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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ABORDADA NOS LIVROS

DIDÁTICOS DE QUÍMICA UTILIZADOS NO ENSINO MÉDIO

Environmental education approaches in the chemical textbooks


used in high school

Flávia Danielle Vieira Sousa1


Carlos Alexandre Vieira2

Resumo: Os objetivos desse trabalho são averiguar como os itens do contexto ambiental são
abordados nos livros didáticos de química, oferecidos pelo PNLD/2018, mais usados pelas
escolas de ensino médio de Divinópolis-MG. No Brasil, a Educação ambiental foi
implementada através da Lei 9.795, que instituiu seu ensino formal e informal no país, e pelos
Parâmetros curriculares nacionais, que tem por objetivo integrar a temática ambiental nas
disciplinas estudadas no ensino médio. A disciplina de química possibilita o trabalho de um
conteúdo que pode ser facilmente relacionado com a educação ambiental, tão importante tanto
para a construção científica quanto social. Cidadãos bem formados nos conceitos ambientais,
se tornam cidadãos críticos e responsáveis pelo meio ambiente. Os resultados mostraram que
abordagens ambientais enriquecidas foram usadas pelos autores, no entanto muitas ilustrações
foram usadas com função decorativa, aulas práticas da temática ambiental se mostraram
insuficientes e a contextualização de conteúdo analisado não foi satisfatória.

Palavras chaves: Meio ambiente, livro didático, ensino de química, ensino médio.

Abstract: The objectives of this work are the performance indicators as the elements of the
environmental context are approached in the chemical textbooks presented by the PNLD /
2018, most used by the high schools of Divinópolis-MG. In Brazil, environmental education
was implemented through Law 9.795, which instituted its formal and informal education in
the country, and the national curricular parameters, which aims to integrate the environmental
theme in the subjects studied in high school. The discipline of chemistry makes possible the
work of content that can be easily related to environmental education, as important for both
scientific and social construction. Well-educated citizens in environmental concepts become
critical and responsible for the environment. The results showed that enriched environmental
approaches were used by the authors, however many illustrations were used with decorative
function, practical classes were insufficient and contextualization of analyzed content was not
satisfactory.

Keywords: Environment, textbook, chemistry teaching, high school.

__________________________________________________
1 Graduanda em Química – Licenciatura pela Universidade do Estado de Minas Gerais
(UEMG). Av. Paraná, 3001 – Jardim Belvedere, Divinópolis – MG, 35501-170.
flavia.biomedicina@gmail.com.
2 Doutor em Ciências – Docente no curso de Química da Universidade do Estado de Minas
Gerais – Divinópolis, MG.
Introdução

Desde sua origem, o ser humano encontrou uma forma de interferir e modificar o
ambiente a sua volta no intuito de satisfazer suas necessidades, mesmo que essa alteração se
mostrasse prejudicial a longo prazo. O tipo de associação que o homem mantêm com o
ambiente tem sido a principal responsável pelos impactos ambientais que o mundo tem
enfrentando hoje, pois ao longo do desenvolvimento da espécie humana, uma relação de
exploração foi estabelecia com a natureza (DIAS et al., 2016).
O surgimento do processo de urbanização e a revolução industrial foram marcos na
modificação do ambiente pela ação antrópica, principalmente pelo fato do uso de recursos
naturais ter aumentado exponencialmente. A evolução ao longo das últimas décadas foi
responsável pelo crescimento da população mundial e pela melhoria na qualidade de vida, no
entanto esse desenvolvimento tem custado muito caro ao ambiente, provocando a
vulnerabilidade dos ecossistemas (SOUSA et al., 2008).
Problemas sociais e econômicos têm aumentado devido a crise ambiental que se
instala no mundo hoje. O modo de vida, chamado por muitos de ‘ideal’, difundido
amplamente por nações desenvolvidas, têm se mostrado escravo do consumismo e
ecologicamente insustentável. Isso demonstra a necessidade de planos e ações, por parte não
só do Poder público, mas da sociedade em geral, para diminuir ou eliminar esse desequilíbrio
ecossistêmico (LOPES, 2013).
Na década de 1950 desastres ambientais, como o smoog fotoquímico, um tipo de
poluição atmosférica onde uma nuvem escura constituída de fumaça, neblina, ar, gases
poluentes e material particulado, resultante da queima descontrolada de combustíveis fósseis,
que atingiu a cidade de Londres e causou a morte de, estima-se, 12.000 pessoas, chamou a
atenção dos governos internacionais, que promoveram uma série de conferências ao redor do
mundo na tentativa de debater e encontrar soluções para diminuição dos impactos ambientais
(LOPES, 2013).
No Brasil só recentemente, apesar de não ser um assunto novo, os problemas
ambientais passaram a ser discutidos pelo poder público. A tentativa do Governo Federal é
utilizar de ações, para conscientizar a população, principalmente no ambiente educacional,
através de agendas e documentos institucionais, como a Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999,
que institui a Politica nacional de educação ambiental. Essa lei define a educação ambiental
como:

Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos


quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e
sua sustentabilidade.
Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e permanente da
educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os
níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.

A Lei 9.795/99 ainda discorre sobre necessidade de descentralização do processo de


ensino aprendizagem da educação ambiental, tornando-a mais ampla e responsabilizando a
sociedade como um todo da sua prática. De todas as instituições citadas, como o poder
público, órgãos nacionais de meio ambiente, meios de comunicação e empresas, entidades e
instituições de caráter público ou privado, pode-se destacar o papel fundamental das
instituições educativas, pois estas têm a função de agir como agente transformador no ser
humano e na sociedade.
No Brasil, em 1996, o Governo Federal, através do Ministério da Educação, elaborou
uma série de diretrizes, com o objetivo de orientar as instituições de ensino do país e garantir
que independente das condições socioeconômicas, crianças e jovens tenham conhecimentos
necessários para exercer sua cidadania. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
apresentam leitura, análise e contextualização de temas essenciais para construção do
aprendizado e do estudante como sujeito crítico, no entanto não possuem caráter de
obrigatoriedade (GARCIA, 2011).
O documento que constitui os PCNs é um importante aliado no ensino de ciência, pois
organiza o ensino de disciplinas de forma que estas estejam contextualizadas com temas
presentes no cotidiano do estudante, como por exemplo a problemática ambiental. O essencial
é que na qualidade de facilitador no processo de aprendizagem, o docente proporcione ao
discente as condições de compreensão dos princípios científicos, utilizando-se de questões
com relevância social, que contribuirão com sua formação cidadã.
Quando vista como um grupamento de atitudes e comportamentos, que tem por
objetivo a mudança de padrões e princípios morais, e que visa a construção de uma sociedade
mais ecológica e sustentável, a educação ambiental na escola representa um papel
indispensável no desenvolvimento do estudante (LOPES, 2013).
É indiscutível a importância de uma educação ambiental de qualidade, que forme
cidadãos mais críticos e responsáveis para com o ambiente em que vivem. Para que isso seja
possível é essencial que a questão ambiental seja amplamente discutida nas mais diversas
esferas sociais, principalmente no contexto escolar, que tem condições de estimular os
estudantes e a comunidade a sua volta a construir uma nova visão mais ampla sobre o cuidado
e o respeito ao meio ambiente. É necessário destacar que ao ser estudada nas escolas, a
educação ambiental não deve ser tratada como algo a ser somado às disciplinas já existentes,
mas sim como um tema que já faz parte das matérias que tratam da ciência, da relação do
homem com a sociedade, necessitando assim de interdisciplinaridade (CRIBB, 2010).
A formação do docente, sua história e trajetória acadêmica também são auxiliares no
processo de ensino e aprendizagem. De acordo com a Lei 9.975/99, para que seja bem
abordada nas outras esferas do ensino, a educação ambiental também deve ser trabalhada na
formação de professores. A lei vai além, ao estabelecer que não se devem constar apenas
disciplinas específicas sobre o tema na grade curricular do curso, mas que a problemática
ambiental também deve ser trabalhada em todas as suas nuances, nas mais diversas matérias e
que “os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de
atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e
objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental”, evidenciando a importância de uma
formação continuada.
Quando o professor de química começa a lecionar, é essencial que se construa uma
metodologia de trabalho, utilizando-se recursos disponíveis. Todo material, quando bem
utilizado, pode enriquecer a aula, proporcionando melhor aprendizado para o estudante.
Dentre os diversos recursos que podem ser explorados está o livro didático, material acessível,
fornecido gratuitamente pelo Governo Estadual.
O livro didático deve ser usado pelo professor como uma ferramenta de apoio no
processo de ensino-aprendizagem, de modo que o estudante, ao final do ensino médio domine
conhecimentos básicos de processos científicos, processos tecnológicos, uso de linguagem
adequado, dentre outros. No entanto, para que isso seja possível, é imprescindível que o livro
escolhido esteja adequado às propostas de ensino, apresentando informações corretas e
atualizadas (FNDE, 2018). Um bom material didático, deve estimular estudantes e professores
na busca de informações e na construção de um prensamento crítico e investigativo. Para isso,
a escolha da coleção de livros usadas nesses 3 anos de ensino médio, é de grande
responsabilidade, podendo ser um dos fatores que definirão a organização do trabalho docente
e a efetividade do seu ensino.
O Governo Federal, através do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE) possui um programa, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que oferece
às escolas várias coleções de livros, que foram previamente avaliados por renomadas
instituições de ensino superior, para que os professores façam opção pela coletânea que
ofereça a melhor metodologia, abordem do conteúdo e que os mesmos sejam contextualizados
com a realidade dos estudantes daquela localidade. Após a seleção do material, o FNDE em
parceria com os correios, entrega as obras paras que as escolas distribuam para os discentes.
Diante do exposto, averiguar como a educação ambiental é abordada nos livros
didáticos de química, utilizados no ensino médio, se torna relevante, principalmente pela
relação que a mesma tem com a economia, saúde, qualidade de vida e para o desenvolvimento
de um indivíduo consciente e harmônico com o ambiente que o rodeia.
Devido a situação que o planeta se encontra, rodeado por desastres ambientais, que são
fruto, que podem ser fruto da ação antropogênica, é importante que os livros didáticos
contemplem de forma contextualizada temas ambientais. Sabe-se que educação possui caráter
transformador e pode ser usada pelos educadores, principalmente na área ambiental, para
promover uma mudança de pensamento que envolva a sociedade e que incentive um cuidado
maior com o meio ambiente.
Para Marpica e Logarezzi (2010) o número de trabalhos que trata sobre educação
ambiental no livro didático ainda é baixo, o que é preocupante, visto que o livro didático pode
ser usado como aliado no aprendizado das questões ambientais em sala de aula, se abordar a
temática de forma correta. Consiste em um material visto por grande maioria como de fácil
acesso, porém o governo investe muito dinheiro público para sua aquisição e distribuição.
Pesquisas na área podem auxiliar na melhoria do livro didático, e quem sabe, em um futuro
próximo, esse material possa tratar a educação ambiental de forma transformadora,
problematizadora e crítica.

Material e métodos

Seis coleções de livros didáticos de química foram aprovadas no PNLD/2018 e


enviadas para análises dos professores da rede pública de ensino. Dessas coleções, foram
usadas nesse estudo apenas 2, utilizando como critério de seleção a análise das coleções mais
usadas nas 19 escolas públicas da rede estadual que oferecem ensino médio em
Divinópolis/MG. Foram excluídas escolas que oferecem apenas o programa Educação de
Jovens e Adultos (EJA), por possuírem um material diferente do ofertado ao ensino médio
regular.
Utilizando o sistema do material didático, disponível no site do FNDE, foram
pesquisados os livros da disciplina de química, escolhidos pela equipe de professores de 19
escolas da rede Estadual de Divinópolis e oferecidos pelo Programa Nacional do Livro
Didático 2018 (PNLD). Das 19 escolas verificadas, 18 escolheram a coleção Ser Protagonista
da Editora SM e 1 escolheu a Coleção Química da Editora Scipione. No total, foram
analisados 6 livros, 3 de cada coleção. Ao longo desse trabalho, as coleções trabalhadas foram
nomeadas de Coleção A (Ser Protagonista da editora SM) e Coleção B (Química da Editora
Scipione), com o objetivo de facilitar a leitura.
Os pontos analisados foram o tipo de abordagem da temática ambiental, explicações
ilustrativas, atividades práticas propostas e a contextualização do tema. O tipo de abordagem
utilizada foi dividida em simples, quando o assunto é apenas citado; enriquecida, quando o
tema tem informações adicionais, que permitem o professor trabalhar o assunto dentro do
conteúdo ministrado; e ampliado, quando além de trazer informações adicionais, o assunto
pode ser trabalhado de forma satisfatória, trazendo reflexão e discussões a respeito do tema.
As ilustrações, atividades práticas e contextualização do conteúdo, foram analisadas
quanto a sua presença ou ausência. Foi considerado como conteúdo contextualizado aquele
que trabalhou valores de forma social, econômica ou cultural na temática ambiental, que foi
além de expor fatos cotidianos, incentivando a discussão e reflexão do tema.
Os dados analisados foram dispostos em tabelas, divididas em número total, tipo de
abordagem, explicações ilustrativas, atividades práticas e contextualização. A análise foi
realizada com base nas tabelas propostas por Monteiro e Justi (2016), que pesquisaram
analogias em livros didáticos de química, destinados ao ensino médio, usando critérios
semelhantes, porém adaptados para os objetivos deste trabalho.

Resultados e discussão

A coleção A é dividida em 12 unidades e 40 capítulos (L1: 14 capítulos, L2: 13


capítulos e L3: 13 capítulos). No início de cada unidade existe um texto e uma ilustração
referente ao tema que abordado nos próximos capítulos e 2 ou 3 questões que tem o intuito de
propiciar ao leitor ruma reflexão sobre o tema trabalhado. Na organização do livro,
encontram-se seções, boxes, projetos e atividades especiais, que tem o objetivo de mostrar a
química trabalhada em cooperação com outras disciplinas, difundir textos de cunho social que
estimulem a reação e posicionamento dos discentes, mostrar como alguns conceitos foram
construídos através da história, propor atividades experimentais e sugerir atividades que
envolvam a comunidade escolar.
A coleção B possui 20 capítulos distribuídos por seus 3 livros (L1: 9 capítulos, L2: 6
capítulos e L3: 5 capítulos). Possui texto e ilustração no início de cada capítulo, introduzindo
o conteúdo que será tratado. Na organização da coleção, encontram se questões que
antecedem o tema trabalhado, permitindo o estudante a formular hipóteses, informações
adicionais trazendo textos de circulação em boxes, seções de investigação, que propõem
atividades de pesquisa e raciocínio e projetos com a finalidade de trabalhar temas propostos
de forma mais ampla.
Um total de 23 temas foram considerados nas duas coleções: Acidentes ambientais,
Aquecimento Global, Camada de ozônio, Chuva ácida, Compostos poluentes, Contaminação
por metais, Efeito estufa, Energia Nuclear, Fertilizantes e agrotóxicos, Fontes de energia,
Lixo, Materiais biodegradáveis, Plásticos, Poluição Atmosférica, Poluição hídrica, Poluição
Térmica, Políticas Públicas Ambientais, Produtos menos poluentes, Qualidade da água,
Química verde, Reciclagem, Solo e Tratamento de água. A coleção A apresentou um total de
110 abordagens, enquanto a coleção B, 88, como podem ser verificados nas tabelas 1 e 2,
dispostas abaixo.
Tabela 1: Análise da Coleção A.

Assuntos nº Tipo de Abordagem Explicação Atividades Contextualização


Simples Enriquecida Ampliada ilustrativa práticas
Acidentes 8 1 7 - 5 - 1
ambientais
Aquecimento 10 4 4 2 1 - -
Global
Camada de 2 1 1 - 1 - -
ozônio
Chuva ácida 2 1 - 1 2 - 1
Compostos 3 1 2 - 1 - -
poluentes
Contaminação 5 2 3 - 1 - 1
por metais
Efeito estufa 10 3 5 2 3 - -
Energia Nuclear 2 - 2 - 2 - -
Fertilizantes e 2 - 1 1 1 - -
agrotóxicos
Fontes de 6 1 2 3 1 - 1
energia
Lixo 6 1 3 2 4 2 3
Materiais 4 2 1 1 2 - -
biodegradáveis
Plásticos 6 - 1 5 4 2 2

Políticas 1 - - 1 1 - 1
Públicas
Ambientais
Poluição 10 3 6 1 4 - 2
Atmosférica
Poluição hídrica 5 1 4 - 2 - 2
Poluição 2 1 1 - 2 - -
Térmica
Produtos menos 4 - 1 3 4 - 2
poluentes
Qualidade da 3 1 1 1 1 1 2
água
Química verde 2 - 1 1 2 - -
Reciclagem 6 2 1 3 4 2 2
Solo 3 2 1 - 2 - -
Tratamento de 8 1 5 2 6 1 1
água
Total 110 28 53 29 56 8 21
Fonte: Elaborada pelo autor.
Tabela 2: Análise da Coleção B.

Assuntos nº Tipo de Abordagem Explicação Atividades Contextualização


Simples Enriquecida Ampliada ilustrativa práticas
Acidentes 1 - 1 - - - -
ambientais
Aquecimento 3 - 2 1 2 - -
Global
Camada de 3 - 2 1 1 - -
ozônio
Chuva ácida 1 1 - - - - -
Compostos 2 2 - - - - -
poluentes
Contaminação 2 - 2 - 2 - -
por metais
Efeito estufa 9 1 5 3 6 - 2
Energia Nuclear 1 - 1 - 1 - -
Fertilizantes e 2 1 1 - - - 1
agrotóxicos
Fontes de 5 - 3 2 5 2 3
energia
Lixo 13 1 4 8 12 7 11
Materiais 0 - - - - - -
biodegradáveis
Plásticos 1 - - 1 1 - 1
Politicas 1 - - 1 - - -
Públicas
Ambientais
Poluição 2 - 2 - 1 - 1
Atmosférica
Poluição hídrica 5 2 2 1 3 - 3
Poluição 1 - 1 - 1 - -
Térmica
Produtos menos 4 - 3 1 1 2 1
poluentes
Qualidade da 19 1 3 15 17 8 12
água
Química verde 1 - 1 - - 1 -
Reciclagem 8 - 3 5 7 5 5
Solo 1 1 - - - - 1
Tratamento de 3 - - 3 3 1 2
água
88 10 36 42 63 26 43
Total
Fonte: Elaborada pelo autor.
A temática ambiental apresentou um total de 110 abordagens na coleção A e 88
abordagens na coleção B, estas foram distribuidas em simples, enriquecidas e ampliadas,
como pode ser visualizadas nos gráficos abaixo. Apesar da coleção A apresentar um número
maior de tratamentos da temática ambiental, a coleção B mostrou uma abordagem mais
profunda e reflexiva, evidenciada por seu maior número de abordagens ampliadas.

Abordagem Coleção A

25% 26%
Simples
Enriquecida
Ampliada

48%

Abordagem Coleção B

11%

Simples
Enriquecida
48% Ampliada

41%
A coleção A mostrou grande preocupação com temas como aquecimento global, efeito
estufa e poluição atmosférica, sendo eles os mais abordados na coleção, e apesar de
aparentemente ter dado pouca atenção as políticas públicas ambientais, possui um capítulo
que aborda o tema de forma ampliada. As políticas públicas ambientais, quando tratadas
corretamente no espaço escolar, contribuem para conscientização dos desafios
socioambientais que o mundo vem enfrentando. É importante que o professor, munido de
bons recursos, incentive os estudantes a pensar nos princípios que norteiam as políticas
ambientais e a ter uma visão crítica do tema (MELO; TRAJBER, 2007).
A coleção B tratou amplamente de temas como qualidade da água, lixo e reciclagem,
mas ignorou assuntos que tratam de materiais biodegradáveis e deu pouca atenção a temas
importantes como chuva ácida e assuntos relacionados ao solo. Apesar de ter no seu número
total uma quantidade menor de abordagens, tratou os assuntos trabalhados de forma mais
profunda, priorizando a abordagem ampliada.
Os temas ambientais foram tratados na coleção A em tópicos e quadros específicos,
mas de uma maneira bem uniforme, estando presente na maioria dos capítulos, já a coleção B
mostrou os temas com um espaçamento maior, de forma pontual, mas com capítulos inteiros
dedicados a temas ambientais, como o tratamento água, reciclagem e mudanças climalíticas. A
coleção A apresentou apenas 1 capítulo dedicado exclusivamente a questões ambientais, no
último capítulo do livro 3, intitulado de “O ser humano e o meio ambiente”, já coleção B
apresentou 5 capítulos que tratavam unicamente do conteúdo, com temas importantes como
tratamento e escassez de água, lixo urbano, efeito estufa e reciclagem.
As explicações ilustrativas foram maiores na coleção B, aparecendo 63 vezes, quando
comparadas às da coleção A, que apresentou 56. Foi possível perceber que apesar de estarem
de acordo com o tema estudado e possuírem boa identificação, uma boa parte das imagens,
nas duas coleções, tinham apenas a função estética ou explicativa e que nem sempre os textos
possuíam interação com a ilustração.
O uso de imagens como recurso didático acontece desde o século XVII, quando
imagens eram utilizadas para fazer referência a palavras e situações no estudo de latim e
outros idiomas. Nos últimos 30 anos autores têm verificado a necessidade de mudar o objetivo
da imagem no livro, não mais usando-a apenas como decorativa, mas com um caráter mais
técnico e científico. Em disciplinas da área de humanas as ilustrações ainda possuem caráter
decorativo e informativo, enquanto em disciplinas da área de exatas elas devem ser mais
técnicas (ARAÚJO, 2011).
Segundo Junior et al (2016) as ilustrações relacionadas a temas ambientais, auxiliam
na recepção do tema pelo leitor e favorece a sensibilização aos problemas gerados pela ação
do homem. Alguns temas, constituídos de apenas da linguagem verbal, podem dificultar o
entendimento de conceitos químicos, sendo extremamente importante o uso de imagens, para
representar assuntos que muitas vezes se apresentam de forma abstrata. Xavier, De Sá Freire e
Moraes (2006) acreditam que explicações ilustrativas, quando apresentadas em sintonia com o
texto base, são uma excelente ferramenta, que auxiliam na compreensão do estudante. É
importante frisar que as ilustrações sozinhas não integram uma boa metodologia de ensino,
pois não conseguem, na maioria das vezes esclarecer o suficiente.
Para Franca, Margonari e Torres Schall (2011) apesar da análise criteriosa que passa o
livro didático ao ser disponibilizado no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e da
melhora que vem ocorrendo nesse tipo de material nos últimos anos, as explicações
ilustrativas presentes nos livros ainda são, em grande parte, inadequadas e insuficientes e
estão longe de representar a realidade dos estudantes.
No que diz respeito as atividades práticas relacionadas aos temas ambientais, elas
foram exploradas na coleção B por 26 vezes, e na coleção A por 8 vezes. Atividades práticas
têm o poder de resgatar o interesse dos estudantes por determinado conteúdo, pois despertam
interesse e promovem uma maior participação e socialização. Através delas atitudes
importantes podem ser desenvolvidas, como a responsabilidade, problematização,
argumentação, reflexão, formação de um pensamento crítico, além de incentivar o trabalho
em equipe e ser uma atividade agradável, o que facilita o ensino e aprendizagem
(GOLDBACH et al., 2009).
As atividades práticas encontradas na coleção A foram muito baixas em relação a
coleção B, o que não é satisfatório para a disciplina de química, que necessita de ferramentas
visuais e concretas para o melhor entendimento da matéria. Resultados semelhantes foram
encontrados por Goldbach et al (2009) em sua pesquisa, onde concluíram que as atividades
propostas em alguns livros didáticos analisados por eles, foi considerada baixa. Eles ressaltam
que todos os livros analisados, assim como nesse trabalho, foram recomendados por
especialistas, o que torna o resultado ainda mais preocupante.
Existem vários tipos de estratégias que podem ser executadas como atividades práticas
dentro da sala de aula para o ensino da educação ambiental, como por exemplo: debates de
sobre acidentes ambientais, projetos que levarão a pesquisas e análises criticas de um
determinado problema, jogos de simulação, exploração de ambientes, análise de amostras que
podem indicar níveis de poluição, dentre outros. Medeiros (2009) realizou uma pesquisa com
estudantes e professores de uma escola particular e verificou que temas como lixo e
reciclagem eram muito trabalhados, no entanto ela percebeu que questões sociais,
relacionadas a produção excessiva de rejeitos, como o consumismo e o descarte incorreto
eram negligenciados, tornando essas atividades práticas ineficazes.
Os assuntos apareceram de forma mais contextualizada na coleção B, das 88
abordagens, 43 se encontravam contextualizadas. Na coleção A, apenas 21 abordagens, de um
total de 110, eram contextualizadas. A necessidade de se trabalhar conteúdos químicos de
forma contextualizada é preconizada pelo Ministério da Educação através dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), isto é, considerar os aspectos sociais e culturais onde os
discentes estão inseridos e relacionar com situações-problema, discutindo e trazendo soluções
com conteúdo químico para os impasses comuns no dia a dia do estudante (AMARAL; DA
SILVA XAVIER; MACIEL, 2016).
Nos livros didáticos, é muito comum que os autores apenas citem situações do
cotidiano, demonstrando como o conhecimento químico pode ser aplicado. Isso mostra como
a contextualização tem sido entendida de forma diferente aquela sugerida pelo PCN, pois a
mera ilustração de acontecimentos do dia a dia no conteúdo da disciplina de química não pode
ser classificado como ensino contextualizado (LOBATO et al 2009).
A contextualização não tem finalidade de exemplificar fatos cotidianos no ensino de
química, mas criar um ambiente propício ao desenvolvimento de valores que tratem os
aspectos sociais, culturais e econômicos de certo conteúdo. Para Wartha e Faljoni-Alario
(2005) a contextualização é uma busca por significados, que ao exporem o cotidiano,
estabeleçam um entendimento do problema em seus vários aspectos.
Wartha (2002) e Da Silva Xavier e Maciel (2016) observaram em seus trabalhos que
vários livros didáticos apenas descreviam cientificamente situações do cotidiano e os
consideravam, erroneamente, como contextualização, se tornando apenas uma transmissão de
conhecimento, e não a construção de um aprendizado significativo, que permite o estudante a
entender o mundo ao seu redor, como se é esperado.
Em sua pesquisa Caixeta de Castro Lima e Souza Silva (2010), analisaram os
parâmetros que os professores de química observavam ao escolherem o livro didático e dentre
eles os mais citados foram a contextualização, experimentação e tipo de abordagem. Em um
momento da pesquisa os professores entrevistados classificaram como um bom livro aquele
que apresenta atividades práticas que despertem interesse dos estudantes, tem boa correlação
entre prática e teoria, e apesar de pontos relacionados ao conteúdo terem sido pouco citados,
alguns professores mencionaram que o livro tratar questões ambientais, é algo que pesa na
decisão de escolhê-lo.
O livro didático deve proporcionar o estudante construir o conhecimento através da
observação da sua própria realidade, para que o aprendizado seja mais significativo e que o
conhecimento real seja ampliado de forma que os conceitos químicos possam ser aplicados no
dia a dia conscientemente. Para que isso aconteça, o livro didático trabalhado em sala de aula
deve ser bem escolhido, levando em conta a realidade local do estudante, no entanto observa-
se que quando se trata da escolha do livro didático, não existe um consenso, mesmo porque
existem realidades diferentes que devem ser analisadas (SANTOS, 2006).

Considerações Finais

É perceptível que muitas das vezes os livros se limitam a apenas dar informações
relacionadas ao meio ambiente e chamar essa abordagem de educação ambiental. No entanto,
a educação ambiental vai muito além disso, engloba uma percepção do meio ambiente por
uma ótica social, um posicionamento frente a questões atuais, que podem ser instigadas e
trabalhadas com o apoio do livro didático, levando o estudante a ter a capacidade de resolver
ou amenizar problemas ambientais com ações coletivas ou individuais.
O livro didático é um recurso que reúne uma gama de conhecimentos científicos e
através de saberes pedagógicos, os torna compreensíveis aos discentes. Pode ser classificado
como um dos únicos recursos disponíveis no qual a maioria dos estudantes tem acesso, por
isso ele deve ser tratado como um material de grande importância, auxiliar no processo de
ensino-aprendizagem, e criteriosamente escolhido, de forma que o contexto que o estudante se
encontra seja considerado.
Nos livros analisados foi possível observar que as duas coleções trouxerem muitas
informações enriquecidas e ampliadas, não se limitando a apenas citar assuntos referentes a
temática ambiental. Reportagens de circulação nacional, tratando de acidentes ambientais,
foram mostradas, exemplificando os problemas causados pela ação do homem na natureza.
As explicações ilustrativas estavam presentes nas duas coleções, mas constatou-se que
grande parte delas tinha apenas função decorativa. Quanto as aulas práticas, a coleção A
mostrou um número muito baixo em relação a coleção B caracterizando a coleção A com um
ensino mais voltado para o tradicional, no que diz respeito a educação ambiental, enquanto a
coleção B mostra um caráter mais construtivista, valorizando a experimentação na área
ambiental.
A contextualização mostrou-se muito baixa na coleção A e não foi muito satisfatória
na coleção B. Visto que são obras liberadas pelo Governo Federal, existem pontos
preocupantes no que diz respeito a relação de distribuição de conteúdo e contextualização,
sendo esta ainda insuficiente nos livros analisados.
Diante disso é um desafio não só para o PNLD, mas principalmente para os
professores, a escolha do melhor livro didático, não só para o ensino da educação ambiental,
mas para construção de um conhecimento que formará discentes críticos, com a condição de
aplicar aquilo que aprenderam no seu dia a dia. É importante considerar as particularidades do
educando, o contexto que ele está inserido, a abordagem didática, a realidade da escola e
aquilo que ela oferece. No entanto, o esforço será em vão se a formação inicial e continuada
do professor não tiver um incentivo governamental, para assim o docente ter condições de
trabalhar boas propostas dentro de sala de aula.
Referências

______. Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9795. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 abr. 1999. Disponível em: Acesso em: 20 Nov. 2017

AMARAL, Carmem Lúcia Costa; DA SILVA XAVIER, Eduardo; MACIEL, Maria


DeLourdes. Abordagem das relações ciência/tecnologia/sociedade nos conteúdos de funções
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