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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS

Título do Projeto: Levantamento e Avaliação das Plantas Medicinais


utilizadas na comunidade do Choro pertencente ao município de
Divinópolis-MG.

Projeto de Pesquisa submetido à analise da


Coordenações Integradas de Extensão, Pesquisa e Pós-
Graduação da UEMG

Andreia Aguiar Vieira: Professora orientadora do projeto no curso de


Licenciatura em Química.
Alexssandro Antônio de Avelar: Professor coorientador
Alunos voluntários: À definir

Divinópolis-MG
2015
1. INTRODUÇÃO

1.1 Breve histórico sobre uso de plantas medicinais

O uso das plantas medicinais vem sendo utilizadas desde a antiguidade


com o intuito de ajudar as pessoas menos favorecidas financeiramente e
culturalmente, passando de geração a geração. Mesmo com os avanços
tecnológicos e com o crescimento da indústria farmacêutica com altos custos e
sem acessibilidade, muitas comunidades em especial Zona Rural ainda utilizam
essa técnica para tratamento de doenças e alívio de dores repentinas. Em
contrapartida essa técnica vem ganhando espaço para as pessoas com melhor
poder aquisitivo, acreditando ser um tratamento mais saudável e com menos
efeitos colaterais. Essa prática de recursos naturais na medicina, já vem
dominando há várias décadas as civilizações Orientais e Ocidentais, trazendo
bons resultados que são adotados pelo mundo todo 1.
Grandes são os benefícios oferecidos por essa técnica naturalista,
entretanto, precisamos nos ater a prática e consumo da população com o uso
dessas plantas. A falta de orientação e conhecimento dos efeitos medicinais e
tóxicos das plantas e de como utilizar são fatores importantes da
automedicação, como a maneira de preparar esses produtos2.
Atualmente o Ministério da Saúde, através da Política Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos, PNPMF (BRASIL, 2006)3, vem ampliando
as várias opções terapêuticas aos usuários do SUS – Sistema Único de Saúde,
garantindo acesso a essas plantas medicinais e serviços fitoterápicos,
proporcionando maior segurança, qualidade e eficácia, na visão da
integralidade sendo um dos pilares da atenção à saúde, conceituando o saber
tradicional sobre plantas medicinais. Ao criar essa política, o Ministério da
Saúde valida e respalda essa iniciativa, esclarecendo e incentivando seus
alcances e suas demarcações4.

1.2 A química das substâncias ativas de produtos naturais

Primeiramente, de acordo com FURLAM (1998), uma planta é


classificada como medicinal por possuir substâncias que têm ação
farmacológica. Estas substâncias ativas são denominadas de princípios ativos
e, muitas das vezes, não se sabe quais destas substâncias estão realmente
atuando5.
O demasiado conhecimento do arsenal químico da natureza, pelos
povos primitivos e pelos índios pode ser considerado o principal fator para o
descobrimento de substâncias tóxicas e medicamentosas ao longo dos anos.
Esses povos não conheciam as estruturas e moléculas que faziam parte das
plantas, mas sabiam utilizá-las para o tratamento de diversas doenças. A
convivência e o aprendizado com os mais diferentes grupos étnicos trouxeram
valiosas contribuições para o desenvolvimento da pesquisa em produtos
naturais, do conhecimento da relação íntima entre a estrutura química de um
determinado composto e suas propriedades biológicas e da interrelação
insetos-planta. Neste sentido, a natureza forneceu muitos modelos moleculares
que foram fundamentais nos estudos de relação estrutura-atividade e
inspiraram o desenvolvimento da síntese orgânica clássica6.
Segundo YUNES, 2001, desde os tempos primordiais os químicos
pesquisavam plantas consagradas pelo uso popular, geralmente incorporadas
às farmacopeias da época, suas pesquisas eram limitadas a purificação e à
determinação estrutural de substâncias ativas7. A partir do conhecendo da
importância das plantas para o tratamento de doenças da época, a Química e a
Medicina passaram a ter uma estreita relação, o que tornou possível um rápido
desenvolvimento de seus campos específicos8. Desta forma, muitas
substâncias ativas foram conhecidas e introduzidas na terapêutica,
permanecendo até hoje como medicamentos.
Um marco importante para o desenvolvimento dos medicamentos a
partir de produtos naturais foi a descoberta dos salicilatos obtidos de Salix Alba
no ano de 1857. Os extratos dessa planta eram eficazes como analgésicos e
antipiréticos. Passados 141 anos FELIX HOFMANN pesquisando os efeitos
colaterais do salicilato de sódio, descobriu o ácido acetil-salicílico, que possuía
menor acidez que o ácido salicílico, mas sua propriedade analgésica desejada
foi conservada9.
Outro fato marcante que pode ser usado como exemplo para este vasto
assunto, foi a descoberta dos alcaloides de Cinchona e de Papaver. O ópio,
preparado dos bulbos de Papaver somniferum, é conhecido e utilizado há
séculos por suas propriedades soníferas e analgésicas10.
Uma substância natural de origem oriental que até atualmente
demonstra originalidade e complexidade estruturais que permitem inspirar
novos fármacos úteis para tratamento da malária, importante doença tropical, é
a artemisinina uma substância isolada de Artemisia annua, planta muito
conhecida e utilizada na medicina chinesa, que se tornou um importante
protótipo antimalárico em vários países que procuram tratamento para esta
doença negligenciada11. Portanto, devido à sua baixa solubilidade e
propriedades farmacocinéticas inadequadas ao uso terapêutico, várias
substâncias análogas modificadas foram sintetizadas e testadas.
De modo geral, a natureza é a responsável pela produção da maioria
das substâncias orgânicas conhecidas, portanto, o reino vegetal é o principal
responsável pela maior parcela da diversidade química conhecida e registrada
na literatura. A variedade e a complexidade das micromoléculas que
constituem os metabólitos secundários de plantas e organismos marinhos
ainda são inacessíveis por métodos laboratoriais. Devido à consequência direta
de milhões de anos de evolução, atingindo um refinamento elevado de formas
de proteção e resistência às condições climáticas extremas, poluição e
predadores12.
Durante as últimas décadas, os produtos naturais vêm recuperando
espaço e importância na indústria farmacêutica como fonte inspiradora de
novas substâncias moleculares bioativas. Na Europa, a fitoterapia já é parte da
medicina tradicional, sendo que extratos de plantas e componentes ativos,
além de produtos medicinais acabados, estão descritos em muitas
farmacopéias1.
Existe uma distância entre o estado da arte da Química de Produtos
Naturais praticada nos países desenvolvidos e o Brasil, entretanto não nos
compromete efetivamente. Os grupos de pesquisas atuais não só mudaram o
enfoque básico, como também diversificaram suas pesquisas.
A Química de Produtos Naturais é o ramo da Química Orgânica
responsável pelo isolamento e caracterização de substâncias naturais
produzidas através do metabolismo secundário de plantas, micro-organismos e
animais marinhos. Os estudos nesta área são considerados estratégicos por
envolver o conhecimento da biodiversidade num sentido amplo, além de
fornecer fontes renováveis de substâncias com importância nas diversas áreas
da ciência e tecnologia. Dentro desse contexto, a linha de pesquisa de Química
de Produtos Naturais desse projeto envolve a investigação química,
farmacológica e biológica de plantas medicinais da região de Divinópolis.

2. JUSTIFICATIVA

A realização deste projeto é justificada tanto pelos aspectos sociais


quanto pelos aspectos técnico-científicos.
Como descrito na introdução, considerando o fato de grande parte das
famílias rurais optarem pelo uso de planas medicinais amplamente disponíveis
nas localidades, percebe-se a necessidade de descobrir a eficácia destes
medicamentos utilizados e as diferentes técnicas de uso das mesmas.
Em conversa informal com profissionais da educação da comunidade em
questão, foi despertado o interesse de pesquisar sobre do conhecimento
popular com o uso de plantas medicinais, procurando unir o conhecimento
popular com o científico, visando o enriquecimento da cultura dos participantes
sobre a utilização dessa prática e contribuindo para o conhecimento da
comunidade local.
Outro fator importante que merece destaque é o crescimento do
conhecimento científico e tecnológico de alunos do curso de química da
UEMG, através da pesquisa bibliográfica, da prática de métodos de extração,
separação, purificação e de identificação de substâncias por meio de
caracterização por análises orgânicas.

3. OBJETIVOS

3. 1. Objetivo geral

Promover o conhecimento das Plantas Medicinas cultivadas/utilizadas


na comunidade do Choro, bem como seus princípios ativos e outras
substâncias que venham interferir no seu mecanismo de ação. Identificar
substâncias ativas de algumas plantas que possam ser desconhecidas na
literatura.

3.2. Objetivos específicos


a) Instruir, informar e sensibilizar a comunidade sobre o conhecimento, uso
adequado e manipulação das Plantas Medicinais, demonstrando a importância
da compreensão dos princípios ativos e mecanismos de ação das Plantas.
b) Contribuir para o conhecimento das Plantas Medicinais cultivadas na
comunidade do Choro.
c) Formar cidadãos multiplicadores e capazes de atuar no processo de
construção de conhecimentos e pesquisa, propiciando melhorias no ensino,
promovendo ações de extensão.
d) Firmar a relação entre pesquisa, ensino e extensão na UEMG por meio da
divulgação dos resultados obtidos.

4. METODOLOGIA

4.1. Criação, validação e aplicação Questionário.


Na primeira etapa, o aluno bolsista juntamente com o professor
orientador irá criar um questionário específico para conhecer as plantas
medicinais utilizadas na comunidade e em quais situações são utilizadas. Em
seguida, fará a validação do questionário. Posteriormente, será feita a visita na
comunidade para divulgação e esclarecimento da proposta, na qual o
questionário será aplicado.

4.2 Tratamento dos dados do questionário e estudo do princípio ativo de


cada planta.
Nesse momento, o aluno irá tratar os dados do questionário fazendo um
levantamento das plantas medicinais utilizadas, como e para qual finalidade
são utilizadas, organizando todas essas informações em forma de tabelas e
gráficos. Será realizada pesquisa científica, em sites confiáveis, para o estudo
dos seus princípios ativos e mecanismos de ação.
4.3 Extração, separação, purificação e identificação de substâncias ativas
das plantas medicinais desconhecidas.
As plantas que não possuam princípios ativos conhecidos na literatura, o
aluno irá para o laboratório realizar a extração, separação e purificação de suas
substâncias ativas. Essas amostras serão analisadas por métodos
espectroscópicos como massas, ressonância magnética nuclear, infravermelho
e ultravioleta com a finalidade de identificação e caracterização das mesmas.

4.4 Produto final apresentado a comunidade.


Será realizado um novo encontro na comunidade para informação e
orientação quanto aos princípios ativos e mecanismo de ação das plantas
utilizadas com fins medicinais. Essa etapa será feita empregando um
vocabulário simples para que todos participantes entendam facilmente.

5. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
ATIVIDADES Trimestres
1º 2º 3º 4º
Levantamento Bibliográfico e visita a X
comunidade.
Construção, validação e aplicação do X
questionário.
Tratamento dos dados do questionário. X
Estudo do princípio ativo de cada planta X X
através de pesquisas científicas.
Extração e identificação dos princípios ativos X X
das plantas que não foram encontrados na
literatura.
Feedback com a comunidade. X
Escrita e publicação de trabalho para X X X
apresentação em encontros científicos e/ou
Congressos de Química.
6. ORÇAMENTO

ITENS CONDENSADOS Valor em R$

MATERIAL DE CONSUMO (Solventes e sílicas) 500,00

DESPESAS COM SUJEITOS DA PESQUISA (transporte, 100,00


alimentação na comunidade do Choro)

TOTAL 600,00

7. FONTE FINANCIADORA

Este trabalho contará com a colaboração da Escola Municipal Emílio


Ribas que se localiza na comunidade do Choro para que possamos firmar
contato com os participantes que serão os pais de alunos.
As extrações, separações e purificações das substâncias ativas serão
realizadas no laboratório de Química da UEMG – Fundação Educacional de
Divinópolis.
As análises de massas, ressonância magnética nuclear, infravermelho e
ultravioleta serão obtidas na Universidade Federal de São João Del Rey
(UFSJ- Campus Centro Oeste-Dona Lindu) com a colaboração do professor
José Augusto Ferreira Perez Villar.

8. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

1 VIEGAS, C. J, E BOLZANI, V.S., BARREIRO, E.J. Os produtos


naturais e a química medicinal moderna. Quim. Nova. 2006; v.29 (2),
326-337.

2 VEIGA, V. F., PINTO, A.C. Plantas Medicinais: cura segura? Quím.


Nova. 2005; v. 28 (3), 519-528.
3 BRASIL. Lei 6364. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Brasília, DF: Congresso Nacional, 1996.

4 CAVAGLIER, M. C. S., Messeder, J. C., Plantas Medicinais no Ensino


de Química e Biologia: Propostas Interdisciplinares na Educação de
Jovens e Adultos. RBPEC, 2014; 14 (1), 55-71.

5 FURLAM, M. R. Cultivo de Plantas Medicinais. Coleção


Agroindústria, v.13. Ed. SEBRAE-Cuiabá. Mato Grosso. 1998, 137p.
6 ACCORSI, W. R. Programa de plantas medicinais e fitoterapia:
Medicina polpular e Fitoterapia. Ed. Cursos Agrozootécnicos
ESALQUSP. Piracicaba-SP. 1994. 81p.

7 YUNES, R. A.; CECHINEL F, V.; Em Plantas medicinais sob a ótica


da química medicinal moderna; Yunes, R. A.; Calixto, J. B., eds.; 1a
ed.; Ed. Argos: Chapecó, 2001, cap. 1.

8 SEABRA, A. P., MORS, W. B. A moderna química de produtos


naturais no Brasil: as origens do Núcleo de Pesquisas de Produtos
Naturais da UFRJ. História, Ciências, Saúde. Manguinhos. Rio de
Janeiro. 2007. v. 14 (1), 347-362.

9 YUNES, R. A.; PEDROSA, R. C.; Cechinel Filho,V.; Fármacos e


fitoteápicos: A necessidade do desenvolvimento da indústria de
fitoterápicos e fitofármacos no Brasil. Quim. Nova, 2001, 24, 147-152.

10 HOSTETTMANN, K.; QUEIROZ, E. F.; VIEIRA, P. C.; Princípios ativos


de plantas superiores, EdUFSCar: São Carlos, 2003.

11 ROBERT, A.; MEUNIER, B.; Is alkylation the main mechanism of


action of the antimalarial drug. Chem. Soc. Rev. 1998, 27, 273-279.

12 MONTANARI, C. A.; BOLZANIi, V. S.; Planejamento Racional de


Fármacos Baseado em Produtos Naturais. Quim. Nova, 2001, 24,
105.

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