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rosebud

Um filme é composto de diversas cama- se estuda o impacto das cores na mente


das de compreensão e cada quadro é feito humana. Essa Box tem o objetivo de ser a
de maneira a contemplar todos esses ní- Estrada de Tijolos Amarelos para a com-
veis. Cada frame é repleto de significado e preensão do subtexto nas escolhas na hora
tudo que está em quadro tem o objetivo de compor a paleta de cores de cada cena.
de passar uma mensagem - a luz, a pro- A partir de agora você será provocado a
fundidade de campo, os objetos de cena, a analisar os filmes considerando mais essa
cor. As cores estão diretamente associadas camada de compreensão.
a emoções e sentimentos e cada vez mais
PSICOLOGIA DAS CORES
A cor é um fenômeno que naturalmente O trabalho de Goethe foi rejeitado por
chama atenção das pessoas. Isso se dá de for- boa parte da comunidade científica, exceto fi-
ma inconsciente e muitas vezes nem sabemos lósofos e físicos como Schopenhauer, Gödel e
o motivo pelo qual uma roupa, um caderno, Wittgenstein. Depois de trinta anos, após ser
uma loja ou um filme nos chamou atenção. traduzido por Charles Eastlake em 1840, o
As cores representam estímulos e também estudo de Goethe se tornou muito conhecido
estão atreladas às emoções. Cada cor (e a mí- e difundido no mundo da arte, influencian-
nima variação da mesma; os tons) representa do e servindo de base para grandes pintores,
uma diferente emoção e possui um reflexo como William Turner, Wassily Kandinsky e
diferente nas pessoas. Paul Klee. Segundo Kandinsky, o estudo de
A Psicologia das Cores é o estudo do Goethe foi um dos trabalhos mais importan-
caráter psicológico das cores, a entender o tes acerca das cores.
modo como a cor influência nossas sensações O estudo da Psicologia das Cores tem sido
e emoções de forma inconsciente. Esse estu- bastante utilizado por várias áreas, tanto para
do começou quando Johann Wolfgang Von comunicar como para passar sensações exa-
Goethe publicou um estudo chamado Teoria tas através da escolha das cores. No cinema,
das Cores, em 1810, onde fez análises sobre o as cores têm sido bastante exploradas pelo
caráter fisiológico e psíquico das cores. Nesse Departamento de Arte, pois, além de contri-
estudo, Goethe atribuiu qualidades internas buir para a narrativa do filme, as cores são im-
às cores da roda: o vermelho era associado a portantes artifícios para trazer informações
uma cor bonita e estimulante; o amarelo ao sensoriais aos espectadores. O cinema, além
bom; o verde ao útil; e o violeta ao desneces- de ganhar cores, ganhou todos os efeitos que
sário. elas podem produzir no ser humano. Para o
cinema colorido, essa é uma importante fer-
ramenta, pois pode ser algo usado de forma
inconsciente com relação aos espectadores e
à favor do próprio filme.
A COR
A cor é uma informação visual percebida Em 1858, William Gladstone consultou
pelo olho e interpretada pelo cérebro. Essas diversos livros antigos para observar refe-
informações podem ser associadas a senti- rências sobre as cores. A palavra “azul” não
mentos, acontecimentos, despertar emoções, existia. Visto que concebemos a cor há muito
entre outras coisas. As células do olho res- tempo, ainda assim, línguas e culturas antigas
ponsáveis por nos fazer enxergar são os cones não reconheciam o azul. Gladstone descobriu
e os bastonetes. Os cones nos dão a capacida- que nos escritos havia diversas menções e
de de reconhecer as cores e os bastonetes, por descrições sobre o céu; evocavam com frequ-
sua vez, reconhecer a luminosidade. O pri- ência o sol, a vermelhidão da cor, o dia e a
meiro precisa de uma quantidade grande de noite, nuvem, relâmpago, ar e éter. Mas uma
luz, para que possa gerar uma imagem nítida coisa que ninguém nunca havia aprendido
e colorida. Já o segundo, precisa de pouca luz, era que o céu é azul, pois os estudos revela-
logo, não forma imagens coloridas e nítidas – ram que não existia uma palavra para definir
por isso em locais escuros é difícil distinguir a cor do céu ou a cor do mar. Em “A Odisseia”,
uma cor. de Homero, o autor descreve a cor do mar
As cores primárias da visão são o azul, como “cor de vinho”.
o verde e o vermelho, pois possuímos três ti- Como o azul não é uma cor comum na
pos de cones: cone azul, ativado por ondas de natureza, as antigas culturas provavelmen-
comprimento próximo as que formam a cor te não conheciam e, portanto, nunca deram
azul (ondas curtas); cone verde, ativado por um nome. Por nunca terem denominado e,
ondas de comprimento próximo as que for- assim, não existir um conceito para a cor,
mam a cor verde (ondas médias); cone ver- não associavam uma nova cor ao que esta-
melho, ativado por ondas de comprimento vam enxergando. O senso de cor não era tão
próximo as que formam a cor vermelho (on- desenvolvido. Como disse Guy Deutscher:
das longas). Assim, todas as outras cores que agora sabemos que os antigos gregos e ou-
enxergamos são formadas a partir dessas três tras civilizações não tinham a capacidade de
cores, por isso, são consideradas “primárias”. ver as cores da maneira como as enxergamos
atualmente. Segundo Gladstone, eles não en-
tendiam o azul com a alma, mas sim com a
mente.
Hoje, acreditamos ter uma visão completa
das cores e grande parte dos tons. Mas as co-
res não têm sido usadas apenas para fins visu-
ais e comerciais, como, por exemplo, a Cro-
moterapia. É uma terapia alternativa que tem
como intermédio as sete cores do arco-íris,
com a finalidade de estabelecer o equilíbrio
e a harmonia entre o corpo físico, a mente e
as emoções.
Frame do primeiro filme colorido

A COR NO CINEMA
O cinema é colorido desde os Irmãos Lu- tanques de tinta ou pintada com grandes
mière. Poucos sabem, mas eles, dentre outros pincéis e os filmes ou o trecho pintado ficava
cineastas que se seguiram, tingiam os fotogra- apenas com _uma cor. Enquanto a aplicação
mas da película a mão, um a um. Nesse caso, manual quadro a quadro buscava passar um
até a década de 20, os filmes eram colorizados realismo com as imagens, o tingimento era
– colorido seria somente quando a cor fosse usado como um recurso para realçar a atmos-
captada durante o processo fotográfico. O fera das cenas, da sequência ou até mesmo do
processo era lento e demandava uma mão de filme completo.
obra de baixo rendimento e alto custo, além Ambos os processos foram abandonados
da cor ser completamente artificial. Isso era pela produção, não apenas pelo custo e tempo
realizado em todas as cópias dos filmes que envolvido na colorização, mas também pelo
iam para as salas de projeção, mas por ser um fato que o público não fazia tanta questão de
processo manual, gerava cópias diferentes assistir aos filmes colorizados, em vez da ver-
uma das outras, a cor não possuía profundi- são em preto e branco. O público se envolvia e
dade e eventualmente continha alguns erros. captava mais o realismo através das obras em
Nessa época, outra possibilidade era tin- preto e branco, então a cor não funcionava
gir os filmes. A película era mergulhada em como atrativo para os espectadores.
Atualmente vemos poucos filmes antigos Já na década de 30, a Technicolor lançou
com cor. Onde as versões colorizadas foram um tipo de película que filmava três cores (cia-
parar? Infelizmente, era mais caro conservar no, magenta e amarelo) juntamente com uma
um filme colorizado do que um preto e bran- câmera de três elementos que daria um maior
co. Como não existia home vídeo, tal qual nos realismo às produções. Nesse momento, o
dias de hoje, não era uma possibilidade fazer processo de coloração já tinha um caráter in-
cópias para reproduzir em lugares que não dustrial. Os dois primeiros longas-metragens
fosse o cinema. Desse modo, era comum a lançados comercialmente coloridos por esse
destruição de filmes para liberar espaço, além sistema foi Vaidade e Beleza (Becky Sharp,
do público ser indiferente com relação a ver 1935, dirigido por Rouben Mamoulian) e a
o filme colorido ou preto e branco. Em de- animação Branca de Neve e os Sete Anões
corrência disso, os primeiros filmes a serem (Snow White and the Seven Dwarfs, 1936,
destruídos eram os colorizados, o que resul- dirigido por David Hand), do estúdio Disney.
tou em muitos filmes perdidos e incompletos. Porém, o filme Vaidade e Beleza não ex-
O primeiro filme colorido da história do plorava muito a tecnologia e o potencial do
cinema foi descoberto recentemente pelo Technicolor devido ao medo da inovação não
curador de cinematografia do Nacional Me- conseguir reproduzir ambientes com muitas
dia Museum, na Inglaterra, em 2012, 110 cores com o realismo esperado. O filme de
anos após sua invenção. Michael Harvey en- Mamoulian foi escolhido pelo estúdio justa-
controu o material de Edward Raymond Tur- mente porque a história se passava em am-
ner dentro de um tambor datado de 1902. O bientes fechados, não correndo o risco de
filme não possui uma narrativa, pois as ima- decepcionar em alguma questão relacionada
gens eram parte de um rolo de experimento à cor. No ano seguinte, distribuido pela Para-
de Turner, onde o inventor estava desenvol- mount, o filme Amor e Ódio na Floresta (The
vendo a tecnologia de captação em três cores. Trail of the Lonesome Pine, 1936, dirigido
Como era apenas um experimento de cor e por Henry Hathaway) mostrou do que a nova
iluminação, as imagens são do cotidiano, tecnologia era capaz, apresentando ao públi-
como os filho de Turner, soldados e aves. co a primeira cena colorida da natureza.
À medida que formas mais eficientes Por outro lado, o diretor de O Mágico
eram descobertas, os produtores começaram de Oz (The Wizard of Oz), Victor Fleming,
a ter um forte receio com relação às cores. O decidiu se aproveitar das vantagens do Te-
medo era que a cor chamasse mais atenção chnicolor. Quando o filme estreou no cine-
que o enredo e a atuação, roubando, assim, a ma em 1939, muitos espectadores estavam
atenção do público. Nesse período os filmes vivenciando a cor na tela pela primeira vez.
coloridos eram lançados na mesma propor- Fleming tinha plena consciência disso e esco-
ção que filmes preto e branco e isso se deu até lheu a nova tecnologia, incentivando os res-
meados dos anos 1960. ponsáveis pelo cenário e figurino a investir ao
O que fez com que os estúdios produzis- máximo em cores.
sem apenas ou predominantemente filmes O ser humano enxerga as cores há muito
coloridos foi a concorrência com a televisão, tempo, mas ela estava finalmente surgindo no
pois nessa época já haviam alguns modelos cinema e iniciando uma experimentação de
que transmitiam imagens coloridas nos Esta- como se utilizar dessa técnica em função das
dos Unidos. narrativas.
Enquanto muitos cineastas eram contra
a implementação da cor, Andrei Tarkovsky
pensava que “Na vida real nós raramente
prestamos atenção à cor. Quando observa-
mos alguma coisa acontecendo não nos da-
mos conta da cor. O filme branco e preto cria
imediatamente a impressão que a sua atenção
está concentrada no que é mais importante.
Na tela, a cor se impõe por si mesma ao es-
pectador enquanto na vida real isso acontece
apenas em alguns momentos especiais. Logo,
não está certo que o público fique o tempo
inteiro consciente das cores.”
TEORIA DAS CORES
Apesar de surgir no cinema apenas no Os escritos e descobertas de Da Vinci fo-
século XX, a cor é um fenômeno estudado ram reunidos em um livro chamado “Tratado
desde Aristóteles. Os primeiros estudos sobre da Pintura e da Paisagem – Sombra e Luz”,
as cores foram realizados pelo filósofo grego, cuja a primeira edição só foi publicada 132
onde ele concluiu que a cor era uma proprie- anos após a morte do autor. Nesse trabalho,
dade dos objetos, assim como peso, textura e Da Vinci contestava a teoria de Aristóteles,
material. afirmando que a cor não era uma proprie-
Já no período Renascentista (meados do dade dos objetos, mas sim da luz. O filósofo
séc. XIV e fim do séc. XVI), as cores passaram grego acreditava na existência de seis cores
a ser estudadas pelos artistas da época. Leon principais: vermelho, verde, azul, amarelo,
Battista Alberti foi um teórico das artes visu- preto e branco.
ais que procurou elucidar o estudo de cor re- Por sua vez, o artista italiano concordava
alizado na Antiguidade pelo poeta medieval que todas as cores poderiam se formar através
Plínio. Posteriormente, seus conceitos foram das quatro primeiras, mas se opunha sobre as
aprofundados por Leonardo da Vinci. outras duas. Para ele, o branco e o preto não
Enquanto Plínio considerava três cores eram cores, mas extremos da luz. Da Vinci
principais: o vermelho vivo, a cor da ametista ainda foi o primeiro a observar que a sombra
e a cor conchífera (cores que atualmente são pode ser colorida e o primeiro a demonstrar
bem próximas do que a física moderna con- de forma experimental que o branco não é
sidera como básicas), Da Vinci aplicou seus uma cor, e sim o composto de todas as cores.
estudos no campo visual da cor e da luz.
Após Da Vinci, outros nomes fizeram
suas contribuições para o estudo sobre as
cores, entre eles René Descartes, Christiaan
Huygens, Thomas Young (Teoria da Visão
Tricromática), Ewald Hering, até chegar em
Isaac Newton. Esse, passou parte da vida se
dedicando a investigação física da cor, che-
gando a publicar uma obra em 1704 chamada
Ópticas, onde se aprofunda no ramo da ótica.
Através de um prisma ótico, Newton con-
seguiu mostrar de forma precisa que a luz
branca é formada por uma série de sete cores
que vai do vermelho ao violeta – cores, essas,
que reconhecemos hoje como as cores do
arco íris: vermelho, laranja, amarelo, verde,
azul, anil e violeta.
Cem anos mais tarde, em 1810, Goethe
publicou seu estudo chamado Teoria das Co- Somado ao estudo de Schopenhauer, mui-
res. Esse estudo contribuiu para o avanço do tos nomes fizeram suas contribuições para
pensamento sobre a percepção da cor como chegarmos ao conhecimento atual, alguns
sensação e emoção. Apesar de Newton e Go- eram físicos e químicos, outros eram artistas
ethe se concentrarem na formação das cores, e filósofos. Podemos acreditar que esses avan-
Goethe foi contra a teoria de Newton. O ale- ços se deram com relação à cor apenas sobre
mão viu coisas além de Newton, trazendo co- questões físicas, químicas e fisiologicamente,
nhecimentos consideráveis para esse campo o que não foi verdade.
de estudo e sendo um dos mais memorados John Dalton foi um físico, químico e me-
por suas contribuições. teorologista inglês que percebeu que ele e seus
Além de influenciar artistas, o estudo de irmãos só conseguiam distinguir três cores:
Goethe influenciou explicitamente Arthur amarelo, azul e violeta. Dalton, então, passou
Schopenhauer no livro Sobre a Visão e as Co- a estudar esse distúrbio de visão que ele sofria
res, publicado em 1815. Baseado na Teoria e seu primeiro estudo publicado foi sobre essa
das Cores, o autor conciliou a Teoria New- condição (apesar de ser mais conhecido por
toniana com a interpretação fisiológica da desenvolver a teoria atômica). Sua pesquisa
cor oriunda de Goethe, se aprofundando na deu o pontapé inicial na comunidade médi-
ruptura realizada por Goethe em relação ao ca a respeito do transtorno. Com isso, é fácil
trabalho de Newton. Esse estudo foi funda- imaginar porquê esse distúrbio é conhecido
mental para que hoje seja possível entender as como daltonismo, apesar do termo científico
transformações na interpretação do fenôme- ser discromatopsia ou discromopsia.
no cromático a partir do século XVII.
O IMPACTO DAS CORES
Há 20 anos atrás, uma professora da Es- Enquanto o vermelho elevou os ânimos,
cola de Artes Visuais em Nova York percebeu o azul tornou tudo mais calmo e passivo. Os
que seus alunos de Design escolhiam cores objetos que os alunos levaram também fo-
aleatórias para seus trabalhos. Com a inten- ram completamente diferentes: havia grandes
ção de investigar as possibilidades conceituais almofadas azuis pálidas, balas refrescantes
para informá-los sobre suas decisões de cor, a e músicas New Age. Em poucos minutos,
professora Patti Bellantoni pediu que eles le- aquele barulho e os alunos violentos da se-
vassem para a sala de aula o que eles achavam mana anterior pararam de falar, relaxaram e
que era “Vermelho” – sem mais explicações ficaram quase apáticos. Segundo Bellantoni,
ou discussões. um senso de calma permeou a sala. Ao con-
No dia da aula combinada, os alunos apa- trário de correr para a porta, como fizeram
receram usando vermelho, levando paletas anteriormente, eles não queriam se mexer.
de cor, papéis de embrulho e tecidos, além de Através da descrição das duas experiên-
pimentões, carros de bombeiro de brinquedo cias, conseguimos ver como as cores influen-
com luzes e sirene, balas de canela verme- ciam no nosso comportamento, sensação e
lha e música rock’n’roll. Para Bellantoni, o emoção, além de perceber que cada cor nos
comportamento da turma mudou e, naquele influencia de um modo diferente. O mais
momento, todos estavam experimentando a interessante nesse caso é que o vermelho e o
consciência de como nós vemos a cor. Os alu- azul são, em termos psicológicos, cores con-
nos se tornaram conscientes de que havia um trárias. Não existe sentimento negativo em
comportamento “vermelho” acontecendo: que o azul predomine. Já no vermelho, pode-
Os alunos estavam conversando mais alto mos ver a agressividade e o ódio como pontos
que o normal e aumentaram o volume do negativos.
rock. Os homens, em particular, ficaram sua- Desse modo, essa experiência nos mostra
dos e agitados. A professora chegou a separar dois polos e dois dias onde os mesmos alu-
uma briga entre dois jovens que costumavam nos tiveram reações completamente diferen-
ser grandes amigos. Depois da experiência do tes de acordo com a cor. Podemos observar
Dia do Vermelho, os alunos concordaram em a contradição psicológica entre o vermelho e
tentar o experimento novamente na semana o azul, respectivamente dessa forma: Ativo –
seguinte, com uma cor diferente. Eles esco- Passivo; Quente – Frio; Ruidoso – Silencioso;
lheram azul. Corpóreo – Mental. O azul é uma cor para
O vermelho e o azul são cores psicologi- pensar, não para agir. Diferente do vermelho,
camente contrárias pois são duas cores que que é uma cor essencialmente ativa.
contrastam em seus significados. Assim, po-
demos imaginar que o comportamento no
Dia do Azul foi completamente diferente da
experiência da semana anterior.
PSICOLOGIA DAS CORES
NO CINEMA
Atualmente, o cinema, completamente drástica ou até o oposto da intenção. Por essa
colorido – não ter cor, hoje, é apenas uma razão, entendemos o quão cuidadoso deve
escolha estética e narrativa por parte do di- ser esse contato e a abordagem com relação
retor – se aproveita dos estudos realizados ao caráter psicológico das cores.
anteriormente, principalmente por Newton e Essa é uma das razões pela qual o Depar-
Goethe, sobre as cores para comunicar seus tamento de Arte é muito importante em uma
filmes de uma forma mais certeira: através do produção audiovisual. A cor do figurino pode
inconsciente. Por conta de sua potência, as influenciar em sentimentos e emoções e é in-
escolhas de cor vêm desde a pré-produção de teressante que isso dialogue com a natureza
um filme até a pós-produção, onde é possível do filme a ponto de contribuir com a narra-
alterar cor e luz digitalmente. tiva. Caso contrário, seria uma confusão de
As cores podem provocar diversas sen- informações: diálogos passando uma men-
sações e emoções. Seus significados são de- sagem, cenário outra, figurino outra, e assim
finidos através de seu contexto cromático, ou por diante. Importante, também, é perceber
seja, de quais cores estão associadas a ela e as variáveis da mensagem com relação à mu-
pelos significados que percebemos. A cor em dança dos tons das cores.
um traje será avaliada de forma diferente do O uso do estudo da Psicologia das Cores
que a cor em um ambiente, alimento ou arte, no cinema tem uma variável bastante inte-
transformando, também, seu impacto. ressante, pois a cor é um dos elementos ra-
Tão importante quanto a cor em questão, ramente reconhecidos pelo público enquanto
são as cores que a ela se combinam, pois o os manipula. Ela continua ressoando, envian-
acorde cromático determina o efeito da cor do sinais, independente de nossas intenções.
principal. Um acorde cromático é composto Em mãos conscientes e informadas, a cor
por cada uma das cores que esteja mais fre- pode se tornar uma ferramenta poderosa
quentemente associada a um determinado para os cineastas criarem camadas extras em
efeito. Assim, entendemos que não é uma suas histórias.
combinação aleatória de cores, mas um efeito As cores, porém, não podem ser escolhi-
conjunto imutável. das por uma noção puramente intelectual e
Por exemplo, o acorde do amor é com- abstrata. Por exemplo, se um diretor escolhe
posto por duas cores, vermelho (em maior o azul para simbolizar “esperança” porque o
escala) e o rosa. O vermelho do amor, unido céu é azul quando o sol brilha, é possível que
ao rosa, transmite inocência e sedução. Já o ocorra uma reação indesejada. Em vez de se
rosa, com um pouco de vermelho, transmite sentir esperançoso, o público pode involunta-
ternura, feminilidade e doçura. riamente responder ao azul sentindo- se can-
A mudança de significado pode ser bem sado e até melancólico.
AMARELO
Moonrise Kingdom

O amarelo pode apresentar significados nados. Já em Kill Bill (2003/2004), o amarelo


um pouco contraditórios, a depender da cor é visto como vingança, pois ele está sempre
que se combina a ele. Isso porque o amarelo atrelado ao preto, que transforma qualquer
é uma cor muito instável. Pensando em tin- cor em seu oposto negativo.
ta, qualquer pigmento misturado a essa cor Amarelo e preto também se juntam no
pode transformar completamente o amarelo acorde da advertência, como podemos ver
que conhecemos. Por ser uma cor muito am- nos sinais de advertência para materiais ve-
bígua, o amarelo pode representar tanto coi- nenosos, explosivos e radioativos. O amare-
sas boas, quando coisas ruins. lo ainda pode representar a loucura, como é
Em Moonrise Kingdom (2012), por possível notar nos filmes O Iluminado (1980)
exemplo, o amarelo representa a inocência e Birdman (2014), nos personagens Jack e
de Sam e Suzy, um casal de crianças apaixo- Sam, respectivamente.

Birdman
LARANJA
O Fantástico Sr. Rapozo

É difícil encontrar o laranja em acordes No filme O Fantástico Sr. Raposo (2009),


completamente negativos. Por ser uma mis- o laranja reflete nas imagens essa áurea de
tura entre o vermelho e o amarelo, o laranja é diversão e prazer. O longa possui um tom
uma cor dinâmica e excitante. O laranja tam- bastante alaranjado em seus planos, além de
bém é a cor da recreação, diversão, da socia- possuir uma paleta de cores amarronzada, o
bilidade e do prazer. que reflete o acorde do outono no quadro.
O laranja é a combinação de luz e calor. Amarelo-vermelho-laranja é um acorde-
A chama do fogo pode ser amarela ou azul, a que representa a intensificação. O laranja não
depender da temperatura e da quantidade de é tão claro como o amarelo e nem tão quen-
gás na combustão. O fogo nos traz a ideia de te quanto o vermelho. É como se o laranja se
destruição, assim como o laranja. Em Blade esforçasse para alcançar o ponto mais alto, o
Runner 2049 (2017), o laranja aparece como vermelho.
um lugar inóspito.
Blade Runner 2049
VERMELHO
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

2001: Uma Odisseia no Espaço


O vermelho é uma cor dinâmica e ativa,
podendo atuar em significados bons e ruins.
É a cor do amor e do ódio; da alegria e da
agressividade; do excitante e do imoral. O
vermelho consegue transitar entre muitas
sensações e emoções, tendo seu significado
sempre preso à cor que estará ao seu lado no
acorde cromático.
Em O Fabuloso Destino de Amélie Pou-
lain (2001), o vermelho representa o amor e
a sedução. O filme possui diversos cenários
onde a cor predomina, como por exemplo o
quarto de Amélie e a sala. A personagem ain-
da se utiliza da cor em seu figurino, muitas
vezes ao lado da cor verde.
Já no ficção científica 2001: Uma Odisseia
no Espaço (1968), o vermelho aparece como
um estágio de alerta, um perigo iminente. O
diretor do filme, Stanley Kubrick, se utiliza
bastante da cor em suas obras e sempre com a
temática da violência atrelada a ela.
O Iluminado
ROSA
O Grande Hotel Budapeste
Marie Antoinette
O rosa não é apenas o meio do caminho
ou a mistura entre o vermelho e o branco. O
rosa possui seu caráter próprio e é a única cor
que não se pode atrelar nenhum significado
negativo. Essa é a cor da cortesia, da sensibili-
dade, do charme e da delicadeza. A feminili-
dade também está atrelada a ela. O rosa ainda
é a cor da juventude e traz consigo uma ener-
gia branda, doce e sutil.
Ao lado do branco, o rosa transmite ino-
cência. Próximo ao preto e ao violeta, o rosa
é visto no acorde da sedução e do erotismo.
Assim, é uma cor que oscila entre a imorali-
dade e a paixão.
Alguns filmes onde é possível observar o
desempenho da cor são: O Grande Hotel Bu-
dapeste (2014), Her (2003), Marie Antoinette
(2006) e Paris, Texas (1984). Nessas obras, é
possível notar o rosa em diferentes tons no
cenário, figurino e nos objetos cenográficos.

Her
VIOLETA
Apenas Deus Perdoa

O roxo é uma cor introspectiva, muitas O violeta ainda está presente no acorde do
vezes relacionada ao mundo místico e até a erotismo, ao lado do rosa, do preto e do ver-
morte. O violeta é uma das cores mais difí- melho em maior escala, como é possível ver
ceis de se encontrar na natureza, por isso não no filme Apenas Deus Perdoa (2013).
parece real e tendemos a ver como uma cor Dois filmes que se utilizam do roxo de
mística. Ao lado do preto, o roxo reflete um diferentes maneiras são: novamente, O Gran-
caráter mágico. Por conta disso, é uma cor de Hotel Budapeste (2014) e Pulp Fiction
muito atrelada ao mistério e à morte, pois não (1994). Enquanto no primeiro a cor apresenta
existe nada mais misterioso que a morte. um tom artificial e original para os figurinos,
Uma das cores de um hematoma é o roxo. em Pulp Fiction o roxo aparece em alguns
Além disso, é notável a proximidade da pa- detalhes, sinalizando uma morte que virá a
lavra “violeta” com as palavras “violência” e acontecer ao longo do filme.
“violar”. Desse modo, também é possível en-
contrar o violeta do acorde da violência, junto
ao preto e ao vermelho.
O Grande Hotel Budapeste
AZUL
Apenas Deus Perdoa
O azul é uma cor fria e passiva, por isso, seguinte maneira: O infinito em sua frente
bastante ligada ao cerebral. É uma cor para se corresponde a vida que ele tem pela frente, o
pensar e refletir, não agir. O azul se encontra longo caminho devido sua idade e as infinitas
no acorde da frieza, da distância e da intro- possibilidades para seu futuro.
versão. É uma cor visualmente tranquila, mas Já o infinito sobre a cabeça do persona-
pode ter um efeito tranquilizador demais e, gem, corresponde ao crescimento. Não ape-
dependendo do contexto, pode deixar as pes- nas ligado ao crescimento físico, mas também
soas mais passivas do que se gostaria. ao crescimento com relação às suas perspecti-
O filme O Regresso (2015) reflete bastante vas para o futuro.
o tom azul em seus quadros, muito por conta
Moonlight
da paisagem. A neve reflete uma iluminação
azulada e a natureza ajuda a construir a cor
no cenário. Por outro lado, no frame de Ape-
nas Deus Perdoa (2013), identificamos que
essa luz azul é artificial. Não por isso, o tom
azul da cena ainda consegue passar para os
espectadores tudo o que o azul significa atra-
vés das sensações da iluminação azulada.
O vencedor do Oscar de Melhor Filme de
2017, Moonlight (2016), também possui uma
aurea bastante azulada em seus quadros. O
apse é quando Juan vai à praia no fim do dia,
pois, nessa cena, o azul está presente tanto no
céu quanto no mar.
Desse modo, o azul traz uma sensação de
infinito, transportando essa carga para cima
do personagem (céu) e para frente (mar).
Esse simbolismo pode ser interpretado da
O Regresso
VERDE
Melancolia
Matrix
O verde é a cor da comida fresca e da co-
mida estragada, se colocando muito vulne-
rável quando está ao lado do preto. O verde
também é a cor da decadência, como pode-
mos notar no filme Melancolia (2011) e na
Trilogia Matrix (1999 – 2003).
Apesar do verde ser o símbolo da vida em
seu mais amplo sentido, o verde pode se co-
municar como uma cor tóxica, a cor de tudo
As Virgens Suicidas
que é venenoso. É possível ver em alguns
filmes um líquido verde sendo usado como
metáfora para veneno, por exemplo A Branca
de neve e Os Sete Anões (1937), As Virgens
Suicidas (1999) e Visões de um Crime (2001).
Um bom exemplo que ilustra o impacto
inconsciente da cor nas pessoas é a maneira
como o diretor Kasi Lemmons escolheu uma
luz verde em particular, que desempenhou
um papel fundamental no filme The Cave-
man’s Valentine (Visões de um Crime, 2001). Visões de um Crime
No roteiro, o roteirista George Dawes
Green especificou um “pernicioso” (perver-
so) verde, então, Lemmons e a fotógrafa Amy
Vincent testaram o efeito de diferentes luzes
verdes no ator Samuel L. Jackson e avaliaram
sua reação física e emocional a cada um deles.
Ouça as cores e veja as
músicas que selecionamos
nessa playlist sinestésica!
TRILOGIA DAS CORES
A série de três filmes conceitualmente in- Os temas reais da trilogia são mais díspa-
terligados foi, de longe, o maior sucesso inter- res, mais caóticos e ainda mais interessantes:
nacional de Kieślowski. A trilogia conta com a interminável tortura do amor, a inevitabi-
os seguintes títulos: A Liberdade é Azul (Trois lidade do engano, o fascínio do voyeurismo
Couleurs: Bleu, 1993), A Igualdade é Branca e a terrível potência do medo e do ódio dos
(Trois Couleus: Blanc, 1994) e A Fraternidade homens pelas mulheres.
é Vermelha (Trois Couleurs: Rouge, 1994). Outro motivo poderoso e recorrente
O diretor polonês foi convidado para fa- exibido durante a trilogia é a retratação de
zer uma obra que homenageasse o bicente- alguém deixar tudo de lado, incluindo sua
nário da Revolução Francesa (1789 – 1799). própria identidade e começar tudo de novo.
Desse modo, podemos identificar os ideais do A trilogia mostra diferentes pessoas em dife-
movimento no título dos filmes, “Liberdade, rentes cidades, porém com conexões exóticas
Igualdade e Fraternidade”, bem como as cores onde um personagem principal aparece em
da bandeira francesa: na ordem, azul, branco outro filme. Além disso, retrata temas que vão
e vermelho. da tragédia à comédia e também passa por
Na tradução para o português, fica explí- um drama intenso em um mundo de acon-
cito os ideais da Revolução no título do fil- tecimentos e coincidências. É variadamente
me, o que não acontece no original francês sentimental, grandiosa e misteriosa.
e na versão em inglês. Apesar disso, os três Os filmes são extremamente ambiciosos e,
ideais estão presentes nos três filmes e, com como a bandeira que representam, revolucio-
um pouco de esforço, a relevância de cada nários. Cada tema é executado em profundi-
um pode ser detectada em cada filme. Como dade no filme correlativo, exibido de maneira
o próprio Kieślowski admitiu, esses conceitos excelente pelos recursos visuais, personagens
estavam lá porque o financiamento da produ- e trilha sonora de cada filme. Mas, para serem
ção vinha da França e os filmes eram produ- devidamente analisados, os filmes devem ser
zidos dentro do país. explorados separadamente.
Um símbolo comum aos três filmes é um melho, uma idosa não consegue alcançar o
elo que mantém o protagonista ligado ao seu buraco do recipiente e Valentine a ajuda (no
passado. No caso de Azul, é uma luminária espírito de fraternidade).
azul e um símbolo visto ao longo do filme na A Trilogia das Cores é uma abordagem
TV com pessoas caindo (fazendo sky diving incrível e radical ao cinema. Kieślowski mos-
ou bungee jumping). O diretor tem o cuidado tra um nível profundo, instigante e inigualá-
de mostrar quedas sem cordas no início do vel pela maioria dos outros filmes. Todos eles
filme, mas à medida que a história se desen- oferecem uma janela para diferentes níveis
volve, a imagem das cordas torna-se cada vez da humanidade, que são contados e mostra-
mais aparente como um símbolo de uma liga- dos brilhantemente. Vale notar que o final de
ção com o passado. cada filme da trilogia se encerra com um per-
No caso de Branco, o item que liga Karol sonagem chorando.
ao seu passado é uma moeda de dois francos
e um busto de gesso de Marianne, que ele
rouba de uma loja de antiguidades em Paris.
Já em Vermelho, o juiz nunca fecha ou tranca
as portas e sua caneta-tinteiro deixa de fun-
cionar em um ponto crucial da história.
Outra imagem recorrente relacionada ao
espírito do filme é a de pessoas idosas reci-
clando garrafas: Em Azul, uma idosa em Paris
recicla garrafas e Julie não a nota (no espírito
da liberdade). Em Branco, um idoso também
em Paris está tentando reciclar uma garra-
fa, mas não consegue alcançar o recipiente e
Karol olha para ele com um sorriso sinistro
no rosto (no espírito de igualdade). Em Ver-
polonês. O curta-metragem documentário Z
punktu widzenia nocnego portiera (1979) se
concentra em um vigia com visões totalitárias
do mundo.
Blizna (1976) foi o primeiro lançamen-
to teatral de Kieślowski, que se concentrou
nas relações entre administração e trabalho
dentro da indústria polonesa. Ele chamou
a atenção mundial com Amator (1979), um
trabalho autobiográfico sobre um aspirante
a diretor de documentários que aprende as
consequências da expressão artística.
Com Przypadek (1987), ele fez experi-
mentos com a narrativa da produção. O filme
se centra em um estudante de medicina cuja
vida leva cursos dramaticamente diferentes
depois que ele pega ou perde um trem. Já Bez
końca (1985), conta a história de um advoga-
do morto que cuida de sua família enquanto
eles continuam suas vidas, marcou o início de

KRZYSZTOF uma colaboração de longa data com o rotei-


rista e político polonês, Krzysztof Piesiewicz.

KIESLOWSKI
´
Em 1988, escreveram juntos a série de TV
polonesa, Dekalog, inspirada nos Dez Man-
damentos. Cada episódios, que somam 10
horas de história, exploram pelo menos um
Krzysztof Kieślowski foi um dos princi- mandamento, e como os mandamentos não
pais diretores poloneses de documentários, são explicitamente nomeados, o público é
longas-metragem e filmes de televisão duran- convidado a identificar os conflitos morais ou
te os anos 70, 80 e 90, que exploraram temas éticos no enredo. A série foi exibida na ínte-
sociais e morais da época contemporânea. gra como a peça central do Festival de Veneza
Kieślowski se formou no State Theatrical de 1989 e é considerada uma obra-prima mo-
& Film College em Łódź na Polônia, em 1968, derna do cinema. Além disso, é considerada
e começou sua carreira no cinema fazendo um dos melhores trabalhos dramáticos já fei-
documentários, incluindo um que ele havia tos na história da televisão mundial e Stanley
feito para a televisão polonesa antes de se for- Kubrick chegou a escrever um prefácio de
mar, Zdjęcie (1968). admiração ao roteiro da produção.
Seu primeiro filme significativo foi Mu- Em 1991, Kieślowski e Piesiewicz co-es-
rarz (1973), a história de um ativista políti- creveram o filme La Double Vie de Véronique,
co que se desencanta da política e retorna à que surgiu como o grande sucesso comercial
sua antiga profissão de pedreiro. Kieślowski e crítico na carreira de Kieślowski. Esse filme
fez vários documentários notáveis durante atmosférico e melancólico é o estudo de duas
a década de 1970, principalmente para a te- doppelgängers, uma francesa e uma polone-
levisão, incluindo Szpital (1976), em que ele sa, que além de compartilhar o mesmo nome,
empregou uma câmera escondida para re- compartilham o mesmo aniversário, condi-
velar problemas dentro do sistema de saúde ção cardíaca e um vago senso de existência
do outro. O filme tem um forte elemento de planejado para Dekalog, os roteiros foram
fantasia, embora o aspecto sobrenatural da ostensivamente destinados a serem entregues
história nunca seja explicado. A trilha sono- a outros diretores para as filmagens, mas a
ra de Zbigniew Preisner é adicionada como morte prematura de Kieślowski deixou o mis-
uma grande parte do enredo, a fotografia é al- tério em aberto com o que o cineasta plane-
tamente estilizada, usando filtros coloridos e java fazer com essa trilogia e se ele resolveria
de câmera para criar uma atmosfera etérea. O dirigir os três filmes.
trabalho do diretor de fotografia do filme foi O único roteiro completo, Heaven, foi fil-
considerado inovador para a época. mado por Tom Tykwer, estreou em 2002 no
O filme foi o primeiro trabalho de Festival Internacional de Cinema de Berlim e
Kieślowski produzido parcialmente fora da Kieślowski recebeu créditos por seu trabalho
Polônia, tendo parte de sua produção na no roteiro. Os outros dois roteiros existiam
França, onde faria a última trilogia de filmes apenas como tratamentos de trinta páginas
de sua carreira, a Trilogia das Cores, lança- na época da morte de Kieślowski e Piesiewicz,
dos entre 1993 e 1994. A trilogia foi o auge desde então, completou esses roteiros. O se-
da carreira de Kieślowski, que anunciou sua gundo filme da trilogia, Hell, foi dirigido pelo
aposentadoria logo no ano seguinte, em 1995. diretor bósnio Danis Tanović e lançado em
O diretor veio a falecer em 1996, aos 54 anos, 2005, Kieślowski também recebeu créditos
durante uma cirurgia no coração após sofrer pelo roteiro da produção. Purgatório, sobre
um ataque cardíaco. um fotógrafo morto na guerra da Bósnia,
Embora tenha afirmado estar se aposen- permanece sem ser produzido.
tando depois de lançar a Trilogia das Cores, Kieślowski continua sendo um dos dire-
na época de sua morte, Kieślowski estava tores mais influentes da história do cinema
trabalhando em uma nova trilogia co-escrita europeu e seus trabalhos são incluídos no es-
com Piesiewicz, consistindo de Céu, Inferno tudo de aulas de cinema em universidades de
e Purgatório, inspirada pela Divina Comédia todo o mundo.
de Dante Alighieri. Como foi originalmente
LI .BER.DA.DE
s.f.
1 Tornar ou ficar livre; dar ou ficar em liberdade.
2 Livrar(-se) do que estorva ou incomoda.

A LIBERDADE É AZUL

É o primeiro filme da trilogia. Como o A cor é importante para o aspecto visual


azul é a primeira cor da bandeira francesa, é desses filmes. Nesse, o longa metragem é pre-
o filme de assinatura da série. Em relação à enchido com imagens azuis e apresenta um
bandeira e à definição original de liberdade, tom azulado para o filme, utilizando filtros
o filme estende a palavra de um contexto po- azuis e iluminação com paleta azul. Objetos
lítico para um contexto pessoal. Assim como azuis também são importantes para o esque-
nos outros filmes, a definição de cada tema é ma de cores do filme. Às vezes, o azul é tão
inteligentemente desenvolvida. Logo no iní- sutil, mas muitas vezes repetido, que seu cére-
cio da trilogia, Kieślowski fez um dos filmes bro apenas combina todas essas combinações
mais pessoais e fascinantes até hoje. visuais, tornando a cor azul muito mais per-
Azul se passa em Paris. Julie de Courcy, ceptível. O filme Azul é belo, intensamente
interpretada por Juliette Binoche, repentina- instigante e, às vezes, desolador.
mente está sozinha depois que seu marido e Um dos objetos principais do filme é um
sua filha morreram em um acidente de car- lustre de pedras azuis, o único item que Julie
ro. Libertada de seus laços com sua família, leva da casa em que vivia com seu marido e
ela tenta se desligar do resto do mundo e não filha. Para ela, o objeto possui um simbolis-
quer mais conexões humanas. Ela percebe, mo gigante, pois era o lustre do quarto de sua
no entanto, que a ideia de liberdade pessoal é filha. Para nós, espectadores, o simbolismo
muito mais difícil de alcançar do que se pen- está todo na cor. Julie é incapaz de se desfazer
sava inicialmente. Para um espectador, assis- do objeto, pois, para ela, o objeto representa
tir Julie passando por todas as tentativas de a ligação que ela tem com a filha e a materni-
cortar tudo e ficar sozinha é contagiante. Em dade. Por mais que ela queira se libertar desse
um mundo, no início dos anos 1990, onde as passado triste, ela não consegue se libertar
pessoas estão aprendendo e desenvolvendo totalmente, pois é um vinculo impossível de
maneiras de se manter mais conectadas umas se desfazer. Apesar de ter perdido uma filha, a
com as outras, Julie quer ir na direção oposta. personagem não deixa de ser mãe.
Durante o filme, nunca vemos o lustre No geral, podemos dizer que o azul é
aceso. Mesmo que Julie continue sendo mãe, uma cor passiva, fria, silenciosa e mental. O
sua filha não está mais ali. Sua filha represen- azul também pode transmitir tranquilidade
tava uma luz em sua vida e, sem ela, não tem e harmonia, ou até monotonia e depressão.
motivo para o lustre acender. De certa forma, Em diversos momentos do filme, vemos Ju-
o lustre também pode representar a própria lie nadar em uma piscina. O lugar é grande e
personagem. Sem luz, Julie não tem motiva- em todas as cenas ali ela se encontra sozinha.
ção nenhuma para seguir em frente com a sua Essas cenas não só têm significados acresci-
vida. Tanto que nos primeiros minutos do fil- dos pelo significado da cor azul, como pela
me, logo após receber a noticia do acidente ideia da água. O simbolismo de uma piscina
e da morte de sua família, Julie tenta forçar é bastante interessante. Primeiro, vemos a
uma overdose com remédios. personagem mergulhada no azul e em tudo
As cores mudam com a distância e pro- o que ele representa. Julie mergulha em sua
duzem perspectiva, o que acarreta na ilusão própria melancolia e em seu próprio silêncio.
do espaço. Tendemos a achar o azul grande, O simbolismo da água acresce à mensagem
pois ele é gerado pela reprodução infinita de da personagem tentar se lavar e se libertar de
qualquer material transparente, como, por todos esses sentimentos e sensações pesadas.
exemplo, uma piscina. Sabemos que a água Essa é uma cor fria. A frieza do azul nos
é transparente, mas vemos uma piscina cheia remete quando sentimos frio, pois nossa pele
como azul. Além disso, quanto mais fria uma e lábios ficam azulados. Ambientes frios,
cor, mais distante ela parece ser. Todas as co- como o gelo e a neve, possuem uma cintila-
res vão parecer mais tristes e azuladas se esti- ção que é azul. O branco não transmite frieza
verem longe. Isso se dá devido a uma camada porque o branco também é luz. Já o azul, é
de ar na frente do objeto. Por conta desses a sombra. Na pintura clássica, a sombra era
dois aspectos, o azul nos traz uma ilusão do pintada de marrom ou preto. No Impressio-
espaço, se fazendo parecer ser infinito. nismo, o preto foi abolido e o marrom subs-
tituído por azul. Desse modo, o azul não soa ro musical de seu marido, Olivier, quer ter-
aconchegante para um cômodo, pois a cor minar a peça. Porém, Julie não quer deixar
parece abrir o ambiente e deixar o frio entrar. isso acontecer. Enquanto luta para Olivier
O azul também não soa amigável nas cenas ficar longe, seu passado se torna muito mais
de Julie na piscina. Existe uma tensão sobre proeminente, protelando seu desejo de ficar
o que vai acontecer ali, principalmente quan- sozinha para sempre. A música se torna o
do ela se encolhe e fica imóvel com a cabeça principal símbolo dessa luta pessoal, pois é
dentro da água. um exemplo físico de como a humanidade
Atrelado ao fato do azul ser a cor da dis- trabalha. A composição ilumina o fato de que
tância, vemos Julie constantemente tentando os humanos devem se comunicar e trabalhar
se distanciar da vida que ela levava com seu juntos para viver com sucesso, uma ideia que
marido e filha. Ao longo do filme, certas pes- Julie quer ignorar.
soas e conceitos tentam desesperadamente Além de ser a cor da distância, o azul tam-
impedir que Julie entre em total isolamento. bém é a cor da fidelidade (em inglês, “true
Ver o conceito de liberdade sendo apresen- blue” significa fidelidade incontestável). A fi-
tado como uma batalha pessoal incomum é delidade conversa com a distância, pois é ela
uma nova maneira de mostrar esse tema em quem põe à prova a oportunidade da infideli-
uma história. O filme apresenta uma ideia dade. O azul também é a cor das virtudes in-
profundamente rica que vai mais fundo do telectuais e emocionais, se tornando presente
que as imagens que estão sendo exibidas. no acorde da inteligência, concentração, me-
A música também desempenha um papel lancolia e tristeza (de onde veio a expressão
importante para a história, pois Julie era ca- “blues”, do inglês). Ainda, o azul se encontra
sada com um compositor famoso. Com sua distante da verdade, muitas vezes associado à
morte, seu magnum opus, intitulada “Unity irrealidade e à mentira.
of Europe”, fica sem ser finalizado. O parcei-
Apesar de seu marido ter sido infiel e Ju-
lie só descobrir depois de sua morte, a per-
sonagem segue fiel a seus princípios. Mesmo
descobrindo que a amante de seu marido está
gravida de um filho dele, Julie a ajuda, tam-
bém em um princípio de fraternidade.
Na cena em que Julie está procurando a
amante de seu marido no tribunal central, ela
acidentalmente entra em um julgamento no
tribunal e é imediatamente contornada pela
segurança. Enquanto espreita pelo o tribunal,
Karol Karol, do segundo filme, pode ser ouvi-
do fazendo um pedido ao juiz em uma cena
que começa seu capítulo da trilogia. Essa in-
tegração dos personagens de diferentes filmes
levanta a questão que qualquer pessoa pode
ser um personagem em potencial para um fil-
me, mesmo que seu papel tenha pouco desta-
que. Em Azul, por exemplo, vemos essa cena
do tribunal onde ouvimos Karol, mas não da-
mos muita importância por não termos essa
informação. Posteriormente, descobrimos
uma narrativa interessante a seu respeito.
I.GUAL.DA.DE
s.f.

1 Qualidade de igual.
2 Relação entre coisas ou pessoas iguais.

A IGUALDADE É BRANCA

Em uma mudança drástica, o segundo fil- Muitas vezes já ouvimos a seguinte ques-
me é mais ativo e leve do que seu antecessor, tão: Branco é ou não uma cor? Sim, o bran-
agora abordando o tema de igualdade. Ka- co é uma cor e também é a soma de todas as
rol Karol, interpretado por Zbigniew Zama- cores da luz. O que é branco não é incolor,
chowski, é deixado por sua esposa Domini- pelo contrário. Podemos considerar o branco
que, interpretada por Julie Delpy, de maneira como a quarta cor primária, pois é uma cor
humilhante. Sem dinheiro, sem lugar para que não pode ser obtida através da mistura de
morar e sem amigos, Karol acaba voltando outras cores. Na Psicologia das Cores, vincu-
para sua cidade natal, Varsóvia, na Polônia. lamos a essa cor alguns sentimentos que não
Ainda em Paris, ele faz amizade com Miko- atribuímos a nenhuma das outras cores. Não
laj, um homem que conhece no metrô e logo existe nenhum significado negativo vincula-
começa sua busca de igualdade através da do ao branco, por isso, é considerado a cor da
vingança. perfeição. O problema é que o branco é uma
Branco puxa um pouco mais para comé- cor muito pura e absoluta, ou seja, qualquer
dia, se comparado ao Azul, pois a qualidade pigmento que caia sobre ele só tende a redu-
leve e arejada associada à cor branca ajuda a zir essa perfeição.
construir o tom do filme. O segundo filme da Ao contrário do que é comum imaginar,
trilogia também apresenta mais ação, porém a cor psicologicamente contrária ao branco
o enredo é, novamente, um conto deprimen- não é o preto, e sim o marrom. Isso porquê
te. A simbologia entre os dois filmes é seme- o branco e o marrom contrastam melhor em
lhante. Assim como visto em Azul, só que seus significados. Não existe nenhum acorde
desta vez com a cor branca, a iluminação e o onde essas duas cores se encontrem lado a
tom do filme são guiados por essa cor, como lado, pois nada pode ser limpo e sujo ou leve
a neve que domina o cenário na Polônia e o e pesado ao mesmo tempo.
busto que Karol leva.
O branco também é a cor do silêncio e Em algumas línguas a palavra “branco”
da inocência. Podemos relacionar esses dois possui o mesmo significado de “vazio”. No
conceitos à personagem Dominique. Após a filme, reconhecemos o vazio que Dominique
separação, ainda apaixonado, seu ex marido deixou na vida de Karol e como sua vida ficou
liga algumas vezes tentando contato com ela. sem rumo depois disso. O vazio também se
Da segunda vez que isso acontece, Domini- relaciona à ausência de sentimentos. No fil-
que o ignora completamente, simplesmente me, vemos que Karol ainda gosta de Domi-
não ouvimos nenhum retorno do telefone. nique. No final, percebemos que ela também
A inocência, por sua vez, se dá quando Karol ainda sentia algo por ele, mas no início do fil-
finge sua própria morte para atrair a ex espo- me não tínhamos essa ideia muito clara.
sa e a personagem vai de Paris à Polônia para Por ser a cor do vazio, o branco também é
ir ao enterro. a cor do desconhecido. Nas cenas na Polônia,
Por outro lado, a personagem de Domi- vemos muito branco nas ruas em decorrência
nique é um dos pontos brancos do filme. A da neve no chão. Assim, podemos entender
atriz é loira e tem a pele bem branca. Na luz, que Karol largou a vida que levava em Paris
sua pele e cabelo ficam ainda mais claros. O com sua esposa rumo ao desconhecido. Ape-
branco está presente em alguns acordes como sar de voltar para casa, anos se passaram e
o ideal, a verdade, o leve, a delicadeza e a ele- ele não tinha nenhum plano para o que iria
gância. O branco também é a cor da rendi- acontecer a partir do momento que chegas-
ção, por exemplo, em uma guerra, a bandeira se lá. Por ser a mais clara das cores, o branco
branca significa não quer mais lutar, desistir. traz a leveza consigo, o que é possível notar ao
O filme começa com o divórcio dos dois per- longo do filme de Kieślowski.
sonagens. Ali, alguém não queria mais lutar
pelo casamento.
O branco irradia e aumenta opticamente uma música polonesa e dá uma moeda de
a superfície. Uma cena onde podemos per- dois francos para ele. Depois de uma conver-
ceber isso é quando Karol e Mikolaj correm sa, Mikolaj resolve dormir na estação, junto
pela neve, logo após uma cena no metrô. Mi- com Karol. Essa cena coloca os dois recém
kolaj diz ter um amigo que deseja acabar com amigos em um momento de igualdade. Mi-
a própria vida e procura alguém que possa kolaj certamente não precisava dormir ali
ajudá-lo em troca de uma boa quantia. Karol naquelas condições, mas com o propósito de
se propõe a ajudar esse tal amigo, mas ao che- fraternidade, se colocou em uma posição de
gar no local, Mikolaj revela que ele é a pessoa. igual para igual.
Nesse momento, Karol atira em seu novo co- O branco contribui bastante para a narra-
lega, que cai para frente. tiva e para o entendimento visual da mesma,
Mikolaj abre os olhos e Karol pergunta se assim como o azul e o vermelho nos outros
ele tem certeza, pois a bala era de festim e a filmes da trilogia. Além dos objetos e do
próxima será para valer. Em seguida, temos cenário – seja ele natural ou não, como por
a cena dos dois correndo na neve, em um exemplo a cena da neve e a cena na sala que
momento gigante de fraternidade e igualda- Karol vai alugar para seu negócio – a ilumi-
de. Nesse momento, entendemos que todos nação branca contribui bastante para o tom
sofremos por alguma coisa e todos podemos e a sensação que o filme quer passar. Por não
passar por cima disso. Em um momento de considerarmos o branco uma cor tão forte e
liberdade, os dois correm e se divertem em chamativa, achamos esse filme menos colori-
uma imensidão branca. do que os outros. Porém, é possível notar o
Esse não é o primeiro momento de igual- predomínio da cor em diversos momentos do
dade do filme. Logo no início, quando os dois longa metragem.
se conhecem, Mikolaj ouve Karol tocando
Uma curiosidade do filme é que Karol europeus agora!”, mas, para Karol, esta Euro-
tem uma ligeira semelhança com o próprio pa é exemplificada por sua esposa fascinante
diretor. A Polônia não se tornou membro da e inatingível, sobre quem ele sentiu a neces-
União Euopeia até 2004, mas o filme dramati- sidade de espionar. Kieślowski ainda retrata
za sentimentos poloneses intensos que, tendo através dos olhos de Karol o que ele passou
alijado seu passado comunista e abraçando quando teve que deixar seu país natal e as
uma economia de mercado, seu futuro era mudanças que ele via acontecendo na Polô-
europeu. O irmão de Karol diz: “Nós somos nia e na Europa.
FRA.TER.NI.DA.DE
s.f.

1 Amor ou afeto em relação ao próximo.


2 Boa convivência ou harmonia entre as pessoas.

A FRATERNIDADE É VERMELHA

O último filme, Vermelho, está associado Vermelho aos outros filmes é a importância
à fraternidade temática. A definição de fra- do passado e como ele se conecta ao presente
ternidade na história é, novamente, estendida e ao futuro.
para outro nível do que como a fraternidade Enquanto desconhecidos no início do
é geralmente entendida. Vermelho lida com filme, todos os três possuem qualidades hu-
personagens que têm pouco em comum, mas manizadas, que conectam suas vidas aparen-
gradualmente se aproximam emocional e fi- temente separadas. Auguste e Valentine nun-
sicamente uns dos outros, formando fortes ca se encontram até o final do filme, quando
laços. ambos estão a bordo de uma balsa para a
O filme conta a história de Valentine Dus- Inglaterra. Os personagens dos filmes de
sault, interpretada por Irène Jacob. A perso- Kieślowski tendem a abraçar o acaso, mesmo
nagem parece viver uma vida fictícia, pois ela que isso mude drasticamente sua trajetória e
sempre fala com o namorado que nunca ve- até mesmo seu futuro. No caso de Valentine,
mos, assim como a mãe e o irmão. O filme de o acaso é ter atropelado o cachorro de Kern e
Kieślowski brinca com a fantasia e adota uma levá-lo até a casa dele.
montagem paralela entre a vida do recém ad- Vermelho é o clímax da série. Os aspectos
vogado August e o juiz aposentado, Joseph que fizeram com que Azul e Branco se desta-
Kern. São mundos que nunca se encontram. cassem como filme – a batalha com o seu pró-
Valentine desenvolve um vínculo com o prio eu em Azul e as cenas de ação e humor
juiz e, em diversas cenas, aparece no mesmo negro em Branco – são bem equilibrados em
ambiente que o advogado, porém eles nunca Vermelho. O tema da fraternidade humana é
chegam a se conhecer de fato. Outro ponto bem ritmado e mostrado à medida que o fil-
notável é que o passado do juiz se repete na me avança. O interessante sobre o filme são
vida de August em diversos aspectos. Isso não os diferentes cenários onde a ideia de frater-
é solucionado, o espectador fica sem saber até nidade existe. Valentine conhece Kern depois
que ponto esse jogo se estabelece de forma de atropelar seu cachorro e eles logo forjam
real. Um dos símbolos comuns que ligam um laço que se desenvolve ao longo do filme.
Enquanto Valentine possui seus valores e entre o sangue –, violência e morte. Outras
muito claros, sua relação com Joseph os colo- impressões dessa cor também transitam entre
ca em xeque. Um dos momentos é quando ela significados bons e ruins, a depender de qual
descobre que ele gosta de invadir a privaci- cor a acompanha e em que contexto ela está
dade pessoal de outras pessoas, grampeando inserida. Apesar do filme possuir alguns tons
o telefone dos vizinhos. Valentine não con- escuros que se combinam com o vermelho, o
corda, mas também não abandona seu novo filme não transmite o vermelho do ódio e do
amigo. O senso de moralidade e ética é bas- perigo. Nesse caso, o vermelho representa um
tante forte nesse sentido, pois o juiz a ques- amor fraterno. Um amor que não está ligado
tiona e a faz repensar em diversos momentos. à paixão, e sim à amizade, parceria e confian-
Outra situação é quando ele pergunta porque ça entre os personagens.
ela levou o cachorro ao veterinário. Foi pelo Tal como acontece com os outros filmes,
animal em si ou por sua própria consciência? o vermelho é visto proeminente ao longo do
O vermelho é uma cor política e que filme. Por sua vez, o último filme da trilogia
acompanha um senso de justiça muito gran- apresenta o vermelho em boa parte do figuri-
de. Em 1792, na Revolução Francesa, os ja- no, objetos de cena e, também, na iluminação.
cobinos elegeram a bandeira vermelha como Mais notavelmente, a cena do photoshoot de
a bandeira da liberdade. Mas, antes disso e Irene que é dominada pela cor vermelho. Em
durante séculos, o vermelho é a cor da justiça termos visuais, o vermelho sempre se projeta.
pelo simbolismo de que sangue se paga com Por isso, enquanto o azul dá impressão de dis-
sangue. Nas cidades medievais, bandeiras tância, o vermelho soa próximo e barulhento.
vermelhas eram içadas nos dias de julgamen- Em decorrência de sua projeção e proxi-
to. Os juízes assinavam as sentenças de tinta midade, o vermelho soa visualmente violen-
vermelha e, até hoje, alguns juízes do alto es- to. Por isso e por ser uma das cores do acorde
calão vestem togas vermelhas. do dinamismo, do ódio e da violência, o ver-
O vermelho é a cor de todas as paixões, melho no filme nos traz um pouco essa carga.
tanto as boas como as más. Essa é uma cor Isso não se dá em um sentido real, mas pode-
que circula entre a vida – o amor e a paixão; mos notar nos momentos em que Valentine
desafia a si mesmo. Por exemplo, quando ela daquela situação. Valentine inicialmente não
está na aula de ballet, não só o ambiente é ver- quer participar, mas seu nível de interesse
melho como parte de sua roupa. Nessa cena, pela vida de Auguste aumenta, já que ela vê
vemos a personagem se esforçar para fazer a semelhanças consigo mesma e com Auguste.
posição cambré e conseguimos perceber que Além disso, Valentine e Kern possuem um
aquele esforço é algo dolorido e que ela está se traço muito humano: a curiosidade. Todos
forçando a conseguir se manter ali. podemos nos relacionar com a curiosidade
O vermelho entra no filme como a cor da infecciosa ao tentar aprender sobre alguém.
força. Todos os personagens são muito for- Essas interações entre os três personagens
tes, com suas personalidades definidas e suas principais são imensamente humanas.
histórias, ainda que não nos aprofundemos Formar um vínculo como as formas que
em algumas delas. O vermelho, por ser uma vemos Valentine formar no filme é o que tor-
cor agressiva, chama muita atenção. Dos três na o Vermelho fascinante, um filme surpreen-
filmes, é o filme que mais se apropria da cor dentemente moderno. Em um mundo onde
em seus quadros. Os quadros mais azulados as pessoas podem enviar mensagens anôni-
do primeiro filme se dão nas cenas da pisci- mas e seguir pessoas que não conhecem, o
na, onde a cor se dá através da iluminação, o conceito de conhecer alguém anonimamente
que deixa a força da cor mais branda. Já no é um aspecto principal das mídias sociais. Em
terceiro filme, o vermelho se dá, em maioria, um mundo onde a escuta clandestina é uma
na locação e nos figurinos, às vezes nos dois preocupação para alguns, conhecer alguém
juntos, tornando a cor bastante presente. apenas pela escuta clandestina é assustadora-
Eventualmente, vemos um vínculo entre mente moderno.
Valentine e seu vizinho, Auguste, devido à Os três filmes da trilogia se conectam ao
espionagem de Kern. Esse vínculo só se con- final de Vermelho. Assim, o filme instiga o es-
cretiza no final do filme, quando os dois fi- pectador no final, não só pelos personagens
nalmente se conhecem e o momento sugere dos outros filmes; Julie, Olivier, Dominique
que eles podem vir a ter uma história a partir e Karol aparecerem no naufrágio da balsa,
como por finalizar o longa com uma imagem O último filme da trilogia, assim como o
que recria o outdoor que Valentine posou na último filme da carreira de Kieślowski, foi no-
cena do photoshoot completamente verme- meado a três categorias na cerimônia do Os-
lho. Apesar de possuir um caráter irreal e fan- car de 1995: Melhor Diretor, Melhor Roteiro
tasioso, o filme fecha a trilogia de Kieslosvki Original e Melhor Fotografia.
de maneira surpreendente, deixando o espec-
tador com diversas conexões e teorias.
O MÁGICO DE OZ
O filme é inspirado no livro homônimo juntam à Dorothy para que o Mágico possa
de L. Frank Baum, publicado em 1900. O au- ajudá-los. O Espantalho deseja um cérebro; o
tor ainda escreveu mais 13 obras sobre Oz an- Homem de Lata, um coração; e o Leão, co-
tes de morrer em 1919. Anos mais tarde, em ragem. Porém, no caminho, os quatro ainda
1938, a Metro-Goldwyn-Mayer comprou os têm que enfrentar a Bruxa Má do Oeste para
direitos para adaptar o livro para o cinema. Já que consigam chegar até o Mágico e realizar
no ano seguinte, o filme teve sua pré-estreia seus pedidos.
no dia 12 de agosto e entrou definitivamente Apesar de completar 80 anos esse ano, O
em cartaz no dia 25 do mesmo mês. Mágico de Oz ainda é um filme bastante atual
Estrelado por Judy Garland, o filme conta e é considerado o melhor filme familiar de to-
a história de Dorothy Gale, uma jovem que dos os tempos pelo American Film Institute.
mora em uma fazenda com os tios Henry e Apesar de não ter sido o primeiro filme em
Em no Kansas. Dorothy e seu cachorro, Totó, Technicolor, foi um dos primeiros a abusar da
são levados para a terra mágica de Oz quan- cor no cinema. Toda a parte em que a perso-
do um ciclone passa pela cidade. Lá, os dois nagem está no Kansas é em sépia, tornando o
descobrem que, para voltar para casa, devem impacto para o colorido de Oz ainda maior.
ir até a Cidade das Esmeraldas ao encontro Um item importante no filme é a sapatilha
do famoso Mágico de Oz, o único que pode de rubi. Logo no início, quando Dorothy che-
ajudá-los. ga em Oz, a casa cai em cima e mata a Bruxa
No caminho, eles encontram um Espanta- Má do Leste que calçava a sapatilha. Glinda,
lho, um Homem de Lata e um Leão Covarde. a Bruxa Boa do Sul, dá os sapatos para Do-
Todos eles sentem que precisam de algo e se rothy e pede que ela o proteja, impedindo a
Bruxa Má do Oeste de pegar. Ao longo do fil-
me, a bruxa vai atrás dela algumas vezes na
tentativa de reaver o sapato que estava com
sua irmã.
O vermelho, além de outras coisas, repre-
senta poder. Mas o vermelho não vem com
o imperativo moral. Dependendo do que a
história precisa, o vermelho pode dar o po-
der para um personagem do bem ou do mal,
como em O Mágico de Oz. Apesar de tudo,
tanto a Bruxa Má do Leste quanto a Dorothy
usaram a sapatilha de rubi.
Curioso pensar que no livro os sapa- A Estrada de Tijolos Amarelos começa
tos eram originalmente prateados. No filme com um espiral em expansão, assim como o
também era prateado no roteiro, mas isso foi tornado que levou a casa do Kansas à Oz. O
mudado de última hora pela produção. Os espiral possui uma forte simbologia ligada ao
produtores queriam mostrar o Technicolor mistério e a auto evolução. Para chegar até a
que eles estavam pagando e pensaram que o Cidade de Esmeraldas, Dorothy deve seguir
vermelho contrastaria mais com a Estrada de os tijolos amarelos até o fim. Desse modo,
Tijolos Amarelos. Natalie Kalmus foi credita- como o caminho será guiado por essa estra-
da como “Supervisora de Cores” em pratica- da, os protagonistas vão encontrar perigos e
mente todos os filmes da Technicolor de 1934 novidades durante o trajeto. O amarelo repre-
a 1949. Seu papel era dar concelhos sobre o senta o lúdico e o otimismo.
Technicolor e auxiliar o diretor e a produção Os quatro personagens torcem para con-
no melhor aproveitamento das cores nos fil- seguir seus desejos ao encontrar o mágico.
mes. Assim, seguem otimistas durante o caminho
Kalmus participou de mais de 300 filmes todo. Já o lúdico, está relacionado ao próprio
como consultora e chegou a redigir um estu- lugar. Em Oz as árvores falam, existe bruxa
do sobre a consciência da cor e seus signifi- boa e bruxa má, tudo muito diferente da re-
cados psicológicos, onde apresentou no en- alidade. O lúdico pode ser analisado por esse
contro de Técnicos da Academia de Artes e sentido e pelo fato de que Oz provavelmente
Ciências Cinematográficas. não existe.
ta na cadeira e é possível perceber Zeke um
pouco nervoso. Então, Dorothy diz que ele
está com tanto medo quanto ela e Hunk diz:
“Vai deixar que um porquinho velho o trans-
forme em um covarde?” – e é o que ele justa-
mente representa em Oz: um Leão Covarde.
Quando a Sra. Gulch deseja levar o Totó,
Dorothy a chama de “bruxa velha e má”. Além
disso, no tornado, Dorothy desmaia. Ao acor-
dar, ela olha pela janela e vê a Sra. Gulch vo-
ando em sua bicicleta e se transformando em
uma bruxa em uma vassoura. Quando Doro-
thy finalmente consegue voltar para casa, ela
Logo no início do filme, vemos três ra- acorda em uma cama com a tia Em colocan-
pazes que trabalham na fazenda dos tios de do uma toalha gelada em sua cabeça – como
Dorothy; Hunk, Hickory e Zeke; além de co- se ela estivesse doente. Hunk, Hickory, Zeke e
nhecermos a Sra. Gulch e o Professor Marvel. o Professor vão visitar a menina e ela os reco-
É possível notar o princípio da correspon- nhece de Oz.
dência nesses personagens: os três rapazes, A Bruxa Má do Oeste possui a pele verde,
em Oz, passam a ser o Espantalho, Homem o que nos traz uma certa repulsa, pois qual-
de Lata e o Leão, a Sra. Gulch se torna a Bruxa quer coisa de pele verde não pode ser humana
Má do Oeste e, o Professor, o Mágico de Oz. e nem um mamífero. Pele verde nos remete a
Nas cenas do início é possível perceber al- serpentes e lagartos, animais repulsivos para
gumas dicas, quando Hunk pergunta se Do- algumas pessoas. O verde é uma cor interme-
rothy não tem cérebro. Ela diz que sim e ele diária, por isso, pode se revelar com significa-
pergunta porque ela não usa. Outro momen- dos positivos ou negativos. Porém, no contex-
to é quando Dorothy escorrega do muro e cai to do filme, o verde se revela como algo ruim:
no chiqueiro. Zeke logo entra para ajudar a a bruxa possui um simbolismo de má e está
menina, mas quando os dois saem ele se sen- atrelada a um verde escuro (verde + preto, o
que naturalmente transforma o verde em seu há lugar melhor que o nosso lar”.
significado negativo). Já a Bruxa boa do Sul, Glinda, possui um
Além da Bruxa Má do Oeste, o verde tam- figurino rosa – aquela cor que não podemos
bém está presente na Cidade das Esmeraldas. atrelar nada negativo a ela. Além disso, pos-
Quando vemos ao fim da Estrada de Tijolos sui cabelos claros e seu figurino possui brilho,
Amarelos, a cidade representa a esperança trazendo uma ideia de luz e bondade.
dos personagens conseguirem o que que- O Mágico de Oz é considerado “cultural-
rem. Porém, ao chegarem lá, os personagens mente, historicamente, visualmente e esteti-
descobrem que o Mágico é uma farsa. Nesse camente significante” pela Biblioteca do Con-
caso, o verde também está presente no acor- gresso dos Estados Unidos e foi selecionado
de da mentira e da hipocrisia – mas, em uma para ser preservado no National Film Regis-
escala menor. try em 1989.
Por outro lado, mesmo o Mágico não sen- “Over the Rainbow” foi apontada pelo
do de fato um mágico, ele consegue ajudar American Film Institute como a melhor can-
os personagens, pois o que eles procuram na ção de filme da história dos filmes america-
verdade está dentro deles. O Mágico, então, nos. Ainda segundo a AFI, O Mágico de Oz
dá um diploma ao Espantalho, um relógio de é o melhor filme americano de Fantasia e está
coração ao Homem de Lata e uma medalha de em terceiro na lista dos 25 melhores filmes
coragem ao Leão. Todos os itens são simbóli- americanos musicais de todos os tempos, fi-
cos, mas ajudam os personagens a encontrar cando atrás somente de Singin’ in the Rain
o que eles precisavam dentro deles. Dorothy, (1952) e West Side Story (1961).
por sua vez, não consegue ser ajudada pelo O Mágico de Oz venceu as categorias Me-
mágico, mas Glinda diz a mesma coisa para a lhor Canção Original e Melhor Trilha Sonora
jovem: “Você não precisa mais de ajuda. Você do Oscar de 1940, além de ser indicado em
sempre teve o poder de voltar para o Kansas!” mais quatro categorias: Melhor Filme, Me-
O poder, no caso, é a sapatilha de rubi lhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e
(vermelho). Basta Dorothy fechar os olhos, Melhores Efeitos Especiais.
bater os calcanhares três vezes e dizer “Não
melhores filmes são bem trabalhados, elegan-
tes e divertidos. Desde sua estreia em 1919 até
1938, Fleming comandou cerca de 37 produ-
ções em Hollywood.
Em 1939, o cineasta encontrou o grande
auge de sua carreira. Fleming parecia uma
escolha curiosa para The Wizard of Oz, pois
nunca havia dirigido um filme musical ou de
fantasia antes, e tal produção requeria mui-
ta experiência, mas ele aceitou o desafio com
muita habilidade e capturou um senso per-
feito de fantasia para a história infantil. Ele
filmou todas as cenas do filme, com exceção
das cenas do Kansas, que foram completadas
por King Vidor, pois Fleming se encontrava
ocupado quando foi designado para coman-
dar seu próximo grande sucesso, Gone With
the Wind.
Sua contratação foi realizada por insistên-
cia de Clark Gable, que achava que o diretor
George Cukor estava dando muita ênfase
para Vivien Leigh, e então Fleming substituiu

VICTOR FLEMING
Cukor como diretor do longa. Porém, com
Fleming, o filme encontrou mais conflitos
após o diretor alegadamente fingir um colap-
Victor Fleming foi um cineasta ameri- so nervoso e ficar ausente por 10 semanas,
cano e um dos diretores mais populares de com a produção sendo supervisionada pelo
Hollywood durante a década de 1930, mais produtor David O. Selznick, então eles co-di-
conhecido por seu trabalho em dois dos rigiram o longa.
maiores clássicos do cinema americano, am- Ao todo, seis diretores trabalharam nessa
bos lançados em 1939, The Wizard of Oz e produção monumental, porém Fleming foi o
Gone With The Wind. único a receber créditos pela direção, pois seu
Fleming começou na indústria cinemato- contrato exigia isso. Isso logo viria a manchar
gráfica como piloto de carros em 1910. Um sua imagem em Hollywood entre seus colegas
ano depois, começou a trabalhar para Allan na cidade. Ambos os filmes foram nomeados
Dwan na American Film Manufacturing ao Oscar no mesmo ano e Gone With The
Company e, em 1915, estava comandando Wind se tornou um dos maiores vencedores
a câmera para diretores como D.W. Griffith. da história da premiação, ganhando dez ca-
Durante a Primeira Guerra Mundial, Fleming tegorias. O filme também se tornou uma das
serviu como fotógrafo para o exército dos maiores bilheterias de todos os tempos. Após
EUA. Em 1919, dirigiu seu primeiro longa- esse sucesso, Fleming dirigiu apenas mais
-metragem, When the Clouds Roll By. cinco filmes, com sua última produção sendo
Ele estava sob contrato na Paramount du- Joan of Arc, lançado em 1948 e protagoniza-
rante a década de 1920 e ingressou na MGM do por Ingrid Bergman, e que infelizmente
em 1932. Fleming se tornou um artesão supe- foi um grande fracasso de público, porém re-
rior da tradição clássica de Hollywood, seus cebeu sete nomeações no Oscar.
Victor Fleming veio a falecer no ano se- ele: “Ele era um poeta, um dos grandes ho-
guinte, em 1949, aos 59 anos de idade por mens anônimos desse negócio. Algum dia
conta de um infarto. Fleming era conheci- alguém vai mencionar o que Victor Fleming
do como um dos grandes caras durões de significava para o cinema”. “Um dos grandes
Hollywood, um esportista robusto que en- camaleões”, disse Steven Spielberg, “Nós hon-
frentou os chefes dos estúdios e viveu roman- ramos seus filmes e não o conhecemos, por-
ce com diversas atrizes de suas produções. O que ele fez o seu trabalho tão bem.”
produtor da MGM, Arthur Freed, disse sobre
INDICAÇÕES DE FILMES ONDE A COR
EXERCE UM PAPEL IMPORTANTE:

Lanternas Vermelhas, 1991. Herói, 2002.


Zhang Yimou Zhang Yimou
Com direção de um dos maiores cineastas Na antiga China, um lutador desconhecido
chineses, Zhang Yimou, o filme se passa na é homenageado por derrotar três dos mais
China de 1920 e conta a história de Songlian, perigosos inimigos do rei. Quando o desco-
uma universitária que é forçada a se casar nhecido narra suas batalhas contra os assas-
com um homem mais velho depois que sua sinos Broken Sword, Flying Snow e Moon, o
mãe morre e sua tia não tem mais dinheiro rei começa a questionar alguns dos detalhes
para custear seus estudos. e coloca sua própria visão sobre os eventos.

Suspiria, 1977 Julieta dos Espíritos, 1965


Dario Argento Frederico Fellini
Com direção do cineasta italiano Dario Ar- Essa é mais uma grande obra surrealista do
gento, o filme é um grande clássico do terror diretor italiano Federico Fellini, seu primeiro
europeu. O longa-metragem conta a histó- filme em cores. Visões, memórias e misticis-
ria de uma americana recém-chegada a uma mo ajudam uma mulher de 40 e poucos anos
prestigiada academia de balé alemã que che- a encontrar forças para deixar seu marido
ga à conclusão de que a escola é uma facha- traidor.
da para algo sinistro em meio a uma série de
terríveis assassinatos.
O Desprezo, 1963. Amor a Flor da Pele, 2000
Jean-Luc Godard Wong Kar-Wai
Uma obra de Jean-Luc Godard, o longa conta Produção de Hong-Kong comandada por
a história de um produtor, em discordância Wong Kar-Wai, o filme se passa em 1962, e
profunda com a direção de Fritz Lang e pede relata a história do jornalista Chow Mo-wan
a Paul que mude o roteiro. Arrogante, brutal que se muda para Hong Kong com sua mu-
e odioso, o produtor se sente atraído por Ca- lher, que está sempre envolvida com o tra-
mille, a mulher de Paul. Camille, decepcio- balho e quase não fica emcasa. Chow faz
nada com a atitude do marido, afasta-se dele. amizade com a vizinha Su Li-zhen e ambos
descobrem que seus parceiros os traem.

Mishima: Uma Vida em Quatro Tempos, 1985 Paris, Texas, 1984


Paul Schrader Win Wenders
Com direção de Paul Schrader, este filme é Clássico do diretor alemão Wim Wenders,
uma biografia do autor japonês Yukio Mishi- seguimos a história de Travis Henderson, que
ma, que buscou alcançar uma harmonia im- parece não ter idéia de quem é. Quando um
possível entre si, a arte e a sociedade. A trama estranho consegue entrar em contato com
se centra no dia em que ele chocou o mundo seu irmão, Walt, eles se reúnem desajeitada-
ao fazer harakiri em público. mente. Travis está desaparecido há anos, e sua
presença perturba Walt e sua família.

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