Você está na página 1de 32

Boletim SBNpp 1

Agosto 2016
2 Boletim SBNpp

Sumário
Palavra do Presidente 03
Espaço Multidisciplinar de Aprendizagem 04
Evento Nacional 05
Neuropsicopedagogia em Destaque 06
Neuropsicopedagogia pelo Brasil 07
Palestra Internacional 08
Eleição da Gestão Sbnpp 2016/2018 09
Projeto Neuropsicopedagogia na Escola 09
Entrevista Televisiva 09
Dica de Leitura 10
Textos 11
Resenha Descritiva 19
Artigo Acadêmico 23

Coordenação de Projetos Colaboração


Carlos Alexandre S. Rodrigues Ana Lúcia Hennemann,
CRA/SC 6.00972 Angelita Fülle,
Bárbara M. H. Rosa,
Coordenação Administrativa Clarice L. Sant’Anna,
Bárbara M. H. Rosa Cristiano Pedroso,
Fabrício B. Cardoso,
Diagramação e designer gráfico Joselma Gomes,
Elton Pedroso Marlene Gonzatto,
Luiz Antonio Corrêa,
Revisão e Supervisão Gráfica Rita M.T. Russo,
Denilson Luis Uzinski Sandra L. O. Comini

Geração de Conteúdos e Imagens Organização Editorial e Revisão Final


SBNPp e banco de imagens cedido Angelita Fülle
Bárbara M. H. Rosa
Correção Editorial Patrícia T. Uzinski
Alício Schiestel Rita M. T. Russo

Agosto 2016
Boletim SBNpp 3

Palavra do
PRESIDENTE

Gostaria de agradecer imensamente pessoal, social e educacional. A


a todos os profissionais que acreditam e SBNPp, vem a cada dia que passa,
contribuem efetivamente com a Sociedade integrando profissionais tanto da
Brasileira de Neuropsicopedagogia – área da educação como da saúde
SBNPp. Conseguimos nesses 2 anos de e aumentado significativamente
existência um enorme desenvolvimento, seus associados em todo território
divulgando e contribuindo para a nacional. Estamos firmes na busca
educação brasileira no que diz respeito pelo reconhecimento dessa
a projetos científicos e melhorias na profissão. Sucesso a todos.
qualificação de docentes, trazendo
inúmeros conhecimentos sobre a relação
entre o funcionamento do sistema
nervoso e a aprendizagem humana
numa perspectiva de reintegração

Prof. Dr. Luiz Antonio Corrêa


Presidente da SBNPp

Agosto 2016
4 Boletim SBNpp

ESPAÇO MULTIDISCIPLINAR
DE APRENDIZAGEM

A
aprendizagem é o entender e auxiliar o processo de das funções neurológicas. Somos
meio pelo qual nos aprendizagem. Há 8 anos atuo diferentes em tudo. Porém, a escola
apropriamos e nos em parcerias com Neurologistas, precisa atender as exigências da
relacionamos com o mundo e Psiquiatras, Psicólogos, sociedade e mercado de trabalho.
com as pessoas. Portanto, ao Fonoaudiólogos e demais Portanto, todo indivíduo precisa ter
invés de nos perguntar: qual o profissionais que seja necessário conhecimento das suas habilidades
principal objetivo em ter o Espaço encaminhar. e superar as suas dificuldades.
Multidisciplinar de Atendimento,
prefere-se, dentre essa pergunta Ser Neuropsicopedagogo é Sendo o Professor, o profissional
e tantas outras, buscar a resposta pesquisar, investigar, construir que trabalha direto com as
para: por que esse aluno não e aplicar diversas opções de funções neurológicas, chega ser
aprende? materiais tendo como base a queixa estranho que este, não conheça
e hipótese avaliada, que impede a o funcionamento do cérebro.” A
Diante deste anseio particular, aprendizagem e desenvolvimento Neuropsicopedagogia explica.
a Professora Marlene Gonzatto, cognitivo.
relata: “Esta pergunta me levou à
busca constante do entendimento As diferentes formas de aprender
e aprender como fazer para requerem um olhar e conhecimento

Marlene Gonzatto
Membro do Conselho Fiscal da SBNPp
Mestranda em Educação pela UDE, Especialista em
Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva e Psicopedagogia
Clínica e Institucional. Graduada em Pedagogia Séries Iniciais e
Educação Infantil

Agosto 2016
Boletim SBNpp 5

evento nacional

O evento contou com apresentações de trabalhos na temática, com


palestrantes membros da SBNPp e aproximadamente 300 participantes.

O município de Cascavel no Estado


do Paraná sediou o II Seminário Nacional Identificação precoce da Linguagem
de Neuropsicopedagogia e I Seminário e o Neuropsicopedagogo – Dra. Rita
Paranaense de Neuropsicopedagogia, Margarida Toler Russo
nos dias 15, 16 e 17 de Junho de 2016, o
evento contou com a parceria da SBNPp, O Desenvolvimento motor e sua
Instituto Evolvere, Prefeitura Municipal relação com processo educacional: uma
de Cascavel, Instituto KCO Viegas, visão Neuropsicopedagógica - Mestre
Grupo Educacional CENSUPEG – FSF e Fabrício Bruno Cardoso
Unipar.
E as oficinas tiveram os seguintes
Na oportunidade a Sociedade debates:
Brasileira de Neuropsicopedagogia-
SBNPp homenageou o Secretário de Identificando Dificuldades Motoras na
Educação do município pelo incentivo Escola - Mestre Fabrício Bruno Cardoso
e implantação do Neuropsicopedagogo
nas Escolas. Transtornos de Aprendizagem e
Inclusão Escolar numa Perspectiva
Os temas abordados no evento Neuropsicopedagógica - Psicóloga/
através de palestras foram: Neuropsicopedagoga Roselaine Mello
Fumagalli Dutra
Um Olhar Neuropsicopedagógico
sobre a Influência dos Fármacos no Mesa Redonda: O Papel do
Desenvolvimento da Aprendizagem – Neuropsicopedagogo na Aprendizagem
Dr. Luiz Antônio Correa – Presidente da - Rita Russo, Juliana Pinheiro, Fernanda
SBNPp. Dresch.

Agosto 2016
6 Boletim SBNpp

NEUROPSICOPEDAGOGIA
EM DESTAQUE

Prêmio Dica de Mestre –


Aprender Criança 2016
O Resumo intitulado “A 19 de Agosto de 2016.
Importância da Intervenção O Prêmio Dica de Mestre
NEUROPSICOPEDAGÓGICA é uma iniciativa do Glia
no Ambiente Escolar para Educacional que visa identificar,
Crianças com Dificuldades valorizar e divulgar experiências
no Desenvolvimento da educativas e terapêuticas
Linguagem” do autor: Fabrício de qualidade, planejadas e
Bruno Cardoso e das co-autoras: executadas por educadores e
Rita M. T. Russo, Angelita Fülle e terapeutas que contemplem os
Juliana P. Neves foi selecionado, mais novos conhecimentos das
concorreu entre os 10 melhores Neurociências da Educação.
estudos e recebeu o Prêmio
Dica de Mestre Educador
(profissionais da Educação) 2016.
O resultado foi divulgado no dia

Laboratório de Inovações Educacionais e


Estudos Neuropsicopedagógicos

Importante avanço no país no que inaugurado no mês de Julho


se refere a pesquisas científicas é de 2016 o Laboratório de
instituído por Faculdade São Fidélis Inovações Educacionais e Estudos
no RJ. Neuropsicopedagógicos da FSF/
LIEENP é o Primeiro Laboratório Grupo CENSUPEG.
Nacional de pesquisas voltadas
à Neuropsicopedagogia, e foi

Agosto 2016
Boletim SBNpp 7

NEUROPSICOPEDAGOGIA
PELO BRASIL
Palestras de Norte a Sul do Brasil realizadas pela Sociedade Brasileira de
Neuropsicopedagogia – SBNPp através do Presidente Prof. Dr. Luiz Antonio
Corrêa, divulgando e contribuindo com a sociedade brasileira.

Palmeira/SC
Tema: “A Importância do Afeto no Desenvolvimento Cognitivo e na Saúde
Mental do Aluno e do Professor” - 22/07/2016.

Vera Cruz/RS
Tema: “Neuropsicopedagogia: A Importância do Afeto no
Desenvolvimento Emocional e Cognitivo” - 15/07/2016.

Santa Cruz do Sul/RS


Tema: ”Neuropsicopedagogia: A Importância do Afeto no
Desenvolvimento Emocional e Cognitivo” - 15/07/2016.

Serafina Corrêa/RS
Tema: “Neuropsicopedagogia: A Relação do Cérebro da Criança com a
Aprendizagem” - 30/06/2016.

Gramado/RS
Tema: “Inclusão e Neuropsicopedagogia: a relação do cérebro da criança
com a aprendizagem” - 24/06/2016.

Agosto 2016
8 Boletim SBNpp

Barra do Sul/SC
Tema: “Neuropsicopedagogia e seus contextos de atuação”- 31/05/2016.

Palmas/TO
Tema: “Uma Visão Neuropsicopedagógica do Desenvolvimento Humano”
– 25/04/16.

São Luís/MA
Tema: “Uma visão neuropsicopedagógica do desenvolvimento
infantil” - 22/04/2016.

Palestra
Internacional
Palestra Internacional com o tema: “Cegueira e Braille
em três disciplinas: educação, psicologia e neurociências”,
ministrada pelo Professor Dr. Barry Hughes, responsável pela
disciplina de ciência cognitiva da Universidade de Auckland
da Nova Zelândia, na oportunidade, realizou-se networking
acadêmico sobre neurociências, psicologia e educação com
os pesquisadores do Laboratório de Inovações Educacionais e
Estudos Neuropsicopedagógicos (LIEENP) da FSF.
Abordou na palestra sobre sua pesquisa centrada nos vários
aspectos de controle sensório-motor, das mãos e principalmente
de deficientes visuais.
“A baixíssima taxa de alfabetização entre os alunos que
possuem deficiência visual, que são abaixo de 10% mesmo nos
países considerados de primeiro mundo” (HUGHES).
As publicações do Dr. Hughes tratam da substituição sensorial,
os mecanismos táteis ativos, da percepção de texturas através
dos dedos e o que os movimentos dos dedos revelam sobre como
a mente lê o braile.
A sede da palestra foi a Faculdade São Fidélis no Estado do Rio
de Janeiro no dia 8 de junho de 2016.

Agosto 2016
Boletim SBNpp 9

Eleição da

Gestão SBNPp
2016/2018
No dia 16 de maio de 2016, realizou-se a Eleição
para Gestão de 1º de junho de 2016 até 30 de junho
de 2018, através de Assembleia de associados
convocada para este fim. Na oportunidade, após
apuração dos votos o Presidente da Gestão
nomeou os membros integrantes do Conselho de
Ética e Conselho Técnico-Profissional.

Projeto Neuropsicopedagogia
na Escola
Grandes avanços no Projeto Neuropsicopedagogo na Escola apoiado pela Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia:
os municípios de Cascavel/PR, Ponta Grossa/PR, São Fidélis/RJ e Botucatu/SP estão com os projetos em
desenvolvimento, fortalecendo a contribuição do neuropsicopedagogo na sociedade, tornando-o fundamental para a
evolução da educação.

Entrevista
Televisiva
“O Neuropsicopedagogo é esse profissional
tanto institucional quanto clínico. Que atua
preventivamente e interventivamente junto
a dificuldades e transtornos específicos e
globais do desenvolvimento”.
Entrevista concedida pela Joselma Gomes,
Membro do Conselho de Ética da SBNPp,
para a emissora TV Mirante, afiliada da Rede
Globo, em Imperatriz/MA, em 29/06/2016.

Agosto 2016
10 Boletim SBNpp

DICA DE LEITURA
Atividades do Neuropsicopedagogo –
Orientações – Nota Técnica

A Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia –


SBNPP, através do Conselho Técnico-Profissional,
emite Nota Técnica nº 01/2016 com orientações
órgãos competentes interessados, orientando-os a
incluir, em seu quadro efetivo de profissionais, o cargo
de neuropsicopedagogo delineando as atividades
acerca das atividades do neuropsicopedagogo, que deverão ser realizadas, bem como detalhar os
conforme as demandas nos diferentes contextos de contextos de formação de acordo com a gênese
atuação e que, obrigatoriamente, devem adequar- adequada e realizada para isso.
se aos projetos curriculares dos cursos de formação A nota técnica complementa o Código de Ética,
frequentados pelo indivíduo. Técnico-Profissional, e os dois documentos podem ser
Esta nota técnica tem o objetivo de informar os visualizados no site da sociedade.

Cartilhas Transtorno de Aprendizagem

Acesso Gratuito a Cartilhas sobre Transtornos de Aprendizagem


http://www.pearsonclinical.com.br/cartilhadeaprendizagem/

Agosto 2016
Boletim SBNpp 11

Textos

NEUROPSICOPEDAGOGO PESQUISADOR:
A IMPORTÂNCIA DA CONSTANTE FORMAÇÃO

A docência é uma atividade complexa e desafiadora,


o que exige do professor uma constante disposição
para aprender, inovar, questionar e investigar sobre como e
entender as transformações que ocorrem na sociedade a
fim de atuar com responsabilidade e com compromisso
com a educação dos seus alunos.
por que ensinar. Numa sociedade de constantes mudanças No Brasil, as propostas curriculares dos cursos de
e infinitas incertezas, as exigências para o exercício formação têm apresentado poucos avanços com relação
da docência têm sido cada vez maiores, ocasionando a favorecer sólidos conhecimentos teórico-práticos para
a avaliação do modelo dos cursos de formação de atuar no campo de trabalho. Por essa razão, segundo
professores e do perfil do profissional que se pretende Gatti (2010), deve haver uma revolução nas estruturas
formar. Uma das possibilidades tem sido a formação do institucionais, nos currículos e nos conteúdos formativos
professor reflexivo e pesquisador. Para Tardif (2002), para que a formação docente responda às demandas da
a prática reflexiva pode ajudar o professor a responder educação básica. Para que essa revolução aconteça, é
às situações incertas e flutuantes, dando condições de preciso que os cursos de formação de professores deixem
criar soluções e novos modos de agir no mundo. Todavia, de ter seu currículo fundamentado em uma concepção
a reflexão por si significa pouco, o importante é sobre transmissiva de conhecimento. Entre as várias propostas
o que refletir e como ocorre esse processo. Nessa que objetivam superar essa concepção a de formação do
perspectiva, Zeichner (1992), defende que o professor professor pesquisador é uma das mais significativas.
deve sistematizar sua reflexão, tornando-a investigativa. A escola que foi pensada em outro momento histórico,
A formação contínua deve proporcionar ao professor com função clara de transmitir a cultura e o conhecimento
conhecimentos para saber lidar com a complexidade da construído pela humanidade às novas gerações, vê seu
profissão, preparando-o para entender a realidade, dar papel sendo questionado, já que:
respostas e projetar ações que favoreçam a aprendizagem.
Nesse sentido, sua formação necessita subsidia-lo para […] era um espaço de transmissão cultural
ser cuja cultura se distinguia claramente do agora
“capaz de analisar, criticar, refletir de uma forma e se sustentava numa aliança entre o Estado
sistemática sobre sua prática docente, com e as famílias, na atualidade a escola compete
o objetivo de conseguir uma transformação com outras agências culturais como os meios
escolar e social e uma melhora na qualidade do de comunicação de massas e a Internet para a
ensinar e de inovar” (IMBERNÓN, 1994, p. 50). transmissão de saberes, a formação intelectual
e a educação da sensibilidade das crianças
Para esse autor, ela precisa ajudá-lo a enfrentar os e adolescentes. E compete em condições
desafios que encontrará no seu campo de trabalho frente desvantajosas, já que, por suas características
às frequentes mudanças da realidade. É necessário

Agosto 2016
12 Boletim SBNpp

“duras”, por sua gramática estruturante, a sala de aula, contribuindo para uma educação mais justa
escola se mostra menos permeável a essas e menos excludente, pois o professor neurosicopedagogo
novas configurações da fluidez e da incerteza atuante e pesquisador desta ciência, compreende melhor
(DUSSEL, 2009, p. 375). como ensinar, pois existem diferentes maneiras de
aprender.
Os currículos com metodologias no foco disciplinar, Faz parte do perfil do Neuropsicopedagogo conhecer,
concebendo a aprendizagem estanque, em uma relação estudar e pesquisar. Conhecer a neurofisiologia, a
na qual o ensino é visto com educação bancária, não neuroanatomia, a memória, as emoções, percepções do
funciona mais em uma realidade em que crianças e jovens mundo, e principalmente dominar conhecimentos sobre
recebem variados estímulos. o funcionamento do sistema nervoso, sob o comando
Já não é suficiente uma formação profissional cujo modelo cerebral, relacionado as funções executivas, englobando
está fundamentado na herança cultural moderna, estando todas as possiblidades de aprendizagem humana. Isto
pautada na lógica da racionalidade e na disciplinaridade contribuirá para reconhecer as dificuldades e obstáculos
isto é, na fragmentação dos saberes em disciplinas, que é de aprendizagem com natureza neurológica, intrínsecas
resultado de um conjunto de razões sociais e históricas. aos sujeitos, ou ambientais, extrínsecas a ele, não
Nóvoa (1992) lança o desafio para que se repense esse como um fracasso, mas como uma nova possibilidade
modelo numa tentativa de superar a visão dicotômica de reorganização de seus processos de construção
entre conhecimento específico e conhecimento aplicado, do conhecimento, sendo ele pensante, e que convive
entre ciência e técnica, entre teoria e prática, entre saberes na integridade do todo. Assim, o foco é reintegrá-lo a
e métodos. Essa dicotomia está presente em muitos coletividade, considerando os aspectos social, pessoal e
cursos de licenciatura e pós-graduação especialmente na acadêmicos.
separação que é feita entre as disciplinas específicas e as O modelo da racionalidade técnica, ao suscitar a
pedagógicas. separação entre a teoria e a prática, segundo Contreras
Conhecer e entender o processo da aprendizagem (2002), entende a sala de aula como o local onde a teoria
e do comportamento tornou-se um grande desafio para e os conhecimentos aprendidos devem ser aplicados pelo
os educadores. É necessário dar atenção a multiplicidade professor. Ou seja, a atuação docente é regulada por um
de aspectos que ela contempla, por isso, nasce a sistema lógico e infalível de procedimentos, constituído
Neuropsicopedagogia. A abordagem metodológica a partir de um conjunto de premissas estabelecidas por
transdisciplinar nesta ciência deve pautar a atuação do agentes externos ao cotidiano da escola. Assim, sendo a
Neuropsicopedagogo em seu exercício profissional, com sala de aula um espaço de contínua aprendizagem humana
o objetivo de compreender o mundo presente, visando através dos currículos oficiais, por onde passa quase toda
a unidade do conhecimento, possível pela observação população, o Neuropsicopedagogo tanto Clínico, quanto
daquilo que está entre, através e além das áreas e institucional, deve estar atento ao que nela acontece.
disciplinas específicas. O olhar neuropsicopedagógico, Para o autor, essa lógica não permite que se considere o
tem cunho transdisciplinar, e se elabora nas relações imprevisível e a incerteza, próprios da realidade de sala de
que particularmente são construídas neste viés, aula. A superação desse modelo significa valorizar a prática
fundamentando a técnica que lhe diferencia de outros do professor, considerando seu papel de “construtor de
profissionais. Para tanto, utiliza-se de referenciais da conhecimento”, e não mero instrutor que transmite os
metodologia de pesquisa transdisciplinar, que é pautada saberes produzidos por outros.
nos diferentes níveis de realidade, a lógica do terceiro Nessa perspectiva, a formação de profissionais da Educação
incluído e a complexidade (SOMMERMANN, 2006). com foco na pesquisa, bem como a do Neuropsicopedagogo
Nesta esfera, devemos aprofundar nosso estudo que está imerso neste meio, representa uma possibilidade a
para embasar a prática neuropsicopedagógica no tomada de consciência da necessidade de analisar a prática
diálogo e reflexão entre as Neurociências e a prática de profissional, a luz da teoria. Auxiliará na compreensão das
ensino que promovem a aprendizagem, considerando suas inter-relações com as condições pessoais, sociais e
o funcionamento específico do sistema nervoso e seus educacionais, encontrando caminhos para desenvolver
diferentes aspectos, com abordagem clara e coerente os saberes próprios das suas observações, conhecedor
das interfaces com ciências como Educação, Pedagogia e das Neurociências e da dinâmica neural para estabelecer
Psicologia Cognitiva, atenderá e diversidade dos sujeitos uma prática condizente com o quadro que se apresenta
acolhidos pelas instituições, sejam elas de ensino ou (DEMO, 2006).
atendimento clínico (SBNPp, 2014). A formação contínua do Neuropsicopedagogo, sendo
Assim, a Neuropsicopedagogia com postulados ele qualquer formação na graduação, não pode ser pensada
científicos elaborados da prática clínica ou institucional, a partir das ciências e seus diversos campos disciplinares,
desvenda através de sua metodologia a aprendizagem em apenas. Deve sim, a partir da função social própria

Agosto 2016
Boletim SBNpp 13

adquirida em cursos de qualidade, evoluir constantemente, NICOLESCU, Basarab. O Manifesto da


acompanhando as novas descobertas sobre Neurociências, transdisciplinaridade. São Paulo: TRIOM, 1999.
Educação, Psicologia, Neurofisiologia e todas as áreas que
tem um olhar direcionado para aprendizagem. NÓVOA, A. Formação de professores e profissão
Concluir um curso de especialização e receber o certificado, docente. In: NÓVOA, A. (Org.). Os Professores e sua
pensando que finalizou-se o processo de profissionalização é formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.
um equívoco. Ninguém está “pronto”. Novos conhecimentos RUSSO, Rita M. T. Neuropsicopedagogia Clínica:
surgem e não podemos permanecer engessados. Temos Introdução, Conceitos, Teoria e Prática. Curitiba:
a plasticidade cerebral que se reorganizar e se adaptar Juruá, 2015.
a novas situações, assim, todos nós nos transformamos
constantemente em todas as esferas. Considerando o ponto SOCIEDADE BRASILEIRA DE
culminante da nossa existência, e desenvolvimento que se NEUROPSICOPEDAGOGIA – SNBPp (Brasil).
dá ao longo da vida. Resolução nº 03/2014. Código de ética técnico
A pesquisa pode tornar o sujeito, principalmente o profissional da neuropsicopedagogia, Joinville, 30 de
Neuropsicopedagogo, capaz de refletir sobre sua prática jul. 2014.
profissional e de buscar formas (conhecimentos, habilidades,
atitudes, relações) que o ajudem a aperfeiçoar cada vez ______. Nota técnica 001/2016 do Conselho Técnico-
mais seu trabalho, no contexto clínico ou institucional, de Profissional. Joinville, 16 de março de 2016.
modo que possa participar efetivamente do processo de
emancipação das pessoas. A melhor escola é aquela que SOMMERMANN, Americo. Inter ou
provoca o desafio diante do pensar, que permite o questionar, transdisciplinaridade?: da fragmentação disciplinar
estimula a dúvida, e não oferece respostas prontas, mas ao novo diálogo entre os saberes. São Paulo: Paulus,
principalmente, acredita no aprender através de múltiplas 2006.
possibilidades.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação
Referências profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.

ANDRÉ, Marli. O papel mediador da pesquisa no ensino da


didática. In: ANDRÉ, M.; OLIVEIRA, M. R. (Orgs.). Alternativas
do ensino da didática. Campinas/SP: Papirus, 1997. p. 19-36.
ANDRÉ, Marli. Ensinar a pesquisar… Como e para quê? In:
ENDIPE. Recife, 2006b. p. 221-234.
ASSMANN, H. Reencantar a educação: rumo à sociedade
aprendente. Petrópolis: Vozes, 2001.
COLE. M.; SCRIBNER, S. Introdução. In: VYGOTSKY, L. S. A Clarice Luiz Sant’anna
formação social da mente. Org. Michael Cole et AL.Tradução Professora Mestre em Educação em Ciência do Movimento
Humano e Pesquisadora –
José Cipolla Neto; Luís Silveira Menna Barreto; Solange UFSM/RS. Psicopedagoga Clínica e Institucional.
Castro Afeche. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. Neuropsicopedagoga Clínica.
3-19.
COSENZA, Ramon. As neurociências e a Educação no
século XXI. Fórum de Educação 2012.
DAMÁSIO, A R. O Erro de Descartes. São Paulo: Cia das
Letras, 1996.
DELORS, Jacques. Educação, um tesouro a descobrir.
Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre
educação para o século XXI. Brasília, MEC, UNESCO e
Cortez, 1998.
Demo, Pedro. Pesquisa princípio Científico e Educativo. 12 Angelita Fülle
ed. Ed. Cortez. 2006 Membro do Conselho Técnico-Profissional
Membro do Conselho Fiscal
MORIN, E. Palestra em dezembro/2007. Disponível em http:// Mestranda em Educação na Linha de Formação de Professores
revistaeducacao.uol.com. br. textos.asp?codigo=12337. pela UNEATLANTICO/Espanha através da Fundação
Universitária Iberoamericana - FUNIBER/Espanha . Pós-
Acesso em 11/07/2016 Graduada em Práticas Multidisciplinares e Gestão Educacional
MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma reformar e Gestão Estratégica em Educação a Distância, pós-graduanda
em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva pelo
o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
CENSUPEG e Graduada em Pedagogia.

Agosto 2016
14 Boletim SBNpp

NEUROPSICOPEDAGOGIA
E APRENDIZAGEM

A aprendizagem, ao longo da história da humanidade,


sempre se mostrou um fator inquietante e elemento
de profundas reflexões nas mais diversas áreas do saber.
simplicidade no aprender, há chaves que abrem este
segredo. Chaves que aparecem através da descoberta de
vias da aprendizagem e memória em moluscos, estudos
Inquietações que acompanharam Aristóteles, filósofo realizados por Eric Kandel, Prêmio Nobel de Fisiologia e
grego, estudioso de diversas ciências e como muitos de nós, Medicina. Kandel, nos mostra que a base do aprendizado
apaixonado pela biologia. Desprovido de toda e qualquer está na criação e no fortalecimento de conexões entre os
tecnologia da atualidade, apenas com os rudimentares neurônios. Se o estímulo é fraco, a aprendizagem não se
instrumentos da época, Aristóteles cria hipóteses sobre consolida, se o estímulo é forte, há alteração nas células
a natureza da lembrança e dos esquecimentos, os quais nervosas e estas geram uma mudança. Podemos dizer
deram origem a grande número de experimentos na que sempre ocorre aprendizagem, no entanto ela só “cria
área da aprendizagem. O ato de aprender, de construir raízes” no momento em que transforma numa memória.
conhecimento, já fazia parte do olhar investigativo deste Riesgo (2016, p.9), ao falar de aprendizado afirma que:
grego e retratava a construção do que já era um esboço
das atuais pesquisas em neurociências: “Quando chega ao SNC (Sistema Nervoso
Central ) uma informação inteiramente nova,
“[...] segundo Aristóteles, o conhecimento se ela nada evoca, mas produz uma mudança
constitui de uma série de filtragens, seleções na estrutura e/ou na função do SNC – isto é
e estruturações progressivas, que começam aprendizado, do ponto de vista estreitamente
nos sentidos (na experiência) e culminam na neurobiológico.”
estruturação racional do conhecimento” (DE
CARVALHO 1996, p. 67-68). Aprendizagens são chaves para mudanças, mas para
toda chave, se faz necessário uma fechadura que podem
Se Aristóteles, séculos antes, percebeu que os sentidos ser o simbolismo de sentimentos e emoções. Então,
eram a porta de entrada da aprendizagem, Jean Piaget, surge Damásio e nos mostra que não há como separar
atravessa a porta e descreve como ela se transforma “razão da emoção”. A aprendizagem passa pela esfera da
em conhecimento. Além dos sentidos, que perpassam emoção, não há como aprender sem sentir o gostinho
o sujeito, é preciso mais, é necessário a interação com do tempero da emoção, pois conforme Oliveira (2013)
o objeto, ou seja, a aprendizagem requer a interação “em um nível básico, as emoções são parte da regulação
do sujeito com o objeto (com tudo aquilo que não é o homeostática e constituem-se como um poderoso
sujeito), e cada nova aprendizagem vai servindo de mecanismo de aprendizagem”.
estrutura para novos conhecimentos, por isso, através de E assim, com o auxílio de chaves, portas e fechaduras,
Piaget, podemos ter o entendimento de que a “ação” é a aprendizagem foi mapeada e resultou num grande
elemento essencial da aprendizagem. Não há construção mapa representado por todo nosso sistema nervoso,
do saber, sem interação com o objeto de estudo, sem a que reduzidamente intitulamos “cérebro”. O processo
experimentação, sem a ação. Nesse sentido Lima (1980, de aprender envolve a decodificação do mesmo e
p.130) enfatiza: entendimento que estamos diante de um mapa moldável,
onde cada indivíduo vai se modificando conforme as
Piaget chega a afirmar, paradoxalmente, que modificações ambientais.
“tudo que se ensina à criança impede que O ato de aprender, expertise do nosso cérebro, inquietou
ela invente ou descubra por si mesma” (o que Aristóteles, Piaget, Kandel, Damásio e tantos outros
a criança descobre ou inventa por si mesma, que promovem ciência, desacomodou aqueles que
reestrutura, fundamentalmente, suas atividades transitam pela educação, desacomodou um grupo de
motora, verbal e mental). pesquisadores que os fizera pensar numa nova ciência
focada na aprendizagem. Uma ciência, descrita pela
A aprendizagem pode ser sim algo complexo, repleta SBNPp (Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia,
de descobertas e reestruturações, mas também existe 2014), que transitasse pela psicologia, educação e

Agosto 2016
Boletim SBNpp 15

neurociência, que fosse desse modo transdisciplinar, o simples fato de sozinho pegá-lo em suas mãos, talvez
que trouxesse respostas não somente para aqueles que folheá-lo, já é digno de aplausos.
aprendem tivessem facilidade em aprender, mas também
proporcionasse aprendizagem a todos aqueles que se Referências
veem diante de algum empecilho.
Se há uma fisiologia da aprendizagem, o por que não a DE CARVALHO, Olavo. Aristóteles em Nova Perspectiva.
trazer para a educação? O por que não tornar a aprendizagem Rio de Janeiro: TOPBOOKS, 1996.
mais eficaz? E assim novamente a inquietação promoveu
mudanças, e eis que surge a Neuropsicopedagogia que LIMA, Lauro de Oliveira. Piaget para principiantes. São
traz um novo olhar para a aprendizagem, um olhar que é Paulo: Summus, 1980.
capaz de reconhecer as limitações, mas também enxergar
todas as capacidades do indivíduo. Não há como pensar OLIVEIRA, Nythamar. Damásio, Neurociência e
em aprendizagem sem ter o entendimento de onde ela se Neurofilosofia. Porto Alegre, Fronteiras do Pensamento,
localiza em nosso sistema nervoso, de qual a metodologia 2013. Disponível online em: http://www.fronteiras.com/
mais eficaz para determinado indivíduo e o porquê ela se artigos/damasio-neurociencia-e-neurofilosofia. Acesso
consolida ou não nas memórias de cada um. em 12/07/2016.
Neuropsicopedagogos são profissionais da
Neuropsicopedagogia, que têm o compromisso com a OLIVEIRA, Gilberto Gonçalves de. Neurociências e os
constante busca do saber, do aprimoramento, de melhorar processos educativos: um saber necessário na formação
o ensino-aprendizagem e ter conhecimento sobre o de professores. Educação Unisinos. V. 18, número 1, jan/
neurodesenvolvimento do indivíduo, pois dessa forma abr 2014
“permite a utilização de teorias e práticas pedagógicas
que levem em conta a base biológica e os mecanismos RIESGO, Rudimar. Anatomia da Aprendizagem. In.
neurofuncionais, otimizando as capacidades do seu aluno” ROTTA; OHLWEILER; RIESGO [et al]. Transtornos da
(OLIVEIRA, 2014, p.16) e também de seus pacientes. Aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar.
O neuropsicopedagogo, trabalhando em conjunto 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
com demais profissionais, procurará identificar o que
realmente é importante para o educando, o que levará o SBNPp, O que é Neuropsicopedagogia? Joinville:
mesmo a possíveis reestruturações cerebrais: - somente Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia, 2014.
socialização?; - aprendizado de letras, palavras, frases?; - Disponível online em: http://www.sbnpp.com.br/o-que-
melhoria na coordenação motora?; - estimulação sensorial?; e-neuropsicopedagogia/ Acesso em 14/07/2016.
enfim, diante de cada situação, se faz necessário criar uma
estratégia de reabilitação do indivíduo. Por mínimas que
sejam as condições, ainda assim, o foco tem que ser na
potencialidade do indivíduo, mas também ter consciência
de suas limitações, sejam momentâneas ou não.
A Neuropsicopedagogia entende que por mais simples
que possa parecer a aprendizagem diante aos olhares
de outros, por exemplo: a aprendizagem do simples
ato de conseguir tirar o material escolar de dentro de
uma mochila; esta aprendizagem provocou mudanças
na organização funcional e anatômica do indivíduo, pois
houve a construção de novas conexões entre os dendritos
de diferentes neurônios, localizados em diferentes regiões
cerebrais, e cada vez que este indivíduo chega à escola, ou
Ana Lúcia Hennemann
mesmo à sua casa, ele por si só conseguirá pegar um lápis, Membro do Conselho Técnico-Profissional
um caderno, sem que outros o façam por ele. Especialista em Alfabetização/Neuropsicopedagogia e Educação
Inclusiva/Neuropsicopedagogia Clinica/Neuroaprendizagem/
Isto é aprendizagem, isto é provocar mudanças, é
Pós-graduanda de MBA em Liderança e Coaching para Gestão de
entender que a partir deste ato se abrem possibilidades Pessoas.
para novas aprendizagens, que talvez alguns indivíduos,
nunca cheguem ao aprendizado de escrever um livro, mas

Agosto 2016
16 Boletim SBNpp

NEUROPSICOPEDAGOGIA:
CIÊNCIA DA APRENDIZAGEM
D iante da sociedade na qual vivemos não é mais possível
considerar que a aprendizagem possa receber o mesmo
olhar de tempos atrás. As crianças, adolescentes e até mesmo
só é adequado quando, o que o aluno aprendeu em sala
de aula se estende e se incorpora a outros conteúdos,
previamente aprendidos, e se manifesta, quando avaliado.
adultos possuem contato diário com recursos para facilitar Os alunos que são capazes de reter o que foi ensinado
ou ajudar cada vez mais em atividades que anteriormente conseguem obter uma nota satisfatória relativa ao seu
tomavam muito de nosso tempo, sem contar que a tecnologia desempenho (PAROLIN, 2007; ORFEU et al., 2015).
assombrosamente adentra a nossa rotina, revolucionando Sabe-se que há uma multiplicidade de fatores que
inclusive as formas como ocorre o relacionamento entre os influenciam a aprendizagem escolar e o desempenho
seres humanos (CORSO et al, 2013). acadêmico e ainda que os fatores que se relacionam com o
Assim, as instituições e os profissionais responsáveis processo do aprender envolvem tanto questões pessoais
pela aprendizagem precisam rever sua forma de atuação. e internas do estudante, quanto questões relacionadas
Envolvidos por novas formas de estímulos, desenvolvemos à família e ao grupo social no qual está inserido, bem
novas formas de aprender. É possível identificar cada vez como questões mais amplas relativas à escola, enquanto
mais dificuldades ou até altas habilidades neste processo contexto de aprendizagem influenciado pelas interações,
(ENGEL DE ABREU et al, 2014). medidas pedagógicas e decretos governamentais que
A Pedagogia, nesse sentido, sempre buscou compreender regem o ensino. Tais fatores se inter-relacionam e se
como ela ocorre com auxílio das teorias da psicologia do determinam mutuamente e influenciam o desempenho
desenvolvimento e da aprendizagem. Além disso, ela se acadêmico de um indivíduo (ORFEU et al., 2015; ENGEL
aproxima também da Psicologia para entender elementos DE ABREU et al, 2014).
que envolvem o comportamento e a forma como os sujeitos Portanto é desejável que o processo de aprendizagem
se relacionam. Porém, com o surgimento da Neurociência no esteja coerente com o desenvolvimento funcional do
ultimo século, amplia-se as possibilidades de compreensão sistema nervoso, respeitando a natureza da criança. O
sobre o aprender (NÓVOA, 2009) . contrário disso pode “marcar” de forma negativa a relação
A Neurociência trouxe para dentro do contexto da criança com o aprender. Por mais óbvio que isso possa
educacional um caráter mais científico e aprofundado sobre parecer, ainda é um dado negligenciado em algumas
a aprendizagem, colocando em foco como ocorre e qual sua práticas pedagógicas (MORGAN et al., 2013; ESTERMAN
relação com o funcionamento cerebral, as relações nervosas, et al., 2015).
a criação das sinapses em seu contexto físico e químico, a As diversas explicações encontradas sobre fracasso
plasticidade cerebral, a maturação e o desenvolvimento, escolar passam pela figura do professor como um
bem como os processos de reabilitação cognitiva (SHOLL- dos elementos envolvidos no processo de ensino-
FRANCO, BARRETO e ASSIS, 2014). aprendizagem, e como tal responsável pelo sucesso ou
As descobertas sobre a aprendizagem feitas pela insucesso do aluno neste processo. Os termos como
neurociência podem contribuir efetivamente com o trabalho “forte” e “fraco” são apropriados popularmente no meio
pedagógico. As propostas de ensino são direcionadas às educacional para qualificar atualmente o valor do ensino.
crianças e adolescentes, e consequentemente, ao seu Tal visão motiva práticas educativas que priorizam a
desenvolvimento humano e social, intencionalmente. Assim, oferta de conteúdos e que estabelecem parâmetros
à medida que relacionamos estas propostas, os contextos de avaliação de desempenho sem foco na evolução da
educacionais com a compreensão de como a aprendizagem criança. O objetivo passa a ser apenas a nota. O ponto
ocorre diante destas novas descobertas, criamos uma relação preocupante disso é que, na maioria das vezes, os meios
técnica muito particular (MOODY et al., 2010). e os recursos utilizados para este fim vão à contra mão do
Entre estas descobertas destaca-se aspectos cognitivos e que o aprendiz necessita de verdade para contemplar um
metacognitivos que possibilitam ao indivíduo exercer controle aprendizado significativo (AUSUBEL, 1982). As relações
e regular tanto seu comportamento frente às exigências e afetivas e a possibilidade de brincar e ser criança não
demandas do meio quanto todo o processo de informação, ocupam seus devidos graus de importância, inclusive no
possibilitando seu envolvimento em comportamentos contexto pré-escolar (PYUN, KIM e CHO, 2015).
adaptativos, auto-organizados e direcionados a metas (ARDA Embora nem sempre assumida, a perspectiva quanto
& OCAK, 2012). ao que se espera do aluno num processo de aprendizagem
Diversos estudos destacam que o desempenho acadêmico formal acaba subestimando suas potencialidades ou

Agosto 2016
Boletim SBNpp 17

superestimando suas dificuldades. Assim, propicia-se o os pilares metodológicos da pesquisa transdisciplinar, que
surgimento de problemas que cruzam os limites entre segundo Américo Sommermann (2006) é os diferentes níveis
educação e saúde. de realidades, a lógico do terceiro incluído e a complexidade.
Cabe ressaltar a importância do professor para assumir Tratar de conhecer a realidade com profundidade (por isso o
o papel de facilitador, permitindo à criança situações olhar da neurociência para a aprendizagem), considerando
e estímulos cada vez mais variados, com experiências que vivemos em um sistema complexo de relações na
concretas e vividas com o corpo inteiro. Sob um olhar coletividade e que somos regidos por um sistema nervoso
pedagógico e preventivo, integrando os aspectos físicos, de forma singular, é papel da Neuropsicopedagogia. Assim
emocionais, afetivos, cognitivos, linguísticos e sociais da nos constituímos pessoas capazes de evoluir e avançar na
criança, pois assim ela será vista como um ser completo compreensão do mundo e de nós mesmos para vivermos
(DIAS & SEABRA, 2013). cada vez melhor, nos reintegrando aos espaços com nossos
Do ponto de vista da prática educacional, as diferentes papeis, seja na sociedade, na escola, na família.
contribuições no sentido de se desenvolverem formas Tendo esta clareza, aceitar a possibilidade de nos incluirmos
objetivas e práticas de análise e avaliação das habilidades neles pelas nossas diferenças, a partir das possibilidades
subjacentes às habilidades acadêmicas pelo educador são reais que temos, é ação a ser pensada também pelo
extremamente importantes e ainda escassas (DIAMOND, neuropsicopedagogo.
2013). Desta forma, é importante esclarecer os aspectos
Nesse sentido é fundamental o desenvolvimento de relacionados ao aprender que é o marco teórico da
ações que levem em consideração aspectos relacionados Neuropsicopedagogia, pois o objeto de estudo desta
ao cérebro, funcionamento da mente e das teorias de ciência é a relação da aprendizagem humana com o
Educação, e que sejam aplicáveis em sala de aula (coletivos), funcionamento cerebral. São eles: os elementos teóricos do
que ajudem o professor tanto na tarefa de rastreamento construtivismo de Piaget, a teoria sociocultural de Vygotsky,
de escolares de risco, como, consequentemente, na o aprendizado significativo de Ausbel e a Neurociência
intervenção precoce, Independentemente de diagnóstico Cognitiva. Dentre as diferente áreas do saber com suas
definitivo, em uma atitude conhecida como intervenção abordagens relacionadas a compreensão do funcionamento
neuropsicopedagógica (CARNEIRO & CARDOSO, 2009). do sistema nervoso, comandado pelo cérebro que é a
A definição de Neuropsicopedagogia proposta pelo matriz da aprendizagem, temos a Morfologia (estrutura e
Código de Ética Técnico-Profissional da SBNPp coloca ontogênese) , Fisiologia (funcionamento sistêmico), Física e
em seu artigo 10º que Química (funcionamento intrínseco) , Biologia Comparada
(evolução), Psicologia (funcionamento contextual), Teoria
“A Neuropsicopedagogia é uma ciência dos Sistemas (lógica organizacional) , Teoria da Informação
transdisciplinar, fundamentada nos (lógica operacional) , Filosofia (dilemas, mais questões) e
conhecimentos da Neurociências aplicada Pedagogia (aprendizagem).
à educação, com interfaces da Pedagogia Compreender o homem como ser histórico, cultural
e Psicologia Cognitiva que tem como social, bem como um ser biológico, com condições
objeto formal de estudo a relação entre genéticas específicas é fundamental para esta nova ciência.
o funcionamento do sistema nervoso e a Ao lidar com os contextos educacionais, nos quais ocorre
aprendizagem humana numa perspectiva de a aprendizagem de forma intencional, é imprescindível
reintegração pessoal, social e educacional”. termos claro como funciona nossa cognição e o córtex
cerebral. Conceitos como atenção, memória, inteligência e
Toda ação executada decorrente na relação da percepção, compreender processo mentais que envolvem as
Neurociência aplicada à Educação, em interface funções executivas, linguagem, habilidades sociais, praxias,
com a Pedagogia e a Psicologia, aliada ao trabalho visuoconstrução formam um conjunto de conteúdos básicos
com a metodologia transdisciplinar, promove a para o hall do Neuropsicopedagogo.
elaboração de novos conhecimentos e saberes, pois O trabalho do Neuropsicopedagogo consiste em, a
a transdisciplinaridade “diz respeito àquilo que está ao partir de uma demanda especifica, realizar a observação de
mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes aspectos inerentes a aprendizagem em contextos definidos
disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é e detectar elementos que são analisados de acordo com
a compreensão do mundo presente, para o qual um dos o conjunto de conhecimentos e experiências específicos
imperativos é a unidade do conhecimento.” (NICOLESCU, do Neuropsicopedagogo. Estes devem ser trabalhados
1999, p.53.) Ou seja, o neuropsicopedagogo transcenderá com foco na potencialização dos recursos próprios de
as diferentes áreas do conhecimento, constituindo um uma pessoa ou grupo no contexto da aprendizagem para
saber próprio. que ocorre a reintegração pessoal, social e até escolar dos
Ainda no campo da transdisciplinaridade, recuperamos envolvidos, bem como favoreça os processos de inclusão.

Agosto 2016
18 Boletim SBNpp

Referências NICOLESCU, Basarab. O Manifesto da transdisciplinaridade.


São Paulo: TRIOM, 1999.
ARDA, T. B., & OCAK, Ş. Social Competence and Promoting
Alternative Thinking NÓVOA, A. (2009). Para una formación de profesores
Strategies PATHS Preschool Curriculum. E ducational Sciences: construida dentro de la profesión. Rev. Educ., 350, 203-
Theory & Practice . 12 (4), 2691–2698, 2012. 218.

CARNEIRO, Rosângela Rabello; CARDOSO, Fabrício Bruno. ORFEU, M.; BUXTON, A.-M.; CHANG, J. C.; SPILSBURY, T.;
Estimulação do desenvolvimento de competências funcionais BOS, H.; EMSELLEM, K. L.K. Sleep in the modern family:
hemisféricas em escolares com dificuldades de atenção: uma protective family routines for child and adolescent sleep.
perspectiva neuropsicopedagógica. Rev. psicopedag., São Sleep Health, 1, 15-27, 2015.
Paulo , v. 26, n. 81, p. 458-469, 2009
PAROLIN, I.C.P. Pais e Educadores: quem tem tempo de
CORSO, H. V.; SPERB,T.M, ; Jou, G. I. de e SALLES, J.F. educar? Porto Alegre: Mediação, 2007.
Metacognição e funções executivas: relações entre os
conceitos e implicações para a aprendizagem. Psicologia: PYUN, D.O.; KIM, J.S.; CHO, H.Y. Impact of affective
Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 29, n. 1, p. 21-29, jan./mar., variables on Korean as a foreign language learners’ oral
2013. achievement. System, 47, 53-63, 2015.

COSENZA, R.M.; Guerra, L.B. Neurociência e Educação: Como RUSSO, Rita M. T. Neuropsicopedagogia Clínica:
o cérebro aprende. Editora Artmed, 2011. Introdução, Conceitos, Teoria e Prática. Curitiba: Juruá,
2015.
DIAMOND, A. . Executive functions. Annual Review of
Psychology, 6 4 , 135 68,2013. SHOLL-FRANCO, A.; BARRETO, T.M.; ASSIS, T. S.
(2014). Neuroeducação e Inteligência: Como as Artes
DIAS, N. M., & SEABRA, A. G. P iafex – Programa de e a Atividade Física Podem Contribuir para a Melhora
Intervenção em Autorregulação e Funções Executivas . Cognitiva. In: VIRGULIN, A.M.R.; KONKIEWITZ, E.K. (Org.)
Menmon Edições Científicas, 2013. Altas Habilidades/Superdotação, Inteligência e Criatividade.
(pp. 139-160). Campinas (SP): Papirus Editora.
ESTERMAN, M.; LIU, G.; OKABE, H.; REAGAN, A.; THAI, M.;
DEGUTIS, J. Frontal eye field involvement in sustaining visual SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOPEDAGOGIA
attention: Evidence from transcranial magnetic stimulation. – SNBPp (Brasil). Resolução nº 03/2014. Código de ética
Neuroimage., 111, 542-548, 2015. técnico profissional da neuropsicopedagogia, Joinville, 30
de jul. 2014.
ENGEL DE ABREU, P. M. J. E. et al. Executive functioning and
reading achievement in school: a study of Brazilian children assessed SOMMERMANN, Americo. Inter ou transdisciplinaridade?:
by their teachers as “Poor Readers”.Frontiers in Psychology, [S.l], da fragmentação disciplinar ao novo diálogo entre os
v. 5, n. 550, jun., 2014. saberes. São Paulo: Paulus, 2006.

FLOR, Damaris; CARVALHO, Terezinha Augusta Pereira. Fabrício Bruno Cardoso


Membro do Conselho Técnico-Profissional
Neurociência para educador: coletânea de subsídios para Doutorando em Ciências Biológicas
“alfabetização neurocientífica”. São Paulo: Baraúna, 2011. (Biofísica) na Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Mestre em Ciência da
Motricidade Humana. Especialista em
MOODY, A.K.; JUSTICE, L.M.; CABELL, S.Q. Electronic versus Neuropsicopedagogia Educacional e
Inclusiva e Graduado em Educação Física.
traditional storybooks: Relative influence on preschool
children’sengagement and communication. Journal of Early
Angelita Fülle
Childhood Literacy, 10, 294–313, 2010. Membro do Conselho Técnico-Profissional
Membro do Conselho Fiscal
Mestranda em Educação na Linha
MORGAN, B.; D’MELLO, S.; ABBOTT, R.;l RADVANSKY, G.; de Formação de Professores pela
HAASS, M.; TAMPLIN, A. Individual differences in multitasking UNEATLANTICO/Espanha através da
Fundação Universitária Iberoamericana
ability and adaptability. Human Factors, 55, 776–788, 2013.
- FUNIBER/Espanha . Pós-Graduada
em Práticas Multidisciplinares e Gestão
Educacional e Gestão Estratégica em
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro.
Educação a Distância, pós-graduanda em
São Paulo: Cortez, 2000. Neuropsicopedagogia e Educação Especial
Inclusiva pelo CENSUPEG e Graduada em
Pedagogia.
Agosto 2016
Boletim SBNpp 19

RESENHA DESCRITIVA

SÍNDROME
DE DOWN –
REABILITAÇÃO
NEUROCOGNITIVA
RONDAL, Jean-Adolphe; PERERA, Juan; SPIKER, Donna. Síndrome de Down –
Reabilitação Neurocognitiva. Rio de Janeiro. Revinter, 2015.

1. CREDENCIAIS DOS AUTORES

Jean-Adolphe Rondal - Doutor em Linguística e Ciência da Linguagem.


Juan Perera – Doutor em Psicologia
Donna Spiker – Doutora em Psicologia

2. INTRODUÇÃO pequenas com síndrome de Down e suas famílias e


aos avanços em desfechos clínicos na reabilitação
O livro é composto de cinco seções que neurocognitiva da síndrome de Down.
abordam algumas das principais formas em Novas terapias moleculares e genéticas na
que um abrangente programa de reabilitação síndrome de Down, plasticidade cerebral e
neurocognitiva pode ser conceituado e realizado, enriquecimento ambiental com camundongos
considerando o espectro de informações atuais Ts65Dn, um modelo animal para a síndrome
sobre o genótipo, o desenvolvimento cerebral e o de Down e o desenvolvimento do cérebro e
fenótipo comportamental. metabolismo compõem a seção dois.
Por abrangente, entende-se uma abordagem Na seção três, temos capítulos que
neurocognitiva de conexão transicional aos discorrem sobre farmacoterapia em crianças
principais esforços terapêuticos em campos com síndromes de Down, o atendimento médico
vizinhos, como a neurogenética, o enriquecimento e acompanhamento precoce e a avaliação das
ambiental experimental em modelos animais, doenças cardiovasculares na síndrome de Down.
a farmacologia, a pediatria, os tratamentos Os modelos estruturais de desenvolvimento
moleculares e genéticos, vistos como sinérgicos para a Intervenção precoce em crianças
à reabilitação neurocognitiva e a cardiologia em com síndrome de Down, os aspectos do
bebês acometidos pela síndrome de Down. desenvolvimento motor na síndrome de Down,
A primeira sessão é composta por três o desenvolvimento da memória e aprendizado, o
capítulos cujos temas estão relacionados à desenvolvimento, estimulação e treinamento pré-
intervenção precoce de reabilitação, à história linguístico e precoce em crianças com síndrome
da intervenção precoce em bebês e crianças de Down, a percepção da fala, estimulação e
desenvolvimento fonológico, a objetividade como

Agosto 2016
20 Boletim SBNpp

meta na intervenção precoce na síndrome de Down e a função dos pais


da criança com síndrome de Down e outras deficiências de intervenção
precoce compõem a seção 4, que é a mais longa da obra.
Encerrando a obra temos a seção cinco, que é composta por um único
artigo intitulado “As perspectivas das estratégias terapêuticas híbridas
nas deficiências intelectuais e na síndrome de Down”, onde o autor
discute a convergência, em um futuro próximo, entre as terapias genéticas
em seres humanos com deficiências intelectuais e as intervenções
neurocomportamentais.

3. INTERPRETAÇÃO

De um modo geral, os autores de cada capítulo enfocam a síndrome


de Down em diversas situações, mas todos evidenciam a importância de
um trabalho precoce. A retrospectiva histórica dos modelos de intervenção
precoce representa um dos pontos de relevância da primeira seção.
Perera (2015) discorre sobre os modelos obsoletos de intervenção, que
fundamentaram a prática da intervenção precoce até a década de 1980,
apresenta e explicita a Teoria de Sistemas Ecológicos de Bronfenbrenner
(1979), o Modelo de Transição de Sameroff e Chandler (1975), a Teoria da
Possibilidade de Modificação Cognitiva Estrutural de Feuerstein (1980) e
o Modelo de Desenvolvimento Precoce e Fatores de Risco de Guralnick
(1998). Também expõe a abordagem com base em atividades (Bricker &
Cripe,1992), fundamentada na teoria do aprendizado e no trabalho de
vários autores, entre eles Vygotsky, Piaget e Dewey. No final de seu artigo
analisa e discute os desafios em curto e médio prazos apresentados pela
estimulação precoce.
De forma bastante didática Edgin, Spanõ e Nadel (2015), ainda na seção
um, apresentam-nos o perfil cognitivo e comportamental da síndrome
de Down e o quanto é preciso avaliar um amplo perfil de habilidades,
incluindo déficits de linguagem, habilidades adaptativas, aprendizado e

memória, habilidades motoras e comportamento. Relatam intervenção precoce em crianças com Síndrome de Down,
que a intervenção revelará um impacto nos mais diversos apresentando as teorias clássicas de desenvolvimento
aspectos da função cognitiva e comportamental. Durante e suas revisões contemporâneas, discutindo a sua
a explanação fazem um detalhamento dos principais aplicabilidade para o estudo dos indivíduos com
domínios de funções a serem consideradas, apresentam- deficiência intelectual em geral e os indivíduos com
nos pesquisas recentes de perfil cognitivo em cada um síndrome de Down, mais especificamente. Nesta mesma
desses domínios em Síndrome de Down e maneiras de sessão, Virji-Babul, Jobling, Elliot e Weeks (2015)
abordagem da mensuração efetiva em cada resultado. abordam entre vários temas os fundamentos de processos
Na seção 2 destacamos o texto de Delabar (2015) pela perceptuais-motores e a intervenção precoce nesta área,
explicitação que o autor faz sobre as novas perspectivas bem como as atividades de planejamento de programas
em terapias moleculares e genéticas na Síndrome de Down. que respondam às necessidades e habilidades únicas das
Ainda desta seção indicamos a leitura do artigo sobre o crianças com Síndrome de Down e suas famílias. Como
desenvolvimento do cérebro e metabolismo, em que o ferramenta de planejamento os autores discutem o
autor Patterson (2015) apresenta-nos estudos precoces Individualized Family Service Plan (TFSP, Plano de Serviço
de nutrição em Síndrome de Down e as tentativas para Familiar Individualizado) e algumas tendências recentes
aperfeiçoar o desenvolvimento cerebral e melhorar a da neurociência que podem inspirar um novo quadro para
incapacidade intelectual na SD. a compreensão de percepção e ação e, estimulando novas
Um tema bastante relevante da seção três é o artigo direções para a pesquisa sobre Síndrome de Down.
de Dembour e Moniotte (2015), que aborda sobre a O estudo da memória e do aprendizado, bem como
fisiopatologia das doenças cardiovasculares na SD. Na estudos recentes sobre o desenvolvimento da memória
seção quatro, Burack, Cohene e Flores (2015) discorrem e do aprendizado em pessoas com Síndrome de Down,
sobre os modelos estruturais de desenvolvimento para relatando suas capacidades e déficits de memória

Agosto 2016
Boletim SBNpp 21

foram temas discutidos por Vicari e Menghini (2015). Segundo esses autores esta intervenção não compete e
Nesse artigo os autores fazem uma revisão da literatura nem competirá com as abordagens terapêuticas genéticas
neuropsicológica e recentes estudos experimentais e, enquanto aguardamos a materialização segura da
sobre o desenvolvimento da memória e do aprendizado abordagem terapêutica genética humana, os cientistas
em pessoas com Síndrome de Down, relatando suas devem continuar a aperfeiçoar a intervenção precoce,
capacidades e déficits de memória. A correlação entre os já que os esforços e energias empreendidas são bem
perfis de memória e o desenvolvimento cerebral também é direcionados não apenas para o presente, mas também
apresentada e discutida. para o futuro.
O desenvolvimento léxico e intervenção é um dos temas
do artigo “Desenvolvimento, estimulação e treinamento CONCLUSÃO E APRECIAÇÃO CRÍTICA DA
pré-linguístico e precoce em crianças com Síndrome de RESENHISTA
Down”, escrito por Rondal (2015). Para o autor muitas
coisas podem e devem ser feitas na intervenção linguística A obra fornece subsídios para conceituar e identificar
e muito precoce (pré-linguagem) da criança com síndrome modelos de intervenção precoce e aguçar ações para a
de Down. elaboração de um programa de reabilitação neurocognitiva
Segundo Pettinato (2015), as crianças com Síndrome de com Síndrome de Down.
Down apresentam habilidades mais pobres do que previsto É uma leitura que exige conhecimentos prévios sobre
com base em seu funcionamento cognitivo e este retardo SD, mas a linguagem objetiva faz com que os poucos
pode ser resultante do mau controle articulatório e das familiarizados com o tema possam entender a Síndrome,
menores habilidades orais e motoras ou das dificuldades as características, os modelos de intervenção precoce, as
de audição, principalmente nos primeiros anos de vida. perdas cognitivas na SD e o principal mote da obra que é
Em relação à intervenção precoce, o autor, propõe que ela a reabilitação neurocognitiva.
precisa enfatizar a discriminação da fala. Em seu artigo o De um modo geral, os autores da obra e os colaboradores
autor ainda aborda as possíveis causas das dificuldades que escreveram nela trazem uma discussão recorrente
fonológicas, a importância da percepção precoce da fala no tanto na área da saúde como na de educação que é a
desenvolvimento normal e o impacto da privação precoce intervenção precoce. Temos muitos outros autores que
– o caso das crianças com implantes cocleares. abordam a SD, mas esta obra pode ser um ponto de
São utilizadas muitas estratégias e ferramentas para reflexão crítica, de discussão e de aprofundamento para
trabalhar com intervenção precoce na Síndrome de Down estudos sobre o tema.
e a presença dos pais torna-se essencial para o sucesso A leitura desta obra, por se tratar de intervenção
das intervenções de desenvolvimento com crianças com precoce, vem ao encontro do que muito se tem
SD e outras deficiências. Os estudos de White et al. (1992) trabalhado na formação do neuropsicopedagogo clínico
mostram que a intervenção precoce contemporânea e institucional. Síndrome de Down e outras deficiências
tem sido intimamente ligada à proposição de que as estão no contexto escolar, nas clínicas e nas instituições
intervenções que envolvem diretamente os pais são mais do terceiro setor, que trabalham com saúde e educação.
eficazes em promover a aprendizagem e o desenvolvimento Fundamentar-se com os estudos teóricos, práticos e
das crianças do que aquelas que não o fazem. reflexivos dos autores deste livro servirá como norteador
Mahoney e Perales (2015) informam que apesar para a elaboração de programas de intervenção precoce,
do papel central do envolvimento dos pais, teórica e possibilitando a melhoria das pessoas com SD no
legalmente, na intervenção precoce, bem como a crença processo de ensino-aprendizagem, de pertencimento e
disseminada por profissionais de que o envolvimento dos de qualidade de vida.
pais é fundamental, a prática real de envolver os pais na sua Recomendamos, ainda, a obra de Troncoso e Del
intervenção infantil é polêmica e desafiadora. No entanto, Cerro (2004), que entre outros temas discorre sobre o
as controvérsias que dizem respeito ao envolvimento dos desenvolvimento das funções cognitivas nos alunos com
pais e os desafios de realização não devem impedir este SD e apresenta programas de intervenção precoce.
processo, particularmente se houver evidências de que o
envolvimento dos pais fez a diferença para os resultados
que as crianças alcançam em intervenção precoce. É
oportuno aprofundar este tema lendo, no mesmo artigo o
modelo parental e a intervenção no desenvolvimento.
Com o artigo “As Perspectivas das estratégias terapêuticas
híbridas nas deficiências intelectuais e na Síndrome de
Down”, Rondal e Perera (2015) finalizam o livro, discorrendo
sobre as técnicas da intervenção neurocomportamental.

Agosto 2016
22 Boletim SBNpp

Referências Janeiro. Revinter, 2015.

BRONFENBRENNER,U. The Ecology of Human Development. RONDAL,J.A. Desenvolvimento, estimulação e


Cambridge: Harvard University Press, 1979. treinamento pré-linguístico e precoce em crianças com
Síndrome de Down. IN: Rondal, J.A., Perera,J; Spiker,D.
BRICKER, D.D.; & CRIPE,J. An Activity-based Approach to op.cit. Rio de Janeiro: Revinter, 2015.
Early Intervention. Baltimore: Brookes, 1992.
SAMEROFF,A.J. ET AL. Intelligence quotient scores of
BURACK, J.A.; COHENE, K.; FLORES, H. Modelos estruturais 4-year-old children: social-enviromental risk factors.
de desenvolvimento para intervenção precoce em crianças Pediatrics, 79, 343-350, 1987.
com Síndrome de Down. IN: Rondal, J.A., Perera,J; Spiker,D.
Síndrome de Down – Reabilitação Neurocognitiva. Rio de TRONCOSO, M.V. DEL CERRO, M.M. Síndroma de
Janeiro: Revinter, 2015. Down: leitura e escrita: Um guia para pais, educadores e
professores. Portugal: Porto Editora, 2004.
DELABAR, J.M. Novas perspectivas em terapias moleculares
e genéticas na Síndrome de Down. IN: Rondal, J.A., Perera,J; VICARI, S.; MENGHINI, D. Desenvolvimento da memória e
Spiker,D. op.cit. Rio de Janeiro: Revinter, 2015. aprendizado. IN: Rondal, J.A., Perera,J; Spiker,D. op.cit.Rio
de Janeiro: Revinter, 2015.
DEMBOUR, G.; MONIOTTE,S. Avaliação e tratamento das
doenças cardiovasculares na Síndrome de Down. IN: Rondal, VIRJI-BABUL, N.; JOBLING,A.; ELLIOT,D.; WEEKS,D.
J.A., Perera,J; Spiker,D. op.cit.Rio de Janeiro: Revinter, 2015. Aspectos do desenvolvimento motor na síndrome de
Down. IN: Rondal, J.A., Perera,J; Spiker,D.op.cit. Rio de
EDGIN,J.; SPANÕ,G.;NADEL,L. Avanços em desfechos clínicos Janeiro: Revinter, 2015.
na reabilitação neurocognitiva da Síndrome de Down. IN:
Rondal, J.A., Perera,J; Spiker,D. op.cit.Rio de Janeiro: Revinter, WHITE, K.R.; TAYLOR,M.J.; MOSS, V.D. Does research
2015. support claims about the benefits of involving parents
in early intervention programs? Review of Educational
FEUERSTEIN, R. Instrumental Enrichment: na Intervention Research, v.62, n.1, p.91-125, 1992. Disponível em: <rer.
Program for Cognitive Modificability. Baltimore: University sagepub.com/content/62/1/91.abstract>. Consulta em
Park Press,1980. 10/06/2016.

GURALNICK, M.J. The effectiveness of early intervention for


vulnerable children: a developmental perspective.American
Journal on Mental Retardation, 102, 319-345.

MAHONEY, G.; PERALES, F. Função dos pais da criança com


Síndrome de Down e outras deficiências de intervenção
precoce. IN: Rondal, J.A., Perera,J; Spiker,D.op.cit. Rio de
Janeiro: Revinter, 2015.

PATTERSON, D. Desenvolvimento do cérebro e metabolismo.


IN: Rondal, J.A., Perera,J; Spiker,D.op.cit. Rio de Janeiro:
Revinter, 2015.

PERERA, J. Intervenção precoce de reabilitação: definições,


objetivos, modelos e desafios. IN: Rondal, J.A., Perera,J;
Spiker,D.op.cit. Rio de Janeiro: Revinter, 2015. Rita Margarida Toler Russo
Vice-Presidente da SBNPp
Membro do Conselho Técnico-Profissional
PETTINATO, M. Percepção da fala, estimulação e Professora Doutora em Letras pela USP. Mestre em Comunicação
desenvolvimento fonológico. IN: Rondal, J.A., Perera,J; Social UMESP.
Especialista em Neuropsicologia, Terapia Cognitiva,
Spiker,D. Rio de Janeiro: Revinter, 2015. Neuropsicopedagogia Clínica e Educação Inclusiva, Violência
Doméstica e Sexual, Psicopedagogia Clínica e Institucional.
Psicóloga Clínica
RONDAL, Jean-Adolphe; PERERA, Juan; SPIKER, Donna.
Graduação em Psicologia, Pedagogia e Letras
Síndrome de Down – Reabilitação Neurocognitiva. Rio de

Agosto 2016
Boletim SBNpp 23

ARTIGO ACADÊMICO

A NEUROPSICOPEDAGOGIA COMO
ALIADA AO ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO

Este artigo tem como objetivo esclarecer e estudar a importância dos educadores possuírem conhecimentos
sobre Neurociências aplicada à Educação em interface com a Pedagogia e Psicologia Cognitiva, ou seja a
Neuropsicopedagogia, relacionado ao trabalho do Atendimento Educacional Especializado (AEE).O fato de
um número cada vez maior de crianças com deficiências serem atendidas dentro das escolas nas Salas
Multifuncionais através do AEE, conforme regulamenta os princípios da inclusão, nos desafia a aprofundar
estudos sobre o processo de aprendizagem humana, algo propiciado pelos avanços desta nova ciência.
Desse modo, buscou-se em autores diferentes, elementos que proporcionam a compreensão dos processos
de ensino-aprendizagem, embasados em conhecimentos científicos, porém que possam produzir efeitos
práticos na vivência escolar. Assim, compreender o funcionamento do sistema nervoso relacionado
a aprendizagem humana é crucial para criar e qualificar estratégias de intervenção, em interface com a
Pedagogia, compreendendo o desenvolvimento humano e cognitivo, com auxílio da Psicologia Cognitiva,
baseado na especificidade de cada aluno.

Palavras-chave: Neuropsicopedagogia. Atendimento Educacional Especializado. Educação Inclusiva.

1 INTRODUÇÃO pública quanto particular em nosso próprios estudantes, nos aspectos


país, apresentam queixas de BRE em orgânicos e neurológicos. Assim
O baixo rendimento escolar relação ao seu grupo-classe (Alves & nas escolas, recebemos um misto
(BRE) de nossos alunos é motivo de Ribeiro, 2011; Bicalho & Alves, 2010). das de pessoas com dificuldades de
preocupação em todo o país. Já nos aprendizagem e com os transtornos
apontou CIASCA (2004) que o baixo Esta situação nos desafia a ou distúrbios.
rendimento acomete de 30 a 40% compreender os motivos pelos
da população brasileira. Através de quais temos esses percentuais. Conforme o trabalho realizado
pesquisas realizadas, nas quais foram Os fatores são variados e podem pelos responsáveis da Gestão da
distribuídos aos pais e professores estar no ambiente, envolvendo Educação Brasileira, o qual o órgão
questionários, ficou sinalizado que questões pedagógicas, emocionais, majoritário é o Ministério da Educação
30% dos escolares do 1º ao 5º ano socioeconômicas ou ainda culturais, (MEC), tivemos alguns avanços desde
do ensino fundamental, tanto na rede porém também podem subsistir nos que se inseriram nesse contexto

Agosto 2016
24 Boletim SBNpp

discussões e práticas sobre Educação capazes de exibir, de expressar 2 NEUROPSICOPEDAGOGIA


Especial e Educação Inclusiva. Ao ser novos comportamentos que
sancionada a Lei de Diretrizes e Bases nos permitem transformar Segundo a Sociedade Brasileira
da Educação de 1996, já se destinou nossa prática e o mundo em que de Neuropsicopedagogia– SBNPp,
um capítulo específico a Educação vivemos, realizando-nos como Cap. II – art. 10, do Código de Ética
Especial, a partir do seu Art. 58. pessoas vivendo em sociedade. Técnico-Profissional,
Nossas funções mentais estão
Também foi a partir dela que se associadas ao cérebro em
oficializou o fato dos profissionais funcionamento. O cérebro é o A Neuropsicopedagogia é
da educação terem de se adequar órgão da aprendizagem. (2011, uma ciência transdisciplinar,
a habilitação necessária para sua p. 41) fundamentada nos
atuação nos serviços docentes, conhecimentos da
ou em qualquer outra atividade, Neurociências aplicada à
na área educacional. Desta forma, A partir de reflexões geradas por educação, com interfaces
para realizar o trabalho com os esta proposição, temos a necessidade da Pedagogia e Psicologia
estudantes que se enquadram em de possuir profissionais qualificados Cognitiva que tem como objeto
condições especiais de atendimento a trabalhar na área da educação formal de estudo a relação entre
quanto sua aprendizagem, também com conhecimentos que integram os o funcionamento do sistema
são assegurados pela LDB 9394/96 saberes das neurociências, com os nervoso e a aprendizagem
o apoio a formação profissional pedagógicos e da própria psicologia. humana numa perspectiva de
adequada. Neste sentido, a Resolução O intuito é que tenhamos um outro reintegração pessoal, social e
nº4 de 02 de Outubro de 2009, surge profissional para agir em parceria educacional (SBNPp, 2016, p.
instituindo as Diretrizes Operacionais com todos os que compõe a equipe 3).
para o Atendimento Educacional técnica escolar, contudo, em relação
Especializado na Educação Básica, direta com os professores que
na modalidade Educação Especial, atendem o AEE, contribuindo com Toda ação executada decorrente
complementando o Capítulo desta lei olhar ampliado sobre a aprendizagem. na relação da Neurociência aplicada
dedicado a Educação Especial. Dois à Educação, em interface com a
anos depois, em 17 de novembro de Atualmente, o foco da educação Pedagogia e a Psicologia Cognitiva,
2011, o decreto 7.611 foi assinado está direcionado para um sistema aliada ao trabalho com a metodologia
pela presidente Dilma Rouseff, linear, em que as propostas de transdisciplinar, promove a elaboração
dispõe novas diretrizes sobre a ensino são mecânicas e em ritmo de novos conhecimentos e saberes,
questão, dando outras providências, acelerado, desconsiderando que a pois a transdisciplinaridade
alinhando como deve acontecer o aprendizagem pede diversidades de
planejamento e implementação de intervenções técnicas. A exigência de diz respeito àquilo que está
ambos dentro dos sistemas de ensino, vencer o currículo é enorme e não é ao mesmo tempo entre
consequentemente, nas escolas. considerado as especificidades na as disciplinas, através das
forma de como cada um aprende. diferentes disciplinas e além
Estas, por sua vez, são ambientes de qualquer disciplina. Seu
de informação e inclusão, devendo Com base no que foi estudado, o objetivo é a compreensão do
buscar aliados para que se efetive o objetivo desse artigo é de mostrar a mundo presente, para o qual um
ato de ensinar a todos de maneira importância da Neuropsicopedagogia dos imperativos é a unidade do
qualificada, gerando a aprendizagem Institucional com foco na Educação conhecimento” (NICOLESCU,
significativa. Especial Inclusiva, sendo esta uma 1999, p.53).
grande possiblidade de parceria para
Segundo Consenza & Guerra: com o Atendimento Educacional Ou seja, o neuropsicopedagogo
Especializado nas redes públicas de transcenderá as diferentes áreas
A educação tem por finalidade ensino, imprimindo maior qualidade do conhecimento, constituindo um
o desenvolvimento de nos processos educacionais, bem saber próprio. Ainda no campo da
novos conhecimentos ou como mostrando que há espaço para transdisciplinaridade, recuperamos
comportamentos, sendo mais profissionais dentro do contexto os pilares metodológicos da pesquisa
mediada por um processo que da Escola. transdisciplinar, que segundo
envolve a aprendizagem. Ou Américo Sommermann (2006) são
seja, aprendemos quando somos os diferentes níveis de realidades,

Agosto 2016
Boletim SBNpp 25

a lógico do terceiro incluído e a ambiente norteiam o olhar sobre a Capítulo V, fica delimitada sua
complexidade. aprendizagem, que acontece sob atuação com atendimentos
vários aspectos, ao mesmo tempo e neuropsicopedagógicos
Tratar de conhecer a realidade de acordo com o desenvolvimento exclusivamente em ambientes
com profundidade (por isso o olhar da humano. educacionais e/ou instituições
neurociência para a aprendizagem), Ao lidar com os contextos de atendimento coletivo.
considerando que vivemos em um educacionais, nos quais ocorre a §1° Entende-se que sua
sistema complexo de relações na aprendizagem de forma intencional, atuação na área de
coletividade e que somos regidos por é imprescindível compreender como Institucional possa acontecer
um sistema nervoso de forma singular, funciona o sistema nervoso e as em instituições como Escolas
é papel da Neuropsicopedagogia. funções cognitivas. Conceitos como Públicas e Particulares, Centros
Tendo esta clareza, é possível aceitar atenção, memória e percepção, de Educação, Instituições de
a possibilidade de nos incluirmos nele compreender os processos mentais Ensino Superior e Terceiro Setor
pelas nossas diferenças, a partir das que envolvem as funções executivas, que tem finalidade de oferecer
possibilidades reais que temos. linguagem, habilidades sociais, serviços sociais, sem foco na
praxias, visuoconstrução formam um distribuição de lucros, mas com
É importante esclarecer os conjunto de conteúdos básicos para o administração privada, sendo
aspectos relacionados ao aprender hall do Neuropsicopedagogo. composto por associações,
que são o marco teórico da cooperativas, organização não-
Neuropsicopedagogia, entendendo O trabalho do Neuropsicopedagogo governamentais, entre outros.
como objeto de estudo desta ciência a consiste em, a partir de uma demanda §2º São bases da atuação
relação da aprendizagem humana com especifica, realizar a observação de institucional os fundamentos
o funcionamento do sistema nervoso aspectos inerentes a aprendizagem da Educação Especial e da
sob o comando do cérebro. São eles: os em contextos definidos e detectar Educação Inclusiva, com
elementos teóricos do construtivismo elementos que são analisados embasamento legal e de
de Piaget, a teoria sociocultural de de acordo com o conjunto de práticas sociais, que deverão
Vygotsky, o aprendizado significativo conhecimentos e experiências ser pensadas através da
de Ausubel e a Psicologia Cognitiva. específicos do Neuropsicopedagogo. aplicação das neurociências ao
Dentre as diferente áreas do saber Estes devem ser trabalhados com ambiente educacional. devendo
com suas abordagens relacionadas foco na potencialização dos recursos contemplar as seguintes ações:
a compreensão do funcionamento próprios de uma pessoa ou grupo a) Observação, identificação e
do sistema nervoso, comandado no contexto da aprendizagem para análise dos ambientes e dos
pelo cérebro que é a matriz da que ocorra a reintegração pessoal, grupos de pessoas atendidas,
aprendizagem, temos a Morfologia social e educacional dos indivíduos focando nas questões
(estrutura e ontogênese) , Fisiologia no ambiente escolar, favorecendo relacionadas a aprendizagem
(funcionamento sistêmico), Física e diretamente os processos de inclusão e ao desenvolvimento
Química (funcionamento intrínseco) (CARDOSO & FULLE, 2016). humano nas áreas motoras,
, Biologia Comparada (evolução), cognitivas e comportamentais,
Psicologia Cognitiva (funcionamento Para sua atuação no contexto considerando os preceitos
contextual), Teoria dos Sistemas escolar, o Neuropsicopedagogo, da Neurociência aplicada a
(lógica organizacional) , Teoria da deverá seguir as normativas Educação, em interface com a
Informação (lógica operacional), estabelecidas pela SBNPp, conforme Pedagogia e Psicologia.
Filosofia (dilemas, mais questões) e Código de Ética Técnico-Profissional, b) Criação de estratégias que
Pedagogia (aprendizagem e processos que corresponde a Resolução 03 viabilizem o desenvolvimento do
de intervenção através do ensino). de julho de 2014, revisto agora processo ensino-aprendizagem
em 2016. Em seu art. 30, aborda dos que são atendidos nos
Compreender o homem como ser como se estrutura o trabalho do espaços coletivos
histórico, cultural e social, bem como Neuropsicopedagogia Institucional: c) Encaminhamento de
um ser biológico, com condições pessoas atendidas a outros
genéticas e cognitivas específicas é profissionais quando o caso
fundamental para esta nova ciência. Artigo 30. Ao for de outra área de atuação/
Observar a estrutura mental, a Neuropsicopedagogo com especialização contribuir com
cognição e os comportamentos formação na área Institucional, aspectos específicos que
que se diferenciam conforme o conforme descrito no influenciam na aprendizagem

Agosto 2016
26 Boletim SBNpp

educacional especializado entre


outros); e) Encaminhamento de
crianças a profissionais de área
específica, quando necessário.

O olhar do Neuropsicopedagogo
Institucional com foco na Educação
Especial Inclusiva dentro das escolas
acolhe todo e qualquer tipo de
aprendizagem, independente das
instâncias nas quais ele aconteça
e considerando as potencialidades
de cada sujeito. Ele, além de prever
a adaptabilidade dos recursos,
propõe em interface das bases
e no desenvolvimento humano Direcionar a identificação precoce pedagógicas, intervenções com base
(SBNPp, 2016 p. 30). as funções cognitivas, atenção, neurocientíficas, potencializando o
memória de trabalho, linguagem aprender em nível mais significativo.
(recepção/expressão), compreensão Vejamos o capítulo a seguir:
Para detalhar essas ações, expomos (interpretação/intelecção), linguagem
trecho da Nota Técnica, expedida matemática, observação psicomotora, 2.1 NEUROPSICOPEDAGOGIA – O
pelo Conselho Técnico-Profissional da habilidades sociais, planejamento e SISTEMA NERVOSO COMANDADO
SBNPp em março de 2016, que tem resolução de problemas. PELO CÉREBRO E A APRENDIZAGEM
o objetivo de orientar a ação deste II) Planejamento e Intervenção:
profissional. Segue: a) A partir de dados e realidades O cérebro controla todo nosso
As atividades do identificados, elaborar um plano corpo, é a porção mais importante do
Neuropsicopedagogo Institucional da de intervenção junto de pequenos sistema nervoso e atua na interação
Educação Especial Inclusiva, o qual grupos, em classes inteiras, do organismo com o meio externo,
pode atuar em escolas e no terceiro ou individualmente, em casos além de coordenar suas funções
setor, devem ser cumpridas de forma específicos, estabelecendo metas internas. Contudo, é o sistema
cautelar no sentido ético, técnico e inicias, intermediárias e finais; b) nervoso que capta através dos
profissional, atendendo à Resolução Utilizar a metodologia de projetos sentidos os estímulos do ambiente:
03/2014 em seu capítulo II que de trabalho e oficinas temáticas,
descreve os princípios fundamentais oportunizando que os alunos
e diretrizes para a atuação. Elas desenvolvam diferentes habilidades “O sistema nervoso funciona
devem apreciar: conforme suas individualidades, por meio dos neurônios,
I) Identificação Precoce: a) Realizar respeitando a cada um, promovendo células especializadas na
investigação a partir de queixas a inclusão através da ação do condução e no processamento
advindas dos professores ou Equipe neuropsicopedagogo; c) Trabalhar da informação. Os neurônios
Técnica da Escola, executando com orientação de pais e professores conduzem a informação por
observações direcionadas, pautados embasados nos conhecimentos sobre meio de impulsos elétricos que
em instrumentos próprios do o processo de aprendizagem e suas percorrem sua membrana e a
Neuropsicopedagogo da Educação dificuldades, conforme dados obtidos passam a outras células por meio
Especial Inclusiva e/ou que estejam no processo de identificação precoce de estruturas especializadas, as
de acordo com as diretrizes da do em grupos e crianças; d) Emitir sinapses, onde é liberado um
Código de Ética Técnico-Profissional parecer neuropsicopedagógico com neurotransmissor” (CONSENZA
(03/2014 – SBNPp); b) Sondagem/ bases institucionais, indicando como & GUERRA, 2011, p. 25).
triagem acadêmica no âmbito devemos tratar a individualidade
coletivo através de materiais e nos processos de aprendizagem, Sabendo que os neurônios
instrumentos próprios desta nova bem como questões coletivas, conduzem e possibilitam a
ciência ou outros que são abertos assegurando o processo de inclusão, transmissão de informação sob
a diferentes profissionais, contudo levando ao conhecimento da Equipe estímulos ambientais, compreende-
devem ser embasados teoricamente Técnica da Escola (professores, se que um dos fatores essenciais para
e com padronização brasileira; c) coordenadores, atendimento aprendizagem é a atenção, sendo

Agosto 2016
Boletim SBNpp 27

o ser humano capaz de focalizar aquilo que foi aprendido [...]. O confundem: o primeiro é um
em cada momento determinados acervo de nossas memórias faz com processo espontâneo, que se
aspectos do ambiente, deixando de que cada um de nós seja o que é: um apoia predominantemente
lado o que for indispensável e que indivíduo, um ser para que não existe no biológico. Aprendizagem,
a atenção é importante para o bom outro idêntico (IZQUIERDO, 2011, p. por outro lado, é encarada
funcionamento da aprendizagem 11). como processo mais restrito,
consciente. (COSENZA & GUERRA, causado por situações
2011) Se memória e atenção são elementos específicas (como a frequência
importantes para a aprendizagem, à escola) e subordinado
Outro fator essencial é a memória. não podemos deixar de elencar tanto à equilibração quanto à
Já sabemos que praticamente todas também a relevância que o conceito maturação (RUSSO, 2015 p.
as regiões do sistema nervoso estão de inteligência. Há vários autores que 71).
envolvidas com a memória de um a contribuem com essa definição,
tipo ou de outro. De acordo com Rita como Howard Gardner (Spearman Vygotsky (1994) baseia seu
Margarida Toler Russo, em seu livro (1955), mas não podemos deixar de conceito de desenvolvimento na
Neuropsicopedagogia Clínica: considerar a concepção de Piaget, interação social, que tem identidade
que desenvolve uma relevante teoria definida social e culturalmente.
“a memória de trabalho ou de desenvolvimento e aprendizagem Assim, considera que para ocorrer a
operacional refere-se ao humanos, assim como Vygotsky. aprendizagem, que, faz acontecer o
armazenamento da informação desenvolvimento cognitivo, precisa
nova, possuindo capacidade As estruturas da inteligência, da mediação entre o sujeito que
limitada de armazenamento e segundo Piaget (1975) corresponde aprende e o mundo que o certa. Para
conservando, temporariamente, as organizações mentais ou aptidões tanto, segundo esta visão, Russo
as informações, que podem ser mentais que a criança possui e são (2015, p.73) nos coloca que
retidas por aproximadamente mutáveis no decorrer do processo
15 segundos. A memória evolutivo. Assim, o que o ser humano “o desenvolvimento pleno
de longo prazo refere-se à pode, ou não, realizar em cada do ser humano depende do
retenção de informações por período da vida, liga-se diretamente aprendizado que este realiza
períodos prolongados de tempo à estrutura que lhe é subjacente. A num determinado grupo
e pode ser dividida em dois estrutura da inteligência muda com cultural, por meio da interação
tipos: memória declarativa a idade, e estas mudanças evolutivas com outros indivíduos da
ou explicita, pelo fato de ser constituem o principal objeto de seu sua espécie. Nesta visão é o
passível de relato verbal, e estudo. aprendizado que possibilita
memória de procedimento e movimenta o processo de
(ou implícita), que se expressa Piaget definiu o desenvolvimento desenvolvimento.”
pelo desempenho habilidoso como sendo um processo de
de atividades previamente equilibrações sucessivas. Define O modelo Luria (1984), baseado
treinadas. A memória explícita em quatro os estágios evolutivos da na Neuropsicologia, contribui
diz respeito à retenção de Inteligência: estágio da inteligência diretamente para a compreensão
experiências sobre eventos sensório-motora, estágio do de como acontece a aprendizagem,
e fatos do passado, aos pensamento intuitivo ou pré- pois considera a atenção, memória,
quais o indivíduo tem acesso operatório, estágio do pensamento incluindo a percepção como
consciente, sendo passíveis de operatório concreto e estágio das processos mentais que dela fazem
relato verbal” (2015, p. 55). operações formais. Contudo, sempre parte (RUSSO, 2015).
considerando a influência dos
Izquierdo em seus estudos sobre estímulos do meio no qual o sujeito Nesse sentindo, percebemos que o
a memória refere-se a ela como: se insere: desenvolvimento dos seres humanos
aquisição, formação, conservação e Desta maneira, a educação – e em um ambiente sensorialmente
evocação de informações. A aquisição em especial a aprendizagem enriquecedor pode ter impacto sobre
é também chamada de aprendizado – tem, no entender de Piaget, suas capacidades cognitivas, pois
ou aprendizagem: só “grava” o que um impacto reduzido sobre o é variado o número de estímulos
foi aprendido. A evocação é também desenvolvimento intelectual. que promovem a aprendizagem.
chamada de recordação lembrança. Desenvolvimento cognitivo Aprender e desenvolver-se são
Só lembramos aquilo que gravamos, e aprendizagem não se ações interligadas e que dependem

Agosto 2016
28 Boletim SBNpp

de processos mentais, que ocorrem 1988, na redação do art. 208 coloca dentro das escolas. A Política Nacional
no cérebro através das combinações nas entrelinhas, a importância dos de Educação Especial na Perspectiva
nervosas por ele realizadas. “modelos de educação especial” da Educação Especial Inclusiva (MEC
prevendo serviços específicos – 2008) traz a indicação de que
A Neuropsicopedagogia, baseada para demandas que emergem no alunos com deficiências, transtornos
neste entendimento favorece a sistema de ensino regular, sendo globais do desenvolvimento em altas
elaboração de intervenções que estes o atendimento domiciliar; a habilidades/superdotação sejam
tornem a estimulação do sistema classe hospitalar; o centro integrado atendidos nem escolas regulares,
nervoso mais eficientes, torando de educação especial; ensino ou ditas comuns, tendo acesso
a aprendizagem significativa, algo com professor itinerante; oficina garantido, bem como participação
possível, através da ativação da pedagógica; sala de estimulação efetiva nas atividades deste espaço,
memória, atenção e inteligência. essencial; e sala de recursos (KASSAR com possibilidades de aprendizagens
& REBELO, 2011). desenvolvidas de acordo com
3 RELAÇÃO ENTRE O suas particularidades. Então, por
NEUROPSICOPEDAGOGO E O Como citado na introdução deste conseguintes, temos o Decreto Nº
ATENDIMENTO EDUCACIONAL artigo, a LDB 9394/96, traz uma nova 6.571/08 (BRASIL, 2008) que dispõe
ESPECIALIZADO – AEE configuração a Educação Especial sobre o atendimento educacional
no Brasil, quando possui na sua especializado (AEE). Lembramos que
A Educação Especial no Brasil, composição o entendimento desta ele foi revogado pelo decreto 7 611,
desde o início da década de 60 vem como “modalidade de educação de 17 de novembro de 2011, citado
ganhando espaço gradativamente. A escolar, oferecida preferencialmente anteriormente.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação na rede regular de ensino,
4.024/61 foi uma precursora neste para educandos portadores de Contudo, o Conselho Nacional
sentido nas políticas educacionais, necessidades especiais” (BRASIL, de Educação, sob ação da Câmara de
contudo foi na década de 90, que 1996, art. 58). Educação Básica, lança em 2009 uma
tivemos mudanças consideráveis. resolução com Diretrizes Operacionais
Em conseguinte, ela coloca que “o para o Atendimento Educacional
Em 1994, a Política Nacional dever do Estado com educação escolar Especializado na Educação Básica,
de Educação Especial publicada na pública será efetivado mediante modalidade Educação Especial. Dela,
época, coloca a Educação Especial a garantia de [...] atendimento é importante destaca o público-alvo:
como: educacional especializado gratuito
aos educandos com necessidades
[...] um processo que visa especiais, preferencialmente na rede Art. 4º Para fins destas
promover o desenvolvimento regular de ensino” (BRASIL, 1996, art. Diretrizes, considera-se
das potencialidades de pessoas 4, inciso III). público-alvo do AEE:
portadoras de deficiências, I – Alunos com deficiência:
condutas típicas ou de altas Segue nesta mesma lei um capítulo aqueles que têm impedimentos
habilidades, e que abrange os inteiro dedicado a Educação Especial, de longo prazo de natureza
diferentes níveis e graus do defendendo que seja oferecido dentro física, intelectual, mental ou
sistema de ensino. Fundamenta- das escolas atendimento educacional sensorial.
se em referenciais teóricos e especializado, através de serviços II – Alunos com transtornos
práticos compatíveis com as de apoio. O que se destaca em toda globais do desenvolvimento:
necessidades específicas de redação desta lei é a preocupação com aqueles que apresentam
seu alunado. O processo deve a especialização, ou seja, o preparo um quadro de alterações
ser integral, fluindo desde a técnico-profissional adequado, para no desenvolvimento
estimulação essencial até os lidar com os diferentes aspectos do n e u r o p s i c o m o t o r ,
graus superiores de ensino. ensino, e também da aprendizagem. comprometimento nas relações
(BRASIL, 1994, p. 17). sociais, na comunicação ou
Outras regulamentações através de estereotipias motoras. Incluem-
Neste momento, ainda não decretos, resoluções e emendas legais se nessa definição alunos com
está inserido em nosso cenário apareceram desde lá até hoje. Porém, autismo clássico, síndrome de
educacional o Atendimento é ponto de discussão deste artigo Asperger, síndrome de Rett,
Educacional Especializado – AEE, o que decorreu de todas elas que é transtorno desintegrativo
contudo, a Constituição Federal de oferta deste serviço especializado da infância (psicoses) e

Agosto 2016
Boletim SBNpp 29

transtornos invasivos sem outra dos alunos público-alvo da contribui para o baixo rendimento
especificação. Educação Especial; escolar que indicamos como
III – Alunos com altas II – elaborar e executar plano problemática do Ensino Brasileiro
h a b i l i d a d e s /s u p e rd o t a ç ã o : de Atendimento Educacional no início desta discussão. Desta
aqueles que apresentam um Especializado, avaliando a forma, é evidente que o trabalho em
potencial elevado e grande funcionalidade e a aplicabilidade parceria entre os dois profissionais é
envolvimento com as áreas do dos recursos pedagógicos e de perfeitamente possível, contudo, tem
conhecimento humano, isoladas acessibilidade; campos distintos para realizar seu
ou combinadas: intelectual, III – organizar o tipo e o trabalho.
liderança, psicomotora, artes e número de atendimentos aos
criatividade. alunos na sala de recursos O que se aproxima neste viés,
Art. 5º O AEE é realizado, multifuncionais; é que dentre as várias atribuições
prioritariamente, na sala de IV – acompanhar a do professor do AEE destaca-se
recursos multifuncionais da funcionalidade e a aplicabilidade por ir ao encontro com a essência
própria escola ou em outra dos recursos pedagógicos e de do trabalho neuropsicopedagógico
escola de ensino regular, no acessibilidade na sala de aula necessidade de compreender como
turno inverso da escolarização, comum do ensino regular, bem acontece a aprendizagem. Nesse item,
não sendo substitutivo às como em outros ambientes da realizar atividades que estimulem
classes comuns, podendo ser escola; o desenvolvimento dos processos
realizado, também, em centro V – estabelecer parcerias mentais como atenção, percepção,
de Atendimento Educacional com as áreas intersetoriais na memória, raciocínio, imaginação,
Especializado da rede pública elaboração de estratégias e na criatividade, linguagem, na intenção
ou de instituições comunitárias, disponibilização de recursos de de buscar a integração pessoal,
confessionais ou filantrópicas acessibilidade; social e escolar de todos os alunos,
sem fins lucrativos, conveniadas VI – orientar professores e sendo eles da educação especial ou
com a Secretaria de Educação famílias sobre os recursos aqueles que têm baixo rendimento, é
ou órgão equivalente dos pedagógicos e de acessibilidade onde se funde a atuação destes dois
Estados, Distrito Federal ou dos utilizados pelo aluno; profissionais
Municípios. VII – ensinar e usar a tecnologia
assistiva de forma a ampliar
Para atuar com este grupo, é habilidades funcionais dos
necessário um profissional com alunos, promovendo autonomia
formação específica, sendo ele um e participação;
professor. Segunda esta mesma VIII – estabelecer articulação
Resolução, em seu art. 12, é com os professores da sala
necessário formação inicial com de aula comum, visando à
habilitação para docência, somada a disponibilização dos serviços,
formação específica para Educação dos recursos pedagógicos e de
Especial. acessibilidade e das estratégias
que promovem a participação
O artigo seguinte desta Resolução dos alunos nas atividades
detalha as atribuições do Professor escolares.
que deve atuar no Atendimento
Educacional Especializado, em sala de Tendo claro as atribuições
recursos: deste profissional, em detrimento
do que a Sociedade Brasileira de
Art. 13. São atribuições do Neuropsicopedagogia coloca quanto
professor do Atendimento as atribuições do Neuropsicopedagogo
Educacional Especializado: Institucional, podemos perceber
I – identificar, elaborar, produzir complementariedade na atuação
e organizar serviços, recursos destes dois profissionais. Porém é
pedagógicos, de acessibilidade preciso considerar que, a demanda
e estratégias considerando do AEE vem já com diagnóstico
as necessidades específicas formalizado, e diretamente, não

Agosto 2016
30 Boletim SBNpp

Porém, ao professor do AEE falta um desafio enorme para o profissional independente da diversidade.
olha aprofundado a esse respeito, que do AEE alcançar uma educação que
é abarcado pela Neuropsicopedagogia, comtemple a diversidade. Referências
que se direciona a Neurociências
aplicada à Educação. O trabalho A competência técnica e o ANJOS, Isa Regina Santos. O
do Neuropsicopedagogo, por sua estudo são necessários para o Atendimento Educacional Especializado
vez, é direcionado a um campo que estabelecimento de uma prática em Salas de Recursos. Disponível em:
temos uma grande lacuna no sistema pedagógica séria, comprometida e http://200.17.141.110/periodicos/revista_
educacional brasileiro: as crianças embasada em fundamentação teórica forum_identidades/revistas/ARQ_FORUM_
sem diagnóstico, e que por condições sólida. Diante desse olhar mais IND_9/FORUM_V9_01.pdf. 2011,
sociais, financeiras e culturais, não refinado percebeu-se que ambos acessado em 18 de jul. de 2016.
são atendidas por ele. Aliados, o profissionais, tanto o Professor do
Atendimento Educação Especializado AEE como o Neuropsicopedagogo, ANDRADE, Olga Valéria. ANDRADE, Paula
e a Neuropsicopedagogia colocam na precisam ter diante das especificidades Estevão. CAPELlINI, Simone Aparecida.
prática o princípio da inclusão, com embasamento teórico que auxiliam Identificação Precoce do Risco para
plena efetividade. Ambos têm papel na compreensão da diversidade Transtornos da Atenção e da Leitura
diferenciados na Equipe Técnica advinda dos do aluno, facilitando o em Sala de Aula. Disponível em:http://
Escolar, contudo, juntos são garantia desenvolvimento da aprendizagem. w w w. s c i e l o . b r/s c i e l o . p h p? s c r i pt = s c i _
de evolução educacional, e podem, arttext&pid=S0102-37722013000200006
melhorar índices de desempenho dos Sem dúvida que as descobertas . 2013. Acessado em 10 de jul. 2016.
sistema de ensino. Eis um desafio, sobre aprendizagem trouxeram
social e políticos, sobre tudo em prol contribuições efetivas para o BRASIL. Conselho Nacional de Educação.
do desenvolvimento humano: incluir trabalho pedagógico. Se educar Câmara de Educação Básica. Parecer CNE/
o Neuropsicopedagogo Institucional é promover a aquisição de novos CEB nº 04/2009. Diretrizes operacionais
dentro das escolas. comportamentos alcançando a para o atendimento educacional
autonomia, é necessário saber como especializado na Educação Básica,
Como promover atividades e se processa esse conhecimento para modalidade Educação Especial. Brasília:
estratégias de ensino, avaliação saber como intervir rompendo assim 2009.
e intervenção, desconhecendo o com uma estrutura horizontalizada,
sistema nervoso e seu funcionamento e assegurando a transversalidade _______. Ministério da Educação. Lei de
relacionado a aprendizagem humana? na busca de uma escola que seja Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Como identificar que a aprendizagem realmente para todos dentro de suas Estabelece as diretrizes e bases da
ocorreu de forma efetiva? especificidades. Isso só neurociência educação nacional. Brasília, 1996
pode oferecer a qualidade na
Compreender o homem em especificidade. ________. Política Nacional da Educação
sua totalidade bem como entender Especial na Perspectiva da Educação
sua condição específica genética, Atendimento Educacional Inclusiva. Documento elaborado pelo
biológica, social e cognitivamente, é Especializado e Neuropsicopedagogia, Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria
fundamental. É imprescindível que com demandas diferentes para Ministerial nº 555 de 5 de junho de 2007.
no ambiente escolar onde ocorre a trabalhar, com certeza, podem
aprendizagem tenhamos claro como alinhar sua atuação em benefício ________. Senado Federal. Constituição da
funciona nossa cognição e o córtex da aprendizagem dos alunos, República Federativa do Brasil. Brasília,
cerebral. Vamos adiante com essa sejam deficientes, possuidores de DF, 1988
ideia? transtornos do desenvolvimento,
superdotados ou com altas BRASIL. Presidência da República. Casa
habilidades, ou ainda, apenas tenham Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS dificuldades que ainda não foram Decreto presidencial nº 7.611 de 17
identificadas, mas que pela rotina de novembro de 2011. Dispõe sobre
A partir dos estudos realizados das instituições escolares, ficam á a educação especial, o atendimento
foi possível ampliar a reflexão sobre margem do trabalho pedagógico. educacional especializado e dá outras
os rumos que a educação está providências
tomando com os avanços científicos. Caminhemos para plenitude no
Foi imprescindível tratar do papel trabalho com a inclusão, enxergando CONSENZA, Ramon M. e GUERRA,
do educador e sua formação. É um possibilidades para todos, Leonor B. Neurociência e educação:

Agosto 2016
Boletim SBNpp 31

como o cérebro aprende – Porto Alegre: RUSSO, Rita Margarida Toler.


Artmed,2011. Neuropsicopedagogia clínica:
introdução, conceitos, teoria e prática.
JUNIOR, Edson Mendes. TOSTA, Estela Inês Curitiba: Juruá, 2015
Leite. 50 Anos de Políticas de Educação
Especial do Brasil: Movimentos, Avanços E SOCIEDADE BRASILEIRA DE
Retrocessos. IX ANPED SUL – Seminário de NEUROPSICOPEDAGOGIA- SNBPp
Pesquisa em Educação da Região Sul. 2012 (Brasil).
Sandra Lucia de Oliveira Comini
KASSAR, M.C.M; REBELO, A.S. O Resolução nº 03/2014. Código
Pós-graduada em Neuropsicopedagogia
“especial “ na educação, o atendimento de Ética Técnico-Profissional da e Educação Especial Inclusiva e
Psicopedagogia. Graduada em Pedagogia
especializado e a Educação Especial. In: Neuropsicopedagogia, Joinville, 30 de
e Supervisão Pedagógica. Alfabetizadora
VI Seminário Nacional de Pesquisa em jul.2014. há 25 anos e há 4 anos supervisora
Educação Especial – Prática Pedagógica pedagógica.

na Educação Especial: multiplicidade do _______. Nota Técnica 01/2016. Conselho


atendimento educacional especializado. Técnico-Profissional da Sociedade
Nova Almeida, abr. 2011 Brasileira de Neuropsicopedagogia.
Joinville, 16 de mar. de 2016.
MUSSEN, Paul H. O Desenvolvimento
Psicológico da Criança, Zahar editores.
Rio de Janeiro 1978.

Angelita Fülle
Membro do Conselho Técnico-Profissional
Membro do Conselho Fiscal
Mestranda em Educação na Linha
de Formação de Professores pela
UNEATLANTICO/Espanha através da
Fundação Universitária Iberoamericana
- FUNIBER/Espanha . Pós-Graduada
em Práticas Multidisciplinares e Gestão
Educacional e Gestão Estratégica em
Educação a Distância, pós-graduanda em
Neuropsicopedagogia e Educação Especial
Inclusiva pelo CENSUPEG e Graduada em
Pedagogia.

Agosto 2016
SBNPp
32 Boletim SBNpp

GESTÃO 2016 – 2018

Presidente Vice-Presidente
Luiz Antonio Corrêa Rita Margarida Toler Russo

Secretaria Executiva Secretaria Institucional Tesoureira


Aline Carolina Rausis Clarice Luiz Sant’anna Rikeli Ferreira Thives Hackbarth

Conselho Fiscal Conselho Fiscal Conselho Fiscal Conselho Fiscal


Marlene Gonzatto Angelita Fülle Rosa Elena Seabra Mayra Minohara Campos de Sousa

Conselho de Ética Conselho de Ética Conselho de Ética Conselho de Ética


Alício Schiestel Joselma Gomes Vanessa Leite Machado Bárbara Madalena Heck da Rosa

Conselho Técnico-Profissional Conselho Técnico-Profissional Conselho Técnico-Profissional Conselho Técnico-Profissional


Rita Margarida Toler Russo Henrique Bueno Ruiz Cristiano Pedroso Fabrício Bruno Cardoso

Conselho Técnico-Profissional Conselho Técnico-Profissional Conselho Técnico-Profissional


Ana Lúcia Hennemann Vera Lúcia de Siqueira Mietto Angelita Fülle

Agosto 2016

Você também pode gostar