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Amir Hussein Arnous1 , Antonio Sousa Santos2, Rosana Passos Cambraia Beinner3
1
Enfermeiro Especialista da Equipe do Programa Saúde da Família (PSF), Secretaria Municipal de Saúde de Datas (MG)
2
Mestre em Ciências Farmacêuticas, Professor do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências da Saúde -
Faculdades Federais Integradas de Diamantina – FAFEID
3
Doutora em Psicobiologia, Professora de Saúde Ambiental, Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências da
Saúde, Faculdades Federais Integradas de Diamantina – FAFEID. Correspondência: Faculdade de Ciências da Saúde, Grupo
JEQUI Saúde Coletiva, rua da Glória 187, Centro, Diamantina, Minas Gerais, 39100-000 Brasil. Telefone: 55 38 3531-1811, E-
mail: rosabeinner@fafeid.edu.br
Resumo
Com o desenvolvimento da tecnologia aliado ao interesse em se confirmar o conhecimento em
medicina popular, as plantas medicinais têm tido seu valor terapêutico pesquisado mais intensamente
pela ciência. A avaliação do grau de conhecimento desta terapêutica alternativa, em uma localidade
típica da região sudeste brasileira, revela o interesse comunitário na sua utilização. Os objetivos
desse estudo foram verificar o conhecimento e o uso popular de plantas medicinais, estimar a
satisfação com esta terapia e identificar meios de obtenção e de utilização. Foi aplicado um
questionário direcionado a uma amostra da população de Datas/MG, abordando socio-economia,
plantas conhecidas, motivo para uso, obtenção, forma de preparo e utilização, comprovação de
resultados e interesse em cultivar uma horta medicinal comunitária. Cerca de 80 plantas foram
citadas pelo conjunto dos entrevistados, destes, 83,6% acreditam que o tratamento com plantas
medicinais seja eficaz e 78,5% das pessoas cultivam algumas plantas medicinais em seus quintais e
jardins. Os profissionais de saúde da família, em especial os enfermeiros atuando localmente, devem
estar mais bem preparados para lidar com o uso popular de plantas medicinais, esclarecendo aos
usuários a forma correta de preparo e armazenagem das plantas, obtendo assim resultados
satisfatórios nos tratamentos. A comunidade mostrou interesse em participar de uma horta
comunitária e de grupos de discussão sobre o assunto, o que nos leva a considerar a possibilidade
de elaboração de um programa municipal que assista aos interessados no cultivo de plantas
medicinais e no uso doméstico assistido por profissionais de saúde.
Palavras-chaves: Desenvolvimento da Comunidade, Etnofarmacologia, Plantas Medicinais.
Abstract
With the development of technology and interest in confirming knowledge about popular medicine,
medicinal plants are having its researched therapeutic value considered by the science. The
evaluation of the degree of knowledge of this alternative therapeutics in a typical town of the Brazilian
southeast area, shows the interest of the local population to the health promotion with the use of
herbs. The aim of this study was to verify the popular knowledge and use of herbal medicines in a
community; to evaluate the satisfaction with herbal medicines; to identify where the material are
obtained and this forms of use. In order to study these parameters, a survey in Data/MG approaching
years of study, family income, and types of well-known plants, forms of preparation and use,
confirmation of results, reason for use and interest in cultivating a community medicinal garden was
performed. The sampled population identified more than 80 well-known herbs, 83.6% believe that the
treatment with herbal medicines is effective and 78.5% of the people regularly cultivate medicinal
plants in their back yards and gardens. Family health professionals should be prepared to work with
herbal medicines, to teach the users how to better cultivate, how to prepare and how to store these
products satisfactorily. The population demonstrated an interest in creating a community vegetable
garden as well as the elaboration of a local medicinal garden with the participation of health
professional involvement for community.
Key words: Community development, Ethnopharmacology, Herbal Medicine.
INTRODUÇÃO
O aproveitamento adequado dos
Segundo a Resolução da Diretoria princípios ativos de uma planta exige o
Colegiada no. 48/2004 da Agência Nacional de preparo correto, ou seja, para cada parte a ser
Vigilância Sanitária – ANVISA1, fitoterápicos usada, grupo de princípio ativo a ser extraído
são medicamentos preparados exclusivamente ou doença a ser tratada, existe forma de
com plantas ou partes de plantas medicinais preparo e uso mais adequados. Os efeitos
(raízes, cascas, folhas, flores, frutos ou colaterais são poucos na utilização dos
sementes), que possuem propriedades fitoterápicos, desde que utilizados na dosagem
reconhecidas de cura, prevenção, diagnóstico correta. A maioria dos efeitos colaterais
ou tratamento sintomático de doenças, conhecidos, registrados para plantas
validadas em estudos etnofarmacológicos, medicinais, são extrínsecos à preparação6 e
documentações tecnocientíficas ou ensaios estão relacionados a diversos problemas de
clínicos de fase 3. Com o desenvolvimento da processamento, tais como identificação
ciência e da tecnologia as plantas medicinais incorreta das plantas, necessidade de
estão tendo seu valor terapêutico pesquisado padronização, prática deficiente de
e ratificado pela ciência e vem crescendo sua processamento, contaminação, substituição e
utilização recomendada por profissionais de adulteração de plantas, preparação e/ou
saúde. dosagem incorretas.
Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v.6, n.2, p.1-6, jun. 2005 3
www.ccs.uel.br/espacoparasaude
Arnous, A.H, Santos A.S, Beinner, R.P.C
talvez por isso buscando tratamentos de baixo deles acreditam que o tratamento com plantas
custo ou que não façam mal (figura 1A), com medicinais seja eficaz (figura 2B).
61,2% das pessoas afirmando que o
tratamento não faz mal. Dos envolvidos na Sobre o preparo, 376 entrevistados
pesquisa, 84,5% afirmaram ter aprendido (75,2%) referiram-se ao chá das plantas
sobre as plantas medicinais com seus medicinais, o que revela o fato de que na
ascendentes (pais e avós principalmente) e maioria das vezes a planta é utilizada de forma
apenas uma pessoa (0,2%) relatou ter errônea porque só as partes duras (raiz, caule
aprendido com um profissional de saúde e casca) devem ser cozidas. Verificou-se que
(figura 1B). Outra informação interessante é 99,2% dos entrevistados apreciaram a idéia de
que 78,5% das pessoas possuem o hábito de criar uma horta medicinal comunitária (figura
cultivar as plantas medicinais em seus quintais 2C) e se mostraram entusiasmados com o
e jardins e 38,2% também adquirem nos assunto.
quintais dos vizinhos e amigos, enquanto
apenas 3 essoas relataram que compram as
EM CASO DE DOENÇA RECORRE
plantas (figura 1C). A
500
400 330
Entrevistados
RENDA FAMILIAR 300
A 154
200
500
Entrevistados
359 100
6 4 3 3
400
0
300 Médico Plantas Enfermeiro Vizinho Benzedeira Balconista
200 108 Medicinais farmácia
100 15 5 13
0
Até 1 S.M. 1 a 3 S.M. 3 a 5 S.M. + 5 S.M. Não
informado
RESULTADOS SATISFATÓRIOS B
Salário Mínimo
500 417
Entrevistados
400
FORMA DE APRENDIZAGEM 300
500 422
B
200
400
78
100
Entrevistados
3 2
300 0
200 Sempre Nunca Às vezes Não
65 determinado
100 12
1
0
Ascendentes Outros Profissional de Não
(Pais, Avós, saúde determinado
Tios)
INTERESSE EM CULTIVO C
DE PLANTAS
496 MEDICINAIS
500
Entrevistados
AQUISIÇÃO DA PLANTA
C 400
300
Entrevistados
500 392
400
300 191 200
200 108 100
100 3
0 0
vizinhos/ami
No mato
Compra
Quintal
Sim Não
Quintal
gos
Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v.6, n.2, p.1-6, jun. 2005 5
www.ccs.uel.br/espacoparasaude
Arnous, A.H, Santos A.S, Beinner, R.P.C
promoção da saúde no nível local. enfermagem comunitária. Rev Esc Enf USP
1983; 17(3):275.
CONCLUSÃO 5 - Nakazawa TA. Particularidades de
formulações para fitoterápicos. Rev Racine
A população deveria ser mais bem 1999; 9(53):38-41.
informada quanto as formas de preparo das 6 - Calixto JB. Efficacy, safety, quality control,
plantas medicinais mais comumente utilizadas. marketing and regulatory guidelines for herbal
O preparo sob a forma de cozimento é medicines (phytotherapeutic agents). Braz J
geralmente utilizado de forma errônea, pois Med Biol Res 2000; 33(2):179-89.
somente a raiz, o caule e a casca (partes 7 - Brandão MGL, Freire N, Vianna-Soares
duras) devem ser cozidos17. CD. Fiscalização de fitoterápicos no estado de
Minas Gerais. Avaliação de qualidade de
amostras comerciais de camomila. Cad Saude
Constata-se a importância para o Pública 1998; 14(3):613-6.
profissional de saúde, do conhecimento básico 8 - Rudder EAMC. Guia compacto das plantas
sobre plantas medicinais e fitoterapia e medicinais. Editora Rideel. 2002; 478.
principalmente quanto aos costumes da 9 - Cortez LER, Cortez DAG. Plantas tóxicas.
população. Recomenda-se que estudos em Rev Racine 2000; 10(55):48-53.
saúde alternativa sejam incluídos no currículo 10 - Prefeitura Municipal de Datas, Minas
dos cursos de saúde18. Isto poderia ser feito Gerais. Secretaria de Agricultura e Meio
sem exaustivo aumento nos fatos ensinados, e Ambiente. Administração 1997-2000.
poderia servir para introduzir idéias mais 11 - Cortez LER, Jacomosi E, Cortez DAG.
amplas contidas nas terapias alternativas. Levantamento das plantas medicinais
utilizadas na medicina popular de Umuarama,
É desejo da comunidade investigada PR. Arq Ciencia Saude UNIPAR 1999; 3(2):97-
participar de uma horta comunitária para 104.
cultivo de plantas de emprego medicinal. Os 12 - Santos MG, Dias AGP, Martins MM.
profissionais de saúde precisam ser mais bem Conhecimento e uso da medicina alternativa
preparados pelas instituições formadores para entre alunos e professores de 1ª grau. Rev
fornecer suporte comunitário no emprego de Saúde Pública 1995; 29(3):221-7.
plantas medicinais e fitoterápicos, propiciando 13 - Mahabir D, Gulliford MG. Use of medicinal
melhoria da saúde com produtos de baixo plants for diabetes in Trinidade and Tobago.
custo e resgatando valores da cultura popular. Rev Panam Salud Publica 1997; 1(3):174-9.
Devem para isso também contar com o 14 - Machado PV, Botsaris AS. Guia de saúde
suporte dos gestores públicos para e orientação terapêutica. Monteiro da Silva, J
implantação e manutenção de programas Flora Med 1999; 1(1).
locais, com participação de profissionais e 15 - Bauer BA. Herbal Therapy: what a
agentes comunitários em integração com a clinician needs to know to counsel patients
comunidade. effectively. Mayo Clin Proc 2000; 75(8):835-41.
A participação social na produção da 16 - Armstrong D. A survey of community
‘farmácia verde’ comunitária deve ser gardens in upstate New York: Implications for
estimulada, com envolvimento das prefeituras, health promotion and community development.
secretarias de saúde e agricultura, Health Place 2000; 6(4):319-27.
associações comunitárias e instituições de 17 - Martins ER, Castro DM, Castellani DC,
ensino, pesquisa e extensão, para Dias JE. Plantas Medicinais. Universidade
aproveitamento integral dos benefícios. Federal de Viçosa - UFV, Imprensa
Universitária 1994; 1-29.
18 - Rampes H, Sharples F, Maragh S, Fisher
REFERÊNCIAS P. Introducing complementary medicine into
the medical curriculum. J R Soc Med 1997;
90(1):19-22.
Sanitária. Resolução RDC n° 48, de 16 de
1 - Brasil. Agência Nacional de Vigilância