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Objetivos

Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3

O que é planejamento O planejar e a instituição O planejamento


escolar estratégico
Identificar os conceitos de
planejamento escolar e as
Reconhecer as funções do Identificar as características
diferentes compreensões do
planejamento no âmbito do planejamento estratégico
termo ao longo da história.
escolar e na organização da no âmbito educacional e
escola. escolar.

Introdução

O desejo de planejar advém da necessidade de alguém ou de algum grupo


social: quando a realidade coloca diante das pessoas ou de grupos alguma
situação que é percebida como problema, exigindo uma reflexão para
solucioná-lo, planejamos ações. Sem um problema originário percebido como
tal, não se colocaria a necessidade do planejamento. Ao perceber que algo vai
mal, há um diálogo mais efetivo com a realidade, que será “examinada” e sobre
a qual se deseja intervir. Assim, a intervenção exigirá um plano, um
planejamento.

O ato de planejar existe desde os tempos em que o homem se percebeu como


ser humano. Antes mesmo de querer pensar em formar uma sociedade mais
estruturada, o homem já planejava. E o fazia porque, diferentemente de outros
animais, percebia a necessidade de articular ações para tornar sua atitude mais
eficaz. Assim, planejava formas de caçar em função das possibilidades de
sucesso; passou a retirar as peles dos animais para proteger-se do frio; dominou
o fogo e desenvolveu técnicas de preservação da chama; percebeu que
precisava se proteger da chuva e outras intempéries e, sabendo estimar quando
ela viria, planejava a hora de se abrigar, entre outras ações que, antes de serem
praticadas, eram pensadas, ou seja, planejadas.

Com o passar do tempo e a complexificação das estruturas sociais, o


planejamento foi se tornando parte estruturante da vida humana. A agricultura
exigia aprender a cuidar da terra, a plantar na estação correta do ano, a colher
no momento apropriado de cada cultura. Os locais e momentos em que
apareceriam as caças também passaram a ser conhecidos e permitiam o
planejamento do ato de caçar; as migrações de inverno eram preparadas
conforme a chegada do frio. Tudo isso exigia planejamento.
1 - O que é planejamento

Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os conceitos de


planejamento escolar e as diferentes compreensões do termo ao longo da
história.

O que é planejamento?

O planejamento escolar

Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre o planejamento escolar.

Com a complexificação das sociedades, foi necessário ampliar e melhor


estruturar a organização de diferentes setores, como o da produção, do
comércio, do uso dos espaços públicos e a estruturação das normas sociais,
além de aperfeiçoar as estratégias de guerra, tornando-as mais eficientes.
Assim, o ato de planejar ganhou maior sistematicidade e uso social diversificado,
passando a integrar a vida social e mesmo a familiar. A noção de planejamento
tornou-se mais ampla e complexa, de acordo com o setor, com o nível
institucional ao qual se aplica e com a abrangência de seu conteúdo. Atualmente,
é percebido como uma ferramenta usada pela administração que viabiliza uma
percepção mais precisa da realidade, da avaliação dos caminhos possíveis
para se chegar a determinados objetivos.

A racionalidade da reflexão e de propor ações é uma marca do planejamento,


que normalmente não está sujeito, como as ações na prática estão, a problemas
eventuais e imprevisíveis que podem ocorrer. É fruto de um processo de
deliberação abstrato e explícito que escolhe e organiza ações, antecipando os
resultados esperados a partir de objetivos predefinidos. Sua constante avaliação
é necessária, já que tanto as circunstâncias de sua aplicação quanto
interferências externas podem ocorrer, comprometendo os resultados. Vejamos
alguns tipos de planejamento:

Planejamento estratégico

• Destina-se à organização como um todo e ao longo do tempo.

• Menos ligado às ações do que aos propósitos e à estrutura da organização —


educacional ou de qualquer outro setor da sociedade.

• É uma ferramenta gerencial adotada pelas empresas, buscando estabelecer metas


de médio e longo prazo.

• Centraliza as decisões nos gestores que chefiam a empresa ou a instituição.

• É um processo contínuo e permanente pelo qual são definidos e revisados a missão


da organização, sua visão de futuro, os objetivos e os projetos de intervenção que
visam a mudanças ou permanências desejadas por aqueles que lideram a
organização.

Planejamento Tático

É mais setorial e envolve metas e tarefas a serem executadas pelo pessoal do setor.

Planejamento Operacional

Por meio deste, planos de aplicação imediata aos níveis mais rotineiros e básicos de uma
instituição são produzidos.
Nas sociedades atuais, o planejamento é tão familiar que às vezes passa
despercebido, mesmo estando presente em todos os segmentos de nossas
vidas. Atualmente, o ato de planejar está consolidado como algo de suma
importância, e temos formas e esferas do planejamento percebidas e definidas
de diferentes maneiras. Falamos em:

• Planejamento pessoal

• Planejamento financeiro

• Planejamento organizacional

• Planejamento empresarial

• Planejamento estratégico

• Planejamento familiar

• Planejamento operacional

• Planejamento urbano

• Planejamento educacional e Escolar

Pode-se dizer que o termo planejamento foi e vem sendo empregado em


diferentes cenários. Algumas vezes de maneira mais restrita e em outros
momentos de modo mais amplo e complexo. Mas a notoriedade que o termo
possui atualmente advém do período da Revolução Industrial e com as novas
perspectivas de compreensão da administração no final século XIX e início do
século XX, incluindo-se a administração do Estado. Foi também nesse período,
após a Primeira Guerra Mundial e com a Revolução Russa de 1917, que o
planejamento começou a ser aplicado no campo da economia. Rejeitado pelos
liberais, que entendiam que a economia seria autorregulável e apostavam na
“mão invisível” do mercado, o planejamento econômico centralizado no Estado
foi adotado pelo regime comunista implantado na União Soviética e,
gradativamente, foi sendo incorporado como necessidade nas economias
capitalistas. Atualmente, é impensável uma economia não planejada, mesmo
que não gerenciada em detalhes pelo Estado.

Sendo o planejamento intimamente relacionado com os conceitos de organização ou


administração e de produtividade, o planejamento em níveis distintos e formas
específicas em função do setor a que se aplica é parte da vida de todos nós. Como
não poderia deixar de ser, ele está também no campo da educação, em níveis mais
gerais por meio do planejamento educacional e, mais especificamente em cada
unidade escolar, em diferentes instâncias das escolas. Os estudos do planejamento
educacional e escolar se situam, portanto, no campo da administração educacional e
escolar, respectivamente.

Saiba mais

Historicamente, além desse espraiamento em campos e da estruturação em


níveis, o planejamento também evoluiu conceitualmente e encontrou em
Frederick Winslow Taylor seu autor de referência. O livro escrito por ele, Os
princípios da administração científica, publicado em 1911, tornou-se um
clássico incontornável nos estudos de administração e economia em geral, e
mesmo nos estudos da administração educacional e escolar ainda atualmente.
Foi a partir de seus estudos e de sua obra, trazendo o termo para a área
empresarial, que cursos e formações específicas para o campo da administração
ganharam corpo e notoriedade.
Os outros quatro princípios da administração científica (seleção ou preparo;
controle; execução; e singularização das funções) não estudaremos neste
material.

A administração científica é, portanto, um modelo de gestão que se baseia na


aplicação do método científico à administração com o objetivo de garantir uma
melhor relação custo-benefício nos sistemas de produção, aumentando-se,
com isso, a produtividade da empresa e, consequentemente, seus lucros. O
pensador percebeu que a padronização de métodos de produção poderia
contribuir sensivelmente para o aumento da produção, sem ampliação de
custos, e formulou cientificamente os seus princípios.

Atualmente, embora a administração científica e seus princípios ainda exerçam


influências sobre o campo de estudos da administração, muitas outras
perspectivas são consideradas relevantes, questionando o taylorismo e
buscando outras formas de administrar e de incluir o planejamento da gestão do
Estado e de empresas. Uma das novas formas de planejamento que tem
adesões em muitos setores é o planejamento participativo, que envolve um
número maior de pessoas e de setores de empresas, escolas e parte do Estado.
Muitas outras experiências e propostas de planejamento vêm ocorrendo mundo
afora e são estudadas, aperfeiçoadas e corrigidas por meio daquilo que se
convencionou chamar de feedback, uma análise avaliativa dos resultados das
ações planejadas, que sugere as correções de rumo a serem implantadas. Essa
avaliação é um procedimento permanente dos processos de planejar, sempre
retomados pós-ação para serem melhorados e redefinidos. Ao incorporarmos a
noção de feedback ao ato de planejar, estamos reconhecendo o caráter cíclico
de todo o planejamento, que é retomado desde o início cada vez que uma
avaliação se faz e a realimentação do processo é efetivada.

O planejamento educacional e escolar

O planejamento faz parte de todos os setores da sociedade e pode se organizar


de modos distintos conforme escolhas daqueles a quem cabe a responsabilidade
por ele. Essas escolhas envolvem gestores, mas também (mesmo antes deles)
decisões políticas a respeito do modo de planejar e daquilo que deverá ser o
conteúdo do plano. Isso porque a definição dos objetivos mais amplos de
qualquer organização é sempre fruto de uma opção política.
Isso porque, sem uma organização básica, uma escola não teria a mínima
condição de funcionamento. Mais do que isso, o planejamento escolar se
inscreve em uma política educacional — pública ou privada — definida em
documentos que devem ser respeitados por todas as escolas do sistema no
momento de sua organização específica.

Um dos grandes conflitos em torno do planejamento — em especial o chamado


estratégico — no campo da educação reside no fato de sua origem estar ligada às
necessidades da economia capitalista, do mercado, da indústria. Seus princípios
básicos estão centrados em uma racionalidade tecnicista e seus desdobramentos — a
partir dos anos 1970 — nos princípios da tecnocracia, na qual eficiência e
produtividade são características básicas da lógica reprodutivista do modo de
produção que esse modelo encarna. Ou seja, um modelo pautado na técnica, no
domínio da técnica e na reprodução da técnica como a coisa mais importante para ter
sucesso na educação.

Existem muitas formas econômicas de compreender o cotidiano social do


capitalismo; as principais delas são dos autores de economia, com destaque
para Adam Smith e Karl Marx como os primeiros interpretadores do fenômeno
do capital nos séculos XVIII e XIX. O conceito de modo de produção é cunhado
por Marx, ampliando a visão de Smith, no sentido de perceber qual a principal
forma de produção de riqueza. Com o capital e suas dinâmicas, entende-se que
controlar a produção — ora industrial, ora de riquezas setorizadas — marca o
momento de uma sociedade definida pelo capital.

Esse primado do planejamento tecnicista não é total, e o planejamento


educacional e escolar atualmente o transcendem, indo muito além dessa visão
tecnicista, bastante questionada na atualidade. A mais difundida das propostas
de superação do planejamento tecnicista tradicional, reconhecido por alguns
como tecnocrático e por outros como burocrático, é o planejamento participativo.
O planejamento participativo recebe esse nome porque pressupõe que seja feito
não por técnicos especializados ou por políticos no poder, mas pelo conjunto de
pessoas envolvido com a instituição — seja ela qual for, mas, no nosso caso, as
escolas — e interessado em pensá-la e em suas ações, com autonomia
suficiente para que a participação não seja um simulacro, caindo na cooptação
de que fala Gandim. A pensadora da educação, Ilma Veiga (2005), afirma que
a escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto
educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base
em seus alunos.

Nos campos educacional e escolar, é preciso, também, diferenciar o caráter do


planejamento nas instituições públicas e privadas. Podemos dizer que, no caso
das redes privadas os planos de desenvolvimento institucional (PDI) e os
projetos pedagógicos institucionais (PPI) são definidos pelos proprietários e
gestores contratados para a tarefa. Já no caso das redes públicas, as escolas
elaboram os projetos político-pedagógicos locais — tornados obrigatórios para
todas as escolas a partir da aprovação da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação) em 1996 —, recebendo orientações gerais da administração do
sistema, do MEC e das secretarias de Educação estaduais e municipais.

Há, ainda, o planejamento especificamente pedagógico, definido dentro das


escolas e do qual, normalmente, participam os docentes da escola e,
eventualmente, representantes dos responsáveis, de acordo com as normas
gerais da gestão democrática da escola pública.

Vejamos a seguir alguns artigos da LDB, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de


1996, que demonstram a importância que o planejamento assume nos atuais
sistemas de ensino, a preocupação em normatizá-lo de modo democrático e o
investimento na autonomia das unidades escolares. Percebendo, ainda, os
diferentes níveis em que o planejamento deve ocorrer, bem como a
subalternidade dos níveis mais específicos ao projeto da escola:

Artigo 12

“Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu


sistema de ensino, terão a incumbência de: I – elaborar e executar sua proposta
pedagógica [...].” (LEI Nº 9.394/1996).

Artigo 13

“Os docentes incumbir-se-ão de: I – participar da elaboração da proposta


pedagógica do estabelecimento de ensino; II – elaborar e cumprir plano de
trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino [...].”
(LEI Nº 9.394/1996).

Artigo 14

“Os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino


público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme
os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na
elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades
escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.” (LEI Nº 9.394/1996).
Artigo 15

“Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de


educação básica que os integram progressivos graus de autonomia
pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas
gerais de direito financeiro público.” (LEI Nº 9.394/1996).

A tentativa de legislar dessa forma sobre o planejamento escolar está baseada


no princípio da gestão democrática, presente na LDB e inspirador dos itens I
do artigo 13, e do artigo 14, ao determinar que todos os profissionais da
educação participem na elaboração do projeto político-pedagógico da escola,
reconhecendo funcionários de apoio como “educadores” e incorporando pais e
responsáveis à gestão da escola. Ressaltamos, ainda, o artigo 15 e a
perspectiva de autonomização progressiva das escolas em relação ao sistema
de ensino que integram, democratizando não apenas a gestão local, mas
também a relação dela com o sistema. Como vimos, essa preocupação
democrática também se faz presente no campo acadêmico do estudo do
planejamento escolar e sua proposta de planejamento participativo. Celso
Vasconcellos (2008), pensador brasileiro que se dedica ao estudo do
planejamento escolar, propõe o planejamento estruturado da seguinte forma:
PPP e o planejamento

O projeto político-pedagógico é um documento legal obrigatório desde a LDB


(Lei nº 9.394/1996) e que deve ser elaborado pelas escolas, definindo objetivos,
interações, missões, entre outros aspectos. Nos níveis mais especificamente
pedagógicos dos planos de ensino e das aulas, sempre em consonância com o
PPP da escola, os planejamentos devem obedecer, também, a uma lógica
participativa. Vejamos:

Essa esfera pontual do planejamento escolar exige do docente algum trabalho


anterior de diagnóstico dos alunos, já que os planos de aula precisam levar em
consideração os conhecimentos prévios destes e as defasagens existentes,
procurando garantir que todos os alunos alcancem os objetivos de aprendizagem
contidos no plano curricular geral e expressos especificamente em cada plano
de aula.

Como instrumento personalizado de trabalho, o plano de aula deve ser


desenvolvido para atingir os objetivos definidos no plano curricular, mas
respeitando a especificidade de cada turma, precisando, portanto, ser formulado
para cada grupo em suas características, quando estamos diante dos mesmos
conteúdos. Isso significa, do ponto de vista conceitual, que o conhecimento da
realidade sobre a qual se quer intervir antecede o próprio ato de planejar.

Vem que eu te explico!

Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você


acabou de estudar.

Módulo 1 - O planejamento educacional e escolar

Módulo 1 - A relação entre o PPP e o planejamento

Atividade discursiva

O planejamento escolar sempre sofre variações quando chega às salas de aula,


permanentemente sujeitas a mudanças de rumo. Ao avaliarmos os resultados
da prática docente, temos por hábito responsabilizar os professores ou os alunos
em caso de fracasso. Do ponto de vista da teoria do planejamento, quais outras
instâncias deveriam ser consideradas quando há fracasso nos resultados
planejados?

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O planejamento educacional é modificado em dois eixos, as transformações da


gestão e as mudanças nas tendências educacionais. Nos períodos de influência
do tecnicismo na educação, o planejamento prevalece como
Questão 2

A identificação do planejamento tem níveis e tipologias diversas quando


pensamos em educação. A partir desse ponto, assinale a afirmativa correta.
2 - O planejar e a instituição escolar

Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as funções do


planejamento no âmbito escolar e na organização da escola.

O planejamento e a instituição escolar

É comum acreditar na diferença entre os que pensam e planejam e aqueles que


executam as tarefas. Não há, nas instituições, empresas e escolas, profissionais
isentos da tarefa de planejar. Mesmo que em escala e níveis diferentes, todo
profissional atuando na escola — e nas empresas — em algum momento precisa
planejar sua ação. É um equívoco acreditar que cabe às autoridades
governamentais a obrigação de apresentar um planejamento para as escolas.
Não é assim que o processo educativo funciona.

Por mais que o governo de um estado ou de um país defina normas gerais de


funcionamento ou mesmo diretrizes para a ação pedagógica, cada escola
precisa ter seu próprio planejamento. Não se faz uma escola somente com
uma sala de aula e um professor que siga um planejamento externo do qual não
participou. O processo escolar vai muito além disso e envolve muita planificação.
Quando pensamos em uma escola funcionando, às vezes não percebemos o
quanto aquela rotina exigiu ações de planejamento anterior. Desde a elaboração
dos projetos político-pedagógicos, passando pela logística de funcionamento no
dia a dia, pela organização da gestão e do trabalho educativo em si, nos
processos ensino-aprendizagem, tudo em uma escola precisa ser planejado, de
preferência coletivamente. Dos horários das diferentes aulas à organização do
uso dos espaços e chegando aos conteúdos escolares, nada se faz
espontaneamente.

A estruturação de uma escola se assemelha a um quebra-cabeça, no qual


cada peça precisa encontrar seu lugar sob pena de jamais se chegar a uma
organização satisfatória. Ou seja, para que uma escola funcione
satisfatoriamente no cotidiano, muitos planos e muitas reflexões precisam ser
realizados antes. Não é por acaso que, em geral, profissionais de educação
retornam às escolas alguns dias antes dos alunos: é para planejar. Alguns
exemplos úteis à compreensão dessa necessidade de planejamento logístico
para o bom funcionamento de uma escola podem ser úteis. Vamos a eles:

Recreação

A recreação nas escolas é um momento de muitos ruídos e, para evitar acidentes envolvendo
alunos muito grandes e os menores, com frequência, há uso em horários alternados dos espaços
abertos ou mais amplos. O inevitável barulho produzido pelo recreio de uns interfere nas aulas
dos outros. Assim, para evitar maiores prejuízos, as aulas nesse horário precisam alternar
diferentes disciplinas e, quando for o caso, docentes, para não sobrecarregar ninguém e nenhum
conteúdo com dificuldades. Ou seja, é o planejamento dos horários das aulas que precisa ser
sabiamente estruturado para assegurar esse equilíbrio.
Aula

Outro problema semelhante é o das aulas no início e no final dos dias, que tendem a ser mais
“curtas” do que as do meio do dia, em virtude de sempre haver algum atraso no início do dia e
alguma dispersão próximo ao horário de saída.

Horários

Outro constrangimento a ser levado em conta é a organização dos horários. Somem-se a isso
outros problemas, pessoais e profissionais de docentes que atuam em mais de uma escola ou
com outras tarefas, limitando disponibilidades. Assim, chegamos à “arte” envolvida em uma
simples montagem de horário de aulas.

Espaços especializados

Do mesmo modo, há outros limites e outras necessidades, como o uso do refeitório e dos
espaços especializados — laboratórios, salas-ambiente, bibliotecas — e, assim, temos uma
percepção melhor da importância desse tipo de planejamento logístico nas escolas.

Junte-se a ele o planejamento mais propriamente pedagógico, do qual os


professores devem participar e considerar ao organizar o trabalho, como em que
dia e horário eles encontram melhores condições para ministrar conteúdos mais
densos e quando será necessário trabalhar exercícios ou atividades de menor
exigência intelectual. E usando essa informação, organizar as ações para cada
turma, respeitando as sequências necessárias dos conteúdos e, por caminhos
diferentes, chegar com suas turmas ao mesmo ponto nas avaliações mais gerais.
Poderíamos multiplicar os exemplos e ampliar as variáveis dos nossos quebra-
cabeças, mas o importante a reter nesse momento é que o ato de planejar
permeia, basicamente, toda a estrutura e ação de uma escola, tanto física quanto
pedagógica, passando pela gestão dos espaços, pelas normas curriculares e
pela sequência do trabalho pedagógico, pelos critérios e processos de
contratação dos professores e demais profissionais de educação, pelos modos
de relacionamento interno e com a comunidade escolar. Tudo envolve
planejamento!

As secretarias planejam, e o planejamento de uma escola dialoga com o das


secretarias e com os seus planejamentos pedagógicos, financeiros, de projetos,
em vários níveis. Depois vem o planejamento docente, que dialoga com o da
escola, com o da secretaria e com os seus. Ainda temos os alunos, enfim, se
não houver uma concatenação de objetivos e fins, ocorre a fragilização dos
resultados. Diante de um processo tão complexo, só há uma solução: planejar
com muito cuidado!

O planejamento prevê ações para todas as áreas da escola, envolvendo


gestores, professores, profissionais de educação não docentes e a comunidade
escolar. A gestão escolar envolve, portanto:

No campo estritamente pedagógico, é mediante o planejamento que a escola


coloca em prática o projeto político-pedagógico, define os caminhos a serem
traçados para atingir seus objetivos, os modos de como será desenvolvida cada
etapa do trabalho, qual o eixo condutor do ensino e dos diferentes componentes
curriculares.

Considerando essa relevância do planejamento pedagógico dentro do


planejamento escolar, faz-se necessário considerar os docentes como
elementos de grande importância, não apenas na execução de planos, mas em
sua elaboração cotidiana.
Com isso, afirmamos que a tarefa de ensinar não pode ser concebida como um
processo mecânico ou estático, em que os resultados estão definidos e podem
ser predeterminados como produto de uma ação mecanizada. Vejamos:

Sala de Aula

É um espaço de interação humana, no qual pessoas convivem com outras, com


interesses e comportamentos diversos. Por isso mesmo que a sala de aula se
constitui como espaço privilegiado de negociação, formação do pensamento
crítico e produção de novos sentidos em relação aos conhecimentos formais e
outros a partir de situações de aprendizagem previamente planejadas. Por isso,
o planejamento escolar precisa ser pensado muito além do planejamento
empresarial, que envolve estratégias e metas de produção de objetos ou
serviços, ao contrário da escola, espaço-tempo de formação humana e de
produção de aprendizagens significativas.

Educadores

Todos os profissionais de uma escola são educadores, pois a articulação entre


as diferentes instâncias e dimensões do planejamento — material,
organizacional, logístico e pedagógico — só funcionam articuladamente, de
modo interdependente.

Prática Pedagógica

Para o profissional docente, pode-se afirmar que a prática pedagógica docente


seria a junção de três momentos: o planejamento, a mediação e a avaliação. São
três momentos distintos e autônomos, mas intrinsecamente vinculados e sempre
presentes, um influenciando o outro. Eles têm uma relação de interdependência
cujo reconhecimento depende da qualidade e da coerência de todo o processo
da prática pedagógica. Ao longo do processo, certamente ocorrerão momentos
de prevalência de um sobre o outro, mas nunca de ausência. Pode-se, ainda,
considerar que, de modo cíclico, o momento de avaliação precederá novos
momentos de planejamento, funcionando como feedback e levando ao
replanejamento, tendo em vista novas ações, e assim sucessivamente.
[...] quando se fala em planejamento escolar, estamos indo muito além da elaboração
de planos de aula pelos docentes a partir de alguma orientação externa. Não se deve,
portanto, confundir o planejamento com a elaboração de planos de aula. São bem
diferentes! Planos de aula fazem parte do planejamento, mas se integram às demais
instâncias. Ou seja, pode-se dizer que o planejamento, como processo, é permanente;
o plano de aula, por sua vez, como produto, é provisório.

(VASCONCELOS, 2010, p. 36)

A importância do planejamento escolar

Quando a ideia de planejamento chegou à educação e às escolas, a partir das


interferências da administração científica burocrática sobre a administração
escolar, houve muita resistência. Não porque não houvesse planejamento nas
escolas, mas porque a ideia de assemelhar uma escola a uma empresa causava
estranheza e muita resistência no meio educacional.

Além de auxiliar a gestão e a logística administrativa e pedagógica, o


planejamento contribui para a organização dos conteúdos a serem ministrados,
sua distribuição em meses, semanas e aulas, tornando-se um eixo auxiliar
fundamental para o professor na organização do seu trabalho.

Esse favorecimento de trocas de experiências, dúvidas, sucessos e problemas


pode levar ao amadurecimento local do trabalho em uma escola específica e,
quando se consegue uma interlocução maior, espraiar-se pela rede de ensino.
Um bom planejamento pode levar à transformação de conceitos abstratos em
realidade concreta, pois, mais do que um documento, ou vários, expressam
possibilidades e servem de eixo norteador do trabalho na escola. Conforme visto,
o processo que envolve o planejamento traz consigo a avaliação do que se
realizou e a possibilidade de replanejamento.

Considerando o caráter cíclico do ato de planejar, melhor formulado como


planejamento-implementação-avaliação, pode-se afirmar que ele é o eixo
condutor do trabalho na escola (em permanente mudança), desde que avaliado
no tempo correto. A ansiedade em avaliar, antes de dar tempo para a
consolidação das ações planejadas, pode trazer mais problemas do que
soluções, já que é preciso respeitar o processo antes de avaliar seu sucesso ou
não. Para formular um bom planejamento:

Não raro, boas ideias acabam se mostrando ineficientes, inovações naufragam


em meio a intempéries repentinas e outros problemas do cotidiano se interpõem,
exigindo mudanças. Mas o oposto também acontece, quando planos se mostram
úteis, eficazes e mesmo multiplicáveis em função do seu sucesso. Saber lidar
com ambos, sucessos e fracassos, são qualidades de bons professores e
gestores, já que fazem parte daquilo que nenhum planejamento pode prever: a
dinâmica da vida cotidiana nas escolas, com suas imprevisibilidades e
incontrolabilidades.
Essas práticas, comuns nas escolas, criam novidades em relação àquilo que foi
previsto e prescrito e, com frequência, levam a adaptações nos planos, que
precisam estar lá para que a escola não se desorganize e seja capaz de recriar
os planos e seguir com a ação de modo coerente com seus objetivos.

Outra dimensão em que o planejamento escolar surge como elemento de


grande relevância é o do diálogo escola-comunidade. A estruturação do
projeto político-pedagógico com a participação da comunidade e a existência de
conselhos operacionais e ativos dentro das escolas são pontos centrais de
atendimento ao princípio da gestão democrática. Nessa perspectiva, o
planejamento precisa expressar, também, os interesses da comunidade, de uma
maneira geral, influenciando o direcionamento das metas e as diretrizes da
escola. Assim, nessa perspectiva, todas as partes internas e externas da escola
(docentes, discentes, funcionários, governo, família e toda a comunidade) se
envolvem no direcionamento das diretrizes.
Vejamos como funciona esse diálogo escola-comunidade nas diferentes redes:

De qualquer modo, é mais do que recomendável que a comunidade participe


efetivamente das decisões do planejamento da escola. Nesse contexto, o
planejamento precisa ser pensado ou repensado coletivamente a fim de abrir
espaço para que os membros da equipe de coordenação pedagógica — quando
existirem — e docentes troquem experiências, além de possibilitar que a
comunidade se envolva e se comprometa com a instituição de ensino. Essa
atitude de conciliar interesses de todos os participantes torna a escola mais
consciente das demandas externas e mais democrática.

Etapas do planejamento escolar

Para que o planejamento escolar cumpra sua função, é preciso que ele seja
organizado conforme um cronograma e um sistema em que, gradativamente,
seja possível chegar ao conjunto de aspectos que ele abranja.

No nível macro, o que podemos chamar de estrutura mais geral da escola é a


definição de metas gerais. O planejamento deve seguir o PPP da escola, que
deve permitir o entendimento do cenário da escola para determinar os objetivos
que deseja alcançar. Nesse sentido, temos três etapas:

Embora haja mais duas fases do planejamento a serem apresentadas, esses


três momentos expressam uma sequência que vai do nível mais amplo,
envolvendo a instituição e suas metas mais gerais, ao mais focal, quando
chegamos aos planejamentos docentes para o dia a dia.
Resumindo

Na primeira etapa, portanto, estaríamos no nível do planejamento


estratégico.

Na segunda etapa, vamos à definição setorial das estratégias adequadas aos


objetivos, determinadas pelos diferentes setores da escola, o que poderia ser
percebido como o planejamento tático e, com relação aos docentes, seria a
formulação de planos de curso.

Na terceira etapa, chegamos ao planejamento operacional, talvez o mais fácil


de compreender, já que se debruça sobre as ações cotidianas, planos de aula
docentes e ações ligadas ao que conhecemos como atividades-meio, ou seja,
aquelas necessárias como suporte à atividade-fim, o processo ensino-
aprendizagem.

Depois de finalizado o planejamento, ações de acompanhamento do trabalho


precisam ser organizadas e elas fazem parte da quarta etapa da nossa
reflexão, aquela que prevê a criação de indicadores para que se possa analisar
e acompanhar os resultados das ações desenvolvidas, buscando mensurá-los.
A definição de critérios apropriados é aqui fundamental, já que da precisão
deles dependerá a eficácia da avaliação. Um bom planejamento não está
concluído antes de ser apresentado à comunidade escolar. Assim, após a
elaboração do planejamento, é necessário divulgá-lo em reuniões gerais e focais
para que aquilo que foi decidido pela escola chegue aos seus parceiros externos.
A implantação do planejamento também exige algumas medidas voltadas à
ampliação da clareza da equipe e da comunidade escolar em relação ao plano
e às funções que lhes cabe desempenhar. Para isso, recomenda-se a
elaboração de um plano de trabalho relacionando objetivos e estratégias; uma
explicação clara dos objetivos e uma avaliação dos resultados.

Atividade discursiva

O que é um projeto político-pedagógico?


A relação entre a secretaria e a dinâmica da escola

Vamos pensar de forma prática? Rodrigo Rainha conversa com a professora e


ex-membro da Secretaria de Educação de São João de Meriti, professora Wilna
Melo.

Vem que eu te explico!

Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você


acabou de estudar.

Módulo 2 - A importância do planejamento escolar

Módulo 2 - Etapas do planejamento escolar

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

O planejamento escolar tem muitas dinâmicas, desde o entendimento de que o


planejamento é aplicado na escola até como a instituição pode cumprir seus
objetivos, como nas ações individuais e cotidianas dos seus docentes com
planos de cursos e de aula. Observando a primeira visão, o que se entende por
planejamento escolar?
Questão 2

(UFG – 2019 – Técnico administrativo em educação – adaptada) A gestão da


escola se constrói com a colaboração de todos os envolvidos no processo
educativo; no entanto, é preciso que cada profissional assuma as funções
específicas do cargo que ocupa. Para tal, é necessário que a escola possua
3 - O planejamento estratégico

Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as características do


planejamento estratégico no âmbito educacional e escolar.

O planejamento estratégico

O planejamento estratégico é aquele que envolve o próprio perfil de uma


empresa ou instituição, suas metas de longo prazo e o conjunto dos seus
membros. Assim, é comum encontrar a responsabilidade por essa definição
ampla e geral daquilo que interessa à instituição na mão de gestores altamente
profissionalizados e percebidos como capazes de avaliar e propor planos de
grande escala e longa duração. O planejamento estratégico tanto se diferencia
de instâncias mais específicas do planejamento, de conjuntos de setores ou
mesmo locais — nas quais se desenvolvem o planejamento tático e operacional
— como também de formas de planejamento mais democráticas, especialmente
presentes no planejamento participativo.

No campo da educação, sobretudo a partir da Lei nº 9.394/1996 e da definição


do princípio da gestão democrática como obrigação no sistema público de
ensino, o planejamento participativo vem ganhando adeptos e formulações
importantes para entendermos como ele contribui para a democratização da
educação e das escolas.
Relembrando

A ideia de planejamento advém de necessidades do sistema econômico,


notadamente a partir da Revolução Industrial, que exigiu e promoveu grandes
mudanças no mundo da produção e do trabalho. A complexificação dos sistemas
produtivos e a necessidade de ampliar a produtividade trouxeram consigo a
demanda por formas mais precisas e estruturadas de organização, exigindo mais
e melhores planejamentos.

Não é exagero pensar que duas visões de administração emergem e ganham


notoriedade: uma que propõe especificamente que o campo da administração
seja mais uma das ciências em formação, e outra que pensava na herança das
hierarquias sociais tradicionais como foco central das decisões em torno da
administração. A evolução dessas noções no século XIX e início do século XX,
juntamente à crise do capitalismo e à Primeira Guerra Mundial, faz com que a
administração científica e a planificação da economia assumam certo
protagonismo em relação às tradições.

Antigas estruturas da administração, em especial no que tange ao planejamento,


tornam-se rapidamente obsoletas. Os avanços muito rápidos das tecnologias
transformam o mundo e os processos de produção, exigindo adaptações e
novos planos de gestão do trabalho em diferentes setores. Nesse contexto,
muitas foram as teorias do planejamento formuladas, com maior ou menor
projeção e expressando possibilidades múltiplas de gestão nos mais diferentes
setores e instituições, incluindo a educação.

Foi no imediato pós-guerra, em 1945, que a noção de planejamento estratégico


ganhou notoriedade. A partir de seu uso pelo governo dos Estados Unidos nos
anos 1950 como parte do exercício orçamentário oficial, a ideia se generaliza
como modo de planejamento eficiente. Segundo Christensen e Rocha (1995), o
termo estratégia advém dos estudos da guerra e, ao ser ressignificado para a
gestão, corresponde à capacidade de se trabalhar contínua e sistematicamente
o ajustamento da organização às condições ambientais que se encontram em
constante mudança, tendo sempre em mente a visão de futuro e a perpetuidade
organizacional.

Planejamento educacional

Quando tratamos de planejamento estratégico voltado à educação, a principal


linha reconhecida como importante para o campo é o modelo da abordagem
sistêmica, pautada na teoria geral dos sistemas, elaborada por Ludwig von
Bertalanffy.

A proposta sistêmica busca demonstrar que diferentes instituições de diversos


setores, quando desenvolvem seus sistemas administrativos, apresentam
características comuns. Isso significa que é possível encontrar as mesmas
características em planejamentos aplicadas a sistemas distintos, permitindo,
consequentemente, a percepção do planejamento educacional a partir dessas
teorias.

Essa teoria é claramente integradora, uma vez que expõe a necessidade de se


compreender os diferentes sistemas de modo conjunto, já que perspectivas
isoladas gerariam uma miopia da percepção dos processos de planejamento.
Acreditando em uma “dependência recíproca” entre os agentes que
compõem um conjunto a ser analisado, essa teorização acaba por explicitar, em
relação ao planejamento, que é necessário um conjunto analítico interdisciplinar
a fim de constituir um campo decisório que permita “prever” resultados
possíveis, assim como direcioná-los a tais tendências. Esse é um modelo
possível para a compreensão do planejamento educacional na relação com o
planejamento estratégico, mas não o único.

De qualquer modo, a lição que fica é a da necessidade de consideração do


imponderável nas elaborações de planejamentos, sobretudo no campo da
educação. A complexidade do sistema educacional e as inúmeras variáveis nele
intervenientes, bem como as influências recíprocas, tornam o planejamento
educacional uma tarefa árdua e habitada por imensos desafios.
Quando se reflete sobre os sistemas educacionais, pensando em planejar
ações para seu bom desempenho e aperfeiçoamento permanente, o que se
encontra são possibilidades organizativas e de articulação múltiplas, sem que se
possa definir, com base apenas na racionalidade cognitiva, as melhores
escolhas. É um tipo de planejamento que inclui as decisões sobre a educação
no conjunto do desenvolvimento geral do país.

A elaboração desse tipo de planejamento requer a proposição de modos de


organização do sistema e objetivos ou competências em longo prazo que
definam uma política da educação. É aquilo que deveria ser realizado pelo
governo federal e pelos governos estaduais que possuem seus próprios
sistemas de ensino por meio de planos e programas educacionais, normas legais
e outras. Suas principais expressões são:
Relembrando

Você se lembra de que falamos de planejamentos organizados pelos estados, pelo governo
federal, municípios e que eles funcionam em cascata na organização do planejamento? Eles se
materializam no Plano Nacional de Educação, um documento obrigatório que precisa ser
renovado a cada decênio e fundamenta metas para a educação.

A complexidade e dificuldade inerentes à formulação desse plano e dessas leis


devem-se ao fato de que pensar a educação exige pensar em políticas voltadas
à estruturação das escolas e à adequação de diferentes estudantes, com
diversas características sociais e individuais, a distintos espaços e realidades
sociais.

É preciso definir modelos educativos em função de objetivos também


definidos para a educação, chegando ao planejamento estritamente
pedagógico, que envolve a dimensão da formação e da contratação de docentes.
Há, ainda, as questões relacionadas à logística de implantação de todo esse
sistema de modo coerente e, sobretudo, à definição de uma política de
financiamentos compatível ao que se pretende. Para cada uma dessas tantas
variáveis, e outras não consideradas aqui, existem atores distintos, muitas vezes
com necessidades específicas e interesses opostos.

O que se percebe na realidade brasileira é, precisamente, a falta de articulação


entre os diferentes atores, além de muitas vezes serem adotadas medidas
autoritárias, que nem estratégicas são, já que seguem mais a ditames políticos
do que técnicos, como seria o caso de qualquer planejamento estratégico. O que
encontramos, com frequência, são planejamentos parciais, impossíveis de levar
o sistema a avançar em direção ao cumprimento de metas, uma vez que, sendo
definidos em espaços distintos de decisão, muitas vezes são incompatíveis uns
com os outros.
Em outras circunstâncias, fala-se em democratização das decisões, mas
resumem a participação efetiva dos interlocutores à confirmação ou não do que
foi elaborado em gabinetes e por poucos, ferindo o princípio fundante da
deliberação democrática.

A lista pode ser interminável, mas não vamos seguir com ela. O importante nesse
debate é perceber, simultaneamente, como mais do que planejamento impróprio,
nosso sistema educacional sofre com a falta de um planejamento estruturado,
ao mesmo tempo que lida com uma centralização decisória incompatível com a
pluralidade de interesses em jogo e de atores envolvidos.

Planejamento estratégico e escola

Nossa discussão já permitiu perceber que o planejamento é uma necessidade


dos tempos atuais e vem se mostrando cada vez mais relevante para a educação
e as escolas. Ele não pode ser confundido com uma ação puramente técnica, já
que envolve decisões que transcendem as compreensões de certo e errado e se
vinculam a objetivos previamente estabelecidos. Assim, pode-se afirmar que o
planejamento é, também, um ato político que envolve:
De acordo com Daibem e Minguili (1996), a meta da perspectiva mais
democrática de compreensão da organização da escola é que ela se efetive por
meio de uma prática docente desenvolvida de maneira solidária e articulada,
levando ao avanço contínuo do conhecimento, consolidando caminhos já
descobertos e construindo novos e melhores caminhos a partir do desejado:
um projeto de vida para o ser humano em suas relações sociais e com a
natureza. O planejamento, por outro lado, também deve revelar um
conhecimento amplo da realidade a que se destina, obtido por meio de um
diagnóstico tão amplo e preciso quanto possível, que, feito coletivamente,
também tem vantagens sobre perspectivas centralizadas de análise.

Entre as diferentes dimensões e instâncias do planejamento escolar, estão


aquelas que envolvem:

Umas dimensões dialogam e interferem nas outras, mas a interdependência


entre elas não anula suas especificidades nem a necessidade de se pensar essa
articulação ao longo dos processos de planejar. Em instâncias e dimensões
diferentes, os participantes desse planejamento vão se alterar, mas é necessário
que, em alguns momentos, todos estejam juntos, já que a escola é uma só. Em
que pese o fato de que muitas sejam as formas de organizar o planejamento
escolar, em função das opções de cada grupo por esta ou aquela forma de
estruturar sua escola e seu planejamento, temos, na atualidade, um debate muito
específico entre duas formas de planejar:

Planejamento participativo

A principal característica do modelo de planejamento estratégico é a


centralização decisória. O poder de decisão fica concentrado em uma única
pessoa, geralmente, no caso das escolas, o diretor, que define o que será feito,
deixando a cargo dos demais atores apenas decisões de como fazer. O modelo
de planejamento escolar estratégico se baseia em métodos qualitativos e
quantitativos em formato de metas, analisando-se os pontos fracos, as
oportunidades e as restrições do ambiente. Missão, visão do futuro e valores
norteiam essa perspectiva, que passa a medir, por meio de indicadores e de um
conjunto de metas organizacionais, o desempenho e as possibilidades de
desenvolvimento.

É um tipo de planejamento que se desenvolveu dentro de uma concepção de


administração estratégica, que se articula aos modelos e padrões de
organização da produção construídos no contexto das mudanças do mundo, do
trabalho e da sociedade a partir da segunda metade do século XX e notadamente
dos anos 1970. Essa concepção de administração e de planejamento procura
definir a direção a ser seguida por determinada organização, especialmente no
que se refere ao âmbito de atuação, às macropolíticas e às políticas funcionais,
à filosofia de atuação, aos objetivos de nível macro e funcionais, sempre com
vistas a um maior grau de interação dessa organização com o ambiente.
A interação com o ambiente, no entanto, é compreendida como a análise das
oportunidades e ameaças do meio ambiente à instituição, de forma a estabelecer
objetivos, estratégias e ações que possibilitem um aumento da competitividade
da empresa ou da organização; no caso das escolas, a melhoria de índices de
rendimento e desempenho de alunos e professores.

Em síntese, o planejamento estratégico concebe e realiza o planejamento dentro


de um modelo de decisão unificado e homogeneizador, que pressupõe os
seguintes elementos básicos:

Em contraposição a esse modelo de planejamento, que pensa a escola como


uma empresa ou organização, a perspectiva da gestão democrática da
educação e da escola pressupõe o planejamento participativo como
concepção e modelo de planejamento:

Princípios Democráticos

É a participação de todos os membros da comunidade escolar nos processos decisórios da


escola. Diretores, professores, alunos e funcionários participam de discussões em todos os
níveis e em todas as dimensões da escola e têm direito ao voto nesse modelo de planejamento
escolar. Análise, decisão, execução e avaliação das ações são de responsabilidade desses
atores sociais. A grande vantagem desse modo de planejar é a possibilidade de construção de
uma cultura de planejamento coletivo, fortalecendo as práticas democráticas e a distribuição
horizontal do poder da decisão.
Tomada coletiva de Decisão

Tem como objetivo não só a democracia das decisões, mas o estabelecimento


de prioridades entre os envolvidos, apontando os caminhos da escola em função
das urgências e prioridades coletivas, permitindo a organização de pautas
conforme as necessidades e possibilidades da escola para definição, inclusive,
de temas futuros. Diretores, professores, alunos e funcionários têm direito ao
voto no modelo do planejamento escolar participativo, mas o mais importante é
o debate de que todos participam em igualdade de condições para convencer
outros ou serem convencidos por eles dos melhores rumos a seguir no
planejamento e no desenvolvimento das ações da escola.

Gestão Participativa

É relacionada, justamente, ao aprendizado coletivo, focando valores como a


cidadania, a organização e a gestão coletiva.

Entretanto, para que o modelo funcione da forma esperada, é um requisito que


todos estejam inteirados da realidade da escola para diagnosticar os problemas
e apontar as soluções. Ou seja, se todos vão intervir, é necessário que o façam
com conhecimento de causa e ciência da responsabilidade assumida.
Informações sobre a comunidade, o local e a realidade presente e futura são a
base desse tipo de planejamento. Análise, decisão, execução e avaliação das
ações são de responsabilidade desses atores sociais, coletivamente.

Atualmente, o planejamento educacional e escolar faz parte da vida de


educadores e estudantes mundo afora, e mesmo da vida de pais e responsáveis,
quando se opta por meios mais democráticos de planejar, como o
planejamento participativo. O certo é que, atualmente, é impensável um
sistema educacional ou uma escola que não planeje suas ações.

Por meio de estratégias de planejamento distintas, de modo mais ou menos


democrático ou completo, sempre há planejamento. E ao estudar o tema,
habilitamo-nos a perceber não apenas sua importância, mas também seu
alcance, mais amplo ou mais restrito em relação à estrutura institucional ou
escolar ou governamental; e sua democraticidade, definida conforme se preveja
e se pratique uma maior participação decisória dos diferentes atores das escolas
e da sociedade.

A participação decisória não pode se restringir a um direito de voto; exige uma


discussão aberta entre alternativas e a possibilidade de participação
argumentativa, sem que o ponto de vista dos gestores prevaleça em virtude
apenas da função que exercem. Ou seja, essa participação democrática, para
ser considerada como estilo de planejamento e de gestão, não deve se restringir
ao consentimento de todos sobre a proposta da direção.
O planejamento estratégico

Vamos pensar qual o papel da estratégia quando lidamos com planejamento na


realidade da educação a partir da troca entre o professor Rodrigo Rainha e a
professora Wilna Melo.

Vem que eu te explico!

Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou
de estudar.

Módulo 3 - Planejamento estratégico na escola

Módulo 3 - Planejamento participativo na escola

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 2

O planejamento é um processo de sistematização, organização e coordenação


da ação docente que articula a atividade escolar ao contexto social. A escola, os
professores e os alunos são integrantes desse processo. Nesse sentido, o
planejamento de ensino necessita
Considerações finais

O estudo deste conteúdo nos permitiu não só definir conceitualmente o que é


planejar, como também nos levou à compreensão de muitas variações e
distinções entre dimensões, instâncias e perspectivas relacionadas ao ato de
planejar. Iniciamos nosso trabalho buscando definir de modo global as ações de
planejamento que acompanham o ser humano desde a Pré-história,
evidenciando a própria necessidade de planejar que acompanha a humanidade.
Depois, mostramos como, à medida que a sociedade crescia e se
complexificava, as exigências colocadas ao planejamento se modificavam.

Planejar sempre foi uma questão de sobrevivência, individual e coletiva, já que


os seres humanos necessitavam de abrigo, alimento e armas para se manterem
vivos no planeta, organizando-se e planejando os modos de fazer cada uma
dessas coisas. Planejar é, antes de tudo, responder antecipadamente a
questões com a clara definição do estudo em que todas as possibilidades devem
ser observadas.

No mundo organizado, já bem depois das primeiras sociedades humanas, as


exigências da produção de bens, da estratificação social e das guerras elevaram
o planejamento a outro patamar. Surgem armamentos mais sofisticados,
estruturas de governo mais organizadas. Estratégias de ação são definidas com
maior antecedência e as instituições de apoio a esses planos e ações também
se complexificam.

Tudo isso exigiu, sempre, planejamento, mas a generalização da prática de


planejar como válida e socialmente necessária emergiu da Revolução Industrial
e, posteriormente, consolidou-se nos fins do século XIX e início do século XX,
chegando ao campo da educação formal, tanto na organização da instituição
escolar e dos sistemas de ensino quanto do trabalho pedagógico em si.

Podcast

Ouça o professor Rodrigo Rainha, que fala sobre o conceito de planejamento escolar.
Referências

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diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: 1996.

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disciplinas de seu curso estão integradas?, 1996. Anais [...]. São Paulo: Unesp
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GANDIN, D. A posição do planejamento participativo entre as ferramentas


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GANDIN, D. A prática do planejamento participativo. Petrópolis, RJ: Vozes,


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GANDIN, D. Escola e transformação social. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

GANDIN, D.; GANDIN, L. A. Temas para um projeto político-pedagógico. 12.


ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

KOTLER, P. Administração de marketing: análise, planejamento,


implementação e controle. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

PASCOAL, R. O que é planejamento. Nova Escola – Gestão, 1º fev. 2014.


Consultado na internet em: 27 maio 2022.

VASCONCELLOS, C. Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e


Projeto Político-Pedagógico. São Paulo: Libertad, 2008.

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Planejamento Estratégico Pessoal. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
Produção) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2010.

VEIGA, I. P. (org.) Projeto político-pedagógico da escola. Campinas, SP:


Papirus, 2005.
TAYLOR, F. Os Princípios da Administração Científica. 8. ed. São Paulo:
Atlas, 1990.

WPENSAR. Guia de planejamento escolar. [S.l.]: WPENSAR, s. d.

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Confira as indicações que separamos especialmente para você!

Busque e leia os seguintes documentos norteadores da educação nacional:

• O Plano Nacional de Educação, disponível no site do MEC.

• A Base Nacional Comum Curricular, disponível no site do MEC.

Vale a pena você ler os livros:

• Por dentro da escola pública, de Vitor Paro, 1995.

• Administração escolar: introdução crítica, de Vitor Paro, 1986.

• Planejamento educacional, de Sonia Fonseca, 2016.

Assista ao vídeo O projeto político pedagógico e a gestão democrática


Vasco Moretto, disponível no YouTube.

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