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Sérgio Fragoso

MUTILADAS
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito do autor
e ou editor.

Revisão: SASF
Capa: Bianka Jannuzzi
Diagramação: Sérgio Fragoso
Brasil
Alta Floresta – MT – 2018
Sinopse

Quando uma mulher é encontrada morta, em uma casa abandonada, na


periferia de Nova Iorque, a polícia fica intrigada com a terrível situação do
cadáver.
A mulher está nua, mas o mais assustador é que falta um pedaço de seu
corpo. Detetive Scott sabe que aquele não é um crime comum e que é apenas
uma questão de tempo até que uma nova vítima seja encontrada. Mais um serial
killer está agindo em Nova Iorque e mulheres correm perigo.
A polícia precisa agir rápido antes que ele ataque novamente. Mas prender
esse maníaco que age sorrateiramente durante as noites escuras e sombrias não
será assim tão fácil.
Prólogo
O barulho das trovoadas indicava que a chuva estava próxima. Lindsay
ajudou a organizar as últimas coisas e finalmente foi liberada pelo seu chefe.
Eram vinte horas em ponto quando ela abriu a porta e caminhou em direção à
rua. Sua ideia era caminhar rápido e chegar em casa antes da chuva, mas
infelizmente a chuva começou logo depois. Lindsay ficou chateada por não
carregar um guarda-chuvas naquele momento.
De repente ela notou que um carro vinha na mesma direção e parou ao seu
lado. O homem abaixou o vidro e perguntou se ela queria uma carona.
Lindsay reconheceu o homem que estivera mais cedo na confeitaria e
imediatamente aceitou a carona. Afinal já estava ficando ensopada por causa da
chuva.
— Que chuva forte, não é mesmo? — disse ele.
— Eu ia chegar em casa encharcada. Ainda bem que o senhor apareceu.
— Não precisa me chamar de senhor. Meu nome é Ross. E o seu?
— Lindsay.
Por um momento a moça se arrependeu de ter entrado naquele carro e já ir
falando até mesmo seu nome para um homem completamente desconhecido.
Mas já era tarde para que pudesse se arrepender.
— Ross! Você poderia me deixar em minha casa?
— Claro! Onde você mora?
— A algumas quadras daqui, basta seguir em frente e depois virar à
esquerda lá no final da rua.
— Tudo bem! — disse ele e arrancou com o veículo.
A moça indicou o caminho e até mesmo mostrou exatamente o local onde
morava, mas o homem não parou o carro.
— Hei! Eu disse que a casa era aquela. Por que o senhor não parou?
— Desculpe, eu não ouvi! Vou fazer o contorno e lhe deixo em casa.
Ross seguiu em frente e não retornou, mas acabou parando o carro em
frente a uma casa abandonada.
— Por que o senhor parou aqui? — perguntou já quase desesperada.
Antes que a moça tivesse a chance de qualquer tipo de reação o sujeito
pegou um pedaço de arame que estava sobre o banco traseiro e passou em volta
do pescoço dela. Lindsay ainda tentou segurar o arame, mas ele foi muito rápido.
Sentiu aquilo a sufocar lentamente sem que tivesse condições de gritar por
socorro. Seus olhos se arregalaram, o ar começava a faltar em seus pulmões. Só
teve mesmo a chance de se arrepender amargamente por ter entrado naquele
carro. Mas agora já era tarde demais. Foi seu último suspiro. Seu corpo sem vida
deslizou sobre o banco do passageiro.
Capítulo 1

Era uma noite escura e chuvosa em Nova Iorque, Scott estava em casa com
sua esposa e ainda aproveitava os momentos de paz que conseguiu depois de
solucionar seu caso mais recente. Foi um caso muito complicado e que quase
custou o seu cargo de detetive. Várias mulheres haviam sido mortas por um
psicopata que apenas queria suas calcinhas. Simplesmente calcinhas usadas para
que pudesse alimentar seu fetiche que havia ganho proporções absurdas. Aquilo
se transformou em algo completamente doentio e a lista de mulheres mortas foi
bem maior do que Scott esperava. No entanto, agora tudo estava resolvido.
Foi neste momento em que o detetive Scott recebeu uma ligação, era
Alfred, seu chefe pedindo que se dirigisse até um bairro periférico da cidade. Ele
pediu o endereço sem a necessidade de saber mais detalhes que também não
foram fornecidos, ele sabia bem que algum crime horrível tinha acontecido. Não
seria acionado perto da meia noite por uma simples bobagem. Seus pequenos
momentos de paz tinham se esgotado. Scott deu um beijo em sua querida esposa
Eve e deixou o apartamento se dirigindo ao elevador para chegar até a garagem.
O local estava completamente deserto, a não ser pela enorme quantidade de
carros que se acumulavam lado a lado. Ele sentiu o calor do motor de um dos
carros estacionados quando se aproximou, um estalo demonstrando que o motor
esfriava o deixou ainda mais alerta. Scott entrou em seu carro saindo
imediatamente do condomínio onde morava para ver algo que possivelmente
poderia lhe tirar o sono.
As ruas estavam parcialmente desertas, naquele caminho, mas os grossos
pingos de chuva que caiam sobre o para-brisas fizeram com que ele dirigisse
com mais cautela do que gostaria. Vinte minutos depois ele avistou as luzes dos
carros da polícia e da equipe médica parados em frente de uma casa bastante
comum, um pouco decadente. Scott encostou o Mustang logo atrás do carro de
seu chefe e desceu rapidamente tentando se esquivar da chuva que ainda era
bastante forte, seus cabelos ficaram parcialmente molhados e foi preciso utilizar
um lenço para que pudesse secar seu rosto. Agradeceu mentalmente a Eve por
sempre carregar um com ele. Ela nunca esquecia de colocar um em seu bolso do
paletó.
Scott apresentou o distintivo para que lhe permitissem invadir a área isolada
e logo estava frente a frente com Alfred que o aguardava aparentemente
impaciente.
— Pensei que a chuva lhe atrasaria, mas até que chegou rápido —
comentou Alfred colocando novamente o charuto na boca.
— Realmente a chuva está forte. Mas me diga o que temos aqui? Espero
que seja realmente grave para me tirar de casa a essa hora.
— Uma mulher assassinada, mas isso não é tudo. Veja com seus próprios
olhos e tire suas conclusões. Tenho certeza que vai se surpreender. Verá que a
gravidade do caso está num nível muito acima do que pensa.
— Acredito que nada mais me surpreende em todos esses anos de trabalho.
Não me diga que é uma das vítimas do colecionador que só agora a
encontramos?
— De maneira alguma. O cadáver está mais fresco do que você possa
imaginar. Eu diria que não se passaram nem duas horas desde o ocorrido.
Scott se dirigiu até a sala onde o corpo foi encontrado. Dois peritos faziam
o levantamento das provas para que o corpo pudesse ser removido.
Alfred não mentia quando disse que a cena do crime seria surpreendente.
Certamente que o detetive não esperava por algo parecido.
Deitado sobre pedaços de papelão, espalhados pelo chão, estava o corpo de
uma jovem mulher. Não aparentava mais do que vinte e cinco anos. Tinha uma
marca profunda ao redor de seu pescoço. Provavelmente de algum tipo de arame
que causou seu estrangulamento. Os olhos ainda abertos mostraram o horror que
foram seus últimos minutos de vida.
Ela estava totalmente nua. As roupas jogadas por todo o local. Talvez tenha
sido estuprada depois de ser morta. Algo que não seria assim tão simples de ser
confirmado. Na região da virilha não se via a parte externa da genitália, mas
apenas um buraco de onde ainda respingavam gotas escuras de sangue que caiam
sobre o papelão. Todo o órgão havia sido removido de uma maneira meticulosa.
Provavelmente com a ajuda de um bisturi ou algo parecido. Pelos pubianos
estavam sobre o papelão indicando que antes de mutilá-la ele a depilou, talvez
com um barbeador descartável que não estava por ali.
Scott realmente estava perplexo pela cena que acabara de ver. Em toda sua
carreira não havia nada parecido. Se tivesse que adivinhar a situação do corpo,
certamente que ele teria errado feio em todas as suas suposições.
— Como foi que a encontraram aqui, a casa parece abandonada? —
perguntou a Alfred.
— Venha até aqui, Scott — disse caminhando até a área externa da
residência onde estava um homem de estatura baixa e roupas sujas. O sujeito
mais parecia um mendigo. Scott não notou sua presença ao entrar no local no
momento em que chegou.
— Este homem diz que usa esta casa abandonada para morar, ele chegou
aqui e encontrou aquilo que você acabou de ver e ligou para a polícia — disse
Alfred.
— Acha que ele tem algum envolvimento com isso, ou podemos acreditar
em sua história?
— O que me diz? — inquiriu Alfred.
Scott analisou o sujeito por alguns segundos.
— Ele não está sujo de sangue, não carrega um pacote contendo um órgão
sexual feminino e não seria tão estúpido a fim de chamar a polícia depois de ter
feito aquilo. No entanto, é bom que seja levado até ao departamento para que
seja interrogado com calma e que passe por perícia para ver se não tem nenhum
resquício de sangue da vítima e também para que sejam analisadas suas
impressões digitais.
— Tenho certeza que a casa deve estar cheia de impressões digitais dele,
mas espero que não encontremos nenhuma no corpo da vítima ou terá sérios
problemas com a polícia — completou o detetive.
— Perfeito! Vou deixá-lo sob custódia até que isso seja providenciado e
amanhã cedo você o interroga.
— Faça isso, Alfred.
— Eu sou inocente — disse o homem com medo de ser preso. Era evidente
que ele não tinha nada a ver com a história, mas era necessário interrogá-lo
como principal testemunha do crime até aquele momento.
— Todos são inocentes até que se prove o contrário. As evidências estão a
seu favor, mas vamos ver o que a perícia nos diz. Se não fez nada de errado, não
há o que temer.
Scott retornou para o interior da residência e continuou a analisar a cena do
crime. A casa realmente estava abandonada com sujeira para todos os lados.
Apenas alguém com sérios problemas usaria um local daqueles para se abrigar
todas as noites. Não havia pegadas com marcas de sangue, apenas algumas gotas
indicando que logo em seguida o assassino guardou o pedaço do corpo em
algum saco plástico ou coisa parecida. O detetive notou que mais algumas gotas
iam em direção a uma porta que ficava no lado oposto.
— Já verificaram aquela porta?
— Sim! É o banheiro. Ele lavou alguma coisa no local, talvez luvas ou as
próprias mãos. Tem manchas de sangue. Já fizemos a coleta de amostras — disse
um dos peritos.
Scott foi até o local e viu as manchas vermelhas sobre o lavatório, mas não
existia nada jogado no chão, o assassino não seria idiota de deixar as luvas com
suas digitais se é que ele usou luvas.
— Já sabem quem era a vítima? — quis saber o detetive.
— Ainda não, detetive. Aparentemente ela não carregava nenhum
documento, ou o assassino levou todos os pertences dela. Talvez queira que a
polícia demore um pouco para saber quem era ela.
— Tenho certeza de que logo teremos a notícia de algum desaparecimento.
É uma questão de tempo para a identificarmos, mas o que realmente me importa
é saber quem fez essa barbaridade. Quero todas as informações o mais rápido
possível. Um relatório completo em minha mesa ainda pela manhã.
— Tudo bem! Vamos fazer o que for possível.
— Faça mais do que isso, não sabemos com quem estamos lidando, mas se
for um serial killer é apenas uma questão de tempo até que encontremos a
próxima vítima.
Scott retornou para a varanda.
— Serial killer ou não, quero que descubra o mais rápido possível o autor
desta barbaridade. Você está oficialmente no caso.
— Pode deixar comigo, Alfred. Vou para casa descansar um pouco e logo
que amanhecer estarei no departamento para interrogar o sujeito. De qualquer
maneira já adianto que ele não tem cara de quem teria a capacidade de fazer
aquilo. O cara que fez o serviço é profissional.
— Então se livre dele logo cedo e não perca tempo.
Após encerrar todo o seu trabalho no local, Scott retornou para sua casa. A
chuva já estava parando. Imaginou o desespero da família ao receber a notícia da
morte da pobre moça, principalmente nas circunstâncias em que foi encontrada.
Precisava dormir um pouco, tinha muito trabalho pela frente na manhã seguinte.
Só não sabia se conseguiria pregar os olhos depois de tudo o que ele viu naquela
casa. A imagem da moça mutilada ainda estava passando em flashes na sua
mente.
Capítulo 2

Quando Scott acordou naquela manhã, sua esposa Eve já estava com o café
da manhã sobre a mesa. Scott não costumava perder a hora, mas já passava das
seis da manhã quando ele acordou, coisa que não era normal. Ele rapidamente
tomou um banho, não tinha muito tempo antes de ir para o trabalho.
Scott saiu do banho com seus cabelos claros ainda úmidos. Ele era um
homem alto, forte, de corpo musculoso e com olhos verdes que se destacavam
em seu rosto quadrado. Era o homem dos sonhos que Eve sempre quis, ela nem
acreditava na sorte que tinha em ter aquele homem incrivelmente lindo ao seu
lado.
— Bom dia, querido!
— Bom dia! — disse ele lhe dando um leve beijo na boca.
— Não vi você chegar nesta noite. Devo ter pegado no sono para valer.
— Eu não quis fazer barulho, já se passava da meia-noite quando retornei.
Sei que sempre me pergunta qual era o crime da vez e eu não queria estragar a
sua noite com os detalhes sórdidos do que aconteceu naquela casa. Você não faz
ideia do tipo de crime que ocorreu.
— Deve ter sido algo terrível?
— Sim! Foi mesmo. Algo que eu nunca tinha visto antes. Aposto que não
acertaria se eu lhe desse três chances.
— Então me conte. Você me deixou ainda mais curiosa.
Scott serviu sua xícara de café preto e também dos ovos com bacon que
estavam cheirando maravilhosamente bem.
— Uma mulher assassinada. Isso não é nenhuma novidade, mas a forma
como a encontramos sim é algo impressionante. Acho que temos mais um louco
atacando mulheres por aí. Encontramos a mulher totalmente nua, ao que tudo
indica morreu estrangulada por algum objeto, um arame ou algo parecido que
não encontramos no local. Mas isso também é o de menos.
— Ela foi estuprada?
— Talvez sim! Ela estava deitada sobre pedaços de papelão em uma casa
abandonada. Até aí nada de anormal, mas seu corpo não estava inteiro.
— Como assim? Faltavam pedaços?
— Ela foi mutilada. O assassino usou algum instrumento cortante e retirou
todo o órgão genital externo da vítima deixando ali apenas um buraco.
— Que horror! — Por que alguém faria isso?
— Não faço ideia de qual seria a utilidade da parte que o assassino levou,
mas analisando a forma que ele fez isso só me resta uma hipótese.
— Não entendi!
— Ele a depilou antes de mutilá-la. Tenho quase certeza de que estamos
lidando com um canibal.
— Um assassino que come carne humana? — perguntou espantada.
— Sim! Mas o que me espanta é a parte que ele retirou do corpo da moça.
Ela tinha muitas outras partes mais apetitosas, os seios eram muito pequenos,
mas o bumbum tinha bastante carne. Por que ele foi escolher justamente aquela
região do corpo? Eu não entendo.
— Que horror! Parece que você analisou as partes mais apetitosas?
— Tenho que pensar como o assassino. Por que ele retirou justamente esta
parte? Deve haver algum significado, algo que o estimulou a agir dessa forma.
De qualquer maneira ainda é cedo para afirmar que realmente é um canibal.
Pode ser um marido ciumento que descobriu uma traição e para se vingar
arrancou o órgão genital e vai deixar exposto em formol para lembrar que nunca
mais aquilo será utilizado por outro homem. Muitos homens não sabem conviver
com a traição, ou até mesmo a separação. Eles acreditam que a mulher não tem o
direito de ser de outro homem. Por isso muitos matam as parceiras.
— Credo! Mas vocês já sabem quem é a moça?
— Ainda não! Não existiam documentos junto da vítima. Mas certamente
que logo teremos a notícia de um desaparecimento e vamos ter a identidade da
moça. Notícias ruins se espalham rapidamente. Ao menos quanto a isso não
precisamos nos preocupar.
— Espero que você esteja errado, que seja apenas um caso isolado e não
mais um serial killer. Geralmente a lista de mulheres mortas fica bastante
extensa antes do cara ser preso.
— Se for também logo saberemos. Os intervalos entre os crimes não
costumam ser muito longos. E você tem razão, se o cara fosse preso depois de
apenas um crime ele não seria considerado um serial killer.
Scott terminou o café, lhe deu um beijo e foi para o departamento de
polícia, tinha alguém a interrogar e um crime a desvendar.
Quando Scott chegou ao departamento, cumprimentou Alfred e sentou na
cadeira em sua frente.
— Bom dia, Alfred! Já tem a identidade do homem de ontem à noite?
— Sim! Se chama Henry Castro. Ele tem algumas passagens pela polícia,
mas apenas por vagabundagem. Nada que se assemelhe a brutalidade do crime
de ontem à noite. Acho que ele é inocente, mas vamos ver o que ele diz.
— Muito bem! Posso interrogá-lo agora?
— Sim! Já fizeram todos os procedimentos necessários, após o
interrogatório e se nada de suspeito for encontrado vamos liberá-lo.
Alguns minutos depois Henry estava em sua frente.
— Muito bem! Conte-me tudo o que aconteceu ontem à noite. Quero saber
de todos os detalhes.
O homem pensou por alguns segundos antes de começar a falar.
— Em primeiro lugar quero dizer que sou inocente.
— É o que apontam as evidências, mas quero saber tudo o que sabe sobre
aquele crime. Não oculte nenhuma informação, isso pode aliviar a sua barra
ainda mais rápido.
— Como eu disse ontem à noite, uso aquela casa apenas para me abrigar, na
maior parte do tempo passo na rua pedindo um trocado aqui e ali. Quando
retornei para casa estava chovendo muito. Vi que um homem com roupas
escuras estava em frente da casa no jardim. Não sei se ele estava dentro da casa.
Percebi a presença dele quando virei a esquina. Quando notou minha presença
ele rapidamente entrou em um carro e saiu do local.
— Um carro! Consegue identificá-lo?
— Apenas a cor, era um carro preto, mas não conheço o modelo.
— Também não viu a placa, eu imagino?
— Não notei. Estava chovendo muito e não consegui ver nada.
— O homem carregava alguma coisa na mão?
— Tinha algo parecido com uma sacola, mas não dava para ver direito o
que era.
— Senhor Henry. A porta da casa estava trancada com chaves?
— Não! Eu deixava apenas encostada, eu arrombei para poder usar o local,
eu nunca tive as chaves.
— Como estava o local quando entrou na casa ontem à noite?
— A casa está com a energia cortada, eu acendi minha lanterna e entrei na
casa como de costume. Não tinha percebido nada de estranho e então quase pisei
em cima do corpo. Levei um susto e pensei em sair correndo dali e nunca mais
passar perto daquela casa.
— E por que razão não fez isso?
— Simples! Em todos os lugares da casa vão encontrar minhas digitais, eu
seria o primeiro suspeito. Saí procurando um telefone público e então avisei a
polícia.
— Você mexeu na cena do crime ou até mesmo entrou em contato com o
corpo?
— Não, senhor detetive. Não encostei em nada. Tenho pavor de cadáveres.
— Acredita que isso é tudo, ou tem mais alguma coisa que queira contar?
— Não senhor! Isso realmente é tudo.
— Muito bem! Você será liberado, mas saiba que estamos de olho em você.
Um oficial acompanhou o homem para que Scott pudesse dar continuidade
na conversa com o chefe. Depois seria liberado.
— E então Scott. Acredita que ele tem alguma relação com o
crime? — perguntou Alfred alguns minutos depois.
— Não acredito nisso. A menos que a perícia encontre as digitais dele no
corpo encontrado ou que apareça algum fato novo. Caso contrário só posso
acreditar que ele é inocente.
— Certo! Vamos liberá-lo, mas Henry será monitorado de perto. Caso ande
fora da linha trazemos ele de volta.
— Mas agora, mudando de assunto. A perícia já conseguiu identificar a
vítima? — perguntou Scott.
— Sim! Já temos um nome. Ela se chamava Lindsay, a família comunicou o
desaparecimento para a polícia. Cruzamos as informações e então foi só uma
questão de tempo até que reconheceram o corpo.
— E onde ela estava antes de desaparecer e ser assassinada? — perguntou
Scott.
— Lindsay retornava do trabalho e deveria ter chegado em casa por volta
das vinte horas, mas como sabemos foi assassinada antes disso. A casa onde ela
morava fica no mesmo bairro onde o corpo foi encontrado, a apenas algumas
quadras de distância.
— Vamos aguardar o resultado da perícia e então, se for necessário,
entrevistamos a família. Ainda não temos ninguém suspeito do crime, mas tenho
a impressão de que isso é apenas uma questão de tempo.
Capítulo 3

Dois dias depois ainda não havia nenhuma novidade sobre quem teria
cometido aquela atrocidade com Lindsay, mas pelo menos não se tinha notícias
de algum crime parecido indicando que o assassino teria atacado novamente. Até
aquele momento ainda não era possível dizer que se tratava de um serial killer. A
equipe de perícia já tinha todas as informações sobre as provas colhidas naquela
noite. Scott esperava algo novo que pudesse dar um rumo para as investigações.
— Sou todo ouvidos — disse Scott ao sentar em frente à mesa do chefe da
perícia.
Ted então começou a falar.
— Não encontramos nada que possa incriminar Henry, a vítima não tinha
nenhuma impressão digital dele pelo corpo ou nas roupas que encontramos no
local. Essa hipótese do envolvimento do sujeito já pode ser totalmente
descartada. Mas isso não quer dizer que não encontramos nada. Temos uma
impressão digital encontrada no corpo, o assassino tomou muito cuidado na hora
de mutilar o corpo, mas provavelmente antes disso, durante o encontro dos dois
até o estrangulamento ele estava sem luvas. Pode ser que seja a impressão digital
do assassino.
— Então já temos um nome? — perguntou Scott com um sorriso no rosto.
— Infelizmente não! Ainda não conseguimos identificar o dono delas.
Parece que temos alguém sem passagem pela polícia, ou talvez algum
estrangeiro. Através de impressões digitais não chegaremos ao responsável.
Scott coçou o queixo decepcionado.
— E quanto a outras evidências?
— A vítima manteve relações sexuais antes de ser morta, ou após ser morta.
Encontramos vestígios de látex, mas nenhuma secreção que pudesse ser sêmen.
O assassino usou um arame liso de aço para estrangular a vítima, por isso aquela
marca profunda na garganta. Depois de tirar a vida da moça ele a despiu. Isso é
uma evidência de que ele pode ter abusado do corpo já sem vida. Depois ele
utilizou um aparelho descartável de barbear para depilar a região genital e em
seguida utilizou um bisturi ou algo parecido para retirar toda a parte externa da
genitália.
— E os vestígios de sangue encontrados no local?
— São todos da vítima. O assassino foi bastante cuidadoso e deve ter
utilizado uma lanterna durante todo o tempo que esteve no local do crime. Caso
contrário isso não seria possível. Ele fez todo o serviço com muita calma.
Provavelmente ele acreditava que a casa estava totalmente abandonada e que não
existiam riscos de ele ser surpreendido.
— Mais alguma coisa? — perguntou Scott.
— Infelizmente isso é tudo.
— Obrigado, Ted!
Scott retornou para o departamento com aquelas informações em um
relatório, mas cada uma delas martelava em sua cabeça. Por que Lindsay não
chegou em casa no horário correto? Teria sido abordada durante o caminho ou
pegou uma carona com seu futuro assassino? Aquela casa foi escolhida
aleatoriamente ou tem algum significado para o assassino? Por qual motivo ele
tirou justamente aquela parte do corpo? Seria algum ritual macabro, ou algo sem
nenhuma importância que pudesse ajudar Scott a desvendar o crime?
A quantidade de perguntas era grande, mas ele ainda não tinha respostas
para nenhuma delas.
Naquela tarde Scott retornou ao local do crime. Queria ver o local com mais
calma e com a luz do dia. Quando parou o carro exatamente no mesmo lugar da
noite do crime e desligou o carro, a primeira coisa que fez foi analisar a situação
das casas próximas de onde ocorreu o crime.
O detetive notou que não era a única casa abandonada, as casas da direita e
da esquerda também estavam desocupadas e abandonadas, algumas janelas
estavam depredadas. Talvez por isso ninguém notou nenhuma movimentação
estranha. Aliado a isso também havia a chuva forte que estava a favor do
assassino. Dificilmente alguém notaria algo estranho naquele momento.
O detetive se aproximou da casa e cruzou a fita amarela que ainda indicava
que ali era o cenário de um crime recente. Nada diferente de uma casa
abandonada cheia de sujeira, a não ser pela grande mancha de sangue em cima
dos pedaços de papelão jogados no chão do cômodo que certamente um dia
serviu de sala de estar para uma família feliz. Scott observou o local atentamente
a procura de algum detalhe, de alguma pista que talvez não tenha notado.
Verificou cada canto, mas não encontrou nada, além de lixo e restos de comida.
Também não havia qualquer evidência de que o assassino teria retornado àquele
local. Estava tudo do mesmo jeito em que viu na noite do crime e nas fotos da
perícia.
Scott saiu da casa e caminhava em direção ao seu carro quando notou uma
moça olhando atentamente em sua direção e foi ao encontro dela.
— Com licença, sou detetive Scott — disse mostrando seu distintivo.
— Desculpe! Estava olhando o senhor e por um momento pensei que o
assassino havia retornado ao local do crime.
— Eu pareço com o assassino? Senhorita…
— Me chamo Anne! De maneira alguma, me desculpe, mas todos aqui
ficamos muito assustados com o crime que ocorreu naquela casa. As pessoas têm
até medo de chegar perto da casa.
— Tudo bem! Quem não ficaria? A senhorita estava em casa na noite do
crime?
— Eu sou obrigada a responder essa pergunta?
— De maneira alguma, isso não é um interrogatório. É apenas uma
conversa informal. A questão é que ainda não temos nada de concreto em relação
a quem é o assassino. Qualquer informação que possa levar ao assassino é de
grande importância para a polícia. Gostaria de ouvi-la. Não é necessário que vá
ao departamento de polícia.
— Sim! Eu estava em casa, mas não vi nada. Estava chovendo muito, só
notei que havia algo de estranho quando olhei pela janela do meu quarto e vi as
luzes dos carros da polícia. Meus pais correram trancar todas as portas e ficamos
em silencio com medo de que o assassino ainda estivesse por perto e tentasse se
esconder em nossa casa.
— Presumo que seus pais também não viram nada?
— Eles estavam assistindo à TV, foi meu pai que viu primeiro, quando eu
saí do quarto, eles estavam assustados, mas não viram nada também.
— Não viram e nem ouviram nenhum barulho diferente?
— Não! A chuva estava muito forte. E pelo que fiquei sabendo não foi
disparado nenhum tiro.
— Realmente não, foi algo muito pior do que um tiro, mas não quero
assustá-la com detalhes desagradáveis. Muito obrigado e desculpe o incômodo.
— Não foi incômodo algum. Espero que o senhor consiga prender logo esse
assassino.
— A polícia vai fazer o melhor possível, não se preocupe, mas enquanto
isso não acontece evite andar sozinha durante a noite. Não sabemos se o
assassino mora por aqui por perto ou isso é apenas uma coincidência. Não
sabemos qual é a motivação do crime. É melhor não se arriscar.
Capítulo 4

Os dias passavam e a polícia não tinha nenhuma novidade no caso do


assassinato de Lindsay. Naquela manhã Scott anotou o endereço e se dirigiu até a
residência dos pais da moça. Queria saber se eles tinham algum suspeito de ter
assassinado a filha deles, ou se alguém poderia ao menos ser considerado
suspeito. Coisa que Scott duvidava muito, ou eles mesmos já teriam relatado
quando deram um primeiro depoimento, logo após o sepultamento de Lindsay.
Quando chegou à residência e parou o carro em frente ao jardim, logo Scott
percebeu um senhor de aparentemente cinquenta anos, cuidando de algumas
plantas que estavam invadindo o caminho. O homem estava com o semblante
abatido e certamente que aquela atividade era apenas para tentar fugir um pouco
da realidade que ainda assombrava a família.
— Bom dia! Sou detetive Scott — disse mostrando seu distintivo.
— Como vai! — Sou Jeffrey — falou o homem apertando a mão do
detetive — as olheiras ao redor de seus olhos não escondiam que ele estava
sofrendo muito com a perda da filha de maneira trágica.
— Podemos conversar um pouco sobre o crime que vitimou a sua filha? A
menos que o senhor acredite que não seja uma boa hora.
— Claro! Me acompanhe. Creio que nunca será uma boa hora para
falarmos sobre isso.
Os dois sentaram em um banco que estava debaixo de uma pequena árvore
no jardim. Os raios de sol ainda os atingiam, mas não fazia muito calor naquela
manhã.
— O senhor tem alguma novidade, já sabe quem fez aquela barbaridade
com a minha filha?
— Infelizmente não! E é justamente por isso que estou aqui. Quero saber se
o senhor tem alguma informação que pode nos ajudar chegar até o assassino.
— Mas eu não sei de nada — disse o pobre homem com o olhar triste.
— Sei que, se o senhor soubesse quem é o assassino, já teria falado isso
para a polícia. Não duvido nem um pouco. O que eu quero dizer é sobre as
informações que o senhor tem sobre a sua filha. Qualquer coisa que de repente
possa ser investigada.
— E o que o senhor quer saber?
— Sua filha tinha um namorado na atualidade?
— Não! Pelo menos que eu saiba ela estava sozinha faz algum tempo.
— Ela saiu recentemente de algum relacionamento de maneira conturbada,
ou já teve algum namorado ciumento? Alguém que seria capaz de fazer aquilo
com ela.
— Ela namorava um sujeito. O nome dele é Ryan, mas eles terminaram
porque minha filha descobriu que ele já tinha outra. Mas foi tudo tranquilo, acho
que ela nem ao menos gostava dele. Tem uns dois anos que eles não se viam
mais.
— Então o senhor acredita que não existe qualquer possibilidade de
envolvimento por parte dele?
— Nenhuma! Eu ficaria surpreso se tivesse. Não foi ele, Ryan não tem
capacidade para cometer uma atrocidade daquelas.
— Muito bem! Sua filha retornava do trabalho quando foi assassinada. Ela
tinha costume de pegar carona, ou tinha outra maneira de chegar em casa? —
continuou o detetive.
— O local onde ela trabalhava fica a apenas mil metros daqui. Ela vinha
caminhando mesmo.
Scott coçou o queixo imaginando que ela teria sido uma presa fácil para o
assassino.
— Creio que é um pouco perigoso para uma moça andar sozinha quando a
noite já caiu. Ela não tinha medo? Nunca reclamou de que poderia estar sendo
seguida?
— Esse bairro é muito calmo, nunca aconteceu nada que pudesse deixá-la
com medo. Foi uma terrível surpresa quando soubemos o que aconteceu com
minha querida Lindsay. Ninguém imaginava algo parecido. Agora todas as
mulheres do bairro estão com medo de sair na rua desacompanhadas.
— Infelizmente psicopatas não escolhem lugares óbvios, eles estão onde
menos se espera. E muitas vezes estão mais próximos do que podemos imaginar.
Espero que não seja mais um assassino em série, mas ainda é cedo para afirmar.
— É uma pena que eu não tenha podido ajudar o senhor, mas torço para que
encontrem o assassino o mais rápido possível e que ele pague pelo crime que
cometeu.
— Pode ficar tranquilo. Vamos fazer o que for possível. A morte de sua
filha não ficará impune.
Scott retornou para o departamento, mas não tinha nenhuma informação
nova e isso já começava a preocupá-lo.
— Alguma novidade, Scott? — perguntou o chefe.
— Nada que possa ser considerado uma pista. Estive no local do crime para
fazer uma análise cuidadosa do local. Mas não encontrei nada que ainda não
esteja no relatório da perícia. Também conversei com uma moça, ela é moradora
de uma das casas próximas do local do crime. Ela disse que estava em casa, mas
que não ouviu e não viu nada. Seus pais também não viram nada, segundo ela.
— Isso é muito ruim. Ninguém viu nada e não temos nenhuma pista —
lamentou Alfred.
— Na verdade, temos várias pistas que ainda não foram úteis. A impressão
digital que não pôde de ser identificada. O homem, visto em frente da casa,
pouco antes do corpo ser encontrado e um veículo de que não temos as
características que nos permitem encontrá-lo.
— Coisas que não valem nada. Precisamos de algo real. O que pretende
fazer agora, Scott?
— Verificar se existe alguma câmera de segurança perto de onde Lindsay
trabalhava. Quem sabe algum suspeito aparece nas imagens. Se não
encontrarmos nada, talvez tenhamos que esperar o pior. Ou seja, aguardar até
que ele ataque novamente.
— Então você acredita que ele realmente é um serial killer?
— Sim, Alfred! Não encontramos nenhuma evidência de que possa ter sido
um crime passional. Antes fosse. Pelo menos já teríamos um suspeito.
— Faça isso ainda hoje. Precisamos de uma resposta para a família.
Logo depois do almoço Scott pegou as informações sobre o local de
trabalho da moça e foi até o lá. Era uma pequena confeitaria e estava aberta.
Scott analisou todas as redondezas e depois de comprovar que não existia uma
câmera sequer, ele entrou no estabelecimento. Talvez conseguisse alguma
informação com os funcionários.
— Olá! Sou detetive Scott — disse apresentando-se.
— Sou Jane. Em que posso lhe ajudar? — perguntou a moça que estava
atendendo.
— Você trabalha aqui já faz muito tempo?
— Três meses.
— Muito bem! Você estava aqui na noite em que Lindsay foi assassinada?
Lágrimas começaram a se formar nos olhos da moça.
— Sim, eu estava. Me desculpe! Nós éramos grandes amigas. Como
alguém pôde fazer uma crueldade daquelas? Ninguém mais está seguro neste
mundo.
— Isso é o que eu também gostaria de saber. Mas ainda não temos nenhum
suspeito. Por isso mesmo qualquer informação é bem-vinda. No dia do crime ou
em outros dias você viu alguém suspeito por aqui. Por exemplo, alguém que
vinha com mais frequência do que o normal, ou que até mesmo tenha
conversado intimamente com Lindsay?
— Muitas pessoas vêm aqui todos os dias, principalmente durante o café da
manhã e no fim da tarde. Mas não lembro de ninguém suspeito e Lindsay não
costumava conversar muito com os clientes, apenas o necessário para o trabalho.
— Certo! E na noite do crime. Você viu se ela saiu acompanhada, se pegou
carona com alguém para ir para casa? Sabe se ela tinha algum encontro
marcado?
— O tempo estava se preparando para chover. Lindsay saiu apressada para
chegar em casa antes da chuva, mas certamente que não conseguiu. Mal ela saiu
daqui e começou a chover. Ela saiu sozinha como todas as noites. Se tivesse um
encontro marcado eu seria uma das primeiras a saber, mas ela não comentou
nada sobre isso.
— Obrigado, Jane! Vamos continuar investigando o caso. Mas por
precaução evite andar sozinha pelo bairro. Não sabemos se o assassino mora por
perto. Um psicopata nem sempre se parece com um. Fique atenta.
Jane ficou mais assustada do que já estava, mas ela sabia que aquelas
palavras eram verdadeiras. Scott deixou o local com a sensação de que aquele
caso seria muito difícil de ser solucionado.
Capítulo 5

No dia do crime Ross parou naquela confeitaria para comer um pedaço de


bolo e tomar um café. Entrou no estabelecimento e depois de analisar o local
sentou-se a uma das mesas que ali existiam. Rapidamente uma moça veio lhe
atender. Ross ficou impressionado com a beleza da atendente. Ele a
cumprimentou com um sorriso. Enquanto ela se virou para buscar seu pedido, o
sujeito analisou todas as suas curvas e concluiu que a moça seria perfeita para a
realização de seus desejos.
Ele bebeu seu café tranquilamente e se deliciou com o pedaço de bolo que
estava muito saboroso. Depois de aproximadamente trinta minutos pediu a conta
e aproveitou a oportunidade para perguntar até que horário eles ficariam com o
estabelecimento aberto.
— Pode ficar com o troco — disse olhando bem para seus olhos enquanto
entregava as notas.
— Só mais uma coisa. Vocês ficam abertos até que horário? Gostei muito
do lugar, certamente que irei retornar mais vezes.
— Vinte horas — a linda moça respondeu educadamente.
Depois de pagar a conta Ross deixou o local. Já tinha tudo planejado para
aquela noite. Nada poderia dar errado. Bastava esperar a hora certa. Mais cedo
ele providenciou tudo para que não tivesse contratempos. Só não esperava que
fosse chover naquela noite, mas isso não era assim tão ruim.
O barulho das trovoadas indicava que a chuva estava próxima. Lindsay
ajudou a organizar as últimas coisas e finalmente foi liberada pelo seu chefe.
Eram vinte horas em ponto quando ela abriu a porta e caminhou em direção à
rua. Sua ideia era caminhar rápido e chegar em casa antes da chuva, mas
infelizmente a chuva começou logo depois. Lindsay ficou chateada por não
carregar um guarda-chuvas naquele momento.
De repente ela notou que um carro vinha na mesma direção e parou ao seu
lado. O homem abaixou o vidro e perguntou se ela queria uma carona.
Lindsay reconheceu o homem que estivera mais cedo na confeitaria e
imediatamente aceitou a carona. Afinal já estava ficando ensopada por causa da
chuva.
— Que chuva forte, não é mesmo? — disse ele.
— Eu ia chegar em casa encharcada. Ainda bem que o senhor apareceu.
— Não precisa me chamar de senhor. Meu nome é Ross. E o seu?
— Lindsay.
Por um momento a moça se arrependeu de ter entrado naquele carro e já ir
falando até mesmo seu nome para um homem completamente desconhecido.
Mas já era tarde para que pudesse se arrepender.
— Ross! Você poderia me deixar em minha casa?
— Claro! Onde você mora?
— A algumas quadras daqui, basta seguir em frente e depois virar à
esquerda lá no final da rua.
— Tudo bem! — disse ele e arrancou com o veículo.
A moça indicou o caminho e até mesmo mostrou exatamente o local onde
morava, mas o homem não parou o carro.
— Hei! Eu disse que a casa era aquela. Por que o senhor não parou?
— Desculpe, eu não ouvi! Vou fazer o contorno e lhe deixo em casa.
Ross seguiu em frente e não retornou, mas acabou parando o carro em
frente a uma casa abandonada.
— Por que o senhor parou aqui? — perguntou já quase desesperada.
Antes que a moça tivesse a chance de qualquer tipo de reação o sujeito
pegou um pedaço de arame que estava sobre o banco traseiro e passou em volta
do pescoço dela. Lindsay ainda tentou segurar o arame, mas ele foi muito rápido.
Sentiu aquilo a sufocar lentamente sem que tivesse condições de gritar por
socorro. Seus olhos se arregalaram, o ar começava a faltar em seus pulmões. Só
teve mesmo a chance de se arrepender amargamente por ter entrado naquele
carro. Mas agora já era tarde demais. Foi seu último suspiro. Seu corpo sem vida
deslizou sobre o banco do passageiro.
Ross retirou o arame cuidadosamente e o guardou. Olhou em todas as
direções na rua e não viu ninguém. A chuva estava forte. Provavelmente
ninguém veria nada. Ele desceu do carro e abriu a porta do passageiro pegando o
corpo nos braços fechando a porta com a ajuda de um dos pés. Rapidamente ele
caminhou até a casa abandonada e empurrou a porta que estava apenas
encostada. Soltou o corpo no chão e pegou a lanterna que estava no bolso.
Encostou a porta e retornou. No chão haviam alguns pedaços de papelão, foi ali
que ele colocou o corpo. Depois de posicionar a lanterna em um local estratégico
se dirigiu novamente para o corpo.
Lindsay morreu de olhos abertos. Isso lhe dava a sensação de que ela ainda
estava viva e era algo muito excitante. Ross começou a despi-la tirando primeiro
a blusa deixando os seios expostos. Eram bonitos, mas muito pequenos. Nem ao
menos precisa usar sutiãs. Depois retirou a saia deixando-a apenas de calcinha.
Era uma calcinha rendada de cor rosa claro. Ele estava cada vez mais excitado.
Finalmente retirou a peça mostrando a região íntima. O assassino retirou um
preservativo que estava no bolso da calça e então abusou do corpo já sem vida.
Era a última vez que ela daria prazer a um homem. Já não era mais virgem, isso
ele teve certeza ao penetrá-la.
Depois de satisfeito Ross pegou um aparelho de barbear para que pudesse
depilar a região genital da moça. Blasfemou por não ter dado a sorte de pegar
uma que já estivesse totalmente depilada. Ainda bem que estava prevenido.
Depois de terminar o serviço finalmente estava na hora de fazer o trabalho mais
delicado. Ele passou muito tempo treinando em pedaços de carne que comprava
no supermercado. Agora finalmente colocaria em prática suas habilidades em
uma mulher de verdade.
O assassino retirou um bisturi que estava em seu bolso e cuidadosamente
começou a fazer um corte ao redor da região. O sangue começou a escorrer, após
mutilar toda a região genital ele cuidadosamente colocou os pedaços dentro de
um pequeno saco plástico que carregava no bolso.
O assassino estava com as mãos sujas de sangue. Notou que havia uma
porta aberta e que provavelmente seria o banheiro. Talvez tivesse a sorte de ter
um pouco de água. Foi até lá e abriu a torneira. A água estava fraca, mas foi o
suficiente para tirar o mais grosso.
O assassino certificou-se de que não havia esquecido nada que pudesse o
incriminar. Em seguida deixou o local. Quando estava em frente da casa notou
que um homem caminhava na chuva em sua direção. Rapidamente Ross entrou
no carro saindo do local imediatamente. Não precisava se preocupar com a placa
do veículo. Era falsa, ninguém o encontraria.
Seguiu para sua casa. Precisava preparar o jantar. Seria a primeira vez que
teria carne fresca depois de muito tempo. Depois de lavar a carne colocou-a em
um tempero e deixou descansando sobre a pia da cozinha. Ross foi tomar um
banho para tirar o restante do sangue que ainda estava em suas mãos. Depois de
trinta minutos retornou e colocou uma frigideira sobre o fogão. O cardápio da
noite seria bife acebolado.
Capítulo 6

Naquela manhã...
Scott tomava seu café enquanto tentava formular teorias a respeito de quem
poderia ser o assassino de Lindsay. As investigações não haviam progredido
absolutamente nada. Não era como ele esperava que acontecesse. A essa altura
ele já queria ter ao menos um nome para procurar.
— Está pensativo — comentou sua esposa.
— Sim, Eve! Bastante. Ainda não conseguimos chegar a um suspeito da
morte de Lindsay, a moça que foi encontrada mutilada.
— E não existe nenhuma pista, nada mesmo?
— Temos algumas pistas, mas ainda não serviram para nada. O sujeito que
encontrou o corpo viu um homem perto da casa, mas ele não sabe quem era e
nem ao menos anotou o número da placa do veículo. A perícia também
encontrou uma impressão digital no corpo, mas não foi possível identificá-la.
— Os pais da moça não acreditam que tenha sido um ex-namorado,
segundo eles tem muito tempo que ele não aparece. No local onde ela foi
encontrada e perto de onde ela trabalhava também não existem câmeras de
segurança. Portanto, não temos nada de concreto. Nada de encontrar ao menos
algum suspeito.
— Um caso bastante complicado.
— Espera aí! Tem uma coisa que eu acabei esquecendo de verificar.
— E o que poderia ser? — perguntou Eve curiosa.
— O assassino pode ter ido no local onde ela trabalhava. Se eles tiverem
câmeras de segurança dentro do estabelecimento podemos ver se alguém com
comportamento estranho esteve no local recentemente, ou até mesmo conversou
mais do que o necessário com a vítima.
— Pensei que já tivessem feito isso.
— Realmente foi uma falha, mas vou fazer isso agora mesmo antes de ir
para o departamento.
Scott deu um beijo em Eve e saiu na esperança de que sua intuição poderia
levá-lo a encontrar uma pista. Quando chegou a confeitaria a primeira coisa que
fez foi olhar para todos os lados e constatar que ali existiam ao menos duas
câmeras de segurança. Ele estava com sorte, agora precisava ver se encontrava
alguém em atitude suspeita nas imagens.
— Bom dia, Jane!
— Bom dia, detetive!
— Onde eu posso encontrar o seu chefe, o dono do estabelecimento?
— Ele costuma chegar aqui depois das oito da manhã. Mas qual seria o
assunto, é sobre a morte de Lindsay? Já falei que não vi nada de suspeito, mas
pode tentar falar com ele e ver se descobre algo.
— Sim! Percebi que vocês têm câmeras de segurança e gostaria de analisar
as imagens para ver se encontro algo suspeito. Esqueci disso da primeira vez em
que estive aqui.
Jane franziu o cenho.
— Infelizmente isso não será possível, o equipamento está com defeito.
Tem aproximadamente vinte dias que queimou. Lamento muito.
— Essa era minha última esperança de que encontrássemos algum suspeito
de ter assassinado Lindsay. Mas de qualquer maneira, obrigado.
Decepcionado Scott deixou o local e foi para o departamento.
— Bom dia, Alfred!
— Bom dia, Scott! Alguma novidade no caso Lindsay?
— Infelizmente não! A família não tem nenhum suspeito. A moça não
namorava ninguém já a bastante tempo. Eles não suspeitam de ninguém. Não
existem câmeras de segurança em toda a região e na última tentativa de
encontrar uma pista voltei ao local onde ela trabalhava.
— E pelo visto não tem notícias boas.
— Não mesmo, Alfred. Quando vi as câmeras de segurança pensei que
poderia encontrar alguma pista. Mas infelizmente o sistema de monitoramento
está com defeito. Voltamos à estaca zero.
— Isso é muito ruim. Mas veja pelo lado bom. Já se passaram vários dias e
não temos uma nova vítima. Talvez o crime seja algo que aconteceu por
vingança, ou pura maldade mesmo. Pode ser que não seja um serial killer, mas
apenas alguém querendo confundir a polícia com a maneira que deixou o corpo.
— Talvez, Alfred. Mas eu ainda continuo acreditando que é cedo demais
para dizer isso. Tenho o pressentimento que a qualquer momento iremos
encontrar uma nova vítima. As condições em que o corpo foi encontrado são
bastante peculiares. Não me parece algo comum — respondeu Scott.
— Pode ser! Mas até que isso não ocorra não passa de um crime isolado. Se
continuar assim vamos diminuir a atenção para o caso, não podemos gastar
nossos esforços com algo que não dá em nada.
— Verdade! Mas vou ficar atento a qualquer informação que possa surgir.
Não podemos deixar o crime cair no esquecimento. A família precisa de uma
resposta. É para isso que somos pagos. Dizendo isso Scott foi para sua sala e
sentou em frente ao computador. Abriu a pasta onde estavam todas as
informações sobre o caso Lindsay e começou a analisar todas as provas mais
uma vez.
Talvez algo tivesse passado despercebido aos seus olhos. Passou o dia
analisando minuciosamente cada prova colhida. Analisou as fotos tiradas no
local do crime, mas ao final do dia não havia encontrado absolutamente nada que
ainda não tivesse conhecimento.
Deixou o departamento quando já estava escurecendo. Seguiu pelas ruas da
cidade imaginando a quantidade de mulheres que andavam sozinhas pela cidade
sem saber o perigo que corriam. Qualquer uma delas poderia ser a próxima
vítima daquele assassino ou de qualquer outro que estava à espreita de sua nova
vítima.
Scott estava sem saber o que fazer. Só lhe restava esperar até que o
assassino agisse novamente. Quem sabe desta vez ele não fosse tão cuidadoso,
ou que ao menos houvesse alguma testemunha ocular.
Quando o detetive chegou ao seu apartamento e colocou a mão na porta e
notou que estava apenas encostada levou um susto enorme. Seu coração
começou a bater acelerado. Imediatamente Scott retirou sua arma do coldre e se
posicionou de maneira que pudesse ver todo o interior do apartamento. Não
conseguiu encontrar Eve num primeiro momento. Alguém havia entrado ali? —
se perguntou.
Provavelmente não! Tudo estava em seu devido lugar. Scott caminhou até
chegar no último cômodo que ainda não havia sido investigado. Eve deveria
estar no quarto, era a última alternativa. Parou por alguns segundos pensando em
como reagiria se abrisse aquela porta e encontrasse a esposa toda ensanguentada
morta sobre a cama. Ou ainda que ela estivesse com outro homem na cama. As
duas opções eram verdadeiramente ruins e ele preferia não ver nenhuma delas.
Seria algo duro demais até mesmo para o detetive. Ele colocou a mão na
maçaneta e abriu a porta vagarosamente. A imagem do quarto foi tomando conta
de sua visão. Tudo estava em seu devido lugar. A cama estava perfeitamente
arrumada. As peças íntimas de Eve estavam jogadas pelo chão e ele ouviu o
barulho da água do chuveiro caindo no chão do banheiro. Neste momento lhe
veio à mente a clássica cena do filme Psicose. Quando ele se dirigia para o local
foi então que ouviu a voz de sua esposa.
— Querido! Venha tomar banho comigo, acabei de entrar no chuveiro.
Quando Scott ouviu a voz de sua esposa, um alívio tomou conta de seu
corpo tirando toda a tensão que estava sentindo naquele momento.
Imediatamente ele se despiu e entrou debaixo do chuveiro.
Os dois fizeram amor como um casal de recém-casados. Havia algum
tempo que não tinham um momento tão quente como aquele, ainda mais debaixo
do chuveiro.
Eve estava com quarenta anos, mas ainda conservava praticamente o
mesmo corpo de quando eles se casaram quinze anos atrás. Isso em parte era
porque ela nunca conseguiu engravidar. Seus cabelos escuros sempre foram
mantidos com o comprimento pouco abaixo dos ombros. Seus olhos castanhos e
pele morena clara enlouqueciam Scott sempre que ele a via completamente nua.
Uma das coisas que o detetive mais temia, era perder a sua querida esposa. A
possibilidade de isso acontecer assombrava-o muito mais do que ficar cara a cara
com o mais terrível assassino que já existiu.
Só no dia seguinte é que Scott tocou no assunto da porta aberta. Falou sobre
os momentos de pânico que enfrentou até que finalmente a encontrou no
banheiro. Ele a fez prometer que nunca mais esqueceria a porta destrancada por
ser muito perigoso. Apesar de ter adorado a forma como aquela situação acabou.
Capítulo 7

Dois dias depois o assassino estava preparado para atacar novamente. A


polícia ainda não tinha nenhum suspeito do último crime por ele cometido. Ross
lia os jornais todos os dias, estava claro que ele não estava sendo perseguido, ao
menos ainda.
A vítima já havia sido escolhida com todo o cuidado. O nome dela era Mary
e trabalhava em uma lanchonete não muito distante de onde ele fez a sua
primeira vítima.
Ross. Era assim que ele se apresentava, mas lógico que era um nome
fictício, se por algum eventual motivo alguma delas escapasse teriam apenas um
nome falso que não teria nenhuma utilidade para a polícia.
Naquela noite o assassino estava na lanchonete e bebia vagarosamente seu
whisky apenas esperando o tempo passar. Ele não estava com pressa alguma. Era
meia noite quando lhe disseram que o estabelecimento seria fechado. Restavam
apenas outros três clientes que saíram deixando-o por último. Ross pagou a
conta e também saiu e certificou-se de que não havia ninguém do lado de fora
para estragar seus planos. A barra estava limpa, poderia agir tranquilamente e
colocar seu plano em prática.
Ele aguardou por alguns minutos até que finalmente viu Mary saindo da
lanchonete. A moça parecia ligar para alguém de seu celular, mas seus lábios não
se moviam. Era sinal de que a pessoa não atendeu ao telefone. Ross deu partida
no carro e parou ao lado da moça abaixando o vidro em seguida.
— A moça precisa de uma carona? — perguntou com um belo sorriso
mostrando seus dentes brancos.
— Obrigada! Eu vou chamar um táxi, mas não estou conseguindo fazer a
ligação.
— Não gaste seu dinheiro à toa, aceite a minha carona. Deixo-lhe em casa
ou no lugar que desejar.
Mary olhou para todos os lados e viu a rua deserta. Não era recomendado
pegar carona com um estranho, mas ficar ali na rua esperando um táxi aparecer
também era muito arriscado. Ela olhou para o homem sorridente e para seu belo
carro preto. Tinha a aparência de um homem de negócios, quem sabe não
arranjaria um namorado bem-sucedido naquela noite. A sorte poderia estar ao
seu lado.
Finalmente ela aceitou a carona e entrou no carro.
— Tem certeza que não estou lhe incomodando? — indagou a moça.
— De maneira alguma, Mary. Diga onde mora que lhe deixarei em casa.
Me perdoe a falta de educação, seu nome está escrito no uniforme, mas o meu
não. Eu me chamo Ross.
— Bonito nome! Não é muito comum, eu acho. Mas deixa eu lhe dizer o
endereço logo — disse tentando se esquivar de uma possível cantada.
Mary disse o endereço e em seguida Ross arrancou o veículo.
— Pensei que estivesse ligando para seu namorado?
— Eu não tenho namorado — disse envergonhada.
— Como é possível que uma moça bonita igual a você não tenha um
namorado? Não consigo acreditar.
— Sabe! É muito difícil encontrar alguém que valha a pena. A maioria dos
homens quer saber apenas de se aproveitar, não querem nada sério. Depois que
conseguem o que querem simplesmente nos descartam como um lixo. Tudo não
passa de sexo.
— Eu não sou este tipo de homem e além do mais, achei-a uma mulher
muito interessante. Poderíamos conversar um pouco em um local mais
apropriado — disse tocando a perna desnuda da moça a deixando com os pelos
arrepiados. Fazia muito tempo que Mary não sentia o toque de um homem
daquela maneira.
— E qual seria esse lugar? — perguntou parecendo interessada. Talvez ele a
levasse para um lugar com uma banheira enorme cheia de espuma. Mary ainda
não tinha tido tamanha sorte. Todos os homens com quem namorou não tinham
dinheiro para coisas luxuosas. Até mesmo dentro do carro ela já havia transado
por falta de opção.
— Na minha cabana. Mas se não estiver a fim não tem problema —
respondeu Ross esperando uma resposta positiva.
Não era o que ela esperava, mas a cabana deveria ser muito bonita. Mary já
estava sem sexo a mais tempo do que poderia se permitir. Uma transa casual
com um quase desconhecido não seria nada mau, mesmo que depois os dois
nunca mais se vissem. Ela apenas consentiu com um sorriso.
Aquilo seria muito mais fácil do que ele imaginava. Ross mudou a direção e
meia hora depois chegou em uma propriedade isolada. A cabana não era dele
logicamente, mas sabia quem era o dono e não havia a menor chance de que o
sujeito pudesse aparecer ali naquela noite. Mais cedo ele arrombou a fechadura e
preparou o local para que pudesse levar sua vítima. Ela não desconfiaria de nada.
Chegando ao local ele abriu a porta e acendeu a luz da sala. Não era uma
propriedade muito requintada, mas tinha o básico para passar alguns dias. Ele
serviu um copo de bebida e a entregou. Os dois beberam e conversaram sobre
coisas sem importância. De repente Ross a beijou tirando seu fôlego. Em poucos
segundos ele começou a despi-la e a deixou apenas de lingerie. Ela usava uma
calcinha branca de modelo não muito sexy, mas Mary estava no trabalho e não
vestida para um encontro. Ele desabotoou seu sutiã e arrancou a calcinha dela e
logo os dois estavam completamente nus. Ela deitou-se sobre o grande sofá e
aguardou até que Ross vestisse o preservativo.
Primeiramente ele a chupou, estava com um sabor maravilhoso, afinal Mary
estava sem tomar banho. Na sequência ele a penetrou rudemente em uma única
estocada e começou os movimentos de vai e vem. Mary estava delirando de
prazer e fechou os olhos na eminência de atingir um orgasmo, foi neste momento
em que Ross colocou as duas mãos em seu pescoço e começou a sufocá-la.
Enquanto Mary se debatia tentando inutilmente se libertar, o assassino
continuava a penetrá-la com avidez cada vez mais excitado. Quando a moça deu
seus últimos suspiros, finalmente ele atingiu o orgasmo.
O assassino vestiu-se novamente e depois olhou para o corpo sem vida
sobre o sofá, os olhos ainda abertos pareciam olhar em sua direção.
Morreu de prazer. Como era gostosa. Tenho orgulho de ter sido seu último
homem — pensou ele com um sorriso no rosto.
Ross analisou o corpo e ficou feliz ao ver que estava completamente
depilada. Adorava mulheres desse jeito. Assim podia ver perfeitamente seu
órgão genital. Não teria o trabalho de depilá-la. Olhou para os seios e percebeu
que eram bem fartos. Desta vez teria um estoque bem maior de carne.
Ele retirou o bisturi e começou o seu ritual. Primeiro retirou o órgão genital.
Na sequência cada um dos seios. Guardou tudo em pacotes e fechou
cuidadosamente. Foi até o banheiro e lavou as mãos. Ali existia água à vontade,
não deixou nenhum vestígio de sangue a olho nu. Apenas no local onde o corpo
estava.
Olhou uma última vez para o corpo. Era muito bonita. Merecia ter toda a
sua carne aproveitada, mas levar um corpo inteiro para casa seria muitíssimo
arriscado. Também não teria um local adequado para guardar tudo.
Deixou o local retornando para casa. Já sabia qual seria o prato do almoço
naquele dia. Picadinho de carne com batatas. Se tivesse amigos poderia convidá-
los para comer.
A noite havia sido muito mais prazerosa do que ele imaginava. Enquanto
tomava banho ainda ficou excitado pensando no que tinha feito com Mary.
Aquilo estava cada vez melhor. Não demoraria tantos dias para agir novamente.
Queria ter a mesma sorte daquela noite quando não precisou de muito esforço
para atrair sua vítima.
No entanto, precisava ser cuidadoso. Analisaria todas as informações
publicadas nos jornais e assistiria ao noticiário policial. Não deixou rastros, mas
a sua ousadia poderia colocar tudo a perder. E perder aquelas noites prazerosas
era tudo o que Ross não queria.
Capítulo 8

No café da manhã...
— Vocês ainda não sabem quem matou aquela moça? — perguntou Eve.
— Não! Infelizmente não temos pistas suficientes. O caso pode acabar no
esquecimento, mas eu não quero que isso aconteça. Ainda continuo acreditando
que não foi um crime qualquer, isolado. Cedo ou tarde ele vai atacar novamente
e então o pegamos.
— Isso é muito triste, esperar que ele mate novamente. Quantas mulheres
ainda correm perigo?
— Infelizmente, Eve. Não podemos fazer nada enquanto não encontrarmos
ao menos um suspeito. Mas confio que isso não vai demorar para acontecer.
Mais tarde, ao chegar ao departamento, Scott foi conversar com Alfred que
o estava aguardando impacientemente.
— Algum problema, Alfred? — perguntou preocupado.
— Scott! Temos uma mulher desaparecida. A família comunicou o
desaparecimento logo pela manhã. Ela se chama Mary Zurc.
— É mesmo! E quando foi que ela desapareceu? — perguntou o detetive já
imaginando que o assassino havia atacado novamente.
— Esta noite. Ela trabalha em uma lanchonete e deveria ter chegado em
casa pouco depois da meia-noite, mas o dia amanheceu e ela não deu notícias.
Eles estão desesperados. Já imaginam que o pior aconteceu. A moça nunca
passou a noite fora sem dar notícias.
— Outra que desaparece ao sair do trabalho. Acho que ele atacou
novamente — conjecturou Scott coçando o queixo.
— O assassino de Lindsay? Pode ser, mas ainda não encontraram a moça,
talvez não tenha nenhuma relação com o outro crime. Talvez nem ao menos ela
esteja morta — duvidou o chefe.
— A família tem alguma suspeita do que pode ter acontecido, ou a moça
tinha algum motivo para desaparecer sem dar notícias? — perguntou Scott.
— Não! Definitivamente não imaginam o que possa ter acontecido.
— O local onde ela trabalha fica próximo de onde a outra moça
desapareceu?
— Fica razoavelmente perto, mas isso ainda não nos diz nada. Não temos
um corpo, mas apenas uma mulher desaparecida. Vamos fazer um levantamento
no local onde ela trabalha. Talvez alguém viu alguma coisa, quem sabe ela saiu
de lá com alguém. Talvez apenas tenha passado a noite na farra e bebido e por
isso não avisou a família.
— Vou fazer isso, Alfred.
Scott anotou os dados e saiu em direção ao local de trabalho de Mary. Não
tinha muita esperança de encontrar alguma pista sobre seu desaparecimento por
lá, mas precisava eliminar todas as hipóteses antes de confirmar que realmente
Mary poderia estar morta.
Enquanto isso na cabana...
John e sua esposa Kate costumavam passar o final de semana na cabana que
eles tinham, naquele local fugiam da correria da cidade e podiam ter um pouco
de tranquilidade. Os filhos já estavam casados, mas eles ainda não haviam se
aposentado. Pensavam em morar lá definitivamente após a aposentadoria, mas
não imaginavam que seus planos poderiam estar prestes a mudar.
John parou o carro e os dois desceram. Ele abriu o porta-malas para retirar
as coisas que haviam comprado no supermercado mais cedo, enquanto isso Kate
pegou as chaves para abrir a casa.
Ao se aproximar Kate notou que a porta estava apenas encostada. Estranhou
o fato, pois seu marido era muito cuidadoso. Na verdade, tinha mania de conferir
se a porta estava trancada, duas, três vezes. Kate até discutia com ele por causa
desta mania. Ela imaginou que pela primeira vez ele tivesse tido um descuido e
empurrou a porta. Levou um susto ao notar que a luz também estava ligada. Isso
já estava passando dos limites, John não teria esquecido as luzes acesas.
Ao olhar para o sofá que ficava bem na direção da porta foi que Kate
percebeu que algo de horrível havia acontecido ali. A única reação que teve foi
dar um grito de desespero ao ver o corpo nu mutilado de uma mulher sobre o
sofá.
John deixou as coisas que estava segurando caírem ao chão e correu ao
encontro da esposa pensando que talvez ela tivesse visto uma cobra, ou até
mesmo sido picada por uma. Kate morria de medo de serpentes e apenas o fato
de ver uma já era motivo para entrar em desespero. Ao chegar perto da esposa
que estava paralisada junto da porta, viu que estava tudo bem com ela. John
então seguiu a direção de seu olhar e descobriu o motivo de sua aflição. Ele
jamais imaginava ver uma cena daquelas em sua cabana.
A casa estava organizada, mas em cima do sofá jazia o corpo de uma moça.
Estava morta, isso era evidente pela palidez do corpo totalmente nu, mas a forma
que o corpo estava mutilado fez com que seu estômago ficasse embrulhado.
— Vamos sair daqui — disse segurando a esposa pelo braço e levando-a de
volta até o carro. Ela estava muito abalada.
Em seguida ele usou o celular e ligou para a polícia. Ficou com receio de
permanecer no local até a chegada da polícia, mas era evidente que o assassino
não estava mais por perto.
Na lanchonete...
— Bom dia! Sou detetive Scott — disse mostrando o distintivo.
— Sou Dorothy! Em que posso ajudar?
— Preciso lhe fazer algumas perguntas, se for possível.
Dorothy ficou assustada. Tentou imaginar o que um detetive da polícia
estaria fazendo ali. Não sabia de nenhum crime no estabelecimento.
— Além de você, tem mais alguém que trabalha aqui?
— Sim! A Mary e a Cindy.
— Você estava aqui ontem à noite no momento em que a lanchonete foi
fechada?
— Sim! Eu e Mary fomos as últimas a sair. Mas aconteceu alguma coisa,
por que essas perguntas?
— Mary não chegou em casa esta noite. Ela está oficialmente desaparecida
e a família está desesperada. Preciso saber se ela saiu acompanhada daqui. Com
algum namorado ou amigo, por exemplo.
Dorothy colocou a mão na boca como reação ao susto da notícia. Sua amiga
não poderia estar morta. Ela ainda não sabia do seu desaparecimento.
— Como assim? Ela está desaparecida?
— Infelizmente, sim! Ainda não sabemos o que realmente aconteceu.
Quero que me diga se ela saiu daqui acompanhada ontem à noite? Talvez seja
apenas um desencontro de informações e Mary esteja bem.
— Não! Ela saiu sozinha como sempre.
— Você viu ela entrando em algum carro, pegando carona com alguém?
— Também não! Quando eu saí, ela já tinha ido embora. Deve ter pego um
táxi.
— Havia alguém com atitudes suspeitas aqui no local. Por exemplo, alguém
que ficava olhando fixamente para a moça, ou que puxava assunto com ela mais
do que o considerado normal?
— Não percebi nada. Mas pouco antes de fechar ainda restavam três
clientes. Eles saíram e em seguida a Mary também foi embora.
Scott olhou para as paredes e viu algumas câmeras de segurança, talvez
fosse apenas perda de tempo, mas não custava perguntar.
— As câmeras estão funcionando?
— Estão sim! Se precisar das imagens tenho certeza que não terá problema
em consegui-las.
— Muito obrigado! Vou fazer um pedido para analisar as imagens.
Neste momento o celular de Scott tocou.
— Onde você está, Scott?
— Estou interrogando a amiga de Mary aqui onde ela trabalha. Algum
problema, Alfred?
— Um casal encontrou uma moça morta na cabana deles. Acho que pode
ser a Mary.
— Me passa o endereço que vou para lá imediatamente.
Scott anotou os dados e desligou. Se fosse necessário retornaria ali em outra
ocasião.
— Não quero deixá-la preocupada, mas preciso ir. Encontraram uma moça
morta.
— É a Mary, não é mesmo? — perguntou chorando.
— Não sei! Vamos torcer para que não seja sua amiga. Não tenho nenhuma
informação sobre a identidade da vítima. Mas se for Mary não demorará muito
até que a notícia chegue aqui. De qualquer maneira agora eu preciso ir.
Em seguida Scott saiu em direção ao local do crime.
Capítulo 9

O local onde o corpo foi encontrado ficava um pouco afastado.


Quando chegou ao local do crime Scott avistou os carros da polícia e da
perícia. A casa era rústica por fora, mas o lugar era bastante bonito, havia um
gramado verde imenso e grandes árvores rodeavam o local dando um toque de
aconchego com a sombra que cobria parcialmente a casa. Um local perfeito para
passar alguns dias, ou até mesmo morar. No entanto, a cena que ele estava
prestes a ver tiraria todo o encanto do lugar.
Scott desceu do carro e caminhou em direção à casa, subiu os três degraus
que o levaram a varanda onde se encontravam alguns policiais e Alfred que
estava a sua espera. O detetive tinha grandes expectativas de que ali havia
ocorrido apenas mais um crime qualquer, mas pressentia que não encontraria
isso quando entrasse naquela casa.
— O que temos aqui? — perguntou o detetive antes de ver a cena.
— Como eu disse por telefone, uma moça morta.
— Já sabem quem é? — insistiu Scott.
— Ao que tudo indica é Mary. Veja com seus próprios olhos. Mas se
prepare antes de entrar. A cena que você verá é muito pior do que a encontrada
dias atrás.
Ouvindo isso Scott teve certeza de que era a segunda vítima do assassino.
Scott cruzou a porta e para seu alívio não sentiu nenhum odor terrível, isso
indicava que o cadáver ainda estava fresco e as chances de ser Mary apenas
aumentavam. Ted o perito chefe e mais dois colhiam possíveis provas na cena do
crime. Ele olhou em direção ao sofá onde o corpo se encontrava. Seu estômago
embrulhou, mas o mal-estar passou rápido. Já estava acostumado com cenas de
crimes terríveis, mas era apenas a segunda vez que encontrava uma mulher
assassinada daquela maneira.
A moça estava completamente nua deitada sobre o sofá. Suas roupas não
estavam rasgadas, mas jogadas ao lado do corpo como se ela tivesse tirado por
vontade própria. Os olhos ainda abertos e um hematoma no pescoço indicavam
que ela havia sido esganada. Sua pele branca e pálida contrastava com o
vermelho pastoso do sangue que escorreu até secar. As pernas estavam
levemente abertas como alguém que estava fazendo sexo antes de ser morta. Isso
era bem provável.
No local da vagina via-se apenas um grande buraco. Toda a parte externa
havia sido removida. Scott não tinha mais qualquer dúvida de que o abutre havia
atacado novamente. Mas desta vez ele foi mais ousado. Ele também levou os
dois seios da moça. Dois grandes buracos, foi apenas isso que restou dos seios
dela. Scott se aproximou e examinou com cuidado. Desta vez não haviam pelos
raspados. Talvez a moça estivesse depilada e não deu muito trabalho ao
assassino.
— O que me diz Ted?
— Ainda é cedo para confirmar, mas acredito que eles estavam transando
quando ele a esganou. O local onde o corpo está me leva a crer nisso. Não existe
sêmen, ele deve ter usado preservativo. Podemos encontrar as impressões
digitais no corpo dela e confirmar se são as mesmas do outro crime. Fora isso
não encontramos mais nada.
— Eu não tenho dúvidas de que seja o mesmo assassino. A única diferença
aqui é a forma como ele a matou e a maneira que foi mutilada. Provavelmente
usou o mesmo instrumento, mas desta vez levou uma quantidade muito maior do
corpo. Se continuar assim da próxima vez podemos encontrar o corpo sem uma
das pernas, ou pior ainda. Estamos lidando com um canibal, não acredito que ele
tenha outros motivos para levar pedaços do corpo. Mas prefiro chamá-lo de
abutre, esse apelido lhe cai muito melhor. Vou aguardar o resultado da perícia,
mas para mim não restam dúvidas que estamos lidando com um serial killer.
Scott saiu do local e retornou ao lado de fora onde Alfred conversava com
um casal, provavelmente os donos da propriedade. O detetive caminhou até eles.
— Estes são John e Kate. Foram eles que encontraram o corpo, também são
os proprietários da cabana — disse apresentando ao detetive.
— Sou detetive Scott! Quando foi que vocês encontraram o corpo? — quis
saber imediatamente.
— Um pouco antes de ligarmos para a polícia. Minha esposa e eu
costumamos passar o fim de semana aqui. Foi Kate que encontrou o corpo, eu
ainda estava pegando as coisas no carro quando ouvi seu grito.
— Vocês viram alguém suspeito por aqui?
— Não! Definitivamente não notamos nada de errado até que entramos na
casa.
— Conheciam a vítima? Quero dizer se já a viram alguma vez?
— Não! Não faço ideia de quem seja. Minha esposa também não.
— Fiquem calmos. Os dois não são suspeitos, mas qualquer informação
pode ser útil para a polícia. Se lembrarem de alguma coisa, ou de alguém que
perguntou sobre a cabana. Até mesmo pessoas que sabiam que a cabana estaria
desocupada na noite anterior. O assassino sabia disso, ele agiu de maneira
premeditada. Fez todo o trabalho com muita calma.
— Acho que já podemos dispensar os dois — emendou Alfred.
— Sim! Se for necessário iremos chamá-los para depor, mas creio que não
seja nada além de mera formalidade para que possamos anexar ao relatório.
— E então, Scott. O que você me diz sobre o que viu lá dentro?
— Que eu estava certo. Estamos lidando com um serial killer, seria muita
coincidência duas mortes tão parecidas e dois assassinos diferentes. Não acredito
nessa hipótese. Não é um assassino qualquer, além disso, também é canibal. Que
outro motivo teria para levar partes de suas vítimas? Algo muito peculiar são as
partes que ele levou. Não sei que diabos o levou a fazer isso, mas acredito que os
crimes têm motivos sexuais. Ele abusou das duas e não satisfeito ainda levou o
órgão sexual e nessa oportunidade também levou os seios da moça.
— Acho que você tem razão. Mas tudo isso não nos serve de nada se não
tivermos um suspeito. Descubra quem é esse desgraçado antes que ele faça mais
vítimas.
— Fique tranquilo, Alfred. Daqui acredito que não teremos mais do que já
sabemos, mas tenho esperanças de que as câmeras de segurança da lanchonete
onde Mary trabalhava nos apontem um suspeito.
— Ótimo! Faça a análise das imagens o mais rápido possível, a imprensa
não vai demorar para começar a cobrar um resultado da polícia.
— Pode deixar que me viro com eles. Precisamos avisar a família. Devem
estar preocupados, ainda não sabem que a filha está morta.
— Deixo isso por sua conta. Enquanto isso vou solicitar as imagens das
câmeras de segurança da lanchonete — disse Alfred.
Scott entrou no carro e deixou o local. Tentava entender os motivos que
levaram as duas moças a serem assassinadas. Teriam alguma coisa em comum,
ou foram escolhidas aleatoriamente? Como foi que o abutre conseguiu se
aproximar das vítimas sem que ninguém o visse? Essas e muitas outras
perguntas martelavam na mente de Scott. Precisava encontrar as respostas o mais
rápido possível.
Capítulo 10

Scott parou o carro em frente da casa dos pais de Mary Zurc. Havia alguns
carros em frente da residência e uma possível aglomeração de pessoas no local.
Possivelmente parentes que também estavam preocupados com o
desaparecimento da moça e se consolidavam com os familiares.
O detetive caminhou lentamente sobre a calçada cimentada até que
finalmente ficou de frente para a porta. Scott hesitou por alguns segundos. A
notícia que ele tinha que dar para aquela família era algo bastante difícil de se
dizer. Algo que ele não gostava de fazer, mas infelizmente não havia como
mudar a realidade. Mary estava morta e a família saberia mais cedo ou mais
tarde, mesmo que não fosse por ele.
Depois de relutar por alguns segundos finalmente Scott apertou a
campainha e em seguida ouviu o som eletrônico anunciando sua visita. Não
demorou mais do que alguns segundos até que uma senhora de meia idade
abrisse a porta com os olhos brilhando de esperança na expectativa de que
tivessem alguma notícia sobre sua filha. E que possivelmente estivesse bem,
talvez internada depois de ter sofrido um acidente. Qualquer coisa, menos o que
ela estava prestes a ouvir.
Mas ao ver o detetive e o seu distintivo, todo o brilho que existia em seus
olhos se desfez como açúcar num copo com água. Ela tinha certeza de que a
notícia seria a pior possível. Ele estava ali para confirmar todos os seus medos,
seu pior pesadelo. Tudo o que ela não queria ouvir. Sua filha estava morta,
bastava apenas que o detetive dissesse algumas palavras para confirmar o que já
estava estampado em sua cara.
— Bom dia! Sou detetive Scott. Preciso falar com os pais de Mary.
A senhora ficou paralisada por alguns segundos enquanto lágrimas
começaram a escorrer pela sua face. Rapidamente um senhor também veio até a
porta. Certamente que ambos eram os pais da moça.
— Somos os pais de Mary. Sou Joseph e essa é minha esposa Marta. O
senhor veio trazer notícias de nossa filha?
Scott viu que existiam mais algumas pessoas na sala e preferiu dar a notícia
ali mesmo.
— Infelizmente eu não tenho boas notícias — disse o detetive com a voz
compassada.
— Nossa filha está morta — gritou a senhora sendo amparada pelo esposo.
— Encontraram-na morta. Lamento muito — apenas confirmou Scott.
Os dois se abraçaram chorando e houve grande comoção dos familiares que
estavam no local. Scott mais uma vez sentia-se de mãos atadas sem poder fazer
nada para evitar a dor daquela família. Mesmo que o assassino fosse capturado
isso não a traria de volta. Ele esperou até que os dois se acalmassem um pouco e
deixou as informações de que precisavam e o endereço para que pudessem
reconhecer o corpo. E em seguida providenciar o funeral. Scott não entrou em
detalhes de como Mary foi encontrada, eles saberiam de qualquer maneira, mas
descobririam mais tarde por conta própria. O detetive não saberia como dizer aos
pais da moça que ela estava mutilada.
Uma mera formalidade. Mary estava morta e nada poderia ser feito para
mudar isso. Scott terminou o seu serviço e deixou o local na esperança de que as
imagens das câmeras de segurança da lanchonete fossem úteis. Não queria
encontrar outras mulheres mortas na mesma situação, mutiladas. Sabia que
corria contra o tempo, talvez a lista de mulheres mortas aumentasse rapidamente.
Mas ele torcia para que o assassino não agisse tão rápido.

**********

Ao chegar em casa naquela noite Scott estava exausto depois de um dia de


trabalho muito difícil. Apenas cumprimentou sua esposa com um leve beijo e
saiu em direção ao chuveiro. Precisava relaxar um pouco. Tudo o que ele queria
naquele momento era sossego, esperava que seu telefone não tocasse novamente
naquela noite. Um novo crime não poderia ocorrer em tão pouco tempo. Pelo
menos era isso o que o detetive esperava.
Depois do banho, Scott vestiu uma roupa confortável e se jogou no sofá da
sala. Eve terminava de preparar o jantar e algum tempo depois serviu a mesa.
— Venha querido! O jantar está pronto.
Scott sentou-se à mesa e começou a comer em silêncio.
— Pelo visto seu dia foi muito cansativo, não é mesmo? — perguntou a
esposa.
— Sim! Nem imagina como. Encontraram mais uma mulher assassinada e
fui incumbido de avisar a família. Não temos filhos, mas imagino como deve ser
difícil para a família. Tentei me colocar no lugar dos pais dela e isso me deixou
muito mal.
— Realmente deve ser uma dor muito grande para a família. Mas me conte
como foi o crime.
— É melhor terminarmos o jantar, Eve. Depois te conto todos os detalhes.
Agora é uma hora imprópria. Não quero estragar seu apetite.
Pouco tempo depois...
— Agora quero saber todos os detalhes, me conte.
— Como eu disse, encontraram mais uma moça morta. Quando cheguei no
departamento, Alfred já tinha a notícia de uma moça desaparecida durante a
noite. Ele pediu que eu fosse ao local de trabalho dela para ver se encontrava
alguma pista. Quando eu estava lá ele me ligou avisando que haviam encontrado
um corpo, possivelmente da garota. Fui para o local imediatamente.
— E era ela mesmo?
— Infelizmente sim! As minhas suspeitas estavam certas. Temos mais um
serial killer agindo em Nova Iorque. Um psicopata muito mais cruel do que
qualquer outro que eu já conheci em todos esses anos de trabalho.
— Ele fez a mesma coisa que tinha feito com a outra moça?
— Pior! Desta vez ele não levou apenas o órgão sexual, mas também os
dois seios. A situação do cadáver era assustadora.
— Que horror!
— Ele a esganou provavelmente enquanto os dois transavam. Acho que ela
foi induzida a ir até o local com a desculpa de um encontro e depois ele cometeu
o crime. Estamos lidando com um assassino frio, provavelmente um canibal.
— Você realmente acredita que ele se alimenta com pedaços dos corpos de
suas vítimas?
— Acredito! Que outro motivo ele teria para mutilar suas vítimas levando
pedaços delas? É certo que quem é capaz de cometer um crime brutal como esse
seria capaz de qualquer atrocidade. No entanto, não acredito que ele apenas
guarde em um vidro em conserva para que possa ter uma lembrança de suas
vítimas.
— Credo! Já imaginou vocês encontrando a casa do assassino e se
deparando com vários frascos, cada um com um pedaço de uma mulher?
— É algo que pode acontecer, mas o mais provável é que ele guarde no
freezer. A quantidade que ele levou é suficiente para poucas refeições. Ele não
quer que sigamos seu rastro até encontrarmos os corpos em sua casa. Um
vizinho poderia sentir o mau cheiro e fazer uma denúncia. Isso tornaria o
trabalho da polícia mais fácil.
— E vocês continuam sem ter um suspeito?
— Sim. Ainda não temos um. Vamos analisar as imagens das câmeras de
segurança onde Mary trabalhava. Quem sabe damos sorte dessa vez. Se o
assassino esteve lá na noite do crime, vamos encontrá-lo. Tenho certeza disso.
— Tomara querido! Mas agora chega desse assunto pesado. Vamos assistir
a um bom filme. Você quer escolher?
— O silêncio dos inocentes! Sugeriu ele.
— Mas esse filme é pior do que a nossa conversa.
— Sim! Mas preciso entender um pouco melhor como agem os canibais. É
exatamente disso que o filme trata.
Capítulo 11

No dia seguinte Scott já estava em poder das imagens da lanchonete. Ele


sentou-se em frente ao seu computador, depois de pegar uma xícara de café preto
fumegante. Seu objetivo era primeiramente analisar as imagens da noite do
crime. Se não encontrasse nada suspeito analisaria os dias anteriores. Não
importava o quanto isso fosse demorar, o importante era encontrar ao menos
alguma pista, algum suspeito.
O detetive assistiu às imagens tranquilamente enquanto fazia algumas
anotações. Clientes entravam e saiam a todo momento, mas ele não viu nada de
suspeito. Era perto da meia-noite quando restavam apenas três clientes na
lanchonete. Um homem de bigodes e todo tatuado que aparentava ter entre
quarenta e cinquenta anos e que tinha uma aparência bem sinistra. Mas não fez
nenhum gesto que indicasse estar analisando sua próxima vítima.
Em outra mesa estava uma mulher, possivelmente uma prostituta que não
conseguiu trabalho naquela noite. Suas roupas sensuais e maquiagem pesada
denotavam alguém que vendia o corpo. De maneira alguma Scott poderia
acreditar que ela tivesse alguma coisa a ver com a morte de Mary. Não que não
houvesse mulheres psicopatas, mas as mulheres mortas foram atacadas por
homens, disso ele não duvidava.
Na última mesa estava o outro cliente. Ele tinha os cabelos castanhos claros
e pele branca. Estava bem vestido e definitivamente não se parecia em nada com
um assassino. Mas Scott notou que ele olhava demasiadamente para Mary.
Quando ela foi até a mesa para entregar a conta, o homem ficou olhando para
sua bunda quando retornava para o balcão. Não se parecer com um assassino não
significava que não poderia ser um, muitos possuem boa aparência e usam isso a
seu favor para atrair suas vítimas. Talvez essa fosse uma das características do
assassino.
Talvez fosse apenas coisa de homem. Mary tinha um corpo muito bonito e
Scott fatalmente faria o mesmo se tivesse a oportunidade. Um traseiro bonito
atrai olhares indiscretos onde quer que esteja. O detetive era fiel à sua esposa,
mas olhar para uma mulher bonita não tinha nada demais. Fora isso o detetive
não viu nada de estranho. Alguns minutos depois os clientes foram avisados de
que o estabelecimento iria fechar e eles deixaram o local. Um a um, mas foi o
homem de olhar suspeito a sair por último. Uma simples coincidência ou algo
premeditado? Algo impossível de saber até aquele momento.
Poderia ser o assassino de Mary, ou apenas um cliente pervertido. Scott
precisava descobrir a identidade daqueles dois homens. Se conseguisse isso
poderia confrontar as impressões digitais encontradas no corpo de Lindsay e que
provavelmente também seriam encontradas em Mary.
Isso seria um trabalho para a perícia. E precisava de uma resposta o mais
rápido possível. Mais uma vez não existiam câmeras fora do estabelecimento e
não era possível saber se Mary foi capturada ao sair da lanchonete, ou durante o
trajeto até sua casa. Isso dificultava em muito as investigações.
Scott também esperava o resultado da perícia no corpo de Mary. Bastava
apenas uma impressão digital para confirmar que ele estava certo: que estavam
lidando com um serial killer. Imediatamente ele congelou as imagens e as
anexou no e-mail enviando para que Ted tomasse as devidas providências.
A polícia de Nova Iorque tinha uma extensa ficha de criminosos dos mais
variados tipos, sequestradores, estupradores e psicopatas, mas ao que tudo
indicava estavam lidando com alguém sem passagens pela polícia. Alguém que
agia sorrateiramente na escuridão da noite e que possivelmente escolhia suas
vítimas baseado em algum critério ainda desconhecido.
Scott precisava se debruçar sobre aquelas provas e tentar encontrar alguma
ponta solta. Algo que talvez tivesse passado despercebido em um primeiro
momento. O que as duas tinham em comum? Talvez apenas o fato de serem
mulheres e terem dado o grande azar de cruzarem o caminho do assassino.
As duas eram moças bonitas, de pele clara e trabalhavam no período
noturno. A primeira trabalhava em uma confeitaria e outra em uma lanchonete.
Elas não eram prostitutas nem trabalhavam em boates. As duas eram solteiras e
não tinham filhos, isso era mais uma coisa em comum. Talvez realmente não
houvesse nenhum critério para as mortes, mas Scott ainda duvidava disso.
Sempre existe algum critério. O psicopata mais recente que Scott investigava e
que acabou morto fazia vítimas apenas mulheres que estivessem vestidas com
saias. As duas mortas até agora também estavam vestidas com saias, mas Scott
não acredita que esse era o critério para terem sido escolhidas.
O detetive fez algumas ligações e encerrou o trabalho no departamento.
Pegou seu carro e saiu novamente com destino ao local onde Mary foi vista pela
última vez. Ele parou o carro em frente à lanchonete e sem descer do carro
analisou toda a região ao redor. Era possível que alguém em algum daqueles
prédios ao redor tivesse visto Mary entrando em um carro. Mas saber se alguém
estava acordado naquele momento seria uma tarefa bastante difícil. Talvez
alguma câmera do prédio estivesse posicionada para a rua, mas a distância era
muito grande e provavelmente não teria utilidade.
Ele ligou o carro novamente e seguiu o trajeto que Mary deveria ter feito
até chegar em casa. Naquela região não havia nenhum vendedor de lanches
ambulante, nada que fizesse o detetive parar o carro para pedir alguma
informação. Scott já não acreditava que Mary tivesse sido levada à força.
Provavelmente o assassino apenas ofereceu uma carona e depois a levou até a
cabana.
Sendo assim ninguém teria visto nada de suspeito, mas apenas a cor e
modelo do carro em que ela entrou já seria de muita utilidade para a polícia. Mas
isso seria difícil de ser descoberto. Talvez uma testemunha ocular. Mas ninguém
compareceria na polícia apenas para relatar que viu uma moça entrando em um
carro. A menos que sua morte fosse divulgada nos jornais e que a polícia pedisse
a colaboração da população.
Isso seria uma boa ideia. Por outro lado, a mídia ainda não sabia da segunda
morte. A imprensa cairia como urubus em cima de carniça no mesmo instante
em que soubessem da existência de um serial killer em atividade. A população
ficaria alarmada e a polícia seria pressionada a encontrar o assassino o mais
rápido possível. Isso era algo que seu chefe gostava de evitar. Mas realmente
poderia dar resultado.
Naquela mesma noite Scott retornou ao local. Era exatamente meia-noite
quando ele parou o carro em frente à lanchonete. Desta vez ele desceu e olhou
novamente para os prédios e viu alguns com as luzes acessas. Eram muitos
apartamentos para que pudesse analisar. Não havia ninguém com as janelas
abertas e nenhuma pessoa estava na sacada observando a noite. Aquela hipótese
já estava descartada.
Scott reconsiderou a segunda opção. Conversaria com Alfred pela manhã e
daria a ideia de chamar a imprensa para uma coletiva. Seria difícil convencê-lo,
mas precisava tentar. Afinal a população, ou melhor, as mulheres também tinham
o direito de saber que corriam perigo. Um assassino maluco estava à solta em
Nova Iorque.
Capítulo 12

Na manhã seguinte, Scott saiu em direção ao trabalho na esperança de


conseguir convencer seu chefe de sua ideia tida na noite anterior. Quando virou a
última esquina, ele já avistou vários carros das equipes de TV e jornais local.
Não seria mais necessário, eles já sabiam de tudo. Certamente que ficaram
sabendo através de algum informante, ou pela própria família da vítima. Bom,
isso não fazia a menor diferença. Mais cedo ou mais tarde todos saberiam.
Assim que o detetive desceu do carro, foi cercado por um batalhão de
repórteres sedentos por uma reportagem de primeira capa. Um querendo passar
na frente do outro para ver quem conseguia chegar mais perto do detetive a fim
de entrevistá-lo. Totalmente inútil, Scott não responderia a nenhuma das
perguntas antes de conversar com seu chefe,
— Detetive Scott, é verdade que tem um serial killer agindo em Nova
Iorque? — perguntou uma repórter de cabelos escuros que usava óculos.
— Já sabem quem foi o responsável pelas mortes de Lindsay e Mary? —
perguntou um gorducho careca.
— As mulheres mortas eram prostitutas? — perguntou outro com um jeito
debochado.
Scott não respondeu a nenhuma das perguntas. Disse apenas que uma
coletiva de imprensa seria convocada. Em seguida conseguiu abrir caminho e
entrou no departamento de polícia. Teria que sair pelos fundos se Alfred não o
autorizasse, mas esperava convencê-lo de que era uma boa ideia.
Alfred estava com cara de poucos amigos. Isso já era de se esperar, mas não
havia nada que pudesse ser feito em relação aos repórteres, a não ser dizer
alguma coisa para que fossem embora logo.
— Bom dia, Alfred!
— Creio que não seja tão bom assim. Como é que esses repórteres ficaram
sabendo de tudo?
— Não tenho nada a ver com isso, Alfred. Na verdade, eu estava com a
ideia de chamar a imprensa para uma coletiva, mas acho que isso não será mais
necessário.
— Você está louco, Scott? A única coisa que eles vão conseguir fazer é
atrapalhar as investigações — completou o chefe mal-humorado.
— Talvez possam nos ajudar. Ontem durante todo o dia eu analisei todas as
provas que temos. Ainda não chegamos a um suspeito. Acredito que talvez
alguém tenha visto Mary entrar no carro do assassino. Provavelmente ela entrou
por livre e espontânea vontade, mas isso não quer dizer que ninguém notou a
cena.
— Onde você quer chegar com isso? — argumentou Alfred.
— Pensei em uma matéria no jornal pedindo a colaboração da população.
Um texto sobre a morte de Mary e na sequência um pedido. Se alguém viu Mary
entrando em algum carro preto naquela noite, ou qualquer outra informação que
entre em contato com a polícia.
— É uma ideia esquisita, mas afinal a imprensa já sabe de tudo e vão
noticiar de qualquer maneira. É melhor que noticiem algo real e não apenas
especulação. Pode convocar a coletiva. Mas não diga tudo, principalmente sobre
aquela ideia de que o assassino é um canibal. Isso ainda é apenas uma hipótese e
não queremos mais especulações. Entendido?
— Tudo bem! Pode confiar em mim.
Scott saiu novamente e falou aos repórteres.
— Vou dar uma coletiva aqui mesmo. Não irei responder a todas as
perguntas para não atrapalhar as investigações, portanto, não adianta insistir.
Logo em seguida a pergunta feita anteriormente foi repetida.
— Detetive! Temos um serial killer agindo em Nova Iorque? — perguntou
a repórter.
— Temos dois assassinatos cometidos recentemente, como vocês já sabem
duas mulheres foram brutalmente mortas e com características semelhantes. Isso
automaticamente faz a polícia acreditar que os crimes foram cometidos pela
mesma pessoa. No entanto, ainda não podemos afirmar. Precisamos do resultado
da perícia.
— Isso quer dizer que a polícia ainda não tem um suspeito? — perguntou o
careca.
— Ainda não! Temos evidências, mas nenhum nome. Provavelmente é
alguém sem passagens pela polícia.
— Ele só ataca durante as noites. Suas vítimas são prostitutas? —
perguntou o outro repórter.
— De maneira alguma. As duas moças mortas não tinham qualquer ligação
com atividades sexuais. Elas apenas trabalhavam em estabelecimentos que
também abriam no período noturno.
— As moças foram violentadas sexualmente? É verdade que o assassino
mutilou as vítimas?
— Sim! A primeira vítima já temos a confirmação de que foi violentada,
mas a outra ainda aguardamos o resultado da perícia. Quanto à mutilação
também é verdade, mas não posso entrar em detalhes para não atrapalhar as
investigações e também em respeito à família.
Várias outras perguntas foram feitas e Scott respondeu apenas as que achou
que eram necessárias. Depois para encerrar ele falou sobre a última vítima.
— Mary Zurc desapareceu na última sexta-feira ao sair do trabalho em uma
lanchonete. Ninguém a viu com vida depois disso. Provavelmente ela entrou no
carro do assassino e acabou sendo morta. Quero pedir a ajuda da imprensa para
tentar localizar algum suspeito. Acredito que Mary entrou no carro logo após
sair da lanchonete. Vamos divulgar a foto da moça e pedir a população para que
se alguém viu Mary entrando em um carro, naquela região, que por favor,
comunique a polícia.
— Pode ser que exista uma testemunha ocular. Talvez alguém passava pelo
local e viu algum carro, ou até mesmo ela entrando no veículo. Qualquer
informação é útil. A cor ou marca do carro, a placa. Conto com a colaboração de
vocês para que possamos prender esse desgraçado o mais rápido possível.
— O senhor acredita que mais mulheres estão em perigo? — perguntou a
moça de óculos.
— Não tenho dúvidas quanto a isso. O problema é que não sabemos quando
ele pode atacar novamente. Mas sabemos que ele só ataca mulheres que estão
desacompanhadas. O assassino não quer dificuldade e muito menos correr o
risco de uma das vítimas escapar. Portanto, a minha recomendação é de que não
importa o que aconteça, mulheres de todas as idades, não andem sozinhas.
Principalmente no período noturno.
— A polícia não tem nenhum suspeito, então isso quer dizer que o assassino
poderia estar aqui no meio de nós, neste momento, ouvindo essa entrevista?
— Talvez! Estamos trabalhando na identificação de um possível suspeito.
Não temos nada que prove isso, por enquanto. Mas vamos trabalhar para que o
caso seja resolvido o mais breve possível. Agora chega de perguntas, façam o
que eu pedi que já será de grande utilidade.
Entre protestos, Scott retornou para o departamento fechando a porta de
entrada. Talvez tivesse falado além do que devia. Mas se o assassino também
visse aquela matéria em um jornal saberia que estava sendo cassado. Isso de
alguma forma poderia inibi-lo. A polícia precisava ganhar tempo para tentar
identificá-lo antes que uma nova vítima fosse encontrada.
Scott aguardava com ansiedade o resultado da perícia. Estava confiante de
que algo novo pudesse ser encontrado e então teriam verdadeiramente um
suspeito. Caso contrário voltaria à estaca zero e começaria a sentir-se
pressionado, não apenas pelo chefe, mas por toda a população que agora saberia
da existência de um serial killer à solta.
Capítulo 13

Logo pela manhã Ross passou em uma banca e comprou o jornal do dia.
Ainda não tinha encontrado nenhuma menção aos seus crimes. Talvez a polícia
não quisesse alarmar a população. Quando pegou o jornal em mãos segurou-se
para não dar um grito de alegria. Finalmente ele tinha conseguido a primeira
página.
Não era uma notícia qualquer, seus crimes estavam noticiados em letras
enormes na primeira página de um dos jornais mais lidos de Nova Iorque. O
assassino não se conteve em esperar para ver o que dizia naquelas páginas e
começou a ler imediatamente a matéria que dizia:
Assassino em série assombra Nova Iorque. Nos últimos dias duas mulheres
foram encontradas mortas na cidade. Elas foram vítimas de um psicopata que
ataca suas vítimas na calada da noite. Ele abusa sexualmente de suas vítimas e
lhes tira a vida. As duas moças desapareceram depois de saírem do trabalho
quando retornavam para suas casas. A polícia não tem suspeitas de quem seja o
assassino e pede a colaboração da população.
A última vítima, Mary Zurc desapareceu depois de sair da lanchonete
Drink's por volta da meia-noite da última sexta-feira. A polícia acredita que ela
foi abordada logo depois de sair da lanchonete. Portanto, se alguém tem alguma
informação, ou passava pelo local e viu alguma coisa. Por favor, entre em
contato com a polícia através de uma ligação anônima. Qualquer informação é
útil. A polícia de Nova Iorque recomenda que mulheres evitem andar
desacompanhadas, pode ser muito perigoso.
Ao final da notícia havia uma foto de Mary e o horário aproximado em que
ela desapareceu.
— Idiotas! Realmente eles acreditam que vão conseguir me pegar? A placa
do carro é falsa e tenho certeza de que ninguém passava pelo local quando Mary
entrou no meu carro — pensou Ross com a certeza de que eles ainda não tinham
nenhuma pista. Afinal era isso que a matéria dizia.
Ele entrou no carro e retornou para sua casa. Abriu o freezer e constatou
que seus suplementos haviam acabado. Precisava de uma nova vítima. Já tinha
algumas possíveis vítimas em sua lista. Sairia naquela noite e quem sabe teria
sorte mais uma vez. Matar era algo que o deixava muito feliz. Mas cada vez
mais ele sentia que essa necessidade só aumentava. Ainda era cedo, mas
precisava saciar seus desejos, ou encontrava uma vítima de seu agrado, ou
mataria a primeira mulher que encontrasse em sua frente.
Não muito distante dali em uma cafeteria, Linda e seu namorado Bryan
tomavam o café da manhã quando viram a notícia na TV.
— Viu só isso, Bryan?
— Sim! Mas por que o espanto? Isso é algo muito mais comum do que
você pensa. Apenas uma pequena parte dos crimes são noticiados — falou ele
com desdém.
— Não! A notícia fala de um serial killer. Isso é diferente. É alguém que
mata com muita frequência e escolhe as suas vítimas por algum motivo. Não
acredito que você considera isso como algo comum — argumentou Linda.
— Bom, pode não ser, mas você ouviu bem a notícia. Basta não andar
sozinha por aí que não tem perigo algum.
— Até parece. Isso é uma tolice, mulheres precisam ir ao trabalho, ao
supermercado, comprar roupas, ao salão de beleza, para a faculdade. E ainda tem
aquelas que moram sozinhas. Nem sempre é possível estar acompanhada. Para
isso cada uma teria que ter um segurança particular. Lógico que algumas vão
ficar morrendo de medo de sair de casa, mas a grande maioria vai continuar sua
vida normal e isso é um prato cheio para o assassino. Não acha?
— Verdade! Creio que ele não vai demorar muito para encontrar uma nova
vítima. Além disso, existem muitas prostitutas dando mole nas ruas durante a
noite.
— Mas agora, mudando de assunto, o que você vai fazer hoje à noite?
Estava pensando em ir ao cinema — perguntou Linda.
— Hoje não posso, vou jogar com os amigos. Quem sabe outro dia — disse
tomando o resto de seu cappuccino.
— Sempre você tem uma desculpa. Já estou ficando de saco cheio disso.
Toda vez que te chamo para sair você já tem um compromisso. Que droga!
— Também não exagere. Quando eu posso sempre saímos juntos, mas hoje
não dá. Já combinei com meus amigos. Não posso desmarcar o compromisso.
— Vá a merda com seus amigos. Vamos embora que eu preciso trabalhar.
Naquela noite ao chegar em casa, Linda deixou o carro na garagem e foi até
a porta da frente. Ela lembrou-se de que seus pais não estavam em casa e que
precisava pegar as chaves que estavam na bolsa.
Eram pouco mais de oito da noite e já estava bastante escuro.
Imediatamente ela sentiu um frio na espinha ao lembrar-se do noticiário da
manhã. Linda teve a sensação de que estava sendo observada. Olhou
rapidamente para todos os lados, mas não viu nada de estranho. Apenas um carro
parado a uns cem metros. Atrapalhou-se tentando colocar a chave na porta.
Já suava frio quando finalmente conseguiu. Abriu a porta entrando
rapidamente e fechando a porta atrás de si. Colocou todas as trancas e se escorou
na porta sentindo o coração acelerado. Será que o assassino estava observando,
ou aquilo era apenas coisa de sua imaginação? — pensou a moça.
Quantas mulheres existiam em Nova Iorque, por que ele escolheria logo
ela? — pensou tentando esquecer aquela situação.
Por outro lado, se o assassino realmente estivesse do lado de fora uma
simples porta não o deteria. O medo voltou com força total. Ela pegou o telefone
e tentou ligar para seu namorado pedindo que viesse até sua casa. O telefone
estava desligado.
Maldito! Deve estar transando com uma vadia e eu aqui morrendo de medo
— pensou ela furiosa esquecendo o medo momentaneamente.
Linda tentou se acalmar ligando a TV, mas o noticiário repetia a mesma
reportagem da manhã. Mudou para um canal de filmes e a cena que estava na
tela era o exato momento em que um assassino degolava sua vítima. Desligou a
TV no mesmo instante. Tentou se acalmar novamente.
Foi para seu quarto e trancou a porta e certificou-se de que a janela estava
bem trancada. Tirou a roupa deixando-a cair no chão. Precisava de um banho
para relaxar. Entrou debaixo do chuveiro deixando a água quente cair sobre seu
corpo.
De repente ouviu um barulho e abriu os olhos assustada. Era apenas o
celular que estava vibrando sobre a penteadeira. Terminou o banho se enrolando
na toalha macia. Já estava um pouco mais calma. Foi em direção à janela e olhou
para a rua. O carro já não estava naquele local. Pegou o celular para ver quem
estava ligando. Acreditou que era seu namorado retornando à ligação. Levou um
susto ao ver que era um número desconhecido. Quem seria?
Definitivamente aquela noite não seria uma das mais tranquilas para Linda.
Capítulo 14

Ross andava com seu carro pelas ruas de Nova Iorque quando viu aquela
linda moça saindo de uma loja e caminhando em direção a um carro. Ele não
sabia, mas ela se chamava Linda. O assassino ficou tentado a fazê-la sua nova
vítima. Ela verdadeiramente fazia jus ao nome. Linda tinha um belo corpo e os
cabelos loiros a altura dos ombros, loiras eram as suas preferidas. Ele deu a
partida no veículo e aguardou até que a moça começasse a andar com seu
veículo.
Logo em seguida ele arrancou com seu carro e começou a segui-la, sempre
mantendo uma boa distância para que não fosse percebido. Os dois rodaram por
aproximadamente vinte minutos até que chegaram ao Harlem. Provavelmente ela
morava ali, imaginou Ross.
Linda percorreu mais algumas ruas até que deu sinal à esquerda e parou o
carro em uma casa estacionando em frente a garagem. Ross parou o carro a uma
distância que lhe permitia observar tudo e apagou os faróis do veículo. Viu
quando a porta da garagem se abriu automaticamente e quando a moça saiu em
direção a casa. Era a hora de agir. A surpreenderia no momento em que fosse
abrir a porta da frente.
Ele olhou para as casas ao lado, mas percebeu que estavam com as luzes
acesa. Seria demasiadamente arriscado. Um grito dela e poderia colocar tudo a
perder. Ficou irritado com a situação, mas desistiu da ideia. Ficou apenas
observando enquanto Linda tentava abrir a porta. Parecia assustada, como se
soubesse que estava sendo observada. Olhou para os lados procurando alguém.
Finalmente encontrou a chave e abriu a porta entrando na casa. Aparentemente
não havia ninguém em casa. Seria o lugar perfeito para colocar seu plano em
prática, não fosse o risco de ser pego.
Ainda precisava encontrar uma vítima. Não poderia voltar para casa de
mãos vazias. Ligou o carro e deixou o local tranquilamente.
Linda já estava dormindo quando ouviu um barulho acordando em seguida.
O quarto estava escuro e apenas um raio de luz clareava o recinto através da
cortina. Procurou o interruptor que ficava ao lado da cama para ver se era seu
celular que estava vibrando. Ao acender a luz já sentada na cama teve a
impressão de que alguém a observava.
Virou imediatamente para ver se tinha alguém em seu quarto. Não teve
tempo de gritar. O assassino passou algo sobre seu pescoço apertando fortemente
lhe tirando o fôlego. Sentiu sua vida se desfazendo aos poucos. A agonia da
morte lhe invadiu o ser. Nada mais podia ser feito. Seu corpo sem vida caiu
sobre a cama e o assassino poderia fazer dela o que quisesse.
Linda acordou assustada com o corpo coberto de suor. Olhou para o quarto
sem entender nada. Foi então que caiu na realidade. Tudo não passou de um
sonho. Foi até a cozinha e tomou um copo de água. Não tinha o que temer. Ao
menos era o que ela pensava.
Não muito longe dali Ross procurava outra vítima. Nenhuma das que tinha
em mente estavam ao seu alcance naquela noite. Mas ele não voltaria para casa
de mãos vazias. Teve uma ótima ideia e partiu para outro local. Sabia que
encontraria uma prostituta a procura de clientes. Bastava que encontrasse um
local mais afastado onde ninguém pudesse identificá-lo.
Andou mais alguns quarteirões até que finalmente encontrou o que estava
procurando. A mulher tinha os cabelos provavelmente tingidos de loiro. Os seios
sem dúvida eram falsos, mas ela era bem atraente. Encostou o carro ao lado da
calçada e abaixou o vidro.
— O garotão está a fim de se divertir? — perguntou ela colocando a cabeça
na janela do carro.
— Depende! Quanto custa?
— Cem dólares. Serviço completo — respondeu.
— Está depilada? — perguntou ele. Já que estava pagando poderia exigir
uma que lhe desse menos trabalho. Ele tinha esse direito.
— É claro meu amor. Está tudo lisinho, igual pele de bebê. A maioria dos
clientes gostam assim, então estou sempre depilada.
— Ótimo! Pode entrar no carro.
Ross deu partida e saiu. Ainda não sabia para onde a levaria. Sua casa não
era um local adequado. Não poderia ser visto com ela em locais públicos. Foi
assim que teve uma grande ideia.
— Para onde estamos indo? — perguntou ela curiosa.
— Tenho uma casa de campo. Minha mulher está viajando a alguns dias e
preciso me divertir um pouco. Ninguém é de ferro — disse com um sorriso
malicioso.
— Claro! Comer a mesma refeição todos os dias também enjoa —
completou a mulher acreditando em suas mentiras.
O assassino percorreu por várias propriedades até que encontrou uma que
estava na completa escuridão. Havia um enorme gramado na frente numa
extensão de cem metros antes de chegar na casa. Parou o carro logo que entrou
na propriedade. Não havia ninguém, não ouviu latidos de cachorros. O local era
perfeito para mais um crime.
— Por que você parou aqui e não na garagem? — perguntou a prostituta
olhando para a casa grande mais a frente.
Ross aproveitou esse momento de distração, antes que ela pudesse se dar
conta sentiu algo ao redor de seu pescoço. Possivelmente um arame. Não teve
forças para gritar, mas se debatia na esperança de que pudesse se salvar.
Conseguiu acertar uma cotovelada em Ross, mas não o feriu. Ross tinha muita
força nos braços e não a deixou escapar.
Sentia que a morte estava perto. Tudo foi ficando escuro e deu seu último
suspiro. O corpo sem vida desabou sobre o banco de passageiros. Ross desceu e
tirou-a do carro deitando-a sobre a grama verde. Em seguida despiu o corpo e
por último tirou a calcinha fio dental vermelha que ela usava. Ele estava certo, os
seios eram falsos.
Ele abusou do corpo com excitação, não pagaria um só centavo pelos
serviços da moça. Certamente que prostitutas eram as vítimas mais fáceis. Quem
sabe ainda encontraria algum dinheiro em sua bolsa. Depois de terminar o
serviço e ajeitar sua calça ele pegou o bisturi para concluir sua missão naquela
noite.
Ela dizia a verdade. Estava completamente depilada. Quantos homens já
tinham desfrutado de seu prazer? Certamente muitos. Ele seria o último homem
a fazer isso. Sorriu de sua própria crueldade.
Após guardar o produto em um saco plástico e as luvas em outro, ele juntou
todas as roupas da moça e colocou no carro. Também levaria a bolsa com todos
os seus pertences. Isso daria um pouco mais de trabalho para a polícia. Ele parou
o carro perto de uma represa e atirou o celular dela nas águas. Não queria ser
rastreado. As roupas ele daria fim em outro momento. Deixaria em uma lixeira
ou colocaria fogo nelas em sua churrasqueira.
Quando chegou em casa preparou a carne para o jantar. Era
demasiadamente pouco para seu apetite. Teria que sair à caça novamente em um
ou dois dias. Da próxima vez escolheria alguém que não tivesse seios falsos. Ou
talvez começasse a apreciar outros cortes, mas o órgão genital e os seios eram
suas partes prediletas e as únicas que realmente faziam sentido para o assassino.
Capítulo 15

Na manhã seguinte quando estava no departamento, Scott recebeu uma


ligação de Ted avisando que os resultados da perícia já estavam prontos e
haviam sido enviados preliminarmente para seu e-mail. Imediatamente o detetive
abriu seu e-mail e fez o download do arquivo. Estava ansioso para ver se tinha
alguma novidade no relatório.
A primeira informação que Scott viu é que novamente foram encontradas
impressões digitais na vítima. Como ele já imaginava era a mesma impressão
digital encontrada no crime anterior. Isso por si só já comprovava a sua teoria de
que o criminoso era o mesmo. Também comprovava que ele era um serial killer.
Scott continuou lendo e viu que também foram encontrados vestígios de
látex. A posição em que o corpo estava não deixava dúvidas quanto a isso, o
assassino também matava por questões sexuais. Mas não era possível saber se o
estupro era uma das suas principais motivações. Novamente não foi encontrado
sêmen no corpo da vítima. Definitivamente ele era muito cuidadoso.
A morte foi por esganadura. O assassino se utilizou apenas das mãos para
matar a vítima. Tudo apenas confirmava o que Scott já suspeitava desde o início.
Apenas com aquelas informações não foi possível identificar o assassino. Mas
ainda restava o resultado das imagens das câmeras da lanchonete onde Mary
trabalhava. No momento era a única esperança de Scott.
Essa era a próxima informação do relatório. Scott leu atentamente cada
linha e ficou decepcionado com o resultado. O documento dizia que não foi
possível identificar o homem que estava na lanchonete tendo como base apenas
aquela foto. Definitivamente era alguém sem passagens pela polícia. De
qualquer maneira o detetive apenas desconfiava que pudesse ser o assassino. De
maneira alguma poderia divulgar a imagem do sujeito nos jornais. Não tinha
nenhuma prova concreta, mas apenas o fato de que o mesmo esteve na
lanchonete pouco antes de Mary ir embora e ser morta.
As coisas estavam ficando cada vez mais complicadas. Já eram duas
vítimas e a próxima poderia surgir a qualquer momento. Até aquele momento
nenhuma denúncia anônima, nenhum telefonema foi dado para informar a
polícia sobre quem seria o suspeito. Ao que tudo indicava a divulgação nos
meios de comunicação não havia surtido efeito. Pelo menos até aquele instante.
Ainda pela manhã Alfred foi até sua sala e acabou de arruinar as coisas.
— Scott! Acabei de receber um telefone e não tenho boas notícias.
Acabaram de encontrar outra mulher morta numa área retirada da cidade. Pelo
que já fui informado acredito que nosso homem atacou novamente. As
características que me descreveram conferem com tudo o que vimos nos crimes
anteriores.
— Abutre maldito! Espero que dessa vez ele tenha deixado alguma pista.
Acabei de ler o relatório da perícia e não me resta dúvidas de que ele sabe que
não temos pistas. Ele está sendo cada vez mais audacioso.
— Vá até o local e veja se descobre alguma coisa. A perícia já foi acionada
e deve estar lá neste momento — ordenou Alfred virando as costas e saindo da
sala.
Scott anotou o endereço e seguiu para o destino. Depois de quase meia hora
chegou ao local. Ficava não muito longe de onde de Mary foi encontrada. Mas
existia uma grande diferença entre os dois crimes.
O detetive desceu do carro e caminhou até o local onde o corpo fora
encontrado. Havia uma pequena aglomeração de curiosos e a perícia já realizava
o seu trabalho. A moça de cabelos loiros estava completamente nua, seu corpo
estava caído no gramado a uma distância considerável da casa. Não restavam
dúvidas de que o crime havia ocorrido ali mesmo.
O corpo estava mutilado mais uma vez, mas apenas a região genital tinha
sido arrancada. A marca ao redor do pescoço evidenciava sua morte por
estrangulamento. Mais uma vez o objeto utilizado não estava na cena do crime.
Algo chamou a atenção de Scott ao analisar a área em torno do corpo. Não
existia nenhuma peça de roupa.
O assassino teria levado todas as roupas, ou ela já estava nua quando foi
trazida até o local? Essas e muitas outras perguntas precisavam de respostas, mas
Scott não sabia como respondê-las.
— O que me diz Ted. Alguma dúvida de que seja o mesmo assassino dos
outros dois crimes?
— Nenhuma dúvida, Scott. Todas as características são parecidas, com
exceção das roupas que não encontramos — respondeu o perito.
— As três vítimas estavam nuas, mas é a primeira vez que ele leva as
roupas, acho que o assassino apenas está querendo confundir a polícia. Não
tenho dúvidas de que ela também foi estuprada.
— Sim Scott! Estamos lidando com um assassino frio e calculista.
— Quem encontrou o corpo?
— Recebemos uma ligação anônima. Uma pessoa passava pelo local e viu
uma grande quantidade de abutres. Parou para ver o que era acreditando que
havia um animal morto. Ele então ligou para a polícia e informou a localização,
mas não esperou até que chegássemos ao local.
— Não acredito que seja o assassino, não seria tão idiota. Poderíamos
rastreá-lo através do telefone.
— Você tem razão Scott. Também não acredito.
— E os donos da casa? Não viram nada de estranho durante esta noite?
— Infelizmente não! Fomos informados de que estão viajando de férias.
Estão na Europa, não tem ninguém em casa.
— Já sabem quem é a vítima? — perguntou Scott.
— Não! Além das roupas também não encontramos nenhum documento.
Ao que tudo indica também não temos nenhuma queixa sobre mulher
desaparecida. Mas eu não ficaria surpreso se descobrissem que ela era uma
prostituta. Ela estava usando uma maquiagem pesada e os seios são falsos.
Talvez seja por isso que o assassino não tocou neles.
— Você tem razão, Ted. Mas de qualquer maneira cedo ou tarde alguém
dará falta dela. Eu tinha esperança de que o assassino tivesse deixado uma pista
desta vez, mas pelo jeito será a mesma coisa de sempre.
— Uma hora ele vai cometer um erro, então você o pega. São poucos que
conseguem se esconder por muito tempo. A ganância por cometer novos crimes
é uma vantagem que a polícia tem. Se o assassino não voltasse a agir talvez seria
quase impossível encontrá-lo, mas acho que esse não é o objetivo de nosso
homem.
— Tem razão Ted. Nós vamos pegá-lo. Tenho certeza disso, mas espero que
isso não demore muito a acontecer. Já são três vítimas e não quero que essa lista
aumente absurdamente. Preciso descobrir quais são seus motivos? Por que ele
mata? Só assim teremos pistas que podem nos levar até ao assassino.
— Boa sorte, Scott.
— Assim que tiver os resultados da perícia me avise. Vou retornar para o
departamento e continuar estudando as provas que tenho em mãos. Deve haver
alguma coisa que eu ainda não notei. Preciso desvendar este mistério.
Capítulo 16

Scott retornou para o departamento e sentou em frente ao computador.


Releu novamente o relatório e começou a analisar as características das três
vítimas.
Lindsay era loira, solteira, não tinha filhos. Morava com os pais e
trabalhava em uma confeitaria. Foi morta ao sair do trabalho no caminho para
casa. Foi violentada e mutilada. A família não tem motivos para apontar algum
suspeito de cometer o crime.
Mary também de cabelos loiros, solteira e sem filhos. Também morava com
os pais e trabalhava em uma lanchonete. Desapareceu depois de sair do trabalho
e foi encontrada morta no dia seguinte em uma cabana. Foi violentada, mas foi
morta sem a utilização de nenhum instrumento. O assassino utilizou as próprias
mãos para esganá-la. Seu corpo foi mutilado. Não existem suspeitos.
A terceira vítima ainda sem nome também tinha cabelos loiros, isso poderia
ser apenas uma coincidência, mas Scott acreditava que não era. Tudo indica que
era uma prostituta, pois até o momento não existia queixa sobre seu
desaparecimento. Certamente que foi abordada na rua. Isso dificultava ainda
mais as investigações, pois ninguém acharia estranho se ela entrasse em um
veículo qualquer. Afinal esse era seu trabalho. Ao que tudo indicava também foi
violentada sexualmente antes de ter o corpo mutilado.
Outro detalhe é que as três tinham a pele clara. Todas com idade entre vinte
e vinte e cinco anos. Com essas informações Scott traçou um perfil para as
vítimas preferidas do assassino. Mas ainda precisava entender por que o
assassino matava. Deveria ter algum motivo, por mais idiota que fosse. Sempre
havia uma motivação para assassinatos em série.
Talvez o sujeito tenha sido abusado na sua infância e agora se vinga de
mulheres matando-as cruelmente. Não contente em tirar a vida delas, o assassino
ainda retira partes de seus corpos. Partes que estão ligadas diretamente com a
atividade sexual de reprodução. Talvez apenas para castigá-las, mas Scott tinha
certeza de que ele era um canibal. O assassino se vinga em todos os sentidos.
Usa o corpo das vítimas para saciar seu prazer até os limites da insanidade. Se é
que existem limites para isso.
O assassino poderia ser alguém que ele menos esperasse. Mas ao menos de
uma coisa Scott tinha certeza. Era alguém que morava sozinho, ou não
conseguiria esconder seus gostos estranhos por muito tempo. A menos que
tivesse um esconderijo utilizado apenas para ocasiões especiais. De qualquer
forma Scott não acreditava nisso.
O assassino utilizou um carro preto no primeiro crime, essa era a única pista
que a polícia tinha. Como se isso adiantasse alguma coisa. Se ao menos tivessem
o modelo do carro já teriam o que procurar. Mas nada garantia que ele utilizava o
mesmo carro do primeiro crime.
O detetive passou horas analisando todas as provas e criando várias
suposições, mas não conseguiu chegar a nenhuma conclusão. As impressões
digitais encontradas nas vítimas e nas cenas dos crimes eram a melhor prova que
a polícia tinha em mãos, mas o dono delas não estava nos registros da polícia.
Scott precisava de algum fato novo, uma testemunha ocular. Alguém que tenha
visto as vítimas acompanhadas pouco antes de serem assassinadas.
A terceira vítima entre todas era a de que menos se tinha informações, mas
talvez ao descobrir sua identidade, novas provas chegassem em suas mãos. Essa
era a sua esperança.
Cansado, Scott encerrou os trabalhos e foi para casa.
Ao entrar no apartamento encontrou sua esposa Eve assistindo à TV.
— Olá querida! — disse lhe dando um leve beijo nos lábios.
— Oi! Veio mais cedo para casa. O que aconteceu?
— Outro dia muito cansativo. Outra mulher morta e nada de encontrar um
suspeito dos crimes — disse jogando o casaco de lado e sentando no sofá
— Que horror! Mais uma mulher morta. Mas você acha que foi o mesmo
criminoso?
— Não acho, tenho certeza! Mais uma mulher mutilada. Ele arrancou o
órgão genital dela. Acredito que se tratava de uma prostituta pelas
características. Tinha uma maquiagem pesada e seios falsos bem volumosos.
— Então não sabem quem é?
— Não! Ele a deixou completamente nua. Levou todas as roupas, não havia
nada que pudesse ser utilizado para identificá-la. Estamos lidando com um
assassino profissional. Ele sabe muito bem o que está fazendo e não deixa pistas.
Não será fácil colocar as mãos neste crápula.
— Tenho certeza que você vai prendê-lo. Tenha calma, uma hora ele deixa
uma pista. Você nunca deixou um caso sem solução — disse Eve tentando
animá-lo.
— Espero que sim, querida. Que esse não seja o primeiro. Agora vou tomar
um banho para relaxar.
— Enquanto isso eu vou preparar o jantar. Temperei alguns bifes e vou
fritá-los.
Dizendo isso Eve ia pegar o controle para desligar a TV, mas a notícia lhe
chamou a atenção. Falava justamente da mulher encontrada morta naquela
manhã.
“Mais uma mulher foi encontrada morta hoje pela manhã em Nova Iorque.
Essa é a terceira vítima de um serial killer que assombra a cidade. Os métodos
utilizados pelo assassino não deixam dúvidas. A polícia tem certeza absoluta de
que os três crimes foram cometidos pela mesma pessoa.
Ao que tudo indica a vítima também foi violentada sexualmente, além de
ter o corpo mutilado. Até o momento não foi possível identificar a vítima. Era
uma mulher de aparentemente vinte e cinco anos, pele clara e cabelos loiros. Se
alguém tiver alguma informação deve procurar a polícia.
A população de Nova Iorque está amedrontada. O que a polícia está
fazendo que ainda não prendeu este psicopata?” — disse o repórter fechando a
notícia.
Eve desligou a TV e foi para a cozinha preparar o jantar. Meia hora depois
Scott, já de banho tomado, entrou na cozinha com a barba feita e trazendo o
cheiro de seu perfume amadeirado. Ele se aproximou da esposa e lhe deu um
beijo atrás da orelha a deixando com os pelos do corpo todo eriçados.
— Tenha calma Scott. Ainda temos o jantar.
— Claro! Saiba que estou com um apetite enorme — disse com um sorriso
malicioso. Estes bifes acebolados estão com um cheiro ótimo.
— Sente-se! Já vou servir. Enquanto você estava no banho vi o caso que me
contou na TV.
— É mesmo! E o que eles disseram?
— Nada além do que você me falou. Ainda não sabem quem é a mulher
encontrada.
— Então nenhuma novidade.
— Mas o final da reportagem não lhe agradaria muito se ouvisse.
— Então me diga. O que aqueles malditos disseram?
— Deixaram uma pergunta no ar. O que a polícia está fazendo que ainda
não prendeu o assassino?
— São uns idiotas mesmo, a polícia está fazendo tudo o que é possível.
Coisas deste tipo só servem para deixar a população com medo. Por isso que
prefiro deixar a imprensa fora disso sempre que possível, mas infelizmente dessa
vez não teve jeito.
— Esqueça isso, vamos comer antes que o jantar esfrie.
— Tem razão querida. Não quero estragar minha noite por causa disso.
Capítulo 17

No dia seguinte uma mulher esperava para conversar com Scott quando ele
chegou ao departamento.
— Bom dia, Scott! A moça que você viu na recepção tem uma queixa sobre
uma mulher desaparecida. Pelo que já pude perceber pode ser que seja a mesma
que encontramos ontem pela manhã. Chame-a até sua sala e veja se consegue
confirmar isso — disse Alfred.
— Claro! Vou fazer isso agora mesmo. Como ela se chama?
— O nome dela é Megan. Ela viu o noticiário ontem à noite. Já desconfia
que a amiga está morta.
Scott se dirigiu até a recepção e chamou a moça.
— Megan! Sou o detetive Scott, por favor, me acompanhe até a minha sala.
Ao olhar para a moça, Scott logo percebeu que suas suspeitas não estavam
erradas. Megan vestia roupas sexys demais para que não fosse uma prostituta. A
maquiagem pesada e o batom vermelho vivo eram as primeiras características,
mais a blusa com um decote enorme deixando parte dos seios volumosos de fora.
E também a saia curta que mostrou parte de sua calcinha vermelha quando ela se
sentou em frente da mesa de Scott. Não seria uma simples coincidência. O
detetive tentou não olhar, mas foi inevitável. Seus olhos foram guiados como
uma mariposa atraída pela luz do fogo.
Scott finalmente começou a interrogá-la.
— Muito bem! Por que você veio até aqui?
— Minha amiga está desaparecida desde a noite retrasada. Não consigo
mais falar com ela pelo celular e não faço a mínima ideia de onde ela esteja. Vi
no noticiário de ontem à noite que uma moça foi encontrada morta, e que ainda
não foi identificada. Tenho medo de que seja a minha amiga — disse com muita
preocupação.
— Diga-me quando foi a última vez que a viu?
— Como eu disse isso foi na noite retrasada. Nós duas estávamos
trabalhando no lugar de sempre. Temos um ponto onde ficamos aguardando
nossos clientes.
— Clientes? — ele a interrompeu.
— Se não falar o senhor não vai entender nada. Eu e minha amiga Charlott
somos prostitutas. Ficamos no local até aparecer um cliente. E foi isso que
aconteceu naquela noite. Eu estava a aproximadamente cem metros de distância
e vi quando Charlott foi abordada por alguém e entrou em um carro. Foi a última
vez em que a vi.
— Um carro? Sabe me dizer quais as características dele?
— Era um carro preto.
— Bom, isso não ajuda muito apesar de confirmar outra informação que
temos. Quero dizer se não sabe qual é a marca, modelo do veículo?
— Infelizmente não. Sou péssima em nomes e marcas de veículos. Para
mim eles são todos iguais.
— Certo! Mas se eu colocasse várias fotos de carros diferentes, você
acredita que saberia me dizer qual é?
— Não tenho certeza. Acredito que não.
— Suponho que também não anotou a placa do carro?
— Não! A única coisa que sei é que era um carro muito bonito.
— Tudo bem! Mas agora vamos continuar de onde paramos. Você acredita
que a moça encontrada pode ser sua amiga e nós não temos a identidade dela.
Você teria alguma foto para que eu pudesse ver?
— Sim! Tenho aqui mesmo no meu celular. Deixa eu mostrá-la — disse
pegando o aparelho na bolsa.
Megan pegou o smartphone e abriu a pasta com as fotos e em seguida
selecionou uma em que as duas estavam sorridentes em uma selfie.
— Esta é a Charlott, é a foto mais recente que eu tenho. Tiramos um dia
antes dela desaparecer.
Scott viu a foto da mulher de cabelos loiros e não teve dúvida em momento
algum de que era a mesma mulher encontrada na manhã anterior. Agora cabia a
ele dizer para Megan que sua amiga estava morta.
— Lamento muito. Esta foto não me deixa mais nenhuma dúvida. Sua
amiga está morta, o corpo dela foi encontrado ontem pela manhã.
Megan começou a chorar desesperada. Apesar de tudo ela ainda tinha
esperança de que sua amiga estivesse viva. Depois de uns dez minutos
finalmente ela conseguiu se acalmar um pouco.
— O que fizeram com minha amiga? Quem foi o desgraçado? — perguntou
revoltada.
— Ainda não sabemos quem foi, mas temos algumas pistas. Não vamos
demorar muito para colocar as mãos nele. Sua amiga foi violentada brutalmente.
Também teve o corpo mutilado.
— Que crueldade! Ela nunca fez mal para ninguém.
— Isso não tem nada a ver com sua amiga. Ela apenas teve o azar de ser a
escolhida da vez. O assassino faz isso com todas as suas vítimas. Charlott é a
terceira mulher que encontramos nesta situação.
— Então nós estamos correndo perigo?
— Não! As outras duas não eram prostitutas, você e suas amigas podem
ficar tranquilas quanto a isso. De qualquer forma não aconselharia que entrassem
em um carro preto até que o caso seja solucionado.
— Mas isso vai impactar significativamente em nosso trabalho. A maioria
dos clientes usam carros de cor preta. Vamos perder muito dinheiro se fizermos
isso.
— Quanto a isso não podemos fazer nada, infelizmente.
— Onde o corpo dela está? Preciso ver minha amiga pela última vez.
— Está aguardando o reconhecimento para que possa ser liberado. Não me
resta dúvidas de que é sua amiga, mas é necessário que você faça o
reconhecimento pessoalmente. Se concordar posso levá-la onde o corpo está?
— Se realmente é necessário?
— Infelizmente sim!
Os dois saíram do departamento e Scott levou Megan no seu carro até o
necrotério. Os dois foram em silêncio durante o percurso. Scott imaginava como
a vida daquelas mulheres era difícil. Cada dia iam para a cama com homens
diferentes e agora teriam medo de entrar no próximo carro que poderia ser
apenas mais um serviço, ou a morte.
Ao chegar no local Scott foi recebido por Ted, o chefe do setor de perícias,
que também era responsável pela identificação dos corpos que estavam
guardados.
— Como vai, Scott?
— Tudo bem, Ted! Esta é Megan. Eu a trouxe aqui para que possa fazer o
reconhecimento do corpo encontrado ontem pela manhã. Não me restam dúvidas
de que é a amiga dela.
— Como pode ter tanta certeza?
— Pela foto que vi no celular. Mostre a ele também — disse para Megan.
Ted olhou para a foto e concordou com Scott.
— Você tem razão. Mas mesmo assim ela precisa ver o corpo, ou as fotos
tiradas no local do crime para que possamos fazer o reconhecimento.
— Você quer ver o corpo? — perguntou Ted.
— Não está tão ruim, ou está? — perguntou Megan.
— Não! — mentiu ele. Mas basta que veja apenas o rosto, isso é o
suficiente.
Scott ficou do lado de fora e Megan acompanhou Ted até a sala. Existiam
vários corpos no local, cada um com uma identificação e coberto por um pano
branco. Ted parou ao lado de um corpo e perguntou se Megan estava preparada.
Ela concordou com a cabeça e então Ted puxou o lençol descobrindo
parcialmente o corpo até o busto.
Megan ficou chocada ao ver sua amiga ali morta em cima de uma mesa
gelada. Ela saiu correndo do local chorando de desespero. Scott a amparou.
— Charlott está morta, isso não pode ser verdade — disse chorando.
Infelizmente era a mais pura verdade, nada mais podia ser feito por
Charlott. Apenas a prisão do assassino em nome de sua memória.
Capítulo 18

Dois dias depois Scott estava com o resultado da perícia em suas mãos.
Agora ele saberia tudo o que havia acontecido com Charlott, embora não tivesse
muitas dúvidas a respeito de como ela havia morrido. Ted lhe entregou o
relatório pessoalmente.
— Espero que tenha boas notícias — falou o detetive.
— Não muita coisa. Charlott também foi abusada sexualmente, mas isso
aconteceu depois que ela já estava morta — disse Ted.
— Era de se imaginar. Isso não nos deixa dúvidas de que os crimes têm
alguma motivação sexual. O assassino mata suas vítimas, abusa do corpo e por
último faz a mutilação. Creio que o último estágio seja quando ele consome a
carne de suas vítimas em sua casa ou esconderijo.
— Sim, Scott. Se não fosse ele levaria outros pedaços dos corpos. Tem
muito mais carne em outras regiões do corpo de uma mulher. Eu diria que até
mesmo mais apetitosas, mas ele simplesmente as ignorou.
— Vejo aqui que ela também foi estrangulada — disse Scott olhando para o
relatório.
— Sim. Mais uma vez ele utilizou um objeto fino para sufocar a vítima.
Provavelmente um arame liso e muito resistente, mas ao mesmo tempo muito
flexível.
— E quanto às impressões digitais, encontraram a mesma outra vez?
— Infelizmente não! Não havia nenhuma marca no corpo da vítima. Ela era
prostituta, mas provavelmente ele seria o primeiro cliente da noite e desta vez
deve ter utilizado luvas para concluir seu trabalho.
— De qualquer maneira já temos a impressão digital dele e não sabemos
quem é. Por outro lado, isso não quer dizer que não seja o mesmo assassino. As
características da morte são totalmente parecidas. A única coisa que é diferente é
o fato de não terem sido encontradas as roupas da vítima no local do crime. Mas
isso não quer dizer praticamente nada.
— Verdade, Scott. Fizemos o levantamento de uma extensa área no local
onde o corpo foi encontrado e nenhum sinal das roupas. Mas não acredito que
seja um fetiche, ele queria apenas confundir a polícia levando as roupas da
vítima.
— Mais alguma coisa que eu precise saber e que não esteja no relatório? —
indagou Scott.
— Nada! Como você mesmo pode perceber nada foi acrescentado de
novidade no caso, nada além de mais uma mulher morta — lamentou Ted.
— Temos um carro preto, ele foi visto em duas cenas de crimes. É uma
pena que nenhuma das duas testemunhas soube dizer o modelo do veículo. Isso é
muito frustrante. Talvez isso nos levasse ao assassino com mais rapidez. Ainda é
preciso checar o local onde Charlott foi abordada. Quem sabe existe alguma
câmera de segurança no local.
— Acho pouco provável, Scott. Isso tira a privacidade dos clientes, elas
também tendem a evitar estes locais. Mas quem sabe você encontra alguma
coisa.
— Vou fazer isso ainda hoje, assim que terminar de ler o relatório por
completo.
Logo após o almoço Scott anotou o endereço exato informado por Megan.
Ficava em um bairro mais retirado da cidade, não muito decadente, mas com
construções bastante antigas indicando que o progresso havia passado bem longe
dali. Scott parou seu Mustang ao lado da calçada e antes de descer do carro
colocou sua arma na cintura. Apenas por precaução, não imaginava que alguém
poderia querer assaltá-lo.
Ele desceu do veículo e olhou em todas as direções, verificou cada ponto
onde seria possível de se instalar uma câmera de segurança. Caminhou por
aproximadamente duzentos metros em cada lado da rua e finalmente encontrou o
que queria. Na marquise de uma casa de dois andares ele viu uma câmera de
segurança apontando para a rua. Ele esperava que ela estivesse funcionando no
dia do crime.
Era a única esperança que Scott tinha de conseguir identificar aquele
veículo. Ele olhou para a casa e percebeu que havia uma janela aberta. Não teve
dúvidas e apertou a campainha.
Não demorou muito e ele ouviu alguns passos em direção à porta que se
abriu em seguida. Uma senhora de aproximadamente sessenta anos, com cabelos
grisalhos, apareceu em sua frente. Sua cara não era das melhores ao ver o
detetive.
— Não quero comprar nada — disse a mulher ao vê-lo vestindo seu terno
de cor preta.
— Não estou vendendo nada. Sou detetive Scott, da polícia de Nova Iorque
— disse mostrando seu distintivo.
— Polícia! O que o senhor quer? — perguntou com espanto.
— Não sei se a senhora ficou sabendo, mas alguns dias atrás uma mulher
foi morta. Ela era uma prostituta que trabalhava aqui nesta rua todas as noites. A
última vez que foi vista com vida estava entrando em um carro aqui em frente da
sua casa.
— Aquelas vadias ficam o tempo todo aqui nesta rua se oferendo para os
homens. Garanto que a maioria são casados. Não seriam mortas se estivessem
em casa com suas famílias.
— Minha senhora! Não estou aqui para discutir se é certo ou errado o que
elas fazem de seus corpos. Isso pouco me importa. Eu vi que existe uma câmera
de segurança na frente de sua casa. Quero saber se ela está funcionando?
— Está sim. Colocamos ela depois que encontrei um casal transando em
frente de minha casa. Isso os mantém afastados.
— Ótimo! Preciso que essas imagens sejam disponibilizadas para a polícia.
Podem nos ajudar a descobrir quem é o assassino que estamos procurando.
— E se eu não quiser disponibilizar às imagens? — perguntou com a cara
fechada.
— Vou pedir uma ordem judicial, um mandado e de qualquer maneira
vamos ter acesso as imagens. E não pense em destruir as imagens. A senhora
poderá responder a um processo por dificultar a investigação policial.
— Perfeito! Traga a ordem judicial que terá acesso às imagens — dizendo
isso ela trancou a porta deixando Scott com cara de tacho. Definitivamente
aquela senhora não tinha muito apreço pelas prostitutas. Também não gostava de
detetives.
Scott deixou o local com a sensação de que tinha uma prova que estava por
vir. Tanto trabalho para conseguir aquelas imagens não poderia ser em vão.
Assim ele esperava.
Ao retornar ao departamento imediatamente Scott solicitou que Alfred
providenciasse uma ordem judicial. Não queria perder mais tempo. Cada dia que
passava poderia significar mais uma mulher morta. Já eram três até aquele
momento, em pouco tempo poderia ter uma dezena de assassinatos.
Naquela mesma noite Scott retornou ao local onde esteve mais cedo. Ele
passou lentamente pela rua e viu que havia cinco mulheres ao longo da rua. Uma
delas era Megan que já estava na ativa novamente. Scott parou o carro ao lado da
calçada e logo foi abordado por uma das mulheres acreditando que ele era um
possível cliente.
Ela usava uma saia curta que deixava a calcinha quase aparente. Um decote
que mostrou totalmente seus seios quando ela se abaixou para abordá-lo no
carro, além de uma maquiagem exagerada. Não era muito bonita, mas seduziria
um homem facilmente.
— Olá bonitão! Está a fim de se divertir nesta noite? — foi logo
perguntando.
— Entre, disse ele.
— Não quer saber o preço do programa? — perguntou ela com o carro já
em movimento.
— Não quero um programa, estou querendo apenas conversar um pouco.
— Conversar! — Não vou perder meu tempo conversando a menos que me
pague o preço de uma transa.
— Fique tranquila, vou lhe pagar — disse mostrando o distintivo da polícia.
— Um tira! O que eu fiz de errado?
— Nada! Apenas quero saber se você estava por aqui na noite em que
Charlott foi assassinada?
— Charlott! Eu estava, mas já tinha arranjado um cliente antes de ela
desaparecer. Portanto, não vi nada.
— Certo! Vocês têm muitos clientes que usam um veículo preto?
— Acredito que ao menos metade deles. Mas por que essa pergunta?
— Naquela noite em questão você viu algum carro suspeito passar várias
vezes por aqui? Alguém que poderia ser o assassino de Charlott?
— Sempre tem alguns que passam devagar, até mesmo mais de uma vez,
mas não vi nada de estranho. Geralmente estão apenas analisando o produto, se é
que me entende.
— Tudo bem! Só queria mesmo ter certeza de que não temos nenhuma
testemunha. Acha que alguma das outras garotas podem ter visto algo?
— Não! Tanto é que todas estão com medo de entrar em um carro preto,
ninguém sabe se pode ou não ser o assassino.
Scott deu a volta no quarteirão e parou no mesmo lugar onde a pegou.
— Cinquenta dólares. Está bom?
— Mais do que bom. Nunca ganhei dinheiro tão rápido assim. Se quiser
conversar mais estou à disposição. E se quiser um agrado ainda posso fazer com
esse dinheiro que me pagou?
— Creio que não será preciso, obrigado. Tenho uma esposa que me espera
em casa todas as noites.
O dinheiro gasto não trouxe resultado, mas em momento algum Scott
pensou em usar os serviços da moça. Sua esposa estava em casa e o aguardava
fielmente, ele não precisava fazer isso. Jamais passou pela sua cabeça trair Eve.
Capítulo 19

No outro dia no meio da manhã Scott já tinha em mãos uma ordem judicial
que lhe daria acesso a possíveis imagens que poderiam identificar o carro do
assassino. Não queria imaginar que todo aquele trabalho seria em vão.
O detetive pediu que Fred o acompanhasse durante a operação. Não que
estivesse com medo daquela senhora ranzinza, mas Fred tinha mais experiência
com estes tipos de equipamentos de filmagem. Não queria danificar uma
imagem que poderia levá-los ao assassino.
Scott estacionou o Mustang no mesmo local do dia anterior. A casa estava
com as janelas fechadas, mas Scott tinha esperança de que havia alguém em
casa. Apertou a campainha e logo em seguida ouviu o barulho de passos em
direção à porta e a mesma senhora com cara de poucos amigos apareceu em sua
frente.
— O senhor novamente! Eu disse que não entregaria as imagens sem uma
ordem judicial.
— Bom dia para a senhora, também. Nós temos uma aqui — disse
mostrando o papel.
A mulher olhou para o papel abismada com a rapidez da polícia. Não tendo
outra alternativa ela se afastou permitindo que os dois entrassem na residência.
O interior era cheio de móveis antigos e a poeira acumulada sobre os mesmos
também não era recente. Sobre o sofá rasgado dormia um gato vira-latas e o
chão rangia a cada passo que eles davam. Ela os acompanhou até o local onde
ficava o equipamento. Era relativamente novo e o trabalho de Fred seria fácil.
— Vocês vão levar o meu equipamento embora? — perguntou ela.
— Não será preciso, vamos levar apenas os dados registrados — disse Fred
analisando a unidade de armazenamento.
Fred ligou seu notebook e rapidamente transferiu todos os dados para o
aparelho. A câmera possuía um sensor que captava apenas as imagens com
movimento. Os arquivos não eram tão grandes como Scott imaginava. O
importante é que encontrassem ali as imagens da noite em que Charlott
desapareceu e foi assassinada. Não teriam muito trabalho para analisar as
imagens. Scott sabia a hora aproximada em que a prostituta foi abordada.
— Pronto! O equipamento continua funcionando perfeitamente. A senhora
pode ficar despreocupada — disse Fred se dirigindo à senhora que acompanhou
de perto todo o trabalho deles.
— Espero que não me envolvam nisso. Não gosto de prostitutas, mas nunca
vi essa moça que foi assassinada.
— Não tem com o que se preocupar, a menos que a senhora esteja
escondendo alguma coisa da polícia — respondeu Scott.
Ela olhou zangada para os dois.
— Se já terminaram façam o favor de irem embora. Tenho mais o que fazer.
— Claro! Muito obrigado pela acolhida — disse Scott sarcasticamente.
Imediatamente ao deixarem o local os dois retornaram para o departamento.
Fred trabalhou com as imagens e separou apenas o dia que Scott queria analisar.
Mais tarde já de posse do arquivo o detetive pegou uma xícara de café e
começou a assistir ao vídeo. Ele avançou até o momento em que anoiteceu.
Encontraria ali alguma pista, ou seria mais um trabalho perdido? Isso é o que ele
veria agora.
A imagem no vídeo marcava vinte horas e trinta minutos quando Scott viu a
primeira mulher que ele considerou ser uma prostituta cruzando em frente da
câmera. Não era Charlott e nem Megan. Mas não demorou muito para que as
duas também aparecessem na imagem.
Mais tarde Scott pôde perceber um carro preto passando pelo local
vagarosamente, mas não parou. Alguns minutos depois outro carro parou e
abordou uma das prostitutas. Ela entrou no carro e saíram certamente para um
programa. O carro era branco, não era o homem que ele procurava.
Quando a imagem marcava vinte e duas horas novamente um carro preto
apareceu, não era o mesmo de momentos atrás, mas este parou e abordou
Charlott. A moça conversou alguns instantes com o motorista do veículo e logo
em seguida abriu a porta do carro. Ela inocentemente acreditava que era apenas
mais um cliente querendo se divertir um pouco. No entanto, era seu passaporte
para a morte. Charlott não seria mais vista com vida depois daquele instante.
A imagem permitiu que Scott identificasse perfeitamente a marca e modelo
do veículo. Era um Nissan Versa. Como dito anteriormente por Megan, o carro
em que Charlott entrou antes de desaparecer tinha a cor preta. Infelizmente não
era possível identificar a placa do veículo. O ângulo da imagem não mostrava
nada além da lateral do veículo. Porém, Scott não acreditava que o assassino
utilizasse uma placa verdadeira. Ele não queria ser pego, deveria utilizar uma
placa falsa assim como todos os assassinos costumavam fazer. Nunca seria assim
tão fácil chegar a um psicopata.
Agora a polícia sabia qual veículo o assassino utilizava. Não seria muito
simples encontrá-lo apenas pela cor do carro, era um modelo entre os mais
vendidos no país. Mas Scott teve uma ideia. A imagem congelada do veículo
poderia ser publicada nos jornais. Isso deixaria a população atenta, mulheres
deixariam de aceitar carona de um desconhecido utilizando um carro parecido.
Poderia dar certo, mas também poderia fazer o assassino mudar de veículo. Não
custava tentar.
O detetive enviou um e-mail para Fred pedindo que trabalhasse na imagem
que seria enviada para os jornais. Queria que já estivesse nas ruas no dia
seguinte. Era uma corrida contra o tempo. Três mulheres mortas e a lista poderia
aumentar a qualquer momento. Não havia nenhuma ligação entre as mulheres
assassinadas. Eram vítimas pegas aleatoriamente, disso Scott tinha certeza.
O local onde ambas foram encontradas também não dizia nada ao detetive.
Uma casa abandonada em um bairro periférico. Uma casa de campo invadida
para ser palco de um crime. Outra vítima encontrada em um lugar afastado, mas
deixada sobre o gramado em frente de uma casa. Nada parecia fazer sentido para
Scott.
O detetive já acreditava que a única maneira de pegá-lo seria através de
uma denúncia anônima. Apesar dos três crimes, muito pouco se sabia sobre o
assassino a ponto de identificá-lo. Provavelmente seria um homem de boa
aparência que não levantava quaisquer suspeitas. Morava sozinho para não ter
que dar explicações sobre os restos dos cadáveres que levava para casa. Deveria
estar rindo da polícia neste exato momento.
Ele certamente tinha uma motivação sexual para seus crimes.
Provavelmente usava as vítimas para se vingar de algo que aconteceu com ele ou
com alguém de sua família. De qualquer maneira já estava sabendo que estava
sendo caçado. Provavelmente continuaria tendo cautela para não deixar pistas
quando fizesse sua próxima vítima. Algo que Scott pressentia que não demoraria
a acontecer.
Capítulo 20

Quando a noite caiu sobre Nova Iorque, Ross estava sentado à mesa da
cozinha tomando sua última xicara de café antes de sair a procura de uma nova
vítima. Em sua frente ainda estava o jornal com a notícia sobre suas mais
recentes obras. Três mulheres brutalmente assassinadas por ele. Sentiu-se
orgulhoso por seu trabalho. Não demoraria muito para que tivessem a notícia de
mais uma vítima.
Como são idiotas! Não têm nenhuma pista sobre mim — pensou ele alegre
com seu trabalho bem feito.
Abriu a geladeira apenas para se certificar de que não existia mais nada no
congelador. Estava certo. Tinha que conseguir suprimentos ainda naquela noite.
Sua última vítima tinha lhe rendido apenas um pouco de carne. Quem sabe teria
mais sorte desta vez. Tentaria não arranjar alguém com seios falsos.
Ele abriu a porta da garagem e retirou o carro. Dificilmente alguém via
quando ele saia ou retornava para casa. Era de pouca conversa, não costumava
receber visitas com frequência. Deu a marcha ré e depois acelerou em busca de
sua próxima vítima.
Não correria mais o risco de se expor em um estabelecimento onde
poderiam reconhecê-lo. Encontraria uma vítima caminhando solitária pela rua,
alguém que estivesse sozinha em casa, ou até mesmo mais uma prostituta. O
importante era que ele não retornasse para casa de mãos vazias.
Depois de duas horas rodando pela cidade finalmente ele avistou uma
provável vítima. A moça caminhava pela calçada e carregava uma mochila nas
costas. Parecia uma estudante universitária. Tinha os cabelos loiros e usava uma
saia pouco acima da altura dos joelhos. Era muito bonita e Ross ficou excitado
com a possibilidade de tê-la em suas mãos. Imediatamente ele bolou um plano.
O assassino parou o carro ao lado da moça e abaixou o vidro do passageiro.
— Olá! Estou procurando um endereço. Por gentileza poderia me ajudar?
A moça olhou para o belo carro e para a aparência sedutora de Ross e
pensou que não teria problema em querer ajudá-lo.
— O que o senhor está procurando? — perguntou com seu belo sorriso.
— Ouvi falar que por aqui existe uma boate, mas não consigo encontrar.
Sabe onde fica?
— Sim, realmente existe uma. Fica a algumas quadras daqui. Basta seguir
nesta direção e depois virar à esquerda mais alguns metros — falou apontando
com a mão.
— Ótimo! Mas me diga. O que uma moça tão bonita como você está
fazendo sozinha na rua a esta hora da noite?
— Estou retornando da faculdade. As aulas acabaram mais cedo hoje.
— O que você acha de se divertir um pouco? Gostaria de me acompanhar
até a boate? — perguntou tentando convencê-la a entrar no carro.
— Não posso! Tenho namorado e ele ficaria furioso se eu saísse com outro
homem. Mesmo que fosse apenas para dançar.
— Entendo! É uma pena.
— Mas já que o senhor está indo nesta direção poderia me dar uma carona.
Estou com uma enorme bolha no pé, meu sapato está me machucando.
Aquilo seria muito mais fácil do que ele imaginava. Ross olhou para todos
os lados certificando-se de que não estavam sendo observados.
— Claro que sim! Entre que eu te levo onde quiser.
Ross se preparou para agir. Tinha que ser mais rápido do que nas outras
ocasiões. Ele colocou a mão no banco traseiro enquanto a moça entrava no
veículo e se ajeitava no banco de passageiros totalmente desatenta. A pobre
moça nem ao menos teve tempo de entender o que estava acontecendo. Assim
que fechou a porta do veículo segurando a mochila em seu colo, Ross passou o
arame ao redor de seu pescoço e começou a sufocá-la com toda a força. Não
poderia perder tempo. Tinha que matá-la ali mesmo para depois ir para outro
local.
Ela se debateu e com as mãos tentou em vão se livrar do objeto que a
sufocava. Numa última tentativa ainda cravou suas unhas nos pulsos de Ross
tirando sangue de sua carne. Isso apenas o deixou com mais raiva, ele apertou
ainda mais forte e a moça começou a perder as forças. Logo ela já não respirava
e então ele deixou o corpo cair sobre o assento. Para que não tivesse problemas
com o corpo solto dentro do veículo, Ross afivelou o cinto de segurança. Agora
poderiam seguir viagem tranquilamente como um casal de namorados.
Ele evitou as ruas principais, se parasse em algum cruzamento alguém
poderia perceber que havia uma mulher inconsciente dentro do carro. Logo ele
estava em uma zona periférica da cidade. Rodou por longos minutos até que
finalmente encontrou um local perfeito. O Pelham Bay Park. Naquelas horas da
noite não havia mais pessoas no local. Ross encontrou um lugar perfeito e parou
o veículo deixando os faróis ligados.
O assassino desceu do carro e abriu a porta do passageiro. Soltou o cinto de
segurança e pegou o corpo nos braços depositando-o sobre a grama orvalhada
em frente ao veículo. Ross começou a despi-la. Primeiro tirou a blusa e o sutiã
expondo os belos seios que ela tinha. Em seguida tirou a saia e a calcinha
rendada de cor azul claro, deixando-a completamente nua. Já estava
completamente excitado. Abaixou as calças e colocou o preservativo. Sem
dúvidas era a mais linda de todas as suas vítimas e provavelmente a mais jovem.
Mais uma vez ficou satisfeito por ser o último que teria prazer com aquele corpo.
Ele chupou seus belos seios enquanto a penetrava com rapidez, não demorou
muito para chegar ao orgasmo.
Depois que acabou de abusar do corpo e de se vestir novamente, Ross
juntou todas as roupas da moça e colocou dentro do veículo junto da mochila
que ela carregava. Pegou tudo de que precisava no porta luvas do veículo. Um
barbeador, o bisturi e sacos plásticos. Também pegou sua lanterna para que
pudesse enxergar perfeitamente o que estava fazendo.
Ele seguiu seu ritual e a depilou, desta vez não teve sorte de encontrar uma
mulher que já estivesse depilada. Depois colocou luvas descartáveis e utilizando
o bisturi retirou toda a parte genital externa e os dois seios colocando tudo em
sacos plásticos. Pegou mais um saco plástico e jogou as luvas dentro sem que
sujasse as mãos com o sangue da vítima.
Analisou a cena do crime para certificar-se de que não havia esquecido
nada que pudesse incriminá-lo. Olhou uma última vez para o corpo e ficou feliz
por mais um crime perfeito. Entrou no carro e deixou o local já imaginando as
manchetes dos jornais do dia seguinte. Fatalmente o corpo seria encontrado
apenas pela manhã quando já estivesse coberto de formigas ou sendo devorado
por animais.
Durante o trajeto ele pensou em parar o carro e se desfazer dos pertences da
moça, mas mudou de ideia. Levaria tudo para casa e depois resolveria o que
fazer com os objetos. Quando chegou em casa, abriu a mochila para ver o que
tinha dentro. Havia um caderno e um livro, além de canetas e uma calculadora.
Descobriu que a moça se chamava Nicole através da anotação existente na capa
do caderno. Guardou suas roupas dentro da mochila para que pudesse queimar
tudo no dia seguinte.
Quando pegou a mochila para guardá-la, Ross ouviu um barulho de celular
tocando. Ficou assustado, pois não tinha nenhum aparelho em casa. Ficou
vermelho de raiva quando percebeu que o barulho vinha da própria mochila. O
celular estava no compartimento externo que ele havia esquecido de vistoriar.
Pegou o aparelho nas mãos e viu que uma mulher estava ligando,
provavelmente a mãe da moça já preocupada com a demora da filha.
Imediatamente Ross pegou a chave do carro e saiu novamente. Precisava se
desfazer daquilo o mais rápido possível. Bastava que fosse rastreado e
descobririam seu endereço.
Depois de alguns minutos ele parou o carro em um local próximo do mar.
Desceu do carro e deu alguns passos e arremessou o aparelho com toda a força
para dentro das águas do oceano. Agora poderia retornar para casa
tranquilamente e degustar sua mais recente vítima.
Capítulo 21

Ao ligar para a filha e ela não responder a ligação, imediatamente Lucy


ficou preocupada. Afinal Nicole já deveria estar em casa a algum tempo. A moça
nunca se atrasava e se algo imprevisto acontecesse ela ligava avisando. Sua mãe
guardou mais alguns minutos e entrou em contato com a polícia.
Naquelas horas da noite pouca coisa poderia ser feita. Uma patrulha foi
enviada para o local e colheu todas as informações sobre a moça que estava
supostamente desaparecida. Dona Lucy já havia ligado para o namorado da filha
na esperança de que os dois estivessem juntos. Infelizmente ele disse que não foi
para a faculdade naquela noite e, portanto, não sabia onde Nicole estava.
O carro da polícia fez algumas rondas onde deveria ter sido o trajeto de
Nicole. Nada foi encontrado. Ainda naquela noite a moça já era dada como
desaparecida e a família já estava em total desespero. Ninguém conseguiu
explicar o que havia acontecido com a Nicole.
Na manhã seguinte, Scott ainda nem havia tomado café quando seu celular
tocou. Ele olhou no visor e viu que Alfred estava ligando. Uma ligação do chefe
àquela hora da manhã não era sinal de coisa boa. Talvez outra mulher tivesse
sido encontrada morta. Ou será que finalmente o assassino tinha cometido um
erro e já estava preso? Scott finalmente atendeu a ligação na esperança de ouvir
uma notícia boa.
— Bom dia, Scott!
— Bom dia! Me diga que tem boas notícias.
— Temos uma moça desaparecida. Acho que não se encaixa neste quesito.
O nome dela é Nicole.
— Acredita que tem alguma ligação com o abutre?
— Talvez! Até o momento a única coisa que sabemos é que a moça deveria
ter chegado em casa depois da faculdade, mas não deu mais notícias. O
namorado dela diz que não esteve com Nicole durante a noite. O celular dela
está fora de área, mas a mãe disse que ligou para a filha e o celular chamou até a
ligação cair. Fez isso algumas vezes e depois não conseguiu mais.
— Talvez não seja nosso homem, mas essa moça está em perigo, ou até
mesmo já foi morta — conjecturou Scott.
— Venha para cá o mais rápido que puder. Ainda não encontramos um
corpo. Precisamos encontrar a moça e dar uma resposta para a família o mais
rápido possível — disse o chefe desligando em seguida.
— Problemas, querido?
— Sim, Eve. Desta vez ainda não encontraram nenhuma mulher mutilada,
mas existe uma moça desaparecida desde a noite de ontem.
— O que significa quase a mesma coisa. Não é mesmo?
— Sim, querida! Talvez ela já esteja morta. Vamos torcer para que não, mas
ninguém desaparece assim, sem mais nem menos. Tomo café e como alguma
coisa mais tarde, preciso ir agora mesmo para o departamento.
— Boa sorte! Espero que encontre a moça. E me avise se for almoçar em
casa.
— Aviso sim! — Scott deu um beijo na esposa e saiu.
Em algum lugar de Nova Iorque, Ross tinha o jornal do dia em suas mãos e
procurava pela notícia de sua mais recente vítima. Não encontrou nada, mas algo
lhe chamou a atenção. Havia uma notícia sobre ele, na verdade, sobre o veículo
que ele utilizava para cometer seus crimes. A polícia conseguiu as imagens das
câmeras de segurança do local último crime. Eles não tinham muitas
informações, mas apenas a foto de um veículo que abordou a vítima antes de ser
assassinada, isso é o que dizia no jornal.
— Então eles já sabem qual é a cor e a marca do meu carro, preciso ser
mais cuidadoso de agora em diante — pensou ele olhando para seu carro e
notando a semelhança com a foto do jornal.
Para sua sorte ele utilizava um veículo muito comum. O carro era
completamente original, difícil de ser identificado em meio a tantos outros
iguais. Não era uma grande pista para a polícia. Afinal eles não tinham nenhuma
informação sobre o condutor do veículo. Poderia continuar andando pela cidade
sem ser reconhecido.
Assim que chegou ao departamento, Scott ficou a par de toda a situação.
Soube que Nicole estava na faculdade antes de desaparecer. Que o namorado não
estava com ela na noite anterior e que ele ainda não tinha sido ouvido.
Primeiramente Scott ligou na faculdade onde Nicole estudava e se certificou de
que ela esteve na aula na noite anterior. Isso foi confirmado pela mulher o
atendeu ao telefone, mas segundo ela a turma de Nicole foi dispensada mais
cedo em virtude da falta de um professor.
Quando Scott se preparava para ligar para o namorado de Nicole, seu
telefone tocou.
— Scott! Encontraram um corpo no Pelham Bay Park. Vá para o local
imediatamente — disse Alfred e desligou em seguida sem dar mais explicações.
Enquanto dirigia para o local, Scott já imaginava que veria o corpo de
Nicole jogado em algum lugar. No entanto, ainda tinha esperança de que seu
corpo não estivesse mutilado. Se assim fosse não seria mais uma vítima do
abutre.
Ao se aproximar do local, o detetive avistou alguns carros da polícia e a
equipe da perícia que também já estava no local. Ele estacionou o carro pouco
antes da barreira de isolamento e caminhou a passos largos sobre a grama até
onde o corpo fora encontrado.
Seus pensamentos se transformaram em realidade bem ali em sua frente.
Mais uma vez a vítima estava completamente nua. Scott não teve dúvidas de que
aquela era a quarta vítima do abutre devido à forma que o corpo estava mutilado.
A moça de pele branca e cabelos loiros tinha dois grandes buracos no local onde
anteriormente estavam os seios. Seu órgão genital também estava mutilado.
O sangue escuro que escorreu pelo corpo estava seco, denotando que o
crime havia acontecido já há algumas horas. Muito provável que tenha sido
morta antes da meia-noite. O corpo estava coberto de formigas que já
começavam a devorar a carne da vítima. No pescoço havia uma marca profunda.
Provavelmente o mesmo objeto utilizado em crimes anteriores.
Seus olhos ainda estavam abertos. O horror daquela cena era digno de
filmes de terror. Não havia quase nada diferente dos crimes anteriores. Isso
porque o detetive percebeu sangue nas unhas da vítima. Poderiam ser de seu
próprio corpo, mas Scott tinha certeza que em algum momento ela cravou suas
unhas no assassino tentando em vão se libertar.
Sobre a grama ainda era possível ver marcas de um automóvel que esteve
próximo do corpo. Provavelmente o carro do assassino. Nenhuma peça de roupa,
nenhum objeto que pudesse identificar a vítima. Mas Scott não tinha dúvidas de
quem era aquele corpo.
— Alguma novidade, Ted? — perguntou ele mesmo sabendo que a resposta
seria negativa.
— Aparentemente o mesmo assassino. O mesmo ritual dos outros crimes.
Mas ainda não sabemos quem é a moça.
Scott pegou seu celular e encontrou a foto da moça que estava desaparecida
e mostrou para Ted. Alfred lhe enviou a foto ainda pela manhã.
— Aqui está. Tem alguma dúvida de que a encontramos? Nicole
desapareceu na noite passada.
Ted concordou com Scott. De agora em diante tudo era mera formalidade.
A família faria o reconhecimento do corpo para que pudesse ser liberado após o
trabalho da perícia. As coisas estavam cada vez mais complicadas, a lista de
mulheres mortas só aumentava e Scott sentia que estava de mãos atadas sem
nenhuma pista de quem era o assassino.
Capítulo 22

A família de Nicole foi avisada sobre o corpo encontrado e logo que foi
possível fizeram o reconhecimento da vítima. Scott estava certo. Nicole era a
quarta vítima do assassino. Não havia como negar que o abutre estava
conseguindo muito êxito em seus crimes. Ele não deixava pistas que pudessem
levar a polícia a identificá-lo e isso não era nada bom.
A polícia ainda sabia muito pouco sobre ele. Provavelmente o assassino
atacava vítimas aleatórias, sem qualquer ligação entre elas. Todas de pele clara e
muito jovens. O assassino se utilizava de um carro preto para abordar as vítimas
e fazia isso sem que levantasse quaisquer suspeitas. Isso levava a Scott acreditar
que ele era um homem de boa aparência, provavelmente atraente e de boa
conversa.
Ele sempre abordava as vítimas em algum momento em que estavam
sozinhas na rua. Sempre durante a noite, esse era o pano de fundo para seus
crimes. Os ataques sempre foram em locais diferentes. Os corpos também foram
encontrados em regiões distintas. Isso dificultava ainda mais a ação da polícia
que tinha Nova Iorque inteira como área de buscas.
Naquela noite Scott havia combinado de sair com Eve para jantar, mas
antes andariam um pouco pelas ruas da cidade. Era um passeio do casal, mas
também serviria para que Scott tivesse uma dimensão de como seria procurar o
carro do assassino sem qualquer identificação além da marca e da cor. O detetive
imprimiu uma foto e entregou para a esposa.
Scott começou a percorrer as ruas e não demorou muito para que vissem o
primeiro carro igual ao do assassino. Ele estava estacionado ao lado da calçada,
mas não havia ninguém em seu interior. Um pouco mais à frente eles viram
outro veículo. Este estava em movimento e Scott decidiu segui-lo, mas sem que
fosse percebido. Os vidros do carro eram escuros e não era possível ver se
existiam mais pessoas em seu interior, ou apenas o condutor. Poderia ser que o
assassino estivesse ali.
Ele seguiu o Nissan por vários quilômetros até que se aproximaram do
Central Park. Seria sorte demais se ele estivesse seguindo justamente o carro do
assassino. Praticamente a mesma coisa que ganhar o prêmio máximo da loteria
sozinho. O carro seguiu em frente e mais alguns metros virou à direita entrando
em uma área residencial. O carro parou ao lado da calçada em frente a um
restaurante.
Um homem saiu do carro e em seguida a porta do passageiro também se
abriu e uma mulher de pouco mais de trinta anos desceu do carro. Os dois
seguiram de mãos dadas até o estabelecimento. Definitivamente aquele não era o
assassino. A mulher tinha um sorriso no rosto e estava muito bem vestida, assim
como o homem que provavelmente era seu marido.
O detetive seguiu seu caminho na esperança de encontrar algum carro com
aquelas características em atitude suspeita. Mas foi em vão. Ao menos uns vinte
veículos como aquele foram vistos e não era possível saber se algum deles
pertencia ao assassino.
Como combinado, os dois foram a um restaurante, havia bastante tempo
que eles não saiam para se divertir. Os dois sentaram-se à mesa e pediram o
cardápio. Era um restaurante de comida italiana ao qual costumavam ir de vez
em quando. Scott pediu um vinho para os dois e escolheram como cardápio
Bruschetta de entrada e Tortellini de Bolonha como prato principal.
— Parece apreensivo, querido?
— Estou aqui para relaxar e tentar me distrair um pouco, mas não consigo
parar de pensar que existe um serial killer a solta por aí e que pode estar matando
outra mulher neste exato momento. Acho que não vou ter paz enquanto não
colocar as mãos neste psicopata.
— Este vinho está maravilhoso. Experimente! Você sabe que gosto de
conversar sobre seu trabalho. Não me importo se quiser falar como foi seu dia —
disse Eve alegremente.
Scott tomou um gole do vinho concordando com a esposa.
— Ainda não te falei sobre a vítima que encontramos logo pela manhã. É a
quarta mulher que ele mata.
— Me conte os detalhes. Como vocês podem ter tanta certeza que todas
elas foram mortas pela mesma pessoa?
— Simples! Todas foram mutiladas. Existem algumas pequenas diferenças
em relação aos locais dos crimes e a maneira que as mulheres foram
encontradas. Mas a maneira que foram mutiladas não deixa dúvidas de que foi o
mesmo assassino.
— Essa vítima encontrada hoje estava como?
— Sem os seios e o órgão genital externo. Uma cena horrível de se ver.
Uma moça muito jovem e bonita com uma vida inteira pela frente. Ela não
estaria morta se o assassino já estivesse preso.
— Scott! Não é sua culpa. Nem pense nisso. Uma hora ou outra vocês
pegam ele. Tenha um pouco de paciência.
— Espero que sim. Mas infelizmente ainda não temos nenhuma pista. O
assassino poderia estar aqui na mesa ao lado que eu não saberia se era ele. Na
verdade, temos um rosto suspeito, mas que não conseguimos identificar. Este
homem estava na lanchonete onde uma das vítimas trabalhava. Pode ser o
assassino, mas não temos a identidade dele. Também não podemos acusá-lo
antes de termos provas concretas.
— Não existem registros na polícia sobre alguém que já foi acusado de
crimes sexuais e está solto?
— Sim! Temos vários, mas nenhum confere com as impressões digitais
encontradas nas cenas dos crimes. É alguém sem nenhuma passagem pela
polícia. Estamos lidando com um assassino profissional que não deixa rastros. O
pior é que não sabemos a motivação de seus crimes. Não sabemos ao certo onde
procurar.
— Todas as mulheres foram estupradas, não é mesmo?
— Sim! Provavelmente ele violou o corpo depois que já estavam mortas.
Ele também é adepto de necrofilia, além de ser canibal.
— Claramente a motivação dos crimes é sexual. As partes retiradas dos
corpos não deixam dúvidas quanto a isso — disse Eve.
— Sim! É o que eu penso também. Mas por que ele faz isso? Elas não eram
prostitutas em sua maioria e muito menos trabalhavam com algo relacionado ao
sexo. Se a intenção é puni-las, isso não faz sentido. Não vejo nenhuma ligação
entre as vítimas, ao menos algo que faça sentido.
Neste momento o garçom serviu a comida.
— No máximo em dois dias teremos o resultado da perícia no corpo da
última vítima. Quem sabe encontram algo novo, ou até mesmo alguém tenha
visto Nicole entrando no carro do assassino. Espero que até lá a lista de mulheres
mutiladas não aumente.
— Tenho certeza que você não vai demorar para prender este maníaco, mas
agora acho que já chega dessa conversa. Vamos comer porque parece delicioso.
Os dois passaram uma noite agradável como não faziam há um bom tempo.
Depois de saírem do restaurante ainda fizeram um passeio pela cidade e
encerraram a noite se amando e deixando todo o estresse de lado.
Capítulo 23

Como esperado em dois dias Scott já estava com o resultado da perícia em


mãos. Ele analisou cada detalhe com cuidado, mas não havia nada de novo no
relatório enviado por Ted. Dizia que a morte foi por estrangulamento, como já
era possível ver a olho nu no momento em que Scott viu a cena do crime. O
sangue encontrado nas unhas de Nicole era de outra pessoa, provavelmente do
assassino. A essa altura ele deveria ter marcas em seus braços e provavelmente
tentava escondê-las para evitar perguntas para quais ele teria que inventar
mentiras.
Ela foi violentada sexualmente como as vítimas anteriores, certamente
quando já estavam mortas. Não existiam impressões digitais, isso mostrava que
o assassino estava sendo mais cauteloso nos últimos crimes.
Provavelmente o assassino tinha tudo premeditado. Certamente que teria
usado luvas para fazer o trabalho em um local onde não seria fácil lavar o sangue
das mãos. Depois colocava tudo dentro de um saco plástico e levava embora
para não deixar provas que poderiam incriminá-lo. O detetive até conseguia
imaginar toda aquela cena em sua mente.
O assassino também levou todas as roupas e pertences das duas últimas
vítimas. Scott acreditava que isso era apenas para dificultar a ação da polícia.
Provavelmente ele depois descartava tudo em algum lugar difícil de ser
encontrado. Assim como os aparelhos celulares que estavam com as vítimas e
desapareceram. Eles estavam totalmente fora de área, isso significava que o
assassino tinha danificado os aparelhos para que não pudessem mais serem
rastreados.
Teorias e mais teorias, mas nenhuma pista de quem era o assassino. Isso já
estava deixando Scott muito preocupado.
**********
Naquela noite Ross decidiu agir de maneira diferente. Seria difícil
convencer uma mulher a entrar em seu carro espontaneamente depois da última
notícia que saiu nos jornais. Talvez tivesse sorte de encontrar alguma mulher
desinformada, mas a chance de ser reconhecido ao oferecer carona era
verdadeira. Seu carro preto poderia ser reconhecido e colocaria tudo a perder.
Isso era algo que ele não queria em hipótese alguma, esperava que aquelas noites
prazerosas ainda perdurassem por muito tempo.
Ele estacionou o carro em um lugar pouco movimentado e colocou tudo o
que precisava nos bolsos de seu paletó. Luvas descartáveis, sacos plásticos e um
aparelho de barbear descartável, além do seu fiel bisturi. Desta vez não utilizaria
o arame para matar sua vítima. Faria o serviço com as próprias mãos como havia
feito em outra ocasião. Em seguida Ross saiu caminhando pelas ruas
parcialmente escondido pelas sombras da noite escura. Se tivesse um pouco de
sorte encontraria uma vítima e faria o seu trabalho como de costume. Existiam
muitas casas naquela região. Em algum lugar uma mulher planejava seu futuro
sem saber que ainda naquela noite estaria morta. Como eram presas fáceis —
imaginou ele sorrindo.
O assassino viu a sua frente uma moça que caminhava tranquilamente em
direção de sua casa. Ele se escondeu atrás de uma árvore para que não fosse
denunciado e ficou observando. Ross olhou para todos os lados e não havia
ninguém na rua além dele e da possível vítima. Enquanto a moça pegava as
chaves para abrir a porta da casa ele se aproximou sorrateiramente. Se a casa
estava fechada isso significava que não havia ninguém em casa, era a sua grande
chance. Quando ela finalmente abriu a porta Ross a agarrou pelo pescoço com
um dos braços dando-lhe uma gravata e com a outra mão tapou a boca da moça
para que não conseguisse gritar.
Ross a arrastou para dentro da casa enquanto a moça esperneava tentando
se livrar em vão, depois que ela perdeu os sentidos o assassino soltou-a ali
mesmo no chão da sala. Ele então acendeu um abajur que existia ali para que não
chamasse muito a atenção da vizinhança.
Sem perder tempo ele rasgou a blusa dela deixando os belos seios expostos,
em seguida arrancou a saia e então a calcinha branca que a moça estava
vestindo. Ele pegou a calcinha e sentiu o maravilhoso cheiro de mulher
impregnado na peça. Na penumbra ele olhou para o corpo nu e ficou ainda mais
excitado. Tirou as calças e colocou um preservativo.
A meia luz não permitia que ele pudesse ver o rosto da moça. Quando se
aproximava para penetrá-la, Ross simplesmente sentiu um chute com todas as
forças em suas partes baixas. Ele caiu no chão rolando de dor com um grito
estridente. A moça estava apenas desmaiada e quando recobrou a consciência
percebeu o que estava acontecendo e esperou o momento certo para agir.
Ainda meio tonta ela levantou e correu para a porta totalmente nua na
esperança que pudesse fugir. Era a sua única chance de escapar daquele
psicopata. Ela quase sentiu sua mão novamente a puxando de volta para dentro
da casa, mas por sorte era apenas impressão. Ela foi tão rápida que Ross ainda
estava se contorcendo no chão.
Ela abriu a porta e saiu correndo totalmente nua pela rua gritando e pedindo
socorro. Olhou para trás e viu que o assassino já estava na porta de sua casa. Ela
precisava correr e encontrar alguém para socorrê-la. Um carro vinha em sua
direção e ela acenou loucamente. O carro parou e um homem moreno alto
desceu do veículo sem entender o que estava acontecendo.
— Por favor! Me ajude moço — pediu ela desesperada chorando nem se
dando conta de que estava totalmente nua.
— Calma! Calma! O que aconteceu? Por que está nua correndo na rua?
Ela ficou envergonhada por uns segundos, mas tinha que falar o que
aconteceu. Olhou para trás e viu que não estava sendo seguida.
— Um homem queria me estuprar e eu consegui fugir. Saí correndo de
casa. Por favor! Chame a polícia — pediu completamente nervosa.
— Calma! Primeiramente vista meu paletó. Onde é a sua casa?
— Aquela que está com as luzes quase apagadas. Ele está lá.
— Sabe se estava armado?
— Acho que não, mas não tenho certeza.
— A essa altura ele já deve ter fugido. É muito arriscado ir até lá. Entre em
meu carro e aguarde até que eu chame a polícia.
O homem se chamava Robert. Casado e pai de duas filhas. Ela não
precisava ter medo dele, por mais que não soubesse disso. Mesmo assim ela
entrou no carro, pois o casaco cobria apenas seus seios deixando a parte íntima
completamente exposta.
Robert chamou a polícia e em poucos minutos dois carros chegaram ao
local. Sem perder tempo ele pediu que os oficiais fossem até a casa rapidamente
para ver se o bandido ainda estava por lá. Eles cercaram a casa e depois entraram
vistoriando todo o imóvel, mas como era de se esperar não encontraram
ninguém. O criminoso já deveria estar muito longe dali.
Logo após Robert explicou tudo o que havia acontecido. Como Rebecca foi
parar dentro de seu carro e então uma equipe médica foi chamada para levá-la
para avaliação. Robert foi liberado, afinal ele não tinha visto nada além da
mulher nua correndo pelo meio da rua. O assassino fugiu antes que a polícia
chegasse. A moça se chamava Rebecca, ela acreditava que aquele homem era
apenas um estuprador, jamais imaginava que se não tivesse sobrevivido ao
ataque teria sido mais uma vítima do serial killer mais procurado de Nova
Iorque.
Ross ao se recuperar do golpe foi até a porta da casa e viu Rebecca
correndo nua pela rua. Ele pensou em segui-la e dar fim na vida dela mesmo que
não conseguisse cumprir seu ritual completamente. Mas ele viu os faróis de um
carro que parou para socorrê-la. Era tarde demais, cometeu um grande erro por
não se certificar de que ela realmente estava morta. Ross ajeitou as calças, pegou
a calcinha que estava no chão para levar de lembrança e saiu correndo na direção
contrária se escondendo por entre os arbustos. Ele viu o carro da polícia
passando, mas passou despercebido pelos policiais.
Ele finalmente chegou onde seu carro estava e arrancou a toda velocidade.
Precisava sair daquela região o mais rápido possível. Furioso ele apertou o
volante pensando na bobagem que havia feito. Tudo estava perfeito, mas agora a
polícia teria uma testemunha que viu seu rosto. Ele poderia ser preso a qualquer
momento.
Ao chegar em casa ele retirou a calcinha do bolso e sentiu seu cheiro
maravilhoso novamente. Ele se masturbou imaginando as coisas maravilhosas
que poderia ter feito com aquela moça, isso se nada tivesse dado errado.
Capítulo 24

Assim que chegou ao departamento na manhã seguinte, Alfred chamou


Scott para conversar.
— Sente-se, Scott! Tenho novidades.
— Deixa eu adivinhar. Encontraram mais uma vítima?
— Sim e não! A noite passado tivemos o relato de uma tentativa de estupro.
Portanto, temos uma vítima, mas ela não está morta. Os polícias que atenderam a
ocorrência disseram que a moça conseguiu fugir do tarado, correndo nua pela
rua até que conseguiu ajuda de um homem. Eles fizeram buscas na casa e nas
redondezas, mas não acharam nenhum suspeito.
— Você acha que pode ser o nosso homem? — perguntou o detetive.
— É uma hipótese, não acha? A moça se chama Rebecca. Ela está em um
hospital, mas apenas para uma avaliação. Afinal conseguiu fugir antes de ser
estuprada. Quero que vá até lá e consiga algumas informações. Talvez não seja
nosso homem, mas mesmo assim precisamos investigar. A moça pode ter
informações valiosíssimas sobre o criminoso. Quem sabe desta vez conseguimos
a identidade dele.
— Qual é hospital em que ela está?
— Está no Nova Iorque - Presbyterian Hospital, Weill Cornell. Já avisei que
vamos mandar um detetive para interrogar a moça antes que ela seja liberada.
Estou confiante de que ela nos dará alguma pista sobre o criminoso.
— Espero que sim! — respondeu Scott e em seguida saiu com destino ao
hospital.
Durante o trajeto Scott avaliou a possibilidade de aquele ser outro
criminoso e não o que eles procuravam no momento. Ele estranhou o fato de a
vítima ter conseguido se desvencilhar do assassino. Todas as outras mulheres
foram estranguladas ou esganadas sem chance de fuga. Isso era algo que não
fazia muito sentido. O abutre sempre matava suas vítimas para depois estuprá-
las. Será que desta vez teria tentado estuprar a moça antes de ser morta?
Outra coisa que o detetive estranhou foi o fato do crime ter ocorrido na casa
da vítima. Isso também era totalmente diferente dos crimes anteriores. Como foi
que ele chegou até lá? Depois de um convite, ou invadiu a casa dela? Essas e
outras perguntas ele esperava que fossem respondidas ainda naquela manhã.
Scott parou na recepção e mostrou seu distintivo, em seguida perguntou
pela paciente Rebecca Stner. O detetive foi informado que o quarto ficava no
terceiro piso. Ele pegou o elevador e logo já estava na frente do quarto de
Rebecca. Bateu na porta e uma enfermeira o atendeu rapidamente.
— Olá! Sou detetive Scott. Posso conversar com a paciente Rebecca agora?
— Sim! Vou deixá-los sozinhos. A direção já me avisou que o senhor viria.
Fique à vontade — disse a moça toda sorridente para Scott.
— Obrigado! — Scott agradeceu a enfermeira que tinha belos olhos verdes
e que era muito linda. Lembrava em muito sua esposa quando era mais jovem.
Scott entrou no quarto pedindo licença para Rebecca que estava deitada na
cama. Ela tentou levantar-se, mas Scott disse que não era necessário se ela não
se sentisse bem. Mesmo assim Rebecca escorou o travesseiro e ficou
parcialmente sentada. Ela não estava machucada, apenas com o pescoço um
pouco dolorido.
— Meu nome é Scott. Detetive de polícia de Nova Iorque — disse
mostrando o distintivo. A senhorita foi vítima de um crime na noite passada e
estou aqui para que você me responda a algumas perguntas. Claro se isso for
possível.
— Que tipo de perguntas? — perguntou ela receosa.
— Tudo o que você se sentir à vontade para falar. Estamos à procura de um
assassino em série que está amedrontando a cidade. Quero me certificar de que o
sujeito que a atacou não é o mesmo que cometeu quatro assassinatos
recentemente. Já ouvir falar dele?
— Sim! Eu vi uma notícia no jornal. Todas elas foram assassinadas
cruelmente. Também vi que o sujeito usa um carro preto para atrair suas vítimas,
mas eu não vi nenhum carro quando cheguei em casa ontem à noite.
— Tudo bem! Mesmo assim quero que me conte tudo o que aconteceu.
Todos os detalhes desde o primeiro momento em que você foi atacada até a
chegada da polícia.
— Claro! Eu me recordo claramente de cada detalhe. Eu chegava em casa
depois de sair do meu trabalho, caminhando tranquilamente como sempre. No
momento não havia ninguém em casa, pois meus pais haviam saído. Eu não
percebi nada de estranho. Parei em frente à porta e procurei as chaves na minha
bolsa. Quando eu coloquei a chave e comecei a abrir a porta um homem me
agarrou pelas costas. Foi tudo tão rápido que não consegui fazer nada.
— Com uma das mãos ele tapou a minha boca e com a outra me deu uma
gravata. Não consegui nem ao menos gritar, ele era muito forte. Logo em
seguida em desmaiei e não vi mais nada. Acredito que ele acreditava que eu já
estava morta, mas depois de alguns minutos eu recuperei os sentidos. A sala
estava bastante escura e ele não viu quando eu abri os olhos. Talvez também não
tenha visto que eu ainda estava respirando. Eu percebi que já estava totalmente
nua e sabia que ainda seria estuprada, pois não sentia nenhuma dor, além da
região do pescoço.
— Quando ele tirou as calças e se aproximou foi então que eu agi. Acertei
um chute com todas as minhas forças nas bolas dele. Aprendi isso nas aulas de
autodefesa que tive. O sujeito caiu se contorcendo de dor e eu aproveitei o
momento para fugir. Nem me dei conta que sairia nua correndo pela rua, mas era
a única chance que eu tinha de tentar escapar. Naquela hora não me preocupei
com a possibilidade de muitas pessoas me verem nua.
— Eu fui muito rápida e consegui sair da casa antes que ele pudesse me
agarrar novamente. Saí gritando pela rua e por minha sorte passava um carro
naquele momento. O homem parou e me socorreu e depois chamou a polícia. Os
policiais não conseguiram encontrar o estuprador. Ele fugiu antes de a polícia
chegar.
— Então você não viu nenhum veículo preto suspeito próximo de sua casa?
— Não! Mas também não costumo reparar muito nisso. Pode ser que
estivesse parado a alguma distância.
— Como era o sujeito? Consegue dar as características a fim de identificá-
lo?
— Sim! Ele usava uma capa preta ou paletó, suas roupas eram escuras e
tinha estatura mediana. Algo em torno de 1,75 m.
— E a cor da pele e dos cabelos, consegue se lembrar?
— Ele tinha a pele clara e os cabelos num tom castanho claro. Foi o que eu
consegui ver, estava bastante escuro.
— Muito bem! Você acha que se visse o sujeito em sua frente conseguiria
reconhecê-lo?
— Como eu disse estava bastante escuro, além disso, durante todo o tempo
ele não disse absolutamente nenhuma palavra. Não tenho certeza — respondeu
ela desapontada.
Scott retirou o celular do bolso e encontrou a foto do suspeito da lanchonete
onde trabalhava uma das vítimas.
— Tenho aqui uma foto de um homem visto numa lanchonete pouco antes
de uma das mulheres desaparecerem. Ela trabalhava neste local e este sujeito foi
considerado suspeito, mas não conseguimos identificá-lo. O que me diz? —
disse Scott mostrando a foto no celular.
Rebecca ficou olhando a imagem por alguns segundos.
— Como eu disse não vi o rosto perfeitamente, mas esse cara da foto é
muito parecido com o sujeito que me atacou. Os cabelos e a pele clara, além da
estrutura do corpo, tudo é muito parecido.
— Acredito que não seja uma mera coincidência. Tenho tudo para acreditar
que o sujeito que te atacou é o mesmo que está mutilando mulheres por aí. Teve
muita sorte de escapar dessa.
— Foi sorte mesmo. Ainda nem acredito que consegui escapar. Ele faria a
mesma coisa comigo, me mataria e depois arrancaria pedaços de meu corpo. Eu
não estaria aqui neste momento.
— Me diga uma coisa. Os policiais revistaram a casa e não encontraram
nada. O criminoso fugiu sem deixar rastros?
— Sim! Quando meus pais retornaram para casa ainda tinha um carro da
polícia no local. Eles falaram tudo o que aconteceu e então os dois vieram para o
hospital ver como eu estava. Ainda bem que eu não moro sozinha, ou jamais
retornaria para aquela casa.
— Tem toda razão de ficar com medo, mas acho que ele não seria tolo de
retornar para o local, ele sabe que está na mira da polícia. Mesmo assim não
aconselho que ande sozinha por aí durante a noite. Não é uma boa ideia se
arriscar.
— Claro! Depois dessa vou tomar muito mais cuidado.
— Senhorita Rebecca! Suas informações foram muito importantes. Temos
um perfil para o assassino, acredito que é apenas uma questão de tempo para que
ele seja preso.
Scott se despediu de Rebecca e retornou para o departamento. Mais do que
nunca ele acreditava que o homem da foto era o assassino que estavam
procurando. Também que era o mesmo sujeito que tentou estuprar Rebecca.
Capítulo 25

Ao chegar ao departamento Scott foi imediatamente conversar com Alfred a


respeito do interrogatório a Rebecca. Ele tinha uma ideia, na verdade era uma
ideia antiga que agora ele queria colocar em prática. Só precisava conseguir a
autorização de Alfred.
— Como foi com a garota, espero que tenha conseguido alguma
informação? — perguntou o chefe.
— Sim! Ela disse que não viu perfeitamente o rosto do criminoso, mas
passou suas características. O sujeito tem pele e cabelos claros, estatura mediana.
— Isso pode nos ajudar em quê? — interpelou o chefe.
— Lembra daquela foto do suspeito na lanchonete onde uma das vítimas
trabalhava?
— Sim, Claro! O que tem a ver com este caso?
— Eu mostrei a imagem para Rebecca e ela disse que o suspeito se parece
em muito com o homem que a atacou ontem à noite. Se conseguíssemos
identificá-lo seria fácil de descobrir se realmente é o assassino.
— E como pensa conseguir isso? Ninguém sabe quem é o cara. Já
esgotamos todas as possibilidades. Não estou entendendo onde pretende chegar.
— Sim! Realmente já tentamos quase tudo, mas é impossível que ninguém
conheça o sujeito. Se essa foto fosse publicada em um jornal fatalmente ele seria
reconhecido rapidamente e então colocaríamos as mãos nele. Essa é a minha
ideia.
— Mas pode ser que ele não seja o assassino. Você pode ser processado por
acusar alguém indevidamente. Não pensou nessa hipótese?
— Sim! Mas eu não penso em acusá-lo. Quero que seja considerado como
uma testemunha no caso. Alguém que esteve no local onde a vítima foi vista
pela última vez e pode ajudar a polícia a solucionar o crime.
— Além do mais, na casa de Rebecca não foi encontrado nenhum vestígio
do criminoso, mas ele levou a calcinha dela embora. Isso muito mais me parece
com o trabalho de um pervertido sexual.
— O fato de ele levar a calcinha não é assim tão estranho, ele também
levou todas as roupas de duas vítimas.
— É uma ideia um pouco esquisita, mas pode ser que dê certo. Se o homem
é inocente não tem motivos para não se apresentar para a polícia. Por outro lado,
se ele realmente for o criminoso e ver a notícia no jornal. Será apenas uma
questão de minutos para que mude de endereço e fuja para outro lugar. Ele não
ficaria tranquilamente em sua casa esperando a polícia chegar.
— Sim! Já pensei em todas essas possibilidades. Mas mesmo assim nós
teríamos um nome, um endereço e ficaria muito mais fácil perseguir alguém
identificado do que igual estamos no momento, sem saber onde e a quem
procurar. É melhor do que ficarmos de braços cruzados esperando ele cometer
mais um crime sem deixar pistas.
— Vou pensar no assunto. Até amanhã lhe dou a resposta. Enquanto isso
continue tentando encontrar alguma pista. Faça um resumo de todos os crimes e
me entregue amanhã pela manhã. Quero dar uma olhada no que foi descoberto
até o momento.
Scott foi para sua sala e ligou o computador. Enquanto os programas
terminavam de iniciar, ele pegou uma enorme xícara e encheu de café. Depois
puxou a cadeira sentando-se confortavelmente e abriu a pasta onde estavam
todas as fotos das quatro mulheres encontradas mortas. O detetive selecionou
uma foto de cada vítima, aquelas de corpo inteiro que mostravam perfeitamente
como foram deixadas na cena do crime, então ele abriu as imagens. Todas eram
mulheres jovens e atraentes, pele clara. Mulheres sem qualquer ligação entre si.
Não estavam sendo eliminadas por motivo de vingança. Essa hipótese estava
descartada. Apesar das características parecidas de algumas vítimas, Scott
acreditava unicamente que elas foram escolhidas aleatoriamente pelo assassino.
Ou seja, tiveram o azar de estar em seu caminho naquele momento.
O fato de serem mulheres bonitas era algo que fazia sentido para um
estuprador, mas Scott tinha certeza que o principal objetivo do assassino era
outro. Levar partes dos corpos como troféu. Desde a primeira vítima encontrada
Scott não fugia da ideia de que estavam lidando com um assassino canibal. Era a
única coisa que fazia sentido, mas por que levar apenas aquelas partes dos
corpos?
O assassino era um homem frio, calculista que planejava seus crimes com
bastante antecedência para que não descem errados. Sua última ação foi
frustrada por uma vítima que conseguiu fugir. Ele deveria estar furioso por não
ter conseguido concluir o seu trabalho. Isso levava Scott a temer que ainda
naquela noite ele voltasse a atacar. Torcia muito para que estivesse errado em
seus pensamentos.
Todas as vítimas tiveram a região genital mutilada da mesma maneira. Duas
também tiveram os seios mutilados, as outras duas não. Talvez porque os seios
da primeira eram muito pequenos e da outra eram falsos. O assassino sabia que
aquele volume todo era apenas silicone. Com tantas partes que poderiam ser
arrancadas o assassino só mexia naquilo que lhe remetia à sexualidade e à
procriação. Para Scott a resposta de tudo estava neste ponto. Por algum motivo
ele fazia isso para que pudesse se sentir superior as mulheres. Não para se vingar
daquelas que foram suas vítimas, mas de alguém que possa ter abusado dele em
sua infância. Algo que poderia explicar aqueles crimes.
O carro preto foi visto em duas cenas dos crimes. De alguma maneira o
assassino conseguia atrair suas vítimas sem que elas desconfiassem que ele era
um assassino. No caso da prostituta isso deve ter sido muito, mas muito fácil
mesmo. Afinal ela estava naquele local esperando um cliente aparecer, ela entrou
em seu carro acreditando que ia oferecer seus serviços e foi assassinada.
As outras três provavelmente aceitaram a carona por acreditarem que não
havia nenhum perigo. Provavelmente por causa da boa aparência do assassino e
também por causa de seu belo carro. Duas foram abordadas provavelmente logo
após saírem do trabalho. Isso indicava que o assassino estava à espreita, ele
conhecia os horários e talvez até mesmo já tinha conversado com as vítimas
anteriormente.
A outra estava indo para casa e por algum motivo também aceitou a carona.
O assassino provavelmente era alguém que não andava com uma arma de fogo.
Ele não utilizou nada do tipo para matar as mulheres. Sua maior arma era sem
dúvida a boa lábia.
Quando já estava em uma situação bastante segura, o assassino colocava a
outra parte do plano em ação. Estrangulava ou esganava a vítima e a levava para
um lugar deserto para que pudesse finalizar o crime. Talvez até mesmo tenha
tirado a vida delas já no mesmo local onde foram encontradas.
Após já estarem sem vida ele, abusava dos corpos sentindo o prazer
estarrecedor que aquilo lhe causava. Em seguida mutilava as vítimas e guardava
os pedaços dos corpos para que pudesse levar para sua casa para fazer algo ainda
mais macabro com eles. Antes de deixar a cena do crime o assassino ainda
olhava uma última vez para os corpos e sentia-se satisfeito por mais um crime
perfeito. Agora poderia voltar para casa e descansar.
Scott com esses pensamentos tentava entender a mente do assassino. Tudo
aquilo parecia terrível demais para ser verdade, mas o detetive sabia que para
alguém como o assassino que eles estavam procurando era algo perfeitamente
normal.
O detetive esperava ansioso pelo próximo dia, estava confiante de que
Alfred concordaria com sua ideia e seria uma questão de horas para que
descobrissem a identidade do assassino.
Capítulo 26

Depois de mais um dia cansativo, Scott retornou para sua casa. Como
sempre sua esposa quis saber de todas as novidades.
— Como foi o seu dia, querido? — perguntou assim que teve a
oportunidade.
— Foi bastante complicado. Logo pela manhã tive a notícia de que uma
moça sofreu uma tentativa de estupro, por sorte ela conseguiu fugir do
criminoso.
— Que horror! Já não chega um assassino em série e agora também tem um
estuprador por aí atacando as mulheres — disse Eve assustada.
— Na verdade, tenho quase certeza de que a pessoa que atacou Rebecca
ontem à noite é a mesma que matou as quatro mulheres. Estou quase certo disso.
— Me conte como aconteceu?
— Ela estava chegando em casa quando foi atacada. O sujeito deu uma
gravata na moça e ela desmaiou, talvez pensou que estava morta, ou queria
estuprá-la ainda com vida. A verdade é que Rebecca acordou e ao perceber que
seria estuprada acertou um chute no cara. Bem naquele lugar que você está
imaginando. Então ela saiu correndo totalmente nua pela rua e foi socorrida por
um homem que passava pelo local de carro.
— A moça não conseguiu ver nitidamente o rosto do criminoso, mas disse
que ele se parece em muito com um dos homens vistos na cena de um dos
crimes. Eu mostrei uma foto para ela. Acredito que ela teve muita sorte de
escapar com vida, Rebecca seria a quinta vítima do abutre.
— Mas você já disse que não conseguiram identificar tal sujeito, não foi?
— Sim! Mas quero ver se consigo convencer Alfred a publicar a imagem.
Aliás, eu já conversei com ele e agora só estou aguardando a resposta. Se ele
autorizar iremos publicar a foto nos jornais e pedir ajuda da população para que
possamos identificá-lo.
— Mas ele é apenas um suspeito. Como vão fazer isso sem que ele possa
ser acusado de algo que talvez não cometeu? Isso é uma hipótese, não é mesmo?
— Foi justamente por isso que ainda não publicamos a foto. Mas se tiver a
autorização vamos fazer isso sem que o sujeito seja acusado de crime algum.
Vamos colocar no jornal que ele é uma das pessoas que estavam no local pouco
antes da vítima sair e ser morta. Neste caso ele é apenas uma testemunha e pode
trazer informações para a polícia. Vamos pedir que se apresente e contar com a
ajuda da população para descobrir sua identidade.
— E se ele não aparecer?
— Se isso acontecer pode ser que não tenha visto a notícia no jornal, mas
certamente que alguém que o conhece verá. Tendo um nome também teremos
um endereço e então ficará muito mais fácil de encontrá-lo. E se ele não aparecer
por vontade própria já é uma auto-condenação. Então teremos um nome para
perseguir.
— É uma boa ideia. Espero que dê certo. Agora vá tomar um banho
enquanto preparo algo para o jantar.

**********
Quando Scott chegou ao departamento na manhã seguinte, o local estava
cercado por carros da imprensa. Eles já sabiam da tentativa de estupro de
Rebecca e queriam saber se existia alguma ligação entre os crimes ocorridos
recentemente.
— Detetive Scott! Já sabem quem é o culpado pela tentativa de estupro na
noite passada? — perguntou a primeira jornalista que se aproximou.
Scott sabia que era inútil não falar nada. A falta de informações poderia
fazer com que publicassem notícias distorcidas que só atrapalhariam ainda mais
o trabalho da polícia. Além disso, ele esperava que publicassem a foto do
suspeito o mais rápido possível, isso se a resposta de Alfred fosse positiva.
— Ainda não sabemos, temos apenas algumas características do sujeito,
estamos trabalhando nisso — respondeu ele.
— Pode ser o mesmo criminoso que matou quatro mulheres recentemente?
— perguntou o sujeito careca de óculos.
— Essa hipótese ainda não está descartada, é possível que seja a mesma
pessoa, mas não é possível afirmar isso no momento.
— O senhor não acha que a polícia está demorando muito para prender este
assassino? Tem certeza de que estão se empenhando para solucionar o caso? —
provocou o outro repórter.
— Estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance. Não vamos medir
esforços para prender este psicopata. Mas agora me deixem trabalhar, ficar aqui
respondendo perguntas as quais ainda não temos respostas não vai ajudar a
prender o assassino. Quando tivermos informações, a imprensa saberá.
Dizendo isso Scott se desvencilhou do grupo de repórteres e alcançou a
porta do departamento se livrando da chuva de perguntas que não paravam de
fazer.
Imediatamente o detetive foi até a sala de Alfred.
— Bom dia, Alfred!
— Bom dia! Parece que aquele bando de repórteres está aí na frente
enchendo o saco novamente?
— Sim! Mas já respondi a algumas perguntas e os despachei.
Alfred franziu o cenho.
— Não se preocupe, não disse nada que não deveria ser divulgado. Como
sempre eles querem notícias novas para colocar nas primeiras páginas. Na
maioria das vezes a desgraça de alguns é a alegria deles.
— Tem razão! — concordou Alfred.
— Mas agora mudando de assunto. Já tem a resposta para a minha ideia?
— Sim! Analisei com bastante cuidado e até mesmo fiz algumas ligações,
inclusive para um amigo meu que é agente do FBI. Eu vou autorizar que coloque
sua ideia em prática, mas saiba que se algo der errado toda a culpa cairá sobre
sua cabeça. Afinal a ideia foi sua — disse soltando a fumaça do charuto.
— Não creio que vá dar errado. Caso contrário não teria sequer cogitado na
hipótese de fazer isso. Acredito que estamos atrás da pessoa certa.
— Muito bem! Mas antes de enviar o texto para publicação quero ler.
— Certo! Vou fazer isso agora mesmo.
Scott foi para sua sala e começou a escrever a matéria.
Mary Zurc foi assassinada depois de deixar o trabalho na lanchonete
Drink's. Ninguém sabe o que aconteceu depois que ela saiu porta a fora. A
polícia procura por alguma testemunha ocular. Qualquer pessoa que possa ter
visto o que aconteceu com Mary. Para isso tenta identificar as pessoas que
estavam na lanchonete minutos antes de ela ir embora. Como não foi possível até
o momento a polícia está divulgando a foto de uma das pessoas que estavam no
local. Esta pessoa foi a última a sair antes de Mary e pode ter visto algo suspeito
fora da lanchonete.
A polícia de Nova Iorque pede encarecidamente que a pessoa se apresente
para dar seu depoimento e fazer sua colaboração. Ou ainda que qualquer pessoa
que o conheça entre em contato com a polícia. Esta é a foto que foi feita através
das imagens das câmeras de segurança.
Scott salvou o arquivo e enviou por e-mail para que Alfred pudesse analisá-
lo. Ele respondeu dizendo que o texto estava ótimo, e que apenas fosse incluída a
data em que o crime aconteceu. Scott havia se esquecido do detalhe, embora isso
fosse pouco importante para ele. O que realmente interessava era saber a
identidade daquele homem. Ninguém tirava da cabeça do detetive que essa era a
chave para a solução dos cinco crimes em questão. Mesmo que fosse preso e
negasse qualquer envolvimento, a polícia tinha muitas provas que poderiam
confirmar se ele era o assassino. Também tinham uma vítima que sobreviveu,
bastava que Rebecca pudesse reconhecê-lo e tudo seria resolvido.
Scott pediu para que a notícia com a foto em anexo fosse enviada para o
maior número de jornais possíveis. Na manhã seguinte ele queria que a notícia já
estivesse circulando por toda a cidade. Sua expectativa era de que no mesmo dia
já tivessem um nome. Não tinha como dar errado.
Capítulo 27

Ross sabia que precisava ser mais cauteloso. Suas duas últimas vítimas lhe
causaram problemas que poderiam colocar a polícia em sua cola. O celular da
primeira moça levado para sua casa poderia dar a localização exata de onde ele
se escondia, mas isso já não era mais um problema. O pior mesmo era a outra
moça que conseguiu escapar. Talvez conseguisse identificá-lo. Pelo jeito que
saiu correndo nua pela rua estava em plenas condições de contar tudo o que
aconteceu. Por sorte o local estava escuro no momento em que ele a estupraria.
Talvez não tivesse visto seu rosto com clareza.
O assassino ainda não se conformava com o ocorrido. Acreditou que ela
estava morta. Deveria ter apertado seu pescoço até quebrá-lo totalmente ouvindo
o barulho da fratura. Não cometeria o mesmo erro outra vez. Além disso, havia o
fato de não ter conseguido abusar do corpo e muito menos levar pedaços da
vítima para casa. Teve que se contentar apenas com a calcinha dela. Isso tudo e o
fato de ter levado um chute nas partes baixas e ter que sair correndo antes da
polícia chegar.
Seu carro já estava manjado, se abordasse uma vítima que tivesse lido a
notícia nos jornais seria a sua ruína. Precisava encontrar uma solução. Entre as
alternativas, oferecer carona para uma estranha, pegar uma prostituta na rua.
Qualquer uma era arriscada. Sua única opção era tentar repetir aquela tentativa
que deu errado. Gostaria muito de voltar na casa daquela moça e terminar o
serviço. Desta vez cortaria sua garganta para que não tivesse chance de escapar.
Mas Ross sabia que era loucura retornar à cena do crime ainda mais tão recente
desse jeito. A polícia poderia estar de tocaia e ele seria uma presa fácil.
Foi então que ele decidiu procurar outra vítima. Alguém que estivesse
sozinha em casa ou que acabava de chegar do trabalho. A segunda opção era
mais atraente, assim não precisaria arrombar nenhuma porta. Ross pegou tudo o
que precisava e saiu de casa. Depois de aproximadamente quarenta minutos ele
estacionou o carro em uma rua quase deserta. De onde ele estava era possível ver
a movimentação da rua em sua frente.
Alguns veículos e também algumas pessoas passavam por ali. A hora
passava enquanto Ross esperava o momento certo de agir. Já passava das dez da
noite quando ele viu uma mulher passando pela rua em frente. Ele gostou do que
viu e saiu do carro caminhando rapidamente até que chegou à esquina.
Ross avistou a mulher que caminhava a aproximadamente cem metros a sua
frente. Ele olhou para o outro lado e não viu mais ninguém. Começou a segui-la,
à distância, atento para que não fosse percebido. Na verdade, nem foi preciso. A
mulher não olhou para trás em momento algum. Ela entrou em uma rua tão
deserta quanto a outra em que Ross estava a pouco. A mulher rapidamente
entrou na casa abrindo a porta com as chaves. Ross estava muito longe para que
pudesse alcançá-la. Não teria outro jeito a não ser arrombar a porta, ou procurar
uma vítima mais fácil. Talvez fosse o único jeito.
Ele se espreitou por de trás de um arbusto e observou o interior da casa que
agora era visível com as luzes acesas. Ross conseguiu ver a mulher através da
janela de seu quarto. Ela tirou a roupa ficando apenas de calcinha e pegou a
toalha indo em direção ao banheiro. Ele ficou completamente excitado com a
possibilidade de tê-la em suas mãos. No entanto, teria que invadir a casa.
Ross olhou para os lados e não viu ninguém, ele não resistiu à tentação e à
excitação. Caminhou até a porta e forçou a fechadura, mas a porta estava
trancada. Deu alguns passos cuidadosamente até a janela de vidro e tentou
levantá-la. O assassino deu um enorme sorriso ao perceber que provavelmente
havia sido esquecida destrancada. Ele entrou sorrateiramente no quarto e
caminhou até perto da porta que dava acesso ao corredor. Ficou parado ali de
maneira que a mulher não conseguisse perceber sua presença ao retornar para o
quarto. Agora era só ter um pouco de paciência. Se fosse até o chuveiro ela
poderia gritar e chamar a atenção da vizinhança. Sem dúvida não era uma boa
ideia.
Ross conseguia ouvir a água do chuveiro caindo, depois de alguns minutos
o barulho cessou. Ele tentou controlar sua euforia respirando pausadamente, a
qualquer instante ela entraria no quarto. Raquel retornou do banho apenas com a
toalha enrolada em seu corpo e quando se aproximou da porta do quarto notou a
janela aberta. Ela não lembrava de tê-la aberto. Sentiu o vento fresco da noite
invadindo o quarto e ia em direção da janela para fechá-la. Mas antes que
pudesse dar dois passos para dentro do quarto ela sentiu o braço de Ross
agarrando-a pelo pescoço com toda a força que ele tinha. A outra mão tapou sua
boca antes que ela pudesse dizer nada mais do que um não abafado.
Ross não cometeria o mesmo erro. Apertou ainda mais o pescoço enquanto
Raquel esperneava. A toalha caiu ao chão deixando seu corpo totalmente nu.
Quando percebeu que ela não mais respirava ele soltou o corpo cuidadosamente
no chão. O assassino arrastou o corpo para o outro lado do quarto de maneira
que nada pudesse ser visto por alguém que estivesse do lado de fora.
Finalmente Ross analisou o corpo da mulher. Sem dúvidas essa era a mais
velha de todas elas. Aparentava já ter passado dos trinta anos, mas seu corpo era
muito bonito. Sua pele e cabelos não eram suas cores preferidas. Raquel tinha a
pele moreno clara e cabelos castanhos, talvez tingidos. Mas era a única que ele
encontrou naquela noite. Não teve trabalho para despi-la, também não precisava
usar seu barbeador. A mulher estava totalmente depilada. Ele ficou ainda mais
excitado com a situação.
Apesar da aparência essa foi a que o deixou mais excitado. Ele abusou do
corpo de todas maneiras que foram possíveis. Depois de terminar se preparou
para o seu ritual. Retirou os sacos plásticos de seu bolso, assim como o bisturi e
colocou as luvas. Os seios de Raquel eram medianos, mas muito bonitos, não
poderiam ser desperdiçados. Ele arrancou os dois e guardou em um saco. Em
seguida separou as pernas e admirou mais uma vez aquela região que lhe deu
tanto prazer, mas que também precisava ser castigada.
Ross mutilou o órgão genital e colocou em outro saco plástico, tudo com
muito cuidado para que não fizesse muita bagunça. Ele tirou as luvas e jogou
dentro dos sacos ficando com as mãos totalmente limpas. Os sacos eram pretos
de maneira intencional, assim não levantaria suspeita se ele fosse visto
carregando os pedaços de corpos pela rua.
O assassino deu uma última olhada para o corpo sem vida. Mais um
trabalho perfeito. Ele caminhou até a janela e observou para ver se a barra estava
limpa. Pulou a janela deixando a luz acesa. Ross caminhou tranquilamente
atento para o caso de cruzar com algum carro da polícia. Sem dúvidas seria
considerando em atitude suspeita, mas nada de errado aconteceu.
Ele chegou ao lugar onde havia deixado seu carro e retornou para casa. Já
passava da meia-noite quando chegou, mas ainda estava com fome. Tomou um
banho e em seguida preparou a carne para comer. Fritou alguns bifes e degustou
enquanto recordava os momentos de prazer que tinha vivida pouco antes.
Capítulo 28

Quando Stephany chegou em casa já passava das cinco da manhã. Ela


trabalhava em uma boate como garçonete e era comum que chegasse em casa
quando o dia já estava quase amanhecendo. Ela estranhou o fato da luz do quarto
de Raquel estar acesa àquela hora. Raquel também trabalhava à noite em uma
lanchonete, mas diferente dela chegava em casa antes da meia-noite. Geralmente
a amiga dormia até as oito, nove horas da manhã. Mais estranho ainda era que a
janela estava aberta.
Stephany abriu a porta e foi diretamente para o quarto de Raquel para ver se
a amiga não estava se sentindo bem para estar acordada a àquela hora. Ela entrou
no quarto e não viu a amiga, mas apenas a toalha de banho caída no chão. Algo
estava errado, Raquel era muito organizada em suas coisas. Diferente dela que
jogava as calcinhas sujas pelo chão do quarto e só juntava quando ia lavar as
roupas.
Chamou Raquel pelo nome, mas não teve respostas. Foi ao banheiro, mas
ela também não estava lá. Retornou para o quarto e percebeu que a cama estava
perfeitamente arrumada. Ela não teria dormido em casa, ou já tinha arrumado a
cama? Mas e a toalha jogada no chão? — pensou Stephany tentando entender o
que estava acontecendo.
Ela caminhou em direção à janela para que pudesse fechá-la e depois
telefonaria para a amiga para saber onde ela estava. Quando deu alguns passos e
finalmente conseguiu ver o que estava escondido do outro lado da cama, antes
oculto de sua visão. A moça deu um grito aterrorizante. Quase caiu desmaiada ao
ver a amiga totalmente nua com o corpo mutilado estendido no chão.
Stephany saiu correndo desesperada à procura de ajuda. A moça imaginava
que o assassino ainda poderia estar por perto. Ela correu até a casa mais próxima
e bateu desesperadamente na porta. Seu vizinho logo atendeu vestindo apenas
roupas de dormir.
— O que foi que aconteceu, parece que viu um fantasma? — perguntou o
senhor ainda sonolento.
— Mataram a Raquel — disse chorando.
— Como? Quando?
— Acabei de chegar em casa e encontrei ela morta dentro do quarto. Por
favor me ajude.
— Calma! Precisamos ligar para a polícia — disse o vizinho que se
chamava Paul pegando o celular em seguida.
Ele acolheu Stephany em sua casa enquanto esperavam a polícia chegar. A
esposa dele também levantou para ver o que estava acontecendo e ajudou a
consolar a Stephany.
Mal havia saído da cama Scott ouviu seu telefone tocando. Uma ligação
naquele horário não deveria ser apenas para falar um bom dia. Quando viu o
nome do chefe no visor ele imediatamente atendeu.
— Alô!
— Scott! Ainda bem que já está acordado. Temos mais uma vítima.
Acabaram de ligar comunicando que uma mulher foi encontrada morta dentro de
casa. Já enviamos uma patrulha para lá. Vou passar o endereço e quero que
verifique se tem alguma ligação com os outros crimes do serial killer. Anote o
endereço.
O detetive deu um beijo na esposa que ainda estava preparando o café. Ele
se desculpou por não poder esperar e saiu em seguida. O local era um pouco
distante, mas não demorou muito para chegar até lá. A casa já estava isolada e
alguns homens já faziam o trabalho de perícia.
Scott desceu do carro e caminhou sobre a grama ainda orvalhada até atingir
o cordão de isolamento. Ele mostrou o distintivo e entrou na casa. A cena do
crime estava isolada a apenas um cômodo, o quarto. Não havia qualquer sinal de
que o assassino havia arrombado alguma porta. Provavelmente ele entrou pela
janela do quarto que ainda estava aberta.
Assim que foi autorizado, Scott entrou no quarto onde estava o corpo. Ele
viu a toalha caída no chão e do outro lado da cama o corpo sem vida totalmente
mutilado. A mulher aparentava trinta anos de idade e tinha uma marca roxa no
pescoço indicando que havia sido estrangulada.
A mutilação era a mesma dos outros corpos, a região genital e os seios
foram levados. Não existiam pelos no chão, provavelmente ela estava depilada.
Não havia dúvidas, o abutre entrou em cena mais uma vez. Ele mudou seu modo
de agir. Agora invadia as casas para fazer suas vítimas. Estava ficando ainda
mais perigoso.
— Algo novo nessa cena de crime? — perguntou Scott a um dos peritos.
— Aparentemente o criminoso a estuprou de duas maneiras. Existe um
sangramento no ânus, mas ainda precisamos avaliar melhor. Fora isso tudo é
parecido com os outros crimes.
— Como foi que a encontraram?
— Tem uma mulher que também mora aqui, foi ela quem ligou para a
polícia.
— Não vi nenhuma mulher do lado de fora.
— Está na casa do vizinho à direita. Parece que está muito abalada.
Scott saiu da cena do crime e caminhou até a outra casa. Havia um casal e
uma moça que estavam na varanda olhando a ação da polícia. O detetive
imaginou ser a que ele procurava.
— Com licença! Sou detetive Scott. Preciso conversar com a moça que
mora na casa onde encontraram a mulher morta.
— Sou eu! — disse ela ainda com os olhos vermelhos.
— Podemos conversar por alguns instantes? Quero apenas que me diga
como foi que encontrou a cena do crime.
Stephany concordou acenando com a cabeça.
— Primeiramente preciso que me diga seu nome.
— Stephany!
— Muito bem, Stephany! Diga quando e como foi que encontrou sua amiga
morta. Cada detalhe é muito importante para as investigações.
— Eu trabalho em uma boate e chego em casa de madrugada, mas Raquel
trabalhava apenas durante a noite. Quando cheguei em casa estranhei o fato da
luz de seu quarto estar acesa. Ela não costuma acordar cedo, pois também dorme
bastante tarde. Fui imediatamente verificar o que estava acontecendo pensando
que ela apenas não estivesse se sentindo bem. Jamais imaginava que veria aquilo
em minha frente.
— Eu entrei no quarto e não a vi, mas a toalha estava jogada no chão, a
cama arrumada e a janela aberta. Tudo muito estranho. No banheiro Raquel
também não estava. Quando finalmente olhei do outro lado da cama é que vi
minha amiga no chão naquela situação. Foi então que eu saí correndo e pedi a
ajuda de Paul. Tive medo de que o assassino ainda estivesse por lá — concluiu
com dificuldade.
— A senhorita está bastante abalada, acho melhor que seja levada para ser
medicada — disse Scott vendo o estado terrível da moça.
— Quem fez isso com minha amiga? — perguntou chorando.
— Fique calma! Estamos a um passo de colocarmos as mãos nele. Sua
amiga não é a primeira vítima, mas espero que seja a última.
— Como assim? — quis saber.
— Existe um serial killer a solta pela cidade. Tenho certeza que Raquel foi
a quinta vítima fatal, além de outra que conseguiu escapar com vida. Mas sua
amiga é a primeira vítima atacada dentro da própria casa.
— Que horror! Eu não estava sabendo disso, acredito que Raquel também
não. Caso contrário não teria deixado a janela destrancada.
— Sua amiga não teve culpa. O assassino escolhe as vítimas
aleatoriamente, ela apenas teve o azar de ser a escolhida da vez.
Stephany foi levada pela ambulância e o corpo de Raquel levado para a
perícia. O que Scott temia aconteceu, a lista de mulheres assassinadas aumentou
mais uma vez. Ele tinha que conseguir identificar o assassino o mais rápido
possível.
Capítulo 29

Logo após deixar a cena do crime, Scott parou na primeira banca de jornal
que encontrou e procurou pela notícia que deveria ser publicada naquele dia.
Não demorou muito e logo tinha em mãos um dos jornais que estampavam a
notícia em letras enormes. Ele pagou ao senhor responsável pela banca e entrou
no carro saindo em direção ao departamento. Queria ler com calma depois de
conversar com Alfred.
Logo que chegou ao departamento, Scott pegou uma xícara de café preto e
alguns biscoitos. Estava com a barriga roncando de fome. Deveria ter passado
em algum lugar para comer algo. Em seguida foi conversar com Alfred.
Precisava falar sobre a última vítima encontrada naquela manhã.
— E então, mais uma vítima do nosso serial killer ou apenas um crime
comum? — perguntou Alfred se adiantando.
— Pode anotar para a lista mais uma vítima. A quinta, não é mesmo? Já
está ficando difícil de lembrar o nome de todas elas. Isso está fugindo
completamente do controle — disse Scott tomando mais um gole de café e
mordendo um biscoito que se quebrou e caiu um pedaço no chão.
— Sim! E não estou gostando nada disso. Mas me conte como tudo
ocorreu, já sabem quem é a vítima?
— Ela se chamava Raquel. Morava com uma amiga, pelo menos é assim
que a outra se identificou. As duas trabalham durante a noite. Raquel chegava
em casa antes da meia-noite e Stephany apenas de madrugada. Foi assim que a
amiga a encontrou, quando chegou em casa depois de sair do serviço. Entrou no
quarto de Raquel e a encontrou exatamente do jeito que estamos acostumados a
encontrar as vítimas do abutre. Totalmente nua e com partes do corpo mutiladas.
Não existe a menor dúvida sobre a autoria do crime.
— Mas ele invadiu a casa? — perguntou o chefe curioso.
— Não arrombou, ao que tudo indica encontrou a janela aberta e
surpreendeu a vítima.
— Isso difere das outras vítimas, elas não foram mortas em suas casas —
conjecturou Alfred.
— É verdade, mas ele tentou fazer isso anteriormente e não obteve êxito.
Tenho certeza que deixou de usar o carro para abordar as vítimas, ele sabe que o
carro já ficou manjado. Deve ter visto as notícias nos jornais. Ele é um sujeito
muito esperto.
— Temos muitas teorias e pistas, mas até agora nada de prender esse
assassino. É melhor que o faça logo — disse Alfred já sem muita paciência.
— Tenho certeza que isso não vai demorar para acontecer. Os jornais já
publicaram a foto do possível assassino, veja você mesmo — disse mostrando o
jornal para o chefe.
Alfred analisou a matéria e emendou.
— Não sei! A foto não está muito nítida, pode ser que não dê certo. Mas em
todo caso vamos esperar para ver o que acontece. Esperar que eu digo é no
máximo até amanhã. Se não tivermos a identidade do assassino quero que você
vire a cidade de cabeça para baixo e encontre este traste custe o que custar.
— Pode deixar, mas estou confiante que vai dar certo.
Scott pegou novamente o jornal e foi para sua sala para que pudesse ler a
notícia com calma. Ele leu cada parágrafo e constatou que tudo estava como
deveria, sem cortes. Ficou um pouco desapontado com a qualidade da foto.
Alfred tinha razão quando disse que não estava muito nítida, mesmo assim o
detetive ainda estava confiante. Agora era esperar para ver se recebia alguma
ligação identificando o suspeito.
Naquele dia Ross não comprou nenhum jornal, ou ele teria visto sua foto
estampada e tomaria ainda mais cuidado para não ser pego. Na verdade, isso era
até bom para a polícia, assim ele não mudaria de casa com medo de ser preso.
Scott passou a manhã inteira aguardando por um telefonema que não veio.
Decepcionado ele foi para casa almoçar. Estava com muita fome, pois não tomou
seu café reforçado ao sair de casa, quando o dia estava apenas amanhecendo.
Eve já estava com o almoço pronto quando ele chegou. Scott sempre
avisava quando almoçaria em casa como naquela ocasião.
— Estou morrendo de fome — disse logo depois de lavar as mãos para
poder almoçar.
— O almoço já está servido. Vamos comer — disse a esposa toda
sorridente.
Scott encheu o prato com um pouco de cada coisa e começou a devorar a
comida. Estava calado e Eve não demorou muito em perguntar o motivo.
— O que aconteceu, querido? Parece que está preocupado com alguma
coisa.
— Ainda não temos nenhuma informação sobre a identidade do assassino.
Alfred disse que tenho que mostrar resultados o mais rápido possível.
— Ele acha que você não está se empenhando o suficiente, é isso?
— Não acredito nessa hipótese. Alfred sabe que sempre dou o meu melhor
desde o primeiro dia em que me tornei detetive. Ele sempre confiou em mim
mesmo nos momentos mais difíceis de minha carreira. Acho que ainda não estou
correndo o risco de ser substituído por outro detetive neste caso.
— Mas então por que está preocupado? Não me diga que o crime de hoje
cedo era mais um do serial killer?
— Isso mesmo! Ele atacou novamente e desta vez invadiu uma casa. A
pobre moça provavelmente foi seguida pela rua até chegar em casa. Depois o
assassino aproveitou-se de um descuido e entrou pela janela que estava
destrancada. O resto é como você já sabe. Uma mulher nua e mutilada.
— Que horror! Já são quantas mulheres mortas?
Scott engoliu um pedaço de carne e tomou um gole de água.
— É isso que me preocupa. Já são tantas vítimas que está difícil até de
lembrar quantas mulheres já foram mortas. Foram cinco encontradas mutiladas e
uma que conseguiu fugir, mas isso não quer dizer que não existam outras por aí.
Pode ser que ainda não encontramos todas elas. Não sabemos se o assassino tem
a intenção de expor o seu trabalho, mas é provável que sim. Caso contrário ele
enterraria as vítimas e não as deixaria onde fosse fácil de encontrá-las.
— Você tem razão. Mas e sua ideia de colocar a foto de um suspeito no
jornal, não deu certo?
— Os jornais publicaram a foto hoje, mas até agora ainda não recebemos
nenhuma ligação de alguém que o conhece. Espero que isso aconteça ainda hoje.
O assassino está trabalhando mais rápido. Pode ser que ele ataque novamente
nesta noite. Isso seria terrível. Por enquanto ainda temos a imprensa ao nosso
lado, mas isso pode mudar em breve.
— Tenho certeza de que tudo vai dar certo. Basta torcer para que ao menos
uma pessoa que o conhece veja a foto no jornal — falou Eve tentando animar o
marido. Depois ela parou de falar no assunto e deixou Scott almoçar em paz.
Afinal ele tinha que retornar para o trabalho em seguida.
Scott ficou pouco mais de uma hora em casa e retornou para o
departamento. Quem sabe já tinham alguma novidade. Essa era sua expectativa.
Capítulo 30

O detetive continuou estudando os relatórios dos crimes. A cada barulho de


telefone tocando ele ficava na expectativa de que pudesse ser alguém para fazer
uma denúncia sobre o assassino. Infelizmente todas as vezes era alguém para
falar sobre algum crime que não competia a ele. Scott ficou desapontado. Mais
uma vez o telefone tocou e ele atendeu acreditando que fosse tempo perdido.
— Alô! Departamento de polícia.
— Olá! Eu vi uma foto no jornal e acredito que conheço o homem que
estão procurando.
Scott ajeitou-se na cadeira quase não acreditando no que ouvia.
— Com quem eu falo?
— George Richardz.
— Muito bem, George! Me passe o endereço que vamos checar
imediatamente.
— Esse sujeito se chama Dylan Smith, ele mora a algumas quadras aqui de
casa, no Harrison.
Scott anotou o endereço e imediatamente comunicou Alfred. Eles saíram
imediatamente em direção ao endereço informado. Ao chegarem ao local Scott
avistou um Nissan preto em frente da garagem.
— Parece que estamos com sorte — comentou ele.
Todos desceram do carro e cercaram a casa que estava apenas com uma
janela parcialmente aberta. Scott apertou a campainha e se posicionou de
maneira que não ficasse de frente para a porta. Não demorou muito e uma
mulher de aproximadamente trinta anos abriu a porta. Scott já não tinha mais
tanta certeza de que o assassino morava ali.
— Olá! Sou detetive Scott do departamento de polícia de Nova Iorque —
disse mostrando seu distintivo e fez um gesto para que os demais
permanecessem apenas alertas.
— Fomos informados de que Dylan Smith mora nesta casa.
— Sim! Ele é meu marido. Está saindo do banho e já vem.
Assim que ela terminou de falar um homem apareceu na sala.
— Quem é? Algum problema, querida?
— Tem um detetive da polícia e ele quer falar com você.
Ao ver o homem Scott teve certeza absoluta de que não era o homem que
procuravam, ele até se parecia um pouco com o suspeito, mas não era a mesma
pessoa que esteve na lanchonete.
— Senhor Smith! Sou detetive Scott. Fui informado de que um homem que
procurávamos morava nesta casa, mas percebo que não passa de um engano.
— Procurado?
— É uma longa história. Colocamos a foto de um homem no jornal e
estamos tentando localizá-lo, não sabemos seu nome. Veja aqui — disse ele
mostrando a foto no celular. Definitivamente não se parece com o senhor.
— Realmente! E tem mais, eu não costumo frequentar lanchonetes sem
minha esposa e também não bebo.
— Peço desculpas pelo transtorno. Mas esta pessoa da foto pode ser uma
peça chave para que consigamos solucionar uma série de crimes na cidade.
— Sem problemas! Eu gostaria de ajudar, mas realmente não sou eu na
foto.
Scott e os outros policiais retornaram para o departamento. Não havia a
menor possibilidade de aquele homem ser o assassino.

**********

Naquela noite John estava em casa depois de ter passado o dia na cabana
fazendo alguns consertos. Foi a primeira vez que ele retornou ao local depois de
que encontraram uma mulher mutilada sobre o sofá de sua sala. Ainda se
lembrava perfeitamente daquela manhã terrível. Foi preciso se desfazer do sofá e
se acostumar com a ideia de que a cabana havia sido a cena de um crime terrível.
Era isso ou se desfazer da cabana, coisa que John não queria. Mesmo assim sua
esposa tinha medo de passar as noites lá. A cabana serviria apenas para passar o
dia.
Ele sentou no sofá da sala e esticou as pernas sobre a mesa de centro logo
depois de pegar o jornal do dia. John folheou as páginas sem encontrar nada de
interessante, mas quando viu uma manchete na página policial ele teve sua
atenção voltada para uma imagem. Aquela imagem parecia de alguém que ele
conhecia. John se atentou ao título da notícia que lhe chamou ainda mais a
atenção.
Ao ler atentamente a notícia, John viu que se tratava justamente de algo
relacionado ao assassino que deixou uma das vítimas em sua cabana. Ele
acreditava que aquele crime já tivesse sido solucionado, mas se assustou ao
saber que a polícia ainda procurava o assassino. E entendeu o que aquela foto
significava. Era a foto de alguém que poderia ter alguma informação sobre o
suspeito.
Até essa parte estava tudo em ordem, mas o fato era que John conhecia o
homem daquela foto. Ele se chamava Roosevelt Artud. O homem era um
corretor de imóveis dez anos antes quando John comprou aquela cabana. O
homem estranhou o fato de ele ser procurado como testemunha ocular
justamente do assassino em questão.
John chamou sua esposa Kate para que pudesse confirmar que ele não
estava errado. Talvez sua memória estivesse lhe pregando uma peça.
— Querida! Venha aqui, por favor.
— O que aconteceu, meu bem?
— Você lembra do rapaz, o corretor que intermediou a compra de nossa
cabana?
— Sim! Não sei se ainda o reconheceria. Mas por que a pergunta?
— Veja esta foto aqui no jornal. Me diga se não se parece muito com ele.
Kate olhou a foto por alguns segundos.
— Você tem razão, parece ser ele mesmo. Mas não tem o nome no texto?
— Não tem! Essa notícia tem justamente a intenção de descobrir quem é o
homem que está na foto. Ele estava numa lanchonete, na noite em que uma das
vítimas foi assassinada. Justamente pelo mesmo assassino que deixou uma das
vítimas em nossa cabana. A polícia acredita que ele pode ter alguma informação,
pois foi o último que saiu da lanchonete antes da vítima. Logo em seguida ela
desapareceu e foi encontrada morta.
— Então você pode ajudar a polícia a identificá-lo?
— Sim! Acredito que seja Roosevelt. Vou à polícia amanhã e passo a
informação. No entanto, isso é a única coisa que eu sei, não faço a mínima de
onde possam encontrá-lo.
— Acho que isso não importa. Se eles querem saber o nome dele
certamente que o resto será fácil. O importante é que consigam localizar o
homem e quem sabe ele possa ter alguma informação que ajude a polícia a
encontrar o assassino — disse sua esposa confiante.
Naquela noite Scott retornou para casa desapontado. Um dia havia passado
e seu plano ainda não tinha surtido efeito. Teria apenas o próximo dia para ter
uma resposta, depois disso já não saberia mais o que fazer para encontrar o
assassino.
— Como foi no trabalho, querido? — perguntou esperando ouvir uma
notícia boa.
— Um dia ruim. Ainda não temos o nome do sujeito da lanchonete, aquele
que eu acredito que possa ser o assassino. Recebemos apenas alguns trotes de
pessoas que diziam conhecer o cara, mas na hora de dizer um nome
simplesmente eles não tinham um. Até chegamos a ir a um endereço, mas aquela
pessoa simplesmente não era quem procurávamos.
— Não se preocupe, tudo vai dar certo — disse Eve consolando o marido
com um beijo no rosto.
— Amanhã é o dia D, só espero que o assassino não ataque novamente
nesta noite. Ainda nem temos o resultado da perícia na última vítima. Claro que
não tenho dúvidas quanto ao resultado, mas um novo crime só iria atrapalhar
ainda mais.
— E se conseguir descobrir o nome do suspeito. Qual mesmo que será o
próximo passo?
— Tendo um nome em mãos, rapidamente conseguiremos um endereço. Aí
é só uma questão de tempo até que coloquemos as mãos no sujeito. Assim eu
espero.
— Confie que tudo irá se resolver. As coisas não costumam acontecer no
momento em que desejamos. Se fosse assim a vida seria um tédio. Não acha?
— Você tem razão, querida.

**********

Ross estava com muita vontade de sair em busca de uma nova vítima, mas
por outro lado precisava ter muita cautela para não cometer mais erros. Ele
pensou e acabou não se decidindo. Afinal fazia apenas um dia que tinha feito sua
mais recente vítima. Ainda nem ao menos tinha visto alguma notícia nos jornais.
Ele foi em direção a geladeira e abriu o refrigerador. Ainda tinha
suprimentos para ao menos mais dois dias. Ross sentou no sofá de sua sala e
começou a recordar o seu passado. A vida difícil sem um pai presente e depois
sendo criado apenas pela mãe, que não tinha condições de dar a ele a vida que
almejava. Sua mãe ficava pouco tempo com ele, precisava trabalhar para
sustentar a casa.
Sempre foi muito solitário. Não tinha amigos e quando pensou que poderia
ter uma vida normal tudo começou a dar errado. Coisas estranhas começaram a
acontecer. Coisas que ele em seus oito anos ainda não era capaz de compreender.
No começo pensou que aquilo era apenas algo comum, mas com o passar dos
anos foi ficando muito claro que não era.
Ross fechou os olhos e como num sonho começou a reviver todos os
detalhes de tudo o que acontecera. Tudo o que acabou levando-o a se tornar o
que ele era agora. Um assassino terrível procurado pela polícia de Nova Iorque.
No fundo tudo aquilo não era culpa dele, mas sim da pessoa que lhe causou esse
mal. Ela não continuou viva para ver o mal que lhe causou, mas alguém teria que
pagar por seus erros.
Capítulo 31

Ross vivia apenas com sua mãe, Abigail. Seu pai ele não conheceu, mas
não tinha raiva dele. Na verdade, Ross não sabia por que os dois não se casaram.
No entanto, quando começou a entender as coisas o garoto percebeu que sua mãe
nunca seria mulher de apenas um homem. Ela era de todos que a queriam.
Todas as noites sua mãe se vestia com roupas apertadas e muito curtas e
fazia uma maquiagem extravagante. Em seguida saía de casa o deixando-o com
sua tia Olivia que era a irmã mais nova de sua mãe. Os dois assistiam à TV e
quando o garoto estava com sono ela o colocava para dormir. Ele sabia que sua
mãe só retornaria altas horas da madrugada quanto ele já estivesse dormindo.
Roosevelt tinha oito anos e sua tia apenas dezoito anos. Ele deitava na cama
de solteiro e ela num colchão que era jogado no chão ao lado da cama. Eles não
tinham dinheiro para comprar mais uma cama, mas sua mãe nunca deixava faltar
alimentos em casa.
Certa noite Ross acordou e notou algo estranho. Percebeu que Olivia estava
tirando a parte debaixo do pijama dele. O garoto se assustou, mas a tia disse que
estava tudo bem e que ela só queria lhe fazer uma massagem. Ela começou a
acariciar seu órgão sexual e o garoto gostou da sensação que aquilo lhe
proporcionava. Era algo que ele nunca havia experimentado. Na primeira vez
não passou daquilo, ela apenas o tocou com as mãos delicadamente. Sua tia
pediu para que ele não contasse sobre aquilo para ninguém, nem ao menos para
sua mãe. Seria um segredo dos dois e outro dia poderiam fazer aquilo novamente
se ele quisesse.
A partir daquele dia todas as noites era a mesma coisa. Agora Olivia já não
esperava mais o garoto adormecer. Assim que ele deitava na cama ela o despia e
começava a acariciar o seu corpo. A sensação que Ross sentia era cada vez mais
prazerosa. Principalmente quando tinha seu órgão sexual acariciado pela mão
macia de sua tia.
Passados alguns dias a abordagem começou a ser diferente. Sua tia que
dormia apenas de camisola começou a se despir. Primeiro tirou a camisola
deixando os belos seios expostos. Ross jamais tinha visto algo tão belo como
aquilo, estava de boca aberta. Em seguida ela tirou a calcinha ficando totalmente
nua. O garoto se assustou quando viu a quantidade de pelos que ela tinha na
virilha. Ele imaginava que mulheres não tinham pelos. Era algo totalmente novo
para ele.
Olivia se aproximou e deitou na cama ao lado dele e pediu para que o
garoto acariciasse seus seios. Ele timidamente levou a mão até um dos seios
sentindo a textura macia da pele e o bico do seio entumecido. Ela segurou sua
mão e a levou até o outro seio para que também pudesse senti-lo. Em seguida ela
o deitou novamente na cama e aproximou um dos seios da boca de Ross. Abra a
boca e depois chupe, só tenha cuidado para não morder — disse Olivia
colocando um dos seios em sua boca.
Ross não sentia nada ao fazer aquilo, aliás, não sabia qual era o sentido de
chupar um seio que não tinha uma gota de leite. No entanto, o garoto percebeu
que sua tia estava com um sorriso no rosto e seus olhos se reviravam enquanto
ela contorcia o corpo e esfregava as coxas uma na outra. Ele alternou para o
outro seio fazendo a mesma coisa a seu pedido. Depois de aproximadamente
meia hora ela disse que já estava bom, por enquanto. Sua tia parecia totalmente
satisfeita.
Os dias passaram e sempre tinha alguma novidade. Agora Olivia já nem
vestia a camisola, ela tirava a roupa comum e ficava apenas de calcinha que
imediatamente era arrancada e jogada no chão. Ela despiu Ross e começou a
acariciar seu pênis. Primeiramente com a mão fazendo movimentos de vai e vem
para cima e para baixo. Apesar da pouca idade seu pênis já estava começando a
reagir aos carinhos e a ficar ereto. Foi assim que pela primeira vez Olivia se
abaixou e abocanhou sem membro começando a chupá-lo vorazmente. Ele levou
um susto acreditando que ela iria mordê-lo, mas ficou ainda mais assustado ao
vê-la chupando. Aquilo era algo totalmente sem sentido, o garoto não conseguia
entender por que a tia estava fazendo isso.
Ross não sentia nada, além da sensação da boca quente envolvendo seu
pênis. Depois de fazer aquilo por um tempo que ele não conseguiu mensurar
finalmente sua tia mudou de posição. Ela mais uma vez ofereceu os seios para
que ele pudesse chupar.
O garoto questionou sua tia por que ela estava fazendo tudo aquilo? Ela
simplesmente respondeu que fazia todas aquelas coisas porque o amava. Era um
presente porque ela gostava muito dele.
Sua mãe estranhou o comportamento do garoto, parecia que ele estava mais
quieto do que o normal. No entanto, Ross cumpriu a promessa que fez para sua
tia e disse que estava tudo bem com ele. Apesar de não entender nada aquilo
estava sendo prazeroso, de certa forma.
No primeiro ano as noites se resumiram a essas coisas. Os dois ficavam nus
e ele chupava os seios da tia e ela acariciava seu corpo e depois chupava seu
pênis. Depois que tudo terminava ambos se vestiam e os dois dormiam
tranquilamente e quando sua mãe chegava do trabalho não via nada de diferente,
nada que lhe desse ao menos uma dica do que estava acontecendo entre os dois.
Ross já estava com dez anos numa noite em que sua tia chegou para ficar
em casa cuidando dele enquanto a mãe saía para trabalhar. Ele percebeu que
Olivia estava com uma aparência mais radiante. Parecia que estava ansiosa para
algo que estava prestes a acontecer. Sua mãe saiu para trabalhar e pouco depois
sua tia lhe chamou para irem ao quarto. Ele disse que não estava com sono, mas
ela lhe garantiu que não iriam dormir naquele momento.
Como de costume os dois ficaram nus e deitaram-se em sua cama. Olivia
começou a acariciar o corpo do garoto e depois pegou as mãos dele e passou
sobre os seios dela. Em seguida desceu pelo colo em direção a virilha. Ela
afastou as pernas e levou as mãos dele até aquela região que o garoto ainda não
sabia que existia. Não existiam mais pelos, tudo estava exposto e quando suas
mãos atingiram o local Ross sentiu a umidade e o calor que existiam ali. Ele
ficou assustado e quis recuar, mas ela insistiu que o garoto continuasse com a
mão no local.
Olivia fez com que o garoto acariciasse todo seu órgão sexual externo e
depois incentivou-o a introduzir um dedo, depois dois e logo já estava com
quatro dedos enfiados em sua vagina. Ela segurava a mão do garoto e fazia os
movimentos a fim de masturbá-la. Mais uma vez Ross não via sentido naquilo,
sua mão ficou com um cheiro esquisito, mas Olivia parecia delirar de prazer ao
sentir os dedos a penetrando. Ela revirou os olhos e disse que já estava bom,
poderia parar naquele momento — disse Olivia vestindo a calcinha e a camisola
em seguida.
Passados alguns dias o ritual mais uma vez foi modificado. Os dois estavam
nus e Olivia chupava seu pênis ereto enfiando-o inteiro na boca. Ela então parou
e colocou seu corpo por cima do garoto de maneira que as duas pernas ficassem
ao lado de seu tronco. Ross sentiu que Olivia levou a mão até seu pênis e o
direcionou de maneira que se encaixasse naquela abertura que outro dia ele
penetrou com o dedo.
Olivia soltou o corpo calmamente apenas o suficiente para que pudesse
encaixar o órgão em sua vagina e depois abaixou o tronco para que Ross pudesse
chupar seus seios. Ela não fazia movimentos, mas a sensação que ele sentia ao
ter o pênis naquele lugar era muito boa, principalmente aliada ao fato chupar os
seios ao mesmo tempo. Ross tinha ereções, mas ainda não era capaz de ejacular
e muito menos sabia que isso poderia acontecer. A verdade era que já ficava
ansioso para que a noite chegasse e tivessem aqueles momentos mais uma vez.
O segredo dos dois já durava anos, já não eram todas as noites que sua tia
vinha posar com ele, mas sempre que vinha aquilo acontecia.
Quando Ross já estava com onze anos seu pênis já era bem maior do que a
três anos antes. Mesmo assim sua tia enfiava o membro inteiro na boca e
chupava como se fosse a coisa mais gostosa do mundo. Ross não entendia o
porquê. Afinal nada saía de seu pênis a não ser xixi quando ele ia ao banheiro.
Era como chupar os seios que não tinham leite.
Naquela noite aconteceu algo diferente. Enquanto Olivia chupava seu pênis
ele começou a sentir algo estranho. Era uma sensação muito boa, muito
prazerosa que ele não conseguia explicar. A intensidade foi aumentando cada vez
mais, Ross sentiu algo como uma ardência, uma queimação na região da virilha
e logo seu pênis começou a ter espasmos e ele sentiu como se um líquido
estivesse sendo expelido pelo pênis. Tentou ver o que estava acontecendo, mas
sua tia não parou de chupá-lo.
Ele tinha certeza de que não era xixi, mas não conseguiu ver o que era, pois
Olivia quando percebeu o que estava acontecendo chupou ainda com mais
avidez e engoliu todo o líquido estranho rapidamente. Seu pênis de repente
amoleceu e Ross sentiu uma fraqueza absurda. Olivia deixou o pênis escorregar
da boca e olhou para ele com um brilho intenso nos olhos. Aquela foi a sensação
mais maravilhosa que Ross havia sentido até aquele momento. Mal vestiu as
roupas e já estava pegando no sono.
Ross não tinha muitos amigos e mesmo assim não tinha coragem de
perguntar a quem quer que fosse se eles sabiam o que estava acontecendo.
Também nunca tinha pegado nas mãos uma revista pornográfica, logo não fazia
a menor ideia do que realmente acontecia entre ele e sua tia.
Certa noite, logo após os dois ficarem nus, sua tia deitou na cama e abriu as
pernas exibindo totalmente sua feminilidade que estava completamente depilada.
Venha aqui e chupe — ordenou ela. Ross achou aquele pedido muito estranho,
mas obedeceu. Ao colocar a língua na região ele sentiu um gosto parcialmente
salgado, um gosto e um cheiro que o deixaram com o pênis ereto. Não sabia
explicar o que estava acontecendo com seu corpo.
Depois de chupar por alguns minutos Olivia fez com que ele parasse e fosse
chupar seus seios. Enquanto ele se aproximou e colocou um seio na boca, ela
com a outra mão segurou em seu pênis que estava totalmente ereto e posicionou
na entrada da vagina. Um leve movimento e ela fez com que ele a penetrasse
completamente. O garoto levou um susto quando sentiu que a penetrava, mas
achou a sensação maravilhosa.
Ross apenas continuou chupando os seios, mas Olivia fazia movimentos de
quadril que tiravam seu membro parcialmente de dentro dela num vai e vem
frenético, mas apenas por milésimos de segundos o pênis ficava fora daquela
abertura. Quando ela sentiu que chegava a hora e ele também começou a sentir
aquela mesma vibração. Olivia o segurou com as pernas até que ele ejaculasse
totalmente dentro dela.
O garoto ficou com as pernas moles e caiu ao lado dela que imediatamente
mudou de posição e segurou o pênis já mole que respingava algo branco que
agora ele podia ver. Ela o abocanhou e sugou tudo o que restava. Ross pôde ver
que o mesmo liquido escorria pelo meio das pernas da tia.
Depois daquela noite em todas oportunidades que Olivia tinha, eles faziam
aquilo que ele não sabia que nome dar. Apesar disso ele sentia muito prazer e
gostava do que a tia fazia. Depois de alguns meses Ross percebeu que a tia
estava começando a engordar, mas achou muito estranho. Apenas a barriga dela
estava crescendo. Quando eles brincavam na cama com ela completamente nua é
que ele conseguia ver isso com mais clareza ainda. Mesmo assim ele ficava
contando as horas para que os dois pudessem ficar nus e brincar novamente.
Certo dia ele ouviu uma conversa de sua mãe com a tia. Ross estava
escondido atrás da porta e elas não perceberam.
— Me diga quem é o pai da criança? Pelo que sei você não tem namorado.
Como foi que arranjou essa barriga — perguntou Abigail.
— Você sabe! Quem dorme sem calcinha uma hora engravida. Na verdade,
não sei quem é o pai da criança. Fiz sexo com vários homens e não usei
preservativo — ela sabia que estava contando uma grande mentira, fazia muito
tempo que ela transava apenas com Ross.
Ross ouviu aquilo e ficou assustado. Sua tia ficava sem calcinha todas as
noites em sua cama. Então o que eles faziam se chamava sexo — concluiu ele.
— Estou pensando em fazer um aborto — disse Olivia com toda a
convicção possível, afinal ninguém poderia saber quem era o verdadeiro pai de
seu filho.
— Não seja boba. Sei que você não tem dinheiro para ir a uma clínica e se
fizer em uma clínica clandestina é muito perigoso.
— Pode ser, mas mesmo assim eu vou tentar. Sei que ninguém vai querer
assumir a criança e vai sobrar tudo para mim.
Ross ouviu toda a conversa atentamente e assim que chegou ao colégio foi
até a biblioteca. Ele esgueirou-se por entre as estantes e quando ninguém estava
olhando pegou um livro que falava do tema gravidez. Era algo que Ross não
imaginava. Ele ainda acreditava que as crianças eram trazidas pelas cegonhas. O
garoto leu atentamente as páginas e encontrou a parte que ele queria.
Ali Ross viu perfeitamente que aquilo que ele não sabia o nome era o órgão
reprodutivo da mulher. Ainda descobriu que na verdade, o que ele fazia com sua
tia realmente era chamado de sexo. Uma relação sexual que poderia resultar em
uma gravidez. Isso era perfeitamente aceitável, mas ela era sua tia. Algo estava
errado. Foi então que Ross encontrou outro livro e descobriu que aquilo se
chamava pedofilia.
Sua tia esperava um filho dele. Ross ficou chocado com aquela situação.
Naquela noite sua tia não apareceu e ele teve que ficar sozinho em casa enquanto
a mãe saiu para trabalhar. No dia seguinte sua mãe recebeu uma triste notícia.
Olivia estava internada em estado grave em um hospital. No mesmo dia ela
acabou morrendo de hemorragia depois de ter tentado cometer um aborto com as
próprias mãos.
Ross estava desconsolado. Além de fazer algo terrível, abusar sexualmente
de uma criança. Sua tia ainda tirou a vida de seu filho. Um filho que Ross tinha
certeza absoluta que era dele. Olivia estava morta, mas aquilo não ficaria no
esquecimento. Alguém pagaria em seu lugar.
Capítulo 32

Depois de todas aquelas lembranças, Ross não se conteve. Ele se preparou e


saiu em busca de uma nova vítima. Não tinha planejado nada, mas não retornaria
para casa de mãos vazias. Ross entrou no carro e saiu sem destino.
Depois de rodar por algumas horas ele finalmente parou o carro e entrou em
uma boate. O local tinha música alta e o ambiente bastante escuro cheirava a
cigarro e álcool. Dificilmente alguém o reconheceria naquele lugar. Logo que se
aproximou do balcão pediu uma dose de whisky e tomou a bebida em apenas um
gole que desceu queimando sua garganta. Empurrou o copo para que o barman o
enchesse novamente.
Ross ficou olhando as pessoas dançarem, existiam muitas mulheres bonitas
por ali e tranquilamente uma delas poderia ser sua nova vítima. Não demorou
muito e uma moça se aproximou do balcão para pedir uma bebida. Ross a
examinou dos pés a cabeça.
— Olá bonitão! Qual é o seu nome?
Ross realmente tinha a aparência de um galã de cinema e isso era um ponto
a seu favor na hora de atrair suas vítimas. Aquilo seria mais fácil do que tirar
doce da boca de uma criança. Ela tinha grande potencial para ser sua próxima
vítima.
— Pode me chamar de Ross — disse tomando mais um gole de whisky. E a
gata, como se chama?
— Priscila! Parece que você está sozinho por aqui?
— Estou, mas a moça certamente está com o namorado. Cadê ele?
— Não! Eu também estou sozinha. Combinei com minha amiga, mas ela
não pôde vir. Azar o dela, eu estou aqui me divertindo e bebendo à vontade.
Priscila era a mulher ideal. Além de ter a aparência que agradava a Ross.
Tinha cabelos loiros e pele clara, lembrava em muito sua tia Olivia. Também
estava desacompanhada, isso permitiria que os dois saíssem juntos sem que
pudesse levantar suspeitas quanto a sua identidade.
— Quer dançar? — perguntou Priscila tomando o último gole de sua
bebida. Ela parecia ter bebido mais do que aguentava.
Ross não tinha muita prática na dança, mas sabia que precisava se submeter
a algumas coisas se quisesse sair dali acompanhado de Priscila e assim concluir
o seu trabalho.
E assim ele fez. Os dois dançaram e beberam sem ver a hora passar. Ross
ainda estava bastante sóbrio, não era fraco para a bebida. No entanto, Priscila já
estava bastante alta e disse que precisava ir embora depois que foi ao banheiro
fazer xixi.
— Acho que bebi demais. Vou chamar um táxi e ir embora — disse ela
tentando procurar o celular que estava na pequena bolsa cor de rosa.
— Não precisa, pode deixar que a deixo em casa. Ou quem sabe podemos
nos divertir mais um pouco antes disso — falou maliciosamente.
— Está me chamando para a sua cama? — disse com um leve sorriso
gostando da ideia.
— Vamos passar lá em casa. Quem sabe você passa a noite comigo.
Os dois saíram da boate quando o relógio marcava três horas da madrugada.
Ao chegar em casa Ross certificou-se de que não havia ninguém na rua naquele
momento. Os dois desceram do carro e entraram na casa caminhando
normalmente.
Priscila estava com o corpo mole devido ao excesso de bebida. Isso fez com
que Ross precisasse segurar firmemente seu corpo para que ela não caísse. Ele
sentiu o corpo quente e as curvas daquela mulher o deixaram extremamente
excitado. Imediatamente Ross a beijou e foi correspondido. Ele começou a
arrancar as roupas da moça e a deixou completamente nua. Ela deitou-se ali
mesmo sobre o sofá da sala.
Ross também se despiu e logo em seguida a penetrou. Ele estava com
saudades de sentir um corpo com vida durante a relação sexual. Se bem que
Priscila estava quase apagada. O assassino a penetrou avidamente com estocadas
que provavelmente machucavam a vagina da moça, mas ela não estava em
condições de reclamar de nada.
Ross chegou ao orgasmo deixando seu sêmen escorrer pela vagina. Priscila
a esta altura já estava dormindo. Ele foi ao banheiro e se lavou, em seguida
trouxe um pano umedecido e limpou o líquido branco que escorria da vagina. De
todas as vítimas, Priscila seria certamente a sua presa mais fácil. Ross foi buscar
aquilo que precisava no outro cômodo e retornou logo em seguida.
O assassino olhou por alguns instantes para a moça totalmente nua que
repousava sobre seu sofá. Era muito bonita e certamente que lembrava em muito
sua tia. Os seios eram de tamanho médio e ela estava completamente depilada.
Ross adorava quando tinha essa sorte. Afinal teria um trabalho a menos, claro,
além de poder admirar perfeitamente aquela região livre de qualquer pelo. Ele
pegou a calcinha vermelha que estava no chão e cheirou profundamente. Mais
uma vez recordou da primeira vez que sentiu aquele cheiro ao ser molestado por
sua tia. Agora era diferente, ele sabia que aquilo que sentia era prazer absoluto.
Ross caminhou para o outro lado e se posicionou atrás da cabeça da moça
com o arame em suas mãos. Calmamente ele passou sobre o pescoço de Priscila
e ajustou para que pudesse apertá-lo. De uma única vez ele apertou o arame
sufocando Priscila que acordou atordoada por causa da bebida e ainda se debateu
um pouco sem se dar conta do que estava acontecendo. Na posição em que Ross
se encontrava Priscila não era capaz de enxergá-lo.
Em poucos segundos Priscila deu o último suspiro e Ross afrouxou o
arame. Desta vez ele teria toda a calma do mundo para fazer o seu trabalho,
afinal estava no conforto de sua casa. Ross foi até a cozinha e trouxe um pedaço
de plástico que ele tinha guardado. Estendeu no chão da sala para servir como
forro a fim de não sujar o chão da casa.
Na sequência ele pegou Priscila nos braços e a colocou sobre a superfície.
Assim ele seguiu seu ritual, retirou as duas partes que eram as causadoras de
todo o mal que lhe foi causado. Levou até a cozinha e lavou a carne e em
seguida guardou em sua geladeira.
Agora Ross precisava se livrar do resto que não lhe serviria para nada.
Ainda faltavam algumas horas para amanhecer. Ele pegou uma ferramenta e foi
até o fundo da casa. Recortou a grama e em seguida cavou um buraco, não muito
fundo, mas suficiente para esconder o corpo.
Ross retornou para dentro da casa e envolveu o corpo naquele mesmo
plástico e carregou até o fundo não antes de verificar se estava sendo vigiado.
Depois de acomodar o corpo no buraco ele despejou um pouco de cal e jogou a
terra novamente e socou com os próprios pés. Em seguida colocou os pedaços de
grama no lugar de antes e para disfarçar plantou alguns pés de flores que
arrancou da frente da casa.
Tudo saiu perfeitamente, mesmo que tudo tenha sido improvisado de
acordo com a situação. Desta vez a polícia não teria um corpo para ser
encontrado ao amanhecer. Ficariam loucos ao saber da mulher desaparecida e
sem nenhuma pista de seu paradeiro.
Ross sorriu de sua crueldade. Quando entrou na sala ele viu a bolsa da
moça e lembrou-se que ela tinha um celular. Imediatamente desligou o aparelho
e retirou a bateria. Assim que saísse de casa se livraria do aparelho e de qualquer
coisa que pudesse incriminá-lo. Ross jamais acreditava que pudessem descobrir
onde ele morava.
Quando amanheceu o dia a mãe de Priscila percebeu que a filha não havia
passado a noite em casa. Isso acontecia com frequência. A moça era bastante
levada e muitas vezes dormia na casa de homens estranhos. No entanto, antes de
sair ela disse que sairia com uma amiga para ir a uma boate. Talvez tenha
passado a noite na casa dela — pensou sua mãe. No entanto, ela não tinha como
confirmar se isso era verdade, pois não tinha o telefone da amiga.
A senhora então ligou no telefone de Priscila, mas simplesmente não
conseguiu realizar a chamada. Era como se o telefone estivesse desligado, ou
fora de área. A mulher estranhou, mas decidiu esperar mais um pouco até que a
filha finalmente viesse para casa e dissesse o motivo de não atender ao telefone.
O que ela não sabia é que isso era algo que nunca aconteceria.
Capítulo 33

Logo após tomar seu café da manhã, John saiu de casa em direção ao
departamento de polícia. Ele sabia o local onde o detetive Scott trabalhava e
assim não perderia tempo levando uma informação tão valiosa para quem não
estava por dentro do assunto.
Assim que chegou falou imediatamente que precisava conversar com o
detetive que imediatamente o recebeu em sua sala.
— Bom dia, detetive Scott!
— Como vai, John! Disse que precisava conversar comigo. É sobre a moça
que foi encontrada morta em sua cabana? Ainda não temos o nome do assassino.
— Não é sobre a moça, mas sim sobre a identidade do assassino — disse
John se ajeitando na cadeira.
Scott arregalou os olhos quando ouviu a palavra identidade.
— Não me diga que sabe o nome do assassino e só agora veio até a polícia?
— De maneira alguma. Eu li o jornal ontem à noite e vi a foto de uma
possível testemunha de um dos crimes. Eu acredito que conheço aquele homem
da foto.
Scott ficou muito feliz com aquela notícia.
— Era justamente essa a nossa intenção. Descobrir o nome do sujeito. Sabe
o nome completo dele?
— Sim! Ele se chama Roosevelt Artud.
— E de onde o senhor o conhece? Qual a sua ligação com ele?
— Quando comprei aquela cabana, Roosevelt foi o corretor que
intermediou todo o negócio. Mas não faço a mínima ideia de onde podem
encontrá-lo. Desde então não tivemos mais nenhum contato.
— Então minhas suspeitas estavam certas — disse Scott coçando o queixo
com o dedo indicador.
— Não entendi!
— Quando publicamos a foto no jornal colocamos o sujeito como uma
simples testemunha, mas a verdade é que eu já desconfiava de que ele era o
assassino. Agora eu tenho praticamente certeza — comemorou Scott.
— Perdão detetive, eu continuo sem entender — falou John tentando ligar
os fatos.
— Roosevelt ajudou você a comprar a cabana e sabe onde ela fica. Ele
estava na lanchonete pouco antes de uma das vítimas desaparecer e ser
encontrada morta. Logo ele também te conhecia e provavelmente sabia que a
cabana estava desabitada naquele dia. Então ele levou a vítima até lá e cometeu
o crime.
— Sinceramente não havia pensado dessa maneira, mas o senhor tem razão.
Ele pode ser o assassino.
— Algo mais, John?
— Não! Só sei o nome dele, mas acho que isso já ajuda bastante.
— Pode ter certeza que sim, muito obrigado. Vou imediatamente pedir para
que encontrem algum endereço relacionado ao nome dele. Muito obrigado John.
Acredito que desta vez nós colocaremos as mãos nesse sujeito.
John se despediu e imediatamente Scott fez uma ligação a fim de descobrir
rapidamente o endereço do assassino. Scott não pensava na hipótese de estar
indo atrás do homem errado. A história da cabana foi a ligação que faltava para
que Roosevelt se tornasse o principal suspeito de todos aqueles crimes. Com um
pouco de sorte ele estaria preso nas próximas horas.
Scott aguardava ansiosamente por uma resposta, queria encontrar a casa do
assassino ainda naquele mesmo dia se fosse possível. Antes que o assassino
fizesse mais uma de suas vítimas.
Enquanto isso na casa na mãe de Priscila...
Dona Ruth estava muito preocupada com a falta de notícias de sua filha. Ela
foi até o quarto da moça e procurou por alguma anotação. Para sua sorte a filha
tinha um caderno com algumas anotações e lá dona Ruth encontrou alguns
números de telefone anotados junto de alguns nomes femininos. Ela ligou para o
primeiro da lista e logo a moça atendeu.
— Alô! Aqui é a mãe da Priscila. Preciso saber se você sabe onde minha
filha passou a noite?
A moça ficou sem entender, mas logo lembrou-se de que havia combinado
de sair com Priscila na noite anterior. Só que isso não aconteceu.
— Dona Ruth. Eu não pude acompanhar a sua filha ontem à noite, eu estava
com uma enxaqueca terrível e então ela foi para a boate sozinha, eu acho. Não
posso afirmar isso.
— Como assim?
— Como eu disse. Não pude sair de casa e ela disse que iria sozinha. Não
sei nem ao menos se ela foi para a tal boate.
Dona Ruth se desesperou e desligou o telefone. No mesmo instante ligou
para a polícia. Ela passou todas as informações necessárias e ficou aguardando
até que a polícia tivesse alguma informação. Afinal se alguma coisa de ruim
tivesse acontecido com sua filha, a notícia não demoraria para chegar.
Alfred foi até a sala de Scott.
— Já temos o endereço do abutre? — perguntou o detetive todo animado
com a possibilidade.
— Infelizmente não. O que temos é mais uma mulher desaparecida. Acabei
de receber a informação.
— Desgraçado! Pensei que colocaríamos as mãos nele antes que fizesse
uma nova vítima. Quem é a mulher?
— Ela se chama Priscila. Mas a moça está apenas desaparecida e só por
isso não quer dizer que seja mais uma vítima do serial killer.
— Talvez, mas não me surpreenderia se fosse. Quer que eu verifique isso?
— Sim! Vá até a casa dela. Converse com a mãe da moça, ela se chama
Ruth. Por telefone ela apenas disse que a filha saiu para se divertir e deveria ter
retornado para casa ainda durante a madrugada. Só que o dia amanheceu e ela
não tem notícias. Também tem o celular que está fora de serviço.
Scott gravou mentalmente todas aquelas informações e de posse do
endereço foi até a casa da moça. O lugar em que a moça morava era de classe
média. A casa assim como o jardim estavam bem cuidados. Scott estacionou o
carro e caminhou sobre a calçada até chegar à porta da frente. Ele tocou a
campainha e logo foi atendido.
— Detetive Scott. Do departamento de polícia — disse mostrando o
distintivo.
— Encontraram a minha filha? — perguntou esperançosa.
— Ainda não! Preciso que me conte todos os detalhes, desde o momento
em que sua filha saiu de casa ontem à noite. Preciso entender o que pode ter
acontecido com ela.
A mulher chamou Scott para entrar e os dois sentaram no sofá da sala.
— Tudo o que eu sei eu já falei ao telefone.
— Certo! Mas gostaria que repetisse para mim com bastante calma.
— Minha filha saiu de casa para ir a uma boate. Ela disse que sairia com a
amiga. Hoje quando acordei percebi que ela não estava em seu quarto. Pensei
que tivesse dormido na casa da amiga ou coisa parecida. Esperei um pouco, mas
ela não apareceu. Foi então que consegui encontrar o número do telefone da
amiga e entrei em contato.
— Essa amiga disse que ela não saiu junto com a Priscila. Ela acredita que
minha filha foi sozinha. O celular dela também está incomunicável. Não sei o
que pode ter acontecido. Priscila nunca fica sem dar notícias. Mesmo quando
não sei onde ela está, basta ligar que minha filha sempre atende ao celular.
— Sua filha possui um veículo?
— Não! Ela chamou um táxi e ia passar na casa da amiga, mas a amiga
disse que elas não saíram juntas.
— Um táxi! Se fosse em outra ocasião isso me deixaria muito preocupado
— falou Scott se recordando de um serial killer que utilizava um táxi para atrair
suas vítimas.
— Quero que me diga onde sua filha estava, o nome da boate? Tem
conhecimento dessa informação?
— Eu não sei, mas talvez a amiga de minha filha saiba. Vou ligar agora
mesmo para ela e confirmar. Mas como eu disse, ela não foi junto e então não é
possível afirmar que minha filha esteve nesta boate.
A senhora ligou e rapidamente tinha um nome. Ao menos a amiga da filha
tinha certeza de que elas iriam para lá antes do imprevisto. Talvez tenha mudado
de ideia depois, mas não custava tentar encontrar alguma pista por lá.
— Perfeito! Vamos verificar as câmeras de segurança do local. Assim
podemos saber se sua filha esteve lá e até mesmo se saiu acompanhada. Preciso
de uma foto bem recente de sua filha. Tem alguma em casa?
— Claro, vou buscar. Por favor, encontrem minha filha o mais rápido
possível — disse retornando com a foto.
— Fique tranquila. Vamos fazer o que for possível para trazê-la de volta.
Scott sabia que dificilmente Priscila seria encontrada com vida. Não era
pessimismo, ele sabia que as circunstâncias de seu desaparecimento apontavam
para isso. A falta de notícias, o celular fora de serviço eram duas provas de que
algo não estava bem. Mas o detetive não quis deixar a senhora assustada, em
nenhum momento cogitou que Priscila poderia ser a sexta vítima do abutre, ou
melhor dizendo, de Roosevelt.
Capítulo 34

Scott retornou para o departamento e logo em seguida recebeu um


telefonema. Eles já tinham um endereço, agora era só ir até o local e prender o
assassino. Scott sabia que precisava de um mandado, se precisassem invadir a
casa, mas não poderiam perder tanto tempo assim. Priscila poderia estar viva e
nas mãos do assassino. Era uma hipótese que a polícia precisava levar em
consideração, apesar de pouco provável.
Alfred concordou com Scott. Afinal se o assassino fosse encontrado, as
provas surgiriam e não haveria problema. A não ser que invadissem a casa de um
inocente, mas isso era algo em que Scott não acreditava.
Imediatamente o detetive saiu acompanhado de vários policiais, eles foram
em dois carros e rapidamente chegaram ao endereço. O lugar não era perto de
nenhuma das cenas dos crimes realizados pelo abutre. A casa não tinha a
aparência de abandonada, muito pelo contrário. Não parecia em nada com a casa
onde um assassino se esconderia. Scott teve um mau pressentimento de que
estavam no lugar errado.
Todos desceram dos veículos e ficaram atentos em posição defensiva. No
entanto, em seguida Scott percebeu que havia uma criança brincando no jardim e
pediu para que os policiais guardassem suas armas. Ele caminhou até onde a
criança estava.
— Olá mocinha! Você mora nesta casa? — perguntou ele.
— Sim! Mamãe, mamãe! — gritou ela e logo uma mulher de
aparentemente trinta anos apareceu na janela.
— Meu Deus! O que está acontecendo? — perguntou assustada ao ver
todos aqueles homens em seu jardim.
A mulher veio para fora e então Scott explicou tudo.
— Estamos procurando um suspeito de assassinato. Temos o nome do
homem e nos registros conseguimos encontrar exatamente este endereço. Mas
parece que foi um equívoco. A menos que a senhora conheça um homem
chamado Roosevelt Artud?
— Não! Nunca ouvi falar neste nome. Moramos nesta casa a
aproximadamente cinco anos, na verdade, não sei quem morava aqui antes. Pode
ser que seja o antigo inquilino.
— Mora a senhora e mais quem na casa, além da criança?
— Meu marido, ele está no trabalho agora, mas o nome dele é David.
Scott olhou ao redor à procura de alguma coisa que pudesse comprovar que
eles realmente estavam no endereço errado. A casa não tinha garagem e não
havia qualquer sinal de que um carro havia passado por cima da grama
recentemente. Parecia remota a possibilidade de que invadissem a casa e
encontrassem pedaços de corpos no refrigerador. A menos que ele usasse um
nome falso para se apresentar à esposa. Para garantir que não cometeriam um
erro de sair dali sem a certeza de que era o lugar errado. Scott pediu para ver
alguma foto de seu marido e finalmente concordou que a mulher tinha razão.
— Lamento muito! Foi um engano, desculpe por incomodá-la — Scott
ainda ficou satisfeito pela senhora não ter pedido a autorização judicial. Eles
estariam em maus lençóis se ela os denunciasse.
Eles retornaram para o departamento com a sensação de derrota. Scott
estava confiante que colocaria as mãos no assassino ainda naquela manhã.
Quando chegou ao departamento foi dar a péssima notícia para Alfred.
— Cadê o nosso homem? — perguntou Alfred percebendo a cara de
decepção em Scott.
— Não era o endereço correto. Na casa informada mora um casal com uma
menina. O marido dela não se chama Roosevelt e eles nem sabem de quem se
trata. Perdemos o nosso tempo, infelizmente.
— Mas o endereço que nossa equipe encontrou dizia que Roosevelt morava
lá.
— Realmente, mas foi um engano. Provavelmente ele já morou algum dia,
mas agora não mora mais e isso já faz alguns anos. Voltamos à estaca zero.
— Isso não é nada bom — completou Alfred.
— Espera aí! Lembro que você me disse que uma moça estava
desaparecida. Depois nós a encontramos morta. Se não me engano ela se
chamava Nicole — recordou Scott.
— E qual a novidade nisso? O que tem a ver com o possível endereço de
Roosevelt?
— A mãe havia ligado para a polícia e o celular tocou, mas ninguém
atendeu e depois não foi mais possível ligar para o número. Se isso realmente
aconteceu poderíamos rastrear o telefone, e quem sabe descobrir algum endereço
diferente de onde ele deixou o corpo — completou o detetive.
— Acho que isso já deveria ter sido feito, mas em todo caso verifique os
depoimentos. Se realmente isso aconteceu entre em contato com a família e peça
o número. Quem sabe conseguimos rastreá-lo. Talvez não tenha utilidade
nenhuma, pois o celular pode ter tocado durante o trajeto do assassino, ou na
cena do crime. Ele não seria tão idiota de levá-lo para casa.
Scott analisou os documentos e comprovou a sua suspeita. A mãe de Nicole
havia dito que ligou para a filha e o celular tocou até a ligação cair e depois não
chamou mais.
Imediatamente ele entrou em contato com a família e pediu o número do
telefone da moça assassinada. Em poucos minutos enviou um pedido para que
checassem aquele número de celular e tentassem encontrar a localização exata da
última chamada realizada.
Pouco mais de uma hora mais tarde Scott atendeu ao telefone e comemorou
a sua sorte. Ele já tinha uma nova localização. Talvez dessa vez tivessem um
pouco mais de sorte.
Enquanto isso em algum lugar de Nova Iorque...
Ross havia saído de casa logo pela manhã com a intenção de se livrar do
celular da última vítima. Ele procurou um local bem isolado e atirou o aparelho
ao mar, da mesma maneira que fez com o aparelho de outra vítima. Depois de ter
realizado a tarefa ele parou em uma banca e comprou um jornal. Queria ver
como estavam as notícias sobre os seus crimes. Saber se a polícia tinha avançado
nas investigações.
Ali mesmo dentro de seu carro ele começou a virar as páginas até que
encontrou a página policial. Começou a procurar por algo sobre a sua mais
recente vítima. Não existia nada, afinal ainda não a tinham encontrado. Também
não viu nada sobre a mulher que ele assassinou dentro da própria casa e deixou o
corpo jogado no quarto. Mas era evidente que já tinham encontrado o corpo.
Ross se assustou quando virou para a página seguinte e viu aquela imagem.
Sua foto estava estampada no jornal. Ele era procurado como testemunha de um
dos crimes. A polícia pedia informações sobre sua identidade para que pudessem
conseguir informações sobre o assassino. Ross ficou furioso ao ler a notícia, ele
sabia que aquilo não passava de mera especulação. Certamente que a polícia
desconfiava que ele próprio fosse o assassino e isso era um grande problema.
Não demoraria muito até que alguém ligasse para a polícia passando essas
informações. Se é que isso já não havia acontecido.
Ross jogou o jornal no banco de passageiros e saiu em direção a sua casa.
Ele precisava sair de lá antes que a polícia o encontrasse e levar consigo as
provas que estavam em sua geladeira. Se encontrassem o corpo em seu jardim
não haveria problema, era apenas mais um para a sua lista de crimes.
Capítulo 35

Scott não perdeu tempo e imediatamente saiu em direção ao novo endereço.


Ele esperava que não fosse um lugar sem sentido, como um terreno baldio. O
lugar ficava em uma direção totalmente oposta da que eles estiveram mais cedo.
Depois de vinte minutos eles chegaram ao local. Também era um bairro
residencial, mas bem mais deteriorado que o anterior. A localização exata onde o
celular de Nicole funcionou pela última vez apontava para uma casa de cor
branca com a tinta descascada. Poderia definitivamente ser o endereço do
assassino. O jardim não estava bem cuidado, mas era possível ver que alguém
morava naquela residência. Scott notou os rastros de um veículo que deixou as
marcas sobre a calçada cimentada.
Aparentemente não havia ninguém na casa naquele momento, mas Priscila
poderia estar sendo mantida prisioneira. Os homens se espalharam e um deles
olhou por uma fresta na garagem e confirmou que o veículo não estava lá.
Enquanto dois homens ficaram vigiando a frente os outros foram para o fundo da
residência. Todas as portas estavam fechadas. Scott olhou para o jardim e notou
restos de terra e a grama recortada em um trecho. Não havia muito tempo que
alguém tinha feito aquilo. Também havia uma planta que estava murcha com o
sol quente, estava sentindo os efeitos de ter sido transplantada para aquele local.
Scott foi até uma das janelas e tentou ver se era possível enxergar o interior
da residência. Através do vidro ele percebeu que realmente não existia ninguém
dentro da casa, ou se houvesse estava escondido em um dos cômodos fechados.
A única maneira de descobrir era invadindo a residência. Scott usou de suas
técnicas e rapidamente conseguiu abrir a porta sem a necessidade de derrubá-la.
O detetive e mais dois homens invadiram a casa enquanto os outros ficaram
dando cobertura do lado de fora. Fred e Peter vasculharam todos os cômodos e
não encontraram nada. Priscila não estava ali. Scott ficou desapontado, esperava
encontrá-la com vida. Não havia nada que pudesse indicar que Roosevelt
morasse ali, mas Scott viu algo que chamou sua atenção. Jogado sobre o sofá da
sala estava um jornal de alguns dias atrás. Talvez uma simples coincidência,
coisa que o detetive não achou que fosse. O jornal estava aberto justamente em
uma das páginas policiais onde estava a notícia de um dos crimes do abutre. Era
uma coincidência muito grande.
Scott rapidamente percebeu que não estavam no lugar errado. Ele olhou as
panelas sobre o fogão e olhou seu conteúdo. Não havia nada de suspeito, mas
ainda existia um lugar que precisava ser revistado. O detetive colocou as luvas e
abriu a porta do refrigerador. Algumas frutas e leite, mas nada de anormal.
Quando finalmente ele abriu a porta do freezer é que teve a comprovação de
todas as suas teorias.
— Pessoal! Vejam só o que eu encontrei — disse apontando para as
embalagens.
Embalados em plásticos transparentes estavam três seios, dois que
provavelmente pertenciam a mesma mulher e outro que Scott teve certeza
absoluta que pertencia a vítima anterior encontrada morta dentro de seu próprio
quarto. Também existia outra parte que pela aparência era o órgão genital da
mesma vítima. O detetive utilizou o dedo e analisou a textura da carne. Seu dedo
afundou ao apertar sobre o plástico. Aqueles seios haviam sido colocados ali
recentemente. Ainda não estavam completamente congelados.
Scott ligou para Alfred avisando que haviam encontrado o esconderijo do
assassino, mas não Roosevelt. Ele pediu que fosse enviada a equipe da perícia,
afinal haviam pedaços de corpos naquela casa.
Scott ainda não estava convencido de que aquilo era tudo. Ele apenas
aguardou a equipe de perícia chegar e os levou até os fundos da casa, isso depois
de mostrar o que estava no refrigerador.
— Aqueles seios ainda estão frescos. Desconfio que o assassino enterrou
um corpo aqui. Esse recorte na grama não me parece algo que tenha sentido.
Alguém retirou a grama e depois colocou no mesmo lugar. Alguma coisa foi
enterrada recentemente aqui. A terra foi removida e colocada novamente.
Um dos peritos começou a mexer no local e arrancou os pedaços de grama
que estavam por cima, assim como o pé de flor que já estava completamente
murcho. Em seguida começou a retirar a terra e logo um pó branco foi
encontrado.
— Isso é cal — disse o perito e continuou cavando.
Não demorou muito e logo uma superfície plástica foi encontrada.
Cuidadosamente toda a terra ao redor foi retirada e a forma de um corpo
começou a aparecer. Existia um corpo enterrado ali e o mesmo estava enrolado
em uma espécie de saco plástico. Um rasgo foi feito no plástico e o corpo
totalmente nu de uma moça ficou exposto. Ela estava mutilada da mesma
maneira que as vítimas anteriores e Scott não tinha dúvidas de que aqueles seios
do refrigerador pertenciam ao corpo encontrado.
Rapidamente Scott pegou seu celular e encontrou a foto de Priscila. Ele
salvou a imagem da moça para que pudesse checar o seu sumiço depois de ir a
uma boate. Apesar do estado lastimável que o corpo estava, o plástico havia
preservado o corpo perfeitamente limpo. Scott comparou a foto com o corpo
encontrado e constatou que infelizmente Priscila estava morta. Bastava apenas
que a família fizesse o reconhecimento do corpo.
Todas as provas foram recolhidas da casa, os pedaços de corpos
encontrados no refrigerador e o corpo encontrado nos fundos da casa. Scott
acreditava na hipótese de que o assassino houvesse abandonado a casa, talvez
depois de ver a notícia nos jornais. Mas por precaução dois homens ficariam
vigiando o local a distância. Dessa maneira se Roosevelt retornasse ao local ele
seria preso imediatamente.

**********
Ross retornava para sua casa quando percebeu a movimentação estranha.
Ele parou o veículo a uma distância segura para não levantar suspeitas. A
princípio o assassino acreditou que se tratava de algum acidente, mas logo
percebeu que eram carros da polícia e da equipe de perícia e que estavam
exatamente em sua casa.
— Cheguei muito tarde. Eles já encontraram o meu esconderijo e pelo visto
o corpo enterrado no quintal. Droga! — disse para si mesmo e esmurrou o
volante com raiva.
Ao fazer isso Ross acabou apertando a buzina e o som foi alto suficiente
para chamar a atenção dos homens que terminavam o trabalho na casa. Scott
olhou naquela direção e avistou o Nissan Versa preto.
— É ele! — Disse Scott e correu rapidamente para seu veículo ao perceber
que o sujeito já estava fugindo do local.
Os homens entraram nos dois veículos e começaram a perseguir o Nissan.
Desta vez o abutre não escaparia. Era o fim de seus dias de crimes macabros.
Não havia escapatória. Roosevelt seria perseguido e preso e pagaria por todos os
seus crimes.
Capítulo 36

Scott saiu imediatamente com seu carro e o outro carro da polícia também o
seguiu. Ele manteve distância para que Roosevelt não percebesse que estava
sendo seguido. Talvez ele tivesse outro esconderijo e então ele os levaria até lá e
seria preso. Mas não demorou muito para que Ross percebesse que estava sendo
seguido. Ele olhou no retrovisor e viu o carro de Scott e aumentou a velocidade.
Quando Scott percebeu isso não teve dúvidas de que Ross estava dentro
daquele carro, apesar dos vidros escuros impedirem de ver o interior do veículo.
Roosevelt entrou em uma via movimentada tentando despistá-los. O movimento
era intenso e Scott não conseguia ultrapassar os veículos a fim de se aproximar
do criminoso. Eles continuaram seguindo-o distância enquanto não era possível
fazer uma abordagem segura.
Ross sabia que tinha sido descoberto. Sua única chance de escapar era
tentando despistar os policiais. Ele acelerou e fez algumas manobras arriscadas e
quase bateu de frente com outro veículo ao invadir a pista contrária. Na tentativa
de se desvencilhar, ele fez a conversão à direita em uma rua com sentido
proibido. O som das buzinas ecoou nos ouvidos de Ross. Ele ouviu gritos de
xingamentos dos motoristas furiosos após quase bater em dois carros.
Ele olhou no retrovisor e ficou irritado ao perceber que os policiais ainda
estavam em sua cola. Ross entrou em uma rua com várias casas e percebeu que
já havia passado por ali em outra oportunidade, aquele local era bastante
familiar. O assassino sabia que não conseguiria fugir. Bastava que tivessem a
oportunidade e atirariam em seu carro furando os pneus ou até mesmo lhe
acertando um tiro. Ao ver uma moça no jardim de uma das casas rapidamente
ele teve uma ideia. Fez a conversão à esquerda e invadiu o gramado passando
por cima das flores e parando em seguida.
A moça ficou paralisada pensando que seria atropelada. Antes que ela
pudesse se dar conta do que estava acontecendo, que aquilo era uma perseguição
policial. Ross pegou seu bisturi e desceu rapidamente do carro fazendo a moça
de refém antes que ela tivesse a reação de fugir. Quando Scott e os outros
homens desceram de seus carros, Ross já estava terminando de arrastá-la para
dentro da casa e fechou a porta.
Ross ficou impressionado ao ver que a moça era a mesma que ele quase fez
de vítima em uma noite alguns dias antes. Ele a seguiu até chegar em casa e
desistiu da ideia acreditando que seria muito arriscado. Agora ela estava ali em
seus braços, era sua refém. O assassino ficou feliz ao perceber que não havia
ninguém dentro da casa. Ele se posicionou próximo da janela segurando o bisturi
pressionado contra o pescoço de Linda.
Linda mesmo desesperada olhou de soslaio para o rosto de Ross e percebeu
que aquilo que estava acontecendo não era uma simples perseguição policial. O
homem que a tinha em seu poder era o mesmo que ela viu no jornal naquela
manhã. Ligando os fatos rapidamente ela chorou ao perceber que estava nas
mãos de um serial killer. Não um qualquer, mas alguém que mutilava suas
vítimas após matá-las.
— Por favor, não me mate! — implorou ela soluçando.
— Cale a boca! Isso só depende dos tiras. Se eles invadirem a casa eu
cortarei sua garganta num piscar de olhos. Torça para que não sejam tão idiotas a
este ponto.
— E se deixarem você fugir? Você vai me levar de refém e vai me matar da
mesma maneira. Qual a diferença? — disse Linda chorando.
Ross não respondeu, mas ele sabia que a moça estava certa. Se conseguisse
sair dali faria com ela a mesma coisa que fez com todas as outras mulheres.
Talvez até pior. Mas uma coisa era certa, ele não gostava de matar suas vítimas
com perfurações ou com cortes na garganta. Ele preferia que ainda estivessem
inteiras na hora que fossem mutiladas.
Do lado de fora os policiais cercaram a casa toda, não havia a menor
possibilidade de que Ross conseguisse fugir daquela casa. No entanto, Scott
estava em um dilema. Se invadissem a casa fatalmente Roosevelt mataria a moça
que era sua refém. Se deixassem ele sair acompanhado da moça não existia
nenhuma garantia de que ele a deixaria viva.
Pouco tempo depois o reforço chegou, toda a região foi cercada. Scott
pegou um megafone e começou a negociar com o assassino para tentar encontrar
uma solução.
— Roosevelt! Sabemos que você está aí e que tem muitos motivos para
fugir da polícia. No entanto, você está cercado, não vai conseguir fugir daqui.
Não vamos atirar, deixe a moça sair e saia com as mãos para cima. É a melhor
coisa que você pode fazer.
Ross escutou e um sorriso formou-se em seus lábios. Ele jamais se
entregaria para a polícia. Não sem antes matar aquela moça ou até mesmo
estuprá-la. Poderia fazer isso ali mesmo enquanto a polícia estava lá fora
cercando a casa. Seria bastante excitante.
— Desistam! Não vou me entregar — gritou ele pela abertura da janela.
— O que você quer então? — perguntou Scott mais uma vez usando o
megafone.
— Quero que saiam todos daqui e me deixem ir embora. Se fizerem o que
estou pedindo eu deixo a moça sair com vida — ele sabia que isso não era
verdade, mas quem sabe a polícia acreditava na sua mentira.
Scott sabia que Roosevelt estava blefando. Ele já havia matado seis
mulheres, logo não havia a menor possibilidade de que a moça saísse com vida
se ele a levasse junto durante a fuga. Não poderiam confiar em suas palavras de
maneira alguma.
Em meio a aquele tumulto um carro parou pouco antes do isolamento. Um
casal viu o que estava acontecendo e correu para pedir informações. Scott
imaginou que pudessem ser os pais da moça e foi conversar com eles.
— Meu Deus! O que está acontecendo aqui? — perguntou a senhora já
imaginando que o pior tinha acontecido.
— Vocês moram nesta casa?
— Sim! — responderam ao mesmo tempo.
— Estávamos perseguindo um bandido e ele invadiu a sua casa.
O casal ficou um pouco mais aliviado, pois a primeira coisa que pensaram
era que algo de horrível tivesse acontecido com Linda.
— Onde está a nossa filha? Ela se chama Linda e deveria estar em casa
nesse horário — perguntou o senhor olhando ao redor para ver se a encontrava.
— Lamento! O criminoso fez uma moça de refém, ela estava no jardim.
Não temos certeza, mas deve ser a sua filha.
Os dois entraram em desespero e quiseram invadir a casa. Foi preciso
acalmá-los e explicar que a filha deles estava nas mãos de um serial killer
extremamente perigoso. Scott também explicou que havia uma negociação em
curso e que tudo se resolveria com calma para não colocar a vida de Linda em
perigo.
Scott tentou novamente convencer Roosevelt de que ele deveria se entregar,
mas ele estava irredutível na ideia de que o deixassem fugir. O detetive pensou
em distraí-lo enquanto um dos homens invadia a casa pelos fundos, mas era uma
manobra muito arriscada. Eles prenderiam o assassino, mas Linda estaria com a
vida em perigo. Roosevelt alertou que se tentassem qualquer coisa ele mataria a
moça. Disso Scott não duvidava que ele era capaz.
Depois de mais de uma hora de negociação, o detetive teve uma ideia. Ele
usou o megafone e disse que concordava com a proposta do assassino, mas que
ele poderia fugir sem levar a moça como refém. Ross logicamente não aceitou,
pois dessa maneira se tornaria uma presa fácil para a polícia. Finalmente depois
de mais uma hora Scott resolveu aceitar as condições do assassino. Todos os
policiais entraram em seus carros e deixaram o local. O último a sair foi Scott
avisando pelo megafone que a barra estaria limpa em poucos minutos e que
Roosevelt poderia fugir seguindo na mesma direção que seu carro estava. Os
pais de Linda ficaram desesperados com a situação, mas era a única solução para
o momento. Eles precisavam confiar em Scott.
Ross aguardou alguns minutos e finalmente abriu a porta da casa colocando
Linda como escudo para o caso de haver algum policial escondido no local. Se
isso acontecesse a garganta de Linda seria cortada antes de qualquer coisa. Não
seria preso sem antes ter o prazer de ver o sangue jorrando de suas veias. O
assassino olhou em todas as direções e concluiu que Scott havia cumprido com
sua palavra. Não havia nenhuma movimentação que lhe apresentasse perigo.
Ele caminhou segurando Linda pelos braços até que se aproximou do carro
e certificou-se de que a chave ainda estava na ignição. Ross então abriu a porta
do passageiro e mandou Linda entrar no carro. Ela sabia que se entrasse naquele
carro seria seu fim. Num descuido Linda deu uma cotovelada no peito de Ross e
conseguiu sair correndo. Neste momento ouviu-se um tiro e o assassino caiu no
chão. Linda parou assustada pensando que havia sido atingida por um tiro, mas
não sentia dor alguma. Ela olhou e viu Ross caído no chão contorcendo-se de
dor.
Um policial que pulou de cima de uma árvore tinha em mãos um fuzil, ele
caminhou em direção ao assassino e mirou a arma para sua cabeça. Rapidamente
todos os policiais retornaram para o lugar. Era o fim da série de crimes de
Roosevelt.
Capítulo 37

Ao ver que não havia sido atingida por um tiro, Linda continuou paralisada
no mesmo lugar em que estava e depois de alguns segundos finalmente sentou-se
na grama ainda com as pernas bambas em virtude do susto que levou. Ela sabia
que não corria mais perigo de morte, pois o assassino estava na mira de um dos
policiais.
Linda desejava que ele estivesse morto por todo o mal que causou, não
apenas a ela, mas a todas as mulheres que havia assassinado cruelmente. No
entanto, aparentemente o tiro não atingiu um órgão vital. O assassino havia sido
atingido no ombro direito. Provavelmente sua clavícula estava estraçalhada com
o impacto do projétil.
Scott foi o primeiro a socorrê-la. O detetive abriu um sorriso ao ver que ela
não estava machucada, mas apenas muito assustada.
— Tudo bem com você?
— Sim! O pior já passou — disse ela ainda com a voz tremendo.
— Como foi que você conseguiu se afastar do criminoso?
— Eu aproveitei uma distração e o acertei. Eu não sabia que tinha um
atirador em cima daquela árvore. Eu sabia que se entrasse naquele carro ele me
mataria. Eu tinha que tentar alguma coisa.
— Certamente que sim. Não tínhamos opção, depositamos toda a confiança
em nosso melhor atirador de elite. Era algo bastante arriscado, você poderia ser
atingida, mas sua atitude facilitou em muito as coisas. Parabéns! A ideia era
atingi-lo quando estivesse ao volante, mas você poderia ser ferida por estilhaços
de vidro. Ainda bem que tudo deu certo.
Scott ajudou Linda a levantar-se e depois ela foi levada para ser examinada,
apenas por precaução. Os pais da moça ficaram aliviados ao ver que estava tudo
bem com a filha e agradeceram pela eficiência dos policiais que estavam ali.
A essa altura Roosevelt já estava imobilizado. Ele tinha um grave ferimento
no ombro direito e precisava ser hospitalizado antes de ir parar atrás das grades.
Scott olhou para o assassino tentando imaginar o que poderia ter levado ele a
cometer todos aqueles crimes macabros. No entanto, isso era algo que ele
poderia contar durante o julgamento. O importante era que já estava preso.
Ross foi levado por outra ambulância e escoltado por vários homens. Ele
seria vigiado permanentemente até que pudesse ser levado para a prisão. Scott
ainda tinha mais uma tarefa difícil pela frente, precisava avisar a família que
Priscila havia sido encontrada, morta. Ele retornou para o departamento para que
pudesse dar aquele caso como encerrado.
— Meus parabéns, Scott! Até que enfim o sujeito está preso. Belo trabalho!
— disse o chefe assim que o viu chegar no departamento.
— Tivemos muita sorte. O sujeito não tinha arma de fogo, mas estava com
um bisturi pressionado contra o pescoço da moça. Qualquer sinal de reação ele a
mataria. Mas antes disso, contamos com a audácia do assassino a nosso favor.
Ele cometeu um erro ao ficar observando nossa ação a distância e então foi
notado. E foi isso que deu início a perseguição que resultou em sua prisão. Se
não fosse isso talvez ainda estivesse livre para praticar seus crimes.
— E o que realmente encontraram na casa do assassino? — quis saber
Alfred.
— No refrigerador encontramos pedaços que pertenciam provavelmente a
duas mulheres, seios e uma vagina. Tudo embalado cuidadosamente igual
aquelas embalagens de carne que encontramos nos supermercados. Algumas
partes ainda estavam frescas e isso me levou a acreditar que uma das vítimas
estava enterrada no quintal. Foi isso que descobrimos. O corpo de Priscila foi
enterrado poucas horas antes de encontrarmos o esconderijo do assassino.
Infelizmente ela foi a sexta vítima do abutre.
— Então realmente você estava certo quando dizia que o assassino era
canibal?
— Absolutamente certo! Que outro motivo o assassino teria para guardar
pedaços de corpos em seu refrigerador?
— Muito bizarro, mas não foi o primeiro e nem será o último, infelizmente.
Depois de conversar com Alfred, o detetive entrou em contato com a
família de Priscila. Ele deu a triste notícia por telefone, afinal a moça estava
morta e nada mais poderia ser feito. Eles apenas precisavam reconhecer o corpo
que estava passando por perícia, mas não havia dúvidas de que se tratava de
Priscila.
Naquela noite quando Scott chegou em casa estava com um enorme sorriso
no rosto e isso não passou despercebido por sua esposa.
— Nossa! Fazia tempo que não te via tão feliz depois de chegar do
trabalho.
— Não é por menos, querida. Hoje capturamos o abutre. Ele não vai mais
mutilar nenhuma mulher.
— Que maravilha! Mas como conseguiram isso?
— Depois de recebermos a denúncia informando o nome do assassino
encontramos um endereço, infelizmente não encontramos o assassino por lá.
Mas conseguimos rastrear o celular de uma das vítimas, o celular recebeu uma
chamada após a moça desaparecer. Fomos até o local e encontramos a casa e as
provas de que o assassino morava lá.
— Que provas?
— Pedaços das mulheres que matou guardados no refrigerador. Eu estava
certo quando dizia que ele era canibal.
— Nossa, que horror!
— Mas isso não é tudo, encontramos um corpo enterrado no quintal. Era o
corpo da moça que desapareceu na noite passada.
— Minha nossa!
— Foi então que o assassino apareceu e saímos em perseguição. Ele fez
uma moça refém e num golpe de sorte conseguimos prendê-lo. A moça escapou
ilesa, mas o assassino levou um tiro e está hospitalizado. Ele não corre risco de
morte.
— Imagino a dor da família ao descobrir o que ele fez com essa moça. Mas
ainda bem que tudo acabou. Vá tomar um banho que vou preparar um jantar
especial para você. Hoje é um dia especial.

**********

Alguns dias depois Ross já estava em condições de sair do hospital e foi


levado diretamente para a prisão. Ele passou por exames que comprovaram que
era o culpado por todas as mortes atribuídas a ele. Também ficou confirmado
que os pedaços de corpos encontrados no refrigerador pertenciam a Priscila e a
Raquel.
Meses depois ele foi julgado pelas mortes de Lindsay, Mary, Charlott,
Nicole, Raquel e Priscila. Também foi condenado por tentativa de morte e
estupro de Rebecca e ainda por manter Linda sequestrada pouco antes de ser
preso. Roosevelt foi condenado à prisão perpétua por todos os crimes atribuídos
a ele. Durante seu julgamento ele fez questão de contar nos mínimos detalhes
tudo o que ele fazia com suas vítimas. Desde a forma como as atraía e depois as
estuprava e mutilava.
Na maioria dos casos primeiramente ele matava a vítima estrangulada ou
esganada, depois abusava do corpo para satisfazer seu desejo sexual e em
seguida mutilava o órgão genital e os seios. Em dois casos ele contou que fez
sexo com as vítimas ainda em vida e sem obrigá-las a isso, na sequência ele as
matou. Questionado o motivo de fazer isso com as mulheres, Roosevelt disse
que era apenas por vingança. Contou que foi abusado sexualmente por sua tia
quando era criança e essa foi a forma que ele encontrou para punir as mulheres.
Eis a razão de retirar essas partes dos corpos e ainda ingerir a carne de suas
vítimas. Perguntado se em algum momento se arrependeu de seus crimes,
Roosevelt disse que faria tudo novamente. Ross era um psicopata assumido, os
crimes lhe davam prazer e ele continuaria fazendo vítimas se não tivesse sido
preso.
Nova Iorque estava livre daquele serial killer, mas outro louco poderia
surgir a qualquer momento. Scott estava preparado e colocaria em prática suas
habilidades caso fosse necessário.
Epílogo

Ross estava na prisão havia um ano. Ele não se conformava com os erros
que cometeu que acabaram colocando-o na cadeia. Se tivesse sido um pouco
mais cauteloso e até praticado os crimes em intervalos maiores, quem sabe ainda
estaria livre para continuar sua vingança. Havia matado apenas seis mulheres,
um número muito baixo para suas pretensões. Ele sabia que não existia a menor
chance de sair daquela prisão com vida e aumentar a sua lista de crimes. Estava
condenado à prisão perpétua e ficaria ali até os últimos dias de sua vida. Com
base em sua idade isso poderia demorar algumas décadas. Jamais poderia voltar
a matar e sua vida não tinha mais nenhum sentido.
Mas Ross sabia que existia outra maneira, não se submeteria a angústia de
ficar trancado numa cela para o resto da vida, sem contato com o mundo lá fora.
Ele planejou tudo cuidadosamente como costumava fazer em seus crimes. No
silêncio da madrugada Ross arrancou suas roupas e fez uma espécie de trança.
Ele a amarrou no alto da grade de sua cela deixando-a em forma de argola.
Certificou-se de que estava resistente e muito bem presa. Em seguida passou
sobre o pescoço e soltou seu corpo. A roupa não suportou o peso de Ross por
muito tempo, mas foi o suficiente para que ele morresse enforcado. Quando o
encontraram já não era possível fazer mais nada. Roosevelt estava com o
pescoço quebrado.
Desde o dia em que esteve nas mãos do assassino, Linda nunca mais
conseguiu ficar em casa sozinha. A todo momento tinha a sensação de que o
assassino retornaria para matá-la. Acordava durante a noite tendo pesadelos,
mesmo sabendo que o assassino estava preso e que era impossível que fugisse
daquela prisão. Em seus sonhos ela tinha o bisturi pressionado contra o pescoço,
enquanto ele a estuprava. Depois de satisfeito, ele simplesmente cortava seu
pescoço fazendo o sangue espirrar. Neste momento ela acordava gritando.
A moça lia os jornais todos os dias para saber se Ross não havia fugido ou
tinha sido solto. Sua libertação aconteceu no dia em que ela pegou o jornal e viu
a notícia. Roosevelt havia sido encontrado morto em sua cela. Foi apenas
naquele dia que Linda considerou o caso encerrado. Mesmo assim ela sempre
tomava cuidado ao chegar em casa durante a noite e não andava sozinha pelas
ruas ao anoitecer. Ross não poderia fazer mal algum a ela, mas ele não era o
único louco que existia em Nova Iorque.
Scott, ao saber da notícia, não ficou muito surpreso, ele já imaginava que
isso pudesse acontecer. Até achou que demorou mais do que o previsto. Ele não
costumava desejar a morte de ninguém, mas neste caso ele não conseguiu
esconder que também estava muito feliz com o fim de Roosevelt. Mais um caso
encerrado.

Outra obra do autor


O colecionador: não use saias, ou você pode ser a próxima vítima

Sinopse: E agora detetive Scott? Várias mulheres mortas na mesma


circunstância, mas nenhuma pista do malfeitor!
James Adam Scott, consagrado detetive de Nova Iorque, estava com seu
pescoço a prêmio, se não solucionasse o caso, confiado a ele por seu superior.
Um maníaco continuava à solta na cidade, e mulheres inocentes corriam
perigo nas ruas. A cada vítima, o detetive ficava a um passo à frente de descobrir
o maníaco.
E as duas moças que conseguiram escapar? Seriam as peças chaves para a
solução desses crimes? Quem seria aquele maluco? Que além de colecionador
tinha hábitos completamente estranhos? Mas esse é um caso complicado e
intrigante, destinado ao poderoso detetive Scott.

Livro físico disponível no site da Estremoz Editora


https://www.estremozeditora.com/fp-o-coleccionador

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Sobre o autor

Sérgio Fragoso é graduado em Administração, trabalha na Universidade do


Estado de Mato Grosso - Unemat, atua na Biblioteca do Campus desde o ano de
2005. Desde março de 2017 ocupa a cadeira número 16 na Academia Sinopense
de Ciências e Letras – ASCL e sua patrona é a escritora Clarice Lispector.
“Publicou alguns livros de informática básica e decidiu começar a escrever
romances publicando o seu primeiro livro “Onde está você, meu amor” no ano
de 2015 e na sequência “Não quero perder você”, "Quando eu te conheci" e os
contos eróticos "A ilha deserta: perdidos de prazer”, “A vizinha dos sonhos”;
“Desejo ardente”; “O doce amargo da vida”; “O colecionador”; “Morte na ceia
de natal” e agora Mutiladas. Vive no Brasil com esposa e um casal de filhos."

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