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Conativas e Executivas na
Aprendizagem:
uma abordagem
neuropsicopedagógica
Vitor da Fonseca
Professor Catedrático Agregado
UNIVERSIDADE DE LISBOA
Consultor Psicoeducacional do CORPE
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1. – Introdução
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sua energia disponível (Ward, 2006; Gardenfors, 2007; Workman e Reader,
2008; Fonseca, 2009; Ramachandran, 2011). De facto, o cérebro é uma
estrutura impressionante que nos define quem somos como indivíduos únicos,
totais e evolutivos, é a ela que devemos a nossa experiência de ensino e de
aprendizagem do mundo envolvente.
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Por efeitos desta imensa interconectividade e duma mais eficaz e
veloz comunicação entre os neurónios, o cérebro humano expandiu-se ao
longo da evolução, de forma exponencial nas zonas corticais e de forma menos
dilatada nas zonas subcorticais.
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Tr íade Funcional da Apr endizagem
H um ana
Funções Funções
Cona tiva s Executiva s
Funções
Cognitiva s
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Eis aqui o paradigma da aprendizagem humana que queremos explorar,
razão pela qual desejamos evocar a estreita intrincação e interacção das
funções cognitivas com as funções conativas e executivas.
M EM ÓRI A
LON GO-T.
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o que envolve a co-activação integrada e coerente de vários instrumentos ou
ferramentas mentais, tais como: atenção; percepção; processamento
(simultâneo e sucessivo); memória (curto termo, longo termo e de trabalho);
raciocínio, visualização, planificação, resolução de problemas, execução e
expressão de informação. Naturalmente que tais processos mentais decorrem,
por um lado da transmissão cultural intergeracional, e por outro, da
interacção social entre seres humanos que a materializam (Vygotsky, 1978).
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planificação, antecipação e pragmatização de objectivos, fins e resultados;
visualização e interiorização da informação; flexibilização de procedimentos;
etc.; e finalmente,
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porque elas influenciam-se mutuamente em termos de comportamento, de
performance e produtividade.
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No pensamento de Espinoza o comportamento humano é determinado
por emoções, consideradas como a força principal de impulsos naturais que
emanam do corpo e o impelem para a acção, disposições tónico-energéticas
essas que visam preservar a essência mais profunda do ser humano com a
criação subsequente de sentimentos de si e dos outros.
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Em contrapartida, vulnerabilidades do sistema límbico podem criar
barreiras a tais habilidades conativas, podem mesmo explicar a
desmotivação, a desorganização, a desplanificação, a perda de estratégias de
atenção, criação, busca e conquista de objectivos e fins a atingir, etc., que se
repercutem quer nas funções cognitivas, quer nas funções executivas.
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Pela relevância que possuem em termos de disposição quase inata de
preservação do eu e da luta pelo seu equilíbrio face a uma determinada tarefa
de aprendizagem ou situação-problema, as funções conativas não se podem
separar das funções de processamento nem das funções executivas da
informação.
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auto-confiança, as verdadeiras disposições mágicas para gostar de aprender
(Fonseca, 2014b, Waber, 2010)
Para além das funções cognitivas e das conativas a que já nos referimos
sumariamente, importa sublinhar que a aprendizagem bem sucedida, envolve
também outro conjunto de habilidades consideradas críticas, isto é, as
funções executivas.
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4. Funções Executivas da Aprendizagem
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comportamento onde se operam funções estratégicas de enorme importância
para a sobrevivência, para a adaptação ao meio ambiente, e obviamente, para
a aprendizagem escolar.
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e trabalhos individuais ou de grupo; reflectir e responsabilizar-se sobre o seu
estudo e sobre o seu aproveitamento escolar; etc. O estudante, por definição, é
um ser executivo, sem pôr em prática tais habilidades, aprender não vai ser
fácil nem prazeroso para ele.
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dinamicamente ou informalmente (em áreas fortes, em zonas de
desenvolvimento proximal ou em áreas fracas), nem tão pouco ensinam
estratégias sistematicamente para que eles sejam ajudados a compreender
como eles pensam, comunicam, agem e como aprendem.
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Tratam-se de funções metacognitivas fundamentais para a
aprendizagem, funções executivas que permitem, manter, gerir e manipular a
informação, alterar ou inibir procedimentos quando necessário, agir em
função de objectivos a atingir, pensar no pensar, etc..
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- a decisão (aplicação de diferentes resoluções de problemas, gestão
do tempo evitando atrasos e custos desnecessários...); e por fim,
m em ór ia de
flexibilização tr abalho
vf/10
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performance corporal, cinestésica e lúdica, mais consideradas como
aprendizagens não simbólicas.
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Da imaturidade à maturidade neuropsicológica, caminhamos em
qualquer aprendizagem, seja de um conceito, de uma competência, de uma
estratégia ou de uma habilidade, numa trajectória de modificabilidade
comportamental que se desenrola, após muitas horas de prática, desde uma
dificuldade inicial a uma competência final, isto é, a um desempenho
executado de forma automatizada, melódica, fluente, internalizada,
independente e sempre aberta a aperfeiçoar-se em novas habilidades.
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funções executivas intrahemisféricas, interhemisféricas e integrativas
distintas.
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os que revelam défices nas funções executivas ou dificuldades de
aprendizagem globais ou específicas.
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É óbvio que os currículos podem inabilitar ou incapacitar muitos
estudantes com dificuldades cognitivas, conativas e executivas, por exemplo,
quando estudantes cegos ou disléxicos têm dificuldades de ler ou estudar por
livros ou textos impressos ou escritos. Neste caso o currículo e os materiais, só
por si, geram barreiras e dificuldades de processamento visual e cognitivo e
oferecem opções muito limitadas aqueles alunos com necessidades
educacionais especiais. Para alunos com dificuldades de processamento de
textos impressos e escritos basta proporcionar versões digitais de livros e
aplicações de “software”, para automaticamente converter os textos em
linguagem falada e facilitar a compreensão e a significação da aprendizagem.
A educação da criança e do jovem na era digital tem que ser cada vez
mais amiga dos seus corpos, dos seus cérebros e das suas mentes, caso
contrário muitos problemas de cognição, de conação e de execução, ou seja, de
adaptação, de aprendizagem e de integração social vão emergir sem
necessidade.
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