-Ela é exclusividade minha – tornou sério ao semicerrar os olhos – Não
deveriam olhar para coisas que estão longe do alcance de vocês.
Todos se calaram e assentiram em silencio. Apesar de todos pertencerem a
máfias, todos temiam Vlad.
No outro lado da sala, um homem de cabelos ruivos, olhos verdes e sorriso
espalhafatoso não conseguia parar de encarar a jovem que chegara com o
mafioso Galli. Ele a desejava e a teria.
Luna não conseguia manter seus olhos abertos. Não ao ver cena tão asquerosa
quanto aquela. Seus olhos vagaram pelo cômodo em busca de Vlad, e ao não
encontra-lo percebeu que havia sido uma tola. Ela tinha sido sua acompanhante
apenas para ser servida a monstros como aqueles. Sentindo-se enojada, levantou-
se com raiva tentando manter o pingo de dignidade ao erguer a cabeça ao ver o
olhar dos homens para si. Em seu interior tremia de medo. Assim que se pôs a
andar na direção oposta à que Vlad foi, Luna sentiu uma mão segurar o seu
braço. Virou-se abruptamente e encarou com medo o homem ruivo ao seu lado.
Encaram-se por longos instantes até Luna puxar o seu braço, soltando-se. Deu as
costas a ele, mas o homem continuou a segurar o seu braço.
-O que deseja? – Luna perguntou ao tentar puxar o braço novamente, sem
sucesso – Estou acompanhada.
-É tão linda! – tocou o rosto dela com delicadeza ignorando o asco em seu olhar
– Não percebeu que nesta festa as mulheres pertencem a todos os homens? Não
há uma única mulher aqui que pertença a um homem.
O estomago de Luna embrulhou. Ela não se lembrou da última vez que comeu,
mas sabia que se permanecesse parada em frente a aquele homem colocaria o
que tinha e que não tinha para fora.
Luna nada mais disse apenas se afastou e seguiu em frente até ver uma porta.
Entrou esquecendo-se de trancar ao perceber que estava no banheiro. Olhou para
o seu reflexo no espelho tentando ignorar o vazio em seu íntimo, a raiva de Vlad
e o nojo que sentia dos homens.
-Eu preciso sair daqui – se viu falando aterrorizada antes que a porta se abrisse
novamente e o mesmo homem de outrora a encarou pelo reflexo do espelho. Os
olhos de Luna fixaram-se no homem atrás de si pelo espelho. Ela tremia ao
perceber que estava em perigo.
-Não se faça de difícil, minha linda mulher. Vamos aproveitar o momento – o
ruivo falou ao se aproximar de Luna e segurar em sua cintura ignorando os
tremores do corpo dela e de seu olhar aterrorizado. O homem tocou o seu
pescoço com delicadeza ao mesmo tempo em que sua mão descia em direção as
nadegas dela.
-Pare - ela implorou em um murmúrio antes de sentir as lagrimas inundarem
seus olhos. O homem continuava fascinado pelo corpo dela, ignorando o
murmúrio dela e seus tremores, continuou a acariciar o seu corpo. – Por favor,
não...
-Você vai gostar – prometeu assim que levou a mão para abrir a braguilha de sua
calça. Luna continuava a se debater. Ela não sabia se deveria gritar ou
permanecer ali, mas antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, a porta se
abriu e Vlad surgiu com uma expressão irônica na face.
-Solte-a – Vlad ordenou com seriedade antes de desabotoar o seu paletó e olhar
para Luna rapidamente e em seguida voltar a sua atenção para o ruivo.
-Galli, sabe que nesta festa não há exclusividade – o ruivo de caçou sem tirar as
mãos de Luna – e ela está gostando.
-Eu... não estou! – Luna disse com coragem ao olhar para Vlad. Implorando que
ele a ajudasse. Vlad não disse nada, apenas avançou em direção ao ruivo com
rapidez. O segurou pela gola da camisa, levando-o para longe de Luna e somente
então sorriu cruelmente antes de bater no rosto do home fazendo-o cair no chão.
-Odeio quando não me obedecem- disse calmo ao pisar na mão do ruivo – Odeio
de verdade – ajoelhou-se no chão ao lado do homem com o olhar aterrorizado –
Não irei lhe matar, não agora – o socou mais uma vez antes de pegar três de seus
dedos – Gosto que todos saibam que tem um preço a pagar por me desobedecer
– disse antes de segurar os dedos dele com força e torcer ao ponto de vê-lo gritar.
Ele tinha quebrado os dedos do ruivo. –Sou Vlad Galli, na próxima não será um
dedo. Será sua mão e sua vida – o ameaçou antes de se levantar e olhar para
Luna, ignorando o grito de dor do ruivo. – Vamos.
Luna olhou para Vlad com terror. Ele era um monstro que não hesitava em ferir
as pessoas, mas era a segunda vez em que a salvava.
-Porque me salvou pela segunda vez? – perguntou confusa pela reação dele.
-Porque não gosto que se intrometam em meu território. – disse simples ao olhar
para o ruivo e em seguida ir em direção a porta – Vamos embora, Lune. – Luna o
olhou ainda com as pernas tremulas. E sem saber como conseguiu o seguiu para
fora do banheiro.
**
No canto da sala, Deto olhava para os casais tendo relações de forma fria. Ele
não conseguia entender a ideia daquela reunião. Para ele era apenas prostituição
disfarçada, talvez eles quisessem se enganar.

CAPITULO 14
Deto tragou o cigarro ao olhar para o jardim vazio. Não havia necessidade de
alguém ir para o jardim quando a orgia acontecia no interior da mansão. Ele já
havia procurado por Tony, mas começava a desconfiar que o seu colega tinha
encontrado alguém para passar o tempo naquela festa. Sorriu ao pensar em Tony
com alguma mulher, e logo meneou a cabeça para espantar essa ideia. Tony era
demasiado bruto para alguma mulher aceita-lo. Jogou o cigarro no chão ao ver
Vlad saindo da casa levando Luna consigo.
-Algo deve ter acontecido – percebeu com um sorriso leve na face ao seguir o
casal de forma discreta.
Luna andava o mais rápido que conseguia tentando alcançar os passos de Vlad.
Ele não havia falado mais nada desde que a salvara no banheiro, e em seu íntimo
temia que ele estivesse irritado e que desejasse puni-la. Puni-la por algo que não
tinha culpa.
-Eu não tive culpa – se explicou em meio aos tropeços. – Eu realmente não...
-Cale-se – Vlad disse frio com a voz bruta ao parar e encará-la – Fique calada até
entrarmos no carro – ordenou antes de voltar a puxá-la enquanto andava com
pressa. Luna apenas assentiu contra a sua vontade. Ao avistar o carro, ela tremeu
com medo. Vlad ignorou os tremores dela enquanto trincava os dentes com
raiva. Ele odiava perder a cabeça como aconteceu e iria ensinar uma lição a
Luna. – Abra a porta – Vlad ordenou ao motorista assim que parou próximo ao
carro. O motorista correu para abrir a porta e olhou para Luna com curiosidade.
Ela era a primeira convidada de Vlad que o temia daquela forma. – Entre – sua
voz dura fez Luna concordar antes de entrar na limusine com receio.
Ele não irá me matar aqui. Irá?
Vlad entrou em seguida, fechou a porta e olhou para ela com seriedade.
-Você é uma idiota, burra e que deseja ser morta. Esta é a única explicação para
aquilo. – Vlad disse extremamente sério – O que teria feito se eu não tivesse
aparecido? Seria violentada novamente?
Luna sentiu a raiva transbordar. Ela não havia ido a aquela maldita festa porque
desejava. Ele a insultava e a humilhava.
-Eu não provoquei aquele homem – murmurou ao sentir lagrimas em seus olhos
– Nem sequer quis vir a essa festa.
Vlad avançou para cima de Luna, segurou em seu rosto e a beijou antes que ela
pudesse reagir a ele. Seus lábios pressionavam os lábios de Luna com fúria. Ele
desejava apagar o outro homem do corpo dela. De seus pensamentos.
Luna hesitou antes de corresponder aos beijos de Vlad. Sentiu as mãos dele
percorrerem seu corpo, sua respiração ofegante em seu ouvido a fez se sentir
deseja. Ela não conseguia entender como toda a vez em que ele a tocava
conseguia se sentir limpa. Ofegou ao sentir a mão de Vlad entrar em sua
intimidade sem importar-se com nada ao mesmo tempo em que beijava o seu
pescoço. Gemeu levemente assim que a mão de Vlad pousou em seu seio.
Como posso sentir o toque dele tão diferente do toque daqueles homens?
Perguntou-se enquanto controlava-se para não gemer diante das caricias dele.
Sua mão agarrou o banco do carro com força ao sentir os dedos de Vlad dentro
de si. O calor do corpo dele, o peso dele em cima de si, sua face avermelhado, o
vidro embaçado. Tudo a fez enrubescer ao perceber que estava prestes a ter
relações com ele naquele carro. No estacionamento da festa onde tentaram a
violentar.
-Eu não posso – Luna murmurou ao sentir a mão de Vlad erguer o seu vestido,
enquanto tirava o cinto de sua calça com a outra.
-Não pode? – Vlad perguntou com um sorriso sombrio sem parar o que fazia –
Não iremos fazer porque você quer, mas sim porque quero. Não estamos aqui
para sua diversão e sim para a minha, Lune, entendeu? – a voz sombria de Vlad
fez Luna assentir sem vontade. Ela se sentia cada vez pior por sentir desejo por
um homem como aquele. Um homem frio, cruel e perverso.
-Sou um objeto – murmurou ao perceber.
-O que mais espera ser? – sorriu cínico ao tirar o cinto, e abrir a calça exibindo o
seu membro – Vamos nos divertir um pouco antes de voltar para a minha casa –
disse antes de avançar para cima dela, beijá-la e penetrá-la sem calma. Ele
desejava marca-la como dele. Ele queria que seu cheiro ficasse impregnado nela.
Luna agarrou as costas de Vlad sentindo o tecido do seu paletó entre seus dedos.
Sentiu o membro dele entrando e saindo dela incontáveis vezes. Ela não queria
sentir prazer com ele, mas era inevitável. O seu toque conseguia incendiá-la e
enojá-la.
Vlad continuou a penetrá-la sem parar, sentiu o corpo de Luna tremer embaixo
do seu, evidenciando o seu orgasmo e não demorou para ele mesmo desabar em
cima de Luna.
Por mais que ele desconfiasse dela, o sexo sempre era diferente de alguma
forma, e isso o instigava ainda mais.
Sem levantar-se de cima de Luna, Vlad, esticou-se para pressionar o botão que o
conectava com o motorista.
-Pode voltar para casa – ordenou antes de soltar o botão e olhar para Luna –
Vamos continuar na cama, será mais confortável – sorriu malicioso ao mordiscar
o pescoço dela e em seguida se afastar, sentando-se ao seu lado sem importar-se
com o seu modo desarrumado e o cheiro de sexo no carro.
***
O tenente Hack cuspiu ao sentir nojo dos dois homens a sua frente. Na delegacia
não havia muitos policiais a àquela hora da noite, e quando estava prestes a ir
para a casa, um policial trouxe dois homens acusados de estupro e venda de
drogas ilícitas. O olhar do Tenente percorreu os homens, avaliando-os. Cada um
havia sido colocado em uma sala de interrogatório. Um dos homens aparentava
ser o mais novo, estava nervoso, com os olhos brilhando, as mãos tremendo.
Avistou uma tatuagem pequena em seu braço, um dragão dentro de um círculo.
Sorriu ao ver aquela marca. Ele tinha certeza que o homem era da máfia.
Afrouxou a gravata antes de entrar na sala de interrogatório, jogar uma pasta que
trazia consigo sobre o homem em cima da mesa fria da sala e encará-lo com
repudio.
-Te darei duas escolhas: Ou fala tudo que desejo saber ou será preso por anos. A
escolha será sua – O Tenente disse extremamente sério. Viu o olhar do homem se
alterar segurou-se para não rir. – O que irá escolher – olhou o nome do homem
na ficha policial – Chester?
O homem olhou nervoso e assentiu. Ele não queria ser preso.
-O que quer saber? – perguntou tremendo e somente então Hack percebeu que o
homem estava sobre efeito de drogas.
Que droga!
-Primeiro irá me contar seus crimes – disse ao estender um gravador na mesa e
liga-lo – pode começar.
Chester tremia, enquanto seu olhar focava em toda a sala.
-Eu - começou parando em seguida ao recordar-se de quem era. Ele era Chester,
um dos novos membros da máfia. Ele não poderia falar. Havia feito um
juramento. – Não tenho nada a dizer – disse com o olhar confuso ao olhar para o
policial.
Hack suspirou pesadamente ao menear a cabeça. Ele odiava lidar com drogados,
pois sempre faziam a mesma coisa. Entretanto, algo lhe passou pela cabeça.
-Essa tatuagem que tem pertence a sua famiglia?
Chester olhou para a única tatuagem existente em seu corpo. Ele não poderia
dizer nada.
-Se falar apenas isso será solto – prometeu com um olhar sombrio. Aquela
poderia ser a sua única pista sobre a máfia que atuava com drogas em sua área.
-Eu poderia ir embora? – perguntou mais para si mesmo, mas antes de falar
gargalhou – Eu não posso falar.
-Porque? É apenas uma resposta simples.
-Se falar, eu desapareço. Não importando aonde esteja. – disse com medo ao
cruzar os braços – quero um advogado – anunciou desviando o olhar ao ver o
Tenente lhe olhar com frieza e raiva antes de sair da sala de interrogatório.
***
Dentro do bar El Sol, Luca bebia com tranquilidade. Ele era o único cliente
naquele bar a àquela hora da noite. Seus pensamentos direcionavam-se para Vlad
e Luna. Ele temia pela vida de sua jovem protegida.
-Eu deveria temer é pela minha vida. Vlad ficará furioso quando descobrir que
um de seus capangas está olhando-a para mim – murmurou pensativo antes de
beber a cerveja gelada. Continuou sentado por alguns minutos até escutar passos
suaves atrás de si. Preparou-se para sacar a sua arma, mas logo sentiu a mão
amigável em seu ombro.
-Não precisa ficar sempre na defensiva – Marco, o investigador da família disse
ao sentar ao lado de Luca – Dois dos nossos homens foram presos.
-Quais acusações?
-Estupro e venda de drogas.
-Estupro? – repetiu sorrindo de forma perversa – Vlad não os deixará viver.
-Sim, deixo que conte a ele e planeje tudo para o desaparecimento dos dois. –
falou ao se levantar e espreguiçar-se – Em dias como hoje queria ser casado. Ter
uma esposa para voltar para casa parece bom.
Luca nada disse apenas assentiu em silencio. Marco se despediu antes de ser
visto com Luca e logo sumiu pela cidade.
Luca depositou o copo já vazio de cerveja em cima do balcão, colocou duas
notas ao lado e saiu sério. Era seu dever avisar a Vlad o que acontecia para em
seguida planejar tudo em detalhes.
***
O corpo de Luna encontrava-se estirado na cama do quarto de Vlad. Assim que
chegaram ele a levara para o seu quarto e não a deixou pensar por um minuto.
Ele a instigava, a usava, a dominava de todas as formas. Ela estava cansada
física e emocionalmente. Não conseguia mais lutar pelo que sentia por ele.
Vlad olhou para Luna com lascívia. Ele não conseguia parar de deseja-la e isso
era algo novo para ele. Com apenas uma toalha enrolada em sua cintura,
admirava o corpo da mulher deitada em sua cama. Aquela era a primeira vez em
muito tempo que levava alguma mulher para a cama em que dormia.
Será uma pena ter que matá-la depois.
Pensou ao dar de ombros. Se dirigia ao seu closet quando escutar batidas na
porta e em seguida viu Luca entrar e olhar lívido para a cena a sua frente.
O sangue no corpo de Luca gelou ao ver Luna deitada na cama de Vlad,
enquanto o seu chefe mantinha-se impassível o encarando.
-Vocês... – Luca começou sem saber o que dizer. Ele teve certeza que Luca
acabaria sendo morta por Vlad em algum momento.
-Ela está bem, ainda – disse sério – O que deseja?
Luca ignorou a pergunta de Vlad ao olhar para Luna. Ele temia por ela. Ele
queria protege-la, mas percebeu ser impossível.
-Luca – Vlad o chamou o encarando – Lembre-se de quem és e de quem eu sou
antes de querer salvar alguém.
Luca abaixou a cabeça ao perceber o que estava fazendo. Colocando a sua vida
em risco por uma mulher que nem conhecia direito.
-Perdoe-me – disse antes de suspirar – Dois homens foram capturados – avisou
com o olhar profissional tentando ignorar Luna.
-Me espere no escritório – ordenou e assim que Luca saiu, Vlad passou o dedo
pelos seus próprios lábios ao olhar para Luna. – Uma diversão antes do trabalho
– se viu falando ao retirar a toalha, deixando-a cair no chão e seguir até a cama.

CAPITULO 15
Luna levantou-se com dificuldade e preguiça. Abriu os olhos demoradamente até
se dar conta de onde estava. O enorme quarto, a cama no centro do aposento, as
cortinas prestas, o odor de sexo exalando e por fim um quadro que lhe chamou a
atenção: um enorme tigre dentro de um círculo. Ela estava no quarto de Vlad.
Enrolou o seu corpo no lençol amassado, enquanto olhou ao redor, apenas para
ter a certeza que encontrava-se sozinha. Se levantou da cama, e em vez de pegar
a sua roupa jogada no chão, se dirigiu para a pequena cômoda que vira no
quarto. Abriu as gavetas não encontrando nenhum papel, anotação, agenda ou
equipamento eletrônico. Mordeu os lábios nervosamente. Levou a mão aos
lábios demonstrando a ansiedade e o medo que transbordava de seu ser. Seus pés
seguiam pelo quarto em busca de algo que nem ela mesmo sabia o que seria.
-Se ele me pegar irá me matar –murmurou nervosa. Olhou tentada para o closet
dele, ficou quieta imaginando ter escutado algo, mas ao perceber que o único
som era de seu coração acelerado, seguiu em frente. Abriu uma das portas,
procurou com cuidado e assim continuou até ter fuçado todo o closet. Longos
minutos depois sentou-se derrotada no chão – O que vou fazer? – perguntou-se
antes de escutar uma batida na porta. Ergueu-se assustada, tropeçou em seus
próprios pés até chegar na cama, e deitar-se.
A cada movimento da porta, os olhos de Luna tremiam ao aperta-los com força.
-Então é ela – uma vez feminina soou extremamente irônica assim que a porta
foi aberta. O som do salto alto batendo contra o chão fez com que Luna se
lembrasse de um filme de terror. Um terrível filme em que todos morriam no
final. Luna escutou a mulher se aproximando cada vez mais dela, e sem que
pudesse abrir os olhos, sentiu a respiração dela próxima a seu rosto – Nem é tão
bonita quanto as outras – a mulher disse ao dar de ombros. Tocou o ombro de
Luna e sussurrou em seu ouvido – Sei que está acordada desde que entrei neste
quarto – sorriu diabolicamente assim que Luna abriu os olhos – Tão medrosa –
sorriu ainda mais.
Luna encarou a mulher a sua frente com receio.
-Continuará me olhando até quando? – a mulher falou exibindo o seu olhar frio.
Luna não sabia o que deveria sentir ao olhar para a mulher a sua frente. A
mulher de voz tão feminina possuía uma estranha aura masculina. Seus cabelos
eram curtos, suas curvas encontravam-se invisíveis pela roupa que ela usava, um
pesado paletó, calças escuras e uma blusa branca. Em sua face conseguia ver
tatuagens distribuídas em seu pescoço e em seu nariz. Ela nunca vira alguém
assim antes.
-Assustada? - perguntou gargalhando – Não sei o que chefe anda pensando –
disse a si mesma. –Vamos, levante-se – ordenou séria e ao perceber que Luna
ainda a olhava com curiosidade e medo, segurou o seu braço com força,
forçando-a a se levantar – Odeio mulheres como você. Cagna – cuspiu as
[18]

palavras ao puxar Luna para fora do quarto com força – Mulheres que se vendem
por nada.
Luna deixou-se ser levada pela mulher até a porta do quarto, quando soltou-se
bruscamente e a olhou com fúria.
-Eu não me vendi. Não estou fazendo isso porque quero como você.
-Está se achando correta – percebeu ao cruzar os braços em frente ao seu corpo.
-Pelo menos não assassino ninguém em nome de outra pessoa – falou com o
restante de coragem que lhe restava ao dar as costas a mulher e seguir para o seu
quarto com apenas o lençol cobrindo o seu corpo.
-Pura e cruel. Interessante – Judi disse ao abrir o seu celular e enviar uma
mensagem a Vlad.
Está tudo certo por aqui.
Judi, a terrível general, assim era conhecida por todos da máfia. A única mulher
que possuía a confiança de Vlad. Judi era responsável por comandar muitos
traficantes e a mandar as prostitutas até Vlad. Prostitutas que jamais seriam
lembradas ou que deixariam saudades. Mulheres que não fariam falta ao mundo.
***
Luna entrou no quarto trancando a porta atrás de si. Ajoelhou-se no chão
agarrando o lençol que cobria o seu corpo com força. Ela havia pensando que o
seu fim havia chegado. Continuou naquela posição até sentir que sua respiração
voltara ao normal. Se levantou, mas em seguida agachou-se no chão. E
engatinhou até a cômoda que ficava ao lado da cama. Afastou a cômoda com
cuidado, avistou um pequeno embrulho. O pegou, tirou o papel com cuidado e
suspirou aliviada ao ligar o aparelho celular. Esperou ansiosa até o que celular
apitasse uma mensagem recebida.
Viva. Nada.
Luna assentiu ao ler e digitou rapidamente com as mãos tremulas.
Esperança.
E rapidamente guardou o aparelho no mesmo lugar de outrora.
***
Vlad Galli olhou com frieza para as fotos dos homens que haviam sido pegos
pela polícia. Luca encontrava-se sentado em sua frente no seu escritório, no
edifício Mirai Galli. Ele odiava perdedores, estupradores e burros, e os dois
homens eram a personificação de tudo que odiava.
-Tire-os da delegacia e depois mate-os – Vlad disse com frieza ao pegar as fotos
e rasgar calmamente – Não tenho tempo para lidar com fracos.
-Não deseja encontrar com eles? – Luca questionou curioso.
-Para que? São dois viciados imprestáveis. Acabe com eles o quanto antes.
Luca assentiu estranhando o modo repentino com que Vlad havia decidido.
-O novo carregamento...
-Não devemos discutir isso aqui – o cortou sério. Vlad sabia que a polícia estava
atrás dele e não desejava dar motivos caso estivessem colocado alguma escuta
em seu escritório. – Mais tarde, em minha casa – falou antes de dispensar Luca,
o qual concordou saindo em seguida.
***
O Tenente Hack resmungou algo inaudível ao avistar um famoso advogado
entrar na delegacia e logo ser direcionado a sua sala. Ele não precisava ser um
gênio para descobrir quem ele viera defender.
-Sou o advogado de defesa dos jovens que foram presos hoje pela manhã – o
advogado falou assim que entrou na sala do Tenente Hack – Meu nome é
Felicius Ambrosio.
Hack nada disse ao olhar o homem demoradamente. O advogado a sua frente
vestia-se impecavelmente, possuía um olhar perigoso, olhos escuros e um sorriso
falso.
-A maioria gosta de falar a qual empresa de advocacia pertence primeiro – Hack
falou ao pegar um de seus cigarros e acende-lo – Qual a sua?
-Sou um advogado particular – falou calmo com um sorriso cordial na face –
Não deveria fumar, é péssimo para o pulmão. Parei já tem três anos.
-Bom pra você – resmungou antes de soprar a fumaça do cigarro – Imagino que
queira conhecer seus clientes.
-Sim, o quanto antes melhor. E gostaria de saber os detalhes que os mantem
presos aqui.
-Posse de entorpecentes, suspeito de estupro.
-Entendo. E possuem provas concretas para mantê-los presos?
-Apenas pela posse de entorpecentes – Hack falou sem vontade ao perceber que
aquilo não seria suficiente para manter os dois homens presos. Não até descobrir
de onde vinham e quem era o chefe deles.
-Ótimo, posso vê-los agora? – perguntou sorrindo – e agradeceria se me desse
uma cópia do caso.
Hack assentiu em silencio ao se levantar exibindo uma aparência cansada.
Acompanhou o advogado até a sala de visitas, aonde o deixou com os dois
homens e em seguida foi em direção a mesa de um dos detetives.
-Procure saber o máximo que conseguir sobre esses dois que peguei hoje.
O detetive assentiu apesar de saber que não encontraria muita coisa. Colocou o
nome dos jovens que havia lido na pasta que Hack lhe dera mais cedo, e
surpreendeu-se ao ver o nome de um deles em um relatório policial antigo.
-Acho que gostará de ler isso, Tenente – o detetive gritou ao acenar para Hack.
Um dos homens estava envolvido em uma morte envolvendo uma Colt 1911.
CAPITULO 16
O Tenente Hack sorria largamente ao ler o arquivo que o policial havia lhe
trazido. Ele nunca ligou o crime da morte de um ladrãozinho ao mafioso que
dominava a área. Leu o arquivo três vezes apenas para ter certeza de que nada
iria escapar no interrogatório.
-Abril de 2002. Homem latino, 1.80 de altura, tatuagem no pulso. Apresentava
uma arma carregada na mochila, um pacote com drogas e dois mil em dinheiro.
Homem encontrado morto por uma Colt 1911. Um tiro em seu pescoço foi a
causa da morte. Não havia escoriação, marcas post mortem ou qualquer sinal de
auto defesa. – fechou o arquivo, acendeu um de seus cigarros e ficou parando
vendo a fumaça preencher a sala. O sentimento de deleito mantinha-se superior a
tudo que já experimentara antes. Se seguisse seus instintos tinha certeza que
conseguiria prender o mandante daquele crime, ao menos. Minutos depois, se
levantou com o olhar decidido. Apagou o cigarro, pegou a pasta e saiu de sua
sala. O caminho que percorreu até chegar a sala de interrogatório foi o melhor
que já fizera. O simples pensamento em prender o homem responsável pela
morte de sua esposa, lhe deixava extasiado.
A porta do interrogatório encontrava-se fechada até ele segurar a maçaneta, e
girá-la. Seu olhar direcionou-se para Chester, o jovem que havia sido preso
antes.
-Chester, é sempre bom vê-lo – O Tenente Hack falou aparentando cordialidade
enquanto caminhava pela pequena sala. Olhou seu reflexo no falso espelho, e
sorriu ligeiramente. – Sabe, Chester, acusação de assassinato é bem grave.
-Assassinato? – Chester repetiu confuso – Eu não matei ninguém.
-Será mesmo? – Hack perguntou com o olhar confuso ao sentar na cadeira em
frente a Chester – De acordo com esse documento você é o principal suspeito de
um assassinato.
Chester empalideceu. Pigarreou ao buscar a melhor forma de sair daquela
situação. Ele tinha que pensar rapidamente.
-Não sei do que está falando – desconversou – O motivo de ter me prendido foi
outro.
-Sim, confesso que foi, entretanto descobri isso – abriu a pasta e começou a ler –
Abril de 2002, um homem foi encontrado morto com um tiro. Um jovem com
tatuagem de um tigre dentro de um círculo foi visto – retirou o retrato falado do
suposto jovem e colocou em frente a Chester. Eles eram idênticos – Ainda irá me
dizer que não conhece?
Chester soube que não teria escapatória. Abril de 2002. O dia que nunca
esqueceria. O dia em que decepcionou Vlad Galli e entrou para a máfia. O
homem que estava morto deveria ter sido a sua primeira vítima como uma
demonstração de apoio e fidelidade a Vlad, porém não conseguiu mata-lo. O
homem que puxou o gatilho havia sido o próprio Galli.
-Eu quero o meu advogado – Chester falou alarmado demonstrando o pânico.
Hack sorriu largamente.
-Se chamar o seu advogado qualquer acordo poderá ser anulado. Entende isso?
Chester abriu a boca e a fechou em seguida. Ele não sabia o que fazer.
-Está será uma oferta única –Hack falou – Se me disser o que aconteceu naquela
noite e de quem é a Colt, você sairá daqui ileso. Não terá ficha criminal. O que
me diz?
Chester piscou inúmeras vezes para entender o que o Tenente desejava.
Demorou exatos dois minutos para gargalhar.
-Não tens ideia com quem está iniciando uma guerra, não é? – Chester perguntou
ainda sorrindo – Está atrás de alguém inalcançável.
-Ninguém é inalcançável para a lei.
-Esta pessoa é – Chester assegurou agora sério – Não continue com isso para não
morrer, Tenente. A pessoa de quem está atrás não tem qualquer sentimento pela
vida humana.
-Nós iremos te proteger, Chester. Basta me falar o nome dele – Os olhos do
tenente Hack brilharam de excitação.
-Nem Deus poderá lhe proteger dele, Tenente. Agora quero falar com meu
advogado.
Hack se levantou com raiva, e antes de sair falou com toda a fúria que sentia.
-Farei você se arrepender por isso.
-Não se preocupe, a pessoa que procura provavelmente irá me matar – assegurou
com frieza.
Uma semana depois...
Em um armazém afastado da cidade, um grupo de homens limpava o sangue
espalhado pelo chão, enquanto Deto, o responsável daquela operação, olhava
sem expressão para o corpo que jazia sem vida no chão frio. O jovem que havia
ido com eles feliz após sair da prisão agora possuía uma expressão de
infelicidade e terror na face. Chester não havia dado problema. Ao perceber que
estava sendo levado para fora da cidade aceitou o seu destino. Ele sabia que iria
morrer assim que a Colt foi mencionada pelo Tenente. Os dedos do jovem havia
sido decepados e logo o mesmo aconteceria com seus olhos, arcada dentaria e
pôr fim a sua cabeça seria separada do seu corpo. Um preço alto por ter colocado
a família em risco. Deto odiava cenas como aquela, mas não tinha o que se fazer.
Todos tinham pecados pelos quais tinham que pagar.
Uma hora e meia depois tudo havia sido limpo e o corpo do jovem não mais se
encontrava-se naquele armazém. O pessoal responsável pela limpeza havia sido
chamado e não demorou para retirarem o corpo dali. Vlad Galli não deixava
vestígios, e muito menos os seus capangas.
***
O Tenente Hack bateu em sua mesa com raiva ao olhar para o jovem policial a
sua frente. Ele não conseguia acreditar que já fazia uma semana desde que
perdera o rastro de Chester, o homem que conseguira prender, o único que
poderia ligar as drogas a Vlad. Após ele ser solto foi solicitado uma guarda
policial para o homem, mas não demorou para ele ser perdido de vista.
-Como isso é possível? – Hack disse transtornado – Mandei fazerem apenas uma
coisa. Uma única coisa! – gritou incrédulo – como conseguiram perde-lo de
vista? – respirou fundo tentando ignorar o olhar desolado do policial a sua frente
– Procure-o. se estiver vivo quero saber aonde está e se estiver morto quero o seu
corpo. – se pronunciou sério. O policial apenas assentiu antes de sair apressado
da sala do Tenente. – Ele já deve estar morto – Hack murmurou ao sentar-se em
sua cadeira se dando conta que talvez nunca pegasse Vlad. Olhou para a
fotografia de sua esposa, que encontrava-se em cima de sua mesa e a tocou
carinhosamente – Eu estou tentando pegá-lo, e continuarei tentando – prometeu
antes de fechar os olhos.
Ao abri-los abriu uma das gavetas de sua mesa, pegou uma garrafa pequena de
metal, a abriu e sorveu o liquido quente. Sentiu o álcool relaxar os seus
pensamentos e seu coração. Ele não sabia quanto tempo aguentaria continuar
com a sua caça.
***
Os cabelos loiros caiam pelo rosto de Luna. Ela mantinha a sua cabeça baixa
enquanto olhava para o cartão de visitas em sua mão. Sentada em seu quarto
atormentava-se por não ver o seu algoz por uma semana. O senso comum lhe
diria para agradecer aos céus e aceitar aquilo como um fragmento de felicidade,
entretanto ela se via cada vez mais ansiosa e triste a sua espera. Ela ansiava para
que ele entrasse pela porta de seu quarto, a beijasse e a fizesse se sentir desejada.
Em sua mente acreditava firmemente que nenhum homem a desejaria mais, e
sentir a paixão de Vlad Galli pelo seu corpo a fazia ter esperança. Esperança que
alguém poderia se importar com ela apesar de tudo.
Olhou indecisa para o cartão em suas mãos temerosa. O mesmo papel que Luca
havia lhe dado quando lhe assegurou que seria confiável, que a protegeria.
Seus olhos foram para a porta do quarto, e continuou o olhando como se
esperasse que Vlad entrasse pela porta. Meneou a cabeça ao perceber que estava
sendo patética. Aquele não deveria ser o objetivo de sua vida. Esperar pelo
homem que agia como se fosse seu dono e a usava quando desejava.
-Apenas uma ligação – disse a si mesma ao apertar o cartão entre seus dedos ao
se levantar da cama sem importar-se com o que vestia. Um roupão branco. Seus
cabelos ainda estavam úmidos. Ela havia percebido que desde que se envolvera
sexualmente com Vlad ninguém lhe olhava diretamente. Todos temiam o chefe
deles. E em seu íntimo perguntava-se se deveria teme-lo também.
Com toda a certeza.
Pensou ao abrir a porta do quarto e ir até a cozinha, aonde tinha um telefone
sempre disponível para ligações. A casa como sempre encontrava-se vazia.
Naquele horário da tarde não havia ninguém, apenas ela. Algo que ela começou
a achar natural.
A casa encontrava-se silenciosa como sempre. Ao chegar na cozinha olhou para
o telefone pregado na parede mais uma vez antes de respirar fundo e pegá-lo.
Discou os números contidos no cartão. Os segundos pareciam horas até escutar
uma voz feminina.
-Sim?
-Olá – Luna falou envergonhada – Sou Luna, amiga de Luca, bem, ele me deu
esse número e pediu para falar com a doutora – parou para ler o nome no cartão
– Nina Costa.
-Luna? Ah, sim – falou animada –Luca me falou sobre você. Quer conversar
comigo, quando será bom para você?
-Eu tenho muito tempo livre – disse baixo.
-Sem problemas. Porque não nos vemos hoje ou amanhã. O que prefere?
Luna pensou rapidamente ao considerar as suas opções. Ela tinha que se preparar
psicologicamente, mas sabia que poderia desistir de vê-la. Olhou para seus
próprios pés e segundos depois, decidiu-se. Ela iria até a doutora Nina Costa
naquele mesmo dia.
-Hoje – disse firme.
-Perfeito. Luca irá traze-la?
Luna não havia pensando nisso. Ela teria que ir sozinha. Sentiu um leve tremor
ao perceber que desde que fora violentada não saia mais sozinha.
-Ele não sabe que estou ligando.
-Entendo. – a mulher disse paciente – Porque não passo ai e vamos almoçar
juntas?
Luna sentiu o seu estomago embrulhar.
-Eu não acho que seja uma boa ideia.
-Acha que sou perigosa? – Nina perguntou calma – Estou sendo gentil apenas.
As pessoas são gentis. Além do mais, és amiga de um grande amigo meu. Isso é
o mínimo que posso fazer. Aceite, prometo que sou uma boa pessoa – disse
sorrindo.
Luna assentiu por fim, e não demorou para desligar o telefone. Nina já sabia
aonde Vlad morava, o que a fez sentir-se pior. Seu receio era de que estivesse
indo para alguma armadilha.
Os minutos se arrastaram. Luna não sabia o que deveria fazer quando Nina
chegasse. Seu instinto estava dividido entre a esperança e a sobrevivência. Seu
maior temor era que Vlad descobrisse e a matasse por algum motivo que
desconhecia. Andou de um lado para o outro indo da cozinha até o seu quarto, e
vice versa. Seu coração batia descompassado quando o som da campainha
preencheu a casa. O seu corpo estancou.
A campainha soou novamente. Mais uma vez e outra.
O coração de Luna batia descompassado e a sua respiração estava ofegante.
Você consegue
Falou a si mesma ao andar centímetro a centímetro até chegar a porta. A abriu
relutante e assim que a porta foi aberta, a viu. A doutora Nina não era nada como
Luna a imaginava. Em seus pensamentos ela era uma jovem extremamente
atraente e com um ar perigoso.
Entretanto, na realidade, a doutora Nina possuía um sorriso gentil, um rosto
comum e cabelos pretos curtos. Ela era extremamente normal, mas exalava uma
aura protetora.
-Luna, certo? – a voz gentil de Nina fez Luna assentiu inconsciente – Você é
realmente linda – a elogiou – Podemos ir almoçar ou prefere comer aqui? – Nina
demonstrou abertura para que Luna confiasse nela.
-Acho que poderíamos ficar aqui– murmurou indecisa. Ela sabia que ninguém
chegaria.
-Por mim tudo bem – Nina deu de ombros ao esperar que Luna a convidasse a
entrar, o que não demorou. Nina já havia ido à casa de Vlad a algum tempo, e
percebeu que nada havia mudado.
Nada mudaria aqui. Percebeu ao sorrir para Luna e segui-la até a cozinha. Nina
nunca entrara na cozinha, e deixou-se aparentar a surpresa. Luna movia-se
graciosamente pela cozinha, enquanto preparava o almoço.
-Tem medo de sair? – Nina perguntou ao olhar para as costas de Luna. Ela sabia
que não deveria ser tão agressiva, mas não tinha tempo a perder. O seu tempo era
limitado naquela casa.
Luna parou o que fazia, enquanto tentava manter a calma.
-Muitas pessoas tendem a ter medos como esse. É Normal. – a assegurou – mas
não deve parar a sua vida por isso.
-Eu não parei a minha vida – retrucou com a voz baixa.
-Isso é bom – sorriu sem acreditar nas palavras dela – Então queria falar comigo,
não é?
Luna concordou ao abrir a geladeira e retirar alguns alimentos. Começou a cortá-
los apesar de suas mãos tremerem. Ela não sabia se estava pronta para isso.
-Se não se sente à vontade...
-Eu – Luna a interrompeu sem graça – Sentir atração, desejo por um homem
cruel e rude, é normal? Mesmo quando fui... violada? – Luna perguntou sem
virar-se sentindo-se humilhada e nervosa.
Nina respirou fundo antes de falar suavemente.
-Não foi sua culpa – andou em direção a Luna, e colocou a sua mão em seu
ombro – Não foi sua culpa o que aconteceu naquela noite. – disse firme – Não
foi sua culpa.
Luna sentiu as lagrimas invadirem os seus olhos ao assentir em silencio. Ela se
perguntara a cada segundo o que havia feito para merecer aquilo.
-E sentir desejo é normal. Você é uma mulher normal. Não fez nada de errado.
Nada que deva se culpar. Sentir desejo por um homem, independentemente de
sua personalidade, é normal. Tudo o que está sentindo é normal. Não foi sua
culpa.
Luna virou-se e encarou Nina com os olhos cheios de lagrimas.
-Não foi minha culpa – Luna se viu murmurando ao apoiar a cabeça no ombro
de Nina, a qual a abraçou.
-Sim, não foi. – Nina disse antes de sentir-se aliviada. Ela desejava ter feito
aquilo a sua antiga amiga, a irmã de Luca, anos atrás.
***
Já se passara das dez da noite quando Vlad entrou em sua casa. O silencio
característico o fez sorrir. Aquele era o seu lar. A sua tranquilidade. Andou em
direção ao seu escritório, afrouxando a gravata que temia em apertar o seu
pescoço.
Entrou em seu escritório, e não demorou para Luca aparecer atrás de si.
-Chame Luna – ordenou sério sem olhar para seu consigliere.
-Ela deve estar dormindo.
-Acorde-a, não me importo. – falou dando de ombros ao ir se sentar em sua
poltrona. – Estou esperando, Luca.
Luca hesitou antes de assentir. Ninguém poderia ir contra Vlad. Foi o mais
lentamente possível até o quarto de Luna. Bateu na porta e esperou que ela
abrisse, o que não aconteceu.
-Luna – a gritou – É Luca. – esperou novamente e somente então viu a luz ser
acessa por baixo da porta. – Vlad deseja vê-la – disse a espera que ela abrisse a
porta. Minutos depois, Luna abriu a porta trajando um roupão. Seus cabelos
estavam desgrenhados e seus olhos, levemente, avermelhados.
-Esteve chorando? – perguntou preocupado.
-Não, apenas dormindo – mentiu sem perceber ao seguir em frente a Luca –
Aonde ele está?
-No escritório. – Luna assentiu ao seguir em frente. Aquela seria a sua única
alternativa. Ela tinha que descobrir quem Vlad Galli era para continuar a sua
vida.

CAPITULO 17
O coração da jovem Luna batia descompassado ao entrar no escritório de Vlad.
Assim que passou pela porta, escutou o barulho dela sendo fechada atrás de si
por Luca.
Seus olhos percorrem o cômodo. Percebeu o quanto era frio e emanava um ar
cruel e aterrorizante. Apertou ainda mais o roupão contra o seu corpo. Olhou
para a frente e se viu sendo analisada por Vlad, o qual mantinha-se estático
sentado em sua cadeira apenas a olhando fixamente.
-Não vai perguntar o motivo por ter lhe chamado? – a voz de Vlad soou minutos
depois fria.
-Imaginei que fosse falar quando quisesse – Luna respondeu temendo que
aparentasse petulância. Ela não desejava morrer.
-Estais agindo como se não me temesse – percebeu ao passar a língua pelos
lábios, deleitando-se com o olhar assustado dela – Lhe chamei para informar a
sua próxima missão.
-Próxima missão? – murmurou confusa – eu imaginei que imaginei -gaguejou
diante de seus próprios pensamentos. Para ela, Vlad continuaria a usando e com
isso não precisaria sair para nenhuma missão, pois o seu corpo estava a sua
mercê.
-Achou que por gemer em meus braços a faria imune ao restante? Está vivendo
em mundo podre, e não deseja tocar na podridão. Isso não é ser egoísta, Lune? –
perguntou ao se levantar lentamente.
-Eu não achei que... – respirou fundo para controlar o impacto da notícia – O que
devo fazer?
-Melhorou. Assim que eu gosto – sorriu ligeiramente ao parar em frente a ela e
tocar em seu queixo, erguendo-o – Gosto de vê-la exatamente assim. Vulnerável.
– confessou com os olhos brilhando. Ele sentia prazer em vê-la fraca,
desesperada e submissa a ele.
Luna fechou os olhos com força. A raiva a consumida, e a vergonha a deixava
vulnerável. O que mais a atormentava era sentir desejo por ele. A mão de Vlad
em seu rosto, fez com que ela, involuntariamente, fechasse seus olhos para senti-
lo mais.
Vlad nada disse antes de a observar fixamente para soltá-la em seguida.
-Prepare-se, pois sua missão acontecerá amanhã – revelou ao dar as costas a ela,
virando-se segundos depois ao perceber que ela ainda não havia ido embora. – O
que ainda deseja, Lune? – indagou com escarnio ao olhar em seus olhos. Luna
não fazia ideia do que a manteve parada em frente a Vlad. Ela sabia o que
deveria fazer: virar-se e ir embora.
-Eu – Luna murmurou ao sentir o seu rosto avermelhar-se. Ela sabia que
acabaria se arrependendo, mas não tinha escolha. Respirou fundo ao caminhar
até onde estava. Tocou o rosto dele com suas mãos. Sentiu a sua face quente e
somente então teve a certeza de que ele realmente era um ser humano. Ergueu-se
na ponta dos pés, o suficiente para tocar os seus lábios com os seus.
Vlad não se moveu até senti-la cambalear para trás antes de afastar-se dele
confusa.
-Amanhã ainda terá a nova missão – tornou com os olhos brilhando de luxuria
antes de toma-la em seus braços e a beijar com paixão.
Luna sentiu o seu corpo ser prensado contra a mesa do escritório dele e em
seguida escutou o barulho de objetos caindo no chão. E não se importou. Ela
estava inebriada pelo beijo, pelo toque e pelos sussurros de Vlad em seu ouvido.
-Isso, grite o meu nome – Vlad disse em seu ouvido antes de beliscar a sua coxa.
***
Judi andou com segurança por todo o bar El Sol, o qual mantinha-se aberto
apenas para os membros da máfia. A face seria e destemida de Judi assustava
alguns dos homens, mas os cincos dedos da mão esquerda de Vlad sentiam-se
tranquilos ao seu lado, pois o terror que Judi emanava era o mesmo que o deles.
Eles descendiam do mesmo passado aterrorizante e de sua cega e total lealdade a
Vlad.
Luca olhou para Judi fazendo um sutil gesto com a cabeça antes de vê-la seguir
na direção contraria a dele.
-Uma excelente mafiosa – Cosimo comentou ao levar a caneca com cerveja aos
lábios. Olhou de soslaio para Luca, o qual encontrava-se sentado ao seu lado.
-Sim.
Cosimo fez uma careta antes de exibir seus dentes brancos.
-Pensando na protegida do chefe?
-Ela não é sua protegida.
-Então o que seria? Ele a protege.
-Ele a forçou a deitar-se com ele – revelou com repugnância.
-Luca, está apaixonado por ela? – indagou sério.
Luca sequer olhou para Cosimo. Ele não cogitava aquela ideia e tinha certeza
que jamais se apaixonaria por Luna, entretanto se viu pensando seriamente se
não sentia algo por ela. Outro sentimento que desconhecia.
-Não, eu não a amo como mulher.
-A amas como irmã? – Cosimo perguntou curioso.
-Provavelmente não – negou pensativo.
-Porque se esforças tanto por ela?
Luca sabia que não tinha a resposta para tal pergunta, pois muitas vezes se
perguntara aquilo.
-Não deves saber a resposta – Cosimo disse compreensivo – Mas acho que
deveria afastar-se dela. Se pensar seriamente sobre isso, não sabemos o motivo
dela estar dentro da família, convenhamos ela não tinha motivos para ficar na
casa do chefe. Ela simplesmente foi, como se já tivesse pensado ou planejado
sobre isso. Deveríamos ter mais cuidado com ela. A mais bela flor pode possuir
os piores espinhos.
Luca nada disse, pois sabia que Cosimo estava certo. Luna era uma
desconhecida.
***
O corpo de Luna repousava no carpete de Vlad, onde muitas jovens já haviam
morrido, entretanto a diferença encontrava-se no homem deitado ao seu lado.
Vlad Galli mantinha a expressão suave na face ao encarar Luna com curiosidade.
As faces avermelhadas, o cabelo desgrenhado e o aroma do sexo denunciavam o
que havia acontecido naquele escritório.
Luna sentia vontade de falar algo com Vlad, mas não sabia que tema poderia
abordar sem ser ameaçada ou morta. Suspirou antes de sentar-se no carpete,
enquanto catava as suas roupas, próximas a si.
-Se sacia e depois corre? – Vlad comentou com um sorriso frio ao olhar para as
costas nuas dela.
Luna virou-se, encarando-o.
-Não sou um animal – disse seria sentindo-se ultrajada.
Com movimentos precisos, levantou-se sem importar-se com sua nudez. Pegou
um maço de cigarros em cima de sua mesa, pegou o seu isqueiro e acendeu.
Tragou a fumaça com lentidão antes de olhar para Luna e falar tranquilamente.
-Todos somos animais, a diferença está em como nos comportamos com isso.
Ainda me acha um monstro, não é? – indagou.
-Monstro? – murmurou ao colocar os braços em frente ao seu corpo nu.
-Foi assim que me chamou na primeira vez em que nos vimos. Na boate.
Luna meneou a cabeça para afirmar que não se recordava. Pensou durante alguns
segundos até estreitar seu olhar e um semblante de terror passou pela sua face.
-O homem que me atacou!
-Eu a ataquei? A única que se atirou para mim foi você.
-Não fui eu, foi a minha amiga. Ela que me levou naquela boate.
-Isso não importa – deu de ombros ao tragar o cigarro novamente. Vlad
permaneceu parado em frente a sua mesa ainda sem roupa. Seu olhar fixava-se
em um ponto qualquer do escritório.
Luna suspirou antes de enrolar o seu corpo com o seu roupão. Ergueu-se do
chão, desajeitadamente, e caminhou para a saída, mas antes se virou.
-Quando será o meu próximo trabalho? – perguntou com a expressão vazia.
Vlad soprou a fumaça que preenchia seus pulmões antes de falar encarando-a.
-Será quando eu quiser. Lembre-se que eu mando aqui. Nunca se esqueça que és
minha, Lune.
Luna engoliu em seco antes de sair do escritório com rapidez. Ela sabia que iria
se arrepender de sua escolha. Ela sabia que aquele havia sido um preço alto
demais para pagar, mas jamais pensara no que sua decisão iria lhe custar.
Só mais um pouco.
Luna pensou ao caminhar até o seu quarto com as pernas tremulas.
***
A casa preenchida pelo silencio e o ar mórbido fazia companhia ao tenente Hack,
o qual adormecia no sofá. O cheiro de álcool impregnava todo o ambiente.
O barulho de um celular tocando, o fez abrir os olhos rapidamente e ler a
mensagem.
Preciso vê-lo.
Ignorou a mensagem antes de passar pela sua mente tudo o que precisaria fazer
para encontrar com aquela pessoa.

CAPITULO 18
Em um pequeno vilarejo afastado da cidade grande, um homem com olhos
sanguinários, cabelos vermelhos e sardas no rosto, sorriu largamente ao ler uma
revista com a imagem de Vlad Galli na capa. O homem se levantou da cadeira
confortável e se pôs a caminhar pela sala de sua casa.
A sala possuía cores fortes, retratos de animais e cabeças de animais mortos. A
sala era um uma enorme sala de troféu.
O som de passos e gritos abafados fez com que o homem olhasse em direção a
entrada de sua casa. Sorriu largamente exibindo dentes amarelados ao ver o seu
mais fiel homem segurar o braço de uma jovem mulher que se debatia
freneticamente, enquanto suas mãos mantinham-se amarradas e em sua boca
havia um pano que a impedia de gritar.
-Me desculpe o atraso, chefe – o homem falou ao empurrar a jovem que caiu
ajoelhada no chão, em frente ao homem ruivo.
-Uma belíssima imagem – Donnel falou ao se abaixar e tocar nos cabelos loiros
da jovem. Pegou uma das mechas e a cheirou, aspirando o seu perfume – Ela é
perfeita para essa semana. – sorriu largamente – Pode sair – disse ao homem que
fez uma reverencia em concordância. Donnel sorria ao ver o desespero na face
da mulher e ao vê-la derramar lagrimas, seu semblante tornou-se compassivo.
Retirou o pano que cobria a sua boca, e acariciou a sua cabeça com delicadeza. –
Porque está tão assustada? – indagou com a voz calma.
-Você me sequestrou – disse assustada e temerosa por sua vida.
-Não a sequestrei, apenas a trouxe para o melhor final de semana de sua vida,
senhorita – sorriu largamente ao retirar de seu bolso uma seringa – Depois disso
ficará bastante relaxada – prometeu antes de escutá-la gritar. Donnel segurou o
seu braço, e demonstrando habilidade injetou a droga que havia na seringa na
jovem. A viu perder o brilho dos olhos e poucos minutos depois sorrir
largamente antes de implorar para que ele a tocasse. – Essa droga nunca falha –
murmurou antes de soltar as mãos da jovem.
Donnel aplicara na jovem uma mistura de drogas. Estimulante sexual com mais
dois tipos de drogas e entre elas a Butterfly.
***
Horas depois, no quarto principal da casa, Donnel admirava o corpo machucado
da jovem, o modo como ela respirava com dificuldade e seus olhos marejados.
Antes que pudesse falar algo, o barulho do celular o fez revirar os olhos, e ao
abrir a mensagem, sorriu.
-Então começamos – murmurou ao perceber que deveria encontrar a pessoa da
mensagem em pouco tempo.
***
Em frente à casa de Vlad Galli, Luca permaneceu parado com o semblante
inalterado. A sua conversa com Cosimo lhe deixou preocupado ao pensar que
Vlad poderia estar correndo perigo e que Luna poderia não ser a pessoa que
achava que fosse. Se ele tivesse colocado o inimigo próximo a Vlad jamais se
perdoaria por isso.
Abriu a porta com o pensamento confuso e decidido a coloca-la contra a parede.
Luca sempre fora bom em saber se a pessoa mentia, e finalmente poderia
aproveitar aquilo para ficar mais tranquilo.
Assim que fechou a porta atrás de si, escutou um barulho na cozinha. Andou
calmamente até lá e a viu de costas para ele, como imaginara que aconteceria.
Luna permanecia parada em frente a pia, lavando alguns pratos. Seus
movimentos eram calmos, exageradamente calmos. Observou o modo como seus
cabelos mantinham-se presos, as suas costas eretas e seu longo pescoço.
No que estou pensando?
Perguntou-se confuso.
-Luna – a chamou com a voz calma. A viu virar-se lentamente e somente então
viu suas olheiras. – Vejo que não dormiu muito bem – comentou displicente ao
sentar-se na pequena mesa que havia na cozinha.
-Parece que não – murmurou ao olhar para ele.
-Sim, estive me perguntando, não deseja voltar a estudar?
-Eu não sei – disse incerta. Luca observou cada expressão, cada movimento sutil
de sua face em busca de alguma evidencia de suas mentiras. – Não acho que
esteja pronta ainda.
-Para morar sozinha?
-Acho que para sair sozinha – revelou sem graça – me desculpe. Eu não deveria
falar isso.
Luca sentiu-se um monstro naquele instante.
-Ainda tem medo? – perguntou sem jeito.
-Às vezes – respondeu incerta tentando soar jovial.
-Me perdoe, eu não sabia.
-Ninguém sabe – deu de ombros ao perceber que era verdade. Ele era o único
que conhecia uma de suas fraquezas. Isso não era bom. Isso não era nada bom
para ela. – Peço para que não conte a ninguém, por favor.
-Eu não contarei – prometeu rápido demais. Sua lealdade era para com Vlad. – E
a medica que lhe dei o número? Conseguiu falar com ela? – mudou de assunto e
somente então percebeu um rubor em sua face.
-Eu falei com ela.
-Espero que tenha sido uma conversa proveitosa. Você foi até ela?
Luna o encarou como se tentasse desvendá-lo.
-Não conversaram sobre mim?
-Não. Posso ser um mafioso, mas não sou um homem desprezível. Ela é uma
medica, e você sua paciente.
-Obrigada, por isso – agradeceu.
-Luna, porque veio comigo naquele dia? – Luna perguntou diretamente.
O coração de Luna bateu mais rápido ao sentir o olhar de Luca sob si. Sentiu
suas mãos tremerem e teve certeza que seus lábios tremiam levemente ao abrir a
boca.
-Eu não tinha para aonde ir. Quero dizer, não queria ficar sozinha. Não naquele
momento.
-Entendo – disse ao se levantar – É compreensível que depois de tudo quisesse
companhia.
-Acho que sim – tornou incerta ao tocar o seu próprio braço mostrando o
desconforto. – Quando me chamou para vir, foi como um balsamo para o meu
medo. Eu me senti acolhida de alguma forma, pode parecer loucura.
-Um pouco – sorriu – Eu devo ir me encontrar com o chefe agora. Quer que eu
lhe diga algo?
Luna piscou para entender o que ele dizia e por fim negou com um aceno. Luca
se despediu e logo sumiu de sua frente. No instante em que escutou a porta ser
fechada, Luna deixou-se cair no chão ajoelhada. Ela não sabia por quanto tempo
conseguiria mentir.
Que isso acabe logo.
Pensou ao repousar a mão em seu coração sentindo os próprios batimentos
cardíacos.
***
No escritório da Mirai Galli todos mantinham-se ocupados com um novo
projeto, uma garagem no centro da cidade. Luca passou por todos com extrema
descrição ao caminhar em direção a sala de Vlad. Passou pela secretaria e ao
fazer um leve aceno a viu sorrir. O sinal de que poderia entrar. Luca bateu na
porta antes de abri-la e encontrar Vlad em pé, em frente para a grande janela de
vidro.
-Entre e feche a porta – ordenou com a voz grave. Ao escutar o barulho da porta
ser trancada, virou-se para Luca – Alguns homens vasculharam este escritório
em busca de escutas e encontraram duas – olhou severamente para ele – Quero
que descubra quem está me traindo.
-Duas escutas? Onde foram encontradas? – indagou com o tom sério. Qualquer
informação seria crucial para achar o culpado. – Luna não poderia ter feito isso,
ela nunca veio aqui – pensou aliviado.
-Uma na estante ao seu lado e outra embaixo de minha mesa. Eles pensaram em
tudo. – virou-se com o semblante assustador – Eu quero que encontre o culpado
e me entregue ele vivo.
Luca entendia o que aquela frase significava. Ele iria matar a pessoa
dolorosamente e lentamente.
-Sim, eu o encontrarei – disse com firmeza.
-Ótimo, agora quero que arranje um vestido social para Lune.
-Social?
-Sim, iremos para o teatro – sorriu nefasto.
-O que há no teatro?
-Donnel. Ouvi dizer que ele aprecia as mulheres loiras. Ela mora sob meu teto,
devo arranjar uma utilidade para ela, não? – perguntou retoricamente. – Essa
será uma chance para vê-lo desejar algo que não poderá ter.
Luca engoliu em seco.
-Chefe, como seu consigliere devo dizer que há muitas falhas nesse plano.
-Quais? – perguntou com o olhar duro. Vlad Galli odiava ser contrariado.
-Primeiro, Donnel é um homem extremamente violento e vingativo. Se ele
gostar de Luna irá tê-la, nem que precise invadir a sua casa para isso. Instigá-lo
não é uma boa alternativa, além disso ir em seu território é suicídio.
Vlad apenas sorriu.
-Apenas isso?
-Sim – Luca assentiu confuso.
-Luca, seu desejo de protege-la está indo contra a sua lealdade a mim – tornou
aparentando calma – nunca mais faça isso. Lembre-se que deve estar ao meu
lado, se ela precisar morrer para que alcance meus objetivos, que assim seja. Ela
não é ninguém para se preocupar com ela. Está me entendo?
Luca concordou após hesitar. Ele sabia que se continuasse defendendo Luna
daquela forma acabaria sendo morto.
-Me perdoe, Chefe, isso não acontecerá novamente.
-Eu espero, sinceramente, que sim. – disse antes de dar as costas a Luca
indicando que aquela conversa havia acabado.
CAPITULO 19
Luna estancou ao avistar Cosimo e Tony lado a lado em frente ao seu quarto
assim que abriu a porta próximo a hora do almoço. Ela sabia o que aquilo
significava. A sua próxima missão seria naquele dia.
-Então é hoje? – ela se viu perguntando ao encarar Cosimo, o qual assentiu em
silencio ao lhe estender uma mochila preta – Devo entregar a alguém?
-Deve se vestir com as roupas que estão ai dentro e se preparar. Estaremos lhe
esperando na porta – Cosimo falou antes de tocar no ombro de Tony e se
afastarem dela rapidamente. Luna abriu a mochila e seu coração parou. Com
lentidão, retirou uma cinta liga, uma calcinha preta, um espartilho preto com
renda vermelha.
-O que é isso? – se perguntou com a voz fraca.
***
Tony demonstrava todo o seu incomodo ao olhar para os lados, enquanto Cosimo
mantinha-se alheio a tudo. Para Cosimo tudo se resumia a diversão. Na mente
distorcida de Cosimo ele brincava com Luna. A manipulava, a via sofrer e em
seguida a salvava.
-Isso não dará certo – Tony comentou ao retirar a sua arma das costas e verificar
se estava carregada – Ela não vai conseguir.
-Se o chefe acha que irá, ela vai – Cosimo deu de ombros antes de olhar para
atrás e vê-la surgindo com um pesado casaco preto. – Isso não estava na
mochila.
Luna sentiu sua face enrubescer. A cada segundo sentia-se pior. Por baixo do
pesado casaco não vestia nada além do espartilho e da calcinha que lhe deram.
Ela se sentia suja. Se sentia corrompida.
-Pode ter auto piedade quando chegar ao local – Tony disse sério ao colocar a
arma em suas costas e caminhar em frente deixando Cosimo ao lado de Luna.
-Não será tão ruim – tentou apaziguar o coração da jovem, a qual apenas
assentiu sem saber o que dizer.
Isso não pode estar acontecendo.
Luna disse a si mesma. Seu maior temor era ser vendida ou oferecida a alguém.
Sua consciência sempre a deixou alerta sobre Vlad. Ele não sentia nada por ela,
apenas a usava.
Ele já se cansou de mim?
***
O carro preto parou em frente a uma boate. Tony retirou a chave da ignição,
enquanto olhava com curiosidade para o banco traseiro aonde Cosimo mantinha-
se sentado ao lado de Luna. Um sorriso debochado brotou nos lábios de Tony.
Luna entrelaçou suas mãos ao sentir o medo correr por suas veias. Sua vontade
era de sair do carro e correr para longe deles.
-É aqui então – se viu falando com a voz tremula.
-Sim – Cosimo respondeu ao olhar pelo vidro do carro – Sua missão será...
-Um momento – ela pediu ao levar a mão a boca. Sentiu um grito brotar em sua
garganta e morrer em seguida. Ela estava nervosa e com muito medo.
Por um segundo, Tony sentiu-se mal por ela até vislumbrar algo diferente pelo
retrovisor. Era como se tivesse visto uma alma doentia e perigosa.
Devo estar imaginando coisas.
-Não vai precisar fazer sexo com ninguém – Cosimo tornou calmo diante do
olhar perplexo que ela lhe lançou. –O chefe não é tão mal quanto pensas –
defendeu Vlad.
-Então porque eu vim assim?
-Porque é necessário. Sua missão é entrar naquela boate e encontrar este homem
– retirou uma foto do bolso e estendeu para ela – Ele deverá ter um pen drive em
seu bolso. Pegará esse pen drive e irá levar para o Tony que ficará no bar o
tempo todo. Eu estarei aqui fora. Entendeu?
Luna assentiu.
-Eu poderei morrer? – perguntou e no instante em que olhou para Cosimo
percebeu que gaguejava. Sua voz tremia.
-Todos podemos morrer.
-Então por qual motivo fazem isso?
-Por lealdade – disse como se fosse a resposta mais óbvia. – Vlad Galli nos
ajudou assim como Luca fez com você. Temos lealdade com ele, apenas com
ele, entende isso?
-Sim, entendo – murmurou.
-Ótimo, o nosso homem já está na boate. – disse ao abrir a porta do carro e sair.
Luna suspirou antes de fazer o mesmo segundo o casaco com força contra o seu
corpo.
Luna olhou para Tony antes de entrar na boate.
-Me promete que não vou morrer hoje? – pediu com os olhos suplicantes.
Tony não titubeou ao responder.
-Ninguém vai morrer.
Luna não conseguia assentir até sentir as mãos de Cosimo em seus ombros.
Retirou o casaco com lentidão e assim que o entregou a Cosimo, sentiu o vento
frio passar por seu corpo. Tentou com todas as suas forças ignorar o olhar de
desejo do segurança da boate, mas não conseguiu. Olhou para si mesma
segurando as lagrimas.
-O que estou fazendo comigo mesma? – se perguntou parada em frente a boate
sem perceber o olhar duro de Tony.
-Precisa seguir em frente, Luna – Cosimo disse em seu ouvido e a empurrou
levemente.
As pernas de Luna apenas seguiam em frente apesar de todo o seu nervosismo.
Avistou Tony sumindo pela entrada da boate e segundos depois que adentrou o
lugar que seria a sua ruina. O segurança tocou em seu ombro e ela sentiu com
repugnância a mão descer até a sua bunda.
-Ela é um pouco especial – Cosimo interveio ao retirar a mão do homem do
corpo dela – Divirta-se e traga muito dinheiro – piscou para Luna enquanto a via
desaparecer na entrada.
O lugar mais parecia com um bordel. Nas cadeiras, poucos homens
encontravam-se sentados com copos de bebidas em sua frente, nos cantos
haviam alguns sofás. Luna olhou em volta, tentando reconhecer o homem da
fotografia apesar da baixa luminosidade. Olhou para o bar e seu olhar deparou-se
com Tony que bebia tranquilamente.
Assentiu para si mesma ao andar pelo lugar ignorando os olhares dos homens até
vê-lo. O homem da fotografia estava sentado em um dos sofás. O mais afastado
dos demais.
Luna engoliu em seco ao caminhar até ele.
Preciso fazer isso.
Parou petrificada em frente ao homem e assim permaneceu até ele erguer o
olhar, e sorrir para ela. Um sorriso débil.
-Você deve ser nova, qual o seu nome? – o homem perguntou ao acariciar o
braço dela.
-Meu nome é Misty – disse com lentidão e viu o homem sorrir ainda mais ao
puxar o seu braço fazendo-a sentar em seu colo. Sentiu o modo como o corpo
dela enrijeceu-se.
-Está com medo de mim? – gargalhou – Nenhuma mulher sente medo de mim,
querida – comentou ao tocar as pernas dela – É nova aqui. Sempre venho e
nunca lhe vi. O seu cheiro também – aspirou o perfume dela ao aproximar-se de
seu pescoço – Qual o seu preço?
Luna engasgou tentando se controlar para não fugir dele. O seu corpo tremia de
medo, o seu coração batia descompassado.
-Eu não faço isso.
-Então o que faz?
-Danço – inventou ao tocar o rosto do homem reprimindo a sua repugnância que
sentia por ele.
-Pode fazer o seu show – retirou as mãos do corpo dela e retirou algumas notas
do bolso da calça – Se gostar lhe darei muito mais. – jogou as notas em cima de
Luna.
Com extremo esforço, ela se levantou e começou a rebolar em frente ao homem.
Mexia o seu corpo conforme já vira na televisão. Movia de forma que
aparentasse sensualidade quando na realidade sentia vontade de matar o homem
a sua frente. Engoliu a ânsia que teimava em queimar a sua garganta lhe trazendo
um gosto amargo quando sorriu para o homem. Piscou para ele ao sentar em seu
colo. No mesmo instante, ele tocou em seu corpo.
-Sem muito toque, monsieur – murmurou em seu ouvido ao tocar em seu paletó.
Continuou rebolando no colo do homem ao apalpar o paletó dele. Luna tinha
certeza que o homem acreditava que ela estava acariciando-o. Quando começara
a desistir, sentiu um pequeno objeto no paletó. Com cuidado, o tocou e percebeu
ser o pen drive que buscava.
-É um homem muito charmoso – disse em seu ouvido ao se aproximar ainda
mais dele. Enfiou a mão no bolso do paletó e retirou o pen drive. Viu de relance
a cor dourada dele. Fechou a mão com força, escondendo o objeto e se afastou
do homem que a olhou confuso –Preciso beber algo – sorriu sem graça ao se
afastar rapidamente escutando os gritos do homem atrás de si. Parou ao lado de
Tony – Eu consegui – murmurou ao depositar o pen drive ao lado da bebida do
mafioso.
-Vá para os fundos. Saia pela porta dos fundos – a avisou ao pegar o pen drive,
olhar para ela de cima a baixa e sorrir – Ele está vindo atrás de você – comentou
ao virar as costas e seguir para a saída.
Luna arregalou os olhos ao se virar e perceber que era verdade. Tentou conter o
nervosismo ao ir para uma porta lateral. Os saltos a deixavam lenta, e raivosa
sentiu que deveria correr. Sem pensar, começou a correr em direção a saída dos
fundos. A cada passo os seus pés doíam. Passou por algumas mulheres que se
vestiam e a olhavam com desprezo. Ao abrir a porta que dava acesso a saída
sorriu. Olhou para os lados e avisou Cosimo fumando um cigarro. Respirou
fundo antes de correr até onde ele estava.
-Eu consegui – disse animada ao olhar para Cosimo que apenas assentiu antes de
jogar o cigarro no chão e lhe devolver o casaco.
***
No silencioso escritório da casa de Vlad Galli. Luca manteve o seu olhar fixo em
um ponto qualquer ao desligar o celular e olhar para o seu chefe em seguida.
-Ela conseguiu – informou com a voz dura.
-E você preocupado. Lune est une survivant .[19]

-Sí- Luca assentiu.


-Pessoas como ela podem se tornar pessoas como eu, basta um estimulo. O
estimulo correto – sorriu largo ao olhar para a caixa vermelha em cima de sua
mesa – Os ingressos estão com você?
-Sim, aqui estão – entregou o par de ingresso a Vlad.
-Perfeito. Pode sair – ergueu a mão levemente e no instante seguinte encontrava-
se sozinho em seu escritório.
***
O carro parou em frente à casa de Vlad, Tony saiu rapidamente deixando Luna
sozinha com Cosimo.
-Fez um trabalho interessante hoje – Cosimo disse sério – Não pareceu ser a
primeira vez que fazia aquilo – a face de Luna empalideceu, enquanto tentava
buscar palavras. – Não me entenda mal, não quero saber sobre sua vida.
-Então...
-Gosto de observar as coisas, apenas isso – deu de ombros ao abrir a porta do
carro e sair. Luna respirou fundo ao piscar incontáveis vezes. Sentia-se esgotada
e suja. Saiu do carro e assim que colocou os pés dentro da casa, deparou-se com
o olhar de Vlad.
-Tire o casaco – ordenou assim que a viu.
Luna olhou para ele e negou assim que avistou Tony atrás de Vlad.
-Está se tornando rebelde? Parece que se esqueceu da hierarquia, Lune.
Tony pigarreou antes de afastar-se discretamente. Ele não gostava das cenas que
Vlad fazia com as mulheres, achava-as repugnante.
-Eu fiz a entrega, isso é tudo, não é? – Luna perguntou ao apertar o casaco contra
o corpo.
-Não, nunca é suficiente – afirmou sorrindo sadicamente – tire o casaco, não me
faça mandar duas vezes.
Luna hesitou antes de retirar o casaco. Olhou fixamente para Vlad, que a
admirava.
-Há uma caixa em cima de sua cama. Te espero em quarenta minutos para sair.
-Sair? – murmurou confusa – Outra festa? – gaguejou.
-Não, muito melhor. – olhou para o relógio em seu pulso – vista-se logo, o tempo
está passando – tornou sério antes de vê-la assentir e seguir para o quarto. – Pode
falar, Cosimo – Vlad falou sem virar-se assim que Luna se afastou. Ele já havia
percebido que seu mediador encontrava-se escondido a espera para falar com
ele.
-Ela já havia feito isso antes. Suas suspeitas se confirmaram.
-Tudo bem, pode ir – Vlad o dispensou. Ter Luna como hospede estava sendo
mais divertido do que imaginava.
CAPITULO 20
O olhar de Luna percorreu o seu reflexo sem expressão. Se não fosse aquela
situação sua felicidade não teria tamanho ao vestir-se de forma tão formal e
sensual. O vestido que havia sido deixado em cima de sua cama conseguia
deixa-la constrangida. A peça de roupa era na cor branca, havia um generoso
decote na parte da frente e nas costas. Em torno de sua cintura umas pedras
enfeitavam e uma fenda deixava à mostra a sua perna esquerda. Optou por deixar
seus cabelos soltos e fez uma maquiagem leve. Luna começava a esgotar-se
daquela vida. Olhou de soslaio para o local aonde guardava o aparelho celular e
perguntou-se o que aconteceria consigo se desistisse de tudo naquele momento.
Provavelmente voltarei para o fim da minha vida.
Pensou antes de suspirar fortemente e erguer a cabeça. Ela odiava Vlad, odiava a
situação, mas odiava mais a si mesma por estar se submetendo a aquilo tudo.
***
O terno preto caia perfeitamente em Vlad, o qual permanecia sentado com
extrema elegância a espera de Luna. Já faziam exatos quinze minutos que
permanecia a esperando. Ergueu a mão e logo Tony parava ao seu lado.
-Vá busca-la – ordenou impaciente. Tony assentiu, mas antes de dar um passo
avistou a jovem de cabelos loiros andar até onde eles estavam. Vlad ergueu o
olhar assim que escutou o som de salto alto. E ao vê-la sorriu – Perfeito. – Ótima
para atrair Donnel. Pensou ao se levantar e seguir até onde ela estava. – Temos
uma noite esplendorosa para pela frente, Lune – disse ao segurar em seu braço e
a guiar em direção a porta. Luna o seguiu sem dizer uma única palavra.
***
O teatro encontrava-se cheio naquele início de noite. Todos os convidados eram
famosos, afinal era a estreia de uma peça muito esperada por todos. Apenas a
nata da sociedade havia sido convidada para aquele espetáculo único. No
instante em que Vlad Galli colocou seus pés para dentro do teatro todos os
olhares se voltaram para ele e para sua acompanhante. Murmúrios começaram a
ser escutados ao mesmo tempo em que Galli era felicitado por todos.
Vlad nada dizia ao conduzir Luna. Fez questão que todos a vissem com ele. O
olhar de Vlad percorreu o local até avistar um dos empregados do teatro.
-Poderia leva-la até o nosso camarote? – Vlad questionou ao jovem que assentiu
com um sorriso na face. – Vá com ele, já estarei lá – afirmou ao soltar o braço de
Luna, dar as costas e seguir em direção a um grupo de pessoas. Luna olhou ele
se afastar e sem que percebesse sentiu-se sozinha.
-Vamos, senhorita? – o homem trajando uma calça preta e um blazer vermelho
disse sorrindo assim que Vlad se afastou. Luna encarou o homem antes de
assentir e segui-lo pelas pessoas. Subiu um lance de escadas e logo se viu
sentada em um dos camarotes sozinha. Olhou para baixo observando as pessoas
conversarem entre si, enquanto buscavam seus lugares.
O único pensamento que rondou a mente de Luna naquele instante era como
seria se tivesse alguém para rir com ela.
Meneou a cabeça para espantar tais pensamentos, entretanto continuou olhando
para as pessoas felizes até que escutou passos atrás de si. Não se virou,
permaneceu da mesma forma até sentir mãos frias em seus ombros.
-Não entendi o motivo de me trazer aqui – Luna tornou sem virar-se.
-E nem eu de sua presença – a voz do homem desconhecido fez com que Luna se
levantasse assustada e se virasse rapidamente. Levou a mão até o peito e sentiu o
seu coração bater freneticamente.
-Eu... quem é o senhor? – questionou confusa ao olhar em volta.
O homem olhou para a jovem loira a sua frente com malicia. Passou a língua
pelos seus lábios ao gravar cada nuance da garota em sua memória. Ela o
fascinava pelos seus trejeitos.
-Sou Donnel, o dono deste camarote – sorriu galanteador ao encará-la mais
intensamente – Seus olhos são lindos – elogiou – Ao que parece entrou no lugar
errado ou estava atrás de mim? – sorriu largamente.
Luna piscou confusa.
-Me trouxeram– murmurou.
-Claro, erros acontecem – a voz calma de Donnel fez com que Luna respirasse
aliviada – Gostaria de sentar-se? Não vejo problemas em tê-la como companhia.
Como devo chama-la?
-Luna – se viu falando com um sorriso na face.
-Sente-se, querida – falou ao se sentar e apontar para a cadeira ao seu lado. Luna
hesitou antes de sentar-se. Algo lhe dizia para ir embora, mas ignorou e
permaneceu aonde estava. – Você é realmente bela – Donnel se viu falando ao
olhar para a sua perna.
Luna remexeu-se na cadeira ao mesmo tempo em que se levantou. Algo no olhar
do homem a deixava desconfortável.
-Não deve sair agora, ainda não começou – Donnel disse sorrindo ao segurar o
braço de Luna com força. A mesma se viu olhando aterrorizada para ele. – Com
medo de mim? Não deveria ter. Sou inofensivo. – garantiu falsamente.
-Me solte – disse nervosa.
-Sente-se que eu a solto.
Luna olhou para ele e para a saída. Demorou alguns instantes para sentar-se ao
seu lado e não demorou para sentir o seu braço livre.
-Sempre trata as mulheres assim?
-Fui gentil com você.
-Não usaria essa palavra – retrucou seria - Deseja apenas que sua vontade seja
feita. – Igual a Vlad.
-Certo, deveria ser mais encantador? – sorriu ainda mais ao observá-la com
extremo cuidado.
-É melhor eu ir embora - Luna tornou antes de se levantar e perceber o modo
como Donnel demonstrou a sua irritação em apenas um olhar. – Foi um prazer.
-Não deveria sair dessa forma, querida – Donnel disse sem segurá-la – Deveria
ter mais cuidado com o que fala e para quem fala – sorriu debilmente ao olhá-la
– Sente-se novamente, é uma ordem – sorriu ainda mais.
Ele é mais perigoso que Vlad.
Luna pensou ao engolir em seco e sentar-se contra a sua vontade. Ela sabia que
ele não a mataria ou faria qualquer coisa ali. Não enquanto todos poderiam ver,
ela estaria segura. Esse era o seu pensamento, a sua segurança.
-Sabe o que mais gosto no teatro? A forma como todos estão interessados no que
está a sua frente – disse sem olhar para a face de Luna, a qual naquele instante
percebeu o que ele dizia. Ninguém prestava atenção ao que acontecia nos
camarotes. – É a primeira vez que lhe vejo por aqui.
-Não deveria afirmar isso com tanta certeza.
-Minha memória é excelente para loiras.
-Existem muitas loiras.
-Não como você – a encarou sorrindo ocasionando um calafrio em Luna.
-Eu realmente tenho que ir agora.
-Poderá assistir à peça comigo.
-Eu agradeço, mas é melhor...
Antes que Luna pudesse terminar a sua desculpa um sorriso foi escutado atrás
deles. Eles se viraram se deparando com o sorriso de Vlad.
-Então é aqui que está – Vlad Galli tornou galanteador ao abrir a cortina do
camarote e olhar para Luna – O jovem deve tê-la trazido por engano. Venha,
vamos para o meu camarote – virou-se para Donnel – Donnel – estendeu a mão
para Luna, a qual a agarrou rapidamente. A hesitação sequer passou pela sua
mente. – Vamos – ele sussurrou em seu ouvido puxando a sua mão com força
para fora do camarote.
-Quem era ele? – ela se viu perguntando no instante em que se viram andando
pelo corredor do teatro.
-Um homem com quem estou brincando – foi a única resposta que ele deu.
Luna engoliu em seco ao se dar conta que fora apenas algum tipo de isca.
Esse Homem é o pior.
Pensou ao entrar no camarote com ele ao seu lado.
***
O Tenente Hack abriu os olhos antes de estralar os dedos de suas mãos. Aquele
era apenas mais um dia em que permanecia no trabalho sendo o último a sair.
Após a morte de sua esposa não conseguia ver nenhum motivo para ir para casa.
Ele vivia para prender os bandidos. Ele vivia para vinga-la, e a sua chance de
conseguir isso estava prestes a chegar. Olhou para o relógio em seu pulso ao
perceber que aquele era o momento pelo qual esperara a semanas. Ergueu-se a
contragosto, mas antes pegou a pequena garrafa cinza que guardava em uma de
suas garrafas e ingeriu todo o liquido amargo nela.
-Hoje irei pegá-lo – sorriu confiante ao pegar o seu casaco e seguir para a saída.
Saiu da delegacia e no mesmo instante sentiu a brisa fria da noite. Deixou as
suas costas ereta e seguiu até o seu carro, estacionado logo em frente da
delegacia.
***
O musical que Vlad levou Luna possuía uma trágica história de amor e vingança.
A jovem de cabelos loiros segurou o sorriso ao perceber a ironia. No musical a
sua frente uma jovem se preparava para atirar no homem que destruirá a sua
vida, mas ela percebera que o amava. A voz da cantora conseguia deixar todos
emocionados. Luna se pegou olhando para Vlad de soslaio. O olhar concentrado
de Vlad, o modo como os lábios deles mantinham-se firmes, não passou
despercebido para ela.
Como alguém tão cruel como ele entende esse musical tão sentimental?
-Se continuar me olhando imaginarei que deseja que eu a torne minha aqui
mesmo – Vlad disse sério sem olhar para Luna. Ele já havia sentido o olhar dela
em suas costas. –Não deveria estar assistindo ao musical?
-É estranho alguém como você gostar disso – se viu falando.
-Alguém como eu? – indagou fingindo curiosidade ao se voltar e a olhar. O
camarote era exclusivo dele.
-Sim, um mafioso.
-Mafioso? – repetiu gargalhando – apenas os policiais me chamam desta voz,
Lune. Não me diga que é um deles? – sorriu ainda mais ao ver o semblante
assustado dela – Não sou um mafioso, sou um gangster.
-Existe diferença?
-Existe, um dia irá aprender.
-Um dia? Você deseja que eu me torne parte de sua máfia? – murmurou
perplexa.
-Acha que irá permanecer em minha casa e não se tornar parte da família? Já lhe
avisei antes que não sou obra de caridade – tornou sério antes de ignorá-la e
voltar a prestar atenção ao musical.
***
As mãos de Luna tremiam ao sentir a agua fria bater nelas. Conseguiu ver o quão
estava pálida no reflexo do luxuoso espelho do banheiro onde se encontrava. Ela
não se recordava do momento em que se levantou e seguiu até o banheiro. Seu
único desejo era manter-se longe dele. Manter-se longe da escolha que havia
feito. Uma escolha da qual se arrependia a cada momento.
Seus joelhos tremiam no instante em que escutou a porta abrir-se, olhou pelo
espelho e sentiu um calafrio subir pelo seu corpo.
-Quanto tempo, Luna – O tenente Hack falou ao trancar a porta atrás de si – Está
bem diferente daquela vez.
Luna abaixou a cabeça envergonhada. Ele a havia visto no dia em que fora
violentada.
-Imagino que queira me contar alguns detalhes interessantes sobre ele.
-Eu não descobri nada ainda – falou cautelosamente sem virar-se – Não tive
como buscar nada em seu escritório e.... – antes que terminasse Hack agarrou o
seu braço e a forçou a virar-se e encará-lo.
-Acha que estou brincando? Não está de férias com um mafioso. Eu quero
manda-lo para a prisão e você irá me ajudar.
-Eu estou sendo obrigada, não se esqueça disso – o enfrentou.
-Deveria me agradecer – sorriu sem vontade – Graças a mim que é uma das
vadias dele. O sonho de todas as mulheres – disse com escarnio.
-Acha que me ofende com essas palavras? Sabe que já fui muito pior.
-E Vlad Galli adoraria saber que a sua mais nova vadia foi realmente uma vadia.
-Seu cretino – disse com raiva.
-Quero provas que liguem ele as drogas – falou sério ao soltar o braço dela com
força – se não o fizer, já sabe o que vai acontecer com você – a ameaçou. Luna
permaneceu parada escorando-se na pia até vê-lo sair do banheiro e a deixar
sozinha.
-Eu não vou conseguir – murmurou ao sentir todo o seu corpo tremer.
Luna olhou para o homem parado em sua frente no quarto do hospital.
Ela hesitou antes de abrir a boca para falar algo com medo dele. Ela
jamais havia visto antes. Percebeu o olhar duro e frio do homem, o
modo como seus cabelos encontravam-se bagunçados, a sua roupa
amassada e o cheiro de álcool que ele exalava. Encolheu o seu corpo
assim que o homem deu um passo à frente.
-Sou o tenente Hack. – se apresentou com seriedade ao olhar para ela
sem transmitir nenhuma emoção.
-Veio falar sobre o que aconteceu comigo? – ela perguntou
pausadamente e com a voz baixa.
-Não, casos de estupro não são supervisionados pela minha unidade.
Vim até aqui para falar do homem que a salvou. Vlad Chevalier Galli.
Luna piscou confusa.
-O homem que matou o seu estuprador – revelou com frieza – como deve
ter visto.
-Eu não vi nada – murmurou.
-O médico me avisou que talvez não lembrasse – disse ao pegar uma
pequena garrafa prateada de seu bolso e beber o liquido rapidamente – Sei que
está aqui com um visto temporário. O que acharia de ter um visto permanente?
-Um visto? – murmurou temerosa – O que. Deseja?
-Quero que vire a amante de Vlad Galli – revelou friamente ao encará-
la.
As lembranças daquele dia ainda deixavam Luna com ânsia ao se recordar do
que havia aceitado.

CAPITULO 21
O semblante de Vlad Galli mantinha-se inexpressivo. O mafioso encontrava-se
sozinho em seu camarote apreciando o espetáculo até escutar o som de salto alto
atrás de si e em seguida a sua acompanhante sentar-se ao seu lado. Percebeu as
mãos tremulas, a sua respiração ofegante e sua agitação, e em resposta sorriu.
-Foi fácil chegar ao banheiro? – Vlad indagou sem encará-la.
-Sim – murmurou ainda desconcertada e nervosa. Ela jamais imaginara que
Hack iria atrás dela. Não naquele lugar cheio de pessoas conhecidas de Vlad. Ele
havia se arriscado muito ao ir até ela.
-Lune, sabe que odeio mentirosos, não é? – sorriu levemente ao exibir uma
expressão cruel e doentia ao encará-la – Vamos apreciar o espetáculo – falou
antes de tocar a sua perna com desejo. –Se gemer alto todos irão escutar – a
alertou antes de subir a mão e tocar a sua intimidade.
Um gemido escapou pelos lábios de Luna ao segurar as mãos de Vlad, e no
mesmo instante recebeu o olhar duro dele.
Sem mais nada a falar ou discordar, ela se viu permitindo que ele fizesse o que
desejasse como sempre.
***
Hack saiu do teatro pela porta dos fundos. Com o semblante fechado e um
cigarro acesso em sua mão. O seu humor era o pior possível. Ele havia esperado
longas semanas para encontrá-la e a única coisa que tivera como resposta foi o
modo como ela o enfrentara.
-Ingrata! – resmungou antes de levar o cigarro aos lábios e ir em direção ao seu
carro. A sua noite havia apenas começado. Como toda a noite, ele iria buscar em
todos os arquivos pistas que pudesse leva-lo a Vlad Galli como um dos
responsáveis pelas drogas. –Eu ainda vou prendê-lo – sussurrou com raiva antes
de entrar em seu carro batendo a porta com força. Ele odiava dias como aquele.
Dirigiu alternando a sua mão entre o volante e o cigarro. E antes que pudesse
perceber parara o carro em frente à delegacia. Desligou o carro, jogou o cigarro
pela janela e antes que pudesse sair avistou uma sombra se aproximando pelo
retrovisor. Por reflexo levou a mão ao revolver em sua cintura.
-Grande tenente – uma voz risonha soou próximo ao carro. Um rapaz
aparentando vinte anos disse ao apoiar a mão no capô do carro – Estava com
saudades de nossas conversas.
Hack fez uma careta ao sentir o cheiro de maconha vindo do jovem. Não
precisou olhar para a face para saber quem era.
-Não deveria estar aqui – tornou sério.
-Tenho boas informações – revelou sorrindo largamente.
Hack ergueu o olhar e sorriu antes de abrir a porta e sair do seu veículo.
-Vamos entrar. – anunciou ao seguir para a delegacia seguido pelo jovem.
O jovem sorriu largamente ao entrar na delegacia vazia acompanhado pelo
tenente. Observou cada nuance do escritório com extremo cuidado.
-Pode falar – Hack disse ao acender um cigarro e encarar o jovem a sua frente
dentro de sua sala.
-Sei onde vai acontecer a próxima entrega da Butterfly – sorriu ainda mais ao ver
o semblante do policial a sua frente – Todos sabem que você é obcecado por essa
droga.
-Quero prender o responsável, apenas isso.
-Dizem outra história pelas ruas – falou displicente. Começou a andar pela sala
com o olhar fixado na mesa do tenente – Dizem que sua esposa foi morta por
essa droga, e pelo seu olhar parece ser verdade.
Hack sentiu o sangue do seu corpo gelar. Ele não esperava que sua história fosse
desconhecida, mas jamais imaginara que um bandido como aquele poderia saber
sobre sua vida. Sobre a sua esposa que havia morrido por sua causa.
-O que pensa que está falando? – Hack tornou com a voz dura – Lembre-se que
sou um policial e posso prendê-lo aqui e agora.
-E do que iria me acusar? – questionou divertido.
-Posse de entorpecentes. Eu aposto que seu bolso está recheado. – sorriu
largamente ao ver o jovem empalidecer. – Prefere me contar agora ou quando for
preso?
-Sabe que estava brincando, não é? – ergueu as mãos demonstrando a sua
rendição – O carregamento chegará amanhã à noite no cais 53.
Hack estreitou o olhar como se avaliasse a informação.
-Se estiver mentindo irei atrás de você, e irei mata-lo. – informou calmo – me
entendeu?
O jovem assentiu confuso. Já escutara ameaças de policiais antes, mas nunca
como aquela. Ele percebeu que se fizesse algo errado poderia ser morto pelo
tenente Hack.
-Se for apenas essa informação é melhor ir embora agora antes que eu me
arrependa e mande lhe prender – Hack falou sem humor ou paciência. Virou de
costas e manteve-se impassível até escutar os passos apressados e o barulho da
porta ser fechada. Com raiva, esmurrou a mesa – Eu vou lhe matar, Vlad Galli
nem que para isso tenha que perder a minha vida. – e logo a imagem de Luna
passou pela sua cabeça – Tenho que faze-la me temer. – percebeu ao olhar para o
nada.
***
Fred se espreguiçou ao entrar no bar El Sol. A maioria dos mafiosos estavam
ocupados com o carregamento que logo chegaria e com a possível visita que
teriam de um dos membros da família Chevallier. Olhou para a bebida gelada a
sua frente antes de sentir uma mão em seu ombro.
-É sempre bom vê-lo, Fred – a voz áspera e forte disse ao sentar-se na cadeira ao
lado – Faz algum tempo que não nos vemos.
Fred assentiu após olhar para Marco. Eles haviam se conhecido assim que Marco
entrou para a máfia. Poucos sabiam sobre o seu passado com exceção de Vlad e
o homem sentado ao seu lado. Fred havia iniciado a sua carreira mafiosa a
poucos anos, no momento em que perdera o seu filho para as drogas.
Inevitavelmente Fred vivia dividido entre a culpa e a raiva.
-Pensando nele? – Marco murmurou ao olhar para o semblante de Fred.
-Seria difícil não pensar. – levou o copo sorvendo o liquido amargo – Algum
trabalho?
-Alguns – Marco disse olhando em volta – O chefe me pediu para pesquisar
sobre Donnel.
-Isso não é estranho. São rivais.
-Sim, também pensei isso, mas o estranho foi o que ele pediu. Queria saber sobre
as mulheres com quem ele já saiu.
Fred parou por um momento e olhou para o nada antes de perguntar o que temia.
-Qual é o tipo de mulher dele?
-Ele tem um fetiche por loiras.
-Ele irá usá-la – percebeu.
Marco piscou confuso enquanto assimilava. Ele não imaginara que Vlad faria
isso, não após informar o que Donnel fazia as mulheres.
-Eu pensei que o chefe estivesse se envolvendo com ela.
-O chefe não se envolve com ninguém além da família – Fred tornou sério. A
anos em que convivia com Vlad já percebera isso. –Conheceu alguém da família
Chevallier? – questionou baixo e ao ver Marco negar em silencio suspirou – Me
pergunto se o chefe é assim pela sua família.
Marco deu de ombros, mas ficou curioso ao pensar sobre isso.
Seria interessante saber mais sobre essa família.
Pensou ao pedir uma bebida.
***
O silencio reinava no camarote de Vlad Galli. O mafioso mantinha o seu olhar
fixo no corpo da jovem sentada ao seu lado. Luna mantinha a sua passividade ao
mesmo tempo em que sentia-se nervosa. Seu rosto mantinha um tom corado,
uma mistura de excitação e vergonha.
-O espetáculo acabou – Luna se viu falando.
Vlad a ignorou ao se levantar e parar em frente a ela, colocando suas mãos em
seus ombros.
-O nosso ainda não começou – a voz de Vlad soou sensual para Luna, a qual
ergueu o olhar se deparando ele.
-Seremos presos – disse inebriada pelo olhar dele.
-Ninguém prende Vlad Galli – anunciou confiante ao avançar sob ela e a beijar.
Luna não resistia mais a ele, percebeu ao sentir suas mãos indo para o cabelo
dele, bagunçando-o. As mãos de Vlad percorriam o corpo dela com vigor. A
respiração ofegante dela denunciava o seu estado de excitação, e antes que
pudesse pensar em alguma coisa, Vlad ajoelhou-se em sua frente. Tocou o seu
rosto com carinho antes de tocar os seus seios com possessividade e luxuria.
A cada caricia, ela se entregou mais a ele sem importar-se de onde estavam.
-Isso, Lune – sussurrou em seu ouvido - Minha Luna. – abriu as pernas dela,
sentiu a sua intimidade e sorriu – Seu corpo me deseja ardentemente – disse
antes de tirar o seu cinto e abrir a calça. A penetrou rapidamente. Sua respiração
ofegou ao sentir as pernas dela o envolver com força.
As unhas de Luna agarravam com força o paletó de Vlad. Sentiu a textura de sua
roupa contra as suas mãos. O cheiro dele misturou-se ao dela.
Porque me sinto desta forma estando com ele?
Se perguntou ao sentir o ritmo dele cada vez mais rápido. A respiração de ambos
mantinham-se ofegantes, o suor brilhava em seus corpos quando escutaram
passos se aproximando.
-Alguém está vindo – Luna sussurrou no ouvido de Vlad, o qual a ignorou. –
Eles irão nos ver – tornou assustada ao pensar no que poderia acontecer com ela.
Vlad parou por alguns segundos até encará-la.
-Eu não irei parar. Nunca.
Luna olhou em seus olhos se dando conta que aquela frase não se resumia a
aquilo. Vlad Galli jamais iria parar por nada ou ninguém.
Vlad continuou a penetrando até perder-se na sensação de letargia que apoderou-
se de seu corpo. Não demorou muito para ele se afastar dela, arrumar-se e a olhar
com lascívia.
-Vista-se, acredito que logo estarão aqui.
Luna se resignou a fazer o que ele dissera. Se viu arrumando o seu vestido em
silencio, e ao se levantar sentiu o corpo de Vlad atrás do seu.
-O que está fazendo? – ela perguntou ao sentir as mãos dele em seus cabelos.
-Arrumando-os – falou simplesmente ao colocar os fios que haviam saído do
lugar.
No mesmo instante o coração de Luna vacilou.
Ele é tão mal quanto imagino ou é apenas uma máscara?
Se perguntou em silencio ao senti-lo afastar-se de si.
Tenho um tempo para descobrir até ele ser preso por Hack.
Virou-se para encará-lo deparando-se com suas costas largas.

CAPITULO 22
O largo sorriso estampava a face de Donnel. O homem olhava para a foto em sua
mão sentindo o seu entusiasmo aumentar.
-Quero saber o que ela faz com Vlad – Donnel disse para o homem parado a sua
frente, o qual assentiu levemente.
-Deseja saber algo mais sobre ela? - o homem indagou profissionalmente. Ele
trabalhava para Donnel a mais de cinco anos, e já conhecia todas as
excentricidades dele.
-Por hora o motivo dela estar ao lado dele é suficiente – olhou para a foto em sua
mão sorrindo. Na foto Luna encontrava-se em pé ao lado de Vlad no teatro. –
Será divertido tê-la, e matá-la em seguida, é claro – deu de ombros ao perceber
que seria inevitável – Talvez eu devesse enviar o corpo dela para ele
embrulhado, o que acha? - perguntou animado.
O homem o olhou como se pensasse.
-Se enviasse partes do corpo por vez seria melhor – comentou seriamente.
-Perfeito! – Donnel exclamou animado ao se levantar da cadeira – Você é o
melhor homem que poderia estar trabalhando para mim – o elogiou antes de
deixar a sala indo em direção a saída.
***
A construtora Mirai Galli vivia momentos tranquilos. Os projetos seguiam
perfeitamente o planejamento e não era constatado nenhum erro em nenhuma
das plantas. Nas áreas de construções nenhum acidente. Tudo estava
pacificamente perfeito.
Vlad Galli mantinha-se ocupado analisando os relatórios de todos os projetos
quando avistou Luca entrar em sua sala com o semblante fechado. Esperou que
seu consigliere fechasse a porta para indaga-lo.
-O que houve?
-O plano está seguindo como deseja. Donnel está buscando informações sobre
Luna.
-Um homem tolo com um desejo mais tolo ainda. E ainda tem alguns que o
temem – disse com escarnio ao voltar a ler o relatório.
-Mas temos um problema com o carregamento da Ásia – Vlad Galli exportava
Butterfly para muitos países.
-Qual o problema?
-O seu irmão deseja metade do carregamento – afirmou segurando-se para não
expressar nenhuma emoção. Todos na família sabiam o quanto era delicado o
relacionamento de Vlad com seus parentes apesar de todos se protegerem. A
família Galli Chevalier possuía um tipo incomum de disputa. Todos desejavam
controlar a droga Butterfly e o território de Vlad. O território mais corrupto e
obscuro que eles já haviam visto. O irmão mais velho de Vlad era conhecido por
seu contrabando e tráfico de mulheres, entretanto sentia interesse nas drogas,
para ser mais exato na Butterfly. – Devo enviar para ele?
Vlad sorriu sarcasticamente ao passar a mão pelos seus lábios.
-Não, desejo ver o que ele fará – divertiu-se ao imaginar o que seu irmão faria
para convencê-lo.
Luca deu de ombros ao perceber que lidar com aquela família era extremamente
confuso e cansativo. O melhor que poderia fazer seria aceitar as ordens de Vlad
e aguardar o próximo passo.
-Mais alguma coisa? – Vlad indagou ao ver Luca ainda parado.
-Ela está livre? - Luca se viu perguntando ao encarar o seu chefe.
-Ninguém fica livre ao entrar para a família, sabe muito bem disso. – deu de
ombros – a diferença é que ela vai entrar porque eu quero – sorriu ligeiramente.
Luca continuou encarando-o com perplexidade.
-Não entendo o motivo da fixação – revelou. – A presença dela não influenciará
em nada, a entrada dela na família pode não ser benéfico.
-Não me importo. Quero ver até onde ela irá e pelo que está se esforçando tanto
– disse antes de fazer um gesto para que Luca o deixasse sozinho. Assim que seu
consigliere saiu, Vlad se viu abrindo o arquivo que fora enviado para o seu e-
mail – O que tanto quer ao se aproximar de mim? – se perguntou ao ver
inúmeras fotos dela. Abriu o dossiê que tinha todas as informações que haviam
conseguido sobre ela. Ninguém sabia sobre aquele documento e Vlad iria cuidar
para que apenas ele soubesse da verdadeira Luna.
****
Os olhos cansados de Luna não passaram despercebidos pelo segurança, Tony, o
qual mantinha a sua atenção no pedaço de torna em sua frente. Aquela era a
primeira vez em que entrava na cozinha estando Luna no mesmo cômodo que
ele. Tony sentia-se estranho ao perceber o incomodo dela diante de sua presença.
-É melhor voltar mais tarde – Tony se viu falando ao tentar desviar o olhar da
torta em cima da mesa.
Luna engoliu em seco e sem perceber sorriu levemente ao perceber o olhar dele
para a torta que ela havia preparado. Ela não sentia-se totalmente segura com
ele, mas não via motivos para teme-lo.
-Pode ficar – disse com a voz baixa sem encará-lo – Eu... Não precisa ficar
assim.
Tony levou a mão aos cabelos, bagunçando-os.
-A torta...
-Pode comer sim – falou o interrompendo. Pegou um prato e não demorou para
servi-lo – Espero que goste – disse assim que depositou o prato na mesa e viu
Tony sentar-se com os olhos brilhando. – Está bom? – indagou assim que ele
levou o primeiro pedaço a boca.
-Divina – Tony falou sorrindo. Luna o encarou por alguns segundos, surpresa.
Ela não imaginara que ele poderia ter um sorriso beirando a gentileza.
-Que bom – murmurou ao encostar o seu corpo na pia e encará-lo. – Essa é uma
oportunidade única. Pensou antes de abrir a geladeira, pegar uma jarra de suco e
depositar em frente a Tony juntamente com um copo. Percebeu o olhar de
agradecimento dele.
-Se quiser pode me deixar sozinho. Quando acabar arrumo tudo – Tony disse
solicito, pois imaginara que Luna estava sentindo medo dele.
-Está tudo bem – assegurou. O viu comer mais um pedaço e sorriu sutilmente –
Trabalha a muito tempo com o Vlad, digo, Vlad Galli?
Tony a encarou e por um segundo ficou sem reação. Para ele, aquela era a
primeira vez em que ela lhe falava sem teme-lo. E por isso ficou relaxado em
responder.
-A muito tempo desde que era mais jovem.
-Faz realmente um tempo – disse suavemente – Não tem medo? – ao ver o olhar
dele, passou a mão pelos cabelos delicadamente – Digo, dessa vida. É tudo tão
perigoso.
-Sim, é realmente perigoso, mas quando você entra não consegue sair – sua voz
soou melancólica.
-Então se arrepende?
-Não – Tony assegurou firme – só tomaria algumas decisões diferentes.
-Como entrar para a máfia? – perguntou cuidadosamente.
Tony negou em silencio.
-Salvaria o meu filho – revelou sem perceber.
Luna ficou em silencio para que instigasse Tony a falar. Já imaginara que ele não
iria falar nada quando o viu suspirar.
-Meu filho era uma criança quando o apresentei a esse mundo – disse ressentido
– Você tem pais, não tem? – perguntou ao olhar para Luna.
Luna sentiu um frio passar pelo seu corpo. Ela não conseguiu falar nada naquele
momento. Lembrar-se de sua família nunca lhe trazia recordações agradáveis.
-Sim – disse por fim com raiva de si mesma.
-É difícil ser um bom pai, sabe? Eu amava o meu filho mais do que a mim
mesmo, mas me enganei. Eu ainda não era um membro oficial da máfia quando
meu filho quis conhecer Vlad. – Luna prendeu a respiração imaginando o
decorrer da história – E quando o conheceu achou que poderia ter tudo se fosse
como ele. – sorriu tristemente – As pessoas não podem se tornar deuses.
-Ele não é um Deus – se viu falando atraindo o olhar desconfiado de Tony –
Quero dizer – gaguejou sem jeito – Ele é humano.
-Sim, está certa. Queria que meu filho pensasse dessa forma – suspirou
pesadamente – Não é difícil imaginar o final do meu filho.
Luna assentiu.
-Mas, você não deveria odiá-lo? – indagou curiosa, afinal sempre é proveitoso
ter amigos.
-Sim, eu deveria, mas o chefe me ajudou.
Como ajudou a todos.
Luna pensou com curiosidade.
-Que tipo de pessoa é ele? – se viu perguntando deixando Tony surpreso.
-Ele é leal a sua família, inteligente e vai atrás do que quer.
-Sim, um perfeito homem de negócios – percebeu com a voz alta – Mas, como
pessoa como ele é? – insistiu.
Tony piscou e a olhou como se pensasse sobre isso.
-É a melhor pessoa que você pode conhecer em sua vida – a assegurou sério.
-Não tenho dúvidas – murmurou com ironia. Sorriu levemente para Tony antes
de afastar-se da cozinha. Ter indagado ao segurança sobre Vlad não havia a
ajudado em nada.
Preciso descobrir algo sobre ele para poder barganhar.
Pensou ao seguir para o seu quarto.

CAPITULO 23
A respiração ofegante denunciava o medo que pairava na mulher de cabelos
loiros ao segurar o celular com força entre suas mãos. Luna encontrava-se
ajoelhada ao lado da cama enquanto digitava a mensagem que temia colocar a
sua vida em risco. Ela não poderia ficar parada esperando que Hack desse o
próximo passo. Ela não gostava de Vlad, e não iria ajuda-lo, mas odiava ainda
mais o Tenente Hack.
A águia está prestes a voar.
Enviou com um sorriso na face. Seria divertido brincar com Hack um pouco.
Guardou o celular no esconderijo de sempre, e se recordou de desliga-lo. Ela
ainda precisaria muito dele. No instante em que se levantou, a porta do seu
quarto foi aberta. O semblante assustado de Luna fez com que Fred sorrisse.
-O chefe quer vê-la – falou fechando a porta em seguida. O coração de Luna
batia descompassado. Indagava-se se ele teria visto algo. Com o pensamento
confuso e o medo, seguiu em direção ao escritório de Vlad. Ela já conhecia
aquele caminho tortuoso bem demais. Ao passar pelo corredor se sentia como se
mil olhos observassem todos seus movimentos.
-Mais uma vez – se viu falando antes de bater na porta do escritório de Vlad.
Não demorou em escutar a sua voz. A porta foi aberta em seguida por dentro.
Seu olhar fixou-se em Luca que a encarava com um estranho carinho.
-Pode entrar – Luca disse dando-lhe passagem. Luna seguiu em frente tentando
não interpretar o olhar dele. Somente em imaginar ter que fazer mais algum
trabalho para Vlad sentia náuseas.
Vlad mantinha a sua atenção no computador a sua frente. Não ergueu o olhar
uma vez sequer até escutar a voz de seu consigliere.
-Ela está aqui como pediu – Luca disse constrangido pela forma com que Vlad
teimava em agir com Luna. – Se ele a está usando deveria ser mais compassível.
O olhar de Vlad encarou friamente Luna.
-Vejo que está bem – disse aparentando cordialidade. A viu assentiu em silencio
– Perfeito. Seu próximo trabalho será ir em um leilão de caridade.
-Leilão? – repetiu aparentando confusão – O que deveria roubar? Como vou
roubar o leilão?
Vlad sorriu amistoso ao se levantar.
-Não irá roubar nada. Irá comprar uma peça para mim. Cosimo irá acompanha-
la.
-Porque eu? – indagou confusa sem perceber que ele estava bem próximo de si.
Como um tigre atacando a sua presa, Vlad ficou em frente a Luna e tocou o seu
rosto com delicadeza.
-Porque eu estou ordenando – sorriu cruelmente ao vê-la empalidecer.
-E será sempre assim – Luna percebeu ao olhar em seus olhos.
-Sim, exatamente assim, Lune.
Luna nada disse, apenas o encarou com firmeza.
Sim, vamos ver até quando será o chefe.
***
Cosimo bocejou ao se encostar na parede do armazém. Ele odiava permanecer
em tocaia como aquelas, onde deveria observar os subalternos movendo as
mercadorias recém chegadas. Pegou um cigarro no bolso de sua calça, o acendeu
e deixou a fumaça preencher seus pulmões.
-Realmente odeio isso – murmurou ao emburrar-se diante da quietude.
Permaneceu parado olhando tudo entediado quando o seu celular tocou. Atendeu
segurando-se para não sorrir ao ver o nome de Luca na tela – Espero que seja um
novo trabalho – disse assim que atendeu.
-Acho que irá gostar. Terá que acompanhar Luna em um leilão.
-Leilão? Desconhecia o lado cultural do chefe – brincou ao sorrir. Cosimo tinha
consciência que Vlad Galli estaria usando Luna de alguma forma.
-Sabe o que significa – Luca o cortou com a voz seria. Ele começava a odiar os
planos de Vlad que envolviam Luna.
-Não totalmente, lhe encontro no bar daqui a duas horas – falou ao desligar.
Cosimo sabia que acabaria entrando em uma briga com Vlad por Luca, e
inegavelmente tomaria o partido de seu amigo, Luca. Ele já sofrera demais com
a morte da irmã para perder mais alguma coisa.
Pela mente de Cosimo passara inúmeras situações, começou a calcular
estratégias em que Luca sairia com vida ao confrontar Vlad. Suspirou frustrado
minutos depois.
A única forma seria ele se aliar a algum rival.
Mas percebeu ser impossível. Luca poderia ser muito mais leal do que todos
imaginavam. Esperou ansioso pelo passar das horas e antes que pudesse perceber
já entrara pela porta do bar El Sol. Olhou em volta acenando ao ver Luca sentado
em uma das mesas mais afastadas. Aquele horário da tarde havia muitos clientes
não mafiosos, o que tornava tudo mais complicado.
-Luca – Cosimo o cumprimentou assim que sentou-se ao lado dele – Sobre o que
será?
Luca suspirou antes de responder. Ele não gostava do que estava prestes a fazer,
mas era necessário. Ele não poderia permitir que Luna sofresse nas mãos de
Vlad, não sendo uma isca.
-Ele irá usá-la como isca – falou direto ao encarar o estrategista – Preciso que
cuide dela.
-Luca, o que está fazendo? – questionou preocupado – Está querendo ir contra
Vlad por ela, percebe isso? O chefe, ele nos ajudou.
-Eu sei, mas não consigo suportar vê-la sofrendo. Ela me lembra tanto a minha
doce irmã.
-Tem certeza que é apenas isso ne? – questionou confuso e curioso.
Luca nada disse apenas manteve o seu olhar fixo em Cosimo.
-Apenas cuide para que Donnel não fique sozinho com ela.
-Se o chefe me pedir para deixá-los a sós, não poderei fazer nada.
-Eu sei, mas faça de tudo para que ela não seja levada por ele. Nós dois sabemos
o que ele faz as mulheres.
Cosimo assentiu ao dar de ombros em seguida. Ele não via tanta diferença entre
Vlad e Donnel. Ambos matavam as mulheres quando não precisavam mais.
-Farei o possível – disse ao se levantar – Vou ver o chefe agora, e se cuide Luca.
Não quero vê-lo morto.
Luca permaneceu sentado olhando Cosimo se afastar rapidamente.
-Preciso achar alguém que a proteja tanto quanto eu – murmurou pensativo.
***
O semblante de Vlad era o mais perturbador quando Cosimo entrou em sua sala
na Mirai Galli. O estrategista percebeu o ambiente hostil.
-Algum problema, Chefe? – Cosimo o saudou assim que parou próximo a mesa
aonde o seu chefe se matinha concentrado no computador.
-Algum imbecil resolveu vender algumas notícias para a mídia.
-Da Mirai?
-Sim, mas nada que Deto não possa resolver – sorriu nefasto. Cosimo já sabia o
que aquilo significava. Alguém iria aparecer morto em poucos dias. Trair Vlad
Galli era assinar a sua sentença de morte.
-Tem um novo trabalho para mim, ouvi dizer.
-Sim, vá com Lune até o leilão. Deixe Donnel se aproximar.
-Certo.
-E a trate com brutalidade.
-Brutalidade? – indagou confuso. Cosimo nunca fora conhecido por brutalidade
com as mulheres.
-Sim, Donnel precisa achar que irá salvá-la de mim – admitiu com um sorriso
estranho na face.
-Entendi – Não foi difícil perceber o que Vlad pretendia. Ele estava usando Luna
para que pudesse matar Donnel, e ele não se importaria se ela fosse morta no
meio do processo. – Luca, sabe?
-Sim – assentiu – Algum problema?
-Não deveria ter mais cuidado? Luca sabe muita coisa sobre os negócios.
-Meu Consigliere não iria me trair por uma mulher como ela.
-Foi o que dissemos do antigo consigliere da família Chevallier.
Vlad estreitou os olhos ao encará-lo.
-Está me dizendo que ele pretende me trair?
-Se continuar a usar a mulher deliberadamente, sim. Não tenho dúvidas.
-Prestarei atenção – tornou sério.
Cosimo deu de ombros ao sair da sala de Vlad. Aquilo seria o máximo que
poderia fazer, pelo menos até tomar partido de Luca.
Acabaremos morrendo por uma mulher que nem sequer confiamos.
Pensou.
***
O olhar de Donnel mantinha-se na mulher loira amarrada em frente a ele,
ajoelhada ao lado da cama. Aquela seria a última noite da jovem. Ele já estava
entediado com ela e com seu corpo. Levantou-se da cadeira, pegou um bisturi e
sorriu diante do olhar assustado. Surpreso com a lucidez dela depois de tantas
drogas.
-Eu sempre quis ser médico – se viu falando ao se ajoelhar ao lado dela - Meus
pais nunca quiseram. O sonho deles era me ver sendo advogado – gargalhou
diante da ironia – Mas sempre devemos ir atrás dos nossos sonhos, sabia? – viu a
jovem chorar ao mesmo tempo em que nada dizia apenas permanecia parada –
Deve ser o efeito das drogas que lhe dei – falou calmo antes de tocar o rosto dela
– Tão bela, mas tão cansativa – sorriu ao cortar o pescoço dela com o bisturi. Viu
o sangue jorrar no tapete de seu cômodo – Isso dará trabalho para limpar – se viu
falando ao levantar-se ignorando a mulher agonizando no chão. – Eu quero
muito aquela jovem.
****
Um homem sorridente desceu de seu jato ao sentir o calor do país que não
visitava a anos. Espreguiçou-se ao descer as escadas acompanhado de uma
mulher com o semblante sério. A mulher possuía o olhar frio, cabelos curtos no
tom avermelhado e olhos verdes. Ela era um pouco mais baixa que o homem.
-Ele vai ficar surpreso quando me ver – o homem disse sorrindo.
-Duvido muito, senhor – a mulher tornou racional ao olhar envolta. Sua
prioridade era garantir a segurança dele.
-Meu irmão não é tão frio quanto parece, sabe? Uma vez ele me salvou uma de
uma gangue no colégio.
-Provavelmente o senhor provocou.
-Claro, afinal sou eu, mas ele sempre me salvava. E eu sou mais velho que ele –
sorriu ainda mais. – Deveria ter trazido um de meus presentes.
-Duvido que o senhor Galli iria querer. Ele nunca aceitou durante esses anos.
-Sempre há uma primeira vez para tudo – disse antes de um carro parar em
frente a eles. Eles entraram e permaneceram em silencio durante o caminho.
-Deveríamos ligar – a mulher disse ao suspirar.
-Uma surpresa é melhor – ele assegurou ao fechar os olhos. Iria dormir um
pouco antes de encontrar com o seu irmão.

CAPITULO 24
Todos na máfia Galli Chevalier conheciam a rivalidade entre os irmãos,
principalmente a união entre eles. O irmão mais velho de Vlad, Izac, sempre foi
visto como o sucessor da família até Vlad surgir com a Butterfly. A droga mais
desejada entre as pessoas. Ao contrário do que todos haviam imaginado, Izac
não se ressentiu, ele aproveitou esta chance para se aproximar ainda mais de seu
irmão, pois como família deveriam ser unidos. Poucos entendiam a necessidade
deles serem próximos. A necessidade de manter a máfia unida.
O carro parou em frente a empresa Mirai Galli de Vlad, a primeira pessoa a sair
foi a segurança de Izac, a carrancuda Martha. Assim que Izac saiu do carro,
sorriu ao perceber o olhar dos seguranças de Vlad. Eles eram a cópia um do
outro.
-Ele ficará extremamente bravo – Martha disse cautelosa.
-Apenas aproveite – Izac disse sorridente ao caminhar para a entrada, acenou
para o porteiro e continuou a andar em direção aos elevadores. Martha suspirou
antes ao ver o seu chefe tão despreocupado. Ela sabia que isso iria trazer
problemas futuros. Seguiu Izac calmamente até entrarem no elevador e
apertarem o botão do andar de Vlad.
***
Todos da Mirai Galli encaravam Izac com surpresa. Enquanto Martha revirava
os olhos, o mafioso se divertia diante dos olhares. Aquela era a primeira vez em
que aparecia no escritório de seu irmão.
Apesar de Izac assemelhar-se a Vlad as tatuagens que trazia no corpo faziam
todos o olharem com medo. Izac possuía uma tatuagem de tigre dentro do
círculo no pescoço fazendo questão de evidenciar a sua origem. Em seus dedos
da mão esquerda havia o nome de sua família, Galli.
No instante em que Martha pronunciou o seu nome para a secretaria de seu
irmão, o viu surgir com a face alterada.
-Meu irmãozinho – Izac o saudou sorridente ao abraça-lo ignorando a inercia de
seu irmão – Deveria abraçar seu irmão, sabia? - falou sorrindo ao se afastar –
Vamos para a sua sala – passou por Vlad entrando em sua sala sentando-se na
primeira poltrona que encontrou – Temos alguns assuntos a tratar – anunciou
assim que Vlad fechou a porta.
Vlad olhou para o seu irmão apreensivo. Sempre quando Izac ia procura-lo algo
acontecia.
-Ce qui s'est passé ?
[20]

-Sabe que odeio falar em francês – fez uma careta ao passar a mão pelos seus
cabelos – Vim falar sobre Donnel e seu mais novo brinquedo.
-Meu brinquedo?
-Sim, Lua ou Luna, acredito – tornou pensativo – Já me falaram o que pretende
fazer.
-Vous me regardez ?
[21]

-Não – negou – Cuido apenas da família assim como você, meu irmão.
-Como descobriu? – indagou resignado ao se sentar no sofá próximo a Izac.
Observou o seu irmão ficando surpreso ao perceber que ele não mudara em nada.
-Temos amigos em comuns. O que pretende com isso? Eu entendo que queira
tirá-lo da jogada, mas colocar a vida da sua mulher em risco?
-Ela não é minha mulher – o corrigiu sério – Ela é apenas mais uma de minhas
vadias.
-É a primeira que mora com você – sorriu.
-Culpe Luca por isso.
-Sempre colocando a culpa em seu consigliere – meneou a cabeça divertido –
Sabe que Donnel a torturará e a matará.
-Eu sei.
-Então porque continua?
-Tenho homens de confiança.
-Como sempre. – Vlad assentiu. Se encararam durante algum tempo até Vlad
esboçar um sorriso - Mon frère étrange . Deveria me visitar com mais
[22]

frequência.
-Não posso ser associado a tráfico de mulheres.
-Somente a buterffly?
-Exatamente – assentiu sorrindo.
-E quando dará a sua carga para mim?
-Nunca, Izac.
-Irmão cruel.
-Ficará até quando?
-Estou pensando em um dia ou dois. Não posso passar muito tempo longe dos
negócios. Vim para descobrir algumas coisas sobre Donnel também. Estou
curioso para ver até onde ele irá chegar.
-Eu também. – tornou misterioso.
Izac observou o seu irmão e então percebeu que Vlad escondia mais alguma
coisa.
-O que mais está acontecendo? É sobre a mulher, certo? O que ela esconde?
Vlad cruzou os braços em frente ao seu corpo encarando o seu irmão. Sabia que
podia confiar nele, mas odiava a percepção aguçada de Izac. Odiaria ser visto
como uma vítima pelo irmão.
-Fale. – Izac insistiu.
-Ela está escondendo o motivo de estar ao meu lado.
-Imaginei que tivesse usado o seu charme – gracejou.
-Não tenho charme para mulheres. Uso dinheiro, fama e medo, mas não charme.
– Izac concordou – Desconfio de algo, mas não tenho nada para provar.
-Para você ela representa uma traidora – percebeu.
-Exatamente.
-Por que não a tortura e mata?
-Seria fácil demais – deu de ombros - e que graça teria?
Izac se levantou, espreguiçando-se.
-O maior perigo que enfrentamos é a nossa própria cegueira. Na maior parte do
tempo estamos cegos pelo nosso desejo de matar, roubar, extorquir e ver a pior
forma humana. Não sou diferente de você, frère . Gosto de ver o pior lado das
[23]

pessoas. Só não espere que a outra pessoa seja isenta de pecados e vontades.
Provavelmente ela irá lhe matar se der uma oportunidade, sabe tão bem quanto
eu, o quanto esse mundo é perigoso e cruel. Somente não espero perder o meu
irmão por ele estar cego demais para perceber que o perigo estava ao seu lado.
Vlad sabia que deveria falar algo, mas se viu calado. Seu pensamento era
idêntico ao de seu irmão.
-Pelo silêncio vejo que pensas igual a mim – Izac falou ao ir para a porta –
Ficarei de olho em Donnel, mas tenha cuidado com a mulher – disse antes de
acenar para o irmão e sair deixando Vlad inexpressivo para atrás.
***
O longo vestido de seda fez com que Luna sorrisse com raiva de si mesma.
Olhou pelo reflexo o olhar de satisfação de Vlad ao observá-la atentamente. Ela
tinha plena consciência de que estava sendo usada, somente não sabia para o
quê. O seu corpo arrepiou-se no instante em que o viu andar em sua direção. Ela
não tirou os olhos do espelho a sua frente. Ficou estática quando ele colocou a
mão no bolso de sua calça retirando um colar delicado em ouro.
-Um presente para esta noite – Vlad falou ao colocar o colar em seu pescoço.
Roçou o seu corpo no dela, delicadamente arrumou o cabelo dela ajeitando-o. –
Está linda.
Luna engoliu em seco ao sentir o seu corpo corresponder a voz de Vlad. A
proximidade dele.
Ele não deveria me afetar tanto.
Pensou ao controlar a sua mão de ir até encontro a ele. Ela queria agarrá-lo.
Vlad sorriu ao tocar no pescoço dela desceu até os seus braços, aproximando os
seus corpos, beijou o seu pescoço.
-Submissa – sussurrou em seu ouvido. Luna fechou os olhos deixando-se
entregar a aquela sensação. Sentiu as mãos de Vlad invadirem o decote de seu
vestido, a sua mão puxar o seu corpo ainda mais contra o dele. – Peça Lune –
Disse em seu ouvido – Peça e tudo poderá ser seu.
Luna estreitou os olhos ao escutar aquilo. Indagou-se o quanto Vlad poderia
estar jogando com ela. O encarando pelo espelho, disse o mais séria que
conseguiu.
-Você.
Vlad sorriu diante de sua resposta. A virou forçando-a a ficar de frente para ele.
-Reposta errada – sorriu cruelmente ao se afastar dela. Luna olhou confusa para
ele.
-Do que está falando? – se viu perguntando ainda confusa.
-Você não me quer – tornou de costas para ela.
-Então o que eu quero?
-Isso eu ainda irei descobrir – revelou ao sair do quarto. Luna sentiu o coração
bater descompassado ao sentar-se na cadeira mais próxima.
-Ele já sabe – murmurou temerosa de sua vida. Ela teria que ter ainda mais
cuidado a partir daquele dia.
Vlad fechou a porta do quarto de Luna fazendo um sinal para Cosimo, o qual se
aproximou.
-Faça tudo como planejamos – disse a ele antes de seguir para o seu escritório
com raiva. Raiva de seu irmão estar certo. O que Vlad mais odiava era o sorriso
presunçoso de Izac.
Cosimo bateu na porta do quarto de Luna antes de abri-la. Seus olhos pousaram
na moça com o semblante pálido e o medo estampado na face.
-Precisamos ir – anunciou ciente de que sua presença apenas pioraria a situação.
– Luna – a chamou ao perceber que ela não se movia. Aproximou-se dela sem
vontade e ao tocar em seu ombro, a viu olhar para ele assustada.
-Ele vai me matar – disse com o olhar assustado e um sorriso na face. Uma visão
assustadora para Cosimo.
Cosimo desejava poder negar, mas sabia que era verdade. Em algum momento
daquela história ela acabaria sendo morta por ele ou Deto.
-Precisamos ir – repetiu agora segurando o seu braço levemente. Luna deixou-se
ser guiada por Cosimo sem preocupar-se. Ela enfim percebera que acabaria
morrendo. Aquele seria o seu fim.
Logo eu que tanto fugi da morte
Pensou sorrindo diante da triste ironia. Deixou-se ser guiada até o carro
estacionado em frente à casa. Sentou-se na parte traseira fechando os olhos no
instante em que Cosimo ligou o carro. Luna não prestou atenção ao trajeto,
apenas manteve a sua mente conturbada com um plano para fugir. Tinha
consciência de que não teria muito tempo, não após aquele comentário de Vlad.
O que eu deveria fazer? Não posso envolver Hack nisso. Ele iria pedir a minha
alma desta vez.
Perdida em pensamentos e em sua angustia não percebeu quando o carro parou.
Cosimo não a chamou, entretanto a observou pelo retrovisor curioso. O modo
como seus olhos encaravam o nada, sua boca entreaberta e sua respiração
ofegante, o deixou intrigado.
O que o chefe espera conseguir dela?
Perguntou-se antes de abrir a porta, sair do carro e em seguida abrir a porta para
Luna, a qual o olhou assustada.
-Vamos – Cosimo tornou ao estender a mão para ela. Luna hesitou antes de
segurá-la e sair do carro.
O local escolhido para o leilão localizava-se na parte mais nobre da cidade. O
leilão seria realizado em um museu. Luna olhou para todos os convidados que se
dirigiam animados e sorridentes. Olhou para Cosimo esperando ver algo
diferente de indiferença, mas nada encontrou.
-O que vou comprar? – Luna perguntou assim que Cosimo ofereceu o seu braço
a ela.
-Saberá assim que for leiloado – tornou evasivo ao caminharem em direção a
entrada.
Muito bem, vamos jogar.
Luna sorriu aparentando confiança ao ser guiada pelo museu. Observou os
olhares das pessoas para si e Cosimo. Sorriu ligeiramente ao perceber que para
eles Cosimo representava o perigo, afinal era como se tivesse a palavra gangster
em sua testa. Ao chegarem em frente a uma enorme porta foram recepcionados e
levados para duas cadeiras em frente ao, pequeno, palco.
-Não vai demorar para começar – Cosimo falou ao ajeitar o seu paletó. Luna
apenas assentiu sem perceber o olhar de um homem sob si.
***
A delegacia encontrava-se extremamente calma naquela tarde. O tenente Hack
permanecia sentado em sua mesa acompanhado de seu cigarro. O cheiro da
fumaça impregnou o ambiente. O aparelho celular repousado em sua mesa o
fazia recordar da mensagem que Luna havia enviado. Ele não era tolo, sabia que
havia algo errado. Todos desconheciam qualquer movimento da máfia para
aquela semana. Ele poderia confiar nela ou seguir confiando em seus instintos.
Bufou ao tragar o cigarro e olhar pela janela. Aquela semana havia sido a mais
fraca. Por mais que procurasse algum crime que envolvesse a máfia, não
conseguia encontrar. Hack se sentia frustrado. Ele precisava fazer algo antes que
ficasse louco.
***
O olhar de Donnel mantinha-se fixo na jovem loira sentada poucas fileiras em
frente a si. Ele não conseguia conter a euforia. Seu olhar fixou-se nos
movimentos dela, na forma como ela olhava apreensiva para tudo. Donnel
extasiava-se em vê-la.
-Em que ela deve estar interessada? – Donnel se perguntou ao encará-la de
longe.
Luna sentiu um calafrio percorrer o seu corpo. Sentia estar sendo observada.
Olhou para atrás e avistou o homem de outrora.
Então foi isso.
Pensou antes de virar-se tentando ignorar a presença e os olhares de Donnel.

CAPITULO 25
Luna encontrava-se angustiada em sua cadeira. Cosimo mantinha ao seu lado
com expressão tediosa na face. Nunca havia participado de um leilão antes e
achara tudo simples, mas o que lhe dava calafrios eram os olhares de Donnel.
Ela não precisava se virar para saber que ele permanecia a olhando. Estava
prestes a falar a Cosimo quando ele se virou mostrando um sorriso.
-É isso – anunciou ao apontar para um quadro que seria leiloado. Luna olhou o
objeto com extrema atenção. O desenho lhe lembrava um tigre preso em uma
jaula. Uma jaula diferente de tudo que já vira.
-É estranho – comentou confusa. O quadro em sua frente parecia uma
homenagem a tatuagem que Vlad possuía – Isso é da família Galli? – disse
surpresa ao encarar Cosimo, o qual assentiu. – Como é possível?
-Nem todos da família são mafiosos. A muito tempo essa pintura se perdeu e o
chefe deseja apenas recuperá-la. Nada mais que isso.
Não é tão simples. Ele não é tão simples. Aquele gangster planejou que eu viesse
para me encontrar com aquele homem.
Percebeu antes de sorrir ironicamente.
-Se ele quer que eu compre, é o que farei – ergueu a mão diante da primeira
oferta.
***
Donnel estremeceu de euforia ao ver a mulher que tanto admirava demonstrar
atenção em alguma das obras leiloadas. Sentiu o seu sangue correr mais rápido
pelo seu corpo, seu coração palpitar e uma excitação tremenda. Ele a teria
naquele dia.
-Preciso de alguns homens para distrair o gangster que está com a loira – Donnel
disse ao homem sentado ao seu lado. O seu mais leal empregado.
-Sim, senhor – assentiu ao pegar o celular. Em poucos minutos quatro homens já
esperavam no lado de fora.
***
Cosimo permanecia inquieto ao olhar para o sorriso de Luna ao conseguir
comprar o quadro. Sentia-se mal ao saber que ela estava sendo usada.
Provavelmente ele já montou alguma armadilha para leva-la com ele.
Estreitou os olhos diante de seu pensamento. Levantou-se primeiro assim que o
leilão terminou.
-Fique aqui por alguns minutos – ordenou antes de seguir para a saída. Luna
permaneceu sentada com o semblante inexpressivo. Ela sabia que algo
aconteceria em pouco tempo. E apesar do que sua intuição lhe dizia, optou por
obedecer a Cosimo, não por confiar nele, mas sim por desejar saber até aonde
Vlad iria para usá-la.
Essa seria a hora perfeito para Hack aparecer.
Se viu pensando antes de suspirar. Olhou em volta percebendo ser a única
naquele salão. Sentiu um calafrio subir pelo seu corpo. Algo estava errado.
Levantou-se da cadeira como por reflexo e foi apenas o instante para ver o
homem que a observara entrar pela porta. Engoliu em seco ao vê-la andar até ela
e a porta sendo fechada por um de seus homens. Ela não conseguiria escapar
dele.
O plano sempre foi esse. Me entregar a ele.
Se viu sorrindo ao perceber o quão tola fora. Ela não teria como fugir de Donnel
e nem como avisar a Hack.
Seria provável que ele me matasse ao descobri que Vlad me jogou para outro.
Respirou fundo antes de exibir um sorriso e encarar o homem que se aproximava
cada vez mais dela.
-Donnel, não é? – se viu falando sem demonstrar o medo que sentia.
-Vejo que se recorda de mim – sorriu exibindo seus dentes e sua expressão de
surpresa.
-Seria difícil esquecê-lo – andou pelo lado ao contrário de Donnel. Ela tentaria
ganhar tempo. – O que faz aqui? Esqueceu algo?
-Sim, precisamente – concordou ao sorrir largamente.
-Seria um incomodo me dizer o que esqueceu?
-Pelo contrário – animou-se diante do jogo da mulher a sua frente – Esqueci um
objeto muito precioso – caminhou vagarosamente até aonde Luna mantinha-se
parada o encarando – Um objeto que irá me divertir muito – assegurou antes de
erguer sua mão tocando o rosto da mulher – Não irá fugir, correr e gritar? –
perguntou curioso diante do comportamento dela. Ela mantinha-se ainda parada
sem esboçar nenhuma reação. – Todas gritam em momentos como esse.
-Não há ninguém por perto para me escutar clamar por ajuda e muito menos
conseguirei escapar com seus capangas próximos a porta, não é? – indagou com
um sorriso vitorioso ao perceber o olhar de Donnel. Olhar de admiração. – Não
sou como as mulheres que conheceu, Donnel. O que fará comigo? – perguntou
aparentando calma quando imaginava formas de escapar dele. Ela já escapara de
pessoas piores antes.
Donnel gargalhou antes de bater na face de Luna e em seguida acaricia-la.
-Todas são iguais – tornou com uma expressão de tédio antes de fazer sinal para
um dos homens – Levem-na para o meu carro – ordenou – E sem chamar
atenção. – O homem de ombros largos que possuía uma cicatriz na face assentiu
antes de segurar o braço dela e apontar uma arma em sua cintura.
-Se fizer algo, irei atirar em você, entendeu? – perguntou com um sotaque
estranho. Um sotaque que ela não conhecia. Luna assentiu, pois encontrava-se de
mãos atadas. Ela não seria salva e muito menos escaparia dele.
Donnel sorria triunfante ao caminhar atrás deles. Capturar Luna havia sido mais
fácil do que imaginara, e apenas via aquilo como uma benção divina ou uma
oferenda de Vlad.
Se fazendo de forte e me entregando de bandeja a sua mulher. Fraco.
Pensou vitorioso ao seguir o seu homem.
***
Nenhum pensamento passou pela mente de Luna ao ser colocada no carro contra
a sua vontade. O homem de outrora ainda mantinha a arma em sua cintura.
-Ele irá me matar, sabia disso? – disse sem encarar o homem. Havia apenas os
dois no banco traseiro e o motorista. – Estará bem com isso? Com a morte de
uma inocente?
-Se é você que o chefe quer, ele a terá – falou simples. Luna suspirou ao
perceber a causa perdida.
O que farei para escapar?
Perguntou-se ao prestar atenção ao caminho que o carro tomava. Olhou de
soslaio para o homem ao seu lado frustrada. Se ela tivesse alguma arma poderia
mata-lo e fugir, mas nada tinha apenas o seu cérebro e corpo.
E não estão valendo nada.
Resignou-se antes de acomodar-se no carro e fechar os olhos. Ela esperaria para
manipular Donnel de alguma forma. Ela não iria morrer fácil.
O carro seguiu por mais alguns minutos antes de estacionar em uma casa
afastada. Luna abriu os olhos assim que sentiu o carro parar. Olhou em volta e
suspirou ao ver que estava longe de tudo.
- Saia – o homem disse do lado de fora, o que fez Luna sorrir sem que
percebesse.
Estou me tornando fria ao ficar ao lado de Vlad.
Percebeu. Saiu do carro e caminhou pelo pequeno jardim e antes que pudesse
pensar em algo a porta da frente foi aberta por Donnel.
--Gosto de recepcionar as minhas garotas – piscou para Luna, a qual sentiu o
estomago embrulhar. –podem nos deixar a sós – dispensou os seus homens ao
sorrir e parar em frente a Luna – Espero que goste daqui, será divertido.
-Ele virá atrás de mim, e mesmo que não venha eu fugirei de você – assegurou
com o olhar determinado.
-Se conseguir fugir, é claro – sorriu ainda mais ao tirar de seu bolso uma seringa
e antes que Luna percebesse, ele havia injetado em seu pescoço.
-Basta respirar com calma. Logo verá tudo de uma forma mais divertida –
sussurrou em seu ouvido.
Luna sentiu a força de seu corpo esvair-se. Sentiu os braços de Donnel a
enlaçarem no instante em que suas pernas perderam a força. Seus olhos
mantinham-se entreabertos, mas não conseguia manter atenção no que acontecia
a sua volta. Tudo permanecia nublado e silencioso.
O sorriso estampava a face de Donnel ao carregar Luna para dentro da casa. A
colocou deitada no chão enquanto observava o seu corpo com atenção. Ele já
havia escolhido muitas mulheres, mas ela era especial para ele. Ajoelhou-se ao
lado dela antes de tocar todo o seu corpo, estremecendo diante de cada toque.
-É realmente única. O que deveria fazer depois com você? Como devo matá-la?
– excitou-se em pensar – Cortar o seu pescoço – o tocou lentamente – ou deveria
mutilá-la e enviar para Vlad? – gargalhou ao imaginar o semblante do mafioso –
Sim, farei isso, mas antes irei me divertir com você – lentamente tocou o corpo
dela para em seguida rasgar o seu vestido. O rasgou com lentidão para apreciar
cada momento em que se divertiria com ela.
***
-Vamos – Vlad sorriu ao segurar a Colt com maestria antes de sair do carro
seguido de Cosimo, Tony e Deto. Os três homens mantinham o semblante
fechado ao avançar pela casa de Donnel. Ao passarem pelo portão avistaram
quatro homens correndo em direção a eles. Vlad nada precisou dizer antes que
Tony tomasse a frente a atirasse neles, matando-os rapidamente. Avançaram
matando todos os homens que apontavam armas para eles e em poucos minutos
Vlad já havia entrado na casa. O semblante do mafioso manteve-se inexpressivo
ao olhar para a cena a sua frente. Luna encontrava-se nua deitada no chão,
enquanto Donnel permanecia em cima dela.
-Será morto como um porco que é – Vlad tornou com a voz alterada ao apontar a
arma para Donnel – Saia de perto dela – ordenou ignorando o olhar assustado de
Donnel – Achou que ela era um presente? – sorriu ligeiramente – um presente
para homens como você é a morte – disse antes de atirar. O primeiro tiro foi na
perna direita. O grito agonizante de Donnel fez Vlad sorrir ainda mais. Aquilo
nunca acontecera com ele. Sentir um imenso prazer em matar alguém como ele.
-Podemos chegar a um acordo – Donnel implorou ao ver o sangue escorrer pela
sua perna – Posso te ajudar.
Antes que terminasse Vlad atirou em sua outra perna agora com o semblante
sério. Viu o homem cair no chão gritando com a dor.
-Digo, posso sumir da cidade. – Donnel sentia a dor aumentar cada vez mais. –
Farei tudo que quiser – gritou.
-Mas eu não quero nada de você – sorriu ao apontar a arma e atirar duas vezes
em seu braço direito – Vou lhe matar agora ou lhe caçarei por toda a sua vida
miserável? – Vlad perguntou-se com um sorriso sádico na face – Farei os dois –
revelou com o olhar sombrio antes de atirar próximo ao pulmão de Donnel.
Guardou a sua Colt atrás das costas e foi até onde Luna estava respingada com o
sangue de Donnel. A segurou em seus braços e sem expressar nada a levou para
fora.
Cosimo meneou a cabeça ao ver Luna daquele estado. Ele odiava sentir-se
daquela forma.
-Foi necessário – Tony disse ao parar ao lado de Cosimo – O chefe cuidará dela.
-O problema é até quando ele fará isso. Cuidará dela ante de matá-la – se viu
falando ao seguir Vlad.

CAPITULO 26
O corpo de Luna jazia na cama de Vlad. Em seu quarto havia apenas duas
pessoas: a jovem drogada e a medica que a olhou com pesar após examiná-la. A
medica se levantou com o olhar entristecido e abriu a porta do quarto se
deparando com Vlad, Luca e Cosimo a esperando.
-Imagino que isso tenha relação com os seus assuntos – a médica falou séria ao
olhar para Vlad – Deveria a deixar longe da podridão.
-Todos temos que nos sujar. – ponderou ao olhar para ela.
-O problema está em sujarmos os outros e esperar que isso seja normal – o
desafiou como fazia – Apenas tente não fazer mais isso.
-Ele a tocou? – Vlad se viu perguntando ao encarar a medica, a qual não
conseguiu esconder a sua surpresa. Era a primeira vez que o chefe demonstrava
sentir compaixão por alguém.
-Não, ele não a tocou. Não houve relação sexual, pode ficar tranquilo –o
assegurou.
– E como ela está? – sua pergunta soou preocupada, o que contrastava com a
sua voz séria e fria.
-Ela ficará bem – coçou a cabeça confusa – Lhe injetaram um coquetel de
drogas, o que é incrível. Vocês andam com pessoas loucas. Eu lhe dei alguns
medicamentos, precisa descansar. Seria bom leva-la ao seu próprio quarto.
-Ela ficará no meu – tornou sério.
-Como quiser – deu de ombros - passarei as instruções para Luca, é melhor eu ir
antes que os meus pacientes comecem a chegar. – virou-se para Luca – Cuide
dela – ele assentiu o que a deixou aliviada. Luca jamais deixaria de cumprir
qualquer promessa.
No instante em que a medica se afastou, Luca respirou fundo.
-Espero que esteja feliz pelo resultado – Luca tornou com a voz raivosa – Era
isso que pretendia? Deixá-la a mercê de Donnel?
-Fiz o que era preciso para a família.
-Ela não é da família, chefe – o lembrou sentindo o gosto amargo na boca ao
perceber que ele a levou para aquela casa.
-E quem a trouxe? – sorriu levemente ao ver o seu consigliere pálido – Não
precisa preocupar-se tanto com ela. Aquela mulher sabe sobreviver. Ninguém é
inocente, lembre-se disso.
-Eu me lembrarei – resmungou sem vontade. – Mas o que está fazendo com ela...
-O que? – sorriu com escarnio – Não é humano? – o viu assentir – Desde quando
sou conhecido pela minha humanidade? Luca parece que anda se esquecendo
sobre o seu chefe.
Luca engoliu em seco. Vlad estava certo mais vez. Ele jamais demonstrara
humanidade com ninguém e sempre colocou a família em primeiro lugar. Ele fez
tudo para deixar a sua família a salva de Donnel.
-Desculpe Chefe – Luca disse com o semblante cansado – A família é tudo.
-Sim. É tudo e nunca se esqueça disso.
Luca assentiu ao perceber a insanidade que cometera. Sua lealdade sempre fora
para com Vlad. Afastou-se confuso consigo mesmo ao ignorar a estranha
sensação de ciúme ao perceber que Vlad iria dormir na mesma cama que Luna
Preciso parar com isso.
Pensou decidido ao sair da casa de Vlad.
Com passos firmes, Vlad adentrou em seu quarto franzindo a sobrancelha ao
perceber o aroma peculiar. O aroma de Luna havia impregnado todo cômodo.
Fechou a porta atrás de si antes de avançar até aonde ela permanecia
adormecida. Sentou ao seu lado, enquanto a observava pacientemente. Tocou em
sua testa retirando os fios de cabelo no instante em que ela abriu os olhos. Os
olhos de Luna permaneciam envoltos em uma densa nevoa. Ela não conseguia
distinguir sobre aonde estava. Seu corpo não lhe obedecia. Ela tentou erguer uma
mão quando se viu sorrindo, gargalhando.
Vlad olhava para ela sem reação. Após vender a Butterfly por muitos anos, já
sabia os efeitos daquela droga. Aproximou-se dela ainda mais tocando o seu
rosto, a viu sorrir ainda mais.
-O que farei com você, Lune? – indagou com a voz baixa antes de beijá-la sendo
correspondido com ardor.
***
A delegacia permanecia em sua rotina massacrante e tediosa. Os policiais
traziam presos consigo, enquanto o Tenente Hack permanecia enclausurado em
sua sala em busca de pistas. Na parede em sua frente havia colado todas as
pistas. Ele não conseguia entender como Vlad nunca havia sido pego ou
cometido algum erro.
-Esse homem não pode ser humano – murmurou transtornado. Seu maior medo
era morrer e Vlad continuar impune. Reprimiu um grito assim que escutou uma
batida na porta. Com a expressão consumida pela raiva a abriu, deparando-se
com um dos policiais. –Estou ocupado – falou ao encarar o policial.
-Temos informações sobre oito mortes e um homem ferido.
-Não conseguem cuidar disso? – indagou com raiva.
-Os ferimentos foram feitos por uma Colt 1911.
Hack abriu largamente os dentes.
-Aonde o homem que sobreviveu está? – perguntou eufórico.
-Em um hospital no centro da cidade.
-Perfeito. – falou ao voltar para a sua mesa e pegar o seu casaco junto com a sua
arma – Me envio o endereço por mensagem – a sua voz saia apressada no
instante em que passou pelo policial. Correu pela delegacia em direção a saída.
Aquela era a sua chance de pegar Vlad Galli. Ligou o carro e pressionou o
acelerador com toda a força que conseguia. Ele não poderia deixar Vlad terminar
o serviço antes de se encontrar com o homem. Os minutos pareciam horas
quando o tenente Hack estacionou em frente ao hospital onde o sobrevivente
encontrava-se. Avançou por todos que encontrou ao parar ofegante na recepção.
Mostrou o seu distintivo e tentou aparentar confiabilidade.
-Sou o tenente Hack e preciso ver o homem baleado.
-Há muitos, tenente – a mulher disse receosa – Tem alguma descrição?
Hack suspirou frustrado ao pensar. O que mais lhe chamara a atenção era a
forma como Vlad atirava nas pessoas.
-Tiros nas duas pernas e apenas em um braço, talvez outro no pescoço.
-Um momento – começou a digitar no computador até sorrir – Temos um
homem que deu entrada com dois tiros nas pernas, dois no braço direito e um
tiro próximo ao pulmão, mas ele voltou para a cirurgia a poucos minutos.
- Seu estado é crítico?
-Poderá perguntar ao médico de plantão. Sigo pelo corredor e vire a esquerda –
indicou e logo viu o tenente sumir entre o corredor.
O coração de Hack batia descompassado ao avançar em busca do médico. Ele
não poderia deixar a sua única esperança morrer. Continuou avançando até
avistar um homem com jaleco que caminhava acompanhado de uma enfermeira.
-É o médico em plantão? – perguntou afobado.
-Sim, sou – afirmou confuso – e o senhor procura por...
-Sou o tenente Hack e preciso saber sobre a saúde do homem baleado com tiros
nas pernas e no braço. – o médico pensou por um instante após assentir.
-Sim, sei quem é. A cirurgia já acabou. Ele passa bem.
-Preciso vê-lo. Agora – enfatizou.
-Ele ainda está descansando – tornou perplexo.
-É assunto oficial da policial. Aonde ele está? – indagou seriamente com o olhar
duro. Viu o médico titubear – Não quero ter que envolve-lo em uma questão
legal, senhor. Preciso apenas do número do quarto.
O médico suspirou. Ele não queria ser envolvido em assuntos policiais.
-Ele está no quarto 5304, quinto andar. Enfermaria – revelou indo contra o seu
bom senso. O tenente sorriu antes de seguir para o elevador.
No instante em que o elevador parou no quinto andar, o tenente saiu apressado.
Procurou pelo quarto e assim que avistou a numeração na ala da enfermaria,
apressou-se ainda mais por medo. Medo que Vlad fosse mais rápido que ele.
Abriu a porta abruptamente deparando-se com o único homem deitado em uma
das quatro camas. O homem encontrava-se adormecido, mas era possível ver seu
corpo coberto por faixas. Aproximou-se vagarosamente. Observou a face do
homem com cuidado. Ele jamais o vira antes.
-Acorde o quanto antes, temos um inimigo em comum – murmurou ao pegar
uma cadeira e sentar-se ao lado dele. Ele não sairia dali até ter o nome da pessoa
que atirou nele e o seu testemunho. Aquela era a chance pela qual havia
esperado a sua vida toda. – Eu te peguei, Vlad Galli.

CAPITULO 27
Luca desligou o celular com extrema rapidez. A palidez de sua face não
conseguia ser evitada. Olhou em volta percebendo que ninguém havia chegado
ao Bar El Sol. Luca tinha que pensar rápido, pois a vida de seu chefe estaria em
perigo em pouco tempo. Levantou-se abrupto seguindo para a saída. Seu
trabalho era conter os danos e proteger o seu chefe.
Pegou o telefone já próximo ao seu carro e discou para Deto.
-Preciso que termine um trabalho. Esteja pronto para o momento correto – disse
com a voz séria. Ele tinha muito pouco tempo para agir.
***
O corpo de Hack doía a cada respiração, mas ele se recusava a sair daquela
cadeira. Ele permaneceria ao lado do homem baleado até o final. Ele encontrava-
se decido a prender o homem que arruinara a sua vida. Espreguiçou-se antes de
levantar por alguns segundos sentindo toda a sua coluna estralar.
-Estou ficando velho – resmungou antes de escutar um barulho e prender a
respiração assim que Donnel abriu os olhos. Correu para o lado da cama e
encarou o homem – Está conseguindo me escutar? – indagou ofegante – Sou o
Tenente Hack, se estiver me escutando pisque – pediu e no instante seguinte
sorriu ao ver o homem fazer o que pedira – Perfeito. Sabe quem atirou em você?
– Donnel voltou a piscar curioso com o homem a sua frente – Eu cuidarei de
tudo. Cuidarei de você – prometeu ao exibir um sorriso doentio. Sorriso este que
Donnel conhecia bem.
Donnel tinha plena consciência de que em algum momento seria morto por Vlad
naquele quarto de hospital. Deixou o policial sentir a esperança brotar em seu
peito como seu último ato de crueldade. Jamais se arrependera de nada que
fizera, entretanto viu-se pensando no que poderia ter feito se não tivesse caído na
armadilha de Vlad.
O tenente Hack mantinha a sua arma próxima. Seu maior temor era de Donnel
morrer antes de poder acusar Vlad Galli por tentativa de assassinato.
Vou prendê-lo e o farei pagar por tudo.
***
No instante em que Luna abriu os seus olhos sentiu seu estomago embrulhar, sua
visão embaçou levemente e seu corpo doía terrivelmente. Ela jamais se sentira
daquela forma antes. Olhou em volta antes de levar a mão até sua têmpora. Sua
cabeça pulsava a cada segundo.
Seu olhar seguiu pelo quarto e ao se dar conta que encontrava-se no quarto de
Vlad Galli deixou o seu corpo relaxar por alguns instantes até recordar-se de
Donnel no leilão e sendo levada para a casa dele.
-O que aconteceu comigo? – perguntou-se confusa no mesmo momento em que
levou a mão a cabeça. Uma dor latente iniciara. O som de passos a fez erguer o
olhar, segurando a respiração por alguns instantes ao ver Vlad caminhando
altivamente até a cama. – E Donnel? – perguntou no momento em que ele sentou
na cama – Você o matou? – ela ansiava por uma resposta afirmativa.
Vlad ignorou o que ela dizia. Com delicadeza tocou em sua face acariciando o
seu rosto e por fim aproximando o seu rosto.
-Quer tanto assim que eu o mate? – Luna conseguia sentir o hálito dele próximo
a sua face. Sua vontade era de gritar a resposta.
-Sim – respondeu contida ao ansiar o toque dele em sua face.
-É uma lastima ele estar vivo ainda – sorriu largamente ao se afastar e
vislumbrar a expressão de terror – Eu estou brincando com ele. Informando para
ele não entrar em meu território.
-Me entregou a ele para tão pouca coisa?
-Lune, você é minha, Não se esqueça disso - com rapidez, a mão de Vlad parou
no pescoço de Luna aproximando-a ainda mais dele – E fará tudo o que eu
quiser – sorriu ligeiramente antes de beijá-la. Luna hesitou antes de corresponder
ao beijo de Vlad. Sentiu as mãos dele em seu corpo, e sem perceber, por reflexo,
afastou as mãos dele com a sua. Engoliu em seco no instante em que ele se
afastou dela.
-Aquele monstro me tocou – tornou com raiva – e deseja me tocar? Sou apenas
um brinquedo, sei disso, mas não acha que está sendo repugnante? – virou o
rosto ao perceber o olhar de fúria do Galli.
-Repugnante? – repetiu sorrindo levemente – Lune, não pense tanto. Você não é
tão importante para mim quanto acredita que é.
-E como me achou? Me seguiu desde o início? – indagou tentando controlar a
sua raiva.
-O colar – apontou para o colar que ainda repousava em seu pescoço – Tem um
rastreador. –a mão de Luna se dirigiu inconsciente para o calor em seu pescoço –
Você me pertence e por isso sempre sei aonde está e com quem está –
acrescentou com uma voz fria antes de olhar em seu relógio no pulso – Pode
continuar no quarto – virou as costas ante de escutar a voz dela.
-O que aconteceu? Não me lembro.
-Ele a dopou com um coquetel de drogas.
-Me drogou? – a voz de Luna falhou ao se recordar da seringa – Um monstro –
murmurou.
-Todos somos – deu de ombros – a minha medica já verificou e você está bem.
Provavelmente sentirá enjoo, dor de cabeça, fome exagerada e sonolência – citou
os efeitos que a Buterffly costumava causar – Se não tiver mais pergunta – foi
em direção a porta e saiu rapidamente.
Luna continuou parada olhando a porta ser fechada. A cada instante odiava ainda
mais Vlad por ele usá-la daquela forma. Usá-la como um animal para conseguir
assustar o seu rival.
-Com toda a certeza acabarei morta quando ele descobrir tudo – murmurou antes
de voltar a se deitar.
***
A expressão de terror estampada na face de Luca ao entrar no escritório de Galli,
na Mirai Galli, o fez olhar com cuidado para o seu consigliere. Eram poucas as
chances que tinha de vislumbrar tal expressão.
-O Tenente Hack está no hospital com Donnel – Luca informou afobado no
instante em que fechou a porta, isolando-os.
-E isso deveria me preocupar? – Vlad indagou friamente ao encarar seu
consigliere – Donnel não irá falar nada.
-Chefe, deveríamos terminar o serviço – aconselhou nervoso – Caso ele fale, irá
lhe incriminar.
Vlad o encarou sorrindo.
-Luca, Donnel jamais falará algo por saber que irá morrer. Eu lhe dei um aviso e
o próximo será muito pior. Ele sabe disso.
Luca calou-se resignado. Seu desejo era cuidar de seu chefe, mas tinha
consciência de quando perdia alguma batalha.
-Certo Chefe não farei nada. – Vlad assentiu concordando ao prestar atenção nos
papeis a sua frente – Porém, se ele for atrás de Luna? O que devo fazer? – Luca
perguntou curioso. A reação de Vlad foi inesperada. Ele gargalhou.
-Se ele for é por desejar ardentemente uma morte dolorosa.
***
Dias Depois...
Hack se aproximou da cama, sorrateiro, e olhou diretamente para Donnel. Após
a operação havia solicitado a delegacia para investigar o homem ferido pela
Colt. Não havia sido preparado para aquilo. O homem ferido chamava-se
Donnel, e possuía negócios obscuros que não envolviam drogas ou contrabando,
mas que infelizmente ninguém conseguia descobrir. Havia inúmeros boatos
sobre ele, mas nenhum confirmado. O homem ferido estava mais para um
bandido. Um bandido tão perigoso quanto Vlad Galli, e isso o intrigava.
A forma como ele havia sido ferido não assemelhava-se a assassinato. O homem
que atirou nele tinha conhecimentos sobre assassinato, e por algum motivo não
quis ele morto.
A pergunta que ele se fazia era sobre o motivo dele ter sido poupado.
O tenente Hack não aguentava mais permanecer sentado no quarto de hospital. O
seu medo de Vlad Galli assassinar Donnel continuava infundável, pois desde o
dia em que Donnel deu entrada no hospital não recebera visitas, telefonemas ou
cartas. Começara a se questionar se Vlad havia atirado mesmo naquele homem.
Ninguém nunca escapara de sua Colt 1911, não até aquele dia.
Ele não ficou vivo por acaso. Vlad deseja usá-lo para alguma coisa.
Percebeu ao olhar para o homem deitado na cama de hospital. Donnel já voltara
a falar poucas palavras, mas nada que pudesse usar contra Galli. A, suposta,
vítima aparentava estar protegendo o seu algoz, o que de fato era estranho.
Será que são parceiros?
A cada minuto que passava inúmeras perguntas inundavam a sua mente. Voltou a
sua atenção para Donnel e um sorriso surgiu em sua face. Se Vlad desejava
brincar com ele, então a diversão seria de ambas as partes.
Sorriu ao tocar no corpo de Donnel e ao vê-lo abrir os olhos assustado, sentiu um
prazer imensurável.
-Acredito que está na hora de conversarmos – Hack falou sorrindo ao se
aproximar de Donnel –Estou cansado de protege-lo e não saber do quê. Te darei
uma chance de me contar tudo antes que eu saia pela porta e nunca mais volte.
Entende isso? – indagou sério. Esperou para que o homem assentisse, mas isso
não aconteceu. Donnel sorriu. – Espero que sorria em seu enterro também,
cretino – Hack falou ao dar de ombros e seguir para a porta.
-Você também o odeia, não é? – a voz de Donnel preencheu o quarto. Hack
virou-se confuso ao encarar o homem que sorria debilmente. – Nós dois o
odiamos, Vlad Galli.
-Então foi ele que atirou em você?
-Se for, o que fará? Acusa-lo de tentativo de homicídio? – gargalhou apesar de
sentir dor – Não seja idiota. Galli possuí muitos amigos influentes nesta cidade.
-O que espera que eu faça então? Sou um policial. Policiais servem a lei. Não
agimos como bandidos sorrateiros e baixos.
-Isso não me ofende policial – Donnel disse calmo ao encará-lo.
-Duvido que algo possa ofende-lo.
-A existência de Galli me ofende. Ofende meus ideais como cidadão. Pago
imposto, sou como qualquer outra pessoa perante a lei, não sou, policial?
O tenente Hack apenas o encarou. O homem a sua frente era manipulador e
lunático.
Perfeito.
O sentimento de Hack assemelhava-se a satisfação. Bastava que ele fingisse ser
manipulado para pegar Galli, finalmente.
-Sim, como qualquer outra pessoa que tenha ligação com a máfia.
-Todos temos em algum momento de nossas vidas.
-Se não deseja que eu o acuse, não tenho a fazer aqui.
-Policial não seja pragmático. Há muitas formas de acusar um homem ou fazê-lo
desaparecer.
-Está sugerindo que eu o mate?
-Não – negou – Sugiro para que trabalhemos juntos para pegá-lo. Eu o odeio
tanto quanto o senhor o odeia. Ele é uma escoria para a sociedade. Podemos nos
unir para limpar esta cidade podre.
Uma escória como você.
-Se eu puder prendê-lo, irei aceitar.
-Por que prendê-lo quanto pode fazê-lo desaparecer?
-Por eu ser a lei. – esclareceu calmo.
-Todos somos a lei perante Deus, não somos? – sorriu alterado – Vamos nos unir
e depois pensarmos sobre isso.
Hack fingiu pensar sobre aquela proposta, mas sabia que aceitaria. Ele poderia
prender Donnel e Vlad.
-Não somos – negou sério – Mas aceito. Quero pegá-lo.
-Isso me deixa feliz, policial.
-Não deveria deixar, pois se eu souber que faz algo errado também o pegarei.
Não tenho amigos bandidos.
Donnel simplesmente sorriu. Ele não temia o policial a sua frente.
-Se encontrar algo sobre mim não terei problemas em acabar na prisão – afirmou
com um olhar estranho. Um olhar que Hack conhecia muito bem. O olhar de
loucura.
-Então como pretende pegá-lo?
-Como se pega um animal feroz? – perguntou ao sorrir – Para pegá-lo com vida
temos que fazer uma armadilha, é claro.
O tenente assentiu. Por mais que quisesse prender Donnel, iria esperar para
chegar a fundo daquela trama. Ele iria prender os dois. Ninguém escaparia de
sua fúria.

CAPITULO 28
Na parte remota da cidade, o som de corpos caindo no chão não afetou ninguém
que se encontrava naquele local. O odor de sujeira e sangue misturavam-se
impregnando a área. O homem com um sorriso apontava a arma para os dois
homens sobreviventes, amarrados e ajoelhados no chão. Os dois homens
tremiam violentamente ao sentir o sangue dos mortos em seu corpo.
-Não deveria ser demorado. As pessoas sempre respondem ao que pergunto –
Izac sorriu divertido ao coçar a cabeça com a sua arma – Faremos assim, quem
me contar o que desejo saber ficará vivo. O que acham? – os dois homens se
entreolharam e Izac percebeu que conseguira. – O que sabem sobre os negócios
de Donnel? Quero detalhes sobre as garotas que ele sequestra também. Quem irá
sobreviver? – indaga ao apontar a arma para os dois homens com um sorriso
nefasto. Martha mantem-se a distância, apenas observando a ação de seu chefe.
Em algum momento, ela acabaria se intrometendo, como sempre. – Se não
falarem matarei os dois – esclareceu calmo. Destravou a arma e a apontou para o
homem mais sério – Será o primeiro – afirmou.
-Eu contarei – o homem falou após suspirar aparentando calma. O homem que
outrora estava sobre a mira da arma. Sua calma era estranha para Izac – Donnel
possuí negócios ligados a extorsão.
-Extorsão?
-Sim, e todas as garotas que ele sequestra e mata nunca são achadas por isso.
-Então ele tem clientes influentes – assentiu – mais alguma coisa? – o homem
negou em silencio – Tudo bem – Izac sorriu ainda mais ao apontar a arma e
atirar sem titubear. O grito do homem ajoelhado ao seu lado preencheu todo o
lugar.
-Ele disse tudo, droga – o homem gritou com lagrimas caindo pela sua face – por
que atirou nele? Droga.
-Ele mentiu – Izac tornou confuso – Por isso o matei.
-Ele não mentiu. Donnel extorque as pessoas. Quanto mais dinheiro elas
possuem, mais podre delas, ele acha.
-Se não acha, ele deve criar – percebeu – E sobre as mulheres, qual o motivo de
todas serem loiras?
-Ninguém sabe – falou nervoso – É a verdade. Ninguém sabe.
Izac sorriu ao abaixar a arma. Mostrou a mão em que possuía tatuagem para o
homem.
-Reconhece? – o olhar assustado do homem o denunciou – Vejo que sim, mas
como fiz uma promessa. Não irei lhe matar. – virou-se para atrás e acenou para
Martha – Ela cuidará de você. – piscou ao se afastar no mesmo instante em que
ela se aproximava do homem.
-Por favor, me solte – o homem implorou assim que Martha se aproximou dele –
Me solte antes que ele mude de ideia.
Martha olhou para o homem com compaixão antes de tirar a arma de suas costas
e atirar em sua cabeça. Um único tiro. Fatal e indolor.
-Não deveria ter matado tantos homens – Martha disse ao se aproximar de Izac –
Donnel irá querer saber o mandante.
-Até ele se recuperar estaremos longe – deu de ombros pensativo.
-Mas seu irmão continuará aqui.
-Vlad sabe se defender muito bem – a assegurou sorridente antes de seu
semblante modificar-se – Donnel pode estar por trás de muita coisa nessa cidade.
-Devo avisar ao seu irmão?
-Não, se ele souber que ainda estamos na cidade ficará louco. Preciso descobrir
mais uma coisa antes de ir embora.
-Sobre a mulher?
-Sim – concordou ao se espreguiçar – seria mais fácil tortura-la.
Martha suspirou cansada. Izac amava o seu irmão, mas não conseguia ser
verdadeiro com ele.
Seria mais fácil se trabalhassem juntos. Idiota.
***
A penumbra do quarto, o som da respiração ritmada e o aroma de Luna eram os
únicos companheiros do gangster Galli naquela noite. Após chegar da
construtora, Galli se viu caminhando até o quarto de Luna. Abriu a porta
silenciosamente com o único intuito de observa-la. O olhar frio de Vlad pousava
sobre a mulher deitada. Viu o seu corpo coberto, seus cabelos bagunçados, mas o
que lhe chamara a atenção foi o sussurro que se iniciara. Aproximou-se com
cautela até parar ao lado da cama.
-Não, por favor – a voz de Luna misturava-se com a sua respiração, levemente,
ofegante – Não aguento mais.
O olhar de Vlad não se alterou. Não passou compaixão, remorso ou curiosidade
por eles. Não havia nada. Ele apenas permanecia parado a olhando, como se
aquela simples ação conseguisse revelar mais sobre ela.
-Deveríamos brincar mais? – se perguntou ao se erguer – Será divertido – foi em
direção a porta e saiu sem fazer barulho. No instante em que saiu do quarto
deparou-se com Luca, encarando-o. – Preocupado com ela ou está temendo que
eu faça algo? – indagou friamente.
-Estou cuidando dela, Chefe, apenas isso – o assegurou calmamente.
-Continue cuidando dela, Luca, mas não se esqueça que basta uma palavra
minha e ela será morta. Nunca confie em ninguém que não seja da família. Ela
não é a pessoa que imagina – deu as costas ao seu consigliere ao ir em direção ao
seu escritório.
-Então quem é ela? – Luca se perguntou ao olhar para a porta do quarto de Luna.
***
Dias depois...
Luna remexeu-se na poltrona da sala inquieta. Nenhuma mensagem chegara no
celular e Vlad não a encarava e muito menos aproximara-se dela nos últimos
dias. Algo a deixava nervosa sobre aquela situação.
Ele vai me matar.
Esse pensamento não saia de sua mente temerosa. A única forma se manter-se
viva seria enganá-lo, assim como fez durante anos com tantos homens. Ela não
desistiria de sua vida, não ainda.
A casa silenciosa lhe trazia mal presságio. Assustou-se quando sentiu um toque
em seu ombro, virou-se prestes a gritar quando avistou o sorriso de Luca.
-Nunca a vi sozinha na sala – Luca sorriu ao sentar-se no sofá em frente a ela –
Vlad lhe chamou? – ela negou temerosa – então...
-Ele vai me matar? – perguntou frustrada consigo mesma. Ela odiava sentir-se
daquela forma, mas era necessário. Seus passos tinham que ser calculados a
partir de agora.
Não deixarei que ele me mate.
-Por qual motivo ele a mataria? – indagou confuso – Vlad não a matará.
-Então qual o motivo dele não se aproximar de mim?
-Quer que ele a procure? – a voz de Luca demonstrou toda a sua perplexidade –
Está apaixonada por ele?
A perplexidade tomou conta da expressão de Luca, o qual encarava Luna sem
titubear. Ele não conseguia acreditar que ela se apaixonara por Vlad Galli.
―Está realmente apaixonada por ele? – insistiu estupefato.
Luna mordeu os lábios segurando a risada. Ela jamais sentiria algo como amor
em sua vida, e muito menos por um mafioso.
Estou apenas usando ele para minha liberdade. Como pode achar que estou
apaixonada por ele?
―Não sei o que sinto – a confusa voz de Luna fez Luca revirar os olhos.
―Eu não entendo – ele murmurou – como...
―Eu também não sei – sorriu sem graça.
―Luna, sente algo quando está com ele? – indagou calmo controlando o seu
nervosismo. Para ele era inconcebível alguém como Luna, alguém que sofreu
tanto quanto ela, se apaixonar por alguém como Galli.
Luna permaneceu parada evitando encará-lo. A situação se tornaria
constrangedora para qualquer pessoa, com exceção dela.
―Confia em Vlad, não é? – Luna questionou baixo obtendo como uma resposta
afirmativa – E por que o teme tanto? – Luna segurou-se para não sorrir diante da
expressão de Luca. Uma expressão de pavor. Ela tocara em seu ponto fraco –
Entendo que seja leal a ele, só não consigo entender o motivo, se sente tanto
medo dele.
―Não o temo – a assegurou firmemente.
―O venera?
―O admiro – a corrigiu. O olhar de Luca permanecia fixo no olhar de Luna, e
pela primeira vez indagava-se o quanto estaria errado em julgá-la como inocente.
– Deveria ser mais grata, afinal ele a deixou morar aqui.
―Sim, depois de você ter ido me buscar – rebateu com o semblante calmo e
inocente. Luca sentiu um arrepio ao assentir. Ela estava jogando em sua cara, o
seu próprio erro.
―Sim, é verdade.
―Não se sinta mal pelo o que eu disse, Luca – Luna disse ao se levantar – Todos
somos testados em algum momento de nossa vida. Vou para o quarto - afastou-se
a passos lentos segurando um sorriso que teimava em aparecer. – Se é assim que
terei que jogar para sobreviver, não será tão ruim – murmurou ao abrir a porta do
quarto.
Luca continuou sentado ainda perplexo.
―Vlad estava certo esse tempo todo? – se perguntou perturbado. Ele não
conseguia acreditar que alguém como Luna enganara a todos. Ele não queria
acreditar que havia sido enganado.
****
Os dedos tamborilando sob a mesa, o silencio e o sorriso de crueldade na face de
Vlad, nada despertaram em Luna. Ela mantinha-se parada, ainda em pé, em
frente a ele, sem importar-se com os capangas de Vlad atrás dela. Ele a chamara
assim que anoiteceu em seu escritório.
Ele não irá me matar agora.
Pensou com confiança ao ver o olhar dele sob o seu corpo.
―Espero que esteja pronta para a sua próxima missão – a voz de Vlad
preencheu o ambiente. A voz dura, cruel e sádica. Luna apenas o encarou
aliviada por não morrer.
CAPITULO 29
O Corpo de Luna estremeceu ao passar pela porta do duvidoso estabelecimento
que Vlad lhe ordenara ir. Em sua mão carregava uma maleta, a qual contrastava
com o seu modo de vestimenta. Escolhido por Vlad. Luna trajava um vestido
colado no corpo que revelava mais do que ela gostaria. Seus cabelos
encontravam-se soltos e um par de salto alto fazia a combinação. O bar para
aonde ela fora enviada era conhecido pelos jogos esportivos que passavam nas
televisões espalhas, pelo linguajar rude dos frequentadores e pelos elementos
considerados corruptos.
Vlad apenas a enviou a aquele lugar com a maleta, sem lhe dar maiores
instruções. A respiração se tornara cada vez mais difícil e sufocante quando ela
avistou Judi, uma dos subordinados de Vlad, lhe acenando com discrição.
Isso não é nada bom.
Com extrema calma, ela caminhou até onde a general de Vlad se encontrava
sentada com um copo de cerveja a sua frente.
―Se o chefe quer brincar com você, quem sou eu para falar algo? – a voz
mordaz de Judi fez Luna sorrir. Ela não iria lutar contra a mulher a sua frente.
Não até saber qual seria a sua missão.
―O que eu devo fazer? – a sua voz sairá ligeiramente tremula, mas Judi a olhou
com desconfiança.
Ela está muito calma.
Foi a primeira coisa que Judi percebeu no instante em que Luna passou pela
porta.
―Um homem chegará e você deverá entretê-lo.
―Eu entendi – engoliu em seco ao perceber que mais uma vez estava sendo
usada como um objeto.
Judi nada mais falou, apenas bebeu a cerveja, enquanto seu olhar se dirigia para
a porta. Alguns minutos depois, se levantou e fez sinal para que Luna fizesse o
mesmo. As duas caminharam em direção a um grupo de homens recém
chegados. Homens bem vestidos e com um semblante perturbador.
―Senhor Falcon – Judi o saudou de uma leve distância – Não gostamos de ser
incomodados, o senhor sabe.
O homem que aparentava ser o chefe, sorriu. Seus cabelos castanhos
combinavam com a cor de seus olhos. Sua pequena estatura escondia a sua
enorme crueldade.
―General, imaginei que o próprio Galli viesse – disse com falsa tristeza, algo
que não passou despercebido para Luna – E está bela ao seu lado, é a nova
amante dele? A vadia de que todos falam?
―E no que isso pode lhe interessar? – Luna ofegou ao perceber o tom irônico de
Judi.
Ele não é um aliado de Vlad. Isso é bom.
Luna pensou ao observá-lo para gravar em sua mente a sua face. Aquele poderia
ser um triunfo para a sua sobrevivência.
―Todos sabem que Galli tem um fraco por prostitutas, mas ela parece ser. – a
olhou de cima a baixo antes de sorrir. Um sorriso cínico e sujo – cuidada demais
para isso. Não me diga que veio vende-la?
Luna percebeu o olhar de desejo do homem e por um instante não se refugiou
atrás de Judi, a qual sorriu.
―Não. O chefe tem outros planos pra ela – olhou em sua direção – Abra a
maleta – ordenou com a voz fria. Luna engoliu em seco ao abrir a maleta e se
deparar com pequenos diamantes. ―O chefe prefere diamantes.
A expressão na face do homem modificara totalmente.
―O que ele deseja?
―Ter Donnel em sua mão e descobrir os planos de uma certa pessoa.
―Essa pessoa é....
―Da polícia. Se aceitar enviarei o nome dele por mensagem.
O homem sorriu largamente ao indicar para um de seus homens pegarem a
maleta.
―Quanto tempo eu tenho? – todos sabem que trabalhar para Vlad Galli requer
um tempo especifico para realizar seus trabalhos. – Espero que mais de quatro
dias.
―Ele lhe deu uma semana, apenas isso. É o prazo máximo.
―É perfeito – a assegurou – quando descobrir farei como de costume. – o
homem mais falou ao se retirar juntamente com os seus empregados. Judi
esperou que ele saísse pela porta para então olhar para Luna.
―Essa foi a primeira parte do seu trabalho.
―E qual a segunda?
Um sorriso nefasto surgiu nos lábios dela.
―Ele quer que você roube uma coisa.
―Roubar? – perguntou indignada.
―Sim, roubar uma loja especifica.
***
Izac bocejou antes de erguer a arma para uma das mulheres ajoelhas em sua
frente. Ele se encontrava em um motel barato afastado da cidade. As duas
mulheres ajoelhadas a sua frente eram conhecidas por ajudar Donnel na escolha
das jovens loiras. Martha mantinha-se a distância.
―Sabe, eu adoro jogos – Izac falou sorridente – Desde pequeno sempre gostei
de jogar e pensei aqui por que não jogamos algo divertido? – as mulheres se
entreolharam-se conscientes do que viria a seguir – Podemos jogar verdade e
consequência ou roleta russa, o que escolhem?
A mulher que aparentava ser a mais velha sorriu, e então Izac compreendera.
―Verdade e consequência? – a mulher assentiu, enquanto a mais nova
estremeceu. – Eu farei uma pergunta a cada uma, e quem mentir levará um tiro
em alguma parte do corpo. Primeiro você – apontou para a mais nova – Donnel
sempre caça as jovens loiras por um motivo em especifico, e que motivo é esse?
– a jovem o olhou aterrorizada e em seguida para a outra mulher que deu de
ombros. Se iniciara uma luta pela própria vida – Ah, você tem mais três
segundos antes de eu atirar – falou ao encará-la – Um, dois...
―Ele – ela gritou com medo – foi casado uma vez.
―Assim está melhor. Conte-me mais.
―A mulher o traiu e ele a matou.
Izac sorriu antes de atirar em sua perna.
―Mentir não vale – a repreendeu sorrindo e olhou em direção a mais velha – E
então, me contará a verdade?
A mulher o observou atentamente.
―O que me dirá que não irá me matar após eu contar?
―Minha palavra.
―Palavra de alguém que eu não conheço não vale nada. Pode me matar agora, e
o que tanto deseja saber morrerá comigo. Você escolhe.
―Gostei de você – ele sorriu largamente – Se me contar a verdade, Martha, a
mulher parada perto da porta, irá lhe levar para longe de mim, em segurança, e
deixará que siga com a sua vida. Ficará viva.
A mulher não conseguia encontrar verdade nos olhos dele.
―Está mentindo – falou firme – ela que irá me matar se eu sair daqui. – Izac
gargalhou e assentiu, confirmando.
―Então podemos sair e deixar as duas sozinhas. O que acha? – a mulher
ponderou ao ver as suas opções, e em todas acabava morta.
―Não sou do tipo fiel aos meus patrões, mas acho que vou lhe contar, se me
prometer algo.
―O que?
―Que irá matar Donnel – seus olhos frios, o fez assentir curioso – e qual o
motivo?
―Ele matou a minha irmã.
―Interessante, então me conte a verdade sobre ele.
A mulher suspirou antes de começar.
―Todos sabem que Donnel gosta de moças jovens com cabelos loiros. A
verdade não é tão glamorosa quanto todos acham. Ele sempre foi sádico, cruel e
brutal com as mulheres, mas a escolha pelas loiras é devido a sua mãe. Soube
que ela o espancava quando era criança, o deixava preso no armário e chegou a
deixar ele passar fome por dias. Algo assim.
―Então não é nada especifico, ele é apenas um bastardo louco.
―Exatamente.
―Sem graça – murmurou ao se levantar – Martha, solte-as e vamos embora –
disse antes de ir para fora do quarto. Demorou alguns segundos até Martha
retornar e sentar ao seu lado no carro.
―Por que as deixou livres?
―Quero que ele saiba que eu sei – sorriu animado – alguma coisa tem que ser
divertida.
―E agora para aonde vamos?
―Vamos atrás da verdade sobre Luna, é claro.
***
A segunda missão de Luna não era como ela esperava. Após saírem do bar, Judi
a levou até o carro e dirigiu o caminho em silencio até parar em frente a um
beco. O espanto caracteriza a face de Luna, a qual olhava com horror para Judi.
―Vlad deseja que entre lá e consiga roubar aquele traficante – apontou para um
homem parado no beco.
―Como eu farei isso?
―Não é da minha conta – deu de ombros – apenas pegue o dinheiro e as drogas
dele.
―Isso é ridículo. Não tem como eu fazer isso.
―Eu já fiz e você não pode? Ah, porque você é uma das vadias dele. Uma vadia
imprestável – falou com nojo.
Luna estava prestes a desistir quando viu a expressão em Judi. A mesma
expressão que já vira inúmeras vezes na sua terra natal. A expressão de que
ninguém acreditava que ela sobreviveria.
Sem falar nada, ela abriu a porta do carro e saiu sem perceber o sorriso de Judi
antes de acelerar o carro.
―Vadia – Luna murmurou ao ver o carro se afastar rapidamente. Sua mente
trabalha rápido em encontrar uma solução, mas percebe que para voltar até Vlad
deve completar a missão. – Se ela for verdade – diz a si mesma ao seguir em
direção ao homem parado – Ei, o que você tem ai pra mim?
O homem a encarou sem expressão. A olhou de cima a baixo.
―Não me amola, vadia. Vá atrás de homem – ele desconfiara de algo, isso foi o
que Luna pensou ao se aproximar ainda mais dele – Que porra você quer?
―Quero a butterfly – Luna falou ao sentir seus lábios secos. Apenas em
relembrar a sensação de esquecimento da droga sentia-se bem.
―Tem bom gosto – elogiou ao tirar a mochila, coloca-la no chão para procurar a
droga, mas antes que ele percebesse, Luna lhe chutou, pegou a mochila e correu
pela rua. Ela não fazia ideia do que estava fazendo. A situação era ridícula por si
só, mas ao correr pela rua percebeu que algo não fazia sentido. Parou, olhou para
atrás e não viu o homem correndo atrás dela.
―O que é isso, afinal? – se perguntou ao colocar a mochila nas costas e olhar
em sua volta, buscando encontrar alguém. – Tem alguma coisa errada – a rua
estava vazia, ela não via ninguém por metros. Ela continuou andando até avistar
um bar com a música alta. Andou em direção a ele, mas antes de entrar escutou
um barulho que fez parar no meio da rua. Uma van parara abruptamente. Antes
que pudesse fazer algo, a porta se abriu, e ela foi puxada.
Luna se debatia até perceber quem fizera isso. Cosimo sorria largamente.
―O que está acontecendo?
―Ah, Vlad estava lhe testando – disse calmo.
―Isso eu já percebi, mas qual o motivo?
―Eu não sei – deu de ombros ao apontar para o motorista. Tony – Fomos
informados a pouco tempo que estaria aqui.
―E deveriam apenas vir me buscar? – ele assentiu. – Pare o carro – a voz de
Luna saiu firme – Aqui está a mochila.
―O que quer dizer?
―Eu preciso de um tempo – Luna falou séria – Tony pare o carro, por favor –
Tony parou o carro no acostamento da rua movimentada, e ela saiu sem falar
nada.
―Isso vai nos dar problema – Tony falou para Cosimo, o qual assentiu, mas
sorriu – É divertido. Deveríamos segui-la?
―É melhor você ir – Cosimo assentiu ao descer do carro. Luna vagou com
apenas um objetivo: pensar. As ações de Vlad não faziam sentido. Não naquele
dia. Ela caminhou pela calçada até avistar um bar e entrar. Foi em direção ao
banheiro sem perceber que era seguida. Assim que encostou a porta, um homem
entrou no banheiro, trancando a porta.
―Você deveria parar de me encontrar em lugares assim – Luna falou ao olhar
para Hack, o qual a encarava sem expressão. – O que quer?
―Quero informações. Estou cheio de te proteger para nada.
―Me proteger? Não está fazendo nada. A única prestes a morrer naquela casa,
sou eu.
―Quero nomes. Quero lugares. – a voz de Hack começara a aumentar o tom.
―Gritar comigo não irá funcionar.
―A única coisa que funciona com vadias da máfia ucraniana é violência, drogas
e dinheiro, não é mesmo? – o semblante de Luna empalidecera – Vlad ainda não
descobriu o que você era? Que se vendia por drogas? Você é uma vadia
completa, Luna, é por isso que Vlad ainda não se cansou de você. Tenho falado
com um contato na Ucrânia e todos conhecem a prostituta oficial deles. Você
fazia de tudo para eles, não era? – a expressão de terror preenchia o semblante de
Luna ao se recordar do que já fizera. – O que mais fazia além de dar para todos?
Vendia drogas? Armas, talvez?
―Sim, eu fazia tudo isso – ela se viu falando com o olhar vazio – Em todos os
anos em que passei sendo a escrava deles não podia andar vestida pela casa.
Todos poderiam me tocar, me usar, por tanto que dessem algo ao chefe. Eu era
uma escrava.
―Saiu de uma máfia para outra.
―Por sua culpa – gritou. – O único que vem me atormentando com isso é você.
É o único que vem me ameaçando me enviar de volta quando fiz tudo que podia
para sair daquele inferno. Você diz que Vlad é o demônio, mas o único que é aos
meus olhos é você, Tenente Hack.
―Basta me dar o que quero, que consigo sua permanecia aqui. Esse é o nosso
trato.
Luna mordeu o seu lábio com raiva.
―Eu sei disso.
―O que fez hoje?
―Vlad pagou alguém com diamantes.
―Quem? – indagou afoito. Aquela poderia ser a sua chance – Para quem?
―Eu não conheço. Ninguém falou o nome dele.
―Preciso de algum nome. Alguma informação. Você sabe disso.
―Vá para o inferno Hack – gritou enfurecida antes de sentir a mão dele em seu
pescoço. O ar começou a se tornar pouco. O seu corpo lutava para sobreviver.
―Não se esqueça quem eu sou, Luna. Sou o único que pode lhe ajudar – disse
ao soltá-la. Luna tossiu ao olhar para ele com desprezo.
Vou acabar com você, Tenente Hack.

CAPITULO 30
No quarto escuro, Luna mantinha-se sentada no chão ao abraçar as suas pernas.
Ela retornara para a casa de Vlad sozinha, e com o pensamento distante. Hack
lhe trouxera dolorosas lembranças que ela lutara para esquecer. Lembranças em
que não era humana.
O rosto antes tão delicado agora mostrava sinais de desgaste, maus tratos
e descuido. A, única, jovem loira mantinha-se sentada aos pés do chefe da máfia
Ucraniana sem nada falar, como fora acostumada a fazer. Todos na enorme sala
a olhavam com repugnância e desejo. A jovem não era permitida usar roupas,
apenas um colar em seu pescoço. Um colar para demonstrar ser um objeto. Um
animal do homem sentado. Ela esquecera a sua humanidade desde o instante
que fora levada para aquela casa. A casa dos horrores, como ela habituou-se a
chama-la em pensamento nas primeiras noites de agonia. O chefe da máfia
acariciou os cabelos dela fazendo com que ela o encarasse. O olhar dela era
inerte. A única forma de perceber se ela ainda estava viva era pela sua
respiração.
―Vá para o corredor – a voz do homem era a única que ela poderia obedecer
tão cegamente. Ela se levantou sem importar-se com a sua nudez e seguiu para
fora da sala permanecendo em pé no corredor. Luna não sabia dizer o tempo em
que estava lá até sentir um pano sobre seus ombros. O casaco do desconhecido.
Seu olhar dirigiu-se para a pessoa e ela o viu. Um homem jovem com cabelos
negros e olhar frio, mas mantinha um sorriso em sua face.
―É um ser humano. Não deveria continuar sendo tratada dessa forma – a voz
do homem a fez chorar. Em anos, ninguém falara docemente com ela. – Essa é a
maior prova de sua humanidade. Nunca se esqueça dela.
Luna continuou chorando ainda olhando para o homem. Ele não fez nada,
apenas a olhou por longos instantes até suspirar.
―Qual o seu nome? – ele esperou paciente para que ela falasse.
―Luna – a sua voz extremamente baixa o fez suspirar ainda mais.
―Talvez eu possa lhe ajudar.
Essa foi a única vez que Luna sentiu esperanças. Antes de olhar para o homem a
sua frente buscando nele algo que a fizesse recordar de um anjo. O homem aos
seus olhos tornara-se um ser inalcançável naquele instante.
―E porque faria isso? – se viu perguntando com a voz baixa. Por mais que
quisesse escapar de sua dor, não confiara mais em ninguém. Não depois que a
única pessoa que deveria protege-la, a enganou.
―Por que também sou humano – sua voz calmo a deixou desconcertada. E sem
saber o motivo sentia vergonha por estar nua. Vergonha por estar sendo usada
daquela forma. Tentou apertar o casaco contra si. – A quanto tempo é usada por
eles?
Luna não queria pensar. Ela se recusava a se recordar do momento em que fora
abandonada.
―Alguém te vendeu? – ele perguntou mais uma vez percebendo as reações do
corpo dela manteve-se em silencio. Ela tremia. Seu corpo aparentava não
aguentar o seu próprio peso. – Deve ser difícil se recordar disso.
Luna se viu concordando em silencio em meio as lagrimas.
―Eu estou aqui a muito tempo – ela falou ao virar de costas apenas o suficiente
para que ele visse a marca atrás de sua perna direita. Uma marca feita por faca.
– Fizeram isso no dia em que cheguei. Fui marcada em frente a porta dessa
casa.
―Eu sinto muito – a voz envergonhada dele denunciou o constrangimento que
sentia. Ela não esboçou nada ao encará-lo.
―Não foi você – disse com o olhar estático. Ela não demonstrara nada. Nem
ela sabia o motivo de tentar consolá-lo.
―Eu sei, e isso que doí mais. Saber que poderia te ajudar.
―Ninguém tinha como fazer isso. – seu olhar morto tornara-se ainda mais
profundo – Ninguém pode me tirar dessa podridão e escuridão. Fui forçada a
entrar nesse mundo, mas duvido que eu saia com vida – se viu confessando ao
entregar o casaco para ele – Não se aproxima de mim mais, pois pode acabar
morto. Isso já aconteceu – falou. Quando o homem pegou o casaco de volta seus
dedos tocaram nos delas. O silencio atormentador o fez sentir vergonha por
estar ali. Luna permaneceu em pé com a cabeça erguida ao ver um dos homens
do chefe se aproximar.
O homem que Luna desprezava aproximou-se e segurou a coleira em seu
pescoço.
―Acabou a diversão – disse em seu idioma. Luna nada falou ao segui-lo pelo
corredor frio. Seus pés seguiam pelo mármore gelado. Ela não conseguiria
olhar para trás, mas ansiava guardar em sua memória a única vez em que fora
tratada como pessoa naquela casa. Seguiu o homem que todos chamavam de
Bohdan. Um homem extremamente cruel e maligno. Ela conhecera o medo, o
terror e o desespero ao viver ali. – Tenho um trabalho pra você. – ela nada
disse. Habituara-se a isso. Sempre era usada e enviada de um lado para o outro
apenas para ser usada por homens desprezíveis e nojentos – Tenho um
convidado que está louco para te comer – sorriu ao abrir uma porta que ela já
conhecia. Uma porta que escondia o seu destino. Todos os convidados eram
colocados na sala atrás da porta, e sempre uma garota era enviada para ser
tratada como um objeto por eles, e na maioria das vezes era ela.
Enviada como um animal para um abatedouro.
Bohdam abriu a porta revelando um homem velho e gordo sentado no sofá. Ele
bebia uma vodca que já lhe era conhecida. Apenas o seu cheiro embrulhava o
seu estomago.
Bohdam a largou dentro da sala e trancou a porta assim que saiu. Ela já sabia o
que aconteceria em seguida.
Todos sabiam.
E ninguém se importava, nem ela.
O homem avançou sobre ela, a tocou, a acariciou agressivamente e a violentou.
Apesar do corpo dela se encontrar naquela sala, sua mente mantinha-se nos
momentos felizes em que passara quando era mais nova. O tempo não existia
para ela.
Uma hora depois, a porta da sala foi aberta novamente. O homem saiu em
silencio, enquanto Bohdam retornara. Ele trazia uma bandeja com comida.
Um ritual inútil e atormentador.
Luna se sentou no sofá sentindo dores pelo corpo. E espero que ele lhe
estendesse a bandeja, o que fizera poucos instantes depois. Ela pegou a bandeja
e começou a comer sem vontade.
Por mais que eles fossem cruéis não a queriam morta. E isso era a pior coisa
que acontecia com ela.
Luna não tinha a escolha de viver ou morrer. Eles a queriam viva para que a
dívida fosse quitada.
Sua vida resumia-se a isso até encontrar o anjo novamente.
― Nem todo ser humano é cruel – ele lhe dissera no dia em que a ajudara mais
uma vez. O dia que ela jamais esqueceria. O dia que levara um tiro e estava feliz
por morrer – Irá viver para poder viver uma vida que deseja. A vida é uma
benção. – ele continuou a falar até ela desmaiar e acordar em uma vida nova.
Uma vida repleta de liberdade.
―Eu não irei morrer – Luna repetiu no escuro ainda envolta de recordações – Eu
não irei – disse a si mesma mantendo a promessa que fizera ao seu salvador. Ela
não iria morrer, não após ter sobrevivido a tudo que passara.
***
O escritório da Mirai Galli encontrava-se silencioso no final da tarde. Cosimo
mantinha-se parado, em pé em sua frente, como se temesse sua reação ao revelar
a verdade. Uma verdade que todos desconfiavam.
Cosimo retirou um pen drive de seu bolso, o segurou com firmeza antes de
estender para os eu chefe.
― Ela se encontrou com o policial, chefe. Eles são aliados, ao que parece.
―Mais alguma coisa? – Vlad indagou com o olhar frio ao encarar o pequeno
objeto em suas mãos. O objeto que continha a vida ou a morte de Luna.
―Não – negou com sua calma habitual.
―Não saia ainda – disse ao plugar o pen drive no computador e começar a
escutar a conversa que Cosimo havia gravado.
―Quero nomes. Quero lugares. – a voz de Hack começara a aumentar o
tom.
―Gritar comigo não irá funcionar.
―A única coisa que funciona com vadias da máfia ucraniana é
violência, drogas e dinheiro, não é mesmo? Vlad ainda não descobriu o que
você era? Que se vendia por drogas? Você é uma vadia completa, Luna, é por
isso que Vlad ainda não se cansou de você. Tenho falado com um contato na
Ucrânia e todos conhecem a prostituta oficial deles. Você fazia de tudo para
eles, não era? O que mais fazia além de dar para todos? Vendia drogas? Armas,
talvez?
―Sim, eu fazia tudo isso. Em todos os anos em que passei sendo a
escrava deles não podia andar vestida pela casa. Todos poderiam me
tocar, me usar, por tanto que dessem algo ao chefe. Eu era uma
escrava.
―Saiu de uma máfia para outra.
―Por sua culpa – gritou. – O único que vem me atormentando com isso
é você. É o único que vem me ameaçando me enviar de volta quando fiz tudo
que podia para sair daquele inferno. Você diz que Vlad é o demônio, mas o
único que é aos meus olhos é você, Tenente Hack.
―Basta me dar o que quero, que consigo sua permanecia aqui. Esse é o
nosso trato.
―Eu sei disso.
―O que fez hoje?
―Vlad pagou alguém com diamantes.
―Quem? Para quem?
―Eu não conheço. Ninguém falou o nome dele.
―Preciso de algum nome. Alguma informação. Você sabe disso.
―Vá para o inferno Hack.
―Não se esqueça quem eu sou, Luna. Sou o único que pode lhe ajudar –
o som de tosse preencheu o ambiente.
O plano dera certo. O policial Hack havia se entregado como ele imaginara que
faria – Chame Luca – ordenou. Cosimo se retirou rapidamente o deixando
sozinho com uma estranha expressão – Agora ficará mais divertido.
Longos minutos depois, a porta da sala de Vlad é aberta por Luca. O seu
consigliere o encara inexpressivo. Ser chamado tarde da noite do escritório da
Mirai não poderia ser nada associado a máfia, e isso deixaria Luca sem opções.
―O que precisa, Chefe? – perguntou curioso.
―Irá gostar bastante disso – falou antes de tocar o áudio que havia escutado com
Cosimo – Sua doce Luna é uma impostora. Uma traidora – sua voz refletia o
nojo e a repugnância que sentia por ela naquele instante – Ainda irá defende-la
de mim? Ainda vai protege-la? – perguntou ao se regozijar com o confusão e a
dor no semblante de Luca – O que acha agora, Luca?
Luna não conseguia falar nada. A gravação lhe chocara de todas as maneiras
possíveis. Ele escutara a dor dela, a sua punição por algo que não tivera culpa e o
seu ódio. Ele a conhecia agora.
―Ela está sendo forçada – falou sério ao encarar Vlad.
―Ela nos traiu.
―Pela sua vida – tornou convicto – Escutou a mesma gravação que eu? Ela
sofreu, Galli.
―Quem não sofreu nessa vida? – perguntou ao dar de ombros – todos sofremos
em algum ponto de nossa patética vida, Luca. Ela está nos vendendo para
sobreviver. Ela está lhe vendendo. Ainda assim a protegerá?
Luna não titubeou ao responder com a expressão mais seria possível.
―Eu irei.
Vlad o observou por inúmeros segundos.
―Não entendo o motivo de sua fixação e bondade para ela. Ela não é nada. Não
irá nos ajudar em nada.
―Mas ainda assim.
―Ela vai mata-lo – tornou amigável – é isso mesmo que quer? – viu seu
consigliere assentir – Prometendo lealdade a alguém que não seja eu, Vlad Galli.
Eu deveria lhe matar, espero que perceba o quão bondoso estou sendo.
―Eu sei – murmurou ainda abalado.
―Se pretende protege-la porque não acabar com todos? – perguntou com um
sorriso nefasto. E somente então Luca percebera que fora usado e manipulado
pelo seu chefe.
CAPITULO 31
Luna não sabia como se sentir ao perceber o olhar de Vlad em si. Desde que ele
chegara e a chamou em seu quarto nada disse, apenas a olhava com frieza. O
silencio tornara-se constrangedor para ela a tal ponto que imaginava um assunto
para conversar com ele. Ele permanecia sentado na beirada da cama, enquanto
ela mantinha-se em pé próxima a porta.
Qual o problema com ele?
Ela se perguntou ao evitar encará-lo. Já começara a desistir quando a voz dele
preencheu o ambiente.
―Venha até mim – Luna respirou profundamente ao andar até ele. Seu coração
começara a bater mais rápido sem que se desse conta. Era como se ela ansiasse
por seus toques e por ele. – Ajoelhe – Vlad disse frio, e percebeu que ela fez sem
hesitar – Se ajoelha tão facilmente para todos os homens, Lune? –Sua voz
denotou um sentimento que Luna não conseguiu distinguir.
―Por quê? Isso te faz se sentir mal? – Luna indagou ao olhar em seus olhos. Ela
ansiava provoca-lo.
―Não, apenas estou curioso – sorriu levemente ao tocar em seu rosto - si pur et
sale . – enrolou um dos fios de seu cabelo no dedo, enquanto aproximou o seu
[24]

rosto do dela, beijando-a em seguida. Luna estranhou o toque suave de Vlad.


Estranhou o beijo. Estranho o modo como ele a ergueu e a colocou sobre si. Ela
estranhou tudo, mas nem por isso deixou-se abalar. Por mais que odiasse admitir
sentia desejo pelo mafioso. Um gemido escapou de seus lábios no instante em
que ele a tocou, e ao ignorar o semblante de satisfação dele, ela o beijou
ardentemente.
***
Vlad acendeu o cigarro ao olhar para Luna deitada, nua, em sua cama. O seu
corpo encontrava-se exposto. E inevitavelmente ele a examinou
minuciosamente. Percebeu algumas marcas em suas costas, quase
imperceptíveis. E uma ferida em sua perna. Tragou a fumaça sentindo-se
confortável antes de sopra-la.
Ele desejava brincar com ela, mas sua curiosidade conseguia ser maior. Vlad
queria saber o que ela faria com as informações que conseguira.
Irá me trair ou não?
Se questionava em pensamento ao observá-la antes de se levantar da cama e
vestir.
***
Judi mantinha uma expressão infeliz ao encarar o visitante de Vlad. Ela odiava o
irmão de Vlad, e todos sabiam, o motivo era o seu trabalho como mafioso. Judi
desprezava-o por vender mulheres. E por uma brincadeira infeliz de Cosimo se
viu fazendo companhia a ele até Galli aparecer.
―Não deveria ficar tão séria comigo – Izac falou ao sorrir. Ele já havia
percebido o ódio que Judi emanava – Estou curioso sobre o motivo – comentou
ao apoiar a mão na mesa. Ele encontrava-se sentado na cadeira de Vlad.
Judi o ignorou ao cruzar os braços em frente ao seu corpo e manter a sua postura
séria.
―Uma pena que não queria conversar – Izac deu de ombros ao tamborilar os
dedos na mesa – Ouvi dizer que uma amiga sua havia sido vendida. Deve me
odiar por isso, certo? – um sorriso largo surgiu em sua face ao ver o semblante
de raiva surgir em Judi – Não imaginei que Vlad tivesse tantos capangas
problemáticos. Todos são muito leais, mas aposto que o matariam pelos seus
próprios ideais. Como você, que não me suporta e se pudesse estaria atirando em
mim com a sua arma.
―Jamais irei trai-lo – disse com firmeza ao encarar Izac – O chefe tem minha
total lealdade.
―Sério? – indagou animado – estaria disposto a apostar comigo?
―Já chega disso – a voz de Vlad assustou Judi que não percebera a porta ser
aberta – Pode sair, Judi – ao se ver a sós com o seu irmão tentou ignorar o mau
pressentimento – Deveria ter retornado. O que ainda faz aqui?
―Sempre tão frio – lamentou-se ao se levantar – Sabe, eu sou um irmão bem
preocupado. Deixei meu trabalho para te ajudar e é tão insensível – aproximou-
se de Vlad, o abraçando, entretanto Vlad mantinha-se imóvel.
―Sempre que faz algo assim é porque deseja ver algo. Deve ter achado algum
interesse. O que é?
―Tão perspicaz – gargalhou ao se afastar de Vlad e caminhar pelo escritório –
Não deveria confiar tanto nela. Em sua general. Não gosto dela.
―Sei em quem confiar, Izac.
―Claro que sabe – garantiu falsamente – O ser humano é frio, sabe bem disso.
Foi criado comigo afinal.
―Izac, não estou com paciência para seus trocadilhos. O que descobriu e o que
quer compartilhar comigo?
Izac sorriu. Ele e Vlad apesar de manterem uma rivalidade e uma certa harmonia
família, mas sempre mantiveram segredos um do outro. Na maioria das vezes
não se ajudavam, se tratando de negócios.
―Descobri coisas interessantes sobre Donnel.
―E qual o motivo por me falar isso? Nunca fez nada parecido com isso antes.
―Eu sei, mas gosto de pensar que ficará me devendo uma.
―Muito bem – se dirigiu ao seu sofá, sentando-se em seguida – Conte tudo o
que sabe então. – Izac sorriu satisfeito antes de começar a falar tudo o que havia
descoberto sobre Donnel – Já sabia disso tudo – deu de ombros – Sempre
atrasado em informações.
―Nem tanto meu irmão. Descobri que tem alguém que está lhe traindo.
Vlad não demonstrou nenhuma emoção.
―Como pode ter certeza?
―Foi fácil ao torturar os capangas de Donnel. Encontrei um que conseguiu falar
um pouco antes de morrer. Parece que alguém começou a dar informações sobre
as entregas e o que acontecia aqui. Ele não sabia quem era ou morreu sem
contar.
―Isso torna tudo mais interessante – se deu conta ao sorrir. – Mais alguma
coisa?
Izac o encarou seriamente antes de sorrir. Um sorriso falso e cínico.
―Descobri sobre sua namoradinha. Ela tem uma história e tanto, sabia? –
começou a analisar a reação de seu irmão. O olhar de Vlad modificara, sua
respiração alterou-se e ele jurou ter visto mover a sua mão – Ela deveria ser uma
puta deliciosa. Os ucranianos ainda a querem. Poderia vende-la para eles.
―Se é somente isso vou voltar para o quarto – Vlad levantou-se do sofá e seguiu
para a porta antes de ser parado pela voz de Izac.
―Está tão envolvido por ela a esse ponto? – questionou sério – Não quer me
escutar apenas por capricho, talvez, provavelmente, sabe mais do que eu
descobri, mas ainda assim prefere manter para si a verdade. Nunca foi de seu
feitio comportar-se possessivamente com mulheres. Não me importo que esteja
apaixonado ou qualquer coisa que seja por ela, mas não acha que está sendo
estupido? Alguém como ela vai acabar lhe matando, direta ou indiretamente. Vai
esperar para ver? Ela pode estar te manipulando. O que está pensando em fazer?
– perguntou ao perceber que seu irmão não iria falar nada.
Vlad apenas sorriu levemente.
―Eu a controlo. Está tudo bem.
―Mas sente algo por ela, e isso...
―Se eu sentir não lhe diz respeito, Izac. Está ultrapassando um limite que não
tolero – respondeu sério – O que faço com ela, diz respeito unicamente a mim.
Protejo todos da máfia, e isso não irá mudar.
―Está cego por ela.
―Estou usando-a, Izac.
―E o que sabe sobre ela? Sabe sobre ela ser uma das escravas da máfia
ucraniana? Que ela sabia segredos deles que ninguém mais sabe, e por isso estão
atrás dela? Sabe quem a trouxe para este país? Os federais, Vlad. Ela é uma
informante. Como pode querer alguém como ela ao seu lado?
―Por que meu desejo é uma ordem – disse sem abalar-se pelo que escutara.
Izac o olhou abismado até perceber o que acontecera.
―Você já sabia de tudo – declarou perplexo – como...
―Temos excelentes informantes - deu de ombros – aconselho a retornar para a
sua casa. A cidade ficará meio sangrenta a partir de agora, irmão.
―Sempre é assim – Izac sorriu levemente ao observar as costas de seu irmão. –
Eu avisarei a família se algo der errado, e poderá perder tudo.
―Faça como quiser – disse pôr fim ao sair do escritório.
―É realmente estranho vê-lo gostando de alguém – gargalhou – Mas ele é bem
estranho. Sempre gostando de maltratar as pessoas de que gosta parece que
nunca cresce.
A mente de Vlad não parou por um segundo após se afastar de Izac. Ele sabia
que agora o tempo seria o seu inimigo. No instante em que Izac contasse a
família sobre seus planos, eles iriam se intrometer.
Preciso acelerar tudo e descobri o traidor.

CAPITULO 32
O som dos passos de Vlad em seu quarto conseguiam mantê-lo focado no plano
que deveria estruturar. Ele tinha consciência que o seu tempo diminuíra em
demasia no instante em que Izac se intrometera.
Ele já deve estar ciente de Izac. Preciso deixar tudo pronto para o momento em
que ele atacar a família. Minha única chance será usá-la mais cedo do que
esperava.
Decidido caminhou para fora do quarto e se viu indo em direção ao quarto de
Luna. Parou em frente a porta antes de esboçar um sorriso frio e abrir a porta.
Como esperava a porta encontrava-se destrancada. Ele sabia que ela o desejava,
e isso era um triunfo.
Ele não poderia perder aquela guerra. Uma guerra que se iniciara sem ao menos
tomar conhecimento.
O quarto encontrava-se escuro e o suave som da respiração de Luna preenchia o
ambiente. Vlad fechou a porta, trancando-a antes de avançar até a cama. A cada
passo se desfazia de uma peça de roupa. Sentou na cama completamente
desnudo, e parou para observar, apesar da penumbra, a mulher deitada a sua
frente. O corpo dela permanecia de bruços, seus cabelos espalhados pelo
travesseiro. Sem perceber, tocou seus cabelos delicadamente antes de cheirá-los.
O aroma de shampoo o fez sorrir antes de deitar-se ao seu lado. Tocou a sua
perna e com extrema sensualidade começou a acaricia-la.
O gemido baixo e feminino que escapou dos lábios de Luna, o fez avançar ainda
mais. Mordiscou o lóbulo de sua orelha, não demorando para vê-la abrir os
olhos, languida. Ela não sabia o que acontecia com si.
―Vlad? – ela murmurou ainda entorpecida pelo sono. A única resposta que
obtivera foram os lábios dele nos seus. Ela retribuiu com ardor.
Não havia como ela não reconhece-lo. O cheiro dele já lhe era familiar assim
como o seu toque, por mais que odiasse admitir.
―O que faz aqui? – ela perguntou próxima ao ouvido dele tentando não gemer
diante das caricias dele. Caricias como aquela jamais havia recebido antes. Antes
de ir para aquele país havia sido uma escrava de homens desumanos.
―Vim para torna-la minha, Lune, mais uma vez –respondeu antes de fazê-la
gemer ainda mais.
***
O olhar de Hack mantinha-se fixo no celular que apenas recebia mensagem de
Luna, e naquele instante lia a mesma mensagem pela centésima vez. Ele sabia
que algo estava diferente.
A águia está prestes a voar. Novo ninho.
Algo em seu íntimo lhe dizia que não deveria confiar.
―Aquela vadia está pensando me trair? – se perguntou repleto de fúria ao
encarar o aparelho – mas antes disso devo investigar. Não posso deixar nenhuma
brecha em aberto. Não agora em plena guerra.
O tenente Hack pegou o seu outro celular e discou os números o mais rápido que
conseguia. Ele precisava saber se estava sendo enganado.
―Tenente Hack falando. Preciso de informações sobre cargas e descargas de
hoje – ordenou sério. Sua voz transparecia a sua raiva – preciso para agora
garoto. Eu espero na linha, mas seja rápido. – os minutos se arrastaram até Hack
desligar após escutar a resposta. Não havia nenhuma carga para aquele dia e nem
para o dia seguinte. Nenhuma carga que ele desejava. Nenhum navio iria
descarregar. Mesmo sabendo que estava sendo enganado fez mais uma ligação.
Deu as mesmas informações para o controle de cargas áreas e escutou a mesma
resposta – Aquela vadia irá me pagar por estar tentando me enganar – falou para
si com raiva. – ela vai me pagar – murmurou ao sorrir. Ele já sabia como iria
acabar com ela. – Matá-la seria muito pouco, mais divertido seria se Vlad fizesse
isso.
Com esse pensamento, seguiu para a saída da delegacia. Ele não poderia deixar
Donnel escapar. Assim que saiu do hospital ordenou que uma escolta policial
cuidasse dele, mas não confiava em ninguém mais. Sua paranoia começava a
atingir níveis alarmantes.
O percurso que se habituou a fazer para chegar ao hospital encontrava-se com o
transito complicado de tal forma que algo o alarmou.
―Não seria possível – murmurou para si antes de desligar o carro e sair
correndo entre os carros parados. Ele não poderia perder aquela testemunha.
O suor escorria pelo seu corpo, suas pernas doíam levemente, e sua respiração
ainda encontrava-se ofegante quando entrou na entrada do hospital. Pensou em
perguntar na recepção, mas desistiu e voltou a correr, agora em direção ao
quarto. Assim que abriu a porta sentiu o sangue escapar do seu corpo. O seu
coração parou de bater descompassado e sua respiração parou por alguns
segundos. Donnel havia sumido.
―Só pode estar brincando comigo – gritou irritado atraindo olhares de todos.
Olhou em volta buscando pelos policiais que deixara, sem sucesso. – Se não
estiverem mortos são traidores. Tenho que acabar logo com isso – percebeu ao
deixar o seu corpo cair, sentando-se no chão. Ele começava a perceber o seu
desgaste.

CAPITULO 33
Os gritos ecoavam por todo o galpão. Nenhum outro som conseguia ser escutado
além dos gritos de dor que saiam de Donnel, o qual permanecia no chão repleto
de sangue. Em seus olhos lagrimas abundantes caiam sem importar-se com mais
nada. Ele temia pela sua vida. Ele temia pela dor.
―Por favor – implorou pela milionésima vez desde que acordara no galpão –
Pare. Eu não aguento mais – confessou ao olhar para os seus dedos, os quais não
tinham mais unha. O sangue vermelho vivo era visível por todo o seu corpo. Ele
já havia apanhado, retiraram suas unhas, bateram em suas pernas e “brincaram”
com seus ferimentos. Ele não aguentava mais. – Digo o que quiser, mas me
deixe ir embora.
Um sorriso macabro fez com que Donnel encarasse o seu algoz. Ele sabia quem
era. Todos sabiam quem ele era.
―Não estava tão animado quando fez tudo o que fez – Vlad tornou sorridente –
Eu ia te deixar livre, mas fez a única coisa que não poderia – sorriu ainda mais
diante do olhar de desespero do homem a sua frente – Fez um pacto com um
policial. Eu iria te perdoar, se não fosse o motivo do pacto, Donnel. Acreditou
mesmo que eu não sabia o que acontecia? – sua pergunta repleta de sarcasmo fez
o homem caído revirar os olhos. Ele sempre soube no que havia se metido
quando aceitara aliar-se a Hack, mas jamais lhe passou pela cabeça que Vlad
sabia de tudo.
―Como descobriu?
Vlad deu de ombros ao olhar em volta. Deto olhava para tudo com tedio no
olhar, enquanto Tony mantinha a sua atenção em Donnel.
―Tenho olhos e ouvidos em todos os lugares. Sou um homem influente, bem
diferente de você, Donnel que não passa de um inseto. Um inseto que ninguém
suporta. Estou fazendo um favor a humanidade ao mata-lo, entende isso, não é?
O olhar de Donnel encarava o vazio. Ao ser levado do hospital não conseguira
entender o que acontecia, mas tudo fazia sentido agora. Ele foi uma peça no jogo
entre Hack e Vlad.
―Quando irá me matar? – Donnel questionou sem forças para retrucar. Todo o
seu corpo doía até partes que sequer imagina que existiam.
―Não sei, quando me cansar de tortura-lo talvez.
―Irá atrás de todos agora? – Vlad assentiu em silencio – Essa cidade será
coberta de sangue por vingança?
A risada de Vlad deixou Deto surpreso.
―Vingança? Quem mata por algo tão primitivo? Eu gosto de sangue, Donnel,
gosto da morte. Apenas misturo o útil ao agradável. Prefiro ser um mafioso que
negocia, mas se tiver que matar qual o problema? – a lógica deturpada de Vlad
fez Donnel desviar o olhar. Ele não sabia que existiam loucos piores do que ele.
―Então porque isso tudo?
―Tudo tem que ter o seu fim, e estou cansado do policial Hack atrás de mim. É
entediante – deu de ombros ao se levantar da cadeira e caminhar até Donnel –
Prefere que eu te mate ou os meus homens? – antes que Donnel respondesse, ele
mesmo respondeu – Não faz diferença, mas por ter se atrevido a tocar no que é
meu, algo que não esqueci, irei deixar que Deto termine a tortura. E não esqueça
de contar todos os detalhes de seu negócio. Tenho outras pessoas para pegar. –
virou-se para Deto – Só deixe-o morrer quando descobrir tudo, entendeu? – ele
assentiu. – Bom divertimento – afastou-se deliciando-se ao escutar os gritos de
Donnel.
Saiu do galpão avistando seus capangas.
―Devo tortura-la agora ou quando ele atacar? – seu sorriso cruel encontrava-se
repleto de expectativa – É como jogar xadrez – concluiu ao ir para o seu carro.
Ao ligar o carro sabia para aonde iria. Iria atrás da pessoa que lhe enviara um e-
mail tempos atrás. Uma pessoa tola que havia ameaçado a sua família. Dirigiu
por longos minutos até parar o carro em frente a um prédio as ruinas. Olhou em
sua volta percebendo a rua silenciosa.
Sempre há olhos.
Seguiu em direção a entrada, colocando suas luvas pretas, e subiu as escadas.
Um longo lance de escadas depois se viu parando em frente a uma porta. Bateu e
esperou para que fosse aberta, o que acontecera segundos depois.
―Neiman Treman – disse ao olhar para o homem perplexo a sua frente – Posso
entrar? – o homem parado em frente a Vlad possuía vestes deterioradas, cabelos
pretos bagunçados e corpo flácido. – Foi despedido a poucos meses da minha
empresa e já está na ruina?
―Senhor Galli –a sua voz fraca fez Vlad erguer uma sobrancelha – É uma honra
tê-lo aqui.
―O que aconteceu com você?
―Após ser demitido, a minha esposa se divorciou e levou tudo consigo. Não
fiquei com nada.
―E por isso me ameaçou? – indagou calmo.
―Ameaçar?
―Recebi um e-mail do seu endereço de IP – respondeu impaciente. Neiman o
olhou confuso. Ele nunca enviara um e-mail para Galli.
―Não fui eu, senhor. – gaguejou.
―Isso é interessante – disse ao olhar em volta avistando o notebook no sofá
rasgado – Então posso olhar o seu computador? – Neiman assentiu amedrontado.
Vlad sentou-se no sofá aparentando não se importar com a sujeira, enquanto
começava a digitar no computador com rapidez e destreza. Sorriu minutos
depois ao perceber o que havia acontecido – Parece que o jogo dele tem ficado
mais interessante – sorriu.
***
As mãos de Hack tremiam ao segurar a arma que conseguira de um bandido. O
seu carro encontrava-se estacionado na delegacia, e optara por roubar um carro
em uma rua afastada. Vestiu uma roupa com capuz e aguardou em uma rua
deserta. A próxima pessoa que passasse por ali seria morta por ele. Essa era a
única certeza que ele tinha. Ele não poderia continuar com o jogo doentio contra
Vlad. Iria ataca-lo de frente. Iria atacar todos que ficavam próximos a ele
primeiro antes de ataca-lo. Iria destruí-lo da mesma forma que ele o destruiu. O
som de passos apressados lhe tirou de seus devaneios. Olhou pelo retrovisor
segurando um sorriso ao ver um homem bêbado caminhar com as pernas
bambas. Ele seria perfeito. Saiu do carro com a cabeça baixa, e andou até o
homem.
―Me desculpe – murmurou antes de puxar a arma e atirar nele a queima roupa.
O som do eco, o cheiro do sangue e o barulho do corpo caindo fez com que Hack
sentisse seu estomago embrulhado. –Esse é o começo – disse a si mesmo ao
colocar a identidade de Luna próxima ao corpo assim como a arma, um pouco
afastada.
****
―Sim, eu sei disso tudo. Irei fazer o possível – Judi disse antes de desligar o
celular – Policial cretino – murmurou raivosa sem perceber um olhar sob si. Judi
encontrava-se no fundo do bar El Sol, no horário de menor movimento. Discou
os números que sabia de cabeça e logo escutou a voz do homem que desprezava
– Hack, parece que Galli sequestrou Donnel. Não sei ainda aonde ele está. Não
posso me fuder por sua culpa. Que se foda então. É a minha vida e segurança –
ficou calada por alguns segundos antes de falar com a voz repleta de ódio –
Certo – desligou antes que o xingasse. Ao se virar para ir embora, empalidecera.
O olhar de Luca permanecia neutro. – Luca, eu posso explicar isso...
―Desde quando é a traidora? – perguntou com a voz fria – a quanto tempo vem
traindo a família.
Judi lançou um olhar de tristeza antes de sorrir.
―Dois anos.
―Por que fez isso com o chefe?
―Preciso mesmo responder? – Luca confirmou – O chefe mata mulheres como
se não fosse nada. Eu odeio isso nele. Eu procuro por mulheres para ser morta.
Isso é repugnante, sabia disso? Como acha que eu me sinto? – sorriu sem
vontade – Esse policial, Hack, veio atrás de mim um dia. Eu estava procurando
uma mulher pra Vlad quando ele me prendeu. Ele sabia quem eu era e para quem
trabalhava. Disse que eu poderia fazê-lo pagar pelos seus crimes. E sabe o que
eu fiz? Gargalhei e cuspi em seu rosto. Aquele cretino.
―E como começou a trabalhar com ele?
―Eu fique frustrada. Um dia você acorda nessa merda de vida e se pergunta que
porra está fazendo.
―E então aceitou?
―Sim. Não é tão ruim.
―O que ele pediu para que você fizesse?
―Relatasse as pessoas com quem ele se encontrava, os lugares que iria. Coisas
simples.
Luca parou para pensar por alguns minutos e então tudo fez sentido.
―Quando Vlad foi em uma boate. A alguns meses, você disse a ele? – ela
assentiu. Luca sorriu largamente – Parece que terá um aliado.
―Do que está falando?
―Também estou cansado de Vlad. A sua arrogância, sua psicopatia e sua falta
de sentimentos. Não suporto mais nada disso.
Judi o encarou como se suspeitasse dele. Mas em sua mente não haveriam
motivos para a mentira, pois contara tudo o que sabia.
―E por isso vai traí-lo?
―Sim, e por Luna, é claro.
―Não confio em você – ela disse com segurança.
―Nem eu em você – respondeu indiferente.
―Será interessante quando ele souber que tem mais um traidor trabalhando ao
seu lado.
Luca assentiu ao traçar o seu plano.
***
Os gritos de Luna ecoaram pela casa ao ser puxada por Tony. Ela não sabia o que
estava acontecendo ao ser ameaçada por uma arma e levada para o lado de fora.
Foi empurrada para dentro do carro. E por todo o caminho ninguém disse nada.
Ele descobriu tudo.
Eu vou morrer.
Ele descobriu tudo.
Foram os únicos pensamentos dela antes de perceber que o carro havia parado
em um lugar isolado e afastado. Ao sair do carro percebeu a presença de Vlad,
Cosimo e outro que desconhecia. Havia uma cadeira em frente a Vlad, e foi para
aonde a levaram e a forçaram a se sentar.
Luna ergueu os olhos encarando Vlad com fúria.
―Vai me matar agora? – ela questionou séria sem expressar medo ou pânico.
―Não – ele negou sorrindo – Objeto da máfia ucraniana – disse ao observar a
reação de Luna, a qual empalideceu.
―Vai me vender para eles. Entendo – murmurou sem forças. Relembrou tudo o
que passara e uma gargalhada saiu sem que percebesse – Me desculpe por não
poder cumprir a promessa – disse para si mesma e então encarou Vlad – Quando
eles irão chegar?
―Nunca – disse com tranquilidade – É minha Lune, imaginei que tivesse
entendido o básico.
―Então o que irá fazer comigo?
―Te bater e torturar até que diga o que eu desejo, é claro.
E então o som da mão de Vlad contra o rosto de Luna foi ouvido. O rosto dela
avermelhou-se instantaneamente.
―Me bateu sem perguntar nada? Parece que é tão cruel quanto falam.
―Um pouco mais – revelou ao bater novamente nela – Vamos começar pelo
começo? – ela apenas o encarou com firmeza – Como escapou da máfia
ucraniana?
―Ciúmes? – gargalhou antes de receber um novo tapa.
―Estou sendo leve com você, mas se não me responder irei deixar tudo a cargo
de Tony. E ele não é gentil.
Luna engoliu em seco após pensar. Ele não poderia fazer nada contra o seu
salvador de qualquer forma. E se morresse pelo menos mais alguém saberia
sobre a sua história.
Um pensamento egoísta.
Pensou ao passar a língua pelos lábios.
―Havia um infiltrado na máfia ucraniana. Ele era policial federal ou qualquer
coisa assim – deu de ombros diante do olhar frio de Vlad – Ele estava lá para
descobrir as transações e prender todos, mas ele sentiu pena de mim e colocou
toda a operação em perigo ao me salvar. Ele havia marcado um dia para que eu
saísse pelos fundos, e ele estaria me esperando, mas nesse dia resolveram invadir
a casa. Ele queria me proteger, mas fui lenta e quando estava indo para os fundos
fui baleada pela polícia. Eles entraram com agressividade, e no meio do caos
senti ele ao meu lado. Ele me salvou, e me protegeu de todos. Me enviou para
este país e assim vim parar aqui.
―E como parou lá? - um sorriso cruel esboçou o semblante de Vlad. Ele sabia
de tudo, apenas desejava ver o seu sofrimento.
―A minha mãe, ela me vendeu por um punhado de cocaína – respondeu fria –
Isso não me abala, Vlad. Passei anos sendo uma escrava deles. Não espera que
algo assim me abale, não é mesmo?
―Não – sua expressão mudara radicalmente – O que contou a Hack?
―Como descobriu sobre nós?
―Não foi difícil. Hack é um tolo homem e você, uma idiota.
Ela sorriu ao concordar. Desde o início ela havia sido uma idiota por ter
acreditado em Hack. Ela descobrira tarde demais a verdade.
―Não contei nada – sorriu ao receber mais um tapa – está ficando entediante,
Galli – reclamou ao encará-lo – Pode olhar no celular que escondi.
―Atrás da cama – ele completou.
―Você...
―Eu sempre soube.
―Então o que mais deseja de mim? Se já sabe tudo porque está fazendo isso?
Basta me matar logo.
―Uma sobrevivente não deveria ser tão arrisca. Quero saber o que ele usou para
fazê-la vir até mim.
―Um visto permanente. O policial só conseguiu um visto estudantil. Se não
conseguisse...
―Seria deportada – murmurou ao olhar para Tony – podem leva-la de volta.
Luna o olhou incrédula.
―Do que está falando? Você não ia me matar? – gritou fora de si.
―Por que eu mataria algo que é meu? E não chegou a me trair – deu de ombros
– leve-a.
Tony puxou Luna, contra a sua vontade para dentro do carro novamente. Ela não
sabia dizer o que havia acontecido.
CAPITULO 34
O barulho ensurdecedor das sirenes fez com que Luna saísse do seu quarto com
o olhar preocupado. A situação era demasiada insana para conseguir acreditar
que estava acontecendo. Homens armados haviam entrado na casa e o policial
responsável aparentava ser Hack. Luna manteve-se parada, o encarando com o
olhar penetrante. Ela não iria se entregar a ele facilmente. Cinco policiais a
olhavam com repugnância, enquanto erguiam a arma em sua direção.
O segurança de Vlad, Tony, permanecia parado próximo a cozinha. Ele não
havia se movido um musculo.
―Luna Vega? – a voz tão conhecida por Luna, a fez esboçar um sorriso irônico
– Você está sendo presa pelo assassinato do Senhor Cloud.
―Assassinato? – ela se viu repetindo natural. Ela sabia que era questão de
tempo para Hack descobrir que ela estava traindo-o. – E desde quando uma
escrava se torna assassina, Tenente?
Hack sorriu largamente, mas escondia a frustração em seu interior. Ele ansiava
por escutar seus gritos.
―Todos podem se tornar um assassino. Matar alguém não é tão difícil assim.
―Imagino que tenha algum mandado – Luna falou ao cruzar os braços em frente
ao seu corpo. Se a máfia ucraniana lhe ensinara algo: sempre pedir mandado e
nunca falar mais do que deveria. Muitas vezes os policiais não tinham nada e
enganavam as pessoas para conseguir informação. Ela não iria continuar com a
fachada dócil. – Se não tiver, aconselho a sair, já que isso seria invasão de
propriedade. E policiais corretos não fazem isso, certo?
―Não se ache tanto – Hack retirou um papel do bolso de sua calça e ergueu em
sua direção – Este é um mandado para comparecer a delegacia. – Luna foi até ele
e pegou o papel. Começou a ler confusa e concentrada. Haviam alguns anos que
não lia algo como aquilo.
―Aqui não diz a hora que eu devo ir e nem com quem – tornou atrevida.
―Terá que nos acompanhar, senhorita – Hack falou com a voz séria – Levem-na
– ordenou a um dos policiais que foi até ela, segurando-a pelo braço a puxou em
direção a saída. Luna resignou-se ao ser levada ao carro policial. Ela sabia que
não teria como escapar dele agora.
Droga. Eu estava tão perto.
Pensou antes de fechar os olhos. Ela precisava pensar em algum plano.
***
O barulho das vozes masculinas fez com que Luna se retraísse. Ela fora mantida
sentada em uma sala pequena com um grande vidro espelhado. Ela já assistira
muitos filmes para saber que havia alguém a olhando. Ela já havia perdido a
noção do tempo quando a porta foi aberta e Vlad surgiu como se estivesse
resgatando-a do terrível dragão.
―Lune, espero que tenha se divertido – o sorriso de arrogância dele revelou a
ela a verdade. Ele já sabia de tudo. – Levante-se e vamos embora – ergueu a mão
em sua direção. Luna a olhou hesitante. Se ela o segurasse sabia que seria difícil
larga-lo. Ela não sabia se queria aquele destino.
―O que faz aqui? – se viu perguntando sem encará-lo. O seu olhar mantinha-se
na mão que ele lhe erguia.
―Vim atrás do que é meu, é claro – sua resposta simplista fez Luna revirar os
olhos.
―Tony lhe contou? – ele negou em silêncio. A sensação de estar em uma sala de
interrogatório era sombria.
―Não deveríamos conversar aqui. Levante-se – ordenou com o olhar frio. Luna
se deu por vencida, e se viu indo até ele, mas antes de saírem Hack sorriu pare
eles próximo a porta.
―Ainda não foi liberada, Senhorita – Hack disse frio ao encarar Vlad. O ódio
em seu olhar era nítido – E não me recordo de ter dado permissão para receber
visita.
Vlad gargalhou atraindo a atenção de vários policiais, e somente então Luna
percebera que ele não havia ido sozinho. Um pouco atrás dele, Cosimo, Tony e
um homem que não conhecia mantinham-se atentos.
―Hack ou deveria chama-lo de tenente? – indagou sem curiosidade antes de
segurar a mão de Luna – Se tivesse algo contra ela, Luna estaria presa agora. O
que tem, tenente? Algo substancial imagino. O meu advogado irá tomar conta de
tudo a partir de agora. Tenha uma excelente tarde – sorriu frio ao puxar Luna
pela mão.
O semblante raivoso de Hack não foi surpresa para os policiais. Todos
conheciam a sua obsessão pelo Galli.
Durante o percurso para fora da delegacia, Luna só conseguia prestar atenção na
mão de Vlad segurando a sua. O calor dela. O sentimento de agradabilidade. A
gentileza. Lhe deixou desnorteada.
O que merda está acontecendo?
Se questionou antes de molhar os lábios com a língua.
―Por que veio me salvar? – perguntou séria.
―Já respondi isso – sua voz inalterável a fez suspirar.
―Quero a verdade, Vlad. Cansei de jogos.
Vlad parou no meio da delegacia, enquanto a encarava.
―A verdade nunca é bela.
―E quem se importa?
―Você deveria já que é a primeira mentirosa – disse com os olhos fixos nela –
Quer realmente a verdade? Por que o preço por saber a verdade não será barato.
―Então é uma troca – percebeu com a voz baixa. –Eu já te contei tudo, e você
também já sabe sobre a minha história. O que deseja?
―Informações sobre a máfia ucraniana – e somente a menção do nome fez Luna
empalidecer – Não acha que me dará a informação por nada, não é? Sou
generoso com quem me ajuda.
―E o que me dará?
―Liberdade, dinheiro e poder. O que mais poderia querer?
―Esquecer o meu passado podre – disse com o olhar frio.
―Sempre há drogas para isso – deu de ombros – Vamos sair daqui, enquanto
pensa na minha proposta.
Luna assentiu ao caminhar para fora da delegacia. Ela sabia que Vlad seria a sua
melhor chance, assim como sabia que ele poderia matá-la assim que obtivesse a
informação.
―O que faço? – se perguntou.
****
O olhar de Luca mantinha-se firma no homem sentado no sofá segurando uma
xicara de chá. O irmão mais novo de Vlad era diferente do que diziam. A sua
expressão era calorosa, mas seu olhar possuía frieza. Seu comportamento
extremamente educado, mas algo em sua aura denotava a sua selvageria. Ele era
a personificação do contraste.
―Espero que meu irmão não demore – se lamentou ao depositar a xicara em
cima da mesa, em frente a ele, e passar a mão pelos seus cabelos negros.
―Ele já deve estar chegando – Luca falou friamente. Toda família Galli era um
poço de problemas, e ele sabia muito bem sobre isso. – Deseja mais alguma
coisa?
―A jovem que mora aqui, ela virá com ele, certo? – a voz doce e educada fez
Luca senti ânsia. Ele não era nada do que aparentava.
―Provavelmente.
―Magnifico – sorriu largamente antes de voltar a tomar o seu chá. Os minutos
se arrastaram até a porta ser aberta por Vlad acompanhado por Luna. A jovem
estranhou a visita, pois ao avistar Vlad correu até ele, e lhe bateu. Um tapa que
conseguiu extrair um sorriso do mafioso. Um sorriso sincero e cordial. – Que
belo irmão mais velho – o jovem disse sorrindo.
―A muito tempo que não vem me perturbar, Dominic – Vlad o saudou
ignorando todos ao seu redor.
―Tenho cirurgias para fazer, não sou um desocupado como você e Izac.
―Claro, claro, mas o que veio fazer aqui?
―Conhecer a deusa do azar – sorriu ao olhar para Luna, a qual sentiu um
calafrio percorrer o seu corpo. – Ou deveria dizer apenas Luna?
―Dominic – Vlad o repreendeu – vamos para o meu escritório. – Dominic
assentiu e o seguiu sem conseguir evitar e olhar para Luna mais uma vez. –
Então, o que veio fazer aqui? – Vlad perguntou assim que fechou a porta do
escritório.
―Escutei algumas histórias sobre Izac, seus negócios, a policial e essa jovem. A
família me mandou para saber o que está acontecendo.
Vlad suspirou antes de xingar o seu outro irmão mentalmente. Se Izac não
tivesse se intrometido nada teria acontecido antes do tempo previsto.
―Está tudo sob controle.
―Tem certeza?
―Absoluta – resmungou ao sentar-se em sua cadeira.
―Então por qual motivo Luna não está morta ainda? – indagou friamente a
espera da resposta de seu irmão.
Dominic estudou todas as nuances da expressão de Vlad a partir daquele
momento, pois teria a resposta para os questionamentos da família.
―Ela ainda é necessária.
―Para quem?
―Para a máfia.
―Vlad, sabemos que ela não tem importância e relevância para a máfia.
―Ela tem informações sobre a máfia ucraniana e vai conseguir deter Hack.
―Está enumerando os motivos pelos quais ela deve viver? – perguntou
segurando o riso ao ver Vlad sem jeito. Algo que durou míseros segundos. –
Sabe que não ligo para a máfia, apenas me importo com a minha, real, família. E
estou preocupado com você.
―Não tem motivos.
―Na verdade tenho. Está abrigando uma mulher com ligação com outra máfia,
ligação com policial e que, pelo que tudo indica, deseja acabar com você. Como
não deveria me preocupar?
―Ela não fará nada contra mim, eu tenho certeza.
―E porque tem tanta certeza?
―Por que ela é minha.
Dominic sorriu ao constatar o obvio. O seu irmão era um idiota.
―Não está assim por ela ser sua. Você gosta dela. Sempre maltratou as pessoas
de quem gostava, e incrivelmente essa mulher consegue lhe aguentar. Não sei
como ou o que lhe atraiu nela, mas não parece que deseja vê-la longe de você.
Depois que a conheceu parou de matar mulheres, e isso é um sinal que se sente
confortável com ela, irmão.
―O que está insinuando, Dominic? – sua voz agravou-se.
―O básico. Que gosta dela.
A expressão de Vlad era indecifrável.
―Pode fazer como quiser, mas nunca lhe vi gostando de alguém. Ela deve ser
tão problemática quanto você. – sorriu levemente.
―Está imaginando coisas demais.
―É o que sempre dizem – deu de ombros – vou passar a noite aqui e amanhã
voltarei para casa – anunciou ao sair do escritório sem esperar pela resposta de
Vlad.
―Merda – Vlad se viu falando sozinho.

CAPITULO 35
Luna não conseguia adormecer. Por mais que seus olhos fechassem e seu corpo
estivesse cansado, a sua mente mantinha-se em alerta em busca de entendimento
sobre a situação entre Hack e Vlad. Ela sabia que Hack odiava Vlad, mas
desconhecia o real motivo. Recordou-se de quando ela a confrontou no hospital
buscando alguma pista. Algo que pudesse ajuda-la.
―Se torne a amante de Vlad Galli – tenente Hack disse com tranquilidade ao
encarar a jovem atormentada a sua frente.
―Isso é alguma piada? Eu acabei de ser violentada – Luna se viu falando com
amargura na voz ao encarar o policial – Não farei algo assim por um visto. Saia
daqui.
O tenente apenas sorriu levemente antes de retirar uma garrafa prateada de seu
bolso e ingerir o liquido que queimou a sua garganta.
―Saia daqui – ela gritou perdendo o mínimo de auto controle que lhe restara. A
humilhação, a dor e a raiva eram visíveis em seus olhos. –Saia daqui. Saia
daqui. Saia daqui.
―Se não ficar calada vou lhe prender – avisou ao observá-la.
―Que tipo de policial é você?
―Tenente, nunca se esqueça disso.
―Pode ser a porra de um tenente ou uma merda de policial, e a minha reposta
continuará sendo não –falou agressiva. Ela se sentia intimidade pelo homem,
mas não poderia ignorar a promessa que fizera.
―Está atacando verbalmente um policial. Isso não é algo bonito, sabia?
Ela enfim percebera que o homem a sua frente não tinha intenção de lhe pedir
ajuda. Ele deseja força-la a fazer isso. Havia reconhecido o olhar doentio e frio
em seus olhos. O mesmo olhar dos homens de quem fugia. Ele não tinha alma,
disso ela tinha certeza. Optou pelo silencio, pois sabia que quanto mais o
atacasse mais ele se sentiria instigado a ir contra ela.
―Não falará mais nada? – ela negou em silencio – então vai aceitar? – ela
continuou a negar – está tornando as coisas difíceis para mim. – suspirou ao
guardar a garrafa agora vazia em seu bolso – Não está curiosa sobre o motivo
de ser você a escolhida?
―Por que é um sádico, louco e maníaco?
Hack sorriu ao assentir. Ele era tudo isso por amor a sua própria vingança.
―Não, o motivo é que você tem uma ligação com Galli. Ambos são de máfias e
ele já se sentiu fascinado por você antes. Na boate em que o chamou de monstro,
lembra-se?
A jovem empalidecera.
―Esteve me vigiando? Como sabe sobre a máfia? – gaguejou perplexa. Ela
sabia que não tinha como alguém descobrir o seu passado. Não facilmente, pois
as pistas haviam sido encobertas para não ser encontrada pela outra máfia.
―Estou disposto a tudo para conseguir o que desejo.
―Que tipo de policial faz isso? Não deveria ajudar as pessoas?
―Eu pensava assim antes de Galli surgir. Te farei uma última oferta. Ficará ao
lado de Galli e em troca não voltará para a máfia ucraniana. É muito justo, não
acha?
Ela não tinha o que responder. Olhou com raiva para Hack e prometeu a si
mesma naquele instante que acabaria com a vida dele. Faria o possível para
destruí-lo, nem que para isso tivesse que usar Galli.
―Somente para que eu entenda – Luna falou controlando a sua voz – está me
ameaçando para que fique com Galli, um mafioso, para lhe passar informações,
e se eu não fizer isso vai me entregar a máfia ucraniana.
―Não é burra.
―Não, eu não sou – seus olhos refletiam um brilho assustador.
Se é assim que deseja, vou fazer de tudo para que acabe morto. Não irei
desperdiçar a chance que o anjo havia me dado.
Luna pensou com raiva. A única coisa que desejou foi ter uma chance de ser
feliz. Uma chance após ser vendida pela própria mãe a máfia ucraniana e
virado uma escrava deles. Aquela era a sua chance, e ela não deixaria ninguém
se intrometer.
―Serei a amante dele – disse com os olhos vazios – mas, como conseguirá isso?
―Tenho meus métodos – sorriu largamente ao perceber que seu plano
começara a dar certo.
―Um completo doente, Hack, é isso que você é – Luna se viu murmurando no
escuro do quarto. Ela admitira para si mesma que no início não conseguia sentir-
se humana ao ser tocada por Vlad, mas em algum ponto havia mudado. Talvez
ela fosse tão doente quanto os dois homens, afinal. – Como farei para acabar
com você? – se perguntou inconsciente de que um jovem sorria do outro lado da
porta de seu quarto.
As batidas na porta assustaram Luna, a qual levantou-se rapidamente.
―Quem é? – perguntou com a voz baixa.
―Deusa do azar? – a voz de Dominic a fez hesitar. Ela não sabia nada sobre ele.
O que eu faço?
Perguntou-se ao parar em frente a porta.
―Pode abrir a porta, Deusa do azar? Prometo não tocar em você – garantiu com
um sorriso. Luna suspirou antes de abrir a porta e encarar o irmão mais novo de
Vlad.
―Em que posso ajudá-lo?
Dominic sorriu de forma suave ao passar por ela e entrar no quarto. Sentou-se na
cama sem importar-se com a escuridão.
―Queria conversar com você antes sobre Vlad – Luna permaneceu em pé
próxima a porta com os braços cruzados em frente ao corpo – Não precisa ficar
na defensiva. Nunca me interessei pelas mulheres dos meus irmãos – sorriu –
além do mais gosto de como posso provocar Vlad agora.
―Mas o que quer falar comigo?
―Eu sei que não é a pessoa que está demonstrando, mas não me importo. A
única coisa que quero é ver Vlad seguro, entende isso? – ela assentiu – Meu
irmão nunca teve demonstrações afetivas. Ninguém da família é assim, já deve
ter percebido isso. Izac não demonstra emoções apenas gosta de brincar,
enquanto eu sou frio também. Todos somos assim. Foi assim que aprendemos a
sermos fortes. Aprendemos desde cedo que não podemos abaixar a cabeça e
demonstrar emoções, consegue entender isso? – ela negou concentrada na voz
dele – ninguém entende, eu compreendo – sorriu mais uma vez – o que quero
dizer com isso é que Vlad não é o tipo que permanece com a mesma mulher por
muitos dias ou a salva após fazê-la de isca. Acredito que ele sente algo por você,
algo que não vai afastá-lo, e espero que também permaneça ao lado dele.
―Veio me pedir para ficar com o seu irmão? – ele assentiu – isso não é
egoísmo? Não sabe se gosto dele ou não. Posso muito bem não suportá-lo.
―É claro que existe essa possibilidade, mas se o odiasse já teria ajudado o
policial, certo? – o seu sorriso convencido a fez rir.
―Posso odiar o policial mais do que a ele.
Dominic concordou ao gargalhar.
―São realmente idênticos. Vou dormir, Deusa do azar, mas espero encontra-la
depois – se levantou e se dirigiu a porta sem falar mais nada.
―O que ele pretendia? – Luna se perguntou confusa.
****
Esgueirasse para sair pelos fundos sem ser visto foi a coisa mais irônica que
Luca fazia naquele dia. Havia marcado com Judi a alguns metros de sua casa.
Ela iria leva-lo ao policial com quem trabalhava. Ele estaria traindo Vlad assim
que o encontrasse.
Assim que Judi o viu nada disse, apenas abriu a porta do quarto para que ele
entrasse, colocou uma venda em seu rosto e dirigiu.
―Para aonde estamos indo? – Luca perguntou ao sentir o cheiro de maresia.
―Não acha que vou contar após vendar os seus olhos, não é?
―É claro que não – se viu falando dando-se por vencido. O carro continuou por
alguns minutos até parar em uma praia. Judi retirou a venda de Luca, e ao olhar
em volta ele reconhecera o lugar. Ela saiu do carro, e ele a acompanhou. Não
falaram nada apesar de andarem lado a lado. Caminharam por alguns minutos
até Judi apontar para o homem parado logo a frente deles. Luca avançou em
direção ao homem e assim que parou ao seu lado, Hack virou-se soltando a
fumaça do cigarro na face do mafioso.
―Traindo o seu chefe, clichê, não? – Hack tornou sem humor – Qual o motivo
que o fez fazer isso?
―Minha irmã – disse com a voz emocionada – Ela morreu por culpa de Vlad.
―E esperou anos para vingar-se? É mais doente que eu – sorriu ao observar
Luca – Sabe, Judi não acredita em você. Ela tem certeza que está tentando me
enganar, mas eu sei que não. E sabe porquê? – Luca negou – Por que sei o
quanto foi doloroso perder alguém, saber quem é o culpado e descobrir que nada
pode atingi-lo.
―Perdeu alguém pelo visto.
―Sim, minha esposa – sorriu amargo – por culpa de Vlad, ela está morta.
Luca assentiu ao olhar para o homem a sua frente.
―E que com isso poderá prendê-lo? – Luca indagou curioso.
―Na verdade venho preparando o terreno a muito tempo – sorriu largamente –
Foi difícil no início, mas eu consegui. Droguei até a filha de um importante
político, só não esperei que ela fosse morrer. Estupida. Quase acabou com tudo.
―E o que mais pretende?
―Ah, agora quero prender Luna. Quero que ele sofra antes de prendê-lo e
depois mata-lo, é claro.
―Sofrer? – Luca indagou com um olhar sarcástico – o que faz pensar que Vlad
gosta dela?
Hack manteve um largo sorriso.
―Donnel. Vlad jamais ajudaria uma mulher como ela, não se não sentisse algo
por ela. Homens são idiotas. Se apaixonam por qualquer vadia.
―Sim, verdade – murmurou sombrio ao encarar Hack.
―A sua primeira missão será destruir a relação entre Luna e Vlad.
―Como posso destruir algo que não existe?
―Não me interessa. Eu quero aquela vadia na prisão – vociferou.
―Como quiser – Luca deu de ombros ao concordar.

CAPITULO 36
O silencio no escritório de Vlad foi interrompido pela forma brusca como a porta
foi aberta. Ele olhou sem expressão para a mulher que o encarava com fúria no
olhar. A respiração de Vlad era estável, mas seus olhos possuíam um brilho
tentador e ousado.
―O que faz aqui, Lune? –a voz fria de Vlad soou ainda mais distante para a
jovem com os olhos fixos nele – Não me recordo de tê-la chamado.
―E não chamou – confirmou contra a sua vontade.
―Então qual o motivo a fez vir até mim? – um sorriso malicioso estampou a sua
face – Não me diga que deseja derreter-se em meus braços? Se for isso basta
tirar a roupa e vir até mim.
―A única coisa que desejo saber é o motivo de não ter ido atrás de mim. Disse
que queria saber sobre a máfia ucraniana. Então qual o motivo para me fazer
esperar? – ela odiava ser colocada de lado, apenas como um modo de
manipulação.
Mas não foi exatamente isso que eu fiz?
No primeiro momento vim atrás dele.
Pensou frustrada consigo mesma. Por mais que tentasse sabia que Vlad
conseguia tudo o que desejava no final.
―Qual a graça em correr atrás quando você pode vir até mim, como fez? –
indagou aparentando confusão antes de sorrir – Tira a roupa e venha até mim –
ordenou com o olhar frio. Ao perceber que ela não se mexia, tamborilou os
dedos na mesa – Não tenho todo o tempo do mundo.
―O que me dará em troca?
―Quer algo por transar comigo?
―Quero algo por fazer o que você quer. – o corrigiu séria.
―Então começamos a negociar – percebeu interessado – Lhe darei em troca a
sua vida. O que acha disso?
Luna sorriu afetada ao menear a cabeça.
―Já sabe sobre a minha vida então não tenho motivos para continuar viva.
―Sim, você tem – afirmou – se não tivesse não teria se vendido a Hack.
―Pode estar certo ou não.
―Sempre estou certo – a assegurou com seriedade – O que deseja de mim ao
ponto de negociar algo que posso ter de qualquer mulher?
Luna sorriu com sinceridade ao caminhar até Vlad com calma. A cada passo
desfazia-se de uma peça de roupa, parando em frente a ele apenas de lingerie.
―Você me deseja, Galli.
―Não está errada – com apenas um movimento, ele a puxou forçando-a a
sentar-se em seu colo. Tocou o seu corpo com lascívia e força. Ele desejava
marca-la. Beijou o seu pescoço, enquanto os seus dedos brincavam com a sua
intimidade. – Muito bem, vamos negociar, Lune. O que tem em mente? –
perguntou ao mordiscar a sua orelha.
―Eu quero liberdade.
―Já a tem.
―Quero mais.
―Nunca foi uma prisioneira aqui. Veio com suas próprias pernas – disse antes
de beijá-la ardentemente – Que tipo de liberdade deseja?
―Odeia o tenente Hack, não é?
Vlad parou o que fazia e apenas observou o semblante de Luna, e não ficou
surpreso ao encontrar o olhar de vingança.
―Não. Sentimentos como amor e ódio não são para homens como eu. Parece
que não aprendeu a diferença entre mafioso e gangster, Lune. Eu sou a pior
espécie entre eles. O que sinto pelo tenente Hack é desprezo, e anseio por
esmagar um inseto. Ninguém gosta de insetos chatos rondando tudo.
Luna sorriu ao perceber a mente doentia dele. Sem dúvidas ela teria chances de
acabar com Hack se permanecesse ao lado de Vlad.
―É um homem doente, Galli – Luna se viu falando ao sorrir – Mas isso é
interessante.
―Então porque mentiu para Hack? – indagou friamente ao segurar em sua
cintura com força para que ela não escapasse – Li suas mensagens. Nunca disse
a verdade a ele. Estou curioso para saber o quanto o odeia.
Luna aproximou o seu rosto do rosto de Vlad, e sussurrou em seu ouvido.
―O odeio com todas as minhas forças.
―Motivo.
―Ele quis me usar como aqueles desgraçados. Não acha que perderei a minha
liberdade depois de tudo que passei, ou acha?
―Tenho certeza que não – falou antes de beijá-la.
Se ele gosta de mim como Dominic acha, irei me aproveitar de tudo para
destruí-lo. Hack não saberá o que o atingiu.
****
Dominic espreguiçou-se ao se levantar da cama. Conversar com Vlad e Luna
fora mais fácil do que havia imaginado, e agora ele sabia que teria que retornar a
sua patética vida. Suspirou frustrado antes de olhar para a sua, singela, mala
pronta próxima a cama.
―Eu deveria ficar mais um pouco? – se perguntou confuso com receio do rumo
da história de seu irmão. Ele não poderia fazer muita coisa, pois abdicara da vida
de mafioso a muito tempo atrás, entretanto matar alguém não seria difícil para
uma pessoa como ele. Um exímio conhecedor da anatomia humana.
Deu de ombros ao sair do quarto. O seu estomago começara a roncar. Andou
pela casa de Vlad com tranquilidade até parar na cozinha e avistar Luca com o
semblante preocupado.
―Luca, aconteceu algo? – Dominic questionou com um sorriso na face. Um
sorriso que Luca não suportava.
―Nenhum, Senhor Galli – respondeu com frieza.
―Não gosta de mim, não é? – sorriu franco diante do olhar inexpressivo do
consigliere de Vlad – Eu prezo muito a sua relação com o meu irmão. E não
tenho nada contra você, na realidade tenho uma simpatia por você.
Luca apenas o encarou.
―Sempre dizem coisas ruins de mim por ai – Dominic continuou a falar o seu
monologo sem preocupar-se da atenção de Luca – Mas não deveria acreditar em
tudo que escuta. Sabe, sou bem legal com a família – sorriu largamente – Além
do mais adoro a máfia, só não faria parte. Não gosto de pensar que a polícia
poderia me perseguir por ai. Gosto de ter uma vida calma. Sem falar que...
―Tenho algumas coisa a fazer – Luca o interrompeu surpreso por Dominic ter
falado tanto.
―Claro – sorriu – E não se esqueça que Vlad gosta muito de você, como
consigliere e amigo.
Luca apenas assentiu em silencio antes de sumir.
―Isso pode estar ficando interessante – Dominic murmurou antes de abrir a
geladeira e pensar no horário de seu voo.
***
Como separar duas pessoas que não estão juntas?
Luca se perguntou ao caminhar pelo jardim da casa de Vlad. Suspirou frustrado
ao perceber o quão ridícula era aquela tarefa.
Um sentimento de estar sendo vigiado não lhe passou despercebido, e ao virar-se
avistou Judi, o olhando. A viu fazer um sinal discreto para que a seguisse.
Caminhou discretamente até vê-la parar embaixo de uma arvore.
―O que quer falar? – Luca indagou com frieza.
―Estou curiosa para saber como vai separá-los, mas antes disso Hack quis
mandar um recado para você. Ele quer que leve Luna em um lugar.
―Para que?
―Para foder com ela, matá-la. Quem se importa? Apenas a leve para o lugar que
vou mandar por mensagem. Se não fizer saberemos que esteve nos enganando. –
sorriu convencida ao bater levemente na face dele – Seja um bom garoto e faça o
que ele mandar.
Luca nada disse, apenas permaneceu parado vendo-a se afastar dele.

CAPITULO 37
Por mais que Luca estivesse odiando aquela situação nada poderia fazer. Ele não
tinha muitas opções. Seus olhos permaneciam fixos na casa de Vlad, enquanto
pensava na forma de tirar Luna sem que ninguém os visse.
Isso não será possível. Não tem como ninguém nos ver saindo.
Pensou ansioso. Ao olhar para o lado percebeu frustrado a aproximação de
Cosimo. Ele não poderia deixar transparecer nada agora.
―Luca, algum problema? – o mafioso indagou preocupado diante da expressão
de Luca.
―Estava apenas pensando em algo pessoal.
―E desde quando tem uma vida fora da máfia? – sorriu ao questionar. Todos
sabiam o quanto Luca era fiel e vivia apenas para Vlad – Na verdade nunca
consegui entender a sua fidelidade a Vlad. O que aconteceu entre vocês?
Os olhos de Luca perderam o brilho e por um instante se viu envolto em
recordações dolorosas.
As mãos de Luca tremiam violentamente ao olhar para o corpo de sua doce irmã
na cama do hospital. Os diversos hematomas a deixavam irreconhecível. O seu
doce e ingênuo rosto fora deformado. Seus olhos possuíam manchas roxas, seu
lábio estava cortado, seu nariz quebrado além de suas costelas quebradas. Ela
chegara ao hospital com um pulmão perfurado, presença de violência sexual,
mas o pior foi descobrir que ela havia entrado em coma devido a uma pancada
na cabeça. Nenhum médico sabia informar as reais chances dela.
O seu ódio crescia violentamente ao pensar em quem fizera tudo aquilo com a
sua preciosa irmã. A única pessoa que ele deveria ter protegido. Ele sabia que
falhara nisso, e se culpava e sabia que se culparia eternamente.
Ela havia sido atacada quando retornava para casa. Eles moravam em uma rua
tranquila, e todos sabiam que ele pertencia a família Galli. Ninguém ousava
falar nada que ofender ou ameaçar alguém que estivesse protegido pela família.
―Então como isso aconteceu? – Luca se perguntou com a voz tremula. Seu
coração encontrava-se despedaçado. Ele não queria perder a única pessoa que
possuía. A única pessoa de sua família. Luca não saberia dizer o tempo em que
passou sentado ao lado da sua irmã naquele hospital silencioso e macabro
quando escutara a porta se abrindo. Ele já havia se acostumado com a entrada
de médicos e enfermeiras, mas daquela vez era uma visita.
―Parece que ela ainda não acordou –a voz do homem despertou Luca de seus
pensamentos dolorosos. Luca virou-se tentando entender quem era o homem a
sua frente. O homem possuía um olhar amoroso e compreensivo. Sua farda de
policial o denunciava. Ele estava ali para saber o que acontecera com a sua
irmã – me perdoe, sou o policial Hack, sou responsável pelo caso da sua irmã.
Quero pegar o culpado, mas infelizmente ela ainda está em coma. Eu sinto
muito – sua voz gentil acalentou o coração de Luca por milésimos de segundo –
Sabe de alguém que possa querer o mal dela?
Luca negou sem ao menos parar para pensar.
―Sei que isso é estranho, mas pode me procurar na delegacia caso se lembra
de algo – o policial disse antes de sair do quarto. Luca permaneceu da mesma
forma por dia até o seu chefe aparecer.
―Está horrível – Vlad disse assim que abriu do quarto acompanhado por Tony.
Seu olhar observou Luca com cuidado – Ela ainda está na mesma? – Luca
assentiu sem ao menos olhar para Vlad – Tem se alimentado ao menos? – Luca
tornou a assentir, mentindo. Ele não se lembrara da última vez que comera algo.
– Tony, vá buscar algo para ele comer. – o segurança concordou antes de deixá-
los sozinhos. Aproximou-se de Luca e pousou a mão em seu ombro – Eu irei
transferi-la de hospital. Um melhor. – Luca enfim o encarou – E já encontrei
quem fez isso com ela. Demorou um pouco, mas consegui.
―Por que fez isso? – Luca perguntou pasmo.
―Bem, não posso deixar meu possível Consigliere largado, certo? Além do
mais, não suporto homens que fazem isso as mulheres. É abominável.
―Obrigado, Chefe – agradeceu com os olhos repletos de sinceridade – prometo
que serei fiel a você até o fim. Minha vida será sempre sua.
Vlad sorriu satisfeito.

―Luca, o que acha da mulher? – Cosimo indagou ao perceber o mafioso


distante – Acha que ela é tão perigosa quanto os boatos?
―Boatos?
―Sim, andam dizendo que ela é uma informante da máfia ucraniana e que
querem matar Vlad.
―Isso é loucura.
―Boatos são boatos no final de tudo.
―Deveríamos investigar. – pensou alto.
―Eu não irei me mexer até Vlad falar algo – deu de ombros – afinal o único que
está dormindo ao lado de alguém assim é ele.
Luca engoliu em seco. Aquela situação tornara-se estranha demais.
***
Os olhos de Luna avaliavam o corpo desnudo do mafioso deitado ao seu lado. Se
ela fosse sincera consigo mesma, saberia que não tinha ideia do que fazia ao lado
dele. Por mais que odiasse Hack não poderia usá-lo sem esperar que ele quisesse
algo em troca.
Ele deve querer a minha vida quando perceber que estou o usando desde o
início.
Pensou após suspirar e olhar em volta. O quarto de Vlad ainda era o mesmo
desde a última vez em que entrara ali. Já começara a colocar os pés para fora da
cama quando sentiu o braço dele a envolver, puxando-a para si.
―Quando começara a conter os segredos da máfia ucraniana? – a voz de Vlad a
fez hesitar antes de responder. Aquele era o seu único trunfo.
―Quando tiver certeza que não irá me matar – admitiu olhando em seus olhos.
Os olhos de Vlad não demonstravam nenhuma emoção e nenhum indicio de
mentira.
Ele não demonstra emoção, arrependimento ou medo. Manipula a todos com
maestria. Ele é um típico sociopata com tendências psicopatas. É assustador
pensar que alguém assim exista.
―Lune - a sua voz próxima ao ouvido de Luna a fez arrepiar-se. Seu corpo
desejava Vlad. Se acostumara a ele de uma forma que ela não entendia. Ela já se
deitara com muitos homens, mas nenhum deles a fez sentir-se dessa forma.
Vulnerável. Dependente e limpa. Por muitos anos ela se sentira suja pelo que
havia sido obrigada a fazer, mas Vlad parecia não se importar.
―Não se importa de eu já ter sido uma escrava? – ela se viu perguntando sem
perceber.
―E porque deveria?
―Qualquer pessoa se importaria.
―Sou a pior espécie de pessoa – a lembrou sério – Sou tão imundo quanto você.
Qual o problema? – deu de ombros antes de beijar os ombros dela e em seguida
os seus seios – Ainda não conheceu o meu mundo para perceber o que é ser suja,
Lune. – disse com um leve sorriso malicioso.
―Por que está falando sobre isso? – questionou com a voz baixa em meio a
gemidos.
―Suja, errada e distorcida. Não é assim que você sempre se viu? – indagou sem
tirar as mãos de seu corpo – Quando entender o que é ser um gangster irá
compreender o que nos difere. E porque entendo isso.
Luna fechou os olhos entregando-se a sensação de ter Vlad lhe tocando, lhe
desejando e fazendo-a gemer.
***
O olhar de tedio que Dominic lançou para a porta do quarto de Vlad fez Tony
sorrir sem perceber. O segurança caminhava pela casa quando virá o irmão de
Vlad em frente ao quarto do chefe.
―Parecem dois coelhos – reclamou sem olhar para atrás – Você não acha?
Tony empalideceu ao perceber o quanto os instintos de Dominic eram bons.
Desde cedo Tony havia sido treinado para ocultar a sua presença, e ele era um
dos poucos que conseguia perceber o segurança sem esforço.
―Acho que sim – Tony respondeu desconcertado. – Como conseguiu...?
―Sentir você? – Dominic questionou sorridente – Não foi difícil. Eu vivi com
Izac e Vlad, se não aprendesse coisas assim eu estaria morto agora.
Algo em sua voz fez Tony perceber que não era uma brincadeira.
―Uma infância mafiosa não é tão glamoroso quanto se imagina – Dominic falou
a si mesmo antes de bater na porta do quarto – Vlad, preciso falar com você –
falou alto e não demorou para escutar a voz de seu irmão. No instante em que
entrou no quarto, sorriu ao ver Luna com o lençol até o pescoço e Vlad atrás
dela. Abraçando-a.
Isso é um grande avanço.
Pensou até se dar conta que ele fazia isso para ela não se mover.
―O que quer falar, Dominic?
―Queria me despedir de meu irmão – sorriu largamente – e da deusa do azar.
―Já o fez.
―Sempre insuportável – caminhou pelo quarto ignorando o olhar furioso de
Vlad – Estive pensando em me mudar.
―Do que está falando? Vai deixar para trás o hospital da família? O que quer
com isso?
Dominic o encarou com decepção.
―Nunca iria entender – suspirou ao ir para a porta – Se a família ligar diga que
não lhe disse nada. Até mais Deusa do azar – acenou para eles antes de fechar a
porta. – É a melhor hora para mudar – percebeu ao ir até o quarto e pegar as suas
malas.
***
O barulho do relógio anunciava a aproximação do plano de Luca, o qual
mantinha-se concentrado na cozinha da casa de Vlad. A ansiedade lhe consumia,
pois sabia que não poderia cometer nenhum erro. Vlad havia ido para a
construtora e apenas duas pessoas encontravam-se na casa. Luna e Tony.
Preciso ser rápido.
Pensou agitado ao seguir para a entrada. Assim que fechou a porta atrás de si
caminhou para o quarto de Luna, abriu a porta e a encontrou sentada na cama,
como se o esperasse.
―Preciso que venha comigo – Luca anunciou aparentando calma quando sentia-
se ruir diante do olhar dela. Luna nada disse ao se levantar e segui-lo sem ao
menos questioná-lo. Ela andou ao seu lado sem ao menos encará-lo até passarem
pela porta.
―O que vai fazer comigo? – ela indagou com o semblante tranquilo.
―Eu não farei nada.
―Então quem fará?
Luca parou ao escutá-la.
―Sobre o que está falando? – sua voz denunciou a sua mentira.
―Sei que está escondendo algo – garantiu sem olhá-lo – Não está me olhando
nos olhos e parece que está fazendo algo escondido. Então minha pergunta é:
para quem vai me entregar? – virou-se e enfim o encarou. Luca a olhou com
horror.
―Eu não irei...
―Não? Então não estamos saindo escondido?
―Como sabe disso?
―Tony. Se eu fosse sair, ele deveria vir comigo. Isso foi o que o seu chefe falou.
Luca nada disse ao virar o rosto.
―Não me importa, mas espero que esteja ganhando bem para isso – deu de
ombros. – Devo entrar no carro? – ele assentiu paralisado.
Espero que saiba o que está fazendo.
Luna pensou com receio ao entrar no carro.
Luca não conseguiu se mover por alguns segundos até perceber que não tinha
outra forma. Entrou no carro e deu a partida tentando ignorar a sua consciência
que gritava para voltar atrás. Mas ele não a escutou e seguiu em frente.
Durante todo o percurso nenhuma palavra foi dito. O motorista concentrou-se na
estrada, enquanto a mulher mantinha-se imersa em seus pensamentos e em sua
própria sobrevivência.
Logo o carro seguiu por uma estrada de terra para parar minutos depois em
frente a um galpão. Luca estacionou e saiu do carro, aguardou que ela fizesse o
mesmo.
―Eu... – Luca começou e foi interrompido pelo olhar dela.
―Vamos entrar – ela disse firma ao avançar para a entrada e somente então Luca
percebera que havia algo atrás das costas dela escondido pela blusa folgada.
Uma arma?
―Luna, você está armada? – ele se viu perguntando e ela sorriu.
―Não, isso é apenas a minha sobrevivência – disse antes de abrir a porta do
galpão e se deparar com Hack sorrindo largamente.

CAPITULO 38
A primeira coisa que Luna sentiu ao abrir a porta do galpão foi o mau cheiro.
Um bolo formou-se em sua garganta e se não fosse pelo homem parado a poucos
metros dela, teria vomitado. Hack a olhava com esplendor e raiva, e ao seu lado
Judi permanecia com o olhar raivoso.
―Dois loucos reunidos – olhou em volta rapidamente – devo ter entrado em um
manicômio. – sem expressar o medo que sentia escutou a risada insana de Hack.
―Para uma vadia ucraniana está muito arrisca – Hack tornou seguro ao rir e
olhar rapidamente para Judi – O que acha? Vadias ucranianas deveriam ser mais
submissas, afinal foi para isso que foi treinada, não? Ou deveria dizer adestrada?
O horror transpareceu na face de Luna antes dela sorrir convencida.
Manipulação havia sido umas das coisas que aprendera ao morar com Vlad.
―Uma escoria com tanto orgulho – Luna disse com audácia – É realmente
revoltante ver pessoas como vocês. O que quer comigo, Policial Hack?
A expressão de raiva na face de Hack fez Judi dar de ombros, pois ela não se
interessava com o que aconteceria com Luna, mas estava curiosa para saber até
onde aquelas duas pessoas estavam dispostas a chegar por Vlad, seja por confiar
nele ou odiá-lo.
Hack andou até onde Luna estava e ao parar em sua frente, levou a sua mão até o
pescoço dela.
―Alguém como você jamais deveria falar de pessoas como eu – proferiu
raivoso – sabe o quanto tive que fazer para conseguir chegar onde estou? Não
tem ideia do que é sacrificar as pessoas para sobreviver.
―Sobreviver? – Luna repetiu fraca com um sorriso na face – É isso mesmo que
você deseja, tenente?
―É claro! – gritou alterado.
―Então porque está tentando me matar? – o rosto de Luna começara a tornar-se
vermelho. Um tom levemente avermelhado. – Se me matar a última coisa que
fará será continuar vivo.
― O seu mafioso irá me matar? - gargalhou ao apertar o seu pescoço um pouco
mais forte – Ele não gosta de você, está apenas te usando. É tão ingênua para não
perceber? Vlad Galli é pior que a máfia que lhe mantinha cativa. Ele é muito
mais cruel, sabia?
Com o restante de força que restava, Luna forçou as suas unhas nos braços do
tenente, e logo ele a soltou. A tosse constante e seca fez com que lagrimas
viessem aos olhos da jovem.
―Atirar seria uma melhor forma para me matar – Luna disse entre a crise de
tosse. Ergueu a cabeça encontrando o olhar frio de Judi em si – Para alguém que
defende as mulheres, não acha que está sendo condescendente demais? – em
resposta, Judi bufou algo e lhe deu as costas – E ainda é covarde. Ao menos
encare a pessoa que você odeia.
―Eu não lhe odeio, apenas sinto desprezo – Judi comentou ainda de costas.
―Como queira, mas não passa de uma vadia doente e traidora. Como Vlad
conseguiu para que ficasse ao lado dele? Já que irei morrer não vejo problemas
em saber – algo na voz de Luna fazia Judi ter uma péssima sensação. – Diga-me,
como Vlad conseguiu que alguém como você ficasse ao lado dele. Alguém que
odeia esse mundo escuro e sombrio.
―Ele salvou a minha amiga – disse sem perceber com o olhar distante – Um
verme havia a sequestrado. Ela ia ser vendida como uma escrava para alguém
como o irmão dele, mas ele conseguiu salvá-la.
―E assim conseguiu a sua fidelidade – sorriu irônica – ou pelo menos foi isso
que ele pensou.
―Não o estou traindo porque quero – gritou ultrajada – estou fazendo isso por
que alguém como você entrou na vida dele.
―Está me culpando por trair alguém que lhe ajudou? – o sarcasmo era visível na
voz de Luna.
―Você foi a única que me forçou a tudo isso.
O olhar de Luna transparecia que ela escondia alguma coisa, mas Judi não
conseguia desvendar.
― Luca lhe trouxe tão facilmente? E onde ele está? – Judi indagou começando a
ficar aflita. Algo naquela situação era surreal. Vlad jamais a deixaria sair tão
facilmente. ―O que está aprontando?
Luna sorriu levemente ao encarar Hack e em seguida Judi.
―Nada, afinal eu sou uma simples vadia ucraniana, não sou? – sorriu ainda mais
– Ainda não entendi o motivo de trazerem até aqui – desconversou ao dar de
ombros e olhar a sua volta – é um lugar bem podre, mas não posso falar nada já
que se reconhecem nesse lixo, imagino.
―Estou cansado disso – Hack tornou sério – Onde está Luca? – Luna deu de
ombros.
―Ele apenas me deixou aqui, não sei de mais nada.
―E por que veio?
―Não tive muita escolha – comentou friamente ao fixar seus olhos na expressão
de Hack – sempre tive curiosidade, tenente, de como chegou até aqui. Como
chegou a essa podridão se tem tanto apreço por sua dignidade e reputação.
―Se considera especial? – Hack indagou com a voz sombria – Alguma vez
pensou que era especial por ter tudo que queria? – ela negou em silencio – É tão
tola quanto imagino então. Eu tinha tudo. Tudo – gritou raivoso – e Vlad me
tirou, e pergunta como cheguei a isso? É claro que investigando, mas por mais
que eu chegasse perto de prendê-lo sempre havia alguém que era contra, provas
que sumiam ou testemunhas que desapareciam. Não foi difícil descobrir sobre
sua família e pensar um pouco – sorriu afetado ao apontar para a sua própria
cabeça – Ele é da máfia. E se comporta como alguém com dignidade e
magnificência em frente às câmeras e as pessoas. Esse filho da puta suborna todo
mundo, ninguém consegue ir contra ele. Se acha intocável, mas vou mostrar a
ele que qualquer um pode ser tocado pelo tenente Hack – disse com orgulho ao
sorrir debilmente.
Luna escutou tudo com calma, mas antes de tirar a arma de suas costas, indagou.
―Está sendo incisivo por querer mostrar que ninguém pode com você. Tão
idiota, não acha? – sorriu diante da expressão de Hack – Acredito que o que
sente por Vlad é uma obsessão doentia.
―Aquele desgraçado matou a minha mulher – esbravejou.
―Tem provas que foi ele?
―Ele não sujaria a sua mão. Tenho certeza que mandou alguém fazer isso.
―Apostaria sua vida nisso, tenente? – Luna perguntou com o olhar sombrio –
Acredita mesmo que o homem a quem persegue por anos mandou matar a sua
mulher?
―É claro! Eu estava investigando as drogas que ele contrabandeia.
―Tem prova sobre isso?
Hack calou-se amargurado, pois todas as possíveis provas sumiam.
―Não exatamente.
―Não deveria parar com isso enquanto mantem o seu emprego? – sua voz gentil
fez com que a raiva de Hack transbordasse. Ele sacou a sua arma e apontou para
ela – Vai atirar? É bom fazer antes que eu faça – disse ao retirar uma arma de
suas costas. Judi olhou boquiaberta para a situação. Ela sabia que Luna jamais
poderia ter acesso a uma arma se não fosse por Tony, Luca ou Vlad. Somente em
pensar nessa suposição percebeu que aquele poderia ser o seu fim.
―Ela está mentindo sobre tudo – Judi falou nervosa – Algo está errado – andou
até Hack – precisamos ir embora.
―Do que está falando? – Hack questionou sem abaixar a arma ou tirar os olhos
de Luna – Alguém sozinha, suja e depravada como ela não tem importância.
―Tem algo errado. Não tem como ela ter conseguido uma arma, seu policial
estupido.
―Se preocupa demais – Hack falou antes de apertar o gatilho fazendo com que
o corpo de Luna caísse para atrás. Aproximou-se dela ainda segurando a arma
com um sorriso na face – Eu não queria lhe matar, mas se tornou uma das vadias
de Vlad. Não posso perder tudo. Não depois do que eu fiz.
A roupa de Luna agora encontrava-se vermelha pelo seu sangue. A bala havia
atingido abaixo do ombro. A cada segundo perdia mais sangue.
―Por que me escolheu para isso? Acho que tenho que saber já que vou morrer.
Hack a olhou após sorrir.
―Na primeira vez em que se encontrou com ele em uma boate, eu estava lá
seguindo-o. Você foi a primeira pessoa que não era desse mundo mafioso que ele
demonstrou interesse.
―E você aproveitou isso.
―Sim. Não foi difícil descobrir com a ajuda de Judi sobre o carregamento e o
desejo dele em aparecer na troca. Precisava apenas de você no local certo, na
hora certa, mas imprevistos acontecem e temos que trabalhar com o que temos.
A ideia era de vocês se encontrarem e não ser estuprada. – deu de ombros – E
isso acabou me ajudando.
―Então desde o início foi você.
―Foi – admitiu.
―Você iria me matar de qualquer forma – Luna disse com a voz fraca ao olhar
para o homem a sua frente após pensar sobre tudo.
―Sim, eu iria. – confessou ao apontar a arma para a cabeça dela.
―O que você fez para chegar a esse ponto?
Hack sorriu cruelmente ao responder.
―Cheguei a matar a filha do governador. Foi mais difícil do que imaginei, sabe?
– ela assentiu com um sorriso na face – Não acredita?
―Pelo contrário – com o restante de forças que possuía apontou para o colar em
seu pescoço – Todos estão escutando, Hack. É o seu fim – sorriu ainda mais ao
fechar os olhos ignorando o olhar perplexo e o grito de agonia dele – E o meu
também. Pensou no momento em que uma sensação agradável apoderou-se de
seu corpo. Ela se sentia livre.

CAPITULO 39
Luna não prestava atenção a nada a sua volta. Continuou a perder sangue
rapidamente. Ela já ouvira falar que no instante em que morresse toda a sua vida
passaria pelos seus olhos, mas viu ser mentira, pois a cada momento seus
pensamentos dirigiam-se aos seus últimos dias. Desde o momento em que se
encontrou com Vlad na boate passando por ele a salvando até os dias em que
morou com ele. E surpreendentemente não se viu arrependida de suas escolhas,
pois no final conseguiu e vingar da única pessoa que aprendera odiar em tão
pouco tempo. O desprezível policial teria um fim pior que o dela, disso ela tinha
certeza ao escutar as sirenes cada vez mais próximas. Seus olhos mantinham-se
fixos no teto do armazém ignorando a voz desesperado de Hack. Tornava-se
cada vez mais difícil manter seus olhos abertos.
―Sua desgraçada – Hack gritou ao ir até Luna e puxá-la pela sua blusa – como
teve a audácia de me trair?
Luna sorriu apesar da dor que sentia.
―Não ria, eu irei lhe matar antes de alguém entrar aqui. – ao perceber que ela o
ignorava, sua raiva aumentou – Quero vê-la sorrindo assim em seu tumulo.
Judi olhava para a cena a sua frente incrédula. O barulho das sirenes
aproximavam-se cada vez mais, e o seu temor por ser pega crescia rapidamente.
―Precisamos sair daqui – gritou para Hack, o qual parecia possuído e decidido
em matar Luna. Em um ato de impulsividade bateu com força nas costas dele –
Poderá matá-la depois. Temos que ir embora ou deseja ir preso? – somente então
Hack pareceu perceber o que acontecia a sua volta. Seu olhar demonstrou o
desespero e o medo de ser pego.
―Temos que sair daqui – Hack falou racionalmente ao olhar para Judi e em
seguida para Luna – Eu irei atrás de você, e terminarei o serviço. – virou-se para
Judi – Vamos sair pelos fundos – a general de Vlad assentiu, mas antes de seguir
olhou para Luna e seu estado.
Ela não irá sobreviver se continuar perdendo sangue, pensou ao dar de ombros e
lhe dar as costas. No momento em que Hack e Judi saíram pela porta traseira,
policiais invadiram o armazém.
―Tragam os paramédicos – um dos policiais gritou ao ver Luna sangrando no
chão. Aproximou-se dela rapidamente – Consegue me escutar? Tente ficar
acordada. Ei! – gritou, mas não obteve resposta. Luna enfim havia fechado os
olhos – Cadê a porra dos paramédicos? –gritou mais uma vez ao sentir a
pulsação de Luna.
***
Os passos apressados, as respirações ofegantes e os semblantes de terror eram
compartilhado pelos fugitivos que corriam pela mata próxima ao armazém. Eles
sabiam que se fossem pegos iriam acabar sendo mortos por Vlad.
―Por que teve que perder o controle? – Judi resmungou alto o suficiente para
que Hack a escutasse – agora por sua culpa perdemos tudo.
―Perder tudo? Você não tinha o que perder.
―Não tinha? – parou de correr ao sentir a raiva aumentar – Eu era um general
na máfia. Como não tenho o que perder? Você é um homem louco e deturpado.
―E você uma traidora. Qual a diferença entre nós? – indagou com calma ao
puxar a sua arma e aponta-la para a mulher a sua frente.
―Vai me matar agora? Acabar com as testemunhas? – gargalhou – então terá
que matar muitas pessoas, ex-tenente.
―Prefiro acabar com a escória antes – falou prestes a puxa o gatilho quando
escutaram vozes próximas a eles. – Merda! – guardou a arma e voltou a correr
sem importar-se se Judi o seguia ou não.
Como eles descobriram?
Eles não poderiam ter descoberto isso facilmente, então Luca, aquele
desgraçado, me traiu como eu imaginava. Vou caçá-lo e o matar o quanto antes.
***
Aquela era a primeira vez em que a sala de espera do hospital ficara cheia de
pessoas com olhares frios e semblantes perigosos. Os homens mais próximos de
Vlad, os homens de sua mão esquerda, mantinham-se parados olhando para Vlad
como se esperasse alguma reação ou comando. Entre todos, Luca era o único
que mantinha a face repleta de preocupação. Ele se culpava pelo que acontecera.
Dias atrás....
O olhar que Vlad lançava para Luca apenas demonstrava que ele tinha planos
para o seu consigliere. Luca havia sido chamado para o escritório de Vlad, e o
seu chefe nada falou antes de vasculhar todo o cômodo em busca de escutas. Ao
perceber que o escritório estava limpo, sorriu sombrio.
―Está empenhado em proteger Lune, não está? – Vlad indagou ao sentar-se em
sua cadeira, enquanto observava a expressão de Luca, o viu assentir em silencio
e sorriu – Tenho um trabalho perfeito para você. Sabe que aquele policial
maníaco ainda está atrás de todos nós, certo? E como temos um traidor, ou
melhor, uma traidora, que sabe todos os nossos passos, porque não usar isso
para acabar com eles?
―E como isso protegerá Luna?
―Luca, parece que tornou-se demasiado ingênuo – sua voz denunciava a sua
decepção momentânea – Hack gosta de pensar que a controla, e não duvido que
ele tente matá-la assim que conseguir me pegar. Quero vê-lo desesperado,
implorando pela sua vida, entende isso? E você, meu consigliere, irá conseguir
isso e proteger a sua querida, Lune.
―O que terei que fazer? – indagou profissionalmente.
―Irá me trair – sorriu largamente – irá convencer Judi que irá me trair, e irá se
aliar a eles e no momento certo acabaremos com os dois. Primeiro com Hack,
irei tirar a única coisa que ele tanto preza: a sua amada profissão. O seu
orgulho.
―E depois? – Luca indagou curioso.
―Depois iremos transformá-lo em um bandido. A espécie que ele tanto odeia. O
próximo será o mais interessante, mas prefiro que descubra no momento
oportuno.
―E quanto a Judi?
―O que ela mais despreza?
Luca pensou um pouco antes de responder.
―Homens como o seu irmão que traficam mulheres.
―E essa será a sua punição por me trair – revelou sorridente – irá dar ela
como presente a Izac, ele saberá o que fazer.
Luca concordou ao olhar para o seu chefe e perceber que todos dançavam de
acordo com a música que Vlad escolhia.
―Quando devo começar?
―O quanto antes afinal, temos uma comemoração a fazer.
―Luna não irá precisar fazer nada, certo?
―Se for necessário, é claro que sim.
Atualmente...
Luca sentiu o gosto amargo em sua garganta ao perceber que nos planos de Vlad,
a segurança de Luna nunca havia sido prioridade. No instante em que levara
Luna para aquele lugar abandonado sabia que algo estava errado, mas como um
cachorro, cumpriu suas ordens cegamente. Ele deveria deixa-la e voltar com o
carro, pois a polícia não iria demorar em chegar. E foi exatamente o que ele
fizera.
Sua raiva e frustração eram consigo mesmo, pois sabia que poderia tê-la
ajudado.
―Droga! – murmurou em meio a seus pensamentos turbulentos e logo sentiu a
mão de alguém em seus ombros, ergueu a cabeça e encarou Cosimo – O que?
―Não é o único que está sofrendo – disse olhando para Vlad, o qual mantinha-
se afastado de todos com o olhar perdido. – O chefe não é tão cruel assim, e não
deveria se culpar, Luca. Não foi sua culpa.
―Eu poderia tê-la salvado.
―Vlad tinha cuidado de tudo, sabia? – Cosimo comentou baixo – Ele deu uma
arma para ela e havia colocado alguns homens próximo ao galpão. Caso tudo
desse errado, eles iriam entrar.
―Ainda seria tarde demais – murmurou ao pensar no que Cosimo falara – Vlad
estava preocupado com ela? – Cosimo assentiu – então porque ele a mandou
para lá?
―Ele é o chefe da máfia. A sua missão é proteger a todos, enquanto faz o que
deve fazer, Luca.
Luca sabia que Cosimo tinha razão, mas simplesmente não conseguia aceitar.
Sem perceber se viu olhando para Vlad. O seu, frio, chefe mantinha uma
expressão apática e desde que haviam chegado no hospital, ele não havia se
movido, apenas permaneceu sentado em uma das poltronas olhando para a
frente, como se aguardasse ansioso pelo médico.
―É a primeira vez que o vejo assim – Luca murmurou.
―Acho que é a primeira dele assim – Cosimo brincou ao dar de ombros.
Quando foi que ela o mudou? Luca se perguntou antes de suspirar.
Vlad levantou-se no momento em que o médico caminhava em direção a eles.
―Vejo que estão preocupados – o médico falou calmo – mas ocorreu tudo bem.
Ela teve muita sorte que a bala não atingiu nenhuma artéria, e que não ficou
presa em nenhum musculo. Cuidamos do ferimento e eles ficarão bem. – sorriu
ao olhar para Vlad – se tiver alguma dúvida pode falar comigo, senhor Galli.
―Eles? – indagou ao encarar o médico – de quem está falando?
―Do bebê que ela está carregando – falou surpreso – ela está gravida de poucas
semanas, quase um mês, fizemos todos os exames e ambos passam bem.
―Grávida? – murmurou surpreso – Isso não é possível.
―Fizemos todos os testes, senhor, ela está grávida. Preciso ir agora, mas
qualquer dúvida poderá me procurar. Uma enfermeira de minha confiança estará
cuidando dela – garantiu antes de se afastar.
Pela primeira vez, Vlad esboçava pânico em seu olhar.
***
O cheiro do cigarro fez com que Judi começasse a tossir. Ela havia seguido Hack
desde que começaram a fugir e agora se viam atrás de supermercado. Ela sabia
que ficar ao lado dele seria a sua chance de escapar da morte, ao entrega-lo para
Vlad.
―Está pensando em me entregar a Vlad? – Hack disse com escarnio – Não sou
burro.
―Não pensaria isso – mentiu – Estou com você porque somos dois traidores
agora. Eu trai a máfia e você a polícia.
―Isso não significa que devemos ser companheiros de fuga.
―Não, mas seria mais inteligente se ficarmos juntos.
―Você seria uma isca, se continuar me seguindo – a avisou.
―Sei que ainda seremos úteis um para o outro – sorriu inescrupulosa.
***
O quarto de Luna era o único quarto no hospital que possuía seguranças. Tony
havia se voluntariado para ficar do lado de fora cuidando para que nada a
acontecesse, e escolheu mais um homem de sua confiança para lhe fazer
companhia. No interior do quarto particular, Luna mantinha-se adormecida sobre
efeito de remédios, enquanto Vlad permanecia sentado próximo à cama.
―Um filho – murmurou ao olhar para a barriga dela. Ele não percebeu o tempo
passar até ela acordar, e olhar para ele confusa.
―Eu... Hack? Ele está. – Luna falou com dificuldade ao sentir a sua garganta
seca. – Preso?
―Não – negou com tranquilidade ao se levantar e encher um copo com agua,
entregando para ela em seguida – Mas, está tudo indo de acordo com o plano.
Luna apenas o olhou ao se recordar da conversa que tivera com ele, poucas horas
antes de tudo acontecer.
Horas antes...
Luna olhava para Vlad como se tentasse entender o motivo dele ter a
levado até o seu quarto, e lhe entregado uma arma.
―O que significa isso? – Luna perguntou confusa ao olhar para a arma
em sua mão.
―Sabe atirar?
―Um pouco – murmurou – Vou precisar matar alguém agora?
―Isso é para defesa, Lune – disse sério ao retirar um colar do bolso de
sua calça – e isso é para que todos escutem.
―Escutar o que? Sobre o que está falando?
― Estou falando sobre Hack. Deseja se vingar dele, não? Essa é a sua
chance. Ele pediu para que Luca a levasse até ele, e você irá, mas não como ele
pensa. Já falei com algumas pessoas, e a polícia irá prendê-lo.
―Luca? Luca está lhe traindo? Como assim?
Vlad suspirou ao encará-la com desprezo.
―Luca está infiltrado. Hack será preso por plantar provas para lhe
incriminar do assassinato e por tudo que você o fizer confessar quando estiver
com ele. Entendeu?
Ela assentiu ainda hipnotizada pela arma prateada em sua mão.
―Eu vou poder mata-lo?
―Não, quero que ele sofra por partes, e perca tudo o que tanto deseja. O
plano é simples, consegue fazer direito? – ela assentiu decidida – Excelente. –
Vlad comentou ao olhar para a mulher a sua frente e perceber o quanto ela
poderia se tornar perigosa. Alguém que não tem medo de segurar uma arma e
atirar, é interessante. Pensou antes de tirar a arma de sua mão, e beijá-la.
Atualmente...
―Isso é bom – sussurrou ao pegar o copo com dificuldade e beber lentamente.
―E vocês estão bem – disse ao observar o semblante e a reação de Luna.
―Vocês? Do que está falando? – indagou ao olhar para ele desinteressada. A dor
em seu ombro começava a incomodar, lentamente. – Como chamo a enfermeira?
―Está com dor? – a voz fria de Vlad não a fazia sentir nada. Ela assentiu e ele
apenas apontou para um botão ao lado da cama dela – Basta apertar o botão. –
Luna apertou o botão e o encarou como se esperasse que ele falasse algo.
―Então Vlad, o que deseja?
―Como?
―Uma pessoa como você jamais iria ficar ao lado de alguém como eu no
hospital. O que deseja, Vlad?
―Interessante que não tem medo de mim.
―Não tenho motivos para ter, se quisesse me matar já teria feito. E então? –
insistiu.
―Não percebeu nada diferente em seu corpo? – ela o encarou por alguns
segundos antes de negar – Deveria, pois está grávida.
―Grá... vida – ela repetiu como se tivesse recebido a sua sentença de morte. –
Isso não é possível. Não pode acontecer. – falou aterrorizada. – Deve ser algum
engano.
―Não é – sua voz calma apenas a deixava pior.
A respiração de Luna começava a torna-se pesada e difícil. Ela não queria
acreditar no que estava a sua frente. A sua mão foi em direção a sua, própria,
barriga e a apertou com desprezo.
―Eu não posso... - murmurou – Você tem como resolver isso. Sei que deve
conhecer médicos, talvez seu irmão possa fazer algo.
Vlad olhou o desespero crescer em Luna, e divertiu-se com isso.
―Resolver? Está carregando o meu filho – argumentou com frieza – e espera
que eu deixe abortá-lo?
―Como pode saber que é seu? – perguntou temerosa – eu fui estuprada. Pode
muito bem ser daquele homem.
―É meu – disse com firmeza – O médico disse que tem poucas semanas.
Luna não conseguia encarar Vlad ao sentir as lágrimas caírem pela sua face.
―Eu não posso... – sussurrou em desespero – Eu não posso passar por isso.
―Do que está falando? – Ao escutar a pergunta de Vlad, ela levantou a cabeça,
encarando-a.
―Quando estava... com eles, engravidei uma vez e não foi agradável –
confessou – eles me batiam todos os dias até que eu perdi o bebê. E acha que
eles ficaram satisfeitos? Continuaram me agredindo de todas as formas por dias.
― E?
―Não vou carregar uma criança, Vlad, se não me ajudar, eu mesma acabarei
com isso.
―E como pretende fazer isso?
―Sempre posso me jogar de alguma escada, passar fome ou tomar algum
remédio. – Vlad nada disse ao se aproximar da cama, e segurar o seu rosto,
forçando-a a olhar para ele.
―Mas não fará nada disso, porque vocês são meus. – e antes que ela falasse
algo, colou os seus lábios sobre os dela.

CAPITULO 40
Luna não havia ficado sozinha por um segundo desde que havia dado entrada no
hospital. Sempre Vlad ia encontrá-la e quando não o fazia, Luca permanecia ao
seu lado. Tudo a sufocava e a amedrontava.
―Não poderá continuar dessa forma – Luca disse em um final de tarde ao vê-la
no soro, pois se recusava a comer. – Se sacrificar para perder um filho, é justo?
Luna o olhou de forma entristecida antes de suspirar.
―Se ele aceitasse e tirasse essa criança de dentro de mim, eu não passaria por
isso. Ele está sendo egoísta, então porque eu não posso ser também?
Luca não conseguia discutir com Luna. A notícia dela estar gravida não havia
mexido tanto quanto imaginara. Ele se viu feliz ao imaginar uma miniatura dela.
Uma criança que ele poderia cuidar e proteger.
―Ele deseja ter o seu filho nos braços, apenas isso – falou com calma ao olhar
para a mulher enfraquecida na cama a sua frente – Por que insiste tanto nisso?
―Porque eu sou fraca, Luca. Não vou aguentar outro sofrimento – confessou
com a voz baixa.
―Do que está falando? – indagou ao se aproximar da cama e tocar em sua mão.
Uma mão fria e fraca.
Ela está definhando por temer ter um filho.
Luca suspirou ao perceber o seu silencio. Ele havia percebido o quanto a notícia
de ser pai havia mexido com Vlad Galli. O assustador chefe da máfia agora
passava o seu tempo buscando textos na internet sobre gravidez, enquanto a mãe
do filho dele renegava a gravidez.
Luna fechou os olhos ao pensar em suas opções, e percebera tristemente que
eram poucas.
Se eu fugir desse quarto poderia encontrar alguém para tirá-lo de mim, mas e
depois? Hack ainda está solto, Vlad irá me caçar e tenho certeza que irá fazer
algo por ter fugido dele. O que eu deveria fazer? Questionou-se confusa ao
imaginar o quão simples a sua vida estaria se não houvesse se envolvido com
Hack e Vlad.
Luca não havia se dado por vencido. Ele não a deixaria definhar por algo como
um filho. Ele a ajudaria.
―Está realmente decidida a não ter esse filho, certo? – indagou sério ao encará-
la, e não demorou para Luna confirmar após encará-lo. – Se me contar o motivo
de temer tanto isso, eu posso lhe ajudar.
―Se escutar e mesmo assim continuar não concordando?
―Sempre podemos entrar em um acordo.
Luna deixou um sorriso fraco escapar de seus lábios. Ela não era burra para não
perceber a manipulação do mafioso.
―Deseja tanto assim um herdeiro para a máfia? Essa criança não passará de um
bastardo que sofrerá nas mãos dos inimigos do seu chefe. Tem consciência
disso? Essa criança não vai representar ou significar nada para o seu chefe ou
para a família dele. Sempre será um estorvo e um estranho. Luca, na vida não
podemos ter tudo o que queremos, sabia? – falou com o olhar vazio.
―Conte-me o motivo de temer dar à luz a ele – pediu mais uma vez.
Luna suspirou cansada. Ela não aguentava mais viver aquela vida. Seu desejo era
se afastar de todos os mafiosos e seguir com a sua vida. Uma vida que havia sido
roubada pela máfia ucraniana.
―Não irá adiantar.
―Confie em mim.
―Não tenho motivos para confiar – revelou fria ao encará-lo – Não confio em
ninguém mais, Luca.
O mafioso não sabia mais o que fazer se resignou a silenciar-se. Luca
permaneceu a olhando até escutar a porta ser aberta.
―Deixe-nos a sós – Vlad ordenou a Luca sem olhar para ele. Seus olhos
permaneciam na mulher pálida a sua frente, deitada na cama e que mesmo assim
possuía uma expressão determinada na face.
Sem nada a falar, Luca se retirou com a curiosidade estampada na face.
―Então está sendo teimosa – Vlad falou sério ao cruzar os braços em frente ao
seu corpo e encará-la – Não gosto de deixar o meu trabalho de lado para ser
babá, Lune.
―Não me recordo de ter lhe pedido para vir aqui – o desafiou sem vontade – O
que quer?
―Tenho que querer algo para vir atrás da mãe do meu filho?
―Sim, já que seu filho não existirá - semicerrou os olhos – Se já esclarecemos
isso, pode sair?
Luna sabia que Vlad estava com raiva no instante em que ele xingou em italiano.
―Estou tentando ser paciente – Vlad falou após respirar profundamente – Mas
está difícil. Vamos fazer um acordo então. Se me contar o motivo de sua aversão
posso considerar aceitar o seu pedido.
―E o que o levará a aceitar ou não?
―O motivo. Sou um bandido justo no fim das contas.
Luna o olhou incrédula com o acordo. Ela sabia que ele estava mentindo.
―E se estiver mentindo? O que irá me garantir que fará o que diz? – Vlad
suspirou. A sua paciência começava a se esgotar. Retirou uma arma que levava
em suas costas e estendeu para ela.
―Pode atirar em mim então – falou sério de tal forma que a fez hesitar. – Pegue
– sua voz saiu mais alta do que da última fez. Luna apenas assentiu ao estender a
mão e segurar a arma com cautela – Agora sua vez.
―Vocês, mafiosos, são patéticos – sussurrou para si mesma sem encará-lo – Eu
não posso ter esse filho, Vlad. Não quero que ele sofra o quanto eu sofri. Não
desejo vê-lo como um bastardo sendo usada pela sua família, enquanto esperam
por um filho legitimo. Não posso deixar que ele veja esse mundo podre,
consegue entender isso? Você não teve uma infância difícil e nem sofreu em sua
vida, como eu sei? A única marca que possuí em sua alma é o seu modo frio de
ser, e isso não é nada pelo que ele passará se nascer. E nada me garante que
vocês não farão o mesmo que eles fizeram comigo. Hoje você deseja essa
criança, mas amanhã esse mesmo desejo pode deixar de existir. Se eu permitir
que ele nasça, não vou poder deixa-lo ser um brinquedo em suas mãos.
Compreende a contradição? Ele não precisa existir, Vlad. O que está sentindo
agora é apenas... curiosidade. Se pensar com clareza verá que isso tudo não é
necessário. Um dia sua família irá encontrar alguém para se casar com você, de
outra máfia provavelmente, e poderá ter quantos filhos quiser, então me deixe
seguir com a minha vida – pediu pôr fim ao depositar a arma em cima da cama, e
encará-lo com os olhos marejados – Estou pedindo para que me deixe livre.
―Você era livre antes disso, mas agora será impossível – respondeu friamente –
Entendo o seu receio, mas ele é meu filho. Ele faz parte da família Galli, e isso
não poderá ser alterado.
―A única coisa que escuto é egoísmo. Pense em mim como uma pessoa e não
um objeto.
―Se eu estivesse te considerando como um objeto, neste momento estaria presa
no quarto com médicos a sua disposição. Os homens em frente ao seu quarto é
para a sua segurança.
―Quem escutar isso pode pensar que está preocupado comigo, de verdade –
sorriu levemente sem perceber – Eu não posso dar à luz a essa criança.
―Seu argumento não foi suficiente para me convencer, apenas demonstrou que
teme os mafiosos.
―Eu temo o futuro dele – gritou angustiada – como posso lhe entregar uma
criança sabendo pelo que passará? Eu não seria humana se fizesse isso.
―Me entregar? Sou alguma instituição para órfãos? Você irá cuidar dele.
O olhar de Luna demonstrava a sua confusão. Ela sabia que máfia como a de
Vlad, as mulheres eram descartadas como lixo após darem a luz aos filhos deles.
―O que está tramando, Galli?
―A única que não entendeu desde o início foi você – tornou ao cruzar os braços
em frente ao corpo – Não vou criar uma criança sozinho, Lune, você estará ao
meu lado. – e então um sorriso sádico preencheu os seus lábios.
Esse demônio está esperando que eu aceite isso? Luna pensou nervosa, Se eu
atirar nele, os seguranças entram aqui e me matam. O que eu posso fazer?
―Não irei entrar para a máfia, se é isso que insinua.
―O que prefere então?
―Ficarmos longe um do outro – respondeu com calma.
―Isso não é possível. Preciso ir embora, mas logo retornarei para continuarmos
com a nossa conversa – sem falar mais nada, se aproximou da cama e pegou a
arma. Luna ainda sentia a presença nefasta dele no quarto após a sua saída.
***
―E então chefe? – Luca perguntou esperançoso no momento em que Vlad se
afastou do quarto de Luna – Conseguiu convencê-la? – Vlad apenas negou em
silêncio – Então a deixaremos fazer o que quer?
―Não, pense em alguma coisa. Ela não pode tirar essa criança – Para qualquer
pessoa que escutasse a voz de Vlad acharia que fora uma ordem comum e banal,
mas Luca sabia que não. Ele conseguia sentir o desespero na voz de seu chefe.
Porque o chefe está tão desesperado por essa criança? Se viu indagando curioso
quando algo passou pela sua mente. Ele poderia estar apaixonado por ela?
―Chefe, você... – hesitou com receio do que poderia acontecer consigo – Sente
algo por ela? – indagou sentindo medo diante da expressão de seu chefe. Vlad
conseguia expressar raiva e descontrole. – É.. Uma curiosidade, chefe –
gaguejou inconsciente ao dar um passo para trás.
―É o meu consigliere, apenas isso, Luca. Nunca se esqueça de seu papel na
família – falou áspero ao dar as costas a Luca e seguir a passos largos para a
saída.
―Acho que cometi um erro – Luca murmurou ao coçar a cabeça.
***
Em uma área afastada do centro da cidade, Hack mantinha a sua expressão
calma na face ao segurar o seu cigarro, entretanto o medo lhe corroía. Ele
percebera tarde demais que perdera tudo pelo que havia lutado por anos. Vlad
havia lhe tirado tudo.
Eu preciso pegá-lo para ter a minha vida novamente. Aquele desgraçado se
acha importante demais e esperto o suficiente para me pegar, mas vou mostrar a
ele que não é. A única forma de pegá-lo será acabar com cada um de seus
aliados. Deveria começar matando aquela vadia.
A mente de Hack agia com rapidez, Judi mantinha-se a distância o estudando.
Ela sabia o quão abalado o policial ficara ao perceber que estava sendo caçado
pela polícia, e aquela era a sua chance para poder entrega-lo a Vlad e conseguir
clemencia.
―Vai ser fácil – Judi sussurrou ao sorrir.
***
Luca permaneceu parado olhando o médico de Luna afastar-se, e com ele a sua
última esperança de conseguir fazê-la mudar de ideia.
―Espero que dê certo – murmurou.
O médico esboçou o sorriso mais sincero que conseguiu ao entrar no quarto de
Luna. Olhou para a mulher frágil na cama e segurou-se para não falar nada que a
fizesse mudar de ideia sobre ele.
―Vejo que está ficando mais pálida – o médico falou simpático diante do olhar
apático dela – Gostaria de andar um pouco pelo hospital? Irá lhe fazer bem. Eu
posso acompanha-la se quiser.
Luna sabia que algo estava errado, mas aceitou por estar cansada de ficar
naquele quarto que ainda possuía o cheiro de Vlad. Ela aguardou que uma
enfermeira lhe trouxesse uma cadeira de rodas e após se acomodar, se viu sendo
guiada pelo médico até o elevador.
―Irei te levar para o melhor andar do hospital – revelou sorridente assim que as
portas se fecharam. Em poucos instantes as portas se abriram e ele a guiou por
um silencioso andar até parar em frente ao berçário. Eles se encontravam na ala
da maternidade. – Eu adoro esse lugar é sempre calmo e repleto de esperança. –
revelou pensativo ao olhar para os bebês do outro lado do vidro – O que eu
realmente gosto é de perceber que a cada nova vida, eles acabam tendo uma
nova chance para mudar o mundo. Para viver. Você deve estar com medo, certo?
Esse é o seu primeiro filho? – Luna apenas assentiu ao tentar desviar a sua
atenção do berçário – Minha esposa também ficou com medo da primeira vez,
mas agora temos três – o seu olhar orgulhoso e feliz não passou despercebido
para ela.
―Nem todos podem ter uma vida normal como a sua – acabou falando sentindo
as lagrimas virem aos seus olhos – Eu quero voltar para o quarto.
O médico suspirou antes de se ajoelhar em frente a ela.
―Todos aqui sabem o que o Senhor Galli faz da vida, mas acho que isso não
deveria impedi-la de dar uma chance a essa criança. Não é segredo que ele é o
pai também – esclareceu diante do olhar dela – Ele foi o único que veio com
você e permaneceu ao seu lado por todo o tempo. E mesmo quando está
dormindo, já o vi em seu quarto. Ele parece estar preocupado.
―Não deveria tirar conclusões precipitadas – murmurou já chorando – Ele não
está preocupado.
O médico nada falou ao se levantar e depositar a mão em seu ombro, lhe
confortando. Luna continuou a chorar por alguns minutos até ser levada para o
seu quarto.

CAPITULO 41
Os passos apressados do assassino pela empresa de Vlad não passou
despercebido para nenhum dos funcionários. Todos olhavam perplexos para o
homem com expressão aterrorizada na face, enquanto ele andava o mais rápido
que conseguia em direção ao escritório de seu chefe. A respiração ofegante de
Tony denotava o seu desespero assim como o brilho de temor em seus olhos. Ele
estava desesperado.
Pela primeira vez um dos mafiosos apareciam no escritório de Vlad sem avisá-
lo, e sem ao menos esperar ser anunciado pela sua secretaria.
―O que significa isso? – Vlad indagou sem transparecer nenhuma emoção no
instante em que Tony adentrou ofegante – O que aconteceu?
―Ela fugiu – disse rapidamente e não demorou para perceber a raiva do seu
chefe. Vlad levantou-se abruptamente e seguiu até onde Tony mantinha-se
parado. Sem hesitar socou a face de seu segurança – A culpa foi minha, chefe.
Sinto muito – desculpou-se constrangido por ter errado em uma missão.
―Como aconteceu?
―Ela disse que ia caminhar um pouco pelo hospital. Ela estava acompanhada
por um médico, mas depois fomos procura-la, e ela tinha desaparecido. Ninguém
sabe nada.
Tony sentiu um medo que jamais havia sentido antes ao ver o olhar sanguinário
de Vlad. Aparentando uma calma que não sentia, Vlad se dirigiu até a porta de
sua sala e saiu sem dizer nada ou encarar alguém. A raiva transbordava pelos
seus poros e como se acendesse uma luz vermelha em cima de sua cabeça, todos
percebiam o perigo que ele representava apenas em olhar para ele. Ninguém
ousou parar Vlad Galli.
―Ela acha mesmo que irá conseguir fugir de mim? – falou consigo mesmo ao
entrar no elevador – Tudo na vida tem consequências, Lune.
****
Luna não conseguia acreditar no que havia feito. Ela mantinha-se parada ainda
tentando controlar a sua respiração. Há exatamente uma hora havia fugido do
hospital, roubado uma roupa de um quarto no andar térreo, e agora se encontrava
escondida em um beco longe do hospital.
A minha sorte foi Tony não ter me seguido quando o médico me levou até a
maternidade. Agora que estou livre da máfia, o que posso fazer da minha vida?
Pegou-se pensando ao acariciar a sua barriga.
Ela odiava admitir, mas não havia pensado com diligencia quando fugira do
hospital. O seu único objetivo era afastar-se o máximo possível da máfia e do
Galli. No fundo, não pretendia perder mais um filho e muito menos entrega-lo
para alguém como Vlad Galli. O seu único pensamento após a conversa com o
médico foi fugir de tudo.
―Se ele me encontrar vai me matar – percebeu com um sorriso doentio na face.
***
Em pouco tempo, todos os traficantes já sabiam sobre Luna e a recompensa que
Vlad Galli prometera para quem a encontrasse e a levasse até ele sem nenhum
arranhão. Uma corrida havia começa na podre cidade. Todos caçavam Luna com
o único objetivo em mente: chantagear Galli e receber o dinheiro da recompensa.
Luna ainda mantinha-se escondida no beco, mas agora a fome se instalara. Ela
sabia do perigo que corria, mas já havia fugido e o que lhe restava a fazer era
desaparecer daquela cidade.
―Como posso sair? – se perguntou ao perceber o obvio. – Se ele estiver atrás de
mim, os bandidos também estarão, preciso permanecer em áreas seguras com
policiamento.
Iludida com o seu pensamento fantasioso, decidiu sair do beco e seguir para a
parte da cidade mais segura. Ela ainda precisava ir para o seu antigo apartamento
pegar as suas coisas antes de desaparecer.
Esgueirou-se pela rua sempre com a cabeça baixa, agradecendo aos céus pela
roupa que havia roubado ser um vestido longo e solto que escondia o seu corpo.
Com o cabelo ajudando a esconder o seu rosto, ela seguiu por um longo percurso
até perceber estar próxima a uma delegacia. Seus olhos percorreram o local com
cuidado, receosa de encontrar-se com Hack que agora fugia da polícia.
―Cretino. Teve o que merecia por tentar me usar – murmurou aliviada ao
perceber que no instante em que desaparecesse Vlad iria direcionar toda a sua
raiva e frustração na caçada do policial – Cada recebe o que merece – abaixou a
cabeça mais uma vez antes de continuar a sua caminhada. Ela ainda tinha um
longo caminho até chegar em casa.
***
O silencio no restaurante localizado no centro da cidade, conseguia ser acentuar
o medo nos olhos do secretário de segurança, o qual encontrava-se sentado em
frente a Vlad Galli. O secretário possuía um pouco mais de quarenta anos, seus
cabelos brancos denunciavam o estresse de sua carreira assim como os seus
olhos cansados, mas nada do que já havia visto no mundo lhe aterrorizava mais
do que o homem a sua frente. Ele já havia presenciado uma das torturas feitas
por Vlad e a única certeza que tivera, era que optaria pela morte ao invés de ser
torturado. Ele havia ficado surpreso com o telefonema do mafioso querendo lhe
encontrar naquela tarde.
―O que posso fazer por você, Senhor Galli? – o secretário disse respeitoso e
com cautela, pois o homem a sua frente era responsável por dois terço de sua,
exorbitante, renda. – Alguma coisa aconteceu?
―Preciso que os policiais fiquem de olho em uma pessoa. Vigilância no
aeroporto também.
―Algum rival tentando escapar?
―Não – negou com um sorriso perturbador – Uma mulher que acha que pode
escapar de mim.
―Tem alguma foto? – seu único desejo era se afastar o mais rápido de Vlad,
pois já vira aquela mesmo olhar quando o mafioso havia torturado o homem que
o trairá.
―Luca irá lhe enviar por e-mail – falou displicente ao olhar em volta. O
restaurante encontrava-se vazio – Sabe que se eu não encontra-la, alguém irá
sofrer no lugar, não é? E eu odiaria que fosse você, afinal já fez serviços tão
inestimáveis para a minha família que seria uma verdadeira lastima perde-lo – o
olhar doentio ainda mantinha-se no semblante de Vlad.
―Ela não vai conseguir fugir, eu garanto – disse o que veio à cabeça sentindo
suas pernas tremulas.
―Eu espero.
***
Um erro e tudo estaria acabado. Luna sabia disso, mas ainda assim permaneceu
firme. A sua única salvação seria encontrar alguém com poder e influência que
pudesse ajuda-la.
―Acho que pode dar certo – murmurou consigo mesma ao atravessar uma rua e
parar em frente à sua casa. Continuou parada por alguns minutos até perceber
que não havia ninguém a esperando – Eles são idiotas – vangloriou-se ao seguir
para a casa de uma vizinha, onde mantinha uma cópia de sua chave. Pegou a
chave e seguiu para o apartamento. Subiu alguns lances de escada antes de abrir
uma porta e deparar-se com o seu lar. Tudo estava no mesmo lugar de antes.
Suspirou fortemente, antes de ir para o seu quarto e pegar a mochila que havia
preparado muito tempo atrás caso precisasse fugir. Antes de sair, não olhou para
trás. Ela estava disposta a seguir em frente com o seu filho.
Afastou-se o mais rápido que conseguiu daquele bairro, a única coisa que
precisava fazer era seguir até o único local que Vlad não teria influência antes
dele a capturar.
***
Luca sorriu largamente ao enviar a mensagem para o seu chefe. Enfim alguém
havia avistado Luna. Ele não conseguira acreditar quando fora informado sobre a
fuga dela, mas se sentira aliviado ao imaginá-lo longe daquela vida, entretanto
nada poderia salvá-la da ira de Vlad, e quanto mais rápido ela fosse encontrada,
melhor seria.
Nós a achamos.
***
―Vamos ver quem consegue vence: a lebre ou a raposa – Vlad sorriu ao ler a
mensagem de Luca com o endereço onde Luna havia sido avistada. Entrou em
seu carro e dirigiu o mais rápido que conseguiu. Ele sabia que nada do que Luna
fazia era espontâneo. Ela tinha um plano, a única coisa que ele faria seria pegá-la
antes. Ao se aproximar do local, sorriu ao avistá-la a poucos metros de si,
entretanto percebeu que algo estava errado no momento em que ela parou em
frente a um edifício. Ela havia procurado pela embaixada. – Droga! – acelerou o
carro parando em frente à embaixada espanhola no momento em que ela entrara.

CAPITULO 42
O clima da sala em que havia sido colocada fez Luna se retrair ao olhar em
volta. Aquela era a sua primeira vez em uma embaixada e seria a sua única
chance de sair viva daquele país. Ela mantinha-se sentada na cadeira em que fora
indicada, próxima a janela. Havia uma mesa no centro da sala e um telefone em
cima. Apenas isso. Não havia nada pessoal naquela sala. Nada que deixasse a
pessoa relaxada, pelo contrário. A sensação que crescia no interior de Luna era
de angustia, ansiedade e medo.
―Senhorita Vega – uma voz autoritária e masculina fez Luna se levantar abrupta
e olhar para o homem que a encarava friamente – Sou Jose Juarez, o responsável
por essa embaixada – apresentou-se ao observá-la minuciosamente – Li seus
documentos e ao que parece está tudo em dia. No que podemos lhe ajudar?
Luna engoliu em seco antes de pensar no que diria. Aquela seria a sua única
chance.
―Preciso de asilo.
―Deseja retornar para a Espanha? – indagou confuso ao encará-la.
―Preciso ir para qualquer lugar.
―E do que está fugindo, senhorita? – indagou ao sentar-se em uma das cadeiras
próxima a mesa – Acredito que eu deva ter consciência que não posso auxiliar
em sua fuga caso esteja fugindo da polícia. Nós apenas ajudamos quando há
risco de vida. Existe algo assim?
Luna olhou para o homem a sua frente tentando transparecer calma quando seu
interior agitava-se. Ela não poderia ir para a Espanha, pois Vlad saberia onde
encontrá-la.
―Ouvi falar que estão de olho na Ucrânia – sorriu diante da expressão curiosa
do homem – Posso dar informações valiosas se conseguir ir para algum país em
sigilo.
―Está me oferecendo informações sobre um país em troca de um tipo de
proteção a testemunha?
―Informações sobre máfia, drogas, tráfico sexual. Imaginei que gostariam de
saber.
―Isso é alguma piada? – exaltou-se ao se levantar – Não estou aqui para brincar.
Irei chamar os seguranças.
―Anton, conhecido como Carrasco. Ele é o líder ou chefe da máfia Ucraniana.
Posso dizer o nome de vários subordinados dele, se isso for lhe convencer.
Jose parou para pensar por um segundo. Ele sabia que nenhum civil comum
poderia ter conhecimento do nome real do carrasco. Poucos sabiam sobre o seu
apelido.
―Preciso conversar com meus superiores.
―Não tenho pressa. – declarou sorridente.
***
Vlad ainda mantinha-se em frente à embaixada da Espanha com o semblante
fechado. Os dedos da mão esquerda mantinham-se ao seu lado como se
esperassem alguma ordem ou milagre.
Luca não conseguia mais conter a sua impaciência. Aproximou-se de Vlad e
indagou qual seria o próximo passo a seguir.
―Se eu soubesse não estaria aqui parado – respondeu sem vontade ao cruzar os
braços em frente ao seu corpo, enquanto pensava – Algum de vocês devem
conhecer alguém daquela embaixada – disse esperando que algum dos seus
homens concordassem, o que demorou dois minutos até Cosimo se pronunciar.
―Na verdade, eu conheço uma secretária – Cosimo revelou após pensar – Não
sei se ela será útil.
―Ela será – Vlad murmurou com um sorriso estranho ao ir até Cosimo – Preciso
que fale com ela e que a traga aqui fora. – Cosimo assentiu ao pegar o seu
aparelho telefônico. Discou um número falando rapidamente em seguida,
desligou minutos depois.
―Ela já está saindo.
―Luca pegue a maleta que está no porta malas do carro – Vlad ordenou sério e
logo o seu consigliere lhe entregou uma mala preta. Os minutos se arrastaram até
uma mulher com semblante austero sair da embaixada e olhar em direção a eles.
***
Já haviam se passado horas desde que Jose deixara a sala na embaixada. Ela não
havia recebido nenhuma resposta ainda e o medo começava a lhe preencher.
Aquela era a sua única chance de escapar de Vlad.
Ele não tem como vir até mim. Eu tenho como fugir, só preciso que eles
acreditem em mim. Apenas isso.
Se levantou antes de escutar batidas na porta. Uma mulher lhe sorria
afetuosamente.
―O senhor Juarez me enviou. Um carro está lhe esperando para lhe enviar até o
aeroporto.
―Para onde irei?
―Parece que para Suécia – afirmou sorrindo calmamente – Eles aceitaram em
lhe fornecer asilo político.
―E quando as informações?
―Provavelmente irá gravar e escrever tudo o que sabe no voo. Não se preocupe,
Senhorita Vega. – lhe entregou um copo sorrindo – É café, espero que goste.
Luna não conseguiu descrever a calmaria que sentiu ao escutar as palavras da
mulher. Ela enfim havia conseguido a sua inestimada liberdade, e agora poderia
seguir em frente e cuidar de seu filho.
É difícil de acreditar que sou livre finalmente.
Pensou ao caminhar ao lado da mulher em direção ao estacionamento. A mulher
abriu a porta de um dos carros e sorriu para Luna.
―Pode entrar. O motorista a levará para o aeroporto ou deseja que eu vá com
vocês? – tornou solicita com um sorriso.
Luna negou com um aceno de mão. Ela não queria compartilhar a sua liberdade
com ninguém naquele momento. O sentimento de felicidade lhe preenchia igual
na noite em que fora libertada pelo seu salvador. Sentimento idêntico quando
descobriu que estava livre da máfia ucraniana.
As luzes e o som da máquina hospitalar foram as primeiras coisas que Luna
estranhou ao abrir os olhos. Ela ainda sentia a dor do tiro em seu corpo, mas
saber que se encontrava em um hospital lhe era reconfortante, pois significava
que não estava mais nas mãos da máfia ucraniana. Nenhuma das cadelas –
assim que eram chamadas – eram levadas a hospital quando se machucavam.
Elas não tinham valor algum para eles.
―Vejo que enfim acordou – uma voz gentil. A mesma voz que fazia Luna chorar
lhe chamou a atenção. O seu salvador sorria ao entrar no quarto com um
distintivo pendurado no pescoço e uma arma na cintura. Tudo a olhos vistos –
Acho que eu deveria me apresentar corretamente. Meu nome é Agente Lorman,
sou do FBI. Eu estava infiltrado na máfia ucraniana auxiliando a CIA e a
Interpol. E você é?
―Luna... – disse com a voz chorosa – Luna Veja.
―É um prazer conhece-la finalmente – puxou uma cadeira e sentou-se próximo
a cama – Agora devemos falar o que é conveniente. Eu lhe acho uma guerreira e
uma sobrevivente por ter sobrevivido a aquela vida por tanto tempo. Tenho uma
oferta a lhe fazer, assim como disse que iria lhe tirar de lá, estou afirmando que
posso lhe enviar para qualquer país em segurança. A única coisa que desejo em
troca são poucas informações.
―Se eu contar... eles não conseguirão mais me pegar?
―Nunca mais – a assegurou – Eu ficarei a cargo de você. Não poderia intervir
em nada diretamente após você entrar em algum país, mas qualquer coisa que
envolva a máfia ucraniana eu poderia me envolver. Se eles aparecessem, posso
acabar com todos – sorriu levemente.
―E o que desejam saber?
―Soubemos que alguns políticos tem se envolvido com o carrasco. Precisamos
que você os identifique através de fotos, e nomes se tiver, apenas isso.
―Não querem saber mais nada? – ele negou sorridente – Isso não é nada perto
do que eu sei – confessou com o olhar perdido. Eu era um cão para Anton, por
isso sei tudo sobre eles. Tudo que eles falavam, eu escutava.
―Eu sei, mas se disser qualquer coisa a mais não poderia lhe proteger. Eles vão
querer que testemunhe. E tenho certeza que o carrasco tem muitos aliados.
Luna assentiu tristemente.
―Eu aceito – respondeu por fim ao encará-lo.
Luna escutou o barulho do carro ser ligado, o som da garagem ser aberta e por
fim viu o brilho do sol. O carro seguiu com calma em direção ao aeroporto.
―Me pergunto como você deve estar Agente Lorman – murmurou antes beber
um pouco do café e em poucos instantes sentir o seu corpo pesado não
demorando para fechar os olhos.
***
Um odor diferente fez com que Luna abrisse os olhos vagarosamente, não
demorando para o pânico transparecer em seus olhos. Ela havia retornado para a
casa de Vlad, para o quarto dele, e o mafioso sorria em sua frente. Sorria
vitorioso como se estivesse se vangloriando de tudo.
―Isso é um pesadelo – falou languida ainda sentindo o efeito do remédio que
havia sido colocado em sua bebida – Isso... não é real.
―Sou bastante real, Lune. E agora poderemos discutir o nosso futuro.
Um grito escapou da jovem ao perceber a sua cruel realidade. Jamais conseguiria
escapar de Vlad Galli.
***
Hack não conseguia mais esconder toda a sua raiva e frustração para Judi, a qual
mantinha-se afastada dele. Ambos encontravam-se sentados em uma rua repleta
de drogados. Uma rua em que nenhum policial se atreveria a ir.
―Eu vou acabar com eles – Hack falou com os olhos sombrios ao olhar para
Judi – e você o que vai fazer?
―Acabar com qualquer um que atrapalhe a minha vida – respondeu omitindo
que Hack era o primeiro da lista. Ela tinha certeza que se acabasse com ele
receberia o perdão de Galli.

CAPITULO 43
A mente de Luna trabalhava com rapidez ao olhar para o quarto de Vlad. Ela
buscava por algo que pudesse usar contra o mafioso. Ela permanecia sentada sob
a cama, enquanto temia pela sua vida.
Ela ansiava viver. Esse era o seu maior desejo.
Ele quer esse filho. Não irei morrer até essa criança nascer. Pensou ao encará-
lo. Vlad não era o mesmo. Seus olhos agora possuíam olheiras, seus cabelos
encontravam-se bagunçados e sua roupa amassada. Ele não era o mafioso de
quem havia fugido.
―Se vai me matar, faça rápido – Luna falou atrevida para testá-lo segurando o
sorriso presunçoso ao vê-lo negar em silêncio ao se aproximar dela, e sentar-se
na cama. Ela não esperava por nada mais que não fosse grosseria, entretanto ele
tocou o seu rosto com delicadeza – O que. Está fazendo?
―Foi bem difícil pegá-la – disse com a voz baixa ao observar cada expressão
em sua face e em seguida olhar para a sua barriga – Você não abortou, não é?
―Nem teria tempo – respondeu fria. A verdade era que Luna não queria desistir
de seu filho, o seu único desejo era manter-se afastada da máfia. Ela não queria
sofrer e nem que seu filho sofresse. – Vlad porque não me deixou livre? Esse é o
meu único desejo.
―Não com o meu filho. – se levantou afastando-se dela – Fui um homem
paciente com você, Lune, bastante paciente, mas já chega. Não irá fugir com
meu filho.
―Não irei entrega-lo a você – anunciou – prefiro morrer com ele a vê-lo ser um
mafioso e arrancado de mim.
Vlad suspirou ao pegar algo no bolso de sua calça e jogar em direção a Luna. A
expressão de Luna modificou-se de inexpressiva para aterrorizada ao ver uma
caixa em cima da cama. Uma pequena caixa de veludo.
―Eu... não irei me casar com você – falou trêmula ao se levantar da cama – Eu
não serei mais uma escrava para máfia. – Vlad apenas a olhou, enquanto tentava
se controlar.
―Não será uma escrava. Será a minha esposa.
―E quando disse que queria algo assim? – gritou desesperada. Ela só queria
fugir daquela vida. – A vida de máfia apenas trás o que há de pior, Vlad. Não
quero participar de algo assim nunca mais.
―Quer que eu saia dessa vida? – sorriu ao encará-la.
―Nunca disse algo assim, eu que não desejo participar de nada disso.
―Eu não deixarei meu filho crescer sem mim, e a partir de hoje é minha mulher,
Lune. Querendo ou não essa é a nossa realidade.
―Você me sequestra, me droga e espera que eu concorde com isso? Nunca,
Vlad. Hack não é mais um perigo para mim e sei que não posso entrar em
nenhuma embaixada sem que eu seja sequestrada por você. Mas não espere que
eu aceite isso.
―Isso não é a máfia ucraniana. Eu não sou Anton. Já lhe disse que não será uma
escrava, mas não acredita nisso.
―E como acha que eu deveria me portar em uma situação como essa? Uma
situação esdrúxula, por sinal. Eu deveria me ajoelhar e agradecer por me tornar a
sua mulher? – sorriu sem vontade ao cruzar os braços em frente ao seu corpo –
Isso aqui não é um filme, Vlad. Não sou a mulher ingênua que aceita tudo por
teme-lo ou por não ter para onde ir. Não sou quem você pensa, e já fiz coisas
mais cruéis e podres do que pode imaginar. Como espera que alguém como eu
seja sua mulher? Não tens vergonha? Será a vergonha de toda a sua família – o
alertou sorrindo com escarnio – Vlad, o homem que fode com escravas
ucranianas e ainda a engravida. Você colocou o seu filho em uma pilha de nada,
Vlad. É isso que deseja que falem de você?
Vlad não esboçou nenhuma emoção ao responder.
―O que importa ser uma vadia ucraniana? Você está carregando o meu filho,
nada disso importa.
―Não seja hipócrita.
―Não estou sendo, Lune, a única que está sendo é você. Está com medo do que
irá escutar.
―Você também deveria, pois assim que eles descobrirem que estou aqui irão vir
atrás de mim, e nem a sua família poderá impedi-los.
―Anton não me assusta. Posso lidar com um verme como ele – assegurou com
frieza – E diz tanto sobre podridão, mas não sabe o que é realmente ser sujo.
Sabe o que é ser sujo, Lune? É matar um irmão por ele estar disposto a denunciar
a sua família. Matá-lo friamente e dolorosamente, enquanto escuta os seus gritos
e pedidos de clemencia. Isso é ser sujo. Nada do que fez a tornou suja, você fez
tudo para sobreviver, e isso é o correto.
Luna permaneceu estática ao olhar para Vlad. Ela não conseguia acreditar no
que acontecera.
―Você matou realmente o seu irmão? – perguntou com a voz baixa ao se
aproximar dele.
―Sim, a minha família não perdoa traidores, não importando quem eles sejam.
―Quantos... anos tinha?
―Isso é importante?
―Sim, é – garantiu ao parar próxima ao corpo dele – Eu...
―15 anos.
―E.... porque logo você?
―Todos os filhos precisam matar alguém que os traiu. E eu apenas tive o azar de
matar o meu irmão – tornou com frieza ao receber um abraço de Luna.
―A sua família é louca – murmurou próxima ao ouvido de Vlad.
―Não tanto quanto eu me tornei por causa deles – respondeu sem perceber.
―Irá me matar se eu não concordar?
―Não, você não será morta, mas ainda assim permanecerá ao meu lado.
―Como uma escrava.
―Não, como a mulher de Vlad Galli – a corrigiu ao afastá-la de si – Não tem
outra saída. Estou lhe dando a chance de ser livre como a minha esposa ou ser a
minha prisioneira como minha mulher. Estou sendo gentil em lhe dar opções.
Mais cedo ou mais tarde irá concordar – deu de ombros ao ir para a porta –
ficará trancada em meu quarto por um tempo. Luca deverá vir lhe fazer
companhia. Aproveite, mas não fique animada porque já retirei tudo que possa
lhe machucar – avisou antes de sair e trancá-la.
―Isso é uma loucura... essa família é doente assim como ele. Droga! - Luna
deixou-se cair na cama derrotada. A sua única chance havia culminado em sua
derrota. – Agora não escaparei mais dele – percebeu com as lagrimas em seus
olhos ao acariciar a sua barriga.
***
―Como ela está? – Luca indagou assim que avistou Vlad saindo do quarto – Ela
está machucada? Está sentindo algo?
―Ela está bem, Luca – lhe ergueu uma chave – Deixe-a trancada nesse quarto
até que ela mude de ideia.
―E se ela nunca mudar?
―Ela terá uma torre – gracejou diante da situação ridícula em que havia se
metido. Vlad tinha consciência que muitas mulheres desejariam estar no lugar de
Luna, e que ironicamente a única mulher que conseguirá prendê-lo, o odiava. A
contragosto recordou-se da conversa que tivera com Tony, minutos atrás.
―O que acontecerá com ela, chefe? – Tony indagou no
momento em que apenas os dois permaneceram no quarto com
Luna adormecida. – Irá matá-la depois que o seu filho nascer?
―Não – negou friamente. – Na família Galli não existe criança
sem mãe.
―Mas chefe, todos da família podem quere-la morta. É uma
grande decisão.
―Não para mim. Ela ficará ao meu lado, viva e criando o nosso
filho.
―Cuidará dela para que nada aconteça, estamos entendidos, Luca? – Vlad
ordenou sério.
―Sim, chefe.
―Enquanto isso, irei caçar dois animais – sorriu cruelmente ao recordar-se de
Hack. – Uma caçada é ótima para animar.
***
Judi remexeu-me inquieta. Fazia dois dias em que ela e Hack mantinham-se
parados junto com alguns sem tetos fora da cidade. Ela tinha consciência que o
seu tempo estava acabando e que a qualquer momento Vlad iria ataca-los, e ela
precisava fazer a única coisa que sabia: trair. Mexeu em sua roupa ao se levantar
e ir até Hack, o qual mantinha-se o mais afastado do grupo com um cigarro na
boca.
―Hack, o que vamos fazer agora? – Judi indagou ao tocar em seu ombro
recebendo como resposta um resmungo – Não podemos continuar fugindo sem
proposito.
―E quem disse que não tem? – sorriu de forma doentia – Ele virá até nós, e
somente então poderei mata-lo. O desgraçado que me tirou tudo irá morrer pelas
minhas mãos.
Judi assentiu sem conseguir falar mais nada. Ela teria que entrega-lo o mais
rápido possível, pois a sua vida dependia disso.
―Hack, vou dar uma olhada em volta – o avisou antes de afastar-se. Judi
caminhou por alguns minutos até ter certeza que não havia sido seguida. Retirou
um aparelho velho do bolso de seu casaco e o ligou. Em poucos instantes
completava a ligação que poderia salvá-la. – Sou eu, Judi – disse sorrindo ao
escutar a voz de Cosimo – Eu tenho uma oferta para Galli. A minha vida pelo
Hack. – escutou a gargalhada do mafioso do outro lado da linha e mesmo assim
permaneceu firme – diga que estou com Hack e em troca da minha vida o
entregarei. É simples. Fale com ele. – disse antes de desligar. Ela somente teria
que esperar. – Essa é a minha única carta na manga.
***
Vlad sorriu largamente ao olhar para o computador no qual Cosimo mostrava a
localização de Judi.
―Foi mais rápido do que imaginei – Vlad sorriu ao olhar para o mapa no
computador.
―Eu jamais terei pensado em rastrear esse número. Qualquer pessoa teria
jogado fora – Cosimo falou consigo mesmo pensativo. Ele não conseguia
entender como Vlad sempre estava um passo à frente de todos.
―Alguém como Judi iria tentar barganhar – respondeu ao suspirar – agora vem
a parte mais divertida. Chame Tony e lhe avise que temos um animal para pegar.
****
Luca abriu a porta do quarto de Vlad com receio do que iria encontrar, mas se
surpreendeu ao ver Luna sentada na cama. Trancou a porta atrás de si, antes de
sentar-se ao lado dela.
―A família de Vlad é tão doente quanto eu imagino? – Luna se viu perguntando
após segundos de silencio.
―Talvez até mais – admitiu.
―Ele matou o próprio irmão?
Luca se surpreendeu ao ver que Vlad havia compartilhado uma parte de sua vida
com Luna.
―Ele não era o irmão de sangue dos Galli. O jovem que Vlad matou morava
com ele desde pequeno. Eles eram mais como primos do que irmãos, se formos
analisar a arvore genealógica. Ele nunca gostou da máfia, mas acabou sendo
obrigado a conviver com os Galli depois que os seus pais fugirem do país. Ele
odiava as drogas, a promiscuidade, o dinheiro sujo, a corrupção, e não demorou
para encontrar muitos segredos da família Galli. Ele estava disposto a enviar
todos para a prisão. Ele foi pego e Vlad foi o escolhido pela família para tortura-
lo e o matar.
―Isso é crueldade. Ele era uma criança.
―Izac matou aos 12 anos. Talvez isso explique a sua insanidade.
―12? Isso é alguma brincadeira? – Luca negou polidamente – como uma
criança pode ser capaz de matar alguém?
―Ele achou uma arma e brincou de roleta russa com outras pessoas. Ele tem
sorte, mas infelizmente não podemos falar a mesma coisa da pessoa que acabou
morta.
―Os Galli são doentes. Não posso aceitar o pedido de Galli. – disse cansada –
não posso deixar o meu filho crescer assim.
―Vlad quase nunca vê a sua família – Luca confidenciou após pensar – As
únicas pessoas que ele vê são seus irmãos. Vlad jamais deixará que o seu filho
sofra o que ele sofreu, Luna. Dê uma chance a ele e poderá descobrir um outro
lado dele.
Luna apenas assentiu, afinal ela não tinha outra opção. Em algum momento ela
acabaria cedendo para Vlad Galli.

CAPITULO 44
O sorriso perverso e demoníaco na face de Vlad sempre ocasionava calafrios em
Tony, o qual não conseguia entender o motivo do chefe sentir prazer em torturar,
mas ele tinha consciência que não poderia, jamais, ir contra Vlad, pois isso seria
a sua morte. Eles haviam saído da casa de Vlad fazia uma hora e agora
permaneciam próximo ao local em que Judi havia sido rastreada. Faltava pouco
para pegá-la e dar início ao plano cruel de Vlad.
Galli não havia deixado ninguém mais ir com eles alegando que a diversão seria
maior com uma caçada mais justa. Tony fez uma careta ao se recordar e
estacionar o carro em frente a uma rua afastada e repleta de sem teto.
―É aqui – Tony disse com calma ao pegar a sua arma e olhar para Vlad, o qual
mantinha-se impassível ao seu lado – Devemos sair?
―Ainda não. Quero me divertir com o desespero dela – anunciou ao retirar o
celular do bolso e discar o número de Judi. Não demorou para ser atendido e
pelo tom de sua voz percebera o pânico de ser pega por Hack – General ou
deveria chama-la apenas de Judi? – questionou irônico antes de sorrir perante o
silencio dela – Deveria ser mais amigável comigo, afinal liguei para aceitar o seu
acordo. A sua vida por Hack, não foi isso? Quero que ele venha hoje à noite até
mim. Estarei lhe esperando em frente a duas quadras dessa rua em que está. Não
sou paciente, sabe? – falou desligando em seguida.
―Tem certeza, chefe? Vai deixa-la livre mesmo?
―Claro que não vou, Tony. Odeio traidores, mas odeio ainda mais pessoas que
se acham mais inteligentes do que eu – sorriu perverso – Vamos esperar alguns
minutos e vigiá-la. Quando for a hora certa vamos pegá-la e enviá-la como um
presente para Izac. Ele adora desafios.
Tony assentiu em silencio antes de voltar a sua atenção para o exterior. Ele não
se sentia bem em situações como aquela, em que a mulher seria entregue para
uma rede de tráfico sexual, mas não havia nada a se fazer.
Quando se traí a máfia já deve saber que o preço a pagar é alto demais.
***
Um suspiro cansado escapou dos lábios de Luca ao abrir a porta do quarto de
Vlad. Com uma mão segurava uma bandeja e com a outra abriu a porta
determinado a convencê-la a aceitar a casar-se com o seu chefe. Aquela seria a
única forma dela ter uma vida, relativamente, normal ao lado de seu filho.
No momento em que a porta abriu, ela correu em sua direção. Luna corria com o
olhar determinado e sem importar-se com Luca, o derrubou, tropeçando em
seguida. Recuperou-se rapidamente com o um único objetivo: escapar daquela
casa. Ela já estava próxima a porta quando alguém segurou em sua cintura,
carregando-a.
―Droga! – Luna deixou escapar ao se acalmar e perceber que Cosimo estava lhe
segurando com força – Imaginei que fosse um fraco e o único que poderia me
deter seria Tony – confessou ao ser solta por ele e encará-lo.
―Costumo enganar as pessoas – falou simplesmente ao segurar em seu braço
com delicadeza e a levar em direção ao quarto de Vlad. Assim que avistou Luca
agachado tentando arrumar a bagunça que havia sido feita, gargalhou – Nunca
imaginei Luca de joelhos, não assim. – sorriu ainda mais diante da expressão do
consigliere – Vamos – puxou Luna e a empurrou em direção a cama – Eu não
gosto de violência, Luna, e espero não precisar usá-la com você – disse antes de
sair do quarto, a deixando com Luca.
―É uma mulher corajosa – Luca a elogiou ao se erguer e a observar com cautela
– mas não conseguirá nada agindo dessa forma.
―Não serei uma prisioneira novamente.
―Ninguém está pedindo que seja uma – suspirou ao entrar no quarto e fechar a
porta, trancando-a – A única coisa que eu peço é que me escute, apenas isso.
―Isso já estou fazendo – retrucou sem vontade.
―Entendo todos os seus temores em relação ao seu filho e a Vlad – começou
direto ao falar ainda em pé, próximo a cama – Mas não acha que deveria dar
uma chance a ele? Ainda não o conhece como pessoa, apenas como o mafioso.
Pode fazer isso?
―Ele será a mesma pessoa. Tipos como ele não mudam – declarou com firmeza
com o olhar vazio.
―Vlad não é como a maioria dos homens mafiosos, ele até se denomina
gangster e sabe o motivo? – ela negou em silencio – Para ele, mafiosos não tem
escrúpulos e nem integridade moral, mas um gangster é mais violento e está
disposto a tudo para atingir seus objetivos.
―Não vejo diferença entre eles.
―Um gangster suja as suas mãos, defende os outros e realiza o que precisa fazer
sem que isso o faça perder qualquer moral ou integridade que tenha.
―Está me dizendo que ele tem alguma moral?
―Vlad esconde muita coisa para sua própria segurança e dos seus
companheiros, Luna. Tente enxergar por trás do que ele demonstra e poderá se
surpreender.
―Isso é ridículo.
―Apenas algumas semanas, talvez um mês. Se não gostar do que descobrir, eu
irei lhe ajudar a desaparecer com o seu filho.
―Isso é loucura. Você não pode querer traí-lo – murmurou pasma ao encará-lo –
pode acabar morto.
―Eu vou ser morto se traí-lo, mas quero que perceba que eu acredito nele.
―Sua lealdade acabará lhe matando algum dia – disse ao assentir em silencio –
Ok, vou fazer isso, Luca.
―Isso é ótimo, vou pegar alguma comida pra você, porque a que eu tinha não
presta mais – sorriu calmo ao se recordar da cena em que ela trombou com ele –
Vou deixar a porta destrancada, tudo bem? Temos uma promessa.
―Cumpro as minhas promessas.
Luca assentiu antes de ir para a porta, destrancá-la e sair.
―Onde estou me metendo – Luna sussurrou ao se deitar.
***
Judi caminhava nervosamente atrás de Hack. A única mentira em que havia
conseguido pensar para levar o tenente com ela foi que Vlad iria estar próximo
em uma negociação de drogas. E tolamente, Hack havia acreditado nela. A
expressão na face culpada de Judi conseguia entrega-la, mas Hack mantinha-se
ocupado demais em seus devaneios para perceber alguma coisa.
Falta pouco para conseguir a minha liberdade. Judi pensou com nervosismo ao
virar uma esquina atrás de Hack.
―Não deveria vir na minha frente? – Hack indagou após alguns minutos
caminhando e olhando em volta.
―Se eu fizer isso e alguém me ver, tudo estará acabado – respondeu firme como
aprendera com Vlad Galli. – O lugar é no prédio abandonado na cor azul –
mentiu ao avistar o local em que Vlad havia lhe falado – Ficarei aqui atrás
olhando e quando entrar, farei cobertura a você – mentiu novamente ao lhe
mostrar a sua arma. Hack a olhou demoradamente antes de sacar a sua arma e
seguir em frente.
Judi sorriu largamente ao se esconder onde falara a Hack, e apesar de estranhar a
tranquilidade do local, permaneceu parada à espera da captura do policial.
Entretanto, os segundos e minutos se arrastaram e nada era escutado.
―Que porra está acontecendo? – ela se perguntou sem perceber o vulto atrás de
si.
―Judi – a voz tenebrosa de Vlad sussurrou no ouvido da general, a qual sentiu-
se tremula e nervosa. – Fico feliz que tenha cumprido com a sua parte – sorriu ao
apontar uma arma para a cintura dela – Mas, o que posso fazer? Eu menti –
confessou sorridente ao pegar a arma dela e jogar longe – Agora vamos nos
divertir?
O grito que ela tanto desejava não saiu de seus lábios, apenas lagrimas caiam
pela sua face, pois tinha plena consciência que aquele era o seu fim. Ela
simplesmente fechou os olhos e esperou pela bala em seu corpo.
―Não será fácil assim – Vlad falou ao avistar Tony próximo a eles com o carro
– Entre no carro, Judi – a general abriu os olhos temerosa e seguiu para o carro
sem opção. Ao entrar sentou-se ao lado de Vlad.
―O que fará comigo? Não precisa me torturar, eu conto tudo.
―Sei que contará, mas não tenho a intensão de lhe torturar.
―O que fará?
―Você será um presente.
―Presente? – ela repetiu aturdida ao se recordar da única pessoa que fazia
demonstrar medo além de Vlad. Izac Galli. – Por favor, chefe, não me envie para
ele – implorou.
―Prefere ser tortura?
―Sim – admitiu sem hesitar.
Vlad apenas sorriu ao continuar apontando a arma para ela. Durante todo o
percurso, Vlad sorriu sem falar nada, enquanto Judi sentia tremores pelo seu
corpo.
O carro estacionou poucos minutos depois no porto. Tony segurou Judi pelo
braço, enquanto a puxava em direção a um navio mais afastado dos demais. Vlad
se divertia olhando tudo a distância.
Não demorou para Judi ser embarcada junto com outras mulheres, e logo ela
estaria sendo domada pelo seu irmão.
―Hora de voltar pra casa – Vlad comentou com Tony ao vê-lo retornar com
uma expressão pesada – Aconteceu algo?
―Chefe, eu não acho que tenha sido uma boa ideia.
―Entregá-la a Izac? – ele confirmou – Izac saberá cuidar dela e se eu a matasse
não seria divertido – deu de ombros ao retornar para o carro sendo acompanhado
por Tony.
***
Luna não soube dizer quando Vlad havia entrado na quarto, mas ao abrir os
olhos havia se deparado com ele, a olhando. Sem que se desse conta, ela o
observou atentamente antes de sentar-se na cama.
―Irei ficar aqui? – Luna perguntou com a voz calma, o que Vlad estranhou.
―Sim.
Ela assentiu ao olhar em volta sem saber o que dizer.
―A porta estava aberta – Vlad se viu falando ainda sentado na cadeira em frente
a Luna – Por qual motivo não fugiu?
Luna suspirou antes de responder, pois aquela seria a chance de mostrar a Luca
que mafiosos – ou gângsteres – não mudavam.
―Se quer tanto que eu seja a sua esposa, deveria ao menos conhece-lo. - Aquela
havia sido a primeira vez que Luna percebera surpresa no olhar do mafioso.
―E por onde quer começar? – ele indagou desviando o olhar, o que a fez sorrir
ligeiramente.
―O motivo de ter entrado para a máfia.
―Minha família é mafiosa, fui criado para ser mafioso e gostei desse mundo
sujo – disse com rapidez – E como foi da Espanha para a Ucrânia?
―Meu pai tinha conseguido um trabalho, mas ele acabou morrendo lá um pouco
depois da minha mãe se tornar viciada em cocaína ou qualquer coisa assim.
―Sua vez – Luna assentiu achando o comportamento dele demasiado estranho.
―Sua família, como é a relação entre vocês? – Vlad demorou alguns segundos
para responder.
―Cruel. Não posso abaixar a guarda, pois podem me matar. Só confio em meus
irmãos, e ninguém mais.
―Deve ser difícil – murmurou complacente com a situação.
―Já foi pior.
―O que aconteceu?
― Sempre há épocas sombrias, Lune. – se levantou abrupto e seguiu em direção
ao banheiro a deixando sozinha.
―Família fodidamente doente – sussurrou para si mesmo ao voltar a deitar-se.
***
Judi abriu os olhos sentindo-se atordoada. Sentia enjoo, provavelmente devido
ao remédio que fora obrigada a tomar ao entrar no navio, sua cabeça latejava e
tentava se encontrar algo que identificasse o lugar onde estava. O lugar
encontrava-se escuro, e com dificuldade, ela se levantou e começou a tatear o
local não demorando para perceber que estava trancada em algum tipo de caixa.
Sentou-se no chão pensando em alguma opção viável, mas em poucos instantes
o desespero tomou conta.
―Virei uma escrava sexual – murmurou chorosa para si mesma antes de escutar
um barulho no lado de fora. A claridade lhe incomodou no momento em que as
portas se abriram fazendo um barulho alto e incomodo. Com dificuldade, ela
abriu os olhos reconhecendo Izac.
―Vamos nos divertir, traidora – Izac sorriu perverso olhar para a sua mais nova
“cadela”.
***
O olhar de Hack corria pelo lugar em que Judi havia falado que iria ficar. Desde
o início ele sentira que algo não estava certo, mas apenas a seguiu. Vasculhou o
beco até encontrar a arma dela jogada em um canto.
―Ela foi pega – percebeu rapidamente antes de suspirar. – Ele está mais rápido
do que eu imaginei.

CAPITULO 45
O sorriso sombrio não desaparecia da face de Izac por mais que Judi o encarasse.
Ela havia sido levada para uma casa afastada com os olhos vendados, mãos
amarradas e amordaçada. Algo que Izac fez questão de fazer pessoalmente, tal
comportamento demonstrava a sua diversão em poder subjugar alguém como
Judi. Uma mulher que o odiava pelo seu trabalho.
Assim que tiraram a venda dos olhos de Judi, ela percebeu estar em algum tipo
de porão. Não havia janela, o local era escuro e a única iluminação vinha de uma
lâmpada acima de sua cabeça. Durante o tempo em que ficara na máfia aprendeu
a confiar em seus instintos, eles gritavam enlouquecidos sobre o perigo do lugar.
Por mais que ela quisesse não perceber ou ignorar, sentia o cheiro de sangue. Um
odor inesquecível assim como o de urina. Suas mãos ainda amarradas em frente
ao seu corpo a fazia sentir-se um objeto que esperava ser despedaçado.
―Gostou do lugar? – Izac indagou no instante em que viu Martha subir as
escadas deixando-o sozinho com Judi. Ele olhava para a mulher sentada no chão
a sua frente com extrema curiosidade e faminto. Não por ela, mas sim pelo seu
desespero. Ele ansiava loucamente pelo momento em que ela iria implorar para
ele parar com tudo. – Este lugar será o seu quarto por um tempo. Quer falar
algo? – indagou calmo ao se aproximar e retirar a mordaça.
―Você é um doente que terei o prazer de matar – Judi disse sincera ao olhar em
seus olhos tentando não se impressionar com a frieza deles.
―E como fará isso?
―Não importa, eu irei rir quando estiver morrendo em minha frente.
Izac sorriu largamente ao assentir e se afastar dela.
―Tenha uma boa noite, Judi – piscou ao subir as escadas e desligar a luz,
deixando-a ajoelhada no chão.
***
Martha não conseguia compreender o motivo de Izac estar animado em “domar”
uma mulher como Judi. Uma mulher que resplandecia problemas. Assim que
avistou Izac subir as escadas e trancar a porta, aproximou-se dele.
―Qual o motivo de estar fazendo isso? – Martha indagou com sua fria
expressão ao observar a expressão de seu chefe.
―Será divertido, não acha?
―Não – respondeu simplesmente ao cruzar os braços em frente ao seu corpo –
Sabe tão bem quanto eu o problema que ela trará, se conseguir escapar.
―Ninguém escapa, sabe muito bem disso – os olhos sombrios de Izac fez com
que Martha desse de ombros ao lhe dar as costas. Ela não estava pronta para
discutir com ele, pois para isto teria que se preparar com uma semana de
antecedência. Todos sabiam o quanto Izac poderia ser irritante ao se discutir
algum assunto ou ponto de vista dele ainda mais quando se tratava de seus
negócios.
―Como deveremos brincar amanhã? – Izac se perguntou sorrindo ao olhar para
a porta fechada.
***
Judi não conseguia compreender a quanto tempo estava presa no porão. Seus
lábios ficavam secos a cada minuto que se passava, suas mãos encontravam-se
dormentes presas em frente ao seu corpo, seus joelhos doíam e sua cabeça
latejava. Há muito tempo seu estomago havia parado de implorar por comida.
―Que droga! – Judi murmurou ao encolher o seu corpo ainda mais. Ela já havia
dormido e acordado inúmeras vezes desde que viu Izac. Um barulho a fez erguer
a cabeça algum tempo depois e assim que a luz parou de irritar os seus olhos
sentiu o estomago embrulhar ao vê-lo. Izac sorria vitorioso. – Veio ver a minha
morte? – a sua voz saiu mais baixo do que imaginara.
―Não, odeio ver moribundos – Izac sorriu ao se aproximar dela e sorrir – Posso
lhe trazer agua, o que acha?
―Em troca de que?
―Cooperação.
―Vlad já deve ter tudo o que deseja, não precisa de mim.
―De fato – concordou ao se ajoelhar em frente a ela – Se fizer o que eu disser
poderá comer e beber, o que acha?
Judi respirou fundo algumas vezes antes de sorrir.
―Vá se fuder, Izac. Você é um filho da puta.
Izac nada fez, apenas sorriu e se levantou.
―Mais tarde farei a mesma proposta, pense com cuidado. – Judi estremeceu ao
escutar os passos dele se afastar cada vez mais. Ela não sabia quanto tempo
aguentaria. Sentia seu corpo enfraquecer rapidamente e por estar sempre no
escuro não sabia dizer quantos dias haviam se passado.
―Eu vou aguentar – falou baixo ao fechar os olhos mais uma vez.
Judi não soube dizer quando o homem havia entrado no porão, ela apenas o
sentia chutá-la cada vez mais. E a cada chute a força aumentava. Judi se
protegeu como pôde, ficando em posição fetal. Seus gemidos aumentavam
gradativamente sem que ela percebesse até que lagrimas viessem aos seus olhos,
e foi neste momento que o homem parou de chutá-la.
―Deveria ter feito isso mais cedo – o homem falou sorrindo. Judi não
reconhecia o a sua voz. – O chefe virá daqui a pouco, seja mais amável – Judi
nada fez. Ela não tinha forças para lutar ou se proteger. – Não vai gritar? As
vadias sempre gritam e imploram por suas vidas. – Mas Judi se manteve em
silencio o máximo que conseguia. A cada chute o sentimento de fraqueza
apoderava-se de sua alma. Ela se sentia um nada.
―Já chega – Izac disse subitamente para o homem, o qual se afastou de Judi –
Pode sair. – Izac se aproximou de Judi e com gentileza tocou em seu rosto – Isso
é suficiente ou devo trazer fazer coisas piores? Estou pegando leve com você,
entenda isso, general.
―Me mate de uma vez.
―Não mato as mulheres, apenas as torno dóceis para os trabalhos.
Judi sentia dor por todo o seu corpo e ficava cada vez mais difícil se manter
acordada.
―Faça o que tiver que fazer, mas saiba que jamais irei sucumbir.
Izac assentiu ao se divertir. Ele esperava que ela dissesse isso. A cada instante ao
ver o sofrimento e a força de Judi divertia-se ainda mais. Ele dificilmente a
venderia, pelo menos não faria isso enquanto ela o divertisse daquela forma.
Meu irmãozinho meu deu um belo presente. Pensou ao olhar com cuidado para
Judi.
***
Luna não sabia o que acontecia com todos que permaneciam próximos a Vlad. Já
fazia dias que todos encontravam-se distantes e estranhos. Ela permanecia no
quarto de Vlad como se estivessem casados, e somente em pensar nessa hipótese
sentia um calafrio subir pela sua espinha. O sol começava a desaparecer no
horizonte quando Vlad entrou em seu quarto e olhou para Luna, a qual
permanecia sentada na cama lendo um livro.
―Como está? – Vlad indagou com sua fria expressão, entretanto o seu tom de
voz aparentava ser compassivo. Luna ergueu o olhar aparentando a confusão que
sentia.
―Nunca perguntou algo assim pra mim antes – disse sem perceber ao encará-lo
– O que está acontecendo?
―Não é uma pergunta estranha – Vlad respondeu ao retirar o paletó e jogá-lo no
chão. Pouco a pouco começou a se aproximar da cama, sentando-se em frente a
Luna. Tocou o seu rosto com delicadeza ignorando a face assustada de Luna –
Precisa comer.
Luna suspirou frustrada ao afastar a mão de Vlad de sua face. Ela sabia que ele
estava fazendo tudo aquilo pelo filho, mas apesar de ter aceitado dar uma chance
a ele ainda se sentia incomodada por ele ser da máfia.
―Estou comendo, Vlad. Não se preocupe – a sua voz sairá mais fria do que
realmente gostaria e quase se arrependeu ao ver o olhar dele. – Só estou dizendo
que...
―A única que queria me conhecer foi você – tornou ácido – não deveria colocar
um pouco mais de esforço, Lune?
―Não é tão simples – murmurou após suspirar – Se eu ficar com você, o meu
filho será um mafioso? – perguntou o que tanto lhe incomodava.
Vlad já imaginara que em algum momento ela iria lhe fazer essa pergunta e que
isso decidiria o futuro.
―Se ele quiser assim.
―Não vai força-lo? – perguntou estranhando.
―Não. Minha família já fez isso comigo, não tenho motivos para fazer o mesmo
com o meu filho.
―Não confio em você – revelou ao desviar os olhos.
―Eu sei – deu de ombros ao tocar no queixo de Luna, forçando-a a encará-lo –
Não estou querendo que confie em mim, mas que aceite ser minha mulher. A
mãe do meu filho. A minha companheira.
―Para ser tudo isso preciso confiar em você.
―Lune não pense demais – a aconselhou antes de beijá-la.
―Você tinha falado que entrou para a máfia por gostar, mas agora disse que sua
família te forçou – Luna falou após afastá-lo com gentileza – O que quer dizer?
O que é real?
A expressão na face de Vlad modificou-se por alguns segundos, tempo suficiente
para que ela percebesse que algo o incomodava.
―Preciso lhe conhecer, esqueceu? – disse ao perceber a hesitação dele. Algo que
ela jamais vira em Vlad Galli.
Vlad não gostava de comentar sobre a sua infância com outras pessoas. Ele não
suportava os olhares.
―A minha família é pertencente a duas famílias mafiosas, a Chevallier e a Galli.
Uma francesa e uma italiana. Desde pequenos somos testados para sermos os
melhores. Fui testado para ser cruel e invencível. Matar uma pessoa traidora não
foi a única coisa que tive que fazer, e muito menos meus irmãos. Todos
aceitaram os termos que os nossos pais falaram.
―Que termos são esses? – indagou com a voz baixa com receio do que
escutaria.
―Se não aceitássemos fazer algo não iriamos morrer, ou algo assim, apenas
seriamos vistos como fracos. E em uma família daquela ser fraca seria assinar a
sua sentença de morte.
―Isso é loucura – murmurou – eles são seus pais.
―E mafiosos. Muitos queriam acabar com eles quando descobriram que
estavam juntos e acha que as ameaças eram apenas voltadas para eles? Cada um
de nós viveu sendo ameaçados desde pequenos. Essa foi a forma que eles
conseguiram de lutar pela nossa sobrevivência. Aprendi a gostar da maldade,
Lune, assim como meus irmãos. Obviamente alguém sempre sofre mais.
―Então você entrou para a máfia para deixar seus pais orgulhosos?
―Não tenho um sentimento assim. Entrei porque queria fazer as outras pessoas
sofrerem.
Como você sofreu. Luna pensou ao olhar para o homem a sua frente. Ela não
conseguia acreditar que uma família poderia ser tão cruel quanto a dele.
―Talvez eu nunca confie em você – Luna confessou ao encará-lo – e mesmo
assim deseja alguém como eu ao seu lado?
―Você não é tão malvada ou suja quanto eu – disse simplesmente ao puxá-la
para perto de si. – Não me importo com o que foi apenas aceite que seu destino é
ficar ao meu lado agora – e após dizer isso a beijou demoradamente.
***
Um barulho fez Luna abrir os olhos e olhar para o outro lado da cama. Suspirou
ao se ver sozinha apesar de já estar se acostumando. Ergueu o lençol até o
pescoço com o intuito de esconder a sua nudez. Demorou alguns segundos para
compreender que o barulho que havia lhe acordado era o de alguém batendo na
porta.
―Entre – falou estranhando. A porta foi aberta segundos depois por uma jovem
que não aparentava ter mais que vinte e cinco anos. Os cabelos pretos
mantinham-se presos, o rosto delicado não passou despercebido por Luna. –
Quem é você? – aquela era a primeira vez em que a via.
Será uma nova amante dele? Indagou-se ao se sentir incomodada ao pensar
nesta opção.
―Meu nome é Tina, sou sua ajudante a partir de hoje – disse com sua voz baixa
– O senhor Galli me trouxe para lhe ajudar.
―Ajudar?
―Sim – assentiu de forma educada.
―Como ele... te encontrou? – um gosto amargo subiu em sua garganta ao
questionar a Tina.
―Sou um presente, Senhora Galli. Um presente do vosso cunhado, Izac Galli.
―Senhora Galli? Meu nome é Luna.
―O senhor Vlad Galli me deu ordens para lhe chamar assim – garantiu.
Luna sabia que ser chamada de Senhora Galli era uma clara declaração do seu
papel naquela casa.
O que ele pensa afinal? Acha que só por isso vou ceder?
Mas sem perceber se viu sorrindo levemente.
―O senhor Galli também me pediu para leva-la para ver o outro quarto.
―Quarto? – Tina assentiu ao abaixar a cabeça em seguida.
―Quando estiver pronta estarei aqui fora lhe esperando – disse antes de sair do
quarto e fechar a porta. Luna se levantou hesitante e se dirigiu para o banheiro,
não demorando para se arrumar em seguida. Ao abrir a porta, Tina a esperava em
pé em frente a porta.
―Vamos ver esse quarto – Luna murmurou ao seguir Tina até o quarto onde
costumava ficar. Tina não demorou para abrir a porta e dando espaço para Luna
passar. As lagrimas vieram aos olhos da jovem sem que ela percebesse. O quarto
onde dormia havia se transformado em um quarto de bebê. As paredes possuíam
uma cor clara e alguns moveis já decoravam o aposento.
―O senhor Galli quer que a senhora o encontre hoje para comprar o berço –
Tina revelou sorrindo levemente. – Luca irá leva-la.
Luna apenas assentiu. Ela não conseguia falar nada.
***
O superintendente da polícia sorriu ao ver Vlad entrar no restaurante. Ele havia
sido chamado para uma conversa amigável com o mafioso, o que aceitou
prontamente, pois Vlad já havia o ajudado antes.
Vlad Galli aprendera desde cedo o poder do dinheiro e ter alguém como o
superintendente de polícia aos seus pés era benéfico.
―Superintendente, é bom vê-lo – Vlad o cumprimentou assim que parou em
frente à mesa.
―Imagina, Senhor Galli, o prazer é meu em vê-lo. Como tem passado?
―Bem – fez um sinal para que o homem a sua frente se sentasse assim como ele
– Ando preocupado pelo policial que vivia me perseguindo não ter sido pego
ainda. Como está indo a investigação?
―Graças a sua gravação e testemunho conseguimos tirar um policial como ele
das ruas – o superintendente disse aliviado – mas infelizmente não temos tido
sorte. Há muitos policiais atrás dele, lhe prometo que iremos encontrá-lo.
―Eu espero, afinal é a minha segurança – sorriu escondendo a sua satisfação –
Peço que me digam quando encontra-lo.
―É claro senhor – afirmou rapidamente.
―Espero que esse incidente não seja noticiado, afinal basta um podre para que
todos apareçam, não é superintendente? – Vlad sorriu de forma maléfica ao ver a
palidez do homem a sua frente. Obviamente Vlad sabia o segredo do homem.
―Não será, tem a minha palavra.
―Excelente – falou e segundos depois o maitrê se aproximou de Vlad falando
próximo ao seu ouvido – Parece que nossa reunião será bem rápida. Tenho
coisas a fazer, até mais – disse sério ao se levantar da mesa e seguir para a saída.
Ajeitou o seu paletó antes de entrar no carro ao lado de Luna. Vlad ignorou o
sorriso na face de Luca. – Podemos ir. – Luca assentiu sorridente ao ligar o carro
seguindo em direção a loja para artigos de bebês.
―Tem certeza de que quer tudo isso mesmo? – Luna se viu perguntando ao
olhar para a janela – Um filho não é um brinquedo. Você não vai poder jogá-lo
fora quando perceber que não gosta ou que enjoou. Entende isso? Estou lhe
dando a chance para fazer a coisa certa. Basta em deixar ir embora com ele.
―Não sou uma criança, Lune. Sei muito bem que um filho não é um objeto. Sei
que é um ser humano e parte de mim. Ele ficará comigo até o final – a
assegurou.
Luna não queria se sentir daquela forma, mas se viu sendo tocada lentamente por
Vlad Galli.

CAPITULO 46
O antigo quarto de Luna havia se transformado em um quarto de bebê mais
rápido do que ela havia imaginado. O berço que comprara com Vlad encontrava-
se no centro do aposento tornando tudo mais real para ela. Luna não conseguia
se mover. Seu corpo se recusava a sair do quarto e seus olhos a piscarem, pois
temia que tudo fosse uma ilusão. Com lagrimas nos olhos levou a mão a barriga,
acariciando-a.
―Eu não sei se tudo isso irá durar ou se vamos ficar aqui por muito tempo, mas
esse quarto é acolhedor, não é? – perguntou ao olhar para a sua barriga. Ela
mantinha-se entretida a tal ponto que não percebeu a presença de Vlad atrás de
si. Somente quando ele tocou em seu ombro, assustando-a, ela se virou e o
encarou sem saber o que falar.
― Tony me falou que estaria aqui – disse como se explicasse a sua presença
naquele cômodo da casa – Gostou de como está ficando? Pelo que Tony falou
ainda precisa de mais moveis e coisas de bebê.
Luna não conseguiu fazer nada. Seus olhos permaneciam no homem a sua frente
sem conseguir acreditar que ele havia se preocupado com algo tão simples
assim. Ela imaginara que um homem com o dinheiro dele iria contratar alguém
para decorar o quarto, mas ele nunca mencionara algo assim.
―Você tem dinheiro, não tem Vlad? – Luna se viu perguntando para entender a
ação dele.
― Tenho, bastante na verdade – confessou ao observá-la atentamente – Onde
quer chegar com isso, Lune?
― A maioria das pessoas teria contratado alguém para decorar o quarto, mas
você não fez isso, e por qual motivo? – Vlad se viu desviando o olhar antes de
responder da forma mais controlado que conseguia.
― Não quero que a linhagem Galli Chevalier continue com ele.
― O que isso significa?
― Não deveria me perguntar tantas coisas – resmungou ao encará-la apesar de
fazer o possível para não olhar em seus olhos. Vlad não se sentia confortável ao
falar sobre os seus pensamentos mais profundos.
― Lembre-se que o único que deseja ficar comigo é você. Isso é o mínimo que
eu devo saber – comentou ao cruzar os braços em frente ao corpo e deu dois
passos para trás, gesto que não passou despercebido para o mafioso.
Um suspiro frustrado escapou dos lábios do mafioso trazendo uma expressão
surpresa na face da mulher.
― Minha família não é carinhosa, nunca foi e nunca será. Isso é algo que os
herdeiros da família nascem sabendo, é um fato imutável. Entretanto, crescemos
consciente das limitações e diferenças da nossa família para as outras normais.
― Não entendo onde quer chegar – O interrompeu hesitante.
― Eu vi a frieza da minha família e o que isso fez comigo e meus irmãos.
Sempre fico na dúvida se Dominic é o mais perturbado ou mais normal entre
nós. Estou dizendo que meu filho saberá desde pequeno o que é carinho, Lune.
Por isso preciso que ele tenha uma mãe.
― Está querendo que eu o crie sozinha mesmo morando com você?
―Não – negou veemente – Eu não sei, e não consigo, retribuir carinho. Não sei
lidar com coisas assim. Mas, quero que ele saiba. Eu quero uma família de
verdade para o meu filho.
Luna sentiu a sinceridade na voz do Galli, mas não sabia como reagir. Ela havia
sido programada, desde que conseguira fugir da máfia ucraniana, para não
confiar em ninguém e fugir de mafiosos como Galli, mas algo em seu olhar e em
sua linguagem corporal a fez acreditar nele.
― Se estiver mentindo...
―Eu não estou – a interrompeu – Pode perguntar a Izac ou Dominic. Eles
adoram falar pelo que passaram quando crianças, especialmente Izac.
― Eu sou tão quebrada quanto você – Luna se viu falando sem perceber – Não
acho que serei uma boa mãe, e ainda espera que eu consiga transmitir todos os
sentimentos que lhe foram negados em sua infância? Eu não estou gravida para
você se redimir de alguma forma com isso.
Vlad se viu fazendo algo que odiava. Segurou Luna pelo braço e a puxou para si,
abraçando-a, apesar de sua resistência inicial, ela se viu envolvendo a cintura
dele. Seu rosto mantinha-se no pescoço dele, aproveitou para sentir o seu aroma
que tanto a fascinava.
― Ao meu lado você é uma pessoa completamente normal, sem passado e sem
dores – ele disse próximo ao seu ouvido.
― Eu não posso apagar nada.
― Então esqueça – tornou sério - O único quebrado entre nós, sou eu. O único
sujo sempre serei eu, Lune. Seja a mãe do meu filho e a minha mulher, apenas
isso.
―Você não faz o tipo gentil, Galli – murmurou.
―Eu nunca disse que era. Sou violento, bruto e louco.
― Sim, você é – concordou ao segurar um sorriso – Está sendo assim pelo seu
filho, não é? Nunca imaginei que um mafioso fosse mudar por um filho – tentou
se afastar dele sem sucesso, pois ao perceber que ela queria se afastar, ele a
apertou mais contra o seu corpo – Preciso deitar, Vlad.
Sem dizer nada, ele se afastou, mas segundos depois acariciou o rosto dela.
― Você é minha agora. Não se esqueça disso – falou antes de se afastar.
―Seria difícil esquecer quando você me diz isso toda hora – Luna resmunga ao
ver as costas dele cada vez mais distantes – O que eu deveria fazer?
Com o pensamento tumultuado foi em direção ao quarto de Vlad, que agora
aparentava ser deles, e se deitou.
***
No instante em que Vlad sentou-se em sua cadeira, em seu escritório, o telefone
tocou e ao reconhecer o número franziu a testa antes de atender. Sempre que
Dominic entrava em contato algum problema não demorava para aparecer.
― Dominic, o que aconteceu? – perguntou sem rodeios tentando decifrar o
barulho que escutava.
― Irmão, sabe o quanto eu não gosto da máfia, não é? Estou cansado de tudo,
imagino que você também estaria nesse momento. Izac não iria se importar
tanto se eu ligasse pra ele, por isso optei por você. Eu vou sumir por um tempo.
―Do que está falando? Dominic você será tio, não deveria estar ao lado do seu
sobrinho?
―Tio? – perguntou animado –Eu realmente quero estar ai, mas não posso.
―O que está acontecendo? Qual é o problema?
―Não aguento mais a nossa família – disse sincero – Vou sumir um tempo. Vou
conhecer o meu sobrinho ou sobrinha. Seria divertido ver uma Galli com o seu
olhar aterrorizante e com a beleza da deusa do azar.
Vlad não disse apenas murmurou algo inaudível.
― Como posso lhe encontrar? – indagou minutos depois.
―Da mesma forma como sempre fizemos desde crianças – Vlad assentiu ao se
recordar do código que eles haviam elaborado quando crianças. Sempre que
algum deles sumia e precisava de ajuda colocavam alguma nota especifica no
jornal de maior circulação. Sempre em uma segunda-feira.
―Tome cuidado.
―Tomarei, mas não fale nada a família. Eu quero viver sozinho por um tempo.
―Não falarei – prometeu sério.
―E estou feliz por você, irmão. Sinceramente sempre achei que o seu sonho
fosse ter uma família. De todos nós, você foi o único que protegeu a nossa irmã
quando ela quis fugir com aquele cara. Você fez de tudo para ela ter uma vida
normal. Conte a ela. Ela ficará feliz em saber que está seguindo em frente, mas
cuidado. A máfia é perigosa para uma criança. Cuide da deusa do azar. Eu
gostei dela, irmão. Até mais – desligou sem escutar o que Vlad teria a falar.
―Sempre exagerado – Continuo olhando para o telefone imaginando o quão
louco deveriam estar os Gallis ao perceber que o médico da família havia
sumido – Não vai demorar para ele ser procurado. Mais uma coisa para fazer –
Vlad tinha consciência que ele era o único que poderia convencer a sua família a
deixar Dominic sozinho por um tempo. – Ele adora me envolver em problemas.
Demorou alguns minutos para sair do escritório e seguir para o quarto. Ele tinha
que retornar para a construtora, mas ao abrir a porta do quarto se deparou com
Luna adormecida. Não conseguiu evitar ao vê-la tão vulnerável foi até ela.
Sentou com cuidado na cama e com delicadeza acariciou o seu rosto, retirando
alguns fios que caiam em seu rosto, e não demorou para o seus olhos irem em
direção ao corpo dela e focar em sua barriga. Sem perceber o que fazia se viu
tocando sua barriga por cima da roupa.
―O que estou fazendo afinal? Estou ficando louco. É a única explicação. Sabia
que essa é a primeira vez que quero cuidar de alguém, como quero cuidar de sua
mãe? Isso é ridículo – bufou ao abaixar a sua voz - Não faça muita confusão ai
dentro, eu preciso de sua mãe saudável para mim. – Vlad continuou acariciando
a barriga de Luna levemente sem perceber que ela havia acordado a algum
tempo.
Que tipo de mafioso fala tão gentilmente de modo sombrio? Ela se perguntou ao
fazer o possível para que ele não percebesse que ela estava acordada.
***
Cosimo sorria satisfeito ao escolher alguns homens da máfia ao lado de Luca.
Todos os homens sorriam um para o outro ao descobrirem que enfim teriam um
alvo para ir atrás.
― Espero que o chefe esteja certo em atacar agora – Cosimo falou ao olhar em
volta.
― Ele sempre sabe o que faz – Luca o defendeu escondendo um sorriso. O
consigliere não conseguia conter a sua alegria ao ver o seu chefe tendo uma vida,
relativamente, normal. Espero que a criança seja parecida com a mãe. Se pegou
pensando ao sorrir.

CAPITULO 47
Luna sentia-se confortável ao sentir os braços de Vlad ao redor do seu corpo. Ela
não se recordava quando ele havia voltado após ter saído do quarto, mas não se
importava com isso. O corpo dele conseguia aconchegar-se perfeitamente ao
dela, lhe trazendo uma sensação calorosa. Acordada, ela abriu os olhos apenas
para sentir o aroma dele.
― Deveria dormir mais – a voz de Vlad soou calma ao seu lado.
― Não percebi que tinha lhe acordado – Luna desculpou-se ao tentar se afastar,
sem sucesso, pois Vlad mantinha a sua mão segurando fortemente a sua cintura.
– Na verdade não vi quando chegou – confessou ao olhar para o seu rosto. Vlad
fechou os seus olhos antes de virar o seu rosto e abrir os olhos, se deparando
com a expressão impassível de Luna.
― A partir de agora deve se acostumar.
― Com suas aparições repentinas?
― Comigo – disse simplesmente antes de beijá-la.
―Você não é assim, Vlad – Luna se viu falando no momento em que o beijo
cessou. – Você é bruto, grosso, não tem sentimentos e muito menos cuida das
pessoas.
―Talvez não me conheça tão bem – deu de ombros antes de fechar os olhos.
Ela sabia que ele estava tudo pelo filho, mas isso a irritava. A irritava saber que
ele estava mudando pela criança e não por ela.
Talvez eu seja egoísta. Qualquer pessoa estaria feliz no meu lugar, eu acho. Mas
simplesmente não consigo. Eu quero estar com alguém que goste de mim.
Pensou ao suspirar sem se dar conta que Vlad estudava a sua expressão
minuciosamente.
― Pensar que estou sendo gentil com você pela criança te incomoda? – Vlad
indagou friamente sem se surpreender com a expressão de Luna – Gângsteres
são bons com expressões faciais – explicou.
― Pareceu que leu a minha mente – murmurou após suspirar – Sim, me
incomoda. Fugi de uma máfia para viver livre, Vlad.
―Você será – a assegurou com sinceridade – Mas será a minha mulher, essa é a
única diferença.
― O que ser a sua mulher implica?
― Cuidar do meu filho, ficar comigo a noite.
―E o que mais?
― O resto eu não me importo.
― Como assim?
― Lune, poderá fazer o que deseja, contanto que tenha alguém para protege-la.
Não estou lhe prendendo e nem lhe transformando em uma escrava. Será livre
como a minha esposa. Como a senhora Galli.
― Você é louco – sussurrou para si mesma. Na mente de Luna a única coisa que
Vlad desejava era controla-la e a prender – Não vai querer que eu participe de
seus negócios? – indagou incrédula – Eu já entrei em seu mundo, esqueceu?
― Ser a minha esposa não significa ser uma mafiosa, Lune. Será uma esposa e
não uma bandida. – explicou com calma – Essa é a única dúvida que tens? – Ela
negou em silencio – Então pode perguntar, estou de bom humor.
―Matou quantos para estar de bom humor? – Luna perguntou acida sem
perceber e ao se dar conta do que fizera olhou para o mafioso esperando alguma
reação, a qual não apareceu.
―Não matei ninguém, mas irei caçar Hack – sorriu largamente ao esboçar um
sorriso cruel – Se quiser que eu faça algo com ele, essa é uma boa hora para
pedidos.
Por mais que Luna quisesse Hack morto, não conseguiu pensar em nada ou
sentir vontade de incentivar algum sofrimento no policial, pois, de certa forma,
era devido a Hack que ela seria mãe.
― Não tenho nada em mente – disse evasiva.
― Uma pena, seria divertido ver a expressão de medo quando mencionasse o
seu nome – sorriu ainda mais diabólico antes de sentir o toque de Luna em sua
face. – O que está fazendo?
― Lhe tocando – sua voz saiu mais calma do que sentia-se. A sensação da barba
rala de Vlad em sua mão a fazia querer tocá-lo ainda mais. A aspereza misturada
com a frieza dos seus olhos conseguia seduzi-la de alguma forma. Antes que se
arrepende-se, Luna beijou Vlad próximo aos lábios, em seguida acariciou o seu
rosto novamente e antes de continuar, sorriu ao sentir Vlad a puxar para cima
dele. Com extrema facilidade, ela se viu em cima dele. Observou todas as
nuances da face do mafioso tentando esconder o desejo que sentia por ele. Em
vão.
― Seus olhos não mentem – Vlad falou ao encará-la no mesmo momento em
que suas mãos acariciavam o corpo dela com calma. – Sempre vi o desejo em
seus olhos.
―Sempre? – sorriu ao tocar o tórax dele, arranhando-o levemente – Eu não
sentia desejo por você.
― Sentia – o sorriso convencido preencheu a face do mafioso fazendo com que
Luna se esquecesse de seus temores naquele momento. Ela o queria.
― Sempre soube quem eu era? – indagou a pergunta que tanto lhe consumia e o
viu responder com um aceno – Então porque se deitou comigo? Por qual motivo
não me matou? Eu era uma presa fácil para você.
― Gosto de aventura, Lune. Você me desafiava com os seus olhos, enquanto
tentava se mostrar submissa e acabar com o meu rival pelas minhas costas. Seria
difícil matar alguém interessante assim.
―É meio irritante saber que você sempre está a um passo à frente.
―Você se acostuma – deu de ombros ao passar a mão pelas costas dela e não
demorou para se beijarem ardentemente. Vlad já estava prestes a tirar toda a
roupa de Luna quando escutou batidas na porta – Luca? – escutou a voz do seu
consigliere e suspirou frustrado – Tenho trabalho a fazer – falou frustrado ao
tirar Luna de cima de si com delicadeza. Ele já estava saindo da cama quando
retornou e tocou em sua face – Farei valer a pena quando voltar – garantiu antes
de sair da cama e abrir a porta. – Está tudo pronto?
― Sim – Luca garantiu sorridente. Vlad revirou os olhos ao perceber a
felicidade de seu consigliere.
―Deveria ser mais discreto.
―É difícil, chefe – disse sincero ao olhar para Luna de soslaio antes de acenar
para ela e fechar a porta.
― Ser a mulher de um mafioso é frustrante – Luna se viu sussurrando ao fechar
os olhos.
***
Luca, Cosimo, Tony e Vlad mantinham-se em silencio no carro. A rua em que
estavam parados era conhecida pela sua violência exacerbada. Todos mantinham
suas armas na mão, mas apenas um deles possuía um olhar sádico. Vlad mal
conseguia conter a sua euforia ao pensar nos gritos de Hack.
Demorou alguns minutos para avistarem o seu alvo. Hack andava com a cabeça
baixa sempre consciente dos barulhos ao seu redor.
―Ele está ali – Vlad disse ao olhar para Hack a distância – Cosimo dirija com
cuidado. Tony você vai a pé, e o segura pelo pescoço. Entenderam? – Todos
assentiram. Tony saiu do carro o mais silencioso possível. Começou a caminhar
sem fazer um, único, barulho e quando viu o carro se aproximar de Hack
apressou o seu passo, mas percebeu que algo estava errado no instante em que
Hack se virou segurando uma arma.
―Achou mesmo que eu iria ser morto por um merda como você? – a voz do
tenente estridente fez Tony dar um passo para atrás. Ele já vira pessoas com
aquele olhar. Hack estava pronto para morrer e levar o máximo de pessoas
consigo.
―Só estou passando cara – Tony falou ao erguer as mãos. Viu a indecisão passar
pela face do tenente e agradeceu a rua ter pouca iluminação – Não quero
problemas.
―Acha que eu não sei que está com aquele desgraçado? – gritou ao engatilhar a
arma – Quero ver a expressão dele ao saber que seu capanga está morto.
Tony não expressava nada e ao ver Cosimo logo atrás de Hack, sorriu. Em
poucos segundos o policial jazia desmaiado no chão. Cosimo havia batido em
sua cabeça com a arma.
―Cara paranoico – Cosimo falou ao ver Hack no chão – Vamos leva-lo para o
galpão.
***
O barulho de risadas e de agua pingando foi a única coisa que Hack escutou ao
abrir os olhos apesar de sentir a sua cabeça latejar. O sangue escorria pela sua
face e somente então se deu conta que estava sentado em uma cadeira de
madeira com as mãos presas. Seus sapatos haviam sumido e uma poça de agua
mantinha seus pés sujos. O olhar de Hack ergueu-se lentamente tentando não
resmungar um impropério ao avistar Vlad sentado em sua frente. Vlad mantinha
um sorriso frio na face ao colocar suas luvas pretas. Olhou em volta constatando
que não conseguiria sair vivo, pois havia mais três homens armados.
― Vejo que a bela adormecida despertou – Vlad tornou ao cruzar as pernas –
Estive ansioso para esse emprego, Tenente Hack.
―Irei lhe matar, seu desgraçado – Hack falou raivoso.
―Isso seria interessante, mas sempre me perguntei o motivo de você me caçar
tão desesperadamente, e fiquei bem surpreso ao saber que me culpava pela morte
de sua esposa.
―Seu desgraçado é por sua culpa que essa cidade está tão podre.
―Minha? – indagou sonso – Como pode ser minha se quando cheguei aqui todo
mundo já estava imerso em podridão?
― A sua droga acabou com tudo.
―Butterfly é uma droga de liberdade. Não pode culpa-la por todos a usarem de
forma despreocupada. Eu criei uma droga que deixa todos felizes e leves para
voar, qual o problema com isso?
―Minha esposa morreu por culpa dessa maldita droga – disse ao tentar se soltar
da cadeira, sem sucesso.
―Imaginei que tivesse sido por sua culpa, afinal foi o único que não deu atenção
a sua esposa. Sou bom em conseguir informações ao contrário de você. Sabia
que ela se sentia solitária? Há rumores que ela tinha um caso, mas isso não é da
minha conta. – deu de ombros – Mas o que eu realmente quero compartilhar com
você é que a morte de sua esposa é unicamente sua culpa. O único que não
cuidou dela foi você, Hack e me culpar é baixo, não concorda? Você foi o único
obcecado com as drogas e agiu sem pensar nas consequências. Me admira que
tenha me culpado com tanto afinco. - curvou o seu corpo para a frente
demonstrando alegria – Sabe o que realmente me impressionou? Foi ter
colocado Luna dentro da minha casa. Foi muito esperto descobrindo o ponto
fraco de Luca. Estou curioso para saber como conseguiu. Como foi?
A raiva transbordava em Hack. Ele não conseguia acreditar na ousadia de Vlad
em culpa-lo pela morte de sua própria esposa.
―Seu cretino! Não foi minha culpa a minha esposa estar morta. A culpa é sua,
seu maldito.
―Não foi, Hack. Pense com cuidado. Eu nunca a encontrei. Quem a matou foi
um dos traficantes que você deixou escapar. Quem é o culpado? Você nem
sequer pensou em proteger a sua mulher. – ao ver a expressão de Hack sorriu
ainda mais – Não me culpe, Tenente. O único que não protegeu a sua mulher foi
você – ratificou – Veja, eu sou um mafioso, um monstro aos seus olhos, mas
protejo a minha mulher.
―Aquela vadia é sua mulher? – Hack gargalhou ainda mais ao perceber o olhar
raivoso do mafioso – Uma vadia ucraniana! Sabe tão bem, ou melhor, do que eu,
o que fazer com elas. Elas são tão usadas que não consigo entender como sente
alguma atração por ela. Uma mulher como ela é um lixo. Mas, parece que você é
bem baixo, Galli. Os dois se merecem.
― Eu poderia meter uma bala em você agora, mas a diferença entre nós é o
autocontrole, tenente – sorriu ao esboçar uma expressão maléfica – Não deveria
falar de forma tão deliberada de minha mulher.
―Um monstro como você demonstrando sentimentos? – gargalhou ainda mais –
Ela vai acabar com você. Sabe que mulheres como ela sempre acabam na mesma
vida, não é? Ela é uma vadia e sempre será. Assim como você é um monstro e
sempre será. Pode me matar, mas sempre ficará pensando se ela está dando pro
seu segurança. Ela é uma vadia, Galli e sempre será. Por qual motivo acha que
ela me traiu?
―Ela te odeia – disse calmo – O interessante é que já sei tudo sobre ela, Hack.
Soube mais que você. Sabia que se tivesse sido o seu aliado poderia ter prendido
Anton com facilidade? Ele parece ter um carinho especial por ela, já que ela sabe
bastante dos negócios dele. Você teria conseguido muita coisa com ela, mas
optou por usá-la contra mim. Me entregou de bandeja. Tão tolo.
―Seu filho da mãe!
―Burro – sorriu – Mas ainda não me disse como descobriu o segredo de Luca.
A fraqueza dele por mulheres indefesas.
―Fui o policial que cuidou do casa da irmã dele – Vlad assentiu como se fosse a
primeira vez que escutara aquilo, mas ele já sabia disso. – Quando vai me matar?
Estou cansado dos seus jogos.
―Gosto de conversar ainda mais com uma pessoa que me perseguiu durante
tanto tempo.
―O que mais quer saber, Vlad?
―Nada em especial.
―Como me descobriu tão rápido? – Hack indagou após pensar.
―Foi bem fácil – sorriu ainda mais ao pegar a arma no cós de sua calça – Sabe o
seu informante? Trabalha para mim assim como metade da policial. Foi divertido
brincar com você, mas tudo tem seu momento para acabar, não acha? Quando
colocou Lune em minha casa sabia que estava perdendo qualquer noção de bom
senso. Estava na hora de acabar com esse jogo, mas não queria simplesmente te
matar. Seria mais divertido se você sofresse um pouco. Andar como um bandido
deve ter sido bem cansativo, não é? – o viu desviar o olhar – Sou um homem
justo. Vou lhe matar após Tony lhe torturar.
Hack empalideceu. Em sua mente iria morrer rapidamente.
―Apenas mate-me. Não tenho nada que lhe interessa.
―Na verdade quero lhe ver sofrer por tudo que a fez passar. Sou um homem
justo, eu lhe disse. Por sua causa tive que entrega-la a Donnel, apenas para que
você fosse até ele. Não sou do tipo que gosta de compartilhar.
―Tudo sempre foi planejado por você?
―Sim, tudo nos mínimos detalhes – garantiu contente – O problema dos
policiais é não usar a estratégia. São todos tolos. Coloquei escutas e câmeras em
sua sala. Grampeei o seu telefone. Foi tão fácil que não teve a mínima graça.
―Sempre soube de tudo – murmurou desolado.
―Nos mínimos detalhes. – se levantou e deu o primeiro tiro na perna do policial
– Tony, faça-o sofrer bastante.
Tony assentiu ao pegar uma maleta repleta de instrumentos. Hack não sabia mais
o que sentir naquele momento, e a única certeza que tinha era de que iria morrer.

CAPITULO 48 - FINAL
Cosimo jogou o resto do cigarro no chão, pisando nele em seguida. O galpão
para onde Hack havia sido levado encontrava-se no mais repleto silencio. Do
lado de fora alguns homens vigiavam o local, e dentro apenas Tony mantinha-se
ocupado com o convidado deles: o tenente Hack. Se Cosimo fosse sincero
consigo mesmo, não saberia dizer o tempo que Tony passou torturando o policial
até ele se render e implorar pela morte. O único problema na situação consistia
que Tony não era benevolente, muito pelo contrário. Ele aparentava estar com
raiva de alguma coisa que ele desconhecia. Após suspirar, retornou para o
interior do galpão se deparando com Hack desmaiado e Tony sorrindo, a espera
que ele acordasse.
― Não conhecia esse seu lado. Sádico ao extremo – explicou ao caminhar até
Hack e perceber que ele ainda estava vivo – Pior que uma barata. Ele realmente
nunca irá morrer, mas qual o motivo de querer ver o sofrimento nele? É a
primeira vez que lhe vejo tão sedento por sangue.
Tony esperou alguns segundos antes de responder a Cosimo, pois sabia que suas
respostas seriam analisadas de forma fria pelo negociador.
― Ele quis brincar com o chefe.
― Como muitos bandidos – deu de ombros ao cruzar os braços em frente ao seu
corpo – O motivo é outro.
Tony tentou desviar o olhar com o intuito de pensar em alguma resposta, mas
não conseguiu. Suspirou frustrado ao encarar Cosimo.
― Não quero o filho do chefe sendo refém da máfia ucraniana por culpa de um
verme como ele – confessou, ficado sem jeito ao escutar a gargalhada de
Cosimo.
― Como se o chefe fosse deixar – murmurou ao escutar um grunhido de dor de
Hack – Acho que irá começar tudo de novo. Eu deveria ligar para o chefe? Ele
pode querer vir mata-lo.
― Ele me disse para acabar com Hack após saber tudo.
― Tudo o que? Não já sabemos de tudo?
― Não sobre a máfia ucraniana e o quanto eles sabem da senhora Galli –
Cosimo assentiu convencido, e sorriu ao olhar para Hack.
― Quanto mais rápido contar tudo, mais rápido irá morrer. Prometo.
Hack não conseguia sentir mais dor. Seus dedos sangravam assim como sua
boca. Ele não conseguia sentir mais nada que fazia dele um ser humano. O
cheiro de urina era forte. Em algum momento, alguns dentes foram arrancados
assim com unhas de seus dedos, e como se não bastasse, havia recebido diversos
choques e tapas. A única coisa que desejava era que acabassem com tudo e o
matasse.
― Eu não sei de nada – Hack murmurou com a cabeça baixa sentindo o gosto de
sangue.
― Não quero escutar isso – Tony falou sério – Quero escutar o que sabe sobre a
máfia ucraniana e como descobriu sobre Luna. São poucas coisas.
― Se eu contar, irá me matar? – Tony assentiu – Sem mais dor? – Ele tornou a
concordar – Tenho um amigo no FBI – disse lentamente – Ele me devia um
favor. Não foi difícil descobrir sobre ela. Depois que a encontrei na boate passei
a segui-la, e não demorou para descobrir tudo. A única coisa que sei sobre a
máfia ucraniana é que Anton parece ter – parou ao tossir – colocado uma
recompensa em Luna. Ele quer muita a vadia. Deveriam entrega-la – riu fraco –
Ela deve saber algo muito valioso.
Cosimo apenas escutou em silêncio. Ele já havia desconfiado que Luna sabia
algum segredo que colocava Anton em perigo, mas a sua dúvida se baseava no
que ela iria querer em troca para revelar a informação.
― Pode mata-lo – Cosimo falou ponderado – Ele não sabe mais nada. Depois
entregue o corpo dele aos policiais. Será divertido.
Tony concordou ao retirar uma arma de sua cintura e apontar para Hack, o qual
sorriu aliviado.
― Até o inferno – Tony falou antes de apertar o gatilho e ver o sangue de Hack
pelo chão – Vai ser trabalhoso limpar isso – disse ao guardar a arma.
―Quem sujou que limpe – Cosimo disse ao dar de ombros e seguir para a porta.
***
Vlad olhou para Luna adormecida em sua cama e sem fazer barulho caminhou
até ela, retirando a sua gravata e em seguida o seu paletó. Dominic já havia
explicado a ele, em uma ligação, que mulheres gravidas dormiam muito, mas ele
jamais pensara que seria daquela forma. Seus olhos capturaram cada momento
em que ela respirou mais profundamente ou se moveu. Sentou-se na poltrona
próxima a janela e permaneceu observando-a, pois essa era a única coisa que
poderia fazer. Ele não soube dizer o tempo que permaneceu a olhando até vê-la
abrir os olhos e encará-lo, confusa.
― Estava me vigiando? – Luna perguntou carrancuda ao se sentar na cama.
―Nom – disse em francês – Estava lhe observando. É diferente.
Luna sabia que Vlad não era daquela forma, não habitualmente, mas se viu
curiosa para ver até onde ele estava disposto a ir.
― E qual a diferença entre eles? – o provocou segurando o riso ao vê-lo desviar
o olhar. Ela já havia percebido que Vlad Galli sentia vergonha. Eram
pouquíssimas vezes, mas acontecia, e em todas, ele desviava o olhar por exatos
cinco segundos.
― Vigiar é estar esperando que fuja. E observar é vê-la dormindo.
― E qual a graça em me ver adormecida? – indaga ficando surpresa com o
sorriso malicioso dele – Já imagino – disse antes que ele pudesse falar algo. –
Estou ficando entediada de ficar no quarto o dia todo.
― Pode sair quando quiser – anunciou calma – Mas leve Fred consigo.
― Está dizendo que eu posso sair? – ele concordou – Mas eu não era sua
prisioneira até que aceitasse me casar com você?
― Você vai aceitar – disse confiante ao se levantar – Se não fosse aceitar já
estaria pensando em uma forma de fugir. Estou enganado, Lune?
Com raiva, Luna mordeu o lábio inferior com o objetivo de se conter. Ela não
queria falar nada que pudesse lhe colocar em problemas. Todavia, ela odiava
admitir que ele tinha razão. A cada segundo começava a se perguntar o motivo
de ser contra se casar com ele.
― Isso não importa de qualquer forma – desconversou – Mas você me ama ou
gosta de mim?
O olhar de Vlad era frio. Ele não esperava escutar uma pergunta desse tipo.
Esperou se sentar em frente a ela na cama para responder.
― O que é gostar e amar para você?
― Você não sabe? – indagou provocativa e o viu negar – Está brincando?
― O único sentimento que conheço é lealdade a minha família.
― Você é realmente complicado – percebeu ao olhar em seus olhos – Qual
sentimento tem por mim? De qualquer tipo.
― Isso é relevante?
― Se quiser que eu seja a sua mulher, sim é.
―Não tenho sentimentos por você – falou sério curioso para ver a sua
expressão, mas apenas avistou frieza.
― Então tudo bem eu ficar com outros homens?
― É claro que não – respondeu ultrajado.
― Na orgia em que me levou, qual foi o motivo real? – Vlad sorriu levemente ao
perceber o quanto a mulher a sua frente conseguia ser astuciosa.
―Ver sua expressão.
― Já sabia sobre mim?
― Já.
― Então por qual motivo não me deu para algum daqueles homens? Você teria
lucrado.
―Não gosto de dividir as minhas mulheres.
― Tem muitas?
―Não.
― Quantas levou a orgia como aquela? – Vlad desviou o olhar rapidamente
antes de responder.
―Nenhuma relevante. – Luna sorriu com a resposta.
Não é difícil entende-lo quando estamos a sós, pensou ao passar a mão pelos
seus cabelos.
― Se eu não estivesse grávida teria ido atrás de mim na embaixada?
― Provavelmente.
― Desde que fazemos sexo tem feito com outras pessoas?
Vlad a observou atentamente antes de responder.
―Não.
― Qual o motivo?
― Qual o objetivo de tantas perguntas? – indagou já ficando impaciente.
― Aceitar ser sua esposa.
―Não via graça. Você é manipuladora como eu, sedutora e uma sobrevivente. É
excitante estar com você – revelou ao tocar em seu rosto – E deseja estar com
outros homens após eu te possuir?
― Seria difícil – confessou ao encará-lo apreciando o carinho dele.
― As perguntas acabaram? - Ela negou – Então o que falta?
― Se eu for a sua esposa, irá me trair? Quando se cansar de mim, o que fará?
Ele enfim percebera a verdade. O único medo de Luna era de ser abandonada
como sempre havia sido desde criança.
― Nós, italianos, não traímos. Não em minha família – acrescentou – E não irei
me cansar de você.
―Como pode ter certeza?
― Porque eu sou Vlad Galli. Eu sei sobre meus pensamentos e ações. Não faço
nada sem ter certeza. E você, Lune, sabe sobre o que realmente deseja?
Ela assentiu em silêncio.
― Se eu ficar com você, não quero ser uma escrava para a sua família e nem
para você, quero ser livre para ir onde quiser, e criar o meu filho como desejar.
― Já disse que teria tudo isso.
Acompanhado de um largo suspiro, veio a resposta.
― Eu aceito. Serei a senhora Galli.
***
Dois anos depois
O som dos risos dos filhos de Vlad percorriam a casa. Luca corria de um lado
para o outro sorridente ao vê-los. Ninguém jamais imaginara que o primeiro
filho de Vlad seria uma menina tão doce ao ponto de conquista-lo rapidamente, e
o segundo filho havia sido um menino gentil. A família Galli havia tentado
manter contato com o objetivo de introduzir as crianças na família mafiosa, mas
recebera uma sonora negativa de Vlad. Ele afirmara que seus filhos iriam seguir
o caminho que desejassem. Apesar dos protestos das duas famílias, Chevallier e
a Galli, Vlad manteve a sua posição sendo apoiado pelo seu irmão, Izac,
enquanto Dominic havia desaparecido.
***
Luna se olhou no espelho do quarto ao arrumar o cabelo tentando não sorrir ao
sentir os braços de Vlad em sua cintura.
― Assim iremos nos atrasar para o teatro – ela argumentou ao sentir o beijo dele
em seu pescoço. O casamento que lhe dava medo havia se transformado em algo
comum. Vlad continuava sendo um mafioso, mas em casa se comportava como
um pai para os seus filhos e um marido para Luna. Aos poucos, ela conseguia
mostrar sentimentos humanos, comuns, para ele.
Luna havia demorado um pouco para se acostumar as mudanças de Vlad. O
mafioso sempre a surpreendia de alguma forma, da última vez, soube por Luca
que Vlad havia caçado um estuprador que atacava mulheres em suas casas.
Mesmo que Galli não demonstrasse emoções como as demais pessoas, ela sabia
que de sua, própria, forma, ele cuidava de todos.
O casamento deles aconteceu na Itália e os padrinhos foram Dominic e Izac.
Ninguém ousou falar sobre seu passado ou comentar sobre ela ter sido uma
escrava da máfia ucraniana. Luna seria a senhora Galli, a mãe do filho de Vlad
Galli, e ninguém teria coragem para falar algo a ela.
Luna ainda se recordava das palavras de Dominic após os votos.
Meu irmão parece meio frio e distante de todos, mas ele é o melhor de nós. Ele
sempre é o único que nos ajuda. Se eu tiver qualquer problema sei que posso
confiar nele. Acredite nele, deusa do azar. Seja a mulher que ele merece que eu
tenho certeza que será feliz. Ele nunca a trairá, tenha certeza disso. Mas se
precisar de alguma coisa, pode falar comigo ou Izac. Izac é meio doentio, mas
sabe ser gentil quando quer.
― Pensando em que? – Vlad indagou ao perceber seu olhar distante. Não era
difícil ler a mulher a sua frente, ele sabia disso, mas ainda assim gostava de
escutar a sua voz ao tentar lhe explicar as coisas. Nunca em sua vida, se sentira
daquela forma. Com Luna, sentia uma paz inexplicável. Uma tranquilidade que
lhe trazia prazer, e desde o início foi isso que o deixou fascinado por ela. Quando
sua filha nasceu, Sophia, descobriu a felicidade de segurar uma parte de si em
seus braços. Por meses, ele não se envolveu, diretamente, com a máfia. Ele viveu
apenas para sua esposa e filha, e só retornou quando escutou de Luna que estava
tudo bem. Se Vlad fosse sincero consigo, não saberia dizer o momento exato em
que começou a se deixar influenciar tanto por Luna, mas não se arrependia de
nada. Quando o seu segundo filho nasceu, Pietro, Vlad já havia se tornado mais
carismático com as pessoas próximas de si. Seus filhos não eram vistos em
jornais ou internet para protege-los, e sempre possuíam segurança. Ele não iria
deixar nada acontecer com eles ou Luna.
― Em algo que Dominic me disse no casamento – confessou ao se virar e
encará-lo – Seu irmão te ama.
― Eu sei – disse desconfortável escutando o riso de Luna em seguida – Você
sempre faz isso.
― O único que fica constrangido com coisas pessoais é você, Vlad – Sorriu
ainda mais ao vê-lo desviar o olhar – Além do mais, precisamos estar no teatro,
não se esqueça que irá se encontrar o prefeito.
― Ele que deve esperar por mim. – Ela revirou os olhos ao escutá-lo, como
sempre acontecia. Luna havia aprendido que ser mulher de Vlad Galli era
diferente de tudo que imaginara. Ela nunca se envolveu nos negócios da máfia,
apenas cuidava das crianças e fazia o que desejava. Luna se decidira por
terminar a faculdade, o que foi aceito por Vlad. O que mais havia lhe
surpreendido foi que ele fez questão de lhe matricular em uma excelente
faculdade.
Ela estava feliz.
― Tem algo contra ele, não tem? – perguntou bem humorada e ao vê-lo
concordar não se surpreendeu. Vlad sempre sabia algo sobre alguém. – Devemos
nos atrasar ainda mais? – com um sorriso malicioso segurou em seu paletó,
puxando ainda mais para si – Tenho ótimas ideias para passar o tempo.
― Será um prazer, senhora Galli – Vlad disse ao beijá-la. Não demorou para
suas mãos percorrem o corpo dela com lascívia, e em um sussurro disse as
palavras que Luna tanto gostava de escutar – Ti amo, Lune.
―Yo también. – respondeu cada vez mais contente com a decisão que tomara
dois anos atrás. Ela havia dado uma chance ao mafioso e não se arrependia, pois
o que tinham era mais do que suficiente para a felicidade deles e de todos a sua
volta.

EPÍLOGO
Quase dois anos antes...

Itália
Luna não conseguia compreender a si mesma. Ela tinha que admitir que desde
que Vlad descobrira sobre a sua gravidez e a pediu em casamento, havia mudado
radicalmente. Ele jamais seria dócil, disso ela tinha certeza, porém o modo dele
trata-la assemelhava-se a uma rainha. Uma rainha mafiosa, ela não poderia
negar. Ele fazia todas as suas vontades, lhe protegia, preocupava-se com a sua
saúde e afirmava a todos que ela era sua mulher, e não apenas uma escrava ou
parceira sexual. Depois que Hack foi achado morto em frente à delegacia,
ninguém ousou falar mais nada a Vlad, e muito menos levantar o olho para ela.
Todos na cidade souberam no dia em que ele a levou para uma festa, que ela era
sua esposa. Sua mulher e de ninguém mais.
Nada no mundo havia a preparado para uma relação como a que tinha com Vlad.
Eles eram amantes e companheiros, de alguma forma. E ela percebeu o nível de
tudo quando ele insistiu para que viajassem juntos para a Itália. Ele desejava
apresenta-la a sua família no mesmo dia em que se casariam. Apesar de suas
reclamações se deixou ser guiada para o seu mundo mais uma vez, mas
começara a se arrepender ao entrar na casa de sua família e perceber os olhares
assustados.
Ninguém estava preparado para a surpresa que Vlad havia organizado. O
mafioso havia chegado a Itália com Luna ao seu lado, a qual já exibia uma
barriga discreta de gravida. Ele apenas avisara a sua família que todos deveriam
comparecer na data estipulada na casa da família Galli, e nada mais do que isso.
No momento em que o mafioso adentrou na residência, sorriu diante dos olhares
pasmos de todos ao vê-lo de mãos dadas com Luna, a qual encontrava-se
envergonhada. Luca mantinha-se distante assim como Cosimo, Fred e Tony. Em
suas viagens para a Itália sempre levava os quatro consigo por acreditar que eles
iriam protege-lo se precisasse.
— Vlad, o que é isso? – a voz segura e forte de sua mãe, o fez encará-la
inexpressivo. Todos conheciam a dor que a senhora Galli Chevalier trazia aos
seus filhos. Um por um havia sofrido em sua mão, sem exceção. A mãe de Vlad
possuía longos cabelos loiros, olhos frios e um sorriso entediante na face – O
que ela está fazendo aqui? – Todos na família sabiam sobre o passado de Luna,
entretanto poucos conheciam a sua ligação com Anton.
— Não soube das novidades? – Vlad indagou calmo ao olhar para os lados, e
enfim avistar Dominic e Izac em um canto sorrindo descontraídos. Eles se
divertiam em ver a cena – Ela será a minha esposa hoje – revelou ignorando os
olhares surpresos de todos os presentes. – Luna Vega, está é minha mãe, Lucinda
Galli Chevalier – apresentou sem emoção ao encarar a sua mãe – Algo a dizer?
— É claro! – disse alto o suficiente para que todos percebessem a sua raiva.
Dominic olhava tudo a distância tentando avaliar a melhor hora para intervir
assim como Izac – Ela não é ninguém, como ousa coloca-la em nossa família?
Acredita que irei deixar se casar com ela? Parece que não me conhece, Vlad,
meu querido filho.
— Não me importo com o que diz, mas se ousar fazer algo a ela, não irei hesitar
em matá-la – a avisou frio fazendo com que todos presentes na sala prendessem
a respiração. Ninguém havia enfrentado Lucinda antes. – E isso vale para todos
aqui presentes. Ela está esperando o meu filho. Ela é a minha mulher,
entenderam? Se alguém se atrever a falar algo, irei cortar a língua e depois matar
lentamente.
Izac sorriu ao perceber o quão mudado o seu irmão estava.
—Declarar guerra à família por uma mulher, ele sabe dar uma entrada triunfal –
Izac elogiou ao beber o champanhe que era servido – E você, Dominic, não irá
se rebelar também?
— Não ainda – murmurou ao olhar para Vlad. Por mais que ele estivesse
gostando de ver a mudança em seu irmão, se preocupava com a reação de
Lucinda. Todos sabiam o modo possessivo como ela tratava os seus filhos,
incluindo arrumar mulheres para eles. Dominic, obviamente, sempre fugira dos
encontros assim como os outros irmãos, mas Vlad estava a desafiando. Nem
mesmo o sádico Izac já ousara desafiar a sua mãe.
—Não deveria encará-los tão fixamente – Izac falou ao olhar em volta
observando a reação de todos – Vlad sabe o que está fazendo.
— Eu sei disso.
— Qual o problema então?
— Também queria poder enfrenta-la – revelou sem desviar o olhar da cena a
frente.
A mãe de Vlad esboçava um olhar raivoso ao gargalhar, atraindo a atenção de
todos. Todos os seus tios haviam sido chamados assim como poucos primos.
— Está dizendo que essa vadia ucraniana será a mãe do meu neto? – indagou ao
cruzar os braços em frente ao seu corpo – Isso é alguma brincadeira?
— Acha que estou brincando? – Vlad respondeu sério ao sentir Luna apertar a
sua mão com força. Ele havia a levado até a sua família, apenas para que todos
soubessem que ela agora seria a sua mulher, e que ninguém deveria interferir em
sua vida, mas não havia imaginado uma reação tão bruta de sua mãe.
O som de passos fez com que todos se voltassem para o homem que descia as
escadas e seguia em direção a eles. Vlad não conseguiu evitar de sorrir ao ver o
seu pai, o temido Patriccio Galli, conhecido por todos como o torturador. Há
muitos anos, Patriccio, havia deixado o seu domínio para os seus filhos, e a cada
dia mais se afastava da máfia. O seu único desejo era que todos pudessem viver
felizes e com saúde. Entretanto, a sua aparência ainda causava agitação por onde
passasse. Por mais que os anos passassem, Patriccio continuava imponente,
intimidador e sedutor.
— Vejo que estão se divertindo – Falou sorrindo ao se aproximar de Lucinda, e
circundar a sua cintura – Vlad, como está? E quem é a bela jovem? – Sorriu
carinhoso ao olhar para Luna e perceber o seu ventre.
— Ela é uma vadia ucraniana que será a mãe do nosso neto – Lucinda disse com
repugnância ao olhar para o casal a frente. A cada palavra de Lucinda, Luna se
sentia mais incomodada. Ela já estava prestes a falar algo quando Vlad soltou a
sua mão, e a puxou de encontro ao seu corpo.
— Você fala sobre ela ser uma vadia ucraniana, mas não foi você que se deitou
com metade da máfia francesa antes de casar com o meu pai?
— Eu sou a sua mãe – Gritou enfurecida.
— Então comporte-se como tal – Respondeu calmo ao olhar para o seu pai – É
sempre bom vê-lo.
— Digo o mesmo. E fico feliz que um dos meus filhos vá se casar. Estava
achando que iriam morrer solteiros e sem me dar netos. Luna, não é? – A viu
assentiu em silencio como se o estudasse – Já sei tudo sobre você – Falou
tranquilo ao soltar a sua esposa e ir até ela – E não precisa se preocupar, está em
minha família agora. É uma Galli Chevalier, e será bem-vinda e protegida por
todos. Minha esposa está apenas com ciúmes. Ela não estava preparada para
perder o filho, sabe? Pode não parecer mais ela é bem controladora – Piscou
divertido ignorando os resmungos de sua esposa. Sem controlar-se, acariciou a
barriga de Luna, surpreendendo a todos – Já está sentindo ele se mexer?
— Não – Luna se viu respondendo perplexa pela forma de Patriccio. Nunca
passou pela sua cabeça conhecer um chefe de máfia como ele antes. Olhou para
Vlad como se buscasse alguma ajuda, mas o que viu a deixou sem palavras. Vlad
sorria de forma leve e relaxada ao olhar a cena – É o seu primeiro neto? –
Perguntou após algum tempo.
— Sim, estou bastante ansioso. A minha filha já está casada, mas ainda não tem
filhos. Pensei que nunca seria avô se dependesse dos meus filhos – Confidenciou
sem se importar com as pessoas que escutavam – É melhor se sentar – Disse ao
se dar conta que ela ainda estava em pé próxima a entrada – Deve estar cansada.
Quer descansar? Se deitar? O antigo quarto do Vlad está pronto. – Olhou para
Luca e sorriu antes de dar ordem – Leve as coisas dela para o quarto dele. E
Vlad, leve-a para descansar, cuidarei de sua mãe.
Vlad assentiu aliviado ao evitar brigar com sua mãe, pois da última vez acabou
tendo que enfrentar uma guerra fria em sua família por seis meses. Sua mãe
odiava ser contestada e ter uma mulher que ela não havia escolhido como sua
nora lhe deixava louca.
— Vamos – falou ao segurar a mão de Luna e guia-la pela extensa escada. Luna
olhava para tudo deslumbrada. A casa da família Galli era intimidante e enorme.
Ela poderia se perder, se não prestasse atenção. – Quando for descer essas
escadas venha sempre com alguém – a avisou assim que começaram a andar por
um corredor repleto de portas.
—Qual o motivo?
— Você poderia cair. É perigoso – a voz calma de Vlad, a fez sorrir ao perceber
sua preocupação.
— Se souberem que você é doce comigo perderia sua fama – brincou.
— Se isso acontecer posso sempre matar alguém – Deu de ombros sorrindo
discretamente. Luna não precisava ver o seu rosto para perceber que ele estava
brincando. Vlad não conseguia ser sério o tempo todo, e quando se sentia
relaxado sempre brincava de uma forma estranha, como aquela. – O quarto é
esse – parou em frente a uma porta, e quando a abriu ficou surpreso que a
decoração havia sido modificada. O quarto outrora escuro agora possuía paredes
brancas e cortinas claras. Sua cama havia mudado também, agora era uma maior.
— Dominic – murmurou ao perceber que seu irmão era o único que sabia do
motivo de sua ida – O que achou?
— É incrível – respondeu ainda pasma pelo tamanho e o luxo de tudo – Se sua
família tem tanto dinheiro, não seria melhor se casar com alguém que eles
recomendassem?
—Não. Essa é a minha vida, e a única pessoa que quero nela, é você, Lune.
Ela sorriu antes de segurar em sua camisa, e o beijar levemente.
— Okay, meu mafioso. – disse antes de ser beijada com paixão por ele.
***
Os resmungos de Lucinda apenas fazia com que Patriccio sorrisse em resposta.
Ele já havia sido o tipo de homem que se estressaria por algo como aquilo, mas
não mais. Ele agora era calmo e tranquilo.
— Ainda vai continuar reclamando? – Patriccio perguntou ao ver seus familiares
indo para o jardim – Ela é da família, não deveria ter falado aquelas coisas.
— Sabe tão bem quanto eu, o que havia planejado para ele.
— Você planejou, não ele, querida. – explicou paciente.
— Então eu deveria ficar calma e aceitar?
— Sim – assentiu – Além do mais, ela foi bastante útil para a máfia. Ela sabe
muito sobre Anton, e pelo que Vlad me contou o carrasco está prestes a nos
atacar.
— Como assim? Não sabia que ela possuía informações sobre Anton.
— Pelo que ela contou, apesar da informação não ser recente, ele estava
querendo infiltrar uma pessoa na nossa família.
— Então o informante já está entre nós.
— Possivelmente, teremos que tomar cuidado. Ela é bem útil, não é? – sorriu ao
vê-la dar de ombros – Deveria falar com ela depois. Ela não tem ninguém,
somos a sua única família.
Lucinda fez uma carreta antes de ir até Patriccio e abraça-lo.
— Você sempre consegue trazer o que há de melhor em mim.
— Eu sei querida, e isso é reciproco – respondeu antes de beijá-la.
***
Izac sorriu atrevido para uma das empregadas, a qual tentava ignorá-lo apesar de
suas investidas. Ele encontrava-se sentado na escada a espera de um de seus
irmãos.
— Você não é mais criança – Vlad disse sério ao se aproximar de Izac. Quando
crianças eles tinham a mania de se sentar naquela mesma escada para esperar o
outro com o único objetivo de fugir de Lucinda – O que aconteceu?
— Fiquei surpreso quando a ameaçou. Você realmente gosta dela – sorriu – Eu já
tinha percebido, mas ainda assim é estranho vê-lo se importando com alguém.
— Mais parece um monologo.
— Conversar com você é sempre assim – deu de ombros ao se levantar –
Dominic parece que quer se afastar.
— Eu sei.
— E o que faremos?
— Acobertá-lo – respondeu simplesmente – Isso é o que fazemos.
— Sim, é verdade. E que presente eu deveria lhe dar como padrinho?
— Paz seria um começo – resmungou diante da alta gargalhada de seu irmão –
Apenas fique atento. O carrasco pode querer atacar.
— Não se preocupe, a garota que enviei pra você, sabe ótimas técnicas de luta.
— É um tipo de escrava nova?
—Não – negou – Ela me foi vendida por uma gangue. Não quis que ela fosse
mal aproveitada, e achei que lhe enviar seria uma boa opção.
— Lhe agradeço, Izac.
Izac deu de ombros ao começar a descer as escadas.
— Estou ansioso pelo casamento – disse já distante.
***
O som suave do piano contrastava com os semblantes austeros dos convidados
sentados nas delicadas cadeiras, naquele final de tarde, no jardim da família
Chevalier Galli. Apenas alguns familiares se encontravam naquele histórico
evento. O filho do meio de Patriccio Galli, Vlad, encontrava-se prestes a se
casar. Ao lado de Vlad, estavam apenas Izac e Dominic, seus padrinhos. Um
burburinho começou no momento em que Luna surgiu vestindo um elegante
vestido de noiva, escolhido por Vlad, dias atrás. O vestido de Luna possuía
decote coração, evasê e renda em toda a sua extensão. Ninguém conseguia tirar
os olhos dela.
— A deusa do azar, está incrível – Dominic disse próximo a Vlad – Aproveite a
lua de mel.
— Porque a chama de deusa do azar? – Izac perguntou curioso.
— Desde que ela chegou na vida de nosso irmão trouxe sorte e azar, mas sorte
do que azar, eu diria.
— Então porque deusa do azar, especificamente? – Izac tornou a perguntar ao
perceber a curiosidade de Vlad.
— Ela tinha muitos segredos, poderia destruí-lo, se ele não fosse obsessivo com
a máfia – respondeu calmo e sincero.
— Verdade, totalmente obsessivo – Izac gargalhou sendo acompanhado com
Dominic.
— Se os idiotas já acabaram, a minha noiva está chegando – os dois se calaram
ao voltar a sua atenção para Luna.
Luna ainda sentia o braço de Luca firme ao leva-la em direção a Vlad. Quando
Luca havia pedido para a levar ao altar aceitou sem imaginar o quanto aquilo
significava para ele. Para Luca, Luna era como uma irmã. Ela iria preencher o
vazio que sua irmã havia deixado após falecer, mas ele jamais diria a ela. Aquele
seria o seu segredo.
O sorriso que estampava na face do consigliere não passou despercebido para
nenhum dos familiares. Todos conheciam o estranho carinho de Luca para com
Vlad.
— Seja feliz, Senhora Galli – Luca sussurrou em seu ouvido antes de entrega-la
a Vlad e sentar-se na cadeira próxima ao casal.
***
A última coisa que Vlad já quis em sua vida era alguém como Luna, uma mulher
capaz de derrubar a sua frieza e lhe mostrar um mundo completamente novo. Na
pequena festa preparada por Izac, Vlad mantinha-se sentado na mesa, enquanto
Luna dançava com Luca e em seguida com o seu pai. A sua mãe ainda a olhava
sem nada dizer.
Quanto mais Vlad olhava para Luna descobria sorrisos e expressões diferentes.
Ele havia sido criado em um ambiente que expressões eram sinais de fraqueza.
Viver com Luna lhe ensinara muito sobre a vida.
— Observando sua esposa tão atentamente é bem gentil vindo de você, irmão –
Dominic disse sorrindo ao se sentar ao lado de Vlad. Ele havia esperado o
momento oportuno para se aproximar sem que ninguém estivesse próximo para
escutar a conversa. – Seu ponto fraco é realmente assustador. Tinha que escolher
uma mulher tão destemida quanto ela? – gargalhou diante do olhar de seu irmão
– Já pensou em quantos filhos terá? Cinco?
— Não diga bobagens.
— Sempre tímido – bateu de leve no ombro de Vlad – Eu preciso falar algo com
você.
— Quando irá embora? – Vlad indagou sem encará-lo.
— Já sabia?
— Sim. Irei lhe acobertar, não se preocupe. A nossa mãe não irá encontra-lo com
facilidade.
— Obrigado irmão – falou aliviado – Izac também já sabe?
— Não somos idiotas – resmungou antes de se levantar ao ver que Luna olhava
para ele – Venha conhecer seu sobrinho depois. Cosimo poderá cuidar de tudo se
quiser. Ele é muito bom em esconder rastros.
— Farei tudo sozinho, mas obrigado. – Vlad deu de ombros ao ir até Luna.
Segurou em sua cintura sem se importar com os olhares pasmos dos seus
parentes. Ninguém se acostumara a ver Vlad Galli demonstrar sentimento e
atenção para com uma mulher.
— Parece que está se divertindo – Vlad murmurou em seu ouvido ao traze-la
mais para perto de si.
— Sim, sua família não é tão assustadora assim – mentiu, pois tremia ao olhar
para a sua mãe. Lucinda tinha algo no olhar que lhe dava calafrios – Seu pai é
bastante agradável. É difícil acreditar que ele seja o chefe de toda a máfia.
— Ele já foi pior.
— Ele era gentil quando você era criança? – se viu perguntando ao ser
rodopiada.
— Ás vezes quando minha mãe não estava por perto – a frieza com que Vlad
relatava o seu doloroso passado sempre trazia uma expressão triste na face de
Luna – Não deveria se importar tanto com isso, eu não me importo de qualquer
forma.
Luna se calou por alguns momentos antes de colocar a sua cabeça no ombro
dele.
— Quando se gosta de alguém é normal ficar preocupado. – Ela disse
pausadamente como se explicasse a uma criança – Então o que eu sinto é bem
normal.
— Está dizendo que gosta de mim, Lune? - Luna poderia dizer que Vlad estava
sendo sarcástico ou até irônico, mas já o conhecia bem para distinguir. Ele estava
brincando com ela.
— Talvez. Eu sempre tive um fraco por caras maus.
— Isso é muito bom – roçou os lábios em seu orelha – Eu sempre tive um fraco
por mulheres obstinadas. Fazemos um bom par.
— Sim, parece que sim – concordou sorrindo. Ela realmente estava feliz.
Dominic olhou para o casal sorridente e se pegou pensando, se algum dia teria
algo parecido com aquilo. A sua família havia lhe destruído, talvez mais do que
fizeram com Vlad, e por isso duvidava que alguém lhe aceitasse como ele
realmente era.
— Isso não importa agora – murmurou ao andar pelo jardim e não demorar para
desaparecer entre os convidados. Desde aquele dia, Dominic havia desaparecido.

CAPITULO ESPECIAL: IZAC


CHEVALLIER GALLI
Solidão, tédio e perversidade eram as unidas coisas presentes na minha vida.
Mesmo após o casamento do meu irmão, Vlad, a família mafiosa não parecia se
importar muito com quem ficaria com os negócios dele, caso ele desistisse.
Todos sabiam sobre o passado da esposa dele, e mesmo assim ignoravam ao
serem ameaçados. Vlad sempre fazia isso. Ele sempre cuidava das pessoas a sua
volta mostrando uma face fria e impiedosa, mas no fundo era o melhor entre nós.
Talvez, ele fosse único humano. Eu havia me tornado um animal assim como
Dominic. Nós não sentíamos mais piedade ou compaixão pelas pessoas, e muito
menos sentia tristeza ou culpa ao matar alguém, pelo contrário, sentia prazer. Ver
o sofrimento nos olhos das pessoas fazia com que eu sentisse um prazer
indescritível.
Um prazer que aumentava a cada grito que eu escutava e a cada gota de sangue
que eu via. Eu não conseguia parar de me sentir bem diante de cenas brutais
feitas por mim.
Eu era anormal? Sim, afinal a minha família havia me transformado naquele
monstro. Uma família que obrigava os filhos a matarem traidores quando ainda
eram crianças, fazia assistir torturas, estupro e ensinavam que as pessoas só
possuíam valor se fossem vendidas, haviam me transformado no monstro que eu
me tornei. E assim como todos da minha família, acabei matando traidores
perpetuando todo o caos de dor e sofrimento.
Dominic havia passado pelo mesmo sofrimento que eu assim como Vlad, mas
cada um se tornara algo diferente. Vlad havia tomado o sofrimento para cuidar
dos irmãos, Dominic via todas as suas ações como pecados que precisavam
serem perdoados e por isso se tornou médico, e eu me afoguei em meu próprio
desesperado desistindo de qualquer humanidade. Eu era Izac, o sádico. Ninguém
iria me tirar isso, muito menos a minha família.
Ser um sádico era a única coisa que minha família jamais conseguiria tirar de
mim. Isso era a minha identidade.
Sorri mais uma vez ao olhar para a única mulher que eu não havia conseguido
quebrar. Judi, a general que havia traído Vlad. Eu estava com ela há quatro
meses e mesmo assim, ela não se curvara diante de mim. Mesmo após as dores, a
fome, os hematomas e as ameaças. Judi não se curvou. Ela ainda estava presa no
porão, onde apanhava regularmente. Todas as mulheres que eram enviadas para
mim, para serem adestradas, em duas semanas imploravam para que eu fizesse
tudo com elas, se assim pudessem escapar da escuridão daquele porão, mas não
Judi. A general que não se curvava. Ela fazia com que meus dias não fossem
entediantes.
— Ainda não desistiu? – Perguntei ao descer as escadas do porão. Meus passos
ecoavam pelo pequeno cômodo fazendo com que tudo se tornasse ainda mais
sombrio. O lugar era iluminado com uma pequena lâmpada que se acendia
sempre que a porta era aberta. Judi estava sentada no chão, no meio do cômodo.
Ela não parecia se importar com nada além de si mesma. A general era como um
animal prestes a atacar, e eu adorava essa sensação. – Não está cansada? É
divertido vê-la resistir, mas uma hora vou cansar e mandarei homens virem aqui
lhe violentar. Sou paciente até certo ponto – A avisei ao me aproximar dela,
ajoelhando-me em seguida e tocar o seu rosto. Judi não chorava tinha dois
meses. Gostava de vê-la tentar ser forte na minha frente.
— Faça o que quiser, seu doente – Sua voz calma fazia com que eu quisesse
destruí-la ainda mais.
— Posso fazer? – Perguntei animado. – Sabe, tenho uma imaginação bem fértil.
—Deveria me matar. Jamais vou me render a você.
— Eu sei que vai resistir o máximo que puder, e por isso estou gostando tanto –
Sorri ainda mais ao me afastar dela – Se ficar presa aqui não está funcionando,
vamos mudar as coisas. Vamos ver como será quando enxergar a realidade do
meu mundo.
Judi não disse nada e muito menos abaixou a cabeça em sinal de resignação. Eu
adorava isso nela.
Adorava a forma como ela me desafiava mesmo que seu corpo estivesse
tremendo de medo, fome e sede. Eu estava ansioso demais para vê-la implorar.
Vlad realmente me deu um maravilhoso presente.

CAPITULO ESPECIAL: DOMINIC


CHEVALLIER GALLI
Eu estava sozinho pela primeira vez na minha vida. Eu havia fugido da minha
família, dos negócios mafiosos e do meu passado. Sabia que não poderia
continuar fugindo infinitamente, mas queria continuar sentindo aquela sensação.
A mesma sensação que sempre sonhei desde que percebi a realidade dos Galli.
Desde pequeno fomos criados para sermos soldados sem sentimentos e pensar
em matar. Nada além disso.
Eu era o pior entre meus irmãos, já que não conseguia sentir ressentimento pelos
meus atos e muito menos piedade. Izac costumava me chamar de psicopata, e
talvez eu seja.
Um psicopata doente.
Ser um psicopata não soava tão ruim, e para ser honesto até gostava da forma
como aquela palavra soava sempre que eu escutava.
Me refugiar em uma pequena cidade havia sido a única forma que consegui
pensar para ficar longe de todos, mas ainda assim a morte parecia me perseguir.
Aproveitei o casamento de Vald, o único que pareceu capaz de fugir da maldição
daquela família, para fugir. Eu gostava da mulher de Vlad, a dama do azar, Luna
era alguém que conseguia trazer ruina e ao mesmo tempo felicidade para as
pessoas. Desde que ela havia chegado, Vlad sorria mais e demonstrava
sentimentos que antes foram esquecidos. Eu havia a chamado de dama do azar
por saber sobre o seu passado. Ela havia sido um cachorro de Anton, o carrasco.
Ele ainda viria atrás dela, todos sabíamos disso, mas precisávamos estar
preparados para isso.
Preparados para defender a família.
Na pequena cidade, onde eu havia me instalado não havia nada. Não havia
acidentes, homicídios e nem suicídios. Era um local pacato, onde eu conseguia
relaxar ao ser um dos médicos no hospital. Um hospital que atendia três
pequenas cidades e mesmo assim permanecia vazio. Eu precisava de um lugar
como aquele. Um lugar para relaxar e tentar descobrir se ainda tinha algum
pingo de humanidade em mim.
Mas não demorou para descobrir que eu ainda era um monstro. Eu não pensava
em ninguém além de mim.
Eu continuava sendo um psicopata sem sentimentos.
Um psicopata doente que continuava se divertindo ao tentar compreender
comportamentos ilógicos humanos.
— Dominic? – A voz suave de Cassandra fez com que eu me virasse e a
encarasse. Ela me olhava ansiosa ao manter suas mãos em frente ao corpo.
Desviei o olhar por alguns segundos, por saber que apenas aquele gesto a
deixaria ainda mais ansiosa. Admirei a parede branca do meu apartamento e a
porta marrom. – Eu queria me desculpar.
— Pelo o que? – Perguntei frio ao voltar a encará-la. Cada segundo ao seu lado
agia como se estivesse planejando cada palavra ou ação. Eu queria ver até onde
eu poderia chegar ao usar alguém bondosa como ela. Eu queria ver o quanto
demoníaco eu continuava a ser mesmo longe da minha família.
— Por não lembrar de nada. Parece que você ainda fica ressentido – Ela estava
se sentindo culpada pela minha mentira. Isso conseguia ser engraçado de alguma
forma, e por isso acabei sorrindo sem perceber. Cassandra não sabia quem era e
eu havia a enganado. Para a jovem parada na minha frente, eu era o seu noivo
quando na verdade éramos desconhecidos. Eu estava mentindo para ela apenas
para testar a mim mesmo, mas ainda assim Cassandra havia sido a única que
conseguiu mudar algo em mim, pelo menos até ver a verdade em seus olhos.
A verdade de que eu não era o único psicopata no mundo.

FIM.
[1]
(E o carregamento, Luca?)
[2]
(Tudo está indo bem, chegará amanhã a 10h a noite e a entrega ocorrerá em breve)
[3]
Perfeito.
[4]
. (Deixe-me saber se tiver algum problema, se isso acontecer, você sabe o que fazer?)
[5]
Como está?
[6]
Eu..
[7]
Pequena
[8]
Belo trabalho.
[9]
Que coisa?
[10]
(um traidor)
[11]
Que coisa?
[12]
Por favor
avião –Pessoa que faz a entrega de drogas, o intermediário entre o traficante
[13]

e o consumidor.
[14]
Irmão.
[15]
Vulnerável.
[16]
(Estou surpreso. Não esperava que fosse tão rápido).
[17]
(Vá ao médico).
[18]
Vadia.
[19]
Luna, é uma sobrevivente.
[20]
O que aconteceu?
[21]
Você está me vigiando?
[22]
Meu irmão estranho.
[23]
Irmão.
[24]
Tão pura e suja.
Table of Contents
O Estanho Mafioso
CAPITULO 1
CAPITULO 2
CAPITULO 3
CAPITULO 4
CAPITULO 5
CAPITULO 6
CAPITULO 7
CAPITULO 8
CAPITULO 9
CAPITULO 10
CAPITULO 11
CAPITULO 12
CAPITULO 13
CAPITULO 14
CAPITULO 15
CAPITULO 16
CAPITULO 17
CAPITULO 18
CAPITULO 19
CAPITULO 20
CAPITULO 21
CAPITULO 22
CAPITULO 23
CAPITULO 24
CAPITULO 25
CAPITULO 26
CAPITULO 27
CAPITULO 28
CAPITULO 29
CAPITULO 30
CAPITULO 31
CAPITULO 32
CAPITULO 33
CAPITULO 34
CAPITULO 35
CAPITULO 36
CAPITULO 37
CAPITULO 38
CAPITULO 39
CAPITULO 40
CAPITULO 41
CAPITULO 42
CAPITULO 43
CAPITULO 44
CAPITULO 45
CAPITULO 46
CAPITULO 47
CAPITULO 48 - FINAL
EPÍLOGO
CAPITULO ESPECIAL: IZAC CHEVALLIER GALLI
CAPITULO ESPECIAL: DOMINIC CHEVALLIER GALLI

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